Capítulo Único
Eu saí de casa aquela noite precisando simplesmente relaxar um pouco depois de um dia estressante no trabalho. Passei o dia inteiro na recepção de um evento, forçando meu sorriso para aquele monte de caras que ficava olhando dentro do meu decote e passando cantadas baratas, tudo para terminar de pagar minhas aulas de canto. Eu só queria beber até ficar inconsciente ou arranjar quem me levasse para casa e me fizesse esquecer até o meu nome, o que viesse primeiro.
Eu cheguei sozinha no Baltic por volta de onze da noite e fui direto para o bar. O Baltic era esse clube badaladinho da cidade, onde eles olhavam até se você era meio bonito pra entrar, palco de playboy. Pedi um martini e um shot de tequila para o barman, entreguei uma nota de cinquenta e mandei ele ficar com o troco. Ele arqueou as sobrancelhas diante da minha não tão comum generosidade e eu brindei em direção a ele. Lambi o sal nas costas da mão e virei o shot de tequila, mordendo o limão logo em seguida. Apertei os olhos, balancei a cabeça e deixei o líquido queimar caminho abaixo. Ótimo, em breve o torpor alcoólico faria tudo ficar melhor.
Permaneci encostada ao balcão, bebericando meu martini e olhando o movimento. Não encontrei nada que chamasse a minha atenção num primeiro momento, então talvez a minha escolha deveria ser beber até cair. Eu estava quase pedindo um outro martini, quando o garçom chegou com uma nova taça, bem cheia.
— Cortesia do rapaz de blusa azul do outro lado da bancada. - Ele falou bem próximo do meu ouvido, depois que eu perguntei o que aquela taça significava. Quando olhei na direção que ele indicou, um homem alto, por volta de seus 25 anos, vestindo uma polo azul claro ergueu sua long neck em minha direção.
Acredito que o fato de eu ter olhado na direção dele deve tê-lo feito achar que deveria se aproximar e falar comigo. Francamente, as pessoas deveriam saber mais do que andar de camisa polo em baladas, mas achei que seria no mínimo educado trocar meia dúzia de palavras com alguém que pagou uma bebida pra mim.
— Eu me pergunto o que uma garota como você faz bebendo sozinha… - Ele colocou a mão na minha cintura, sem minha permissão, obviamente. E continuou falando ao meu ouvido. - Não gosto de ver moças tão bonitas bebendo sozinhas.
— Bom, se você não gosta de ver, talvez desse fechar seus olhos, porque essa moça aqui adora beber sozinha e não tem o menor problema com isso. - Virei o resto do meu martini.
— Eu gosto de garotas selvagens. Meu nome é… - E parei de escutar o que ele estava falando. Aquele papinho genérico de caras bonitos, que não precisam falar muita coisa para conquistar uma garota, e podem jogar qualquer merda contando vantagens de si mesmos e tá tudo bem.
Do outro lado do clube, algo me chamou a atenção. Ele estava de pé, os dois ombros apontavam para a garota em frente a ele. Eu só via uma parte do perfil dela, mas conseguia dizer que ela falava sem parar e que ele não parecia minimamente interessado no assunto. Acho que ele bebia um bourbon, pelo menos era esse o copo que ele segurava. Ele tinha um jeitão bem descolado, trazia anéis em ambas as mãos de um jeito bem despretensioso, o braço tinha algumas pulseiras que se mexiam conforme ele ia levando o copo à boca. A camisa estava aberta, deixando o peito à mostra e um pingente brilhava quando ele se movia. A mão livre tamborilava o parapeito do mezanino, meio impaciente, como precisasse de uma desculpa para sair dali depressa.
De repente, seu olhar encontrou o meu. Quer dizer, eu acho que encontrou. Estávamos muito distantes um do outro, mas ele parecia olhar em minha direção e fez subir um calor pelo meu corpo. Eu mordi o lábio inferior num reflexo, ele ergueu o copo em minha direção, como num brinde. Ergui a minha taça em resposta.
— … mas eu nunca tive muito problema quanto a isso na faculdade. - O cara da camisa polo deu uma olhada para trás para ver com quem eu estava brindando, mas não chegou a olhar em direção ao mezanino.
— Um conhecido que passou. - Eu dei um sorriso amarelo. - Você estava dizendo?
— Ah, sim. Eu era muito bom em… - De novo, liguei o modo automático do que ele estava falando e voltei minha atenção ao estranho do mezanino.
Ele tinha dispensado a garota com quem conversava e agora debruçado sobre o parapeito, olhando na minha direção. Parecia analisar a situação, como quem assiste um filme, tentando entender os personagens e a cena. Eu sorri amarelo de alguma coisa que o camisa polo parecia achar engraçado e mexi o pescoço, desconfortável. Passei a mão no cabelo, tirando uma mecha da frente do olho para poder encarar o boy estranho mais atentamente.
Quando voltei o olhar ao mezanino, ele tinha ido embora. Escaneei o lugar e ele não parecia estar em qualquer lugar. Dei dois passos para trás, buscando ter uma visão melhor da pista, mas isso pareceu encorajar o cara da camisa polo na minha direção e ele mais uma vez colocou a mão na minha cintura e já vinha fazendo um movimento para me agarrar.
— Ei, Julia! - O cara que me encarava do mezanino apareceu do meu lado, puxou meu braço para longe do alcance do outro cara que eu nem tinha me dado o trabalho de saber o nome. - Desculpa o atraso, eu não achei que fosse demorar tanto naquele jantar.
— Tudo bem, não tem problema. Esse aqui é o meu amigo… Ahn, como é mesmo o seu nome? - Eu enlacei o meu salvador pela cintura e encostei minha cabeça em seu ombro.
— Ah, eu já estava mesmo de saída. - O camisa polo colocou sua garrafa de cerveja vazia no balcão, deu meia volta e sumiu no meio da multidão.
— Nossa, muito obrigada por me salvar desse chato! Já tinha horas que ele estava aqui falando na minha cabeça e eu já não aguentava mais. - Fui soltando lentamente do estranho que me salvou. Fiquei um tanto relutante de ter que fazê-lo, porque Deus, ele tinha um perfume maravilhoso.
— Tudo bem, eu consegui ouvir o seu grito por socorro lá do outro lado do clube. Foi um prazer, na verdade. - Ele se aproximou devagar, como se fosse pegar na minha cintura e eu fui me encostando no bar, esperando ansiosa. Quando nossos corpos se encontraram, ele ergueu a mão e pediu o garçom uma bebida.
