FFOBS - Just Like Animals

CAPÍTULOS:
[16] [16.2]




Última atualização: 26/05/2016





XVI. O Início De Uma Nova Jornada.


A escola estava completamente vazia quando e saíram da sala do arquivo morto. O calor que irradiava de dentro da sala era insuportável e se ficasse mais um segundo ali, achava que iria morrer. A felicidade que se misturava ao seu sangue era inexplicável e tudo o que ela pensava era em como o sexo com era libertador, perfeito, mais do que ela pediu. O garoto exercia sobre ela um poder desconhecido que a fazia liberar completamente a mulher que habitava dentro dela. Os toques que ele distribuía pela pele dela eram marcantes e fortes e a excitavam tão inexplicavelmente que tudo o que ela mais queria era se infiltrar com ele em outro lugar e começarem novamente aquele prazer que eles desfrutaram minutos atrás. Passou a mão por seus cabelos desgrenhados fazendo um coque desajeitado e malfeito que só servia para lhe dar menos calor, mas não para arrumar sua aparência pós-sexo. Seu uniforme estava amassado e por mais que ela passasse a mão constantemente pela saia, o tecido permanecia rebelde e amassado. Bufou irritada e ao se virar para encarar , viu o garoto sorrir para ela enquanto olhava para o corredor com atenção e fechava a porta do arquivo. Ele mordeu o lábio inferior e a olhou. Ela se sentiu aquecida por dentro.
- Vamos? – ele perguntou. – Já deve ser um pouco tarde.
- Vamos, sim. Mas... – ela hesitou. – Eu queria te pedir uma coisa.
- O quê? – ele a olhou com curiosidade. Ela sorriu.
- Posso segurar a sua mão?
O sorriso que iluminou o rosto do garoto foi refletido no dela e ele rolou os olhos, sorrindo ainda mais.
- Acha mesmo que eu iria negar isso?
- Ah... Como vou ter uma garantia? – ela sorriu e estendeu a mão para ele.
Ele fitou a mão dela, o sorriso sumindo aos poucos e ela achou que ele não aceitaria, mas antes que imaginasse, a mão forte e grande de se postou em cima da sua e ela sorriu, fitando as duas mãos unidas. tinha quase a mesma cor que a pele dela, só que a dela era um pouco mais clara. Ah, esse garoto era lindo demais. Ainda sorrindo, ela entrelaçou seus dedos aos dele e, com um pequeno selinho recebido dos lábios de , eles andaram até a escada, descendo-as com as mãos dadas e balançando pelos movimentos de seus corpos.
- Se alguém aparecer nós desgrudamos as mãos, ok? – ele concordou, mas ela sentiu que deveria explicar o porquê daquilo. – Tem gente que sabe que eu namoro. Ia ser bem estranho me encontrar de mãos dadas com você por aí.
- Tem razão. – ele sorriu, trazendo a mão dela até os lábios e beijando o dorso. Ela fechou os olhos por um momento, curtindo o carinho e sentindo seu peito se aquecer ainda mais dentro de si.
Andaram em direção ao estacionamento e deram graças a Deus por não encontrarem ninguém da diretoria, secretaria ou alunos enxeridos para lhes encherem o saco. O prédio escolar estava deserto e se perguntou se haveria algum jeito de eles saírem da escola, pois parecia que todas as outras pessoas haviam ido embora. Antes que pudesse questionar a o que fazer, ela olhou para frente e encontrou o segurança na porta, o que indicava que não estavam presos ali. E mesmo sabendo que já estavam próximos de seu carro e da moto de , ela se sentia muito tentada a voltar para dentro da escola para ficar com . Mas ela sabia que tudo aquilo era só o começo do que ela teria de enfrentar. Ela teria que terminar com no dia seguinte e isso não poderia ser adiado.
Assim que chegou à frente de seu carro, olhou para os dois lados antes de agarrar firmemente a cintura da garota, aproximando o corpo dela do seu. Ela tremeu quando o baque de seus corpos fez com que ela sentisse o volume do pênis dele que não estava duro, mas era bastante grande para ser sentido por dentro da calça e pelas roupas que os vestiam. Na verdade, foi o maior garoto com quem ela já transou e ela tinha que assumir que ele era realmente bom no que fazia.
- O que acontece agora? – ele perguntou encarando os olhos dela. As íris dele estavam mais brilhantes e o de seus olhos estava mais vivo ao olhá-la. Uma das mãos dele saiu da cintura dela e passou o dedo pelo rosto da garota, fazendo-a sorrir com o contato e fechar os olhos.
- Eu vou terminar com amanhã. – ela disse, abrindo os olhos e encarando o garoto. Ele a fitava com atenção. – Eu não posso ficar com ele sendo que estou gostando de outra pessoa. Iria ser injusto. E amanhã é o único dia bom para que eu fale com ele.
- Gostando, é? – ele perguntou com um sorriso zombeteiro e ela deu um tapinha de leve no ombro dele.
- Para, . Não tem graça. Sei que vou passar um perrengue com ele amanhã.
O garoto crispou os lábios e abaixou a cabeça até tocar sua boca na testa dela e apertá-la ainda mais contra seu corpo. A menina o abraçou de volta e deitou a cabeça no peito forte dele, respirando com nervosismo. Encarar no dia seguinte seria uma tarefa muito árdua, ela tinha que reconhecer. Não conseguiria olhar diretamente nos olhos dele sabendo que ela o havia traído com e que não se sentia culpada. Tinha medo da reação do namorado ao saber o real motivo de todo aquele alarde e ela tinha medo do que viria a seguir. Falar com era uma das coisas mais difíceis, mas ela também teria que alertar o pai de que “mudou de namorado repentinamente”. Como falar isso a Héricles sem que ele a enchesse de perguntas confrontadoras sobre o porquê da mudança, sobre o que aconteceu e porque ela chegou nessa decisão? Ela não teria coragem de explicar ao pai que traiu e que estava apaixonada por outro garoto que era bem diferente dos garotos que ela estava acostumada a se relacionar. Porque era realmente diferente. Pela “brutalidade” dele para com ela, percebia a grande diferença que havia entre ele e, por exemplo, . Não era muito de comparar os rapazes, mas com nada era tão intenso ou devastador como o que ela experimentou na sala do arquivo morto da escola.
Com o sexo era tão leve, tão pleno que parecia que ela estava em meio às nuvens em vez de sentir o prazer corrompendo suas veias. Os beijos delicados que ela recebia do loiro eram calmos, mas a excitavam. nunca deixou de dar prazer a ela em nenhum momento, mas ela sentia que algo faltava e esse algo era muito claro a partir do momento em que ela se atracou com e conseguiu distinguir o que acontecia com sua cabeça: faltava paixão, faltava ousadia, faltava fogo, faltava... Foda. Porra, ela conheceu o que é uma foda de verdade quando se entregou ao . Os três garotos com quem ela transara não deram nem um terço do prazer que ela sentiu naquela sala com . Cada toque que ele proporcionava em sua pele era como se chamas de fogo estivessem sendo expelidas da pele de , adentrando suas veias e correndo por sua corrente sanguínea sem permissão. O tesão e a excitação que ela sentia quando estava com ele era inexplicável e não era somente por ele ser um puta gostoso que ela sentia toda aquela reviravolta nova e deliciosa correr por ela. era exatamente o tipo de garoto que instigava a menina a se soltar sem restrições, a realizar seus maiores fetiches numa transa, a agir como uma mulher e não como uma garota que pratica um sexo pra lá de meloso. Não. Com ela não queria o sexo que ela teve com os dois garotos que um dia se entregou. Com ela queria o sexo selvagem e forte que eles tiveram dentro daquela sala e todo o desejo ser descontado no corpo um do outro em uma envolvente onda de prazer. Droga, ela havia amado aquela tarde e a repetiria sempre que pudesse. O que ela menos queria naquele momento era voltar para casa e encarar a realidade de que teria um namoro para terminar e um pai para enfrentar mais tarde. Ah, como ela queria ter prolongado aquele momento com e esquecer-se de tudo. Mas as coisas não eram tão simples e ela sabia muito bem disso.
- Quando você terminar tudo me liga para eu saber que está tudo bem. – ele falou a olhando depois que ela levantou a cabeça do peito dele. Ela assentiu.
- Vou ligar, sim. Eu só... Não queria passar por isso. Eu preferia que ele terminasse comigo.
- Ele não vai fazer isso, . – ele tirou uma mecha do cabelo dela colocando atrás de sua orelha. – Na verdade, a escolha é sua. Cabe a você saber se quer terminar ou não.
- Eu quero. – ela disse um pouco mais alto, de repente. a encarou. – É que eu não queria magoá-lo, entende?
- Acredite em mim. Se eu estivesse no lugar dele, eu gostaria que a garota terminasse comigo ao invés de continuar e me colocar pares e pares de chifres. – ele semicerrou os olhos e sorriu, nervosa.
- O pior de tudo é que eu não... – ela hesitou. Seria mesmo certo se abrir com daquela maneira? Ah, foda-se. Ela queria contar a ele. – Eu não me arrependo de nada. Ele vai ficar muito ofendido, mas eu não me arrependo. Eu acho que nunca fiz uma coisa tão certa e ao mesmo tempo tão errada quanto ficar com você.
Ele sorriu, se aproximando dos lábios dela e encostando seus narizes. Ela fechou os olhos lentamente, mas antes que os fechasse por completo, ela sentiu a respiração de bater forte em seu rosto. Ela mordeu o lábio inferior, desejando os dele.
- Se é assim que você pensa... – ele sussurrou contra os lábios dela. – Então vá em frente. Não poderei estar com você na hora, mas tenho certeza de que tudo vai dar certo.
- Eu espero. – ela sussurrou de volta.
Seus olhos se fixaram aos dele e foi apenas um segundo para que eles grudassem os lábios e começassem com os beijos deliciosos que só eles conseguiam sentir. A maciez misturada à agressividade que ele impunha naquele beijo era tentadora e não resistiu, amolecendo o corpo completamente nos braços firmes dele, que a levantaram um pouco do chão enquanto abraçavam seu corpo com possessão. Ela enfiava sua língua inteira dentro da boca dele, varrendo cada canto e sentindo o gosto viciante que ele tinha. Seus lábios deslizavam por cima dos lábios dele numa frenética dança que a fazia querer muito e muito mais daquele beijo. Abriu mais sua boca no intuito de aprofundar o movimento de suas línguas e foi quando ela sentiu a mão de se moldar em sua bunda e puxá-la para cima, no qual ela agarrou a oportunidade para entrelaçar suas pernas na cintura dele. Ainda o beijando velozmente, ela sentiu o garoto coloca-la encostada na janela do carro e erguê-la mais um pouco, deixando-a maior que ele na intenção de que ela controlasse o beijo. As pernas ainda entrelaçadas na cintura dele o apertavam para o meio de suas coxas e ela sentia seu sexo roçar na ereção quase que aparente dele. O ar começou a ruir aos poucos e ela desgrudou os lábios dele com uma sugada e passou a língua pela pele sensível do pescoço, abaixo da orelha. Ele gemeu baixo, afundando a cabeça no pescoço dela, e inspirava forte. Ela ainda passeava a língua avermelhada pela pele dele e foi quando ele, de repente, a soltou. Ela o olhou assustada, com os pés firmes no chão pelo choque do susto.
