Capítulo único
Hoje faz exatamente 2 meses que sai de San Diego e vim para Dallas. Apesar de sentir muita falta de meus pais, eu sei que foi a decisão certa.
Meu irmão morreu de overdose a 1 ano. Ele passou por muitas clínicas de reabilitação mas nunca melhorava. Eu só queria ter ele em casa, dar apoio a ele, dizer que tudo ficaria bem... mas meus pais nem se quer me deixavam ver o meu irmão. Depois disso, San Diego pareceu um terrível lugar de se morar. Alguns vizinhos nos olhavam com pena, outros com olhar de reprovação, muitos também faziam comentários maldosos sobre minha família.
Eu não aguentava mais esses comentários, então decidi pedir transferência para uma faculdade em Dallas, conversei com meus pais e eles alugaram um apartamento aqui pra mim. Eu sei que vai ser difícil seguir em frente, mas eu tenho que tentar.
Mais um dia na pacata cidade, sem ter o que fazer. Mais um dia na busca por emprego e assim dar um jeito na vida. Resolvi ir ao Pecan Lodge almoçar e tentar novamente pela tarde.
- Assim que entrei no restaurante fui recebida por Meredith.
- Bom dia , tentando mais uma vez? - perguntou.
- Bom dia Meredith e sim, mais uma vez.- sorri amigavelmente.
- Boa sorte na próxima . Aqui é uma cidade pequena, poucas vagas de emprego. É assim mesmo, na próxima vai se sair melhor. - consolou-me Meredith.
- Obrigada pelo apoio. - respondi e fui logo me servir.
Durante o almoço comecei a refletir se realmente foi a melhor ideia ter mudado de cidade. Parece que minha ideia de mudar para uma cidade pequena, esquecer os problemas e seguir a vida, não estava dando muito certo. Depois de muito refletir, eu sabia que deveria tentar mais antes de jogar a toalha. Arregacei as mangas, paguei a conta e sai decidida a procurar novamente. Logo que sai pela porta senti algo me puxar. De tão rápido fiquei meio zonza sem entender nada até que aquilo, ou melhor a pessoa falasse.
- A bolsa agora! A bolsa! - ordenava o cidadão. Eu estava de costas não podia vê-lo. E assim que virei para entregá-lo a bolsa pude ver seu rosto. Tão jovem e tão… tão...bonito? Minha distração com seu rosto foi acordada ao perceber que tinha alguém se aproximando. Então num ato de loucura o puxei para perto de mim e entramos num beco ao lado do restaurante. E pelo visto ele também ficou espantado.
- Você é doida? - perguntou ainda tentando esconder o rosto.
- Desculpa… eu não sei o que houve. Tentei ajudar, alguém estava vindo. - tentei responder.
- Desculpa? é isso mesmo? Eu assalto você e é você quem pede desculpas?
- Você não me parece o tipo de pessoa que leva esse tipo de vida… - eu disse.
- Você não sabe nada sobre mim. - retrucou. - Vou te poupar de minha companhia, me passa a bolsa e vou embora. - enquanto ele falava eu comecei a ouvir sirenes se aproximando.
- Você quer a bolsa? então… entra no carro ali na frente. Rápido. - não tinha noção do que estava fazendo.
- Você tem noção de quem está com uma arma na mão? - perguntou.
- E você tem noção de que a polícia está vindo? Entra no carro, vou tirar você daqui. - sem mais esperar puxei o homem até o meu carro.
- Por que está fazendo isso? - perguntou o homem ainda armado.
- E você acha que eu sei? Eu não tenho a mínima ideia do que estou fazendo mas não quero ver você com problemas. - então o som da sirene começou a ficar mais próximo e ele se sentiu obrigado a aceitar meu convite.
Assim que entramos no carro pedi que ele colocasse o cinto, ele obedeceu a contragosto e ligou o rádio.
- Você não vai me falar o seu nome? - perguntei.
- Para o que? Você fazer queixa de mim na delegacia? Não, muito obrigada.
- Olha, se eu estou te ajudando. Por que mesmo eu iria a delegacia prestar queixa de você? - questionei e ele não soube o que dizer.
-
- O quê? - perguntei novamente.
- Meu nome é . - repetiu.
- O meu é . Para onde eu levo você? Onde você mora? - eu quis saber;
- Não tenho casa.
- Como assim não tem casa?
- Não tenho casa, não tenho família. Eu sou mais um viciado que mora na rua. Satisfeita? - parei o carro ao ouvir aquilo. - por que parou?
- Você comeu alguma coisa hoje? - eu perguntei e ele riu.
- Comer não, mas fumar você pode ter certeza que sim - ele falou com um sorriso bem debochado no rosto.
- Vou te levar no shopping, você pode comer algo na praça de alimentação - falei e logo ele fechou o rosto.
- Shopping? você tá doida?
- Você precisa comer algo.
- Não em um shopping - então eu segui a caminho do meu prédio, eu só podia estar louca, levar um estranho para o meu apartamento? ainda mais um estranho que tentou me assaltar
. Não demorou muito para chegarmos no meu prédio.
- Onde estamos? - perguntou enquanto eu entrava com o carro na garagem
- No meu prédio.
- No seu prédio? Porque me trouxe aqui? Vai querer me servir… - então olhou no relógio, 15:53h - ... o chá das 5?
- Não é nada disso. Só quero que você alimente-se.
- Olha menina eu não sou o seu bicho de estimação para me alimentar. Estou longe de ser uma boa companhia. Obrigada pela ajuda. Agora pode por favor abrir o portão para eu ir embora? - ele pediu.
- Se você ousar sair por aquele portão, eu juro que chamo a polícia.- eu o ameacei.
- Você só pode estar brincando. E vai falar o'quê? Que o assaltante não quis sair com você?
- Como você é grosseiro. - xinguei.
- E você não tem medo do perigo. - ele continuou.
- Depois que você subir e comer algo, eu deixo você ir. - ele apenas riu.
- Vamos antes que eu me arrependa. - concordou e seguimos para o meu apartamento. Enquanto estávamos no elevador eu parei para analisar o quão bonito ele era: cabelos loiros, um pouco sujos e olhos azuis muito intensos. Tinha os lábios finos e bem desenhados, carregando sempre um leve sorriso sedutor.
- Você leva todos os homens que te assaltam para sua casa? - perguntou irônico enquanto saiamos do elevador.
- Não, ou você acha que sou sua fada o tempo todo? - falei já destrancando a porta do meu apartamento.
Quando entramos ficou parado no meio da sala olhando tudo, olhando cada cômodo do meu apartamento.
- Vai ficar aí parado? a cozinha é por aqui - falei e ele acordou de seu “transe” e me seguiu
- Seu apartamento é grande - ele disse já sentando em uma das cadeiras da minha cozinha
- Grande? não exagera, ele é pequeno.
- Eu moro na rua, então pra mim isso é grande - depois disso eu me senti até mal
- Você vai continuar com isso? - perguntei mudando de assunto.
- Isso o que? - perguntou.
- Não se faça de desentendido - então caminhei até ele e ergui sua camisa a ponto de mostrar que estava falando da arma que estava escondida ali.
- Me diz o que é que você quer de mim? - perguntou curioso.
- Ajudar. Eu sei qual é o seu problema. - respondia apenas.
- Meu problema? - se fez de desentendido novamente.
- Eu vi nos seus olhos, eles estão completamente vermelhos.. Você precisa de ajuda, sabe disso! - ele deu de ombros. - ? Estou falando com você.
- Eu não sou surdo. Só não ligo pra besteiras. - respondeu grosseiramente, e eu já podia sentir as lágrimas caírem.
- Você não sabe o que está falando seu idiota. Eu sei aonde isso pode chegar. Se você não tem quem se importe com você e se revolta com isso, eu não tenho culpa e apesar de tudo eu me importo com você.
- E porquê se importa?
- Você me lembra uma pessoa. - então eu apontei para a foto do porta retrato da bancada.
- O seu namorado? – falou quando olhou a foto
- Não, meu irmão. Faleceu a aproximadamente 1 ano.- expliquei.
- Então você trouxe um estranho para sua casa porque se parece com seu falecido irmão? E se eu te machucasse?
- Não, você não iria. E respondendo a outra pergunta, eu fico sentida toda vez que vejo alguém com problemas assim. Não os culpo de maneira nenhuma, sei que na maioria das vezes tem motivos muito dolorosos por trás.
- Quem te garante que não machucaria? - desafiou. Então eu cheguei perto de onde estava sentado e pus a mão em seu coração.
- Acho que sei reconhecer um coração bom.
- Mas eu não sou o único com coração bom não é? Eu fico sentida toda vez que vejo alguém com problemas assim. - me arremedou.
- O que você quer dizer com isso? - perguntei.
- Que você já trouxe mais alguém aqui.
- Não, se está tão curioso assim, eu não trouxe.
- , me sinto completamente honrado de ser o primeiro estranho que você trouxe para casa - respondeu novamente com seu jeito irônico.
Coloquei uma lasanha no forno e liguei a tv no jogo de Eagles x Dallas.
- Não acredito que Eagles está perdendo - pensei alto e veio até a mim olhar também
- Mas é claro, jogando com dallas você queria o que?
- Menos … menos. Quem tem o melhor quarterback?
- Melhor quarter? é isso aí - ele falou apontando para tv que mostrava o time de dallas.
- veremos. - contrariei.
Ficamos assistindo o jogo até o forno apitar indicando que a lasanha já estava pronta. Peguei um prato e coloquei para que já estava sentado novamente na mesa da cozinha.
- Não vai comer? - ele perguntou enquanto dava a primeira garfada.
- Eu comi antes de você tentar me assaltar. - disse enquanto me dividia entre prestar atenção nele e no jogo, que já estava praticamente decidido a meu favor, mas ainda teve mais um toudown do Fales. Finalizando assim a partida em 32x11 em grande estilo. - QUEM É O MELHOR? QUEM É O MELHOR? QUEMMM? QUEMM? - ele estava quieto parecia estar longe. - Você não vai falar nada?
- É estranho você gostar tanto de jogo.
- Por que sou mulher? - eu ri. - Como você é antiquado.
- Da onde você é? - ele perguntou mudando de assunto.
- San diego - respondi.
- E torce pros eagles?
- O que posso dizer? minha família são grandes fãs dos eagles e acabei me tornando também.
- Vou embora agora. Obrigada pela ajuda . - ele falou já indo para a sala. E eu o segui e antes que saísse puxei seu braço.
- O que foi? - perguntou.
- Não acha melhor deixar isso aqui? - o falei de novo voltando ao assunto da arma.
- Estou me mantendo seguro com isso. Não se preocupe. Agora preciso ir. - depois disso deu um beijo em minha bochecha e foi em direção ao elevador e eu esperei até que se fechasse.
Pov
Saí do apartamento de pensando no que ela disse. Eu não podia andar armado sabendo que a polícia estava me vigiando por alguns delitos que cometi. Decidi levá-la até um amigo e deixá-la lá por um tempo.
- ? - perguntou o cara arrumando umas caixas num galpão abandonado.
- Eu mesmo Alex. - respondi.
- To precisando de um favor. - disse.
- Não me colocando em enrascadas tudo bem. - Alex disse.
- Preciso que você guarde isso por um tempo. - então levantei o moletom e mostrei a arma.
- , … Você sabe que os caras estão atrás de você né? - me perguntou.
- Eu sei, mas no momento eu preciso esconder isso. - expliquei e entreguei a arma para ele.
- Tudo bem, mas que seja por pouco tempo. Sabe que aqui o serviço é de fachada, e não quero ter problemas numa fiscalização. - ele argumentou.
- Não será por muito tempo. Eu preciso ir antes que fique tarde.
- Tarde? - Alex perguntou arqueando uma sobrancelha de modo irônico.
- Tenho compromisso. - respondi apenas.
- Não vai levar nada hoje? - perguntou.
- Não. - respondia friamente.
- Tem alguma garota na jogada não é? - questionou.
- Ela diz que quer me ajudar e eu ainda não entendo o porque.
- Acho que entendi o porque quer se livrar da arma. Ela sabe quem você é?
- Ela não se importa. - respondi e o cumprimentei com a cabeça saindo daquele lugar logo em seguida.
Pov
Já estava deitada em minha cama pensando no que tinha acontecido. Como pude levar um estranho até minha casa, um estranho que tentou me assaltar e ainda por cima estava armado. Mas quando eu olhei seus olhos, seus olhos completamente vermelhos… eu apenas lembrei de meu irmão em uma de suas piores fases, seus olhos também ficavam vermelhos. Eu vi seus olhos vermelhos e quando vi alguém se aproximando tudo que me passou pela cabeça foi puxar ele até um canto para que não desse nenhum problema para ele. Não parava de pensar em como fazer para vê-lo novamente, pois não sabia nada sobre ele. Semanas se passaram e essa angústia de não vê-lo crescia cada vez mais. Mais um dia de rotina, sem nada especial. Estava almoçando como de costume no Pecan Lodge e chamei Meredith para ver se ela conhecia . Minha última esperança em conseguir alguma informação, depois de ter percorrido a cidade atrás dele.
- Hey Meredith! - eu disse.
- Hey ! Como foi a tentativa hoje? - perguntou-me.
- Estou com uma ideia nova, pensando em trabalhar de casa mesmo pela internet. Mas não foi por isso que te chamei - eu ri. - Você conhece um menino chamado , ele é loiro e tem olhos azuis, com 1,80m de altura mais ou menos? Aparenta ter 28 anos. - o descrevi.
- Difícil eu te dizer algo de certeza, mas tem um menino que passava por aqui bem cedo e às vezes tarde da noite. Algumas pessoas tinham medo que ele as assaltasse...
- Ele é inofensivo Meredith, eu garanto. - ela me olhou sem entender nada. - eu a interrompi.
- Como pode ter certeza? Só por ele ser bonito? O que você quer com ele? Menina tome cuidado, as pessoas comentam que ele é usuário de drogas. - falava ela toda afobada.
- Calma Meredith, digamos que nos encontramos a uns dias atrás e conversamos por horas. E eu estou viva! Está vendo?
- só tenha cuidado, muitas pessoas podem não ser quem você pensa que são - Meredith falou ainda preocupada.
- Pode ficar tranquila, nada vai acontecer. Agora tenho que ir, até mais - me despedi de Meredith com um abraço e sai do restaurante em direção ao meu apartamento.
Tinha muitas coisas para fazer, não é mole ser dona de casa. Depois de colocar algumas roupas na máquina, lavar o banheiro e passar aspirador na casa decidi tomar um banho, pois estava um lixo. Ainda precisava pesquisar anúncios na internet; não é fácil querer cursar publicidade e querer morar no interior. Respondi algumas vagas interessantes e fui me arrumar para a aula. Para ajudar a aula de hoje foi cansativa teríamos que fazer algum projeto no dreamweaver o que levou um bom tempo. Eu estava exausta com fome e não tinha nada pronto em casa. Logo que a aula acabou eu decidi ir até a lancheria da esquina da universidade comprar um lanche. Enquanto esperava sentei na mesa da calçada e pude respirar um pouco aquele ar gélido e gostoso que aquela noite trazia. De repente senti uns passos mais rápidos atrás de mim e um puxão em seguida, assim que me virei pude ver dois caras armados e parecendo nada amigáveis eles foram na minha direção e eu tentei correr inutilmente. E assim me derrubaram enquanto eu tentava empurrá-los para me soltar. Eles arrancaram o celular do meu bolso e de repente eu senti um caído por cima de mim sem eu ter feito nada. Eu reconhecia aquele rosto, , ele estava ali. Mas o outro que estava armado o acertou com a arma no braço ao tentar tomá-la. Assim que conseguiu tomá-la o assaltante saiu correndo e o outro apontou a arma para mim e fugiu com minha bolsa. A moça do bar saiu correndo pelos fundos achando que era o assaltante.
- Você está bem? - perguntou preocupado, me fitando com os mesmos olhos vermelhos do outro dia.
E novamente um soco em direção a , outro rosto conhecido e eu não poderia acreditar que era que estava ali e gritei.
- ! PARE! AGORA! - eu disse e me pus a frente de .
- Fique longe dela! - ordenou e me puxou.
- , para! Ele não tentou me assaltar, ele me ajudou.- expliquei. - Preciso levá-lo ao hospital.
- Eu não acredito que você vai fazer isso. Vamos embora agora. - ele disse.
- vá com ele. Não se preocupe comigo. - finalmente se manifestou. Eu estava sem carro e meu celular fora roubado então convenci de levar ao hospital. Ele aceitou, pois sabia que se não levasse eu chamaria um táxi.
Assim que chegamos ao hospital ele foi levado para a emergência, pois estava com febre e precisaria fazer uma cirurgia para extrair a bala. Me recusei a sair de perto um segundo se quer e foi embora furioso. Logo pela manhã uma enfermeira me cutucou para me acordar, pois eu havia dormido no sofá da sala de espera, e me informou de que já estava acordado e eu poderia falar com ele. Me perguntou também se eu era da família e se deveria avisar mais algum familiar.
- Bom dia. - eu disse ao entrar no quarto.
- Bom dia. - ele respondeu com um enorme sorriso, que apesar dos roxos, esse sorriso o deixava tão lindo.
- Como se sente? - perguntei.
- Como se um trator tivesse passado em cima de mim, acho que é da anestesia. - respondeu. - você ficou esse tempo todo aqui?
- Sim, e se eu soubesse que a acomodação para o acompanhante nesse quarto era tão boa, teria dormido aqui em vez de na poltrona. - falei brincando com ele e me atirando no sofá cama.
- Você não precisava estar fazendo tudo isso por mim - falou.
- Você tentou me ajudar - falei me levantando para ter uma visão melhor de .
- Sim, e a poucos dias eu tentei te assaltar. Eu não mereço tudo que você está fazendo por mim - eu sorri ao ouvir meu apelido, era por “” que meu irmão sempre me chamava.
