Última atualização: 12/02/2021

Capítulo 1

Rua dos Alfeneiros, férias de verão de 1993.
odiava ter que deixar Harry com os Dursley, mesmo que apenas por algumas horas. A antipatia deles por Lily era clara quando ela era viva e bem, essa fora claramente passada para Harry também. Eles não gostavam de ficar com o menino, mas sempre usava a carta de Dumbledore para Petúnia como argumento e surtia o efeito desejado. Odiava ter que ser tão manipuladora nesses momentos, mas já que ali tudo só funcionava a ferro e fogo se fazia necessário.
Eles eram sempre a última opção para ela, como naquela noite em que Hagrid estava viajando para resolver alguns problemas que Dumbledore lhe pedira e Remo estava em Hogwarts acertando os últimos detalhes para começar a trabalhar no começo do ano letivo, ou seja, ela não tinha outra saída.
Ah Remo... estava tão feliz pelo amigo. Ele estava radiante por encontrar um emprego bom depois de tanto tempo procurando, sem contar a segurança que Dumbledore lhe passava em relação a sua condição, o deixando completamente livre de todas as amarras que tinha em si mesmo para seguir em frente.
— Harry? — a mais velha chamou procurando o afilhado pela casa. Parou na sala quando ouviu o barulho da televisão ligada em um noticiário trouxa. Já estava pronta para desligá-la quando sentiu seu sangue congelar.
A imagem no aparelho trouxa mostrava uma figura inconfundível para a Potter, mesmo com o rosto mais magro e os cabelos maiores e emaranhados. As letras estampadas no canto interior da tela pareciam ecoar como gritos em seu subconsciente… Aquilo sempre doía nela. Mesmo que fosse a verdade, e ele realmente fosse um “assassino altamente perigoso”, parte dela parecia nunca acreditar naquilo.
Aquele definitivamente não era seu Almofadinhas, aquele que cresceu com ela e os amigos, aquele que ela aprendeu a tanto amar.
Alertamos nossos telespectadores de que Black fugiu, ele está armado e é extremamente perigoso. Se alguém o avistar deve ligar imediatam…” A voz do apresentador despertou de seus pensamentos e lembranças e a transportou diretamente para o sentimento de pânico.
Ele havia fugido.
Harry corria perigo.
— Oi madrinha, desculpe a demora, eu já estou pronto! — Harry apareceu nas escadas e se deparou com a mulher paralisada olhando para a tela. — Mãe, tá tudo bem?
— Tá… Tá sim. — murmurou ela enquanto balançava a cabeça tentando espantar os pensamentos. — Querido você sabe que eu não queria ter que te deixar com eles não é?
— Sim, eu sei… Tá tudo bem tia. São só algumas horas e a maior parte delas vou estar dormindo. — ele confidenciou fazendo a mulher o acompanhar nas risadas.
— A velha Guida está aí… — a mulher disse com uma expressão clara de desagrado. Eles caminharam pela garagem que separava as casas e ao parar no n° 4 tocou o ombro do sobrinho — Tente não responder as provocações dela ok? Não vale a pena.
— Eu… Vou tentar. — sabia o quanto Petúnia e Valter procuravam motivos para brigar ou implicar com o sobrinho.
— Volto amanhã de manhã. Eu te amo!
— Também te amo mãe! — o menino disse antes de tocar a campainha. A mulher aguardou até que Petúnia abrisse a porta, cumprimentou-a com um aceno sutil de cabeça e voltou para casa para que pudesse ir para o hospital usando a rede de flu.

* * *


O plantão conturbado havia distraído (mesmo que pouco) a cabeça da Potter durante a noite, e ela esperava que o cansaço fosse o suficiente para apagá-la assim que se deitasse. A mulher desaparatou na sala de casa e seguiu até a porta, libertaria o sobrinho da tortura que era ficar com os Dursley e aí sim, tentaria dormir.
tentava se manter agitada sempre que queria evitar de pensar em Black, mas a ideia de Harry estar em perigo estava deixando-a louca. Ela nem gostava de pensar o que faria se o encontrasse antes dos dementadores que o ministro havia colocado em busca dele.
A mulher caminhou até a casa número quatro, e então tocou a campainha.
— O que quer? — disse Valter assim que abriu, estava em um misto de pavor e raiva.
— Como assim o que eu quero? vim buscar o Harry, ora! — respondeu no mesmo tom.
— Até parece que não sabe o que aquele ingrato aprontou. Já sabe que ele não está mais aqui, DEIXE-NOS EM PAZ!
— Como não está mais aqui? É óbvio que não sei, estava no trabalho! — retorquiu ela.
— Depois que aquela aberr… — Valter reformulou a frase depois que notou o olhar furioso que a mulher lançava para ele. — Depois que ele deixou a Guida como um balão ele saiu andando transtornado...
— COMO ASSIM ELE SAIU DAQUI? VOCÊS DEIXARAM UMA CRIANÇA SAIR “ANDANDO” SOZINHA COM UM ASSASSINO A SOLTA?
Completamente irada e preocupada, antes que conseguisse aparatar ali mesmo em qualquer lugar procurando o sobrinho, se deparou com uma coruja vindo em sua direção com uma carta do Ministério, a mulher sentiu as pernas fraquejarem, mas abriu o envelope assustada.

“Prezada Srta. Potter,
Venho por meia desta informar que seu sobrinho encontra-se hospedado no Caldeirão Furado após os acontecimentos dessa noite. Ele se deslocou por meio do Nôitibus após fugir da casa dos tios depois do infeliz acidente com a Sra Guida Dursley, mas tranquilizo a Srta. ao informar que o Departamento de Reversão de Feitiços Acidentais já solucionou o problema, e felizmente não houve danos.
De qualquer forma, iria mesmo sugerir para que os dois viessem. Com a fuga de Black a Srta. e o Sr. Potter correm perigo, e lá terão todo o auxílio e segurança necessários.
Cordialmente,
Cornélio Fudge, Ministro da Magia”


A mulher respirou fundo, aliviada e no caminho de volta para sua casa teve a atenção dispersa ao ouvir o barulho de um arbusto se movimentando. Quando a Potter varreu o local ao seu redor teve certeza que tinha enlouquecido.
Jurava ter visto um cachorro preto, mais precisamente, aquele cachorro preto que ela costumava conhecer tão bem.
Ela balançou a cabeça, como se quisesse acordar de um pesadelo e olhou para o mesmo lugar de antes, encontrando-o vazio.
— Puta que pariu ! Ficar vendo coisas que não existem agora é tudo que você menos precisa pra ficar ainda mais paranoica! — disse a si mesma, enquanto abria a porta da casa de número dez.

Caldeirão Furado, férias de verão de 1993.
— HARRY JAMES POTTER — o garoto abaixou a cabeça sentindo-se extremamente culpado por deixar a tia tão preocupada. — COMO OUSA SAIR SOZINHO PELA NOITE? NÃO PODIA AO MENOS ENVIAR UMA CARTA? VOCÊ TEM NOÇÃO DO QUANTO FIQUEI PREOCUPADA?
— Eu sinto muito mãe… Foi a Guida… Ela começou falando que meu pai era um bêbado desempregado… Depois disse que o problema eram minhas mães. Ela chamou minha mãe de cadela, e te chamou de desmiolada! — o garoto cerrou os punhos só de lembrar.
— Não começa. Isso não é motivo pra você sair por aí sem me avisar! — disse a Potter entredentes, ele sabia que amolecia a madrinha toda vez que a chamava daquela forma, mas ela não parecia mais brava, parecia apavorada. Harry encolheu os ombros e sentiu-se surpreso ao sentir os braços da tia lhe envolvendo em um abraço apertado. Quando se afastaram, ele pôde ver as lágrimas rolando copiosamente pelo rosto da mulher que ainda o segurava pelos ombros. — Eu achei que podia ter te perdido Harry, tem um assassino solto por aí…
— Eu sei… Sirius Black, o Ministro me falou.
— Não vem com essa! Você vai me escutar! — a mais velha bradou interrompendo-o — Esse… Black… Ele é extremamente perigoso, e por um motivo que ainda não posso te contar, você e eu corremos muito perigo. Mais você do que eu, na realidade. Quando cheguei em casa e te procurei, quando o Valter me disse que não estava mais lá… — ela soluçava — Achei que ele podia ter pego você Harry… Você é tudo que tenho Harry, não sei o que faria se te perdesse...
— Mas mãe, por que…
— Você sabe que quando for à hora certa saberá. — ela tentou sorrir enquanto limpava as lágrimas, Harry soube que não conseguiria arrancar mais nenhuma informação da tia.
— Me desculpa mãe.
— Vem aqui. — ela o abraçou novamente — Prometa que nunca mais vai fazer isso, ou que pelo menos me avisará quando sair daqui pra frente.
— Eu prometo! — o mais novo fingiu bater continência fazendo a tia rir um pouco menos preocupada.
O pequeno Potter mal sabia como andavam os pensamentos de sua tia, calma e despreocupada eram duas palavras que não fariam parte da rotina da Potter até que encontrassem Black.



Capítulo 2

Cemitério de Godric’s Hollow, outubro de 1993

document.write(Juliane) ao sobrinho, que ainda estava chateado pela conversa que tiveram no dia anterior.
Harry, como qualquer outra criança, não gostava de receber um “não”, ele podia não entender o ponto da tia, mas privá-lo de ir a Hogsmeade doía nela também. Tudo o que a Potter mais queria era receber cartas e mais cartas do afilhado empolgado contando sobre o que ele achara da cerveja amanteigada do Três Vassouras, ou dos doces da Dedosdemel e todas as outras experiências que ele teria, assim como ela teve em seus anos em Hogwarts. Se sentia péssima, mas sabia que a segurança dele valia mais que qualquer coisa.
O mais novo deu de ombros, indiferente, fazendo com que a tia soltasse um suspiro. Odiava vê-lo triste.
— Tanto faz madrinha…
Os dois caminharam em silêncio, até ouvirem uma voz conhecida.
— Harry! HARRY! — Era Rony Weasley, que acenava freneticamente para o melhor amigo assim como Hermione Granger, ao seu lado. O garoto sorriu animado por ver os amigos e correu até eles, na calçada da Sorveteria Florean Fortescue. sorriu em cumprimento, acenando para as crianças, enquanto observava a empolgação do reencontro.
— Finalmente! — exclamou o ruivo rindo — Estivemos procurando você por toda a manhã! No Caldeirão Furado, na Floreios e Borrões e…
— Comprei o material na semana passada, mas espera, como sabem que estamos no Caldeirão Furado?
— Papai. — respondeu Rony com simplicidade.
— É verdade que você transformou sua tia em um balão? — questionou Hermione e então Rony começou a rir, fazendo com que a garota lhe lançasse um olhar de repreensão. segurou-se para não rir também.
— Não foi intencional, eu juro!
— Não tem graça Rony, Harry poderia ter sido expulso!
Ver que o sobrinho tinha bons amigos era algo reconfortante para , ainda se lembrava perfeitamente do mais novo com medo de não ter nenhum amigo no primeiro ano. E no fim, Harry havia achado bons amigos, algo parecido com o que ela tinha também. Ou, pelo menos, com o que ela achava ter. Mesmo que um dos marotos não fosse inteiramente fiel ao grupo, não podia reclamar dos outros. Seu irmão era também seu melhor amigo, alguém com quem ela podia contar independente de qualquer coisa. Na verdade, ela até tinha muito a reclamar de Rabicho, ao qual ela nunca havia se afeiçoado completamente, mas ela se sentia mal por nunca ter tido muita paciência com ele quando garoto, mesmo sendo um puxa-saco insuportável, ele fora nobre no final de sua vida. E quanto a Remo, simplesmente não sabia o que seria dela sem a ajuda do amigo por todos esses anos.
— Eu só tenho o Perebas, Errol é da família. — disse Rony tirando o rato do bolso, ao despertar a mais velha do transe em que se encontrava. — Quero mandar examiná-lo, acho que o Egito não fez bem a ele…
— Podemos ir à Animais Mágicos, aí você vê algo pro Perebas e Mione compra a coruja, que tal? — sugeriu Harry, que agora sabia de cor todas as lojas que haviam ali.
As crianças concordaram e levantou para pagar os sorvetes que eles haviam pedido, logo eles atravessavam a rua para ir até a loja de criaturas mágicas. A loja era pequena, fedida e podia jurar que se ficasse mais de vinte minutos ali enlouqueceria com a mistura de tantos miados, piados e todo e qualquer barulho de bicho ali. Ela observou o Weasley conversando com a bruxa responsável pela loja.
— Quanto custa? — disse ele se referindo a um tônico que a mulher havia indicado. observou que o garoto parecia ter dificuldade em segurar o rato e procurar pelas moedas nos bolsos cheios, enquanto ainda segurava o tônico.
— Me dê o Perebas enquanto você procura os galeões. — falou, recebendo um sorriso em agradecimento do mais novo que lhe entregou o rato imediatamente. O rato, que antes parecia quase morto devido ao seu estado lastimável, pareceu ter recuperado parte da vitalidade quando colocado nas mãos da Potter. Ele parecia querer fugir, movendo-se de maneira inquieta. — Sossega aí, Perebas, já te devolvo pro seu dono… AI!
Um gato enorme laranja aparecera por ali, avançando violentamente sobre as mãos de . O rato, que já queria fugir antes, se beneficiou do susto da mulher para conseguir o que tanto queria, escorregou como uma barra de sabonete molhado das mãos dela e correu porta a fora.
— NÃO BICHENTO, NÃO! — a bruxa gritou.
— Perebas! — berrou Rony correndo atrás do bicho, com Harry e em seu encalço.
A busca pelo bendito rato durou cerca de dez minutos, quando o encontraram perto de uma lata de lixo. Os três rumaram de volta à loja, para que pudessem pagar o tônico do rato. E então, viram Hermione saindo da mesma, carregando o gato nos braços.
— Você comprou esse monstro? — Rony questionou, inconformado.
— Ele é lindo não é? — dizia a garota, radiante. parou próximo a ela, para analisar o gato, ele tinha uma pelagem laranja espessa e fofa, uma carinha amassada e parecia completamente indefeso sem ter Perebas por perto, afagou a cabecinha do bicho que ronronou em resposta, como se pedisse por mais carinho. Ela sorriu quando uma lembrança breve vagou por sua mente.
— Harry, ele lembra o gato que seus pais tinham. — a mulher chamou o sobrinho, que desviou sua atenção da discussão que os amigos travaram sobre o gato para a madrinha. — O nome dele era Garfie… Não! Garfo… Ah, também não! Pelas barbas de Merlin...
— Garfield? — arriscou Harry rindo da confusão da tia.
— Isso! — exclamou ela, rindo também — Sua mãe gostava dos quadrinhos trouxas, deram a ele esse nome por isso.
Adorava compartilhar todos os detalhes que se lembrava com o mais novo, sentia que aquilo o aproximava dos pais e também aliviava a saudade rotineira no peito dela.