Eu ri, tanto de desapontamento quanto de expectativa. Não imaginava mesmo que ele fosse me agarrar ali baseado em uma troca de olhares a cinquenta metros de distância, mas o jeito que ele me provocou naquele momento… Cara! A dança do acasalamento tava só começando.
— Acho que você estava tomando martinis, certo? - Ele me entregou a taça que o garçom deixou no balcão às minhas costas e tomou um gole de seu bourbon. - Eu posso ao menos saber o nome da donzela em perigo que eu acabei de salvar?
— Não sei nada sobre a donzela, e acho que o único perigo que eu estava correndo era o de morrer de tédio, mas… . - Estendi a mão para ele, que retribuiu com sua mão macia e deixou um beijo entre os nós dos meus dedos. Ele deixou os lábios na minha mão por alguns segundos e ergueu o olhar para me encarar.
— Encantado, . . - E piscou pra mim.
Nós conversamos por algum tempo e ele ainda segurava a minha mão. Todo o tempo, seu polegar passeou pelas costas da minha mão, e seus dedos brincaram de entrelaçar os meus. Ele conversava comigo sobre os assuntos mais aleatórios, mas pelas entrelinhas havia toda uma preliminar rolando e em dez minutos eu já estava me contorcendo de vontade de beijá-lo.
Eu tentei dar sinais claros do quanto estava a fim: mordi o lábio, cheguei mais perto, toquei seu braço e peito diversas vezes, mexi no cabelo. E a gente só ficava naquela dança de ver quem provocava mais. Do lado dele, os olhares, os sorrisos e os carinhos na minha mão; infinitamente mais sutis do que eu. Quando ele pediu ao garçom para nos servir mais uma bebida e uma garrafa de água, eu senti que era minha chance de sair daquele empate. Quando ele se virou de volta pra mim, coloquei a mão em seu rosto, sorri e beijei sua boca.
Uma vez que nós começamos, não foi possível parar. Foi como se tivéssemos acendido uma faísca em meio a algo muito inflamável. Uma vez que nossas línguas se tocaram, toda a tensão que eu vim segurando nos últimos dez minutos começaram a ceder enquanto eu me derretia ao toque e aos beijos daquele cara que apareceu do nada e estava cumprindo todo o propósito da noite, que era esquecer até o meu nome.
— Eu não tenho a menor intenção de interromper o que está acontecendo aqui, mas acho que estamos chamando a atenção do público pra nós dois. - Olhei em volta e várias pessoas estavam de olho na nossa nada discreta pegação.
— Pra ser bastante sincero, eu não me importo nem um pouco em ser o centro das atenções, pelo contrário. Isso me excita um pouco mais. - Ele continuou me beijando e me pressionando no bar, nenhum átomo entre nós dois.
— Eu quero muito te levar pra minha casa… Nesse minuto. - Consegui sussurrar enquanto ele mordiscava minha orelha. Me virei e deixei que ele ficasse encostado ao balcão do bar, minhas mãos subindo por debaixo da camisa dele, tocando sua barriga, peito, costas e finalmente, apertei sua bunda.
— Eu não pareço estar oferecendo qualquer resistência, pareço? - Ele me segurou meu queixo, deu uma piscadinha. Não pensei duas vezes: peguei sua mão e fui abrindo caminho até a nossa saída.
Fomos para a calçada para tentar encontrar um táxi, ainda sem saber se a gente ia para a minha casa ou para a dele. Eu já estava bem alegrinha, com dificuldades de me equilibrar, mas ele me segurava pelas costas, me ajudando a ficar de pé e ao mesmo tempo, ele se virava para achar a nossa condução. Enquanto esperava, enchi o pescoço de beijos e mordidas, passeava as mãos pelo seu corpo e ele ria e sorria, gemendo baixinho para chamar menos a atenção das pessoas que fumavam na porta do clube.
Quando o táxi finalmente parou em frente onde estávamos, ele teve que lutar um pouco para se desvencilhar de mim e entrar no veículo. Era como se nós fôssemos ímãs, e eu tivesse um enorme problema em ficar longe. O taxista foi bem-educado e fingiu que não tava que não estava observando o movimento no banco de trás, porque a temperatura estava subindo muito rápido.
O caminho foi relativamente curto, e eu estava muito ocupada entre beijos e mãos bobas com para prestar atenção no caminho. Quando o táxi parou, estendeu ao motorista uma nota de cem e nós pulamos do veículo, deixando aquele possivelmente constrangido taxista mais feliz. Tentei me comportar enquanto caminhávamos pelo hall do prédio em direção ao elevador, a mão dele segurando a minha, e aquele polegar nervoso que ainda acariciava as costas da minha mão.
Uma vez que o elevador parou no térreo e a porta deslizou para a direita, pulei para dentro puxando para dentro comigo. Ele me empurrou suavemente até à parede do fundo e pressionou seu corpo no meu, subindo as mãos pelas minhas coxas enquanto me beijava.
— Você sabe como um elevador funciona, não sabe? - Eu disse, quase distraída pelo fato dele estar beijando meu pescoço.
— Não tem muito como errar, eu acho. Ele vai pra cima ou para baixo, dependendo de onde mandam ele ir. - Ele riu e me beijou novamente.
— Exato! Só que esse aqui você não mandou pra lugar nenhum. - Apontei o painel, que continuava com todas as luzes apagadas. Ele se virou e apontou o número da cobertura, sem tirar a mão direita de mim, agora segurando minha cintura.
Quando o elevador começou a se movimentar, puxei de volta para a nossa ação pela gola da camisa, soltando os botões desajeitadamente, tentando não afastar minha boca da dele. Ele, por sua vez, deslizou as alças do meu vestido e veio de cara nos meus peitos, duas mãos na minha bunda. Dei um gritinho de satisfação.
O elevador se abriu novamente, revelando a entrada de um apartamento luxuoso. Dei um passo para fora do elevador e entrei no corredor que levava à sala, iluminação aconchegante e decoração minimalista. veio caminhando atrás de mim, atitude muito diferente de segundos antes, trazia as mãos nas costas, observando curioso a minha reação ao ver onde ele morava.
— Uau! Quer dizer, uaaaaau! - Só quando eu me virei para ele é que percebi que estava com metade do meu vestido amassado na minha cintura, sutiã à mostra. estava rindo da cena.
