Guardian Angel

Finalizada em: 13/12/2020

Capítulo 1

Cidade de Seoul (Coreia do Sul) 21:00

O vento bate forte em meu rosto, bagunçando ainda mais meu cabelo, me fazendo encolher no sobretudo preto de tecido grosso que estou usando.
As ruas estão quase vazias, havia apenas algumas pessoas voltando para suas casas ou casais esperando cair a primeira neve do ano. Deixo um sorriso pequeno se formar em meus lábios, lembrando dos velhos tempos.
Entro no restaurante que frequento, indo para o primeiro andar, sentando em uma mesa afastada das demais, perto da grande parede de vidro, de onde se é possível ver a grande cidade iluminada de Seoul. Chamo um garçom, pedindo um vinho e nada mais, queria esquecer dos problemas hoje.
O garçom chega com duas taças e a garrafa de vinho em mãos e o peço para deixar a garrafa na mesa. Pego uma das taças e coloco uma quantidade razoável da bebida nela, logo dando um gole, sentindo a bebida adocicada descer por minha garganta, ficando ardente logo em seguida. Olho para a segunda taça na mesa, com certeza o garçom pensou que estaria acompanhado como sempre, mas, infelizmente, hoje não seria assim. Até agora, quando observo um homem elegante sentar a minha frente, bastante confortável, como se me conhecesse desde que nasci. Nunca o vi na minha vida, com certeza se confundiu de mesa.
— Acho que você se confundiu de mesa... — Penso sobre o que lhe chamar, ele parecia novo demais para ser chamado de senhor — Moço. — Ele não expressa nenhuma reação confusa ou algo do tipo, e não fala nada, apenas continua olhando para mim, como se quisesse ler meus pensamentos. Seus orbes escuros e profundos o deixam intrigante, realmente ele é um belo rapaz, com uma beleza angelical, podemos dizer. Cabelos platinados, pele morena, maxilar marcado... Puta merda, que homem.
— Não. — Fala por fim. — Eu não confundi de mesa. — Termina sua fala com um sorriso, mostrando suas covinhas, o deixando adorável.
Minha expressão se torna confusa. Eu nunca o vi na minha vida, tenho certeza disso.
— Eu sei o que deve estar pensando. Realmente você não me conhece. Prazer, pode me chamar de Namjoon. — Estende a mão para mim, mas não a aperto, apenas volto minha atenção para a taça de vinho, bebendo logo em seguida, não direcionando meu olhar para ele novamente. Não estou com cabeça para fazer amigos. Ele recolhe a mão, constrangido. — Eu sei que você é mais legal, Jungkook. — Fala pegando a outra taça na mesa, logo se servindo.
Direciono minha atenção para ele novamente, arqueando minha sobrancelha, totalmente confuso. De onde aquele cara me conhecia? Não sou nenhum CEO famoso.
— Você não me conhece, mas eu te conheço. — Fico ainda mais confuso. — Jeon Jungkook, 29 anos. Artista não muito conhecido, mas as vendas são boas. Casado com um belo homem... — Falava enquanto dava pequenos goles no vinho.
— Você é algum tipo de stalker? Psicopata?— Pergunto com um pouco de medo.
Ele me olha como se tivesse perguntando "É sério isso?", e logo coloca a taça na mesa, prendendo uma pequena risada com a mão.
— Não, eu não sou nada disso. Se eu falar o que sou, você não vai acreditar.
— Hum. — Coloco minha taça na mesa, me endireitando na cadeira, começando a me interessar pelo rumo da conversa. — Me fale mesmo assim. O que você é? — Pergunto olhando diretamente em seus olhos. Ele dá um pequeno sorriso antes de continuar.
— Eu sou o seu anjo da guarda. — Fala sério, sem desviar o olhar.
Prendo uma risada escandalosa. Não podia acreditar no que acabei de ouvir, pelo amor. É cada coisa que eu escuto.
— Isso saiu tão convincente que quase acreditei, juro. — Ele deixa uma pequena risada escapar, como se tivesse rindo da minha cara.
— Eu posso lhe provar. Me pergunte qualquer coisa da sua vida. — Ele fala confiante, pegando a taça novamente.
Vasculho o canto mais sombrio de minha mente, procurando alguma lembrança que nunca dividi com ninguém.
— Qual foi o dia mais triste da minha vida? — Falo tranquilo, ele nunca iria acer-
— O dia do falecimento do seu pai.
— C-como isso pode ser possível? — O olho assustado. — O dia mais feliz?
— Quando você se casou.
— Quantos filhos quero ter?
— Isso sempre dependeu do seu esposo.
— Qual era o nome da minha amiga imaginária?
— Army.
Okay. Okay. Calma. Como ele pode saber dessas coisas? Será que ele realmente é o que falou?
— Isso não é o suficiente.
Ele revira os olhos, totalmente impaciente.
— Se você é um anjo da guarda, deve ter algum poder especial. Me mostra qual é?
— Não acredito que vou fazer isso. — Ele murmura para si próprio. — Okay, pense em algum momento que você queria reviver. Sem motivo.
