Finalizada Em: 04/08/2018

Capítulo 16

O tempo que se prosseguiu trouxe ao grupo muito trabalho. Algumas semanas haviam decorrido desde o atentado na Times Square, e os heróis passaram a praticar e aguçar seus poderes como nunca, movimentando o centro de treinamento. Já as pesquisas para desenvolver upgrades para a equipe aconteciam a todo vapor no setor de Inovações da base: os laboratórios estavam praticamente lotados de tantos cientistas, engenheiros e físicos, que se misturavam na busca de melhoramentos que tornassem os Vingadores imbatíveis contra os gigantes de aço.
O time de ciência da equipe participava ativamente das pesquisas, fazendo descobertas e contribuindo com conhecimento. Banner, Stark, Parker e McCall estavam trabalhando duro junto com o resto dos pesquisadores, buscando soluções tecnológicas de acordo com as pesquisas realizadas sobre o Exoginium e os robôs. O progresso estava sendo feito.
No entanto, na parte investigativa, as coisas estavam um pouco estagnadas. Não havia sinal algum de Simon ou Eric Williams desde o atentado, e por mais que os peritos procurassem, os irmãos não queriam ser achados; deviam estar fazendo planos e revendo estratégias para o próximo embate. Ótimo, pois era exatamente isso que os Vingadores estavam fazendo também.
Bruce Banner estava sozinho em seu laboratório, imerso em raciocínios e ideias a respeito dos novos projetos da equipe. Ele estava testando alguns novos algoritmos de busca desenvolvidos pelos peritos, e deixara o computador trabalhando enquanto escrevia algumas planilhas. Mais rápido do que ele esperava, o programa lhe mostrou resultados interessantes, e ele correu até o setor de Inovações para anunciá-los.
-Stark, Parker, Mini Stark – Ele exclamou, pendurando-se no batente da porta e chamando a atenção dos três, que trabalhavam concentrados. – Preciso que vejam uma coisa.
Bruce também acionou o resto da equipe que estava na base naquele momento, sendo Visão e Thor, para que soubessem da atualização. Era uma pista interessante e valiosa naquele ponto estagnado das buscas.
-Eu testei aquele sistema de busca novo, que monitora qualquer tipo de atividade suspeita nas áreas com central de controle governamental, como aeroportos e alfândegas. – Introduziu o cientista, enquanto os colegas se acomodavam em seu laboratório. – Basicamente, é um algoritmo que funciona como um superfiscal da polícia federal, trabalhando só pra nós e buscando aquilo que nos interessa com base nos meus comandos. Essa belezinha me mostrou uma coisa interessante. É um relatório feito ontem à noite, no porto de Estocolmo, na Suécia. – Bruce explicou, abrindo os arquivos. – Quatro contêineres partiram de Nova York e chegaram de navio neste local perto das 21h45min, e eles estão selados por algum tipo de metal que impede que se faça raio-X para checar o conteúdo. Teoricamente, esse sistema de segurança é permitido, mas nossos equipamentos mais modernos são capazes de ultrapassar os bloqueios legalizados. Só que esses quatro contêineres em particular estão lacrados tão bem, que nem mesmo usando nossos programas eu consigo ver o que tem dentro deles. O que levanta uma enorme suspeita de que... – Banner deu a deixa aos colegas.
-Estejam revestidos por Exoginium. – Concluiu Peter, acertando a resposta que Bruce esperava. – Provavelmente porque um certo alguém deve estar tentando confundir a fiscalização para transportar uma certa coisa bem perigosa.
-Exatamente. – Banner respondeu, acelerado por conta da descoberta. – Acontece que, pelo fato de as embalagens estarem tão bem protegidas, não consigo fazer nenhuma análise química pra comprovar se o que está confundindo os sensores é Exoginium ou não. Mas os contêineres saíram de Nova York, local da última aparição dos robôs.
-O destino dos contêineres, Estocolmo, é uma das cidades mais bem desenvolvidas e pacíficas da Europa. – Constatou Visão, realizando uma pesquisa rápida em seu próprio sistema. – Se pensarmos como um terrorista, faria sentido querer atacá-la e trazer caos para toda essa tranquilidade.
-Magnum deve estar planejando um novo atentado por lá – Thor levantou, pensativo. – Como vamos prosseguir?
-Eu acho que seria mais sensato se esperássemos um pouco antes de fazer qualquer coisa. – Olivia se pronunciou, atraindo a atenção dos outros. – Se emitirmos um alerta a respeito desses contêineres, alegando que o conteúdo deles pode ser perigoso, o protocolo diz que o FBI teria que ser chamado para realizar a inspeção, em uma operação supercomplicada por conta do potencial bélico dos robôs. Se fizermos todo esse estardalhaço pra interceptarmos a carga e por acaso for feijão dentro dos contêineres, não vai ficar muito bonito pra nossa cara. Não precisamos que a população assista a mais uma operação falha da polícia.
-O que você sugere então, Srta. McCall? – Bruce perguntou a Liv usando a formalidade como brincadeira.
-Bom, se esses contêineres forem mesmo do Magnum, ele não sabe que estamos os vigiando, o que nos dá uma vantagem. – Falou a garota. – Eu diria para continuarmos monitorando essas cargas, deixando-as em prioridade máxima no algoritmo, mas sem avançar. Talvez pudéssemos colocar alguns soldados de ferro a postos perto do porto, só no caso de os robôs aprontarem alguma, pra controlá-los até a gente conseguir chegar lá.
Todos os homens na sala pareceram concordar, consentindo com a ideia de Olivia; era sua astúcia feminina tomando as rédeas do plano. Porém Stark, que permanecera em silêncio até agora, pareceu não compartilhar do ponto de vista e resolveu interpor.
-Espere um pouco aí – Disse ele, com ar de superioridade. – Eu acho que tudo que não precisamos agora é que mais um desastre aconteça sem que possamos prever. Se aqueles robôs enormes decidirem sair dessas caixinhas de surpresa de repente e nós não estivermos lá para impedir, vai ser um massacre total assim como aconteceu na ponte Harvard e na Times Square. Os Vingadores não podem mais chegar lá e apanhar um monte apenas para remediar a situação. Precisamos preveni-la. – Explicitou Tony. – Devíamos mandar uma equipe de resgate até lá agora mesmo para verificar essa história. Se não forem os robôs, pouparemos nossos recursos e não perderemos tempo vigiando cargas de feijão. E, se por acaso os homens de lata estiverem lá dentro, acabamos com eles de uma vez por todas.
Stark terminou sua fala esperando que os outros a complementassem, dizendo que concordavam com ele. Porém, os colegas de equipe não esboçaram nenhuma reação, sem demonstrar que estavam favoráveis ao plano dele como esperado. Na verdade, eles pareciam ter gostado mais da ideia anterior.
-Se interceptarmos o contêiner errado, o Magnum vai descobrir que estamos investigando as alfândegas e vai arranjar outro jeito de transportar os robôs pra próxima cidade alvo, sem que possamos rastreá-lo. – Liv contrapôs a sugestão do pai, argumentando. – É melhor esperar.
-Eu concordo com a Olivia nessa, Stark. – Thor se pronunciou. – Precisamos usar a vantagem que conseguimos.
-Mas é exatamente isso que eu estou sugerindo. – Tony insistiu. – Vamos aproveitar o fato de que descobrimos o paradeiro dos robôs antes de eles realizarem outro ataque, e vamos surpreendê-los. Vocês não queriam que a equipe tivesse mais ação?
-Mas não tocando fogo em tudo desse jeito. Vamos arriscar o plano todo se fizermos isso. – Liv defendeu sua tese. – Precisamos esperar, ou os algoritmos e programas de monitoramento que criamos não vão servir pra mais nada.
-Se eles nos mostrarem coisas e não aproveitarmos as pistas que eles nos derem, aí sim eles não estarão servindo para nada. – Stark continuou irredutível.
Apesar dos argumentos, todos os outros na sala pareciam continuar concordando com Olivia – no entanto, a garota sabia que não era só por conta do plano que seu pai estava discutindo com ela. Já não era a primeira vez que ele agia estranho assim.
-Pai, me escuta... – Disse Olivia após um suspiro, começando a perder a paciência.
-Espera aí. – Tony a interrompeu, autoritário. – Eu sei que a senhorita deve estar se achando muito adulta agora – Disse, sarcástico, referindo-se ao beijo com Peter. – Mas isso não te dá o direito de sair por aí planejando as missões da equipe desse jeito.
Olivia ficou encarando-o, estática. Seus olhos fulminaram, tamanha raiva que ela sentiu ao ver o pai agir de modo tão infantil, outra vez. O que ele tinha dito era ridículo, no entanto, como uma boa Stark, ela não responderia de forma madura. Pelo contrário: ela também sabia ser ignorante àquele ponto.
-Ótimo. – Disse ela, num tom normal apesar da raiva. – Já que vocês não precisam de mim, então eu vou me retirar.
A garota virou-se para a porta, com o nariz empinado. Porém, antes de sair, ela caminhou até Peter, que estava encostado em uma das bancadas traseiras do laboratório, e beijou-o. Beijou-o com a maior vontade que conseguiu – algo que o garoto não estava esperando. Demorou um bom tempo, fazendo lenta e intensamente, em uma cena quase cinematográfica.
-Até mais. – Anunciou por fim, com um sorriso totalmente cínico no rosto. Então saiu pela porta logo em seguida, a passos duros.
Todos os outros heróis presentes na sala estavam atônitos, olhando para a cena de queixo caído. Diante da situação, Thor e Banner precisaram segurar o riso, pois não acreditavam no que tinham acabado de presenciar: Stark sendo enfrentado por uma garota de dezessete anos. Eles esperavam alguma reação diante do vácuo de silêncio que havia se instalado depois daquilo.
Tony ficou plantado no meio do laboratório, inconformado, olhando o corredor sumir enquanto a porta se fechava. Sua respiração pesava por conta da raiva, diante da cena que a filha acabara de armar só para provocá-lo. Furioso, ele virou-se para o lado.
Seus olhos pousaram sobre Peter, que se recostava envergonhadamente no balcão. O garoto sentiu as bochechas queimando quando todos passaram a o encarar, e tentou olhar para o nada, com os lábios tensos de nervosismo. Com um movimento retraído, ele passou o dedo indicador sobre eles para secá-los, e cruzou os braços em seguida.
Olivia havia feito de propósito. Só pra mostrar que ela também sabia dar espetáculo na frente de toda a equipe.
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-Eu sei que vocês dois estavam discutindo, mas não precisava me punir por isso. – O garoto disse fazendo careta.
-Pare de fazer drama, Parker.
Olivia e Peter haviam acabado de terminar mais uma sessão diária de treinamento no ginásio, e aproveitavam o tempinho extra para relaxar um pouco. Liv estava deitada sob os tatames que revestiam o chão, enquanto o garoto pendurava-se pelo teto em suas teias.
-É sério! Você não tem ideia de como foi aterrorizante ficar naquela sala com seu pai me trucidando com o olhar depois que você saiu. – Peter disse com humor. Agora ele era capaz de olhar para trás e achar graça, mas na hora, aguentar aquele silêncio mortal não foi nada divertido. – Tive sorte que o Banner agiu como se nada tivesse acontecido, e voltou a falar sobre os planos com o contêiner e tudo mais.
-E vocês decidiram alguma coisa sobre o que fazer? – A garota perguntou com a voz arrastada, emburrada por ter sido excluída da discussão.
-É claro que não. Ninguém conseguiu pensar em mais nada depois do que você aprontou. – Disse o rapaz, e Liv teria o socado no ombro se ele não estivesse tão longe lá em cima.
-Ele jamais vai me ouvir. – A garota bufou, sentando no chão. – Parece que é muito difícil pra ele levar minhas ideias em consideração.
-O Sr. Stark é teimoso, e você sabe disso. – Peter respondeu, balançando-se entre as teias, ainda trajado como Homem-Aranha. – Enfrentá-lo não vai resolver o problema.
-Tá, te dar um amasso pode não ter sido a melhor ideia do mundo – Liv admitiu, fazendo o rapaz rir. – É que eu fiquei com tanta raiva... Mas ele não está agindo assim só por causa de nós dois. É por tudo. Desde que eu insisti em trazer a equipe do Capitão América de volta, ele não fala direito comigo. Aliás, ele ficou esquisito com todo mundo depois disso. – A garota revirou os olhos. – Só que essa é a nossa única opção, e ele sabe. Do contrário não ia ficar todo perturbado só de pensar em conviver com o Rogers outra vez. Ele só é teimoso demais pra admitir que a equipe está certa e ele está errado.
-Vocês dois são iguaizinhos. – Constatou Parker, dando uma cambalhota.
Olivia até discutiria, mas nem mesmo ela poderia argumentar para negar que aquilo era verdade.
-Essa coisa toda é difícil pra ele. Aliás, é difícil pra equipe inteira, porque muita gente se machucou durante essa briga. – Peter refletiu. – Eu andei conversando com os outros. Eles podem estar dispostos a deixar essa mágoa de lado, mas pro seu pai a discussão foi muito mais pessoal.
-Sim, só que a questão aqui é muito maior que ele. – Disse Olivia. – Estamos falando de proteger as pessoas.
-Eu sei. Também acho que precisamos do Rogers e dos outros – Ele complementou. – Só não sei como vamos convencer o Sr. Stark disso.
-Bom, ele está impossível comigo e não ouve absolutamente nada do que eu falo – A garota bufou. – Não sei como vamos fazê-lo enxergar.
-Você é a filha dele. Se algum de nós tem uma opinião que conta, é você.
-Não acho que ele pensa assim.
-Bom, eu é que não vou dizer nada – Disse o rapaz, livrando-se. – Porque já deu pra ver que seu pai não está muito favorável a mim no momento.
-Você mexeu com a garotinha dele – Olivia deu de ombros, com humor. – Foi por sua conta e risco.
-Ah, tá – Peter riu, indo com uma teia até perto do chão, onde Olivia estava. A garota ficou de pé para encará-lo, enquanto ele balançava-se em volta dela, reparando em seu cabelo. – Olha só, você virou um Smurf!
Olivia havia aparecido com um novo visual naquele dia, tendo os fios loiros tonalizados de azul nas pontas.
-Ah, é pra combinar com o novo uniforme da Arion que estou projetando. – Disse Liv, observando o garoto pendurado de cabeça para baixo dar voltas por ela, enquanto bagunçava algumas mechas de seu cabelo. – Será preto com azul.
-Vai ficar estiloso. – Falou Peter, parando à frente dela para analisar o visual. – Aliás, eu gostei da mudança. Ficou bonito.
-Como você sabe se está de ponta-cabeça? – Olivia riu, entortando-se para o lado para tentar alinhar os dois.
-Não sabia que as coisas mudavam de cor quando olhamos ao contrário. – Respondeu o rapaz, cruzando os braços como se estivesse intrigado.
-Muito engraçado. – Liv disse séria, dando um passo à frente. Ela riu, encarando-o mais de perto.
A garota colocou as mãos sob o queixo do rapaz, puxando sua máscara delicadamente e revelando parte do seu rosto. Ela retirou o tecido até a linha do nariz, e em seguida aproximou-se. O garoto permaneceu parado, e ela estava pronta para beijá-lo. No entanto, quando ia fazê-lo, Liv interrompeu o movimento.
-Espera um pouco – Disse a garota, confusa, a poucos centímetros de tocar os lábios dos dois. Ela franziu a testa. – Isso não é igualzinho à cena de algum filme?
Antes que eles pudessem deliberar, o celular de Olivia, que estava no chão próximo a eles, emitiu um alerta de mensagem. Ela afastou-se para poder checar, pegando-o e encarando o visor. O recado vinha de Bruce Banner.
“Estou monitorando o porto constantemente. Mais contêineres iguais àqueles chegaram ontem à noite, provavelmente com mais robôs do que nossa equipe é capaz de enfrentar sozinha. Não podemos perder pra eles outra vez. Sugiro que vá falar com o seu pai sobre o América para que possamos começar a trabalhar e resolver isso de uma vez por todas.”

A garota bufou, bloqueando o celular novamente. Ela olhou para Peter, que já havia descido para o chão.
-Por que todo mundo acha que eu vou conseguir o milagre de convencer o Zangado? – Olivia desabafou para ele, com a voz tediosa.
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Tony estava plantado em seu escritório, imerso em pensamentos e negócios. Sentado diante da mesa, ele trabalhava, com os olhos cansados por conta do longo dia. Já era noite, em um horário muito além do fim de seu expediente, mas ele tinha muita coisa para resolver que não poderia esperar até amanhã. Além, é claro, da cabeça cheia por conta de tudo que vinha acontecendo nas últimas semanas, não bastassem as Indústrias Stark e os Vingadores. Tony era um excelente administrador de empresas, mas de sentimentos, nem tanto.
Olivia apareceu no corredor, entrando de fininho pela porta de vidro de sua sala. Ela se aproximou, tomando cuidado para não desconcentrá-lo.
-Não deveria estar na cama? – Perguntou ele, sem tirar os olhos da tela do computador.
-Não consigo dormir sem uma história de aventura, lembra? – Brincou ela, com um sorriso afável.
Quando Liv era pequena, ela costumava ser completamente apaixonada por histórias. Devido a isso, ela tinha o hábito de ler um livro todas as noites antes de dormir, e se por algum motivo não o fazia, não conseguia pegar no sono ou acabava tendo pesadelos. Seu gênero favorito era aventura, e a garotinha gostava de ouvir uma nova a cada noite, sem nunca repetir.
Depois que Stark descobriu da existência da filha, ele decidiu assumir o compromisso de ler para ela, como uma forma de se fazer presente na vida da garotinha. Como não morava com Liv e não estava lá pessoalmente na grande maioria das vezes, Tony fazia uma ligação por Skype ou FaceTime. Mesmo quando tinha que viajar a trabalho para os mais variados lugares, Tony tentava ajustar o fuso horário, e fazia de tudo para conseguir estar lá com Olivia na hora de dormir. Às vezes, quando ele estava muito ocupado ou não podia falar por algum motivo, a mãe dela se encarregava de entreter Liv antes do sono, com algum livro de criança – mas não era segredo que, quando o pai contava uma história, era muito mais legal e emocionante.
Não que Stark fosse um especialista em histórias infantis, é claro. Normalmente, ele contava a Olivia sobre alguma de suas missões ou feitos como o Homem de Ferro. O herói era como se fosse o personagem principal de suas histórias de ninar, protagonizando aventuras tal como fariam Peter Pan ou Chapeuzinho Vermelho em histórias comuns. Chegava a ser engraçado, pois em sua maioria, as histórias envolviam muito perigo e tensão – mas Olivia adorava ouvi-las, e nunca deixava que o pai trocasse o tema.
Com o passar do tempo, as histórias antes de dormir se tornaram uma espécie de momento pai e filha para os dois. Era adorável assistir à Olivia através da tela, usando pijamas de ursinho, com os olhinhos vidrados de encanto pelos feitos do herói. Às vezes, ela sorria com seus dentes faltando diante da surpresa que sentia quando o Homem de Ferro salvava o dia outra vez, de modo muito sincero e puro. Aos olhos da garotinha, o que Stark fazia na pele do herói era muito mais incrível e bonito do que aos olhos dele próprio ou do mundo. Mas Tony não ligava; ser o herói dela, no fim das contas, era o que mais importava para ele.
-Não acha que está grandinha demais pra isso? – Disse Tony, fechando as abas do computador. – Você parou de me pedir histórias quando tinha uns dez anos, por aí.
-Bom, com certeza aconteceram muitas histórias sobre as quais você não me contou durante esse tempo. – Ela riu, sentando no sofá de visitas. – Mas e você, por que não está dormindo ainda?
-Se dependesse do meu trabalho, eu jamais dormiria. – O homem rolou os olhos, tomando um gole da xícara que estava ao seu lado. – Então estou aqui, respondendo e-mails e analisando dados, com o amor da minha vida: o café.
-Pobre Pepper. – Liv constatou, rindo brevemente. Logo depois, a conversa caiu no silêncio.
Era engraçado, mas quando estavam sozinhos, Tony e Olivia não falavam sobre todos os dramas e discussões que aconteciam na frente da equipe. Os dois nunca tinham mencionado todos os sarcasmos, a cena com Peter no laboratório e muito menos o beijo. Talvez porque, tanto o pai quanto a filha, não tinham muita destreza pra discutir sentimentos ou outras coisas que permaneciam no subliminar. Então eles simplesmente não falavam.
-Pai, eu queria conversar com você sobre uma coisa. – Disse ela, atraindo a atenção dele novamente. – Mas falar sério, sem virar piada, atacar com sarcasmo ou fazer cena. Sobre uma coisa importante, que nós dois já deveríamos ter conversado faz muito tempo.
-De onde vêm os bebês? – Disse Tony, em uma resposta que ela não estava esperando. – Ok, era só pra descontrair, eu estou muito cansado. Pode continuar. – Ele prosseguiu, girando a cadeira para ficar de frente para ela.
Liv rolou os olhos, tentando ignorar o comentário para poder seguir o assunto. Ela não merecia o pai que tinha.
-Eu queria falar com você sobre o Steve Rogers. – Ela disse direta, fazendo Tony se ajeitar desconfortavelmente. – E sobre tudo que aconteceu durante a Guerra Civil dos Vingadores.
-Honestamente, Liv, eu não estou precisando de uma sessão de terapia agora – Stark respondeu, massageando as têmporas. – Eu preciso descansar.
-Não, pai, você precisa resolver isso. – Ela contradisse, com toda a calma que conseguiu. – Já faz anos. E você nunca conversou com ninguém, nem com a sua própria filha a respeito de tudo que aconteceu.
-É porque eu não preciso, está bem? Não há o que conversar – Tony respondeu, levantando-se. – Sinceramente, não sei por que está levantando isso agora.
-Porque, mais do que nunca, isso precisa ser resolvido. Virou uma questão de estratégia, e envolve a equipe inteira, ou melhor, a humanidade inteira. – Olivia esclareceu, impedindo que ele saísse da sala.
-Nós vamos conseguir dar conta do Magnum sozinhos. Nossa equipe ficará pronta, estamos trabalhando em melhorias para garantir isso. Não precisamos de reforço, está bem? – Stark insistiu, de um jeito furtivo. Ele realmente não queria ter aquela conversa.
-Não, pai, a equipe não está pronta, e você sabe disso. O Magnum é um dos piores inimigos que os Vingadores já enfrentaram, e metade deles não será suficiente para impedi-lo, não importa quanta bugiganga tecnológica a gente invente. – A garota impôs-se. – A questão é você estar pronto pra desistir de toda a sua mágoa e rancor do passado, pra que possamos realmente nos preparar.
-Não é como se a salvação do mundo dependesse disso. – Tony respondeu, contrariado. – E não coloque essa história toda como se fosse simples de resolver, porque não é.
-Eu sei que não, por isso vim aqui. – Disse Liv, compreensiva. – Sei o quanto olhar pro Rogers e lembrar tudo o que aconteceu seria imensamente difícil pra você. Só que é necessário.
-Não, não é. – Stark disparou, irritado. – Já demos conta do robô uma vez, daremos de novo. E sem precisar da ajuda de traidores. Nós somos os Vingadores; Rogers e os outros deixaram de ser no momento em que saíram por aquela porta, sem se importar com nada do que construímos ao longo dos anos.
-O que aconteceu no passado não importa, pai. Estamos falando sobre o futuro. – Olivia falou sensatamente.
-Não tem futuro com o Rogers e os outros nesta equipe, você ouviu? – Tony respondeu, exaltado. – Pode dizer isso pros coleguinhas de time que mandaram você vir até aqui. – Ele começou a caminhar até a porta novamente.
-Ninguém me mandou aqui, eu vim porque quis. Porque me importo com a equipe, e me importo com você. – Liv levantou a voz, olhando para o pai. Ela ficou de pé, no ímpeto de pará-lo. – Sei que foi difícil passar por toda aquela briga, mas você não foi o único que sofreu com isso. A equipe toda se machucou, e eles estão dispostos a deixar isso de lado, porque reconhecem que o perigo que vamos enfrentar é muito mais importante do que guerras passadas.
-“Guerras passadas?” – Stark franziu o cenho. – Achar ruim porque seu amigo te deu um soco no rosto durante uma briga é uma coisa; mas o Rogers mentiu pra mim. Pior, ele me enganou durante todos esses anos, pra proteger o criminoso que matou meus pais. Não venha me dizer que isso é algo que se esquece rápido, algo “passado”.
-Se esses robôs não forem detidos, não vai ser só o seu passado que será trágico. – Liv argumentou, perdendo a paciência. – Isso é maior que você, pai. É maior que todos nós. Você sempre me disse que um verdadeiro herói precisa fazer sacrifícios, porque não importa o que acontece na sua vida particular, ele sempre toma decisões a fim de proteger as pessoas, e não a si mesmo. Você precisa parar de tentar se proteger do seu passado.
-Você não entende nada sobre o passado, não sabe o que aconteceu. O que eles fizeram não tem perdão! – Tony exclamou, irritado.
-E deixar que as pessoas morram por isso tem perdão pra você? Deixar sua equipe na mão tem? – A garota insistiu, brava. – Não é justo que a humanidade pague pelo nosso egoísmo.
-E o que eles fizeram não foi egoísta? Dividir a equipe porque eram incapazes de aceitar ordens do governo, pra poder continuar protegendo as pessoas? – Stark argumentou raivosamente. – Não venha me falar pra fazer sacrifícios, porque eles é que não foram capazes de sacrificar o orgulho para manter a paz. E eu me recuso a trabalhar com gente assim outra vez.
-Se você não quer mais trabalhar com o América, por que colocou um novo escudo pra ele nos projetos das Inovações? – A garota perguntou de forma astuta. De fato, havia um projeto para a nova arma nos arquivos, e todos eles haviam passado pela aprovação de Stark antes de chegarem até lá.
-É obvio que não fui eu. Deve ter passado despercebido. – Tony respondeu simplesmente. – Eu não vou procurar o Rogers, não importa quantos argumentos feitos você ou o resto da equipe usem pra cima de mim. Não vai acontecer. – Ele disse, autoritário. – Aliás, eu não quero mais ouvir falar desse nome, fui claro?
-Mais do que claro. – Liv respondeu irônica. – Deixou transparente o fato de que você é incapaz de aceitar qualquer opinião que seja diferente da sua, da forma como você vem fazendo desde que eu cheguei aqui. No início, eu pensei que era só comigo, porque você nunca ouvia o que eu tinha pra dizer; só que você não ouve ninguém, nunca! Como se Tony Stark fosse o único que soubesse como agir diante de qualquer situação.
-Bom, vistam suas fardas e batam continência, porque aparentemente eu sou um ditador agora. – Tony rebateu no mesmo tom. – Eu sou o líder dessa equipe, Olivia. Alguém precisa tomar as decisões difíceis.
-Ser líder não quer dizer ser um mandão. – A garota discordou. – E é exatamente assim que você tem agido ultimamente. Fica todo irredutível, não aceita a opinião de ninguém, e age estranho com todo mundo, sem se aproximar ou interagir como você fazia. Você está afastando todos ao seu redor desse jeito, pai – Liv falou, sinceramente. – Assim como afastou o Rogers.
-É assim que eu trabalho, Olivia, e nunca escondi isso de ninguém. Se o resto da equipe não está satisfeito com isso, pode se sentir a vontade para sair por aquela porta assim como fez o resto. – Ele respondeu, áspero.
-Você não se cansa de fazer inimigos?! – Olivia exaltou-se, farta daquele comportamento. – Não sei se você notou, pai, mas o Magnum só está fazendo todos esses desastres por sua causa. Assim como fez o Rogers ao ir embora, assim como todos fizeram! Eu sei que você está cansado de ser o Homem de Ferro, e de ter que ver as pessoas morrerem sem poder fazer nada por elas. É uma merda, mas essa é a vida que você escolheu. Descontar a sua frustração no resto da sua equipe vai acabar com ela! – Exclamou.
-Sabe, agora eu me lembro por que eu e Meredith não demos certo. – Tony falou, mencionando a mãe de Liv, em tom mais baixo do que o da discussão. – É porque ela era teimosa, assim como você. Vivia dando palpite e tentando me dizer o que fazer, quando ela não entendia nada sobre o que estava acontecendo. E você é igualzinha!
Olivia bufou, já cansada daquela gritaria. Àquela altura, nada do que ela dissesse seria suficiente para mudar a opinião dele. Ultimamente, era assim que as coisas funcionavam.
-Você tem razão, pai, eu sou teimosa. Odeio que falem da minha vida e me digam o que fazer, e quando coloco uma ideia na cabeça, insisto nela até o fim com a maior convicção do mundo. E pode ser que eu me pareça fisicamente com a minha mãe, e talvez até fale como ela às vezes – Disse a garota, sem esboçar nenhuma emoção. – Mas, por dentro, eu sou igualzinha a você.
Depois de dizer aquelas palavras, Olivia saiu da sala. Ela não tinha mais paciência para lidar com o pai, até porque argumentar era inútil. Ele jamais ouviria a ela. Ele jamais ouviria a qualquer um.
Teimosia estava no sangue dos Stark. E se ele seria teimoso com as ideias dele, então Olivia também seria com as dela.
A garota saiu andando a passos largos e pesados pelo corredor, e pegou no bolso o celular. Teclou rapidamente algumas mensagens, endereçadas a Romanoff, Visão, Thor e Banner. Em seguida, ela ligou para Peter, que atendeu a chamada após o segundo toque.
-Eu tentei, mas foi inútil. – Disse ela, com a voz séria. – Vai ter que ser do nosso jeito.

