CAPÍTULOS: [Único]









Capítulo Único




Eu não queria ir. Primeiro porque eu não estava no clima, segundo porque... Porque eu não queria mesmo ir. Mas elas eram minhas amigas e nós nunca saíamos juntas, então eu meio que estava me obrigando.
- Você já está pronta, ? – Jenny me perguntou de forma amigável, aparecendo repentinamente no quarto com uma toalha nos cabelos e uma caixa de maquiagem nas mãos.
Suspirei. Jennifer era uma das minhas melhores amigas da faculdade, junto com outras quatro. Eu havia ido para a casa dela para irmos à festa, porque era bem mais perto e íamos ter uma carona – do namorado dela.
Como eu já disse anteriormente, não estava nenhum pouco a fim de confraternizar com pessoas desconhecidas, que iriam a super festa da faculdade que era oferecida pelo pessoal do curso de Direito. No entanto, eu e as meninas nunca saíamos juntas, talvez pelo fato de cada uma morar de um lado diferente da cidade, então quando essa oportunidade surgiu... Bem, elas decidiram que todas nós precisávamos ir, espairecer um pouco, mudar de ares.
No início eu resisti muito mais do que estou fazendo agora. Nós éramos em seis, mas do grupo, quatro namoravam – e com certeza levariam os namorados para a festa também, e esse era um dos motivos pelos quais eu não estava animada para ir -, outra era “livre, leve e solta”, como ela mesmo dizia. E então havia eu, um caso a parte da sociedade.
Não queria pensar nesse assunto, então suspirei novamente e me olhei no espelho enorme que havia no quarto da minha amiga. Eu estava devidamente vestida com um par de sandálias-melissa de salto preto e um vestido de alcinhas também preto, muito simples, mas elegante.
- Acho que sim. – respondi à sua pergunta.
- Certo. – ela ironizou. – E o seu cabelo? E a sua maquiagem? – exclamou.
Jenny era linda, e só agora fui perceber o que trajava: uma blusa grafite de meio ombro, cheia de strass, e uma calça jeans skinny de lavagem escura combinando com sandálias de salto da mesma cor da blusa. Seus cabelos estavam presos num meio rabo com uma presilha bastante brilhante, e sua maquiagem estava perfeita.
- Ah. – falei de modo simples.
- Você não quer mesmo ir nessa festa, né? – ela perguntou sentando-se ao meu lado na cama e agarrando minhas mãos.
- Só não estou no clima, Jenny. Mas não tem problema. – acrescentei a frase final depois. Não queria que ela pensasse que eu não gostava de sair com ela ou com as outras garotas.
- O que aconteceu? Você está estranha desde a semana passada... Daí pra mais.
Meu coração pulou do meu peito, fazendo um baque silencioso que só eu pude ouvir... ou sentir. Eu não gostava de me lembrar daquilo, por mais que as cenas ainda estivessem presas na minha mente.
Duas semanas desde , era assim que eu definia. Não tinha como classificar aquilo que nós havíamos tido como sexo casual, porque realmente, não havia sido uma coisa casual, afinal, aconteceu só uma vez! Nem podia considerar como um erro, porque ele havia dito que me amava. Não podia classificar aquilo como um encontro, porque foi uma coisa que aconteceu na rotina do dia a dia. Uma carona!
Então o que era? Eu não sabia. Não sabia direito o que havia acontecido, não sabia como estava me sentindo no momento... Não soube nem como reagir nos outros dias. Mas fiquei contente porque, depois do episódio do carro, só consegui encontrá-lo duas vezes em uma semana. E, confesso, havia sido muito estranho.
Havia sido no campus da faculdade, para variar. Ele estava com uns amigos e eu estava com as minhas amigas também, andando pela praça de alimentação porque as meninas queriam comer alguma coisa antes de ir para a próxima aula. E então ele apareceu.
Eu estava na fila com a Trish quando ele veio andando lindamente, no primeiro momento na minha direção. Ele não havia me notado, mas não tinha como eu não tê-lo visto, primeiro porque ele estava com aquela roupa social totalmente perfeita, segundo porque aqueles olhos castanhos amendoados brilhavam de uma forma tão intensa que eu só consegui ficar imobilizada por ele.
Segundos depois, acho que ele se sentiu observado, porque olhou na minha direção, diretamente em meus olhos, fazendo com que eu quase caísse no chão porque as minhas pernas não conseguiam mais suportar o peso do meu corpo todo mole.
Prendi a respiração e senti que ele havia feito o mesmo quando se aproximou ainda mais, com dois amigos também bonitos e altos ao seu lado.
Pensei no que aconteceria a seguir. Se ele pararia para falar comigo, se ele apenas acenaria ou se ele fingiria que eu não existia. E de repente não deu tempo de pensar em mais nada, porque ele já estava praticamente na minha frente, interrompendo toda a minha sanidade mental.
- Oi, ! – disse simpático.
- Olá, . – respondi pateticamente e ele acenou com a cabeça, passando por mim logo em seguida e acompanhando seus amigos para algum lugar longe de mim.
Soltei o ar de forma tão exasperada que me pareceu que meus pulmões haviam sido machucados. Havia sido exatamente como sempre era. Tão normal. Tão banal. Como se nada de especial tivesse acontecido entre nós.
Talvez ele estivesse com medo. É, com certeza era isso. Ele namorava, e ainda não havia resolvido essas questões, então não poderia mostrar alguma coisa em público a mais para comigo... Até porque ele era decente e legal demais para machucar a namorada, mesmo que ela nem estudasse na mesma faculdade que a gente.
Mesmo assim, não deixei de me sentir magoada. Ele disse que tentaria contornar toda aquela situação, mas, pelo visto, nada havia acontecido. Não sabia como ele havia resolvido o problema da aliança – que ele havia jogado fora quando estava comigo naquela manhã -, mas parece que aquilo não foi realmente um ponto de discussão entre ele e Melanie, porque não soube de nada. Eu não sei se esperava uma coisa imediata, mas eu queria que aquilo tudo se resolvesse logo... Por mais que tivesse acontecido apenas há três dias.
Na segunda vez que o vi naquela mesma semana foi numa mesma situação e aconteceu exatamente da mesma forma, o que me deixou ainda mais irritada e intrigada, além de magoada.
Então decidi acabar com isso. Se ficaria tudo na mesma coisa, aquele sexo no carro nem deveria ter acontecido. Sei que no começo havia sido tudo por impulso, um impulso idiota dos nossos hormônios, mas depois ele havia sido realmente legal e me confessado muitas coisas que eu nem fazia ideia que passavam na cabeça dele. Tipo o fato de que ele sempre havia gostado de mim, só não teve a oportunidade nem a coragem de dizer.
Na outra semana – aquela em que fiquei sabendo da festa de hoje – dei de cara com mais algumas vezes, mas foi diferente. Ele falava o habitual e simpático “Oi, ”, mas eu sequer lhe dirigia a palavra. Apenas dava um sorriso amarelo e passava por ele rapidamente, tentando não olhar para seu rosto.
E as coisas andavam assim desde então.
- Não foi nada, Jenny. – respondi depois de ficar inerte em pensamentos. Acho que ela percebeu o meu momento relapso, porque logo em seguida continuou:
- Tudo bem se não quiser falar. – ela se mostrou amigável, me dando um espaço que eu realmente precisava. – Quer ajuda para terminar de se arrumar? – perguntou sorrindo.
- Por favor. – pedi e ela me guiou pela mão até o banheiro, ajeitando meus cabelos num rabo alto desfiado e passando uma maquiagem simples, mas que incrivelmente havia destacado meus olhos escuros.
Tempo depois estávamos prontas, então Parker – namorado da Jenny – não precisou ficar nos esperando na sala por muitos minutos.
- Olha que gatinhas! – ele disse gargalhando e deu um selinho na minha amiga, me abraçando em seguida. – Como vão?
- Melhor agora. – ela disse e lhe deu mais um selinho, enquanto eu só fiquei observando-os com uma cara normal. O amor era realmente lindo... e idiota, na maioria das vezes.
Descemos até a garagem do apartamento, onde Parker havia estacionado o carro, e fomos em direção à festa.
Fui pensando o caminho todo. Era injusto fazer uma cara emburrada para todas as minhas amigas, que haviam realmente me entendido e falado que eu não precisaria ir na festa se não quisesse. Como achei sacanagem da minha parte não ir – até pelos motivos já explicados – tentei fazer uma cara melhor. Eu tentaria me divertir... eu só não esperava que pelos meios errados.

***


O lugar era incrível, não posso negar. Acho que foi por isso que eu fiquei encantada... e incrivelmente mais relaxada. Afinal, era enorme, lindo e havia muitas pessoas desconhecidas e muito bonitas também.
Havia quatro seguranças engravatados na entrada daquele lugar, que me parecia ser uma casa de show – só que muito mais complexa e reformada. Enfim, os homens estavam ali para pegarem os tickets de entrada e evitar que penetras entrassem.
Nós todos já estávamos ali – eu, minhas cinco amigas e os respectivos namorados de quatro delas -, afinal, havíamos combinado de ficar esperando na entrada para que pudéssemos entrar todos juntos.
Olhando o ambiente externamente, ele era enorme. Incrivelmente enorme e elegante, desenhado com um tipo de madeira chique e um vidro escuro para que quem estivesse do lado de fora não enxergasse. Não havia nenhuma placa indicando que ali era um ambiente que podia ser alugado por qualquer faculdade para dar uma festa.
De qualquer modo, nós fomos devidamente revistados, entregamos nossas entradas e ouvimos um “divirta-se!” de cada um que estava ali.
- Caramba, isso está maravilhoso! – ouvi minha amiga falar logo que passamos pelas portas da frente.
Eu tinha que concordar com ela. Primeiramente porque era enorme (sei que já disse isso, mas preciso repetir). Assim, muito mais enorme do que você pode imaginar só olhando de fora. Tinham vários ambientes – vários mesmo – que tocavam diferentes tipos de músicas, e eu nem consegui observar todos, só sabia daquilo porque tinham me falado.
Como eu não era muito entusiasmada com pagode ou samba, fui para o lugar onde ouvi a música eletrônica, dois andares abaixo da onde eu estava. A pista de dança ficava exatamente no meio de vários balcões, onde se serviam as bebidas. Era incrível, porque as mesas e o lugar dos bartenders estavam dispostas num círculo enorme, em volta da pista de dança.
Não sabia se os outros ambientes eram dessa maneira, mas eu havia amado aquele lá, e ficaria ali mesmo pelo resto da noite, mesclando entre mesa, pista de dança e balcão de bebidas. Falei como uma verdadeira bêbada agora.

