Última atualização: 11/09/2019

Capítulo um

Still Hurting
https://www.youtube.com/watch?v=Bf-K0gxc89k&list=PLz9hawFzXV-8I5-pWhdZKGqup-0rF8Yj3

Jamie arrived at the end of the line
Jamie's convinced that the problems are mine
Jamie is probably feeling just fine
And I'm still hurting


Cheguei em casa depois de tanto tempo. Alguns meses em Ohio e realmente já não sabia mais onde era minha própria casa. Mas voltar era aconchegante, gostoso e tão maravilhoso. Estar em nosso apartamento na 73rd me fazia sentir segura. Como esse foi o nosso primeiro apartamento, ele era recheado de memórias. De coisas boas. Dava para abrir os dois braços e rodar sem encostar em nada, o que era um milagre em Nova York. E era minha casa.
Peguei o jornal que estava na porta – uma mania ridícula de , que ainda não tinha se acostumado em ler os jornais e revistas em seu tablet. Ele dizia que fazia mal a sua visão e ele precisava enxergar pra ganhar dinheiro.
Entrei na cozinha, jogando os jornais e indo direto até a geladeira. O bolo que eu havia comprador foi colocado lá com cuidado. Eu precisava encher os balões e colocar o banner. Eu estava muito, muito feliz. Eu não pude contar como planejava antes, mas agora seria direito. Seria um daqueles momentos fofos, felizes e...
Olhei a capa do jornal. Uma foto enorme do meu marido estampava logo a primeira página. Não era a primeira vez que isso acontecia. Ele sempre estava no jornal e nas revistas. Mas não desse jeito.
“Pai pela quarta vez!” lia a manchete. E era impossível. Ninguém sabia ainda. Meu cérebro demorou para computar que o quarto filho do meu marido tinha outra mãe.
Eu olhava para o papel. Eu olhava para o papel como se a salvação da humanidade estivesse nele. Como se fosse um mapa que me levasse a algum tesouro perdido no meio do oceano. Talvez, talvez mesmo, se parasse de olhar aquele pedaço de jornal eu desmoronaria. Eu podia simplesmente virar areia se parasse de olhar aquelas letras amontoadas e esquisitas. Quem coloca uma fonte cursiva na capa de um jornal, afinal?
Acontece que estava procurando uma loophole. Alguma cláusula, alguma letra minúscula que não fosse me obrigar a tomar alguma decisão. Eu não queria tomar nenhuma decisão, Deus sabe disso. Eu queria apenas dar alguns passos para trás e voltar no tempo.
Mas não existia isso. Não era uma possibilidade. E estava explodindo de tanta raiva.
Eu amava a gente. Eu amava como nós dois funcionávamos. Eu amava ser um casal. Eu amava como nossa vida era, apesar de tudo. E eu o amava. Eu o amava tanto.
Eu sabia que ele ficaria bem. Ele sempre ficava bem.
nasceu com a bunda virada para a lua e toda merda que ele fazia virava estrela. Ele conseguiria viver – ele viveria bem, sem muita culpa. Ele daria alguma desculpa para os tablóides, talvez colocasse a culpa em mim, talvez não. Mas lá ele iria, em direção ao sol, como se fosse tão simples, tão certo. Como se ninguém fosse se machucar nessa coisa toda. Mas eu, Deus, eu estou machucada. E ela também deve estar.
Tudo parecia tão simples e tão certo. Eu tinha certeza que dessa vez as coisas ficariam bem. Que daria tudo certo. Finalmente a minha vida estava indo numa direção que parecia boa. Não era o momento ideal para tudo desmoronar.
Go and hide and run away
Run away, run and find something better
Go and ride the sun away
Run away like it's simple
Like it's right...

Ninguém se casa querendo se separar. Talvez, se eu fosse um pouco mais atenta, eu teria percebido as falhas. Teria percebido que algo estava errado. Que não era para ser. Mas se eu percebi, eu ignorei. Eu ignorei as rachaduras e segui.
É claro que eu podia continuar. Eu podia sentar e ficar calada. Eu podia continuar com as mentiras. Eu podia engolir o choro e ser a esposa que apenas aceita, acena e sorri. Mas não era eu. Não mais. E não era mais sobre mim.
Então o que me restava era ir embora. Enquanto ele já devia estar com algo ou alguém melhor, eu iria embora. E esse era meu adeus.
Peguei minhas coisas. Um bocado de roupas. Roupas de frio. Deve estar frio em Cork. Pelo menos o dono do airbnb disse que a casa era aquecida e isso era bom o suficiente para mim. E é absurdo como eu simplesmente consegui colocar anos da minha vida em uma mala de mão. Talvez porque esses anos não importassem mais. Talvez porque, dentro de mim, eu soubesse que era o melhor a fazer.
Respirei fundo mais uma vez, dando uma olhada na casa. Era agora ou nunca. Eu podia sentar e aceitar, ou eu podia controlar a minha própria vida. Sozinha. Por algum tempo, ao menos.
E eu nunca estive tão certa na minha vida. Não havia arrependimento, não havia mais lágrimas. Eu apenas ia dizer adeus a mim mesma. E a ele. A nós.
Eu apenas fui embora. Eu apenas desapareci.
Give me a day, Jamie
Bring back the lies
Hang them back on the wall
Maybe I'd see
How you could be
So certain that we
Had no chance at all



Capítulo dois

Shiksa Goddess
https://www.youtube.com/watch?v=MZlLGzj8aeo

I'm breaking my mother's heart
The longer I stand looking at you
The more I hear it splinter and crack
From ninety miles away
I'm breaking my mother's heart
The JCC of Spring Valley is shaking
And crumbling to the ground
And my grandfather's rolling
Rolling in his grave