Capítulo 17

Diante dos recentes acontecimentos, o restante da equipe já havia percebido que precisaria agir fora das regras se quisesse virar o jogo. O ponto de encontro era a sala de estratégias, às dez horas; Visão, Thor, Olivia, Romanoff, Banner e Peter foram até lá, escapando furtivamente de seus compromissos diários, para uma espécie de reunião dos transgressores.
-Não tem a menor chance. Stark não vai ceder. – Disse Bruce, no meio da deliberação.
-Talvez se todos nós falássemos com ele... – Sugeriu Thor, ainda não totalmente convencido com aquela história toda.
-Só vai piorar as coisas. Quanto mais o pressionarmos, mais ele vai insistir em nos contrariar. – Natasha justificou. – Como sempre foi.
-Bom, as coisas não correram exatamente como o esperado na noite passada. – Disse Olivia, praticamente tendo calafrios ao lembrar a conversa. – Não temos escolha a não ser apelar.
-Você sabe que estaremos prestes a começar uma nova guerra se fizermos isso, não sabe? – Banner questionou, apenas para ter certeza.
-Já estamos numa guerra. – Falou Peter, defendendo a ideia.
-Meu pai não vai tomar uma atitude. Precisamos arrumar um jeito de falar com o Rogers, nós mesmos. – Disse Olivia, pensativa. – Vocês da equipe não têm nem ideia de onde ele pode estar escondido?
-Steve não fala com nenhum de nós desde a batalha. E também nunca se deu ao trabalho de enviar um sinal ou uma pista, no caso de precisarmos achá-lo. – Nat contou. – Já tentei procurar por ele várias vezes, rastrear seu paradeiro, mas nunca consegui fazer contato algum.
-Ok – Liv respondeu, matutando uma ideia. – Eu sei de algo que podemos usar pra fazê-lo sair da toca. Só preciso saber se todos vocês aqui estão de acordo em chamá-los.
Todos ali, de uma maneira ou de outra, concordavam que convocar Steve Rogers e os outros integrantes do TeamCap seria a melhor e única opção para os Vingadores no combate contra os gigantes de aço. Claro que havia receios, mágoas e brigas envolvidas; mas aquele plano todo só havia começado porque, em todo caso, não havia escolha. Eles precisavam agir, e precisavam de ajuda para isso.
-Já que é pelo bem da humanidade, então que seja. – Falou Visão, respirando fundo.
-Pouco depois de ir embora e desaparecer, o Rogers enviou um pacote pro meu pai. – Disse Olivia, contando sua ideia aos companheiros. – Nele havia uma carta e um celular, e o único número salvo nos contatos era um para qual, segundo as instruções, meu pai deveria ligar se precisasse chamá-lo. Eu descobri isso quando achei o bilhete por acidente na gaveta dele, há alguns meses. Pelo que eu li, o América está disposto a esquecer tudo e ajudar quando for necessário. Ele só precisa ser incentivado.
-Ok, então qual é o plano? Mandar um Whats e esperar que o Steve apareça aqui? – Questionou Banner.
-Eu conheço o Rogers, não vai ser assim tão simples. Até porque, como você disse, ele está esperando por um convite do Stark. – Alegou Natasha, falando com Olivia.
-Ele não precisa saber que não é o Stark, à primeira vista. Só precisamos dar o primeiro passo e ver como ele reage. – Explicou a garota. – Depois pensamos no resto a partir disso.
-Ok, então o que faremos? – Peter levantou a questão.
-Precisamos do telefone. – Liv respondeu. – Pegá-lo não é o problema, porque é só um celular velho jogado na gaveta da mesa do meu pai, já que não tem nenhuma importância aparente. A questão é entrar lá sem que F.R.I.D.A.Y. registre a visita. Não existem câmeras no escritório porque meu pai não curte muito Big Brother, mas sempre que alguém passa pela porta do escritório sem que ele esteja lá dentro, ele recebe uma notificação com a identificação da pessoa na hora. Isso vai gerar perguntas e acabar ferrando nosso plano.
-Bom, se o sistema sabe exatamente quem passou pela porta, então precisamos de alguém que possa entrar lá sem usar a porta. – Disse Thor, que parecia ter uma ideia em mente. Ele olhou para Visão assim que terminou a fala. Imediatamente, todos acompanharam o gesto, e começaram a encarar o sintozoide.
-Oh – Falou Visão, após demorar alguns segundos para entender por que faziam aquilo. – Parece que agora atravessar paredes não é mais tão inconveniente assim pra vocês, não é?
A equipe colocou o plano em prática ainda naquele mesmo dia. Aproveitando que Stark havia partido pela manhã para uma viagem de negócios, Visão invadiu seu escritório durante o intervalo de almoço dos funcionários, atravessando uma das paredes e enganando o sistema. Ele foi até a mesa de Tony e abriu a primeira gaveta, e lá encontrou o telefone, exatamente como nas instruções de Olivia. Ele pegou o aparelho e saiu de lá rapidamente, alertando seus colegas sobre o feito e convocando um novo encontro logo em seguida.
Já era noite quando todos voltaram a se reunir, na cozinha do alojamento. O dito celular estava no centro do balcão, enquanto os heróis deliberavam sobre o melhor modo de fazer o contato que seria decisivo para o andamento da equipe a partir dali.
-Bom, isso é tudo que podemos fazer. – Disse Natasha, com o aparelho na mão. – Rezem para que funcione.
A mulher abriu a agenda de contatos, selecionando o único número ali salvo. Então, com rápidos cliques, digitou uma curta e objetiva mensagem, da forma mais condizente com Stark que eles conseguiram encontrar.
“Precisamos conversar.”
Enviar.
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-Sabe, eu amo meu pai, mas ele pode ser um pé no saco as vezes. – Soltou a garota, revirando os olhos.
-Sabe, eu amo seu pai, mas ele pode ser um pé no saco as vezes. – Concordou a moça, repetindo as palavras anteriores, após um gole de café.
Na cafeteria do prédio das Inovações, Olivia intercalava seus desabafos com um delicioso frappuccino gelado, ao lado de sua mais fiel parceira quando o assunto era falar mal de Tony Stark. Sentada do outro lado da mesa, Pepper Potts ouvia aos argumentos da adolescente, enquanto saboreava um bolo de frutas.
-A equipe toda tem falado que ele anda muito esquisito – Falou Liv, sugando o canudinho. – Desde que os Vingadores se separaram.
-Acho que isso vem desde que ele se entende por Tony Stark, pra ser sincera. – Disse a ruiva, gerando uma risada conjunta.
O que acontecia ali era uma espécie de encontro periódico entre Pepper e Olivia, que se tornou costume desde que a garota havia se mudado para a sede da equipe em Cambridge. Apenas sair, tomar um café ou almoçar, falar sobre a vida e dar algumas risadas. Desde que Tony descobriu que tinha uma filha, as duas sempre se deram muito bem, e tornaram-se muito amigas graças ao laço que mantinham.
-Eu sei que ele nunca foi exatamente um mestre em ouvir o que os outros têm a dizer – Continuou a mais nova. – Mas parece que comigo é pior ainda.
-Acho que seu pai não está acostumado a pensar em você como alguém crescida e capaz de liderar. – Respondeu Pepper. – Pra ele, você sempre foi a garotinha que corria para abraçá-lo e pedia para ouvir histórias de aventura. E de repente ver você aqui, morando com ele pela primeira vez, liderando um departamento e fazendo parte da equipe, é uma mudança muito grande. Você cresceu mais rápido do que ele pôde acompanhar.
Olivia ergueu as sobrancelhas, parecendo consentir com o que ela disse.
-Eu até acho que ele está lidando bem com isso. Poderia ser muito pior. – Continuou a ruiva, ponderando. – Ele não surtou quando descobriu sobre você e o Peter Parker, isso já é alguma coisa.
-Ele te contou sobre isso? – Liv fez uma careta, entortando a boca.
-Ah, do jeito dele. Sabe que quando o assunto envolve sentimentos, seu pai evitar falar sobre. – Pepper deu de ombros. – Mas as notícias correm por aí.
-Maldito Banner. – Bufou a garota, imaginando quem teria fofocado sobre aquilo.
-Olha, sei que é ruim pra você ter que aguentar isso. – A mais velha continuou em tom compreensivo. – Mas seu pai tem lidado com muita coisa ultimamente. É muita pressão vinda de todos os lados, inclusive dele mesmo. O Tratado de Sokovia, a divisão dos Vingadores, os robôs... não seria fácil pra ninguém carregar tudo isso nas costas. Ele faz o melhor que pode.
-Mas ele não precisa aguentar tudo sozinho. Se ele ao menos falasse com a equipe, ou comigo...
-Bom, aí entramos no velho problema de a comunicação não ser o forte dele. – Pepper declarou com um leve sorriso. – Ele sempre foi bom em lidar com a dor dele sozinho. Quanto mais tentamos interferir, mais Tony se fecha em si mesmo. Ele tem muitos problemas, mas não quer que se tornem problemas pra quem ele gosta também.
-Não acredito que você vai ser louca a ponto de casar com ele. – Disse Liv com a voz tediosa, arrancando uma risada da mulher. Era estranho pensar isso, mas logo Pepper se tornaria sua madrasta; uma palavra que parecia não condizer com o que Olivia sentia. Era, na verdade, algo muito bom.
-Ainda falta um tempo pra isso. Resta saber se ninguém terá se matado até lá, do jeito que andam as coisas. – Respondeu Potts, dando de ombros.
-Eu tenho sérias preocupações. – Olivia disse arregalando os olhos.
O assunto foi interrompido quando Olivia sentiu uma vibração em seu bolso frontal. Ela foi checar; o celular “emprestado” de Stark, que ela vinha carregando consigo já há dois dias, emitira um alerta. Rogers respondera.
-Eu tenho que ir. – Ela disse apressada, levantando da mesa. – Obrigada pela companhia, Pep.
-Ok – A outra estranhou a reação repentina. – Até mais, Liv.
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Todos estavam reunidos na sala de estar do alojamento, esperando por um veredicto. O dito celular estava nas mãos de Banner, que esperara que todos estivessem presentes para abrir a tão esperada mensagem de resposta. Era hora de saber o que Steve Rogers tinha a dizer sobre o primeiro contato dos Vingadores com a sua metade perdida da equipe, depois de tanto tempo.
-Consegue imaginar o quão desapontador vai ser se ele tiver respondido “Não.”? – Bruce cochichou para Peter, que riu apesar da tensão do momento.
-Ok, hora da verdade. – Disse Thor, e em seguida Banner pressionou o botão para que a mensagem fosse aberta.
O recado era confuso. No corpo do texto, havia vários números em sequência, formando o que pareciam ser coordenadas. Logo após um ponto final, escrevia-se “36 horas”. Apenas isso.
-Ele nos enviou uma localização. – Bruce anunciou. – Disse para estarmos lá em trinta e seis horas.
-Qual o código? – Perguntou Romanoff, com um dispositivo pronto para pesquisar as coordenadas. O homem apenas esticou o celular para ela, para que visse os números.
Após alguns breves segundos de verificação, em que todos ficaram em silêncio, Natasha encontrou o mapa para o ponto de encontro. Ela mostrou a todos.
-É uma ilha. – Disse ela, espelhando o local na televisão do cômodo. – Pertence ao arquipélago de Açores, que fica entre a América do Norte e a África.
Todos se entreolharam, pensando sobre o próximo passo.
-Ok, precisamos ir até lá. – Thor falou convicto. – E ver no que vai dar.
Era hora de colocar o plano em ação, oficialmente. Embora Rogers não soubesse que aquele que lhe escrevera não era Stark, ele fizera contato; cabia ao resto da equipe esclarecer a situação e convencê-lo de que voltar seria a melhor opção. Em trinte e seis horas.
Tony estava no meio de uma viagem de negócios em nome da Stark Industries, que o manteria afastado por cinco dias, dando a eles tempo de sobra para cometer o delito. Como estratégia, Thor e Visão se voluntariaram para permanecer na sede, a fim de não abandonar o local completamente sozinho – não era possível esquecer a iminente ameaça de um ataque de robôs a qualquer momento. Com isso, Banner, Romanoff, Peter e Olivia ficaram encarregados da viagem, preparando-se para ir até Açores em um dia e meio.
-Eu espero que saibam o que dizer – Falou Parker, enquanto o time se preparava para entrar no jatinho que os levaria até lá. – Porque eu estou sentindo que o Capitão não vai ficar feliz quando souber que não era o Sr. Stark no telefone.
-Ele confia na Nat e no Banner – Falou Olivia, subindo a bordo. – Isso tem que nos dar alguma credibilidade.
-Steve é um cara difícil de convencer, mas ele costuma fazer a coisa certa. – Natasha entrou no assunto. – Tomara que essa não seja uma exceção.
A entrada do jatinho fechou-se, e logo o avião pôs-se no ar com destino às coordenadas enviadas pelo Capitão América. Seriam apenas duas horas de viagem, bem a tempo do prazo estipulado para o encontro tão esperado, e também tão incerto.
-Podemos não ter trazido Tony para conversar com ele – Disse Olivia, após alguns minutos transcorridos da decolagem. – Mas talvez um representante da família Stark já seja suficiente.
Durante toda a viagem de ida, a vista das janelas se resumia à imensidão azul do oceano. Ninguém falou mais nada o percurso todo, cada um imerso nos próprios pensamentos que aquela situação decisiva acarretava. Somente quando o piloto automático anunciou que o ponto de chegada estava próximo, foi possível localizar pequenos pontinhos verdes de terra interrompendo toda a água; de fato, aquele parecia um ótimo esconderijo para um fugitivo internacional.
O jato pousou em um pequeno hangar, que fora indicado com precisão pelas coordenadas contidas na mensagem. A ilha paradisíaca estava completamente deserta, até onde os olhos podiam alcançar: apenas o mar, cachoeiras e montanhas cobertas por florestas. Nenhum sinal de vida ou civilização era detectável, ao pé da montanha onde a equipe se encontrava.
Olivia, Nat, Banner e Parker verificaram o perímetro e desceram do pequeno avião, perguntando-se qual seria o próximo passo. Àquela altura, Natasha já possuía um pequeno palpite sobre quem poderia estar por trás de toda aquela privacidade, arranjando um esconderijo naquele local em específico.
-Não estou vendo o homem de cavanhaque e óculos escuros que me prometeram. – Disse uma voz masculina atrás deles, empregando um sotaque carregado impossível de se confundir.
Logo no início da pista de pouso, T’Challa postava-se imóvel, encarando os quatro heróis. Acompanhado por dois seguranças wakandianos, o Pantera Negra começou a caminhar até eles, com uma expressão séria. Romanoff deu um passo à frente.
-T’Challa. – Disse ela, cumprimentando-o com os dois braços cruzados diante do peito.
-Agente Romanoff. – Falou o homem com ênfase na letra R, correspondendo o gesto. – Não deveriam estar aqui.
-Fomos nós que enviamos a mensagem ao Rogers. – Explicou a moça, já familiarizada com o outro. – Precisamos falar com ele.
-Steve estava esperando pelo Stark. Ele não vai ficar nada feliz ao saber que mentiram. – T’Challa permaneceu impassível.
-É muito importante. – A ruiva insistiu. – Por favor.
O homem respirou fundo, pensativo.
-Venham comigo.
Os quatro heróis seguiram o rei, que os levou até um elevador ultramoderno escondido dentro da montanha onde eles estavam. Os dois seguranças que o acompanhavam ficaram do lado de fora, a comando de T’Challa. Logo em seguida, os cinco subiram.
-Como conseguiu esse refúgio? – Romanoff perguntou a ele, enquanto o veículo ganhava altitude.
-Era uma antiga casa de veraneio do meu pai. Eu vinha aqui quando criança. – Explicou o homem. – Isolada o suficiente, secreta o suficiente.
O elevador chegou sem demora ao que parecia ser o destino final dos quatro Vingadores. Tratava-se de uma residência, aparentemente comum, que ficava no topo da montanha por onde chegaram. A casa era ampla e bem iluminada, e tinha um ar quase pacífico por conta da decoração básica e do ar tropical que ali reinava. No entanto, parecia não haver ninguém lá.
Assim que entraram, T’Challa fez um sinal de cabeça aos outros para que o seguissem. Ele os guiou até o lado de fora da residência, que possuía uma ampla sacada virada para o mar. A vista era estonteante, e contava com uma brisa leve e quente vinda do horizonte, completando a paisagem. E, sentado ali, em uma das cadeiras de vime, havia um homem.
Steve Rogers. Os cabelos mais compridos do que o normal, a barba por fazer; trajando roupas normais, bem diferentes de seu típico uniforme azul e vermelho. Seu olhar estava perdido no horizonte, enquanto ele permanecia de costas para a porta por onde entraram os outros, sem notar a presença deles.
-Steve – Chamou T’Challa, atraindo sua atenção antes perdida. – Visita.
O homem virou-se. A primeira expressão esboçada em seu rosto foi de confusão; diante de si, velhos amigos que lhe traziam um passado aparentemente muito antigo de volta. No entanto, nenhum deles tinha o rosto que ele esperava ver.
-O que fazem aqui? – Perguntou ele, com o rosto franzido.
-Precisamos conversar. – Natasha tomou as rédeas.
-Cadê o Stark? – Sua expressão fechou-se mais. A resposta demorou a aparecer.
-Ele não veio. – Disse Banner, saindo de trás da moça. – Só nós.
A conversa caiu no silêncio logo em seguida. Rogers olhou para baixo, encarando o chão como se estivesse confuso. Não era o que ele se preparara para enfrentar.
-Foi ideia sua, não foi? – Ele dirigiu-se à Natasha de repente, com um tom um pouco irritado. Ela não respondeu. – Como descobriu sobre o telefone? Eu te disse pra não me procurar... – Steve passou a mão pelos cabelos, bravo.
-Fui eu que enviei a mensagem. – Olivia o interrompeu, se pronunciando de repente. Todos ficaram em silêncio.
Steve virou-se para olhar para a garota.
-Quem é você? – Ele apertou os olhos.
-Olivia Stark. – Respondeu a menina, dando um passo à frente.
Rogers continuou encarando-a, sem entender o que ela havia dito. Não fazia sentido.
-Temos muito que conversar. – Ela acrescentou.
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Tony Stark tinha uma filha. Aquela era uma informação um pouco complexa e confusa demais para assimilar assim, ainda mais na atual situação. Enquanto ouvia a nova garota explicar sua origem, Rogers tinha seu olhar perdido em meio a pensamentos, que clareavam à medida que Olivia falava. No entanto, aquela não era a única preocupação, e ainda havia muito para ser explicado.
Após o primeiro contato de choque, o grupo de heróis se transferiu para a sala de jantar, que ficava logo após o hall de entrada. Todos se sentavam ao redor da mesa redonda, exceto Banner e T’Challa, que observavam de pé. Eles ouviam a explicação de Olivia, em um clima um pouco mais ameno que o anterior.
-Você esteve escondida durante todo esse tempo? – Perguntou Steve durante o assunto.
-Em anonimato. Foi melhor pra mim no início. – A garota contou. – Até que entrei pra equipe.
-E você controla energia, foi o que disse?
-Exatamente. – Disse ela, confirmando a fala ao apagar as luzes do cômodo e trazer a energia até sua mão direita, fazendo a luminosidade dançar por entre seus dedos. Logo depois, ela a devolveu.
-Bom, é um segredo e tanto. – Rogers disse assim que ela terminou. – Eu jamais imaginaria.
-Nenhum de nós imaginou. A Mini Stark foi uma grande surpresa – Natasha acrescentou. – Ela tem nos ajudado muito desde que chegou.
-Muita coisa mudou por lá, Steve. – Disse Banner, após a fala da amiga. – Tivemos novas aquisições.
Dito isso, Rogers virou-se para a direita, encarando outro rosto que também lhe era desconhecido.
-E quem é você, garoto? – Perguntou, referindo-se a Peter.
-Sou Peter Parker. – O rapaz se apresentou. Rogers ficou encarando-o.
-Eu já te disse, ninguém liga pra quem é Peter Parker. Se apresente como herói. – Olivia cochichou para ele, que se aprumou logo em seguida. É claro que Rogers não lhe reconheceria sem a máscara.
-Eu sou o Homem-Aranha. – Corrigiu.
-Oh sim, o garoto do Queens. – Steve elucidou-se, transparecendo um leve sorriso ao relembrar a conversa que os dois tiveram no aeroporto há anos atrás. – Fico feliz de saber que está a bordo. É sempre bom ter mais ajuda.
-É exatamente por isso que viemos até aqui, Steve. – Natasha tomou a palavra, puxando para o assunto principal. Era para isso que tinham viajado até ali, era onde eles queriam chegar. – Os Vingadores precisam de reforços.
O homem suspirou, ajeitando-se na cadeira para ouvir.
-Temos um novo inimigo para enfrentar. Dos grandes. – Falou Banner, iniciando a explicação. – Ele se chama Magnum. Invadiu a nossa sede há alguns meses, e tem realizado atentados terroristas em várias cidades.
-Ele possui um exército de robôs gigantes altamente tecnológicos, que foram projetados especialmente para nos enfrentar. – Nat prosseguiu. Ela colocou um dispositivo em cima da mesa, que projetou uma pequena tela onde vídeos dos ataques se exibiam para que Steve visse. – Cada um deles foi projetado especialmente para resistir aos nossos poderes, fazendo com que o combate fique muito difícil. Basicamente, uma equipe anti-Vingadores. Seu único objetivo é matar civis, o máximo que puder, sem que consigamos impedi-los.
-Esse Magnum pretende desacreditar a nossa equipe perante a humanidade. – Falou Parker. – A ideia é fazer com que pareçamos fracos, incapazes de proteger as pessoas.
-Magnum faz parte do lado da sociedade que acredita que os Vingadores não ajudam as pessoas realmente. Ele nos considera responsáveis pelos estragos e mortes que nossas batalhas causam, e pretende nos destruir usando a opinião pública e a mídia contra nós.
-Parece horrível. – Disse Steve com sinceridade, apesar de não esboçá-la.
-E é. – Romanoff concordou. – Pra ajudar, o governo está se aproveitando do Tratado de Sokovia e transformando os Vingadores em uma espécie de exército reserva. A ONU está controlando tudo o que fazemos, e não nos deixa investigar nem tomar as devidas medidas pra derrotar esse cara. Já perdemos muitas oportunidades de salvar as pessoas por conta disso. – Ela lamentou. – Eles têm medo da opinião pública, e querem jogar a equipe pra escanteio por conta da polêmica. Acabaram causando a morte de centenas de pessoas.
-Stark está tendo dificuldades para lidar com isso. Há tempos ele anda... estranho. – Banner contou, tentando achar as palavras certas. – E intervir não parece estar nos planos dele. Foi por isso que o resto da equipe se reuniu para tomar as decisões difíceis, e chegamos à conclusão de que precisávamos vir até aqui.
-Os Vingadores não conseguem enfrentar o exército de robôs sozinhos. – Olivia prosseguiu, chegando ao ponto em que precisava. – Por isso te chamamos.
-Precisamos reunir a equipe. É a única forma de vencermos os robôs e livrarmos a humanidade do perigo que eles trazem, antes que seja tarde demais e as pessoas percam a fé em nós. – Peter complementou, finalizando o discurso. Logo em seguida todos olharam para Rogers, esperando uma resposta.
Steve levantou-se da cadeira, caminhando pelo cômodo a passos lentos. Seus olhos azuis, que agora carregavam um tom acinzentado, passeavam pela paisagem do lado de fora, enquanto ele parecia absorver tudo que os antigos colegas lhe contaram.
-Como descobriram sobre o celular? – Ele perguntou, fazendo uma leve curva no assunto.
-Eu encontrei. – Olivia explicou. – Estava guardado com o meu pai.
-Bom, este celular era dele. E havia uma razão para isso. – Rogers prosseguiu, ainda sem encará-los. – Para que ele utilizasse quando achasse necessário.
-Você conhece o Stark. Ele prefere perder a dar o braço a torcer. – Natasha argumentou.
-Pode ser. – O homem ergueu as sobrancelhas em concordância. – Ainda assim, é uma decisão dele.
-Mas que não condiz com o que o resto de nós acha. – Banner completou.
-Não existe ele ou nós – Steve olhou para ele. – Vocês são uma equipe, não são?
-Nós somos uma equipe. – Romanoff corrigiu, incluindo-o.
-Isso foi há muito tempo. – O olhar do homem voltou a perder-se. – Talvez tempo demais.
-Aonde quer chegar?
-Não posso voltar assim. – Rogers disse objetivamente. – Minha condição era receber um chamado do Stark, especificamente. E ele não sabe que estão aqui, portanto não é uma decisão unânime. – Ele fez uma breve pausa. – Equipes precisam ser coesas, precisam concordar naquilo que fazem. Eu deixei de fazer parte desta equipe quando ela tomou um rumo que eu não poderia seguir. E eu sinto muito em saber que as coisas estão dando errado, mas foi exatamente o que eu disse que iria acontecer se assinassem o Tratado de Sokovia. Vocês estão lidando com a escolha que fizeram, e eu estou lidando com a minha também.
No instante em que terminou a fala, Rogers deu as costas para a mesa e começou a andar na direção da porta. Para ele, o assunto estava encerrado; para os outros, era um esforço perdido.
-Você tem razão, são escolhas. – Olivia levantou-se e disse, fazendo Steve interromper a caminhada. – Desde o início, tudo se resume a escolhas. Todos nós chegamos até aqui, como heróis, por conta de decisões que tivemos que tomar. Muitas vezes bem difíceis, pois envolviam sacrificar muitas coisas. Sei que você entende bem o que é isso.
Todos na sala pararam para ouvir a garota.
-No passado, todos vocês tomaram a decisão de sacrificar e separar essa equipe, porque escolheram caminhos diferentes um do outro e foi impossível manterem-se lado a lado. Mas, há muito tempo, a questão deixou de ser quem estava certo e quem estava errado nisso tudo. Eu, Banner, Parker, Romanoff, Visão e Thor já entendemos isso, e por essa razão foi nossa escolha vir até aqui. – Olivia prosseguiu. – Independente do que Tony Stark acha.
O resto dos heróis prestava atenção em Olivia.
-Entendo que você estivesse esperando por um chamado dele. Eu não fazia parte disso quando tudo aconteceu, mas sei que vocês dois tem muita coisa pra resolver entre vocês, coisas que não precisam só de tempo pra cicatrizar. Por conta disso, Stark pode não ter te enviado aquela mensagem, mas ele também precisa da sua ajuda, assim como nós precisamos. – Disse ela. – Por isso eu estou aqui. Pra pedir a ajuda que meu pai é orgulhoso demais pra pedir.
A garota fez uma breve pausa em seguida.
-Eu não te conheço, Steve Rogers, mas já ouvi histórias sobre você. Histórias de guerra, de coragem, de decisões difíceis em situações extremas, tomadas visando um bem maior. Você viveu isso, e sabe que vencer batalhas nunca se deve ao poder e à decisão de um homem só. Por mais que existam heróis de guerra, grandes generais dos quais falamos até hoje em livros de história, a vitória sempre depende de um batalhão unido, mesmo que não pense exatamente igual. – McCall prosseguia a argumentação. – Por isso eu discordo de você. Equipes não são equipes apenas quando concordam em tudo; equipes são grupos de pessoas que se unem com o mesmo objetivo. Pode ser atravessar uma ponte, invadir uma base, derrotar alemães, salvar um país. E, no caso dos Vingadores, é a missão de proteger a humanidade. Apenas isso, independente dos sacrifícios ou das concessões que temos que fazer, independente de discordâncias ou obstáculos que possam aparecer no meio do caminho.
Steve ainda estava parado de costas, ouvindo tudo.
-Eu sei que não é tão fácil quanto parece ao falar assim. Nos últimos tempos, comecei a ter uma leve ideia do quanto é difícil ser um herói, e agir de acordo com o que é certo, independente das nossas questões pessoais e batalhas internas. Afinal, nós somos humanos. – Ela deu de ombros. – Apesar dos superpoderes, da importância e das responsabilidades, somos pessoas como todas as outras. Temos sentimentos, temos medos, cometemos erros. Muita gente não compreende essa situação, e é exatamente por isso que estamos onde estamos, com a opinião pública mirando nas nossas costas. Mas fazemos o melhor que podemos. Meu pai acha que está fazendo o melhor que pode ficando onde está e fechando os olhos, ao mesmo tempo em que nós achamos estar fazendo o melhor vindo até aqui. E você também, saindo por essa porta.
Olivia olhava para Rogers, mesmo que ele não retribuísse.
-Mas, novamente, tudo se deve às escolhas. Os Vingadores ou meu pai podem não ter tomado todas as decisões certas ao longo desse caminho, mas você ainda pode fazer isso. Pode escolher passar por cima de todo o passado e fazer a coisa certa, lutando por aquilo que você acreditava desde o início. Desde quando era apenas um soldado. – Liv deu ênfase ao passado. – Que não importa o que a imprensa diz. Não importa o que os políticos ou as multidões dizem. Não importa se o mundo inteiro diz que algo errado está certo. A humanidade foi construída em cima de um princípio acima de todos: a exigência de que nós temos que defender aquilo que acreditamos, não importa quais as chances ou as consequências. Quando as multidões, a imprensa e o mundo inteiro disserem pra que você se mova, o seu dever é se plantar como uma árvore à beira do rio da verdade e dizer para todos eles: não, movam-se vocês. – Ela finalizou, citando uma fala antiga do próprio Rogers, que estampava livros de história atualmente.
Olivia encarou o homem, que permanecia imóvel.
-O movimento é seu, Capitão.
Steve ficou parado ali por mais alguns instantes, até decidir virar-se lentamente de volta para a sala. Todos o encaravam, ansiando por uma resposta diante do discurso da garota. Olivia ainda mantinha os olhos sobre ele, esperando que Rogers retribuísse e lhe desse uma devolutiva sincera sobre o que pensava.
-Eu me lembro de ter a sua idade. – Disse ele finalmente, com um tom de voz diminuído. – Foi mais ou menos nessa época que me alistei para o exército da Segunda Guerra. Como você, eu também sentia que o mundo precisava ser salvo, e seria capaz de tudo para ajudar nessa missão. Essa sua coragem, a vontade de fazer a diferença, a determinação, esse brilho nos olhos quando fala; eu sei como é. – Falou. – Mas, depois de viver tanto tempo quanto eu vivi, e ver tudo que eu pude presenciar durante a minha jornada, isso muda. – Ele fez uma pausa. – A paz e a prosperidade não podem ser construídas apenas de palavras bonitas, garota. Eu entendo o que diz, mas infelizmente, não posso mudar as circunstâncias. Não sei o que vocês esperavam vindo até aqui, mas eu não sou a salvação da qual vocês precisam. Eu sinto muito.
-Steve... – Natasha ameaçou intervir.
-É verdade, Nat. De que adianta apenas minha ajuda? – Ele prosseguiu. – Eu nem sei onde o resto da minha parte da equipe está. Depois que eu os libertei da prisão de segurança máxima, cada um foi obrigado a seguir o seu caminho por conta da perseguição política. Nós todos concordamos que seria melhor nos separarmos sem que os outros soubessem do paradeiro, para que cada um continuasse sua vida. O único que tem um esconderijo conhecido por mim é o Bucky, que é incapaz de dar qualquer ajuda pela condição mental dele. Eu vim pra cá, e não recebo notícias de nada e nem ninguém desde então. – Rogers explicou.
Todos permaneceram escutando, para que ele desenvolvesse seu pensamento.
-E além disso, tem o Stark. Se ele não quer a minha ajuda, não posso simplesmente chegar lá e forçá-lo a trabalhar comigo outra vez. Até porque, sinceramente, não tenho certeza se isso daria certo. – Ele continuou. – Não seríamos uma boa equipe com toda a mágoa do passado atrapalhando a dinâmica. E se uma equipe não tem confiança e entrosamento entre os membros, ela perde a guerra.
Rogers olhou para Olivia em seguida.
-Eu realmente sinto muito por tudo que está acontecendo. Esse não era o destino que os Vingadores deveriam ter. – Disse ele. – Mas, realmente, são as escolhas. A ONU escolheu, vocês escolheram, o mundo escolheu. E, diante disso, eu escolhi também.
Dito isso, Rogers deixou a sala, sem mais nenhuma palavra. Os outros ficaram ali plantados, decepcionados com o fracasso da missão. Nada do que disseram pareceu adiantar, não importou o quanto tentassem. Era doloroso ver tamanha falta de esperança naquele que um dia havia sido sinônimo dela.
A equipe dos Vingadores aguardou mais alguns minutos, mas não havia nada que pudessem fazer. Eles se levantaram, e T’Challa os acompanhou de volta até o elevador, que em seguida os levou até o jato. Despediram-se e embarcaram, sentindo a derrota pesar nos ombros, e então partiram para os Estados Unidos novamente.
-A situação parece bem ruim. – Disse T’Challa, aproximando-se do homem loiro que voltara a sentar na cadeira da varanda. – A humanidade corre perigo, os Vingadores correm perigo.
-Eles próprios causaram isso. – Rogers respondeu, encarando o horizonte. – Eu disse que o governo não entenderia e acabaria atrapalhando o trabalho da equipe. É uma pena ter que assistir a isso.
Os dois ficaram em silêncio por alguns instantes.
-A garota é corajosa. – Comentou o wakandiano, referindo-se à Olivia. – Ela fala com verdade no olhar, não parece desistir tão fácil.
-Tem muito do Stark nela. – Rogers concluiu, sério. – Espero que ela não cometa os mesmos erros que ele cometeu.
-Ela me pareceu esperta. – Falou o outro, duvidando que fosse acontecer. – Parece saber o que faz.
-Concorda com ela? – Perguntou Steve, e T’Challa demorou a responder.
-Não está errada. – Disse ele, dando de ombros enquanto andava pelo terraço. – Salvar as pessoas é dever de um herói que prometeu proteger seu povo.
-Queria que fosse tão fácil. – Steve deu um suspiro.
-E por que não é?
-Você ouviu o que eu disse. O governo, Stark... – Explicou. T’Challa concordou com a cabeça, sem muita sinceridade.
-Ser um herói é tarefa difícil, sim. Envolve muitas coisas, e ter medo das consequências delas é natural.
-Medo? – Rogers sobressaltou-se, virando para o parceiro com estranheza. Ele não tinha medo.
-Revelar-se pode ser assustador. Estar disposto a ajudar nem sempre quer dizer ter sucesso, e envolve sacrificar muita coisa: o que acredita, o que sente. Talvez até a si próprio. – Explicou o Pantera. – Mas não importa o quanto a humanidade nos pareça perigosa, fugir dela ainda é o maior dos nossos erros.
A conversa caiu no silêncio depois disso. T’Challa ausentou-se do terraço nos minutos seguintes, deixando Steve Rogers sozinho à pensar, com os olhos voltados para o mar.

Capítulo 18

Já era tarde da noite, e deitado em uma cama lotada de pacotes de salgadinho vazios e balas de gelatina espalhadas, Peter Parker jogava videogame concentradamente. Com os olhos vidrados, o rapaz esquivava-se dos inimigos virtuais, tentando passar da fase do chefão em Assassin’s Creed – pela décima vez. Acabar com vilões lhe parecia bem mais fácil na vida real.
Eram raros os momentos em que o garoto tinha a liberdade de agir como um adolescente normal. Desde que se mudara para a sede dos Vingadores no norte do país, tudo que fazia era estudar, trabalhar e treinar. Porém, diante dos dias mais tranquilos que vieram após a viagem à Açores, era possível permitir-se um pouco de lazer.
-Boa noite, Peter Parker. Há um novo recado no seu sistema. – A voz de F.R.I.D.A.Y. ecoou pelo dormitório do garoto, atraindo o foco. – O Sr. Stark quer ver você na sala dele.
O avatar do jogo morreu com um golpe de espada, perdendo a partida imediatamente devido à repentina negligência do jogador que o controlava. Peter desconcentrou-se e ficou encarando a tela da televisão, paralisado, sem nem se importar mais com o andamento do videogame. Tony Stark estava o chamando em seu escritório. Ele estava ferrado.
-O recado demanda a sua presença imediatamente. – F.R.I.D.A.Y. voltou para reforçar.
O que quer que tenha ocasionado um chamado de Stark àquela hora da noite, não podia ser nada bom. Até porque, dados todos os recentes acontecimentos em que Peter estava envolvido, só havia motivos para acreditar que aquela reunião resultaria na maior bronca da história. Apenas naquele mês, Peter já havia descumprido as ordens de Tony pelo menos três vezes: investigar os robôs escondido, ir à Nova York e viajar atrás de Steve Rogers. Sem falar, é claro, na maior afronta de todas: ele estava apaixonado por Olivia McCall, a filha de Stark. E já havia beijado a garota na frente dele duas vezes – uma contra a vontade, mas não fazia diferença. Ele seria trucidado, já sabia disso.
Mas Peter não tinha outra escolha senão atender ao chamado, independente de qual seria o motivo e seu resultado. Portanto, após respirar fundo algumas vezes a fim de recobrar a estabilidade, ele tomou coragem para vestir uma roupa e descer as escadas. O rapaz foi caminhando apreensivo pelos corredores vazios do alojamento e depois da sede, imaginando mil e uma formas diferentes que Stark poderia utilizar para matá-lo. Então, após mais alguns minutos de tensão, ele chegou ao escritório de vidro que era seu destino.
Tony o esperava na sala de reuniões, observando a paisagem noturna do campus através da vidraça. Peter engoliu seco e abriu a porta, entrando e chamando a atenção do mais velho, que até então estava pensativo. Stark virou-se para ele, sério, e então, ao ver seu rosto, abriu um sorriso.
-Olá, Pirralho – Disse ele, de um jeito muito simpático. – Como vão as coisas?
-Vão bem – Peter respondeu, retraído pelo medo e estranhando a recepção cordial.
-Que ótimo. – Tony respondeu, com um sorriso sincero. – Espero que tenha cuidado de tudo enquanto estive fora. – Ele referiu-se à viagem que o ausentara nos últimos cinco dias, da qual só retornara naquela manhã.
O rapaz apenas concordou com um aceno de cabeça.
-Bom, eu te chamei aqui porque queria conversar sobre algumas coisinhas. - Explicou Stark, caminhando até o garoto e envolvendo seus ombros lateralmente com o braço. Apesar de ser um gesto inofensivo e amigável, o rapaz gelou completamente. – Coisinhas bem importantes.
-Pode falar. – Peter autorizou, sentindo como se tivesse acabado de assinar sua própria sentença. Os dois caminharam até o interior da sala, e Stark indicou para que o garoto sentasse à mesa comprida repleta de cadeiras vazias no centro do cômodo.
-É sobre seu novo traje. – Stark declarou, indo até a cadeira do lado oposto à do rapaz. Peter suspirou aliviado internamente. – O Aranha de Ferro.
-Sim, claro. – Concordou o garoto, agora relaxado, atentando-se ao assunto. No fim, toda aquela preocupação dele tinha sido desnecessária. Era só uma conversa corriqueira.
-Bom, estamos planejando algumas atualizações bem incríveis pra ele. – Disse Tony, ativando um projetor de realidade aumentada no centro da mesa. – Pra começar, Banner e alguns dos nossos cientistas conseguiram desenvolver uma camada de revestimento capaz de te camuflar. – Ele explicou, e o protótipo do uniforme apareceu em seus mínimos detalhes. – Isso deve compensar as cores vermelha e azul que, vamos combinar, não são muito discretas.
-É, tem razão. – Peter pareceu ponderar, e riu logo em seguida.
-A próxima atualização já confirmada pelos engenheiros são as novas lentes. – Stark prosseguiu, e a projeção aproximou a máscara. – Como você havia sugerido durante o projeto do traje, elas vão te possibilitar visão panorâmica e multifocal, assim como a das aranhas. Você vai poder registrar vários ângulos ao mesmo tempo, o que vai te ajudar muito durante os combates.
Peter concordou, realmente animado e encantado com as possibilidades que estavam sendo apresentadas.
-E, por último, sua máscara vai passar a contar com um filtro para respiração, que vai conter qualquer substância tóxica e mantê-la longe dos seus pulmões. – Tony contou, e o modelo do filtro ultramoderno apareceu na tela. – Afinal, nunca se sabe onde as missões podem te meter.
-Está tudo incrível, Sr. Stark – Disse o garoto, entusiasmado com as novidades. – Obrigado.
-Que bom que gostou. – O homem sorriu em resposta.
Logo em seguida, Tony desativou o projetor.
-Agora vamos para o segundo tópico desta nossa reuniãozinha fora de hora. – Stark prosseguiu, apoiando os cotovelos na mesa. – Eu queria falar com você sobre a Olivia.
Toda a animação do rapaz sucumbiu imediatamente, dando lugar ao desespero de antes. Diante das novidades, Peter havia esquecido momentaneamente os motivos que lhe causaram tensão no primeiro momento, mas aparentemente, seus instintos não haviam o enganado – era hora da bronca.
-Ok... – Disse ele, engolindo seco, indicando para que o homem prosseguisse.
-O que eu tenho pra te dizer não é nada fácil – Falou Stark, com as sobrancelhas arqueadas. – Mas sei que você vai entender. E, apesar de poder soar estranho, é a verdade. – Ele explicou. – Fique tranquilo, eu não vou brigar com você por conta de tudo que aconteceu nos últimos dias. Eu só tenho um pedido.
Peter atentou-se para ouvir a requisição, apreensivo.
-Eu quero que você se afaste da Olivia. – Disse ele, e as palavras soaram como uma bigorna caindo bem em cima do rapaz. – Sei que é um pedido complicado, mas vou explicar porque estou dizendo isso. Não é nada pessoal – O homem negou veementemente. – Eu conheço você há muito tempo, não existe essa desconfiança. E, ao contrário do que possa parecer, também não se trata de um ciúme bobo de pai, nem de superproteção com a minha filha. É que eu me preocupo, especialmente na atual situação, com o que um relacionamento entre vocês dois poderia causar para a equipe.
Parker virou para o lado, desviando o olhar perdido para o chão.
-Não estou falando nada disso porque não confio em você ou nela. É que um namoro, dadas as nossas circunstâncias de herói, é impossível. E eu não quero que vocês se machuquem. – Explicou Stark, encarando o rapaz totalmente desconcertado à sua frente. – Eu sei que entende do que estou falando.
Peter não respondeu, e sequer olhava para Tony.
-Bom, sei que isso deve ser difícil de ouvir. Mas, como Olivia não me escuta, eu tive que recorrer a você. – Ele prosseguiu. – Não quero que ninguém saia magoado de toda essa história. E você já pode imaginar o drama que seria se Liv descobrisse dessa nossa conversa, ela não entenderia... então queria te pedir pra não contar a ela sobre isso. – Stark requisitou. – Diga que você cansou, que está muito ocupado com a faculdade, não sei. Use as desculpas que adolescentes usam. Só não diga a ela que eu te pedi, está bem?
Tony permaneceu encarando o garoto, esperando por uma confirmação. Peter fez apenas um leve aceno de cabeça, ainda fitando o chão, dando a satisfação de que Stark precisava.
-Ótimo. – O homem concluiu, com satisfação na voz. – Obrigado por ser tão compreensivo, Parker. Eu sabia que podia contar com você nessa. – Ele deu um meio sorriso. – Sem ressentimentos?
-Claro. – Peter respondeu simplesmente, com a voz desmanchada. Ele não conseguia reagir.
-Ok, isso é tudo. Pode ir – Stark liberou-o. – Boa noite, Pirralho.
-Boa noite, Sr. Stark. – Falou, levantando-se da cadeira e saindo pela porta.
Peter voltou arrastando-se até seu dormitório, e ao chegar atirou-se na cama, inconformado. Claro que ele esperava que aquela conversa fosse terminar de um jeito totalmente desastroso – ele só não imaginava o quanto. No fim das contas, o resultado final foi pior do que qualquer bronca ou advertência que ele pudesse ter levado: ele precisava terminar com Olivia. E sem nem dizer a ela o porquê.
Pensar naquilo partia seu coração. Peter mal tinha tomado a coragem para contar à garota como se sentia, e agora precisava dispensá-la e se distanciar totalmente. Aquilo contrariava completamente todo e qualquer instinto do rapaz, que adorava estar com ela a cada dia que passava – mas Stark pedira. Na realidade, ele ordenara, só que sem usar nenhum tipo de coerção; a própria palavra dele já valia como uma intimação direta.
O rapaz estava à beira de uma crise existencial. Quando isso acontecia, só uma coisa – ou melhor, pessoa – era capaz de ajudá-lo: Ned Leeds, seu melhor amigo e conselheiro oficial. Peter pegou seu celular na cômoda ao lado da cama, e teclou rapidamente para iniciar uma chamada de vídeo pelo FaceTime. Ele aguardou alguns minutos, até que o amigo atendesse com cara de sono.
-FaceTime à uma da manhã? Você só pode estar brincando – Protestou Ned, bocejando logo em seguida. – É melhor que alguém tenha morrido ou alguma outra coisa muito séria tenha acontecido, tipo robôs gigantes no seu quarto ou algo assim.
-Na verdade, não – Disse Peter, sem muito clima para brincadeiras. – Mas eu preciso da sua ajuda.
-Eu já disse, se mudar a cor do seu uniforme pra verde, vai perder toda a identidade. – Falou Ned tediosamente, voltando a uma discussão passada.
-Não é isso. É que o Sr. Stark me pediu uma coisa. – Explicou o rapaz. – Uma coisa que eu não sei se consigo fazer.
-Mortal duplo de costas?
-Não, Ned, é sério! – Peter protestou, irritado. Às vezes ele se questionava se pedir conselhos para Ned era mesmo a melhor opção. Mas como era sua única, ele não tinha muita escolha. – Ele quer que eu termine com a Liv, sem contar pra ela que foi porque ele pediu.
-Ele quer que você simplesmente a dispense? – O amigo chocou-se. – Por que, ele está bravo com você?
-Não sei. Ele disse que é por causa da equipe – Parker jogou-se entre os travesseiros. – Mas o Sr. Stark anda tão estranho ultimamente que eu nem sei mais o que ele quer dizer.
-Será que ele está com ciúmes de ver você com a filha dele?
-Quando ele me chamou pra conversar, disse que era só porque se preocupava com a equipe. Segundo ele, um namoro poderia atrapalhar o trabalho dos Vingadores. – Ele relatou.
Ned esboçou uma careta desconfiada através da tela um pouco falha do celular.
-E o que você vai fazer?
-Não tenho ideia. – Peter suspirou pesadamente. – Mas eu não posso desobedecê-lo. O Sr. Stark é o líder, ele decide as coisas por aqui.
-Mas é algo muito pessoal pra interferir desse jeito – Protestou o amigo. – Você não acha que ele está abusando um pouco da influência dele sobre você?
-É claro que está – Parker bufou. – Mas o que eu posso fazer?
-Sei lá. Já pensou em contar pra Olivia sobre isso?
-Eu não posso, cara. – O Aranha lamentou. – Ela iria surtar. Ia virar uma guerra entre os dois, e eu não quero causar isso, afinal é o pai dela. Eu não tenho esse direito. – Explicou. – Além disso, o Sr. Stark iria saber que eu falei, e ele me pediu especificamente pra não contar.
-Então você vai obedecer? – Ned fez careta, sem concordar com a ideia.
-Eu sei lá – Peter demonstrou indecisão, e arrastou as mãos pelo rosto. – É que o Sr. Stark não é só o meu chefe, ele também é o pai da Liv. Foi ele que a criou. A opinião dele sobre os relacionamentos dela tem que contar, não é? Não posso ir contra isso e começar uma briga de família.
-Olha, Peter, mesmo que ele seja pai dela, ela é quem decide com quem deve ficar ou não. Estamos no século vinte e um, as mulheres tem esse direito faz muito tempo. – Ned expôs seu ponto, rolando os olhos. – Você mesmo me disse várias vezes que a Olivia odeia que digam o que ela tem que fazer, sempre decide por ela mesma e tudo mais. Não acha que a opinião dela conta também?
-É exatamente por isso que ele não quer que ela saiba. – Parker lamentou, fazendo uma pausa e continuando a falar logo depois. – Eu não quero confrontar o Sr. Stark, mas, que droga, eu também não quero magoá-la! – Ele irritou-se. – Eu gosto da Liv. E ela jamais vai me perdoar se eu fizer uma coisa dessas; eu jamais vou me perdoar. A gente mal começou alguma coisa, e se eu terminar com ela assim do nada, vai parecer que eu sou um idiota.
-É, você soaria como um babaca. – Ned ponderou.
-O que eu faço, Ned?
-Olha – O amigo respirou fundo, pensando na resposta. – Eu entendo o respeito que você tem pelo Sr. Stark e tudo mais. Mas você precisa respeitar os seus sentimentos e os da Olivia também. Você gosta dela, não gosta? – Peter acenou positivamente com a cabeça. – Então persista. Ela também gosta de você, e quando um gosta do outro e os dois se gostam, isso... – O garoto ficou um pouco confuso. – Você entendeu, né?
-Devemos ficar juntos? – Parker checou, na dúvida.
-Exatamente. – As ideias de Ned clarearam novamente. – A decisão de ficar juntos é de vocês. E se você gosta dela, cara, acho que vale a pena.
-Mas o que eu faço com o Sr. Stark?
-Tente conversar com ele. Diga que você sente muito, mas não pode seguir essa ordem e deixar a Olivia, porque gosta dela de verdade. Faz algum discurso apaixonado, não sei. – Sugeriu o amigo. – Se ele perceber que vocês dois se gostam, e se ele se importar o suficiente com a felicidade da filha e com o aprendiz dele, vai repensar essa maluquice.
-Tem razão. – Peter respondeu tendo uma onda de confiança repentina. – Se a Liv gosta de mim e eu gosto dela, é justo que fiquemos juntos. Não vou terminar com ela só porque o Sr. Stark inventou alguma teoria da conspiração... Ele precisa respeitar a filha dele e deixar que ela decida. Vou fingir que aquela conversa nunca aconteceu, e assim ninguém precisa sair magoado. – Ele afirmou com a cabeça. - Vai dar tudo certo.
-É isso aí, Peter! – Ned sorriu, animado. – Vai ficar com a sua garota.
-Quer saber, eu não vou só ficar com ela – Ele disse, corajoso. – Eu vou chamá-la pra sair.
-Vai lá, garanhão. - Ned comemorou, entusiasmado pelo amigo ter seguido seu conselho.
-Obrigado pela ajuda, amigão. – Peter agradeceu sinceramente. – Você é o melhor conselheiro amoroso da madrugada que existe.
-Eu sei. – O outro se vangloriou. – Lembre-se disso da próxima vez que pensar em me trocar por um loiro esquisito que na verdade é um inimigo infiltrado. – Ned alfinetou.
-Tá bom – Parker deu risada. – Boa noite.
Peter finalizou a chamada se sentindo bem mais leve. Ele soltou um suspiro aliviado, diante da decisão que parecia ter retirado um peso enorme de seus ombros. É claro que Stark ficaria furioso quando descobrisse que ele não seguiu as ordens; mas magoar os sentimentos de Olivia seria muito pior de suportar.
Como o rapaz havia dito a Ned, ele pretendia por em prática a sua transgressão chamando Olivia para um encontro. Desde que tudo começara, por conta da correria das investigações e das inúmeras questões de trabalho acontecendo, os dois ainda não haviam saído juntos como um casal, e aquela era uma ótima oportunidade para tal. Peter sacou o celular novamente, e começou a digitar uma mensagem para a garota.
Peter Parker: oi Liv. tá acordada? (1:45AM)
Olivia McCall: brincando de morcego, menino-aranha? (1:47AM)
Peter Parker: é, estava resolvendo umas coisas ai.
Peter Parker: posso te fazer um convite? (1:48AM)
Olivia McCall: se não for pra algum programa de nerd seu, pode sim. (1:50AM)
Peter Parker: não é, relaxa LOL (1:53AM)
Olivia McCall: então manda. (1:54AM)
Peter Parker: lembra daquele restaurante de NY que te falei, Delmar? (1:54AM)
Olivia McCall: o melhor sanduíche do Queens? (1:55AM)
Peter Parker: isso. eu disse que provaria esse título pra vc um dia.
Peter Parker: que tal irmos lá amanhã depois do trabalho? (1:56AM)
Olivia McCall: é esse o convite que vc tem pra me fazer as duas da manhã?
Olivia McCall:estava esperando alguma pista para investigarmos...
Olivia McCall:tá, brincadeira. eu topo! que tal as 8h? (2:00AM)
Peter Parker: blz! te vejo lá
Peter Parker: boa noite Liv (2:02AM)
Olivia McCall:boa noite menino-aranha.
Olivia McCall:não esquece que os cavalheiros sempre pagam a conta, LOL
(2:04AM)
_

O expediente de trabalho no dia seguinte passou mais devagar do que nunca. Peter não conseguia parar de encarar o relógio desde as cinco da tarde, sempre checando ansiosamente se já era hora de finalmente ir embora. Quando o ponteiro bateu às seis horas, foi um alívio. Não que ele não gostasse de fazer pesquisas nas Inovações; ele só tinha planos muito melhores para a noite que prosseguia.
Assim que foi dispensado, o rapaz correu até seu dormitório no alojamento para tomar um banho e se arrumar apressadamente. Escolheu a roupa mais apropriada que encontrou e penteou o cabelo bem ajeitado, para parecer apresentável. Então, Peter deixou a base rumo ao novo Delmar, onde levaria Liv para jantar em seu primeiro encontro formal.
O rapaz saiu a pé pela calçada, caminhando alegremente. Pegou seu celular e colocou nos fones de ouvido a música Here Comes The Sun dos Beatles, que lhe parecia apropriada para o momento. O sol já começava a se por, colorindo o céu, e o tráfego era intenso por conta do fim do expediente. Peter andava praticamente saltitando, feliz e aliviado pela decisão que tomara na noite anterior. Ele sabia que tinha feito a coisa certa, e aquela sensação era a melhor e mais libertadora, pois agora ele tinha certeza de que gostava mesmo de Olivia e não pretendia desistir disso. Caminhando, Parker olhava para a rua e os carros como se estivesse vendo tudo pela primeira vez. Então era assim que as pessoas se sentiam quando estavam apaixonadas?
No caminho, o garoto decidiu parar em uma barraquinha de floricultura que cruzou na calçada, e escolheu um buquê simples, mas bonito de flores azuis que combinariam perfeitamente com o novo cabelo de Olivia. Ela podia até não ser muito romântica, mas Peter era. E já que ele assumira de vez os seus sentimentos por ela, tinha toda a liberdade para demonstrá-los.
O rapaz chegou ao restaurante do Delmar um pouco adiantado. Aproveitou a chance para já escolher uma mesa, próximo da janela principal para que Liv pudesse vê-lo ao entrar. Ele sentou-se, com uma espécie de frio na barriga – uma sensação boa, na verdade. Peter estava ansioso para que ela chegasse.
Porém, algo parecia ter dado errado. Já eram 20:20h, e Olivia ainda não tinha aparecido. Devia ter se atrasado por algum motivo. Então, 20:40h, e depois, 21h. Peter tentou ligar para ela e mandar mensagens, mas a garota não atendia nem respondia nenhuma delas. Aquilo estava o deixando preocupado. O que tinha acontecido? Será que estava tudo bem com ela?
Mais de uma hora depois do horário combinado para o encontro, o celular de Peter tocou com uma ligação da garota. O rapaz atendeu rapidamente, ansioso por notícias.
-Oi, Liv – Ele disse com a voz animada, tentando conter a preocupação. – Está tudo bem? Onde você está?
-Oi, Parker – Olivia respondeu de um jeito esquisito. – Está tudo bem sim, me desculpe. Eu estou na sede.
O garoto soltou um suspiro aliviado.
-Que bom – Ele falou retomando o sorriso. – Eu já cheguei.
-Sei... – Liv disse apreensiva. – Peter, eu não vou conseguir ir até aí agora. Me desculpe.
-Aconteceu alguma coisa? – O rapaz estranhou.
-Não... – Ela suspirou levemente. – É que eu... não acho que deveria. – A garota soltou.
-Como assim? – Peter ficou desnorteado.
-Nós dois. – Liv esclareceu. - Não acho que isso vai dar certo. É loucura.
-Por quê? – As palavras simplesmente saíram da boca dele, diante do baque.
-Nossas vidas não permitem esse tipo de coisa, Peter. Você é o Homem-Aranha, eu sou a Arion... e nós temos uma missão a cumprir. – Olivia dizia, apreensiva. – Não podemos colocar nada acima dela. Especialmente agora, nessa fase tão complicada do combate, a equipe precisa de toda a concentração dos integrantes. Como o Rogers não quer ajudar, vamos enfrentar o Magnum sozinhos, e os Vingadores tem que estar coesos pra isso.
Peter simplesmente ouvia as palavras dela, sem conseguir forças para argumentar.
-Além disso, essa história toda está enlouquecendo o meu pai, e a equipe não pode lidar com isso agora. Precisamos nos concentrar no nosso trabalho. – A garota prosseguiu. – Não dá pra simplesmente ignorar os fatos. Não posso fazer isso, eu sinto muito.
-Tá – Disse ele, sem saber como reagir.
-Até mais. – Olivia despediu-se, com a voz apressada, e então desligou a chamada.
Peter abaixou o celular lentamente, ainda extasiado com aquilo. Ele deixou o aparelho sobre a mesa e passou a mão pelos cabelos, confuso. A ficha ainda estava caindo. E quando caiu, o rapaz sentiu como se algo simplesmente desmoronasse dentro dele.
Depois daquela ligação, Parker voltou para o complexo dos Vingadores, totalmente decepcionado. Ele havia feito o maior esforço do mundo para estar ali naquela noite, mas tudo tinha sido em vão. Olivia desistira dele, pelos mesmos motivos que Stark usara para pedir que terminassem na noite passada. O que Peter sentia por Liv fora suficiente para fazê-lo desobedecer às ordens e tomar uma atitude; mas, para ela, parecia não ser da mesma forma. E pensar assim era um enorme balde de água fria.
Peter chegou ao prédio do alojamento completamente derrotado. Já eram por volta das dez da noite, e todos estavam dormindo em seus quartos, deixando o imóvel em silêncio. O garoto passou pela cozinha, e jogou na lixeira as flores azuis que havia comprado, agora já murchas. Elas não tinham mais sentido, afinal. Logo após ele dirigiu-se ao pé da escada, pronto para subir os degraus e ir até seu dormitório para se jogar na cama e lamentar seu fracasso de vida.
-O que essas pobres flores fizeram pra você? – Peter ouviu uma voz feminina dizer, e assustou-se, pois pensava que estava sozinho.
Era Natasha quem perguntava, sentada no sofá da sala, passando completamente despercebida pelo garoto. A moça lia alguns relatórios em um tablet, e ele deu um passo atrás para observá-la.
-Nada, só são inúteis. – Ele explicou, se preparando novamente para subir.
-Ei, você parece horrível – Nat chamou sua atenção, dado a cara de filhote abandonado que ele demonstrava. – Está tudo bem?
-Tá, sim. – Peter respondeu cortando a conversa.
-Por acaso o buquê azul tem algo a ver com a garota de cabelos azulados que mora aqui? – Romanoff ergueu as sobrancelhas, desconfiada.
-Como sabe?
-Homens são óbvios. – Ela declarou, surpreendendo Parker. – Quer me contar o que houve?
-Honestamente, não – Disse o rapaz, decepcionado. – Prefiro guardar essa humilhação só pra mim.
-Anda, senta aqui. – Insistiu a mulher, indicando a poltrona da sala. – Tenho certeza que a sua humilhação é bem mais interessante do que esses relatórios.
Após resistir por alguns segundos, Peter acabou cedendo e sentou-se ao lado de Natasha.
-Pode começar. – Ela apontou, soando como uma psicóloga.
-Bom, eu e a Olivia estávamos tendo... um lance. – Disse Peter, tentando achar a palavra certa.
-Tá, isso não é novidade. – Nat disse virando os olhos. – Todo mundo já percebeu.
-É – O rapaz prosseguiu. – Estava tudo indo bem, mas aí ontem a noite o Sr. Stark me chamou pra conversar na sala dele. Ele disse que estava preocupado com a gente e pediu pra eu terminar com a Liv.
-Caramba – Disse Natasha, surpresa. – Eu não achei que ele fosse capaz disso.
-Bom, ele foi. – Peter confirmou. – Mas eu decidi não obedecer, então chamei a Liv pra sair hoje. Só que ela não apareceu, e me ligou uma hora depois pra dizer que não queria mais nada comigo. – Dizer aquilo em voz alta pareceu piorar a situação dentro dele.
-Ouch – Romanoff fez uma expressão de dor. – E ela te disse o motivo?
-Ela acha que devemos nos concentrar na missão. – Contou o rapaz. – Sem a ajuda do Rogers, Liv disse que vamos precisar trabalhar muito e que não deveríamos ameaçar o entrosamento da equipe.
-Entendi. – A moça concluiu, demorando alguns segundos para voltar a falar. – Olha, ela não está completamente errada, sabe.
-Eu sei disso, foram os mesmos motivos que o Sr. Stark me deu ontem. Eu só não esperava que ela fosse dizer isso depois de eu ter decidido ir contra todas as ordens dele. – Disse, frustrado.
-É péssimo. – Nat compadeceu-se. Ela sabia o quanto o garoto era sentimental. – Mas isso não significa que ela não goste de você. Só quer dizer que ela é madura o suficiente pra escolher as prioridades.
-Bom, eu a coloquei como minha prioridade – Os olhos dele se encheram de lágrimas. – Mas, aparentemente, não é recíproco.
-Não diga isso. – Romanoff procurou evitar o atrito. – Olha, a Olivia é uma garota extremamente racional. Ela sabe que a situação atual da equipe é crítica, e entende muito bem o que um relacionamento entre vocês poderia gerar de negativo. Ela compreendeu a situação e tomou uma decisão, baseada na responsabilidade que ela assumiu. Isso não quer dizer que ela não gosta de você.
Peter não respondeu, mas parecia não concordar com o que Nat havia dito.
-Escuta – Ela disse após um suspiro. – Quando se é um herói, é preciso aprender a fazer concessões. Olivia sabe disso, e você também sabe, porque está nesse meio há bem mais tempo que ela. Colocar os sentimentos de lado é difícil, ainda mais quando a outra pessoa está trabalhando bem ao seu lado o tempo todo dentro da equipe. Mas todo mundo passa por isso.
Romanoff podia falar por experiência própria.
-Foi a mesma coisa comigo e com o Banner, há muito tempo atrás. – Ela citou exatamente o caso. – Havia algo ali, mas quem somos e o lugar que ocupamos dentro da equipe tornaram impossível que esse algo se desenvolvesse. E, infelizmente, não houve nada que pudéssemos fazer a não ser aceitar essa condição e conviver com o empecilho. E, com o passar do tempo, isso simplesmente se esqueceu.
Parecia um futuro triste para se dar a um sentimento tão sincero. No entanto, Peter não enxergava um caminho muito diferente para o que ele e Olivia sentiam um pelo outro. É claro que ele entendia de sacrifícios, e ele próprio já havia feito muitos em prol do Homem-Aranha e dos Vingadores. Mas quando ele e Liv escolheram sacrificar coisas diferentes, doeu. Só que ele precisaria conviver com isso e, segundo Romanoff, simplesmente esquecer.
-Não a odeie por isso. – Nat continuou, interrompendo o raciocínio paralelo do rapaz. – Não pense que foi fácil para ela também. Só procure evitar que isso se torne exatamente o que a Olivia tentou evitar, deixando que se coloque entre vocês dois e atrapalhe a relação. Vocês ainda são colegas de equipe.
-É, eu sei. – O garoto concordou a contragosto. Que baita situação horrível eles haviam se metido.
Peter foi dormir logo que a conversa lá em baixo se encerrou. Romanoff tinha razão, e de certo modo não tinha dito ao rapaz nada que ele já não soubesse. Lidar com aquele clima todo seria terrível, mas que escolha eles tinham? A escolha já fora feita no momento em que optaram por colocar as necessidades da humanidade acima das deles. E, mais do que acostumado com aquela situação, Peter precisaria engolir o que quer que estivesse sentindo, e respeitar a jogada de Olivia. Os Stark haviam vencido – os dois.