***


Depois de praticamente duas horas ali dentro sentada, minha bunda já estava quadrada. Eu sei que é apenas início de festa e tal, e eu estava rindo bastante com as meninas – e eu até me socializei com uns garotos da mesa ao lado, o que foi bem legal também – mas eu estava ficando com um pouco de saco cheio daquilo. Talvez porque eu estava me desanimando... Ou porque eu não tinha bebido nada muito alcoólico por enquanto.
Mais alguns minutinhos se passaram, e a Jenny foi com o namorado para um outro ambiente (country? Não sei ao certo) para “mudar de ares”, como ela dizia. Sei.
As outras meninas também se espalharam, não antes de me perguntar se estava tudo bem comigo e se eu queria que elas ficassem ali para que eu não ficasse sozinha. Como não queria estragar a noite delas, falei que tudo bem. Foi o que bastou para que os garotos da outra mesa – eles eram em três – sentassem comigo e com a Lally e começássemos a conversar.
Foi engraçado. Devo dizer, muito engraçado. Tim era o mais palhaço, contava várias piadinhas sem graça, mas todos acabávamos rindo, talvez pelo efeito da bebida (sim, eu já havia começado a me alcoolizar, que maravilha). Ele era um cara bastante alto para a idade, 22 anos, e ele estava no último semestre de Administração, assim com o seu namorado, o outro cara que estava na mesa com a gente, Robbie. Esse último era praticamente o contrário do Tim: moreno, os olhos claros e quase da minha altura. Mas eles combinavam e eram o casal de gays mais engraçado que eu já havia conhecido. Combinamos de tentar nos encontrarmos mais vezes no campus da faculdade.
No entanto, esse fato me fez perceber que eles vieram até a minha mesa com as garotas por um só motivo. Podia ser a conversa, que estava bastante agradável, mas o que eu sabia que tinha por trás era o interesse do terceiro e último garoto na Lally.
Nem preciso comentar mais, né?
Mas eu tratei de parar de pensar naquilo e rir com o resto do povo, esperando o momento certo para sair para o meio da pista e extravasar dançando e me esbanjando na música. Só que eu nem precisei parar de prestar atenção na conversa por conta própria. Outra coisa já tinha feito isso por mim. Ou outro alguém, que tirou minha cabeça dos eixos e os olhos do lugar.
Ele estava lá. Quando eu digo “Ele”, me refiro ao , carma da minha vida. No mesmo recinto que eu, no mesmo momento... Só que acompanhado. Qual era o problema dele? Ou melhor, qual era o meu problema? Porque eu ainda queria sair correndo até ele e enlaçá-lo pela cintura, grudando sua boca na minha com tanta força para saciar parte das minhas necessidades? Eu já não havia me machucado o suficiente?
Eu era realmente masoquista, não era possível. Meus pensamentos me traíam a toda hora. Sabe quando você pensa: “Ele que se dane, eu vou mais é me divertir”? Então você tenta realmente fazer isso, mas nem o seu corpo e a sua cabeça deixam. Nenhum cara é bom o suficiente perto dele. Ou por não ter o mesmo cabelo, ou os olhos, ou o jeito, ou o nome... Ou nada. E aí você desiste daquela primeira ideia e segue para a próxima, que é: “Preciso de uma bebida forte.”
Então eu olho para minha mesa e vejo que já tem três copos de caipirinha vazios, o quarto em minhas mãos acabando de ser esvaziado. Certo, essa questão também era realmente tensa.
Respirei fundo, mas não adiantou muita coisa. Tive vontade de rir da minha própria desgraça. Talvez eu fizesse isso mais tarde... quando estivesse mais bêbada que o suficiente.
Ele estava lindo. Não posso dizer que mais lindo que o normal, porque ele era assim praticamente todos os dias. parecia um Deus grego enrustido, suas formas perfeitas. Ele era o típico cara que Deus criou e jogou a forma no lixo, para não ter ninguém mais parecido. Suas roupas conseguiam deixá-lo mais bonito... e provocante, por mais que não fossem realmente extraordinárias.
Não. Apenas a básica calça jeans escura – quase preta – e a camisa pólo também preta, com mais algumas coisinhas que eu não reparei, porque eu estava praticamente afundando em seus olhos (quem nem estavam voltados na minha direção) e babando no seu corpo perfeito.
Tentei não focar muito nele, mas era realmente difícil. estava ao lado da pista de dança, praticamente na minha frente, só que há alguns metros de distância, de forma que ele não me enxergava. Tinha uma lata de cerveja na mão esquerda e seu braço direito estava aberto apoiado na bancada, onde uma menina loira estava apoiada. Melanie.
É difícil dizer o quanto meu coração doeu ao ver aquela cena. Mas não doeu de forma simples, não mesmo. Era algo que eu nunca havia sentido antes, parecia que ele estava sendo esmigalhado aos poucos e da forma mais dolorosa possível. Como se tivessem quebrado um copo e estivessem enfiando os caquinhos lentamente e um por um dentro de mim. E nem essa comparação terrível parece fazer jus ao que eu estava sentindo no momento.
Os dois lá, juntos, com sorrisos enormes nos rostos num grupo de amigos, e eu cobiçando o que não era meu, sentada numa bancada sozinha (não posso considerar a Lally se atracando com um desconhecido do outro lado da mesa, eles nem me davam atenção. Não que eu a quisesse).
O meu pecado era realmente a cobiça. Ou a inveja, se preferirem. Puta que pariu, como eu gostaria de ser a Melanie nesse exato momento.
Certo, recuperação, . Você não queria vir a essa festa e acabou vindo, agora você vai ter que se virar. Nada de ficar chorando depressiva pelos cantos por um homem idiota, você é mais forte que isso. Você é gata, linda, maravilhosa (e muito humilde!) e pode ficar com qualquer cara que você quiser – ou com alguns quaisquer caras –, basta querer.
Num gesto rápido, puxei o copo da caipirinha tradicional de limão da Lally que estava perdido na mesa e entornei-o de uma vez só, ficando espantada comigo mesma por alguns instantes. Depois, relaxei. Ou pelo menos fingi.
Levantei da mesa me equilibrando nos saltos sem dificuldade alguma e fui atrás de Jenny, Trish, Ronnie e Misha, não me importando mais com Tim e Robbie, porque eles mantinham a atenção só para eles mesmos, se é que vocês me entendem. Não me importava se elas estavam com os namorados em algum lugar, eu iria arrastá-las pelos pés se fosse possível, para que dançassem comigo.
Não deu dez minutos e eu já havia localizado todas as quatro e já havia as empurrado para o meio da pista de dança comigo, no meio de uma multidão que se aglomerou no local de um instante para o outro.
Estava tocando uma música agitadinha, daquelas que sempre estão presentes em época de ano-novo. Reconheci como sendo aquela do Black Eyed Peas, I Gotta Feeling, que sempre toca em qualquer lugar que a gente vai e sempre faz as pessoas se acabarem na bebida e na dança.
Lógico que comigo não foi diferente, até porque eu estava querendo me divertir para me esquecer de problemas idiotas do coração. Então eu levantei os braços e comecei a pular enquanto o Will.I.Am e a Fergie gritavam o famoso: “I gotta feelin', that tonight's gonna be a good night”, berrando que nem uma louca.
Jenny riu da minha cara, mas agarrou minhas mãos e pulou junto comigo. Depois Trish e Ronnie também se apoiaram na gente e começaram a gritar a letra da música de uma maneira tão desafinada que, se as batidas não estivessem tão altas, as pessoas estariam nos olhando de forma estranha e eu já estaria morrendo de vergonha.
No entanto, não posso negar que não estava me divertindo. Acabei puxando o copo de cerveja da mão da Misha e dei mais alguns goles, não me apercebendo que já estava misturando todos os tipos de bebidas alcoólicas no meu estômago. Mas não importava.
Dançamos pelo menos uns vinte minutos, as cinco juntas. Até que a Lally apareceu e a coisa ficou realmente mais engraçada e tensa, por assim dizer. As danças tiveram desde passos horríveis a umas coisas que, se o teor de álcool no meu sangue não tivesse tão alto, eu não teria feito. Tipo rebolar até o chão, ou essas coisas do gênero. Para os outros poderia ser uma coisa normal, mas eu não era o tipo de garota que tinha coragem para fazer isso.
E então a minha felicidade ruiu. Por um simples ato do idiota do , por mais que ele não tivesse entendido isso. Eu estava no meio da pista de dança com os braços acima da cabeça e as pernas doloridas já de tanto pular quando eu vi a cena chocante. Ok, não poderíamos dizer que ela era chocante. O só estava encostado no balcão com a vaca da Melanie no meio de suas pernas, enquanto ela se aproveitava para apoiar os braços nos ombros dele e aproximar seu rosto do dele e lhe dar um beijo caloroso.
Claro que eu não vi a parte do caloroso. Eu virei o rosto antes mesmo que os lábios deles pudessem se tocar e, por mais que eu estivesse relativamente longe, eu consegui enxergar o que estava prestes a acontecer, então preferi não visualizar a cena.
Minha vontade foi de chorar, mas eu me sentiria idiota demais se alguém chegasse ali do meu lado, me cutucasse no ombro e berrasse no meu ouvido: “Hey, porque você tá chorando?”. Fala sério.
Então eu engoli aquela vontade idiota, mas foi por meros segundos. Porque logo eu senti que eu iria desfalecer ao ver todas as minhas amigas dançando com seus respectivos namorados/ficantes. Não tem como a situação ficar pior, né?
Eu sabia que não deveria ter bebido tanto. Se não tivesse feito, eu não estaria com um nó enorme na garganta para segurar o choro. Eu nem... eu nem estaria com vontade de chorar! Fala sério, alguém me enterra? Obrigada.
Tudo parecia mais estranho. O ambiente parecia mais escuro, mas as luzes coloridas pareciam mais rápidas, deixando os corpos das pessoas com tons engraçados. A música estava mais alta, fazendo meus tímpanos doerem, mas minhas pernas moviam-se involuntariamente, querendo que eu continuasse a dançar.
Certo, era assim que iria ser. Eu mandaria tudo para o alto e me divertiria a beça.
Com esse pensamento, dei alguns passinhos para fora da pista – do lado contrário de , é claro – e cheguei até o barman. Nem sei que bebida eu pedi... só sei que depois estava com um copo em mãos e no meio da pista novamente, ouvindo uma nova música dessas eletrônicas (só que com algo além das batidas ritmadas) e fazendo meu corpo também se mexer.
Em minha mente se passava um turbilhão de coisas, mas elas pareciam mais fracas, como se estivessem se desvanecendo. Sorri sozinha com esse fato... eu estava me esquecendo. Até que senti alguma coisa na minha cintura, o que me fez dar um salto enorme.
A pessoa atrás de mim riu do meu susto e passou as mãos pelos meus cabelos, colocando-os para frente e deixando meu pescoço livre. Acho que esse gesto só serviu para que ela pudesse aproximar sua boca da minha orelha esquerda e falar:
- Sabia que você é muito linda?
Fala sério pela terceira vez. Eu merecia mais essa?
Era uma voz desconhecida, mas muito, muito sensual, não posso negar. Para completar, era de um homem, e ele ainda puxou meu lóbulo com a ponta dos dentes, o que me fez ter mais um arrepio, eriçando os pelos dos meus braços.
A cantada poderia ser barata. Isso nem poderia ter sido uma cantada... mas ele era lindo. Irresistivelmente lindo. Eu soube disso quando virei meu corpo de frente para a pessoa e me deparei com um homem extremamente alto, moreno, com os cabelos curtos e escuros arrepiados me fitando com um par de olhos azuis que poderia fazer meu coração derreter se ele já não estivesse tão despedaçado.
Encarei seus olhos incríveis, até bastante parada no meio de tantas pessoas dançando, mas ele estava da mesma maneira que eu. Não observei nenhum amigo ao seu lado, então supus que ele estava sem companhia... o que me deixou estranhamente feliz.
Ele continuou me olhando com um risinho maroto – e pervertido - nos lábios até que puxou meu copo de bebida e virou-o garganta abaixo. E então eu fiz.
Olha, eu realmente não sou uma tarada, mas eu não pude deixar de fazer o que fiz quando ele me encarava daquele jeito sedutoramente. Além disso, eu estava fraca por causa da bebida! (Que desculpa mais esfarrapada, mas ok.) Mordi o meu lábio inferior do jeito mais safado – e involuntário – possível, cruzando os braços por cima do peito e analisando-o da cabeça aos pés.
Alto, confere. Moreno, confere. Olhos maravilhosos, confere. Sem namorada, confere. Permitido para mim, sem resposta. , definitivamente não. Gostoso, confere. Ok, ele está valendo.
Depois de alguns segundos daquele jeito, da minha boca simplesmente saiu:
- Quem te deu permissão para tomar a minha bebida?
- Quem disse que eu precisava de permissão? – ele falou dando um passo na minha direção.
- Minha bebida, minha permissão. – falei simplesmente enquanto ele agora entregava o copo de vidro para um estranho qualquer, o que me fez segurar um risinho.
- Você pode tentar ir atrás dela com essa sua boca, é claro – ele falou malicioso, já passando os braços pela minha cintura e me trazendo para mais perto.
Certo, aquilo estava ficando realmente intenso, e ele era muito, muito viril.
Olhei de relance para o lado, procurando por . Felizmente (ou infelizmente) ele não estava mais lá, mas isso não foi uma desculpa para eu não me recriminar. Muito pelo contrário, eu estava bêbada, com um cara super gato aos meus pés e ainda ficava pensando no garoto proibido? Eu não tinha jeito mesmo, mas preferi ignorar essa parte e me focar no homem super sensual que estava ali, perfeitinho para mim.
- Que tal ela vir até mim? – respondi tempo depois, passando as mãos por seu pescoço.
Não demorou dois segundos para ele subir as mãos pelo meu pescoço e incliná-lo na direção dele, fazendo nossos lábios colidirem num beijo... caloroso, é.
E então a única coisa que eu pude pensar foi: Uau. Uau mesmo. Se eu soubesse que essa pegada seria assim... eu definitivamente não teria me feito de difícil. Mas isso não é importante. O que vale lembrar é o fato de que ele passava as mãos por toda a extensão das minhas costas, me grudando para mais perto enquanto eu afundava minhas mãos em seus cabelos macios.
Sua língua procurou a minha de maneira afobada, e eu dei passagem para que ele aprofundasse ainda mais o beijo, gerando uma coisa estranha no meu estômago. Talvez fosse a excitação do momento, ou o jeito que ele deslizava as mãos pelo meu corpo, não sei ao certo, mas quando fui perceber, minhas costas tocaram algo gelado.
Abri os olhos repentinamente, tentando conter meus gemidos silenciosos enquanto aquele delírio de pessoa ocupava meu pescoço – e outras partes mais abaixo, se você quer saber mesmo – desde chupões e beijos até pequenas mordidinhas.
Tentei observar o nosso estado sem interromper muito aquele momento: eu, escorada numa parede num canto escuro longe da pista de dança, me atracando com um desconhecido, por mais que ele fosse gato. Eu estava com as duas mãos por baixo da camisa dele, querendo tocar em tudo o que fosse possível, e os dedos dele arranhavam minhas coxas por baixo do vestido, até porque eu havia enlaçado uma perna no corpo dele a fim de nos juntarmos ainda mais.
Devo mencionar que meu corpo estava fervendo. Não como havia acontecido daquela outra vez que me recuso a mencionar... mas bem, ele estava, e isso significava que eu estava, bem, vocês sabem, mas eu não iria até o fim com aquilo. E não era nem por falta de vontade... era questão de decência mesmo.
Percebi que teria que parar por ali mesmo no momento em que senti as mãos do homem invadirem minha intimidade por cima da calcinha, o que me fez soltar um gemido alto involuntário, mas afastei-o logo em seguida: tanto suas mãos travessas quanto sua boca, que já estava praticamente num lugar bastante proibido.
- O que foi? – ele perguntou enquanto nossos corpos ainda estavam colados. Apenas remexi a cabeça numa negativa. Um não. Mas não um não de “Não é nada.”. Um não de “Não posso fazer isso.” E parece que ele entendeu.
- Me desculpe. – exclamei.
Eu sei, era patético. Broxante, literalmente, tanto que até fez com que ele tocasse minha perna, a colocando para baixo, longe de sua cintura. Mas eu não podia fazer nada... eu não era o tipo de garota que saía... hm, dando por aí, é, mesmo que estivesse um pouco mais bêbada que o normal.
O homem respirou profundamente e olhou para baixo, me fazendo rir. Observei a sua situação bastante vergonhosa e fiquei um pouco vermelha por ter parado justo ali, deixando sua cabeça de baixo apenas com prévias e suposições do que poderia ter acontecido mais tarde.
- Me desculpe mesmo. – falei novamente ao ver que ele tentava controlar sua excitação para que não ficasse tão evidente como estava agora, quase explodindo a calça jeans.
- Deixa pra lá. – ele balançou a cabeça, mas ainda ficou me olhando com aqueles globos azuis reluzentes, que pareciam fazer todo o universo se iluminar.
- A propósito, eu sou . – disse um pouco tímida com um sorriso maroto nos lábios.
- , mas pode me chamar de .
O sorriso que havia se formado em seu rosto não teve nenhum efeito sobre mim depois que aquelas palavras saíram. Nem os seus olhos azuis penetrantes, nem seu cabelo delicioso ou o seu cheiro viciante. Nada.
Porque subitamente uma ânsia vinda do nada tomou o meu estômago, um mal estar tão grande que fez meu coração bater violentamente contra o meu peito, machucando minha caixa torácica. Minha respiração havia ficado entrecortada... e parecia que haviam pego um parafuso e o enfiado na minha cabeça com um martelo gigante.
Era muito azar para ser verdade.

