CAPÍTULOS: [Prólogo] [1] [2]









Prólogo


Lizzie movia seu corpo pela pista de dança de acordo com as batidas da música. O álcool corria suas veias e fazia a garota ficar mais dependente do conteúdo. O jeito como a garota dançava seduzia qualquer um que parasse para observá-la... E ela sabia disso.
Seus longos cabelos loiros grudavam em seu pescoço e em seu rosto devido ao suor da atividade. Seu corpo estava em puro êxtase pelo teor de álcool no sangue, e a pulsação de seu coração estava acelerada por causa do par de olhos que a observava dançar.
- Minha bebida acabou, vou pegar mais. - Lizzie gritou no ouvido de uma das meninas que a acompanhavam na dança.
Ela andava entre seus colegas de escola em direção ao mini bar improvisado da festa, desviando de muitos que já estavam bem mais alterados.
Enquanto ela servia um pouco da bebida rosa desconhecida em seu copo, observava a pessoa que estava lhe secando. Ele dava um sorrisinho irônico, clássico de sua personalidade.
Lizzie se virou e andou de volta para a pista de dança. Antes de chegar em seu destino, ela sentiu um choque contra seu corpo. Tinha esbarrado sem querer em uma garota e derramado toda sua bebida no vestido preto dela.
- Olha por onde anda, sua idiota! - a garota ralhou com sua voz enjoada e Lizzie revirou os olhos vendo de quem se tratava.
- Cuidado como você fala comigo. Posso acabar com sua vidinha de bosta naquele colégio. - Lizzie bufou voltando a andar. Quando deu dois passos para longe da tal garota, ela ainda conseguiu escutar, mesmo baixo, a resposta.
- Você ainda vai pagar caro por todo esse veneno, sua pirralha.
Ignorando a fala, Lizzie voltou para a pista de dança. Hoje ela não queria brigar e sim aproveitar a última festa do ano com alguns conhecidos que ela não iria mais ver pelos corredores da North Academy Art.
Lizzie estudava naquele colégio há alguns anos, e queria se profissionalizar em música e moda. Desde pequena tinha esse sonho, e estava determinada a realizá-lo.
Depois de alguns minutos de volta à pista, a loira sentiu um braço passar por sua cintura e uma voz sussurrar bem no seu ouvido, fazendo a menina se arrepiar instantaneamente.
- Não vai querer fumar ou cheirar nada, ?- a voz grossa perguntou com a boca colada no ouvido dela. Lizzie se virou encarando os olhos do dono da voz.
- Não vou querer nada hoje, amorzinho. - Lizzie respondeu enquanto tomava um gole da bebida fluorescente.
- Então será que você pode me acompanhar? Preciso levar um papo contigo. - ela olhou um tanto desconfiada e deu mais um de seus sorrisos provocantes.
- Eu não quero nada com você agora, amor. - a loira sussurrou e mordeu o lábio inferior, sua antiga tática de se sentir superior.
- Será que dá pra me acompanhar? Por bem? Por que eu posso fazer pelo jeito mau, se você preferir. - o dono da voz rouca sussurrou bem próximo do ouvido dela, para garantir que somente a garota ouviria. E também porque ele já estava um tanto alterado.
Pela primeira vez Lizzie sentiu medo. Seu corpo estremeceu pelas palavras dele e pela voz quente em contato com sua pele.
Ela apenas concordou levemente e meio hesitante. O rapaz pegou em sua mão e a carregou para o lado de fora da casa. Ele andava com a cabeça abaixada e com os passos rápidos, estava desengonçado deixando claro seu estado de embriaguez. A rua estava um pouco escura, sendo iluminada apenas pelas luzes que refletia da casa lotada de jovens.
Lizzie viu um carro se aproximar em alta velocidade, parando em sua frente de uma forma brusca.
- Entra no carro. - a pessoa que estava dentro do veículo disse com autoridade fazendo a garota ficar mais assustada. A pessoa mantinha o olhar congelado para frente, só mexia a boca. Mas ao ouvir sua voz embolada podia contatar que tinha bebido pelo menos um pouco de álcool.
- O quê? Eu não vou entrar ai, Boo! – olhou para a pessoa no volante o chamou pelo apelido que somente ela usava. Voltou seu olhar para o garoto ao seu lado. Lizzie arregalou os olhos para ele, demonstrando seu desentendimento e pavor.
O garoto mantinha uma pose firme, segurava sua mão com posse. Ele parecia estranho e olhava muitas vezes ao redor. Estava escuro na região que estavam, e isso deixava Lizzie mais temerosa.
Antes mesmo de tentar correr, o garoto abriu a porta do carro, e a empurrou para dentro sem delicadeza alguma.
- Me larga! Que porra é essa? -Lizzie gritou, mas já era tarde demais. O carro acelerou pela rua, deixando apenas o dono da voz rouca parado na calçada, vendo a loira se afastar aos poucos dentro daquele veículo sem placa.



Capítulo 1


O sinal indicando o fim da aula soou pelo corredor da North Academy Art. Fui a primeira da turma a me levantar e sair pela porta. Quanto mais rápido saísse dali, melhor, caso contrário, ficaria presa na porta junto com os outros estudantes afobados. Eu gostava das aulas de Literatura, principalmente quando quem dava aula era um professor por quem eu tinha um enorme carinho, que dava uma aula boa e bastante produtiva; deixava qualquer aluno bem atento, mas confesso que minha cabeça estava longe. Bem longe dali. Mais precisamente há uns três meses atrás.
Caminhei pelo largo corredor em direção ao meu armário vendo alguns estudantes me olharem torto, meio ansiosos, como se estivessem esperando a hora que eu iria começar a chorar e a me desesperar pelo o ocorrido em dezembro.
Mordi meu lábio inferior e revirei os olhos, em seguida abri a portinha do meu armário isolado no final do corredor e joguei ali dentro os livros das primeiras aulas. Parei o que estava fazendo ao avistar a foto colada no fundo. Eu e Lizzie abraçadas. Como melhores amigas apaixonadas, ou melhor, primas apaixonadas pelo carinho uma da outra. A foto havia sido tirada nas férias de inverno do ano passado. O rosto perfeito e pálido de Lizzie estava vermelho devido ao frio, e seus cabelos loiros estavam embaixo da toca de crochê, enquanto eu sorria espontaneamente tirando os meus cabelos castanhos claros dos olhos. Se soubesse que poucos meses depois daquela foto eu iria quase perdê-la, a trancaria num quarto e não a deixaria sair por nada. Minha pequena Lizzie. A culpa me consumia quase todas as horas do dia.
Meus devaneios são cortados ao sentir a presença de alguém ao meu lado. Me virei, encontrando os cabelo loiros e os olhos azuis preocupados de Carrie, minha melhor amiga.
- Como está sendo a terceira semana de aula? - Carrie me perguntou delicadamente como se estivesse pisando em ovos. Eu gostava desse cuidado, porém estava começando a me incomodar.
- Ninguém tem coragem de falar nada pra mim, ainda.- suspirei vendo as pessoas paradas no corredor me encarando. - Se bem que eu gostaria que elas parassem de me encarar e perguntassem logo o que diabos querem saber.
- Isso é normal. O pessoal ainda está chocado com o que aconteceu com ela, e você ser a prima dela chama atenção. - minha amiga deu de ombros e eu revirei os olhos como de costume.
- Não é normal. Eles querem que eu faça drama pois sabem o quanto ela significa pra mim. – disse encostando os ombros no armário e respirando fundo, eu só queria ir para casa, não fugir de todos e de seus olhares, mas sim deitar na minha cama e tomar um bom remédio para dores de cabeça.
- Vamos tentar superar isso. Eu estou aqui. - Carrie se aproxima com um pequeno sorriso de lado me dando um abraço, fechando em seguida o armário para mim. - Vamos para o refeitório, o pessoal está lá nos esperando, e eu pedi que guardassem um pedaço da torta de maçã pra você. Sei como é viciada nessa pequena perdição.
- Por isso que eu te amo. - falei enquanto entrelaçava meu braço no dela. Um pequeno sorriso apareceu em meus lábios. Eu dava poucos sorrisos desde o ocorrido, e quase todos eram por culpa de Carrie.
- Eu sei meu amor, o que seria de você sem mim? – a garota fez uma careta convencida arrancando risadas baixas de mim. Me perguntava o que será que Carrie estava fazendo na festa quando aquilo aconteceu.

