Liguei para Maureen.
Não gostava muito de envolver outras pessoas com meus problemas pessoais, mas eu não tinha uma mãe para me ajudar naquela hora e minha melhor amiga estava longe demais para me ajudar. Não queria contar para até ter certeza absoluta do problema em que havíamos nos metido por sua cabeça de vento.
Maureen era uma garota prestativa e muito querida, sabia que estava em Goiânia com Marcos porque eles tinham marcado de se encontrar no final de semana, então liguei para ela e pedi ajuda. Ela me mandou um táxi e me esperou na porta do laboratório, pronta para tudo.
- Oi, querida! - Abraçou-me, parecendo totalmente disposta a me ajudar.
Eu estava a beira do choro e acho que Maureen notou, acariciando meu braço carinhosamente para evitar o problema. Paguei ao taxista e pedi seu cartão para que pudesse ligar para ele quando acabasse o exame. Encarei o moço simpático me entregando seu cartão sabendo que, muito provavelmente, quando nos encontrássemos de novo, minha vida estaria completamente mudada.
Parei na calçada, vendo-o se afastar.
- Está de jejum? - Maureen me perguntou. Concordei com a cabeça, sentindo minha barriga roncar. - Ótimo. Então... Qual é o tamanho da suspeita?
Eu tinha feito uma lista mental de sintomas que se embaralhou na hora da pergunta. Estava tendo vários - e até sintomas avançados, o que provavelmente já era psicológico. Tinha certeza que até , distraído e nem um pouco perceptivo como era, já tinha reparado no meu comportamento esquisito.
- Tô atrasada. Três semanas, já - confessei, em um sussurro. Maureen arregalou os olhos porque, eu sabia, três semanas era muito tempo, mas eu estivera adiando e me enganando até não conseguir mais. - Tô tendo enjôo, vômito, tonturas e outras coisas - achei que Maureen não precisava saber que estava tendo um sério problema de gases e prisão de ventre. - Fiz três testes de farmácia e dois deram positivo.
Ela entortou a boca e me deu um tapinha nas costas como de consolo. Eu sabia o que ela iria dizer e eu estava apavorada com tudo aquilo.
- Sabe que isso é basicamente uma confirmação só, né? - Perguntou.
Concordei com a cabeça, contrariada. Maureen me guiou para dentro do laboratório, enquanto eu mordia o lábio com força. Tinha feito cálculos e mais cálculos, tentando provar que aquilo não era possível, que não existia nenhuma chance, mas todas as datas e possibilidades remetiam à semana que retornara para casa de São Paulo. Quando ele tinha esquecido completamente que eu trocara meus remédios e não usara camisinha.
Então lá estava a possibilidade e eu não conseguia mais evitar.
- Vai dar tudo certo, - Maureen me tranquilizou, antes que eu fosse chamada pela enfermeira.
O exame foi rápido, mas a espera pelo resultado era de, no mínimo, duas horas. Maureen e eu fomos para o centro comercial próximo do laboratório para que eu comesse alguma coisa e lhe contasse de como estava a vida. Ela relatou sobre ela e Marcos, também. Estavam morando juntos em Jataí, Marcos ainda tinha dois anos para se formar e ela começara a faculdade há um ano, apenas. Estava trabalhando em uma papelaria para ajudar nas despesas da casa e Marcos estava estagiando no seu período livre, o que os deixava com pouco tempo juntos. Sensibilizei-me com seus problemas pelo tempo que passara longe e lhe dei alguns bons conselhos de experiência própria.
Enrolei o máximo que pude para demorar para pegar o resultado, mas quando ela viu a hora, apressou-me. E lá estava, escrito no papel.
Grávida.
Eu só tinha vinte e dois. E estava grávida.
Esfreguei meu rosto e guardei o papel de volta no envelope.
- Tá tudo bem? - Maureen me perguntou, pronta para me segurar caso eu desse uma crise.
- Preciso ir para casa - foi tudo o que lhe disse.
estava deitado no sofá de casa, jogando uma bola antiestresse para o ar, como um gatinho com um brinquedo, quando eu irrompi pela porta com um furacão. Ignorando minha expressão assassina e a minha cara de choro, ele abriu um largo sorriso ao me ver e eu quase derreti. Quase. - Oi, baby - cumprimentou-me.
