Finalizada em: 28/04/2018

Prólogo

Minha mãe tirou o termômetro de baixo do meu braço e respirou fundo, sacudindo-o um pouco e colocando novamente na minha mesa de cabeceira. Ela destacou o comprimido da embalagem e entregou em minha mão, junto de um copo de água.
- Você não deveria ter chegado tão tarde da festa ontem. – Ela comentou e eu suspirei.
- Mãe! – Reclamei, franzindo a testa.
- Não começa! – Ela falou. – E você sabe que seu pai não gosta que você fique andando com Spike.
- Mãe, foi à festa de formatura da faculdade, você sabe. Eu acabei o curso! – Abri um largo sorriso. – Eu precisava comemorar.
- Eu sei. – Ela suspirou. – E estamos muito orgulhosos de você. – Dei um sorriso de lado suspirando.
- E, outra, Spike é meu namorado, vocês gostem ou não. – Ela suspirou e balançou a cabeça.
- Toma o remédio e tenta dormir, você está com febre. – Ela suspirou e confirmei. – Vou dizer para o seu pai que você não vai para o mercado amanhã.
- Não mesmo! – Falei alto, fazendo-a rir. – Pela primeira vez em quatro anos eu vou poder dormir até tarde. – Ela concordou com a cabeça.
- Boa noite! – Ela falou, dando um beijo em minha testa e puxando minha coberta para cima. – Parabéns, minha formanda. – Sorri.
- Obrigada, mãe! – Suspirou. – Amo vocês! – Minha mãe sorriu, apagando a luz do meu quarto.
- Também te amamos, querida! – Ela fechou a porta do meu quarto e ouvi seus passos se afastarem para seu quarto.
Coloquei o remédio do lado da cama e joguei as cobertas para frente, me levantando devagar, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Acendi meu abajur e tirei meu pijama jogando-o para os lados e peguei a roupa que eu havia deixado pendurada atrás da porta e coloquei rapidamente, colocando um moletom em seguida. Calcei meu tênis bem apertado e ouvi barulhos, me fazendo parar o que fazia.
- Não fique assistindo isso até tarde, precisamos receber a mercadoria do mercado cedo. – Ouvi minha mãe falar e senti minha respiração acelerada.
- Pode deixar! – Meu pai respondeu e o silêncio prevaleceu novamente.
Me debrucei na cama e puxei minha mochila debaixo da mesma, junto com o secador que eu usei para fingir minha febre e coloquei ambos em cima da cama, conferindo rapidamente as poucas trocas de roupa e meu salário do mercado rapidamente para pequenos gastos e soquei tudo dentro da mala, conferindo o horário no relógio ao lado da cama.
Assim que o relógio virou onze da noite, ouvi um barulho fino bater contra a minha janela e esperei ouvi-lo novamente antes de me aproximar dela e ver Spike no quintal do primeiro andar. Corri até a porta e tranquei a mesma, ouvindo o baixo clique dela e segurei minha respiração por alguns segundos, esperando a reação de alguém.
Ouvi novamente o barulho na janela e segui para a mesma, abrindo-a devagar, segurando-a com o trinco e peguei minha mochila, colocando-a nas telhas e me debrucei sobre a janela e subi nela, tentando fazer o mínimo de barulho possível, e, quando me vi para fora, abaixei-a devagar, soltando-a levemente quando a fechei.
Caminhei devagar e abaixada pela telha e quando cheguei à beirada dela, vi Spike sorrindo para mim lá embaixo e joguei minha mala para ele que a pegou facilmente e a pendurou em suas costas.
- Vem pelo canto, devagar! – Ouvi sua voz baixa e segui por onde ele falou, olhando para baixo, vendo que não era alto, seria fácil.
- Me segura! – Falei, me colocando de costas para a beirada, respirando fundo.
- O que você está fazendo? – Me assustei com a voz do meu pai na janela do seu quarto. – Aonde você vai? Marissa, ela está fugindo!
- Vem logo! – Ouvi Spike gritar e eu soltei meu corpo para baixo, sentindo-o bater contra Spike e nós dois cairmos no chão.
Vi as luzes de casa se acenderem e nos levantamos correndo e entramos no carro correndo, e Spike colocou a chave na ignição e o carro não ligava.
- Vai logo! – Gritei, batendo minhas mãos no painel.
- Não quer ligar, tá frio demais! – Ele falou, forçando a chave novamente.
- ! – Minha mãe saiu pela porta da frente de pijama, correndo em minha direção.
- Liga! – Spike gritou, quando o carro realmente pegou e ele mudou a marcha rapidamente.
- Você vai se arrepender disso. – Ouvi minha mãe falar em meio aos choros.
- Se você fizer isso, nós não te aceitaremos de volta. – Ouvi meu pai falar e engoli em seco, vendo as casas passarem como borrões, quando Spike acelerou com o carro.
Olhei para trás rapidamente, já não conseguindo mais ver minha casa ou minha família e suspirei, sentindo uma lágrima solitária em meu rosto e respirei fundo. Spike colocou sua mão em minha perna e virei o rosto para ele, vendo o ruivo sorrir.
- Você tem a mim. – Ele falou e eu sorri, apertando sua mão. – Eu estarei aqui para sempre! Eu te amo! – Ele falou e eu sorri, encostando minha cabeça no banco e vendo as casas de Puerto Limón passarem rapidamente pela minha vista, mas optei por fechar os olhos, me fazendo respirar fundo.


Capítulo 1

O despertador tocou às quatro e meia da manhã, e eu respirei fundo, batendo a mão no mesmo e me coloquei sentada na cama, esticando meu corpo. Passei a mão pelo rosto e tirei minha viseira, abrindo os olhos devagar e encontrando meu quarto sendo iluminado somente pela luz do poste que entrava pelas cortinas claras.
Acendi o abajur e me estiquei na cama, alongando meus braços para cima e torcendo o pescoço, ouvindo-o estralar e suspirei, jogando meus pés para o lado. Puxei o celular da tomada e coloquei minha senha, vendo as centenas de notificações no meu e-mail e nas redes sociais da minha empresa e bloqueei novamente. Eu tinha empregados para conferir isso para mim.
Andei até o closet e abri a porta, vendo as luzes se acenderem e procurei pela roupa de ginástica que eu havia separado ontem e a coloquei, tentando não me apressar, nem atrasar no meu horário. Sentei na cadeira ao lado da porta e calcei os tênis, ficando pronta.
Fechei a porta do meu closet, puxando minha bolsa arrumada e a joguei na cama, seguindo para o banheiro e fazendo rapidamente minhas necessidades matinais, escovando os dentes, meus cabelos e fazendo um rabo de cavalo alto. Passei um lápis e um batom claro no rosto e saí do banheiro, puxando a porta em seguida.
Liguei a luz do quarto e apaguei a do abajur, dando uma conferida rápida no mesmo e abri a porta do quarto, imediatamente, ouvindo o barulho de música alta vindo da vizinhança e respirei fundo, fechando a mão em punho forte. Saí do quarto fechando a porta dele, agradecendo pelo isolamento extra que eu havia colocado nos quartos e no escritório.
Larguei a bolsa na mesa da sala e andei até o outro quarto e abri a porta devagar, observando a luz do abajur refletir na cúpula com estrelas e girar pelo quarto. Minha filha dormia calmamente ali, abraçada em sua boneca de pano que eu havia dado em um dos seus aniversários. Bee, sua gata mesclada, aproveitou a fresta da porta e saiu do quarto, se enroscando em minhas pernas, antes de ir atrás do seu pote de ração e água.
Após conferir que tudo estava bem, puxei a porta novamente, fazendo o mínimo de barulho para fechar e a deixei continuar seu sono calmamente. Peguei a chave do carro no chaveiro ao lado da porta e corri para a cozinha para pegar uma banana e andei pela sala, parando em frente à porta e puxando forte a respiração, antes de destravar e a abrir.
Se eu achava que a música dentro de casa estava ruim, lá fora estava pior. O som fazia as paredes tremerem e minha cabeça querer explodir. A porta do outro lado do corredor estava aberta e eu podia ver algumas luzes brilhantes refletirem pelo corredor claro e algumas pessoas correndo pelo outro lado. Conferi o relógio novamente, eram cinco horas da manhã.
Ignorei a zona do meu vizinho e apertei o botão do elevador, vendo-o subir pelo contador acima da caixa de metal e coloquei a mão na cabeça, respirando fundo. O elevador se abriu e mais quatro pessoas saíram do mesmo gritando e sacudindo seus copos com cerveja, derrubando no lobby do meu andar e eu afastei alguns passos para trás, para que eu não fosse atropelada por eles.
Entrei no elevador, apertando o botão do térreo e abri minha mochila, pegando meu perfume e espirrando um pouco pelo elevador, esperando que aliviasse o cheiro de fumaça e bebida. Dei uma olhava rápida em meu celular antes do elevador chegar ao térreo. Saí do mesmo, seguindo para a garagem e entrei no carro, jogando minha bolsa para trás e dirigi até a academia.
O dia estava começando a dar o ar da graça, os raios de sol começavam a passar pelas nuvens e iluminar o Upper East Side em Nova York. Parei o carro em frente à academia e saí do mesmo, ouvindo o alarme travar e passei pelas portas duplas da academia, vendo-a vazia ainda, do jeito que eu gosto.
- Bom dia, senhora Weddburg. – O porteiro falou para mim e eu acenei com a cabeça. – Em ponto, como sempre.
- Bom dia! – Sorri para ele, acenando com a cabeça e segui para os armários, guardando minha bolsa em um dos espaços vazios e segui para a esteira, começando os trabalhos daquela manhã.
Fiz meu treino em exatamente 45 minutos, ficando sozinha na academia por mais da metade desse tempo, até que outros sócios começaram a aparecer, fazendo que aquele lugar começasse a encher.
Antes da zona se formar, eu entrei no banheiro, tomando meu banho completo, lavando meus cabelos compridos e me preparando para mais um dia de serviço. Coloquei uma roupa genérica, que seria trocada quando eu chegasse em casa, juntei minhas coisas e saí da academia, acenando para os professores e porteiro daquela manhã.
Enquanto comia minha fruta, dirigi meu Porsche Cayenne de volta para o apartamento, estacionando-o na garagem subsolo e entrei no elevador novamente, apertando o botão do último andar, jogando a cabeça para trás, pensando na festa que estava acontecendo quando saí mais cedo. Suspirei e senti o elevador parar no meu andar e as portas se abriram.
- Ah! – Tomei um susto ao ver algumas pessoas adormecidas na frente do elevador, e passei por cima delas, tomando cuidado onde pisei e vi a quantidade de copos de plástico jogados pelo corredor.
Virei o rosto para a porta da frente e ela estava fechada e não tinha mais som rolando. Revirei os olhos e caminhei até meu apartamento, colocando a chave na porta e entrei no mesmo, me livrando da bolsa na mesa da sala de jantar. Um miado me distraiu e Bee voltou a andar em volta das minhas pernas e eu revirei os olhos.
- Sua comida já está lá! – Falei para ela e andei até o quarto de Ellie, abrindo a porta devagar e segui até sua cama, sentando na beirada da mesma. – Bom dia, dorminhoca! – Passei a mão em seus cabelos claros, vendo-a fazer uma careta. – Vamos acordar! – Dei um beijo em sua cabeça e fiz um carinho em suas costas.
- Bom dia, mãe! – Ela falou baixo, enquanto se sentava na cama.
- Olá, querida! – Falei e ela me abraçou forte, pude ouvi-la bocejar contra minha orelha e estralar um beijo em minha bochecha.
- Oi! – Ela falou, coçando os olhos e eu joguei seus cabelos para trás.
- Vamos levantar? – Perguntei e foi o que eu fiz, ficando ao lado da sua cama.
- Já vou! – Ela falou com a voz baixa e eu me aproximei da janela, abrindo o blackout, deixando as luzes da manhã entrarem em seu quarto, observando a Quinta Avenida lá embaixo e o Central Park do outro lado da rua.
Observei os quadros da gravidez de Ellie, até seu nascimento, em sua parede rosa clara e saí de seu quarto, me caminhando para a cozinha.
- Bom dia, senhora Weddburg. – Ouvi minha empregada falar, enquanto entrava no meu apartamento e eu sorri.
- Bom dia, Brigite, tudo bem?
- Tudo bem, senhora e contigo? – Ela sorriu.
- Tudo bem! – Ela concordou.
- Precisa de alguma limpeza especial hoje? Além do corredor é claro! – Ri fraco, colocando minhas mãos em seus ombros.
- Só meu escritório mesmo. – Ela concordou com a cabeça. – Está começando um novo mês, contas, pagamento de empregados, é aquela loucura de novo. – Ela sorriu.
- E o corredor? – Ela perguntou.
- Deixe que meu vizinho cuide disso, a festa foi dele! – Dei de ombros e ela riu, afirmando com a cabeça.
- Sim, senhora! – Ela sorriu.
- Você pode ficar de olho na Ellie hoje? Anna não pode vir de segunda e certeza que eu vou ficar até tarde na rua. – Ela riu fraco.
- Como se Ellie me desse algum tipo de trabalho. – Ela respondeu e eu sorri.
- Fico feliz em saber disso! – Falei, seguindo para a cozinha, abrindo os armários e geladeiras e separando frutas, cereais, sucos e leite para o café da manhã de Ellie e deixei tudo em cima da bancada.
- Oi, mãe! – Ellie apareceu na cozinha com seu uniforme preto, branco e amarelo e escalou o banco da cozinha, se sentando na mesma.
- Oi, meu amor! – Falei, estalando um beijo em sua testa. – Você se vira aqui? Eu vou me arrumar!
- Uhum! – Ela falou, começando a misturar o leite com o cereal e eu corri de volta para meu quarto.
Me coloquei em frente ao espelho do meu banheiro e peguei o secador, secando-o com a mão esquerda e escovando com a mão direita. Joguei meus cabelos para trás e passei a escova pela franja, fazendo-o cair em ondas. Abri minha gaveta de maquiagens e fiz uma completa, base, pó, sombra, máscara, lápis, blush, batom e tudo o que eu tinha direito. Passei a mão em meus lábios com batom escuro e joguei meus cabelos para trás, abrindo um sorriso com o que vi.
Voltei para meu closet e procurei pela minha saia e camisa social e vesti, ajeitando a blusa para dentro da saia e me olhei no espelho, girando meu corpo, conferindo o look e fui ao armário de sapatos, olhando as opções e acabei escolhendo um salto nude. Coloquei meus acessórios e saí do closet, puxando a porta.
Passei pela divisória do meu quarto e entrei no escritório, juntando meu notebook e tablet e ajeitei tudo na minha mochila. Peguei a pasta com amostra de compras para o próximo mês, a tabela de contas da empresa e coloquei tudo na minha bolsa, jogando o celular e a carteira juntos.
Voltei para a sala, mas passei pelo banheiro de Ellie, vendo-a debruçada na pia, em cima do pequeno banquinho que tinha em seu banheiro. Deixei as coisas na mesa da sala de jantar e conferi minha agenda ao lado da mesa do telefone, tirando o trabalho, nenhum compromisso meu ou de Ellie. Soltei um suspiro e ouvi minha pequena correr de volta para a sala com sua mochila nas costas.
- Estou pronta! – Ela falou, apoiando a mão na cadeira.
- Vamos, então! – Falei, ajeitando a mochila nas costas e a bolsa na mão.
- Tchau, Brigite. – Ela falou para a nossa empregada e eu assenti com a cabeça.
- Vou pedir para o Gabriel deixá-la aqui após a aula. – Falei e ela confirmou com a cabeça.
- Eu estarei esperando. – Ela sorriu.
- E não se esqueça de almoçar, tem dinheiro na gaveta. – Ela concordou com a cabeça.
- Você fala isso todo dia, senhora.
- Se você me obedecesse, eu não precisava falar. – Pisquei para ela que riu. – Tenha um bom dia!
- Vocês também! – Ela respondeu, seguindo com sua vassoura para dentro.
- Tchau, Brigite. Tchau, Bee. – Minha pequena de onze anos falou, seguindo saltitante para a porta e a abriu. – Eca! – Ela falou rápido e eu corri para onde ela falava, vendo a entrada de casa do jeito que eu havia visto mais cedo, mas dessa vez não tinha pessoas bêbadas deitada no lobby do meu andar.
- Isso não é problema nosso, vamos! – Ela segurou minha mão e andamos até o elevador, vendo-o se abrir em nossa frente, antes que apertamos os botões, um moço bem mais jovem que meu vizinho saiu do mesmo, usando um terno muito bonito.
- Bom dia, senhora Weddburg! – Ele falou sorrindo e eu acenei com a cabeça.
- Bom dia, Bruce, vai para o trabalho? – Retribuí e ele riu.
- Tô ferrado! – Ele disse rindo e, enquanto entramos no elevador, ele seguiu para o apartamento do meu vizinho.
- Hoje eu vou demorar, tá bem, meu amor? – Falei para Ellie que brincava de vestir alguma boneca em seu tablet.
- Eu sei, mãe, relaxa. – Ela falou e eu ri, passando a mão em seus cabelos. – Estou acostumada!

***


Abri meus olhos e senti minha cabeça pesar, me fazendo levar a mão nela imediatamente. Soltei um suspiro alto e mantive meus olhos fechados por um tempo, sentindo alguma coisa se mexer ao meu lado... Algumas, para falar a verdade.
Ergui a cabeça e respirei fundo, encontrando uma bunda na minha visão. Passei a mão no meu rosto e me levantei, me vendo entre duas mulheres debruçadas na cama e uma terceira que se olhava no espelho, com uma blusa minha e eu suspirei, mais uma que eu perderia.
- Bom dia. – Ela falou e eu dei um sorriso de lado, não sabendo nem mais qual era seu nome, ou de alguma das três e segui para o banheiro.
Entrei embaixo da água gelada do chuveiro e deixei que ela levasse embora toda a ressaca e a dor de cabeça que estava palpitando em minha cabeça. Deixei a espuma do xampu cair em meu rosto e aproveitei para lavar as outras partes.
Puxei a toalha do boxe e me sequei com ela rapidamente, enrolando-a na cintura, e, aproveitei que estava no banheiro e escovei os dentes, enrolando bastante com o enxaguante bucal na boca, tentando fazer com que o cheiro de bebida sumisse da minha boca. Apesar de estar na minha casa inteira.
Voltei para o quarto e coloquei a primeira boxer que eu encontrei e passei a toalha nos cabelos, jogando em algum canto do quarto, onde as meninas já tinham ido embora... Pelo menos daquele cômodo.
Andei até minha sala de estar e fiz uma careta para a zona que tinha acontecido na noite passada e respirei fundo, colocando a mão na cabeça. Eu não cuidaria daquilo, não tinha capacidade para pensar naquilo agora.
- Aqui, meninas! – Bruce, meu assistente, falou, mostrando a porta do meu apartamento aberto para as três mulheres que estavam na minha cama mais cedo.
- Liga para gente, lindinho! – Elas falaram e eu acenei com a cabeça, com um sorriso no rosto.
- Nem se iluda, ele não vai ligar. – Bruce falou, empurrando a última pelas costas e fechando a porta com força. – Nunca vi peitos tão grandes na minha vida. – Ele comentou sozinho, balançando a cabeça e eu ri.
- É porque você não gosta disso, Bruce! – Ele me encarou e voltou a pegar as latas e copos vazios pelo meu apartamento.
- Eu procuro alguém para viver a vida, , não vejo graça em dormir com uma... Ou três, por noite, sem perspectiva nenhuma. – Cocei a cabeça, fazendo uma careta.
- Vou deixar você pensando que foram só três. – Suspirei e mordi meus lábios. – Aspirina? – Perguntei.
- Em cima do piano. – Ele comentou e eu observei as duas pílulas, junto com um copo de água, em cima do piano de cauda e me sentei sob seu banco para beber as mesmas. – Devo começar a falar seus compromissos do dia, senhor , ou deixamos para quando estiver disposto a ouvir? – Suspirei.
- Bem, eu não tenho escolha, mas podemos fazer isso tomando café em algum lugar? – Bruce virou o rosto para mim.
- Não sei você, mas eu vou almoçar um bife bem grande. – Olhei para ele. – São quase meio dia, faz umas quatro horas que eu estou esperando você levantar. – Ri fraco, franzindo a testa.
- Eu vou me arrumar então. – Me levantei novamente, andando pelo corredor.
- Estarei esperando aqui, ligando para uma faxineira urgente! – O ouvi gritar e ri fraco, balançando a cabeça.
Revirei os olhos e voltei de volta para meu quarto e passei direto para o closet. O quarto estava zoneado também, tinha vários resquícios de festa espalhados pelo local, além do cheiro forte de bebida, maconha e, provavelmente, cocaína.
Andei pelo closet e optei por uma calça social escura, uma camisa social branca e uma gravata longa da mesma cor da calça. Vesti tudo com a maior calma do mundo e prendi a calça com um cinto escuro. Segui para o armário de sapatos e peguei um da mesma cor do cinto, colocando um par de meias da mesma cor e os calcei.
Peguei o paletó da mesma cor da calça e o joguei na cama, atravessando o quarto e seguindo para o banheiro. Olhei meu rosto do espelho e constatei que podia estar pior. Espalhei gel pelas minhas mãos e joguei os cabelos para trás, pegando um pente na gaveta e penteando-o para trás.
Voltei para o quarto e atravessei a divisória que dava para o mesmo e abri a porta do meu escritório, feliz por ser a única coisa em casa que não estava zoneada, tirando todas aquelas caixas com panfletos para distribuir. Conferi alguns papéis soltos em cima da mesa e joguei tudo dentro da minha maleta, fechando-a em um estalo e a carreguei para fora do escritório, fechando a porta de madeira quando passei por ela.
Vesti o paletó, escondi a carteira e o celular nos bolsos internos e voltei para a sala com a maleta em mãos. Bruce segurava uma vassoura e juntava todo o lixo em um canto perto da porta. Ele tinha feito questão de colocar luvas e fazer uma cara exagerada enquanto varria para outro lado.
- Você não precisa fazer isso. – Falei para ele, apoiando a maleta no sofá.
- Eu sei! – Ele falou revirando os olhos e eu preferi me calar.
- A vizinha da frente tem uma empregada, quem sabe ela tem alguém para indicar? – Perguntei com um sorriso no rosto.
- A vizinha da frente que te odeia? – Ele abriu um largo sorriso e eu respirei fundo.
- Ela não me odeia, a gente só teve alguns desentendimentos. – Falei, dando de ombros.
- É, sei! – Ele foi irônico e eu abri um sorriso de lado.
- Quais meus compromissos para hoje? – Perguntei, mudando de assunto.
- Você vai se encontrar com membros do partido e visitar escolas. – Bruce falou.
- Com membros do partido, você diz...
- Sim, seu pai estará lá! – Confirmei com a cabeça, respirando fundo. – E sua mãe também, é um almoço em comemoração a alguma coisa que está explicada no briefing que eu te passei ontem à noite...
- Que eu não li ainda. – Franzi a testa.
- Como eu suspeitei. – Ele riu fraco. – Tem uma cópia no carro. Vamos? – Respirei fundo e confirmei com a cabeça.
- Vamos! – Falei, seguindo para a porta da frente e saindo pela mesma.
A faxineira da linda encrenqueira que morava na minha frente estava passando uma vassoura pelo chão, recolhendo os restos de copos e o que mais tivesse sobrado da minha festa na noite anterior.
- Brigite, por favor, você não precisa fazer isso. – Bruce saiu na frente, puxando a vassoura de sua mão.
- Alguém precisa fazer isso, Bruce. – Ela falou, puxando a vassoura novamente da mão do meu assessor.
- Hoje mesmo eu vou contratar alguém para se responsabilizar pela sujeira do senhor . – A loira mais baixa desviou o olhar de Bruce e colocou em mim.
- E o senhor não pode cuidar da própria sujeira? – Ela olhou para mim e eu franzi os lábios, ela era arisca igual sua patroa.
- Essa doeu! – Bruce cochichou para mim.
- Bom dia para você também, Brigite. – Falei para ela que sorriu.
- Bom dia, senhor . – Ela sorriu. – As campanhas continuam?
- Sim, temos mais quatro meses na luta. – Ela confirmou com a cabeça. – Já decidiu se vai votar em mim?
- Já sim. – Afirmei com a cabeça.
- Que bom! – Falei e ela riu fraco.
- Já decidi se vou votar em você, não disse se sim ou se não! – Ela soltou uma risada e Bruce gargalhou ao meu lado.
- Tenha um bom dia, Brigite! – Falei, passando por ela, apertando o botão do elevador.
- Bom dia! – Ela falou rindo.
- Até mais! – Ouvi Bruce falar e o elevador abriu em minha frente e eu entrei nele.
Enquanto descíamos, peguei meu celular no bolso de dentro do paletó e conferi algumas notificações no celular. A maioria eram mensagens de pessoas da noite passada, e mulheres, pedindo para eu ligar para elas. Suspirei e guardei o celular no bolso novamente. Aquilo era complicado.
O motorista já estava esperando dentro da limusine preta. Eu entrei no carro e me isolei do resto. Bruce me entregou o papel da reunião de mais cedo, mas eu logo me distraí, reuniões do partido eram chatas, o único motivo de eu ter me juntado a um partido é que eu teria o apoio do meu pai e de pessoas influentes dentro dele. Eu só queria fazer o melhor para essa cidade caótica.
Bruce falava com o telefone e comigo, eu só não sabia em que momento ele falava com quem, mas preferi continuar fingindo que não era comigo e prestar atenção nas paisagens da ilha de Manhattan.
- Onde são as escolas que vamos visitar hoje? – Perguntei, interrompendo Bruce.
- No Queens. – Confirmei com a cabeça, precisava me livrar daquele terno antes disso.
- Me arranje uma troca de roupa.
- Já preparei. – Ele falou e eu confirmei com a cabeça.
- Obrigado! – Falei, suspirando, observando um caminho por mais um tempo, antes das portas se abrirem em frente ao grande edifício antigo no Civic Center.
- Bom dia! – Falei para os seguranças da porta e segui em frente, subindo as grandes escadarias do prédio.
Passei para a parte interna dos escritórios e acenava para todos os conhecidos que me viam, além de alguns trabalhadores. Bruce seguia um pouco atrás de mim confirmando alguma reunião ou evento para a minha campanha. Aquele cara devia ter metade da minha idade, precisava frear um pouco ou ficaria louco, era só trabalho e mais trabalho. Às vezes dava vontade de jogar o telefone dele pela janela.
Respirei fundo ao parar em frente à sala do meu pai, atual prefeito de Nova York e respirei fundo, fechando os olhos e Bruce bateu em minhas costas, se desculpando e eu dei dois toques na porta, sendo recebido pela minha mãe.
- Querido! – Ela abriu os braços para mim e eu sorri, dando um rápido beijo na senhora de cabelos brancos. – Dormiu pouco, não foi? – Ela passou a mão embaixo de meus olhos e eu ri.
- Bom dia, mãe! – Falei sorrindo.
- Você precisa repor suas energias, querido! – Ela falou e eu ri fraco.
- Eu sei, mãe, só aproveitando um pouco. – Ela sorriu.
- Um pouco? – Meu pai saiu de sua poltrona e abriu os braços para mim. – Vai precisar de muito mais coisas para ser eleito prefeito dessa cidade.
- Estou criando meu terreno, pai, vamos devagar! Temos tempo até as eleições! – Ele me abraçou forte e eu senti meus ossos estralarem.
- Sim, tempo o suficiente para te trazer ao mundo como o futuro prefeito , não só o herdeiro de segundo, como alguém novo, com olhar visionário e jovialidade para dar e vender. – Ri fraco, balançando a cabeça.
- A população te ama, pai. – Ele colocou a mão no peito como sempre fazia, orgulhoso.
- Mas eles estão acostumados a te ver ao meu lado, quando mais novo. Não se esqueça que eu já fui prefeito dessa cidade...
- Quatro vezes, sei bem, pai! – Ele riu fraco com o meu desânimo.
- Bem, mas você vai ser o prefeito mais novo que eu fui, é uma geração nova, eles querem mudanças e você pode proporcionar isso a eles. – Sorri fraco, imaginando a pressão em meus ombros.
- Que horas é o almoço, pai? Eu tenho alguns compromissos eleitorais na parte da tarde.
- Certo, certo! – Ele conferiu seu relógio de pulso. – Paul, podemos ir? – Ele se virou para o seu segurança mais antigo.
- Sim, senhor. Chamarei o carro. – Ele falou, se retirando, sem antes bater a mão na minha, me cumprimentando.
- Fiorella não veio? – Perguntei, olhando poucas pessoas andando pelo seu gabinete.
- Ela vai nos encontrar no almoço. – Minha mãe falou e eu abracei a mais baixa de lado, sorrindo.
- Beleza, ela disse que tem os materiais gráficos para a minha campanha prontos já. – Cocei a cabeça, respirando fundo.
- Ela mencionou isso mesmo. – Minha mãe falou e eu confirmei com a cabeça.
- Bem, vamos almoçar? – Bruce perguntou, sumindo com o silêncio que se instauraria ali.

***


Estacionei o carro em frente ao prédio espelhado novamente e o valet abriu a porta para mim e eu agradeci com a cabeça, andando a passos largos pelo chão de mármore, ouvindo os saltos baterem fortemente contra os mesmos. O segurança do prédio abriu a porta para mim e eu assenti com um sorriso de lado.
O som ecoou mais alto quando passei a pisar no chão espelhado do lado de dentro e os seguranças internos abriram o portão ao lado da catraca para que eu passasse e os cumprimentei como todos os dias. Entrei sozinha no elevador e as portas se fecharam.
Soltei um suspiro pelo longo caminho até o 32º andar e me permiti soltar um bocejo longo, o dia estava corrido, já passava das três da tarde e só agora eu havia conseguido almoçar, se você chamava salada de almoço.
O logo da minha empresa se abriu a minha frente, Weddburg em uma letra preta simples e fina, e Cerimonialista de Casamentos em um rosa mais claro embaixo, com algumas flores de cerejeira cobrindo as laterais da segunda linha. A recepcionista estava ao telefone, mas me cumprimentou com a cabeça e eu segui para dentro, vendo que a maioria dos meus funcionários estavam ocupando as salas de reuniões com casais de diversas cores, gêneros e orientações.
Consegui chegar à minha sala sem que ninguém me parasse e fiz questão de fechar a porta um pouco, me jogando na minha cadeira e respirando fundo, colocando as mãos na cabeça. Meu olhar chegou à minha longa agenda, vendo todos os horários ocupados até às nove da noite, suspirei. Teria que me lembrar de enviar um jantar para Ellie.
- Ah, você voltou! – Minha assistente pessoal apareceu na frente da minha porta e eu me endireitei na cadeira, apoiando os braços na mesa.
- Vamos lá! – Falei suspirando. – O que temos para tarde?
- O de sempre. – Ela deu de ombros e eu ri. – Mas tem um problema...
- Ai, meu Deus... – Coloquei a mão na cabeça.
- Você tem horário com a Monique daqui a pouco. – Respirei fundo, balançando a cabeça e dei um pequeno sorriso.
- Sempre temos alguns desafios, certo? – Lily riu e eu puxei o ar fortemente.
- Certo, senhora Weddburg. – Pisquei para ela que sorriu.
- Fale para as minhas noivas de julho que amanhã eu passarei o dia com Elie Saab e Vera Wang, reconfirmando parcerias, minha participação nos eventos deles, você sabe. Se alguém quiser se encontrar para discutir vestidos de noiva, é a hora! – Ela confirmou com a cabeça. – Mas, Lily, uma a cada hora, por favor.
- Sim, senhora. – Sorri e ela saiu, me deixando sozinha.
- Senhora Weddburg. – Ouvi meu rádio dizendo ao meu lado e o peguei. – A cliente das 15h30minh chegou. – Me olhei no espelho em cima da mesa e vi que minha maquiagem estava intacta.
- Peça para ela entrar, por favor! – Me levantei da cadeira e segui para meu armário, pegando um fichário novo e um kit de brinde para o novo casal que chegava. – Hora de trabalhar. – Respirei fundo, me colocando próximo a minha porta, abrindo as portas duplas de correr.
Ao fundo no corredor, um casal de meia idade falava com Lily na mesa da recepção e eu respirei fundo, acompanhando ambos com aquele sorriso feliz, nervoso, empolgado e surpreso ao mesmo tempo, além de não soltarem as mãos um do outro.
- Essa é a senhora Weddburg, ela cuidará pessoalmente da cerimônia de vocês! – Lily os indicou a mim e eu sorri, vendo, imediatamente, a noiva colocar as mãos na boca surpresa, me fazendo rir. Já estava acostumada com isso.
- Weddburg, a maior cerimonialista do mundo. – Abri um largo sorriso, esticando a mão para ela e seu noivo. – É o incrível prazer conhecê-la.
- Ah, obrigada! É muito gentil da sua parte! – Sorri e indiquei a sala para que eles entrassem. – Fiquem à vontade, por favor! – Eles olharam meu escritório em volta um pouco, antes de se sentarem nas duas cadeiras em frente a minha mesa. Dei a volta e me sentei em frente deles.
- Confesso que estou muito nervosa. – A noiva falou e eu ri fraco.
- Bem, eu não vou dizer que não precise, pois você não é a primeira pessoa que se empolga ao me ver, mas vou dizer que é um prazer para mim ser reconhecida a esse ponto. – O casal sorriu.
- É que você é responsável pelo casamento de diversos famosos, realeza, você está sempre presente nisso. – Ela respirou fundo. – Angelina Jolie e Brad Pitt, Avril Lavigne e Deryck Whibley, Kim Kardashian e Kanye West, Kate Middleton e Príncipe William... – Ela parou, respirando fundo. – Você é fantástica e é um grande prazer poder fazer um casamento contigo!
- Nem todo casamento precisa custar quinhentos milhões de dólares. – Falei e eles riram. – E eu gosto do que eu faço, das cerimônias para 50 pessoas ou dos casamentos que você mencionou. – Ela sorriu fraco.
- Desde que marcamos aqui, ela só fala disso! – O noivo falou e eu ri fraco, sorrindo para ambos.
- Bem, obrigada por tudo isso, mas acho que vocês precisam se empolgar com seu casamento agora, certo? – Falei, colocando as mãos na mesa e eles sorriram. – Bem, quando vocês marcaram seu encontro aqui comigo, vocês já falaram com a minha equipe sobre o orçamento de vocês, certo?
- Sim! – Eles falaram meio tímido.
- Vocês não precisam ter vergonha disso, um casamento é um casamento, pequeno, grande, é sempre magnífico e vocês se lembrarão disso pelo resto da vida de vocês. – Eles sorriram. – Então, através do orçamento, nós montamos pacotes que vocês vão escolhendo e montando o casamento de vocês, salão, decoração, roupas, joias, enfim, tudo que vocês gostariam de ter no casamento. – Eles confirmaram com a cabeça e eu abri o fichário novo e peguei o papel com o valor do orçamento deles e colei na contracapa do fichário. – Vamos aos nomes do nosso futuro casal?
- John e Annie! – Ele falou e eu sorri, escrevendo na primeira folha com a minha caneta preta e minha letra cursiva.
- E o sobrenome que será usado?
- Weaver! – Eles falaram e eu sorri.
- O casamento dos Weaver, então. – Sorri. – Sabiam que o W é uma letra muito boa para ser usada em casamentos? – Eles riram. – Não querendo me referir a nada em particular, é claro! – Eles sorriram e eu os acompanhei. – Eu vou entregar a vocês uma lista para ser preenchido sobre as coisas que gostariam de ter no casamento de vocês, ou seja, como vocês visualizam o dia mais importante das suas vidas. – Eles confirmaram com a cabeça. – Quando vocês estiverem isso pronto, minha equipe vai montar os pacotes que eu disse para vocês, isso inclui uma pesquisa de campo, procurar decorações similares as que vocês escolheram, lugares que comportem a quantidade de convidados que vocês querem, marcas e estilistas que prepararão as roupas de vocês, enfim, com isso, faremos nossa próxima reunião.
- Perfeito! – Annie falou e eu sorri.
- Bem, isso é para vocês. – Toquei na cesta com diversos brindes da empresa. – Que vocês consigam se acalmar um pouco antes das coisas ficarem mais corridas. – Eles sorriram. – Agora eu vou levar vocês até Lily, minha assistência aqui de fora... – Toquei no rádio. – Lily, por favor... – Falei com meu tom de voz baixo. – E, ela vai passar as próximas informações para vocês. – Eles sorriram e vi Lily abrir a porta da minha sala. – Quero que saibam que vocês podem ligar para nós, enviar mensagens e e-mails com dúvidas e ideias que vocês possam ter. Não precisam se acanhar. Estamos aqui para isso, para ajudá-los.
- Obrigado! – Eles falaram juntos e eu sorri.
- Vamos lá, gente? – Lily perguntou e eles se levantaram, com John levando a sacola com os brindes.
- É um prazer! – Eles falaram e eu os cumprimentei, antes deles saírem da sala.
- Você entrega para eles a lista com o orçamento mais básico, ok?! – Falei baixo para Lily que confirmou com a cabeça.
- Pode deixar! – Ela sorriu.
- Monique já chegou? – Perguntei.
- Ainda não, ela está atrasada. – Lily falou e eu respirei fundo.
- Como se fosse alguma novidade. – Suspirei e ela riu.
- Seu próximo cliente é a Monique e depois você tem outro às cinco. – Concordei com a cabeça.
- Ok, vou ao salão de beleza, ver o que está faltando, me avise quando a tormenta chegar. – Ela sorriu e concordou com a cabeça, se retirando da sala.
Levantei-me da minha poltrona, pegando uma das pranchetas penduradas na parede e segui para fora da sala, voltando a andar pela empresa, dando uma olhada rápida na ocupação de cada cerimonialista e os casais de noivos falando animados ou preocupados sobre sua cerimônia.
Cumprimentei alguns clientes que passaram por mim e entrei no salão de beleza, vendo meus três maquiadores ocupados com noivas, fazendo teste de maquiagens em três clientes e dois dos meus cabeleireiros fazendo o mesmo, e o terceiro parado, contando a quantidade de batons na extensão da parede inteira.
- Posso interromper? – Perguntei a ele.
- Sim, senhora Weddburg. – Ele sorriu, se virando.
- Como está o estoque? – Perguntei. – Vocês não me dão uma resposta sobre isso há dias. – Apoiei minha prancheta no balcão e ele franziu a testa.
- Estou contabilizando isso só agora, a semana está meio corrida. – Confirmei com a cabeça. – Além do mais, você não deveria se preocupar com isso, pensei que eu falaria com o pessoal de compras. – Ri fraco, balançando a cabeça.
- Como se eu fosse deixar minha empresa nas mãos de terceiros que nem ficam aqui. – Suspirei e ele riu.
- O que sentimos falta eu já mandei para o departamento de compras e eles mandaram...
- Sim, mas estamos em julho, as coleções novas estão saindo, precisamos nos atualizar. – Cruzei os braços.
- Sim, senhora. – Ele suspirou. – Eles estão acabando, fazemos essa contagem e te mando.
- Muito obrigada! – Sorri, piscando para ele.
- Senhora Weddburg? – Ouvi meu rádio tocar e respirei fundo puxando-o da saia e colocando próximo a boca.
- Sim? – Perguntei.
- Monique chegou... – Ela fez uma longa pausa.
- E... – Incentivei que ela continuasse.
- Ela não está feliz. – Fechei os olhos.
- Eu também não estou, Lily! – Suspirei. – Já chego aí! – Prendi o rádio novamente na minha saia e respirei fundo.
- Dia difícil? – Um dos cabeleireiros perguntou e eu suspirei.
- Clientes difíceis! – Passei a mão na testa de leve, para não estragar minha maquiagem e balancei a cabeça.
- Bem, gente, me arrumem isso hoje, tenho uma reunião com o pessoal de compras na semana que vem, vamos ter que dar um jeito nessa bagunça.
- Beleza, a gente resolve e mandamos para Lily.
- Isso, melhor! – Balancei a cabeça. – E, meninos... – Os seis viraram para mim. – Se precisar ficar até mais tarde, fiquem! Eu pago as horas extras.
- Obrigada, chefe! – Eles falaram felizes e eu saí do salão, cumprimentando as clientes com o olhar e dei largas passadas para fora do salão, cruzando a empresa pelo corredor que dava para a frente espelhada do prédio, dando bastante iluminação para a sala principal de recebimento de clientes.
- Eu não quero saber como, eu quero mudar agora! – Vi Monique, uma dos casos mais complicados que eu havia pegado em toda minha carreira, gritar com Lily.
- Senhora Stevenson, o casamento é em duas semanas, não tem co...
- Eu quero que você se vire! – Ela gritou e bati a mão na porta de propósito.
- Estou atrapalhando algo? – Deixei a prancheta em minha mão na mesa de Lily e cruzei os braços sobre o peito.
- Eu estava falando aqui com essazinha... – Ergui um dedo, interrompendo-a.
- Primeiro de tudo, ‘essazinha’ é a minha funcionária, e ela não merece essa grosseria toda só porque você tem mais dinheiro do que ela. – Sorri, confirmando com a cabeça, vendo-a entreabrir os lábios. – E outra, falar e gritar são duas coisas diferentes. – Afirmei com a cabeça. – Todos meus funcionários e clientes ouviram. E eles não têm nada a ver com isso.
- Como você se atreve? – Revirei os olhos.
- Lily, você pode nos dar licença, por favor? – Virei para ela que acenou com a cabeça e saiu de lá o mais rápido possível. - Você veio atrás de mim, Monique, não o contrário. – Suspirei. – Seu casamento vai acontecer em duas semanas, você deveria estar no nosso SPA, relaxando um pouco, o que mais você pode querer? – Cruzei os braços novamente.
- Eu quero mudar a decoração da minha festa. – Ela falou e eu respirei fundo, passando a mão nas têmporas.
- Já falei pelo telefone, pelo e-mail, e agora, pessoalmente, isso não é possível mais, Monique. – Balancei a cabeça. – Dez dias é o que separa você do casamento dos seus sonhos.
- Eu já disse que pago a diferença. – Fechei os olhos fortemente, tentando encontrar uma abordagem diferente para usar.
- Meu trabalho é feito por etapas, eu tenho uma equipe gigante para cada um cuidar de uma parte do casamento, temos a pessoa da decoração, do local, da locação das mesas, cadeiras, banda, roupas, entretenimento, música, padrinhos, madrinhas, lista de presentes, lua de mel, enfim, cada pessoa nessa empresa cuida de uma parte do casamento de todos os clientes, por questão de ordem de chegada. No primeiro encontro vocês falam comigo, e um mês antes do casamento fazemos a finalização e checagem, voltando a se encontrar só no dia da cerimônia, não tem como eu tirar o meu representante de decoração agora, sendo que ele já tem uma lista de outras noivas e noivos para atender. – Ela revirou os olhos como uma adolescente de 15 anos e cruzou os braços.
- Mas eu quero. – Suspirei, abaixando a guarda.
- Então, você vai pegar o contrato que fizemos no dia da sua chegada e você vai ler certinho como funciona a empresa Weddburg, sobre o pacote que você fechou e sobre as informações do seu casamento. Tem tudo isso naquela apostilinha lá, preparei com muito amor e carinho. – Ela bufou. – E, antes que eu me esqueça, eu faço mais de trezentos casamentos por mês, de pessoas do mundo inteiro. Você veio até mim, não o contrário. – Afirmei com a cabeça. – Se me dá licença, eu tenho outra nova cliente daqui a pouco. – Peguei a pasta da mesa de Lily e segui para dentro da minha sala, ouvindo meus saltos ecoarem no tapete rosa claro. – Lily, por favor! – Falei no tom de voz de sempre e me sentei na minha cadeira.
- Senhora? – Ela apareceu e eu a chamei com a mão, fazendo-a entrar na minha sala e fechar a porta.
- Ligue para a secretária do noivo da senhora Stevenson, vamos dar um jeito nisso. – Ela arregalou os olhos.
- Senhora?
- É o que você ouviu, Lily, e passe para mim, precisamos de uma conversa. – Ela assentiu com a cabeça. – Ele não sabe o que está acontecendo aqui.
- Sim, senhora! – Ela falou, confirmando com a cabeça e eu ergui meu notebook, vendo a câmera da sala da frente.
- Fique aqui por enquanto, até ela se tocar e ir embora. – Vi Monique na câmera da frente e a mais nova riu fraco, se sentando na cadeira da minha frente. – Vamos trabalhar? – Perguntei e ela sorriu.
- Com certeza!

***


- Essa história é muito ruim. – Falei baixo e as crianças riram. – Bem, criançada, é hora do lanche! – Falei, batendo as mãos e as crianças se levantarem e saíram correndo para fora da sala.
Levantei-me do chão e passei a mão na minha calça jeans, notando algumas professoras mais novas cheia de sorrisinhos para mim e eu ri fraco, balançando a cabeça. Bruce passou por entre elas, pedindo licença e se aproximou de mim novamente.
- Para onde agora? – Perguntei e ele guardou o telefone no bolso.
- Ensino médio. – Franzi o rosto, suspirando. – Não fique triste, eles são legais.
- Eu não lembro do meu ensino médio de forma tão boa. – Bruce riu baixo.
- Bem, alguma coisa na sua vida tinha que ser ruim, certo? – Ele deu de ombros. – Sua vida política tem sido muito boa. – Ri fraco.
- Você não tem o que fazer, Bruce? – Perguntei para ele, empurrando-o levemente que saiu gargalhando.
- Senhor ? – A professora da sala que eu estava se aproximou e eu abri um sorriso.
- Me chame de , por favor. – Sorri e ela assentiu com a cabeça.
- O senhor é muito bom em lidar com as crianças. – Ri fraco, balançando a cabeça.
- É até engraçado isso, já que elas começam a chorar em meu colo. – Ela riu fraco e sorriu.
- Tenho certeza que você é muito bom em tudo que faz, é um ótimo secretário para nossa cidade, foi um ótimo vereador... – Ela tocou meu braço levemente e eu já sabia onde aquilo levaria.
- Que isso, senhorita, só faço minha obrigação! – Sorri, sentindo-a subir a mão.
- Vamos, ? – Bruce me chamou e eu dei um passo para trás, distraindo ela também.
- Preciso ir! Obrigado pela atenção. – Virei meu corpo para o lado. – Até mais.
- Tchau! – Ela acenou sorridente e eu dei uma corrida até Bruce.
- Até a professora? – Ele cochichou para mim e eu olhei para trás, vendo-a acenar novamente.
- Muito nova para mim. – Falei e ele riu, balançando a cabeça.
- Não me lembrava de você ser seletivo. – Ele falou e eu ri ironicamente.
- Quer para você? – Bruce deu uma olhada para trás antes de abanar a cabeça.
- Não, obrigado! – Ri junto dele.
Eu e ele seguimos pelos corredores da escola pública no Queens que havia sido melhorada pela implantação de um projeto que meu pai fez e eu supervisionei, não havia deixado às escolas perfeitas, mas melhorou um pouco, e eu teria que continuar com esse projeto. Os seguranças nos seguiram a alguns passos de distância, nos acompanhando de perto.
O diretor da escola nos esperava na porta do auditório, onde eu faria uma palestra para os alunos do ensino médio. Apesar de somente os alunos a partir de 16 anos poderem votar aqui nos Estados Unidos, esse era o pessoal mais interessado em melhorias, depois que Donald Trump entrou na presidência (Deus nos ajude!). Então eles queriam melhorar, procuravam por empoderamento, liberdade de expressão e de ser quem querem, além de outros direitos básicos para todo jovem, como educação de qualidade.
- Eles já estão te esperando. – O diretor falou e eu confirmei com a cabeça.
- Eles têm algum horário para acabar? – Perguntei.
- A aula acaba às seis horas, muitos saem correndo. – Ele riu fraco e eu confirmei com a cabeça.
- Bem, eu não sou conhecido por dar discursos grandes e memoráveis! – Falei rindo. – Vamos liberar essa turma mais cedo. – Ele concordou com a cabeça.
- Eu vou te introduzir, tudo bem? – Ele perguntou.
- Claro, por favor! – Apontei para a porta e ele entrou no auditório improvisado na escola e eu fiquei parado na porta, com Bruce atrás de mim. O diretor seguiu para o meio da sala, pedindo que os alunos se silenciassem.
- Boa tarde, gente! Tudo certo? – Ele perguntou. – Hoje teremos uma palestra importante aqui. – Vi a maioria dos alunos começarem a revirar os olhos. – Hoje estamos aqui com , candidato a prefeito de Nova York desse ano. Ele vai falar um pouco com vocês sobre a votação, suas intenções e contar um pouco sua história. – Ele virou para mim. – Aplausos, por favor! - Ele falou e eu adentrei a sala, cumprimentando o diretor e me posicionei no meio da sala, encarando cerca de 200 alunos de 15 a 18 anos.
- E aí galera, tudo bem? – Falei para o pessoal, vendo algumas testas serem franzidas e algumas pessoas se sentarem direito na cadeira. – Eu sou , atual secretário da educação e candidato a prefeito de Nova York. – Abri um pequeno sorriso, revirando os olhos. – Mas sabem o que mais? Eu não sou só isso. – Balancei a cabeça negativamente. – Eu sou um cara de 45 anos, solteiro, sem vontade nenhuma de casar e ter uma família... – Os alunos riram. - Que deu a sorte de nascer em uma família com condições para me sustentar e prover tudo o que eu tive a oportunidade de ter, para vocês, pelo sistema público. – Apoiei as mãos na mesa na minha frente, confirmando com a cabeça. – Pois é! – Afirmei com a cabeça. – Eu sei que muitos de vocês já devem ter ouvido falar da minha vida pessoal, que eu tenho ‘tendência’... – Fiz aspas com as mãos. – De me meter em problemas. – Eles soltaram risadas engraçadinhas. – Mas bem, eu não vim falar do que vocês já sabem. Eu quero contar o que vocês não sabem e o que vocês querem. – Bati as mãos uma na outra. – Vocês devem pensar... – Mudei o tom de voz. – Nossa, mais um cara que vai perguntar o que a gente quer, vamos acreditar nele, votar nele e ele vai ficar quatro anos só pegando dinheiro do governo, construindo monumentos que não servem nem para turismo... Certo? – Virei para eles que riram. – Pois bem, vocês acreditam em mim se quiser, mas eu só estou me dispondo a sair da minha formação de advogado, a chance de trabalhar em um escritório cuidando de causas de trabalhadores, porque eu gosto de ajudar, eu gosto de tornar o mundo um lugar melhor. – Assenti com a cabeça. – E eu estou aqui para isso, permitindo que as pessoas vasculhem minha lata de lixo! – Franzi a testa, ouvindo as gargalhadas do pessoal. – Então vamos começar? – Me sentei na beirada da mesa. – O que eu posso fazer por vocês, caso eu vire prefeito de Nova York? – Falei e ninguém se pronunciou. – Vocês podem fazer perguntas, se preferirem. – Falei e várias mãos se ergueram imediatamente, me fazendo abrir um sorriso. – Vamos começar por aqui! – Apontei para um garoto na frente.
- É verdade que você já dormiu com milhares de garotas? – Ele perguntou e eu ri fraco, balançando a cabeça.
- Defina ‘milhares’. – Falei e a turma riu.
A conversa se alongou bastante, o sinal tocou e a maioria dos alunos ficaram, querendo saber sobre coisas que realmente importavam, como política, futuro dos jovens, planos para a minha administração e, claro, quantas pessoas eu dormi, minhas fotos cheirando cocaína, enrolando cigarros de maconha e outra coisas.
Fui sair da escola quando o sol começava a se por, quase oito horas da noite. Pedi para Bruce passar em um drive thru para eu pegar um lanche com uma porção dupla de batata frita e um milkshake do tamanho da minha cabeça, eu estava com fome, aquele almoço mais cedo foi como comer igual um passarinho, entrada, prato principal e sobremesa pareciam uma bolacha de água e sal.
- Coletiva de imprensa amanhã, não esquece! – Bruce falou quando eu pulei para fora do carro, segurando minha mochila com uma mão, e o saco da lanchonete na outra.
- Você não me deixa esquecer! – Falei e o porteiro abriu a porta para mim e eu cumprimentei com a cabeça. – Boa noite. – Falei para ele e ele assentiu com a cabeça.
Apertei o botão dos elevadores e encostei meu corpo na parede, realmente cansado, eu ficava bem ao longo do dia, mas quando eu parava, a carga inteira caía sobre meus ombros. O elevador se abriu a minha frente e eu entrei no mesmo, apertando o botão. Antes das portas se fecharem, ouvi um barulho rápido de saltos batendo contra o mármore e coloquei minha mão em frente à porta, sentindo-a bater em minha mão e voltar.
- Obriga... – Minha vizinha apareceu na minha frente, fechando a cara no momento que me viu. – Obrigada! – Ela falou mais contida e entrou no elevador.
Ela apertou o botão do último andar e eu suspirei, me encostando à parede do elevador, enquanto ele subia. Ela voltou a digitar alguma coisa em seu celular, mas logo parou, como se esperasse pelo sinal para enviar a mensagem.
Eu me surpreendia como essa mulher ficava tão gostosa na roupa de executiva e ainda me ignorava completamente, deixando somente na imaginação tudo que eu gostaria de fazer com ela. Aquelas coxas grossas dentro da saia... Eu teria uma ereção só com meus pensamentos.
A porta do elevador se abriu novamente e ela saiu com a mesma pose e passos firmes e espaçados de antes e seguiu para seu lado do corredor, se apoiando na parede em busca da sua chave.
- Já pensou se vai votar em mim? – Perguntei, antes de andar para o meu lado. Ela ergueu o rosto e dei um sorriso de lado.
- Não! – Ela falou e eu confirmei com a cabeça.
- Tudo bem, tem tempo ainda para pensar... – Ela virou o rosto para mim, deixando seus cabelos claros caírem em seu rosto.
- O não foi para não votarei em você mesmo. – Ela deu de ombros. – Se sua administração for igual sua vida, vai ser uma zona para essa cidade. – Ela falou, achando a chave e abrindo a porta. – Só me diga uma coisa, terá festa hoje? – Ela perguntou e eu dei um sorriso de lado, dando de ombros. – Ó Deus, o que eu fiz para merecer isso? – Ela falou mais para si mesma e suspirou.
- Boa noite! – Falei sorrindo, seguindo para o meu lado do corredor e vi sua filha aparecer na porta já de pijama.
- Oi, mãe! – Ela falou e ambas se abraçaram fortemente, e logo a porta foi fechada.
Entrei no meu lado do andar e abri a porta, passando pela mesma rapidamente, encostando minhas costas na porta, respirando fundo, cansado.
- Você demorou! – Olhei para frente, vendo três moças semi nuas no meu sofá de couro branco, uma delas montando carreirinhas de cocaína.
- Sabe como é, muito trabalho! – Dei de ombros e elas sorriram.
- Vem brincar um pouco. – A morena falou e eu larguei minhas coisas no chão, me aproximando delas.