***


Assim que entrei no refeitório todas as cabeças do lugar se voltaram para mim. Carrie até tentava disfarçar, mas eu sei que ela notou como os nossos 'colegas' de escola estavam me tratando depois do acidente. Andei ao lado de minha amiga até a mesa onde sempre costumávamos sentar com o resto do bando, como ela apelidava.
-Hey, princesa, senta aqui. - ouvi a voz de Eddie, em seguida ele me puxou para sentar ao seu lado no banco. - Tudo bem com você? - Eddie era um dos meus maiores confidentes. Assim como Carrie, eu sabia que podia contar com o garoto. Encarei os olhos verdes dele e tentei dar um sorriso.
Eddie era bem elegante. Tinha um sorriso invejável por todos, tão branco que chegava a brilhar, possuía um topete liso e castanho, olhos verdes extremamente claros, que deixava qualquer garota flutuando aos seus pés. Não, eu não era nerd, não sentava com nerds e essa baboseira clichê. Mas eu também não era popular, nem nada como Lizzie... Eu era, digamos que, normal. Assim como meus amigos.
- Na medida do possível. - respondi e vi os olhos de Ryan, Lauren e me encararem sentados a minha frente, enquanto Carrie se sentava ao meu lado esquerdo.
- Deve estar sendo difícil, mas você vai ver como esses abutres logo vão deixar você em paz. - Lauren comenta pegando na minha mão por cima da mesa. Ela havia se aproximado mais de mim.
Lauren era uma garota bem simpática. Se dava bem com todos, não tinha rixa com ninguém, além de ser muito gata e divertida. Ela não era do nosso grupinho até pouco tempo, na verdade ainda não é, mas gosta bastante de andar com a gente vez ou outra. Lauren não gosta de rótulos ou restrições, ela anda com quem quiser, sem essa de 'fazer parte'. Seus cabelos castanhos, olhos expressivos e rosto fino atraiam olhares masculinos - e femininos - o tempo todo.
- Deve ser estranho andar pelos corredores e não ver os cabelos loiros ou o sorrisinho irônico dessa tal de Lizzie por ai. - Ryan falou e todos os olhares da mesa caíram no rapaz o recriminando por tocar no nome dela daquele jeito, como se fosse um crime grave.
Ryan não era o ser mais sensível do universo, para ele esse drama todo era desnecessário. Não podendo esquecer que o garoto era novo na escola, ou seja, não chegou a conhecer Lizzie pessoalmente, mas já sabia bastante da garota pelo o que ouvia. Foi um choque para o britânico entrar na escola já com esse drama todo, aliás, colégio especializado em drama, era meio óbvio que isso aconteceria.
- Você é idiota assim mesmo? Ou se faz de inocente? - Carrie ralhou indignada com o garoto. As farpas entre esses dois foram imediatas assim que pôs os olhos nele. Era impossível passar um dia sem nenhum desentendimento entre os dois, se tornado assim um costume.
- Pelo amor de Deus, vocês nunca vão resolver essa tenção sexual? Fala sério, vocês se conhecem há umas três semanas. - Eddie comentou fazendo todos da mesa rirem baixo, inclusive eu, arrancando de Carrie um olhar de eu-quero-te-fuzilar-agora.
- Não precisam ter receio de falar sobre esse assunto comigo ou perto de mim, gente. Não quero ninguém com o pé atrás. Eu tenho 17 anos e sei lidar com o que aconteceu, mesmo isso mexendo comigo. - disse fazendo eles concordarem comigo. Olhei para pelo canto do olho e o garoto parecia totalmente avoado, comendo seu lanche como se nada tivesse acontecido.
- Vamos mudar de assunto okay? Já basta todo mundo ficar tratando a de modo diferente. O que aconteceu foi triste, nós todos sabemos e acompanhamos de perto, mas a realidade é que temos que superar e pensar positivo. - Eddie terminou de falar e todos na mesa mudaram de assunto rapidamente.
Olhei para o garoto dando um beijo em seu rosto quadrado como agradecimento, e ele me deu um sorriso reconfortante passando o braço pelos meus ombros, me puxando para perto de seu peitoral quente. Eddie era o ser mais cuidadoso que existia na terra, o melhor amigo que uma garota poderia ter. Eu sei que o sonho da grande maioria das garotas era ter um melhor amigo gay, mas Eddie Turner estava longe de gostar do outro fruto.
Durante o restante das aulas as pessoas ainda me lançavam alguns olhares de pena. Era inevitável, com o tempo eu talvez pudesse me acostumar. Alguns professores vieram falar comigo, me bombardeando de perguntas sobre Lizzie. Eu tentava passar a maior esperança e pensamento positivo possível mas a cada dia que passava eu mesma já ia desacreditando aos poucos.

***


Há três meses atrás, em dezembro, um acontecimento chocou o corpo estudantil da North Academy Art.
A tão popular aluna, Lizzie Lee , havia sofrido um acidente de carro no final da última festa do ano letivo. A garota havia sido encontrada desacordada no banco do passageiro de uma Land Rover sem placa e sem documentos, quase toda destruída depois do carro perder o controle e capotar na saída da cidade de New York.
A grande incógnita do caso era: Quem estava dirigindo o carro?
A perícia havia fuçado tudo que podiam atrás de pistas e nada. Nenhuma digital, nenhum fio de cabelo, nenhum rastro de sangue ou até mesmo marcas de agressão no corpo da garota. Era como se Lizzie tivesse entrado sozinha no veículo e sabe-se lá o que aconteceu naquela noite.
A verdade é que nenhum dos alunos lembrava-se de nada. Nas festas era comum o uso descontrolado de álcool e drogas. Não havia ninguém sóbrio que pudesse dar um depoimento decente.
A repercussão na mídia logo foi acabada pelo poder e prestígio que a escola tinha. O diretor conservador não poderia deixar que um acidente envolvendo uma aluna e uma festa de adolescentes acabassem com a reputação de uma das melhores escolas de arte da cidade.
O que aconteceu com Lizzie? Bem, ela foi encontrada e levada para o hospital. A garota sofreu traumatismo craniano tendo seu sistema nervoso central comprometido, entrando assim em um coma sem nenhuma melhora nos últimos três meses.
A revolta e a culpa atingiam em cheio. Ela sempre foi protetora em relação a Lizzie, desde crianças. Mesmo sendo apenas um ano mais velha que a garota, era mais responsável e pé no chão, ao contrário da prima mais nova, que sempre dizia viver a vida intensamente e recriminava por ser tão 'centrada'.
Ela não entendia e não aceitava o acidente de sua prima. sentia que muita coisa ainda estava escondida, mas seu desejo de justiça não a deixava. Não iria desistir de encontrar o culpado pelo trauma de Lizzie.
Mas o pior era: Todas as pistas estavam em branco.

