Capítulo Único
Ódio.
Tudo que eu sentia era esse sentimento tão controverso. Diziam que era normal sentir tanta raiva com 16 anos, mas a verdade era que todo esse sentimento era muito maior do que eu deixava transparecer.
Andar nos corredores de Hogwarts com o nariz em pé não era fácil. Eu sabia muito bem quem minha família era e como meu pai esperava que eu agisse. Merda. A minha irmã acreditava que eu era a cópia mais nova do meu pai.
E talvez eu de fato o fosse.
A Marca Negra ardia no meu braço. Um lembrete abaixo na minha manga de qual seria a minha missão naquele ano: Matar o Professor Dumbledore.
Eu nunca gostei do velho, mas não tinha vontade de matá-lo.
Nunca foi esse o caminho que eu queria seguir. Por tanto tempo eu apenas falei sim para meu pai. Mesmo quando Morgana se mudou com aquele Wesley eu fiquei ao lado dele. Sabia que minha irmã estava certa, mas era covarde demais para tomar minhas próprias decisões.
Olhei para meu reflexo no banheiro dos monitores. Meus olhos tinham olheiras de diversas noites sem dormir. O cabelo loiro, um dia brilhante, estava fosco e sem corte.
Sentia que havia meses desde que eu tinha falado com meus amigos pela última vez. Se não estava na aula, me escondia na sala precisa, tentando fazer aquela merda de armário funcionar. Hogwarts era uma fortaleza impenetrável, e a raiva que eu sentia da prepotência do diretor dessa escola me fazia querer fazer isso funcionar.
Não pelo motivo que ele tinha me obrigado, mas porque eu estava cansado de todo esse discurso de segurança que essa merda de escola tinha.
Por Merlin, era meu sexto ano nessa merda e não teve um ano sequer que algum aluno não foi atacado.
Um professor atacando alunos, um basilisco transformando todo mundo em pedras, a porra de dementadores como seguranças — aliás, quem teve a ideia de que sugadores de almas seriam bons guardas? — e um torneio do qual um aluno literalmente morreu.
O caralho que essa escola era segura.
Mas não adiantava minhas críticas. Não importava que minha irmã tinha metido o pé desse lugar no ano passado e ido morar em uma fazenda trouxa com seu Weasley. Meu pai ainda queria que eu continuasse aqui.
Ou melhor, ele queria que eu continuasse aqui.
Esse era o lugar menos seguro para qualquer bruxo menor de idade. Queria eu ter a coragem da minha irmã e simplesmente ir embora dessa merda. Desaparecer. Adotar um nome trouxa e nunca mais usar magia.
Mas nós éramos meros peões nos planos de Lord Voldemort. Malfoy era apenas mais uma família marionete do bruxo das trevas.
De que adiantava todo o dinheiro, o nome de prestígio e a marca no braço se eu não era feliz?
Ou talvez eu não merecesse encontrar a felicidade.
— Felicidade não existe. Trate de fazer a sua missão para que não soframos as consequências. — Tinham sido essas as palavras do Professor Snape quando falei que não queria matar o velho.
Tinha muito mais em jogo do que ele deixava transparecer.
Eu invejava Potter. Ele não tinha pais para precisar responder. Se metia em confusões, mas tinha coragem de sair de todas elas. Era famoso, mas não porque ele queria ser.
Eu queria ter amigos com quem pudesse contar quando não queria passar os verões na mansão Malfoy. Morgana me chamava para fugir com ela, mas eu tinha medo de encontrarem ela. Morg podia ser muitas coisas, mas ela não era uma ameaça.
Eu era.
Eu sabia de todos os planos, de todos os infiltrados. Eu sabia demais. O choro veio sem que eu pudesse controlar.
— Eu sei o que você fez, Malfoy. — Porra. De todos que poderiam aparecer agora tinha que ser justo ele? — Você a amaldiçoou, não foi?
— Potter!