— Acho que você gostou do que viu, mas não deve ter gostado tanto quando eu tô curtindo o que eu vejo agora. - Ele se aproximou.
— Você é famoso, herdeiro ou algo tipo? - Perguntei enquanto ele aproximava os lábios do meu pescoço.
— Algo do tipo, acho que é a resposta mais apropriada. - Ele pegou a minha mão e me levou pelo restante do hall de entrada, e depois me em um dos sofás da enorme sala. Bem no centro dela, um lustre em forma de ouriço se acendeu e a sala ganhou o tom amarelado das lâmpadas incandescentes. Marvin Gaye cantando Let’s get it on deixou bem claro qual era o próximo movimento da noite, e eu aprovei imediatamente.
colocou o celular na mesa de centro da sala, avançando para cima de mim no sofá. O peso do corpo dele sobre o meu produzia um efeito muito legal, eu tinha que admitir. Enquanto me beijava, suas mãos passeavam pelo meu corpo, arrepiando a pele a cada toque. parou brevemente de me beijar e olhou nos meus olhos, sorriso de lado, como se estivesse tentando descobrir alguma coisa.
— O que foi?
— Estou tentando saber se você está sóbria o bastante para que isso não configure como eu tirando proveito de você. E eu quero ter certeza antes de seguir com isso, porque, meu Deus, você é muito gostosa! E eu quero muito transar com você hoje, porém eu só quero transar com você se você estiver consciente o bastante para consentir. - Ele despejou esse discurso em mim de olhos fechados.
— Eu também quero muito transar com você… - Eu comecei.
— Mas…?
Era a primeira vez que aquilo me acontecia. Nunca em todos esses anos de vida sexual ativa um cara que me levou pra casa depois de uma balada me perguntou se eu estava sóbria o bastante para consentir sexo. A gente tinha dado vários beijos e alguns amassos, o que possivelmente configuraria como abuso caso eu não estivesse completamente de acordo com o que estava acontecendo, mas o fato dele me perguntar me pegou um pouco de surpresa.
— Não tem um mas. Eu só estou surpresa que você tenha perguntado.
— Eu gostei de você, de verdade, sem nunca ter te visto ou conversado contigo antes. - Ele suspirou profundamente e passou a mão nos cabelos. - Não quero fazer nada errado aqui.
— Não tem nada errado acontecendo. Eu posso ter bebido um pouco, bom, talvez não apenas um pouco, mas eu estou lúcida o bastante para saber o que eu quero fazer aqui. E eu quero você.
Ele sorriu, mostrando o alinhamento perfeito de seu sorriso, e depois me beijou. Antes que as coisas pudessem ficar ainda mais quentes, ele se levantou e pegou a minha mão, me puxando por um outro corredor sem parar de me beijar. Tateando o escuro, nos dirigimos para o quarto sem desgrudar por um instante sequer, tendo o meu vestido já ficado pelo caminho, assim como a camisa dele. parou por instantes, me olhando como se admirasse algo realmente incrível e frágil, e que poderia desaparecer ou quebrar ao menor toque.
Eu não estava acostumada a ser admirada daquela forma, especialmente por alguém que eu tinha acabado de conhecer. Ele parecia um menino fascinado com um brinquedo novo, com muita vontade de brincar, e eu conseguia sentir a respiração pesar e a luxúria tomar conta de todo o ambiente. Eu então me dirigi à cama que estava coberta com um edredon vermelho, combinando com a minha lingerie da sorte, que até hoje não tinha falhado na missão de voltar para a casa sem ser tirada pelo menos uma vez. Me sentei na cama e chamei com o indicador.
O resto da noite foi, por falta de um adjetivo que conseguisse expressar a magnitude dos acontecimentos, sensacional. sabia bem seus caminhos dentro dos quatro cantos do colchão; ele era gentil, carinhoso e tinha bastante fôlego - e o bastante para me deixar sem ar. Houve alguns momentos em que eu acredito ter mesmo esquecido qual era o meu nome. Ele me beijava, e eu sempre queria mais. Ele me tocava, e eu sempre queria mais.
Entre as transas, conversamos bastante, rimos mais ainda e acabamos nos conhecendo e conectando mais do que esperávamos. Algo aconteceu ali e nenhum de nós imaginou que pudesse ser possível, dadas as circunstâncias do início da noite. O que era algo de uma noite só poderia tomar rumos inesperados…
O dia estava amanhecendo, e eu precisava muito de um copo d’água. Levantei e a única peça que achei mais próxima foi a minha calcinha. Voltei os olhos para , que dormia profundamente, deitado de bruços, um dos braços pendendo para fora do colchão. Ele parecia exausto e eu segurei uma risada. Gastei até as últimas energias dele, mas valeu a pena demais.
Segui para o corredor na esperança de chegar na cozinha, me orientando pela fraca luz o amanhecer que entrava pelas janelas da sala. Tropecei na camisa de no caminho e acabei de cobrindo com ela, que tinha um tecido super macio e o perfume bom da pele dele. Alguns segundos relembrando um passado recente entre lençóis e edredons, e continuei minha caçada.
Encontrar a cozinha foi uma tarefa mais fácil do que eu previ. Assim como o restante do apartamento, ela também seguia um estilo minimalista e com pouca variedade de cores. Encontrei um copo em um dos armários, e enchi na pia, virando o conteúdo de uma só vez. Enchi mais uma vez e fui para a sala, onde seria possível contemplar o nascer do sol pelas enormes janelas.
Me sentei na ponta de um chaise longue que parecia propositalmente orientada para contemplação, de frente para as janelas e comecei a repassar os acontecimentos que me levaram até ali. Eu tinha plena consciência que me arriscava muito cada vez que ia embora com um cara aleatório e ficava completamente à mercê deles, mas havia algo sobre que me fazia confiar nele. Não era o fato de que ele era, claramente, um cara bastante rico e bem-sucedido, porque olha esse apartamento! Era algo em seus olhos, na forma como ele me olhava, como se conseguisse ler no fundo da minha alma. Era intenso, assim como tudo sobre ele…
Senti um movimento na cadeira e vi que se ajeitava para me me abraçar por trás. Ele cheirou meu cabelo e beijou meu pescoço, passando os braços pela minha cintura.
— Você não é bem o tipo que dorme, não é mesmo? - Ele riu e colocou o queixo no meu ombro, agora contemplando o nascer do sol comigo.
