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Prólogo


Era mais uma noite de verão. A corrente fria do litoral bagunçava os cabelos da jovem e a fizeram se arrepiar.

Ela olhou para a infinita extensão litorânea, só tendo um único desejo em mente. Que aquele dia jamais chegasse ao fim. O rapaz do outro lado do quarto se levantou da cama após ter despertado. Encarou aquela bela mulher na varanda e ao certo não soube definir o que a inquietava tanto, mas mesmo assim, sorriu. Ela era linda.

se aproximou da varanda e ao que pode perceber, não havia sido notado. Chegou perto da amada e a abraçou por trás, depositando um beijo em seu pescoço tão convidativo ao rapaz e naquele mesmo instante ele ficou inebriado com o seu perfume.

Ela se arrepiou e sorriu.

- No que está pensando? – a questionou.

apenas balançou a cabeça negando. Mesmo sabendo que estava mentindo para ele, não ousou estragar o momento.

Ele não insistiu. Os dois tinham seus respectivos segredos, ele bem sabia disso. Longe dali, tinham suas próprias vidas. Era melhor mesmo não misturar as coisas.

- O que acha de voltarmos para a cama? Está frio aqui fora.

apenas assentiu. Não sabia de fato o que estava ocorrendo consigo mesma. Ela havia cometido um terrível erro e somente há alguns dias começou a perceber. Mas a garota se recusava a fazer aquilo que fora aconselhada pela amiga e a consequência seria paga com juros. Disso ela bem sabia.

Eles se deitaram na cama. Com a moça entre seus braços, mantendo a corrente de calor que despertava todas as partes do seu corpo, se questionou se o que sentia era verdade. Mas simplesmente não havia resposta e talvez nunca a tivesse. Ele teria que sobreviver com aquilo. Principalmente por ser uma escolha sua, mesmo que no início não imaginasse tais consequências. Mas agora era tarde demais para pensar no estrago causado, então só o que o restava era ficar com ela e esquecer aquilo.

E foi isso que os dois fizeram. Passaram aquela noite juntos, com um sentimento calado e sufocado pelo silêncio e medo.

Prólogo betado por: Nanda Santos


Capítulo 01.
Hello
It's me
I was wondering if after all these years
You'd like to meet
To go over
Everything


- Você não vai, não é mesmo?
Revirei os olhos.
- Não é como ir à forca, Jane, eu apenas vou conhecer os pais dele.
- Alô! Você sabe que conhecer os pais já eleva o compromisso a um patamar mais alto?
Revirei os olhos mais uma vez com o surto da minha amiga. Tudo bem que ela não gostava dele, mas ela já estava exagerando demais.
- Ei, isso algum dia chegaria, ou você achou que nunca fossemos nos casar? – Debochei.
- Ele já fez o pedido?! Por que não me contou antes?
- Jane! Já faz três anos que estamos juntos! – Protestei contra a histeria de minha amiga.
- Eu só não quero que você chegue ai me pedindo para ser madrinha de um casamento que eu NÃO QUERO que aconteça!
- Por que você não dá uma chance a ele?
- Porque ele nem de longe é cara perfeito para você! – Argumentou.
- Você não vai começar com a história do príncipe encantado, vai? – Debochei.
- Não, não vou! Mas para ser sincera, bem que eu preferia você com o carinha da pousada.
Parei de me maquiar e a olhei.
- Eu não posso acreditar no que você está falando! Você sabe que aquilo foi apenas um verão bobo. Eu era uma menina, tinha apenas 18 anos. E eu o odeio. Foi o pior erro da minha vida.
Ela deu de ombros.
- Pelo menos ele era legal e não queria apenas lucrar juntando a empresa com você. Qual é... Vocês não se amam! O namoro de vocês parece mais um acordo de negócios. Pelo menos o da pousada gostava de você.
- Bela forma de gostar de outra pessoa... E chega, Jane. Não aguento mais isso! Caramba, eu estou com o , pelo menos seja uma boa amiga e me apoie.
- Se for para te apoiar com escolhas erradas, eu não farei isso! – Falou, saindo do quarto com raiva.
Bufei. Minha vida amorosa não era uma questão para debates. Eu já era bem grandinha para saber como administrá-la e era isso que estava fazendo. Mas agora Jane querer desenterrar o passado, era jogo baixo. Ela bem sabia o que havia acontecido naquela praia, e como tudo que acontece no verão, passa.
Senti meu celular vibrar e o peguei, vendo uma mensagem do meu namorado:

“Estou te esperando aqui. Não demora. – .”

Guardei o celular e passei o batom para finalizar a make. Me olhei no espelho e em seguida para mim mesma. Suspirei e sai do meu apartamento com as malas em mãos, ainda odiando a briga que havia tido com minha melhor amiga.
Mas ela precisava entender que era com ele que estava e não com um cara que hoje já não significava mais nada.
Desci pelo elevador e cumprimentei Ralf, que estava na guarita como sempre, antes de sair do prédio e ver o em sua Land Rover.
Ele sorriu para mim. O sorriso que carregava era sexy e sugeria encrenca. Aquele pensamento fez minha nuca arrepiar enquanto eu o contemplava sair do carro e vir até mim. Meu namorado definitivamente era um gato. Um homem que tinha quase dois metros de altura e um corpo esguio e atlético. Seus cabelos eram tão pretos que eram capazes de serem confundidos com a noite, assim como seus olhos.
- Bom dia. – Sussurrou, com os lábios bem perto dos meus.
- Bom dia. – Aproximei mais nossas bocas.
Devagar, a boca de se moldou à minha. A pressão gerou uma resposta imediata, um arrepio que se espalhou por minha pele.
- Vamos? – Cortou o beijo.
Apenas assenti, o entregando minhas malas.
Entrei em seu carro e fiquei esperado que retornasse, para assim que o fizesse, partirmos. A viagem seria longa.

Finalmente havíamos desembarcado em Londres. Como havia presumido, a viagem havia sido exaustiva e para completar o meu total desespero, acabara de saber que ficaríamos na casa dele. MAS COMO ASSIM? E O HOTEL? Não me entenda mal, não é que eu não goste da família dele, na verdade, eu nunca nem a vi, mas não fui criada em uma daquelas famílias grandes em que as pessoas tem vários irmãos e se reúnem todos os domingos com tios, primos e avôs para um almoço. Muito pelo contrário, na minha família era só eu e meu pai. E agora, só restava eu, então essa ideia de muita gente ao meu redor era bastante nova para mim. E assustadora.
- Chegamos. Está pronta para conhecer todos? – me despertou de meus devaneios.
Encarei a casa a minha frente antes de respondê-lo. Era uma típica casa Londrina. Com aqueles jardins na frente, em uma rua pequena na qual as crianças brincam, todos se conhecem e passam a ideia de família perfeita.
- O que foi, ? Não vai me dizer que a CEO da Empresa Enterprise Zim está com medo de conhecer os sogros. – Debochou.
O olhei serrando os olhos.
Ele riu.
- Eles vão te adorar. Relaxa. – Deu de ombros, saindo do carro.
Suspirei e o segui. pegou minhas malas e em seguida, com a outra mão, pegou a minha para seguirmos para a porta de sua casa.
- Mãe, pai? – Ele os chamou enquanto entrava.
Logo, um homem e uma mulher desceram as escadas. Ela deveria ter uns 40 anos. Loira de cabelos longos, com a pele branca e olhos claros. Já ele era a copia do meu namorado e deveria possuir uns 45 anos. Eles eram completamente opostos um do outro e eu me questionei se não havia sido justamente isso que os fizeram se apaixonar.
- Então você deve ser a famosa . É um prazer conhecê-la. – A mãe dele me abraçou.
- É um prazer conhecê-la. - A abracei de volta.
- Então era verdade todos os elogios que meu filho dava a você. Cuidado para não perder essa dai, . Para arrumar outra igual, é difícil. – Brincou.
Senti minhas bochechas corarem.
- Gentileza do senhor.
- Cadê o e a Marry? – questionou os pais.
- Seu irmão está na empresa e a sua irmã está na casa de uma amiga, mas estarão aqui à noite para a festa. – Meu sogro respondeu.
- Por que não vão descanar um pouco no quarto? Devem estar cansados. – A mãe dele propôs.
- Ah, obrigada. É o que faremos. – Sorri agradecida.
E então, não demorou para subirmos as escadas e assim que nos vimos sozinhos naquele imenso quarto, eu desabei na cama.
- Você fica tão sexy assim... – Meu namorado se deitou em cima de mim, apoiado com os cotovelos no colchão para sustentar seu peso.
- Exausta? – O olhei.
Ele apenas sorriu e me beijou.
Senti sua mão deslizar pelo meu rosto. Naquele momento eu senti meu corpo todo formigar com o seu contato. aproximou seus lábios dos meus e eu o beijei lentamente, saboreando o gosto de seu hálito de hortelã.
O beijo avançou para o meu ombro recém desnudo. Ele desceu o zíper do meu vestido e desceu com a boca pelo meu braço.
- ... – O chamei. – Estamos na casa dos seus pais...
- E...? – Continuou me beijando.
- O que eles vão pensar de mim? No primeiro dia!
Ele sorriu malicioso, aproximando os lábios de meu ouvido.
- Vão pensar que você está fazendo o filho deles o cara mais feliz e sortudo do mundo. – Sussurrou.
- Não conte com isso enquanto estivermos aqui. – O empurrei de cima de mim.
- Estou começando a pensar na ideia de dar qualquer desculpa para os coroas e irmos para um hotel. – Bagunçou os cabelos com a mão.
Eu ri.
É apenas por um feriado. Você não vai morrer.
- Você é que pensa...
- Você vai sobreviver a isso. – Depositei um selinho em seus lábios e me levantei da cama.
- Aonde pensa que vai? Começa assim... Nada de sexo e me deixando sozinho no quarto. Depois está fugindo com outro.
- Até que não é má ideia... – Brinquei, pegando minha toalha.
- Claro que é! ...

Eu já havia pelo menos conhecido umas cinquenta pessoas. Meu namorado havia me largado há alguns minutos com a irmã e desde então, não o tinha mais visto. Até então.
- Senhores e senhoras, por favor, eu só quero um minuto de sua atenção. – Olhei para o centro da sala e lá estava , no meio de todos. – , por favor, venha até nós.
Eu olhei para a minha cunhada e ela me deu um empurrãozinho. Caminhei entre todos até o lado do meu namorado, questionando o porquê de tudo aquilo.
- Todos acabaram de conhecer a mulher mais perfeita do mundo, quem eu quero ter pelo resto da minha vida ao meu lado. Ela é uma mulher incrível, que luta pelo que quer e jamais desiste das coisas, por mais difícil que seja. Meu amor, eu te admiro por isso e por tantas coisas que se começar, nunca mais irei parar, então vamos pular logo para a parte mais prática de tudo isso. - Ele se ajoelhou na frente de todos.
Eu sei... Foi bem clichê, mas no caso, eu não posso escolher como vai ser meu pedido de casamento, então apenas fiquei calada na minha pensando quanta falta de criatividade ele tinha.
- Rodrigues, você aceita se casar comigo?
No mesmo instante toda a sala se irrompeu em um terrível silêncio, esperando minha resposta. E assim que eu ia dar a resposta que destinaria para sempre meu futuro, fui interrompida pelo convidado que entrava na casa gritando.
- Por que desse silêncio todo? Isso é uma festa, ou um velório? – Aquela voz... Não podia ser.
Me virei, encarando o mais recente convidado. Ele paralisou assim que me viu e eu fiz o mesmo. Meu coração saltou pela boca e nem se eu quisesse, teria condições de responder ao pedido.
- ! – se levantou atrás de mim e foi até o irmão abraçá-lo. – Como ousa estragar o meu pedido de casamento? – Brincou.
- Essa é sua namorada? – Ele questionou o irmão, ainda me encarando, tão surpreso quanto eu.
Desviei o olhar daquela cena e balancei a cabeça, tentando me manter aparentemente bem, quando dentro de mim, a casinha havia sido mais uma vez bagunçada.
- É isso que iremos saber. E então, , aceita se casar comigo?
Suspirei fundo. O era meu passado, mas seu irmão era meu futuro. Minha escolha já estava tomada e eu não iria mudá-la mais. Eu amava e o irmão dele era só uma pedrinha no meio do caminho. Era isso.
- Eu... – Suspirei. – Eu aceito. – Sorri para meu atual noivo, enquanto tentava bloquear de minha mente a imagem do novo convidado da festa.
Todos menos um da casa aplaudiram e se aproximou de mim, depositando um selinho em meus lábios. Senti uma lágrima solitária descer pela minha face e me questionei se ela era devido à emoção do pedido de casamento, ou pela ferida do passado sendo aberta novamente. E por fim conclui que a segunda opção era a mais válida.

- Não está conseguindo dormir? – Ele me abraçou por trás e eu senti um arrepio me consumir por inteira.
- Eu só preciso de um copo com água. – Sai de seus braços e me levantei da cama.
- Não demore.
Assenti e peguei o robbie, o colocando.
Em seguida, desliguei a luz do abajur para não incomoda-lo e sai do quarto. Desci as escadas e fui até a cozinha. Liguei a luz e assim que meus olhos se acostumaram com a claridade do ambiente, peguei um copo no armário e fui até a geladeira, pegando uma garrafa d’água.
Tomei alguns goles do copo e suspirei pesado. Eu bem sabia o motivo todo da minha insônia e ele estava bem no quarto ao lado. Me xinguei mentalmente por ser tão fraca, tola e burra. Eu só podia sentir uma coisa por aquele que desde que havia visto, incomodava meus pensamentos, e era querer distância. Mas como sempre, não era bem isso que meu corpo clamava.
Três longos anos haviam se passado desde que o vi pela última vez e naquela mesma noite, jurei que o esqueceria, junto com tudo que um dia me permiti sentir, mas a verdade é que sai mais machucada do que gostaria de admitir. Sei que não deveria cobrar nada dele, a partir do momento em que era apenas uma droga de verão, mas como poderia quando já estava tão presa a ele, que até negar era torturante?
Deixei o copo na mesa, pensando se aquilo não era uma praga da minha melhor amiga, mas feliz por só ter que passar mais 48 horas ali.
Sai da cozinha colocando o copo na pia. Voltei a subir as escadas lentamente a fim de não acordar ninguém quando a porta ao lado do meu quarto foi aberta, me permitindo contemplar apenas a silhueta de um corpo atlético e definido que tanto já havia me feito suspirar anos atrás, com a pouca quantidade de luz permitida pela janela no fundo do corredor que refletia a luz da lua.
Ele me analisou por inteiro e eu senti um arrepio de desejo percorrer todo o meu corpo. Me repreendi no mesmo instante. Com o que eu estava na cabeça? Eu agora era uma mulher noiva e meu futuro marido descansava no quarto ao lado, enquanto me esperava. Eu simplesmente não podia sair por ai sentindo desejo por um homem que me fez sentir as piores sensações do mundo.
- Você continua igualzinha...
- Eu não sei do que você está falando. – Tentei ir para o meu quarto, mas sua mão foi mais rápida e segurou meu braço.
A dor emocional provocada por esse leve toque foi direto ao meu coração.
- Não tente fingir que não me conhece. Eu sei que me reconheceu na festa. O modo como olhou para mim...
- Você está certo. Eu te reconheci mesmo. – O olhei.
- Por que foi embora da pousada sem me falar nada?
Ele era hipócrita ou o quê?!
- Você é mais idiota do que eu havia pensado. – Puxei meu braço de sua mão. – Não tente brincar comigo novamente, . – Sai, entrando em meu quarto.
Quem ele pensava que era para vir me pedir explicações? Como poderia achar que eu era idiota o suficiente de me despedir, quando sabia que não significava nada para ele? Como ele se achava no direito de bagunçar minha vida mais uma vez? Eu o odiava tanto... Com a mesmíssima intensidade que um dia o amei.

- ! Eu já vou descendo. Vê se não demora! – Jane gritou.
- Já estou indo!
Soltei os cabelos e sai do banheiro, pegando minha bolsa de praia que já estava pronta. Peguei o cartão do quarto e tranquei a porta assim que sai. Desci as escadas apresada, mas assim que cheguei ao pé da mesma, acabei esbarrando em alguém.
- Ei! Vê se toma cuida... – Olhei para o cara em minha frente.
Ele tinha olhos castanhos e um cabelo cor cobre com alguns fios mais claros. Seu corpo era atlético e ele era o típico garoto que arrancava suspiros de várias garotas por onde passava. E aquela constatação foi o suficiente para notar o quão bonito ele era. Até mais do que eu queria ou deveria admitir.
- Você que não estava olhando para onde ia.
Revirou os olhos.
- Pelo menos vê se me dá licença. – Pedi, indicando a passagem com a mão.
Ele sorriu da forma mais sexy e cafajeste possível e eu tenho que confessar, não entendi o porquê daquilo.
- Ei, , os caras... – Um outro rapaz apareceu e deu dois tapinhas nas costas dele. – Já arranjando uma amiga, ?
Olhei para o amigo dele com as sobrancelhas arqueadas.
- Não, não. Não sou amiga dele. – Sorri amarelo. – E se me derem licença... Tenho uma praia me esperando. – Afastei o cara que havia impedido minha passagem há minutos atrás.
- Que ótimo então... Estávamos indo para lá. Podemos acompanhá-la. – Ele me olhou e sorriu.
- Obrigada, mas estou bem sozinha.
- Não vai recusar minha companhia, não é?!
- E eu não acabei de fazer isso? – O olhei com um sorriso presunçoso nos lábios. – Fica para uma próxima, baby. – Me aproximei dele e depositei um beijo em sua bochecha.
O que há? Deixa eu brincar um pouco.




Some day when you leave me
I bet these memories
Follow you around


- Você só pode estar de brincadeira. - A gargalhada dela ressonou pelo celular.
E naquele instante eu me questionei se havia feito certo em contar aquilo para a minha amiga.
- Está tudo conectado! É pra você desfazer agora esse noivado e se atirar nos braços do gato da pousada.
- Você acabou de perceber o que está falando? Eu não vou me atirar nos braços de ninguém que não seja o meu noivo! Eu nem ao menos sei o que ele está fazendo aqui! Que eu me lembre, ele era para estar casado.
- Existe mais de uma hipótese para ele estar ai. Você sabia que a cada quatro casais que se casam por dia, apenas um não se separa?!
- Não sei se você está falando isso tentando me convencer a não casar ou se é por ele, mas de qualquer forma, não é importante e eu não me importo se ele ainda está casado ou não.
- Nossa, como você é uma má mentirosa... – Revirei os olhos. - Você deveria perguntar ao seu noivo. Pelo menos para algo ele serviria.
- Você escuta o que eu falo? Definitivamente não!
Duas batidas na porta me despertaram de minha conversa.
- Eu estou tentando te ajudar! – Me levantei da cama.
- Ajudar? Você está é a fim de acabar com o meu noivado, e tudo por causa dessa sua obsessão de não gostar do . – Me arrastei até a porta.
- Obsessão nada! Quantas vezes vou ter que repetir que ele não é o cara para você?! – Protestou.
- Não vamos ter essa conversa novamente. Eu estou feliz com o meu noivo e é isso que bas... – Minha voz simplesmente falhou quando vi o ser que me esperava encostado ao pé da porta.
Seu paletó estava aberto de uma forma que o tornava nada profissional. Gravata em mãos e camiseta um pouco amassada, como se tivesse acabado de ser pega no varal. E aquilo só o deixava extremamente sexy.
O quê?! Não! Delete isso.
Ele sorriu para mim da forma mais presunçosa possível.
- Cansou de terminar seu discurso da boa samaritana quando eu sei que você daria tudo para estar na cama do irmão dele?!
Desliguei a ligação assim que as últimas palavras da minha amiga foram ditas e me odiei por ter a terrível mania de colocar o celular no viva voz enquanto falo com as pessoas.
aumentou ainda mais seu sorriso e bagunçou o cabelo com a mão.
- Seu irmão não está aqui, ele foi até a empresa com o pai de vocês. – Fingi que nada havia acontecido e o ignorei com sucesso.
- Eu sei de tudo isso, não vim aqui atrás dele. - Tremi com a sua resposta.
Droga, será que eu viveria sempre com medo de um flashback?
- Então não vejo motivo para estar aqui.
Ele sorriu com minha forma rude de responder.
- Vim te buscar.
Arqueei as sobrancelhas.
- O quer que eu te leve para a empresa.
- Por que ele quer isso quando pode me encontrar aqui quando voltar?
Ele deu de ombros.
- Não sei, mas terá que ir você mesma para saber.
O analisei.
- Espere só um minuto que irei pegar minha bolsa e trocar de roupa. Enquanto isso você poderia terminar de se arrumar.
- Ah, sobre isso... Pode colocar para mim? – Estendeu a gravata.
Peguei o objeto de sua mão e tentei controlar as células que se agitavam em meu corpo. Passei o tecido por seu pescoço enquanto dava o nó. Várias vezes minhas unhas o arranharam sem intenção, mas aquele pequeno toque era o suficiente para despertar o que em mim já estava adormecido.
- Pronto, agora se me dá licença... – Falei, fechando a porta. Me encostei a ela, fechando os olhos e tentando recuperar o meu ar.
Mas o que estava acontecendo comigo? Credo! Eu não... Nada disso! Nem termine de pensar, , nem termine! Não é nada disso. Não é.
Fui até o closet (recuperando a minha sanidade mental), onde já havia colocado minhas roupas e peguei um vestido e fiz uma make rápida, não demorando muito para estar pronta.
Sai do quarto e ele continuava na frente da porta, me esperando.
- Vamos. – O afastei da porta para que pudesse sair.
Descemos as escadas e saímos pela porta da frente.
- Aquele é o meu carro. – Ele apontou para uma Ferrari.
Tudo bem, ele até que havia mudado muito de vida. Da última vez que o vi ele não tinha nada de carro. Na verdade era uma moto, mas quem está se preocupando com o passado aqui? Só não sou eu. E afinal, que passado? Porque eu não lembro de nenhum.
O segui até o carro e assim que entramos, o silêncio se instalou no automóvel e aquilo me incomodou um pouco, até eu perceber que na real, eu não queria ter qualquer conversa com ele. Afinal, eu já começava a temer do que eu mesma era capaz de fazer estando sozinha em um carro com um cara no qual ainda me causa arrepios, mesmo depois de anos.
mexeu no som, colocando em uma música e assim que escutei a primeira batida o encarei. Ele continuava a olhar a estrada com um sorriso nos lábios, fingindo que aquela batida não trazia a ele nenhuma recordação quando seus olhos, na verdade, transbordavam as lembranças.
- Gorilla? Sério?
Ele alargou mais o sorriso.
- Ainda gosta?
Cachorro!
- E como se para de gostar de Bruno Mars? – Devolvi, sabendo bem que ele estava a fim de desviar a verdadeira questão para a música.
Ele mantéu o sorriso nos lábios e não me responde. E aquele simples silêncio, foi mais do que o suficiente para me levar para longe dali.