Capítulo 19

Eram por volta das oito da manhã naquele dia ensolarado, e Natasha Romanoff tomava seu café despreocupadamente na cozinha do alojamento. A ruiva lia algumas notícias em um site qualquer, prestes a sair dali para iniciar mais um dia de treinamento na sede.
Pouco antes de Nat resolver se levantar, uma figura apareceu andando a passos cuidadosos no corredor. Olivia McCall chegava apreensiva, olhando para todos os cantos do cômodo enquanto entrava.
-Bom dia. – Cumprimentou a garota em um tom de voz baixo.
-Não se preocupe, o aracnídeo de coração partido não está aqui. – Declarou Natasha, tomando um gole de café. Olivia sorriu de lado.
-Você descobriu sobre isso também, não é? – A garota falou com pesar. Ao declarar a falta de perigo, ela relaxou a postura e sentou-se ao balcão para comer.
-Eu encontrei o Peter ontem à noite, depois que ele voltou arrasado do encontro furado de vocês dois. – Contou Nat, gerando uma expressão de culpa na mais nova.
-Ele estava muito mal? – Liv questionou, com medo da resposta.
-Em pedacinhos. – Romanoff não fez questão de aliviar para a garota. – Ele me contou tudo.
-E o que seria tudo?
-O horário marcado, a ligação, o buquê de flores no lixo... – Resumiu.
-Tinha um buquê de flores? – Olivia sentiu uma pontada no coração.
-Flores azuis. – Nat completou, apontando para o cabelo de Liv.
A garota colocou o rosto entre as mãos, sentindo a culpa batendo. Homens eram muito óbvios; mas, ainda assim, era uma atitude muito fofa. E Olivia não esperaria menos de Peter.
-Eu sou uma megera sem coração, não sou? – Liv miou.
-Só um pouco. – Natasha respondeu após ponderar. – Mas eu entendo, você não tinha opção. Peter sabe que você tem razão nos seus motivos pra terminar, ele só não esperava que você tomasse essa decisão. Afinal, depois do que seu pai falou pra ele, o rapaz precisou de muita coragem pra continuar com você.
-Como assim? – Olivia estranhou, não entendendo a referência.
-A conversa que os dois tiveram. Seu pai foi muito cruel, na minha opinião. Mas... – A mulher fez uma pausa. – Calma, você não sabe?
-Sei do que? – A menina ficou ainda mais confusa. O que seu pai tinha a ver com isso?
-Ah não... – Natasha soltou, entendendo a dimensão da confusão. Era bem pior do que ela pensava, e agora ela precisaria explicar. – Seu pai chamou o Peter pra conversar algumas noites atrás, e pediu pra que ele terminasse com você. Veio dizendo que estava preocupado com a equipe e que achava mais seguro que ficassem separados. Mas pelo jeito ninguém te contou, porque Peter tinha decidido desobedecê-lo pra ficar com você. Só que você terminou com ele.
Olivia congelou instantaneamente, não conseguindo acreditar no que tinha acabado de ouvir. Stark havia agido pelas costas dela e boicotado seu relacionamento de propósito. E ela dispensara o garoto que foi capaz de ir contra as ordens explícitas que recebeu para ficar junto com ela. Liv teve vontade de gritar. Por raiva do pai, raiva da situação, raiva de si mesma.
-Mas que mer... – A garota soltou, ainda em choque pela notícia. Porém, sua fala foi interrompida por uma vibração em seu celular.
Era uma mensagem de seu pai, pedindo para que ela fosse até o escritório dele. Uma ótima oportunidade para pedir uma explicação bem detalhada sobre toda aquela história, de uma maneira nada agressiva ou furiosa.
-Eu tenho que ir. – Olivia disse com os dentes travados, levantou-se e saiu deixando Nat sozinha.
A garota foi marchando até o prédio vizinho, onde ficava o setor administrativo da sede. Chegou até o escritório do pai dando passos pesados, e abriu a porta sem sequer bater antes. Stark já a esperava, andando inquietamente de um lado para o outro do cômodo.
-Eu só vou perguntar a você uma vez, e não tente negar porque eu conheço você – Disse ele, assim que a menina entrou na sala. Stark estava com uma expressão furiosa e um pouco perturbada no rosto. – Cadê o celular do Rogers?
Tony havia descoberto. E não estava nada feliz. Aquilo surpreendeu Liv, porque a garota esperava que ela é que fosse dar a bronca. Olivia não tinha desculpa nenhuma preparada para aquilo, pois honestamente não esperava que o pai se tocasse tão rápido. No entanto, aquele não era o principal problema ali, e a garota pretendia resolver outras questões ao invés de ficar dando explicações.
-Cadê o celular do Rogers? – Ele repetiu dando ênfase, parecendo prestes a explodir.
-Eu não sei, por que você não perguntou ao Peter naquela madrugada? – Olivia respondeu ironicamente, o que pareceu surpreender o pai. – É, parece que nós dois andamos escondendo coisas um do outro.
-Olha aqui, mocinha... – Tony recomeçou, ainda usando o mesmo tom de braveza.
-Não, você olha aqui – Olivia cortou-o, de um jeito ainda mais furioso. – O que foi que deu em você pra jogar uma conversa intimidadora de pai pra cima do Peter?!
-Não foi uma conversa intimidadora de pai – Stark levantou o dedo indicador, corrigindo. – Foi uma conversa de líder para membro da equipe, que não dizia respeito a você.
-É claro, porque você sabia o quanto eu iria ficar furiosa se soubesse que estava se intrometendo na minha vida desse jeito! – Liv disparou. – Eu não acredito que você fez isso. Eu sabia que você estava com ciúmes, mas chegar a esse ponto... – Ela negou com a cabeça, andando inconformada pela sala.
-Não fiz isso por ciúmes, Olivia, eu fiz porque era o certo a fazer. – Tony interrompeu, permanecendo irredutível.
-“Era o certo”? O que, agir pelas minhas costas? Se meter nos meus relacionamentos? – Liv indignou-se. – Você perdeu a noção dos limites!
-Eu estava sendo o único ser sensato dentro dessa equipe – Ele persistiu. – E eu adoraria saber como foi que isso chegou aos seus ouvidos.
-Eu descobri sozinha. – A menina respondeu fazendo pouco caso. – E parabéns, você conseguiu o que queria, porque Peter e eu não temos mais nada.
-Ótimo, enfim algo de razoável. – Stark comemorou ironicamente.
-Você não tinha o direito de pedir isso, principalmente pra ele – Liv permaneceu discutindo. – Você tem noção do que fez com a cabeça do garoto? O Peter te idolatra, e você o obrigou a fazer uma escolha absurda porque o meteu no meio de uma discussão familiar que deveria ficar entre nós dois!
-Eu tinha esse direito porque sou seu pai e também o líder dos Vingadores – Tony argumentou, nervoso.
-E é justamente por isso que você precisava ter pensado mil vezes antes de dar uma ordem dessas! – Olivia exclamou. – Eu sei que na sua cabeça o Peter é só um menino inexperiente e eu sou só uma garotinha indefesa que não tem capacidade de discernir, mas as coisas não funcionam assim. Manipular a gente desse jeito foi muito infantil e desonesto, até pra você! Por que não veio falar comigo, a sua filha, como um adulto normal faria?
-Porque eu sabia que agiria assim – O homem apontou para ela, que estava com o rosto furioso. – E porque você nunca me escuta!
-Eu nunca te escuto? – Ela riu, inconformada. – Você não me deixa nem tomar conta da minha própria vida. Desculpe te decepcionar, pai, mas quem decide se deve namorar ou não sou eu, ou ao menos deveria ser. Por que isso parece tão aterrorizante pra você?
-Quando suas decisões afetam a equipe, é meu dever intervir. – Stark argumentou. – Eu estava fazendo o que é melhor para os Vingadores.
-Oh sim, igual quando se recusou a chamar o Steve Rogers para nos ajudar? – Olivia alfinetou-o. – É claro, você não está fazendo nenhuma das duas coisas simplesmente porque é orgulhoso.
-Roubar aquele telefone da minha mesa não me parece nada razoável também. – Tony puxou o assunto para o seu lado. – Principalmente porque você tinha prometido pra mim que iria parar de ser teimosa e iria passar a obedecer às ordens da equipe quando fizesse parte dela.
-Sei que pode ser chocante, mas foi a equipe quem decidiu roubar aquele telefone de você. – Olivia retrucou com os olhos semicerrados. – Se bem que o seu conceito de time anda bem deturpado ultimamente, porque você acha que as suas decisões prevalecem sobre tudo que o resto de nós acha. E o que fez comigo e com o Peter só prova isso.
-Eu notei que depois de ter entrado para os Vingadores você começou a se achar muito madura, Olivia, mas eu tenho quase o triplo da sua idade. Eu sei o que é melhor, você é só uma criança! – Stark exclamou. – Não sabe nada sobre certo e errado, e não sabe nada sobre amor. Pra você pode parecer que fazendo isso eu estou sendo só um velho chato e autoritário, mas eu sou seu pai e, além disso, seu chefe. Então eu exijo que você me respeite como tal!
-Pois é, é assim que as coisas têm funcionado ultimamente. Eu já deveria ter aprendido. – Olivia baixou o tom de voz, olhando fixamente para o pai enquanto ironizava a situação. – Mas não se preocupe, a minha desobediência não vai afetar em nada o seu plano magnífico de ficar sentado com a bunda na cadeira e não fazer nada. Eu peguei aquele celular idiota sim, e falei com o Rogers. Implorei pra que ele viesse e salvasse essa equipe da desgraça total a que está destinada. Mas, fique tranquilo, ele não vai voltar. – Contou. – Porque ele não suporta você! – A garota gritou, dando as costas para o pai em seguida.
-Ótimo! – Stark berrou em resposta, vendo a garota sair da sala. – Porque eu não preciso de mais um membro teimoso, mimado, irritante e desobediente nesta equipe! Já me arrependo o suficiente por ter colocado um!
Olivia parou de andar, prestes a atravessar a porta. Ela virou apenas a cabeça para dentro da sala, com os olhos fulminando de raiva.
-Pra você parece terrível ter dois membros dentro da equipe que tenham um relacionamento, não é? – Disse ela, com a voz retida de desgosto. – Bom, pra mim, parece bem pior ter dois membros que, de tanto brigar, pararam de se falar.
Após dizer isso, a garota deixou o escritório. Stark ficou ali parado, com a raiva fervilhando até o último fio de cabelo. A filha o deixava louco com todas aquelas manias, teimosias e respostas prontas para tudo. Ela simplesmente não entendia.
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Bruce Banner estava tão ocupado e entretido com seu trabalho, que demorou até o meio do expediente para perceber que havia deixado o alojamento sem seu celular naquele dia. Apressado, o homem voltou ao seu dormitório para buscar o aparelho, e já se preparava para correr de volta ao laboratório. No entanto, antes de sair, ele percebeu certa movimentação no imóvel – o que era estranho, já que não deveria haver ninguém ali, pois todos estavam trabalhando. Ele notou que os barulhos vinham do quarto de Olivia, e foi até lá para checar o que era.
Ao chegar à porta, ele deparou-se com a garota fazendo as malas apressadamente, visivelmente transtornada. Bruce estranhou.
-O que está fazendo, Liv? – Ele perguntou.
-Estou cansada disso. – Disparou a menina, sem parar o que estava fazendo. – Eu vou embora.
Ouvir aquilo foi um choque para ele.
-Como assim, o que houve? – Banner assustou-se, e entrou no quarto para buscar uma explicação.
-Meu pai, ele passou dos limites. Em tudo. – Liv falou, jogando as roupas furiosamente dentro da mala em cima da cama. – E se ele não vai ouvir nada do que eu disser, então não tenho porque ficar aqui.
-O que ele fez?
-Ele agiu como Tony Stark. – Contou a menina, com desgosto na voz. – E eu já tive o suficiente disso.
-Mas pra onde você vai? – Bruce questionou, preocupado.
-Vou encontrar a minha mãe em Sydney, e depois voltar pra Nova York com ela. – Olivia explicou, indo até a escrivaninha e juntando tudo que havia ali para jogar de qualquer jeito na mochila. – Qualquer lugar é melhor do que aqui.
-Você vai desistir? Mas e se o Magnum voltar, e os robôs fizerem outro atentado? – Levantou o homem.
-Se meu pai acha que os Vingadores são capazes de vencê-los sem Rogers e os outros, então também conseguem sem mim. – Declarou a menina, fechando o zíper da bagagem e virando-se para Banner.
Olivia pegou a mala e colocou-a no chão, puxando-a pelas rodinhas até fora do quarto. Ela deixou Bruce ali, chocado e sem entender, e caminhou a passos largos e rápidos até a porta de saída. Tudo que ela queria era escapar dali imediatamente.
No início, aquela ideia lhe parecera ótima. Se mudar para começar a faculdade, sozinha em uma nova cidade; depois, morar com o pai pela primeira vez, trabalhar em um lugar novo, na sede dos Vingadores, e quem sabe poder desenvolver seus poderes por lá. Olivia não imaginava que o resultado seria fugir disso tudo meses depois, totalmente saturada, da maneira como fazia agora.
Mas ela simplesmente não conseguia. Entrar para os Vingadores era tudo que ela sempre quisera, mas não quando o pai agia daquela forma. Stark sempre foi mandão e teimoso, mas ultimamente conviver com isso estava impossível – principalmente para alguém que tem exatamente as mesmas manias de superioridade que ele. Lidar com o pai era irritante e desgastante demais. Enquanto toda aquela confusão permanecia apenas dentro da equipe, não era exclusiva para Olivia; mas quando Stark começou a meter-se na vida dela, as coisas passaram a ficar impraticáveis.
Tony simplesmente não entendia que a filha havia crescido. Ela era capaz de liderar e de ter boas ideias tanto quanto ele, e de tomar as próprias decisões também. Especialmente quando essas decisões envolviam sua vida pessoal e seus sentimentos. Sim, ela decidira terminar com Peter por conta própria – mas ela tinha seus próprios motivos para isso, que não vinham ao caso. Era por uma escolha dela. O pai havia sido imaturo demais para aceitar algo que lhe desagradava, e jogou com sua própria influência e poder para impor sua opinião de pai superprotetor. Não bastasse impedi-la de entrar para a equipe, e depois de investigar Magnum e os robôs, ele manipulou uma relação pelas costas da filha. E mandar Peter afastar-se dela tinha sido a gota d’água.
Não que isso fizesse alguma diferença, de qualquer forma. Porque depois de descobrir o que o pai havia feito, e de ficar sabendo da decisão corajosa que Peter havia tomado apesar dela, Olivia já não queria mais estar ali. Sentia-se um lixo por ter dispensado o garoto daquele jeito, depois da bala que ele havia tomado por ela. Parker arriscou seu posto na equipe por Liv, e ela terminara com ele, por telefone. Porque não tinha nem metade da coragem que ele tinha.
Peter Parker era bom demais para ela, e Olivia havia partido seu coração. Estragara tudo. A garota não seria capaz de encará-lo outra vez, no trabalho ou em missões, pensando no que tinha feito. E não seria capaz de sequer participar das missões, tendo que receber ordens de Stark depois de tudo que ele havia aprontado. Olivia não queria mais olhar para Peter, não queria mais olhar para o pai, não queria mais olhar para ninguém. Ela queria ir pra casa. Porque talvez aquele nunca tivesse sido seu lugar.
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Stark caminhava inquietamente em seu dormitório, ainda abalado por tudo que ouvira e dissera na conversa – ou guerra – que tivera com a filha mais cedo. Ele passara o resto do dia remoendo tudo aquilo, pensando no olhar de decepção e mágoa com que a garota o olhara antes de sair pela porta do escritório. E então ela foi embora para Sydney ao encontro da mãe, sem nem lhe dizer adeus.
Tony estava sendo bombardeado por uma mistura de sentimentos. É claro que ele estava com raiva, pois Olivia tinha o desobedecido, como sempre fazia – só que em uma proporção dez vezes pior. Ela simplesmente não entendia seus motivos, e pensava que isso dava a ela o direito de atravessar toda e qualquer decisão que mantinha a ordem dentro da equipe. Stark sabia estar fazendo o certo mantendo Rogers longe e pedindo para Peter afastar-se da filha. Mas ele não pretendia magoá-la daquele jeito.
Olivia não atendia suas ligações e nem respondia suas mensagens. Se bem que ele nem saberia o que dizer, caso ela o fizesse. Pediria desculpas? Daria mais uma bronca nela por ter fugido? Droga, ele não tinha o menor jeito para ser pai.
Mas já que a garota decidira agir como uma criança e afastar-se, que fosse. Conviver com Olivia daquele jeito estava impossível, de fato, e se ela decidira ir embora sem dar-lhe uma chance, não havia nada que ele pudesse fazer. Se Liv queria liberdade para fazer suas escolhas, era exatamente o que ele iria permitir. Deixando-a ir embora.
-Sr. Stark, o senhor pediu pra me chamar? – A voz de Peter interrompeu seus pensamentos, quando o garoto apareceu entreabrindo a porta do quarto.
-Sim, Parker, entre. – Respondeu Tony, voltando para o mundo real. – Queria conversar com você.
O rapaz atentou-se para ouvir, sério e impassível. Àquela altura, uma conversa com Stark já não poderia mais ter motivos para assustá-lo.
-Provavelmente você já ficou sabendo pelos outros, mas a Olivia foi embora. – Tony declarou, tentando utilizar um tom neutro. – Ela vai voltar a morar com a mãe dela.
Ao contrário do que Stark previra, Peter parecia não saber da notícia e ficou surpreso, mas sem querer demonstrar muito a reação.
-Bom, ela decidiu isso hoje, e pelo visto não contou a você. – Falou o homem, baseando-se na resposta corpórea do rapaz. – Ela partiu ainda de manhã.
-Ninguém tinha contado. – Peter confirmou, simplesmente.
-Enfim. Eu chamei você aqui porque queria te agradecer. – Stark prosseguiu, dando início ao assunto que motivara o encontro. – Você agiu de forma muito madura diante da ordem que eu havia dado a você, por mais que ela fosse difícil de cumprir. Teve a coragem para obedecê-la, mesmo que contrariasse os seus instintos, e se sacrificou pela equipe. Você fez a coisa certa, e eu estou orgulhoso disso.
Peter encarou o homem de um jeito confuso. Alguém ali havia se enganado.
-Sr. Stark, acho que há mal entendido. – Disse o rapaz, com a sobrancelha arqueada. – Eu não terminei com a Olivia. Ela terminou comigo.
Tony olhou para o rapaz com estranheza. Não fazia sentido na cabeça dele.
-Como assim? – Ele pediu uma explicação.
-Eu não terminei com a Liv, porque não concordei com o que o senhor me disse. – Peter declarou. – Foi ela quem terminou comigo, sem saber da nossa conversa.
Stark estava surpreso com o depoimento do rapaz. Ele não esperava que tivesse sido dessa forma.
-Bom, Olivia descobriu sobre o acordo hoje, o que eu acredito ter sido um dos motivos que a levaram a ir embora. – O homem arqueou as sobrancelhas, enquanto os dois cruzavam informações que pareciam esclarecer um ao outro. – Mas posso saber por que você não acatou minha ordem, Sr. Parker?
-Porque eu não achei justa. – Peter contou, sem sequer tremer a voz. Ele não parecia mais temer Stark. – Não queria deixar a Liv só porque o senhor achou que seria melhor para a equipe. Pra mim, ela também deveria ter o poder de decidir, e os sentimentos dela deveriam ser levados em consideração.
-Então você contou a ela sobre o que conversamos?
-Não. Não queria fazer vocês dois brigarem mais do que já brigam normalmente. Não sei como ela descobriu. – O rapaz explicou, dando de ombros. – Mas, no fim das contas, a Liv acabou concordando com o senhor, e terminou comigo no dia seguinte à nossa conversa. Acontece que ela também achava que estarmos juntos poderia atrapalhar na dinâmica da equipe, e... bem, foi uma decisão dela.
Tony desviou o olhar, surpreso pelo que acabara de ouvir. Durante o dia todo – na verdade, durante a missão toda – ele estivera pensando que Olivia não sabia decidir as coisas perante a equipe. Mas acontece que ela própria havia concordado com ele, mesmo sem saber, e tinha sido capaz de sacrificar seu relacionamento com Peter pelo bem dos Vingadores. Ela tinha sido muito mais madura do que ele esperava, e ter duvidado daquilo trouxe a Stark um enorme peso na consciência.
-E por que você não concorda com isso, Sr. Parker? – Tony quis saber.
-Pelos mesmos motivos que devem ter levado a Liv a ir embora: não era sua decisão. – Esclareceu o rapaz, convicto e um pouco magoado. – O senhor poderia até não concordar em estarmos juntos, mas não devia ter interferido daquela maneira. Isso tem sufocado a Olivia. Na verdade, tem sufocado a todos nós. – Disse Peter.
-Mas eu fiz isso pelo bem da equipe. – Stark se justificou. – Vocês não entenderiam.
-Acho que é o senhor que não entende, Sr. Stark. – Ele ousou discordar. – Eu sei que tudo que o senhor faz é com a intenção de ajudar, mas às vezes não funciona assim. Principalmente quando o assunto é Olivia McCall.
-O que está querendo dizer? – Tony questionou, achando as palavras do rapaz muito estranhas.
-A Olivia é igualzinha a você. Por isso é tão difícil pra vocês dois entenderem um ao outro. Coloque-se no lugar dela, e pense em alguém mandando em você o tempo todo sem te dar a chance de argumentar, assim como o senhor tem feito com ela. A dor que sentiria é a mesma que a Liv sente. – Explicou o garoto, expondo seu ponto de vista.
-Não é a mesma coisa. Olivia é só uma adolescente. – Stark negou veementemente. Peter fez uma pausa na conversa, pensando sobre o que iria falar a seguir.
-Eu não tenho nada com isso, Sr. Stark, mas acho que o senhor deveria começar a ouvir um pouco mais a sua filha. – Disse ele, por fim. – A Olivia é uma menina incrível, muito mais capaz e inteligente do que o senhor pensa que ela é. E não sei se você vê isso, mas ela não é mais uma garotinha. Talvez o senhor devesse começar a levar a opinião dela em conta, e deixar que ela tome as próprias decisões. Se confiasse mais nela, talvez ela não tivesse ido embora.
Ver a mágoa e a espécie de raiva com que Peter lhe dirigia aquelas palavras, praticamente o acusando pela partida da filha, impactava Stark. Mas ele não era capaz nem mesmo de embravecer-se ou discordar, porque no fundo, sabia que o Pirralho tinha alguma ponta de razão. Mesmo que não fosse admitir.
-Quando eu vejo algo errado, não consigo simplesmente ignorar e deixar acontecer. Sei que a Olivia é da mesma forma. O único problema é que nossas concepções de erro são diferentes – Tony argumentou. – E é aí que se originam as nossas brigas. Só que os Vingadores dependem de mim, e eu não posso simplesmente ceder assim. As coisas sempre funcionaram desse jeito, e não vão mudar por causa dela.
-Sempre? – Questionou Parker, discordante.
-Sim, sempre. – Tony disparou, encontrando uma razão para se apegar. – Desde antes de você estar aqui.
-Não é assim que eu me lembro. – Declarou Peter, pensativo. Ele decidiu pegar uma referência do passado para explicar seu ponto. – Sr. Stark, se lembra daquela vez em que um dos seus inimigos tentou roubar a tecnologia do Homem de Ferro e criou uns drones do mal que atacaram as pessoas? – Ele questionou, e o homem concordou com a cabeça, estranhando a recordação aparentemente sem nexo. – Bom, durante esses ataques, um garotinho de uns cinco anos que usava um capacete do Homem de Ferro decidiu tentar enfrentar um dos drones. É claro que o robô ia matá-lo, mas o senhor chegou para ajudar e o destruiu antes disso, e o garotinho ficou pensando que ele próprio tinha explodido o inimigo com a sua armadura de brinquedo. Então você disse “bom trabalho, garoto”, e depois saiu voando. – Peter narrou, com uma impressionante riqueza de detalhes. – O senhor se lembra, não é? – Stark concordou novamente, e Parker prosseguiu. – Bem, aquele menininho era eu.
Tony ficou surpreso ao recordar o evento. Parker nunca lhe contara aquela história, e nunca revelara ser a criança por trás daquela máscara antes.
-Eu acreditei durante muito tempo que eu tinha ajudado Tony Stark a combater os vilões. – O rapaz prosseguiu, reavendo sua inocência de criança. – Meu sonho era poder trabalhar com ele um dia. E, se você quer saber, esse sentimento influenciou minha decisão de usar meus poderes para ajudar as pessoas, depois que eu os ganhei. Porque o Homem de Ferro fazia isso, e eu queria ser como ele. – Contou. – Só que você não se parece mais com aquele Tony Stark que me fez acreditar em mim mesmo. Diferente dele, que aceitou a ajuda de um pirralho de cinco anos, o Tony Stark de agora trabalha sozinho. E mesmo quando as decisões dele podem colocar em risco a humanidade por quem ele luta, ele ainda prefere colocar seus próprios medos acima desse risco. Dá a impressão de que ele desistiu, o que, para aquele garotinho, parecia impossível de acontecer.
Parker finalizou sua fala à Stark com um olhar de mágoa e decepção, muito similar ao que Olivia havia lhe lançado pouco antes de partir. Peter era a última pessoa de quem ele esperava ouvir aquelas palavras tão ásperas; a admiração do garoto era muito importante para ele, afinal Stark o tinha quase como um filho já há muito tempo. E se até mesmo ele, que o idolatrara desde menino, estava decepcionado, então Tony devia estar mesmo fazendo algo de errado.
-Sr. Stark, o Dr. Banner está na porta. – F.R.I.D.A.Y. anunciou no sistema de som do quarto, interrompendo o silêncio que já se instalava há alguns segundos.
-Diga que estou ocupado. – Falou Stark, tentando evitar mais problemas.
-Ele disse que é urgente. – Insistiu o sistema, fazendo o homem bufar.
-Mande entrar.
Em poucos segundos, Bruce abriu a porta do dormitório, de um jeito afobado e com a preocupação estampada no rosto. Os outros dois estranharam seu comportamento.
-Stark, temos um problema. – Disse ele, que segurava um tablet na mão.
-Não me diga. – Tony respondeu de forma tediosa. Aquele dia já estava saturado de problemas.
-Eu estive monitorando os contêineres suspeitos no porto de Estocolmo desde que os descobrimos, para garantir a segurança até que tomássemos uma decisão. – Prosseguiu Banner. – O programa me enviou uma notificação agora mesmo, dizendo que as cargas acabaram de ser transferidas. – Revelou, fazendo Peter e Stark darem um salto diante da notícia. – Durante o pequeno espaço de tempo em que as cargas estiveram desprotegidas, nossos raios-X conseguiram detectar que, de fato, os contêineres tem grande quantidade de Exoginium, tanto em sua estrutura quanto naquilo que carregam. Não tem como não serem os robôs. – Bruce alertou. – Mas essa não é a pior parte. O porta-aviões particular que buscou os contêineres e partiu do porto, tinha o destino definido para Sydney.
O coração de Tony Stark gelou ao ouvir aquelas palavras. Olivia estava em Sydney, devia ter desembarcado há poucas horas. E Magnum estava transferindo seus robôs gigantes para lá, muito provavelmente para fazer um novo atentado em um tempo mais curto do que ele gostaria de pensar.
-Exploda o maldito avião. – Ordenou Tony imediatamente, ainda em choque.
-Não dá. O jato está irrastreável, tudo que consegui descobrir foi o destino dele antes que sumisse dos radares. – Explicou Banner. – E, pela velocidade que ele alcança, não vai demorar muito para chegar a Sydney.
-Magnum sabe – Stark acusou, com o maxilar trincado de raiva. – Ele sabe que a Olivia está lá. Deve ter achado outro jeito de espioná-la. E agora que descobriu que ela está sozinha, vai tentar machucá-la.
-Precisamos avisar a Liv. – Peter disse preocupado, já sacando o celular do bolso.
-Não adianta, Thor e eu já tentamos. – Bruce interrompeu o ato. – Ela deixou o celular na cama dela antes de sair. Está incomunicável.
-Vou ligar para Meredith. – Stark declarou, fazendo o que disse e contatando a mãe da garota logo em seguida. No entanto, a ligação sequer completou, em ambas as tentativas.
-Olivia deve ter te bloqueado pelo número da mãe também. – Banner supôs. – O que vamos fazer?
-Vamos até lá. – Declarou Tony, decidido, já pegando as coisas pelo quarto para sair.
-Mas o avião com os robôs já partiu há muito tempo – Bruce alertou. – Vai chegar a Sydney antes de nós, não importa o que façamos.
-Não interessa. – Falou Stark, apressado. – Eu preciso estar lá para proteger a minha filha.