Lá estava eu. De novo numa festa de aniversário de alguém que nem conhecia. Na verdade eu conhecia Gwinny. Fizemos uns filmes juntos. Ela é um amor. Casada, claro. Mas um amor. E hoje era aniversário do marido dela. Ele era um daqueles tipos de cara de banda que tem olhos tristes e fala tudo calmamente, como se quisesse que você realmente entendesse o que ele tinha a dizer. Eu não lembrava o nome dele. Era algo com C. Ou M. Devia ser Rick.
E o que eu tinha a ver com isso? Era aniversário de Rick. Ou John. Não sei. Mas Gwinny havia me convidado porque queria que eu conhecesse alguém. O nome dela era Shacara ou Shakira. Algo assim. Acredite, eu queria conhecer alguém. Afinal, eu ainda sou jovem. E eu acabei de sair de um casamento de 14 anos. A coisa é, eu casei muito jovem. 21 anos. Ela era mais velha e eu me apaixonei. Minha mãe jura que meu avô morreu de desgosto quando contei que me casaria com Clover. Claramente minha família é muito tradicional. Meus pais são casados há 40 anos, religiosos como ninguém. Então quando casei com Clover, que estava grávida de seis meses do nosso primeiro filho, eles piraram um pouco. Nunca gostaram dela. Nunca gostaram da garota da qual eu me separei de Clover para ficar. E agora eu estou solteiro. Pela primeira vez em 14 anos. Claro, minha vida ficou melhor depois do divórcio – o que é péssimo de dizer. Eu e Clover temos crianças lindas, que são minha vida. Tivemos momentos excelentes. Mas nós dois somos atores e às vezes isso a deixava meio… incomodada.
Quando começamos a sair, ela era mais famosa. Tinha acabado de fazer um filme de Woody Allen. Ela adorava contar como Woody era um babaca e nós conversávamos sobre isso o tempo inteiro. Encontrávamos nossos amigos atores e falávamos horrores de Woody, mesmo que o máximo que eu tenha visto do cara fosse quando eu esbarrei com ele duas vezes no metrô do Soho.
Mas aí, ganhei um Tony por uma peça off broadway que do nada foi para broadway. Depois consegui um bocado de papéis importantes. Homem mais sexy da People. Essas coisas. Clover não trabalhava mais depois que June nasceu. E então, depois que nosso mais novo nasceu, não tinha mais muito entre a gente. Só filhos, um pouco de conversa as vezes e uma nostalgia.
Okay, claro, antes disso me apaixonei por Sierra. Eu sei, foi um ato bem filho da puta da minha parte.
Eu lembro um dia, Clover chegou até mim e perguntou se ainda a amava. Eu não consegui responder. E aqui estou hoje, esperando para conhecer Shakira ou Shaniqua na casa de Gwinny.
Estava cheia. Bem cheia. Músicos, na maioria. Um bando que eu realmente não entendia.
Então, no canto da sala, vi Gwinny conversando com uma garota. Seus olhos se esbugalharam quando ela me viu e eu sorri, levantando minha bebida como se desse um olá.
Ela era bonita. Bem bonita. Alta. Mais alta que eu. Tinha olhos bonitos e um sorriso largo. Seus cabelos ruivos caiam em seu colo. Ela usava um suéter caqui. Eu nunca vi uma garota ficar tão bonita com um suéter com cor de bosta.
Gwinny me viu e acenou para que fosse até ela. Fui, bebida na mão, sorriso na cara e esperando que aquela garota fosse a Shanaia.
, querido! - Ela me deu um abraço rápido – Essa é a , irmã mais nova do Tony - Primeiro, quem é Tony? Fiz uma careta confusa e irmã do Tony riu – Meu marido. O aniversariante.
- Claro! – Sorri, estendendo a mão para – Como vai?
- Ela acabou de voltar da Flórida. Se formou lá – Gwinny disse – Nós falamos mil vezes para ela que existiam mil faculdades fenomenais em qualquer lugar do mundo, mas ela escolheu a Flórida.
- Eu queria trabalhar na Disney – falou meio timidamente.
- E você conseguiu? – Perguntei e Gwinny riu.
- Não – Gwinny riu e e eu começamos a rir também.
- Eu acabei indo pra Universal. Eu fazia uns shows lá – Contou, dando de ombros – Eu era a Janet principal no Halloween. Dois anos seguidos!
- Wow! Aposto que deve ter sido…
- Um lixo? – Gwinny se meteu – Ei, conversem aí. Juízo, ! – E logo ela saiu.
- Foi divertido – tentou se defender – Gwinny acha isso meio ridiculo. Mas sabe, em Nova Iorque eu não teria chances. Não no começo.
- Foi uma boa estratégia – Comentei – Talvez eu tenha te visto por lá.
- Eu lembraria se tivesse visto você. Tipo…
- Eu também lembraria – Menti, mas com sinceridade.
Ficamos nos olhando, ela tímida e eu tentando encontrar um assunto. Acontece que tinham vários. Ela era cativante. Era bailarina clássica, compositora e havia acabado de conseguir seu diploma em artes perfomáticas. Queria trabalhar em musicais. Tinha uma audição marcada para segunda e estava muito nervosa com isso. Ela era diferente de tudo que eu já tinha visto antes. Ela era engraçada e livre. Em algum momento da festa ela tirou seus sapatos e fez um dueto improvisado com o irmão. Ela era irlandesa e álcool a deixava vermelha. No fim da festa, quando eu pedi seu telefone, ela não me deu. Ela pegou meu número e prometeu ligar.
E eu parecia um idiota. Tudo que ela falava era ou muito inteligente ou muito divertido. Nós cantamos juntos uma música da Shakira – a garota que eu supostamente devia conhecer se chamava Stacy e não apareceu, felizmente. Por algumas boas horas eu esqueci tudo que me preocupava. Eu esqueci o peso do mundo lá fora, os papéis intermináveis do divórcio, a briga pela guarda das crianças, minha queda constante de cabelo. Eu me senti feliz e com uma boa sensação de que, talvez, aquilo fosse ser bom.
But the minute I first met you
I could barely catch my breath
I've been standing for days with the phone in my hand
Like and idiot, scared to death
I've been wandering through the desert
I've been beaten, I've been hit
My people have suffered for thousands of years
And I don't give a sh*t!