- O que foi? – ela perguntou, encarando que sorria torto num símbolo de nervoso.
- O segurança está andando por aí. Acho que a nossa hora já deu, . – ele suspirou tomando uma expressão triste e ela mordeu o lábio inferior, sentindo a garganta se fechar. Ela não queria se afastar dele. – Você pode me ligar a hora que quiser. Hoje à noite, amanhã, depois de amanhã, semana que vem, mês que vem, etc. – ela sorriu enquanto via o garoto pegar um papel e uma caneta, anotando o número para ela.
- Se lembra que você me passou seu telefone uma vez? – ele a encarou, confuso. – Quando você negou minha carona. Aquele dia estava para chover muito e você me passou o número para que eu te ligasse pra conferir se você chegou vivo em casa. – ele sorriu alto e ela o acompanhou. Ele puxou a cintura dela novamente.
- E você nunca me ligou de volta. – ele disse encarando os olhos dela e ela arqueou uma sobrancelha.
- Ah. Vai saber se você não foi encontrar uma garota depois que saiu da minha casa. Não queria ser inconveniente.
- Paranoica. – ele rolou os olhos e entregou o papelzinho para ela. – Tome. Trate de me ligar. E me passe o seu número também.
- Não precisava do número novamente já que o tenho em casa, mas... Obrigada, . – ela disse piscando o olho e guardando o papel na fenda dos seios. Ele acompanhou com o olhar e a fitou com os olhos queimando.
- Você me paga. – ela sorriu alto. – Só não te faço pagar agora porque o segurança está vindo para a nossa direção. Não deixe de me ligar, gostosa. Ainda te pego de jeito. – ele puxou o rosto dela dando um selinho apressado e saiu correndo em direção à Harley.
Ela mordeu o lábio inferior sorrindo feliz e logo viu o segurança se aproximar dos dois com o olhar pesando sobre o lado onde ela estava e o lado onde colocava o capacete e subia na moto. Ela disfarçou com uma cara qualquer e entrou no carro, jogando sua mochila de qualquer jeito no banco do carona e apertando o volante, sorrindo sozinha. Ela não conseguia expressar o quanto ela estava feliz. Ah, aquela tarde maravilhosa ao lado de era a razão a qual ela tinha que se segurar para terminar com . E era isso que ela faria.
Antes que pudesse dar partida no carro e sair escola afora, ela ouviu batidinhas no vidro do carro e se virou alarmada até distinguir a sombra de . Ela sorriu e abaixou o vidro fitando o garoto sentado na Harley e aquilo a excitou totalmente. já era gostoso, sentado numa Harley então... Ficava irresistível.
- Eu estou muito tentado a te sequestrar agora. – ele falou com o olhar sério e sorriu.
- Eu também estou muito tentada a me render. – ela continuou sorrindo, mas ele a fitava com o olhar sério. Ele estava realmente sério que ela perdeu totalmente a graça de continuar sorrindo. Mordeu o lábio inferior, sem graça, e fitou o garoto.
- Eu estou falando sério. – ele repetiu.
- Eu preciso resolver essa situação com . Eu prometo que eu te ligo hoje e amanhã e todos os dias.
- Eu quero que prometa, jure, me assegure de que vai me ligar, . – ele falou ainda mais sério e sentiu algo dentro do peito. Ele estava sendo realmente possessivo.
- Eu prometo. – ela enumerava com os dedos erguidos no ar. – Juro. – um outro dedo. – E asseguro... – mais outro dedo. – Que vou te ligar. Não vou esconder nada de você, eu garanto.
Ele a fitou com os olhos semicerrados, mas logo sorriu, passando um dedo pelo rosto dela e, em seguida, deu partida na moto e saiu da escola. Ela respirou fundo e abriu o porta-luvas do carro, procurando uma bala de menta. Ela sorriu ao pegar uma e se lembrou de como gostava daquelas balinhas. E ainda com um sorriso no rosto, ela chupou a bala e saiu em direção à sua casa. Nana precisava saber de tudo o que havia ocorrido, com certeza.

A mesa do almoço estava posta e olhos claros a encaravam paralisados e chocados. Parecia que um pedaço da carne tinha entalado dentro de sua garganta, então teve de tomar um gole de suco para que pudesse respirar com mais facilidade. A garota havia acabado de contar à Nana o que aconteceu naquela tarde, omitindo apenas os detalhes mais sórdidos, do contrário, ela contou tudo. A governanta a fitava com a expressão em choque e parecia que ela demoraria um pouco para assimilar a real situação que enfrentava ali.
havia contado tudo nos mínimos detalhes para a mulher, falando pausadamente, para que a governanta entendesse tudo e ao mesmo tempo já se preparasse. Mas a subestimou. Nana não estava preparada para ouvir tamanha novidade. Os cabelos eram constantemente levados para trás pelos dedos nervosos e afobados da governanta que ainda olhava com os olhos esbugalhados para .
- Eu... – ao ouvir a voz de Nana, olhou-a mais ansiosa, esperando alguma reação da mulher. – Eu já esperava isso, mas ouvir assim de você, na prática, é muito diferente, chérie.
- Eu sei, Nana. – a garota cruzou os dedos e mordeu o lábio inferior, sentindo apreensão. – Eu deveria ter te escutado quando você me alertou...
- Deveria mesmo, ora essa! – a mulher falou mais alto. – Eu cansei de lhe avisar, chérie. Você não gostava de , você gostava de . Por que insistiu em continuar o namoro com o outro rapaz? Agora ele carrega bons pares de chifres na cabeça! – mordeu o lábio com mais força e virou o rosto. – Eu te dei todos os conselhos possíveis, fille. Deixei você escolher a coisa certa, mas você não escolheu.
- Eu me lembro de como você ficou quando eu havia escolhido . – a menina voltou os olhos azuis para a mulher. – Mas você não se envolveu em mais nada.
- Respeitei seu espaço, . Eu não poderia ditar uma decisão para as suas escolhas e me doeu muito ver que você havia escolhido errado e ainda estava sofrendo por isso. Me doía por dentro, mas o que eu podia fazer? Você tinha que ver onde estava errando.
- E eu vi. – a garota se adiantou. – Eu fui realmente idiota. Agora sei o quanto quero , o quanto ele significa para mim, eu... Eu estou apaixonada por ele, Nana. Nunca imaginei que fosse me apaixonar por um garoto tão diferente...
- Muito bem. – a mulher suspirou e pegou uma das mãos alvas da menina, envolvendo-a com as suas. – E o que vai fazer de agora em diante? Você e já trataram de deixar bem claro que querem uma relação um com o outro, alguma decisão deve ser tomada imediatamente.
- Eu... Eu não sei quanto à relação com , ainda não conversamos sobre isso e não quero me iludir. – falou sentindo o coração se apertar. Realmente, ela e não haviam conversado mais afundo sobre como ficaria a situação deles, afinal, a diferença entre os dois era muito clara, e com , a garota não sabia o que esperar. Apenas esperava o indecifrável. – Mas eu decidi terminar com e quero fazer isso o quanto antes.
- Você tem certeza? – arqueou a sobrancelha para Nana. – Não quero lhe confundir, mas você tem que pensar com a cabeça fria e decidir tendo a certeza limpa de que é isso o que você quer.
- Nana, o que eu senti com essa tarde foi inexplicável! – o sorriso brotava aos poucos nos lábios de coração da menina. – Foi tão novo... Eu nunca senti nada parecido com nenhum outro garoto... Ele me levou para outro mundo, um mundo que eu não conhecia, mas amei conhecer. Ele... Ele é imperfeito demais e eu descobri que eu prefiro a imperfeição ao invés da perfeição que tem.
- O mais importante de tudo, chérie: está de acordo com tudo isso? Embora eu saiba o quanto ele aparenta gostar de você, é preciso que esteja remediada quanto a ele.
- Ele concorda. Está ansioso para que eu termine logo com . E eu não acho que deva perder tempo. – a garota finalizou. – Vou ligar para ele agora mesmo. Amanhã é sábado e é o melhor dia para que ele venha aqui e... – ela suspirou. – E terminar com tudo.
Nesse momento, Nana levantou-se da mesa e puxou a garota para um abraço forte. Ela sabia o quanto precisava daquele abraço e não negaria. Mesmo vendo sua fille cometer algumas burradas e se envolver em um triângulo pra lá de estranho, também conseguia ver que a garota estava crescendo e aprendendo a tomar suas próprias decisões, mesmo levando muita rasteira da vida. Afinal, quem nunca errou em suas escolhas? E Nana ficava mais do que feliz por ver que nada estava tão perdido. Ela havia conseguido reconquistar e estava feliz por isso. Se essa era a escolha mais certa que poderia fazer – em sua opinião era, também, a escolha mais adequada – o que restava a ela era ajudar e apoiar a menina. Afagou os cabelos e sedosos da garota, sentindo o característico perfume doce de e a abraçou mais forte. Apoiaria sua criança, sua fille, sua chérie com todas as forças e não deixaria que nada acontecesse a ela. Não deixaria que , nem , nem outro garoto ousasse tocar um dedo nela. era a sua vida e de nada a garota deveria temer se ela estivesse por perto.
- Não vai ser nada fácil, Nana. – a menina falou e uma lágrima escorregou de seus olhos, perdendo-se no abraço com a governanta.
- Eu sei, mon amour, eu sei... – ela beijou as duas bochechas da garota, limpando as lágrimas da menina com os dedos. – Mas se lembre que eu estou aqui para te ajudar. Estou aqui para lhe dar a mão e te apoiar. O que me importa é a sua felicidade, chérie, independente de tudo. Você feliz é o que importa, entendeu? – a menina assentiu e voltou a abraçar Nana com mais força.
- Obrigada. – ela chorava. – Eu não sei o que seria de mim sem você... Eu... Eu não sei como não me sinto uma vadia por ter traído tão descaradamente.