Capítulo 2

- Vamos, Ellie, já estamos atrasadas, querida! – Me assustei com Bee se enroscando em minhas pernas e descruzei as mesmas, fazendo-a se afastar. – Sai daqui! – Falei, revirando os olhos.
- Mãe, eu levo um casaco? – A mais nova apareceu correndo na porta, com o uniforme da escola.
- Claro, filha! Creio que vocês ficarão no museu o dia inteiro. E se esfriar? – Ela pensou um pouco e saiu correndo para dentro do quarto novamente.
Senti o celular vibrar na minha mão e olhei para ele, vendo o despertador para a reunião das 08h30min, e eu não estava no escritório ainda.
- Ellie... – Chamei novamente, conferindo o relógio e ouvi passos rápidos dela aparecendo na sala novamente, com sua mochila nas costas.
- Estou aqui! – Ela falou animada, passando as mãos nos cabelos iguais os meus.
- Não esquece o lanche! – Apontei para a mesa e ela pegou sua lancheira, guardando dentro da bolsa novamente. – Sobrou dinheiro de ontem?
- Sobrou sim! – Ela sorriu. – A professora disse que vamos comer um cachorro quente e um refrigerante na frente do museu...
- Não exagera no refrigerante, Ellie. – Falei, me levantando e seguindo até a porta.
- Só uma vez, mãe! – Ela falou e eu suspirei, destravando a porta.
- Você disse isso ontem já! – Falei, abrindo a porta, distraída com ela que arrumava as alças da mochila.
- Bom dia, vizinhas! – Me assustei ao ver parado na porta de casa, nu, somente com uma toalha de rosto cobrindo... Lá! E uma escova de dente na boca.
- Ah, ! – Imediatamente coloquei as mãos nos olhos de Ellie. – Você não tem decência, não?!
- Oi, Ellie! – falou para minha filha.
- Oi, ! – Ellie falou, acenando para o nada e eu revirei os olhos.
- Você poderia colocar uma roupa antes de aparecer no corredor assim? – Falei, ajustando as mãos no rosto de Ellie, descendo o olhar um pouco pelo corpo do meu vizinho.
- Só vim pegar o jornal! – Ele falou, se abaixando no chão, fazendo a pseudo toalha subir sobre suas coxas e pegou o papel dobrado, que também estava ao lado do meu capacho.
- Perfeito, agora tenha um bom dia! – Abanei a mão para ele entrar.
- Tenha um bom dia, vizinha! – Ele piscou para mim e se virou de costas, onde sua bunda estava toda exposta, e ele entrou em seu apartamento, fechou a porta, e só aí eu tirei as mãos dos olhos de Ellie.
- O que houve, mamãe? – Ela perguntou e eu revirei os olhos.
- Você sabe que eu te conto tudo, não sabe? – Perguntei para ela que confirmou com a cabeça. – Mas dessa vez eu nem sei por onde começar, querida! – Falei e ela riu.
- Ele podia se vestir mais vezes, isso é verdade! – Ela falou e eu preferi não fazer mais perguntas sobre o que ela quis dizer com ‘mais vezes’.
- Vamos embora, querida! Chama o elevador! – Falei, puxando a porta de casa e ela correu apertar o botão.
Quando chegamos ao subsolo, ela se ajeitou no banco de trás com o cinto de segurança e eu coloquei minha bolsa, com a bolsa do notebook e as pastas no porta malas. A viagem até o Museu de História Natural foi calma, normal para os padrões de trânsito de Nova York. Ellie cantava animada a trilha sonora de Descendentes 2, seu novo filme favorito, enquanto elaborava alguns desenhos de jaquetas estilosas em seu bloco de anotações e espalhava lápis de cor pelo banco de trás. Confesso que depois de muita repetição, acabava cantando junto.
Quando cheguei perto do Museu de História Natural, boa parte da turma do quarto ano da escola de Ellie já estava nas escadarias, fazendo zona como crianças de dez anos. Estacionei atrás de um táxi amarelo e Ellie começou apressadamente a juntar as coisas no banco de trás.
- Olá, senhora Weddburgh! – A professora de Ellie se apoiou na janela do passageiro.
- Olá, Louise, tudo bem? – Tirei os óculos de sol para falar com ela.
- Tudo certo! – Ela sorriu, separando um envelope da sua mão. – É o convite para a reunião de pais. – Confirmei com a cabeça.
- Ah sim, muito obrigada! – Abri rapidamente o envelope, memorizando a data e o horário.
- Vai ter uma apresentação das crianças para o fim do ano letivo. – Confirmei com a cabeça.
- Muito obrigada, Louise, pode contar comigo! – Ela sorriu, confirmando com a cabeça.
- Vamos, Ellie? – Louise perguntou, abrindo a porta.
- Tchau, mãe! – Minha pequena estalou um beijo gostoso em minha bochecha e desceu do carro, com sua mochila gigante que mais parecia uma nave espacial.
- Divirta-se, querida! – Acenei para ela que seguiu correndo para suas amigas e acenei para a professora, ouvindo-a bater a porta do carro.
Dei a volta pelo Central Park, ficando presa por cerca de 40 minutos no trânsito matinal de Nova York. Aproveitei o tempo para responder alguns e-mails e fazer algumas confirmações com Lily, fim de semana estava chegando e eu tinha cinco casamentos para encarar.
Encontrei Lily me esperando na porta do prédio, com um pacote de informações para me passar. Sua feição era de desespero, como sempre quando havia muitos casamentos na mesma semana.
- Bom dia, Lily, vejo que está contente hoje! – Falei para ela, tirando os óculos de sol do rosto e ela até aliviou os ombros, abrindo um pequeno sorriso.
- Pelo menos alguém está feliz hoje. – Soltei uma risada, balançando a cabeça.
- Vamos lá, Lily. O que temos para hoje?
- As duas noivas que se casarão amanhã já estão no SPA da Gisele, vão passar a noite lá, duas de sábado estão finalizando as provas de cabelo e maquiagem e a noiva de domingo está te esperando na sua sala. – Franzi a testa, entrando no elevador.
- Bomba? – Perguntei e ela fez uma careta.
- Das grandes. – Suspirei e apertei o botão, esperando a porta se fechar com nós duas somente e se abrir novamente em frente a meu logo.
- Bom dia, senhora Weddburgh. – Acenei para a secretária e ela sorriu, voltando a dar atenção ao telefone.
- Quem é a noiva? – Perguntei, enquanto ela me entregava uma prancheta rosa clara, com vários papéis presos a ela.
- Andreza, aquela canadense de cabelo escuro e pele clara? – Assenti com a cabeça.
- Sei sim, a menina que eu disse que precisaria de bastante blush? – Lily riu ao meu lado.
- Essa mesma. – Confirmei com a cabeça, entregando minha bolsa a ela.
Caminhei pelas várias mesas espalhadas pelo andar, acenando para alguns funcionários, vendo outros correndo para resolver seus deveres e outros conversando com novos casais sobre seu dia especial.
- Ela está lá dentro. – Lily comentou, se ajeitando em sua mesa e eu concordei com a cabeça, empurrando a porta da minha sala, vendo a moça de costas para mim.
Ela era uma pessoa pequena, mas encolhida na cadeira, ficava menor ainda. Pela sua pose e rosto incrivelmente avermelhado, eu já sabia que esperava. Respirei fundo e tentei dar meu melhor sorriso.
- Olá, Andreza! – Ela se levantou rapidamente.
- Olá, senhora Weddburgh! – Ela disse com a voz rouca e eu respirei fundo. – Precisamos conversar. – Confirmei com a cabeça, me aproximando dela e passando meus braços pelo seu corpo, sentindo-a se desmontar em meus braços. Seu choro ecoou pela sala, e ela não conseguiu falar nada por uns dez minutos.
Eu confesso que odiava esse momento, noivas ou noivas apareciam aqui de vez em quando, com esse olhar perdido e choroso, as mãos sobre o colo, e a feição de que poderia me magoar por esse cancelamento. Eu tinha um contrato sobre isso, queria fazer o dia delas felizes, mas nos dias de hoje, onde tudo é rápido e sem compromissos, eu tinha que me prevenir desses possíveis efeitos. Minha taxa de separação durante o preparativo do casamento era de 15%, baixa, mas ainda tinha.
Com Andreza não foi diferente.
- Você pode falar com a nossa psicóloga, se quiser, Andreza. Sempre estamos preparados para isso. – Ela confirmou com a cabeça.
- O que preciso fazer? – Ela perguntou, se ajeitando na cadeira.
- Bem, você vindo oficializar o cancelamento da sua cerimônia, primeiro de tudo falaremos com a segunda parte, para confirmar esse cancelamento, precisamos da assinatura de ambos para começar com os preparativos. Vou pedir para o comitê responsável entrar em contato com a outra parte – Tomava sempre muito cuidado para não falar noivo, namorado ou o nome da pessoa para não causar mais lágrimas. – Obteremos essa assinatura, e ai entraremos em contato com nossos fornecedores, pedindo o cancelamento.
- E sobre o ressarcimento? – Ela perguntou e eu dei uma folheada em seu contrato, procurando a parte que dizia sobre isso.
- Como especificado no seu contrato, pelo pacote que você fechou e com os fornecedores que você chegou, conseguimos te ressarcir com 45% do valor total. – Ela assentiu com a cabeça. – Mas, como vocês cancelaram tão em cima da hora, provavelmente boa parte do casamento de você já está pronta, principalmente a parte da alimentação, então vocês receberão tudo que está pronto, além da sua estada no nosso SPA, caso você queria aproveitar de outra forma. – Ela afirmou com a cabeça.
- Podemos falar sobre isso depois?
- Claro! – Abri um sorriso de lado. – Entendo que não deve estar com cabeça para resolver isso agora.
- Você não tem nem ideia. – Ela suspirou fundo, passando a mão no rosto e eu entreguei uma caixa de lenços para ela. – Ele acabou comigo hoje de manhã, por mensagem, segundo seu irmão ele já está no Texas essa hora. – Ela balançou a cabeça e eu respirei fundo, essa era uma parte que eu não tinha tanta paciência.
- Vamos esquecer isso, certo? – Sorri, me levantando. – Vamos ver o que podemos fazer por você. – Abri a porta da sala novamente. – Lily, por favor. – Minha assistente deixou a pessoa do telefone esperando e se aproximou de mim. – Acompanhe Andreza até a doutora Joana, vê se ela pode recebê-la agora. – Lily concordou com a cabeça e Andreza se levantou. – Voltamos a nos falar, ok?! – Falei e ela confirmou com a cabeça.
- Obrigada, . – Dei um rápido beijo em sua bochecha e ela se afastou com Lily.
- Odeio isso. – Ouvi uma voz ao meu lado e vi Joel ao meu lado com alguns papéis em sua mão.
- Nem fala! – Suspirei fundo, cruzando os braços por cima do peito.
- Deve ser por isso que nunca casou. – Joel falou e eu ri fraco.
- Eu tenho meus motivos. – Entrei na minha sala novamente. – Precisa de alguma coisa?
- Algumas assinaturas suas para os contratos de locação dessa semana. – Concordei, pegando os papéis da mão dele.
- Sente-se! – Falei, vendo o bolo em sua mão. – Algum lugar diferente do que estamos acostumados?
- Só um, na verdade, uma fazenda de tulipas, o casal é mais rural, digamos assim. – Ele se sentou na cadeira a minha frente.
- Duvido que seja mais do que Andreza e Michael. – Joel deu um longo suspiro, apoiando os cotovelos na mesa.
- Ainda lembro quando fomos visitar aquele lindo chateau na saída da cidade. – Ele suspirou novamente.
- Modos e postura, Joel. – Falei e ele voltou a sua postura normal e abaixou as mãos.
- Precisava ser feito alguma coisa para reduzir essa dor no coração das pessoas. – Ele falou baixo.
- Isso já não é da nossa conta, Joel, e temos uma psicóloga para dar um primeiro apoio para eles. Não sei se é a melhor opção, mas é o que podemos fazer. – Peguei minha caneta e comecei a assinar os papéis, lendo rapidamente as cláusulas de cancelamento.
- Pronto, senhora Weddburgh, creio que Andreza está em boas mãos agora. – Lily voltou para minha sala e eu confirmei com a cabeça.
- Quero falar com Michael agora, quero entender o que aconteceu, e como não posso falar com Joana por confidencialidade de paciente, terei que descobrir do meu jeito. – Falei e ela confirmou com a cabeça. – Ah, Lily. – Ela voltou rapidamente. – Quero um copo de café, do o maior que tiver, o dia só está começando. – Ela confirmou com a cabeça e saiu novamente, me deixando com Joel. – Sabe me dizer quem do comitê de cancelamento está aqui?
- A Summer, por quê? – Ele perguntou.
- Pode chamá-la, enquanto eu assino aqui? – Ele se levantou, saindo rapidamente e eu continuei o trabalho.
O único contrato diferente era da fazenda que Joel disse. Por ser uma plantação de tulipas, eles tinham todo cuidado com as flores em si, então os limites do casamento teriam que acontecer dentro do local apropriado, deixando que as tulipas fossem o fundo do casamento, e não poderiam ser invadidas, a não ser os noivos para uma sessão de fotos. Achei plausível, mas coloquei um aviso específico para Joel conferir os extremos desse limite, afinal, sempre tinha alguma criança travessa no casamento.
Lily apareceu com meu copo de café logo em seguida, acabei tomando um longo gole de uma vez, sentindo-o queimar minha língua. Joel se retirou e Summer se sentou em minha frente, Lily pegou todo o contrato do casamento de Andreza e Michael e Summer começou a difícil tarefa de entrar em contato com todos os fornecedores do casamento.
Falei com Michael, o noivo, logo em seguida, eu acabava perdendo meu controle quando falava com o suposto responsável pelo término de um noivado, trazendo até certo susto para as pessoas, mas ele pareceu entender o recado.
- Eu não posso fazer nada por isso. – Ele disse ao telefone.
- Eu só preciso de uma assinatura. – Falei, já em pé, andando de um lado para o outro.
- Eu não consigo fazer isso agora, se você não entendeu, eu estou sem computador, sem scanner, não dá. – Ele falava bravo.
- Você tem um celular, certo? – Falei alto. – A porra do seu celular tem câmera, certo? Então você trate de gravar um vídeo agora, falando que está de acordo com o cancelamento do seu casamento, ou não terá reembolso nenhum. – Passei a mão no rosto. – Até onde eu me lembre, são seus pais que estão bancando boa parte, certo? – Falei, abrindo um pequeno sorriso.
- Mas eu não...
- Você tem vinte minutos. E não se esqueça, seu contrato está na minha mão. – Desliguei o telefone, jogando o mesmo para Lily.
- Posso fazer algo para ti? – Lily perguntou.
- Eu preciso de alguém feliz, Lílian! – Falei, respirando fundo, colocando as mãos na cintura.
- As noivas estão...
- Não, não, sem mais drama por hoje, amanhã o dia vai ser cheio. – Suspirei.
- Eu posso...
- Que horas são? – Perguntei.
- São quase meio dia, senhora. – Confirmei com a cabeça.
- Droga, perdi metade do dia. – Suspirei. - Pegue minha bolsa, Lily, eu vou almoçar mais cedo.
- Sim, senhora. – Ela saiu da sala e eu corri para a porta.
- E você vai comigo, vamos aproveitar e pegar algumas coisas na rua. – Ela acenou com a cabeça.
- Mas eu posso fazer isso depois.
- Eu sei, mas eu preciso sair daqui. – Suspirei e ela não falou mais nada.

***


- Você pode me ligar, sabe? – A moça cujo nome eu não lembrava falava enquanto pegava suas roupas pela minha sala. – Poderíamos tomar um café ou almoçar.
- Sim, claro! Eu ligo para você. – Senti repulsa da minha própria voz por dizer aquelas palavras. Era mentira, eu sabia que era mentira, ela sabia que era mentira.
Ela deixou um papel com a marca de batom em cima do meu piano e seguiu para a porta. Passei a mão pela minha cabeça e olhei o relógio, era mais de três horas já, eu não deveria ter dormido tão tarde.
Quando a mulher abriu a porta, Bruce estava no corredor conversando com a minha pequena vizinha. Ele ria de algo que ela contava. Me aproximei de ambos, vendo o meu rolo da noite passada observar a cena um pouco e ela olhou para trás, abrindo um sorriso para mim.
- Até mais! – Ela disse, estalando um beijo na minha bochecha e notei Ellie encarando-a de cima abaixo, provavelmente pelo tamanho da saia que ela usava. – Me liga. – Ela disse e eu acenei com a mão, antes das portas se fecharem.
- Você é muito malvado! – Abaixei o rosto e vi que foi Ellie quem falou isso, Bruce gargalhou em seguida.
- Oi, Ellie. – Falei e ela sorriu, acenando com a mão.
- Por que você faz isso com as pessoas? – Ela olhou para mim e Bruce interviu.
- Ah, Ellie, quando você crescer você vai entender porque eles fazem isso. – Ellie deu de ombros e olhou para mim.
- Acredite, eu já entendo, mas ainda não faz sentido para mim. – Ela ajeitou sua mochila nas costas. – Se você não quer continuar com ela, não iluda a moça. – Ela apontou para a porta do elevador com a caneta em sua mão.
- Qual sua idade? – Bruce perguntou assustado.
- Onze anos em alguns meses. – Ela sorriu e Bruce balançou a cabeça, se sentindo confuso e seguiu para dentro do meu apartamento.
- Você não tem uma roupa, não? – Olhei para baixo e vi que só estava de shorts.
- Está ficando parecida com a sua mãe, hein! – Falei e ela deu de ombros.
- Eu não vejo isso como algo ruim! – Ela abriu um sorriso e eu fechei o rosto, ela tinha me pegado, balancei a cabeça, mudando de assunto.
- O que está fazendo perdida aqui? – Apoiei a mão no queixo.
- Bee fugiu, estava procurando por ela, aí o Bruce apareceu.
- E também está fugindo de mim. – Brigite que trabalhava na casa da minha vizinha apareceu com uma vassoura na mão e Ellie arregalou os olhos surpresa.
- Oi, Brigi. – Ellie falou sorrindo, colocando as mãos para trás. – Só tô conversando com os vizinhos.
- Secretário ... – Assenti para ela. – Bruce. – Ela foi mais grossa e eu olhei a reação do meu assessor... O que estava acontecendo?
- Olá, Brigite, como está? – Fiz o simpático, abrindo um largo sorriso.
- Bem, muito bem! – Ela sorriu. – Venha para dentro, Ellie, você tem lição de casa para fazer. – Ellie abaixou os ombros, tentando fazer manha.
- Deixa eu achar Bee antes.
- Quem é Bee? – Perguntei.
- Minha gata!
- A gata dela. – Bruce falou junto e eu franzi a testa, como ele sabia?
- Você tem uma gata que chama abelha? – Ela deu de ombros como se fosse à coisa mais óbvia do mundo. – Ok... – Balancei a cabeça. – Bruce, você trouxe o briefing de hoje? – Virei para Bruce que encarava Brigite do outro lado do corredor.
- Isso é amor. – Ellie havia se aproximado da minha porta e cochichara baixinho, me fazendo sorrir e fazer um carinho em seus cabelos.
- Você acha? – Perguntei e ela cruzou os braços.
- Acredite, disso eu entendo. – Ela falou e eu ergui as mãos.
- Está bom, especialista em amor. – Ela sorriu, quando a porta do elevador se abriu e um gato saiu do mesmo.
- Bee! – Ela falou animada.
- Boa tarde, senhores. – O porteiro falou e todos acenamos com a cabeça.
- Você achou a Bee, John! – Ellie falou simpática.
- Ela estava lá embaixo, deve ter descido pela saída de emergência. – Ele falou sorrindo.
- Obrigada! – Ellie abriu um largo sorriso e eu suspirei, ela era uma fofa, pena que sua mãe era um monstro.
- Ellie... – Brigite chamou novamente e a pequena olhou para ela. – Lição de casa, depois você pode voltar a conversar com o senhor .
- Precisamos ir também, você tem um evento à noite. – Bruce falou para mim.
- Bem, até mais, ! – Ellie sorriu. – Tchau, tchau, Bruce! – Ela falou, andando até sua casa novamente e eu e Bruce ficamos acenando para ela.
- Ela é igualzinha à mãe dela. – Bruce falou abismado. – Parece que tem até a mesma idade.
- A diferença é que a mãe dela é uma chata. – Dei de ombros e até eu me assustei com o adjetivo que havia usado.
- Ela não é ‘chata’ – Bruce fez aspas, entrando atrás de mim e fechando a porta. – Você que zoneia. – Ele deu de ombros, pegando sua pasta e tirando uma folha de papel. – Briefing. – Peguei o mesmo, vendo que só tinha uma frase no mesmo.
- Tá fácil. – Falei, me jogando no sofá.
- Não muito, tem uma reunião com a Fiorella mais tarde. – Ele falou. – Precisamos mudar sua imagem, está saindo muitas notícias suas com mulheres.
- Eu sou solteiro, qual é o problema? – Perguntei, abrindo os braços.
- O problema é que sua imagem fica suja, como uma pessoa irresponsável, sem compromissos, sem foco, o que poderia destruir sua carreira política.
- Você está parecendo à vizinha daqui da frente. – Falei e ele sorriu.
- Essas foram às palavras da sua irmã. Só estou repassando a informação. – Franzi a testa.
- Ela tem alguma ideia? – Virei o rosto para ele.
- Algumas, mas não sei quais. – Ele deu de ombros, se sentando ao meu lado. – Mas não acho que você vá gostar de alguma. – O olhei pelo canto dos olhos e suspirei, encarando a garrafa de uísque na minha frente.
Estiquei a mão para pegar a garrafa, mas Bruce foi mais rápido, batendo a mão na mesma, fazendo-a cair sobre a mesa e estilhaçar em vários pedaços, me fazendo erguer o rosto para ele.
- Você sabe quanto custa essa garrafa? – Perguntei e ele deu de ombros.
- Você pode pagar outras. – Ele sorriu. – Mas sem bebidas agora, você precisa se arrumar para o evento de hoje à noite.
- Estamos no meio da tarde. – Ele concordou com a cabeça, se levantando do sofá.
- Sim, mas precisamos treinar algumas respostas, pois estará cheio de jornalistas hoje. – Afirmei com a cabeça.
- Ok. – Passei a mão na cabeça, respirando fundo. – Eu preciso de uma aspirina, um banho e um sanduíche. – Falei, levantando, sentindo as costas doerem.
- Eu espero você aqui.
- Pode fazer um sanduíche para mim? – Perguntei.
- Eu sou seu assessor, não seu cozinheiro. – Ele sorriu.
- Pedir um McDonald’s, então? – Bruce revirou os olhos e se afastou, colocando o telefone na orelha.

***


Puxei o freio de mão e respirei fundo, sentindo o choro preso na garganta, mas respirei, balançando a cabeça. Dei uma rápida olhada em meu rosto, passei a mão embaixo dos olhos, tomando cuidado para não tirar o resto de maquiagem que ficara no rosto no fim do dia.
Conferi o horário e vi que já passava das onze horas da noite, nem consegui ficar a noite com a minha filha. Suspirei e abri a porta do carro, pegando minha bolsa e a bolsa do computador junto.
Soltei um suspiro alto quando vi a placa de tinta fresca e uma fita envolta da porta do elevador e tentei abrir um sorriso, o dia estava no fim, não poderia ficar pior. Saí da garagem pela entrada dos carros e balancei a cabeça ao ver os paparazzis do lado de fora do portão, tirando fotos do nada. Ou de uma pessoa que trabalhou o dia inteiro, com a apresentação pessoal já fraca.
- Boa noite, senhora Weddburgh! – Acenei para o porteiro, seguindo para dentro do prédio, agradecendo pelo elevador do térreo estar funcionando.
Chamei o mesmo e aguardei, vendo o contador passar de andar para andar, ele estava no meu andar, o último, meu vizinho irritante e político devia ter chego há pouco tempo. Olhei para o lado e notei um panfleto colado à parede com o nome do meu vizinho e o número da sua candidatura e puxei o panfleto com tudo para baixo, amassando-o e jogando dentro da bolsa.
Entrei no elevador e apertei-o, me apoiando na parede às minhas costas enquanto ele subia. O dia não havia sido fácil e, para ajudar, eu estava me sentindo culpada por ter deixado Ellie com Brigite o dia inteiro.
Ok, eu sempre chegava tarde, mas eu sempre a pegava acordada e passava um tempo com ela. Quando a porta do elevador se abriu, eu estava com um pouco de delay, e acabei ouvindo a conversa do lado de fora.
- Não, Fiorella, eu não vou fazer isso. – Ouvi a voz do meu vizinho e revirei os olhos, outra mulher.
- Se você quiser manter sua candidatura, vai sim. – Franzi a testa e segurei a porta do elevador em um baque, antes que ela fechasse novamente. – Caso você não faça isso, é isso que vai acontecer, o partido vai te largar como candidato ou você terá uma derrota dolorida. – Saí do elevador devagar.
- Com licença, desculpa incomodar! – Falei, saindo para o meu lado do corredor de cabeça baixa.
Um silêncio se instalou no corredor e eu sabia que havia quebrado o clima. Não entendi muito bem, mas se estava falando do cancelamento da candidatura do senhor , a situação estava tensa.
Para ajudar eu havia jogado a chave do carro na bolsa novamente e não achava de jeito nenhum. Balancei a cabeça e respirei fundo, parecia que o choro estava preso na garganta, eu queria um longo banho e me jogar na cama.
- Você mora aqui? – Demorei um pouco para perceber que a pergunta havia sido para mim.
- Está falando comigo? – Perguntei, virando o corpo, notando que ela e o senhor estavam finamente vestidos.
- Sim! – A mulher confirmou, assentindo com a cabeça.
- Moro sim! – Ela parou, entortando o pescoço um pouco e pude notar que ela estava me analisando. Olhei para que tinha a feição cansada e nervosa, e as bochechas estavam avermelhadas, mas não sabia dizer se era raiva ou vergonha.
- O que acha dela? – A moça perguntou para e eu franzi a testa, não entendendo. – Olha que beleza, ela é bonita, bem vestida, provavelmente acabou de voltar ao trabalho, então deve ser responsável e tem cara de ser discreta. Além de vocês aparentarem ter idades parecidas. – A mulher colocou a mão na cintura, dando dois passos em minha direção.
- Meu Deus! – não sabia onde se esconder.
- E você, o que acha dele? – Ela perguntou para mim.
- Eu acho que não estou entendendo. – Balancei a cabeça, tirando o cabelo do rosto. – Licença, eu preciso cuidar da minha filha. – Voltei a procurar pelas minhas chaves.
- Ah, você tem uma filha, mas não é casada, aparentemente. – A mulher continuava a falar como se estivesse em um monólogo. – E então?
- O que você está dizendo? – Falei, tentando conter meu tom de voz.
- O que acha de se casar com esse espécime aqui do sexo masculino? – Ela puxou a mão de como se fosse fazer o casamento ali mesmo. – Podemos pagar bem. – Eu não aguentei e ri, sarcasticamente.
- Eu não sei sobre o que isso se trata, mas eu sou dona de uma empresa muito bem sucedida nos Estados Unidos e no mundo, moro em um dos endereços mais caros do mundo em frente ao Central Park. – Ergui os olhos para . – Se você acha que eu preciso me casar com alguém ou de dinheiro para ficar agradável a vocês, você realmente não me conhece. – Balancei a cabeça, colocando a chave na porta e abri a mesma bruscamente.
- Eu disse algo de errado? – Ouvi a mulher dizendo.
- Me poupe, Fiorella. – Ouvi antes de fechar a porta com tudo.
Encostei-me à porta e balancei a cabeça, acho que ainda estava um pouco confusa sobre o que tinha acontecido do lado de fora. Então estavam procurando uma noiva para limpar o nome do meu vizinho? Balancei a cabeça e fiz um rápido nó no meu cabelo, eu estava acabada.
- Está tudo bem? – A babá de Ellie perguntou e eu balancei a cabeça.
- Oi, Anna, tudo bem? – Balancei a cabeça. – Mil desculpas pelo atraso. – Ela balançou a cabeça, negando.
- Não se preocupe, sua assistente ligou. – Ela sorriu e eu apoiei a bolsa na mesa de jantar.
- Como Ellie se comportou hoje? – Anna riu da minha pergunta.
- Como sempre, deu uma volta pelo condomínio, fez sua lição de casa, ficou desenhando e costurando o dia inteiro. – Confirmei com a cabeça e peguei algumas notas.
- Obrigada! – Entreguei as notas para ela.
- Eu que agradeço, senhora Weddburgh. – Ela sorriu, juntando o dinheiro e guardando no bolso de trás da sua calça. – Até amanhã?
- Mesma hora, mesmo lugar! – Falei e ela sorriu, saindo pela porta da frente.
Observei a TV ligada e respirei fundo, tirei minhas joias e acessórios na sala mesmo e segui para o quarto de Ellie, abrindo a porta que estava entreaberta. Ela dormia calmamente, o corpo encolhido na cama e um lençol fino por cima. Ouvi um miado baixo e vi Bee em sua almofada.
Sentei-me na beirada da cama e tirei os cabelos de Ellie do rosto, dando um beijo em sua bochecha, que não a fez se mexer. Olhei para o canto do quarto e vi, no pequeno manequim, um novo tule com três tons de amarelo, abri um sorriso, imaginando o quão orgulhosa ela deveria estar do seu trabalho.
Fiquei alguns minutos só observando minha pequena dormir, mas quando Bee começou a se enroscar em minha perna e miar, eu saí, puxando a porta do mesmo e deixando Bee do lado de dentro. Eu não gostava dessa gata e ela fazia questão de ficar se enroscando em mim.
Passei pelo corredor, tocando os quadros da gravidez de Ellie e sorri, lembrando do quanto eu quis aquela menina e ela estava aqui, me fazendo uma pessoa melhor e mais feliz a cada dia que passava.
Peguei minhas bolsas na sala e levei para meu escritório, empilhando alguns contratos e senti meu corpo se enrijecer quando vi a quebra de contrato de Andreza e Michael.
Larguei tudo em cima da mesa e fechei a porta, seguindo para meu banheiro. Abri a torneira, deixando a água começar a encher a banheira e esfumaçar o banheiro. Deixei minha roupa na cadeira mais próxima e me encarei no espelho, molhando a mão na água e passando pelo rosto, notando olheira forte aparecer embaixo da maquiagem.
Entrei na banheira, sentindo meu corpo relaxar no mesmo e encostei a cabeça, soltando um suspiro alto. Quanto tudo estava quieto, o choro que estava preso na garganta o dia inteiro saiu.
Eu estava me sentindo sufocada, cuidar de cancelamento de casamentos trazia à tona vários sentimentos em mim, sentimentos que eu não gostava de lembrar, sentimentos que haviam sido deixados para trás há mais de vinte anos.
Afundei o corpo na água e me acalmei algum tempo depois, conseguindo finalizar meu banho. Saí do banheiro e voltei para o escritório, respirando fundo antes de abrir o notebook, espalhar os documentos e minha agenda que Lily preparara para mim.
Antes de começar, bati o olho rapidamente no horário e o ponteiro acabara de cravar meia noite.

***


- Mãe, pai? O que estão fazendo aqui? – Falei logo que Fiorella abriu a porta de sua casa. – Não acredito que estão envolvidos nisso também.
- Então, querido... – Minha mãe foi interrompida pelo meu pai.
- A escolha é sua, , se você quer virar prefeito dessa cidade ou não. – A delicadeza do meu pai era de assustar.
- Mas como isso vai me fazer virar prefeito? – Todos se viraram para Bruce.
- É simples, meu caro secretário. – Ele se levantou de sua cadeira, dando espaço para eu me sentar. – Apesar de todas as lutas sobre direitos iguais, homens e mulheres, transgêneros, LGBT e todas as minorias que estão merecendo maior destaque nos dias de hoje, ainda existe aquele grupo de pessoas, na maioria deles eleitores, que são bastantes conservadores. – Ele ligou a televisão e eu me sentei na poltrona em frente à TV. – E é esse pessoal que devemos atingir... Por pior que seja a situação. – Ele deu de ombros. – Não se esqueça que o voto nos Estados Unidos é facultativo, então você tem que dar motivos para as pessoas saírem de suas casas, aguentarem filas para eleger alguém que trará um melhor desempenho... – Ele virou para meu pai. – Com toda educação, senhor . – Meu pai balançou a cabeça.
- Não se preocupe, Bruce, eu entendo. – Meu pai balançou a cabeça. – Quero que seja um prefeito melhor do que eu fui.
- Sem pressão, pai, obrigado! – Minha mãe e irmã riram.
- Esse dito casamento, querido, não te dará uma sentença pelo resto da vida, o que pedimos é um ano para seu sonho se realizar. – Minha mãe falou.
- E por que um ano? Por que não menos? As eleições são em sete meses. – Parei, balançando a cabeça. – Afinal, porque não um relacionamento falso? Porque preciso me colocar em frente a um juiz e fingir amor eterno a uma pessoa?
- Aparências, irmãozinho! – Fiorella sorriu. – Mostrar você de mãos dadas com uma pessoa escolhendo alianças, enfeites, flores, salões de festas, tudo isso vai dar popularidade e maior foco a você.
- Toda vez que falarem sobre esse casamento, falarão sobre sua candidatura a prefeito. – Bruce falou. – Confia no que a gente fala. – Ele piscou para mim e eu passei a mão na cabeça.
- Por que estão fazendo isso comigo? – Senti que minha voz saiu quase como um choro.
- Apesar de você ser uma pessoa excelente, querido, ter ideias magníficas para esse pessoal, sua imagem não está muito boa. – Fiorella falou. – Você está em baixa, apesar de ser sucessor do papai. – Ela deu um sorriso de lado. – E como eu sei que esse é o seu sonho e que você tem muito a oferecer para essa cidade e para esse país, peço que nos dê uma chance. – Respirei fundo, encostando as costas na poltrona novamente, respirando fundo.
- E quem será a escolhida? – Perguntei, balançando a cabeça.
- Você fará essa escolha. – Bruce ligou a TV e Fiorella me entregou uma pasta com várias folhas. - Fizemos uma pré-seleção. – Bruce falou. – A maioria são atrizes que poderão interpretar muito bem esse papel, mas escolhemos atrizes que tenham uma vida real por trás disso, uma formação, um emprego convencional, para mostrarmos também que essa pessoa é boa.
- Algumas dessas atrizes são conhecidas na mídia? – Perguntei.
- Não! – Fiorella falou. – Fizemos um acordo com uma agência que nos apresentou atrizes novas no casting, sem trabalhos televisivos ou cinematográficos, além deles prometerem por contrato que retirarão a escolhida do casting e de todas as redes sociais que ela possa ter sido divulgada pelo resto da vida.
- Para ajudar vocês estão acabando com a carreira de uma pessoa. – Falei sorrindo e Bruce deu de ombros.
- Com o dinheiro que pagaremos a ela, quem disse que ela precisará de uma carreira? – Meu pai sorriu para mim e eu revirei os olhos.
- Vocês estão indo contra tudo que eu luto. – Balancei a cabeça.
- Não tem como fugir mais, irmãozinho. – Fiorella falou e a TV ligou mostrando a primeira candidata.
- Rachel Walis, 36 anos, atriz e jornalista, trabalha há 15 anos no jornal The New York...
- Não! – Falei na lata e todos se entreolharam. - Ela trabalha há 15 anos no maior jornal da cidade e ninguém nunca nos viu juntos? – Eles afirmaram com a cabeça. – Tem que pensar nisso também. – Suspirei, me ajeitando na poltrona. – Próxima! – Falei para Bruce que confirmou com a cabeça.


Capítulo 3

- Ah! – Falei com certo nojo na voz e Matthew do designer riu comigo. – Eu não posso negar fazer um convite dessa cor, mas confesso que estou com medo sobre como isso vai ficar na impressão. – Apoiei uma das mãos na mesa, suspirando. – Bem, Matthew, se eles gostam assim, o que eu posso fazer, não é?! – Ele balançou a cabeça.
- Posso dizer que você começa a se acostumar depois de um tempo, senhora Weddburgh. – Balancei a cabeça.
- Só se for se acostumar a usar óculos de sol ao ler as informações. – Foquei no rosa chamativo na tela do computador e me ajeitei novamente. – Me avise quando a gráfica entregar, quero ser a primeira a ver isso. – Ele concordou com a cabeça e eu olhei as horas. – Está na hora do seu almoço, não?
- Sim, senhora, já estou indo. – Concordei com a cabeça e me afastei de sua mesa, andando por entre as mesas de todas as seções da minha empresa, voltando para o corredor principal.
Parte das mesas estavam vazias, para o pessoal que fazia almoço das 11 às 13 horas e a outra metade sairia as 12 até às 14hs. Eu tinha minha hora de surto psicótico por uma hora todo dia, onde normalmente tentava resolver algumas coisas antes de tentar sair para almoço às 15 horas.
- Senhora Weddburgh? – Ouvi no meu walkie talkie e o tirei da minha cintura.
- Diga, Lily! – Falei suspirando. - O casal das 11 chegou!
- Estou chegando! – Prendi o walkie talkie novamente na saia e voltei a caminhar a passos largos pelo corredor da empresa, passando por diversos departamentos e cumprimentando alguns clientes que estavam por ali. - Cheguei! – Falei para Lily, apoiando as mãos na mesa dela e ela me estendeu uma agenda nova para o casal e a cesta brinde.
- Já os acomodei na sua sala. – Concordei com a cabeça.
- Obrigada, Lily! – Passei os dedos pelo meu cabelo e joguei-os para trás. – Já sabe onde vai almoçar? – Perguntei.
- Vou pegar uma salada aqui na frente mesmo. – Fiz uma careta, fazendo-a rir.
- Você vai almoçar comigo e comer uma boa dose de carne vermelha. – Ela abriu um pequeno sorriso. – Eu pago! – Ela riu fraco e assentiu com a cabeça.
- Obrigada, senhora Weddburgh! – Dei a meia volta e segui para as portas duplas da minha sala, abrindo um dos lados, e imediatamente o casal virou seus rostos para mim juntos.
- Você só pode estar brincando! – Falei junto com o noivo, revirando os olhos ao mesmo tempo.
- Ah, não! – Ele falou apertando a mão nas têmporas. A moça ao seu lado não estava entendendo nada, nem eu, para falar a verdade, mas ela tentou ignorar a reação de desânimo minha.
- Eu não estou entendendo nada, mas oi, senhora Weddburgh. – Ela se levantou. – Eu sou Natalie, é um prazer poder te conhecer. – Ela estendeu a mão e por um segundo senti pena da moça.
- O prazer é meu! – Sorri, apertando sua mão e seguindo para trás da mesa. – ! – Falei para ele que estava escorregado na cadeira, quase como se um buraco o puxasse para baixo.
- Vizinha! – Ele falou e eu suspirei, me sentando na cadeira.
- Você realmente está fazendo isso? – Virei para .
- O quê? – Natalie estava perdida, ela olhava de mim para e de para mim. – Ela sabe? – Ela falou um pouco mais alto.
- Sim, ela sabe! – Confirmei com a cabeça, abrindo a agenda deles na primeira página. – Por azar do destino eu sou vizinha dele. – Suspirei, balançando a cabeça.
- Ah! – Natalie ficou quieta e voltei meu olhar para meu vizinho.
- Então, como faremos isso? Eu já sei que isso é algo para as câmeras e que vocês não estão loucamente apaixonados querendo realizar o sonho de vocês. – Abri um sorriso de lado.
- Discrição, é tudo que eu peço. – Meu vizinho falou. – Como se você já não soubesse que tudo é uma farsa. – Confirmei com a cabeça, mas antes que pudesse falar algo, ele continuou. – Vou pedir para você assinar um termo de...
- Claro, senhor . Mas todas as informações de exclusividade e segredos estão ditos claramente na sétima cláusula do meu contrato. – Falei, esticando duas cópias do contrato para eles.
- Ah! – Ele disse com o grosso contrato na mão.
- Tirando que o casamento é falso e que vocês não viverão para sempre juntos, tem outra coisa que eu precise saber ou posso seguir com meu protocolo de recepção? – Encarei ambos com os olhos por cima dos óculos de grau.
- Creio que está tudo esclarecido. – falou e eu soltei um suspiro alto, pegando uma caneta e encarando as primeiras páginas da agenda.
- Vamos começar, então! – Balancei a cabeça. – Espero que vocês ganhem certa intimidade com isso tudo. – Falei mais para mim mesma do que para eles e soltei o ar fortemente pelo nariz. – Bem-vindos à Weddburgh, eu sou e serei a cerimonialista responsável pelo casamento de vocês. Na nossa empresa oferecemos todo tipo de serviços matrimoniais para que vocês fiquem totalmente confortáveis no dia do sim... – Meu vizinho colocou as mãos no rosto, como se cada palavra fosse tortura para ele. – Primeiro de tudo, eu vou entregar uma lista de perguntas e respostas para vocês e vocês responderão para mim, para que eu posso visualizar noções de orçamento, gostos, interesses em comum, entre outros. – Puxei uma prancheta, esticando na direção deles. – Depois disso, eu, juntamente com a equipe de organizadores, prepararemos pacotes para que vocês escolham e seguimos em todas as etapas ordenadamente. Tudo bem?
- Tudo bem! – Eles falaram juntos e eu me levantei, fazendo com que ambos levantassem juntos. – Eu vou pedir para minha assistente levá-los em uma sala para que vocês sintam mais confortáveis. – Andei até a porta, abrindo a mesma. – Lily, por favor! – Falei e ela se levantou prontamente. – Leve e Natalie para um lugar reservado para preencherem a primeira etapa, por favor.
- Sim, senhora! – Ela falou, esticando a mão para que o ‘casal’ saísse da minha sala. – Venham comigo, por favor.
- Qualquer coisa, estou por aqui. – Dei um sorriso de lado e Natalie saiu animada à minha frente.
- Obrigado! – falou e eu concordei com a cabeça, algo me dizia que aquela palavra agradecia pelo segredo, não pelo atendimento. Segurei seu braço para que ele parasse.
- Eu tenho minha conduta, senhor , eu tenho um trabalho que eu levo muito a sério, então, assinando esse contrato, você não terá mais por onde correr. Pense bem! – Ele concordou com a cabeça.
- Acredite, eu pensei! – Ele falou, seguindo para fora da sala e eu suspirei, vendo Lily acompanhá-los e eu coloquei as mãos na cabeça, vendo mais um erro sendo feito no mundo dos casamentos.
Sentei novamente em minha mesa e olhei para a agenda do casal onde eu havia escrito e Natalie e respirei fundo, lembrando-me do que eu havia presenciado há umas duas semanas. Eu não poderia acreditar que aquilo realmente estava acontecendo.
Como alguém se dispunha a casar com alguém que não conhecia por causa de uma candidatura a prefeito? Ele nem deveria fazer um bom prefeito, pelo modo que age em casa. Além das muitas mulheres que saíam de sua casa, ele era do tipo mulherengo e, um falso casamento com a imprensa em cima dele a todo momento, não vejo como ele teria alguma escapada para... Bem, fazer o que gosta.
Fechei a agenda novamente, empilhei com mais algumas daquele dia e notei o envelope de duas meninas em minha mesa, o convite de casamento estava pronto. Virei-o e sorri ao ver o post it colado na mesma ‘Para senhora Weddburgh, aquela que nos protegeu e lutou por nós sempre’, soltei um suspiro e o coloquei na minha gaveta. Sendo cerimonialista, eu comparecia há 80% dos casamentos feitos por mim, não ia em alguns por questões de conflitos de agenda, mas era bom ser convidada oficialmente, era bom fazer a diferença na vida de algumas pessoas.
Dei um toque a campainha embaixo da mesa e esperei um pouco, achando que Lily estivesse com o casal ainda, mas ela empurrou as portas rapidamente e colocou a cabeça para dentro.
- Senhora...?
- Eles já foram embora? – Franzi a testa, conferindo o horário, não haviam ficado nem dez minutos.
- Sim, acabaram de sair, achei um pouco... – Ela balançou a cabeça. – Esquece, não devo falar de clientes.
- Continue, Lily. – Falei e ela olhou para trás antes de entrar e fechar a porta.
- Não sei, senhora, mas parece que eles estão fazendo isso forçado. O homem pegou a prancheta e preencheu rapidamente sem nem pedir palpite para a mulher. – Ela deu de ombros. – Às vezes acontece o contrário, mas não tão literal. – Ri fraco, balançando a cabeça.
- Ah, Lily, se você soubesse a história inteira. – Ela riu fraco. – Pago seu almoço, pode ser? Quero espairecer um pouco. – Ela abriu um sorriso.
- Com certeza, senhora. – Ri fraco, suspirando.
- Antes de irmos, Lily, coloque na minha lista que vou no casamento de Annie e Joanna como convidada, por favor? – Ela abriu um largo sorriso.
- Você viu o convite? – Ela perguntou feliz.
- Vi sim, espero que elas sejam muito felizes, elas me lembram... – Parei a frase no meio do caminho, balançando a cabeça. – Não importa. – Bufei um pouco alto demais. – Saímos em dez minutos, pode ser? Só vou dar uma passada no banheiro. – Me levantei da cadeira.
- Claro, vou pegar minha bolsa. – Ela falou se retirando da sala e eu me levantei.
Encarei novamente a agenda fechada em cima da mesa e respirei fundo, balançando a cabeça. Isso realmente não podia estar acontecendo. Eu teria que fazer umas pesquisas à parte para entender tudo.

***


Bruce me largou na porta de casa e creio que demorei cerca de cinco minutos para sair do carro, já que tinha vários paparazzis na porta do meu prédio. Joguei a cabeça para trás e respirei fundo.
- Vai dar tudo certo. – Meu assessor falou sorrindo e eu quis acreditar nele por alguns segundos. – Dorme bem, em breve vamos anunciar o noivado. – Concordei com a cabeça e peguei minha maleta, abrindo a porta do carro.
- Boa noite, Bruce! – Falei e não deu tempo de ouvir sua resposta, pois fechei a porta, ficando preso com os paparazzis que impediam minha passagem.
- Senhor , qual o foco da sua campanha?
- Senhor , você caiu alguns pontos na pesquisa, você acha que ainda tem chances?
- Senhor , você acha que seu comportamento pessoal afeta sua campanha?
Revirei os olhos com as perguntas e fui abrindo espaço entre os inconvenientes, pedindo licença para minha passagem, mas logo o porteiro da noite me puxou para dentro, fechando o a porta do prédio em um baque.
- Obrigado, Morgan! – Falei, passando a mão em meus cabelos, estava chuviscando lá fora.
- Tempos difíceis, hein, senhor ? – Ri fraco, balançando a cabeça.
- Só estamos começando. – Ele confirmou com a cabeça.
- O senhor tem boas intenções, senhor , só focar nisso que você se sairá bem. – Ele abriu um sorriso e eu dei dois tapinhas em suas costas.
- Obrigado, Morgan! – Confirmei com a cabeça. – Boa noite.
- Boa noite, senhor . – Ele falou e eu segui para os elevadores, virando de costas antes de entrar no mesmo.
- Ah, se eles não saírem daí, pode chamar a polícia. – Morgan riu fraco.
- Com certeza, senhor! – Ele fez um aceno com a cabeça e eu entrei no elevador, apertando o botão do último andar do prédio, me encostando de cabeça na parede ao fundo da caixa de metal, batendo a cabeça devagar na mesma.
Em poucos segundos o elevador apitou novamente e me vi no meu andar, saindo com preguiça do mesmo. Eu estava cansado, o dia havia sido cheio de compromissos, além da situação do casamento com a cerimonialista. Agora eu havia descoberto o que minha vizinha fazia, e isso explicava muito onde ela morava, as roupas de executiva que ela usava e tudo mais, Weddburgh era a cerimonialista mais famosa de Nova York – e do mundo.
Eu precisava de um banho gelado e da minha cama, esquecer que esse dia havia acontecido. Ouvi o apito do elevador novamente e corri para segurar a porta antes que ela fechasse novamente e suspirei, passando a mão nos cabelos, passando pela porta.
- Pensei que o elevador veio sozinho. – Ouvi uma voz do meu lado direito e notei sentada no sofá do seu apartamento, sendo iluminada por uma luminária ao seu lado.
- Nossa! Você conseguiu chegar antes de mim hoje. Que milagre! – Falei, seguindo para meu lado do corredor.
- Eu estava te esperando, queria falar contigo! – Ouvi sua voz mais próxima e virei para ela, notando que ela havia atravessado o corredor e estava à alguns passos de mim, com uma manta cobrindo seus ombros e colo.
- O quê? – Falei suspirando. – Você veio me dar sermão de que o casamento é uma instituição séria onde valores devem ser obedecidos e que eu não devo fazer isso como uma promoção da minha pessoa?
- Eu não ia diz... – A interrompi.
- Eu já sei tudo isso! – Ela franziu o rosto.
- Então, por que você está fazendo isso? – Ela cruzou os braços. – Nós não somos exatamente o tipo de vizinhos que se dão bem, mas isso é ridículo!
- Por causa da minha candidatura. – Falei, virando o corpo novamente, abrindo a porta do meu apartamento, jogando minha maleta lá dentro. – O partido está preocupado com a minha imagem na mídia, e essa foi a melhor forma que eles acharam para que eu demonstre para os conservadores que eu sou uma pessoa boa e trazer mais votos para mim.
- Mas por que se casar? Destruir sua vida desse jeito por causa de uma eleição daqui quatro meses. – Ela estava na porta do meu apartamento agora. – Desiste da eleição.
- Não, eu tenho que fazer isso, a cidade precisa de mim. – Ela franziu a testa novamente.
- Por que isso é tão importante para você? – Ela falou com a voz mais calma, andando em minha direção para dentro do apartamento.
- Não pense que, só porque você é minha vizinha, que você me conhece. – Falei, me aproximando dela. – Você só conhece um lado meu.
- Sim, o lado ruim seu. – Ela falou. – Porque é só o que você me demonstra. Se você mostrasse que é uma pessoa boa, eu poderia te mostrar outras opções quanto a isso. – Balancei a cabeça.
- Eu mostro, você que escolhe o que quer ver ou não. – Cruzei os braços e ela deu de ombros. – É só isso? Ou você veio me julgar de alguma outra forma? – Ela balançou a cabeça.
- Eu tenho algo para te entregar. – Ela saiu do meu apartamento, caminhando rapidamente pelo corredor e sumindo pelo seu apartamento por alguns segundos, fazendo o caminho contrário, trazendo uma agenda igual a que ela usou na reunião mais cedo. – Isso é para você. – Ela me entregou.
- O que eu faço com isso? – Balancei a agenda na minha mão.
- Essa agenda é de uso pessoal meu, para a organização dos casamentos. – Ela jogou os cabelos para trás. – Mas acho que seria legal você dar uma olhada para estar preparado para todos os passos que te esperam. – Ela balançou a cabeça, franzindo os lábios. – Boa noite. – Ela deu a volta, voltando para seu apartamento.
- Obrigado. – Falei baixo, me apoiando no batente da porta.
- Ah, me entregue antes da próxima reunião, por favor. Preciso me organizar. – Ela deu um pequeno sorriso, assentindo com a cabeça e entrou no seu apartamento, fechando a porta.
Talvez ela não seja tão nojenta quanto eu achei.
Balancei a cabeça e segui para o quarto. Ela tinha colocado muita coisa na minha cabeça, era certeza que eu teria outra noite mal dormida por causa disso.
Onde eu fui me meter?

