Última atualização: 16/03/2020

Capítulo único

Estava a caminho do hospital e meu marido tentava me acalmar. Porém, parecia que seria ele quem daria à luz. Eu, no entanto, até que estava calma para quem nunca tinha passado por isso antes.

* Algumas horas antes *

Eu estava me preparando para dormir quando senti algo molhado entre as minhas pernas e sequer estava com vontade de ir ao banheiro. Logo em seguida senti uma forte contração: era isso. Minha menininha finalmente nasceria! Fiquei tão ansiosa durante todo esse tempo, e agora eu estava calma, finalmente veria o rosto da minha menininha. Ai! Mais uma contração.
! — gritei do quarto.
— Oi! — Entrou correndo. — Aconteceu alguma coisa? Está tudo bem? — perguntou preocupado enquanto me ajudava a sentar na cama.
, a bolsa estourou.
— O quê?! — Ele me olhou assustado.
— A bolsa estourou, . O bebê vai nascer.
— O que eu faço?
— Pegue minha bolsa e vamos para o hospital!
— Claro. — Se virou. Estava tão atrapalhado que eu não pude deixar de rir. Ele abriu a porta do armário e coçou a cabeça procurando as coisas.
— Essa aqui?
— Sim.
Ele colocou minhas coisas dentro da bolsa e me ajudou a levantar, aos poucos fomos caminhando até entrarmos no carro.
O sempre foi uma pessoa muito tranquila. Em todos os momentos que costumo surtar, ele consegue me acalmar; ele me mantém sã, na maior parte do tempo...
Durante toda a minha gravidez ele foi extremamente carinhoso e cuidadoso comigo e com nosso bebê; quando quis comer jabuticaba com sorvete de limão, ele foi buscar (só para constar: já se passavam das três da manhã naquele dia).
Ele conversava constantemente com a nossa menininha e fazia planos, carinho... e ela sempre parecia ouvi-lo e senti-lo.
Sempre vou lembrar-me da noite em que ele conversava comigo e eventualmente dizia à nossa filha que ela seria linda como a mamãe e ele a ensinaria a jogar, tocar violão e quantos instrumentos ela quisesse, assim como dizia que se qualquer garoto chegasse perto dela iria arrepender-se profundamente (eu apenas ria — ele certamente seria super protetor e não seria nada fácil lidarmos com isso). Dizia tudo isso enquanto acariciava minha barriga, e então senti e ele também... Pudemos até ver o contorno daquele pezinho minúsculo empurrando minha barriga, ele se emocionou, e eu... não estou lembrada de algum dia ter ficado tão feliz por algo tão simples assim antes.

~*~


— Como você está? — ele perguntou, lançando um olhar preocupado (pela décima vez em menos de cinco minutos) para mim enquanto dirigia.
— Está tudo bem — disse com uma careta, as contrações realmente doíam, mas eu não precisava preocupá-lo ainda mais.
— Tem certeza? Você está suando. — Colocou a mão na minha testa, secando algumas gotas que se formavam.
— Sim, só um pouco de dor, mas nada fora do normal. Falta muito para chegarmos?
— Não, mas o trânsito não está ajudando em nada. Aguenta só mais um pouco, .
— Estou tentando. — Sorri ironicamente. batia os dedos no volante impaciente. Realmente, ele estava ficando mais nervoso do que eu.
Alguns minutos depois finalmente chegamos. Logo fui colocada em uma maca e me levaram para dentro enquanto fazia minha ficha na recepção.
— Ei, filhota. Calma, já já você estará aqui conosco — falei, passando a mão sobre minha barriga. Fui deixada no quarto e os médicos disseram que eu teria que esperar mais algumas horas até que a dilatação fosse suficiente. Houve uma batida à porta e entrou.
Acredito que o nervosismo dele fora apenas momentâneo, pois agora parecia mais com ele mesmo novamente, bem mais calmo e ao meu lado, conversando apenas coisas bobas, esperando o tempo passar.
— E aí? Como você está se sentindo?
— Estou bem. Um pouco de dor, mas nada fora do normal. — Me beijou na testa.
— Não vejo à hora de ver o rosto da nossa pequena.
— Nem eu.