- Você não é uma vadia, fille. Você tem o direito de gostar e desgostar de quem você quiser. encontrará uma garota que o ame tanto quanto você já o amou. Mas você precisa ser forte para conversar com ele, e sei que é capaz disso.
mordeu o lábio inferior, assentindo, e se direcionou até sua bolsa do colégio, retirando o celular de dentro e apertando o aparelho com força. Ela olhou para Nana, que assentia com a cabeça dando forças para a menina, e, sem delongas, discou o número do namorado. Teria de ser forte para conversar com ele e torcia com o fundo de sua alma para que pudesse encontrá-la no dia seguinte, pois ela não aguentaria ficar mais nem um dia desejando sem poder tê-lo realmente enquanto traía de forma literal e figurativa. Não poderia se dispor a isso, portanto, esperava que o namorado a atendesse e aceitasse encontrá-la. Enquanto o telefone chamava, ela sentia a ansiedade corroer seu corpo e suas mãos começavam a suar frio, transmitindo todo o seu nervosismo. Respirou fundo, buscando calma, pois precisava transparecer tranquilidade ao falar com . Não poderia ceder ao nervoso e despejar tudo por telefone. Teria de se acalmar para conversar com o rapaz no tempo certo.
- Alô? ? – a voz de reverberou por seus ouvidos e ela fechou os olhos com força, buscando calma no fundo de sua alma.
- ? Oi. – ela disse, apenas, enquanto que, com os dedos, alisava uma mecha dos fios de cabelo no intuito de, ao menos, disfarçar o nervoso.
- Tudo bem, amor? Faz tempo que você não me liga, estava ficando preocupado.
- Estou ótima. – ela mentiu. Ela não estava ótima. Estava tudo mais que complicado para ela. – Eu... Eu andei estudando muito, não tinha tempo nem de respirar direito. – ela mentiu de novo. Não havia ligado para porque estava quase que entrando em depressão por ter dispensado e porque não queria mais saber do namorado. Droga.
- Mas agora você está mais livre? Podíamos nos encontrar amanhã para jantar, passear... Queria te ver.
Um aperto no coração da menina fez com que a garganta dela se fechasse e as lágrimas ameaçassem chegar a seus olhos. Ela engoliu a bílis que parou em sua garganta e tentou de todas as formas ficar mais sóbria, mas era impossível. Aquele convite de ia ser o último de todos os convites que ele havia feito para ela naquele quase um ano de namoro e isso era um pouco doloroso. Ela nunca mais teria ao seu lado novamente.
- ? – ele chamou e a menina respirou fundo, tentando ignorar toda e qualquer hipótese de pena. Ela estava apaixonada por e isso era fato. Ficar com não o faria feliz. Ela tinha que desejar a felicidade de acima de todas as coisas e, para isso, teria que renunciar seu namoro com o loiro de uma vez por todas. E para não se prolongar em conversas dolorosas, resolveu encurtar assunto.
- Eu preciso conversar com você, . Pode vir aqui em casa amanhã à tarde? – ela perguntou rapidamente forçando sua atenção para convencer o rapaz.
- Claro que posso. Mas... Do que se trata? Pode me adiantar o assunto? – ele perguntou curioso, mas negou. Não poderia dizer nada, absolutamente.
- Não, . A conversa precisa ser pessoalmente. – a voz dela transparecia seriedade e firmeza, o que ela sabia que era um bom, mas ao mesmo tempo um mau, sinal. era muito esperto.
- Está acontecendo alguma coisa? Você está séria demais... Chateada, talvez... Está tudo bem?
A garota mordeu o lábio inferior e um alerta vermelho piscava forte em sua mente. Tudo o que ela queria era terminar aquela conversa e apenas ter a confirmação da presença de em sua casa no dia seguinte, mais nada. No meio daquele nervosismo, ela percebeu que precisava dormir, descansar a mente e se preparar psicologicamente para sua conversa com . E mais do que tudo... Ela precisava conversar com . O apoio dele era fundamental naquela hora e é somente dele que ela precisava. Ele é o único que poderia dar forças para ela ter uma conversa justa com e contar tudo o que ela havia aprontado desde quando conheceu ... E não ia ser nada fácil.
- Está tudo bem, . Eu... Eu apenas queria a sua certeza de que pode vir até aqui amanhã.
- Claro que sim. Estarei aí. Mal posso esperar a hora para te ver, meu amor.
- Venha antes que meu pai chegue. – ela ignorou o carinho do rapaz. – Venha por volta de umas três horas da tarde. Não quero que ele esteja presente enquanto conversamos.
- Tudo bem. Ahn... Nana estará aí? rolou os olhos. Por que tinha esse diabo de implicância com Nana? Qual era o problema?
- Nana estará em casa, mas não participará da conversa. Seremos apenas eu e você.
- Eu estou curioso, . Não pode mesmo adiantar o assunto? Estou ficando preocupado, afinal, você está muito estranha...
- Está tudo bem comigo, . Estarei te esperando amanhã para conversarmos, ok? – mesmo relutante, o moço concordou e ela suspirou. – Então até amanhã. Um beijo.
E mesmo ouvindo um “eu te amo” da parte do rapaz, ela não foi capaz de respondê-lo. Apenas desligou o celular e caiu em cima do sofá, sentindo as lágrimas inundarem seu rosto com força. O choro nascia de dentro de seu peito, trazendo todas as lembranças com . Mesmo sentindo os braços de Nana a abraçando, a apoiando, a voz da governanta soando palavras de calma e conforto, a garota não conseguia se acalmar totalmente. Mesmo que estivesse apaixonada, gostando de , ela também gostava muito de . Ele nunca foi um mau namorado para ela, nunca foi mal educado, sempre a cortejava, cuidava dela como se ela fosse um bebê e também nunca a maltratou ou humilhou. Ela reconhecia a perfeição de , reconhecia o quanto ele era bom para ela e ver que a realidade da coisa é bem diferente era agridoce. Um agridoce mais puxado para o ácido.
- Já vai anoitecer, chérie. Você não comeu nada no almoço e precisa almoçar. – sacudiu a cabeça em negação, mas Nana insistiu. – Não venha discutir, gamine*, você sabe que não deve ficar sem comer. Eu a proíbo, entendeu? Coma alguma coisa, tome um banho, esteja apresentável para seu pai e depois vá dormir. Eu não quero saber de você toda encabulada. Vai dar tudo certo.
- Dói muito ter que magoar , Nana. – a voz da menina estava trêmula e tudo o que ela mais queria era que aqueles dias se passassem com velocidade máxima e se apagassem de sua memória. – Ele não merece ser magoado. Ele sempre fez de tudo para não me magoar...
- É justamente para você não machucá-lo que vai terminar o namoro amanhã, chérie. Eu não acho que prefira namorar com você enquanto você gosta de outro, beija outro, ama outro...
- Amar? Eu não sei se o amo, Nana. Amar é muito forte para uma situação como ess...
- Você entendeu o tipo de amor que eu estou falando, chérie. Você pode não o amar, mas tenho certeza de que o que aconteceu esta tarde foi...
- Foi sexo, chérie. Foi sexo de verdade. – ela disse enquanto a mulher analisava cada palavra que ela dizia. – Com e com os outros garotos nunca chegou a ser tão forte como uma... – “Foda” era o que sua mente completava, mas ela não poderia dizer isso à Nana sem que a governanta levasse como uma ofensa. – Como um... – ela gaguejou novamente. – Como sexo. O que eu senti como foi puramente novo, algo que eu nunca senti com nenhum outro... Eu me senti liberta para fazer tudo o que eu bem queria. – e nessa hora, a garota abaixou a cabeça, sentindo as bochechas corarem violentamente. Era tão estranho comentar sobre o sexo com , comentar o quanto ela cometia loucuras quando tinha a oportunidade de ficar sozinha com ele. O que Nana pensaria dela? Poderia achá-la uma verdadeira meretriz. – Eu peço desculpas. – ela olhou para a governanta, que tinha um grande sorriso nos lábios. – Eu deveria ter medido minhas palavras.
- Está maluca, ? Desde quando deve se desculpar por estar desejando um rapaz? E desde quando deve se desculpar por ter desejos e fetiches com ele? É normal de toda a mulher ter suas intimidades com o namorado ou com algum pretendente.
- Mas eu não queria ser muito detalhista. As coisas com foram muito intensas e eu...
- Fille, eu estou mais do que interessada em saber sobre o que você quiser contar. Como prova de que eu não estou me importando com detalhes sórdidos, quero que me conte como foi tudo. é bom? – a menina arregalou os olhos para a governanta, que tinha a ansiedade exposta no rosto. Mesmo sentindo muita vergonha da situação, não pôde deixar de rir alto.
- Melhor impossível! – ela exclamou, feliz. – Mesmo tendo sido um sexo diferente, eu não sei nem como descrever o que senti quando ele me tocou, quando tudo aconteceu...
- Se é o que você realmente quer, então vá em frente. – a governanta disse, levantando-se, mas logo passou os dedos pelo rosto alvo e liso da menina. – Às vezes, para a gente ser feliz, temos que abrir mão de muitas coisas... Se você acha que a sua felicidade pode estar nas mãos de , vá em frente. Não tenha medo. Pense um pouco, reflita e se prepare.
A menina assentiu e a governanta saiu da sala depois de deixar um beijo reconfortante na bochecha da mesma. Então, ali, ela pôde analisar toda a situação com os olhos mais críticos. Enquanto subia as escadas em direção ao seu quarto, pensamentos embaralhados atingiam sua mente e ela começou a se sentir realmente confusa. Se quisesse analisar a situação, teria de organizar sua mente para poder começar a pensar de forma mais nítida e compreensiva.
Ao entrar no quarto, avistou Merlim deitado no travesseiro, mas o gato logo despertou ao vê-la aproximar-se. A menina sorriu e pegou o felino felpudo nos braços, acariciando-o enquanto seu olhar se perdia pelo quarto e sua mente se perdia em mil e uma lembranças. Seu ano na companhia de passava em sua mente como um filme, e mesmo sentindo o coração pesar com as memórias, ela viu que não teria alternativa senão lembrar-se de todos os momentos com e e ver o que realmente estava acontecendo com sua cabeça.
Lembrava-se com nitidez do dia em que havia chegado à França. Tudo era muito novo, muito diferente e complexo. As pessoas e suas culturas a deixavam amedrontada e ela sentia pânico de não conseguir se enturmar com quem quer que fosse. Havia feito somente três meses que sua mãe, Elizabeth , havia falecido por conta de uma metástase que afligiu sua saúde, levando-a a óbito, e a pequena garota de longos cabelos e olhos imensamente azuis sentia seu coração sangrar todos os dias, sentindo a dor da perda assolá-la fortemente. Viajar para a França em busca de estudos mais aprimorados e distração fora ideia da governanta, Anastacia Mouty, cuja descendência era francesa e sua família morava no país europeu. Por um momento a garota hesitou em fazer a viagem, pois nunca tinha se afastado de seus pais, em todas as viagens era acompanhada por ambos ou apenas por sua mãe. Héricles , seu pai, era muito atarefado com o trabalho que dirigia com penhor: administrar escolas e oferecer cursos educativos e construtivos preparatórios para os estudantes interessados em cultura. Lembrava-se de como se divertia nas aulas de piano que fazia há tempos no prédio de cursos culturais. Passou a tocar fluentemente quando completou quatorze anos de idade e desde então o piano é o seu companheiro em horas difíceis.