A tal altura a bebida já se fazia presente em meu sangue e eu já dançava mais do que animada. Era nosso terceiro dia de férias e aquela viajem estava rendendo poucas e boas.
- Eu vou ao bar. – Jane gritou por cima do som.
Assenti sem dar muita importância enquanto continuava a dançar.
- Olha quem está aqui... – Senti um arrepio percorrer minha nuca com a proximidade do estranho.
Me virei, encarando .
Sorri para ele e o mesmo me puxou para si.
- Está fugindo de mim, ? – Sussurrou em meu ouvido.
- Eu? Por que faria isso? – Mordi o lóbulo de sua orelha. – Apenas por que não me encontra mais na pousada?
Ele mordeu seu lábio inferior em resposta.
- Não quer dançar comigo? – Sussurrou em meu ouvido, me causando arrepios.
- , ... Esse território é muito perigoso. Quer mesmo seguir por ele?
- Eu não tenho medo de um desafio. – Me puxou mais para si, deixando nossos corpos mais colados.
Mordi o lábio inferior, adorado o jogo de sedução.
- Você está me enlouquecendo, garota. – Sussurrou em meu ouvido.
- Isso é para você aprender a não brincar com uma francesa, meu caro. – Sorri sexy.
Nossa conversa foi interrompida pelo som da batida de Gorilla. Joguei meu cabelo para trás e me aproximei mais de , até nossos corpos se colarem por completo. Minhas mãos passaram por seu pescoço, arranhando aquela região e descendo pelo seu peitoral, enquanto começava a mexer os quadris da forma mais sensual que podia.
Empinei a bunda e de acordo com o toque da música, eu ia me movimentando. Desci até o chão e mordi os lábios ao olhá-lo. Ele me olhou com os olhos carregados de luxuria e eu sorri com aquilo. Voltei a me levantar, voltando a dançar. Eu me aproximava dele cada vez mais. A tal altura, já estávamos tão próximos que podia sentir seu hálito quente.
Mordi meu lábio inferior e comecei a dançar com passos sensuais, enquanto passava minhas mãos por ele vez ou outra, o trazendo cada vez para mais perto, mas sem que permitir que me beijasse. E quando finalmente pude perceber que ele não aguentava mais , que a qualquer momento ele me puxaria até si e me beijaria, rocei meus lábios nos seus, o torturando ainda mais.
Ele passou a mão em minha cintura e colou nossos corpos, me fazendo parar de dançar. segurou minha nuca e antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, me beijou. Um beijo que me desestruturou por completo. Um beijo quente e atrevido. Cheio de mãos bobas e sensualidade.
O desejo já quase se tornara palpável e eu já não podia mais resistir.

- Para onde estamos indo? – O questionei assim que o automóvel tomou a direção da estrada. – Achei que iriamos ao escritório.
- E vamos, mas antes tenho que pegar uma encomenda.
- Não poderia ter me deixado lá antes, então?
- Do que tem medo, ? – sorriu desafiador.
- Medo? Eu? Apenas queria chegar lá logo. – Menti.
Na verdade não me agradava em nada à ideia de ficar com ele ali. Em nada mesmo.
- Hum... – Continuou com o sorriso presunçoso nos lábios.
Permaneci calada enquanto íamos de encontro à parte menos habitada da cidade. Coberta por florestas com árvores exuberantes, quando de repende o carro fez um barulho estranho e começou a sair uma fumaça cinzenta do motor do mesmo.
- Droga. – Resmungou, saindo do carro.
- O que aconteceu? – O segui.
levantou o capô e a fumaça tomou conta.
Comecei a tossir assim como ele.
- Droga! É um problema no motor.
- E isso quer dizer...?
- Que precisamos de um mecânico.
O olhei puta da vida. Eu não queria ficar de forma alguma ali sozinha com ele.
- Como é? Eu tenho um compromisso com o seu irmão! Não dá para você ajeitar essa droga de carro para podermos ir?
- Infelizmente eu não sou mecânico, e mesmo que fosse, não faço milagres. – Fechou o capô.
Bufei.
- Pelo menos liga para um mecânico! – Protestei, puta da vida.
- O celular não pega aqui. – Falou tranquilo. – Temos que esperar alguém aparecer.
- O QUÊ?! Aqui na estrada?
- Você tem uma ideia melhor? – Me olhou.
- Na verdade... Tenho sim.

- Com licença... – Chamei a atenção do balconista que parecia bem novo para estar naquele lugar.
- Um quarto para quantos? - Largou o celular no balcão e foi até um porta-chaves na parede.
- Não, não. Não queremos um quarto. – Falei rápida. – Eu sou apenas cunhada dele e...
- Eu já vi de tudo. – Deu de ombros voltando para o seu lugar.
Revirei os olhos.
- Apenas precisamos de um telefone, você poderia nos arranjar um? – se adiantou.
- Ah, então é isso. – Ele pegou o telefone que estava do outro lado do balcão e nos entregou.
- Obrigado. – Agradeci pegando o telefone e o entregando ao meu companheiro.
Ele o pegou da minha mão, o tirando do gancho e discando um número desconhecido por mim. Passou uns quinze minutos falando com alguém que deduzi ser um mecânico, até que voltou a colocar o telefone no gancho.
- E então? –O questionei antes que ele mesmo falasse qualquer coisa.
- Ele está vindo. – Respondeu.
Sorri.
- Obrigada pelo telefone. – Agradeci.
O garoto deu de ombros.
- Não vão querer mesmo o quarto? – Insistiu.
- Não vamos precisar dele. Pelo menos não hoje. – o respondeu, sorrindo cafajeste.
E seu tom foi o suficiente para me fazer arrepiar por completo com tal ideia. “Pode parar ! Nem comece!” Me ordenei e continuei a andar como se não tivesse escutado nada, quando sabia que os dois homens haviam trocado olhares maliciosos.
estava muito enganado se achava que em algum dia eu dormiria com ele. Não, definitivamente isso nunca mais aconteceria.



And who do you think you are?
Runnin' 'round leaving scars
Collecting a jar of hearts
Tearing love apart


- Achei que o mecânico iria chegar há umas três horas atrás. - Resmunguei.
- A chuva deve ter atrasado ele um pouco.
- E enquanto isso, eu fico aqui com você. Que ótimo... Droga! A última coisa que eu poderia querer era ficar presa aqui com você. - Deixei escapar.
Ele abriu um sorriso.
- Então você tem medo de ficar sozinha comigo aqui?
- Claro! Se chegar um maníaco é capaz de você me entregar pra ele, só para sair vivo. - Menti na cara limpa para me safar da minha própria enrascada. - Cadê a droga do mecânico?! - Desconversei.
- Vai começar novamente... - Resmungou.
- A culpa disso é sua, então fica pianinho. - Apontei para ele.
- Minha? Seu noivo que me pediu para trazer você.
- Mas a culpa é sua do carro quebrar! - Meu rosto começava a ficar vermelho de raiva.
- Claro, porque tudo é culpa minha... Eu não te obriguei a vir. - Deu de ombros.
Revirei os olhos.
- Eu te odeio. - Fechei os olhos.
Era como se eu pudesse ver seu sorriso.
- Que papo era aquele hoje pela manhã que você queria me pegar?
Abri os olhos exaltada.
- Como?
- Sua amiga. - Explicou.
Senti minhas bochechas corarem.
- Eu não te devo explicação sobre isso. Na verdade sobre nada.
- Qual é, , dá um tempo... Qual o teu problema comigo, afinal? Você quem foi embora sem falar nada, não eu.
- Mas você é muito cara de pau... Depois de você ter me enganado, acha mesmo que eu ainda iria querer algo com você?
- Do que você está falando?
- Da sua... - Mas antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, uma chuva grossa que as gotas doíam no corpo com o contato começou a cair.
A grossa camada de água logo inundou as minhas roupas e assim que entrei no carro, senti o couro do banco do automóvel grudar em meu corpo.
ligou o aquecedor.
Abracei meu próprio corpo afim de me esquentar, ainda sem falar nada.
- Quer o seu sobretudo?
Assenti e ele me entregou, mas enquanto eu colocava uma peça, ele tirava outra.
- Mas o que...?
- Não achou que eu iria ficar com isso molhado, achou? - jogou a camiseta no banco de trás.
Meu corpo estremeceu pela visão.
- Se quiser tem o banco de trás. Eu juro que não olho.
- Não obrigado.
Claro que ele olharia e por fim, terminaríamos um enroscado no outro.
- Você quem sabe.
E eu bem sabia, mas não podia negar que aquela visão estava me incomodando. se encostou no banco e eu desviei o olhar, para não mais contemplar seu corpo. Eu não podia negar que ainda existia uma atração muito grande entre nós dois e eu estava ali, presa em um carro com o cara que eu havia deixado no meu passado, semi nu na minha frente, louco para me levar a loucura.
- Eu vou pegar algo para comer. - Sai do meu banco e passei para o banco de trás, para pegar minha bolsa, orando que tivesse alguma coisa para matar a minha fome.
- Se quiser podemos voltar ao motel para você comer algo.
Serrei meus olhos.
- Eu não volto nem morta para aquele lugar com você. Garanto que acho algo melhor aqui. – Continuei a mexer em minha bolsa e finalmente eu achei uma barrinha de cereal. – Achei!Você quer um pedaço? – Ofereci enquanto passava entre os bancos.
- Desde quando uma barrinha mata a fome?
-Desde quando não se tem mais nada para comer! – Me sentei no meu lugar.
- Se está com fome, podemos voltar...
- Nem termine essa frase! Eu não volto para aquele lugar com você.
- Por que não? Você nunca se incomodou antes.
Senti um rubor em minha face.
- Mas antes você não era meu cunhado e isso é estranho.
- Você não deveria casar com meu irmão. - Soltou.
- Você não tem o direito de me falar isso. Não depois do que você fez. – Abri a porta do carro puta da vida.
Eu já não me importava se chovia canivetes lá fora, o único lugar que eu queria estar era longe dele e ai sim, me sentiria segura. A todo instante que estávamos justos eu lembrava da droga do meu passado, e como eu daria tudo para esquecê-lo.
- ! – Me chamou e logo eu escutei o barulho de sua porta sendo aberta e fechada em seguida, mas eu não ousei o olhar. – !
- Pare! – Me virei para ele e foi quando percebi que ele já estava a centímetros de distancia.
Meu cabelo já começava a colar em meu rosto, completamente encharcados, assim como minha roupa e meus sapatos, mas nada disso me importava mais.
- Você acha que foi fácil para mim ir embora? Você acha que foi fácil seguir sem olhar para trás? Acha que não pensei em quantas vezes poderíamos ter dado certo e sido felizes, se eu não tivesse seguido os meus princípios? Tudo isso eu pensei... Não pense que não foi difícil para mim, porque foi! E tudo isso é culpa sua! Então não venha me pedir para não me casar com alguém que me ama de verdade. Coisa que você nunca fez!
- Você não pode dizer isso. Eu te amei. Você foi à única que já amei. – Se aproximou mais de mim.
- Você continua o mesmo mentiroso de sempre. – Falei amargurada.
Ele me olhou com tristeza e com as costas da mão enxugou uma lágrima que nem eu havia percebido descer de minha face.
- Você nunca disse o que sentia por mim.
Bufei.
- Eu te amava seu idiota! – Me virei para sair dali.
Eu estava cansada daquela conversa, cansada dele e do que eu sentia. Eu apenas queria fugir para a minha cidade, onde tudo aquilo seria esquecido. E nossa história apenas faria parte de um passado bem distante.
segurou meu braço e me puxou completamente para ele, colando nossos corpos.
- Dessa vez eu não te deixarei fugir. Não mais.
E sem que eu pudesse tentar me soltar ou falar qualquer coisa, ele me beijou apaixonadamente e mesmo que alguma parte minha quisesse resistir, aquilo foi impossível para mim, eu não consegui resistir e me julguem, eu sou uma idiota, mas naquele instante era aquilo que queria ser.
Como se eu fosse puxada para a realidade e ela se materializasse em minha mente, foi exatamente o que eu senti quando faróis de um carro clareou nossos corpos em toda a escuridão.
Nos afastamos e eu nem ao menos consegui o encarar com toda a confusão que se estalava em mim.
- Desculpem se atrapalhei algo. – Um homem de aproximadamente 59 anos, com uma barriga de cerveja e cabelos grisalhos saiu da caminhonete e aquilo fez minhas bochechas corarem. – desculpe o atraso, mas a chuva não ajudou.
- Não há problema Derek. Podemos ver o carro? – Se dirigiu para mim e eu virei o rosto e me afastei dele.
Ele bufou.
Os dois homens se aproximaram do automóvel e o mecânico começou a ver o que havia acontecido, mas eu mal prestei atenção, a única coisa que passava em minha mente era aquele beijo e as palavras ditas. E eu só queria esquecer tudo aquilo. Que meu noivo me perdoasse, mas ele jamais saberia daquele erro.
- A moça pode ir para a minha camionete. Teremos que rebocar. – Fui tirada de meus devaneios.
E eu apenas segui para o automóvel e sentei no banco com a cabeça baixa. Ok, aquela definitivamente não era eu, mas a verdade era que eu estava dividida entre fingir que nada havia acontecido e procurara respostas, e enquanto eu estava metida em um turbilhão de emoções o nome que vinha na minha mente era . E ele não merecia isso.


- Por que você aceitou isso então?
- Eu o amo sabia?!
- Não, você não ama ele, você quer muito amar, mas não ama!- Minha amiga insistiu. – Caso o contrario não estaria louquinha por um beijo que o irmão dele te deu.
- Você vai ficar me jogando na cara? Não era nem pra mim ter te contado!
- Ei, não vem descontar em mim sua raiva!
- Desculpe eu só... Estou me sentindo uma idiota e...
- Amor? – entrou no quarto e eu rapidamente me calei. – É a Jane? Manda um abraço para ela.
- Jane o mandou um abraço.
- Mande ele ir abraçar um cacto, não mandar para mim.
- Ela mandou outro.
- Eu não mandei nada!
- Eu tenho que desligar. Depois te ligo e deixa de drama!

Ligação OFF:

- Não precisava desligar. – Sorriu. – Eu tenho uma surpresa. Ainda bem que já acordou. Eu não conseguiria esperar.
- Por que não me acordou quando saiu?
- Você passou por muita coisa ontem. Precisava descansar. – Deu de ombros. –Mas eu tenho isso para você. – Me entregou uma caixinha de veludo. – Minha mãe me deu agora e bem, ele está na minha família há várias gerações. Minha mãe usou, a mãe dela usou, e a mãe, da mãe dela usou e ela quer que você use.
E quando eu abri, senti minhas mãos tremerem. Era um lindo broche com esmeraldas.
- Todas as mulheres da minha família usam no seu casamento e eu sei que está muito longe, ainda nem decidimos quando vai ser, mas eu quero que fique com você.
- Eu não posso aceitar. – Fechei a caixinha.
- Claro que pode! Você vai casar comigo. É seu por direito.
- Eu não...
- Você ainda quer se casar, não é?! – Me questionou olhando em meus olhos.
Eu ainda queria?
- Claro, mas...
- Então está resolvido e isto já é seu. Quando formos embora amanhã, já pode leva-lo.
Eu o abracei forte em agradecimento, pensando quantas vezes eu não merecia aquele homem.
- Você não vai se arrepender de ter me escolhido como esposa. Disso eu te juro.


- O quê quer? Seu irmão está no quarto, ele pode descer a qualquer momento e nos ver.
- Ele não desconfiará de nada. Te garanto. – Continuou segurando meu braço. – Precisamos conversar.
- Não, não precisamos. – Puxei meu braço o soltando de seu aperto.
- Você não pode fingir que nada aconteceu.
- Quer apostar? Nada aconteceu , nós apenas ficamos presos na estrada e o mecânico demorou a chegar. Foi só isso que aconteceu ontem.
- Você sabe muito bem que não foi só isso.
- Não, ai que você se engana. Eu apenas me lembro disso. E agora se me der licença... – tentei sair, mas ele me impediu. – Escuta aqui! Se você tem o mínimo de consideração pelo seu irmão vai me deixar em paz de uma vez por todas e entender que eu sou a futura mulher dele! Esqueça o que aconteceu no passado, isso não importa mais.
- Eu não vou te perder para ele.
- Você não tem mais o que perder. Você já me perdeu anos atrás naquela pousada. Eu não desfiz o seu noivado, então por favor, não desfaça o meu! – O empurrei e finalmente consegui sair do perto dele.
Eu estava tão cansada de tudo aquilo. Não via a hora de tudo ficar para trás e eu mais uma vez ser feliz. Era só isso que eu buscava naquele momento. Minha felicidade.



Getting myself lost
I am so gone, so tell me the way home


- Eu não acredito que chegou! - Jane abriu a porta do meu escritório. - Foi só um fim de semana, mas pareceu bem mais.
Sorri.
- Cheguei hoje. E... não imagina o quanto estou feliz!
- Vai me dizer que rompeu com o ?
Revirei os olhos.
Novamente não...
- Jane...
- Tá... Parei, mas um dia você vai dizer que tinha razão. - Deu de ombros. - Mas me conta o que aconteceu tanto lá.
- Já não te contei tudo?
- Claro que não! Sempre fica algo nas entrelinhas.
Ri com a besteira da minha amiga. Quanta falta ela havia me feito...
- Sinto muito, mas agora não dá. - Me levantei da cadeira, arrumando os papéis que iria utilizar.
- Por que não? Já está me dispensando? Que amiga ingrata é você?
- Dramática... Não é nada disso... Eu apenas tenho uma reunião com o novo acionista e já está na hora.
- E desde quando temos vagas para acionistas?
- Desde que o Marck colocou as ações para vender neste fim de semana.
- Por que ele fez isso se a empresa está melhor que nunca?
Dei de ombros.
- Ele falou alguma coisa sobre montar o próprio negócio e algo a mais.
- Então por que você não comprou a parte dele?
- Por que ele não me ofereceu. O que ainda é mais estranho. De qualquer forma, enviou este comprador e tenho que atendê-lo como diretora. É melhor ir indo, antes que perca a hora.
Minha amiga se levantou da cadeira.
- Tudo bem, então, mas terá que me contar tudo mais tarde, nem tente fugir, moça.
Sorri. Eu sabia que ela jamais desistiria.
- Tudo bem. Apareça mais tarde lá em casa e conversamos. Agora tenho que ir mesmo. - Peguei tudo que iria precisar e caminhei em direção à porta.
Jane me seguiu e saímos juntas.
- Boa sorte. Talvez precise.


- Obrigada, senhor. Será um prazer ter seu cliente conosco. - Sorri. - Garanto que ele não se arrependerá de fazer parte dessa empresa.
- Imagino que não. - Voltou a juntar os papéis. - Pelo que vi está tudo em ordem. Terei que levá-los para meu cliente assinar e imediatamente os trarei de volta. - Os guardou em sua maleta. - Depois que os trouxer, ele poderá começar quando?
- No dia seguinte. Mas tem que ser trazido com antecedência para podermos organizar tudo.
- Ótimo. Então estamos conversados. - Se levantou da cadeira.
Eu fiz o mesmo e assim que estendeu sua mão até mim, a apertei.
- Foi um ótimo negócio, senhorita.
Assenti, sabendo que não teria outra forma.
O advogado pegou suas coisas e saiu. Eu fiquei na sala ainda tomando ar.
Sem dúvida não entendia para que aquele segredo todo. Por que um empresário daquele porte estaria escondendo quem era? Não teria que conhecê-lo de qualquer forma? Tudo aquilo era muito estranho e eu não estava disposta a perder o resto da noite pensando em algo que a tal altura já não me fazia tanta diferença.
Peguei minhas coisas e sai da sala de reunião. Ainda havia algumas pessoas na empresa, mas eu já não tinha mais condições de concluir algum trabalho ou adiantar qualquer outro que fosse. Precisava descansar daquela viagem e tentar no mínimo me esquecer de alguns acontecimentos que dela foram resultantes e que desencadeou em minha mente e coração algo já há muito adormecido. E o pior era que algo me dizia que poderia descansar o tempo do mundo todo, desta vez não conseguiria mais esquecer e aquilo, era o que mais me preocupava.