~*~

— Sra. , chegou a hora. Está pronta? — Olhei para meu marido, que acenou me incentivando.
— Acho que não — sussurrei para que apenas ele ouvisse, e ele gargalhou. Por que ele gargalhou?!
— Sim, ela está.
— Não estou não! — A enfermeira olhou para mim sorrindo, por que eles pareciam achar graça do meu desespero?!
— Escuta, . Há dois minutos você estava mais corajosa do que já estivera em toda a sua vida, e eu sei que você está com medo, eu também estou. Mas estamos nessa juntos e vamos fazer isso juntos. Sempre. Confia em mim? — Concordei e ele beijou minha testa.
— Vamos? — perguntei à enfermeira.
ficou ao meu lado o tempo todo, segurou minha mão e olhava carinhosamente para mim de tempos em tempos. Era inevitável que estivesse um pouco nervosa, e acho que quando ouvimos pela primeira vez aquele choro baixinho, tão doce, tão delicado, foi quando vi nos olhos dele a paixão. Ficamos ambos tão maravilhados e toda aquela tensão se dissipou dando lugar a um sentimento indescritível, eu jurava saber o que era amar, até porque já amava minha pequena antes mesmo dela vir ao mundo, mas isso... Isso era mágico. Trocamos olhares e pude ver como ele estava emocionado, meu rosto não devia estar nada diferente. Quando ela é colocada nos meus braços... é incrível. É tão pequena, tem os olhinhos fechados e quando se aproximou e murmurou algo sobre como ela é linda vemos um sorriso gostoso se formando em seus pequenos lábios.

~*~


Your little hands wrapped around my finger
(Suas mãozinhas agarrando o meu dedo)
And It’s so quiet in the world tonight
(E o mundo está tão tranquilo esta noite)
Your little eyelids flutter ‘cause you’re dreaming
(Suas pálpebras estão trêmulas porque você está sonhando)
So I tuck you in and turn on your favorite nightlight
(Então eu te escondo e ligo sua luz noturna preferida)

To you everything's funny
(Pra você tudo é engraçado)
You got nothing to regret
(Você não tem nada a lamentar)
I'd give all I have, honey
(Eu poderia dar tudo o que tenho, querida)
If you could stay like that
(Se você pudesse ficar assim)

Oh, darling, don't you ever grow up
(Oh, querida, tente nunca crescer)
Don't you ever grow up
(Tente nunca crescer)
Just stay this little
(Apenas fique pequena assim)
Oh, darling, don't you ever grow up
(Oh, querida, tente nunca crescer)
Don't you ever grow up
(Tente nunca crescer)
It could stay this simple
(Isso poderia ficar simples assim)
I won't let nobody hurt you
(Eu não vou deixar ninguém te machucar)
Won't let no one break your heart
(Não deixarei ninguém partir seu coração)
And no one will desert you
(E ninguém irá te abandonar)
Just try to never grow up
(Apenas tente nunca crescer)
And never grow up
(E nunca cresça)