Assim, quando sua mãe faleceu, ela se refugiara dentro do quarto onde seu piano de cauda estava guardado e por muitas vezes ali chorou e tocou as músicas que sua mãe mais apreciava. Cada nota e acorde tocados a lembrava o rosto sereno de sua mãe, os olhos castanhos a olhando com amor e carinho, o olhar brilhante demonstrando o orgulho ao ver os dedos pequenos e ágeis da garota dedilhar as teclas brancas e pretas do piano com louvor. Antes da viagem, perdeu a conta de quantas horas passou defronte ao piano apenas relembrando as músicas que sua mãe mais gostava, mas não pôde deixar de sorrir ao se lembrar de quando Nana entrara no quarto lhe dizendo para aproveitar a viagem e tentar distrair a mente da dor. Era muito difícil ter que se afastar de casa, mas conhecer um lugar novo era o melhor para ter sua mente voltada para a única coisa que importava dali em diante: seguir a vida.
O termo “seguir a vida” doía como mil facas perfurando sua pele. Como ela seguiria a vida sem sua mãe? Ela que dava razão a tudo que a garota vivia, em cada traço de seu corpo ela podia enxergar o amor recebido por sua mãe em todos aqueles dezesseis anos de vida. E mesmo com o coração doendo, ela foi para a França. Preocupava-se com seu pai, mas tranquilizava seu coração ao saber que Nana estaria ali para todas as horas e ela faria de tudo para aproveitar o intercâmbio. Conhecimentos estrangeiros poderiam lhe render bons frutos em sua faculdade de Medicina, principalmente quando seu pai arranjou um curso básico de enfermagem para iniciantes no qual ela não se opôs a fazer. E mesmo apreensiva, a ansiedade corroía todo o seu ser e ela mal via a hora de chegar ao destino de seu mais novo ano.
Depois de horas viajando, escutando músicas diversas em seu iPod e ignorando o garoto atirado que mudou de lugar várias vezes somente para chegar mais perto dela, finalmente chegou à Paris e uma chama se acendeu em seu coração. Assim que a voz da aeromoça soou por seus ouvidos, ela viu que os Estados Unidos havia ficado para trás, junto com toda a sua vida até ali e ela agora estava pisando os pés na França, um país maravilhoso que por muitas vezes ela visitou. Mas apenas visitou. Agora ela estava ali para passar um ano inteiro de estudo junto com os familiares de Nana e começar estudos importantes para seu futuro. Um pouco nervosa por estar em um aeroporto que nunca havia estado sozinha, ela andava por entre as pessoas com as bochechas fortemente coradas, o lábio pequeno preso entre os dentes e muitos a encaravam de volta, percebendo que ela não era francesa e nem nada do tipo. Os longos cabelos estavam elevados em um coque alto com algumas mechas caindo ao redor de seu rosto, desenhando a curvatura acentuada. Por entre as pessoas, ela tentava encontrar a figura de Desiré ou Nicolle Pilleau Mouty, ambas da família de Nana. Desiré Mouty, que depois de casada com Michel Pilleau pegou o sobrenome do marido, era a irmã caçula de Nana. A mulher de cinquenta anos tinha uma filha de dezenove, Nicolle, que era sua amiga desde a primeira vez que havia ido à Paris em suas férias, quando tinha apenas sete anos. Uma das coisas mais incentivadoras que ela teve para tomar a decisão de ir à França era a convivência com Nicolle. Ela era uma grande amiga e não conseguia deixar de ver o lado bom das coisas. Para Nicky, tudo tinha o seu lado cor-de-rosa e isso era realmente bom. Era tudo o que ela precisava. Algo bom no meio de todo o sofrimento que estava passando.
Os olhos azuis brilhantes passaram novamente pelas pessoas e automaticamente encontraram olhos ansiosos a encarando. Os cabelos loiro-dourados de Nicolle balançavam à medida que ela erguia suas mãos no alto para que a enxergasse. Pela primeira vez naqueles tempos, quis sorrir da figura engraçada da amiga. Os cabelos chanel balançavam com força e só faltava a loira gritar pelo nome dela. empurrou as malas até se aproximar da garota. Nana havia aconselhado a garota que não levasse muita coisa, pois com certeza compraria muita coisa nova por lá, sem falar que em um ano uma pessoa cresce bastante, portanto, havia levado apenas o essencial para um mês. O resto compraria em suas prováveis idas ao shopping com Nicky.
Ao parar defronte à francesa, não demorou segundo algum para receber um abraço reconfortante da amiga. Assim que sua mãe faleceu, Nicolle ligava sempre para ela na intenção de conversar, dar conselhos, de oferecer seu ombro para a menina chorar, mesmo que de longe. Sem conseguir segurar as lágrimas, retribuiu o abraço com toda a força do mundo. Sua mãe gostava tanto de Nicky e até mesmo a amiga a fazia lembrar-se de Elizabeth. Com os dedos brancos e compridos, Nicky enrolou uma mecha do cabelo de e a garota pôde enxergar, mesmo em meio às lágrimas, as cores dos olhos de Nicolle. A loira havia nascido com Heterocromia* e seu olho esquerdo era azul enquanto o olho direito era castanho claro manchado de azul. Os olhos de Nicolle passavam a segurança que ela mais necessitava naquele momento e então ela soube que estaria muito bem acolhida no meio dos Mouty/Pilleau.
No início foi bem difícil se estabelecer, pois até a casa dos familiares de Nana traziam a lembrança de sua mãe. Desiré, por muitas vezes, aconselhou-a com todo o amor do mundo e toda vez que tocava no assunto de maternidade, seu semblante se tornava um pouco atormentado, algo que queria muito saber o porquê. Não questionou a mulher, mesmo que sua curiosidade fosse bem forte, mas isso não a impediu de questionar Nicolle sobre a atitude da mãe. A loira apenas riu e encerrou o assunto com “minha mãe é muito sentimental, . Ela está sentindo falta da tia Beth e por isso fica com essa cara, não esquenta.” Mas não conseguia acreditar naquilo.
Não demorou muito tempo até entrar no colégio de Inglês e Francês mais bem frequentado de Paris. Seu pai havia movido céu e terra para ela conseguir fazer seu segundo ano do colegial naquela escola. Não era somente uma escola. Era uma escola com vários e vários cursos a parte para os alunos interessados em cultura, saúde, informação e publicidades variadas. E foi no meio disso que a garota conseguiu se matricular num curso de Enfermagem para futuros vestibulandos de Medicina. Em sua opinião, conhecimentos a mais poderiam ser conseguidos de bom grado, afinal, quanto mais conhecimento tiver, mais fácil de conseguir entrar numa boa universidade de Medicina. Era bem complicado conciliar as quase quinze matérias escolares com o curso de Enfermagem e Desenho – esse último por puro interesse da menina -, mas tudo conseguiu se ajeitar com a ajuda de Nicolle e com o tempo.
A insegurança de ir para uma escola desconhecida, onde há muita gente também desconhecida e ainda por cima sem Nicolle era algo amedrontador para . Muitas vezes pensava que não conseguiria se enturmar com ninguém da escola ou que simplesmente a achariam muito patricinha, mimadinha para se enturmarem com ela. Desde muito nova, sofria preconceitos severos das pessoas que a julgavam por ela ser filha do dono da escola ou por ela sempre ter o celular da última moda, carros novos e sempre estar acompanhada de pessoas populares. Isso era um senso comum que ela odiava e queria muito que se explodisse. O bom de estar na França era que ninguém sabia quem ela era, que seu pai era dono de mais de cem cursos educacionais espalhados pelos Estados Unidos, que ela sempre fora rica e “popular” (a palavra popular não se encaixava de jeito nenhum em seu vocabulário cotidiano), exceto os diretores da escola que a receberam com muito amor.
Os primeiros dias foram realmente difíceis, pois em sua classe havia apenas três pessoas que falavam o Inglês fluente e eram dos Estados Unidos. As primeiras pessoas com quem se aproximou foram exatamente essas três pessoas: uma garota baixinha que usava óculos enormes, Andie Bohrer, um garoto alto e moreno chamado Michael Dreschler e, por fim, uma garota que sempre vinha com alguma roupa ou acessório cor de rosa, Emma Finger. Ambos se aproximaram de e não demorou tempo algum para que fizessem os trabalhos em grupo ou fora da escola, no qual era bem divertido, pois sempre saíam com Nicolle para comerem alguma coisa pelos restaurantes parisienses maravilhosos.
E então ela sentiu seu coração se aquecer em meio a todas aquelas lembranças. Conheceu muitos franceses durante o seu ano na escola e durante as aulas nos cursos de Enfermagem e Desenho. Na escola, foi convidada para participar do grupo de líderes de torcida, pois, segundo Michele Moreau (a chefe das líderes de torcida), a garota era ideal para ser segurada pelas outras na coreografia. hesitou em aceitar de imediato, mas depois de Nicolle lhe incentivar com argumentos de “você está ficando louca se não aceitar. Se te chamaram para ser líder de torcida é porque te acham gostosa, meu bem! Aceita logo!”, a garota não pôde deixar de sorrir e aceitar mesmo que não estivesse ligando para elogios.
E foi no meio tempo de ensaios da torcida conciliado com as aulas de Desenho que ela conheceu . Lembrava-se nitidamente de quando saiu atrasada do ensaio da torcida, sem tempo nem de trocar de roupa e foi direto para a aula de Desenho. O Sr. Legrand, o professor, por um momento a fuzilou com o olhar, mas autorizou sua entrada. Seis meses haviam se passado desde que ela chegou à França e é óbvio que ela não era mais aquela garota pequena. Seu corpo estava mudando, ficando mais avantajado e era ainda mais realçado pelo uniforme colado do ensaio. Ignorando os olhares masculinos diversos em cima de seu corpo, abriu sua bolsa retirando seus materiais e, sem delongas, passou a desenhar o que Legrand havia pedido. Desenho era uma distração legal e ela perdia a noção da hora, exceto quando um garoto loiro, alto e forte aparecia em seu campo de visão lhe pedindo um lápis preto emprestado.