Ela demorou doze dias para ligar e eu estava realmente contando. Ninguém havia demorado tanto pra me ligar assim, mas demorou. Nós marcamos de sair pra jantar num restaurante yuppie em Bushwick, algo meio jovem onde eu não parecesse tão velho.
Mas ela me fazia sentir jovem de novo. Toda aquela história de garota procurando o sucesso era empolgante de ver do lado de fora. Era empolgante entender o mundo visto por .
Eu acho que a gente devia sair mais vezes – Falei assim que saímos do restaurante – As crianças vem essa semana, e depois eu começo a filmar na Inglaterra. Mas a gente arranja um tempo, se você quiser.
- Pode ser. Eu prometo não usar saltos dessa vez – disse, um sorriso brotando em seu rosto.
- Ou eu posso usar os saltos da próxima vez. Eu não me importo – Rimos juntos.
Ela me beijou.
- Tchau. Até amanhã – Disse ao se afastar entrando em seu prédio em Williamsburg.
- Amanhã?
- Ou até a próxima vez que você me ligar.
- Eu nem tenho seu número!
- Mas sabe onde eu moro.
Ela fechou a porta e eu só pude sorrir.
I say, "Hey hey hey hey!
I've been waiting for someone
I've been praying for someone
I think that I could be in love with someone
Like You"



Capítulo três

SEE I’M SMILLING
https://www.youtube.com/watch?v=3-IJ1ycDSt8&list=PLz9hawFzXV-8I5-pWhdZKGqup-0rF8Yj3&index=3

I mean, we'll have to try a little harder
And bend things to and fro
To make this love as special
As it was five years ago
I mean, you made it to Ohio!
Who knows where else we can go?
I think you're really gonna like this show
I'm pretty sure it doesn't suck
See, you're laughing, and I'm smiling
By a river in Ohio
And you're mine
We're doing fine

Estava particularmente calor em Ohio naquele dia. Eu não entendo porque raios escolheram Ohio para os try outs. A peça era ótima – pelo menos eu pensava assim. E eu estava feliz em fazer parte dela. Eu só queria que ela estivesse em cartaz em algum lugar melhor. Talvez Boston, ou até San Francisco. Mas Ohio era bom. Era bom porque ele tinha vindo.
Eu não o via há quase dois meses. O show me mantinha ocupada e presa em Ohio e ele estava filmando na Europa. Então eu estava muito, muito feliz que ele estivesse aqui.
Estava sendo um bocado difícil. Não era como antes, mas quando eu o via, meu coração ainda ficava feliz. Meu corpo ficava feliz. Eu me convencia que apesar da distância, apesar do que os outros falavam, eu era feliz. Ele não vem me visitar há mais de um mês? Tudo bem! Somos atores. É a vida. Faz parte da obra. Isso é arte. É com sacrifício. Eu estava tentando trilhar meu caminho e ele estava… trilhando o dele. Com 11 milhões de dólares por filme.
Mas ele estava comigo. No meu aniversário. Em Ohio.
Eu o abracei. Seu cheiro de perfume forte. Seus braços fortes. Aquele sorriso meio de lado. Seus olhos. Eu continuava completamente apaixonada por ele.
- 28 anos! – Ele riu ao me dar um beijo – Parece que foi ontem que eu te conheci usando o suéter caqui no aniversário do Tony!
- Parece que foi ontem que eu te conheci e você não tinha quase quarenta anos ainda – Brinquei, implicando. Ele havia feito 39 anos dois meses antes.
- Esse assunto é um pouco delicado ainda – Ele riu – Que calor, meu Deus. E os mosquitos?
- Eu tenho repelente na bolsa – Peguei minha bolsa, tirando cuidadosamente o repelente. A caixa ao lado me fez ficar um pouco mais ansiosa. Entreguei a ele.
- O que seria da minha vida sem você? – Ele sorriu ao me puxar para um beijo rápido. Ajudei-o a passar o repelente e logo nos sentamos num banco perto do Rio. Ficamos em silêncio. Não um silêncio gostoso. Era meio… estranho.
- Como estão as gravações? – Perguntei enquanto ele mexia no celular.
- Uhm, boas. Já está acabando – Ele respondeu.
- Só isso? Nenhuma fofoca? Nada sobre o pessoal?
- Nah, nada.
- Aqui as coisas vão bem, obrigada por perguntar. O show está ótimo. Eu estou super animada. Eu acho que tem uma chance de ser escolhida para a próxima temporada.
- Seria ótimo, não é? – Ele disse, meio distraído.
- Seria. E eu estou empolgada pra você finalmente ver o show amanhã – Comentei, o sorriso no rosto.
- Então, … - Ele disse, sua voz meio tensa. Seus olhos desviaram dos meus e eu senti meu estômago embrulhar – Eu não vou poder ficar e assistir. Desculpa, eu realmente queria assistir. Deve ser maravilhoso, você deve estar brilhante como sempre…
- Ah, okay – Disse, olhando para ele, tentando engolir a decepção – Tudo bem. Quando for para Broadway você vai assistir. E hey, pelo menos temos hoje. E vai ser ótimo! – segurei sua mão gelada.
- Então, … Meu voo é às nove da noite. Eu tenho que ir pro aeroporto em algumas horas…
You know what makes me crazy?
I'm sorry, can I say this?
You know what makes me nuts?
The fact that we could be together here together
Sharing our night, spending our time
And you are gonna choose someone else to be with no, you are
Yes, Jamie, that's exactly what you're doing
You could be here with me or be there with them
As usual, guess which you pick!

- É sério, me desculpa… Eu tenho que voltar e resolver as coisas, amanhã eu tenho um…
- É absurdo o quanto eu poderia me importar menos com toda essa merda que você está falando – Disse, sem pensar, sem respirar – Eu não te vejo há quase dois meses, ! E aí você vem e acha que em uma hora vai resolver tudo?
-Eu sei que não, mas eu preferi….
- Passar três horas comigo e ir embora? Era melhor nem ter vindo!
- Eu passei 10 horas num avião, ! 10 horas pra te ver!
- Você passou mais tempo num avião do que comigo. Realmente.
- É trabalho. Você sabe que eu não te trocaria por qualquer coisa!
- – Eu me levantei – Você cria e cria desculpas há meses pra não vir me ver. Podia criar mais uma. Ninguém ia perceber.
- Eu trabalho, ! Alguém tem que pôr a porra do pão na mesa – Seu tom ficou alterado e eu apenas o olhei incrédula – Não foi isso que eu quis dizer.
- Foi exatamente isso que você quis dizer.
Fazer teatro é incrível. Mas o salário, principalmente para quem não está em uma grande produção, pode ser um tanto desafiador. E é claro, a grande comparação entre o salário dele de 11 milhões e o meu, era quase uma piada.
You could stay with your wife on her fucking birthday
And you could, God forbid, even see my show
And I know in your soul it must drive you crazy
That you won't get to play with your little girlfriends
No I'm not, no I'm not and the point is, Jamie
That you can't spend a single day
That's not about you and you and nothing but you