***


No final da aula, me despedi rapidamente dos meus amigos e fui andando rumo a minha casa. Eu não estava com cabeça para aguentar mais nenhum minuto naquela escola. Só queria chegar em casa, tomar um banho, me deitar na cama e lançar um foda-se mental para cada um dos que me olharam enviesado hoje.
Um bando de filhinhos de papai, bêbados e drogados. Como pode nenhum lembrar da noite do acidente? Nenhum ter visto Lizzie no final da festa? Eu me culpava também por não estar sóbria o suficiente para lembrar de alguma coisa importante. Nem mesmo meus amigos que também estavam na festa. Ninguém parecia ter visto Lizzie no local e isso era frustrante, já que ela sempre chamava atenção por onde passava. Minha prima possuía o próprio sol brilhando ao seu redor. Era popular e desejada por quase todos os garotos da NAA. Uma festa não começaria sem sua cordial presença, então por que simplesmente ninguém sabia de nada? Será que ela estava com alguém aquela noite? E se ele fosse o culpado?
Entrei em casa apressadamente e percebi que teria um pouco de paz, graças a Deus, sem precisar fazer um monólogo sobre mais um dia de aula para meus pais, já que eu estava sozinha. Subi para meu quarto, joguei a mochila num canto e me deitei na cama, sendo abraçada pelo cansaço.
***