***


Fechei a porta do meu apartamento e passei pelo quarto de Ellie, notando a fresta de luz vinda lá de dentro. Abri a porta e notei que ela estava toda torta na cama, abraçada a um tutu verde. Bee, por outro lado, estava confortável no seu castelo no canto do quarto.
Arrumei Ellie na cama, tirando a nova criação de suas mãos e estiquei o edredom por cima dela, a temperatura havia caído bastante naquela noite. Levei o tutu até o manequim perto à sua mesa de costura e ajustei ali, vendo que combinava com a jaqueta que estava em cima dele. Abri um sorriso com as fotos das suas criações e suspirei. Quem sabe Ellie Piedrafita seja uma estilista famosa no futuro.
Suspirei.
Talvez Ellie Weddburgh seja mais fácil de se acostumar.
Balancei a cabeça e neguei a vontade de ficar olhando Ellie dormindo e segui para o escritório, o dia não havia sido muito produtivo depois do susto de encontrar meu vizinho e uma pessoa totalmente desconhecida no meu escritório.
Abri minha agenda e notei a lista de afazeres e respirei fundo, pegando o contrato do casamento dos e suspirei, pegando uma caneta preta e rubricando cada página do contrato, até chegar à última página.
Dei uma rápida olhava na última cláusula do contrato: pagamento. “A parte contratada deve pagar a parte contratante a quantia de...”. Meus olhos se arregalaram, me fazendo balançar a cabeça e voltar para o começo do contrato, lendo rapidamente de quem era e me encostei novamente à cadeira.
- Deus pai! – Levei as mãos à cabeça. – Isso não é um casamento, é um espetáculo.
Voltei para a última página do contrato e coloquei minha assinatura, fechando o contrato e colocando na pilha à minha frente.
A cada contrato que eu passava, olhava as anotações de Lily no final sobre qual próximo passo para os casais e anotava na minha longa agenda para Lily remarcar as reuniões e visitas.
Não demorou muito para que o sono me pegasse e eu seguisse para meu quarto, amanhã era um dia especial, eu precisava estar disposta para tudo que estava por vir. Além de que fazia muito tempo que eu não chegava antes das dez horas em casa, tinha que aproveitar essas horinhas a mais de sono.
O barulho do aspirador de pó me acordou antes do despertador no dia seguinte, fazendo com que eu usasse aqueles vinte e sete minutos com sabedoria. Entrei no banho, sendo despertada pelo primeiro contato da água gelada em minha pele e não demorei para sair, ainda estava frio lá fora e se eu ficasse aproveitando a água quente, acabaria atrasando meus planos para o dia.
Me vesti como civil aquele dia, calça, blusa de manga comprida e slippers, hoje minha pequena fazia aniversário e o dia tinha sido todo pensado nela.
- Bom dia. – Falei para Brigite quando a encontrei no corredor.
- Bom dia, senhora Weddburgh! – Ela abriu um largo sorriso.
- Comprou o que eu pedi? – Falei sorridente.
- Comprei sim, cookies com creme, como ela gosta. – Assenti com a cabeça.
- Pegou o dinheiro que eu deixei separado?
- Sim, do jarro. Notei na noite passada. – Abri um sorriso.
- Vamos, então, vamos trabalhar! – Bati as mãos animada.
- Ah, senhora! Lily está te esperando na sala.
- Nossa! – Franzi a testa. – Eu tinha esquecido.
- Difícil você esquecer algo. – Dei de ombros.
- Hoje é o Ellie’s Day, tudo gira em torno de uma só pessoa. – Brigite abriu um sorriso e eu segui para a sala.
- Olá, chefia! – Lily sorriu a me ver e eu ri fraco.
- Olá, Lily, bom dia!
- Bom dia! – Ela falou, se levantando e colocando a bolsa nos ombros.
- Olhei na agenda que dia era hoje e imaginei que você fosse querer tirar o dia para você.
- Você pensou certo. – Abri um sorriso. – Eu dei uma olhada no que você selecionou, arrumei a agenda dos próximos compromissos dos casamentos pendentes, você só precisa ligar.
- Perfeito! – Lily sorriu. – E eu fiz questão de deixar sua agenda livre hoje.
- Perfeito! – Copiei suas palavras e ela riu. – Se importa de ir para o meu escritório pegar a papelada? Preciso correr!
- Claro! – Ela falou sumindo pelo corredor.
- Agora somos nós duas, Brigite. – Falei para minha ajudante e seguimos juntas para a cozinha.
- Já deixei algumas coisas separadas, senhora. – Brigite falou. – Fritei algumas bananas, quem sabe para você lembrar um pouco de casa? – Ri para Brigite, passando um braço pelos seus ombros.
- Não deixe que Ellie te ouça, você lembra o quão animada ela ficou quando contei toda minha história. – Brigite colocou a mão na boca, fingindo que a fechava com chaves.
- Quem sabe um pouco de olla de carne para o jantar? Posso deixar preparado.
- Ah, Brigite, não fale isso, por favor. Parte meu coração. – Ri fraco, mas ela entendeu o recado e seguimos juntas para preparar o café da manhã especial para Ellie enquanto eu beliscava algumas bananas fritas.
- Tchau, chefia! Eu te mantenho informada. – Assenti com a cabeça, vendo Lily sair do meu campo de visão com a papelada em suas mãos.
Não deu tempo da xícara de café esfriar entre meus dedos quando ouvi alguns passos rápidos pela casa, um gato correndo desesperado e uma cabeleira loira entrando na cozinha ainda com seu onesie.
- É hoje! – Ellie gritou animada e só deu tempo de apoiar a xícara na bancada antes que ela pulasse em meus braços.
- Feliz aniversário, meu amor! – Ajeitei-a em meu colo e abracei-a fortemente. – Que você seja sempre muito feliz. Que o papai do céu te abençoe todos os dias da sua vida e te encha de bênçãos.
- Obrigada, mamãe! – Ela falou com o rosto enfiado em meus ombros e eu a soltei em seguida.
- Você me dá muito orgulho, sabia? – Sorri e ela abaixou a cabeça, envergonhada.
- Obrigada, mamãe! – Ela sorriu, encolhendo os ombros e eu dei um beijo no topo da sua cabeça.
- Feliz aniversário, senhorita Ellie. – Brigite falou e abraçou minha pequena, me fazendo sorrir.
- Obrigada, B! – Ellie falou animada e se sentou à mesa. – Uau! – Ela olhou surpresa para a variedade de comida que nós, Brigite principalmente, havíamos preparado para ela.
- Então, vossa alteza. – Me sentei na sua frente. – Quais os planos para hoje? – Perguntei, voltando a beber minha xícara de café.
- Primeiro de tudo, cancelar todos seus compromissos. – Ela falou e eu sorri.
- Feito! – Sorri e ela arregalou os olhos.
- Mesmo? – Vi seus olhos brilharem.
- Claro! – Me endireitei na cadeira. – Não cometo o mesmo erro duas vezes, você sabe disso. – Ela riu fraco.
- Não mesmo. – Ela sorriu.
- Segundo... – Continuei.
- A gente podia passar o dia em Coney Island. – Ela abriu um largo sorriso e eu ri fraco.
- Por que será que eu já esperava por essa, Brigite? – Olhei para ela que ria balançando a cabeça.
- Por favor, mamãe! Você vive prometendo, acho que tenho direito.
- Ah, meu Deus! – Ri fraco, balançando a cabeça. – Ela tem direitos, Brigite, mereço isso?
- Acho que ela só aprende com a melhor, senhora. – Brigite me respondeu e eu ri.
- Ok! – Falei e Ellie se animou. – Com uma condição... – Ergui o dedo e ela fechou o rosto. – Eu quero um pedaço dessa panqueca. – Minha pequena abriu um sorriso e espetou um pedaço de panqueca, levando à minha boca, me fazendo sorrir. – Não demora, temos que ir cedo para aproveitar o dia.
Ellie terminou seu prato de panquecas e os pedaços de mamão que a obriguei a comer e saiu correndo para o banheiro. Ajudei Brigite a tirar a mesa, mas logo ouvi uma voz fina gritando por mim.
- Manhê! – Brigite me olhou sugestivamente e eu segui para o corredor, vendo Bee querendo se enroscar entre as minhas pernas e apareci na porta do quarto de Ellie.
- Que roupa eu vou? – Ela perguntou em frente a grande cômoda branca que ficava na parede da janela.
- Você não é a estilista? – Perguntei me sentando na sua cama e ela riu, colocando o dedinho no queixo.
- Acho que quero ir de gêmea hoje! – Ela falou e eu ri fraco.
- Ah, querida, é seu dia! Não quer ir com uma de suas criações? – Falei, notando que ela me observava com a mão no queixo.
- E quem disse que eu não vou? – Ela falou e eu ri fraco.
Ellie começou a abrir suas gavetas rapidamente e eu apoiei as mãos na cama, observando minha pequena combinar pequenas peças de panos, cores, estampas e sapatos. Pouco tempo depois, ela apareceu exatamente igual a mim. Blusa de manga comprida listrada de preto e branco, uma saia amarela clara igual minha calça e um sapato de boneca igualmente amarelo. - Estou pronta! – Ela falou rindo, esticando os braços e eu dei um beijo em sua cabeça.
- Vamos, então! Tem quase uma hora de viagem até Coney Island. – Ela pulou animada em direção ao corredor e eu a segui, passando rapidamente pelo escritório para arrumar uma bolsa, deixando-a leve pela primeira vez em muito tempo, somente com a carteira e meu celular.
Ellie já estava no lobby esperando por mim, mas passei o olho rapidamente pela casa, procurando por Brigite que estava junto de Ellie, varrendo o hall entre os apartamentos.
- Vamos, mamãe, vamos logo! – Ellie falou segurando a porta do elevador.
- Eu já depositei seu salário para você, Brigite, você conferiu se entrou?
- Vi sim, senhora! – Ela sorriu. – Já entrou sim. – Ela apoiou o braço na vassoura. – Notei que tem um pouco...
- Um pouco a mais, sim, são por cuidar de Ellie, eu te contratei para limpar a casa e cozinhar, não para ser babá da minha filha, acho que se você for fazer uma terceira ocupação, devo te pagar justamente. – Brigite abriu um sorriso, confirmando com a cabeça. – Conversamos melhor sobre o salário e maiores benefícios, caso esteja interessada. – Ela confirmou com a cabeça, com um largo sorriso.
- Obrigada, senhora! – Entrei no elevador, vendo as portas se fecharem e abracei Ellie pelos ombros, com um sorriso no rosto.
O elevador nos deixou no subsolo e entramos na SUV, me certifiquei que o cinto de Ellie estava bem preso e segui em direção ao Brooklyn, para Coney Island, onde ficava o parque de diversões mais famoso de Nova York, o Luna Park.
Ellie foi o caminho inteiro falando sobre quais brinquedos ela gostaria de ir, quais ela tinha medo de ir e que ela queria ganhar um grande urso de pelúcia em uma das barracas de arcade. Eu sabia que ela só estava falando daquilo da boca para fora, Ellie era medrosa igual a mim. Ela sonhava com o futuro, mas com os dois pés no chão.
- We got all the ways to be, W-I-C-K-E-D! – Cantava animada com Ellie. – Long live havin’ some fun, we take what we want, there’s so many ways to me wicked! – Ria da animação da minha filha no banco de trás. – With us evil lives on, the right side or wrong, there’s so many ways to be wicked.
Aquele dia foi maravilhoso! Era por momentos assim que eu sentia por deixar Ellie sozinha ao longo do dia, ela havia crescido e se tornado uma menina que eu possa me orgulhar, mesmo sem minha presença 24 horas por dia. Mas eram momentos assim que me faziam trabalhar duramente, pelo futuro dela. E pelo meu também. Lutar pelos nossos sonhos, afinal, se nós não lutássemos por nós mesmas, não tinha mais ninguém para lutar por nós.
- Você arrasou no tiro ao alvo, mãe! – Ellie pulava animada pela areia da praia na lateral de Coney Island enquanto se melava com o algodão doce em sua mão e eu segurava seu novo pinguim de pelúcia. – Você acertou todos os balões! – Abri um sorriso, pegando um pouco do seu doce. – Onde você aprendeu a atirar assim? – Ri fraco, balançando a cabeça.
- Vamos dizer que eu tive alguns anos de tédio antes de você nascer. – Passei a mão em seu ombro, puxando-a para perto de mim.
- Isso é muito legal! – Ela falava animada, enchendo a boca de algodão doce. – O que vamos fazer agora? – Fingi pensar um pouco.
- Bem, amanhã é domingo... – Me sentei em um banco e ela pulou ao meu lado. – Podemos jantar naquela pizzaria que você gosta e depois ir para casa, tem uma surpresa te esperando lá. – Os olhos dela brilharam.
- Bolo? – Ela arregalou os olhos e eu fingi trancar minha boca com uma chave e jogá-la para trás. – Mãe! – Ela fez manha e eu ri.
- Vamos para o carro, querida! Mamãe está moída! – Estalei um beijo em sua bochecha e ela sorriu, se levantando novamente, nem parecia que havíamos ficado em pé em filas o dia inteiro.

***


Eu estava animado, mas provavelmente era pela mistura de energético e cocaína no meu corpo. Fisicamente eu estava cansado, mas mentalmente eu podia mover uma montanha inteira. Ouvi o toque do elevador e corri para o hall dos apartamentos à espera dos meus primeiros convidados – ou Bruce para acabar com a festa que nem tinha começado.
- Ah, é você! – Falei desanimado ao ver as portas se abrirem e dar de cara com minha vizinha segurando uma cabeleira loira em seu colo.
- Pode me dar licença? – Ela pediu e eu dei espaço para que ela passasse.
Franzi os lábios e voltei para meu apartamento até que ouvi um barulho metalizado e virei o rosto, vendo que havia derrubado as chaves e lutava entre segurar Ellie e pegar as chaves do chão.
- Posso ajudar? – Perguntei e ela somente deu espaço para que eu pegasse sua chave e escolhi a parecida com a minha para abrir a porta.
não falou nada, só entrou rapidamente em seu apartamento e seguiu para o corredor rapidamente. Segui correndo para dentro, procurando alguma possível porta fechada, mas ela já estava entrando no quarto com decoração rosa clara e desenhos de roupas na mesa e em paredes.
Ela colocou Ellie na cama e tirou seus sapatos, passando o edredom pelo seu corpo. A menor demorou um pouco, mas logo rolou, abraçando a ponta do travesseiro. fez um carinho rápido em sua cabeça e sorriu.
- Obrigada! – Ela falou se levantando e saindo do quarto, a segui e puxei a porta do quarto da pequena. – Não feche! Bee vai aparecer daqui a pouco. – Ela falou, seguindo para a sala novamente e se sentou no sofá, visivelmente exausta.
- Bee? – Perguntei e ela apontou para um gato que surgiu da sacada, me fazendo afirmar com a cabeça. – Ah! – Falei, seguindo para a porta do apartamento novamente. – Eu tenho que ir, vou receber convidados em breve. – Apontei para a porta.
- Ela não aguentou o bolo. – Ela riu fraco sozinha, suspirando.
- O quê? – Virei meu rosto, colocando as mãos na cabeça.
- Ellie! Hoje é aniversário dela. – Ela deu um sorriso de lado. – Compramos um bolo, mas ela dormiu no meio do caminho. – Suspirei, assentindo com a cabeça.
- Não precisa ter um motivo para comemorar. – Falei, com um pequeno sorriso no rosto. – Sobreviver a mais um dia já é motivo suficiente para viver. – Ela assentiu com a cabeça. - Sim. – Ela sorriu. – Podemos cantar parabéns amanhã! – Ela riu fraco e o barulho do elevador nos distraiu.
Um grupo de pessoas incrivelmente animadas saiu do elevador, seguindo em direção ao meu apartamento. De repente eu não estava mais tão animado para a festa. Uma dor de cabeça repentina havia me atingido.
- É melhor você ir, seus convidados estão te esperando. – estava próxima a porta agora, segurando-a como se quisesse fechá-la.
- É... – Falei, assentindo com a cabeça, seguindo para fora do seu apartamento. – Boa noite.
- Boa noite! – Ela falou, encostando a porta e segui para meu quarto. – Ah, ! – Virei novamente, vendo seu rosto pela porta entreaberta. – Por favor, não deixe o som tão alto. – Ela falou e eu confirmei com a cabeça.
- A festa não vai tão tarde hoje. – Respondi. – Eu prometo! – Falei e ela deu um pequeno sorriso, fechando a porta novamente.
O som estourou no meu ouvido e eu respirei fundo, sentindo que minha cabeça havia se tornado uma bigorna gigante. Segui arrastado pela porta do outro lado do corredor e notei as luzes piscando, o som tremendo minha barriga e as pessoas se tornarem embaçadas.
Fechei a porta e respirei fundo.


Capítulo 4

- Senhora Weddburgh? – Ouvi uma voz de Lily pelo rádio e apertei o botão.
- Diga!
- O casal está aqui. – Soltei um longo suspiro, passando a mão na testa.
- Pode entrar! – Falei, fechando a pasta que eu trabalhava e me levantei da poltrona, caminhando até minha estante, procurando a agenda do casal .
A porta se abriu e o meu vizinho com a menina que ele pagou para casar com ele apareceu em minha sala e eu tentei dar meu sorriso profissional, mas com a feição dos dois, foi impossível segurar por mais de três segundos.
- Boa tarde! – Falei, indicando as cadeiras na minha frente que logo foi tomada pelos dois e eu me sentei na minha.
- Olá! – falou cruzando os braços na minha frente e eu evitei revirar os olhos, quem manda aqui sou eu.
- Como está? – Natalie deu um sorriso amigável e eu permiti acompanhar, apesar de saber que tudo aquilo era uma farsa.
- Então, o que faremos aqui? – perguntou, se ajeitando direito na minha poltrona com o estofado estampado e voltou a se portar mais como um político do que um adolescente fazendo algo que não queria.
- Obrigada por perguntar, senhor . – Abri um sorriso, olhando a primeira página da agenda. – Nós vamos começar a montar o casamento de vocês. – Abri um pequeno sorriso.
- E por onde começamos? – Natalie perguntou, se aproximando da mesa. Deu para notar a empolgação no tom da sua voz.
- A primeira vez que vocês vieram aqui, eu pedi para que vocês respondessem algumas perguntas...
- Muitas perguntas, vamos esclarecer. – me cortou e eu ri fraco.
- ...Que nos ajudariam a montar os pacotes ideias para vocês.
- Então...? – Natalie movimentou a mão.
- Então, como vocês não escreveram muita coisa, nós tentamos cobrir o básico. – Confirmei com a cabeça e eles repetiram meus movimentos. – Primeiro precisamos falar da questão de número de convidados, pela situação de vocês, estávamos pensando em cerca de...
- Uns 500 ou 600 convidados. – falou e eu franzi a testa. – Os mais íntimos, claro!
- Eu estava pensando em 15% disso. – Parei a caneta na agenda.
- Não, com certeza vai ter mais gente! – Ele balançou a cabeça como se fosse óbvio. – Família, amigos, pessoas importantes, políticos e, claro, a imprensa, bastante imprensa! – Ele deu um sorriso falso e revirou os olhos.
- Ok... – Falei baixo, preenchendo a parte de convidados novamente. – Seguindo... – Respirei fundo, balançando a cabeça. – Como serão bem mais que 80 convidados, creio que uma cerimônia simples em algum chateau ou sítio ao redor de Nova York está fora de cogitação...
- Com certeza! – balançou a mão. – Além de ser pequeno, é fora da cidade, não dá, precisamos de mais atenção, aquele calor, sabe? – Ele olhou para Natalie como se fosse para acompanhá-lo. – Um hotel aqui em Nova York, acho que é grande o suficiente.
- Sem querer cortar seu barato, senhor , nenhum hotel em Nova York comporta 600 convidados para uma festa. – Sorri.
- O que sugere, então? – Respirei fundo.
- Um estádio de futebol, talvez. – Revirei os olhos.
- Fantástico, boa! Qual estádio? – Franzi a testa, esticando as mãos.
- Isso pode ser uma brincadeira para você, , mas para mim isso é sério! Eu falo porque eu sei, eu falo porque eu estudei, além de ter 20 anos de experiência na área. – Falei com o tom de voz forte. – Continuando?
- Claro! – Ele falou desanimado.
- Podemos fazer a cerimônia no Four Seasons, já que é para todo mundo saber o que está acontecendo, além dele ter um bom salão para cerimônias interno, é o hotel com a diária mais cara de Nova York, cabe no orçamento de vocês. – Ele concordou com a cabeça e eu respirei fundo. – E a festa pode ser feita...
- Não sei se teremos festa... – Ele falou e eu tombei a cabeça para o lado. – Você sabe... – Ele deu de ombros. – Não vamos ter nada para comemorar mesmo. – Concordei com a cabeça, riscando a parte de festa na agenda.
- Apesar de não ter festa, as preocupações são as mesmas, não tem aqueles buffets gigantes com quatro, cinco pratos, mas tem o Buffet da recepção antes e depois do casamento, aquele momento em que o pessoal vai... – Balancei a cabeça. – Bem, parabenizar vocês pelo momento, além de música, decoração, roupas, convites... – Abri um sorriso. – Enfim, tudo isso.
- E como isso funciona? – Natalie perguntou.
- Bem, como é o casamento de uma figura pública, eu acompanho boa parte das decisões, então estaremos conversando sempre. – Virei à página da agenda. – Mas vocês vão seguir por todas as etapas das decisões com meus funcionários e eu falarei com vocês quando achar necessário! – Eles confirmaram com a cabeça. – Isso pode acontecer aqui no escritório ou nos lugares que vocês verão, conhecerão, etc... – Eles confirmaram novamente. – Todos os participantes do casamento de vocês são parceiros confiáveis dessa empresa, então garantimos profissionalismo, discrição e comprometimento ao dia mais... – Balancei a cabeça. – Esquece.
- O quê? – Natalie perguntou.
- Seria o dia mais feliz da vida de vocês, mas... – Dei de ombros, abaixando a cabeça. – Enfim... – Passei a mão em meu rosto, ajustando os óculos. – Vamos trabalhar um pouco? – Ergui o rosto, tentando mostrar um sorriso.
- Claro! – Natalie falou animada.
- Ok. – nem tanto.
- Precisamos marcar uma data. – Falei e confirmou com a cabeça. - Para quando estão pensando?
- Precisa ser um pouco antes da eleição. – Ele falou.
- A eleição é cinco de novembro, precisamos de uns dias... – Olhei meu calendário na mesa. – Que tal 21 de outubro? Duas semanas antes?
- Você não estará muito ocupado com a campanha? – Natalie virou como se realmente fosse uma noiva preocupada.
- Provavelmente. – Ele balançou a cabeça. – Mas acho que será o tempo perfeito, os eleitores terão duas semanas para decidir. – Concordei com a cabeça.
- Um segundo, por favor. – Falei, apertando o botão do rádio ao meu lado. – Lily, por favor, confira a agenda do Four Seasons para um casamento interno no dia 21 de outubro.
- Um segundo! – Ela respondeu e ouvi alguns barulhos de botões, enquanto isso, peguei minha prancheta de casamentos, vendo que a agenda desse dia tinha outros dois casamentos marcados.
- Por acaso algum de nossos outros casamentos é no Four Seasons também? – Perguntei novamente para Lily.
- Nenhum, senhora. – Lily respondeu. – Temos um no Central Park, só celebração e outro grande na chácara Bells II na saída para Nova Jersey.
- E o Four Seasons? – Perguntei novamente.
- Reservado para o casamento de e Natalie no dia 21 de outubro. – Abri um pequeno sorriso.
- O maior salão, Lily, aquele que entra por fora da área comum do hotel, por favor.
- Sim, senhora.
- Queremos atenção, mas nem tanto. – Suspirei, balançando a cabeça. – Obrigada! – Apertei o botão novamente. – Temos um dia! – Peguei a caneta vermelha e anotei na área da data, para chamar atenção.
- Eba! – Natalie falou animada e eu dei um pequeno sorriso, apesar daquilo ainda ser deprimente.
- Agora vou pedir para vocês falarem com meu designer, que vai começar a produção do convite de vocês.
- Já? – perguntou.
- Desculpa, vocês não estão disponíveis agora?
- Estamos, mas... – Ele balançou a cabeça. – Eu não... Sei. – Ele balançou a cabeça.
- A decisão é de vocês, mas estamos a menos de quatro meses do casamento, isso é um tempo curto. – Ele se jogou novamente na poltrona.
- Ok, vamos lá! – Ele falou, soltando a respiração forte.
- Venham comigo, por favor! – Me levantei da cadeira, levando a agenda em meus braços e abri um lado da porta.
- Senhora? – Lily se levantou também.
- Leve os dois para o designer, quem está aí agora? – Perguntei.
- Michael, se eu não me engano. – Lily falou.
- Bom! – Falei, sabendo que o gênio de Michael era mais fácil de lidar com clientes difíceis. – Leve isso para ele, por favor. – Entreguei a agenda e ela confirmou com a cabeça.
- Precisa de mim para mais alguma coisa?
- Depois vem na minha sala, por favor. – Ela assentiu com a cabeça e o casal a seguiu.
Parei um momento para analisar os dois e bufei alto. Natalie parecia uma boa mulher, pelo contrato do casamento, dizia que tinha 36 anos, comparado com os 45 de . A área de emprego havia sido deixada em branco. Mas ela se vestia bem, uma bolsa muito bonita a tiracolo e um vestido que eu sinto que já o vi no manequim de alguma loja que eu frequentava.
Ela parecia ser uma escolha até boa demais para o meu vizinho, mas quais eram as suas motivações para fazer isso? De eu sabia, a grande candidatura dele, que me permita dizer, não acho que se comprometer a passar a vida toda com alguém valha isso.
Não que eu seja ingênua o suficiente para acreditar que eles realmente ficarão casados pelo resto da vida, mas eles terão que permanecer pelo menos um pouco juntos, pensando que ganhe a eleição, se não, tudo isso será só um grande espetáculo e um grande gasto de dinheiro.
Voltei para minha sala quando o casal se sentou à frente da mesa de Michael e voltei a mexer nas minhas coisas, eu tinha visita de duas noivas, uma para ver a decoração e outra para o buffet.
- Senhora? – Lily passou pela porta.
- Oi! – Suspirei, balançando a cabeça.
- Você está bem? – Lily perguntou e eu ergui o rosto para ela.
- Claro! Por quê? – Perguntei, pegando uma das pranchetas.
- Você está chorando, senhora. – Ela falou, pegando uma caixa de lenço na mesa da lateral e esticando para mim.
Ergui meu rosto imediatamente e passei a mão na bochecha, sentindo-a molhada por algumas gotas. Puxei um lenço da mão de Lily e passei em meu rosto, vendo-a rapidamente se aproximar da porta e fechá-la.
- Creio que seja muito difícil para você fazer isso. – Suspirei, soltando uma risada fraca e encostei o quadril na mesa, cruzando os braços.
- Não deveria ser, sabia? – Balancei a cabeça. – Faz tantos anos!
- Mas mesmo, assim. É difícil colocarmos a confiança em alguém e não ser o que planejamos. – Soltei uma gargalhada mais alta.
- Eu sei bem o que é isso. – Ela sorriu.
- Você sabe do que isso se trata? Tive a impressão que você o conhecia na última visita. – Ela perguntou.
- Ele é meu vizinho. E ele está competindo à prefeitura de Nova York. – Ela revirou os olhos.
- Tá explicado porque o achei familiar.
- Não é muito ligada à política? – Perguntei.
- Tanto não. – Confirmei com a cabeça.
- Eu tento, mas parece que é uma pedra no meu sapato, ultimamente. – Ri fraco.
- Mas eles não são um casal, são? – Ri fraco.
- A não ser que a bigamia tenha sido liberada nos Estados Unidos e eu não estou sabendo. – Ri fraco e ela balançou a cabeça. – Que eu sabia, é porque a imagem dele não está muito boa com os eleitores, ele está perdendo nas eleições, por pouco, mas está. – Ela assentiu com a cabeça.
- E a mulher? – Dei de ombros.
- Não sei onde ele a encontrou e nem os motivos de ela estar fazendo isso. – Suspirei.
- Que coisa, não?!
- Bem, vamos parar de nos intrometer na vida dos outros e trabalhar mais um pouco. – Suspiro. – Não é como se esse fosse o primeiro casamento sem amor que fazemos aqui e duvido que seja o último.
- É que eu não gosto como essas situações te deixam. – Me desencostei da mesa.
- Você é uma excelente assistente e amiga, Lily, eu agradeço por todo seu trabalho e apoio. Você é quase minha outra filha. – Ela assentiu com a cabeça.
- Obrigada, senhora! – Ela deu um pequeno sorriso.
- Agora vamos trabalhar? Estamos no fim de junho e temos cerca de quinze casamentos ainda esse mês e eu ainda tenho um em Paris e outro na Nova Zelândia. – Ela riu fraco. – Falando nisso, minhas passagens?
- Todas reservadas, como os hotéis. – Ri fraco.
- Não sei por que ainda pergunto. – Peguei minha bolsa na mesa lateral. – Avise a Melina que estou descendo, vou ver o casamento dos Parker antes.
- Sim, senhora! – Ela falou, andando a passos rápidos até sua mesa e eu saí da minha sala.

***


- Bem, subimos dois pontos na pesquisa, mas a Caleman subiu quatro, então vocês se mantém iguais. – Bruce falou e eu suspirei, coçando a cabeça.
- E os outros candidatos? – Perguntei.
- São irrelevantes. – Meu pai falou e virei para Bruce.
- Não é bem assim, senhor. – Bruce se levantou novamente. – Temos quatro candidatos ao todo, Judite Caleman está em primeiro lugar com 36%, está com 34%, Edmond Hallwood está com 25%, e Carmen está com menos de 3%. – Bruce abriu um gráfico no Power Point. - Carmen não precisa ser considerada, além dela ser totalmente conservadora, os indecisos não estão indo para o lado dela, mas Hallwood, são quase 10%, mas se pensarmos que temos ainda alguns meses para as eleições, tudo pode mudar. – Ele fechou sua pasta. – Além de que isso são pesquisas de outros órgãos, já encomendamos uma nossa, mas precisamos anunciar essa questão do casamento antes, talvez mude a opinião dos indecisos e dos eleitores de Caleman e Hallwood. Creio que o único com propostas que agradem tanto ao pessoal conservador quanto ao inovador, é o . – Bruce se sentou novamente.
- Bem, pelo que eu vejo, a questão do casamento já está em andamento. – Meu pai falou e eu concordei com a cabeça.
- Sim. – Minha irmã se levantou. – Que coincidência sua vizinha ser a Weddburgh, não?! – Ela se virou para mim e eu revirei os olhos. – Me lembre de me desculpar com ela quando eu a ver novamente. – Ri fraco.
- Sem chance! – Respondi, balançando a cabeça.
- Eu marquei várias entrevistas para você na próxima semana, algumas com a Natalie, então eu e Bruce passaremos bastante tempo com vocês, treinando suas respostas, combinando a melhor história, para não fazerem feio quando chegar a hora. – Assenti com a cabeça. - E temos também três debates até a eleição, você precisa estar preparado, . – Fiorella falou e eu assenti com a cabeça, suspirando.
- Bem, eu quero ser prefeito dessa cidade, eu quero mostrar que eu posso ser a melhor coisa que aconteceu e se isso é a melhor opção, vamos lá! – Falei, me levantando e Bruce assentiu para mim.
- Vamos trabalhar. – Meu pai falou e eu segui para a porta.
- Vamos conversando. – Ele assentiu com a cabeça e suspirei, saindo pela porta, com Bruce ao meu encalço.
- Você e Natalie precisam passar um tempo juntos. – Suspirei.
- Natalie não é ruim, mas é que... – Comecei a descer as escadas da prefeitura. – Ela não é a pessoa que eu quero jantar junto, almoçar junto, fazer compras junto...
- Se você tivesse essa pessoa, nós não estaríamos tendo essa conversa, muito menos gastando todo o dinheiro do fundo de reserva do partido e seu para realizar um casamento que só vai ter necessidade se você for eleito.
- Eu vou ser eleito! – Falei.
- Viu?! Você precisa ter essa mesma força de vontade com a Natalie, ela não precisa ser o amor da sua vida, ela pode não ser o amor da sua vida, mas ela pode ser sua amiga, uma pessoa que vai te apoiar nessa situação. – Ele me segurou pelo ombro antes de sairmos porta afora. – Não se esqueça que ela também tem as suas motivações. – Suspirei, balançando a cabeça.
- Vamos embora! – Falei, saindo da prefeitura de Nova York e passando pelo alvoroço de paparazzi que estavam acumulados na porta do prédio.
- Senhor , senhor ! – Passei por eles rapidamente, vendo que Bruce havia dado a volta e estava parado na frente da porta do carro, segurando a mesma aberta para mim e quando cheguei perto, ele entrou no carro e eu o segui, puxando a porta fortemente.
- Para onde? – O motorista perguntou.
- Para casa, Jake. – Falei, suspirando.
- Você tem uma pré-entrevista com a revista TIME. – Bruce falou ao meu lado.
- Remarca para amanhã, por favor. – Ele não respondeu. – Eu fiquei a noite toda fazendo lista de convidados, preciso tirar uma soneca.
- Ok, vou ligar para o pessoal, te mando uma mensagem informando uma nova data, e nada de remarcar novamente, essa entrevista pode ser muito boa para sua candidatura. – Assenti com a cabeça.
- O quê mais tem para essa semana? – Perguntei.
- Encontros em escolas, separei um dia para você falar com o pessoal da prefeitura, além do retorno ao escritório de para visita ao local da cerimônia, se não me engano. – Virei para ele.
- Você sabia? – Ele tirou os olhos dos papéis, olhando para mim.
- O quê?
- Que era a cerimonialista que organizaria o casamento? – Ele riu fraco.
- Eu sabia que ela tinha uma empresa famosa aqui em Nova York, diferente de você, eu converso com ela quando encontro nos corredores, já tinha lido seu nome em jornais e revistas, mas eu realmente não tinha ideia que ela era “a” Weddburgh. – Suspirei.
- Eu não tinha ideia.
- Tente o Google, foi o que eu fiz quando procurei. – Ele deu de ombros e eu balancei a cabeça, encostando a cabeça no banco, virando o rosto para a janela, acompanhando o movimento dos carros, o trânsito parado de Manhattan, enquanto os prédios passavam pelo meu olhar.
Senti que meus olhos se fecharam por um tempo, mas não pareceu tanto até que senti Bruce me chacoalhando. O cansaço estava forte e eu realmente precisava dormir.
- !
- O quê? – Virei para Bruce.
- Eu falei que vou marcar o primeiro encontro oficial seu e da Natalie para sexta-feira à noite, um jantar em algum restaurante que você frequenta, nenhum relacionamento se mantém secreto por tanto tempo.
- Tudo bem, mas algo rápido, não temos muito papo.
- Inventa, fala do seu dia, do dia dela, do cachorro da vizinha, não importa, só fale...
- Gato! – Falei.
- Quê? – Ele se virou.
- A vizinha tem um gato. – Bruce revirou os olhos e eu senti o carro parar.
- Eu sei, mas era um exemplo. – Bruce falou e eu suspirei, vendo o carro parar em frente ao meu prédio.
- Te vejo amanhã! – Falei, observando se a barra estava limpa, estava cedo para eu estar em casa.
- Provavelmente você será acordado por mim, então esteja acordado. – Revirei os olhos.
- Para que fazer isso? – Perguntei e ele riu.
- Por que eu sou pago para isso?! – Ele respondeu, dando de ombros.
- Até mais! – Abri a porta, pegando minha pasta.
- Ei! – Bruce gritou e eu segurei a porta. – Desde quando você presta atenção na sua vizinha? – Ignorei sua pergunta e fechei a porta, vendo o carro sair logo em seguida.
Assim que o carro saiu, notei uma coisinha loira andando pelo beiral do Central Park que tinha uma entrada em frente ao prédio. Ela tinha fones na orelha e usava uma saia de tutu verde que combinava bem com sua blusa rosa. Olhei em volta e não notei ninguém em volta dela, a não ser o porteiro daquela hora, mas não era seu trabalho.
- Pode cuidar disso para mim? – Pedi para o porteiro e ele assentiu com a cabeça, pegando minha maleta e levando para dentro.
Olhei para os dois lados da rua e atravessei a mesma, me aproximando de Ellie devagar, que entrava no parque, ainda andando pela murada.
- E aí, moça? – Falei para Ellie que abriu um sorriso quando me coloquei em sua frente e ela tirou um de seus fones da orelha.
- ! – Ela falou animada e eu estiquei os braços para ela que se colocou entre eles, me fazendo colocá-la no chão em seguida. – O que está fazendo aqui?
- Dando um tempo! – Falei rindo e ela sorriu. – E você?
- Também! – Ela deu de ombros. – Já fiz a lição de casa, já finalizei um blazer na máquina de costura. Agora dei licença para Brigite, ela estava limpando meu quarto.
- Ah sim! – Abri um sorriso. - Quer uma pipoca? Eu pago! – Apontei para o carrinho de pipoca e ela abriu um sorriso.
- Com certeza! – Ela riu animada e saiu saltitando na minha frente em direção ao carrinho de pipoca. – Oi, moço! – Ela começou a conversar com o vendedor. – Queremos duas! – Ela abriu um sorriso, levando as mãos para as costas.
- Doce ou salgada, senhorita? – Ele foi cordial com Ellie, o que me fez sorrir.
- Hum... – Ellie colocou a mão no queixo por alguns segundos. – Pode ser meio a meio? – Franzi a testa, rindo da sua escolha.
- Pode sim! – Ele falou sorrindo.
- Salgada embaixo! – Ellie falou rapidamente e ele sorriu.
- Eu quero salgada, por favor! – Falei.
Ele encheu os dois saquinhos de pipoca e nos entregou. Deixei os dólares em sua mão e seguimos pelo parque, nos sentando em um banco próximo a um chafariz. Ellie tinha um olhar curioso, diferente, se eu pudesse dizer. Seus olhos azuis brilhavam com as coisas e tinha uma forma muito madura de lidar com isso.
- Por que pediu a pipoca salgada embaixo? Normalmente a gente come salgado e doce de sobremesa. – Perguntei para ela.
- Porque se não a pipoca doce ficaria salgada. – Ela deu de ombros. – O sal desceria e grudaria no caramelo. Já o caramelo não desce e gruda na salgada, entende? – Franzi os lábios, notando como ela tinha razão e ri fraco.
- Você é muito esperta! – Falei e ela riu.
- Obrigada! – Ela riu, olhando para os lados novamente.
- Onde está a sua mãe? – Ela virou para mim, dobrando as pernas.
- Trabalhando. – Ela deu de ombros.
- E você não se importa em ficar sozinha sempre?
- Eu não fico sozinha sempre. – Ela sorriu.
- Você me entendeu. – Falei e ela suspirou.
- Você não entende, , mamãe demorou muito tempo para realizar o sonho dela e, agora, nada mais justo do que ela aproveitar esse sonho. – Ela sorriu. – Eu tenho muito orgulho dela. – Afirmei com a cabeça, colocando algumas pipocas na boca. – E você? Mamãe disse que vai casar com alguém que você não ama. – Ri fraco, balançando a cabeça.
- Queria que você entendesse porque eu estou fazendo isso. – Ela franziu a testa.
- Por que você não tenta? – Ela perguntou. – Eu sou esperta, lembra?
- Eu quero ser prefeito de Nova York, Ellie, e não é como se eu fosse à pessoa ideal para isso. – Ela franziu a testa, ficando em pé a minha frente.
- Por que não? Você é uma pessoa boa! – Ela sorriu. – Bem, menos com a minha mãe. – Ri fraco, balançando a cabeça.
- Sua mãe é cabeça dura. – Ela sorriu.
- Isso eu concordo! – Ela balançou a cabeça, colocando algumas pipocas na boca. – Continue, por que você não é a pessoa ideal?
- Ah... – Balancei a cabeça e ela me encarava esperando resposta. – Ellie, eu não posso te falar isso.
- Você está falando de sexo, não está? Por que as pessoas negam falar de sexo com crianças? – Arregalei os olhos. – Se vocês falassem mais frequentemente, não teríamos problemas e curiosidades durante a adolescência! – Ela virou o rosto para mim novamente. – É isso, não é? Você faz sexo com muitas pessoas?
- Vamos usar a palavra encontros, Ellie, por favor, não me sinto confortável falando com uma pessoa de 11 anos sobre isso.
- 12! – Ela me corrigiu. – E qual é o problema? – Ela colocou as mãos na cintura e eu firmei o olhar sobre ela. – Ok, ok! – Ela deu de ombros! – Mas é por isso que você vai casar? Porque você quer ser prefeito e faz muito se... – A encarei. – Por que você tem muitos encontros?
- É uma conta estranha de fechar, mas basicamente isso. Eles acham que eu não sou uma pessoa respeitável por sair com muitas mulheres e por isso não deveria ser prefeito dessa cidade. – Ela franziu a testa.
- Mas uma coisa não tem nada a ver com outra. – Ela deu de ombros. – As pessoas são muito primitivas! – Não aguentei e gargalhei, parecia que eu estava falando com uma pessoa de 22 anos, não de 12.
- Desculpa. Você é incrível, Ellie, sério! – Ela sorriu, assentindo com a cabeça.
- Você também, ! – Ela se sentou novamente ao meu lado. – As pessoas verão isso em breve, confie! – Ela falou e eu sorri, procurando os últimos resquícios de pipoca no pacote.
- E você, Ellie? – Virei para ela.
- O quê? – Ela perguntou.
- Você vive aqui sozinha com sua mãe? – Ela virou para mim.
- Sim, somos só nós duas. – Ela balançou a cabeça.
- E seu pai? – Perguntei e ela soltou um longo suspiro, revirando os olhos, como se já tivesse ouvido aquela pergunta outras vezes.
- Eu não tenho pai. – Ela falou balançando os ombros e eu franzi a testa.
- Ellie, se você sabe o que é sexo, você sabe como se faz um bebê! – Falei e ela riu fraco.
- Eu sei, mas eu não tenho pai! – Suspirei.
- Todo mundo tem pai, Ellie. – Suspirei.
- Sim, eu sei! Mas eu não tenho. – Ela deu de ombros. – Simples assim.
- Simples assim... – Falei baixo, franzindo a testa. – E não tem nenhum padrasto?
- Não! – Ela falou, balançando a cabeça.
- E sua mãe? Nenhum namorado? – Continuei.
- Acredite, , a mamãe não namora. – Ela falou em tom desleixado, rindo em seguida, me fazendo franzir a testa.
- Nunca? – Perguntei.
- Nunca! – Ela riu fraco. – Acredite, ela me conta tudo! – Ela deu de ombros e eu suspirei, franzindo a testa.
- Ok! – Ri fraco, balançando a cabeça. – Vamos subir? Eu preciso tirar uma soneca que meu dia amanhã vai ser cheio. – Ela deu de ombros, rindo.
- Vamos sim, vou ver se a Brigite já terminou. – Ela amassou o saco de pipoca, jogando na lata do lixo ao meu lado e seguiu saltitante ao meu lado.

***


Soltei a toalha do meu cabelo e baguncei-o rapidamente, pegando o pente e passando pelo mesmo molhado. Joguei a toalha nos ombros e segui para fora do quarto, vendo Ellie se matando de rir de algo que estava passando na TV. Levei a toalha para a lavanderia do nosso apartamento e voltei para o mesmo caminho, entrando na sala de TV.
- Ei, o que está assistindo? – Ela bateu ao seu lado no sofá e eu me sentei ali, passando o braço pelo seu pescoço.
- Jimmy Fallon! – Ela falou animada, deitando a cabeça em meu colo e eu acariciei seus cabelos loiros.
- O que está tendo de tão interessante? – Ela riu.
- O monólogo dele foi engraçado! – Ela riu fraco.
- Quem é o convidado de hoje? – Perguntei.
- Não sei, quando eu liguei já tinha começado. – Assenti com a cabeça. – O que a gente vai jantar? – Ela perguntou.
- Por que não pedimos uma pizza hoje?
- Eba! – Ela se levantou rapidamente. – Vou pegar o cardápio. – Ela saiu correndo da sala e ouvi algumas portas e gavetas batendo pela casa e ri fraco.
- “E agora, nosso próximo convidado, o candidato a prefeito de Nova York e sua noiva, ...” – Arregalei os olhos com as palavras do apresentador e me endireitei no sofá, vendo meu vizinho e sua falsa noiva entrando no programa, cumprimentando o apresentador e se acomodarem nas poltronas.
- Legal! está na TV! – Ellie voltou a se sentar animada ao meu lado e eu deixei para lá a pizza por um momento.
O programa começou calmo, primeiro falaram da candidatura de a prefeito, o que não era exatamente nenhuma novidade para parte da cidade que realmente quer alguma melhoria ou necessita dessa melhoria. Essa parte foi clichê, tudo que eu já ouvia em propagandas partidárias, panfletos distribuídos na porta do meu apartamento ou o que Bruce falava quando nos encontrávamos no corredor.
Ele realmente parecia uma pessoa boa, um candidato bom para cuidar dessa cidade. Não que eu ache que o pai dele tenha sido uma boa pessoa para essa cidade, ele foi só mais um daqueles fanfarrões que caiu nas graças de algumas pessoas poderosas nessa cidade e ficou lá por vários anos, incluindo o cumprimento de quatro mandatos em duas épocas da sua vida. A primeira época eu não cheguei a ver, foi antes da minha vinda para Nova York, mas a segunda eu tenho acompanhado até agora.
Ignorando seu pai por um momento e voltando ao II, ele é o típico candidato perfeito. É bonito, tem o sorriso bonito, sabe se comunicar bem, tem propostas interessantes, mas eu sei o que acontece por baixo dos panos, então, para mim, ele era o último candidato que eu votaria, mas também não votaria em Caleman, muito conservadora. Teria que pensar um pouco.
- “Mas vamos falar agora de vocês dois, como isso aconteceu? Um dia vocês estavam juntos e no outro não estavam...” – Fallon falou sobre o casamento e eu abri um pequeno sorriso, esperando qual seria a novidade.
- “Bem...” – e Natalie falaram juntos, sorrindo.
- “Você conta!” – falou, segurando firmemente na mão de Natalie.
- “Nós estudamos na mesma escola aqui em Nova York, atualmente eu sou professora nessa escola, e teve um encontro de turma do recentemente.” – Natalie deu um largo sorriso animado. – “Uma coisa leva a outra e vocês sabem o resto.” – Ambos abriram um largo sorriso, como se fossem realmente um casal apaixonado.
- “Mas isso foi muito rápido, não foi? O casamento e tudo mais?” – Jimmy perguntou.
- Pega eles, Jimmy! – Falei rindo.
- Mãe! – Ellie me cutucou e eu ri, abraçando-a de lado.
- Desculpa, querida, mas você sabe como eu me sinto com falsos casamentos e términos de noivado. – Ela ponderou com a cabeça e concordou, rindo em seguida.
- Você está certa! Isso não é legal! – Ela falou e eu ri.
- “Na verdade, estamos saindo tem alguns meses já, mas não é fácil simplesmente anunciar para toda a cidade que você tem um relacionamento e tudo mais...” – falou e eu ponderei que seria uma ótima desculpa, se eu não soubesse a verdade.
- “Mas e sua fama que saiu na mídia, etc? Como isso está ligado?” – e Natalie deram uma risada fraca.
- “Muitas dessas festas que eu apareço, ou que as pessoas saem da minha casa e tudo mais, são reuniões do partido, você sabe como a imprensa gosta de exagerar um pouco”. – Soltei uma gargalhada exagerada, colocando as mãos na boca.
- Mãe! – Ellie reclamou e eu balancei a cabeça.
- Desculpa, desculpa! – Ergui as mãos. – Mas isso é ridículo, El! – Ela riu fraco.
- Sei bem, mãe! Falei para ele alguns dias atrás, ele não precisa ser perfeito para ser prefeito. – Ela deu de ombros. – Não tem nada a ver.
- Você estava falando com ele?
- A gente se encontrou esses dias. – Ela se encolheu no sofá.
- Ellie!
- Não tem nada demais, mãe, vocês que se implicam. – Ela deu de ombros. – Agora podemos pedir a pizza? Estou com fome!
- Do que você quer? – Perguntei.
- Posso pedir algo com bacon? Estou com vontade. – Ela fez uma careta e eu ri fraco, balançando a cabeça.
- Vou permitir, mas só porque é sexta-feira! – Ela se levantou animada. – Ei! – Chamei-a. - Você ainda vai dormir cedo porque amanhã tem aula de espanhol, hein?!
- Ok, ok! – Ela saiu da sala animada e logo ouvi sua voz falar baixo pelo telefone.
Ellie voltou animada e se deitou em meu colo, acabamos vendo o resto do programa juntas. acabou participando de uma das brincadeiras de Jimmy Fallon, um tipo de beer pong, não achei que era a situação mais apropriada para quem queria limpar a imagem, mas a plateia gostou. Em seguida, teve a apresentação do grupo Little Mix, fazendo com que Ellie dançasse na minha frente animada.
- Just a touch of your love is enough to knock me off of my feet all week. Just a touch of your lo-ove, just a touch of your lo-ove. – Ela dançava em minha frente, imitando a coreografia das meninas. - Just a touch of your love is enough to take control of my whole body. Just a touch of your lo-ove, just a touch of your lo-ove... – O interfone tocando ao fundo chamou nossa atenção.
- Você vai? Quero ver se elas vão tocar Power!
- Pode deixar! – Me levantei do sofá, ouvindo-a aumentar o volume da TV e fui para próximo à porta, puxando o interfone. – Alô.
- Senhora Weddburgh? – O porteiro falou.
- Sim!
- Creio que chegou uma pizza para você. – Abri um pequeno sorriso.
- Estou descendo! – Falei, colocando o interfone novamente no gancho e andei rapidamente até minha bolsa em cima da mesa da sala de jantar e peguei meu cartão de crédito.
Saí pelo corredor e desci pelo elevador, me aproximando da mesa do porteiro do lado de dentro, onde um motoboy estava encostado na mesa e um delicioso cheiro de pizza emanava no ar.
- Boa noite! – Falei para ambos.
- Boa noite, senhora Weddburgh! – O porteiro falou e eu sorri.
- Olá! – O motoboy falou. – Entrega para Ellie? – Ele perguntou e eu ri fraco.
- Sim! – Falei e tirei o cartão do bolso. – No débito, por favor. – O entreguei e ele passou rapidamente pela maquininha e eu digitei a senha.
- Bom apetite e tenha uma boa noite.
- Obrigada, você também! – Falei e peguei minha pizza nas mãos. – Boa noite, Michael! – Falei para o porteiro que assentiu com a cabeça sorrindo.
- Você também!
Antes que eu chegasse ao elevador, um carro parou na frente do prédio e o casal, que eu havia visto há pouco tempo na TV, saiu do mesmo e eu me apressei em apertar o botão do elevador, mas ele se fechou na minha frente, me fazendo esperar que não me reconhecessem.
- Senhora Weddburgh, que surpresa! – Virei meu rosto, abrindo um sorriso para e Natalie que passaram pela porta do prédio.
- Natalie, , oi! – Abri um pequeno sorriso.
- Ah, verdade, você mora aqui! – Natalie falou e eu afirmei com a cabeça. - Legal! – Ela virou para sorrindo e senti um alívio no peito quando o elevador apitou atrás de mim.
- Vão subir? – Perguntei.
- Sim, temos algumas coisas para resolver! – Que romântico, pensei enquanto entrava no elevador e me colocava ao fundo, vendo ambos entrarem e apertar o botão do elevador.
O silêncio se instalou claramente na caixa, fazendo com que aquela subida fosse cada vez mais difícil e o cheiro da comida se instalasse com mais força no meu nariz. Quando o elevador parou, saiu do mesmo imediatamente e Natalie o seguiu. Andei para meu lado do apartamento e empurrei a porta.
- Boa noite, senhora Weddburgh! – Ouvi a voz de Natalie e acenei rapidamente com a cabeça, vendo fazer o mesmo e entrei no apartamento e fechando a porta, balançando a cabeça e suspirei alto, relaxando o corpo.
- Ellie, a pizza chegou! – Falei um pouco mais alta.
- Já coloquei a mesa, mãe! – Ela falou e eu segui para a cozinha, vendo a mesa posta, me fazendo sorrir.
Coloquei a pizza no meio da mesa e me sentei na cadeira, vendo Ellie entrando correndo na cozinha e pulando na cadeira em minha frente.
- Vamos comer! – Ela falou animada, tirando a tampa da caixa e atacando o maior pedaço.
Após a janta, obriguei Ellie a tomar um banho quente e ir para a cama, havíamos perdido bastante tempo assistindo ao programa e ela precisava acordar cedo no dia seguinte. Acabei indo para o escritório por um tempo, conferindo os afazeres de sábado. Teria um casamento no Four Seasons no final do dia e outro no Hilton, mas cedo eu acompanharia e Natalie na visita ao salão e minhas cerimonialistas cuidariam dos casamentos daquele dia.
Demorei quarenta minutos com meus papéis e documentos, mas acabei por colocar um filme meloso no Netflix e dormir antes que eu derramasse as primeiras lágrimas e acordasse com um torcicolo horrível.
Acordei com Ellie me fazendo carinho na manhã seguinte, ela já estava pronta e estilosa para o dia. Acabei engolindo alguns ovos mexidos que ela havia feito e saímos rapidamente de casa, deixei-a na sua escola de espanhol, recebendo um fofo “gracias” de sua parte e segui em direção ao hotel Four Seasons na Rua 57.
O valet abriu a porta assim que eu puxei o freio de mão e desci do mesmo, acenando para os seguranças conhecidos daquele hotel que eu passava quase metade da minha vida. Passei pelo lobby e senti o ar fresco e o cheiro gostoso de lavanda no ar.
- Lar, doce lar. – Falei baixo, me aproximando da recepção, vendo os três empregados sorrindo para mim. – Bom dia, queridos! – Eles sorriram.
- Senhora Weddburgh! – Eles falaram quase juntos.
- Como estão? – Eles sorrindo. – O salão já está livre para mim?
- Sim. – O moço falou. – O pessoal do buffet já está montando. – Assenti com a cabeça.
- Obrigada! – Ajeitei a bolsa na mão. – Eu estou esperando um casal, se eles passarem por aqui, podem pedir para eles irem lá atrás?
- Claro! – Eles sorriram e eu acenei com a mão, atravessando os salões do Four Seasons, acenando para diversas pessoas conhecidas, até encontrar o pessoal do buffet montando a cerimônia para o casamento mais tarde.
- Bom dia, Luna! – Vi a cerimonialista da minha empresa conferindo os objetos com uma prancheta na mão.
- Bom dia, senhora Weddburgh! – Ela falou, virando para mim.
- Como estamos aqui? – Me debrucei sobre a prancheta.
- Tudo certo, estamos no horário! – Assenti com a cabeça.
- Perfeito! – Suspirei. – Tenho um cliente daqui a pouco, qualquer coisa me chama.
- Sem problemas! – Ela falou e seguiu dentro do salão, falando com os fornecedores.
- Senhora Weddburgh? – Virei para a voz feminina que havia me chamado e respirei fundo ao encontrar Natalie, e uma terceira pessoa que eu já havia conhecido no corredor há algumas semanas atrás.
- Bom dia, gente! Tudo bem? – Sorri e eles assentiram com a cabeça.
- Tudo bem! – Eles falaram.
- Essa é a minha irmã Fiorella! – apresentou e eu estendi minha mão para ela.
- Oh, meu Deus, senhora Weddburgh, sinto muito por aquele dia. – Ela se apressou a falar e eu abri um pequeno sorriso.
- Não se preocupe! – Falei, deixando para lá. – Vamos entrar? – Falei, começando a andar e eles me seguiram.
Apresentei o local inteiro para eles, mostrando com a decoração atual onde ficaria tudo e achei surpreendente não me interromper a cada segundo e eu conseguir realmente trabalhar no que eu gosto. Natalie e Fiorella falavam a todo o momento sobre como estavam visualizando a cerimônia e eu acabava entrando na dela, esquecendo por alguns minutos que aquilo representava tudo que eu era contra.
- Nos vemos na semana que vem, então? – Natalie falou animada.
- Minha assistente vai ligar para vocês para marcar a próxima reunião. – Eles sorriram.
- Perfeito, obrigada! – Apertei a mão dos três e eles assentiram com a cabeça.
- Posso falar contigo rapidamente? – perguntou e eu franzi a testa.
- Claro! – Falei, vendo-o olhar significativamente para sua irmã e sua noiva e andei para o lado contrário, voltando a entrar no salão do hotel. – O que você quer falar comigo? – Perguntei, parando no meio do corredor das cadeiras e virei para ele.
- Eu vou ser bem direto e você pode dizer que não é da minha conta, mas eu me preocupo com Ellie.
- Isso não é ser direto! – Falei, olhando fixamente em seus olhos.
- Cadê o pai da Ellie? – Franzi a testa com a pergunta.
- Oi? – Perguntei.
- Cadê o pai da Ellie? Quem é o pai da Ellie?
- Por que você está me fazendo essa pergunta? – Cruzei os braços. – O que você tem a ver com isso?
- Bem, só sei que eu a encontro zanzando pelos corredores e pelo parque todos os dias sozinha. – Ele cruzou os braços também. – Eu sei onde você está, mas por que ela fica sozinha?
- Isso não é da sua conta. – Balancei a cabeça. – Isso não te interessa.
- Você pode não acreditar em mim, mas eu gosto da Ellie, ela é uma menina incrível que merece ter o pai dela por perto, aposto que ele pensa da mesma forma. – Ergui o dedo em sua direção.
- Ellie sabe onde o pai dela está e se ela não se importa com essa posição, você não deveria também.
- E onde ele está? – Ele me encarou e eu ri fraco, balançando a cabeça.
- Não pense que me conhece, senhor . – Assenti com a cabeça. – Volte para a sua noiva, e eu vou esquecer que você tentou se intrometeu na vida da minha família, ok?!
- Mas, ...
- Primeiro de tudo, é senhora Weddburgh quando estou em trabalho e, segundo, você realmente não me conhece! – Balancei a cabeça e suspirei alto.
- Senhora Weddburgh? – Ouvi Luna me chamando e deixei sozinho, ouvindo meus saltos baterem abafados contra o carpete do hotel.

