UNO
Mulher decidida sabe o quer
O papo é reto e não tem trelelé
Sexy conquista o que quer, reggae tem samba no pé
O jogo é dela e nunca vai mudar, a arma que ela usa é se valorizar
Essa mina é linda, essa mina é linda de mar
Linda de Mar - Atitude 67
— Você vai pra Barcelona! — Luísa gritou empolgada assim que sua melhor amiga contou a novidade.
— Eu queria ir pra Madri. — se jogou na cama do seu quarto, afundando a cabeça no travesseiro como uma criança que não teve seus desejos realizados. No fundo a sensação era mais ou menos essa, um misto de alegria e, ao mesmo tempo, decepção.
— Ah não , para com isso! — Ela sabia que a amiga tinha ficado brava, afinal, sempre a chamava pelo apelido. Quando Luísa falava o nome todo ou a situação estava feia, ou era mais uma de suas zoeiras. Nesse caso, era a primeira opção mesmo.
— Calma amiga, embora não pareça, eu tô feliz... Vai ser uma oportunidade incrível pra minha carreira, muitos médicos sonham em trabalhar em um time como o Barcelona. — fez uma pausa. — Mas meu sonho era trabalhar no Real Madrid, meu time do coração! — Ela terminou de falar e sua amiga não conteve a risada.
— Ai , você não existe... — Luísa balançou a cabeça negativamente, mas mantendo um sorriso divertido nos lábios ao entender o motivo da “tristeza” da amiga. — Pensa pelo lado positivo, quando tiver jogo com o Real Madrid você provavelmente vai esbarrar com alguém do seu time, e é bem melhor do que trabalhar no Santos como você tem feito nos últimos anos. Apesar de que o Gabigol joga lá e ele é uma gracinha...
— É né sua safada! — jogou uma almofada na amiga. — Você também não reclamou do meu trabalho no Santos quando eu te levei na festa do Campeonato Paulista e você ficou com o Lucas Lima... Agora já tá de olho no Gabigol?
— Que horror, ! Me senti a maior Maria Chuteira agora! — Luísa fez cara de ofendida. — Imagina que louco ser convidada pela MTV pra uma nova versão de “De férias com o ex” só com jogadores de futebol e ter 3 ex na casa tipo a Gabi Prado teve na 2ª temporada? — Ela falou e as duas gargalharam. — Apesar de adorar o programa eu não teria coragem de participar, Deus me livre de pagar micão ou fazer papel de trouxa em rede nacional, até porque no fundo os dois são praticamente a mesma coisa.
— Olha as ideias da pessoa! — falou enxugando as lágrimas dos cantos dos olhos, ela riu tanto que ficou sem ar. Sempre que estava com Luísa era assim, não sabia quem era mais palhaça.
— Mas se o Lucas Lima tiver afim de um remember até que eu aceito viu? — Luísa mordeu o lábio inferior se lembrando do after da festa a qual se referiu e a lembrança era boa. Muito boa, diga-se de passagem.
— Terra chamando Luísa! — estalou os dedos frente ao rosto da amiga, rindo da cara que ela havia feito.
— O assunto aqui é você, não tenta mudar o foco pra mim... Quando você vai pra Barcelona? — Luísa perguntou, retornando ao assunto inicial da conversa entre as duas.
— Daqui duas semanas, Lu. — O tom de voz de mudou de brincalhão para melancólico imediatamente.
— Tão rápido assim? — Luísa entendeu a aflição da amiga, afinal, ela iria mudar de país. Sentiu um aperto no peito, pois ela e eram amigas de infância, nunca tinham ficado separadas desde que se conheceram na escola (há mais de 20 anos, no maternal). Foram pra São Paulo juntas, ela para estudar moda na USP; já , medicina na Unifesp.
— Também fui pega de surpresa, o André me disse que o fisiologista do Barcelona estava com um projeto novo e iria sair de lá, então uniu o útil ao agradável por que eu tava merecendo uma oportunidade como essa, e que quanto mais rápido eu for, melhor. — Ela respondeu contando o que seu chefe tinha dito.
Assim que se formou, se especializou em medicina do esporte e nutrologia. Seu trabalho consistia em analisar a biomecânica do exercício e aliá-la à uma alimentação correta para melhorar a performance de atletas de alto nível. Ela foi contratada pela Nike para potencializar os resultados dos atletas que a fornecedora de material esportivo patrocinava e atualmente desenvolvia um projeto no Santos, mas surgiu a oportunidade de ir para Barcelona.
— Tenho tanto orgulho de você! — Luísa abraçou . — Vai ser a melhor médica esportiva que a Europa já viu, os espanhóis vão se apaixonar por você, até por que os brasileiros já são, você é foda.
— Até parece, Lu... Já disse que eu tenho a melhor amiga do mundo? — sorriu, o apoio da amiga era muito importante para ela, ainda mais em um momento como esse, de mudança radical.
— Hoje ainda não! — Luísa riu e a amiga pulou em cima dela, apertando o abraço.
— Eu amo você sua ridícula, e distância nenhuma vai separar a gente. É só mais uma fase e vamos superar isso juntas, como sempre fizemos! — Luísa fez carinho no cabelo da amiga.
— Sempre juntas.
— Vamos, ? — Luísa gritou pegando a chave do carro, era hora de ir para o aeroporto. Pois é, as duas semanas passaram assustadoramente rápido. fez uma viagem rápida à Goiânia para ver seus pais e seus irmãos, Luísa aproveitou e também foi junto para matar a saudade de sua família.
Nenhuma das duas ficou pensando muito na despedida, apenas aproveitaram da melhor forma possível os últimos dias juntas.
— Tô indo! — gritou de volta pegando sua bolsa e dando uma última olhada em seu quarto. “Vou sentir falta daqui”, ela pensou.
No carro, elas foram cantando Atitude 67 durante o caminho. Esse clima de tristeza não combinava nem um pouco com as duas, elas tinham o poder de levantar o astral de qualquer lugar que tivessem. Lá encontraram com Clara, Renatha, Diego e Fernando, que também foram se despedir da amiga.
— Trouxe pra você comer no voo. — Renatha entregou uma caixa para , era Ferrero Rocher, um de seus chocolates preferidos.
— Obrigada, Rê! — sorriu e abraçou a amiga. — Ainda bem que você lembrou, vocês sabem que eu não sou a maior fã de aviões, só de pensar em turbulência me dá um calafrio. — Ela passou as mãos nos braços, na tentativa de espantar aquela sensação ruim. — E apenas doces me acalmam.
— Viciada, açúcar é tipo droga sabia? — Foi a vez de Fernando se manifestar, ele não entendia como conseguia comer tantos doces.
— Vai fazer seu crossfit e deixa a ser feliz com os chocolates dela! — Clara revirou os olhos com o comentário do amigo.
— Você já sabe onde vai morar lá? — Diego perguntou.
— Por enquanto vou ficar na casa do João, mas já comecei a dar uma olhada em alguns lofts... Quero comprar meu carro e ter meu cantinho o mais rápido possível.
— Atenção passageiros do voo 3741 com destino à Barcelona, embarque no portão 5. Voo 3741, embarque no portão 5. — Era a voz da comissária de bordo anunciando que já estava na hora de partir. Todos se despediram da amiga com abraços apertados e desejando boa sorte. Quando foi a vez de Luísa, não foi diferente.
— Não preciso dizer mais nada, né?! — Luísa estava com o coração apertado. — Isso é pra você lembrar de mim todos os dias, eu vou tar do seu lado sempre. — Ela completou entregando um presente para a amiga, que logo abriu a caixinha de madeira. Lá dentro havia uma carta com os dizeres “Para ler quando estiver em Barcelona”, várias fotos delas juntas tiradas com uma Polaroid e uma pulseira de ouro bem delicada, com o desenho de uma onda.
— Porra Luísa, eu disse que não ia chorar! — limpou as lágrimas dos olhos. — Eu amei, não vou tirar nunca mais.
— A onda é por que você é linda de mar. — Luísa fez referência à música do Atitude 67, uma das preferidas de , colocou a pulseira no braço da amiga e abraçou-a pela última vez.
foi em direção ao embarque, antes de entrar na sala virou e acenou para os amigos, que retribuíram com carinho. Ela fechou os olhos, respirou fundo e voltou a caminhar até a fila. Quando chegou sua vez, entregou para a aeromoça a passagem e o seu passaporte, assim que foi liberada entrou no avião. Ao sentar na poltrona e afivelar o cinto de segurança um filme passou pela sua cabeça, desde a infância em Goiânia, a paixão por esportes (que foi decisiva na escolha do curso que iria fazer), as lembranças das viagens com a família, a mudança para São Paulo, os porres na faculdade, as desilusões amorosas, o trabalho no Santos, os amigos... Todos os detalhes de sua vida foram recordados. Barcelona era mais um desafio que ela enfrentaria de peito aberto e, realmente, se entregaria de corpo e alma, fazendo o possível para ser a melhor médica. Além disso, saber que tinha amigos em um lugar completamente novo acalmava o coração de . João tinha se mudado para lá três anos antes e estava amando a Espanha, o comentário positivo dele deixou-a mais animada. Ela aproveitou os últimos minutos antes da decolagem e verificou o celular, que indicou duas notificações.
João Vasconcelos:
“Assim que chegar me avisa, estarei no aeroporto te esperando, ;). Beijos!”
:
“Pode deixar. Beijos!”
Luísa Bernardi:
“Já deu tudo certo. Te amo e tô com saudade <3”
:
“Também te amo e já tô com saudade. Obrigada por tudo <3”
Logo colocou seus fones de ouvido e pegou na bolsa um dos chocolates que tinha ganhado de Renatha, na primeira mordida já sentiu a calmaria percorrer sua corrente sanguínea. Nunca se pode subestimar o poder de um chocolate, principalmente quando se trata de . Não demorou muito para ela pegar no sono, até por que quanto menos tempo acordada naquele avião, melhor.
— Quando você vai contar pra que se inscreveu no estágio da sede da Stradivarius em Barcelona? — Clara questionou Luísa ainda no aeroporto, pouco depois que a amiga partiu.
— Você não tá pensando em ir pra Espanha também, né? — Fernando perguntou meio desconfiado.
— Ai gente, vocês sabem que a é como uma irmã pra mim... Eu sei que lá ela tem o João e outros amigos da Nike e do Barcelona, mas sei lá... — Luísa deu de ombros. — Sem falar que estágios nessas grifes internacionais valorizam muito o currículo...
— Se é isso que você quer mesmo vai fundo, eu sou a favor de mudar os ares de vez em quando! — Diego disse incentivando Luísa, seria muito bom para a carreira dela trabalhar em uma grande marca.
— Nem tem motivo pra fazer esse auê todo, as chances são muito pequenas por que a Stradivarius é uma grife espanhola famosa que pertence ao mesmo grupo que é dono da Zara, ou seja, pra tar lá tem que ser muito foda. — Luísa tentou explicar.
— Mas você já foi convidada pra fazer um estágio nos Estados Unidos e um na Itália, o que prova que você é boa no que faz e tem chances sim! — Renatha afirmou.
— Não tem nada a fazer além de esperar... E a não pode nem sonhar com isso, estamos entendidos? — Luísa fez os amigos prometerem que não contariam nada, ela não queria que criasse expectativas sobre essa possível ida dela para Barcelona.
— Combinado! — Todos confirmaram e os cinco amigos foram em direção à saída do aeroporto de Guarulhos.
Mais ou menos 10 longas horas de voo e uma escala depois, finalmente pisava em solo espanhol. Era hora de dar start em mais uma fase. Ela pegou o celular e começou a falar com João enquanto ia para mais uma fila, essa para pegar suas malas.
:
“Cheguei, mi ángel! Já tô entrando no clima espanhol hahaha”
João Vasconcelos:
“Quero só ver o seu sotaque espanhol, chica hahahah já estou na porta do desembarque”
:
“Só tô esperando minhas malas, não aguento mais ficar em filas”
Não demorou muito para ver as malas rosa metálicas na esteira. Essa era a vantagem de ter malas, como diria sua mãe, espalhafatosas. Enquanto a maioria das pessoas se perdia com a imensidão de malas pretas, as de se destacavam. Ela dizia que era pura estratégia, mas foi o seu lado adolescente que não resistiu aos chaveiros de pompom cor de rosa e escolheu aquelas malas. Assim que cruzou a porta do desembarque, viu João com a camisa amarela da seleção brasileira de futebol. Não era só ela que usava esses artifícios.
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— Que saudade, pequena! — João deu um abraço apertado em , girando-a no ar. Os dois não se viam desde que ele havia ido para Barcelona, o contato era feito por mensagens ou chamadas de vídeo.
— Você gostou tanto daqui que nunca mais voltou para o Brasil, também tava com saudade seu puto. — deu um tapinha nas costas do amigo, que fingiu sentir dor mas logo os dois caíram na gargalhada.
— Garanto que você vai gostar também, no Barcelona todo mundo é muito de boa. Sem falar que com Philippe Coutinho e a resenha tá garantida, né? Eles até ensinaram muitas coisas em português pros caras, o Ney quando ainda tava lá, também. — João falava enquanto empurrava o carrinho com as malas de .
— Droga, nem vou poder te xingar em português então! — Ela brincou com João e eles foram conversando banalidades até chegarem no carro. Ele guardou toda a bagagem e conectou seu celular ao som do carro, colocando uma música extremamente conhecida por no Spotify.
— Eu adoro essa música! — deu um gritinho animado ao ouvir o início de “Ta tum tum”, do MC Kevinho com Simone e Simaria.
— Percebi nos seus stories e da Luísa dançando essa música no réveillon! — João riu. — Mas ela é muito boa mesmo, tá na minha playlist de favoritas.
— Você tem que ir com a gente passar o réveillon em Ilhabela, as praias são simplesmente incríveis! — Ela respondeu o amigo, quando a música chegou no refrão começou a cantar e João a acompanhou. Foi assim o caminho todo até a casa de João, quando chegaram lá ele levou as malas da amiga até o quarto em que ela ficaria hospedada.
— João, eu nem sei como... — começou a falar e foi interrompida.
— Nem começa, viu ! — Ele a repreendeu. — Sinta-se em casa, toma um banho, descansa e depois vai pensando por que a gente vai na concessionária escolher seu carro.
— Mas já? — riu ao ver a empolgação dele.
— Sim, não vou ser seu uber aqui não! — João gargalhou. — Brincadeira pequena, vamos ver isso com calma e procurar o loft. Por enquanto só descansa mesmo, tá?!
— Pode deixar! — Ela respondeu pegando um pijama bem confortável e uma toalha em uma das malas. Depois de uma viagem como essa o descanso era mesmo merecido.
— Bom dia, preguicinha! — João brincou ao ver de pijama na sala, ainda sonolenta.
— Oi! — Ela sorriu coçando os olhos, na tentativa de se acostumar com a claridade das lâmpadas. — Que horas são?
— Exatamente 20:13. — João respondeu ao checar em seu notebook, estava finalizando o planejamento de exercícios para a recuperação de Sergio Busquets, que tinha sofrido um estiramento no músculo posterior da coxa direita no último jogo pela La Liga. João era o fisioterapeuta do time, que já tinha feito parte da equipe da Nike assim como e acabou sendo contratado pelo Barcelona. Foi ele que indicou a amiga para esse cargo e estava muito feliz por tê-la por perto novamente, trabalhando na mesma equipe.
— Esse jet lag acaba comigo, e olha que nem foram tantos fusos assim. — sentou no sofá ao lado de seu amigo, colocando uma almofada no colo.
— Relaxa, em uns três dias passa... Tá com fome? — João perguntou.
— Um pouquinho. — sorriu, ela tinha chegado pela manhã e dormiu até à noite, então não tinha comido nada. Apesar de ter dormido um pouco no avião, aquele era um sono que não descansava; já o em seu quarto na casa de João, foi reparador.
— Que tal jantar fora? — João sugeriu, a primeira noite da amiga em Barcelona merecia algo especial! — Tem um restaurante aqui pertinho que faz uma paella muito boa, a gente aproveita e anda um pouco na praia.
— Hummm, só de ouvir você falar me deu água na boca. — Prontamente aceitou o convite de João e foi se arrumar para eles irem comer.
DOS
This ain't for the best
My reputation's never been worse, so
You must like me for me
We can't make
Any promises now, can we, babe?
But you can make me a drink
(Delicate — Taylor Swift)
— Pronta para o seu primeiro dia de trabalho no melhor time da Europa? — João falou assim que apareceu na cozinha, onde ele já tomava o café da manhã. Já fazia uma semana que ela tinha chegado em Barcelona, tempo esse que foi utilizado para ela se organizar.
— Esse dia ainda vai chegar quando eu for transferida pra acompanhar algum jogador do Real Madrid. — brincou com o amigo. — Mas tô pronta sim pra trabalhar no Barcelona, mesmo sendo torcedora merengue, preciso reconhecer que é um ótimo time. — Ela piscou enquanto se sentava à mesa e pegava um iogurte natural com mel.
— Nossa, que fitness — João curtiu com a cara dela.
— Iogurte é gostoso pra caramba e eu não sou muito fã de café, então... Mas se tivesse pão, ovo, cheddar e bacon no maior estilo americano bom também! — começou a rir, mas logo pensou em como a refeição estadunidense era uma bomba calórica. — Eu só ficaria uma baleia comendo isso todo dia.
— É só dar uma corridinha que tá tudo certo. — João respondeu rindo também. — Bom, eu já vou indo. Qualquer coisa é só ligar. — Ele disse assim que terminou de comer e pegou sua mochila e as chaves.
— Daqui a pouco eu vou, quero ver nem que seja um pedacinho do treino. Até mais, beijos. — se despediu do amigo e tomou o restante do seu iogurte, não demorou muito para que ela saísse de casa.
No decorrer da semana ela e João tinham saído para comprar o carro, o escolhido foi um Mini Cooper, branco, perfeito para atender às necessidades dela e bem estiloso. fazia tranquilamente o caminho da casa de João para a sede do Barcelona, quando um Audi prata tentou lhe ultrapassar pela direita e acabou batendo na lateral do seu carro. Felizmente não foi nada grave, só alguns amassados em ambos os carros.
— Lo siento por eso, no era mi intención. — Um rapaz moreno, alto, desceu do Audi, ele estava de short e camiseta, óculos escuros e cabelo bagunçado, parecia estar com pressa.
— Era só o que me faltava, daí-me paciência Senhor. — respirou fundo e falou mais pra ela mesma, mas a altura foi suficiente para o rapaz ouvir.
— Você é brasileira? — Ele tirou os óculos e perguntou intrigado ao ouvi-la reclamar, gesto que foi suficiente para o reconhecer.
— Sim, e você é o — deu de ombros, encontrar um jogador do Barcelona nessa situação seria cômico se não fosse trágico. — Deixa eu adivinhar, atrasado pro treino?
— É. — respondeu sem a olhar nos olhos, um pouco sem graça com a situação e percebendo a irritação da mulher. A resenha na casa do André Gomes na noite anterior terminou mais tarde do que esperava, e ele acabou perdendo a hora.
— Claro né, e isso te dá o direito de ultrapassar pela direita. — Ela revirou os olhos, estava possessa de raiva pela imprudência do motorista do Audi.
— Desculpa, de verdade, eu vou ligar pro seguro e... — pegou o celular no bolso e quando começou a discar os números foi interrompido por .
— Olha, você tá atrasado e eu não quero me atrasar também então cada um arca com seu prejuízo e tá tudo certo. — A loira sugeriu prontamente, queria acabar com essa situação o mais rápido possível.
— Não, eu faço questão, realmente fui imprudente. — escutou argumentar, pelo menos ele reconheceu que estava errado. — Vou te dar meu telefone e depois a gente vê isso com mais calma, mas é pra ligar mesmo, tá?! — pegou um papel no carro, anotou seu número e entregou para ela, ele parecia mesmo estar se sentindo culpado.
— Tudo bem! — suspirou pegando o papel das mãos dele, mal sabia que os dois se encontrariam muitas vezes, provavelmente todos os dias.
Depois disso ele entrou no carro e foi para o treino, já ela parou em uma loja de conveniência antes de seguir para o trabalho, para comprar um chocolate. Só uma dose extra de glicose tinha o poder de acalmá-la depois de um stress como esse.
No final do treino estava conversando com Vivian, a assessora de imprensa do Barcelona, sobre a entrevista coletiva que ela daria em breve para apresentar seu projeto no clube. Vivian estava indo para a parte administrativa e , que estava de costas, ia junto com ela, até que João a chamou para lhe apresentar a alguns jogadores.
— Essa é a nova médica do time, ela tá entrando no lugar do Dr. Javier. — João explicou a eles. — Vem cá, ! — Quando ela virou em direção ao seu amigo deu de cara com Philippe Coutinho, acompanhado de ninguém menos que , o causador de acidentes.
— Oi Philippe, tudo bem? — o cumprimentou com um beijo no rosto e fez o mesmo com , que parecia não acreditar no que via. — Oi, apressadinho. Prazer, . — Ela estreitou o olhar e deu um sorriso sínico ao cumprimentar .
— Vocês já se conhecem? — Philippe perguntou confuso.
— Uai , normalmente ninguém te chama assim. — João também ficou sem entender. — E que cara é essa?
— É a minha felicidade ao reencontrar o cara que bateu no meu carro quando eu estava vindo pra cá. — Ela explicou, exalando ironia no tom de voz. Hoje não tinha a obrigação de ser simpática com ele, ainda estava com raiva pelo estrago em seu carro, que era o seu mais novo xodó.
— Então ela é a brasileira que você comentou?! — Philippe deu um sorriso malicioso. tinha passado o treino inteiro falando sobre a mulher que, por coincidência, era . — Porra Princesa, que bola fora hein? — Philippe balançou a cabeça negativamente. Claro, em tom de brincadeira.
— Princesa? — questionou curiosa.
— É coisa do Neymar, agora os caras quando tão de resenha só me chamam assim. — explicou para , definitivamente o “apelido carinhoso” dado pelo amigo pegou. — Sinto muito pelo seu carro, já liguei pro seguro e como foi coisa simples eles vão resolver tudo hoje mesmo. Se você quiser deixar a chave comigo...
— Desde que você não destrua meu carro eu deixo, se não o João vai ter que ser meu uber até eu resolver isso. — alfinetou . Quando ela estava com raiva era assim mesmo, não perdia uma oportunidade sequer.
— Me inclui fora dessa, por favor. — João brincou com a amiga, bagunçando o cabelo dela e levando um tapa em seguida. — Ai ai , desde quando você tem essa força toda?
— Tô comendo espinafre. — Ela ironizou fazendo referência ao desenho do Popeye e tanto quanto Philippe caíram na gargalhada, sendo acompanhados por João posteriormente. — Agora eu preciso trabalhar, tchau pra vocês. — entregou a chave do carro dela para e saiu em direção à parte administrativa do clube.
— Agora eu entendi o seu interesse pra encontrar com a garota... Com certeza não era só pra consertar o carro dela. — Philippe começou a zoar .
— Claro que não, pirou? — ignorou a piadinha do amigo.
— Quer mentir pra mentiroso agora? — Coutinho continuou, gesticulando com os braços abertos frente ao outro jogador em sinal de desaprovação. — Fazer o quê se ela é linda pra caralho mesmo...
— E você é casado, pode parar de gracinha. — retrucou, mas tinha que concordar com o amigo. Definitivamente, era muito linda.
— Ei, nem vem tentar mudar o rumo dessa conversa, estamos falando de você. Apenas verbalizei a verdade que tá escrita na sua testa. — Philippe contestou.
— Eu ainda tô aqui escutando tudo, viu? — João se manifestou. — Por fora ela tem esse jeito “foda-se” mas por dentro já deve ter imaginado mil e uma maneiras de te matar, . — Ele gargalhou. — Se tem uma coisa que tira a do sério é trânsito, ela fica muito estressada, chega a ser engraçado.
— Preciso ligar pro Ney e contar essa história, ele vai adorar saber. — Philippe saiu rindo em direção ao vestiário.
— Vai pro inferno, Coutinho. — gritou, xingando o amigo, mas riu logo em seguida, não conseguia ficar bravo com ele. E se conhecia bem Philippe e Neymar, essa zoeira tava só começando. — O que eu faço pra ela me desculpar? — Ele perguntou para João, pois já que ele e iriam ter que conviver diariamente, não queria que ficasse um clima ruim entre eles.
— Deixa eu pensar... — João fez uma pausa. — Olha, a é louca por doces, talvez um chocolate amoleça o coração dela. — Ele deu um tapinha nas costas de e foi para o departamento de fisioterapia, enquanto o outro seguiu para a academia do clube.
— Coutinho, me empresta seu carro, o meu tá na seguradora e eu preciso resolver uma coisa. — A empresa havia buscado os carros de e na sede do Barcelona e, por sorte, disseram que devolveriam no final da tarde.
— E essa coisa a resolver por acaso tem algo a ver com a Dra. ? — Philippe questionou enquanto eles almoçavam.
— O João falou que ela gosta muito de chocolate, é só uma forma de pedir desculpas depois do que aconteceu hoje. — Ele explicou para o amigo.
— A cada segundo que passa essa história fica melhor — Philippe começou a pensar no que Rafinha poderia fazer. — Só empresto se você postar uma foto no instagram pedindo desculpa pra ela, mas tem que ser foto mesmo, não vale stories.
— Ah não Philippe, não inventa. — protestou.
— É pegar ou largar. — Coutinho balançou a chave do carro.
— Filho da puta. — Rafinha reclamou mas acabou pegando a chave da mão do amigo e aproveitou o horário de almoço para comprar o tal chocolate. Ele foi até uma das melhores confeitarias de Barcelona, comprou duas caixas de bombons com diversos sabores, afinal, não sabia qual era o preferido de e algumas flores.
Por volta de 17h, quando estava terminando o treino de cobrança de faltas, a seguradora entregou os carros devidamente consertados. Ele colocou os bombons e as flores sob o banco do motorista, decidiu escrever um cartão e também colocou junto. Tirou uma foto (assim como Philippe Coutinho tinha estabelecido) e postou no Instagram:
https://br.pinterest.com/pin/264868021820339671/
@93: “Será que ela vai me desculpar? @”
finalizou seu trabalho no fim da tarde, quando estava saindo de sua sala a esperava do lado de fora.
— Oi. — cumprimentou-o.
— Seu carro está novinho em folha. — Rafinha falou entregando a chave para ela. — E a propósito, curti o chaveiro. — Ele obviamente estava zoando o chaveiro da Minnie no carro dela.
— Obrigada Princesa, eu sei que eu tenho bom gosto. — brincou enfatizando o “Princesa” e acabou dando um sorriso sincero, talvez o primeiro desde que os dois se conheceram.
— Então... Até amanhã? — quebrou o silêncio que havia se formado entre eles.
— Até amanhã. — se despediu e foi em direção ao seu carro no estacionamento. Quando abriu a porta ela colocou sua bolsa no banco do passageiro e encontrou os bombons, as flores e o cartão, pegou-os e se sentou. Abriu o cartão cor de rosa, que tinha escrito:
“, desculpa pelo péssimo jeito de te dar boas vindas, foi uma coincidência meio ruim. Será que eu posso começar de novo? Hahahah fiquei sabendo que você adora chocolate =)
Con cariño, ”
riu ao ler o cartão, ela reconhecia que tinha sido meio antipática com e ele estava se sentindo culpado pelo incidente. Ela procurou em sua bolsa o papel que ele havia lhe dado mais cedo com seu número, no momento em que pegou o celular para ligar para ele viu inúmeras notificações no seu instagram, com marcações, comentários e solicitações para seguir. viu a foto que Rafinha tinha lhe marcado e não conteve a risada ao ler os comentários.
@phil.coutinho: Pô , desculpa ele kkkkk
@neymarjr: Vamos fazer uma campanha #DesculpaAPrincesa
@brumarquezine: Super apoio hahahah amiga, tadinho dele #DesculpaAPrincesa
@joaovasconcelos: Mitou irmão @neymarjr kkkkk vou aderir #DesculpaAPrincesa
@phil.coutinho: É, #DesculpaAPrincesa vai
@maycardoso: Hmmmmmm #DesculpaAPrincesa
@thiago6: Tinha que ser o idiota do fazendo merda... #DesculpaAPrincesa
@matheuscardoso: Aiai #DesculpaAPrincesa
@luisabernardi: Depois de um pedido fofo desse tem que aceitar, amiga... #DesculpaAPrincesa
A foto deu tanto o que falar que virou destaque na aba “explore” no instagram e a hashtag “DesculpaAPrincesa” foi um dos assuntos mais comentados no twitter. ficou um tempo ali, parada, lendo os comentários da foto, até que seu celular tocou.
— Como assim você já tá causando em Barcelona, com o gato do te pedindo desculpas publicamente? — Mayara atropelou as palavras, arrancando uma gargalhada da irmã mais velha, elas estavam em uma chamada de vídeo.
— Oi Mayara, eu tô bem sim, e você? — brincou.
— Para de enrolar e me conta logo o que tá acontecendo. — Ela resmungou.
— Se até o Neymar e a Bruna tão sabendo, eu tenho certeza que você também tá...
— É óbvio que eu tô, por que o mundo inteiro já sabe, mas eu quero ouvir cada detalhe da sua boca. — May insistiu, exagerada como sempre. Ela conhecia muito bem a irmã, e essa displicência ao falar do assunto poderia indicar que já tinha rolado um certo clima com o jogador, mesmo que negasse. No entanto, ao mesmo tempo não poderia deixar de zoar a irmã. Ela escutou atentamente contar tudo o que aconteceu, desde o incidente com os carros até o cartão, as flores e os bombons.
— Satisfeita? — perguntou assim que terminou de detalhar os fatos.
— Agooora sim. — Mayara fez uma cara de alívio, provocando mais risadas em . — Mas você vai desculpar ele né?
— Claro que vou né May, não quero causar nenhuma torta de climão... E o parece ser gente boa, então não tem porquê levar isso adiante.
— Hmmmm já tá chamando de ... Nem parece que tava toda nervosinha quando o João foi te apresentar pra ele hein . — Mayara provocou, ahhh como ela tava com saudade de fazer isso. Por FaceTime não era a mesma coisa, mas era o que dava para fazer nas atuais circunstâncias.
— Eu vou desligar na sua cara, Mayara . — ameaçou-a. Quando May colocava alguma ideia na cabeça era quase impossível de tirar, portanto, era bom ir se preparando para ouvir muitas brincadeiras do gênero. Se Mayara se juntasse com Luísa então... Melhor nem pensar. Mas, convenhamos, as amizades sem frescuras em que existe liberdade entre as partes são as melhores. — Espera aí... Você já falou com o João?
— Se for pra ligar pro eu nem reclamo. — Ela riu maliciosa dando ênfase no apelido do jogador e revirou os olhos. — E não fui eu que falei com o João, foi o Matheus.
— Depois eu falo com o , agora a gente vai se ver todo dia mesmo... Só espero que o João não tenha inventado coisas e que nem o Matheus comece com as crises de ciúmes. — encerrou o assunto " ".
— Você conhece o nosso irmão né, então... — Mayara falou e elas conversaram mais um pouco sobre como estavam as coisas em Barcelona e em São Paulo e assim que finalizaram a chamada, foi para casa.
— Nem começou a trabalhar direito com o time e já tá famosa em Barcelona por causa do . — João brincou assim que entrou em casa.
— Hoje vocês me acharam hein. — Ela gargalhou. — Até a Mayara me ligou exigindo explicações sobre isso, sem falar no meu Instagram que tá lotado de mensagens. E você foi falar o quê pro Matheus, seu fofoqueiro? — deu um tapinha nas costas do amigo.
— Ele só perguntou o que tinha acontecido e eu contei... Pelo menos sua carinha tá bem melhor, o chocolate te acalmou? — João deu de ombros e a mulher mostrou uma das caixas de bombons com 4 espaços vazios, fazendo-o rir. — E pro , você já ligou?
— Que perseguição, misericórdia... Até onde eu sei não sou uma Kardashian e minha vida não é um reality show, muito menos tá tão interessante assim pra todo mundo querer acompanhar. — se jogou no sofá, colocando os pés no colo de João.
— Não muda de assunto... Eu vou ligar pra ele e você fala. — João pegou o celular e começou a discar os números.
— Não! — Ela deu um grito, levantando bruscamente e tomando o celular da mão dele. — Cê tá louco?
— Tô só facilitando as coisas já que você fica aí enrolando. — João deu de ombros e os dois ficaram um tempo parados, se encarando.
— Aff, que saco. — revirou os olhos, se dando por vencida. — Eu vou ligar pra ele agora. — Ela discou o número de Rafinha e no segundo toque ele atendeu.
— Alô? — estranhou ao ver um número que não estava em seus contatos.
— Oi , é a , tudo bem? — Ela falou assim que ouviu a voz dele, ainda estava na sala. Sorriu falsamente para João, que observava com uma cara maliciosa, e foi para seu quarto conversar com .
O clima entre os dois era bem mais leve, ela agradeceu-o verdadeiramente pelos chocolates, as flores e o cartão, além de também pedir desculpas pela rispidez com ele durante todo o dia.
TRES
I got close and I'm like: Bailemos, ¿eh?
La noche está para un reggaetón lento
De esos que no se bailan hace tiempo
Yo sólo la miré y me gustó
Me pegué y la invité: Bailemos, ¿eh?
Tonight we dancing un reggaetón lento
Just get a little closer, baby, let go
(Reggaetón lento - Little Mix feat. CNCO)
— Uma água, por favor. — pediu ao atendente do quiosque na orla da Playa del Bogatell. Desde que havia chegado à Barcelona não tinha feito nenhum tipo de atividade física, o que explicava a sua respiração tão ofegante após a corrida pelo calçadão da praia.
Naquela noite ela não dormiu direito, então aproveitou a insônia e levantou bem cedo para se exercitar. Passou em casa rapidamente para tomar um banho e, como João ainda estava dormindo, saiu para encontrar com a corretora de imóveis, que iria lhe mostrar alguns lofts e apartamentos.
queria um loft, mas o que mais lhe agradou ficava distante do trabalho, o que desanimou-a um pouco. Quando estava quase desistindo das visitas, a corretora lhe mostrou o apartamento perfeito, com ótima localização (perto tanto da Ciudad Deportiva Joan Gamper quanto do Camp Nou) e já mobiliado, portanto, só precisaria se preocupar com a decoração. O único ponto negativo era não ser tão perto da praia como ela gostaria, entretanto, a comodidade compensava. se apaixonou por cada cantinho, e alguns detalhes seriam suficientes para deixá-lo completamente a sua cara. Fechou negócio na hora, a corretora disse que depois levaria os papeis para ela assinar e lhe entregaria a chave.
— Caiu da cama hoje, ? — João se divertiu ao encontrar com a amiga já no trabalho. — Nem te vi saindo de casa de manhã.
— Quase isso, aproveitei pra dar uma corridinha... — Ela gargalhou. — Ah, tenho uma novidade.
— Pegou o ? — João usou um tom altamente provocativo. Ele e o restante dos amigos não desistiriam tão cedo dessa ideia. — Vocês têm bastante tensão sexual acumulada.
— Me poupe, João! — rolou os olhos e respirou fundo, ignorando a piadinha e retornando ao assunto inicial. — Comprei um apartamento! — Ela mostrou empolgada para o amigo as chaves que a corretora lhe entregou após o almoço.
— Isso tudo era pressa de ir morar sozinha? — João mantinha um sorriso brincalhão nos lábios.
— Não dava pra ficar pra sempre na sua casa, atrapalhando seus esquemas né?! — riu.
— Pensando por esse lado... — Ele fez uma cara maliciosa. — Você vai pro seu apê quando mesmo?
— Safado! — deu um tapinha no braço dele. — Acho que no próximo final de semana.
— Alguém disse final de semana? — Philippe Coutinho chegou com onde e João estavam conversando, próximos à academia do clube.
— A vai me abandonar, comprou um apê e vai mudar no próximo fim de semana.
— É, eu tava falando pro João que preciso cuidar da decoração e comprar algumas coisas primeiro, só não sei onde.
— Tem que ter uma resenha de inauguração, né não Rafinha? — Philippe comentou e o amigo balançou a cabeça confirmando. — Se você quiser eu posso pedir pra Aine te ajudar com as compras, como a gente também mudou recentemente ela acabou conhecendo várias lojas por aqui. Tenho certeza que vocês vão ficar amigas rapidinho.
— Ah se não for incomodar eu aceito sim, vai ser bom ter uma amiga aqui em Barcelona. De vez em quando é bom fazer esses programinhas “de meninas” pra dar uma relaxada, até por que eu vivo rodeada de homens. — fez uma breve pausa. — Não que eu esteja reclamando... — Ela deu uma risadinha e olhou discretamente para .
— Cês escutaram isso? — João mantinha uma falsa indignação. — Depois eu que sou o safado.
— Eu sei que pra ela deve ser difícil ficar só olhando esse corpinho aqui. — falou convencido e piscou para , entrando na brincadeira.
— Olha o trem querendo... — Philippe provocou.
— Não falo nada pra vocês, vou é trabalhar que eu ganho mais! — não conseguiu segurar o riso e saiu em direção à sua sala. Ela não assumiria tão fácil assim na frente dos garotos, mas era difícil não reparar naqueles corpos perfeitos durante os treinos. Quando Rafinha falou aquilo automaticamente analisou-o dos pés à cabeça e, realmente, em outro contexto que não fosse o trabalho, seria praticamente impossível resistir. A médica foi despertada de seus pensamentos pela vibração de seu celular, indicando que havia uma nova mensagem.
Philippe Coutinho:
“Falei com a Aine e ela mandou convidar você e o João pra jantar lá em casa hoje, não aceitamos não como resposta. Esperamos vocês às 20h.”
:
“Obrigada, Philippe. Estaremos lá! ;) ”
No horário combinado, João e estavam na casa de Philippe e Aine. escolheu uma blusa preta, calça jeans e scarpin preto, além de uma make clean.
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Quando chegaram lá quem os recebeu foi Philippe, que logo apresentou à sua esposa. As duas se deram tão bem que pareciam se conhecer há anos e, ao final daquele jantar agradabilíssimo, saiu de lá sabendo que tinha uma amiga em Barcelona.
— Acho que nessas duas semanas todos conheceram a Dra. Maria Júlia, a nova médica do time. — Luís Enrique, técnico do Barcelona, começou a falar quando estava naquela típica rodinha de jogadores ao centro do campo após o treino da manhã e ela, que estava ao seu lado, acenou cumprimentando os atletas. — Ela é brasileira, formada e especialista pela Unifesp, uma das melhores universidades do ramo, em ortopedia, traumatologia e medicina do esporte, e agora ela vai conversar um pouquinho com vocês.
— Primeiramente, bom dia! — Ela sorriu e todos responderam em coro. — Meu nome é mas podem me chamar de . Durante os últimos anos eu desenvolvi um projeto no Santos, e a convite da Nike vou aplicá-lo aqui... — começou a explicar como tudo funcionaria para os jogadores, as dietas, os treinos individuais e o estudo da biomecânica de cada um para prevenir lesões e potencializar o desempenho nos jogos sem sobrecarregar o corpo.
— E quando você vai começar? — Questionou Jordi Alba.
— Desde que eu cheguei tô estudando o perfil de cada um de vocês e montando o planejamento junto com o João, acho que já dá pra iniciar hoje mesmo, aproveitando que o próximo jogo da La Liga é só na quarta.
— Esses treinos individuais vão ser só no campo, e na academia? — Foi a vez de Piqué perguntar.
— Não, eu pretendo diversificar pra não ficar monótono, priorizando atividades que melhorem a performance de vocês, mas a gente pode perfeitamente ver outros esportes que vocês gostam e que possam agregar em algum outro aspecto e mesclar os treinos.
— Relaxa que vai dar tudo certo galera, foi ela que fez o Neymar virar aquela máquina, até hoje ele segue esse modelo de treinamento. — João disse em um tom divertido e eles ficaram mais alguns minutos tirando as últimas dúvidas dos jogadores.
— Não tô acreditando que ela é a médica que o Neymar tanto fala... Como eu não conheci essa mulher antes? — Rafinha falou baixo, de modo que só Philippe ouviu.
— Também não tinha me tocado sobre isso... — Philippe pensou um pouco. — Mas é complicado, você sempre esteve aqui na Espanha e ela no Brasil, os calendários não batem muito... Talvez vocês até tenham se esbarrado alguma vez nas férias no Rio ou em Santos e nem saibam.
— Tem razão, irmão. Como sempre. — soltou um sorriso.
— Pelo menos agora que você tem um pretexto pra puxar assunto com ela, vai que o menino Ney dá uma ajeitada no meio de campo pra você... — Ele gargalhou e deu um leve empurrão no amigo. — Chega de ser vela minha e da Aine e do casal Brumar, né não?
— João, que saudade! — Luísa abraçou o amigo que ela não via a pelo menos dois anos.
— Tão bom te ver de novo... — João afagou carinhosamente os cabelos de Luísa. — Pronta pra surpreender a ?
— Sim, também tô morrendo de saudade dela! — Luísa respondeu pegando sua bolsa, João levava o carrinho com as malas até o carro.
Os dois foram conversando animadamente durante todo o caminho até o apartamento de Maria Júlia, como João era conhecido do porteiro, entrou sem ser anunciado ao dizer que era uma surpresa para a amiga. Levou Luísa até o andar correto ajudando-a com a bagagem mas preferiu não entrar, aquele momento era só de Luísa e , que eram como irmãs.
— ? — Luísa chamou assim que a amiga atendeu o telefone.
— Oi Lu... — Ela respondeu meio sonolenta. — Aconteceu alguma coisa? — questionou preocupada, pois já era madrugada e a amiga nunca ligava nesse horário, era muito atenta ao fuso.
— Abre a porta pra mim... — Luísa pediu manhosa.
— Como assim, Luísa? — A voz de saiu quase como um grito.
— É sério, minhas malas tão espalhadas no hall. — Ela gargalhou e saiu correndo para abrir a porta, sem acreditar no que estava acontecendo. — Surpresa!!! Eu disse que você nunca iria se livrar de mim...
— Ai meu Deus! — não sabia o que dizer, só abraçava a amiga bem forte. As duas ficaram um bom tempo ali, na porta mesmo.
— Não vai me convidar pra entrar? — Luísa brincou.
— Claro sua ridícula, vem cá! — pegou parte da bagagem e colocou no quarto que ela decorou pensando em quando a amiga fosse visitá-la. As duas sentaram na cama e começaram a conversar. — Por que você não me avisou que tava vindo? Eu teria ido te buscar no aeroporto...
— Eu quis fazer surpresa, aí liguei pro João e ele me ajudou, inclusive me trouxe aqui.
— Não acredito que até o João sabia! — fingiu estar indignada. — Mas o que te fez vir pra cá assim, do nada?
— Então... Não foi tão do nada assim. — Luísa fez uma pequena pausa. — Lembra como eu fiquei chateada quando o estágio na Urban Outfitters ano passado não deu certo? — fez que sim com a cabeça para a amiga dar prosseguimento na história. — Eu meio que deixei isso de lado por um tempo mas, quando você contou que vinha pra Barcelona, eu decidi tentar de novo e acabei conseguindo um estágio aqui, na Stradivarius.
— Você tá querendo dizer que...
— Eu vim pra ficar. — Luísa respondeu e as duas se abraçaram em comemoração.
— Tô tão feliz de ter você aqui, acho que vou explodir! — gargalhou. — Todo mundo do time me recebeu super bem, melhor até do que eu esperava, mas logo você vai perceber como as coisas são diferentes. Acho que vou até acatar a ideia do Philippe Coutinho e fazer uma resenha aqui, pra inaugurar o apê e te das as boas vindas à Barcelona.
— E eu esqueci de comentar, o apê tá lindo... — Luísa estava encantada com o ambiente, que era muito aconchegante.
— Ainda faltam alguns detalhes, mas tô apaixonada... Gostou do seu quarto? — perguntou para a amiga.
— Eu amei, tá muito a minha cara! Parece até que você tava adivinhando que eu vinha. — Luísa sorriu. — E sobre a resenha, adorei a ideia.
Às 18h tudo estava pronto para a resenha, que tinha um clima de luau e decoração praiana. Philippe e Aine foram os primeiros a chegar, logo vieram também João, André Gomes, Vivian, Suárez e Jordi Alba, seguidos de Neymar e Bruna, que aproveitaram a folga para visitar .
— Nem acredito que vocês vieram! — abraçou Neymar e Bruna, desde que tinha chegado a Barcelona ainda não tinha visto o amigo, que agora estava morando em Paris; nem a amiga, que vivia numa correria entre as gravações da novela e acompanhar os jogos mais importantes do namorado.
— Não tinha como não vir te ver né pequena?! — Neymar bagunçou levemente o cabelo dela.
— Tá tudo muito lindo amiga, sério! — Bruna respondeu. — Temos que aproveitar essa folga para colocar as conversas em dia.
— Com certeza, tenho muita coisa pra contar. — confirmou e o casal foi cumprimentar todo mundo.
— Cadê a Princesa? — Neymar perguntou para Philippe e João enquanto eles pegavam três garrafas de cerveja.
— Deve tar se arrumando até agora. — Philippe zoou o amigo, provocando uma gargalhada alta nos outros dois. — Sabe como é né, quer causar uma boa impressão...
— Vocês acham que ele tá mesmo afim da ? — João também perguntou.
— Ele não fala com todas as letras, mas eu acho que tá sim. — Respondeu Philippe, se lembrando de todas as conversas que tinha tido com nas últimas semanas. — Só que ele é devagar demais, fraco e sem talento.
— O que vocês três tanto fofocam aí? — questionou enquanto pegava um baldinho com gelo.
— Nada não! — João negou de maneira nada convincente, entretanto, antes que extraísse mais informações o interfone tocou e ela foi ver quem tinha chegado.
— Buenas noches! — sorriu automaticamente assim que viu Maria Júlia. Ela estava linda, usando um conjunto branco de renda, que contrastava com a pele bronzeada na medida certa. Os olhos dele logo viram a leve marquinha de biquíni na pele dela, e ele teve que se concentrar para não encará-la descaradamente e nem que um silêncio constrangedor se instalasse.
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— Trouxe só pra ter certeza que você vai ficar de boa. — Ele entregou uma caixa com donuts para .
— Engraçadinho! — fingiu momentaneamente estar ofendida, mas logo abriu um sorriso. — Obrigada, Princesa. — Ela deu um beijo na bochecha de e abraçou-o.
— Cadê o gelo, ? — Luísa gritou chamando a amiga. — Ahhhh desculpa... — Ela soltou uma risadinha ao ver com . Mesmo conhecendo-o muito pouco, naquele momento Luísa reparou no quanto os dois poderiam fazer um belo casal. Ela certamente conversaria com Aine quando tivesse a oportunidade, para saber como andava a relação deles, já que tinham se passado algumas semanas desde o incidente em que eles se conheceram.
— Vem cá, Lu! — a chamou. — Esse aqui é o ; , essa aqui é a Luísa. — Ela os apresentou.
— O famoso . — Luísa brincou. — Prazer em te conhecer.
— A famosa Luísa... — sorriu também. — Prazer! — Os dois se cumprimentaram com um breve abraço.
— Vem, os meninos tão lá na varanda. — segurou na mão de Rafinha e não pode deixar de reparar no quanto a camiseta cinza e a bermuda jeans tinham caído perfeitamente bem nele. Era diferente vê-lo sem o uniforme do Barcelona. Um diferente bom.
cumprimentou todo mundo, pegou uma cerveja e sentou na namoradeira na varanda.
— Cortou o cabelo... Aí sim hein Princesa, tá linda demais! — Neymar começou com as provocações.
— Obrigado, preto. — zoou o amigo usando o apelido pelo qual Bruna chamava o namorado e jogou um beijo para Neymar.
— Acho bom você ficar esperta hein Bruna! — André Gomes continuou com a brincadeira.
— Pode deixar que eu me garanto. — Bruna riu maliciosa e os meninos começaram a gritar.
— Hoje tem ousadia e alegria, menino Ney! — Jordi Alba deu um tapinha nas costas de Neymar.
— Melhor a Bruna do que o , né não ? — João perguntou para a mulher, que levava a garrafa de cerveja à boca e o susto ao ouvir seu nome fez com que ela engasgasse.
— Calma amiga, respira... — Luísa passou a mão nas costas da amiga carinhosamente até que ela parasse de tossir e Aine foi buscar um copo d’água para .
— Obrigada, Aine. — Ela agradeceu e tomou a água.
— Agora já pode responder, por que eu também quero saber. — Suárez questionou curioso.
— Uai galera... Os homens vão preferir a Bruna e as mulheres o , simples assim. — Argumentou Vivian. Ela era espanhola mas após anos de convivência com jogadores brasileiros aprendeu o idioma, inclusive as gírias bem brasileiras.
— Mas a gente quer ouvir da . — Philippe deu de ombros.
— A Bru é uma deusa, diva, maravilhosa. — começou a falar e Bruna jogou um beijo para a amiga. — Mas eu gosto de homens né, então... — Ela deixou o resto subentendido.
— Agora é só correr pro abraço, Princesa! — Neymar falou deixando tanto quanto Rafinha meio tímidos.
— Credo gente, quantos anos vocês têm? 11? — Aine os repreendeu.
— Relaxa Aine, eles são desse jeito o tempo inteiro, cheios de gracinha. — Vivian revirou os olhos.
— Mas eu nem sei dançar! — André reclamou algum tempo depois quando Luísa sugeriu colocar vídeos do FitDance para eles tentarem imitar as coreografias.
— Eu também não. — Vivian gargalhou. — Tá todo mundo meio bêbado, vai ser divertido.
— Sugiro começar pelas músicas latinas. — Disse Suárez.
— Ok! — Luísa respondeu selecionando os vídeos em seu celular, que logo apareceram na televisão. Eles dançaram Enrique Iglesias, Sebastian Yatra, Maluma, Shakira, riram horrores de Neymar e João fazendo graça. Quando todos estavam cansados decidiram deixar só os clipes das músicas mesmo, até que começou a tocar uma que adorava.
— A gente precisa dançar essa! — puxou Luísa, que estava sentada em uma das poltronas e levantou por saber que “Mamita” (CNCO part. Luan Santana) era uma das preferidas da amiga. estava próximo de onde as duas dançavam e prestava atenção em cada movimento de , que tinha em uma das mãos uma taça de gin (que no início da festa era tônica, mas a aquela altura da noite ela já estava bebendo pura mesmo) e a outra balançava graciosamente assim como todo seu corpo, no ritmo da música. Ela permanecia de olhos fechados, sentindo a batida e a sensação boa que percorria suas veias. Devido a um passo em falso acabou escorregando, o que a teria feito cair se não fossem os braços do moreno com seus 1,74m que estava por perto.
— Cuidado, corazón. — disse a segurando forte pela cintura.
— Desculpa. — acabou gargalhando, já levemente alterada.
— Só se você dançar comigo. — mantinha um sorriso sacana nos lábios.
— Tá bom. — Ela respondeu tomando mais um gole de gin.
— Deixa eu segurar isso aqui, antes que cause um acidente. — Bruna pegou a taça da mão de e voltou para perto do namorado.
entrelaçou os braços no pescoço de , que mantinha uma das mãos firme na base das costas da mulher, mas permitindo que os dois se movimentassem conforme a música. Ele sentia a respiração quente dela batendo em seu pescoço uma vez que, por ser mais baixa, aquela era a posição mais confortável, com a cabeça junto ao peito dele.
— Vem mamita, vem que eu tô querendo você, sem razão, sem porquê, me ganhou, fazer o quê... — Um arrepio percorreu o corpo de quando começou a cantar o refrão da música, com a voz já meio rouca devido ao álcool.
— Ven que ya no aguanto, ay mamita, ven que tu me gustas tanto, y éste nunca miente... — cantou entrando no clima e mal sabia ele que o seu sotaque espanhol somado a toda essa situação também causou efeitos em , que apreciava cada segundo daquele momento.
CUATRO
You've got me feeling like a child now
'Cause every time I see your bubbly face
I get the tingles in a silly place (Bubbly - Colbie Caillat)
Naquela manhã e João fizeram a avaliação física de Gerard Piqué e durante a tarde era a vez de . Os dois ainda não tinham se encontrado depois da resenha no apartamento dela, na qual a lembrança mais marcante era a dela dançando com . Ele era brasileiro mas foi para a Espanha muito novo, fazendo com que ele tivesse o gingado brasileiro e a fluência no espanhol, o que ela considerava como o melhor dos dois mundos. estava concentrada, analisando os resultados dos exames do jogador quando ele entrou na sala acompanhado por João.
— Já se recuperou do porre de gin? — brincou com a mulher enquanto se sentava na cadeira de frente para ela, que só aí notou a presença deles dois e tirou os olhos do notebook.
— E o boa tarde, cadê? Dormiu comigo? — questionou-o, arrancando uma gargalhada de João.
— Boa tarde Dra. , tudo bem? — falou com a maior cara lavada do mundo.
— Abusado! — acabou rindo. — Vou descontar essas gracinhas no treino de hoje, me aguarde. — Ela levantou para pegar o estetoscópio e o esfigmomanômetro para examinar .
— Chama ela pra sair logo, . — João falou antes de levantar e ir se sentar na maca do consultório para ser examinado.
— Você já recebeu o resultado dos exames dele? — João perguntou para .
— Já sim, inclusive estão muito bons. — Ela apontou para o notebook, que João pegou para poder analisar os resultados também. — Clinicamente falando sua recuperação está indo super bem, só notei que você tem terminado os últimos jogos cansado... Essa fadiga é mais muscular ou respiratória? — perguntou enquanto auscultava os batimentos cardíacos de , ela tinha assistido os últimos jogos do time e realizado anotações pontuais sobre cada jogador.
— É respiratória, lá pelos 35 do segundo tempo eu começo a sentir... Puxo o ar e demora a vir, como se eu tivesse jogando na altitude. — respondeu e foi registrando tudo na ficha dele. Depois de uma série de perguntas eles iniciaram os testes físicos na esteira, bicicleta, dentre outros aparelhos para verificar a resistência do jogador.
— Você não tem coração? — perguntou ofegante, colocando as mãos no joelho após a intensa corrida e ela riu.
— Tá só começando, Princesa. — arregalou os olhos quando ouviu falar. — Tô brincando contigo, pra mostrar que eu sou muito boa você vai finalizar o treino na água, vamos. — falou indo em direção à piscina do clube e sendo seguida pelos dois. apenas tirou o tênis e o uniforme, visto que já estava de sunga e foi direto para a água. João indicou alguns exercícios para relaxar a musculatura do jogador e, posteriormente, realizou com ele o trabalho respiratório.
— Bem melhor agora. — sentou na beira da piscina e lhe entregou uma toalha para que ele se secasse. Sua expressão era de alívio, ele sentia o corpo muito mais leve após a "sessão relaxamento".
— Deu pra notar o seu cansaço mesmo, por isso nos nossos próximos treinos eu vou priorizar a parte respiratória, com base nos testes de hoje e no seu desempenho a gente vai fazendo as adaptações necessárias, tá bom? Qualquer dúvida ou se você sentir alguma coisa diferente pode me procurar ou me ligar. — deu as últimas orientações a .
— Tá ótimo, pode ficar tranquila. — agradeceu-a pelo cuidado com ele. Uma das maiores qualidades de era ser atenciosa e era nítido para todos o quão natural aquilo era, independente de ser no trabalho ou na vida pessoal dela.
— Até o próximo treino, bom restinho de tarde. — Já era por volta de 17h e tanto ela quanto estavam liberados para ir embora.
— Até mais, pra você também. — se despediu dela com um sorriso e um beijo na bochecha e foi em direção ao estacionamento do clube, já ele conversou um pouco com João e Ter Stegen que passava por ali, antes de tomar um banho e ir para casa.
— Tem certeza que você não tinha nenhum plano melhor para hoje, ? — Aine questionou a amiga, que tinha aceitado prontamente quando ela lhe pediu para ficar com a Maria durante essa noite.
— Relaxa Aine, vai ser um prazer cuidar dessa coisinha linda. — sorriu olhando para Maria, que brincava distraidamente no tapete da sala montando um castelo de Lego.
— Eu não sei a que horas nós voltaremos, então fica à vontade, os quartos de hóspedes estão arrumados e... — Philippe foi interrompido pelo toque da campainha.
— Boa noite, casal! — entrou cumprimentando Aine com um beijo na bochecha e Philippe com um toque de mãos.
— O que você tá fazendo aqui essa hora, causador de acidentes? — tentou fechar a cara, mas o sorrisinho de canto denunciava que aquilo não passava de uma brincadeira.
— Eu chamei ele por que não quis deixar você e a Maria sozinhas a noite toda. — Philippe explicou o motivo do camisa 12 estar ali.
— Eu sei cuidar de crianças, tá? — deu de ombros, rindo. — Tenho uma afilhada, muitos primos pequenos e amigos que já têm filhos.
— Oi pra você também, loira do carro branco. — Ele beijou o cabelo de e foi dar um cheiro na filha do casal.
— Olha só, tô surpresa ao saber que você tem bom gosto suficiente pra ouvir João Paulo e Daniel. — brincou se referindo à música que o moreno tinha mencionado.
— Você não sabe muitas coisas sobre mim. — sorriu maliciosamente.
— Ficar aqui vendo vocês dois com certeza é melhor do que o jantar com os patrocinadores, mas infelizmente nós temos que ir. — Disse Philippe pegando seu celular, carteira e a chave do carro.
— Qualquer coisa é só ligar, a casa é de vocês. — Aine completou.
— Tá comigo, tá com Deus. — respondeu e caiu na gargalhada. — Antes de vocês irem eu só preciso saber se aqui tem uma gaveta ou armário de doces pra garantir a calma dela... — apontou para a loira. — ...e a minha sobrevivência.
— Você é ridículo, . — revirou os olhos.
— Segunda porta acima do micro-ondas. — Aine respondeu segurando o riso.
— Só não traumatizem minha filha com nenhuma cena ou barulho impróprio para a idade dela, viu?! Vão para um quarto longe do dela e, por favor, tranquem a porta.
— Philippe sorriu malicioso, fazendo com que todos o acompanhassem e fez uma cara de indignação.
— Tchau, Coutinho. — jogou uma almofada no amigo, que sussurrou um "vai que é tua, mlk" para .
— Esses dois são uma graça. — Aine falou entrando no carro com o marido. — No início eu achava viagem de vocês, mas preciso confessar que eles combinam.
— Eles vão acabar ficando juntos... Se depender do então, desde o dia do tal incidente ele tá caidinho por ela. — Philippe respondeu ligando o carro e indo em direção ao tal jantar com os patrocinadores.
— Então essa noite somos eu e você... — falou assim que o casal saiu.
— E a Maria. — completou.
— Tio tava com saudade desse neném. — falou pegando a menina no colo e enchendo-a de beijos, a fazendo gargalhar com a sensação de cócegas.
— A Aine disse que ela acabou de jantar, , desse jeito ela vai vomitar. — repreendeu a brincadeira.
— Tá bom, tá bom. — Ele falou se rendendo e colocou Maria de volta ao tapete.
— Vamos assistir um filme, Maria? — perguntou enquanto procurava algo na sessão infantil do Netflix.
— Frozen, tia . — Maria pediu dando pequenos pulinhos e pegando seu Olaf de pelúcia.
— Então vamos ver Frozen. — deu play no filme e os três se sentaram no sofá para assistir.
— Não sabia que você levava tanto jeito com crianças... — falou após colocar Maria na cama dela, a pequena acabou dormindo antes do final do filme, após tomar uma mamadeira que havia preparado.
— Você não sabe muitas coisas sobre mim. — repetiu a frase que tinha usado anteriormente.
— Engraçadinha. — Ele revirou os olhos.
— Mas eu adoro crianças, tenho uma afilhada e sinto muito a falta dela, a gente era bem apegada.
— Posso ver uma foto dela?
— Claro. — respondeu pegando o celular que estava jogado no tapete e se sentou ao lado de , que tinha colocado a tv em um jogo da NBA. — Essa é a Elisa.
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— Ela é muito linda, parece uma princesa. — falou encantado com a garotinha de três anos.
— Puxou a dinda. — sorriu convencida.
— É verdade. — concordou e ficou com as bochechas coradas.
— E a princesa aqui é você. — Ela não pode deixar de brincar.
— Você não perde uma oportunidade, hein?! — falou apertando a cintura da mulher.
— Se depender de mim esse apelido nunca vai morrer, . — deu de ombros.
— Tô vendo... Eu também tenho um sobrinho, ele chama Gabriel. — falou orgulhoso enquanto mostrava uma foto sua deitado, segurando o pacotinho de gente.
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— Não tenho maturidade pra lidar com tanta fofura... Como você consegue não morder essas bochechas?
— Eu mordo de vez em quando, a mãe dele só não pode saber disso senão me mata. — sorriu travesso.
— Você tá com fome? — questionou o jogador.
— Bom... Pipoca não enche muito, né?! — Ele fez uma cara engraçada, que provocou uma risada em .
— Vem, vou fazer alguma coisa pra gente. — foi em direção à cozinha, sendo seguida por .
— Acho que o Philippe deve ter algum cabernet sauvignon rosé. — falou procurando na adega do amigo.
— Você vai fazer... sangria? — questionou ao vê-la pegando morango, kiwi, blueberry, framboesa, abacaxi e limão siciliano.
— Tá meio calor e sangria é bem refrescante. — sorriu. — Espero que a minha não decepcione, você já deve ter experimentado as melhores receitas por toda a Espanha.
— Só esperando pra ver, né?! — brincou com a loira.
decidiu fazer um spaghetti a carbonara, uma receita simples e muito saborosa, além de combinar com o vinho escolhido.
— Quer ajuda? — ofereceu quando a viu preparando o jantar para eles.
— Não precisa, aqui é bem rapidinho... Mas se você quiser ir pegando os pratos, talheres e taças. — Ela sugeriu. — Coloca tudo lá na mesa de centro, a gente pode comer no tapete mesmo enquanto assiste ao jogo do Golden State Warriors.
— Pode deixar.
— , pega a forminha de gelo rosa no freezer pra mim, por favor. — pediu e riu ao ver o gelo com morango e hortelã.
— É gelo de água de coco. — explicou ao ver a expressão meio intrigada do moreno. — A Aine sabe que eu adoro e vai dar um toque especial na sangria, junto com a vodka. — Ela falou adicionando a dose da bebida às taças e mexendo bem.
— Quer me deixar bêbado e se aproveitar de mim, doutora? — brincou quando experimentou a bebida, provocando uma gargalhada alta em . — Shhh, assim você vai acordar a Maria... — Ele a advertiu e a mulher segurou a risada. — Mas você tinha razão, a vodka e o gelo dão um sabor único.