- Até logo. Te amo. - Finalizei a ligação.
Minha amiga fez uma careta.
- Nossa, vocês dois conseguem ser mais irritantes do que eu achava.
Ri.
- Quando você mudar seu status de solteira aventureira, que odeia relacionamento sério, para namorando, a gente conversa.
- Há, há, há. Muito engraçado. Na verdade eu prefiro ficar bem do jeito que estou se for pra ter um namorado e ficar como vocês. - Revirou os olhos. - Não sei como ele não surtou quando você contou o que aconteceu com o irmão dele.
Abaixei a cabeça.
- Eu não... Não contei.
Ela abriu a boca em formato de "O".
- Mas eu achei que... É isso aí garota!
Bufei.
- Você surtando aí de felicidade e eu morrendo de culpa.
- Qual é, você sabe que sou team . Se é para você se sentir melhor, você não vai ser a primeira nem a última mulher a trair o namorado e foi ele que te beijou, apesar de você ter correspondido.
- Obrigada, você não sabe o quanto me fez sentir melhor. - Falei em tom irônico.
- Pelo menos eu tentei. - Deu de ombros.
- E quanto ao novo sócio?
- O advogado dele levou os papéis para assinar, mas eu ainda não entendo o porquê desse mistério todo.
- Isso é mesmo estranho. O advogado dele não deu pista nenhuma?
Neguei.
- Então eu vou descobrir!
A olhei.
- Você é mesmo louca. - Me levantei do sofá.
Ela riu.
- Você só foi descobrir hoje?
- Não, eu já tinha uma leve ideia.


Finalmente conheceríamos o tão misterioso novo sócio. Eu de fato não sabia muito o que esperar daquilo, mas como qualquer diretora de empresa, estava pronta para tudo. Desde um ex-funcionário maluco, à um sócio pronto para fazer da vida de todos um inferno. E se vocês acham que estou sendo dramática demais, eu não estou. O que mais se pode pensar, com tanto mistério assim?
Então que venha a batalha.
Entrei na sala com as pastas em mãos. A cadeira estava virada para trás, não permitindo minha visão atingir de quem tanto queria saber a nova identidade.
- Senhor? - O chamei.
A cadeira virou silenciosamente e assim que eu vi quem era, já não entendi mais nada.
- O que você faz aqui?
- Feliz em me ver? - Abriu seu melhor sorriso e foi impossível que eu também não o fizesse.
- Você... É o novo acionista, não é?!
assentiu.
- Gostou da surpresa?
- Claro! Você não imaginou o que pensei de negativo. - Me aproximei dele.
- Imagino sim. Sei o quando é ansiosa. Não saber a minha identidade deve ter feito você quebrar a cabeça por algumas horas. Foi melhor assim, pelo menos gastou seu tempo pensando em mim. - Falou em tom brincalhão.
- Bobo. - Dei um tapa em seu braço.
me puxou pela cintura, colando nossos corpos por completo e aproximou seus lábios dos meus, iniciando um beijo demorado. Minhas mãos foram direto para os seus cabelos e as dele me imprensaram mais contra si.
- Mas... aqui temos algumas regras... - Cortei o beijo. - Nada de funcionários se agarrando em horário de expediente.
- Hum... Vai ser difícil, mais ainda com uma noiva como você, porém eu consigo. - Ele tentou me beijar novamente, no entanto eu empurrei seu ombro.
- Agora mais que nunca temos negócios no meio de nosso relacionamento. Não são mais apenas empresas com contrato de produtos. Agora você é sócio daqui. Tem uma parte administrava em sua posse. O que liga as empresas. Nós temos que fazer isso dar certo.
- Eu sei. Foi por isso que comprei a parte do Marck. Iremos nos casar, por que não expandirmos o patrimônio? - Ele volto-se para mim.
E naquele momento, percebi que a Jane estava certa. Não se tratava apenas de casamento ou amor. Claro que tínhamos aquilo, mas também se tratava da união de duas empresas. E aquilo era muito importante para os dois.
- Você tem razão. - O abracei.
Ele sorriu e me puxou para mais um beijo, que desta vez não foi impedido.
Era ótimo saber que as coisas finalmente voltavam a ser o que eram.


Um mês havia se passado. As empresas prosperavam com a nossa união.
Não, ainda não havíamos nos casado, mas aquilo estava próximo.
- Onde coloco isso? - se aproximou com uma caixa em mãos, escrito roupas.
- Leve para o quarto que quando terminarmos de descarregar, arrumamos em seu closet. Ele assentiu e saiu.
Olhei para o meu apartamento, ou melhor dizendo, nosso. Finalmente dávamos outro passo grande em nosso relacionamento. Um passo que poderia dizer se tudo daria certo, ou desmoronaria de uma vez.
Assim que terminamos de descarregar as caixas, começamos a tirar as coisas da caixa e devido ele não ter muitas coisas, além do necessário, quando chegou a noite já havíamos terminado.
- Estou morta. - Me joguei na cama.
- Morta e linda. - Depositou um selinho em meus lábios.
- E... O que você quer? Já está me bajulando demais.
riu.
- Temos que marcar o casamento.
- Por que dessa pressa toda agora?
- Nós já estamos noivos, . Estamos morando juntos. O próximo passo é marcarmos a data do casamento.
- Você se mudou hoje. Tecnicamente falando, ainda não estamos morando junto.
Ele revirou os olhos irritado.
- Eu quero fazer as coisas direito, .
- Então não vamos com pressa. Com calma, , tudo vai dar certo quando tiver que dar. Deixa pelo menos a gente se estabilizar com essa nova fase da nossa vida e marcamos a data. Eu também quero casar, mas tudo no seu tempo, querido.
- Como você quiser. - Ele voltou a se deitar ao meu lado e eu me aninhei em seu braço. - Eu gosto muito de você, .
- Eu também, .


- Tá! Não vou falar mais nada. Se você "quer ser feliz" com ele assim, não me intrometo mais. Revirei os olhos.
- Você é a única amiga no mundo que não fica feliz com a felicidade da outra.
- Já tivemos essa conversa antes.
- Eu sei que você não gosta dele, sem motivo algum, mas me apoia, pelo menos esteja feliz com a minha felicidade.
Jane me abraçou.
- Eu estou feliz por você, tá? Quero que seja a pessoa mais feliz desse mundo e apesar de achar que não será com ele, eu aceito sua escolha. Sou até madrinha do casamento se deixar.
Sorri.
- Olha que mudança! Obrigada.
- É por você e se for para você quebrar a cara, eu estarei ao seu lado.
A abracei.
- Finalmente! Achei que havia perdido minha amiga para a raiva que ela sente do meu noivo.
- Você quase fez isso. - Ela sorriu.
Uma batida na morta nos despertou de nossa conversa.
- Entre. - Pedi.
A porta foi aberta permitindo eu ver o meu futuro marido.
- Bom dia, Jane. - Sorriu.
- Bom.– Respondeu seca.
- Amor, eu vou ter que viajar. Tiveram alguns problemas em nossa empresa no Brasil e eu vou ter que passar alguns meses fora. O está vindo para cá e ele tomará conta dos meus negócios aqui. Eu já repassei tudo para ele e ele ficará lá em casa, se isso não te incomodar.
- Não... Por que você não fica aqui e ele não vai, então?
- Porque eu tenho mais tempo administrativo na empresa do que ele, e foi uma ordem do meu pai. Não posso desrespeitá-la.
Assenti ainda atordoada com a notícia que meu cunhado chegaria.
- Estou indo ainda hoje e ele chega amanhã. Passei aqui só para me despedir. - Se aproximou de mim, depositando um selinho em meus lábios.
- Tudo bem, então. Tomara que não demore.
Ele sorriu.
- Quando voltar, marcamos o casamento. - Saiu da sala.
- Ou desmarcam ele. - Jane sussurrou.
A fuzilei com o olhar.
- O quê? Ele colocou o lobo mal na casa da velhinha, o que você acha que vai acontecer?
- Uma merda muito grande. - A olhei. - Você vai ter que me ajudar.
- Eu? Como?
- Você não pode me deixar sozinha com ele.
- Isso uma hora vai acontecer e você sabe. O melhor que você faz é ir se preparando psicologicamente e orar para não cair na tentação.
Algo me dizia que o fim do mundo estava perto. Do meu mundo.


Era madrugada. O sol nem havia nascido ainda quando um filho da puta começou a tocar a minha campainha.
Me levantei da cama o xingando e me arrastei até a porta de entrada.
- Já vai! - Gritei enquanto amarrava os cabelos em um coque para que a pessoa do outro lado não tivesse um ataque cardíaco quando me visse.
Abri a porta e quase cai dura no chão.
- ? Mas você não iria chegar só... Que horas são?
Ele me olhou dos pés à cabeça e eu estremeci. Olhei para as minhas vestes e comecei a entender porque me olhava com luxúria. O meu micro vestido deixava grande parte do meu corpo exposta.
- É... Entra. Eu vou... Vou trocar de roupa. - Dei passagem para ele.
- Não precisa, se for por mim. Estou confortável com você assim.
Fechei a porta após ele entrar e fiz uma prece em minha mente.
- Quanto tempo pretende ficar?
- Mal cheguei e já está me expulsando, ? – Sorriu divertido.
- Não é isso, é que...
- O tempo que for necessário. - Me interrompeu. - Onde fica meu quarto?
- No corredor, porta a direita.
Ele pegou suas malas.
- Ah, e antes que me esqueça... – Ele se aproximou de mim e ficou a centímetros, ao ponto de eu começar a cogitar a ideia de que me beijaria. – Vai ser um prazer cuidar de você enquanto meu irmão está fora. – Depositou um beijo em meu rosto.
se afastou e eu quase cai no chão. Me apoiei no sofá, ainda sentindo minhas pernas fraquejarem e xinguei meu corpo por reagir tão mal a ele. - A proposito... Só eu que notei seu tom de malicia? Mas também, meu noivo tinha que me colocar na jaula do leão, coberta de molho para carne! E depois, a culpada sou eu!
Olhei pelo corredor percebendo que o já havia ido para seu quarto. Suspirei aliviada e fui para o meu, que a proposito, ficava na frente do dele. Maldito apartamento com compartimentos iguais!
Olhei para o quarto do meu mais recente hospede já que a porta se encontrava aberta, o vi despir-se da camiseta. Senti os pelos da nuca eriçarem e rapidamente desviei o olhar antes que fosse notada.
Mas que merda toda era aquela que estava acontecendo comigo? Eu não era mais uma garota de colegial que nunca havia visto um homem apenas de cueca em minha frente, para agir de tal forma. Ele estava apenas sem camisa, então era bom eu parar com aquela besteira toda.
Entrei em meu quarto e me joguei na cama. Peguei um travesseiro e enterrei meu rosto no mesmo para abafar os gritos de raiva, e assim que me senti saciada, voltei a repulsar meu corpo no colchão macio.
Algo me dizia que eu precisaria de uma força de vontade muito grande para resistir a tudo que aconteceria em meu apartamento nos próximos meses e de uma coisa eu tinha certeza, o não facilitaria em nada a minha vida.
Maldito crush da minha vida!
O que?! EX-CRUSH! Que merda toda é essa? Agora voltei a ser uma adolescente?!Que ótimo!


A brisa da praia esvoaçou meus cabelos. O céu se encontrava cinzento anunciando a noite que começava a se formar. O mar estava calmo. As ondas iam e vinham se debruçando sobre a areia. Fechei meus olhos sentindo a brisa marítima fazer o sal do mar e alguns grãos de areia colarem em meu rosto, o deixando meio pegajoso, como era típico da maresia.
Senti duas mãos cobrirem meus olhos, os fazendo se abrirem pelo susto e encararem o breu.
O dono delas se aproximou mais de mim e eu logo senti minhas costas apoiadas em seu peitoral musculoso.
- Pensa que vai fugir de mim tão facilmente? - Sussurrou em meu ouvido.
- E quem disse que estou fugindo? - Tirei suas mãos de meus olhos.
Ele trocou de lugar, sentando ao meu lado. O olhei e sorri.
- É bom que não esteja. Seria uma pena esquecer algumas ideias que tive.
- Hum... - Me aproximei dele. - Será que valeriam a pena?
Ele sorriu malicioso.
- Pode apostar que você iria adorar. - Colocou a mão em minha perna.
O olhei.
- Vai ter uma trilha amanhã. Se quiser ir...
- Está me chamando para sair senhorita, ? Quer dizer que finalmente consegui encantá-la?
Ri.
- Você vai ter que fazer muito mais que apenas um simples beijo para conseguir isso, .
- Ainda bem que não tenho medo de desafios, .
Dei de ombros e comecei a sair do local, mas fui impedida pelo me puxando para si. Meu corpo bateu contra o seu e antes que eu pudesse me desvencilhar, ele me beijou. Um beijo quente e envolvente.
Suas mãos escorregaram para a minha cintura e as minhas foram ao seu cabelo, o bagunçando.
Aquele beijo era sexy. Emanava desejo para todos os lados e a única coisa que não queria era que chegasse ao fim. Estava bom demais permanecer um seus braços. Eu tinha que concordar. beijava muito bem, mas eu não poderia facilitar as coisas para ele.
Cortei o beijo, puxando seu lábio inferior.
- Te vejo amanhã. - Me afastei dele com um sorriso malicioso nos lábios.
Eu sabia que já estava mais que envolvida com aquele cara e imaginava o quanto aquilo poderia sair caro, mas naquele instante apenas o que queria era desfrutar das coisas maravilhosas que aquele lance estava me proporcionando. E já que ambos queríamos isso, por que não juntar o útil ao agradável?
Olhei para trás o vendo sorrir. Mordi o lábio para provocá-lo e voltei a correr em direção a pousada.
Mal podia esperar para o que aconteceria naquela trilha.




Life's too short to be waiting long
So let's not waste it, waste it


- Você não fez isso!
Revirei os olhos.
- Na boa, você vai começar a gostar desse cara e vai dar merda.
- Relaxa, Jane. Eu apenas estou me divertindo. Afinal, não foi você que me sugeriu isso?
- Com garotos que se pega em uma boate. Que é hoje e não é amanhã, não com nosso vizinho de quarto! Na boa, , eu sei que ele é gato, mas vocês já estão ficando faz uma semana! Isso já é quase um relacionamento sério.
Revirei os olhos mais uma vez.
- Dramática... Relaxa que eu não pretendo voltar namorado para casa. Agora, mãe, deixa eu me divertir! Até parece que invertemos os papéis.
Ela fez uma careta.
- É, você tem razão. - Falou despojada. - Mas toma cuidado para não se envolver demais.
Sorri.
- Tenho que ir, já está na minha hora. - Peguei a minha mochila e a coloquei nas costas.
- Se protejam. Não quero ser tia tão cedo.
Lhe mostrei meu dedo do meio.
Sai do quarto e desci as escadas, encontrando na entrada da pousada.
Ele sorriu assim que me viu e veio até mim.
- Mal posso esperar por essa trilha. - Sussurrou em meu ouvido.
Senti meus pelos arrepiarem.
Aquela trilha prometia...



- Nossa, que cara é essa? - Jane entrou na minha sala.
- Cara de quem tem o ex hospedado em sua casa e acorda com ele na madrugada batendo em sua porta.
- Ele já está aí? - Se sentou na cadeira a minha frente.
- Está na sala que era do e eu tenho que ir repassar tudo isso para ele. - Apontei para uma pilha de pastas que havia na minha mesa. - Mas não estou com o mínimo de vontade de ficar com ele sozinha.
- Você sabe que mais cedo ou mais tarde vai ter que fazer isso.
- Prefiro mais tarde.
Ela revirou os olhos e foi nesse exato momento que tive uma ideia.
- Bem que você podia ir comigo...
- Nada disso. Eu já tenho meus próprios problemas para resolver aqui. A propósito... Aqui está o levantamento de lucros deste mês. - Me entregou uma pasta.
Eu a abri e a analisei.
- Ótimo. Mas uma coisa para levar para ele. - Me levantei da cadeira. - É melhor ir enfrentar a fera agora. - peguei as pastas.
- Não faça nada que eu não faria. - Cantarolou.
- Pode deixar. - Ironizei.
Segui até a sala em que meu cunhado estava e logo minhas mãos começaram a soar sem eu nem saber o porquê.
A chegada até a sala pareceu mais uma eternidade. Era como se tudo ao meu redor estivesse em câmera lenta e aquilo era estranho demais para mim.
Bati duas vezes na porta para que pudesse escutar alguma resposta.
- Pode entrar. - Sua voz parecia descontraída.
Suspirei fundo, tomando coragem.
Girei a maçaneta e assim que a porta se abriu eu entrei.
- , eu trouxe alguns relatórios para você analisar e algumas coisas à mais que seu irmão pediu. - O olhei.
Ele apenas assentiu e eu me aproximei, ficando a sua frente, com a mesa entre nós.
- Este aqui é o levantamento de lucros da empresa neste mês. Como você pode ver, os números só aumentam e eu diria que a empresa está em sua melhor fase...
E passamos o resto do dia assim. Trancados em uma sala, falando sobre trabalho.


- Não. Acho que devemos investir mais neste setor. É uma forma de desenvolvê-lo mais. - Olhei em seus olhos.
Já me encontrava tão descontraída que nem eu mesma havia percebido que havia arrodeado a mesa e estava em seu lado.
- Mas é um setor pouco proveitoso. Pode ser que esta empreitada não dê certo.
- Eu sei que é um tiro no escuto, mas a empresa está estável economicamente. Podemos sim fazer isso. O que acha? - O olhei novamente, desviando a atenção do papel.
sorriu, mas simplesmente não era um sorriso comum. Era aquele que fazia até as células que você nem sabe que existe no seu corpo começar a se agitar.
- Você é fantástica. Faz com que acredite que de verdade pode dar certo.
Olhei para ele desanimada.
- Acha que é uma loucura?
- Não. Acho que você sabe muito bem o que está fazendo e é por isso que seu pai te deixou como chefe da empresa. Você nasceu para isso.
Foi minha vez de sorrir.
Acho que ninguém nunca havia falado daquela forma comigo.
- Obrigada.
- Não se deve agradecer por se dizer uma verdade.
Corei.
me olhou nos olhos e foi quando percebi nossa proximidade. Mesmo assim ele não recuou. Muito menos eu. Talvez pelo simples fato de que eu sabia que queria aquilo. Apesar de errado, era exatamente aquilo que eu queria. Ficar em seus braços e esquecer tudo. Até do passado.
Ele se aproximou mais e nossos corpos estavam a centímetros.
não esperou mais nada e quando eu percebi, já estava em seus braços, o beijando ardentemente.
Aquele sentimento todo repreendido estava ali. A saudade por tantos meses sem nos vermos. A angústia por tudo sofrido. Tudo parecia um mero protesto para ser esquecido. E eu naquele momento era uma puta por estar fazendo aquilo, mas mesmo assim, não me importei. Porque eu estava no lugar que desde que o conheci queria estar. Em seus braços.
me aproximou mais de si, fazendo nossos corpos colidirem mais. Minhas mãos escorregaram pelos seus ombros que se estivessem descobertos, a tal altura estariam complemente arranhados.
Ele levantou uma perna minha e eu dei impulso, entrelaçando as duas em seu quadril. Se aproximou da mesa e tirou tudo que havia lá em cima com uma só mão e me sentou ali, com ele entre minhas pernas.
desceu seus beijos por meu pescoço, depositando chupões e beijos.
Arfei para trás, aproveitando a sensação.
- ... - O chamei.
Deus, aquilo estava tão bom. Senti-lo novamente tão perto de mim era maravilhoso.
- É tão bom sentir seu cheiro. - Beijou minha nuca. - Sentir sua pele. - Acariciou minhas coxas. - Ter você nos meus braços. - Me apertou mais entre ele e eu estremeci com o contato.
Eu já me encontrava ofegante de desejo.
- Eu senti tanto a sua falta quando foi embora. - Sussurrou. - Você não deveria ter partido sem dizer nada.
O afastei de mim, com minha cabeça sendo inundada pelas lembranças. Eu estava a ponto de fazer uma loucura!
- Você é um cretino mesmo! Deixa de ser hipócrita! Se eu fui embora sem me despedir, foi porque eu descobri que você era um babaca que estava apenas brincando comigo. - A amargura daquele dia voltou com força total. – E adivinhe! Ponto para a Jane! Eu me apaixonei por você, como uma idiota! E você só brincou comigo. Queria uma diversão e arranjou. Você é do típico garoto que quando sai de casa faz de tudo e quando volta, finge que nada aconteceu! Eu te odeio. - E sem perceber, lágrimas escorreram dos meus olhos.
As enxuguei rapidamente e sai da sala tão rápido que ele nem ao menos pode se justificar. Si é que isso tem justificativa.