- É claro que você merece, eu sei que no fundo você é uma boa pessoa - falei indo até ele
- E esse quarto? deve ter custado uma fortuna.
-Ei, não se preocupe com isso. Tinha uma reserva para emergência e isto foi uma emergência. - falei pegando na mão dele. Ficamos em silêncio até o doutor bater na porta e em seguida entrar.
- Bom dia , como se sente?
- Bem melhor doutor - falou, mas eu sabia que ele estava mentindo, eu sabia que ele ainda estava com dor.
- Bom saber. Você terá que ficar aqui no hospital por mais 2 dias para observação - o médico falou
- 2 dias? Não mesmo, não posso.
- … - eu falei tentar acalmar ele.
- , eu simplesmente não posso ficar aqui - ele falou tentando se levantar e logo depois vi que ele tinha desistido da ideia de se levantar devido a cara de dor que ele fez
- não seja igual uma criança e ouça o que o doutor tem a dizer - suspirou e voltou a prestar atenção no médico.
- Como eu estava dizendo, o senhor terá que ficar aqui no hospital por 2 dias para uma observação, depois que sair daqui não pode fazer muito esforço com o braço e talvez precise de fisioterapia - assim que o doutor falou a última palavra começou a rir.
- Fisioterapia? eu? só pode ser uma piada…
- ! - eu o interrompi. - Desculpe doutor, às vezes ele é uma criança muito birrenta. - eu ironizei e o doutor se despediu rindo e saindo do quarto logo em seguida.
- Criança birrenta? - ele perguntou arqueando uma sobrancelha demonstrando que esperava uma explicação.
- É sim ué, você teima toda hora. - eu ri.
- Não é bem assim, eu estou aqui ainda, não estou? - ele disse entrando na brincadeira. - E você já pra casa tomar um banho mocinha, está aqui tem tempo já sem tomar banho, deve estar cheirando mal. - e então eu ameacei me aproximar dele que fez cara de nojo e então eu me joguei em cima dele que ria sem parar e ao mesmo tempo gemia de dor.
- To sentindo um cheirinho ruim. - disse ele cheirando meu pescoço e confesso que senti arrepios, mas não demonstrei fraqueza, apenas ri e o fiz cócegas até ele se dar por vencido e pedir para eu parar. Depois disso, eu também me dei por vencida e concordei que precisava de um banho e também precisava comer algo.
Logo que cheguei em casa corri para um banho demorado e relaxante. Durante o banho eu sorria pensando em tudo o que tinha acontecido. Do nada essa pessoa surge na minha vida e não sabe o bem que está me fazendo. Sorri mais ainda ao lembrar da sua gargalhada gostosa. Depois do banho segui para a cozinha e estava quase na hora do almoço. Nada congelado e estava com uma fome colossal. Me arrumei e decidi comer no caminho, mas antes disso recebi uma ligação de no telefone de casa dizendo que precisávamos conversar, apenas ignorei essa parte e inventei uma desculpa para não dizer que voltaria ao hospital. Quando recebi o meu pedido fui direto para o hospital e fui a caminho do quarto de .
-Você não cansa de mim? - perguntou sorrindo ao me ver.
- Cansar de você na verdade sim, mas se é pra te encher o saco eu to sempre aqui - falei arrancando uma gargalhada de .
- Vou ser muito solidária e dividir minha comida com você. Trouxe porque imaginei que do jeito que é teimoso iria se recusar a comer sopinha de hospital. Mas eu não sei se você pode comer isso - falei enchendo a boca se bolo.
- Você é má.
- Repete ou eu te deixo sem comida - falei rindo
Entreguei a comida de , eu comi junto com ele e ficamos conversando por horas, eu nem via o tempo passando.
E foi assim durante os 2 dias de no hospital, eu sempre dormia lá, e ia para casa de tarde a pedido de me mandando tomar banho.
-Sinta-se em casa - falei abrindo a porta do meu apartamento e entrou
- Você tem certeza disso? - Ele perguntou enquanto eu fechava a porta e caminhava até a sala.
- Claro, porque eu não teria?
- O homem daquela noite parece não gostar muito de mim.
- O ? não se importe com ele - falei.
- quem é ele afinal? - eu ri
- Não tenho quarto de hóspedes, então você pode ficar com o sofá - falei mudando de assunto.
- Por que está mudando de assunto? - ele me perguntou ainda se referindo ao assunto de .
- Porque o não é nada de importante.
- Se ele não é importante então me fale sobre ele - falou e eu suspirei. Ficamos alguns segundos em silêncio até que resolvi falar.
- O é um ex namorado - Falei e me olhou - Namoramos por 2 anos, e quando eu mais precisava de alguém ele me abandonou, quando meu irmão estava na pior fase com as drogas eu precisava dele, e ele foi embora. Eu não faço a mínima ideia do que ele está fazendo aqui em Dallas, e simplesmente eu prefiro não saber - suspirei - agora chega de papo e vai tomar banho.
- ok mandona - eu ri e guiei ele até o banheiro - qualquer coisa é só gritar. Deixei no banheiro e voltei para sala, liguei a tv e fiquei lá por uns 20 minutos e depois ouvi passos vindo do corredor
-Até que enfim, achei que ficaria lá pra sempre - falei levando meu olhar até o corredor e simplesmente não acreditava no que via. completamente pelado e molhado me encarava sorrindo - O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO? - gritei.
- Você esqueceu de me dar uma toalha e uma roupa - ele falou com o mesmo sorriso debochado de sempre.
- Eu mandei você gritar se precisasse de algo - disse tapando meus olhos. - Se eu fizesse isso, eu não veria essa sua cara envergonhada - ele disse rindo e depois falou - , você realmente fica linda quando está com vergonha..
- Você vai fazer eu me arrepender de te trazer pra cá. - falei e se fechou fazendo eu me arrepender amargamente pelo que disse. E sem saber o que fazer me aproximei e o abracei o mais forte que pude como pedido de desculpas.
- , eu ainda estou sem roupa. - ao ouvir isso eu não sabia se ria, se sentia vergonha, mas sabia que era a forma dele aceitar minhas desculpas. Logo depois o empurrei rindo e fui ver algumas roupas do meu irmão que eu ainda guardava. Deveriam servir. Separei a muda de roupa e o chamei para vestir.
- Ahh não precisa se incomodar em sair. - ele disse rindo. Obviamente o pior já havia acontecido. Enquanto ele se vestia eu separei algumas coisas do banheiro para ele, escova, toalhas e levei ao banheiro. Do corredor ouvi o barulho da campainha e fui logo abrir a porta.
- ?
- Oi, . Eu tentei ligar pro telefone da sua casa, mas você não me atendia.
- Então você teve a brilhante ideia de vir até aqui? Quem te deu me endereço e o telefone da minha casa afinal?
- Seus pais, eles estavam preocupados.
- Por que você tinha que meter meus pais nisso? - falei colocando a mão na cabeça.
- Eu estava preocupado com você , e eles eram a única opção - ele falou e depois continuou - Enfim, eu queria saber se você aceita jantar hoje comigo.
- Acho que hoje não vai dar, estou procurando emprego e… - ia continuar mas me interrompeu.
- , é sua uma noite, isso não vai te custar em nada - falou. - Por que está em Dallas, ? - perguntei com uma voz séria.
- Eu sou um dos responsáveis pelo novo shopping que irá abrir aqui - ele falou me pegando de surpresa.
- E porque veio atrás de mim? - perguntei novamente.
- Pensei que poderíamos ficar juntos, foi por causa de você que aceitei esse trabalho em Dallas, porque ficaria perto de você - ele falou e eu ri.
- por favor, você só está aqui porque esse trabalho paga muito bem, duvido que se pagasse pouco você estaria aqui. Pra você eu sou apenas um bônus de estar nessa cidade
- Não faz assim , você sabe que eu gosto de você.
- Será que sei ? você demonstra tudo isso de um jeito muito estranho - falei.
- Poxa , para de drama e vamos sair - drama? ele acha que eu estou fazendo drama?
- você pode me ajudar com isso aqui - disse em minha direção com o moletom na mão, ele provavelmente queria ajuda pra por, já que seu braço estava machucado e seria difícil de colocar. Assim que ele se deu conta que estava parado na porta arregalou os olhos.
- O que ele está fazendo aqui? - perguntou quase gritando sobre .
- Eu convidei ele - disse e gargalhou.
- Você só pode estar maluca. Acho que a morte do seu irmão mexeu realmente com sua cabeça.
- NÃO OUSE A FALAR DO MEU IRMÃO - falei gritando e querendo chorar.
- Ah qual é , vai dizer o que? que antes da morte do seu irmão você traria drogados para sua casa.
- NÃO FALE ASSIM COM ELA - agora foi a vez de de gritar - TUDO QUE ELA TEM FEITO FOI ME AJUDAR E VOCÊ FICA AI SENDO UM BABACA COM ELA..
- VOCÊ ME CHAMOU DE QUE? - gritou entrando em meu apartamento sem ser convidado e encarando .
- Gente parem por favor - tentei usar a voz mais serena possível afim de acalmar os dois, mas assim que vi partir para o lado de nem eu mesma me reconhecia ao avançar nele. - vai embora! Agora! - eu pedi.
- Então é isso? Você prefere ficar ao lado desse bostinha do que ao lado de quem pode te dar um futuro? Seus pais ficariam desapontados com você e suas escolhas. - falou .
- , chega por favor. - supliquei.
-Tudo bem, só não esqueça quem é a pessoa certa para você. Sabe onde me encontrar. AH, ela merece algo muito melhor do que você. - ele conclui apontando para e foi embora logo em seguida. Quando olhei para trás não estava mais lá então fui atrás. Entrei no quarto e nada, deveria estar no banheiro, então esperei até ouvir um choro que inundou meus olhos e meu coração. Fiquei desesperada, queria muito poder tirá-lo de lá e poder conversar e poder falar o que sinto. Esperei até que ele saísse. Fiquei um tempo lá até que ouvi a porta do banheiro destrancando.
- Desculpa te incomodar, eu já estou indo embora - falou sem olhar nos meus olhos.
- O que? você não vai pra lugar nenhum - falei mas pareceu me ignorar e foi a caminho da porta do quarto que era onde ficava o banheiro. Eu fui mais rápida que ele é tranquei a porta do quarto para que não pudesse sair.
- O que você tá fazendo? me deixa sair, não quero mais te incomodar - falou ainda com uma voz triste.
- Ei, para com isso e senta aqui - falei puxando até minha cama, ele sentou e ficamos em silêncio por alguns minutos.
- Desculpa - Eu falei sobre o acontecimento com .
- Você não me deve desculpas em nada - respondeu.
- Você não percebe né? - falei.
- Perceber o que? - respondeu.
- Que eu me importo com você, e eu quero te ver bem e feliz. Não sei explicar mas isso me faz muito feliz também - Eu falo e ele fica me olhando fixamente esperando que eu continuasse, então expliquei. - De alguma forma eu me sinto viva quando você está por perto, não quero ficar longe de você. - de repente senti lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Em seguida acariciou meu rosta de forma a secá-la e ao mesmo tempo ficou mais próximo. Ele estava perigosamente próximo e não consegui resistir, então juntei nossos lábios da forma mais intensa possível em um beijo que me trouxe extremas emoções: mais lágrimas e essas traziam um certo alívio como se estivesse me libertando e ao mesmo tempo traziam sorrisos bobos ao ver que correspondia da mesma forma. Foi então que tudo começou a ficar mais intenso. começou desceu os beijos para meu pescoço e suas mãos percorreram por minhas pernas levantando um pouco meu vestido enquanto ele se debruçava sobre mim. Era a melhor sensação do mundo estar em seus braços, até ele sentir desconforto em seu braço e sentar novamente na cama me analisando.
- Como ficam as coisas agora? - ele me perguntou.
- Como você quer que fiquem? - devolvi a pergunta.
- Não era isso que queria ouvir. - comentou rindo.
- E o que queria ouvir? - insisti. Ele não respondeu apenas me abraçou de forma terna e beijou minha testa. - Vou ter que adivinhar?
- Quem sabe um dia você adivinha. - falou brincalhão saindo do quarto.
- Volte aqui. Ainda precisamos dar um jeito nisso. - falei apontando para o curativo que estava se soltando devido ao banho.
- Ok madame - brincou e sentou novamente na cama para eu trocar seu curativo.
Depois que troquei nós fomos para sala assistir um filme. sentou ao meu lado abraçado em mim e fazendo carinho em mim o tempo todo. Quando a pipoca acabou nos ajeitamos melhor no sofá e eu decidi pedir comida japonesa e assim que ela chegou começou a reclamar.
- Não vou comer isso, é nojento. - reclamava .
- Mas que marica. - eu zoei. Depois que o filme terminou começamos a ver Flash e nunca vi tão empolgado; ele comentava sobre absolutamente tudo.
- Essa teoria sobre supervelocidade… seria loucura se isso realmente existisse. As pessoas em volta dele não envelheceriam, muito menos ele. E essa mudança na linha do tempo criaria vários Barrys.... Seria delay. - ele comentava e eu estava estática por saber o quanto ele era inteligente e estava correto no que estava falando. Aprendi isso com meu irmão que queria muito ser engenheiro e por vezes até pensei em realizar esse sonho por ele, mas seria como prolongar essa dor, ou reativá-la.
- Poderia ser uma tremenda loucura alguém ultrapassar a barreira da luz. Mas loucuras acontece. Antes pensavam que nada seria mais rápido que um trem. A barreira do som já foi quebrada… quem sabe não é?. Adoraria ver isso. - comentei.
- De onde você entende sobre essas coisas? - perguntou.
- Meu irmão queria ser engenheiro, aprendi com ele e eu até pensei em cursar, porém seria como prolongar essa dor em mim ou reativá-la.- falei exatamente como havia pensado.
- Eu fiz 4 anos da faculdade de engenharia - ele falou me pegando de surpresa.
- Você o que? - perguntei ainda surpresa.
- Você não achou que eu sempre vivi na rua, achou ? - ele respondeu sorrindo - Eu tinha uma vida normal, fazia faculdade, tinha amigos. Mas em meu último ano de faculdade eu comecei a me envolver com pessoas erradas, passei a usar drogas, depois de um tempo eu já me encontrava viciado e pegando o dinheiro da mensalidade da faculdade para comprar drogas. Quando minha família descobriu começou a ser um inferno, até eu não me aguentar mais e vir para Dallas. Tudo que eu trouxe comigo eu vendi para comprar drogas, então o que me restou foi morar na rua.
- Tem alguma explicação para isto? - eu quis saber. - O que você sentia?
- Me decepcionei com algumas coisas, só queria esquecê-las. - ele pareceu não dar importância.- Coisas do tipo?
- Meu pai era um bêbado e minha mãe estava muito doente, depois veio a pressão de estudar e cuidar minha mãe. Eu não dava conta. Acabei perdendo ela e além de tudo…- suspirou e parou de falar. Então o abracei.
- Além de tudo? - fiz gesto para que continuasse.
- Além de tudo eu estava sozinho. Minha namorada me trocou por um aluno bombadão do time da universidade. - falou cabisbaixo. Levei minhas mãos em seu rosto e fiz com que olhasse para mim.
- Eu sinto muito por você saber o quanto é ruim perder alguém. Mas acho que você fez o seu dever e sua mãe com certeza quer o melhor para você onde quer que ela esteja. E sobre sua ex… não fique triste por uma idiota dessas. Ela não tem ideia da bobagem que fez, você é lindo e uma pessoa incrível,nos conhecemos de uma forma conturbada mas eu senti o quanto seu coração é puro e ela não mereceu. - desabafei.
Ficamos um tempo em silêncio voltando a assistir Flash. Até que pegamos no sono, eu acabei dormindo ali no sofá mesmo.
...
despertei pela manhã com se mexendo.
- para de se mexer, eu estou tentando dormir - falei irritada
- Eu estou cheio de dor, que você queria? - ele falou calmo e eu tentei dormir de novo. Mas o barulho da televisão me acordava.
- Televisão agora, sério? dorme mais um pouco - falei ainda irritada
- Perdi o sono, quero ver esportes.
- EU NÃO ACREDITO QUE EU NÃO POSSO DORMIR EM PAZ NEM EM UM DOMINGO - falei saindo do sofá batendo os pés.
- Acho que alguém não tem um humor muito bom pela manhã - falou rindo.
Fui pro quarto voltar a dormir sem enchendo meu saco logo pela manhã.
Pov
Eu estava preocupado em me aproximar de , eu estava devendo para alguns traficantes e se eles descobrem que somos próximos ela corre risco. Eu precisava de minha arma de volta. Voltei ao galpão.
- Alex, eu preciso daquilo de volta. - eu disse.
- Está na minha sala. - ele disse fazendo sinal para que eu o seguisse. Assim que chegamos ele pegou uma chave e abriu um cofre atrás da mesa tirando minha arma de lá.
Antes de eu ir embora ele me alertou de que os traficantes que eu trabalhava estavam na cidade e que mais cedo ou mais tarde eles iriam cobrar a dívida.
Pov
- Vai ficar dormindo ai pra sempre? - acordei com a voz de .
- Ah não, até aqui? o que você quer agora? não consegue ficar sem mim sua peste? - falei ainda com os olhos fechados.
- Você ainda vai se apaixonar por mim, eu garanto - falou.
- Vai ficar esperando pra sempre - falei me levantando e me tranquei no banheiro e fui tomar um banho.
20 minutos depois sai enrolada em uma toalha encontrando deitado na minha cama.
-E agora pode me dar licença para eu me trocar? - falei.
- To com preguiça acho que eu vou dormir aqui - falou.
- meu deus você é insuportável.
