Última atualização: 12/04/2024

Capítulo 1

October, 31.

segurava desajeitadamente a bandeja de papelão que envolvia o bolo em formato de coração coberto por uma grossa camada de glacê parisiense de não tão boa qualidade, mas que chamava atenção pela coloração azul bebê, incrustado de pequenos detalhes de bico de confeiteiro. A encomenda ficou a critério de , o que resultou em um detalhamento impecável por parte da confeitaria, surpreendendo até mesmo, .
-
ESTÁ PRESTES A DERRUBAR! - se esquivou do mal jeito de , deixando que o mesmo depositasse por um triz o recipiente na mesa. se limitou a rir e comemorar quando finalmente pode ver as pequenas velinhas acesas espalhadas, como em um clássico cenário de aniversário, e amava clássicos. Não demorou muito até que as palmas fossem ouvidas e o parabéns ressonasse pelo apartamento, até que pode se inclinar para apagar as 23 velas. Uma por uma, fez um pedido mental: dentre saúde, um bom emprego, e quem sabe um amor, pediu para que aquele momento não se perdesse no tempo, junto das pessoas que nele se incluíam.

Ah, mas o tempo..o tempo não volta. Tudo no mundo se pode comprar, até mesmo vidas! mas o tempo…ele é indiferente, ignorante, e egoísta. E nós somos reféns dele.



One week later

À 30km do centro de Busan, Coreia do Sul, o voo desembarcava uma garota de cabelos lisos pelo ombro, acompanhada de um rapaz com feições semelhantes, se não fosse pelo porte alto e cabelo recém cortado. Os dois seguiram arrastando uma porção de malas pelos corredores, e entre tropeços e rodinhas emperradas, chegaram ao táxi. O rapaz se acomodou e desbloqueou o celular, encarando o aparelho por pelo menos 30 segundos até que conseguisse clicar no contato que imaginava. Do outro lado, a garota encostou a cabeça sobre o vidro e tentou cochilar os 30 quilômetros restantes até o destino.
-
Vai conseguir me ajudar com a mudança pro outro bloco?- murmurou, meio sonolenta pelo fuso horário maluco. -
Vou cobrar 10 mil wons por escada subida, esses mesquinhos não aceitam móveis no elevador - resmungou o irmão, suspirando. o deu uma cotovelada em resposta, recebendo um grunhido do mais velho - estou brincando, você vai ter sua mudança em paz - sorriu faceiro, voltando a digitar no visor do celular.

Do outro lado da cidade, nos corredores lotados do prédio de Engenharias e Urbanismo, caminhava tranquilamente comentando sobre o resultado inacreditável do último jogo entre turmas, e o quão mal havia jogado o time de Arquitetura. Yuno fez menção para vestir o moletom, e nesse meio segundo de pausa, sentiu o celular vibrar sobre o bolso da calça.

Queria saber se você ainda joga feito Michael Jordan, porque minha intenção é te destruir nessas quadras da BNU”

Desbloqueou o aparelho de imediato, observando a mensagem com o nome de “Sanny” estampado. Franziu a testa, demorando a processar o que havia lido. não mandava mensagens há pelo menos 2 meses, e embora tivesse certas dúvidas de tal comportamento, não o questionou, pois conhecia o histórico comportamental. Mas BNU? Eram as siglas da Busan National University, isto é, de onde o mesmo vinha passando os últimos 3 anos de sua vida; e estava falando sobre basquete. Os pontos não se ligavam, mas franziu ainda mais o cenho, como se aquilo fosse capaz de o fazer pensar melhor, e como um raio que caiu sobre sua cabeça, a lucidez o tomou naquele corredor de Arquitetura: estava de volta, e o melhor, parecia estar de volta pra valer, mais precisamente, estudando em sua universidade.
-
Nem fodendo - sibilou num sussurro sozinho - , olhe isso - apontou o visor com a mensagem para o amigo distraído. estreitou os olhos com dificuldade e logo em seguida abriu a boca em um sorriso surpreso -
Caralho, ! - tomou o aparelho de sua mão, observando a mensagem - isso é pra valer? quer dizer..ele está voltando mesmo? - lançou um olhar de dúvida para o rapaz -
Não acho que ele brincaria com isso, não é do feitio do cara - ponderou soltando uma risada duvidosa. -
Precisamos sair pra beber, isso é mais do que um motivo - bateu na porta do armário de metal em empolgação - é um marco! - bradou animado como um Hooligan em dia de final. -
Isso é o óbvio, meu amigo - empurrou as costas de em direção ao corredor, seguindo pelo caminho à sala - reserve sua sexta feira; vou confirmar o enigma de , e se tudo der certo, vamos quebrar o the republic - deu dois tapinhas nos ombros de , e assim entraram para a próxima aula de filosofia moderna, não esquecendo de dar início àquela bohemia que pretendiam para o final da semana.