Logo o macarrão ficou pronto, ela serviu uma boa quantidade para os dois e levou os pratos para a mesa. sorriu ao ver a arrumação de , ele tinha feito um bom trabalho, inclusive acendendo uma mini-vela que deu todo um charme especial.
— O cheiro tá ótimo. — afirmou ao vê-la trazendo os pratos.
— Tô sentindo como se eu tivesse sendo julgada pelo Claude Troisgros. — gargalhou assim que deu a primeira garfada no macarrão.
— Você é uma graça. — não pode deixar de rir também. — E o sabor tá ainda melhor que o cheiro.
— Obrigada, me sinto aliviada. — disse colocando uma das mãos no peito e soltando o ar que até então nem tinha percebido que estava segurando. — Não que eu esteja querendo te agradar... — Ela brincou com um tom sarcástico. — Mas comida é algo que eu levo a sério.
— Até que pra quem não está querendo me agradar você fez tudo direitinho hein. — devolveu no mesmo tom, levando a taça à boca sem desgrudar os olhos dos da mulher à sua frente. ficou sem reação alguns segundos, se sentia presa ao olhar do moreno.
— Ridículo. — balançou a cabeça negativamente na tentativa de afastar os pensamentos loucos que rondavam sua mente e acabou rindo de si mesma. Era um legítimo "tô rindo mas é de nervoso". Por quê mesmo que ela estava se sentindo assim?
— Você já disse isso hoje. — falou com um sorriso cretino no rosto.
— Talvez eu esteja certa, né? — Ela estreitou os olhos e encarou-o.
— Tá bom, parei. — levantou as mãos em sinal de rendição. — Vamos comer em paz.
— Amém, Senhor. — agradeceu aos céus.
— Sabia que eu tinha pensado em fazer a residência em pediatria? — quebrou o silêncio que tinha se instalado entre os dois enquanto comiam. agradeceu mentalmente por isso, ele realmente não sabia quase nada sobre e algo dentro de si queria que ele descobrisse mais sobre ela.
— Sério? — O moreno questionou surpreso.
— Seríssimo... No início da faculdade eu queria pediatria, minha família e minhas amigas queriam que eu fizesse dermatologia alegando que era a minha cara, mas no fundo eu sei que era pra ganhar amostra grátis dos produtinhos. — Ela gargalhou e a acompanhou. — Até fiz a prova pra pediatria e pra medicina esportiva, passei nas duas mas o amor pelos esportes falou mais alto e aqui estou eu.
— Não deve ter sido fácil né? Principalmente por que o futebol ainda é dominado por homens, acho que na medicina esportiva é a mesma coisa... Nunca tinha jogado em um time que tem uma médica. — confessou.
— Realmente, mas eu tive muita sorte quando fui contratada pela Nike, o João já trabalhava lá e ele me ajudou muito. Eles me proporcionaram oportunidades incríveis, aprendi muito com os médicos e atletas do Santos, hoje tô aqui em Barcelona... É muito bom saber que eu fiz a escolha certa e ser reconhecida por isso. E pra vocês, é muito 'estranho' ter uma médica no time? — A loira questionou e bebeu mais um gole da bebida, curiosa para saber o que achava disso tudo.
— Foi diferente, não posso negar, mas logo você mostrou que seu trabalho é excelente e hoje todo mundo te adora. Acho que você trouxe um ar de leveza pro dia a dia no clube, sempre tenta fazer coisas diferentes nos treinos, com muita delicadeza e dedicação, é atenciosa com todos... O time tava precisando disso. — respondeu sincero, deixando-a tímida com o elogio.
— Nossa... — falou colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. — Eu não esperava ouvir isso, . Obrigada.
— O que te fez não escolher a pediatria? — Foi a vez de retomar o assunto.
— É muito difícil ver seres tão pequenos passando por coisas tão difíceis, eu sempre me envolvia demais nos casos e isso me afetava de uma maneira absurda. Durante o internato eu acompanhei alguns pacientes em fase terminal ou em estágio muito grave, que chegava um ponto que não tinha mais o que a equipe médica fazer.
— Os olhos de se encheram de lágrimas e a sua voz falhou momentaneamente. — Eu me sentia tão mal, tão impotente... Mesmo o carinho que a gente recebe das crianças sendo extraordinário, tem que ser muito forte pra lidar com isso todo dia, então... Acho que eu não aguentaria.
— Ei, vem cá. — chamou e limpou as lágrimas de , puxando-a para um abraço em seguida. — Tenho certeza que você fez sempre o seu melhor, por que mesmo tendo escolhido a medicina esportiva você continua fazendo o melhor.
— Você tá tentando me acalmar ou me fazer chorar ainda mais? — riu entre as lágrimas. O comportamento de chamou atenção da mulher, que não esperava ouvir tantas coisas boas do jogador e que ele fosse tão carinhoso.
— Quer que eu volte a ser o engraçadinho? Assume que você adora... — Por favor, se for pra chorar que seja de rir de você e das suas piadinhas infames, até que você me diverte bastante. — confessou. — Eu sou bom em tudo que eu faço. — falou convencido, fazendo rir. Algo dentro dela também queria conhecê-lo melhor, não o jogador de futebol , mas quem ele era verdadeiramente fora dos gramados. Já para ele, saber um pouco mais sobre a vida da médica depois da conversa dessa noite o deixou ainda mais fascinado, e ele descobriu que era assim que gostava de vê-la. Sorrindo.
— Finalmente em casa! — Aine falou tirando as sandálias de salto assim que pisou na sala de estar e o marido acendeu apenas um abajur, deixando a iluminação indireta sob o ambiente. — Será que a e o sobreviveram um ao outro?
— Isso responde a sua pergunta? — Philippe apontou para o sofá, onde e dormiam juntos tranquilamente. Depois de muitas taças de bebida e mais conversa sobre assuntos aleatórios, os dois acabaram pegando no sono ali mesmo.
— Será que a gente acorda eles? Se bem que os dois tão muito bonitinhos assim...
— Melhor não, mas bem que eu queria ver a cara deles quando acordarem. — Philippe respondeu. — Preciso mostrar isso pro Ney. — Ele riu e tirou uma foto.
— Não aguento vocês, parecem crianças. — Aine riu também. — Pelo visto eles se divertiram, né?! — A mulher mostrou as taças e a garrafa de vinho na mesa de centro.
— Não, os dois ainda estão completamente vestidos... — Philippe respondeu em um tom levemente decepcionado.
— Philippe! — Aine levantou um pouco a voz, repreendendo o marido.
— Tô brincando, amor... Vamos subir. — Philippe desligou o abajur, abraçou a esposa pela cintura, dando-lhe um selinho e os dois foram em direção ao quarto.
CINCO
Oh, my irrefutable father
He told me
Son, sometimes it may seem dark
But the absence of the light
Is a necessary part
Just know, you're never alone
You can always come back home (93 million miles - Jason Mraz)
— Fiquei sabendo que você dormiu muito bem essa noite... — João falou dando um tapinha nas costas de quando o time se apresentou naquela tarde de segunda-feira. Todos viajariam para mais uma rodada da fase de grupos da Champions League, na qual o adversário do dia seguinte seria o Olympiacos.
— Não sei do que você tá falando. — O jogador tentou desconversar, mas mantinha um sorrisinho sacana nos lábios que o denunciava.
— Vou refrescar a sua memória então. — João pegou o celular no bolso e abriu a foto de e dormindo abraçados.
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— Mas como... — fez uma pausa se questionando sobre a foto, mas logo lhe veio na cabeça o autor daquilo. — O Philippe não perdoa mesmo hein.
— Achei que você já tivesse visto, ele mandou no nosso grupo. — O fisioterapeuta se referiu ao grupo no whatsapp em que estavam vários jogadores brasileiros que atuavam em clubes europeus mais alguns amigos.
— Não olhei o whatsapp hoje... E também nem quero ver a cara da quando souber dessa foto. — se questionou sobre como ela reagiria com mais essa brincadeira dos amigos.
Naquela manhã ao perceberem que tinham dormido no sofá depois do jantar (e de algumas taças de sangria), os dois agiram o mais naturalmente possível. Não era preciso fingir que nada aconteceu, até por que realmente não aconteceu nada, no entanto, aquela noite tão agradável poderia ser um sinal de que eles poderiam se tornar amigos. pode conhecê-la um pouco melhor, saber sobre sua vida, seus medos, suas escolhas. Estava muito feliz com a aproximação dos dois e, apesar das brincadeirinhas entre eles, esperava que ela sentisse o mesmo.
— Relaxa, o Ney disse que já curtiu bastante e ela levou numa boa.
— , a gente precisa conversar. — interrompeu os dois, que ficaram sem entender.
— Eu vou deixar vocês a sós. — João falou na iminência de se retirar, porém segurou em seu braço o impedindo.
— Não, preciso que você venha também. — A voz da médica tinha um tom calma, entretanto, sua expressão não era das melhores. Os três se dirigiram até a sala dela e se sentaram.
— Pra confessar que você tá apaixonada por mim não precisava do João aqui. — brincou arrancando uma gargalhada da médica e do fisioterapeuta, todavia logo voltou à seriedade.
— Infelizmente não é isso, . Na verdade, o resultado da ressonância que você fez no joelho acabou de sair... — começou a falar e mostrou o exame para João, enquanto um calafrio percorreu o corpo do jogador, deixando-o tenso. — A lesão no menisco direito teve um pequeno agravamento, mais precisamente uma inflamação, e a gente vai ter que fazer uma intervenção cirúrgica para corrigir antes que cause fibrose ou algo do tipo. Sinto muito , mas a sua volta aos gramados vai ter que esperar mais um tempo.
A expressão no rosto do jogador era indecifrável, os olhos de perderam o brilho assim como o sorriso aberto, que era sua marca registrada, também sumiu.
— Vai dar tudo certo, irmão. É só uma fase. — João tentou encorajar o atleta, mas sabia que não era fácil. O joelho direito de vinha sofrendo paulatinamente com lesões, primeiro com a ruptura do ligamento cruzado, depois o menisco interno com a necessidade de artroscopia e agora essa complicação depois da cirurgia.
— Eu já entrei em contato com a equipe do Dr. Ramón Cugat e amanhã a gente vai realizar o procedimento bem cedo, quero dar início à sua recuperação o quanto antes. — explicou e o camisa 12 assentiu, frustrado. — Também liguei para o seu pai e ele já está a caminho, vamos fazer os exames pré-operatórios agora mesmo.
e foram para o Hospital Quirón, centro de referência em ortopedia de Barcelona, onde o pai do jogador, o tetracampeão Mazinho, já os esperava. A primeira reação de foi dar um abraço apertado no pai e deixar com que as lágrimas teimosas rolassem. O atleta questionava o porquê de tantas lesões, se ele havia feito algo errado, entretanto, não obteve nenhuma resposta para as suas incertezas.
— Ei, filho. — Mazinho chamou a atenção do jogador, que levantou a cabeça para olhá-lo nos olhos. — Tem coisas na vida que fogem do nosso controle, fomos pegos de surpresa mas não vai ser isso que vai nos derrubar. Vamos enfrentar essa cirurgia juntos e de cabeça erguida, como sempre fizemos. Quando você menos esperar, estará de volta aos gramados. — O pai de olhou para a médica, buscando a confirmação para as palavras de conforto que acabara de dirigir ao filho.
— , eu prometo que vou fazer o meu melhor pra você se recuperar o mais rápido possível, nem que eu tenha que trabalhar dia e noite pra isso. Só preciso que você se mantenha confiante, acreditar que vai dar certo é o primeiro passo, e nós vamos surpreender todo mundo com a rapidez do seu retorno. Minha meta é dois meses.
— Dois meses? — arregalou os olhos, assustado com o prazo estabelecido pela médica. — O tempo médio de recuperação é de três meses.
— Eu não acredito no impossível, e você? Confia em mim? — sorriu e respirou fundo.
— Eu confio. — O jogador respondeu se enchendo de esperança.
— Gostei dela. — Mazinho falou baixo, de maneira que só seu filho ouviu.
— Ela é incrível mesmo... — confirmou sorrindo, vendo a doutora passar todas as orientações para a equipe médica sobre os exames que deveriam ser realizados.
— Doutora . — Mazinho chamou a atenção da médica enquanto realizava mais uma ressonância.
— Não precisa me chamar de doutora, pode ser só de ou . — Ela respondeu simpática.
— , eu não quero parecer pessimista, mas você acha mesmo que é possível o se recuperar tão rápido?
— Imagina, eu entendo a sua preocupação... Acredito inclusive que ainda dá pra adiantar em uns 10 dias, mas prefiro ter essa margem de segurança. Muitos tratamentos novos vêm mostrando resultados excelentes na recuperação de cirurgias. Um deles é a câmara hiperbárica, na qual a circulação do oxigênio puro auxilia no processo de cicatrização dos tecidos. As sessões de fisioterapia serão realizadas em três turnos diários, matutino, vespertino e noturno. Também fiz a análise detalhada da fisiologia e da biomecânica do corpo do , como ele tem a idade biológica menor do que a idade real, me permite fazer tudo isso com intensidade e sem sobrecarregá-lo. Entretanto, para a imprensa nós divulgaremos o prazo médio de três meses mesmo, não quero gerar expectativas nem deixar os jornalistas perseguirem o acerca do que será feito. Quero ele 100% focado nessa recuperação e pra isso ele precisa de tranquilidade. — explicou o seu planejamento para o pai do camisa 12, que ficou impressionado com a ousadia e a segurança da médica.
— Da minha parte e do restante da família pode ter certeza que o vai ter todo o suporte e a paz necessária para ter sucesso na recuperação.
— Vocês não precisam se preocupar em relação a isso, eu jamais daria esperanças para o se não acreditasse verdadeiramente nessa estratégia de tratamento.
— Pensei que esse dia não fosse acabar nunca... — se jogou no sofá assim que entrou no apartamento. Luísa estava com várias amostras de tecido espalhadas no tapete da sala, decidindo quais usaria nas peças que ela estava criando.
— Problemas no trabalho? — A morena questionou e a amiga fez que sim com a cabeça. — É alguma coisa séria?
— Mais ou menos... Em abril o teve uma lesão e fez uma artroscopia, agora a gente identificou uma inflamação pequena e vamos ter que realizar uma intervenção. Passei a tarde toda com ele no hospital fazendo exames e amanhã de manhã vamos fazer a cirurgia.
— Agora traduz o que é artro... — Luísa fez uma pausa, sem ter a mínima ideia do que se tratava.
— Artroscopia. — riu. — É um procedimento cirúrgico menos invasivo, pra identificar o tipo de lesão e o melhor tratamento para ela. No caso do apareceu essa inflamação recentemente que vai atrasar ainda mais o retorno dele aos gramados.
— Tadinho, ele deve tar arrasado...
— Foi um balde de água fria né amiga... — falou se levantando e pegando a bolsa que estava jogada na poltrona. — Só vou tomar um banho e vou elaborar detalhadamente o planejamento de recuperação dele.
— Vai lá amiga, vou pedir alguma coisa pra gente jantar. — Enquanto a loira tomava banho, Luísa pediu comida chinesa e o yakisoba chegou assim que retornou à sala.
— E as coisas na Stradivarius, como estão? — perguntou sobre o trabalho da amiga.
— Estamos buscando referências para o próximo desfile, que vai ser o lançamento da coleção de primavera-verão. — Os olhos de Luísa brilhavam ao falar de sua profissão, ela era completamente apaixonada pelo universo da moda e isso era nítido.
— Mas já? Nós ainda estamos no outono... — indagou confusa.
— Não dá para perder tempo, são muitas tendências, inspirações, o processo criativo é demorado... — Luísa explicou enquanto as duas se deliciavam com o yakisoba do melhor restaurante chinês de Barcelona.
— Só sei que eu quero um lugar na primeira fila para acompanhar esse desfile. — falou divertida.
— Pode deixar. — Luísa riu. Era muito bom ter sua melhor amiga por perto e saber que ela adorava lhe acompanhar nesses eventos do circuito mundial da moda.
— Ok Blair Waldorf, chega de enrolação por que eu ainda tenho muita coisa para fazer hoje. — juntou as caixinhas vazias de comida e levantou para jogá-las fora.
— Eu também, Serena Van der Woodsen. — Luísa entrou na brincadeira com a amiga.
— Só espero não fazer tantos papéis de trouxa como a Serena nem acabar com um Dan, sempre achei o Nate muito melhor. — gargalhou, por que fisicamente ela até parecia um pouco com a Serena, entretanto, as personalidades tinham pontos bem diferentes.
— Eu gosto de um bad boy, então sou team Chuck Bass. — Luísa também gargalhou e a olhou com uma cara de "jura, meu anjo?", estreitando os olhos.
— Novidade hein Luísa , o Lucas Lima que o diga. — A loira provocou a amiga.
— Você não vai esquecer isso nunca? — Luísa riu, balançando a cabeça negativamente.
— É só por que eu te amo! — pulou em cima da amiga, dando um abraço de urso nela. — E o Lucas é muito gente boa, além de ser um gato, cê tinha que ver nos treinamentos... — A médica bateu palmas lembrando da época que trabalhava com o jogador no Santos, no entanto, atualmente ele defendia o Palmeiras.
— O também é um gato, até imagino a sua cara vendo ele treinar. — Luísa provocou de volta, fazendo a amiga revirar os olhos.
— Nem começa. — repreendeu, fazendo com que Luísa gargalhasse mais ainda.
— Ah tá, por que de certo fui eu que dormi com o na casa do Coutinho e cheguei aqui falando que ele é um cara legal e não sei mais o quê... — Luísa falou irônica. — Amiga, assume que rola um clima entre vocês.
— Um clima não significa que necessariamente vai acontecer alguma coisa. — deu de ombros.
— Então você tá confessando que tem um clima! — Luísa praticamente gritou de empolgação. — Eu sabia que essa implicância de vocês dois era só pra disfarçar.
— Chega, Luísa Bernardi. — ficou indignada com as alegações da amiga.
— Tá bom, mas o assunto " " não terminou por aqui. — A morena assumiu um ar vitorioso, pois conhecia muito bem a amiga e sabia que tinha razão.
As duas ficaram envolvidas com as coisas do trabalho e nem viram o tempo passar. Quando Luísa se deu conta, já eram 3 horas da manhã.
— , a cirurgia do é que horas? — A morena questionou a médica.
— Tá marcada pra 7h, por quê? — respondeu sem tirar os olhos de seu notebook.
— São 3h amiga, você precisa descansar.
— Daqui a pouco eu vou Lu, pode ir dormir se você quiser.
— Não senhora, você vai dormir também! — Luísa falou com a entonação levemente autoritária. — Cansada você não pode fazer nada pelo e ele precisa de você mais do que nunca... — A voz dela agora assumiu um tom carinhoso.
— Tá bom... — suspirou se dando por vencida, uma vez que sabia que Luísa estava certa. Ela deveria estar descansada para acompanhar o procedimento cirúrgico do jogador e para ajudá-lo em sua recuperação.
— Bom dia! — entrou sorridente no quarto onde estava sendo preparado pelas enfermeiras para ser levado à sala de cirurgia. — Tudo certo pra gente resolver de vez os problemas desse joelho?
— Sim senhora! — brincou batendo continência, ele tinha a expressão facial e corporal mais relaxada, o que provocou certo alívio na médica.
— Enquanto o Dr. Ramón não chega, vou repassar com vocês todo o procedimento e o que vai ser feito para conseguirmos a recuperação em dois meses.
— explicou detalhadamente tudo para o jogador e para Mazinho, esclarecendo todas as dúvidas pontuais que os dois tiveram.
Ainda no quarto, o jogador conversou por videochamadas com sua família. Primeiro com o irmão mais velho, Thiago , e a esposa dele, Júlia, que estavam em Munique. Depois ele falou com a mãe, Valéria, e os irmãos mais novos, Thaísa e Bruno, que moravam em Vigo. Todos estavam torcendo para que desse tudo certo na cirurgia de e pedindo que ele avisasse, assim que fosse possível, como tudo tinha ocorrido.
— ? — chamou quando eles estavam no elevador, indo para o andar da cirurgia.
— Pode falar, . — direcionou sua atenção para o jogador, que estava deitado na maca que era levada por ela e uma enfermeira.
— Quando você entra na sala de cirurgia também tem alguma frase tipo "It's a beautiful day to save lives"? — perguntou levemente intrigado e tanto ela quanto a enfermeira que os acompanhava riram.
— Não tenho nenhuma frase assim, meu ritual é apenas rezar pra dar tudo certo mesmo. — explicou. — Por quê? — Ela indagou curiosa.
— A Thaísa gosta muito de Grey's Anatomy e ela acha que isso pode dar sorte. — riu. — Ela ficou preocupada, sabe...
— Eu também adoro Grey's! Quer tirar uma foto antes de entrar na S.O. pra mandar pra ela? — sugeriu como forma de tentar tranquilizar um pouco a irmã do jogador.
— Quero. — concordou e a enfermeira tirou uma foto dele com , que logo foi enviada pelo whatsapp para Thaísa.
— Fala pra ela que eu vou dizer, só pra garantir. — A médica respondeu sorridente se referindo à famosa frase dita por Derek Shepherd e depois entregou o celular do atleta para Mazinho, que se despediu do filho e foi para a sala de espera, enquanto foi para o centro cirúrgico. Logo Dr. Ramón Cugat, especialista em cirurgia de joelho, chegou e conversou um pouco com entes que fosse aplicada a anestesia nele.
— Pai... — chamou assim que acordou, ainda sentindo a sonolência provocada pela anestesia e os medicamentos intravenosos.
— Oi, filho. — Mazinho levantou da poltrona ao lado da cama e se sentou perto do jogador. , que estava do outro lado do quarto, acabou tirando uma foto desse momento dos dois.
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— Como foi a cirurgia? — O atleta perguntou apreensivo, pois o procedimento era decisivo para a cura de sua lesão e seu retorno aos campos.
— Acho que a Dra. pode explicar melhor.
— O mais velho respondeu, mas a sua expressão tranquila indicava que a notícia era boa.
— E então, ? — questionou a médica.
— Foi um sucesso, ... A inflamação era menor do que a gente imaginava e está sendo controlada com medicação, daqui pra frente é só fisioterapia e fortalecimento muscular até que você possa voltar a treinar normalmente com o time. — A médica explicou e o sorriso aberto de foi contagiante, o jogador deu um abraço apertado nela, visto que tirou um peso gigante das costas.
As próximas semanas seguiram com um trabalho intenso de João e em prol da recuperação de Rafinha. A resposta ao tratamento era uma notória melhora do jogador, visto que a inflamação desapareceu e ele já vinha treinando com bola. Cada avanço era comemorado imensamente por toda a equipe médica, familiares e amigos de , e ver a alegria dele ao estar voltando a fazer o que mais amava era uma recompensa e tanto.
SEIS
Oh, I've been shaking
I love it when you go crazy
You take all my inhibitions
Baby, there's nothing holdin' me back
You take me places that tear up my reputation
Manipulate my decisions
Baby, there's nothing holdin' me back
I feel so free when you're with me, baby
Baby, there's nothing holdin' me back
(There's nothing holdin' me back - Shawn Mendes)
— Mãe? — chamou entrando em casa, segurando uma mala e com a mochila nas costas, vinha logo atrás dele. O técnico, Luís Enrique, havia dado uns dias de descanso para o jogador e os dois foram passar o fim de semana em Vigo, com a família dele.
— ! — Valéria apareceu na sala e correu para abraçar o filho, que soltou a bagagem para retribuir o abraço da mãe. — Por quê você não avisou que tava vindo?
— Quis fazer supresa. — deu um beijo na testa da mãe.
— E essa moça linda com você, não vai me apresentar? — A mãe do jogador perguntou, deixando corada.
— Mãe, essa é a , médica do time e minha amiga. , essa é a minha mãe, Valéria. — as apresentou. — Vocês não se conheceram antes por que na semana que você foi ficar comigo em Barcelona a tava de folga, aí quem tava cuidando do meu treinamento era o João.
— Bem vinda, . Sinta-se em casa. — Valéria abraçou-a carinhosamente.
— Pode me chamar de e desculpa o incômodo, mas o insistiu muito para que eu viesse e assim a gente continua treinando, a volta dele aos campos está bem próxima.
— Fez bem, filho. — Valéria sorriu para e, posteriormente, voltou sua atenção para a médica. — Será um prazer ter você aqui durante esse fim de semana, . Vem, vou te mostrar seu quarto. — A mulher direcionou-a até o quarto de hóspedes.
— Obrigada Valéria, é um prazer te conhecer, o fala muito de você... Parabéns pela família, seus filhos são lindos. — elogiou, sentando na cama com Valéria ao seu lado. Ela tinha conhecido Thaísa quando a garota foi passar a semana com o irmão em Barcelona e Thiago em um evento da FIFA. Só faltava o pequeno Bruno, que até então ela só tinha visto por fotos e FaceTime.
— Já tá falando pra minha mãe que eu sou lindo? Ela já sabe disso. — entrou no quarto rindo.
— Nem vem dar uma de Cristiano Ronaldo com esse 'sou lindo'... Eu tava falando do Bruno, da Thaísa e do Thiago, não de você. — deu de ombros, arrancando uma risada da mulher ao seu lado.
— Tá vendo como ela me trata? — fingiu indignação, fazendo um biquinho muito engraçado.
— Não precisa ficar assim bebê, você também é lindo, tá?! — falou com como se ele fosse uma criança de três anos (de vez em quando parecia mesmo) e lhe deu um beijo na bochecha. — Satisfeito?
— Agora sim. — O camisa 12 riu.
— Vou deixar vocês descansarem, daqui a pouco a Thaisa chega com o Bruno. Ela foi levá-lo ao cinema, aí já viu né? Volta pra casa todo empolgado.
— Tô morrendo de saudade deles dois. — falou passando o braço por cima do ombro de sua mãe.
— Qualquer coisa é só chamar. — Valéria disse atenciosa.
— Obrigada. — deu o seu melhor sorriso de agradecimento, estava realmente se sentindo bem ali.
— Bom dia, Bela Adormecida! Pensei que eu teria que te dar um beijo de amor pra você acordar. — brincou enquanto descia as escadas, ainda um pouco sonolenta.
— ! — Valéria repreendeu o filho.
— Fica tranquila Valéria, já tô acostumada com essas gracinhas. — sorriu.
— Que saudade, ! — Thaísa apareceu na sala e abraçou a médica. As duas se deram muito bem quando a mais nova foi passar uns dias em Barcelona e desde então se tornaram amigas, sempre mantendo contato pelas redes sociais.
— Tava doida pra te ver. — retribuiu o abraço apertado. — E esse rapaz tão lindo que dá vontade de encher de beijos? — A médica dirigiu sua atenção para Bruno, que deu uma risada gostosa.
— Oi ! — Bruno também a abraçou e lhe deu um beijo na bochecha. — Você também é muito linda.
— Ah não, acho que eu tô apaixonada! — suspirou, brincando com Bruno. Parece que ser lindo e apaixonante era uma coisa que realmente estava no DNA dos .
— Poxa Bruno, eu tô tentando conquistar ela a um tempão e você com menos de 5 minutos já vai roubar ela de mim? — fez uma cara de chateado, arrancando gargalhadas de todo mundo.
— Se você quiser eu te ensino a fazer ela se apaixonar por você. — Bruno sussurrou para o irmão, no entanto, Valéria, Thaísa e acabaram ouvindo e rindo ainda mais da espontaneidade do garoto. Os dois eram muito apegados e isso era nítido, bastava ver os sorrisos quando estavam juntos. O amor entre eles era lindo de se ver.
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— Ele é muito maravilhoso, não aguento. — secou os cantos dos olhos, que marejaram do tanto que ela riu. — E além de tudo é enorme, tá quase do meu tamanho. — Ela constatou surpresa.
— Como de fosse difícil chegar nos seus gigantes 1 metro e 60... — fez aspas no ar ao pronunciar a palavra "gigantes" para provocar a mulher e, ao ver a cara que ela fez, a advertiu. — Cuidado com o que você vai responder, tem criança no ambiente.
— Eu tampo o ouvido do Bruno, pode xingar o à vontade. — Thaísa colocou as mãos sob as orelhas do irmão mais novo, incentivando a amiga a "brigar" com o camisa 12.
— Você é ridículo, . — A loira o fuzilou com o olhar.
— Também te adoro, corazón. — abraçou de lado, segurando-a pela cintura. Ela até tentou manter a expressão de brava porém, ao ouvir o apelido proferido em espanhol pelo jogador, acabou sorrindo.
— Isso é amor, tá rolando amor, é o encontro de metades, a rosa e o beija-flor... — Thaísa cantarolou baixinho.
— O que você disse, Thaísa? — questionou a amiga, segurando o riso.
— Eu? — A morena se fez de desentendida. — Nadinha, só lembrei de uma música do Matheus e Kauan, boa ela né?! — abriu um sorriso cretino ao ouvir a brincadeira da irmã e logo Valéria chamou-os para comer.
— Que animação é essa? — perguntou ao abrir a porta de vidro que dava para a área externa da casa, onde fazia um treino funcional na quadra de areia.
— Não sei, só sei que eu queria ser assim. — Thaísa constatou e a médica foi até onde os irmãos conversavam. — Como você consegue? São 8 horas da madrugada de uma sexta-feira!
— Ah, o dia amanheceu tão lindo que eu resolvi aproveitar pra queimar as calorias do jantar de ontem. Você já tá pronto pro treino, ?
— Sim senhora, só falta calçar o tênis. Bem que você podia aliviar hoje, hein ... — pediu e a médica logo entendeu o que ele tava insinuando.
— Já até sei, tá querendo treino na piscina... — questionou e o jogador fez a cara do gatinho do Shrek, na tentativa de persuadi-la.
— Deixa...
— Seu irmão é um peixe fora d'água, Thaísa. — Ela pensou um pouco. — Tá bom, mas amanhã você já sabe, hein ?!
— Eu tenho a melhor médica do mundo! — comemorou dando um beijo na bochecha dela.
— Bom, eu tenho que ir pra faculdade agora, beijos pra vocês. — A morena se despediu dos dois, já estava quase atrasada.
— Tchau Tha, boa aula. — jogou um beijo para a amiga.
— Juízo, vocês dois! — Thaísa gritou em tom de provocação quando estava saindo de casa e escutou a gargalhada de como resposta.
— Vem , a água tá tão gostosa... — chamou a mulher, que estava deitada em uma das espreguiçadeiras do momento que tinha encerrado o treino daquele dia com o jogador até então.
— Agora não , tô com preguiça de ir colocar um biquíni. — respondeu de olhos fechados, aproveitando os minutos de descanso antes de subir para tomar um bom banho.
— Entra assim mesmo, uai. — O moreno se referiu ao top e o short que ela vestia desde a hora que tinha feito seus exercícios. — Eu vou aí te buscar... — Ele ameaçou.
— Não inventa, . — o repreendeu, no entanto, ele saiu da água e caminhou na direção dela.
— Vamos, por favor... — O jogador insistiu.
— Tá, deixa só eu guardar meu celular e tirar o tênis. — A loira deixou o aparelho sob a espreguiçadeira e tirou o tênis, mas aproveitou um instante de distração de para correr dele.
— Agora você vai ver, espertinha! — O camisa 12 começou a correr atrás de . — Não adianta fugir, eu vou te pegar.
As palavras dele soaram com duplo sentido e a médica gargalhou, correndo o mais rápido que podia pelo jardim. Após alguns minutos e muitas risadas, puxou o braço dela e conseguiu pegá-la no colo, passando um dos braços pela cintura dela e o outro por trás dos joelhos.
— Não , por favor... — A loira implorou, tentando convencer o jogador.
— Eu te avisei. — O moreno sorriu vitorioso e segurou bem firme, pulando na piscina com ela no colo.
— Sua sorte é que meu humor tá incrível, se não hoje você estaria ferrado, . — Ela falou assim que emergiu da água, passando as mãos pelos cabelos molhados e jogando-os para trás.
— Mas eu nem falei nada... — O jogador contestou em sua própria defesa.
— Você adora, né? — A mulher encarou-o, estreitando os olhos. — Eu sei que por dentro você tá com um sorriso imoral enorme.
— Aham. — Ele confirmou chegando mais perto de , fazendo com que ela desse um passo para trás e suas costas encostassem na borda da piscina, impedindo que ela continuasse recuando. — E o quê mais você sabe?
devolveu o olhar e sua voz ficou levemente desafiadora. Muitíssimo sexy também, o que provocou certo nervosismo em .
— Eu... — A médica hesitou ao responder e olhou para os lábios de , que estavam a poucos centímetros dos seus.
O jogador entendeu aquilo como um sinal de que poderia avançar e segurou-a forte, iniciando um beijo calmo e, ao mesmo tempo, intenso. tinha as mãos espalmadas no peito de em uma tentativa fracassada do seu cérebro para que ela se afastasse, no entanto, logo ela se rendeu aos encantos do moreno. aprofundou o beijo e, automaticamente, as mãos dela foram para a nuca do jogador, ora puxando o cabelo, ora arranhando as costas dele com as unhas. O moreno desceu os beijos para o pescoço de e deu uma mordidinha em seu ombro, deixando-a completamente arrepiada. Os lábios dos dois se encontraram novamente, como se houvesse uma atração eletrostática entre os corpos de ambos e eles queriam aproveitar cada segundo daquele momento. As respirações foram ficando entrecortadas e, somente quando o fôlego foi totalmente perdido, os dois partiram o beijo. Ficaram um bom tempo sem falar nada, apenas se olhando, com as testas e as pontas dos narizes colados, tentando normalizar o ritmo respiratório e os batimentos cardíacos acelerados.
— Isso foi... Muito melhor do que eu esperava. — foi o primeiro a falar alguma coisa.
— Então quer dizer que você já planejava isso há algum tempo? — brincou, ainda com os braços entrelaçados ao pescoço do moreno à sua frente.
— Desde a primeira vez que eu te vi fiquei louco pra te beijar, corazón. — O jogador sussurrou ao pé do ouvido de , dando-lhe um beijo no local.
— Apesar da minha vontade de te matar aquele dia, confesso que eu te achei muito... Hm, interessante. — A mulher umedeceu levemente os lábios e deu um sorriso malicioso.
— Interessante, é? — indagou e ela fez que sim com a cabeça. — Agora você pode me matar, desde que seja de muito prazer.
— , a gente pode jogar bola lá fora? — Bruno pediu para o irmão assim que eles terminaram uma corrida do Gran Turismo Sport no PS4.
— Tem que ver com a , ela que manda. — respondeu e o garoto saiu para procurar a médica, que estava na cozinha preparando um lanche distraidamente.
— , o meu irmão pode jogar futebol comigo? — Bruno pediu com uma carinha muito fofa.
— Pode sim meu bem, só fala pra ele tomar cuidado. — A loira respondeu e o mais novo saiu correndo para chamar o irmão e pegar uma bola. Logo apareceu na cozinha e, aproveitando que estava sozinha, abraçou-a por trás.
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— A propósito, adorei seus piercings, nunca tinha reparado que você tinha tantos. — se referiu aos diversos furos que a loira tinha na orelha. — Você tem mais algum ou outra tattoo além do coração no dedo junto com a Bruna?
— Se você quiser mesmo saber, vai ter que descobrir sozinho. — A mulher resolveu entrar no joguinho de , virando de frente para ele e lhe dando um selinho.
— Eu vou adorar. — Ele sussurrou contra a pele de , fazendo-a se arrepiar mais uma vez.
— Pronto, ? — Bruno gritou enquanto descia as escadas, fazendo com que o casal se afastasse antes que alguém os pegasse no flagra.
— Tô só te esperando! — O jogador gritou de volta, indo em seguida para a área externa da casa brincar com o irmão.
— Ehhh , o que você tá fazendo, hein?! — A médica perguntou retoricamente para si, uma vez que tinha como uma espécie de regra não se envolver com ninguém do seu ambiente de trabalho. Todavia, desde o início algo fazia com que ela se sentisse atraída em relação a . Ainda que negasse para ela mesma e para todos os amigos havia, sim, alguma coisa. E agora que ela tinha as permitido aproximar, a curiosidade só aumentava para descobrir quem é, verdadeiramente, fora das quatro linhas do gramado.
Na manhã de sábado, Thaísa e resolveram levar para um passeio por Vigo. A cidade é a mais povoada da província de Pontevedra, na região autônoma da Galícia. Primeiro visitaram a Porta do Sol, local que marca o quilômetro zero da cidade. Lá fica o famoso monumento El Sireno, que indica a união entre o homem e o mar. Depois foram até Bouzas, um tradicional bairro marítimo e piscatório do local. Lá existe uma área em pedra análoga à um calçadão, dando uma vista privilegiada da Ria de Vigo. Após uma grande sessão de fotos, os três foram almoçar em um dos restaurantes típicos da cidade.
— E os meninos, te dão muito trabalho nos treinos? — Thaísa perguntou curiosa.
— Ah, você sabe que se dependesse deles era resenha 24 horas por dia! — A médica respondeu e gargalhou alto. — Tá vendo?!
— Até imagino... — A morena riu. Tanto o irmão quanto os amigos quando se reuniam transformavam tudo em festa.
— Posso falar? — levantou a mão.
— Chora, bebê. — provocou.
— Isso aqui é um complô contra mim? — O camisa 12 perguntou indignado.
— Atura ou surta. — Thaísa debochou e as duas mulheres riram.
— Tô sem moral mesmo... — balançou a cabeça negativamente, mas por dentro estava rindo tanto quanto elas.
— Mas preciso ser justa, na hora de falar sério eles fazem tudo direitinho. Claro que sempre tem muita brincadeira, essa princesa aqui... — Ela apontou para . — ...e o Coutinho são os mais engraçadinhos, mas tem muito trabalho, muito comprometimento, e eles acabam deixando o ambiente mais leve.
— Tão linda me elogiando... — O jogador suspirou.
— depois que pega intimidade, já era! — Thaísa entregou o irmão. — Mas pensa, se o Neymar ainda tivesse em Barcelona seria bem pior.
— Deus me livre, eles iam me deixar louca! — respondeu divertida, logo os pedidos deles chegaram e os três almoçaram em meio a uma conversa animada. Enquanto comiam, o celular de vibrou anunciando uma nova mensagem.
:
"Chamou de bebê, tem que cuidar.
Já é a segunda vez esse fim de semana".
:
"Normalmente eu já cuido, mas a gente pode dar uma melhorada nisso..."
:
"Mal posso esperar".
Os dois trocaram olhares discretamente e resolveram parar por ali com as provocações, visto que não estavam sozinhos.
— Ai gente, agora eu entendi por que vocês amam tanto esse lugar, aqui é maravilhoso! — estava impressionada com a arquitetura da cidade, os museus, as paisagens, tudo era extremamente charmoso.
— Quando vocês vierem de novo temos que ir nas Ilhas Cíes, lá tem praias paradisíacas, trilhas, dá pra fazer mergulho... Você vai adorar, . — Thaísa comentou sobre um dos pontos turísticos mais famosos de Vigo.
— A Praia de Samil também tem uma vista de tirar o fôlego. — completou.
— Só de ouvir falar já me deu vontade de conhecer, pena que nós temos que voltar pra Barcelona amanhã, né ?! — lamentou, estava adorando conhecer melhor outras partes do território espanhol.
— Da próxima vez a gente vem com mais tempo, aí você conhece a cidade toda. — deu um sorriso de derreter corações para a médica.
SIETE
Mas relação só dura quando ninguém do povo sabe
Então fica ligada
Se bater saudade eu vou ligar de madrugada
Talvez não se importe se eu te manter acordada
Vamos passar essa noite igual a noite passada
(4 da manhã - Um44k)
{Diciembre, 2017}
:
"Tá sozinha em casa?"
:
"Não. Por quê?"
:
"Queria te ver...
Hoje, mais precisamente agora."
:
"A Luísa já tá dormindo... Se você conseguir ser discreto e silencioso rs"
:
"Não me provoca, corazón...
Em 15 minutos eu chego aí
e quem vai ter que ser silenciosa
é você."
:
"Vou cobrar hahahah
A porta vai ficar destrancada, ok?"
:
"Ok ;)"
gastou menos tempo que o normal para chegar até o apartamento da médica. Ao entrar, viu que ela estava na sacada, olhando distraidamente para o céu. usava apenas uma camiseta branca bem larga, que ficava como um vestido nela. Uma brisa adentrava o apartamento, fazendo com que ela abraçasse os próprios braços, visto que o inverno se aproximava. O jogador não pode deixar de sorrir não só com o que estava diante de seus olhos, mas também com a situação em que se encontrava. Ele estava completamente viciado em e fazia de tudo para mantê-la sempre por perto.
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— Hola, mi amor! — sussurrou no ouvido de , abraçando-a por trás.
A mulher se arrepiou imediatamente com o calor da voz dele. Se por mensagem o espanhol do jogador mexia com , quando dito com aquele sotaque e a voz rouca os efeitos eram ainda maiores. Ela achava extremamente sexy. E ele sabia disso.
— Lá vem você com esse seu espanhol cretino. — Ela brincou virando de frente para o moreno e passando os braços ao redor do pescoço dele.
— Eu sei que eu sou irresistível. — O jogador mordeu o lábio inferior, provocando uma gargalhada na mulher.
— Realmente, seu sotaque é lindo... Mas você faz coisas muito melhores do que falar. — diminuiu a pequena distância que ainda havia entre os corpos dos dois, arrancando um sorriso sacana de , que logo se transformou em um beijo.
Conforme o beijo ia se intensificando, as mãos bobas começaram a aparecer. O jogador segurou nas coxas de , impulsionando-a para que ela colocasse as pernas ao redor do seu tronco e seguiu até o quarto dela. fechou a porta e trancou-a sem fazer barulho. Ele deitou sobre a cama, enquanto ela brincava com a barra da camiseta que ele vestia.
Os dois só partiram o beijo para que a médica tirasse a camiseta dele, revelando o abdômen tão perfeito do moreno, que era passível de dar inveja até em Davi, escultura de Michelângelo. também aproveitou para tirar o "quase vestido" de , deixando-a apenas com a lingerie preta, que contrastava com o tom levemente rosado da pele dela.
— Puta merda, . — soprou contra o pescoço da loira, começando a distribuir beijos sobre o local.
Ela foi ficando cada vez mais arrepiada, e respondeu arranhando as costas do jogador com mais força. Com certeza as marcas daquela noite seria perceptíveis nos corpos dos dois no dia seguinte, no entanto, nenhum deles estava se importando com isso.
— Gostou? — A loira perguntou utilizando um tom de voz quase inocente e obteve como resposta um sorriso malicioso de moreno, acompanhado de um olhar completamente sedutor.
Aquele foi o gatilho para que ambos se entregassem ao desejo que vinha os consumindo nos últimos dias. desabotoou o sutiã de renda que usava e aos poucos as únicas peças íntimas que ainda os separavam se perderam em cantos aleatórios do quarto. Depois de atingirem o ápice do prazer juntos, os dois permaneceram deitados, conversando e trocando carícias por um bom tempo.
— Quando a gente vai se ver de novo? Assim, só nós dois. — explicitou que queria mais um "encontro" como o que eles estavam tendo naquela noite.
— Você ainda tá aqui e já tá pensando no próximo? — riu da cara que o jogador havia feito.
— Que foi? Você não quer? — ficou totalmente de frente para a loira com o intuito de poder olhá-la diretamente nos olhos.
— Não é isso. — fez carinho na bochecha do moreno, dando-lhe um selinho logo em seguida. — Só acho que a gente não precisa ter pressa, tá tão gostoso assim...
sabia das intenções reais de por trás daquela pergunta, que não era exatamente sobre a próxima vez que eles iriam se ver, visto que eles acabavam dando um jeitinho quase todos os dias, mas sim quando eles dariam o próximo passo naquilo que estavam tendo.
— Tá bom então, sem pressa. — se rendeu, deitando a cabeça sob o peito dela e quando os dois se deram conta já passava de 4 horas da manhã.
A impressão que eles tinham é que quanto mais próximos estavam, mais rápido o tempo passava. O que estava rolando entre eles ainda não tinha nome certo, mas para nomear isso não era a prioridade, uma vez que ela se preocupava apenas em aproveitar os momentos junto com o jogador. queria "oficializar" o relacionamento para não ter que continuar ficando escondido, no entanto, decidiu que não a pressionaria pois na hora certa as coisas iriam acontecer.
— Acho melhor eu ir, daqui a pouco o dia amanhece e a Luísa pode acordar. — O moreno pegou as roupas que estavam no chão e vestiu-se. apenas se enrolou no lençol e o acompanhou até a porta.
— Então... Até mais? — ficou levemente confusa, sem saber o que dizer, provocando uma risada no jogador.
— Espero que seja o quanto antes. — deu um sorriso cretino, já imaginando o que eles fariam assim que se encontrassem novamente "às escondidas" na casa dele ou no apartamento dela.
— Vai ser. — deu uma piscadinha para ele e a porta do elevador se abriu. — Tchau, . — Ela se despediu do moreno abraçando-o.
— Tchau corazón, feliz cumpleaños. — puxou-a para um beijo e foi embora, deixando com um sorrisinho bobo com aquela atitude.
O dia 19 de dezembro tinha começado com um gostinho diferente, especial. Com esse pensamento, a loira voltou para seu quarto e foi dormir, curtindo as novas sensações que tomavam conta dela.
— Bom dia! — Luísa falou entrando no quarto de Maria, trazendo um cupcake com uma vela. — Feliz aniversário, amiga.
— Obrigada, Lu. — A loira abraçou a amiga bem apertado e assoprou a vela enquanto a outra cantava parabéns.
— Não vou fazer discurso agora se não nós duas vamos chorar e tá muito cedo pra isso. — Luísa gargalhou. — Mas você sabe que eu gosto muito de escrever, então... — Ela sentou na cama também e entregou para a médica uma carta e o presente.
— Tá bom, mais tarde eu leio e... — falou enquanto colocava a carta sob o criado mudo ao lado da sua cama e abria a caixa rosê entregue por Luísa. — Não acredito Lu, que lindo!!!
— A Patrícia Bonaldi lançou uma nova coleção e quando vi esse vestido achei a sua cara... Imaginei que seria legal pra você usar hoje, a gente pode ir ao El Jardi de L'abadessa ou algo do tipo.
— Você sempre acerta, Lu. Também adorei a ideia. — sorriu. — E esse buquê? — Ela perguntou acerca das rosas que estavam sob a sua cama quando acordou.
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— O seu Manoel disse que o rapaz da floricultura entregou cedinho lá na portaria e que quem mandou pediu pra colocar no seu quarto antes de você acordar. — Luísa explicou o que o porteiro tinha lhe dito quando ela saiu para ir à padaria. — Agora abre esse cartão que eu tô morta de curiosidade.
pegou o envelope dourado e, involuntariamente, sorriu ao reconhecer a caligrafia contida naquele cartão.
— ? — Luísa chamou a atenção da amiga. — Só pra constar, eu ainda tô aqui, viu...
— É a letra de "Your body is a wonderland", do John Mayer. — A loira falou assim que foi despertada de seus devaneios. era uma graça mesmo.
— Hmmmmm... — A estilista deu uma risadinha maliciosa. — Então quer dizer que você já tá pegando um espanhol gostoso que, inclusive, já tá apaixonado e eu não tô sabendo.
— Na verdade não é um espanhol... — mordeu o lábio meio receosa, entretanto, sabia que já estava na hora de contar para a amiga.
— Então quem é? — Luísa questionou.
— O . — A médica soltou de uma vez.
— O quê? — Luísa quase deu um grito. Se não tivesse tão tensa, teria gargalhado da cara de espanto da morena. — Como assim, ?
— Talvez eu esteja ficando com ele desde aquela viagem para Vigo, no comecinho do mês passado. — deu de ombros.
— E você ia me contar isso quando mesmo, ? — Luísa indagou.
— Sei lá amiga, eu não tava levando a sério, pensei a gente só ia ficar uma vez e olhe lá, mas as coisas foram evoluindo e...
— Como vocês fazem pra se ver? — A estilista ficou curiosa, pois e estavam sendo realmente bem discretos.
— Aqui ou na casa dele, de preferência quando estamos sozinhos.
— Esse "de preferência" quer dizer que... — Luísa começou a pensar sobre os encontros do casal.
— Então, é tipo isso mesmo que você pensou. — tentava buscar as palavras certas. — Mas a gente nunca acordou juntos, sempre eu ou ele vai embora antes pra não ficar um clima, sei lá, estranho.
— É, eu te entendo. Graças a Deus meu sono é bem pesado e eu nunca escutei nada. — Luísa agradeceu aos céus. — Mas você parou pra pensar que esse lance de vocês tá ficando mais sério?
— Não tá não, a gente só gosta de ficar juntos e pronto. — negou imediatamente.
— Amiga, se te mandar uma letra como essa do John Mayer não significa nada sério, eu desisto dessa vida! Só pra deixar bem claro, não tem problema nenhum você se envolver com o e estar gostando disso, pode parar de criar paranóias.
— Ah, Luísa... — contestou.
— Nem vem. — A morena repreendeu-a. — Agora eu tenho que ir por que já tá na minha hora, mas essa conversa não terminou por aqui.
— Tá bom, mãe... — ironizou a fala da estilista, brincando com ela.
— Vou ligar para os meninos mais tarde e a gente combina direitinho onde vamos comemorar. Apesar de que a sua comemoração começou bem cedo né, safadinha?! — Ela deu uma gargalhada maliciosa.
— Não sei pra quê eu fui te contar isso. — riu, balançando a cabeça negativamente. Entretanto, sabia que tinha feito o certo em dividir isso com a amiga. Agora ela só precisava falar para que Luísa sabia sobre eles dois, para evitar seja lá o que pudesse acontecer no futuro.
— Tem certeza que não quer ir comigo pra Stradivarius? É tão ruim ficar sozinha no dia do aniversário...
— Eu vou ficar bem. — riu da preocupação da amiga, Luísa era do tipo de pessoa que não gostava muito de ficar sozinha. — Vou aproveitar minha folga pra maratonar Riverdale e depois vou dar uma volta no shopping.
— Lá pelas 17h eu chego e a gente se arruma pra sair. Beijos!
— Tchau, beijos! — se despediu da amiga e se preparou para a sua maratona no Netflix naquele dia.
— Vamos , os meninos já estão nos esperando. — Luísa gritou da sala do apartamento, apressando a médica.
— Calma, já tô indo. — respondeu também em um tom mais alto. — É meu aniversário, tenho que estar linda! — Ela apareceu na sala e deu uma voltinha, esperando o parecer da amiga sobre o look.
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— Wow, desse jeito o apaixona de vez. — O elogio veio em forma de provocação, a estilista jamais perderia essa oportunidade. O vestido assinado por Patrícia Bonaldi parecia ter sido feito sob medida para a médica e, com certeza, atrairia muitos olhares, inclusive o do camisa 12 do Barcelona.
— Obrigada. — se limitou a agradecer o elogio e elas foram em direção à garagem do prédio.
— Vamos passar na casa do Coutinho antes de ir, a Aine falou que a Maria tá louca pra te dar um presente.
— Ah não, vou esmagar aquela coisa linda quando chegar lá. — abriu um sorriso e em poucos minutos as duas chegaram até a casa do jogador.
Assim que a porta foi aberta por Philippe, um grito de "Surpresa!!!" invadiu o ambiente. Todos os amigos de estavam presentes e a casa estava toda devorada. No jardim, tinham luzes espalhadas por toda a parte e velas na piscina, além de muitas flores. Havia também um bar com todos os tipos de drinks e, ainda, uma mesa com bolo e os mais variados doces. A médica ficou encantada com cada detalhe e, ao observar com mais atenção os que mais estavam lá, duas pessoas se destacaram: Mayara e Matheus.
— Não acredito que vocês me enganaram direitinho... — Ela riu emocionada. Abraçou primeiro os dois irmãos e, posteriormente, cada um dos amigos presentes. — Nem sei como agradecer vocês por isso, tá tudo maravilhoso e ter pessoas tão especiais por perto no meu aniversário é o melhor presente que eu poderia ter.
— Só queria dizer que a ideia de trazer a May e o Matheusinho foi do quando a gente se reuniu para organizar a festa. — Neymar brincou, arrancando gargalhadas de todos.
— Parte da Diretoria também tá aqui. — Bruna explicou se referindo aos amigos do namorado que mantinham um grupo no WhatsApp com esse nome. logo viu Bruninho, levantador da seleção brasileira de vôlei e Gabriel Medina, campeão mundial de surfe.
— Eu amei, muito obrigada! — A médica abriu o seu melhor sorriso para o jogador, que piscou para ela discretamente.
— Pensei que eu não fosse conseguir ficar um minuto a sós com você hoje. — disse assim que conseguiu puxar a médica para um dos quartos de hóspedes da casa de Philippe e Aine sem que ninguém os visse.
— Também pensei que não, ainda bem que eu tava errada. — sorriu, dando um beijo demorado no jogador logo em seguida, que terminou com selinhos.
— Tenho uma coisa pra você. — se distanciou momentaneamente da loira, indo em direção à uma das gavetas do criado mudo do quarto. De lá, o atleta tirou uma caixinha vermelha com um laço dourado.
— Pensei que o meu presente tivesse sido a nossa noite juntos e aquelas flores lindas de manhã... — Ela respondeu abraçando e pegando a caixinha.
— Você merece muito mais, corazón. — O camisa 12 afirmou e ficou com as bochechas coradas. Ao abrir o presente, a médica se deparou com um bracelete do modelo "Love", da Cartier.
— Você me deixa sem palavras, . — A loira falou enquanto o jogador colocava o bracelete em seu pulso. Ela estava completamente apaixonada pela joia.
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— Isso é bom ou ruim? — O jogador questionou.
— É muito bom. — sorriu e beijou o jogador.
Os dois ficaram ali, aproveitando aquele momento, e acabaram esquecendo do tempo. Só perceberam quando escutaram uma conversa vindo em direção à eles.
— Onde será que a se meteu, hein? — A voz de Bruna foi ouvida no corredor daquele andar, acompanhada da de Mayara.
— E agora, o que a gente faz? — perguntou baixinho para , a fim de que os dois não fossem ouvidos.
— Ah, mi amor... Por mim não tem problema elas saberem, mas se você ainda não se sente confortável ou preparada não tem a necessidade de falar agora.
— Então... Hoje de manhã eu tive que contar para a Luísa, ela ficou louca de curiosidade pra saber quem tinha mandado as flores e o cartão. A propósito, eu adoro John Mayer. — Ela deu um selinho no moreno.
— , cê tá aí? — A conversa do casal foi interrompida por batidas na porta.
— O que eu falo quando elas perguntarem o que a gente tem? — O desespero começou a bater na médica.
— Não precisa falar nada, isso só diz respeito a nós dois. — O olhar de passou confiança para a médica e eles decidiram sair juntos do quarto.
— Vocês me amam demais, não conseguem ficar uns minutinhos sem mim. — apareceu rindo no corredor.
— O que você tava fazen... Ai meu Deus!!! — Mayara deu um grito ao ver atrás da médica.
— Minhas preces foram ouvidas e meu OTP favorito tá vivíssimo, o mundo precisa saber disso! — Bruna também se empolgou e soltou uma risadinha ao ver a reação dela e de Mayara.
No decorrer da festa ele tinha sido apresentado aos irmãos de e os dois passaram uma ótima impressão. Matheus era da resenha assim como o camisa 12 do Barcelona e seus amigos, já Mayara era muito espontânea e sem filtro, o que fazia dela uma pessoa muito engraçada e ainda mais sincera que .
— Menos gente, bem menos. — ponderou, tentando fazer as duas se acalmarem.
— Vocês tão...? — A indagação de May fez a irmã mais velha engolir em seco.
— A gente tá se curtindo, sem pressão. — O jogador respondeu prontamente e apertou de leve a mão de , como se dissesse que estava tudo bem, e os quatro voltaram para o jardim onde a festa estava acontecendo.
— Onde você tava? — Carol, esposa de Marquinhos, questionou assim que viu a amiga retornar para onde as mulheres estavam conversando.
— Com certeza bem melhor do que a gente... — A malícia na voz de Mayara era quase palpável.
— Do que a May tá falando? — Aine perguntou, sabendo que tinha algo nas entrelinhas da frase da dentista.
— Acho melhor falar logo, . — Luísa aconselhou a médica, pois sabia que uma hora ou outra todos ficariam sabendo e não tinha porquê ficar escondendo dos amigos mais próximos dos dois.
— Eu tô ficando com medo... — Carol falou receosa em relação à revelação que estava por vir.
— Fiquem tranquilas, não é nada demais. — tentou amenizar a situação mas foi interrompida por uma gargalhada de Bruna. — Você não tá ajudando, Marquezine! — Ela repreendeu a atriz.
— Desculpa amiga, é que eu não tô sabendo conter a minha felicidade... Vou ficar quieta, prometo. — Bruna falou e contou tudo, desde o primeiro beijo em Vigo até hoje.
— Preciso confessar que eu achava loucura do Phil e do Neymar, mas achei tão bonitinho o dia que você e o ficaram aqui cuidando da Maria... — Aine comentou enquanto os olhares das amigas caíam sobre .
— Também shippo desde que conheci a , depois do fim de semana que eles passaram lá em casa eu sabia que mais cedo ou mais tarde ia rolar alguma coisa. — Thaísa concordou.
— O que essas mulheres tanto fofocam e olham pra cá, hein? — Philippe questionou na roda de amigos que estavam do outro lado da piscina ao observar o comportamento delas.
— Por acaso tu tá me traindo, Princesa? Por que é pra você que elas tão olhando. — Neymar usou um falso tom ameaçador.
— Elas devem tar falando do quanto o é fraco e sem talento, tá apaixonado pela e não toma uma atitude. — João balançou a cabeça negativamente, rindo.
— É aí que vocês se enganam... — contestou baixinho.
— Como é que é, irmão? — Marquinhos queria ter certeza que tinha escutado mesmo aquilo e passou pela mesma chuva de perguntas dos amigos que tinha passado minutos atrás.
— tava seguindo a boa e velha filosofia do mineiro, quem come quieto come sempre. — Neymar fez os amigos gargalharem. — Mas e aí? Nota 10? — Ele queria saber mais detalhes.
— Porra Neymar, o irmão dela tá aqui. — Bruninho repreendeu a pergunta indiscreta que acabara de ser feita.
— O é meu amigo, a é minha amiga, eu preciso saber se os dois tão satisfeitos com isso. — O camisa 10 do PSG argumentou em sua própria defesa.
— Já tô acostumado, tenho duas irmãs e as duas são mais velhas que eu, tive que aprender a lidar com o meu ciúme. — Respondeu Matheus. — Mas se tu machucar ela... — O publicitário brincou.
— Eu sou o primeiro da fila pra quebrar a tua cara, Princesa. — Neymar completou e os caras riram.
— Pensa bem no que você tá se metendo, . — Foi a vez de Medina dar sua opinião. Em tom de brincadeira, obviamente.
— Relaxa, irmão. Vale muito a pena. — deu um sorrisinho bobo.
— É agora que a gente se abraça e canta "é o amor" a plenos pulmões? — Philippe sugeriu se referindo ao clássico de Zezé di Camargo e Luciano, que sempre era utilizada para zoar os amigos apaixonados. E assim foi durante toda a festa.
OCHO
Even in the shadows
Baby, kiss me
Before they turn the lights out
Your heart is glowing
And I'm crashing into you
Baby, kiss me, kiss me
Before they turn the lights out
Before they turn the lights out
Baby, love me lights out
(XO - John Mayer)
— Eu não posso me apaixonar pelo . — despejou de uma vez quando as quatro mulheres iniciaram mais uma conversa sobre o quase relacionamento da médica.
— Que história é essa, ? Ficou louca? — Mayara questionou a irmã mais velha. As quatro estavam sentadas em círculo na cama de , depois de terem almoçado juntas.
— Mesmo que todo mundo fale dessa sintonia entre nós dois, as coisas não são tão fáceis quanto parecem. — A loira explicou como se fosse óbvio.
— Você que tá complicando as coisas. — Bruna foi curta e grossa.
— Não tô não, é que apesar de por fora parecer uma mulher bem resolvida, por dentro eu sou muito complexada. Tudo que eu já passei, como eu sofri em relacionamentos passados, no fim das contas acaba pesando, sabe?
— Você vai deixar de viver por causa de insegurança? E se dessa vez for diferente? — Mayara indagou mais uma vez. Sabia que era teimosa e às vezes precisava ouvir umas verdades para abrir os olhos, e o rumo que aquela conversa estava tomando parecia indicar que esse seria o momento.
— Eu sei que tudo isso faz parte da vida, que a gente não pode ter medo de ser feliz, porém esse foi o jeito que eu achei de me blindar de possíveis decepções, pode não ser o melhor mas já funcionou bastante.
— Só que...? — Luísa incentivou que ela continuasse, pois sabia que uma hora ela iria acabar falando o que sentia. A médica se acomodou melhor na cama, colocando uma almofada no colo.
— Que aí o foi chegando de mansinho, como quem não queria nada, e aos poucos foi me amolecendo. A presença dele causa efeitos em mim que eu não queria que causasse. Não queria por que eu tenho medo de me iludir, me entregar e quebrar a cara de novo. Da última vez eu gastei muito tempo pra me reconstruir e reencontrar o meu norte, não sei se estou preparada para passar por isso de novo tão rápido assim.
— , nem todo cara é igual ao Pedro, então você precisa perder esse medo de uma vez por todas... — Bruna tentou ponderar. O ex da médica tinha aprontado bastante com ela, fazendo com que desde então ela se fechasse para a possibilidade de novos relacionamentos.
— E quanto ao , o que você sente quando ele tá perto? — Luísa tentou fazê-la assumir. Quem sabe, assim, ela entenderia.
— Parece que eu só consigo prestar atenção nele. O jeito, o olhar, como ele lida com tudo à sua volta... Sei lá, acho que um coração bom consegue reconhecer outro.
— Realmente, o é um cara muito bacana, convivo com ele há anos e tenho que concordar com isso. — A atriz, que conheceu o jogador através do namorado, constatou, visto que era um dos melhores amigos de Neymar.
— E ele tem um sorriso... — suspirou. — Ah, o sorriso dele é o meu ponto fraco. Mesmo quando ele apronta ou solta alguma gracinha, posso estar com raiva o tanto que for, é só o me olhar daquele jeito que só ele tem e sorrir pra mim que eu desmonto na hora, em um estalar de dedos.