Ao levantar seus olhos para a figura daquele garoto, ficou paralisada por um momento. Ela nunca o havia visto por ali, certamente se lembraria se tivesse. Enquanto tentava assimilar o que ele havia lhe pedido, seus olhos contemplavam a beleza do garoto e, por um momento, pensou que havia perdido o dom da fala, mas se surpreendeu quando sua mão levantou – de onde ela não sabia – e entregou o lápis para o garoto, que sorriu, agradecendo. Era meio difícil desenhar uma paisagem com perfeição quando seus olhos muitas vezes a traíam e se direcionavam para o garoto sentado a poucos metros de distância e ainda mais difícil quando ela percebia que seus olhares eram recíprocos. Talvez a beleza do menino fosse algo totalmente encantador que a havia tirado dos eixos por vários minutos até o Sr. Legrand chamar sua atenção pela quarta vez seguida em que riscava algo fora do alinhamento do desenho.
O fim da aula demorou a chegar e agradeceu quando Legrand encerrou a aula pedindo os desenhos para a correção. Podia sentir o suor brotar em sua raiz capilar denunciando o nervosismo. Sempre ficava tímida quando alguém a encarava demais ou persistia em chamar sua atenção. Esse sempre fora o seu ponto fraco: a curiosidade e timidez. Assim que pegou seus materiais e se colocou para fora, tentando ao máximo esconder como a roupa do uniforme da torcida era apertada, não esperava que o garoto alto e loiro viesse falar com ela. Muito menos quando ele lhe falou seu nome e a elogiou pela linda aparência. Por um momento a garota ficara lisonjeada, mas quando ele a convidou para sair, foi algo a se pensar. Não que não tivesse saído com outros garotos, porque ela tinha, sim, mas... Era tão diferente quando ela estava na França e um garoto se aproximava, o primeiro que se aproximava com segundas intenções por mais que fossem em um bom sentido. Teve de conversar com Nicolle para saber se era uma boa ideia, afinal, ela não poderia deixar nada passar desapercebido das pessoas que estavam a acolhendo. Se não fosse Desiré, seria Nicolle quem iria lhe ajudar. E a loira aconselhou-a a aceitar sair com . “O que você tem a perder? O cara é bonito, está na sua, você está sozinha, ele te convidou para sair, então saia.
E foi tomando a coragem que Nicky lhe deu que aceitou sair com .
No início foi apenas conhecimento geral, como descobrir que ele também morava nos Estados Unidos e isso foi um dos fatores que mais a animou. Mais ainda quando soube que ele morava tão perto dela. Isso foi algo que realmente a fez interessar-se ainda mais por . A única coisa que a impedia de se relacionar com alguém na França era que ela teria que voltar para os Estados Unidos mais cedo ou mais tarde e isso poderia comprometer seus sentimentos se ela aproveitasse demais. Mas saber que morava no mesmo país que ela, e ainda mais na mesma cidade, foi o aval que ela precisava para conhecê-lo mais a fundo. E os encontros se estenderam por vários dias, inclusive dentro do colégio de cursos. E foi no meio dessas fugidas de aula que eles finalmente se entregaram ao beijo que tanto ansiaram por aqueles dias em que estavam juntos. Na verdade, chegou à conclusão que os beijos em que trocara com outrora eram os melhores que já havia recebido na vida.
Não demorou tempo algum e o garoto já tinha a pedido em namoro. Não tinha porque não aceitar. Estava gostando de como nunca e rejeitar o namoro seria uma puta idiotice de sua parte. iria embora antes que ela, mas isso não a impediu de aceitar e firmar o namoro com o garoto. Os tempos em que passou na França ao lado de foram inesquecíveis e mais do que belos. Para ela, o mundo estava completo quando passava seu tempo com o garoto. Por muitas vezes se encontrava sozinha devido à saída do garoto para trabalhos extremamente importantes do intercâmbio e isso dificultava o encontro deles durante o final de semana – únicos dias em que eles ficavam juntos o tempo inteiro.
Os meses se passaram e logo o garoto teve de ir embora, mas não antes de entregar um lindo anel prateado para a menina, selando o compromisso que eles assumiram: esperar um pelo outro até que retornasse para os Estados Unidos. Isso foi o bastante para a garota se entregar a . Quase quatro meses de namoro foi o tempo suficiente para que a menina conhecesse e se apaixonasse totalmente, entregando seu coração e seu corpo para o garoto. Assim que o menino foi embora, seus dias apenas não ficaram mais sombrios porque Nicolle a ajudava em todos os quesitos, inclusive arrastava a garota para boates com garotos maravilhosos que ela que se esforçava para não olhar ou sequer cogitar o pensamento de “bem que eu poderia estar solteira”. Por vários momentos se via tentada, mas nenhuma vez se entregou à tentação de trair seu namorado. Mesmo com ele longe, manteve sua promessa firme e em pé. Iria esperar até que seu intercâmbio acabasse para poder voltar para .
E depois de mais quatro meses, foi sua vez de retornar para os Estados Unidos. O ano em que passou na França foi o suficiente para que ela deixasse a metade de seu coração para trás, nas mãos dos Mouty/Pilleau e nas mãos da tão sonhada Paris. Havia feito um ano da morte de sua mãe e sua tristeza era muito menos do que ela imaginava. O intercâmbio havia feito um bem tremendo para ela e conhecer pessoas novas, experiências e diversas culturas era ainda melhor. Voltou para os Estados Unidos com uma paixão ainda maior pela Medicina, pois havia aprendido coisas espetaculares no curso de Enfermagem e também havia adquirido conhecimentos maravilhosos na área dos desenhos. Viveu a vida como nunca, aproveitou, dançou, beijou, namorou, foi feliz e mais do que tudo... Amou.
Voltar para os Estados Unidos seria bem diferente do que ela imaginava.
Só que ela não sabia que isso seria no sentido mais literal.
Ela iria conhecer a desestrutura em pessoa. Iria conhecer o garoto que a enlouqueceria por vários e vários meses. O único garoto que a fez quebrar sua promessa de fidelidade para com . E o único que tinha o poder de fazê-la não se arrepender de nada.
- Esse infeliz acabou com a minha vida. – ela falou enquanto olhava para o teto do quarto. – Ou apenas a fez começar de novo. – um sorriso tomou conta do rosto da menina enquanto seus olhos se fechavam e a imagem de pairava em sua mente. Os olhos a encarando com fervor, os lábios finos crispados e o corpo forte exaltando os músculos perfeitos que o compunham.
E nessa hora a maldita comparação começou a tomar conta de sua mente.
Assim como conversava com Nana o tempo inteiro, as coisas com eram boas, porém nada era novidade para a menina. Tudo era muito igual, muita mesmice, e ainda assim o garoto era exigente. Por muitas vezes chegava à conclusão que odiava qualquer coisa que o impedisse de ser o centro das atenções. Exemplo disso era o seu tratamento para com Nana. O rapaz sabia do quanto amava a governanta e o quanto prezava a companhia da mais velha e via nitidamente, pelas atitudes do namorado, que ele se sentia incomodado quando a presença da mulher era imposta a ele no mesmo ambiente. Por várias vezes ficara triste com o rapaz por ele maltratar ou fazer pouco caso de Nana, quando o garoto era hipócrita em relação à amizade das duas e tentava impor regras que nunca estariam nos planos de para segui-las. era completamente perfeito, mas ao mesmo tempo imperfeito demais para que pudesse suportar. No início, quando tudo era novo, estava maravilhoso como nunca poderia estar antes. Mas tudo mudou quando apareceu e revirou seu mundo de cabeça para baixo.
Nunca na vida ela foi tão observada. Nem por nas aulas de Desenho. Nem por qualquer outro garoto que apareceu em sua frente para lhe cantar ou simplesmente lhe provocar. Na verdade, o olhar de tinha um diferencial de todos os outros que já recebeu um dia. O olhar de queimava, lhe analisava, dava calafrios bons que se concentravam especialmente abaixo das pernas. E isso era algo a se preocupar, pois nunca um garoto havia excitado-a tanto da forma como o garoto fazia. Mesmo com todos os mistérios que pareciam entorná-lo, mesmo com toda pose forte e grossa do garoto, ela queria tanto descobrir quem era o garoto que a escola julgava problemático, queria entender o porquê de tanto medo dos outros, o porquê de tanta solidão da parte dele. tinha os mistérios que ela sempre quis desvendar e isso era algo que a tentava por completo.
não tinha esse mistério que a questionava. não tinha essa aura interessante que ela queria descobrir.
Conhecer mais a fundo foi a certeza que ela teve para toda a confusão que se alastrou em sua mente quando o conheceu: ele era mais do que intrigante, interessante e misterioso. Ele era apaixonante. E isso foi a queda fatal para uma frágil garota curiosa como ela. A curiosidade a levou num caminho que ela nunca imaginava que trilharia: contrariou todos os seus princípios e sua educação para se entregar ao garoto por quem ela não sabia o que esperar, por quem ela havia se interessado mais do que tudo, por quem a encantou de todas as formas possíveis no mundo.
E não se arrependia disso.
E nessa hora em que pensava sobre seu relacionamento com e sobre os momentos em que passou com , ela não tinha mais dúvidas. deveria sair de sua vida. Não queria magoá-lo e era exatamente por isso que ela iria terminar o namoro com ele no dia seguinte. Estava se apaixonando por e não significava mais nada para ela, não a ponto de desistir de um sentimento que a queimava para continuar num sentimento frio que virou o seu por . Nada no mundo a fez ter mais certeza do que isso. No dia seguinte, ela colocaria um fim no namoro com e escreveria uma nova história com . Era isso o que ela mais queria.
Não demorou tempo algum para tratar de ir dormir, mas antes que pudesse se entregar à inconsciência do sono, pegou seu celular e tratou de enviar uma mensagem para o telefone de , no qual ela se sentiu bem melhor com relação à coragem para consumar a decisão do término. E isso foi o que bastou para ela conseguir dormir em paz.

Deseje-me sorte. xX .


Acordar naquela manhã de sábado foi diferente do que acordar como em todos os dias. Nunca em sua vida imaginava que estaria entre dois garotos e que teria de escolher um deles, sendo que o peso da escolha iria lhe render problemas. O problema que a mais a preocupava era a atitude de ao descobrir que ela o traiu com um garoto de sua escola, mais novo, mais bonito e mais experiente que ele. Não sabia bem como iria receber essa notícia e muito menos que ação ele tomaria ao ouvir tudo o que a menina falaria. Talvez ela nem precisasse dizer que traiu , apenas que cansou, mas isso seria completamente fora de seus princípios, pois não tinha coragem de esconder nada de quando ele era o maior interessado em saber o porquê daquilo que ela iria fazer.