— Não é de propósito, eu juro. Sua cama e sua companhia são extremamente agradáveis. - Eu disse, me recostando em seu corpo. - Só estava revivendo o que aconteceu para que eu chegasse aqui.
— Algum pensamento em particular que você queira compartilhar?
— Acho que eu só estou acostumada a ficar sozinha o tempo todo sozinha, e ter relacionamentos de uma noite e sem significado, pouca conversa, muita ação…
— Então não houve ação o bastante para você essa noite?! - Ele me interrompeu. - Ok, entendi!
— Não, não é isso! - Ri meio sem graça. - Eu só… Não estou acostumada com isso.
— Abraços matutinos, ver o nascer do sol juntos, vestir minha camisa e ficar muito estilosa…?
— Sim, o conjunto dessas coisas. - Me virei de frente para ele e passei minhas pernas pela sua cintura, nos deixando cara a cara, muito próximos. - Eu só não queria gostar tanto de não estar sozinha.
— Sabe, você pode sempre me ligar- ele falava, alternando beijos em cada lado do meu rosto, - quando estiver se sentindo sozinha, quando não conseguir dormir… Eu posso ser uma espécie de mão amiga, mesmo que seja só por uma noite. A gente pode se divertir um pouco, sabe? Sem medos, sem rótulos.
— Parece uma boa ideia.
— É uma ideia excelente, eu acho. - Ele pegou o copo da minha mão e colocou no chão. - Essa noite foi muito além de qualquer expectativa e seria um desperdício não repetir a dose.
Tempos depois…
Eu tive mais um dia infernal de trabalho, dessa vez, fazendo a hostess na inauguração de uma nova casa noturna no bairro mais burguês da cidade. Era uma enxurrada dessa gente sem noção da faculdade se acotovelando para garantir um bom lugar quando a portaria do evento fosse aberta, logo depois que os convidados VIPs fossem devidamente acomodados nos camarotes. Se o cachê não fosse tão bom, eu teria largado aquela gente gente toda ali e ido me esconder debaixo da mesa do meu apartamento.
Eu só queria que alguém descobrisse o meu talento, meu sonho, minha vocação e me oferecesse um contrato com alguma gravadora, e que mudasse a minha vida da noite pro dia e me colocasse do outro lado da equação, onde eu chegaria e nem precisaria dar o meu nome na porta, porque as pessoas saberiam quem eu sou e me deixassem bem princesa no camarote, comendo e bebendo de graça. Mas, por enquanto, era aquilo que estava pagando minhas contas quando as gorjetas das minhas apresentações nos bares da cidade não eram gordas o suficiente.
Eu estava encarando a lista na minha frente com muito vigor e fúria, quando uma camisa familiar entrou no meu campo de visão. Minhas pernas vacilaram um pouco e o coração disparou; e a coragem de olhar para frente desapareceu. Depois de meses fingindo que aquela noite não tinha acontecido e suprimindo a vontade desesperada de ligar e fazer tudo outra vez, nossos caminhos tinham se cruzado novamente.
— Eu achei mesmo que o destino ia fazer a gente se encontrar novamente, . - Ele era ainda mais maravilhoso do que eu me lembrava e aquele perfume era muitas vezes mais intoxicante. - Você é alguém muito difícil de encontrar, sabia? E foi um golpe muito baixo pegar o meu número, não me dar o seu, e nunca ligar.
— … - Eu tentei inventar uma desculpa que me fizesse não parece tão abalada, mas não consegui. - Desculpe, eu não posso conversar agora. Estou trabalhando.
— Sem problemas! Eu tenho uma festa pra ir agora, de qualquer forma. - Ele esticou o pescoço, procurando algo na lista. - Qual o número do meu camarote?
— Ahn… - Encontrei o nome dele no final da lista. Ótimo, ele era um convidado do evento. - Dezesseis. Uma das meninas vai te acompanhar até lá. Aproveite o evento!
— Irei. E vê se grava o número. Quem sabe você não passa por lá quando terminar aqui? - Ele piscou.
Eu trabalhei o resto da noite num estado de extrema tensão. Não que a minha noite com o tinha sido ruim, pelo contrário, foi a melhor noite da minha vida, no mais amplo sentido da palavra. Eu demorei vários dias para tirar o sorriso bobo da cara e semanas para parar de pensar nele. A verdade é que eu sabia que se a gente continuasse aquilo, eu iria inevitavelmente me apaixonar e eu já tinha tido minha parcela de coração partido na vida. Ainda estava juntando os pedaços de um relacionamento anterior e não era exatamente o tipo de cara que parecia ser a cola.
Tudo bem, ele era maravilhoso: era lindo, gostoso, cheiroso, conversado, interessante, inteligente, um sem fim de adjetivos. Mas assim como ele me enfeitiçou, ele parecia ser o tipo de cara que deixava um amor em cada porto, vários corações despedaçados pelo caminho. A última coisa que eu precisava era ser mais uma a mendigar um pedaço dele.
Quando eu fui liberada, saí correndo depressa, antes que ele pudesse ir me procurar ou solicitasse a minha presença pelo camarote em que ele estava. Logo antes de sair, dei uma espiada nele, apenas para alimentar a minha imaginação e meu ego, de que talvez ele estivesse debruçado sobre o parapeito, olhando fixamente para o ponto onde eu deveria aparecer, como na noite em que nos conhecemos. Para a minha enorme frustração, ele parecia entretido com as pessoas (leia, mulheres) que se amontoavam à sua frente, decotes explodindo.
Me revirei na cama várias vezes, tentando combater o arrependimento de não ter falado com ele e me rendido, passado uma noite sensacional ao lado de . Depois de algumas horas de frustração e joguinhos no celular, me vi obrigada a levantar quando a campainha do meu apartamento tocou e um entregador disse que tinha uma encomenda para mim.
Quando abri a porta, mal dava para ver o homem por trás do arranjo de flores. Ele me fez assinar um recibo e fez a gentileza de colocar o vaso em cima da mesa, me entregando o cartão em mãos: “Só para deixar você saber que só precisa me ligar.”
Como ele adivinhou que peônias eram as minhas favoritas, eu jamais saberia. Mas era isso: eu desisti de tentar me enganar, dizendo que eu não queria, que aquela noite era um evento único e mágico que não deveria ser repetido para não ser arruinado. E foda-se meu coração partido e remendado, tinha me convencido de que talvez não fosse a cura, mas faria o caminho até ela muito mais divertido.