— Tá, e qual vai ser o "problema" que você vai inventar agora? — Luísa protestou, sabendo que viria mais uma das indagações da médica.
— Nós dois estamos vivendo momentos completamente diferentes. Família, trabalho, tempo, responsabilidades. Eu preciso provar constantemente que os dirigentes fizeram a escolha certa me nomeando como médica do time. O tá bem e vai acabar ganhando cada vez mais espaço na equipe, o que vai implicar em mais treinos, jogos, viagens. Não é fácil conciliar tudo isso. Não sei se nesse exato momento isso é o mais certo, e são esses fatores que não dependem de nós que me deixam receosa. — A médica ainda tentava contestar. — E se isso tudo for coisa da minha cabeça? Vocês sabem que coloco meu coração em tudo e acabo vendo sentimentos onde não tem.
— , acorda! — Mayara levantou um pouco a voz. — Você acha mesmo que qualquer cara teria pensado em fazer com que eu e o Matheus viéssemos do Brasil pra Espanha te fazer uma surpresa no seu aniversário? Não, um cara qualquer não pensaria nisso. O já mostrou que te adora e faz qualquer coisa pra te ver feliz, não tem porquê você não tentar.
— Ai gente, a única coisa que eu sei é que ele tinha que parar de me olhar desse jeito, parar de sorrir assim pra mim e parar de usar aquele maldito sotaque espanhol por que o pouco de juízo que eu tenho tá indo embora. Será que dá pra vocês entenderem que eu realmente não posso me apaixonar por ele? Quando eu me apaixono fico absurdamente idiota e suscetível a fazer papel de trouxa. — passou as mãos no rosto, em uma tentativa frustada de organizar seus pensamentos. — Eu tô surtando, né?! Vocês três fizeram aquela cara de quando eu tô surtando.
— Amiga... — Bruna segurou as mãos de e olhou para Luísa e Mayara, confirmando que as outras duas tinham a mesma opinião que ela. — Se esse era o seu maior medo eu sinto te informar, mas você já tá completamente apaixonada pelo . Esse desespero todo é justamente por que você não tá sabendo lidar com isso.
— , para um pouquinho e escuta as loucuras que você tá dizendo... Você tá deixando a sua insegurança tomar uma decisão e te afastar de uma pessoa que te quer bem. O não te pediu em casamento, não é como se vocês anunciassem na imprensa e nas redes sociais que vão morar juntos, ter dois filhos e um cachorro. Vocês estão ficando e só os amigos mais próximos sabem. Pode dar errado? Claro que pode mas, nesse caso, a chance de dar certo é muito maior. Você só precisa se permitir. — A dentista continuou argumentando. Uma hora a irmã mais velha teria que entender.
— Desculpa, tá? — deu o braço a torcer, percebendo que toda aquela discussão era desnecessária. — Eu sou uma das mais velhas do nosso grupo e tô aqui, bancando a louca. Só que eu nunca me senti assim, nem com o Pedro, e olha que eu gostava muito dele. Acho que é esse meu jeito de querer saber tudo o que vai acontecer, aí como o sempre surpreende, não saber o que esperar dele me deixa insegura, apesar de até então todas as surpresas terem sido boas.
— Então pronto, amiga... O próprio disse que o que vocês têm só diz respeito aos dois, então não tem a necessidade de você ficar explicando, sabe? Só aproveita essa coisa boa que vocês tão construindo. — Luísa usou o tom mais amável possível.
— Vocês são as melhores do mundo, eu sei que me aguentar não é fácil. — A médica sorriu.
— Realmente não é fácil. — Bruna gargalhou, fazendo com que a médica jogasse um travesseiro nela. — Mas eu tava com saudade de ver esse sorrisinho bobo na sua cara.
— Só não me cobrem demais, ok? Vou tentar deixar acontecer naturalmente. — abraçou as amigas, agradecendo por tudo que as três sempre fizeram e ainda fazem por ela.
— Pode deixar. — A resposta veio em uníssono.
— , por que você não decorou aqui para o natal? — indagou enquanto os dois estavam deitados no sofá da casa do jogador, vendo um filme qualquer que passava na tv.
— Ah, eu vou pra casa da minha mãe em Vigo, então nem me preocupei com isso. — O camisa 12 do Barcelona deu de ombros, continuando o carinho que fazia nas costas da mulher.
— Você vai que horas?
— Meu voo é depois de amanhã às 5h. Por quê?
— Tenho uma ideia... Hoje ainda é 22, dá tempo de comprar uma árvore, alguns enfeites e a gente faz um jantar de natal antecipado. — Ela levantou levemente o corpo para olhá-lo nos olhos.
— Só nós dois? — começava a ficar interessado na proposta que a médica acabara de fazer.
— Só nós dois. — riu da cara que o jogador havia feito.
— Ótima ideia, corazón. — O jogador deu um beijinho no pescoço da mulher.
Claro que ele estava muito mais interessado no depois do jantar do que montar uma árvore de Natal ou colocar meias na lareira, entretanto, parecia tão empolgada que ele queria desfrutar desse momento juntos antes que fosse para Vigo, visto que iria direto de lá para Marbella, o local escolhido pelo grupo de amigos para que eles passassem o réveillon.
— Então vamos, conheço uma loja onde a gente vai encontrar tudo. — A loira levantou do sofá e os dois foram se vestir para poderem sair.
Ainda que o dia estivesse parcialmente nublado, ambos usavam boné e óculos escuros para diminuir as chances de serem reconhecidos nas ruas.
O centro de Barcelona estava cheio de pessoas que haviam deixado as compras de natal para última hora. O casal agradeceu por toda essa correria deixar as pessoas focadas em seus afazeres e, assim, eles passaram despercebidos.
— Agora só falta a árvore. — puxou para uma sessão da loja repleta de pinheiros de diversos tamanhos. — Você prefere branca ou verde?
— Acho que verde é melhor né, tem mais cara de... Árvore. — A expressão engraçada de provocou risos em .
— Ok, vamos escolher o tamanho. — A mulher falou mais para si mesma do que para o moreno ao seu lado. Ela parecia fazer um checklist mental de tudo o que tinha planejado comprar. — Pode ser essa de 3 metros?
— Tá, mas como a gente vai carregar isso até o carro?
— Ela vem na caixa, desmontada. Aí quando a gente chegar em casa você monta.
— Eu? — questionou.
— É, você. — respondeu imediatamente.
— Ah, verdade... Esqueci que você não alcança por que tem 1 metro e meio. — riu irônico.
— 1 metro e 60 de pura sedução. — corrigiu, fazendo alusão à uma música de Bruninho e Davi.
— Quero ver o seu vestido preto jogado no chão, quero ver a minha boca sujar com seu batom, quero ouvir você falar baixinho em meu ouvido, fica mais um pouco amor... — aproximou os lábios do ouvido de e cantou um trechinho da música para provocá-la.
— Nós estamos no meio de uma loja de decoração lotada, . — A médica repreendeu-o.
— Eu não tô fazendo nada, corazón. — tentou se defender.
— Falo nada pra você, corazón. — repetiu o apelido em espanhol pelo qual o jogador lhe chamava carinhosamente. — Vamos levar a árvore de 2 metros e meio. — Ela decretou.
Os dois se dirigiram até o caixa e, após uma breve discussão sobre quem pagaria as compras, conseguiram sair do centro da cidade. Preferiram passar em um drive-thru do Burger King do que ficar no restaurante e, então, foram para a casa do jogador almoçar.
— Fim de ano é uma tristeza, eu tô jacando na dieta todo dia. — reclamou após comer um cheeseburger duplo bacon com batata frita e refrigerante.
— Você não precisa de dieta. — pontuou após terminar de comer sua batata suprema.
— Deixa eu comer porcaria todo dia pra ver o que acontece... Desde pequena eu sempre fui mais cheinha, quando entrei na faculdade que comecei a me preocupar e tentar levar uma vida mais saudável. Como tudo o que eu tenho vontade, mas algumas coisas eu tento evitar durante a semana, deixando só pro dia do lixo mesmo. — A médica explicou basicamente como foi o seu processo de reeducação alimentar.
— É, eu também curto muito junk food e, realmente, não dá pra comer sempre. Mas se você também tiver preocupada sobre engordar, mais tarde a gente queima essas calorias... — O jogador deu um sorriso cretino.
— Você não vale nada, . — balançou a cabeça negativamente.
— Eu sei. E você gosta mesmo assim. — O moreno brincou, dando uma mordidinha no ombro da mulher.
— Convencido! — a repreendeu e os dois foram cuidar da decoração da casa e do jantar. Eles formavam uma boa dupla, pois conseguiram fazer tudo durante o período da tarde.
Mesmo sendo um jantar simples, apenas para os dois, ambos decidiram se arrumar. Após o banho, que demorou um pouco mais que o previsto por que entrou propositalmente no chuveiro junto com , o jogador vestiu uma camisa branca de botão branca com mangas longas, as quais ele dobrou até quase a altura dos cotovelos, e uma calça escura. Já a mulher escolheu uma blusa e uma saia longa, ambas com listras verticais. Quando ela desceu as escadas, esperava sentado no sofá, rolando o feed do Instagram distraidamente. No instante que os olhares se cruzaram, uma sensação incrivelmente boa invadiu os dois, fazendo sorrisos involuntários crescerem no rosto de ambos.
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— Assim eu vou querer que seja natal todo dia. — levantou para abraçar a mulher, mantendo uma das mãos na base das costas dela enquanto a outra dedilhava o pescoço, deixando os narizes dos dois colados.
— Eu também, meu bem. — acabou com a mínima distância que ainda existia entre eles, depositando um beijo carinhoso nos lábios do atleta, que foi imediatamente correspondido.
A luz que iluminava o ambiente vinha não só das velas sobre a mesa de jantar ou das centenas de microlâmpadas de led na árvore de natal, mas também de dentro dos dois, devido ao prazer que sentiam em estar vivendo aquele momento juntos. Após a ceia, um dos poucos sons audíveis era a voz de John Mayer vindo do som na sala, embalando uma dança lenta do casal. Certa vez Magalhães, escritor preferido de e autor do Precisava Escrever, disse "Um dia um cara legal vai gostar do seu sorriso e te tirar para dançar. Espero que neste dia esteja usando sandálias confortáveis. Você pode querer dançar para sempre." Esta frase nunca fez tanto sentido quanto naquela noite.
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— Não acredito que você tá ouvindo Justin Bieber a essa hora da manhã. — Matheus reclamou assim que apareceu na cozinha do apartamento da irmã mais velha, naquele 24 de dezembro.
— Qual é Math, it's the most beautiful time of the year. — repetiu o verso de "Mistletoe", que ecoava no ambiente. — É a minha playlist natalina pra entrar no clima pra hoje à noite, ainda nem tocou "All I want for christmas is you". Também comprei uns pijamas xadrez verdes e vermelhos pra todo mundo, vamos usar gorros e pantufas de boneco de neve...
— Você tá me zoando, né? — O publicitário questionou indignado.
— Óbvio que sim, né garoto! — Mayara respondeu como se fosse óbvio. — Não que as músicas sejam ruins, por que não são, e eu pagaria pra te ver em um pijama desses... Mas ver a sua cara de irritação é muito melhor.
— Essas músicas me fazem sentir como se eu tivesse no supermercado, se fosse no Brasil estaria tocando "então é natal". — Matheus disse e as mulheres riram da cara dele.
— Já que você tocou no assunto... Bem que você podia ir comprar um doce de leite pra mim, hein? — pediu para o irmão.
— Onde que eu vou achar isso por aqui?
— Vai no empório perto do Camp Nou, lá sempre tem aquele que a gosta. — Luísa respondeu indicando o melhor lugar para que Matheus fosse.
— Não precisaria ir se alguém... — Matheus apontou para a irmã mais velha. — ...não tivesse comido ontem o doce de leite inteiro com queijo fresco.
— O doce é meu, como a hora que eu quiser. — A loira respondeu curta e grossa. — E se você não for, não vai ter rabanadas na ceia.
— Ficou nervosinha... Tá de tpm? — O publicitário provocou.
— Quem tá comendo não tá reclamando. — sorriu irônica e ouviu as risadinhas contidas de Mayara e Luísa.
— Podia ter dormido sem essa, maninho. — May zoou o irmão.
— Tinha esquecido o quanto vocês são insuportáveis juntas. — O publicitário resmungou, pegando a chave do carro e saindo para comprar o tal doce.
— Falando em dormir, ou não... — Mayara começou e a médica já sabia onde a irmã queria chegar. — Como foi o seu rolê de madrugada?
— Saí às 4 e voltei 7h, não que eu deva satisfações, mas só fui levar o ao aeroporto, ok? Ele foi passar o natal com a família em Vigo.
— Definitivamente, meu sono é muito pesado. — Luísa constatou indignada, pois não tinha percebido nenhuma movimentação no apartamento.
— Como a dona Fernanda sempre diz, você não dorme, entra em coma. — Mayara repetiu uma frase que a mãe costumava usar e as três riram com a lembrança. — Mas voltando ao que eu perguntei...
— Não começa, May... — A médica advertiu a irmã.
— Tá bom, , não tá mais aqui quem falou. — Mayara abriu os braços em sinal de rendição. — Um cara gostoso daqueles e a fica de c* doce pra contar as coisas. — Ela sussurrou, recebendo como resposta um olhar inquisidor da irmã e uma gargalhada alta de Luísa.
— Por que vocês só falam da minha vida amorosa? — quebrou o silêncio que havia se formado entre as três enquanto cada uma se ocupava com um prato da ceia de mais tarde.
— Por que quem tá quase namorando um jogador de futebol famoso é você. — Mayara respondeu prontamente.
— A Bruna também namora o Neymar, e daí? - A loira deu de ombros.
— E daí que te ver desse jeito é muito mais legal, a Bruna nem liga mais. — Luísa continuou.
— Que jeito? — A médica indagou.
— Ah pronto, agora a madame vai se fazer de desentendida. — May balançou a cabeça negativamente, rindo da irmã.
— Fingindo que não tá perdidamente apaixonada pelo ... — Luísa respondeu.
— Eu odeio vocês! — A médica tentou ficar brava, entretanto, não conseguiu e acabou rindo da situação.
Durante todo o dia o clima de natal tomou conta do apartamento da médica, uma vez que o envolvimento com os preparativos da ceia era geral. Quando estava tudo pronto, cada um foi para o seu quarto se arrumar. Depois de um banho bem relaxante e de arrumar o cabelo e a maquiagem, decidiu ligar para sua mãe.
— Oi mãe! Tudo bem? — A médica perguntou assim que viu a mãe pela tela do celular, elas estavam em uma chamada de vídeo.
— Oi meu amor! Tudo bem, graças a Deus, e por aí? Seus irmãos tão dando muito trabalho?
— Tá tudo ótimo, eles estão se comportando direitinho. — riu, visto que Fernanda às vezes ainda via os três filhos como crianças.
— Seu presente de natal tá com os dois, o de aniversário eles já entregaram?
— Ai mãe, você pensa em tudo mesmo! Eles entregaram sim, eu adorei. Também mandei os presentes de vocês por uma companhia aérea, devem estar chegando. Tô morrendo de saudade de você, do meu pai, a vovó e o vovô, a bisa...
— Nós também estamos, foi por isso que eu incentivei a Mayara e o Matheus a irem passar o natal com você e a Luísa. Não precisa se preocupar, aqui tá todo mundo na fazenda da sua bisavó mandando beijos pra vocês. E o na organização do seu aniversário surpresa, hein? — Fernanda deu uma risadinha.
— A Mayara já deve ter te contado tudo, né? — Por mais que falasse sobre tudo com a mãe, às vezes a médica omitia alguns detalhes para não gerar expectativas nela mesma nem nas outras pessoas.
— Alguém tem que contar! — Fernanda exclamou do outro lado da linha.
— É que eu prefiro dizer quando tenho certeza. — deu de ombros.
— Mas você gosta dele, pode falar. — A mais velha concluiu pelo olhar da filha ao falar sobre .
— Gosto. — respondeu tímida.
—
e a mãe passaram mais um bom tempo conversando trivialidades sobre o dia a dia, como sempre faziam. Foi uma maneira que elas encontraram de se manter presentes, posto que sempre foram muito apegadas. Fernanda até contou que estava nos planos dela e do marido, Alexandre, ir à Espanha visitar a filha. A ligação só foi encerrada quando a hora do jantar se aproximava e ambas precisavam terminar de se arrumar.
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O primeiro natal de em território espanhol foi muito especial. A presença de seus irmãos e seus amigos a fez se sentir em casa, apesar da distância do restante da família. Naquela noite, o coração dela estava cheio de amor.
NUEVE
La cerveza y el tequila y tu boca con la mía
Ya no puedo más (não aguento mais)
Ya no puedo más (não aguento mais)
A nossa melodia tem calor, tem fantasia
Até filosofia, é desejo que vicia
Não aguento mais (ya no puedo más)
Não aguento mais (ya no puedo más)
(Bailando - Enrique Iglesias feat. Luan Santana)
{Dezembro, 2017 | Janeiro, 2018}
— Ô sol vê se não esquece, me ilumina, preciso de você aqui… — Bruna cantarolou enquanto descia as escadas da casa com vista para uma das praias da Costa do Sol, em Marbella, que Neymar havia alugado para o réveillon.
— Dormiu bem, Bru? — Mayara indagou com malícia na voz.
— Maravilhosamente bem. — A atriz devolveu no mesmo tom, provocando risadas igualmente maliciosas do restante dos amigos, que tomava café da manhã na grande mesa posta na área externa. Eles eram assim mesmo, na maior parte do tempo se comportavam como adolescentes, sempre fazendo gracinhas. — Todo mundo vai para a praia agora?
— Acho que sim. — Luísa respondeu enquanto passava geleia de morango em uma torrada.
— Tá faltando só a Princesa… — Neymar olhou ao redor para ter certeza que não estava mesmo lá. — Cadê ela, hein? - O meia perguntou e a atenção de todos se voltou para , que estava distraída brincando com as pontas dos cabelos.
— Vocês tão olhando pra mim por quê? — ficou sem entender.
— Por que é você que dorme com ele...? — Neymar ariscou.
— Aff. — A loira revirou os olhos. — Mas eu não sei, tá bom?!
— O que foi que vocês já tão brigando? — se aproximou da espreguiçadeira onde estava deitada e lhe deu um selinho.
— O Juninho tá me achando com cara de gps pra saber onde você tá 24 horas por dia. — Ela deu de ombros.
— Eu só fui correr um pouco. — esclareceu, no entanto, era perceptível. Àquela altura ele estava suado e já sem camisa devido ao calor que fazia na orla.
— Credo, nem na folga vocês descansam. — Luísa fez uma careta. Ela não era a pessoa mais adepta do mundo aos exercícios por pura preguiça, fazia apenas ballet fitness para não ser sedentária.
— Acho que a também não pode reclamar desses treinos. — Mayara deu uma risadinha.
— A gente vai pra praia ou não? — Carol mudou o rumo da conversa. — Me deu vontade de jogar futevôlei.
— Até que enfim uma boa ideia. — Aine agradeceu, por que se deixasse eles passariam o resto do dia discutindo.
— Duplas mistas? — Matheus questionou sobre como seria a formação para que eles jogassem.
— É, primeiro a gente faz uma altinha como aquecimento e depois joga. — Marquinhos instruiu e Philippe foi pegar uma bola, enquanto o restante já foi descendo para a praia.
— Já sei que os casais vão querer jogar juntos. — Mayara constatou. — Então eu vou com o João e a Luísa com o Matheus.
— Então quer dizer que vocês tão se pegando também... — Neymar alfinetou.
— Eu não acharia ruim. — Matheus mal terminou de falar e recebeu um tapinha nas costas, dado por Luísa.
— Se enxerga, garoto. — A estilista repreendeu-o mas, no fundo, estava segurando o riso.
— Cê ainda tá nessa, Matheus? — riu do irmão mais novo, que sempre deu em cima de Luísa. No entanto, a mais velha só achava graça e nunca deu muita moral para o publicitário.
— Eu tô aqui cheio de amor pra dar e ela só me esnoba. — Matheus brincou e os amigos caíram na gargalhada devido à cara que ele fez.
— Desiste não, irmão... — Essa aqui deu trabalho mas agora tá tudo certo, aprendi a amolecer ela. — abraçou por trás, depositando um beijo no pescoço da mulher e apoiando o queixo no ombro dela.
— Eu dei trabalho? — A médica indagou indignada.
— Deu sim! — Todos responderam em uníssono.
— Vai todo mundo ficar contra mim mesmo? — Ela manteve sua expressão boquiaberta.
— Nem adianta negar, pequena. — João encerrou o questionamento da amiga.
— Podemos jogar agora? — Carol pegou a bola e eles separaram as duplas.
O primeiro jogo foi Bruna e Neymar x Mayara e João, depois jogaram Carol e Marquinhos x Luísa e Matheus e, por fim, e Rafinha x Aine e Philippe. No fim de tudo eles sempre perdiam as contas do placar por que os meninos ficavam de resenha o tempo inteiro. Assim foi toda a manhã do grupo, em meio a muito sol e mais risadas ainda.
— Nós formamos uma boa dupla, hein? — se sentou na areia da praia ao lado de , que esperava o pôr do sol, de frente para o mar.
— É engraçado como nós somos opostos e, ao mesmo tempo, tão iguais. — A loira concluiu após uma breve reflexão sobre ele dois.
— Futevôlei pra mim é uma novidade. — O jogador riu.
— Minha família é carioca. — começou a explicar. — Apesar de eu e meus irmãos termos nascido em Goiânia, nós sempre passamos os feriados prolongados e as férias no Rio. Minhas maiores lembranças de infância são brincando na praia e indo ao Maracanã com meus pais.
— Agora faz todo sentido você ser torcedora do Fluminense. Tão linda e com um péssimo gosto... Tinha que ter um defeito, né? — implicou com a mulher, balançando a cabeça negativamente em desaprovação ao time dela.
— Me respeita, ! — Ela ralhou. — Eu é que tô pagando língua, antigamente falava que jamais ficaria com um flamenguista e olha só, tô apaixonada por um. Bem que minha vó sempre falava "nunca diga dessa água não bebereis".
— Então quer dizer que você tá apaixonada... — O moreno abriu seu melhor sorriso. Era bom saber que também estava nessa, ainda que eles não falassem muito sobre isso, visto que estavam mais focados em curtir um ao outro. Ouvir dela, numa conversa despretenciosa e de forma espontânea, era melhor ainda.
— Talvez você tenha que pagar um psicólogo pra mim por que o trauma é grande... — deu um sorriso travesso. — Mas acho que eu posso lidar com isso.
— Pode, é? — deitou a médica na areia e colocou os braços ao lado da cabeça dela, apoiando neles o peso de seu corpo.
— Vou fazer um esforço. — Ela umedeceu os lábios que, em seguida, foram beijados por .
— Acho que você já sabe, mas se ainda quiser ouvir uma confirmação... — O jogador fez uma pequena pausa. — Eu também tô muito apaixonado por você, corazón.
— Não querendo atrapalhar, mas já atrapalhando... — Bruna se aproximou do casal, que estava na praia a um bom tempo. — A gente precisa se arrumar para a festa na marina.
— Nem vimos o tempo passar. — respondeu e levantou-se da areia dando, imediatamente, a mão para ajudá-la a se levantar também.
— É, eu percebi. — A morena deu uma risadinha enquanto eles caminhavam de volta para casa. — Vamos por que os meninos disseram que a festa deve ta pra começar.
— O importante é chegar antes da meia-noite, não? — O camisa 12 do Barcelona brincou e Bruna fechou a cara prontamente.
— Nada de amor com cheiro de shampoo, . Não quero chegar atrasada, nem que eu tenha que arrancar vocês do chuveiro pra isso. — A atriz ameaçou o casal.
— Bom saber disso viu Marquezine, vou fazer a mesma coisa quando você e o Neymar demorarem. — Seria questão de tempo para ter a chance de devolver na mesma moeda caso Bruna fizesse isso, visto que o casal BruMar era bem enrolado.
— Tenho que concordar por que já fiquei de vela deles um bilhão de vezes e em todas fui o primeiro a ficar pronto pra sair. — completou.
— Tá bom, tá bom. — Bruna levantou os braços em sinal de rendição e cada um foi para seu respectivo quarto para se arrumar.
A cor universal para se usar no réveillon era branco. escolheu uma bermuda e camisa com as mangas dobradas até a altura do cotovelo, ambas as peças brancas. Como terminou de se arrumar primeiro, o jogador desceu para a sala e foi jogar FIFA com os amigos enquanto eles esperavam as mulheres ficarem prontas. fez uma maquiagem bem iluminada, utilizando tons rosados. Ela escolheu um vestido longo, com recortes e de tecido leve, pois eles iriam ver a queima de fogos da areia da praia. Logo, todas também desceram, indicando que eles poderiam ir.
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A marina de Puerto Bañus era um dos lugares mais badalados de Marbella durante todo o ano e, portanto, no réveillon não poderia ser diferente. Várias festas aconteciam simultaneamente nos iates, dando uma vista privilegiada para a chegada de 2018. O grupo de amigos se dirigiu até a orla, na qual uma festa organizado por um promoter amigo de Neymar estava bem animada. A música que tocava na pista de dança era "Mi gente", de J Balvin e, segundo o camisa 10 do Paris-Saint Germain, após a meia-noite o DJ que subiria ao palco seria Alok.
— Quais serão as regras do rolê de hoje? — Mayara indagou assim que eles colocaram suas respectivas pulseiras de identificação.
— Não morrer? — João sugeriu.
— Incrível João, acho que ninguém tinha pensado que sobreviver é importante. — May bateu palmas ironicamente.
— A única coisa que eu sei é que I'm solto! — Matheus e João fizeram uma espécie de hi-five de comemoração.
— Do jeito que esses aí são loucos, até que a regra 'não morrer' faz sentido... — Luísa completou.
— Sem dar pt viu, crianças. — Philippe se referiu aos quatro solteiros da turma enquanto todos se dirigiam ao lounge reservado para eles. — Ninguém tá afim de começar 2018 cuidando de bêbados.
— Vocês perceberam que desde que nós chegamos aquele cara não para de olhar pra Luísa? — Carol comentou apontando discretamente para o homem, que estava com os amigos em um bistrô colocado perto do lounge deles. Os casais estavam sentados, conversando, enquanto os outros dançavam na pista.
— E ele é bem gato... — analisou o rapaz e não fez uma cara muito boa. — Que foi? — Ela voltou sua atenção para o moreno.
— Ai. — Marquinhos simulou um espirro e coçou o nariz. — Acho que foi o cheiro de ciúmes.
— Preciso falar? — permaneceu meio incomodado.
— Meu bem, as pessoas não deixaram de ser bonitas por que nós estamos juntos. — começou a falar, com muita delicadeza, porém foi interrompida por Neymar.
— Essa doeu, Princesa! — Ele, assim como os outros, riram.
— Calado, Juninho! — A médica o repreendeu e revirou os olhos. — Espero que você não esteja com frio, por que se tiver eu vou ter que te cobrir na porrada. Hoje você tá atacado.
— Credo, que agressividade. — Ele fingiu estar ofendido.
— A diferença é que mesmo com todas as outras pessoas do mundo, eu escolhi estar com você. — voltou a falar com , completando de maneira carinhosa.
— Desculpa, mi amor. — pediu baixinho.
— Não precisa pedir desculpas. — sorriu e deu um selinho no jogador logo em seguida.
— Concordo plenamente, não dá pra levar tudo a sério. — Aine afirmou. — Mas relaxa , no início o Phil também era assim. Só que é desnecessário se desgastar por coisas tão pequenas.
— A May já falou pra mim que acha o gostoso, acreditam? — contou, entre risos, para os amigos.
— Socorro, a Mayara não tem limites... — Carol gargalhou.
A irmã de era completamente sem filtro, falava o que vinha na mente, o que rendia muito divertimento.
— É, mas a gente sabe que é brincadeira, então eu não me importo nem um pouco. São apenas comentários, e ela não mentiu. — deu uma piscadinha para o moreno, que devolveu um sorriso sacana.
— Olha lá gente, o cara foi falar com a Luísa. — Bruna retomou o assunto inicial.
— Sério que a gente vai ficar assistindo os dois? — Philippe reclamou.
— Ah Coutinho, até parece que você não curte ver a arte da sedução sendo colocada em prática. Deve ser por que você não faz mais isso a muito tempo, já casou... — Neymar provocou o amigo.
— Sabe de nada, inocente… — Aine soltou uma risadinha maliciosa.
— Aí sim Little Couto, representando! — Marquinhos bateu nas costas do camisa 7 do Barcelona.
— Respeita o pai aqui, rapaz. — Philippe falou convencido. — O que era fraco e sem talento, mas foi só me escutar que deu tudo certo.
— Vai se fuder, Coutinho. — gargalhou.
— Eu garanto que fraco e sem talento é uma coisa que o não é. — respondeu e todos olharam com cara de "hmmmmm".
— Acho incrível como é o sujo falando do mal lavado. — Carol deu risada. A impressão passada era que esse tipo de brincadeira e implicância fortalecia cada vez mais a amizade entre eles, que vinha desde as categorias de base da seleção brasileira.
— Vamos dançar? — chamou e pegou na mão dela, seguindo-a até a pista.
Pouco tempo depois os outros casais foram para lá e era possível, também, ver Luísa junto com o cara que as meninas tinham comentado, além de Matheus, Mayara e João no bar. Após dançar bastante todos se juntaram e foram para perto do mar, pois a contagem regressiva estava prestes a começar.
Dez…
— Quais são os seus desejos pra 2018? — questionou , que a abraçava por trás enquanto os dois olhavam para o céu.
Nove…
— A única coisa que eu peço é saúde, o resto a gente corre atrás. — O camisa blaugrana respondeu.
Oito…
— Foi um ano difícil, né? — A mulher recordou todo o sofrimento de com as lesões, no entanto, nem isso era capaz de tirar a alegria do jogador. Ele sempre tinha forças para recomeçar quantas vezes fosse necessário.
Sete…
— Sim, mas também aconteceram coisas extraordinárias e eu sou muito grato por isso. — apertou o abraço que dava em .
Seis…
— Eu te admiro muito, a sua resiliência é inspiradora. — sorriu.
Cinco…
— Ah, eu só tento ver o lado bom da vida sempre. — deu de ombros. Todavia, uma coisa era certa: ele tinha um dos corações mais lindos que a médica já conheceu.
Quatro…
— Nunca pensei que as coisas entre nós aconteceriam assim. Foi algo... — Ela parecia buscar na mente a palavra certa. — Inefável.
Três…
— É disso que eu tô falando. — O jogador sorriu. — A vida sempre reserva coisas boas pra quem tá disposto a correr o risco e viver.
Dois…
— Às vezes eu acho que tô no paraíso. — fechou os olhos, sentindo a brisa se intensificar.
Um…
— Você é o meu paraíso particular. — girou , deixando-a de frente para ele e a beijou.
2018 começou com um turbilhão de sensações. O toque causava frio na barriga, pois a cada segundo acontecia uma nova descoberta. O olhar falava mais do que qualquer palavra dita, e os dois se entendiam muito bem no silêncio. O cheiro misturava a salinidade da brisa marítima com o frescor emanado por ele, além do doce da pele dela. O beijo tinha gosto de amor. E, ainda que os dois tivessem cercados pelo barulho dos fogos de artifício e dos gritos de felicitações das pessoas, o únicosom que importava era o das batidas dos corações de ambos, que entraram em uma perfeita sintonia.
DIEZ
Te deixo louco quando boto o meu batom vermelho
Me alucina com o seu cheiro
Eu beijo seu pescoço
Mas a vontade que dá é de beijar teu corpo inteiro
Mas primeiro
Eu vou dar parabéns pra esse cupido que é sniper
Por que o tiro foi certeiro
(Good Vibes - Luísa Sonza)
{Janeiro, 2018}
— Tá tudo bem, ? — perguntou ao abrir a porta do vestiário do Barcelona no RCDE Stadium, popularmente conhecido como Estádio Cornellà-El Prat, e se deparar com o jogador sentado, sozinho.
— Tá sim, entra aí. — respondeu e a médica entrou, logo fechando a porta atrás de si.
— Então me diz por que você tá com essa carinha pensativa. — A loira se sentou ao lado do moreno, que encostou a cabeça no ombro dela.
estava ansioso. Ele sabia que jogaria somente alguns minutos, no final do segundo tempo da partida contra o Espanyol. Entretanto, ainda assim o nervosismo era evidente em seu semblante.
— Só tava pensando em tudo o que aconteceu, no tempo que eu fiquei sem jogar... Dá um frio na barriga por que a vontade de deixar as coisas ruins pra trás é enorme e, ao mesmo tempo, vem um medo de voltar jogando mal e decepcionar todo mundo.
— Ei, pode parar com isso. — o interrompeu com um tom de voz amoroso. — É absolutamente normal ficar inseguro, mas esses pensamentos negativos podem acabar fazendo você se autossabotar.
não deixaria esse tipo de pensamento invadir a mente de em um momento tão importante. Seu olhar tentava passar o máximo de conforto para o jogador, de modo que ele entrasse em campo o mais tranquilo possível.
— Eu sei. — respirou fundo e sorriu sincero. — Obrigada. Por tudo.
O camisa 12 abraçou e deu um beijo na testa da médica. Eles não precisavam de muitas palavras para entender um ao outro, bastava um olhar e um gesto simples de carinho.
— Deita aí, vou fazer uma massagem pra você relaxar.
A médica apontou para uma das macas do vestiário e o jogador se dirigiu até lá. tirou o celular do bolso e abriu o Spotify, selecionando "Ai, amor" do duo Anavitória na sua playlist good vibes e colocando para tocar bem baixinho.
— Tô começando a gostar disso. — soltou uma risadinha.
— Eu sei que é mais recomendado usar músicas instrumentais, mas ouvir Anavitória me traz uma sensação boa e eu relaxo também, consequentemente a massagem é melhor. Você pode se concentrar apenas nas minhas mãos mesmo.
— Quédate tranquila, corazón. Poderia tar tocando reggaetón que eu ficaria calmo só por ter você aqui.
tirou a camisa e deitou de bruços, colocando os braços ao lado do corpo. começou deslizando as palmas das mãos abertas nas costas dele, subindo da cintura até o pescoço. Como a região dos ombros concentra mais a tensão, a loira intensificou a pressão até sentir a respiração do jogador ficar mais leve, indicando que ele estava mais relaxado.
— Meu amor, eu vivo no aguardo de ver você voltando, cruzando a porta... — cantarolou.
— Desse jeito eu vou ter que falar pro Valverde que nós vamos deixar a minha reestreia pro próximo jogo, não quero sair daqui. — brincou ainda de olhos fechados, aproveitando a sensação boa que lhe invadia.
— Ficou louco, ? — cessou a massagem por um instante.
— Ei, pode continuar... Só queria ver a sua reação.
— Engraçadinho. — A médica revirou os olhos e reiniciou os movimentos.
— O que mais eu ainda não sei sobre você, doutora? — O jogador riu enquanto dedilhava as costas dele com os polegares ao longo de sua coluna, aplicando movimentos circulares ao chegar no pescoço.
— O que você quer descobrir? — A loira devolveu o questionamento quando o jogador se sentou, voltando a sua atenção para ela após a massagem.
— Cada detalhe seu. — respondeu olhando-a nos olhos, fazendo com que a mulher ficasse tímida. — Mas agora eu tenho que ir, será que tenho direito a pelo menos um beijinho de boa sorte?
questionou a mulher enquanto vestia novamente sua camisa de jogo, visto que faltava pouco tempo para que a partida começasse.
— Deixa eu pensar se você tá merecendo... — estreitou o olhar, como se buscasse na mente as atitudes recentes do jogador e as analisasse.
— Que audácia! — simulou uma expressão indignada e puxou a médica pela cintura.
— Eu tava brincando, meu bem. — sorriu, colocando os braços ao redor do pescoço do jogador e beijando-o em seguida. — Ao entrar em campo esquece todo o resto, só pensa na bola e faz o que você sabe de melhor. Vai dar tudo certo, eu tô torcendo muito por você.
As palavras de deixaram bem mais tranquilo, logo ele caminhou até o túnel onde os jogadores aguardavam para entrar em campo. O camisa 12 blaugrana ficou no banco de reservas e entrou na partida contra o Espanyol aos 33 minutos do segundo tempo. No início ele ainda estava um pouco receoso, evitando divididas mais fortes, no entanto, não demorou muito para o meia se soltar e começar a participar ativamente de lances importantes para o Barcelona.
Infelizmente, aos 43 minutos Óscar Melendo abriu o placar para o time da casa. O apito do juiz após os 4 minutos de acréscimo confirmou a vitória do Espanyol sobre o Barcelona. Apesar do resultado desfavorável, no vestiário azul e grená, ao final daquela partida, um sentimento de alívio se instalou em toda a equipe. estava de volta.
:
"Tem como você vir aqui agora?"
:
"Tem sim. Tá tudo bem?"
:
"Tá, mas eu prefiro falar sobre isso
quando você chegar."
:
"Só vou tomar um banho e já tô indo.
Beijos!"
:
"Tô te esperando. Beijos!"
Era estranho ver falando desse jeito, mesmo que por mensagem. Ainda que o jogador tenha dito que estava tudo bem, aquilo não foi suficiente para convencer a médica. se arrumou rapidamente e durante todo o caminho pensava no que poderia querer falar com tanta urgência. Em meia hora estava na porta da casa dele, tocou o interfone e logo a porta foi aberta pelo jogador.
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— Oi meu bem. — cumprimentou-o com um selinho.
— Entra, corazón. — deu passagem para a mulher, que logo entrou e viu o pai dele assistindo a uma partida de futebol americano que passava na televisão.
— , que bom te ver. — Mazinho recebeu a mulher com um forte abraço.
A muito tempo o tetracampeão não via o filho tão feliz. nunca foi de relacionamentos sérios, ele gostava de se sentir livre e não escondia isso de ninguém. No entanto, foi a responsável por mudar isso no jogador, e Mazinho via o quanto isso estava fazendo bem para ele.
— Pois é, quanto tempo... Você tem que vir pra cá mais vezes. — sorriu simpática.
Ela acabou conhecendo melhor a família de em decorrência da lesão e de ter participado ativamente da recuperação do jogador. Todos a tratavam super bem e o carinho que ela recebia de cada um era recíproco.
— Vou deixar vocês a sós. — O mais velho se levantou do sofá.
— Não precisa, pai. A gente pode conversar lá em cima. — contestou.
— Eu já tava indo dormir mesmo, filho. Boa noite pra vocês.
Mazinho se despediu dos dois e pôs uma das mãos sobre o ombro do jogador, tentando passar confiança para ele. Em seguida, foi para o quarto descansar um pouco, uma vez que ele vinha tendo uma semana cheia.
— Aconteceu alguma coisa? — indagou assim que eles se sentaram, um de frente para o outro. — Fiquei preocupada quando você pediu que eu viesse aqui a essa hora.
— É que eu precisava te dizer logo. Por um lado é algo bom, mas por outro...
O jogador tentava não olhar diretamente nos olhos de , pois temia que não conseguiria falar.
— Para de me enrolar, . Você tá me deixando nervosa. — A médica podia sentir o nível de cortisol aumentando em seu corpo, em decorrência da ansiedade.
— Vou me mudar pra Milão. — soltou de uma vez, apreensivo sobre qual seria a reação da loira.
— Você o quê? — A loira questionou, completamente atônita.
Nem mesmo o grito do narrador da ESPN vindo da televisão, indicando que o New England Patriots, time preferido de , tinha feito um touchdown foi capaz de tirá-la do estado de transe em que se encontrava.
— , você tá bem? — O nervosismo de também se tornava visível.
— Sim. — Ela soltou um suspiro profundo após ter retornado à realidade. — Me conta isso direito, por favor.
— Como você sabe, meu pai é quem cuida da minha carreira. — começou a falar e a mulher fez que sim com a cabeça. — A alguns dias os dirigentes da Inter de Milão ligaram para ele e fizeram uma proposta de empréstimo até o final da temporada 2017/2018. Existe a opção de compra ao final do empréstimo, mas eu tenho contrato com o Barcelona até 2020 e enfim, esses detalhes ainda não foram acertados. Nós passamos a considerar essa proposta por que devido às minhas lesões eu perdi espaço no time titular, houve a troca de técnico do Luís Enrique pelo Ernesto Valverde... E eu preciso jogar. A Copa do Mundo tá chegando e eu ainda tenho esperanças de ser convocado, só que pra isso eu preciso de minutos em campo pra readquirir o ritmo ideal de jogos, só que estando no banco no Barcelona eu não terei a visibilidade da qual preciso. Se você soubesse o quanto me dói ir embora, mesmo que seja por um semestre, logo agora que as coisas tavam dando tão certo...
cobriu o rosto com as mãos, tentando resolver o paradoxo instalado em sua mente: ficar feliz por voltar a jogar em alto nível, sendo titular em uma liga forte como a Série A, e esconder a frustração por ter que sair da Espanha.
— Fica tranquilo, eu tenho alguns contatos em Milão e você vai poder dar seguimento ao nosso método de treinamento, eu posso conversar com os médicos da Inter e ir até lá periodicamente para acompanhar a sua evolução e... — atropelava as palavras, a mente dela poderia explodir a qualquer momento com a quantidade de coisas que passavam nela.
— ! — levantou um pouco a voz e segurou as mãos dela, que estavam bem geladas e mais brancas que o normal. — Você tem plena consciência de que essa não é a minha maior preocupação. Eu quero saber o que vai acontecer com nós dois e acabar com essa sensação de angústia.
— Você fez a escolha certa, a Copa do Mundo é o seu sonho e concordo plenamente que você deve fazer o que for necessário para alcançá-lo. Agora quanto a nós dois...
fez uma pausa, pois as palavras simplesmente pareciam ter desaparecido. Ela parecia ter voltado ao ensino médio, quando seu namorado da época, Rodrigo, foi fazer um intercâmbio no Canadá e eles acabaram terminando. Claro que hoje as coisas eram bem diferentes, ela tinha se tornado uma mulher madura e independente, todavia, a lembrança foi inevitável.
— Eu não sei, .
— Me diz que isso não vai acabar aqui, que a gente pode fazer isso dar certo... A Bruna e o Neymar estão conseguindo, mesmo com todas as dificuldades. Por favor, ... — A urgência e a súplica eram evidentes na voz do camisa 12.
tentava processar as palavras de e pensar em alguma solução. Apesar dela e ainda não se definirem como namorados, o que eles tinham era mais real do que muitos relacionamentos sérios por aí e, acima de qualquer coisa, merecia uma chance. Além disso, a Itália não era tão longe assim.
— Nós podemos tentar, sempre que não tiver jogo eu venho pra Barcelona e quando der você vai pra Milão, eu te ligo todo dia, sei lá, eu só não quero ficar longe de você. — O moreno sugeriu.
— Eu também não, mi amor.
Os dois deram um abraço apertado e ficaram um bom tempo assim, sem dizer nada.
— É errado eu querer ir e ao mesmo tempo querer ficar? — sorriu, sem humor, quebrando o silêncio que havia se formado entre os dois.
— Não, não é errado. — A médica fez carinho nos cabelos dele. — Mas eu me sentiria muito mal se você deixasse de aproveitar essa oportunidade por minha causa. Desculpa por ter ficado tão sem reação, é que eu não esperava por algo desse tipo.
— Dorme aqui hoje, por favor? — Ele pediu manhoso.
Os dois ainda estavam se acostumando com o fato de dormirem e, na manhã seguinte, acordarem juntos. No entanto, momentos como aquele ficariam bem menos frequentes por causa da distância entre Barcelona e Milão. Por isso, eles deveriam aproveitar ao máximo cada instante enquanto podiam.
— Só dormir? — umedeceu os lábios e deu um sorriso sacana.
O tom melancólico daquela conversa não combinava nem um pouco com os dois, então ela preferiu dar uma amenizada no clima um pouco mais pesado que tinha se instalado.
— Mudança de planos. — soltou uma gargalhada alta.
— Shhh... — A mulher colocou o dedo indicador sobre os lábios de . — Esqueceu que ser muito silenciosos é uma das nossas maiores habilidades, corazón?
sussurrou ao pé do ouvido do moreno, arranhando levemente o pescoço dele com as pontas das unhas.
— Acho que você vai ter que me lembrar. — devolveu no mesmo tom, colando imediatamente os seus lábios aos de .
Sem interromper o beijo, os dois subiram até o quarto do jogador e só pegaram no sono quando chegaram à exaustão, no momento em que o amanhecer do dia se aproximava.
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— Não acredito que o vai mudar daqui. — Luísa ficou completamente surpresa com a notícia dada pela amiga. Ela, e Mayara estavam na sala do apartamento da médica, assistindo Juntos Pelo Acaso pela milionésima vez.
— São só seis meses. — deu de ombros, enquanto colocava um pouco de pipoca na boca.
— Amiga... — A estilista usou um tom de advertência.
— Isso não tem nada a ver com o Rodrigo, a gente era adolescente e eu não vou surtar. — A loira leu os pensamentos da amiga, que também tinham se remetido à época em que elas fizeram ensino médio.
— Então você não comentou com o esse lance de que você não gosta de despedidas? — Mayara indagou.
A vida de sempre foi marcada por muitas mudanças, parte de sua família morava no Rio de Janeiro e parte em Goiânia, ela foi fazer faculdade em São Paulo, agora estava em Barcelona.... Apesar de ser difícil começar a vida em outro lugar e ficar longe de pessoas amadas, ela tinha plena consciência de que sair da zona de conforto poderia proporcionar inúmeras coisas boas.
— Claro que não! De um jeito ou de outro eu tenho que lidar com isso, se eu disser que é fácil eu tô mentindo, mas não tem o que fazer. O chegou a cogitar não ir por minha causa, e eu não tenho o direito de interferir na vida dele a esse ponto.
— Sério? — Luísa questionou, surpresa com a atitude do jogador.
— Seríssimo. Acho que ele tá com um pouco de receio por que ele cresceu aqui, a vida dele tá aqui... Mas essa ida pra Milão pode proporcionar coisas boas pra carreira dele.
— Não acho que isso seja interferir na vida do , é que agora ele tá te incluindo nos planos dele e isso é algo bom, significa que existe reciprocidade entre vocês e que ele quer levar o relacionamento adiante. — Mayara argumentou. — Pelo menos a Itália é um país legal, já imagino vocês fazendo um passeio romântico em Veneza…
— Menos, Mayara. — repreendeu a irmã, rindo da cara que a mais nova havia feito.
— Você é muito chata, misericórdia! — May gargalhou, jogando uma almofada na irmã.
— Não sei se foi uma boa ideia escolher esse filme, já sinto meus olhos enchendo de lágrimas. — Luísa constatou, tomando um gole do milkshake de Oreo que elas tinham feito mais cedo.
— Eu choro só todas as vezes que assisto, nem tento segurar mais. — ironizou ao usar o "só", pois era bastante emotiva e filmes assim eram um de seus pontos fracos.
— Depois a gente assiste o gostoso do Thor e fica tudo certo. — Mayara brincou visto que, após as comédias românticas, os filmes de super-heróis eram os favoritos delas.
As três ficaram curtindo aquele momento de amigas, vendo filme e jogando conversa fora durante toda a tarde. Assim, se distraía e evitava pensar que em menos de 10 dias estaria indo para a Itália defender o azul e preto da Internazionale.
ONCE
Dizia que amor e ciúme eram um conjunto
Pedia pra eu valorizar as crises de ciúme dela
Por que se o ciúme dela sumisse
O amor também sumia junto
(Envolvidão - Rael)
{Janeiro, 2018}
— Eu tô passando rímel! — repreendeu indignada, depois de ter sido atingida por uma almofada jogada por Mayara, mas logo começou a rir também. O tempo passava e as implicâncias entre elas continuavam as mesmas, o que fazia da relação entre as duas muito divertida, já que geralmente elas não levavam uma a outra muito a sério.
— Já tá bom, você tá linda. — A dentista falou para a irmã, que se analisava frente ao grande espelho estilo "camarim" que tinha no quarto.
— Você nem tá pronta ainda e tá me enchendo. — revirou os olhos pois Mayara ainda estava de roupão, pensando no que usaria no evento.
— Tô saindo. — Matheus informou, parado na porta do quarto da irmã mais velha. Naquele fim de tarde de sábado eles iriam à inauguração de um bar brasileiro chamado La Carioca, em um bairro tradicional de Barcelona.
— Não vai esperar a gente? — Luísa perguntou, uma vez que as três já estavam terminando de se arrumar.
— Não, vocês demoram demais... — O publicitário fez uma careta. Ter duas irmãs implicava em saber que quando as mulheres se juntam para se arrumar aquele momento se tornava praticamente uma social, fazendo-as demorar além do previsto. Entretanto, não podia negar que o resultado era bom, visto que elas e as amigas sempre saíam de casa ainda mais bonitas. — O Rafinha e o João já tão indo pra lá também.
— O nem me avisou que ia agora... — tentava recordar se o jogador tinha lhe dito algo em relação ao horário. Ainda que saíssem juntos a algum tempo, eles preferiam ir cada um no seu carro para não chamar muita atenção.
— Se você olhasse o celular saberia.
Matheus pegou o aparelho da irmã que estava jogado na cama entre as maquiagens e mostrou as notificações de mensagem e uma ligação perdida de . Como as três estavam ouvindo música e conversando enquanto se arrumavam, o toque do celular passou despercebido.
— Fala pra ele que em 15 minutos a gente sai daqui. — pediu para o publicitário, que assentiu e saiu de Uber. — Ouviu, né Mayara?
— Ha ha ha. — May riu irônica.
escolheu uma calça skinny preta, moletom preto com aplicação de flores e uma sandália vermelha. No horário combinado as três saíram, assim como tinham dito para Matheus.
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O La Carioca era um bar e tapioqueria que prometia ser um pedacinho do Rio de Janeiro em Barcelona. A decoração era repleta de fotos da cidade maravilhosa e por toda a parte via-se a estampa com ondas pretas e brancas, que remetiam ao calçadão de Ipanema. O bar contava com um ambiente interno bem iluminado e repleto de mesas, além de uma área externa com jardim. informou na entrada que elas estavam na mesa reservada por e logo o encontraram sentado junto com João, Matheus, Philippe e Aine.
— Demoramos muito? — Luísa perguntou assim que todos se cumprimentaram.
— Não, nós também acabamos de chegar. — Aine respondeu sorridente. — Tava colocando a Maria pra dormir, hoje a minha mãe ficou com ela.
— Tô morrendo de saudades dela... — adorava crianças e tinha se apegado bastante à filha do casal de amigos. Sempre que ia visitá-los brincava bastante com a garotinha, que também gostava muito da médica.
— Ela também tá doida pra ficar de novo com a tia e o tio , direto fala em você dois. — Philippe comentou.
Os três tinham se divertido intensamente na noite em que Philippe e Aine foram jantar com os patrocinadores, tanto que a lembrança era recorrente.
— O dia que vocês quiserem sair sozinhos, podem deixar ela com a gente... Se bem que nem precisa ter necessariamente um motivo, é só chamar que a gente vai ficar com ela mesmo. — também tinha um carinho muito grande pela garotinha, que era simplesmente um amor e amava o tio . Além disso, brincar com Maria ajudava-o a amenizar a falta que o jogador sentia de seu sobrinho, Gabriel.
— Já quer treinar pra quando vocês tiverem um mini ou uma mini ? — João provocou.
— Quero só ver a briga pra ver pra qual time essas crianças vão torcer. — Philippe riu, sabendo que esse assunto provocava discussões intermináveis entre o casal, que nunca chegava em um consenso. E diga-se de passagem, ele adorava presenciar.
— Óbvio que vai ser pro Flamengo, a nação rubro-negra é a maior e mais bonita torcida do Brasil... Se a gente morasse no Rio eles iriam jogar futebol na escolinha do Zico, as melhores lembranças da minha infância são de lá. — Rafinha recordou da época em que ele e Thiago contavam os minutos para jogar no CFZ com os amigos, na época em que eles moravam na capital carioca.
— Admiro demais o Zico por tudo que ele representa para o futebol brasileiro e não teria problema nenhum com a escolinha, desde que o uniforme não fosse preto e vermelho. — expôs sua condição. — Mas meus filhos vão torcer pro Fluminense, eu não vou carregar eles por nove meses pra escolherem ser flamenguistas. Já basta ter que aguentar você.
— Sinto muito corazón, nessa você não tem chance. — O jogador disse com um ar vitorioso, contudo, não se daria por vencida fácil assim.
— Isso é o que você pensa, . Sou mais velha, então eu que mando. — A loira decretou.
— Nossa, 1 mês e 24 dias, realmente você é muito mais velha. — riu com ironia, citando a diferença de idade entre os dois.
— Nessa não dá pra te defender viu cunhado, eu adoro contrariar a mas time é sagrado e a nossa família inteira é tricolor. — Matheus interviu, contestando a opinião de .
— Lá em casa todo mundo é rubro-negro, eu comecei a torcer um dia que entrei em campo com o Júlio César e o Thiago com o Petkovic, foi uma emoção fora de série. — contou sobre a sua experiência de pisar na gramado do estádio mais famoso do Brasil com jogadores que foram ídolos do seu clube de coração.
— Nós também já entramos em campo no Maracanã algumas vezes, eu costumava ir com o Roger. — Apesar de nessa época o time ter jogadores extraordinários como Romário, a pequena gostava muito de Roger Flores.
— Melhor mudar de assunto, se não eles vão discutir eternamente. — Aine sugeriu. E o restante dos amigos do casal sabia que isso era totalmente verdade.
— Já que estamos falando de vocês dois... — Mayara bebeu um gole de seu drink antes de começar.
— Ah meu Deus, lá vem. — se preparou para ver o que sua irmã iria falar. Mesmo quando estava calada, a dentista era muito observadora e nunca deixava de dar sua opinião sobre algo.
— Acho que hoje a mídia vai juntar os pontos sobre o relacionamento de vocês, olha a quantidade de fotógrafos que tem aqui. — May olhou ao redor, confirmando o que tenha acabado de dizer.
— Dessa vez eu preciso concordar com a May, vocês tiveram muita sorte que as fotos que saíram do réveillon em Marbella não mostravam o rosto da . — Aine recordou das manchetes que apontavam um possível affair de Rafinha.
— Não sei se eu tô preparada pra ver meu nome circulando em sites e redes sociais. É estranho. — riu da situação.
— O conselho que eu posso te dar é que quanto mais você fugir da mídia, mais ela vai te perseguir. O Rafinha é uma pessoa pública, você também, os dois têm carreiras sólidas... Eles vão falar muita coisa no início, mas logo aparece outra notícia e eles deixam vocês em paz. — Philippe não passou por isso por que ele e Aine estavam juntos desde a adolescência, entretanto, presenciou muitos amigos seus vivendo situações parecidas.
— Deixa eles falarem, a gente não vai apressar as coisas por causa da mídia. — deu seu parecer sobre o assunto.
O principal receio de era de que as pessoas achassem que a sua posição no Barcelona era por causa de ou que ela era só mais uma maria-chuteira querendo se aproveitar da fama dele. Esse era o principal motivo pelo qual ela não se envolvia com jogadores de futebol, separando a vida pessoal da vida profissional.
Quanto à vida pessoal, não se importava com julgamentos. Já quanto à vida profissional, ela era mais reservada acerca do seu ofício, visto que já tinha sido subestimada muitas vezes por ser mulher em um meio tão masculino. Por isso, ela buscava se destacar exclusivamente pelo trabalho realizado pelos clubes por onde passou.
No entanto, com as coisas aconteceram de forma muito natural, fazendo com que ela deixasse essa barreira de lado e ela se permitisse. Algumas de suas inseguranças ainda estavam lá, só resolveu não dar ouvidos a elas.
Um amigo de João e chegou ao bar e os dois foram conversar com ele e as outras pessoas, que também eram conhecidas. Os dois acabaram demorando um pouco por que Rafinha conversava animadamente com três mulheres do grupo. Enquanto isso, Luísa contava os preparativos para o próximo desfile da Stradivarius, que anunciaria a nova coleção da marca. O evento prometia agitar Barcelona e teria a presença de muitas personalidades.
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Nesse momento, pediu uma bebida e o camisa 12 voltou para a mesa deles no instante em que o garçom entregou o drink a ela.
— Tá tudo bem? — questionou ao vê-la tomar um grande gole do negroni, um drink à base de gin, vermute e campari.
— Sim, por que não estaria? — questionou, sem entender o porquê da pergunta.
— Agora a madame vai se fazer de desentendida. — Mayara falou baixo mas, ainda assim, todos ouviram e deram risada.
— Você disse que não ia beber hoje... — foi jogando verde, com um ar de divertimento.
— Mudei de ideia, a carta de drinks daqui é boa e eu resolvi experimentar algo novo. — A loira deu de ombros, balançando o copo old fashioned sob a mesa.
— A globo tá te perdendo hein . — Philippe provocou-a. — Pode falar que você ficou com ciúmes.
— Eu não fiquei com ciúmes. — negou e Matheus tossiu falsamente, tentando indicar que a médica estava mentindo.
— O problema não é sentir ciúmes, até por que isso é completamente normal. A questão é como as pessoas se comportam diante disso. — Aine explicou seu ponto de vista, pois sabia no quanto todos pegariam no pé de sua amiga.
— É por que ela só não sabia que aqui também tava servindo a sobremesa preferida do João. — Mayara começou a falar.
— Minha? — João não tinha a menor ideia do que ela estava falando.
— É, (bis)cate. Olha que gracinha, além de comer ele também oferece pros amigos. — A dentista explicou dando ênfase ao bis, fazendo os amigos caírem na gargalhada mais uma vez.
— Quem divide multiplica, né não? — João deu um sorriso cretino.
— Relaxa amiga, é por que elas ainda não sabem que vocês estão juntos. — Disse Luísa, amenizando o tom da brincadeira feita por Mayara.
— Cadê aquele papo de não se desgastar por coisas pequenas...? — Matheus também zoou , afinal, irritar o outro era uma das principais funções de um irmão.
— Calma aí por que eu não disse nada, vocês que tão colocando palavras na minha boca. — Ela abriu os braços em sinal de discordância, tentando se defender.
— Mas nem precisou amiga, sua cara disse tudo. Você não sabe disfarçar. — Luísa não conteve a risada, pois desde criança era assim. Mesmo que a loira se mantivesse sem dizer uma palavra sequer, sua expressão facial denunciava.
— Ahhh pronto... Não sei como eu ainda sou amiga de vocês.
— Vamos ser sinceros... Um relacionamento em que tudo dá certo o tempo inteiro fica meio sem graça, é necessário manter essa faísca que deixa as coisas não caírem na rotina. Não me entendam mal, eu não tô tentando romantizar o ciúme, sei muito bem que existe o ciúme patológico e de todas as coisas ruins que ele provoca. — Mayara fez uma pequena pausa. — Acho que se trata muito mais de lembrar que o outro não lhe pertence e tentar conquistar a pessoa diariamente. Sem falar que a melhor parte das brigas é o sexo de reconciliação.
— Se não soltar uma gracinha no final não é a Mayara. — Luísa riu da fala da amiga.
— Obrigada. — A dentista agradeceu, sabendo que no fundo a maioria concordava com o que ela tinha dito.
— Acho que vou conversar mais um pouco com as meninas então. — fez menção de levantar da mesa em que eles estavam reunidos.
— É, aproveita que cê já ficou com a Jade pra reestabelecer o contato. — João colocou lenha na fogueira e o fuzilou com o olhar.
— Porra João, tu só abre a boca pra falar merda. — repreendeu o fisioterapeuta.
— Pode ir meu bem, mas se você for nem precisa voltar aqui hoje. — tentou fechar a cara fingindo estar brava, mas não conseguiu. Apesar de tudo, ela se divertia bastante com a implicância dos amigos.
— Se tava faltando motivos pro sexo de reconciliação, não tá mais. — Philippe gargalhou.
— É brincadeira dele corazón, nunca fiquei com nenhuma delas. — deu um beijinho no pescoço de .
— E você nem tem fama de pegador, né ... — analisou o jogador, com aquela cara de seu passado te condena.
— Ah, fazer o quê se as meninas gostam. — Ele deu um sorriso convencido.
— Você não presta. — A médica riu, balançando a cabeça negativamente e lhe devolveu um olhar sacana.
— Acho que vou pedir um açaí com bastante leite ninho, leite condensado, morango, kiwi e banana... — mencionou a maneira preferida de pra tomar açaí, com o intuito de encerrar o assunto. Se existisse um "deus do açúcar", o jogador agradeceria a ele por fazer tão feliz.
— Se você estava tentando me comprar com açaí... — arqueou a sobrancelha. — Parabéns, conseguiu. — A médica deu um selinho em .
— Gente, a resenha tá maravilhosa mas eu preciso ir. — Luísa pegou sua bolsa e começou a se despedir dos amigos.
— Tá cedo, Lu. — Aine contestou, visto que o relógio marcava pouco mais de 18h e os últimos raios solares ainda podiam ser vistos no horizonte. Aquela época do ano era marcada por dias mais curtos no hemisfério norte, entretanto, isso não interferia na beleza do crepúsculo na cidade espanhola.
— Eu sei, mas é que tenho um compromisso e se não for agora vou me atrasar.
O encontro de Luísa consistia em ir primeiro ao cinema e depois sair para jantar. E se ela conhecia bem os amigos, eles ficariam no La Carioca até o horário em que o estabelecimento fechasse.
— Compromisso, sei... — Mayara lançou um olhar malicioso para a estilista. — Você acha mesmo que a gente não notou que você anda toda felizinha ultimamente?
Durante a festa de réveillon na marina de Puerto Bañus, Luísa conheceu Santiago, um engenheiro civil e empresário do ramo. Os dois trocaram telefones e ela descobriu que ele também morava em Barcelona, o que facilitou o contato após o fim da viagem à Marbella. Santiago era um cara que gostava de tranquilidade, passava a maior parte do tempo em seu escritório ou supervisionando alguma obra. O oposto de Luísa, que adorava a agitação que o mundo da moda proporcionava, o constante lançamento de tendências e a loucura dos desfiles. Talvez, naquele momento, Santiago fosse o ponto de paz em meio ao caos dela, e a estilista não perderia a oportunidade de tentar descobrir.
— Quando você chegar em casa eu quero todos os detalhes, viu?! — falou baixinho, de modo que apenas Luísa ouvisse e se despediu dela com um abraço.
— Então... Acho que eu não volto hoje. — Luísa mordeu o lábio inferior, controlando a altura da voz e segurando um sorrisinho.
