Última atualização: 19/12/2020

Capítulo 1

Temer a morte era algo desnecessário aos olhos de Taehyung, ele acreditava nisso, pois um dia todos vamos morrer, e teme-lá não vai mudar o futuro. É isso que ele sempre diz a suas vítimas, talvez como modo de conforto, ou só uma ponta de arrependimento por ter de matá-las depois.

— Sabe Bok Nam, meus clientes costumam dizer que eu sou um mal necessário. E eu até que concordo com isso, afinal, eu só mato pessoas que realmente merecem, tipo você, nunca encostei um dedo em alguém inocente.

— Um mal necessário? — Riu sem humor, antes de continuar falando. — Você mata pessoas por diversão, e tem coragem de dizer isso, na maior cara de pau? Pelo amor de deus, V, não se iluda dessa maneira.

— Me iludir? Nunca. E eu não mato ninguém por diversão, por exemplo, matar você não tá sendo nada divertido, nunca é, não diga como se tivesse propriedade sobre o assunto. — Kim lhe deu as costas indo em direção a mesa de madeira, colocou o alicate dentro da bolsa de couro preta, retirando uma pistola 9mm, encaixou o silenciador, e voltou ao Nam novamente. — Enfim, me deixe acabar com essa diversão logo, é tão entediante.

— QUANDO EU SAIR DAQUI VOCÊ VAI SER UM CARA MORTO! ME ENTENDEU? VOCÊ SABE QUEM EU SOU? YEON BOK NAM, DIRETOR DA MAIOR REDE DE TELEVISÃO ABERTA DO PAÍS, SEU DESGRAÇADO.

Uma risada irônica foi solta por Taehyung, era sempre assim, o chilique e gritaria era a primeira ação quando estavam prestes a morrer. Seus atributos de nada servem agora, mas é sempre o primeiro argumento a ser usado.

— Ah Bok Nam, estou fazendo o meu trabalho, sou pago pra isso, se você quiser dar chilique, vá fazer isso pra pessoa que me contratou. — Duas balas foram colocadas na pistola, apenas o necessário. Para Kim, isso nunca perdia a graça, o jeito que eles ficavam quando viam um arma apontada diretamente para própria cabeça, sem a possibilidade de desviar ou fugir, era sempre cômico.

O primeiro disparo foi feito. O buraco no pescoço de Yeon o fazia esguichar sangue pela boca, sujando sua camisa branca de grife. O sangue jorrava, machado o plástico acima do porcelanato caríssimo. Segundo disparo. Como se estivesse em câmera lenta. Sua cabeça foi para trás em um solavanco e caiu para frente, balançando levemente, para os lados, até parar definitivamente. Se seu corpo não estivesse atracado a cadeira, provavelmente estaria no chão, um peso morto. O sangue escorria no plástico transparente da parede, o impedido de sujar a parede cinza. Finalmente morto.

Seu corpo mole era de dar nojo a qualquer um que o visse nesse estado, sempre daria. Bok Nam era o típico chefe que te humilhava e assediava, um péssimo pai e esposo, além dos seus segredinhos de tráfico de drogas e lavagem de dinheiro com um empresa que nem lhe pertencia. Muitos inimigos e pouca resistência, seu estilo de vida o levou a isso, se ele tivesse parado no momento certo, Taehyung não teria de gastar seu tempo o matando.

O celular no bolso traseiro da calça jeans foi puxado sem nenhuma delicadeza, o dedo grande deslizava pela tela rapidamente, clicando aqui e ali. O número discado quase instantaneamente, foi atendido.

— Aqui é Kenzo Tanaka, com quem eu falo?

— É o V. Preciso dos seus serviços naquele endereço que te mandei hoje de manhã.

— Dez minutos.

— Estou esperando. — Desligou o telefone, olhando para Bok Nam novamente, pensando qual seria o melhor destino para seu corpo. Cremado? Ou seria melhor enterrá-lo? Mandar as cinzas pra família, não seria tão ruim. Porém, mandar o corpo seria dramático ou traumático? Talvez os dois? Enviar o corpo com um lacinho vermelho em volta do saco preto, até que não seria má ideia.

Kim ainda ponderando a ideia do saco preto com lacinho, foi recolhendo suas coisas do escritório, deixando-os na porta dos fundos, perto da área de serviço, aproveitou para observar a casa de Yeon, era uma casa legal e imensa, uma pena que ele não soube se aproveitar disso, voltando ao escritório, conferiu se não tinha esquecido nada. Sem evidências nenhuma que alguém esteve aqui. Esse é sempre o passo mais importante. Não deixar nenhuma digital, dna ou qualquer coisa que possa o incriminar. Todo cuidado é pouco.