- Meu trabalho é importante. Esse filme é importante – Ele disse, sentado, com as mãos no rosto – Eu estou trabalhando há anos nele, você sabe disso.
- É meu aniversário. Eu sou sua esposa e eu não te vejo há meses. Deveria ser importante pra você. Deveria ser importante pra você ver o meu show. Eu não entendo o porquê…
- , claro que é importante. Só que…
- Seu trabalho é mais importante do que eu agora – Respirei fundo, tentando conter as lágrimas. Eu sabia que não seria fácil, mas eu esperava que não fosse tão ruim assim.
- Nunca – Ele disse – Mas eu tenho compromissos. Eu tenho um contrato. Você sabe como é.
- Tudo bem, . Eu entendo. Pode ir, obrigada por ter vindo.
-
Eu o dei um beijo no rosto de despedida e me levantei. As lágrimas começaram a cair como uma cachoeira assim que me virei. Ele não veio atrás de mim, como eu esperava. Ele não me abraçou e disse que tudo ficaria bem, que sentia muito por não poder passar mais tempo comigo e que iria compensar quando voltássemos para casa semana que vem. Ele não fez nada e tudo o que eu queria era correr para o meu quarto no alojamento e desaparecer.
Tudo que havia planejado – o jantar, contar para ele que estava grávida, ele assistir a peça – tudo havia sido jogado no lixo. E eu já devia estar esperando por isso. Meu coração já devia estar preparado, mas não estava. E eu acho que nunca ia estar.
I swear to God I'll never understand
How you can stand there, straight and tall
And see I'm crying
And not do anything at all



Capítulo Quatro

MOVING TOO FAST
https://www.youtube.com/watch?v=mJHepcm6t3A
(bônus)
https://www.youtube.com/watch?v=mMLDMhJjGjg

Did I just hear an alarm start ringing?
Did I see sirens go flying past?
Though I don't know what tomorrow's bringing
I've got a singular impression
Things are moving too fast
I'm gliding smooth as a figure skater
I'm riding hot as a rocket blast
I just expected it ten years later
I've got a singular impression
Things are moving too fast

Eu estava com Clover e as crianças num domingo à tarde quando recebi a ligação. Às vezes você sabe o que quer, o que deseja – mas apenas não espera que aquilo vá acontecer tão cedo. Ou que simplesmente vá acontecer.
Há quinze anos eu atuava. Desde novo. E claro, todo ator quer um Oscar. E um Bafta. E um Tony. E um Emmy e um Golden Globe. Então, obviamente, ser nomeado me deixou um tanto tonto. Não foi a primeira vez, é claro – eu havia sido nomeado alguns anos atrás, assim que me casei. E o Tony estava em minha estante desde então. Eu só não esperava ser nomeado ao Oscar. Nunca. Mas o telefonema dizia isso, eu havia sido nomeado a melhor ator. Daniel Day Lewis estava na mesma categoria que eu.
Ser nomeado mudava toda a minha vida. Daqui pra frente, os pagamentos seriam mais altos. Meu nome nos trailers viria com um “nomeado ao Oscar”, ou “ganhador do Oscar” . Eu nunca mais seria apenas um ator. Eu era um ator nomeado. Um ator de verdade.
- Parabéns – Clover se limitou a dizer, um sorriso em seu rosto. Estávamos sentados a beira da janela enquanto as crianças corriam no jardim num raro dia de semi sol e 18° em Londres – Parece que as coisas estão dando certo pra você.
- É – Disse – Realmente estão. Quem diria, não é mesmo?
- Todo mundo sabia que isso ia acontecer eventualmente.
- Você realmente sempre disse isso – Comentei e Clover assentiu.
- Agora vá com calma, garotão – Ela falou, o cigarro indo até seus lábios – Quer um?
- Eu estou tentando parar. acha que vai ferrar minha garganta e estragar qualquer chance de fazermos um musical juntos – Nós dois rimos – Ela sabe que eu não conseguiria alcançar nem meia nota, mas ela tem razão. Eu devia parar. Pelas crianças.
- Há quanto tempo vocês estão juntos mesmo?
- Cinco meses – Comentei – Ela é ótima.
- Então porque eu não a conheço? Não é sério o suficiente para você apresentar a sua ex-mulher?
- Claro que é!
- Então porque vocês não aparecem nos tabloides? Você e a Sierra estavam em todo lugar e ficaram o que, duas semanas juntos?
- Três. E eu não sei. Eu achei melhor esperar.
- Meu Deus, achou melhor esperar! – Ela riu. Considerando que nos casamos meses depois que nos conhecemos, ela tinha um tanto de razão.
- Eu acho que a amo, Clov. Eu realmente acho.
- Então vá com calma. Não ferre as coisas de novo. Você não tem mais vinte e um anos.
And you say, "Oh, no
Step on the brakes
Do whatever it takes
But stop this train
Slow, slow! The light's turning red"
But I say: No! No!
Whatever I do
I barrel on through
And I don't complain
No matter what I try
I'm flying full speed ahead
I'm never worried to walk the wire
I won't do anything just "half-assed"
But with the stakes getting somewhat higher
I've got a singular impression things are moving too fast


Realmente tudo estava indo bem rápido.
e eu nós víamos o tempo todo. Eu estava filmando em Nova Iorque, logo estava com ela. Eu a ajudava a decorar os textos e ela me ajudava a escolher roteiros. Ela tinha shows toda semana pelo Brooklyn e eu a ajudava a escolher o repertório. Ela ensaiava enquanto eu falava com os meus filhos. Passávamos todo tempo possível juntos, mas mesmo assim só Clover, Gwinny, Tony e alguns outros amigos sabiam que estávamos num relacionamento exclusivo. Achávamos que a palavra namorar era meio infantil e apesar de ser quase dez anos mais nova que eu, ela tinha uma “alma idosa”.
Então estávamos num relacionamento exclusivo. Não havia ninguém além de para mim e a cada dia eu descobria algo novo e engraçado sobre ela.
script>document.write(Allie) era como uma brisa fresca e eu simplesmente a amava.
Ela tinha seu espaço em meu guarda roupa e eu já havia deixado uns quatro casacos na casa dela. Nós realmente estávamos indo bem.
E quando eu recebi a notícia da nomeação, eu pensei nela. Pensei em como seria incrível levá-la comigo. Em como seria legal todas as festas e a campanha para que eu ganhasse. Como seria incrível tudo isso ao lado dela.
Mas ao mesmo tempo, ninguém realmente sabia que existia. Ela é uma atriz que canta em bares e acorda cinco da manhã para fazer audições.
Eu havia me divorciado há tão pouco tempo e aqui estava eu. Apaixonado. Colocando expectativas e fazendo longos planos. Pensando em coisas que eu nem sabia se ela iria aceitar, mas eu torcia para que sim.
E estava indo rápido. Mas eu realmente não queria parar.
I found a woman I love
And I found an agent who loves me
Things might get bumpy but
Some people an*lyze every detail
Some people stall when they can't see the trail
Some people freeze out of fear that they'll fail
But I keep rollin' on
Some people can't get success with their art
Some people never feel love in their heart
Some people can't tell the two things apart
But I keep rollin' on
Oh, oh - maybe I can't follow through
But oh, oh - what else am I supposed to do?