- O que pensa que está fazendo?
Ele olhou para mim e sorriu.
continuou tirando sua roupa e assim que estava apenas de cueca box, subiu em uma pedra e pulou na lagoa. Olhei sem acreditar que ele havia feito aquilo.
- Vem! A água está maravilhosa! - Me chamou.
- Seu maluco! - Ri.
Arranquei minha blusa e o short e percorri o mesmo caminho que ele. Pulei na lagoa e senti a água gelada em contato com minha pele, surgindo um frescor.
me puxou para ele e me beijou.
- Você sabe que assim iremos nos perder do guia, não é mesmo?
- Eu a partir de agora serei o seu guia. O que deseja fazer?
- Voltar para a pousada sem me perder.
- Ah, só isso? É só seguirmos pela trilha. - Beijou meu pescoço. - Agora o guia pode pedir alguma coisa à turista?
Sorri assentindo.
- O que acha de me recompensar com um beijo?
- Só um?- Sorri maliciosa.
- Já quer abusar de mim?
Dei um tapa em seu braço
Ele mordeu o lábio e me virou para não encara-lo mais.
- Quantos você quiser. - Beijou minha nuca.
estava me deixando maluca e o pior, era que eu estava gostando daquilo.


- Como estão as coisas aí? está te dando muito trabalho?
- Até que não. Ele aprendeu rápido as coisas da empresa.
- Hum... Só espero que eu não seja substituído pelo meu próprio irmão.
Fiquei calada, sentindo a profundidade daquelas palavras, que não era à mesma para ele.
- Eu estava pensando em quando voltar, fazermos um jantar de noivado. - Mudou de assunto e eu não sabia responder se ele já havia falado outra coisa ou se o assunto surgiu inesperadamente. Eu estava longe demais para perceber.
- Ainda nem escolhemos a data do casamento. Não está indo rápido demais?
Ele riu.
- Na verdade, nós já temos uma data.
Fiquei boquiaberta.
- Eu liguei para o padre Francisco. Ele disse que ficaria honrado de realizar nosso casamento e por fim... Vamos casar daqui a seis meses.
Não falei nada. Aquilo havia me pegado de surpresa.
- Mas você ainda nem voltou e eu não sei se consigo fazer tudo isso sozinha.
- Meu irmão está aí. Ele não vai fazer questão de ajudar, além do que, eu sei que você dá conta. O que você fizer, para mim está feito.
O nervosismo tomou conta de mim e eu não era capaz de distinguir se era por estar ansiosa ou por não querer mais casar.
Mas talvez fosse o melhor. Apressar tudo para eu parar com essa besteira toda de e só pensar no casamento. Talvez fosse essa minha válvula de escape.
- Tudo bem, eu consigo fazer isso.
Podia ver seu sorriso.
- E o jantar de noivado?
- Quando você volta?
- Um mês antes do casamento.
- Então vai ser um mês antes do casamento. - Respondi.
- Eu te amo.
- Eu também.
- Eu tenho que desligar. Ainda tenho que terminar de examinar uns relatórios.
- Tudo bem. Até amanhã. Tchau.
- Sonhe comigo. - Desligou.
Ligação OFF :

Me deitei na cama colocando o celular de lado. Me espreguicei e logo levantei da cama com a barriga roncando de fome.
Me esgueirei pelo apartamento, tomando o cuidado de não ser notada pelo , que eu ainda não sabia se havia chegado. Passei pelo seu quarto notando que ele ainda não havia chegado. Suspirei aliviada e por fim, fui até a cozinha preparar alguma coisa para comer.
Vasculhei a geladeira e por fim peguei uma pizza já pronta. Coloquei no forno e me sentei na ilha, balançando as pernas. Peguei meu celular do bolso e me perdi ali, sem perceber que a porta da frente estava sendo aberta.
- O que está fazendo?
Me assustei e acabei saindo da ilha. Olhei para que estava em minha frente e suspirei aliviada.
- Desculpe, não quis te assustar.
- Tudo bem. Estou fazendo pizza. Vai querer?
Ele assentiu.
- Estou morto de fome. Vou apenas tomar banho e volto.
Assenti, o vendo sair.
Éramos ótimos em fingir que nada havia acontecido. Eu apenas não sabia até quando conseguiríamos continuar mentindo e eu de verdade, para a minha sanidade, esperava que conseguíssemos por muito tempo.
Olhei a pizza para saber se estava pronta e logo a tirei do forno, a colocando em cima da mesa. Peguei uma Coca da geladeira e coloquei dois copos e pratos na mesa.
Me servi sem intenção de espera-lo e fui até a sala, me sentando no sofá em posição de índio. Liguei a TV e estava passando um filme que resolvi assistir por falta de opção melhor. Escutei a porta do quarto do meu cunhado ser aberta e seus passos ecoaram pelo chão.
- Está tudo na mesa da cozinha. Pode se servir. - O informei sem olhá-lo.
Escutei seus passos até a cozinha e o barulho dos talheres, mas logo ele estava de volta, sentando ao meu lado no sofá.
- Que filme é esse?
- Não sei, não estou prestando muita atenção. - Dei de ombros.
- . - Me chamou.
Eu o olhei e no segundo seguinte me arrependi.
se encontrava sem camisa, apenas com o calção e aquilo fez todas as células do meu corpo se agitarem. Senti meu rosto corar e baixei-o por nossa proximidade. Ele colocou o dedo em meu queixo, o erguendo para que pudesse encará-lo novamente.
- me disse que vocês marcaram a data do casamento.
- Você já sabia que iríamos nos casar.
Ele passou a mão no cabelo, nervoso.
- Pode ficar tranquila. Eu não vou acabar com o seu noivado. Se você quer mesmo fazer isso, eu não vou tentar mais nada com você.
O olhei sem acreditar no que havia escutado. Ele se levantou do sofá e voltou ao seu quarto, me deixando ali sozinha, sem acreditar no que ouvi e com uma dúvida enorme. Me restava saber se eu estava decepcionada com sua decisão, ou se eu estava surpresa. De qualquer forma para aquela noite me restava muita confusão.


Acordei com a luz do sol entrando pela janela, e naquele momento me xinguei mentalmente por ter esquecido de fechar a cortina durante a noite.
Me remexia na cama tentando tomar coragem e só quando me lembrei mentalmente que precisava ir trabalhar, me arrastei da cama ao banheiro. Me olhei no espelho. Eu estava definitivamente acabada. Havia passado a noite passada com uma baita de uma insônia que não tinha motivo. Ou talvez tivesse e eu não quisesse admitir.
Arranquei a roupa do corpo e me enfiei em baixo de um chuveiro gelado, afim de esquecer minhas últimas horas vividas.
Apenas sai do chuveiro quando meus dedos já começava a enrugar.
Peguei uma roupa no closet e a vesti. Peguei minha bolsa e assim que estava pronta, sai do quarto.
A casa estava silenciosa, até demais, como se não tivesse mais ninguém além de mim naquela casa.
Fui até a cozinha e peguei uma maçã da fruteira, encontrando um bilhete na mesa. "Já fui para a empresa. - ".
Naquele instante me perguntei se ele estava fugindo de mim ou se estava apenas sendo sã, ou quem sabe ainda, apenas tivesse algo para terminar na empresa que não poderia esperar, mas de todas as opções, esta era a que menos eu acreditava e talvez estivesse mais que na hora de cair na real.
havia sido um canalha comigo no passado. Por isso decidi me casar com seu irmão. Não era mais hora de voltar atrás e rolar um flashback. Apesar do tempo ter passado, ainda havia uma parte minha magoada com tudo que aconteceu e eu sabia que tinha que esquecer aquele homem. Chega de dúvidas e incertezas. Sai de casa decidida a focar no meu casamento e esquecer o resto. Aquela seria minha válvula de escape até que eu não a pudesse usar mais.


- Aonde vai?
- A pergunta deveria ser: "aonde vamos?"
Ela estreitou os olhos.
- O marcou a data do casamento. Eu preciso escolher meu vestido de noiva e o do noivado.
- O que?
- Achei que havíamos combinado que não haveriam mais chiliques.
- Tá... - Falou de mal grado. - Mas eu achei que depois da chegada do bonitão...
- Ele disse que não tentaria mais nada. Me deixaria em paz já que eu havia escolhido me casar com o .
- Ele disse isso?!
Assenti.
- E você como está no meio de tudo isso?
- Organizando um noivado e um casamento.
Revirou os olhos.
- Ok. Se não quer encarar as coisas, não encare.
Suspirei.
- Você vai comigo ou não?
- Claro! A madrinha tem que fazer parte de tudo, até porque... sem mim você não seria nada.
Revirei os olhos.
- Deixa de ser chata e vamos logo. Temos muito o que andar hoje.


Meus pés estavam mortinhos, mas pelo menos eu havia escolhido os dois vestidos e só precisaria ir prová-lo daqui a alguns meses. Amanhã marcaria com alguns cerimônias para ver os melhores e escolher quem faria a mágica nas duas festas, mas a única coisa que eu queria nesse momento, era dormir pelo resto da noite e desta vez, bem.


Acordei encarando a escuridão do quarto.
Olhei para o relógio no criado mudo e vi que ainda eram 2:00 horas da manhã.
Minha garganta estava seca e sem conseguir voltar a dormir, me levantei.
Abri a porta, percebendo que a luz do quarto do estava acesa.
Mordi o lábio inferior com uma tremenda vontade de entrar em seu quarto. Não o via desde ontem, mais precisamente depois que ele disse que desistiria de mim e mesmo que trabalhássemos na mesma empresa, devido eu ter saído hoje, não o vi e por pior que isso parecesse, eu estava louca para vê-lo.
Não sabia explicar o porquê, ou talvez soubesse, mas não poderia aceitar aquilo depois de tantas mentiras.
Balancei a cabeça, tirando essa ideia maluca da mente e fui até a cozinha. Enchi um copo com água e o tomei de uma só vez, querendo voltar o mais rápido possível para o meu quarto e esquecer vontades que eu não deveria sentir.
Abri a porta do meu quarto, escutando a do outro também abrir.
Senti meu coração disparar e me virei, encarando quem tanto queria ver.
Ele estava apenas de boxer e eu me arrepiei inteira.
- Aconteceu algo?
Neguei.
- Apenas estava com sede.
Ele assentiu e fez menção de ir ao corredor, mas eu o impedi, segurando seu braço. me olhou.
- Por que está fugindo? Achei que esta era minha tática.
Ele continuou a me fitar.
- Achei que fosse o que queria. Me evitar.
Suspirei.
- Eu não sei. Não sei o que quero. - Confessei.
- Mas eu sei. - Se aproximou de mim. - Você quer a mesma coisa que eu. - Sussurrou em meu ouvido. - Só não quer aceitar isso.
- ... - Fechei os olhos, sentindo sua respiração quente em minha nuca.
- Diga. - Beijou meu pescoço.
Mordi meu lábio inferior e sem querer mais me controlar, me virei para ele, o beijando.
Mesmo sabendo que era errado, eu queria mais que tudo se fudesse. Naquele instante a única coisa que eu queria era está ali, nos braços dele, sentindo o seu cheiro. Era tudo que necessitava.


- É melhor voltarmos para a trilha, já está ficando tarde.
- Eu agora sou o seu guia, esqueceu?
Voltei a olhar para a trilha, já não vendo mais ninguém.
- Temos que voltar antes de escurecer. Não podemos passar a noite aqui. – Argumentei.
- Quem disse que não? – Sorriu sugestivo.
- Definitivamente, você só pode estar louco.
- Garota, você é quem está me levando a loucura. - Sussurrou.
Passei as mãos pelos seus cabelos molhados, os bagunçando.
- Achei que você já fosse maluco antes de mim.
Ele sorriu e me beijou mais uma vez. Desta vez de uma forma completamente diferente que me fez arrepiar como nunca antes, me fazendo esquecer de tudo.
Eu só esperava que a Jane não estivesse certa.



Loving can heal
Loving can mend your soul
And it's the only thing that I know


Abri os olhos encarando ao meu lado.
O mesmo ainda dormia profundamente, e eu me aproveitando de sua vulnerabilidade, depositei um selinho em seus lábios.
Senti seus lábios se mexerem, aprofundando o beijo.
Ele pediu passagem e eu cedi.
- Cansou de resistir? - Cortou o beijo.
- Eu achei que estivesse dormindo.
Ele me olhou malicioso.
- Então queria abusar de mim?!
Dei um tapa de leve em seu braço.
- Eu não pensei muito nisso. Só fiz.
Ele me puxou para um selinho.
- Eu tive uma ideia.
O olhei curiosa.
- Não vamos rotular, nem pensar muito nisso, ok? Eu só sei que quero ficar com você, . Mesmo sabendo que é errado. Que você é noiva do meu irmão e que vão se casar, eu não consigo evitar.
Assenti, concordando com aquilo. Afinal, não era tudo que eu sentia também?!
- Se permita pelo menos até você ter certeza do que quer. Depois vemos o resto.
Assenti, o beijando.
Talvez eu fosse queimar no inferno por estar fazendo aquilo. Talvez fosse errado, mas se para mim e era certo ou parecia, era o que importava por tempo.


- Por que está cantarolando? Não vai me dizer que é porque já decidiu onde vai ser o local do noivado?!
- Hã? Não estou cantarolando. - Continuei a vistoria dos relatórios.
- Aham, tá bom... O que seu noivo fez? Vai me dizer que vão passar a lua de mel na Itália ou o quê?
- Para de falar nisso. Eu hein.
- Para quem ontem estava me infernizando sobre a organização de um casamento, você está bem mudadinha. O que foi? Viu passarinho verde ou um em especial que dorme no quarto à frente? - Sorriu maliciosa.
- Nada a ver. Apenas isso é um lugar de trabalho e ainda falta muito para o meu casamento. Sem falar que a lua de mel não é por minha conta e o resto é do cerimonial. Eu só preciso ir escolher mais próximo. Agora se me der licença... Eu tenho que entregar isso ao .
- Claro. Pode ir se comer com o , apenas se lembrem da camisinha.
Lhe mostrei o dedo do meio e sai da minha sala, indo a do .
Bati duas vezes na porta antes de ser permitida a minha entrada. Assim que ele me viu, sorriu.
- Eu trouxe estes relatórios para analisar.
Ele os pegou.
- Você sabe que confio em você. Não precisa me mostrar eles todos os dias. Não roubaria o . Eu sei disso.
Assenti.
- A menos que isso seja apenas um protesto para me ver, porque se for... - Ele se levantou de sua cadeira. - Pode continuar a usa-lo. - Me puxou para si, colando nossos corpos.
- , aqui é...- Mas antes que eu pudesse impedi-lo, ele me beijou profundamente e eu já não queria finaliza-lo.
Seus lábios macios tornearam os meus me causando sensações maravilhosas.Suas mãos desceram uma para a minha cintura e a outra para a minha nuca, não me permitindo me afastar mesmo que quisesse, coisa que eu não queria.
Meus dedos seguraram os fios de seu cabelo, os bagunçando.
desceu os seus beijos para o meu pescoço e eu arfei para trás aproveitando a sensação.
Mordi o lábio inferior, o sentindo depositar leves chupões em meu pescoço.
- Aqui é muito arriscado. - Sussurrei.
Ele depositou um selinho em meus lábios.
- Eu sei. Apenas não resisti.
Sorri.
- É melhor eu ir indo. Ainda tenho que terminar algumas coisas. Nos vemos em casa. - Me afastei dele.
- Eu passo na sua sala quando estiver saindo.
Assenti e antes de sair, corri até eles depositando um beijo apaixonado em seus lábios.
Me afastei da mesma forma que me aproximei. Sem avisar e rápido saindo da sala.
Ajeitei os cabelos e olhei para o corredor percebendo que não era notada e assim segui de volta a minha sala como se nada estivesse acontecido.


- Um fim de semana. - Fez bico.
Ri com sua cara de cachorro pidão.
- Não Podemos fazer isso. Sumir assim por três dias.
- Quem disse que não? - Me desafiou. - Diga na empresa e ao que precisar viajar para resolver algo do casamento. Eu direi que irei passar o fim de semana com meus pais. Problema resolvido.
- Eu não sei... Tenho medo que...
- Você confia em mim? - Me interrompeu.
Assenti.
- Eu te prometo que não vai acontecer nada.
Mordi o lábio com dúvida e por fim concordei.
- Ótimo. Você tem trinta minutos para arrumar suas malas e se trocar. Caso o contrário vai do jeito que estiver.
Estreitei os olhos.
- Você já estava com tudo arquitetado? E se eu tivesse negado?
- Ah, eu teria te sequestrado. - Deu de ombros como se fosse a coisa mais normal do mundo.
- Descobrindo que você é um psicopata. É melhor eu fugir agora, antes que seja tarde.
Sorriu.
me puxou para si e me beijou. Meu corpo tremeu ao seu toque e eu me senti a mercê dele. Era maravilhoso sentir seu corpo contra o meu. Sentir seu cheiro. E eu já me encontrava parecendo uma adolescente de 15 anos pronta para fazer loucuras por ele ou com ele.
- É melhor se apressar. - Cortou o beijo. - Você só tem... - Olhou no relógio em seu pulso. - 25 minutos.
Me virei de costas para ele e assim que iria sair, ele bateu em minha bunda.
Corri para o meu quarto e peguei uma mala no closet. Escolhi algumas peças de roupa, alguns sapatos e claro, tênis (nunca se sabe). Coloquei todos na mala de forma organizada e fui pegar minhas coisas de higiene pessoal e minhas roupas íntimas. Olhei em minha gaveta, vendo algumas lingeries novas que eu havia comprado para usar na lua de mel.
Pensei naquilo e por fim, as peguei guardando na mala.
Acho que terei que comprar novas lingeries.
Olhei no relógio de meu celular percebendo que já se passara 20 minutos e eu só havia cinco impossíveis. Me despi no quarto mesmo e corri ao banheiro.
Tomei um banho rápido mas bem tomado. Peguei uma roupa confortável e meu óculos de sol. Arrumei meus cabelos e calcei uma rasteira.
Sai do quarto já sabendo que havia passado muito da hora.
- Vamos? - Sorri o vendo.
Ele veio até mim.
- Está linda.
Sorri mais ainda.
- Onde estão suas malas?
- No quarto.
- Ótimo. - Ele foi até o meu quarto e as pegou, voltando a sala. - Vamos?
Assenti e descemos juntos até o estacionamento do prédio.
colocou minhas coisas na mala do carro com as suas e entrou no automóvel para partirmos.
Eu ainda não sabia para onde iríamos, mas confiava nele o bastante para não me preocupar.
Suspirei pensando como as coisas haviam mudado em tão pouco tempo.


Era lindo. Simples assim. Era uma chácara afastada em uma parte rural da cidade. Onde ninguém nunca saberia que estaríamos ali, se nem ao menos se tinha vizinhos.
- O que achou? - Me abraçou por trás.
- Que você fez alguns pontos. - Sorri.
Ele me beijou.
- Vou tomar um banho. Quer ir comigo? - Sorriu malicioso.
Dei um tapa em seu braço.
- Sinto muito em te decepcionar, mas vou organizar minhas coisas.
Ele fingiu um bico e eu depositei um beijo curto neles.
Me afastei dele e segui para o quarto em que ficaríamos. Me sentei na cama e comecei a desfazer minha mala.
foi ao banheiro tomar banho e eu fiquei ali, me questionando se eu teria feito certo. Não por não achar isso. Eu de verdade achava que havia feito, mas uma parte minha ainda insistia em me lembrar do nosso passado e eu só queria esquecê-lo de todas as formas possíveis. Queria me libertar de tudo aquilo e estar com o sem me preocupar que tudo desmoronaria no segundo seguinte, mas tudo aquilo ainda era difícil para mim. Era como se minha parte racional se negasse a aceitar que meu coração me comandasse, e enquanto isso eu me encontrava presa em minha própria confusão.