— V? Você está aí? — Uma voz distante, de fora, acabou pegando Taehyung de surpresa. — É o Kenzo, aparece logo que eu tenho outro serviço daqui a uma hora.

— Boa noite pra você também. — Disse ironicamente, enquanto abria a porta — Ele está aqui, bem sentadinho esperando vocês, coloquei um plástico na parede e no chão, mas por precaução limpem tudo.

— Você não precisa me dizer como eu tenho que fazer o meu trabalho, me paga logo, e vá embora, você já finalizou seu trabalho, então não vem atrapalhar o meu. — Falou enquanto lhe acompanhava até a porta dos fundos, o ajudou a colocar as duas maletas de metal no porta malas da Mercedes, estendendo a mão, para receber seu pagamento.

Desativou o alarme do carro, abrindo o porta luvas, retirando de lá um envelope cor de abóbora, cheio o suficiente dando a impressão que estava prestes a explodir. O entregou ao Tanaka, que assim que sentiu o envelope em suas mãos, deu as costas ao coreano, sumindo de sua vista assim que fechou a porta dos fundos.

— Mal educado, nem me deu um tchauzinho. — Falou consigo mesmo, enquanto manobrava o carro. — Você trabalhou bem Taehyung, mamãe estaria orgulhosa.

Mais uma vez, riu sozinho, sua mãe sentiria tudo menos orgulho. Como será que ela se viveria sabendo que o filho dela é um assassino de aluguel? Se culpando? Provavelmente se questionamento onde errou em sua criação. É justamente por ela ter lhe dado uma boa criação, Taehyung exerce esse trabalho, fazendo justiça com suas próprias mãos, não pode ser tão ruim assim, ou pode?

O clima em Seoul era frio, o inverno esse ano estava sendo duro. Fazendo com que Kim fechasse as janelas da Mercedes, impedindo que o vento congelante entrasse naquele pequeno ambiente. Ligou o aquecedor, e soprou suas mãos na tentativa de se esquentar, sendo em vão, se ele tivesse pego o casaco grosso e as luvas, não estaria passando por isso agora.

Entrou no estacionamento subterrâneo, manobrou o carro em uma de suas vagas. Antes de sair do carro, puxou a pequena alavanca ao lado do banco do motorista, abriu a mala, pegando as grandes maletas de metal, puxando com dificuldade a maior delas. Diminuir o tamanho dessas maletas, facilitaria muito essa parte. Anotado em sua lista mental.

Andou até a frente do elevador, apertou o botão, e por sorte estava ali, entrou, apertando o último botão daquela sequência, a cobertura. Kim não era alguém que gostava de se amostrar, ou ficar dizendo por aí todos os bens que possuía, ou que poderia ter apenas em um estalar de dedos. Ele gostava de viver bem, em meio a riqueza e luxo, mas não de ostentar, era bom ter tudo isso só pra você, sem que ninguém soubesse.

Saiu do elevador, já no andar desejado, abriu e fechou a porta de seu apartamento, depois de ter entrado colocando seus pensamentos de lado, atravessou a cozinha chegando na área de serviço, se livrou de todas as peças de roupa já colando pra bater na máquina de lavar. Tirou suas botas sociais decidindo deixá-las para limpar amanhã.

Voltou a cozinha, abrindo a pequena adega de inox, pegando um dos vinhos brancos argentinos, eram um dos meus preferidos. Tirou a rolha de modo ágil, e despejou o líquido numa taça de cristal, dando um pequeno gole, antes de deixá-la novamente em cima do balcão de mármore, Atravessou o apartamento, carregando as maletas, levando-as diretamente a sua suíte, entro no grande closet, afastando seus paletós de grife. Colocou sua mão, do lado esquerdo da parede, deixando ali por alguns segundos, para que a leitura de suas digitais fossem feitas, assim que abriu, Kim colocou as maletas naquele pequeno compartimento secreto, fechando as portas em seguida.

Rumou em direção ao banheiro, ligando a torneira na água quente, já jogando alguns dias de banho ali. Voltou a cozinha pegando a taça e o vinho, assim que chegou o quarto, sentou na poltrona que ficava ao lado da porta do banheiro, assim ele poderia ver quando a banheira finalmente estivesse cheia.