Busquei o número na minha agenda apressadamente.
— Alô, ?
Eu cheguei sozinha no Baltic por volta de onze da noite e fui direto para o bar. O Baltic era esse clube badaladinho da cidade, onde eles olhavam até se você era meio bonito pra entrar, palco de playboy. Pedi um martini e um shot de tequila para o barman, entreguei uma nota de cinquenta e mandei ele ficar com o troco. Ele arqueou as sobrancelhas diante da minha não tão comum generosidade e eu brindei em direção a ele. Lambi o sal nas costas da mão e virei o shot de tequila, mordendo o limão logo em seguida. Apertei os olhos, balancei a cabeça e deixei o líquido queimar caminho abaixo. Ótimo, em breve o torpor alcoólico faria tudo ficar melhor.
Permaneci encostada ao balcão, bebericando meu martini e olhando o movimento. Não encontrei nada que chamasse a minha atenção num primeiro momento, então talvez a minha escolha deveria ser beber até cair. Eu estava quase pedindo um outro martini, quando o garçom chegou com uma nova taça, bem cheia.
— Cortesia do rapaz de blusa azul do outro lado da bancada. - Ele falou bem próximo do meu ouvido, depois que eu perguntei o que aquela taça significava. Quando olhei na direção que ele indicou, um homem alto, por volta de seus 25 anos, vestindo uma polo azul claro ergueu sua long neck em minha direção.
Acredito que o fato de eu ter olhado na direção dele deve tê-lo feito achar que deveria se aproximar e falar comigo. Francamente, as pessoas deveriam saber mais do que andar de camisa polo em baladas, mas achei que seria no mínimo educado trocar meia dúzia de palavras com alguém que pagou uma bebida pra mim.
— Eu me pergunto o que uma garota como você faz bebendo sozinha… - Ele colocou a mão na minha cintura, sem minha permissão, obviamente. E continuou falando ao meu ouvido. - Não gosto de ver moças tão bonitas bebendo sozinhas.
— Bom, se você não gosta de ver, talvez desse fechar seus olhos, porque essa moça aqui adora beber sozinha e não tem o menor problema com isso. - Virei o resto do meu martini.
— Eu gosto de garotas selvagens. Meu nome é… - E parei de escutar o que ele estava falando. Aquele papinho genérico de caras bonitos, que não precisam falar muita coisa para conquistar uma garota, e podem jogar qualquer merda contando vantagens de si mesmos e tá tudo bem.
Do outro lado do clube, algo me chamou a atenção. Ele estava de pé, os dois ombros apontavam para a garota em frente a ele. Eu só via uma parte do perfil dela, mas conseguia dizer que ela falava sem parar e que ele não parecia minimamente interessado no assunto. Acho que ele bebia um bourbon, pelo menos era esse o copo que ele segurava. Ele tinha um jeitão bem descolado, trazia anéis em ambas as mãos de um jeito bem despretensioso, o braço tinha algumas pulseiras que se mexiam conforme ele ia levando o copo à boca. A camisa estava aberta, deixando o peito à mostra e um pingente brilhava quando ele se movia. A mão livre tamborilava o parapeito do mezanino, meio impaciente, como precisasse de uma desculpa para sair dali depressa.
De repente, seu olhar encontrou o meu. Quer dizer, eu acho que encontrou. Estávamos muito distantes um do outro, mas ele parecia olhar em minha direção e fez subir um calor pelo meu corpo. Eu mordi o lábio inferior num reflexo, ele ergueu o copo em minha direção, como num brinde. Ergui a minha taça em resposta.
— … mas eu nunca tive muito problema quanto a isso na faculdade. - O cara da camisa polo deu uma olhada para trás para ver com quem eu estava brindando, mas não chegou a olhar em direção ao mezanino.
— Um conhecido que passou. - Eu dei um sorriso amarelo. - Você estava dizendo?
— Ah, sim. Eu era muito bom em… - De novo, liguei o modo automático do que ele estava falando e voltei minha atenção ao estranho do mezanino.
Ele tinha dispensado a garota com quem conversava e agora debruçado sobre o parapeito, olhando na minha direção. Parecia analisar a situação, como quem assiste um filme, tentando entender os personagens e a cena. Eu sorri amarelo de alguma coisa que o camisa polo parecia achar engraçado e mexi o pescoço, desconfortável. Passei a mão no cabelo, tirando uma mecha da frente do olho para poder encarar o boy estranho mais atentamente.
Quando voltei o olhar ao mezanino, ele tinha ido embora. Escaneei o lugar e ele não parecia estar em qualquer lugar. Dei dois passos para trás, buscando ter uma visão melhor da pista, mas isso pareceu encorajar o cara da camisa polo na minha direção e ele mais uma vez colocou a mão na minha cintura e já vinha fazendo um movimento para me agarrar.
— Ei, Julia! - O cara que me encarava do mezanino apareceu do meu lado, puxou meu braço para longe do alcance do outro cara que eu nem tinha me dado o trabalho de saber o nome. - Desculpa o atraso, eu não achei que fosse demorar tanto naquele jantar.
— Tudo bem, não tem problema. Esse aqui é o meu amigo… Ahn, como é mesmo o seu nome? - Eu enlacei o meu salvador pela cintura e encostei minha cabeça em seu ombro.
— Ah, eu já estava mesmo de saída. - O camisa polo colocou sua garrafa de cerveja vazia no balcão, deu meia volta e sumiu no meio da multidão.
— Nossa, muito obrigada por me salvar desse chato! Já tinha horas que ele estava aqui falando na minha cabeça e eu já não aguentava mais. - Fui soltando lentamente do estranho que me salvou. Fiquei um tanto relutante de ter que fazê-lo, porque Deus, ele tinha um perfume maravilhoso.
— Tudo bem, eu consegui ouvir o seu grito por socorro lá do outro lado do clube. Foi um prazer, na verdade. - Ele se aproximou devagar, como se fosse pegar na minha cintura e eu fui me encostando no bar, esperando ansiosa. Quando nossos corpos se encontraram, ele ergueu a mão e pediu o garçom uma bebida.
Eu ri, tanto de desapontamento quanto de expectativa. Não imaginava mesmo que ele fosse me agarrar ali baseado em uma troca de olhares a cinquenta metros de distância, mas o jeito que ele me provocou naquele momento… Cara! A dança do acasalamento tava só começando.