Penso no enterro do meu pai. Eu não sei o porquê, mas sempre quis reviver esse dia. Escuto um estalar de dedos e não me vejo mais no restaurante. O cenário muda para outro local, um local bastante conhecido, ainda estou sentado na cadeira do restaurante, a mesa está intacta à minha frente e Namjoon ainda está aqui, da mesma forma que antes. Olho ao redor e vejo que está tudo igual àquele dia, céu nublado, as folhas caindo no chão igual penas, o dia estava triste, complementando com a cena que vejo ao escutar meu choro não tão longe. Me vejo ajoelhado perto do caixão do meu pai, Taehyung está ao meu lado, me confortando, tentando me afastar do caixão. Sinto meus olhos se encherem de lágrimas ao ver a cena. Me levanto da cadeira e ando até o caixão, vendo o rosto do meu pai pálido. Deixo uma lágrima solitária descer por minha face, tento pegar no caixão, mas minha mão o ultrapassa, como se eu quisesse pegar o vento, como se eu fosse um fantasma. Percebo que ninguém está reparando em mim, como se eu não estivesse aqui.
— Ele era um bom homem. — Namjoon chega ao meu lado, olhando para o meu pai. Balanço a cabeça em concordância.
— Vamos voltar. — Enxugo outra lágrima.
Ele acena com a cabeça e voltamos para a mesa. Quando nos sentamos, voltamos para o restaurante sem precisar de outro estalo de dedos. Tudo estava normal, ninguém pareceu notar o sumiço de dois homens e uma mesa.
Supiro de olhos fechados antes de continuar a falar.
— O que você veio fazer aqui de verdade? Porque com certeza não foi para dar um oi e perguntar da minha saúde.
— Verdade. — Ele se ajeita na cadeira antes de continuar. — Eu vim aqui para lhe mostrar outra coisa. Eu, como seu anjo da guarda, estou vendo que seus pensamentos não são dos melhores, você não tem uma verdadeira causa para fazer o que está pensando fazer. Sua vida não é uma das melhores, mas também não é das piores. Seu casamento não está indo muito bem... — Ele solta um suspiro longo antes de continuar. — Mas isso não é motivo para você cometer um suicídio e desistir de tudo. Sua mãe precisa de você, você sabe como ela está frágil depois do falecimento do seu pai. Ela não aguentaria perder mais um. — Ele solta outro longo suspiro antes de continuar. — Não me diga que você está pensando nisso por causa do seu casamento? — Ele me olha um pouco desacreditado e quebro nosso contato visual.
— Ele é especial... — Dou um longo suspiro olhando para a taça agora em minhas mãos. — Eu só sou o que sou por causa dele. Tudo o que enfrentei na minha vida foi com ele ao meu lado. Sem ele eu não teria coragem para seguir o meu sonho de ser pintor por medo de ser um fracasso. Eu não seria nada. Sem perceber, eu virei dependente dele, minha vida é ele. Sem ele, sem vida.
— Meu Deus. — O olho e vejo sua cara de desgosto. — Eu sei que você o ama, e que ele também te ama. Mas você não pode ser tão dependente de uma pessoa para a qual você não dá o valor que deveria dar. De que adianta você falar tudo isso e no final tapar os ouvidos quando o Taehyung fala das conquistas dele para você? Das coisas que ele quer, dos planos para o futuro de vocês? Eu vejo vocês todos os dias, você mal olha o homem que você dizia ser o número 1 do mundo. Diferente dele, que nunca tirou os olhos de você.
Sem perceber, deixo lágrimas deslizarem pelo meu rosto. Ele é a coisa mais importante para mim e mesmo assim não estou dando o devido valor a ele. Não estou mais demonstrando o amor que tenho por ele, estou me afastando cada vez mais sem perceber.
— O Taehyung não vai se separar de você.
— Como você sabe? Ele fala isso em todas as brigas que temos. Eu vejo a dor em cada lágrima que escorre por aqueles olhos. — Mais lágrimas escorrem pelo meu rosto.
— Dor de uma pessoa que ama. Você sabe muito bem que o Taehyung não desistiria de vocês tão fácil, vocês têm nove anos de casados. Não é para muitos. — Namjoon dá mais um gole no seu vinho, acabando o vinho por completo na taça.
— Ele ficará melhor sem mim. — Viro a taça em meus lábios, colocando mais vinho logo em seguida.
— Agora chegou na parte que eu queria.
Ele estala os dedos novamente. Estamos em um beco. Dessa vez, a mesa e as cadeiras não vieram. Tem muitos prédios abandonados em volta.
Eu conheço esse lugar, eu já vim aqui quando era adolescente.
Escuto o som da ambulância misturado com as sirenes dos carros da polícia e vou em direção ao som. Vejo várias pessoas olhando para alguma coisa no chão, cochichos altos entre elas, e ao lado um homem lutando para sair dos braços de dois policiais que o seguram. Tae. Ele consegue se soltar e corre em direção ao chão, ando mais para ver o que é.
Atravesso algumas pessoas como um verdadeiro fantasmas, meus pés param e arregalo meus olhos ao ver a cena à minha frente.