Agora, com a morte de Yeon, Taehyung tem mais de trezentas mortes em mãos, acumuladas em cinco anos. Era um bom número, provavelmente teria mais se ele tivesse começado em sua primeira oportunidade. Se levantou da poltrona, deixando a taça e a garrafa em cima da mesa, indo em direção ao banheiro. Fechou a torneira da banheira e entrou, tendo os músculos automaticamente relaxados.

O amorenado ficou dentro da banheira tempo o suficiente para que sua pele começasse a enrugar e a água deixar-se de ser quente. Era um costume que ele tinha desde que se conhecia por gente, pra ele, era sempre a melhor parte do banho. Se secou e colocou o pijama rosa com listras brancas e coelhinhos, que sempre deixava em cima da cama, sem cueca, era desconfortável dormir com uma.

Se deitou na cama, e não sabia se era pelos lençóis egípcios, o colchão caríssimo é confortável, ou cansaço, talvez os três, mas ele dormiu rápido é como um bebê. Pensamento sobre sua mãe, rodavam sobre sua mente, atrapalhando seu sono, mas ele não conseguiu acordar, mesmo com todo o esforço.

— Tata, meu amor, eu te amo muito, ok? Não se esqueça disso nem por um minuto, mamãe nunca vai te deixar. — Porque eu não conseguia acreditar nela? Mal conseguia respirar sem os aparelhos, se levantar, até mesmo comer. Minha mãe era uma boa mentirosa, mas aqui e agora, tudo que saia de sua boca, não é nem um pouco convincente.

— Você sabe que eu não acredito não é? Mãe, olha, você nem consegue ficar em pé, seu estado só piora, a porra dessa doença está acabando com você, e nem parar de mentir você consegue. Eu não sou mais um bebezinho, mãe, eu consegui lidar com isso. — Mais mentiras, mas dessa vez, por minha conta.

— Oh meu amor, eu sei sim, mas não é mentira, mesmo que eu morra, ainda vou estar com você — Minha mãe colocou a mão no meu peito, bem em cima do meu coração. —, bem aqui, eu sempre vou sempre estar bem aqui.

Ela ainda não tinha tirado a mão do meu peito quando os aparelhos começaram a apitar. Médicos e enfermeiros ao montes entraram no quarto, cheio de aparelhos, me empurrando pra lá e pra cá. Gritavam, me sacudiram, mas eu não tinha uma reação. Sem riso, sem choro, sem medo, sem nada, nenhuma sensação ou sentimentos. Apenas estático, durante todos aqueles vinte e um minutos e quatorze segundos.

Nem ninguém, nem nada conseguiu me tirar desse quarto, mesmo depois que sua morte tinha sido oficialmente declarada. Meu pai não estava aqui, apenas eu e uma enfermeira bem legal.

Eu não sei o que sentir, ou o que dizer. Minha mãe morreu e foi levada em minha frente. Por que eu não sentia nada? Por que eu tinha que ser assim tão… indiferente a tudo?

Gritos. Gritos estridentes, cada vez mais forte e mais altos. É meu pai. Sempre que algo acontecia, ele gritava, gritava muito.

Ele chegou escancarando a porta dessa parte mais restrita do hospital, seguranças tentavam segurá-lo, mas era em vão. Ele segurou no colarinho do médico responsável pelo caso da minha mãe, eu poderia jurar que a qualquer momento ele socaria o médico.

— Cadê a minha esposa? O que você fez com ela? — Lágrimas indesejadas escorriam pelo seu rosto, passando a mão grosseiramente pelo rosto na tentativa falha de secá-las. — CADÊ ELA? CADÊ A MINHA SOORA? VOCÊ ME PROMETEU QUE ELA TERIA MAIS DOIS MESES DE VIDA — Sua voz agora estava falha, seus joelhos bateram no chão, ele já não tentava mais secar as lágrimas, só as deixava cair mais e mais, enquanto tampava o rosto, soltando lamúrias baixas demais para serem entendidas.

— Senhor Kim, a senhorita Soora teve uma recaída que não esperávamos, nós fizemos o nosso melhor. — O médico se abaixou ao lado de meu pai, passando a mão em suas costas como modo de conforto. — Ela ficou debilitada de uma hora pra outra, eu sinto muito pela sua perda.

Eu sinto muito pela sua perda.

Eu. Sinto. Muito. Pela. Sua. Perda.

Sua perda.

Perda. Perda. Perda.


Taehyung acordou desnorteado, confuso e suado. Seu cabelo grudado na testa, tampa sua visão. O travesseiro e os lençóis abaixo de si, estão ensopados.