“Só pode me destruir em um mano a mano, se aparecer no the republic sexta feira”

Ele só havia esquecido que o melhor amigo tinha companhia, e uma não tão esperada por sua parte.

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-
Essa é a última? - questionou no pé da escada, enquanto jogava a caixa sobre a batente da porta. -
Pela graça divina - arfou, já suando pelas têmporas - eu até te pago um serviço de mudança da próxima vez, mas não me bota nessa fria de novo - escorregou pela parede, descendo até o chão -
Larga de reclamar, - bradou, tomando caixas nos braços e chutando outras pelo caminho do apartamento - vem ajudar, antes que desista de te ajudar com os seus - ordenou em um olhar atento -
Meu apartamento é mobiliado, irmãzinha - riu, cruzando os braços e a olhando em indignação. A mais nova rolou os olhos e seguiu suas tarefas pela casa como um furacão, e foi aí a deixa de para fugir ao bloco contrário.

O caminho era longo, dado o tamanho do condomínio. Felizmente havia juntado dinheiro suficiente durante seu tempo longe para que pudesse alugar até mesmo uma cobertura no coração de Hongdae, mas era contrário à ideia de engomadinhos e restaurantes granfinos por hora. Escolheu um duplex no 18º andar, com ótima vista para o Bosque Yeoseon, e espaço suficiente para uma eventual bebedeira na jacuzzi do deck de madeira. Jogou as chaves sobre a escrivaninha de madeira da sala de estar e seguiu até a cozinha, depositando o celular sobre o balcão e pegando a chaleira para ferver seu almoço - um teoppeoki spicy agridoce do mercadinho ao lado - e enquanto isso teve tempo suficiente para desencaixotar alguns pertences. O celular apitou em cima do mármore e nele apontou o nome de , denunciando o tom que já era conhecido por , fazendo com que sorrisse ladino, nostálgico pelas lembranças anteriores do grupo de amigos.

Flashback on -
! Eu disse para focar na droga da bola! - o técnico gritava no fundo na quadra, a jugular saltava em meio ao suor daquela tarde quente de julho. O adolescente de cabelo pingando seguiu em passos largos pela quadra, quicando a bola em direção a . se posicionou próximo a linha da cesta, e corria de um lado ao outro como um bobo da corte, mas proporcionando o humor necessário para aquela partida de interclasses do ensino médio. -
, passa pro - gritou ao outro lado da quadra, jogando a bola com um lance longo. O branquelo correu desajeitado pelo piso escorregadio, e com muita sorte desviou de todos os brutamontes do time adiversário, alcançando e o fazendo o passe. não dormiu em jogo, correu em passos rápidos enquanto quicava a bola, chegando a linha de lance e…PONTO! O placar explodiu, marcando a vitória do time da casa. Os três comemoraram juntos, recebendo e Mingi no encalço, embora estivessem de reserva no jogo.

Flashback off.

Acordou do devaneio de lembranças embaçadas depois que ouviu a chaleira gritar, correndo em direção ao fogão para desligá-la. Comeu no próprio balcão, enquanto passava algum conteúdo sobre Kanye West na timeline do twitter "o rapper reapareceu com Bianca ao lado de North West, e gerou polêmica nos paparazzi presentes em Beverly Hills". Que falta de ocupação, pensou alto. Não que não goste de Kanye, costumava cantar Stronger na segunda feira pós um dia daqueles, mas tinha preguiça de tablóides de fofoca. Oras, ele queria saber quando sairia o próximo álbum, não a rota do passeio em família. Balançou a cabeça em negativa e se apressou para tomar um banho, tinha muito a resolver pela frente como um recém voltado a Busan.

Sexta-feira, 12 PM.

O metrô daquela linha fazia tanto barulho que podia jurar que iria bater em alguma parede de pedra. se esquivava entre o amontoado do vagão e ansiava pela chegada no hospital modelo, ainda que um dia daqueles a esperasse. Ao ser cuspida do vagão como um inseto, checou o relógio no pulso e apertou o passo seguinte ao destino por mais 200 metros, enquanto passava ligeiramente as mensagens e notificações do celular. Em uma delas, o grupo de mensagens que incluía os amigos anunciava uma mensagem não lida.
“Infelizmente vamos ter que marcar nossa sexta-feira-da-vergonha pra outra sexta-feira. , eu, e temos compromisso; e como somos maioria, a democracia vence. Se cuidem, xx.”
. 12h02. - lida

Franziu o cenho intrigada, o que era isso? ninguém nunca cancelava a sexta feira da vergonha assim! A não ser por alguma mocréia nova no pedaço, e bom, era isso que tudo indicava. Soltou uma risada sem humor enquanto passava pela catraca, guardando o aparelho de volta no bolso. Subiu em passos rápidos pela escadaria e finalmente chegou ao andar pretendido, iniciando o plantão com um senhor viúvo que havia perfurado parte da mão direita com um grampeador, e ainda eram meio-dia.