- ... O que está inventando?
- Você já, já vai ver. - Ele sussurrou em meu ouvido.
Caminhei mais alguns segundos a cegas e quando finalmente ele tirou minha venda, eu pude contemplar o lindo cenário a minha frente.
Ele havia arrumado tudo. Um caminho de rosas vermelhas que eram da entrada da casa até o centro da sala, onde havia uma mesa posta, com um castiçal de velas e apenas duas cadeiras. As luzes estavam apagadas e as velas acessas. O jantar estava posto e havia um som com uma música de fundo tranquila e aconchegante.
O olhei admirada.
- Eu não acredito que você fez tudo isso. E não acredito que você me enganou! - Dei um tapa em seu braço. - Então era por isso que queria me tirar de casa...
- Desculpe, mas precisava ser surpresa.
Sorri.
Puxei pela gola de sua camisa e o beijei apaixonadamente. Suas mãos se encaixaram perfeitamente em minha cintura e as minhas em seu cabelo, depositando um carinho gosto.
- Vem. - Pegou minha mão e me levou ao centro da sala.
Puxou uma cadeira para que me sentasse e se sentou a minha frente.
Ele nos serviu e começamos uma conversa gostosa e interrupta por alguns minutos ou horas. Não sabia dizer ao certo.
- Quer dançar? - Estendeu a mão para mim.
Assenti.
Peguei sua mão e ele me conduziu para mais próxima do som, onde o aumentou.
Começamos a dançar lentamente sentindo a música. me conduzia e era como se nos complementássemos um no outro com cada paço sincronizado. Eu sentia nossa conexão e igual a tal, jamais havia tido. Era algo completamente novo para mim. Mesmo no passado com o mesmo, não sentira algo tão forte. Eu simplesmente não sabia explicar o que sentia naquele instante. A garganta seca e o anseio me afugentava sem qualquer motivo. Eu estava presa em mim em uma total confusão de sentimentos confusos sobre o passado e o presente, sobre meus medos e anseios e aquilo estava me atormentando cada vez mais. Me prendendo a uma teia de embaraço.
- No que pensa? - Me arrancou de meus devaneios.
O olhei pensando se ele estava fazendo uma pergunta do tipo "minta", ou se deveria ser sincera.
- Estou confusa. - Suspirei me soltando dele. - Você voltou assim do nada e fez uma bagunça na minha casinha.
Ele continuava a me olhar atentamente prestando atenção a cada detalhe.
- E você quer que eu vá embora? - Vi a tristeza em seus olhos com sua constatação e aquilo causou dor em meu peito.
Eu apenas queria pular nele e o fazer esquecer toda aquela baboseira com meus beijos e carícias.
- Não. Pelo menos não mais. E esse é o problema. Eu não quero que vá embora. Quero que fiquei, mesmo sabendo que não deveria por milhões de motivos. - Baixei o rosto com vergonha de encara-lo.
Ele acariciou meu rosto e levantou meu queixo até que o olhasse.
- Então por que você não permite seguir o que sente? Por que não se permite esquecer os outros? Se permite viver?
O encarei.
- Por medo. - Fui o mais sincera possível.
Ele me abraçou forte.
- De mim?
- De tudo. De você, do que vão pensar. Do seu irmão...
- Você tem que parar de pensar nos outros e pensar mais em você. Esquecer o resto que não é importante.
Eu estava completamente confusa, mas uma parte minha gritava que ele tinha razão. Que eu deveria fazer exatamente aquilo.
aproximou os lábios dos meus e os roçou. Segurou minha cintura, me fazendo encara-lo até finalmente sentir os seus lábios nos meus. E o quanto eu precisava daquilo naquela noite.
Me permiti sentir seu gosto, seu toque, seu cheiro e logo já estava entregue a ele. Aquilo era o que mais queria e simplesmente não havia mais como fugir daquilo. Aquele sentimento todo já estava tão presente em mim como o ar que respiro. Ele tanto havia sido reprimido que voltou com força total. Ou talvez apenas nunca tivesse ido embora, apenas eu o tenha maquiado para não o ver.
O beijo começou calmo e intenso, sentindo tudo que um dia fora retirado de nós por nós mesmos. Havia uma ternura, carinho e algo há mais. Mas logo foi se tornando necessitado e quente, com suas carícias.
Ele me encostou na parede e eu tremi com o contato gélido, mas mesmo assim, não separamos nossos lábios. prendeu o meu corpo ao seu e desceu seus lábios para meu pescoço. Local onde depositou total atenção. depositava beijos e chupões nesta região que deixariam marcas no dia seguinte e eu já começava a sentir células do meu corpo me lembrarem do quanto estavam vivas.
Sua mão subiu por minhas costas e tocou o zíper de meu vestido e antes que fizesse qualquer coisa ele o tirou, me deixando apenas de roupas íntimas.
me olhou por completo e sem esperar, avancei em seus lábios, recuperando nosso contato.
Ele me pegou no colo sem nenhuma dificuldade e quando me dei conta, já estávamos ali, nos entregando mais uma vez um para o outro de uma forma que jurei que nunca mais faríamos. E o melhor de tudo aquilo era que descobri que uma grande parte de mim sentia que o sentimento que eu tanto tinha medo de falar estava ali, presente em cada movimento e desta vez era mais real que nunca.


- Você é linda. - Me afagou mais.
Sorri.
Me aninhei mais em seus braços exausta. Já se passava das 3:00 horas da manhã e ainda não havíamos dormido.
- Eu não quero que esse fim de semana acabe. - Sussurrei.
- Muito menos eu. Podemos fazer mais disso se quiser.
- Eu quero. - Sorri.
Ele sorriu.
- Eu só posso ser muito sortudo. Acordar com uma mulher tão linda ao meu lado.
Bati em seu braço ficando vermelha.
- Você nem dormiu ainda... Deixe de tentar me constranger.
riu.
- Nada disso é mentira.
Sorri. Depositei um selinho em seus lábios e deitei minha cabeça em seu peitoral fechando os meus olhos.
Eu não sei se ele continuou a conversar, ou se foi dormir também, ou se ficou apenas calado. Mas eu apenas dormi profundamente sem nem me dar conta.


Me encostei na soleira da porta observando cada detalhe seu. Suas costas desnudas de frente para mim, enquanto o mesmo fazia alguma coisa para comermos. Pelo cheiro bom, deveria ser rabanada.
Fiquei quieta para não ser notada, e continuei admirando seu corpo seminu e como meu... O que éramos mesmo? Amantes? Estávamos só nos divertindo? O quê?
Balancei a cabeça, afim de tirar aquilo de minha mente. Não precisávamos de rótulos. Não em nosso atual caso em que eu estava dormindo com o , mas ainda era noiva de seu irmão.
Quanto piranha aquilo soava.
- Você está aí... - abriu um sorriso galanteador, que juro que poderia fazer até o meu ovário estourar de tão sexy. - Há quanto tempo está me observando?
Foi minha vez de sorrir esquecendo toda aquela baboseira de antes.
- Não tanto tempo quando queria. - Mordi meu lábio inferior e ele me puxou para mais próximo.
- O que está fazendo aí? - Tentei bisbilhotar por cima de seu ombro.
- Rabanada.
Eu sabia!
- Eu pretendia te fazer uma surpresa. - Me mostrou uma bandeja posta e cheia de pães, bolos, queijos, bolachas, entre outros.
- Desculpe por estragar isso, mas se quiser, finjo que não sabia.
Ele abriu mais o sorriso.
- Você é maluquinha, sabia?
- Na verdade não escuto isso com muita frequência. - Fiz careta. - A culpa deve ser sua.
Ele enlaçou seus braços em minha cintura.
- Ótimo, porque você também está me deixando louco. - Aproximou seus lábios dos meus, iniciando um beijo.
O afastei de mim, cortando o beijo e me aproximando da bandeja.
- Tudo isso é para mim? - Fiz cara de surpresa. - Eu... Como você...? Aí meu Deus! - Pulei nele. - Obrigada. - Depositei um selinho em seus lábios.
Ele sorriu.
- Você é boa.
- Eu sei. - Dei de ombros.
Saí do seu colo e me sentei a mesa. se sentou a minha frente. Eu peguei um pão de queijo e comecei a comer.
- Nossa, estou faminta. E a culpa é sua.
Ele sorriu.
- Você ontem não reclamou. - Sorriu malicioso.
Dei um tapa em seu braço.
- !
- Você foi maravilhosa. - Sussurrou em meu ouvido.
Senti meu rosto corar e baixei-o.
Ele o levantou com as pontas dos dedos, me fazendo encara-lo. Pegou em minha mão e me fez levantar para sentar em seu colo. aproximou nossos lábios e me beijou.
- Você sabe que podemos ir para o inferno com o que estamos fazendo, não é?!
Ele sorriu assentindo.
- Então iremos fazer uma visitinha ao capeta. Agora que ti tenho novamente, não garanto te soltar.
O beijei.
E como eu queria acreditar naquilo.



O pior dano que te podes fazer, é permitir que te façam. – Shakesper

Dois meses haviam passado, a data para a festa de noivado se aproximava e disso sabíamos bem. Eu sei o que vocês estão pensando. “Então por que você ainda não terminou com o ?” Mas nem tudo é tão simples.
Eu ainda me encontrava em um caso intenso com e cada vez mais estava convicta que era com ele que queria continuar a minha história, mas como prosseguir com isso com todas as inseguranças?
Não havia nenhum "eu te amo" ou "vamos fugir de tudo isso!". Por mais tolo que parecesse, não havia qualquer certeza e minha parte racional insistia que não deveria jogar um relacionamento estável por um que talvez fosse composto por mentiras como anos atrás.
Eu não podia acabar com o se ele não decidisse que gostava mesmo de mim. E se tudo fosse mais uma vez uma brincadeira?
Eu teria perdido tudo por nada. Era um tiro no escuro e desta vez eu não estava desposta a atirar.
Desta vez não jogaria tudo fora por incertezas.
- E então, querida? O com detalhes dourado, ou prateado?
Analisei os dois convites a minha frente.
- Este. - Peguei o dourado.
- Boa escolha. Tem um ótimo gosto. Já sabe quantos irá querer?
- 150.
- Certo... E qual vai ser o do casamento?
Analisei novamente os convites e por fim, peguei outro que havia traços dourados para que não fugisse da temática do casamento.
- Ótimo. Também serão 150?
- Sim.
- Maravilha. Daqui a dois meses tudo estará pronto. - Se levantou.
- Obrigada. - Agradeci.
Ele sorriu e eu o acompanhei até porta. Assim que saiu, a fechei.
Voltei a minha cadeira e abri meu e-mail no computador, notando que o cerimonial havia enviado para mim minha agenda de compromisso para os próximos dois meses. Eu simplesmente estava ferrada. Teria que resolver tudo aquilo sozinha e conciliar o e a empresa no meio.
Eu só esperava que tudo não acabasse em um desastre para a minha vida e sanidade. Mas quanto a isso, eu não estava bem certa.


- ... Pa-para... É sério! - Tentei falar entre o riso.
- Admita que eu estou certo!
- Eu não... - Voltou a faltar o ar mais uma vez, devido as cocegas feitas em minha barriga.
- Você... Você... Está certo. E eu errada. – Suspirei, recuperando o ar que era falho em meus pulmões.
- Eu te disse que tinha métodos infalíveis para te convencer.
Sorri e me levantei, desta vez sentando em seu colo.
- Você sabe que é muito mais gato que qualquer um deles, não sabe? - Sussurrei em seu ouvido, o fazendo arrepiar.
mordeu o lábio e eu não esperei mais um segundo e o beijei.
Sua língua quente adentrou minha boca, aprofundando o beijo, e suas mãos desceram até minha bunda, a apertando.
Deixei um pequeno gemido escapar.
Desci meus lábios por seu pescoço, controlando a situação. Depositei alguns chupões naquela região e logo senti algo se animar.
Sorri com aquilo e não parei com as carícias.
Minhas mãos foram até a barra de sua camisa, a puxando para cima e trilhando um caminho de arranhões. me deitou no sofá, me beijando, e com os pés eu consegui o deixar apenas de cueca boxer.
Ele, por sua vez, vendo que apenas um de nós estava vestido, tratou de mudar isso.
Chegou a barra de meu vestido e o arrancou de uma só vez.
Me contemplou por completo e voltou a me beijar, ficando entre as minhas pernas.
Quando ele deu menção de tirar meu sutiã, meu celular começou a tocar. Separei nossas bocas puta raiva, mas precisando muito atender.
- Eu preciso. Sinto muito.
Ele se afastou de mim, sentando na outra extremidade do sofá.
Peguei o celular, vendo que era o e aquilo me causou uma culpa interna imensa.
Mostrei o visor a ele e em seguida atendi.

Ligação ON :
- Oi, amor. Como estão as coisas aí?
- Oi. Estão bem, mas cansativas devido os preparativos do noivado.
- Desculpe por não estar aí te ajudando.
Eu já podia ganhar o troféu de mais hipócrita do ano!
- Tudo bem. E como vai tudo aí?
- Vão se resolvendo. Talvez nem precise ficar tanto tempo. - Deu uma pausa. - E o , está te dando muito trabalho?
Olhei para o homem a minha frente.
- Não. Até agora ele está dando conta do recado.
- Hum. Aí já está muito tarde, não é?!
- Um pouco.
- Já estava dormindo?
- Não. Mas vou logo.
- Por aqui estou saindo do trabalho agora. Eu já vou desligar. Apenas liguei para saber como estava.
- Certo. Até amanhã.
- Até. Tchau. - Desliguei.
Ligação OFF :

- Desculpe, eu...
Eu odiava aquela situação toda. Odiava mentir para mim e para eles, me afundando cada vez mais na mentira.
- Você não tem culpa. Eu sei que você fala com ele. Sei que o casamento está próximo. Sei que você está organizando tudo para a festa de noivado.
O olhei com tristeza. Éramos tão idiotas que apesar do que sentíamos, não dizíamos uma palavra sobre aquilo e continuávamos presos em nossa confusão.
- Sei que não devo te cobrar nada. E não faço isso. Quero que você se decida e vou esperar por isso como te prometi.
- Por que não te reencontrei antes de ficar com seu irmão? Seria tudo tão mais fácil...
- Porque talvez se tivesse acontecido desta forma, não estivéssemos juntos. - Segurou minhas mãos e me puxou para ele.
Sorri.
Diga... diga que gosta de mim. Que joga tudo para o ar neste mesmo momento. - Pensava ansiosa, mas nada foi dito e por incertezas e medos, nada naquela noite mudou.


- Você é cheio de surpresas. - O abracei por trás.
Ele sorriu.
- Só quis te mimar um pouco.
- Assim eu fico má acostumada e gorda.
- Você é bonita de qualquer forma.
- Tá bom... Quero ouvir você falar isso quando estiver parecida com uma baranga.
Ele riu e em seguida desligou o fogão.
- Jantar pronto.
- Oba!
colocou dois pratos e nos serviu. Sentou a minha frente na mesa.
Já vivíamos a tanto tempo desta forma, que nem ao menos havia me dado conta que mais parecíamos casados.
- Eu estava pensando em irmos ao boliche amanhã. - Me arrancou de meus devaneios.
- Eu não posso. Tenho reunião com o cerimonial do casamento.
Ele pareceu incomodado. Aquela história toda já estava tornando tudo cada vez mais difícil. E aquele papo de “irei te esperar”, mesmo que ainda fosse presente, sabia que logo chegaria ao fim. Precisávamos de verdade sermos sinceros.
- Eu preciso... Droga. - Se levantou da cadeira. - Eu... - Ele parecia nervoso.- Você vai ter que decidir . O document.write(Stevh) queria te fazer uma surpresa, mas ele volta ainda este mês.
O olhei.
- Foi por isso que arrumou tudo isso?
Ele suspirou.
- Eu queria que essa noite, se for a nossa última juntos, fosse perfeita.
Mordi o lábio.
E ele havia me dado um ultimato que eu não esperava, mas que sabia que mais cedo ou mais tarde aconteceria, eu só esperava que... Mas que droga era aquela? Eu estava tão confusa...Eu tinha que tomar uma decisão e devido lembranças do passado, uma parte minha se sentia insegura por fazer a decisão que meu coração queria.
Eu amava o e tinha que reconhecer isso. Mas naquele momento o medo se afugentava em mim. A insegurança era minha aliada e eu já não conseguia tirar da minha mente que tudo poderia ser mais uma brincadeira.
- Está tão ruim assim? - me arrancou de meus devaneios.
- Não, eu só...desculpe. - Me levantei.
Caminhei até o quarto e peguei meu sobretudo. O vesti e peguei as chaves de casa. Voltei para a sala encontrando me encarando sem entender nada.
- Eu preciso disso. Desculpe.
E com essas últimas palavras sai de casa, sem olhar para trás.
Eu precisava de um tempo. Um único tempo para mim mesma e para tomar uma decisão que levaria para o resto da vida.
No mínimo eu tinha que fazê-la direito.


Havia passado horas da noite passada pensando, e com a mesma veemência, havia fugido do . E apesar de ter gastado mais de três horas andando pelas ruas da França, a dúvida ainda era presente em mim.
A manhã começava a aparecer quando finalmente dormi e devido esse fato, não havia conseguido acordar e mesmo que o tenha feito horas depois do horário correto, mesmo depois de ter acordado, não me levantei.
Minha mente ainda era ocupada por pensamentos e tormentos e a escolha ainda não havia sido feita.
Eu estava presa em minha própria confusão e ela, por medo não me libertava e permitia ser feliz.
Com o eu fui mais feliz do que havia sido em qualquer outro momento de minha vida. E naquele momento me questionei se havia mais decepção que felicidade. Já não seria a hora de esquecer o passado? Superar esse erro e me permitir ser feliz? Se eu nunca tentasse, nunca saberia. Não havia como saber o que me resguardava no futuro, apenas no presente, mas não estaria na hora de tentar sem medo?

Mesmo querendo dormir e tirar tudo aquilo de minha mente. Mesmo que quisesse me embargar em seus braços e esquecer de tudo não consegui. Já não podia fugir do que sentia e aquilo me causava arrepios só de pensar.
Olhei para , percebendo que ainda dormia. Me levantei da cama e vesti minha roupa. Peguei um papel e uma caneta em minha bolsa e escrevi um bilhete para ele.

"Não quis te acordar. Nos vemos depois. XX ."

Sai do quarto dele e nem ao menos passei no meu. Precisava pensar.
Desci as escadas, percebendo que ainda era cedo demais para qualquer pessoa daquela pousada ter se levantado. Havia saído daquele quarto tão dispersa em meu próprio mundo, que nem ao menos me importei em olhar a hora.
Abri a porta de entrada e sai daquela casa. Com os pés ainda desnudos caminhei pela areia fina e molhada da praia. Sentei no mesmo lugar de sempre, colocando as minhas coisas ao lado.
Olhei o oceano e senti a brisa do mar, tomar conta de minha mente.
Eu o amava e já não havia como negar. Eu havia tentado me enganar tanto, e por fim o que minha amiga disse que aconteceria, aconteceu e sem que percebesse, já era tarde demais para fugir.
Aquele sentimento já havia se apoderado de mim, sem consentimento nem permissão. E tudo aquilo era novo demais para mim. Não queria me entregar a tais emoções, mas algo em mim já dizia que já era tarde e impossível de fugir. Eu já estava sentindo algo que fugia do meu controle. Simplesmente não havia nem como tentar fugir, quando já estava tão presente em mim. Me pegava por dentro e quanto mais eu tentava não pensar, quanto mais tentava me convencer do contrário, quanto mais tentava agir com a razão, mais uma parte dentro de mim implorava o contrário. Eu sentia a necessidade dele e de estar com ele. Nem que fosse por um segundo.
Eu o amava por mais brega que fosse. Eu o amava e tinha medo daquele sentimento que o verão me trouxera.