- Eu acho melhor ir logo. Eu tenho um avião para pegar – Falei, me levantando. As crianças ainda brincavam – Obrigado por ter me deixado ficar aqui nas últimas semanas.
- A casa ainda está no seu nome – Ela deu de ombros.
- Eu prometo resolver isso quando voltar – Falei antes de abraça-la – Obrigado, Clover.
Despedi-me das crianças. Sempre demorava um pouco, eu ficava meio emotivo, alguém chorava. Prometi voltar logo e fui embora. Tudo o que eu pensava era em chegar em Nova Iorque. Era chegar em casa. Era chegar e encontrá-la.
havia roubado meu coração, de uma forma que eu jamais pensei sentir antes. Minha carreira estava subindo e avançando. Meus filhos continuam incríveis e Clover está bem. Eu tinha um Oscar basicamente em minhas mãos e uma garota que me fazia sentir jovem novamente. Se a vida fosse uma auto Estrada, estava dirigindo a 200 km/h em direção ao arco-íris. E tudo estava indo melhor que o planejado.
Claro. Eu não esperava me apaixonar tão rápido, ou fazer as coisas desse jeito. Passei as quase dez horas seguintes pensando. Bolando um jeito de falar e não parecer um idiota. Tentando colocar todas as minhas ideias juntas e falar. Simplesmente falar. Eu era bom nisso. Eu ganhava para isso. Não devia ser difícil.
Até chegar. Até encontrá-la, cantando Joni Mitchell. Sua versão de Case of You era mais sombria. Era a minha versão favorita de todas do mundo.
Esperei que ela acabasse o set. Ela desceu do palco, meio surpresa em me encontrar.
- Eu achei que você ainda estava em Londres – Ela disse, mantendo uma distância segura caso algum fotógrafo Amador estivesse por perto – Que surpresa!
- Sim – Disse, sem saber muito o que falar. Ela me olhou meio surpresa, meio em choque. Puxei-a para um beijo e acho que ela entendeu.
I'm feeling panicked and rushed and hurried
I'm feeling outmaneuvered and outclassed
But I'm so happy I can't get worried
About this singular impression
I've got a singular impression things are moving too fast



Capítulo Cinco

A PART OF THAT
https://www.youtube.com/watch?v=TL-2YrEwv2A

One day we're just like "Leave it to Beaver"
One day it's just a typical life
And then he's off on
A trip to Jamie-land
Staring catatonic out the window
Barely even breathing all the while
And then he'll smile
His eyes light up and deep within the ground
Without a sound
A moment comes to life
And I'm a part of that
I'm a part of that
I'm a part of that

- , como você se sente? – O jornalista perguntou enquanto sorria para as câmeras.
- Ótima! – Eu disse, torcendo para não ter que responder as mesmas mil perguntas de sempre.
- Deve ser extremamente empolgante ser casada com um cara desses – Era a sétima vez que eu respondia isso.
- Com certeza – Sorri do melhor jeito que pude – Eu estou muito feliz com…
- E o que você tem feito de importante, ? – Juro ter ouvido, minha mente zunindo. Fiquei um pouco tonta. O jornalista continuava a sorrir para mim.
- O quê?
- Eu perguntei sobre seu vestido – Ele disse, o sorriso brilhante na cara.
- Ah, é um…
- Você tem orgulho dele, ?
- Mas é claro, eu…
- Muito obrigada, !
Era uma estúpida premiere de mais um filme blockbuster com a previsão de 120 milhões de dólares apenas no dia da estreia. Era sempre assim, sempre um novo filme, uma nova premiere. Eu sempre em meus saltos baixos para não parecer mais alta que ele. Bonita, polida, mas não a estrela.
Claro, muitas pessoas achavam que eu era rancorosa. Que tinha raiva dele por isso. Enquanto minha próxima peça seria em um fim do mundo, ele tinha outro blockbuster para filmar em duas semanas. Mas não. Eu não me sentia assim. Eu trabalhava duro e ele também. Nós estávamos juntos nessa. Pelo menos era isso que eu dizia a mim mesma todos os dias antes de dormir. Ou quando acordava. Ou na hora do almoço.
Não era errado querer ter sucesso para mim. Querer ter minha carreira e não ser apenas a senhora . Meu casamento e minha carreira eram coisas separadas, mas o mundo parecia não acreditar nisso e muito menos aceitar.
Quando eu aceitei me casar com ele, foi por ele. Por meu sentimento. Não por seu Oscar ou seu dinheiro. Foi por ele.
Foi pelo jeito que ele me acordava de manhã beijando meu pescoço, pelo jeito que ele sempre sorria quando eu chegava, pela sensação deliciosa que eu sentia quando tocava nele. Eram tantas coisas, pequenas coisas, que me faziam amá-lo até mesmo quando eu não queria.
And it's true
I tend to follow in his stride
Instead of side by side
I take his cue
True, but there's no question
There's no doubt
I said I'd stick it out
And follow through

Eu prometi – eu jurei, perante a Deus, a ele e a todos os nossos amigos – que estaria ao lado dele. Que seria dele e ele seria meu. Enquanto ele sorria, dando uma resposta repetida ao repórter, ele me olhou. Um sorriso brotou em seu rosto, seus olhos iluminados quando seus braços se estenderam para me puxar para mais perto. Eu sabia que era certo. Eu sabia que éramos um, apesar de tudo.
- ! Que prazer ter você conosco – O outro entrevistador disse – O que você está vestindo?
- Um vestido – Falei, fazendo gargalhar.
- Eu te amo – Ele disse antes de me puxar para um beijo - E estou muito empolgado para a peça dela, que entra em preview mês que vem – Meu sorriso aumentou. Eram momentos assim, pequenos momentos, que eu sentia que ele me amava e se orgulhava de mim apesar de tudo. Apesar da minha peça ser no fim do mundo e provavelmente nem ser escolhida para Broadway. Mas ele não se importava. Ele me amava mesmo assim.
Eu só não queria me importar também. E assim, tudo ficaria ótimo.
I didn't know
The rules do not apply
And then he smiles
And nothing else makes sense
While he invents
The world that's passing by
And I'm a part of that
I'm a part of that
I'm a part of that
Aren't I?