***


Aquele dia eu cheguei realmente bravo em casa, quem ela pensa que é? Só porque está trabalhando precisava vir com essa pose toda para cima de mim? Eu estava só tentando entender e ajudar.
Bem... Talvez eu não tenha feito a melhor abordagem.
Mas mesmo assim, eu não queria me irritar por causa de uma bobagem dessas, além de que Ellie precisa de uma figura masculina na vida dela, ela parecia ficar tão confortável comigo, feliz, divertida... não poderia tirar isso dela.
Cheguei em casa batendo todas as portas e segui direto para o escritório, afrouxando a gravata e a camisa no meio do caminho e abri o notebook, correndo para o site de pesquisa, e escrevendo em caixa alta ‘ Weddburgh, cerimonialista’ e apertando o enter com força, esperando os poucos segundos para ver a página carregar e respirei fundo, suspirando com a quantidade de resultados e fotos que apareceram na minha frente, a pesquisa não seria fácil.
Saí clicando em todos os links e vi a parte de abas crescem exponencialmente. Achei suficiente quando o computador começou a ficar devagar e segui para o primeiro link do Wikipedia.
- Weddburgh, nascida em 31 de outubro de 1975... – Ri sozinho. – Isso explica muita coisa. – Balancei a cabeça. – Puerto Limón, Costa Rica. – Arregalei os olhos, colocando as mãos na boca. – Meu Deus! – Comecei a pular sozinho na cadeira. – Ela é estrangeira! – Balancei a cabeça, voltando a focar na tela. – É uma cerimonialista, dona da empresa Weddburgh Cerimonialista em Nova York... – Comecei a rodar a tela onde falava dos principais feitos dela, etc, nada que me interessasse, até que cheguei à vida pessoal. – Weddburgh possui somente uma filha, Ellie, nascida em 13 de julho de 2005. – Rolei a tela novamente. – O quê? Só isso? – Voltei novamente, balançando a cabeça. – Não é possível.
Coloquei as mãos no rosto e continuei passando as informações. Tinha muita informação sobre a carreira dela, mas nada sobre que eu realmente procurava. Tinha algumas fotos com diversos famosos, ela presente em alguns eventos e premiações importantes, mas sempre sozinha ou com Ellie, não tinha uma foto dela com um desconhecido que eu pudesse ao menos supor que era o pai de Ellie... Ou o namorado de .
Ela era uma cerimonialista famosa e nunca havia casado? Era isso mesmo?
Mudei de aba e acabei caindo em diversas notícias de casamentos famosos onde citava como a cerimonialista e dava um currículo de dar inveja dela, graduação, pós-graduação, mestrado, doutorado, pós-doutorado e diversas especializações que ocupavam metade da reportagem. A próxima aba que eu abri era um documento, havia caído no site da prefeitura de Nova York sem querer. Era um documento de mudança de nome.
- A partir desse dia 22 de março de 1999, a solicitante será reconhecida pelo nome Weddburgh, nativa da Costa Rica, naturalizada americana após um ano de moradia na cidade, com emprego fixo, renda comprovada e casa própria... – Franzi a testa e voltei correndo para o Google. – Nome verdadeiro de Weddburgh...
Três milhões de resultados e nada.
Balancei a cabeça, procurando por mais algumas abas e caí no site weddburgh.com, me fazendo suspirar por um segundo com os slides de fotos maravilhosas de casamento que passava na página inicial, me fazendo apoiar o queixo na mão, olhando todas as sessões do site, me sentindo levemente culpado pela situação que eu havia aceitado participar.
Bem, eu não queria. Eu realmente pensava como , casamento era um passo importante para um casal e tudo mais, mas se esse era o jeito de eu chegar na prefeitura de Nova York, eu teria que ir contra alguns dos meus princípios. Isso era muito importante para mim, poder lutar pelo que realmente importa, fazer o que é realmente importante... Queria chegar à presidência, mas precisava começar de baixo.
Cheguei à aba de sobre e vi uma foto bonita e sorrindo, ela estava similar ao que eu a conhecia das reuniões e sorri, encarando a tela por alguns segundos.
- O que eu estou fazendo? – Balancei a cabeça, abaixando a tela do notebook com força e empurrei a cadeira, balançando as mãos e segui em direção ao banheiro, pronto para um banho.


Capítulo 5

Ouvi o bipe do elevador e parei de digitar a mesma resposta pela milionésima vez naquela semana para a repórter e vi as portas se abrirem, fazendo com que Bruce saísse em minha frente e eu o seguisse.
- Por favor, Brigite, vamos brincar! – Ouvi a voz de Ellie e a vi quando saí do elevador.
- Eu não posso, senhorita Ellie, eu tenho que trabalhar. – Brigite falou, varrendo o corredor dos apartamentos.
- Por favor! – Ellie jogou a cabeça para trás e eu ri fraco.
- Eu tenho que trabalhar, imagina o que sua mãe vai dizer quando ela chegar em casa e não estiver limpo? – Ellie cruzou os braços. – E hoje é quinta-feira, daqui a pouco ela aparece aqui.
- Ah! – Ellie reclamou, virando o corpo, olhando para mim e Bruce. – Bruce! – Ela falou animada. – Quer brincar comigo? – Bruce riu fraco.
- Eu não posso, senhorita Ellie, tenho que trabalhar. – Ellie revirou os olhos, suspirando.
- Por que trabalhar parece ser tão chato? Vocês não podem brincar! – Ela encostou-se à parede emburrada.
- Desculpa, senhorita Ellie. – Bruce falou. – Oi, Brigite!
- Oi! – Brigite deu um sorriso para ele e encarei os dois por um tempo, abrindo um sorriso discreto, Ellie também encarou ambos e colocou as mãos na boca, rindo sozinha, até que ela olhou para mim.
- ! – Ela falou animada.
- Eu estou livre, pequena, o que você precisa? – Perguntei, vendo-a abrir um largo sorriso e ela me puxou pela mão.
- , precisamos trabalhar. – Bruce reclamou, nos seguindo para dentro do apartamento de Ellie.
- Se for mais entrevistas, eu passo! – Falei e vi Bruce bufar.
- Bem, a candidatura é sua, eu estarei no seu apartamento planejando suas próximas respostas. – Ele nos deixou sozinho e eu segui abaixado, sendo puxado por Ellie, até passar pelo apartamento e entrar em seu quarto.
- O que você precisa, Ellie? – Perguntei e ela me colocou parado no meio do seu quarto e surgiu com uma fita métrica em minha direção.
- Um modelo, uma mulher seria mais ideal, eu preciso medir a jaqueta que eu tô terminando para a mamãe. – Franzi a testa.
- Ah! – Balancei a cabeça. - E como eu deveria te ajudar? – Perguntei, vendo-a puxar uma escadinha em minha direção e subir na mesma com uma prancheta na mão e a fita enrolada no pescoço.
- Só fique parado. – Ela falou firme e eu a obedeci.
Ela começou a mexer de um lado para o outro, medindo a largura das minhas costas, arrastando a escada e medindo a largura dos meus braços e punhos, até que ela apareceu com uma agulha e eu dei um passo para trás.
- Ei! – Falei, dando um passo para trás e ela começou a rir.
- Medo de uma agulhinha? – Ela me zoou e eu ri fraco, começando a fazer cócegas em sua barriga, até puxar a agulha de sua mão.
- Sério, Ellie! O que você está fazendo? – Ergui a agulha e a vi tentando subir na escada para pegar, até que ela bufou. – Ellie.
- É um presente de aniversário para mamãe. – Ela cruzou os braços. – Está chegando e eu ainda não tive tempo de terminar porque ninguém é do tamanho para me ajudar a medir. – Ela suspirou alto.
- E você realmente acha que eu serei a pessoa ideal para isso? – Cruzei os braços.
- Eu sei que não, mas pelo menos eu tenho companhia. – Ela deu de ombros, se sentando no meio da sua cama.
- Você fica muito tempo sozinha, não?! – Ela deu de ombros.
- Na maioria das vezes eu não ligo, mas é que sempre enjoa também. – Ela suspirou e eu ri fraco, me abaixando em sua frente.
- Por que você não me faz um terno? – Ela abriu um largo sorriso.
- Mesmo? – Dei de ombros.
- Eu uso bastante, tenho certeza que precisarei quando a campanha pesada chegar.
- Eba! – Ela pulou na cama, correndo até sua mesa, e virando um grosso livro para todos os lados. – Lã fria, certo? – Ela virou para mim. – Com um pouco de mohair.
- Oi? – Virei para ela.
- O tecido. – Ela falou e eu ri fraco.
- Não sei, eu só compro pronto na loja. – Ela revirou os olhos.
- Você usa um dos ternos mais caros do mundo e não sabe do que são feitos? – Ela falou como se fosse o maior crime do mundo. – Enfim, se você topar, eu topo! – Ela cruzou os braços. – O que você acha? – Pensei por alguns segundos e acho que tinha tempo para brincar um pouco com ela.
- Me diga o que eu preciso comprar, que eu trago para você!
- Eba! – Ela deu outro pulo, me fazendo rir. – Mas antes, eu preciso tirar suas medidas e fazer a modelagem. – Ela me entregou uma prancheta e seguiu para seu notebook.
Ela abriu um documento no Word e mandou imprimir algo rapidamente, trazendo-o até mim e pegando a prancheta da minha mão, prendendo o papel. Procurou rapidamente por uma caneta e entregou ambos para mim.
- Eu vou medindo e você vai anotando, ok?! – Notei que a folha era uma lista de medidas de várias partes do corpo.
- Ok! – Falei, tirando a tampa da caneta.
- Começa pelo começo da lista. – Subi para a lista.
- Vamos lá, então! – Falei, vendo Ellie subir na escada. – Pescoço.
Ficamos um bom tempo assim, eu falava qual parte do corpo ela tinha que medir e ela virava na escada para me medir de todas as formas, de cima para baixo, de baixo para cima, dos lados e tudo mais.
Depois de ela terminar de me medir, eu me sentei na sua cama, vendo-a trabalhar no papel manilha e começar a fazer a modelagem no papel. Era interessante como ela se distraía fácil assim, ela realmente gostava disso.

***


- Nós estamos aumentando a nossa meta a cada trimestre, você realmente acha que eu não vou fazer isso? – Perguntei para Edward em minha frente.
- Mas não é assim que as coisas funcionam. – Ri fraco.
- Essa empresa é minha, Edward, você só faz a minha contabilidade, então não pense que mande em alguma coisa aqui, porque não manda. – Sorri, cruzando os braços. – A parte monetária da empresa é a parte mais limpa de todas, então trate de continuar assim. Meus funcionários terão o aumento de direito deles e mais um pouco. – Frisei a última parte. – A parte de marketing da empresa vai continuar da mesma forma, estamos chegando ao fim do ano, espalharemos outdoors pela cidade, propagandas na neve, tudo que os Nova Iorquinos gostam.
- Já que você quer aumentar o salário dos seus funcionários, você poderia reduzir na propaganda, você não precisa fazer uma propaganda, você já tem milhares de clientes a cada dia, sua lista para 2020 está cheia, você tem dinheiro para você e sua filha viverem pelo resto da sua vida. – Eu ergui um dedo, vendo-o ficar quieto.
- A Coca Cola precisa de clientes por acaso? – Perguntei, cruzando os braços. – Isso é fidelização, Ed, agora para de ser chato e faça seu trabalho. – Me levantei. – Ou você vai perder seu emprego.
- Ok, eu só estou... – Ele se levantou.
- Você não está entendendo, não é?! – Ri fraco. – Você não trabalha numa firma e eu contrato essa firma, Edward, você é empregado aqui, ou seja, o aumento é para você também! – Ele arregalou os olhos.
- Sério? – Ele perguntou.
- Todos os empregados, Edward, desde as cerimonialistas, até os motoristas. – Ele se levantou, tentando esconder um pequeno sorriso.
- Bem, então...
- Obrigada? – Falei e ele riu fraco, esticando a mão.
- É, obrigado! – Ele falou e eu apertei sua mão, chacoalhando-a.
- Tenha um bom dia, Edward, pode liberar o pagamento do pessoal, ok?! – Ele riu fraco.
- Com certeza, senhora. – O acompanhei até a porta da minha sala e ele saiu.
- Tchau, Ed! – Lily falou e eu apoiei no batente da porta. – Precisa de alguma coisa? – Ela me perguntou.
- Junta o pessoal, tenho um anúncio para fazer. – Ela arregalou os olhos interessada e apertou rapidamente o botão do rádio, fazendo sua voz ser ouvida pela empresa toda.
Voltei para dentro e dei uma olhada na minha agenda, eu não tinha nada marcado para depois da reunião com Edward, tinha algumas coisas para resolver, mas acho que eu poderia dar uma alegria para os meus 105 empregados fixos e ir para casa mais cedo aquele dia.
- Pronto! – Lily falou, aparecendo na porta novamente e eu soltei um suspiro. – O que você tem para dizer? É sério? – Balancei com a cabeça.
- De certa forma! – Ri fraco, passando o braço pelos seus ombros e seguimos para a sala principal, onde todos, pelo menos a maioria dos empregados, se juntaram. Dei uma rápida olhada e notei que tinha algumas pessoas fora como motoristas, cerimonialistas, não muita gente.
Subi em um pequeno púlpito que tinha encostado ali na sala, ficando levemente mais alta que o resto do pessoal. Tinha o dobro de pessoas que aquela sala suportava, então alguns estavam encostados nas mesas, até sentados nelas.
- Oi, gente! – O burburinho reduziu e eu respirei fundo, dando um pequeno sorriso antes de voltar a falar. – Eu tenho um anúncio para fazer, dois, na verdade. – Apoiei as mãos no púlpito, olhando rapidamente para os funcionários, eu adorava aquele momento. – Vocês sabem que o dia do pagamento está chegando, então, como sempre, o pagamento de vocês será depositado hoje. – Algumas pessoas deram gritos animados, rindo. – Mas, como mantivemos duas metas trimestrais muito acima do que estamos acostumados, vocês receberão um aumento no salário de vocês, a partir de hoje. – Os gritos ficaram mais altos e as pessoas bateram palmas sorrindo. – O aumento é de 10% para todos os empregados. – Apontei para eles que fizeram mais barulho e eu ri fraco, vendo Edward na lateral com um sorriso no rosto. – Nós vamos ter uma comemoração disso em algumas semanas, vou começar a planejar. Bater meta é sempre bom. – Eles riram fraco, sorrindo. – Que bom que isso lhes deixa feliz. – Eles sorriram e eu bati palmas com eles, ouvindo-os rir. – Bom, eu disse que tinha duas notícias, certo? – Perguntei e eles gritaram concordando. – Vão para casa! Dou o expediente como finalizado por hoje! – Aí que o pessoal comemorou mesmo, me fazendo rir.
A maioria de pessoas ali era bem mais novos do que eu, então era bom estar no meio do pessoal mais jovem, me lembrava de quando eu comecei. Todas as dificuldades de fazer tudo sozinha, e quando consegui meus primeiros três trabalhos pagos, eu comprei uma pequena scooter para andar por Nova York, quase sendo atropelada por todos os carros e motos mais potentes que a minha e morar em um quartinho no último andar de um apartamento caindo aos pedaços no Brooklyn.
Ri sozinha, parece que aquilo tinha sido ontem, mas faz quase vinte anos que eu tornei aquele escritório no telhado do meu prédio caindo aos pedaços em um império desse tamanho e morava no endereço mais caro do mundo.
De pensar que tudo isso havia vindo do nada por causa de um idiota qualquer que eu achava que merecia meu coração.
- Senhora Weddburgh? – Balancei a cabeça, olhando para Lily.
- Oi!
- Esse fim de expediente me inclui? – Ela fez uma careta fofa, me fazendo rir.
- Claro que sim, Lily! A mim também, vamos embora! – Falei e ela saiu animada. Olhei os outros empregados da grande sala, a grande maioria já havia ido embora e os que ficavam estavam terminando de desligar os computadores e guardar suas coisas.
Voltei para minha sala e desliguei o computador na tela lateral e juntei minha agenda e contratos do dia e coloquei tudo em uma pasta, peguei minha bolsa com o outro braço e saí da minha sala, apoiando minhas coisas na mesa de Lily e puxei as portas da minha sala, trancando tudo.
- Vamos? – Perguntei, pegando minhas coisas novamente.
- Vamos! – Ela seguiu ao meu lado animada.
- Vamos, gente! – Falei para os funcionários que ainda estavam na sala. – Quem não sair comigo vai ter que dormir aqui. – Eles riram e esperei alguns saírem pelo corredor e andei atrás deles, desligando as luzes por onde eu passava.
Puxei a porta da empresa e tranquei com a minha chave, jogando-a dentro da bolsa e saímos pelo corredor, vendo um elevador chegar e entrei com outros funcionários. Quando chegamos lá embaixo, segui para a recepção.
- Oi, Pete! – Falei para o segurança que cuidava da minha sessão.
- Olá, senhora Weddburgh. Tudo bem? – Sorri. – Posso ajudar?
- Tudo ótimo. – Apoiei meu braço no balcão. – Nós estamos fechando por hoje, caso apareça alguém aqui, peça para vir amanhã, pode ser? – Ele me olhou surpreso.
- Claro, senhora. – Ele sorriu. – É bom ver você indo embora antes do dia anoitecer. – Ri fraco, dando de ombros.
- Para você ver! – Dei de ombros. – Boa noite, gente!
- Boa noite. – Eles falaram e eu atravessei o salão do prédio empresarial, saindo do mesmo e entregando meu cartão para o valet. Olhei um pouco mais a frente e vi Lily na fila dos táxis.
- Ei, Lily! – Falei um pouco mais alto e ela se virou. – Quer uma carona? Aposto que Minnie vai gostar de te ver mais cedo em casa.
- Mesmo? – Ela falou rindo e eu conferi o relógio.
- Eu verei Ellie antes das seis, então acho que ela não terá problemas em esperar mais vinte minutos. – Ela sorriu animada.
- Obrigada! – Ela correu para fora da fila e se colocou ao meu lado, alguns minutos depois meu carro parou em minha frente e o valet saiu do mesmo, mantendo a porta aberta para mim.
- Aqui, senhora Weddburgh. – Entreguei algumas notas em sua mão.
- Obrigada, tenha um bom dia! – Entrei no carro e coloquei minhas coisas no banco de trás e puxei o cinto de segurança. – Vamos lá, Lily.
Dirigi com calma aquele dia, não estava nem perto da hora das pessoas começarem a sair dos seus trabalhos, então não fiquei presa em nenhum trânsito. Bem, era Nova York, então posso considerar que não teve nada fora do comum como demorar uma hora para fazer um percurso de sete quilômetros, que era à distância do trabalho até em casa.
Desviei um pouco do caminho para deixar Lily do outro lado do Central Park, mas eu nem me incomodava, Lily me lembrava a mim mais jovem, com sonhos, esperanças e vontades. Só espero que o amor não lhe dê uma rasteira como havia me dado. Mas Minnie era legal.
Entrei no estacionamento do prédio e sorri satisfeita para o relógio no painel do carro, eram cinco horas da tarde, o sol estava no céu e eu estava entrando em casa. Desliguei o carro e saí do mesmo, seguindo para o banco de trás para juntar todas as minhas tralhas. Bati a porta com o quadril e tranquei o mesmo rapidamente com um clique, ouvindo o alarme ser acionado.
Fiz um malabarismo para apertar o botão do elevador, mas, quando consegui, ele chegou rapidamente e eu entrei no mesmo, colocando a bolsa rapidamente em cima dos meus pés para que eu ajeitasse o notebook, a pasta de contratos e mais duas agendas de clientes que casariam essa semana.
Ouvi o bipe do elevador e peguei minha bolsa novamente, saindo da mesma, vendo a porta do meu apartamento entreaberta e empurrei a mesma, vendo Brigite limpando a sala, arregalando os olhos quando me viu.
- Meu Deus! – Ela se apoiou no esfregão. – O que você faz em casa tão cedo? – Ri fraco, apoiando minhas coisas na mesa de jantar.
- Dia de pagamento, aumento de salário do pessoal. – Abri um pequeno sorriso. – Nada mais justo do que liberar eles mais cedo. – Ela riu fraco. - Amanhã tem expediente ainda, então não vai afetar nada os compromissos do fim de semana.
- Que orgulho de você, senhora Weddburgh! – Ri fraco, descendo dos saltos e os colocando ao lado da porta.
- Cadê Ellie? – Perguntei, levando à mão aos botões da minha blusa.
- No quarto. – Ela estendeu a mão. – Acompanhada. – Franzi a testa, fechando o botão que eu tinha aberto imediatamente.
- Quem está aí? – Perguntei, me aproximando de Brigite.
- Você não vai gostar. – Ela disse simplesmente e eu segui para o quarto de Ellie, ouvindo sua risada de vez em quando.
- Qual sua matéria favorita na escola? – Ouvi uma voz masculina conhecida e franzi a testa.
- Você não deveria fazer essa pergunta para alguém tão evoluída quanto eu. – Ele riu fraco e eu balancei a cabeça, essa era a minha filha.
- Mas você tem 12 anos, Ellie, não deveria falar de nada diferente disso. – Ela gargalhou gostoso e eu apareci na porta do quarto dela.
- Mamãe! – Ela falou animada, correndo pelo quarto e me abraçando pela barriga, na mesma hora que se levantou assustado.
- Ah, minha querida! – Abracei-a apertado, franzindo a testa em direção a que deu de ombros.
- O que você está fazendo em casa tão cedo?
- Liberei o pessoal mais cedo, hoje foi um bom dia! – Ela riu, me apertando.
- E você, o que está fazendo aqui? – Virei para .
- Não fique brava com ele, mamãe! – Ellie se colocou em minha frente, olhando para cima. – Ele me fez companhia o dia inteiro. – Ela colocou as mãos na cintura e eu suspirei, não poderia ficar brava com ela.
- O que vocês fizeram? – Perguntei, vendo os moldes e panos de Ellie jogado para todos os cantos.
- Eu vou fazer um terno para o usar na sua campanha. – Ela sorriu feliz. – Imagina só se ele fala em rede nacional “estou vestindo um terno de Ellie Weddburgh”? – Seus olhos brilharam nessa hora.
- Seria legal, não seria, querida? – Ri fraco, estalando um beijo em sua cabeça.
- Seria demais! – Ela falou rindo e eu sorri.
- Bem, eu vou deixar vocês se divertindo, vou tomar meu banho, ok?! – Falei para Ellie, virando para o corredor novamente.
- Mesmo? – perguntou, saindo na porta do quarto.
- Não posso fazer nada se ela gosta de você. – Dei de ombros, seguindo para a sala novamente, pegando minhas coisas na mesa da sala e voltei pelo corredor, notando que ele me encarava. – O que foi? – Perguntei.
- Acho que nunca te vi tão despojada assim. – Ele falou rindo e eu revirei os olhos.
- Não pense que somos íntimos só porque está na minha casa. – Falei baixo.
- De você eu não penso nada. – Ele falou com um sorriso presunçoso.
- Vem cá, ! – Respirei aliviada quando Ellie o chamou.

***


- Se quiser, eu te levo para comprar os tecidos amanhã. – Falei para Ellie que equilibrava o molde cortado no meu corpo.
- Eu passo lá depois da aula, Brigite me leva. – Concordei com ela.
- Perfeito. – Tirei a carteira da bolsa, tirando algumas notas da mesma. – Isso paga tudo? – Entreguei o dinheiro para ela e ela arregalou os olhos com os 300 dólares que eu dei a ela.
- Isso dá para uns quatro ternos, , mas deve dar sim! – Ela foi sarcástica e eu ri.
- Toc, toc! – Ouvi o barulho da porta. – Posso entrar? – estava na porta.
- Claro, mãe! – Ellie falou animada.
- O que tanto vocês fizeram hoje? – Ela cruzou os braços, se aproximando de Ellie que virava no seu banco giratório.
- Eu tirei todas as medidas do , elaborei todos os moldes e ficamos batendo papo. – riu fraco.
- Nossa, bateram papo? – Ellie sorriu. – Sobre o que falaram?
- Ah, você sabe, não é?! Sobre a vida! – Ri fraco, balançando a cabeça.
- Bem, sem querer cortar o barato de vocês, acho que está na hora da mocinha ir tomar banho e dormir.
- Ah, mãe! – Ellie reclamou.
- Que horas são? – Me levantei, pegando meu celular no bolso.
- Eu trouxe pizza para vocês, então já passou da hora da janta. – O celular iluminou e vi que passava das 21hs.
- Nossa, Ellie, está tarde mesmo! – Guardei o celular no bolso novamente.
- Nos vemos depois? – Ellie perguntou.
- Com certeza, gatinha! – Falei e ela abriu um sorriso e subiu na sua escada.
- Boa noite, então! – Ela falou, dando um rápido beijo em minha bochecha e pulou do banco, saindo correndo do quarto, dei um pequeno sorriso.
- Acho que está na hora de você ir também. – falou, saindo do quarto com os pés no chão.
- ! – Fui atrás dela e a vi se sentar no sofá da sala de jantar com uma pilha de revistas ao seu lado e seu computador na mesa ao lado. – Podemos conversar? – Ela franziu o rosto, mas esticou a mão para o espaço vazio no sofá.
- Diga! – Ela falou, com o rosto levemente desconfiado.
- Ellie é demais! – Falei, me sentando no espaço ao seu lado, com a pilha de revistas no meio.
- Ela é! – Sorri, suspirando. – Pena que os amigos dela têm 40 anos. – Ri fraco e ela suspirou. - Ela não tem muitos amigos?
- Alguns na escola, mas você já deve ter notado que Ellie é muito acima da sua idade. – Franzi os lábios.
- Sim! – Ri. – Notei sim, ela é bem especial... – Ela sorriu.
- É, talvez você possa usar essa palavra. – Ela balançou a cabeça, olhando rapidamente o e-mail que havia subido em sua tela. – Eu só gostaria que ela tivesse amigos da sua idade, que ela fosse tomar sorvete e não ler um livro de duas mil páginas de como fazer uma roupa... – Suspirei, assentindo com a cabeça.
- Mas você não se sente orgulhosa pelo que ela está construindo? Porque eu vejo futuro aí. Como ela disse, “Ellie Weddburgh, estilista”. – Ela sorriu.
- Com certeza. Ela é uma lutadora, ela vai chegar onde ela quiser.
- Por que você não passa mais tempo com ela? Dá mais atenção a ela? Tenho certeza que ela adoraria ter você aqui para falar das criações dela, dos sonhos, das vontades. – Dei de ombros e ela riu fraco, balançando a cabeça.
- Engraçado você querendo me dar lição de moral, não?! Ainda mais depois de conhecer a minha vida e viver a minha realidade. – Ela falou calma, dando de ombros. – Não acho que você esteja apto a isso.
- Acredite, nesse aspecto eu sei como é. Ela fica sozinha todos os dias, fica passeando aqui no prédio, no Central Park ou em qualquer lugar que ela possa falar com alguém diferente, alguém novo. – Dei de ombros. – Hoje ela queria alguém para brincar com ela, para ser modelo dela. – Ela balançou a cabeça. – Você acha que eu era a pessoa exata para brincar com ela? Para perder algumas horinhas com ela?
- , isso não é...
- Não é da minha conta, eu sei. E eu amo essa menina, mas só pensa um pouco se eu estou certo. – Ela suspirou. – Ou, sei lá, como você é bastante ocupada, talvez uma tia, uma avó?
- Você ainda não entende, não é?! – Ela suspirou, virando o corpo em minha direção. – Só somos eu e ela, , não tem mais ninguém. – Ela suspirou. – A família Weddburgh é composta por mim e por Ellie, , somente. – Ela deu um pequeno sorriso fraco. – Realmente não tem mais ninguém, somos só nós duas. – Ela suspirou.
- Você é um fantasma, . – Falei. – Eu procurei por você e, além da sua carreira incrível, não tem mais nada. – Ela soltou um grande suspiro, fechando os olhos.
- Mãe! – Ellie apareceu com seu pijama. – Vou dormir! – Ellie abraçou e deu um beijo em sua bochecha. – Boa noite, ! – Ela me abraçou e eu ri fraco. – Tchau para vocês dois!
- Já vou lá, querida! – sorriu para sua filha que saiu correndo e eu me levantei.
- Bem, acho que está na minha hora. – Falei.
- É, acho que está! – se levantou também. – Nos veremos semana que vem.
- Sim, está cada vez mais perto. – Ela confirmou com a cabeça, abrindo a porta.
- Tenha uma boa noite. – Ela falou e eu acenei com a cabeça, saindo do apartamento. – Ah! – Virei para ela. – Obrigada por passar o dia com Ellie hoje! – Assenti com a cabeça, atravessando o corredor e rezando para Bruce ter largado a porta aberta e empurrei a mesma, entrando no meu apartamento e fechei a porta.
- Demorou, hein?! – Ouvi a voz de Bruce e tomei um susto.
- Caramba, Bruce. Você ainda está aqui? – Perguntei.
- Alguém precisava trabalhar. – Ele falou, encarando um copo de uísque.
- Você parece cansado. – Ele riu fraco.
- Pois é! – Ele suspirou. – E você? Ficou até agora com Ellie?
- Fiquei! – Ri fraco. – Incrível como eu me afeiçoei a essa garota.
- Pois é! – Ele riu. – Tô surpreso, confesso. Você nunca foi fã de crianças. – Ri fraco, balançando a cabeça.
- Ela é diferente, Bruce. Ela é inteligente, ela é esperta, ela sabe das coisas... – Suspirei. – Ela é especial. – Repeti as falas de e ele sorriu.
- Que bom que você está se afeiçoando a alguém, pelo menos. – Bruce falou e eu confirmei com a cabeça. – Podemos, pelo menos, repassar suas histórias de amanhã? – Ele perguntou e eu franzi a testa. – Você teve seis horas de folga, acho que podemos fazer o que eu quero agora, certo? – Ri fraco.
- Ok, criança, vamos lá! – Falei, respirando fundo.
- Quer pizza? – Ele perguntou, se levantando.
- Já jantei na vizinha. – Ele abriu um largo sorriso e eu franzi a testa. – O que foi?
- Você gosta dela!
- Da Ellie? Adoro! – Bruce gargalhou.
- É, se finja de tonto mesmo. – Ele falou, seguindo para a minha cozinha.
- Ei, você que cuida dos registros da prefeitura, por acaso você já deu uma procurada sobre Weddburgh? – Perguntei, seguindo-o e me apoiando no balcão da vizinha.
- Apesar de não ser do seu interesse isso, já sim, e não, eu não achei nada, os únicos dois registros dela são os de quando ela entrou no país e de mudança de...
- Nome! – Falei. – É eu também achei esses, mas não fala qual era o sobrenome anterior.
- É, não achei também. – Bruce deu de ombros, pegando algumas coisas na geladeira para montar um lanche. – Parece que você vai ter que ficar mais íntimo dela para saber. – Franzi a testa para Bruce que abriu um largo sorriso.
- Se enxerga, Bruce! – Falei e ele gargalhou, abafando a risada com uma fatia de queijo.

***


Fechei a porta e passei a mão embaixo dos olhos, sentindo-o úmido e respirei fundo. Apesar de odiar, ele estava certo. Balancei a cabeça e tranquei a porta, passando pelo corredor e empurrando a porta do quarto de Ellie, vendo-a com uma Vogue em seu colo.
- Ei, mocinha, eu disse que era para dormir. – Me sentei na beirada da sua cama e ela fez uma careta.
- Estou agitada hoje. – Ela sorriu. – Foi divertido!
- Ah, é? – Ri fraco, fazendo cócegas em sua barriga, vendo-a se contorcer na cama. – Linda! – Falei, fazendo um carinho em seu rosto.
- Eu sei que você não gosta do , mãe, mas ele é legal. – Assenti com a cabeça.
- Eu sei, meu amor, prometo que não vou mais encher o saco por causa disso, se você gosta dele, eu vou respeitar. – Ela assentiu com a cabeça e passei a mão no seu cabelo loiro, jogando-o para trás.
- Obrigada, mãe! – Assenti com a cabeça.
- Só quero que você entenda mais uma vez tudo que eu te contei, sobre meu passado, sobre nossa história... – Ela assentiu com a cabeça.
- Eu entendo sim, mamãe. E eu não vejo problema em nada. – Concordei com a cabeça, estalando um beijo em sua testa.
- Eu só gostaria de saber uma coisa, querida, porque você não brinca com alguém da sua idade? – Ela revirou os olhos, fazendo careta.
- Eles só querem saber de brincar de bonecas e carrinhos... Isso é muito chato! – Ela reclamou e eu gargalhei, balançando a cabeça.
- Você acha que eles não gostariam de brincar de desfile de modas contigo? – Perguntei.
- Não sei, eles me olham com uma cara estranha. – Ela deu de ombros.
- Se eles brincam de bonecas, eles devem trocar as bonecas, qual seria a diferença de brincar de se trocar? – Perguntei. – Eu acho que seria muito mais legal. – Ellie se sentou na cama.
- O que você está pensando? – Ela me perguntou e eu ri.
- Porque você não convida as meninas e os meninos para um desfile de modas? – Perguntei e ela abriu um largo sorriso. – Você pode fazer as roupas para eles, eu posso falar com alguns parceiros da empresa, algumas marcas de roupas infantis, algumas maquiadoras e fazermos um evento bem legal, que tal? – Ela arregalou os olhos e a boca. – Podemos convidar os pais para assistir, alguns salgadinhos e refrigerante...
- Você deixa? – Ela perguntou animada.
- Claro que sim, querida! – Ri fraco. – Qualquer coisa para te deixar feliz. Posso pedir para o pessoal da empresa fazer um convite legal, arrumar algumas coisas, posso ver com algum dos hotéis parceiros... – Ela abriu um largo sorriso.
- Você pode ver se eles fazem um convite amanhã? – Ela perguntou animada. – Quero poder convidar todo mundo logo.
- Posso sim, meu amor, mas cada um vai ter que pagar pela sua roupa, ok?! Não quero você gastando suas economias com ninguém...
- Eu sei mãe, dã! Também não sou tonta. – Ri fraco, balançando a cabeça.
- Eu vou te deixar dormir, ok?! – Falei. – Temos que arranjar algum jeito de nos divertir amanhã, já que você me trocou por outra pessoa na minha folga. – Ela riu alto.
- Ah, mãe! – Ela riu fraco. – Eu não sabia...
- Eu sei, querida! Estou brincando! – Ela falou e eu estalei um beijo em sua testa. – Boa noite, meu anjo. – Fiz um sinal da cruz em seu peito. – Que o Papai do céu te abençoe. – Ela assentiu com a cabeça.
- A você também, mãe! – Ela sorriu e eu me levantei da sua cama.
Ajeitei a coberta em cima do seu corpo e coloquei a revista do outro lado da cama. Ela se virou de lado, abraçando seu pinguim de pelúcia e vi Bee passar correndo pela porta e se ajeitar em sua casinha.
- Boa noite, princesa. – Falei.
- Boa noite, mamãe! – Ela falou e eu apaguei a luz, deixando a porta entreaberta.


Capítulo 6

Ouvi um barulho e ergui o rosto, vendo a porta do meu escritório ser aberta e vi Bruce entrando na mesma com seu terno habitual, pasta e diversos flyers de divulgação.
- O que você está fazendo aqui tão cedo? – Ele me perguntou e eu ri, tirando os óculos do meu rosto.
- Está chegando, Bruce, é agora ou nunca. – Ele abriu um sorriso, se sentando na poltrona em frente à minha mesa.
- O que aconteceu com ? – Ri fraco, balançando a cabeça.
- Você sabe o quanto que eu quero isso, Bruce. – Ele afirmou com a cabeça.
- Sei sim! – Ele riu fraco e eu bocejei alto.
- Desde que horas você está aqui? – Ele me perguntou.
- Desde ontem à noite. – Suspirei. – Um pessoal veio aqui, Natalie veio também, ficamos conversando, mas acabou cedo...
- Cedo? Vindo de você? – Ri fraco em desdém e ele sorriu.
- Continuando... Acabou cedo e eu vim para cá trabalhar... – Bruce arregalou os olhos, conferindo o relógio.
- Você não dormiu a noite toda? E são 8 horas da manhã? – Ele balançou a cabeça.
- Não! – Suspirei, coçando o olho e conferindo a xícara de café vazia ao meu lado, bocejando novamente.
- Bem, por que você não toma um banho e dorme por algumas horas? – Ele perguntou, se levantando novamente. – Enquanto isso, eu confiro o que você adiantou essa noite. – Ri fraco, confirmando com a cabeça.
- Eu vou ter que aceitar, tem o debate amanhã e eu vou ter que dar tudo de mim para desempatar isso. – Ele concordou com a cabeça.
- Vamos nessa, ! – Bruce falou. – E você ainda tem reunião do casamento hoje também. – Franzi a testa.
- Já tinha me esquecido. – Suspirei e ele riu, balançando a cabeça.
- Animado? – Bruce perguntou.
- O que você acha? – Dei de ombros. – Eu não vou dizer que nunca me casarei, mas quando eu me casar, com certeza não quero que seja assim. – Balancei a cabeça. – Ela é legal, simpática e tal, mas eu não sinto nada por ela.
- E por ? – Virei bruscamente para ele.
- O que você está dizendo, Bruce? – Perguntei. – Use palavras, não indiretas. – Ele deu de ombros.
- Não sei. Vocês estão diferentes. – Ele deu de ombros. – Vocês não estão mais se bicando tanto, parecem até que cresceram. – Ri fraco e dei de ombros.
- Eu não sei, Bruce. Mas eu não estou com tempo para descobrir agora. – Ele confirmou com a cabeça e, antes que ele pudesse falar algo, eu emendei. – Vou tomar banho.
- Ok! – Ele falou, quando eu já tinha dado meia volta para fora do escritório.
Segui para o banheiro e tomei um longo banho, me permitindo relaxar um pouco embaixo da água quente. Na minha cabeça passava milhões de coisas, a eleição estava há menos de um mês de distância, e o casamento seria em duas semanas, parece que eu pisquei e as coisas aconteceram e eu ainda não sei onde eu me meti.
Mas ainda nada parecia certo, eu não deveria me casar, muito menos com Natalie, não fazia sentido. A gente se encontrava só para assuntos que envolvessem o casamento e nada mais, não me interessava o que ela estava fazendo ou com quem, não sendo uma má pessoa, mas eu não queria saber. Podia passar horas com Ellie que era bem mais nova, já com Natalie eu não conseguia fingir por muito tempo.
Minha cabeça estava muito confusa, aquele dia que eu passei o dia na casa da vizinha havia sido muito mais divertido do que passar vários dias e horas com Natalie. Não que ela fosse uma pessoa ruim e tal, mas eu não sentia absolutamente nada por ela... Ela podia ser uma ótima amiga, mas com a cabeça focada em tantas outras coisas, eu nem havia me preocupado em perguntar pelo menos a cor favorita dela ou o filme.
Eu realmente não queria fazer isso.
Bati a cabeça no vidro do boxe e senti uma dor enorme no peito e quando me toquei estava chorando igual uma criança. Não parecia, mas tinha uma pressão incrível nas minhas costas por coisas que simplesmente não faziam sentido. Me casar para ser eleito à prefeito? Isso era a pior desculpa que minha irmã, formada, pós-graduada e mestrada em marketing, propaganda e sei lá mais o quê, podia ter feito na vida. Ela podia ter arranjado mil e um motivos, mas fazer um casamento de milhões de dólares que duraria um ano parecia mais fácil.
Eu estava fazendo tudo errado. Isso era errado demais. Eu não deveria ter aceitado essa ideia, eu não deveria fazer isso, eu não merecia conseguir a prefeitura por causa de um falso casamento. Aquilo era tudo uma mentira.
Deixei a água cair no rosto novamente, levando as lágrimas embora e saí do mesmo, enrolando meu corpo numa toalha. Mas agora eu precisava terminar, seguir tudo com o plano e me manter até o fim, dando certo ou errado. Era agora ou nunca! E eu podia ser o que fosse, os jornais podiam falar o que quisessem, as pessoas podiam me xingar de diversos nomes e me julgar de várias formas possíveis, mas elas não sabem o que eu posso fazer por essa cidade, mas, se tudo der certo, elas saberão.
Voltei para o quarto e coloquei uma calça e uma blusa, pendurando a toalha de volta no banheiro e me deitei na cama. Tomei um comprimido e dormi antes mesmo de pegar meu celular para ler os e-mails.
Acordei algumas horas depois com meu telefone tocando, me assustei ao notar que era o nome da minha vizinha que aparecia na tela do mesmo. Franzi a testa e me levantei da cama antes de colocar o telefone na orelha.
- Alô? – Falei, coçando os olhos.
- Senhor ? – Ouvi uma voz estranha e franzi a testa.
- Sim, quem é?
- Aqui é Lily, assistente pessoal da senhora Weddburgh.
- Ah, oi Lily, tudo bem?
- Tudo bem, senhor . – Ela falou. – E você?
- Tudo bem também!
- Que bom ouvir isso. – Ela foi bem cordial. – Eu estou te ligando, pois vocês tem uma reunião sobre o casamento amanhã, certo?
- Sim, por aí! – Falei, não lembrando o dia exato, só sabendo que era essa semana.
- Eu gostaria de saber se tem problema você e a Natalie virem hoje para decidir os últimos detalhes da decoração.
- Claro, verei com Natalie, que horas? – Perguntei.
- Vagou um horário às 17 horas, fica muito em cima para vocês? – Conferi rapidamente o relógio na mesa de cabeceira e vi que estava na hora do almoço.
- Creio que está bom, falarei com Natalie e encontramos vocês aí. – Abri um pequeno sorriso.
- Perfeito, senhor , qualquer coisa podem ligar para desmarcar.
- Beleza, mas creio que não será necessário!
- Perfeito! Vejo vocês mais tarde. – Ela falou.
- Obrigado, Lily, até mais tarde! – Falei e a ligação terminou.
Olhei para o telefone por um momento e procurei pelo número de Natalie na agenda e disquei o mesmo, ouvindo-o tocar algumas vezes.
- ? – Ouvi sua voz.
- Ei, Nat, tudo bem?
- Tudo certo e contigo? – Ela falou baixo.
- Está ocupada? Pode falar? – Perguntei.
- Sim, eu estou numa consulta. – Afirmei com a cabeça. – Aconteceu alguma coisa?
- A Lily do casamento ligou, eles querem adiantar a reunião para hoje às 17 horas, tem como?
- Claro, eu daqui a pouco saio daqui e vou para casa.
- Beleza, eu passo para te pegar, então. – Falei.
- Combinado, então. Depois nos falamos, tchau.
- Até mais! – Falei, desligando o telefone.
Olhei para a cama e cogitei voltar a dormir novamente, mas conferi o relógio, precisava almoçar, fazer uma entrevista por skype e me arrumar para a reunião. Pensei no meu sono e segui para o banheiro, passando uma água gelada no rosto rapidamente.
Saí do banheiro e me arrumei como se eu fosse sair de casa, coloquei calça e blusa social, uma gravata longa e penteei os cabelos para trás, só não coloquei o paletó, pois estava realmente quente aquele dia.
No que eu saí do quarto, Bruce já havia deixado tudo preparado na sala para a entrevista. Ele havia ligado o notebook na TV e eu observava a tela no notebook repetida em tamanho maior. Bruce estava no telefone, falando com a produção do programa, suponho eu. Apesar de que seria um programa gravado, depois seria editado e passado em programas de TV e seria replicado em outros mais.
- , quando quiser! – Bruce falou para mim, se levantando do sofá.
- Perfeito! – Me sentei onde ele estava anteriormente. – Me dê dois minutos com o repórter.
- Beleza. – Bruce falou, se afastando e eu encarei a tela à minha frente, onde um homem pouco mais novo que eu aparecia na mesma.
- Senhor ! – Ele me cumprimentou.
- Olá, tudo bem? – Sorri.
- Tudo ótimo, e o senhor?
- Tudo bem! – Falei. – Então, você é o Gary, certo?
- Sim, trabalho aqui na rádio há alguns meses.
- Que bom! Carne nova! – Ele riu fraco.
- Espero que não toque em nenhum assunto indelicado. – Balancei as mãos.
- Que isso, as pessoas precisam descobrir quem eu sou antes de votar em mim, certo?
- Espero que sim, senhor! – Sorri.
- Então, Gary, você vai tocar em quais assuntos para eu já me preparar?
- Só sobre suas intenções políticas e sobre seu recente noivado. – Assenti com a cabeça. – Mas o foco será a política mesmo, é a minha área de interesse.
- Perfeito. Quando quiser. – Bati as mãos, ajeitando a gravata.
- Vamos entrar no intervalo daqui a pouco e, na volta, é contigo, beleza? – Assenti com a cabeça. – Você está informado que a transmissão é online também, certo?
- Sim, estou! – Assenti com a cabeça.
- Voltamos já com uma entrevista exclusiva com nosso secretário de educação e candidato a prefeito, . – O outro locutor falou ao fundo e Gary acenou para mim.
- 30 segundos. – Ele falou e eu concordei com a cabeça, me aproximando do microfone e vendo Bruce se colocar ao lado da televisão, preparado como um bom assessor. - 20 segundos. – Bati os pés no chão, balançando a cabeça. – 10 segundos... – Ele fez a contagem com a mão e me mantive em silêncio.
- Gary... – O locutor falou.
- Estamos de volta com o jornal das três, eu sou Gary Velasco e estamos aqui para falar de política. – Confirmei com a cabeça. – Com as eleições se aproximando, cada semana temos a participação de um candidato aqui no nosso programa, e hoje é a vez de um dos favoritos, . Olá, , está na escuta?
- Olá, Gary, tudo bem?
- Tudo certo! – Ele respondeu. – Temos algumas perguntinhas para você, vamos lá?
- Claro, manda bala! – Falei, ouvindo-o rir.
- Sobre sua eleição, ...
- , por favor! – Rimos juntos.
- , certo! – Balancei a cabeça. – Sobre sua eleição, você vem de uma longa linhagem de prefeitos, secretários, deputados, senadores e até governadores, você acha que foi por isso que você entrou no meio político?
- Olha, Gary, eu nunca pensei muito sobre isso, mas eu lembro que desde que eu era pequeno eu queria ajudar os outros, comecei trabalhando em ONGs, me voluntariando em diversas situações, até faço a doação do meu imposto de renda para organizações da cidade, então eu sempre estive incluído em fazer o bem. Mas quando você é criança, é tudo lindo e maravilhoso, mas quando você vai para o mundo real, você só consegue fazer isso por meio da política ou sendo muito rico. – Gary assentiu com a cabeça pelo vídeo. – E como minha família já tinha certa influência, eu optei pela política.
- E você também já foi vereador e prefeito da sua cidade, certo?
- Sim, já, mas eu nasci em uma cidade de 50 mil habitantes, então é totalmente diferente você cuidar de uma cidade que você conhece todo mundo e comandar Nova York que é uma das maiores cidades do mundo. – Gary assentiu com a cabeça.
- E, caso você seja eleito, quais são seus principais planos?
- A maioria dos meus planos como prefeito é focado nos jovens, porque como eu comecei cedo, eu quero que os jovens também estejam inclusos na política, porque isso importa bastante para eles também. Eles precisam ver que política não é algo sujo, como está sendo caracterizado em várias partes do mundo. Eles precisam saber que são capazes e que suas vozes podem ser ouvidas.
- Isso é realmente muito importante mesmo. – Gary concordou. – Agora saindo um pouco da política, você está com casamento marcado recentemente, confesso que isso assustou muitas pessoas.
- Sim, até a mim, confesso! – Ri fraco.
- E como isso aconteceu?
- Olha, eu e a Natalie somos amigos há muitos anos, sabe aquela história de amigos que se pegam de vez em quando? – Gary riu, concordando.
- Sei bem!
- E eu sei que eu sou muito honesto com ela e vice-versa, então quando essa loucura começou, eu achei que ela seria minha parceira de crime ideal, para me ajudar nessa árdua tarefa que pode ser a prefeitura.
- Então, é mais um acordo, digamos assim? – Franzi a testa, ponderando com a cabeça.
- Creio que não, Gary, ela é uma das pessoas que eu mais posso confiar nessa vida e é ela ou alguém como ela que eu gostaria de ter ao meu lado pelo resto da vida.
- Que bom, . Espero que vocês sejam muito felizes. – Concordei com a cabeça.
- Obrigado! – Falei.
- Agora voltando para a política, seu pai já foi prefeito da cidade por quatro mandatos, mas parece que as coisas não estão vindo de mão beijada para você? – Ri fraco, confirmando com a cabeça.
- Ah, família não quer dizer nada esses dias, precisamos lutar e engolir nossos sapos diariamente. – Ri fraco.
A entrevista continuou dali, seguiu por cerca de 20 minutos, esquecendo Natalie por um momento, sendo lembrada só em algumas situações que não tinha como fugir e ela acabava sendo mencionada. Mas no geral foi ok, Bruce nem pulou em frente à câmera precisando desligar ou algo do tipo.
Entre a entrevista acabar e sairmos para a reunião, quase nos atrasando, mas consegui passar na casa de Natalie rapidamente e seguir para a empresa da minha vizinha.
- Eu vi a entrevista. – Natalie comentou e eu ri fraco.
- Falei muita besteira? – Ela deu de ombros.
- Pelo menos você tirou a responsabilidade de sermos um casal totalmente apaixonado. – Ela balançou a cabeça.
- Eu não estou aguentando mais, Natalie. – Ela assentiu com a cabeça.
- Eu posso imaginar. – Ela suspirou. – Você é mais do que isso, . É só um meio para um fim.
- Sim, eu sei. – Ela assentiu com a cabeça.
- Quais são suas motivações, Nat? – Perguntei.
- O dinheiro, né?! - Ela deu de ombros. – Preciso pagar o tratamento da minha mãe.
- Independente de onde isso chegar, eu prometo te ajudar, ok?!
- Valeu, ! – Ela sorriu. – Estamos nisso juntos. – Assenti com a cabeça.
- Sim, estamos. – Suspirei.
A viagem durou mais alguns minutos e logo estávamos dentro do elevador, vendo as portas se abrirem e dar de cara com o nome Weddburgh. Andamos lado a lado até o fundo da empresa e Lily já nos esperava com um sorriso no rosto.
- , Natalie... – Ela assentiu com a cabeça. – A senhora Weddburgh está lhes esperando. – Ela apontou para a porta e abriu as portas duplas, onde pude ver minha vizinha lá dentro.
- Olá, , olá, Natalie, como estão? – abriu um sorriso e estendeu a mão para nós que apertamos rapidamente. – Vamos sentar? – Ela apontou para as cadeiras à sua frente e a obedecemos.
- Com licença! – Lily entrou na sala com uma bandeja. – Café? - Ela ofereceu e cada um de nós pegou uma xícara e apoiamos na mesa de .
- Então, está chegando o dia? - falou e eu e Natalie soltamos um longo suspiro.
- Em outras situações isso seria mais interessante. – Natalie falou e assentiu com a cabeça.
- Isso é uma escolha de vocês, que eu aceitei fazer parte, então vamos terminar isso juntos, ok?! – Ela falou, me encarando.
- Ok! – Falamos juntos.
- Bem, vamos lá. – Ela suspirou. – Nós temos só alguns detalhes simples para resolver, a decoração da cerimônia e a roupa de vocês. – Assentimos com a cabeça.
- Você tem alguma sugestão? – Natalie perguntou ao meu lado.
- Eu sempre tenho. – sorriu e eu a imitei. – Como o nosso foco não é chamar atenção para o local da cerimônia e sim para o que está acontecendo propriamente...
- Um crime contra a humanidade. – Falei e ergueu o rosto para mim. – Provavelmente é o que você está pensando. – Ela riu fraco.
- Acho seguro concordar, já passamos das preliminares. – Ela deu de ombros e eu sorri. – Bem, rosas cor-de-rosa e mosquitinhos brancos, o que acham?
- Mosquitinhos? – Perguntei, franzindo a testa e ela riu, virando uma foto para mim.
- Isso são mosquitinhos.
- Ah, ah! – Ri fraco, vendo as pequenas flores em uma rama verde. – O que você acha, Natalie? – Virei para ela.
- A decisão é sua, , eu só vou realmente escolher meu vestido. – Ela ergueu a mão e riu.
- Eu gostei. – e Natalie viraram para mim rapidamente. – O quê?
- Você concordou com a . – Natalie falou e eu ri, erguendo os ombros.
- Eu só quero que esse show acabe, estou me sentindo um palhaço de circo. – Suspirei. – Isso não é nem de perto o que eu queria estar fazendo para conquistar eleitores.
- Vai dar certo. – falou, assentindo com a cabeça. – Bem, eu preciso marcar um dia a sós com cada um de vocês para falar das roupas.
- Eu posso só à tarde. – Natalie disse.
- Para mim é só marcar que eu altero na minha agenda. – assentiu com a cabeça.
- Perfeito! Eu vou pedir para Lily conferir na minha agenda e ela entrará em contato com os dois.
- Beleza! – Falei.
- Agora vamos para a sessão de fotos? – Franzi a testa. – Pedido da sua irmã, só estou ajudando no que eu posso.
- Ok! – Assenti com a cabeça.
- Vamos para o salão. – Nos levantamos. – Sua irmã também falou de uma reunião para eu ir na sua casa?
- Ah, ela te ligou? – Balancei a cabeça. – Já estava esquecendo.
- Ligou sim. – Assenti com a cabeça. – Vou achar um espaço na agenda e ir, está começando a parte mais corrida aqui da empresa. – Concordei com a cabeça.
- Muitos trabalhos de fim de ano?
- Cerca de uns 200 casamentos até dia 31 de dezembro. – Arregalei os olhos.
- O quê? – Natalie gritou ao meu lado.
- As pessoas gostam de aproveitar as decorações de fim de ano. – deu de ombros. – Já estamos acostumados.
- Mas você é foda mesmo, hein, moça? – Natalie falou e riu.
- Eu gosto da expressão ‘poderosa’, mas é, pode ser! – deu à volta a mesa e a seguimos. – Vamos trabalhar um pouco. – Passamos pela porta. – Estamos subindo, Lily. Vamos lá?
- Claro! O pessoal do estúdio está esperando por vocês!
- Estúdio? – Perguntei.
- Aqui é maior do que parece. – sorriu, virando o rosto, fazendo seus cabelos darem uma volta digna de propaganda de xampu.