– Esse é o mais pesado que consegue levantar? – Ryan perguntou debochadamente levantando um peso de 50 quilos com uma mão, e quase deixou o objeto cair em seu próprio pé. – Merda! Essa foi quase.
¬– Vai nessa, fortão, assim você vai conseguir conquistar a Carrie. – sorri de lado. – E perder um pé. – dei uma piscadela leve para o meu amigo enquanto ria baixo da infantilidade dele.
– Ah, qual é, , para de ser um saco. – Ryan revirou os olhos e se sentou no chão com as pernas esticadas. – E a Carrie é a maior gatinha, tá? Mas vocês são exagerados demais, eu só falei que ela é bonitinha e já acham que quero casar com a garota, pelo amor de Deus.
– Fica nessa de bonitinha, bonitinha e tal, que daqui a pouco ta beijando e transando com ela... – suspirei longamente largando o peso e sentando ao lado dele em seguida. – Ai quando você menos espera, a garota tá apaixonada por você. E você se fode.– deitei no chão relaxando todos os meus músculos.
– Nossa, cara! Que droga, hein. Quem é a garota? – Ryan perguntou tirando sua camisa do corpo e a jogando longe. Benny levantou de onde estava deitado e correu para pegar a camisa com a boca e abanar o rabo em seguida.
Às vezes eu queria ser um cachorro, viver a vida sem preocupações, ficar feliz por qualquer baboseira... Seria tão mais fácil.
– Longa história... Prefiro não dizer. – murmurei me levantando do chão e caminhando na direção de Benny, ele era o único capaz de me colocar para cima e reforçar minhas energias depois de malhar. Puxei a blusa de Ryan da boca do meu animal de estimação e joguei por cima do meu ombro esquerdo. – Hey, Benny! Esta gostando de assistir nossa malhação?
Benny era um bebezão, um labrador de quatro anos. Meu eterno melhor amigo, desculpa Ryan.
Ryan e eu nos conhecemos a bastante tempo. Nossos pais se conheceram em uma viagem a trabalho e viraram muito amigos. Eu frequentava a casa dele e ele a minha nas férias. Quando soube que Ryan iria se mudar para Nova Iorque, meu pai logo disse para ele estudar comigo, e foi o que aconteceu.
Ben começou a andar pela academia e eu o segui tentando tirar algo que estava preso em seu pelo, quando ele parou em frente ao enorme espelho e eu levantei a cabeça para encarar meu reflexo. Respirei fundo observando a minha imagem. Tudo que eu conseguia ver naquela imagem era um jovem de apenas 19 anos, cansado, os olhos verdes com o brilho fraco, os cabelos castanhos arrumados de forma bagunçada no belo estilo foda-se.
– Caralho, eu estou um caco. – cocei os olhos e virei minha cabeça fazendo um barulho alto ao estalar. Virei meu rosto para baixo na direção de Benny e sorri fraco.
– Então, vamos nessa? – Ryan perguntou se levantando do chão, acho que ele tinha tirado um leve cochilo, porque ficou em silêncio. – Não quero chegar muito tarde em casa. – veio em minha direção e pegou sua camisa para vesti-la de volta.
Ryan e eu saímos da academia com Benny na coleira ao meu lado, andando pela rua bastante movimentada de Nova Iorque, a cidade que nunca dorme. Já estava escurecendo, então a cidade ficava mais bonita ainda. No meio do caminho, quando estávamos passando entre a Times Square um homem vestido de Papai Noel veio cumprimentar a gente, mesmo já estando em Fevereiro. Coisas assim costumavam ser normal nessa cidade louca.
Após alguns minutos de caminhada, passamos na frente da casa de , e eu me perguntei qual seria o clima por ali? Como estaria a família lidando com todo esse caos? O que estava fazendo agora?
e Lizzie sempre foram muito coladas. vivia falando o quão anjinha e calminha sua prima de 16 anos era. Hum, coitada... achava conhecer muito bem sua prima querida. Confesso que as vezes eu pensava que ela era meio cega. De anjo a Lizzie só tinha o rosto.
Falando em rosto, as primas eram bem bonitas, mas cada uma de um jeito diferente. Lizzie andava com o queixo levantado e a bunda levemente empinada, exibindo seus cabelos loiros de um lado para o outro, espalhando seu perfume característico por toda a escola. Nas festas aquela garota era incrível. Se você frequentou uma festa com Lizzie e não sentiu vontade de dar uns apertos naquela bunda, amigo, você tem problemas.
... A garota era mais reservada, não gostava de chamar atenção como Liz, mas ninguém poderia negar sua beleza. Sinceramente ela não era do tipo de apenas se pegar em uma festa, e sim aquele que você levaria para conhecer sua família.
Apesar de fazermos parte do mesmo grupinho, não conversamos tanto. Nossos papos nunca foram pra frente e as vezes os olhares dela me incomodam por serem bem expressivos e decisivos. Os cabelos castanhos em uma tonalidade clara, quase mel, a pele branquinha e frágil, me lembrava uma boneca de porcelana. Eu a ouvia reclamar de suas sobrancelhas vez ou outra com Carrie, por serem bastante grossas e grandes, mas para mim eram o grande detalhe especial de seu rosto, além dos olhos.
– Bom, é isso, valeu por me ignorar a maior parte do caminho, irmão. – Ryan disse parando na minha frente e estendendo a mão para eu apertar. Ri fraco percebendo que comecei a viajar depois de passar pela casa da .
– Te vejo amanhã na escola então. – apertei a mão dele, e depois observei o rapaz subir os pequenos degraus. – Ryan! – meu amigo virou o rosto em minha direção e ergueu uma sobrancelha. – Lizzie . – disse simplesmente fazendo-o me encarar em choque. Ele tinha entendido.
Abaixei a cabeça deixando claro que não falaria mais nada, enquanto o garoto entrava em sua casa.
Lizzie havia se apaixonado por mim, nunca pensei que isso viesse a acontecer...
Virei meu corpo continuando o caminho até minha casa, dois quarteirões depois dali.
***
Era por volta das 5 horas quando abri a porta de casa. Soltei a coleira e Benny entrou correndo pulando em cima do sofá, deitando a cabeça na perna do meu pai, que assistia televisão de um jeito todo jogado. Minha mãe apareceu por lá secando uma louça com um sorriso reconfortante.
– Como foi hoje lá? – ela perguntou deixando o prato e o pano em cima da mesa se aproximando de mim com as mãos na cintura. Franzi o cenho e me encostei na parede.
– Quer saber como foi malhar com o Ryan? Normal. – disse coçando os olhos cansado. Minha mãe riu baixo e negou levemente com a cabeça.
– Não, . Perguntei da escola, não estava em casa quando você chegou para almoçar. – ela disse puxando uma cadeira da mesa de jantar e se sentando, seus grandes olhos me encarando com ternura.
– Ah, foi normal. O mesmo clima do inicio das aulas por causa de Lizzie e a pressão em cima da coitada da . – murmurei revirando os olhos, as pessoas eram tão insensíveis. Não viam a fragilidade da garota e a bombardeavam com olhares de pena e curiosidade.
– Tudo bem meu filho, suba e vá descansar. – ela disse levantando da cadeira a arrumando em seu devido lugar. Dei alguns passos em direção a escada e senti minha mãe bater de leve em minha bunda. Franzi o cenho e a encarei, ela simplesmente sorriu e eu voltei para o caminho do meu quarto.
Antes de entrar no meu cantinho favorito, vi a porta ao lado se abrir e exibir minha irmã mais velha, Kate. Ela usava um vestido azul tomara que caia, tinha uma maquiagem pesada no rosto e os cabelos presos em um coque desarrumado. Kate era gata, mas incrivelmente chata.
– Tá olhando o que? – a voz irritante da minha irmã mais velha soou impaciente. Soltei um riso baixo, mordendo o lábio.
– Tá tão arrumada assim para ir aonde? Posso saber? – disse me encostando na parede entre nossas portas. Kate franziu o cenho e revirou os olhos para mim, ela parecia ter nojo ou raiva, as vezes acho que ela queria ser filha única.
– Vou sair com meu noivo, diferente de você eu sou uma adulta e posso sair de noite. – disse apertando a minha bochecha como se eu fosse um bebê. – E por ser adulta, também, não preciso dar satisfação da minha vida para você ou para ninguém, com licença. – ela se virou para sua porta e a trancou, seu quarto era totalmente intocável. Somente minha mãe entrava ali. E as amigas é claro.
Kate guardou a chave dentro de sua bolsa pequena e me lançou um sorriso forçado, ela começou a caminhar até as escadas rebolando o quadril, como se algum outro garoto além do seu irmão mais novo estivesse ali. Rolei os olhos quando Kate parou no meio do caminho, se virando para mim com uma cara de curiosidade.
– Aquela garota já saiu do coma? – perguntou erguendo uma sobrancelha.
– Não. – resmunguei fechando a cara por ela tocar naquele assunto.
– E você já decidiu a faculdade que quer cursar? – cruzou os braços e fez uma pose durona, como se fosse minha mãe. Essa autoridade dela me irritava.
– Olha, assim como eu não posso me meter na sua vida, você também não pode se meter na minha. Direitos iguais. – pisquei um olho para ela. – Deixa que a minha faculdade decido eu. – falo, me virando para entrar no meu quarto, mas ela me segurou pelo braço.
– Para de ser mimado e tenta tomar um rumo nessa vida boa que você leva, tá fácil demais pra você, acha não? – ela disse. Bufei dando as costas para Kate e entrei como um furacão em meu quarto, trancando a porta e ouvindo a risada escrota da minha irmã do lado de fora.
Tirei minha blusa rapidamente e a joguei num canto qualquer do quarto. Deitei na minha cama de barriga para cima e suspirei. Eu estava cansado. E necessitado de sexo.
Eu estava exausto de pensar demais no que eu queria me formar, mas óbvio que será ligado ao ramo artístico. Toco alguns instrumentos como violão, guitarra, bateria e piano. Não tenho saco para tocar baixo porque as cordas são grossas e pesadas e eu não tenho paciência pra isso. Sei cantar um pouquinho também, mas me incomodo por não curtir ouvir minha voz em gravações.
Mas além da música em gosto bastante de atuar, me sinto livre ao decorar alguma fala e colocá-la para fora de forma livre do jeito que eu achar certo. Eu sempre me porto de forma espontânea, então diria que sou um bom ator, por isso estou no Teatro. Tive que insistir bastante para os meus pais me colocarem na North Academy Art. Meu pai sempre quis que eu fizesse uma faculdade de direito ou medicina... Coisas assim, longe de algo incerto como é a arte, mas eu preciso ser quem eu sou, isso é uma coisa que ele não entende, já que continua insistindo em mudar meu pensamento.
Suspirei profundamente e coloquei uma música no celular. Tocava algum rock clássico quando meu olhar pairou na minha parede abarrotada de pôsteres de bandas. Fechei os olhos, e não sei por qual razão eu me lembrei na noite da festa.
Eu descia os degraus da escada rapidamente, mas meio tonto por conta do álcool. A música alta quase estourava meus tímpanos mas eu nem ligava, estava feliz andando a passos largos querendo mais um copo daquela bebida azul deliciosa que um garoto qualquer me fez provar. Pessoas conversando alto, gritando, outras gargalhando, algumas – muitas – dançando e vários grupinhos em vários cantos da grande casa, que aparentemente seria destruída completamente. Mas foda-se! Isso é uma festa! Eu sabia que alguns rosto eu não veria novamente pelos corredores da NAA, alguns iriam se formar esse ano, alguns deles inclusive eram meus amigos. Mais ao longe vi Mike quase se comendo com uma garota loira no sofá, por um segundo pensei ser Lizzie, mas me enganei. Puff, claro que não era ela. Andei mais um pouco e acabei me esbarrando contra alguém que aparentava estar bem mais bêbado que eu e pelo visto sob efeito de algumas drogas, oferecidas pelos garotos do último ano. Naquela noite eu não tinha experimentado nenhuma até então. - Eddie, seu idiota! Vai vomitar? – não deu tempo dele responder, estava com o corpo inclinado para frente e despejava um jato forte que me fez virar o rosto com nojo, fez as pessoas próximas se afastarem rapidamente. Segundos depois eu vi uns cabelos loiros se aproximarem rapidamente para ajudar Eddie. Carrie estava enfiada em um vestido preto, curto e bem ousado. Nunca tinha reparado em suas curvas antes. Dei de ombros e continuei andando pela festa, quando sinto uma mão me puxar pelo braço e me colocar na frente de uma mesa de pingpong, ou melhor, beerpong. Sorri malicioso encarando Lizzie na outra extremidade da mesa e segurei a bolinha branca como se minha vida dependesse dela. Joguei a bolinha contra a mesa conseguindo acertar um dos copos. Ah qual é, eu era muito bom naquele jogo, mesmo já estando um tanto alterado. Lizzie bebeu o conteúdo do copo e em seguida jogou a bolinha acertando um dos meus copos. Jogador bom versus jogadora boa... Hum. Quando eu ia pegar o copo para beber, a garota se aproximou de mim em seu vestido vermelho tão curto que seria capaz de ver sua calcinha... Preta! – Hum, ... Não precisa beber, eu quero outro tipo de prêmio. – murmurou baixo em meu ouvido e grudou nossos corpos com um só puxão. No segundo seguinte eu não via mais nada, só conseguia sentir os lábios e a língua de Lizzie . Arregalei os olhos e levantei da cama em um pulo. Será que alguém se lembrava de nós dois se beijando naquela noite?