Estação King’s Cross, 1º de setembro de 1993

Depois de alguns dias preso no Caldeirão Furado jogando cartas ou andando pelo Beco Diagonal para namorar a Firebolt com a tia, finalmente havia chegado o dia de Harry voltar para Hogwarts. , Harry, Sr. e Sra Weasley, seus filhos e Hermione foram para a estação com carros que o Ministério havia enviado. Enquanto caminhavam em busca da plataforma, Harry sentia-se incomodado por ter a tia segurando em sua mão e o Sr. Weasley logo atrás, como se fosse um segurança.
Na cabeça da Potter, ela repetia incansavelmente “ele estará seguro em Hogwarts, Dumbledore estará cuidando dele” para tentar se convencer daquilo. Um velho ditado trouxa dizia que uma mentira contada várias vezes acabava se tornando verdade e naquele momento, já nem se sabia mais para o que podia apelar. Merlin, Deus, Morgana, Alá… Só queria que Harry estivesse seguro e que Sirius Black fosse encontrado.
Quando ultrapassam a barreira entre as plataformas nove e dez, Harry e Hermione foram guardar Edwiges e Bichento no bagageiro acompanhados por Arthur, Potter observava de longe quando sentiu um afago no ombro e virou-se, mil vezes mais aliviada por ver o melhor amigo ali, sorrindo pra ela, seus olhos marejaram instantaneamente e ela o tomou em um abraço.
— Ah Remo… Desculpa não conseguir expressar o quanto estou feliz por você, sabe que te desejo todo o sucesso do mundo, mas…
Mas você é mãe. E mães são assim, não ficam em paz quando algo perturba os filhos dela. — Remo dizia com um sorriso gentil — Estarei lá também, Narizinho. Você sabe que eu não deixaria nada acontecer com Harry. Vou te manter atualizada com cartas, ok?
— Eu sei… Você não tem noção do quanto isso me conforta, Aluado, mas é bem o que você disse… Eu sou mãe, paranoias surgem automaticamente na minha cabeça!
O homem riu com gosto.
— Nisso vou ter que discordar, até mesmo antes de Harry você era paranoica.
— Vai a merda, Lupin! — murmurou ela entredentes em tom baixo ao ver que o sobrinho retornava para perto dos dois, animado em ver o tio.
— Remo!
— Como é bom vê-lo Harry. — Lupin dizia radiante, sorriu com a alegria do amigo. — Preparado para me ter como seu professor?
Os dois travaram um breve diálogo, ao qual não deteve-se em prestar atenção. Era algo engraçado de se ver, ao mesmo tempo que ela estava alerta a qualquer barulho ou movimentação estranha, também vivia sempre avoada, tomada por seus próprios pensamentos.
Molly beijou os filhos, Hermione e por fim, Harry, lhe dando algumas recomendações. saiu de seu transe apenas para se despedir dos Weasleys e de Hermione, quando retornou para despedir-se do sobrinho, que conversava com Arthur.
— Diz que mudou de ideia e que assinou a autorização… — disse o mais novo, esperançoso. o olhou de forma pesarosa.
— Já conversamos sobre isso, Harry. É o melhor por agora.
— Eu só queria saber… Por que todos acham que sou idiota e que vou sair procurando alguém que quer me matar? — resmungou o garoto, fazendo menção em dar as costas para a mulher.
— Você sabe que não te acho idiota. Mas não é como se você precisasse sair atrás de Black… Ele está atrás de você. E se não te deixar ir para Hogsmeade é a única opção para te manter seguro, não tem conversa! — ela disse num tom sério, aquele que Harry quase nunca a via usar, e então o chamou com a mão. — Anda, vem cá.
O garoto, mesmo irritado e contrariado, se permitiu ser apertado pela tia em um abraço.
— Sabe que eu não queria ter que fazer isso… Você é minha pessoa favorita no mundo, lembra? — Harry suspirou em resposta, sentindo um beijo sendo deixado no topo de sua cabeça.
— Você também é a minha, mãe.
— Se cuide, por favor. E me mantenha informada! — elevou o tom de voz, quando ele se afastou. O mais novo apenas assentiu, correndo para a locomotiva junto com os amigos.
Pontualmente às 11h, o trem partiu em direção a Hogwarts, deixando uma Potter desnorteada para trás, enquanto era abraçada por Molly Weasley, que entendia e compartilhava, mesmo que bem menos, do pesar da mais nova.


Capítulo 3

Cemitério de Godric’s Hollow, outubro de 1993

Dia 31 de outubro sempre era um dia difícil para os Potters. Embora se lembrasse do irmão e da melhor amiga todos os dias, naquele dia, em especial, era como se a ferida voltasse a sangrar, como se a dor latente se tornasse aguda, vívida. sabia que em Hogwarts o sobrinho se sentia da mesma forma. E não tê-lo ali fazia tudo doer ainda mais.
Na casa número 10 da Rua dos Alfeneiros a rotina do último dia do décimo mês era sempre a mesma há doze anos: pedia folga para que ela e Harry fossem até o túmulo de James e Lily deixar um buquê de lírios brancos, que costumava ser a flor preferida da ruiva. Eles voltavam para casa, assistiam os filmes preferidos de Lily e jogavam Auror, o jogo de tabuleiro preferido de James. À noite, acompanhava Harry por todo o bairro em busca de doces de Halloween e na hora de dormir costumava contar a ele histórias sobre seus pais. Desde que Harry foi para a escola, no entanto, esse dia costumava ser só mais um dia solitário e doloroso para ela.
Mesmo que ainda hospedada no Caldeirão Furado, voltara a trabalhar depois de muita insistência, se tivesse que ficar olhando para as paredes descascadas ou andar pelo Beco Diagonal por mais um dia ela tinha certeza de que surtaria. Na manhã fria daquele dia, ela aproveitou que seu plantão só começaria após o almoço e decidiu fazer sua visita anual ao cemitério de Godric’s Hollow.
Potter seguiu pelo caminho cheio de folhas alaranjadas e caídas por conta do outono inglês, o vento forte ricocheteando seus cabelos e fazendo-a apertar o sobretudo preto sobre si para proteger-se do frio com uma mão, enquanto a outra segurava o buquê de lírios. O céu estava fechado, provavelmente uma chuva forte cairia a qualquer momento.
parou em frente ao túmulo, observando-o silenciosamente por alguns minutos. Um suspiro pesaroso escapou por seus lábios e seus olhos se fecharam, deixando cair as lágrimas que ela tanto prometera a si mesma não derramar. Era inevitável, nunca tinha desejado tanto ter James e Lily por perto. Queria que estivessem ali para Harry, queria que estivessem ali com ela.
Ela abaixou, tirando folha por folha caída na lápide e deixando ali o buquê. Ergueu o polegar, tirando o pó que cobria o nome do irmão e da melhor amiga. Não se sentia confortável para dizer nada, então secou o rosto com a manga do casaco e saiu para um lugar escondido e seguro o suficiente para que pudesse aparatar. Ficar ali parada chorando e pedindo que voltassem não os traria de volta à vida, só tornaria aquilo ainda mais doloroso do que já era. E ela não podia, simplesmente, arriscar ficar ali muito tempo sozinha.

Caldeirão Furado, novembro de 1993

O plantão de doze horas havia sido intenso o suficiente para deixar a Potter completamente ocupada e distraída. Era o que ela costumava fazer com tudo na vida, se manter ocupada para não ter tempo de pensar e sucumbir na preocupação com Harry em Hogwarts, nas memórias envolvendo Black ou sofrer ainda mais com a falta que sentia da família.
Jogou a bolsa que segurava na cama e esticou os braços, sentindo os ossos estralarem e a tensão de seus músculos diminuir sutilmente. Um banho quente e horas de sono fariam o resto do trabalho.
Mas então a mulher foi surpreendida com uma coruja voando em sua direção com um envelope no bico, indicando que ela pegasse. Se tratava de um berrador. engoliu seco antes de segurá-lo nas mãos preocupada e abri-lo.
… — a voz branda porém pesarosa de Lupin se fez presente no quarto, a morena encolheu os ombros, preocupada. Algo havia acontecido. — Preciso que venha para Hogwarts o mais rápido possível. Ao que tudo indica, Sirius esteve por aqui e tentou entrar na comunal da Grifinória arranhando e arruinando o retrato da Mulher Gorda. O ministro virá para uma reunião com Dumbledore amanhã de manhã, achei que deveria saber.
Tomada pela adrenalina e pela raiva, só conseguiu pegar suas malas e aparatou em Hogsmeade. Ninguém a tiraria de perto do afilhado. E ela fazia questão de ajudar na busca de Black, se os dementadores só estavam sendo úteis para atacar Harry, a Potter só pedia para que não fosse ela que o encontrasse primeiro, se não ela mesma acabaria em Azkaban.
Afinal, o que era o beijo de um dementador perto da fúria de uma mãe ao ver seu filho em perigo?

Hogwarts, novembro de 1993

— Vou solicitar mais dementadores. — ouviu a voz do ministro assim que entrou na sala do diretor. — Sirius Black será encontrado logo, Dumbledore!
— Bom dia senhores. — a mais nova entrou dizendo com a voz firme, surpreendendo os outros dois. — E os pais, vocês planejavam comunicar quando?
— Senhorita Potter… — começou Dumbledore com sua típica calmaria na voz, aquilo irritou a mulher, que cruzou os braços. — Não acho que causar mais pânico vá resolver a situação.
— Claro diretor, é um exagero… — sorriu irônica — Então quer dizer que tem um… Fugitivo no castelo, SOLTO POR AÍ! Ele destruiu o quadro tentando entrar na comunal do meu afilhado e vocês não planejavam me falar nada?
— O seu afilhado está em segurança, senhorita. — Fudge respondeu parecendo angustiado. Odiava quando questionavam seus métodos. Odiava se explicar.
— Outro ponto a ser destacado, ministro. O senhor acha que é admissível dementadores atacando alunos?
— É um risco necessário, senhorita Potter.
— Necessário? Não há nenhuma outra solução? — franziu o cenho enquanto o homem se remexeu na cadeira que ocupava.
— Como a senhorita mesmo destacou, se trata de um assassino fugitivo. Situações desesperadas requerem medidas desesperadas.
se sentiu desconfortável pela primeira vez na conversa, mesmo depois de anos, quando se referiam a Sirius como um assassino seu estômago ainda se embrulhava. Ela mesma já havia usado o termo quando estava enfurecida demais, mas por algum motivo ela ainda se incomodava e ficava se sentindo mal depois. Potter sabia que era aquele o termo correto, que era o que ele havia feito mesmo. Mas era como se parte dela ainda não quisesse acreditar.
Sirius Black foi a única pessoa por quem se apaixonou verdadeiramente na vida, aquilo nunca deixaria de ser um pesadelo que sempre voltava para atormentá-la.
— Certo. Eu não gostei de não ter sido comunicada, mas de qualquer forma, não foi só por isso que vim. — a Potter pigarreou.
— Compartilhe conosco, . — o diretor incentivou.
— Quero ficar aqui. — a morena disse simplesmente, apoiando todo o peso de seu corpo em uma perna.
— Mas senhorita…
— Black nunca arriscaria chegar perto de Harry com você por perto. — Dumbledore pontuou. — Arrisco dizer que todo esse tempo que estiveram no Caldeirão Furado ele não se importou para a segurança do Ministério. Não tentou nada porque a senhorita estava lá.
— E durante os meses que estive lá sozinha não vi qualquer movimentação. O foco não sou eu, Dumbledore. Ele quer o Harry. E eu não vou ficar em paz longe dele!
— É um bom ponto, senhorita Potter. — Fudge destacou pensativo.
— Perdão, mas eu não gastaria o tempo dos senhores e o meu próprio se não fosse. — a mulher rebateu.
— O único problema é com o Hospital, senhorita. — respirou fundo, tinha certeza de que o ministro buscaria razões até no inferno para impedi-la.
— Creio que consegue resolver isso com uma simples carta, Fudge. Diga que preciso de uma curandeira para ajudar a Madame Pomfrey.
— A diretoria do Hospital não iria se opor a uma ordem do Ministério… — completou, olhando disfarçadamente para Dumbledore de forma cúmplice.
— Tudo bem, vou redigir uma carta agora mesmo. Só preciso que assinem.
— Sem problemas!
— Se necessário eu mesmo escrevo uma, solicitando os serviços da senhorita Potter.
— Por favor. — Fudge respondeu o diretor de cabeça baixa e com a voz irritada, enquanto colocava toda sua raiva na pena.
Dumbledore se sentou, ainda sorrindo cúmplice para a Potter.

🐾🐾🐾


— Mesmo que em circunstâncias ruins, é bom te ter aqui, Narizinho. — Lupin sorriu para a amiga envolvendo-a em um abraço.
— Agora vou poder assistir uma das aulas do melhor professor de DCAT? Palavras do Harry, viu? — Potter riu e então se dirigiu até a cadeira que havia arrastado para perto da mesa de Remo, que estava lotada de pergaminhos para correção.
Após a reunião com o diretor e o ministro, decidiu aproveitar o tempo antes do jantar para conversar com Remo, depois falaria com Harry. Estava tão ansiosa para vê-lo...
— E como andam as coisas, está gostando do trabalho? Nem preciso perguntar, aliás. Nunca mais tinha te visto com essa energia boa.
— Lecionar sempre foi meu sonho, . Você sabe disso… — Lupin respondeu e então se sentou oferecendo uma xícara de chocolate quente a Potter, que aceitou de bom grado. — Hogwarts é e sempre será nosso lar. Tenho que ouvir algumas hostilidades do Snape, mas nem posso reclamar ele está me ajudando com a…
— Se quiser posso te ajudar com isso e você fica livre pra colocar o ranhos… — ela fechou os olhos irritada, lembrando-se de como Lily costumava odiar aquele apelido e ralhava com ela todas as vezes que a palavra escapava por seus lábios, o som da gargalhada do melhor amigo a tirou de seus devaneios e então frisou corrigindo-se — O Snape em seu devido lugar. Eu em… Invejoso do caral…
— Com licença, professor Lupin? — Harry bateu na porta entreaberta, colocando a cabeça para dentro para verificar se podia entrar e sem perceber interrompendo a conversa dos dois, o que o mais novo não esperava, no entanto era ver a tia sentada na frente da mesa do professor. — Tia?
— Surpresa? — a mulher arriscou sorrindo enquanto o garoto ainda a encarava confuso, finalmente adentrando a sala.
— O que faz aqui? Por que não me disse que vinha?
— Vou deixar vocês conversarem e volto já para nossa aula, Harry. — Lupin deu um tapinha nas costas do mais novo e saiu deixando-o à sós com a tia.
— Eu fui… — pigarreou procurando uma resposta convincente — Fui chamada para ajudar a Madame Pomfrey na enfermaria.
— Mas logo agora, madrinha? Pensei que Hogwarts já fosse arriscada demais comigo aqui, imagina nós dois… — ele verbalizou alterado, as bochechas vermelhas indicando nervosismo e os cabelos bagunçados que o deixavam ainda mais parecido com James.
A Potter mais velha abriu os braços e logo apertou Harry em um abraço saudoso, não sabia dizer como tinha passado os anos anteriores vendo Harry apenas no Natal. Havia apenas dois meses que as aulas tinham começado e ela tinha a impressão de que haviam se passado pelo menos uns seis.
— Eu que pedi para vir. — ela murmurou enquanto deixava um beijo demorado nos cabelos do afilhado, que ergueu a cabeça indignado. — Soube do que aconteceu e conversei com Dumbledore e o ministro.
— Mas madrinha isso é loucura! Você não entende que...
— Claro que entendo que ele está atrás de você. Acha mesmo que eu iria ficar olhando as paredes descascadas do Caldeirão Furado em paz sabendo disso? — disse séria.
— E você não acha que está facilitando a vida dele fazendo isso? Perfeito, dois coelhos numa cajadada só… — Harry revirou os olhos recebendo um olhar feio da madrinha e então ergueu as mãos em rendição, se desculpando.
— Não revire os olhos pra mim, Harry James Potter! — ela bradou, mas logo seus ombros caíram e sua expressão se suavizou novamente. — Não vou sair por aí procurando por ele, só vim fazer meu trabalho e ficar perto de você.
Ela não diria a Harry que queria, bem lá no fundo, uma oportunidade de ficar cara a cara com Black. Precisava passar vários pontos a limpo e torcer para não ocupar o lugar dele em Azkaban por matá-lo. Harry definitivamente não precisava saber disso, então apenas sorriu e o abraçou novamente numa tentativa de mudar de assunto para não se enrolar mais nas justificativas.
— Certo, certo… Mas não precisa ficar tão perto assim, madrinha. Vou virar piada!
— Ora… Piada serão os cascudos que vou te dar, garoto! — ela resmungou rindo e bagunçando os cabelos do mais novo ao afagá-los.
Harry riu, pensando que por um lado seria bom ter a tia por perto. Sentia falta dela também.