As horas incontáveis e cansativas passaram como um furacão de escala 5, e finalmente o expediente havia acabado, levando Heva e suas tralhas até o vestiário se despir, achando um resquício de tempo para voltar sua atenção às redes sociais. Rolou o feed de stories no instagram, e nele chegou uma foto de em uma bela mesa de carvalho, segurando um conhecido copo de cerveja com a logo de um emoji feliz, junto à localização do the republic. Filha da puta! Onde estava o compromisso de sexta à noite? e o pior de tudo, o cretino estava no próprio lugar da sexta-feira-da-vergonha, postando como se não houvesse amanhã. Mentiroso medíocre…pensou internamente enquanto enfiava tudo dentro da mochila e vestia o casaco de couro, sabendo para onde seria certamente seu destino dali 20 minutos. O táxi não demorou a aceitar o aceno, e com isso seguiu até Busanjin-gu, liberando para o pegar no pulo.

The republic, 09h30PM.

Tudo estava em perfeita ordem, assim como a Terra girava em torno do sol, , , e se encontravam na mesa de madeira escura iniciando os trabalhos com uma rodada de Weiss bier, enquanto esperavam pelo amigo. Além de tudo, o acordo estava fundado: deu instruções expressivas sobre aquele momento de sexta-feira, sendo que aquilo não deveria chegar a terceiros, e imediatamente todos concordaram sem hesitação.
-
Aí está, lá vem ele! - exclamou animado, notando a silhueta de se aproximar, seguido de uma segunda. Encurtou a distância entre ambos e chegou ao amigo em um abraço caloroso, e era exatamente assim que o rapaz refletia sua essência: em carinhos sinceros, calorosos, e sem frescuras. Não tinha medo de demonstrar o quanto amava as pessoas a sua volta, e acaba por contaminar todos com seu carisma - parece que foram séculos, ! - bateu nas costas de , se afastando somente para visualizar melhor como os anos haviam corrido. -
Yun, os anos voaram, cara - riu de madeira sincera - mas foi tempo suficiente para começar a ter barba - respondeu em implicância, abraçando em seguida o outro amigo. -
Vá se foder, seu presunçoso metido - alfinetou entre risos, alcançando o melhor amigo e o apertando em um abraço dramático. o ameaçou em um soquinho, que se tornou uma mini briga entre os adolescentes de 25 anos.

Logo mais, todos da mesa haviam se comprimentado, e antes que pudessem sentar os traseiros nas banquetas que rangiam, uma silhueta esguia veio em direção à mesa em passos desesperados. foi o primeiro a virar a cabeça, honrando seu posto de mais atento do grupo, em seguida arregalando seu olhar ao observar Chunga, a irmã mais nova de , diga-se de passagem, a protegida.
-
Eu não acredito! - gritou, levantando-se da mesa e indo em direção à mulher, se agarrando em um abraço animado -
HONG! - Chunga grunhiu em meio ao aperto, chamando atenção dos outros presentes na mesa. finalmente voltou seu olhar para a cena que acontecia, mas pareceu demorar a assimilar, como sempre fazia com situações intensas demais para seu cérebro lento. Encarou os corpos se comprimentando por pelo menos meio minuto, e nem mesmo som do bar pode continuar a ouvir; a cena passava como um frame de filme mudo. -
! - ouviu o urro de , recebendo um tapa na nuca em atenção - ficou surdo temporário? comprimente ! - e foi o necessário para que o mais alto levantasse em um solavanco e balançasse a cabeça assimilando as coisas.

Era , a caçula dos , arqui-inimiga de infância de , e ex-insuportável adolescente. Parecia um clichê idiota, mas a cretina estava uma mulher por inteiro, desde a voz madura e bem posturada, até a aparência…chocante por então. Os cabelos haviam crescido, se disciplinado, e não haviam mais aparelhos cobrindo seus dentes. Havia crescido pelo menos 5 centímetros, e teria continuado uma análise mais detalhada se não fosse pelo constrangimento que estava sentimento em sua cabeça, e que jamais deixaria transparecer.
-
! - bradou em um sorriso incerto, se aproximando e abraçando o corpo esguio com certa hesitação - você decidiu crescer, sweet child? - é óbvio que uma piada foi a melhor das saídas para toda a surpresa que estava sentindo. A garota o devolveu uma ameaça de soco, rindo em seguida e o tocando o ombro em cumplicidade - cumplicidade essa que só ela estava confortável, até então -
Ahh..; vejo que você continua preso em 2010, é realmente uma pena - ironizou, tirando uma risada alta do restante do grupo - ao menos precisa fazer a barba agora, acho que deve ter te lembrado - alfinetou, recebendo uma negativa de cabeça por parte de . Ela estava afiada! como isso havia acontecido? Se dar por vencido era uma opção interessante no momento, visto o ambiente público e a volta do melhor amigo à cidade, e foi exatamente isso que pôs em prática.