***


Não sei como consegui empurrá-lo para fugir dali, ignorando suas perguntas de “Você está bem?” ou “Precisa de ajuda?”.
A única coisa que entendi foi que corri trôpega até o banheiro, me arrependendo inteiramente de ter ingerido toda aquela quantidade de álcool antes. Por incrível que possa parecer, não vomitei. Apenas abri a água da torneira e molhei meus pulsos e minha nuca, lembrando das recomendações de minha mãe quando eu era adolescente. Também engoli mais um pouco, por mais que fosse difícil de mirar as mãos na boca com a cabeça latejando.
Escorreguei até o chão e encostei minha cabeça na parede gelada, não visualizando o banheiro: um ambiente médio, com algumas cabines e quatro torneiras, super simples. Também não percebi as paredes claras e o piso verde do local, mas isso era porque eu simplesmente havia me esquecido de acender a luz quando entrei.
Eu tinha sorte e azar: sorte pelo banheiro estar vazio... e azar por, bem, vocês já devem imaginar.
Que merda era aquela?! Eu deveria me matar agora mesmo. Ficar com um homem super maravilhoso, avacalhar na hora H e descobrir que ele tem o mesmo nome do cara que partiu o meu coração em trilhares de pedacinhos e quem, por um acaso, estava naquela mesma festa com a namorada, com quem deveria ter terminado há dias porque supostamente me amava desde a nossa primeira – e última – transa. Maravilha, !
Mas não. Eu não poderia me dar por vencida. E foi por isso que eu levantei do chão, arrumei-me de uma forma decente e saí direto para a pista de dança.
Decidi pular a bebida dessa vez. Quem sabe eu tivesse outro azar e meu estômago não retivesse o novo embrulho? Não, não e não. Eu não iria me arriscar.
Quando cheguei exatamente ao que eu achava ser o meio da pista de dança, a música mudou. Para a minha surpresa, era uma que eu adorava, o que veio bem a calhar, porque eu estava querendo realmente algo que me levasse ao êxtase.
Quando a voz maravilhosa do Enrique Iglesias soou em meus ouvidos, abri um sorriso, levantando os braços e rebolando os quadris, sem me importar muito se havia alguém me observando.
Algo que eu deveria ter feito. Digo, eu deveria ter me importado.
Porque só assim eu saberia o que estava prestes a acontecer.
E, acreditem, era algo que eu realmente não esperava.

narrando


Eu não podia acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo. E ela estava bem ali, na minha frente.
Não consegui evitar o sorriso que se formou no meu rosto, e também não me importei se haveria alguém me observando no momento. A última coisa que eu queria era me explicar para Melanie ou relatar o que estava em meus pensamentos para os meus amigos, mas para a minha sorte eu parecia ter conseguido me esquivar deles.
As batidas ritmadas de Tonight (I’m lovin’ you) foram tomando forma, assim como o corpo demarcado pelas curvas de , que se mexia de forma graciosa exatamente no meio da pista de dança.
Ela estava mesmo ali.
Fiquei com medo que aquela imagem da garota pudesse ser efeito do álcool afetando meu cérebro, o qual agora vivia me enganando, mas ela era tão real que, de algum jeito estranho, fazia todos os pelos do meu corpo se arrepiarem.

I know you want me
I made it obvious that I want you too
So put it on me
Let's remove the space between me and you
Now rock your body
Damn I like the way that you move
So give it to me
'Cause I already know what you wanna do


(Eu sei que você me quer
Fiz parecer óbvio que eu quero você também
Então, coloca em mim
Vamos remover o espaço entre mim e você
Agora balance seu corpo
Caramba, eu gosto do jeito que você se move
Então dê para mim
Porque eu já sei o que você quer fazer)


poderia estar um tanto distante de mim, mas eu a encarava sem pudor algum. Embora minha intenção não fosse tão maliciosa como vocês devem estar pensando, eu gostava de admirá-la. Lembro-me de tê-la observado em meus braços depois do ocorrido no carro, há algumas semanas (algo que era realmente difícil de tirar da cabeça – não que eu quisesse fazer isso, mas era realmente difícil tentar me concentrar no trabalho ou nos estudos com aquela lembrança grudada com afinco na mente).
Mas no dia de hoje ela estava especialmente bonita, admirável e, se me permitem dizer, gostosa. O vestido preto simples e curto que usava lhe dava um ar sensual, e as sandálias de salto eram apenas um recurso para deixar meus olhos grudados em suas pernas. Ela mexia os quadris de forma ritmada, quase austera, o semblante numa aparência calma de quem não ligava muito para o que estava acontecendo em volta.
Era difícil conseguir desviar a atenção dela ou de seus movimentos. Era a coisa mais linda no meio de toda aquela bagunça. E, para falar a verdade, eu também não queria desviar. Queria que ela me visse, que percebesse que eu a estava notando, que eu a queria do mesmo modo como quis há duas semanas.
Não havia ninguém ali ditando regras, e eu não estava preso a ninguém, por isso dei mais alguns passos, começando a mexer o corpo quando entrei na pista, sem parar de olhá-la. Queria chegar mais perto, queria poder tocá-la. Por Deus, daria tudo para poder encostar naquela pele macia.
Mas nem fez menção de me olhar. Talvez as coisas tivessem ficado mesmo um pouco estranhas depois do que havia acontecido entre nós, mas a última coisa que eu queria no momento era deixá-la escapar.