***


- O que você acha? – Apareci na porta do quarto de Ellie que virou a cadeira que estava e colocou a mão no queixo.
- Dá uma voltinha! – Ela falou e eu a obedeci. – Sem o blazer! – Ela falou, estendendo a mão.
- Ellie! – Minha filha revirou os olhos.
- Você está tentando esconder o seu corpo que eu sei! – Ellie falou. – Isso é por causa do ?
- Ellie! – Falei novamente.
- Ah, o que foi, mãe? Eu sei de tudo, esqueceu? – Revirei os olhos.
- Isso não é um tipo de poder que você pode abusar quando quiser, Ellie! – Falei, cruzando os braços.
- Para de graça, você está linda! – Ela falou sorrindo, girando sua cadeira novamente.
- Obrigada, mas isso não tem nada a ver com o .
- Tá, você finge que não e eu finjo que acredito. – Ela revirou os olhos.
- Você está ficando inconveniente.
- Eu só quero sua felicidade, mamãe! E o é alguém legal. – Ela deu de ombros.
- Não e ele está noivo, querida.
- Isso é tudo marketing, mamãe, se é para ele pagar de bom moço, por que com alguém que ele realmente gosta? – Ela deu de ombros. – Viver não precisaria ser um desafio se você se abrisse para os outros. – Fiquei quieta e não sabia o que falar por alguns segundos, finalizando o assunto com um longo suspiro.
- Eu tenho que ir. – Falei. – Não sei exatamente do que isso se trata, mas já passei da hora que falaram.
- Operação Falso Casamento, vai!
- Você não pode ficar falando sobre isso, Ellie. – Ela riu fraco.
- Acho que eu bebi muito refrigerante na escola. – Ela franziu a testa.
- Agora entende o que eu falo? - Perguntei e ela deu uma risada fraca.
- Coloque o sapato amarelo, com esse vestido ficará um arraso! – Sorri.
- Obrigada, querida! Pretendo não demorar, mas eu pedi yakissoba está chegando, John disse que traz para você. – Ela assentiu com a cabeça.
- Me comprando por me deixar sozinha? – Ponderei com a cabeça.
- Eu até poderia te levar, querida, mas eu assinei um contrato de confidencialidade... – Suspirei. – Você não deveria saber o que está rolando!
- Eu entendo, mãe! Relaxa! – Ela abanou a mão. – Estarei aqui quando voltar. – Sorri, entrando em seu quarto e passando as mãos em seus ombros.
- Eu te amo muito, minha pequena! – Ela sorriu. - Obrigada pela felicidade que você me proporciona.
- Estamos juntos nessa, mãe! – Ri fraco, estalando um beijo em sua testa.
- Vou terminar de me arrumar e já vou. – Ela assentiu com a cabeça. – Muito trabalho?
- Comecei a fazer os vestidos para o desfile, as meninas estão empolgadas. – Sorri.
- Sabia que ficariam! – Saí do quarto de Ellie, seguindo novamente para meu banheiro.
Finalizei a maquiagem passando um batom quase roxo nos lábios e coloquei os sapatos que Ellie havia indicado para eu colocar, vendo o arco-íris de opções no meu closet. Eu estava esperando por uma reunião, mas conhecendo meu vizinho, poderia acabar em festa. Apesar de meu despertador tocar todo dia religiosamente as 4:30, eu tinha que me enturmar, caso quisesse fazer que essa mentira funcionasse.
Passei pelo quarto de Ellie, observando-a atenta aos moldes e medidas de suas colegas de escolas e suspirei. Aprendi a costurar com a minha mãe há alguns anos atrás, deixei essa curiosidade de lado quando fui embora da Costa Rica, mas parece que os genes passam mesmo.
Mandei um beijo para minha pequena e saí de casa, somente com meu celular na mão. Puxei a porta e respirei fundo algumas vezes, criando coragem para atravessar o corredor. Dei uma última puxada de ar e desfilei pelo mesmo, encostando a ponta dos dedos na campainha, ouvindo-a tocar da mesma forma que a minha.
Demorou alguns segundos para alguém aparecer na porta e Bruce sorriu para mim. Não sei por que e também nem para que, mas meu olhar seguiu para o fundo do apartamento, para atrás de Bruce, onde tinha a parede inversa à porta somente de vidro, dando para a cidade lá fora, com uma murada para se segurar.
Quando eu olhei, ele e Natalie trocavam um beijo, enquanto ele tocava seu rosto de forma delicada. Eles sustentaram o beijo por alguns segundos e se separaram em seguida, gargalhando por um momento e se abraçaram em seguida.
Eu senti como se tivesse sido acertada no meio do estômago, minha visão ficou embaçada por um tempo, mas eu balancei a cabeça, engolindo em seco. Eu estava estranha, havia sentido algo que eu não sentia há vinte anos.
- ? – Balancei a cabeça, vendo Fiorella entrar em meu campo de visão também.
- Boa noite, gente! - Sorri. – Tive um pequeno devaneio, desculpe. – Eles riram.
- Sem problemas! – Bruce abriu espaço para eu entrar. – Seja bem-vinda. – Assenti com a cabeça.
- Obrigada! – Dei alguns passos para dentro, além de , Natalie, Bruce, Fiorella e eu, os pais de também estavam lá.
- Pai, mãe, essa é , a cerimonialista do casamento. – Fiorella falou, me levando em direção aos pais de .
- É um prazer conhecê-la. – A mãe de falou e eu sorri, apertando a mão de ambos.
- Senhora , prefeito . – Eles sorriram, assentindo com a cabeça.
- ! – Natalie falou sorrindo, se aproximando de mim e eu estiquei a mão para ambos.
- Oi! – Falei para ambos.
- , aceita um vinho? – Bruce se aproximou com duas taças de vinho branco e eu aceitei.
- Obrigada! – Fiquei segurando a taça. – Então, sobre o que falaremos hoje?
- Você é direta mesmo, hein?! – Fiorella falou e eu sorri fraco.
- Eu tenho uma filha esperando em casa, gostaria de poder colocá-la na cama, pelo menos. – Eles assentiram com a cabeça.
- Como está Ellie? – perguntou e eu ergui o rosto para ele.
- Está bem. – Assenti com a cabeça. – Fazendo vestidos para as colegas dela. – Ele sorriu.
- Ela mencionou algo sobre um desfile, certo?
- Sim. – Sorri. – Foi um jeito que achamos para ela se enturmar com o pessoal da idade dela. – Dei de ombros.
- Ela vai se dar bem, ela é realmente especial. – sorriu.
- Ela é sim! – Sorri.
- Bem, vamos direto ao ponto? – O prefeito, pai de , falou.
- Por favor. – Falei e todos seguiram para as cadeiras e poltronas colocadas no meio da sala.
- . – Bruce me estendeu uma cadeira e eu segui em sua direção, sentando na cadeira indicada.
- Vamos lá. – Falei, cruzando as pernas. – O que vocês precisam?
- Ajuda! – O prefeito falou. – O casamento é em duas semanas, as eleições em quatro, precisamos de mais presença na mídia, pessoas comentando, reportagens saindo. – Assenti com a cabeça.
- E o que o senhor espera de mim? – Perguntei, virando para ele.
- Que você participe de algumas entrevistas, nos acompanhe em alguns comícios e... - Pode parar por aí! - Falei, erguendo um dedo. – Com toda educação, senhor, o espetáculo é de vocês, eu não vou me envolver mais do que eu preciso. Desde que começamos a falar desse dito casamento, vocês sabem minha opinião, eu alterei todo o contrato de confidencialidade para somente manter essa farsa em segredo, não espere que eu, uma cerimonialista respeitada, que realiza mais de 500 casamentos por ano, coloque minha reputação em risco por algo que vocês mesmos deram um prazo de um ano para acabar. – Todos na sala se silenciaram. – Eu estarei presente no dia 21 de outubro, fazendo o meu trabalho, mas eu nunca dou entrevistas sobre casamentos, nem dos meus clientes mais famosos, e não será agora que eu darei. – Me levantei. – Se vocês acham que algo a mais precisa ser feito, vocês precisam olhar para o ali e dar um pouco mais de confiança a ele. – Suspirei. – O problema talvez nem seja ele. – Sorri em sua direção. – Talvez sejam vocês.
- Como você... – Fiorella começou a falar e balançou a cabeça. – Eu não sei o que dizer. – Ela suspirou. – Você é demais, sabia? – Ela falou baixo ao meu lado e eu ri fraco, sorrindo.
- Então, no que eu posso ajudar? – Perguntei novamente e todos ficaram em silêncio. - Acho que é isso, então! – Suspirei, entregando minha taça a Bruce. – Natalie, eu te vejo amanhã pela manhã para a prova do vestido e , na próxima segunda, combinado?
- Sim, combinado! – Natalie e falaram juntos.
- Desculpe acabar com o clima, mas eu também tenho um contrato a cumprir. – Assenti com a cabeça. – Se não se importam, vou jantar com a minha filha.
- Eu te acompanho! – se levantou em seguida.
- Boa noite! – Falei mais uma vez e segui em direção à porta.
Senti a presença de atrás de mim e ele se colocou alguns passos à frente para abrir a porta e eu acenei com a cabeça, saindo de seu apartamento e a porta foi fechada, mas estava do lado de fora comigo.
- Desculpe por isso... – Ele falou e eu sorri.
- Você não tem que pedir desculpas, , talvez eu tenha pelo modo que eu tratei seu pai. – Franzi o rosto e ele riu. – Mas eles ainda não sabem quem você é. – Falei. – E se eles não sabem, é seu trabalho mostrar e provar do que você é capaz. – Suspirei. – Eu não te conheço muito bem, trocamos palavras e conversas por mera conveniência, mas se isso realmente tem um propósito, mostre a eles. – Olhei em seus olhos. – Mostre que você é capaz, temos um mês ainda, a batalha não acabou. – Ele abriu um sorriso, segurando minhas mãos, fazendo um arrepio passar pelo meu corpo.
- Obrigado! – Ele disse. – Acho que era o que eu estava precisando para recuperar as forças. – Assenti com a cabeça, abaixando minhas mãos.
- Você detém o poder, . Não deixe que eles te tratem como uma marionete. – Me afastei um pouco, dando alguns passos em direção à minha porta.
- Isso quer dizer que você vai votar em mim? – Ele perguntou e eu ri fraco.
- Temos um mês ainda, não? – Dei de ombros e ele sorriu. – Boa noite! – Falei e dei às costas para ele.
- Mande um beijo para Ellie. – Assenti com a cabeça.
- Pode deixar! – Empurrei a porta do meu apartamento e o deixei no hall sozinho.
Entrei no meu apartamento e fechei a porta, respirando fundo e conferindo o relógio, devo ter ficado menos de 15 minutos lá. Suspirei e segui para o corredor, notando a luz da TV ligada e apareci na porta do mesmo, vendo Ellie jogada no sofá, comendo yakissoba direto da caixa com palitinhos.
- Mas já? – Ela perguntou, franzindo a testa.
- Ah, você não tem nem ideia do que acabou de acontecer. – Ri fraco e ela se sentou no sofá, abrindo espaço para mim e eu tirei meus saltos antes de me jogar ao seu lado.
- Você não precisa ser a pessoa mais preparada da sala sempre, sabia? – Ri fraco, suspirando.
- Isso é algo que nunca vai mudar, querida. Nem se você queimar minha agenda. – Ela sorriu, pegando a outra caixa fechada e me entregando.
- Nem adianta queimar sua agenda, Lily tem uma igual e um backup no computador. – Abracei-a de lado.
- Essa é a minha menina. – Falei rindo.
- Mas fala, o que aconteceu? – Ela perguntou e eu destaquei os palitinhos e abri a caixinha, sentindo o delicioso cheiro da comida.
- Eles queriam que eu promovesse o casamento do senhor com a Natalie. – Coloquei um pouco de comida na boca e Ellie arregalou os olhos.
- Você? – Ela falou rindo.
- Para você ver! – Ri com ela.
- Depois daquela história que você conta do casamento de 2000 que você super promoveu e tal e ficaram achando que você tinha alguma coisa com o noivo. – Ri fraco, lembrando-me do começo da minha carreira. – De quem foi mesmo, mamãe?
- Não lembro se foi da Jennifer Aniston com o Brad Pitt ou da Madonna com o Guy Ritchie, fiz esses dois naquele ano. – Suspirei, lembrando-me de mim novinha, correndo para lá e para cá, fazendo meus primeiros casamentos famosos.
- Ah, eu adoro essa história. – Virei para ela.
- Que história, querida? – Até olhei para a TV para ver se ela não estava falando do filme.
- Do seu começo, como uma Porto Riquenha começou do nada e em dois anos era chamada para fazer os maiores casamentos do mundo. – Ela apoiou sua caixinha na mesa de dentro e me abraçou.
- Você sabe que nem todos sabem a minha nacionalidade, certo? – Ela suspirou.
- Eu sei, mamãe, mas eu não entendo porque esconder sua nacionalidade... – Ri fraco, apoiando minha caixinha também.
- 20 anos é muito tempo, Ellie, não parece, mas muita coisa muda em 20 anos. Principalmente na política. E eu queria sumir, então, mentir de onde eu era, pareceu uma ótima ideia na época. – Dei de ombros. – E depois que os anos passaram, eu simplesmente não me importei mais, me tornei uma cidadã americana. – Dei de ombros.
- Eu queria conhecer, sabia? – Ela virou para mim. – Porto Rico. – Suspirei, abraçando-a de lado, sentindo o choro subir na garganta.
- Eu também gostaria que você conhecesse. – Suspirei, agradecendo mentalmente por ela parar de puxar assunto.

***


- Vamos, ? – Bruce apareceu na porta do meu quarto e eu ajustei a gravata no pescoço, fechando o último botão da camisa.
- Claro! Aonde vamos nos encontrar mesmo? – Perguntei.
- No ateliê de Rupert Van Sanders. – Virei para ele. – Ela é poderosa, cara! Admita! – Ri fraco.
- É, ela é! – Suspirei, colocando minha carteira no bolso da calça e o celular no outro e saí do quarto.
- Não tivemos a oportunidade de conversar sobre aquele beijo que eu vi na quarta-feira. – Ele falou, caminhando na minha frente e abrindo a porta de casa.
- Que beijo? – Perguntei, franzindo a testa, saindo atrás dele.
- Da Natalie. – Suspirei, saindo de casa e puxando a porta.
- Oi, Brigite. – Bruce falou para a faxineira de , que a fez abrir um sorriso.
- Oi, Bruce! – Ambos trocaram olhares que deixaram suas bochechas rosadas e eu me mantive quieto no meu lugar.
- Oi, ! – Vi uma figura loira aparecer na minha frente.
- Ellie! – Falei sorrindo. – Como está minha pequena favorita? – Ela deu a volta em torno do seu corpo, me fazendo rir.
- Tudo certo e com vocês? – Ela me perguntou, olhando para Bruce que ainda estava alheio. – Travou! – Ela falou, dando de ombros, me fazendo rir e o casal destravou na minha frente.
- Está saindo? – Ela perguntou.
- Vou encontrar sua mãe!
- Ah, a prova da roupa! – Ela falou interessada. – Você vai ter que usar minha roupa um dia.
- Pode deixar! – Ri fraco.
- Quem vai te vestir dessa vez?
- Rupert Van Sanders, conhece? – Perguntei.
- Oh, meu Deus, ele é demais! – Ela fez um movimento exagerado com a mão. – Eu gosto mais dos vestidos dele, confesso. Mas ele também é bom em terno. – Ela deu de ombros, colocando as mãos no queixo.
- Quem sabe eu não o encontre lá? - Perguntei, provocando-a.
- Ele vive em Boston, mas eu já o conheço, ok?! Mamãe é frequentemente convidada para desfiles. – Ri fraco, me abaixando e dando um beijo em sua cabeça.
- Eu vou lá, se não sua mãe me mata. – Ela assentiu com a cabeça.
- Matar não, mas ela gosta de ser pontual. – Rimos juntos e eu puxei Bruce pela camisa para dentro do elevador que estava aberto no nosso andar.
- Vamos, encantado. Olá, Brigite. – Ela sorriu, acenando com a cabeça.
- Bom dia, senhor . – O elevador se fechou na nossa frente.
- Voltou à realidade, foi? – Perguntei e Bruce balançou a cabeça. – Investe, cara, se você gosta, investe. – Dei de ombros.
- Não sei, cara, eu... – Ele balançou a cabeça.
- Se você começar com aquele papo de diferença de emprego ou diferença de classes sociais, eu vou enfiar a mão no meio da sua cara. – Bufei. – Até eu acredito no amor, Bruce. – Ele revirou os olhos.
- Ah, falando de amor, o beijo com a Natalie! – Ri fraco, vendo as portas do elevador se abrirem no subsolo e seguirmos para o carro preto.
- O que tem? – Perguntei, deixando-o entrar primeiro no carro e entrei ao seu lado, fechando a porta.
- Vocês estão se gostando? O casamento vai ser real?
- Não, não! – Balancei a cabeça. – Estávamos só fazendo um teste. – Dei de ombros.
- Do quê?
- Se tínhamos algum sentimento pelo outro. – Suspirei – Se vamos ter que embarcar nessa história juntos, seria melhor que nos divertíssemos um pouco. – Fechei os olhos.
- E deu certo?
- Foi ruim, Bruce. Foi pior que beijar uma parede. – Ele riu, balançando a cabeça e se virou para mim.
- Eu não preciso te dizer isso, cara. Mas você sabe que não precisa casar, certo? – Virei para ele.
- Por que você diz isso? – Perguntei.
- Porque eu vejo a forma que você olha para a . – Ele falou e eu me calei. – Aquilo seria real.
- Bruce, aquilo...
- Você não me engana, . – Ele deu de ombros. - Só pense, beleza? Pode ser uma decisão sem volta. – Suspirei e me calei até chegar ao ateliê de Rupert Van Sanders.
Nosso carro estacionou atrás de um similar e observei em câmera lenta o motorista abrir a porta e sair como a executiva que ela era. Ela estava de saia social, uma camiseta listrada por dentro da mesma, saltos altos e passou a mão nos cabelos, arrumando-os por causa do vento.
Saí também, tentei ser tão elegante quanto ela, mas tropecei no carro e quase dei de cara no chão se ela não tivesse me segurado pelo ombro.
- Está tudo certo? – Ela falou rindo.
- Tudo certo! – Senti meu rosto se avermelhar e ela sorriu.
- Como estão? – Ela perguntou.
- Tudo certo. – Bruce repetiu minhas palavras, com a mão em frente ao rosto para não gargalhar e eu revirei os olhos.
- Acho que não precisamos de você agora, Bruce, caso tenha algo para resolver, pode ir. – Ela falou e eu olhei para Bruce.
- Ah, perfeito, vou passar na gráfica para conferir algumas últimas impressões que eu pedi e volto para te pegar em...
- Uma hora, mais ou menos. – falou e ele assentiu com a cabeça.
- Perfeito! – Bruce falou. – Prazer te ver, .
- Você também, Bruce! – Ela sorriu e Bruce entrou no carro novamente.
- Vamos? – Perguntei.
- Claro! – Ela falou, seguindo alguns passos na minha frente. – Já está familiarizado com as roupas do Rupert? – Ela perguntou.
- Um pouco. – Balancei a cabeça. – A comissão da campanha aparece cada dia com um terno diferente, a gente começa a conhecer alguns estilistas.
- Ele é ótimo. – Ela abanou a mão. – Vamos lá, vamos experimentar algumas coisas.
Entramos no ateliê e uma atendente logo veio nos recepcionar. falou rapidamente com ela, mas, pelo visto, já estavam acostumadas com , logo fomos levados para uma sala em um dos andares superiores, com vários ternos entre as paredes, uma mesa com quitutes, poltronas confortáveis distribuídas pelo salão e um pequeno palco no meio, com espelhos à sua volta.
- Legal! – Falei e seguiu para o meio do mesmo, se sentando em uma das poltronas e colocando sua bolsa ao lado.
- Fique à vontade, escolha o terno, prove, se olhe no espelho... Não saímos daqui até você decidir. – Assenti com a cabeça, suspirando.
- Eu vou ficar louco aqui. – Ela riu fraco e tirou sua grossa agenda da bolsa, começando a folheá-la.
Me afastei um pouco dela e comecei a passar as mãos pelos ternos, observando as diferentes cores, texturas e tecidos e eu realmente fiquei perdido por alguns minutos, até entrar na área dos ternos escuros que eram mais a minha praia. Peguei um de cada vez. Como aprendi com Ellie: precisávamos ter cuidado com a roupa.
Segui para o provador e me troquei rapidamente, tirando meu terno completo e vestindo outro. O terno era azul escuro, com colete e eu havia escolhido uma camisa branca para usar por baixo. Parecia até um crime eu usar um terno que gostava tanto, em um evento que eu não gostaria de participar.
Saí do provador e ergueu os olhos para mim, observando por cima dos seus óculos de grau e sorriu para mim, se levantando da cadeira.
- Venha, suba aqui! – Ela falou, andando até o palco e eu subi no mesmo. Ela colocou as mãos em meus ombros e ajustou a gola. – Pronto! – Ela falou, me olhando no espelho e eu a copiei. – O que acha?
- Eu adoro terno escuro! – Falei e ela riu.
- Eu também gosto! – Ela passou as mãos em meu ombro como se limpasse algo.
- Acho que vou experimentar mais alguns só para tirar da cabeça.
- Sem problemas, temos o tempo que precisar. – Ela falou, descendo do palco e eu sorri.
Entrei no provador novamente e saí com outro terno, bem parecido com o anterior, mas preto. se aproximou de mim novamente, analisando de forma sutil o terno. Olhei para ela por um momento e seu olhar encontrou com o meu e eu desviei do mesmo.
- O que acha? – Ela perguntou.
- Acho que eu fico com o primeiro. – Ela assentiu com a cabeça.
- E o que você acha sobre gravata borboleta? – Ela perguntou.
- Fico parecendo um pinguim! – Ela riu fraco, se aproximando de uma caixa com diversas gravatas, analisando a que mais combinava com o terno e retornou.
- Um homem que usa terno todos os dias? Isso deve ser mentira. – Ela me entregou a gravata borboleta e soltou a fivela da longa, puxando-a pela minha cabeça e trocamos os tecidos e ela deu um nó perfeito na gravata. – Mais fino, não? – Ela falou e eu nos olhei no espelho.
- É! – Suspirei, olhando mais para ela do que para mim.
- , eu posso te fazer uma pergunta? – Me virei para ela.
- Claro! Eu acho... – Ela falou, afastando alguns passos de mim.
- Qual o seu casamento favorito? – Perguntei inocente.
- Que eu fiz? – Ela perguntou e eu assenti com a cabeça. – Nossa, tem tantos, eu já perdi as contas de quantos casamentos eu já fiz e participei. – Ela suspirou.
- Desculpe a pergunta, mas há quanto tempo você tem essa empresa? – Perguntei.
- 20 anos. – Ela suspirou, rindo em seguida. – Com isso você pode imaginar a minha idade.
- Besteira. – Falei. – Mais nova que eu. – Continuei.
- Eu fiz um casamento ano passado, que eu acho que foi o mais real de todos. – Ela falou, suspirando. – Conhece a cantora Alice Stone?
- Quem não conhece? – Ri fraco e ela sorriu. – Espera! Você fez o casamento de Alice Stone? - Ela sorriu.
- Fiz! – Ela riu em seguida. – Foi muito bonito porque foi naquele complexo que ela tem em Malibu, então eles estavam em casa. Além de que os dois se conheciam há mais de dez anos antes de se casar, então tudo importava. – Ela deu um longo suspiro. – Eu realmente vi o amor acontecer, eu gosto muito quando isso acontece. – Sorri com ela e ela desviou o olhar. – Acontece poucas vezes, mas em muitas situações os noivos estão muito preocupados com os protocolos e não aproveitam. – Ela cruzou os braços e se apoiou contra o espelho.
- Você fala tão bem do seu trabalho e nunca teve isso... – Ela suspirou.
- Eu me casei com meu trabalho. Não é tão bonito e divertido, mas ainda sim. – Ela abriu um largo sorriso e eu ri novamente.
- Mas é uma carreira bonita, você realmente precisa se orgulhar disso. – Ela sorriu, acenando com a cabeça.
- Bom, já que você teve direito a uma pergunta, creio que eu também tenho. – Ri fraco, afrouxando a gravata borboleta.
- Claro, pois diga! – Cruzei os braços em cima do peito.
- Quais são suas intenções políticas, candidato ? - Até me assustei com a pergunta dela e me coloquei até mais ereto para responder.
- Você? Me perguntando sobre política? – Ela deu de ombros.
- Eu não preciso, mas gosto de escolher um representante para minha cidade. Tenho dinheiro para dar uma educação de qualidade para minha filha, um tratamento de saúde caso precise, mas não quero andar com um segurança colado em mim 24 horas por dia. – Ela falou com a voz calma, me olhando nos olhos.
- Você tocou nos três pontos principais da minha carreira. Como secretário de educação eu já comecei alguns trabalhos focados na educação, mas meu pai sempre diz que não tem verba. Estamos vivendo em um momento terrível, mil dólares para tomar um soro? Isso é inaceitável, além da segurança que é inexistente. – Suspirei. – Eu quero focar toda ou boa parte da verba nesses três pilares, tanto que eu estou indo até em escolas fazer minha campanha, mesmo que a maioria dos alunos não possa votar. – Balancei a cabeça. – Mas eles têm que saber o que está acontecendo onde eles moram, eles são o nosso futuro. Olhe Ellie, por exemplo, essa menina tem um futuro brilhante pela frente, imagina ela com um ateliê desses? – Ele olhou para mim. – Ok, Ellie nasceu em um berço de ouro, mas ela também pode fazer parte dessa mudança. Ela, lá na frente, pode dar emprego e capacitação para os que não possuem. Ela pode ser uma voz a ser ouvida, uma mudança ativa na sociedade. – Balancei a cabeça.
- Tem que começar de baixo. – Ela falou.
- Sim! – Falei alto. – Você viu meu pai, ele foi um ótimo prefeito, ok, mas ele foi um ótimo prefeito para pessoas de 60 anos para cima. – Bufei. – Você viu a forma que ele fala com as pessoas. Ele não deixa que ninguém fale. – Suspirei. – Como secretário de educação, eu tive a mesma autonomia da Cathy que limpa os banheiros lá da prefeitura, do Paul da portaria ou do John do nosso prédio, nenhuma! – Respirei fundo, quando notei estava falando mais alto e os olhos de estavam arregalados. – É uma frase ridícula, mas as crianças são o futuro. Se você não cultivar os sonhos delas, os desejos, as vontades, nós criaremos muitos adultos irresponsáveis ou até criminosos. – Falei um pouco mais baixo, balançando a cabeça. – Então saúde, educação, segurança e arranjar algum jeito de melhorar o transporte nessa cidade, programas que incentivem o uso de transportes públicos, parcerias e apoio aos aplicativos de transportes e caronas... – Suspirei, sentindo que estava sem fôlego.
- Uau! – Ela falou, balançando a cabeça. – Confesso que estou surpresa. – Ela cruzou os braços.
- Você nunca pensou em fazer algum trabalho voluntário? – Ela perguntou.
- Participei de vários e tive um quando era criança, mas meu pai destruiu por estar bagunçando a casa dele. – Ela arregalou os olhos.
- O que você fazia? – Ela perguntou.
- Eu morava próximo a uma cooperativa de reciclagem e teve uma época que eles tinham dificuldade em pegar plástico por uma restrição do governo. – Balancei a cabeça. – Não lembro exatamente, eu só tinha oito anos. – Suspirei. – Então, eu comecei a pegar garrafas PET de pessoas do bairro e na escola, e entregar para eles semanalmente. Deu certo por três longas semanas. – Dei de ombros.
- Nossa, , você sempre teve a cabeça para isso. Você está no lugar certo. - Ela sorriu.
- Você também! – Falei. – Você tem o feeling para a tudo isso, olha o império que você construiu.
- E eu só queria dinheiro para sobreviver. – Ela suspirou, ficando quieta por alguns segundos. – Enfim, vai ser esse ou o azul?
- O azul, com certeza. – Falei e ela sorriu.
- Vai se trocar, conversamos mais depois. – Ela falou e eu assenti com a cabeça.
Voltei para o provador e tirei o terno com todo cuidado, pendurando-o de volta no cabide e me vesti com meu terno, ironicamente azul. Saí com os dois azuis e encontrei conversando com um homem ruivo, alto e grande.
- ! – se virou para mim. – Esse é Rupert Van Sanders. – O ruivo se virou para mim.
- Oh! – Falei surpreso. – É realmente um prazer te conhecer. – Falei, apertando sua mão.
- O prazer é meu. – Rupert falou. – Eu te conheço de algum lugar, não?
- Ele está concorrendo a prefeito de Nova York. – falou.
- Ah sim, , certo? – Rupert falou e eu assenti com a cabeça. – Muito bom! Boa sorte!
- Obrigado! – Sorri.
- Bem, eu tenho que ir, mas , você sabe que é muito bem-vinda aqui! – Rupert falou e ambos se abraçaram fortemente.
- Mande um beijo para todo mundo, ok?!
- Pode deixar! – Rupert sorriu. – Até mais. – Ele se retirou da sala.
- Você conhece todo mundo, é?! – Perguntei e ela deu de ombros.
- Fornecedores. – Ela sorriu. – Bem, podemos ir? Eu posso te deixar no apartamento, caso Bruce vá demorar.
- Não se preocupe. – Falei, colocando os dois ternos na poltrona. – Eu tenho uma última pergunta. – Me coloquei em sua frente novamente.
- Lá vai! – Ela falou rindo em seguida.
- Depois desse papo todo, eu posso contar com seu voto? - Perguntei sério e ela gargalhou, me empurrando com o ombro delicadamente.
- Oh, não se iluda! – Eu gargalhei, notando que estava cada vez mais perto dela. – Eu ainda não gosto de você, lembra?
- Eu duvido disso. – Falei e ergui minha mão para seu rosto, colando meus lábios no dela em seguida.
Ela me pareceu surpresa em primeira instância, soltando até um som com a boca antes de eu tapá-la com a minha. Movimentei meus lábios em cima dos seus de modo delicado e suave, coisa que eu não estava acostumado a fazer. E meu coração começou a bater como uma batedeira em meu peito. Eu a queria perto de mim, eu queria sentir o cheiro dos seus cabelos, suas mãos pelo meu corpo, sua respiração contra a mim.
Ela retribuiu o beijo por alguns segundos, talvez um minuto, mas não foi o suficiente. Quando senti suas mãos subirem pelo meu peito, achei que estava chegando ao lugar certo, até ela me empurrar de leve para nos afastar.
Ela ficou em silêncio, com o olhar perdido no chão e a mão sobre a boca, sem muito que falar. Sua respiração subia e descia diversas vezes, mas eu não conseguia interpretar seus sinais.
- ...? – Chamei-a e ela engoliu em seco antes de virar para mim.
- Vamos fingir que isso nunca aconteceu, ok?! – Ela soltou o ar forte, pegando o terno escolhido na poltrona e sua bolsa com a outra mão.
- Por favor, não me deixe no escuro. – Falei, me aproximando dela que se afastou.
- Eu não posso, . – Ela balançou a cabeça. – Tem muitos motivos para eu não poder, e dessa vez o problema não é você. – Ela suspirou. – Quem sabe em outra situação? - Ela falou, balançando a cabeça. – Vou acertar com o Rupert, agora acabou tudo. Te vejo no casamento ou lá no prédio.
- Não, , não acabou... – Ela balançou.
- Falei do casamento, meu trabalho acabou. Agora só esperar a cerimônia. Boa sorte! – Ela falou e me deixou sozinho na sala, perdido em meus pensamentos.
O que tinha acabado de acontecer?

***


Entreguei o terno para o motorista da empresa e entrei no carro, puxando a porta com força. Soltei um suspiro alto e peguei meu telefone, apertando o número dois para discagem rápida. O telefone tocou somente uma vez, antes de Lily atender.
- Senhora Weddburgh? – Ela falou.
- Lily, como está nossa programação para hoje?
- Temos só algumas confirmações dos casamentos no fim de semana, você está bem? – Ela perguntou.
- Estou bem sim, mas eu vou precisar ir para casa. Pode acompanhar isso para mim e se, por acaso, tiver algum casal novo, remarcar para a semana que vem?
- Claro, com certeza! – Ela falou. - Devo me preocupar, senhora? – Ela perguntou e eu suspirei, sentindo o carro andar e eu não me atrevi a olhar para a janela, pensando que o avistaria.
- Não, Lily, amanhã eu volto para a empresa. Eu já resolvi as coisas com o senhor e vou pedir para o Luke te entregar, e você pode colocar junto das coisas do casamento deles.
- Pode deixar! – Ela falou animada. – Até amanhã. – Desliguei o telefone e o joguei novamente na minha bolsa.
Luke atravessou a cidade com dificuldades, estava no fim do dia e as coisas começaram a ficar caóticas. Entortei a cabeça para o lado e me deixei levar pela cidade de Nova York.
Eu estava perdida, confesso. Durante 20 anos eu consegui deixar com que ninguém entrasse no meu coração. Lembrar o que Spike fez comigo ainda machucava, não pelos sentimentos que eu tinha na época, afinal, 20 anos é possível curar até a pedra mais dura, mas o principal é que tinha machucado meu ego e me fechou para o mundo.
Eu conhecia e convivia com por três anos, quando nos mudamos para aquele prédio, mas eu nunca o havia visto daquela maneira, ele parecia tão real, decente, vulnerável. Suas ideias políticas pareciam tão simples, mas tão óbvias, como se fosse assunto em uma mesa de restaurante ou em uma conversa de família.
E o beijo... Fazia anos que ninguém me beijava, ou melhor, que ninguém me beijava assim. Ele era forte, mas gentil ao mesmo tempo. Eu senti como se estivesse descongelando. O problema era só o péssimo timing.
Eu não podia fazer nada, eu não podia imaginar o que aconteceria se eu desse uma chance, eu não podia me envolver em nada. Meu emprego não permitia isso, eu não sabia o que tudo aquilo significava ainda e eu realmente não podia pensar naquilo faltando três dias para o casamento.
- Chegamos, senhora! – Luke falou, estacionando na porta do meu prédio e eu balancei a cabeça, vendo a quantidade de paparazzis na porta. Faltavam duas semanas para as eleições, a cidade estava fervendo.
- Obrigada, Luke, eu não volto mais para a empresa hoje, leve o terno para a Lily e depois pode ir embora.
- Obrigada, senhora Weddburgh! – Ele falou e eu desci do carro, vendo que vários paparazzi se viraram para mim.
- Senhora Weddburgh, senhora Weddburgh! – Ouvi alguns gritos para mim e respirei fundo, criar um império era até fácil, do contrário de falar com a imprensa.
- Não responderei nenhuma pergunta sobre o casamento dos ! – Falei, atravessando o pessoal com a ajuda de John que havia surgido na frente do prédio e abria caminho para que eu passasse, fechando o portão fortemente quando eu passei.
- Obrigada, John! – Suspirei, me sentindo até meio atordoada.
- Quando precisar! – Ele sorriu, apoiando a mão em meu ombro. – Está tudo certo? – Assenti com a cabeça.
- Está sim! – Suspirei. - Sabe me dizer se Ellie já chegou?
- Brigite acabou de sair para buscá-la no tênis. – Assenti com a cabeça.
- Perfeito, vou subindo, então! – Ele sorriu. – Tenha uma boa noite!
- Obrigado, você também! – Caminhei até o elevador e o chamei, vendo-o se abrir rapidamente, entrei no mesmo e apertei o botão do último andar, ficando nervosa ao pensar se ele não poderia estar me esperando no nosso andar.
Quando as portas se abriram, eu fiquei um pouco aflita em sair, mas respirei fundo, ergui a cabeça e saí como se nada tivesse acontecido, ficando aliviada pelo corredor estar vazio e as duas portas fechadas.
Abri a porta de casa e segui direto para o banheiro, jogando uma água gelada no corpo, tentando esquecer tudo que havia acontecido aquele dia, em vão, é claro! Foi impossível não pensar em Ellie e quão bom era para ela. Para uma menina que nunca teve um pai e nunca teve contato com avôs, ter um contato, mesmo que pouco, com um homem, já era algo que podia fazer com que a falta no seu coraçãozinho fosse preenchida com alguma coisa.
podia não ser muito bom com adultos e mulheres, principalmente mulheres, mas ele com certeza era bom com a minha filha. Limpei rapidamente a lágrima que caiu solitária em minha bochecha, se misturando com a água e desliguei o chuveiro.
Larguei de formalidades e coloquei uma camisola e mantive os pés no chão, segui para a cozinha e abri o freezer, me sentindo com 22 anos de novo, peguei um pote de sorvete que estava ali, uma colher e sentei no sofá, colocando os pés para cima. Bee veio se aconchegar ao meu lado e, dessa vez, eu permiti, afagando seu pelo caramelo lentamente.
Quando o pouco sorvete que tinha sobrado no fundo começava a derreter, ouvi um barulho na porta e vi Ellie abrir a porta com um envelope grande e branco em sua mão, me fazendo engolir em seco por saber do que se tratava. Brigite vinha logo atrás.
- Mamãe! – Ellie falou, colocando sua mochila no chão, correndo e se jogando ao meu lado, assustando Bee.
- Senhora! – Brigite se assustou com meu estado. Acho que era a primeira vez que ela me via daquela maneira.
- Está tudo bem, Brigite. Não se preocupe! – Falei, abandando a mão.
- Tem algo que eu possa fazer? - Ela perguntou.
- Pegar suas coisas e ir descansar. – Falei. – Só estou espairecendo um pouco.
- Sabe que pode contar comigo... – Ellie me olhava curiosa.
- Está tudo bem, Brigite, vá para casa. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Pois bem! – Ela disse, seguindo para seu quarto no fundo.
- Você está bem mesmo, mamãe? – Ellie virou para mim.
- Estou sim, meu amor! – Acariciei seu cabelo. - O que você tem aí? – Perguntei.
- Encontrei , pelo meio do caminho, ele me entregou isso! – Ela me entregou o convite que eu já havia visto diversas vezes. – Ele me convidou para o casamento dele, mamãe! – Ela falou animada. – Você vai, certo? Eu posso ir? Deixa! – Ela falou animada. – Eu nunca fui a um casamento como convidada, e eu gosto muito do . Deixa, mamãe?! – Abri um pequeno sorriso, engolindo as lágrimas.
- Claro, minha querida! – Sorri. – Mamãe vai trabalhar, mas boa parte da minha equipe estará lá, então vai ter sempre alguém de olho em você.
- Eba! – Ela se levantou animada. – Vou poder usar um dos meus vestidos novos também. – Ri fraco.
- Vai ter que se comportar, viu?! – Falei séria.
- Eu sei me comportar. Aprendi com você! – Abri um sorriso. – Você tomando sorvete? – Ela franziu a testa.
- Vai tomar seu banho, guardar suas coisas, jante, depois eu deixo você tomar sorvete!
- Mas aposto que você não jantou ainda! – Ela falou, colocando as mãos na cintura.
- Ei, eu sou sua mãe! – Falei. – Não te devo nada. – Ela riu e saiu correndo para o quarto. – Sua bolsa! – Falei alto e ela voltou correndo, gargalhando.

***


Ouvi o som das notas ecoarem pela sala e respirei fundo, pegando o copo com algumas gotas de uísque e praticamente as lambi para dentro da boca. Refiz algumas notas aleatórias e ouvi a campainha tocar, batendo as mãos na tecla e levantei do banco, seguindo em direção reta para a porta.
Abri a mesma e encontrei Fiorella na porta, seu rosto era sereno, mas ela estava cansada. Provavelmente deveria ter sido difícil ter vindo para cá, principalmente após nossa briga alguns dias antes.
- Posso entrar? – Ela perguntou e eu dei espaço para ela, observando-a cruzar a sala e se colocar no meio da mesma. – Piano e uísque? Deve estar se sentindo bem deprimido.
- Você acha? Eu vou me casar amanhã! – Falei, voltando a me sentar no banco do piano.
- Não faça isso, irmão! – Ela falou e minhas mãos escorregaram sobre o piano, fazendo um barulho que sacudiu as paredes.
- O quê? - Perguntei, virando o rosto para ela. – O que você está falando, Fiorella?
- Não case amanhã, eu te imploro! – Ela falou, engolindo em seco. – Se você fizer isso, você vai cometer o maior erro da sua vida. – Ela respirou fundo, olhando em meus olhos. – E você já cometeu muitos erros. – Respirei fundo.
- Qual, dessa vez? – Perguntei, querendo ouvir da boca dela.
- Você vai perder a mulher que você ama. – Ela respirou fundo. – Eu fui muito burra em não perceber. – Ela balançou a cabeça. – Você ama . – Ela abriu um largo sorriso. – Você se apaixonou, irmão! – Ela riu fraco. – Demorou 45 anos, mas você se apaixonou.
- Não, Fiorella! – Balancei a cabeça. – Eu tentei, ela não me quer. – Suspirei. – Pela primeira vez eu fui rejeitado e estou um caco. – Suspirei. – E eu também não posso fazer isso com Natalie, ela precisa de mim. – Minha irmã ficou quieta. – Entramos nessa juntos, agora vamos até o fim! – Falei, engolindo em seco. – É só um ano! – Balancei a cabeça, vendo-a sentar em meu lado. – Quem sabe esteja aqui ainda quando eu voltar?
- Espero que você esteja certo, irmão! – Ela me puxou e me abraçou forte. – Eu estarei contigo em todas as lutas. Amanhã e daqui duas semanas. – Confirmei com a cabeça, afundando minha cabeça em seu ombro. – Eu te amo, irmãozão.
- Eu também, pirralha! – Respirei fundo, sentindo liberdade em chorar nos braços da minha irmã.

***


Olhei para a capa da Vanity Fair na minha mão e passei a mão em meu rosto, afastando algumas lágrimas insistentes e respirei fundo, jogando a revista no pé da cama. Joguei a cabeça para trás, soluçando fortemente, e peguei o copo na mesa de cabeceira e dei mais um gole no mesmo, sentindo o uísque descer queimando pela minha garganta.
Ouvi um rangido e virei o rosto para a porta, vendo a cabeleira bagunçada de Ellie aparecer na porta e eu virei o resto da bebida, apoiando o copo novamente na mesa, em uma tentativa de esconder a bebida dela.
- Ellie, o que faz acordada? – Perguntei, batendo minha mão ao lado da cama e ela se se sentou na mesma, puxando seu pinguim com ela.
- Eu te ouvi chorando, mamãe! – Ela engoliu em seco, como se tivesse medo de falar.
- Ah, querida! – Abracei-a de lado.
- Eu nunca te vi chorando, mãe! – Suspirei, abrindo um pequeno sorriso.
- É... – Balancei a cabeça.
- Não deixe que ele se case, mamãe! Você tem poder para isso, não tem? Fala que a cerimônia foi cancelada, sei lá! – Ela deu de ombros e eu ri, dando um beijo em sua testa.
- Não é tão fácil assim, querida. – Falei.
- Mas deveria ser. – Ela bufou. – Você gosta dele, ele gosta de você! – Abracei-a de lado, trazendo-a para mais perto.
- Eu ficarei bem, querida. – Suspirei.
- Então não vá amanhã. – Ela fez um beicinho. – Não quero te ver triste. – Sorri, soltando um longo suspiro.
- Eu sei separar o profissional do pessoal, querida, amanhã não será diferente. – Ela respirou fundo.
- Posso dormir contigo hoje, então? – Ela perguntou.
- Claro que pode, querida! – Apertei-a contra meu corpo e ela apagou o abajur. – Vamos que amanhã o dia é longo!


Capítulo 7

Fiorella segurou minha gravata borboleta e deu o nó, passando as mãos em meus ombros. Ela virou meu corpo em frente ao espelho e me abraçou pela barriga, apoiando o rosto em meu braço.
- Você está lindo, irmão! – Ela sorriu para mim no espelho e eu suspirei. – Só gostaria que você encontrasse outra pessoa no altar.
- Você não está ajudando, Fiorella. – Ela fechou os olhos, se afastando de mim.
- Eu só estou querendo dizer que ainda dá tempo. – Ela atravessou o quarto do hotel e pegou uma taça de champanhe, dando um gole no mesmo.
- Não está cedo para beber? – Perguntei.
- Não sei o que você está reclamando, deveria estar bebendo também. – Ri fraco, suspirando.
- Pensa bem, pelo menos Natalie é uma pessoa legal, nos tornamos amigos... – Dei de ombros. – Isso podia ser bem pior, viu?!
- Eu sei, mas você não está à procura de um amigo, está? – Ela perguntou, entornando o resto da taça.
- Eu não estava à procura de nada, Fiorella. – Falei e ela riu fraco.
- Não estamos chegando a lugar nenhum com isso. – Ela falou. – Mas eu não vou parar de falar para você desistir disso, até que você entre naquele salão, porque aí não tem mais volta mesmo. – Ela suspirou. – Eu preciso de um cigarro. – Ela se levantou rapidamente.
- Nem pense nisso. – Apontei o dedo para ela. – E, desiste. Eu me rebaixei o suficiente para fazermos tudo isso, gastamos mais da metade da grana de campanha por causa desse casamento. Então, não! – Falei firme.
- Você é muito idiota. – Ela falou. – O amor da sua vida está trabalhando no seu casamento. – Ela bufou. – Você entende como isso é ridículo, ? – Ela quase gritou em meu rosto. – Você deveria chegar nela e...
- E o quê, Fiorella? – Gritei com ela. – Você não vê, certo? Você é o problema! Foi você que me colocou nessa situação! Você que deu à ideia para o partido que um casamento ajeitaria a minha imagem. É por você que eu estou parecendo um pinguim. Mas não estou nervoso, nem ansioso, nem nada. É por sua culpa que eu vou casar com alguém que eu não sinto absolutamente nada. – Continuei falando alto. – Eu poderia não ganhar as eleições, mas pelo menos eu estaria feliz. – Suspirei, abaixando o tom de voz. – Posso até não ganhar ainda, mas agora eu sou infeliz. – Balancei a cabeça.
- , eu...
- Mas sabe o que é pior? Depois de tudo isso? – Virei para ela, que se manteve quieta, olhando para mim. – Se isso não tivesse acontecido, eu não teria visto o que estava na minha frente o tempo inteiro. Eu não teria notado de forma diferente, eu não teria entrado em sua vida pessoal, profissional e, com certeza, não teria me apaixonado por ela. – Joguei meu corpo na cadeira, respirando fundo. – Você não tem noção da vontade que eu estou de atravessar esse corredor e falar para Natalie que não terá casamento. Mas tem muita gente contando comigo, incluindo a própria Natalie. – Balancei a cabeça.
- Às vezes você tem que parar de pensar nos outros e pensar em você. – Ela esticou a mão para tocar a minha.
- Quem sabe em outra oportunidade? – Perguntei, fechando os olhos por alguns segundos.

***


- Você vai ficar bem? – Ellie me perguntou baixo e olhou para Lily, receosa, e eu sorri, abraçando-a de lado.
- Vou sim, minha querida. – Sorri e olhei para Lily.
- Você deveria contar para ela! – Ellie sussurrou ao seu lado. – Ela é quase sua segunda filha. – Olhamos para Lily que ergueu o rosto meio perdida nos papéis.
- Oi? – Lily perguntou e eu e Ellie gargalhamos. – Estão falando de mim?
- Em partes. – Ri fraco. – Ellie quer que eu te conte sobre o .
- Ah, sobre o ? – Lily virou para Ellie. – O que tem ele? - Ela se fez de desentendida, emendando logo em seguida. – Que finalmente o coração da sua mãe descongelou? – Ellie arregalou a boca.
- Como você sabe? – Ellie virou para mim. – Você contou para ela? – Ri fraco.
- Ela é quase minha segunda filha, Ellie. Não foi você que disse? Ela me conhece tão bem quanto você. – Ellie arregalou os olhos.
- Eu também sou contra sua mãe estar aqui hoje, Ellie, mas tem coisas que quando a gente é adulto, a gente não consegue fazer ou se intrometer. – Lily deu de ombros. – E essa é uma delas. – Ellie suspirou. – Mas sua mãe é forte. – Lily olhou para mim. – Ela vai superar essa.
- Chegamos, senhoritas! – Luke falou e as portas da limusine se abriram.
Ellie pulou para fora, ajeitando seu vestido rodado cor-de-rosa e sua jaqueta preta. Eu saí em seguida, ajeitando o blazer preto por cima do tubinho da mesma cor. Lily seguiu atrás de mim, com a roupa igual à minha. A outra parte da minha equipe também já estava na calçada do Four Seasons Hotel, todos vestidos como eu e Lily, e os homens de calça e blusa social pretos
. - Bom dia, senhores! – Falei, me aproximando da roda de pessoas.
- Bom dia, senhora Weddburgh. – Eles falaram em coro.
- Temos um casamento corrido hoje, cada um sabe sua posição e seus compromissos. E, como sempre, não falem com a imprensa.
- Cadê eles? – Um dos funcionários perguntou.
- Entrada de trás. – Sorrimos. – Se eles querem um show, esse show acontecerá na entrada da garagem do hotel. – Alguns sorriram. – Em seus lugares, vamos trabalhar. – Falei. – Lily! – Falei e ela colocou na roda uma caixa com os microfones e pontos, eu peguei o microfone principal e o único ponto preto na caixa. – Não temos ninguém novo aqui, temos? – Olhei rapidamente em volta e reconheci todos os funcionários. – Muito bem, vamos lá! – Falei e eles se dissiparam.
- Senhora! – Lily segurou o microfone para mim e eu coloquei o ponto na orelha e ajustei o microfone em seguida.
- Lily, faça sua primeira ronda e fique de prontidão na cerimônia dando assistência, levarei Ellie para a cerimônia, verei os noivos e depois encontro contigo. – Senti Ellie me puxar pela cintura e olhei para baixo.
- Você vai vê-lo, mamãe? - Ela falou e eu me abaixei, ficando na sua altura.
- Eu vou, querida. – Ela fez um beicinho.
- Tenta... – Ela balançou a cabeça, suspirando. – Não seja chata, ok?! – Ri fraco, apertando-a em meus ombros, sentindo-a me abraçar forte. – Manda um beijo para ele.
- Eu não farei isso, querida. – Ela suspirou.
- Ok, eu mesma dou! – Me levantei novamente, dei à mão para Ellie e seguimos para dentro do hotel, onde os funcionários nos cumprimentaram cordialmente.
Atravessamos o hotel até o salão da cerimônia e notei que o outro estava sendo montado para o casamento da noite, feito por mim também. Minha equipe técnica já estava correndo de um lado para o outro.
Entrei no salão e tinha meia dúzia de pessoas somente, faltava cerca de uma hora para a cerimônia acontecer e tinha muita coisa para resolver ainda. Parei na porta e entreguei a confirmação de presença de Ellie para um funcionário e ele até riu fraco.
- A senhorita é bem-vinda, senhorita Ellie. – Ele falou e ela sorriu.
Atravessei o corredor principal com Ellie ao meu lado e levei-a para o primeiro banco, vendo-a se sentar na cadeira próxima ao corredor e me abaixei ao seu lado.
- Se comporte. Qualquer emergência você pode falar com qualquer um que esteja de roupa preta. – Ela assentiu com a cabeça. – Eles têm microfones e podem falar comigo rapidamente. - Beleza, mamãe! – Ela sorriu e eu dei um beijo leve em sua testa.
- No fim eu te encontro exatamente aqui, ok?! – Ela assentiu com a cabeça. – Vou trabalhar um pouco.
- Beleza! – Me levantei e deixei-a na frente do altar e voltei pelo mesmo caminho que vim, acenando para meu funcionário novamente.
- Onde está, senhora? – Ouvi a voz de Lily em meu ponto.
- Seguindo para o quarto da noiva. – Falei.
- Estou na porta dela. – Assenti com a cabeça e segui a passos firmes para o primeiro andar, onde de um lado estava Natalie, e do outro .
Encontrei Lily a postos na porta do quarto de Natalie com um segurança em cada lado. Bati na porta duas vezes, antes de abrir na mesma, encontrando Natalie sozinha no quarto, sentada em uma poltrona, observando as bolhas de sua taça de champanhe.
- Bom dia? – Perguntei, franzindo a testa e Lily entrou comigo, fechando a porta em seguida.
- Bom dia! – Ela disse, se endireitando na poltrona.
- Está tudo bem? – Perguntei. – Cadê sua família? – Ela riu fraco, colocando a taça de volta na mesa.
- Não achei que seria digno eu chamar minha família para um casamento que o único propósito é pagar o tratamento da minha mãe. – Assenti com a cabeça. – Vamos dizer que eu sou a ovelha negra da família. – Suspirei.
- Em partes, confesso que fico feliz em saber que você tem um interesse, mas um interesse digno nessa união toda. – Ela riu fraco. – Eu detesto organizar casamentos falsos. – Ela sorriu.
- Eu queria poder acabar com tudo isso, sabia? – Ela se levantou. – Gosto bastante do , mesmo como amiga, e gostaria que vocês pudessem ficar juntos. – Dei um longo suspiro. – Mas eu tenho um contrato, que depende dele para quebrar.
- Natalie...
- Você não precisa dizer nada, mas eu noto como ele te olha. – Ela segurou minhas mãos. – E como você olha para ele.
- Mas eu vi vocês se beijando aquela noite... – Ela riu fraco.
- Estávamos tentando, . – Ela olhou fixo para mim. – Se precisamos ficar um ano casados, que seja divertido, pelo menos. – Ri fraco. – Vai atrás dele. – Ela falou. – Essa mentira toda serviu para vocês dois verem o que estava na frente de vocês há muito tempo. – Ela suspirou. – Por favor, cancelem isso, sejam felizes. – Ela balançou a cabeça.
- Eu não posso, Natalie. – Suspirei. – Eu também tenho um contrato para cumprir.
- Existe a cláusula ‘não podereis arruinar casamento alheio’? – Ela perguntou e eu não segurei a risada.
- Não nessas palavras, mas é quase um juramento de Hipócrates. – Apertei suas mãos. – Mas obrigada.
- Por quê? – Balancei a cabeça.
- Por tudo. – Suspirei e ela me abraçou fortemente. – Eu vou ver o . Lily ficará contigo e te acompanhará para a cerimônia. – Ela assentiu com a cabeça e eu me dirigi até a porta.
- ! – Ela me chamou e eu olhei para ela. - Ainda há tempo. – Suspirei, saindo do quarto.

***


- Eu falei se acalmar, não ficar bêbado! – Minha irmã puxou a taça da minha mão e eu suspirei, abaixando as mãos na poltrona, vendo meu pai se encarar no espelho e minha mãe mexer nos detalhes preparados pelo hotel e pela Weddburgh.
- Quanto tempo falta? – Perguntei e ela ergueu o punho.
- Dez minutos. – Ela falou e eu bufei.
- Será que os seguranças lá fora vão avisar quando for à hora? – Perguntei e Fiorella deu de ombros, observei o pote de balas ao meu lado e peguei uma, jogando na boca.
Duas batidas na porta me distraíram e ela foi aberta imediatamente por e um funcionário ao seu lado. Me levantei prontamente, vendo-a pela primeira vez depois daquela situação no ateliê de Rupert Van Sanders. Ela estava do jeito de sempre, bem social, bem arrumada e muito bonita, mas seu rosto era sério. Ela se colocou no meio do quarto, olhando para todos, menos para mim.
- Bom dia, senhores! – Ela falou calma. – Prontos? – Ela virou para mim, assim como todos no quarto.
- Vocês podem me dar dois minutos? – Pedi. – Pai, mãe, Fiorella. – Falei e os três se retiraram do quarto, junto do funcionário de , fazendo-a cruzar os braços em cima do peito.
- O que você quer? – Ela perguntou. – Eu não tenho tempo...
- Ainda tem tempo, . – Falei. – Para você e para eu desistir disso tudo. – Balancei.
- Para, ! Eu estou falando sério. – Falei sério. – Eu não posso lidar com isso agora, eu não posso lidar com isso de novo. – Tentei me aproximar dela que deu dois passos para trás. – Por favor, se você gosta de mim, respeite isso.
- Mas por quê? Me diga qual é o problema, que a gente dá um jeito. – Falei e ela suspirou.
- , por favor, não faça isso comigo. Eu não consigo... – Ela respirou fundo.
- Mas, por favor, só me dê um motivo para eu não acabar com essa cerimônia agora e fugir daqui contigo. – Ela respirou fundo e passou os dedos levemente embaixo dos olhos. Ela estava chorando.
- Um motivo? É isso que você quer? - Ela perguntou, engolindo em seco e eu afirmei com a cabeça.
- Sim, porque eu estou disposto a lutar por você, mas só se eu puder ganhar essa luta. – Ela suspirou.
- Porque isso não é trabalho meu. – Ela falou, causando maior confusão em minha cabeça. – Eu não posso. – Suspirei.
- O que fizeram contigo? – Minha voz saiu sem que eu percebesse. – O que aconteceu contigo? Se foi um cara, eu posso mudar isso. – Ela deu um sorriso de lado.
- Ninguém conseguiu esse feito, . – Ela deu de ombros. – Podemos ir agora?
- Você pode, pelo amor de Deus, largar essa pose de empresária poderosa e prestar atenção por alguns segundos? – Gritei, passando a mão no rosto. – Por favor, não me deixe fazer isso.
Ela não falou nada por alguns segundos, acho que ficou assustada com o grito que eu havia dado. Suspirou, engoliu em seco e seguiu para a porta, abrindo a mesma.
- Estamos prontos, Joel! – Ela falou e eu arregalei meus olhos.
- , eu... – Balancei a cabeça.
- Eu não posso fazer nada, . – Ela falou e eu vi meus pais com pontos de interrogação na testa.