~*~

Durante minha gravidez eu e arrumamos o quarto dela, era cheio de pelúcias, algumas sendo presentes; e o berço, ao qual agora eu estava de frente. Ela tinha a mãozinha ao redor de meu indicador, os olhos estavam fechados movendo-se de um lado para o outro, indicando que ela sonhava com algo, sorri ao vê-la tão sossegada. Seu peito subia e descia em movimentos suaves conforme ela respirava, era tão sereno... aliás, era o único momento em que conseguia vê-la completamente calma.
seria uma menina muito temperamental, se é que já não era. Ela já sabia muito bem como chamar atenção e já era bem ligada ao pai. Quando estava prestes a sair para trabalhar e ela encontrava-se acordada, começava a chorar, não importava o que eu fizesse, ela não pararia até ele pegá-la no colo e ir até o carro com ela; certamente ela apenas se contentaria caso ele a levasse junto, mas como não era possível, parava apenas quando via que estava desperdiçando lágrimas e berros, o que acontecia cerca de dez minutos após a saída dele. E, como o pai coruja que ele é, sempre ligava após esse tempo para saber se ela já havia parado.
Com os meus pensamentos dirigindo-se a ele, olhei para a porta e o encontrei encostado no batente, observando-nos. Ele se aproximou, passou os braços pela minha cintura e encostou o queixo em meu ombro.
— Ela é tão linda, não é?
Muito. E eu estava aqui pensando em como ela será mimada com um lindo pai coruja desses. — Riu baixo.
— Ela acabou de nascer, deixe-me aproveitar um pouco, depois sabe que serei mais duro.
— Sei.
— Claro que sim.
— Você só tem porte de durão, .
— Como é? Claro que não. — Olhou-me, tentando parecer sério.
— Ah, qual é. Você sabe que eu amo esse seu jeito.
— Assim fica difícil.
— Fazer o quê — disse o beijando.
Ouvimos uma gargalhada bem leve e vimos nos observando enquanto ria. a pegou no colo, levantando-a e dando um beijo em sua bochecha gordinha, na qual não pude evitar plantar um beijo também. Naquela noite ela dormiu no colo do pai.

~*~


You're in the car on the way to the movies
(Você está no carro a caminho do cinema)
And you're mortified,
(E você está angustiada)
Your mom's dropping you off
(Por sua mãe estar te levando)
At fourteen there's just so much you can't do
(Aos catorze anos há tanto que você não pode fazer)
And you can't wait to move out someday
(E você mal pode esperar para se mudar algum dia)
And call your own shots
(E dar suas próprias ordens)

But don't make her drop you
(Mas não faça com que ela a deixe)
Off around the block
(Do outro lado do quarteirão)
Remember that she's getting older too
(lembre-se de que ela está envelhecendo também)
And don't lose the way that you dance
(E não perca o jeito que você dança)
Around in your pj's
(Ao redor em seus pijamas)
Getting ready for school
(Enquanto fica pronta para a escola)
Oh, darling, don't you ever grow up
(Oh, querida, tente nunca crescer)
Don't you ever grow up
(Tente nunca crescer)
Just stay this little
(Apenas fique pequena assim)
Oh, darling, don't you ever grow up
(Oh, querida, tente nunca crescer)
Don't you ever grow up
(Tente nunca crescer)
It could stay this simple
(Isso poderia ficar simples assim)
And no one’s ever burned you
(Ninguém nunca te ferirá)
Nothing’s ever let you scared
(Nada nunca a deixou machucada)
And even though you want to
(E ainda que você queira)
Just try to never grow up
(Apenas tente nunca crescer)