Taehyung está abraçando meu corpo morto, chorando e implorando para que eu acordasse. Os policiais o pegam novamente e ele se debate ainda mais nos braços dos homens. Lágrimas grossas descem pelo meu rosto ao ver sua dor que está visível para qualquer um que olhar em seus olhos.
Um carro preto chega rápido e de dentro dele saem Yoongi, Hoseok e Jimin. Jimin tapa a boca logo que vê o meu corpo no chão, abafando o choro. Hoseok não se deixa abalar tão facilmente, Yoongi também não, puxando Jimin e o dizendo para se acalmar e ir para perto de Tae, o confortar, e Jimin logo faz isso. Hoseok e Yoongi vão para o meio da multidão, pedindo para se afastarem. Direciono meus olhos novamente para Tae e Jimin, e vejo ele abraçando o Jimin com força enquanto abafa seu choro na curva de seu pescoço.
— Por que ele fez isso, Jimin? Por que ele me deixou desse jeito? — Fala em meio às lágrimas grossas que se formavam em seus olhos. Me aproximo dele, estendendo minha mão para tocá-lo, mas minha mão passa direto como da outra vez.
Jimin fica calado, não sabia o que responder, nem eu saberia responder isso a ele.
Uma forte chuva começa, e as pessoas começam a ir embora. Tae pega um guarda-chuva de uma loja de conveniência ali perto, correndo e abrindo para deixar meu corpo fora do alcance da chuva. Ele fica lá, agachado, com o guarda-chuva aberto, chorando. Jimin, Yoongi e Hoseok não sabem o que fazer naquela situação, ninguém sabe.
— Vai ficar tudo bem, Kook. Vamos nos encontrar mais rápido do que você imagina. — Seu sorriso doloroso me faz chorar ainda mais.
Meus olhos se arregalam ao ver ele soltar o guarda-chuva e correr em direção ao policial, pegando sua arma e apontando para a própria cabeça. Jimin grita e corre em direção a Taehyung, Yoongi tenta segurá-lo, mas não consegue. Não consigo mover um músculo, e se conseguisse, não faria diferença, o som da arma soa mais alto que o normal em meus ouvidos, antes de seu corpo cair no chão. Jimin o pega. Fecho os olhos, tentando conter as lágrimas que se formam em meus olhos.
— Namjoon me tira daqui agora. — Imploro, não aguentava mais ver tudo aquilo.
Ele chega por trás com um guarda-chuva.
— Ainda não acabou, você tem que ver mais coisas. — Balanço a cabeça em negatividade. Se aquilo já me destruiu, não aguentaria ver mais coisas como aquela.
— Por favor, vamos voltar para o presente. Esse futuro... Não vai acontecer.
— Okay. — Ele tapa meus olhos com sua mão e, quando a tira, já estamos no restaurante novamente. — Enxugue seus olhos. — Ele estende um lenço para mim e logo o pego. — Isso que você acabou de ver é exatamente o que aconteceria se você... Você sabe. — Ele coloca mais um pouco de vinho na taça, dando um gole em seguida. — Ainda tem certeza de que o Taehyung ficará melhor sem você? — Não respondo. — Ele te ama, a única coisa que ele quer é atenção. Uma coisa que você não está dando para ele.
Concordo com a cabeça. Não estava dando atenção para o Taehyung mesmo. Sempre dizendo que estou ocupado, fugindo de conversas. Não parece que o amo.
— E vocês não transam a mais de dois meses. — Namjoon faz uma careta, conseguindo arrancar um pequeno riso de mim.
— Tava demorando. — Me encosto na cadeira, para ficar mais confortável. Namjoom ri enquanto se levanta. Eu o olho. — Aonde você vai?
— Voltar a ser seu anjo da guarda. Eu só vim aqui para te salvar de si próprio. E eu já fiz isso, hora de voltar. — Sorri para mim.
— Quando vou poder te ver de novo? — Pergunto meio tristonho, eu gostei da companhia dele.
— Não sei, talvez na hora da sua morte.
— Então eu espero que esse encontro demore bastante. — Nós dois rimos.
— Se cuida, rapaz. E não vá para casa agora, fique aqui por mais dez minutos. — Concordo com a cabeça.
Namjoon dá as costas, desaparecendo assim que um garçom passa à sua frente. Fiz o que ele pediu. Esperei dez minutos, exatamente dez minutos para Taehyung chegar.
Ele vem em minha direção com uma expressão de preocupação e sinto meu peito comprimir por deixá-lo assim.
— Você saiu de casa feito um louco sem rumo. Por que não atendeu minhas ligações? Eu sei que fui um babaca em falar que queria me separar, mas-
Não deixo ele terminar de falar, o interrompendo com um beijo calmo e romântico, o puxando pela cintura, sem me importar com os olhares alheios, já que estamos no meio do restaurante. Aprofundo o beijo ainda mais e Taehyung coloca as mãos em minha nuca, puxando os cabelos de lá. Separamos o ósculo quando o garçom nos interrompeu, falando que os clientes não estavam confortáveis. Revirei os olhos e pedi a conta.
Saímos de lá mais eufóricos do que nunca. A neve caindo em nossas cabeças, deixando o clima mais romântico e ele ainda mais bonito. Hoje a noite seria apenas uma criança para nós.