Capítulo 4

Hogwarts, dezembro de 1993.
Os meados de novembro foram atribulados para os Potters. Depois de uma discussão calorosa por causa do dementador que atacou Harry durante a partida de Quadribol contra a Lufa-Lufa, só sossegou quando Remo prometeu que o ajudaria dando aulas particulares para se proteger. Harry estava ótimo fisicamente, embora estivesse triste por conta da vassoura destruída.
Mas o final do primeiro trimestre estava sendo melhor. Mais uma visita para Hogsmeade se aproximava e decidiu fazer uma surpresa para o sobrinho, o permitindo ir visitar o vilarejo, uma vez que ela estaria por perto.
Na manhã de sábado, entretanto, a mulher não viu Harry no Salão Principal. Passou cerca de uma hora e meia vasculhando o castelo atrás dele, sem sucesso. Mas foi então que ela se lembrou da capa da invisibilidade, rumando para Hogsmeade irritada com a mera possibilidade.
Potter não entendia por que cada vez mais um aperto inexplicável se apossava de seu peito, sua respiração ficava cada vez mais ofegante, torcia que fosse pela pressa nos passos, e o medo de que algo tivesse acontecido ao afilhado tão vivo quanto um patrono corpóreo, a acompanhando.
Quando ela avistou os cabelos volumosos e castanhos de Hermione, suspirou aliviada. Sabia que a mais nova a ajudaria. Entretanto, no espaço entre ela e Rony, que também estava lá olhando os terrenos já cobertos por neve, Harry surgiu, tirando a capa e então ela entendeu.
Hermione e Rony não olhavam para o horizonte, olhavam com compaixão para Harry, que chorava copiosamente, como poucas vezes vira na vida. O que fez com que ela esquecesse toda e qualquer bronca que queria dar e corresse em direção ao trio.
— Harry… O que…
— POR QUE NÃO ME CONTOU? — o garoto gritou, inconsolado.
— O que? — sentiu seus olhos lacrimejarem ao perguntar, mesmo já temendo a resposta do mais novo.
— ELE TRAIU MEUS PAIS! E VOCÊ SABIA DISSO!
— Harry, querido…
— NÃO! EU NÃO QUERO MAIS CONVERSAR, JÁ OUVI TUDO QUE PRECISAVA SABER DE OUTRAS PESSOAS!
— VOCÊ NÃO SABE! — ela bradou para que ele se calasse — Preciso que você se acalme e me escute! Mas não aqui…
Harry seguiu a tia a contragosto até uma sala vazia do castelo. aproveitara o silêncio do caminho para reorganizar os pensamentos e pedir força e sabedoria a todos os ancestrais possíveis para que soubesse como falar o que tinha que falar.
— Preciso começar dizendo que nunca escondi isso de você, já estava nos meus planos te contar. Só nunca encontrei um momento menos atribulado para isso...
— Nunca tive um momento que não fosse atribulado desde que entrei aqui, madrinha. Se esse é o caso, você morreria esperando. — ele rebateu sarcasticamente.
— Certo… Seu pai e Black costumavam ser melhores amigos. James confiava demais nele, crescemos todos juntos, ele era meu… — fechou os olhos com força, procurando formas menos dolorosas de contar tudo o que ela passara os últimos anos evitando mencionar. — Black era meu noivo. Eu estava esperando um filho dele quando seus pais tiveram que se esconder. E foi exatamente por esse motivo que eu tive que me esconder também, Dumbledore achou que Você-sabe-quem poderia me procurar para saber de vocês e eu estava grávida. O mesmo feitiço que guardou a localização de seus pais guardou a minha… Escolhi Remo para ser o fiel do meu segredo, e seus pais escolheram Sirius. Só que ele os entregou…
— Por isso a Professora Minerva disse que você foi quem mais sofreu nisso tudo… Por perder meus pais e por ser enganada. — Harry ponderou por alguns segundos, parecendo processar tudo que ouvia. — Mas por que nunca me falou isso? Se o fato de ter sido noiva e ter tido um filho de um assassino é algo que considerou leve para me contar agora, mal posso esperar pelo que ainda não me contou. Aliás, eu estou FARTO disso, não aguento mais todas as pessoas saberem mais da minha vida e do meu passado do que eu, isso não é justo!
— Eu sei… Não é. Prometo não te esconder mais nada.
— Eu não acredito em você!
— Harry…
— Onde está esse filho? — a pergunta a atingiu em cheio. sentiu como se tivesse sido atingida por uma adaga no peito. — Vamos, tia, entregou a criança para adoção? Ter que ver a cara de quem praticamente matou seu irmão no próprio filho deve ser realmente…
— JÁ CHEGA! — em toda sua vida, Harry nunca havia visto a madrinha tão brava. Sua expressão era dolorosa e pesada. Tão pesada que a dor não saía em forma de lágrimas, Potter não chorava. E então a dor saiu, na forma de palavras curtas, secas e sem emoção alguma, fazendo o mais novo se arrepender instantaneamente depois que as escutou. — Eu o perdi também, assim que soube o que Black tinha feito.
— Mãe, eu…
— Você sabe de tudo agora, Harry. — ela tentou esboçar um sorriso, sem sucesso. — Tenho que… Tenho que ir.
Tudo que Harry pode ouvir, enquanto sua consciência berrava em peso no escuro de seus olhos fechados, foram os passos apressados da tia, correndo para o mais longe que podia.
precisava correr, precisava tirar tudo aquilo de seus pensamentos. Odiava pensar naquilo, se lembrar tornava tudo mais real, como se tivesse acabado de acontecer. Mesmo que soubesse que Harry tinha o direito de saber de tudo, não contava com a dor excruciante que sentia depois de falar tudo aquilo.
Se as pessoas diziam se sentir mais leves depois de contar um segredo, por que ela se sentia cada vez mais sufocada?
Assim que Potter se certificou que ninguém estava vendo, suspirou uma última vez antes que sua visão se tornasse limitada e o olfato aguçado, como não sentia há anos. Os pelos brancos recobriram sua pele e logo, era só mais um pontinho branco correndo camuflado na imensidão da neve. Sentindo a adrenalina correr por seu corpo conforme as árvores passavam rapidamente por seus olhos, liberando toda aquela mágoa e angústia em uma falsa sensação de liberdade, visto que ainda se sentia acorrentada.
Sua forma animaga. A samoieda branca que estava guardada em sua mente, junto com todas as lembranças de treze anos atrás.
A Narizinho dos marotos.


Capítulo 5

Hogwarts, dezembro de 1993

A noite passou como em questão de minutos. Faziam anos desde que Potter não se tornava Narizinho. E, por mais que as lembranças despertadas naquele dia fossem dolorosas demais, de alguma forma correr o mais rápido que podia por entre as árvores da Floresta Proibida e em Hogsmeade a fizeram mais bem do que ela podia imaginar.
A adrenalina correndo por sua corrente sanguínea, o vento cortante passando por seus pelos brancos que estavam ligeiramente úmidos pela neve que caia, além dos mais diversos aromas que ela nem lembrava que podia sentir com seu focinho aguçado.
Quando os raios de um falso sol, visto que o clima continuava extremamente gélido, começaram a surgir no céu, entendeu que era hora de voltar e encarar seus problemas. Era adulta, afinal, não podia simplesmente sumir pelos arredores do castelo durante o dia todo.
não tinha mais o irmão para acobertá-la. Não tinha mais o colo de Lily para chorar até se sentir melhor. Por mais que não parecesse tanto com um, ela tinha o trabalho na enfermaria. E também tinha Harry, que muito provavelmente a odiava nesse momento e corria perigo graças ao padrasto, que era um fugitivo. Outro que, a vida lhe tirou, ou nunca a deixou tê-lo de verdade.
Mas nada importava. Pelo menos era o que ela tentava dizer a si mesma enquanto focava que precisava de um banho revigorante antes de começar mais um dia de trabalho. Quando chegou perto dos jardins do castelo, voltou a sua forma humana e seguiu em passos rápidos até o quarto que estava ficando.
Entretanto, tudo que a antiga grifinória menos esperava, era que encontraria o sobrinho deitado em um sono aparentemente tranquilo, mesmo que suas bochechas marcadas pelas lágrimas o denunciassem.
Mesmo com toda a tristeza e dor no peito foi inevitável não sorrir, ele sabia que havia pegado pesado e provavelmente tinha passado a noite ali, a esperando para se desculpar. Como ela amava aquele garoto que, por mais que agora quase a alcançasse em tamanho, sempre seria o bebê que ela ninou incontáveis vezes antes de dormir, aquela criança adorável para quem contou histórias, para quem aprendeu a cozinhar algo minimamente aceitável, para quem sempre ela daria colo, independentemente de qualquer coisa no mundo.
Harry dormia torto na cama, provavelmente por ter ficado sentado esperando quando caiu no sono do jeito que estava. A Potter mais velha o abraçou, a fim de ajustá-lo melhor na cama e quando tentou se separar do sobrinho para cobri-lo, sentiu os braços do garoto apertando seu pescoço, a impossibilitando de se afastar.
— Madrinha, eu… Me desculpa, eu não sabia… — Harry começou com a voz sonolenta e chorosa.
— Shhh… — a mulher sorriu fraco, enquanto se soltava do abraço. Ela o cobriu devidamente e então deixou um beijo calmo e demorado em sua testa. — Eu sei, não se preocupe, está tudo bem…
— Posso ficar aqui com você até a hora de levantar?
— Claro que pode. — ela sorriu, afagando os cabelos escuros e bagunçados do afilhado. — Vou tomar um banho quentinho e volto para dormir por mais algumas horas abraçadinha com meu bebê!
— Tia, eu tenho treze anos!
— E eu não estou nem aí, você vai ser para sempre meu bebê!

🐾🐾🐾


Depois de um dia com os amigos e a tia na segunda ida a Hogsmeade, Harry sentia a incessante vontade de procurar mais sobre o passado de seus pais, sua madrinha e Sirius Black. Por mais que, agora tivesse mais informações que no começo, precisava juntar as peças e de alguma forma, acreditava que encontraria isso na sessão de anuários que, descobriu existir dias atrás quando ajudava Hermione a procurar alguns livros e tentava convencê-la a voltar a falar com Rony.
Com a capa de invisibilidade e o mapa do maroto em mãos, o garoto se sentiu preparado para a missão da madrugada. O que ele não esperava era que seria pego antes mesmo de chegar na biblioteca por Snape.
Alguns insultos, vindos do mapa, depois, fizeram com que o mestre em poções perdesse as estribeiras e chamasse Lupin, que mal conseguia acreditar no que tinha em mãos, depois de tantos anos.
Depois de resolver o problema com Harry e Rony, que apareceu logo depois, uma noite de sono inquieta e várias lembranças de um passado que, agora, não parecia tão distante assim, a primeira coisa que Aluado pensou em fazer pela manhã fora mandar uma coruja para a amiga.
A Potter precisava ver aquilo.
— Hey Aluado. — adentrou a sala sorrindo, sendo recepcionada por apenas um olhar do amigo. — O que queria me mostrar?
— Encontrei Harry andando no corredor ontem à noite...
— Merlin! Será possível que eu chegue aos quarenta anos com cabelos? Não sei mais o que faço com esse garoto… — Lupin riu a interrompendo.
— Não, não brigue com ele. Ele fez eu prometer que não te contaria.
— Agente duplo, Remo Lupin? Tô gostando de ver que o espírito maroto ainda vive em um de nós… — a mulher riu e cruzou os braços.
— É exatamente por isso que te chamei. Confisquei algo que, nem me pergunte como, pois não tenho a menor ideia, foi parar nas mãos dele. — Lupin ergueu o papel amarelado para Potter que sentiu o sangue gelar.
Suas mãos tremiam cada vez mais à medida que ela se aproximava do papel de pergaminho. Muito mais escurecido e detonado, visto que tinham algumas pontas rasgadas faltando. se sentou olhando fixamente para o artefato mágico em mãos.
Não era possível…
Depois de tanto tempo…
E justo nas mãos de Harry.

— Você sabe como fazer, certo?
A mulher apenas ergueu os olhos em incredulidade na direção do amigo, lhe dando um sorriso pequeno e assustado. Quando voltou sua atenção para o mapa, alcançou a varinha no bolso e a apertou nos dedos, deixou o papel apoiado nas pernas e suspirou.
Eu juro solenemente não fazer nada de bom. — Potter apontou a varinha para o papel, e então aos poucos a tinta avermelhada surgiu revelando os dizeres que ela tanto conhecia.

“Os senhores Aluado, Rabicho, Almofadinhas, Pontas e a senhorita Narizinho,
fornecedores de recursos para bruxos malfeitores,
têm a honra de apresentar
O MAPA DO MAROTO”


Seus dedos passaram por toda a extensão do objeto enquanto ela o olhava com afinco, os olhos marejados e as memórias ardendo em seu peito.
— Isso é… Eu…
— Eu sei. — Remo disse somente, sentando-se ao lado da amiga para observar de perto o artefato fantástico que haviam feito quando mais novos com James, Peter e Sirius. — É fantástico.
— Perigosamente fantástico.
— Por isso que o confisquei…
— Fez bem, Remo. — a mulher suspirou observando o sobrinho e os amigos caminharem para tomar café no Salão Principal. — Estar aqui em Hogwarts já é nostálgico, mas encontrar isso depois de tantos anos… Céus, dá vontade de sair pelos corredores procurando a Lily…
— Que muito provavelmente estaria colocando seu irmão no lugar dele. — ressaltou Aluado sendo acompanhado em uma risada.
— Certeza de que ele estaria a chamando pro baile de inverno pela milésima vez.
— Ser irritante é algo dos Potter, mesmo.
— Vai se foder, Aluado! — bradou brava, mas logo riu — Não diria irritantes, mas persistentes e determinados sim…
— Como naquela vez que tentaram humilhar aquela lufana e você encheu o saco até que fizessem algo com os garotos responsáveis.
— Aubrey Kingsley o nome dela. — recordou sorrindo — Ela esteve no hospital um dia desses, o caçula dela caiu voando no quintal.
— E quando nós fizemos aquela festa na comunal e quase fomos pegos?
— Se a McGonagall não gostasse tanto do Pontas certeza que não sobraria nada de nós até a formatura. — tombou a cabeça rindo.
— Minerva era uma admiradora nata dos marotos, .
— Os marotos agradecem a preferência! — ela referenciou o que diziam no dia em que ela e os amigos venderam “ingressos” para a festa que arrecadou dinheiro para ajudar Remo a comprar os materiais do sexto ano. — Lembra da Lene bêbada no baile de inverno?
— Céus eu nunca ri tanto como naquela noite!
— Se tentássemos enumerar a quantidade de acontecimentos daquela noite certamente passaríamos o dia aqui! — a antiga aluna da Grifinória disse relembrando mentalmente os acontecimentos.
— Lene bêbada e falando com a língua do “P”. Lily e James finalmente se beijando. Rabicho caindo no Lago Negro no final da noite. O Almofadinhas distraindo a Minerva enquanto você passava com mais bebidas. — Lupin estava tão ocupado enumerando os acontecimentos com os dedos que mal percebeu o sorriso murchando nos lábios da amiga com a simples menção de Black.
se lembrava que eles estavam brigados e depois de muito se provocarem no baile fizeram as pazes para que a paz reinasse no grupo. Afinal, era uma noite com muito a comemorar.
O par dela era Remo, que também contribuira e muito para que sua noite fosse memorável. Ele e todos os amigos, é claro.
— Você não está mais rindo, Narizinho… — a voz de Remo fez com que ela saísse do transe que se encontrava. E ela abanou a cabeça, disfarçando com um sorriso. Mas Aluado arqueou a sobrancelha, a conhecia extremamente bem, o que permitiu que ela relaxasse os ombros e suspirasse aborrecida.
— Estou lembrando de tudo… Digo, tudo o que aconteceu mesmo. — ela frisou a última parte.
Lupin sentiu a boca secar. Eles não tocavam nesse assunto desde o baile em questão.
— Se eu tivesse feito outra escolha talvez tudo fosse diferente agora. — Potter disse olhando para o mapa em suas mãos. — Seria tudo tão mais fácil. Eu poderia me apaixonar tranquilamente por você.
— … Se você já não estivesse completamente apaixonada pelo Black desde o dia que pisou em Hogwarts. — Lupin sorriu levemente quando a interrompeu, e então a decoração nada interessante da sala se tornou rica em detalhes para explorar.
Depois de alguns minutos em silêncio, Narizinho decidiu pegar a varinha novamente e encerrar toda a sessão de memórias dolorosas que ela havia tentado — sem sucesso — esquecer nos últimos anos.
Malfeito feito. — quando a tinta desapareceu completamente do papel, ergueu o mesmo para Remo. — Preciso ir agora, Madame Pomfrey precisa de mim na enfermaria… Obrigada por me mostrar isso, Aluado. Foi algo… — doloroso, ela quis dizer, mas não podia ter seu dia arruinado com as lembranças dele e dos arrependimentos dela mesma. Afinal, recordou-se de seu irmão gêmeo, de sua melhor amiga e do quanto foi feliz naquela época. Então ela sorriu verdadeiramente e completou — Especial.
Remo assentiu e a assistiu a amiga se dirigir até a porta.
— Sabe Narizinho… Eu falhei na missão. — ela parou no meio do caminho, virando-se e o encarando confusa. — Me apaixonar por você foi como um fácil e refrescante mergulho. E digo mais, foi inevitável.