~*~


— Vamos, ! Você irá se atrasar para a escola! — eu disse batendo mais uma vez em sua porta. Havia acabado de preparar o café da manhã.
Já vou — foi a resposta abafada que obtive.
Era sexta-feira, porém essa é minha rotina por todas as manhãs, acordo , me apronto para o trabalho enquanto ela se arruma para a escola, preparo o café e por vezes a deixo na escola antes de ir para o trabalho, outras vezes quem o faz é . Hoje era meu dia.
Podia ouvir a música tocando em seu quarto, plenas seis horas da manhã. Tudo bem, , você já foi adolescente, não se esqueça>. Essa menina iria se atrasar e me atrasar, então bati pela última vez em sua porta e abri. Ela não havia percebido que eu estava ali, observando-a dançar ao redor do quarto, ainda vestindo seu pijama do Piu Piu e Frajola (que já estava um pouco antigo, por sinal), quando ela me viu lançou um sorriso e me puxou para dançar com ela.
— Não, ! Iremos nos atrasar, se apronte logo!
— Ah, mãe! Dança comigo! Eu vou me arrumar... — Então a acompanhei. Ficamos ali ouvindo a música e dançando enquanto ela se arrumava.
Assustei-me quando senti um par de braços se enroscarem em minha cintura, mas logo relaxei ao ouvir a risada de .
— Minhas belas dançarinas. — Ri e puxou o pai.
— Você também deveria dançar, pai! — Ele permaneceu parado.
— Não! Você sabe que não sei fazer essas coisas aí.
Eu coloquei suas mãos ao redor de minha cintura e as minhas ao redor de seu pescoço.
— Sabe sim.
No fim das contas valeu a pena nos atrasarmos alguns minutos...
A noite me disse que um garoto da escola de havia a convidado para sair no sábado, eles “iriam” ao cinema, segundo meu marido.
— Imagina, ?! Vê se pode!
— Ué, ... ela não é tão pequena assim, né? Acho que não tem mal algum.
— Quê?! — Se virou na cama, me olhando com os olhos arregalados. — Ela não vai!
— Foi o que você disse a ela?
— Claro.
— Então tá explicado porque a carranca quando vocês chegaram. Ela não quis me dizer o motivo. Mas , você precisa pensar nela como uma garota adolescente, ela não é mais um bebê, eu também me sinto insegura com ela fora de casa, ainda mais em um encontro... — ele fez uma careta e eu acariciava suas costas enquanto falava — ...mas eu confio nela, nós fizemos um bom trabalho. Ela tem juízo, é cuidadosa e sabe se virar bem, fora que tenho certeza de que no primeiro sinal de perigo ela não pensará duas vezes antes de nos ligar, para você principalmente, e como sempre, você estará lá para salvá-la. Só que isso não será necessário. Tenho certeza que tudo sairá bem. E se não sair, nós estaremos aqui para confortá-la. Faz parte da vida, . Inclusive, eu tinha a idade dela quando me apaixonei por você. — Dei de ombros.
— Você não precisava lembrar-me disso agora. — Eu ri.
— Claro que precisava! Apesar de tudo que passamos, eu não me arrependo nem mesmo por um minuto de ter conhecido você naquele dia, nem mesmo por ter tido que esperar o tempo que esperei por você. Tudo valeu à pena, e penso que assim como você, se meu pai soubesse de tudo o que eu sentia por você e tudo o que você me fez passar...
— Ele me odiaria — ele interrompeu.
— Não... Mas talvez hoje ele não gostasse tanto de você quando gosta. Pais são pais, . Hoje eu entendo tudo o que minha mãe fazia, mas na época ficava revoltada com metade das coisas que ela dizia, hoje ajo praticamente da mesma maneira, e sei que você também.
— Eu odiaria vê-la cometendo os mesmos erros que cometi, ou com um cara que a fizesse sofrer como eu fiz você sofrer — disse triste.
— Olha pra mim — eu falei com a mão em seu rosto. — Primeiro: você não me fez sofrer. Tudo o que nós passamos me fez ser quem sou hoje, amar quem eu sou e amar você como amo hoje, assim como fez com que você estivesse aqui comigo durante esse tempo todo. Duvido que isso fosse acontecer se não tivéssemos a história que temos. Segundo: nós não podemos viver a vida dela por ela, ela vai cometer erros e vai aprender com eles, enquanto nós vamos estar aqui para apoiá-la sempre que ela cair.
— Você é maravilhosa, sabia? — Sorri e ele deu um beijo em meus lábios. — Eu amo você.
— Eu também amo você.
No outro dia a deixei em frente ao cinema, o que a deixou emburrada.
— Por que essa cara, ?!
— Você não precisava me deixar aqui na frente né, mãe?! Precisa me fazer passar vergonha?! — Ela ia abrindo a porta até eu a impedir.
— Você não vai sair desse carro assim. — Fechei a porta por dentro — Do que isso importa, filha? Seus “amiguinhos” vão ficar tirando sarro por sua mãe a deixar na frente do cinema? Problema deles. Você não tem que se importar com essas coisas! Aliás, que horas o filme acaba?
— Sete e meia.
— Ok. Eu e seu pai estaremos te esperando aqui.
— Mãe! Mas eu vou ficar aqui para jantar com meus amigos!
— Não, você não vai. Por hoje você já vai sair por tempo suficiente, numa próxima vez, quando combinarem antes você fica.
— Eu vou ficar!
! Você não vai! E se continuar discutindo comigo vou te levar de volta para casa!
— Saco! Eu não vejo a hora de ser adulta e ir embora! Assim não vou ter que dar satisfação para ninguém! — gritou. Isso me machucou. Eu tentava ser uma boa mãe, em algum ponto da vida todos nós temos raiva dos nossos pais, mas será que os filhos nunca veem como fazemos as coisas pelo bem deles?!
— Você acha que as coisas são assim?! Talvez eu devesse ter dado razão ao seu pai que não queria te deixar vir e não o ter convencido do contrário! — Ela abriu a porta do carro e saiu. Eu encostei a cabeça no volante cansada.
acabou indo buscá-la sozinho, eu contei para ele o que aconteceu e ele foi mais paciente do que imaginei. Mas imagino que tenha tido uma longa conversa com ela, pois eles demoraram a voltar e quando chegaram abriu a porta do quarto, onde eu estava com os olhos vermelhos e marejados.
— Me desculpa, mãe. — Veio correndo me abraçar na cama. — Falei tudo aquilo porque queria poder fazer as coisas do meu jeito, mas amo você e o papai, não quero ficar longe de vocês. Pelo menos não por enquanto. — Nós rimos.
— Um dia você poderá fazer as coisas do seu jeito e, acredite em mim, não será tão legal quanto você pensa. Enquanto temos nossos pais cuidando de nós e da nossa vida, é tudo mais fácil, quando a vida adulta chega, gostaríamos de voltar para a barriga de nossa mãe, pelo menos comigo foi assim. — Dei de ombros e ela riu.
— Você só diz isso porque é adulta.
— É exatamente por isso que o digo! Tantas vezes eu queria voltar pro colo da minha mãe. Mas infelizmente eu não caibo mais lá. Hoje é com vocês que eu pertenço, e por enquanto você ainda pode ficar aqui, no nosso colinho. — Ela se aconchegou mais perto de mim. Eu amava esse pedacinho de mim mais do que a qualquer outra coisa no mundo. Algum tempo depois apareceu e se aconchegou conosco, e nós três ficamos ali.