***


Pedi dois minutos para dar uma passada no banheiro, do contrário eu explodiria. Eu não deveria ter vindo. Aquilo era muito complicado para mim. Isso só tinha acontecido uma vez e havia sido o maior desastre de todos. Eu não posso simplesmente largar tudo e ser feliz, eu sei que as coisas não são fáceis assim.
Ok, eu sou uma cerimonialista, deveria ter mais fé nas pessoas, acreditar no amor, etc, eu sei de tudo isso, mas não é assim que funciona na prática. Se eu for pegar a lista de todos os casamentos que eu fiz nos últimos 20 anos, se eu tiver 20% dos casais juntos ainda, eu vou me considerar no lucro.
Eu ficava triste a cada relacionamento terminado, ou pior, a relacionamentos que acabavam antes mesmo de chegar ao altar, mas eu sei disso por experiência pessoal. A vida real não era a mesma coisa que criar casamentos milionários de príncipes e princesas. Pelo menos na criação de casamentos, eu podia fingir que tudo era perfeito até o ‘sim’, depois disso, eu já não confiava em mais nada.
Eu precisava voltar para casa, tomar um banho gelado e me matar em mais um pote de sorvete, só assim eu...
- Senhora Weddburgh. – Senti alguém tocar meu ombro e parei o cortejo do noivo, vendo Fiorella ao meu lado. – Podemos conversar? – Ela perguntou. – Temos alguns minutinhos ainda. – Olhei para e sua família que nos encaravam.
- Vocês podem ir, fiquem do lado de fora do salão, por favor. Vou pedir para Lily encontrá-los. – Abri espaço para e seus pais e notei suas mãos apertando fortemente as de sua mãe, fazendo com que os nós se esbranquiçassem.
Quando eles estavam alguns passos a nossa frente, Fiorella se virou para mim, com o semblante claramente nervoso e apavorado.
- Você vai falar para eu desistir e casar com seu irmão? É isso? – Perguntei, notando que eu havia sido um tanto quanto cruel.
- Muitos já te disseram isso, eu só gostaria de dizer para você uma única coisa. – Assenti com a cabeça.
- Diga! – Suspirei.
- é somente dois anos mais velho do que eu, então eu posso dizer que nós fomos muito próximos a nossa vida toda. – Assenti com a cabeça. – E, apesar dele ser uma das pessoas mais bondosas e caridosas que eu conheci nesse mundo de filha de político, ele também foi o maior galinha que eu já conheci. – Ela suspirou. – Eu não sei como é a relação de vocês como vizinhos, eu não sei há quanto tempo vocês se conhecem, mas suponho que entrar na vida um do outro, foi só nesse período do seu trabalho em organizar o casamento. – Assenti com a cabeça. – E ele mudou, , ele se apaixonou por você diante dos meus olhos. – Ela deu um pequeno sorriso. – Você não entende? Isso não tem mais a ver com eleições municipais ou carreiras políticas. – Ele suspirou. – Tem a ver com amor.
- Quando ficamos só eu e sozinhos, eu tive a oportunidade de mudar minha opinião sobre ele que nem eu mesma me forçava a crer. - Abri um pequeno sorriso. – Ele é incrível. Mas ele não sabe disso ainda, ele tem um poder dentro de si, mas ele não sabe que não precisa de ninguém para controlar, em quaisquer circunstâncias. – Balancei a cabeça. – Ele precisa aprender isso também, para deixar a vida de menino de lado e virar um homem. – Falei firme. – E sobre mim, meu trabalho aqui está feito. Eu não posso, eu não consigo fazer mais nada.
- Você...
- Eu... – Suspirei. - Eu não posso fazer mais nada.
- Você? – Ela tinha entendido.
- Eu! – Falei novamente e ela arregalou os olhos.
- Oh, meu Deus! – Ela me abraçou desesperada e eu segurei seu braço.
- Não é tão simples, Fiorella. – Falei firme.
- Foda-se! – Ela falou e saiu correndo pelo hotel, me deixando sozinha no meio do corredor.
- Droga! – Suspirei, quase correndo até o hall dos salões de festas do Four Seasons.
- Senhora? – Ouvi Lily no ponto.
- Venha com Natalie agora! – Falei. – Matt, a música! – Falei sobre diversos assuntos no ponto, esperando que toda aquela confusão desse certo.
Quando cheguei ao hall do salão, só deu tempo de eu ver Fiorella cochichando com , mas as portas do salão se abriram com maestria, fazendo que ambos se assustassem. me viu ao fundo e arregalou os olhos, confuso.
- Boa sorte! – Movimentei meus lábios em sua direção, vendo-o ser obrigado a virar para o altar, e começar a andar em linha reta com o braço dado a sua mãe, me fazendo respirar fundo, com vontade de me jogar no chão de cansaço.

***


Eu entrei em desespero quando vi que as portas se abriram e olhei movimentar os lábios em um ‘Boa sorte’ para mim. Havia acabado, ela havia desistido da luta e tinha destroçado meu coração ao mesmo tempo. Minha mãe estendeu o braço sem entender e eu observei o altar lá na frente. Fechei os olhos e comecei a caminhar.
Atravessei aquele corredor meio absorto em pensamentos. As diversas pessoas em pé eram velhos conhecidos de infância, magnatas, políticos... Testemunhas! Pessoas para comprovar essa piada ridícula. A única pessoa que realmente estava feliz por me ver ali, apesar das circunstâncias, era a figura de vestido cor-de-rosa, com longos cabelos loiros que acenava timidamente do primeiro banco do salão.
Acenei para ela, vendo-a se virar junto com os outros convidados. Coloquei-me no meu lugar de burro do lado direito do altar e me apresentei como um pinguim que eu deveria ser. Olhei as portas do salão se fecharem novamente e uma música suave desconhecida começar a ser tocada pela banda à minha direita.
As portas foram abertas e Natalie apareceu sozinha no fundo do salão, carregando um buquê branco e usando um bonito vestido rosa claro. Ela estava linda, havíamos criado uma amizade tão real que eu não tinha nem com a minha irmã. Estávamos no mesmo barco, ela com sua mãe doente e eu com a eleição. Ela foi a primeira pessoa que eu fui contar sobre o beijo de , e a primeira que pediu que eu cancelasse com isso o mais rápido possível e ficar com a senhora Weddburgh. Mas não dependia só de mim.
Sorri para Natalie, dando um delicado beijo em sua testa e seguimos lado a lado em frente ao padre ou o representante religioso ali presente, não lembrava muito o que tinha sido decidido. Segurei sua mão e senti apertá-la firmemente.
Enquanto o padre falava da importância desse casamento, me lembrei da pressa que Fiorella teve ao falar comigo antes das portas se abrirem rapidamente, eu não lembrava muito bem de suas palavras, ela tinha torcido o pé no meio da correria e falava com a voz cansada e com dor. Balancei a cabeça, tentando excluir o que o padre estava dizendo e excluir tudo da minha cabeça.
- Ela não pode fazer nada, , ela não pode fazer nada! – Ela falou repetidamente.
- Eu sei, Fiorella, ela me falou isso também.
- Não, você não está entendendo. – Ela respirava forte. – Ela não pode, mas você sim! – Ela falou alto, se calando quando as portas se abriram novamente. Ela saiu da frente da entrada e entrou no salão de cabeça baixa.
Balancei a cabeça e voltei para o tempo presente. Era isso, então! Ela estava tentando me mandar um sinal todo esse tempo. Isso não dependia dela, dependia de mim. Ah, que merda!
Senti um aperto na minha mão e me virei para Natalie que me olhava, agora ela estava de frente para mim. Repeti o movimento, segurando suas mãos como o padre pedia e eu engoli em seco.
- Vamos às perguntas! – O padre falou e eu engoli em seco, notando o olhar firme de Natalie em mim, franzi o olhar, tentando perguntar com eles o que estava acontecendo.
- Natalie Muriel, você aceita como seu legítimo esposo, para amar, respeitar e compartilhar os momentos, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, por todos os dias da sua vida, até que a morte os separe? – O padre perguntou e Natalie olhou em desespero para mim e eu assenti com a cabeça, respirando fundo.
- Sim. – Ela disse sem ânimo, dando um sorriso triste. Senti suas mãos tremerem sob as minhas.
- , você aceita Natalie Muriel como sua legítima esposa, para amar, respeitar e compartilhar os momentos, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, por todos os dias da sua vida, até que a morte os separe? – Respirei fundo e notei Ellie na primeira cadeira.
Ela fez um sinal com a cabeça para o fundo e eu levei meu olhar para o fundo do salão. estava lá, com outros dois funcionários. As mãos na prancheta, observando a cena como se ela somente estivesse trabalhando ainda.
Virei para o padre que me encarava e olhei novamente para o rosto ansioso de Ellie e eu dei uma piscadela para ela que abriu um pequeno sorriso, se ajeitando na cadeira. Olhei para Natalie e assenti com a cabeça, fazendo-a arregalar os olhos também.
- ? – O padre perguntou.
- Desculpe por tudo isso. – Sussurrei para Natalie, apertando suas mãos e ela abriu um sorriso, quebrando com todos os protocolos e me abraçou fortemente, me fazendo suspirar.
- Vá atrás do seu sonho! – Ela sussurrou para mim e voltamos à posição inicial, dando as mãos e rindo com nossa piada interna.
- Não, seu padre! – Falei, virando para o representante, e o salão inteiro se assustou, exceto Natalie e Ellie.
Dei um beijo na testa de Natalie me virei para a porta do salão... Onde havia sumido.

***


- Não, seu padre! – Arregalei os olhos com aquilo e empurrei a prancheta para Lily ao meu lado e saí do salão, esperando que o barulho da porta tenha sido abafado pelas expressões assustadas de todos no salão, inclusive a minha.
Saí sem rumo pelo hotel Four Seasons, eu não sabia aonde ir, eu não sabia o que fazer. Naquele momento eu só estava preocupada com uma coisa: proteger minha carreira, mesmo sabendo que eu deveria dar atenção a e a mim, mas eu não conseguia. Naquele momento eu estava muito preocupada em quais explicações os dariam à imprensa e sentia calafrios só de pensar em meu nome ser mencionado e ver vinte anos serem jogados no lixo.
Me vi sentando em uma poltrona que surgiu magicamente em minha frente em um canto escuro e senti as lágrimas escorrerem pelo meu rosto, por que era tão difícil? Por que minha vida não podia ser simples, iguais as de pessoas da minha idade ou mais novas?
Bati minha cabeça na parede atrás de mim e puxei a respiração forte, não poderia me esconder aqui por muito tempo, o ponto na minha orelha estava agitado, vários funcionários sem saber como agir, e sem saber onde eu estava. Não tínhamos históricos de noivos dizendo ‘não’ no momento mais importante da cerimônia, mas a maior preocupação era de Lily que perguntava mil vezes onde eu estava.
- ! – Abri os olhos e me levantei em desespero, ao ver correndo meio desesperado em minha direção.
- Ah, não! – Falei, franzindo a testa. – Você sabe o que fez? – Foi à primeira coisa que eu consegui falar.
- Sim! – Ele se aproximou de mim. – Eu vim atrás de você, foi o que Fiorella disse, que você não poderia fazer nada, mas eu poderia.
- Mas isso não era agora, seu idiota! – Falei, sabendo que eu estava entrando em um terreno conturbado. – Me diga, como você vai explicar isso? – Cruzei os braços.
- Eu vou botar a história toda a limpo, falar de Natalie, falar das ideias políticas e que eu me apaixonei por você. – Soltei uma risada irônica.
- Ah, se você quer destruir sua carreira, fique à vontade, mas não me coloque no meio das suas besteiras. – Soltei um suspiro alto. – Não se atreva a mencionar meu nome.
- O que aconteceu? – Ele perguntou confuso. – Um dia você briga comigo, depois diz que ficaria comigo e agora não?
- Eu queria ficar contigo, , mas não era agora. – Balancei a cabeça. – Você deveria continuar fazendo seu papel de pião, finalizar isso e depois, quando a poeira baixasse, a gente poderia tentar. – Suspirei. – Você acabou de colocar uma bomba enorme na minha mão e não percebeu isso.
- Você está se escutando? – Ele sacudiu meus ombros. – Você coloca sua carreira em um patamar quase monárquico, mas é miserável e infeliz.
- Como você se...
- Sim, eu me atrevo! – Ele falou firme. – Olha o que você faz com Ellie, ela é a criança mais espetacular que eu conheci em toda minha vida e é criada por porteiros e empregadas, sendo que tem um talento suficiente para estar construindo um próprio reinado. Você sai quando ela está dormindo, pede para pessoas estranhas pegarem ela, levarem comida e cuidar, e quando chega, ela já está dormindo. Até eu cuido da sua filha melhor que você. – Suspirei. – E mais, eu não sei o que aconteceu contigo, o que fizeram contigo ou se você só não tem coração mesmo, mas você não se dá uma chance nem para ser feliz. – Ele balançou a cabeça, engolindo em seco. – Eu poderia lutar por você, sabia? Pelo tempo que fosse preciso, mas eu sei que eu estaria entrando em uma luta perdida. – Ele suspirou. – Você não tem ideia como eu lutaria todos os dias da minha vida para te fazer feliz. – Ele soltou meus ombros. – Mas eu não posso, tenho que focar na minha carreira também. – Ele virou de costas.
- , eu... – Comecei a falar.
- Não se preocupe, eu e Natalie acharemos a desculpa perfeita para esse casamento falido. Seu nome não será mencionado. – Ele virou de costas, saindo a passos firmes pelo caminho que veio.
Engoli em seco e joguei meu corpo para trás, sentando novamente na cadeira que antes eu estava. Eu não tinha o que falar, mas havia um buraco no meu peito, muito maior do que havia se formado 20 anos atrás.

***


- , posso fazer alguma coisa por você? – Lily a assistente de entrou em meu campo de visão, fazendo sombra em meu rosto e eu suspirei, balançando a cabeça.
- Nem eu sei, Lily! – Suspirei. – Pode começar a tirar tudo, arrumar, fazer as pessoas irem embora e não me fazerem perguntas. – Ela riu fraco.
- Eu tentarei, senhor. – Ela falou com um sorriso de lado no rosto. – Vou fazer com que eles saiam pela frente para te dar um pouco mais de privacidade. – Assenti com a cabeça.
- Obrigado! – Assenti com a cabeça. – Segunda ajeitamos tudo, pode ser?
- Sem pressa. – Lily falou e saiu novamente.
Abaixei a cabeça novamente. Eu não conseguia nem chorar, eu estava com raiva, eu havia feito algo que eu queria pela primeira vez em muitos anos e aquela mulher arrogante e maravilhosa havia conseguido me deixar com ódio dessa escolha.
Notei uma sombra pairar em minha frente e fechei os olhos, acho que Lily não tinha conseguido despistar os curiosos por muito tempo, apesar de que só uma pessoa estava pronto para jogar tudo aquilo na minha cara e falar do quão arrependido estava.
- Agora não, pai! – Falei baixo.
- Eu não sou seu pai! – Ouvi uma voz fina e olhei para cima, vendo Ellie em minha frente e abri um sorriso. – Posso sentar?
- Ah, Ellie! – Falei, sentindo as lágrimas finalmente caírem de meu rosto e ela se sentou ao meu lado, ajeitando seu vestido.
- Ela fugiu, não foi? – Ela perguntou, olhando para mim. – Minha mãe.
- Sim, ela fugiu. – Respirei fundo, passando a mão em meu rosto.
- Eu sei que você deve estar bem chateado agora, mas eu queria te contar uma história. – Ela falou e passou a mão em meu rosto, limpando uma lágrima.
- Só se for para você me dizer por que ela é assim. Por que ela não se abre? – Perguntei.
- É exatamente essa história. – Ela deu um pequeno sorriso. – Eu não deveria te contar, mas é a primeira vez que ela se apaixona depois de tudo, e eu gostaria muito que ela fosse feliz. – Ela falou com a voz fina e eu a abracei de lado, sentindo sua voz afinar pela emoção.
- Conte-me, Ellie. Eu posso ajudar. – Ela respirou fundo, soltando o ar fortemente pela boca.
- Essa história começa há 22 anos, quando mamãe tinha acabado de se formar na faculdade. – Ela sorriu. – Fez relações públicas em uma faculdade na Costa Rica.
- Costa Rica? – Perguntei e Ellie assentiu com a cabeça.
- Ela é de lá, de uma cidade chamada Puerto Limón. – Arregalei os olhos.
- Oh! – Foi só o que consegui falar.
- Sim! – Ela riu fraco. – Ela tinha um namorado, Spike, se eu não me engano, eles namoravam há quase um ano quando decidiram fugir. – Ela respirou fundo. - Aparentemente o papai da mamãe era muito rígido, queria as coisas do seu jeito aqui e agora, e bem, mamãe, por estranho que pareça, ela era um espírito livre, queria coisas diferentes, pensava diferente, tinha sempre ideias e soluções. – Ela deu um pequeno sorriso. – No dia que eles fugiram, os pais dela viram e disseram que se ela fizesse isso, ela não precisava voltar mais.
- E aí? - Comecei a prestar atenção.
- Bem, eles fugiram, sua ideia era chegar ao Canadá, não lembro por que. – Ela deu de ombros. – Eles foram de carro e seguiram subindo o mapa. – Ela suspirou. – Mas em El Salvador o dinheiro acabou. – Ela riu fraco. – Jovens e imprudentes. – Sorri. – Eles arrumaram acampamento lá por um tempo, morando no carro, depois conseguindo um pequeno quarto e seguiram assim por três meses. – Ela falou. – Só três meses. – Ela suspirou. – Eles até casaram lá, só os dois e alguma testemunha emprestada no tribunal. – Franzi o rosto. Ela tinha se casado. – Mas ela descobriu que Spike estava traindo ela com outra pessoa. Outras pessoas. - Ela deu de ombros. – Eles prometeram amor para a vida eterna e ele não cumpriu. – Suspirei, tentando visualizar a história na minha cabeça, mas não era fácil.
- O que ela fez? – Perguntei.
- Fez a única coisa que ela era boa na época. – Ela disse. – Foi embora. – Assenti com a cabeça. – Pediu anulação do casamento, conseguiu um dinheiro emprestado de uma conhecida e continuou seguindo o mapa. – Ela respirou fundo. – Ela chegou aqui nos Estados Unidos em um mês, fazendo bicos por onde passava para continuar pagando pela gasolina. – Assenti com a cabeça. – Ela ficou mais um mês trabalhando no Texas, em uma pequena empresa leiteira, Bells acho. – Ela deu de ombros. – Mas a barriga começou a crescer. – Arregalei os olhos e os lábios.
- Ela estava grávida. – Ellie assentiu com a cabeça.
- Sim! – Suspiramos juntos. – Mas ela não queria, ela já tinha problemas o suficiente. – Virei para ela, com os olhos atentos nos seus. – Ela cruzou a fronteira do México e fez um aborto clandestino por lá. – Arregalei os olhos. – Posso dizer que fugir de casa não é o único grande arrependimento dela. – Assenti com a cabeça.
- Imagino. – Suspirei, engolindo em seco.
- Ela sofreu bastante depois do aborto, ficou doente, passou mal. Quando se recuperou, ela seguiu para Nova York com um propósito.
- Começar de novo! – Falei e Ellie assentiu com a cabeça.
- Exatamente! – Ela sorriu. – Ela alugou um apartamento de um quarto no Brooklyn, começou a fazer pequenos eventos na vizinhança, à situação foi melhorando, ela foi conseguindo melhores clientes, grandes fornecedores e virou o que é hoje. – Ela sorriu. – Eu me orgulho em dizer que sou filha dela. – Sorri, apertando sua mão.
- E como você veio parar nessa história toda? – Ela riu fraco.
- Mamãe se sentia muito sozinha, afinal, sem namorado, sem marido, sem família e sem amigos, até ela deve ter enlouquecido um pouco. – Rimos juntos.
- Ela fez à moda antiga ou...?
- Ela foi numa clínica, escolheu alguém com os genes que lhe agradaram, implementou os óvulos e espermatozoides e voilá. – Ela riu fraco. – Nove meses depois eu estava aqui.
- Você veio por fertilização in vitro? – Perguntei e ela assentiu com a cabeça.
- Sim, sim! – Ela riu fraco. – É estranho pensar que eu estive em um frasco em um momento da minha vida, mas é. – Ela deu de ombros.
- E você nunca teve vontade de descobrir quem é seu pai? – Perguntei.
- Não! – Ela negou com a cabeça. – Somos só eu e mamãe, mas aposto que ele era bonito, afinal, olha para mim. – Gargalhei, apertando-a contra meu peito.
- Ah, só você, Ellie. – Suspirei.
- Então, agora que você sabe a história toda. Então, tenha paciência com ela. – Ela deu de ombros. – Ela já sofreu bastante na vida, tem motivo para ela ser arredia assim. – Ela suspirou. – Sabe, se eu pudesse, te escolhia para ela. – Abri um pequeno sorriso.
- Obrigado, Ellie. Você é mesmo excepcional. – Ela sorriu. – E como você sabe essa história toda?
- Ela me contou. – Ela sorriu. – Somos só nós duas, então não temos segredo entre nós. – Assenti com a cabeça, respirando fundo.
- E... – Parei um pouco. – Eu estava pesquisando sobre sua mãe um dia e achei um documento na prefeitura falando de uma mudança de sobrenome.
- Ah sim! Weddburgh não é o sobrenome verdadeiro dela. – Ela falou.
- E qual era? E por que essa mudança?
- O sobrenome da mamãe é Piedrafita. – Ela deu de ombros. – Oficialmente, o meu também. Ela decidiu trocar para que Spike não a encontrasse. – Ela suspirou. – Aparentemente ele era um pouco abusivo quando as coisas iam contra suas vontades. – Assenti com a cabeça.
- E como ela chegou em Weddburgh? – Ellie riu fraco.
- Você nunca suspeitou? – Ela perguntou.
- Acho que não.
- Wedd de wedding, casamento. – Ela falou e eu notei a similaridade rapidamente.
- Você está brincando! – Gargalhei e ela negou com a cabeça.
- Acredite, não estou. Mas ficou bom, viralizou rapidamente. – Ela se levantou e seu olhar seguiu para longe, onde eu também vi parada do outro lado do hall, esperando. – Eu tenho que ir. – Ela falou, se levantando. – Pensa no que eu falei, ok?! – Ela falou, me abraçando rapidamente. – E não desista dela, por favor! – Ela suspirou e saiu correndo em direção à que nem se deu ao trabalho de erguer o olho para mim e elas saíram juntas.
Levantei-me, ficando parado por um tempo e notei os funcionários de entrando e saindo do salão com grandes arranjos de flores, tapetes vermelhos e panos decorativos brancos. Soltei um suspiro e tirei meu celular do bolso, discando rapidamente para Bruce.
- Onde você está? – Perguntei quando ele me atendeu. – Você precisa me ajudar a me safar dessa.
- Ah, agora você quer ajuda? – Ele perguntou debochando. – Onde você está? Vou ao seu encontro, aqui está uma loucura.
- Aqui dentro ainda, no salão! – Falei, desligando o telefone.


Capítulo 8

- Mãe! – Ouvi uma voz baixa me chamar e passei a mão nos olhos, abrindo-os devagar. – Vamos, mãe! – Ela falou e eu abri os olhos, suspirando.
- Bom dia, querida! – Falei e Ellie deu um beijo em minha bochecha.
- Bom dia, mamãe! – Ela se jogou ao seu lado.
- Hoje é o grande dia? – Perguntei e ela assentiu com a cabeça.
- Você vai, certo? - Abri um pequeno sorriso.
- Vou sim, querida! – Fiz um carinho na sua cabeça e me sentei na cama. – Eu não faria isso com ele. – Ela deu um pequeno sorriso.
- Eu posso ir contigo? – Ela perguntou.
- Claro, querida! – Suspirei. – Vamos nos arrumar e tomar café, então?
- Eu vou tomar um banho! – Ela falou e saiu correndo do quarto, me deixando sozinha, encarando a agenda na minha mesa de cabeceira, o dia cinco de novembro havia chegado.
Levantei da cama e imitei Ellie, entrei no banheiro, me despi e fui direto para o banho, deixando a água escorrer bem pelos meus cabelos e fazer o cheiro de sabonete subir pelo banheiro.
Voltei para o quarto enrolada na toalha e escolhi uma roupa casual para aquele dia, mas me permiti colocar um par de slippers para aliviar meu pé do uso constante de saltos por um tempo. Passei uma maquiagem adequada para o dia e saí do quarto, seguindo para a cozinha, onde Ellie já estava sentada à mesa, com um copo de suco e um pedaço de bolo do meu aniversário que havia sido na terça-feira passada.
- Ellie, já falei para parar de comer esse bolo.
- Mas vai estragar, mamãe. – Ri fraco.
- Ele já deve ter estragado, era já para ter ido para o lixo. – Ela fez uma careta.
- Opa, tarde demais! – Ela falou, continuando a comer e eu balancei a cabeça.
- Meu Deus! Quero ver a dor de barriga que vai te dar. – Ela riu e continuou comendo. Como Brigite estava de folga hoje, não fiz uma garrafa de café só para mim, me contive com minha máquina de cápsulas mesmo, fazendo um café expresso.
Peguei uma banana e comi antes de jogar o café quente para dentro do corpo, esperando que ele realmente me mantivesse ativa naquele dia.
- Vou escovar os dentes! – Ellie se levantou da mesa e saiu correndo pelo corredor novamente.
Peguei seu prato e copo e coloquei na pia, junto da minha xícara. Joguei um pouco de água e voltei para meu quarto. Escovei os dentes, passei batom, peguei minha bolsa e encontrei Ellie pronta, sentada na beirada do sofá.
- Vamos lá? – Ela perguntou, se levantando prontamente.
- Vamos sim, querida! – Estendi a mão para ela que veio correndo em minha direção.
Saímos do apartamento e não tivemos nem sinal do meu vizinho. Nessas últimas semanas eu o havia visto uma ou duas vezes só, normalmente pela manhã, quando eu estava saindo do trabalho, e ele estava voltando dos comícios e campanhas.
Eu tentava não acompanhar muitas coisas dele. Ele tinha pedido para eu ficar com ele, e eu não quis, então eu não tinha o direito de ficar me remoendo pelos cantos. Eu só tinha que seguir em frente, agir como uma mulher adulta e fingir que isso nunca tinha acontecido e tratá-lo da mesma forma de sempre: com indiferença.
Mas eu acabava lendo nos jornais matinais sobre ele e suas ambições políticas. Parecia que ele estava indo bem. No dia seguinte ao casamento, eu havia ouvido alguns gritos dele e de seu pai, depois também não tive sinais mais do prefeito no prédio.
Dirigi com Ellie no banco de trás até a escola mais próxima. Apesar de tudo, meu caminho estava meio quieto, os debates e manifestações contra os políticos estavam sendo feitas no centro da cidade, próximo à prefeitura.
Estacionei em uma vaga que liberou próximo a porta, estacionei e saí do carro junto de Ellie. Andamos em silêncio lado a lado até a quadra poliesportiva da escola e eu mostrei meu documento de votação para o voluntário na porta.
- Você pode ir para a fila número dois. – Ele me falou. – A senhorita pode aguardar na arquibancada. – Ele falou para Ellie e assentimos com a cabeça.
- Vai dar tudo certo, mãe! - Ellie falou para mim e eu concordei com a cabeça, antes de entregar minha bolsa para ela e seguir para a fila onde o homem havia indicado.
Minha vez chegou rápido, mostrei meu documento para a mulher e ela pegou a cédula com o meu nome na pasta e pediu que eu assinasse a folha de presença e eu o fiz.
- Você pode ir! - Ela falou e eu olhei para trás rapidamente, vendo Ellie fazer sinais de positivos com as duas mãos e eu andei até a cabine de votação, fechando a cortina da mesma e encarei a tela do computador. Coloquei a cédula no espaço indicado e a vi se acender em minha frente, me fazendo respirar fundo.
Observei as opções dos outros representantes, deixando-as em branco, com exceção de prefeito. Eu não me preocupava muito com os outros representantes, mal tinha tempo de pesquisar prefeito e presidente, imagina os outros.
Quando a categoria de prefeito apareceu na minha foto, eu vi a foto dos representantes, engolindo em seco ao ver a foto de sorrindo no meio deles.
Fechei os olhos por um momento e deixei meu orgulho de lado, pensando em todas as conversas, discursos políticos, entrevistas de TV e reportagens de jornais que eu havia ouvido, visto e lido.
Cliquei em seu rosto e sua foto aumentou para a confirmação do voto, respirei fundo e confirmei, engolindo em seco. A máquina fez a leitura dos meus votos, fez a confirmação e eu consegui tirar a parte final da cédula como comprovante.
Abri a cortina novamente, saindo da mesma e segui para fora da área das cabines de votação e segui em direção a Ellie, vendo-a se levantar da arquibancada.
- Fez? – Ela perguntou e eu assenti com a cabeça, respirando fundo e ela me abraçou do andar mais alto, me fazendo suspirar. - Vamos para casa, vai! – Ela disse e eu assenti com a cabeça, sentindo algumas lágrimas rolarem na minha bochecha.

***


Olhei-me no espelho e apertei a gravata, abaixando a gola da blusa e Bruce me ajudou a colocar o paletó e eu o ajeitei em meus ombros, fechando o primeiro botão. Olhei meu reflexo e respirei fundo, balançando a cabeça.
- Vai dar tudo certo, cara! – Bruce me falou e eu respirei fundo.
- Não sei, não. – Engoli em seco. – Duas semanas é pouco tempo, ainda mais depois daquele rolo todo.
- Confia no seu taco, . Você fez mais coisas nessas duas semanas do que na sua campanha inteira. – Assenti com a cabeça.
- Eu não deveria ter ouvido Fiorella. – Bruce riu.
- Ela foi quem mais te apoiou, . Não fale besteira. – Suspirei.
- Devo estar nervoso. – Bruce confirmou com a cabeça.
- Imagino! – Ele conferiu o relógio. – Vamos? – Soltei um longo suspiro e peguei meu celular e carteira, colocando nos bolsos de dentro do paletó e segui Bruce para fora do quarto. – Vamos para a votação e depois para a sede do partido. – Confirmei com a cabeça.
- Perfeito! – Assenti com a cabeça e ele abriu a porta, seguindo para o corredor e eu dei uma olhada discreta para a porta do outro lado do corredor e notei que ela estava fechada.
Tranquei a porta de casa e esperei o elevador chegar. Assim que ele chegou, as portas se abriram e eu gelei, engolindo em seco com a pessoa que estava saindo do mesmo. respirou fundo antes de sair do mesmo com Ellie ao seu lado.
- Bom dia. – Bruce foi o primeiro a falar e eu engoli em seco novamente.
- Bom dia! – Ela falou olhando direto para mim.
- Boa sorte, ! – Ellie falou e eu sorri, sentindo-a me abraçar fortemente. – Você vai conseguir.
- É, vai dar tudo certo! – falou e eu dei um sorriso de lado.
- Bem, vamos? – Bruce interviu. – Hoje o dia está cheio.
- A gente se vê. – Ellie falou e eu sorri de lado para ambas, sendo empurrado para dentro do elevador por Bruce, vendo a porta se fechar rapidamente e o semblante sério de sumir.
- Ela disse que vai dar tudo certo? – Bruce perguntou e eu concordei com a cabeça.
- Foi o que pareceu. – Falei.
- Será que ela votou em você? – Ele se virou para mim e eu balancei a cabeça.
- Isso não é possível! – Falei e ficamos sérios. Aquilo era possível?
Seguimos para a escola que eu votava e a situação estava um pouco caótica quando eu cheguei lá, alguns jornalistas estavam amontoados na porta esperando a minha chegada. Passei por todos sem dar entrevistas e entrei no mesmo, esperando minha vez para votar.
Quando chegou a minha vez, confesso que fiquei alguns minutos encarando minha foto na tela. Eu queria muito isso, mas ainda não sabia se eu seria uma boa pessoa para esse cargo, mas alguém teria que se impor contra meu pai. Ele sempre foi um bom governante e tudo mais, mas ninguém nunca realmente soube quem ele era, confesso que nem eu, até alguns momentos nessa eleição.
Confirmei meu voto, clicando em minha foto novamente e o comprovante saiu, me fazendo respirar fundo, aliviado, talvez. Bruce já tinha saído da cabine e eu o segui, saindo da escola, acenando para algumas pessoas que me cumprimentavam, mas ignorei o pessoal da imprensa, entrando no carro novamente e dirigindo em direção ao apartamento de Bruce.
Alguns amigos meus estavam lá. Com três televisões ligadas, diversas ligações em andamento e fotos minhas e panfletos espalhados pelo local. Assim que eu cheguei, todo mundo gritou comemorando e eu já tirei o paletó, ficando um pouco mais à vontade.
- Filho! – Ouvi uma voz e virei o rosto, vendo minha mãe andando em minha direção com Fiorella.
- Mãe? – Perguntei e ela me abraçou fortemente.
- Ah, querido! – Ela sorriu para mim.
- O que estão fazendo aqui? – Perguntei, abraçando Fiorella em seguida.
- Viemos te apoiar, é claro! – Minha mãe falou. – Seu pai foi muito radical com aquilo tudo, se isso é o melhor para você, te apoiaremos! – Sorri, assentindo com a cabeça.
- Obrigado! – Sorri. – Isso significa muito para mim, mesmo. – Elas sorriram.
- Bem, temos salgadinhos e bebidas, comecem a se servir que o dia vai ser longo. – Natalie apareceu com uma bandeja na nossa frente e eu peguei uma torrada com patê, colocando na boca.
- Obrigada, Nat! – Falei e ela se afastou de nós.
- Pronto para a batalha, querido? – Minha mãe perguntou e eu respirei fundo.
- Sim, agora eu estou! – Sorri e viramos para as televisões, onde passavam informações sobre a votação. – Cadê o pai? – Perguntei para Fiorella e ela negou com a cabeça, me fazendo assentir com a mesma. – Está tudo bem! Vocês estão aqui!
- Sim e vamos te ver vencer! – Fiorella falou, colocando um apito na boca e me assustando ao assoprá-lo.

***


- Já passou da hora de você ir para a cama, Ellie. – Falei, enquanto ela ficava esparramada no sofá e eu ocupando um canto, com Bee no braço do sofá.
- Já vai, mãe! – Ela falou com manha. – Quero ver se o vai ganhar mesmo. – Ri fraco, fazendo carinho em seus cabelos.
Olhei para a janela aberta e vi a rua iluminada pelos postes do Central Park e senti um ventinho gelado entrando pelo mesmo. O inverno estava chegando e viria com tudo esse ano, podia sentir.
- “E estamos finalizando a apuração dos votos...” – Ouvi a repórter falando na TV e Ellie correu se sentar no sofá. – “Como suspeitado, II é o novo prefeito de Nova York...”
- Uhul! – Ellie gritou ao meu lado, pulando sentada. – Ele ganhou, mamãe! – Ela me abraçou e eu sorri.
- É, querida! Ele conseguiu. – Suspirei, sorrindo.
- “Com uma aprovação de 64% dos votos, II, filho do atual prefeito de Nova York, acaba de se tomar o lugar de seu pai”. – A repórter continuava falando.
- “Isso é um feito e tanto para o homem de 45 anos que teve uma tentativa frustrada de se casar para atrair os eleitores mais conservadores”. – O outro repórter comentou.
- “Isso mesmo, Jerry. Além de que ele fez uma manobra arriscada ao abandonar o partido do seu pai e se tornar independente, duas semanas antes das eleições, além de pedir exoneração de seu cargo como secretário da educação”. – O outro repórter falou e eu apoiei o corpo no sofá novamente.
- “É o que dizem, Carlos, todos temos problemas com nossos familiares”. – Ri fraco, sabendo que aquela afirmação era muito verdadeira.
- “Vamos agora para o Brooklyn, onde a repórter Vanessa está na sede do partido de ”. – O repórter falou. – “Vanessa, é com você!”. – A câmera mudou e apareceu Vanessa com algumas pessoas em volta.
- “Boa noite, Jerry e Carlos, tudo bem? São 22h32min da noite e acabamos de ter a confirmação de que II é o novo prefeito de Nova York”. – Ela falava. – “Apesar de toda controvérsia nesse ano, ainda sim foi o político que mais demonstrou importância com diferentes classes e idades aqui em Nova York”. – Ela olhou para seu papel. – “As apurações ainda estão sendo feitas, mas se prevê que a maior quantidade de votos veio de jovens até 30 anos, que foram também a maior população a ir às urnas hoje”. – Ela se virou para a câmera. – “ está aqui conosco”. – A câmera abriu o ângulo, mostrando ao lado da repórter.
- Ele está usando o terno que eu fiz, mamãe! – Ellie falou animada, me fazendo rir.
- “Então, , isso é algo que você sempre quis, sempre falou em entrevistas, sempre bateu nessa tecla. Agora você ganhou. Qual seu foco?” – Ela perguntou.
- “Tudo que eu falei nesses meses, esse vai ser meu foco!” – falou. – “Essa cidade não é feita só de ricos e de pobres, ela é feita por pessoas que precisam ser ouvidas, então além de melhorar as condições básicas na educação, na saúde e no transporte. Eu também ouvirei as pessoas, eu não posso melhorar essa cidade, se eu não ouvi-las”. – A repórter assentiu com a cabeça.
- “E você tem algum comentário sobre toda sua controvérsia campanha?” – riu.
- “Só digo que foi um erro. Foi um erro”. – Ele repetiu. – “Eu tive sorte, as pessoas excluíram todas as escolhas erradas que eu fiz e votaram em mim, mas o resultado poderia ser outro. Se eu tivesse confiado em meu taco e seguido essa campanha da forma que eu imaginei desde o começo, eu poderia ter perdido, mas não teria feito essa confusão toda”. – A repórter assentiu com a cabeça. – “Mas agora vamos deixar o passado para trás, porque temos muito trabalho pela frente”. – Ele falou.
- “E sobre sua equipe administrativa, , você ainda não a divulgou”. – A repórter perguntou.
- “Eu ainda não tenho, porque comigo vai ser por currículo. Os concursados ficarão, mas os comissionados irão embora”. – Falei e ela confirmou. – “Precisamos de pessoas que queiram trabalhar e que queiram melhorar”.
- “Obrigada. Aproveite sua comemoração, , voltamos aos estúdios”. – A repórter disse eu desliguei a TV.
- Mãe! – Ellie reclamou.
- Vamos dormir! – Joguei o controle no sofá e me levantei, vendo Bee correr também. – Você tem que acordar cedo amanhã! – Ela fez uma careta e se levantou com preguiça, me fazendo rir.
- Amanhã eu dou parabéns para ele, posso? – Fui empurrando-a para o quarto, enquanto ela tentava manter os pés firmes no chão.
- Pode, querida, claro que pode! – Entrei no quarto dela e a observei se deitar na cama e puxar a coberta até o pescoço.
- Amanhã você vai trabalhar até tarde? – Ela perguntou e eu respirei fundo, sentando na beirada da sua cama.
- Não sei, querida. – Suspirei. – Começo de mês é aquela loucura, ainda mais que teve três casamentos esse fim de semana. – Ela assentiu com a cabeça.
- Todo mundo casou? – Ela perguntou e eu ri fraco.
- Sim, querida. – Balancei a cabeça. – Todo mundo.
- Tudo bem, eu ainda vou a um casamento que chegue ao final da forma certa! – Ri com ela, estalando um beijo em sua testa e fazendo um sinal da cruz em seu peito.
- Durma bem, querida, sim? – Ela assentiu com a cabeça, abraçando seu pinguim e virando para o lado contrário. – Bee! – Vi a gata se ajeitar na sua caminha e me levantei da cama, observando minha pequena se ajeitar na cama e soltei um longo suspiro antes de ligar o abajur, desligar a luz e fechar a porta.

***


- Agora o trabalho de verdade vai começar! – Bebi um gole da long neck que Bruce havia me entregue e o pessoal riu.
- Primeiro de tudo precisamos decidir o nome para o seu partido, querido. – Minha mãe falou. – Você praticamente começou uma revolução.
- Acho que pode ser o Partido dos Quase Casados! – Bruce falou e eu franzi o rosto.
- Há, há, há, engraçadinho! – Natalie falou e eu ri.
- Não, não, vamos devagar. Eu tenho mais dois meses para formar uma equipe e encher aquela prefeitura. – Respirei fundo. – Preciso fazer de gente nova, com conhecimento e principalmente motivação. – Balancei a cabeça. – Quero pessoas que estejam dispostas a trabalhar.
- Eu posso ser seu assessor? – Bruce perguntou e eu o encarei.
- Vou pensar no seu caso. – Falei, rindo em seguida.
- Bem, vamos deixar o papo de política para lá um pouco e aproveitar? – Minha irmã falou e eu me levantei, deixando a long neck na mesa e me aproximando da sacada, observando o céu lá fora.
- Ei, cara, temos os fogos ainda! – Um dos meus amigos falou e virei para trás, vendo ele e mais três saírem correndo pela escada em espiral do apartamento de Bruce.
- Fogos? – Virei para Bruce que se aproximava de mim.
- De artifício, a gente comprou ontem para caso você vencesse. – Ele deu de ombros.
- Eles estão bêbados, vão acabar se machucando. – Bruce deu de ombros.
- Não me responsabilizo por isso. – Ele deu de ombros e eu ri, me apoiando na sacada do prédio, vendo algumas pessoas comemorando lá embaixo e acenei para elas.
- Conseguimos, cara! – Falei e ele riu.
- Você conseguiu, cara! – Ele me abraçou de lado e eu ri fraco.
- Agora o trabalho começou de verdade. – Ele assentiu comigo.
Ficamos em silêncio por um tempo e eu respirei fundo, balançando a cabeça. Eu tinha quase tudo, menos coragem. Passei a mão no rosto e observei a ponte de Manhattan iluminada e soltei um longo suspiro.
- Você está pensando nela, não está? – Virei para Bruce.
- Não estava, na verdade. – Respirei fundo, rindo em seguida.
- Pois bem, então pense nela! – Ele falou e eu balancei a cabeça. – É o momento, .
- Que momento? – Virei para ele.
- Você disse para mim que depois que as eleições passassem você iria atrás dela. – Respirei fundo. – Passou, , vá atrás dela! – Ele me chacoalhou.
- Eu te contei o que Ellie me disse, cara. Ela é literalmente casca grossa. – Balancei a cabeça.
- Você já lidou com mulheres piores, , e elas não tinham motivos. Agora para de ser tonto e vai atrás dela. – Bruce falou.
- Eu apoio isso! – Natalie apareceu atrás de nós. – Vai logo, !
- Agora? – Perguntei.
- É, você não tem o que fazer mais, tem? – Bruce perguntou e eu pensei por alguns segundos, levando os olhos ao teto. – Vai logo! – Ele gritou e eu balancei a cabeça, procurando meu paletó em algum lugar e saí correndo da sala, esbarrando em várias pessoas.
- Oh, cara! – Alguns reclamaram rindo e eu segui em frente, apertando o botão do elevador loucamente.
- Filho! –Meu pai apareceu no elevador e eu me assustei, dando dois passos para trás.
- Pai? – Perguntei, franzindo o rosto. – O que você está fazendo aqui?
- Eu vim pedir desculpas e dizer que eu estou orgulhoso por você. – Dei um pequeno sorriso, assentindo com a cabeça.
- Obrigado, pai, eu vou adorar conversar sobre as nossas diferenças, mas agora eu estou com um pouco de pressa. – Falei, franzindo a testa.
- Ei, o que aconteceu? – Ele segurou meus ombros. – Você está tremendo.
- Se lembra daquela mulher que você não gostou? – Ele riu fraco.
- Oh, já entendi! – Ele balançou a cabeça. – Vai atrás dela, garoto! Depois conversamos! – Ele bateu nas minhas costas e eu entrei no elevador, apertando o botão rapidamente.
O tempo estava passando muito devagar e eu estava muito ansioso. Eu precisava chegar a Manhattan o mais rápido possível.
Parei por alguns minutos para falar com alguns eleitores na porta, tirar algumas fotos e ficar cada vez mais pilhado com esse momento. Andei alguns metros à procura do meu carro e entrei no mesmo correndo, feliz por nenhum dos pneus estarem furados e coloquei em primeira, rezando para que o percurso na ponte tivesse calmo.

***


Dei uma espiada na fresta da porta de Ellie e notei que ela dormia calmamente. Com o espaço, Bee saiu do quarto e eu balancei a cabeça, rindo fraco, deixando-a passar por entre minhas pernas e puxei a porta novamente, seguindo de volta para a sala e observei alguns fogos subirem pelo céu de Nova York.
Aproximei-me da porta e me apoiei na sacada, vendo que eles estavam distantes, provavelmente fora da ilha de Manhattan, talvez no Brooklyn, pela distância. Os fogos subiam tímidos, eram poucos, comparados com a imensidão daquela cidade. Eles não faziam barulhos e eles não eram muitos, subiam meio espalhados, como se não tivessem nenhum preparo ou coreografia para acompanhar.
- Eu sabia que você conseguiria, ! – Suspirei, empurrando a barra da sacada e entrei novamente, conferindo se Bee já estava para fora e puxei as portas duplas, travando-as, fazendo com que o vento parasse de entrar.
Ouvi a campainha tocar e franzi a testa, conferindo o horário no relógio do DVD e notei que era quase meia-noite. Quem tocaria a essa hora? Caminhei até a porta e destranquei-a, me assustando com o homem descabelado e suado que estava parado na minha porta.
- ? – Perguntei e ele entrou em meu apartamento, me fazendo dar dois passos para trás. – O que está fazendo aqui?
- Você tem água? – Ele perguntou e eu apontei para a cozinha e ele seguiu para a mesma, abrindo minha geladeira e virando uma garrafa de água na boca no minuto que a encontrou e eu franzi a testa, levemente assustada.
- Melhor? – Perguntei, quando ele a abaixou , respirando aliviado.
- Muito, obrigado! – Ele falou.
- O que você está fazendo aqui? Você deveria estar comemorando sua vitória. – Falei, balançando a cabeça. – Parabéns, falando nisso.
- Só não fala nada, ok?! Me deixa falar! – Franzi a testa, cruzando os braços. – E não precisa ficar bravo com a sua filha, ok?! – Eu não conseguia franzir mais o meu rosto, porque era simplesmente impossível. – Você é a pessoa mais chata, irritante, implicante e complicada que eu já conheci na minha vida. – Arregalei os olhos. – Ao invés de você deixar as pessoas te conhecerem, você se fecha como se fosse uma cebola e faz questão de ser impossível de ser aberta sem destruir ou sem se irritar. – Suspirei. – Você é uma flor com quem você conhece, mas você também sabe ser um demônio com quem quer. – Ele soltou o ar forte. – Você é a pessoa mais poderosa que eu já conheci. Você fugiu de casa, sofreu no caminho, criou um império do zero, criou a criança mais maravilhosa que eu conheci na vida e... – Ele puxou o ar fortemente. – E fez com que eu me apaixonasse de verdade desde o ensino fundamental. – Mordi o lábio inferior, sentindo o choro subir à garganta. – Ellie me contou o que aconteceu contigo quando você era mais nova, mas isso já faz vinte anos e eu amo você agora. Então, por favor, não me deixe esperando mais vinte anos, me dê uma chance de curar esse coração maravilhoso. De ser o cara que vai fazer com que aquele idiota, retardando e imbecil seja simplesmente esquecido. – Ele respirou fundo. – Por favor, Piedrafita. – Ele falou, me fazendo arrepiar. – Me deixa controlar o volante da sua vida. – Suspirei, colocando as mãos sobre a boca, sentindo uma vontade imensa de chorar naquele momento.
Eu fiquei em silêncio por um tempo, tempo suficiente para as lágrimas embaçarem meu rosto e o choro sair pela garganta, me permitindo chorar como uma criança, como eu não fazia há muito tempo. me abraçou e eu me permiti apertá-lo também em meus braços, engolindo a saliva diversas vezes para não deixar que eu encharcasse a blusa dele.
Demorou alguns minutos para que o choro parasse, mas confesso que eu não queria sair de seu abraço, fazia muito tempo que eu não era abraçada forte assim. Forte o suficiente para juntar os caquinhos finais que estavam quebrados dentro de mim. Pequenos estilhaços com pontas afiadas.
- Eu não tenho mais controle quando eu estou contigo. – Consegui falar, passando as costas das mãos em meu rosto e ele sorriu.
- Se você me permitir, senhora Weddburgh, eu vou te beijar agora. – Ele falou, colocando as duas mãos em meu rosto e colou os lábios nos meus.
Apoiei minhas mãos nas laterais de seu corpo e deixei com que ele aprofundasse o beijo, me empurrando até que eu me encostasse à geladeira e colasse seu corpo contra o meu. Deixei com que os suspiros começassem a sair de meus lábios, a boca ficasse levemente latejante e o suor começasse a descer pelo meu pescoço.
Ele finalizou o beijo com leves mordidas em meus lábios e eu joguei minha cabeça para trás, respirando fundo, soltando o ar para cima antes de abrir os olhos e encontrar os olhos de me encarando.
- Deus! – Falei, rindo em seguida.
- O quê? – Ele perguntou.
- Eu beijo muito mal! – Ele riu fraco, dando um beijo de leve na minha testa.
- Não é, não! – Ele falou e eu suspirei, olhando em volta.
- Porque não saímos da cozinha e ficamos em um lugar mais confortável? – Ele riu e virou o rosto para outras direções.
- Sim, com certeza! – Ele falou, colando os lábios nos meus novamente e me puxou para fora do cômodo.
- Eu não sabia que Ellie é tão fofoqueira assim, sabia? – Comentei e ele riu.
- Oh, você não tem ideia! – Ele falou. – Eu sei da sua vida mais do que você. – Ri fraco e balancei a cabeça.
- Não vamos mencionar aquela época de novo. – Franzi o rosto. – Eu tento passar uma borracha naquilo todos os dias da minha vida.
- Por quê? – Ele perguntou e eu me sentei no sofá, vendo-o se sentar ao meu lado.
- Ela te contou tudo mesmo? – Virei para ele. – Ser imigrante, fugir de casa com um cara totalmente aleatório, ser traída, engravidar, o aborto... Tudo? – Ele assentiu com a cabeça.
- Tudo! – Ele falou. – E eu gosto mais de você ao saber disso. – Suspirei.
- Por quê? – Virei para ele, sentindo-o passar um braço pelos meus ombros.
- Porque me mostra que sua casca impenetrável tem motivo. – Ele suspirou. – Ninguém é dura e complicada à toa, nem você. – Ri fraco, segurando seu rosto e dando um curto beijo em seus lábios.
- Você já me insultou o suficiente pela vida, ok?! Não é porque vamos ficar juntos que eu vou permitir essa folga toda, ok?! – Ele arregalou os olhos.
- Ok, senhora! – Ele falou e eu ri, colando meus lábios nos dele novamente.

***


- Aqueles fogos são para você? – Ela perguntou, apontando para a porta de vidro.
- Nossa, eles ainda não pararam! – Comentei, vendo os fogos desengonçados subirem, me fazendo rir. – Era para eu estar lá. – Franzi a testa, fazendo carinho em sua perna em cima das minhas.
- E por que não está? – Ela perguntou.
- Porque eu fui atrás do meu futuro. – Falei e dei um beijo em sua testa. – Demorou, mas acho que agora vai dar certo. – Ela riu fraco, escondendo seu rosto na dobra do meu pescoço.
- Você está entrando em um relacionamento comigo, querido. Tem tudo para dar errado. – Ri, balançando a cabeça.
- Eu vou me esforçar para te fazer à pessoa mais feliz desse mundo, mesmo que isso envolva brigas e gritos por esse corredor. – Ela sorriu.
- Ah, isso com certeza terá. – Suspirei, fechando os olhos. – , e o negócio com a Natalie, como ficou? Eu não sei os termos certos, mas vocês tinham um acordo entre si, no dia do casamento ela me falou algo sobre um tratamento da mãe dela, algo assim. – Ela perguntou.
- Sim, a mãe dela tem uma doença rara, não sei explicar os termos, mas ela precisa de uma cirurgia cara que só é feita no Japão. – Balancei a cabeça. – O acordo era ela ficar um ano casada comigo e eu pagaria o tratamento dela no Japão, todas as despesas, passagens, etc... – Balancei a cabeça.
- E como vai ficar? – perguntou.
- Apesar de tudo, nos tornamos muito amigos. – Balancei a cabeça. – Ela é uma ótima pessoa e eu disse que vou pagar o tratamento da mãe dela mesmo assim. Ela já está fazendo os exames para se preparar para a cirurgia. – Ela afirmou com a cabeça.
- Espero que dê tudo certo. – Ela falou. – Se precisar de ajuda... – Ela falou e eu assenti com a cabeça.
- Não se preocupe. – Suspirei. – Vamos fazer dar certo.
- Para você ver como a gente julga as pessoas. – Ela suspirou. – Quando você apareceu com ela no meu escritório, eu fiquei tão brava com toda a ideia do casamento, tão puta com aquilo tudo que eu comecei a pré-julgar você e ela de diversas formas... – Ela balançou a cabeça.
- Você já não gostava muito de mim, certo? – Ela sorriu.
- As coisas mudam. – Ela suspirou. – Mas ela me confrontou no dia do casamento. – Ela balançou a cabeça. – Ela, sua irmã, Ellie, todo mundo. – Ela riu fraco. – Mas eu não podia mesmo, , eu não sou a pessoa que lida da melhor forma com a fama, então pensar que eu podia ser capa de todos os jornais, ter Spike atrás de mim novamente, meu pai... – Ela suspirou. – Eu tive muita coisa para processar em pouco tempo. – Ela suspirou.
- Ainda está cedo para aprofundarmos sobre seus problemas familiares, mas falaremos sobre eles um dia, ok?! – Falei e ela assentiu com a cabeça. – Eu ainda quero entender tudo isso.
- Vamos devagar. – Ela falou sorrindo.
- Mãe? – Ouvi uma voz fina e virei em direção ao corredor, vendo uma figura loira e descabelada aparecendo no mesmo com um pinguim em seus braços. – Mãe? – Ela falou novamente, arregalando os olhos. – ? – Ela abriu um largo sorriso e vi sorrir ao meu lado. – Vocês dois? – Ela perguntou animada e deu um grito animado, ecoando em meus ouvidos. – Vocês estão juntos?! – Ela falou rindo e seu pinguim foi para o chão, fazendo com que ela saísse correndo em nossa direção, pulando de joelho entre nós dois e nos abraçando fortemente.
- Ah, querida! – falou, respirando fundo.
- Vocês dois se ajeitaram? – Ela perguntou, olhando para nós dois.
- Vamos dizer que sim, querida! –Falei por e ela riu, nos apertando novamente entre seus braços.
- Ah, eu estou tão feliz! – Ela falou, me fazendo abrir um largo sorriso.
- Eu também, querida! – falou, dando um longo suspiro.
- Eu também. – Sorri.