- Você pode parar de falar? eu to querendo dormir aqui - falou com uma voz de que queria rir. Eu sabia que ele estava querendo me irritar, então eu só peguei minhas roupas e fui me trocar no banheiro. Assim que saí me deparei com a gaveta de calcinhas aberta e com uma delas em sua mão rindo. - Você tem certeza que cabe nisso daqui? - falou zoando.
- Se você queria chamar a minha atenção conseguiu. Devolve! - falei autoritária mesmo sentindo vergonha. E então ele correu assim que fiz menção de me aproximar. correu até a sala mas eu o puxei e ele acabou me derrubando no sofá e me enchendo de cócegas. Já não aguentava mais.
- Para , por favor! Eu me rendo! - supliquei, mas ele segurou meus braços e continuou a fazer cócegas por baixo da minha blusa. Só parou depois que ele cansou e se atirou em cima de mim.
- Eu te odeio. - eu disse rindo.
- Eu acho que não odeia não. - rebateu.
- Você não sabe. Como tem tanta certeza? - então ele levantou a cabeça para me olhar nos olhos e me beijou. Dessa vez a sensação foi diferente, era como se eu tivesse voltado para casa depois de muito tempo e aquele aperto de saudade estivesse indo embora. Ele era o meu lar. Eu correspondi fazendo carinho em seus cabelos e depois o abraçando enquanto podia perceber que ele ria durante o beijo como aprovação.
- Viu eu disse que não odiava. - falou no meu ouvido.
- Você não presta. - falei tentando empurrá-lo.
- AH, agora eu não presto? Mas eu sei jogar uno muito bem. - falou saindo de cima de mim e indo até a estante pegar as cartas do uno.
- Você quer perder pra mim? Que ótimo, mas depois do café. To faminta. - eu disse levantando do sofá.
- Lamento te informar mas isso soa estranho. - ele disse rindo da minha cara. - Faminta? a noite foi boa, hein? - continuou e eu fiquei vermelha. Joguei uma almofada nele e sai em direção a cozinha arrumar o café. Leite, cereal, waffles com cream cheese… de algo ele deve gostar. Arrumei o café para ele que ficou mais interessado na xícara do mickey do que uma criança de 3 anos.
- Você cozinha hoje. - falei e ele me olhou sem entender.- Não sou muito boa com a cozinha. - ele riu.
- Eu ganho o quê?
- Você ganha a louça limpa depois.
- To gostando da proposta, continua.
- Já está de bom tamanho, não exagera. - protestei.
- Rola uma sobremesa? - me olhou como o gatinho do shrek.
- Rola um brigadeiro no máximo.
- Fechado. - concordou.
- E depois do almoço mocinho, vá tomar banho porque vamos sair de tarde. - disse.
- Sim, mamãe. Vamos aonde? - ele quis saber.
- Ao shopping. Você precisa de roupas…- e ai ele me interrompeu.
- Não gosto que fique comprando coisas pra mim, você já teve muitos gastos comigo. - justificou.
- Melhor que você ficar usando sempre a mesma roupa, não concorda? - falei em tom de brincadeira.
No fim das contas quem acabou perdendo o jogo, cozinhando e lavando a louça foi eu, depois das alegações de de que não poderia fazer esforço, o que era verdade. Depois de muito insistir e ficar negando, finalmente consegui convencê-lo e fomos no shopping.
- você não acha que já tá bom de roupas? - ele falou enquanto andávamos pelo shopping.
- compramos poucas - respondi.
- poucas? tem bastante já .
- Ok então, vamos para casa? - perguntei e ele assentiu.
- Oi - um colega de minha faculdade falou passando por mim.
- Oi Dean - respondi.
- Está tudo bem? não te vi na faculdade esses dias - Dean perguntou.
- Eu vou ficar um pouco afastada, mas tá tudo bem sim - respondi e Dean sorriu.
- Então da ok! Foi bom te ver - Dean falou sorrindo pra mim e no mesmo instante pegou a minha mão, sorri da reação dele e fomos em direção à garagem do shopping ainda de mãos dadas.
- Você não precisa se afastar da faculdade por minha causa - disse entrando no carro e eu ri.
- Quem disse que é por sua causa? você está muito convencido - falei rindo e ligando o carro.
Quando chegamos em casa saiu da minha vista e depois voltou com as cartas do jogo uno
- Você acha que eu esqueci? – ele disse sorrindo me mostrando as cartas.
- então você está preparado para perder – falei já sentando na mesa enquanto embaralhava as cartas. Então ficamos jogando e conversando ao mesmo tempo, até que joga uma carta na mesa que eu não acreditei
- SÉRIO? – gritei e estava gargalhando – PARA DE RIR EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ FEZ ISSO COMIGO – tentei parecer brava mas eu também estava com muita vontade de rir
- Sério que você tá puta porque eu te dei a carta +4 – falou ainda rindo muito
- claro que eu fiquei – dessa vez eu comecei a rir com ele - isso não se faz.
Ficamos jogando mais um pouco até que eu joguei a carta +4 para ele também
- Serio? – falou imitando minha reação de quando ele tinha jogado essa carta pra mim e nós dois rimos.
...
As semanas que seguiram foram assim, tranquilas. Até eu presenciar uma das primeiras crises de abstinência dentre outras que vi passar. Ele sentia dor e eu não sabia como ajudá-lo, teve febre muito alta e ficava muito inquieto. Decidi ter uma conversa com ele após vê-lo com a mão cheia de sangue.
- O que houve ? - perguntei receosa.
- Nada. - ele respondeu friamente.
- Nada? - insisti.
- Não te parece óbvio? - ele falou nervoso. E eu não sabia o que dizer, novamente, estava agindo como agi com meu irmão. Não fazendo nada para ajudar.
- Eu quero te ajudar, mas não sei como. Me diga por favor o que eu faço. - disse desesperada enquanto ele levou as mãos a cabeça como reação as fortes dores que se intensificaram.
- Você não pode me ajudar, esse sou eu de verdade: um viciado que não foi forte para enfrentar os problemas. - ele disse tentando andar mais uns passos e quase caiu. - Me leva no banheiro, por favor. - então o ajudei. O vômito também era um sintoma do vício e logo após veio o choro ainda se apoiando no vaso sanitário e ajudei a sentar no chão e o abracei.
- Independente de qualquer coisa, eu estou aqui e sempre vou estar. Vai ficar tudo bem. - beijei sua testa, acariciei seu rosto e ele fechou seus olhos. Depois que ele conseguiu andar melhor o coloquei para dormir e fiquei ali vendo-o dormir. As vezes eu levava um susto com os pulos que ele dava em cima da cama, mas pelo menos estava dormindo, porque na maioria das vezes ele dava a desculpa que estava vendo algo interessante na televisão e na verdade sentia muito insônia.
Eu cuidava de e de certa forma ele cuidava de mim. Eu o cuidava como uma verdadeira criança, arrumava comida, lavava roupas, ajudava a se vestir. Eu estava ficando exausta, mas de maneira nenhuma me negaria a fazer isso. Entre as aulas e dar atenção a ele, acabei decidindo esperar até procurar emprego novamente, eu tinha medo, muito medo de deixá-lo sozinho. Eu estava dormindo apoiada em , que via um filme no sofá, até que ele me acordou falando que o telefone estava tocando. Era meus pais depois de alguns dias sem notícias deles.
- Oi filha quanto tempo, como está? - a voz da minha mãe falava do outro lado da linha
- Estou ótima mãe, e com você e o papai? - perguntei.
- Estamos ótimos também filha, apenas um pouco preocupados - respondeu minha mãe
- Por qual motivo?
- nos disse algumas coisas que nos deixou bastante preocupados - ah não, pra que esse idiota foi se meter?
- Ai mãe o que esse idiota falou - perguntei já irritada.
- Não fala assim dele , ele queria apenas ajudar - minha mãe falou e eu suspirei - quem é o homem que está na sua casa?
- O nome dele é - respondi e me olhou ao ouvir seu nome.
- Ele é seu colega? onde o conheceu? - minha mãe me enchia de perguntas.
- Antes que fiquem preocupados por alguma besteira que o tenha dito, foi o quem me salvou de um assalto na rua da faculdade, e eu estar cuidando dele não é nada perto dele ter levado um tiro por minha causa - falei.
- Ele levou um tiro por sua causa? essa parte não nos contou. Você deveria ter nos ligado e contado - minha mãe falou.
- Pois é mãe, eu me senti culpada por isso eu estou fazendo tudo isso - quando eu terminei de falar saiu da sala, ele parecia… irritado?
- Eu entendo filha. Mas nós ficamos curiosos pra saber quem é esse moço, traga ele para um jantar aqui em casa, para que eu e seu pai possa o conhecer e agradecer por ter salvo nossa garotinha - minha mãe falou. Depois disso ficamos conversando sobre outros assuntos, como faculdade, emprego, e depois desligamos. Quando desliguei fui atrás de .
- ? - fui até ele que estava sentado em minha cama.
- Então quer dizer que você está aqui comigo só por ter se sentido culpada? - falou com uma voz triste - Sabe no começo eu sabia que você tinha me ajudado por causa do seu irmão, porque não queria que ninguém mais tivesse problemas com drogas. Mas quando eu levei um tiro eu achei que você realmente se importasse comigo, e não que você tivesse se sentindo culpada.
- Você sabe que me importo com você - falei.
- Se importa mesmo ? Porque parece que você está aqui comigo por obrigação.
- Por obrigação? Eu passo o tempo todo com você, eu faço tudo, e estou fazendo por obrigação? Por pena… culpa… todos os motivos menos o qual realmente é - disse irritada
- E por qual outro motivo seria? - falou e eu sai irritada batendo a porta do quarto.
Passei o resto da tarde fazendo alguns trabalhos do curso e assistindo televisão. Enquanto não saia do quarto. Até pensei que estava dormindo, mas assim que a janta ficou pronta eu fui chamá-lo e quando me aproximei da porta do quarto e ouvi gemidos, então eu entrei sem nem bater e encontrei caído no chão se revirando de dor; Ele havia derrubado as coisas do criado mudo que acabaram quebrando e estava deitado sobre alguns cacos de vidro. Corri para ajudá-lo a levantar e ele gritou para que eu saísse. Não o fiz e assim que eu encostei nele ele me empurrou e eu acabei caindo sobre os cacos de vidro. Ele era outra pessoa eu podia ver em seus olhos. Acabou gritando comigo.
- Saia daqui agora! Eu quero ficar sozinho. - ele disse friamente.
- o que houve com você? - perguntei com pavor na voz.
- O que houve? - disse irônico.- Esse aqui é o verdadeiro , o que sente dor e que tenta expulsá-las de alguma forma. Sai daqui agora! - ele gritou. Confesso que fiquei com medo da reação dele.
- É sério , vá dar uma volta. - ele disse e eu por virei as costas andando por alguns segundos segundo o conselho dele, até eu me questionar o que teria feito com aquela arma. Então voltei ao quarto a passos largos e comecei a revirar o quarto o que não precisou muito devido a ele já ter deixado ela bem ao seu alcance na gaveta do criado mudo.
- Então é isso. É por isso que queria que eu saísse? - o olhei de forma decepcionada. Ele não respondeu, apenas abaixou a cabeça e eu entendi que ele estava com medo de não conseguir suportar, se isso acontecesse ele mesmo acabaria com ela. E então ele começou a gritar de dor e a soar cada vez mais. Desesperado ele correu ligar o ar condicionado e correu para o chuveiro. Quando percebi que socava a parede corri atrás dele para tentar pará-lo de alguma forma. Ainda estava vestido e a água estava muito fria.
- para, por favor! - eu pedi já com lágrimas se misturando com a água fria do chuveiro.
- Por isso eu pedi pedi pra sair ,você não entende? - falou segurando meu braço de uma maneira que estava me machucando.
- Você não é assim! Você é mais forte que isso. - podia sentir sua respiração descompassada como se estivesse se afogando. - Vem comigo! - então o puxei com calma daquele banheiro frio. Por sorte ele não relutou e eu sentia que ele poderia chorar a qualquer momento, parecia exausto e assustado.
- Vou ver uma roupa seca para você. - ele esperou em silêncio enquanto eu procurava algo para ele vestir. E então me aproximei dele para entregar a roupa e assim que ele pegou eu coloquei as mãos em seu rosto. - Eu to aqui com você! Sempre estarei não se esqueça disso. - então ele desabou em choro e me abraçou como se estivesse pedindo ajuda e eu estava ali para isso.
- Eu não estou mais aguentando. To me sentindo sufocado, afogado… eu não sei explicar. Meu coração dispara e eu sinto dor. - ele desabafou.
- Como agora? - perguntei ao perceber que ele ainda tremia.
- Como agora. - ele suspirou. Eu queria distraí-lo, eu sabia que quando a pessoa tem essas crises de abstinência ela tinha que ser distraída para não pensar mais naquilo, não era certo que iria passar, mas tinha uma boa chance. Então a única que que pensei foi passar a mão por baixo de sua camiseta e arranhei suas costas, logo depois depositei beijos em seu pescoço. Percebi ele fechar os olhos enquanto segurava minha cintura aproximando-nos ainda mais. Foi aí que ele beijou meus lábios, quando o beijo estava ficando mais intenso ele me guiou até a cama e me deitou na mesma.
- , você tá molhado - falei.
- Sem problemas - falou tirando toda sua roupa ficando completamente nu e foi se juntar a mim na cama.
- … - eu tentava falar mas ele ficava distribuindo beijos em meu pescoço - o seu braço…
- Não se importe com isso, ele está bem melhor - foi ai que ele começou a passar a mão por dentro da minha blusa, chegando até meus seios que ainda estavam cobertos pelo sutiã - sabe, essa é a segunda vez que você me vê pelado, e até agora eu não te vi nenhuma vez - assim que ele terminou de falar, apertou meu seio esquerdo por cima do sutiã, arrancando um gemido meu - um pouco injusto, não acha?
Não esperei mais e voltei para os seus lábios, ele tirou minha blusa e foi descendo os beijos até minha barriga, ele abriu o short e o tirou, me dedicando apenas de calcinha e sutiã. Então ele foi subindo novamente os beijos, dessa vez até meu sutiã se livrando completamente dele e logo depois minha calcinha… era como meu corpo precisasse do dele, então aconteceu.
Acordei no dia seguinte com a claridade, olhei para o lado e não estava mais lá, ele devia estar na sala vendo televisão. Eu fiquei mais um pouco deitada pensando na noite anterior com um sorriso no rosto e fui tomar banho. Coloquei um vestido azul simples e desci para encontrar .
- ? - chamei enquanto saía do quarto, mas não tive nenhuma resposta - ? - chamei de novo. Quando cheguei na sala e vi que ele não estava lá, fui para cozinha e ele também não estava. Ele não estava no apartamento, pra onde o foi?
Pov
Depois que acordei de manhã e ver que ainda dormia, decidi sair um pouco. Estava precisando de ar e um momento sozinho para pensar na confusão que eu sentia dentro de mim. Uma parte queria ir para não prejudicá-la e a outra precisava dela e queria ficar.
Depois de muito andar pensei em ir até uma tia que cuidou de mim enquanto eu era menor de idade. Bati na porta e quem me recebeu foi Alice, estava mudada mas a reconheci.
- ? - ela disse sorrindo.
- Sim Alice. Eu queria falar com a sua mãe, ela está? - perguntei.
- Está sim. Entra! Vou chamar ela.
Sentei no sofá para esperar e não demorou muito até que Maggie viesse com um sorriso e prato cheios de biscoitos. Ela sabia que eu gostava. Assim que deixou o prato sobre a mesa de centro, me abraçou de maneira calorosa.
- Eu senti saudades meu menino. Por onde andou? Você está bem? - perguntou de uma vez.
- Maggie também senti saudades. Eu estou bem...na verdade confuso. Por isso vim aqui porque preciso de conselhos.
- Conselhos sobre o que? - ela disse fazendo sinal para que eu me sentasse. - Sobre a vida. Eu acho que estou me sentindo vivo ultimamente. Sabe Maggie, eu fiz muita coisa errada e que podem decepcionar uma pessoa e até colocá-la em risco, mas eu não consigo me afastar.
- Você quer me contar que problemas são esses que a colocam em risco? - Maggie perguntou com medo da resposta.
- Eu tenho dívidas. E essas pessoas virão atrás de mim, eu não tenho como pagá-los e eles não tem muita paciência. - expliquei. Maggie estava me olhando atentamente e visivelmente preocupada.
- De quanto é essa dívida? Quem sabe eu consiga te ajudar ao menos com uma parte até conseguirmos o resto.
- Não Maggie, eu jamais aceitaria. Eu sei o quanto você trabalha para conseguir suas economias. De qualquer forma é bastante grana e a cada atraso ela aumenta. - ela segurou em minhas mãos apavorada.
- Eu quero te ajudar você sabe que eu jamais iria deixar alguma coisa acontecer com você sem eu ter feito nada pra te ajudar. Você é um filho pra mim. - ela me abraçou enquanto algumas lágrimas escorriam.
- Eu também sinto o mesmo, você sempre foi uma mãe quando precisei.
- E a respeito da garota mocinho… Você veio aqui me falar dela certo? - ela falou bagunçando meus cabelos.
- Ela é muito especial, eu a ajudei esses dias. Alguns garotos tentaram assaltá-la e eu acabei levando um tiro. Ela está cuidando de mim agora, eu estou sentindo algo muito forte por ela. Mas Maggie, você sabe do meu problema não é? Eu não sou a pessoa certa para ela e vou acabar estragando a vida dela. - suspirei.
- E se ela sabe do seu problema e não se importa é porque ela te ama e quer te ajudar. Mas se ela não sabe de tudo, você deve ser sincero com ela e deixá-la escolher. Quanto a divida nós daremos um jeito, nada de ruim vai acontecer.