— É... Eu também não. — respondeu em tom brincalhão, fazendo com que as duas rissem.
Fazia tempo que Luísa e não se envolviam com alguém na mesma época, e chegava a ser engraçado como as duas se entendiam com o olhar. Isso era resultado da amizade de infância e de anos morando juntas, fazendo com que uma conhecesse a outra melhor que a si própria. Se aquilo estava fazendo bem para Luísa, era o suficiente para ficar feliz também, e vice-versa.
— Pode chorar no meu colo, Matheusinho. — Mayara zoou o irmão mais novo.
— Um dia eu supero. — Matheus baixou a cabeça, simulando estar chateado com o fato de Luísa estar saindo com alguém. No entanto, ele estava realmente contente pela estilista estar conhecendo uma pessoa que, ao julgar pela expressão leve dela, parecia valer a pena.
O grupo de amigos ficou conversando no La Carioca até a hora que o bar fechou, já de madrugada. Aquela era a última resenha antes de ir para a Itália, o que aconteceria no dia seguinte. Desde que o jogador anunciou sua mudança para Milão, ele e passaram o máximo de tempo juntos, o que incluía eles dormirem na casa dele ou no apartamento dela. Ambos tentavam não deixar o clima de despedida tomar conta para não dificultar ainda mais as coisas, mas as malas arrumadas no canto do quarto de não ajudavam muito.
Para ele, a sensação era de estar deixando uma parte de si em Barcelona. O que não deixava de ser verdade, uma vez que ele passou a maior parte da sua vida em território espanhol e essa seria a primeira vez que mudaria de país tendo que ficar longe de seu núcleo familiar. Quando era criança, ele teve que mudar do Rio de Janeiro para a Espanha em virtude da carreira de seu pai, todavia, ter ele, sua mãe e seus irmãos junto tornou tudo mais fácil.
Anos antes, Thiago passou pelo mesmo processo quando a sua contratação foi anunciada pelo Bayern de Munique. Foi um baque muito grande para o camisa 12 não ter seu irmão mais velho por perto, pois ele estava acostumado a dividir com Thiago tudo o que acontecia (independente de ser bom ou ruim), sendo recebido sempre de braços abertos e ouvindo algum conselho. Não que essa cumplicidade entre eles tivesse mudado, mas eles tiveram que aprender a lidar com a saudade.
Ah, a saudade... Arranjo de 7 letras para expressar um sentimento que só os falantes de língua portuguesa conhecem. Um "I miss you" ou "te extraño" jamais seriam capazes de transmitir a carga emocional que a saudade trazia consigo.
também conhecia muito bem esse sentimento. Ela já tinha passado por duas grandes mudanças e sentia saudade do que teve que deixar para trás, todavia, não se arrependia em momento algum das decisões que tinha tomado. Se tivesse ficado com medo lá atrás não teria ido para São Paulo, não teria feito tantos amigos incríveis, não teria surgido a oportunidade de ir para Barcelona e não teria conhecido . Não foi fácil, mas a médica devia muito de quem ela era a esses desafios.
Por isso, ainda que soubesse que sentiria muita saudade, ela apoiava incondicionalmente a mudança de , pois acreditava que ele colheria bons frutos disso tudo no futuro.
DOCE
No matter how hard I'm trying to
I want you all to myself
You're metaphorical gin and juice
So come on, give me a taste
Of what it's like to be next to you
Won't let one drop go to waste
You're metaphorical gin and juice
(Hands to myself - Selena Gomez)
{Fevereiro, 2018}
Ainda que a distância entre Barcelona e Milão não fosse tão grande assim, viagens de avião sempre eram desgastantes e detestava isso. Ele não via a hora de chegar em casa, tomar um bom banho e ir encontrar com . sabia que, por ser seu aniversário, certamente seus amigos iam querer sair para comemorar em alguma boate. Portanto, precisava do mínimo de descanso para aguentar a noite toda, visto que ele tinha jogado na noite anterior. Ao colocar as chaves na porta a sensação boa de finalmente estar em casa lhe invadiu e, ao abri-la, a surpresa foi ainda maior.
A única iluminação do ambiente era realizada por pequenas velas que trilhavam o caminho até a sala, onde a mesa de centro estava posta. O jogador sorriu ao ver aquilo tudo e, como não encontrou no andar de baixo, resolveu seguir as outras velas que iam da escada até o seu quarto, mais precisamente no banheiro da suíte, que estava com a porta entreaberta.
empurrou a porta delicadamente, se deparando com sentada na borda da banheira, de roupão, com o cabelo preso em um coque frouxo e uma taça de champanhe entre os dedos. A música que ecoava no ambiente era "Me leva", do Delacruz, conferindo um ar ainda mais especial à cena.
— Feliz cumple, mi amor. — A loira sorriu, entrelaçando os braços na nuca do jogador e puxando-o para um beijo apaixonado.
Os lábios dela tinham um gosto frutado e o álcool intensificava as sensações. levou os dedos até a barra da camiseta que vestia e ergueu-a lentamente até tirá-la, sentindo a pele quente dele se arrepiar conforme ela o arranhava com as pontas das unhas. desfez o nó que prendia o roupão usado por e descobriu os ombros dela, fazendo com que o tecido escorregasse por todo o seu corpo, indo parar no chão do banheiro e deixando-a completamente despida. O contato só foi interrompido para que terminasse de tirar as peças de roupa restantes e os dois entrassem na banheira para aproveitar aquele momento.
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— Você diz que eu sou surpreendente, mas você é muito mais. Eu definitivamente não esperava por isso. — sussurrou, colando as testas e as pontas dos narizes dos dois. — Obrigado, corazón. Você é incrível.
— Só precisei convencer os meninos de que eu tinha planos muito melhores pra gente do que qualquer festa ou balada. — A médica deu de ombros.
— E a sua sexplaylist tá cada dia melhor, hein?! — O moreno comentou sobre a playlist com músicas provocantes que tinha no Spotify.
O sorriso imoral que abriu era capaz de fazer a sanidade de qualquer mulher evaporar instantaneamente. Obviamente, aquele sorriso era um dos pontos fracos de .
— Digamos que eu tenha uma ótima inspiração. — piscou para o namorado, levando a taça de Chandon à boca sem tirar os olhos das íris castanhas dele, que pareciam estar em chamas.
— Tô adorando essa nossa festinha particular. — começou a distribuir beijos por toda a extensão do pescoço da mulher, fazendo-a se arrepiar.
— Sabe o que mais eu planejei? — sussurrou com a voz rouca em decorrência do álcool ingerido e mordeu a orelha do moreno provocativamente. — Fazer todas as suas vontades essa noite.
— Não brinca com fogo... — fechou os olhos, e os mais diversos guilty pleasures começaram a passar por seus pensamentos.
— Não tô brincando com fogo, cariño. — Ela umedeceu os lábios com a língua e sorriu. — Eu sou o fogo.
Aquela mulher era incrível demais pra ser real, e agradecia aos céus todos os dias por tê-la ao seu lado. Por mais que já tivesse se apaixonado outras vezes, os sentimentos que provocava nele eram únicos, fazendo-o se sentir o cara mais sortudo do mundo. Consoante a isso, também via em um recomeço, pois ele fez com que, aos poucos, ela perdesse o medo de se apaixonar de novo.
— Eu não acredito que você ainda tá assistindo esse programa e se entupindo de chocolate de novo! — Ao chegar do trabalho, Luísa se deparou com sentada no sofá, coberta com um edredom e comendo brigadeiro de panela enquanto assistia "Chegadas e Partidas", no GNT.
— Mas é tão bom, eu gosto de ouvir as histórias das pessoas. — A loira usou um tom de voz manhoso, em oposição à repreensão feita por Luísa.
— Eu sei amiga, mas você tá praticamente se torturando vendo isso...
Apesar de ter ido à Barcelona em decorrência do seu aniversário, dois dias depois ele já voltou para Milão a fim de cumprir os compromissos do calendário do futebol italiano. Além disso, cerca de uma semana após o aniversário de , os irmãos de voltaram para o Brasil, pois as férias de ambos tinham acabado. Depois de tanto tempo com Mayara e Matheus por lá, tamanha calmaria no apartamento chegava a ser estranha.
O programa que estava assistindo se passava em aeroportos, onde a apresentadora Astrid Fontenelle conversava com as pessoas no saguão, que contavam suas histórias, sejam aguardando ou se despedindo de alguém. Por ser sem edição, era tudo muito verdadeiro e extremamente difícil não se emocionar vendo os encontros e desencontros da vida, sempre buscando uma visão positiva sobre os acontecimentos.
Aquele microcosmo conferia uma intensidade bem maior às coisas e, com certeza, aeroportos já viram beijos muito mais apaixonados do que casamentos, assim como hospitais já ouviram preces muito mais sinceras do que igrejas. Todas essas situações provocavam inúmeras reflexões acerca da vida e gostava disso, embora estivesse vivenciando um momento de mudança.
— Tudo bem. Por hoje já chega mesmo. — A loira desligou a tv e Luísa pegou uma colherada do brigadeiro. — Ei, folgada!
— Ah tá que eu ia perder a oportunidade de comer o melhor brigadeiro de panela do universo. — Luísa fechou os olhos, se deliciando com o doce feito pela amiga. — Quando você vai pra Milão mesmo?
— Dia 24. Vai ser uma correria por que o Barcelona também joga no dia 24, mas o João disse que segura as pontas com o restante da equipe médica. Torce pra não ter uma nuvenzinha sequer no céu, por que se o voo atrasar eu perco o início da partida e isso seria um desastre.
— Calma sua maluca! Sem previsões do caos, ok? Vai dar tudo certo. E fala pro caprichar, quero você de muito bom humor quando voltar dessa viagem. — A estilista soltou uma gargalhada maliciosa.
— Meu único problema é a tpm, de resto tá tudo maravilhoso. — deu de ombros.
— A surpresa do aniversário do rendeu, hein safada? — Luísa deu um tapa nos glúteos da amiga, que tinha levantado para pegar um copo d'água.
— Com um moreno sensacional daqueles... — apoiou o corpo no balcão e se abanou, recordando da noite incrível que eles tiveram.
— É disso que o povo gosta!!! — A estilista gargalhou mais uma vez.
— E o seu espanhol, como tá? — questionou sobre o quase namorado da amiga, bebendo sua água em seguida.
— Muito bem, obrigada. — Santiago era um cara fascinante e Luísa estava adorando conhecê-lo cada vez melhor. — Nós duas não podemos reclamar, né?
— Não mesmo! — riu. — Fazia tempo que nós duas não encontrávamos pessoas legais na mesma época.
— Graças a Deus, já chega de embuste na nossa vida. — Luísa fez o sinal da cruz, se benzendo só de lembrar de alguns ex namorados.
estava ouvindo música distraidamente em seus fones enquanto Mauro Icardi cochilava ao seu lado no ônibus, junto ao restante dos companheiros de time, indo em direção ao Estádio Giuseppe Meazza para enfrentar o Benevento.
— ? — estranhou a ligação pois, de acordo com seus cálculos, a loira ainda estaria no aeroporto.
— O avião acabou de pousar, vou pegar um táxi até o seu apartamento pra deixar minha mala, tomar um banho e vou pro estádio o mais rápido que eu conseguir.
A voz de estava ofegante, em decorrência dela estar praticamente correndo para sair do aeroporto Milano-Linate.
— Não precisa correr tanto, corazón. Não tem problema você se atrasar um pouco. — A voz de soou o mais compreensiva possível, visto que ele sabia do esforço que ela estava fazendo para acompanhar aquela partida.
— Não posso perder nem um segundo da sua primeira partida como titular, em casa. A partir do momento em que uma coisa é muito importante pra você, automaticamente se torna muito importante pra mim também.
A resposta da médica provocou um sorriso involuntário em . Às vezes ele se perguntava o que tinha feito pra merecer uma mulher tão maravilhosa quanto , que fazia as pequenas coisas do dia a dia se tornarem especiais e que cada detalhe fazia se apaixonar ainda mais.
— A Wanda vai te esperar na entrada do camarote com a sua credencial, tá bom? — Ele se referiu à Wanda Nara, esposa de Mauro Icardi.
conheceu o argentino ainda nas categorias de base do Barcelona e desde então os dois se tornaram grandes amigos. Hoje, eram novamente companheiros de equipe, só que defendendo a camisa azul e preta da Internazionale.
— Tá bom meu bem, bom jogo. — Ela se despediu. — Eu tô torcendo muito por você.
Aquelas seis palavras se tornaram a marca registrada de para desejar sorte ao jogador antes de qualquer partida. A médica achava bom lembrá-lo sempre de que ele jamais estaria sozinho e que, independente de onde estivesse, seu coração estaria com ele.
Ao chegar no apartamento de , a loira primeiro deu uma olhada ao redor. Não que ela ainda não tivesse visto, pois fez questão de mostrar cada cantinho para ela por videochamada, e sim por que ele tinha feito um bom trabalho, deixando o ambiente muito aconchegante.
Logo ela seguiu em direção ao quarto do jogador, deixando sua mala em um canto e foi tomar banho. Enquanto as gotas de água caíam sobre seu corpo, ela pensava no quanto tinha se acostumado rápido com a presença de em sua vida e no quanto ele fazia falta. As brincadeiras nos vestiários, as gracinhas nos treinos, os jantares, as maratonas de netflix em casa... Ele fazia um bem enorme para ela.
escolheu uma blusa branca de mangas, calça jeans, tênis branco e pegou uma jaqueta de jeans caso esfriasse um pouco, para acompanhar a partida. Embora ela tivesse uma camisa da Inter com o nome de Rafinha e o número 8 nas costas (nova numeração adotada pelo jogador na Itália), como era a primeira ida dela ao camarote nerazzurri ela preferiu não chamar muita atenção.
O apartamento de ficava próximo ao estádio, todavia, a ansiedade fazia o caminho parecer uma eternidade. A cada curva do trajeto a médica sentia seu coração bater mais forte, devido à expectativa criada acerca do jogo e de rever . Chegando à entrada do camarote, viu Wanda Nara, esposa de Icardi, mexendo distraidamente no celular.
— Wanda? — despertou a atenção da mulher.
— Oi ! — Wanda a puxou para um abraço apertado. — É um prazer te conhecer.
— O prazer é todo meu. — A médica sorriu. — Obrigada por me esperar, é a primeira vez que eu venho acompanhar um jogo da Inter e não conheço praticamente nada por aqui.
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— Não precisa agradecer... Até pensei que você fosse demorar mais, o Rafinha disse que provavelmente o jogo já teria começado quando você chegasse. — Wanda começou a falar após entregar a credencial de , enquanto as duas caminhavam até seus lugares.
— É, eu acabei de chegar de Barcelona e vim correndo... Como ele tá? — perguntou e logo a esposa de Icardi entendeu do que se tratava.
Mazinho estava ajudando o filho no processo de adaptação à nova cidade, clube e idioma, portanto, a presença dele era fundamental. Naquele jogo ele não pode estar presente, pois tinha ido à Munique resolver algumas questões burocráticas para Thiago. Por isso, era mais importante ainda que estivesse lá, apoiando .
— Olha, o Rafinha e o Mauro são amigos desde a adolescência, e o Mauro diz que apesar dele ter aquele jeito brincalhão, sempre foi muito responsável e focado. Ele vai saber lidar bem com tudo isso, não precisa se preocupar, e no que eu e o Mauro ou o restante do time pudermos ajudar, faremos.
— Obrigada, mais uma vez. — ficava mais tranquila sabendo que além do pai, também tinha amigos em solo italiano.
Houve uma movimentação no gramado, indicando que logo os jogadores entrariam em campo. Quando isso aconteceu, assim que os jogadores formaram a fila para ouvir o hino, Icardi cutucou e apontou para o camarote, onde Wanda e tinham as atenções voltadas para eles. Ao ver , sorriu e piscou para a médica, que jogou um beijo para o jogador.
— Cara, você tá fodidamente apaixonado. — Icardi gargalhou, balançando a cabeça negativamente enquanto os dois caminhavam para suas respectivas posições no campo para aguardar o apito inicial.
— Cala a boca e vê se faz um gol, hoje tudo precisa dar certo. — deu um empurrão no amigo, que continuou rindo.
O juiz iniciou a partida e fechou os olhos momentaneamente, fazendo uma prece silenciosa para que as coisas corressem bem.
— O Rafinha fala muito de você, sabia? — Wanda quebrou o silêncio, visto que estava nervosa e tinha os olhos vidrados no campo. Mais precisamente, em .
— Sério? — indagou, surpresa. — O que ele fala?
— Que finalmente encontrou a mulher da vida dele. — Wanda repetiu o que o jogador disse várias vezes para o casal de amigos.
— O é uma graça... — riu.
— Preciso concordar, por que eu e o Mauro nunca o vimos tão feliz como agora.
— O João disse a mesma coisa, anda sorrindo pras paredes no vestiário. — Uma mulher de cabelos castanhos se aproximou das duas. — Eu sou a Jaque, esposa do Miranda.
Jaqueline se apresentou para e se sentou junto dela e de Wanda. Ela também era muito simpática e a médica gostou de saber que teria companhia para assistir aos jogos sempre que fosse à Milão.
A partida contra o Benevento valia pela 26ª rodada do Campeonato Italiano, com a Internazionale buscando seguir na briga pelo G4, que garantia vaga para a UEFA Champions League. A equipe da casa era favorita, contudo, só conseguiu evidenciar sua superioridade no segundo tempo do jogo, com gols marcados aos 21 e 24 minutos por Skriniar e Ranocchia, nessa ordem. Com o resultado, a Inter assumiu a terceira colocação da Serie A, o que foi motivo de muita comemoração para os jogadores.
— É tão bom ter você aqui... — abraçou e a beijou assim que entrou no camarote, depois do banho após o fim da partida.
— Você tá cada dia melhor, tô tão feliz por isso. — se aconchegou nos braços do namorado.
— Então você é a responsável por esse sorrisinho bobo no rosto do ? — Danilo D'Ambrosio chegou brincando.
— Não sei... Tem que perguntar pra ele. — A médica respondeu, sorridente.
— Se negar dorme no sofá hein ! — Icardi gritou, do outro lado do camarote.
— Vocês acham mesmo que eu vou perder meu tempo dormindo? — gargalhou, com um sorriso cretino evidente em seus lábios.
— ! — repreendeu , visto que ela ainda estava um pouco tímida por não conhecer a maioria dos jogadores e das WAGs ali presentes.
— Relaxa, amore mio... Os caras aqui também são da resenha. — Ele deu de ombros pois, apesar do pouco tempo convivência com o grupo, o relacionamento com os outros jogadores era muito bom e eles já haviam criado certo nível de intimidade.
— Amore mio? Você tá muito poliglota! — A loira sorriu, dando um selinho em .
Todos saíram para comemorar a vitória da Internazionale no Trattoria de la Trebia, um restaurante italiano extremamente charmoso e aconchegante, que oferecia o melhor da culinária local.
Ao chegarem no apartamento de , finalmente pegou seu celular, sentou no sofá e o moreno deitou em seu colo. Dentre as inúmeras marcações que haviam em seu Instagram, uma em especial chamou atenção.
hugogloss
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hugogloss Alerta casal magiaaaa! Após serem flagrados juntos com amigos passando o réveillon em Marbella e na inauguração de um bar em Barcelona, parece que o amor está no ar para e . A médica do Barcelona foi vista no camarote da Internazionale junto com outras WAGs, como Wanda Nara e Jaqueline Miranda, esposas de Mauro Icardi e o brasileiro Miranda respectivamente, acompanhando a estreia do moreno (e que moreno!) como titular pelo time italiano. Nenhum dos dois ainda se posicionou sobre o assunto, mas a loira usava um colarzinho delicado com a letra R, indicando que eles estão realmente juntos. Já tô shippando muito, me adotem seus lindos!!! #casaldoano
— , olha isso... — entregou o celular para , que gargalhou ao ler a notícia postada no blog. — E não foi só o Hugo, tem várias fotos circulando em sites aqui da Itália e da Espanha.
— Vai ser difícil continuar mantendo em segredo, cariño. Por mais que a gente não diga nada, uma imagem vale mais que mil palavras. — , como sempre, amenizou a situação. admirava muito a maneira tranquila com a qual ele lidava com as coisas, contrária à ela, que geralmente se desesperava. — A propósito, eu adorei o colar.
— Quis fazer mais uma surpresinha. — deu de ombros e respirou fundo. — É, acho que já tá na hora de fazer isso. — A loira passou alguns minutos no celular e, em seguida, o de acusou uma notificação também no Instagram.
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No seu colo é o meu abrigo ️ @93 #tb
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alcantarathaisa Só tenho cunhada linda, que isso
brumarquezine Se casem logo, quero ser madrinha
ainee.c Esse momento é nosso
luisabernardi Our ship is real
mayaracardoso Que fotão da porra
Neymarjr Sou um ótimo fotógrafo, até que o ficou bonitinho
hugogloss Que maravilhosos, socorro
Matheuscardoso Casal foda
carolcabrino Meus amores, tô tão feliz por vocês
93 Te quiero, corazón s2️
Como criou coragem para postar a primeira foto dos dois, fazendo um "throwback Sunday" da viagem à Marbella, também não podia perder a oportunidade de lembrar de um dos momentos mais especiais que eles viveram. Ali ambos tiveram a certeza de que não seria algo passageiro e que estariam dispostos a enfrentar todas as dificuldades que estariam por vir. Juntos.
93
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Brumarquezine AAAAAAAA MEU OTP TÁ ASSUMIDÍSSIMO, SOCORRO
neymarjr Até que enfim hein Princesa
phil.coutinho Reclama não por que quem passou meses aguentando o apaixonado e falando da fui eu
joaovasconcelos Imagina eu que passava o dia inteiro com ele na fisioterapia
Luisabernardi Shippei desde o início
thiago6 Gabriel tá doido pra conhecer a tia , estamos esperando vocês aqui em Munique
marquinhosm5 Cansou de ser vela da Bruna e do Neymar né Princesa
Alcantarathaisa Couple goals
arthurhmelo Felicidades irmão, vocês merecem demais
Meu amor s2
TRECE
Se for de qualquer jeito
Antes me dá um beijo
Eu tô aqui por ti, por mim, por nós
Cê não sabe o quanto é importante
Acordar ouvindo a sua voz
Deixa eu tentar cuidar de você
Que eu deixo
Pra amanhã o que eu tenho que fazer
(Deixa - Lagum part. Ana Gabriela)
{Março, 2018}
— Eu já acordei ou ainda tô sonhando? — sorriu ainda de olhos fechados, sentindo os lábios quentes de depositarem um beijo carinhoso nos seus. — Buenos dias, cariño.
— Bom dia, meu bem. — A médica respondeu se sentando na cama, ao lado do jogador, trazendo uma bandeja de café da manhã para os dois.
— Tá me mimando desse jeito só porque sabe que vai morrer de saudade de mim quando eu for embora? — brincou.
— Claro que não, idiota! — Ela respondeu indignada e o jogador gargalhou logo em seguida.
— Tô brincando contigo... — deu um beijinho na testa da namorada. — Você fez até café? — O jogador perguntou surpreso, pois sabia que detestava café, só o cheiro causava náuseas na mulher. A bandeja também continha sanduíche natural, pão de queijo, torrada, geleia, suco, iogurte e granola.
— Pra ver o quanto eu gosto de você. — A loira respondeu tomando um gole do seu suco de abacaxi com hortelã e gengibre.
— Obrigado, corazón. Não tem nada melhor do que acordar do seu lado, sinto tanta falta disso...
estava se adaptando muito bem ao futebol italiano, tanto que conquistou a titularidade no time comandado por Luciano Spalletti. Entretanto, o preço a pagar por reencontrar seu bom futebol era alto: ficar longe tanto de sua família quanto de .
— Agora eu tô aqui, e é isso que importa. — abriu o seu melhor sorriso para o namorado, o envolvendo em um abraço apertado no qual, se pudesse, ela moraria para sempre. A recíproca também era verdadeira.
— Você tá lembrado que hoje é o desfile da Stradivarius, né? A Luísa tá uma pilha de nervos. — A médica interrompeu o silêncio que tinha se instalado enquanto os dois comiam.
— Tô sim. A Bruna e o Neymar chegam que horas mesmo? — questionou, visto que ele e iriam ao aeroporto El Prat de Llobregat buscar o casal de amigos.
— Daqui a uma hora, a gente nem pode enrolar muito por que a Rosamaria vem pra cá depois do almoço pra fazer cabelo e maquiagem em mim e na Bruna. — explicou, já que ela e o namorado haviam acordado tarde e o dia deles seria bastante corrido.
— Ainda bem que eu só preciso tomar um banho e vestir o terno. — deu risada, agradecendo por ser homem e não precisar de tantos preparativos para ir à um evento.
Flashes e mais flashes. O desfile de lançamento da coleção primavera-verão da Stradivarius movimentava Barcelona naquele fim de tarde. Estrelas de várias partes do mundo, modelos renomadas e jogadores tanto do time local quanto de outros lugares prestigiavam o evento, que estava sendo realizado no Parc de la Ciutadella, um dos mais importantes parques da cidade.
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Por ser um evento diurno, optou por um vestido rosê, com aplicações de flores por toda a peça, se inspirando na estação vigente. Já , escolheu um terno todo preto e camisa branca. A combinação era um clássico e deixou o jogador ainda mais bonito.
Luísa corria de um lado para o outro, orientando as modelos e fazendo os últimos ajustes nas peças que elas vestiam. e chegaram junto com Bruna e Neymar, além de Aine e Philippe. Os três casais posaram para inúmeros fotógrafos no tapete vermelho que levava os convidados em direção à passarela e se dirigiram às cadeiras na primeira fila reservadas por Luísa, assim como a estilista tinha prometido para a melhor amiga.
— Tô tão feliz que vocês vieram... — Luísa cumprimentou os amigos, radiante. A alegria e a paixão que ela tinha pelo trabalho era quase palpável, visto que o resultado de meses de dedicação estava diante de seus olhos e encantava ainda mais todos que compareceram ao evento.
— Óbvio que a gente não ia perder esse desfile incrível, ainda mais sabendo das peças assinadas por você! — Bruna também estava super empolgada, a atriz gostava muito do universo da moda e era conhecida por seus looks sempre estilosos, além dos photoshoots que ela participava.
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— Você arrasa! — abraçou a amiga. — E o Santiago, vai conseguir vir?
— Sim, ele disse que vem de uma reunião direto pro desfile.
— Finalmente vamos conhecer o famoso Santiago... — Disse Neymar, visto que Luísa ainda não tinha apresentado o namorado para os amigos.
— Peguem leve nas gracinhas, pelo amor de Deus. — Luísa praticamente implorou.
— Assim você ofende a gente. — fingiu indignação com a fala da morena.
— Você sabe que tudo que a gente pede eles fazem o contrário só de pirraça, né? — Aine concluiu, se baseando na própria experiência.
— É, acho que já tô arrependida de ter falado. — Luísa suspirou.
— Relaxa, Lu. Vamos tentar controlar esses três. — Bruna sorriu para a amiga.
— Preciso voltar pro backstage, mais tarde a gente se vê. Aproveitem o desfile. — A estilista se despediu dos amigos e foi terminar de organizar as modelos.
As peças apresentadas pela Stradivarius tinham tecidos leves, muita cor, estampas florais. A linha casual tinha uma pegada mais comfy, totalmente a cara do verão. A linha party era voltada para a noite, tendo peças com aplicações e pedrarias, entretanto, sem pesar excessivamente os looks. A surpresa do desfile foi o lançamento da linha glam, com vestidos longos para festas ao ar livre como, por exemplo, casamentos na praia ou em jardins. A delicadeza das peças chamava a atenção, assim como a riqueza de detalhes, sem perder o ar jovem característico da marca. Essa linha era totalmente assinada por Luísa, que estava radiante com o impacto positivo causado no público. Aquele era um grande passo na sua carreira, que começava a ganhar projeção no cenário internacional.
— Gente, quero apresentar uma pessoa pra vocês. Esse é o Santiago, meu namorado. — Luísa se aproximou da rodinha em que os amigos conversavam, de mãos dadas com o empresário.
Santiago conhecia apenas , das vezes em que ele foi ao apartamento das duas para ver Luísa. Um a um, todos se apresentaram a ele.
— Tô lembrando de você do réveillon na marina de Puerto Bañus... — Disse Neymar.
— É, eu tava em Marbella com uns amigos e foi lá que eu e a Luísa nos conhecemos.
— A gente assistiu tudo. — Philippe comentou, recebendo discretamente um tapa de Aine. — Que foi, amor? — Ele perguntou sem entender.
— Só fica calado, pelo amor de Deus. — A morena respondeu entre dentes, torcendo para que Santiago não tivesse ouvido o que Philippe disse.
— O que você achou do desfile? — Bruna perguntou.
— É bem diferente do que eu chamo de trabalho, vivo entre escritórios e obras. — O engenheiro soltou uma risada. — Mas achei muito legal, as roupas são muito bonitas, principalmente as da coleção que a Lu criou.
— Com esse olhar apaixonado aí a Luísa podia ter vestido as modelos com um saco preto daqueles de lixo que tu ia achar incrível. — A afirmação de Neymar provocou uma gargalhada em todos.
— Eu avisei Santi, é melhor se acostumar logo. — deu de ombros, tomando um gole de seu Martini.
— O gato comeu sua língua, ? — Luísa questionou o jogador, que estava mais quieto que o normal. — Tô só esperando as suas piadinhas de sempre.
— Quando eu falo vocês reclamam, quando eu não falo vocês reclamam também. — riu, balançando a cabeça negativamente. — Eu tô de boa, tava só pensando em algumas coisas.
— A Princesa pensando é um milagre, capaz que hoje chove. — Neymar zoou o amigo, olhando para os céus como se analisasse a probabilidade daquele fenômeno da natureza acontecer.
— Deixa eu adivinhar... — Luísa limpou a garganta, iniciando sua imitação do jogador. — Curti o desfile, a tá gata pra caralho nesse vestido mas ficaria ainda melhor lá em casa, sem ele.
A estilista engrossou a voz, tentando reproduzir o sotaque meio carioca, meio espanhol do jogador e, assim, fazendo com que os amigos rissem ainda mais.
— Não era isso, mas não deixa de ser uma ótima ideia. — O moreno deu um sorriso cretino e abraçou por trás, suspirando contra o pescoço da namorada e fazendo-a se arrepiar.
— Eita que a saudade só aumentou o fogo da paixão desses dois, hein? — Philippe riu.
— Experimenta ficar longe da Aine por muito tempo... — Bruna sugeriu.
Tanto ela como Neymar entendiam perfeitamente o que e estavam passando em decorrência da distância. Todavia, os dois casais evitavam falar sobre isso, para não complicar ainda mais o que já não era fácil de lidar.
— Por que você não contou que tinha uma coleção exclusivamente sua? — Aine questionou a amiga, retornando ao assunto inicial enquanto o coquetel pós-desfile animava os convidados presentes.
— Era surpresa... Vocês gostaram? — A marca pediu sigilo total acerca do lançamento da coleção de Luísa.
— Óbvio que nós amamos! Agora com uma estilista dessas em casa nem vou precisar encomendar vestidos de festa da Jorgeane Moreira, Isabela Narchi, Patrícia Bonaldi... — respondeu empolgada.
— Também quero viu, já pode separar um tempinho na sua agenda pra mim. — Bruna gargalhou.
— Se eu fosse você já começava a pensar em desenhar uns vestidos de noiva, vai que aparecem uns casamentos por aí... — deu de ombros, como se não tivesse falando nada demais.
— Como é que é? — Luísa arqueou a sobrancelha, sem entender aonde o namorado da amiga queria chegar com tal constatação.
— Foi só uma ideia, esse mercado tá em expansão. — Ele respondeu naturalmente.
— E desde quando você entende dessas coisas, ? — Aine questionou.
— A Coral tá enlouquecendo o Sergi Roberto, direto ele me liga pra falar do casamento, chega a ser engraçado. — recordou das inúmeras vezes que isso aconteceu nos últimos tempos, uma vez que com a aproximação da data o casal de amigos estava muito ansioso.
— Verdade, os caras vivem enchendo ele no vestiário. — Philippe riu. — A gente perde o amigo mas não perde a piada.
— Vocês são pessoas horríveis, isso sim. — brincou, defendendo Sergi.
— Só sei que eu acho que isso foi um pedido, hein... — Luísa jogou verde acerca do comentário de .
— Concordo com você, nena. — Santiago abraçou a estilista, dando um beijo no cabelo dela.
— Ainda não. — deu ênfase ao ainda, mantendo um sorrisinho nos lábios.
— Que saco! — bufou, pausando a partida de Fifa que ele jogava para ir até a cozinha pegar um copo d'água.
— Tá tudo bem? — questionou ao ver a irritação do namorado.
— Sei lá, acho que eu só tô meio entediado mesmo. — Ele respondeu soltando o controle sobre uma das almofadas do sofá de sua casa.
— Como eu sei que você não gosta muito de jogar sozinho, se quiser eu jogo um pouco com você, já terminei meu planejamento semanal mesmo. — A loira fechou o notebook e o colocou sob a mesa de centro, para se acomodar melhor no sofá, ao lado de .
— Você tá falando sério? — O jogador questionou incrédulo.
— Tá duvidando que eu sei jogar, ? — A loira arqueou a sobrancelha, indignada.
— Não falei nada. — O moreno ergueu os braços em rendição, tentando se defender.
— Agora a gente vai jogar. — decretou, ainda sentindo o olhar duvidoso de cair sobre ela. — E vai ser apostado.
— Que tipo de aposta? — indagou, ainda rindo da expressão desafiadora de .
— A cada gol que um fizer o outro tira uma peça de roupa. Quem ficar sem roupa primeiro vai ter que fazer alguma coisa à escolha do vencedor. — A médica propôs.
— Todas as peças estão valendo? — indagou com um sorriso cretino nos lábios.
— Aham. — confirmou. — Preparado?
— Eu sempre tô preparado, corazón. E você? — O jogador devolveu a pergunta com o mesmo tom desafiador usado pela namorada anteriormente.
A disputa entre os dois estava bem equilibrada. No decorrer da tarde, uma a uma as peças de roupa iam parar no chão da sala, visto que, apesar de uma hora ou outra um abrir vantagem, não demorava muito para o outro se recuperar na competição estabelecida.
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— Até que você joga direitinho, hein... — comentou quando os dois estavam apenas de roupa íntima e quem fizesse o próximo gol ganharia a aposta.
— Confessa que você pensou que ia ganhar fácil... — A médica deu risada.
— É sorte de principiante. — deu de ombros. — E eu tô um pouco destreinado.
— De tanto jogar com o Matheus, acabei aprendendo. — explicou de onde vinha a sua habilidade com o videogame. — Quando eu não tinha nada melhor pra fazer, gostava de ganhar dos amigos dele.
— Com eles você não fazia esse tipo de aposta, né? — se referiu à situação em que eles se encontravam.
— Claro que não, ! Praticamente todos os amigos do Matheusinho são mais novos do que eu, a brincadeira era só pela resenha mesmo, porque eles achavam engraçado eu sentar pra jogar com eles.
— Eu também sou mais novo que você. — O jogador falou como se fosse óbvio.
— Ah mas não foi você que disse que 1 mês e 24 dias não fazem diferença? — frisou a data, recordando do argumento utilizado por quando eles discutiram, na inauguração do La Carioca, acerca de quem mandava. — E santo é uma coisa que, definitivamente, você não é.
— Estamos falando de assuntos bem distintos e você tá me caluniando, eu sou quietinho, pô.
— Faz-me rir, né ! — A loira soltou uma gargalhada alta. — Até parece que gostoso assim e com um bronzeado desse, além dessa boca que parece dizer "me beija pelo amor de Deus", você ia perder a oportunidade de pegar todas.
— É, não posso reclamar por que já curti bastante.
— Viu? — perguntou retoricamente, ciente de que tinha razão. — Se indiretamente você tava querendo saber se eu já fiquei com algum dos amigos do meu irmão, a resposta é não. Eu nunca tinha ficado com um cara mais novo, mas pra tudo tem uma primeira vez. E que primeira vez, superou todas as outras. — Ela mordeu o lábio inferior sugestivamente, analisando cada centímetro do corpo do moreno à sua frente, que vestia apenas uma boxer preta da Calvin Klein.
— Vou lembrar disso quando eu ganhar.
— Veremos, mi amor. — A loira soprou contra o ouvido do namorado, causando uma pequena distração em em decorrência da malícia em sua voz. Obviamente, ela aproveitou esse instante e fez o gol, que lhe deu a vitória da aposta.
— Isso não valeu, espertinha. Eu não tava prestando atenção no jogo e sim em você. — contestou enquanto a loira comemorava.
— Em nenhum momento eu disse que não podia distrair o adversário. — fez menção à suposta regra apontada por . Ela só esqueceu de avisar a ele de que tudo era permitido.
— Vai ter revanche. — O jogador anunciou, percebendo que, naquele dia, a vitoriosa tinha sido a loira.
— Vou aguardar com o maior prazer. — A médica deu um selinho rápido no namorado. — Vou pegar leve, você vai ter que ligar pra um dos seus amigos e passar um trote.
— Mas isso é difícil pra caralho! — protestou mais uma vez. — Vou acabar rindo e os caras vão sacar que é zoeira.
— Aposta é aposta. — deu de ombros. — Coloca no viva-voz, ok? — Ela pediu.
— Tá, vou ligar pro Coutinho então.
pegou o celular e discou o número de Philippe, que atendeu no terceiro toque. Enquanto isso, filmava o momento. Ela jamais perderia essa oportunidade.
— Irmão, tu tá podendo falar? — A voz de transmitia preocupação, encarnando o personagem na tentativa de enganar o amigo.
— O que foi que você aprontou dessa vez, Princesa? — Coutinho já entendeu que o assunto era sério pelo tom do amigo.
— Lembra da resenha na casa do Marlon, um pouco antes da viagem pra Vigo que eu comecei a ficar com a ? — se referiu à uma festa na casa de Marlon Santos, atleta do Barcelona que estava emprestado ao Nice, clube do futebol francês.
— Lembro sim, por quê? — O camisa 7 perguntou desconfiado, temendo o que estava por vir.
— Pouco depois que você foi embora eu também saí de lá, acabei trazendo a Vanessa aqui pra casa e rolou, sabe. Aí ela apareceu hoje aqui em casa falando que tá grávida, que não me contou antes por que tinha viajado pra fazer uns trabalhos na Austrália. Não tô preparado pra ser pai, não desse jeito. — atropelava as palavras, envolvendo o amigo na tal mentirinha.
— Porra , tu é jogador de futebol e não aprendeu que a gente não entra em campo descalço? — Philippe ralhou com o amigo.
teve que se controlar muito para não rir da metáfora usada por Coutinho, que estava brigando com por ele não ter usado preservativo em um one-night-stand.
— Eu tava muito bêbado irmão, nem lembrei de nada disso. — olhou para a namorada, que tentava se manter sem fazer barulho para não interferir na ligação.
— Não vou dizer que é castigo por que tem uma criança que não tem nada a ver com as suas irresponsabilidades vindo aí, e ser pai é a melhor sensação do mundo. Mas uma hora ou outra isso ia acontecer, você saía pegando geral em todas as festas de Barcelona, nem dá pra te defender.
deu uma olhada para , confirmando que antes de conhecê-la o namorado realmente aproveitou bastante a badalação da noite catalã. A lista de affairs dele era grande e a declaração de Philippe só reiterou a afirmação feita por ela momentos antes, durante uma das partidas de FIFA.
— Eu tô muito fudido... Ainda bem que a tava dormindo, não sei como eu vou contar isso pra ela.
— Ah mas você vai contar sim, e vai ser hoje. Esse não é o tipo de coisa que se guarda segredo, principalmente de uma pessoa como a . Ela precisa saber. — Coutinho foi firme e decidiu que era a hora de interromper a conversa, uma vez que conseguiu envolver o amigo na história.
— Já disse que eu te amo hoje, Little Couto? — gritou no telefone e explodiu em uma gargalhada.
— Vão se fuder vocês dois, eu já tava suando de nervoso aqui. — Philippe brigou com o casal. — Dá pra vocês me contarem o motivo da ligação que quase me fez ter um infarto precoce?
— Nós estávamos jogando FIFA e fizemos uma aposta, como a ganhou eu tive que passar um trote e escolhi você. Muito obrigado pela participação.
— Mas eu só falei que era pra fazer um trote, a história todinha foi ele que inventou. — se defendeu.
— Por acaso você esqueceu como que joga? — Philippe questionou, incrédulo pelo amigo ter perdido para a namorada, uma vez que o que eles mais faziam nas horas vagas era jogar no ps4.
— Ela é muito boa, juro pra você. No próximo campeonato que a gente organizar ela vai tar no meu time.
— Falando sério agora, bom saber que tem alguém pra colocar juízo na cabeça do e que não vai me deixar fazer papel de otária. Fico te devendo uma, Phil. — A loira riu divertidamente.
— Juízo é meu sobrenome. — fez cócegas em , como protesto à afirmação que ela tinha acabado de fazer.
— Não aguento vocês dois. — Coutinho sorriu ao ouvir as gargalhadas dos dois do outro lado da linha. — Aceito as desculpas se você vier aqui em casa fazer um dos seus jantares maravilhosos, porque eu quero comer até passar mal. — O camisa 7 informou suas condições.
— Pode deixar, vê com a Aine o dia e o que vocês vão querer. — respondeu assim que recuperou o fôlego, como forma de agradecimento à postura do amigo frente à brincadeira que ela e tinham feito.
O casal conversou mais um pouco com Philippe e ainda riu bastante da brincadeira feita. Além disso, contou que já estava pensando no que faria quando ele ganhasse a próxima aposta. Eles ficaram deitados ali mesmo, no sofá da sala, apenas curtindo a presença um do outro, pois na manhã seguinte voltaria para a Itália.
Apesar dos pesares, as coisas estavam funcionando dessa forma para eles. As viagens constantes de Barcelona a Milão e vice-versa eram cansativas, entretanto, extremamente gratificantes. Muito mais do que se completar, e faziam um ao outro transbordar, e era nisso que ambos apegavam-se quando a saudade apertava no peito.
CATORCE
Made my decision to test my limits
'Cause it's my business, God as my witness
Start what I finished
Don't need no hold up
Taking control of this kind of moment
I'm locked and loaded, completely focused
My mind is open
(Dangerous woman - Ariana Grande)
{Março, 2018}
— Sua garota só veio aqui duas vezes e já conquistou todo mundo, hein?! — Mauro Icardi comentou enquanto ele e o amigo se alongavam no campo, iniciando o aquecimento antes da partida contra o Verona.
— Não é à toa que eu me apaixonei a primeira vez que eu a vi. — respondeu alongando os músculos posteriores da coxa, com o intuito de ter mais amplitude e flexibilidade nos movimentos.
— Amor à primeira vista? É sério isso? — Mauro gargalhou alto, chamando atenção dos outros companheiros de time e percebendo um olhar repreensivo do técnico Luciano Spalletti.
— Se eu te contar como a gente se conheceu... — relembrou o dia que os dois se desentenderam no trânsito, assim que a médica chegou à Barcelona. Icardi precisou conter a risada para não receber uma bronca de Spalletti durante o aquecimento.
— Cazzo, é muita coincidência. — O atacante balançou a cabeça negativamente, mantendo o semblante risonho enquanto realizava os mesmos movimentos que o amigo. — E, obviamente, você tinha que ter aprontado alguma.
— Falou o santo Mauro Icardi. — ironizou, girando lentamente os quadris no sentido horário e depois anti-horário. — Como se você nunca tivesse ido treinar de ressaca e feito merda...
— Velhos tempos, . Velhos tempos... Sorte sua que a também se apaixonou por você depois que a raiva passou.
Apesar do relacionamento com Wanda Nara ter começado de maneira conturbada, devido à uma suposta traição dela ao ex marido, com Icardi, os dois realmente se apaixonaram. Com o tempo e o casamento vieram as duas filhas, Francesca e Isabella, que eram as coisas mais preciosas da vida de Mauro, a quem ele dedicava todo o seu tempo, abrindo mão da vida de festas que o argentino costumava ter.
— É impossível resistir ao charme dos . — O camisa 8 gargalhou, convencido. — Claro que a maior parte ficou comigo né, sou muito mais bonito que o Thiago. O Bruno e o Gabriel não contam por que são crianças.
— Tá bom, Princesa linda. Chega de bater papo por que o jogo de hoje é importantíssimo.
— E depois do jogo eu vou direto pra Barcelona. — sorriu, posto que já estava com saudades de . Era duro não tê-la presente em sua rotina diária.
— Acho que seu próximo investimento vai ter que ser um avião, por que você e a vivem em aeroportos para conseguirem se ver sempre.
— O importante é a gente estar junto, não importa como nem quando. — piscou para o amigo e correu em direção ao centro do campo, onde Spalletti reunia a equipe para passar as últimas orientações para o time sobre a partida daquele dia.
estava uma pilha de nervos. Seus pais foram passar uma semana com ela em Barcelona, e essa visita incluía conhecer o namorado da filha. chegaria de Milão no final da tarde e iria à noite jantar no apartamento dela. Apesar de seus pais serem bem tranquilos em relação à isso, ainda assim ela estava tensa com o primeiro contato dos três. Prova disso é que o horário marcado se aproximava e ela estava enrolada na toalha, sentada na cama e mexendo no celular após ter tomado banho, ao invés de estar se arrumando.
— Posso saber o que você tá fazendo nesse estado a essa hora? — Luísa questionou ao entrar no quarto da amiga e vê-la rolando o feed do Instagram despretensiosamente. — Que eu saiba as noivas só se atrasam no dia do casamento.
— Nem começa com essa história de novo. — revirou os olhos com a fala da amiga.
— Quem começou foi o seu namorado, não eu. — A estilista ergueu os braços em sinal de rendição, tentando se isentar da culpa.
— E desde quando vocês levam a sério tudo que o fala? — encarou a amiga.
— Eu não levo, é só pelo prazer de te irritar mesmo. Não precisa vir com o papo de que ainda tá cedo pra isso e blá-blá-blá, que eu já decorei esse discurso, inclusive uso sempre. — Luísa gargalhou alto, se jogando na cama, ao lado da amiga e pegando o celular das mãos dela.
— Vem cá, você não tem nada melhor pra fazer não? — A médica questionou, indignada.
— Enquanto o Santiago não chega eu não tenho, então vou ficar aqui até você criar vergonha na cara pra levantar e se arrumar.
Anteriormente, tinha pedido para que a amiga ficasse e também convidasse Santiago para o jantar. Quem sabe, assim, não seria o único foco de assunto da noite.
— Pensei que a minha mãe tivesse lá em baixo com o meu pai, não aqui no meu quarto me enchendo. — ironizou a postura da morena, rindo.
— Você que tá agindo feito criança. — Luísa deu de ombros, rindo também. — Não precisa ficar nervosa, seus pais são incríveis e vão adorar o ... Tenho certeza que o Matheus e a Mayara falaram muito bem do pra eles dois.
— Deus te ouça. — A médica levantou as mãos para o céu em sinal de prece e, enfim, foi se vestir.
Como a temperatura estava amena em Barcelona, escolheu um vestido estampado de tecido leve e calçou uma rasteirinha. Ela preferiu que o jantar fosse bem informal, para que todos pudessem ficar mais à vontade. Quando ela estava terminando de se arrumar, se assustou com o barulho do interfone.
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— Relaxa, é o Santiago. — Luísa respondeu prontamente, mostrando na tela de seu celular a mensagem do espanhol dizendo que havia chegado. — Você vai ficar bem? — A morena questionou ao parar na porta do quarto, voltando sua atenção para a amiga.
— Sim, só vou colocar um brinco e já tô descendo. Obrigada, Lu.
O agradecimento era simples, todavia, tanto quanto Luísa sabiam que havia muito mais significado por trás daquelas oito letras. Uma sabia que podia contar com a outra sempre, independente de ser para não fazer nada juntas ou resolver algum problema sério. Não era à toa que as duas eram amigas a tanto tempo e estavam sempre presentes nos momentos mais importantes.
não teve muito tempo desde que pousou em solo espanhol até o horário do jantar. Ele optou por vestir uma camiseta pólo preta, calça também preta e alpargata branca.
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Enquanto dirigia até o apartamento da namorada, seu celular tocou e ele atendeu, apertando um botão no volante do automóvel.
— E aí Princesa, tá nervosinha pra conhecer os pais da tua mina? — A gargalhada de Neymar era única e poderia ser reconhecida até na lua.
— Se tu vai fazer o favor de me pilhar, nem se dê ao trabalho. — respondeu imediatamente, repreendendo qualquer gracinha que o amigo pudesse vir a fazer.
— Calma, eu vim em missão de paz. — Neymar brincou. — Só liguei pra te dar uma força por que a Luísa falou pra Bruna que a tá super tensa também. Só que nem tem motivo, a Fernanda e o Willian são gente boa pra caralho…
— Acho que eu tô meio receoso por que a última vez que eu namorei mesmo foi na adolescência, com uma menina que eu conhecia a muito tempo, já convivia com os pais dela e ela com os meus... A sensação é, no mínimo, estranha. — O moreno fez uma careta.
— Não tem erro, é só você e a ficarem de boa que vai dar tudo certo. — Neymar tentou passar confiança para o amigo.
— Valeu, irmão.
agradeceu e trocou mais algumas palavras com o camisa 10 do PSG enquanto estacionava o carro na garagem do prédio. Logo, o jogador subiu até o andar de e tocou o interfone.
— Hola, corazón. — sorriu assim que abriu a porta para ele.
— Oi, amor. — Ela entrelaçou os braços ao redor do pescoço de e lhe deu um beijo.
Os dois tiveram que se controlar para que aquele contato não dá aprofundasse ali mesmo, na frente de todos. Entretanto, a saudade que eles sentiam um do outro era grande e implorava por isso.
— Trouxe só pra não perder o costume. — O jogador entregou uma caixa de pães de mel para a namorada.
— Ai ... — A loira soltou uma risadinha. Definitivamente, sabia como agradá-la.
agradeceu com um selinho e os dois foram de mãos dadas até a varanda, onde todos estavam reunidos conversando. cumprimentou Luísa e Santiago, até que o apresentou aos pais dela.
— Mãe, pai. — chamou a atenção dos mais velhos. — Quero apresentar pra vocês o , meu namorado. , essa é a minha mãe, Fernanda, e o meu pai, Willian.
— Que bom poder, finalmente, te conhecer. — Fernanda sorriu simpática, dando um abraço no jogador.
— O prazer é todo meu. — sorriu também. — A fala bastante de vocês.
— Espero que seja bem. — Fernanda brincou.
— É sim, pode ficar tranquila. — confirmou e se aproximou do pai de para cumprimentá-lo.
— Se você tiver fazendo a minha filha tão feliz quanto os torcedores da Inter de Milão estão, eu já fico satisfeito. — Willian estendeu a mão para o jogador e o puxou para um abraço.
— Pai! — arregalou os olhos, o repreendendo.
— Que foi? Só tô dando as boas-vindas ao . — Willian se defendeu, rindo da cara que a filha havia feito. — O Matheus tá acompanhando a Serie A e eu comecei a ver com ele, você se adaptou muito rápido ao futebol italiano. — Ele elogiou o atleta.
— Preciso honrar o nome da família, né? — respondeu em um tom amistoso.
— Você tá indo bem. — Willian deu uma batidinha nas costas dele e foi se sentar ao lado de sua esposa.
— É, eu tenho um staff incrível que me dá todo o suporte necessário. — e trocaram olhares cúmplices. Ele vinha treinando bastante e tinha plena consciência de que era uma das maiores responsáveis pelo seu bom desempenho em campo.
Aos poucos sentia a tensão se esvair de seu corpo, uma vez que o primeiro contato com os pais da namorada foi agradável.
— Nossa, e esses pães de mel? — Luísa perguntou ao ver a caixinha que tinha dado para sobre o balcão.
— Meus pães de mel. — corrigiu a amiga, enfatizando o pronome possessivo meus.
— Acho que se tirar o sangue dessa menina no lugar sai açúcar, nunca vi gostar de doce desse tanto. — Fernanda riu, balançando a cabeça negativamente.
— que o diga, só assim pra manter a fera controlada. Aposto que ele já deixa uns chocolates de reserva até no carro pro estrago ser menor se o trem azedar pro lado dele. — Santiago comentou, provocando gargalhadas em todos.
— Tá cheio das graças né, espanhol... É por isso que eu sempre digo: dá dinheiro mas não dá intimidade, se não vira isso aí. — A loira revirou os olhos em tom de brincadeira.
Neymar e Luísa tinham razão. Não havia motivo para e ficarem tão pilhados. O jantar ocorreu tranquilamente, Fernanda e Willian deixaram o namorado da filha extremamente à vontade e todos se deram muito bem. No fim da noite, já estava intimado para passar uns dias na fazenda da família no interior de Goiás e provar a tradicional cachaça de alambique. A única coisa que queria era que ele se sentisse bem na presença de seus pais assim como ela se sentia bem quando estava com Valéria ou Mazinho. Felizmente deu tudo certo e todos estavam, além de aliviados, muito felizes.
— Acho que já tá na minha hora, corazón.
Era mais de 2 horas da manhã, estava sentado no sofá da sala e estava abraçada a ele, enquanto passava o último quarto do jogo do Boston Celtics na televisão. Àquela altura os pais de já tinham ido dormir, Luísa e Santiago estavam sentados no outro sofá também trocando carinhos, portanto, não prestavam muita atenção nos dois.
— Você não vai dormir aqui? — A médica questionou surpresa, saindo do aconchego do cafuné que o namorado fazia para poder encará-lo direito.
— Seus pais tão aí e... — começou a explicar e foi prontamente interrompido por .
— Não tem problema nenhum, . É a minha casa, eu não sou mais adolescente e a gente sempre dorme junto quando você vem pra cá ou eu vou te ver. Fica, vai... — A loira pediu manhosa.
— Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, diga ao povo que fico. — O jogador se apropriou da frase dita por Dom Pedro I em 9 de janeiro de 1922.
— Palhaço. — revirou os olhos e, depois de dar boa noite para Luísa e Santiago, o casal foi para o quarto da médica dormir. Ou não.
— Diazinho tranquilo, vamos voltar pra casa cedo... — Mauro Icardi relaxou o corpo na poltrona em que estava sentado, colocando os pés sobre a mesa à sua frente.
Naquele dia estava acontecendo a Internazionale Fest, uma ação organizada pelo clube com o intuito de aproximar os sócios-torcedores dos jogadores no Centro Sportivo Angelo Moratti. Haviam atividades recreativas para as crianças, tour pelo centro de treinamento e vestiários, visitação à sala de troféus, camisetas personalizadas, buffet completo, além de fotos e autógrafos com os atletas. Os jogadores aproveitaram para levar suas famílias, tendo um momento de descontração em meio à rotina de treinos, viagens e jogos, que era bastante cansativa para todos.
— Nem acredito que eu vou poder ficar de boa com a , sem ter que acordar cedo pra treinar na dia seguinte. — sorriu e fechou os olhos momentaneamente, agradecendo ao idealizador daquela festividade visto que um descanso era tudo que os jogadores precisavam e, após aquele instante, todos estariam liberados para ir embora.
— Tem que aproveitar mesmo, irmão. Lembro de quando eu e a Jaque começamos a namorar, eu ficava louco pra chegar de viagem pra encontrar com ela. — Miranda recordou seu início de carreira, quando jogava pelo Coritiba, enquanto o time aguardava o início da sessão de autógrafos no salão de eventos.
— Falando nisso, cadê elas? — questionou acerca de onde a namorada e as esposas de seus amigos estavam.
— Acho que elas foram dar uma volta com as crianças, mas já devem estar voltando por que a sessão vai começar em... 10 minutos. — Mauro respondeu ao checar as horas em seu celular.
estava de folga e aproveitou para passar uns dias com o namorado, além de acompanhá-lo no evento realizado pela equipe italiana e seus patrocinadores. Ela foi junto com Wanda e Jaqueline levar Francesca, Isabella, João e Lucas para brincar um pouco e, ao mesmo tempo que os pequenos se divertiam, as três ficaram conversando sobre os mais diversos assuntos. Não demorou muito para que todas se dirigissem ao salão, para acompanhar a sessão que iniciaria em breve.
— Olha as três aí. — Miranda apontou para a porta do salão, onde as três mulheres entraram sorrindo.
trazia Isabella, filha mais nova de Wanda e Mauro, no colo. A pequena gargalhava enquanto a médica fazia cócegas nela, contagiando todos com a fofura da cena.
— Pelo visto vocês se divertiram bastante. — se aproximou de e tampou os olhos de Bella, para que pudesse dar um beijo na namorada.
— Muito! Haja energia pra acompanhar esse pique todo. — deu risada.
— A gente que o diga né, Jaque? — Wanda comentou e Jaqueline concordou, visto que ambas tinham crianças em casa. — Mas você leva muito jeito com os pequenos.
— E aí , deu vontade de ter um bebê também? — Mauro brincou com a loira.
— Se vai rolar pelos próximos tempos eu não sei, mas a gente tá treinando bastante, não é mesmo corazón? — deu um sorriso cretino, provocando gargalhadas nos amigos.
— Não aguento vocês. — Foi o que se limitou a responder e logo o assessor de imprensa do time liberou a entrada dos torcedores, dando início à sessão.
sentou em um dos sofás e ficou observando o contato entre os jogadores e os torcedores. Os italianos eram realmente apaixonados por futebol e a forma que ele s acolheram no time era muito bonita de se ver. As manifestações de carinho mais genuínas vinham das crianças que, além da camisa com o número 8 e Rafinha escrito nas costas, traziam o sorriso, a pureza e uma mensagem muito importante: a de que ele estava no caminho certo.
Por um lado, isso aumentava a responsabilidade de , pois ele sabia que precisava manter uma conduta irretocável, uma vez que era visto por muitos como inspiração. Por outro lado, ter conhecimento de todo esse carinho era um incentivo e tanto. Depois de passar por inúmeras adversidades, para não tinha preço ver bem e feliz daquela maneira.
Quando a sessão já estava no fim e os jogadores atendiam os últimos torcedores, uma voz conhecida chamou . Assim que ele virou para ver quem era, se surpreendeu ao ser recebido com um abraço.
— Dani... Quanto tempo.
— Karma is a bitch. A gente parou de se ver por que eu precisava voltar pra Itália e quem diria, agora é você que tá morando em Milão. — A mulher despejou de uma vez.
— Não esperava te encontrar aqui. — ainda parecia extasiado com a presença dela.
— Pois é , mas eu tô em casa. — A modelo italiana deu de ombros. — Realmente certas coisas não mudam, só que agora é a sua namoradinha que tá em Barcelona e você voltou pra perto de mim.
— Por favor, Danielle. Aqui não é hora nem lugar pra falar sobre isso. E eu tô muito feliz com a . — tentou encerrar aquele assunto o mais rápido possível.
— Quando você decidir parar de brincar de casinha a gente conversa. — A modelo olhou diretamente para , que fazia carinho nos cabelos de Isabella. Após um dia tão intenso e cheio de brincadeiras, a pequena acabou se rendendo ao sono. — Baci, amore mio.
Ao se despedir de , Danielle virou o rosto e deu um selinho no jogador. Apesar de rápido, o contato foi suficiente para que , Wanda, Jaqueline e algumas outras pessoas vissem a cena. A expressão da médica mudou velozmente e ela foi em direção à saída do salão, ignorando a voz de que lhe chamava.
— Porra , logo a Danielle? — Mauro sabia do envolvimento que o amigo teve com a modelo tempos atrás, apesar de não ter chegado a ser um relacionamento.
— Eu não sei o que essa louca veio fazer aqui. — estava ficando exasperado e seguiu para o estacionamento, ainda tentando falar com a namorada.
— , espera! — correu e conseguiu alcançá-la.
— Por favor , agora não... — pediu encarecidamente.
— Por que não? — O jogador contestou de forma imediata.
— Por que o espírito do ciúme tá tomando conta do meu ser e eu não posso deixar isso acontecer. — A loira respondeu de maneira pausada, apelando para todos os deuses existentes para a ajudarem a manter o auto-controle.
— Ah cariño, você não existe. — não conseguiu segurar a risada (que também era um pouco de nervosismo, obviamente) e passou os braços ao redor do corpo da médica, envolvendo-a em um abraço apertado.
— Não ri, . É sério. — suspirou pesadamente. — Eu odeio sentir ciúmes.
— Entra no carro, vamos pra casa e aí a gente conversa. — tentou manter o tom de voz mais amável que conseguia, afinal, entendia o lado dela. Ele sabia que não manteria essa postura se tivesse acabado de presenciar um cara roubando um selinho de sua namorada.
Depois de mais alguns instantes de insistência, acabou cedendo e caminhou até o carro de . Para manter a calma, a loira foi comendo no caminho até o apartamento do jogador um pacote de marshmallows que ela encontrou no porta-luvas. Assim que chegaram, os dois tomaram banho e foram conversar no quarto.
contou para que ele e Danielle se conheceram quando a modelo foi passar uma temporada em Barcelona e que, apesar de terem ficado por um tempo, não foi nada sério. Danielle acompanhava o jogador em alguns eventos ou resenhas de amigos e eles acabavam terminando a noite juntos, entretanto, não era nada além disso.
A loira escutou atentamente as explicações do namorado e não havia razão para que ela ficasse chateada com . Ele não tinha culpa. Só restava torcer para que um incidente como aquele não se repetisse.
— Então você tá confessando que é ciumenta mas odeia isso? — questionou rindo, depois de tudo ter sido muito bem esclarecido entre os dois.
— É, mais ou menos. Tenho uns "pequenos surtos" de vez em quando. — fez aspas no ar. — E me sinto tão idiota por isso... — A loira cruzou os braços, contrariada.
— Olvídalo, corazón. Já passou. — afagou os cabelos da namorada.
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— Mas e aí, o que a gente vai jantar? — perguntou sereno, como se nada tivesse acontecido anteriormente.
— Camarão ao alho e ódio. — respondeu a primeira coisa que veio em sua cabeça.
— Selvagem. Gosto assim. — deu um sorriso cretino e começou a beijar a namorada. Aquela mulher era maravilhosa demais para ser real.
QUINCE
It's like the walls are caving in
Sometimes I feel like giving up
No medicine is strong enough
Someone help me
I'm crawling in my skin
Sometimes I feel like giving up
But I just can't
It isn't in my blood
(In my blood - Shawn Mendes)
{Abril, 2018}
Ser campeão olímpico é um sonho para qualquer atleta, com um jogador de futebol não seria diferente. viveu esse sonho há dois anos, com um sabor ainda mais especial por que as Olimpíadas foram no Rio de Janeiro, portanto, ele estava em casa. Todavia, há um sonho ainda maior que corre nas veias de todo jogador: a Copa do Mundo.