Após os risos cessaram, fez questão de pedir uma rodada de cerveja por sua conta, e então os trabalhos haviam se iniciado, enquanto a mais nova fazia uma uma ida estratégica ao banheiro. se sentia mais aliviado ao saber que o álcool mitigaria aquela sensação de irritação em relação à , e isso lhe deu palco para relaxar os ombros e manter o foco na conversa de boas vindas à .
-
E então, como se sente estando de volta? - indagou, encarando -
Acho que todos deveriam ter um período de…- -
Sumiço? - cutucou, mas se limitou a franzir o nariz e rir sem humor, tentando levar com leveza as situações ácidas que viriam a tona mais cedo ou mais tarde - relaxe, estou brincando. Senti sua falta, - admitiu de modo melancólico, ainda que fosse orgulhoso o suficiente para não demonstrar afeto tão facilmente. -
Eu ia dizer que todos deveriam ter um período de criar vergonha na cara e terminar a faculdade no tempo certo - provocou entre um sorriso ladino, perturbando e os demais desperiodizados - vocês pretendem comemorar jubileu na BNU? -
Cale a boca, senhor formado - retrucou em mal humor -
Formado não, ele ainda tem a formatura - apontou, levantando o copo pela metade. -
Então estamos todos no mesmo barco, vai ter que pagar tanto quanto um calouro burro - ordenou, iniciando o brinde entre o grupo e juntando gritos por aquela zona do bar.

Do outro lado da rua, olhava ambas as faixas de passagem de carros e atravessava em passos rápidos, chegando à calçada do the republic. Pisou nos degraus desgastados de madeira e estreitou os olhos, visualizando, mesmo que contra sua vontade, os caloteiros de plantão. Seguiu em negação até a mesa e parou em uma distância que pudesse ser ouvida, mas não atrapalhasse a passagem.

- Vocês mentem muito mal - apontou com o indicador, semicerrando os olhos. E não só estava sobre a mesa como mostrava na foto, mas , e - custava me falar que não queriam a presença das damas na noite dos rapazes? - indagou fingindo certa ofensa - acabaria com a festa de vocês agorinha - gesticulou ameaçadora
- Como foi que você descobriu isso? - engoliu em seco, ainda que tivesse um sorriso duvidoso, estava inseguro até os pelos do nariz.
- - deu de ombros
- AH..- suspirou, batendo um tapa certeiro na madeira - É CLARO!
- O que você fez, idiota? - se virou contra o branquelo
- Eu não fiz nada, horas - sugou o líquido pelo canudinho do sex on the beach que havia pedido, encarando sem remorso os presentes na mesa.
- Postou que estava na droga do bar! - se meteu, apontando a publicação no visor no celular - pelo divino, …-

As farpas entre o grupo seguiram por pelo menos mais dois minutos, e foi tempo suficiente para se dar por vencida e pedir uma cerveja também. Embora soubesse que não havia sido convidada diretamente, pretendia se vingar da mentira mal contada de com sua presença pelos próximos 40 minutos.
-
Perdi alguma coisa?

Uma voz desconhecida foi ouvida por trás do campo de visão de , fazendo-a girar em imediata curiosidade, ainda que estivesse de costas ao público que circulava. Seus olhos encontraram um rapaz de estatura alta e leve bronzeado asiático sobre o rosto, com olhos tão específicos que sentiu que poderiam cortar somente com o formato afiado sobre o rosto. O olhar de espanto/confusão que recebeu foi quase tão grande quanto o seu próprio, tornando difícil o raciocínio fora daquela bolha. Com um pouco de esforço e voz alta de , pode ouvir que o dono da voz era intitulado ; e por conseguinte, tudo ao seu redor ficou estranhamente enigmático.