- Não me venha com essa história de baby! - gritei, passando por detrás do sofá.
Era isso que eu queria o tempo todo; viera o caminho querendo gritar e estraçalhar por ser desligado e por não se importar com o que eu queria, ludibriando-me com sexo e com a sua presença. Agora a gente estava em uma sinuca de bico e eu não fazia a menor ideia de como ser mãe.
- Eita, - ele pulou no sofá, sentando-se. Pegou minha mão, tentando me puxar para ele e eu fui porque já estava começando a chorar de desespero. - Ei, linda, o que houve? - Parecia genuinamente preocupado e eu não sabia mais como reagir. - ?
Eu não conseguia falar com as lágrimas escorrendo pelo meu rosto e com o pânico me fechando a garganta, então eu só joguei o envelope com o resultado em cima dele e me afastei, enfiando as mãos no cabelo, tentando pensar em qualquer coisa que me fosse útil naquele momento.
- Mas isso é... - Ele não terminou sua frase, provavelmente encontrando, no final da página, o número de HCGs que indicava que eu deveria estar com cerca de cinco semanas de gravidez. - Oh-ou.
Oh-ou. Eu dizia que estava grávida e ele me dizia oh-ou. - O que a gente vai fazer? - Perguntei, ignorando seu comportamento rídiculo no meu desespero.
franziu a testa e levantou uma sobrancelha, como se me perguntasse o quão lenta eu poderia ser.
- Casar, claro - respondeu.
Parecia-lhe a coisa mais fácil e óbvia do mundo, mas eu estivera andando em círculos pela sala e congelei ao ouvir suas palavras, sem conseguir acreditar no que ele estava me dizendo.
Vinte e dois anos, casada e grávida.
- Como é que é? - Gritei.
A fúria me entorpeceu e avancei contra , estapeando-o e batendo nele com as almofadas do sofá, enquanto gritava injúrias que eu nem sabia de onde tinha tirado tudo aquilo.
- Ei, ei, calma - ele pedia, mas eu ignorava.
- Sai daqui! - Gritei. - Sai!
me olhou com seus olhos pidões de cachorro e saiu do sofá sem dizer nada, embora eu soubesse que ele tinha cerca de trezentas coisas para rebater meu momento injustificado de raiva. Porém, eu não aguentava mais; assim que cruzou a porta da casa, eu caí em um choro descontrolado e desesperado.
Em mais ou menos oito meses, eu seria mãe. Não sabia se de um menino ou menina, mas eu esperava que fosse menina porque tinha certeza que eu conseguia limpar uma minivagina, mas duvidava que tivesse o mesmo êxito com um minipênis.
Fora isso, eu não sabia nada. Não sabia amamentar, trocar fralda, colocar para dormir. Eu nem ao menos sabia que tipo de coisas eu teria que comer para que tivesse uma gravidez saudável. Não sabia nada sobre ser mãe. E o desespero de ter uma pequena coisinha que dependia inteiramente de mim para tudo estava me sufocando de uma forma que eu não conseguia explicar.
Já podia ver seus olhos. Dois globos castanhos brilhantes como o meu . E mesmo sufocada pelo pânico e a raiva, eu o amei. Aquele pequeno serzinho dentro da minha barriga era uma mistura minha com e dificilmente poderia ser menos que perfeito.
Abracei minha barriga e deixei as lágrimas caírem, enquanto tentava colocar meus pensamentos em ordem. Tudo estava prestes a mudar.
- Merda! Au! - Acordei com uma série de gritos e xingamentos e alguns barulhos de panela.
Sentei-me rapidamente e um cheiro enjoativo me encher os pulmões. Não tive nem tempo de analisar o que estava acontecendo quando senti o vômito subir. Corri para o banheiro aos tropeços, ajoelhei-me ao chão e despejei o motivo do meu mal-estar no vaso sanitário. Senti mãos em meu cabelo e sentou-se ao meu lado, enquanto suas mãos faziam uma espécie de rabo de cavalo torto. Limpei a boca com um pedaço de papel higiênico e olhei para ele.
Estava vestindo um avental e eu não pude segurar o riso.
- O que está fazendo? - Inquiri.
Ele olhou para si mesmo, percebendo o motivo do meu riso e me acompanhando.
- Jantar. Mas acho que você não gostou.