— Não mente pra mim! — Seus olhos verdes emanava uma raiva tão grande quanto a minha. Porém, enquanto o que eu sentia era direcionado a todos, a dele estava diretamente ligada a mim.
E o pior de tudo é que não poderia culpá-lo. Eu também me odiava.
— Você amaldiçoou Kate Bell com o colar que era para Dumbledore. Você quer matar o Dumbledore!
— Você não entende. — Eu disse entre os dentes. A raiva crescendo ainda mais.
Mas o desejo que eu odiava sentir também aparecendo.
Toda vez que Harry estava presente, eu sentia coisas que não deveria sentir. Ao mesmo tempo que eu queria puxar a varinha e gritar um feitiço, eu também queria jogá-lo contra a parede e calar a merda da boca insolente dele.
— Eu não entendo? É você que não entende! Como você pode?
Harry correu até mim. Sua varinha em mãos pronta para me atingir com um Avada Kedavra. Eu sabia que ele não era capaz, mas também que era exatamente seu desejo.
E não adiantava explicar. Se os Malfoy eram marionetes de Lord Voldemort, Harry Potter era marionete de Alvo Dumbledore.
Dois lados de uma mesma guerra que lutavam por si só e usavam bruxos experientes — e crianças — como armas.
Meu olhar estava preso no dele. Todo o meu ódio se transformando em desejo. Foi então que vi o mesmo desejo em seus olhos. A mesma vontade reprimida, o mesmo ódio pelo mundo que não podíamos controlar.
— Eu… — eu e você somos iguais.
A frase ficou presa na minha garganta. A vontade de expor todos que nos usavam para uma luta que não era nossa.
Uma guerra que teria fim se bruxos parassem de seguir normas de outros bruxos que fingiam ter o controle.
A verdade era que controle não existia.
E, exatamente por isso, quando vi estava empurrando Potter para a parede e juntando meus lábios com os seus. A princípio ele hesitou, mas quando sentiu uma de minhas mãos em sua cintura, me puxou pela nuca para mais perto.
Comecei puxar sua veste enquanto ele arrancava os botões da minha blusa. Beijei seu pescoço e escutei seu gemido. Desci as mãos pelo seu corpo, deslizando pela barra da calça e, quando cheguei ao botão, escutei passos em direção ao banheiro.
Me afastei correndo, indo até a pia e jogando água no rosto. Potter ainda ofegava onde eu o havia deixando, atordoado para tomar qualquer atitude.
— Está tudo bem aqui? — Professor Snape escolheu justo essa hora para interromper. Eu juro que esse homem tinha um radar para tudo que eu fazia que fosse contra os interesses de Voldemort.
Snape era um dos homens mais covardes que já conheci. Perdia apenas para meu pai. E talvez, eu mesmo.
— Está tudo bem. — Minha voz estava rouca. A adrenalina do beijo ainda correndo em minhas veias. A excitação do que poderia ter acontecido ainda presente no meu corpo.
Harry não falou nada. Pelo espelho, vi que ele tentou olhar para mim, mas não teve coragem. Saiu correndo do banheiro antes que Snape prestasse atenção nas suas roupas amassadas.
Quando os passos de Potter já estavam longes, professor Snape correu até mim e me puxou pelo punho, olhando nos meus olhos com uma raiva que nunca tinha visto antes.
— Não saia do caminho, ou você vai sofrer as consequências.
Ele deu as costas, a capa da sua veste ondulando com o movimento e, com a mesma pressa que ele chegou, foi embora.
Me virei para o espelho e mais uma vez senti raiva. Raiva de quem eu era, de quem eu tinha que ser. Raiva da liberdade que não existia no meu vocabulário. Raiva por ter dado a Potter motivo para me expor.
Mas o meu lábio inchado e vermelho me fazia pensar que talvez ele não fosse capaz de contar a ninguém.
Talvez, Harry Potter fosse um mentiroso tão bom quanto eu. Marionete por fora, uma vingança planejada por dentro.