Capítulo Seis

Schmuel song
https://www.youtube.com/watch?v=cE7fnTqSM4M

Plenty have hoped and dreamed and
prayed, but they can't get out of Klimovich
If Schmuel had been a cute Goyishe maid, he'd've looked a lot like you
Maybe it's just that you're afraid to go out on to a limb-ovich
Maybe your heart's completely
swayed, but your head can't follow through

But shouldn't I want the world to see
The brilliant girl who inspires me?
Don't you think that now's a good time to be
The ambitious freak you are?
Say goodbye to wiping ashtrays at the bar!
Say hello to Cathy Hiatt, big-time star!

Era Natal. Nosso primeiro Natal na casa da 73rd. Nosso segundo Natal juntos. amava natais – ela tinha uma tatuagem de uma rena e começava a comemorar no dia seguinte ao Thanksgiving. Eu achava aquilo encantador, porque nem meus filhos ligavam para o Natal. Eles passariam a data com a gente, o que era bem empolgante. Eles amavam e o mais novo, Doug, era completamente apaixonado por ela. Sempre que os três vinham, ativava seu modo mãe, penteava seus cabelos e os colocava para dormir. Parecia tão certo nós dois, com as crianças. Como se fosse o certo.
Então, nesse Natal, apesar de não estar tão animada, eu tinha tomado seu lugar. Eu havia decorado tudo enquanto ela fazia um show em Alphabet City. Claro que eu não tinha todo aquele talento em arrumar coisas natalinas. A árvore estava meio torta e as luzes um tanto emboladas – mas tinha feito o possível, e no fim, tinha ficado bonitinho. Obviamente eu esperava aquela reação dela, que surta de alegria com coisas pequenas ou algo assim. Esperava que ela fosse emanar felicidade e todo o resto.
E quando ela chegou, bem, senti que só metade dela havia entrado pela porta. Seu sorriso – aquele grande, belo sorriso – havia desaparecido. Ela normalmente chegava empolgada em casa, principalmente quando estava em casa – o que, em temporadas de lançamentos, era um tanto complicada.
- Eles me demitiram – Ela disse, completamente derrotada – Estou oficialmente desempregada.
- Eles são uns babacas de marca maior! Eles deram um motivo? – A abracei, logo após colocar sua guitarra no chão.
- Eles procuram alguém mais vivo.
- E você está morta, por acaso?
- Eu não sou animada. Eu canto músicas tristes e faço covers da Broadway. Quem quer ver a Broadway, vai para 54 ou algum cabaret. Eles querem alguém que cante as músicas felizes da Lady Gaga.
- Ah, … Eles não saberiam o que talento de verdade é nem se cuspissem na cara deles – Falei, secando umas lágrimas dela.
- Como vou pagar o aluguel? E o vestido praquela festa estúpida? – Era o Governors Ball, onde só 1500 pessoas eram convidadas e eu tinha sido. Claramente não era uma festa estúpida - Eu estou fodida – Sua voz estava totalmente desesperada e meu coração ficou partido. O problema nunca foi dinheiro, não pra mim. Eu tinha bastante, apesar de pagar um tanto em pensão. Mas era orgulhosa e queria fazer parte em ajudar a bancar as coisas. Ela tentou de todas as formas me convencer a alugar um apartamento mais barato, mas eu precisava de algo grande e que fosse num lugar mais reservado. Seria estranho se morássemos em Flatbush. Além do mais, Clover tinha um apartamento duas ruas acima do nosso, para quando visitasse a cidade, então esse era ideal.
- Se isso é o que está te preocupando, não precisa esquentar sua cabeça.
- Eu não acho justo você bancar tudo – Ela se afastou – E o que eu vou ser? Uma dondoca, sua namorada desempregada que não consegue nem fazer shows em pubs em Long Island?
- Não. Você vai continuar sendo minha namorada incrível, que está tentando arranjar um papel de verdade em alguma produção nova. Você não vê como isso é bom, ? – Falei, a segurando pelos ombros como se ela fosse uma criancinha teimosa – Você se dedica tanto a esses shows que acaba não conseguindo focar no que você realmente quer.
-
- Já passou da hora do mundo conhecer você, Sturgess.
- Eu acho incrível você falar tudo isso, mas
- Não precisa de “mas”, . Se é a Broadway que você quer, é a Broadway que você vai conseguir. Eu acredito tanto em você.
- Só falta o resto do mundo agora.
- Então vai lá e faz o resto do mundo se apaixonar por você, . Parece impossível, mas sei que se tem alguém nesse mundo que consegue qualquer coisa, é você. Porque amo você.
- Quando eu arranjar algo bom, e algo grande, eu vou te pagar de volta. Pelo vestido pelo menos – sussurrou, agarrada em meus braços. Seus olhos então brilharam – Você decorou a casa?
- Eu tentei…
- Eu te amo muito, . Eu espero que você saiba disso.
E eu sabia. Todo santo dia eu sabia. Eu só queria que aquela felicidade, que o sentimento bom durasse para sempre. Mas não durou, porque duas semanas depois nós terminamos.
Take a breath
Take a step
Take a chance…
Take your time
Have I mentioned today
How lucky I am
To be in love with you?