Os pesadelos haviam voltado, sempre essa cena. Ele não se lembro desse dia, mas esse momento constantemente se torna um pesadelo. Parece tudo mais pesado, triste e desolador. E como se não fosse normal ou natural. Independente de todos os seus esforços de parar com isso, nunca passava ou aliviava, o mínimo de tempo que ele teve sem essas visitas inesperadas e indesejadas, foram apenas duas semanas. As melhores duas semanas de sua vida, os únicos dias nos últimos nove anos, em que ele conseguiu ter uma noite tranquila, nenhum remédio ou terapia o livrou disso, era frustrante.

Se levantei da cama, vendo o horário no despertador. Quatro e meia da tarde. Mais da metade de um dia perdido, em compensação, ele se sente bem melhor, apesar do pesadelo.

Tomou um banho rápido, vestindo um conjunto de moletom bem confortável, aproveitou para colocar seu celular pra carregar, vendo mil e uma mensagens e ligações, não dando importância a nenhuma, sua barriga roncava, era isso que merecia atenção agora, não o seu trabalho.

Já na cozinha, preparou dois sanduíches, cortou algumas frutas, e fez um suco de laranja. Sentou-se no grande sofá de couro bege, ligou a televisão, colocando em uma de suas séries favoritas. Assistiu cerca de cinco episódios, antes de ir ao escritório, e trabalhar pelo resto da noite. Atendeu e fez telefonemas, enviou e respondeu e-mails, começou e terminou plantas.

A noite foi extremamente longa e cansativa, mas serviu para fazê-lo não pensar naquela maldita memória dolorida. Que atormentava seu sono sem horário de chegada e saída. Um dos maiores medos de Kim Taehyung, e reencontrar seu pai, e se lembrar do dia da morte de sua mãe.

Ele se acha fraco demais, não só fisicamente, como psicologicamente, para aguentar todo esse peso em suas costas novamente. Aquele dia, estava marcado em algum lugar da sua memória, e ele não pretendia acessá-lo durante o resto de sua vida.

O pavor de ser assombrado pelo resto de sua vida, não era algo que ele queria, então se lembrar de algo, não estava em seus planos. Dormir era uma tortura, talvez necessária? Ele não sabia o que pensar. Ultimamente, ele sobrevivia, viver? Taehyung desejava sim, mas depois de se livrar daquilo que lhe atormentava.

Já pronto para trabalhar, Kim deixou sua maleta de couro no chão, e fez carinho na madame, sua gata Sphynx, seu bebezinho. Ela só tinha um ano e meio, foi buscá-la hoje mais cedo, no pet shop. Madame, tinha passado a noite lá em observação, depois de ter acidentalmente caído da cama king size, do quarto de hóspedes.

Trocou sua água, e colocou ração no potinho, vendo-a comer. Sacudiu sua cama na varanda, na tentativa de tirar qualquer poeira existente. Depois de uma dura despedida, Kim finalmente rumou em direção ao trabalho, levando cerca de quinze minutos a mais que o normal, acidente em plena manhã de sexta-feira.

Depois de ter passado por aquele congestionamento, que lhe tirou a paciência, finalmente chegou no prédio da empresa. estacionou o carro, saiu e abriu a porta do passageiro, empilhou as duas caixas, as pegou com dificuldade, tendo que voltar na Mercedes por ter esquecido a maleta, ali foram no mínimo dez minutos, levando em conta todo o trabalho para pegar as caixas e a espera do elevador.

Saiu no décimo quinto andar, mal conseguindo ver qualquer coisa a sua frente. Caminhou com dificuldade pelo corredor, sendo alvo de olhares curiosos, provavelmente pela sua falta ontem, uma coisa que nunca aconteceu.

Praticamente invadiu a sala do presidente da empresa, Kun, sem esperar ser anunciado, carregar peso o deixava impaciente. As caixas foram colocadas no chão, e a maleta na cadeira à sua esquerda, sentando-se na outra desajeitadamente, completamente largado.

— Parece cansado, Taehyung. — Kun comentou, largando os papéis em cima da mesa de vidros, lhe dando atenção. — Confesso que não fiquei muito contente com a sua falta ontem, tivemos uma reunião importante, e a sua presença era excepcional.

— Eu sei Kun, me desculpe por isso, mas eu não estava em condições de levantar da cama ontem, o estresse é o cansaço estão me desgastando muito, eu precisava dessa folga. — Mentiu descaradamente, massageando as têmporas, incorporando aquele papel vagabundo.