- Eu fui egoísta a minha vida toda Maggie, mas eu não posso mais ser egoísta, principalmente com ela - então ela suspirou e me abraçou
- Não se prive de ser feliz garoto, você merece isso - falou
Pov
Se passaram 3 horas desde que acordei e não estava, ele sumiu e eu não entendia o porquê. Apesar das suas crises de abstinência, eu achava que ele realmente poderia melhorar, ele já estava sóbrio a quase 1 mês, eu sabia que no começo essas crises acontecem mas depois tudo ficaria bem, pelo menos é isso o que eu penso, afinal, não sou nenhuma médica. E agora vai saber onde ele está, se ele teve alguma de suas crises e voltou para as drogas, esse pensamento não saia da minha cabeça. Fiquei o dia inteiro com a esperança dele voltar, mas nada. Deu 21:00 da noite e nada dele, eu não conseguia comer, não conseguia descansar, a única coisa que fazia era ficar sentada no sofá esperando por ele, que podia nunca mais aparecer. Eu praticamente apaguei no sofá.
Acordei já no outro dia com uma terrível dor de cabeça, provavelmente pelo fato de não ter comido quase nada no dia anterior. Olhei para o relógio, 10:30 da manhã. Eu tinha que voltar a minha vida normalmente, eu não podia me prender por mais que sinta a falta dele, ele não pensou em mim quando saiu sem nem mesmo se despedir, eu tinha que parar de pensar nele também. Levantei do sofá decidida e fui tomar um banho e depois coloquei um vestido branco com detalhes rosas. Peguei meu carro e me direcionei ao pecan lodge para almoçar, tempo que não ia lá, tempo que não via Meredith também.
- Oi Meredith - falei assim que entrei no restaurante e dei de cara com a garçonete.
- Bom dia , quando tempo - disse Meredith com um sorriso amigável como sempre.
- Eu quero falar com você. Depois que eu terminar de atender aqui podemos conversar? - assenti com a cabeça que sim. Não tinha ideia do que ela queria me falar, mas eu não estava muito bem para conversar. Tentei empurrar a comida que não parecia descer direito, me sentia sem fome. Logo Meredith e sentou na cadeira na minha frente.
- Você tinha me perguntado sobre alguém há alguns dias, não é?
- ? Você viu ele? - falei nervosa.
- Você o conhece? Achei que era só de vista.
- Ele me salvou de um assalto, e levou um tiro. Está machucado eu estou ajudando, mas ele sumiu, eu não sei onde ele está. Ele ainda não está recuperado da cirurgia… eu preciso encontrá-lo…- então ela me interrompeu.
- Ele passou aqui na rua ontem, não deve estar longe. Era isso que queria te contar. Talvez ele tenha algum conhecido aqui perto. - assim que ela terminou de falar eu levantei da mesa e disse que precisava ir procurá-lo.
Após pagar a conta, entrei rápido no carro e andei pelas ruas ao redor do restaurante. Já tinha passado um bom tempo e eu já estava exausta. Mas algumas casas mais a frente da rua em que eu estava me chamaram a atenção, tinha pessoas por ali e eu decidi descer na frente de uma delas que estava com a garagem aberta para pedir alguma informação. Tinha uma menina arrumando algumas caixas na garagem. E quando eu dei a volta no carro e olhei para dentro da garagem eu o vi, pisquei rapidamente a fim de ter certeza de que não era o cansaço. Sim, era ele que ria de alguma coisa que a menina tinha falado. Meu coração apertou. Pensei em entrar no carro e sumir dali, mas já era tarde demais porque eles já haviam me visto.
- ? - perguntou confuso.
- Eu não sei oque eu to fazendo aqui. - falei virando as costas e saindo rapidamente de lá. Mas ele correu e segurou o meu braço.
- Eu posso explicar.
- Que original. Nós não temos nada, explicar o quê? - disse irônica.
- Eu vim ver minha tia.
- Bem nova sua tia hein? Sabe porque estou brava? Porque eu fiquei sem comer e dormir, estava tão preocupada com você que sai desesperada te procurar, enquanto você estava aqui nem um pouco preocupado em ao menos avisar que estava indo embora. Eu pensei que tivesse acontecido algo ruim, mas já vi que está bem. Posso voltar tranquila embora. - falei entre lágrimas.
- Não foi nada disso. Eu estava confuso, eu entrei na tua vida e eu me culpo por isso sabia? Olha o que eu te causei. Poderia ter batido em você ontem, eu estava fora de mim, mas não consigo me afastar. Você acha que eu não queria voltar? Não é certo estragar a tua vida. Tem gente perigosa atrás de mim e você corre risco estando comigo. - ele já gritava. Deve ter chamado atenção e uma senhora que eu julgaria ter uns 50 anos abriu a porta da casa.
- ? O que está acontecendo? Ela é a garota. - ele apenas baixou a cabeça e assentiu que sim ainda de costas para ela. - Traga-a para dentro, vocês precisam conversar, mas na rua, não.
Quando cheguei perto ela me abraçou apertado e me cumprimentou, logo em seguido fazendo sinal para eu entrar e me sentar.
- Vou deixar vocês sozinhos. - ela disse e saiu de nossas vistas.
- Me desculpa, por tudo, por eu te magoar de várias maneiras em tão pouco tempo.
- Se você não estivesse na minha vida eu talvez não estaria viva agora quem sabe. - ele riu de forma desanimada. - Porque você não morava com sua tia? ao invés de morar na rua?
- Porque eu não tinha o direito de preocupá-la. Eu sumia a noite, chegava transtornado, fugi de uma clínica. Eu estava fora de controle por estar ganhando dinheiro, decidi viver sozinho. Porém, eu fui entregar uma encomenda de drogas e acabaram me roubando no caminho, pensaram ter me matado. Mas agora o chefe da quadrilha que eu trabalhava já sabe que estou vivo e quer me cobrar.
- E quanto é que você está devendo para ele? - perguntei
- Muito .
- Me responde , quanto você está devendo.
- Pra que? pra você querer me ajudar até nisso? , você já me ajudou muito, foi conta do hospital, algumas roupas… Não quero você se metendo nisso, ok? - Mas … - falei e ele me interrompeu.
- por favor, você não entende? Eu que deveria ter feito tudo por você, - então eu só consegui chorar e no momento em que levantei para ir embora ele me puxou e juntou nossos lábios da maneira mais doce que poderia ser.
- E a menina que estava com você? Quem era? - perguntei ainda com o rosto próximo ao dele.
- Ela é filha da Maggie. É como se fosse uma irmã. Você não tem que se preocupar. Não consegue perceber o que eu sinto por você? - perguntou.
- Se é forte assim, então volta pra casa comigo? Eu não quero me afastar de você porque eu te amo e ...
- Você me ama? - ele perguntou me interrompendo e eu sorri
- Sim, eu amo.
- Eu também amo você, acredite. E é por isso que não posso voltar com você agora.
Depois de deixar a casa tão decepcionada que eu simplesmente não queria que a vida continuasse. Eu tentei mudar para as coisas melhorarem e na verdade só pioravam. Eu não queria mais viver ali, estava decidida a voltar para minha cidade. Assim que cheguei em casa vi que tinham algumas ligações no telefone, eram de . Talvez eu devesse ligar e convidá-lo para sair, ficar em casa lembrando dos dias que eu e passamos ali estava me matando.
...
Um mês sem aqui comigo e eu e estávamos nos aproximando. Ele queria que eu entendesse que ele queria ter uma vida estável antes de qualquer relacionamento e quando podemos ficar juntos eu que vou embora. Ele me fez prometer que pelo menos eu pensaria antes de tomar alguma decisão, enquanto isso ele seria paciente e não forçaria nenhum tipo de intimidade. É claro que sentia saudades de sentia muita, eu ainda não entendia o porquê dele não querer voltar comigo pra casa, o porque dele se afastar de mim. Eu não me arrependi em nenhum momento de ter o ajudado, quando ele tentou me assaltar eu tive uma reação que até agora eu não entendo, mas não me arrependo. Eu só queria que as coisas fossem diferentes, mas eu realmente espero que esteja bem.
- Ainda não sei se vou voltar mesmo mãe - estava no celular com a minha mãe, e sim, eu comprei um novo. - O está tentando me convencer a ficar aqui.
- ? Mas e o menino que você estava cuidando? Vocês não estavam juntos? - perguntou parecendo confusa.
- Não estávamos juntos mãe, ele melhorou e já foi embora. Era temporário. - expliquei.
- Mas ainda queremos conhecê-lo para agradecer por ele estar perto de você e ter te salvado. Você tem se comunicado com ele? - quis saber.
- Não muito.
- Como assim? Aconteceu algo?
- Não mãe, mas cada um tem a sua vida. Mas se te deixa tranquila eu vou ver o que posso fazer quanto a janta, não garanto nada.
Depois disso a conversa seguiu comigo tentando mudar de assunto e perguntando como estava o papai e a tia Olívia que estava os visitando. Dias se passaram e a rotina continuava a mesma. Eu não estava me sentindo bem. Então chamei para dar a notícia de que eu iria embora.
- eu preciso contar uma coisa. - falei meio tensa.
- Pode falar - disse sorrindo sentando no sofá.
- Eu vou voltar para San Diego - falei e o sorriso dele simplesmente se fechou.
- Então você já se decidiu? - perguntou parecendo decepcionado.
- É o melhor pra mim .
- Mas e eu, você não pensou nisso? - falou.
- , você lembra que quem foi embora primeiro foi você, não lembra? - disse com um pouco de ironia.
- Mas eu voltei, não voltei ? - ele me respondeu também com ironia.
- Nós dois sabemos que você não voltou por mim - eu disse e ele suspirou.
- Então essa é sua decisão oficial? vai voltar para San Diego? - ele perguntou.
- Não posso mais ficar aqui, , eu sinto simplesmente não posso.
Eu sabia que gostava de mim, é claro que sabia, mas ele sempre se importou mais com ele e a sua carreira, quando ele me deixou eu estava em um momento horrível, foi o pior momento do meu irmão, eu precisava de , mas ele não se importou e foi embora.
Eu e ficamos conversando mais um pouco na sala, depois de um tempo ele chegou a entender, disse que se eu precisasse de ajuda para empacotar as coisas, ele até me ajudava.
- Você tá esperando alguém? - perguntou quando ouvimos o barulho da campainha
- Não que eu saiba - falei indo atender a porta. Quando abri eu não acreditava no que estava vendo, não acreditava no rosto que eu estava vendo, o rosto que achei que nunca mais iria ver. Era , com uma aparência completamente diferente, com os olhos completamente diferentes, ele estava com uma aparência de saudável - L...ucas?
- Olá - respondeu do outro lado da porta com um sorriso no rosto, mas o sorriso se fechou completamente quando ele viu - o que ele está fazendo aqui?
- Ele... - falou respondendo por mim - está aqui fazendo companhia para a , já que você é um mal agradecido que deixou a garota que mais de ajudou sozinha.
- … - eu falei já sabendo que aquilo iria dar briga.
- Eu não deixei ninguém, eu fiz o que era melhor para ela, eu me afastei dela apenas para a proteger! Diferente de você, que quando ela mais precisou de você, você simplesmente foi embora por causa de uma carreira - respondeu já com a voz irritada .
- QUEM É VOCÊ PRA FALAR O QUE FIZ OU JÁ DEIXEI DE FAZER? - gritou.
- QUEM SOU EU? - gritou também já entrando em meu apartamento. - Eu vou te dizer quem sou eu: a pessoa que ela ama e que ama ela também. Que fez de tudo para estar curado para estar com ela e poder dar a vida que ela merece.
- Você é um idiota isso sim. - e logo que terminou a frase eu o vi cair no chão devido a ter levado um soco de . Então eu o segurei para que não houvesse mais violência.
- por favor, é melhor você ir. - eu pedi calmamente.
- Você mais uma vez vai me trocar por ele? Se você fizer isto, esqueça de mim. - ele parecia esperar uma resposta, porém eu abaixei a cabeça e foi como ter feito minha escolha. Logo após ele saiu batendo a porta.
- Você realmente vai embora? - ele disse em tom decepcionado depois que olhou para as caixas.
- Eu acho que é o melhor.
- Eu sei que não é fácil pedir desculpas pelo que eu fiz, mas eu não poderia te prometer nada na situação em que eu estava. - explicou.
- Eu já ouvi esse discurso uma vez, de que seria melhor se afastar. Eu até entendo que a pessoa deva construir algo. Mas um relacionamento… não é assim que se faz. Não é só de coisas boas que vivemos e um casal é feito para ajudar um ao outro a resolver problemas que para uma pessoa só são muito difíceis.
- ...eu quase te bati. Você acha que eu ia querer perder o controle? Eu jamais conseguiria me perdoar. E se acontecesse algo ruim com você? Você sabe que eu estava sendo perseguido. Agora eu estou bem, eu me curei e você me ajudou muito pra que isso acontecesse. Eu estou livre da dívida, já me livrei daquela arma também, e eu quero ficar com você como sempre quis. Você acha que desde o primeiro dia eu quis ir embora. Nunca quis! - então eu o abracei o mais forte que pude e juntei nossos lábios. Ele me deitou no sofá beijando meu pescoço e me fazendo esquecer de todos os problemas até ser completamente dele.
- Não vai embora por favor! - ele pediu.
- Então você terá que fazer uma coisa por mim.
- O que é?
- Meus pais querem que você vá jantar lá com nós em San Diego. - falei meio receosa, porém ele riu.
- E quando seria?
- Esse fim de semana ainda se você puder ir.
- Claro que eu vou. Fico muito feliz em poder compartilhar esses momentos com você a partir de agora - eu sorri e o beijei novamente.
E a semana foi assim, eu decidi ficar, voltou para o meu apartamento e ele iria finalmente voltar a fazer faculdade, ele faria o ano que faltava e depois de formado começaria seu trabalho como engenheiro. Ele estava uma pessoa completamente diferente, totalmente determinado a começar uma carreira.
- , tem certeza que é uma boa ideia? - perguntou eu ri do nervosismo dele
- , não precisa ficar nervoso, tudo vai dar certo - peguei na mão dele. Estávamos no avião indo para san diego, olhava pela janela a cada minuto para ver se já estávamos chegando. Assim que chegamos ao aeroporto fomos recebidos por Drake, o motorista simpático de minha tia. Durante o caminho estava vislumbrado com a praia, os coqueiros e a brisa que aquele paraíso trazia.
- Está nervoso? - perguntei pegando firme em sua mão antes de entrarmos pela porta.
- O que você acha? - falou entre uma risada gostosa. Assim que ele terminou de falar a porta foi aberta e minha mãe correu abraçar nós dois.
- Obrigada por minha filha estar aqui hoje, devemos o que temos de mais importante na vida a você. Não poderíamos perder outro filho - mamãe disse fungando a .
- Não precisa agradecer senhora Collins. Tenho certeza que ela é importante para mim da mesma maneira que para vocês. Eu não viveria sem ela. - respondeu olhando para mim e sorrindo.
- Ora ora, mas que belo casal! - dizia minha tia Olívia vindo nos cumprimentar toda alegre e abraçando nós dois. Meu pai foi o último a cumprimentar de maneira mais séria.
- Tudo bem ? - disse ele sem sorrir e fazendo sinal para que todos entrássemos.
- Tudo sim senhor Collins, obrigada. E o senhor como está? - perguntou . - Estou um pouco nervoso com a situação, eu admito. - disse sorrindo sem mostrar os dentes.
Logo após o jantar (que minha mãe atendeu meu pedido de que ia preferir nada sofisticado) fomos para o jardim caminhar um pouco.
- O que achou? - falei enquanto andava de mãos dadas com .
- Foi ótimo - ele falou parando e olhando pra mim - seus pais são ótimos - ele disse sorrindo enquanto acariciava meu rosto.
- Eles também adoraram você - falei.
- E tem como alguém não gostar de mim? - ele brincou e eu dei um tapa de leve nele.
- Convencido - falei rindo.
- Eu fiquei com um pouco de medo do teu pai no começo. - falou rindo. - Mas é normal não é? Se eu tiver uma filha, eu não vou querer que namore.
- Então é isso que você pretende? - falei envergonhada.
- Sim, isso é… Se você quiser.
- É claro que eu quero, nossa família… Nossa vida para sempre! - falei selando nossos lábios e o abraçando, era meu porto seguro.
Foi tudo tão rápido, os meus sentimentos vieram rápidos e muito intenso. Mas isso era uma coisa boa, eu estava feliz e ele também, isso que importa.
- ? - falou enquanto íamos para dentro de casa e eu o olhei - Eu te amo
- Eu também te amo - falei sorrindo.
- , se você não tivesse aparecido na minha vida eu ainda podia estar nas drogas, eu podia continuar com aquela vida horrível que tinha. Foi tudo graças a você,
- E se você não tivesse aparecido e me salvado naquele dia eu poderia nem estar mais viva - eu falei abraçando ele - não fui eu que te salvei, foi você que me salvou
- Nós nos salvamos, melhor assim - ele perguntou sorrindo e eu assenti e o beijei.
Você já teve a sensação de que conhece a pessoa a muito mais tempo? aquela pessoa que você olha nos olhos e nem parece que é a primeira vez que estão se vendo? Essa foi meu sentimento com o , parece que eu o conheço desde sempre, parece que eu sempre estive com ele. Eu já não me imagino sem ele, não me imagino sem o garoto que me acorda todos os dias com a barulho da televisão, não me imagino sem o garoto irônico que faz piadas com tudo, eu simplesmente não consigo imaginar minha vida sem . E esse era apenas o começo das nossas vidas, disso eu tenho certeza.
Meu irmão morreu de overdose a 1 ano. Ele passou por muitas clínicas de reabilitação mas nunca melhorava. Eu só queria ter ele em casa, dar apoio a ele, dizer que tudo ficaria bem... mas meus pais nem se quer me deixavam ver o meu irmão. Depois disso, San Diego pareceu um terrível lugar de se morar. Alguns vizinhos nos olhavam com pena, outros com olhar de reprovação, muitos também faziam comentários maldosos sobre minha família.