Tudo que eu sentia era esse sentimento tão controverso. Diziam que era normal sentir tanta raiva com 16 anos, mas a verdade era que todo esse sentimento era muito maior do que eu deixava transparecer.
Andar nos corredores de Hogwarts com o nariz em pé não era fácil. Eu sabia muito bem quem minha família era e como meu pai esperava que eu agisse. Merda. A minha irmã acreditava que eu era a cópia mais nova do meu pai.
E talvez eu de fato o fosse.
A Marca Negra ardia no meu braço. Um lembrete abaixo na minha manga de qual seria a minha missão naquele ano: Matar o Professor Dumbledore.
Eu nunca gostei do velho, mas não tinha vontade de matá-lo.
Nunca foi esse o caminho que eu queria seguir. Por tanto tempo eu apenas falei sim para meu pai. Mesmo quando Morgana se mudou com aquele Wesley eu fiquei ao lado dele. Sabia que minha irmã estava certa, mas era covarde demais para tomar minhas próprias decisões.
Olhei para meu reflexo no banheiro dos monitores. Meus olhos tinham olheiras de diversas noites sem dormir. O cabelo loiro, um dia brilhante, estava fosco e sem corte.
Sentia que havia meses desde que eu tinha falado com meus amigos pela última vez. Se não estava na aula, me escondia na sala precisa, tentando fazer aquela merda de armário funcionar. Hogwarts era uma fortaleza impenetrável, e a raiva que eu sentia da prepotência do diretor dessa escola me fazia querer fazer isso funcionar.
Não pelo motivo que ele tinha me obrigado, mas porque eu estava cansado de todo esse discurso de segurança que essa merda de escola tinha.
Por Merlin, era meu sexto ano nessa merda e não teve um ano sequer que algum aluno não foi atacado.
Um professor atacando alunos, um basilisco transformando todo mundo em pedras, a porra de dementadores como seguranças — aliás, quem teve a ideia de que sugadores de almas seriam bons guardas? — e um torneio do qual um aluno literalmente morreu.
O caralho que essa escola era segura.
Mas não adiantava minhas críticas. Não importava que minha irmã tinha metido o pé desse lugar no ano passado e ido morar em uma fazenda trouxa com seu Weasley. Meu pai ainda queria que eu continuasse aqui.
Ou melhor, ele queria que eu continuasse aqui.
Esse era o lugar menos seguro para qualquer bruxo menor de idade. Queria eu ter a coragem da minha irmã e simplesmente ir embora dessa merda. Desaparecer. Adotar um nome trouxa e nunca mais usar magia.
Mas nós éramos meros peões nos planos de Lord Voldemort. Malfoy era apenas mais uma família marionete do bruxo das trevas.
De que adiantava todo o dinheiro, o nome de prestígio e a marca no braço se eu não era feliz?
Ou talvez eu não merecesse encontrar a felicidade.
— Felicidade não existe. Trate de fazer a sua missão para que não soframos as consequências. — Tinham sido essas as palavras do Professor Snape quando falei que não queria matar o velho.
Tinha muito mais em jogo do que ele deixava transparecer.
Eu invejava Potter. Ele não tinha pais para precisar responder. Se metia em confusões, mas tinha coragem de sair de todas elas. Era famoso, mas não porque ele queria ser.
Eu queria ter amigos com quem pudesse contar quando não queria passar os verões na mansão Malfoy. Morgana me chamava para fugir com ela, mas eu tinha medo de encontrarem ela. Morg podia ser muitas coisas, mas ela não era uma ameaça.
Eu era.
Eu sabia de todos os planos, de todos os infiltrados. Eu sabia demais. O choro veio sem que eu pudesse controlar.
— Eu sei o que você fez, Malfoy. — Porra. De todos que poderiam aparecer agora tinha que ser justo ele? — Você a amaldiçoou, não foi?
— Potter!