Desde garoto, quando começou a trilhar sua carreira, seu maior deseja era o de ganhar uma copa, levantar aquela taça e levar aquele título para o Brasil. Apesar de viver na Espanha desde pequeno e seu irmão mais velho, Thiago, ter escolhido defender a seleção espanhola, no seu íntimo sempre quis vestir a camisa amarela, como seu pai fez décadas atrás, na conquista do tetracampeonato em 1994.
Existe uma expectativa que envolve a seleção olímpica, pois ela é a base da seleção que disputará a próxima Copa do Mundo, a "geração do futuro". Entretanto, tudo está sujeito à mudanças, visto que a comissão técnica muda, cada treinador tem preferência por um estilo de jogo, características táticas e, bem ou mal, jogadores de futebol vivem de momento.
Mesmo tendo sido campeão olímpico, tendo batido um dos pênaltis após o empate com a Alemanha no tempo normal e na prorrogação, e de ter lavado a alma após o trauma da seleção na copa anterior, não teve muitas chances no time principal. Ele vinha fazendo boas temporadas no Barcelona, mas foi prejudicado por uma lesão no menisco interno do joelho direito e, posteriormente, uma artroscopia. Inclusive, ele já tinha sofrido com uma ruptura de ligamento cruzado nesse mesmo joelho, em setembro de 2015. Após a recuperação e a transferência para a Inter de Milão, jogou ainda melhor e foi destaque no time, sendo apontado como o melhor jogador do campeonato italiano antes mesmo do fim da temporada.
foi bem nos amistosos dos quais participou usando a amarelinha, marcando gols importantes e mostrando versatilidade. Ele era, sim, uma peça importante para o time. Era isso que sustentava a esperança para a convocação de para a Copa do Mundo da Rússia, mesmo ele próprio sabendo que os companheiros que jogavam na mesma posição que a sua também vinham fazendo boas temporadas. A imprensa, principalmente a brasileira, italiana e espanhola, discutia muito acerca da lista de Tite e muitos jornalistas apostavam veementemente na presença do nome de . E, por mais que negasse, todo esse falatório na mídia esportiva mexia com ele.
— Boa tarde... — apareceu na sala do apartamento coçando os olhos, ainda sonolenta. — Tá tudo bem?
A loira se deparou com sentado no sofá e a voz dela pareceu ter tirado o jogador de um devaneio, uma vez que a tv estava ligada mas ele não prestava muita atenção. Os dois haviam realizado um treino bem intenso pela manhã, tanto que acabou adormecendo após o almoço.
— Boa tarde, mi amor. — deu um selinho na namorada, que se sentou ao seu lado. — Não consegui descansar direito, hoje sai a lista definitiva pra copa.
Claro, como poderia ter esquecido? O nome de estava entre os 35 da lista preliminar, da qual sairiam os 23 que viajariam para a Rússia. Com a aproximação do final dos campeonatos italiano e espanhol, e estavam praticamente de férias, então ela decidiu passar uns dias com o namorado em Milão, tanto para matar a saudade quanto para treinar com ele. Sempre que podia, ia para Milão visitá-lo e fazer os ajustes necessários no seu plano de treinamento, que era seguido à risca pelos médicos e preparadores físicos da equipe italiana.
— Já vai começar? — perguntou e fez que sim com a cabeça.
Ela segurou na mão do namorado, como se dissesse "eu estou aqui", pois mesmo tentando mostrar uma expressão de tranquilidade, sabia que ele estava tenso. E, consequentemente, ela também estava.
Após longos minutos de conversa de Tite e a comissão técnica com os jornalistas, a lista começou a ser anunciada. Os dedos da mão esquerda de tamborilavam sob a almofada rosa que ela mantinha no colo, tentando afastar a carga de ansiedade que se espalhava pelo seu corpo. Um a um os nomes eram anunciados, até chegar em meio campistas.
— Meio campo. — A voz de Edu Gaspar, coordenador de seleções, ecoava no ambiente por meio da tv. — Philippe Coutinho, Paulinho, Casemiro, Fernandinho, Fred, Willian e Renato Augusto.
(Dica da autora: dá play na música do capítulo agora!
https://youtu.be/36tggrpRoTI
Era oficial: o nome de não estava na lista. sentiu o coração se despedaçar e não falava nada nem se mexia, parecia em estado de transe. Mas não era aquela sensação boa causada por um momento feliz, como na conquista do ouro olímpico ou nas diversas premiações que ele recebeu ao longo do campeonato italiano. Ela mantinha os olhos fixos em , esperando que ele esboçasse alguma reação. Ele permaneceu calado, mas seus olhos começaram a marejar.
parecia travar uma batalha interna para não se entregar à frustração, porém quando notou suas lágrimas e o puxou para um abraço apertado, uma vez que ela nunca tinha o visto daquela maneira, ele desistiu de tentar segurar e chorou. O choro de Rafinha era dolorido, acompanhado de soluços e murmúrios, como uma criança pequena que se machucou em uma queda de bicicleta no parque. Tinha tudo para ser um dia feliz mas, de repente, ele perdeu o chão. Para alguns poderia parecer exagero, todavia, sabia de tudo que ele tinha passado para chegar até ali. E, definitivamente, não foi pouca coisa.
Aquela cena deixou completamente devastada, pois ela não sabia o que fazer ou o que dizer para consolar o namorado. Ela só abraçou-o o mais forte que podia, como se tentasse proteger aquele garotinho que via nos olhos de , deixando que suas lágrimas se misturassem às dele. Se houvesse alguma maneira, transferiria para si toda a dor que estava sentindo naquele momento. Ela nunca imaginou que fosse tão difícil vê-lo sofrer assim.
— O que eu fiz de errado? — perguntava mais para si mesmo do que para a namorada, no dia seguinte à convocação.
Os olhos do jogador ainda permaneciam vermelhos e inchados, denunciando o choro que ele tinha externalizado e a noite sem dormir direito. Além disso, seu olhar também estava perdido. E era essa última característica que deixava mais preocupada.
— Você não fez nada de errado, meu amor. — Ela respondeu em um tom carinhoso, quase maternal. — Você fez uma excelente temporada, marcou gols importantes, foi eleito o melhor jogador do campeonato italiano antes mesmo do final da Serie A, conseguiu se recuperar fisicamente e entrou em uma fase muito boa, na seleção você aproveitou todas as oportunidades que te deram...
— Mas não adiantou nada, não fui convocado. — contestou, levantando do colo da namorada, que fazia cafuné em seus cabelos. respirou fundo e pensou um pouco. Ele não deixava de ter razão (em partes), no entanto, ela jamais o deixaria embarcar nessa tristeza.
— , você não pode pensar desse jeito... — olhou no fundo dos olhos dele. — Todas as vezes que você pisa no gramado dá o sangue pela equipe, sem se importar com a camisa que está vestindo ou da situação, se é uma brincadeira no condomínio, amistoso ou final de campeonato. A sua garra transcende, é algo perceptível a todos e eu tenho muito orgulho disso. A gente pode passar horas criando teorias sobre o porquê dessa escolha, mas é algo que eu não tenho resposta, talvez nem a própria comissão técnica saiba. Pode ter sido uma simples preferência ou, infelizmente, um receio pela gravidade das lesões que você teve. Mas eu, como sua médica, garanto que você tá bem pra jogar, do contrário, eu e o departamento médico tanto do Barcelona quanto da Inter não teríamos te liberado.
— Eu sei. — Ele suspirou, pois quanto à isso tinha razão. Ele havia feito o seu melhor e, portanto, deveria manter a consciência tranquila.
— Só que você não pode desconsiderar todas as suas conquistas e a brilhante carreira que você vem construindo até aqui, deixando uma lista definir quem é o , que é um jogador incrível. — continuou a falar. — Muito menos permitir que isso roube o sorriso do , o homem pelo qual eu me apaixonei. Você tem todo o direito de ficar chateado, mas isso vai passar. E eu não vou permitir que você se autossabote assim.
O tom de era mais sério, e tentava digerir cada palavra que ela tinha dito.
— Gracias, corazón. — Foi tudo que conseguiu dizer, então grudou seus lábios aos de , que correspondeu com um beijo doce e delicado.
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— Se você soubesse o quanto me dói te ver assim... — Ela sussurrou entre o beijo, enquanto os dois mantinham as pontas dos narizes colados, sentindo a respiração um do outro.
— Me desculpa, você realmente não precisa passar por isso e... — começou a falar e foi interrompido pela namorada.
— , eu escolhi você. E ter te escolhido implica estar aqui pra tudo, independente de qualquer coisa. Sempre.
— Cheguei, cheguei chegando, bagunçando a zorra toda... — Thaísa entrou no apartamento do irmão animada, deixando sua mala ao lado da porta da sala.
— O que tu tá fazendo aqui, pirralha? Quem te deixou entrar? — ficou espantado com a chegada repentina da irmã, entretanto, logo a encheu de beijos.
— Quis fazer uma surpresinha pra você, com a ajuda da cunhada mais gata desse universo. — A morena também abraçou a amiga forte, já que fazia um tempinho que as duas não se viam.
— Não se ilude viu, a Thaísa também fala isso pra Júlia toda vez que vê ela. — ironizou a fala da morena, só para irritá-la.
— Deixa de ser chato, ! Tá precisando tomar um chá da Brandt pra melhorar esse humor. Ou melhor, a falta dele. — Thaísa revirou os olhos, provocando-o de volta e gargalhou alto.
— Chá de quê? — perguntou sem fazer a mínima ideia do que se tratava.
— É coisa do De Férias Com o Ex, amor.
pegou seu celular e mostrou para o namorado o vídeo icônico da primeira temporada da versão brasileira do reality show, em que Gabi Brandt falava para uma amiga "vou dar um chá de b***** nesse filho da puta" em uma conversa.
— Porra Thaísa, me respeita! — repreendeu a irmã mais nova, entretanto, em sua expressão era nítido que não passava de uma brincadeira. — Pode ter certeza que disso eu não tô precisando, a gente aproveita muito bem o nosso tempo né, corazón? — Ele deu um sorriso sugestivo para , apenas com o intuito de provocar a irmã.
— Poupe-me dos detalhes, por favor. — Thaísa foi até a cozinha pegar um copo d'água e logo retornou para a sala, se sentando no sofá.
— Eu só queria dizer que não me importo em ser a segunda cunhada mais bonita, por que a Júlia é maravilhosa. — mudou de assunto, fingindo que não ouviu o que o namorado tinha acabado de dizer.
— Que louco isso, o Thi é casado com a Júlia, o namora a ... Vocês dois têm muito mais coisas em comum do que imaginam, viu?! — Thaísa constatou em um breve devaneio sobre as escolhas de seus irmãos. — Só falta o Bruno arrumar uma namorada que chama Ana Júlia, vou falar pra ele que o pré-requisito pra entrar na família é ter Júlia no nome. — A morena completou e os três não seguraram a risada.
— Ainda bem que eu prefiro que me chamem de , se não ia ser uma loucura. — A médica comentou acerca da ideia de Thaísa, ainda rindo.
— Se juntar as Marias então... Tem você que é
, a Maria do Philippe e da Aine, a Maria Eduarda do Marquinhos e da Carol. — enumerou, fazendo outra lista de nomes. — E vocês três têm em comum o tamanho, que é praticamente o mesmo. — Ele comparou a namorada, no quesito altura, as filhas dos casais de amigos, uma com 2 anos e a outra com 5 meses, respectivamente.
— Ha ha ha. Abusado. — riu irônica. — Pior é você, que tem a idade mental muito menor que a delas duas. — A loira brincou com .
— Toma, distraído! — Thaísa colocou lenha na fogueira, até por que irmão é para essas coisas mesmo.
— Fica de boa aí, se não eu te mando de volta pra Vigo agora mesmo. — a ameaçou falsamente.
— Também tava morrendo de saudade de você, irmãozinho. — Thaísa pulou no colo de , dando-lhe um abraço de urso. — Como você tá?
A morena questionou com cautela, sem saber muito bem como iniciar a conversa com o irmão. Ela também era atleta mas, diferentemente dos dois mais velhos e do pai, que jogavam futebol, e também da mãe, que jogava vôlei, Thaísa escolheu o basquete. Ainda assim, os três irmãos se entendiam como ninguém quando o assunto era esporte e estavam sempre juntos, apoiando um ao outro em todas as horas. precisava dar uma levantada no ânimo e, portanto, achou que Thaísa fosse a pessoa certa para fazer isso naquela circunstância.
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preferiu deixar os irmãos conversarem a sós posto que aquele era um momento deles, então se despediu brevemente dos dois e foi dar uma volta. Aproveitou a parada em uma praça e ligou para Mayara e Matheus, visto que estava morrendo de saudades dos irmãos mais novos. Antes de voltar para casa, a loira passou em um supermercado e depois em um restaurante brasileiro que ficava perto do prédio de para comprar açaí, pois sabia que e Thaísa eram tão viciados quanto ela própria. Ao chegar, encontrou o namorado cochilando no sofá, enquanto Thaísa fazia cafuné nele.
— Deixa eu te ajudar. — A morena, para não acordar o irmão, levantou delicadamente ao ver a cunhada trazendo um monte de sacolas.
— Obrigada, Tha. — agradeceu. — Supermercado é um trem engraçado, a gente vai pra comprar um item e sai pegando mais uma coisinha aqui, outra ali, quando vê já fez praticamente a compra do mês. — A loira gargalhou, sendo acompanhada pela mais nova.
— Minha mãe fala a mesma coisa. — Ela concordou. — O pior é quando a gente traz outras mil coisas mas esquece o que tinha ido comprar.
— E as coisas lá em Vigo, como estão? — perguntou enquanto guardava as compras nos armários da cozinha.
— Tá tudo bem, graças a Deus. O Bruno e a dona Valéria tão cobrando uma visita sua, inclusive. — Thaísa contou e fez que sim com a cabeça, visto que isso já estava nos planos dela e de para uma data o mais próxima possível. — E por aqui?
— Ai Tha, tô tão feliz que você veio... Tem hora que o fica de boa, mas quando ele lembra de novo fica meio tristinho, sabe. — comentou como vinha sendo desde a convocação. — Hoje mesmo ele tava super calado, depois que você chegou que ele brincou um pouco só pra implicar contigo. Acho que vai ser bom pra ele ter um pedacinho da família por perto esses dias.
— Vai passar, . — Thaísa consolou a cunhada, vendo a preocupação estampada na expressão dela. — O Thiago ficou do mesmo jeito, até que ele decidiu atuar pela seleção espanhola. Muita gente julga, critica, mas não entende que ele viveu por muito tempo a expectativa de algo que não aconteceu. Então ele optou por estar onde se sentia bem e nós respeitamos isso, por que ele foi muito bem recebido por todo mundo lá. Já o , sempre quis, desde muito pequeno, a seleção brasileira. O que ele viveu com o ouro olímpico foi inexplicável... Acredito que tudo tem uma razão e a hora dele vai chegar. E pode parar com isso, por que você já é família também.
As duas ficaram mais um bom tempo conversando sobre todos os assuntos possíveis, até que resolveram preparar um lanche enquanto ouviam a playlist de músicas brasileiras no Spotify de Thaísa e se divertiam interpretando as letras das canções animadamente. A seleção tinha todos os estilos possíveis, passando por nomes como Jorge e Mateus, Fagner, Raça Negra e 1Kilo, o que rendeu inúmeras risadas. acordou e acabou se animando também tanto que depois de comerem os três resolveram fazer um karaokê tão eclético quanto a playlist que estavam ouvindo.
Provavelmente aquela cantoria nas alturas renderia uma multa ao jogador por excesso de barulho no apartamento, porém ele pouco se importava, visto que duas das mulheres mais importantes de sua vida se encontravam ao seu lado. Claro, sua mãe e sua vó não estavam ali e ele estava louco para vê-las novamente, no entanto, tinha certeza que as duas ficariam extremamente contentes ao saber que ele estava da maneira que todos mais gostavam: sorrindo.
E, naquele momento, o sorriso de vinha da alma e do coração, fazendo com que ele se sentisse grato por ser tão amado.
DIECISEIS
A standin' ovation...
But you put on quite a show
You really had me goin'
Now it's time to go
Curtains finally closin'
That was quite a show
Very entertaining
But it's over now (but is over now)
Go on and take a bow
But is over now...
(Take a bow - Rihanna)
{Maio, 2018}
— Vocês podiam ter trazido a Dudinha, tô com tanta saudade dela... — reclamou para o casal de amigos.
— Ah amiga, a gente só veio pra festa do Marc mesmo, amanhã de manhã voltamos pra Paris. — Carol explicou o motivo de não ter levado a filha para a Espanha. — Prometo que da próxima vez a Duda vem ver a tia .
Marc-André ter Stegen decidiu comemorar seu aniversário de 26 anos na Carpe Diem Lounge Club, ou simplesmente CDLC, uma das baladas mais exclusivas da cidade, com um clima mediterrâneo e junto à Playa de la Barceloneta. Por isso, escolheu um conjunto rosa seco e preto de cropped e saia midi, assim como uma sandália nude e maquiagem bem iluminada.
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— Bom que do tio ninguém fala, né? — fingiu estar chateado. Ele adorava crianças e a filha de Carol e Marquinhos não era diferente. Ele foi um dos responsáveis por popularizar o apelido da pequena de Boo, afinal, ela era idêntica à garotinha do filme Monstros S.A.
— Ihhh amor, não adianta fazer essa cara, por que a Carol é minha amiga a muito tempo, ela sempre ia assistir os jogos do Santos e a gente acabou se conhecendo na Vila Belmiro. — explicou resumidamente como conheceu Carol, assim que chegou em São Paulo e iniciou seu estágio na equipe médica do clube alvinegro.
— É isso aí Carolzinha, peixe na veia. — Neymar cumprimentou a loira com um high-five.
— Não sei como eu ainda não consegui fazer ela virar corintiana... — Marquinhos brincou, levemente decepcionado.
— Eu entendo a sua dor, irmão. — deu dois tapinhas nas costas do jogador. — Também não consegui fazer esse milagre pra torcer pro maior do Rio.
— Nem começa com isso, Deus me dibre. — repreendeu o namorado e fez o sinal da cruz. Por mais que passasse muita raiva (muita mesmo!), o tricolor carioca era seu grande amor e nada nem ninguém mudaria isso.
— Sério Marquinhos, Corinthians não dá. — Bruna decretou. — No Rio eu sou Flamengo, mas em São Paulo torço pro Santos.
— Amiga, apesar de adorar sua escolha paulista, você perdeu a credibilidade quando a gente achou aquela foto antiga sua com a camisa do Vasco... Não dá pra te defender. — Carol respondeu, fazendo os amigos gargalharem.
— Você é muito chata, sabia? Aliás, vocês todos são. — A atriz respondeu rindo, entretanto, ainda indignada.
— O Marquinhos faz isso só pra implicar, mas hoje eu sou muito mais PSG. Na verdade, eu torço é pro Marquinhos FC. — Carol ganhou um selinho do marido. — Tem que fazer uma média, né?! — Ela completou e todos caíram na gargalhada novamente.
Não demorou muito para que Philippe, Aine e João chegassem, logo seguidos por Luísa e Santiago. Todos cumprimentaram o aniversariante Ter Stegen e depois foram aproveitar a boate, afinal, o andar principal estava reservado exclusivamente para os convidados de Marc e sua esposa, Daniela Jehle. A festa também contava com a presença de Ousmane Dembélé, Sergi Roberto e Coral Simanovich, Gerard Piqué e Shakira, além de vários jogadores da Seleção Alemã.
— E as nossas férias, hein? Todo mundo vai pro Brasil? — Philippe indagou, querendo saber mais detalhes da programação dos amigos, imaginando um possível encontro em solo brasileiro para que eles pudessem aproveitar juntos alguns dias de descanso. A proximidade com os jogadores só aumentava, seja no Barcelona ou na Seleção, fazendo com que eles se tornassem realmente uma grande família.
— Férias pra mim é sinônimo de cidade maravilhosa e de estar em casa. Amo Barcelona, mas o Rio é incomparável. — , apesar de ter nascido em São Paulo, cresceu no Rio de Janeiro. Portanto, tinha uma ligação muito forte com aquele pedaço de paraíso.
— Minha família é quase toda do Rio, então... — respondeu.
— Só sei que eu quero todo mundo pelo menos uma semana em Santos hein, a Diretoria tá organizando uma resenha épica. — Neymar adiantou um pouco do que ele e o grupo de amigos vinham planejando.
— Bem que o Atitude 67 podia tocar nessa resenha, né Juninho? — sugeriu para o amigo, visto que amava as músicas do grupo, todas tinham uma vibe muito boa.
— Lindíssima, falou tudo. — Luísa concordou com a amiga, fazendo o pedido ganhar mais força.
— Eles são muito bons mesmo, eu e o Phil já fomos em um show deles em São Paulo e foi incrível. — Aine comentou.
— Boa ideia, . Vou até pedir pra eles cantarem "casal do ano" especialmente pra você e a Princesa. — Neymar respondeu, acatando a ideia da médica e, obviamente, aproveitando para zoar o casal.
— Adoro essa música! — Bruna afirmou empolgada. — E você tem razão, Preto. É muito a cara deles dois.
Enquanto os amigos se revezavam entre dançar na pista animadamente e conversar no lounge em que eles estavam, decidiu ir até o bar pegar uma água. Acompanhar o pique de Bruna Marquezine na pista não era uma tarefa muito fácil, ainda mais quando o setlist era do agrado da morena.
observava atento um cara conversando com e dando em cima dela de forma descarada. Ela, elegantemente, ignorava o duplo sentido de algumas frases do tal "torcedor blaugrana" que dizia apenas admirar seu trabalho e só esperava o barman lhe entregar sua água para sair dali. No entanto, quando notou ele tentando se aproximar mais, não se segurou.
— Será que dá pra tu parar de comer a minha mulher com os olhos e tirar a mão de cima dela? — O jogador puxou o homem pela camisa e deu-lhe um empurrão, que o fez cair no chão.
As pessoas começaram a se afastar, deixando um espaço considerável ao redor dos dois. O homem, que aparentava ter por volta de 25 anos, levantou e deu um soco em , o que acabou cortando o lábio do jogador. Ao sentir o gosto de sangue a adrenalina no corpo do camisa 8 da Internazionale subiu ainda mais, fazendo-o revidar o soco com tamanha força que provavelmente quebraria o nariz do outro.
gritava para que os dois parassem, todavia, nenhum deles atendia o pedido dela. Logo Neymar, Marquinhos, Philippe, Santiago e João chegaram ali, intervindo na briga. Os três primeiros seguraram e tentaram conter sua ira, enquanto os outros dois levaram o homem para o mais longe possível.
— Já pode relaxar amiga, foi só um susto. — Carol abraçou de lado, tentando tranquilizá-la.
— Cadê o ? — perguntou, ainda nervosa com toda a cena que tinha acabado de presenciar. Ela sempre foi totalmente contra qualquer tipo de violência e saber que tinha sido o motivo da briga a incomodava profundamente.
— O Ney disse que ele tá bem. — Bruna respondeu primeiro o que a amiga realmente queria saber. — Os meninos também disseram que o tal cara foi pra emergência, o sangramento no nariz tava bem intenso. — A atriz continuou, entregando um copo com água para a amiga.
— A sorte é que não tem nenhum jornalista aqui dentro... Prefiro nem imaginar o estrago. — Luísa comentou baixinho com Aine, agradecendo por aquela ser uma festa exclusiva que não permitia a entrada de pessoas de qualquer tipo de imprensa.
— Vamos embora, acho que já deu por hoje. — Aine chamou e elas foram caminhando até o estacionamento. Poucos minutos depois, os seis também chegaram no local, que não tinha ninguém além do grupo de amigos e dos seguranças.
— Tem certeza que você não quer que eu dirija? — João perguntou para , já que estava com a mão inchada e com uma bolsa de gelo, além da médica ainda estar aparentemente nervosa.
— Relaxa gente, tá tudo bem mesmo. Podem deixar que eu cuido disso. — respondeu e os amigos se despediram uns dos outros.
Carol e Marquinhos foram embora com Bruna e Neymar para a casa que o camisa 10 mantinha em Barcelona, no mesmo condomínio dos outros amigos e, como a loira já havia dito, eles retornariam à Paris pela manhã. Santiago levou Luísa até o apartamento dela e de , posto que a médica iria para a casa de .
Durante todo o caminho o casal permaneceu em silêncio, a única coisa que preenchia o ambiente era a voz de Adele no som do carro. não desviou a atenção do trânsito, quase inexistente visto que já passava das 3h da manhã, enquanto olhava distraidamente pela janela do veículo.
Ao chegarem na casa do jogador ela foi direto para o quarto, sendo seguida pelo namorado. Ele sentou na cama e ela tirou as sandálias de salto e a roupa na qual estava se sentindo sufocada devido aos acontecimentos, ficando apenas de lingerie e um roupão que ela colocou por cima. pegou a caixa de primeiros socorros no banheiro e foi ver como estavam os machucados de .
— Você não vai falar nada mesmo? — O moreno perguntou após longos minutos de um silêncio extremamente perturbador.
— Falar o quê, ? — Ela perguntou irritada, enquanto limpava o ferimento da boca dele. — Você quer que eu te dê parabéns por ter brigado em uma boate por uma coisa inútil? O Marc é um dos seus melhores amigos no Barcelona, aí você apronta uma dessa no aniversário dele... O mínimo que você deve fazer é se desculpar com ele e a Daniela.
— Eles vão entender. Agora aquele cara dá em cima de você daquele jeito e você fica estressada comigo? Não dá pra te entender. — a encarou, incrédulo. — Ai! — Ele gemeu de dor que quando colocou o remédio no corte.
— Não dá pra te entender, . — Ela respirou fundo. — O cara disse que era torcedor do Barcelona, que acompanhava meu trabalho... Ele falou algumas coisas mas eu nem dei moral, infelizmente já tô acostumada com esse tipo de coisa. Algumas pessoas não estão habituadas a ver uma mulher em uma posição de destaque, como ser a médica de um dos melhores clubes do mundo, então acham que tem o direito de fazer alguma gracinha desse tipo. O que me deixou com mais raiva foi a possessividade na sua fala, como se eu fosse uma propriedade sua.
— Então eu não posso falar pra ninguém que você é minha namorada? — argumentou.
— Claro que pode, só que você é meu namorado, não meu dono. — explicou, examinando agora a mão direita do jogador e enfaixando-a. — O que eu tô questionando é essa necessidade de ficar marcando presença, mostrando pros outros... Eu tô pouco me lixando pra opinião das pessoas, pra mim o que importa é só nós dois e nada mais.
— Sei lá, eu fico com medo de te perder. — respondeu mais para si próprio do que para , entretanto, ela ouviu.
— Caralho, ! — se irritou ainda mais. — A gente já conversou tanto sobre isso... Quantas vezes eu vou ter que repetir que é com você que eu quero ficar? A minha palavra não é suficiente pra você? — Ela pegou uma roupa qualquer no closet do namorado, se vestiu e desceu as escadas.
— Onde você vai, ? — questionou indo imediatamente atrás dela.
— Pra minha casa. — A loira respondeu seca. — De uber.
— Você tá louca? — elevou o tom de voz. — Tá de madrugada, é perigoso.
— Você quebra o nariz de um cara numa briga tosca de boate e a louca sou eu? — usou o tom mais irônico possível, enquanto pegava sua bolsa e o celular, colocando-o dentro dela.
— E você entendeu muito bem o que eu quis dizer. — contestou.
entrou na frente da namorada e ficou com as costas apoiadas na porta, impedindo que ela saísse.
— , dá licença por favor. — pediu pausadamente.
— Eu não vou sair, corazón. — usou um tom mais ameno, cruzando os braços e encarando .
— … — Ela pediu novamente.
— Me desculpa, vai... — puxou-a para um abraço. — Eu sei que fui um babaca, que muitas vezes eu falo ou faço as coisas sem pensar. — Ele passava as mãos pelos cabelos dela carinhosamente enquanto falava. — Você sabe que a última coisa que eu quero no mundo é te magoar, e...
— Eu sei. — o interrompeu e respirou fundo bem devagar, reunindo todas as forças de cada célula de seu corpo para não se render aos carinhos que fazia. — Mas eu quero ficar sozinha.
— Deixa eu te levar em casa, pelo menos. — O jogador tentou persuadir a namorada. Ele não gostava nem um pouco da ideia de deixá-la ir embora só.
— Não precisa, você não vai dirigir com a mão machucada desse jeito. — Ela negou sem hesitar, prezando pelo bem estar físico do jogador.
— Então me liga quando chegar. É sério. Fico mais tranquilo assim. — pediu encarecidamente, vendo que não tinha chances de convencê-la a ficar.
— Depois a gente conversa. — Foi o que se limitou a dizer, se desvencilhando de vez dos braços do jogador, que não ofereceu muita resistência, antes de sair da casa dele.
— Que merda! — praguejou, arremessando contra a parede um copo que estava sobre o aparador da sala de estar. Os cacos de vidro ficaram espalhados pelo ambiente, entretanto, era o de menos para ele. — Eu sou um idiota mesmo.
subiu as escadas pisando fundo e foi tomar um banho bem gelado, na tentativa de esfriar a cabeça após a noite conturbada.
— ? O que você tá fazendo aqui? — Luísa assistia a um filme qualquer que estava passando na tv, estava completamente sem sono e se assustou com a chegada da amiga, pois achava que ela ia dormir com o namorado, como sempre acontecia quando o jogador estava em Barcelona.
— Eu e o brigamos, tava totalmente sem clima pra gente ficar junto hoje. — suspirou, derrotada.
— E ele não falou nada de você voltar pra cá? — A estilista indagou, tentando entender direito o que estava acontecendo.
— Falou né amiga, mas eu bati o pé e vim. — resumiu toda a história para a amiga. — Avisa pra ele que eu cheguei antes que ele surte, por favor. Vou tomar um banho e tentar dormir. — A médica deu um beijo na bochecha da morena e subiu para seu quarto, torcendo para conseguir pegar no sono rápido. Luísa assentiu e pegou seu celular, mandando uma mensagem para , assim como havia lhe pedido.
Luísa Bernardi:
", a acabou de chegar aqui.
Não precisa ficar preocupado, tá tudo bem."
:
"A tá puta de raiva comigo, né?"
Luísa Bernardi:
"Não pensa nisso agora...
Descansa que amanhã
vocês dois estarão de cabeça fria,
vão conversar e se resolver."
:
"Ela me chamou de umas mil vezes,
e nenhuma delas foi com aquele
sorrisinho que eu adoro."
Luísa Bernardi:
"Se isso te consola,
pra mim ela falou ''.
Relaxa, Princesa."
:
"Obrigada, Lu. Boa noite."
Luísa Bernardi:
"Por nada, . Boa noite."
Como todo casal, e tinham seus momentos de risos e tretas, espinhos e violetas, entretanto, o amor deles transcendia o Sistema Solar. Restava saber se todas as vezes que as diferenças falavam mais alto isso seria o suficiente.
DIECISIETE
Nuestra luz era celestial
Que más podía pedir
Encontré la felicidad
Sin aviso nuestro paraíso nos dejó
Y ahora tu recuerdo
Me hace sombra al corazón
(Dueles - Jesse y Joy)
{Maio, 2018}
— Chegamos. — Thiago falou ao estacionar o carro na porta de uma bela casa no elegante bairro de Grünwald, um pouco mais afastado do centro de Munique.
No dia seguinte à briga de e , o jogador foi até o apartamento da namorada e pediu desculpas. Ele sabia que tinha passado um pouco dos limites e reconheceu isso. Depois de uma longa conversa os dois se resolveram, resolvendo ir visitar Thiago e sua família para esquecer de vez os desentendimentos.
Thiago era vizinho do holandês Robben, do francês Ribéry e do suíço Alaba, ambos seus companheiros no Bayern de Munique. O quarteto morava na mesma rua e, durante a passagem de Douglas Costa pelo time alemão, além de estarem a poucas casas de distância um do outro, os brasileiros eram melhores amigos.
Por ser primavera, o jardim estava completamente florido e já podia imaginar o pequeno Gabriel correndo no enorme campo verde ao lado da casa. Júlia, esposa de Thiago, logo abriu a porta com o filho no colo para receber o cunhado e . A médica já tinha conhecido o casal em um evento da FIFA e Gabriel em Vigo, em um fim de semana na casa de Valéria. Entretanto, era a primeira vez que ela ia até a casa deles na Alemanha. cumprimentou a cunhada e já pegou o sobrinho no colo, que estava enorme, animadíssimo com a presença do tio e doido para brincar.
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— Como o tempo passa rápido, parece que foi ontem que o Gabriel nasceu... — constatou enquanto fazia cócegas no pequeno, que gargalhava sem parar.
— Às vezes nem eu acredito viu, . — Júlia deu risada, abraçando o marido de lado. — Por isso tento aproveitar cada segundo.
— Um dia vocês ainda vão saber que ter um bebê em casa é a melhor coisa do mundo. Cansativo, mas tudo vale a pena quando a gente vê esse sorrisinho. — Thiago completou, se referindo à expressão alegre de Gabriel.
Os treinamentos e jogos tomavam muito tempo de Thiago, contudo, ele amava a profissão e tudo que o futebol lhe proporcionou. Só havia uma coisa que ele amava mais do que isso: chegar em casa e ser recebido por sua família. O abraço apertado do filho e o beijo caloroso de Júlia faziam a volta pra casa ser a melhor parte de toda essa loucura que era sua vida.
O amor que sentia pelo sobrinho era imenso. Mesmo de longe, ele fazia o possível para acompanhar cada fase do crescimento de Gabriel. Muito disso ele devia à cunhada, uma vez que Júlia sempre fazia stories do filho ou mandava vídeos no grupo da família, além das ligações via FaceTime. Ainda assim, não deixava de pensar sobre como seria quando a paternidade chegasse para ele. Ver o seu pequeno ou a sua pequena com o uniforme do time que ele defende, com o seu número e papai escrito nas costas. Apesar de não querer atropelar nenhuma fase da sua vida, não via a hora para que esse momento chegasse, em que ele também tivesse construindo a sua família.
— É tão bom ver o sol em Munique, né? — comentou enquanto observava os três jogando bola. — Eu já vim aqui para um congresso e, como era inverno, mal saía do hotel. — Ela soltou uma risada.
Durante a faculdade e a residência em ortopedia e traumatologia e, posteriormente, medicina esportiva, a participação em congressos era algo comum e ajudava a melhorar cada vez mais o currículo da médica. Assim, ela acabou conhecendo inúmeros lugares, e a Alemanha foi um deles.
— Sim, agora vocês vieram em uma das melhores épocas do ano. — Júlia sorriu. — Já que você quase não andou pela cidade, podemos dar um passeio pelo jardim Hofgarten, a Marienplatz, a Frauenkirche, o Viktualienmarkt...
— Se não for atrapalhar a rotina de vocês, eu vou adorar. — agradeceu o convite da concunhada, pois sabia da importância de ter uma rotina, principalmente quando se tem um bebê em casa.
— De forma alguma , nós fazemos questão. O Gabriel também vai adorar o passeio. Munique pode até ser uma cidade fria em vários aspectos mas, aos poucos, a gente aprende a amar esse lugar. — Júlia completou olhando para o horizonte, admirando a beleza das terras germânicas.
— Mudanças nunca são fáceis, só precisamos tirar sempre o melhor que elas podem nos oferecer. — A médica completou, falando aquilo mais para si mesma do que para Júlia.
precisou de um tempo para entender o quanto mudar era necessário. Até esse momento chegar foram inúmeros desafios, mas com isso, veio muito aprendizado também. Da mesma forma que Thiago e Júlia fizeram da Alemanha o seu lar, era esse sentimento que ela estava criando em relação à Espanha.
Lar. Sentir-se acolhida pelo lugar e pelas pessoas que a cercavam. É segurança, é refúgio, é pertencimento. Não havia sensação melhor do que essa.
— , vem passar protetor solar, por favor. — chamou. Àquela altura da brincadeira Gabriel já estava no colo da mãe tomando um suco, enquanto os dois irmãos relembravam os velhos tempos disputando uma partida de futebol no quintal a mais de uma hora.
— Tô acostumado com o Rio de Janeiro corazón, não é um solzinho desse que vai me queimar. — O moreno deu de ombros, rindo da preocupação da namorada.
— O sol não tá tão forte mas ainda assim tem radiação UV, mormaço... — contestou, enumerando os principais fatores dos problemas que uma exposição prolongada ao sol poderia causar.
— Você que é branquela e fica toda vermelha por qualquer coisa, eu tô de boa só mantendo o bronzeado sexy que você adora. — brincou, passando as mãos pelo seu abdômen que estava à mostra, visto que ele havia tirado a camiseta, fazendo todos gargalharem.
— Seu irmão continua terrível... — Júlia concluiu, observando a conversa do cunhado com a namorada.
Thiago apenas concordou com um sorriso e um aceno de cabeça, pois sempre foi o mais engraçadinho dos . Por mais que já tivesse acostumado com sua nova vida em Munique, o mais velho ainda sentia saudades da Espanha, principalmente da época em que ele e jogavam juntos e moravam juntos. Isso foi muito importante para o crescimento e amadurecimento de ambos, além de fazer com que a cumplicidade entre os irmãos só aumentasse.
— Ha ha ha. — riu com ironia. — Depois quando tiver passando mal por causa de insolação não diga que eu não avisei, senhor melanina.
— Você é médica e vai cuidar de mim, ué. — respondeu como se aquilo fosse a coisa mais óbvia do mundo.
— Onde tá escrito que eu sou obrigada? — A loira arqueou a sobrancelha e colocou as mãos na cintura, em sinal de protesto à fala do namorado.
— Você não vai resistir. — aproveitou que ele e Thiago tinham parado a partida temporariamente, para que os dois pudessem se reidratar, e envolveu em um abraço apertado e bem suado.
— Eu vou dar na sua cara, . — A médica praguejou, fuzilando-o com o olhar.
— Você pode me dar onde e a hora que quiser, é só falar. — O jogador provocou, sussurrando no ouvido de e dando uma mordidinha no lábio inferior da namorada.
— Só queria dizer que a gente escutou... Ainda bem que o quarto de hóspedes que vocês estão é bem longe do nosso e do quarto do Gabriel também. — Thiago comentou com a esposa em um tom alto o suficiente para que os outros dois ouvissem e gargalhou malicioso em seguida.
— Somos especialistas em ser extremamente discretos. — piscou para o irmão mais velho, mantendo um sorriso cretino nos lábios abraçando novamente.
— Você não tem jeito mesmo, né?! — balançou a cabeça negativamente, porém logo se rendeu, beijando o namorado em resposta ao carinho que ele fazia.
— Vamos entrar, o almoço tá quase pronto e vocês dois precisam de um banho. — Júlia apontou para Thiago e .
Enquanto esperavam Thiago e , Júlia, Gabriel e ficaram conversando com Emma. A alemã era nutricionista e responsável pela alimentação da família, buscando sempre soluções saudáveis, principalmente para Thiago.
— Tava conversando com a , vocês têm que voltar aqui para a Oktoberfest. É uma festa incrível, muito bem organizada... Definitivamente, uma experiência única. — Júlia comentou assim que Thiago e se sentaram à mesa e começaram a se servir.
— Fiquei muito curiosa pra conhecer as tendas, a Festhalle Schottenhamel parece ser bem animada, mas a que mais me chamou atenção pelas fotos foi a Käfer Wiesn-Schänke. — concordou, depois de uma breve analisada no site do evento.
— , casa com ela pelo amor de Deus. É a primeira escolha certa que você fez na vida. — Thiago brincou ao descobrir a tenda com a qual a cunhada teve mais afinidade pois, após conhecer bem toda a festa, aquela tinha se tornado a sua preferida. — Nós do Bayern sempre vamos à Käfer Wiesn-Schänke, indiscutivelmente é a melhor de todas. Sem contar que a cerveja é a Paulaner, a que eu mais gosto daqui de Munique.
— Respeita minha história, eu tenho muito bom gosto e sempre acerto nas minhas escolhas. — respondeu convencido, sorrindo em seguida.
— Já pode preparar um dirndl bem lindo, lembrando que mulheres comprometidas usam o laço da cintura amarrado à direita do corpo. — Júlia piscou para a concunhada, lembrando-a de algo importante nos trajes tradicionais alemães.
Esse era um detalhe que causava bastante confusão em alguns turistas, uma vez que a posição do laço da cintura do dirndl indica o "estado civil" da mulher. Solteiras usam o laço à esquerda, comprometidas, à direita. Já as viúvas, usam-o amarrado para trás, assim como as garçonetes.
— Gente, licença que eu vou dar banho nesse rapaz, já tá na hora da soneca da tarde dele. — Júlia pegou Gabriel no colo assim que todos terminaram de comer.
— Posso ir com você? — perguntou um pouco tímida, pois adorava esses momentos com os pequenos, além de ser uma forma de matar a saudade de cuidar da sua afilhada, que morava no Brasil.
— Claro, o Gabriel vai adorar, né filho?! — Júlia perguntou e o garotinho sorriu, como se tivesse entendendo tudo.
— Já volto. — deu um selinho no namorado. — Ah, a Júlia me ensinou uma coisinha em alemão. Ich liebe dich. — A loira sorriu ao pronunciar, corretamente, aquelas três palavras tão significativas.
— Pelo visto eu não sou o único poliglota dessa relação. — riu, lembrando de quando a namorada o intitulou assim, no momento em que ele a chamou de amore mio pela primeira vez. — Ich liebe dich auch.
— É sério, . Você precisa casar com a . — Thiago reforçou sua opinião em um tom mais baixo, observando como a médica agia e o carinho entre ela e . Os dois se completavam de uma forma que era muito bonita de se ver.
— Mein herz gehört ihr und sonst niemandem.
Essa última parte o jogador disse baixinho também e, muito provavelmente, não escutou, pois já estava subindo as escadas. Todavia, era a a mais pura verdade. Independente do que acontecesse, o coração de pertencia à ela. E mais ninguém.
Os outros três dias restantes na capital do estado alemão da Baviera seguiram tranquilos, com alguns passeios para conhecer os principais pontos turísticos da cidade. Entretanto, a maior parte do tempo eles preferiram ficar em casa. Em família. Momentos de folga como esse eram raros tanto para Thiago como para , visto que ambos jogavam em clubes importantes da Europa, sendo assim, cada segundo juntos deveria ser muito bem aproveitado.
Nota: Ich liebe dich = Eu te amo.
Ich liebe dich auch = Eu também te amo.
Mein herz gehört ihr und sonst niemandem = Meu coração pertence à ela e mais ninguém.
Depois de Munique, foi direto para Milão e voltou para Barcelona, ambos a fim de cumprir os compromissos que restavam antes do final da temporada 2017/2018 e da pausa para a Copa do Mundo da Rússia, que vinha a seguir.
chegou em casa na hora do almoço, após uma manhã de trabalho intenso e cansativo, e estava terminando de organizar tudo o que faria nas próximas semanas em seu daily planner, quando o seu celular tocou.
— Oi amor... Tudo bem? — estranhou a ligação quando viu o nome de na tela, pois naquele horário ele sempre estava no treino da tarde no Centro Sportivo Angelo Moratti.
— A gente precisa conversar. — O tom de era frio, totalmente diferente do calor que sua voz e seu sotaque latino transmitiam normalmente.
— É tão urgente assim? — A médica questionou, ficando preocupada, visto que eles não costumavam falar de assuntos sérios por telefone. Alguma coisa estava errada
— Não dá mais pra ficar adiando. — respirou fundo e soltou de uma vez. — , eu quero terminar.
— Terminar? Como assim? — Ela perguntou completamente surpresa, sem entender o que estava acontecendo.
Terminar? Terminar. Mas não estava tudo bem entre eles? Os dois não tinham se resolvido depois do que aconteceu na boate? E a viagem para Munique? Tudo parecia tão perfeito... O impacto que aquelas oito letras provocaram em foi gigante e, a partir dali, a confusão se instalou em sua mente.
— É isso mesmo que você ouviu. — respondeu seco, diria até um pouco grosseiro.
— Você tá bêbado, ? Tá tudo bem mesmo? — riu de nervosismo, esperando contar que aquilo tudo não passava de uma brincadeira. Contudo o silêncio do jogador do outro lado da linha indicava que aquilo era realmente sério.
— Não, eu só cheguei à conclusão de não dá mais pra gente. — Bêbado não era a melhor definição para o estado de , no entanto, algumas doses da bebida mais forte que ele encontrou no bar antecederam aquela ligação, antes que ele perdesse a coragem de fazer aquilo.
— E você descobriu isso assim, sozinho, só ligou pra me comunicar? — questionou-o, visivelmente magoada com aquela situação.
— Nada que você me diga vai me fazer mudar de ideia, então é melhor não prolongar esse sofrimento. — foi categórico.
— Só me diz o porquê. — A voz dela falhou pela primeira vez, tornando nítido o nó que se formava em sua garganta.
— Um dia você vai entender. Me desculpa, corazón. — Foi a última coisa que disse antes de desligar o telefone.
Em choque era como estava após aquela ligação. Sua mente começou a trabalhar de forma acelerada, tentando processar o que tinha acontecido. Em menos de 10 minutos seu mundo virou de cabeça para baixo, a médica viu tudo que tinha construído nos últimos meses escapar por entre seus dedos sem, no mínimo, ter a chance de argumentar ou tentar fazer algo para reverter a situação. Ela não conseguia encontrar um sentido nisso tudo nem o que tinha mudado entre ela e . Tudo parecia bem. Pelo visto, só parecia mesmo.
Logo os olhos perdidos de caíram sobre duas folhas de papel na mesa, ao lado de seu notebook. Eram passagens de ida e volta para Milão, uma vez que ela estaria de folga devido à uma pausa no campeonato espanhol, para que a seleção disputasse um amistoso da sequência realizada antes da Copa do Mundo, então aproveitaria para visitar o namorado.
Agora, era ex. Conforme a ficha ia caindo, a médica sentia seu coração em pedaços e o gosto salgado se tornando mais intenso, devido às lágrimas que rolavam incontrolavelmente pelo seu rosto. Mais um ciclo de encerrava em sua vida e, embora fosse contra a sua vontade, ela teria que aprender a lidar com a ausência de a partir daquele momento.
DIECIOCHO
But now I'll go
Sit on the floor wearing your clothes
All that I know is I don't know
How to be something you miss
I never thought we'd have a last kiss
I never imagined we'd end like this
Your name, forever the name on my lips
(Last kiss - Taylor Swift)
{Maio, 2018}
— Nossa, que cheirinho maravilhoso... — Luísa falou assim que entrou no apartamento.
A estilista jogou sua bolsa em cima do sofá e foi seguindo o aroma de baunilha que vinha da cozinha delas. estava de costas, com o cabelo preso em um coque mal feito e de pijama, mexendo algo no fogão.
— Vai ter uma festa aqui e eu não tô sabendo? — A morena questionou ao ver um naked cake red velvet sobre a ilha da cozinha, assim como a bancada lotada de todos os doces possíveis e imagináveis.
— Oi Lu, você chegou cedo hoje... — A voz da médica saiu baixinho e um pouco rouca.
Só então o fogo da panela foi desligado por , que parou de mexer a calda de especiarias que lhe ocupou nos últimos minutos. Ela virou para encarar Luísa e viu a expressão da amiga mudar rapidamente de sorridente para preocupada ao notar que ela fungava e tinha os olhos vermelhos, inchados e marejados.
— Ei... — Luísa chamou em um tom carinhoso. — Vem cá e me conta o que aconteceu. — Ela falou indo em direção ao sofá, onde sentou e a morena sentou do outro lado, ficando de frente para a amiga.
— O terminou comigo. — soltou entre soluços, deixando escapar o choro que ela vinha tentando controlar durante toda a tarde.
— Como assim, ? Por quê? — Luísa perguntou, sendo pega completamente de surpresa pela notícia. e eram um casal incrível, os dois combinavam tanto que chegava a ser estranho imaginá-los separados.
— Não sei amiga, ele tava muito estranho, meio frio, disse que desse jeito ia ser melhor pra gente... Eu não entendi nada.
contou, com detalhes, para a estilista tudo o que tinha sido dito por naquela ligação. Após escutar atentamente o relato da loira, Luísa entendeu o porquê daquela quantidade de doces espalhados pelo apartamento. estava praticamente surtando e, como o açúcar era uma das poucas coisas que a acalmava, ela mergulhava nesse universo na tentativa de afastar os pensamentos que consumiam sua mente, seja preparando ou comendo mesmo.
Luísa já tinha visto isso acontecer quando a amiga teve uma crise nervosa assim que as duas mudaram para São Paulo, porém a dimensão do que ela tinha encontrado naquele fim de tarde na primavera europeia parecia bem pior.
— Toma um banho, eu vou guardar isso tudo, depois a gente vê o que faz. — Luísa se referiu aos bolos e doces, depois de tentar acalmar a amiga e amenizar a situação.
ficou um bom tempo sentada na banheira, tentando absorver tudo enquanto sentia a água quente relaxar gradativamente seus músculos. Por outro lado, sua mente permanecia acelerada. Mais algumas lágrimas depois, ela respirou fundo e decidiu sair dali. Vestiu uma calça e blusa pretas, calçou uma sapatilha e pegou sua bolsa. Chegando na sala, que era integrada com a cozinha, viu Luísa comendo um cupcake.
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— Acho que não deu pra guardar tudo, né? — riu sem humor, chamando a atenção da amiga que assistia Irmãos à Obra, no Discovery Home&Health.
— É, você fez bastante coisa... — Luísa respondeu. — Vai sair?
— Vou levar um pouco dessas sobremesas lá pra casa do Coutinho, a Aine e a Maria adoram... — pegou uma cesta de piquenique e colocou um pouco de tudo para levar aos amigos. — Prometo que não demoro.
deu um breve abraço na estilista, pegou o celular, a chave do carro e saiu. Durante todo o caminho ela tentava se manter calma para não deixar que os amigos percebessem nada de estranho. A única coisa que ela queria era não ficar parada em casa, deixando que os pensamentos consumissem sua mente.
— Que história é essa, Luísa? — Bruna elevou a voz, ficando visivelmente nervosa na chamada de vídeo que elas realizavam, usando o FaceTime.
A estilista ficou muito preocupada com e julgou melhor contar para o casal de amigos. Se tinha alguém que entendia realmente tudo o que e vinham passando nos últimos tempos, eram Bruna e Neymar. Os dois enfrentavam inúmeras dificuldades mas, ainda assim, o amor falava mais alto.
— É isso mesmo que você entendeu, o terminou com a hoje no início da tarde por telefone. — Luísa explicou para a amiga tudo o que a médica tinha lhe contado mais cedo.
— Minha vontade é de ir pra Milão agora arrebentar a cara daquele filho da puta... O tanto que eu conversei com ele, aconselhei, pra ele mandar uma fita errada dessas. — Foi a vez de Neymar se pronunciar.
O camisa 10 do Paris-Saint Germain também estava surpreso com tal revelação. E com muita raiva, obviamente. era uma de suas melhores amigas e ele nem queria imaginar o quanto ela estava magoada com isso tudo.
— O foi muito escroto, tem que ter acontecido alguma coisa, por que ele não é assim. — Marquezine constatou.
Para Bruna, isso só poderia ter duas explicações: ou alguém encheu a cabeça do , ou ele se envolveu com outra pessoa. Contudo, ele amava demais a , então a segunda opção estava praticamente descartada. Essa foi a conclusão mental a qual Bruna chegou, só restava descobrir quem ou o quê motivou a agir dessa forma.
— Cadê a ? — O jogador perguntou, preocupado com o estado dela.
— Foi na casa do Coutinho levar uns doces, ela deu uma surtada e fez um monte de coisas, nem deu pra guardar tudo aqui pra vocês terem uma ideia. — Luísa explicou.
— Bom, pelo menos isso acalma ela um pouco, né? — Afirmou Neymar, sabendo das particularidades da personalidade da amiga.
— É verdade. Tomara que lá no Coutinho ninguém pergunte do ... Só tô falando pra vocês por que eu fiquei extremamente chocada, sem saber o que fazer. E o é seu melhor amigo né, Ney.
— Ai cara, tadinha da … — Bruna falou com pesar na voz. — Acho que vou passar uns dias aí pra ela não ficar sozinha, já que ela tá de folga por causa dos amistosos, a temporada tá na reta final e logo a copa começa.
Mesmo com todas as idas e vindas com Neymar pelos mais diversos motivos, Marquezine nunca tinha passado por isso e se sentia mal só de imaginar o sofrimento da amiga.
— Vem mesmo Bru, você sabe que eu vivo numa correria doida por causa dos desfiles, mas vou fazer o possível pra ficar o máximo de tempo possível com ela. — Luísa comentou acerca de sua rotina, sempre muito agitada.
— Nem quero ver a merda que isso ainda vai dar… — Neymar suspirou, passando as mãos pelo cabelo tentando organizar as ideias. — Será que ela ainda vai passar as férias no Brasil?
O questionamento do jogador foi em razão de e terem acertado que iriam visitar a família dela, em Goiânia, e a dele, no Rio de Janeiro. Nesse momento, todas as certezas foram por água abaixo.
— A essa altura eu não sei de mais nada, a gente vai ter que esperar pra ver. — Luísa balançou a cabeça negativamente. — Agora eu vou desligar, ainda nem tomei banho depois que cheguei, com essa loucura toda.
— Vai lá amiga, descansa por que enfim... Vou ver o que eu faço e assim que der vou praí. Beijos! — Bruna se despediu, já pensando em como se organizaria para passar mais tempo com a amiga.
— Beijo Lu, qualquer coisa tu dá o grito, tá bom?! Com o eu me resolvo depois. — Disse Neymar, querendo tirar logo essa história toda a limpo.
— Pode deixar, beijos casal! — Luísa encerrou a chamada e foi tomar um banho relaxante.
A estilista ainda estava tentando digerir a conversa que acabara de ter com a melhor amiga. Não havia nenhuma explicação aceitável para um término assim, por telefone. Nas últimas semanas e vinham se desentendendo com mais frequência, contudo, nada que justificasse uma atitude como essa. Era difícil para eles manter um relacionamento tão recente à distância, no entanto, estavam lidando bem com isso. Bruna e Neymar também conversavam muito tanto com quanto com , expondo aos amigos a experiência pessoal deles com isso, o que deu certo e o que deu errado, sempre deixando claro que o mais importante era o que eles sentiam um pelo outro.
:
"Me encontra naquele bar perto do condomínio. Agora."
Mauro Icardi:
"Não vai me dizer que você fez o que eu acho que você fez."
:
"Só vai, caralho. É sério."
Mauro Icardi:
"Puta que pariu, . Tô indo."
Ao entrar no bar indicado pelo amigo, Mauro encontrou-o no balcão onde eram servidas as doses pelos barmans. Sentou na banqueta ao lado da de e assim que o brasileiro virou o rosto para encará-lo, viu que o que ele mais temia tinha acontecido.
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— Você teve mesmo coragem, ? — Mauro perguntou ainda incrédulo com a atitude tomada pelo jogador.
— Foi melhor assim, irmão. — respondeu brincando com o copo de whisky, balançando o líquido ao empurrar a o vidro de um lado para o outro sob o balcão de granito.
— Melhor? — Icardi riu, sem humor. — Você por acaso se olhou no espelho? Você tá um caco, . E a não merecia passar por isso, não desse jeito. Você nem deixou ela falar nada...
— Ela ia querer dar um jeito e... — A fala de foi interrompida por Mauro.
— Por que é isso que as pessoas sensatas fazem, elas sentam, conversam e tentam resolver o problema. — Icardi levantou o tom de voz.
— Deixa eu falar, porra. — O camisa 8 protestou. — Eu só quis evitar que ela sofresse ainda mais.
Icardi lançou um olhar mortal para , que poderia ser traduzido em "jura, meu anjo?", em uma linguagem da qual os brasileiros eram falantes nativos. A do deboche. Talvez fosse a convivência.
O argentino acreditava que deveria ter sido honesto com , para que eles decidissem juntos o que fosse melhor para os dois, uma vez que tentando não machucá-la, o que o jogador brasileiro fez causou justamente o efeito contrário.
— Foi difícil vir para Milão e deixar ela em Barcelona, com essa transferência para a Turquia seria muito pior. — tentou analisar a situação.
— Mas vocês tavam fazendo isso funcionar, você ia pra lá e ela vinha te ver sempre que dava. — Icardi contestou.
Até então Mauro era o único que sabia da transferência prestes a se concretizar do brasileiro para o Fenerbahçe e também do real motivo para ter terminado com . Entretanto, apesar de discordar totalmente da atitude do amigo, estava lá para apoiá-lo. precisaria muito.
— Só que eu não sei até quando isso ia durar, nos últimos tempos a gente vinha discutindo mais e coisas pequenas tomaram grandes proporções.
— Tem certeza que você tá chamando de "coisas pequenas"... — Icardi fez aspas no ar. — ...algo como a Danielle quase te agarrando na tarde de autógrafos, na frente de todo mundo? Ou pior, você quebrando o nariz de um torcedor idiota bêbado que tava conversando com ela, por ciúmes?
— Nem vou comentar sobre aquela louca... Mas o cara era um otário mesmo, não me arrependo. — deu de ombros. — Vem cá, tu veio aqui só pra me esculachar, é isso mesmo?
— Não tenho culpa se você não me ajuda a te ajudar, . Espero que não seja tarde demais quando você perceber a burrada que acabou de fazer.
Mauro deu dois tapinhas nas costas do amigo, que virou de uma vez mais uma dose da bebida que foi sua maior companhia nas últimas horas e, pelo visto, continuaria sendo nos próximos dias.
O empréstimo de para a Inter de Milão tinha acabado, então logo ele estaria de volta ao Barcelona. No entanto, o time catalão recebeu uma proposta excelente do Fenerbahçe, um clube da Turquia, pelo jogador e as negociações estavam bem avançadas. sabia o quanto sofria com a distância, embora ela nunca tivesse reclamado diretamente para ele. Todavia, em uma troca de mensagens do WhatsApp com Neymar, o camisa 10 do Paris-Saint Germain deixou escapar que ouviu uma conversa entre e Bruna, na qual a loira contava para a amiga, que também sofria com o mesmo problema, como estava sendo difícil lidar com a mudança de para a Itália.
Imediatamente, ele lembrou de uma conversa despretensiosa quando os pais da médica foram visitá-la em Barcelona. Fernanda falou o quanto a filha se afligia com despedidas e com a distância, ainda que negasse. Além disso, também comentou o quanto havia ficado mal quando o seu então namorado do ensino médio foi fazer intercâmbio no Canadá. ficou desesperado, pois a última coisa que ele queria no mundo era ver sofrer mais uma vez, o que provavelmente aconteceria com a ida dele para a Turquia. Então, ele decidiu colocar um ponto final na história dos dois, deixando-a livre para encontrar alguém que estivesse sempre lá quando ela precisasse, coisa que ele não podia fazer por causa do trabalho.
O futebol, que trouxe inúmeras alegrias para , naquele 3 de maio abriu no peito do jogador uma ferida que demoraria a cicatrizar. Ironicamente, faltava pouco mais de um mês para o dia dos namorados e ele já vinha pensando nisso a algum tempo. O presente de estava guardado na gaveta de chuteiras dele e seria entregue assim que ela pisasse em solo italiano, para que eles passassem essa data juntos. Ao lembrar disso, da viagem que eles tinham planejado e do desespero de ao telefone, chorou. Doía nele saber que aquela seria a última vez que escutaria a voz dela enquanto eles ainda eram "eles", principalmente sabendo como as coisas se desenrolaram. Só restava ao jogador torcer para que aquela tenha sido realmente a melhor decisão. Enquanto estava imerso em pensamentos, seu celular vibrou, indicando uma nova mensagem.
Neymar Jr:
"Acho bom tu começar a me explicar que putaria é essa, . Eu vou te matar."
tinha plena consciência de que o camisa 10 do PSG o xingaria até a vigésima geração quando soubesse da verdade, entretanto, Neymar era seu melhor amigo e não conseguia esconder nada dele. Ele só não contou antes por que sabia que Neymar faria de tudo para impedi-lo, e ele precisava de forças para levar sua decisão adiante. O jogador pegou seu celular e discou o número do outro brasileiro, que atendeu no primeiro toque.
— Tua sorte é que não tem como eu sair de Paris agora, se não, com o ódio que eu tô sentindo, eu ia te moer na porrada. Eu te avisei tanto pra não fazer merda, mas tanto… — Neymar despejou de uma vez.
— Só me promete que não vai falar isso pra ninguém, irmão. Pelo amor de Deus, nem pra Bruna. — implorou e respirou fundo. — Eu vou te contar tudo o que aconteceu.
— ... — Luísa chamou a amiga em um tom carinhoso. — Você dormiu aqui de novo? — Ela indagou ao ver no quarto de hóspedes do apartamento delas.
Três dias já haviam passado desde a ligação de . Ou melhor, se arrastado. estava muito ressentida e ainda não se sentia confortável para retornar à sua rotina. Ela preferiu ficar esses primeiros dias na fossa, com a companhia de sua playlist no Spotify intitulada "broken-hearted girl" ou os clichês românticos do Netflix, já que nem o bom e velho brigadeiro de panela seu estômago conseguia aceitar. Assim, quando ela já tivesse chorado tudo o que tinha para chorar, teria mais forças para seguir em frente.
— Dormir não é a melhor definição. — riu sem humor. — Mas se é isso que você quer saber, eu passei a noite aqui, sim. De novo.
— Você não acha que tá na hora de voltar pro seu quarto? — Luísa se sentou na cama ao lado da amiga, trazendo consigo uma bandeja com uma sopa bem levinha.
— Ainda não consigo, Lu. — respirou fundo. — Se ao menos o tivesse me dado um motivo plausível, ainda que eu não concordasse, respeitaria a decisão dele. Mas é difícil continuar quando se tem um enorme ponto de interrogação na mente. As nossas fotos espalhadas nos porta-retratos, tem roupas dele nos meus cabides e gavetas, a escova de dentes dele tá no banheiro, o cheiro dele tá grudado nos travesseiros e lençóis... Simplesmente não dá. Tudo lá me lembra ele.
— Então come um pouquinho pelo menos, tem três dias que você mal bebe água. — tentou pegar o prato, entretanto, ao sentir o cheiro da comida saiu correndo para o banheiro e vomitou, mesmo sem ter nada sólido no estômago.