Capítulo 9

Ouvi o despertador tocar e respirei fundo, passando a mão no rosto antes de dar um bocejo profundo. Tateei a mesa de cabeceira e empurrei o celular para baixo, virando para o lado para caçá-lo no chão. Deslizei o despertador e virei o corpo para frente novamente, passando a mão no espaço ao lado da minha cama e franzi a testa ao notar que ela estava vazia novamente.
- Não vai me encontrar aí. – Ouvi sua voz e ergui o rosto, colocando seu travesseiro atrás da cabeça e ergui o olhar para ela que saía do banheiro com sua roupa de executiva de sempre.
- Bom dia! – Falei e ela sorriu, parando ao lado da cama, se sentando no canto da mesma.
- Bom dia. – Ela falou e eu ergui o corpo para frente um pouco, dando um beijo em seus lábios rapidamente.
- Não demore, ok?! – Ela falou, ameaçando se levantar e eu passei os braços pela cintura.
- Fica mais um pouco! – Fiz manha e ela riu.
- Eu estou acordada desde as 04h30min, já fui na academia, já me arrumei, já fiz tudo, . O dia já começou faz tempo para mim. – Franzi a testa.
- Eu não sei como você consegue. – Falei e ela riu.
- É costume, querido. – Ela se levantou. – Anos e anos fazendo isso. – Bati rapidamente em seu corpo. – Não demore ou vou deixar Ellie vir te acordar. – Ri fraco.
- Se ela vier me acordar, ficaremos os dois dormindo abraçadinhos! – Falei, me espreguiçando e ela riu fraco, balançando a cabeça e saiu do quarto. Estiquei-me na cama de e respirei fundo, me sentando.
Saí direto para o banheiro e me coloquei embaixo do chuveiro, quase voltando a dormir novamente embaixo da água quente, mas finalizei meu banho com um pouco de dignidade e saí do mesmo, me arrumando e colocando o terno que estava pendurado no closet de . Passei um pente em meus cabelos, jogando-os para trás e calcei os tênis que eu havia lustrado no dia seguinte.
Deixei o quarto e me ceguei com a luz, que entrava no apartamento e ouvi um miado baixo, sentindo Bee se enroscar em minha perna e eu acariciei seu pelo rapidamente, vendo-a correr para longe de mim.
Entrei na cozinha ainda bocejando e parei na porta, vendo Brigite fazendo panquecas e as bananas fritas de , Ellie sentada na mesa com os pés balançando embaixo da mesa e encostada na bancada bebendo seu café enquanto olhava as notícias em seu celular.
- Bom dia! – Falei e as mulheres sorriam para mim.
- Bom dia! – Ellie falou igualmente animada e eu entrei na cozinha.
- Bom dia, senhor . – Brigite falou e eu me coloquei ao lado de , dando um beijo em seus lábios.
- Então, o que faremos hoje? – Perguntei, pegando uma xícara e enchendo de café.
- Não diga que você está se esquecendo! – Ellie falou brava e eu ri.
- Ele não esqueceu não, senhorita Ellie. –Bruce apareceu na porta da cozinha e eu revirei os olhos.
- E o dia começou! – Falei e o pessoal riu.
- Bom dia, Bruce! – falou e Ellie riu.
- Bom dia, senhores! – Bruce falou. – O briefing de hoje, senhor prefeito! – Bruce me esticou um papel e eu o peguei, abaixando a xícara de café.
- Oh, senhor prefeito! – Ellie brincou e eu ri, balançando a cabeça.
- Nós temos algumas reuniões na própria prefeitura para falar sobre os projetos sociais que serão contemplados com verbas públicas esse ano, algumas entrevistas de emprego e eu consigo te liberar as 15hs para você estar as 15h30min no desfile de modas da senhorita Ellie. – Ellie sorriu.
- Obrigada, Bruce! – Ela falou, se levantando e abraçou Bruce rapidamente. – Eu vou escovar os dentes.
- Isso, querida, se não você vai chegar atrasada. – falou, conferindo o relógio em seu pulso. – Eu também tenho que ir, estamos em maio, é o mês das noivas. – Ela falou. – Devo ter uns cem casamentos só esse mês. – Balancei a cabeça.
- Ainda não sei como isso é possível! – Ela riu fraco.
- Quem sabe não consigamos um fim de semana em Roma? – Ela deu de ombros e saiu da cozinha, me fazendo rir sozinho.
- As coisas estão bem, não?! – Bruce virou para Brigite e ambos sorriram.
- Vocês não precisam fingir que não estão juntos, ok?! – Falei para ambos. – Todo mundo já sabe. – Ri fraco e bebi o resto do café e apoiei a xícara na mesa novamente.
- Suas panquecas, senhor ! – Brigite me ignorou totalmente e me entregou um prato e eu revirei os olhos.
- Vocês dois são impossíveis. – Resmunguei sozinho e joguei bastante maple syrup nas minhas panquecas e as comi rapidamente.
- Estamos saindo! – apareceu na porta da cozinha com Ellie ao seu lado. – Nos vemos mais tarde. – Confirmei com a cabeça.
- Pode deixar! – Me levantei, limpando a boca com o guardanapo. – Eu fecho aqui para você.
- Eu continuarei aqui, não se preocupe. – Brigite falou e eu ri.
- Não estou acostumada com a casa cheia desse jeito. – Ellie falou e eu ri. – Não se atrase. – Ela falou, olhando fixo para mim.
- Pode deixar, monstrinha! – Falei, abraçando-a rapidamente e acenou para mim, ambas saindo pela porta da frente.
- Vamos também? – Bruce perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Sim, vou só passar em casa para pegar umas coisas e já vamos. – Falei, ajeitando o paletó. – Tenha um bom dia, Brigite.
- Vocês também. – Ela falou, sorrindo para Bruce e eu revirei os olhos, saindo do apartamento.
- Ah, vocês dois! – Falei e segui para meu apartamento.

***


- Obrigada por vir comigo. – Falei para Lily ao meu lado.
- O quê? Você acha que eu perderia isso? – Ela balançou a cabeça. – Essa é tipo a estreia da Ellie, você vai ver, essa menina vai estourar. – Ela conferiu o celular. – Várias blogueiras de moda confirmaram presença.
- Você convidou blogueiras? – Ela deu de ombros.
- E um pessoal da imprensa de moda. – Ela virou para mim. – Essa é a vantagem de você falar que trabalha com Weddburgh, chefia. Você tem certo poder. – Revirei os olhos, balançando a cabeça.
- Dando carteirada, hein Lily? – Ela riu fraco.
- Temos que aproveitar as chances que a vida dá. E essa pode ser uma ótima chance para a Ellie entrar no radar da moda. – Ela deu de ombros.
- Quem sabe! Ela é nova ainda, isso é para diversão e para ela fazer amigas. – Ela assentiu com a cabeça.
- Tá, ok, ela fazer amigas e quem sabe entrar no radar da moda. – Olhei para fora, quando o carro estacionou em frente ao The Roosevelt Hotel e Luke logo abriu para nós.
- Obrigada! – Falei para ele. – Pode achar um lugar para estacionar ou voltar para a empresa, aqui vai demorar. – Ele assentiu com a cabeça e eu dei um tapinha em seu ombro, antes de entrar com Lily no hotel.
Atravessei pelos corredores fabulosos do hotel, sentindo o cheiro de flores frescas e suspirei, feliz por poder viver daquela maneira por algo que eu fiz. A concierge logo apareceu e nos indicou para a sala que estava reservada para o evento.
Entrei na mesma e estava bem parecida com um desfile de modas mesmo, a passarela no meio, as cadeiras nas laterais e, na frente, alguns garçons com bebidas e comidinhas. Nesse caso era refrigerante, suco e muitos doces como marshmallow, balas de goma e mini tortinhas.
No fundo da passarela, em letras amarelas cursivas estava escrito ELLIE, com algumas borboletas cinza voando próximo a eles. Abri um pequeno sorriso e suspirei, cruzando os braços em cima do corpo.
- Essa é a minha Ellie. – Falei e Lily riu ao meu lado.
- Você vai atrás dela? – Lily perguntou.
- Sim, vou ver se ela precisa de alguma coisa, apesar de que eu a deixei aqui antes de ir para a empresa. – Ela riu.
- Ela deve estar empolgada. – Subi os três degraus da baixa passarela e segui para a parte de dentro da mesma, vendo várias crianças e mães correndo pelo local, me assustando.
Balancei a cabeça e passei pelas araras lentamente, procurando minha figura loira nervosa. Quando a encontrei, ela estava pronta para o seu momento. Ela usava um vestido amarelo, com um tutu preto e uma jaqueta de couro preta por cima e seus sapatos de boneca amarelos. Ela ajudava uma de suas novas amigas a fechar um vestido verde.
- Oi, querida! – Falei, tocando seu ombro e ela virou rapidamente.
- Mãe! – Ela falou animada. – Você chegou! – Ela me abraçou rapidamente.
- Então, tem algo que eu possa ajudar? – Perguntei e ela riu.
- Não, está tudo sob controle, você pode ir lá para frente e esperar o show começar. – Ela falou e eu ri fraco. – Grace, você a acompanha, por favor? – Ela falou para uma menina da sua idade que usava um fone de ouvido e eu balancei a cabeça, achando aquilo profissional demais.
- Meu Deus! – Falei mais para mim do que para ela. – Eu sei o caminho. – Ri fraco. – Bom show, querida. – Falei, acenando para ela.
- Obrigada, espero que você goste! – Ela falou e eu sorri, dando meia volta e voltando pelo caminho, sentindo alguém me puxar pelo braço.
- Com licença. – A mulher falou, ela devia ter minha idade mais ou menos. – Você é , certo? Mãe de Ellie? – Assenti com a cabeça.
- Sim, sou eu. – Sorri para ela.
- Eu sou Melanie. – Ela estendeu a mão e eu a apertei. – Mãe do Scott, eu gostaria de agradecer muito pelo que vocês fizeram, é um jeito maravilhoso deles se unirem, fazer algo diferente. – Ela sorriu. – Obrigada mesmo.
- Que isso, eu só queria que minha filha tivesse amigos e nada melhor do que fazer em algo que ela gosta. – Elas sorriram.
- É maravilhoso, ela realmente tem talento. – Sorri, assentindo com a cabeça.
- Oi, você é Weddburgh? – Outra mulher apareceu. – Nossa, eu nem sabia que você era mãe de Ellie, que fantástico. – Ela estendeu a mão. – Maria, mãe da Anna. – Ela falou. – Isso está demais, obrigada por montarem isso.
- Era o que eu estava falando. – Melanie falou. – Que visão maravilhosa. – Sorri.
- Por que não combinamos de tomar um café um dia desses? – Elas perguntaram e eu dei um pequeno sorriso.
- Claro, vamos combinar! – Falei sorrindo. – Eu tenho alguns cartões de visita na bolsa.
- Ah, eu já peguei na mesa lá fora. – Maria mostrou. – Vim correndo atrás de você, você é famosa, mulher. – Ri fraco.
- Só faço o meu trabalho muito bem. – Elas riram.
- Estamos precisando mesmo de mulheres fazendo trabalhos incríveis. – Sorri.
- Eu gosto! – Assenti com a cabeça.
- Não que seja da minha conta, mas você está namorando nosso atual prefeito, certo? – Melanie perguntou.
- Sim. – Ri fraco. – Estamos juntos há seis meses.
- Ah, que demais! – Ambas sorriram. – Vocês são muito bonitos juntos.
- Obrigada! – Ri fraca, levemente desconfortável.
- Vamos, senhora Weddburgh? – Grace, a amiga de Ellie apareceu e eu ri fraco. – Vamos começar em alguns minutos.
- Claro! – Falei rindo. – Até mais, senhoras! – Falei para as duas e segui a mais baixa.

***


- Oh, isso é legal! – Entrei na sala onde seria o desfile e o vi totalmente organizado, com uma decoração que era a carinha de Ellie.
- Gente, que diferença crescer com dinheiro, não?! – Bruce falou ao meu lado e eu o cutuquei.
- Fica na tua, ela batalhou por isso, tem o direito de gastar como quiser. – Revirei os olhos. – Eu estou achando isso o máximo.
- Com licença, senhor. – Um menino da altura de Ellie me parou na porta. – Qual o seu nome?
- Ele é o prefeito, cara! – A menina ao seu lado o cutucou e eu abaixei para ficar na altura deles.
- Sou e Bruce Devon. – Falei sobre meu assessor.
- Eu tenho que confirmar se você está na lista. – O menino falou e eu ri.
- Você está certo, tem que fazer seu trabalho. – E virei para menina. – E estou orgulhoso em saber que uma menina de 12 anos saiba quem eu sou.
- 13, senhor. – Ela falou sorrindo. – E depois da sua campanha política para os jovens, a gente começou a ficar de olho. – Sorri.
- Muito bom, gente. – Sorri.
- Posso te acompanhar para seu lugar? – O menino falou e eu assenti com a cabeça.
- Por favor! – Falei e a menina pegou a prancheta em sua mão e o menino seguiu para dentro do salão, andando em nossa frente, até chegar na primeira fileira e eu vi lá, com um pequeno programa em sua mão.
- Ei, vocês chegaram! – Ela falou.
- Obrigado! – Falei para o menino e ele assentiu.
- Bom show! – Ele falou e se retirou.
- Gente, essas crianças estão muito profissionais! – Falei e me sentei ao lado de , dando um rápido beijo em seus lábios.
- Você não foi lá dentro, fui praticamente expulsa pela minha filha, e a sua assessora veio me acompanhar até meu lugar. – Ri fraco, passando o braço pelos seus ombros.
- Gente! – Falei rindo. – Ellie tem uma Lily agora? – Perguntei e ela riu.
- É o que parece. – Ela falou. – Olá, Bruce, tudo bem? – Ela falou.
- Tudo certo. – Ele sorriu.
- Como foi o trabalho? – Perguntei. – Deu tudo certo?
- Uhum, tudo certo. – Falei, segurando sua mão em seu colo. – É o começo, as coisas são meio devagar para funcionar, mas é agora que temos que mostrar serviço. – Balancei a cabeça. – Vamos lidando aos poucos. – Ela sorriu, dando um rápido beijo em minha bochecha e a luz ficou mais escura, sendo iluminado pelas da passarela.
O pessoal começou a aplaudir e Ellie apareceu na passarela com um microfone na mão e deu alguns passos na mesma, parando exatamente na metade, abrindo um sorriso para o pessoal. Ela estava bem Ellie, tutu preto em um vestido amarelo, jaquetas de couro e sapatos de boneca, bem do jeito que ela gostava. Os aplausos cessaram e ela levou o microfone à boca.
- Boa tarde! – Ela falou sorrindo. – Eu sou Ellie Weddburgh, e gostaria de agradecer a presença de todos aqui. – Ela sorriu. – Esse desfile de modas foi feito como uma oportunidade dos alunos do sétimo ano da escola Constance se juntarem e fazerem alguma coisa de diferente para variar. – Ri fraco, sorrindo. – Além disso, como eu gosto bastante de costurar, essa foi à oportunidade perfeita. – Olhei para e ela sorriu ao meu lado. – Espero que vocês gostem do show, não se esqueçam de pegar sua lembrancinha embaixo da cadeira e aproveitar as bebidinhas e comidinhas no final. – Ela falou e aplaudimos novamente, vendo-a voltar para dentro dos bastidores.
Não demorou nem um minuto para que uma música com uma batida forte e agitada começasse, as luzes ficaram mais claras e os alunos começaram a passar pela passarela. Meninos e meninas de diversas cores e estilos começaram a passar, era claro que cada roupa representava cada um deles, alguns meninos com uniformes de jogos, as meninas com vestidos formais ou jardineiras simples. Não existia um tema exato, não era haute couture, mas eles estavam se divertindo.
Os meninos entravam meio tímidos, chegavam à ponta da passarela, cruzavam os braços bem rápido e voltavam pelo mesmo caminho com passos fortes, fazendo os pais darem risadas. As meninas já eram mais soltas, algumas se achavam dignas modelos, mas outras já entravam mais tímidas, com largos sorrisos no rosto, mas olhavam para o chão.
Cada criança teve somente uma troca de roupa, mas acho que foi uns 40 alunos. Não sabia quantas pessoas tinham na sala de Ellie, mas era bastante. Até as crianças que estavam ajudando em volta tiveram sua chance de desfilar uma vez.
Por último veio Ellie, ela surgiu num vestido roxo e azul digno dos filmes da Disney que ela gostava, com algumas mechas coloridas no seu cabelo. Ela era a única que realmente sabia desfilar, mas ela era maravilhosa, tinha um sorriso no rosto e realmente estava se divertindo.
Assim que Ellie entrou novamente, todas as crianças começaram a entrar na passarela, sendo aplaudida de pé por todos nós e eu virei meu rosto para . Ela tinha os olhos marejados, estava orgulhosa por Ellie, eu também. Pensei que seria uma brincadeirinha de crianças, alguma coisa mais jogada, mas já deveria ter suspeitado que nunca fazia as coisas de forma amadora.
Ellie mandou um beijo para nós de cima da passarela e voltou correndo para dentro junto de seus amigos. Abri um sorriso e as luzes voltaram ao normal e a música ficou mais baixa novamente.
- Você viu aquilo? – perguntou para mim. – Que coisinha mais linda! – Ela falou e eu sorri, apertando-as em meus braços.
- Eu já disse isso um milhão de vezes, mas Ellie tem futuro, você sabe disso. – Ela sorriu, encarando meu rosto.
- Tem sim, eu sei! – Ela suspirou, passando as mãos embaixo dos olhos.
- Vamos comer alguma coisa, daqui a pouco ela sai. – Segurei a mão de e seguimos para o fundo do salão, nos servindo de bebidas e começando a beliscar os salgados.
- Eu estou fazendo amigos, sabia? – Ela falou e eu arregalei os olhos.
- Você está mentindo! – Falei e ela riu, dando um leve tapa em meu ombro.
- Eu estou falando sério, algumas mulheres vieram falar comigo e eu já tenho convites até para café da tarde. – Ri fraco.
- Que orgulho de você! – Falei e ela riu.
- Tonto! – Abracei-a de lado e continuamos comendo. – É visível sua mudança desde que a gente começou a sair. – Ela riu fraco.
- Eu não mudei, eu só me abri contigo, com os outros eu continuo a mesma de sempre. – Ela falou, erguendo seu corpo e ri, colando o meu no dela.
- Poderosa e malvada. – Falei e ela revirou os olhos, bebendo um pouco do seu suco.
- Mãe! – Ouvi uma voz e virei para o canto do salão no qual Ellie vinha correndo, segurando uma capa de roupas acima de sua cabeça.
- Ah, minha querida! – me entregou seu copo e se abaixou um pouco para abraçar Ellie. – Isso foi demais, querida, vocês foram incríveis. – Ela sorriu.
- Obrigada! – Ela falou animada. – Eu me diverti bastante! – Ela riu em seguida.
- Parabéns, monstrinha! – Falei e ela veio me abraçar animada, rindo em seguida. – Estava tudo lindo.
- Vocês gostaram das roupas? Eu fiz tudo! – Ela falou animada e eu peguei a capa que ela segurava.
- Estava tudo maravilhoso, querida! – falou e eu sorri.
- Ellie! – Grace se aproximou. – Tem uma blogueira querendo falar contigo.
- Oh, meu Deus. – Ellie falou animada. - Posso falar com ela, mamãe?
- Claro, querida, mas cuidado com o que você diz. – alertou. – Bruce, pode acompanhar ela, por favor?
- Vou cobrar dobrado, hein?! – Bruce virou para mim e eu dei de ombros.
- O caixa é aqui do lado. – Apontei para que deu um tapa em seu ombro.
- Já volto! – Ela falou e eu ri fraco, suspirando.
- Que noite, hein?! – Olhei Ellie seguir para falar com duas blogueiras que estavam com alguns amigos do lado e ri de Bruce assessorando toda a situação.
- Então, o que faremos amanhã? – se virou para mim e eu ri.
- Amanhã comemoramos seis meses de namoro, vamos cozinhar e jantar em casa, não?! – Virei para ela. – Já esqueceu? – Ela riu fraco, balançando a cabeça.
- Não me esqueci, eu quis dizer o que faremos para comer. Precisa que leve alguma coisa? Algum doce? – Ri fraco, balançando a cabeça.
- Não, relaxa. Mês passado você cuidou, essa é a minha vez. – Ela assentiu com a cabeça e se virou em direção à Ellie novamente. – Só esteja lá as oito e não se atrase, pode ser? – Ela riu fraco, me beijando rapidamente.
- Eu vou tentar. – Ela falou. – Estou sendo honesta, minha agenda amanhã está cheia. – Revirei os olhos.
- Ela não está mentindo, ! – Lily falou ao meu lado e eu suspirei.
- Ok, mas quem vai dormir tarde depois e não ir à academia é você, não eu. – Falei e ela sorriu.
- Fechado! – Ela concordou.
- Mãe! – Ellie apareceu novamente. – Posso dormir na casa da Donna? – Ela perguntou. – Eles querem emendar a festa.
- Tem certeza, querida? – perguntou. – Tem aula amanhã.
- Eu sei, mas a mãe dela disse que leva todo mundo na escola amanhã. – Ela olhou para mim e eu olhei para ela.
- Contando que você não se atrase para nosso jantar mensal amanhã. – Falei e ela sorriu.
- Eu não perderia isso por nada. – Abri um sorriso. – Posso, então?
- Pode, mas eu quero falar com a mãe dessa Donna antes de você ir. – Assenti com a cabeça.
- Vem, eu te apresento elas. – Ellie segurou a mão de e seguiu com ela, fazendo com que olhasse para trás e desse de ombros, me fazendo rir.
- Senhor ? – Virei o rosto para um casal. – Você tem filhos na Constance? – Eles perguntaram.
- Enteada, na verdade. Ela é filha da minha namorada. – Falei e eles sorriram.
- Ah sim, a Weddburgh, certo? – A mulher falou.
- Eu me surpreendo cada dia mais que as pessoas saibam quem ela é de cara. – Eu e o marido rimos. – Posso dizer que ela é mais famosa do que eu.
- Eu não duvido, senhor . Acho que todas as mulheres do mundo já sonharam em um casamento feito por ela. – A mulher falou e eu ri.
- Faz parte. – Dei de ombros. – Então, vocês têm filhos aqui?

***


- O que acha? – Apareci no quarto de Ellie e ela gargalhou.
- Mãe, vocês estão juntos há seis meses. Você tá gata! – Ela falou e eu respirei fundo, balançando a cabeça.
- Tem certeza? – Passei a mão na saia.
- Você se veste assim todos os dias da sua vida. Pelo menos, desde que eu nasci. – Abri um sorriso, rindo fraco. – E ele gostou de você assim, mamãe! – Ri fraco, entrando no quarto dela. – Você só deveria tirar a blusa branca, se lembra da última vez que fizemos isso, não? – Franzi a testa, rindo fraco.
- Você está pronta? – Perguntei.
- Desde as cinco da tarde. – Franzi a testa ri fraco.
- Entendi o recado. – Falei, fazendo uma careta. – Já volto. – Falei e ela virou a cadeira, olhando para seu computador novamente.
Corri para o meu quarto novamente e entrei no closet, puxando a blusa branca para fora e procurando uma preta para combinar com a saia rosa escuro que eu usava. Ajustei meus brincos e colares, troquei os saltos rosa por saltos pretos e peguei minha bolsa na mesa no quarto e saí desligando as luzes.
- Vamos, Ellie! – Falei e Ellie me olhou.
- Acho que ficou mais bonita ainda! – Ri fraco e ela desligou a luz do seu quarto, saindo na minha frente.
- Você sempre está tentando me agradar. – Falei e ela riu, abrindo a porta de casa.
- Somos só nós duas, mãe. – Ela deu de ombros. – Bem, essa frase foi usada muitas vezes por muito tempo, mas agora simplesmente não faz sentido. – Ela riu fraco e eu apoiei minhas mãos em seus ombros.
- Não, certo? – Suspirei. – Você gosta do , não é?
- Eu amo o , mãe, ele é a representação de pai para mim. – Suspirei. – E ele te ama, mãe. – Ela sorriu. – Somos uma família. – Assenti com a cabeça, dando um beijo em sua testa.
- Somos sim, querida! – Falei e ela apertou a campainha.
- Está aberta! – Ouvi a voz de e Ellie abriu a porta correndo, atravessando a larga sala de e encontrando-o atrás da bancada que dividia a sala em cozinha. – Oi, princesa! – Ele falou, pegando Ellie no colo e girando-a pela cozinha. – Você está atrasada. – Ele falou olhando para mim e eu dei um longo suspiro.
- Eu sei, mas vou compensar contigo mais tarde. – Me aproximei deles, apoiando meus braços na bancada.
- Menor de idade na parada! – Ellie falou, indo para o chão novamente.
- O que você está fazendo aqui mesmo? – perguntou e eu segurei a risada. – Oh, certo, família! – Ele bateu na cabeça. – Como poderia esquecer? – Ri junto dele.
- Ei, eu que juntei vocês, ok?! – Ela roubou um pedaço de queijo que estava cortado na bancada e eu ri.
- Bem, vocês demoraram e eu estou com fome. – falou. – Vamos começar?
- O que vamos fazer? – Ellie perguntou.
- Lasanha. – Ele sorriu. – Com massa fresca.
- Por que a gente nunca cozinha algo que não faz sujeira? – Perguntei.
- Porque essa é a graça, meu amor! – Ele falou e eu ri fraco.
- Ok, por onde começamos? – Perguntei.
- Pela massa! – falou e eu ri fraco, largando meus saltos na beirada da bancada e fui para trás da mesma com eles.
- O que eu faço? – Ellie perguntou.
- Você pode quebrar os ovos dentro da tigela. – falou, erguendo os olhos para mim. – E você pode pesar a farinha. – Arregacei as mangas da blusa, fiz um coque firme em meu cabelo e começamos os trabalhos.
A seriedade acabou nos primeiros dez minutos. Era impossível aquilo dar certo. cortava os ingredientes para fazer o molho, eu ajudava Ellie com a massa e tudo começou a ser jogado pelos ares. A camisa de ficou suja de molho vermelho no momento em que ele abriu o liquidificador e Ellie bateu em sua mão para passar com os ovos.
Também tivemos ovos quebrados e massa com casca também, afinal, ninguém ali estava muito familiarizado com cozinha. Eu e vivíamos meio que a mesma vida, comidas para viagem eram nosso forte, era difícil pararmos nossas vidas para cozinhar alguma coisa, normalmente não tínhamos tempo. Eu tinha orgulho de dizer que fazia ótimas pipocas e um ótimo café... Só!
- Que tal sem as cascas, docinho? – perguntou, erguendo Ellie para ela ver acima da alta bancada e ela fez uma careta, puxando as cascas de ovos que caiu dentro da tigela com farinha.
- Opa! – Ela falou, se sentando no banco. – Ah, você me sujou! – Ela olhou embaixo da blusa, onde algumas pontas de molho vermelho eram vistas embaixo da sua axila.
- Eu posso ter feito isso de propósito! – falou e ela riu, pegando a colher mais próxima e bateu em , fazendo com que alguma coisa voasse em minha direção.
- Ellie! – Gritei, vendo alguma coisa bater em meu rosto.
- Oh! – Ellie falou, colocando as mãos na boca, mas logo ela e caíram na gargalhada. - Está tão mal? – Perguntei e pegou um pano.
- Ah, acho que vermelho não fica muito bem em você! – Ele começou a passar o pano em meu rosto e eu ri, sentindo-o dar alguns beijos por onde ele limpava.
- Ah, parem! – Ellie falou e eu ri, notando em minha frente de novo e ele me beijou rapidamente, me fazendo sorrir.
- Tonto! – Falei e ele sorriu.
- Você sabe que eu te amo. – Ele cochichou e eu sorri.
- Sim, eu sei! – Ele riu.
- Eu amo vocês também! – Ellie apareceu, nos abraçando pela barriga e eu ri, abraçando-a novamente.
- Gente... – Dei uma respirada mais forte.
- O quê? – perguntou.
- Acho que tem alguma coisa queimando! – arregalou os olhos e saiu correndo para o fogão, onde a frigideira do molho esfumaçava bastante.
- Oh, droga! – Ele falou, fazendo com que eu e Ellie gargalhássemos. – Acho que dá para salvar. – Ele chacoalhou a frigideira. – Ellie, me dá um prato, vou tirar o que está bom ainda.
- Eu vou abrir a janela! – Falei, seguindo para as janelas da sala dele.
- Deu para salvar! – Ele falou e eu ri, abrindo as janelas do seu apartamento.
- Ei, meu apartamento é melhor do que o seu, não é?! – Perguntei.
- Considerando que você mora na frente do prédio, tem vista para o Central Park e da Quinta Avenida, creio que sim. – Ele deu de ombros. – Mas você não tem um ótimo espaço para festas e um piano na sua sala, tem? – Ellie riu ao seu lado e eu balancei a cabeça.
- Não, com certeza não! – Falei rindo. – Mas não é como se eu sentisse falta. – Dei de ombros e ele riu.
- Ok, ok, vamos abrir essa massa que eu já estou com fome! – falou e eu sorri, me aproximando deles novamente.

***


- Ah, eu acho que eu comi demais. – Falei, deitando de vez no chão da minha sala, onde tinha virado nossa mesa de jantar.
- Eu acho que eu vou passar mal. – Ellie falou e eu ri.
- Ei, olha a educação, hein?! – falou e eu ri, sorrindo para ela.
- Você não desencana nunca, certo? – Falei e ela sorriu, piscando para mim.
- Minha filha, você pode dar palpites só de vez em quando! – Ela falou e eu fingi um bico.
- Pensei que agora eu tinha alguns direitos sobre a vida dela. – Falei brincando e ela fechou o rosto.
- Não começa! – Ela falou e eu ri fraco.
- Você sabe que eu estou brincando contigo. – Virei para Ellie que raspava as laterais da travessa com a ponta dos dedos e assentiu com a cabeça.
- Bem, vamos começar a limpar, então? Não vou deixar Brigite entrar aqui amanhã com isso assim. – Ela falou, ficando de joelhos e eu segurei sua mão.
- Claro! Só espera um pouco. – Falei, me levantando rapidamente. – Segura esse pensamento!
- ! – Ela gritou. – Falamos sem presentes, ok?!
- Mas e se não for para você? – Ouvi sua voz e segui para meu quarto, abrindo o armário e digitando a senha do cofre e ele abriu rapidamente.
Observei os poucos itens lá dentro e puxei a pasta com alguns papéis e uma caixa, guardei a mesma no bolso e fechei o cofre com os papéis em mãos. Respirei fundo, me olhando no espelho rapidamente e fechei os olhos por um momento, era agora!
- , você não vai se safar dessa, pode vir agora! – falou e eu balancei a cabeça, fechando a porta do armário e voltei para a sala, onde e Ellie tinham começado a colocar as coisas na bancada novamente.
- Eu quero falar com vocês. – Falei para as duas que pararam o que estavam fazendo e me encararam.
- Você ficou sério de repente. – Ellie comentou e eu abri um pequeno sorriso.
- É um assunto meio sério. – Falei e secou suas mãos em um guardanapo, se aproximando de mim e Ellie veio atrás.
- O que você está aprontando? – Ela perguntou e eu me sentei no sofá, apoiando as costas no mesmo.
- Não é nada, eu acho... – Falei, franzindo a testa e se sentou ao meu lado e Ellie se espremeu no meio de nós dois.
- Você está me assustando, . – Ela falou.
- Ih, me chamou de . Está brava! – Falei e Ellie riu. – É algo bom, que eu quero muito. – Desamassei os papéis em minha mão e estiquei para Ellie. – Isso é para você, Ellie. – Ela franziu a testa e me encarou.
- O que é? – Ela perguntou, virando os papéis para todos os lados.
- Eu sei a história de vocês, eu sei todos os problemas, todas as soluções, sei como vocês lidaram com tudo aquilo e eu sei o quanto eu amo vocês e quanto vocês me amam. – sorriu.
- Metido! – Ellie falou e eu ri, bagunçando seus cabelos. – Ei! – Ela gritou, passando as mãos nos cabelos.
- Isso nunca foi um problema para você ou para Ellie. – Falei olhando para . – Mas eu sei a importância de ter um pai na nossa vida. – Suspirei. – Nem se ele for um babaca como o meu. – Ela riu comigo. – Ellie nunca reclamou de não ter um pai na sua certidão de nascimento e nem em não ter um pai presente. – Ellie franziu a testa e eu sorri. – Mas eu sei o quanto ela gosta de ficar comigo e o quanto eu amo essa menina como se fosse minha. – Ellie balançou a cabeça, pegando os papéis rapidamente.
- Isso é um pedido de adoção! – Ellie gritou e eu senti meus olhos marejarem.
- Sim! – Falei, respirando fundo. – Eu quero ser seu pai, Ellie. – Engoli em seco. – Eu quero colocar meu nome na sua certidão de nascimento. – Senti as lágrimas começarem a escorrer do meu rosto. – Eu já cuido de você, eu já te dou alguns puxões de orelha, mas eu quero fazer isso do jeito certo. – Respirei fundo. – Se você quiser, é claro!
Ellie não teve palavras para responder, ela tinha os olhos avermelhados e grossas lágrimas caíam de sua bochecha. Ela se ajoelhou no sofá e pulou em meu colo, me abraçando fortemente, fazendo com que meu choro ficasse cada vez mais forte. Olhei para frente e tinha aquela expressão de quando algo saía do seu controle. Ela tinha as mãos no rosto, as bochechas e o nariz incrivelmente vermelhos e lágrimas rolavam pela sua bochecha.
- Sim! – Ellie falou. – Eu não sei o que você fez com o que eu conheci, mas eu quero sim! – Olhei para seu rosto e dei um beijo em sua testa. – Você deixa, mamãe? – Ela virou para que respirou fundo, abaixando as mãos e me encarando.
- Casa comigo. – falou e eu arregalei os olhos. – Casa comigo, ! – Ela começou a chorar novamente. – Se você já é o homem da minha vida e vai ser o pai da minha filha, nada mais justo que oficializarmos isso. – Respirei fundo. – Casa comigo. – Ela sorriu. – Eu não preparei nada e eu não tinha pensado nisso, mas é o que eu quero.
- Você não pode pedir para eu casar contigo. – Comecei a rir, puxando a caixinha do meu bolso. – Eu ia te pedir para casar comigo. – Mostrei para ela que começou a rir e Ellie deu um grito surpresa.
- Oh, meu Deus!
- Eu sou um pouco apressada, não? – começou a rir e eu concordei com a cabeça.
- Sim, mas eu não gostaria de você se você fosse diferente. – Abri a caixinha, pegando a aliança que estava lá dentro e segurei a mão de , colocando-a em seu dedo anelar. – Isso pode ser cedo, apressado ou o que for, mas eu te amo e sei que não consigo mais viver sem você. – Ela sorriu. – Além de que praticamente vivermos juntos, então não muda muita coisa. E aí? Aceita? – Ela riu fraco, passando por Ellie e colou seus lábios nos meus.
- Sim, eu caso contigo! – Ela falou e eu sorri.
- Você deixa, Ellie? – Perguntei e ela deu um largo sorriso, tapando os olhos com as mãos, assentindo com a cabeça loucamente.
- Sim! – Ela falou chorosa. – Eu tenho um pai, eu tenho uma família! – Ela respirou fundo. – É o que eu mais quero nesse mundo! – Sorri, passando meus braços pelas suas costas e apertando as duas fortemente em um abraço.
- Então, vamos fazer isso? – perguntou e rimos juntos.
- Sim. – Falei, assentindo com a cabeça. – A adoção e o casamento. – Respirei fundo. – Vou ver se certa cerimonialista está livre para fazer nosso casamento. – riu fraco, balançando a cabeça. – Mas você vai ter que me deixar conduzir isso.
- Nem pensar! – falou e eu sorri, colando meus lábios no dela novamente. – Eu que controlo isso. – Assenti com a cabeça, deixando um beijo em sua testa. – Mas eu te amo.
- Bom mesmo! – Falei e ela sorriu.

***

Ouvi o despertador tocar ao meu lado na cama e eu respirei fundo, sentindo meu corpo incrivelmente leve. Senti se mexer ao meu lado e derrubar o celular pela enésima vez, antes do som cessar, me fazendo rir fraco.
- Nossa, você está aqui? – Ele perguntou, virando o corpo e me abraçando pela barriga nua.
- Sim! – Suspirei. – Eu me permiti algumas horinhas a mais de sono. – Falei, virando meu corpo para ele.
- Bom! – Ele falou, se espreguiçando, esticando o corpo na cama. – Eu não quero sair daqui. – Virei meu corpo, me colocando em cima dele e ele sorriu.
- Podemos nos dar mais alguns minutos. – Falei, sentindo-o passar a mão em meu corpo e colar os lábios nos meus.
- Eu tenho o lançamento de uma nova ala do hospital do Queens as nove, não posso me atrasar. – Respirei fundo.
- Eu tenho que contar a novidade para meus funcionários. – Falei e ele riu.
- Isso vai ser divertido! – Ele bocejou novamente. – Eu queria ver isso. – Ele gargalhou. – Acho que muitos ainda pensam que você é a mulher de gelo. É a Elsa, né?! Do filme da Disney? – Revirei os olhos, me sentando na cama.
- Engraçadinho! – Me levantei da cama, puxando o lençol para mim e o deixei sozinho e nu na cama.
- , eu quero te perguntar uma coisa. – Ele se sentou na cama, andou rapidamente pelo quarto e pegou uma cueca limpa no armário.
- O quê? – Virei para ele, passando as mãos em meus cabelos.
- Você nunca me contou porque fugiu da Costa Rica, o motivo daquela história toda. – Suspirei, virando o corpo e me encostando ao armário. – E nem tente fugir disso, nós vamos casar, eu tenho o direito de saber. – Ri fraco, me aproximando dele e passando os braços em seus ombros. – É a Costa Rica, fica no meio do Caribe. – Balancei a cabeça.
- Não tem muito segredo, na verdade, não foi nenhuma história pesada, nem nada. – Ela deu de ombros. – Eu só tinha um pai superprotetor. – Dei de ombros. – Eu tinha sonhos e vontades, mas se eu dependesse dele, isso nunca aconteceria. – Suspirei. – Eu queria me mudar e abrir minha empresa de eventos em San José, mas ele não queria que eu fosse, e ainda me obrigava de trabalhar no mercado que a família tinha. – Suspirei. – Por coincidência eu acabei conhecendo o Spike que também não se dava bem com a minha família. – Dei de ombros. – Ele veio com a ideia de fugir e eu achei que era uma ideia maravilhosa na época. – Ri fraco. – Que eu podia ficar livre de toda a responsabilidade e fazer o que eu queria. – Ri fraco. – Então eu fui. – Suspirei. – Mas quando estava tudo bem com o Spike, eu achava aquilo uma ótima ideia. Mas quando tudo acabou, eu só queria voltar para casa.
- Por que não voltou? – Ele perguntou.
- Porque quando eu fui embora, ele me pegou fugindo e disse para eu nunca mais voltar. – Suspirei, balançando a cabeça. – Eu não quero me lembrar disso, por favor.
- Há quanto tempo você não vê seus pais? – Ele perguntou novamente.
- Já faz 22 anos. – Suspirei.
- Filha única? – Assenti com a cabeça.
- Sim, só eu. – Suspirei.
- E você realmente acredita que eles não te aceitariam de volta? Sendo filha única? – Ri fraco, sentindo meus olhos lacrimejarem novamente. – Eles são seus pais, . Eu tenho problemas com meus pais, mas eu sei que eles se matariam para ficar comigo, para jantar comigo ou para simplesmente passar um dia comigo. – Assenti com a cabeça.
- Eu sei. – Suspirei. – Mas depois eu acabei não voltando por ego. – Dei de ombros. – Voltar com o rabo entre as pernas. – Balancei a cabeça.
- Se eles te verem hoje, eles vão se sentir incrivelmente orgulhosos por tudo que você criou. – Sorri. – E será que eles não gostariam de saber que tem uma neta maravilhosa também? – Dei um pequeno sorriso.
- Por favor, , não vamos...
- Vamos sim! – Ele falou. – Eu fiz alguns erros na minha vida e você me ajudou a corrigir, agora me deixa corrigir os seus. – Preferi ficar quieta e somente assenti com a cabeça, sentindo-o me abraçar fortemente.
- Vamos esperar essa poeira baixar, ok?! – Falei, respirando fundo. – Resolver a adoção de Ellie, nosso casamento, depois vemos isso.
- Hum... – O ouvi resmungar. – Casamento no caribe... Será que Weddburgh consegue uma proeza dessas? – Gargalhei.
- Querido, eu só não casei pessoas na Lua porque a aliança sairia voando. – Falei e ele arregalou os olhos.
- Oh! Poderosa! – Ele falou e eu gargalhei. – Mas eu vou programar isso sim.
- , você não pode simplesmente deixar a prefeitura para ir para a Costa Rica e eu não posso deixar a empresa no mês das noivas. – Ele segurou minhas mãos.
- Nós formamos uma equipe capacitada para isso. – Falei. – Você tem uma equipe contigo há 20 anos para te apoiar nessas situações. – Falei. – Pare de arranjar desculpas e vá se arrumar, vamos nos atrasar! – Ele deu um tapa em minha bunda e eu arregalei os olhos.
- Gente! – Ouvi a voz de Ellie e alguns toques na porta. – Vocês vão sair ou não? Já são quase oito. – Ela falou e eu olhei para o relógio na cabeceira na cama.
- Já estamos indo! – Falei.
- Não entra! – gritou e eu ri, balançando a cabeça.
- Não vou entrar. Não quero te ver sem roupa. – Ellie gritou de volta e eu ri.
- Já estamos indo, querida! – Falei e entrei no banheiro.
Nos arrumamos meio apressados naquele dia. Saímos do apartamento de e fomos tomar café no meu apartamento, onde Brigite tinha preparado alguma coisa para levarmos para viagem e Bruce esperava a gente calmamente, enquanto acariciava Bee.
Dei um longo beijo em antes de entrarmos em carros diferentes. Ele seguiu para a prefeitura e eu segui para a escola de Ellie e depois para a empresa. Cheguei lá e esperei a poeira da manhã baixar para eu apertar o botão embaixo da minha mesa e chamar por Lily.
- Junte todo mundo, por favor. – Falei e me levantei, observando a aliança com um pequeno diamante solitário em meu dedo e suspirei, colocando-o dentro do bolso da minha calça, como tinha ficado em todos os momentos que eu estava com alguém da empresa. Eles costumavam ser desligados com algumas coisas, mas nem tanto, principalmente Lily, então eu enfiava a mão na gaveta todas as vezes que ela entrava na sala.
Saí da minha sala e segui para o salão principal, vendo as pessoas começarem a surgir de todos os cantos e todos os andares.
- Bom dia, gente, tudo bem? – Falei, me colocando no pequeno degrau que tinha ali para avisos como esse.
- Tudo bem! – Eles responderam quase em coro.
- Eu tenho um anúncio para fazer hoje. – Falei, respirando fundo e olhei para Lily ao meu lado.
- Eu não estou sabendo de nada! – Ela cochichou para mim e eu ri fraco.
- Eu sei. – Sorri. – Essa é a intenção. – Respirei fundo, apertando minha mão dentro do bolso.
- Nós temos uma nova cliente especial para lidar. – Virei para eles. – Ela é exigente, perfeccionista, e gosta de tudo simplesmente impecável. – Falei, virando para Lily. – Vocês terão muito trabalho para fazer o casamento dela, porque isso é algo que ninguém nunca imaginou que fosse acontecer. – Olhei para Lily e tirei a mão do bolso. – Vocês terão que me surpreender. – Ergui a mão, fazendo com que todos tivessem algumas reações de surpresa e gritinhos animados.
- Oh, meu Deus! – Lily gritava ao meu lado. – Você vai casar? – Desci do degrau e ela me abraçou fortemente. – Isso é demais! – Ela falou rindo. – Quem pediu? – Ri fraco.
- É uma longa história! – Abracei-a de lado.
- E você vai realmente deixar a gente fazer seu casamento? – Ela perguntou.
- Vocês são minha equipe. – Falei. – Eu trabalho com vocês há muito anos para confiar. – Sorri.
- Ok, eu começo pela entrevista e depois vou passando as informações para vocês. – Lily falou animada e eu ri fraco.
- Calma, gente! – Falei rindo. – Vamos devagar! – Falei rindo.
- Eu quero saber tudo! – Lily falou e eu ri.
- Ok, por onde eu começo? – Brinquei e alguns funcionários se aproximaram curiosos. – Começou com falando que vai adotar a Ellie, na verdade. – Falei e eles arregalaram os olhos.
- Oh, meu Deus! – Lily falou animada. – Que lindo!


Capítulo 10

- Bom dia, ! – Minha vice-prefeita entrou na minha sala e eu me levantei.
- Bom dia, Karen! – Falei, cumprimentando-a. – Sente-se, por favor! – Indiquei a cadeira, voltando a me sentar na minha. – Como você está?
- Tudo bem e contigo? – Ela perguntou.
- Tudo certo também. – Ela assentiu com a cabeça, aproximando a cadeira da mesa. - Como estão seus trabalhos?
- Tudo certo, tenho alguns relatórios para mostrar para você sobre o pequeno rombo que seu pai deixou nas contas. – Ela falou e eu franzi a testa.
- É, já imaginei que isso aconteceria, eu ouvia alguns rumores quando era o secretário de educação. – Ela assentiu com a cabeça.
- Estamos consertando, ! – Ela assentiu com a cabeça. – O primeiro ano é sempre o ano de consertar o que estava quebrado antes, até o fim do ano estaremos prontos para realmente colocar os projetos em dia. – Assenti com a cabeça.
- Quando a gente entra que notamos que as coisas acontecem devagar. Cada passo depende de outro. – Suspirei. – Bem, vamos lá. – Balancei a cabeça. – Antes de você me mostrar os relatórios, eu preciso te falar sobre uma viagem que eu vou fazer semana que vem. – Ela assentiu com a cabeça.
- Viagem a trabalho...? – Ela perguntou.
- Pessoal, na verdade. – Suspirei. – Eu vou para Costa Rica, visitar a família da minha noiva. – Ela assentiu com a cabeça.
- Algum problema? – Ri fraco.
- É pessoal, mas vamos só dizer que ela não vê a família dela há mais de 20 anos e se eu não for, ela não vai sozinha. – Ela assentiu com a cabeça.
- Não se preocupe, não é da minha conta. – Assenti com a cabeça.
- Obrigado! – Sorri, respirando fundo. – Bem, por conta disso, eu vou pedir uns dez dias, eu estou falando com os secretários, puxando ou adiando algumas reuniões, para não cair tudo nas suas costas durante dias. – Ela assentiu com a cabeça.
- Obrigada! – Ela disse, rindo. – Mas ficaremos bem. E são só dez dias. – Assenti com a cabeça. – Quando você vai? – Ela perguntou.
- Domingo agora, já reservei as passagens e tudo mais. – Ela assentiu com a cabeça.
- Beleza. Então vamos ver o que a gente consegue resolver antes de você viajar e eu vou guiando tudo sozinha até você voltar. – Assenti com a cabeça.
- Perfeito, vamos começar pelos seus relatórios, depois repassar por secretarias. – Peguei meu telefone. – Deixa eu pedir para Bruce entrar e nos ajudar nisso.
- Perfeito, ele é mais organizado do que nós. – Ela riu, e eu disquei rapidamente o ramal de Bruce.
- Diga! – Ele atendeu rapidamente.
- Entra aqui, por favor! – Falei e a linha ficou muda, alguns segundos depois ele apareceu na porta.
- Ei! – Ele falou. – Olá, Karen, tudo bem? – Ele cumprimentou Karen e sorriu. – O que precisa?
- Preparar a minha viagem para Costa Rica. – Ele assentiu com a cabeça.
- Ah, beleza! Vamos lá! – Ele se sentou ao lado de Karen.
- Você vai junto? – Karen perguntou, apontando para Bruce.
- Oh, eles precisam de mim! – Rimos juntos e peguei a primeira pasta da pilha de Karen.
- Ok, vamos começar, o dia vai ser longo. – Respirei fundo. – Diga-me, Karen.
- Ok, esse é o relatório de finanças. Você vai encontrar algumas marcas que eu fiz em vermelho, temos que priorizar para onde vão os gastos. – Assenti com a cabeça, apoiando o relatório na mesa, virando as páginas.
- Coloque sua cadeira aqui, Karen. Bruce, me traga o relatório de caixa desse mês. – Pedi.

***


Respirei fundo e balancei a cabeça, desafivelando o cinto e me levantando, observando e Ellie dormindo calmamente ao meu lado. Andei para frente do avião, encontrando Lily e Fiorella em duas poltronas na frente e Bruce e Brigite ao seu lado. Segui para o banheiro, acenando para uma aeromoça que estava ali perto e entrei no banheiro, trancando a porta.
Fiz minhas necessidades, arregacei a manga do casaco e lavei meu rosto, sentindo o balançar suave do avião, me fazendo apoiar as mãos na lateral da cabine. Olhei-me no espelho rapidamente e eu estava tão não eu, o rosto lavado, a cara inchada e a maquiagem que eu tinha feito para vir já havia sumido faz tempo. Balancei a cabeça e saí da cabine.
Voltei para meu assento, notando que quase babava na poltrona e Ellie dormia com algum filme ligado na televisão à sua frente. Sentei-me novamente na janela, abrindo uma fresta da mesma, notando que algumas pessoas já abriam as suas.
- Ah! – resmungou do outro lado de Ellie e eu virei para ele, vendo-o passar a mão na boca, provavelmente limpando uma baba e eu sorri. – Ei! – Ele falou, virando para mim.
- Ei! –Sorri e o vi tirar os fones de Ellie e desligar a TV.
- Onde estamos? – Ele perguntou.
- Estamos sobrevoando Honduras. – Falei. – Eles estão começando a preparar para servir o café da manhã.
- Eu vou me recompor, então. – Ele falou. – Dar uma ajeitada na cara. – Ri fraco, assentindo com a cabeça.
- Vai lá! – Falei e ele se sentou, notei Ellie que se virava na poltrona. – Ei, querida! – Falei, me aproximando dela, passando a mão em seus cabelos. – Vamos acordar? – Perguntei e ela se virou para o meu lado, bocejando.
- A gente já chegou? – Ela perguntou, se esticando.
- Está perto, querida. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Tô com fome. – Ri fraco, dando um rápido beijo em sua bochecha.
- Eles já vão passar. – Falei. – Se quiser ir ao banheiro, depois vai ficar complicado de passar.
- Eu vou! – Ela falou, passando a mão nos olhos.
- Quer que eu vá contigo? – Perguntei.
- Eu vou com ela. - Brigite se levantou da sua poltrona. - Preciso me recompor também. – Assenti com a cabeça, vendo Ellie seguir Brigite pelo corredor do avião e se sentou ao meu lado novamente.
- Como você está? – se sentou na poltrona do meio, segurando minha mão e eu respirei fundo.
- Considerando que eu estou há quase seis horas acordada, sentindo todas as turbulências e sem dormir por uns quatro dias, eu estou bem. – Falei e ele apertou minha mão, colocando a mão em meu cabelo.
- Você não precisa se preocupar. Vai dar tudo certo. – Ele falou e eu respirei fundo.
- Permita-me duvidar. – Falei, rindo fraco. – São mais de 20 anos, é muito tempo para guardar rancor de alguém. – Dei de ombros. – Eles podem ter se mudado já.
- Se eles não estiverem mais morando lá, vamos descobrir onde eles estão morando e continuar nossa busca. – Ele falou e eu balancei a cabeça.
- Você não cansa mesmo, né?! – Ele deu de ombros.
- Eu te amo e quero que você viva sem se preocupar com o passado, só isso. – Ele me abraçou de lado. – Deixar o passado para trás mesmo.
- Eles me odeiam, . – Ele riu contra minha pele.
- Você parece uma adolescente falando. – Sorri.
- Ok, eu talvez tenha exagerado um pouco. – Falei e ele se afastou de mim novamente.
- Pais nunca odeiam filhos, por mais besteiras que eles falam. – Sorri, assentindo com a cabeça.
- Voltei! – Ellie apareceu novamente.
- Você se importa em sentar na ponta um pouco, querida? – perguntou e ela já se ajeitou na poltrona do lado.
- Sem problemas! – Ela falou. – Vou ser a primeira a comer. – Ri fraco.
- Ela não viaja muito. – Falei e assentiu com a cabeça.
- Café da manhã, senhores? – A aeromoça apareceu ao nosso lado.
- Com certeza! – falou e eu ri, recebendo a bandeja com o café da manhã.
A viagem durou mais 40 minutos, foi o tempo de todos do avião acordarem, as janelas serem abertas, e o cheiro de pão quente subir pelos ares. Tomei meu café calmamente e logo entreguei a bandeja para a aeromoça novamente.
O fim da viagem acabou sendo emocionante para mim, enquanto o avião se preparava para pousar, ele fez um rasante sobre San José, chegando em Costa Rica, me dando aquela sensação de emoção que estava guardada há muito tempo.
Eu havia saído de San José de carro, então não tive essa vista incrível de cima. San José era uma cidade simples, não era uma Nova York, Paris ou Sydney, mas era meu país e eu só notei o aperto que estava em meu coração, quando algumas lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, me fazendo sorrir.
- Estou de volta. – Falei, respirando fundo e senti apertar minha mão.
- Eu quero ver! – Ellie falou, empurrando para que encostasse novamente na poltrona e eu ri.
- Vem aqui, querida! – Chamei para perto. – É aqui que você vai conhecer minha história. – Falei. – A nossa história. – Suspirei.
- Mal vejo a hora! – Ela falou e eu suspirei, sentindo me abraçar de lado novamente.