Eu não aguentava mais esses comentários, então decidi pedir transferência para uma faculdade em Dallas, conversei com meus pais e eles alugaram um apartamento aqui pra mim. Eu sei que vai ser difícil seguir em frente, mas eu tenho que tentar.
Mais um dia na pacata cidade, sem ter o que fazer. Mais um dia na busca por emprego e assim dar um jeito na vida. Resolvi ir ao Pecan Lodge almoçar e tentar novamente pela tarde.
- Assim que entrei no restaurante fui recebida por Meredith.
- Bom dia , tentando mais uma vez? - perguntou.
- Bom dia Meredith e sim, mais uma vez.- sorri amigavelmente.
- Boa sorte na próxima . Aqui é uma cidade pequena, poucas vagas de emprego. É assim mesmo, na próxima vai se sair melhor. - consolou-me Meredith.
- Obrigada pelo apoio. - respondi e fui logo me servir.
Durante o almoço comecei a refletir se realmente foi a melhor ideia ter mudado de cidade. Parece que minha ideia de mudar para uma cidade pequena, esquecer os problemas e seguir a vida, não estava dando muito certo. Depois de muito refletir, eu sabia que deveria tentar mais antes de jogar a toalha. Arregacei as mangas, paguei a conta e sai decidida a procurar novamente. Logo que sai pela porta senti algo me puxar. De tão rápido fiquei meio zonza sem entender nada até que aquilo, ou melhor a pessoa falasse.
- A bolsa agora! A bolsa! - ordenava o cidadão. Eu estava de costas não podia vê-lo. E assim que virei para entregá-lo a bolsa pude ver seu rosto. Tão jovem e tão… tão...bonito? Minha distração com seu rosto foi acordada ao perceber que tinha alguém se aproximando. Então num ato de loucura o puxei para perto de mim e entramos num beco ao lado do restaurante. E pelo visto ele também ficou espantado.
- Você é doida? - perguntou ainda tentando esconder o rosto.
- Desculpa… eu não sei o que houve. Tentei ajudar, alguém estava vindo. - tentei responder.
- Desculpa? é isso mesmo? Eu assalto você e é você quem pede desculpas?
- Você não me parece o tipo de pessoa que leva esse tipo de vida… - eu disse.
- Você não sabe nada sobre mim. - retrucou. - Vou te poupar de minha companhia, me passa a bolsa e vou embora. - enquanto ele falava eu comecei a ouvir sirenes se aproximando.
- Você quer a bolsa? então… entra no carro ali na frente. Rápido. - não tinha noção do que estava fazendo.
- Você tem noção de quem está com uma arma na mão? - perguntou.
- E você tem noção de que a polícia está vindo? Entra no carro, vou tirar você daqui. - sem mais esperar puxei o homem até o meu carro.
- Por que está fazendo isso? - perguntou o homem ainda armado.
- E você acha que eu sei? Eu não tenho a mínima ideia do que estou fazendo mas não quero ver você com problemas. - então o som da sirene começou a ficar mais próximo e ele se sentiu obrigado a aceitar meu convite.
Assim que entramos no carro pedi que ele colocasse o cinto, ele obedeceu a contragosto e ligou o rádio.
- Você não vai me falar o seu nome? - perguntei.
- Para o que? Você fazer queixa de mim na delegacia? Não, muito obrigada.
- Olha, se eu estou te ajudando. Por que mesmo eu iria a delegacia prestar queixa de você? - questionei e ele não soube o que dizer.
-
- O quê? - perguntei novamente.
- Meu nome é . - repetiu.
- O meu é . Para onde eu levo você? Onde você mora? - eu quis saber;
- Não tenho casa.
- Como assim não tem casa?
- Não tenho casa, não tenho família. Eu sou mais um viciado que mora na rua. Satisfeita? - parei o carro ao ouvir aquilo. - por que parou?
- Você comeu alguma coisa hoje? - eu perguntei e ele riu.
- Comer não, mas fumar você pode ter certeza que sim - ele falou com um sorriso bem debochado no rosto.
- Vou te levar no shopping, você pode comer algo na praça de alimentação - falei e logo ele fechou o rosto.
- Shopping? você tá doida?
- Você precisa comer algo.
- Não em um shopping - então eu segui a caminho do meu prédio, eu só podia estar louca, levar um estranho para o meu apartamento? ainda mais um estranho que tentou me assaltar
. Não demorou muito para chegarmos no meu prédio.
- Onde estamos? - perguntou enquanto eu entrava com o carro na garagem
- No meu prédio.
- No seu prédio? Porque me trouxe aqui? Vai querer me servir… - então olhou no relógio, 15:53h - ... o chá das 5?
- Não é nada disso. Só quero que você alimente-se.
- Olha menina eu não sou o seu bicho de estimação para me alimentar. Estou longe de ser uma boa companhia. Obrigada pela ajuda. Agora pode por favor abrir o portão para eu ir embora? - ele pediu.
- Se você ousar sair por aquele portão, eu juro que chamo a polícia.- eu o ameacei.
- Você só pode estar brincando. E vai falar o'quê? Que o assaltante não quis sair com você?
- Como você é grosseiro. - xinguei.
- E você não tem medo do perigo. - ele continuou.
- Depois que você subir e comer algo, eu deixo você ir. - ele apenas riu.
- Vamos antes que eu me arrependa. - concordou e seguimos para o meu apartamento. Enquanto estávamos no elevador eu parei para analisar o quão bonito ele era: cabelos loiros, um pouco sujos e olhos azuis muito intensos. Tinha os lábios finos e bem desenhados, carregando sempre um leve sorriso sedutor.
- Você leva todos os homens que te assaltam para sua casa? - perguntou irônico enquanto saiamos do elevador.
- Não, ou você acha que sou sua fada o tempo todo? - falei já destrancando a porta do meu apartamento.
Quando entramos ficou parado no meio da sala olhando tudo, olhando cada cômodo do meu apartamento.
- Vai ficar aí parado? a cozinha é por aqui - falei e ele acordou de seu “transe” e me seguiu
- Seu apartamento é grande - ele disse já sentando em uma das cadeiras da minha cozinha
- Grande? não exagera, ele é pequeno.
- Eu moro na rua, então pra mim isso é grande - depois disso eu me senti até mal
- Você vai continuar com isso? - perguntei mudando de assunto.
- Isso o que? - perguntou.
- Não se faça de desentendido - então caminhei até ele e ergui sua camisa a ponto de mostrar que estava falando da arma que estava escondida ali.
- Me diz o que é que você quer de mim? - perguntou curioso.
- Ajudar. Eu sei qual é o seu problema. - respondia apenas.
- Meu problema? - se fez de desentendido novamente.
- Eu vi nos seus olhos, eles estão completamente vermelhos.. Você precisa de ajuda, sabe disso! - ele deu de ombros. - ? Estou falando com você.
- Eu não sou surdo. Só não ligo pra besteiras. - respondeu grosseiramente, e eu já podia sentir as lágrimas caírem.
- Você não sabe o que está falando seu idiota. Eu sei aonde isso pode chegar. Se você não tem quem se importe com você e se revolta com isso, eu não tenho culpa e apesar de tudo eu me importo com você.
- E porquê se importa?
- Você me lembra uma pessoa. - então eu apontei para a foto do porta retrato da bancada.
- O seu namorado? – falou quando olhou a foto
- Não, meu irmão. Faleceu a aproximadamente 1 ano.- expliquei.
- Então você trouxe um estranho para sua casa porque se parece com seu falecido irmão? E se eu te machucasse?
- Não, você não iria. E respondendo a outra pergunta, eu fico sentida toda vez que vejo alguém com problemas assim. Não os culpo de maneira nenhuma, sei que na maioria das vezes tem motivos muito dolorosos por trás.
- Quem te garante que não machucaria? - desafiou. Então eu cheguei perto de onde estava sentado e pus a mão em seu coração.
- Acho que sei reconhecer um coração bom.
- Mas eu não sou o único com coração bom não é? Eu fico sentida toda vez que vejo alguém com problemas assim. - me arremedou.
- O que você quer dizer com isso? - perguntei.
- Que você já trouxe mais alguém aqui.
- Não, se está tão curioso assim, eu não trouxe.
- , me sinto completamente honrado de ser o primeiro estranho que você trouxe para casa - respondeu novamente com seu jeito irônico.
Coloquei uma lasanha no forno e liguei a tv no jogo de Eagles x Dallas.
- Não acredito que Eagles está perdendo - pensei alto e veio até a mim olhar também
- Mas é claro, jogando com dallas você queria o que?
- Menos … menos. Quem tem o melhor quarterback?
- Melhor quarter? é isso aí - ele falou apontando para tv que mostrava o time de dallas.
- veremos. - contrariei.
Ficamos assistindo o jogo até o forno apitar indicando que a lasanha já estava pronta. Peguei um prato e coloquei para que já estava sentado novamente na mesa da cozinha.
- Não vai comer? - ele perguntou enquanto dava a primeira garfada.
- Eu comi antes de você tentar me assaltar. - disse enquanto me dividia entre prestar atenção nele e no jogo, que já estava praticamente decidido a meu favor, mas ainda teve mais um toudown do Fales. Finalizando assim a partida em 32x11 em grande estilo. - QUEM É O MELHOR? QUEM É O MELHOR? QUEMMM? QUEMM? - ele estava quieto parecia estar longe. - Você não vai falar nada?
- É estranho você gostar tanto de jogo.
- Por que sou mulher? - eu ri. - Como você é antiquado.
- Da onde você é? - ele perguntou mudando de assunto.
- San diego - respondi.
- E torce pros eagles?
- O que posso dizer? minha família são grandes fãs dos eagles e acabei me tornando também.
- Vou embora agora. Obrigada pela ajuda . - ele falou já indo para a sala. E eu o segui e antes que saísse puxei seu braço.
- O que foi? - perguntou.
- Não acha melhor deixar isso aqui? - o falei de novo voltando ao assunto da arma.
- Estou me mantendo seguro com isso. Não se preocupe. Agora preciso ir. - depois disso deu um beijo em minha bochecha e foi em direção ao elevador e eu esperei até que se fechasse.
Pov
Saí do apartamento de pensando no que ela disse. Eu não podia andar armado sabendo que a polícia estava me vigiando por alguns delitos que cometi. Decidi levá-la até um amigo e deixá-la lá por um tempo.
- ? - perguntou o cara arrumando umas caixas num galpão abandonado.
- Eu mesmo Alex. - respondi.
- To precisando de um favor. - disse.
- Não me colocando em enrascadas tudo bem. - Alex disse.
- Preciso que você guarde isso por um tempo. - então levantei o moletom e mostrei a arma.
- , … Você sabe que os caras estão atrás de você né? - me perguntou.
- Eu sei, mas no momento eu preciso esconder isso. - expliquei e entreguei a arma para ele.
- Tudo bem, mas que seja por pouco tempo. Sabe que aqui o serviço é de fachada, e não quero ter problemas numa fiscalização. - ele argumentou.
- Não será por muito tempo. Eu preciso ir antes que fique tarde.
- Tarde? - Alex perguntou arqueando uma sobrancelha de modo irônico.
- Tenho compromisso. - respondi apenas.
- Não vai levar nada hoje? - perguntou.
- Não. - respondia friamente.
- Tem alguma garota na jogada não é? - questionou.
- Ela diz que quer me ajudar e eu ainda não entendo o porque.
- Acho que entendi o porque quer se livrar da arma. Ela sabe quem você é?
- Ela não se importa. - respondi e o cumprimentei com a cabeça saindo daquele lugar logo em seguida.
Pov
Já estava deitada em minha cama pensando no que tinha acontecido. Como pude levar um estranho até minha casa, um estranho que tentou me assaltar e ainda por cima estava armado. Mas quando eu olhei seus olhos, seus olhos completamente vermelhos… eu apenas lembrei de meu irmão em uma de suas piores fases, seus olhos também ficavam vermelhos. Eu vi seus olhos vermelhos e quando vi alguém se aproximando tudo que me passou pela cabeça foi puxar ele até um canto para que não desse nenhum problema para ele. Não parava de pensar em como fazer para vê-lo novamente, pois não sabia nada sobre ele. Semanas se passaram e essa angústia de não vê-lo crescia cada vez mais. Mais um dia de rotina, sem nada especial. Estava almoçando como de costume no Pecan Lodge e chamei Meredith para ver se ela conhecia . Minha última esperança em conseguir alguma informação, depois de ter percorrido a cidade atrás dele.
- Hey Meredith! - eu disse.
- Hey ! Como foi a tentativa hoje? - perguntou-me.
- Estou com uma ideia nova, pensando em trabalhar de casa mesmo pela internet. Mas não foi por isso que te chamei - eu ri. - Você conhece um menino chamado , ele é loiro e tem olhos azuis, com 1,80m de altura mais ou menos? Aparenta ter 28 anos. - o descrevi.
- Difícil eu te dizer algo de certeza, mas tem um menino que passava por aqui bem cedo e às vezes tarde da noite. Algumas pessoas tinham medo que ele as assaltasse...
- Ele é inofensivo Meredith, eu garanto. - ela me olhou sem entender nada. - eu a interrompi.
- Como pode ter certeza? Só por ele ser bonito? O que você quer com ele? Menina tome cuidado, as pessoas comentam que ele é usuário de drogas. - falava ela toda afobada.
- Calma Meredith, digamos que nos encontramos a uns dias atrás e conversamos por horas. E eu estou viva! Está vendo?
- só tenha cuidado, muitas pessoas podem não ser quem você pensa que são - Meredith falou ainda preocupada.
- Pode ficar tranquila, nada vai acontecer. Agora tenho que ir, até mais - me despedi de Meredith com um abraço e sai do restaurante em direção ao meu apartamento.
Tinha muitas coisas para fazer, não é mole ser dona de casa. Depois de colocar algumas roupas na máquina, lavar o banheiro e passar aspirador na casa decidi tomar um banho, pois estava um lixo. Ainda precisava pesquisar anúncios na internet; não é fácil querer cursar publicidade e querer morar no interior. Respondi algumas vagas interessantes e fui me arrumar para a aula. Para ajudar a aula de hoje foi cansativa teríamos que fazer algum projeto no dreamweaver o que levou um bom tempo. Eu estava exausta com fome e não tinha nada pronto em casa. Logo que a aula acabou eu decidi ir até a lancheria da esquina da universidade comprar um lanche. Enquanto esperava sentei na mesa da calçada e pude respirar um pouco aquele ar gélido e gostoso que aquela noite trazia. De repente senti uns passos mais rápidos atrás de mim e um puxão em seguida, assim que me virei pude ver dois caras armados e parecendo nada amigáveis eles foram na minha direção e eu tentei correr inutilmente. E assim me derrubaram enquanto eu tentava empurrá-los para me soltar. Eles arrancaram o celular do meu bolso e de repente eu senti um caído por cima de mim sem eu ter feito nada. Eu reconhecia aquele rosto, , ele estava ali. Mas o outro que estava armado o acertou com a arma no braço ao tentar tomá-la. Assim que conseguiu tomá-la o assaltante saiu correndo e o outro apontou a arma para mim e fugiu com minha bolsa. A moça do bar saiu correndo pelos fundos achando que era o assaltante.
- Você está bem? - perguntou preocupado, me fitando com os mesmos olhos vermelhos do outro dia.
E novamente um soco em direção a , outro rosto conhecido e eu não poderia acreditar que era que estava ali e gritei.
- ! PARE! AGORA! - eu disse e me pus a frente de .
- Fique longe dela! - ordenou e me puxou.
- , para! Ele não tentou me assaltar, ele me ajudou.- expliquei. - Preciso levá-lo ao hospital.
- Eu não acredito que você vai fazer isso. Vamos embora agora. - ele disse.
- vá com ele. Não se preocupe comigo. - finalmente se manifestou. Eu estava sem carro e meu celular fora roubado então convenci de levar ao hospital. Ele aceitou, pois sabia que se não levasse eu chamaria um táxi.
Assim que chegamos ao hospital ele foi levado para a emergência, pois estava com febre e precisaria fazer uma cirurgia para extrair a bala. Me recusei a sair de perto um segundo se quer e foi embora furioso. Logo pela manhã uma enfermeira me cutucou para me acordar, pois eu havia dormido no sofá da sala de espera, e me informou de que já estava acordado e eu poderia falar com ele. Me perguntou também se eu era da família e se deveria avisar mais algum familiar.
- Bom dia. - eu disse ao entrar no quarto.
- Bom dia. - ele respondeu com um enorme sorriso, que apesar dos roxos, esse sorriso o deixava tão lindo.
- Como se sente? - perguntei.
- Como se um trator tivesse passado em cima de mim, acho que é da anestesia. - respondeu. - você ficou esse tempo todo aqui?
- Sim, e se eu soubesse que a acomodação para o acompanhante nesse quarto era tão boa, teria dormido aqui em vez de na poltrona. - falei brincando com ele e me atirando no sofá cama.
- Você não precisava estar fazendo tudo isso por mim - falou.
- Você tentou me ajudar - falei me levantando para ter uma visão melhor de .
- Sim, e a poucos dias eu tentei te assaltar. Eu não mereço tudo que você está fazendo por mim - eu sorri ao ouvir meu apelido, era por “” que meu irmão sempre me chamava.
- É claro que você merece, eu sei que no fundo você é uma boa pessoa - falei indo até ele
- E esse quarto? deve ter custado uma fortuna.
-Ei, não se preocupe com isso. Tinha uma reserva para emergência e isto foi uma emergência. - falei pegando na mão dele. Ficamos em silêncio até o doutor bater na porta e em seguida entrar.
- Bom dia , como se sente?