— Acho que você estava tomando martinis, certo? - Ele me entregou a taça que o garçom deixou no balcão às minhas costas e tomou um gole de seu bourbon. - Eu posso ao menos saber o nome da donzela em perigo que eu acabei de salvar?
— Não sei nada sobre a donzela, e acho que o único perigo que eu estava correndo era o de morrer de tédio, mas… . - Estendi a mão para ele, que retribuiu com sua mão macia e deixou um beijo entre os nós dos meus dedos. Ele deixou os lábios na minha mão por alguns segundos e ergueu o olhar para me encarar.
— Encantado, . . - E piscou pra mim.
Nós conversamos por algum tempo e ele ainda segurava a minha mão. Todo o tempo, seu polegar passeou pelas costas da minha mão, e seus dedos brincaram de entrelaçar os meus. Ele conversava comigo sobre os assuntos mais aleatórios, mas pelas entrelinhas havia toda uma preliminar rolando e em dez minutos eu já estava me contorcendo de vontade de beijá-lo.
Eu tentei dar sinais claros do quanto estava a fim: mordi o lábio, cheguei mais perto, toquei seu braço e peito diversas vezes, mexi no cabelo. E a gente só ficava naquela dança de ver quem provocava mais. Do lado dele, os olhares, os sorrisos e os carinhos na minha mão; infinitamente mais sutis do que eu. Quando ele pediu ao garçom para nos servir mais uma bebida e uma garrafa de água, eu senti que era minha chance de sair daquele empate. Quando ele se virou de volta pra mim, coloquei a mão em seu rosto, sorri e beijei sua boca.
Uma vez que nós começamos, não foi possível parar. Foi como se tivéssemos acendido uma faísca em meio a algo muito inflamável. Uma vez que nossas línguas se tocaram, toda a tensão que eu vim segurando nos últimos dez minutos começaram a ceder enquanto eu me derretia ao toque e aos beijos daquele cara que apareceu do nada e estava cumprindo todo o propósito da noite, que era esquecer até o meu nome.
— Eu não tenho a menor intenção de interromper o que está acontecendo aqui, mas acho que estamos chamando a atenção do público pra nós dois. - Olhei em volta e várias pessoas estavam de olho na nossa nada discreta pegação.
— Pra ser bastante sincero, eu não me importo nem um pouco em ser o centro das atenções, pelo contrário. Isso me excita um pouco mais. - Ele continuou me beijando e me pressionando no bar, nenhum átomo entre nós dois.
— Eu quero muito te levar pra minha casa… Nesse minuto. - Consegui sussurrar enquanto ele mordiscava minha orelha. Me virei e deixei que ele ficasse encostado ao balcão do bar, minhas mãos subindo por debaixo da camisa dele, tocando sua barriga, peito, costas e finalmente, apertei sua bunda.
— Eu não pareço estar oferecendo qualquer resistência, pareço? - Ele me segurou meu queixo, deu uma piscadinha. Não pensei duas vezes: peguei sua mão e fui abrindo caminho até a nossa saída.
Fomos para a calçada para tentar encontrar um táxi, ainda sem saber se a gente ia para a minha casa ou para a dele. Eu já estava bem alegrinha, com dificuldades de me equilibrar, mas ele me segurava pelas costas, me ajudando a ficar de pé e ao mesmo tempo, ele se virava para achar a nossa condução. Enquanto esperava, enchi o pescoço de beijos e mordidas, passeava as mãos pelo seu corpo e ele ria e sorria, gemendo baixinho para chamar menos a atenção das pessoas que fumavam na porta do clube.
Quando o táxi finalmente parou em frente onde estávamos, ele teve que lutar um pouco para se desvencilhar de mim e entrar no veículo. Era como se nós fôssemos ímãs, e eu tivesse um enorme problema em ficar longe. O taxista foi bem-educado e fingiu que não tava que não estava observando o movimento no banco de trás, porque a temperatura estava subindo muito rápido.
O caminho foi relativamente curto, e eu estava muito ocupada entre beijos e mãos bobas com para prestar atenção no caminho. Quando o táxi parou, estendeu ao motorista uma nota de cem e nós pulamos do veículo, deixando aquele possivelmente constrangido taxista mais feliz. Tentei me comportar enquanto caminhávamos pelo hall do prédio em direção ao elevador, a mão dele segurando a minha, e aquele polegar nervoso que ainda acariciava as costas da minha mão.
Uma vez que o elevador parou no térreo e a porta deslizou para a direita, pulei para dentro puxando para dentro comigo. Ele me empurrou suavemente até à parede do fundo e pressionou seu corpo no meu, subindo as mãos pelas minhas coxas enquanto me beijava.
— Você sabe como um elevador funciona, não sabe? - Eu disse, quase distraída pelo fato dele estar beijando meu pescoço.
— Não tem muito como errar, eu acho. Ele vai pra cima ou para baixo, dependendo de onde mandam ele ir. - Ele riu e me beijou novamente.
— Exato! Só que esse aqui você não mandou pra lugar nenhum. - Apontei o painel, que continuava com todas as luzes apagadas. Ele se virou e apontou o número da cobertura, sem tirar a mão direita de mim, agora segurando minha cintura.
Quando o elevador começou a se movimentar, puxei de volta para a nossa ação pela gola da camisa, soltando os botões desajeitadamente, tentando não afastar minha boca da dele. Ele, por sua vez, deslizou as alças do meu vestido e veio de cara nos meus peitos, duas mãos na minha bunda. Dei um gritinho de satisfação.
O elevador se abriu novamente, revelando a entrada de um apartamento luxuoso. Dei um passo para fora do elevador e entrei no corredor que levava à sala, iluminação aconchegante e decoração minimalista. veio caminhando atrás de mim, atitude muito diferente de segundos antes, trazia as mãos nas costas, observando curioso a minha reação ao ver onde ele morava.
— Uau! Quer dizer, uaaaaau! - Só quando eu me virei para ele é que percebi que estava com metade do meu vestido amassado na minha cintura, sutiã à mostra. estava rindo da cena.
— Acho que você gostou do que viu, mas não deve ter gostado tanto quando eu tô curtindo o que eu vejo agora. - Ele se aproximou.
— Você é famoso, herdeiro ou algo tipo? - Perguntei enquanto ele aproximava os lábios do meu pescoço.