Capítulo 2

Behind blue eyes – Limp Biskit
O tempo parou por alguma fração de segundos, ao menos era isso que havia sentido naquele momento, com aqueles olhares sobre si. Já tinha um grande ponto de interrogação estampado em seu rosto, junto à estranha sensação de que havia algo peculiar naquele momento em específico. Felizmente, todas essas constatações tinham passado em tempo rápido suficiente para que ninguém sentisse o constrangimento daquele silêncio, que foi quebrado com a voz de , antes mesmo que pudesse tomar ar para dizer mais alguma coisa
- N-não perdeu nada, oras - sentiu uma coceira na garganta acompanhada de certo nervosismo - quer dizer, perdeu a noção do tempo ao buscar meras duas cervejas pelo bar cutucou em tom de riso, tentando ignorar o que se passava por sua cabeça.
- Vai ver ele perdeu algum rabo de saia pelo caminho - balbuciou em uma risadinha baixa, recebendo uma cotovelada de , ao seu lado - ei! - gemeu em resposta, massageando o local
- Rabo de saia? Foi-se o tempo que esse local tinha alguma coisa apresentável - comentou em desdém enquanto puxava uma cadeira, atraindo o olhar curioso e ao mesmo tempo incomodado de - o the republic não é mais o mesmo.
- E como ele costumava ser? - atravessou o comentário com certo desafio no tom de voz - quer dizer, nunca vi você por aqui antes, nem sabia que conhecia o pessoal constatou em um sorriso mínimo e contrariado.
- Pergunta isso porque queria ter me visto antes? - o rapaz virou o rosto da direção da questionadora, tomando uma gargalhada alta em ironia. O restante observava a conversa como uma partida de tênis, uma raquete rebatendo o lance do outro.
HA HA - riu em incredulidade - eu nem te conheço, segura essa emoção, lonely boy. Pergunto isso por quê acho que tem muita confiança para alguém que acabou de chegar concluiu, bebericando a cerveja
- Conheço vocês a tempo suficiente para ter essas conclusões - respondeu - mas não se preocupe, dificilmente vai se lembrar de mim, e nem deve - engoliu a saliva, lidando com certa leveza com toda a situação - mas caso queira saber, é um prazer - sorriu de lado, estendendo a mão sobre a de , que a retraiu em resposta, sob certo susto - , .
- É um velho amigo, - se intrometeu em esclarecimento - não era de sua turma, e se mudou há tempos atrás - respondeu - mas ele é presunçoso assim desde 1997.- riu, acompanhado dos demais
- Isso é falta da mãe elogiar na infância, ele precisa compensar - alfinetou, tirando uma risada fraca da amiga - mas já que estamos todos apresentados, vamos beber. Ficar sóbrio está me causando delírios - bocejou, direcionando um olhar sugestivo à , que havia nesse momento voltado a seu lugar na mesa. notou a presença na nova face que também não conhecia, mas dessa vez, lançou um sorriso amigável à - ah..e essa é a caçula dos , . - terminou , sem muito ânimo aparente.
- Obrigada pela lembrança, - a mais nova recitou em falsa gratidão, voltando a beber do copo.
trocou um olhar rápido entre ambos, e acabou optando por não questionar, entrando em um silêncio reflexivo. Não conhecia o tal , muito menos a irmã mais nova, ou o grau de relação entre todos ali; mas se sentia estranhamente como um ponto fora da curva, frustrada consigo mesma pela pouca memória e falta de lembranças. A vinda de ambos parecia mais do que entreter os amigos, parecia os cativar, aconchegar; a curiosidade e felicidade estava na fala da maioria ali, mas em sua cabeça aquilo parecia..fora de contexto? Se amaldiçoava internamente pela mente distraída que a acompanhava desde sempre, quase como um encosto que assombra sua personalidade.
Enquanto isso, tentava responder à enxurrada de perguntas e suposições que vinham de e , quase como um político ditador que ficou em exílio por 10 anos na Indonésia. A maioria das perguntas eram respondidas com humor e até certo sarcasmo, como nos velhos tempos. Em paralelo a isso, sentia-se tentado a não direcionar olhares de canto de olho para , que parecia tão imersa nos próprios pensamentos quanto qualquer um ali. Ah, como ele queria poder jogar aquela mesa para o alto e a encher de perguntas.
- E o que pretende fazer na universidade agora, Sanny? - questionou direcionadamente a , enquanto os demais embarcavam numa rodada de shots, com exceção de .
- Só pretendo apresentar a monografia, o restante foi feito durante esses anos caóticos - riu sem humor - mas trabalhar por trabalhar, já estou há uns dois anos - completou com certo cansaço. acompanhava o diálogo de fundo, tentando criar uma história coerente na cabeça
- Administração é um pé no saco - resmungou - mas ao menos algo de bom teria que ter saído desses 3 anos - riu, recebendo uma balançada de cabeça em negativa de , com um misto de riso - vai ficar, não é?
- É claro que vou, Yeo - sorriu sincero e com certa nostalgia, levantando baixo o copo como se prometesse aquilo - não pretendo ir a lugar algum - engoliu em seco, recebendo a comemoração do amigo - acha que eu deixaria querendo me ver de novo? - e virou o rosto em supetão em direção à garota, que de prontidão o lançou um olhar irritado
- Você fez faculdade de auto-estima? - questionou, ficando mais próxima à beira da mesa ou só está terrivelmente apaixonado pela colega dos amigos, e não consegue se segurar? provocou na mesma moeda, em completo deboche. explodiu em risos na mesa
- Ouch - colocou uma mão sobre o peito e se fingiu de afetado, analisando a garota em sua frente - quase acabou de acabar com meus segredos - respondeu em acidez - mas não se preocupe..você não sabe de nada, Henny.