Não havia aprendido nada com o passado. Tanto escondi aquilo que sentia, que o perdi. A vida havia me dado a oportunidade de tentar novamente e eu queria a jogar fora. Eu era mesmo uma idiota.
Quem sabe eu não havia tanto tempo o culpado, quando a principal culpada na verdade era eu. Talvez se eu tivesse dito o que sentia, tivesse sido sincera o tempo todo, tudo tivesse sido tão diferente. Talvez ele me amasse também, tanto antes como agora e tudo não tivesse passado de uma merda de engano.
Me levantei da cama correndo e fui ao banheiro. Arranquei a roupa do corpo e entrei em baixo do chuveiro. Tomei o banho mais rápido de minha vida, me troquei com a mesma velocidade e sai de casa. Peguei a chave do carro e desci do elevador impaciente.
Andei apressada pelo Hall como se esperar para apenas andar, fosse fazer total diferença. E não fazia?
Destravei o carro e sai sendo logo engolida pelo transito da França.
Dirigi por mais ou menos meia hora até finalmente chegar ao prédio da empresa.
"Se permita pelo menos até você ter certeza do que quer". Aquelas palavras ressonavam em meus ouvidos, me dando ainda mais confiança sobre aquilo que iria fazer.
Eu me orgulhava de mim naquele instante. Finalmente havia esquecido o passado e me permitia viver aquilo que de forma tão bruta chegou ao fim. Eu estava sendo feliz e me permitindo isso. Sem medo estava na hora de fazer o certo e colocar um ponto final definitivo no passado.
Passei pela porta de entrada da empresa, cumprimentando a todos. Fui ao elevador e assim que ele abriu me enfiei dentro. Enquanto ele demorava, batia o pé impaciente. Naquele instante eu estava extremamente nervosa.
As portas metálicas se abriram finalmente e eu sai. Passei pelos corredores parecendo um jato, sem me prender para conversar com ninguém durante o trajeto, e assim que cheguei a porta de sua sala, senti meu estômago querer colocar tudo para fora.
Suspirei. O que eu diria? Toda a verdade. Que o amava. Que estava disposta a esquecer tudo e começar do zero se fosse com ele. Enfrentaríamos a todos e tudo.
Tomei a coragem que havia deixado no início do corredor de volta e empurrei a porta de sua sala sem bater. Queria que ele tivesse uma surpresa. Mas ele não foi o único.
A coisa que esperava era sair daquela sala, com o maior sorriso de minha vida. Me sentindo a mulher mais realizada do mundo, mas eu estava enganada e estava longe de chegar a tudo aquilo.
Ela estava próxima a . Suas mãos espalmadas em seu peitoral e sua camiseta aberta. Sua proximidade os denunciava claramente. Talvez se não tivesse entrado e interrompido tudo, eles provavelmente estariam atracados um no outro nesse dado momento. E como se não me bastasse me sentir uma idiota, ainda estava com um buraco tão profundo no lugar que era meu coração, que me questionei se a dor era palpável.
- Desculpem, eu não queria atrapalhar. Eu deveria ter batido.
Sem esperar uma resposta e ainda sendo encarada com surpresa, sai dali o mais rápido que podia e antes que as lágrimas viessem átona.
Eu não podia acreditar o quão idiota havia sido. Grande ideia me culpar quando na verdade era ele que era um idiota. Um mentiroso desde sempre. E eu que pensei em jogar todo o meu relacionamento no lixo por ele. Eu que estava disposta a tudo! Que coloquei meu noivado em risco em um romance idiota e cheio de apenas desejos carnais, composto por um falso amor.
Eu me odiava tanto naquele momento... Me sentia novamente aquela menina de 18 anos que havia sido enganada da mesma forma anos atrás. Mas bem que eu merecia tudo aquilo. Era o que eu ganhava por me envolver novamente com um homem que tanto me machucou no passado. Era bom para que finalmente aprendesse que o amor simplesmente não vale de nada. Só te faz sofrer e te machuca.
Entrei em meu carro e havia passado tão rápido pela empresa, que nem havia me dado conta quando sai do prédio.
Liguei o automóvel e voltei a percorrer o caminho de volta para casa.
A única coisa que naquele instante era minha prioridade era me enfiar em baixo de uma coberta e chorar.
Apesar de saber que aquele seria o primeiro lugar no qual ele me procuraria para despejar mais uma vez suas mentiras, eu não me importava naquele momento. Eu apenas queria um lugar seguro para poder chorar e superar tudo aquilo.
Eu me sentia vulnerável. Tão traída por mim mesma... Eu deveria ter relutado mais, porém fui fraca e me deixei cair em meias palavras bonitinhas. E naquele instante já era impossível tentar controlar as lágrimas.
Estacionei o carro no acostamento e me permiti chorar igual a uma criança. Não sei quanto tempo ao certo passou, mas só voltei a seguir meu caminho, quando finalmente consegui cessar as lágrimas que pareciam não ter fim.
Estacionei na garagem e coloquei meu óculos de sol para que ninguém do prédio percebesse que chorava.
Travei o carro e quando finalmente iria sair dali, vieram perturbar meu único desejo.
- Srta. deixaram isso para a senhora.
Me virei encarando o porteiro.
Em suas mãos estava uma caixa de papel bem grande e logo conheci pela fita com detalhes da marca o que era.
- Obrigado. - Peguei a caixa.
Entrei em meu prédio e subi até o apartamento. Abri a porta e a fechei em seguida. Fui até o meu quarto, coloquei minhas coisas na cama e abri a caixa, pegando o meu vestido. O olhei e todo o resto se dissipou de minha mente. Ele estava mais bonito do que imaginei que ficaria.
Tirei a roupa que colocara e o vesti. Me olhei no espelho e eu nem ao menos merecia o usar. Me sentia culpada sabendo que deveria esquecer aquilo.
E era o que faria. não estragaria mais isso em minha vida.
Eu estava perfeita e era idiota por ter quase jogado aquele futuro fora.
- Está linda.
Me virei o encarando. A raiva e mágoa me afugentaram.
- O que faz aqui? Deveria estar trabalhando ou fazendo sei lá o que. - Desviei o olhar para o espelho novamente.
- O que você acha que aconteceu, não aconteceu.
- Agora vai dizer que estou louca? Que não vi o que vi?
- Não. Você só interpretou errado.
- Por favor...Você sempre faz isso. - O olhei novamente. - O que pretendia? Me fazer terminar com o seu irmão apenas para brincar comigo novamente? O que eu te fiz? - Já começava a sentir meus olhos umedeceram. - Você não tinha o direito de brincar comigo novamente. Eu de verdade... Eu te amei! Te amei tanto que chegou a doer. Mesmo sabendo que havia mentido, quis me enganar. Mas não deu! Eu tinha que ser sincera comigo. Você me usou e me fez acreditar em algo que não era real. Você me iludiu e logo me entorpeceu com um sentimento que não era correspondido. Você não imagina o quanto doeu te esquecer e até hoje tudo isso ainda dói! E o mais impressionante é que não é a primeira vez. Me odeia tanto para me magoar duas vezes? - Já era impossível segurar as lágrimas. - Eu te amo tanto que dói. – Fui o mais sincera que pude, já cansada de segurar tudo aquilo para mim.
Ele tentou me tocar, mas não deixei.
- Eu não sei o que você acha que eu fiz. Mas você quem foi embora.
- Queria que eu ficasse?! Você mentiu para mim, mesmo que não tivéssemos algo sério, achei que gostasse de mim, mas você mais uma vez só queria uma diversão para se distrair enquanto sua noiva não estava com você. - Falei com amargura, lembrando daquele maldito dia.
- Do que está falando?
- Eu a vi! Fui ao seu quarto e ela estava lá. Me contou tudo.
- Então foi por isso que não se despediu? O que ela te disse? - Começava a ficar nervoso. - Isso não importa. Não era verdade. Eu terminei com ela antes de ir e ela não aceitou bem. Por isso estragou a viagem e Deus, eu nunca imaginei!
- Você só pode achar que sou idiota! - Gritei. - Eu não acredito em você. - E aquilo doeu para ser dito. - Não acredito e nunca mais vou acreditar. - Senti as lágrimas descerem. - Você pediu que escolhesse. Você... Como pode pedir isso, quando estava envolvido com outra? Era sua secretaria, . Há quanto tempo... Eu não quero saber. Chega de mentiras. Chega de você.
- ...
- Não me chama assim! Você não tem mais essa intimidade. Eu te odeio. Você mais uma vez me fez chegar ao céu e despencar para o inferno e quase destruiu meu noivado!
- Não foi bem assim. Se você não quisesse, jamais teríamos nos envolvido.
- Você me cercou por todos os lados.
- Se você não quisesse, ... Você nem ao menos o ama!
- E você a ama não é?!
- E se amar? - Se exaltou.
Não sabia se era possível, mas meu coração se quebrou ainda mais. Ele a amava. A amava e não a mim.
Sem poder me controlar, magoada demais com tudo, dei um tapa forte em seu rosto.
- Sai daqui! Vá embora da minha casa e da minha vida! Eu não te quero... - Limpei as lágrimas que desciam. - Não te quero mais aqui.
Ele estava com raiva, assim como eu.
- Arrume suas coisas e... vá embora! Eu vou me casar com o e não te quero mais no meio de nossa vida.
Ele serrou o punho e bateu na porta do quarto com força.
Estremeci.
saiu do meu quarto visivelmente irritado. Escutei a porta da frente bater e soube que ele havia saído.
Tínhamos dito tanta coisa um para o outro que a ferida inflamada se abriu e agora a tratar estava doendo ainda mais. Eu amava o , mas entendia que ele não sentia o mesmo por mim e por estar magoada e por tudo mais, queria que tudo não estivesse passado de um engano, mas não era à verdade.
- Você foi a pior coisa que já aconteceu em minha vida. - As lágrimas vieram novamente e eu me deitei em minha cama.
Do jeito que estava, chorei e chorei até não ter mais nada para derramar.


Bati duas vezes na porta se seu quarto ansiosa, mas assim que ela foi aberta meu sorriso sumiu do rosto.
- Desculpe, acho que me enganei de quarto.
- Está procurando o ?
Assenti, confusa.
- Ele está no banho. E você é...?
- Uma amiga.
Mas quem aquela garota achava que era?
- Prazer. Sou a noiva dele.
- Noiva? - Deixei escapar.
- Sim. Sabe como é... Estamos passando as férias juntos, mas tive que resolver problemas de trabalho e tive que voltar. Mas agora já estou aqui.
A olhei absorvendo tudo que ouvira.
Aquele filho da puta iria casar!
- Quer que eu avise que esteve aqui?
Neguei.
Eu estava confusa demais para fazer qualquer outra coisa.
- Eu encontro ele depois. Desculpe se atrapalhei.
Ela assentiu e fechou a porta. Mas eu nem me movi.
Tudo havia sido apenas uma diversão e a burra aqui, se envolvendo mais do que deveria.
Senti meus olhos marejarem. Corri para o meu quarto e assim que abri a porta e a fechei com força, minha amiga me olhou.
- O que aconteceu?
- Ele é noivo, Jane. - Me joguei na cama.
Eu estava magoada e me sentia enganada.
- O ? Não... Ele gosta se você. O que está falando?
- Isso não importa! Ele tem uma noiva! Eu a vi no quarto dele agora!
- Isso deve haver outra explicação.
- Claro que tem. Eu que confundi as coisas. Para ele eu era apenas um passa tempo e para mim... Você estava certa. Eu me envolvi demais. - Senti as lágrimas descerem.
Ela me abraçou.
- Não fica assim. Se quiser eu vou lá agora e deixo ele estéril.
Sorri minimamente.
Eu ainda não sabia explicar a dor que sentia em meu peito. Meu coração parecia mais que havia sido substituído por cacos imprestáveis.
- E a culpa disso tudo é minha. Você me avisou para não me envolver e o que eu fiz? Exatamente o contrário!
- Não se culpe, . Ele que foi um idiota de perder você.
Suspirei.
- Eu quero ir embora.
- O que?! Mas ainda temos uma semana!
A olhei.
- Se quiser pode ficar. Eu não aguentaria...
- Nada disso. Eu volto com você. - Me abraçou. - É melhor você ir arrumar logo suas coisas. Melhor que ficar pensando nesse idiota.
- Você tem razão. - Me levantei.
E em trinta minutos nossas coisas estavam prontas. Nos arrumamos e descemos para fazer o Cheking.
Em menos de uma hora após tudo que aconteceu, já estávamos na estrada indo embora e deixando tudo aquilo para trás. E naquele instante eu prometi a mim mesma que o esqueceria, nem que tentasse de todas as formas possíveis.
não merecia aquele sentimento, e nunca o mereceria.



Tell me that you'll turn down the man
Who asks for your hand
Cause you're waiting for me


Senti algo vibrar em baixo de mim e me mexi na cama desconfortável. O objeto não parou e eu acabei me dando por vencida e enfiando a mão entre meu corpo e a cama, pegando o meu celular que eu nem sabia que estava ali.
Depois de tantas lágrimas derramadas eu por fim havia adormecido.
Peguei o objeto e sem nem abrir os olhos, atendi a ligação.

Ligação ON :
- ? - A voz dele estava embargada, como se estivesse chorando.
- Oi. – Falei, acordando de fato
- Teria como você ir ao hospital? Eu estou pegando um jatinho, mas ainda vai demorar para chegar e mesmo que meus pais estejam a caminho, você chegaria mais rápido. Precisamos de notícias e você poderia reconhecer o corpo.
Logo abri meus olhos.
Hospital? Corpo? Do que ele estava falando?
- O que aconteceu? - Questionei assustada.
Nada que passava em minha cabeça justificava o pedido.
- Ligaram para os meus pais. O ... - Sua voz voltou a ficar embargada, como se o choro estivesse voltando e aquilo fez minha cabeça girar.
- , o que..?
- O está morto, .
Sabe aquela sensação que você tem quando está dormindo, que sente como se estivesse caindo ou alguém te empurrando para baixo, que te faz acordar sem ar? Era exatamente isso que eu estava sentindo. Eu não podia acreditar no que ouvia. Aquilo não parecia real aos meus ouvidos. Ele estava aqui há pouco e eu... O mandei embora.
Senti as lágrimas voltarem.
- ...
- Eu sei, , eu... Droga! Ele é meu irmão! - Ele estava com raiva e disso eu já sabia. - Preciso que vá ao hospital reconhecer o corpo. Precisamos saber de notícias.
Assenti sem perceber que ele não podia ver.
- Como... Como sabe que é ele?
- Eu não sei. Mas ele está no Hospital San Diego, por favor, me mantenha informado.
- Claro. Eu... - Me levantei da cama. - Já estou indo. - Desliguei sem me despedir.
Ligação OFF :

Eu já não ligava para o que pensariam, eu só pensava em ir naquele bendito hospital e ver que havia sido um engano.
Arranquei o vestido do meu noivado do corpo, que a tal altura já estava completamente amassado e corri ao closet pegando qualquer roupa.
Me olhei no espelho do banheiro e lavei o rosto, limpando as listras pretas que as lágrimas haviam feito em mistura ao rímel. Amarrei o cabelo em um coque frouxo e peguei a chave do carro. Sai de casa trancando à porta.
Desci as escadas porque pelo elevador demoraria muito e literalmente voei com o automóvel até o hospital.
Demorei vinte minutos para finalmente chegar e assim que passei pela emergência, indo para a recepção, o ar me faltou para dizer o que deveria. Minha boca secou e senti um buraco no lugar do meu coração e me perguntei como poderia falar às palavras que me diriam tanto.
Era como se ao dizê-las, elas fossem mais reais e verídicas e eu não queria isso. Não queria acreditar em nada daquilo.
Suspirei pesado, tomando coragem.
Precisava ser forte e acreditar que aquela não seria a última vez que o veria.
- Por favor, eu vim para reconhecer o corpo do Sr. .
Ela desviou o olhar do meu, digitando algo no computador, pensando obviamente que aquela não era a primeira vez que fazia aquilo durante o dia.
- Espere aqui. Irei chamar o doutor que o examinou.
E assim que ela falou aquilo enquanto saia, meu mundo voltou a desabar mais uma vez, e eu me questionei como ainda havia lágrimas para chorar.
A única coisa que queria era que tudo ali fosse um pesadelo. Que eu acordasse e o estivesse em seu quarto, mesmo que estivéssemos brigados. Que ele não estivesse morto e desejava com todas as minhas forças, que meu pedido a ele não se concretizasse. Que ele não sumisse da minha vida para sempre, porque só a ideia de nunca mais o ver, nem sentir seu toque ou cheiro, me matava por dentro.


A medida em que adentrávamos cada vez mais o hospital e conforme íamos passando pelos corredores, meu coração se apertava cada vez mais.
Ele parou em frente a uma porta. Naquele instante eu estava tão próxima de ver o pela última vez e eu não estava pronta. Só queria voltar no tempo e fazer tudo diferente. Ter por mais um dia, ou quem sabe apenas um segundo, mas desta vez eu o aproveitaria. Seria só dele e faria de tudo por um “nós”. Pediria que me perdoasse pelo medo, por ser boba, por o deixar ir e ser de outra sem lutar.
Agora eu me arrependia, mas infelizmente era tarde demais. Já o perdera. Se não para vida, para outra e só assim fui capaz de perceber que o amava muito mais do que pensara.
Mas bem preferia perde-lo para outra e ele estar vivo, do que perder para a morte.
O médico abriu a porta e logo eu senti a corrente gélida me atingir, me fazendo estremecer.
Ele entrou e eu o segui.
- Era o corpo que estava mais próximo da moto e pelo veículo ser registrado em seu nome, chamamos a família para reconhecê-lo.
Tudo fora estranho demais segundo testemunhas.
corria muito acima da velocidade aceita, driblando os carros. O motorista do outro vinha em contra mão em uma curva. Era tarde demais para não colidirem. ainda tentou e derrapou na pista, voando da moto. O carro capotou algumas vezes e devido estar mais lotado do que o correto, nada daquilo acabou bem.
- A deixarei só. - E falando isso, ele saiu.
Olhei o corpo a minha frente e senti meus pelos eriçarem.
Segurei na borda do lençol, tomando coragem e assim que eu o levantei, senti meus olhos deixarem as lágrimas caírem.
Eu não podia acreditar no que meus olhos viam.
O peso em meu coração, a dor dilacerável, o sentimento de perda, tudo se esvaiu de mim e meu coração se encheu de esperança. Eu só queria gritar para todos que não era ele. Que eu não sabia como, mas era um terrível engano e eu estava tão feliz!
Voltei a cobrir o corpo e sai da sala o mais rápido que pude.
- Não é ele. - Falei assim que sai da sala.
- Tem certeza?
- Claro! Não é ele. Eu não tenho dúvida.
- Então nos desculpe, senhorita. Deve ter sido algum engano.
- Doutor... - Uma enfermeira andou apressada até o médico. - O paciente 52, está piorando.
- O rapaz do acidente? A propósito já conseguiu saber quem é?
- Infelizmente não. Ele...Não acordou e não tinha nenhum documento.
- É uma pena. Bem...
- Desculpe, mas como acharam que era o ?
- A moto dele estava no local, não sei... A menos que... A senhorita poderia me acompanhar?
Assenti sem ainda entender o que ele queria.


A porta do quarto foi aberta e uma pessoa deitada na cama imóvel fez eu me aproximar. Tudo estava silencioso e a única coisa que se escutava era os barulhos das máquinas que o mantinham respirando.
- Talvez... Este seja o . Ele estava no acidente, mas como estava longe da moto, achamos que não poderia ser ele o proprietário.
Me aproximei relutante e foi quando o vi.
- É ele.
Seus aspecto era de cansaço. Seu rosto e corpo estavam machucados de arranhões e hematomas, mas fora isso, parecia estar bem. Apenas dormia profundamente.
Me aproximei de sua cama e fiz um carinho demorado em seu rosto, mas mesmo assim, nem se mexeu.
- Ele ainda está em observação. Fizemos alguns exames e apenas estamos esperando os resultados.
Assenti.
O médico foi até os aparelhos e anotou algumas coisas em sua prancheta e eu nem ao menos prestei atenção. Eu só queria ficar ali até que ele acordasse. Não apenas pela culpa que me afligia, mas porque eu me importava com ele e grande parte de mim já estava cansada do que passamos.


Já era noite quando a família do chegou. Eu nem ao menos havia pregado o olho naquela cadeira desconfortável, e mesmo que o sono parecesse querer dominar meu corpo, eu me sentia na obrigação de ficar acordada até ele abrir os olhos. Mas isso ainda não havia acontecido. O que começava a me aperrear.
Duas batidas na porta me fizeram despertar.
Olhei para ela achando que seria o , mas era o doutor.
- Boa noite. Será que vocês podem sair para examinarmos ele?
Todos assentimos e apesar do receio de o deixar só, ali eu era a que menos "merecia" estar ali.
- O que você acha que o levou ao dirigir tão bêbado? - A minha sogra me questionou.
Dei de ombros, sentindo a culpa pesar sobre meus ombros e me questionei como a suportaria.
- Onde ele está? - A voz tão reconhecível por mim, me fez procurar pelo dono dela.
- Está sendo examinado. - Seu pai respondeu.
veio até mim e imóvel do jeito que estava, continuei. Não sabia como agir. Era muito fácil mentir quando o próprio não estava, mas agora, olhando para seus olhos, me sentia ainda mais pior, principalmente por amar seu irmão e aquilo me causou ânsia de vômito.
- Eu não pretendia que nos reencontrássemos assim depois de tanto tempo separados. - Se aproximou de mim e foi quando percebi que até ele estava estranho.
Sorri minimamente e o abracei.
- Obrigada por ter vindo aqui e esclarecido tudo. Foi importante saber que ele estava vivo.
Assenti.
Eu sabia que havia sido, pois para mim foi também.
- Com licença. - Me virei, encarando o médico que nem havia percebido a chegada. – Infelizmente, eu não tenho boas noticias.
A nova informação fez com que a atmosfera do lugar se tornasse pesada e o medo afugentar meu coração.
Eu temia perdê-lo. Mas como se perde algo que nunca foi seu?
- O sofreu um trauma no cérebro e está em coma.
Aquilo fez tudo piorar cem vezes mais.
- Mas ele vai acordar, não é doutor? - o questionei sem conseguir me conter.
Ele me olhou triste e eu já sabia sua resposta. E agora me questionava o que faria com aquela dor em meu peito que só fazia aumentar.
- Infelizmente não podemos dar essa certeza. Há uma possibilidade sim de que ele acorde, mas é relativo.
- Meu filho... Por quê? - A mãe dele lamentou, se entregando as lágrimas e era exatamente aquilo que eu também queria fazer, mas que não podia.
A centímetros de mim ainda estava o meu noivo e eu não poderia me exceder demais.
Me aproximei dele.
- Eu sinto muito...
me abraçou e beijou o topo da minha cabeça, deixando as lágrimas caírem em um choro silencioso.
Eu fiz o mesmo, com uma dor muito maior do que as minhas lágrimas transmitiam.