Here's the situation
Been to every nation
Nobody's ever made me feel the way that you do
You know my motivation
Given my reputation
Please excuse me, I don't mean to be rude


(Aqui está a situação
Já fui a todas as nações
Ninguém nunca me fez sentir do jeito que você faz
Você sabe a minha motivação
Dada a minha reputação
Por favor me perdoe, eu não quero ser rude)


Mas então, como se percebendo que eu a fitava descaradamente e não ligava para as outras garotas que pareciam surgir do nada em cima de mim, virou de costas para mim, rebolando até o chão, me dando uma visão tentadora e a mais de suas coxas.
Dei mais alguns passos até ela, ficando há umas duas pessoas de distância. Uma porção de homens havia feito uma pequena rodinha em sua volta, mas ela parecia não ligar.
Engraçado mesmo era que eu estava ligando para aquilo.
Não gostava que ela fosse o foco das atenções.
Ou melhor, não gostava que ela fosse o foco de outras atenções além da minha.
Percebi que meus punhos estavam cerrados e meu coração batia dentro do peito com uma força descomunal. O que era aquilo? O que ela fazia comigo?
Nunca havia me sentido daquela maneira com ninguém a não ser com ela. Melanie sempre fora durona e gostava de cuidar das coisas sozinhas, mas ... parecia ser dona de uma aura frágil, mas independente, e principalmente pronta para o que der e vier.
A garota agora havia rebolado até o chão e jogava as mãos para cima, com os olhos fechados, sorrindo de um jeito estranho, como se estivesse querendo esconder algo.
Talvez ela não estivesse tão bem assim como aparentara, do mesmo modo que eu. Talvez soubesse como ela havia se sentido essas duas semanas, quando só trocamos algumas palavras e poucos olhares. Mas eu havia falado como me sentia para ela. Será que não havia levado isso em conta? Que, na verdade, ela era a minha motivação?
De qualquer forma, esses pensamentos simplesmente sumiram da minha mente quando percebi um dos homens perto de mim tomar uma atitude e ir até ela. Antes que ele pudesse chegar perto, no entanto, me adiantei e empurrei-o para o lado, jogando-lhe o olhar mais assustador que consegui.
Ele pareceu ficar irritado, mas saiu de perto, não querendo confusões. Se tivesse visto isso, ela com certeza teria me achado rude.
Mas ela se encontrava novamente de costas para mim.
E a pouquíssimos centímetros de distância.

But tonight I'm loving you
Oh oh, you know
That tonight I'm loving you
Oh oh, you know


(Mas hoje eu vou amar você
Oh Oh, você sabe
Essa noite eu vou amar você
Oh Oh, você sabe)


Sem conseguir me conter, entrelacei minhas mãos em sua cintura e puxei-a em direção ao meu corpo, o que ela fez sem pestanejar.
Embora fosse um pouco estranho, aquela noite estava sendo cheia de surpresas, e eu não ligaria para aquilo, não mesmo. Melhor que ela estivesse comigo do que com qualquer outro maluco, porque minhas intenções eram boas... ou pelo menos mais boas do que a dos outros caras.
Mas não podia negar que eu a queria. Oh, e como queria.

You're so damn pretty
If I had a type than baby it'd be you
I know you’re ready
If I never lied, than baby you'd be the truth


(Você é tão bonita
Se eu tivesse um tipo, então baby, seria você
Eu sei que você está pronta
Se eu nunca mentisse, então baby, você seria a verdade)


O contato entre nossos corpos, mesmo de forma indireta, fez com que uma corrente elétrica perpassasse por todos os meus poros. Ela, no entanto, nem pareceu se importar que havia uma pessoa agarrando-a por trás. Muito pelo contrário. começou a ditar os movimentos com os quadris, se remexendo contra a minha ereção, me fazendo soltar um gemido extasiado.
Agradeci aos céus pela música alta. A última coisa que eu queria no momento era que ela se afastasse de mim, então, por esse motivo, fechei um dos meus braços em sua cintura e joguei seus cabelos para o lado, deixando a região de seu pescoço livre.
Com o movimento, seu cheiro bateu diretamente contra mim, me fazendo fechar os olhos e apertá-la em meu corpo ainda mais. Não me aguentei e também acabei depositando um beijo curto e rápido em sua nuca, fazendo com que ela se arrepiasse. E sim, eu havia notado isso porque, depois do ocorrido, ela fincou suas unhas na minha mão que acariciavam sua barriga com por cima do vestido.
Tive vontade de virá-la para mim, olhar em seus olhos, fazê-la perceber que era eu quem estava ali. Mas também tive medo, medo de que, quando percebesse que era eu, saísse correndo. Fugisse. Ou, por Deus, me desse um fora.
Mas nada disso aconteceu, porque ela continuou dançando, agora mais devagar, como se tivesse dando um tempo para respirar e acalmar de toda a loucura, e eu apenas acompanhei, meu corpo ainda grudado ao dela, mas ambos fazendo o mesmo movimento e na mesma sintonia.
Caralho, era ela mesmo tão bonita.

Here's the situation
Been to every nation
Nobody's ever made me feel the way that you do
You know my motivation
Given my reputation
Please excuse me, I don't mean to be rude


(Aqui está a situação
Já fui a todas as nações
Ninguém nunca me fez sentir do jeito que você faz
Você sabe a minha motivação
Dada a minha reputação
Por favor me perdoe, eu não quero ser rude)


Não soube quanto tempo ficamos dançando daquela maneira, grudados, mas estava bom demais para ser verdade.
Eu havia vindo para essa festa meio que por obrigação, contra a minha vontade, mas as coisas pareciam estar mudando desde que eu a havia encontrado. Mesmo que ela não soubesse que era eu ali.
E então, sem mais nem menos, ela se virou em meus braços. Retesei com o susto, parando de me movimentar, mas não ligou e parece não ter percebido o meu incômodo pois estava com os olhos fechados, o sorriso nos lábios e a expressão mais serena que eu conhecia.
Poderia até arriscar que ela estava se sentindo... feliz.
Ela me abraçou pelo pescoço e jogou a cabeça para trás, rindo ao som da música, e eu acompanhei, tentando guardar aquele momento em minha mente para sempre.

But tonight I'm loving you
Oh oh, you know
That tonight I'm loving you
Oh oh, you know


(Mas hoje eu vou amar você
Oh Oh, você sabe
Essa noite eu vou amar você
Oh Oh, você sabe)


No entanto, como nem tudo são flores nessa vida, percebi que ela não iria ficar com os olhos fechados para todo sempre. O que faria se me visse ali?
Ela estava tão bonita, e chamava atenção de qualquer um que quisesse. Saberia ela que eu estava aqui? Qual seria sua reação?
Mesmo se ela me xingasse, eu não me importaria. Por mais física e carnal que fosse minha vontade de estar com ela naquela noite, sabia que era uma sensação que ia além disso. Afinal, se tivesse sido apenas uma paixão arrebatadora, teria acontecido apenas da primeira vez.
Mas eu sabia que não era uma paixão passageira ou só o sexo. Eu a queria. E queria que ela me quisesse também, exatamente como da primeira vez. Queria que todas as nossas vezes fossem como a primeira.
Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, entretanto, já havia encostado a testa na minha, sorrindo – o que me fez inexplicavelmente sorrir também -, e abriu os olhos, finalmente pronta para ver com quem estava dançando.
Qual não foi o susto que levou. Sem saber como reagir, ela não se soltou de mim, mas afastou sua cabeça da minha e arregalou os olhos, meu nome saindo de seus lábios com uma voz tremida:
- ?