- Henny? - indagou retoricamente, franzindo o cenho ainda mais intensamente - como sabe meu apelido?
- Como eu disse, tem muitas coisas das quais não se lembra - respondeu de modo vago, quase como se um filme passasse sobre sua cabeça enquanto pensava no que falar - mas não posso fazer isso por você - suspirou, cruzando os braços sobre o peito. estava pronta para protestar, mas ouviu um estilhaço no ar, e um estrondo de vidro se quebrando entre o ambiente. Virou o rosto da direção do barulho, junto dos demais da mesa, e no fundo do estabelecimento pode notar o início de uma briga, com direito a copos e garrafas quebrando pelo chão
- que diabos é isso? - protestou, semicerrando os olhos ao ouvir a gritaria - o he republic virou uma selva? - e mais um copo, desta vez em direção a , que por pouco não foi atingido
- YA! - gritou irritado, levantando da mesa - onde estão os donos dessa merda? - olhou ao redor, assim como todos naquela mesa olhavam assustados. No foco da briga, uma mulher descontrolada de meia idade parecia estar furiosa com o marido (ou ex, dessa vez), e jogava tudo que via pela frente em direção ao homem, era como assistir uma novela mexicana ao vivo - eu devia saber, a mocréia pegou o marido no pulo - gritou
- JUNG TAEHO, VOCÊ PROMETEU! - gritou a esposa recém traída, possuída pela amargura - e você, sua…jovemzinha sem vergonha! - empurrou a mesa, enlouquecida. A confusão foi escalando, e enquanto alguns especulavam pelo gerente apaziguar a situação, o bolo de pessoas entre socos e tapas foi se direcionando para a mesa do grupo, o que fez com que e levantassem rápido
- Vamos dar o fora - sussurrou, puxando os restantes presentes em uma carreata até a saída do bar o mais rápido possível.
, com sua desatenção rotineira, levantou da cadeira em um movimento brusco ao ver a mulher empurrar o marido sobre a mesa, perdendo o pouco equilíbrio que ainda tinha naquele espaço. Gritou ao sentir que iria cair de costas, mas sentiu algo segurá-la por trás. O grito foi cortado ao meio por um suspiro ofegante, levantando o olhar e dando de cara com , segurando seu tronco com as mãos. Por uma fração de segundos, o encarou com um misto de confusão, vergonha, e ansiedade. Seu coração estava agitado pela pseudo queda, mas ter a encarando com seriedade não melhorou nem um pouco os humores.
- Cuidado por onde pisa, - ele respondeu enfatizando seu nome, enquanto tinha um sorriso convencido por ter segurado a garota como uma bela cena de filme - não vou estar aqui sempre para te segurar.
- Obrigado, não preciso que esteja - se desvencilhou, retrucando em irritabilidade. Quem ele pensava que era pra se achar no direito dessa proximidade? com esse conjunto de falas e atitudes convencidas, tudo que sentia era raiva pela confiança que o homem tinha sobre o grupo de amigos, e principalmente sobre si. Ele nem mesmo me conhece, oras. Limpou o casaco e olhou uma última vez para o que a encarava analítico, desviando o olhar e seguindo para a calçada onde o restante aguardava. Maldito rosto familiar.
- Foi salva pelo , hm? - riu, sem se prolongar demais
- Ele sempre age assim? se achando o grande Park Hyungsik da Coréia? - questionou, incomodada. negou com a cabeça, chamando um táxi com uma das mãos, aquela saída já tinha rendido emoções suficientes
- Não, ele só é assim com..-
- Vamos embora, pateta - surgiu, puxando o braço do mais baixo - você está falando pelos cotovelos, vai encher a cabeça de de lorotas. Peça um uber, Hen - comentou eu e os meninos vamos na direção oposta. assentiu e ligou o celular, fazendo o que havia sido combinado, nem ao menos se despedindo dos que restavam, estava se sentindo estranha demais para as despedidas convencionais que costumava ter.
Ao chegar em casa, trancou a porta e se jogou sobre o sofá cinza que acomodava o gato preto de nome Jiji, em homenagem aos serviços de entrega da Kiki. Suspirou cansada, parecia que havia feito 3 plantões seguidos, mas era somente uma saída típica de sexta feira. Ao entrar no banho e deixar a água quente descer pelo corpo, não conseguiu tirar da mente as feições de , embora lutasse muito para pensar em qualquer outra bobagem. Não sabia exatamente de onde, mas lembrava de seu rosto, e até de sua voz, jeito. Era bizarro, sinistro. Um velho amigo, pensou. Como não se lembrava da época em que viveu no colégio, ou de qualquer convivência do mesmo com os meninos? Talvez fosse tão distraída ao ponto de esquecer rostos, ou pessoas que não eram tão próximas de si, provavelmente a falta de memória para as coisas contribuem nesse esquecimento. Ele devia ser um dos amigos palermas de que sempre estava dando alguma festa em casa ou pegando tantas garotas que não era visto pelo corredor, era isso, só poderia ser isso. As pontas de seus dedos começaram a enrugar e foi só então que desligou o registro, se enrolando na toalha e seguindo dormir para tentar descansar a mente.
O dia seguinte foi marcado por um uma correria tão grande que nem mesmo existiu tempo para pensamentos reflexivos. decidiu passar pelo apartamento de pela tarde, depois da aula final de resistência de materiais, mas a porta insistia em não ser aberta. Apertou insistentemente a campainha estranhando a não presença do amigo no local, até mexer na maçaneta e encontrar a porta aberta. Sem rodeios, entrou pelo apartamento recém mobíliado com uma decoração confortável, olhando ao redor com curiosidade