Hogwarts, maio de 1994

Os dias se passaram e o sentimento de agonia ainda inundava a Potter. Ainda mais depois dos acontecimentos que se sucederam como a constante sensação de ser observada que sentia nas caminhadas matinais e, principalmente, a Firebolt que simplesmente apareceu de presente para Harry, o que a deixou completamente irada.
Não tinha ninguém que fosse presentear o sobrinho assim, ainda mais depois de comentar brevemente com a Madame Pomfrey que iria sair para comprar uma vassoura nova para que o sobrinho pudesse disputar o jogo final.
Depois de muitos protestos do sobrinho e de uma investigação com a vassoura que até ela mesma fez parte: finalmente o mais novo poderia jogar contra a Sonserina em busca da Taça. O clima pelos corredores era amistoso, as apostas entre os alunos rolavam soltas e não podia negar que toda aquela atmosfera a lembrava de como as coisas costumavam ser quando ela assistia ao irmão jogando. Seria incrível poder presenciar o afilhado fazer o mesmo.
Ela não conseguiu desejar boa sorte para Harry pela manhã, mas estava otimista o suficiente para pensar que poderiam comemorar depois. Vestindo uma camiseta escarlate, um jeans e com os cabelos presos em um rabo de cavalo alto, se dirigiu até o campo indo até as arquibancadas que abrigavam os professores e demais funcionários do castelo.
Sentiu olhos sobre si e, imediatamente, encarou de volta a imensidão azul dos olhos de Lupin, sorrindo sem mostrar os dentes e acenando para o amigo na outra extremidade do banco. Por mais que ambos fingissem e afirmassem para si mesmos que tudo estava bem, no fundo, eles sabiam que não estava. As conversas entre eles eram sempre sobre coisas pontuais e bem rasas, os sorrisos eram sempre como os de agora: completamente sem graça.
A verdade era que, mesmo depois de tantos anos, os sentimentos de Potter ainda eram conflituosos, ela se sentia mal por estar confusa e atribulada o suficiente para não saber como correspondê-lo e aquilo a machucava profundamente. Além de, é claro, ainda somar o medo de perder a amizade de anos com Aluado à equação extremamente complicada que sua vida era.
O som do apito de Madame Hooch tirara a mulher de seus devaneios silenciosos, e então ela se concentrou única e exclusivamente em torcer pelo time da Grifinória e observar, com os olhos brilhando em orgulho, o sobrinho voando com a Firebolt.
A partida seguiu com uma Potter de coração na mão cada vez que os brutamontes mal-educados da Sonserina, como ela mesmo xingava sobre os olhares raivosos de Snape, ameaçavam tentar algo contra Harry. Mesmo que a Firebolt sempre os fizesse de idiotas com sua velocidade, tornando praticamente impossível alguém causá-lo algum dano, o susto toda vez que os sonserinos se aproximavam ainda era recorrente.
O jogo estava deteriorando para o mais sujo graças ao placar favorável a Grifinória, o que deixava os adversários desesperados recorrendo a todos os meios para roubar a goles, sendo a violência o principal deles. A torcida dos Leões já estava rouca de tanto gritar, quando Harry sobrevoava em direção ao pomo, levando-os à loucura e ao sonho, cada vez mais próximo, de se tornarem campeões.
se segurava para não perder sua compostura, mas fora impossível quando Malfoy cometeu uma falta em cima de Harry. Quando Snape tentara falar algo então, a mulher despejou um mar de ofensas que o fez se calar em questão de segundos.
Quando o sobrinho tornou a perseguir o pomo, vencendo a distância mínima que tinha entre ele e Draco, ele tirou as mãos da vassoura, ergueu o braço e então o estádio explodiu tornando a narração de Lino Jordan incompreensível. Os olhos de marejaram em orgulho e emoção quando assistiu o afilhado erguendo a Taça no ar. Feitiço algum no mundo poderia tirar aquela cena de sua mente, nada pagava a sensação que fora assisti-lo emocionado e com o sorriso mais lindo que o vira dar.
Seu peito ardia com o sentimento já conhecido de saudade, e mais uma vez ela se pegava novamente desejando que Lily e James estivessem ali. Soluçando alto com um sorriso igualmente belo no rosto a mulher apenas contemplou o momento de felicidade que o sobrinho tinha em meio a tanto caos, sentindo-se realizada. Afinal, ver Harry feliz era tudo que mais importava para ela, podia dizer tranquilamente que aquele passara a ser seu maior sonho.
Mas o sorriso vacilou quando ela observara o vulto preto correndo em direção à Floresta.
Ela só podia estar delirando.


Capítulo 6

Hogwarts, junho de 1994

Enquanto os alunos se preocupavam com os exames finais, se preocupava apenas em comprovar sua teoria. Seu corpo se tornara constantemente dolorido, a mulher mal dormia ou se alimentava e passava boa parte das noites em sua forma animaga, rondando os arredores do castelo em busca de algo. Ou, como tremia-se inteira apenas ao cogitar que estava certa do que vira no campo de quadribol no dia do último jogo, em busca de alguém.
Todo o medo e a razão de Potter haviam caído por terra, ela focava somente em encontrar Black e torcer para que conseguissem enviá-lo para Azkaban antes que ela mesma acabasse com ele.
Após ser dispensada da enfermaria no início da noite devido ao seu estado deplorável, apenas vagava pelos corredores de encontro aos seus aposentos, para descansar antes de partir para mais uma noite de busca.
Mas naquela tarde em especial, seus sentidos estavam ainda mais aguçados, ela jurava sentir o cheiro de Black impregnando e deprimindo seu sistema nervoso como uma poção para ansiedade, além do aperto insuportável que sentia no peito. Havia até conversado brevemente com Harry durante o almoço, fazendo-o prometer que não sairia do castelo por nada naquele dia.
O mais novo havia prometido. Mas a agonizante sensação que inundava seu peito e seu pleno entendimento de como o sobrinho sempre aparecia no lugar e horas errados berravam em alerta.
Então tudo que fez foi se afastar da visão dos alunos que rumavam para o jantar e em um salto, rumou ao chão quando os pelos brancos tomaram conta de sua pele. Seu focinho mexia-se inquieto em sua face, os olhos focaram ao longe e ela se sentia tola, como nunca havia pensado naquele lugar antes? E naquele momento Narizinho soube exatamente aonde deveria ir.
Ela havia encontrado Sirius.
E, para o desespero de Potter, ela simplesmente sabia que ele estava com Harry.

O vento passava cortante, em uma velocidade que duvidava ser batida até mesmo pela vassoura nova do sobrinho. Quando Potter avistou o Salgueiro Lutador movimentando-se como muitas vezes ela já o tinha assistido fazer ela soube exatamente o que fazer. Não tinha o tamanho de rabicho, mas conseguiu ir até o “botão” e o apertou, facilitando a entrada. O caminho até a casa dos gritos fora o mesmo que ela percorrera anos atrás, só que naquele momento, não estava com tempo para sentir-se nostálgica.
Apenas a raiva crescente corria por sua corrente sanguínea, a impulsionando como um foguete túnel abaixo. Seus ouvidos de sua forma animaga eram muito mais eficientes que os humanos, então ela pode ouvir claramente o grito do sobrinho quando o percurso se findava:
— ELE MATOU MINHA MÃE E MEU PAI! — Harry bradou, fazendo com que corresse até o local, em um salto voltando a sua forma humana. A cena que ela encontrou fez seus olhos brilharem em ódio, mágoa e revolta. Mesmo que parecesse o homem que ela amou profundamente, mesmo que parecesse o pai daquele filho que nunca tivera a oportunidade de ver tendo fôlego de vida, mesmo que parecesse seu melhor amigo e noivo. Sua mente berrava em contraste alertando-a de que era só o demônio que ela se recusara a enxergar todos esses anos. Muito mais magro, velho e sujo, com os cabelos longos e emaranhados, mas não deixava de ser ele.
Sirius Black.
O fugitivo Sirius Black apertando o pescoço de Harry com os dedos, até os óculos do garoto entortarem em seu rosto e sua feição começar a ficar levemente cianótica, sem ar.
— Não — sibilou Black, entredentes — Esperei tempo demais…
Seu sorriso sádico murchara quando sentiu um objeto encostando em seu pescoço com força. jurou ver os olhos azuis do homem cintilarem e seu sorriso voltar ao rosto, maior do que antes e carregando certa ironia também, quando sua varinha lhe tocara a pele.
— Você vai soltar meu sobrinho para voltar para sua cela miserável em Azkaban ou prefere que eu te mate aqui mesmo, Black? — ela murmurou fria, sem emoção alguma. Nem ao menos parecia desesperada ou mexida pela situação. Ao contrário de todos ali, Potter não queria respostas, já tivera tempo demais para pensar em todas as possibilidades, então ela pouco se importava com isso. Nenhum dos possíveis porquês mudava os anos de sofrimento que passou.
Ela só queria que Black fosse pego. E os céus provavelmente queriam que fosse ela ali, para decidir o que seria dele.
— O tempo lhe fez bem, . Devo dizer que ficou ainda mais bonita. — Sirius largou Harry que soltou um gemido de dor. segurou-o pelo braço magro enquanto sua varinha permanecia a postos no mesmo lugar. Rony atirou-se do outro lado, contra a mão com que Black segurava as varinhas enquanto Harry lutava para se livrar dos corpos embolados, assistindo sua varinha rolar pelo chão.
Ele se atirou para alcançá-la, mas Bichento o impediu enterrando suas garras no braço dele. Harry se soltou com certa dificuldade, mas agora o gato corria para sua varinha.
— Ah, não vai não! — ele berrou mirando um pontapé em Bichento.
sentiu a mão de Black se livrar dela e agora ele a segurava da mesma forma. Rony ainda o agarrava do outro lado, mas não por muito tempo. A mulher ainda o encarava com repulsa, imóvel. Enquanto o homem lhe lançava um sorriso amedrontador devido às péssimas condições que se encontrava.
— SAIAM DA FRENTE! — Harry gritou para os amigos, fazendo com que esses se afastassem. A tia, porém, se mantinha na mesma posição.
Black estava esparramado junto à parede. Seu peito magro subia e descia, a varinha de Harry apontada para seu coração e a de em seu pescoço.
— Vai me matar, Harry? — murmurou ele. — Ou vai deixar sua tia ir tomar meu lugar na prisão?
— Você matou meus pais. — o garoto acusou, com a voz trêmula. o lançou um olhar, indicando que ele saísse dali e então, em segundos, apenas a varinha da Potter estava apontada para o coração de Black. Harry estava mais distante, com os amigos, mas mantendo a varinha na direção do homem, caso algo não saísse como o esperado.
— Não nego que matei. — disse calmo, dirigindo seus olhos fundos para — Se ao menos vocês dois soubessem da história completa…
— Você vendeu meus pais para Voldemort. É só isso que preciso saber! — Harry berrou.
— Vocês têm que me ouvir, — suplicou Sirius, com certa urgência na voz — vão se arrepender se não o fizerem…
— Eu já ouvi a porra da história Black, mais de milhões de vezes. — bradou furiosa, forçando a varinha contra seu peito. Seus olhos estavam marejados, não queria ter que estar ali. Não queria que o futuro do homem que ela amava fosse esse. Não queria ter que matá-lo.
— Então me mate, Potter — ele bradou de volta — Eu não tenho mais nada a perder!
A varinha pareceu se afrouxar na mão dela, que agora tremia. Seus olhos estavam fixos nos de Black, que, ainda eram os mesmos que ela se lembrava.
— Perdi minha vida preso. Perdi James e Lily. Perdi Remo. Perdi você. Perdi a infância de Harry. Perdi a infância do nosso filho… VAMOS, ME MATE!
As lágrimas finalmente encontraram o rumo para fora dos olhos da Potter. Não que ele merecesse, mas ele ao menos sabia que não seu filho ou filha não tivera uma infância, porque nem chegara a nascer. Ao mesmo tempo, ela sentia a raiva pulsando nas mais variadas zonas de seu corpo. Duvidava que Black não soubesse, ele a havia estudado, provavelmente sabia seus pontos fracos e como usá-los contra ela. Mas ele não iria brincar com os sentimentos dela. Não depois de tantos anos…
Não novamente.

— COMO OUSA FALAR QUE OS PERDEU SE VOCÊ MESMO OS ENTREGOU? — gritou, tornando a forçar a varinha contra o osso esterno de Black. As lágrimas escorriam por seus olhos, mas sua voz não vacilou nem um momento sequer. Estavam ambos ali, tão imersos naquele momento que mal ouviram Hermione gritando, os passos se direcionando para o local onde estavam.
Expelliarmus! — Lupin irrompeu no quarto, fazendo com que a varinha de voasse de sua mão, assim como a de Harry e as que Hermione segurava também. O professor as apanhou prontamente e avançou pelo cômodo, olhando para Black e para Potter.
Estava tudo acabado, Remo havia chegado para ajudar. estava prestes a respirar tranquilamente quando o amigo direcionou-se para Black.
— Onde é que ele está, Sirius?
encarou o homem confusa, assim como o sobrinho e seus amigos. Ninguém ali além de Black entendeu o que ele queria dizer. Esse, em contrapartida, tinha uma expressão impassível no rosto, mal se mexia. Depois de alguns segundos, ergueu a mão vazia e apontou para Rony. Harry encarava o amigo aturdido enquanto sua tia lançava um olhar furioso para Lupin, que parecia nem se importar.
— Remo, que porra que… — a voz da mulher fora interrompida pela voz calma do mesmo.
— Mas então… — murmurou, encarando Black com tal intensidade que parecia estar tentando ler sua mente — … Por que ele não se revelou antes? A não ser que… — os olhos de Lupin se arregalaram, como se estivesse vendo alguma coisa além de Black, algo que ninguém mais podia enxergar — a não ser que ele não fosse o… a não ser que você tivesse trocado… sem nos dizer? — apontou para si mesmo e para .
O olhar de Black fora de Lupin para a Potter, e então ele acenou a cabeça enquanto confirmava a teoria silenciosa do amigo.
— Professor Lupin, o que está acontecen… — Harry não chegou a questionar o que pretendia, porque a cena que presenciou fez com que a voz morresse em sua garganta e com que o fundo de seu estômago despencasse.
Se sentia usado, enganado, um perfeito tolo.
Remo abaixou a varinha, com os olhos fixos em Black. O professor foi até Black e o abraçou como a um irmão. ainda estava parada ao lado dos dois, sua cabeça tentava processar tudo que Remo havia tentado dizer. Ele não teria a traído também, teria?
Os gritos de Hermione davam fundo às milhões de informações e possibilidades que sua cabeça criava naquele momento. Remo se referia ao fiel do segredo, o questionou se ele havia trocado sem os consultar e Black afirmou. Se não era ele, nem ela, nem Remo, nem Dumbledore, só podia ser…
Não, ! Ele está morto! O próprio Sirius o matou!
Seus pensamentos berravam em conflito. Mas Black havia apontado para Rony, que segurava Perebas. Então ela se lembrou do dia em que segurou o rato no beco diagonal, lembrara do desespero deste ao ser colocado nas mãos dela, lembrou-se das inúmeras vezes que havia visto aquele maldito cretino se tornando aquele rato.
— Não pode ser… — murmurou baixo, despertando a atenção apenas de Sirius. Que a olhou, assentindo.
Potter fechou os olhos com força. Não podia acreditar que a verdade estava ali, em seus olhos e ela fora cega o suficiente para não perceber. Quantos anos ele havia passado preso injustamente… Seu peito ardia em remorso enquanto Harry berrava indignado com Remo.
— Eu não estive ajudando Sirius. — explicou-se Aluado — Se você me der uma chance, eu explico…
— Harry, deixe-o falar! — ela disse entredentes para o sobrinho, e então seus olhos cheios d’água encararam o amigo. — Eu preciso ouvir de alguém para acreditar, por favor…
— Certo, se o senhor não esteve o ajudando — Harry começou, olhando furioso para Black — como soube que ele estava aqui?
— O mapa. O mapa do maroto. Eu estava examinando na minha sala.
— O senhor sabe usar o mapa?
— Harry… — quem disse dessa vez, carregando uma voz suave enquanto apontava para si mesma e para Black e Lupin — Nós criamos o mapa.
Sr. Aluado… — ele apontou de Remo para a tia — Srta. Narizinho…
— Isso não importa agora... Eu estava examinando o mapa atentamente hoje porque imaginei que vocês tentariam sair para visitar Hagrid antes da execução do hipogrifo e estava certo, não é? — Remo falou, enquanto andava pela sala. — Você poderia estar usando a velha capa do seu pai, Harry…
— Como é que sabe sobre a capa?
— O número de vezes que vi James e até mesmo sua tia desaparecendo debaixo da capa… — começou a gesticular impaciente — A questão é que, mesmo quando a pessoa está usando a Capa da Invisibilidade, ela continua a aparecer no mapa. Observei vocês atravessarem os jardins, entrarem na cabana de Hagrid. Vinte minutos depois, vocês saíram e voltaram em direção ao castelo. Mas, então, estavam acompanhados por mais alguém.
— O que? Nós não estávamos não!
— Eu não podia acreditar no que via. — continuou o professor, lançando um olhar para a amiga, que agora o entendia. — Achei que o mapa não estava registrando direito. Como é que ele podia estar com vocês?
— Não tinha ninguém com a gente!
— Então vi outro pontinho, andando depressa em sua direção, rotulado Sirius Black… Vi-o colidir com você, observei quando ele arrastou dois de vocês para dentro do Salgueiro Lutador…
— Um de nós! — Rony berrou, zangado.
— Não Rony... — foi quem disse, andando em direção ao garoto. — Me entregue o seu rato, por favor.
Rony encarou a tia do amigo confuso, mas enfiou a mão nas vestes. Perebas apareceu, debatendo-se como no dia do beco diagonal. O garoto teve que segurá-lo pelo longo rabo pelado para que este não fugisse. segurou o rato com força pelo corpo enquanto Lupin estava ao seu lado, analisando-o atentamente. A mão livre da mulher fora de encontro com a patinha pequena e trêmula, encontrando a confirmação de seus questionamentos internos.
Se restava alguma dúvida, ali estava a prova. se segurou para não enforcar o bicho com as próprias mãos, mas aquilo não ajudaria. Precisa dele em sua forma humana e vivo para testemunhar a inocência de Black.
— O que meu rato tem a ver com isso?
— Isso não é um rato. — Sirius tornou a falar, com a voz rouca.
— O que está dizendo… É claro que é um rato!
— Não, querido… — tentou minimizar o impacto que o pequeno garoto teria.
— É um bruxo, Rony. — confirmou Lupin, calmamente.
— Um animago que atende pelo nome de Peter Pettigrew.