~*~


Take pictures in your mind of
(Tire fotos em sua mente)
Your childhood room
(Do seu quarto de infância)
Memorize what it sounded like
(memorize o som)
When your dad gets home
(De quando seu pai chega em casa)
Remember the footsteps,
(Lembre-se dos passos)
Remember the words said
(Lembre-se das palavras ditas)
And all your little brother's favorite songs
(E de todas as músicas preferidas de seu irmãozinho)
I just realized everything I have is someday
(Eu acabei de perceber que tudo que tenho um dia)
Gonna be gone
(Irá embora)


~*~

Hoje havia sido o aniversário de dez anos de , estava com dezoito. O tempo havia passado tão rápido, parecia que há poucos anos eu estava tendo ela; então, parece que o tive ontem. Mas foi aceita em uma universidade em outro estado e iria viajar amanhã. Eu e ficamos muito felizes por ela, que sempre foi esforçada e queria muito essa vaga. No entanto, ela nem havia ido e eu já estava com o coração apertado só de pensar em ficar longe da minha filha. então, nem se fala. Ele sempre foi o mais babão e era muito apegada a ele.
— Achei que o tempo fosse passar um pouco mais devagar, no entanto não tem nos dado folga há alguns anos. — disse abraçado comigo enquanto estávamos encostados na cabeceira da cama conversando.
— Nem me fale. Estava pensando nisso agora, daqui a alguns anos será que irá sair com alguma garota e ficará envergonhado por eu deixá-lo na porta da escola. Ele já tem reclamado quando eu o beijo, acredita?!
— Acredito. Outro dia fui dar um beijo nele e ele me afastou dizendo que homens não dão beijo. — disse contrariado enquanto eu ria. — A ao menos ainda me deixa beijá-la de boa noite.
— É. Tenho que concordar. Todos nós tivemos essa fase de “vergonha dos pais”, vai. — Meneou a cabeça. — Ah, ! Vai dizer que quando a sua mãe foi lá na escola e te deu um abraço e um beijo, em pleno nono ano, você não ficou nem um pouco envergonhado?
— Quase nada. Não acho que isso seja motivo. — Rolei os olhos e acabei dando de ombros.
— Tudo bem.
A porta do quarto abriu e entrou.
— Ouvi vocês conversando e resolvi dar uma passadinha aqui no quarto.
— Vem cá. — disse o pai, abrindo espaço entre nós dois. Ela veio e encostou a cabeça em meu peito.
— Eu não estava conseguindo dormir. Sei que já sou grandinha, mas já que vocês não estavam dormindo...
— Estávamos falando de como o tempo passou rápido.
— Eu vou sentir tanta saudade de vocês — disse com a voz embargada.
— Ah, meu amor. A gente também. — A apertei nos meus braços.
— Eu não sei se vou conseguir ir, é tão longe e eu nunca passei tanto tempo assim afastada de casa. Talvez eu consiga algo mais perto, ou...
, você sempre quis isso. Não é tão longe assim e você sempre vai poder vir para casa nos visitar. Fora que você sabe, basta um telefonema e seu pai irá correndo para o que quer que seja, onde quer que seja! — disse fazendo cafuné nela e ela concordou sorrindo.
— Sim, é verdade.
— Durma aqui conosco — falei.
— Não precisa pedir duas vezes. — Nós rimos e nos ajeitamos na cama.