Capítulo 20

O sol brilhava intensamente no céu sem nuvens, competindo com os flashes das câmeras de centenas de turistas naquele observatório. Olivia chegara a Sydney na manhã daquele mesmo dia, após sua viagem forçada e às pressas; e tão logo, a garota já se viu obrigada a passear pela famosa Sydney Tower com sua mãe e o namorado dela, Mark, que davam continuidade à sua viagem de férias juntos.
A menina observava o horizonte lotado de prédios que cortavam o mar, aguardando mais uma sessão interminável de fotos do casal. O relógio biológico de Liv ainda estava um pouco bagunçado por conta do fuso horário diferente, e somado ao seu emocional conturbado por tudo que havia acontecido nas últimas horas, a garota não estava no melhor de seus humores.
-Esse lugar é magnífico. – Ela ouviu a mãe suspirar encantada. – Liv, você não vai tirar uma foto?
-Não preciso, obrigada – A garota respondeu dando um sorriso nada sincero. – Nessa era digital, é bom registrar as coisas só na mente às vezes.
A mãe lançou-lhe um riso lateral, e em seguida abraçou-a. Ela conhecia bem o humor minguado que a filha demonstrava quando estava triste, mas não queria estragar a alegria dos outros.
-Se quiser voltar para o hotel eu vou entender, Liv. – Disse Meredith, compreensiva com a situação. Ela não sabia muito bem o que tinha acontecido para trazer Olivia de volta, pois a filha não explicara muitos detalhes, mas ela interpretava ter sido algo difícil. – Não precisa turistar com a gente.
-Não, eu amo turistar. – A garota negou imediatamente. – Viajei por dezessete horas só pra isso. – Brincou.
-Está bem – A mais velha rendeu-se ao riso. Logo em seguida, a mulher abraçou a filha de lado, e as duas viraram-se para uma foto que Mark se prontificou a tirar.
-As duas mulheres mais lindas desse mundo, posando no lugar mais lindo dessa cidade. – Ele sorriu orgulhoso, mostrando a foto para elas. Liv deu apenas um pequeno sorriso em resposta, e então caminhou até um canto mais afastado do observatório.
Por mais que Olivia não estivesse no clima de viagem em família como os outros dois, ela queria muito ficar na companhia da mãe. Liv sentira saudades imensas de Meredith, até mais do que esperava, durante o tempo em que esteve fora. Além do que, sair e dar uma volta, mesmo que naquela multidão toda, era melhor do que ficar trancada em um quarto de hotel pensando em tudo que havia acontecido.
Durante o passeio, Liv estava tentando manter os pensamentos sobre os Vingadores afastados; mas eles eram inevitáveis. Seu pai julgava que eles não precisavam da ajuda dela, acreditava estar certo em ser tão implicante e achava que Liv não era madura o suficiente para se apaixonar e lidar com isso da forma certa. Tudo isso era péssimo; mas ter ido embora daquela maneira, abandonando a equipe em um momento tão importante e decisivo da missão com os robôs, fora de certa forma irresponsável e egoísta. No fim das contas, ela não tinha sido nada melhor do que a criança que o pai achava que ela era.
Mas Olivia precisava deixar aquela atmosfera pesada de lado, precisava de um tempo do pai e de todos. Depois daqueles últimos dias que restavam da viagem a Sydney, Liv voltaria para Nova York com a mãe, e encontraria um pouco de paz ao retornar à rotina de sua vida antiga – embora ela tivesse sérias dúvidas sobre ainda caber naquele cenário depois de tudo que aconteceu. As coisas jamais seriam as mesmas novamente, afinal, agora todos sabiam quem era Olivia McCall – inclusive, a garota já posara para ao menos cinco fotos como “a filha do Tony Stark” ao lado de curiosos que passavam por ali.
Mas retornar aos velhos hábitos seria bom. Sua velha cama, seu velho quarto, o pequeno apartamento que dividia com a mãe em Manhattan. Os Vingadores resolveriam seus problemas muito bem sozinhos, e Liv se viraria com os próprios também. Até encontrar seu verdadeiro lugar, e sua própria batalha para lutar.
Os pensamentos filosóficos e melancólicos da garota foram interrompidos por uma visão esquisita que Olivia captou no horizonte. Ao mesmo tempo, vários turistas do observatório que admiravam a paisagem também pararam seus passeios, estranhando a grossa linha de fumaça que se desenhara no céu. Mais rápido do que os olhos podiam acompanhar, um objeto não identificado voava na direção da grande torre, assustando quem estava ali. Somente quando a distância foi reduzida a poucos metros, ficou possível identificar o que era aquela coisa enorme chegando. Os turistas começaram a se afastar dos vidros, correndo para os elevadores e escadas, e alguns gritos começaram a ser ouvidos. Era um gigante de aço.
O pânico se instalou dentro do observatório da Sydney Tower. Pessoas começaram a correr para todos os lados, desesperadas para sair dali imediatamente – embora fosse inútil, pois eram mais de trezentos metros de altura, e o robô voava a toda velocidade. Luzes de emergência se acenderam pelo prédio todo indicando saídas, e uma sirene alertava o perigo. Olivia encarava o robô gigante, estática à frente do vidro.
-Filha, temos que sair daqui – Meredith esticou a mão e chamou a garota, com o desespero explícito na voz. Ela não esboçou reação. – Anda logo, Liv! – Clamou novamente.
-Não posso. – Olivia disse por fim, virando para a mãe.
-Que história é essa? – Questionou o padrasto, que já se preparava para correr ao lado da amada.
Há cinco segundos, ela dizia para si mesma “chega de bancar a heroína”. Mas ser uma heroína não se tratava de uma escolha, e sim de um instinto. Natural, primitivo, inevitável.
-Esse robô vai matar as pessoas – Falou a garota. – Eu preciso impedir.
Quando Liv preparou-se para correr, a mãe segurou seu braço.
-Nem pense nisso – Disse ela, em tom autoritário. – Não posso deixar.
-Vá com o Mark pelas escadas de incêndio, eu encontro vocês lá em baixo. – A menina orientou, ignorando seu comentário. – Vou ficar bem, eu prometo.
-Olivia! – A mãe gritou, desesperada ao ver a garota se desvencilhar das suas mãos.
-Eu te amo – Disse Liv, parando mais um instante. – Agora anda, vocês precisam ir!
Logo em seguida, Olivia saiu correndo em direção às escadas que davam acesso aos andares superiores. Ela subia os degraus com dificuldade, pois contrariava o fluxo da multidão que tentava fugir dali imediatamente. Entre empurrões, a garota chegou ao quarto andar, de onde era possível ver o robô escalando pela estrutura do observatório do lado de fora.
Ali dependurado, o gigante desferiu um golpe sob as vidraças do andar, arrastando sua mão horizontalmente e quebrando todas as janelas em sequência. Além da chuva de estilhaços, o ato balançou a construção da torre, fazendo com que as pessoas caíssem no chão. Então, devido ao movimento, as mais próximas começaram a escorregar para fora do enorme vão ali criado.
Por reflexo, Olivia correu até mais próximo das janelas para tentar ajudar. Ela usou seus poderes para controlar a energia gravitacional dos seis corpos prestes a desabarem, impedindo que aqueles cidadãos caíssem em voo livre até lá em baixo. Segurando-os mentalmente com um pouco de dificuldade, Liv começou a puxá-los lentamente de volta para o chão do andar, colocando-os em um lugar seguro.
-Olha, é a Arion! – A garota ouviu alguém no andar dizer, com um lapso de esperança na voz. – Ela vai nos ajudar!
A garota olhou para as pessoas que ainda permaneciam presas ali, e tentavam achar um jeito de fugir. Naquele momento, ela era a única esperança delas. Não se tratava da Olivia, e sim de todos aqueles que dependiam dela para sobreviver agora. Liv respirou fundo e virou para frente, onde se encontrava o robô.
-Manda ver, Big Hero do mal. – Disse ela, em tom desafiador.
A garota esticou o braço direito para cima, movimentando os dedos levemente. As sirenes de alerta começaram a falhar, e logo silenciaram devido à energia sonora que Olivia estava tomando delas. Em seguida, Liv converteu tal carga e começou a disparar na direção do inimigo repetidas vezes, chamando sua atenção.
Imediatamente, o gigante de aço ativou seu campo de força, repelindo a investida da moça. Ele virou seu rosto metálico para ela, encontrando o alvo inimigo com quem viera para brigar. Enquanto Liv persistia, o robô ergueu o braço esquerdo, posicionando o canhão acoplado à sua mão na abertura das janelas do observatório. Ele estava preparado para disparar, apontou a mira na direção deles e carregou a arma.
Porém, antes que o disparo pudesse ser efetuado, Olivia concentrou uma boa quantidade de força na saída do canhão, impedindo que o tiro saísse. Com dificuldade, a garota conteve a explosão dentro da arma, armazenando toda a imensa energia que se expandia ali. Após alguns segundos, Liv conseguiu converter a explosão, fazendo com que o tiro estourasse no interior da própria arma. O impacto foi grande, e fez com que o homem de lata se desestabilizasse do lado de fora da torre, perdendo um pouco do equilíbrio.
Vitoriosa, a garota começou a caminhar na direção das janelas quebradas para um embate mais incisivo. O robô, por sua vez, recobrou a firmeza e voltou a escalar a torre, indo mais alto ainda. Olivia foi até a beirada do andar, e inclinou a cabeça para olhar para cima. O adversário ganhava altitude, indo na direção da antena principal do prédio.
-Quer bancar o King Kong, não é? – Disse ela, sentindo-se desafiada.
A menina pôs os pés na borda do piso, e então começou a escalar a torre por entre os ferros tortos da estrutura, usando energia da gravidade para impedir a própria queda. Com um pouco de dificuldade, Olivia foi subindo devagar, e então chegou até o observatório destelhado da Sydney Tower. Com esforço, ela pulou a grade de contensão e pôs-se de pé.
Sem dar tempo para a garota recuperar o fôlego, o robô atacou-a, desferindo um chute na direção de Olivia. Mas, com um reflexo mais rápido do que ela própria pôde acompanhar, Liv deu um enorme salto para trás, desviando do golpe e parando no chão novamente, após uma cambalhota no ar.
Depois de conseguir defender-se, Olivia continuou a luta para subir mais alto na torre, escalando sua estrutura com auxílio de impulso gravitacional. Ela escalava e dava saltos, ao mesmo tempo em que precisava desviar dos golpes que o gigante de aço lançava para tentar derrubá-la.
Após três iminentes quedas, a moça conseguiu atingir a altura desejada, pendurando-se sobre o letreiro vermelho na fachada da torre. Olivia agarrou-se a uma das letras, e então se preparou para acessar os circuitos elétricos que acendiam a palavra. Com uma das mãos, ela consumiu a eletricidade que passava por ali, acumulando-a e atirando na direção do adversário. Com rapidez, o robô defendeu o choque com o braço, e ativou seu campo de força novamente.
Era hora de revidar. O gigante de aço aproximou-se de onde Olivia estava, arrastando o metal de seu corpo sobre a estrutura da torre. Ele agarrou o letreiro com uma das mãos, fazendo força, e então as letras começaram lentamente a soltar da parede do prédio, arrebentando os pregos. Olivia tentou se segurar, mas começou a perder o equilíbrio diante dos movimentos bruscos. E então, ela caiu.
Liv atingiu o chão do observatório, com as costas batendo bruscamente contra o metal. Ela voltara à estaca zero, na passarela por onde tinha começado a sua escalada. Atordoada pela queda, a garota olhou para cima, vendo o enorme robô vir em sua direção.
O homem de lata afastou o braço direito, preparando um soco. Aquele golpe tinha potencial para esmagar Olivia facilmente se chegasse a ela. Diante da cena, a menina esticou os dois braços para cima, na iminência de impedir ser acertada. Seus poderes funcionaram ao conter a energia cinética do punho do robô, segurando seu soco no ar antes que ele a atingisse.
Liv permaneceu firme, segurando o braço mecânico longe de si mesma. Com dificuldade, ela se levantou do chão, colocando-se de joelhos e logo em seguida de pé. A disputa estava acirrada, pois ao mesmo tempo em que Olivia resistia, o robô forçava seu corpo mais e mais para baixo, iniciando uma dura queda de braço. A garota estava indo bem, mas o tempo começou a passar, e suportar aquele impacto estava ficando cada vez mais difícil. O adversário era muito forte, e Liv começou a sentir a plataforma metálica sob seus pés cedendo à pressão e entortando as ferragens. Aos poucos, a garota foi perdendo forças, e o punho do robô começou a se aproximar.
Olivia sentiu um líquido quente escorrendo pelo rosto, e constatou que seu nariz sangrava. Os braços da garota começaram a tremer, fadigados, e a enorme mão do homem de lata estava prestes a esmagá-la. Ela tentava pensar em alguma forma de sair dali e reverter a situação, mas não conseguia. Seus poderes estavam no limite, e seus sentidos estavam começando a falhar.
De repente, Olivia ouviu um forte rugido raivoso ao longe. Segundos depois, uma enorme criatura verde apareceu, saltando de um prédio próximo até a estrutura da Sydney Tower. Era Hulk, usando suas enormes luvas de combate – um pequeno presentinho das Inovações. Rapidamente, o esmagador agarrou o braço do robô, interrompendo a disputa de força e aliviando os poderes de Olivia. Então, o grandão desferiu um golpe, forçando o membro metálico para trás e danificando o homem de lata.
Antes que Liv pudesse recuperar os sentidos e entender direito o que estava acontecendo, um objeto veloz apareceu voando na plataforma e agarrou-a, levando a menina para longe dali em segundos. Tratava-se de uma armadura humanoide, carregando-a no colo a muitos quilômetros por hora. Era o Homem de Ferro.
-Você está viva – A garota ouviu a voz robotizada do pai dizer por trás da máscara, expressando certo alívio.
Olivia estava atordoada e confusa demais para esboçar qualquer reação. Em instantes, os dois chegaram até a terra firme, descendo em uma das grandes avenidas aos arredores da Sydney Tower. Lá em baixo, o resto dos Vingadores já os esperava, prontos para iniciar o combate e lutar.
Após a aterrissagem de pai e filha, Natasha Romanoff caminhou até Olivia, carregando algo em mãos.
-Acho que isto é seu. – Disse ela, esboçando um sorriso receptivo e entregando à garota o par de luvas especiais que constituía seu uniforme.
Olivia pegou o adereço, encarando o brilho dos cristais Omni que ela mesma havia inventado e cravejado ali. De certa forma, ela sentiu-se como se estivesse em casa. Para sua surpresa, era como se retornasse ao lugar onde pertencia.
- Bem vinda de volta, Arion.
Após retribuir o sorriso, a garota calçou as duas luvas com determinação. Imediatamente, pequenos cristais começaram a sair de suas mãos através do acessório, correndo e se espalhando por todo o corpo de Olivia, montando o uniforme da Arion em sua versão mais forte e atualizada sob suas roupas. Em segundos, o traje preto e azul com os novos upgrades e o novo design pôs-se perfeitamente vestido na moça, que então estava pronta para o combate.
-Acho que você também vai precisar disso. – Alertou Thor, entregando à garota uma bala de caramelo. Seria necessário repor calorias através de glicose para poder voltar a lutar, ele sabia. Liv sorriu e colocou o doce na boca.
Todo aquele ar turístico e ensolarado de Sydney havia se esvaído, dando lugar ao caos completo. Pessoas corriam sem rumo e direção, saindo do observatório e também fugindo das calçadas, desesperadas para abandonar aquele cenário tão perigoso. Os carros paravam na rua e batiam uns nos outros, enquanto a cidade era o alvo incrédulo de mais um atentado de robôs gigantes.
A dita armadura humanoide chegou ao chão, logo após Hulk descer da torre e juntar-se ao resto da equipe no asfalto. Os Vingadores encararam o inimigo, prontos para lutar e defender a população. O robô começou a caminhar na direção deles, a passos largos e pesados, e então eles avançaram.
Stark foi o primeiro a tomar uma atitude, lançando um tiro com o canhão da palma de sua mão, agora muito mais potente do que antes graças às atualizações. A explosão na armadura do robô gerou uma fumaça preta, bloqueando sua visão. Parker, devidamente configurado como Homem-Aranha, adiantou-se em um pulo para armar uma emboscada, colocando uma grossa teia atravessada na avenida para dificultar a passagem do inimigo. Thor prestou auxílio, e utilizando seus raios, carregou a teia com eletricidade, bem a tempo de o grande robô tropeçar na mesma e ser eletrocutado. Assim que o gigante de aço foi ao chão, Hulk pulou em cima dele e desferiu um soco em seu capacete, amassando a estrutura e danificando sua armadura. Logo, os sistemas começaram a pifar, e o robô desligou.
O inimigo fora derrotado. No entanto, a batalha ainda não tinha terminado. Logo após a vitória, os heróis pararam diante da avenida, e sentiram o asfalto no chão começar a tremer. Ao longe, um barulho de metal em movimento era audível, e se aproximava a cada segundo, ficando mais forte e intenso. Então, do outro lado da rua, entre os prédios e arranha-céus, outros cinco gigantes de aço apareceram. O exército se aproximava, sendo guiado pelo seu mestre e mentor desde o início: Magnum. Em seu uniforme agora preto e vermelho, o grande vilão voava lado a lado com seu parceiro Ceifador, e os dois avançavam escoltados por suas máquinas da morte.
-Enfim, os heróis mais poderosos da Terra apareceram para o combate – A voz maquiavélica e triunfal de Magnum anunciou, ecoando entre os prédios através de seu sorriso malicioso. – E vieram para enfrentar sua humilhante derrota!
Os Vingadores avançaram pela avenida, correndo e dividindo-se para iniciar o embate contra os robôs. Cada um escolheu seu inimigo, e logo as batalhas simultâneas começaram a se espalhar pelos quarteirões, enquanto golpes eram desferidos e defesas eram erguidas, partindo dos mais variados lados. No entanto, o inimigo principal preferiu ir atrás do chefe do outro lado para começar a brincadeira.
-Estava ansioso para finalmente conhecer você, Tony Stark – Falou Magnum, voando em alta velocidade na direção de Tony. – E para derrotá-lo também.
Sem demora, o Homem de Ferro disparou um tiro na direção do oponente que avançava sobre ele, mas o mesmo conseguiu desviar em um rápido reflexo. Os dois se aproximaram, e então iniciaram uma troca de golpes ágeis e extremamente fortes, como os poderes de ambos permitiam.
-Quanto mais vocês lutarem para proteger a população, mais grandioso será seu fracasso diante dela. – Ameaçou Magnum, após um chute que foi defendido.
-De qual vilão da Disney você pegou essas frases feitas? – Stark questionou, desferindo um potente soco na direção do oponente.
Os dois continuaram o combate corpo a corpo com golpes rápidos e vigorosos, desviando e atacando com muita destreza. Magnum e Homem de Ferro desciam a avenida enquanto lutavam, trocando socos e farpas.
-Você é um covarde – Falou Stark no meio da briga. – Mata inocentes para conseguir atenção e poder, e ainda chama isso de altruísmo.
-E não é exatamente isso o que os Vingadores fazem? – Questionou Magnum, iniciando uma contundente sequência de socos. – Conseguem a glória por salvar a humanidade, sacrificando-a?
-Nós sacrificamos vidas por um bem maior – Respondeu Tony, defendendo todos os golpes com agilidade. – Você sacrifica vidas por si mesmo. E porque é um psicopata insano.
-Até onde você está disposto a se sacrificar pela humanidade, Stark? – Williams apontou com uma expressão maliciosa. – Já que são vidas por vidas... Sacrificaria a vida da sua filha?
O semblante de Stark fechou-se imediatamente. Ele avançou sobre Magnum, com golpes ainda mais rápidos e raivosos utilizando toda a potência da armadura.
-Você já viveu essa vida por bastante tempo. Sabe muito bem quais são as consequências. – O vilão continuou a discursar, apenas defendendo-se. – E se algo acontecesse com Olivia?
-Nada vai acontecer enquanto eu estiver aqui pra impedir. – Tony disse entre dentes, logo após acertar em cheio um soco no rosto de Simon Williams.
-Nada me impediu de encontrá-la e vir até aqui – Magnum ponderou, recuperando-se rápido do golpe graças à ampla resistência corpórea. – Tudo bem debaixo desse seu nariz empinado e arrogante. Qual será o próximo passo?
Tony não respondeu, apenas continuou a golpeá-lo com força.
-Raptá-la? Matá-la enquanto dorme? Envenenar seu café matinal? – Sugeria o inimigo, divertindo-se com o ódio no olhar de Stark. – Quem sabe pegá-la desprevenida, no caminho para a faculdade, e torturá-la até que implore pelo socorro do papai?
Magnum desferiu um golpe incisivo, usando seus poderes para lançar uma rajada de raio iônico na direção de Stark, que o acertou em cheio e o fez cambalear. O homem deu um passo para trás, abaixando a cabeça por conta da grande carga de poder.
-E aí, mesmo quando ela chamar – Disse Williams, cuspindo as palavras e se aproximando do oponente atordoado. – Papai não irá atender.
De repente, o homem que estava abaixado levantou-se rapidamente, e Stark disparou um tiro de canhão na direção de Magnum, mais rápido do que ele foi capaz de acompanhar. Tony fingira estar ferido apenas para dar um contra-ataque surpresa, e sem tempo de reação, o adversário foi atingido em cheio e lançado a metros longe, caindo de costa no asfalto.
-E eu nem vou precisar atender – Falou Tony encarando o oponente, já farto daquele joguinho psicológico barato. – Porque os Stark não perdem para Ervilhas Voadoras insignificantes. Muito menos a minha garotinha.
Para todos os lados que se olhasse, havia um herói combatendo um super-robô numa disputa acirrada. Thor estava munido de seu cinto Megingjord, e canalizava seus poderes através dele para poder enfrentar um dos gigantes de aço; Visão estreava seu novo uniforme branco contra o segundo robô; Viúva Negra havia ganhado braceletes com diversas funções que a ajudavam em batalha, e encarregava-se de lutar com Ceifador; Homem-Aranha, trajado como Aranha de Ferro, possuía muito mais resistência contra o robô que enfrentava; Hulk golpeava a quarta armadura utilizando as novas luvas que Banner desenvolvera; já o Homem de Ferro partira para cima de outro homem de lata usando todos os recursos do traje de nanotecnologia denominado Extremis. Todos os upgrades desenvolvidos ajudavam e muito a melhorar o desempenho dos heróis contra os robôs, que não esperavam tanta evolução para o atual combate.
No entanto, por mais que a paridade dos poderes na luta contra os Vingadores fosse uma surpresa, não era com isso que Magnum estava preocupado. Toda aquela luta havia começado com um simples objetivo apenas, que envolvia a mais nova integrante daquela equipe desprezível. É claro que derrotar os heróis era importante, mas derrotar Tony Stark emocionalmente após acabar com a filha bem na frente dele, esse era o real propósito. E Williams pretendia colocar isso em prática.
-Ei, stalker – O grande vilão ouviu alguém dizer logo atrás dele, ao mesmo tempo em que sentiu um grande impacto na cabeça. – Sentiu falta de bancar meu hater virtual?
Magnum virou-se para encontrar Arion encarando-o a alguns metros de distância, pouco depois de ter utilizado seus poderes para arremessar sobre ele uma placa de trânsito. A garota estava usando o sol como sua fonte de poder, para que pudesse drenar energia e lutar na batalha. Voando, o homem começou a se aproximar da menina, e usando sua superforça, empurrou um carro na direção dela. Olivia conseguiu conter a energia que o movia, impedindo que o automóvel a atingisse.
-Tenho preferido ameaças mais contundentes ultimamente. – Disse Williams, enquanto a garota freava o veículo. – Como robôs em torres de observação.
-Sabe, você me parecia bem mais perigoso online. – Olivia debochou, então viu o adversário se aproximar.
Magnum veio voando na direção da garota, preparando um forte soco com o punho para trás. No entanto, antes que ele pudesse chegar a ela, Olivia fez um movimento com a mão, desviando o curso do braço do vilão com seus poderes.
-Vai ter que ser melhor que isso pra me deixar com medo. – Ela falou, enquanto Magnum preparava mais uma investida. Ele tentou se aproximar novamente, mas Olivia usou a energia para criar uma espécie de barreira na frente de si, impedindo que Williams passasse.
-Seus poderes são admiráveis, garotinha. – Disse ele, fazendo esforço para tentar furar o bloqueio. – Controlar a energia te permite fazer coisas inimagináveis.
-Não são inimagináveis, é lógica física óbvia. – Respondeu Olivia, rolando os olhos. – Eu controlo energia elétrica – Falou, disparando uma onda de choque na direção de Magnum, que conseguiu desviar. – Energia térmica – Ela apontou para o asfalto, que se aqueceu a uma temperatura tão insuportável que Williams teve que se esquivar. – Energia sonora – Citou, aumentando absurdamente a frequência do som da sua voz que chegava ao ouvido dele, atordoando-o. – E também energia gravitacional. – A garota deu um grande salto, passando por cima de Magnum.
Olivia sobrevoou o inimigo e parou logo atrás dele, virando-se para Williams com a mão na cintura.
-Tem certeza de que você é um cientista? Você parece meio burro. – Disse Liv por fim, com a voz tediosa e uma expressão divertida.
-E você me parece muito espertinha. – Respondeu o outro, com um riso maléfico. – Vamos ver até quando.
Em seguida, o mais velho decidiu elevar um pouco o nível, iniciando um combate energético entre os dois. Magnum lançava raios iônicos na direção de Liv, enquanto ela respondia através dos mais variados tipos de energia, em uma trocação rápida de golpes. A afinidade entre os poderes dos dois resultava em uma luta acirrada e interessante.
O combate como um todo apresentava detalhes importantes àquela altura. Apesar de todos os poderosos equipamentos novos, os Vingadores começavam a encontrar certa dificuldade na disputa contra os robôs. O exército de androides era grande, e eles estavam em muitos – mais do que a equipe conseguia controlar simultaneamente. Mesmo com a melhora na qualidade da luta, o número reduzido de combatentes parecia estar dificultando a vitória dos heróis.
Homem-Aranha havia finalmente conseguido derrubar seu oponente metálico, sendo o primeiro a vencer o gigante contra quem lutava. Ele estava livre para prestar ajuda, e seu olhar aguçado pousou sobre a batalha que acontecia na esquina seguinte, entre Magnum e Arion. O rapaz estava à direita dos dois, e logo a atenção de Peter voltou-se para quem estava à sua frente: Ceifador, que vinha pelo lado oposto da briga, e caminhava na direção de Olivia enquanto preparava sua foice com o poderoso raio de coma ativado.
Eric pretendia atingir a garota enquanto ela estivesse distraída na luta contra Magnum, dando-lhe a chance de atacar pelas costas. Apesar dos grandes poderes de Liv, sua estrutura corpórea ainda era a de um ser humano normal, o que significava que ela provavelmente não resistiria se fosse atingida. E, diante daquilo, Parker decidiu tomar uma atitude.
-Wow, Eric, eu adoraria chegar aos quarenta e poucos anos com essa aparência – Disse ele, debochando do adversário que estava do outro lado da quadra. – Qual creme anti-idade você usa?
Em seguida, Aranha disparou uma bomba de teia na direção de Ceifador, para impedir que avançasse sobre sua parceira. O fluido grudou em cheio na lâmina da foice, como ele pretendia; no entanto, Eric puxou o braço para si com enorme força, impulsionando Peter para frente, e o movimento jogou o garoto para dentro da linha de fogo entre Arion e Magnum.
Enquanto isso, a luta entre os dois estava acirrada. A disputa tão párea obrigou Olivia a tomar uma medida drástica, e concentrar seus poderes na tentativa de dar um golpe definitivo e vencer. Ela carregou a energia em seu corpo com toda a potência que conseguiu, e mirou. Tudo aconteceu muito rápido, e a garota não conseguiu perceber a tempo que Peter invadira o espaço de repente. Então, assim que Liv disparou a energia na direção de Magnum, acabou atingindo por acidente o rapaz com o choque eletrocutador mortal.
A corrente elétrica acumulada ali era muito potente. Além de atingir Parker, o choque foi transmitido através da teia e acabou chegando até Ceifador, que foi arremessado por metros até cair em alguns carros estacionados. O traje de Peter não conseguiu resistir, fazendo com que a energia chegasse até o corpo dele, com força e voltagem imensas. Ele foi jogado na direção contrária, e atingiu o asfalto do outro lado da avenida, inconsciente.
Todos os outros combatentes ali pararam para olhar o acontecido. Como era Eric quem estava controlando os robôs mentalmente, os mesmos ficaram sem ação depois que o mestre perdeu os sentidos. O modo de livre operação ordenava que eles se retirassem, e foi o que fizeram, voando imediatamente. Preocupado com o irmão, Magnum correu até ele para prestar socorro. Não havia condições de continuar o combate sem o comando do exército e sem Ceifador; então, o vilão decidiu bater em retirada imediatamente, levando Eric para poder ajudá-lo.
Diante da cena, os Vingadores nem sequer conseguiram aproveitar a brecha para tentar a vitória: um deles havia sido brutalmente atingido. Visão e Banner encarregaram-se de ir atrás dos irmãos, no caso de conseguirem pegá-los. Já o resto da equipe foi até o centro da avenida, onde o garoto estava estirado, em um estado duvidoso de vida.
Olivia assistiu ao desenrolar da cena sem acreditar no que acontecia. Atordoada, a moça correu na direção do o rapaz caído, e ajoelhou-se no asfalto com as mãos trêmulas para tentar ajudá-lo. Ela virou-o para cima e pôs a cabeça de Peter em seu colo, retirando sua máscara com cuidado e constatando que o garoto não estava respirando.
-Não, por favor – Liv soltou em forma de suspiro, com lágrimas começando a se formar nos olhos. – Vamos lá, Peter.
Ela passou a mão sob o rosto do rapaz, retirando a fuligem que cobria a região. Seus olhos estavam fechados e sua boca semiaberta, sem puxar oxigênio. Olivia tentou então sentir seu coração, sem obter nenhuma resposta do peito inerte de Peter.
-Você não pode morrer – Ela disse, com a voz embargada. Liv tentou agitar os ombros dele, mas nada aconteceu. – Vamos, acorde.
Ela precisava fazer alguma coisa. O por do sol chegara a Sydney, e diante da penumbra que avançava, as luzes da rua já haviam começado a se acender. Olivia esticou um dos braços para trás, tentando alcançar em seu campo de sentidos um dos postes de luz. A garota tomou a corrente elétrica de um deles, e então dirigiu as mãos até o peito de Peter, transferindo a energia como um desfribilador para tentar reanimá-lo. Porém, nada aconteceu.
-Acorde, Peter – Disse ela, esticando o braço para trás novamente e apagando mais um poste. – Por favor, acorde – Liv usou a energia nele, sem sucesso. – Acorde, acorde...
Olivia apagou mais um poste, e logo em seguida apagou outro. Secou as lágrimas do rosto com um dos ombros, e então continuou o processo, apagando outro e mais outro. Ela dava pequenos choques no peito do rapaz, tentando revivê-lo, mas Peter não respondia. A garota estourou as lâmpadas da rua uma a uma, cada vez mais rápido, entrando em desespero, até a última delas. Então o sistema de luz da avenida entrou em curto circuito, apagando todas as luzes e deixando o local na escuridão total.
-Acorde! – Gritou Olivia, usando a última fração de energia que tinha com toda a força. Logo em seguida, constatando o fracasso, ela jogou-se para frente, deitando sobre o corpo imóvel de Peter.
A menina escondeu o rosto no uniforme do garoto, entregando-se ao choro. Olivia soluçou, enquanto o resto da equipe olhava em volta, sem nada que pudessem fazer.
-É tudo minha culpa – Disse ela, lamentando entre as lágrimas. – Me desculpe, Menino-Aranha.

Capítulo 21

Prestar obediência e seguir regras nunca foi exatamente o forte de Olivia McCall. E isso não era novidade nenhuma para sua mãe, que já estava cansada de tanto proibir a garota de coisas que ela insistia em continuar fazendo. Ao invés de simplesmente chegar tarde, não fazer o dever de casa ou ficar até de madrugada no celular, Liv era do tipo de adolescente que aprontava coisas mais... inusitadas. Investigações criminais, por exemplo, era uma dessas artes.
Olivia sempre teve em seu gênio a vontade de ajudar, e também a curiosidade. No início era algo inocente, mas à medida que a garota cresceu, sua personalidade somada à enorme inteligência e raciocínio resultou em uma espécie de hobbie arrojado e inusitado. Liv costumava procurar pequenos crimes não resolvidos ao redor da cidade, para exercer a função secreta e despretensiosamente, já que não era propriamente heroína – e já que seus pais não deveriam saber. A mais recente descoberta da moça se tratava de um contrabandista de antiguidades em Nova York, que vendia artefatos ilegalmente. A polícia havia desistido do caso segundo o jornal, e Olivia tinha colocado na cabeça que queria pegá-lo. Tudo isso, é claro, para desespero de Meredith, que acabou descobrindo tudo acidentalmente.
Não adiantou falar. Nem mesmo uma intervenção do pai interrompeu Olivia e seu complexo de heroísmo, o que levou a mãe a colocá-la de castigo. Sem TV, sem internet e, principalmente, sem sair de casa para resolver crimes. Se ela desobedecesse outra vez, um deslize que fosse, iria perder a oportunidade de fazer o que ela mais almejava no momento: mudar-se para Massachusetts para estudar no MIT – o que deveria acontecer no próximo mês, se tudo desse certo.
Aquela ameaça colocou em cheque os trabalhos de detetive da garota. Sua mudança e os novos estudos estavam muito próximos, e ela odiaria perder a oportunidade da sua vida por um caso qualquer. Porém, Olivia não conseguiu evitar a curiosidade ao sentir o dever chamá-la. Numa tarde, quando estava de bobeira em casa e sem poder sair por conta do castigo, ela recebeu uma pista valiosíssima sobre o contrabandista de antiguidades.
Liv havia usado seus poderes para grampear o telefone do suspeito, roubando sua frequência e transmitindo-a para o próprio celular. O dito cujo fez uma ligação, dizendo ao parceiro que planejava se livrar de algumas provas, pois acreditava estar sendo seguido – e estava, afinal. O local da desova era um terreno baldio no Queens, do qual Olivia sabia a exata localização. Ela estava sozinha em casa, e o padrasto havia esquecido a bicicleta dele no apartamento, o que facilitaria seu trajeto. E como Liv não era nenhuma mestra em seguir regras, é claro que ela foi até lá.
Algo de que ela se arrependia tremendamente agora.
De fato, o contrabandista de antiguidades cortara as grades de contensão e invadira o terreno baldio sobre o qual falara, para deixar uma mochila cheia de suas mercadorias ilegais. Olivia chegou momentos antes de o bandido livrar-se das provas, bem a tempo de impedi-lo. Ela tentou dissuadi-lo e contê-lo, mas assim que o homem sentiu-se ameaçado, saiu correndo dali imediatamente. E antes fosse apenas isso: o bandido fugiu levando a bicicleta dela – que nem era mesmo dela, mas do padrasto – usando-a como veículo de fuga pela avenida principal.
Liv sabia que precisaria usar de seus poderes se quisesse conter o criminoso àquela altura, mas era bem mais difícil do que parecia. Claro que a garota poderia desmaiá-lo tomando a energia de suas sinapses, ou paralisá-lo drenando seus impulsos nervosos; mas seria impossível fazer isso em uma rua lotada de pessoas sem que parecesse totalmente anormal. Então Olivia não teve escolha se não apenas correr atrás dele, por vários quarteirões, até que a velocidade visivelmente maior do bandido munido de duas rodas o perdesse de vista.
Era oficial: Olivia McCall estava ferrada. Não que ela não pudesse comprar outra bicicleta para o padrasto; mas ela precisaria explicar o sumiço da primeira, e para isso teria que contar para a mãe que saíra escondido durante o castigo. Para fazer exatamente aquilo que o castigo a proibia de fazer.
A garota continuou andando pela avenida, ofegante e frustrada, pensando no tamanho da bronca que iria levar ao chegar em casa e se ver obrigada a contar sobre o delito. Meredith iria surtar, jogar a culpa toda no sangue dos Stark e amaldiçoar Tony como sempre fazia. Adeus faculdade, adeus Massachusetts, adeus vida social – se é que ela tinha alguma. Agora Olivia ficaria presa em Nova York para sempre, e no que dependesse da mãe, não sairia de casa nem para comprar pão.
Na metade do caminho pra casa, a moça já havia aceitado a derrota. Obrigada a ir a pé pelas ruas do Queens, Olivia refazia seus planos de vida baseados no cárcere privado e quem sabe uma graduação à distância, quando uma surpresa apareceu na calçada. Como se fosse por mágica, a bicicleta de seu padrasto encontrava-se encostada no muro de uma loja, salva e intacta. Liv aproximou-se do objeto, estupefata, para encontrar sob o guidão um bilhete manuscrito.
Essa bicicleta é sua? Se não for, não a roube! Homem-Aranha.

Olivia soltou um riso admirado. Ela começou a olhar para os lados, procurando o herói mascarado que a ajudara, mas aparentemente o evento já havia acontecido há um tempo. Homem-Aranha acabara de salvar sua bicicleta, e junto com ela, seu futuro inteiro.
Liv já conhecia a história do Cabeça-de-Teia acrobata. O Aranha era uma espécie de justiceiro de Nova York, sensação no YouTube por conta dos vídeos em que se pendurava em teias, parava ônibus desgovernados e fazia outras coisas sobre-humanas. Mas ela nunca o tinha visto pessoalmente, ou presenciado uma de suas ações assim.
Enquanto pedalava de volta para casa em sua bicicleta recém-recuperada, Olivia ficou pensando sobre o ocorrido. O Homem-Aranha não a conhecia; provavelmente, ele não conhece boa parte das pessoas que ajuda. Uma atitude bem nobre, na opinião dela – digna de um herói como Thor ou Homem de Ferro. Sabe, Nova York é uma cidade grande, onde muitos crimes acontecem; mas por alguma razão, o Teioso ajudou Olivia naquele dia. Com algo tão banal e simples quanto uma bicicleta roubada, mas que causara um impacto que ele provavelmente não imaginava ao fazê-lo.
Liv conseguiu chegar em casa antes que a mãe tivesse voltado do trabalho, tendo tempo de devolver a bicicleta do padrasto exatamente onde encontrara, e de enfiar-se debaixo das cobertas como se não tivesse saído delas o dia todo. Após se livrar com sucesso da condenação total do seu futuro, Olivia viu-se obrigada a agradecer mentalmente pelo destino que colocara o Homem-Aranha lá naquele dia.
Talvez o destino só tivesse feito tudo isso porque queria que Olivia se mudasse para Massachusetts. Quem sabe, ele estivesse guardando grandes surpresas lá para ela. Não que Liv fosse muito fã de superstições, afinal. Mas, fato é que, por mais inesperado que pudesse parecer, ela devia o sucesso da missão ao tal Aranha. E, seja lá quem ele for por trás daquela máscara, deve ser uma pessoa muito boa.