Capítulo Sete

A SUMMER IN OHIO
https://www.youtube.com/watch?v=F96jeHbCWqU

I could shove an ice-pick in my eye
I could eat some fish from last July
But it wouldn't be as awful
As a summer in Ohio
Without cable, hot water
Vietnamese food
Or you

Ah, o verão. Grandes produções. Peças estreando por todos os lugares. E aqui estava eu, trabalhando. Em Ohio. Numa produção um tanto estranha, mas que era abençoada por Sondheim. Era A Little Night Music. Eu sempre dizia que Send in the Clowns era a música da minha vida, mas não mais. Não hoje. Porque a canção mais triste de todos os tempos não combinava com a atual. A casada.
Enquanto eu olhava para o céu, deitada sobre a grama meio seca, eu só conseguia pensar em como eu era sortuda e questionar tudo aquilo. Como eu, uma garota perdida em Ohio e formada na Universidade da Flórida, foi conseguir casar com ele? Com o ganhador do Oscar e homem mais sexy do ano da People? Nem em meus sonhos mais loucos eu conseguiria isso.
Pense só. Eu sou uma garota do interior da Irlanda. Meus pais se divorciaram cedo e vim para a América com minha mãe e meu irmão pseudo gótico, que logo montou uma banda que ficou queridinha pelos famosos. Ele vai e casa com uma estrela de Hollywood, o que ninguém podia imaginar já que Tony era um total esquisitão, enquanto eu vou para Flórida tentar me focar em fazer um bom trabalho e aprender do melhor jeito possível, longe da fama de Tony. E aí, assim que volto para a cidade, Gwinny me apresenta a . E aí? Honestamente, como eu cheguei aqui?
Eu não tinha chances. Ele era sedutor e charmoso, tão inteligente e incrível. Tudo o que eu queria era ouvir mais e mais dele, saber mais e mais, conhecer aquele homem incrível. E me apaixonar aconteceu tão rapidamente que nem pude pensar direito. Foi tão natural e espontâneo. Foi mágico.
Nunca, nunca, esperaria que ele fosse gostar de alguém como eu. Esquisita, de corpo estranho e dentes meio tortos. Mas ele gostou. Ele me amou. E nós casamos.
E agora eu estou em Ohio, contando os dias para que ele termine o mais novo drama dele, que tem o roteiro bem fraco, mas compensa com tantos atores bons. Ele me apresentou a Colin Firth esses dias e foi fenomenal. Nós jantamos com a Madonna na festa pós Oscar dela, e um dia Elton John me parou na rua para perguntar sobre . Os dois são amigos. E eu fiquei “meu Deus do céu Elton John sabe meu nome e eu não sei nem respirar”.
Eu estava vivendo o sonho. Apesar do meu sonho estar caminhando lentamente em Ohio, em passos de pequenas tartarugas, ele estava começando a andar. Eu era a headliner. Eu cantava Send in the Clowns e não precisava chorar de verdade quando a canção acabava. Eu era uma atriz e era casada com o homem da minha vida.
Não era por tudo que ele me mostrava, as celebridades que eu conhecia, ou as roupas que eu acabava ganhando. Eu não ligava para isso. Era sobre acordar e dormir com a pessoa que enchia meus pensamentos e o meu coração. Era sobre contar piadas que apenas nós dois sabíamos a resposta. Era sobre como eu me sentia quando ele chegava em casa. Tudo isso, todas as pequenas coisas, me faziam sentir amada. E eu nunca fui de me sentir amada.
Talvez porque eu não fosse a maior fã de mim mesma. Era difícil para mim assumir que eu podia ser relativamente boa em algo. E com , bem, ele me mostrou que eu era boa. Ele me impulsionou em direção ao que eu queria. Sem ele, eu provavelmente teria desistido. Mas ele dizia “o mundo precisa conhecer a estrela que você é”. E eu estava acreditando mais e mais nisso.
Era um processo. Um processo que ele estava me guiando e me ajudando. A cada dia aprendia mais e mais de mim mesma através dele. E nunca estive mais feliz. Estava em Ohio, num calor infernal, sem conhecer ninguém e com picadas de mosquito em todo o meu corpo, mas estava totalmente e completamente feliz.
E as pessoas gostavam dessa nova . Eu não ouvia mais comentários sobre o meu nariz ser grande demais para ser a headliner. As pessoas gostavam da feliz. Eu tinha certeza que ao voltar para cidade arranjaria algo grande, algo bom. Porque as coisas estavam dando certo para essa garota aqui.
I've found my guiding light
I tell the stars each night
"Look at me! Look at him!
Son-of-a-bitch!
I guess I'm doing something right!
I finally got something right!”



Capítulo Oito

The Next Ten Minutes
https://www.youtube.com/watch?v=mL3S6uUXqio

Will you share your life with me
For the next ten minutes?
For the next ten minutes
We can handle that
We could watch the waves
We could watch the sky
Or just sit and wait
As the time ticks by
And if we make it till then
Can I ask you again
For another ten?

Eu estava na frente dela num pequeno parque em Victoria. Ela veio para Inglaterra passar o Natal na casa de Gwinny e Tony. Eu estava passando o Natal com as crianças e Clover.
Era a primeira vez que a via desde que terminamos e todo o meu corpo parecia estar em pedaços. Clover vivia cismando que eu ou estava usando alguma droga, ou estava em crise de abstinência. Talvez fosse um pouco dos dois.
Enquanto estivemos juntos, eu me sentia completo. No topo do mundo. E agora, bem, não tinha muito agora. Ah, ótimo, fui convidado para algumas premiações. Um filme meu lançaria em breve. Mas tudo isso era tão pequeno, porque eu estava realmente despedaçado.
Uma parte de mim, uma parte maior que eu mesmo, sabia que eu precisava de em minha vida de qualquer jeito. Eu a amava, e tinha certeza disso desde o momento que a vi pela primeira vez – apesar de só realmente ter percebido isso uns meses depois. Mas esse ano juntos e essas semanas separados só me faziam perceber o quanto precisava dela. O quanto ela me fazia uma pessoa melhor. O quanto me sentia vivo, novo, renovado, ao lado dela. Eu precisava dela se quisesse ter qualquer chance em ser feliz.
Então lá estava eu, olhando para ela. Ela parecia mais linda que nunca, com seu casaco preto e seu nariz avermelhado pelo frio de dezembro. Não nevava, o que era uma pena. Ficaria muito mais cinematográfico se nevasse.
Mas nem tudo eram filmes e luzes, e isso talvez me tirasse do meu eixo. Mas a verdade é que não precisava ser cinematográfico ou lindo. A verdade é que precisava era dela ali.
E ela estava ali, minha garganta parecia fechada e eu não sabia o que dizer ou que pensar. Fiquei de pé, ela sentada na minha frente. Eu tremia, não de frio. Eu tremia porque sabia o que ia fazer. Só não sabia como começar.
And if you in turn agree
To the next ten minutes
And the next ten minutes
Till the morning comes
Then just holding you
Might compel me to
Ask you for more
There are so many lives I want to share with you
I will never be complete until I do