-?- chamou, estranhando a ausência. Eles haviam combinado de jogar uma partida de basquete na quadra da universidade, como nos velhos tempos, mas o idiota parecia ter sumido. Ouviu um barulho o quarto a direita, e achando ser , adentrou o cômodo de supetão, encontrando com uma toalha na cabeça e um roupão _deveras revelador_.

-AAH!-gritou junto com a garota, batendo as costas no móvel traseiro e derrubando um vaso (que parecia ter alguns bons wones) no chão. sumiu em banheiro adentro e bateu a porta com força, assustada com a visita repentina. O que aquele idiota estava fazendo ali? Era o..era o apartamento do melhor amigo, seu irmão, fazia sentido. Bufou em irritação e colocou a roupa que havia separado para depois do banho, saindo ainda com a toalha pela cabeça

-Você não sabe bater na porta?- grunhiu- eu poderia estar nu!

-E não estava, porra? - respondeu, tão frustrado quando ela - eu toquei a campainha mil vezes, como não ouviu? E como deixa a porta aberta!? - posicionou as mãos sobre o quadril, questionando

-E como você entra na casa de sem ser recebido? - gritou de volta, revoltada.

-Acha que eu preciso de autorização pra entrar no apartamento do meu melhor amigo?- riu, escutando a porta de abrir novamente, dessa vez revelando . O mais alto entrou murmurando alguma coisa, mas se surpreendeu ao avistar os dois no mesmo cômodo - graças a deus, você deixa sua irmã entrar assim sem pedir? - provocou, saindo do recinto e seguindo

-Até parece que não conhece, ela faz isso normalmente - negou com a cabeça, sentando no sofá de couro, junto do amigo - os gritos de discussão eram de vocês? - concordou - vocês não mudam, tsc. Dois adolescentes

-Se um dia ela amadurecer, quem sabe - reclamou, não sabendo se a garota ainda ouvia. Tirou a imagem que tinha na cabeça da mulher momentos antes, aquilo não o faria bem naquele momento, não naquelas circunstâncias - bonito apartamento, senhor Hongdae. Deveria inaugurar com uma festinha

-Quem sabe, quem sabe - respondeu , acendendo um cigarro sem muita pretensão - já avisou que semana que vem vai reunir o pessoal no apartamento dele pra comemorar o aniversário de 24 - soprou a fumaça sobre a janela aberta

-E você vai - intimou, sabendo que tinha determinados motivos para reclinar - não há desculpas, todos estão felizes com a sua volta, Sanny. Chega de trabalho e trabalho, quero ver você beber como nos velhos tempos.

-Eu vou, eu vou - disse por vencido, rindo baixo

-Seulgi vai estar por lá, talvez você se distraia - provocou com uma risadinha - acha que pode dar uma chance para ela dessa vez?