Epílogo

Namjoon os olhava feliz, de cima de um prédio, quando alguém conhecido chegou ao seu lado.
— Eu ainda não acredito que fiz isso, Nam.
— Não é a primeira vez, Jin, a gente faz isso em todas as reencarnações deles. Você ja deveria ter se acostumado. — Namjoon fala, ainda sem direcionar o olhar para o anjo ao seu lado.
— Eu sei, mas mesmo assim, sinto que estamos fazendo algo de errado. — Seokjin fala com preocupação.
— Eu também. Mas a parte que diz para os salvar grita mais alto. — Fala, agora olhando para o anjo que está sorrindo para ele.
— Verdade, meu anjo. Você sempre sabe o que é melhor. — Se aproxima do anjo mais novo para dar-lhe um beijo. Quando Seokjin ameaça separar o ósculo, Namjoon o puxa pela cintura, lhe dando um beijo mais afoito e quente, enchendo seu rosto de beijinhos logo depois.
— Já chega. — Seokjin dá um tapa fraco em seu braço, em meio aos risos.
— Vamos para algum bar? Beber e nos preparar para a próxima reencarnação dos pombinhos?— Namjoon fala ainda com as mãos na cintura do mais velho.
— É assim que você se prepara? — Solta outra risada.
— E como você queria que eu me preparasse? — E bastou um olhar do mais velho para ele entender. — Okay... O que ainda estamos fazendo aqui então?
O mais velho o puxa para um beijo novamente, dessa vez sendo mais quente e profundo que o outro.
Parece que não é só os humanos que vão ter uma noite ótima hoje.


Fim



Nota da autora: Sem nota.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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