_

A grande avenida estava silenciosa, coberta apenas pela penumbra do início da noite e pelos destroços da batalha que afugentara a todos. No centro do asfalto, meia dúzia de olhares vazios que também não se atreviam a emitir nenhum barulho. O único som audível era dos soluços quase imperceptíveis da garota, que tomavam uma grande proporção dentro de sua cabeça.
Olivia segurava tremulamente a mão do rapaz caído, sem obter nenhuma rigidez ou reflexo em resposta. Sua mente ainda encontrava dificuldade de raciocinar o que acabara de acontecer, bem diante de seus olhos agora marejados. Deitada ali, ela simplesmente não acreditava. Peter estava morto, e era tudo culpa dela.
A cena do rapaz sendo atingido pela descarga elétrica e indo ao chão jamais deixaria os pensamentos dela. Era a concretização de um medo terrível, perdê-lo. Olivia conhecia o risco, e foi por não ter coragem de enfrentá-lo que a garota havia terminado tudo entre os dois. Pensou que seria insuportável ter que assistir a Peter ferir-se caso um dia viesse a acontecer; o que ela não sabia é que seria bem pior encarar a morte dele sem ter estado ao seu lado antes.
A dor de machucar alguém querido com os próprios poderes era terrível, e tornava o acontecimento mil vezes pior. Ela queria poder impedir. Ela queria ter visto antes. Ela queria ter tido mais tempo. Ela queria ter se entregado, pois agora, nunca mais teria a chance de fazê-lo. E jamais poderia pedir desculpas a ele por ter sido tão ingênua, e só perceber isso quando já era tarde demais.
As lágrimas escorriam com culpa e arrependimento. Olivia queria poder dizer a ele que sentia muito. E queria dizer que sentia, apesar de ter tentado negar isso para si mesma durante muito tempo. Toda aquela melancolia dominava seus pensamentos, até que seus devaneios foram interrompidos por uma voz rouca e fraca, dizendo:
-Não sabia que Olivia McCall era capaz de chorar.
A garota levantou o rosto, assustada e confusa. Voltou-se para o rapaz caído, de onde pensou ter ouvido o som, e encontrou Peter ainda de olhos fechados, mas com um leve sorriso formando-se lentamente nos lábios.
Todos que estavam ali em volta aproximaram-se para ver a cena, surpresos. O rapaz estava vivo, e recobrava a consciência aos poucos. Ele tossiu algumas vezes, um pouco fraco, e então abriu os olhos.
-Você acha que a partir de agora vou ser capaz de lançar teias elétricas? – Perguntou o garoto, bem humorado, fazendo Olivia suspirar aliviada em forma de riso.
Rapidamente, a garota abraçou-o, soltando todo o peso sobre o corpo dele. Peter correspondeu o ato, levantando-se um pouco e envolvendo seus braços nela, com uma expressão um tanto dolorida no rosto.
-Você está vivo – Ela disse, ainda tentando acreditar no que via. – Não é possível...
O rapaz apenas sorriu, com o rosto acomodado na curva do pescoço dela. Alguns segundos depois, Peter sentou no chão com um pouco de dificuldade, para tentar se levantar.
-Você me deixou tão preocupada – Falou Olivia, dando apoio com os braços para que ele se erguesse lentamente. – Eu não tinha percebido você chegando, e quando te vi caído e vi o que tinha feito... – Ela disse, com a voz cheia de culpa. – Foi a pior sensação do mundo, eu nunca ia me perdoar.
-Está tudo bem, Liv. – Peter respondeu, esforçando-se para ficar de pé.
-Não, não está, eu quase matei você – Falou a garota, ainda impressionada com o acontecido. – Pensei que nunca mais ia poder te ver e dizer que eu sentia muito. Por isso e por todo o resto.
-Tudo bem. – Ele sorriu de canto, diante do desespero dela.
-Eu fui uma idiota. Não devia ter te deixado lá sozinho no restaurante, não devia ter ligado daquele jeito, e não devia ter ido embora sem te dizer adeus – Olivia continuou, falando muito rápido e descompassado.
-Liv... – Peter tentou pará-la, mas sem sucesso.
-Eu fiquei com medo, e estava tão irritada que não pensei direito – Disse ela, com a voz preocupada e acelerada. – Aí o Magnum estava na minha cola, e eu ia pegá-lo com tudo, mas acabei acertando em você e, caramba...
-Liv... – Ele tentou de novo, achando graça naquilo.
-Se você não acordasse, eu não sei o que eu faria. Peter, me desculpe por ter agido daquele jeito, eu...
-Olivia! – O rapaz gritou, interrompendo o discurso frenético de desculpas da garota. Ela parou para encará-lo.
Peter riu fraco diante da situação, e então simplesmente a beijou. Liv ficara muito abalada com aqueles dois minutos de um mundo sem Peter Parker, mas calou suas preocupações diante dos lábios que pensou jamais poder sentir nos seus outra vez. Quando o rapaz envolveu-a em seus braços, ela viu toda aquela aflição ir embora, e seu coração começou a acalmar-se lentamente. Já ele, diante da morte iminente que encarara, preferiu não pensar em mais nada além do fato de estar vivo. Ali, sentindo o gosto salgado das lágrimas de Olivia, era como se ele constatasse o milagre que era a própria sobrevivência. Sim, ele estava ali. E ela também.
O resto da equipe ficara ali em volta, comemorando com alívio ao ver que o rapaz estava bem. Ao assistir a cena dos dois mais novos, Stark, que estava um pouco mais à direita, lançou um sorriso torto para o chão.
Ele ficara totalmente arrasado ao pensar que o Pirralho havia morrido mais cedo, e vê-lo bem era um alívio tremendo. Stark sabia ser o responsável por ele onde quer que estivesse, e jamais se perdoaria se algo acontecesse. Peter se sacrificara para proteger a filha dele, o que causava em Tony admiração, e também arrependimento. O rapaz gostava realmente de Olivia – algo que ele talvez não tivesse dado a devida importância antes.
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Aos poucos, as pessoas que haviam fugido e se escondido nos arredores por conta da batalha com os robôs começavam a sair para a rua, atrevendo-se a ver o que tinha acontecido diante da aparente calmaria. Uma dessas pessoas era Meredith McCall, que junto do namorado, havia buscado abrigo em uma loja de departamentos ali por perto, recusando-se a sair de perto de Olivia. Juntos, o casal saia com receio de seu esconderijo, procurando pela garota para constatar se ela estava bem.
Liv logo encontrou a mãe, e as duas correram para um abraço caloroso, aliviadas por ver uma à outra. Logo em seguida, a mulher loira encontrou Tony em seu campo de visão, e deu-lhe um sorriso contido ao reconhecê-lo. Já fazia alguns anos desde o último encontro físico entre os dois. Ele acenou levemente para ela, que após alguns minutos se separou da filha e começou a caminhar na avenida em direção a Stark.
-Onde há estrago, multidão e perigo, sempre há Tony Stark. – Disse ela com humor, parando diante do homem.
-Algumas coisas nunca mudam – Ele respondeu no mesmo tom, dando de ombros. – Sou ótimo em me meter em encrencas.
-Pois é, e parece que passou esse talento à diante – Meredith falou, encarando Olivia do outro lado da rua. – Assim como tudo que existe de mais inconfundível e marcante na sua personalidade.
-Olivia é uma garota incrível, não é? – Stark brincou, convencido, diante da semelhança que a filha tinha com ele.
-Ela é mesmo. – A mãe riu, concordando. – Uma pessoa maravilhosa. Teimosa, irônica, irreverente... mas maravilhosa. – Meredith sorriu. – Nossa filhinha cresceu, Tony.
-É, cresceu. – Ele constatou, sorrindo de lado.
-E se tornou uma heroína, assim como você.
-Pensei que detestasse heróis. – Tony estranhou.
-E detesto. Quase surtei quando vi a Olivia pela primeira vez no noticiário da TV. – Meredith contou virando os olhos, revivendo um pouco da irritação daquele momento. – Eu estava de férias, almoçando tranquilamente, quando descobri que Nova York quase fora destruída por robôs gigantes e que a minha filha tinha lutado contra eles. Quis pegar um avião aqui em Sydney e ir até Massachusetts só pra matar você.
Stark arregalou os olhos, e riu diante da iminência de perigo.
-Liguei pra Olivia logo em seguida, furiosa. Dei uma bronca enorme nela, e ameacei trazê-la de volta pra casa. Ela pediu mil desculpas, prometeu não esconder mais nada de mim e implorou pra que eu a deixasse ficar. – A mulher contou, e Stark atentou-se para a parte da história que não conhecia. – Liv argumentou que lidaria com a pressão da identidade sozinha, e que estar com os Vingadores sempre foi o sonho dela. Disse que estaria segura com você na equipe para protegê-la.
Tony ergueu as sobrancelhas, surpreso com a declaração que a garota dera.
-É claro que eu fiquei muito preocupada. Você sabe qual é a minha opinião sobre esse negócio de heróis, melhor que ninguém. – Ela riu fraco, referindo-se ao passado. – Odiei a ideia de vê-la exposta para o mundo por conta do nome, e mais ainda, se colocando em risco em missões. Deixar a Liv, ainda tão nova, usar os poderes assim... mas que escolha eu tinha? – A mulher deu de ombros. – Eu já tinha visto esse filme. A insistência em ideias malucas e a vontade incessante de correr perigo estão no sangue dos Stark. – Ela sorriu de lado.
-É, tem razão. Mas, honestamente, eu compartilho um pouco desses seus medos. – Admitiu Tony, e em seguida deu um suspiro. – Por isso não achei assim tão ruim ao saber que Olivia tinha ido embora pra ficar com você de novo. Pelo menos ela estaria segura.
-Pois é. – Meredith ergueu as sobrancelhas, lembrando-se da viagem de fuga da garota. – Não sei qual foi o tamanho da bagunça que você fez dessa vez, mas deve ter sido bem grande pra aborrecê-la a esse ponto.
-Irritar as mulheres McCall até elas irem embora com raiva de mim é minha especialidade. – Stark sorriu fingindo estar orgulhoso. – Mas, é... eu pisei feio na bola dessa vez. – Ele entortou o lábio em seguida.
-Não se preocupe, ela vai superar. – A mulher encarou Olivia. – Liv não consegue evitar quem ela é, Tony.
Os dois pais voltaram-se para a avenida, e passaram a encarar a filha que estava a alguns metros deles. Devido à aproximação dos curiosos, o resto dos heróis já se preparava para ir embora, com a missão agora cumprida. Liv estava junto deles, logo ao lado de Peter.
-Quem é o garoto de collaint? – Questionou Meredith, com as sobrancelhas franzidas em estranheza. – Sabe, ela veio falando de um rapaz. Payton, Pablo...
-Peter. – Corrigiu Tony, diante da confusão dela.
-Isso, Peter. – A mulher se lembrou. Diante da confirmação de Stark, ela presumiu que houvesse algo entre os dois que já era sabido. Ela entortou o lábio, desconfiada. – ...E ele é bonzinho?
Stark voltou o olhar para os dois adolescentes do outro lado da rua, e fez uma pausa antes de responder.
-Não poderíamos querer um rapaz melhor para nossa filha. – Ele disse por fim, com um sorriso de canto.
Tendo feito seu trabalho após combater os robôs que aterrorizavam a cidade, os Vingadores estavam prontos para partir. A nave em que chegaram viera até a avenida para buscá-los, e os heróis já se preparavam para a decolagem.
-Mãe, eu... – Olivia aproximara-se de Meredith, querendo ter uma conversa.
-Pode ir. – A mulher a interrompeu. – Lá é o seu lugar. Eu sei disso.
A garota sorriu de canto, sem ação. Tinha preparado um discurso enorme para justificar sua partida, tão próxima da sua chegada. Por mais que tivesse dito em um momento de raiva que queria voltar para Nova York com a mãe, Olivia acabara de provar para si mesma que Massachusetts e os Vingadores eram, na realidade, a sua verdadeira casa. Ela queria a autorização para ir embora com eles, mas pelo visto nem precisaria pedir.
Meredith simplesmente abraçou a filha, despedindo-se. A garota deu um beijo no rosto dela, e então caminhou na direção da nave.
-Eu te amo – Disse Liv, antes de partir.
-Se cuida. – A mãe respondeu, com um leve aperto no coração.
Dentro do jato da equipe, todos estavam felizes. Podiam não ter exatamente vencido a batalha, o que precisaria ser revisto depois; mas Olivia estava de volta e Peter estava vivo, e era isso que realmente gerava a alegria. Em meio a todas as conversas dos outros colegas, Stark aproximou-se do rapaz, que de primeira estranhou sua abordagem.
-Bom trabalho, garoto. – Disse Tony simplesmente, pegando no ombro de Peter com um olhar cúmplice.
Parker correspondeu o gesto, e sorriu de lábios fechados em seguida. Naquele momento, aquela frase antiga e familiar dizia mais do que quaisquer outras palavras poderiam expressar. Ambos compreendiam o que estava subentendido ali, e o que Stark realmente demonstrava ao repetir aquelas palavras. E, para Peter, ouvir aquilo foi como ter cinco anos de idade novamente.
Depois de algumas longas horas de voo silencioso por conta do cansaço da batalha, a equipe de heróis chegou a Massachusetts e retornou à base dos Vingadores, quando já era noite. Os novos equipamentos de combate voltaram para os laboratórios de pesquisa, e então seus donos puderam recolher-se no alojamento para um bom e merecido descanso.
-Ei, pessoal, alguém pode me ajudar? – Disse Peter com dificuldade, tendo problemas para retirar seu traje. Ele não tinha pegado completamente o jeito da nova roupa do Aranha de Ferro ainda.
-Aqui. – Falou Olivia caminhando até o rapaz para auxiliá-lo, já que tinha participado do desenvolvimento da armadura e entendia como ela funcionava.
Liv parou de frente para Parker e pôs a mão em seu peito, pressionando levemente o símbolo da aranha que ficava desenhado ali. A ação liberou uma trava, que soltou o uniforme do corpo dele e permitiu que ele voltasse às roupas normais que usava por baixo.
-Valeu – Peter agradeceu com um sorriso de lábios fechados.
-Não há de que. – Liv respondeu da mesma forma, um pouco desconfortável.
A conversa caiu no silêncio logo em seguida, enquanto Parker guardava seu traje e Olivia mexia em alguns acessórios dos outros heróis em cima da bancada. Thor e Visão, os últimos a devolverem os uniformes, logo saíram do laboratório, sobrando apenas os dois mais jovens ali.
-Peter, eu... – A garota voltou a falar diante da oportunidade, escolhendo as palavras de forma acanhada. – Eu queria te pedir desculpas. Não só por quase ter te matado hoje – Ela citou arregalando os olhos. – Mas por todo o resto também. Você não merecia o que eu fiz.
-Tá tudo bem, Liv, esquece isso. – Respondeu o rapaz simplesmente, tentando cortar o assunto que queria evitar. Ele não pretendia discutir agora, então fez menção de sair da sala.
-Não, não está tudo bem – Olivia o segurou pela mão. – Eu quero explicar o que houve. Não quero que fique pensando que eu sou uma ignorante de coração frio. Tem outro lado pra toda essa história.
Peter ficou parado, cedendo a ouvir o que ela tinha a dizer.
-O que eu te falei aquele dia no telefone não era mentira. – Olivia iniciou, recapitulando. – Você e eu não somos ingênuos, sabemos que um relacionamento dentro da equipe pode ser bem difícil. Nós realmente precisamos de concentração nessa parte decisiva da missão, e essa coisa toda. Mas não foi só por isso que eu te dispensei naquele dia. – Ela fez uma pausa. – Eu... fiquei com medo. – Liv admitiu desconfortavelmente, o que foi difícil para ela.
-Medo do que? – Parker questionou, estranhando.
-De me aproximar. – Contou. – Eu não sou muito boa com sentimentos, você sabe – A menina coçou a nuca. – E vê-los prestes a se tornarem algo real foi um choque pra mim. Foi por isso também que eu saí daquele jeito no dia em que você me beijou no quarto do hotel. Eu entrei em pânico, porque você tomou uma atitude que eu não esperava, diante de algo que eu pensei que nunca fosse acontecer. Eu não sabia o que fazer, não entendia nem a mim mesma, e fiquei confusa. Basicamente deitei na minha cama e fiquei encarando o teto até as duas da manhã, nas duas ocasiões.
Peter soltou um breve sorriso, pois se lembrou de fazer exatamente a mesma coisa do outro lado da divisória no hotel, e também em seu dormitório na base.
-Então eu tentei fingir que o sentimento simplesmente não existia. Foi o que eu fiz ao ligar pra você, me escondendo atrás da desculpa que eu encontrei. Eu tentei negar o que eu sentia, porque tinha medo da intensidade disso, de onde poderia chegar. – Ela explicou. – Você sempre esteve disposto e preparado pra se apaixonar, mas eu não. Então eu corri, o que foi extremamente injusto contigo, porque você foi capaz de assumir riscos que eu nem imaginava, e eu não te acompanhei.
O garoto a observava, enquanto prestava atenção no relato.
-Mas eu não neguei você só por medo do sentimento. Também tive medo do que ele poderia causar. – Olivia contou. – Especialmente por conta da vida que nós levamos. Você sabe, o que aconteceu hoje em Sydney é um risco real que corremos todos os dias, tanto eu quanto você. A qualquer momento em uma batalha, eu posso morrer nas mãos de um robô diante dos seus olhos, ou ter que assistir você ser torturado sem poder fazer nada pra impedir. E eu não queria isso. Eu queria não sentir pra evitar sofrer, ou te fazer sofrer.
Peter encarou o chão, cabisbaixo, enquanto ouvia as palavras dela.
-Eu tinha várias razões para não querer me apaixonar, então tentei sufocar isso. Sei que eu errei em algum momento nesse caminho, e você não merecia o que eu fiz. – A menina repetiu o mesmo gesto, com culpa na voz. – Não estou dizendo que você deveria me perdoar e esquecer tudo, só estou te explicando porque agi como agi. Achei que deveria saber.
-Eu sei. – Disse o menino num tom baixo. – Mas... talvez você tenha razão. – Ele suspirou com frustração, fazendo uma pausa e voltando a falar em seguida. – Quem sabe toda essa história de sentimentos seja mesmo loucura. Não dá pra arriscarmos a equipe por isso, começarmos alguma coisa colocando tudo a perder. Seria difícil demais lidar com toda a pressão e manter a cabeça no lugar. Especialmente se algo acontecesse comigo ou com você. – Peter perdeu o olhar na janela do laboratório. – Talvez a gente devesse esquecer tudo isso.
Ouvir o garoto falar daquele jeito fez o coração de Olivia se apertar.
-Eu concordaria, mas aprendi uma lição muito valiosa hoje. – Disse ela, se aproximando dele e expondo um ponto. – Não é certo acabar com algo só porque você tem medo que acabe. Olha, me afastar de você não mudou em nada o que eu sentia. E pensar que você tinha morrido tendo estado longe de você esse tempo todo, de certa forma deixou tudo muito pior. Não só porque eu tinha perdido o futuro, mas porque não tinha aproveitado passado, e não teria a oportunidade nunca mais. Na tentativa de evitar o sofrimento, eu sofri duas vezes por antecedência.
-Não tem como a gente saber o que vai acontecer no futuro. Você mesma disse, além de todos os outros pontos contra, que qualquer um de nós pode morrer em uma próxima batalha, e não dá pra mudar isso. Como é que se faz pra impedir a tristeza, então? – Ele perguntou, com a testa franzida.
-Não dá. – Olivia sorriu de lado. – Seria a mesma coisa se meu pai morresse durante um dos combates dos Vingadores. Por mais que fosse doer, não tem como ele deixar de ser meu pai, assim como ele jamais deixará de ser o Homem de Ferro. É um impasse que não dá pra evitar, e a gente enfrenta isso em uma escala muito maior do que pessoas normais. Não dá pra controlar a morte, mas também não dá pra controlar o amor. Então corremos o risco.
-E você pretende correr esse risco? – O rapaz questionou subjetivamente, com as sobrancelhas arqueadas.
-Ter medo dos riscos já me custou muita coisa – A garota deu de ombros. – E eu cansei de deixar que isso tire o melhor de mim. E você?
Peter ficou pensativo alguns segundos. Coragem não lhe era um problema; mas ele ficara realmente magoado com os acontecimentos da última semana. Ok, ele beijara Olivia na avenida em um momento de êxtase emocional, mas isso não apagava todo o resto. O que realmente o fez reprensar foi a fala da garota, sobre tempo e arrependimento. Já que ele quase morrera há pouco, não via motivos suficientemente grandes para manter qualquer coisa, fosse mágoa ou medo, à frente dos dois. Ele notou que nada daquele passado deveria importar para alguém que quase não teve futuro algum. E que, independente do futuro que viesse, estar presente valia muito mais.
-Não posso perder pra você nessa. – Parker fingiu uma competição e sorriu de canto, e ela correspondeu. – Com medo ou não, existem coisas que valem a pena, mesmo que só enquanto durem. Palavras de alguém que quase morreu hoje.
-Então quer dizer que, enquanto estivermos aqui, nós estamos? – Ela questionou, aproximando-se do garoto e pousando a mão em seu rosto.
-Até você me fritar com seus poderes outra vez. – Disse ele fazendo os dois rirem, colocando a mão por cima da dela.
-Bom, se você me irritar demais... – Liv falou, erguendo a sobrancelha. Ambos caíram na risada, então aproximaram os rostos e se beijaram.
Os lábios dos dois estavam sorridentes enquanto se encontravam, natural e espontaneamente. Eles se envolveram nos braços um do outro, sem que nada importasse, sem mágoa e sem medo. Então separaram o beijo, ainda se olhando nos olhos.
Olivia foi a primeira a desviar o olhar, seguida por Peter, para encontrarem Stark aguardando na porta do laboratório e observando os dois.
-Relaxem, eu não vou surtar dessa vez. – Disse ele com os braços cruzados e um meio sorriso. Os mais jovens riram timidamente em resposta, e um silêncio se seguiu.
Aqueles três ali tinham muito que conversar um com o outro, para resolver tudo que ocorrera nas últimas semanas.
-Imagino que quase assassinar a pessoa amada por acidente deve gerar uma DR e tanto. – Indagou Stark alguns segundos depois, franzindo a testa.
-Vocês podem parar de me lembrar disso? – Olivia fingiu irritação e rolou os olhos, sorrindo em seguida. – Não tem mais DR.
-Nesse caso, Sr. Parker, você poderia nos dar um minuto? – Pediu Tony, colocando os braços para trás. O rapaz assentiu.
-Claro. – Disse Peter, pegando suas coisas e deixando o laboratório em seguida.
Tony e Olivia ficaram em silêncio por alguns instantes antes que o pai puxasse conversa.
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-Então, você e o Cabeça-de-Teia... – Insinuou Stark, arqueando as sobrancelhas e indicando a porta pela qual o garoto acabara de sair.
-Pai, sobre isso... – Liv iniciou preocupada, em tom de justificativa.
-Eu falo. – Tony a interrompeu, começando um discurso próprio. – Um relacionamento dentro dos Vingadores é perigoso, e muito. Sei que vocês dois são grandinhos para entenderem isso. Se o casal briga por conta de ciúmes do melhor amigo ou do filme que vão ver no cinema, a dinâmica da equipe inteira fica comprometida, e não podemos tolerar isso em uma batalha séria. A humanidade conta com a gente.
-Eu sei disso. – Olivia murmurou, retraída, diante dos motivos que já conhecia.
-Eu sei que sabe. Porque você tinha tomado a decisão de sacrificar seus sentimentos por isso, e se doar pela equipe antes mesmo de eu dizer. Essa atitude demonstrou muita maturidade, e uma responsabilidade que eu sinceramente não esperava. – Tony sorriu de lado, parecendo orgulhoso.
Olivia permaneceu calada e olhou para ele, estranhando a fala do pai. Ele voltou a desenvolver as palavras.
-Eu vacilei, Liv. Não pelos motivos errados, mas porque não soube agir do jeito certo. – Explicou Stark. – Sei que eu soei como um rabugento ao exigir de você e do Peter, mas tudo que eu fiz foi por pura preocupação, com a equipe e com vocês dois. – Tony prosseguiu, explicando seu ponto de vista. – Eu realmente acho que ter um casal dentro dos Vingadores é um risco; porém, foi por mais do que isso que eu havia decidido interferir. Ter a vida pessoal misturada com a vida de herói traz dificuldades enormes que eu conheço muito bem, e eu não queria que vocês dois tivessem que passar por elas.
A garota ficou ouvindo-o atentamente. Ela não conhecia aquele lado da história.
-Ao longo dos anos, eu tive que desistir de muita coisa pra ser quem eu sou, inclusive no quesito amor. Eu te digo, amar é uma droga quando você tem o mundo pra salvar. – Ele soltou um riso abafado, negando com a cabeça. – Sua mãe é prova disso, porque a única coisa que ficou em nosso caminho quando estávamos juntos foi o Homem de Ferro e tudo que vinha junto com ele. Porém, quando eu percebi que desistir do amor era justamente o que eu tinha feito, e era algo de que eu me arrependia, vi o quanto estava sendo contraditório em relação a você e o Pirralho.
O homem recostou-se à bancada, relaxando a pose enquanto falava.
-Peter quase deu a vida por você lá em Sydney. E eu sei que, se você pudesse fazer qualquer coisa pra impedir, teria feito. Foi aí que eu vi que talvez as coisas fossem exatamente o oposto do que eu vinha pensando até agora. – Contou Stark. – Talvez o problema não fosse se apaixonar junto com as vidas de herói, mas sim as vidas de herói apesar de terem se apaixonado. Se vocês dois assumem as dificuldades de levar o amor e a luta ao mesmo tempo, ninguém deveria tentar impedir isso. É um risco que só vocês podem estar dispostos a correr, e se estão, talvez o sentimento seja mesmo tão forte que é válido mantê-lo.
Olivia ouvia, surpresa com a reação do pai.
-Estou te falando isso porque sei que, quando cheguei falando ao Peter pra simplesmente terminar com você, não pareceu que eram esses os meus reais motivos. – Stark sorriu de lado, admitindo a falha. – Não tentei impedir que ficassem juntos porque sou um pai ciumento que não quer ninguém perto da filha, ou então porque não gosto do Parker. Ele é um menino incrível, um dos mais íntegros que eu já conheci, e eu não poderia querer ninguém melhor pra você. Eu te amo e te quero feliz, assim como é com ele também, porque eu o considero como filho. Não faria o menor sentido querer que vocês terminassem se não fosse pelas circunstâncias que acabei de te dizer. – Ele explicou com obviedade, considerando a hipótese estúpida.
-E o que você acha, então? – Perguntou Olivia, ainda surpresa pela declaração dele, buscando um veredicto.
-Acho que o que eu acho não interessa mais. – Declarou Tony, por fim. – A vida é sua, você é quem decide. Se quiser mesmo terminar com Peter, termine, mas não por minha causa. Só se for aquilo que você escolher. Porque, caso quiser ficar com ele, eu também vou aceitar. – Disse ele, fazendo Olivia esboçar um sorriso. – Claro que, se você decidir simplesmente abdicar de garotos até os seus quarenta anos eu não vou achar ruim, mas... – Ele acrescentou, e os dois riram em seguida.
-Então você está de boa com isso? – Liv verificou.
-É, estou “de boa”. – Stark confirmou, usando a expressão dela. – Só não me faça assistir a mais cenas como a que estava rolando quando eu entrei, por favor. Aí já é demais.
-Tá bom, vou tentar. – Olivia riu.
-Sabe, ser um herói já é bastante difícil quando se está sozinho. E, se a união faz a força como dizem, talvez estar dentro dos Vingadores com alguém do lado não seja assim tão ruim. – Stark deu de ombros. – É o que eu acho.
-Tudo fica mais fácil quando você tem alguém com quem dividir o peso, especialmente se esse alguém passa pela mesma situação que você. Eu senti isso durante todo o tempo e que eu e o Peter ficamos juntos, tanto em Nova York quanto aqui. E você esteve sozinho durante boa parte do seu caminho de herói, então sabe bem como é. – Constatou a garota, e então um tópico anterior da conversa lhe ocorreu. – É por isso que você disse que se arrepende em relação a minha mãe?
-Eu sacrifiquei um futuro com a sua mãe, que me parecia certo na época, pra seguir um ideal em que eu acreditava. – Tony contou, dando um longo suspiro. – Foi uma decisão bem difícil de tomar. E eu não queria prender sua mãe a essa decisão, especialmente se eu me tornasse um inválido por conta do coração e ela tivesse que cuidar de mim. Além da discordância, eu jamais seria o marido que ela merecia, jamais seria bom pra ela. Então eu a deixei ir embora quando brigamos, e ficar sozinho foi inevitável no fim das contas.
-Mas você não faria diferente, faria? – Olivia estranhou a possibilidade.
-Não. Mas se o acidente não tivesse acontecido e eu não tivesse criado o Homem de Ferro, muito provavelmente eu teria me casado com a sua mãe. Aí nós teríamos você, seríamos uma família normal, e eu não teria perdido uma parte da sua vida. É isso que me traz arrependimento em toda essa história. – Stark teorizou. – Mas eu não trocaria o que tenho agora pelo que teria caso continuasse com a Meredith. Quando sua mãe me contou sobre você, é claro que eu parei pra pensar. E se tivesse sido alguns anos antes, eu adoraria recomeçar tudo. Mas eu já tinha outra história. – Ele contou. – Deixei sua mãe ir embora porque não queria que ela fosse obrigada a cuidar de mim por caso ficasse debilitado; já a Pepper, esse era o trabalho dela. O envolvimento com ela foi muito diferente, e era algo que eu não poderia abandonar. Eu só não queria ter perdido você em função disso. É a única coisa que eu mudaria.
Olivia sorriu de lado, compreendendo o arrependimento do pai, e achando até mesmo fofo o modo como ele tratava aquilo. A garota foi tão bem resolvida com essa questão a vida toda, que não acreditava que o pai não encarasse da mesma maneira.
-Você não precisa se sentir culpado por isso, pai. Me assumir já foi bem mais do que seu caráter naturalmente permite. – Ela brincou, gerando uma careta vinda de Stark. – Eu nem queria que você tivesse mudado as coisas, se te serve de consolo. Eu adoro a Pepper e adoro o Homem de Ferro, não queria que fosse diferente. Você é que se odeia por isso.
-É, eu sei. – Stark suspirou. – Eu só queria ter sido um pai mais pai pra você. E sinto que ser herói impediu isso de várias maneiras, muito mais do que com quem eu casei ou deixei de casar. – Ele disse, com pesar. – O meu pai nunca foi presente pra mim, nunca estava em casa e nunca fez parte da minha vida de perto, e eu sei o quanto isso pode ser péssimo. Eu sempre prometi a mim mesmo que se tivesse um filho um dia, não faria da mesma maneira.
-E você não faz. – Olivia sorriu ternamente. – Eu sei que você me ama, mesmo pegando tanto no meu pé. Você cuida de mim, até demais, e o nosso assunto anterior só prova isso. Você se importa, do jeito que eu sei que meu avô nunca fez. – Ela abraçou o pai de lado. – É claro que você e eu estamos longe de sermos pai e filha normais – Os dois riram. – Mas fazemos isso do nosso jeito, e é ótimo.
-Temos cometido alguns erros ao longo do processo... – Stark entortou a boca.
-É, temos. – A garota concordou, fazendo a mesma expressão. – Mas dá certo, no fim das contas.
-Dá sim. – Tony assentiu, correspondendo o abraço da filha. – Me desculpe pela forma como venho agindo com você ultimamente, está bem? Acho que minha falta de instinto paternal me impediu de ver que você não era mais uma garotinha.
-Eu não colaborei muito pra que você me achasse madura e confiável, também. – A menina admitiu. – Fui muito teimosa, fiz as coisas pelas suas costas e subestimei tudo que você me dizia. Me desculpe por isso.
-Acho que nós dois precisamos aprender a agir mais como um time. – O homem encarou a filha. – Ouvir as ideias um do outro, e trabalhar juntos pra fazer as coisas, sem competir. Deixar o ego Stark um pouquinho de lado.
-Bom, tecnicamente, esse ego é culpa sua. – Liv arqueou a sobrancelha. – Assim como essas manias que você falou, porque eu sou sua filha e sou igualzinha a você, então... Acho que o mais justo seria te responsabilizar integralmente pelas nossas tretas, e eu ficar como uma vítima das minhas circunstâncias familiares.
-Ok, eu retiro meu pedido de desculpas. – Stark falou seriamente e desvencilhou-se do abraço da filha, fazendo a garota rir.
-Eu te amo, pai. – Olivia voltou a abraçá-lo pela cintura. – Nunca duvide disso, por mais que eu não haja assim quando estou com raiva. E nunca pense que você não é o suficiente, porque você é o melhor pai que poderia ser, e o melhor pai que eu poderia ter.
-Tirou isso de um cartão de dia dos pais ou algo assim? – Questionou ele, para disfarçar a emoção que sentia com uma piada. – Também te amo, filha.
Os dois apertaram um pouco mais o abraço, aproveitando o momento de carinho. Stark deu um beijo na testa da garota, grato e aliviado por tê-la por perto. Ele se arrependia de ter deixado que missões e estratégias se colocassem à frente da relação entre pai e filha, e ela se sentia da mesma forma. Olivia amava e admirava muito o pai, independente de qualquer falha ou defeito dele. Era o pai dela, e ponto. E ela não o trocaria por nada no mundo.
-Posso voltar pra sua equipe de heróis? – Perguntou a garota retoricamente, já que num momento de raiva ela desistira, e não havia sido oficialmente readmitida.
-Bandas costumam seguir seus próprios caminhos depois que um membro decide sair... mas podemos abrir uma exceção pra você, Zayn. – Respondeu Stark, e Olivia deu um tapa na própria testa diante da tosca referência pop que o pai acabara de fazer. – Se a equipe aceitar, é claro, porque não sou só eu que mando.
-Está abandonando o cargo de déspota? – Liv arqueou as sobrancelhas, diante do novo posicionamento dele.
-Esse cargo nunca foi meu – Argumentou Stark, sentando em uma das cadeiras giratórias do laboratório. – Talvez eu nunca tenha o merecido.
Tony Stark se considerando indigno de algo? Aquilo era inédito na face da Terra. Olivia precisava investigar aquele fenômeno.
-Do que está falando? – Ela indagou, confusa.
-Eu só tenho sido mandão ultimamente porque, pra falar a verdade, não quero mandar. – Tony sorriu de lado. – Acho que ando meio enferrujado.
O queixo de Olivia caiu. Ela nunca tinha ouvido o pai falando daquele jeito.
-Como assim, não quer mandar? Você é Tony Stark, é o que você faz. – A menina disse como se fosse óbvio.
-É, e eu já fiz isso por tempo demais. Essa é a questão. – Contou o homem. – Muita gente morreu nas minhas mãos durante esse tempo, sem que eu pudesse evitar. Desde o primeiro ataque a Nova York, eu tenho sentido que nunca consigo proteger todo mundo, e por mais que ninguém consiga fazer isso, eu sinto que é minha culpa. Como se eu não fosse confiável.
-E o governo te pareceu mais digno dessa confiança? – A garota estranhou, tentando entender o raciocínio do pai. Talvez fosse isso que o levara a assinar o Tratado de Sokovia e engolir ordens da ONU durante aquele tempo todo.
-O objetivo do Magnum é matar pessoas. Ver que ele está conseguindo atingi-lo com aqueles robôs, sem que eu possa usar minha armadura pra detê-lo como sempre fiz com outros inimigos, é péssimo. – Ele desabafou. – Mas eu não queria parecer tão fraco quanto me sinto, então passei a agir como se tivesse tudo sob controle. E me tornei o chefe Stark que todos os outros Vingadores odeiam.
-Foi por isso que não quis investigar o autor dos atentados? E deixou que o Conselho controlasse a equipe? E concordou com aquele desfile idiota? – Questionou Olivia.
-Obrigado por apontar todos os meus erros, isso ajuda bastante. – Ele respondeu, sério.
-E foi por isso que não quis chamar o Capitão América? – A menina completou.
-Essa parte já é mais complicada. – Stark passou a mão pelo rosto, em sinal de exaustão.
Ele nunca havia falado sobre aquele assunto, ou explicado seus verdadeiros motivos para ser tão contrário ao time do Capitão; mas já que a conversa estava tão pessoal e emotiva, Olivia se deu a liberdade de encará-lo nos olhos até que Stark resolvesse contar sua versão da história.
-O Rogers mentiu pra mim. – Disse ele, simplesmente. – Descobrir o que eu descobri sobre os meus pais foi um peso, e saber que Steve estava escondendo tudo de mim pra proteger o Bucky... – Tony pareceu ter um arrepio ao rever aquelas emoções. – Mas não é só essa a questão. Steve e eu nunca nos demos muito bem estrategicamente falando, e seria impossível trabalhar com ele tendo essa mágoa entre a gente. Acabaríamos brigando de novo, e não resolveríamos porcaria nenhuma. Seria um esforço inútil.
Olivia chegou a tomar fôlego para interpor a fala de Tony com algum argumento que explicitasse seu ponto de vista; porém, ela já cansara de fazer aquilo. O pai poderia tentar trabalhar a escuta de sugestões o quanto quisesse, mas ele ainda era Tony Stark, e não mudaria sua postura irredutível a respeito de algo tão convicto assim. Além do que, Steve Rogers pensava da mesma maneira, e não voltaria para a equipe de qualquer forma. Especificamente naquele dia, não era momento para armar mais uma discussão. Pai e filha estavam finalmente em paz, e honestamente, Olivia sabia que brigar não valeria a pena.
-Eu imagino o quanto tudo o que disse deve doer em você. – Ela respondeu, escolhendo um leque diferente de palavras do que pensara anteriormente. – Mas sei que você é capaz de passar por todas essas barreiras que você ergueu, e superar isso; a sua culpa, sua insegurança, e sua mágoa também. Não é fácil ser você, mas ninguém faria isso melhor.
-Podemos encerrar a nossa sessão psiquiátrica aqui? – Disse Stark, sem a intenção de desprezar as palavras dela. Apenas porque ficava incrivelmente desgastado quando pensava sobre aquelas questões. – Afinal, já enfrentamos uma cambada de robôs hoje, e eu estou cansado.
-Banner e Visão não conseguiram descobrir pra onde o Magnum foi? – Perguntou a garota mudando o assunto, ao lembrar que os dois colegas haviam ido atrás dele depois que o mesmo abandonara a batalha mais cedo.
-Não. Ele deve ter se escondido ou então tinha algum veículo de fuga o esperando. – Tony contou. – Depois que você fritou o irmão do Magnum, ele ficou sem ação tanto quanto nós por causa do Peter.
-Será que o Eric sobreviveu? – Olivia levantou a questão, lembrando-se do rapaz sendo arremessado em cima dos carros estacionados após o choque que lhe foi transmitido pela teia.
-Se o Peter está vivo, ele também deve estar. – Stark opinou. – Você abalou os dois times hoje, de jeito.
-Ninguém ganhou ou perdeu a luta exatamente. – Ela comentou, pensativa. – O que será que vai acontecer agora?
-Eles vão voltar – Previu o homem. – Mais fortes e mais irritados, também. Nós vamos rever nossos erros e ficar em alerta, esperando o próximo passo. Mas qual será, não faço ideia.
-Temos que esperar de tudo, eu acho. – Sugeriu a moça. – Mais do que nunca, hoje o Magnum percebeu que não estamos de palhaçada. Ele vai vir com tudo da próxima vez.
-E nós vamos fazer de tudo pra que a próxima vez seja a última. – Completou Stark. – Até porque...
A conversa foi interrompida por um som de alerta, que ecoou tanto no relógio de pulso de Stark como nos alarmes sonoros da base. Era do sistema de segurança, e atestava código vermelho.
-Sr. Stark, o complexo dos Vingadores está sobre invasão. – Anunciou F.R.I.D.A.Y., e os dois na sala sobressaltaram-se.
Imediatamente, Tony e Olivia saíram do laboratório de equipamentos, indo às pressas até o térreo, local de onde vinha o alerta de intrusão. A resposta do inimigo havia sido bem mais rápida e incisiva do que eles esperavam. Stark já havia emitido um sinal a toda a equipe de segurança da base, para que se concentrasse no prédio principal, assim como os outros Vingadores.
Pai e filha foram os primeiros a chegar ao andar, já que eram os únicos no prédio. Stark já vestia sua armadura, e Olivia calçara rapidamente suas luvas que estavam no laboratório. As lanternas dos seguranças já se agitavam do lado de fora, e a garota usou os poderes para ativar as luzes do saguão, revelando o invasor que, aparentemente, estava sozinho e sem a companhia de nenhum dos robôs gigantes.
Porém, a pessoa que encontraram ali não era quem eles esperavam ver. Dependendo da concepção, não era sequer um inimigo.
-Vejo que trocaram as fechaduras. – Foi o que disse Steve Rogers, ao virar-se para os dois. Ele referia-se aos alarmes e luzes vermelhas que preenchiam o local, já que o sistema não o reconhecera na chegada e o classificara como um intruso.
Stark e Olivia encararam o homem, perplexos. Tony ergueu a mão direita, indicando à equipe de seguranças que acabara de adentrar no prédio para não avançar. O resto dos Vingadores chegara poucos minutos antes, e observavam a cena com unânime surpresa.
-As coisas andaram animadas por aqui enquanto estive fora – Rogers continuou sua fala, mostrando em suas mãos um jornal digital que exibia uma foto dos Vingadores contra os robôs em Sydney. – Espero não estar muito atrasado pra participar. – E sua boca entortou-se num leve sorriso.

Capítulo 22

Ninguém ali ainda mantivera esperanças de ver tal cena acontecendo um dia. Ao invés de robôs gigantes e mais uma luta acirrada, o que esperava os heróis naquele saguão era um velho amigo. A equipe de seguranças da base já havia se retirado, sem a necessidade de proteger o prédio de invasão alguma; houve então espaço para que os outros Vingadores fossem até o centro da recepção para saudar a imagem inesperada de Steve Rogers de volta ao alojamento da equipe.
-Um bom soldado nunca abandona seu batalhão. – Disse Banner, aproximando-se do homem para cumprimentá-lo.
-E nem os amigos. – Completou Rogers, correspondendo.
-Capitão. – Saudou Visão batendo continência, e Steve fez o mesmo.
-Eu sabia que você não desistiria. – Atestou Natasha, e em seguida encontrou o amigo para abraça-lo.
-Vocês não desistiram de mim – Rogers deu de ombros, e em seguida acenou com a cabeça como cumprimento para os outros membros da equipe. – E a humanidade precisa de ajuda.
-Para alguém que tanto insistiu em continuar parado, esse é um grande movimento. – Olivia disse, descendo as escadas e olhando-o com as sobrancelhas arqueadas de surpresa.
-É tudo sobre escolhas, não é? – Rogers respondeu com astúcia, referindo-se às palavras da garota na última vez que se viram. – Alguém teve a coragem de me obrigar a escolher. – Ele sorriu levemente.
Do mezanino, Stark observava a cena sem esboçar uma reação sequer. Após alguns segundos de recepções calorosas e cumprimentos saudosos lá em baixo, aos quais ele apenas assistiu de longe, o homem saiu andando na direção das escadas e, com o rosto impassível, voltou para o laboratório.
Entre os sorrisos e conversas, Steve direcionou seu olhar para cima, captando o exato momento em que isso aconteceu. Ele assistiu à saída despretensiosa de Stark, o que o fez ficar sério imediatamente.
-Hoje foi um dia cheio de evoluções espirituais e mentais pra ele. – Indagou Olivia rapidamente, antes que Steve pudesse dizer qualquer coisa. – O ego dele precisa de um tempo pra se recuperar.
O homem não respondeu, encarando o piso superior com uma insatisfação contida. Logo após, o momento foi interrompido por mais conversas com os demais presentes, que se estenderam.
Aquele dia, que já havia sido suficientemente agitado, terminou de forma mais inusitada ainda. Um dos membros mais antigos e respeitados da equipe retornara, trazendo um pouco do gosto essencial dos Vingadores de volta. Se junto dele vieram as respostas que tanto buscavam ou ainda mais perguntas, pouco se sabia; mas se Steve Rogers saíra de sua concha para encarar o mundo outra vez, pensar em soluções não era um sonho assim tão alto.
O quarto que por muito tempo permaneceu vazio no alojamento dos heróis fora novamente ocupado. Rogers trocara a vista do mar de Açores pelas luzes e prédios de Cambridge, que ele próprio pensava que nunca mais voltaria a ver. Dormir sem o barulho das ondas era uma sensação quase estranha – mas também boa, pois lhe trouxe a melhor noite de sono que teve em anos.
Steve acordou no dia seguinte bem cedo. Ia encontrar Olivia para terem uma conversa sobre a atual missão dos Vingadores e o colocar a par da situação, como a garota sugerira na noite anterior. Ainda buscando se refamiliarizar com as instalações da base, o homem dirigiu-se até a sala de conferências do prédio administrativo, onde encontrou McCall sentada com os pés apoiados sob uma longa mesa de madeira.
-Bom dia – Ele saudou, abrindo a porta de vidro pela qual enxergara a menina e entrando em seguida. – Hora da nossa palestra sobre robôs gigantes?
-Bom dia, Capitão – Respondeu Olivia, mexendo no celular. – Espere só um minuto, está faltando...
Nesse momento, Tony Stark irrompeu pela porta que ficava do outro lado da sala, tomando um café distraidamente e cortando a conversa dos dois.
-Oi filha, F.R.I.D.A.Y. me avisou que você queria me encontrar pra conversar sobre os unifor... – Ele interrompeu sua fala no meio, assim que bateu os olhos em Rogers.
-Aí está. – Olivia disse para Steve, com um sorriso satisfeito no rosto.
O clima da sala pesou instantaneamente, trazendo um grande volume de tensão por metro quadrado. Os dois homens ali presentes se encararam, sérios e contidos, expressando em seus duros olhares muito mais do que qualquer coisa que pudesse ser dita para quebrar o silêncio mortal que se instalou.
A garota, que estava no meio deles, observou suas expressões uma de cada vez, sem interromper o primeiro contato de choque entre os dois ex-companheiros. Deixando que a cena acontecesse, foram necessários alguns instantes para que alguém decidisse reagir à frieza estática que se impunha.
-Stark. – Disse Rogers desconfortavelmente, em tom de cumprimento.
-Capitão. – Respondeu Tony, acenando com a cabeça.
Mais alguns segundos de silêncio se passaram para que Steve retomasse a fala.
-Eu recebi um chamado pelo celular secreto.
-Não foi meu, mas tudo bem. – Stark respondeu, fazendo Rogers desviar o olhar.
O soldado respirou fundo, para fazer uma segunda tentativa de iniciar um diálogo.
-Eu vim para ajudar a equipe. – Continuou.
-Como ajudou ao acobertar um assassino? – Disparou Tony, com raiva evidente na voz.
-Melhor do que tentar assassinar o assassino achando que resolveria alguma coisa. – Steve retrucou imediatamente, irritado.
Olivia desceu os pés da mesa em que se apoiavam, rolando os olhos de maneira tediosa, e então se colocou de pé tomando fôlego para falar.
-Ok, já chega. – Disse ela, interrompendo a pequena faísca entre os outros dois. – Ninguém aqui está no ensino médio pra ouvir ou fazer comentários infantis como uma patricinha. Chamei vocês dois pra terem uma conversa séria, e pra dar um empurrãozinho pra solucionar essa história que, sinceramente, já devia ter sido resolvida há muito tempo.
Olivia encarava os dois homens enquanto falava, e eles a observavam de caras fechadas.
-Sei que tem muita coisa do passado que torna essa conversa difícil, e que não é tão simples assim perdoar e esquecer tudo, pra ambas as partes. Mas todos nós vamos ter que fazer alguns sacrifícios se pretendemos realmente ajudar alguém. O passado é cruel, mas não é mais importante do que o futuro que estamos tentando salvar. Isso não é sobre vocês, é sobre todas as pessoas que dependem de nós; sobre a segurança da humanidade que precisamos proteger, juntos. Então se resolvam. – Declarou a garota, sem paciência, virando as costas em seguida e deixando a sala.
Rogers e Stark ficaram sozinhos, em meio a bufadas de insatisfação e olhares atravessados. Aquele reencontro era difícil, mais do que podiam imaginar os outros que viam de fora. E forçá-lo daquela maneira só era tão desconfortável porque os dois sabiam, no fundo, da importância do que estava em jogo ali com eles.
Os dois eram orgulhosos. Ninguém queria ser o primeiro a dar o braço a torcer, ou o primeiro a perdoar. A relação entre Tony e Steve era assim desde que a equipe começou, e provavelmente foi essa configuração que os levara à atual situação. Claro que funcionou por um tempo, mas seriam necessárias mudanças nesse quesito pra que os Vingadores voltassem aos trilhos como deveriam.
-Escuta, Tony – Recomeçou Steve, cedendo ao diálogo em um tom contrariado. – Pode ficar bravo comigo o quanto quiser. Sei que é complicado pra você, e vir até aqui não foi nada fácil pra mim também. Mas fomos nós dois que começamos essa briga, cabe a nós resolvê-la.
Stark permaneceu em silêncio e carrancudo, ainda sem dirigir uma palavra a Rogers.
-Nosso problema passou da fase ideológica. Eu insisti em contrariar o governo e vi até onde isso me levou, e imagino que ter ficado ao lado da ONU já tenha te mostrado o quanto foi uma ideia ruim também. Nós dois erramos, precisamos concordar com isso. E não só em relação aos Vingadores, mas em relação a nossa amizade. – Rogers continuou.
-Nós já fomos amigos algum dia? – Questionou Tony ironicamente, com os olhos semicerrados.
Steve desviou o olhar e respirou fundo. O problema ali não era estratégico: Stark e Rogers nunca concordaram nesse quesito, e mesmo assim os Vingadores jamais deixaram de funcionar juntos. Era o olhar humano que afetava a coletividade – era o lado pessoal e a confiança que estavam falhos.
-Eu não escondi de você a história do acidente por falta de lealdade. Se você tivesse matado os pais do Bucky, eu teria feito a mesma coisa. Não por falta de respeito a ele, mas para tentar evitar uma briga desnecessária que prejudicaria a nossa coesão, e logo em seguida a nossa missão. – Declarou Rogers impacientemente.
-É, vejo que não deu muito certo. – Tony respondeu, monossilábico, referindo-se a tudo que havia acontecido diante da ação do outro.
-Eu já vi que não, Tony, mas não foi só por minha culpa. – Steve exaltou-se. – Não vou dizer que não compreendo a sua reação quando descobriu sobre os seus pais, mas você foi longe demais. Deixou a raiva tomar conta de você, quase morreu e quase me matou também.
-Meus pais tinham sido assassinados por um traidor dentro daquela sala, e meu melhor amigo tinha escondido isso de mim. Você esperava algo diferente de qualquer ser humano que se preze? – Stark respondeu no mesmo tom. – É claro que eu fiquei transtornado, é claro que eu exagerei. Mas me responda, Rogers, tinha como ser de outro jeito?
-Sua raiva podia não ter durado quase três anos. – Steve baixou o tom. Eles demoraram um pouco para voltar a falar.
-Eu já remoí esse assunto inúmeras vezes durante esses quase três anos. – Contou Stark, com a voz mais amena. – Diante de tudo que aconteceu, todos os desastres, eu pensei em mil coisas que poderiam ter sido diferentes, tantos detalhes que eu poderia ter enxergado... e nada mudou no resultado final. Não importa o quanto eu pense, pessoas continuam morrendo inevitavelmente, e eu estraguei os Vingadores.
-Nós estragamos. – Steve complementou. – E não foi por discordar em Tratado nenhum. Foi porque, não importa o quanto tentemos nos melhorar, usando soros de supersoldado ou corações artificiais, mesmo assim ainda somos humanos.
-Por que nós não enxergamos, Rogers? – Disse Stark, cobrando-se. – Quem paga pela nossa cegueira são as pessoas. Elas confiam em nós, e deixamos nossa missão com elas perder-se em meio a nós mesmos. Causamos perdas, prejuízos, mortes.
-Causamos muito mais do que isso exercendo a nossa missão, Stark. Caras como Simon Williams, ou como Helmut Zemo antes dele, só fazem o que fazem por conta da dor que sentem diante dos inevitáveis efeitos colaterais da nossa luta. Eles são vítimas do sistema de perdas e ganhos a que estamos sujeitos no nosso trabalho, e jogam isso contra nós. Mesmo que sejam apenas alguns caras, através do ódio eles se tornam grandes, e tentam nos manipular e enfraquecer. É claro que pessoas morrem, é claro que nem todo mundo concorda com isso. Mas não dá pra ser de outro jeito. E cabe a nós limpar a nossa própria sujeira, e fazer o melhor que podemos. Inclusive com os vilões que nós mesmos geramos. – Steve explicitou. – Aqui, agora, o melhor que podemos fazer é esquecer tudo o que fizemos de ruim um pro outro, e nos unirmos para completar a missão que nós dois temos com as pessoas. A missão que nós dois parecemos ter esquecido por um tempo.
Os dois amigos ficaram em silêncio, apenas olhando um para o outro. Agora, os olhos não continham mais raiva e rancor, apenas arrependimento. E, quem sabe, uma pontada de esperança surgindo no meio disso.
O longo tempo que se passou permitiu que, no fundo, os dois corações se aquietassem em relação a tudo que aconteceu. Tanto Steve quando Tony reconheceram seus próprios erros, se arrependeram deles, e neste momento tinham a oportunidade de se redimir dos mesmos. Assim como perdoar as falhas alheias, que era o mais determinante e importante naquele momento, para o renascimento dos Vingadores.
Com um meio sorriso carregado de uma mistura de emoções, Steve Rogers esticou a mão a Tony para um aperto. Stark encarou o gesto, e então correspondeu em seguida, balançando as mãos unidas dos dois. Os olhares rivais se tornaram cúmplices, e o que antes era difícil e pesado foi lentamente se esvaindo.
-Eu te disse que o Rogers seria o primeiro a esticar a mão. – Falou Olivia em um tom vanglorioso, pendendo o braço para o lado com a palma estendida.
-Eu tentei dar um voto de confiança pro seu pai. – Respondeu Peter, contrariado, colocando dez dólares na mão dela por conta da aposta que acabara de perder.
-Você é muito otimista com as pessoas, Menino-Aranha – Riu-se a garota, que achava aquilo fofo. – Mas quem sabe não esteja errado em pensar assim. Se esses dois foram capazes de se perdoar, qualquer coisa é possível.
-Humanos são bichos engraçados. – Disse Parker, ainda observando à cena de reconciliação pelo vidro, através de uma fresta nas cortinas. – É por isso que eu prefiro aranhas.
-Você é esquisito. – Externou Olivia, tendo um arrepio só de pensar no ser de oito patas. Peter teve que rir, e em seguida os dois se levantaram para ir embora e deixar o acordo de paz acontecer.
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-Que bom que você pôde atender, Sr. Callahan. – Disse Tony para o telão na ponta da sala, que exibia a imagem do embaixador. – Peço desculpas por ligar de repente.
-O que é tão importante para tanta urgência, Sr. Stark? – Questionou o homem, estranhando o contato.
-É que eu recebi uma visita, e achei que o senhor gostaria de saber. – Stark respondeu, dando um passo a frente. – Steve Rogers. Ele retornou à base ontem à noite.
Thomas Callahan ergueu as sobrancelhas, surpreso e com um pouco de raiva no olhar.
-Finalmente o Capitão resolveu sair de sua toca para enfrentar o julgamento que merece. – Disse o embaixador, com ironia na voz. – Vou enviar uma equipe do FBI agora mesmo à base dos Vingadores, Sr. Stark. Eles efetuarão a prisão de Steve Rogers por todos os crimes que cometeu contra o Estado e a humanidade.
-Não tão rápido. – Tony interrompeu o homem, que já se preparava para emitir um alerta. – Foi por isso que liguei para o senhor. Steve Rogers não será preso.
-Ele é um fugitivo internacional que violou inúmeras leis e desacatou a ordem pública – Constatou Callahan, em tom de imposição. – Ele precisa responder pelos seus crimes.
-Não acho que seja inteligente da parte do governo prender o único homem capaz de prestar a ajuda de que precisam. – Declarou Stark, fazendo o outro retesar na cadeira, confuso. – Rogers pode ter cometido infrações, mas ele é a melhor chance que os Vingadores têm contra os robôs gigantes. Confie em mim, ontem em Sydney eu vi do que Magnum e Ceifador são capazes, e a equipe que temos agora, por melhor que seja, não é suficiente para derrotá-los. Nós precisamos da ajuda do Capitão América, ou o mundo inteiro irá sofrer as consequências.
-E deixar um criminoso lutar livremente, sair impune e ainda ser tido como herói? – Questionou o embaixador retoricamente, tamanho absurdo que ouvia.
-Não só ele, como todo o resto da sua equipe também. – Respondeu Stark sem o menor pudor, fazendo o queixo do diplomata cair na bancada. – Todos os heróis que lutaram ao lado do Capitão, assim como ele, terão perdão total dos seus crimes e receberão anistia do governo para lutar ao lado dos Vingadores em prol da humanidade.
-E o que lhe dá o direito de impor uma piada como essa, Sr. Stark? – Perguntou Callahan, perdendo a paciência.
-Nada. O senhor tem a total liberdade de negar a minha demanda. – Tony deu de ombros. – Assim como os Vingadores também tem a liberdade de recusarem-se a ajudar na próxima invasão dos robôs, se esse for o caso.
Thomas Callahan congelou de indignação, diante da expressão serena e cínica com que Stark o encarava pelo vídeo.
-Você não pode fazer isso, Stark. – Callahan disse entre dentes, esquecendo-se da diplomacia por um segundo.
-Nós podemos, sim.
-Será considerado negligência e desacato a ordens oficiais. – Ameaçou. – Vai lhe custar tudo.
-E não custaria a vocês também? – Ele arqueou a sobrancelha, deixando o embaixador sem ação. – Os Vingadores estão de volta, Sr. Callahan. Ou você pede a ajuda de todos nós, ou terá que enfrentar seus homens de lata gigantes sozinho.