- Ele não merecia isso! - esbravejou. - Ele é o meu irmão e nem sei se um dia voltarei a vê-lo como antes.
Aquilo doeu porque era verdade.
- Eu acho... Que deveríamos adiar o noivado.
Ele me olhou.
- Será daqui a 15 dias e devido o que aconteceu...
- Ele iria querer que fizéssemos isso de qualquer forma. sabia o quanto era importante para nós e para as empresas.
Na verdade... Para mim, ele nunca havia deixado isso claro.
- Ainda falta muita coisa?
Neguei.
- Apenas entregar os convites. A propósito, ainda vai querer aqueles para mandar ao Brasil?
Ele assentiu.
- Não vejo a hora de me casar com você. - Sorriu.
E naquele instante eu me senti culpada. Aquele homem me amava e eu havia brincado com seus sentimentos. O traído da pior forma e eu ao menos o devia um casamento. Apesar de amar outro homem, havia deveres para cumprir e ele... seria um bom companheiro.
- Ele deveria ser meu padrinho. - O sorriso abriu lugar para um triste. - Eu o havia chamado dias atrás.
- Ele havia aceitado? - Deixei escapar.
- Ele ainda não havia respondido.
Suspirei.
Por que lembrar qualquer coisa dele fazia meu coração se dilacerar mais?
- Ele seria um bom padrinho. Como era como irmão. Quando éramos pequenos, como irmão mais velho que eu era, cuidava dele. E quando fomos crescendo, éramos inseparáveis. Mas quando eu comecei a trabalhar na empresa de papai, o ainda estava na faculdade e o namoro com a Tânia só nos distanciou mais. - Sorriu triste. - Ele queria se casar, acredita? Nunca havia imaginado que ele se casaria primeiro que eu, mas de qualquer forma, ela não prestava. Ele não escutou ninguém, até que um dia a fixa caiu para ele mesmo.
Comecei a prestar ainda mais atenção na conversa. Será que estava falando da mesma mulher que o me enganara no passado?
- Ele terminou e estava decidido a terminar a faculdade e ir trabalhar na empresa. Mas aquela maluca o perseguia. Ainda não sei como conseguiu se livrar dela. Uma vez... Ele foi passar as férias em uma praia. Eu não lembro bem aonde...
Mas eu sim. Não havia mais dúvida. Era a mesma mulher.
- Mas sei que ela apareceu lá, dizendo que eles ainda estavam juntos. ficou puto e esclareceu tudo a ela dizendo que não a queria mais. Depois que ele voltou, tudo foi diferente. Foi trabalhar na empresa e tudo prosperou, mas eu não sei porque ele nunca mais ficou com ninguém. Ele me falou de uma garota que conheceu naquela praia, mas ela foi embora. Eu acho que ele gostava mesmo dela. Pena que foi embora.
Tudo caiu sobre mim como uma parede de tijolos sobre o meu corpo.
O ... Ele nunca mentira! Eu que... Não podia acreditar que havia me enganado todo aquele tempo. Poderia ter sido feliz e não fui e agora era tarde. Até demais.
Eu já o perdera e estava a vésperas de um noivado. Tudo já era tarde demais e a quem eu havia julgado tão sordidamente não tivera culpa em nada. Como havia sido injusta... Ele me amava e eu... O deixara escapar e o perdera. Parabéns, você cometeu o pior erro de sua vida, e agora as causas dele, já eram demais para fingir que não existiam.


- Nossa... Seu noivo não desconfiou de nada quando viu sua cara?
Revirei os olhos.
- Você está mesmo mal. - Fechou a porta. - Como ele está? - Se sentou a minha frente.
- Em estado vegetativo.
- Eu sinto muito. Imagino que deve estar sendo difícil fingir que não é tão importante quanto é.
Minha amiga me conhecia tão bem que seria tolice tentar fingir algo que não era verdade.
- Está, mas não estou assim por ele. Passei mal a noite passada. Não sei como consegui me levantar hoje.
- O que você tem? - Se preocupou.
- Vomitei a noite toda, mas acho que foi a comida tailandesa que comemos durante o jantar. Não foi uma boa ideia.
- Claro que não. Come com os olhos invés de comer com a boca... Claro que só pode passar mal depois.
- Você sabe que eu estava com vontade, então não me julgue!
Ela sorriu.
- Por que não vai descansar em casa?
- Porque se eu for... As lembranças vão voltar e eu não quero que elas voltem.
Jane assentiu. Ela entendia muito bem do que eu estava falando.
- Se prefere assim... O que é isso? - Apontou para os convites em minha mesa.
- Ah sim... Já ia me esquecendo. - Peguei o convite com seu nome. - Esse é seu.
Ela o pegou e o abriu.
- Ficou perfeito, mas tem certeza que não quer desistir?
- Já é tarde para isso.
- Não é não. Pior vai ser casar com o e com 4 meses se separarem. Você já errou antes. Não faça isso novamente.
Sorri.
- Fica tranquila que não somos iguais a Nicolas Cage e Lisa Marie Presley.
- Engraçadinha... Eu apenas quero que seja feliz e sei que com o ...
- Ele não me ama mais, Jane. Ele deixou isso claro. E... Eu não posso fazer isso com o . - A Interrompi.
As palavras "e se eu a amar?" ainda ressonavam em meus ouvidos.
Que ele um dia me amou eu já não tinha dúvida, e que eu havia estragado tudo, já não era novidade, mas quanto a ele amar outra (que a propósito nem foi no hospital visita-lo, mesmo sabendo que ele está tão mal), não há nada que eu possa fazer, apenas aceitar.
- Eu espero muito que ele acorde, mas já não sei se é possível. Já se faz uma semana e não temos melhoras. - Senti meus olhos manejarem. - Eu tenho medo.
Por que estava tão sentimental?
Ela se levantou e veio até mim me abraçar.
- Ele vai acordar. Você vai ver. Mais cedo ou mais tarde.
Eu só queria isso, mas a dúvida já começava a me atormentar e eu só queria estar errada.


- O que você tem? - me olhou.
Neguei.
- Não é nada, eu apenas estou cansada.
- Não acha melhor ir à um médico? Aproveita que vamos agora e faz uma consulta.
- Eu estou bem. Foi apenas um desmaio, se tiver mais, prometo que vou. Agora vamos?
- Não acha melhor ficar e descansar?
- Não. Quero visitar o seu irmão.
- Vocês ficaram bem próximos depois que ele veio morar aqui.
Você não sabe o quanto...
- Vamos?
- Tá, mas se voltar a se sentir mal...
- Eu sei...
Peguei as minhas coisas e desci com o meu noivo.
Havia algumas semanas que estava me sentindo mal e começava a temer sobre o resultado daquilo. Por isso tentava não pensar. Caso o contrário talvez a fixa caísse e eu naquele instante a uma semana do casamento, sabia que o mais correto era fugir de tudo que não me deixasse cumprir a promessa que havia feito.
Entrei no carro e o caminho transcorreu silencioso.
Havíamos mudado muito. Tanto como casal, como em particular e apesar daquilo ter nos distanciado, sabíamos que faríamos o que devia ser feito.
estacionou o carro assim que chegamos e eu logo desci.O acompanhei pelos corredores do hospital, até o quarto de .
Ele ainda se encontrava em estado vegetativo. Sua pele estava pálida. Cabelos despenteados e com arranhões e hematomas por todo o corpo. Ali ele parecia completamente diferente do homem que conhecia. Estava tão vulnerável, tão perto e ao mesmo tempo tão longe de mim... Quando eu daria tudo para ele estar ao meu lado.
Me aproximei de sua cama e peguei em sua mão.
Seu toque quente a aqueceu e eu esperei ansiosa por qualquer interação. Mas como sempre, não veio.
- Tem alguma novidade? - me arrancou de meus devaneios.
Sua mãe negou e eu me senti mal ao olhá-la. Se via que estava exausta já que era a única que dormia e passava os dias com ele. Sua irmã tivera que voltar devido a escola e já não havia ninguém para ajuda-la. Enquanto a mim, com tudo do casamento em andamento nem tive a oportunidade de me oferecer para ajuda-la.
- Por que não vai tomar um café? Eu fico com ele. Deve estar cansada.
Desta vez ela apenas assentiu e foi sem reivindicar. O que me provava ainda mais o quão exausta estava.
- Irei me oferecer para passar a noite. Ela está exausta. Precisa dormir. E por favor, deixe que durma em nosso quarto. Ela não conseguiria no dele.
- Você não precisa fazer isso.
- Eu quero fazer.
- Você desmaiou.
- Já disse que não foi nada. Estou bem.
Ele revirou os olhos.
- Teimosa.
- Com o maior prazer.


Já não havia mais como fugir daquilo. Meu mal estar só aumentava e eu havia tomado uma decisão que poderia mudar todo o meu futuro.
Mais cedo havia ido pegar o resultado na clínica, mas até então não conseguia olhar. Estava há poucas horas do noivado e como se já não bastasse o nervosismo disso, eu ainda tinha que arrumar mais motivo.
Peguei o envelope em mãos. Abri a aba a rasgando. Peguei o papel de dentro e o abri com cuidado, como se aquilo fosse rasgar em mil pedaços caso o abrisse com mais presa. E finalmente tomando toda a coragem do mundo, li as Informações ali presente. Mas o que mais me chamou atenção foi as palavras em vermelho e letras maiúsculas.


- Anda comendo demais hein?! Cuidado porque se continuar assim, o vestido do casamento não vai caber. - Jane tirou sarro.
Não a respondi.
- O que você tem? Está tão aérea... E está tão linda com essa roupa!
- Ele ainda serve, apesar de estar um pouco arrochado.
- Tudo bem. Pode me contar. - Me puxou para o sofá do salão. - Quer desistir? É isso? Porque se for... meu carro está ali fora.
Sorri para a minha amiga.
- Obrigada, mas tenho que enfrentar isso. - Sorri amarelo.
Me levantei, me olhando no espelho.Eu estava linda com o meu vestido de noivado. E mesmo estando um pouco justo demais, estava deslumbrante.
- Para quem vai noivar você não parece estar feliz.
- Por favor... Não torne isso mais difícil do que é. - Senti meus olhos marejarem.
- Não! Nada de choro. As lágrimas vão estragar a maquiagem. - Ela veio até mim e me abraçou. - Eu não queria que você ficasse assim. Apenas quero o seu melhor.
- Eu sei. - Engoli o choro. - Agora vamos. Não quero chegar atrasada.


A festa se transcorria bem, mas eu estava muito alheia a ela.
ainda não tinha feito o pedido oficial e eu nem ao menos me importava.
Olhei ao redor, vendo todos se divertirem e me questionei se era a única a não fazer o mesmo. Mas algo fez com que esquecesse todos os meus tormentos e encarasse o meu noivo de risadas e conversinhas com uma brasileira que ele havia conhecido durante a viagem.
Não era boba nem nada e logo notei que ali havia algo á mais.
Me levantei da mesa em que estava e fui até lá. Não por ciúmes, até porque já não era aquilo a minha maior preocupação, apenas por um tormento.
- Ah... , esta é Helisa. - Ele me apresentou.
- Prazer. - Ela deu um sorriso falso e eu já entendera tudo.
- Prazer. Sua amiga?
Percebi ele ficar nervoso.
Idiota. E eu aqui me importando em me casar com esse babaca achando que ele me amava e mais, me sentindo culpada pelo que fiz!
- Claro. - Respondeu rápido.
- Então aproveite a festa.- Idiota.
Sai dali, voltando a mesa onde estava e fingindo não perceber nada de diferente peguei o celular dele e comecei a bisbilhotar. E claro, para a minha total surpresa - só que não - estava cheio de ligações de um número brasileiro.
Aquele filho de uma boa mãe que não merece o filho que tem! A Jane estava certa o tempo todo! E agora eu tinha certeza. Não podia ficar com ele. Aquilo só me fez ter mais certeza daquilo que pensara horas atrás.
Passei a mão na barriga, tomando coragem. Aquilo era o certo a fazer. Eu não o amava e agora, estava liberta da minha divida quando ele mesmo havia feito o que fiz.
Me levantei da mesa e percebi que ele vinha até mim.
- Vamos dançar? - O chamei animada.
Ele sorriu e me conduziu até o meio do salão.
A música começou e nos entregamos a dança.
- Sabe ... Você é um idiota.
Ele me olhou assustado.
- Quanto tempo achou que demoraria para perceber?
- Do que está falando? - Se fez de desentendido.
- Da Helisa. A mesma mulher com quem você me engana.
Ele parou a dança.
- E nem tenta dizer que não. Eu sei.
- ...
- O quê? - O Interrompi. - Na verdade você me fez um favor. Tirou um peso das minhas costas e quer saber? - O empurrei.
- O NOIVADO ESTÁ ACABADO! RASGUEM SEUS CONVITES! - Gritei para que todos ouvissem e todos me olharam assustados.
Tentei sair dali, mas segurou o meu braço.
- O que está fazendo?
- Algo que deveria ter feito a muito. - Tirei a aliança que ele havia me dado e a entreguei a ele. - Ah, se quiser pode ficar com ela. Eu não me importo.
E dita aquelas palavras sai dali correndo, com os murmúrios de todos ao meu redor, mas não me importei. Pela primeira vez agi sem pensar muito no que faria. Eu só fui para onde queria ir sem me importar com o resto. Eu apenas me permiti uma vez ir atrás dele e ser feliz. Aquele seria o início de algo novo e eu com todas as forças lutaria para dar certo. E no fim, tudo daria certo. Eu sentia isso.



And I know, you're gonna be away a while
But I've got no plans at all to leave
Just promise me, you'll never leave again
Cause you are the only one


Desci do táxi e adentrei no prédio branco.
Me esquivei pela entrada sabendo que não era mais horário de visita, mas eu já não me importava quanto a isso. Precisava vê-lo de qualquer forma e era isso que faria.
Adentrei na ala de internação e logo em seguida estava em seu quarto.
estava da mesma forma que o vi da última vez. O estado permanecia sem alterações e agora o que eu mais desejava com todas as forças era que ele acordasse.
- ... Eu sinto tanto a sua falta. - Peguei em sua mão. - Desculpe por ser uma completa idiota. Eu não lutei por você antes, nem por nós agora, mas eu prometo que isso vai mudar. - Fiz uma carícia em seu rosto. - Eu sei que você nunca mentiu para mim. Eu que sou uma idiota de acreditar em uma pessoa que acabei de conhecer e perder o homem que amava. Eu sempre te amei, , e quero que volte para mim. Para nós. Nós precisamos tanto de você... Eu não sei se consigo assumir tudo isso sozinha. Por favor... Não me deixe só nessa. - Já sentia as lágrimas rolarem pelo meu rosto.
Mas claro, nada diferente aconteceu e eu comecei a me perguntar se ele escutava algo ou se como os médicos haviam dito, estava em um estado de inconsciência. Mas eu preferia acreditar que ele podia me ouvir. Era ainda a última gota de esperança que tinha.
- Por favor, ... - Peguei a mão dele e coloquei em minha barriga. - Você vai ser pai. Eu estou grávida e ele vai precisar de você. Se não fizer isso por mim, faça por ele, por favor.
E já sem poder encarar seu rosto com as lágrimas que tornavam minha visão turva, senti a esperança voltar em mim quanto sua mão segurou a minha de uma forma fraca.
Limpei as lágrimas no mesmo instante e olhei mais uma vez só para ter a certeza de que não estava imaginando aquilo.
logo voltou a soltá-la e eu corri para o corredor do hospital. Procurei desesperadamente um médico. Como não encontrei, chamei uma enfermeira.
- Por favor...
- Senhora, está passando bem? Está pálida.
- Estou bem, não se preocupe, mas por favor, me acompanhe. Eu preciso que venha comigo a um quarto. Ele se mexeu e acho que está começando a voltar.
Ela assentiu e deixou que a puxasse ao quarto.
Eu estava tão esperançosa e feliz. Meu acordaria e agora nada nos impediria de ficarmos juntos.


- Desculpe, senhora, mas não tem nenhuma alteração no estado do paciente.
Mas eu o tinha sentido apertar minha mão. Não estava louca.
- Eu tenho certeza do que vi. Por favor. Deixe eu... - Me aproximei dele, pegando em sua mão. - , por favor...
Mas nada ele fez.
- Você deve ter se enganado.
Senti meus olhos manejarem. Eu tinha certeza que ele tentou!
- Desculpe. – Pedi.
Ela sorriu compreensível e logo em seguida deu menção de sair do quarto.
- Ah propósito, o que está fazendo aqui? Já acabou o horário de visita.
Suspirei.
Na hora da emoção nem havia me tocado daquilo.
- Eu precisava falar com ele. - Suspirei. - Ele precisa saber que vai ser pai. - Passei a mão na barriga.
Ela me olhou com ternura.
- Você sabe que ele está em estado vegetativo, não é?!
Assenti.
- Mas o que mais posso fazer se não tiver esperança? Nós precisamos dele.
- Tudo bem... Eu irei permitir que fique mais um pouco.
Assenti.
- Obrigada.
- Mas só um pouco.
- Eu juro. - Sorri.
A enfermeira saiu e eu voltei a ficar sozinha com ele.
Talvez eu tivesse imaginado tudo. Talvez minha vontade de o ver acordado fosse tanta, que acabei me confundindo. Talvez movida pela emoção.
Voltei a me aproximar de sua cama e depositei um selinho em seus lábios.
- Eu só queria que estivesse comigo nisso. Sei o quanto ficaria feliz. Mas eu te prometo que irei cuidar do nosso filho e que quando você acordar, estaremos te esperando, mas por favor, volte para mim. Volte para nós.

Acordei com o som terrível da campainha. Resmunguei para me levantar, mas mesmo assim o fiz. Coloquei o hobbie sobre a camisola e amarrei o cabelo em um coque.
- Já vai! - Avisei para que a pessoa parasse de apertar aquele bendito botão.
Depois de ontem eu só pretendia ser esquecida pelo mundo, mas não foi o que aconteceu já que o meu primeiro bom dia era para alguém indesejado.
Abri a porta e encarei a última pessoa que jurei encontrar.
- Precisamos conversar.
Suspirei. Não sabia no que aquilo daria, mas naquele dado momento eu apenas queria estar na minha cama dormindo.
Dei passagem e ele passou.
- Não achei que apareceria por aqui hoje.
- Quero esclarecer as coisas. - explicou.
- Você sabe que não me deve satisfação, não é?!
- Mas é o certo.
Assenti e me sentei no sofá. Ele fez o mesmo.
- Se vamos esclarecer as coisas, quero ser sincera com você.
- O que quer dizer com isso?
- Que... Nós nunca nos amamos, . Companheirismo, amizade, carinho, interesses em comum, mas amor? Não. Achamos que sim, mas nunca seriamos felizes um com o outro.
- Você está certa. Eu descobri que não te amava quando percebi que fugir do que sentia pela Helisa já se tornava impossível. - Me olhou. - Eu gosto dela de verdade, , e obrigado por ter rompido ontem.
Sorri.
- Não tem o que agradecer. Não fiz isso só por você. Quero que você seja feliz com ela e torço para que deem certo.
- Meu Deus, eu achei que você estaria com raiva e me colocaria para fora daqui. Não que falaria isso.
Sorri.
- Você não foi o único a perceber que gostava de outra pessoa.
- E por que não falou nada?
- Pelo mesmo motivo que você. Não queria te decepcionar. Achei que estivesse apaixonado e tínhamos um compromisso. Não parecia certo desistir.
assentiu.
- E quem é o cara de sorte?
Senti meu coração pulsar mais rápido. Todo aquele clima amigável poderia ir para os ares a seguir.
- Eu nunca falei nada depois que conheci o naquele dia em sua casa, mas não era à primeira vez que nos víamos. Eu já o conhecia muitos anos atrás. Porém nunca imaginei que ele era seu irmão e de verdade achei que não faria diferença. Mas fez.
Ele me olhou confuso.
- Eu sou a garota que ele conheceu na praia. A que foi embora sem dizer adeus.
- Você? Por que nunca me contou?
- Eu não sabia que você sabia disso e quando soube, fiquei tão atormentada com a verdade que nem pensei nisso.
- Então você o ama?
- Amo. Mas não terminei ainda. Quando ele esteve por aqui... Nós nos envolvemos. Mas tudo terminou no dia do acidente. Discutimos e a culpa foi minha dele ter se machucado. - Senti meus olhos marejarem. - Eu sei que ele é o seu irmão, mas não conseguimos evitar. Nos amávamos e aconteceu.
Ele continuava a me olhar de forma indescritível.
- Você conseguiu mudar um cara de uma forma que nunca imaginei. - Sorriu. - Ele gosta mesmo de você e te merece.
- Então...
- O quê?! Como pensou que te julgaria se tenho telhado de vidro?
O abracei forte.
- Obrigada.
Mas antes que percebesse as lágrimas vieram e me afagou.
- Ele vai voltar, . Ele vai voltar.
- Eu sei, mas é tão difícil não o tê-lo aqui... Principalmente agora. - Fiz um carinho em minha barriga.
Ele me olhou sem entender, mas logo arregalou os olhos.
- Você está gravida? - Estava surpreso.
Apenas assenti.
- Ele sabia?
Neguei.
- Só descobri depois.
- Teremos que contar aos meus pais.
- Não será meio estranho?
Ele assentiu, sorrindo.
- É melhor esperarmos mais um tempo. Até eles absorverem o não casamento, mas saiba que pode contar comigo para tudo do meu sobrinho.
- Obrigada. - Sorri.
- E não se preocupe. Ele já, já vai estar aqui com você e esse bebê.
E era isso que eu esperava.


- Ele o quê?! É impossível de acreditar.
- Ele sempre foi legal, Jane. Você que sempre teve de implicância.
Ela revirou os olhos.
- Eu achava que ele no mínimo te chamaria de vadia.
- Eu também. - Suspirei. - Mas nada poderia ter sido melhor. Agora que ele gosta de outra, acho que para ele não faz menor diferença com quem eu tenha alguma relação. - Dei de ombros.
- E eu... Sempre estive certa!
Revirei os olhos.
- Vai começar?
Ela riu.
- Ainda não. - Fez cara de má.
- Você sabe que não posso me estressar, não é?!
- Deixo essa passar por causa do meu sobrinho ou sobrinha, porque quero que ele ou ela nasça.
Sorri.
- E também te perdôo por não ter sido a primeira a saber.
Abri mais o sorriso.
- Já marcou uma consulta com o obstetra? Tem que começar o pré-natal.
- Já sim. Vou amanhã. Queria que viesse comigo.
- Nem precisava dizer. Eu já iria de qualquer forma.
Sorri.
- Obrigada, eu não queria ir sozinha. - Suspirei. - Mas terei que me acostumar. Não sei quando o vai voltar e infelizmente nosso filho não pode esperar.
- Ei, - passou a mão em minha barriga. - Não se preocupe. Enquanto ele não estiver, eu vou estar e te ajudarei em tudo que puder. Não é, titia?
Sorri.
Naquele momento eu precisava tanto dela e ela estava ali, ao meu lado, como sempre esteve. Ser mãe sozinha não sei por quanto tempo não seria nada fácil e aquele momento era o que eu mais precisaria de todos.