- Bem melhor doutor - falou, mas eu sabia que ele estava mentindo, eu sabia que ele ainda estava com dor.
- Bom saber. Você terá que ficar aqui no hospital por mais 2 dias para observação - o médico falou
- 2 dias? Não mesmo, não posso.
- … - eu falei tentar acalmar ele.
- , eu simplesmente não posso ficar aqui - ele falou tentando se levantar e logo depois vi que ele tinha desistido da ideia de se levantar devido a cara de dor que ele fez
- não seja igual uma criança e ouça o que o doutor tem a dizer - suspirou e voltou a prestar atenção no médico.
- Como eu estava dizendo, o senhor terá que ficar aqui no hospital por 2 dias para uma observação, depois que sair daqui não pode fazer muito esforço com o braço e talvez precise de fisioterapia - assim que o doutor falou a última palavra começou a rir.
- Fisioterapia? eu? só pode ser uma piada…
- ! - eu o interrompi. - Desculpe doutor, às vezes ele é uma criança muito birrenta. - eu ironizei e o doutor se despediu rindo e saindo do quarto logo em seguida.
- Criança birrenta? - ele perguntou arqueando uma sobrancelha demonstrando que esperava uma explicação.
- É sim ué, você teima toda hora. - eu ri.
- Não é bem assim, eu estou aqui ainda, não estou? - ele disse entrando na brincadeira. - E você já pra casa tomar um banho mocinha, está aqui tem tempo já sem tomar banho, deve estar cheirando mal. - e então eu ameacei me aproximar dele que fez cara de nojo e então eu me joguei em cima dele que ria sem parar e ao mesmo tempo gemia de dor.
- To sentindo um cheirinho ruim. - disse ele cheirando meu pescoço e confesso que senti arrepios, mas não demonstrei fraqueza, apenas ri e o fiz cócegas até ele se dar por vencido e pedir para eu parar. Depois disso, eu também me dei por vencida e concordei que precisava de um banho e também precisava comer algo.
Logo que cheguei em casa corri para um banho demorado e relaxante. Durante o banho eu sorria pensando em tudo o que tinha acontecido. Do nada essa pessoa surge na minha vida e não sabe o bem que está me fazendo. Sorri mais ainda ao lembrar da sua gargalhada gostosa. Depois do banho segui para a cozinha e estava quase na hora do almoço. Nada congelado e estava com uma fome colossal. Me arrumei e decidi comer no caminho, mas antes disso recebi uma ligação de no telefone de casa dizendo que precisávamos conversar, apenas ignorei essa parte e inventei uma desculpa para não dizer que voltaria ao hospital. Quando recebi o meu pedido fui direto para o hospital e fui a caminho do quarto de .
-Você não cansa de mim? - perguntou sorrindo ao me ver.
- Cansar de você na verdade sim, mas se é pra te encher o saco eu to sempre aqui - falei arrancando uma gargalhada de .
- Vou ser muito solidária e dividir minha comida com você. Trouxe porque imaginei que do jeito que é teimoso iria se recusar a comer sopinha de hospital. Mas eu não sei se você pode comer isso - falei enchendo a boca se bolo.
- Você é má.
- Repete ou eu te deixo sem comida - falei rindo
Entreguei a comida de , eu comi junto com ele e ficamos conversando por horas, eu nem via o tempo passando.
E foi assim durante os 2 dias de no hospital, eu sempre dormia lá, e ia para casa de tarde a pedido de me mandando tomar banho.
-Sinta-se em casa - falei abrindo a porta do meu apartamento e entrou
- Você tem certeza disso? - Ele perguntou enquanto eu fechava a porta e caminhava até a sala.
- Claro, porque eu não teria?
- O homem daquela noite parece não gostar muito de mim.
- O ? não se importe com ele - falei.
- quem é ele afinal? - eu ri
- Não tenho quarto de hóspedes, então você pode ficar com o sofá - falei mudando de assunto.
- Por que está mudando de assunto? - ele me perguntou ainda se referindo ao assunto de .
- Porque o não é nada de importante.
- Se ele não é importante então me fale sobre ele - falou e eu suspirei. Ficamos alguns segundos em silêncio até que resolvi falar.
- O é um ex namorado - Falei e me olhou - Namoramos por 2 anos, e quando eu mais precisava de alguém ele me abandonou, quando meu irmão estava na pior fase com as drogas eu precisava dele, e ele foi embora. Eu não faço a mínima ideia do que ele está fazendo aqui em Dallas, e simplesmente eu prefiro não saber - suspirei - agora chega de papo e vai tomar banho.
- ok mandona - eu ri e guiei ele até o banheiro - qualquer coisa é só gritar. Deixei no banheiro e voltei para sala, liguei a tv e fiquei lá por uns 20 minutos e depois ouvi passos vindo do corredor
-Até que enfim, achei que ficaria lá pra sempre - falei levando meu olhar até o corredor e simplesmente não acreditava no que via. completamente pelado e molhado me encarava sorrindo - O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO? - gritei.
- Você esqueceu de me dar uma toalha e uma roupa - ele falou com o mesmo sorriso debochado de sempre.
- Eu mandei você gritar se precisasse de algo - disse tapando meus olhos. - Se eu fizesse isso, eu não veria essa sua cara envergonhada - ele disse rindo e depois falou - , você realmente fica linda quando está com vergonha..
- Você vai fazer eu me arrepender de te trazer pra cá. - falei e se fechou fazendo eu me arrepender amargamente pelo que disse. E sem saber o que fazer me aproximei e o abracei o mais forte que pude como pedido de desculpas.
- , eu ainda estou sem roupa. - ao ouvir isso eu não sabia se ria, se sentia vergonha, mas sabia que era a forma dele aceitar minhas desculpas. Logo depois o empurrei rindo e fui ver algumas roupas do meu irmão que eu ainda guardava. Deveriam servir. Separei a muda de roupa e o chamei para vestir.
- Ahh não precisa se incomodar em sair. - ele disse rindo. Obviamente o pior já havia acontecido. Enquanto ele se vestia eu separei algumas coisas do banheiro para ele, escova, toalhas e levei ao banheiro. Do corredor ouvi o barulho da campainha e fui logo abrir a porta.
- ?
- Oi, . Eu tentei ligar pro telefone da sua casa, mas você não me atendia.
- Então você teve a brilhante ideia de vir até aqui? Quem te deu me endereço e o telefone da minha casa afinal?
- Seus pais, eles estavam preocupados.
- Por que você tinha que meter meus pais nisso? - falei colocando a mão na cabeça.
- Eu estava preocupado com você , e eles eram a única opção - ele falou e depois continuou - Enfim, eu queria saber se você aceita jantar hoje comigo.
- Acho que hoje não vai dar, estou procurando emprego e… - ia continuar mas me interrompeu.
- , é sua uma noite, isso não vai te custar em nada - falou. - Por que está em Dallas, ? - perguntei com uma voz séria.
- Eu sou um dos responsáveis pelo novo shopping que irá abrir aqui - ele falou me pegando de surpresa.
- E porque veio atrás de mim? - perguntei novamente.
- Pensei que poderíamos ficar juntos, foi por causa de você que aceitei esse trabalho em Dallas, porque ficaria perto de você - ele falou e eu ri.
- por favor, você só está aqui porque esse trabalho paga muito bem, duvido que se pagasse pouco você estaria aqui. Pra você eu sou apenas um bônus de estar nessa cidade
- Não faz assim , você sabe que eu gosto de você.
- Será que sei ? você demonstra tudo isso de um jeito muito estranho - falei.
- Poxa , para de drama e vamos sair - drama? ele acha que eu estou fazendo drama?
- você pode me ajudar com isso aqui - disse em minha direção com o moletom na mão, ele provavelmente queria ajuda pra por, já que seu braço estava machucado e seria difícil de colocar. Assim que ele se deu conta que estava parado na porta arregalou os olhos.
- O que ele está fazendo aqui? - perguntou quase gritando sobre .
- Eu convidei ele - disse e gargalhou.
- Você só pode estar maluca. Acho que a morte do seu irmão mexeu realmente com sua cabeça.
- NÃO OUSE A FALAR DO MEU IRMÃO - falei gritando e querendo chorar.
- Ah qual é , vai dizer o que? que antes da morte do seu irmão você traria drogados para sua casa.
- NÃO FALE ASSIM COM ELA - agora foi a vez de de gritar - TUDO QUE ELA TEM FEITO FOI ME AJUDAR E VOCÊ FICA AI SENDO UM BABACA COM ELA..
- VOCÊ ME CHAMOU DE QUE? - gritou entrando em meu apartamento sem ser convidado e encarando .
- Gente parem por favor - tentei usar a voz mais serena possível afim de acalmar os dois, mas assim que vi partir para o lado de nem eu mesma me reconhecia ao avançar nele. - vai embora! Agora! - eu pedi.
- Então é isso? Você prefere ficar ao lado desse bostinha do que ao lado de quem pode te dar um futuro? Seus pais ficariam desapontados com você e suas escolhas. - falou .
- , chega por favor. - supliquei.
-Tudo bem, só não esqueça quem é a pessoa certa para você. Sabe onde me encontrar. AH, ela merece algo muito melhor do que você. - ele conclui apontando para e foi embora logo em seguida. Quando olhei para trás não estava mais lá então fui atrás. Entrei no quarto e nada, deveria estar no banheiro, então esperei até ouvir um choro que inundou meus olhos e meu coração. Fiquei desesperada, queria muito poder tirá-lo de lá e poder conversar e poder falar o que sinto. Esperei até que ele saísse. Fiquei um tempo lá até que ouvi a porta do banheiro destrancando.
- Desculpa te incomodar, eu já estou indo embora - falou sem olhar nos meus olhos.
- O que? você não vai pra lugar nenhum - falei mas pareceu me ignorar e foi a caminho da porta do quarto que era onde ficava o banheiro. Eu fui mais rápida que ele é tranquei a porta do quarto para que não pudesse sair.
- O que você tá fazendo? me deixa sair, não quero mais te incomodar - falou ainda com uma voz triste.
- Ei, para com isso e senta aqui - falei puxando até minha cama, ele sentou e ficamos em silêncio por alguns minutos.
- Desculpa - Eu falei sobre o acontecimento com .
- Você não me deve desculpas em nada - respondeu.
- Você não percebe né? - falei.
- Perceber o que? - respondeu.
- Que eu me importo com você, e eu quero te ver bem e feliz. Não sei explicar mas isso me faz muito feliz também - Eu falo e ele fica me olhando fixamente esperando que eu continuasse, então expliquei. - De alguma forma eu me sinto viva quando você está por perto, não quero ficar longe de você. - de repente senti lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Em seguida acariciou meu rosta de forma a secá-la e ao mesmo tempo ficou mais próximo. Ele estava perigosamente próximo e não consegui resistir, então juntei nossos lábios da forma mais intensa possível em um beijo que me trouxe extremas emoções: mais lágrimas e essas traziam um certo alívio como se estivesse me libertando e ao mesmo tempo traziam sorrisos bobos ao ver que correspondia da mesma forma. Foi então que tudo começou a ficar mais intenso. começou desceu os beijos para meu pescoço e suas mãos percorreram por minhas pernas levantando um pouco meu vestido enquanto ele se debruçava sobre mim. Era a melhor sensação do mundo estar em seus braços, até ele sentir desconforto em seu braço e sentar novamente na cama me analisando.
- Como ficam as coisas agora? - ele me perguntou.
- Como você quer que fiquem? - devolvi a pergunta.
- Não era isso que queria ouvir. - comentou rindo.
- E o que queria ouvir? - insisti. Ele não respondeu apenas me abraçou de forma terna e beijou minha testa. - Vou ter que adivinhar?
- Quem sabe um dia você adivinha. - falou brincalhão saindo do quarto.
- Volte aqui. Ainda precisamos dar um jeito nisso. - falei apontando para o curativo que estava se soltando devido ao banho.
- Ok madame - brincou e sentou novamente na cama para eu trocar seu curativo.
Depois que troquei nós fomos para sala assistir um filme. sentou ao meu lado abraçado em mim e fazendo carinho em mim o tempo todo. Quando a pipoca acabou nos ajeitamos melhor no sofá e eu decidi pedir comida japonesa e assim que ela chegou começou a reclamar.
- Não vou comer isso, é nojento. - reclamava .
- Mas que marica. - eu zoei. Depois que o filme terminou começamos a ver Flash e nunca vi tão empolgado; ele comentava sobre absolutamente tudo.
- Essa teoria sobre supervelocidade… seria loucura se isso realmente existisse. As pessoas em volta dele não envelheceriam, muito menos ele. E essa mudança na linha do tempo criaria vários Barrys.... Seria delay. - ele comentava e eu estava estática por saber o quanto ele era inteligente e estava correto no que estava falando. Aprendi isso com meu irmão que queria muito ser engenheiro e por vezes até pensei em realizar esse sonho por ele, mas seria como prolongar essa dor, ou reativá-la.
- Poderia ser uma tremenda loucura alguém ultrapassar a barreira da luz. Mas loucuras acontece. Antes pensavam que nada seria mais rápido que um trem. A barreira do som já foi quebrada… quem sabe não é?. Adoraria ver isso. - comentei.
- De onde você entende sobre essas coisas? - perguntou.
- Meu irmão queria ser engenheiro, aprendi com ele e eu até pensei em cursar, porém seria como prolongar essa dor em mim ou reativá-la.- falei exatamente como havia pensado.
- Eu fiz 4 anos da faculdade de engenharia - ele falou me pegando de surpresa.
- Você o que? - perguntei ainda surpresa.
- Você não achou que eu sempre vivi na rua, achou ? - ele respondeu sorrindo - Eu tinha uma vida normal, fazia faculdade, tinha amigos. Mas em meu último ano de faculdade eu comecei a me envolver com pessoas erradas, passei a usar drogas, depois de um tempo eu já me encontrava viciado e pegando o dinheiro da mensalidade da faculdade para comprar drogas. Quando minha família descobriu começou a ser um inferno, até eu não me aguentar mais e vir para Dallas. Tudo que eu trouxe comigo eu vendi para comprar drogas, então o que me restou foi morar na rua.
- Tem alguma explicação para isto? - eu quis saber. - O que você sentia?
- Me decepcionei com algumas coisas, só queria esquecê-las. - ele pareceu não dar importância.- Coisas do tipo?
- Meu pai era um bêbado e minha mãe estava muito doente, depois veio a pressão de estudar e cuidar minha mãe. Eu não dava conta. Acabei perdendo ela e além de tudo…- suspirou e parou de falar. Então o abracei.
- Além de tudo? - fiz gesto para que continuasse.
- Além de tudo eu estava sozinho. Minha namorada me trocou por um aluno bombadão do time da universidade. - falou cabisbaixo. Levei minhas mãos em seu rosto e fiz com que olhasse para mim.
- Eu sinto muito por você saber o quanto é ruim perder alguém. Mas acho que você fez o seu dever e sua mãe com certeza quer o melhor para você onde quer que ela esteja. E sobre sua ex… não fique triste por uma idiota dessas. Ela não tem ideia da bobagem que fez, você é lindo e uma pessoa incrível,nos conhecemos de uma forma conturbada mas eu senti o quanto seu coração é puro e ela não mereceu. - desabafei.
Ficamos um tempo em silêncio voltando a assistir Flash. Até que pegamos no sono, eu acabei dormindo ali no sofá mesmo.
...
despertei pela manhã com se mexendo.
- para de se mexer, eu estou tentando dormir - falei irritada
- Eu estou cheio de dor, que você queria? - ele falou calmo e eu tentei dormir de novo. Mas o barulho da televisão me acordava.
- Televisão agora, sério? dorme mais um pouco - falei ainda irritada
- Perdi o sono, quero ver esportes.
- EU NÃO ACREDITO QUE EU NÃO POSSO DORMIR EM PAZ NEM EM UM DOMINGO - falei saindo do sofá batendo os pés.
- Acho que alguém não tem um humor muito bom pela manhã - falou rindo.
Fui pro quarto voltar a dormir sem enchendo meu saco logo pela manhã.
Pov
Eu estava preocupado em me aproximar de , eu estava devendo para alguns traficantes e se eles descobrem que somos próximos ela corre risco. Eu precisava de minha arma de volta. Voltei ao galpão.
- Alex, eu preciso daquilo de volta. - eu disse.
- Está na minha sala. - ele disse fazendo sinal para que eu o seguisse. Assim que chegamos ele pegou uma chave e abriu um cofre atrás da mesa tirando minha arma de lá.
Antes de eu ir embora ele me alertou de que os traficantes que eu trabalhava estavam na cidade e que mais cedo ou mais tarde eles iriam cobrar a dívida.
Pov
- Vai ficar dormindo ai pra sempre? - acordei com a voz de .
- Ah não, até aqui? o que você quer agora? não consegue ficar sem mim sua peste? - falei ainda com os olhos fechados.
- Você ainda vai se apaixonar por mim, eu garanto - falou.
- Vai ficar esperando pra sempre - falei me levantando e me tranquei no banheiro e fui tomar um banho.
20 minutos depois sai enrolada em uma toalha encontrando deitado na minha cama.
-E agora pode me dar licença para eu me trocar? - falei.
- To com preguiça acho que eu vou dormir aqui - falou.
- meu deus você é insuportável.
- Você pode parar de falar? eu to querendo dormir aqui - falou com uma voz de que queria rir. Eu sabia que ele estava querendo me irritar, então eu só peguei minhas roupas e fui me trocar no banheiro. Assim que saí me deparei com a gaveta de calcinhas aberta e com uma delas em sua mão rindo. - Você tem certeza que cabe nisso daqui? - falou zoando.
- Se você queria chamar a minha atenção conseguiu. Devolve! - falei autoritária mesmo sentindo vergonha. E então ele correu assim que fiz menção de me aproximar. correu até a sala mas eu o puxei e ele acabou me derrubando no sofá e me enchendo de cócegas. Já não aguentava mais.