Capítulo 7

Casa dos Gritos, junho de 1994

Lupin tentara, a todo custo, contar a história desde o começo. Snape apareceu, discutiu e fora devidamente nocauteado. E o trio ainda não acreditava nas palavras de Black.
— NÃO É VERDADE! – berrou Harry. — ELE ERA O FIEL DO SEGREDO DELES! ELE DISSE ISSO ANTES. ELE CONFESSOU QUE MATOU MEUS PAIS!
O garoto apontava para Black, que sacudia a cabeça devagarinho; de repente seus olhos fundos ficaram excessivamente brilhantes.
— Harry... foi o mesmo que ter matado — disse, rouco. — Convenci Lily e James a entregarem o segredo a Peter no último instante, convenci-os a usar Peter como fiel do segredo, em vez de mim porque eu era uma escolha óbvia. Eu era o padrinho de casamento deles, sou seu padrinho, era noivo da sua tia, pai do seu primo ou prima e seu melhor amigo…
engoliu em seco mais uma vez, quando Harry tentou começar a falar sobre o “primo ou prima” que não existia ela o pediu para parar, imediatamente.
— Meu amor, eu não acho que esse seja um assunto relevante agora, deixe Black provar sua inocência primeiro… Depois conversamos sobre tudo isso. — ela cochichou para o sobrinho, com a voz extremamente falha.
— Na noite em que eles morreram, eu tinha combinado procurar Peter para verificar se ele continuava bem, mas quando cheguei ao esconderijo ele não estava. Mas não havia sinais de luta. Achei estranho. Fiquei apavorado. Corri na mesma hora direto para a casa dos seus pais. E quando vi a casa destruída e os corpos deles... Percebi o que ele devia ter feito. O que eu tinha feito.
A voz dele se partiu. Ele virou as costas. sentiu os olhos molhados, mal conseguia imaginar como ele havia se sentido, se sentia burra, injusta e uma infinidade de outros adjetivos ruins. Ele era inocente.
Seu Sirius Black sempre fora inocente.
— Chega, . Me dê o rato! — Lupin pediu em um tom inflexível. — Vou obrigá-lo a se revelar. Se ele for um rato não se machucará.
O rato começou a guinchar sem parar, se contorcendo, os olhinhos negros saltando das órbitas.
— Está pronto, Sirius? – perguntou Lupin.
Black apanhara a varinha de Snape na cama. Aproximou-se de Lupin e do rato que se debatia e seus olhos úmidos pareceram, de repente, arder em seu rosto.
— Juntos? — perguntou em voz baixa.
— Acho melhor — confirmou Lupin, segurando Perebas apertado em uma das mãos e a varinha na outra. — Quando eu contar três. Um... dois... TRÊS!
Lampejos branco-azulados irromperam das duas varinhas; por um instante, Perebas parou no ar, o corpinho cinzento revirando-se alucinadamente — Rony berrou — o rato caiu e bateu no chão. Foi como assistir a um filme de uma árvore em crescimento. E então, ali, diante dos olhos de todos, foi possível presenciar quando Perebas tornou-se Peter Pettigrew.
Depois de muitas explicações e discussões, Harry havia pedido para que Lupin e Black mantivessem Pettigrew vivo. Eles foram bem contra à princípio, mas soltou o óbvio, que fez com que os homens reconsiderassem.
Peter valia muito mais vivo do que morto.
Vivo, Sirius Black seria devidamente inocentado. Morto, ele voltaria — agora na companhia de Lupin — para Azkaban por realmente ter matado alguém.
Black conjurou pesadas algemas do nada e logo Pettigrew estava novamente de pé. O braço esquerdo preso ao direito de Lupin, o direito preso ao esquerdo de Rony. O garoto estava muito sério. Parecia ter tomado a verdadeira identidade de Perebas como uma ofensa pessoal. Bichento saltou com leveza da cama e abriu caminho para fora do quarto, o rabo de escovinha elegantemente erguido no ar.
Harry nunca fizera parte de um grupo tão esquisito. Bichento descia as escadas à frente na companhia de sua tia, que não dissera mais uma palavra; Lupin, Pettigrew e Rony vinham a seguir, parecendo competidores de uma corrida de seis pernas. Depois vinha o Snape, flutuando feito um fantasma, os pés batendo em cada degrau que descia, seguro por sua própria varinha, que Sirius apontava para ele. Harry e Hermione fechavam o cortejo.
Voltar ao túnel foi difícil. Lupin, Pettigrew e Rony tiveram que se virar de lado para consegui-lo; Lupin continuava a cobrir Pettigrew com a varinha.
— Remo… — cochichou ao amigo. — Depois que tudo isso passar nós precisamos, hm, conversar sobre…
— Não precisamos, . — ele tentou dar seu melhor sorriso, dizendo baixinho para que ninguém mais os escutasse. — Como te disse naquele dia, você e Sirius se pertencem desde o dia que chegaram em Hogwarts. Está tudo certo conosco, eu só precisava… — suspirou profundamente — Te dizer.
nada disse. Suspirou perturbada e o máximo que conseguiu fora assentir na direção do amigo, que riu. O raciocínio de Potter sempre era mais lento quando alguém dizia a verdade que ela não queria escutar sobre ela.
Harry os via avançar lentamente pelo túnel em fila indiana. Bichento sempre à frente. Harry logo atrás de Black, que continuava a fazer Snape flutuar à frente com a cabeça mole batendo sem parar no teto baixo.
O menino tinha a impressão de que Black não estava fazendo nada para evitar as batidas.
— Você sabe o que isso significa? — perguntou Black abruptamente a Harry enquanto faziam seu lento progresso pelo túnel. — Entregar Pettigrew?
— Você fica livre... — respondeu Harry.
— É. Mas eu também sou, não sei se alguém lhe disse, eu sou seu padrinho.
— Eu soube – disse Harry.
— Pretendo consertar tudo, Harry. — revelou Sirius com o tom de voz baixo. — Depois que o meu nome estiver limpo... Quem sabe uma casa diferente, maior. Com espaço para você, sua tia e… Nossa família.
— Sirius… — Harry começou, os olhos brilhavam na expectativa de ver a tia feliz depois de tantos anos, mas ela e Sirius ainda teriam muito para conversar. Não seria ele quem lhe daria a notícia.
— Claro, achei que você não ia topar… — disse Black apressadamente. — Eu compreendo, só pensei que...
– Você ficou maluco? – disse Harry, com a voz quase tão rouca quanto a de Black. Então o garoto apenas sorriu e relaxou os ombros. — Minha tia pode não falar nada agora, por estar processando a informação, mas tenho certeza de que é o que ela mais quer também. Digo, eu adoraria que você fizesse parte da nossa família de novo…
O rosto ossudo de Black se abriu no primeiro sorriso verdadeiro que Harry já o tinha visto dar. A diferença que fazia era espantosa, como se uma pessoa dez anos mais nova se projetasse através da máscara de fome; por um instante ele se tornou reconhecível como o homem que estava rindo no casamento dos pais de Harry.
Os dois não se falaram mais até chegar ao fim do túnel. Bichento saiu correndo à frente, evidentemente apertara o nó do tronco com a pata, porque , Lupin, Pettigrew e Rony subiram penosamente, mas não houve ruídos de galhos ferozes. Black fez Snape passar pelo buraco, depois se afastou para Harry e Hermione passarem.
Finalmente todos conseguiram sair.
— Um movimento errado, Pedro — ameaçou Lupin que ia à frente. Sua varinha continuava apontada de viés para o peito de Pettigrew.
Em silêncio eles avançaram pelos jardins, as luzes do castelo crescendo com a aproximação. Snape continuava a flutuar de maneira fantasmagórica à frente de Black, o queixo batendo no peito. Então… Uma nuvem se mexeu. Inesperadamente surgiram sombras escuras no chão. O grupo foi banhado pelo luar.
Snape se chocou com Lupin, Pettigrew e Rony, que pararam abruptamente. Black congelou se entreolhando com . Ele esticou um braço para fazer Harry e Hermione pararem.
O garoto viu a silhueta de Lupin. O professor enrijecera. Então as pernas de Harry começaram a tremer.
— Ah, não! — exclamou Hermione. — Ele não tomou a poção hoje à noite. Ele está perigoso!
— Corram — sussurrou Black. — Corram. Agora.
Mas Harry não podia correr. Rony estava acorrentado a Pettigrew e Lupin. Ele deu um salto para frente, mas Black o abraçou pelo peito e o atirou para trás.
— Deixe-o comigo... CORRA!
Ouviu-se um rosnado medonho. A cabeça de Lupin começou a se alongar. O seu corpo também. Os ombros se encurvaram. Pelos brotavam visivelmente de seu rosto e suas mãos, que se fechavam, transformando-se em patas com garras. Os pelos de Bichento ficaram outra vez em pé e ele estava recuando…
em um salto assumiu sua forma animal, que nunca havia sido vista pelo sobrinho e seus amigos antes. Ela se transformara em um belíssimo e enorme cão branco, que ia na direção de Lupin rosnando, como se tentasse — em vão —, convencê-lo a sair dali.
Quando o lobisomem se empinou, batendo as longas mandíbulas, Sirius desapareceu do lado de Harry. Transformara-se. O enorme cão semelhante a um urso saltou para a frente. E quando o lobisomem se livrou da algema que o prendia, o cão agarrou-o pelo pescoço e puxou-o para trás, afastando-o de Rony e Pettigrew enquanto servia como uma barreira para que ele não passasse e fosse em direção aos outros. Sirius e Lupin se atacaram, mandíbula contra mandíbula, as garras se golpeando…
Harry parou, petrificado com a visão, demasiado absorto com a batalha para prestar atenção em outra coisa. Foi o grito de Hermione que o alertou...
Pettigrew tinha mergulhado para apanhar a varinha caída de Lupin. Rony, mal equilibrado na perna enfaixada, caiu. Houve um estampido, um clarão... E Rony ficou estirado, imóvel, no chão. Outro estampido... Bichento voou pelo ar e tornou a cair na terra fofa.
— Expelliarmus! — berrou Harry, apontando a própria varinha para Pettigrew. A varinha de Lupin voou muito alto e desapareceu de vista. — Fique onde está! — gritou Harry, correndo em frente.
Tarde demais.
Pettigrew se transformara. Harry viu seu rabo pelado passar pela algema no braço estendido de Rony e o ouviu correr pelo gramado. Um uivo e um rosnado prolongado e surdo ecoaram. Harry se virou e viu o lobisomem fugindo, galopando para a floresta...
— Sirius, ele fugiu, Pettigrew se transformou — berrou Harry.
Black sangrava. Havia cortes profundos em seu focinho e nas costas, mas ao ouvir as palavras de Harry ele tornou a se levantar depressa e, num instante, o ruído de suas patas foi morrendo até cessar ao longe.
os encarou, como se pedisse que eles ficassem ali e então ela tornou a correr atrás dos outros dois. Harry e Hermione correram para Rony.
— Que foi que Pettigrew fez com ele? — sussurrou Hermione. Os olhos de Rony estavam apenas semicerrados, a boca frouxa e aberta. Sem dúvida, estava vivo, eles o ouviam respirar, mas não parecia reconhecer os amigos.
— Não sei.
Harry olhou desesperado para os lados. Não havia mais nenhum adulto em sua companhia exceto Snape, que ainda flutuava, inconsciente, no ar.
— É melhor levarmos os dois para o castelo e contarmos a alguém — disse Harry, afastando os cabelos dos olhos, tentando pensar direito. — Vamos...
Mas então, para além do seu campo de visão, eles ouviram latidos, um ganido; um cachorro em sofrimento.
— Sirius… — murmurou Harry, olhando para o escuro.
Ele teve um momento de indecisão, mas não havia nada que pudessem fazer por Rony naquele momento, e pelo que ouviam, Black e sua tia estavam em apuros. Harry saiu correndo, Hermione em seu encalço. Os latidos pareciam vir da área próxima ao lago. Eles saíram desabalados naquela direção, e Harry, correndo sem parar, sentiu o frio sem perceber o que devia significar...
Os latidos pararam abruptamente, dando lugar aos de que soavam como adagas perfurando seu peito e deixando-o sem ar. Quando os garotos chegaram ao lago viram o porquê:
Os dois estavam em sua forma humana novamente. Sirius estava caído, com as mãos na cabeça e logo ao seu lado, cada vez mais fraca, os gritos se tornavam murmúrios e gemidos baixos.
Então Harry os viu. Dementadores, no mínimo uns cem deles, deslizando em torno do lago num grupo escuro que vinha em sua direção. O menino se virou, o frio de gelo seu conhecido penetrando suas entranhas, a névoa começando a obscurecer sua visão; eles não estavam somente surgindo da escuridão por todo o lado, estavam cercando-os...
— Hermione, pense em alguma coisa feliz! — berrou Harry, erguendo a varinha, piscando furiosamente para tentar clarear sua visão, sacudindo a cabeça para livrá-la da leve gritaria que começara dentro dela.
Eu vou morar com o meu padrinho e minha madrinha. Vamos ser uma família.
Ele se forçou para pensar naquilo, somente naquilo, e então começou a cantar:
— Expecto Patronum! Expecto Patronum!
Black estremeceu, rolou de barriga para cima e ficou imóvel no chão, pálido como a morte. ainda lutava, mas não demorou para que ela desfalecesse no chão.
Ele tentou, por muito tempo, cantar e até mesmo gritar o feitiço. Assistiu Hermione desmaiar ao seu lado, mas suas forças pareciam em vão. Harry sentiu os joelhos baterem na grama fria. O nevoeiro nublou seus olhos. Com um enorme esforço, ele lutou para se lembrar.
Sirius era inocente... Inocente... Ele vai ficar bem… Minha madrinha vai ficar bem... Eu vou morar com os dois...
— Expecto Patronum! — exclamou.
À luz fraca do seu Patrono informe, ele viu um dementador parar, muito perto dele. Não conseguiu atravessar a nuvem de névoa prateada que Harry conjurou. A mão morta e viscosa deslizou para fora da capa. Ela fez um gesto como se quisesse varrer o Patrono para o lado. Um terror paralisante invadiu Harry de modo que ele não conseguia se mexer nem falar. Seu Patrono piscou e desapareceu. O nevoeiro branco o cegava. Ele tinha que lutar... Ele não conseguia ver...
Mas um par de mãos pegajosas e fortes, de repente, se fechou em torno do pescoço de Harry. Forçaram-no a erguer o rosto, ele sentiu seu hálito... Ia se livrar dele primeiro… Sua mãe gritava em seus ouvidos. Ia ser a última coisa que ele ouviria...
E então, através do nevoeiro que o afogava, ele achou que estava vendo uma luz prateada que se tornava cada vez mais forte. Ele sentiu que estava emborcando na grama, com rosto no chão, demasiado fraco para se mexer, nauseado e trêmulo, Harry abriu os olhos.
O dementador devia tê-lo soltado. A luz ofuscante iluminava o gramado ao seu redor... Os gritos tinham cessado, o frio estava diminuindo… Alguma coisa estava obrigando os dementadores a recuar... Girava em torno deles quatro. Os dementadores estavam se afastando, o ar reaquecia...
Com muito esforço, pôde ver um animal distanciando-se a galope através do lago. Os olhos embaçados de suor, Harry tentou distinguir o que era... Era fulgurante como um unicórnio. Lutando para se manter consciente, viu-o diminuir o galope ao chegar à margem oposta do lago. Por um momento, Harry viu, à sua claridade, alguém que lhe dava as boas-vindas...
Harry não entendeu. Não conseguia mais pensar. Sentiu que suas últimas forças o abandonaram e sua cabeça bateu no chão quando ele desmaiou.