~’s P.O.V On~

E o dia havia chegado... Eu teria que me despedir de meus pais e da vida que vivi aqui para criar um novo começo. Isso era aterrorizante e excitante ao mesmo tempo. Meus pais estavam na sala enquanto eu terminava de fechar as malas. Olhei meu quarto com as minhas fotos preferidas, com as minhas pelúcias, caramba... eu sentiria muita falta de tudo aquilo.

~Flashback~


Ouvi as chaves na porta e desci as escadas correndo para encontrar meu pai entrando em casa.
— Oi, minha princesa! Como você está? — perguntou deixando suas coisas no chão e me pegando no colo assim que pulei.
— Estou bem, papai. Olha só! Eu tenho uma surpresa para você! A mamãe disse que você ficaria orgulhoso! — contou, mostrando meu primeiro dente que acabara de cair. — Ela falou que eu já estou ficando uma moça! — ele riu.
— Pois é, minha pequena! Está mesmo! O tempo está passando muito rápido hein. Deixe-me ver. — Abaixou, me colocando no chão e pegando o dente que estava em minha mão. — Uau! E você o arrancou sozinha?
— Sim!
— Realmente! Estou muito orgulhoso! — disse, me dando um beijo na bochecha. — Dê um sorriso! — Sorri e ele pegou o celular, registrando o momento.

~Flashback Off~


Coloquei aquela foto junto com as minhas coisas.

~Flashback On~


! Eu estou ocupada!
— Não está não! Você está só enviando mensagens!
— O que você quer?
— Vem aqui, !
— Argh... pra quê?
— Eu quero mostrar uma coisa!
— Tá! — disse me dando por vencida e levantando do sofá, seguindo meu irmão até seu quarto, onde ele pegou sua guitarra e sentou-se na cama.
— Ouve só!
Ele começou a tocar algum metal que eu nunca havia ouvido na vida. Eu não curtia muito as mesmas músicas que ele, mas estava feliz por estar aprendendo a tocar tão bem, e parecia orgulhoso por ter aprendido a tal música, eu não podia negar que também estava orgulhosa.
— Você conhece essa música? — Neguei. — Olha. — Digitou o nome da música no youtube e acabei ouvindo-a inteira. Até que não era ruim.