- Para , por favor! Eu me rendo! - supliquei, mas ele segurou meus braços e continuou a fazer cócegas por baixo da minha blusa. Só parou depois que ele cansou e se atirou em cima de mim.
- Eu te odeio. - eu disse rindo.
- Eu acho que não odeia não. - rebateu.
- Você não sabe. Como tem tanta certeza? - então ele levantou a cabeça para me olhar nos olhos e me beijou. Dessa vez a sensação foi diferente, era como se eu tivesse voltado para casa depois de muito tempo e aquele aperto de saudade estivesse indo embora. Ele era o meu lar. Eu correspondi fazendo carinho em seus cabelos e depois o abraçando enquanto podia perceber que ele ria durante o beijo como aprovação.
- Viu eu disse que não odiava. - falou no meu ouvido.
- Você não presta. - falei tentando empurrá-lo.
- AH, agora eu não presto? Mas eu sei jogar uno muito bem. - falou saindo de cima de mim e indo até a estante pegar as cartas do uno.
- Você quer perder pra mim? Que ótimo, mas depois do café. To faminta. - eu disse levantando do sofá.
- Lamento te informar mas isso soa estranho. - ele disse rindo da minha cara. - Faminta? a noite foi boa, hein? - continuou e eu fiquei vermelha. Joguei uma almofada nele e sai em direção a cozinha arrumar o café. Leite, cereal, waffles com cream cheese… de algo ele deve gostar. Arrumei o café para ele que ficou mais interessado na xícara do mickey do que uma criança de 3 anos.
- Você cozinha hoje. - falei e ele me olhou sem entender.- Não sou muito boa com a cozinha. - ele riu.
- Eu ganho o quê?
- Você ganha a louça limpa depois.
- To gostando da proposta, continua.
- Já está de bom tamanho, não exagera. - protestei.
- Rola uma sobremesa? - me olhou como o gatinho do shrek.
- Rola um brigadeiro no máximo.
- Fechado. - concordou.
- E depois do almoço mocinho, vá tomar banho porque vamos sair de tarde. - disse.
- Sim, mamãe. Vamos aonde? - ele quis saber.
- Ao shopping. Você precisa de roupas…- e ai ele me interrompeu.
- Não gosto que fique comprando coisas pra mim, você já teve muitos gastos comigo. - justificou.
- Melhor que você ficar usando sempre a mesma roupa, não concorda? - falei em tom de brincadeira.
No fim das contas quem acabou perdendo o jogo, cozinhando e lavando a louça foi eu, depois das alegações de de que não poderia fazer esforço, o que era verdade. Depois de muito insistir e ficar negando, finalmente consegui convencê-lo e fomos no shopping.
- você não acha que já tá bom de roupas? - ele falou enquanto andávamos pelo shopping.
- compramos poucas - respondi.
- poucas? tem bastante já .
- Ok então, vamos para casa? - perguntei e ele assentiu.
- Oi - um colega de minha faculdade falou passando por mim.
- Oi Dean - respondi.
- Está tudo bem? não te vi na faculdade esses dias - Dean perguntou.
- Eu vou ficar um pouco afastada, mas tá tudo bem sim - respondi e Dean sorriu.
- Então da ok! Foi bom te ver - Dean falou sorrindo pra mim e no mesmo instante pegou a minha mão, sorri da reação dele e fomos em direção à garagem do shopping ainda de mãos dadas.
- Você não precisa se afastar da faculdade por minha causa - disse entrando no carro e eu ri.
- Quem disse que é por sua causa? você está muito convencido - falei rindo e ligando o carro.
Quando chegamos em casa saiu da minha vista e depois voltou com as cartas do jogo uno
- Você acha que eu esqueci? – ele disse sorrindo me mostrando as cartas.
- então você está preparado para perder – falei já sentando na mesa enquanto embaralhava as cartas. Então ficamos jogando e conversando ao mesmo tempo, até que joga uma carta na mesa que eu não acreditei
- SÉRIO? – gritei e estava gargalhando – PARA DE RIR EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ FEZ ISSO COMIGO – tentei parecer brava mas eu também estava com muita vontade de rir
- Sério que você tá puta porque eu te dei a carta +4 – falou ainda rindo muito
- claro que eu fiquei – dessa vez eu comecei a rir com ele - isso não se faz.
Ficamos jogando mais um pouco até que eu joguei a carta +4 para ele também
- Serio? – falou imitando minha reação de quando ele tinha jogado essa carta pra mim e nós dois rimos.
...
As semanas que seguiram foram assim, tranquilas. Até eu presenciar uma das primeiras crises de abstinência dentre outras que vi passar. Ele sentia dor e eu não sabia como ajudá-lo, teve febre muito alta e ficava muito inquieto. Decidi ter uma conversa com ele após vê-lo com a mão cheia de sangue.
- O que houve ? - perguntei receosa.
- Nada. - ele respondeu friamente.
- Nada? - insisti.
- Não te parece óbvio? - ele falou nervoso. E eu não sabia o que dizer, novamente, estava agindo como agi com meu irmão. Não fazendo nada para ajudar.
- Eu quero te ajudar, mas não sei como. Me diga por favor o que eu faço. - disse desesperada enquanto ele levou as mãos a cabeça como reação as fortes dores que se intensificaram.
- Você não pode me ajudar, esse sou eu de verdade: um viciado que não foi forte para enfrentar os problemas. - ele disse tentando andar mais uns passos e quase caiu. - Me leva no banheiro, por favor. - então o ajudei. O vômito também era um sintoma do vício e logo após veio o choro ainda se apoiando no vaso sanitário e ajudei a sentar no chão e o abracei.
- Independente de qualquer coisa, eu estou aqui e sempre vou estar. Vai ficar tudo bem. - beijei sua testa, acariciei seu rosto e ele fechou seus olhos. Depois que ele conseguiu andar melhor o coloquei para dormir e fiquei ali vendo-o dormir. As vezes eu levava um susto com os pulos que ele dava em cima da cama, mas pelo menos estava dormindo, porque na maioria das vezes ele dava a desculpa que estava vendo algo interessante na televisão e na verdade sentia muito insônia.
Eu cuidava de e de certa forma ele cuidava de mim. Eu o cuidava como uma verdadeira criança, arrumava comida, lavava roupas, ajudava a se vestir. Eu estava ficando exausta, mas de maneira nenhuma me negaria a fazer isso. Entre as aulas e dar atenção a ele, acabei decidindo esperar até procurar emprego novamente, eu tinha medo, muito medo de deixá-lo sozinho. Eu estava dormindo apoiada em , que via um filme no sofá, até que ele me acordou falando que o telefone estava tocando. Era meus pais depois de alguns dias sem notícias deles.
- Oi filha quanto tempo, como está? - a voz da minha mãe falava do outro lado da linha
- Estou ótima mãe, e com você e o papai? - perguntei.
- Estamos ótimos também filha, apenas um pouco preocupados - respondeu minha mãe
- Por qual motivo?
- nos disse algumas coisas que nos deixou bastante preocupados - ah não, pra que esse idiota foi se meter?
- Ai mãe o que esse idiota falou - perguntei já irritada.
- Não fala assim dele , ele queria apenas ajudar - minha mãe falou e eu suspirei - quem é o homem que está na sua casa?
- O nome dele é - respondi e me olhou ao ouvir seu nome.
- Ele é seu colega? onde o conheceu? - minha mãe me enchia de perguntas.
- Antes que fiquem preocupados por alguma besteira que o tenha dito, foi o quem me salvou de um assalto na rua da faculdade, e eu estar cuidando dele não é nada perto dele ter levado um tiro por minha causa - falei.
- Ele levou um tiro por sua causa? essa parte não nos contou. Você deveria ter nos ligado e contado - minha mãe falou.
- Pois é mãe, eu me senti culpada por isso eu estou fazendo tudo isso - quando eu terminei de falar saiu da sala, ele parecia… irritado?
- Eu entendo filha. Mas nós ficamos curiosos pra saber quem é esse moço, traga ele para um jantar aqui em casa, para que eu e seu pai possa o conhecer e agradecer por ter salvo nossa garotinha - minha mãe falou. Depois disso ficamos conversando sobre outros assuntos, como faculdade, emprego, e depois desligamos. Quando desliguei fui atrás de .
- ? - fui até ele que estava sentado em minha cama.
- Então quer dizer que você está aqui comigo só por ter se sentido culpada? - falou com uma voz triste - Sabe no começo eu sabia que você tinha me ajudado por causa do seu irmão, porque não queria que ninguém mais tivesse problemas com drogas. Mas quando eu levei um tiro eu achei que você realmente se importasse comigo, e não que você tivesse se sentindo culpada.
- Você sabe que me importo com você - falei.
- Se importa mesmo ? Porque parece que você está aqui comigo por obrigação.
- Por obrigação? Eu passo o tempo todo com você, eu faço tudo, e estou fazendo por obrigação? Por pena… culpa… todos os motivos menos o qual realmente é - disse irritada
- E por qual outro motivo seria? - falou e eu sai irritada batendo a porta do quarto.
Passei o resto da tarde fazendo alguns trabalhos do curso e assistindo televisão. Enquanto não saia do quarto. Até pensei que estava dormindo, mas assim que a janta ficou pronta eu fui chamá-lo e quando me aproximei da porta do quarto e ouvi gemidos, então eu entrei sem nem bater e encontrei caído no chão se revirando de dor; Ele havia derrubado as coisas do criado mudo que acabaram quebrando e estava deitado sobre alguns cacos de vidro. Corri para ajudá-lo a levantar e ele gritou para que eu saísse. Não o fiz e assim que eu encostei nele ele me empurrou e eu acabei caindo sobre os cacos de vidro. Ele era outra pessoa eu podia ver em seus olhos. Acabou gritando comigo.
- Saia daqui agora! Eu quero ficar sozinho. - ele disse friamente.
- o que houve com você? - perguntei com pavor na voz.
- O que houve? - disse irônico.- Esse aqui é o verdadeiro , o que sente dor e que tenta expulsá-las de alguma forma. Sai daqui agora! - ele gritou. Confesso que fiquei com medo da reação dele.
- É sério , vá dar uma volta. - ele disse e eu por virei as costas andando por alguns segundos segundo o conselho dele, até eu me questionar o que teria feito com aquela arma. Então voltei ao quarto a passos largos e comecei a revirar o quarto o que não precisou muito devido a ele já ter deixado ela bem ao seu alcance na gaveta do criado mudo.
- Então é isso. É por isso que queria que eu saísse? - o olhei de forma decepcionada. Ele não respondeu, apenas abaixou a cabeça e eu entendi que ele estava com medo de não conseguir suportar, se isso acontecesse ele mesmo acabaria com ela. E então ele começou a gritar de dor e a soar cada vez mais. Desesperado ele correu ligar o ar condicionado e correu para o chuveiro. Quando percebi que socava a parede corri atrás dele para tentar pará-lo de alguma forma. Ainda estava vestido e a água estava muito fria.
- para, por favor! - eu pedi já com lágrimas se misturando com a água fria do chuveiro.
- Por isso eu pedi pedi pra sair ,você não entende? - falou segurando meu braço de uma maneira que estava me machucando.
- Você não é assim! Você é mais forte que isso. - podia sentir sua respiração descompassada como se estivesse se afogando. - Vem comigo! - então o puxei com calma daquele banheiro frio. Por sorte ele não relutou e eu sentia que ele poderia chorar a qualquer momento, parecia exausto e assustado.
- Vou ver uma roupa seca para você. - ele esperou em silêncio enquanto eu procurava algo para ele vestir. E então me aproximei dele para entregar a roupa e assim que ele pegou eu coloquei as mãos em seu rosto. - Eu to aqui com você! Sempre estarei não se esqueça disso. - então ele desabou em choro e me abraçou como se estivesse pedindo ajuda e eu estava ali para isso.
- Eu não estou mais aguentando. To me sentindo sufocado, afogado… eu não sei explicar. Meu coração dispara e eu sinto dor. - ele desabafou.
- Como agora? - perguntei ao perceber que ele ainda tremia.
- Como agora. - ele suspirou. Eu queria distraí-lo, eu sabia que quando a pessoa tem essas crises de abstinência ela tinha que ser distraída para não pensar mais naquilo, não era certo que iria passar, mas tinha uma boa chance. Então a única que que pensei foi passar a mão por baixo de sua camiseta e arranhei suas costas, logo depois depositei beijos em seu pescoço. Percebi ele fechar os olhos enquanto segurava minha cintura aproximando-nos ainda mais. Foi aí que ele beijou meus lábios, quando o beijo estava ficando mais intenso ele me guiou até a cama e me deitou na mesma.
- , você tá molhado - falei.
- Sem problemas - falou tirando toda sua roupa ficando completamente nu e foi se juntar a mim na cama.
- … - eu tentava falar mas ele ficava distribuindo beijos em meu pescoço - o seu braço…
- Não se importe com isso, ele está bem melhor - foi ai que ele começou a passar a mão por dentro da minha blusa, chegando até meus seios que ainda estavam cobertos pelo sutiã - sabe, essa é a segunda vez que você me vê pelado, e até agora eu não te vi nenhuma vez - assim que ele terminou de falar, apertou meu seio esquerdo por cima do sutiã, arrancando um gemido meu - um pouco injusto, não acha?
Não esperei mais e voltei para os seus lábios, ele tirou minha blusa e foi descendo os beijos até minha barriga, ele abriu o short e o tirou, me dedicando apenas de calcinha e sutiã. Então ele foi subindo novamente os beijos, dessa vez até meu sutiã se livrando completamente dele e logo depois minha calcinha… era como meu corpo precisasse do dele, então aconteceu.
Acordei no dia seguinte com a claridade, olhei para o lado e não estava mais lá, ele devia estar na sala vendo televisão. Eu fiquei mais um pouco deitada pensando na noite anterior com um sorriso no rosto e fui tomar banho. Coloquei um vestido azul simples e desci para encontrar .
- ? - chamei enquanto saía do quarto, mas não tive nenhuma resposta - ? - chamei de novo. Quando cheguei na sala e vi que ele não estava lá, fui para cozinha e ele também não estava. Ele não estava no apartamento, pra onde o foi?
Pov
Depois que acordei de manhã e ver que ainda dormia, decidi sair um pouco. Estava precisando de ar e um momento sozinho para pensar na confusão que eu sentia dentro de mim. Uma parte queria ir para não prejudicá-la e a outra precisava dela e queria ficar.
Depois de muito andar pensei em ir até uma tia que cuidou de mim enquanto eu era menor de idade. Bati na porta e quem me recebeu foi Alice, estava mudada mas a reconheci.
- ? - ela disse sorrindo.
- Sim Alice. Eu queria falar com a sua mãe, ela está? - perguntei.
- Está sim. Entra! Vou chamar ela.
Sentei no sofá para esperar e não demorou muito até que Maggie viesse com um sorriso e prato cheios de biscoitos. Ela sabia que eu gostava. Assim que deixou o prato sobre a mesa de centro, me abraçou de maneira calorosa.
- Eu senti saudades meu menino. Por onde andou? Você está bem? - perguntou de uma vez.
- Maggie também senti saudades. Eu estou bem...na verdade confuso. Por isso vim aqui porque preciso de conselhos.
- Conselhos sobre o que? - ela disse fazendo sinal para que eu me sentasse. - Sobre a vida. Eu acho que estou me sentindo vivo ultimamente. Sabe Maggie, eu fiz muita coisa errada e que podem decepcionar uma pessoa e até colocá-la em risco, mas eu não consigo me afastar.
- Você quer me contar que problemas são esses que a colocam em risco? - Maggie perguntou com medo da resposta.
- Eu tenho dívidas. E essas pessoas virão atrás de mim, eu não tenho como pagá-los e eles não tem muita paciência. - expliquei. Maggie estava me olhando atentamente e visivelmente preocupada.
- De quanto é essa dívida? Quem sabe eu consiga te ajudar ao menos com uma parte até conseguirmos o resto.
- Não Maggie, eu jamais aceitaria. Eu sei o quanto você trabalha para conseguir suas economias. De qualquer forma é bastante grana e a cada atraso ela aumenta. - ela segurou em minhas mãos apavorada.
- Eu quero te ajudar você sabe que eu jamais iria deixar alguma coisa acontecer com você sem eu ter feito nada pra te ajudar. Você é um filho pra mim. - ela me abraçou enquanto algumas lágrimas escorriam.
- Eu também sinto o mesmo, você sempre foi uma mãe quando precisei.
- E a respeito da garota mocinho… Você veio aqui me falar dela certo? - ela falou bagunçando meus cabelos.
- Ela é muito especial, eu a ajudei esses dias. Alguns garotos tentaram assaltá-la e eu acabei levando um tiro. Ela está cuidando de mim agora, eu estou sentindo algo muito forte por ela. Mas Maggie, você sabe do meu problema não é? Eu não sou a pessoa certa para ela e vou acabar estragando a vida dela. - suspirei.
- E se ela sabe do seu problema e não se importa é porque ela te ama e quer te ajudar. Mas se ela não sabe de tudo, você deve ser sincero com ela e deixá-la escolher. Quanto a divida nós daremos um jeito, nada de ruim vai acontecer.
- Eu fui egoísta a minha vida toda Maggie, mas eu não posso mais ser egoísta, principalmente com ela - então ela suspirou e me abraçou
- Não se prive de ser feliz garoto, você merece isso - falou
Pov
Se passaram 3 horas desde que acordei e não estava, ele sumiu e eu não entendia o porquê. Apesar das suas crises de abstinência, eu achava que ele realmente poderia melhorar, ele já estava sóbrio a quase 1 mês, eu sabia que no começo essas crises acontecem mas depois tudo ficaria bem, pelo menos é isso o que eu penso, afinal, não sou nenhuma médica. E agora vai saber onde ele está, se ele teve alguma de suas crises e voltou para as drogas, esse pensamento não saia da minha cabeça. Fiquei o dia inteiro com a esperança dele voltar, mas nada. Deu 21:00 da noite e nada dele, eu não conseguia comer, não conseguia descansar, a única coisa que fazia era ficar sentada no sofá esperando por ele, que podia nunca mais aparecer. Eu praticamente apaguei no sofá.