Luísa a seguiu e segurou os cabelos da amiga, que estava praticamente sentada ao lado da privada tentando se recuperar.
— , você tá bem? — Luísa perguntou preocupada, olhando a médica através do grande espelho, enquanto ela escovava os dentes e lavava o rosto.
— Antes que você pergunte, eu não tô grávida, tenho plena certeza disso. Ainda não tirei o DIU, mas fui ao médico mesmo assim.
recordou dos exames que tinha feito no dia anterior por precaução, em decorrência do mal estar perene que lhe atingiu nos últimos dias. Dentre os exames, ela fez a dosagem de beta HCG, que deu negativo. Portanto, grávida ela não estava.
— Eu vou ficar bem, só preciso descansar um pouco. — Ela disse voltando para a cama.
Naquele momento, agradeceu mentalmente por a Espanha ter um amistoso preparatório para a Copa do Mundo, o que significava uma folga de alguns dias no campeonato espanhol. Apesar de amar o seu trabalho, ela não estava conseguindo se concentrar, passava o dia apenas tentando não pensar em nada.
— Vou ficar aqui com você. — Luísa afastou o edredom e deitou na cama, ao lado da amiga.
— Não precisa, Lu. Você disse que ia sair pra almoçar com o Santiago... — não queria atrapalhar o encontro de Luísa com o namorado.
— Pedi pra ele vir um pouquinho mais tarde, enquanto isso a gente pode assistir alguma coisa.
— Pode ser Gossip Girl? — deu um leve sorriso ao perguntar.
— Claro que pode. — Luísa respondeu e no segundo episódio acabou dormindo.
Luísa cobriu a amiga com o edredom, desligou a tv e o abajur. Quando estava saindo do quarto, seu celular tocou. Era Aine, querendo saber como estava.
— Ah amiga, ela tá bem pra baixo... Não come, não dorme, tá passando mal mas já foi ao médico e não tem nada, é só o psicológico mesmo. Agora ela só tá dormindo por que eu dei um calmantezinho, ela precisava descansar. — A estilista explicou, visto que a preocupação era evidente na voz de Aine.
— Que barra, né?! Não entendi qual foi a do de fazer aquele showzinho no dia que a gente saiu, pra pedir desculpas, viajar com ela pra Munique e depois terminar assim, por telefone. O Philippe ficou puto demais, o Ney deu uma catracada daquelas do , os caras da Inter disseram que desde aquele dia ele não para mais em casa, chegou de ressaca no treino... Quero só ver quando ele se tocar da burrada que fez.
— Pra ser bem sincera eu acho que ele já percebeu, só não vai dar o braço a torcer tão cedo. Sabe aquela história do "paga de solteiro feliz mas quando chega em casa chora"?
— É verdade. — Aine deu um meio sorriso. — Preciso dar o almoço da Maria agora, mas qualquer coisa liga pra mim ou pro Philippe, tá? Mais tarde eu dou uma passadinha aí pra ver se a se distrai um pouco.
— Tá bom, dá um cheiro bem gostoso na Maria por mim. A Bruna também deve tá chegando, acho que vai ser bom pra ter a gente por perto.
DIECINUEVE
Que nem o mar pôde levar
O que você deixou em mim
O que você deixou em mim
Por onde eu ande, aonde eu vá
Eu vou ter levar, eu vou
Eu vou te levar
(Nem o mar (pôde levar) - Jade Baraldo)
{Junho, 2018}
Em silêncio, observava o movimento das ondas na Playa del Bogatell. Ela estava sentada na areia abraçada às próprias pernas olhando para o infinito, enquanto uns jogavam futevôlei, outros tomavam sol e as crianças brincavam. Os óculos escuros não só protegiam seus olhos da luminosidade, mas também escondiam as olheiras levemente arroxeadas em virtude do acúmulo de noites mal dormidas. Embora estivesse na praia que mais gostava em Barcelona e na companhia de seus melhores amigos, a sensação era de que faltava alguma coisa. E faltava mesmo.
Os seis meses posteriores à viagem até Vigo onde ela e se aproximaram tinham sido tão incríveis, que havia se esquecido de como era estar sozinha novamente. Não que fosse totalmente ruim, entretanto, a médica gostava de ter com quem dividir a vida.
As últimas duas semanas foram, principalmente, de readaptação. Era estranho acordar e não ter as mensagens dele de bom dia, não marcá-lo em algum meme engraçado no Instagram, não ter as ligações despretensiosas só para um ouvir a voz do outro ou não fazer as chamadas de vídeo antes de dormir. Por mais que fosse cansativo, ela já estava acostumada ao ambiente dos aeroportos em razão das viagens constantes para Milão, ainda que a maioria delas fosse bem rápida.
Vez ou outra ela ainda se pegava pensando em . Como agora tudo não passava de lembranças, decidiu dar um mergulho para afastar esses pensamentos. Ela tirou a saída de praia, os óculos de sol e deixou-os ao lado de Aine, que passava protetor solar em Maria.
Ao entrar no mar, sentiu o nó na garganta se intensificar ao passo em que sua mente viajava no tempo. Inevitavelmente, lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto, misturando-se à água salgada da imensidão azul que lhe cercava. Nem assim ela conseguiu encontrar o alívio que tanto procurava. A loira acabou perdendo a noção do tempo, e só se deu conta que ainda estava alí quando sentiu Bruna lhe abraçar forte e murmurar alguma coisa, levando-a de volta à areia.
— Quer ir pra casa? — A atriz perguntou enquanto enrolava uma canga no corpo e tirava o excesso de água de seus cabelos.
— Não Bru, tá tudo bem. Foi só uma sensação ruim mas já passou. — sorriu, na tentativa de não deixar a amiga preocupada, vestindo sua saída de praia logo em seguida.
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— Tem certeza? — Bruna questionou novamente e a loira fez que sim com a cabeça. — Então vamos almoçar, os meninos já estão nos esperando.
Bruna e pegaram suas respectivas bolsas e caminharam até o restaurante escolhido da orla, o Vai Moana Beach Bar. Após irem até a mesa onde todos estavam e fazerem seus pedidos, o celular de tocou e ela se levantou da mesa para atender.
— Ela ainda tá bem tristinha, né? — Philippe comentou, analisando a figura da amiga caminhando vagarosamente pela areia enquanto falava ao telefone.
— Ah Phil, é complicado... Pensa só, o grupo de amigos dela que, no caso, somos nós, também é o grupo de amigos do . Mais cedo ou mais tarde eles vão acabar se encontrando. Isso tudo ainda mexe muito com a cabeça dela por ser bem recente. — Marquezine explicou.
— Dá pra ver que ela tá tentando... Ainda bem que o tá em Milão, por que assim os comentários lá no centro de treinamento são em escala bem menor. Até que os caras tão sendo bem compreensivos, por que todo mundo adora a e quer ver ela bem. — Foi a vez de João emitir sua opinião.
— O pior é que o também tá sofrendo... Não sei o que ele tinha na cabeça pra fazer uma coisa assim, de verdade. — Aine balançou a cabeça negativamente.
— Ninguém sabe viu amiga, já apertei o Neymar pra ver se ele sabia de alguma coisa mas até agora nada. Ele até falou pra gente convencer a de passar uns dias em Paris comigo e com ele, lá também tem a Carol, a Duda e o Marquinhos...
— Super apoio. Vai ser bom pra ela descansar a cabeça. — Aine respondeu, todos concordaram e mudaram de assunto rapidamente, visto que estava retornando à mesa.
— Acabei de ter uma ideia e preciso da ajuda de vocês.
Bruna estava assistindo tv com Luísa, enquanto ainda dormia. As duas estavam conversando sobre o que fariam para distrair a amiga e, como Marquezine já vinha refletindo sobre isso desde que chegou de Paris, ela pensou em algo que pudesse dar certo. Esse era o motivo da chamada de vídeo que as duas estavam com Aine, visto que Bruna precisaria de reforços para colocar tudo em prática o mais rápido possível.
— A não tá se sentindo confortável no quarto dela por causa das lembranças e tudo mais, então eu pensei em redecorar o ambiente pra ver se a gente consegue levantar o ânimo dela.
— Acho uma ideia incrível, tenho certeza que a vai adorar. — Aine respondeu assim que a atriz explicou tudo para as outras duas.
— Tá, mas como a gente vai fazer isso sem que ela esteja em casa? — Luísa questionou.
— Nossa queridíssima deusa Aine vai dizer que a Maria tá com saudades da tia , aí elas passam o dia juntas e quando voltarem pra cá... Surpresa!!! — Marquezine soltou um gritinho empolgado, tendo certeza de que tudo daria certo.
— Pode deixar que eu e a Maria damos conta do recado. — Aine deu risada, mas faria qualquer coisa para ver melhor.
— Bom, então a gente precisa de referências pra saber bem o que comprar, já que não teremos a ajuda da Aine e da Maria.
— Já separei umas imagens no Pinterest, me digam o que vocês gostam ou não. Qualquer coisa a gente vai mandando foto pra Aine no WhatsApp e decidindo na hora também.
Bruna pegou o notebook que estava sobre a mesa de centro da sala e começou a mostrar para as duas amigas a pasta que ela tinha criado, com inúmeras opções para que elas pudessem decidir o que queriam.
— Que eficiência, hein Bru! — Aine gargalhou.
— Não é querendo me gabar, mas eu realmente penso em tudo. — Bruna respondeu com falsa modéstia, fazendo as outras duas rirem ainda mais.
— Então chega de enrolação, por que a gente tem um quarto pra redecorar em tempo recorde. — Luísa decretou e as três passaram um bom tempo decidindo tudo o que seria mudado.
O Aquàrium de Barcelona foi o destino escolhido pela pequena Maria para o passeio daquele dia. O lugar ficava no Port Vell, o porto antigo de Barcelona, e contava com uma infinidade de espécies aquáticas capazes de encantar qualquer um. , Aine e Maria tiraram muitas fotos no tanque central e no túnel, aproveitando as cores e cada detalhe que era, realmente, hipnotizante.
Depois de andar bastante e de toda a interação com os animais, as três foram recarregar as energias com um lanche bem gostoso que prometeu que faria em seu apartamento. Assim que Bruna avisou Aine que tudo estava pronto as três voltaram para lá.
— O que vocês aprontaram, hein? Dá pra ver na cara das três que tem algo rolando e eu não tô sabendo. — riu, analisando as expressões de Bruna, Luísa e Aine.
— É uma forma que a gente encontrou de incentivar esse recomeço, a Carol também ajudou a gente e esperamos que você goste. — Bruna falou guiando até a porta do quarto dela.
— Preciso ficar com medo? — A médica brincou, respirando fundo antes de abrir e ter uma surpresa incrível.
Os tons escolhidos para a decoração foram o branco, a cor preferida de , variações de cinza e o preto. Os detalhes eram rosê gold, dando um ar de sofisticação ao quarto. Elas também apostaram em quadrinhos com frases, estampa marmorizada e luzes para deixar um clima intimista e aconchegante.
Além disso, um arranjo com peônias brancas e cor-de-rosa foi colocado sob o criado mudo ao lado da cama da médica visto que, de acordo com a simbologia chinesa, essas flores representam prosperidade. Tudo foi pensado com muito carinho por Bruna, Luísa e Aine, com direito até a alguns palpites de Carol Cabrino, que também dava sua opinião por WhatsApp pois estava acompanhando Marquinhos, que tinha sido convocado para um amistoso da seleção brasileira.
— Sinceramente eu nem sei o que dizer, ficou incrível. — constatou, ainda maravilhada com cada cantinho pensado por suas amigas. — Acho que vocês me conhecem melhor do que eu mesma.
— Nós estaremos aqui sempre. Para tudo. — Luísa sorriu e as quatro deram um abraço bem apertado.
— Agora vamos pra cozinha, por que você prometeu um lanchinho pra Maria, mas eu já tô com fome também. — Aine pediu. — Bem que podia rolar aquele sanduíche natural da tia , hein?
— Isso tá parecendo desejo de grávida... — Bruna jogou uma indireta.
— Quem sabe... — Aine deixou a incógnita no ar e foi preparar o sanduíche natural que Aine pediu, além um chá gelado de frutas vermelhas para refrescar o lindo fim de tarde que fazia em Barcelona.
decidiu seguir o conselho dos amigos e tirou uns dias de férias para ir à Paris. Ela, Bruna e Carol aproveitaram bastante esses dias, foram ao Parc des Princes assistir o jogo de encerramento da temporada 2017/2018 do Paris Saint-Germain, que acabou com uma vitória de 2 a 0 sobre o Les Herbiers e o título da Copa da França. Marquinhos era titular e Neymar assistiu à partida junto com Bruna, , Carol e Dudinha no camarote, visto que se recuperava da cirurgia que fez para a correção de uma lesão sofrida no quinto metatarso no pé direito.
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— Repete o que você falou, . — A risada de Carol era escutada ao fundo, visto que ela filmava a amiga com Maria Eduarda no colo.
— Eu disse que bem que Deus podia mandar uma princesa dessa pra mim, né?! Olha que coisa mais linda! — falava e Dudinha sorria enquanto brincava com um Olaf de pelúcia. — Só falta o pai mas a gente supera. — A médica deu um meio sorriso.
— Imagina filha, se a tia tiver um bebê pra brincar com você? — Carol sugeriu e Maria Eduarda bateu palminhas, parecendo entender tudo. — A Dudinha gostou da ideia e eu super apoio, pra gente conversar ainda mais sobre essas coisas. — Carol completou e tanto ela como a amiga riram novamente, visto que maternidade era um assunto muito frequente entre as duas.
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— Tem certeza que você quer ficar vendo esse tipo de coisa e se martirizando? — Mauro perguntou para que, até então, estava sentado sozinho no vestiário, vendo os stories que Carol havia acabado de postar.
— Do que você tá falando? — se fez de desentendido.
— Agora você vai mentir pra mim também, é isso?! — Icardi perguntou, incrédulo com a postura que o amigo vinha assumindo nos últimos dias.
— Não começa por que eu não tô com paciência hoje e não quero brigar contigo. — respondeu.
— Beleza então, mas presta bastante atenção no que eu vou te dizer: você tá enlouquecendo sem a , cara. Ou você conversa com ela e tenta reatar, ou esquece ela de vez. A decisão é sua, você só não pode se afundar por causa disso. — Mauro saiu batendo a porta e deixou novamente sozinho no vestiário, tendo como única companhia os próprios pensamentos.
sabia que o amigo tinha razão, entretanto, ele preferia fingir que não. Por isso, decidiu que iria sair mais uma vez essa noite, visto que em casa ele não parava de pensar em . Ainda que fora de casa ele não a esquecesse completamente, era melhor do que ficar sozinho se torturando.
Apesar de estar na melhor e mais badalada casa noturna de Milão, nada parecia ser bom o suficiente. Nem as bebidas, nem as músicas, nem as pessoas, absolutamente nada. Nem mesmo alguma eventual one-night-stand com a qual ele pudesse encerrar a noite.
Mesmo assim, preferia tentar. Preferia por que, naquele momento, não havia nada que ele pudesse fazer para mudar aquela situação. Ele que criou toda essa confusão, portanto, teria que arrumar uma forma de sair dela. Enquanto não encontrava uma saída decente, ele preferia manter essa rotina de festas, torcendo para que aquela noite fosse melhor que as anteriores e que o seu rendimento nos treinos e nos jogos não fosse afetado.
Com a chegada das Datas FIFA e a aproximação da Copa do Mundo da Rússia, a rotina de em Barcelona estava bem tranquila. Boa parte dos jogadores estavam se preparando para defender suas respectivas seleções e quem se movimentava era o departamento administrativo, pensando nos reforços para a temporada 2018/2019. Um desses reforços era Arthur, que fez questão de ir pessoalmente buscar no aeroporto, pois era um amigo de longa data.
— Que saudade que eu tava! — abraçou forte o amigo que não via há praticamente um ano, que foi quando ela esteve no Brasil pela última vez.
— Nem fala, pequena. Como é bom ter você por perto de novo. — Arthur girou no ar ali mesmo, no saguão do aeroporto El Prat de Llobregat.
O jogador goiano de 21 anos era a mais recente contratação do Barcelona para atuar no meio campo, posição anteriormente ocupada por lendas como Xavi Alonso e Andres Iniesta. Uma responsabilidade e tanto, porém desde pequeno ele se preparava para esse momento.
Os dois se conheciam desde criança, pois Arthur era um dos melhores amigos do irmão de , tanto que ele e Matheus estudaram juntos e jogaram futebol nas categorias de base do Goiás. Entretanto, Matheus decidiu cursar a faculdade de Publicidade e Propaganda, enquanto Arthur seguiu com o sonho de se tornar jogador. Ele ficou conhecido por sua brilhante passagem pelo Grêmio e suas atuações irretocáveis no futebol gaúcho chamaram a atenção dos dirigentes do clube blaugrana, que fizeram uma proposta e esta foi aceita, concretizando a transferência dele para a Espanha.
— Essa vinda já é pra ficar? — perguntou enquanto os dois caminhavam até o estacionamento.
— Não, eu vim antes pra ir conhecendo a cidade, o clube, organizar direitinho o que ainda falta da mudança, essas coisas. Devo ir pra Rússia ver alguns jogos e já volto pra pré-temporada, aí meus pais e o Paulinho também virão. — Arthur explicou. — Aliás, preciso marcar agora um horário com a melhor médica esportiva do mundo? Fiquei sabendo que o acompanhamento contigo é disputado pra caramba.
— Isso tudo é uma loucura, sabia? Nunca imaginei que eu ia me dar tão bem aqui, você vai gostar também. O clima é muito agradável, todo mundo gente boa ao extremo... Quanto aos horários pode ficar tranquilo, você tem exclusividade. — deu uma piscadinha, brincando com o mais novo, que gargalhou alto.
— Palhaça. — Arthur balançou a cabeça negativamente. — Às vezes nem eu acredito que agora sou jogador do melhor time do mundo, é surreal demais.
— Pois pode acreditar, por que a partir de hoje você vai dar muito orgulho pra essa torcida azul e grená. — respondeu e os dois foram até a nova casa do jogador, que estava pronta para recebê-los.
Por mais que trabalhasse no Barcelona e tivesse um carinho enorme por aquele grupo, não podia negar que seu coração batia mais forte pelo Real Madrid. O clube merengue era sua paixão desde bem pequena, quando ela também se encantou pelo futebol espanhol e o esporte foi ganhando um espaço cada vez maior em sua vida.
pediu comida japonesa e eles ficaram comendo e conversando, até que o assunto chegou em relacionamentos. No momento era algo meio delicado para ambos, mas eles sempre falaram sobre tudo, portanto, dessa vez não seria diferente.
— Eu e a Keila não estamos mais juntos. Ela tem a vida dela lá em Porto Alegre, ainda não terminou a faculdade e, enfim, a minha vida agora é aqui, em Barcelona. Como a gente já não tava se entendendo antes mesmo de eu vir, foi melhor colocar um ponto final antes que acabasse perdendo o respeito um pelo outro. Ela é uma mulher maravilhosa e eu fui muito feliz durante o tempo que a gente teve junto. — Arthur explicou o motivo do fim do namoro com a estudante gaúcha.
— Às vezes não era pra ser mesmo... — ponderou. — É o que eu venho repetindo pra mim mesma pra não surtar de vez. — Ela riu, sem humor.
— É uma merda né, ? — O jogador perguntou quase que retoricamente e a médica suspirou, concordando com ele. — Eu sabia que isso poderia acontecer, até por que nessa profissão quase todo mundo tem uma história assim pra contar, mas nunca pensei que quando chegasse a minha vez seria tão difícil.
— Agora imagina eu que tenho que ver meu ex e os affairs dele estampando a capa de revistas de fofoca ou as inúmeras fotos que circulam em todas as redes sociais?
Desde o término do namoro, vinha sendo pauta constante para a mídia, principalmente a italiana. O jogador era visto constantemente em festas, bares, sempre saindo acompanhado de uma one-night-stand desses lugares.
— Foi tão ruim assim? — Arthur indagou acerca do término de e .
— Nos primeiros dias eu fiquei bem mal, mas todo mundo teve muita paciência pra me aguentar. Até fui pra Paris e fiquei uns dias com a Bruna e o Neymar, também fui ver a Carol, a Dudinha e o Marquinhos, pra dar uma desintoxicada de tudo. Foi aí que eu comecei a entrar nos eixos de novo, mas se eu disser que superei é mentira, ainda é tudo muito confuso pra mim e eu nem sei o que esperar disso tudo. Minha mãe falou que enquanto a gente não conversar direito essa agonia não vai acabar.
— Mãe sempre tem razão. — Arthur deu um meio sorriso. — O Matheus até veio trocar uma ideia comigo sobre isso, por que a gente acaba tomando as dores, se preocupando e tentando ajudar, mas é uma coisa muito particular de vocês e ninguém tem direito de ficar se metendo. É foda pra caralho.
— Nem me fala viu, Arthur. Nem me fala... — A loira soltou um longo suspiro.
— Deu até vontade de estar numa daquelas resenhas bem raiz em Goiânia, 10 reais com open bar de Corote, Cantina da Serra, Mé, Catuaba e o som no 12 tocando Marília Mendonça. — Arthur gargalhou, sendo acompanhado por logo em seguida.
— Sangue de Jesus tem poder, tem que rir pra não chorar mesmo. — recordou das vezes que foi nesse tipo de resenha, principalmente na época da faculdade, que já lhe renderam inúmeras histórias. — Mas o pior porre da minha vida foi com Absinto, misericórdia...
— Também né, 89,9% de álcool e a Luísa disse que você queria beber a garrafa inteira... Agora o Paulinho descobriu uma bebida que chama Cocoroco, é um álcool potável quem vem da Bolívia, feito da cana-de-açúcar e que a graduação alcoólica é 96%. — Arthur contou sobre a bebida que seu irmão comprou recentemente.
— Álcool potável?! Não dá pra brincar com vocês, prefiro continuar mais de leve com um vinhozinho ou uns drinks... Acho que já passei da fase dessas ressacas terríveis.
— Isso é uma vez na vida e olhe lá, só nas férias, se não o departamento médico me mata.
— Acho bom mesmo, tô de olho em você. — ameaçou-o em tom de brincadeira, pois sabia que Arthur levava a profissão muito a sério e seguia à risca todas as orientações médicas para ter sempre um bom desempenho em campo.
VEINTE
And you begin to wonder why you came
Where did I go wrong? I lost a friend
Somewhere along in the bitterness
I would have stayed up with you all night
Had I known how to save a life
(How to save a life - The Fray)
{Junho, 2018}
— Barcelona não é a mesma sem você, Princesa. Bem-vindo de volta. — Phillipe cumprimentou com um abraço apertado.
e Coutinho se tornaram grandes amigos desde que o carioca chegou ao Barcelona. Por estar no time desde as categorias de base, foi o responsável por apresentar tudo para Philippe e desde então os dois só se desgrudaram quando o camisa 12 blaugrana foi para a Itália. Entretanto, o empréstimo à Inter de Milão tinha acabado e ele estava de volta à Espanha.
— Também senti muita falta daqui. É uma pena que eu não vá ficar por muito tempo. — respondeu em um tom pesaroso, retribuindo o abraço.
A negociação em segredo com o Fenerbahçe estava praticamente concluída, tanto que um médico do clube turco estava em Barcelona para acompanhar os exames de . Era esse o principal motivo da volta do jogador visto que, se fosse aprovado nos testes físicos, bastaria assinar o contrato para que ele fosse anunciado como a principal contratação do Fenerbahçe para a temporada, que iniciaria após a Copa do Mundo.
— Você vai mesmo? — Coutinho questionou acerca da mudança para a Turquia, enquanto os dois caminhavam até a mesa preferida de no La Carioca.
— Vai ser melhor assim, irmão. Infelizmente não deu certo de ficar na Inter, então preciso seguir meu caminho. Eu só quero continuar fazendo a coisa que mais amo na vida, que é jogar futebol.
Assim que decidiram o que iriam comer e o garçom veio atendê-los, Philippe pediu uma tapioca com carne seca, já , não abriu mão de seu tão amado açaí com banana e morango.
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Os dois conversaram bastante sobre um monte de coisas, aproveitando para colocar o assunto em dia, pois logo Philippe iria se juntar aos jogadores da Seleção Brasileira, que já estavam em Londres se preparando para a Copa do Mundo da Rússia no Enfield Training Centre, o CT do Tottenham Hotspur.
também iria para a Rússia, todavia, estaria junto com sua família acompanhando seu irmão mais velho, já que Thiago foi convocado para defender a Seleção Espanhola. Seria a estreia do camisa 6 do Bayern de Munique em copas, uma vez que ele acabou sendo cortado do mundial de 2014 em virtude do agravamento de uma lesão nos ligamentos de seu joelho direito. O mais novo sabia muito bem como era passar por tudo aquilo e, por isso, estaria dando todo o suporte necessário ao irmão para que ele fizesse o seu melhor nas partidas.
estava contando os dias para que suas merecidas férias chegassem, contudo, ainda não sabia o que faria. Bruna, Aine e Carol insistiam que ela fosse para a Rússia acompanhar junto com as duas a seleção brasileira, ao mesmo tempo em que seus irmãos queriam que ela fosse visitá-los no Brasil. Enquanto não tomava uma decisão, ela seguia com sua rotina de trabalho no Barcelona.
Por volta de 10 horas da manhã ela saiu com Vivian, assessora de imprensa do time, para um brunch, já que não teve tempo de tomar café da manhã antes de sair de casa e se distraiu elaborando alguns planejamentos.
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Depois de uma conversa bem animada e um convite de Vivian para conhecer uma nova casa noturna de Barcelona, as duas decidiram voltar ao trabalho. Quando estavam quase saindo do Meatpacking Bistro, o celular de tocou.
— Dra. , é a Vera, secretária do departamento médico do Barcelona. — A mulher falou assim que a médica atendeu o celular.
— Oi Vera, aconteceu alguma coisa? — Era um dia de folga do time, fazendo com que estranhasse a ligação.
— Sim, pediram para a senhora se dirigir imediatamente ao Hospital Quirón, um dos jogadores sofreu um acidente com fratura.
— É grave? — perguntou com a preocupação nítida em sua voz e Vivian se atentou ao conteúdo da conversa.
— Não sei informar, doutora. — A secretária pontuou e a médica ficou imaginando que tipo de acidente poderia ter acontecido, visto que não haviam maiores informações.
— Tudo bem, tô indo pra lá. Obrigada por avisar.
e Vivian pagaram rapidamente a conta e caminharam até o estacionamento do restaurante.
— O que aconteceu? — A assessora de imprensa questionou, também preocupada.
— Algum jogador do time sofreu um acidente, vou direto pro hospital ver o que foi.
— Vou voltar pro CT e mais tarde te encontro no hospital. A gente vai se falando. — Vivian se despediu e dirigiu o mais rápido que conseguiu até o Hospital Quirón.
Chegando no hospital foi recepcionada por um dos membros da equipe do dr. Ramón Cugat, cirurgião catalão de referência em ortopedia e traumatologia. Apesar de não atuar na área, também havia estudado ortopedia e traumatologia e, por ser médica do time, foi chamada para acompanhar a cirurgia. Ela se preparou, fazendo a assepsia e colocando o pijama cirúrgico, logo a equipe toda chegou e uma das enfermeiras leu o prontuário.
>> Dica da autora: Dá play na música do capítulo agora!!!
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— do Nascimento, 25 anos, sofreu um acidente grave de trânsito, traumatismo contundente no abdômen com lesão no baço, fratura no escafoide carpal esquerdo e entorse no tornozelo direito. Múltiplos arranhões, perda de consciência no local mas já passou pela avaliação neurológica que não atestou nenhum dano, além de dificuldade respiratória aguda.
. Acidente grave. Aquelas palavras soaram como uma facada no coração de . Já fazia um bom tempo que os dois não se falavam desde o término do relacionamento, mas vê-lo ali no centro cirúrgico tão mal era uma sensação horrível, que a fez ficar paralisada.
— Algum problema, dra. ? — O anestesista perguntou, analisando a expressão da médica.
— Não doutor, nenhum problema. — Ela tentou se recompor e deu início ao seu trabalho.
Apesar de ter muito sangue, a lesão abdominal não comprometeu nenhuma veia ou artéria importante e a hemorragia foi facilmente controlada. A equipe da plástica limpou o ferimento e fez as suturas desse e dos outros pequenos cortes com cuidado, para não deixar cicatrizes no corpo do jogador. analisava o edema no tornozelo, entretanto o diagnóstico seria mais preciso quando acordasse para que ela avaliasse a gravidade do entorse.
Enquanto isso, o ortopedista cuidava da fratura no osso escafoide do punho esquerdo, que era bem delicada. Ver aquilo tudo estava acabando com , porém ela não conseguiria sair de perto de , só deixaria aquela sala de cirurgia sabendo que ele ficaria bem. Quando dr. Jordi Serrano estava quase terminando, visto que faltava apenas suturar a incisão do punho, as coisas começam a piorar.
— Baixa saturação de oxigênio e bradicardia. — O anestesista anunciou que o coração de batia em um ritmo muito abaixo do normal e o oxigênio não estava chegando aos órgãos e tecidos. — Chamem a cardiologia agora.
— Iniciar a intubação traqueal. — Disse o ortopedista e os procedimentos iniciaram.
A visão de ficou embaçada e as lágrimas começaram a cair involuntariamente, logo dr. León Castillo entrou na sala e começou a colocar o scrub, luvas e máscara.
— O que tá acontecendo? — O cardiologista perguntou e ela olhou pra ele com um olhar suplicante.
— Parada cardiorrespiratória. — O anestesista falou e um barulho agudo ecoou por toda a sala, o monitor cardíaco mostrava que estava sem pulso, fazendo com que um dos médicos assumisse as compressões da ressuscitação cardiopulmonar.
Não podia ser. O que estava fazendo em Barcelona? Um acidente de trânsito e agora uma parada cardiorrespiratória? Tudo bem que ela ainda estava bastante chateada com o ex namorado, mas não podia negar que ainda tinha sentimentos por ele. Sentimentos muito fortes, inclusive. Bem mais do que ela gostaria. No entanto, o orgulho de ambas as partes não permitiu que eles conversassem uma vez sequer. Aquilo tudo era demais para e, pelo visto, a tendência era piorar em inúmeros sentidos.
— Alguém faz alguma coisa. — gritou em um ato de desespero.
— Dra. , controle-se ou saia imediatamente da sala de cirurgia. — O ortopedista repreendeu a postura da brasileira.
— Essa agora é a minha sala de cirurgia, a dra. fica e você já tá dispensado. — O cardiologista interferiu, fazendo o ortopedista sair batendo a porta.
— Ele tá com fibrilação ventricular, carrega o desfibrilador em 200 joules. — Dr. León pediu. — Afasta! — O choque foi dado e o corpo de não respondeu.
— Coloca em carga máxima e aplica um miligrama de cloridrato de epinefrina. — Ele pediu novamente, iniciando mais um ciclo da reanimação. — Afasta! — Nada aconteceu.
— Carga máxima novamente. — Outra tentativa. — Afasta!
ainda não tinha pulso e o choro de ecoava pela sala de cirurgia. Ninguém entendia direito o que tava acontecendo com ela, mas uma das enfermeiras a abraçou na tentativa de acalmá-la.
— Mais duas ampolas de amiodarona. — O cardiologista pediu.
— A saturação de oxigênio tá subindo. — Uma das enfermeiras avisou ao notar a mudança no monitor.
— Temos pulso, fraco mas tá voltando. — O anestesista completou e ela sentiu como se um caminhão tivesse saído de cima das suas costas.
— Essa foi por pouco, mais um minuto de PCR e ele não teria suportado. — O cardiologista falou aliviado, indo para a galeria e foi junto.
A loira tirou as luvas, o avental, a máscara e ficou observando a equipe finalizar até que fosse levado pra UTI. sorriu em agradecimento, ao notar que o cardiologista permaneceu ao seu lado acompanhando tudo e dr. León respondeu o gesto cordialmente.
— Acho que ainda não fomos apresentados. — O médico quebrou o silêncio, pois não reconheceu a médica em um primeiro momento.
— Dra. , médica do Barcelona. — A loira estendeu a mão para cumprimentá-lo.
— Dr. León Castillo, novo chefe da cardiologia. — Ele sorriu e apertou a mão da médica. — Posso te fazer uma pergunta?
— Claro, depois de me defender de um dos melhores ortopedistas do país tô te devendo uma. — acabou sorrindo também.
— Por que você ficou tão nervosa na sala de cirurgia? — Léon perguntou, visto que algo como o que tinha acabado de acontecer naquela sala de cirurgia não era comum.
A pergunta era simples, a resposta nem tanto. ainda não havia proferido aquelas palavras em voz alta e aquilo era, no mínimo, estranho, como é após o fim de qualquer relacionamento.
— Conheço o paciente. — suspirou. — Ele é meu ex namorado, eu só fiquei sabendo do acidente quando leram o prontuário na sala de cirurgia.
— E vocês realmente... — O cardiologista nem precisou completar a frase para entender aonde ele queria chegar.
— Não não, inclusive a gente não tinha se visto nenhuma vez depois do término. — A loira explicou brevemente.
As coisas começaram a fazer sentido quando León recordou de ter visto, provavelmente em uma rede social, alguma notícia sobre o namoro do meio-campista Rafinha e , médica do time.
— Nossa, eu sinto muito... Vou só assinar o prontuário e depois vou falar com a família dele, você vem junto? — León indagou e fez que sim com a cabeça. — Te encontro na recepção, vou até a minha sala primeiro.
— Tá bom, até daqui a pouco.
Dr. León saiu e a mulher foi imediatamente para a recepção do hospital, não demorando para encontrar com Philippe e Aine. Valéria, Thaísa e Mazinho estavam vindo de Vigo para Barcelona e ainda não tinham chegado.
— Como que ele tá? — Philippe perguntou levantando nervoso e correu para abraçá-lo e logo depois abraçar Aine.
— O tá na UTI agora, o coração dele quase não aguentou. — Ela não conseguiu segurar o choro. — Eu tive tanto medo dele morrer...
— Eu sei , nós também ficamos muito assustados. — Aine apertou mais o abraço, afagando carinhosamente os cabelos da amiga.
Logo dr. León chegou, apresentou-o ao casal de amigos e ele explicou o que aconteceu.
— Bom, o chegou com vários traumas, uma fratura no punho e dificuldade respiratória. Assim que deu entrada, ele fez uma tomografia e a neurologista o liberou pra cirurgia ortopédica. Por causa do nível baixo de oxigênio no sangue ele teve uma parada cardiorrespiratória durante a cirurgia, mas agora ele tá estável e eu vou acompanhar pessoalmente toda a recuperação dele, não se preocupem.
— Philippe, você sabe como foi o acidente? — questionou o amigo, visto que até o momento não tinha tido nenhuma informação acerca disso.
— Pelo que disseram pra gente um carro furou o sinal e bateu no carro dele, parece que o motorista tava bêbado. — Philippe respondeu ainda um pouco atordoado.
— Eu vou ver como anda o pós operatório do , qualquer coisa aviso imediatamente. — Dr. León se dirigindo até a Unidade de Terapia Intensiva.
— Eu vou também. — levantou, tentando se recompor para voltar ao trabalho. — Podem ir pra casa, eu cuido dele já que na UTI não pode ficar acompanhante.
— Tem certeza, ? — Aine indagou, sabendo que a amiga estava emocionalmente fragilizada naquele momento.
— Tenho sim, podem ir tranquilos.
se despediu dos amigos, prometendo que os manteria informados sobre qualquer mudança e acompanhou o doutor até onde estava.
— Sinceramente eu não sei como você aguentou firme o tempo quase todo na sala de cirurgia. — Léon falou quebrando o silêncio enquanto preenchia o prontuário do jogador.
— Obrigada, doutor. — agradeceu mais uma vez. — Não trabalho especificamente com cirurgias no dia a dia, mas estar lá era o mínimo que eu poderia fazer por ele.
— Ele continua estável, a saturação de oxigênio subiu bastante, agora é só... — Léon foi interrompido por um barulho de tosse, tinha acordado.
A sensação de ver recuperar os sentidos era extremamente boa, principalmente depois das fortes emoções daquele dia.
— Calma, não tenta falar nada. — segurou na mão do jogador. — Vou tirar o tubo endotraqueal, tá bom? — fez que sim com os olhos, ela realizou o procedimento e pode ver o alívio no rosto dele ao respirar sem a ajuda de aparelhos.
Dr. León examinou , prescreveu a medicação que ele deveria tomar nas próximas horas e, após atestar que estava tudo bem com o jogador, deixou ele e a sós na UTI. ficaria aquela noite em observação.
— Hoje eu vou ficar aqui com você, mas é provável que enquanto você tiver aqui no hospital me mantenham afastada do seu caso. — começou a explicar aquele procedimento padrão, se sentando de frente para o jogador.
— Por favor , não me deixa aqui sozinho, você sabe o quanto eu odeio hospitais. Você é a médica do time, a minha médica, além de ser a melhor... — Ele começou a atropelar as palavras e ela lhe interrompeu.
— , você sabe muito bem que isso não depende de mim. — respondeu em um tom amoroso, fazendo um leve carinho por cima do lençol nos pés do jogador.
— Eu preciso de você.
pediu em tom de súplica e aquelas quatro palavras mexeram com a mulher mais do que deveriam. Toda essa situação com o ex estava a deixando confusa mas, antes de qualquer coisa, o que importava nesse momento era a saúde do jogador. Portanto, ela colocaria os seus sentimentos de lado e daria o seu melhor para que se recuperasse o mais rápido possível.
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Na manhã seguinte, recebeu alta da UTI e em dois dias pôde, finalmente, ir para casa. Seus pais, Thaísa e Bruno estavam acompanhando-o, a recuperação dele estava indo muito bem, o acidente não tinha passado de um grande susto e as sessões de fisioterapia eram diárias. João era quem passava a maior parte do tempo com o jogador, contudo, ia vê-lo sempre que possível.
— Se as coisas seguirem nesse ritmo, em duas semanas você já pode voltar aos treinos. — constatou após o fim de mais uma sessão.
Após uma reunião com seu pai, os dirigentes do Barcelona e um representante do Fenerbahçe, ficou acertado que permaneceria no clube blaugrana. O técnico Ernesto Valverde queria poder contar com o meio-campista em seu plantel, o que pareceu uma boa oportunidade para reconquistar seu espaço e retornar para a cidade que lhe acolheu tão bem desde pequeno.
— Então... isso quer dizer que eu vou poder viajar para a Rússia? — Ele questionou.
O atleta queria saber se poderia realmente acompanhar as atuações de seu irmão mais velho pela Seleção Espanhola, assim como ele e seus familiares tinham planejado assim que o nome de Thiago apareceu na lista de convocados.
— Vai sim, desde que com cautela. Principalmente devido à fratura do punho. — A médica ponderou. — Com o tornozelo não precisa se preocupar, foi uma torção leve e já tá praticamente tudo certo.
— Mais uma vez, nem sei como te agradecer... — tentou puxar assunto.
O camisa 12 do Barcelona queria conversar com e esclarecer tudo, entretanto, ela não havia dado nenhuma abertura, algo absolutamente compreensível. O contato entre eles se restringia ao âmbito profissional, o que era notório através da postura adotada pela mulher.
— Imagina, só fiz o meu trabalho. — A loira deu um sorriso meio sem jeito, pegando sua bolsa e levando-a ao ombro. — Boa viagem, até a pré-temporada.
se despediu rapidamente do jogador e foi para casa, pensando em devorar todos os chocolates que havia comprado em sua bombonière favorita. Depois de uma semana tão intensa, era mais que merecido.
Por outro lado, decidiu tomar um banho e tentou manter os pensamentos na viagem que faria com sua família, tentando aproveitar ao máximo momentos como aquele, em que todos estariam juntos.
VEINTIUNO
That you move on and be happy
Without me, without me
What's my hand without your heart to hold?
I don't know what I'm living for
If I'm living without you
All my friends, they know and it's true
I don't know who I am without you
I've got it bad, baby
I got it bad
(Tell me you love me - Demi Lovato)
{Junho, 2018}
— Dr. León.
A secretária do cardiologista bateu na porta e a abriu sutilmente, anunciando que alguém havia chegado. agradeceu e a ruiva se retirou, voltando para sua mesa.
— Dra. . — León sorriu ao estender a mão para cumprimentar a médica, dando espaço para que ela entrasse em seu consultório.
— Apenas , por favor. — A loira sorriu de volta, apertando a mão dele.
— Só se você também me chamar de León. — Ele impôs sua condição.
Depois de tudo o que aconteceu no dia do acidente, achou desnecessário manter esse tipo de formalidade entre eles. Principalmente porque o cardiologista foi muito prestativo e se manteve disposto a ajudar no que fosse necessário para acelerar a reabilitação de .
— Tudo bem. — A médica concordou. — Eu vim dar uma olhada nos últimos exames do . Ele viajou, mas eu preciso dos resultados pra continuar o planejamento da recuperação dele.
Ele mostrou todos os exames que o jogador tinha feito um dia antes de ir para a Rússia e deu o seu parecer, liberando-o para as suas atividades normais. Aquilo deixou um pouco mais aliviada, e ela avisaria João imediatamente, uma vez que ele viajou junto com o jogador a fim de que eles dessem seguimento à rotina de fisioterapia. Com os bons resultados dos exames, a recuperação de seguiria normalmente.
tentou manter o tom mais natural possível durante toda a conversa, afinal, ainda era seu paciente. Entretanto, León parecia conseguir ir além do que ela dizia, lendo também a sua expressão corporal. Nada passava despercebido aos olhos do cardiologista, e ele sabia que se importava muito mais do que queria demonstrar.
— Desculpa se eu tiver sendo invasivo demais... É que você parece tensa. — León arriscou tocar no assunto, com muito cuidado.
— Fiquei preocupada com o resultado dos exames, mas... — Ela fez uma pequena pausa, por que não era somente aquilo que a incomodava. — Às vezes toda essa situação é um pouco sufocante, por mais que eu faça o possível pra não misturar vida pessoal e trabalho.
se sentiu à vontade de dividir aquilo com León. Talvez fosse bom conversar um pouco com alguém que pudesse analisar a situação de fora, visto que todos os seus amigos estavam parcialmente envolvidos por também serem amigos de .
— Posso te contar uma coisa?— O cardiologista indagou e fez que sim com a cabeça. — Eu sou daqui, sempre morei em Barcelona e três anos atrás estava de casamento marcado. Faltando menos de um mês pra cerimônia ela largou tudo e foi pra uma missão em Israel como voluntária. O nome dela é Martina, ela é cirurgiã pediátrica. Nesse meio tempo eu fui participar de uma pesquisa da Universidad Autónoma de Madrid na minha área e só agora retornei. É difícil, mas com o tempo a gente aprende a lidar com esse tipo de coisa.
Definitivamente, por essa não esperava. León não parecia ser o tipo de cara que tem o coração partido por alguma mulher.
— Você ainda sente falta dela? Mesmo depois de todo esse tempo? — Foi a primeira pergunta que veio na cabeça de .
— Sinto. E você, também sente falta do ? — León devolveu o questionamento.
demorou alguns segundos para responder, deixando seu olhar se perder momentaneamente pelo ambiente decorado em cores claras, enquanto seu pensamento foi permeado de lembranças.
— Muito mais do que eu gostaria de sentir. — A loira respondeu com sinceridade. Não era fácil assumir aquilo para ela mesma, muito menos para outra pessoa.
— Quer falar sobre isso? — León estava um tanto quanto curioso, contudo, tentou se conter para não parecer invasivo demais.
— Não sabia que além de cardiologista você também é quase um terapeuta. — brincou, mantendo um sorriso divertido nos lábios.
— Eu tento. — Ele gargalhou. — Só é uma pena eu não conseguir colocar em prática os conselhos que eu dou.
— Claramente eu na vida. — A médica riu também. — Sempre ajudo minhas amigas mas quando se trata da minha vida amorosa, tem que rir pra não chorar.
— Qualquer dia temos que tomar alguma coisa e compartilhar essas histórias então. As minhas não são poucas.
— Fechado. As minhas também não. — apertou a mão dele, sinalizando que havia aceitado o convite.
A estreia da seleção espanhola na Copa do Mundo seria em Sochi, contra a seleção de Portugal. Os portugueses eram os atuais campeões da Eurocopa, portanto, havia bastante expectativa da mídia mundial acerca daquela partida, visto que ambas eram as favoritas para se classificarem para as oitavas de final do mundial.
estava muito grato por todo o empenho da equipe médica para que ele estivesse bem para viajar com sua família e poder acompanhar seu irmão mais velho. Graças à isso, ele chegou a tempo para ver o início da competição e poder torcer, tanto por Thiago quanto pela seleção brasileira.
— Queria ter visto o Thiago... — comentou enquanto ele e Thaísa esperavam no saguão do hotel por Júlia e Gabriel, para que eles pudessem sair. João havia saído um pouco mais cedo para encontrar com alguns amigos antes da partida, mas iria se juntar à assim que chegasse ao estádio.
— Ele sabe que você tá aqui, isso que importa. — Thaísa apertou a mão do irmão carinhosamente.
Por terem idades relativamente próximas, Thiago, e Thaísa tinham uma ligação muito forte, passível de admiração. Já Bruno era o caçula e xodó dos três irmãos mais velhos, que se esforçavam ao máximo para estar sempre presentes e acompanhar cada fase do seu crescimento.
Não demorou muito para que a cunhada descesse com o pequeno Gabriel no colo e Thaísa chamou um táxi usando um aplicativo no celular.
— Seria tão mais fácil se vocês tivessem alugado um carro e eu dirigisse... — resmungou enquanto o táxi não chegava.
— Só em sonho né, ... Não sei se você lembra, mas 15 dias atrás você tava com esse punho aberto em uma sala de cirurgia. Depois eu que sou criança. — A morena revirou os olhos e Júlia levou uma das mãos à boca, reprimindo uma risada.
— Mas cê tá brava? — indagou com ironia e sentiu sua irmã fuzilando-o com o olhar.
— A mandou eu ficar de olho em você, por que ela sabe que não tem um pingo de juízo nessa sua cabeça. — Thaísa esclareceu melhor o motivo daquela bronca toda.
Gabriel bateu palminhas ao ouvir o nome da tia e tentou repetir em sua própria linguagem de bebês, o que foi suficiente para que todos compreendessem que era dela que ele estava falando. Uma completa explosão de fofura, uma vez que, apesar de ter visto poucas vezes, Gabriel a adorava.
— Até você ficou apaixonado por ela, hein campeão?! Te entendo perfeitamente. — segurou a mão do sobrinho, que apenas sorria. — Vocês ainda se falam? — Ele voltou sua atenção para Thaísa, até então surpreso com a revelação da irmã.
— Claro que sim, não é por que você foi um imbecil que eu vou me afastar dela. Nos tornamos amigas e isso não vai mudar por sua causa. — Thaísa retrucou imediatamente. Curta e grossa.
— Thaísa... — advertiu a mais nova.
— Sei que você já me contou toda a verdade, que não queria ter feito isso e bla bla bla, mas eu continuo com a mesma opinião. Na verdade, você foi duplamente imbecil. Eu te amo incondicionalmente e faria tudo por você, só que eu não posso bater palma pra tudo que você faz e achar que tá tudo bem.
A última frase foi dita em um tom mais amoroso por Thaísa, evidenciando o quanto ela amava o irmão e queria o bem dele, ainda que tivesse que recriminar algumas de suas atitudes.
— Desde quando você adquiriu toda essa maturidade? — brincou, quebrando o clima pesado que estava prestes a se instalar. Não havia o que discutir, por que Thaísa estava coberta de razão.
— Ela cresceu né, ... — Júlia interviu sorrindo e o táxi pedido por Thaísa chegou.
Não demorou muito para que os quatro chegassem ao Estádio Olímpico de Sochi e fossem até o camarote reservado para as famílias dos jogadores espanhois. Todos estavam ansiosos com a partida, mas a expectativa era muito boa. ficou a maior parte do tempo com o sobrinho no colo. Gabriel vestia o uniforme da seleção espanhola e ficou animadíssimo ao ver o pai em campo, o que aconteceu aos 25 minutos do segundo tempo, quando Thiago entrou no lugar de Andrés Iniesta.
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A partida teve os 90 minutos de alto nível, viradas no placar e acabou terminando com um empate de 3 a 3. Diego Costa marcou duas vezes e Nacho também balançou a rede pelo lado espanhol, já os portugueses viram um hat-trick para ninguém colocar defeitos no Cristiano Ronaldo.
Após o fim do jogo, os jogadores tiveram alguns momentos com as famílias, além de também ganharem o dia seguinte de folga. Thiago, assim que viu , agradeceu o irmão por ter ido até lá acompanhá-lo e deu uma conferida no mais novo, atestando que ele estava realmente bem depois do acidente e da cirurgia. Todos preferiram jantar no próprio restaurante do hotel, onde teriam maior privacidade para curtir aquele momento, antes de Thiago se juntar novamente ao grupo espanhol e reiniciar a preparação para a próxima partida no mundial.
estava vendo um programa esportivo na ESPN enquanto criava coragem para tomar um bom banho. O dia havia sido bem movimentado no centro de treinamento do Barcelona, visto que a International Champions Cup, nos Estados Unidos, se aproximava e marcaria o início da pré-temporada da equipe culé, além da estreia de jogadores importantes contratados para reforçar o plantel do técnico Ernesto Valverde.
León Castillo:
"Será que aquela nossa saída pra beber pode ser hoje? Ou você já tinha algum plano?"
:
"Meu plano era maratonar Friends no Netflix hahahah você pensou em algum lugar específico?"
León Castillo:
"Não era um plano ruim jajajajaj o que você acha do Dry Martini?"
:
"Os cocktails de lá são maravilhosos."
León Castillo:
"Te encontro às 21h?"
:
"Ok. Até mais."
Como odiava se arrumar com pressa, foi logo tomar seu merecido banho e pensar no que vestiria naquela noite. O Dry Martini era um dos melhores e mais famosos bares de Barcelona, sempre uma ótima escolha para curtir a noite na cidade. A loira optou por um body preto, além de saia animal print e sandália anabela para dar um ar mais despojado, finalizando com uma maquiagem em tons dourados. Exatamente no horário combinado ela chegou ao bar, logo encontrando León, que estava à sua espera.
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— Você está... linda!
Foi a primeira coisa que León disse assim que colocou os olhos sob a médica. Ela era o tipo de mulher que naturalmente chamava atenção por onde passava, sem fazer o mínimo esforço para isso. E se ele pudesse escolher o que mais gostava nela, com certeza era o sorriso.
sorriu timidamente, colocando uma mecha do cabelo loiro atrás da orelha e cumprimentando-o com um beijo no rosto em seguida.
— Se você fosse neurologista, diria que Derek Shepherd estaria com muita inveja de você nesse momento. — Ela devolveu o elogio à León, com muito bom humor.
— Já ganhei minha noite. — O cardiologista sorriu abertamente, apreciando o elogio recebido.
Os dois caminharam até a parte propriamente do bar, sentando frente ao enorme balcão espelhado. Ao fundo, haviam garrafas das mais variadas bebidas de todas as partes mundo, e não demorou muito para que um barman viesse atendê-los.
— O que você vai querer beber? — León perguntou, voltando sua atenção para a mulher ao seu lado.
— O drink mais forte que tiver aqui. — gargalhou, logo sendo acompanhada por León.
— O mesmo para mim. — O cardiologista respondeu para o barman, que logo foi preparar as bebidas dos dois.
A noite estava só começando.
— Puta que pariu, que fossa é essa?! — João questionou ao entrar no quarto de .
O jogador blaugrana estava sem camisa, deitado na cama, enquanto passava a reprise de um show do Raça Negra no Multishow. estava curtindo (ou não) o último dia em Sochi, visto que logo iria para Kazan, onde a Espanha enfrentaria o Irã.
— Achei que você já tinha se acostumado. — revirou os olhos, ignorando a expressão do amigo.
— Já vi tudo, a Princesa acordou de mal humor hoje... — João deduziu. — É agora que posso dizer que eu te avisei? — Ele tinha um pequeno sorriso nos lábios, com um ar de vitória por saber que estava certo.
Ainda que fosse uma situação complicada, o fisioterapeuta não perderia a oportunidade de brincar um pouco com o outro brasileiro. A amizade deles permitia esse tipo de coisa, ainda mais por que João já tinha sofrido nas mãos de , quando teve um envolvimento com uma cantora espanhola e foi alvo de muita zoação dos amigos por ter se apaixonado.
— Eu sei que você já ouviu isso mil vezes, mas não dá pra ficar desse jeito. — João continuou, indo até o outro lado do quarto para pegar uma cerveja no frigobar para ele, entregando outra para em seguida.
— A ressaca moral é muito pior do que qualquer outra coisa. — suspirou, derrotado, usando a barra de sua camiseta para abrir a garrafa long neck.
— Se você amava a , por que terminou com ela? — O fisioterapeuta fez a pergunta que não queria calar.
Tanto quanto não falavam publicamente sobre o assunto, entretanto, sempre havia especulação da mídia acerca do que motivo o término do casal. Nem os amigos deles escapavam do assédio midiático, contudo, mantinham a mesma postura de não se pronunciar em respeito aos dois.
— Foi justamente por amar demais que eu deixei ela livre. — tentou explicar. — Só que ela não pediu por isso, sabe? Tenho plena consciência de que eu fui muito filho da puta.
Ele sabia que a decisão de terminar não tinha sido muito inteligente, mas foi o que pareceu mais correto naquele momento.
— Infelizmente eu tenho que concordar contigo. Foi difícil ver a mal assim. E você tem dia que não tá muito diferente. — João constatou, analisando a atual situação do amigo. não demonstrava publicamente, mas seus amigos mais próximos sabiam que ele vinham passando maus bocados.
— Como ela tá? — O camisa 12 questionou.
— Ela tá... — João gaguejou um pouco antes de responder. — Tentando seguir a vida.
— Você é péssimo em esconder as coisas. — balançou a cabeça negativamente. — Pode falar tudo que você sabe.
— Não é nada demais, só que... Acho que ela tá saindo com alguém.
— E você... sabe quem é? — indagou em tom despreocupado, tentando parecer menos interessado do que ele realmente estava.
— León. O médico que te atendeu depois do acidente. — Ele respondeu, levemente hesitante.
João já havia percebido um leve clima entre sua amiga e o cardiologista, todavia, acabou não comentando nada sobre isso. Suas suspeitas foram confirmadas quando deixou escapar, em uma conversa despretensiosa por telefone, que iria sair para jantar com León.
— O médico que salvou minha vida, você quer dizer. — corrigiu. — Que ironia do destino... Pelo menos ele parece ser um cara legal.
— … — João repreendeu o amigo, visto que sabia que não era bem assim que as coisas funcionavam.
— Tá tudo bem, sem zoeira. Eu perdi ela pra mim mesmo, irmão. Por pura idiotice. E isso é o que mais me dói, por que eu não sei se um dia ela vai me perdoar.
João entendia a dor do amigo, contudo, não queria vê-lo daquela forma. Por isso, conseguiu convencer a vestir uma roupa e os dois saíram para procurar algo para fazer na noite de Sochi.
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VEINTIDOS
Como as outras
Só mais uma que passou
Mas foi só a porta fechar
Pra mudar minha cabeça
A sua boca vale o preço
Pra perder o sossego que eu tinha
(Eu, você, o mar e ela - Luan Santana)
{Julho, 2018}
A festa no hotel da praia de Morro de São Paulo, localizada na Ilha de Tinharé, no litoral baiano, continuava animada, mesmo já sendo 4 horas da manhã. As luzes refletiam no mar e a música ecoava por toda a parte. foi pegar uma bebida, quando deu de cara com uma mulher loira de olhos claros. Era ela, , ele tinha certeza. Os dois ficaram se encarando por um tempo, até que ambos caminharam na direção um do outro.
Não sabia dizer se ela queria verdadeiramente conversar com ele, ou se era apenas o álcool no seu sangue fazendo efeito. E no dele também, visto que se tivesse sóbrio provavelmente não teria coragem de falar com ela. Pelo menos não naquele exato momento, com tanta gente ao redor.
— Eu poderia até ser romântico, mas as coisas que estão passando pela minha cabeça agora não são nem um pouco românticas. — sussurrou e viu um leve sorriso se formar nos lábios da médica.
— Você e as suas piadinhas de sempre. — respondeu, rindo da brincadeira. — Não sei por que ainda me surpreendo.
Aquela troca de sorrisos e brincadeiras não refletia de forma verdadeira como os dois se sentiam com aquele reencontro casual. Haviam muito mais coisas envolvidas e, por isso, a atmosfera entre os dois mudou rapidamente.
— Depois daquela ligação a gente nunca mais se falou... E bom, alguns amigos nossos disseram que você ainda sente saudades da gente. — confessou, levando a garrafa de cerveja que tinha nas mãos à boca e bebendo um grande gole. — É verdade? — Ele questionou.
— Por que isso te incomoda? Você também sente saudades? — Ela retrucou imediatamente e ficou olhando-o.
— Será que a gente pode ter pelo menos uma despedida? — perguntou depois de virar o conteúdo restante da garrafa de uma vez, deixando-a vazia. Não sabia como aquelas palavras saíram de sua boca. — Eu sei que errei com você e que não tenho direito de te pedir mais nada, mas isso pode...
— Por que não?! — interrompeu a fala de e piscou para ele, que não conseguiu disfarçar a expressão de surpresa. Só podia ser um delírio, a falta dela definitivamente estava o enlouquecendo.
A loira parecia ter total consciência do quanto aquilo era arriscado. De que não deveria. Contudo, o corpo dela respondia a qualquer mínimo estímulo provocado por e ela aparentava não querer lutar contra. O instinto era mais forte. Talvez aquela fosse uma batalha perdida.
— Então vamos. — puxou a mão dela sem hesitar e foi em direção ao quarto em que estava hospedado, deixando para trás toda a sua sanidade.
Assim que entraram fechou a porta e começou a beijá-la. Não sabia onde estava com a cabeça quando pensou que manteria o seu controle, aquilo era demais para ele. O beijo dela já era suficiente para fazer com que ele se perdesse completamente. Nenhuma palavra foi dita, mas nem precisava, os corpos falavam por si só.
A única iluminação que havia no quarto vinha da sacada, era noite de lua cheia e a brisa marítima contrastava com o calor que emanava de ambos. As peças de roupa ficaram perdidas em cantos aleatórios do quarto, contudo, nenhum dos dois se importava. O tempo ia passando, e a vontade só crescia, junto com a temperatura e o grau das carícias. Ficaram ali se amando, até o cansaço dominar o corpo e a respiração parecer nunca mais voltar ao normal. E assim acabaram adormecendo.
Na manhã seguinte, imediatamente lembrou do que tinha acontecido durante a noite e percorreu o olhar pelo quarto, se deparando com dormindo tranquilamente ao seu lado. Com cuidado para não acordá-la, o jogador levantou à procura de um remédio, a dor de cabeça da ressaca estava matando-o. Após tomar o medicamento e um bom banho, passou pela sacada e sorriu, relembrando os momentos que apenas a lua e o mar foram testemunhas. Era algo surreal demais. Decidiu voltar a dormir, talvez quando acordasse novamente os dois decidiriam o que seria feito dali para frente.
— Tava em coma? Tem duas horas que eu tô batendo aqui, pensei que você tinha se afogado no banho ou sei lá o quê. — João falou assim que um funcionário do hotel em que eles estavam hospedados abriu a porta do quarto de com uma chave reserva.
— Onde a gente tá? — O camisa 12 se sentou na cama e abriu os olhos lentamente, forçando-os a se adaptarem à claridade. — Cadê a ? — Ele indagou, completamente confuso.
— Como assim "cadê a "? Que cachaça foi essa, ? Deu pra ter amnésia alcoólica também? — O fisioterapeuta riu da cara do amigo.
— Hãn? — continuava sem entender.
— A gente tá na Tailândia, lembra? Viagem de férias... — João começou a ficar preocupado.
— Ai caralho... — resmungou, batendo a mão na testa.
— Não é possível que você fez merda depois que eu te deixei aqui. — João balançou a cabeça negativamente, refletindo acerca da pergunta que faria ao amigo. — Por acaso você usou algum tipo de droga depois da festa?
— O quê? — A incredulidade do jogador era evidente. — Não! Claro que não, seu idiota!
— Então me explica que porra foi essa de perguntar da , por que eu não tô entendendo mais nada. — O fisioterapeuta pediu, antes que sua mente criasse mais alguma teoria maluca sobre o que poderia ter acontecido.
— Acho que... eu sonhei que tava em Morro de São Paulo, a também tava lá e a gente acabou tendo um... — confessou em um tom mais baixo, notoriamente envergonhado com a situação.
— Nem precisa terminar. — João interrompeu o amigo. — Você acha mesmo que nós, teus amigos, estamos brincando quando dizemos que você tá ficando louco?
— La puta madre! — tentou se defender.
— Nem precisa gastar seu espanhol pra tentar me convencer por que isso só funciona com as mulheres. — Ele deu de ombros. — Levanta logo dessa cama, toma um banho e se arruma pra gente ir encontrar os caras e comer alguma coisa, antes que eu acabe enlouquecendo junto.
Como o dia estava lindo na Tailândia, , João e o restante de seus amigos saíram para tomar café da manhã e resolveram aproveitar o dia na Sunrise Beach, uma praia não tão conhecida mas que carregava o título de paraíso escondido. Entretanto, ao longo dos últimos anos ela vinha caindo no gosto dos turistas, que queriam aproveitar cada vez mais a beleza de cada pedacinho do país. Assim, preferiu desfrutar daqueles últimos momentos de férias com seus amigos, visto que ele já poderia participar normalmente da pré-temporada do Barcelona.
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— Vai pra onde? Mais um encontro com o cardiologista gato? — A morena jogou verde.
Luísa entrou no quarto da amiga enquanto ela visivelmente estava se arrumando para sair de casa. Era bom ver voltando a fazer as coisas que tanto gostava, como uma simples saída, mas que tinham acabado ficando de lado nos últimos tempos.
— Se eu disser que sim você vai parar de me encher de perguntas? — respondeu, enquanto colocava um par de brincos.
— Então a senhorita mistério não vai mesmo me contar o que tá rolando entre você e o León? — Luísa insistiu no assunto, tentando tirar alguma informação da amiga.