🐾🐾🐾


— Eu gostaria de falar com Harry e Hermione a sós — repetiu Dumbledore.
Snape deu um passo em direção ao diretor.
— Sirius Black demonstrou que era capaz de matar com a idade de dezesseis anos. O senhor se esqueceu disso, diretor? O senhor se esqueceu que no passado ele tentou me matar?
— Minha memória continua boa como sempre, Severo — disse Dumbledore, em voz baixa. Snape girou nos calcanhares e saiu decidido pela porta que Fudge ainda segurava aberta. A porta se fechou à passagem dos dois e o diretor se virou para Harry e Hermione. Os dois
desataram a falar ao mesmo tempo.
— Professor, Black está dizendo a verdade, nós vimos Pettigrew...
— ... ele fugiu quando o Prof. Lupin virou lobisomem...
— ... ele é um rato...
— ... a pata dianteira de Pettigrew, quero dizer, o dedo, ele cortou fora...
— ... Pettigrew atacou Rony, não foi Sirius...
Mas Dumbledore ergueu a mão para interromper o dilúvio de explicações.
— É a vez de vocês ouvirem, e peço que não me interrompam, porque o tempo é muito curto! — disse Dumbledore em voz baixa. — Não existe a mínima evidência para sustentar a história de Black, exceto a palavra de vocês... E a palavra de dois bruxos de treze anos não irá convencer ninguém. Uma rua cheia de testemunhas jurou que viu Sirius matar Pettigrew. Eu mesmo prestei depoimento ao ministério que Sirius era o fiel do segredo dos Potter.
— O professor Lupin pode lhe contar... Minha tia pode testemunhar! — falou Harry, incapaz de se refrear.
— O professor Lupin no momento está embrenhado na floresta, incapaz de contar o que quer que seja a alguém. Quando voltar à forma humana, será tarde demais, Sirius estará mais do que morto. E eu poderia acrescentar que a maioria do nosso povo desconfia tanto de lobisomens que o apoio dele contará muito pouco. E o fato de que ele e Sirius são velhos amigos… Sua tia está desacordada, os dementadores provavelmente a prejudicaram mais do que a qualquer um ali. — Dumbledore apontou para uma adormecida e ainda pálida há alguns leitos de distância — E mesmo que ela estivesse acordada, o mesmo se aplica a ela. Ela e Sirius foram noivos...
— Mas...
— Ouça, Harry. É tarde demais, você entende? Você precisa admitir que a versão do professor Snape sobre os acontecimentos é muito mais convincente do que a sua.
— Mas o senhor acredita em nós.
— Acredito — respondeu Dumbledore em voz baixa. — Mas não tenho o poder de fazer os
outros verem a verdade, nem de passar por cima do ministro da Magia...
Harry encarou seu rosto sério e sentiu como se o chão estivesse se abrindo debaixo dos seus pés. Acostumara-se à ideia de que Dumbledore poderia resolver qualquer coisa. Esperava que o diretor tirasse alguma solução surpreendente do nada. Mas não... A última esperança dos garotos desapareceu.
— Precisamos — disse Dumbledore lentamente, e seus claros olhos azuis correram de Harry para Hermione — é de mais tempo.
— Mas... — começou Hermione. Então seus olhos se arregalaram. — AH!
— Agora, prestem atenção — continuou o diretor, falando muito baixo e muito claramente. — Sirius está preso na sala do professor Flitwick no sétimo andar. A décima terceira janela a contar da direita da Torre Oeste. Se tudo der certo, vocês poderão salvar mais de uma vida inocente hoje à noite.


Capítulo 8

Rua dos Alfeneiros, novembro de 1994.

Sirius Black continuava foragido, mas agora, e Harry tinham a certeza de que ele era inocente e que, de algum jeito, a verdade surgiria e logo todo o sofrimento acabaria. As férias passaram e, logo Harry voltava a Hogwarts para seu quarto ano.
E, como nenhum de seus anos estava fadado à tranquilidade, dessa vez não seria diferente. O garoto fora escolhido como um dos campeões do Torneio Tribruxo e depois de um berrador de , uma “reunião” com Sirius pela lareira da comunal da Grifinória e muitas cartas e conversas, ambos estavam convencidos de que aquilo era mais alguma armação contra Harry.
Era difícil manter a calma, já faltava arrancar os cabelos desde que o sobrinho entrara em Hogwarts, pois todo ano era algo diferente para colocá-lo em risco. Mas ela não podia negar que esse ano estava sendo mais fácil, visto que tinha com quem dividir o fardo, mesmo que por cartas que demoravam cerca de meses para serem respondidas.
Até que, naquela noite de sexta-feira, minutos depois de aparatar em casa após um plantão intenso no St. Mungus, ouvira o som da campainha. A mulher estranhou, quem diabos estaria a procurando às dez da noite?
Quando abriu a porta avermelhada, Potter soltou uma gargalhada audível enquanto o cachorro magro passava pelo espaço entre ela e a porta. Potter observou o carpete, logo as patinhas se tornaram pés e o homem estava parado à sua frente com um sorriso sacana no rosto.
— Você só pode ter enlouquecido! O que faz aqui? — ela perguntou entredentes, pegando a varinha e, em um acesso, fechando todas as persianas da casa.
— Achei que você poderia adotar um cachorro por alguns dias. — deu de ombros, rindo. — Eu precisava vir, temos muito para conversar.
— Eu sei, mas você poderia ter esperado mais, não? Digo, porra Black! Se arriscou para conversar comigo? E se alguém o seguiu, ou se alguém está me espionando…
— Certas coisas nunca mudam… Você continua pensando demais, .
— Não penso demais, sou minimamente sensata! Ao contrário de você! — o homem agora se sentava no sofá, encarando-a com admiração enquanto ela lhe xingava por seja lá qual o motivo. Ele só queria guardar todos os detalhes dela, caso tudo desse errado. — E que porra de ideia foi essa de dar uma autorização para Harry ir a Hogsmeade e ainda falar “Não fala pra sua tia, se não ela vai me caçar até no inferno para comer meu fígado!” pro menino? Francamente!
Ele riu da tentativa de imitação que ela tentara reproduzir, ainda brava.
— Está rindo do que, seu idiota? Eu falo sério!
— Não estou duvidando! — ergueu as mãos em rendição — Só quis fazer algo legal pelo garoto, depois de anos… Para que ele saiba que pode contar comigo, sabe?
A mulher bufou, passando a mão pelos cabelos pretos e então apontou um dedo para ele.
— Ensina o Harry a esconder as coisas de mim que eu te ensino com quantos socos te deixo sem dentes, Sirius Black!
— Você envelheceu… É uma mãe sem tirar nem pôr, Potter! Até no jeito de falar, cruzes. — ele riu, mas parou imediatamente quando viu que a mulher encolheu os ombros e ficou calada. — Eu… Deduzi o que aconteceu. Se quiser podemos deixar esse assunto para depois e…
— Não. — ela disse, indo se sentar ao lado dele no sofá. — Eu me tornei mãe sim, cuidei de um menino lindo que tem quatorze anos e me faz querer arrancar meus fios de cabelo um a um. Até mesmo ele me chama assim às vezes, então tudo bem.
Ela deu de ombros enquanto brincava com os próprios dedos, era difícil ter que chegar àquele assunto.
— Eu perdi o bebê quando tudo aconteceu, acho que o susto e todo o choque me deixaram fragilizada demais. Remo me socorreu quando veio contar sobre sua… Hm… Mas não houve tempo para fazer nada.
Os olhos claros de Sirius se tornaram cintilantes. Ele já imaginava que tudo havia sido absurdamente difícil para , mas sempre a ideia de que seu filho ou filha e Harry estavam com ela o confortava quando ele se pegava pensando nisso tudo em Azkaban. O que, diga-se de passagem, acontecia com muita frequência.
Quando não estava preocupado com a saúde mental de após toda essa loucura e sobre o que ela achava dele, estava praguejando Pettigrew por não permitir que ele presenciasse o crescimento do afilhado e do próprio filho.
Ao qual, agora, ele sabia que nunca sequer havia nascido.
Suas mãos foram instantaneamente de encontro com as dela. , que não esperava o contato repentino, lhe sorriu fraco. Depois de tantos anos ela finalmente havia tirado um peso de seus ombros. A dor ainda era insuportável, mas ela conseguira falar sobre, o que já era considerado um avanço muito grande.
— Eu… Sinto muito. Não consigo mensurar o quanto isso tudo deve ter sido difícil pra você...
— Eu também, Six. — ela usou o apelido antigo enquanto afagava a mão dele — Não foi só eu quem perdi um filho aquele dia. Então eu também sinto muito. Seria difícil de qualquer forma, eu já havia perdido muito aquele dia.
E agora, com os olhos de Sirius presos aos seus, soube que nunca mais precisaria falar sobre esse assunto se ela não quisesse. Estava finalmente se libertando, se permitindo seguir em frente.
— Me desculpa. Eu me sinto tão injusta por ter achado que… — os olhos dela que agora cintilavam, abaixou a cabeça para que suas lágrimas caíssem sem a pressão de ser encarada por ele.
— Acho que você não precisa se desculpar… Não é como se as provas estivessem ao meu favor, sabe? — ele riu, sem humor algum.
— Mas eu, mais do que qualquer outra pessoa, te conheço, Sirius Black. Embora parte de mim soubesse e não acreditasse que você havia feito tudo aquilo, outra parte de mim morria de medo, pelo Harry e... E eu me sinto estúpida por isso.
isso não importa mais. Agora tudo está se resolvendo e poderemos corrigir tudo isso juntos. — Sirius murmurou, aproximando-se dela. Potter podia sentir sua respiração cada vez mais perto, mesmo que seu corpo parecesse anestesiado tão perto assim de Black. Parte dela lutando para se afastar e outra lembrando de como sentira falta de seus beijos, seu toque, sua presença… A mulher apenas fechou os olhos e se afastou.
— As coisas não se resolveram ainda e podem nunca se resolver, Sirius. Eu não acho que seja certo fazermos qualquer coisa juntos daqui pra frente. Eu já sofri demais, você já sofreu demais, Harry então… — negava com a cabeça. — Nós dois já tentamos! Planejamos uma vida e uma família e o destino nos provou que não dá certo, que não era pra ser...
— É reconfortante Potter. — começou ele com ironia — Estive pelos últimos anos da minha vida sonhando em um dia te ter de volta e…
— Não creio que isso seja o correto. — ela disse ao mesmo tempo, fazendo com que ele soltasse sua mão para segurar em seu queixo, aproximando o rosto dela ao seu.
— Sempre te achei a mulher mais inteligente que conheço, Potter. — Sirius disse entredentes — Mas agora só consigo te achar uma tola!
Ela não conseguiu dizer nada, a proximidade limitando seu raciocínio e a presença dele tão próxima assim de si depois de tanto tempo a deixando inebriada. Mas Sirius a conhecia o suficiente para saber por que ela tinha medo.
não temia só por si, temia por Harry, temia pela segurança de Sirius, temia que as coisas não dessem certo mais uma vez porque, mais que qualquer outra coisa, ela temia não conseguir mais se levantar se a vida lhe desse outra rasteira.
— Dá pra entender que agora eu estou aqui com você? — a voz dele era baixa, em um tom brando e carinhoso. — Eu te amo, . Não há mais nada nos meus planos além de ser seu cachorrinho até o final da minha vida.
Agora seu tom era levemente divertido, um sorriso brincou nos lábios dele e foi completamente impossível não sorrir de volta. não se sentiria segura de uma hora para a outra, mas agora conseguia ver que podia dar pequenos passos e que teria Sirius ao seu lado, então nada pareceu mais certo do que unir seus lábios com urgência e saudade.
Quando seus lábios se tocaram, fora como ter o corpo entrando em combustão. Relembrar como era o toque da mulher que amava e tê-la em seus braços mais uma vez deixavam Black em êxtase. Ele a conhecia bem demais para saber que, metódica como era, Potter não havia mudado nada. Seu cheiro era exatamente o mesmo, assim como a maneira como ela acariciava sua nuca enquanto o beijava.
Céus, como a desejava. Como sentira a falta dela.
— Hm… — ela sorriu marota quando cessaram o beijo, mas ainda próximos o suficiente para iniciar outro e outro… — Me conte mais dessa história de ser meu cachorrinho, Black.
— Oras, voltar a ser como sempre foi. — a intensidade do olhar que Sirius lançou a ela fez com que suas pernas bambearem, e ela nem precisava estar de pé para sentir aquilo. — Afinal, Potter, você é a única mulher que me deixa como um cachorrinho indefeso completamente rendido pela dona, cujas funções são te obedecer, te fazer extremamente feliz e só ir embora se você mandar.
— Isso significa que hoje posso te fazer uivar? — questionou ela, contendo uma risada.
— Hoje e quando quiser. — ele corrigiu, antes de beijá-la novamente e seguir escadaria acima com a mulher em seu colo.