***


– Mãe! To indo lá! – gritei já da porta para que ela ouvisse. A mulher veio correndo em minha direção com uma expressão de desaprovação.
- Não, ! Está ficando tarde, fique em casa. – ela disse cruzando os braços e fazendo uma expressão de raiva no rosto, era mais fofa do que medonha.
- Não, mãe, eu prometi para ela. – disse ignorando qualquer coisa que ela tinha para dizer e sai porta afora balançando a chave de casa nos dedos, coloquei dentro no bolso do casaco e comecei a andar.
A tarde estava mais fria, e eu odiava frio, mas por ela eu faria qualquer sacrifício.
O hospital não ficava muito longe da minha casa, apenas um quarteirão, andei apressadamente para me aquecer dentro no ambiente hospitalar.
Assim que me vi de frente a grande e escandalosa entrada do hospital que minha prima estava, eu sorri fraco. Odiava ter que passar por aquela situação, mas a vida é inesperada. Uma hora eu estava a abraçando e dançando uma música qualquer da Rihanna, que nem duas loucas, e horas depois eu acordo com a notícia que fez minha vida virar de cabeça para baixo.
Entrei dentro do hospital e a recepcionista que já me conhecia, Hanna, me pediu para esperar uns segundos que o médico de Liz me chamaria. Alguns minutos sentada ali ouvindo algumas pessoas fungando e novos pacientes chegando, o médico me chamou para a visita de Lizzie.
– Oi, priminha. – sussurrei fechando a porta atrás de mim e sentindo meu coração apertar. Caminhei lentamente até sua cama e levei minha mão até a sua, apertando de leve para demonstrar conforto. – Seja forte. – fechei os olhos, essas eram sempre as duas primeiras palavras que eu falava para ela quando ia visitá-la, depois de “Oi, priminha”.
Me sentei na cadeira que estava posicionada ao lado da cama.
– Eu to lutando pra saber o que aconteceu aquela noite, Liz... Quem fez isso com você. – mordi o lábio inferior com força. Era tão ruim ver ela naquele estado. - Eu prometo a você que eu vou descobrir o culpado. Eu sinto que algo está errado... E eu vou descobrir o que.


Capítulo 2


Levantei da minha cama sentindo meu corpo implorar por mais algumas horas de sono. A única alegria que eu tinha era saber que hoje era sexta feira, ou seja, iria poder hibernar no final de semana, e iria passar dois dias sem ser o foco das conversas da North Academy Art.
Depois que eu cheguei do hospital, meus pais pediram o relatório inteiro de como foi o dia na escola. Eu menti, é claro. Não queria dizer pra eles que mesmo depois de semanas, eu ainda era vista como a pobrezinha que quase perdeu a prima. Bom... O que não era mentira. Mas o pessoal não via a insensibilidade de tratar daquilo de uma forma tão normal. Era como se para eles eu não estivesse mal pelo coma de Lizzie.
Caminhei até o meu guarda roupa tropeçando algumas vezes por causa do sono. Peguei minha roupa para a escola que consistia em uma calça jeans e uma blusa com decote discreto. Regras da escola. Todas as roupas femininas deveriam ser assim, mas poderia escolher entre uma calça ou uma saia. Lógico que algumas garotas não respeitavam e usavam um decote gigante e uma saia minúscula, mas eu não gostava de ser vulgar e sair mostrando meus seios e minhas pernas para todo mundo.
A minha calça jeans era branca e a minha blusa era azul bebê. Coloquei um elástico de cabelo no meu pulso como se fosse uma pulseira, iria precisar usar rabo de cavalo hoje. Eu odiava rabo de cavalo, me deixava com o rosto gordo, mas era necessário.
Desci as escadas correndo enquanto colocava a minha mochila presa em meus ombros. Minha mãe não estava mais em casa, já que ela saia para trabalhar meia hora antes de eu ir para escola.
Passei na cozinha para beber um copo de água e em seguida caminhei apressada até a garagem, onde meu pai me esperava já dentro do carro. Sorri para ele e lhe dei um beijo na bochecha.
- Como você está? – ele perguntou saindo da garagem e acelerando o carro em seguida. – Está com as expressões faciais meio caídas.
- Eu estou com sono, pai. – ri baixo revirando os olhos e pegando um espelho dentro da minha mochila, eu estava cansada. – Não sou que nem você que já acorda com o sorriso do Coringa no rosto. – ele me deu uma breve encarada e voltou a atenção para a rua movimentada de Nova York.
Depois de uns vinte e cinco minutos meu pai parou na frente da escola. Assim que pisei para fora do carro vi o grande movimento de alunos entrando no colégio. A North Academy Art era uma escola voltada para o mundo das artes. É claro que tínhamos as matérias normais de qualquer ensino médio, como Matemática, Física, Inglês... Mas o foco naquele lugar era na carreira artística. No meu caso minhas específicas eram dança e artes cênicas. Eu sou completamente apaixonada por essas duas formas de expressão, e sonho conciliar ambas no futuro. Além da dança e do teatro, a escola tinha na grade curricular televisão e cinema, música, moda, literatura, artes plásticas e artes visuais.
Mandei um beijo para o meu pai e comecei a caminhar pelo extenso campo em direção a Carrie, que estava sentada em baixo de uma das enormes árvores que tinha naquele gramado. A escola era repleta de árvores e flores coloridas, o que dava um visual bem bonito. A menina estava com alguns tecidos coloridos nas mãos, parecia estar bastante atenta encarando-os. Eu soltei um riso ao perceber que ela estava agoniada.
- Bom dia, Ca. – dei um beijinho em sua bochecha e me sentei ao seu lado largando minha mochila na grama. - Pra que são esses tecidos? - perguntei erguendo uma sobrancelha. Carrie me lançou um sorriso grande, assim como o do meu pai.
- Bom dia, raio de sol. – disse guardando os tecidos em sua mochila. – São para a aula de tecnologia têxtil. - ela disse passando os dedos pelos enormes fios loiros, para penteá-los. - Eu peguei algumas amostras. - Carrie cursava moda e televisão, mas moda era sua prioridade. Ela vivia dizendo que ia ser uma estilista famosa de Nova York, e que milhares de celebridades vão usar suas obras.
- Hum, que legal. - comentei lhe lançando um sorriso de lado. Carrie pegou meu braço e entrelaçou no seu, me puxou para cima para que começássemos a andar para dentro da escola.
- E você? O que tem hoje? - a loira perguntou ajeitando a alça de sua mochila nas costas, dei um sorriso bem aberto dessa vez.
- Tenho teatro hoje. - confesso que quando era dia das minhas aulas preferidas eu esquecia completamente o mundo ao meu redor, e todos os problemas que existiam nele. Era como se só existisse eu e o palco.
Entramos no colégio com os braços entrelaçados, desviando dos alunos no corredor e fomos em direção a sala da garota.
- Bom, tenha uma boa aula hoje... - ela disse soltando o meu braço e parando de andar, a abracei e em seguida fui em direção ao vestiário para trocar de roupa. A maioria dos alunos gostava de participar das aulas com uma roupa mais confortável ao invés de jeans e camiseta.
Entrei dentro do vestiário e segui para o meu armário. Peguei minha chave dentro da mochila e abri revelando minhas roupas confortáveis para a aula. Entrei dentro de uma das cabines para trocar de roupa. Minha roupa consistia em uma calça legging preta e uma blusa branca soltinha. A blusa tinha uma abertura grande dos lados, me dando uma sensação de conforto extremo.
Quando estava saindo da cabine, duas meninas que também faziam aula de teatro ficaram me encarando descaradamente. Tentei dar de ombros e não ligar pra isso enquanto guardava minhas roupas no armário, mas senti uma delas começar a andar até a minha direção e tocar levemente em meu ombro, me chamando.
- Eu sinto muito pelo que aconteceu com a Lizzie. - a morena baixinha falou com um sorriso verdadeiro e reconfortante nos lábios, e eu assenti em agradecimento. Mas estranhei quando a loira que estava atrás dela bufou, e revirou os olhos com os braços cruzados, demonstrando uma pose desacreditada.
- Ah qual é... - ela disse se aproximando de nós. - Eu sei que foi uma droga o que aconteceu com a Lizzie, mas cara, a menina não era nenhuma santinha também.
- Cala a boca, Claire. - a morena falou puxando o braço da tal Claire, a repreendendo. A loira soltou um riso alto e irônico.
- Ela era uma vadia. Todos sabiam. Era nojenta, fresca, fria, calculista... Ninguém gostava dela de verdade, e sim do que o status de andar com Lizzie significava. - Claire falou sem a menor delicadeza, e eu senti uma raiva tremenda tomar conta de mim em segundos.
- Não ouse falar da minha prima assim! Você e nem mais ninguém dessa merda de colégio conheciam ela. - gritei fechando a porta do armário com força. As duas garotas me olharam espantadas pelo meu tom de voz alto, e começaram a andar apressadas em direção a saída do vestiário.
- Você está errada, ... Você que nunca conheceu a Lizzie. – a loira disse antes de sair pela porta, me deixando incrédula com aquela cena.