***


- Ok, ok! – Falei, entregando a mala para Bruce. - Vocês nos sigam, se vocês se perderem, sigam o GPS e nos liguem quando chegar lá.
- Quantas horas até lá? – Minha irmã perguntou.
- Três horas! – falou. – Quem vai dirigindo daí? – Ela perguntou.
- Eu! – Bruce falou.
- Nem pensar! – Fiorella falou, pegando a chave da mão dele.
- Por acaso você sabe falar espanhol? – Ele puxou a chave novamente da mão dela e ela se manteve quieta. – Foi o que eu pensei. – riu fraco.
- Vamos, então! – falou e nos dividimos entre os carros, eu, e Ellie em um, Bruce, Brigite, Fiorella e Lily em outro.
- Quer que eu vá dirigindo para você dormir? – Perguntei e ela suspirou.
- Não precisa. – Ela falou. – Não vou conseguir dormir mesmo. – Ela pegou a chave da minha mão e seguiu para o lado do motorista. – Afinal, eu conheço a estrada. – Ela abriu um sorriso que iluminou meu dia e entrou no carro.
Ela podia estar relutante com isso, mas ela estava muito feliz por estar de volta. O sorriso dela, as lágrimas quando ela viu San José de cima, até quando o oficial da Polícia Federal deu boas vindas a ela na imigração ela sorriu, respondendo em um espanhol perfeito, como se nunca tivesse saído dali. Ela estava em casa, depois de muito tempo longe, então nada mais justo da sua felicidade ser radiante. Mas ela sentia medo também, e eu entendia.
A viagem seguiu bem, eu acho. Acabei dormindo pouco depois de sairmos de San José, apesar de termos perdido uns vinte minutos só para sair da área do aeroporto. Férias de meio de ano, país caribenho, aquilo estava lotado.
Na rádio tocava os maiores sucessos da música latina que eu poderia imaginar ou será que eles chamavam de reggaeton? Enfim, acordei quase no fim da viagem com cantando uma música em espanhol incrivelmente rápida, que eu não conseguia entender nada, mas ela estava sorridente e falando um idioma que ela não usava há anos. Fez até com que Ellie gargalhasse no banco de trás e cantasse com ela.
Pouco antes de chegar à cidade, pediu para que eu trocasse de lugar com ela, ou ela não conseguiria continuar em frente. Aquele caminho fazia com que ela ficasse trêmula e chorosa e ela poderia desabar a qualquer momento.
Ela deu um longo suspiro quando passamos pela placa de entrada da cidade, a música cessou e a cantoria também. Ela tinha ficado realmente tensa.
- Bem vindos à Puerto Limón, um paraíso no Caribe. – Ela falou, soltando um longo suspiro em seguida, abrindo a janela e apoiando os braços na mesma.
A cidade era pequena, mas era muito bonita. O cheiro de maresia podia ser facilmente sentido, afinal, tinha águas azuis claras por qualquer lugar que você olhava. A cada lugar que passávamos, falava o que era, sua escola, o ponto de encontro das suas amigas, a melhor lanchonete da cidade, a praia que ela tinha aprendido a surfar e o lugar que ela deu seu primeiro beijo.
Ela teve um baque quando passamos por uma rua que fez com que ela até se afastasse para dentro do carro novamente, visivelmente assustada. Olhei para onde ela encarava e vi o mercado de seus pais, Mercearia Piedrafita, fechado, mas com uma explicação.
- É segunda-feira. – Ela falou baixo. – Ele fazia questão de fechar na segunda-feira para compensar o trabalho árduo de domingo. – Assenti com a cabeça, passando o sinal verde e seguindo por mais alguns minutos de viagem.
- “Seu destino está à esquerda”. – A mulher do GPS avisou e eu freei o carro em frente a uma casa clara de dois andares, com as paredes brancas e os beirais da janela azul escuro, o jardim muito bem cuidado e as flores crescendo.
- Chegamos. – Ellie falou e virei para que demorou a tirar seu olhar do lado contrário e levá-lo aonde realmente importava. Vi sua garganta engolir em seco com muita dificuldade, fazendo com que eu levasse a mão até a sua.
- Vamos embora! – Ela falou e eu suspirei, segurando sua mão firme, levando até a boca.
- Você chegou até aqui. – Falei, balançando a cabeça. – Leve o tempo que precisar, mas eu não vou embora até a gente cumprir o que viemos fazer. – Ela assentiu com a cabeça, respirando fundo.
- Estamos aqui contigo, mamãe! – Ellie falou, se debruçando no banco do passageiro e apertando os ombros de .
- Talvez a casa esteja abandonada. – Olhei novamente para mesma, franzindo a testa por causa do sol.
- Ela foi recém-pintada. – Falei.
- Ou talvez eles não morem mais aqui. – Me debrucei sobre a janela do carro, olhando a lateral da caixa do correio, vendo o sobrenome pintado na mesma.
- É, talvez. – Suspirei. – Quantos Piedrafitas existem em Puerto Limón? – Ela jogou a cabeça para trás, puxando a respiração fortemente.
- Cinco. – Ela falou. – Bem, quatro, depois que eu fui embora. – Fiz as contas na cabeça. – Eu tinha avós quando saí daqui.
- Perfeito, então vamos sair enquanto você tem pais ainda? – Perguntei e ela deu outro longo suspiro.
- E se eles já tiverem morrido? – Ela perguntou e eu sabia que ela estava enrolando.
- Eu já te falei que fiz umas pesquisas sobre eles e que, segundo o governo da Costa Rica, Marissa e José Piedrafita estão vivos, então para de enrolar e saia desse carro agora. – Falei, começando a me irritar.
- Você disse que me daria o tempo que eu precisasse. – Ela falou.
- É, mas você está começando a enrolar. – Abri a porta do carro, saindo e fechando a mesma e Ellie me seguiu.
Dei a meia volta no carro e abri a porta do carro, puxando-a para fora pela mão. Ela passou as mãos no rosto, esticando-as em minha direção para que eu parasse e relaxou os ombros diversas vezes e balançou a cabeça. Ela ergueu os cabelos em um coque e conferiu rapidamente sua roupa, como se aquilo realmente importasse.
Ela deu uma de senhora Weddburgh até a porta, comigo e com Ellie atrás dela, fiz um sinal para que ninguém do carro de trás saísse. Já tínhamos uma plateia, não precisava que eles estivessem tão perto, não conseguimos convencer de vir só nos três, eles sabiam o quanto isso era importante para gente e para .
- Aqui vou eu!
soltou o ar três vezes, passando as mãos umas nas outras e em um rápido movimento, colocou a mão trêmula para bater algumas vezes na porta, engolindo em seco e fechando os olhos diversas vezes. Fiz questão de me colocar levemente atrás dela caso ela tentasse fugir, ou pior, caso ela desmaiasse.
Aquela espera passou em câmera lenta para mim, eu poderia jurar que se foram uns quinze minutos encarando aquela porta azul escura com os detalhes em branco. Quando pude ouvir o barulho das chaves, eu fiquei de prontidão, segurando minha noiva pela cintura, vendo as gostas de suor escorrerem pelo seu pescoço nu.
Um senhor de uns 70 anos abriu a porta, ele não aparentava a idade, era alto, robusto e ainda tinha alguns cabelos pretos no meio dos brancos. Usava uns óculos no rosto e segurava o jornal com uma das mãos. Assim que ele encarou a mulher em sua frente, eu também vi sua reação em câmera lenta. Foi como se ele não soubesse quem era, até começar a estudar sua expressão.
Seu jornal foi rapidamente para o chão e eu me afastei para permitir que ele abraçasse sua filha fortemente. Senti um alívio passar pelo meu corpo e eu puxei Ellie de lado, sentindo as lágrimas começarem a rolar pelo meu rosto, me permitindo respirar aliviado.
- ¡Regresaste! – Ele falou alto e ofegante ao mesmo tempo, em espanhol. – Oh mi querida! – Ele falou, olhando fixo para os olhos de , passando as mãos em seu rosto. – ¡Regresaste! – Ele falou mais baixo, respirando fundo. – Marissa,¡ella regresaste! – Ele gritou para a mãe de e eu respirei fundo, emocionado com tudo aquilo. – Ah, querida! – Ele abraçou fortemente.
- ¡Hola papá! conseguiu dizer algo, com a voz chorosa, me fazendo respirar fundo.
- José, ¿qué passa? – Uma senhora da mesma idade do senhor, mas com a aparência um pouco mais desgastada apareceu e José deu espaço para que a senhora visse quem ele estava abraçando. - ¡No es posible! – Ela falou alto. - ¡Mi hija! – Ela passou por José e abraçou fortemente, se desmanchando em lágrimas também. – ¡Mi angél! – Sua mãe falou, passando a mão em seu rosto, enchendo-a de beijos. – Mi corazón está completo de nuevo! – Abracei Ellie de lado que não conseguia segurar as lágrimas também.
- ¡Vamos entrar! – Seu pai disse e passou as mãos no rosto, respirando fundo e eles se afastaram por alguns segundos. - ¿Quiénes son ellos? – Ele perguntou, indicando nossa direção e riu, um pouco desconcertada ainda.
- Mamá, papá, esos son Ellie y , mi hija y mi novio. – Ela falou e seus pais sorriram.
- Vamos adentrar, tu tiene mucho que contarnos. – Rimos juntos e virei para o pessoal do outro carro, chamando-os.

***


Eu estava abismada como nada tinha mudado em 20 anos. Tirando a recente pintura, os quadros nas paredes eram os mesmos, as minhas fotos eram as mesmas, a disposição dos móveis eram as mesmas, foi como se o tempo tivesse parado desde que eu fui embora.
Meu pai e minha mãe não desgrudavam de mim, eles nos levaram para dentro, junto com o pessoal do outro carro e nos ajeitaram na sala de estar. Apresentei rapidamente cada um e falei sua relação comigo e eles se ajeitaram na sala.
Eu notei o olhar de confusão no rosto de meu pai quando eu falei que era meu noivo e que estávamos juntos há somente oito meses. Minha mãe também estava um pouco absorta de tudo. Não era simplesmente fácil ficar tudo bem depois de muitos anos longe.
- Por que a gente não conversa em particular? – Falei para meus pais e eles assentiram com a cabeça.
Me levantei da poltrona, fazendo com que parasse de fazer um carinho em minha cintura e segui para o quintal com meus pais, fechando a porta quando passei por ela. Senti o cheiro de mar e o sol quente e não me contive em suspirar. Nos sentamos nas cadeiras de plástico que tinha ali e apoiamos as mãos na mesa, nos encarando.
- Você não tem noção da felicidade que estamos em te ter de volta. – Sorri, segurando a mão da minha mãe por cima da mesa.
- Vocês nem imaginam o quanto foi difícil decidir voltar. – Suspirei. – Se não tivesse me forçado, talvez isso nunca aconteceria. – Balancei a cabeça.
- Nós te esperamos, querida. – Meu pai falou, tirando os óculos do rosto. – Te esperamos todos os dias durante 20 anos. – Ele balançou a cabeça. – Não nos mudamos, não fechamos o mercado, apesar de estar indo de mal a pior. – Rimos juntos. – Nós só não queríamos que nada mudasse, para que fosse mais fácil para você nos achar. – Engoli em seco, assentindo com a cabeça. – E quando nos achou... Quantas coisas mudaram! – Dei um pequeno sorriso.
- Eu saí daqui como uma pessoa irritada, nervosa, culpando vocês por tudo. – Suspirei. – Eu me tornei uma pessoa forte, rancorosa, difícil, mas poderosa. – Minha mãe assentiu com a cabeça. – Mas desde que eu fiquei com , eu finalmente me descobri. – Eles sorriram. – E voltando para cá, sabendo que eu seria recebida dessa forma. – Sorri. – Com certeza vai me tornar mais leve ainda.
- O que aconteceu, querida? – Minha mãe perguntou. – Realmente. – Ela suspirou. – É difícil ver sua filha pulando do segundo andar de casa com 21 anos e voltar como uma mulher com uma filha. – Sorri.
- Uma mulher de 42 anos. – Falei, suspirando e eles sorriram. - Bem, acho que para começar essa conversa, eu deveria pedir desculpas. - Soltei um longo suspiro. – Eu não sei o que eu pensei quando fui embora, eu só me sentia um pouco sufocada, fora do meu mundo, mas eu realmente não sabia que lá fora era pior. – Dei de ombros.
- Cadê o Spike? – Ri um pouco alto demais.
- Ele ficou para trás nos primeiros três meses. – Falei e eles realmente pareceram surpresos.
Contei a história completa. Dos planos, da viagem, da traição, do aborto, de como eu fiquei ruim pelo aborto, os trabalhos pelo meio do caminho, até chegar em Nova York.
- Eu estava sozinha em Nova York, não conseguia um emprego fixo, somente bicos de garçonete, babá, coisas temporárias, então eu aluguei um apartamento de um quarto de uma velha rabugenta que vinha cobrar o aluguel sempre que eu estava ocupada. – Eles riram. –Eu consegui um dinheiro emprestado de uma vizinha para pagar o aluguel, mas tinha uma conhecida que ia casar, e que precisava de uma organizadora.
- Você fez um evento? – Minha mãe perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Fiz! – Falei rindo. – Foi um desastre. – Balancei a cabeça. – A confeiteira não entregou o bolo, os salgadinhos eram com um queijo rançoso, a energia foi cortada. – Eles gargalharam. – Mas foi aí que começou.
- Você realizou seu sonho? – Meu pai perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Sim! – Suspirei. – Eu sou a cerimonialista mais famosa do mundo, faço cerca de 80 casamentos no mês, organizo casamentos em Nova York, Milão, Tóquio, Rio, onde pedir eu vou. – Eles sorriram.
- E Ellie? – Meu pai perguntou.
- Depois de Spike, eu não tive coragem de me envolver com nenhum outro cara, nunca. – Eles riram. – É sério! – Falei sorrindo. – Mas eu me sentia sozinha, e eu sempre quis ter uma filha...
- Sempre mesmo! – Minha mãe falou.
- Então, eu decidi ter pelos meus meios. – Suspirei. – Eu tinha dinheiro, eu sempre cuidei da minha vida, foi somente escolher entre um dos espermatozoides mais apropriados e nove meses depois Ellie nasceu. – Eles sorriram.
- Ela parece ser maravilhosa, querida! – Assenti com a cabeça.
- Ela é esperta, incrível, inconveniente que só! – Eles riram. – Mas ela é a minha pessoa favorita no mundo. – Suspirei sorrindo.
- E esse ? Eu tenho que agradecê-lo muito por ele te trazer de volta.
- também não foi fácil. – Balancei a cabeça. – Ele é meu vizinho há quase quatro anos, nunca nos demos bem, ele sempre foi festeiro e irresponsável e eu tenho Ellie, acordo antes do sol nascer, vou dormir depois da meia noite, mas depois de um caminho conturbado, acabamos nos apaixonando eventualmente. – Eles sorriram. – Ele é prefeito de Nova York, sabiam?
- Sério?! – Assenti com a cabeça.
- Sério! – Suspirei. – Isso também ajudou para ficarmos juntos. – Eles sorriram.
- Que bom que você está feliz, querida. Tudo vai se ajeitar aos poucos. – Sorri para meu pai, entrelaçando meus dedos.
- Eu sei que não vai ser fácil, foram 20 anos longe, eu não tenho como largar tudo em Nova York e simplesmente ir embora, mas eu quero vir para cá, quero que vocês conheçam minha vida, quero compensar pelo meu erro. – Eles sorriram.
- Um passo de cada vez, querida! – Minha mãe sorriu. – Tudo vai se encaixando. – Assenti com a cabeça.
- Eu tentei procurar por você, querida, pela internet, mas não achei nada. – Meu pai falou e eu respirei fundo.
- Talvez seja porque eu tive que mudar meu sobrenome. – Eles franziram a testa. – Quando eu fui embora, Spike foi atrás de mim algumas vezes, ele não queria terminar, ele insistia que eu deveria ficar com ele, então, no momento que eu cheguei em Nova York, eu dei entrada para mudar o sobrenome. – Dei de ombros. – Foi aí que eu comecei a me afastar de quem eu era para me tornar adulta. – Minha mãe sorriu.
- Bem, águas passadas não movem moinhos. – Meu pai falou, se levantando. – Vamos conhecer aquele pessoal, eu quero conhecer minha neta, meu genro, fazer algumas bananas fritas para você. – Abri um sorriso.
- Você ainda gosta, querida? – Minha mãe perguntou.
- Eu amo! – Ri fraco. – E a olla de carne. Brigite trabalha em casa, eu a ensinei a fazer. – Eles riram. – Tem coisas que a gente nunca muda.
- Eles sabem sobre tudo? – Minha mãe perguntou.
- Sim, eu confio nesse pessoal cegamente. – Sorri.
- Vamos conhecê-los, então! – Eles falaram e eu sorri, voltando para dentro de casa com eles.

***


- Bem, querida, vocês três podem ficar no seu quarto mesmo. – O pai de falou. – E seus amigos se dividem entre o escritório e a sala. Pode ser?
- Claro! – Bruce falou. – Eu posso ficar aqui no sofá, sem problemas.
- Perfeito, eu vou subir porque eu estou acabada. – falou e eu assenti com a cabeça.
- Qualquer coisa só chamar. – O pai de falou e ela sorriu. – Boa noite, querida. – Eles se abraçaram rapidamente.
- Boa noite, gente! – A mãe dela falou, abraçando-a também e eu suspirei.
- Vamos também! – Ela se virou para mim e eu sorri. - Vocês podem usar o banheiro aqui de baixo, varal fica lá fora. – suspirou. – Acho que nada mudou mesmo. – Eles sorriram.
- É bom te ver feliz, chefia! – Lily falou e sorrimos junto.
- Nova versão de Piedrafita Weddburgh. – Ela falou sorrindo. – Sem estresses. – Eles sorriram e Ellie começou a aplaudir animada.
- em breve. – Falei e ela riu fraco.
- Oh, vamos pensar sobre isso depois! – Ela falou e eu sorri.
- Essa é a minha garota! – Falei e ela riu.
- Bem, boa noite, gente. Qualquer coisa estamos lá em cima. – falou e pegamos nossas malas no meio da sala e subimos os degraus da casa dos pais de .
O andar lá de cima só tinha um longo corredor com três portas. O quarto dos pais de ao fundo, um banheiro do lado direito e o quarto de do lado esquerdo. Paramos na porta fechada e passou a mão no seu nome desenhado em rosa com uma caligrafia perfeita, a sua caligrafia. Ela empurrou a porta com a ponta dos dedos e se desmanchou em lágrimas quando ligou as luzes.
O quarto era pintado inteiro de rosa, somente os gessos do teto eram brancos. No meio do mesmo tinha uma cama de casal bem arrumada com uma colcha florida e uma mesa de cabeceira de cada lado. Do lado esquerdo uma escrivaninha com uma cadeira também rosa à sua frente e do lado direito uma cômoda branca com cinco gavetas. Espalhado pelo quarto tinha fitas, fotos, pôsteres.
- Você tem um pôster do Ricky Martin? – Falei, entrando no mesmo e ela riu.
- E do Enrique Iglesias, não vamos esquecer! – Ela falou, rindo. – Eles são demais até hoje. – Suspirei. – Nada mudou. – Ela suspirou, se sentando na beirada da cama, passando os olhos por tudo e dando um longo suspiro em seguida. – Bem, vamos nos arrumar, ok?! Ellie, querida, quer tomar banho antes? – Ela assentiu com a cabeça.
- Eu estou sentindo um cheirinho e acho que vem de mim. – Gargalhei junto de que abriu sua mala, procurando pela sua nécessaire entregando para Ellie, junto de uma toalha branca.
- Precisa de ajuda? – Ela perguntou.
- Ei, mãe, eu já tenho treze anos. – Ela falou, tirando os sapatos no canto do quarto e seguiu para a porta, fechando a mesma.
- Ela já tem treze anos. – falou, revirando os olhos e eu ri, vendo-a se sentar na cama, tirar seus sapatos e encostar as costas na parede.
- Está tudo da forma que você deixou? – Perguntei, me sentando ao seu lado e ela pareceu pensar um momento antes de se debruçar sobre a cama e olhar embaixo da mesma, voltando à sua posição anterior.
- É, o secador que eu usei para fingir minha febre ainda está aqui. – Falei e a abracei de lado, rindo fraco. – Vendo tudo isso, você não tem noção de como eu me arrependo. – Ela me abraçou, encostando a cabeça no meu ombro. – Se eu soubesse que eles parariam suas vidas só para me esperar, eu não teria feito nada disso.
- Passou, , pensa no futuro agora, ok?! – Falei, suspirando. – Não adianta ficar se cobrando por algo que não vai voltar. Tenta consertar daqui para frente. – Ela assentiu com a cabeça, suspirando.
- Sim, pelo menos eu tive a chance de te conhecer no meio disso tudo. – Sorri. – Você me tornou alguém totalmente diferente, .
- Por que você diz isso? – Perguntei.
- Eu aceitei casar contigo só com seis meses de namoro. – Ela ergueu os olhos para mim e eu ri. – Isso não é algo que Weddburgh faz. – Ri fraco.
- Mas Piedrafita faz. – Falei, ela suspirou.
- Sabe o que Piedrafita faz também? – Ela perguntou, se endireitando na cama, ficando de frente para mim.
- O quê? – Perguntei.
- Ela foge! – Ela sorriu e eu franzi a testa.
- Não entendi. – Suspirei.
- Por que não nos casamos aqui? – Ela perguntou.
- Você está brincando! – Falei e ela negou com a cabeça.
- Todas as pessoas importantes da nossa vida estão aqui... – Ela parou por um segundo. – Bem, menos os seus pais. – Ela balançou a cabeça. – Esquece, isso é loucura!
- Não, eu gostei! – Falei sorrindo. – Podemos casar na praia, com essa água azul maravilhosa do caribe. – Suspirei. – Meus pais estiveram comigo todos os dias da minha vida, eles podem estar no nosso casamento no civil. – Dei de ombros e ela sorriu.
- Você realmente está considerando isso? – Ela perguntou.
- Você que é a cerimonialista aqui. – Falei. – Eu que deveria perguntar isso. – Segurei sua mão. – Você tem certeza que não quer um grande casamento incrível com todos seus amigos e imprensa babando em você? – Ela riu fraco.
- Depois de fazer vários casamentos, diversos tipos de decoração em diversos lugares e horários, eu decidi que se eu fosse me casar, seria do jeito mais simples possível, talvez num fórum, com duas testemunhas e só. – Ri fraco, balançando a cabeça.
- Eu nunca esperei ouvir isso, sabia? – Perguntei, entrelaçando meus dedos nos seus.
- Eu deixo para ser complicada em outras situações. – Gargalhei, apertando-a contra meu peito.
- Ok, mas acho que a gente pode fazer algo um pouquinho mais extravagante, que tal? – Ela colocou a mão no queixo, fingindo que estava pensando.
- Eu tenho que me consultar com a minha assistente lá embaixo. – Ela falou rindo. – Mas você sabe falar em espanhol, certo? – Ela perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Sí! – Falei e ela sorriu.
- , fecha os olhos! – Ellie entrou no quarto enrolada na toalha e eu fechei os olhos. – Eu esqueci de pegar roupa.
- Ah, querida! – Mantive meus olhos fechados, somente ouvindo os barulhos vindo do movimento das duas e logo elas me cutucaram.
- Pode abrir! – Ellie falou e eu a notei de pijama, com a toalha presa em seu cabelo. – Então, o que vocês estavam falando? – Ela se sentou no meio da cama, se arrastando até ficar no meio de nós dois.
- O que acha de nos casarmos aqui em Puerto Limón? – perguntou para ela. – Em alguns dias.
Ellie teve a reação mais fofa de todas, ela colocou as mãos sobre a boca, soltando alguns gritinhos que ela costumava dar e pulou no colo de , abraçando-a fortemente, me fazendo gargalhar.
- Oh, meu Deus, eu preciso contar isso para Lily! – Ela ficou em pé na cama e pulou. – Você ainda não contou para ela, contou? – Ela perguntou e riu.
- Ainda não! – Ela falou.
- Lily! – Ellie pulou da cama e saiu correndo do quarto, me fazendo gargalhar.

***


- Eu nunca pensei que isso aconteceria, sabia? – Virei o rosto para meu pai, notando que seus olhos estavam marejados.
- Nem eu, confesso. – Suspirei, vendo-o sorrir.
- Vamos fazer isso acontecer, então? – Ele perguntou e eu assenti com a cabeça, segurando o pequeno buquê de orquídeas rosas improvisadas do jardim da minha mãe.
- Vamos! – Suspirei e meu pai tirou o carro da garagem, seguindo para Playa Bonita.
- Eu poderia te encher de perguntas, perguntas se esse cara é o certo para você ou algo assim, mas eu acho que eu não estaria sendo justo. – Ele falou, enquanto olhava para a rua.
- Por quê? – Perguntei.
- Primeiro que eu odiava seu antigo namorado desde que eu o conheci. Esse eu já gostei desde que eu o conheci. – Ri fraco. – E, pelo que você me contou, sua força, sua história, suas conquistas, se você permitiu que ele namorasse contigo, é porque ele realmente um cara bom. – Assenti com a cabeça.
- Mas antes de tudo, pai, ele é bom para Ellie, ela que juntou a gente, na verdade. – Dei de ombros. – Ela é a minha vida, e ele tornou a vida dela melhor. – Ri fraco. – Ele vai adotá-la, pai, que cara faz isso com uma criança que não é dele? – Senti meus olhos marejarem.
- Um cara que te ama muito, querida. – Ele segurou minha mão ao seu lado. – E é esse um dos motivos que eu gosto dele, ele te faz feliz. – Sorri, suspirando.
- Eu pensei que eu me casaria com uns 25 anos, 30, não depois dos 40. Minha vida foi totalmente errada. – Suspirei.
- Quem disse, querida? – Ele virou para mim. – Você é independente, poderosa, coloca comida na mesa da sua casa, paga uma educação de qualidade para sua filha, nunca deixou faltar saúde para ela, cuidados, proteção. – Ele deu de ombros. – Sua vida está perfeita! – Ele falou. – Casamento é só uma celebração de amor, ficar juntos pelo resto da vida, são vocês que fazem. – Assenti com a cabeça, sorrindo.
- Obrigada, pai! – Falei, virando para o lado e notando a orla da praia a nossa direita.
- Pronta para isso? – Ele perguntou e eu respirei fundo.
- Vamos lá! – Ri fraco.
Olhei para longe e vi o pequeno arco de flores montado em um canto mais afastado na areia da praia. Eu podia ver o juiz de cerimônia no meio, junto dele e Bruce, Brigite, Lily, Fiorella e minha mãe ali. Meu pai desceu do carro e me ajudou a sair do mesmo e Ellie saiu do banco de trás.
Ellie usava um vestido branco de mangas curtas e seus sapatos de boneca brancos, seu cabelo estavam solto em seus ombros, somente com uma fivela em formato de flor presa na parte de trás da sua cabeça. Ela se colocou em minha frente e segurou minha mão fortemente, assentindo com a cabeça, dando um largo sorriso.
- Você está linda, mamãe! – Ela falou e eu sorri, assentindo com a cabeça, vendo-a ajeitar a barra do meu vestido.
- Adequado? – Perguntei e ela assentiu com a cabeça.
- Com certeza! – Ri fraco, me abaixando um pouco e sentindo-a me abraçar fortemente. – Eu estou feliz por você. – Assenti com ela.
- Você gosta do ? Você está feliz com isso tudo, querida? Que eu posso desistir de tudo por você. – Ela deu um sorriso de lado, passando a mão embaixo do rosto.
- Eu gosto do , mãe. – Ela puxou o ar fortemente. – Ele é um pai para mim e ele te ama muito. – Assenti com a cabeça. – Eu não quero que a gente fique sozinha mais. – Ela respirou fundo. – Casa sim, mãe. Vai mudar tudo, eu sei, mas ele é bom. – Assenti com a cabeça, sorrindo. – Ele sempre foi bom, você só não via isso. – Ri fraco, balançando a cabeça.
- Vamos então, querida, antes que eu fuja! - Ela gargalhou.
- Weddburgh fugindo de um casamento? – Sorri, abraçando-a de nada.
- Não, com certeza não! – Falei, olhando para frente, passando as mãos embaixo dos olhos e sentindo o vento forte do fim do dia bater contra meu corpo.
- Prontas? – Meu pai perguntou e Ellie se colocou prontamente em minha frente.
- Prontas! – Ela falou e eles olharam para mim.
- Prontas! – Suspirei. – Pode ir, Ellie.
- Você que manda, cerimonialista. – Abri um largo sorriso e pisei na areia, conferindo se o salto grosso do sapato branco não afundaria na mesma, mas ele se manteve bem.
Não teve música, não teve orquestra, nem filmagem, e as câmeras fotográficas eram celulares, mas o som das ondas e o vento em meu rosto já foi minha orquestra pessoal. Fui me aproximando deles aos poucos, a extensão de areia era bem grossa onde estávamos e ia se afinando para onde os turistas ficavam.
tinha colocado as mãos na boca quando eu me aproximei e notei os olhos de todos os convidados marejados, inclusive o meu. Podia sentir meu nariz fungando, não sei se era a emoção ou se era o vento em meu rosto.
Ellie seguiu na frente, jogando pétalas de orquídeas na areia da praia, que acabavam seguindo seu caminho pelo vento antes de tocar no chão. deu dois passos para frente, cumprimentando e abraçando meu pai que deu um beijo em seu rosto e assentiu com a cabeça. Não precisava de palavras para entender o que ele havia dito.
me encarou e eu sorri, sentindo-o beijar minha testa e segurar minhas mãos firmemente, beijando-as rapidamente. Fiz um leve carinho em seu rosto e demos alguns passos para frente, nos colocando na frente do juiz e Ellie se manteve ao meu lado, junto de Brigite.
- Boa tarde, senhores. – Ele começou a cerimônia em espanhol. – Estamos reunidos aqui para juntar Piedrafita e II. – Sorri, respirando aliviada.
O juiz seguiu a cerimônia, falando algumas passagens bonitas da bíblia e as palavras de ordem necessárias no casamento civil. Incluindo que esse casamento teria validade tanto na Costa Rica quanto nos Estados Unidos.
- Como essa é uma cerimônia diferente, acho que seria justo o casal dizer algumas palavras. – Sorrimos e eu respirei fundo.
- Bem, acho que Ellie, Lily e Brigite não esperavam que isso acontecesse, nunca, na vida. – Eles riram. – Quando eu fiz a decisão de me fechar para o mundo, a gente pensa que as coisas serão simplesmente fáceis, que você tem o coração de chumbo, que ninguém nunca vai te atingir pelo simples fato que você não quer. – Dei de ombros. – Mas isso não é verdade. – Suspirei. – Quando eu encontrei , estávamos em situações totalmente diferentes, nossa maior relação era dividir o corredor do nosso andar do prédio e nem nisso a gente se dava bem. – Eles riram. – Mas por uma decisão ridícula desse cara e da sua querida irmã. – Fiorella colocou as mãos no rosto. – Nós tivemos que trabalhar juntos. – Suspirei. – E naquela época, eu notei um que eu nunca tinha me dado ao trabalho em descobrir. – Balancei a cabeça. – preocupado, incrível, maravilhoso, carinhoso e que me confrontaria para me fazer feliz. – Suspirei. – Eu nunca esperei isso dele. – Sorri, apertando suas mãos nas minhas. – Mas o mais importante foi que Ellie gostava dele. – Virei para ela. – Eu não poderia ficar com alguém que minha filha não aprovasse ou que não a faria feliz também. – Suspirei. – É por tudo isso e mais um pouco que eu saí da minha concha e aceitei entrar nessa aventura contigo. – Ele sorriu, assentindo com a cabeça. – Eu te amo, . – Suspirei. – E eu vou te amar para sempre. – Ele suspirou, apertando suas mãos.
- Quem diria que a rainha de gelo era boa com as palavras? – Ele falou, me fazendo gargalhar e mostrar a língua para ele. – Bem, como ela contou nossa linda história de amor, eu vou seguir daí. – Ele balançou a cabeça. – Acho que eu deveria falar que nossa relação começou por causa de Ellie mesmo. – Ele falou. – Essa menina ficava zanzando por aí, procurando alguma alma para conversar ou brincar com ela. – Rimos juntos. – E foi aí que nossa relação começou, quando realmente se abriu para mim, quando começamos a namorar, algumas pessoas falaram que seria difícil e não foi porque é a pessoa mais difícil do mundo em se abrir, mas porque ela tinha uma filha. – Virei para Ellie. – Mal eles sabiam que eu gostava mais da filha do que da mãe. – Rimos juntos. – Então, além de prometer que eu te amarei pelo resto da sua vida, , eu devo fazer algumas declaração para a Ellie. – Ele esticou a mão para ela, e ela veio para perto. – Você é a minha melhor amiga. – Ele falou. – Você me ajudou, me entendeu, ouviu meus problemas e sempre com um sorriso no rosto e uma felicidade intrigante, mas agora nossa relação mudou. – Ele assentiu com a cabeça. – Eu escolhi ser seu pai. – Ele sorriu. – Mas eu quero que você saiba que isso não vai mudar nossa relação, nós ainda nos ajudaremos, entenderemos, discutiremos nossos problemas e você ainda vai puder puxar minha orelha. – Ela sorriu. – E eu vou puxar a sua quando for preciso, vou te colocar na sala para falar do seu namorado, vou aplaudir sua linha de roupas e vou deixar você me usar como manequim. – Ela riu fraco. – Eu te amo, querida. E eu não estaria entrando nesse barco, se eu não soubesse que você é a parte mais importante dessa história toda. – Ele se abaixou, beijando a mão dela. – Eu estou casando com a sua mãe, mas eu também estou me comprometendo contigo, todos os dias das nossas vidas. – Ela assentiu com o rosto vermelho e abraçou fortemente, me fazendo respirar fundo. – Eu amo vocês. – Ele se levantou novamente e olhou para mim. – Eu te amo. – Ele falou para mim e eu assenti com a cabeça.
- , você aceita como seu legítimo esposo, para amar, respeitar e compartilhar todos os momentos da sua vida na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte os separe? – O juiz perguntou.
- Sim! – Falei sorrindo.
- , você aceita como sua legítima esposa, para amar, respeitar e compartilhar todos os momentos da sua vida na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte os separe? – O juiz perguntou.
- Sim! – Ele falou, sorrindo para mim.
- Pelo poder investido em mim pela Costa Rica, eu os declaro marido e mulher. – O juiz falou e eu sorri, sentindo algumas lágrimas solitárias escaparem pelo meu rosto. – Você pode beijar a noiva.
se aproximou de mim e colocou a mão em minha cintura. Ergui as mãos para seus ombros e colamos nossos lábios em um beijo delicado, ouvindo as pessoas à nossa volta aplaudirem, e a voz fina de Ellie gritar por nós. O beijo foi curto, pois foi interrompido por eles jogando arroz em cima de nós, nos fazendo rir.
pegou Ellie no colo e nos abraçamos fortemente, me fazendo distribuir diversos beijos no rosto de minha filha que não tirava o sorriso de seus lábios, o que dava uma alegria imensa em meu coração.
- Obrigado! – falou para o juiz, nos cumprimentando. – Janta conosco? – Ele perguntou e o juiz assentiu com a cabeça.
- Mãe, você tem que jogar o buquê. - Ellie falou, voltando para o chão novamente e eu ri.
- Oh, meu Deus, claro! – Vi todos os convidados da festa se colocarem atrás de mim, me fazendo rir, até Ellie se espremeu entre eles e Bruce fingia que entraria em sua frente, não deixando que ela passasse. – Vou jogar! – Falei, ficando de costas, respirando fundo. – No três! – Falei.
- Um! – Eles gritaram juntos. – Dois! – Gritaram novamente, e eu movimentava a mão, fingindo que jogaria. – Três! – Falei, jogando-o para trás, virando o rosto rapidamente, a tempo de ver o buquê cair nos braços de Brigite, me fazendo colocar as mãos na boca emocionada.
- Ah! – Ellie gritou animada, aplaudindo loucamente, correndo novamente para meus braços.
- Agora vai ter que casar! – Gritei para Bruce que riu, se aproximando de Brigite.
- Eu caso! – Ele falou, se aproximando de Brigite e dando um longo beijo nela, fazendo com que todo mundo risse animado. – Eu caso todos os dias se for preciso! – Abracei de lado, vendo com um largo sorriso no rosto, balançando a cabeça.
- Esse é o melhor dia de todos. – Ellie falou e eu a abracei de lado, apertando-a contra meu corpo.

***


- O que posso servi-los? – O garçom apareceu na nossa mesa de dez pessoas e paramos de rir.
- Eu posso pedir para todo mundo? – perguntou e eles se entreolharam.
- Você é daqui! – Lily falou e riu.
- Que tal uma paella valenciana, mãe? – perguntou e sua mãe abriu um largo sorriso.
- Você ainda lembra! – Ela falou rindo.
- Lembro e amo! – olhou rapidamente um cardápio. - Você consegue uma paella valenciana para dez? – Ela perguntou para o garçom.
- Com certeza, senhora. – Ele falou e ela sorriu.
- Pode trazer então, traga quatro garrafas do seu melhor vinho e um refrigerante. – Ela falou, olhando para Ellie. – Hoje eu deixo!
- Eba! – Ellie falou animada, me fazendo rir.
As taças foram preenchidas com o vinho, o cheiro da uva chegou às nossas narinas e as piadas e brincadeiras começaram. Ellie estava soltinha ali, acho que eu nunca tinha visto ela interagindo tão bem.
Eu e ocupamos uma ponta da mesa e ela se sentou entre José e Marissa e parecia contar tudo sobre sua vida, mas ou podia ouvir ela falando bastante sobre sua paixão por costura, dos seus modelos e das suas aspirações.
O cheiro da paella animou a todos quando uns três garçons trouxeram um tacho grande o suficiente para nós dez. Mentira, acho que dava para muito mais. Eles serviram os pratos com grandes camarões, que eu acho que eu não tinha visto camarões desse tamanho, mesmo nos restaurantes mais caros de Nova York.
- Só o camarão é a refeição inteira, não? – Fiorella perguntou e eu ri, balançando a cabeça.
- Esses peixes vem daqui, gente! São pescados aqui! – falou, começando a comer em seguida.
- Quais as chances da Ellie ser alérgica, querida? – arregalou os olhos.
- Por quê? Ela está empipocando? – O pai dela correu acalmá-la.
- Não, não, só para saber, porque ela tá comendo bem. – Rimos juntos.
- Não, não, ela tem algumas alergias, mas camarão não é uma delas. – balançou a cabeça e eu sorri, abraçando-a de lado. – Eu me certifiquei quando escolhi o espermatozoide. – Rimos juntos.
- Como foi essa escolha? – Bruce perguntou e eu revirei os olhos. – É uma lista e você escolhe?
- Cara, que inconveniente. – Falei e riu ao meu lado.
- Não, sem problemas. – falou. – Eles me dão algumas fichas com as características físicas, alergias e anomalias dos doadores, e você escolhe. – Ela deu de ombros. – O que eu escolhi falava que ele tinha um metro e 78, loiro, era publicitário, tinha 36 anos na época, alergia a morangos e algumas castanhas... – Ela deu de ombros. – E a saúde impecável, que era o que eu realmente procurava, na verdade.
- Isso é... Estranho. – Bruce falou e riu.
- Eu só queria uma filha e queria ficar grávida, então esse me pareceu o jeito mais ético de fazer, digamos assim. – Rimos juntos.
- E, desculpa a pergunta, você nunca quis procurar quem é seu pai, Ellie? – Fiorella perguntou e viramos para Ellie.
- Por quê? – Ela deu de ombros. – Eu já tenho minha família, não tenho? – Abri um sorriso, olhando para .
- Essa é a minha filha! – falou rindo e ambas ergueram as mãos como se fossem dar um high five, mas que não conseguiram pela distância da mesa. – Afinal, esses doadores são secretos, tem maior processo caso ela queira ir atrás um dia.
- Estou bem, obrigada! – Ellie falou, voltando a falar alguma coisa com seus avós, me fazendo rir.
- Acho que eu quero aproveitar esse momento e fazer um brinde. – Lily se levantou com sua taça e ficamos em silêncio, olhando para ela. – Eu acho que de todos vocês, eu sou a que conheço a mais tempo. – Ela falou. – Eu entrei na empresa dela bem na época que ela estava decidida a ter uma criança. – Ela falou. – Eu era nova na sua empresa, mas eu era sua assistente, então nós ficamos muito tempo próximas e eu acompanhei todas as suas loucuras, suas histórias, ela me contou seus motivos, isso envolveu toda a história sobre a fuga da Costa Rica... – Ela riu sozinha. – Daria um ótimo filme. – Ri sozinho, balançando a cabeça. – Enfim, então, além de eu ser assistente dela, eu vi ela crescer, eu vi ela se endurecendo cada vez mais, com exceção de Ellie, que ela sempre foi um amor. – Ela sorriu. – Então ver aqui, no meio do caribe, de certa forma fugindo para casar, sem nenhum preparo grandioso e se comprometendo com alguém além de Ellie. – Ela suspirou. – Como sua empregada há quinze anos e sua amiga, eu posso dizer que eu nunca estive tão orgulhosa e tão feliz em fazer parte da sua vida. – Ela sorriu para . – Você largou todos seus protocolos e suas questões e foi ser feliz. – Ela respirou fundo. – E é isso que importa, não? – Ela riu fraco – Então pare de esquentar a cabeça com tudo, pare de acordar antes do sol nascer, aproveite seu tempo com Ellie e com que eu só quero te ver feliz. – sorriu e eu a abracei de lado.
- Acho que você está certa, Lily, obrigada! – suspirou, andando até Lily e a abraçou fortemente. – Você me deu uma ótima ideia. – Ela segurou as mãos de Lily.
- O quê? – Lily perguntou.
- Você sabe que eu nunca te promovi pela simples questão da confiança que eu criei em você em todos esses anos. Então, ter que procurar outra assistente e começar tudo de novo, não estava nos meus planos e você aceitou pelos seus motivos, mas você é uma relações públicas. – Ela riu, aceitando com a cabeça. – Mas que tal você se tornar cerimonialista chefe? – Ela perguntou e Lily arregalou os olhos. – Eu passo exclusivamente para a área administrativa e você cuida da linha de frente?
- Você está zoando, não está? – Lily perguntou. – Você caiu e bateu a cabeça, não foi? – riu.
- Deve ser a água do caribe, mas eu estou falando sério. Como você disse, tenho que passar um tempo com a minha família e com meu marido mesmo.
- Ah, meu Deus! – Lily se empolgou, abraçando fortemente. – Vamos conversar sobre isso quando voltarmos para Nova York, mas sim. – Ela assentiu com a cabeça. – Eu quero sim. – Sorrimos e voltou a se sentar ao meu lado.
- Vou pedir para minha assistente marcar a reunião. – Ela piscou para Lily.
- Opa! – Bruce se ajeitou rapidamente na cadeira ao meu lado, pegando seu celular no bolso. – É a Karen! – Ele falou, franzindo a testa e colocando na orelha.
- Karen...? – Brigite perguntou.
- Vice-prefeita! – Eu e falamos juntos, rindo do ciúmes dela.
- Fala, Karen! – Bruce falou. – Espero que seja algo importante, eu vou pagar um roaming federal por causa dessa ligação. – Ri fraco, balançando a cabeça. – Sério?! – Ele gritou empolgando, se levantando da cadeira. – Sim, me manda, por favor! Ele vai adorar saber isso. – Bruce parou para ouvir. – Aqui está tudo bem, voltamos no domingo, isso! Beleza, obrigado! – Ele falou, desligando a ligação rapidamente.
- E aí? – Perguntei.
- Segura esse pensamento! – Bruce falou, encarando o celular como se ele fosse explodir, até que o mesmo apitou. – Chegou! – Ele falou, abrindo rapidamente o mesmo e se levantando correndo do mesmo. – É para você, senhorita Ellie! – Ele entregou o celular para a mesma que demorou um pouco para ler, franzindo a testa por alguns segundos e dando um grito alto que fez o restaurante inteiro olhar para gente e gargalharmos juntos.
Ela se levantou correndo do seu lugar e veio em minha direção, me abraçando fortemente e eu notava que ela chorava em meus ombros. Toquei a cabeça dela delicadamente, dando beijos na mesma e puxou o telefone da sua mão, o olhando e abrindo um largo sorriso. Seu nariz imediatamente ficou vermelho, como ficava quando ela chorava.
- Saiu a nova certidão de nascimento dela. – Ela me mostrou a imagem. – Papai. – Ela falou para mim, respirando com dificuldade e eu comecei a chorar imediatamente, apertando-a contra meu corpo.
- Você pode me chamar como você quiser, ok?! – Falei para Ellie.
- Ok! – Ela falou, passando as mãos no rosto e limpando as lágrimas do mesmo. – Mas se você não se importar, pode ser papai? – Ela perguntou e eu assenti com a cabeça, apertando-a novamente em meus braços.
- Pode sim, minha filha! – apertou meus ombros, encostando a cabeça no mesmo e eu respirei fundo, afundando meu rosto em seus braços.

***


- Acho que está tudo aqui! – Meu pai falou quando saiu de casa com a última mala, entregando-a para Bruce que a colocou no carro.
- Acho que é isso! – Mamãe falou, olhando para meus novos avós.
- Vão em segurança, ok?! – Minha avó falou. – Nos avisem quando chegar lá, só nos mantenha informada, ok?! Pelo resto da sua vida. – Minha mãe riu, abraçando-a fortemente.
- Pode deixar! – Minha mãe falou sorrindo, passando as mãos embaixo do rosto, como ela fazia quando chorava.
- Cuida dela, rapaz! – Meu avô falou para meu pai, me fazendo rir, e eles se abraçaram.
- Pode deixar, sogrão! Ela é uma carga preciosa. – Mamãe gargalhou ao seu lado, me fazendo rir, balançando a cabeça.
- E você, querida! – Meu avô me pegou em seu colo e eu passei as mãos em seu pescoço, abraçando-o fortemente. – Se cuida, ok?! Pode ligar para gente sempre que quiser e pode vir visitar quando quiser também. – Assenti com a cabeça, apertando-o fortemente.
- Obrigada, vô! – Falei, sorrindo. – E vocês vão me visitar também, ok?! – Falei, sendo colocada no chão novamente e abraçando minha avó.
- Vamos no Natal, minha princesa. – Vovó falou. – Está bom para você? – Franzi a testa.
- Está um pouco longe, mas ok! – Falei e eles riram. – Eu gostei muito de conhecer vocês. – Falei, sorrindo.
- Nós também, querida! – Meus avós se abraçaram de lado, me fazendo suspirar.
- Vamos indo, temos que chegar em San José ainda. – Papai falou e eu dei mais um forte abraço em meus avós, estalando um beijo em cada um deles.
- Amo vocês! – Falei, seguindo para dentro do carro, enquanto o pessoal se despedia deles também.
Mamãe ficou por último. Ela os abraçou fortemente, derramando diversas lágrimas nos ombros de ambos e eles não quiseram se soltar por muito tempo. E quando se soltaram, mamãe ficou um tempo olhando para os lados como se quisesse guardar a memória daquela casa linda para sempre. Eu também queria, confesso, aquele país era maravilhoso.
Mamãe entrou no carro com lágrimas nos olhos, colocou o cinto de segurança e segurou a mão de seu pai quando ele apoiou no carro do lado de fora, fazendo com que ambos sorrissem felizes e tristes ao mesmo tempo.
- Volte quando quiser, ok?! – Ele falou. – Estaremos te esperando. – Mamãe assentiu com a cabeça e virou o rosto para o papai.
- Podemos ir! – Mamãe falou, erguendo a mão do vovô, dando um beijo na mesma e o carro começou a andar, fazendo com que eu abanasse para a vovó de um lado e para o vovô do outro.
Me encostei no banco de trás novamente e passei o cinto de segurança no meio, respirando fundo. Observei papai segurar a mãe da mamãe e dar um beijo na mesma, abrindo um largo sorriso para o mesmo e soltando um longo suspiro.
- Está tudo bem? – Ele perguntou.
- Está sim, . – Ela respirou fundo. – Acho que eu nunca me senti tão leve na minha vida. – Ela respirou fundo, balançando a cabeça.
- Por quê? – Perguntei, tentando me aproximar deles, mas fiquei presa pelo cinto.
- Pela primeira na vez vida, eu não tenho preocupações nenhuma. – Ela falou, virando para trás. – Nenhuma mesmo. – Abri um sorriso, respirando fundo.
- Vamos começar novas, então! – Papai falou e eu gargalhei, vendo mamãe tentar atingi-lo com a mão.
Me encostei no banco de trás novamente e virei meu rosto para a orla da praia de Puerto Limón. Nome engraçado para uma cidade, mas era onde ficava o começo das minhas raízes. De pensar que tudo havia começado ali. Que minha mãe havia tomado a decisão mais radical da vida dela... Bom, segundo o vovô.
Na minha opinião, a decisão mais radical dela não havia sido fugir, ou me ter sozinha, foi ter se deixado abrir. Pensar naquela pessoa no começo do ano passado e pensar nela agora, novamente, segurando nas mãos de um homem e rindo até falar chega das músicas em espanhol que tocavam no carro? Em outro tempo eu poderia falar que isso nunca aconteceria, mas aconteceu.
E eu tenho muito orgulho de dizer que minha mãe é a , não a Weddburgh que todo mundo conhece, ama e idolatra, confesso que eu a idolatro também, quem não? Mas eu tenho orgulho da Piedrafita. Ok, assumo, é outro sobrenome engraçado, mas ela fez tanta coisa nesses últimos meses, que até eu não acreditaria se não vivesse com ela todos os dias da minha vida.
Mas o mais importante é que ela se abriu. Aquela mulher forte e poderosa, de pedra, que só sorria para mim, começou a sorrir para os outros também e encontrou a felicidade em outras coisas, não só no trabalho dela.
E eu ganhei um pai. Não que fosse algo que eu me preocupava. Ok, era difícil ouvir as outras crianças perguntando quem era meu pai ou rir que eu vim do vidro, como alguns idiotas falavam, mas era bom ter alguém para dar um beijo na minha mãe no fim do dia e me colocar na cama de vez em quando.
Acho que mesmo se isso não fosse colocado no papel, nós somos uma família, não preciso de um documento para me dizer isso, eu consigo sentir em meu coração.
- Ellie, quer um sanduíche, querida? – Minha mãe perguntou, estendendo um dos sanduíches do vovô e eu sorri, pegando-o com as mãos. – No que você está pensando? – Ela perguntou, virando o rosto para mim. – Você não é tão quieta assim. – Ri fraco.
- Tô pensando em você, mamãe. – Falei, sorrindo.
- Em mim? – Ela perguntou.
- Sim. – Sorri. – Em como você está feliz. – Mamãe abriu um largo sorriso
- Isso é bom? – Ela perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Muito! – Sorri e ela piscou para mim, voltando o rosto para frente, me permitindo soltar um longo suspiro, dando uma mordida no sanduíche.

(You should know, I'm the one who's in control, but I'll let you come take the wheel long as you don't forget who got the power. - Você deveria saber, sou eu quem estou no controle, mas eu deixo você comandar o volante contanto que não esqueça quem tem o poder. - Power, Little Mix).


Epílogo

- Eu tenho que ir, estou atrasada. – Falei, pegando minha bolsa correndo na mesa da sala. – Ellie, você pode ir com ?
- Com o papai e ela pode! – falou, me fazendo rir e eu passei por ambos, dando um rápido beijo na cabeça de Ellie e nos lábios de .
- Não sei por que Lily quer que eu acompanhe uma reunião hoje, casamento de clientes, vai entender. – Balancei a cabeça, conferindo minha roupa novamente.
- Oh, você vai ter uma surpresa hoje. – falou e eu franzi a testa.
- O que é? – Perguntei, batendo os olhos no relógio da parede. – Esquece! Eu descubro! – Falei, correndo para a sala. – Amo vocês! – Falei, saindo correndo de casa e bati a porta.
Apertei o botão do elevador umas três vezes, antes dele abrir em minha frente e eu descer direto para o subsolo. Acabei confundindo as chaves e peguei a de por engano, entrando em seu carro e dirigi até a empresa, obviamente ficando presa no trânsito por vários minutos, vendo o tempo andar rápido em meu relógio.
Os seguranças do prédio empresarial fizeram questão de deixar todas as entradas disponíveis para que eu passasse, até eles sabiam que eu estava atrasada. Vi meu logo aparecer na minha frente e andei pelo corredor da empresa, cumprimentando alguns funcionários que passavam por mim e segui para a sala do fundo, a minha antiga sala.
- Bom dia, Nathan, tudo bem? – Coloquei minha bolsa na antiga mesa de Lily, recebendo um copo d’água logo que falei isso.
- Tudo bem, senhora Weddburgh. – Ele sorriu, enquanto eu virava o copo inteiro para dentro.
- Eu estou atrasada, não estou? – Ele franziu a testa e eu ri fraco. – Eu sei.
- Lily já começou, mas pediu para você entrar quando chegasse. – Assenti com a cabeça, respirando fundo.
- Quando eu acabar, eu falo contigo, ok?! – Ele assentiu com a cabeça.
- Os relatórios já estão todos prontos, incluindo do pessoal de compras. – Concordei com a cabeça e me aproximei das portas duplas, ajeitando minha saia e dei dois toques na mesma.
- Entre! – Ouvi a voz de Lily e empurrei as portas da mesma.
- Você disse que precisaria de uma consultoria. – Falei com o tom de voz baixo, notando que os clientes já estavam lá.
- Sim, porque eu acho que você os conhece melhor do que eu. – Lily falou e os noivos se levantaram, se virando em minha direção.
- Oh, meu Deus, vocês aqui? – Sorri para Brigite e Bruce, correndo abraçá-los. – Oh, gente, como eu sempre quis isso! – Apertei Brigite em meus braços, respirando fundo. – Quando você pediu? – Virei para Bruce, abraçando-o também.
- Ontem à noite, na verdade. Mas eu conversei com a Lily há alguns dias, pedindo para ela guardar um lugarzinho para gente. – Balancei a cabeça.
- Ah, gente! – Coloquei as mãos no rosto. – Estou tão feliz por vocês.
- Obrigada, ! – Brigite falou e eu respirei fundo.
- Então, vamos trabalhar um pouco? – Virei para Lily que riu. – Temos um casamento para fazer!
- Vamos lá! – Bruce falou, sorrindo para Brigite e eu dei um longo suspiro, sorrindo para Lily.





Fim!



Nota da autora: Chegamos ao final dessa história maravilhosa que encheu meu coração! <3 Essa história, além de ter sido inspirada na música da Little Mix, também é meio que um apelo ao meu futuro. Já que eu nunca namorei e tal e espero encontrar o amor, nem que seja mais velha. Além de que meus planos é ser uma empresária tão foda quanto a senhora Weddburgh!
Obrigada a você que chegou até o fim, espero que tenha gostado, se emocionado, tido vontade de me matar e tudo mais, porque assim eu sei que você se emocionou e viveu junto da história!
Como eu sempre digo: nunca diga nunca, que talvez no futuro vejamos mais essas carinhas lindas por aí!
Muito obrigada mesmo a todos vocês que colocaram a fic no top, quase ganhou em várias categorias, indicaram ela, comentaram, acompanharam e chegaram ao final! Fico muito feliz com tudo isso!
Aguardarei ansiosamente seus comentários aqui embaixo.
Caso queira saber novidades dessa fanfic ou das próximas, você pode me encontrar no meu grupo do facebook.
E caso queira conhecer todas as minhas fanfics, venha na minha página de autora.
Beijos e espero vocês na próxima!





Nota da beta: AAAAAA que lindinhos, meu Deus. EU amei tudinho, essa fic tem uma pegada tão gostosa que quando a gente lê a gente se sente leve. Parabéns pelo encerramento desse trabalho divino, que eu amei muito. Essa pp é muito girl power, forte demais, e segura acima de tudo! Ameei Power, ma-ra-vi-lho-sa! <3 <3 <3

Lembrando que qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.
Para saber quando essa fic vai atualizar, acompanhe aqui.

Ei, leitoras, vem cá! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso para você deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.



comments powered by Disqus