narrando

Tudo bem, relaxa. É só o na sua frente, . Agarrado na sua cintura. Sussurrando no seu ouvido. Te inebriando com o seu perfume intimidador. Fazendo sua pele se arrepiar, seu coração bater mais rápido e sua boca secar.
Alguém me fala como eu posso relaxar numa situação dessas? É simplesmente impossível.
Mas aqui estava ele, exatamente na minha frente, sorrindo o meu sorriso predileto que deixava seus dentes perfeitamente brancos a mostra. Seus olhos castanhos brilhavam na minha direção, e suas mãos estavam agarradas firmemente à minha cintura, me apertando contra ele, o que me fez esquecer todas as divagações raivosas que eu tive dele até este momento.
Antes que eu pudesse (tentar) pronunciar um “o que você está fazendo aqui?” – o “aqui” que eu digo é na minha frente, me agarrando como se fôssemos namorados -, ele apenas se inclinou para perto do meu ouvido e disse:
- Oi, amor!
Temendo que eu estivesse ficando surda, percebi que tinha começado a tremer. Com certeza foram efeitos daquelas palavras, ou melhor, daquela palavra específica, mas eu só podia estar delirando, porque eu nunca havia visto um tão fofo ou tão empenhado em conseguir alguma coisa em toda a minha vida.
Ele pareceu achar graça da minha atitude – aliás, que atitude? Eu só havia conseguido ficar parada como uma estátua idiota – e levou aquilo como um sinal para me apertar mais entre suas pernas e me beijar languidamente.
O que, claramente, eu retribuí. Mas só porque sou uma fraca. E porque eu ansiava tanto aqueles lábios vigorosos nos meus desde os acontecimentos do carro que eu simplesmente não pude evitar.
Beijar fazia eu me sentir viva de um jeito que ninguém nunca tinha conseguido antes. Talvez fosse a saudade, ou a vontade que eu estava de ao menos estar perto dele, mas aquilo tudo estava sendo muito bom, muito bom mesmo. E saber que ele estava ali, comigo, significava que havia alguma coisa entre nós.
Bom, até que eu me lembrei que nós não éramos os únicos por ali: Melanie também estava em algum lugar, o que me lembrava que eu ainda era considerada a outra da história.
Descendo as mãos de das minhas pernas e percebendo que eu estava escorada de mal jeito numa parede num canto perto do banheiro, tentei afastá-lo de mim, tomando fôlego e criando forças para fazer uma coisa que eu não queria, mas que era necessária.
- , espera. Por favor, . – pedi, empurrando seu peito para que ele afastasse a boca do meu pescoço.
Ele apenas me olhou, tentando entender o que eu estava fazendo, e acho que pôde ver minhas feições de súplicas, mas, ao contrário do que eu pensava, ele deu um sorriso maldoso e voltou a sussurrar no meu ouvido:
- Se você quiser que eu pare... me impeça.
E voltou a atacar o meu pescoço. Simples assim.
Devo reforçar que eu até tentei afastá-lo mais uma vez. Tentei mesmo. Mas... foi impossível. Ele estava ali, na minha frente, palpável, claramente me querendo. E eu queria ele também! Por que tentar evitar o inevitável?
O fato era que eu queria o , e estava evidente que ele me queria também, ou não teria me tentado desse jeito. Digo, sussurrar esse tipo de coisa no meu ouvido? Isso é golpe baixo. Sem contar que é impossível para mim resistir a essa voz, especialmente quando ela soa um tanto maldosa e aproveitadora.
Quando ele voltou a enfiar a língua na minha boca, abrindo passagem com ela de forma intensa – a qual eu deixei sem nenhum pudor -, pude senti-lo agarrar uma das minhas coxas novamente e puxá-la para cima, me fazendo enganchá-la em seus quadris para que o contato entre nossos corpos fosse maior.
Puxei o homem pelos ombros, arranhando involuntariamente seu pescoço com uma das mãos, enquanto a outra cismava em puxar seu cabelo, fazendo-o ofegar na altura do meu queixo. Suas mãos já estavam por baixo do meu vestido, apalpando e apertando todas as partes que conseguia, até que eu tomei um susto quando ele puxou minha outra perna para cima e me empurrou contra a parede para que eu não caísse até conseguir abraçá-lo firmemente com as pernas.
Sem que eu percebesse, me abraçou – ainda me beijando – e começou a andar rumo ao desconhecido, mas eu não estava muito preocupada com isso, já que tentava inutilmente resguardar meus suspiros e gemidos. Quando fui perceber, ele já tinha me posto no chão, me fazendo perceber que estávamos sozinhos no banheiro feminino, trancado a porta e jogado a chave no chão.
Sem que eu conseguisse me recompor, ele logo avançou na minha direção, os dedos massageando minha intimidade por cima da calcinha enquanto sua boca descia em direção a um dos meus seios.
Sabendo onde aquilo iria parar – até porque minhas mãos haviam ido involuntariamente para debaixo de sua camisa e estavam tentando puxá-la para cima -, respirei fundo tentando afastá-lo mais uma vez e tentei ordenar meus pensamentos:
- ... – eu tentei falar a fim de que ele parasse, mas estava realmente difícil me concentrar com aqueles dedinhos habilidosos...
- Não me peça para parar agora, . Eu não vou conseguir. – ele esganiçou, tentando me beijar, mas eu me esquivei dele. A realidade é que... a Melanie havia voltado a me assombrar.
- Pois deveria. – falei séria, olhando fundo nos olhos dele.
- ... – ele sussurrou meu apelido, me fazendo tremer. Já disse que eu simplesmente tinha espasmos quando ele me chamava desse jeito? Tinha efeitos direto lá em baixo, se é que vocês me entendem.
E então ele me beijou de novo, mas dessa vez foi rápido, porque eu fui habilidosa em me desvencilhar dele.
Pensando em todo o nosso relacionamento conturbado, o qual na verdade nem poderíamos chamar de relacionamento, decidi ser um pouco malvada e fazer um joguinho implícito.
Bem, a realidade é que parecia que eu era a única pensando em nós dois. Ele era o único que falava um simples “oi” na faculdade para mim depois do sexo no carro. Caralho! Era hora dele ir atrás de mim um pouco, de pensar em mim, de pensar em nós e tomar uma atitude, não é? (a gente ignora a parte em que ele já pareceu ter tomado uma atitude e ficar com a Melanie, apesar disso contradizer o fato de ele estar nesse banheiro trancado, comigo)
Dei passos firmes até ele, meu salto fazendo um barulho inaudível no chão, já que as paredes ali pareciam não ser a prova de som, embora pudessem abafá-lo um pouco. Com coragem, me inclinei sob seu ouvido e sussurrei:
- Se você me quer, vai ter que me achar.
Ele ficou um tempo me olhando embasbacado, tentando entender o que eu estava fazendo, o que me deu tempo de apagar as luzes e correr até a última pia, ao lado da parede, e subir lá.
Mordendo o lábio inferior, prendi a risada quando percebi que ele ainda estava parado, processando o que eu havia falado. Acho que ele havia entendido o sentido da coisa, e dei graças a Deus por isso.
Tempo depois, pude perceber que me procurava nas cabines, já que ouvia o som das portas rangendo. Segurei mais um riso e descruzei as pernas, que balançavam agora felizes para fora da pia, num gesto hiperativo da minha parte.
- Sabe , esse não é um banheiro muito grande... – ele pareceu perceber que eu não estava em nenhuma das cabines, o que fez com que ele deslizasse as mãos pela pia lentamente, até encontrar meus joelhos.
Tomei um susto com o gesto, afinal, não estava esperando por aquilo tão cedo, mas o sabia ser rápido quando queria.
Pude sentir suas mãos acariciando meus joelhos de forma contínua e delicada, e agora seu hálito chegava em meu rosto, me fazendo tremer pela expectativa do que estava prestes a acontecer, porque tinha algo no ar. A tensão entre nós era tão palpável que eu podia cortá-la com uma faquinha descartável.
- Você me achou. – eu soltei de uma só vez, um sorriso feliz em meus lábios.
- Eu sempre vou te achar. – e o sorriso se rasgou ainda mais em meu rosto e se juntou com as cambalhotas que meu coração cismava em dar. Apesar do escuro, acho que ele percebeu o estado de torpor que eu havia ficado, porque ao que tudo indicava ele sorriu também na minha direção.
- Tirando o fato de que agora seus olhos já se adaptaram ao escuro e você já pode me enxergar. – respondi divertida.
- Isso não vai contra as regras, oras.
Ele falou aquilo de um jeito tão simples e fofo que eu suspirei audivelmente, sentindo-o subir o toque dos meus joelhos para as minhas coxas, por baixo do vestido preto que eu usava. Suspirei novamente, sôfrega, conseguindo reprimir os gemidos que estavam prontos para sair de minha boca, mas ele pareceu notar o quanto eu estava tentando não fazê-lo perceber como seu toque me afetava porque, de súbito, abriu minhas pernas e se colocou ali no meio, seus dedos alcançando agora minha virilha.
- ... Nem... – tentei falar entre suspiros, mas ele me cortou.
- O que foi? – ele perguntou como se nada demais estivesse acontecendo.
Abracei-o com minhas pernas para deixá-lo mais perto de mim e, embora isso não tivesse adiantado muita coisa, ele deslizou um dedo por cima da minha calcinha, massageando minha intimidade, me fazendo ansiar por um toque mais profundo.
- Você é impossível, . – não vi, mas tive certeza de que ele deu o seu sorriso safado, porque continuou o que estava fazendo, e olha que ele o fazia com maestria.
Massageando meu clitóris por cima da calcinha, percebi que estava perdida quando apertei os olhos e um gemido escapou da minha boca. Embora aquilo não devesse estar acontecendo, era tão bom, mas eu não queria pensar sobre o que era certo ou errado no momento.
Sentindo uma saudade que não cabia dentro do meu próprio peito, estiquei meus braços e puxei-o pelo pescoço, colando seus lábios nos meus, invadindo a sua boca de um jeito eufórico e erótico, algo que ele aceitou com prazer.
Meu corpo queimava, ansiando por mais; ansiando por aquela coisa que só ele podia me dar. Não era só o sexo, nem só a sensação de me sentir completa perto dele. Era a plenitude, a verdade... a realidade de que ele estava ali, comigo, de novo, e que se importava o bastante com nós dois. Porque ele não parecia ser o tipo de cara que ficava com alguém só para ter uma transa. Se fosse assim, não estaríamos aqui, e não teríamos comentado essa coisa de amor, que é algo complexo demais.
Sentindo que não conseguia aguentar mais por muito tempo e já ficando um pouco desesperada com o fato da calcinha ainda estar no meio do caminho, empurrei a mão de contra a minha intimidade, querendo mais do que ele estava me dando no momento.
O loiro notou o meu desespero e riu entre o nosso beijo, mas atendeu o meu pedido, puxando de algum jeito ainda indefinido minha calcinha para baixo e esfregando o polegar no meu clitóris com força, me fazendo perder o rumo de qualquer outra coisa que eu estava fazendo.
Tive que parar de beijá-lo para poder gemer à vontade, as mãos apoiadas em seus ombros fortes; ele passou a morder e lambiscar toda a extensão do meu pescoço, me fazendo apertar os olhos e morder meu lábio inferior.
Sabendo que eu já estava lubrificada o bastante há tempos, empurrou um dedo para dentro de mim vagarosamente, me fazendo falar qualquer coisa desconexa em sua boca e apertar os dedos em sua camisa. Remexi-me contra ele, querendo mais fricção, movimento e rapidez, mas ele continuou a tortura, deixando apenas o seu dedo lá dentro, parado, enquanto o polegar ainda me tocava sem pudor.
- ... – eu pedi, sentindo meu corpo fervendo. O oxigênio parecia não entrar nos meus pulmões.
- Shiu. – ele me fez calar a boca colocando a mão livre sob meus lábios.
- Eu juro por Deus que... Oh. – ele resolveu mexer o dedo dentro de mim bem na hora em que eu estava falando, o que fez com que eu soltasse mais um gemido alto.
Sem pressa alguma ele começou a me estocar com um único dedo, num ritmo languido e lento, que fazia todos os pelos do meu corpo se arrepiarem. Puxei-o ainda para mais perto e meus quadris se movimentaram involuntária e imediatamente contra a mão dele, querendo um contato maior e mais rápido.
Atendendo meus pedidos, ele colocou mais um dedo e continuou a me masturbar, aumentando o ritmo e a cadência dos movimentos. Com a outra mão ele havia alcançado um dos meus seios sensíveis e agora brincava de massageá-lo e dar pequenos beliscões, me deixando ainda mais excitada, se é que isso fosse possível.
- Não... para... – gemi em seu ouvido quando percebi que estava perto de chegar ao meu ápice. Notei que ele também gemia em meu ouvido. – Mais rápido... mais... forte.... mais...
Como se eu tivesse dando ordens, ele fez tudo o que eu pedi sem pestanejar, dando de si até mais do que eu esperava.
Sentindo o familiar fisgão na barriga e o corpo todo estremecendo, elétrico, senti que as estrelinhas que inundavam a minha visão estavam prestes a brilhar de um jeito maravilhoso, o que me fez soltar palavras involuntárias:
- ... Oh... , eu...
Explodi em volta dos dedos dele, atingindo meu ponto alto de prazer, o que durou alguns maravilhosos segundos até que eu me sentisse um tanto exausta, mas extremamente satisfeita.
Um fato a ser reconhecido: havia acabado de me fazer gozar com dois dedinhos. Isso significava que eu era a fraca ou que ele era um ninja espertalhão com poderes mágicos gloriosos?
Depois de sair de mim, me abraçou pela cintura com as duas mãos e me deu um selinho carinhoso, me fazendo apoiar o rosto em seu peito enquanto ainda tomava fôlego. Puxa vida. Mesmo.
Estendi meus braços também e puxei-o para perto, ouvindo-o suspirar em meu ouvido, meu corpo ainda sofrendo os efeitos do orgasmo que eu havia tido.
Engraçado como tudo com o parecia incrível.
- E então, como foi pra você? – ele perguntou depois de um tempo, divertido, orgulhoso dos seus feitos.
- Você é bem... habilidoso. – não pude deixar de falar depois que consegui recuperar a voz, o que o fez rir, feliz.
- Eu te amo, . – ele disse simplesmente assim, os olhinhos brilhando, para depois me beijar.
Oh, meu Deus. Por que ele tinha que falar justo isso? Justo agora?
Para eu me sentir culpada, só pode. Mas como acreditar que isso tudo é uma mentira quando ele fala dessa forma tão sincera e me cola no corpo dele como se eu fosse a última pessoa de todo o universo?
Resistindo aos lábios dele – com muita dificuldade, devo frisar, já que ainda sofria com os efeitos do orgasmo maravilhoso – as palavras “namorada”, “traição”, “outra” e “amor” rondaram a minha cabeça, me fazendo voltar a sanidade que me tinha sido tirada. Empurrei-o para longe de mim, fazendo nossas bocas tomarem uma distância segura, tentando demonstrar o quanto eu queria e ao mesmo tempo não queria aquilo, o quanto eu estava confusa, o quanto eu sabia que o que tinha acontecido há instantes havia sido muito errado e ele havia saído no prejuízo.
- O que foi? – ele perguntou, confuso, as mãos me segurando pela cintura.
- Não posso fazer isso, . É errado. – desembuchei de uma só vez, sentindo meu coração martelar mais forte no peito, e não de um jeito bom.
Aquilo era o certo a ser feito. Eu não podia mais cair na tentação. Nunca mais. não era para o meu bico. Além disso, de certa forma, sentia que havia acabado de usá-lo, e pela primeira vez esse sentimento de remorso me tomava conta.
Eu não podia mais ficar tão perto dele, foi por isso que pulei da pia em direção ao chão, só que as minhas pernas me traíram – eu estava tão nervosa – que se não tivesse me segurado na hora certa eu teria me espatifado no chão.
- ... – ele começa a falar, mas eu apenas quero me manter afastada, por isso viro as costas e saio andando depois de vestir minha calcinha. me segura pelo braço quando eu já estava perto da porta, me impedindo de procurar a chave que estava em algum lugar perdida pelo chão, e sair dali correndo ao virar meu corpo em direção a ele.
- É sério, . A Melanie ‘tá aqui. – falei. Ele apenas parou de me segurar, me olhando de um jeito esquisito, como se tivesse... sei lá.
- Não é o que você está pensando... – ele começou, mas essa fala foi o bastante para que eu ficasse com raiva.
Por que todo homem começa com essa coisa de “não é isso o que você está pensando” ou “aconteceu de outro jeito”? Poxa! Os fatos estavam na minha cara, e eu já sabia disso há muito tempo!
Eu já estava conformada de que só havia sido uma (maravilhosa) única vez, que ele não queria nada comigo, que ele havia me enganado; e eu já estava quase me conformando – tudo bem, eu ainda estava superando isso, imersa numa tristeza que não me deixava sair de casa até hoje – quando ele simplesmente aparece e faz a nossa relação regredir ao ponto em que ele-me-seduz-e-eu-caio-como-uma-patinha-no-joguinho-dele.
- ! – repreendi-o. – É claro que é! Sua namorada está aqui, você vem atrás de mim e eu acabo deixando você fazer essas coisas comigo... – ótimo, eu já havia começado a ficar nervosa, e o começo da diarreia verbal, consequentemente, vinha logo depois.
- Não... – ele tentou falar.
- Isso é injusto.– bati a mão no interruptor de luz, nervosa e irritada por não conseguir ver seu rosto com clareza, o que agora me era propiciado.
Ignorei o fato de minhas pupilas demorarem a se adaptar com a luz que irradiou diretamente contra meus olhos, mas, depois que eles já conseguiam ver tudo, pude observar o estado do homem a minha frente: a camisa desleixada, até um pouco rasgada perto dos botões; os cabelos loiros emaranhados no topo da cabeça; o rosto vermelho, assim como o pescoço, que estava coberto de arranhões (culpa da minha unha). Eu não deveria estar muito diferente, mas o fato de não ter um espelho ali refletindo a minha imagem me deixava feliz.
- Aquilo no carro não significou nada pra você? – perguntei o que estava entalado em minha garganta há muito tempo, e fiquei um pouco grata por ter acendido a luz, porque eu queria mesmo ver a reação dele a essa pergunta.
Não sei se fiquei feliz ou triste ao ver a cara horrorizada dele diante do meu questionamento, mas quando ele retrucou, bem... as palavras dele aqueceram meu coração, mesma que proferidas de forma raivosa, mesmo que tivesse sido involuntariamente.
- Significou tudo pra mim!