— Algo do tipo, acho que é a resposta mais apropriada. - Ele pegou a minha mão e me levou pelo restante do hall de entrada, e depois me em um dos sofás da enorme sala. Bem no centro dela, um lustre em forma de ouriço se acendeu e a sala ganhou o tom amarelado das lâmpadas incandescentes. Marvin Gaye cantando Let’s get it on deixou bem claro qual era o próximo movimento da noite, e eu aprovei imediatamente.
colocou o celular na mesa de centro da sala, avançando para cima de mim no sofá. O peso do corpo dele sobre o meu produzia um efeito muito legal, eu tinha que admitir. Enquanto me beijava, suas mãos passeavam pelo meu corpo, arrepiando a pele a cada toque. parou brevemente de me beijar e olhou nos meus olhos, sorriso de lado, como se estivesse tentando descobrir alguma coisa.
— O que foi?
— Estou tentando saber se você está sóbria o bastante para que isso não configure como eu tirando proveito de você. E eu quero ter certeza antes de seguir com isso, porque, meu Deus, você é muito gostosa! E eu quero muito transar com você hoje, porém eu só quero transar com você se você estiver consciente o bastante para consentir. - Ele despejou esse discurso em mim de olhos fechados.
— Eu também quero muito transar com você… - Eu comecei.
— Mas…?
Era a primeira vez que aquilo me acontecia. Nunca em todos esses anos de vida sexual ativa um cara que me levou pra casa depois de uma balada me perguntou se eu estava sóbria o bastante para consentir sexo. A gente tinha dado vários beijos e alguns amassos, o que possivelmente configuraria como abuso caso eu não estivesse completamente de acordo com o que estava acontecendo, mas o fato dele me perguntar me pegou um pouco de surpresa.
— Não tem um mas. Eu só estou surpresa que você tenha perguntado.
— Eu gostei de você, de verdade, sem nunca ter te visto ou conversado contigo antes. - Ele suspirou profundamente e passou a mão nos cabelos. - Não quero fazer nada errado aqui.
— Não tem nada errado acontecendo. Eu posso ter bebido um pouco, bom, talvez não apenas um pouco, mas eu estou lúcida o bastante para saber o que eu quero fazer aqui. E eu quero você.
Ele sorriu, mostrando o alinhamento perfeito de seu sorriso, e depois me beijou. Antes que as coisas pudessem ficar ainda mais quentes, ele se levantou e pegou a minha mão, me puxando por um outro corredor sem parar de me beijar. Tateando o escuro, nos dirigimos para o quarto sem desgrudar por um instante sequer, tendo o meu vestido já ficado pelo caminho, assim como a camisa dele. parou por instantes, me olhando como se admirasse algo realmente incrível e frágil, e que poderia desaparecer ou quebrar ao menor toque.
Eu não estava acostumada a ser admirada daquela forma, especialmente por alguém que eu tinha acabado de conhecer. Ele parecia um menino fascinado com um brinquedo novo, com muita vontade de brincar, e eu conseguia sentir a respiração pesar e a luxúria tomar conta de todo o ambiente. Eu então me dirigi à cama que estava coberta com um edredon vermelho, combinando com a minha lingerie da sorte, que até hoje não tinha falhado na missão de voltar para a casa sem ser tirada pelo menos uma vez. Me sentei na cama e chamei com o indicador.
O resto da noite foi, por falta de um adjetivo que conseguisse expressar a magnitude dos acontecimentos, sensacional. sabia bem seus caminhos dentro dos quatro cantos do colchão; ele era gentil, carinhoso e tinha bastante fôlego - e o bastante para me deixar sem ar. Houve alguns momentos em que eu acredito ter mesmo esquecido qual era o meu nome. Ele me beijava, e eu sempre queria mais. Ele me tocava, e eu sempre queria mais.
Entre as transas, conversamos bastante, rimos mais ainda e acabamos nos conhecendo e conectando mais do que esperávamos. Algo aconteceu ali e nenhum de nós imaginou que pudesse ser possível, dadas as circunstâncias do início da noite. O que era algo de uma noite só poderia tomar rumos inesperados…
O dia estava amanhecendo, e eu precisava muito de um copo d’água. Levantei e a única peça que achei mais próxima foi a minha calcinha. Voltei os olhos para , que dormia profundamente, deitado de bruços, um dos braços pendendo para fora do colchão. Ele parecia exausto e eu segurei uma risada. Gastei até as últimas energias dele, mas valeu a pena demais.
Segui para o corredor na esperança de chegar na cozinha, me orientando pela fraca luz o amanhecer que entrava pelas janelas da sala. Tropecei na camisa de no caminho e acabei de cobrindo com ela, que tinha um tecido super macio e o perfume bom da pele dele. Alguns segundos relembrando um passado recente entre lençóis e edredons, e continuei minha caçada.
Encontrar a cozinha foi uma tarefa mais fácil do que eu previ. Assim como o restante do apartamento, ela também seguia um estilo minimalista e com pouca variedade de cores. Encontrei um copo em um dos armários, e enchi na pia, virando o conteúdo de uma só vez. Enchi mais uma vez e fui para a sala, onde seria possível contemplar o nascer do sol pelas enormes janelas.
Me sentei na ponta de um chaise longue que parecia propositalmente orientada para contemplação, de frente para as janelas e comecei a repassar os acontecimentos que me levaram até ali. Eu tinha plena consciência que me arriscava muito cada vez que ia embora com um cara aleatório e ficava completamente à mercê deles, mas havia algo sobre que me fazia confiar nele. Não era o fato de que ele era, claramente, um cara bastante rico e bem-sucedido, porque olha esse apartamento! Era algo em seus olhos, na forma como ele me olhava, como se conseguisse ler no fundo da minha alma. Era intenso, assim como tudo sobre ele…
Senti um movimento na cadeira e vi que se ajeitava para me me abraçar por trás. Ele cheirou meu cabelo e beijou meu pescoço, passando os braços pela minha cintura.
— Você não é bem o tipo que dorme, não é mesmo? - Ele riu e colocou o queixo no meu ombro, agora contemplando o nascer do sol comigo.
— Não é de propósito, eu juro. Sua cama e sua companhia são extremamente agradáveis. - Eu disse, me recostando em seu corpo. - Só estava revivendo o que aconteceu para que eu chegasse aqui.
— Algum pensamento em particular que você queira compartilhar?
— Acho que eu só estou acostumada a ficar sozinha o tempo todo sozinha, e ter relacionamentos de uma noite e sem significado, pouca conversa, muita ação…
— Então não houve ação o bastante para você essa noite?! - Ele me interrompeu. - Ok, entendi!