-Ah, Seulgi - bufou, tragando a fumaça - ela ainda não desistiu? Quer dizer, ela é bonitinha...mas-

-Eu já sei o que está pensando - roubou o cigarro das mãos do amigo e tragou - e você está certo, até certo ponto. Mas caso queira um caminho de diversão e facilidade, ela ainda deve ter uma tara por você - e os dois riram, relembrando as cenas típicas dos quatro anos anteriores.

...

Uma semana havia voado entre as mãos de , e nesse meio tempo o grupo de kakao havia ganhado mais dois membros: , e . Revirou os olhos internamente ao ver a mudança, não pela garota, mas pelo irmão. Soltou o centésimo suspiro naquela aula de saúde publica, vendo o celular vibrar em cima da carteira

_"Aniversário em casa no final de semana; aos que não aparecerem, se considerem fora desse grupo. beijos"_-

É claro, o aniversário de , havia esquecido. Sentia uma pontada de cansaço de utilizar sua folga para a bebedeira, mas sabia que se recusasse era capaz de ser buscada pelo próprio em casa. Ao sair no fim da aula, seguiu até o refeitório da universidade e encontrou , e sentados, se juntando com sua bandeja lotada de lamen.

-Bom encontrar vocês em meio a esse caos- suspirou, começando a comer. A conversa variou entre a semana caótica e o aniversário de , até surgir, e dessa vez, com e seu encalce

-Eu não acredito, você realmente conseguiu transferir sua matrícula? - disse em suspensa, observando se sentar - quanto tempo ainda tem?

-Seis meses, mas só tenho aula uma vez na semana - disse com tranquilidade. não se atreveu a falar, mas não deixou de pensar: _ok, agora esse presunçoso estará uma vez na semana aqui_.

-Eu não acredito, ! - ouviu uma voz aguda se aproximar, e de longe estava Seulgi, vindo em passos rápidos na direção da mesa. Abraçou o homem como quem não via a própria família há 10 anos, o que atraiu a atenção de todos os presentes - você fez muita falta, Sanny - comentou com simpatia, soltando o abraço com lentidão

-Acho que foi a única que sentiu minha falta, Seulgi - riu baixo, se recuperando do abraço desajeitado ao qual foi enfiado.

-Ela também conhece ele?- murmurou no ouvido de , confusa, recebendo um aceno de cabeça discreto

-Digamos que sim...- a mais velha respondeu, tentando manter o diálogo somente entre elas - vamos dizer que tinha algumas admiradoras na época do colégio. concordou baixo e desviou o olhar da cena, entrando no próprio mundo de questionamentos. Não disse muita coisa durante os próximos minutos, até que sobrasse somente , e na mesa

-Preciso ir - utilizou da deixa para levantar e sair em passos rápidos, sem mesmo dar tempo de protestar. A mesma levantou e agarrou a bolsa nos ombros, mas antes sentiu a necessidade de dizer alguma coisa

-Sua admiradora do colégio?- fez a menção a Seulgi, com a sobrancelha arqueada em curiosidade

-Você é bem curiosa pra alguém que não me conhece - riu, se inclinando sobre a mesa - e sim, sobre Seulgi. Mas nunca aconteceu nada, embora ela seja muito bem apresentavel - riu, pensando longe

-Você é igual , por isso são melhores amigos - reclamou disposta a sair dali, mas foi seguida pelo mais alto - Ei! - protestou, parando no meio do caminho ao ver que ele estava em seu encalço

- Queria que eu dissesse que você é apresentável também? – provocou, inclinando a cabeça para encarar com desafio – não se preocupe, você é muito mais que do apresentável – sorriu ladino, revelando as covinhas que insistiam em aparecer

- Não preciso dos seus elogios, muito obrigada, – respondeu em um falso sorriso, seguindo em passos em direção a sua sala, se dando por vencida com aquela espécie de diálogo, enquanto ficava para trás no corredor

- Você é linda, – disse em um tom mais sério do que esperava, sem risinhos ou ironia. ainda ouvia o que podia dizer, o que a fez parar de andar e o encarar com seriedade, como quem via uma afronta naquele comentário. Depois de concluir que não havia nenhuma piada na expressão de , desviou o olhar e suspirou profundo, virando na direção oposta e caminhando sem dizer nada pelo resto do corredor adiante. se manteve encarando seus passos se distanciando, enquanto negava com a cabeça em um sorrisinho vitorioso.



Continua...



Nota da autora: Oi oi gente, e ai? O que estão achando de Hippocampus e todo o caos desse início de volta do PP? Acabei esquecendo de deixar uma nota no primeiro capitulo (uma memória de peixe), então deixo em atraso um abraço enorme e muita felicidade ao ver que Hippocampus estava em 10° lugar das mais lidas.
Logo logo teremos mais uma atualização quentinha, e enquanto isso, até mais mais :)


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