- Então por que é que você tem agido desse jeito comigo? – perguntei já sentindo minha voz embargar pelo choro que estava vindo. – Os olhares na faculdade, que depois não viraram nada... é como se eu fosse invisível pra você. Você não falou mais comigo. E eu entendo, eu tentei te dar um tempo para se organizar, tentar entender o que você estava sentindo, mas você ainda trouxe a Melanie pra cá!
- Eu não a trouxe pra cá! – ele argumentou, desesperado, mas não dei a chance dele se explicar.
- Olha, , eu amo você. E o amor faz com que a gente se sinta idiota... mas eu não vou mais ser feita de idiota por você. – as lágrimas já caíam.
- Eu também amo você, . – ele disse. Depois, quando tentei repreender, ele me calou com um selinho (o qual eu não consegui evitar) e limpou meu rosto molhado com os polegares. – E eu terminei com a Melanie. Eu disse que ia fazer isso, e eu fiz. No dia seguinte, depois do que tivemos.
- O quê? – perguntei petrificada, não acreditando naquelas palavras, porque elas simplesmente não faziam sentido nenhum.
- Ela tem me perseguido esses dias. Disse pra gente tentar de novo, que ela ainda me amava e que nós ainda tínhamos chance de ficarmos juntos.
- , vocês se beijaram! Eu vi com meus próprios olhos! – Tudo bem, eu não havia visto o ato em si, porque meu coração fraco não aguentou e me fez desviar, mas ele não precisava saber desse fato.
- Ela tentou me beijar, !
- Claro, porque ninguém resiste ao incrível ! – disse irônica e percebi seu olhar magoado, o que me deixou um pouco nervosa. – Olha , eu sei como ela se sente – disse num tom mais ameno – Eu estou aqui lutando contra a vontade louca de arrancar todas as suas roupas, mas isso não é desculpa.
- Você quer arrancar todas as minhas roupas agora? – ele perguntou com uma cara safada arqueando as sobrancelhas e eu percebi a burrada que havia dito. Senti meu rosto esquentar ao mesmo tempo em que percebi as mãos dele rodeando meus quadris de forma delicada.
- Merda... – exclamei envergonhada e ele riu.
- Olha, , eu amo você. Eu já disse isso mil vezes, e diria mais mil. Eu te amo. Você me ama. O que nós tivemos da outra vez foi real. Eu terminei com a Melanie. Qual o problema que nos impede de ficar juntos?
Depois de mais algumas lágrimas descerem pelo meu rosto – apesar das tentativas inúteis dele de secá-lo – eu ainda não conseguia acreditar que ele estava dizendo aquilo para mim. “Eu amo você. Eu já disse isso mil vezes, e diria mais mil”. A reles vizinha que achou que nem era lembrada.
Mas bom, não podia negar que ele havia simplificado as coisas. Não tinha nenhum problema – agora que ele havia explicado que realmente não estava mais com a Melanie – a não ser o meu orgulho ferido. E, hello, ele me amava!
- Eu... não sei. – respondi sincera. Qual era o problema então, afinal de contas? Ah sim, a parte em que eu queria um relacionamento sério, e não ser só a bonequinha sexual dele para satisfazer as necessidades físicas.
- Hey, – ele puxou meu rosto para si e eu abracei-o pela cintura. – Vai ficar tudo bem. Eu te achei, não achei? – ele disse sorrindo.
Sim, ele havia me achado. Isso significava muito além daquele joguete. Ele havia me procurado. E, se havia me procurado, era porque sentia a minha falta.
Quantas vezes ele podia falar que me amava para eu poder acreditar? Eu tinha que parar com aquela insegurança. Eu confiava nele, não confiava? Se eu quisesse um relacionamento sério, precisava disso. Confiança é a base de qualquer relacionamento.
Lutando contra essa confusão que sentia, entrelacei meus dedos nos dele, sentindo-os pouco a pouco e percebendo que não havia nenhuma aliança neles. Estavam completamente nus e, embora eu soubesse que ele havia se desfeito do anel quando ficávamos pela primeira vez, não deixei de me sentir realizada.
Sorri sinceramente, talvez pela primeira vez na noite, e me acompanhou. Posteriormente, plantei um beijo casto em seus lábios, fechando os olhos para senti-lo de forma intensa, e desvencilhei nossos dedos para abraçá-lo pelo pescoço e apoiar minha cabeça em seus ombros.
- Eu amo você, . – sussurrei, meu rosto ainda deitado no corpo dele, o que fez com que eu não o olhasse. – Mas confesso que estou morrendo de medo.
me apertou mais em seus braços, me embalando e me ninando. Era um abraço protetor, confiante, e que parecia expressar tudo o que ele estava sentindo no momento. E eu podia sentir tudo isso, era algo que me confortava e me acalentava por dentro, transpassando uma sensação de paz que eu não sentia há muito tempo.
Quando ele nos separou momentaneamente, eu estava pronta para ir embora daquele banheiro com ele, mas ele apenas me puxou de volta para me beijar, enfiando a língua pelos meus lábios avidamente, mas ao mesmo tempo de forma delicada; depois, foi dando beijinhos suaves em todas as partes do meu rosto: minhas bochechas, meu pescoço, meu queixo, atrás das minhas orelhas, minha testa e as minhas pálpebras, limpando os resquícios de choro, até chegar novamente a minha boca.
Eu, em contrapartida, apenas apoiei meus braços em seu peito e coloquei minhas mãos em seus bíceps, apertando-os conforme ele me beijava em cada lugar, deixando um rastro de quentura por todo o meu corpo.
- Não consegui parar de pensar em você um instante sequer depois daquilo. – ele confidenciou, beijando e mordiscando agora só o meu pescoço, e eu tive certeza de que já havíamos passado para outro nível.
- Eu também não. – sussurrei de volta entre suspiros, passando as mãos pelo seu corpo. – Agora que tal nós terminarmos esse papo e pularmos para a parte em que tiramos nossas roupas? – dei um sorriso de lado e mordi o lábio inferior da forma mais tarada que consegui, sabendo as reações que isso causaria nele.
Foi instantâneo. gemeu contra meu pescoço e o volume por dentro de suas calças cresceu – e põe “cresceu” nisso.
- Você não era assim, . – ele sussurrou em meu ouvido, mordendo o lóbulo da minha orelha em seguida e me empurrando para a parede de uma coluna perto do box.
Abracei-o pelo pescoço e enganchei uma das minhas pernas nele da forma que consegui para que nossas intimidades roçassem melhor, mesmo por cima das roupas. Arranhei seu pescoço e lutei contra os botões de sua camisa que ainda estavam fechados enquanto ele ainda mordiscava meu pescoço, me deixando arrepiada.
- A culpa é toda sua, . – sussurrei de volta assim que sua camisa já estava no chão e eu podia admirar e apalpar com vontade e sem impedimentos toda a extensão de sua barriga, tórax e ombros.
Senti ele se contrair ao meu toque, o que me deixou incrivelmente mais feliz e pronta para avançar por novos territórios, mas também decidiu fazer o mesmo e desceu a boca para meu colo, enquanto uma das suas habilidosas mãos apalpava meu seio e o puxava para fora do sutiã e do decote do vestido.
Assim que liberado, ele não hesitou em abocanhá-lo, desenhando círculos com a língua, me fazendo tremer em êxtase, ao mesmo tempo em que uma outra mão rodeava meus quadris agora por debaixo do vestido, levantando-o até a minha cintura.
Puxei seu cabelo com força, sentindo os efeitos de sua boca indiretamente lá em baixo, e gemi alto, fechando os olhos para sentir todas aquelas sensações. Desci uma das mãos que estava em suas costas largas até chegar a barra da calça, e adentrei o local, apertando sua bunda e trazendo-o para mais perto, o que o fez gemer também.
Não posso negar que isso me deixou sentindo um tanto quanto poderosa, e foi por esse motivo que, quando estava pronto para soltar meu outro seio das roupas, empurrei-o com força (com tanta que ele até se assustou) para frente, fazendo-o bater as costas na parede que dava sustentação a pia.
Ele me olhou maravilhado e eu aproveitei para abaixar o vestido e tirar o sutiã, que já estava me incomodando, o deixando mais encantando ainda, tanto que me fez rir e me atirar em seus braços.
Sentir seu peito colidindo diretamente com o meu fez com que eu tremesse, aumentando o calor entre nós. Era tão bom senti-lo assim, tão perto, tão desimpedido, como se fosse a constatação de que ele era meu e eu era dele, e não havia mais ninguém entre nós. me puxou e me beijou languidamente, sua língua fazendo movimentos rítmicos com a minha, ao mesmo tempo tão inovador e tão conhecido, e me puxou para si, as mãos percorrendo a extensão das minhas coxas até chegar à virilha.
Apoiei meus braços em seus ombros para que ele tirasse minha calcinha mais uma vez naquela noite, fazendo-a deslizar sobre as minhas pernas e cair no chão, enquanto descia meus beijos da sua boca por seu pescoço até a região do seu tórax.
Ouvindo-o gemer meu nome e suspirar entre eles, sorri e desci minhas mãos pela lateral de seu corpo, arranhando-o, até chegar ao botão e no zíper de sua calça jeans. Abri-os com dificuldade, até porque sua mão travessa brincava com a minha intimidade e sua língua deslizava pelos meus ombros nus.
- Eu te quero tanto... – ele sussurrou em meu ouvido com a voz rouca.
- Você já me tem, meu amor. – eu respondi da mesma maneira, porque era uma verdade incontestável.
E aquela minha frase foi o bastante para que ele me puxasse pela cintura e nós invertêssemos de lugar novamente, minha lombar encostada agora na pia de granito, meu corpo prensado deliciosamente pelo dele, me fazendo gemer alto.
Ansiando pela plenitude que eu sabia que sentiria quando nos juntássemos de uma só vez, empurrei desesperadamente sua calça para baixo, e fiquei feliz ao perceber que havia abaixado também sua cueca, liberando a ereção que estava presa.
livrou-se das calças de vez dando um passo para o lado, ficando apenas de sapatos, e arrancou meu vestido pela cabeça, me deixando da mesma forma que ele: apenas com os calçados.
Voltando para perto, ele desceu os lábios para meus seios até a minha barriga, deixando um rastro de saliva pelo local que me fez arder, agoniada, fazendo com que segundos depois eu puxasse sua cabeça até a minha e agarrasse seus quadris com uma perna, juntando nossas intimidades, fazendo-as se roçarem.
Tentei puxá-lo para mais perto, esperando que ele me invadisse, não aguentando mais aquela tortura, mas continuou da mesma maneira, me atiçando, a língua atingindo pontos proibidos do meu corpo que fazia com que eu gemesse desesperadamente.
- ... – grunhi quando ele deslizou seu membro pela minha entrada, me causando arrepios, mas não me penetrou.
- Desculpa, mas é que eu adoro te ver assim. – ele falou risonho em meu ouvido, a voz um pouco trêmula, mas ele continuou com a palhaçada, fazendo tudo dentro de mim revirar e ansiar por mais imediatamente.
- Aposto que você também ia adorar se fosse o contrário – respondi irônica e brava e procurei seu membro com a minha própria mão, puxando-o até mim e me invadindo de uma vez só, sem simpatia, com a ajuda dele.
Depois de semanas, estávamos finalmente juntos. A realização desse fato mais o início da movimentação de dentro de mim me fez ver estrelas, sentindo uma felicidade irrevogável que eu nunca havia sentindo antes.
Ele começou aos poucos, estocando vagarosamente dentro de mim, os olhos fechados e a boca entreaberta, da mesma forma que eu, absorvendo tudo o que precisava ser absorvido para tornar esse momento ainda mais intenso. Abracei-o com uma perna a fim de que tivéssemos uma posição melhor para seu membro entrar completamente dentro de mim, o que deu bastante certo e me fez gemer audivelmente, puxando-o pelos ombros.
Aos poucos seu corpo foi descendo por cima do meu, fazendo com que quase deitássemos na pia, nos beijando fervorosamente, mesmo que ele mantivesse o ritmo lascivo.
- ... – eu pedi, me impelindo contra ele, querendo mais fricção e mais velocidade, mas ele apenas segurou meu quadril, voltando à cadência.
- Vamos com calma... – ele pediu, me fazendo balançar a cabeça compulsivamente em ‘não’, mas finquei minhas unhas em seus ombros para aguentar aquela tortura. – Eu quero poder te sentir.
Ficamos naquele torturante ritmo por mais alguns minutos, com o me segurando na cintura e gemendo audivelmente em meu ouvido, até o momento em que eu não consegui suportar mais.
- ... por favor... – choraminguei.
Acho que ele também não estava mais aguentando, porque logo depois da minha fala ele me beijou com vontade e apertou as mãos em meus quadris, aumentando o ritmo, seu membro me penetrando deliciosamente.
Respirei fundo, tentando absorver todas as sensações que consegui, mas era muito difícil de me concentrar quando ele entrava e saía de mim num ritmo torturante e entrava de novo com força. Agarrei todas as partes que consegui de seu corpo, arranhando suas costas, seus ombros e até sua bunda, ouvindo sua respiração entrecortada se misturar com a minha.
Sem que eu percebesse – estava vendo estrelinhas demais no momento – ele me colocou em cima da pia e eu o abracei com as duas pernas, aumentando a fricção entre nossas intimidades e me impelindo contra ele, tudo se chocando entre nós.
encostou a testa na minha, nossas bocas a centímetros perto de tocar uma à outra, mas estávamos mais preocupados em gemer audivelmente e sussurrar palavras desconexas um para o outro. Ele me segurou na cintura e a outra mão segurou meu pescoço para perto dele, enquanto eu o abraçava nas costas, e nós ficamos dessa maneira até que eu começasse a sentir o familiar fisgão que vinha do meu umbigo e transpassava todo o meu corpo, do fio de cabelo ao dedão do pé.
- ... – ele disse contra a minha boca enquanto eu sentia todo o meu corpo se arrepiar, aquela sensação deliciosa e incontrolável tomando conta do meu corpo – Eu...
- Eu sei, . – interrompi-o enquanto sentia-o explodir em volta de mim. – Eu também.
Aquilo tudo – as palavras, as estocadas, os gestos carinhosos - foi o bastante para que eu me libertasse também, nos fazendo atingir o ápice ao mesmo tempo.
Não sei quanto tempo ficamos daquele jeito: ele ainda dentro de mim, minhas pernas caídas ao redor de seu corpo, sem forças, e sua cabeça escorada na curva do meu pescoço, me fazendo perder o balanço a cada respiração que dava. Entretanto, quando fui perceber, meu corpo ainda estava quente, formigando, mas com uma sensação tão completa que eu não pude acreditar estar sentindo.
saiu de dentro de mim e me olhou com aqueles orbes castanhos perfeitos e brilhantes, como se acabasse de sair de um sonho incrivelmente bom, e sua boca se abriu no sorriso que eu mais gostava, fazendo meu coração bater mais descompassado do que já estava.
Eu apenas fiquei olhando para ele também, sorrindo idiotamente e abraçando-o com força, tentando me acalmar para que pudesse proferir alguma coisa digna de uma pós-transa, mas não consegui pensar em absolutamente nada enquanto aquela perfeição me analisava tão minuciosamente.
- Em que você está pensando? – ele perguntou, e eu quase respondi automaticamente:
- Você. – e o sorriso dele se abriu mais ainda antes de me beijar.
- Eu também estou pensando em você. – ele confessou depois que me soltou e me puxou para ficar de pé em frente a pia. – Isso é o que eu mais tenho feito.
Sorri com o comentário e lhe dei uma piscadela antes de passar a procurar minhas roupas pelo banheiro, enquanto ele parecia fazer o mesmo.
Apesar de eu ter pouquíssimas peças, demorei mais tempo que ele, até porque tinha que arranjar um jeito de desamassar o vestido, amansar o cabelo e organizar o meu rosto sem maquiagem, já que minha bolsa havia ficado no guarda-volumes ou numa das mesas, não me lembro ao certo.
Enquanto me olhava no espelho – tentando ignorar o rosto e os olhos reluzindo como esmeraldas, mesmo que eles não fossem verdes – me peguei pensando no que tinha acabado de acontecer e sorri sozinha. Aquilo tinha sido muito, muito mágico mesmo.
Eu sei, parece estranho se você pensar que acabou de fazer sexo dentro de um banheiro de uma balada/festa/boate/coisa do gênero, mas a coisa é que: não foi só sexo. Meu Deus, como não foi. Se tivesse sido algo carnal só, tudo bem, eu até entenderia. Mas não.
Parece que aquilo tudo serviu justamente para que confirmássemos nossos sentimentos e o quanto tudo aquilo agora era certo. Não estávamos mais enganando ninguém e estávamos juntos, compartilhando do mesmo sentimento.
A verdade é que eu estava irremediavelmente feliz, e tudo em meu rosto delatava isso.
Tive certeza desse fato quando percebi me abraçar por trás e me beijar no pescoço para em seguida olhar nossos reflexos fixamente no espelho. Ele também sorria e, puta merda, nós formávamos mesmo um belo casal, modéstia a parte.
- Puta merda. – foi o que saiu da minha boca, tentando processar o que estava acontecendo no momento.
- Puta merda. – ele repetiu a minha frase sorrindo de lado e me virou para ele, me fazendo afastar o olhar de nossos reflexos abraçados no espelho. – Quem diria que nós dois estaríamos aqui, hein, ?
- Pois é, e devo confessar que quando saí de casa essa noite não estava esperando que isso acontecesse – frisei o “isso”, fazendo com que ele entendesse e risse.
- Eu fiquei bem feliz que “isso” aconteceu. – ele zombou, mas senti um pingo de verdade que me fez rir junto.
- Eu também, . – confidenciei e, antes que ele pudesse me beijar, ouvimos socos fortes na porta, o que nos assustou, e uma voz nervosa:
- Porra, isso aqui ainda ‘tá trancado? Mas que merda de lugar! – a garota gritou tão alto que conseguimos ouvir muito bem, até porque a batida da música havia diminuído para começar outra, e a gritaria dela surgiu bem nesse intervalo.
Olhei para e nós rimos silenciosamente, esperando que a neurótica do outro lado saísse.
- O que nós vamos fazer agora? – perguntei depois de um tempo.
- Primeiro nós vamos dançar – ele comentou e eu notei a nova batida que estava no ar, de uma música que eu adorava e que veio muito bem a calhar, na realidade – E depois eu vou te levar pra casa. – sua mão buscou a minha enquanto ele achava a chave da porta em algum lugar perdido no chão.
- Você vai mesmo me levar para casa? – perguntei, e sei que minha voz soou mais feliz do que eu queria demonstrar.
- É claro que sim, afinal de contas, ela não fica tão longe da minha.
Ele deu uma piscadela que fez meu coração derreter feito manteiga e abriu a porta, me puxando para fora, sua mão bem presa a minha para que não nos perdêssemos enquanto nossos ouvidos eram violentados pelo som alto de “Finally found you”.