Capítulo 23

O setor de Inovações trabalhava sem descanso no prédio de pesquisas da base. A demanda por novos equipamentos e aprimoramentos para os heróis tomava todo o tempo de produtividade das dezenas de cientistas, físicos e matemáticos que ali desenvolviam seus protótipos. Olivia McCall não escapava dessa correria toda, sendo responsável por coordenar todos aqueles projetos, e quase não lhe restava tempo para sequer conversar.
-Srta. McCall, tem um minuto? – Tony Stark apareceu no topo das escadas do setor, com seus típicos óculos escuros excêntricos.
-Você conhece mensagem de texto? – Respondeu a menina mexendo em um tablet, acelerada. Não que isso a impedisse de ser irônica. – Estou bem ocupada aqui.
-E vai ficar mais ainda.
-O que?! – A afirmação a fez parar o que estava fazendo, assustada. – Por quê?
-Tenho uma pequena surpresinha pra vocês em algumas horas. – Declarou Tony, misterioso. – Mas acho que você vai gostar. Se puder vir comigo, tenho um novo plano de trabalho pra este setor que queria que aprovasse. Cadê o Parker?
-Trabalhando. – A menina disse como se fosse óbvio.
-Chame-o aqui.
Olivia apenas esticou o braço para o corredor atrás de si, parando o rapaz que coincidentemente transitava por ali naquele exato instante, imerso em cálculos no seu tablet. Peter ergueu os olhos assustado, encarando o local onde estava para se situar.
-Ótimo. – Declarou Stark, tendo os dois pupilos reunidos. – Vamos ter que dobrar o número de funcionários das Inovações. Vou precisar da ajuda de vocês dois para...
-Sr. Stark, o avião chegou e está pousando no hangar A-14.
A voz robotizada de F.R.I.D.A.Y. comunicou Tony pelo relógio de pulso, dando-lhe a notícia pela qual aguardara a manhã toda. Imediatamente, ele emitiu um chamado para o resto da equipe pedindo uma reunião na dita pista de pouso. Tanto o celular de Olivia quanto o de Peter vibraram em seus bolsos.
-Parece que a novidade chegou mais cedo. – Disse Stark por fim, estranhamente enigmático e até ansioso.
Após mais algumas dezenas de videoconferências complicadas com o Conselho de Segurança da ONU, foi concedido milagrosamente aos Vingadores o direito de reunir os dois lados da equipe novamente. Depois de muita argumentação, o Conselho decidiu que os membros considerados foragidos da justiça em razão do apoio a Steve Rogers poderiam retornar aos Estados Unidos sem sofrer represálias, desde que topassem ter uma reunião com o CSNU para decidir o destino definitivo dos heróis.
Com a ajuda de T’Challa e da avançada tecnologia wakandiana, foi possível contatar os até então desaparecidos integrantes do TeamCap em seus refúgios, e emitir-lhes um alerta para reunião. O rei africano ficou responsável por reunir as personalidades e trazê-las a Cambridge, enquanto Rogers fazia o primeiro contato com os Vingadores e preparava o terreno para a chegada de seu time.
A nave wakandiana pousou no hangar da base, onde o restante da equipe residente os esperava sem entender muito bem o que acontecia. Apenas quando Wanda Maximoff, Sam Wilson, Clint Barton e T’Challa desceram pela rampa do veículo, foi que toda a reunião ganhou o sentido merecido. Rogers foi o primeiro a dar um passo à frente, indo cumprimentar os companheiros.
-Wanda, Clint, T’Challa, Sam – Ele citou um a um, acompanhando seus rostos com o olhar. – Bem-vindos de volta aos Vingadores.
Os quatro heróis saudaram Steve, e em seguida os olhares se cruzaram com Thor, Peter, Banner, Romanoff, Olivia e Visão que ainda os encaravam à beira da pista de pouso. Stark adiantou-se até o centro junto com Rogers, de onde começou sua explicação.
-Bom, acho que o porquê de estarmos aqui é autoexplicativo. – Disse ele, evitando apontar o óbvio para seu pessoal. – A humanidade tem um inimigo, e os Vingadores tem o dever de combatê-lo. Apenas metade da equipe não será suficiente para deter o Magnum, como já aprendemos a duras penas. Houve então a necessidade de reunir nossos antigos colegas, começando por Steve Rogers, pra que essa luta pudesse funcionar.
-Todos aqui fizeram seus sacrifícios pra que isso acontecesse. Não foi fácil e continuará não sendo, mas se estivermos juntos, teremos uma chance. – Steve completou a fala do empresário, dirigindo-se ao seu lado do bando. – Independente de qualquer briga ou discordância que cada um de nós teve no passado, o que importa agora é unir forças para salvar a humanidade, que é o que fazemos de melhor. Temos um acordo?
Os quatro heróis à beira da nave acenaram positivamente com a cabeça, assim como os que aguardavam do outro lado da pista. As duas equipes então se reuniram, cumprimentando-se e reencontrando velhos amigos. Natasha e Clint abraçaram-se após um longo tempo sem notícias um do outro, assim como Visão e Wanda, e por aí foi. Os Vingadores estavam completos.
No entanto, não havia tempo a perder. A qualquer momento, um novo atentado de robôs gigantes poderia acontecer, e a equipe de heróis precisava estar preparada para enfrentá-los e derrotá-los de uma vez por todas. Os trabalhos começaram imediatamente, partindo do setor de Inovações, de onde sairiam todos os equipamentos necessários para tal empreitada.
A equipe de heróis foi direto para o laboratório central, para estabelecer estratégias e iniciar os projetos. As novas equipes de cientistas e estudiosos já estavam sendo alojadas, com uma rapidez processual padrão Stark.
-Pessoal, acredito que já tiveram a chance de conhecer a nossa novata, Olivia McCall. – Falou Rogers aos quatro recém-chegados, apontando para a garota que corria de um lado para o outro em um jaleco branco. – Ela é a mais nova integrante da equipe, chefe desse departamento, e também a pessoa que nos uniu. – O homem lançou um sorriso amigável para Liv, que correspondeu. – Ela irá nos conduzir nesse processo a partir de agora.
-Obrigada, Capitão. – Disse ela, lisonjeada. – Bom, como já foi dito a vocês, os robôs humanoides que estamos enfrentando são durões. O que significa que, para vencê-los, precisamos ser mais fodões ainda. – Introduziu a garota, iniciando uma explicação didática sobre o trabalho que desenvolveriam a partir dali. – As armaduras deles são equipadas com algumas das armas mais modernas que existem por aí, e foram criadas especialmente para combater nossos poderes. O que vamos fazer aqui é encontrar caminhos para potencializar as habilidades de cada membro da equipe, de um modo que os robôs não sejam capazes de revidar. Como ninguém conhece os poderes de vocês melhor do que vocês mesmos, deem suas ideias para novos uniformes, novas armas e adereços. Toda sugestão é bem-vinda. Nossas equipes de cientistas e estudiosos vão fazer o melhor que puderem para realizar seus desejos mais ambiciosos, e deixar os Vingadores invencíveis. – Finalizou a garota, com um sorriso determinado. – Perguntas?
-Eu tenho uma. – Disse Sam Wilson, erguendo a mão. Todos prestaram atenção nele. – Cadê o outro herói inseto?
-Se você quis dizer “cadê o outro herói inseto além do Peter”, eu gostaria de lembrar que aranhas são na verdade aracnídeos, e tecnicamente não são inse... – Parker achou importante elucidar, mas foi interrompido por Olivia.
-Ok, ninguém liga pra isso, Menino-Inseto. – Disse a garota achando graça, mudando o apelido original que tinha para o rapaz. – Onde está o Homem-Formiga?
-Conseguimos fazer contato, mas ele tinha seus próprios problemas pra resolver. – T’Challa explicou a todos. – Scott Lang não se juntará a nós dessa vez.
-É uma pena, mas independente disso, temos um trabalho a fazer. Podemos começar? – Questionou Stark, recebendo uma resposta positiva de todos os outros na sala.
Não foi preciso pedir duas vezes: num piscar de olhos, todos ali presentes se dividiram nas salas e laboratórios do prédio para iniciar as pesquisas. O setor de Inovações fervia; novas ideias surgiam a todo momento, buscando fazer as melhorias para equipar devidamente os Vingadores. As equipes se dividiam entre projeção, prototipagem e execução, trabalhando da forma mais ágil e produtiva possível.
A semana que correu resumiu-se inteiramente àquele ofício. Além de todos os profissionais técnicos das mais diversas áreas de estudo, a equipe contava com os cérebros de Stark, Banner, Parker e McCall, que lideravam setores e aperfeiçoavam a produção com seus conhecimentos. Todos estavam unidos buscando a melhoria uns dos outros, trabalhando juntos para desenvolver os elementos da equipe. Depois de muita pesquisa, as primeiras versões de uniformes e equipamentos novos para os heróis recém-chegados já estavam prontas para teste.
Feiticeira Escarlate havia ganhado um traje feito de um tecido que permitia a fluidez de seus poderes, tornando-os mais potentes e otimizados. A nova roupa consistia em uma capa vermelha e um corpete, assim como um diadema altamente tecnológico que ampliava suas habilidades telepáticas; Gavião Arqueiro trocou seu uniforme por um mais resistente, e teve seu arco aprimorado, possibilitando que o mesmo se estique e transforme-se em uma espada com um clique; A equipe das Inovações agraciou Falcão com um novo companheiro de combate, denominado Asa Vermelha – um pássaro robô comandado cerebralmente, equipado com armas e escudos para auxiliá-lo.
Um dos maiores progressos conquistados naquela semana de trabalho, após muitas pesquisas e suposições, foi a criação de Exoginium sintético. O material desenvolvido por Stark, McCall e Parker, possuía características muito similares de resistência e padrão químico com o metal que fazia o revestimento metálico dos robôs. Embora não fosse cem por cento correspondente, o novo Exoginium poderia ser utilizado tanto para treinamento e teste dos novo equipamentos, como para o desenvolvimento dos mesmos.
Capitão América foi beneficiado com a nova invenção, que possibilitou a criação de um novo escudo para ele, ainda mais resistente que o primeiro. A arma nova foi entregue a Rogers para teste pessoalmente pelas mãos de Tony Stark, que o fez com muita satisfação.
O traje do Pantera Negra também recebeu toques de Exoginium, que passaram a revestir as garras do herói para que o mesmo pudesse enfrentar os robôs corpo a corpo. Devido à complexa tecnologia que envolvia o traje, Olivia havia se incumbido de implantar o metal manualmente nas luvas do uniforme.
-Seu traje é impressionante – Disse a garota a T’Challa, enquanto executava o minucioso trabalho. – Todos esses equipamentos, softwares, interfaces... caramba. – Finalizou, realmente admirada.
-Eu nem sei do que está falando, mas em todo caso... – Respondeu o wakandiano, bem humorado, que não se familiarizava com aqueles termos técnicos. – Sabe, Olivia, conheço alguém com quem se daria muito bem. Outra garota muito inteligente para a idade que é apaixonada por tecnologia, assim como você.
-E quem é essa moça interessantíssima? – Questionou Liv, curiosa.
-Minha irmã, Shuri. Foi ela quem projetou o traje do Pantera Negra.
-Já sou fã dela. – Declarou a menina com um sorriso, ansiosa para um dia conhecer a princesa.
Com mais alguns cliques de sua pinça de nanotecnologia, Olivia conseguiu remover as dez garras de Vibranium e implantar o Exoginium sintético junto a elas no traje.
-Prontinho, vossa majestade. – Disse a garota, satisfeita. Ela entregou o uniforme para T’Challa, que agradeceu com um aceno de cabeça.
-Ela é incrível, não é? – Stark disse todo orgulhoso da filha, dirigindo-se a Peter, que estava encostado no balcão ao lado dele. Os dois estavam observando a cena anterior a alguns metros.
-Ela é, sim. – Peter concordou timidamente, achando graça no comentário.
-Você é um cara de sorte. – Tony declarou, fazendo o rapaz se sobressaltar.
-Sr. Stark? – Ele ficou confuso com a fala do mais velho.
-O que foi? Você é. – Stark deu de ombros, sem entender o espanto. – Assim como ela é uma garota de sorte também.
Peter permaneceu calado, sem saber o que responder diante da naturalidade repentina com que Tony estava tratando o relacionamento dele com Olivia.
-Escuta, Pirralho. Você foi fiel à Liv mesmo quando eu te pedi o absurdo de se afastar dela, e essa é uma das muitas razões pelas quais admiro você. – Tony contou, permitindo-se um breve momento de sentimentalismo. – Você é um rapaz espetacular, e Olivia fez uma ótima escolha. Não gostaria que ela mudasse.
-Obrigado, Sr. Stark. – Disse Peter, emocionado e surpreso com a declaração.
-Você tem um coração muito bom, Parker, nunca perca isso. – Ele acrescentou. – E cuide bem dela, ou eu arrebento você. – Prosseguiu, agora em um tom sério.
-Pode deixar. – Parker riu brevemente.
-Agora volte ao trabalho, não te pago pra ficar admirando sua chefe. – Stark ordenou por fim, dando um tapinha nas costas do rapaz e se retirando do laboratório.
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“Vingadores reunidos: equipe de heróis volta a sua formação original”
“Membros foragidos dos Vingadores retornam à base da equipe em Cambridge”
“Capitão América e sua equipe reencontram Tony Stark e outros heróis”
“O cerco fechou? Após derrota em Sydney, Vingadores recebem antigos membros de volta”
“Capitão América e Homem de Ferro estão finalmente em paz?”

Claire Andersen: acolher foragidos da justiça? Francamente, é a gota d’água.
Jonas Ethan: onde esses caras estiveram o tempo todo? Precisamos deles, e não é de hoje!
Mariah Clark: os Vingadores acabaram de assinar o atestado de incompetência deles.
Anthony Lee: cadê a ONU pra baixar a bola do Steve Rogers? Ele traiu a equipe e é um criminoso!
Angela Francis: graças aos céus, eles tiveram um pouco de lucidez e fizeram a coisa certa. A humanidade precisa dos Vingadores unidos!
Clayton Baker: #VenhamRobôs, agora estamos preparados.
Gillian Moore: Podem chamar quantos esquisitões do circo quiserem, os Vingadores não serão páreo para o Magnum de qualquer forma.
Justin Standall: Capitão América salvou milhões de vidas, como ousam chamá-lo de criminoso?!
Michael Johnson: A coisa já estava feia antes, com esses palhaços entrando pro jogo ainda... estamos perdidos.

-A internet está pegando fogo com essa notícia sobre os Vingadores. – Declarou Eric mexendo no celular, com a voz ecoando no grande galpão da oficina. – Tem gente amando, tem gente odiando o fato de estarem reunidos novamente.
-Deixe que eles se divirtam ou se martirizem com a opinião pública. Isso pouco nos importa agora. – Respondeu Simon, imerso em seus próprios pensamentos. O som de metais sendo soldados atrapalhava sua voz. – As pessoas terão muito mais assunto para falar em alguns dias.
-Como vão os aprimoramentos dos robôs? – Questionou o irmão mais novo, se aproximando da bancada onde o mais velho trabalhava. – Prontos para enfrentar os outros heróis?
-Mais que isso. Vamos acabar com todos eles quando chegar a hora. – Respondeu Simon, mostrando alguns dos projetos para Eric.
A conversa dos irmãos Williams foi interrompida por uma nova presença na linha de produção. Helmut Zemo apareceu para fazer uma rápida checagem antes de voltar ao trabalho.
-Menino Eric – Disse o sokoviano, com a voz carregada de sotaque. – Vejo que se recuperou do churrasco em Sydney.
-Aquilo não foi nada – O loiro deu de ombros, com o ego um tanto ferido. Ele tinha poderes de cura, afinal. – Os Vingadores vão precisar de muito mais que um choque para me derrubar.
-Ah, eles vão, Eric. – Respondeu Zemo, com um sorriso se formando nos lábios, enquanto encarava a produção que acontecia no galpão. – Vão mesmo.
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Após longas semanas de trabalho incansável com trajes, armas e aprimoramentos, os Vingadores permitiram-se um domingo de folga no alojamento dos heróis. Nunca aquela mansão esteve tão povoada, e há tempos aquelas paredes não reverberavam tanto barulho e risadas como a movimentação que ali existia proporcionava. Sentados na sala, os companheiros de equipe conversavam enquanto assistiam à edição anual do SuperBowl na TV, e divertiam-se com a total inexperiência com que Thor tratava futebol americano.
Mais alguns lances, e então o intervalo. Todos estavam conversando descontraidamente na sala esperando pelo show de quem quer que fosse o artista a se apresentar naquele ano, quando Visão chamou a atenção deles.
-Pessoal, odeio interromper a diversão de vocês – Declarou o sintozóide encarando a tela fixamente, trazendo um ar destoante de tensão em sua voz. – Mas tem algo que vocês precisam ver.
Todos se atentaram para a TV, confusos. Era hora dos anúncios publicitários que passavam nos telões do estádio e nos canais durante a pausa, mas estranhamente, não eram propagandas sendo exibidas ali. No início, apenas um fundo verde se exibia, e o narrador do jogo chegou até a atestar uma falha técnica; mas então, alguns segundos depois, um vídeo nada convencional começou a rodar.
-Há mais de uma década, os Vingadores tem causado caos e destruição por onde quer que suas batalhas passem. – Disse uma voz mecânica, alterada para parecer mais grave, enquanto imagens de combates e explosões apareciam na tela. – Milhões de mortos, assim como bilhões de dólares perdidos em prejuízos para cidades e países. – Prédios caindo e pessoas correndo desesperadas pelas ruas apareceram. – E agora, a equipe dos que se dizem heróis mostrou toda a sua incompetência ao ser incapaz de impedir que robôs machucassem mais pessoas ao redor do mundo. – Eram os robôs gigantes que estampavam a tela, nas lutas da ponte Harvard, da Times Square e então de Sydney. – Ao reconhecer estas falhas, Magnum trabalhou incansavelmente para expor a podre verdade sobre os Vingadores para a humanidade. – Imagens do mesmo durante a invasão à base dos heróis apareciam. – Ele os desafiou, e desesperada para manter seu posto como salvadores da pátria, a equipe se reuniu novamente para trazer mais desordem. – Cenas de noticiários dos últimos dias, falando sobre o mesmo assunto, apareceram no vídeo. – Magnum não cederá. Sua missão de proteger a Terra de falsos heróis continua. – Os rostos de cada integrante da equipe foram aparecendo, e um a um foram riscados com um X vermelho.
O vídeo foi cortado para o que parecia ser uma transmissão ao vivo. No centro do vídeo, Magnum posava vestindo seu uniforme diante da câmera.
-Vingadores – Anunciou ele, em tom introdutório. – Onde quer que estejam, fazendo seus planos para acabar com a verdadeira luta pelo bem da humanidade, ouçam-me. Reúnam-se no número que quiserem, juntem quantos de vocês acharem necessário para tentar me derrotar. Nada do que fizerem pode deter a verdade que vim trazer. Juntem suas armas, e eu juntarei as minhas; não pensem nem por um minuto que Sydney foi o fim para minha justiça. Minha luta só termina quando os Vingadores sucumbirem. – Declarou, desafiador. – Nenhum soldado, feiticeira, arqueiro, felino ou ave de rapina me fará hesitar. A humanidade está ao meu lado para defender sua liberdade, de falsas bandeiras e falsas esperanças como são os Vingadores. Não me importa se são deuses, empresários, mutantes, agentes especiais, androides: eu sou a verdade, e a verdade sempre triunfará.
Em seguida, a transmissão foi cortada. Alguns segundos da mesma tela verde outra vez, e então a programação de propagandas voltou ao normal, com o anúncio de algum refrigerante. Ninguém parecia estar entendendo nada: os comentaristas do canal de esportes estavam confusos, e o público dentro do estádio conversava procurando uma explicação, o que ficava explícito nas filmagens.
-Magnum deve ter hackeado a transmissão do intervalo para reproduzir o próprio vídeo. – Disse Visão, provavelmente executando alguma pesquisa sobre o assunto em seus circuitos. – Ele conseguiu invadir a seleção de anúncios e plantar o arquivo na sequência, ou então violou o satélite que era responsável por transmiti-los para todas as telas.
-Domingo a tarde, fim de semana de SuperBowl, a população inteira em casa com as TVs ligadas... – Apontou Peter, astutamente. – Hora perfeita pra enviar um recado do qual você quer que todos saibam.
-Ele está tentando nos intimidar. – Sugeriu Romanoff, sentada no sofá com o rosto sério. – Quer fazer com que pareçamos fracos outra vez.
-Ele nos desafiou para o mundo inteiro ver – Wanda atestou, chocada.
-Deve estar recrutando seguidores. – Rogers levantou a hipótese.
-Magnum quer assustar as pessoas, e nos assustar também. – Banner declarou. – Pena que não temos medo de Ervilhas Voadoras.
-Ok, Vingadores. – Falou Stark, que até então estava pensativo no centro da sala. Ele apoiou sua latinha na mesa de centro e virou-se para o resto dos colegas. – Hora de chutar algumas bundas de lata.

Capítulo 24

Era manhã de segunda-feira, uma semana após a fatídica propaganda inimiga em rede internacional. No hangar da base, o avião estava sendo preparado para a decolagem enquanto embarcavam T’Challa, Wanda, Clint, Sam, Steve e Tony, rumo a Nova York.
Como condição ao retorno dos heróis à equipe dos Vingadores, o Conselho de Segurança da ONU havia demandado uma reunião com os parlamentares para discutir os termos legais da readmissão. Na sede da organização, todos os heróis envolvidos, bem como Tony Stark, elaborariam e assinariam um tratado bilateral para perdoar os crimes do TeamCap e fazer alguns ajustes no acordo entre o CSNU e os Vingadores. Os dois lados iriam argumentar e fazer suas imposições, esperando que ao final disso tudo, pudesse se chegar a um acordo.
Bruce, Natasha, Olivia e Thor, que faziam parte da porcentagem da equipe que ficaria em Cambridge, observavam a movimentação à beira da pista de pouso. A maioria dos heróis já havia embarcado, faltando apenas Rogers e Stark para que pudessem partir.
-Boa sorte – Disse Romanoff, despedindo-se dos colegas. – Espero que nenhum de vocês dois saia preso de lá.
-Obrigado, Nat. – Respondeu Steve, com ironia bem humorada.
-Vai dar tudo certo – Olivia deu de ombros, aproximando-se do pai. – E se o Conselho não cooperar, mandem eles se fod...
-Olha a linguagem, mocinha. – Stark a repreendeu, observando a cara de reprovação que Rogers esboçava diante do palavreado da garota.
-Ah, por favor, não dê uma de Capitão América – Liv rolou os olhos. – Aqueles vídeos politicamente corretos dele sobre bons comportamentos nas escolas já foram suficientemente ridículos. – Ela dirigiu os olhos a Steve, e em seguida sorriu de leve. Ele correspondeu.
-É, Stark – Falou o homem, virando-se para Tony com as sobrancelhas arqueadas. – Ela realmente é sua filha.
-Fazer o quê. A menina sabe o que diz. – Stark deu de ombros, sorrindo para o companheiro como se assumisse a culpa.
Após se despedirem, os dois entraram no avião, em seguida decolando rumo à sede da ONU.
A reunião com o Conselho correria em segredo de Estado. Após todos os recentes acontecimentos, em especial o vídeo durante o intervalo do SuperBowl, ambas as partes concordaram que seria melhor e mais seguro se o acordo fosse feito longe das câmeras e da opinião pública – muito inflamada desde domingo. Por esta razão, apenas os líderes dos principais países que compunham a bancada do CSNU estavam presentes na mesa redonda onde o adendo do Acordo de Sokovia seria redigido.
Os heróis chegaram camuflados e foram escoltados até a sala em que todas as decisões seriam tomadas, definindo o caminho a partir dali. Os parlamentares não cederiam tão facilmente às demandas da equipe, como já ficara claro nas dúzias de conferências em vídeo realizadas antes daquele encontro; No entanto, os Vingadores possuíam na manga a persuasão por meio de suas próprias ações, já que o governo dependia de seu apoio para combater qualquer outro ataque futuro. Usando as palavras certas, seria possível equilibrar o jogo e dividir a influência com as novas imposições, facilitando o trabalho dos heróis que, na realidade, estavam ali para ajudar. A reunião entre os Vingadores e o Conselho estendia-se, com argumentações daqui e de lá, até perto da hora do almoço. Foi quando, em meio às falas do diplomata francês, um estrondo há algumas quadras interrompeu a discussão.
Todos os presentes ficaram em silêncio, confusos. Alguns se levantaram, indo até as janelas de vidro para procurar na paisagem o que havia de errado. Porém, na parte heroica da mesa, os fatos já eram ao menos passíveis de teorias.
Uma explosão acabara de acontecer no Central Park, apenas há alguns quarteirões dali, possibilitando que a fumaça fosse vista do prédio onde estavam. Um burburinho começou entre os parlamentares ali sentados.
-Lamento, senhores, mas acho que nossa papelada terá que ficar para depois. – Disse Stark aos diplomatas, levantando-se da mesa e reativando seus comunicadores, que tinham sido desligados por conta da reunião sigilosa. Os outros heróis o seguiram, prontificando-se e caminhando até a porta.
-Stark, esses Vingadores não estão autorizados a atuar até que os termos sejam devidamente definidos. – Alertou um dos líderes políticos, representante do Reino Unido.
-Diga isso a quem está lá fora machucando as pessoas. – Respondeu Rogers simplesmente, seguindo os outros companheiros até o lado de fora da sala.
Nenhum dos guardas que vigiava o cômodo se atreveu a impedi-los, e mais nenhum dos conselheiros tentou fazer o mesmo através de palavras. Os políticos apenas permaneceram sentados ali, observando a saída dos heróis com espanto e preocupação.
-F.R.I.D.A.Y., qual é o relatório? – Questionou Stark ao seu relógio de pulso, assim que eles deixaram a reunião.
-Stark, até que enfim você atendeu – Disse Banner na chamada imediata que foi iniciada pelo comunicador, parecendo irritado e aliviado ao mesmo tempo. – Magnum deve ter descoberto sobre a reunião de vocês em Nova York.
-Essa explosão que acabei de ver foi um robô? – Perguntou, acelerando o passo no corredor.
-Não, são vários deles. – Contou Bruce, com preocupação. – Estão espalhados pela cidade. Há ataques simultâneos acontecendo em vários lugares diferentes de Nova York.
-Bom, tragam seus traseiros até aqui, então. – Ordenou Tony, preparando-se para o combate. – É hora da festa.
-Já estamos a caminho. – Natasha apareceu na ligação, falando do que parecia ser o comunicador de um jato. –
Nos dividimos em equipes antes de deixar a base, pra que pudéssemos cobrir todos os pontos de ataque. Eu, Parker e Visão estamos indo até o Madison Square Garden.

-Onde mais há robôs? – Stark perguntou, enquanto ele e os outros já estavam do lado de fora do prédio da ONU, preparando o embarque na nave em que vieram.
-Os lugares mais próximos a vocês são Chinatown e o Central Park. – Nat indicou, lendo os próprios relatórios.
-Vocês três, vão até Chinatown com a nave – Tony falou a T’Challa, Rogers e Clint. – O Central Park é o local mais próximo, eu e o resto podemos ir voando. – Disse olhando para Wanda e Sam Wilson.
-Entendido. – Confirmou Barton, pronto para embarcar junto com os outros dois companheiros.
-O que mais vocês têm pra mim? – Stark perguntou aos companheiros pela transmissão, com a armadura se montando em seu corpo e decolando na direção do parque de onde viera a primeira explosão.
-Galera, nem todos esses lugares estão realmente sobre ataque. – Alertou Olivia no comunicador. – Eu, Thor e Banner acabamos de chegar ao Zoológico do Bronx, onde disseram que estava havendo um atentado, mas não tem nada aqui, só bichos e turistas.
-Magnum deve ter emitido alertas falsos e viralizado na internet. – Tony teorizou. – Está tentando nos atrasar.
-Não tem robô nenhum no Madison Square Garden também – Avisou Peter. – Acabamos de descobrir. Outra fake news.
-As crianças acreditam em tudo que a internet diz hoje em dia, não é? – Stark ironizou. – F.R.I.D.A.Y., procure por locais de Nova York onde a rede diz haver ataques, mas mostre apenas resultados que possuem imagens ou vídeos diversos para provar.
-Entendido, Sr. Stark. – Disse o sistema operacional, mostrando resultados instantâneos no visor de seu capacete.
-Pirralho, vá com Nat e Visão para a Ponte do Brooklyn. – Tony direcionou segundo as informações que coletou, recebendo concordância imediata em resposta. – Também tem um robô simpático esperando por alguns de nós em Coney Island.
-Estamos indo pra lá. – Declarou Thor, falando por Olivia e Banner.
Os Vingadores dividiram-se estrategicamente pela cidade, buscando impedir os ataques da forma mais rápida e eficaz possível. T’Challa, Barton e Rogers foram os primeiros a chegar ao local pra onde foram designados, parando a nave em Chinatown. Lá, um dos robôs gigantes, parecendo ainda mais perigoso do que antes, aterrorizava os civis que passavam disparando tiros e tremendo o asfalto com seus passos.
-Equipe, o robô de Chinatown parece diferente dos que já enfrentamos – Contou Rogers pelo comunicador. – Acho que foram reprojetados.
Enquanto os três heróis corriam na direção da avenida, o androide gigante preparou a arma acoplada à sua luva, carregando um potente canhão que dali emergiu. O robô estava pronto para atirar contra as pessoas, mas Gavião Arqueiro disparou uma flecha em sua direção, acertando em cheio dentro do armamento. A falha no disparo fez com que a luva bélica do inimigo eclodisse, e também chamou sua atenção para os novos combatentes que chegavam.
Sem demora, Pantera Negra avançou sobre a armadura de metal, pulando sobre ele e arranhando a lataria com suas garras. T’Challa conseguiu danificar o revestimento do robô, graças ao Exoginium implantado em seu traje. Capitão América atingiu o inimigo tecnológico com um chute, logo após uma cambalhota no letreiro que dizia “Bem-Vindo a Chinatown”, e o robô correspondeu com um soco que o atirou no asfalto a alguns metros.
Rogers estava preparado para recuperar seu escudo e correr, no entanto, um homem de cabelos ruivos apareceu num salto, pisando em cima da arma. Arrancá-la dali com superforça não seria problema, exceto que Steve não conseguiu; aquele sujeito, por mais estranho que soasse, estava o impedindo de recuperar o escudo com seu peso.
-Você parece mais magro que isso – Disse o Capitão, largando o armamento e desferindo um soco na direção do homem misterioso. Ele desviou com imensa rapidez.
O sujeito revidou o golpe com um chute alto na direção do peito de América, atingindo-o com uma força maior do que o esperado. Capitão afastou-se, socando-o novamente e desta vez acertando seu rosto, mas o homem sequer cambaleou.
A luta dos dois foi interrompida pelo robô, que avançou na direção de Rogers, obrigando-o a se afastar para poder defender-se. Pantera Negra apareceu logo em seguida para combater o novo inimigo, levando a troca de golpes com ele para a calçada.
O homem correu alguns metros na direção dos comércios, dando pulos extremamente leves em seguida, que o levaram até um dos letreiros luminosos. Pantera foi atrás dele, cravando suas garras nas paredes.
-Você não era pesado? – Questionou T’Challa, seguindo o homem até um dos portais chineses que cortava a avenida. Os dois começaram a trocar golpes ali em cima.
O sujeito tinha uma agilidade impressionante, pois pulava e dava cambalhotas com uma leveza extrema para desviar dos golpes de T’Challa, sem sequer perder o equilíbrio. O herói o golpeava com força e destreza, atingindo boas pancadas. Porém, quando chegava a hora de revidar, o homem misterioso dava socos e chutes fortes e pesados.
Arqueiro acompanhava o combate de longe, e visualizou Capitão América na avenida travando uma batalha contra o gigante de aço. Vendo a dificuldade do amigo, ele esperou alguns segundos, e então disparou uma de suas facas na direção dele, atingindo alguns cabos de contenção bem acima de sua cabeça. A lâmina veloz os arrebentou, derrubando um letreiro luminoso com dizeres chineses bem em cima do robô.
-Barton, uma ajudinha? – América solicitou, vendo a chance para encerrar o combate ali mesmo.
Aproveitando a vantagem sobre o homem de lata, Rogers pulou na direção da armadura. Arqueiro veio descendo por um fio de lanternas chinesas, pressionando o botão que transformava seu arco em espada, e pousando bem em cima do robô. Clint atingiu a cabeça dele usando a lâmina, ao mesmo tempo em que América cravou seu escudo de Exoginium no capacete. Os dois heróis se encararam, bem a tempo de verem os circuitos do robô entrando em colapso e a armadura caindo no chão.
A cena também foi assistida por Pantera e seu combatente, que ainda lutavam em cima do portal. O homem virou para trás, vendo que o robô havia sido derrotado. Quando voltou a encarar T’Challa, o sujeito saiu voando pela avenida, como se estivesse sendo carregado pela leve rajada de vento que acabara de passar.
-O que tem de errado com esse cara? – Estranhou Clint, observando o homem que fugia pelo ar como se fosse uma folha de papel.
-Como vão os outros pontos da cidade, pessoal? – Rogers questionou, contatando os colegas pelo comunicador.
-A ponte do Brooklyn está caótica – Respondeu Parker em tom jornalístico, com o barulho do vento batendo em seu microfone. – Horário de pico e péssimo pra se estar no trânsito, sabe como é.
Homem-Aranha e Visão chegavam à passarela estaiada pelos ares, um em teias e o outro voando. O robô que interrompia o fluxo dos carros estava posicionado bem no meio da ponte, sem dar chance para que os motoristas fugissem. As pessoas estavam abandonando seus carros e correndo pelo asfalto, mas mesmo assim não escapavam dos golpes do homem de lata, que agitava seus poderosos braços para atingi-los e lançava estranhos raios que pareciam desmaiar as pessoas.
-Olha, sem uma das mãos! – Exclamou Aranha, usando teias carregadas de energia elétrica para grudar no punho do robô e segurá-lo para trás, impedindo que ele golpeasse. Parker pousou em um dos cabos da ponte para segurar o soco, puxando a mão da armadura na direção oposta.
Ele estava se saindo bem, até que um vulto passou voando rapidamente por ele, emitindo um grito extremamente agudo e ensurdecedor. Aranha não teve escolha a não ser tampar seus ouvidos, largando a teia que continha o golpe do robô.
-Que droga é essa?! – Ele disse indignado, observando uma mulher de cabelos cor-de-rosa que planava ao redor da ponte.
Livre das teias do rapaz, o robô viu a chance de desferir mais golpes. Ele direcionou um deles para Visão, que estava de pé no asfalto auxiliando alguns civis presos em ferragens. Porém, antes que fosse atingido, o sintozóide tornou-se intangível, fazendo com que a mão de metal atravessasse seu corpo sem lhe causar um arranhão sequer.
Como resposta, Visão tocou o capô de um dos carros abandonados na avenida, para comunicar-se com a máquina que ali residia.
-Ei, Parker, você já viu aquele filme bem velhão? – Perguntou o humanoide ao rapaz pelo comunicador, grande fã de referências cinematográficas. – “Transformers”?
Explorando uma de suas habilidades mais recentes, Visão “acordou” alguns veículos que estavam estacionados próximos a ele, fazendo com que suas luzes se acendessem e os mesmos avançassem na direção do robô gigante com os motores roncando. Os automóveis começaram a rodar os pneus e avançar na direção do homem de lata, para combatê-lo.
-Você acabou de ficar ainda mais incrível, se é que isso é possível – Respondeu Peter, impressionado.
A mulher dos cabelos cor-de-rosa retornou, voando baixo e emitindo mais um de seus poderosos gritos. O som que se propagou com imensa frequência fez com que várias das pessoas que corriam pelas beiradas da ponte fossem arremessadas para fora das grades de contenção, na direção do rio.
Homem-Aranha reagiu rápido, indo até a beirada e segurando o maior número de pessoas que conseguiu com os braços mecânicos de sua armadura Aranha de Ferro. Com cuidado, Parker puxou os cidadãos de volta para a ponte, e colocou-os em segurança de volta na calçada.
-Esse foi o home run mais rápido que eu já vi – Disse um dos resgatados, um senhor de idade. – Por que não usa seus poderes pro esporte, rapaz?
-O poder também traz o dever, senhor. – Respondeu Aranha com dificuldade por conta da força que fazia, sorrindo por detrás da máscara.
Trazendo reforço, Viúva-Negra irrompeu pela mão contrária da avenida em sua moto hiperveloz, e juntou-se ao time. Ela parou a poucos metros da mulher de cabelos rosados, e então sacou suas armas para iniciar a luta. Natasha disparou, mas a oponente começou a planar, desviando de seus tiros. As duas então iniciaram um combate corpo a corpo, quando a desconhecida voou até Romanoff e desferiu-lhe um chute. A agente avançava, perseguindo a oponente por entre os carros estacionados, correndo por cima de seus tetos e dando golpes ágeis.
A mulher de rosa parecia ter influência sobre o som, pois o manipulava de alguma forma. Ela pegou o barulho das buzinas e alarmes disparados dos carros abandonados, deixando-os tangíveis e usando-os para derrubar Nat no asfalto com um impacto. A agente levantou-se rapidamente, sacando as pistolas e disparando contra a moça novamente. Nenhum dos tiros pareceu acertá-la, já que ela era ágil e podia planar para desviar. Quando a oponente ameaçou dar um de seus gritos supersônicos novamente, Romanoff viu-se obrigada a reagir, lançando nela um projétil de seu bracelete, que continha a “picada da viúva”. A pequena agulha acertou a coxa da adversária, fazendo com que a mulher caísse no chão, paralisada.
-Finalmente ela calou a boca. – Falou Natasha, rolando os olhos.
A alguns metros dela, o robô gigante finalizava seu oponente mecânico com um golpe, jogando no rio o último dos carros comandados por Visão, através de um chute. O próximo alvo do gigante de aço era Homem-Aranha, que prestava auxílio aos civis que quase caíram a pouco, e não notaria sua aproximação. O robô preparou um de seus socos, afastando o braço.
De repente, Visão apareceu bem na frente dele, desativando sua invisibilidade a uma distância onde sua aproximação não poderia mais ser impedida. O sintozóide pousou as duas mãos sob o capacete do robô, que estava sem reação, e então, acessando seus sistemas de forma manual, ele disse:
-Durma. – A ordem fez com que o homem de lata desativasse todos os seus circuitos e desligasse, graças à tecnopatia de Visão.
-Ele faz parecer fácil. – Falou Natasha com indignação, observando a cena de longe. Em seguida, ela ativou seu comunicador geral. – Equipe, tinha uma mulher na Ponte do Brooklyn que estava ajudando o robô. Não sei quem ela é, mas tinha poderes.
-Ela e a moça que está aqui em Coney Island devem ser melhores amigas. – Respondeu Olivia, diante do cenário da própria parte da missão. Além de um enorme robô aterrorizando a multidão no parque de diversões, uma aliada não identificada também machucava as pessoas. Mais especificamente, explodia uma barraquinha de cachorro-quente com as próprias mãos.
-Quem são esses caras novos? – Questionou Thor a Liv e Banner enquanto a nave pousava no asfalto. – Será que são capangas do Magnum?
-Não estou afim de perguntar. – Falou Bruce, já ficando verde. – Garota, cadê suas luvas? – Ele perguntou a Olivia, que não vestia seu equipamento usual.
-Não preciso mais delas. – Declarou a moça, mostrando suas mãos a ele. As unhas dela estavam pintadas com um esmalte azul escuro de tom incomum.
Assim que a porta da aeronave desceu, Olivia deslizou suas mãos uma por cima da outra em direções opostas, tocando os dedos. Como resultado, todo o traje de Arion apareceu em seu corpo, substituindo sua roupa normal. Apenas um mimo que ela havia feito para si mesma nas Inovações, transformando os cristais Omni de suas luvas em um líquido que a acompanharia onde fosse.
Os três heróis saíram da nave direto para o combate, adentrando no conturbado parque de diversões. Uma multidão corria tentando escapar dali, enquanto o robô gigante avançava sobre a montanha-russa e tirava o carrinho dos trilhos, esmagando-o com as mãos em seguida.
Thor foi o primeiro a avançar, correndo na direção dele e invocando raios para eletrocutá-lo. Com a ajuda de seu novo cinto Megingjord, todos os seus poderes estavam duplicados, o que deveria lhe permitir fazer um pequeno estrago. No entanto, a mulher loira que estava lutando ao lado do homem de lata se pôs entre os dois, e ergueu um campo de força tal como uma parede na frente do robô, protegendo-o.
Hulk apareceu pelo lado oposto, desferindo um soco poderosíssimo no androide usando suas novas luvas. Antes que sua aliada pudesse reagir, Olivia usou energia cinética para erguer um carrinho de algodão doce, e arremessou-o na direção dela. Para sua surpresa, a mulher aumentou de tamanho, atingindo cerca de cinco metros de altura e segurando no ar o pequeno veículo.
-O que ela é? A mágica que faz truques pelo parque? – Questionou Liv, sem paciência com as novas habilidades que ela apresentava a cada minuto.
O gigante verde se prontificou a enfrentá-la, sendo o único ali com tamanho para isso. Hulk e a mulher absurdamente alta começaram a lutar, avançando na direção da praia que beirava Coney Island. Ele distribuía golpes e força física, enquanto ela correspondia com alguma espécie de tiros explosivos que saiam de suas mãos.
Do outro lado do parque, Thor buscava altitude subindo na roda gigante, deixando que a mesma girasse e o levasse ao topo. Quando a cabine em que ele se apoiava chegou ao alto, o deus pulou na direção do robô, mas foi surpreendido com um tiro vindo em sua direção. Era uma espécie de raio que o homem de lata disparara, com uma cor púrpura muito similar ao raio de coma do Ceifador. O impacto derrubou-o no telhado da casa mal-assombrada.
-Acho que esse negócio deveria ter te deixado inconsciente – Olivia falou a ele pelo comunicador, já que observava tudo a alguns metros. Ela vira o mesmo armamento ser disparado contra algumas pessoas da multidão, que não acordaram em seguida. – Mas aparentemente não funciona com deuses.
-Que sorte a minha. – Thor respondeu sem muita sinceridade, levantando-se rapidamente. – Parece que nós não fomos os únicos a evoluir nossos equipamentos.
-Mas nós evoluímos melhor. – Disse a garota, convicta. Ela aproximou-se do carrossel, que girava com suas luzes brilhantes, e tocou a superfície do brinquedo. Lentamente, o giro dos cavalos foi parando e a música circense foi falhando, enquanto Arion drenava a energia que alimentava a atração. Em seguida, ela transformou aquela eletricidade em impulso, atingindo o robô e arremessando-o em cima de uma barraquinha de prêmios.
O gigante de aço levantou-se logo em seguida, pronto para revidar a investida da garota. Porém, antes que ele pudesse emitir qualquer ataque, Thor entrou na linha de fogo e invocou um poderoso trovão. Em meio aos raios brilhantes que desceram do céu, Arion canalizou toda a energia elétrica que carregavam, e com um movimento circular das mãos, direcionou um imenso choque ao robô.
O gigante de metal não resistiu à tamanha descarga, entrando em curto e caindo no meio do parque. A vitória de Thor e Olivia sobre o robô pareceu afugentar sua aliada, que até então batalhava com Hulk. A mulher encolheu-se de volta ao tamanho normal e então saiu correndo, camuflando-se na multidão de pessoas que fugia.
-Coney Island está segura – Declarou McCall na rede integrada dos Vingadores. – E agora?
-A equipe do Central Park está precisando de uma ajudinha. – Wanda respondeu, com a voz afetada pelos rápidos movimentos que fazia em combate.
Assim que chegaram ao Central Park, Escarlate, Stark e Falcão se depararam com um dos robôs gigantes avançando ferozmente contra as pessoas que lá passeavam. De cara, Wanda usou sua magia para afastar um grupo de civis prestes a ser atingido por um golpe do androide, empurrando-os por alguns metros.
Falcão utilizou seu novo drone de combate, Asa Vermelha, para desferir o primeiro ataque contra o robô. A ave de metal deu um rasante, e atirou penas revestidas de Exoginium na direção do homem de lata, cravando-as em sua armadura. Sam Wilson veio logo atrás, fazendo manobras no ar para desviar dos tiros disparados pelo gigante de aço, até poder atingir o adversário com uma de suas asas mecânicas, desequilibrando-o.
A investida de Falcão foi detida quando o herói ficou misteriosamente envolvido por uma porção de ervas daninhas, que brotaram do chão e cresceram rapidamente em sua direção. As plantas que o imobilizaram pareciam estar sob o comando de um homem moreno posicionado ao lado do robô, que prosseguiu os ataques. Ele ergueu uma das mãos, fazendo com que uma árvore enorme do parque fosse arrancada e voasse na direção do Homem de Ferro.
Visão foi rápido em controlar o tronco voador, parando-o com sua mente antes que atingisse o companheiro. Ele, Homem-Aranha e Viúva-Negra haviam acabado de chegar ao Central Park para auxiliar a equipe.
-Valeu, amigão – Agradeceu Tony, notando a chegada dos outros. – Vou deixar o “mãe-natureza” pra você. – Declarou, ativando os propulsores de suas botas e saindo dali logo em seguida. Stark voou na direção do robô, usando os novos acessórios de sua armadura para dar-lhe um soco, aumentando suas luvas de espessura.
O homem de lata reagiu rápido, correspondendo o golpe, mas um escudo saiu dos braços do Homem de Ferro e defendeu o soco. O robô então preparou o canhão em seu punho, carregando a arma pronta para atirar. No entanto, assim que efetuou o disparo, sua mira foi comprometida pelo impacto de Pantera Negra pulando e arranhando sua armadura, fazendo-o errar e explodir o míssil no céu.
Capitão América, Gavião Arqueiro e T’Challa entraram na briga junto aos outros Vingadores. Ao lado deles estava Feiticeira Escarlate, que não notara a aproximação do homem controlador de plantas.
-Wanda, atrás de você – Alertou Clint, e numa reação rápida, a moça virou-se para trás e tocou a testa do inimigo, usando seus poderes para fazê-lo alucinar. Logo, ele não era mais uma ameaça.
De volta ao robô gigante, Stark liberara alguns drones que ficavam acoplados às costas de seu traje, ordenando que se fixassem na armadura do robô. Os equipamentos começaram a propulsionar o homem de lata gigante para cima, afastando-o metros do chão. Desta forma, Escarlate teve a deixa para usar seus poderes aprimorados e criar uma explosão no metal do androide, destruindo-o.
Em meio aos destroços do que antes fora o gigante de aço, que agora caiam do céu em pedaços, três figuras grandes aproximaram-se do grupo de heróis no Central Park. Guiados por passos metálicos que rangiam e faziam buracos no gramado, Magnum, Ceifador e Zemo apareceram, já em tempo de participarem do combate.
A maior novidade naquele grupo era Zemo, que até agora não havia confrontado os heróis frente a frente – pelo menos não desde a Guerra Civil. Agora, o inimigo trajava uma roupa preta e uma máscara púrpura, que mostrava apenas seus olhos – mas a equipe ainda o reconhecera.
-Eu avisei a vocês – Anunciou Magnum, pousando sob os ombros de um dos gigantes de metal que os escoltavam. – A verdade viria para derrotar os falsos heróis, sem importar o quanto lutassem para impedir.
-Muito prazer, somos a Verdade. – A voz de Thor respondeu, enquanto ele, Arion e Hulk se juntavam à barricada de heróis dispostos no gramado, prontos para enfrentar os vilões.
Homem de Ferro, Feiticeira Escarlate, Falcão, Capitão América, Pantera Negra, Visão, Gavião Arqueiro, Hulk, Homem-Aranha, Thor, Viúva-Negra, Arion: estavam ali os Vingadores, posicionados para lutar, unidos.
Um sorriso cínico brotando no rosto de Magnum deu início ao combate entre os dois grupos rivais. Zemo foi o primeiro a avançar, indo na direção de América enquanto sacava duas longas espadas de batalha. O herói defendeu-se dos golpes rápidos usando os braços e também seu escudo, enquanto andava para trás. Zemo pensou ter uma vantagem, cruzando as lâminas para uma investida, mas foi surpreendido por uma colaboração entre o Capitão e o Homem de Ferro. Stark disparou com o canhão na palma de sua luva, e Rogers refletiu o tiro com seu escudo, fazendo com que o inimigo fosse atingido em cheio.
-Como você se sente, Zemo – Perguntou Stark à distância. – Tendo tentado dividir os Vingadores, e vendo-os unidos para derrotar você?
-Acho divertidíssimo. – Respondeu ele levantando-se do chão, com a voz sombria e um sorriso deturpado.
-Vamos nos divertir, então. – Declarou Arqueiro, pulando logo a frente de Zemo com seu arco transformado em espada. Os dois iniciaram um combate de lâminas logo em seguida, colocando à prova suas habilidades espadachins.
Pouco tempo depois que o embate começou, aliados da equipe inimiga chegaram para somar forças a Magnum e seus guerreiros de aço. Os quatro guardiões dos robôs, que estavam separados nos diferentes pontos da cidade durante o combate anterior, agora se uniam para lutar contra os Vingadores.
Pantera Negra enfrentou a mulher de cabelo rosa com os gritos supersônicos; Capitão América bateu de frente com a loira que ficava enorme e fazia campos de força; Viúva-Negra combatia o homem ruivo e forte que controlava seu próprio peso; Falcão passou a lutar com o outro que comandava plantas. Já os robôs eram enfrentados separadamente: Visão cuidava de um, Hulk e Arion de outro e Homem de Ferro encarregava-se do último junto com Thor. Magnum lutava contra Feiticeira Escarlate, e Homem-Aranha acertava contas com o Ceifador.
-Se quer saber, Eric, ser eletrocutado lá em Sydney fez você parecer um pouco mais velho. É impressão minha ou você ganhou uns cabelos brancos? – Disse o Teioso, balançando em volta do oponente que quase morrera junto com ele em seu último encontro.
-Sua namoradinha pegou pesado, mas não é nada que eu não aguente. – Respondeu Eric, usando a foice em seu braço para cortar a teia em que Parker se pendurava. O rapaz pousou no chão em seguida.
-Tem razão, ela foi gentil demais com você. – Aranha disparou com seu lança-teias seguidas vezes.
-E você não será, eu suponho? – Questionou Ceifador, girando a foice em alta velocidade para criar uma espécie de escudo e bloquear os disparos. – Que medo.
De repente, Eric desapareceu diante dos olhos do Homem-Aranha. Ele reapareceu segundos depois, mais próximo, usando suas habilidades de teletransporte para confundir o adversário.
-Escute com atenção, Parker. – Declarou o irmão Williams, em um tom estranho. Ele desapareceu novamente, e ressurgiu um pouco mais a direita. – Tem muita coisa acontecendo que você não sabe. – Ele sumiu de novo, aparecendo em outro lugar. – Eu falo sério. É...
-Ok, já saquei. – Peter interrompeu a fala de Eric, jogando uma teia em sua boca. Ele já estava ficando tonto tentando acompanhar os teletransportes do rapaz. – Você é mais velho que eu e sabe das coisas, não é? A “voz da experiência” – Brincou o Aranha, divertido, e então partiu para cima de Ceifador logo em seguida para iniciar uma troca de golpes.
Graças a todos os aprimoramentos e equipamentos novos usados pelos Vingadores em batalha, competir com os robôs gigantes já não era mais tão difícil quanto um dia foi. Eles derrubaram os três últimos gigantes de aço que ainda restavam no Central Park com certa facilidade, restando apenas os oponentes humanos para encerrar o combate.
-Sr. Stark – F.R.I.D.A.Y. chamou o mestre pela armadura. – Estou captando uma mov...tação estranha em um campo e...ético. – Falou, com a voz curiosamente falhada. – É quase impercep..., mas é brutal... – A compreensão estava difícil. - ...tá vindo do Empi... State.
Tony procurou decifrar os fragmentos do comunicado de seu sistema operacional, mas sequer teve tempo para pensar. De repente, sua armadura começou a falhar, e desligou sem mais nem menos, derrubando-o durante o voo. Ao mesmo tempo em que isso aconteceu, vários dos heróis em campo começaram a interromper seus combates, sentindo fraquezas repentinas durante a batalha.
Ninguém compreendeu o acontecido. De uma hora para a outra, Feiticeira Escarlate não conseguiu mais fazer magias, Visão não conseguia desaparecer, Thor não era mais capaz de lançar raios, e Olivia não manipulava mais nenhum tipo de energia. Eles estavam todos estagnados, no meio do gramado.