Capítulo 9

Rua dos Alfeneiros, Natal de 1994

Havia uns bons anos que não se sentia nervosa de uma forma positiva. Aquele nervoso de quando algo incrível está prestes a acontecer. Não, pensou ela. Havia se sentido assim anos atrás quando vira o sobrinho ganhando a taça de quadribol pelo time da Grifinória e no início do mês anterior quando ela e Sirius se acertaram.
Estava receosa. Não sabia o que Harry ia pensar, não sabia o que Sirius ia pensar e muito menos o que ela mesma estava pensando. Sobretudo, o medo que a assombrava diariamente desde que descobrira que estava grávida era que tudo acontecesse novamente, mas ela estava aos poucos aprendendo a se tranquilizar quando isso acontecia.
Era um bebê diferente em um contexto diferente. Tá, não tão diferente assim já que agora era Sirius quem estava escondido, mas ainda assim davam um jeito de se ver com frequência. Ele estaria com ela e isso já tornava tudo muito mais fácil.
Os latidos se fizeram presentes e então ela respirou fundo, checando a mesa que havia preparado. Desde que Harry entrara em Hogwarts, o Natal havia se tornado mais um dia normal do ano para . Quando não estava de plantão estava dormindo depois de uma maratona de filmes trouxas, mas não naquele ano.
Ela havia preparado tudo com muita dedicação, deixando claro que a ocasião era importante. Mesmo que estivesse usando pijama, era como se uma energia admirável irradiasse dela, deixando-a belíssima.
— Estou considerando fazer uma portinhola de cachorro pra você passar. — disse assim que Sirius retornou a sua forma humana.
— É uma ótima ideia. — murmurou ele enquanto a cumprimentava com um beijo.
Os dois caminharam até a sala de jantar e a mesa posta fez Sirius arregalar os olhos em surpresa.
— Estamos esperando mais alguém?
Ela riu, enquanto se sentava.
— Não, mas você não anda se alimentando direito, então achei que merecia um banquete natalino respeitável.
— E não queimou nada? — Black questionou, enquanto colocava seu prato. o encarou séria e então lhe deu um tapa no ombro enquanto o homem ria.
— Eu não queimei nada, idiota! Aprendi a cozinhar nesses anos… Ou você acha que eu ia conseguir sustentar uma criança com comida comprada e congelada? Seu afilhado é um saco sem fundo!
— Claro que Harry ia ter a fome inesgotável de Pontas. Mas poxa, , eu adorava salvar seu dia quando você queimava algo e começava a chorar. — ele riu, voltando a comer em seguida. Seu rosto ainda estava fino, e seus ossos extremamente salientes devido a magreza começavam a ser cobertos por gordura. Mas ainda assim, estava muito melhor do que quando ela o vira pela primeira vez na casa dos gritos. — Isso aqui está ótimo!
sorriu orgulhosa e então tornou a comer, já que sentia mais fome que o habitual agora. O jantar seguiu em meio a brincadeiras e risadas, a falta que sentiam um do outro era perceptível quando estavam juntos. Não desviavam o olhar um do outro, como se, a qualquer momento um deles fosse partir, como se aquilo tudo não fosse para sempre.
Mas ambos tentavam ao máximo internalizar que sim, a vida os dava mais uma chance e que agora sim, era para sempre.
— Te comprei um presente. — disse de uma só vez, em um súbito de coragem.
— Eu também te trouxe um. — Sirius começou a revirar o bolso do casaco em busca de algo.
— Você não precisava ter se arriscado, Six. — ralhou ela, enquanto o entregava a caixa amarela. — Precisa tomar mais cuidado, seu maluco!
— Eu estou tomando cuidado. — rebateu ele sorrindo. — Vou abrir o seu primeiro, aí te entrego o meu, pode ser?
Ela assentiu dando de ombros enquanto o observava com ternura, mesmo em meio ao turbilhão de angústia que se encontrava. Sirius desfez o laço branco com cuidado, levantou a caixa e então sua expressão praticamente se tornou um ponto de interrogação. Suas mãos trêmulas foram até o body branco, levantando-a e a colocando no próprio tórax.
— Isso é? — seus olhos confusos iam do pequeno body até .
Quando ele percebeu que na frente da peça tinham desenhos em formas de quatro patinhas posicionadas lado a lado — duas claramente de cães adultos, uma um pouco menor que as anteriores e outra bem pequena, como a de um filhote — a confusão dos olhos claros se tornaram lágrimas, questionando com o olhar se aquilo era verdade, e então a mulher assentiu chorosa.
Sirius riu. Uma gargalhada que não ouvia sair de si mesmo há muito tempo, então ele voltou a vasculhar o casaco e entregou a caixinha com o anel que planejara entregar depois das palavras que tanto havia ensaiado em vão. Seus sentimentos por eram algo que nunca poderia ser planejado, mensurado ou expresso com palavras.
Depois que os dois se abraçaram e iniciaram um beijo repleto de significados, eles não conseguiram dizer mais nada por boas horas. Mas não era necessário, seus sorrisos enormes falavam tudo. Eles seriam pais e aceitara ter um novo sobrenome em breve. Finalmente a vida começara a sorrir novamente para a recém formada família Potter-Black.

Sede da Ordem da Fênix, setembro de 1995

Alya Potter-Black já era muito amada pela família antes mesmo de vir ao mundo, mas quando colocada nos braços da mãe pela primeira vez, ficou claro que a pequena ainda teria muito amor para receber.
Mesmo que em um contexto caótico, entre a morte de Cedrico Diggory, o julgamento que Harry enfrentava no ministério e Voldemort de volta, a pequena bebê conseguia trazer luz entre as trevas que se instauravam.
A Ordem estava de volta, agora sedeada na antiga casa dos Blacks. Harry, mais uma vez, corria perigo, mas agradecia aos céus por não ter que enfrentar toda essa loucura sozinha. Estava começando a cair a ficha de que agora eles não estavam mais sozinhos, tinham a Ordem, tinham amigos e, agora, tinham uma família maior.
— Guarda? — perguntou Harry. — Temos de ir a King's Cross com uma guarda?
O início das aulas se aproximava e com isso, a Ordem realizava toda uma mobilização para que Harry fosse levado à estação em plena segurança.
Você tem de ir a King’s Cross com uma guarda — corrigiu-o Hermione.
— Por quê? — perguntou Harry, irritado. — Pensei que Voldemort estivesse agindo nas sombras ou será que você está me dizendo que ele vai pular de dentro de um latão de lixo e tentar me matar?
— Eu não sei, foi o que Olho-Tonto disse — respondeu Hermione desatenta, olhando para o relógio —, mas se não sairmos logo decididamente vamos perder o trem...
— SERÁ QUE VOCÊS PODEM DESCER AQUI, AGORA, POR FAVOR! — berrou a Sra. Weasley impaciente, e Hermione deu um salto como se tivesse se escaldado, e saiu correndo do quarto. Harry agarrou Edwiges, enfiou-a sem cerimônia na gaiola e saiu atrás da amiga, arrastando seu malão.
— Harry, você vem comigo e com Tonks – gritou a Sra. Weasley, tentando abafar os repetidos guinchos de “SANGUES-RUINS! RALÉ! CRIATURAS DA IMUNDÍCIE!” vindos do feitiço no retrato de Walburga — Deixe o malão e a coruja, Alastor vai cuidar da bagagem… Ah, pelo amor de Deus, Sirius, Dumbledore disse não!
Um cachorrão peludo aparecera ao lado de Harry quando ele tentava escalar os vários malões que atravancavam o hall e chegar à Sra. Weasley.
— Então eu vou! — fora a vez de argumentar enquanto balançava Alya no colo.
— Ah, francamente... Vocês dois são perfeitos um para o outro, até na teimosia... , querida, não tem ninguém para ficar aqui com Alya e por Deus, você pariu há menos de quinze dias! Tem que ficar de repouso, não vai de jeito nenhum! Ande, se despeça de Harry! — Molly gesticulava irritada com a insistência, sentia-se brigando com duas crianças. — Agora você que se vire, Black. Vá, mas que seja por sua conta e risco!
ergueu os olhos da bebê para o sobrinho e então piscou, ele sabia que ela daria um jeito. O garoto assentiu e então seguiu com o cachorro seguindo Molly no esquema de guarda completamente preparado para levá-los à estação.
— Depressa, depressa — disse a Sra. Weasley, distraída, quando o trem apitou e todos já estavam na plataforma prontos para o embarque, abraçando-os a esmo e segurando Harry duas vezes. — Escrevam... Se comportem... Se esqueceram alguma coisa nós mandaremos... Agora subam no trem, depressa...
Por um breve momento, o enorme cão negro ergueu-se nas patas traseiras e apoiou as dianteiras nos ombros de Harry, mas Molly empurrou o garoto em direção à porta do trem.
— Pelo amor de Deus, Sirius, comporte-se mais como um cachorro! — sibilou ela.
— Harry! — ouviu-se um grito e então todos se viraram na direção de , que corria com um carrinho de bebê até eles. O garoto correu até ela, abraçando-a o mais apertado que podia. — Eu te amo querido, por favor se cuide!
— Pode deixar, madrinha. Mal vejo a hora de voltar para ver você e a Alya no Natal… — Harry disse enquanto abaixava-se para acariciar as bochechas gordinhas da prima, que dormia completamente alheia a tudo ao seu redor. Um latido pode ser ouvido, fazendo o garoto revirar os olhos e virar-se para Sirius, cochichando — E você também, claro.
O apito do trem soou e então ele correu para o trem, sob os murmúrios de Molly os apressando.
— Até mais! — gritou Harry pela janela aberta, quando o trem começou a andar.
A volta para casa, depois da bronca vinda de Molly, fora mais tranquila. Logo já repousava novamente com Alya em seu peito, adormecida. Sirius não demorou para fazer companhia a elas.
— Vai ser um bom ano para ele, não vai? — questionou esperançosa, com a voz baixa. Raras eram as vezes que ela não estava pensando em como tudo seria nesse novo ano, como o sobrinho lidaria com os olhares tortos e com sua própria consciência.
— Vai ser um bom ano para todos nós, amor. — Sirius beijou-lhe na altura da têmpora. — Difícil, mas nós já estamos acostumados a encontrar uma forma de sermos felizes em meio ao caos, então… Vai ser, eu prometo.
A mulher assentiu, ele tinha razão. Harry mais do que qualquer um estava acostumado a anos turbulentos, e como sempre ela estaria ali para tentar fazer de tudo aquilo algo bem menos doloroso, o que a fez sorrir antes de adormecer.
Dessa vez ela não teria que fazer isso sozinha.


Capítulo 10

Há alguns momentos na vida que simplesmente sentimos quando algo irá mudar nossas vidas para sempre. nunca sabia dizer se essas sensações eram relativas a algo positivo ou a algo negativo, visto que sentira isso pela primeira vez quando tudo entre ela e Sirius realmente mudou quando eram apenas adolescentes, anos mais tarde no dia da morte de James e Lily e também no dia em que descobrira que esperava Alya, então nunca sabia ao certo se se sentir com medo ou repleta de expectativa.
Mas ela soube que aquele dia claramente não era normal. Suas mãos suavam e seus batimentos estavam acelerados sem ela nem mesmo saber o porquê, era como se seus olhos vagassem por todos os lugares observando detalhes que nunca tivera visto antes em uma tentativa de guardá-los na mente.
Olhou para as fotos de alguns meses antes em seu casamento improvisado e sorriu. Sirius tinha um jeito peculiar de sorrir, era como se sorrisse com a alma, dando tudo de si e despertando o melhor nas pessoas. Céus, como amava isso nele.
Em seguida, em meio a algumas lágrimas de uma Alya igualmente desconfortável, a acalmou e então ambas ficaram ali, se olhando pelo que pareceu ser uma eternidade até que a garotinha simplesmente pegasse no sono. Aquilo era atípico, pensou a mãe franzindo o cenho, logo Alya que sempre demorava tanto para dormir e sempre necessitava de uma atenção maior dela e muitas vezes de Sirius, dormindo assim tão rápido e tranquilamente?
Não que ela estivesse reclamando, claro. Pelo contrário, a mulher sorriu e começou a observar os mínimos detalhes da pequena bebê de dez meses. Alya era a perfeita fusão de Six e dela mesma. Os cabelos castanhos imponentes em grande quantidade de fios começavam a formar ondas como os de quando mais nova, seus olhos eram claros como os do pai e a personalidade de Aly já se mostrava ser única, forte e decidida, um pouco como a dos pais, mas decididamente mais como ela mesma.
colocou a bebê de respiração tranquila no berço e então tornou a ver as fotos, observando dessa vez uma que também era de seu casamento, onde ela, Sirius e Harry, que segurava Alya no colo, sorriam. No dia em si, Potter — agora Black — não se deu conta de quanto estava feliz e realizada por ter tudo o que sempre sonhou, estava extasiada demais para tal. Então naquele momento, visualizando o pedaço de papel em movimento, Potter-Black sentiu-se repleta do mais puro sentimento de gratidão que sentira na vida.
Tudo se confirmou quando olhou o sorriso do sobrinho. Ah Harry, seu pequeno, doce e tão amado Harry… Estava tão feliz por poder lhe proporcionar aquilo. tentou buscar em sua mente quantas vezes vira o sobrinho sorrindo daquela forma. E, graças ao que os dois tinham — diferente do que estava destinado a ser se naquele dia ela não impedisse que o pequeno fosse entregue aos Dursleys—, conseguiu lembrar de inúmeros momentos como aquele.
Momentos em que Harry se sentira amado, momentos em que ele teve uma família e não só o fardo de ser quem é e todas as responsabilidades que foram jogadas em si mesmo tão novo.
Tomada por um sentimento nunca antes experimentado, procurou por um pedaço de papel, precisava escrever e se comunicar com ele de alguma forma. Era como se buscasse ar. Quando finalmente tinha tudo que precisava em mãos, colocou-se a escrever rapidamente:
“Querido Harry, sob a tortura excruciante que sinto no meu peito em meio a uma angústia inexplicável resolvi te escrever. Ouvi uma vez que quando nos sentimos dessa forma devemos pensar em coisas boas e falar com quem amamos coisas que nunca diríamos com tanta facilidade. Meu maior sonho é vê-lo feliz, saber que te amei e fiz o melhor que pude para te dar uma boa vida é o que me conforta. Você é amado, é um rapaz (sim, me dói dizer que você não é mais o bebê que ninei até pegar no sono) com o coração cheio de bondade. Sei que onde estiverem seus pais estão orgulhosos de quem você se tornou e eu quero que saiba que eu também. Não se deixe abater com o que vier pela frente, você é corajoso querido, lute! Pois se nada der certo, sempre estarei aqui para você e daremos um jeito nisso juntos. Seja o que for, estarei com você, nunca esqueça que te amo mais do que possa imaginar. Você é minha pessoa favorita no mundo, lembra?
Com amor, madrinha”