— Entendo, mas gostaria que você recolocasse essa sua folga, indo na festa de comemoração no final do mês — Sempre tão direto, quanto a suas vontades. — É de sua ciência a importância dessa festa e da sua presença nela, desde que começou a trabalhar aqui, você só foi em uma, e nas outras fez questão de dar uma desculpa, nenhuma delas com um motivo plausível.

— A última coisa que eu quero agora é um sermão, e em minha defesa, eu ainda não era diretor da empresa, em festas anteriores, não é como se eu tivesse obrigação de ir. — Me levante e abotoei o paletó novamente. — As plantas que me pediu na semana passada estão todas aqui, assinadas e corrigidas, só preciso que você autorize para poder começar a construção. Se possível, faça isso até o horário do almoço de amanhã, eu tenho pressa. — Saiu da sala rapidamente soltando o ar que nem havia percebido que segurava. Kun, apesar de ser seu cunhado, demonstrava não gostar de Kun, não só aqui na empresa, mas em qualquer lugar em que os dois estivessem no mesmo ambiente. Taehyung sentia que os olhares que Kun direcionava a si, era como ele soubesse do seus mais profundos segredos, era instigante.

Entrou em sua grande sala, já exausto sem nem ter começar a trabalhar, tinha muitas plantas para revisar aqui, documentos para assinar ali, compromissos acolá, tanta coisa acomulada por um dia de folga, se é que ele poderia chamar assim, já que ontem, passou a noite toda e um pouco da madrugada adiantando o trabalho.

Já eram oito da noite, Taehyung deveria estar em casa, sentado naquele sofá de couro caríssimo, ponderando deveria fazer de jantar, provavelmente sendo perturbado por Jimin e Hoseok, que sempre o visitavam as sextas feiras, e às vezes acabam dormindo por lá.

Kim costumava reclamar, porque eles agem como duas crianças, mesmo sendo adultos de mais de vinte e sete anos, fazem tamanha bagunça como um bebê descobrindo que pode espalhar brinquedos pela sala de estar. Agora tudo o que ele queria era estar na companhia de seus hyungs.

Taehyung odeia mais que tudo fazer hora extra, mesmo que de vez em quando seja necessário, ele faz o possível e o impossível para evitar isso. Nada mais desagradável que ter um dia exaustante de trabalho, e ainda ter que adiar o horário de saída.

E nos últimos tempos, desde que se tornou diretor da Persona, o trabalho só aumentou, ele sabia que não ia ser fácil, sempre soube,mas parece que desde que assumiu essa posição, o sangue em suas veias foi substituído por cansaço, estresse e impaciência, e sua segunda vida e só uma contribuição para isso. Pensar em tirar umas férias dos dois, de tudo, era uma coisa que rondava a cabeça do Kim a dias.

Todavia, parece que essa segunda vida, agora estava sendo um problema, quando ele pensa em descansar, tem algum serviço pra fazer. E como se esse serviço funcionasse por temporadas, como em hotéis que ficam em pontos turístico, tipo em praias, tem temporadas em que são mais movimentadas que outras, e o segundo trabalho parece ser assim, entre o final e o começo do ano, é quando tem mais pedidos e as pessoas são sempre tão exigentes, que querem que seja realizados o mais rápido possível.

O cansaço aumenta em níveis alarmantes, mas Kim consigo suportar, como já é bem costumeiro em sua vida, ele consegue lidar melhor com isso, do que quando começou. Heechul e como seu segundo irmão mais velho, e foi ele quem lhe ensinou tudo, principalmente como lidar com o cansaço, tanto físico quanto mental.

Lidar com tudo isso, trabalhar com isso, te obriga a ter um psicológico estável e também uma grande resistência em todos os quesitos. Está presente na cabeça de Taehyung como se tivesse acontecido ontem, uma lembrança não muito boa, o dia em que ele começou nesse ramo, ele era tão frágil, que quando puxou o gatilho pela primeira vez, levou meses até conseguisse fazer o mesmo novamente, não é algo que ele se orgulha, nem mesmo Heechul sabe disso ou ele apenas finge que não sabe.

Kim tirou a gravata, depois de tanto afrouxa-lá, juntamente com os sapatos, desabotoou a blusa social branca e desfez o laço do cinto de couro marrom. Se arrastou até o quarto com muito esforço, afinal sua vontade era de ficar no sofá mesmo, surpreso por Jimin e Hoseok não estarem esparramados em sua cama, seria um milagre?