— Não mente pra mim! — Seus olhos verdes emanava uma raiva tão grande quanto a minha. Porém, enquanto o que eu sentia era direcionado a todos, a dele estava diretamente ligada a mim.
E o pior de tudo é que não poderia culpá-lo. Eu também me odiava.
— Você amaldiçoou Kate Bell com o colar que era para Dumbledore. Você quer matar o Dumbledore!
— Você não entende. — Eu disse entre os dentes. A raiva crescendo ainda mais.
Mas o desejo que eu odiava sentir também aparecendo.
Toda vez que Harry estava presente, eu sentia coisas que não deveria sentir. Ao mesmo tempo que eu queria puxar a varinha e gritar um feitiço, eu também queria jogá-lo contra a parede e calar a merda da boca insolente dele.
— Eu não entendo? É você que não entende! Como você pode?
Harry correu até mim. Sua varinha em mãos pronta para me atingir com um Avada Kedavra. Eu sabia que ele não era capaz, mas também que era exatamente seu desejo.
E não adiantava explicar. Se os Malfoy eram marionetes de Lord Voldemort, Harry Potter era marionete de Alvo Dumbledore.
Dois lados de uma mesma guerra que lutavam por si só e usavam bruxos experientes — e crianças — como armas.
Meu olhar estava preso no dele. Todo o meu ódio se transformando em desejo. Foi então que vi o mesmo desejo em seus olhos. A mesma vontade reprimida, o mesmo ódio pelo mundo que não podíamos controlar.
— Eu… — eu e você somos iguais.
A frase ficou presa na minha garganta. A vontade de expor todos que nos usavam para uma luta que não era nossa.
Uma guerra que teria fim se bruxos parassem de seguir normas de outros bruxos que fingiam ter o controle.
A verdade era que controle não existia.
E, exatamente por isso, quando vi estava empurrando Potter para a parede e juntando meus lábios com os seus. A princípio ele hesitou, mas quando sentiu uma de minhas mãos em sua cintura, me puxou pela nuca para mais perto.
Comecei puxar sua veste enquanto ele arrancava os botões da minha blusa. Beijei seu pescoço e escutei seu gemido. Desci as mãos pelo seu corpo, deslizando pela barra da calça e, quando cheguei ao botão, escutei passos em direção ao banheiro.
Me afastei correndo, indo até a pia e jogando água no rosto. Potter ainda ofegava onde eu o havia deixando, atordoado para tomar qualquer atitude.
— Está tudo bem aqui? — Professor Snape escolheu justo essa hora para interromper. Eu juro que esse homem tinha um radar para tudo que eu fazia que fosse contra os interesses de Voldemort.
Snape era um dos homens mais covardes que já conheci. Perdia apenas para meu pai. E talvez, eu mesmo.
— Está tudo bem. — Minha voz estava rouca. A adrenalina do beijo ainda correndo em minhas veias. A excitação do que poderia ter acontecido ainda presente no meu corpo.
Harry não falou nada. Pelo espelho, vi que ele tentou olhar para mim, mas não teve coragem. Saiu correndo do banheiro antes que Snape prestasse atenção nas suas roupas amassadas.
Quando os passos de Potter já estavam longes, professor Snape correu até mim e me puxou pelo punho, olhando nos meus olhos com uma raiva que nunca tinha visto antes.
— Não saia do caminho, ou você vai sofrer as consequências.
Ele deu as costas, a capa da sua veste ondulando com o movimento e, com a mesma pressa que ele chegou, foi embora.
Me virei para o espelho e mais uma vez senti raiva. Raiva de quem eu era, de quem eu tinha que ser. Raiva da liberdade que não existia no meu vocabulário. Raiva por ter dado a Potter motivo para me expor.
Mas o meu lábio inchado e vermelho me fazia pensar que talvez ele não fosse capaz de contar a ninguém.
Talvez, Harry Potter fosse um mentiroso tão bom quanto eu. Marionete por fora, uma vingança planejada por dentro.