Levantei-me para dar descarga e aproveitei para lavar a boca e tirar o gosto amargo que dominava meu paladar. me acompanhou com os olhos como se eu fosse uma bomba prestes a explodir, mas nada disse ou se mexeu. Encostei minhas costas contra a pia do banheiro e cruzei os braços.
- Não fui eu que não gostei - soltei.
apoiou-se no chão e levantou-se em um pulo, exibindo ainda mais a ridiculariedade do seu avental, mas eu não consegui rir; o momento era sério e, de alguma forma, nós dois estávamos concentrados naquilo. Ele se aproximou e, cauteloso, levou a mão até a minha barriga. Encarei sua movimentação um pouco assustada, mas, ao olhar em seu rosto e ver o sorriso contido que ele estava cultivando, de alguma maneira, algo se aquietou em meu interior e as dúvidas pareciam se transformar, uma a uma, em certezas.
- Eu falei sério mais cedo, sabe? - Disse, meio aéreo. - Sobre a gente. Eu... - Ele tirou a mão de minha barriga e levou ao jeans. Já estava revirando os olhos e me perguntando como ele conseguia pensar em sexo naquela hora quando ele apenas tirou a mão de lá, segurando uma caixinha de veludo que me fez segurar a respiração. - Meu pai me deu isso quando eu voltei. Estava esperando a hora certa de te dar, mas... Acho que não tem hora certa quando é a mulher certa.
Ele levantou o olhar para mim a tempo de ver a lágrima escorrendo pelo meu rosto e minha expressão de choque às suas palavras doces e gentis. Levou suas mãos para as minhas bochechas, acariciando e secando o leve rastro do meu choro, segurando meu rosto entre suas palmas e me encarando avidamente, enquanto a caixinha de veludo fazia uma leve pressão ao meu maxilar.
- Não pense que eu não estou assustado também, baby, porque eu tô - confessou. - Mas eu quero tudo com você, . Eu quero seu sorriso de manhã, seus ataques de raiva, seu choro e seus beijos. Eu sei que é você com quem eu quero passar o resto da minha vida e por que não agora? Por que não agora? A gente tá junto, nós dois, e vai dar tudo certo.
Minhas lágrimas caiam sem parar e molhavam as mãos de sem que ele se importasse. Estava encarando-o avidamente, bebendo de cada gotícula de expressão que seu rosto decidido pudesse me passar. Suas certezas, seus planos, de alguma forma, eles pareciam meus sem que eu notasse-os até aquele exato momento. Um tapete vermelho de possibilidades se abria à minha frente eu já o adorava.
Os olhos dele, porém, não permaneciam nos meus por muito tempo. Ele olhava para eles, e então para minha boca, para a caixinha de veludo e para baixo, provavelmente para a minha barriga e, então, olhava para o espelho. E voltava a me olhar. Sabia que abrir-se, assim, daquela forma, deixava-o inseguro e incomodado e eu tinha certeza que ele estivera planejando aquele discurso durante todo o meu sono de raiva e mais lágrimas caíram por aquele motivo.
- Eu te amo, - a confirmação da sua abertura e desconforto se fez com suas palavras e eu fechei os olhos, deixando mais lágrimas correrem enquanto meu coração acelerava. - Casa comigo?
- Caso - nem respirei para responder. - Duas vezes, até.
soltou uma gargalhada gostosa enquanto eu sorria e me beijou.
Nota da autora: (10.02.2016) Preciso confessar que eu chorei e não tô envergonhada. Hahahaha Em pensar que lá em tempos longínquos, no começo da primeira temporada, era um completo babaca. E não é que mudou, amadureceu? Apenas in love.
Bom, essa é oitava e última de uma série de shorts que vai levar a gente em um caminho encantado até a Jogando os Dados 2 – No Limite #simvaitersegundatemporada! Hahahaha
Espero que vocês tenham gostado da brincadeira e até a próxima!
Lista das Shorts de Jogando os Dados
#Short1 – Colisão
#Short2 – Morando Juntos
#Short3 – Frio
#Short4 – Menage
#Short5 – Calor
#Short6 – Longe de Casa
#Short7 – Vermelho
#Short8 – Bebê a bordo < Estamos aqui!
E agora partiu Jogando os Dados 2 – No Limite< /b>!!!!!!!!