— Nem eu sei direito o que tá rolando. — A loira soltou uma risada. — A gente sai, eu gosto de ficar com ele, não existe nenhum tipo de cobrança minha nem dele, é tudo muito leve. O León é um cara maravilhoso em todos os sentidos.
— Todos, tipo todos mesmo? — O tom de Luísa era extremamente carregado de malícia, o que fez gargalhar naquele instante.
— Você não presta. — balançou a cabeça negativamente. — Mas sim, são realmente todos os sentidos tá, engraçadinha.
— Não me olha com essa cara, por que esse é um ponto importante. Sem química nada vai pra frente.
Dessa vez, era obrigada a concordar com Luísa. A química é importantíssima para a aproximação de duas pessoas e a sensação de que o santo bateu é muito boa, tornando todas as formas de contato mais interessante e intenso.
— Acho que tô precisando fazer um curso de como encontrar um cara assim, pra casar, tipo o León. — A estilista brincou.
— Uai amiga, e o Santiago? As coisas não estão indo bem entre vocês? — questionou, surpresa com a afirmação que a amiga havia acabado de fazer.
— Ah ... Deu uma esfriada, sabe. — Luísa pegou uma das almofadas que estava sobre a cama e colocou-a em seu colo. — É aquela coisa de sempre, eu trabalho muito, ele mais ainda, a gente tem pouco tempo pra ficar juntos. Nem preciso continuar falando, por que você conhece muito bem esse filme, o desgate e onde ele vai dar.
A situação vivida por elas tinha pontos extremamente diferentes e, ao mesmo tempo, muitas coisas em comum.
— É incrível como as coisas saem do nosso controle, uma hora tá tudo perfeito e na outra... Enfim. — A médica suspirou pesadamente. — E você sabe que eu tô aqui pra qualquer coisa, né?!
— Sei sim. — Luísa deu um sorriso, em sinal de agradecimento. — Mas eu tô bem tranquila sabe, já tem uma semana que nós não nos falamos mas depois de amanhã ele chega de viagem... Se for pra gente se resolver vai ser, se não, paciência. Você sabe que eu não sou de ficar dando murro em ponta de faca.
— Nota-se claramente quem é a mais verdadeira trouxa dessa amizade. — não segurou a gargalhada.
— Nem vem , também não é assim. — Luísa ponderou.
— Eu sei boba, tô só brincando.
— Mas e aí, onde você vai com o seu McDreamy? — A morena questionou novamente. — Me conta vai, tô curiosa.
— Passeio de barco. — respondeu pegando sua bolsa e conferindo se tinha colocado tudo que precisaria.
— Hmmmmm que romântico. — Luísa provocou.
— Vai começar de novo? — A médica revirou os olhos.
— Não esquece de passar bastante protetor solar, tá?! — Luísa aconselhou, rindo.
— Pode deixar, mãe. — manteve o tom brincalhão e fechou a porta do apartamento, caminhando até a portaria, onde Léon a esperava.
Depois de aproximadamente 45 minutos pela estrada, e León chegaram à região da Costa Brava. A parte final do trajeto até a praia de Cala Bona, na Tossa de Mar, foi feito de lancha mesmo. A água cristalina e as árvores tornavam a paisagem paradisíaca, além de ser uma praia pouco visitada, praticamente um paraíso particular.
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— Que lugar incrível! — admirava a paisagem e o dia lindo que estava fazendo.
— Faz bem sair um pouco de Barcelona de vez em quando. — León sorriu. — Então valeu a pena?
— Você ainda pergunta? — A loira gargalhou. — É óbvio que valeu a pena.
abraçou León e lhe deu um selinho de agradecimento. Tudo entre os dois era simples, leve, natural. Ambos se reorganizando e se redescobrindo a cada dia.
— Falando em surpresa, eu não fazia ideia de que você tinha habilitação náutica. — A loira comentou, visto que foi León que conduziu a lancha, proporcionando mais privacidade para os dois aproveitarem o dia.
— Sempre gostei do mar, quando era criança minha família sempre fazia cruzeiros, então assim que completei a idade mínima tirei a habilitação de todas as categorias. Adoro velejar, surfar, andar de wakeboard... — O cardiologista enumerou.
— Acredita que eu também tenho? Mas a minha é só motonauta, eu e meus primos amávamos andar de jetski nas nossas férias no Rio... — lembrou com carinho de uma fase muito boa de sua vida. — Agora pra surf e wake preciso confessar que não tenho muito talento, sei só o básico mesmo.
— Se você quiser posso te ensinar algumas coisas de wakeboard... Agora o surf acho que é melhor você pedir pro Medina. — León brincou.
— Não oferece duas vezes que eu aceito, hein? — respondeu, tomando um gole de água de coco em seguida. — Sobre o surf, acho que o Medina entende um pouquinho do assunto, quem sabe ele faça esse milagre e eu aprenda umas manobras.
Gabriel Medina foi o primeiro surfista brasileiro a se tornar campeão mundial de surf da ASP World Tour. Ele também carrega feitos incríveis como ser o primeiro surfista a conseguir realizar um backflip, uma das manobras mais difíceis do esporte, em uma competição oficial.
A amizade com surgiu após os dois terem sido apresentados por Neymar em uma festa de fim de ano em Maresias, no litoral paulista. Desde então um cultiva um carinho muito grande pelo outro, até o auxilia sempre que pode com a parte de preparação física e sempre que os dois se encontram o astral é muito bom.
— Acho que vou mergulhar agora, você vem também? — perguntou, tirando sua saída de praia.
— Já tô indo. — León respondeu tirando a camisa e pulando na água.
— Fica paradinho aí, preciso tirar uma foto sua. — A loira pediu, antes de descer também.
pegou seu celular e registrou aquele momento. A paisagem era linda, mas o sorriso de León se destacava ainda mais.
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— E aí, a foto ficou boa? — O cardiologista perguntou assim que entrou na água, abraçando-a em seguida.
— E tem alguma foto sua que não fica boa? — sorriu.
— Só sei que a fotógrafa de hoje ajuda. — Ele completou, segurando a loira pela cintura e a beijando.
León e ficaram um bom tempo se curtindo, aproveitando a água... Tudo parecia estar no lugar certo naquele momento.
Quando a hora do almoço se aproximou, os dois retornaram à lancha e começaram a pensar no que fariam.
— O que você prefere pro almoço: a gente come alguma coisa aqui mesmo ou vamos a algum restaurante da costa? — León indagou, enquanto secava o excesso de água do corpo com uma toalha.
— Será que eu posso pelo menos cozinhar pra você e retribuir um pouco desse dia maravilhoso? — preferiu colocar um roupão momentaneamente, visto que o vento estava um pouco frio.
— Tô gostando da ideia... — León sorriu, pois sabia que cozinhar era uma das paixões de . — O que você tem em mente?
— Algo bem leve, fresco. Pensei em ceviche. Você não vai dar uma de Rodrigo Hilbert e pescar o peixe agora, né? — brincou.
— Olha, tem um kit de pesca ali no fundo... — León fez menção a ir buscar as ferramentas necessárias e, supostamente, pescar.
— Você não existe. — gargalhou, puxando o braço direito de León e conduzindo-o até a cozinha da embarcação.
— Você prefere um Chardonnay, Pinot Grigio ou Sauvignon Blanc? — O médico indagou acerca do vinho que harmonizaria melhor com a receita.
— Acho que o Pinot Grigio, ele é um pouco mais suave.
O almoço e o restante do dia seguiu tranquilo, com e León aproveitando cada segundo de calmaria naquele pedaço de paraíso da costa espanhola. Os dois permaneceram na praia até o pôr do sol, retornando para Barcelona apenas no final do dia. Ambos felizes e com as energias revigoradas.
VEINTITRES
De voltar atrás
Pra consertar o que errei
Pra te mostrar que hoje sei
Que só você sabe amar
E sobre nós o que eu desejo
Só você pode me dar
E deixa aqui entre nós
O que passou já não importa
E hoje estamos a sós
(Solução - Um44k part. Matheus e Kauan)
{Agosto, 2018}
Um novo capítulo da vida de Arthur se iniciava e ele foi muito bem recebido por seus companheiros de equipe. Assim, decidiu fazer uma resenha em sua casa como agradecimento, antes de que todos viajassem para os Estados Unidos para o torneio de pré-temporada.
Além dos jogadores do Barcelona, outros amigos como Marquinhos e Neymar também compareceram. Como sempre, os meninos resolveram jogar futebol. Todos eram muito competitivos e a brincadeira rendeu inúmeras risadas.
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— Alguém tira esse celular da mão do Neymar, pelo amor de Deus. — Malcom reclamou após o fim da partida, quando todos estavam conversando, comendo ou bebendo. — Ele não deixa tocar uma música inteira, assim não dá.
— Temos aqui um legítimo dj tesoura, o tempo todo cortando o barato. — João brincou.
— Nossa João, que piada vintage... No Natal você também pergunta se é pavê ou pacumê? — Bruna zoou o fisioterapeuta, que mostrou o dedo do meio para a atriz.
— Princesa loira, tem algum violão aí? — Philippe questionou Arthur, retornando ao assunto inicial.
— Me respeita porra, é óbvio que tem. — Arthur respondeu com um tapa nas costas de Philippe. — Goiano que é goiano tem violão em casa.
Marquinhos acompanhou Arthur até a sala e os dois voltaram de lá trazendo um violão, um pandeiro e um cajón. O grupo de amigos começou a cantar e tocar músicas dos mais diversos estilos, distraindo e divertindo todos os presentes naquela resenha. O zagueiro do Paris Saint-Germain assumiu o pandeiro e, em homenagem à sua esposa Carol, começou a cantar 40 graus de amor, do Exaltassamba.
— O que a gente vai cantar agora? — Neymar perguntou assim que Marquinhos terminou e recebeu um beijo apaixonado de sua esposa.
— Eu sei uma. — pegou o violão das mãos do amigo e começou a tocar uma música muito conhecida por .
Às vezes quero saber como anda você
Se vai bem sem mim e tentar entender
Que querer não é poder e se eu pudesse
Não iria me contradizer
Eu já tentei colocar os meus pés no chão
Me esforcei para achar uma solução
Só que essa solução pode ser bem melhor
Pra mim do que pra você
Eu quero te falar o que se passa aqui
Eu quero retornar e se você deixar eu juro que...
Dessa vez vou pensar só em nós
O que eu errei prometo nunca mais errar
E se você perdoar o nosso amor
Os nossos sonhos podem se realizar
Eu só te peço uma chance de voltar atrás
Pra consertar o que errei
Pra te mostrar que hoje sei
Que só você sabe amar
E sobre nós o que eu desejo só você pode me dar
E deixa aqui entre nós
O que passou já não importa
E hoje estamos a sós
Por que dessa vez vou pensar só em nós
O que eu errei prometo nunca mais errar
E se você perdoar o nosso amor
Os nossos sonhos podem se realizar...
cantando Um44k. Golpe baixíssimo, diga-se de passagem, por que amava as músicas dos meninos. Ele não tirava os olhos dela e a sua voz trazia tanto sentimento, que todo mundo que estava ali próximo à piscina percebeu que era exatamente aquilo que ele queria dizer. tinha errado? Muito. Mas todo mundo merece uma segunda chance, e ele faria o possível e o impossível para reconquistar .
— Onde você vai, ? — Carol questionou segurando o braço da médica, que se levantou do seat garden em que estava sentada após terminar de cantar.
— Preciso beber alguma coisa, minha garganta tá seca. — A loira deu um meio sorriso e se desvencilhou da amiga, indo em direção à parte interna da casa de Arthur. Ela serviu um copo com água, e se sentou no balcão que dividia a sala e a cozinha.
— Preciso falar com ela. — entregou o violão para Philippe, na iminência de ir atrás de .
— Dá um tempo pra ela, Princesa... — Neymar tentou amenizar a situação.
— Não dá, irmão. Uma hora ou outra isso tem que acabar. — O jogador entrou na casa à procura de .
— Eles vão acabar brigando, escuta só. — Arthur comentou com os amigos, que concordaram. Eles temiam que o ex-casal se desentendesse ainda mais.
— Então... Como você tem passado? — falou se sentando ao lado de , que mantinha o olhar fixo no líquido transparente que preenchia o copo.
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— Eu sou só uma garota no bar. — Ela deu de ombros, fazendo clara referência à uma cena de Derek e Meredith em Grey's Anatomy, repetindo a fala da doutora.
— Eu até gostaria de ser apenas um cara no bar. — entendeu a menção ao seriado médico que a ex namorada adorava e sorriu, tentando quebrar o gelo entre ele e .
Desde o término os dois agiam como amigos no trabalho, como se nada tivesse acontecido, entretanto, se evitavam o máximo possível em eventos e/ou resenhas.
— Mas falando sério agora, acho que a gente precisa conversar. Só me escuta, por favor, depois você pode fazer o que quiser. — pediu, visto que ele ainda não tinha tido a oportunidade de se explicar.
— É, não dá mais pra ficar adiando isso. — suspirou pesadamente. Embora ainda estivesse chateada, tinha curiosidade para saber o que iria lhe dizer. — Vamos lá pro quarto do Arthur, assim ninguém interrompe a gente.
A loira saiu da bancada que dividia a sala e a cozinha da casa do camisa 8 do Barcelona e subiu as escadas em silêncio, sendo seguida por .
— Pode falar. — se sentou na cama, de frente para , que estava na poltrona.
— Mais ou menos um mês antes da gente terminar eu recebi uma proposta para jogar na Turquia, pelo Fenerbahçe. A gente já vinha discutindo com mais frequência, teve aquele lance da tarde de autógrafos e a briga na boate... Eu sabia que você tava sofrendo com a distância, o Neymar me contou que ouviu você conversando sobre isso com a Bruna. Também teve a história com o seu ex que a sua mãe me contou, então quando vi que as negociações com os turcos estavam avançando eu fiquei desesperado.
— Pelo amor de Deus, ! Eu só tinha 16 anos quando o Rodrigo foi pro Canadá e eu não podia fazer nada pra mudar aquilo, mas uma coisa não tem nada a ver com a outra. Eu sequer mencionei isso pra você por que é algo que não tem mais importância, durante toda a minha vida eu tive que aprender a lidar com situações assim, caso contrário eu jamais teria vindo pra cá.
Aquela era a explicação de ? estava completamente incrédula com o motivo que fez o relacionamento dos dois chegar ao fim.
— , tenta entender. Se com você aqui na Espanha e eu na Itália já tava difícil, imagina se eu tivesse ido pra Turquia? Lá é tudo muito diferente e eu não queria te fazer sofrer com mais essa mudança... Eu me sentia culpado em te deixar aqui sozinha, em não estar do seu lado quando você precisava de mim, então achei que seria melhor te deixar livre pra encontrar alguém melhor que eu, que estivesse sempre presente e que pudesse te dar o que eu não podia.
Aquilo foi a gota d'água. O pouco de calma que ainda existia em simplesmente evaporou ao escutar a explicação de .
— Você não tinha esse direito! — falou com a voz embargada e as lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto. — Eu sabia que não ia ser fácil quando a gente começou a namorar, principalmente quando você foi pra Milão, mas eu nunca pensei em desistir de nós dois. Foi você quem tirou suas próprias conclusões sem me consultar, simplesmente decidiu o que achava que era melhor pra mim. Nunca exigi nada disso de você, por que eu sei que o futebol é a coisa que você mais ama na vida e isso não seria justo.
— Mi amor... — tentou ponderar, já com a voz embargada. Entretanto, era a vez de falar.
— Você tem noção do inferno que eu passei tentando entender o que eu tinha feito de errado pra você ter terminado comigo do nada, por telefone? — Ela levantou o tom de voz. — Do quanto eu chorei por que tudo ao meu redor lembrava você, a ponto de passar dias sem sequer entrar no meu quarto por que o seu cheiro e as suas coisas ainda tavam lá? Do quanto a Aine, a Bruna e a Luísa, que estiveram comigo todo esse tempo, ficaram preocupadas? Até o Neymar saía de Paris pra vir me ver e tentar melhorar o meu ânimo. Duvido que você tenha pensado nisso tudo, . Eu escolhi você, eu passei por cima de tudo que eu acreditava pra ficar com você...
A médica externalizou, entre soluços, todos os sentimentos que estava guardando há meses e o misto de decepção com ressentimento era nítido.
— Me perdoa corazón, eu acabei fazendo tudo errado. — A essa altura também chorava, e ouvir todas essas coisas da boca de o dilacerava por dentro. Contudo, ele merecia. — Eu te amo tanto...
passava as mãos pelos cabelos exasperado, pois as coisas tinham tomado proporções que ele não imaginava e a possibilidade de ficar longe de , até como amigo, o atormentava profundamente.
— Eu... — tentou falar mas as palavras não saíam mais.
Ela levantou e saiu do quarto, descendo as escadas com urgência.
— Ei, onde você vai com tanta pressa assim? — Bruna seguiu a amiga, que andava em direção à garagem.
— Preciso ir pra casa. — A médica tentava limpar as lágrimas que ainda teimavam em descer.
— Você não vai dirigir nesse estado, deixa que eu te levo.
— Não precisa, Bru. — negou prontamente.
— Precisa sim, só vou pegar minha bolsa. — Bruna se afastou momentaneamente, indo para onde Neymar estava.
— Preto, tô indo levar a em casa. — Ela falou baixinho no ouvido do namorado, de modo que somente ele ouvisse. — Ela saiu do quarto chorando, então vai lá ver como o tá por que a conversa não deve ter sido boa.
— Tá bom amor, tô indo. — Neymar deu um selinho na namorada e foi até onde o amigo estava, enquanto Bruna saiu com .
entrou no banco do passageiro do seu carro e entregou a chave para Bruna. Ela encostou a cabeça no vidro e sua mente repetia incansavelmente a conversa que acabara de ter com , assim como os acontecimentos dos últimos meses.
— Pelo visto você e o se desentenderam de novo, né? — A atriz tirou a loira dos devaneios que estavam prestes a enlouquecê-la.
— Você também sabia? — questionou, encarando a amiga.
— Não, eu tava te procurando e acabei vendo vocês dois entrando no quarto do Arthur, comentei com o Ney e como o tinha dito pra ele que ia falar contigo, ele acabou me contando. — Bruna começou a explicar. — Só o Neymar e o Icardi sabiam, eu fiquei quase tão chocada do que quando fiquei sabendo que vocês tinham terminado.
— Eu não entendo sabe, Bru. — falou com a voz trêmula, denunciando o choro que queria reaparecer. — Por que ele não me contou a verdade? Será que eu tô tão errada assim de pensar que nós poderíamos ter enfrentado isso juntos?
— Não amiga, você não tá errada. — Bruna utilizou o tom mais amoroso possível. — Só que você precisa entender o lado do .
— Sério que você vai defender ele? — arregalou os olhos, incrédula com o que tinha acabado de escutar.
Bruna estacionou o carro na garagem do prédio de e as duas subiram até o apartamento.
— Isso não é uma competição pra eu ter que escolher um lado. — A atriz ponderou. — Nunca tinha visto o se envolver assim com alguém. Ele sempre foi mais moleque, não no sentido de imaturidade, mas de aproveitar as resenhas com os amigos, curtir a família... Sem preocupações. Claro que vez ou outra ele aparecia com alguma garota, porém nunca era nada sério. O também mergulhou no desconhecido quando vocês começaram a namorar, ele tem aquele jeito brincalhão mas também tinha muitas inseguranças, tanto que o Ney sempre conversou muito com ele. Eu só quero que você entenda que é difícil cobrar de alguém uma atitude frente à uma situação nunca vivida por essa pessoa. Ele errou muito, mas foi tentando acertar.
— E a quantidade de affairs que ele teve esse tempo todo? Até com a Danielle ele ficou de novo. — questionou a amiga, lembrando das fotos tiradas por paparazzis de saindo de uma boate em Milão com a modelo italiana.
— Era só coisa de momento, pra tentar fazer vocês esquecerem um do outro. — Bruna esclareceu. — Você também nem pode reclamar, por que conheceu o León e vocês acabaram se envolvendo.
— Ah mas... — A médica ainda tentava argumentar, visto que ela e León ficaram algumas vezes mas não foi nada sério.
Mesmo o que quer que seja que eles tivessem fosse bom, não envolvia sentimentos de ambas as partes, eles talvez fossem apenas a válvula de escape um do outro frente aos relacionamentos complicados.
— Sem "ah mas" , você fica o tempo todo arrumando desculpas só que não tem mais o que argumentar... Às vezes a gente precisa parar de pensar e simplesmente seguir o coração. Nunca te vi tão feliz como quando você e o estavam juntos, ele nem se fala... Vocês fazem um bem danado um pro outro e você sabe muito bem disso.
ficou, momentaneamente, sem palavras. Ela precisava ser trazida de volta à realidade, e Bruna estava decidida a exercer esse papel.
— Eu já fui julgada pelo mundo inteiro por causa das idas e voltas com o Neymar, e sabe por que a gente sempre volta? Por que a maioria das nossas brigas nem foram por coisas nossa, é só influência externa, fofocas... Na verdade, acho que a gente nunca ficou separado mesmo. Nunca paramos de sentir. Tenho plena certeza de que o que eu sinto por ele é amor. Amor de verdade. E eu vou lutar por esse sentimento quantas vezes forem necessárias.
— Não dá pra negar que o que eu sinto pelo é muito forte, tudo o que a gente viveu foi muito intenso, só que a essa altura do campeonato não posso falar por ele, né?!
— Amiga, todo mundo vê que vocês dois se amam... Falo isso também pelo , claro, mas principalmente por você, por que eu sei tudo que você já passou em relacionamentos anteriores. Se você tem certeza do que sente por ele, basta deixar o seu orgulho de lado pra reencontrar o que te faz transbordar. Você não acha que precisa se dar essa chance de recomeçar?
ficou extremamente mexida com os últimos acontecimentos e passou o resto da semana pensando em tudo o que Bruna tinha lhe dito. Mais uma vez a atriz tinha razão, entretanto, não queria admitir. Por outro lado, estava cada vez mais difícil conviver diariamente com como se eles fossem estranhos, pois foi assim que eles começaram a se tratar depois daquela conversa. A mulher sentia falta de como as coisas eram serenas entre os dois.
Algo tinha mudado em desde a sua chegada em Barcelona: entrou, literalmente, sem pedir licença e fez morada no seu coração. E, ainda que a médica tentasse negar ou fugir disso, aquele lugar era dele e de mais ninguém.
VEINTICUATRO
Missing him was dark gray, all alone
Forgetting him was like trying to know somebody you've never met
But loving him was red
(Red - Taylor Swift)
{Agosto, 2018}
— Parabéns, princesa linda! — falou abraçando Arthur assim que o loiro se sentou ao seu lado no ônibus, na manhã daquele 12 de agosto. — Tu merece demais tudo de bom que vem acontecendo na tua vida, e esse é só o começo. Te amo.
— Valeu irmão, só tenho que agradecer tudo que você tem feito por mim desde que eu cheguei e te desejo tudo em dobro. Também te amo e quero trazer o título da Supercopa de presente. — Arthur riu, batendo carinhosamente nas costas do amigo em agradecimento.
Era domingo e o time estava viajando para o Marrocos para disputar a final da Supercopa da Espanha, contra o Sevilla. Também era a estreia de Arthur em uma competição espanhola e o primeiro jogo de diante da sua torcida após o fim do empréstimo para a Inter de Milão e o acidente que ele havia sofrido.
Claro, eles haviam jogado o Torneio dos Campeões nos Estados Unidos, mas não era a mesma coisa. Esse jogo marcava o início da temporada 2018/2019 do Barcelona e, com as importantes contratações que o time fez durante a janela de transferências, a expectativa sobre a atuação deles era grande.
— Ah não, que lindinhos. — Malcom imitou o emoji apaixonado, zoando o momento de demonstração de carinho entre os amigos.
— Vamos cantar parabéns pro Arthur! — Suárez gritou e puxou a versão espanhola da música de felicitações.
Todos cantaram batendo palmas e gritando dentro do ônibus, fazendo a maior festa. Os jogadores brasileiros do time, que também não perdiam a oportunidade de fazer mais farra, cantaram parabéns em português. O coro foi formado por , Philippe, Malcom, Marlon, , João e o português Nelson Semedo.
Passada a euforia, os jogadores começaram a se concentrar para a partida que fariam mais tarde. Uns dormiam, outros ouviam música, um pequeno grupo conversava no fundo do ônibus...
Cada um tinha o seu jeito de se preparar, e assim foi durante todo o trajeto.
Ao chegarem em Tânger, cidade marroquina onde aconteceria o jogo, foram direto para o estádio IBN Batouta. Houve um pequeno treino de reconhecimento de campo e, posteriormente, todos foram descansar até o horário da partida.
seria titular e não pode esconder o sorriso ao ler o nome dele na escalação do time. Mesmo não estando mais juntos, ela sabia a importância daquilo, visto que desde o acidente de moto o jogador vinha trabalhando duro para voltar a campo o mais rápido possível. Esse voto de confiança de Ernesto Valverde, principalmente após a boa participação dele nos jogos da pré-temporada, mostrava que as coisas estavam voltando a dar certo.
Gerard Piqué, um dos líderes do grupo, foi o responsável pelas palavras de incentivo durante a preleção, momento que antecedia a entrada dos times em campo. Os jogadores fizeram a típica fila no túnel para irem ao gramado e esperar o hino, foi para o banco de reservas e se sentou entre João e Philippe.
Pouco antes do início do jogo, os jornalistas abordaram para uma rápida entrevista.
— Doutora, o entrou muito bem nas partidas da pré-temporada, deu assistências, fez gols e surpreendeu a todos com a rápida recuperação depois do acidente. Você acha que ele já tá pronto para jogar os 90 minutos? Boa noite.
— Boa noite! Olha, até para nós da equipe médica foi surpreendente, ele respondeu muito bem a todas as fases do tratamento e eu jamais o liberaria sem ter certeza que ele está plenamente apto a jogar. No entanto, nós preferimos preservar o atleta e fazer esse retorno assim mesmo, gradativamente. Além disso, vai muito do ritmo do jogo, do esquema tático... Tenho certeza que o Ernesto vai fazer as alterações necessárias e que o vai dar o seu melhor em campo, como ele sempre fez.
— Esclarecimentos da doutora sobre a recuperação do , a gente espera que ele dê sequência à essas boas partidas que vem fazendo. Obrigado, doutora.
— Por nada. — Ela respondeu simpática e voltou para seu lugar. De lá do banco, ela via Thaísa e Aine com Maria no colo, no camarote reservado para as famílias dos jogadores.
Durante a execução do hino espanhol, deixou seu olhar demorar um pouco mais sobre que, ao perceber isso, sussurrou algo.
— Eu tô torcendo muito por você.
Ao ler aquelas palavras nos lábios dela, o jogador não conteve o sorriso de agradecimento à médica e os dois se entenderam com aquela troca de olhares.
Assim que o apito inicial soou, todos se sentaram e a médica balançava uma das pernas incessantemente, tentando amenizar a carga de ansiedade que percorria seu corpo. O time disputava uma final importante, no entanto, o responsável pelo nervosismo de tinha nome, rg, cpf, 1,74m, pele bronzeada e um sorriso lindo. Apesar do término um pouco traumático, eles acabaram passando muito tempo juntos devido ao processo de recuperação do jogador e, bem ou mal, ela ainda se importava bastante com ele, não só como médica, mas também em nome de tudo que os dois viveram.
— Relaxa, ele tá bem. — Philippe parecia ter lido os pensamentos inquietos de e colocou a mão na perna da amiga, na tentativa de acalmá-la e só aí ela percebeu que mantinha o olhar fixo em . — Você e o João fizeram um ótimo trabalho, todo mundo pensava que ele só voltaria a campo no final de setembro e olha lá, o cara já tá destruindo...
— Eu sei. É só que esse é o primeiro jogo dele que eu vejo desde que... — respirou fundo, criando coragem para continuar a falar. — Enfim, eu não fui para o torneio nos Estados Unidos e essa é uma sensação nova pra mim.
— Oh, ... — Philippe puxou-a para um abraço de lado. — Não tá sendo fácil, né? — Ele perguntou retoricamente e a conversa foi interrompida pelo grito de gol no estádio.
O Sevilla abriu o placar aos 9 minutos de jogo e a checagem do árbitro de vídeo validou o gol. Aquilo fez com que o clube catalão aumentasse o volume de jogo e criasse mais oportunidades para empatar a partida. A marcação do Sevilla ficou mais apertada, tanto Arthur quanto começaram a sofrer com o maior número de faltas que tentavam matar as jogadas criadas por eles.
Aos 42 minutos, Piqué aproveitou o rebote numa cobrança de falta de Messi e igualou o marcador. O restante do 1º tempo seguiu com o Barcelona pressionando, até que o juiz indicou o fim daquela etapa.
Já no vestiário, Ernesto Valverde e a equipe técnica começaram a orientar o time e anunciaram que Ivan Rakitić entraria no lugar de . O brasileiro ficou um pouco frustrado, mas sabia que o croata era normalmente titular e que ele teria que trabalhar bastante para reconquistar seu espaço.
— Olha pelo lado bom Princesa, você já vai descansar e não vai matar a do coração, cada falta que você sofria ela xingava os caras até a vigésima geração. — Marlon Santos brincou, dando um empurrão em com o ombro e deixando a médica, que estava do outro lado do vestiário, vermelha de vergonha.
O time todo riu da gracinha de Marlon e não segurou a pontinha de satisfação que cresceu em seu peito ao saber que ela ainda se importava com ele e ficava nervosa vendo-o jogar, como quando eles namoravam. Com esse pensamento, ele foi tomar banho e trocar de roupa para acompanhar o restante da partida do banco de reservas.
— Parabéns , você tá evoluindo bastante a cada partida e eu tô muito feliz com o seu desempenho. — abraçou-o e sorriu sincera, pois ela também deu o seu máximo dia e noite para acelerar a recuperação do camisa 12.
— Eu que tenho que agradecer, sem você nada disso seria possível. — apertou o abraço e fez um carinho nos cabelos da médica.
Philippe e Arthur assistiam a cena mas preferiram não falar nada, eles sabiam que essa reaproximação era importante para os dois, que claramente ainda eram apaixonados um pelo outro. Já de volta a campo, se sentou no lugar antes ocupado por Rakitić, ao lado de Coutinho. Vez ou outra ele se pegava olhando para e pensando no quanto queria reconquistá-la. Apesar dela estar ficando com León, todos sabiam que não era nada sério, então ainda tinha esperanças.
O domínio do Barcelona sob o Sevilla era notório, no decorrer da partida Philippe entrou no lugar de Arthur e aos 78 minutos Dembélé acertou um chute lindíssimo, virando o placar a favor do time catalão. Quase nos acréscimos o juiz marcou um pênalti a favor do Sevilla, porém Ter Stegen defendeu, garantindo a vitória do Barcelona.
Lionel Messi, agora capitão do time, recebeu a taça e foi comemorar com os companheiros. Todos tiraram as fotos oficiais que certamente seriam capa dos jornais esportivos da Espanha e as famílias entraram em campo para festejar o título com os jogadores.
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— Que presente de aniversário, hein? — parabenizou Arthur, que abraçou a médica e girou-a no ar. — Você merece muito mais, tenho muito orgulho de você.
Ela se lembrava perfeitamente de quando ele jogava na escolinha do Goiás e decidiu tentar a carreira, por que ser jogador era realmente o que ele queria. De lá ele se mudou para o Rio Grande do Sul e ganhou reconhecimento mundial defendendo a camisa do Grêmio, o que motivou a sua contratação pelo Barcelona. Após tantas dificuldades e abdicações, para era muito gratificante ver os sonhos de seu amigo de infância se realizando.
— Tô tão feliz, ... Obrigado, de verdade. — O loiro agradeceu emocionado, aquele era um momento único para ele.
Luís Suárez, que quase não gostava de farra (imagina se gostasse!), chegou puxando Arthur para a comemoração e ficou observando a alegria dos garotos. Enquanto isso, aproveitou para tirar uma foto sozinho com a taça. Aquele era um grande recomeço no clube que ele considerava sua casa.
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Para os jogadores não importava se era pré-temporada, La Liga, amistoso, Copa del Rey ou Champions League, o comprometimento e a doação em campo era a mesma e isso era algo muito bonito de se ver.
— Tá fugindo do banho de gelo? — Aine deu risada, despertando a amiga de seus devaneios.
— Também. — A médica assentiu, gargalhando logo em seguida. — Cadê a Maria?
— A essa altura o deve tar jogando ela pra cima. — Aine respondeu e os olhos de imediatamente buscaram pelo camisa 12, que brincava com a menina, ao lado de Thaísa. — E vocês dois? — Ela questionou quando viu a expressão da amiga mudar ao ouvir o nome do jogador.
— Não tem nós dois, amiga... A gente tá convivendo pacificamente pra não deixar isso afetar o nosso trabalho, e quando conversamos é a doutora com o jogador, nada além disso. É complicado, mas não tem o que fazer.
— Sempre tem, cariño. Você precisa tar em paz consigo mesma pra enxergar. — Aine tentou confortar a médica. — Você ainda sente algo por ele? — A morena continuou com as indagações.
Entender o que ainda sentia ou deixava de sentir era algo muito importante, tanto para Aine saber como ajudar a amiga, quanto para , uma vez que verbalizar seus sentimentos ajudava a tornar as coisas mais claras em sua mente.
— Sinto. Sinto até demais. Isso me deixa completamente sem norte. — desabafou, soltando um longo suspiro após terminar de falar.
— Às vezes seguir em frente não significa esquecer tudo o que passou. Dar um passo para trás também pode ser um recomeço. Coloca tudo na balança e segue o seu coração. Você sabe qual é a decisão a ser tomada. — A morena abraçou a amiga após aconselhá-la. Era um processo difícil, contudo, necessário.
Aine sabia que aquele assunto ainda era bastante delicado, por isso achou melhor não prolongar a conversa, pelo menos não naquele momento. Era nítido que os dois ainda se gostavam, entretanto, só o tempo poderia dizer se um dia eles voltariam a ser um casal, até por que muitas coisas precisavam ser esclarecidas.
Os jogadores do clube blaugrana não tiveram muitos dias para comemorar, visto que três dias depois foi a disputa do Troféu Joan Gamper, contra a equipe do Boca Juniors. Logo começaria também a La Liga e a Copa del Rey, portanto, o elenco queria estar o mais bem preparado possível para todos os desafios que estavam por vir.
A partida aconteceu no Camp Nou e, logo no início, aos 18 minutos, Malcom abriu o placar. Era o primeiro gol do brasileiro vestindo a camisa do clube blaugrana. Aos 39, Messi ampliou.
Durante o intervalo, Ernesto Valverde trocou boa parte do elenco, com o intuito de dar ritmo de jogo a todos os jogadores. Entre os brasileiros, Philippe Coutinho e Malcom foram titulares no primeiro tempo, já e Arthur entraram na segunda etapa.
Após um passe de Luiz Suárez aos 67 minutos, encobriu o goleiro Andrada e completou o lance, mandando a bola para o fundo da rede. Sem sombra de dúvidas foi o gol mais bonito do jogo, que levantou a torcida e o camisa 12 foi comemorar com Arthur.
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No banco de reservas, comemorou o gol de abraçando Coutinho. A sensação de dever cumprido era altamente satisfatória, ainda mais após lhe lançar um olhar carinhoso, como se agradecesse mais uma vez por tudo que a mulher havia feito por ele durante todo esse tempo.
Como o jogo havia sido no Camp Nou, os jogadores resolveram ir direto do estádio para a casa de Philippe e Aine fazer uma resenha.
Como sempre, os meninos escolheram fazer um churrasco. Esse era o programa favorito dos brasileiros do time, que acabaram contagiando todos os amigos com essa atmosfera alegre e receptiva típica dos países tropicais.
Enquanto Philippe e Malcom se revezavam na churrasqueira, Arthur escolhia as músicas e foi até a cozinha pegar algo para beber.
— . — Aine chamou o jogador, que pegava distraidamente uma cerveja na geladeira e se preparava para voltar para a área externa da casa.
— Tá tudo bem? — O jogador perguntou preocupado.
Como a gravidez da morena estava por volta dos 5 meses, todos os amigos estavam avisados caso ela tivesse algum mal estar e precisasse ir ao médico. Por isso, todos estavam alertas a qualquer chamado dela.
— Relaxa, eu tô bem. — Ela tratou de tranquilizar o jogador. — É que eu encontrei isso nas coisas da e achei que você merecia ler. É só uma cópia, então pode ficar com ela.
— Muito obrigado, Aine. — O camisa 12 agradeceu sincero, dando um abraço apertado e um beijo na testa da mulher. Apesar de todos os pesares, ela era uma das pessoas que mais torcia para que os amigos voltassem a ser um casal.
pegou a folha das mãos de Aine e pensou em colocá-la no bolso para ler assim que chegasse em casa, contudo, a curiosidade falou mais alto. Ao invés de voltar para onde todos estavam, o jogador se sentou na sala, já que não havia ninguém ali, e começou a ler.
"Não vai embora agora não. Não agora que eu tava começando a gostar de você. Não agora que eu, de novo, tinha aberto meu coração pra alguém. Não agora que eu começava a me imaginar gostando de alguém sem pudores ou grandes medos. Não agora que eu estava começando a deixar alguém me enxergar da maneira mais íntima possível. Não vai agora não, por favor. Fica um pouco mais. Fica aqui. É tão bom ter você por perto.
Não vai embora não. Deixa eu continuar sonhando que dessa vez ninguém vai me machucar. Que dessa vez ninguém vai injetar no meu coração todas as expectativas do mundo e depois fugir. Como sempre fizeram. Não vai embora não. Não leva embora contigo toda a minha parte que estava calma e serena. Que não tinha preocupação se, de novo, colocariam meu coração em segundo plano. Minhas intenções pra escanteio. Minha devoção no limbo. Faz isso comigo não. Tô te pedindo. Não me deixa aqui no escuro sem ter como enxergar. Você foi tanta coisa pra mim. E agora tá indo embora. Do nada. Levando todos os sentimentos bons do meu peito. Você abriu meu coração e agora ele está vazio.
Não vai embora não. Eu queria te contar todos os meus segredos. Que me escondo atrás dessa casca imensa porque já fui muito ferida. Eu queria te contar que naquele dia de domingo eu fiquei com vergonha de falar e você correr. Eu falo demais quando me sinto livre. Mas cortaram minha liberdade tantas e tantas vezes. Que com você eu tentei ser mais amena. Menos complexa. Menos agitada. Não vai não. Eu não te mostrei todas as minhas tatuagens. Não te levei aos meus lugares favoritos dessa cidade. Não te contei que às vezes fecho os olhos e desejo estar bem em frente ao mar, com braços abertos e a esperança gigantesca.
Queria te contar tanta coisa que agora não faz mais sentido. Porque você tá indo tão rápido quanto chegou. Quanto tempo demora pra gente se apaixonar por alguém? Eu sempre fui de fazer cálculos racionais pra tentar entender em quanto tempo meu coração se apaixonava pelas pessoas, mas por você eu nem sei onde começou tudo isso. Onde começou essa vontade maior do que tudo. Mas nada disso faz sentido. Não vai não. Eu tinha tanta memória pra contar e você dar risada.
Eu queria andar contigo pelas ruas e rir da sua risada e olhar bem nos seus olhos e dizer que vai passar. Não vai não. Não agora. Não agora que eu estava começando a me entregar pro amor. Não agora que eu estava começando a ser menos dureza e mais humanidade." *
usava a escrita como maneira de extravasar os sentimentos e, ainda que aquela fosse uma cópia, a letra da médica e algumas manchas causadas por lágrimas que ela não conseguiu controlar eram nítidas no papel. Aquilo fez com que o coração de doesse ainda mais, sabendo que ele havia sido o causador de todo aquele sofrimento.
O jogador queria ser esse porto seguro para . Que ela confiasse novamente nele. Que se abrisse com ele. Que se sentisse amada por ele. Que ela dividisse com ele cada momento do seu dia, ainda que fossem as coisas mais simples.
Todos esses acontecimentos serviram para mostrar para que ela era o seu grande amor. E ele esperaria o tempo que fosse necessário para reconquistar a médica.
Os amigos estranharam o sumiço de e de , então Arthur acabou indo procurar os dois. Ele encontrou sentada na escada, completamente distraída.
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— Posso saber o que você tá fazendo aqui, escondidinha? — Arthur indagou se sentando ao lado da loira.
— Tava conversando com a Luísa. — sorriu, mostrando ao amigo que estava tudo bem.
— Ela anda bastante sumida, né?! — O jogador deu um gole na garrafa de cerveja que trazia consigo.
— Muito! — A médica concordou imediatamente. — Inclusive falei que ela deveria estar aqui.
Luísa estava se dedicando ao máximo para conquistar seu espaço como estilista. Ela já havia ganhado um bom reconhecimento pelo seu trabalho, mas ainda tinha um longo caminho a percorrer. E, com isso, vinha também o sacrifício, visto que ela precisava abrir mão de momentos com os amigos inúmeras vezes.
— E o Matheusinho era muito afim dela, a gente zoava ele pra caralho. — Arthur riu, lembrando dessa fase da adolescência deles.
— Ainda é. — corrigiu. — Mas eu acho que algum dia pode rolar alguma coisa se os dois tiverem solteiros. A Luísa nega mas no fundo acho que ela gosta disso tudo.
— Parece que vocês têm isso em comum. — Arthur jogou verde. — Ficam negando as evidências...
— Não sei do que você tá falando. — se fez de desentendida, mas sabia que o amigo estava se referindo ao .
— Não é possível, a gente te manda procurar a e ao invés de voltar lá pra fora, tu resolve ficar aqui dentro também. — Malcom deu um tapa nas costas de Arthur, assim que encontrou ele e sentados na escada.
— Vocês me amam demais, não posso sumir por um segundinho sequer. — A loira riu, beijando a bochecha de Malcom e os três seguiram para onde os amigos estavam.
Depois de ler a carta entregue por Aine, também voltou para a área externa da casa. Entretanto, o camisa 12 ficou bem mais quieto. Mesmo brincando com Philippe, Arthur e Malcom, em comemoração à vitória do time e ao seu gol, ele realmente ficou pensativo. Até percebeu.
— Gente, acabou o limão e eu queria fazer mais caipirinha. — Letícia, esposa de Malcom, reclamou.
— O foi quem bebeu menos, pode ir no mercadinho aqui perto comprar. São só 5 minutos a pé. — Aine indicou uma solução.
— Eu não confio no pra escolher nada. — Malcom respondeu imediatamente, fazendo com que todos caíssem na gargalhada. — Foi mal aí Princesa, mas é a verdade.
— Vocês são uns filhos da puta mesmo, hein?! — tentou se manter sério, mas nem ele conseguiu não rir.
— A podia ir. Ela é a pessoa que mais entende de culinária aqui. — Arthur sugeriu como quem não quer nada, entrando na onda dos amigos.
— São só limões, Arthur. — contestou, entendendo o que o amigo estava tentando fazer.
— Vão logo, vai que a Letícia tá grávida e o bebê vai nascer com cara de caipirinha. — Malcom tentou incentivar os amigos.
Era nítida a forma com que todos queriam que e se reaproximassem.
— Se a Letícia tivesse grávida ela não poderia beber caipirinha, seu imbecil. — Philippe jogou um cubo de gelo em Malcom, e todos riram novamente.
Ainda hesitante, recebeu um olhar terno de Aine, indicando que ela deveria ir. Não havia nada a perder, além de que eles ficariam, no máximo, uns 20 minutos sozinhos.
— Vamos? — levantou da cadeira em que estava sentado próximo à piscina, chamando a loira. Ele também não estava muito confortável com aquela situação, no entanto, queria muito que aceitasse.
— Vamos. — Ela respondeu, seguindo o jogador até a porta.
instintivamente colocou as mãos nos bolsos de seu casaco, escondendo que elas começavam a suar frio em decorrência do nervosismo que lhe atingia. É só uma simples caminhada até o mercadinho, ela repetia para si mesma, tentando se acalmar.
Será que aquele era o primeiro passo, ao qual seus amigos tanto se referiam?
* Texto originalmente retirado do Instagram do “Textos cruéis demais para serem lidos rapidamente”, @textoscrueisdemais.
VEINTICINCO
Y me robaste un beso que aun no piensas devolverme
Me sentía volando, me iba escapando
Cuando menos pensaba, ya me estabas abrazando
Y sigue así, no pares ya
Te has convertido en una enfermedad
Y sigue así, así, no más
Que mientras más te acercas
Más aumentas mi ansiedad
(Clandestino - Shakira part. Maluma)
{Agosto, 2018}
A música latina que ressoava por todos os cantos da Carpe Diem Lounge Club contagiava a todos. As pessoas bebiam, dançavam e se divertiam como se não houvesse amanhã.
Entre elas, resolveu se dar uma noite de descanso mental. Uma noite em que ela não se preocuparia com absolutamente nada, só deixaria aquela batida agradável percorrer seu corpo e o álcool da bebida circular em suas veias.
A loira vestia um look all black, com cropped e calça de cintura alta e botas de salto. O destaque se dava pelo contraste com o tom de seus cabelos, além da maquiagem bem iluminada e um marcante batom vermelho.
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Nenhum de seus amigos se opôs à escolha da médica, muito pelo contrário, todos concordavam que ela precisava extravasar pelo menos uma vez. Contudo, a preocupação deles era com o estado que ela sairia de lá.
— Você não acha que tá na hora de parar um pouco e beber uma água? — João advertiu a loira, segurando a taça que o barman havia acabado de colocar na frente dela.
— Parar? — gargalhou. — A noite tá só começando, meu bem.
piscou teatralmente para o fisioterapeuta e voltou para a pista de dança, se equilibrando sob as botas de salto e levando consigo a taça de Fairy Floss Martini, que se destacava por ter algodão-doce como um dos ingredientes.
João retornou para o lounge onde estavam Philippe, Aine, Malcom, Letícia e . Além dos brasileiros, também estavam presentes Nelson Semedo, Marlene, Sergi Roberto, Coral e Clement Lenglet.
Enquanto isso, Arthur foi até a pista de dança e logo sorriu ao notar a presença do amigo.
— Resolveu beber até esquecer seu nome, foi? — Arthur brincou ao se aproximar da médica, relembrando das festas que eles frequentavam quando se encontravam em sua cidade natal.
— Só cala a boca e dança comigo. — puxou o mais novo, colando seu corpo ao dele assim que os primeiros acordes de "Clandestino" se fizeram audíveis.
— Arthur... — chamou com a voz arrastada, aproximando-se ainda mais do jogador e deixando a distância entre as bocas dos dois mínima.
— , não faz isso. — O jogador interviu, percebendo o que a médica iria fazer.
— Por quê? — Ela questionou, tendo um quê de inocência em sua voz, ainda sem entender o motivo de Arthur ter recuado.
— Por que você é uma bêbada inconsequente. — Ele riu, brincando com o estado de . — Esqueceu que eu te conheço desde que nasci?
Arthur era um cara absurdamente incrível, que apesar da pouca idade tinha maturidade de sobra. Além de tudo ele era lindo, aqueles olhos azuis eram capazes de fazer qualquer mulher se apaixonar instantaneamente. Todavia, a relação entre ele e era de amizade, ou melhor, irmandade.
Como o jogador tem a mesma idade de Matheus, o irmão mais novo da médica e eles cresceram juntos, a proximidade se encarregou de criar esse laço. sempre tratou-o como irmão e Arthur sempre viu na loira a figura de uma irmã mais velha, na qual ele podia confiar de olhos fechados, que se sentia à vontade para conversar sobre tudo, e ainda lhe dava conselhos quando ele precisava.
Dessa forma, não seria uma noite de bebedeira que mexeria com tudo isso. Não por que Arthur estava com foco total na sua carreira, em fazer diferença no time. Não por que a pessoa que realmente queria beijar por todo o resto de sua vida estava do outro lado da pista de dança, observando cada movimento dela naquela noite.
— Desculpa, eu... — pareceu cair em si, notando a besteira que ela estava prestes a fazer.
— Não foi nada. — Arthur a confortou, visto que realmente não tinha sido nada. — Vem, vamos pra casa.
O jogador segurou na mão de e a conduziu até o lounge onde os amigos estavam, para que ambos pudessem se despedir antes de sair da casa noturna.
— Talarico morre cedo, viu Arthur... — Philippe advertiu o amigo rindo, visto que todos notavam a proximidade e o possível clima entre o camisa 8 e Maria Julia.
— Não sou louco de mexer com a mulher dos outros não. — O loiro respondeu e os amigos não conseguiram conter a risada. — Só vou levar ela em casa.
— Tá cedo, irmão. Fica mais um pouco. — Malcom pediu, visto que a noite tava bem divertida.
Os momentos de folga eram raros, portanto, aproveitavam o máximo que podiam. Ainda mais sabendo que só retornariam à sede do clube na tarde do dia seguinte, realizando um trabalho leve de musculação.
— Pode ficar Arthur, eu tô bem pra ir de uber. É sério. — falou, tentando convencer o amigo a continuar aproveitando aquela noite.
— Você não vai sozinha, tá tarde. — Arthur contestou a ideia. Jamais deixaria a amiga só, ainda mais depois de ter bebido tanto.
— Se você quiser eu te levo, seu prédio é caminho para a minha casa. — se ofereceu despretensiosamente, visto que realmente não desviaria seu trajeto se levasse .
— Não vou te atrapalhar mesmo? — Ela questionou.
— Não, eu realmente já tava indo.
— Obrigado, irmão. — Arthur trocou um olhar sincero de agradecimento com o moreno, sabendo que a amiga estava em boas mãos.
e se despediram do restante dos amigos e ela o seguiu silenciosamente até o estacionamento, enquanto pegava as chaves no bolso e destravava seu carro.
— Não é melhor a gente ir de uber? — Ela sugeriu, levemente confusa.
— Eu não bebi nada essa noite, ao contrário de você. Parecia que o mundo iria acabar em garrafas de Chandon e algodão doce cor de rosa. — Ele brincou, tentando quebrar o clima tenso que se formava toda vez que os dois estavam sozinhos.
— Você não precisa beber para ser um perigo no trânsito, causador de acidentes. — respondeu, se ajeitando no banco do passageiro e tirando os saltos, que à aquela altura já causavam um leve desconforto em seus pés, sentindo instantaneamente o alívio ao ficar descalça.
riu ao relembrar a forma que o chamou no dia em que eles se conheceram. Uma situação um tanto quanto cômica, que rendeu inúmeras piadas no vestiário do Barcelona. Quem diria que um interesse mútuo surgiria depois de toda aquela birra. E que um acontecimento tão simples mudaria completamente o curso da vida dos dois.
— Pensei que você tivesse me desculpado depois das flores, o cartão e os chocolates. — O jogador franziu o cenho, sustentando o olhar que dirigiu à médica ao dar ênfase à última palavra.
Ele se lembrou também de quantas vezes agradeceu a existência dos doces, por devolverem a calma à . O efeito que a glicose causava no corpo dela era algo que, definitivamente, deveria ser estudado.
— Desculpei, mas não esqueci. — respondeu simplesmente e os dois puderam sentir como aquelas quatro palavras carregavam um peso a mais.
Novamente, o silêncio tomou conta do carro. Os dois pareceram se abster por um momento, cada um na companhia de seus próprios pensamentos. Todavia, eles sabiam que não tinha que ser assim.
— Sinto sua falta. — disse baixo, porém foi o suficiente para que ouvisse.
— Eu também. — A loira confessou, soltando um longo suspiro em seguida.
Mais silêncio.
— Janta lá em casa qualquer dia desses. — O jogador a convidou, tentando soar casual. Mas, por dentro, seu peito parecia uma escola de samba, temendo por alguma negativa da parte de .
— Desde quando você sabe cozinhar, ? — Ela não conteve uma risada. Talvez fosse o álcool em suas veias.
— Você ainda não sabe muitas coisas sobre mim, corazón. — O camisa 12 respondeu e dessa vez foi se deixou levar pelas lembranças.
Mais precisamente, a primeira noite em que eles dormiram juntos, no sofá da casa de Philippe e Aine. De quando eles começaram a se aproximar. De quando tudo era novidade. De quando a leveza era a sensação que predominava. Mesmo depois de tanto tempo, ela tinha total consciência de que ainda haviam coisas sobre das quais ela não sabia.
E por Deus, como ela queria saber. Como ela queria descobrir cada nuance daquele homem. Fisicamente e internamente. Cada mínima célula do seu corpo ansiava por isso.
— Eu aceito. — respondeu sem rodeios. Se pensasse demais acabaria mudando de ideia.
— Aceita? — O jogador indagou, confuso. Tava bom demais para ser verdade.
— Aceito. Só preciso resolver uma coisa antes.
— León, a gente precisa conversar. — falou de uma vez, assim que o cardiologista atendeu o celular.
— Aconteceu alguma coisa? — León estranhou um pouco o tom de na ligação.
— Não, só... — A médica fez uma pequena pausa. — Posso passar no seu consultório mais tarde, quando sair do treino? — Ela pediu e o espanhol entendeu que ela não queria falar sobre o tal assunto por
— Tudo bem, ficarei te esperando. Beijos! — Ele se despediu, retornando ao trabalho logo em seguida.
O restante do dia se estendeu preguiçosamente, enquanto se revezava entre analisar os dados dos últimos testes realizados com os jogadores e fazer as alterações necessárias no planejamento de treinos de cada um. A médica agradeceu aos céus por todos os avanços tecnológicos daquela área, que facilitavam e muito seu trabalho como fisiologista. No caminho da Ciudad Desportiva Joan Gamper até o Hospital Quirón, a loira começou a refletir.
Depois da conversa com Aine na final da Supercopa da Espanha, percebeu que não fazia mais sentido o envolvimento dela com Léon. Ainda que gostasse de estar com o cardiologista, ela não queria simplesmente ficar por ficar. Estar com alguém era muito mais do que isso e, infelizmente, ela não estava com ele por inteiro.
A última pessoa com quem ela esteve por inteiro foi... .
O motivo das batidas descompassadas do seu coração nunca esteve tão perto e, ao mesmo tempo, tão longe. De quem era a culpa? Talvez fosse dos dois. Ou ainda, de nenhum deles. Era dificílimo falar sobre.
Era evidente a forma que todos tentavam ajudar nessa reaproximação entre ela e . Isso ficou ainda mais nítido no dia da resenha na casa do Philippe e na folga dos jogadores, em que eles foram à uma casa noturna. Ainda havia um pouco de receio de ambos, contudo, aos poucos os assuntos começavam a fluir mais entre eles.
Por isso, precisava esclarecer algumas coisas.
— Confesso que fiquei curioso quando você me ligou... Eu fiz alguma coisa que te deixou chateada? — León falou assim que a médica entrou em seu consultório e os dois se sentaram lado a lado em um sofá que havia no local.
Ele era um cara excepcional e, justamente por isso, não queria magoá-lo de maneira alguma. Léon merecia que ela fosse sincera.
— Não, de jeito nenhum... — negou imediatamente. — É só que as coisas ficaram diferentes depois que a Martina voltou e...
— Olha, ... — O cardiologista tentou argumentar, entretanto, foi interrompido por .
A ex noiva de León havia voltado de Israel e, assim que chegou em Barcelona, o procurou. Contudo, em nenhum momento León escondeu isso de , inclusive, se abrindo com a médica e contando que aquilo reacendeu sentimentos que ele jurava estarem guardados há muito tempo.
— Calma, deixa eu falar primeiro. Nós dois viemos de relacionamentos complicados, términos traumáticos, passamos por muita coisa. Ter te conhecido foi uma das melhores coisas que me aconteceu nos últimos tempos, você nem imagina o quanto a sua presença me faz bem, mas eu acho que a gente funciona melhor como amigos. Eu pude te conhecer melhor, saber dos seus projetos, seus medos, e vi o cara fantástico que você é. Mas eu também sei que a Martina mexe demais com você... Ela é o amor da sua vida, o brilho nos seus olhos diz tudo.
Martina Verdasco era uma cirurgiã geral renomada na Espanha, que deixou o cargo de chefe da cirurgia de um hospital catalão para se dedicar a uma missão em Israel, na qual os médicos e voluntários cuidavam das vítimas da guerra civil que o país vivia. Entre as inúmeras coisas que ela precisou deixar para trás, o relacionamento com León foi uma delas, visto que ela ficaria fora por tempo indeterminado e os dois não conseguiram chegar a um consenso.
No entanto, dois anos depois, Martina estava de volta e mais radiante do que nunca. Ela pareceu ter reencontrado seu norte, a paixão pela profissão, e estava disposta a reconquistar tudo. Disposta a reconquistar o seu grande amor.
Léon ficou alguns segundos em silêncio, absorvendo o que havia sido dito por . E ela tinha total razão. Ainda que ele e se gostassem, ambos sabiam que gostar não era suficiente, que queriam e precisavam de algo mais profundo. Algo que, infelizmente, não podiam oferecer um ao outro.
— Agora eu vejo que ter passado por tudo isso me trouxe coisas boas, voltar pra Barcelona depois de tanto tempo me fez amadurecer muito e bom, te conhecer foi maravilhoso, ganhei uma amiga que eu quero levar pra sempre. — O cardiologista se pronunciou, entendendo que aquilo seria realmente melhor para os dois.
— Sem contar que eu também não me sinto preparada pra me envolver com alguém agora, sabe... Preciso esquecer tudo isso pra parar de procurar o em outros caras, por que eu sei que não vou encontrar. Cada pessoa é única, isso não é justo comigo mesma nem com os outros. Me sinto tão mal por isso, León... — Os olhos de se encheram de lágrimas e a voz dela falhou momentaneamente.
— Ei, você não precisa me pedir desculpas... — León envolveu em um abraço apertado, afagando os cabelos loiros com carinho e sentindo o pranto dela umedecer a camisa que ele usava. — Você e o precisam conversar, nena. No dia do acidente eu percebi o quanto vocês são importantes um pro outro, o seu cuidado e dedicação na recuperação dele... Não me entenda mal, eu jamais questionaria o seu trabalho como médica, mas é nítido o quanto você ainda gosta dele. O é um cara de muita sorte de ter alguém como você e, de coração, espero que vocês sejam muito felizes.
— Quem vê você falando desse jeito pensa que eu e o voltamos. — riu entre as lágrimas, sem muito humor.
— Ainda não, mas acho que vão voltar. É questão de tempo.
— Agora você tem uma bola de cristal também, pra adivinhar meu futuro? — León entregou uma caixa de lenços de papel para , que secou os olhos ainda marejados.
— Como você mesma disse, o brilho nos seus olhos diz tudo. Por mais que eu e a Martina não tenhamos terminado brigando, acho válido ouvir o que ela tem a dizer. Também tem muita coisa que eu só entendi com o tempo e que eu preciso falar. Ela tá diferente, mais forte, decidida. Talvez essa conversa seja o que a gente precisa para seguir em frente, seja juntos ou separados. Só que isso não altera em nada tudo o que eu sinto e o carinho que eu sempre terei por ela. Por isso que você e o também precisam se dar essa chance. As coisas mudaram muito nos últimos quatro meses.
Léon tocou em um ponto importantíssimo: no quanto as coisas haviam mudado. É inegável que não era mais aquela mulher recém-chegada em Barcelona, muito menos era o mesmo cara despreocupado de sempre. Ambos achavam que o foco de suas vidas estava na parte profissional, contudo, faltava alguma coisa. E, querendo ou não, ela sabia o que era.
— Parece que eu não consigo esconder nada de você mesmo, né? — A loira concluiu, tomando um gole de água na tentativa de reestabelecer sua calma.
— Você é muito transparente, . E isso não é algo ruim, pelo contrário, por que é possível ver a verdade em tudo o que você faz. Dá pra ver que você ainda tá magoada com essa história toda, mas com certeza o tem algo a dizer e vale a pena você ouvir. Pensa nisso. — León segurou delicadamente o rosto de e lhe depositou um beijo na testa.
Os dois ficaram ali mais algum tempo, conversando banalidades como os bons amigos que se tornaram nos últimos meses. Posteriormente, León foi para casa e fez o mesmo.
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A loira permaneceu na companhia de seus pensamentos, chegando a uma conclusão depois de um bom tempo olhando as estrelas do alto do prédio em que morava.
Amar , definitivamente, era algo surpreendente a cada instante. A sensação poderia ser comparada à andar em uma montanha russa de olhos vendados. O frio na barriga era constante, mas a sensação de liberdade quando o vento batia em seu rosto fazia tudo valer a pena.
Entretanto, como as melhores coisas da vida, durou por pouco tempo. Perdê-lo do nada e não entender o motivo foi desesperador. E apesar de todos os pesares, no fim do dia, era nos braços dele que ela queria repousar.
Esse é o real motivo pelo qual aceitou o convite de . Se ainda havia alguma chance de eles voltarem a ser eles, ela não queria carregar consigo a culpa de não ter tentado novamente.
VEINTISEIS
For me it happens all the time
It's a quarter after one
I'm all alone and I need you now
Said I wouldn't call
But I lost all control and I need you now
And I don't know how I can do without
I just need you now
(Need you now - Lady Antebellum)
agradeceu mentalmente por precisar permanecer no Centro Desportivo Joan Gamper apenas durante a parte da manhã.
Naquela noite, a médica não conseguiu pegar no sono. A ansiedade acerca de encontrar no dia seguinte era grande e, com isso, inúmeros pensamentos começaram a rondar sua mente.
Não era possível que somente ela estava certa e todos os seus amigos estavam errados em lhe dizer que deveria dar uma nova chance a . Precisava dar o braço a torcer, pois realmente era ela quem estava errada.
Não fazia mais sentido fugir dos seus sentimentos, uma vez que nenhum outro homem era capaz de provocar nela os efeitos que provocava. Só de pensar nele, o coração dela acelerava.
Assim que terminou de preencher uns relatórios, estava livre para ir para casa almoçar com Bruna e Luísa e passar o restante da tarde na companhia das amigas.
As três estavam no quarto de maratonando Cake Boss no Discovery Home&Health e comendo brigadeiro, quando o celular de tocou.
— Oi, . — falou tímida, assim que atendeu a ligação, vendo o nome do camisa 12 na tela do aparelho.
— Oi, ! — Pelo tom de voz do jogador, a loira pode perceber que ele sorria. — Você me ligou mais cedo? Eu tava na academia e acabei não percebendo, desculpa.
— Não tem problema, eu só queria saber se o nosso jantar de hoje tá mesmo de pé... — Ela falou em um tom baixo, enquanto Luísa e Bruna a encaravam, nitidamente prestando atenção no conteúdo da conversa. As duas, consequentemente, ficaram surpresas.
— Tá sim, estarei te esperando. — O jogador confirmou, já adiantando alguns preparos para o jantar.