Capítulo 25

-Sabem, Vingadores, a justiça é uma massa flexível. – Zemo começou a dizer, andando pelo gramado de frente para os heróis. – Moralidade é um conceito que se inclina segundo a vontade do conquistador, formando a história e definindo o futuro. Contanto que resultem na vitória, não importam os meios usados para alcançá-la.
O combate entre os dois grupos encontrava-se estagnado. Os heróis ajudavam uns aos outros, tentando entender o que estava acontecendo com alguns deles, que de repente não conseguiam mais lutar. Estavam enfraquecidos e desarmados, como se algo na atmosfera os impedisse de agir. Enquanto isso, os inimigos uniam-se do outro lado do campo de batalha, colocando-se próximos de Zemo enquanto ele falava.
-Vocês lutaram contra os robôs, e demonstraram sua força ao derrotá-los. Mas agora, depois de tantas mortes e perdas, é hora de a verdade derrubá-los por suas fraquezas. – Ele prosseguiu com seu discurso. – O Libertador é uma invenção minha que servirá para desmascarar os Vingadores e mostrar que, por debaixo do sobrenatural, não são nada. Vocês se curvarão diante dele, e nós triunfaremos sobre vocês.
Depois que ele terminou suas palavras, a equipe de Zemo, Magnum e seus aliados começou a caminhar pelo gramado, indo na direção dos heróis com os olhos famintos pela batalha.
-O que é isso? – Feiticeira Escarlate questionou, pois viu que não estava conseguindo usar seus poderes psíquicos. – Do que ele está falando?
-Estamos com problemas bem perigosos aqui – Afirmou Thor, erguendo os braços para o céu e tentando invocar um trovão, sem sucesso. – Alguém tem um plano?
-Não tenho ideia do que está acontecendo, mas acho que sei como podemos descobrir. – Declarou Stark pelo comunicador, pensativo. – Antes de minha armadura pifar, F.R.I.D.A.Y. me disse algo sobre ter detectado uma atividade esquisita no Empire State, algum campo físico alterado. Acho que pode ter a ver com o que Zemo está falando.
-Só tem um jeito de descobrir. – Romanoff falou em resposta.
-Aqueles de nós que ainda conseguirem irão até lá dar uma olhada. – Sugeriu Rogers encarando Aranha e Pantera que estavam ao seu lado, convocando-os.
-Nós ficaremos para defender a equipe. – Arqueiro disse, recebendo um olhar positivo de Viúva-Negra e Hulk.
-Consegue me dar uma carona? – T’Challa perguntou a Sam Wilson, detentor de asas de metal, que concordou.
Como alternativa para aquela situação confusa e adversa, os Vingadores decidiram dividir-se para tentar achar uma solução e sair da desvantagem. Capitão América e Homem-Aranha, acompanhados de Pantera Negra e Falcão, deixaram o Central Park na direção do Empire State, atrás de respostas sobre a única pista que possuíam. Os quatro foram acompanhados por Magnum, Zemo e Ceifador, que partiram atrás deles logo em seguida, talvez para impedir a fuga.
O resto dos heróis aptos, sendo Romanoff, Arqueiro e Hulk, ficou responsável por combater os quatro inimigos restantes, que avançavam sobre eles. Os integrantes da equipe que haviam sido afetados pela repentina perca de habilidades, Thor, Arion, Escarlate, Visão e Stark, ajudavam como podiam durante a luta.
Os quatro vilões de menor calibre, que antes acompanhavam os robôs, passaram a enfrentar os Vingadores que ficaram. Eles usavam seus poderes para dar gritos supersônicos, mudar de densidade, comandar plantas ou aumentar de tamanho, desafiando-os. Os capangas combinavam suas habilidades para atacar os heróis, que correspondiam resistindo e combatendo a outra equipe.
No caminho para o Empire State, Homem-Aranha balançava-se em suas teias entre os prédios da cidade, agora deserta por conta do combate. Faltavam apenas alguns quarteirões, quando Ceifador apareceu voando com seus propulsores logo ao lado dele.
-Parker, precisamos conversar – Disse Eric, aproximando-se do Teioso.
-Por que eu ouviria você? – Respondeu Aranha, sem dar brecha alguma, afastando-se para continuar seu percurso.
-Porque eu disse que existem coisas que você não sabe, e eu sou o único que pode te contar. – Retrucou Eric tentando parar o rapaz, mas sem sucesso.
Williams não desistiria tão fácil, então optou por um meio mais incisivo de persuasão. Ele golpeou Homem-Aranha com as costas de sua foice, interrompendo o voo e fazendo com que Parker se desequilibrasse. Ele caiu no terraço de um prédio próximo, um pouco mais baixo que os outros, e rolou algumas vezes antes de parar abaixado no chão.
-Me escuta – Ordenou Eric sem paciência, pousando no local e apontando seu raio de coma para o garoto, na tentativa de pará-lo ali. – O Libertador sobre o qual Zemo estava falando, é uma máquina que absorve energias transnormais. Está drenando os poderes dos seus amigos, por isso eles não conseguem lutar.
Parker, que estava prestes a tentar escapar dali, interrompeu sua fuga diante da fala do ex-colega. Parece que Eric realmente tinha algo a dizer.
-O Libertador está sugando todas as energias sobrenaturais da cidade, como as que alimentam os raios do Thor, a magia da Escarlate, o reator do Stark, os poderes do Visão e a mente da Olivia. – Eric explicou. – Vocês venceram os robôs apenas pelo show, para parecerem fortes aos olhos das pessoas. A ideia é deixar os Vingadores fracos de repente, só pra que a nova equipe de vilões possa derrotar os heróis e parecer melhor. – O rapaz disse, e abaixou sua arma em seguida.
-Por que você me contaria isso? – Peter questionou, ali parado, sem saber se poderia confiar na bondade repentina do outro.
-Porque alguém precisa contar. – Ele respondeu como se aquilo pesasse, mas manteve os olhos confiantes. – Olha, meu irmão vai trair o Zemo. Depois que ele inventou o Libertador, Simon ficou com medo do que Helmut poderia fazer com essa tecnologia, já que também drena os poderes dele enquanto está ligado. Energia iônica é um tipo de transnormal, e Zemo poderia usar isso contra ele, já que Simon é afetado pelo próprio poder. – Explicou Eric. – Magnum instalou uma falha proposital no dispositivo, um protocolo X, que ao ser ativado faz com que toda a energia armazenada no Libertador seja extravasada. Assim, ela pode ser absorvida pelo Simon, o deixando ainda mais poderoso. Ele vai acionar o protocolo, e usar os poderes reforçados para se virar contra o Zemo.
-Equipe, vocês ouviram isso? – Parker perguntou em seu comunicador, que estava transmitindo a conversa para os companheiros através do viva-voz há um tempo. - Temos que impedir que ele ative esse protocolo. – Concluiu, imediatamente.
-Não, deixe-o ativar. – Olivia discordou, causando estranheza no rapaz.
-Mas se o Magnum absorver toda e energia contida naquele Libertador, ele vai aumentar os poderes dele absurdamente. – Peter reafirmou, confuso.
-Não se eu absorver antes dele. – Respondeu a garota, bolando um plano. Ela utilizou conceitos físicos para explicá-lo. – A energia, quando transferida, sempre faz o caminho mais curto, indo para o receptor mais próximo de sua origem. Se eu estiver no caminho entre Magnum e o dispositivo, consigo impedir que ele receba toda aquela carga, trazendo-a pra mim.
-Mas por que você faria isso? – Questionou Falcão buscando compreender.
-Os poderes do Magnum também foram drenados pelo Libertador. Se a energia iônica é a fraqueza dele, posso usar a que estiver armazenada lá para derrotá-lo. – Liv concluiu. – Então nós o venceremos.
-Mas o que vai acontecer quando toda aquela energia chegar a você? – Perguntou Parker, alarmado. – O Magnum tem uma estrutura corpórea super-resistente por conta dos poderes dele, mas você é só uma humana. É carga demais pra suportar, Liv.
-Eu aguento. – A menina afirmou. – Vai ser difícil, mas acho que consigo.
-De jeito nenhum – Stark apareceu na conversa, com a voz preocupada e firme. – Você nunca absorveu tanta energia antes, é perigoso demais.
-Vocês tem um plano melhor? – Retrucou Olivia, e ninguém respondeu. – Bom, vou precisar que confiem em mim.
-Vamos pensar em alguma coisa – Disse Rogers, tentando apaziguar. – Talvez haja outra maneira.
-Se eu fizer isso, impediremos o Magnum de ficar ainda mais forte, e o derrotaremos ao mesmo tempo. – Ela insistiu, convicta. – Não tem jeito melhor.
-Não é uma boa ideia, Liv, você vai se arriscar demais – Peter discordou, temendo por ela.
-Olivia Morgan McCall, eu não vou deixar que faça isso! – Falou Stark angustiado e autoritário, no ímpeto de impedi-la. – Se você morrer, eu...
-Querem parar com isso? Eu já sei do perigo e decidi que vou correr o risco, está bem? – A garota exclamou, impaciente. – Estou indo para o Empire State. Façam o favor de segurar o Magnum até eu chegar aí. – Declarou por fim, decidida, desligando seu comunicador logo após.
Alguns achavam que seria um risco grande demais ou que não funcionaria, porém Olivia McCall jamais era convencida do contrário quando decidia algo. Além disso, a situação crítica em que os heróis se encontravam não deixava muitas alternativas a escolher. Aquele era o plano.
Depois da decisão, a estratégia dos Vingadores que foram até o Empire State teve de ser um pouco alterada. Ao invés de tentarem destruir o Libertador, os heróis lutariam apenas fingindo ter esse objetivo, para atrasar os planos de Magnum. Eles precisavam impedir que o adversário ativasse o protocolo secreto do dispositivo por tempo suficiente, até que Olivia chegasse ao prédio.
No observatório externo do Empire State, Helmut Zemo e Pantera Negra foram os primeiros a iniciar a luta. Após uma troca de golpes, Zemo sacou suas armas e abriu fogo contra o herói felino, mas os tiros foram defendidos por Capitão América, que chegou numa teia do Homem-Aranha e protegeu o colega com seu escudo. Zemo então sacou sua espada e avançou sobre Rogers, que desviou agilmente dos golpes. Pantera chegava pelo outro lado, e o inimigo sacou uma segunda arma para combatê-lo ao mesmo tempo. T’Challa usou suas garras contra a lâmina de Zemo, e teve o auxílio de Asa Vermelha logo em seguida, quando o drone sobrevoou a batalha e lançou uma chuva de disparos.
Ao lado de seu companheiro mecânico, Falcão deu um rasante sobre o observatório, ganhando altitude e voando na direção da antena do prédio, onde estava o Libertador. Magnum apareceu em seu caminho, e o herói não demorou ao disparar tiros na direção do adversário. Simon defendeu-se usando a parte de trás dos braços, e as balas não atravessaram sua pele imensamente resistente. Falcão aproximou-se e usou suas asas de metal para iniciar um combate de golpes com Magnum, que se defendia e correspondia. O inimigo ficou impossibilitado apenas quando Homem-Aranha passou por eles, atirando uma teia que uniu seus braços e imobilizou-os. Foi preciso força para que Magnum arrebentasse o fluído, e então a luta prosseguiu.
Aranha pousou sobre a construção do prédio, e foi alvo de um disparo do raio de coma de Ceifador, que não passou perto de atingi-lo. O rapaz lançou uma teia em Eric e puxou-o para perto de si, golpeando-o com uma voadora logo em seguida. Após ser atingido, o mais velho desapareceu, se teletransportando para alguns metros de distância.
-Pega leve, Parker, estamos do mesmo lado. – Disse Eric, discretamente.
-É, eu costumava achar isso, mas não deu muito certo. Então, só por precaução... – Respondeu Peter, voltando a lutar com ele.
Os heróis do Empire State mantinham o combate rolando, fazendo o melhor que podiam para manter os inimigos ocupados e ganhar tempo. Porém, a qualquer momento, Magnum poderia decidir por seu plano em prática, e as chances só aumentavam a cada instante. Por isso, entre golpes e socos, Parker encontrou uma brecha para ativar seu comunicador e checar o andamento da arma secreta deles.
-Liv, cadê você? – Perguntou, contatando Olivia pela rede integrada.
- Estou no caminho, aguentem firme. – A garota respondeu, com um ronco de motor aparecendo no fundo de sua voz. – O Magnum já ativou o protocolo?
-Ainda não, mas vai a qualquer momento. Se você puder acelerar... – Sugeriu o rapaz, com sutileza.
- Não enche, Menino-Aranha, estou indo o mais rápido que eu posso. – Olivia respondeu, não tão gentil. – Nem todo mundo lança teias pra sair voando por aí.
-E qual é sua carona, só por curiosidade? – Questionou Peter.
-Nat me emprestou. – Contou a moça, referindo-se à moto de Romanoff, a qual ela dirigia rapidamente pelas ruas.
A conversa dos dois adolescentes foi interrompida quando Peter sentiu uma brusca mudança de rumo na teia em que se balançava. Magnum havia puxado o fio, trazendo Aranha na direção dele para desferir-lhe um forte soco. O garoto caiu alguns metros até atingir o chão do terraço, com o inimigo vindo logo atrás. Simon arrancou um dos binóculos do observatório e arremessou na direção de Parker com toda a velocidade, mas a ampla agilidade permitiu que o rapaz parasse o objeto no ar antes de ser atingido.
-Isso é o melhor que pode fazer sem seus poderes iônicos? – Perguntou Homem-Aranha, provocando-o.
Magnum recebeu auxílio do irmão logo em seguida, quando Ceifador desceu voando e disparando seu raio púrpura na direção do garoto. Ele não acertou nenhum dos tiros, mas pousou e começou a batalhar com Pantera Negra, que estava próximo e pretendia atacá-lo. Um pouco mais atrás, Zemo e Capitão América lutaram ferozmente, trocando golpes e disparos. No meio da briga, Zemo conseguiu acertar uma bala no braço de Rogers, fazendo com que o soldado derrubasse seu escudo. Falcão apressou-se para voar até lá e recolher a arma, mas Magnum foi mais rápido e alcançou o objeto no chão, a tempo de atirá-lo em Sam Wilson e danificar suas asas.
Ferido, América correu na direção do amigo para ajudá-lo. Com todos os outros heróis ocupados em batalha, os dois parceiros antagonistas tiveram tempo para uma troca de olhares.
-A batalha que travamos até aqui é inspiradora e verdadeira, caro Zemo. – Disse Magnum virando-se para o parceiro, que voltou a atenção para ele. – Mas chega a hora em que o poder deve pertencer àqueles capazes de possuí-lo.
Sem dar mais declarações, Magnum ativou os propulsores em suas botas e voou verticalmente, na direção da antena do Empire State. Era hora de tomar seu lugar, e ele faria isso usando seus poderes de visão de calor, ativando o protocolo X por meio do superaquecimento do dispositivo. Por pré-determinação, quando atingisse determinada temperatura, o Libertador extravasaria toda a imensa carga de energia que vinha acumulando ali, e Simon tomaria todo aquele poder para si.
Zemo não teve como impedir a traição, pois foi imobilizado no observatório por uma bomba de teia lançada por Homem-Aranha, que olhava para os lados sem saber o que fazer diante da ação de Simon. Magnum ganhava altitude, com os olhos vermelhos ardentes em calor voltados para o Libertador, visando a conclusão de seu plano oculto e autocentrado. O dispositivo já estava aquecendo, demonstrando os primeiros sinais de ativação. Logo, o protocolo X estava concluído, mas uma figura encapuzada se interpôs entre Simon e seu objetivo.
-O poder pertence àqueles capazes de possuí-lo, mas você não é um deles. – Magnum ouviu a voz do irmão se dirigindo a ele, bem a tempo de Eric atingi-lo com um de seus raios e arremessá-lo a metros de distância.
A porta do elevador do Empire State se abriu, trazendo a presença de Olivia McCall ao observatório. O campo energético do prédio estava absurdamente alterado, como ela já sentira, e era hora de executar seu incerto e audacioso plano. A garota agarrou-se à porta do elevador, conectando-se com o imenso poder ali, fechando os olhos e abrindo os sentidos.
Um clarão enorme e ofuscante tomou conta do observatório do Empire State, fazendo todos os presentes esquivarem-se e cobrirem os olhos. A antena do prédio transmitira a energia armazenada no Libertador para a caixa de metal logo abaixo, descarregando ali todo o imenso poder que aprisionava.
- Você! – Magnum esbravejou, voando na direção de Ceifador totalmente irado. O raio disparado pelo irmão não o afetara, apenas o afastara de seu objetivo. – Como você pôde, Eric Williams?! – Gritou, agarrando o rapaz pelo uniforme ao ver o resultado de suas ações. – Aquela bruxa Escarlate manipulou você? Está hipnotizado? – Questionou furiosamente. – Você me destruiu!
A briga entre os dois irmãos foi interrompida, quando uma luz avermelhada e brilhante começou a envolver o corpo de Magnum. O mesmo olhou para baixo, estranho e confuso. De repente, o homem foi jogado para longe de Eric, percorrendo metros no ar até que Arion aparecesse em seu campo de visão, tomada pela energia.
A garota estava envolta em uma majestosa aura causada pelo poder do Libertador, e seus olhos estavam iluminados por um azul brilhante e intenso, onde diversas cores transitavam como em uma galáxia. Suas pupilas sequer apareciam, enquanto ela encarava Magnum com prevalência no olhar e um pequeno sorriso no canto dos lábios.
-Sua garotinha desprezível... – Magnum rosnou, mas sequer teve tempo de terminar a frase.
Olivia levantou a mão direita, fazendo com que o homem de roxo fosse empurrado com uma força enorme até a fachada de um prédio próximo, sem possibilidade alguma de reação. Ela voou até ele, aproximando-se rapidamente, e então pousou as duas mãos sobre sua cabeça. Por um instante, Magnum pensou ter visto o rosto de Feiticeira Escarlate encarando-o, mas em seguida sua mente foi levada para outro lugar.
Simon Williams encontrava-se na companhia de uma versão mais jovem e infantil de si mesmo, na sala de sua antiga casa. Lembra-se de todas as experiências terríveis que teve quando criança como um turbilhão, dos maus tratos do pai, dos experimentos, do sofrimento do irmão mais novo e do próprio.
- Você sabe como é ser oprimido, se sentir impotente e indefeso. – Ele ouviu a voz de Olivia, que ecoava como se narrasse tudo dentro de sua própria consciência. – Por que quer que a humanidade toda passe por essa mesma angústia?
Agora, Simon encarava sua própria figura no escritório da Williams Inovações, assinando papéis e fazendo pesquisas. Ele olhou para a TV e viu os Vingadores no noticiário, sentindo raiva instantânea. Por mais que ele tentasse, não conseguia escapar daquela simulação, e não tinha controle algum sobre sua mente.
- Você diz que luta pelas pessoas, mas só luta por si mesmo. – A televisão mostrou os robôs gigantes atacando a Times Square, e ele pôde sentir o desespero delas, assim como viu a si mesmo orquestrando todo aquele caos. – O que te move não é justiça, é poder.
Simon foi transferido para dentro daquele combate, como uma das pessoas da multidão desesperada. Ele foi posto frente a frente com um dos robôs, que ergueu um dos pés e o pisoteou.
- Você não quer a verdade. Só quer, por uma vez na vida, não se sentir derrotado. – A voz de Olivia falou, acessando seus pensamentos e medos mais internos.
De repente, Simon estava no escritório da Williams novamente, rodeado por papéis amassados e olhando para um folheto da Stark Industries. Era uma lembrança, da noite em que ele decidira criar os robôs e tornar-se o Magnum. O papel que ele segurava começou a pegar fogo, queimando sua mão e obrigando-o a largar.
Então Simon voltou ao mundo real, acordando da alucinação de repente e vendo-se sozinho no alto do prédio em que estava originalmente. Ele começou a olhar em volta procurando por Olivia, mas não a via. Alguns segundos depois, a garota apareceu a poucos metros de distância, deixando de estar invisível, e por um lapso de segundo, ela estava imensamente parecida com Visão.
-Mas você será. – Ela disse convicta, com a pele rubra voltando ao tom natural, movendo o braço e fazendo com que Magnum caísse no chão.
Arion fez um movimento para baixo, usando todos aqueles poderes que adquirira para pressionar o adversário contra a construção. O corpo de Magnum arrebentou o concreto, e foi percorrendo todos os andares do prédio, um a um, até chegar ao piso do térreo.
Atordoado, Magnum esforçou-se para levantar um enorme pedaço de marquise que caíra sobre si, empurrando-o para longe com toda a força e raiva. Ele levantou-se rapidamente e saiu dos escombros, bufando e querendo vingar-se.
Olivia McCall chegou voando, e desceu até o asfalto. Irritado, Magnum pegou um dos carros estacionados e arremessou na direção dela com enorme impulso. A garota ergueu uma barreira à frente de si imediatamente, impedindo que o veículo a acertasse. Ela o segurou com uma força impressionante e amassou a lataria com as próprias mãos, comprimindo-o e atirando-o de volta na direção de Simon.
Ficando ainda mais irado com a aparente impotência de seus poderes perante a menina, Williams começou a jogar vários automóveis para acertá-la em sequência. Olivia, por sua vez, desviou de todos eles com uma agilidade sobre-humana, e ficava intangível para que alguns a atravessassem sem tocá-la.
Magnum deu um salto na direção de Olivia, preparando um potente soco com sua superforça. Antes que ele pudesse atingi-la, Arion moveu o dedo indicador para a direita, desviando o punho do homem com a sua mente. Simon tentou de novo, mas a moça passou a controlar a direção de seus golpes, desviando-os em todas as vezes. Usando telepatia, Olivia comandou que Magnum atingisse a si mesmo ao invés dela, desferindo socos em seu próprio rosto.
-Por que você está se batendo? – Ela questionou com um meio sorriso entretido, observando o homem levar seus próprios golpes.
O último murro foi o mais forte de todos, atirando Simon contra a calçada. Assim que ele caiu, Arion voou em sua direção sem dar chance para reação, e o agarrou pela gola do uniforme. Nesse momento, uma porção de raios caiu em volta deles simultaneamente, pouco antes de decolarem em direção ao céu.
A garota levou os dois a metros de altura em instantes, com pequenos relâmpagos azuis percorrendo todo o seu corpo. Quando passaram o topo dos prédios, Olivia largou o adversário, tomando impulso para trás e avançando sobre ele logo na sequência. Raios se desenharam no céu e em volta da moça, e quando Olivia foi golpeá-lo, ela pôde enxergar o braço de Thor como sendo o seu por um instante, logo antes de atingir Magnum em cheio com um potente soco somado a uma descarga de raios.
Simon foi jogado para trás, num impulso de alguns metros. Arion invocou uma série de relâmpagos na direção dele, atingindo-lhe com uma sequência de raios e choques, que o deixaram atordoado. Williams olhou para baixo, e constatou que os propulsores de voo de suas botas estavam começando a falhar devido à grande descarga de eletricidade que recebera.
Arion o encarava, com os olhos galáctico-brilhantes firmes e decididos. Lentamente, suas mãos começaram a ser tomadas por uma luz de cor púrpura, que Simon bem conhecia. Aquilo era energia iônica, o poder de Magnum que havia sido drenado dele pelo Libertador. O único poder capaz de destruí-lo por completo.
-Você queria salvar a humanidade – Disse Olivia, com a energia crescente percorrendo entre seus dedos. – Agora ela será salva.
Arion impulsionou os dois braços para frente, atirando a energia iônica que lhe fora conferida. Como acontecera com todos os poderes importados por ela até agora, ao fazê-lo, a garota assemelhou-se momentaneamente com o detentor original daquela energia, parecendo o próprio Magnum por um segundo. Antes de ser atingido, Simon olhou nos próprios olhos, e assistiu sua destruição chegar ironicamente por meio deles. E essa foi a última coisa que viu.
Um clarão vermelho tomou conta do céu, e então se apagou sem deixar nada para trás.
Tendo cumprido sua missão, Olivia McCall fechou seus olhos lentamente, cessando o brilho azulado que dali emanava. Toda aquela energia e poder que permaneceram acumulados em Liv de repente se dissiparam, percorrendo os quatro cantos da cidade, deixando seu corpo e desligando o Libertador. A conexão com o dispositivo foi encerrada, a energia extravasada, e então a garota também se desligou, começando a desmoronar em queda livre.
O corpo de Olivia caia a alta velocidade, mergulhando por entre os prédios na direção do chão. Ela não esboçava reação, completamente desacordada, com o vento jogando-se contra seus cabelos. O asfalto estava cada vez mais próximo, quando Homem-Aranha apareceu em uma teia e veio ao encontro dela para segurá-la.
-Peguei você – Disse Peter aliviado, abraçando o corpo da garota contra o dele. – Peguei você.
O rapaz balançava entre os prédios, observando a expressão inerte de Olivia em seu colo.
-Por favor, acorde. – Falou, aproximando-se do Empire State novamente. – Karen, me dá uma ajuda?
Preocupado, Peter recorreu ao sistema operacional de seu traje, que escaneou a garota fazendo uma verificação rápida.
- Detecto uma fraca pulsação em seu peito. – Disse a voz de Karen, após a análise. – Ela está muito fraca, mas viva.
Parker pousou no observatório logo em seguida, trazendo a garota em segurança até ali. Ele a posicionou delicadamente, deitando-a e tirando o cabelo de seu rosto.
-Vai ficar tudo bem, Liv – Disse, ao semblante pálido e esmorecido da menina. Ele constatou que o nariz da garota não sangrava, ao contrário do que ele esperava. Os colegas de equipe que estavam ali se aproximaram.
Os heróis que antes estavam enfraquecidos, voltaram gradativamente a sentir seus poderes percorrendo-os. Thor recuperara seus raios, Escarlate sua magia, Visão os seus poderes e o traje de Stark estava ligando novamente. Não havia mais nada sugando suas matérias-primas, e o campo enérgico fora devidamente reestabelecido após o desligamento do Libertador e a ajuda da mais poderosa energopata dali.
- Por favor, me digam que ela está viva. – A voz de Stark soou com seriedade pelo comunicador, carregada de preocupação e angústia. Ele parecia ter muito medo da resposta.
-Ela está. – Peter confirmou para acalmá-lo, e foi possível ouvir um suspiro de alívio do outro lado da conversa.
-Vencemos. – Disse Rogers, ainda ofegante por conta da batalha.
- Os capangas do Magnum deixaram o Central Park assim que aquele clarão esquisito apareceu no topo do prédio. – Natasha narrou o que havia acontecido no outro polo da briga.
-Zemo também. Não conseguimos impedir. – T’Challa contou. – Eles viram que não havia mais chance.
-Iremos pegá-los. – Arqueiro tranquilizou, referindo-se a um futuro próximo.
-Ei, aonde você vai? – Falcão falou em um tom mais alto do que os demais usavam. Todos se voltaram para o canto direito do observatório, onde ele fixava o olhar.
Eric Williams, que assistira a toda a ação de longe, estava prestes a escapar por uma das grades de contenção e voar para longe dali. Parker o parou usando uma teia.
-Nós ainda não acabamos com você. – T’Challa falou entre dentes. Os heróis correram para capturá-lo, mas o rapaz sequer pareceu resistir.
-Missão cumprida, Vingadores. – Steve anunciou em seu comunicador, em tom conclusivo.
- Alguém topa uma comidinha chinesa? – Banner sugeriu, brincalhão.