Já que eles não estavam, ele faria isso pelos três, me joguei, e caiu como uma pena no colchão. Respirou fundo e relaxou os músculos, não tem nada melhor que isso depois de um longo dia de trabalho. Sua barriga roncava pedindo frango frito com um belo suco de laranja geladinho. O celular foi puxado do bolso com muito esforço, por ele estar deitado, procurando em sua lista de números o contato do restaurante, achou, ligou, pediu. Porção extra-grande de coxas de frango, muito bem fritas. Baboi por se imaginar comendo essas delícias.

Se forçou a levantar da cama e tirar toda essa roupa pesada, o pijama de coelhinhos brancos, estava sujo, então foi até o imenso closet, abrindo a segunda gaveta, pegou o pijama de macaquinhos, com listras amarelas e verdes. Rindo sozinho por se lembrar de Jimin e Hoseok brigando por quem iria vesti-lo, sempre tão infantis.

Os macaquinhos foram colocados em cima da cama, Taehyung rumou ao banheiro, entrou, deixando a porta aberta, afinal não tinha ninguém ali além dele, ligou a luz e...

— AH CARALHO! — Assim que ele se virou em direção a banheira, Jimin e Hoseok estavam lá dentro, lhe olhando com aquelas carrancas sérias, de braços cruzados, vestindo o pijaminha grupal. — Porra, eu quase tive um ataque agora, vocês são doido? — massageou seu peito, do lado do coração, como uma forma de se acalmar, seu batimentos estavam acelerados. — Olha, não precisa nem responder, saiam daqui que eu quero tomar o meu banho.

— Tá vendo Jimin, é assim que ele trata a gente, nem um beijinho ou uma desculpa por ter se atrasado. — Hoseok ironizou enquanto fingia secar suas lágrimas imaginárias, batendo no ombro de Jimin.

— Ah hyung, ele já não nos respeita a tempos, parece aqueles adolescentes que acabaram de entrar na puberdade. Até pediu pra gente sair do banheiro, só pra ele tomar banho — Riu sendo acompanhado por Hoseok. —, nem parece que a gente já fez um sexo grupal e os caralho a quatro.

Os ignorando, Kim tirou sua cueca já entrando no box de vidro, ligou o chuveiro e a água quente escorreu por suas costas, relaxando automaticamente aqueles músculos tensos. Ele teria ficado aqui por pelo menos uma meia hora, se seus hyungs não ficassem gritando a cada cinco segundo "a porra do frango vai esfriar, anda logo.", sem o frango nem ter chegado.

Depois de ter sido obrigado a trocar de pijama pra combinar com o deles, os macaquinhos e listras amarelas e verdes, foram substituídos por um coala e suas listras azuis e brancas. Já sentados na sala de estar, eles com sua cerveja azeda e o Kim com seu suquinho de laranja, atacaram aquelas deliciosas coxas de frango, enquanto maratonavam pela quinta vez, The Vampires Diares.

Depois de terem limpado tudo, de barriga cheia e dentes escovados, afastaram a mesa de centro, e distribuíram ali dois colchões de ar, com muitos cobertores e travesseiros, bem abraçadinhos, estavam vendo Damon Salvatore esbanjar aquele tanquinho maravilhoso, pensa num pedaço de mal caminho.

— Aí o pano que eu passo pra esse macho não tá no gibi. — Hoseok comentou, e o mais novo o corrigiu.

— O pano que eu paço pra todos os machos dessa série, qualquer um mesmo, não tá no gibi.

— Falando em macho, acabei de lembrar uma coisa. — Jimin se sentou rapidamente, atraindo a atenção para si, pausou a série antes de começar a falar. — No próximo mês, eu tenho um serviço a realizar, mas por ironia do destino eu não vou poder, porque vou viajar, então, Taehyung, eu passei seu contato pra minha cliente.

— E o Hoseok? Já tô cheio de serviço, hyung. — Resmungou, nem um pouco contente com essa notícia.

— Eu vou com o Jimin, Tata. A cliente do jimin paga muito bem, e não tem pressa para realizar o serviço, vai quando for melhor pra você.

— Então eu aceito. Quem é que eu tenho que matar?

— Jeon Jungkook, o filho do promotor de justiça Jeon.




Continua...



Nota da autora: Se você chegou até aqui, muito obrigada. Comente bastante, eu gosto de saber da opinião de vocês, é uma ótima motivação para escrever. Até a próxima!!





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