— Então, tá bom, mais tarde eu tô aí. Beijos! — se despediu.
— Beijos, até mais tarde. — respondeu e a ligação foi encerrada.
Se dissesse que estava tranquila era mentira. Não sabia o que o queria tanto falar com ela no jantar que estava marcado para aquela noite. Contudo, a curiosidade de escutá-lo falava mais alto.
— Como assim você tem um fucking encontro com o hoje e não contou nada pra gente? — Bruna gritou, indignada, andando de um lado para o outro no quarto de .
— Porque não é um encontro. — MariaJúlia deu de ombros.
— Nem a Aine sabia? — Luísa questionou, porque sabia que Aine incentivava muito a volta de e , além de estar mais por dentro dos acontecimentos, uma vez que Philippe sempre comentava alguma coisa com ela.
— Eu não falei pra ninguém, ok? — levantou as mãos em sinal de rendição. — Só se o tiver dito pra alguém, tipo o quarteto de fofoqueiros, vulgo Neymar, Philippe, Arthur e João.
A médica não comentou com as amigas anteriormente porque sabia qual seria a reação delas e não queria gerar expectativas. Entretanto, não podia negar que estava um pouco mexida com a situação.
— Imagina se fosse um encontro... — A atriz contestou, exasperada. — Por que você não tá surtando? Porque eu tô surtando! — Ela perguntou diretamente para a médica.
— Confesso que eu passei a semana toda ignorando isso pra não surtar. — confessou, soltando uma risadinha. — Isso tudo é, no mínimo, estranho pra mim.
— A gente entende, amiga. — Luísa respondeu, compreensiva. — E você, dona Bruna, respira pelo amor de Deus! Desse jeito a vai acabar ficando nervosa de verdade.
— Desculpa, é que meu otp tá respirando por aparelhos e eu não tô sabendo lidar com essa situação. — Bruna respondeu, fazendo as amigas gargalharem.
— Que tal se, ao invés de surtar, vocês me ajudarem a escolher uma roupa? — sugeriu, sentindo um leve friozinho na barriga.
A sensação era análoga a de um primeiro encontro: um misto de ansiedade, nervosismo e, apesar de não saber muito o que esperar, o desejo de que tudo dê certo.
— O que você acha desse? — Luísa pegou um vestido longo verde escuro, com um decote profundo.
— Muito exagerado. — balançou a cabeça, desaprovando a escolha. — Vai ser na casa dele mesmo, nada muito formal.
— E esse? — Bruna mostrou um vestido listrado de tricô, que marcava bem a cintura.
— Hm... Acho que não. — Ainda não era o que a loira procurava.
Depois de mais algumas tentativas, Luísa e Bruna trocaram olhares cúmplices, visto que encontraram o look perfeito para o encontro da amiga.
— , esse vai ficar incrível. — Bruna sorriu, segurando o cabide com um vestido preto de alcinhas de tecido leve.
— Com esse kimono e um salto, o não vai resistir. — Luísa soltou um sorrisinho travesso.
— Vocês têm certeza que não vai ficar demais? — questionou, ainda um pouco receosa.
— Quer que eu ligue pro e pergunte qual o dress code? — A atriz provocou, arqueando a sobrancelha.
— Você não tem jeito mesmo hein, Marquezine? — A médica riu, balançando a cabeça negativamente. — Ah, e eu vou fingir que não sei que vocês duas escolheram essa roupa porque preto é a cor preferida do .
Mais umas vez, as outras duas trocaram olhares cúmplices e gargalharam, empurrando para o banheiro afim de que ela tomasse banho para começar a se arrumar.
Bruna e Luísa ajudaram MariaJúlia com todos os detalhes, cabelo, maquiagem, acessórios, tudo mesmo. Depois de muitas músicas no Spotify e mais risadas ainda, a loira ficou pronta e dirigiu até a casa de para que chegasse no horário marcado.
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Às 20h em ponto, a mulher estava na porta do condomínio do jogador, cumprimentou o porteiro, que já não via a algum tempo, e logo tocou o interfone da casa dele.
— Boa noite! — sorriu, assim que abriu a porta.
— Boa noite, ! — Ele a cumprimentou com um beijo na bochecha. — Você tá linda. Como sempre.
— Obrigada, você também. — A loira respondeu, com as bochechas coradas em virtude do elogio.
No momento em que ela entrou, olhou ao seu redor e se surpreendeu ao encontrar tudo como estava antes do fim do relacionamento. sempre que podia vinha a Barcelona, então os dois revezavam entre a casa dele e o apartamento dela.
O jogador estava usando o perfume que ela lhe deu no aniversário de namoro, na TV tocava o dvd "Na Praia 2" de Matheus e Kauan, que ele sabia que era um dos preferidos dela.
sentou na cadeira de frente para a bancada em que ele estava cozinhando e começou a viajar nas lembranças. Aquele lugar tinha uma atmosfera muito marcante, portanto, foi inevitável relembrar tantos momentos vividos ali.
— ? — chamou-a, vendo que a loira tinha se distraído.
— ? — Ele chamou mais uma vez.
— , você tá me ouvindo? — estalou os dedos diante do rosto da mulher.
— Oi, tô sim. — A loira respondeu na terceira tentativa do jogador. — Desculpa, eu tava só pensando um pouco...
— Sem problemas. — sorriu. — Você quer beber o quê? Vinho, cerveja, gin...?
— Pode ser um vinho. — respondeu e serviu duas taças, logo entregando-a uma delas.
— O cheiro tá ótimo. — Ela se referiu ao jantar, após um breve silêncio se estabelecer entre os dois.
A médica reparava em cada detalhe, cada gesto do jogador. O sabor do Pinot Noir servido por era mais um gatilho para todas as recordações que envolviam aquele lugar e no quanto o ex casal tinha vivido momentos bons ali.
— Já tá quase pronto, só mais uns dois minutos. — avisou.
— Vou arrumar a mesa então... — levantou e seguiu em direção aos armários da cozinha. — As coisas estão no mesmo lugar?
Tudo naquela casa era familiar para . Quando estava de folga, ela costumava passar mais tempo ali do que em seu próprio apartamento.
— Tão sim, mas não precisa, pode deixar que eu arrumo.
— Para, né, ?! Não custa nada. — deu de ombros e foi pegar os sousplats, mas eles estavam em uma prateleira que ela não alcançava. Mesmo estando de salto, precisou se esticar.
— Quer ajuda? — perguntou, notando que ela estava com certa dificuldade.
— Não precisa, eu consigo. — A médica continuou tentando.
— Tem certeza? — riu e a loira revirou os olhos. Ele se aproximou e a segurou pela cintura, levantando o corpo de e fazendo com que ela alcançasse.
— Obrigada. Não lembrava que essa prateleira era tão alta. — falou, assim que ele a colocou no chão.
— Você que é pequena mesmo. — Ele gargalhou e a mulher lhe deu um tapa nas costas.
— Ridículo. — Ela fingiu estar brava, mas acabou rindo também.
nunca perdia uma oportunidade sequer de jogar em sua cara o quanto ela era pequena. Ela sempre o repreendia ou devolvia com alguma provocação, mas a verdade era que adorava este fato quando ser pequena a fazia se aninhar perfeitamente entre os braços fortes do moreno, fazendo com que ela se sentisse protegida. Talvez essa seja uma das coisas que ela mais sentiu falta desde aquela ligação que mudou completamente os seus planos.
— Vamos comer logo, antes que eu apanhe de verdade. — falou e foi servir o jantar.
Os dois jantaram em meio a uma conversa leve, sobre assuntos aleatórios, até que decidiu comentar sobre a comida, que estava realmente divina.
— Essa é a melhor paella que eu já comi na minha vida, sério...
— É receita da minha mãe, faz sucesso com a família inteira. — O jogador sorriu.
era um cara muito ligado à família, por isso, aproveitava ao máximo os momentos em que todos conseguiam se reunir e desfrutar da presença uns dos outros.
— E você ligou pra Valéria, pra ela te ensinar? — A loira indagou, visto que o ex namorado não costumava se arriscar muito na cozinha.
— Nossa, obrigada pela confiança em mim. — fingiu estar magoado. — Mas sim, eu liguei pra minha mãe. Ela e a Thaísa me ajudaram.
— Queria muito comer mais, só que eu não consigo. — sorriu e soltou um suspiro logo em seguida.
— Mas eu nem peguei a sobremesa ainda... — contestou, bebendo mais um gole de vinho.
— Você tá querendo só me deixar obesa ou me matar mesmo? — deu uma sonora gargalhada.
— Nenhum dos dois. — O camisa 12 riu da cara que a mulher havia feito. — Então a gente espera um pouco.
Os dois continuaram bebendo e falando sobre os mais diversos assuntos, até que a conversa acabou chegando no término do namoro.
— Provavelmente você já deve saber que eu passei um tempo saindo pra farra todo dia. Chegava de ressaca nos treinos, até levei uma bronca do técnico porque meu rendimento caiu consideravelmente. — começou a contar e a escutar atenta. — Quando percebi a burrada que eu tinha feito, fiquei louco, nem consegui voltar pra Barcelona. No início, eu não queria aceitar mas sabia que a culpa era minha. Depois do acidente e daquela nossa conversa, que não foi muito boa, as coisas ficaram mais claras na minha mente e eu precisava te pedir desculpas, de verdade. Acho que eu subestimei o que eu sentia por nós dois. Fui incompreensivo, egoísta e acabei te magoando muito. Me desculpa mesmo...
Sinceramente, não sabia o que esperava ouvir quando aceitou ir àquele jantar mas, com certeza, essa atitude de a pegou de surpresa. Tudo bem que os dois voltaram a se falar de forma decente, sem brigas, no entanto, nunca tinham tocado nesse assunto. Ela ficou um tempo calada processando o que tinha ouvido, mas resolveu falar também, talvez incentivada pelo álcool que corria no seu sangue.
— Foi muito difícil pra mim aceitar que você tinha ido embora. Passei muito tempo tentando entender o que tinha feito você tomar essa decisão. Depois eu já não tinha mais nenhuma certeza e precisava de um tempo pra me encontrar, por isso eu não atendi suas ligações e te evitava o máximo possível. Eu tava com raiva, claro, mas logo a raiva passou e percebi que isso me fez amadurecer. O dia que você chegou no hospital todo machucado me fez surtar. Fiquei completamente desesperada e vi que, diante de algumas situações, nossos problemas são insignificantes. Nesse meio tempo, eu me envolvi com uma pessoa que, não posso negar, me fez feliz e me mostrou as coisas por uma outra perspectiva. Ele era um cara perfeito pra mim, do tipo "pra casar", só tinha um problema: ele não era você. E não precisa me pedir desculpas, ao longo desse tempo nós dois erramos muito...
Outro momento de silêncio se instalou entre os dois. As palavras de atingiram em cheio mais uma vez. Era nítido que ela ainda o amava. Entretanto, às vezes apenas o amor não é suficiente para sustentar um relacionamento e o jogador temia que esse fosse o caso deles.
A verdade é que sentia falta do aroma de Hypnose, fragrância realmente hipnotizante da Lancôme, que era a marca registrada dela. Sentia falta do som da risada dela preenchendo o ambiente quando ele soltava alguma piadinha infame. Sentia falta das palavras de incentivo que ela lhe dirigia antes de qualquer partida e do jeito que ela sabia consolá-lo como ninguém após uma derrota.
Sentia falta de chamá-la de corazón ou de mi amor, e de como ela reclamava quando ele usava o sotaque espanhol para persuadi-la. Sentia falta dela cantando no chuveiro ou quando cozinhava algo para os dois. Sentia falta dos beijos carinhosos de bom dia e da forma como ela arranhava as suas costas quando eles faziam amor.
Por mais que tentasse, ainda não sabia lidar com a ausência dela em sua vida. Nem queria aprender.
— Vocês chegaram a namorar? — Ele perguntou, enquanto ainda digeria todas aquelas informações.
Apesar de ficar sabendo de muita coisas por meio dos amigos, a curiosidade falava mais alto em saber o que tinha feito durante o tempo em que eles ficaram separados.
— Não, nós nos tornamos amigos e depois começamos a ficar. Não chegou a ser nada sério. Inicialmente, ele até queria mas eu ainda não tava preparada, aí a Martina voltou da missão em Israel e o Léon ficou muito mexido, ela é o grande amor da vida dele. — Ela respondeu naturalmente.
— A gente queria que tudo fosse perfeito e acabou não dando certo... Mas quem sabe o amor nos dá mais uma chance, né?! — deu um sorrisos leve.
— Quem sabe... — deixou no ar. — Vamos comer a sobremesa? — A médica achou melhor mudar de assunto.
— Uai, mas você não acabou de dizer que eu queria te engordar, que não sei mais o quê... - provocou, pois sabia melhor do que ninguém que doces eram o ponto fraco dela.
— Cala a boca e vai pegar logo! — deu risada e empurrou , que foi até a cozinha e trouxe jack on ice, uma sobremesa com sorvete e whisky Jack Daniel's.
— Na verdade, descobri que a sua intenção é me deixar bêbada. — falou, depois de comer a segunda taça de sobremesa.
— Então, vamos aumentar essa dose. — O jogador pegou uma garrafa de tequila, sal, limão, dois copos e colocou em cima da mesa.
— Isso foi um desafio, ? — questionou, levantando uma sobrancelha.
— Entenda como quiser. — Ele entrou na brincadeira e os dois começaram a beber.
— Chega. — suspirou pesadamente, assustando . — Eu não consigo mais fazer isso.
— Ei... Tá tudo bem? — perguntou preocupado.
A noite dos dois estava aparentemente indo tão bem que o jogador nem percebeu se fez algo que deixou a médica incomodada. Ele acabou sendo tomado pela angústia de não saber o que se passava na cabeça de naquele instante.
— A questão é justamente essa, não tá tudo bem. Não adianta a gente fingir. Não dá pra gente ficar o tempo todo pensando em como agir, no que vai falar... Nós dois não somos assim, não um com o outro.
— E agora, o que a gente faz? — Ele questionou, realmente sem saber como agir.
— Só me escuta, por favor. — A loira fechou os olhos momentaneamente, criando coragem para falar.
decidiu abrir seu coração. Se ela ficasse esperando o momento certo, talvez ele nunca chegasse. Portanto, era hora de transformar aquele momento no ideal e dizer tudo o que ela estava sentindo.
— Eu sei que falo demais, penso demais e que, muitas vezes, deixo de viver inúmeras coisas por medo de arriscar. Quando vim para a Espanha, nem passava pela minha cabeça que eu iria encontrar alguém e, mais do que isso, me encontrar. Madri sempre foi a cidade dos meus sonhos, mas foi Barcelona que me deu você de presente. Apesar de todos os pesares, você foi a melhor coisa que me aconteceu, . — Ela sorriu, com os olhos marejados. — Nos últimos tempos eu pensei muito e me bateu um desespero em imaginar que eu podia te perder pra sempre por causa do meu orgulho idiota. Fui meio incompreensiva e demorei demais pra perceber que só você é capaz de me fazer transbordar. Então, se você ainda tiver disposto a tentar...
As lágrimas corriam livremente pelo rosto de enquanto ela falava, externalizando todo o turbilhão de sensações que lhe invadia. Já para , faltaram palavras que descrevessem aquele momento. Tudo o que ele mais queria ouvir da boca de tinha acabado de ser dito e ele parecia não acreditar. Sua reação foi abraçá-la o mais forte que conseguiu, sentindo os batimentos extremamente rápidos do coração da médica. Àquela altura, o coração dele também estava do mesmo jeito.
— Eu te amo tanto, ... — O choro de se intensificou e a confissão da mulher saiu entre soluços, enquanto ela afundava o rosto no pescoço do jogador, umedecendo a camiseta que ele vestia.
— Shhh... Já passou. — fez carinho nos cabelos da mulher, na tentativa de acalmá-la. — Olha pra mim.
O jogador levantou o rosto de , segurando delicadamente em seu queixo. Ela respirou fundo e voltou toda sua atenção para .
— Eu te amo muito, corazón... E nada nesse mundo vai ser capaz de nos afastar assim de novo.
Imediatamente, colou seus lábios aos de . O beijo começou acelerado, cheio de saudade, tentando recuperar os meses que eles ficaram separados. Aos poucos, o ritmo foi diminuindo, com as mãos redescobrindo cada centímetro do corpo um do outro e apreciando cada segundo daquele momento. Tudo entre os dois era único: o olhar, o cheiro, o gosto, o toque, o desejo, o carinho, a paixão, o arrepio, a sintonia.
As diferenças entre eles tornavam as coisas ainda mais especiais. jogava no Barcelona, (apesar de trabalhar no clube blaugrana e ter criado um carinho imenso por todos lá) desde pequena gostava do Real Madrid. Ele torcia pelo Flamengo, ela, Fluminense. Ele preferia preto, ela, branco. Ele adorava salgado, ela, doce. Talvez a cumplicidade deles morasse nesses pequenos detalhes, fazendo com que o amor dos dois fosse, realmente, inefável.
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VEINTISIETE
Se ve que lo trabaja eres motivación
Le pedí que me ayude con una misión
Que me llene entera de satisfacción
A mí me gusta cuando baja downtown
Le pido que se quede ahí enviciao'
Me dice: baby, sueno interesao'
Si quieres ven y quédate otro round
(Downtown - Anitta feat. J Balvin)
{Octubre, 2018}
e Luísa estavam exaustas. As duas tinham acabado de finalizar uma corrida matinal pela orla da cidade, mais precisamente no calçadão da Platja San Sebastià. Naquele dia, o time teria apenas uma atividade na academia, portanto, recebeu folga.
Sentadas em uma das mesas de um dos quiosques locais e tomando água de coco, elas tentavam normalizar os batimentos cardíacos e recuperar o fôlego, enquanto conversavam sobre assuntos aleatórios.
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— Amiga, tenho duas coisas pra te contar. — Luísa interrompeu a conversa sobre banalidades, evidenciando que o que ela tinha para falar era algo mais sério.
— São boas ou ruins? — indagou, um pouco receosa com o rumo que aquilo poderia tomar.
— Uma depende do ponto de vista, a outra é boa. — A morena fez uma pequena pausa. — A primeira é que eu e o Santiago terminamos.
— Sério? Como foi? — indagou com certo pesar na voz.
Há algum tempo, as duas tinham conversado sobre esse assunto, quando e ainda estavam afastados, e Luísa comentou que as coisas não vinham dando certo com o engenheiro.
— Foi tranquilo, sem brigas. Nós dois achamos que seria melhor terminar logo, não tinha muito mais o que fazer. Acho que foi um alívio, sabe, a gente tava preocupado em não magoar um ao outro, mas já tinha deixado de ser um casal faz tempo.
Luísa acreditava que nada acontecia por acaso, portanto, seu relacionamento com Santiago não seria diferente. Apesar de não terem ficado tanto tempo juntos, foram meses de muito aprendizado, de crescimento, que fizeram a estilista se tornar uma pessoa melhor. Infelizmente, chegou em um ponto em que eles não estavam mais dando certo como casal, contudo, ela sabia que tinha um amigo muito especial com quem poderia contar em todos os momentos.
— Você sabe que eu sempre estarei do seu lado, independente de qualquer coisa, né? — A médica abraçou a amiga bem forte e fez carinho nos cabelos dela.
— Sei sim, e vou precisar bastante. — Luísa respirou fundo. — A outra notícia é que eu vou voltar pro Brasil.
— Como assim, Lu? As coisas não estavam indo bem aqui, na Stradivarius?
O questionamento feito por foi devido à estilista estar ganhando um reconhecimento cada vez maior no universo da moda com o trabalho na grife espanhola, assim, não fazia sentido as coisas não irem bem.
— Estavam sim, sou muito grata por tudo que eles fizeram por mim e pelo salto que o meu trabalho deu durante o tempo em que estive lá. É que eu recebi uma proposta pra ser uma das editoras-chefes da Vogue Brasil, eles querem renovar o perfil e o público da revista, e escolheram um trio de jovens estilistas com experiência em jornalismo para isso.
— Isso é maravilhoso, Lu! Tudo bem que eu vou morrer de saudade, mas não é todo mundo que tem a melhor amiga editora-chefe da Vogue. Cada dia eu sinto mais orgulho de você. E a gente precisa comemorar. — foi enfática. Ela estava muito feliz com o crescimento profissional da amiga.
As duas se abraçaram novamente e resolveram que aquilo merecia uma comemoração entre os amigos, algo mais íntimo, no apartamento dela e de mesmo.
— Levanta, nós temos uma festinha pra organizar. — deu um leve empurrão na amiga, para que as duas fossem até o carro.
Luísa e seguiram para o supermercado, a fim de comprar tudo o que fosse necessário para receber os amigos. Já em casa, dedicaram a tarde aos preparos e à decoração do ambiente. Quando tudo estava pronto, as duas foram tomar banho e se arrumar para a comemoração da noite.
A animação era garantida quando aquela turma se reunia, ainda mais porque nunca faltavam comidas, bebidas, música e bom humor de todo mundo.
— Faltou coragem pra dizer que não, bebi, liguei, parei no seu colchão... — Arthur cantava, empolgado, enquanto filmava para postar nos stories do Instagram.
— Tá lembrando dos chifres que você já levou, Arthur? — Letícia brincou com o loiro. — Temos que comemorar com a Luísa, isso sim.
— Tá doida?! — Ele gargalhou. — Nem precisa ter levado chifre pra sofrer escutando Marília Mendonça.
— O que a gente já bebeu em show dela lá em Goiânia não tá escrito. — também riu, lembrando das festas na cidade natal dela, de Luísa e Arthur.
— Depois o sem limites sou eu — João reclamou, lembrando dos momentos que os amigos pegavam no seu pé quando eles saíam.
— Ah, mas você é sem limites sim. — confirmou e deu um sorrisinho irônico para o fisioterapeuta.
— Concordo plenamente com a Letícia, temos que ficar em alto astral. E o bom é que você vai poder continuar com os desfiles, que é uma coisa que você adora né, Lu? — Aine completou, bebendo um gole do seu delicioso milkshake sabor ovomaltine com calda extra de chocolate. Desejo de grávida do dia.
O nascimento de Esmeralda estava previsto para dezembro e, com o passar do tempo, Aine vinha tendo cada vez mais desejos. Até o momento, ela não havia pedido nada muito esquisito, contudo, Philippe e os amigos a mimavam da melhor forma possível.
— Um desfile! É isso! — Malcom falou antes que Luísa pudesse responder à Aine.
— Por que será que eu sinto que vem merda das grandes por aí? — balançou a cabeça negativamente, visto que as ideias do camisa 14 eram de caráter bem duvidoso.
— Pô, Princesa, assim você parte o meu coração... — Ele fingiu estar afetado. — Só acho que a gente podia fazer um desfile em homenagem à Luísa
— Com que roupas...? — Philippe indagou.
— As da Luísa e da , é claro. As duas têm closets imensos — Malcom respondeu como se fosse óbvio.
— Confessa que isso tudo é só vontade de se vestir de mulher — Arthur provocou o mais novo.
— Eu adorei a ideia — Luísa interrompeu a discussão dos garotos. — Mas, se estragarem alguma coisa, eu mato vocês.
A moda sempre esteve muito presente na vida de Luísa e ela tinha muito cuidado com cada peça de roupa do seu closet, independente da marca e se havia ou não sido criação dela. Não chegava a ser ciúmes, era apenas zelo mesmo.
— Relaxa, gata. Tenho certeza de que esse vai ser o melhor desfile que você já viu — Malcom concluiu, brincalhão, dando um beijo na testa de Luísa logo em seguida.
— Acho que a nossa próxima comemoração vai ser da canonização da santa Letícia, porque só ela pra aguentar o Malcom. — Coutinho revirou os olhos, fazendo todo mundo rir.
Em resposta, o camisa 14 jogou um cubo de gelo, que antes estava no baldinho em cima da bancada da varanda, em Philippe, que o pegou e arremessou de volta em Malcom.
— Podemos escolher os dois melhores, aí os perdedores pagam alguma coisa para os vencedores — Aine sugeriu. — No caso, quem escolhe é a Luísa porque ela é especialista e vai ser imparcial.
— Pode ser uma viagem pra uma ilha paradisíaca, tipo Mykonos? — indagou.
A loira se referia a uma das mais belas paisagens da Grécia, um verdadeiro paraíso que conciliava muito bem o todo o romantismo envolvido com a agitação da vida noturna.
— Tinha algo mais barato não? — Foi a vez de Malcom reclamar, questionando a sugestão de .
— Agora eu quero ganhar esse trem só pra poder viajar de graça. — João se empolgou com a ideia dada por Aine e .
Apesar da resistência inicial, todos toparam participar do tal desfile, incentivados também pelo álcool que corria em suas respectivas veias. Obviamente, o foco total estava no prêmio. Cerca de meia hora depois, anunciou que todos estavam prontos e a trilha sonora escolhida pelos garotos foi Ocean Drive, de Duke Dumont.
A explosão de gargalhadas das quatro mulheres foi inevitável assim que eles apareceram na ponta da escada do apartamento duplex. Elas não sabiam dizer o que era mais engraçado entre as combinações improváveis, as roupas que não fechavam completamente, estolas de plumas, lenços, óculos e todos os acessórios possíveis e imagináveis.
Contudo, o ápice foi Malcom e João tentando se equilibrar nas sandálias de salto que, diga-se de passagem, eram minúsculas para os pés dos dois.
— Vai negar que o pretinho aqui tá sensacional, hein?! — Malcom deu uma voltinha, enquanto os cinco formavam uma fila lado a lado e de frente para a estilista.
— Cara, tá muito difícil — Luísa respondeu, secando as lágrimas dos cantos dos olhos. Ela e as amigas riram tanto, ao ponto que choraram.
— Eu tô passando mal... — buscou um copo d'água a fim de tentar se acalmar, pois estava quase ficando sem ar.
— Fala logo, Lu — Philippe pediu, apreensivo.
Jogadores de futebol eram extremamente competitivos. Não importava se eram partidas oficiais, jogos de baralho ou uma simples brincadeira como essa. Ainda que muitos negassem, para eles o importante era ganhar. Sempre.
— Ok, vou anunciar. Os vencedores foram... — Luísa fez suspense. — Malcom e .
— Aeeee, porra! — Os dois correram em direção ao outro e saltaram, batendo o peito, como os jogadores de basquete da NBA faziam ao comemorar um ponto importante em uma partida.
— Eu também quero ir pra Mykonos. Desejo de grávida — Aine brincou, acariciando levemente sua barriga, onde Esmeralda crescia cada vez mais.
— Vamos organizar pra ir todo mundo então, a gente chama a Bruna e o Neymar, a Carol, o Marquinhos e a Dudinha... — sugeriu.
— Ótima ideia. Você tá intimada pra ir com a gente, Lu, nem pensa em voltar pro Brasil antes disso — Aine completou, tentando soar autoritária.
— Essa gravidinha tá abusada, hein?! — A estilista riu, abraçando a amiga de lado.
— Você vai mesmo ousar não fazer uma vontade minha? — a morena questionou com indignação na voz, contudo, o tom era jocoso.
— Deus me livre contrariar uma grávida! — Luísa levantou as mãos em sinal de rendição. — Farei o sacrifício de acompanhar vocês nessa viagem — ela brincou.
— Vamos dançar? — Letícia chamou e colocou pra tocar "Downtown", parceria de Anitta e J Balvin.
— É por isso que eu te adoro! — Luísa aumentou o volume da música e todos se animaram ao escutar os primeiros acordes.
começou a fazer graça, dançando e tentando seduzir . A cena era maravilhosa, levando em consideração que ele já estava bem alto em decorrência da quantidade de cerveja ingerida naquela noite.
— Meus olhos tão sangrando. — João balançou a cabeça negativamente, rindo da performance do amigo, recebendo um carinhoso dedo do meio como resposta.
— Senta aqui, que agora eu vou dançar pra você — a loira sussurrou no ouvido do namorado, empurrando-o em seguida em uma das cadeiras dispostas na varanda.
aproveitou toda a sensualidade latina característica da batida da música e fez uma lap dance discreta para , afinal, os dois não estavam sozinhos. Contudo, os amigos não perderiam a oportunidade de pegar no pé do casal.
— Lá em cima tem muitos quartos, vocês dois podem subir e escolher qualquer um pra fazerem essa festinha particular — Arthur provocou, apontando para a escada do duplex da amiga.
— No meu quarto não, misericórdia — Luísa implorou, gargalhando logo em seguida.
— Vem, mi amor. — pegou na mão de , fingindo que ia realmente para um quarto com o namorado.
— Posso dormir na sua casa hoje? — Luísa perguntou para Aine, fazendo com que todos rissem. — Pode ser no quarto da Maria, tia Lulu conta até historinha se precisar.
— Vocês são muito ridículos, sabia? — A médica deu risada, bebendo um gole de sua garrafa de cerveja.
— Nem sei por que a Luísa tá reclamando, ela dorme igual uma pedra e nunca ouve nada... — deu de ombros.
O camisa 12 lembrou que, antes de começar a namorar, durante algumas semanas, ele e se encontraram escondido. Muitos desses encontros ocorreram no apartamento da médica enquanto Luísa estava em casa, contudo, a estilista só descobriu quando lhe contou.
— Então é só a Lu que não escuta, porque da última vez que eu fiquei no quarto ao lado do quarto da Princesa no hotel...
— Para de mentir, Arthur! Aquele dia a gente tava jogando FIFA. — tentou se defender.
— Jogando FIFA e não chamou a gente? Isso é imperdoável. — Malcom fingiu estar indignado.
— Quando a gente jogar, ela vai ser do meu time, só isso que eu tenho a dizer. — deu um selinho na namorada.
O jogador recordou o quanto era boa no ps4, tanto que ela já havia ganhado dele muitas vezes.
— Também quero ser do time da — Arthur se pronunciou.
— Vocês tão de caô ou ela é boa assim mesmo? — O camisa 14 indagou, curioso.
— Aguarde e verás. — riu e eles decidiram que jogariam um pouco. Logo dividiram os times e o espírito de competitividade reacendeu instantaneamente.
A brincadeira adentrou a madrugada, causando inúmeras discussões e gargalhadas de todo mundo. Como já tava bem tarde, todos se despediram e resolveram ir para suas respectivas casas para descansar.
Depois de tomarem um bom banho de banheira, e deitaram na cama da médica e ficaram conversando até que o sono chegasse.
— Cariño... — chamou , que já tinha os olhos fechados àquela hora.
— O que foi, amor? — Ela virou de lado, ficando de frente para o namorado, a fim de olhá-lo nos olhos.
conhecia muito bem aquele tom usado por . Significava que ele queria muito pedir alguma coisa.
— Vamos dar um primo ou prima pro Gabriel? — pediu, fazendo biquinho, enterrando a cabeça no pescoço da namorada e enchendo-a de beijos no pescoço. Logo inverteu as posições, ficando por cima de e deixando um selinho nos lábios dele.
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Não era a primeira vez que o jogador tocava nesse assunto, afinal, ele queria muito construir uma família. Ver de perto esse processo na vida de Thiago despertava ainda mais o interesse de .
— Eu ainda tô com o diu, lembra? — A loira se referiu ao dispositivo intrauterino, método contraceptivo que ela já utilizava há alguns anos.
— Então tira — falou como se fosse a coisa mais simples do mundo. A decisão de ter um filho não era algo a ser feita assim, de uma hora para outra.
— Você não acha que tá querendo ir rápido demais? — questionou, analisando qual seria a resposta do jogador.
— , esses meses que eu fiquei sem você foram os piores da minha vida. — se ajeitou na cama, puxando para que ela deitasse em seu peito. — Então, daqui pra frente, eu quero aproveitar cada segundo do seu lado, quero me casar com você, ter filhos com você...
— Eu também quero. — Ela sorriu ao ouvir aquilo, enquanto fazia desenhos aleatórios com as pontas dos dedos no peitoral do jogador. — Só tenha um pouquinho de paciência, tá bom?!
A verdade é que já vinha pensando naquilo também, visto que ser mãe era um desejo antigo dela. De uma coisa, a médica não tinha dúvidas: era o cara ideal para ser o pai dos seus filhos. Com certeza ela ia refletir com ainda mais carinho acerca desse assunto, visto que seria a completa realização de um sonho para os dois.
VEINTIOCHO
O medo e insegurança
Mas não vamos deixar isso crescer
Somos maiores que isso tudo
Bem maiores que isso tudo
Somos maiores que isso tudo
É aqui que eu quero ficar
Eu tô sossegado
Aqui do seu lado
Eu tô sossegado
Aqui do seu lado
É onde eu quero ficar
(Não vou mentir - Lagum)
{Octubre, 2018}
24 de outubro, quarta-feira.
Fase de grupos da UEFA Champions League, Barcelona x Internazionale de Milão.
Seria a primeira vez que enfrentaria seu ex clube e, portanto, havia certa expectativa acerca da sua atuação na partida. Ainda mais porque Lionel Messi estava sem condições de jogo, em decorrência de uma fratura no braço. Sendo assim, foi o escolhido por Ernesto Valverde para substituir o camisa 10 naquela noite.
estava de folga e acompanharia aquela partida do camarote destinado aos familiares e amigos dos jogadores no Camp Nou, na companhia de Aine e Letícia. Assim, João e Enrique, o outro ortopedista do Barcelona, estavam no banco de reservas prontos para dar toda a assistência necessária aos atletas.
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encontrou Mauro Icardi no vestiário antes do jogo e os dois aproveitaram para trocar algumas palavras, visto que até poucos meses atrás eles eram companheiros de equipe.
— Que responsabilidade, hein, Princesa... — Icardi cumprimentou o amigo com um abraço apertado, com sua fala fazendo referência à entrada de na equipe titular.
— Nem fala, o cara é um gênio, mas eu vou tentar, né, irmão?! — respondeu com uma risada.
— Você é foda, sentimos muito a sua falta lá em Milão... — Mauro confessou, sincero. — E a , como que tá? A Wanda vive me cobrando uma visita de vocês à nossa casa — ele questionou sobre a médica.
Apesar do pouco tempo de convivência, e Wanda sempre assistiam aos jogos da Internazionale juntas, os filhos de Wanda e Icardi amavam a brasileira, então elas acabaram ficando próximas.
— Também sinto falta de vocês e da Itália, mas meu coração tá aqui. — O camisa 12 se referiu à cidade catalã e fez uma carinha apaixonada, fazendo Icardi gargalhar, pois o argentino sabia o quanto o amigo amava a médica do Barcelona. — Se eu fizer um gol hoje, vai ser pra ela. E sobre ir à Milão, na primeira oportunidade que as nossas folgas coincidirem, nós iremos, tenho certeza que a vai adorar também.
— Combinado então. E eu espero que a Inter ganhe de 2 a 1. — Icardi piscou para o amigo e em seguida os dois se despediram, visto que os outros jogadores já estavam enfileirados, aguardando para entrar em campo.
Ainda que estivesse acostumado a participar de jogos importantes, ouvir o hino da Champions sempre o deixava arrepiado. Não só ele, como todos os presentes no estádio. Era uma sensação indescritível, que remetia à sua infância e ao seu sonho de se tornar um grande jogador de futebol, assim como seu pai e seu irmão mais velho, visto que os dois eram seus maiores exemplos e jogadores referência em sua posição de atuação. Assim, o camisa 12 estava mais focado do que nunca para aquela partida, uma vez que havia recebido uma oportunidade e tanto de Ernesto Valverde.
Logo no início da partida, o domínio do Barcelona era notório, fazendo com que a equipe blaugrana tivesse mais oportunidades de se aproximar do gol. Aos 32 minutos do primeiro tempo, em uma jogada iniciada por e com assistência de Suárez em um lançamento magistral, o brasileiro abriu o placar da partida, tendo o trabalho apenas de empurrar a bola para o fundo do gol, não dando chances para o goleiro da Internazionale.
Imediatamente, Arthur e Philippe correram para abraçar o amigo, que vinha trabalhando duro para reconquistar o seu espaço no time.
comemorou com os amigos e Philippe apontou para o camarote do estádio, onde assistia à partida junto com Aine e Letícia. O camisa 12 fez um coração em direção à , dedicando o gol para ela, que em resposta jogou um beijo para o jogador. A cena foi vista tanto por todos que estavam presentes no estádio, quanto pelos que assistiam a transmissão pela televisão em todos os lugares do mundo. Era algo aparentemente simples e clichê, mas para os dois significava muito.
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Definitivamente aquilo era um recomeço, visto que era a primeira demonstração pública de que o casal estava junto de novo. Os dois preferiram esperar um pouco, visto que o excesso de exposição não era algo benéfico, ainda mais nesse momento delicado que eles estavam vivendo. Contudo, nada daquilo foi previamente combinado ou sequer conversado, foi uma demonstração espontânea de que pegou completamente de surpresa. Por isso, o sorriso no rosto de era o mais sincero possível.
— Amiga, eu tô tão feliz, vocês merecem tanto... — Aine deu um abraço apertado em .
— O não existe mesmo... — a médica respondeu, ainda em êxtase com toda aquela situação.
— Gol em Champions é outro nível, mi amor! Meu shipp tá mais vivo do que nunca! — Bruna brincou, fazendo as amigas rirem.
— A paixão me pegou, tentei escapar, não consegui, nas grades do meu coração sem querer eu te prendi...
Paulo Henrique, irmão de Arthur e que também era muito amigo de , começou a cantar "Grades do coração" do Grupo Revelação para zoar a médica. Aine e Letícia também entraram na brincadeira, cantando e batendo palmas no ritmo do pagode, chamando atenção de outros familiares e amigos dos jogadores presentes no camarote.
— Tinha que ser você, né, Paulinho?! — repreendeu o amigo, lançando um olhar inquisidor para ele.
— Não dá pra perder a oportunidade de zoar você e a Princesa. — Paulo Henrique deu de ombros. — Mas é muito bom ver vocês juntos de novo, eu já tava cansado do Rafinha bêbado e chorando lá em casa de saudade sua.
Não foi apenas uma nem duas vezes que isso aconteceu, já estava se tornando rotina na vida do meia do Barcelona. Ele sofreu muito durante o término com , tendo Arthur como seu ombro amigo, no qual ele chorou incansavelmente.
— Então, né, tem alguém aqui nesse camarote — Bruna apontou para — que se fazia de durona na frente de todo mundo, mas também tava com o coração despedaçado, sofrendo igual uma condenada escutando Zé Neto e Cristiano.
— Mas vamos combinar uma coisa. — Foi a vez de Letícia se pronunciar. — Agora é engraçado falar sobre isso, só que na época foi tenso pra caramba.
— Nem lembra disso — Aine completou. — O que importa é que agora tá tudo bem e o casal 20 de Barcelona tá mais junto do que nunca.
— Barcelona porém depende, hein?! — Paulo Henrique falou baixinho, brincando com o fato de ser torcedora do Real Madrid.
— Ahhhh, é verdade, esqueci que há uma traidora entre nós. — Aine revirou os olhos.
— Traidora o caralho, musa de Liverpool — devolveu a provocação. — Todo mundo sabe que eu aprendi a gostar de Barcelona, das pessoas do clube, mas sempre fui e sempre serei madridista. Fazer o quê se a gente não manda no coração... — Ela deu de ombros.
— Vou contar uma coisa pra vocês, o amor é cego mesmo, viu, porque tem que ser muito maluca pra se apaixonar pelo ... — Paulo Henrique fez uma pequena pausa. — Se bem que o também é muito corajoso de se meter com você — ele brincou, recebendo um tapa da médica logo em seguida.
— Sou obrigada a concordar. — Bruna colocou mais lenha na fogueira. — São dois insuportáveis juntos.
— Pra você, eu nem vou falar nada, Marquezine. — fuzilou a amiga com o olhar. — E você, Paulinho, vai se fuder! — A loira fingiu estar brava, o que não deu muito certo, pois ela não conseguiu segurar a risada.
— Você sabe que eu te amo, pequena. — PH puxou a amiga para um abraço e lhe deu um beijo carinhoso na testa.
A partida seguiu com domínio do Barcelona, tanto que, em uma jogada na entrada da área, Jordi Alba recebeu a bola de Rakitić e ampliou o placar para os donos da casa, em um belíssimo chute cruzado que não deu chances para o goleiro da equipe italiana.
— Só pra constar, a verdadeira musa de Liverpool é a Larissa. — Aine riu, se referindo à sua grande amiga que era casada com Roberto Firmino, o camisa 9 dos reds.
— Tem certeza que tá tranquilo pra vocês ficar aqui essa noite? — Aine perguntou pela milésima vez.
Aine sempre ficava preocupada quando saía. Tanto por deixar sua filha em casa como pelo medo de estar incomodando quem cuidava dela, entretanto, havia até uma certa disputa para ver quem ficaria com ela. Maria era uma criança adorável e muito querida por todos. Contudo, todos achavam que Aine e Philippe, assim como todo casal com filhos, precisava de vez em quando de um momento a sós para relaxar e descansar um pouco a mente. Ou, pelo menos, tentar.
— Amiga, para com isso. Você sabe que a gente adora ficar com a Maria, podem ir tranquilos aproveitar o jantar de vocês — falou prontamente.
— Tem que aproveitar mesmo, porque quando a Esmeralda nascer, as atenções estarão voltadas pra ela — brincou.
— ! — repreendeu o namorado, fuzilando-o com o olhar.
— Mas é a verdade... — O moreno deu de ombros. — Logo, logo seremos nós com um pinguinho de gente também. — Ele abraçou e lhe deu um selinho.
— Acho que eu vou beber uma água, essa melação toda de vocês me deixou com sede — Philippe zoou os amigos.
— Quem diria que tudo começou aqui, com vocês dois cuidando da Maria? — Aine sorriu, lembrando do dia em que e se aproximaram.
Tinha sido a primeira vez que os dois conversaram de verdade, vendo inclusive que tinham muitas coisas em comum. Demorou um pouquinho para ambos darem o braço a torcer, mas era impossível fugir de um sentimento como esse. Nenhum dos dois havia amado alguém de maneira tão intensa.
— Se da primeira vez deu namoro, eu acho que agora dá casamento, hein? — Philippe jogou verde para ver qual seria a reação dos dois.
— Tomara que sim, né?! — respondeu tímida, com as bochechas extremamente coradas.
— Agora vai, Princesa! — Coutinho continuou, botando pilha. Ele era terrível.
— Mi amor, quer casar comigo?
se ajoelhou, amarrando no dedo de uma fitinha branca de cetim que estava perdida no meio dos brinquedos da pequena Maria.
— Vocês são ridículos! — gargalhou, puxando o namorado e dando um beijo nele.
— Acho que isso foi um sim — respondeu, convencido.
— Cuidado, viu, amiga, nesse ritmo você chega em casa e tem um casamento surpresa, tipo a Mayra Cardi fez pro Arthur Aguiar. — Até Aine começou a brincar também.
— Nem sonha em fazer um trem desse que eu vou embora e te deixo lá, ouviu, ? — respondeu aos risos. — Quero participar de cada detalhe da preparação do meu casamento.
detestava a ideia de casamento surpresa. E se uma das pessoas ainda não estivesse pronta para dar aquele passo? Num primeiro instante, poderia parecer até "bonitinho", mas, na real, ela achava um pouco de falta de noção.
— Definitivamente foi um sim, irmão. — Philippe deu dois tapinhas nas costas do amigo.
— Não tá na hora do seu jantar, Philippe Coutinho? — a loira indagou, olhando as horas no visor do seu celular.
— Tá me expulsando da minha própria casa? — O camisa 7 colocou a mão no peito teatralmente, fingindo estar ofendido.
— A tem razão e eu já tô ficando com fome — Aine interviu. — Vou querer tortillas de entrada, paella no prato principal, de sobremesa churros com chocolate e... como é mesmo que vocês chamam rabanada?
— Torrijas. — respondeu, rindo. — Acho melhor vocês irem logo, com essa fome da Aine não dá pra brincar.
Philippe e Aine se despediram do casal de amigos e foram comer, visto que os desejos de grávida dela eram levados muito a sério.
Como sempre, ficar com Maria era uma grande festa. Os três brincaram bastante, deu banho na pequena, eles comeram e logo depois Maria dormiu. Enquanto isso, e ficaram na área externa da casa, conversando e observando as estrelas.
Embora não gostasse, aquele ambiente era familiar. Paredes pintadas em um tom de azul bem clarinho, transmitindo serenidade e fugindo do tradicional (e frio) branco.
Ele havia entrado na partida contra o Atlético de Madrid substituindo Sergi Roberto, que saiu de campo com uma lesão na coxa esquerda. Já nos instantes finais da partida, sentiu um incômodo no joelho, mas permaneceu em campo até o último apito do juiz.
fez uma breve avaliação e preferiu ir ao hospital para que o camisa 12 fizesse alguns exames antes dela dar algum parecer.
— Pedi vários exames pra ter certeza... E eu sei que você já deve estar imaginando o que deve ser. — respirou fundo, com o coração em pedaços por ter que dizer aquilo. — O ligamento cruzado anterior do seu joelho rompeu.
Dar aquela notícia doeu muito em . Aquela era a parte difícil do seu trabalho, ainda mais se tratando de alguém que ela amava tanto. precisaria de muita força e paciência para enfrentar mais essa lesão.
— Não acredito que vai começar tudo de novo... — não conseguiu conter as lágrimas ao ouvir o diagnóstico dado por .
— Vocês podem dar licença um minutinho, por favor? — pediu e prontamente os outros médicos presentes no consultório se retiraram, atendendo à solicitação dela.
Toda a equipe multidisciplinar que cuidava do clube estava presente no hospital, visto que prezavam pelo bem estar dos atletas e auxiliariam na decisão de qual a conduta a ser adotada na recuperação do jogador.
— Qualquer coisa me chama, viu?! — João falou para antes de sair, dando um abraço bem apertado na amiga. Logo ele fechou a porta e também saiu, deixando o casal a sós.
— Mi amor... — a loira falou carinhosamente.
se sentou ao lado de na cama em que ele estava deitado, com inúmeros eletrodos colados ao longo de sua perna e, principalmente, no joelho.
— Eu tô tão cansado, cariño...
A confissão de fez com que o choro do jogador se intensificasse imediatamente. Não havia nada mais doloroso para um atleta do que ficar sem jogar. Para o camisa 12, que vinha se machucando constantemente, o sentimento de frustração era ainda maior.
sabia muito bem como seria dali pra frente, afinal, já tinha sofrido a mesma lesão no joelho direito. O histórico do meia era bem complicado, além das rupturas de ligamento cruzado, ele também teve uma lesão no menisco e diversos problemas musculares.
— Eu sei. — A loira assentiu. — Mas a gente vai passar por mais isso juntos, tá bom?!
puxou o namorado para um abraço e deu-lhe um beijo na testa, visto que não havia muito o que dizer naquele momento. Os dois sabiam muito bem o que viria dali para frente: incansáveis baterias de exames, cirurgia, sessões e mais sessões de fisioterapia. Contudo, era necessário enfrentar todas essas etapas para que ele retornasse aos gramados o mais rápido possível.
E, mais uma vez, estaria lá. Para ele e por ele.
VEINTINUEVE
Tudo é tão perfeito e cheira paz
Eu nunca amei ninguém assim
Eu sei que foi feita pra mim
Só do teu lado a emoção
Faz acelerar meu coração
Enfim achei o meu lugar
Agora eu sei o que é amar
(Ainda bem - Thiaguinho)
{Diciembre, 2018}
Liverpool.
Cidade inglesa famosa por ter revelado a icônica banda de rock The Beatles, além de ter sido porto para transatlânticos como o RMS Titanic. Na área esportiva, era palco de um dos clássicos mais antigos do futebol mundial, o Merseyside derby, protagonizado por Liverpool e Everton.
e , assim como diversos amigos do casal, estavam na cidade para o aniversário de Larissa, esposa de Roberto Firmino. O camisa 9 do Liverpool preparou uma festa surpresa para a amada, reunindo pessoas que eram importantes na história dos dois.
O dress code da festa sugeria que todos fossem de branco para celebrar aquela data muito especial. , Luísa, Aine e Maria estavam se arrumando juntas, no quarto da médica.
usava um vestido branco com decote profundo e algumas aplicações de brilho por todo o corpo, sandália dourada de salto e uma clutch com pedrarias.
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— Podemos ir, cariño? — perguntou, entrando no quarto do hotel em que ele e estavam hospedados.
, Philippe e Arthur já estavam prontos e conversavam no lounge próximo ao elevador, ao passo que esperavam as garotas terminarem de se arrumar.
— Cadê sua calça branca? — a loira indagou, ignorando a pergunta anteriormente feita por e analisando o look escolhido pelo jogador assim que colocou os olhos nele.
vestia uma camisa branca, calça azul de alfaiataria com a barra dobrada e, nos pés, um tênis branco.
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— Esqueci de colocar na mala. Não me mata. — deu um selinho na namorada e foi pegar a carteira e o celular, colocando-os no bolso.
— Só não vou brigar porque você fica muito gato nessa calça azul. — deu de ombros, conferindo no espelho se estava tudo certo e encarando por meio do reflexo.
— Você também tá muito gata nesse vestido, mas tenho certeza de que ele ficaria ainda melhor no chão do nosso quarto — sussurrou lascivo no ouvido da médica e ela tentou reprimir uma risada.
— Se vocês quiserem, a gente pode sair pra vocês tentarem apagar esse fogo antes da festa. — Luísa revirou os olhos, se referindo a ela mesma, Aine e Maria, que ainda estavam no quarto.
— E eu vou fingir que não sei que você e o meu irmão passam horas conversando de uns tempos pra cá, viu, Luísa Bernardi? — provocou de volta.
— Como é que é? — Aine parou momentaneamente de se maquiar e direcionou sua atenção para a estilista, curiosa para saber mais sobre o assunto.
— Ela resolveu pegar seu irmão pra criar, foi? — sussurrou para , que reprimiu uma gargalhada.
Uma das alegações de Luísa para não dar uma chance ao publicitário era a diferença de idade entre os dois, entretanto, todos sabiam que era só uma desculpa para esconder a insegurança dela.
— O Matheusinho só tá sendo um bom amigo desde que eu terminei com o Santiago, talvez ele não seja tão criança assim como eu sempre dizia... — Luísa respondeu baixinho, como se tivesse tentando convencer a si própria de que era apenas aquilo mesmo.
O irmão mais novo de sempre foi afim de Luísa, entretanto, a estilista nunca levou a sério, tanto que o assunto sempre era tratado como brincadeira entre os amigos. Matheus levava toda aquela zoação na esportiva, mas sabia que, se tivesse uma chance, não decepcionaria. Claro, isso nunca o impediu de se relacionar com outras mulheres, inclusive, ele namorou por três anos uma estudante de jornalismo. Contudo, com Luísa era diferente, apesar de nunca ter rolado nada entre os dois.
— Tá de caô né, Lu?! Nem você acredita nisso. Ou seria melhor já começar a te chamar de concunhada? — colocou mais lenha na fogueira, só para vê-la ainda mais irritada.
— Olha aqui, ! — A morena ameaçou jogar um travesseiro no jogador, porém foi interrompida pelo barulho da porta do quarto abrindo.
— Tu veio aqui só chamar as meninas ou pra se maquiar também, Princesa? — Philippe entrou no quarto, reclamando da demora e recebendo um dedo do meio como resposta de .
— Nós já estávamos indo, amor — Aine respondeu, enquanto Philippe pegava Maria no colo, que até então estava concentrada na televisão do quarto, onde passava mais um episódio de Masha e o Urso no Cartoon Network.
— Ainda bem que você veio, Arthur, eu não ia aguentar segurar vela sozinha hoje — Luísa resmungou, pegando sua bolsa que estava em cima de um dos criados mudos.
— Competição de quem bebe mais shots? — o loiro sugeriu, rindo.
— Espero que você esteja preparado pra perder. — A resposta da estilista soou como um sim e os dois fizeram um high-five de comemoração.
A decoração da festa toda em branco e dourado estava de tirar o fôlego. Muito parecida com uma de réveillon, mas essa era a intenção de Firmino: comemorar um novo ciclo que se iniciava na vida de Larissa. Ela estava lançando sua marca de roupas, a Lari Firmino Brands, e sua família estava vivendo um momento incrível.
Quando Larissa entrou no local e, quando percebeu que aquela não era uma simples festa e sim a comemoração do seu aniversário, não conseguiu segurar as lágrimas. Ter todos os seus amigos reunidos para celebrar aquele momento era sensacional. Todos cantaram parabéns animadamente para a loira e, como Firmino pensava em tudo, o show para animar todos ficou por conta de Felipe Araújo.
— Queria dizer que foi difícil esconder que eu tava em Liverpool, viu, Lari... — Felipe brincou. — Cheguei ontem e não podia sair do hotel, tirar foto, nadinha.
— Se tivesse namorando, com certeza esse tempo teria sido mais bem aproveitado — Arthur zoou o amigo, que conhecia desde as épocas de barzinho em Goiânia.
— Olha quem fala... — Philippe respondeu, num tom debochado. — Tá pegando nem resfriado e acha que é gente.
— Vamos voltar que hoje é tudo pra Lari e o Firmino pediu pra eu cantar uma música muito especial pra vocês dois. Espaçosa demais. — Felipe retomou a atenção de todos, com a banda iniciando os acordes da música em seguida.
O casal subiu ao palco e começou a dançar a música que Roberto escolheu para homenagear a esposa. Tudo tinha acontecido exatamente daquela maneira, quando o jogador notou, Larissa já era dona do seu coração.
Já tinha muita gente por lá
Aff, tá dando um trabalhão pra organizar
O coração tava cheio, cheio, cheio
Não tinha espaço pra eu me apaixonar
Foi só você me dar um beijo, um dengo, um cheiro
Pra chegar de vez e bagunçar
Não aperta o povo, não
Tem mais gente no meu coração
Mamãe tá num cantinho
Papai, apertadinho
Tem amigo indo parar lá no pulmão
Tem como ser um pouco menos linda?
Tem como eu ser o dono da minha vida?
Tem como não ser assim tão perfeita?
Já tomou meu coração e tá subindo pra cabeça
Espaçosa demais...
Ao final da música, Firmino entregou um buquê para Larissa e a beijou apaixonadamente. Logo, o casal foi recebeu uma salva de palmas de todos os presentes.
— Vamos curtir a festa, né, galera? — Firmino gargalhou, visto que ainda ficava levemente tímido com um microfone nas mãos. — Mas antes, eu e a Lari queremos dividir um pouquinho da nossa felicidade com vocês.
— Meninas, todas vocês aqui na frente por favor, que eu vou jogar o buquê — Larissa chamou as atenções de todos para si.
As amigas acharam aquilo engraçado, mas ninguém se opôs, todas entraram no clima. A loira virou de costas e começou a contagem regressiva para jogar o delicado buquê com peônias brancas e cor-de-rosa bem clarinhas, enquanto suas amigas formaram uma pequena aglomeração para tentar pegar as flores. Entretanto, ao invés de jogá-lo, Larissa o entregou nas mãos de , que também recebeu um microfone de Firmino. O camisa 12 deu dois passos até ficar de frente para , que não entendeu nada do que estava acontecendo, assim como o restante dos convidados da festa.
entregou o buquê para a amada, deu um beijo na testa dela e respirou fundo, buscando em seu íntimo a coragem para falar tudo o que ele vinha ensaiando em frente ao espelho há várias e várias semanas.
— A palavra que resume o nosso relacionamento é obrigado. Obrigado por me fazer te amar mais e mais a cada dia. Obrigado por me fazer sentir vontade de voltar pra casa todos os dias só pra te ver. Obrigado por me ajudar a resolver os meus problemas, sempre me aconselhando e me transmitindo paz de um jeito que só você sabe. Obrigado por você me deixar fazer parte da sua família, que é maravilhosa e me acolheu de uma forma fantástica. Obrigado por me aceitar com todos os meus erros e imperfeições e, mesmo assim, fazer com que eu me sinta amado a todo momento. Obrigado por me fazer querer ser uma pessoa melhor diariamente. Obrigado por me mostrar a vida de uma forma única e conhecer um estado de felicidade que eu nem sabia que existia. Obrigado por tudo. Eu te amo tanto, ... Eu te amo e obrigado caminham juntos entre eu e você, e tudo que eu mais quero é que o nosso amor seja eterno. Fica comigo pra sempre?
Firmino segurou o microfone para ajudar o amigo, enquanto tirou do bolso uma pequena caixinha preta, com letras metalizadas indicando o nome Harry Winston, uma joalheria mundialmente conhecida por seu trabalho impecável em peças com diamantes. Ele se ajoelhou e abriu-a com cuidado, respirando fundo mais uma vez antes de fazer a pergunta que mudaria a sua vida.
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— Corazón, você quer casar comigo?
Todos no salão ficaram extremamente emocionados, não só com o discurso de , mas também com tudo que envolvia o casal. Os dois passaram por momentos bastante difíceis, ficaram separados durante algum tempo, contudo o amor falou mais alto e, naquela noite, estavam dando um passo importantíssimo em suas vidas.
— Sim, mil vezes sim — respondeu entre lágrimas, estendendo a mão trêmula para que colocasse o anel em seu dedo.
Em seguida, puxou-o para um beijo intenso e apaixonado, que foi ovacionado por todos os presentes naquele salão de festas com muitas palmas e gritos.
— Só quem conhece esse casal sabe o quanto um faz o outro transbordar — Felipe começou a falar, chamando a atenção de todos. — Me sinto privilegiado de poder participar desse pedacinho da história de vocês e, como amigo dos dois, eu gostaria de dedicar a esse momento uma música do meu parceiro Thiaguinho, porque ainda bem que vocês se encontraram, né?
Os casais se juntaram e começaram a dançar enquanto Felipe dava sua voz à "Ainda Bem", música composta por Thiaguinho para sua esposa, Fernanda Souza, e que combinava perfeitamente com aquele momento.
Agora sou mais feliz
Igual não tem, me trata bem
Do jeito que eu sempre quis
Lembro, te olhei, me apaixonei
Esqueci o que eu vivi
Me dediquei, tanto lutei pra te ter perto de mim
Ainda bem, ainda bem
Ainda bem, ainda bem
Quantas vezes já falei te amo sem querer
Quantas vezes me enganei tentando achar você
Até pensei não me entregar pra mais ninguém
Ai você vem, e me faz tão bem
Só do teu lado tudo é mais
Tudo é tão perfeito e cheira paz
Eu nunca amei ninguém assim
Eu sei que foi feita pra mim
Só do teu lado a emoção
Faz acelerar meu coração
Enfim achei o meu lugar
Agora eu sei o que é amar
Ainda bem, ainda bem
Ainda bem, ainda bem...
— Acho que eu tô sonhando — confessou baixinho, enquanto ela e dançavam lentamente, com as testas e as pontas dos narizes colados.
Somente os amigos mais próximos ainda estavam na festa, até os familiares de Larissa e Roberto já tinham ido descansar. aproveitava cada segundo daquele momento, inserida em sua bolha de felicidade.
— É só olhar pro anel no seu dedo que você vai saber que é verdade — o camisa 12 brincou. — Eu nunca tive tanta certeza de alguma coisa, como eu tenho de que é com você que eu quero passar o resto da minha vida.
— Eu também, mi amor. Você foi a segunda melhor surpresa que poderia ter me acontecido.
— Segunda? — indagou, em um misto de indignação e divertimento. — Por acaso eu posso saber então, qual foi a melhor coisa que te aconteceu?
— Acha mesmo que só você tem cartas na manga, jogador? — Foi a vez da médica assumir o tom divertido. — Vem cá.
guiou o namorado, agora noivo, até a mesa onde os amigos conversavam animadamente. Aine, que estava atenta aos movimentos do casal, pediu silêncio e entregou uma pequena caixa para a amiga.
— Posso saber o que é que tá acontecendo nessa festa? Uma coisa atrás da outra e eu não tô sabendo de nada — João questionou.
— Cala a boca, garoto, daqui dois minutos você vai descobrir — Marquezine repreendeu o fisioterapeuta.
— Pra você, mi amor. Abre. — entregou o presente ao camisa 12.
, meio desconfiado, abriu a caixinha que continha um macacãozinho branco com o símbolo do Fluminense. O jogador não pôde deixar de soltar uma risada ao ver aquilo, mas parecia não processar ainda o que realmente estava acontecendo. No fundo, estava a foto de uma ultrassom e um teste de gravidez que mostrava em seu visor digital uma informação.
+3
havia pensado muito a respeito do pedido do jogador para que eles tivessem filhos, que a médica decidiu tirar o DIU e tentar. Tanto Aine quanto Carol Cabrino incentivaram muito a amiga e contaram o ponto de vista delas da maternidade, o que aflorou ainda mais a vontade que já tinha. Um mês depois, veio a confirmação da gravidez e ela não poderia estar mais feliz.
— Cariño... Você tá falando sério? — indagou, com os olhos cheios de lágrimas.
— Sim... — A voz de saiu como um sussurro.
imediatamente deu um abraço apertado em sua noiva e a beijou de maneira apaixonada. Os amigos explodiram em gritos de comemoração. Eram muitas notícias boas para um dia só.
FIM
Nota da autora:
Oi meus amores, tudo bem? Apesar de ser fascinada por futebol, é a minha primeira história sobre (e a primeira que envio para o FFOBS também). Me encantei quando passei a acompanhar mais de perto a carreira do Rafinha, então juntei todo esse amor por ele e pelo esporte e o resultado vocês vão acompanhar aqui na Inefable. Espero que vocês se apaixonem assim como eu me apaixonei por esse homem com alma de garoto, que ama a família e que sorri com os olhos e com o coração. Um beijo enorme e não se esqueçam de comentar, a opinião de vocês é importantíssima e me ajuda a melhorar como escritora.
Nota da beta: Que final maravilhoso do jeito que o e a mereciam, e ainda com a esperança de mais história com eles! Parabéns por conquistar todos nós ❤️
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Oi meus amores, tudo bem? Apesar de ser fascinada por futebol, é a minha primeira história sobre (e a primeira que envio para o FFOBS também). Me encantei quando passei a acompanhar mais de perto a carreira do Rafinha, então juntei todo esse amor por ele e pelo esporte e o resultado vocês vão acompanhar aqui na Inefable. Espero que vocês se apaixonem assim como eu me apaixonei por esse homem com alma de garoto, que ama a família e que sorri com os olhos e com o coração. Um beijo enorme e não se esqueçam de comentar, a opinião de vocês é importantíssima e me ajuda a melhorar como escritora.
Nota da beta: Que final maravilhoso do jeito que o e a mereciam, e ainda com a esperança de mais história com eles! Parabéns por conquistar todos nós ❤️
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