***


Entrei na sala de teatro meio distraída pelo que aconteceu. A frase da tal Claire tinha ficado na minha cabeça, e uma sensação de raiva não parava de crescer em meu peito. Eu conhecia minha prima muito bem. Eu tinha certeza disso, não tinha? Claro que tinha! Lizzie sempre pareceu não ligar para popularidade, mesmo que ela tivesse. Era como se ela não forçasse, não se preocupasse. Liz chamava atenção, querendo ou não. Seu sorriso nunca foi falso, ela não era falsa, longe disso! Lizzie sempre dizia a verdade e dava conselhos fantásticos, bom, pelo menos pra mim. Ela não era nojenta nem fresca, minha prima quem matava as baratas quando éramos menores. Fria e calculista? Pelo amor de Deus, Lizzie vivia jogando aqueles cabelos loiros de um lado para o outro espalhando seu perfume doce, sorria sempre ao pisar dentro da NAA, sorria para todo mundo. Aquela garota não tinha o menor direito de falar da Liz daquele jeito. Estava mais que claro que ela não conhecia minha prima.
Me dei conta que estava parada no meio da sala encarando o chão com raiva, minhas mãos estavam fechadas em punho e minha postura estava tensa.
A professora entrou na sala e rapidamente nos sentamos em um círculo único e enorme no chão.
- Bom dia pessoal, vamos começar a aula com o nosso aquecimento, que eu sei que vocês adoram. – ela disse arrancando risadas baixas da turma. - Algo bem leve, aqueles exercícios de sempre. - Angel disse amarrando seu cabelo em um rabo de cavalo. Todos concordaram em silêncio, se levantando em seguida.
Tirei o elástico do meu pulso e prendi meu próprio cabelo, eu odiava aquele penteado. Tentei dar uma melhorada no visual deixando alguns fios soltos. A professora caminhou até a caixinha de som e ligou a música, a batida era bem suave. Olhei para os lados e percebi que estava sentado um pouco distante de mim e encarava Mike, que estava sentado exatamente a sua frente. Mike era um dos garotos mais populares da North Academy Art e não gostava de concorrência, coisa que ele sentia com . Eu só sabia disso. e Mike tinham alguma história que eu nunca tive interesse de me aprofundar, claro que já tive vários momentos curiosos com essa rixa entre eles, mas preferia ficar na minha e olhar de longe. Eles não se gostavam, e aquilo era mais que evidente para todos.
- Andando! – Angel gritou batendo uma palma. Todos os alunos se levantaram do chão e começaram a andar pela sala no ritmo da música. As vezes eu esbarrava ombro com ombro em alguém, mas isso já era costume. A sala era grande, mas tinha bastante aluno.
- Agora eu quero que vocês sintam a música, comecem a mexer o corpo da forma que quiserem. – a música que tocava era Habits da Tove Lo. Comecei a mexer meu corpo da forma que julguei ser a mais apropriada, seguia os movimentos no ritmo. Esticava meus braços e mexia a cabeça soltando todos os meus músculos, era uma dança meio escrota, mas todos estavam fazendo aquilo. – Agora eu quero todo mundo engatinhando. – ela disse e a sala inteira foi para o chão.
Eu andava entre meus amigos engatinhada, me sentindo um gato. Rebolava meu quadril e isso me deixava meio envergonhada, porque a pessoa atrás de mim estava tendo total visão de minha bunda daquele legging apertado. Meu joelho já estava começando a doer.
- Agora eu quero que vocês relaxem seus corpos e deitem lentamente no chão. – a voz de Angel ecoou enquanto ela trocava de música. Eu já estava deitada quando comecei a ouvir os primeiros sons da nova música. Era calminha e bem relaxante. Say Something da Christina Aguilera com A Great Big World. – Fechem os olhos e se imaginem dentro de um vídeo clipe. Relaxem.
Fechei meus olhos e comecei a seguir as instruções da professora. Primeiro eu me imaginei correndo, correndo em um corredor grande com as paredes brancas. Estava iluminado, mas as luzes iam se apagando atrás de mim. Finalmente eu consegui sair daquele corredor e abrir a porta com força jogando o meu corpo para o lado de fora. O que vi ao meu redor era bem diferente do que eu poderia imaginar. Um campo enorme e verde. E eu estava completamente sozinha.
Comecei a andar pelo campo reparando que só tinha grama. Nem árvores, nem flores... Só grama.
Mas eu meu enganei, não estava sozinha. Ao longe pude perceber um corpo de costas, enquanto o vento fraco bagunçava seus cabelos.
Voltei a correr, mas dessa vez eu não estava fugindo de nada e nem de ninguém. Eu me aproximava da pessoa com um sorriso confiante nos lábios, mas enquanto me aproximava pude notar melhor quem era. Lizzie.
- Okay, pessoal. Agora levantem e podem se sentar, a aula vai começar. – abri os olhos com um leve susto e me sentei imediatamente, os adolescentes ao meu redor já estavam em pé indo cada um sentar em um determinado lugar. Eu estava atônita.
- Vou dividir vocês em duplas. - Angel anunciou dando pause no som, ela fechou os olhos usando uma mão para cobri-los. Eu já estava sentada com as pernas cruzadas, ao meu lado estava Mike. Angel bloqueou sua visão e apontou para uma garota ruiva. – Jessie e... – voltou ao sorteio e parou o dedo em um garoto de cabeça raspada. – Victor!
O “sorteio” continuou até todas a duplas estarem formadas. Acabou que meu parceiro escolhido foi . Ele me lançou um sorriso fofo e veio em minha direção com sua pose despreocupada.
As duplas se juntaram, já estava parado ao meu lado. Ele usava um short largo e uma regata de algum time de basquete de New York.
- Hey, . Bom dia. - ele disse lançando aquele sorriso que derretia qualquer garota. era bem charmoso, e ele sabia disso, apenas não espalhava isso para todo mundo, ou usava a seu favor. Ele sabia se comportar.
- Bom dia, . - eu disse lhe retribuindo o sorriso, mas sem mostrar os dentes, eu não gostava deles. A professora começou a explicar como seria a primeira atividade.
Começamos a nos alongar. Enquanto esticava os braços percebi que Mike nos encarava. só sabia bufar ao meu lado.
- Por que ele fica te encarando? - perguntei interessada deixando um riso frouxo escapar.
- Por que ele é um babaca, filho da puta. - o garoto respondeu áspero e eu o encarei meio assustada. – Eu não gosto dele.
- Ele foi no hospital ver a Lizzie, e parecia ser bem legal na verdade. - falei dando de ombros. parou de se alongar no mesmo segundo e ficou surpreso com a minha fala, me encarando com os olhos pegando fogo.
- O fato dele ter ido na droga de um hospital não faz ele uma pessoa boa. - o garoto ralhou frustrado e eu me encolhi dando um passo para trás.
- E por que você nunca foi visitar a Lizzie? Ou por que nunca pergunta dela? Vocês eram próximos e... ¬- antes de conseguir terminar a frase, segurou meu braço com certa força e se aproximou de mim rapidamente, quase colando seu rosto no meu.