- Feliz Natal? – se propôs a dizer, seu corpo meio curvado em uma timidez já conhecida.
- Eu não acho… Eu… - Gaguejei, desviando o olhar dela. Tentei respirar. Tentei não pirar ao olhar para ela. Mas foi a olhando que descobri o que falar, e criei coragem de falar – Eu quero tantas coisas na minha vida, . Tantas. Mas o que eu mais quero é você. É ter a vida que a gente tinha. É a gente, sabe? É isso que eu mais quero na vida.
- … - Ela disse, os olhos brilhando. Eu não sabia se era bom ou ruim, mas pelo menos ela ainda sentia algo.
- Eu nunca vou saber o que é ser feliz de verdade se não for com você, . O mundo parece um lugar tão bom com você nele. E eu não quero viver num mundo sem você.
- Ai meu Deus, , você não vai se matar! – Ela se levantou num pulo, assustadíssima, e tudo que pude fazer foi me ajoelhar com a caixinha em mãos.
- E perder a chance de te pedir em casamento?
I don't know why people run
I don't know why things fall through
I don't know how anybody survives in this life
Without someone like you
I could protect and preserve
I could say no and goodbye
But why, jamie, why?

ALLIE

Ele estava ajoelhado bem a minha frente. Seus olhos pareciam uma bola de gude, enormes e brilhantes. Ele estava me pedindo em casamento e todo o meu corpo pareceu se juntar numa força que jamais pensei sentir. Eletricidade percorria minhas veias e eu poderia acender uma árvore de Natal se tocasse nela.
Ele estava me pedindo em casamento e meu cérebro tentava computar aquilo tudo. Computar o ano que estávamos juntos. Entender nosso término idiota. Mas eu não conseguia pensar em nada. Eu não conseguia respirar, ou sorrir ou até mesmo chorar.
A coisa é, eu sempre me sabotei. Se eu estava bem, eu ia dar um jeito de arranjar alguma pequena loucura que me fizesse querer fugir e bater com a cabeçå na parede. Eu queria me proteger, afinal, eu já havia me machucado demais. Eu já havia investido e me perdido.
E se dessa vez fosse a mesma coisa? Se dessa vez eu me perdesse de novo? E se não fosse para ser, se eu não fosse o que ele precisava? Eu tinha tantas perguntas, tantas dúvidas, tantos medos. Tantos pavores que me fariam ter um ataque de pânico que me levaria direto para a emergência.
Mas ao mesmo tempo, por que eu estava assim? Por que, se eu realmente amava aquele homem que estava ajoelhado a minha frente? Se eu o adorava com todas as minhas forças e o queria tanto que meu peito parecia doer. Então o que estava me segurando de apenas gritar que sim, eu aceitava. A gente voltava, a gente se casava, eu não me importava contanto que estivessemos juntos. Que estivessemos completos.
Então eu me sentei. Eu precisava respirar, e minha cara séria deve ter assustado , porque ele parecia mais nervoso do que antes.
- Talvez eu esteja indo rápido demais – Ele disse, a caixinha com o anel em suas mãos – Mas eu não quero viver sem você, . E eu pensei que talvez um gesto de amor impulsivo fosse…
- , cala a boca – Falei, um riso nervoso saindo de mim. Ele ficou quieto – Eu tenho que falar que eu estou morrendo de medo.
- Eu também estou!
- Shiu! – Pedi e ele riu.
- Desculpe.
- O que quero dizer, eu não sei dizer. Eu quero casar com você, eu quero dividir minha vida com você – Ele se virou para mim, me abraçando, beijando meu pescoço. Lágrimas caindo do meu rosto e do dele também, ou então estava chovendo - Mas eu quero agora. Hoje.
- Hoje?
- Eu não quero esperar mais um dia, . Eu já perdi tanto tempo tentando fugir e resolver as coisas do meu jeito, que eu tenho medo de ferrar isso. Eu não quero ferrar isso, .
- Você nunca vai ferrar isso, .
- Então eu quero me casar com você hoje. E sinto muito se parecer louco, mas…
- As crianças estão na cidade. A gente pode arranjar um juiz.
- E pode ser na casa da Clover – Falei – Sua ex esposa, muito drama. Pode ser...
- Eu sou membro do…
- Sim! Lá! A gente precisa de um florista e um fotógrafo – Minha empolgação crescia – E eu preciso de um vestido e… - Ele me beijou e tudo que eu podia pensar era que foda-se o mundo ou o vestido. Ou só queria me casar com ele.
I want to be your wife
I want to bear your child
I want to die
Knowing I
Had a long, full life in your arms
That I can do
Forever, with you

Nós conseguimos um salão em Mayfair, Gwinny conseguiu flores e um monte de comidas elegantes, enquanto Clover me ajudou a escolher o vestido. Meu coração batia em uma velocidade desconhecida, mas tudo valeu a pena, tudo fez sentido, quando entrei no salão e o vi. Quando vi o cara que havia virado minha vida de cabeça para o ar. O cara que era meu ex-namorado há menos de 24 horas e agora ia ser meu marido.
Não me importava que achassem louco. Não importava que achassem surreal. O que me importava era o que eu sentia. E eu me sentia feliz e amada. Como se toda a minha vida tivesse me guiado exatamente para aquele momento, para aquilo. E de certa forma, me guiou.
Andei até ele com um sorriso no rosto. Com a certeza que nosso futuro juntos seria o melhor future, pois estariamos juntos. e , e .
Eu aceito – Falei, recebendo a aliança em meu dedo.
- Eu aceito – Ele disse, enquanto eu deslizava a aliança em seu dedo.
E assim eu me tornei dele, e ele se tornou meu, e por alguns breves segundos o mundo ficou em total e completa paz.
Will you share your life with me
For the next ten lifetimes?
For a million summers
Till the world explodes
Till there's no one left
Who has ever known us apart
There are so many dreams
I need to see with you...
There are so many years
I need to be with you...
I will never be complete
I will never be alive
I will never change the world
Until I do





Continua...



Nota da autora: Sem nota.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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