Com lágrimas nos olhos, enrolou o bilhete na pata de Edwiges, que voou na penumbra da noite. Quando a mulher fechou os olhos a fim de tentar se acalmar, a porta se abriu abruptamente.
— Querida… — Molly começou incerta, ali mesmo ela entendeu que algo estava errado.
— Harry corre perigo, temos que ir. — Sirius quem disse, sabia como a esposa odiava rodeios. — Acho melhor você fic…
— Você não acha nada. — o interrompeu rispidamente — Vou atrás do Harry e nem tente me impedir!
Ela caminhou até o berço da filha, que dormia tão serenamente ao ponto de sua boquinha formar um bico e as bochechas se tornarem visivelmente maiores do que já eram. Os olhos de brilharam quando acariciou lhe os cabelos escuros e depositou um beijo rápido em sua testa. Sentia que precisava deixar claro todo seu amor para aquele pequeno ser humano tão indefeso.
— Volto já, querida. Mamãe te ama.
— Monstro fica com ela. — Molly a tranquilizou, assentiu e então os três saíram de encontro ao restante da Ordem. Todos falavam uns sobre os outros enquanto só sentia-se mais acuada, encostada em um canto sem nem conseguir chorar.
Remo olhou para a amiga apreensivo e então sentiu-se na necessidade de falar com ela e explicar melhor o que acontecia, uma vez que Sirius agia mais com o impulso, partia para a ação e pecava no zelo que necessitava tanto: de entender claramente o que acontecia.
, Harry caiu em uma armadilha. Parece que Voldemort entrou na mente dele, mostrando que você e Sirius corriam perigo, então ele veio correndo com os amigos para tentar salvá-los. — explicou calmamente, segurando um dos braços dela.
assentiu, assustada demais para raciocinar.
— Remo. — disse ela, subitamente — Eu acho que realmente corremos perigo, estou com um pressentimento horrível.
— Ei! — ele a tomou em um abraço — Estamos juntos. Estaremos lá para ajudá-los em breve.
— Me desculpa. — ela disse, sem sentido algum na cabeça do homem — Eu agradeço tanto por tê-lo como melhor amigo, Remo… Fico feliz em vê-lo feliz, Dora é incrível e vocês são perfeitos um para o outro.
Remo sorriu, extremamente confuso com o rumo da conversa.
— Assim como você e Sirius, Narizinho. — Lupin falou, agora realmente a entendendo comprovando o que ele mesmo disse. Sirius caminhou até ele, olhando preocupado para a esposa.
— Temos que ir.
Apegada na fala do marido, assentiu e ambos tornaram a escutar o que os demais membros diziam.
— Por favor, tome cuidado. — pediu ela a Sirius, que selou seus lábios rapidamente. sentiu-se como na primeira vez que se beijaram, algo lhe dizendo que ambos seriam igualmente marcantes.
— Não se preocupe. Logo voltaremos para casa, eu prometo.
Ela assentiu e então concentrou-se assim como os demais para então aparatarem em direção ao Departamento de Mistérios.
A situação estava caótica, embora o sobrinho e seus amigos tivessem lidado com a situação tão bem até o momento. procurou pelo garoto como se sua própria vida dependesse daquilo com Sirius em seu encalço.
Encontrou-o com Neville, enquanto um dos comensais rosnava na orelha dele.
— Me dê isso, me dê a profecia...
O homem o apertava tanto que Harry parecia cianótico. Através dos olhos marejados de lágrimas, o garoto viu Sirius começou a duelar com um Comensal da Morte a uns três metros de distância, Quim lutava com dois ao mesmo tempo; Tonks, ainda na metade da descida, disparava feitiços contra Belatrix – ninguém parecia perceber que Harry estava morrendo.
Harry virou a varinha para trás em direção ao lado do corpo do homem, mas não teve ar para enunciar o encantamento, e a mão livre do homem tentou alcançar a mão em que o garoto segurava a profecia...
Neville se precipitara de algum lugar; incapaz de articular um feitiço, enfiou a varinha de Hermione na fenda da máscara do Comensal da Morte. Mas então a madrinha apareceu em seu campo de visão. Seu olhar tomado pela fúria e sua respiração ofegante. ergueu a varinha com maestria e em um só movimento ela suspendeu o homem asqueroso no ar, que soltou um uivo de dor quando ela o levou ao chão bruscamente com apenas mais um aceno silencioso de varinha. Harry, recuperando-se aos poucos virou e exclamou:
ESTUPEFAÇA!
O Comensal da Morte tombou de costas e sua máscara caiu: era Macnair, o quase carrasco de Bicuço, um dos seus olhos agora inchado e injetado.
— Bom trabalho meninos. Agora andem. — acenou com as mãos chamando-os para perto dela.
Harry deu-lhe um meio sorriso, como agradecimento, que não durou muito já que sua atenção fora direcionada para Neville, puxando-o para o lado, no momento em que Sirius e seu Comensal da Morte passaram por eles, duelando com tanta ferocidade que suas varinhas pareciam borrões; então, o pé de Harry bateu em alguma coisa redonda e dura e ele escorregou. Por um momento, pensou que tivesse deixado cair a profecia, então viu o olho de Moody rolando pelo chão.
Seu dono estava deitado de lado, a cabeça sangrando, e o atacante agora avançava para Harry e Neville: Dolohov, seu rosto pálido e comprido torcido de prazer.
Tarantallegra! – gritou ele, a varinha apontada para Neville, cujas pernas iniciaram imediatamente um sapateado frenético, que o desequilibrou e o fez cair de novo no chão. — Agora, Potter...
Ele fez o mesmo movimento cortante com a varinha que usara contra Hermione na hora em que Harry berrou:
Protego!
O garoto sentiu alguma coisa correr de um lado a outro de seu rosto como uma faca cega; a força do golpe derrubou-o para o lado e ele caiu em cima das pernas dançantes de Neville, mas o Feitiço Escudo impedira o feitiço de se completar.
Dolohov tornou a erguer a varinha, mas fora impedido por um soco vindo de . O homem cuspiu sangue, mas não teve chances para se recuperar, logo fora atingido novamente por mais um golpe, que Harry jurou ter feito seus olhos tontearem.
— Mexa com meu sobrinho novamente que eu te mostro com quantos socos você precisará de uma prótese. — rosnou ela.
Sirius se precipitara de algum lugar para ajudar a esposa e o afilhado, batendo em Dolohov com o ombro e fazendo-o voar para longe. A profecia mais uma vez escorregou para as pontas dos dedos de Harry, mas ele conseguiu retê-la. Agora Sirius e Dolohov duelavam, suas varinhas cortando o ar como espadas, faíscas voando de suas pontas.
Dolohov puxou a varinha para fazer o mesmo movimento cortante que usara contra Harry e Hermione. Pondo-se em pé de um salto, Harry berrou:
— Petrificus Totalus! — mais uma vez, os braços e pernas de Dolohov se juntaram e ele adernou para trás, caindo com estrondo.
— Boa! — gritou Sirius, empurrando a cabeça de Harry para baixo quando uns dois Feitiços Estuporantes voaram em direção a eles. — Agora quero que vocês saiam d...
Um empurrão vindo de fez com que os dois tornassem a se abaixar; um jato de luz verde quase atingiu Sirius. Do outro lado da sala, Harry viu uma Tonks caindo na subida dos degraus, seu corpo inerte rolando de degrau a degrau e uma Belatrix, triunfante, voltar correndo para a briga.
— Harry, leve a profecia, agarre Neville e corra! — berrou Sirius, correndo ao encontro de Belatrix. lançou um último olhar significativo, silabando com os lábios um "vá, vai ficar tudo bem", e então começou a duelar com um dos comensais mascarados. Harry não viu o que aconteceu a seguir: Quim passou pelo seu campo de visão, lutando contra o bexiguento Rookwood, já sem capuz; outro jato de luz verde voou por cima da cabeça de Harry quando ele se atirou em direção a Neville...
— Você consegue ficar em pé? — berrou no ouvido do garoto, enquanto as pernas de Neville sacudiam e torciam descontroladas. — Venha, apoie o braço no meu pescoço.
Neville obedeceu até que um homem se atirou sobre eles, fazendo com que os dois tombassem de costas. As pernas de Neville se agitavam sem direção como as de um besouro de barriga para cima, Harry com o braço esquerdo erguido no ar tentava impedir que a bolinha de vidro se quebrasse.
— A profecia, me dê a profecia, Potter! — vociferou Malfoy em seu ouvido, e Harry sentiu a ponta de uma varinha cutucá-lo com força nas costelas.
— Não... me... largue... Neville... apanha!
Harry atirou a profecia pelo chão, o garoto se virou para ficar de costas e aparou a bolinha no peito. Malfoy, então, apontou a varinha para Neville, mas Harry espetou a própria varinha por cima do ombro e berrou:
Impedimenta!
Malfoy voou para longe. Quando Harry conseguiu se levantar, olhou ao redor e viu o bruxo colidir com o estrado em que Sirius e Belatrix agora duelavam. Malfoy tornou a apontar a varinha para Harry e Neville, mas, antes que pudesse tomar ar para atacar, Lupin pulou entre eles.
— Harry, reúna os outros e VÁ!
Harry agarrou Neville pelos ombros das vestes e o ergueu até o primeiro degrau de pedra; as pernas do garoto se torciam e sacudiam, e não suportavam seu peso; Harry tornou a erguê-lo com todas as forças que tinha e subiram mais um degrau...
Um feitiço atingiu o degrau de pedra junto ao calcanhar de Harry, o degrau desmoronou e ele caiu no degrau abaixo. Neville afundou no chão, as pernas ainda entortando e se agitando, e ele enfiou a profecia no bolso.
— Vamos! — disse Harry, desesperado, puxando Neville pelas vestes. — Tente empurrar com as pernas...
Ele deu mais um puxão descomunal e as vestes de Neville se rasgaram ao longo da costura lateral — a bolinha de vidro caiu do seu bolso e, antes que um dos dois pudesse pegá-la, o pé descontrolado de Neville a chutou: a bolinha voou uns três metros para a direita e se espatifou no degrau abaixo. Quando os dois olharam para o lugar em que ela se quebrara, aterrados com o acontecido, um vulto branco-pérola de olhos enormemente aumentados se ergueu no ar, sem ninguém reparar.
Harry viu a boca do vulto se mover, mas com todas as colisões e gritos e berros que os rodeavam, não conseguiu ouvir uma só palavra da profecia. O vulto parou de falar e se evaporou.
— Harry, sinto muito! — exclamou Neville, seu rosto aflito e as pernas ainda se contorcendo.
— Não faz mal! — gritou Harry. — Tente ficar em pé, vamos dar o fora...
— Dumbledore! — disse Neville, seu rosto suarento subitamente arrebatado fixando alguma
coisa por cima do ombro de Harry.
— Quê?
— DUMBLEDORE!
Harry se virou para ver o que Neville olhava. Diretamente no alto, emoldurado pela porta da Sala do Cérebro, achava-se Alvo Dumbledore, a varinha no ar, seu rosto pálido e enfurecido. Harry sentiu uma espécie de choque elétrico em cada partícula do seu corpo — estavam salvos.
Dumbledore desceu depressa os degraus passando por Neville e Harry, que não pensava mais em ir embora. Dumbledore já estava ao pé dos degraus quando o Comensal da Morte mais próximo percebeu sua presença e berrou para os outros. Um dos Comensais correu o mais que pôde, esgueirando-se pelos degraus de pedra do lado oposto.
Um feitiço de Dumbledore o trouxe de volta com a maior facilidade, como se o tivesse fisgado com uma linha invisível...
Somente um par continuava a lutar, aparentemente sem notar o recém-chegado. Harry viu Sirius se desviar de um raio vermelho de Belatrix: ria dela.
— Vamos, você sabe fazer melhor que isso! — berrou ele, sua voz ecoando pela sala cavernosa.
Aquilo pareceu ter enfurecido Lestrange, que sorriu de maneira doentia. Harry assistiu a madrinha correr e sentiu o corpo relaxar, ela o ajudaria. Eles sairiam dali e tudo aquilo acabaria, enfim. Mas o raio vermelho fez com que o riso do rosto de Black sumisse e seus olhos se arregalaram de choque.
Harry soltou Neville, embora nem tivesse consciência do que fazia. Estava novamente descendo os degraus aos saltos, puxando a varinha, ao mesmo tempo que Dumbledore também se voltava para o estrado.
Mas já era tarde, não havia mais nada que pudesse ser feito.
Black sentiu o baque ao ser atingido com o choque do corpo de sobre o seu e então, ajoelhado no chão sobre a penumbra da sala, os gritos de Harry se fizeram presentes enquanto os braços de um Lupin igualmente abalado o seguravam.
Todo o corpo de Sirius tremia, suas pálpebras se apertaram, fazendo com que copiosas lágrimas o tomassem junto com a dor excruciante que ardia em seu peito. Era como se tudo ao seu redor tivesse parado, para que ele pudesse observar os cabelos esvoaçantes e os olhos castanhos e brilhantes que ele tanto amava se tornando opacos e sem vida enquanto o véu a recebia.

🐾🐾🐾

— Você vai mesmo continuar aí sentado sozinho e rabugento? — ela questionou rindo enquanto estendia a mão para Black.
O homem tirou seus olhos azuis da imensidão do mar a sua frente e os focou na paisagem que ele mais adorava admirar. Foi inevitável não sorrir junto com , Sirius sequer se lembrava o porquê de estar tão irritado antes.
Ela usava um lindo vestido azul claro de tecido leve, que flutuava junto com o vento, assim como seus cabelos.
— Vai logo Black, sua filha tá esperando. — ralhou enquanto ele ria segurando a mão dela para levantar. — Ela não aceita jogar sem o pai dela.
Black riu ainda mais com o revirar de olhos da esposa.
— Alya é comigo como Harry era com você, tudo tem que ter um equilíbrio, baby.
— Papai, papai, papai!
A garotinha corria pela areia até alcançar as pernas do pai, pulando e pedindo colo. Logo atrás dela vinha Harry, com a respiração falha, provavelmente por tentar alcançar a pequena Potter Black.
— Oi, meu amor! — Sirius se abaixou, segurando a filha que sorria eufórica. — Pronta para aprender a voar?
— Iupi! — ela festejou e então foi colocada no chão para que pudesse correr livremente pela areia com o primo.
Sirius observou os sorrisos enquanto Harry rodopiava Alya no ar e virou sua atenção para , que também fitava a cena com olhos marejados.
— Eu queria tanto realizar isso tudo com você… — ele confessou com a voz baixa e sem encará-la. A Potter-Black sorriu em meio às lágrimas e segurou carinhosamente a mão do marido.
— Nós realizamos o que o destino tinha para nós, e eu não poderia ser mais feliz e grata por isso.
— Eu só queria que você pudesse vê-la crescer, ver Harry vivendo uma vida tranquila depois de tanta dor.
— Eu vou ver tudo isso, amor. Vou estar aqui para eles assim como estou aqui agora para você.
A mulher se aproximou encostando a cabeça no ombro e abraçando a cintura de Almofadinhas, que apenas suspirou aborrecido.
— Ela é completamente igual a você, . No jeito de falar, de sorrir, de brigar pelo que quer… Se você estivesse aqui…
— Sei que vai fazer um bom trabalho com nossa menina. Essa garotinha ainda vai te fazer perder uns bons fios de cabelo, viu?
Ela depositou um beijo no ombro dele, se afastando.
— Precisa ir agora, eles precisam de você. Nossa Alya precisa aprender a jogar quadribol!
O homem riu baixinho, ainda observando a garotinha animada pulando ao ver que Harry fora pegar a vassoura de brinquedo dela.
— Quando vou te ver de novo?
— Quando quiser me encontrar.
Ela sorriu, aquele sorriso que desde seu primeiro dia em Hogwarts o fascinava.
— Eu te amo, Potter Black. Não tem um dia que eu não peça para te ter de volta, para continuar tentando realizar nossos planos.
— Eu te amo, Sirius Black. Não pense que nossos planos não deram certo, nosso pequeno furacão está aí pra te provar isso. Curtimos tanto cada palavra da frase que não nos importamos com o ponto final. Podemos continuar contando essa história de outro modo, em outro parágrafo.
Ela depositou um beijo suave nos lábios de Sirius, que sentiu apenas um formigamento que lembrava o leve toque dos lábios que ele conhecia tão bem.
— Padrinho? — a voz de Harry se fez notável e então Sirius abriu os olhos, voltando ao que sabia que era a realidade.
Observou a filha dormindo calmamente nos braços e o afilhado o encarando confuso.
— Tá tudo bem, Harry.
Com um aceno de cabeça como resposta, Sirius deu um tapinha nas costas do afilhado, direcionando-o até a porta avermelhada.
E então, com Alya nos braços e Harry em seu encalço, Sirius Black adentrou a casa de número dez da Rua dos Alfeneiros, de onde não poderiam sair até que o lorde das trevas fosse derrotado, por conta da proteção que o sangue do sacrifício de Lily tinha conferido a Harry e Petúnia.
Mas não se sentia mal quanto a isso.
A presença de como uma energia boa e constante rondando-os e o cheiro dela impregnado em todos os cantos fez com que ele se sentisse novamente em casa. sempre seria seu lar, onde sempre encontraria a parte que faltava para se sentir feliz e livre.
Livre.
Sirius Black finalmente era inocente e poderia aproveitar a segunda chance que a vida lhe dera ao lado dos filhos.




FIM.



Nota da autora:Olá! Depois de muito tempo aqui estou eu, finalizando In my soul. Demorei muito para conseguir finalizar, essa foi sem sombra de dúvidas a história mais pesada que já escrevi. Eu queria passar os sentimentos com intensidade, queria o reencontro perfeito (que SENHOR, como demorou pra sair!) e tudo isso exigiu muito de mim, então eu me respeitei, escrevia só quando estava realmente inspirada e quem escreve sabe que isso leva tempo demais kkkk, espero que tenha conseguido passar pra vocês toda a emoção que senti escrevendo.
E espero que não estejam me odiando agora por esse final kkkkkkkk, eu refleti muito, mas eu senti que essa era a opção que cabia aqui. Ainda planejo voltar com esse universo, em breve em uma história com as memórias da nossa Potter e de como o Sirius ficou depois da morte dela.
Obrigada por todas vocês que demonstraram amor por essa história, sempre me enchendo de carinho e esperando por todo esse tempo, espero ter conseguido retribuir esse carinho por aqui.
Até breve e com muito amor,
Ju Scairp 🤍

Nota da Scripter: EU NÃO ME SINTO NEM EM CONDIÇÕES DE FALAR SOBRE ESSE FINAL, POIS ESTOU EM LÁGRIMAS! SIRIUS BLACK NÃO TEM DESCANSO, A AUDÁCIA DESSA GAROTA!

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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