Por outro lado, sua preocupação era dividida com o fato de que seu pai iria achar completamente estranho. escondeu muito bem de Héricles quando ficara deprimida pelo afastamento de logo após falar todas aquelas coisas para o garoto, escondeu o quanto a simples menção do nome de lhe dava vontade de vomitar e o quanto ela estava sofrendo, portanto, seu pai estava por fora de tudo e ficaria realmente confuso quando a menina viesse lhe contar sobre o término com o rapaz e mais confuso ainda quando lhe contasse que já tinha outro garoto ocupando o lugar de .
- Mas é claro que não posso falar isso. – ela respirou fundo enquanto amarrava o cabelo, pronta para descer para o café da manhã. Se olhou no espelho e fitou seu rosto alvo pelo reflexo.
Meu pai não pode saber que estou com outro garoto. Apenas contarei que terminei com e assim que firmar algo com , apresento os dois.
E essa foi sua decisão.
Seu pai não precisava saber nada por completo, exceto Nana. O conhecimento de Nana para com sua vida era o suficiente para que não acontecessem mais besteiras que ela provavelmente poderia deixar acontecer sem querer.
O tempo passou arrastado e completamente torturante para . A cada minuto que o relógio marcava, a menina sentia seu coração despencar e todo seu autocontrole se esvair. chegaria em poucos minutos e ela teria de ser forte para conversar com o garoto e pôr um ponto final em tudo. Era difícil, principalmente porque se tratava de um namoro que havia sido bom, no qual alegrias foram compartilhadas, sentimentos verdadeiros foram mostrados e sorrisos foram dados. Se olhasse assim para seu relacionamento com , não teria nada o que mudar, muito menos motivos para terminar. Mas o problema estava dentro dela e nada poderia ser feito quanto a isso. Seus sentimentos por se resultaram a um monte de fumaça que foi para bem longe dela, sendo substituído pelo aroma de e fazendo com que os sentimentos se voltassem apenas para o garoto problemático de sua turma.
Antes que pudesse pensar em mais alguma coisa com relação ao término e o início da jornada de sentimentos com , a porta de seu quarto abriu levemente e o rosto de Nana apareceu pela fresta.
- Fille? – a menina sorriu.
- Hey. Estou aqui. – falou, enquanto abraçava Merlim, que dormia.
- chegou. – a mulher entrou no quarto e encostou a porta, voltando seu rosto para . A garota mordeu o lábio inferior e largou o gato para lá, tentando recuperar sua postura. – Peço para que ele espere na sala?
- Não. – ela balançou a cabeça. – Vou conversar com ele aqui mesmo. Pode mandá-lo subir.
- Chérie, escute bem... – a mulher falou se aproximando da menina, tomando as mãos dela entre as suas. - Todos nós devemos correr atrás da felicidade e você está fazendo isso. – a mulher acariciou os cabelos da menina. – Para sermos felizes temos que abrir mão de muita coisa e ainda pagarmos o preço por isso. Mas vale a pena mais do que qualquer coisa.
- Eu confio nisso, Nana. – a menina sorriu. – Eu nunca tive tanta certeza na minha vida de algo que estou fazendo. Eu tenho certeza que é a única pessoa com quem eu quero estar. Nem que pra isso eu tenha que passar por cima de , eu tenho que ser forte.
- Vai ser, mon amour. Quero que tenha uma conversa limpa com ele. Se houver algum problema, pode me chamar. – a menina assentiu e Nana se retirou, provavelmente para chamar .
respirou fundo, os olhos fechados e o coração acelerado. Tinha tanto medo da reação de , mas ao mesmo tempo sabia que independente do que ele falasse, ela teria que correr atrás do que era melhor para ela. Assim como e Nana já tinham lhe dito: pensar mais nela mesma e fazer a felicidade valer a pena. Isso era o mais importante e a única fonte de coragem que ela deveria tomar para quando chegasse em seu quarto.
E isso não tardou a acontecer.


XVI - Parte 2. O Fim De Um Namoro e Segredos Revelados.


O corpo forte e alto de adentrou seu quarto em menos de cinco minutos em que Nana havia saído do cômodo. O garoto estava vestido com uma calça jeans clara meio larga e uma blusa polo preta que realçava ainda mais seus olhos claros em comparação com o escuro do tecido da camisa. A expressão no rosto do rapaz era de felicidade quando encontrou a namorada sentada na cama ao lado de Merlim. conseguia ver nitidamente o modo como ele ficara feliz ao vê-la, mas ela não conseguia disfarçar ou ser falsa. Ela não queria ter aquela conversa com e muito menos olhar para ele. Queria muito que as coisas simplesmente acontecessem sem que ela movesse um dedo que fosse para terminar o namoro, mas ela sabia que não seria desse jeito. A única forma era conversar depressa com e terminar com tudo aquilo de uma vez. Por dentro, seu peito corroía em ansiedade e apreensão, mas tudo teria que ser posto em jogo, até mesmo a imagem que passaria a ter dela.
O rapaz fechou a porta e um sorriso grande se apossou de seu rosto enquanto ele andava em passos lentos na direção de onde estava. A menina o fitava com os lábios crispados, enquanto ele a encarava de um modo mais voraz, denunciando a saudade e a clara intenção de que iria beijá-la.
Ah, mas não vai mesmo.
Antes que pudesse pensar em mais alguma coisa, viu o corpo pesado do namorado (ou ex-namorado) apoiar-se na cama, indo na direção dela. Seu primeiro impulso era fugir dali o mais rápido possível, mas quando menos imaginou, o rosto do garoto estava quase que colado ao seu, lhe encarando com as íris verdes profundas.
- Oi. – os olhos dele estavam mirando os lábios em forma de coração enquanto que o azul dos olhos de estavam bem distantes da linha de visão do rosto de .
- Hey. – disse apenas, virando o rosto levemente.
- Estava morrendo de saudades. – com o dedo indicador, ele apoiou o queixo da menina, virando o rosto dela para ele, o que a fez olhá-lo, mesmo que relutante. Um sorriso forçado surgiu nos lábios dela, mas seu coração deu um salto quando viu o rapaz morder o lábio inferior e curvar-se para beijá-la. Seu primeiro impulso seria virar o rosto, mas antes que pudesse tomar essa iniciativa, batidas na porta foram a sua salvação momentânea.
- ? – a voz de Nana era audível por dentro do quarto e quase que gritou de alegria, ao contrário de que rolou os olhos, bufando forte.
- O que é agora? – falou baixo, em tom ranzinza, sentando-se na cama ao lado de , atraindo o olhar da menina para ele.
- Eu que te pergunto. – a expressão ultrajada da menina fez com que ela não demorasse mais nem um segundo ao lado de e isso foi o suficiente para sair rumo à porta, tratando de abri-la e encontrar Nana parada ali. – O que houve, Nana? Aconteceu alguma coisa?
- Sr. está lá embaixo. Quer falar com antes de sair.
voltou o olhar para , abrindo mais a porta na intenção do garoto passar, mas ele permaneceu sentado na cama, como se não tivesse a mínima intenção de levantar. Olhou com tédio para Nana.
- Diga a ele que pode vir me buscar daqui a uma hora. Acho que é tempo o suficiente para que fale o que quer falar comigo.
- Eu até diria, meu querido, mas seu pai quer lhe ver. Acho melhor você descer e ver o que ele quer. – Nana falou em tom simpático e amigável, o que fez se lembrar das vezes em que visitou sua casa e Nana o tratou como um filho. Um sorriso quis se apossar de seu rosto, mas tudo pareceu ruir quando o tom rude de tomou conta de sua audição.
- Será que você poderia nos dar licença, por favor? – ele se dirigia a Nana e não pôde deixar de encará-lo com raiva ao mesmo tempo em que sua boca se abria em indignação. – Eu estou tentando conversar com e eu realmente não suporto quando tenho que fazê-lo enquanto você está presente.
- ! O que pensa que está fazendo? – a garota gritou na direção dele, caminhando em passos firmes até o garoto que tinha a expressão mais fechada do que nunca ela havia visto. – Eu não sei quem você pensa que é, mas não tem direito algum de ofender Nana, ainda mais quando ela está aqui a pedido do seu pai.
- Eu estou cansado, ! – ele falou mais alto, levantando-se abruptamente da cama. – Toda vez você tem que colocar a governanta no meio do nosso relacionamento, contando as coisas, revelando segredos, deixando-a mais ciente de tudo do que o seu próprio pai. Você está agindo errado comigo e não é assim que quero continuar um namoro com você.
não conseguia acreditar no que estava escutando sair da boca de . Aquele não era o garoto por quem ela tinha se apaixonado na França, aquele não era o garoto para quem ela tinha entregado o seu amor, aquele não era o garoto que ela confiava para contar segredos e entregar o carinho que tinha para dar. Aquele rapaz estava se revelando muito ao contrário do que ela imaginava conhecer.
Antes que pudesse dizer poucas e boas para e mandá-lo à merda, respirou fundo, contando até cinco mental e pausadamente, os olhos se fechando aos poucos, acalmou o corpo tenso e encarou , as palavras saindo calmamente de seus lábios.
- Seu pai está lhe esperando. – disse apenas. – Teremos tempo para conversarmos. Desça com Nana e veja qual é o problema.
O garoto lhe lançou um olhar atravessado e raivoso e mesmo reclamando aos quatro ventos, acompanhou Nana até o andar de baixo. Antes que a porta se fechasse, lançou um olhar sugestivo para Nana, lhe pedindo desculpas por , mas a governanta ficara sem expressão, o que magoou a garota ainda mais. Sentou em sua cama, encolhendo as pernas para junto do peito e seus olhos começaram a arder, denunciando as lágrimas que queriam descer. Aquilo era muito ao contrário do que ela imaginava. Começaria brigando com para depois lhe contar que havia o traído e terminar o namoro. Ela estava conhecendo um lado de muito diferente do que ela imaginava, o rapaz se mostrara agressivo, incompreensivo e totalmente sem noção das coisas. Não entendia aquela mudança repentina em , principalmente pela forma que ele chegara em seu quarto, lhe mostrando estar realmente com saudades. Parecia que o garoto sofria de bipolaridade e alguma coisa em sua mente lhe dizia que ela estaria fazendo a melhor coisa terminando com ele. Ela não suportaria impondo regras e mais regras em sua vida, sendo que ele nem fazia parte dela direito. Ora, eles mal se viam. tinha faculdade, tinha seus afazeres, como ele mesmo sempre dizia para ela, e eles se encontravam apenas em finais de semanas quando o rapaz podia. Ao contrário eram somente mensagens trocadas em aplicativos de celular, skype e coisas do tipo pela internet. Não era bem dessa forma que ela queria firmar um namoro com .