- Você não precisa saber o que eu faço ou deixo de fazer. - disse, e eu puxei meu braço de volta com força franzindo o cenho para ele, o empurrei pelo peito para se afastar de mim.
- Para de ser ridículo! Que foi? Ta na TPM? – perguntei debochada voltando a me alongar. Sua atitude me deixou muito confusa... Ele estava estranho desde o acidente. – Por que você tá agindo assim?
- Acabei de falar que... – cortei ele sem paciência.
- Tá bom, . – bufei cortando o assunto ali. Não queria mais conversar com ele. Voltei o meu olhar para Mike e vi que ele tinha reparado no pequeno conflito, já que um sorriso dançava em seus lábios.
Mike Adams era um garoto bem bonito. Lizzie já havia me falado bastante dele, e no dia que ele foi visitá-la no hospital nós conversamos um pouco. Ele me contou de algumas cenas que aconteceram entre ele e minha prima, que me fizeram gargalhar. Me contou que ela fez ele experimentar Sex On The Beach pela primeira vez e que ele fez ela assistir o filme que hoje é seu preferido. Além de me parecer bastante legal, Mike era muito simpático. Se ele chegasse em mim eu jamais diria não. Não era a toa essa popularidade toda.
- Daqui a pouco tá transando com ele. – ouvi a voz desacreditada de ao meu lado e arregalei os olhos dando um tapa estalado no braço dele. – Ei!
- Cala a boca! Do que você tá falando? – desviei o olhar envergonhada e voltei aos alongamentos novamente. ficou reto ao meu lado e riu com gosto.
- Você estava secando ele. – disse com nojo na voz. – Se quer um conselho...
- ''Não se aproxima dele.'' – falei tentando imitar sua voz rouca e revirei os olhos. – Olha, ele é bem bonito, e eu sou uma mulher. – ri baixo e cruzei os braços para ele. – Eu não sei o que há entre vocês dois, e também não me interessa.
- Não precisa ficar ofendida. – ele bufou se sentando no chão e apoiando a cabeça nas mãos. – Tô nem ai se quer transar com ele, vai fundo. Só depois não vem dizer que não avisei.
Respirei fundo e soltei um riso triste, me sentando ao seu lado no chão.
- Nós somos do mesmo grupo de amigos e nem nos falamos tanto. – ele voltou a dizer e eu estranhei o novo assunto. – E quando nos falamos, nos desentendemos. Somos tão diferentes, . – voltou seu olhar para mim e eu me senti intimidada.
- É... Somos. – desviei o olhar do dele e comecei a encarar os alunos. – Eu sou muito diferente de você, assim como eu sou muito diferente da Lizzie. Talvez vocês sejam iguais... Talvez seja por isso que você escolheu aquela . – eu disse me arrependendo no segundo seguinte ao ver o garoto arregalar os olhos para mim. Percebi que minha frase deixou parecer que eu estava chateada com aquele fato. – Não! Não que eu esteja incomodada por você ter uma relação íntima com a minha prima, eu... Não foi isso que eu quis dizer, Deus! – ele riu alto e eu senti minha bochechas esquentarem.
- Relaxa, . Eu entendi. – disse me fazendo rir baixo. – E pode ser que esteja certa... Porque eu jamais ficaria com você. – ele disse com um sorriso nos lábios. Eu sorri fraco e virei o rosto para o lado oposto. Ele não tinha dito de um jeito ruim. Não era para eu ficar chateada com aquela fala, mas me deixou mal.
Eu sei que Lizzie sempre foi mais bonita que eu... Mas eu não me achava feia. Bom, aquele comentário me fez me sentir mais lixo ainda. Não que eu quisesse ficar com ele, isso nunca se passou pela minha cabeça, mas... Será que os outros garotos também tinham essa opinião sobre mim? Já que todos tinham olhos para Liz.
O que? Eram minha sobrancelhas? Eu sei que ela são cheias e parecem duas florestas, mas... Ah foda-se.
- Quero que todos fiquem de frente para o seu parceiro. – Angel disse batendo uma palma alta e todos começaram a seguir suas instruções. – Agora elogiem o parceiro, e dêem suas opiniões sobre ele para tal.
Franzi o cenho com o exercício, mas dei de ombros e me levantei do chão. fez o mesmo e em seguida nós já estávamos nos encarando.
- Gosto do seu cabelo. – começou, sorrindo fraco. – Ele é comprido e tem uma tonalidade diferente, um castanho quase mel.
- Gosto dos seus dentes, são tão brancos e certinhos. – eu disse desviando o olhar para o seu sorriso.
- Seu sorriso. – ele disse me fazendo erguer uma sobrancelha. – É bonito.
- A cor dos seus olhos... É bem bonito. – disse me aproximando um passo dele para encarar aqueles azuis tão chamativos.
- Suas mãos. – ele disse me fazendo encarar minhas mãos sem entender, acho que ele tá falando qualquer coisa. – São pequenas e parecem macias, da vontade de segurar. – ele riu baixo vendo a minha careta de confusão.
- Hum... Seu cabelo. – eu disse passando a mão delicadamente pelos fios dele. – São bagunçados de um jeito charmoso, e são bem macios.
- Suas curvas. – ele disse me fazendo ficar um pouco constrangida. Curvas? Eu não tenho curvas. – São... Legais.
- Seus lábios... – eu disse encarando a boca dele. Eu falei simplesmente, me travando em seguida. Fiquei com vergonha de continuar a frase.
- O que tem os meus lábios? – ele me perguntou franzindo o cenho, querendo que eu continuasse o meu raciocínio.
- São... Cheios e... – fechei os olhos quando vi um sorriso engraçado surgir em seu rosto. – Para! Essa é uma atividade séria, não me faz ficar constrangida.
- Não estou fazendo nada, vamos, continua. – estimulou para que eu falasse.
- Só isso, são cheios e bem... Legais. – eu disse sem saber mais o que falar.
- Suas sobrancelhas. – ele disse me fazendo arregalar os olhos. – Eu sei que você não gosta delas, mas faz um contraste com seus olhos expressivos e fica bem bonito.
- Sua pele. – eu disse ainda entranhando ele achar minhas sobrancelhas e meus olhos bonitos. – É clarinha...
- Suas coxas. – ele disse me deixando espantada. – Da vontade de apertar. – eu fiz uma careta incrédula e ele começou a rir.
- Okay, pessoal. Agora eu quero que todas as duplas fiquem se olhando nos olhos. Não desviem o olhar, sintam o parceiro. – ela disse cortando a atividade anterior. Comecei a encarar os olhos azuis de e me senti meio exposta. Não gostava de olhar muito nos olhos.
Ele tinha o cenho franzido e não desviada o olhar do meu por nada. Engraçado como quando olhamos nos olhos de uma pessoa, vimos mais de seu corpo do que qualquer outra coisa. E dá para sentir a pessoa também, saber como ela está se sentindo emocionalmente. É bem interessante. Eu sentia tenso, seus olhos e sua postura estavam firmes. Ele parecia ser trancado a cadeado.
De repente suas expressões faciais começaram a se suavizar e uma expressão confusa e meio abalada começou a surgir em seu rosto. Desviei o olhar na mesma hora sentindo que ele estava me lendo muito bem.
- ... – ele ia começar a dizer, mas Angel cortou sua fala chamando nossa atenção.
- Cada dupla pega uma cena ali na minha mesa e comecem a ensaiar, vamos atuar um pouquinho.