Acordei já no outro dia com uma terrível dor de cabeça, provavelmente pelo fato de não ter comido quase nada no dia anterior. Olhei para o relógio, 10:30 da manhã. Eu tinha que voltar a minha vida normalmente, eu não podia me prender por mais que sinta a falta dele, ele não pensou em mim quando saiu sem nem mesmo se despedir, eu tinha que parar de pensar nele também. Levantei do sofá decidida e fui tomar um banho e depois coloquei um vestido branco com detalhes rosas. Peguei meu carro e me direcionei ao pecan lodge para almoçar, tempo que não ia lá, tempo que não via Meredith também.
- Oi Meredith - falei assim que entrei no restaurante e dei de cara com a garçonete.
- Bom dia , quando tempo - disse Meredith com um sorriso amigável como sempre.
- Eu quero falar com você. Depois que eu terminar de atender aqui podemos conversar? - assenti com a cabeça que sim. Não tinha ideia do que ela queria me falar, mas eu não estava muito bem para conversar. Tentei empurrar a comida que não parecia descer direito, me sentia sem fome. Logo Meredith e sentou na cadeira na minha frente.
- Você tinha me perguntado sobre alguém há alguns dias, não é?
- ? Você viu ele? - falei nervosa.
- Você o conhece? Achei que era só de vista.
- Ele me salvou de um assalto, e levou um tiro. Está machucado eu estou ajudando, mas ele sumiu, eu não sei onde ele está. Ele ainda não está recuperado da cirurgia… eu preciso encontrá-lo…- então ela me interrompeu.
- Ele passou aqui na rua ontem, não deve estar longe. Era isso que queria te contar. Talvez ele tenha algum conhecido aqui perto. - assim que ela terminou de falar eu levantei da mesa e disse que precisava ir procurá-lo.
Após pagar a conta, entrei rápido no carro e andei pelas ruas ao redor do restaurante. Já tinha passado um bom tempo e eu já estava exausta. Mas algumas casas mais a frente da rua em que eu estava me chamaram a atenção, tinha pessoas por ali e eu decidi descer na frente de uma delas que estava com a garagem aberta para pedir alguma informação. Tinha uma menina arrumando algumas caixas na garagem. E quando eu dei a volta no carro e olhei para dentro da garagem eu o vi, pisquei rapidamente a fim de ter certeza de que não era o cansaço. Sim, era ele que ria de alguma coisa que a menina tinha falado. Meu coração apertou. Pensei em entrar no carro e sumir dali, mas já era tarde demais porque eles já haviam me visto.
- ? - perguntou confuso.
- Eu não sei oque eu to fazendo aqui. - falei virando as costas e saindo rapidamente de lá. Mas ele correu e segurou o meu braço.
- Eu posso explicar.
- Que original. Nós não temos nada, explicar o quê? - disse irônica.
- Eu vim ver minha tia.
- Bem nova sua tia hein? Sabe porque estou brava? Porque eu fiquei sem comer e dormir, estava tão preocupada com você que sai desesperada te procurar, enquanto você estava aqui nem um pouco preocupado em ao menos avisar que estava indo embora. Eu pensei que tivesse acontecido algo ruim, mas já vi que está bem. Posso voltar tranquila embora. - falei entre lágrimas.
- Não foi nada disso. Eu estava confuso, eu entrei na tua vida e eu me culpo por isso sabia? Olha o que eu te causei. Poderia ter batido em você ontem, eu estava fora de mim, mas não consigo me afastar. Você acha que eu não queria voltar? Não é certo estragar a tua vida. Tem gente perigosa atrás de mim e você corre risco estando comigo. - ele já gritava. Deve ter chamado atenção e uma senhora que eu julgaria ter uns 50 anos abriu a porta da casa.
- ? O que está acontecendo? Ela é a garota. - ele apenas baixou a cabeça e assentiu que sim ainda de costas para ela. - Traga-a para dentro, vocês precisam conversar, mas na rua, não.
Quando cheguei perto ela me abraçou apertado e me cumprimentou, logo em seguido fazendo sinal para eu entrar e me sentar.
- Vou deixar vocês sozinhos. - ela disse e saiu de nossas vistas.
- Me desculpa, por tudo, por eu te magoar de várias maneiras em tão pouco tempo.
- Se você não estivesse na minha vida eu talvez não estaria viva agora quem sabe. - ele riu de forma desanimada. - Porque você não morava com sua tia? ao invés de morar na rua?
- Porque eu não tinha o direito de preocupá-la. Eu sumia a noite, chegava transtornado, fugi de uma clínica. Eu estava fora de controle por estar ganhando dinheiro, decidi viver sozinho. Porém, eu fui entregar uma encomenda de drogas e acabaram me roubando no caminho, pensaram ter me matado. Mas agora o chefe da quadrilha que eu trabalhava já sabe que estou vivo e quer me cobrar.
- E quanto é que você está devendo para ele? - perguntei
- Muito .
- Me responde , quanto você está devendo.
- Pra que? pra você querer me ajudar até nisso? , você já me ajudou muito, foi conta do hospital, algumas roupas… Não quero você se metendo nisso, ok? - Mas … - falei e ele me interrompeu.
- por favor, você não entende? Eu que deveria ter feito tudo por você, - então eu só consegui chorar e no momento em que levantei para ir embora ele me puxou e juntou nossos lábios da maneira mais doce que poderia ser.
- E a menina que estava com você? Quem era? - perguntei ainda com o rosto próximo ao dele.
- Ela é filha da Maggie. É como se fosse uma irmã. Você não tem que se preocupar. Não consegue perceber o que eu sinto por você? - perguntou.
- Se é forte assim, então volta pra casa comigo? Eu não quero me afastar de você porque eu te amo e ...
- Você me ama? - ele perguntou me interrompendo e eu sorri
- Sim, eu amo.
- Eu também amo você, acredite. E é por isso que não posso voltar com você agora.
Depois de deixar a casa tão decepcionada que eu simplesmente não queria que a vida continuasse. Eu tentei mudar para as coisas melhorarem e na verdade só pioravam. Eu não queria mais viver ali, estava decidida a voltar para minha cidade. Assim que cheguei em casa vi que tinham algumas ligações no telefone, eram de . Talvez eu devesse ligar e convidá-lo para sair, ficar em casa lembrando dos dias que eu e passamos ali estava me matando.
...
Um mês sem aqui comigo e eu e estávamos nos aproximando. Ele queria que eu entendesse que ele queria ter uma vida estável antes de qualquer relacionamento e quando podemos ficar juntos eu que vou embora. Ele me fez prometer que pelo menos eu pensaria antes de tomar alguma decisão, enquanto isso ele seria paciente e não forçaria nenhum tipo de intimidade. É claro que sentia saudades de sentia muita, eu ainda não entendia o porquê dele não querer voltar comigo pra casa, o porque dele se afastar de mim. Eu não me arrependi em nenhum momento de ter o ajudado, quando ele tentou me assaltar eu tive uma reação que até agora eu não entendo, mas não me arrependo. Eu só queria que as coisas fossem diferentes, mas eu realmente espero que esteja bem.
- Ainda não sei se vou voltar mesmo mãe - estava no celular com a minha mãe, e sim, eu comprei um novo. - O está tentando me convencer a ficar aqui.
- ? Mas e o menino que você estava cuidando? Vocês não estavam juntos? - perguntou parecendo confusa.
- Não estávamos juntos mãe, ele melhorou e já foi embora. Era temporário. - expliquei.
- Mas ainda queremos conhecê-lo para agradecer por ele estar perto de você e ter te salvado. Você tem se comunicado com ele? - quis saber.
- Não muito.
- Como assim? Aconteceu algo?
- Não mãe, mas cada um tem a sua vida. Mas se te deixa tranquila eu vou ver o que posso fazer quanto a janta, não garanto nada.
Depois disso a conversa seguiu comigo tentando mudar de assunto e perguntando como estava o papai e a tia Olívia que estava os visitando. Dias se passaram e a rotina continuava a mesma. Eu não estava me sentindo bem. Então chamei para dar a notícia de que eu iria embora.
- eu preciso contar uma coisa. - falei meio tensa.
- Pode falar - disse sorrindo sentando no sofá.
- Eu vou voltar para San Diego - falei e o sorriso dele simplesmente se fechou.
- Então você já se decidiu? - perguntou parecendo decepcionado.
- É o melhor pra mim .
- Mas e eu, você não pensou nisso? - falou.
- , você lembra que quem foi embora primeiro foi você, não lembra? - disse com um pouco de ironia.
- Mas eu voltei, não voltei ? - ele me respondeu também com ironia.
- Nós dois sabemos que você não voltou por mim - eu disse e ele suspirou.
- Então essa é sua decisão oficial? vai voltar para San Diego? - ele perguntou.
- Não posso mais ficar aqui, , eu sinto simplesmente não posso.
Eu sabia que gostava de mim, é claro que sabia, mas ele sempre se importou mais com ele e a sua carreira, quando ele me deixou eu estava em um momento horrível, foi o pior momento do meu irmão, eu precisava de , mas ele não se importou e foi embora.
Eu e ficamos conversando mais um pouco na sala, depois de um tempo ele chegou a entender, disse que se eu precisasse de ajuda para empacotar as coisas, ele até me ajudava.
- Você tá esperando alguém? - perguntou quando ouvimos o barulho da campainha
- Não que eu saiba - falei indo atender a porta. Quando abri eu não acreditava no que estava vendo, não acreditava no rosto que eu estava vendo, o rosto que achei que nunca mais iria ver. Era , com uma aparência completamente diferente, com os olhos completamente diferentes, ele estava com uma aparência de saudável - L...ucas?
- Olá - respondeu do outro lado da porta com um sorriso no rosto, mas o sorriso se fechou completamente quando ele viu - o que ele está fazendo aqui?
- Ele... - falou respondendo por mim - está aqui fazendo companhia para a , já que você é um mal agradecido que deixou a garota que mais de ajudou sozinha.
- … - eu falei já sabendo que aquilo iria dar briga.
- Eu não deixei ninguém, eu fiz o que era melhor para ela, eu me afastei dela apenas para a proteger! Diferente de você, que quando ela mais precisou de você, você simplesmente foi embora por causa de uma carreira - respondeu já com a voz irritada .
- QUEM É VOCÊ PRA FALAR O QUE FIZ OU JÁ DEIXEI DE FAZER? - gritou.
- QUEM SOU EU? - gritou também já entrando em meu apartamento. - Eu vou te dizer quem sou eu: a pessoa que ela ama e que ama ela também. Que fez de tudo para estar curado para estar com ela e poder dar a vida que ela merece.
- Você é um idiota isso sim. - e logo que terminou a frase eu o vi cair no chão devido a ter levado um soco de . Então eu o segurei para que não houvesse mais violência.
- por favor, é melhor você ir. - eu pedi calmamente.
- Você mais uma vez vai me trocar por ele? Se você fizer isto, esqueça de mim. - ele parecia esperar uma resposta, porém eu abaixei a cabeça e foi como ter feito minha escolha. Logo após ele saiu batendo a porta.
- Você realmente vai embora? - ele disse em tom decepcionado depois que olhou para as caixas.
- Eu acho que é o melhor.
- Eu sei que não é fácil pedir desculpas pelo que eu fiz, mas eu não poderia te prometer nada na situação em que eu estava. - explicou.
- Eu já ouvi esse discurso uma vez, de que seria melhor se afastar. Eu até entendo que a pessoa deva construir algo. Mas um relacionamento… não é assim que se faz. Não é só de coisas boas que vivemos e um casal é feito para ajudar um ao outro a resolver problemas que para uma pessoa só são muito difíceis.
- ...eu quase te bati. Você acha que eu ia querer perder o controle? Eu jamais conseguiria me perdoar. E se acontecesse algo ruim com você? Você sabe que eu estava sendo perseguido. Agora eu estou bem, eu me curei e você me ajudou muito pra que isso acontecesse. Eu estou livre da dívida, já me livrei daquela arma também, e eu quero ficar com você como sempre quis. Você acha que desde o primeiro dia eu quis ir embora. Nunca quis! - então eu o abracei o mais forte que pude e juntei nossos lábios. Ele me deitou no sofá beijando meu pescoço e me fazendo esquecer de todos os problemas até ser completamente dele.
- Não vai embora por favor! - ele pediu.
- Então você terá que fazer uma coisa por mim.
- O que é?
- Meus pais querem que você vá jantar lá com nós em San Diego. - falei meio receosa, porém ele riu.
- E quando seria?
- Esse fim de semana ainda se você puder ir.
- Claro que eu vou. Fico muito feliz em poder compartilhar esses momentos com você a partir de agora - eu sorri e o beijei novamente.
E a semana foi assim, eu decidi ficar, voltou para o meu apartamento e ele iria finalmente voltar a fazer faculdade, ele faria o ano que faltava e depois de formado começaria seu trabalho como engenheiro. Ele estava uma pessoa completamente diferente, totalmente determinado a começar uma carreira.
- , tem certeza que é uma boa ideia? - perguntou eu ri do nervosismo dele
- , não precisa ficar nervoso, tudo vai dar certo - peguei na mão dele. Estávamos no avião indo para san diego, olhava pela janela a cada minuto para ver se já estávamos chegando. Assim que chegamos ao aeroporto fomos recebidos por Drake, o motorista simpático de minha tia. Durante o caminho estava vislumbrado com a praia, os coqueiros e a brisa que aquele paraíso trazia.
- Está nervoso? - perguntei pegando firme em sua mão antes de entrarmos pela porta.
- O que você acha? - falou entre uma risada gostosa. Assim que ele terminou de falar a porta foi aberta e minha mãe correu abraçar nós dois.
- Obrigada por minha filha estar aqui hoje, devemos o que temos de mais importante na vida a você. Não poderíamos perder outro filho - mamãe disse fungando a .
- Não precisa agradecer senhora Collins. Tenho certeza que ela é importante para mim da mesma maneira que para vocês. Eu não viveria sem ela. - respondeu olhando para mim e sorrindo.
- Ora ora, mas que belo casal! - dizia minha tia Olívia vindo nos cumprimentar toda alegre e abraçando nós dois. Meu pai foi o último a cumprimentar de maneira mais séria.
- Tudo bem ? - disse ele sem sorrir e fazendo sinal para que todos entrássemos.
- Tudo sim senhor Collins, obrigada. E o senhor como está? - perguntou . - Estou um pouco nervoso com a situação, eu admito. - disse sorrindo sem mostrar os dentes.
Logo após o jantar (que minha mãe atendeu meu pedido de que ia preferir nada sofisticado) fomos para o jardim caminhar um pouco.
- O que achou? - falei enquanto andava de mãos dadas com .
- Foi ótimo - ele falou parando e olhando pra mim - seus pais são ótimos - ele disse sorrindo enquanto acariciava meu rosto.
- Eles também adoraram você - falei.
- E tem como alguém não gostar de mim? - ele brincou e eu dei um tapa de leve nele.
- Convencido - falei rindo.
- Eu fiquei com um pouco de medo do teu pai no começo. - falou rindo. - Mas é normal não é? Se eu tiver uma filha, eu não vou querer que namore.
- Então é isso que você pretende? - falei envergonhada.
- Sim, isso é… Se você quiser.
- É claro que eu quero, nossa família… Nossa vida para sempre! - falei selando nossos lábios e o abraçando, era meu porto seguro.
Foi tudo tão rápido, os meus sentimentos vieram rápidos e muito intenso. Mas isso era uma coisa boa, eu estava feliz e ele também, isso que importa.
- ? - falou enquanto íamos para dentro de casa e eu o olhei - Eu te amo
- Eu também te amo - falei sorrindo.
- , se você não tivesse aparecido na minha vida eu ainda podia estar nas drogas, eu podia continuar com aquela vida horrível que tinha. Foi tudo graças a você,
- E se você não tivesse aparecido e me salvado naquele dia eu poderia nem estar mais viva - eu falei abraçando ele - não fui eu que te salvei, foi você que me salvou
- Nós nos salvamos, melhor assim - ele perguntou sorrindo e eu assenti e o beijei.
Você já teve a sensação de que conhece a pessoa a muito mais tempo? aquela pessoa que você olha nos olhos e nem parece que é a primeira vez que estão se vendo? Essa foi meu sentimento com o , parece que eu o conheço desde sempre, parece que eu sempre estive com ele. Eu já não me imagino sem ele, não me imagino sem o garoto que me acorda todos os dias com a barulho da televisão, não me imagino sem o garoto irônico que faz piadas com tudo, eu simplesmente não consigo imaginar minha vida sem . E esse era apenas o começo das nossas vidas, disso eu tenho certeza.
Fim
Nota da autora: Nanda M: Ola, espero que tenham gostado da fanfic! Eu e a Bia escrevemos ela com muito amor, e acabamos nos apegando aos personagens também, quem sabe não terá uma segunda parte? mostrando como ficou a vida dos personagens! Eu amei escrever essa fanfic com a Bia, e com certeza vamos planejar mais fanfics juntas. Bia M: Hey dudes!! Esse projeto foi a realização de um sonho para mim e com tamanha sorte a Nanda curtiu a ideia e me ajudou em cada detalhe, tanto sua bela escrita quanto ao design. Sinto que nossos gostos em comum nos acrescentou de uma grande amizade e muitos outros projetos que virão. Espero que vocês gosteeem. ps: Quem sabe uma parte II? Porque não? Quero ver vocês comentarem, hein.
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.