~Flashback Off~

So here I am in my new apartment
(Então aqui estou eu em meu novo apartamento)
In a big city, they just dropped me off
(Em uma cidade grande, eles acabaram de me deixar aqui)
It's so much colder than I thought it would be
(É muito mais frio do que pensei que seria)
So I tuck myself in and turn my night light on
(Então eu me escondo e ligo minha luz noturna)

Wish I'd never grown up
(Queria nunca ter crescido)
I wish I'd never grown up
(Eu queria nunca ter crescido)

Oh, I don't want to grow up
(Oh, eu não quero crescer)
Wish I'd never grown up
(Queria nunca ter crescido)
I could still be little
(Eu poderia continuar pequena)
Oh, I don't want to grow up
(Oh, eu não quero crescer)
Wish I'd never grown up
(Queria nunca ter crescido)
It could still be simple
(Poderia continuar sendo simples)

Desci com tudo e meu pai colocou as coisas no carro. Minha mãe entrou no banco da frente, meu irmão entrou junto comigo atrás e meu pai logo em seguida entrou no banco do motorista, dando a partida. Eles me levariam até a rodoviária, onde eu pegaria um ônibus até a cidade para onde estava me mudando. Eles já haviam ido comigo algumas semanas antes para vermos o lugar onde eu ficaria, assim como para fazer a matrícula e acertar tudo na cidade. É... dessa vez era pra valer.
Chegamos à rodoviária, deixei minhas malas para serem colocadas no bagageiro e me despedi deles. Minha mãe já tinha os olhos cheios de lágrimas, o que me impedira de me segurar por muito tempo. Enquanto isso, meu pai e meu irmão tinham uma expressão de que, assim como eu, estavam segurando-se ao máximo. Minha mãe foi a primeira a me abraçar.
— Ah, minha filha! Vá com Deus, e aproveite muito todos os dias e essa nova vida que vem pela frente! Sabe que estaremos sempre, sempre, aqui para você, não é? — Concordei enquanto estava envolvida em seu abraço. — Amo muito você e vou sentir muita falta! Não se esqueça de me ligar todos os dias! Porque eu, com toda a certeza, não irei parar de ligar! — Rimos juntas em meio a lágrimas. E então o próximo foi .
— Tchau, minha irmãzona. Vou ficar com muita saudade. Você vai visitar a gente, não vai?
— Claro que eu vou, meu amor! E vou morrer de saudades de você também, de todos vocês! — Dei um beijo bem estalado na bochecha dele, que me abraçou bem forte. E então meu pai.
— Ah, minha princesa... você cresceu. Eu estou muito orgulhoso e feliz por você! Sabe que nosso colo vai sempre estar aqui, não é? Eu amo muito você, meu amor. Qualquer coisa pode me procurar, você sabe disso. Ligue-nos assim que chegar lá, está bem? — Concordei e nos abraçamos.
— Eu vou sentir muita saudade de todos vocês. Amo vocês.
Tomei toda a coragem que me restara e entrei no ônibus. Passei parte da viagem dormindo e logo chegou à cidade. Não era muito longe, mas mesmo assim, era longe o suficiente para que eu sentisse falta deles assim que cheguei em casa.
Fui arrumando as coisas aos poucos.
A cidade era linda, as pessoas eram acolhedoras, não seria muito difícil me adaptar. Quando olhei, o relógio já marcava 23:48, então me arrumei para dormir, teria aula pela manhã no dia seguinte.
Deitei-me e senti a noite fria batendo na janela, apesar do pijama e do cobertor que eu usava. Peguei o celular e digitei o número de casa, ouvindo a voz do meu irmão ao atender.
!
— Oi, meu lindo! Como estão as coisas por aí?
— Está tudo bem, um pouco estranho, a casa ficou um pouco mais quieta, ainda que a mamãe não consiga ficar em silêncio por muito tempo. — Eu ri.
— Logo logo vocês acostumam. Duvido que a casa fique silenciosa com a mamãe.
— Não mesmo. E aí? Como você está?
— Estou bem, sentindo falta do barulho.
— Haha. Logo logo você acostuma.
— Acho que sim. Eles estão por aí?
— Estão sim. Vou passar para o papai.
— Tudo bem.
— Eii. Como vai minha princesa?
— Está tudo bem!
— Como foi a viagem?
— Foi boa, passou rápido até.
—Não é tão longe, não é mesmo?
— Até que não. Só estou sentindo um pouco de falta. Aqui faz um pouco de frio.
— Cubra-se bem, minha pequena. E boa noite, boa aula também. Espero que você aproveite muito e seja muito feliz!
— Com certeza vou continuar sendo, papai. Boa noite! Amo você!
— Também amo você! Vou passar para sua mãe que está ansiosa querendo falar com você.
— Certo! Um beijo!
— Oi, meu amor! Como estão as coisas?
— Está tudo bem, mãe! Com saudades de vocês.
— Eu também já estou morrendo de saudades!
— Eu disse para o , está tudo muito silencioso. Tô sentindo falta de ouvir as conversas, todos falando ao mesmo tempo, junto com a TV. Apesar de ser algo que me irritava às vezes.
— E não é pra menos. — Nós duas rimos. — Liga o som, coloca alguma música e acende uma luz! Sabe que às vezes dá uma sensação de companhia. E vamos estar aqui, juntinho de você!
— Sei que sim, mamãe. Amo você. Boa noite. Durmam bem.
— Duma bem, meu amor. Também amo você! Nos falamos amanhã?
— Sim!
— Certo então. Um beijo!
Liguei o celular colocando algumas músicas para tocar e acendi uma luzinha que havia levado. Então começou a tocar “Never Grow Up”. Pois é, a Taylor Swift estava certa, “Eu queria nunca ter crescido”.
Mas com o passar dos dias fui me acostumando, assim como eu e havíamos conversado. E estava gostando bastante da faculdade, dos novos amigos, da liberdade e da responsabilidade. Crescer era difícil, mas era essencial.