You know I’m gon' getcha
Yeah
Whatever it takes to get there
No I won’t drop you
Like everybody else does


(Você sabe que eu vou te pegar
É
Não importa o que seja preciso para chegar lá
Não, eu não vou te deixar
Como todo mundo faz)


me puxou pela mão para o meio da pista de dança, que, para variar estava lotada. Fiquei um pouco sem graça, lembrando de que alguns minutos (horas?) antes nós estávamos naquele mesmo local, mas numa situação completamente diferente. Não diferente do dançar, mas acho que vocês entenderam.
Ele repousou as mãos na minha cintura e me fez virar para ele, mexendo meus quadris para que eu entrasse no ritmo da música, que pelo jeito ele parecia adorar e que se adequava em ao momento, se você pensar bem.
Levantei os braços e entrelacei-os em seu pescoço, sorrindo, dançando ao mesmo ritmo que ele, e pareceu gostar disso, porque o sorriso ficou preso em seu rosto por muito tempo.

Forget about your friends, they don’t care where we go
If they do, we'll get lost in a crowd of people
I’ve been looking for you forever baby we go
Together baby we go, we go


(Esqueça os seus amigos, eles não se importam para onde vamos
Se eles se importarem, nós damos um perdido neles na multidão
Eu venho procurando por você desde sempre, amor, vamos
Juntos nós vamos, nós vamos)


Eu não podia negar que estava adorando aquilo. Não havia nenhum conhecido por perto, nenhuma das minhas amigas com seus namorados, ou os amigos usuais do , ou mesmo a Melanie. Nada. E esse fato fazia tudo ser incrivelmente mais legal.
Fiquei na ponta dos pés para lhe dar um selinho, o qual ele retribuiu muito atenciosamente, para depois afastar meu corpo do dele rindo e começar a me movimentar mais intensamente, amando o fato de que eu estava realmente dançando com .