***


Taquei minha mochila no chão e joguei meu corpo cansado na cama. Ryan entrou no meu quarto logo em seguida fazendo os mesmo movimentos que os meus.
- Sai da minha cama, você tá sujo. – eu reclamei me sentando no colchão e encarei meu amigo com nojo. – Sai.
- Eu? Sujo? Eu estava na escola, assim como você. – ele disse bufando ao sair da minha cama e indo se sentar em minha cadeira. Revirei os olhos e voltei a me deitar. Respirei fundo relaxando o meu corpo. – Você tá estranho hoje, aconteceu alguma coisa?
- Você me lê tão bem. – ri desistindo de tentar desviar o assunto. – estava estranha hoje na aula de teatro. – falei fazendo meu amigo rir de um jeito meio forçado.
- A prima dela tá em coma, cara. Ela tá estranha desde o início das aulas. – Ryan bufou e começou a brincar de girar na cadeira. – Mas diz ai o que aconteceu.
- Ela parecia muito triste e meio... desconfiada. – suspirei profundamente antes de continuar. – Fizemos uma atividade onde tínhamos que encarar os olhos um do outro, e... Ela me parecia tão pra baixo.
- Own, que fofo! Tá preocupadinho com ela. – ele disse com uma voz bem melosa, me fazendo revirar os olhos. – Você é bem chegado em uma , hein. Elas devem ter um mel.
- Cala a boca seu idiota, eu não to interessado nela. – sentei em minha cama e tirei a minha camiseta jogando longe em algum lugar do quarto. – Eu não sou chegado em uma . Eu só fiquei algumas vezes com a Lizzie, e ela não saia do meu pé, até eu perceber que era quase uma obsessão por mim. - falei dando de ombros. - Voltando ao assunto, a disse que minha boca era gostosa. Não com essas palavras, mas foi o que eu entendi. – disse rindo baixo. Em seguida me lembrei que havia falado para a garota que jamais iria ficar com ela, acho que peguei pesado.
- Eu concordo com ela, sua boca é bem gostosinha. – Ryan disse me fazendo jogar o travesseiro nele. – Mas então... Qual é a conclusão da sua observação?
- Eu não sei. – admiti mordendo o lábio com um pouco de força. – Acho que tá na hora de eu visitar a Liz.
- E beijar os lábios dela novamente? – meu amigo perguntou e eu arregalei os olhos para ele. – Que foi? Ela ta em coma mas ainda da para beijar.
- Cala a boca seu doente. – bufei me levantando da cama e indo para o banheiro em seguida. Precisava de uma chuveirada.

***


Finalmente entrei no meu quarto depois de um dia cheio de trabalhos escolares. Deixei minha mochila em cima da mesinha branca no canto, e me sentei na cama enquanto suspirava profundamente, vendo minha melhor amiga, , fazer o mesmo.
Depois de muita insistência, eu tinha conseguido fazer vir dormir esse final de semana aqui em casa. Eu estava animada, já que desde o acidente ela não saia mais de casa, e muito menos se divertia. Mas com a tensão que estava na NAA eu tinha que fazer minha amiga voltar ao que ela era antes. Ou pelo menos metade do que era.
- Nosso final de semana vai ser muito divertido. - eu disse, batendo palminhas, vendo sorrir fraco.
- Ai Carrie, você sabe que eu prefiro ficar quieta no meu canto, assistindo meus seriados. - ela disse dando de ombros e deitando na cama, ao meu lado.
- Eu sei amiga... Mas sei lá, não acha que tá na hora de voltar a viver de novo? - tentei não parecer grossa. apenas suspirou encarando o teto. - Aconteceu alguma coisa? - perguntei mexendo nos fios de cabelo dela.
- Aconteceu... Hoje no colégio, umas duas garotas vieram falar comigo no vestiário. Uma veio dizer que sentia muito pelo o que aconteceu com a Lizzie... mas a outra... - ela falou com os olhos caídos e uma expressão magoada, eu me sentei na cama mantendo meus olhos bem atentos nela.
- A outra disse o que? - falei esperando a resposta dela.
- Ela meio que deu a entender que a Lizzie merecia passar pelo o que esta passando. Como se fosse... Um castigo... - disse me fazendo arregalar os olhos e morder meu lábio com certa força.
- Ah, tenta não ligar pra isso, . - falei dando de ombros e passou as mãos nos olhos com impaciência.
- Impossível Carrie. Por que a Lizzie poderia merecer isso? Ela era uma boa pessoa. - explicou enquanto eu me encostava na cabeceira da cama, prestando atenção nela. – E ainda é, não é?
Uma onda de nostalgia entrou em contato com meu corpo, junto com as palavras de , e minha mente traiçoeira me levou a uns seis meses atrás me fazendo me lembrar de algo, como se tivesse acontecido ontem.

Tinha acordado atrasada, por isso saí as pressas de casa e nem tive tempo de me arrumar. Resolvi ir no banheiro tentar ajeitar um pouco meu rosto pálido.
Estava terminando de passar meu rímel para finalmente poder ir para o refeitório encontrar meus amigos, quando sinto a presença de alguém usando o espelho ao meu lado. Dou uma olhada rápida, avistando Lizzie . A loira tentava colocar seus cabelos bagunçados no lugar e arrumava o batom vermelho borrado no rosto, que entregava o que a garota estava aprontando. Ao notar meu olhar sobre ela, Lizzie deu um sorriso irônico e passou a me encarar.
- Perdeu alguma coisa? - a garota ralhou levantando sua sobrancelha perfeitamente bem desenhada.
- Eu? Nada. Mas pelo visto você andou perdendo aula... Já que esse seu batom borrado fala por si só. - respondi dando o mesmo sorriso irônico que Lizzie tinha nos lábios. Ao contrário de muitas das garotas da NAA, eu não me curvava diante dela.
- Ah querida... Você se acha, não é? - ela começou a dizer, voltando a ajeitar o batom. - Ando observando você ultimamente. Se acha a superior das superiores.
- Eu? Ah não, você está se confundindo, esse cargo já é seu nessa escola. - falei friamente enquanto guardava minhas maquiagens dentro da mochila. Antes que eu pudesse colocá-la nas costas, Lizzie a puxou da minha mão, jogando no chão. Arregalei os olhos para a garota e a empurrei pelos ombros.
- Ficou louca? - perguntei com o timbre de voz mais alto do que eu gostaria, sentindo meu rosto ficar vermelho em fúria.
- Você que perdeu a noção do perigo. - ela falou irônica. - Abre teu olho Carrie. Eu posso muito bem acabar com você, e com a sua amizade com a num piscar de olhos. - Lizzie andou em direção a porta do banheiro, e antes de sair, olhou para mim novamente. - Você não sabe com quem está se metendo.

Saí dos meus devaneios, percebendo que me encarava confusa, esperando minha resposta para seu comentário anterior. Coloquei uma mecha do meu cabelo para trás da orelha e mordi o lábio de forma inocente.
- Pois é... Ela é uma boa pessoa... - disse sorrindo amarelo.
Boa aos seus olhos, minha querida amiga.


Continua...



Nota da autora: (11/10/2015) Oie! Gostando? Como vai do lado daí? Entra no grupo para receber novidades, spoilers e tudo mais! Beijão!




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