Capítulo 26

O tribunal estava cheio. Pessoas do mundo inteiro estavam reunidas, para assistir àquela reunião histórica e tão importante. Os líderes de jurisdição dos principais países sentavam-se à mesa, tendo uma decisão crucial e determinante em suas mãos. Todos se sentaram, tomando seus devidos lugares e fazendo silêncio. O martelo foi batido, e a sessão iniciada.
-Senhoras e senhores, bem-vindos ao Tribunal Internacional de Justiça da ONU. – Disse o presidente da casa, abrindo a cerimônia solene.
O que acontecia ali era um julgamento de cunho global, e tratava-se de uma das sessões mais importantes da Corte de Justiça em muitos anos. Sediado em Haia, na Holanda, o tribunal recebera os dezesseis líderes jurídicos em mandato para deliberação, visando os interesses não só das nações que representavam, mas da ONU em geral. O tom tão decisivo partia do tema em pauta: o Tratado de Sokovia, sua reelaboração e os novos termos que regeriam a participação de super-heróis na segurança internacional a partir daquele dia.
Acompanhando o andamento da sessão, Tony Stark, Steve Rogers, Wanda Maximoff, Olivia McCall, Peter Parker, Bruce Banner e alguns outros, sentavam-se à plateia para ouvir os líderes mundiais decidindo sobre o futuro da equipe. O que se fazia ali era muito similar ao que objetivava a primeira reunião da equipe com os comandantes da ONU, que ocorreu secretamente em Nova York algumas semanas antes, quando foi interrompida antes de um acordo final por conta do ataque à cidade. A diferença era que agora, especialmente após a última batalha enfrentada pelos Vingadores, a opinião pública encontrava-se no ápice de discussões ferrenhas, e o Conselho achou por bem realizar a sessão de maneira pública e menos passível de argumentação por parte da defesa. O julgamento estava sendo transmitido ao vivo para o mundo inteiro, através da internet e das mais variadas emissoras de TV do planeta.
-Pois bem, caros colegas de júri; nossa presente reunião tem como centro de discussão a participação da organização privada intitulada “Os Vingadores” na prestação de auxílio à segurança e proteção mundial perante ameaças, aos quais os termos de serviço estão redigidos no documento assinado “Tratado de Sokovia”. – Introduziu o presidente, colocando todos a par do que, na verdade, já sabiam. – O tema urgente e amplamente multifacetado possui muitos pontos a serem analisados e concluídos durante esta sessão, portanto, iniciemos as argumentações.
-A primeira coletânea de dados considerada relevante pela pré-seleção do júri diz respeito aos números da última atuação da equipe, realizada em Nova York. – O primeiro a ter a palavra foi o juiz americano. – Os prejuízos causados pelo desastre custaram ao governo dos Estados Unidos 362 milhões de dólares, causando mais de 5600 de mortes entre nova-iorquinos e turistas.
-O júri gostaria de trazer ao palanque a primeira testemunha selecionada para dar seu depoimento sobre o caso. – Disse o juiz da Itália, um dos países componentes da mesa. – O réu Eric Theodore Williams, condenado a 168 anos de prisão perpétua por envolvimento em múltiplos ataques terroristas, incluindo o já citado caso de Nova York.
Todos os presentes no tribunal viraram-se para assistir à entrada de Eric Williams na corte. O homem em corpo de garoto apareceu com os cabelos loiros visivelmente mais curtos, trajando um uniforme alaranjado de penitenciária. Eric estava preso desde a conclusão da última batalha, quando os heróis o entregaram para a polícia e ele foi a julgamento. O rapaz foi colocado na tribuna com as mãos algemadas, e então a deliberação começou.
-Sr. Williams, é verdade que o senhor estava envolvido em todos os ataques terroristas realizados por Simon Williams e Helmut Zemo usando tecnologias bélicas alienígenas contra a população nos últimos meses? – Questionou o presidente da corte, checando relatórios em sua bancada.
-É verdade, Excelência. – Respondeu Eric ao microfone que estava a sua frente.
-O senhor e seu irmão Simon Williams detém a autoria do ato criminoso que libertou o terrorista Helmut Zemo da prisão de segurança máxima onde esteve retido até a fuga. Esse dado confere?
-Confere, Excelência. – O rapaz afirmou novamente.
-Durante o fatídico ataque a Nova York no mês passado, o senhor, Simon Williams e Helmut Zemo não eram os únicos envolvidos na batalha contra os Vingadores, isso é correto? – Confirmou o juiz da Eslováquia, e Williams assentiu com a cabeça. – O senhor poderia nos dizer quem eram os outros quatro elementos que participaram do ato violento contra a população, para esclarecimento à Corte? – Imagens feitas por câmeras de vigilância e celulares que retratavam os capangas foram mostradas nos dois telões do tribunal.
-Eles eram aliados ao nosso movimento. Soldados recrutados por Magnum que se voluntariaram para participar de um experimento que lhes daria habilidades sobre-humanas, e lhes permitiria lutar contra os Vingadores. – Contou Eric, e os magistrados da mesa fizeram anotações. Aquilo já havia sido usado no próprio processo que incriminara o garoto.
-E que experimento era esse?
-Magnum usou uma máquina de raio iônico para dar poderes aos quatro. – A testemunha prosseguiu. – Era uma invenção antiga do nosso pai, a mesma que deu a nós dois as habilidades que possuímos. Ele reconstruiu a máquina e irradiou sobre os seus soldados.
-Seu pai era Sanford Williams, o fundador da Williams Inovações, correto? – Um dos juízes puxou a ficha do rapaz. – E ele realizou experimentos científicos abusivos com você e seu irmão? – Eric assentiu, gerando choque em alguns dos presentes. – E é ao seu irmão que o senhor intitula como “Magnum”, correto? – Mais uma afirmativa.
-Sr. Williams, se o senhor era aliado de seu irmão em seus atos criminosos, por que, segundo testemunho dos próprios integrantes da equipe, o senhor forneceu aos Vingadores informações cruciais para a vitória dos mesmos durante a última atuação? – Perguntou o representante do Japão.
-Porque eles deveriam vencer. – Declarou Eric, gerando alguns comentários na plateia.
-E por que o senhor acha isso?
-Porque os ideais do meu irmão estavam deturpados, e ele era um perigo para a sociedade.
-Pode desenvolver este pensamento, por favor?
-Magnum queria trazer liberdade e segurança para a população mundial, mas ele estava gerando caos ao invés disso. Ele fez com os seus soldados a mesma coisa que nosso pai fez conosco, porque estava cego de desejo pela vitória e não viu que estava se tornando uma ameaça. – Revelou Eric, expondo seu ponto de vista. – O objetivo dele deixou de ser o inicial, ele só queria destruir os Vingadores. E eu não queria isso.
-Sr. Williams, é verdade que o senhor integrou a equipe dos heróis por um curto período de tempo no ano passado? – Questionou a correspondente da Uganda.
-Sim. Acho que foi isso que me fez repensar o meu posicionamento.
-Por quê?
-Porque, durante a minha pequena estadia lá, eu pude ver o outro lado da história que ainda não conhecia. – Prosseguiu Williams, pensativo. – Eu achava, assim como Simon, que os Vingadores só queriam se aproveitar da posição de poder que tinham, e que eles não eram eficazes quando tentavam ajudar a salvar a humanidade. Eu só via os prejuízos e as mortes, e pensava que não era justo que eles continuassem a proteger a Terra se tanta coisa ruim já tinha acontecido sob a vigília deles. Mas eu estive lá dentro e vi que esse não é um trabalho assim tão fácil, e que as falhas dos heróis não são nada perto daquilo que conseguem evitar de mau. Eu vi o esforço e a dedicação deles, e notei que os princípios que os moviam eram muito mais nobres e honestos do que os princípios que moviam Zemo e meu irmão. E a mim também.
-Então você reconsiderou seu posicionamento após conviver com os heróis e participar dos seus trabalhos para salvar a humanidade, é isso? – Confirmou a magistrada, recebendo um aceno positivo de Eric.
-Ok, senhor Williams, a Corte agradece o seu depoimento. – O presidente da casa encerrou a participação do rapaz, que saiu da tribuna escoltado por dois soldados. Eric deixou a assembleia em seguida, com a cabeça baixa e um olhar perdido e vazio.
Os juízes que compunham a mesa foram surpreendidos com a declaração da testemunha, e tomavam nota do depoimento do rapaz parecendo favoráveis naquele momento. Alguns minutos de pausa se seguiram, então a sessão foi retomada com a convocação da segunda testemunha para a tribuna de depoimentos.
-A Corte gostaria de passar a palavra ao membro norte-americano do Conselho de Segurança da ONU, Thomas Callahan. – Prosseguiu o líder da bancada. O conselheiro foi recebido da mesma forma que a testemunha anterior, e então se posicionou no palanque para falar.
-Pai, quem é esse cara? – Olivia cochichou para Stark, inclinando-se na direção dele. – É quem eu estou pensando?
-Sim, a pedra no nosso sapato. – Stark respondeu no mesmo tom baixo, insatisfeito com o fato de o diplomata estar ali para depor.
-Tem algo estranho nele. – Falou a garota encarando o homem na tribuna, a quem via ao vivo pela primeira vez. – Estou sentindo uma coisa desde que entrei no tribunal, mas só agora percebi de onde vem.
-E o que é?
-Não sei, mas a energia que sai dele... – Olivia disse, confusa.
-Eu senti também. – Wanda adicionou à conversa, aproximando-se dos dois. Ela permaneceu encarando Callahan com os olhos extremamente fixos, sem dizer mais nada.
-Sr. Callahan, o senhor é o responsável por fazer a mediação entre o CSNU e os Vingadores, e o seu trabalho é assegurar que os termos do Tratado de Sokovia sejam seguidos à risca por ambas as organizações, correto? – Perguntou um dos magistrados, acompanhando seus relatórios.
-Sim, Meritíssimo. – Confirmou o homem.
-O senhor executa esse trabalho desde o início de seu mandato, está certo? – A resposta foi afirmativa. – E durante estes quase três anos de trabalho em conjunto, o que o senhor tem a relatar sobre a relação da superintendência dos Vingadores com o Tratado que os rege?
-Bom, meu trabalho com a liderança dos Vingadores sempre foi conturbado com relação a ordens e termos explicitados pelo Tratado. Segui-lo por vezes não era a prioridade da equipe em questão, e muitas discussões foram armadas acerca do cumprimento das regras com eles acordadas através do documento, mesmo estando assinado pelos próprios integrantes. – Callahan declarou, fazendo Stark mover-se inquietamente na cadeira por conta da fala dele.
-Diante de tais divergências e também do desenrolar dos fatos após as mesmas, o Conselho avalia que a instituição “Os Vingadores” deveria usufruir de autonomia em suas decisões e estratégias para a segurança mundial, a nível pré-estabelecido? – Questionou o magistrado inglês.
-O Conselho acompanhou as ações da instituição, e devido a desobediências e falhas nos processos de tomadas de decisão, acredita que não. – Callahan posicionou-se.
-E por quê?
-Decisões equivocadas por parte da administração da equipe resultaram em perdas e justificam a nossa falta de confiança nos Vingadores. – Desenvolveu o embaixador. – A humanidade não pode confiar sua segurança a uma organização que é inconstante tal como os Vingadores, que se rompeu por questões internas há alguns anos e deixou a população na mão. Ademais, os integrantes que permaneceram ausentes durante esse tempo comprometeram seriamente o desempenho da equipe, e classificam-se hoje como fugitivos da justiça por crimes cometidos. A ONU não pode permitir que essas vozes falem pela população, quanto mais depender delas para integridade e proteção.
-Sr. Callahan, de que forma o senhor avalia que os Vingadores falharam em relação a decisões tomadas, como citado anteriormente em seu discurso? – Um dos juízes explorou o ponto, parecendo reavaliar suas considerações.
-A testemunha anterior a discursar neste tribunal é um ótimo exemplo de motivo para a inconfiabilidade da equipe. – Prosseguiu o diplomata. – Eric Williams, um criminoso autor de diversos atentados terroristas, era tido como protetor da humanidade por meio de seu título de Vingador há alguns meses. O sujeito esteve infiltrado dentro da equipe durante toda a sua atuação, transmitindo informações cruciais para os planos inimigos, e nenhum dos heróis teve sabedoria para descobrir seus atos ilícitos a tempo de evitar o primeiro atentado à Nova York, durante o Réveillon deste ano. Era uma grande responsabilidade para a qual a equipe pareceu não estar preparada.
-E como o senhor avalia o desenrolar da última missão de Nova York, levando em conta o antigo Tratado de Sokovia e sua reformulação? – Prosseguiu outro juiz.
-Acredito que se os Vingadores fossem mais eficazes, esse desastre, que soma o maior número de mortos até hoje em uma missão da equipe, poderia ter sido evitado. – Thomas Callahan demonstrou seu ponto, olhando os magistrados nos olhos. – Se o governo trabalhasse lado a lado com a equipe, da forma que prevê o Tratado de Sokovia em sua íntegra, talvez as informações tivessem corrido rápido o suficiente para desmascarar Eric Williams e deter os ataques seguintes. A negligência com que os Vingadores vêm tratando as ordens superiores, bem como a estabilidade mundial, os torna responsáveis pelas tragédias que suas batalhas acarretam, sendo passíveis inclusive de processo criminal.
Os heróis estavam prestes a se levantar daquela plateia para exigir uma objeção ao discurso de Callahan, que sugeria o absurdo. Porém, antes que o presidente da casa pudesse prosseguir o depoimento com mais uma pergunta, um som intenso e desconhecido que vinha do lado de fora começou a ecoar pelas paredes do tribunal aumentando gradualmente, interrompendo a sessão.
Era uma manifestação. Do lado de fora do Palácio da Paz, uma multidão de pessoas se reunia marchando e bradando, tomando os jardins e calçadas da sede da Corte com faixas e cartazes. As palavras escritas, assim como as que entoavam as vozes, clamavam a favor dos Vingadores. Os cidadãos de Haia estavam se impondo contra a criminalização dos heróis, e unidos falavam a uma só voz:
“Salvem os heróis!”

A Corte de Justiça ficara paralisada diante da aparição dos manifestantes, e ouvia ao seu grito em silêncio. Uma das mediadoras do debate pediu a palavra ao presidente da casa, que concedeu permissão para transmissão de imagens ao vivo no telão do tribunal. Eram do noticiário.
Os vídeos ali exibidos eram chocantes; canais de todas as partes do mundo estavam cobrindo o acontecimento em frente ao palácio da Corte, mostrando a população nos gramados. Mas o mais impressionante era que Haia não era a única cidade sediando uma passeata a favor dos super-heróis. Outras gravações mostravam que manifestações como aquela aconteciam em Paris, Toronto, Rio de Janeiro, Xangai, Amsterdam, reunindo pessoas de todas as nacionalidades para enaltecer os Vingadores, assim como condenar sua responsabilização pelas mortes e prejuízos causados pelas batalhas.
-Na manhã desta quinta-feira, uma mobilização por conta do julgamento dos Vingadores na Corte de Justiça da ONU terminou em passeatas e manifestações em todos os continentes. – Dizia a voz da repórter, que narrava imagens dos acontecimentos. – Diversos países dos quatro cantos do mundo estão registrando números expressivos de pessoas reunidas para apoiar a equipe de heróis, além de pedir pelo fim do Tratado de Sokovia.
Segundo as notícias afirmavam, a maior das marchas pró-heróis acontecia em Nova York. Uma manifestação que começou através das redes sociais levou os nova-iorquinos às ruas, tomando a cidade e tornando-a a mais expressiva dentre as centenas de movimentos que vieram logo em seguida. A população se reunira em todos os pontos por onde a última batalha dos Vingadores passara, juntando manifestantes em Coney Island, no Central Park, na Ponte do Brooklyn, em Chinatown e no Empire State, reunindo o maior número de pessoas ao todo. Famílias inteiras desfilavam pelas ruas segurando cartazes e faixas escritas, e usando camisetas estampadas com os rostos dos heróis. Em tom pacífico e encorajador, todos bradavam a frase tema da manifestação, que se originara com uma hashtag. Em todas aquelas cidades, fosse em qualquer um dos países, em sua própria língua, a população impunha: salvem os heróis.
A transmissão nos telões do tribunal foi encerrada, dando espaço para a voz cada vez mais alta dos manifestantes do lado de fora. Naquele momento, a multidão de Haia ultrapassava os portões e jardins do Palácio da Paz.
-Sr. Presidente, os cidadãos estão querendo entrar no tribunal. – Anunciou um dos assistentes, trazendo informações da segurança do local.
Vozes e conversas tomaram conta da sala da Corte naquele mesmo instante. Todo o decoro foi perdido diante da audácia – ou coragem – dos holandeses em invadir uma sessão solene. Os líderes ali presentes deliberavam, pensando em como proceder diante daquela adversidade tão grande. Então, apesar da exaltação da plateia e dos magistrados, o líder da mesa pediu silêncio, e em seguida tomou a palavra.
-Peço a ordem de todos, por gentileza. – Disse o presidente francês, e após o cumprimento da mesma, ele prosseguiu. – Como forma de acordo para atender às demandas populares e manter a integridade desta sessão, a Corte irá permitir a entrada de apenas um representante da manifestação, assumindo o título de testemunha extra deste julgamento e tendo o direito de depor a favor dos ideais do movimento.
Alguns dos presentes ali dentro pareceram não estar satisfeitos com a decisão do presidente, Thomas Callahan sendo um deles, visivelmente contrariado. No entanto, diante da ordem maior, a atual testemunha foi retirada do palanque, dando a vez para que o outro lado da história fosse ouvido.
A mensagem da demanda da Corte foi repassada para os manifestantes do lado de fora, que tiveram alguns minutos para eleger dentre tantos deles alguém que pudesse falar por todas aquelas pessoas. A plateia lá dentro aguardava com tensão, e os próprios heróis em específico, perguntando-se quem seria o rosto a representar a esperança deles dentro do tribunal. Pouco tempo depois, a representante da Corte voltou à sala do julgamento trazendo consigo o eleito para testemunhar em nome das passeatas.
O porta-voz escolhido era um senhor de idade, que caminhou lentamente pelo corredor da sala do júri sob os olhos de todos os presentes, e chegou até o palanque com dificuldade. Ele possuía um dos braços enfaixados, e precisou de auxílio para alcançar o microfone que projetaria sua voz para a Corte.
-Sr. Franklin O’Donnell, norte-americano, 89 anos? – O presidente repetiu os dados que havia recebido para confirmá-los. O idoso assentiu positivamente. – Por que o senhor está aqui?
-Para salvar os heróis. – Disse ele repetindo o bordão, erguendo tremulamente a mão que não estava enfaixada por alguns centímetros.
-O senhor tem dez minutos para dar seu depoimento e defender os interesses das manifestações. – Orientou o magistrado, ativando um cronômetro logo em seguida.
-Bom, pessoas vêm a manifestações com muitos interesses. Ultimamente, muita gente andava se manifestando contra os Vingadores, dizendo que eles não protegiam a humanidade e que deveriam acabar. Não posso falar por cada pessoa que está ali no gramado do lado de fora, mas posso falar por mim mesmo. – Iniciou o idoso, pensando nas palavras a escolher. – Sabem, durante a minha vida, eu vi muitas coisas acontecerem. Coisas que jamais pensei serem possíveis, como homens que se transformam em gigantes verdes, deuses que carregam martelos e soldados voltando à vida após décadas de congelamento. Além de coisas extraordinárias, também vi coisas incríveis, coisas felizes, e coisas trágicas. Eu assisti a guerras sendo declaradas, a homens insanos ascendendo ao poder pela falta de líderes sensatos que guiassem o povo para a prosperidade e a paz. É, eu já vi muita coisa... – Contou o senhor, parecendo vasculhar suas lembranças para falar. – Mas não vi tudo. Eu chego a essa conclusão porque, sempre que penso estar velho demais para que o mundo me surpreenda, acabo me provando enganado. O que eu vejo hoje pelas ruas de Haia é inédito em minha vida. Eu viajei até aqui apreensivo, porque queria acompanhar de perto o julgamento que, de uma forma ou de outra, mudaria o curso de muitas coisas do nosso mundo. Não pensei que o povo levaria tão a sério o compromisso que tem com aqueles responsáveis por protegê-los. E isso me deixa feliz.
Franklin O’Donnell voltou-se para a bancada de juristas logo atrás de si, olhando para cada um deles com um pouco de dificuldade.
-Eu entendo o que todos vocês estão dizendo. Entendo que lidar com a morte de pessoas e a destruição de cidades é muito difícil, e sei bem a gravidade das consequências que batalhas de pessoas com super-habilidades podem acarretar. Afinal, já estive em duas delas. – O homem contou, puxando fatos passados. – Na primeira vez em que os Vingadores lutaram em Nova York, assim que a equipe surgiu, eu estava lá. Eu vi aqueles alienígenas enormes sobrevoando os prédios, e confesso que pensei ser o fim da humanidade diante dos meus olhos. Eu perdi meu sobrinho naquele dia, durante o desabamento de um prédio. – Franklin abaixou os olhos ao contar. – Fora isso, ao longo dos anos, eu presenciei de perto os estragos e as mortes que os combates dos Vingadores causavam. Familiares e amigos meus se foram ou perderam pessoas queridas em Sokovia, em Cambridge, em Sydney... Eu vi essa destruição, vi o quão dolorosa ela podia ser. Mas também vi o esforço dos heróis pra contê-la e tentar poupar as pessoas comuns do sofrimento, com meus próprios olhos. Há um mês, quando Nova York foi novamente atacada por inimigos da paz, eu também estava lá. Eu passava pela ponte do Brooklyn, no caminho para casa, quando um daqueles robôs enormes apareceu e eu fui jogado para fora do asfalto. Nesse dia, eu fui salvo pelo Homem-Aranha. E pouco antes de me deixar seguro e voltar a lutar pelas pessoas, ele me disse uma frase que eu jamais vou esquecer. O poder também traz o dever.
-O poder também traz o dever. – Peter repetiu baixo para si mesmo pouco depois que Frankin começou a frase, recordando-se instantaneamente daquele momento e do por que o rosto daquele senhor lhe parecia tão familiar.
-Ele está aí? – Questionou o homem, apertando os olhos para vasculhar a plateia.
Como parte das condições para aquele julgamento, foi ordenado aos heróis que ainda não possuíam suas identidades secretas públicas que revelassem suas personalidades, como sinônimo de transparência. Peter era um deles, e ele assumira a autoria do Homem-Aranha três dias atrás. A imprensa estava fervendo com o fato, principalmente por Peter ser tão jovem.
-Aí está você. – Disse Franklin com um sorriso, reconhecendo no rapaz o rosto que vira incansavelmente no noticiário. – Meu sobrinho tinha a sua idade quando o ataque à Nova York aconteceu. Eu o criei como um filho durante a vida toda... Corajoso como você, ele era. Obrigado, rapaz, por salvar minha vida naquele dia.
Peter sorriu com os lábios fechados, fazendo um aceno de cabeça em resposta.
-O que eu compreendo de tudo que vi é que não existem vencedores de espécie alguma em guerras. Pois todos que se envolvem nelas têm algo a perder, e perdem sempre. Perdas são inevitáveis. – Afirmou o homem, em tom de lamentação. – Hoje em dia existem alienígenas e robôs gigantes, coisas que no passado não faziam parte das nossas preocupações. Mas o mal não é uma coisa com a qual nos deparamos agora. Porque se não houvesse a tecnologia, o sobrenatural ou o extraterrestre, as pessoas ainda trariam perigo umas para as outras. Estamos sobre constante ameaça da natureza humana, e acabar com os Vingadores não vai fazer com que elas desapareçam. Aliás, vai piorá-las, porque não teremos ninguém para nos defender delas. Por favor, magistrados, não sejam ingênuos de dispensar nossos maiores aliados. – Clamou, observando as expressões dos juízes. – Eu, assim como todos que estão lá fora, assim como a humanidade inteira deveria, sou grato por eles. Sou grato por abrirem mão de seu tempo, até de suas vidas, por desconhecidos como eu, meus familiares e amigos – mesmo que não tenham conseguido salvar a todos eles. Sou grato por usarem suas habilidades para o bem, ao invés de virá-las contra as pessoas, porque Tratado nenhum impõe isso. Mas eu concordo com o garoto quando ele diz que o poder traz o dever. Mais do que isso, eu o complemento: o poder traz a escolha. Esse garoto, esses heróis todos tem o poder para fazer o que quiserem do mundo, e escolhem usá-lo para defender as pessoas. E se nós, o povo, temos o poder de falar e sermos ouvidos, então temos o dever de usar a nossa voz para proteger aqueles que nos protegeram durante tantos anos.
Agora, o olhar de Franklin O’Donnell dirigiu-se a todos que sentavam na plateia.
-Heróis não são perfeitos. Eles cometem erros, brigam, porque são humanos como eu e todos vocês. Mas nossos reais inimigos não são aqueles que tentam nos ajudar e nem sempre conseguem. São todos aqueles que tentam dividir o povo e jogar os seres humanos uns contra os outros. Por que não paramos de brigar por nossas opiniões e julgar por nossos erros, e nos unimos? Nós temos essa responsabilidade, e é aí que os papéis se invertem: o que me traz àquele momento da vida em que eu percebo que, por mais velho que seja, não vi de tudo. Não são os heróis que nos salvarão agora. O povo é que os salvará.
Nesse momento, ouviu-se um grito vindo do lado de fora, entoado pela multidão que lá se reunia, dizendo a frase símbolo do movimento diante do discurso ao vivo do senhor de idade perante o mundo. Franklin O’Donnell finalizou sua fala e desceu do palanque, deixando o tribunal a passos vagarosos logo em seguida.
Agora o poder de decisão restava aos magistrados ali presentes, a quem cabia definir o futuro dos Vingadores e, em conjunto, da humanidade.
Foram concedidos alguns minutos de deliberação com os microfones desligados, para que todos os líderes dos diferentes países pudessem avaliar os depoimentos ouvidos e os dados coletados. Após instantes que pareceram longos demais, o presidente da casa retomou a sessão tendo todas as opiniões definidas, dando abertura para que os juízes expusessem seu veredicto.
-A Corte Internacional de Justiça da ONU preza pela integridade e soberania do Estado, assim como pelo direito de manifestação de opinião a todo e qualquer membro da sociedade. – Iniciou o magistrado. – Levando em conta nossos conhecimentos e todos os dados neste tribunal apresentados, a mesa afirma ser de suma importância que o governo e suas vertentes competentes tenham jurisdição sobre toda qualquer entidade privada, ressaltando as prestadoras de serviços básicos como saúde e segurança.
Todos os heróis repreenderam-se diante da fala dele, pois o rumo das palavras indicava um longo e sufocante Tratado que restringiria a atuação dos Vingadores consideravelmente – se não a impedisse por completo.
-No entanto, a Corte também acredita que é possível realizar um trabalho satisfatório e eficiente no campo da segurança internacional, concedendo liberdade de atuação aos órgãos competentes, bem como a todos os seus membros, sem exceção. – Prosseguiu o líder, fazendo uma ponta de esperança se acender em meio à inversão de rumo. – Como conclusão, os magistrados aqui presentes propõem a reelaboração do documento intitulado Tratado de Sokovia, nos seguintes termos: declaração de anistia e livre colaboração aos membros antes considerados foragidos da justiça; não responsabilização da entidade privada pelos danos humanos e econômicos causados a indivíduos ou cidades, sendo declarados colateralidades remediáveis pela União; concessão de autoridade sobre o exercício da segurança mundial aos Vingadores, em sintonia com os governos de cada país, para que realizem a proteção da humanidade. Aqueles de acordo com os termos citados, por favor, ergam as mãos.
Havia dezesseis juízes com poder de voto naquela mesa; destes, treze levantaram o braço direito, a favor da assinatura do novo Tratado de Sokovia, que compreendia os Vingadores como uma organização independente e responsável pela segurança da raça humana, sem membros condenados ou subordinações ao governo: apenas heróis fazendo seu trabalho.
Neste momento, em vários lugares ao redor do globo, o povo comemorava. As multidões de todas as cidades, países e continentes festejavam a vitória de seus ideais, e a permanência da paz. Pessoas soltavam fogos, se abraçavam, riam e dançavam, balançando suas bandeiras e gritando bem alto. A humanidade se unira e tornara-se heroína, pois tinha em si o poder. Não poder tal como habilidades físicas ou psíquicas extraordinárias, mas ela podia. Mais do que qualquer tecnologia, armadura, energia, força da natureza, magia. Ela podia fazer a diferença. O ser humano, em seu estado mais puro e fundamental, somado a nada mais que ele mesmo. O verdadeiro poder residia nele, em todos eles, e na humanidade que os unia.
***

Pós Crédito 1

Qualquer um que conheceu aquele homem à beira do altar há alguns anos atrás se recusaria a acreditar. Mas, de fato, Tony Stark estava se casando. Com arranjos de flores e um tapete branco, o antes festeiro e mulherengo Stark selaria sua união em matrimônio com Pepper Potts, após tantos anos juntos.
A cerimônia era simples e intimista, mas não deixava de esbanjar charme e, principalmente, felicidade. Em um altar à beira de uma falésia da Normandia, com a brisa do mar soprando forte, os amigos e familiares dos noivos se reuniam para assistir à tão aguardada união do casal. À direita do corredor, Steve Rogers apoiava o noivo surpreendentemente nervoso, como todo bom padrinho deveria fazer.
-E se ela não aparecer, Rogers? – Disse o homem de terno branco, suando frio, tentando sorrir naturalmente para as cinco fileiras de convidados que olhavam diretamente para ele. – No passado eu é que sempre desaparecia da vida das mulheres e as deixava esperando. Será que esse casamento não passou de um plano maléfico comandado por ela pra se vingarem de mim?
-Ela vai chegar, Tony – O outro se divertia enquanto tentava tranquilizá-lo. Só fazia cinco minutos que eles haviam caminhado até o altar. – Pepper esperou você por mais de dez anos, ela não irá desistir agora. Se ela fosse sensata o suficiente para fazer isso, já teria feito.
-Por que eu escolhi você para esse cargo, mesmo? – Stark franziu o cenho, sentindo-se incompreendido pelo padrinho.
-Porque eu sou um ótimo amigo que apoia você – Steve sorriu orgulhoso. – E porque eu fico ótimo de terno.
A conversa dos dois foi interrompida pelo início de uma doce música tocada pelos violinos, anunciando a entrada da noiva. Em alguns instantes, Pepper apareceu na ponta do tapete branco, sendo acompanhada por Happy Hogan em sua caminhada até o altar. A ruiva estava deslumbrante, com um vestido de seda, um longo véu e um buquê de flores amarelas. Mas, sem dúvidas, a parte mais bonita dela era seu largo e meigo sorriso para o homem que a esperava.
À medida que a moça desfilava pelo corredor, Stark foi se acalmando lentamente. Ele respirou fundo, e Rogers pousou a mão sob seu ombro para lhe dar apoio. Logo, Pepper chegou até o altar para junto de Tony, e a cerimônia começou.
O dia estava ensolarado e fresco por conta da brisa marítima, e o horário do fim da tarde já permitia que os primeiros indícios de por do sol aparecessem no horizonte. Olivia foi a próxima a entrar pelo jardim, trazendo as alianças que simbolizavam o amor do casal. Ela entregou as joias para o pai, e os dois trocaram um sincero sorriso de alegria e cumplicidade. O gestou estendeu-se para a noiva, e Pepper piscou carinhosamente para a garota.
Então veio o primeiro beijo do casal oficialmente unido. Ao concordar com os votos ditos pelo regente e ouvir Pepper dizendo o tão esperado “eu aceito”, Tony sentiu uma paz como há muito tempo não sentia. Ele deitou a noiva em seus braços e recebeu uma comemoração da plateia, fazendo Pepper rir e acompanhando-a descontraidamente com uma gargalhada. Ao deixar a cerimônia de mãos dadas com sua noiva, Stark viu no banco de convidados todos os seus colegas de equipe e amigos comemorando, sorriu. Ele estava feliz.
Após todas as congratulações na recepção do salão e um jantar primoroso e sofisticado, a pista de dança foi liberada para iniciar a festa. Aos poucos, os convidados se juntavam no centro do salão, brindando, rindo e se divertindo em homenagem ao casal.
-Me daria a honra de uma dança, Srta. McCall? – Olivia ouviu a voz de Peter atrás dela, e virou-se para encontrar o rapaz estendendo a mão cordialmente para ela.
-Peter Parker dançando valsa? Essa eu quero ver. – Disse ela, divertida, levantando-se da mesa dos noivos e atendendo ao gesto do rapaz. – Você está elegante, hein.
-Obrigado. – O garoto disse todo orgulhoso, arrumando a flor branca que enfeitava o bolso do terno. – E você está linda. – Ele encarou afetuosamente a moça de vestido bordô e coque no cabelo.
-É, tenho que fingir ser uma dama comportada por enquanto. – Liv fez careta. – Você não sabe o quanto estou ansiosa pra que todos os convidados fiquem bêbados e eu possa tirar esse salto infernal. – Afirmou com cara de dor, fazendo o rapaz rir.
Os dois jovens dirigiram-se ao centro da pista, passando por Visão e Wanda no caminho, entrando no ritmo de uma música lenta qualquer que tocava. Peter segurou a cintura da garota, enquanto Olivia pousou as mãos sob os ombros dele, e então os dois começaram a dançar a passos lentos de um lado para o outro.
-Sabe de uma coisa... – A garota falou com a testa franzida. – Você me enganou, Peter Parker.
-Como assim enganei? – Ele perguntou, estranhando.
-Lembra quando eu estava escolhendo meu nome de heroína, e você me disse que Arion era o nome da divindade grega da energia?
-Sim... – Ele arqueou a sobrancelha.
-Bom, eu andei fazendo umas pesquisas, e acontece que não é. – Ela afirmou. – Arion era, na verdade e segundo os gregos, um cavalo.
-O que? – O rapaz exclamou, achando graça. – Impossível!
-É sério! – A moça se rendeu ao riso. – Um cavalo mitológico falante com sérios problemas familiares.
-Caramba, Liv – Peter ainda ria, coçando a nuca. – Me desculpe, eu...
-Parece que alguém dormiu na aula de mitologia grega, não é? – Ela brincou, arqueando as sobrancelhas.
-Humanas nunca foi meu forte, mesmo. – Parker admitiu a culpa, divertido.
-Bom, eu não vou mudar o nome, porque eu realmente gosto do jeito que ele soa. – Liv deu de ombros.
-Acho que você não deveria. Eu gosto também.
-Se eu não mudar o significado das coisas e reescrever conceitos antigos, então pra que estou aqui, não é mesmo? – Ela sorriu.
A música que a banda tocava chegou ao fim, gerando uma série de aplausos dos convidados presentes. Peter passou o braço ao redor de Olivia fazendo-a rodopiar, gerando risos da parte dela, e assim que ela parou, o rapaz deu um beijo nas costas de sua mão como um cavalheiro. Após as palmas, a festa foi interrompida por um anúncio no microfone. Os noivos estavam prestes a ir embora, e Pepper ia jogar o buquê do lado de fora do salão, no jardim.
Peter e Olivia foram até uma das janelas, saindo na sacada externa para observar a bagunça. Diversas mulheres solteiras se reuniam à frente do carro dos noivos, se empurrando e dando risada, alimentando a brincadeira. Pepper entrou no veículo e apareceu no teto solar, virando de costas para o salão e arremessando o arranjo de flores para cima. O buquê voou por alguns metros, até cair nas mãos de Natasha Romanoff, que sequer estava prestando atenção. Thor e Clint, que estavam logo ao lado dela, encaravam surpresos o rosto impassível da mulher segurando o adorno.
-O resto da equipe vai tirar com a cara dela pra sempre depois disso. – Peter afirmou, rindo da situação junto com Liv. Eles observavam os colegas lá em baixo, que faziam exatamente o que o garoto previu.
-Estão todos tão felizes e relaxados – Disse a garota a partir da cena, com um sorriso no rosto. – Eu nunca senti uma energia tão leve assim na equipe antes.
-Estão todos aliviados, eu acho. – Peter complementou. – Depois de tudo que enfrentamos com os robôs, e aquela loucura do tribunal...
-É, foi pesado. Mas serviu pra unir os Vingadores novamente, pelo menos. – Olivia constatou.
-E grande parte graças a você. – Parker apontou.
-Sinceramente, eu não achei que conseguiria fazer aquilo no Empire State. – A garota sorriu de lado, tímida. – E olha que eu sou a segunda pessoa mais confiante da Terra, logo depois do meu pai.
-Eu sabia que você era capaz. Só fiquei preocupado, assim como todo mundo. – Peter contou. – Mas você foi incrível. Sabia que seu nariz não sangrou depois que você desmaiou?
-É, você me disse. Acho evolui um pouco. Tem coisas sobre os meus poderes que nem eu mesma sei. – Olivia deu de ombros, virando de costas para o jardim. – Mas depois de tudo aquilo, comecei a perceber algumas coisas que não tinha notado antes. E fiz alguns estudos, também.
-Que coisas? – O rapaz ficou curioso.
-Aquilo que eu fiz, de absorver os poderes dos outros heróis daquele jeito... – Contou, pensativa. – Eu acho que consigo repetir.
-Como?
-O Libertador estava drenando os poderes deles através da energia que eles emanavam. O dispositivo absorvia aquilo que o Eric chamou de força transnormal, e armazenava só por aquele momento, devolvendo logo em seguida, não é? – Liv explicava, e o rapaz assentiu com a cabeça. – Bom, o que eu faço é exatamente absorver energia. Naquele dia eu incorporei o poder que o dispositivo me transmitiu, mas não acho que seja a única forma. Não preciso de um Libertador, entende? Eu mesma posso captar e assimilar essa energia, talvez de qualquer um.
-Liv, isso é incrível – Disse Peter, com as sobrancelhas erguidas. – Você já testou?
-Ah, é só uma teoria. Preciso de um tempo pra me recuperar direito antes de inventar moda de novo. – Ela riu. – Mas acho que pode funcionar.
-Bom, contanto que você não me assuste daquele jeito outra vez... – O rapaz articulou. – Ia ser um tombo e tanto do alto daquele prédio, você sabe.
-Ficou morrendo de medo de não ter mais a minha ilustre presença na sua vida, não é? – Olivia provocou, divertindo-se.
-Mas é claro! Quem mais iria carregar meu celular quando não tivesse tomada ou esquentar o café que ficou gelado? – Parker entrou na brincadeira.
-É por isso, sim. – Liv disse com ironia, e em seguida fez uma pausa. – Sabe, eu realmente tive medo naquele dia. Mas pela primeira vez, não foi só por mim que eu temi. Claro que eu pensei no meu pai e na minha mãe também, mas fiquei com medo por você. Não queria te deixar, ficar sem suas piadas ruins, sem poder te encher no trabalho, te abraçar, sem ver seu sorriso. Quando eu desliguei aquele comunicador, não fiz porque queria uma saída dramática. Eu estava tentando tomar coragem. Pois sabia que tinha muito a perder.
Aquelas palavras fizeram com que Peter sorrisse para ela.
-Eu te amo, Menino-Aranha. – Olivia disse francamente, arrancando uma expressão surpresa do rapaz.
-Olivia McCall está dizendo uma coisa fofinha pra mim? – Peter exclamou, brincando com ela.
-É, vê se não se acostuma. – A garota rolou os olhos, esticando o braço direito na direção dele em seguida. Ela fechou dois dedos e, de seu pulso, Olivia atirou uma teia, grudando no quadril do rapaz e puxando-o para perto dela.
-Mas o que...? – Falou Peter com os olhos arregalados de espanto, encarando para o fio que os unia.
-Eu te explico mais tarde. – Liv deu risada, e o beijou em seguida.
-Eu também te amo, Menina-Aranha. – Peter interrompeu o beijo para dizer, e após uma risada compartilhada, voltou a tocar os lábios dos dois.

Pós Crédito 2

-Nada como um bom mártir sendo salvo da fogueira para tocar o coração das pessoas.
Reunido com mais quatro dos seus no antigo galpão de montagens de Nova York, o Barão aguardava a chegada de seu sócio para iniciar a primeira reunião do grupo em um tempo. O símbolo do Abutre, coberto por tinta do lado de fora, ilustrava quantos parceiros haviam sido perdidos ou substituídos no decorrer daquele longo e árduo caminho; mas Helmut Zemo não desistiria de sua luta.
-Pena que o povo continua fadado a queimar. – Ele completou a frase, utilizando seu sadismo típico.
-Os Vingadores foram tão incompetentes que precisaram ser salvos, e de alguma forma isso fez deles mais heroicos ainda na visão da sociedade. – Bufou Atlas, sentado em uma das cadeiras. Ter pisado no escudo do Capitão América e socado Pantera Negra eram as melhores coisas que ele poderia ter feito na vida, ele pensava.
-As pessoas estão emocionadas com o que houve na Corte de Justiça, como se fosse grande coisa. – Disse a mulher de cabelos cor-de-rosa, indignada. – Como se apagasse tudo de ruim que fizeram.
-Pessoas são assim, Soprano: manipuláveis. – Justificou Vantagem, tediosa. – Espere só até a poeira baixar, a mídia parar de empurrar o heroísmo goela abaixo e a euforia da população se aquietar. Quando a dor for pessoal, como foi conosco, eles irão enxergar.
-E vamos esperar que eles simplesmente percebam isso? Nós todos já sentimos dor demais em nome das pessoas, não acham? – A outra estava indignada. – Pensem no esforço pelos nossos poderes. Deveríamos deixar que sofressem sozinhos, afinal, eles escolheram os Vingadores, deveriam lidar com as consequências disso.
-Pensei que você só fosse irritante quando gritava, Soprano, mas já te disseram que você também fala demais? – O Planta interviu, exausto, fazendo os outros dois rirem da mulher. – Isso não é sobre as pessoas, é sobre nós.
-Eu não ligo para o que pensam ou deixam de pensar. – Atlas declarou. – Heróis são uma farsa, não passam de contos de fadas para iludir as pessoas.
-Não se preocupem. Os Vingadores deturparam este conceito, mas logo o povo irá conhecer heróis de verdade. – Zemo disse a todos, apaziguando a discussão. Os outros quatro voltaram-se para ele. – Em breve, eles ouvirão falar dos Thunderbolts.
A pesada porta de metal que mantinha o galpão fechado e seguro se abriu com um rangido ressoante, revelando a chegada do último comparsa para integrar os planos da equipe. De terno e gravata, Thomas Callahan irrompeu pela fábrica abandonada, fechando o portão atrás de si e vedando o esconderijo em seguida.
-Um conceito totalmente novo de heroísmo, do qual você entende bem, Zemo. – Disse o homem, como forma de saudação.
-Ei, esse não é aquele político? – Homem-Planta cochichou, confuso.
-Você quis dizer o presidente do Conselho de Segurança da ONU? – Vantagem arqueou as sobrancelhas como se zombasse dele. Contrariado, o homem fez com que a planta no vaso ao lado dela crescesse como uma carnívora pronta para mordê-la, mas a moça reagiu fazendo um campo de força em volta de si.
Callahan caminhou até o centro do galpão, e algo estranho parecia estar acontecendo com ele. Sua pele começou a esverdear, admitindo um tom esmeralda, e suas orelhas ficaram pontudas de repente. O cabelo dele começou a crescer, e em segundos ele estava irreconhecível, tomando uma forma feminina que mal parecia humana.
-Rainha Veranke. – Zemo cumprimentou assim que a figura se aproximou. Ela estendeu a mão para que ele beijasse. – Que bom que pôde se juntar a nós.
-Oh – Soltou Planta, ligando os pontos. – Agora entendi.
-Esses Skrulls são imprevisíveis. – Vantagem riu de lado, impressionada com a habilidade de mimetismo da alienígena.
-Onde está o outro humano? – Perguntou a mulher verde, referindo-se a Magnum. – O que liderava.
-Sucumbiu ao próprio ego. – Zemo respondeu, com a voz carregada de raiva do parceiro que o traíra. - Ele não merecia esse posto, de qualquer forma.
-É uma pena. – Declarou a rainha sem muita sinceridade, andando em volta. – Vocês humanos são tão volúveis...
-Falando em volubilidade – Helmut mudou o rumo, um pouco cheio daquele discurso de superioridade de espécie. – O que houve com Vossa Majestade na Corte de Justiça? Pensei que fosse continuar dando um jeito nos parlamentares contrários, para condenar os Vingadores. Era nosso trato.
-Eu não fui um problema, Sr. Zemo, e muito menos meus poderes de persuasão. – Declarou Veranke, parecendo irritada com a pergunta. – As mentes dos diplomatas insistentes em nos contrariar dentro do Conselho obedeceram muito bem a mim nos últimos meses enquanto os manipulei. Mas alguém estava revertendo meus poderes psíquicos durante o julgamento. Acredito que foi aquela bruxa Escarlate.
-Bom, Thomas Callahan não conseguiu impedir que o Tratado de Sokovia fosse suspenso, e os Vingadores ainda estão ativos. – Zemo constatou. – Tentar acabar com eles diplomaticamente não foi o suficiente.
-Agradeça àquele outro dos seus que depôs em favor deles no tribunal. – Veranke alfinetou rolando os olhos, falando de Eric Williams. – Me parece que os membros desta equipe não têm seus ideais muito bem definidos, Zemo. Espero que não seja mais o caso.
-Certamente que não. – Helmut negou diante da desconfiança da Skrull. – Nosso plano ainda está de pé?
-O meu ainda está. – Afirmou a rainha. – E acredito que possamos cooperar para que os interesses de ambos sejam atendidos.
-Guiaremos a humanidade para um novo conceito de poder e liderança. – O homem anunciou. – Novos valores a serem respeitados.
-Eu posso assumir qualquer líder, parlamentar ou influente deste planeta – Contou a rainha, explicitando os planos. – Mas, em breve, será o meu rosto que eles respeitarão. O rosto de todos nós. E então, irão se curvar.
-Podemos começar? – Perguntou Zemo, um sorriso problemático brotando no rosto.


Fim!



Nota da autora: Avengers Assemble!
Primeiro de tudo, muito obrigada por chegarem até aqui com a sua leitura. Espero de coração que tenham gostado e se divertido!
Guerreiros de Aço buscou, durante seus vinte e seis capítulos, entreter e surpreender os leitores, fazendo-os rir, torcer, teorizar e se empolgar, como toda história de super-herói deve fazer para envolver e emocionar. Mas, mais fundamental ainda, buscou indagar uma reflexão sobre responsabilidades, sacrifícios, missão, mídia e internet, raça humana, opinião pública, política, e sobre o componente mais delicado e complexo que inevitavelmente permeia todo herói e cidadão comum: a humanidade.
Desde o início, GDA pautou sua narrativa na humanidade. Nas fraquezas, defeitos e limitações que tornam heróis imperfeitos, e que fazem sua jornada ser tão complexa e complicada. E, que ao mesmo tempo, os tornam corajosos e capazes de sacrificar suas vidas para salvar outros humanos – mesmo quando eles resistem.
Vimos Tony Stark, Olivia McCall, Peter Parker, Eric Williams, Steve Rogers e Simon Williams, entre todos os outros heróis e vilões, errando e acertando, se colocando acima e se sacrificando, mostrando a nós que até mesmo seres superpoderosos não são perfeitos. A própria humanidade em si falhou, por medo ou ignorância, e lutaram uns pelos outros para consertar os erros ao final. Espero que essa reflexão tenha, de alguma forma, feito vocês leitores pensarem sobre si mesmos e sobre todos que estão a sua volta também.
Ao longo da história, GDA fez muitas referências a eventos do MCU e dos quadrinhos, misturando um pouco dos dois universos para criar uma narrativa completa que pudesse envolver os fãs da Marvel das duas áreas. Os irmãos Williams, Meredith McCall, os Thunderbolts e outros componentes importantes, são eventos dos gibis sobre os quais você pode descobrir mais nas minhas redes sociais (disponibilizadas mais abaixo), caso vocês tenham curiosidade de entender as conexões utilizadas nessa fic.
Agora, queria dedicar um parágrafo especial dessa nota à nossa personagem principal, a protagonista que me inspirou a escrever essa história: Olivia McCall, a nossa queria Liv.
“Caramba, GirlSilver, você escreveu uma fanfic sobre a filha do Tony Stark. Mais uma, dentre as milhares que existem por aí. Cadê a criatividade?!”
Esse sempre foi um assunto sobre o qual eu queria falar com os meus leitores.
Pra mim, a criatividade não está só em escrever algo novo, mas também em reinventar algo que já foi feito. Olivia não é o clichê de filha do Tony Stark; ela não é incrivelmente bonita e encantadora, não confunde sarcasmo e humor com falta de educação, não odeia o pai sem razão e toda a vida dela não se resume ao fato de ela ser uma Stark. O sobrenome dela nem é esse, aliás: ela é Olivia McCall, com sua própria história e sua própria jornada. Tony Stark aqui é um pretexto para uma personagem que é completa por si só. E eu gostaria muito que vocês pudessem ver mais dela no futuro.
Olivia é uma Stark, não há como negar. E ver o Tony interagindo com uma versão feminina e mais nova de si mesmo é algo muito interessante de se pensar, a primeira vista. Mas eu busquei, durante todo o desenvolvimento dos meus personagens e do meu enredo, fugir do drama adolescente e da típica relação que se espera da filha do Stark com ele e com o mundo. Tentei não fazer do Tony o Daddy Stark clichê também, sendo ciumento e possessivo, rebaixando e subestimando a filha, resumindo a relação deles às brigas. Procurei ser o mais honesta com os personagens originais quanto possível, pensando realmente, “como eles agiriam se isso estivesse acontecendo nos quadrinhos/nas telas da Marvel?”. Espero que tenha conseguido trazer uma visão mais honesta e realista a vocês.
Por fim, queria agradecer mais uma vez a você que chegou ao fim dessa história (e também dessa nota de autora interminável). Não se esqueça de me contar nos comentários a sua opinião sincera sobre tudo que leu. Se quiser saber mais sobre GDA, encontrar minhas outras obras, e interagir comigo e com outros leitores, aparece lá no meu Twitter @GirlSilver_ pra gente bater um papo. Até mais! xx



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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