E então ela se lembrou do dia da festa em que viu pela primeira vez. havia dito que não poderia ir com ela justamente por estar atolado de estudos para as provas que iriam começar, mesmo que fosse apenas o início do ano e as provas de faculdade não tivessem começado ainda. se recusara a ir com ela, mas mesmo assim ela foi. Foi e lá conheceu a sua perdição. Foi e viu que talvez toda a sua experiência e sua escolha para namorado era somente uma farsa, quando ela havia conhecido a pessoa que iria desestruturá-la por completo, onde o destino faria questão de dar risada às suas custas e colocar em sua vida como se ele fizesse parte dela.
E pensando bem, por causa de ela havia conhecido . Foi por causa de que ela cedeu aos olhares penetrantes de . Se estivesse lá com ela, com certeza ela não teria motivo nenhum para ter ido ao bar pegar bebida, não teria motivos para olhar para o restante das pessoas sendo que ele estava ali e não teria motivo para questionar a beleza de outro garoto, pois o seu namorado estava ali com ela e nada mais a importava do que isso.
Mas não havia ido à festa.
E então ele dançou.
A culpa foi toda dele, ela concluiu. Sim, ela tinha uma grande parcela de culpa por ter se entregado aos encantos misteriosos do garoto problemático que roubou sua atenção, mas isso não a fazia se arrepender e muito menos agora ela se arrependia ao ver a cena de maltratando a pessoa que mais lhe importava no mundo, depois de seus pais.
Enxugou as lágrimas que ainda desciam de seu rosto e fez o possível para recompor sua postura para esperar o garoto, quando o barulho de mensagem de seu celular fez-se ouvir pelo quarto silencioso. Olhou para o criado mudo e o pegou, abrindo o slide e não encontrou nada. Engraçado que seu celular estava sem nenhuma notificação, mas o mesmo barulho de aviso continuava a tocar insistentemente, denunciando a presença de outro aparelho dentro do quarto. Franziu a testa, tentando lembrar se havia trazido algum outro celular para o quarto. Ela procurou apurar a audição para ouvir de onde vinha o som e não tardou a encontrar, bem ao seu lado, o celular de que piscava e apitava.
O som era o mesmo do aplicativo em que ela usava para trocar mensagens com as meninas da torcida e o mesmo que usava para conversar com . Mordeu o lábio inferior, hesitando, mas o impulso em olhar o que tanto o celular apitava era muito mais forte do que ela imaginava. Olhou em dúvida para a porta, pesando as consequências que poderia tomar se fuçasse o celular de , ainda mais quando o garoto se mostrou agressivo, mas ao ver o celular parar de apitar e a curiosidade quase corroer suas veias, ela não pôde deixar de segurar o aparelho entre os dedos e fuçar a tela bloqueada que mostrava várias e várias mensagens de uma tal de Anya Miller. A curiosidade era que o nome da garota era brevemente conhecido por ela e o seu próprio nome se fazia presente no meio das mensagens. Ela não pôde deixar de ler o que a garota havia enviado para . Mal sabia ela o que a aguardava.
O quê?
Seus olhos passavam por cada mensagem e sua testa se franzia totalmente em confusão. Não eram simples mensagens. Eram mensagens esquisitas demais, ela diria. Principalmente quando viu seu nome no meio do que a tal garota havia enviado.
Anya diz: “Você saiu apressado daqui e eu não entendi nada” 3:30 AM
Anya diz: “Aposto que foi encontrar a sua namoradinha não f...” 3:30 AM – a mensagem estava cortada, pois a tela bloqueada não a mostrava inteira.
Anya diz: “Eu não quero saber de você com outra garota, você está en...” 3:31 AM
Anya diz: “! Eu estou falando com você, dá pra você me respon...” 3:31 AM
Mas que porra é essa?
Seus olhos reliam aquelas mensagens como se fossem um disco arranhado e cada vez que relia, as palavras entravam em sua mente como um grande solavanco, o mais violento de todos. Anya Miller? se recordava vagamente de uma Anya Miller que estudava em sua escola. Uma garota esbelta e marcada por curvas fortes que estudava em um dos terceiros anos. Lembrava nitidamente de quando chegara ao colégio e fora alertada por Britney Heigns sobre as garotas que a encaravam com olhares atravessados e pesados... Anya Miller era uma delas. não entendia o porquê de tanta revolta provinda da garota se, em momento algum, nunca falou com ela ou direcionou comentários maliciosos para a moça e muito menos pensou algo sequer dela. E como, inexplicavelmente, ela conhecia seu namorado? E por que as mensagens dela estavam sendo direcionadas no celular de e ainda por cima se referindo a ela como “namoradinha”? O que era aquela garota e o que ela pensava que estava fazendo?
apertava o celular com tanta força sob os dedos nervosos que as pontas até ficavam esbranquiçadas pela forma como ela descontava o nervoso que estava lhe atingindo sem restrição. Parecia que o mundo estava virando de cabeça para baixo e todo o seu sangue estava pesando em sua cabeça, fazendo-a girar e seus olhos doerem. Não conseguia pensar em mais nada a não ser a frase que pairava em sua frente quando ela fechava os olhos controlando a raiva: “ estava me traindo? Me traindo com Anya Miller?
O mundo havia caído com tudo em suas costas e o peso da realidade lhe bofeteava em todo momento que seus olhos reliam aquelas mensagens e a compreensão espalhava-se em sua mente. É claro que aquela mensagem era destinada a , pois a menina viu nitidamente Anya Miller chamá-lo pelo nome. Outra confirmação que era para : seria muita coincidência a garota mandar uma mensagem para um garoto chamado que também tinha uma namorada chamada , logo, tudo isso era para . Com esse fato, as outras mensagens lhe mostravam mais fatos que ela não queria reconhecer, mas sua mente esperta já conseguia entender tudo.
realmente estava traindo-a.
Ele teve a coragem de quebrar a promessa que havia feito a ela enquanto se amavam pela primeira vez na noite estrelada de Paris, onde tudo parecia um sonho.

As lágrimas que desciam de seu rosto banhavam completamente sua pele alva e macia, trazendo a vermelhidão às suas bochechas e os olhos azuis perdendo a cor viva de sempre, tornando-se um azul cinzento e sombrio. Dentro de seu peito, uma guerra acontecia e tudo o que ela sentia era ódio e nojo. Ódio de ter acreditado que um garoto bonito como estaria livre para ela, esperando-a retornar de viagem enquanto várias garotas mais velhas e mais experientes o rodeavam com suas seduções baratas e propostas indecentes. Ódio por ter entregado o seu coração a ele achando que o rapaz saberia cuidar de seus sentimentos como cuidava de seus próprios interesses pessoais. Mas por outro lado também tinha o nojo. Nojo de ter sido idiota a ponto de entregar muito mais do que o seu coração para um garoto que provavelmente saía com várias outras, nojo de ter sido cega por muito tempo achando que ele estaria totalmente entregue a ela, como um namorado prestativo e da forma como ela sonhava.
Tudo ilusão.
Naquele dia, havia se mostrado muito ao contrário do garoto prestativo, doce e encantador que ela conheceu na França. Muito ao contrário do garoto bonito e interessante que havia lhe pedido um lápis preto emprestado na aula de Desenho. Muito ao contrário do que ela sempre acreditou. E isso era demais para que ela pudesse suportar.
Antes que tomasse o impulso de correr atrás de e arremessar o celular com força contra a cabeça loira do idiota, a porta de seu quarto se abriu, revelando o corpo alto que estava ali há alguns minutos. O garoto balançava os cabelos e apenas queria socá-lo. “Filho. De. Uma. Puta.
Sua mente lhe lançava contradições terríveis contra e até mesmo o maltrato do rapaz com Nana foi motivo para que a menina quisesse chutá-lo bem no meio das pernas, mesmo em meio às lágrimas que caíam com força.
- Meu pai só sabe encher o saco. – o garoto falou, nervoso, enquanto bufava forte em insatisfação. – Prende o meu carro e ainda reclama por me trazer aqui.
Mesmo com o garoto de costas para ela, somente de ouvir o som da voz de era o bastante para que ela não suportasse mais o peso da mágoa e vomitasse a sua nova descoberta.
- “Você saiu apressado daqui e eu não entendi nada.” – a voz da menina estava trêmula, mas mesmo assim ela manteve a postura e a voz firmes o bastante para fazer endurecer o corpo e continuar parado de costas para ela, como se tivesse recebido um choque. A menina sorriu sarcástica. – “Aposto que foi encontrar sua namoradinha ”.
virou abruptamente para , os olhos verdes atravessados totalmente arregalados e ao fitar o rosto vermelho da garota, pôde concluir que ela realmente estava falando o que ele estava pensando, principalmente quando viu seu celular sendo segurado pelas mãos pequenas e brancas dela.
- Mas...
- “Eu não quero saber de você com outra garota!” – ela falou mais alto, interrompendo o garoto, que parou, a fitando com os olhos amedrontados. – ! ELA ESTÁ FALANDO COM VOCÊ, SERÁ QUE VOCÊ NÃO ESTÁ VENDO? – berrou, erguendo o celular no ar enquanto seu rosto ficava ainda mais vermelho, mas dessa vez era a raiva lhe consumindo por dentro. A boca do garoto se abriu aos poucos, mas antes que ele pudesse falar alguma coisa, arremessou o celular com força na direção do garoto, que bateu forte no peito dele e se espatifou no chão. Foi possível escutar o som do vidro do celular se quebrando e logo a voz de tomou conta do quarto.
- VOCÊ ESTÁ LOUCA? – ele gritou com força enquanto se agachava perto do celular e contemplava o estrago que a menina havia feito. levantou depressa da cama, se direcionando para o namorado, e ao chegar em frente a ele, fez questão de pisar em cima do celular que ele nem tinha tirado do chão ainda. O peso de seu corpo esmagou ainda mais o aparelho e a fuzilou com o olhar. – O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO, SUA IDIOTA?
- Eu não vou perguntar duas vezes e exijo uma resposta agora. – os olhos azuis estavam escuros de raiva e fitavam o namorado com o ódio explícito, mas não estava muito atrás. O garoto não acreditava que havia deixado o celular no quarto de e que a garota havia descoberto mais do que deveria e acreditava muito menos que tivera a audácia de quebrar o aparelho em sua frente. – O que você estava fazendo com Anya Miller? – ela perguntou pausadamente, andando em passos lentos na direção do garoto, que ao mesmo tempo ia para trás, hesitando pela ousadia até então desconhecida de . Ao mesmo tempo em que a menina andava, ela arrastava o celular de sob a sola do pé, não importando se o vidro da tela iria machucá-la ou algo do tipo. Nada lhe importava naquele momento a não ser o seu acerto de contas com .
O garoto sorriu sarcástico, provocando-a, e fez questão de sorrir bem alto para contrariar a menina, que estava à beira de um colapso nervoso.
- Se fosse realmente da sua conta ou do seu interesse, eu teria lhe dito antes, não é mesmo? – ele falou enquanto fitava os lábios da menina, mordendo fortemente os seus. – Anya não faz parte do nosso assunto de hoje, creio eu.