— Não, não é isso! - Ri meio sem graça. - Eu só… Não estou acostumada com isso.
— Abraços matutinos, ver o nascer do sol juntos, vestir minha camisa e ficar muito estilosa…?
— Sim, o conjunto dessas coisas. - Me virei de frente para ele e passei minhas pernas pela sua cintura, nos deixando cara a cara, muito próximos. - Eu só não queria gostar tanto de não estar sozinha.
— Sabe, você pode sempre me ligar- ele falava, alternando beijos em cada lado do meu rosto, - quando estiver se sentindo sozinha, quando não conseguir dormir… Eu posso ser uma espécie de mão amiga, mesmo que seja só por uma noite. A gente pode se divertir um pouco, sabe? Sem medos, sem rótulos.
— Parece uma boa ideia.
— É uma ideia excelente, eu acho. - Ele pegou o copo da minha mão e colocou no chão. - Essa noite foi muito além de qualquer expectativa e seria um desperdício não repetir a dose.
Tempos depois…
Eu tive mais um dia infernal de trabalho, dessa vez, fazendo a hostess na inauguração de uma nova casa noturna no bairro mais burguês da cidade. Era uma enxurrada dessa gente sem noção da faculdade se acotovelando para garantir um bom lugar quando a portaria do evento fosse aberta, logo depois que os convidados VIPs fossem devidamente acomodados nos camarotes. Se o cachê não fosse tão bom, eu teria largado aquela gente gente toda ali e ido me esconder debaixo da mesa do meu apartamento.
Eu só queria que alguém descobrisse o meu talento, meu sonho, minha vocação e me oferecesse um contrato com alguma gravadora, e que mudasse a minha vida da noite pro dia e me colocasse do outro lado da equação, onde eu chegaria e nem precisaria dar o meu nome na porta, porque as pessoas saberiam quem eu sou e me deixassem bem princesa no camarote, comendo e bebendo de graça. Mas, por enquanto, era aquilo que estava pagando minhas contas quando as gorjetas das minhas apresentações nos bares da cidade não eram gordas o suficiente.
Eu estava encarando a lista na minha frente com muito vigor e fúria, quando uma camisa familiar entrou no meu campo de visão. Minhas pernas vacilaram um pouco e o coração disparou; e a coragem de olhar para frente desapareceu. Depois de meses fingindo que aquela noite não tinha acontecido e suprimindo a vontade desesperada de ligar e fazer tudo outra vez, nossos caminhos tinham se cruzado novamente.
— Eu achei mesmo que o destino ia fazer a gente se encontrar novamente, . - Ele era ainda mais maravilhoso do que eu me lembrava e aquele perfume era muitas vezes mais intoxicante. - Você é alguém muito difícil de encontrar, sabia? E foi um golpe muito baixo pegar o meu número, não me dar o seu, e nunca ligar.
— … - Eu tentei inventar uma desculpa que me fizesse não parece tão abalada, mas não consegui. - Desculpe, eu não posso conversar agora. Estou trabalhando.
— Sem problemas! Eu tenho uma festa pra ir agora, de qualquer forma. - Ele esticou o pescoço, procurando algo na lista. - Qual o número do meu camarote?
— Ahn… - Encontrei o nome dele no final da lista. Ótimo, ele era um convidado do evento. - Dezesseis. Uma das meninas vai te acompanhar até lá. Aproveite o evento!
— Irei. E vê se grava o número. Quem sabe você não passa por lá quando terminar aqui? - Ele piscou.
Eu trabalhei o resto da noite num estado de extrema tensão. Não que a minha noite com o tinha sido ruim, pelo contrário, foi a melhor noite da minha vida, no mais amplo sentido da palavra. Eu demorei vários dias para tirar o sorriso bobo da cara e semanas para parar de pensar nele. A verdade é que eu sabia que se a gente continuasse aquilo, eu iria inevitavelmente me apaixonar e eu já tinha tido minha parcela de coração partido na vida. Ainda estava juntando os pedaços de um relacionamento anterior e não era exatamente o tipo de cara que parecia ser a cola.
Tudo bem, ele era maravilhoso: era lindo, gostoso, cheiroso, conversado, interessante, inteligente, um sem fim de adjetivos. Mas assim como ele me enfeitiçou, ele parecia ser o tipo de cara que deixava um amor em cada porto, vários corações despedaçados pelo caminho. A última coisa que eu precisava era ser mais uma a mendigar um pedaço dele.
Quando eu fui liberada, saí correndo depressa, antes que ele pudesse ir me procurar ou solicitasse a minha presença pelo camarote em que ele estava. Logo antes de sair, dei uma espiada nele, apenas para alimentar a minha imaginação e meu ego, de que talvez ele estivesse debruçado sobre o parapeito, olhando fixamente para o ponto onde eu deveria aparecer, como na noite em que nos conhecemos. Para a minha enorme frustração, ele parecia entretido com as pessoas (leia, mulheres) que se amontoavam à sua frente, decotes explodindo.
Me revirei na cama várias vezes, tentando combater o arrependimento de não ter falado com ele e me rendido, passado uma noite sensacional ao lado de . Depois de algumas horas de frustração e joguinhos no celular, me vi obrigada a levantar quando a campainha do meu apartamento tocou e um entregador disse que tinha uma encomenda para mim.
Quando abri a porta, mal dava para ver o homem por trás do arranjo de flores. Ele me fez assinar um recibo e fez a gentileza de colocar o vaso em cima da mesa, me entregando o cartão em mãos: “Só para deixar você saber que só precisa me ligar.”
Como ele adivinhou que peônias eram as minhas favoritas, eu jamais saberia. Mas era isso: eu desisti de tentar me enganar, dizendo que eu não queria, que aquela noite era um evento único e mágico que não deveria ser repetido para não ser arruinado. E foda-se meu coração partido e remendado, tinha me convencido de que talvez não fosse a cura, mas faria o caminho até ela muito mais divertido.
Busquei o número na minha agenda apressadamente.
— Alô, ?
Fim.
Nota da autora: Depois de vários anos, finalmente mandei uma fanfic finalizada!
Eu só queria agradecer mesmo a Angel, por ter me pressionado a escrever e
ter feito minha quarentena ser mais divertida! E se você chegou até aqui,
obrigada por ter lido <3
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.