In this crazy world of choices I’ve only got a few
Either you’re coming with me, or I’m coming with you
Cause I finally found
I finally found you


(Nesse mundo louco de escolhas eu só tenho algumas
Ou você vem comigo ou eu vou com você
Porque eu finalmente te encontrei
Eu finalmente te encontrei)


Aquela distância entre nós não durou muito tempo, porque segundos depois já estava me puxando para si pela cintura e cantando a estrofe da música no meu ouvido, me fazendo prestar atenção em seu real significado.
E ele fazia aquilo tão apaixonadamente, tão... olhando em meus olhos, como se desvendasse a minha alma inteira, que fez com que meu coração quisesse sair pela boca e meus olhos aguarem, de tão emocionada que fiquei.
Eu sei, era meio idiota, até porque a música que tocava era o maior estilo... David Guetta, e ele fazia aquilo tudo soar como o Jason Mraz.
Mas o mais legal foi que ninguém prestava atenção na gente e mesmo assim ele insistia em cantar no meu ouvido o “I finally found you”, o que me fez involuntariamente lembrar do ocorrido no banheiro, o que me fez lembrar que nós estávamos realmente juntos, e que ele estava na minha frente, comigo, feliz, cantando aquelas coisas fofas para mim quando isso só acontecia nos meus sonhos mais obscuros.
Acho que o mais importante a ser mencionado é que bem... ou ele vem comigo ou eu vou com ele, certo? Nós estaríamos juntos, de qualquer jeito.
De repente, todo o medo que eu sentia simplesmente desapareceu.

You never have to worry if I what I say is true
Girl I’ve been looking for you and when I saw you I knew
That I finally found
Finally found you


(Você nunca terá que se preocupar se o que eu digo é verdade
Garota, eu tenho procurado por você, e quando te vi eu soube
Que eu finalmente te encontrei
Finalmente te encontrei)


Bom, ao contrário do que eu pensava, ele não se resumiu a cantar uma estrofe para mim, mas sim o resto da música. Então eu desisti de tentar dançar longe, e, enquanto eu ainda processava tudo aquilo, ele levantava meus braços para o alto e passava as mãos deliciosamente sobre eles, dedilhando meus cabelos, meu pescoço e toda a região das minhas costas.
- Eu não acredito que finalmente te encontrei. – ele comentou no meu ouvido quando estávamos no refrão. Gostaria de pensar que ele havia sussurrado, mas, levando em conta no lugar em que estávamos, tenho certeza de que ele havia gritado.
Não que eu tivesse me importado, afinal, aquelas palavras tiveram um efeito imediato em meu corpo, me fazendo sorrir bestamente. Então eu apenas deixei meu corpo se arrepiar e colei-o ao dele do jeito que consegui, puxando-o para mim pelos ombros e beijando-o do jeito que eu mais queria.
Ele respondeu ao meu beijo, é claro, e devo mencionar que nem me importei em estarmos no meio de uma pista de dança, provavelmente atrapalhando todas as pessoas em seus passos ensaiados, porque eu sempre adorava o jeito incrível que ele me beijava.
Não sei realmente se a música acabou ou se nós não estávamos mais no clima de dançar (afinal, a noite até ali havia sido bem intensa, como vocês podem ter percebido), mas quando percebi já estava falando de novo comigo:
- Eu vou dar um perdido nos meus amigos – ele gritou no meu ouvido para que eu pudesse ouvir e apontou para algum lugar, rindo.
- Farei a mesma coisa! – disse, e percebi que ele havia usado aquela desculpa por conta da música, embora fosse verdade.
- Te encontro na porta, ok? – ele perguntou e eu acenei com a cabeça, lhe dando um selinho em seguida e saindo para o outro lado.
Tentando controlar a minha respiração para não dar muito na cara o quanto eu estava eufórica, andei até a mesa em que eu e Jenny estávamos anteriormente, mas encontrei apenas Trish. Ela olhava fixamente para o balcão, com cara de apaixonada. Provavelmente o Brad, namorado dela, deveria estar pegando algumas bebidas para os dois, mas eu não iria ficar ali para confirmar minhas suspeitas, afinal, tinha alguém me esperando e coisas mais interessantes para serem feitas.
- Trish, eu ‘tô indo embora, se você encontrar as meninas diz que eu fui para casa, ok? – eu cheguei perto dela falando tudo rapidamente, querendo ir encontrar logo, mas ela apenas levantou da cadeira com as feições assustadas e parou na minha frente.
- Ai meu Deus. – ela exclamou.
- O quê? – perguntei, mas ela continuou me olhando embasbacada, sem falar nada. – O que foi?
- Você ‘tá exalando sexo, amiga! – ela saiu do transe e riu, me deixando completamente constrangida – Eu sei que todo mundo aqui ‘tá, mas você principalmente!
Eu dei mais um risinho de lado, completamente envergonhada, mas acenando e confirmando que sim, eu havia tido um sexo maravilhoso (todos com o eram. Não que eu tivesse muita experiência, mas a que eu tinha já contava, né!).
- Pode me contar! Quem é o sortudo? – ela me agarrou pelos ombros, curiosa, mas eu apenas fiz ela me largar e dei um passo para trás para começar minha fuga.
- A história é longa e eu preciso ir embora – desconversei, embora fosse verdade. No entanto, eu não queria falar sobre isso ali, naquele momento... ainda mais porque o estava me esperando, e o que eu menos queria era ficar longe dele, depois de tanto tempo separados. – Depois eu te conto!
- Sua vadia! – ela gritou, o que me fez rir, mas continuei andando em direção aos armários para pegar minha bolsa. – Vou te atormentar por mensagem até você me dizer!
- Tchau, Trish! – acenei feliz e saí daquele local.
Missão cumprida.

Quando cheguei à porta, já estava lá, esperando que algum manobrista pudesse buscar seu carro. Eu olhei-o fixamente, sabendo que ele estava de costas e não poderia me ver, então poderia apreciá-lo sem pudores ou vergonha de que ele me pegasse analisando-o.
Ele estava com as mãos nos bolsos e olhava de um lado para o outro, parecendo ansioso, o que me fez correr até ele apesar da curta distância que estávamos e passar a mão por seus braços, abraçando-o desajeitadamente por trás.
logo me puxou para seu lado e passou um dos braços pela minha cintura, num gesto possessivo, logo depois de me dar um beijo delicado na testa.
- Você está gelada. – ele comentou, me apertando ainda mais para si.
- ‘Tá frio aqui fora! – comentei, porque era realmente verdade. A temperatura havia caído alguns graus e, apesar de não estarmos no inverno, não havia luz do sol, o que deixava a madrugada bem mais fria do que qualquer dia.
Ele apertou-me mais para si e sussurrou que quando entrássemos no carro ele ligaria o aquecedor, já que no momento ele não tinha nenhuma blusa de frio para me emprestar.
Pauso aqui para comentar de que, mesmo sem objetos necessários a mão, sabia ser romântico.
Cinco minutos depois o manobrista apareceu, deixando o carro com o qual eu já estava familiarizada na nossa frente. correu para abrir a porta para mim e eu aceitei sua ajuda para entrar.
Ele agradeceu ao homem e, depois de colocar o cinto de segurança, ligou o aquecedor, me fazendo agradecê-lo mentalmente por ter lembrado o quanto eu ainda estava com frio.
Aquele ambiente familiar fez com que um sorriso rasgasse meu rosto. Tentei não olhar para o banco de trás, onde maravilhas já tinham acontecido entre nós, mas não consegui evitar de passar as mãos no banco ao lado da minha perna, sentindo a textura. Virei meu rosto para a janela, lembrando-me de quando eu havia feito isso pela primeira vez para tentar segurar meus hormônios.
Mordi o lábio inferior tentando fazer as memórias voltarem para o lugar de onde haviam saído, mas foi inevitável. Até eu perceber que o carro não se movia e que me olhava com um sorriso engraçado, os olhos brilhando na minha direção.
- O que foi? – perguntei um tanto constrangida.
- Eu também tenho ótimas recordações desse carro. – ele deu uma piscadela e gargalhou, dando partida em seguida, me fazendo desviar de seu olhar balançando a cabeça e tentando me sentir menos envergonhada.
aproveitou o momento para ligar o som e disse que, se eu quisesse, poderia escolher um CD no porta-luvas para pôr para tocar. Como não estava muito no clima, apenas liguei na rádio, que tocava uma música até que famosa, só para termos algum ruído como plano de fundo.
Fomos sem trocar uma única palavra, porque elas não eram necessárias no momento. Às vezes me olhava e sorria, e eu retribuía o sorriso; às vezes ele apenas segurava minha mão, meus joelhos ou minha coxa, fazendo um carinho gostoso; ou às vezes quem o admirava era eu, já que poderia fazer isso sem perigo de uma reprimenda dele, que tinha que manter a atenção no trânsito.
Quando estávamos perto de casa, tive que insistir para que colocasse o carro em sua garagem e não me deixasse na porta. Afinal, era perigoso. Além disso, da garagem dele até a porta da minha casa não eram nem dez passos, então não iria dificultar o trabalho.
Mesmo relutante ele aceitou (até porque eu também sei ser muito persuasiva) e, quando o carro já estava dentro da garagem e o portão fechado, ele tirou a chave do contato, fazendo o som desligar automaticamente, mas não abriu a porta e nem fez menção de sair.
Tirou o cinto de segurança e virou seu corpo inteiro na minha direção enquanto eu fazia o mesmo que ele.
- Eu sei o que você está pensando, . E a resposta é não. – disse tentando soar séria quando percebi seu rosto chegando perto do meu.
- Só um beijinho, . – ele pediu com os olhinhos de cachorro que acabou de cair da mudança, mas eu empurrei-o delicadamente para longe (não que tivesse surtido muito efeito, mas eu bem que tentei).
- Se eu fizer isso, nós não vamos conseguir parar.
- Que tal ser só um agradecimento pela carona? – Puxa, ele sabia mesmo como me convencer!
Rindo, balancei a cabeça em sinal afirmativo e ele não hesitou em grudar seus lábios nos meus, talvez com medo que eu mudasse de ideia no último segundo.
Ficamos um bom tempo ali, nos beijando e trocando carícias. Não posso negar que as coisas haviam esquentado novamente, mas não era algo do qual precisávamos com urgência. Era apenas um efeito colateral da vontade de ficarmos juntos para sempre.
- Tem certeza de que não quer subir? – ele perguntou ofegante depois que havíamos parado de nos engolir, mas sua testa estava encostada na minha e nossos narizes se tocavam de uma forma fofa.
- Melhor não, . Nossa noite já foi cheia de... agradáveis surpresas.
- Gostei do “agradáveis”. – ele riu, me fazendo acompanhá-lo.
E o silêncio se instaurou entre nós. Talvez não fosse aquele silêncio confortável, porque com certeza ele deveria estar pensando o mesmo que eu – O que seria de nós dois dali para frente? -, mas ninguém expressou isso em voz alta.
- O que acontece agora, ? – acabei por perguntar, sentindo uma pitada de ansiedade e nervoso.
O que aconteceria conosco? O que havia sido aquela noite? Tudo o que havíamos falado e confessado? O que seria de Melanie? Era verdade que tinha terminado com ela, e eu acreditava fielmente nisso, mas uma parte de mim parecia hesitar com um medo sobrenatural...
Não sabia se eu poderia ser considerada a “atual” dele, porque falarmos de namoro e relacionamentos sérios era algo a ser pensado um pouco mais para frente, mas eu também estava um tanto feliz de não ser considerada a “outra”... mesmo que fosse a culpada pelo término do namoro dele com a Melanie.
Mas agora já tinha acontecido e não havia volta.
Olhei para aqueles olhos castanhos brilhantes que me tiravam o fôlego e, antes que eu pudesse expressar meus medos em voz alta, ele segurou minha mão, apertando-a levemente num gesto de apoio e me deu um beijo na testa, dizendo palavras tão verdadeiras que me confortariam durante um longo tempo:
- Agora nós ficamos juntos. Os dois. Sem mentiras. Sem mágoas. Sem afastamentos. Apenas eu e você... e você e eu.

Fim.



Nota da autora: (16/01/2016)
*manter mesmo quando não tive nota, deixe um aviso "sem nota" e coloquem a data.




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