~’s P.O.V. Off~

Os dias foram se passando e fomos acostumando com a rotina em casa. ligava sempre e quando não ligava, nós ligávamos para ela. Sempre que ela nos visitava eu ficava muito feliz por ver o quanto havia crescido e o quanto estava amadurecendo nesses últimos tempos. Eu mesma tive muita dificuldade ao passar para a fase adulta. São tantas coisas ao mesmo tempo, tantas escolhas, tanta responsabilidade. Alguns, assim como eu, acabam precisando de auxílio profissional para enfrentar as dificuldades que vem. Outros conseguem apenas com o apoio da família ou então com o aprendizado que acumulam durante a vida, cada um tem um jeito. E todos eles estão certos.

-10 anos depois-


— Ela não é linda? Eu queria que ela nunca crescesse... — Ri ao ouvir dizer exatamente o que havia passado pela minha cabeça quando eu estava em seu lugar. Estávamos apoiadas no berço de Esther, com seus braços ao redor de meus ombros, observando-a enquanto dormia, exatamente do mesmo jeitinho que nossa filha costumava dormir quando era apenas um bebê. Eles cresciam, e hoje eu sou extremamente feliz por saber que eles cresceram felizes. Tanto quanto me deixam orgulhosos todos os dias e nossa vida continua seguindo seu curso. Eu ainda aprendo muito a cada dia e fico feliz por estarmos todos exatamente onde estamos hoje.

Oh, darling, don't you ever grow up
(Oh, querida, tente nunca crescer)
Don't you ever grow up
(Tente nunca crescer)
Just stay this little
(Apenas fique assim pequena)
Oh, darling, don't you ever grow up
(Oh, querida, tente nunca crescer)
Don't you ever grow up
(Tente nunca crescer)
It could stay this simple
(Isso poderia ser tão simples)
I won't let nobody hurt you
(Eu não deixarei ninguém te machucar)
Won't let no one break your heart
(Não deixarei ninguém partir seu coração)
And even though you want to
(E mesmo que você queira)
Please, try to never grow up
(Por favor, tente nunca crescer)
Oh, don't you ever grow up
(Oh, tente nunca crescer)
Oh, never grow up
(Oh, nunca crescer)
Just never grow up
(Apenas nunca crescer)




Fim...



Nota da autora: Ao ouvir essa música a fanfic foi sendo criada na minha mente. Demorei bastante para conseguir escrevê-la por completo, mas aqui está! Espero que todos possam aproveitar essa história e, para aquelas que assim como eu ainda não são mães, possam se divertir e emocionar sendo mães por alguns minutos, enquanto lêem a fic! Beijos e não se esqueçam de comentar para que eu saiba o que acharam!



Outras Fanfics:
Lead Me Back

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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