- Como você ousa? – ela rosnou e forçou ainda mais o pé contra o celular do garoto, causando um barulho alto.
- Está me devendo um celular novo, . Talvez você não tenha muita noção das coisas quando tem um pai que lhe priva de tudo ao redor.
- Eu posso ter sido uma idiota por ter acreditado em você em todo esse tempo... – a mágoa e o rancor pingavam de cada palavra que a menina proferia e ela não conseguia acreditar na forma como estava encarando aquela situação. O garoto estava impassível, completamente sarcástico e com uma demonstração de que não se importava nem um pouco dela ter descoberto a traição e muito menos com o que ela estava sentindo agora. estava se mostrando um verdadeiro monstro. – Mas eu sou muito mulher pra defender a minha honra nem que seja preciso passar por cima de você. – ela chutou o celular do garoto com força, a sola do pé expelindo um pouco de sangue pelos cacos da tela, mas isso não a importava. A conexão de seus olhos com os de era fortíssima.
Quando menos imaginou, se aproximou de seu ouvido, soprando o hálito quente, fazendo seu estômago dar voltas e voltas dentro dela. Era como se de repente se tornasse a pior pessoa que ela havia conhecido na vida e a primeira pessoa a querer distância.
- Ela fode tão bem... – ele soprou no ouvido dela, a voz provocativa lhe fazendo ficar cega por um minuto. – Eu nunca gozei tanto na vida com uma garota. – ele sorriu e o hálito quente espalhou pelos cabelos da menina, fazendo com que o coração dela desse pulos em seu peito. estava humilhando-a da forma mais baixa que um garoto poderia fazer. – A boca dela tem o tamanho e textura perfeita para suportar o meu desejo por ela. Não é que nem você que quase vomitou quando foi me chupar.
o encarou com os olhos aguados, mas ao mesmo tempo em que ele falava todas aquelas palavras para ela, a menina conseguia se lembrar nitidamente de sua transa com e em como ele ficara alucinado quando ela o chupou. Lembrava-se perfeitamente do dia anterior quando todo o seu corpo foi percorrido pela língua de e quando o pau grosso dele lhe invadiu, mostrando que nada no mundo tinha aquela sintonia, aquele fogo, aquele desejo. Como dois animais selvagens, eles foderam dentro do arquivo morto da escola e tudo parecia irrelevante quando ela realmente experimentou o gosto do sexo na ponta da língua. E precisava saber daquilo.
Um sorriso maldoso se apossou de seu rosto, os dentes brancos fazendo parte do cenário sombrio que se tornou aquela discussão.
- Ontem foi um dia muito diferente, você sabia? – ela falou como se estivesse iniciando uma conversa normal e a encarava com as sobrancelhas fortemente unidas em confusão e desafio. – Eu posso dizer que tive uma experiência e tanto. Acho que quando a gente muda de parceiro no sexo, tudo fica mais interessante, pois temos exatamente aquilo que está faltando. Foi o que eu descobri ontem. – ela sorriu mais abertamente para ele, que encarava a menina com força.
- O que está dizendo? Fale direito, , é meio impossível te entender pelas entrelinhas.
- Se você acha que a outra fode melhor que eu, então tem quem não se decepcionou quando me comeu. Se você acha que a outra te fez gozar várias vezes em uma transa, eu tenho uma novidade para você: gozaram muito em mim. Se você acha que ela chupa melhor do que eu, eu ainda te digo mais: enfiaram um pau inteiro na minha boca e eu fui mulher suficiente para engolir e fazê-lo pedir por mais. Pouco me interessa se você está comendo a vadia da minha escola, mas saiba que eu também te traí. Saiba que eu transei forte com o garoto que mexeu comigo há muito tempo e não me arrependo de nada. E ainda quero que você saiba que eu te chamei aqui hoje para terminar essa porra de namoro e pedir para você sumir da minha vida, porque o garoto com quem eu estou substitui dois de você. Eu quase fui idiota de trocá-lo por sua causa, mas hoje eu estou sendo muito mulher para chegar na sua frente e falar que: Você. É. Um. Bosta. – ela cuspiu as palavras na cara do garoto, que a fitava abismado, porém não tinha reação alguma. – Sai da minha vida e vai procurar a vadia que está dando pra você. Se ela é melhor que eu, aproveite enquanto ela ainda tem o que te oferecer. Já eu, tenho muito mais do que você imagina. E o azar é seu de não descobrir. – ela desencostou do corpo de e se afastou, andando pelo quarto como se nada tivesse acontecendo. – Você pensa que vou ficar em depressão porque você me traiu? Pensa que eu estou me importando com isso? – ela negou com a cabeça, olhando-o com a sobrancelha arqueada. – Tenho mais o que fazer.
Sentou em sua cama, puxando o gato para seu colo enquanto a encarava, tentando assimilar tudo o que ela havia dito. Então havia o traído também? Então ele simplesmente havia sido corneado por ela sem mais nem menos? Aquela garotinha pequena, mimada e retraída havia tido a cara de pau de enganá-lo daquela forma?
Antes que pudesse analisar qual seria sua atitude no próximo segundo, seu corpo foi empurrado para a direção da garota e quando se viu, estava por cima do corpo pequeno dela, forçando o peso do seu no intuito de descontar toda a raiva que passou a sentir. Merlim sibilava forte, mas o gato era o menor dos problemas ali.
- Você não pode estar falando sério comigo, . – ele rosnou para ela, a voz cortando sua garganta e todo o sangue pareceu pousar em sua cabeça, fazendo-a pesar. tinha os braços fortemente agarrados pelas mãos fortes do ex-namorado e tinha o rosto praticamente colado ao dele, mas, por incrível que pareça, isso não a amedrontou. Apenas a fez encará-lo com mais força no olhar. – Você teve a coragem de me trair? Teve a coragem de dar para outro enquanto estava comigo?
- Ora, não seja hipócrita! – ela berrou. – Você é muito machista e ignorante! Você também me traiu, portanto perde toda a sua razão de reclamar de alguma coisa.
- MAS VOCÊ É MINHA! QUEM TE DISSE QUE ERA O CONTRÁRIO?
- VOCÊ É INSUPORTÁVEL! Eu não aguentava mais você com suas regras, com seus princípios idiotas, com sua pose de dono do mundo, reclamando de tudo, até mesmo de Nana! Eu não suportava mais olhar para a sua cara quando eu tinha coisas muito mais importantes para me preocupar. A culpa é toda sua! Se não fosse por causa de você e da sua falta de tempo idiota, eu nunca teria conhecido aquele garoto e muito menos teria me apaixonado por ele!
O aperto em seu braço se afrouxou rapidamente e ela tomou conta do que ela havia dito. Havia confessado para que estava apaixonada por e aquilo havia saído com a maior normalidade possível e um grande peso saiu de suas costas, sendo transferido para um lugar bem distante dela. Com toda a força que pôde juntar, tirou seus braços da mão de e o empurrou para longe enquanto fazia um coque em seu cabelo, tentando esquecer um pouco da adrenalina da briga que fez seu coração palpitar forte em seu peito, causando uma certa dor.
Levantou-se da cama, disposta a ir à porta e expulsar de seu quarto, quando sentiu o corpo forte do rapaz lhe agarrar com força e a jogar sem dó em cima da cama, fazendo com que sua cabeça batesse na quina da cabeceira. Em meio aos gritos, ela sentiu uma dor forte tomar conta de sua cabeça e os olhos se fecharam com força, a claridade fazendo as retinas doerem por demais. Mesmo com os olhos fechados e a dor tomando conta, ela conseguiu sentir o corpo do rapaz subir por cima do seu. O pânico tomou conta de seu coração quando ela ouviu o rapaz rugir em cima dela e forçar o peso do corpo, fazendo com que ela sentisse um incômodo pela força aplicada. Ele murmurava obscenidades enquanto a garota tratou de se debater, tentando afastá-lo de todo jeito de cima dela. Sua blusa foi puxada com força, fazendo com que um rasgo na barra do tecido fosse ouvido e ela não podia acreditar no que estava acontecendo.
estava tentando violentá-la por causa da raiva?
Antes que pudesse sequer pensar, juntou todas as forças que tinha e que surpreendentemente aparentava ter e empurrou para trás, logo virando sua mão com toda a força no rosto do garoto, fazendo-o cair para trás pelo impacto do tapa.
- Filha da puta! – ele gritou com força enquanto a menina abria os olhos, assustada, e encarava o ex-namorado que tinha a bochecha direita marcada e o nariz vermelho, denunciando que o tapa havia sido mais do que bem dado. Ela respirou com dificuldade e se levantou rapidamente, indo em direção à porta, mas foi mais rápido e a agarrou com mais força enquanto a lançava forte para a cama. A garota gritava por socorro e tudo parecia distante, apenas o peso de em seu corpo era o bastante para fazê-la querer desmaiar.
O impacto de seu corpo contra a cama lhe resultou outra batida, dessa vez na testa, a qual a quina da cama não poupou em ferir. A dor latejante em sua cabeça fez lágrimas descerem por seus olhos e a voz se perder na garganta, como se o ar não existisse mais.
- Agora você vai aprender. Eu poderia te dar uma bela duma surra, mas eu não posso deixar de aproveitar o máximo que você tem para oferecer. – ele falou enquanto rasgava ainda mais a blusa da garota, fazendo com que ela gritasse ainda mais alto. O nome de Nana era constantemente chamado pela menina, mas o pânico de não ver Nana em lugar algum para socorrê-la era demasiado doloroso. – Não é você que está se achando “a tal” por ter me traído? Então quero que me mostre o quanto você é boa.
- ME SOLTA! – ela gritava mais alto. – ME LARGA!
De repente ela sentiu um filete descer por seu rosto e entrou em choque quando sentiu o cheiro e a quentura do sangue que provavelmente escorria do machucado em sua testa. A força que aplicava sobre ela era muita e tudo o que ela queria era que o fato não passasse de um simples pesadelo que ela estava tendo, mas ao sentir a mão grossa do rapaz puxar seu sutiã com força, ela viu que nada poderia ser pior do que encarar a realidade de frente quando estava prestes a ser violentada pela pessoa que ela confiou muito além do que seus sentimentos.
Mesmo gritando alto, ela foi capaz de ouvir o rasgo do sutiã misturado ao barulho forte da porta de seu quarto, que foi arrombada pela pessoa que ela menos imaginava que estaria ali.
- MAS QUE PORRA É ESSA?
E como se tudo pudesse ter uma solução e todas as coisas conspirassem para lhe ajudar, ela pôde ver nitidamente a silhueta raivosa de quem ela mais precisava no momento: seu pai.


Continua...



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