Bati na porta e suspirei antes de entrar.
Jane veio ao meu encalço.
Nós duas sabíamos que eu precisava vê-lo antes de descobrir como estava nosso bebê. Eu precisava no mínimo sentir que ele estava ali mesmo que só em meu consciente.
- Pode entrar. - A voz da minha ex-sogra permitiu minha entrada e naquela hora temi pelo bombardeamento que poderia vir em seguida.
- Querida... - Me cumprimentou enquanto eu entrava.
Ela me abraçou e eu retribuí.
- Como está?
Tudo bem. Aquilo foi 100% inusitado.
- O me explicou porque desistiu do casamento. E fico feliz que vocês tenham voltado a ser amigos. Foi uma pena não ter dado certo, mas ainda bem que perceberam que não se gostavam mais antes de se casarem.
Bom saber que ele não havia contado tudo.
- Veio ver o ?
Assenti.
- Como ele está?
Suspirou.
- Do mesmo jeito.
Me aproximei da cama e minha amiga me acompanhou.
- Ah, essa é Jane. Uma amiga.
- Prazer. Eu trabalhei com o na época em que substitui o . - Jane explicou. - Eu sinto muito.
- Obrigada, querida.
Desviei minha atenção da conversa e voltei a encará-lo.
Parecia tão mais pálido que na noite anterior... A angústia se abateu sobre mim. Eu poderia perdê-lo para sempre. Nós poderíamos e agora grávida...Por que fui brigar com ele naquele bendito dia? Por que não o impedi de sair com aquela moto daquele jeito?
Senti as lágrimas virem e não consegui segurá-las.
A mãe de me abraçou.
- Você gostava muito dele, não é? Ele vai voltar, querida. Não podemos perder nossa fé. Mesmo que demore muito, um dia, ele vai voltar.


- E então, doutora?
Eu já estava ansiosa por alguma resposta, mas ela apenas passava aquela coisa metálica pela minha barriga e não dizia nada.
- Calma, mamãe... Eu ainda sou muito pequenino. Só tenho dois meses, mas você está mesmo grávida. Está aqui. Irei receitar algumas vitaminas para você tomar durante a gestação e daqui a um mês marque com a minha assistente para retornar. O bebê ainda está em formação e é muito pequeno. Infelizmente ainda não dá para se ver quase nada. Você ainda nem barriga tem, mas isso vai mudar depois dos quatro.
Assenti.
- Mas ele está bem, não é?!
- Está, não precisa se preocupar. - Guardou o negócio que usou para passar em minha barriga e me deu alguns papéis toalha para me limpar.
- Agora é sempre bom tomar alguns cuidados nos primeiros meses para não ocorrer um aborto espontâneo. Não pegar em peso, nada de sustos ou fortes emoções.
- Está escutando, não é? - Jane me provocou.
- Certo doutora, farei o possível.
- Fará mesmo. Ficarei de olho e nada de ficar se preocupando com o . Ele não iria querer que você colocasse a vida do filho de vocês em jogo por ele.
- Isso eu não posso prometer que não farei, mas irei tentar. Pelo bem do bebê.


Sai do banheiro colocando uma roupa confortável.
Eu estava tão exausta depois do dia que havia tido.
Mil e um problemas para resolver na empresa e apesar do meu ex estar me ajudando ao máximo, ele tinha a empresa de seu pai para administrar, não seria justo com ele pedir que me ajudasse mais. E com resultado disso, lá estava eu chegando em casa de madrugada.
Por um lado tudo aquilo era bom. Assim eu não pensava mais em . Eu não queria pensar porque... Se tornara tão doloroso.
Fui até a cozinha para comer alguma coisa, mas eu não resistira de olhar para o quarto em que há meses atrás ele dormia.
Caminhei lentamente até a porta fechada, a abrindo. Acendi a luz iluminando o cômodo e tudo continuara da mesma forma. Só um pouco mais empoeirado.
Fui até seu closet e tudo normal. Mas afinal, como queria que mudasse? Há muito ele já não habitava aquele lugar e eu era tola por estar ali a espera de que acordasse daquele pesadelo e tudo fosse um terrível sonho.
Sem resistir peguei uma de suas camisas, sentindo seu cheiro. Há quanto eu não o sentia? Há quanto eu não tinha seus braços ao meu redor... A falta que me fazia era tão profunda... E uma terrível parte minha temia ele nunca mais voltasse.
Sim, eu criaria nosso pequeno ou nossa princesa, mas nada seria como se tivesse ele ali comigo.
Será que nunca existiria um final feliz para nós? Será que não éramos para ficar juntos de forma alguma? Será que o nosso amor nasceu apenas para comprovar que o amor nem sempre é o bastante para superar a vida?
De nada daquilo eu tinha a resposta. Mas a única coisa que sabia era que eu amava aquele homem e que se tudo terminasse assim, pelo menos por uma coisa eu poderia agradecer. Pelo pequeno infinito que tivemos juntos.


Os dias haviam passado e já fazia dois meses que o estava em coma. Já entrava no terceiro mês de gestação e minha barriga já se desenvolvia bem. Já dava para perceber a gravidez com a protuberância que minha barriga atingia, e por isso havia resolvido usar roupas mais folgadas.
Não por ter vergonha, mas por tentar manter aquilo escondido dos pais do . Não me entendam mal. Eu quero que eles tenham contato com o bebê, mas não sabia se conseguiria contar tudo para eles só, ainda mais com o peso das palavras de desgosto destinadas a mim, que eu tinha a noção de merecer.
As pessoas nunca iriam entender o meu envolvimento com o estando com o irmão dele e eu entendia. A sociedade ainda tinha muito que crescer para isso. Mas eu não me importava com nada disso, eu só me perguntava quanto tempo demoraria para meu filho e eu estarmos com o pai dele, e tudo ser mais fácil para os três.
Mas sabia que mais cedo ou mais tarde teria que contar. Teria que parar de ser covarde e contar. Não havia mais como esconder aquilo. E aquilo estava mais perto que nunca de acontecer.
Sai do carro e ajeitei o casaco.
- Me deseje sorte, filho.
Entrei no hospital e passei direto para os apartamentos onde ficavam os internados. A cada segundo que eu me aproximava do seu quarto, eu sentia cada gota de coragem se esvair, por isso aprecei o passo.
Bati na porta duas vezes antes de ser permitida a minha entrada.
- ...
- Olá. Como ele está? - Questionei aos pais dele.
Aquilo estava cada vez melhor... Seriam os dois de uma vez? Parecia que sim.
- Da mesma forma, mas meu filho é forte. Vai superar isso. - O pai dele respondeu.
Suspirei e me aproximei do . Fiz um carinho em seu rosto com a mão e senti meu coração aquecer com esse simples gesto.
Queria que ele me passasse coragem e me desse conforto inutilmente.
- Você está mais bonita. Radiante. Os cabelos brilhosos... Está de namorado novo? - Minha ex-sogra me fez olhá-la
Corei.
- Querida, você sabe que o já está com outra pessoa e é natural que você também...
- Não estou namorando. - Suspirei. - Na verdade vim falar com vocês dois sobre algo muito importante.
Eles pareceram surpresos.
- Então diga. - O avô do meu bebê me incentivou a continuar.
Suspirei tomando coragem. Peguei uma cadeira e a puxei para próximo dos dois.
- Vocês sabem porque eu e o filho de vocês terminamos. Não nos gostávamos e sim de outras pessoas que nos envolvemos. - Eles assentiram e eu continuei. - Antes de conhecer o , eu já conhecia o . Nós já havíamos ficado juntos, mas vocês não sabem disso porque não foi nada sério. Nos gostávamos de verdade, mas naquela época não éramos para ficar juntos. Eu não sabia que o era irmão do quando nos comprometemos e depois, na época da viagem do , acabamos ficando mais próximos com o passar do tempo, e percebemos que não havíamos esquecido um do outro.
- Então você está dizendo que foi pelo que vocês romperam? - A mãe dele me questionou.
- Não. De qualquer forma nunca daríamos certo se não nos amávamos de verdade. Merecíamos ser felizes com quem amávamos e não com quem achávamos amar. - Suspirei voltando a história. - Quando o sofreu o acidente, eu havia dito que não terminaria com o . Não podia fazer isso com ele, mas tudo foi antes de saber que ele não gostava mais de mim, e antes de saber que estava... - O nervosismo me tomou. Olhei para aquelas duas pessoas que me olhavam com um olhar confuso tentando entender tudo daquela história. –Antes de saber que estava grávida. - Pensei a mão na barriga.
- O quê? - O pai dele parecia não acreditar. - Essa criança...
- É do . Não pretendíamos isso, mas aconteceu. - Senti as lágrimas se formarem. - Ele nem chegou a saber... Se eu soubesse antes, se invés de brigarmos naquela noite eu tivesse contado que ele seria pai, ele não estaria nesse hospital. Eu deveria ter notado os sinais antes. - E as lágrimas vieram com força total.
- Querida, não. Você não tem culpa. Aconteceu o que deveria. - Ela se levantou e veio até mim, me dando um abraço. - Como conseguiu esconder isso de mim por tanto tempo? Olha o tamanho dessa barriga!
Sorri.
- Um neto... Ele sempre quis um filho e você deu esse presente a ele minha querida. - Ela passou a mão em minha barriga. - Meu neto.
Sorri.
- Eu queria contar com ele, mas já não tinha como esconder mais.
- Já da para saber se é menina ou menino? - O avô me questionou, se levantando.
- Ainda não sei. Queria descobrir tudo com ele, mas...
- Não se preocupe, querida, iremos te ajudar e... É o nosso primeiro neto! Imagina ele ou ela me chamando de avô!
Ele riu.
Aquilo não poderia ter saído melhor e eu fazendo uma tempestade no copo d'água.
Olhei para o pai do meu bebê. Naquele instante eu senti que tudo daria certo e que mais cedo ou mais tarde estaríamos com ele.


Peguei os papéis que faltavam para assinar e sai de minha sala.
Caminhei pelo corredor até a sua sala, que há poucos meses atrás era ocupada por seu irmão. E para varear um pouco (só que não), Jazz (sua secretaria e mais conhecida por “amor” do . - Sim, foi por ela mesmo que brigamos e aquele blá, blá, blá que vocês já sabem de cor).
Revirei os olhos e entrei na sala de meu amigo.
- Eu trouxe os papéis que...
Aquilo só podia ser brincadeira!
O que aquela vadia estava fazendo com as mãos na gravata do meu ex?
- , eu...
- Queridinha você é bem rápida, não? Por que invés de ficar correndo atrás de homem que está comprometido, não vai pelo menos visitar o irmão dele?
- Comprometido? Que eu saiba ele não está mais com você. – Jazz me olhou dos pés a cabeça. – E já posso imaginar porque... Mulher grávida deve ser um saco mesmo. – Sorriu para .
- E nós não estamos mais juntos mesmo, mas não é por ela estar grávida. Muito pelo contrário, eu adoraria ser o pai dessa criança e ser companheiro de uma mulher maravilhosa como a .
- E depois eu que sou rápida... Não esperou nem dois meses de término e já está ai, grávida de outro...
- Escuta aqui... Você não tem autonomia nenhuma para falar de mim! Afinal, você não esperou nem fazer três meses que seu namorado estar em coma para estar dando em cima do irmão dele. E a propósito... Nem ao menos foi visitá-lo no hospital.
Ela sorriu vitoriosa. E eu não entendi o porquê.
- O entende que sou uma pessoa ocupada. Mas não se preocupe, assim que ele acordar, eu serei a primeira pessoa que ele irá chamar e voltaremos com o nosso romance. Não precisa se preocupar chefinha. Agora se me dá licença... – Saiu da sala.
Aquilo foi como um balde de água fria. O que eu estava pensando? Ela estava certa. Quando ele acordasse, voltaria para ela e não para mim. Apesar de termos um filho, isso já não significava nada.
Assim que ela saiu senti minhas pernas vacilarem e correu para me segurar.
- Calma... – Me pegou no colo e me sentou na cadeira. – Você não pode se estressar.
- Eu estou bem... – Passei as mãos no rosto segurando a vontade de chorar.
Eu estava tão emotiva...
Ele foi até sua mesa e pegou um copo o enchendo de água que havia em uma jarra, e me entregou.
O tomei já me sentindo melhor.
- Está melhor?
Assenti.
- O que ela quis dizer com...
-Foi por ela que terminamos. Ele... – Baixei minha cabeça sem conseguir encara-lo. – Eles estavam juntos e ele a amava. – Senti meus olhos umedecerem.
- Não. Deve haver algum engano. Ele nunca esqueceria da garota da praia.
Sorri.
- Ele se esqueceu. Ele a amava. – Passei a mão na barriga. – Ele me disse isso. Foi por isso que eu o mandei embora da minha vida.
- Eu sinto muito... – Colocou a mão em cima da minha que repousava sobre a mesa.
Sorri para ele.
- Você não tem culpa. Ninguém tem. Eu só espero que ele não sofra com ela e você... Não deixa a Helisa por ela não. A Helisa gosta de você de verdade e você gosta dela. A Jazz não vale a pena.
- O que você viu aqui... Ela que veio me beijar.
Sorri compreensiva.
Apenas toma cuidado com ela. Não deixa a Jazz destruir também o que você construiu. Eu deixei e olha onde estou. Não quero que a história se repita.


- E, então. Vamos começar?
Assenti e me deitei na maca.
A minha amiga e a mãe do se aproximaram de mim, ficando ao meu lado para poder ver bem o bebê pela tela da pequena TV.
Um estranho nervosismo se abateu sobre mim. Eu queria tanto saber como estava o meu pequeno, que mal me aguentava de ansiedade.
A avó do meu bebê segurou em minha mão, me passando força e eu relaxei mais.
- E então, estão prontas para ver como está esse bebê?
- Você não imagina o quanto. Eu estou ansiosa, mas elas estão bem mais. Principalmente depois que me perguntaram se eram gêmeos por causa do tamanho da barriga.
- Doutora, há essa possibilidade ou não? - Ângela, a avó de meu bebê a questionou.
A médica sorriu.
- Podem ser dois sim.
A olhei.
Não que eu já não tivesse pensado nisso. Depois que colocaram isso em minha cabeça, eu havia pensado muito naquilo, mas conclui que não. Caso o contrário a doutora teria visto.
- Mas se fossem você teria visto antes, não é?! - A questionei.
- Gêmeos só costumam ser identificados depois dos três meses, porque costumam se esconder um por trás do outro e uma das crianças pode acabar passando despercebida no estágio inicial. Às vezes o batimento cardíaco é identificado em um saco gestacional e não no outro, e só com três meses é que fica comprovado que são mesmo dois bebês.
Olhei para as outras duas mulheres na sala. Elas sorriram.
- E então, estão preparadas para tirar essa dúvida?
Assenti mordendo o lábio. Aquilo era o que mais queria. Se fossem dois... Ele ficaria tão feliz...
Meus olhos marejaram.
- Olha aqui o seu bebê, mamãe.
Aquilo chamou a minha atenção total.
- Aqui está os pés... Os dedos... - Enquanto ela falava mexia no teclado capturando as fotos do bebê.
Meu coração disparou ainda mais enquanto olhava aquela coisa pequenina do tamanho de uma mão pelo ultrassom. Era o meu bebê. O meu filho...
Senti as lágrimas começar a umedecer minha face.
- E como ele está? - Jane se pronunciou.
- Está com o peso certo. Está tudo bem mamãe e família, podem ficar tranquilas. Ainda não dá para ver o sexo porque ainda está se formando a genital, mas próximo mês você com toda certeza saberá.
Olhei para todas na sala e elas estavam entorpecidas como eu por um sentimento que não havia explicação. Era maior que qualquer uma de nós.
- Se fosse nascer hoje, seria normal. O bebê está na posição correta. E... olha o que temos aqui... Então vocês estavam mesmo certas. Parabéns, mamãe. São dois bebês. Olha aqui o segundo.
Um gritinho de animação ecoou pelos meus ouvidos e eu nem precisei olhar para saber quem era.
Olhei para o meu segundo bebê e as lágrimas desceram com mais intensidade.
- Vamos vê como está esse bebê... A cabecinha é essa aqui e esse é o pescoço. Aqui estão os braços e... cinco dedos em cada mão.
- Como ele está? - Perguntei preocupada.
- Está apenas com algumas gramas a menos, mas está no peso e tamanho certo. Seus bebês estão ótimos mamãe e querem escutar o coraçãozinho dele?
- Sim! - Elas responderam antes de mim.
Eu enxuguei as lágrimas de meus olhos para vê-lo bem.
Tão pequeno igual ao outro. Senti meus olhos voltarem a encher de lágrimas. Meus dois filhos. Meus dois amores.
Logo o som de tum, tum, tum duplo fez as lágrimas descerem pela minha face. Eram tão bonitos... Eu não sabia explicar mais o amor que eu sentia por essas duas coisinha era maior do que eu mesma. Eram meus bebês, meu futuro. Eram tudo para mim dali em diante e eu era a mulher mais feliz do mundo por os ter.
- Awn, vovó... O pai de vocês adoraria estar aqui para ver isso.
Mais lágrimas vieram molhar meu rosto. Eu estava tão entorpecida de sentimentos...
- Mas não vai faltar oportunidade. Ainda tem mais seis para ele ver. Isso se esses bebês não forem apressados. - Minha amiga aliviou o clima.
- Na próxima, crianças, ele vai estar aqui com vocês. Algo me diz isso.
E eu não mentia. Logo estaria conosco e finalmente seríamos uma família, se ambos quiséssemos.


- 3...2...1! Prontos ou não aí vou eu!
Logo os risinhos finos ecoaram pela casa.
- Aham! Achei vocês!
As duas correram pela casa e fingiu que elas conseguiam ganhar dele fácil.
- Me salvei! - As gêmeas gritaram. - Papai perdeu... Papai perdeu...
Sorri observando a cena de longe.
- Por que vocês não ensinam ao pai de vocês como se faz? - Me aproximei, entrando na sala.
Ele endireitou o corpo.
- Há quanto tempo estava aí?
Dei de ombros.
- A babá deixou que eu entrasse.
Assenti.
- Mamãe, o papai trouxe um vestido lindo para a gente! - Minhas filhas estavam animadas.
- E disse que iríamos usar no casamento dele. - A outra complementou.
Aquilo me atingiu em cheio.
O olhei.
- Por que não vão pegar para me mostrar?
As duas saíram correndo mais uma vez pela casa.
- Eu não sabia que iria casar.
Ele me olhou.
- Eu a amo e já deveríamos ter feito isso há muito tempo.
Aquilo me machucou e eu percebi que a ferida em meu peito ainda sangrava.
Sem perceber uma lágrima solitária escorreu pela minha face.
- A ama?
- Isso não é novidade para você. Eu não te amo. Deixei de fazer isso quando me apaixonei por ela. Sinto muito.
Vi pena em seu olhar e aquilo ainda me magoou mais.
Eu já o tinha perdido sem perceber. Já o tinha perdido... Não para a morte, mas para outra e no fundo, preferia não tê-lo comigo, do que nunca mais o ter.
- Eu só sou o pai de suas filhas. E você vai ter que se acostumar com isso.

Meu corpo estava suado e eu tremia. Aquele pesadelo havia sido uns dos piores de minha vida.
Liguei o abajur ao meu lado. Tirei as cobertas de cima de mim e me levantei da cama.
Eu não sabia ao certo o que estava acontecendo comigo, mas uma vontade súbita me chamava para ir ao quarto do , e mesmo sem saber o porquê, eu fui.
Aquele espaço de quatro paredes me causava arrepios de saudade. Eu senti tanto a falta daquele que seria o pai dos meus bebês, que já não cabia em meu peito. Eu só o queria de volta.
Fui até o seu closet e peguei sua camisa a cheirando.
Havia tanto tempo que não o sentia, que me perguntei se ainda reconhecia seu cheiro.
O soar do meu celular tocando me despertou de meus devaneios e eu votei ao meu quarto com presa. Peguei o telefone vendo que ainda eram 2:00 horas da manhã, mas ao ver que era que me ligava, não pensei duas vezes para atender.

Ligação ON :
- , estava dormindo? - Ele parecia relutante e eu não gostei nada daquilo.
- Não, eu tive um pesadelo e... O que aconteceu?
- Você está sentada?
- ! Por favor, assim você só está me deixando mais nervosa!
- Tudo bem, se acalme. - Ele deu uma pequena pausa. - Ele acordou.
E com aquelas duas simples palavras, meu mundo voltou mais uma vez a girar.
Ele finalmente havia voltado para nós.



Loving can hurt
Loving can hurt sometimes


Entrei no hospital com o coração acelerado. Apesar de ter medo de como ele agiria, afinal, a última coisa que lembrava era a nossa briga, eu mal podia me aguentar de ansiedade.
Estava ansiava tanto em vê-lo. Contar sobre os nossos filhos e tentar resolver tudo. Eu o amava e estava pronta para dizer aquilo.
Dei duas batidas na porta antes de me mandarem entrar.
Sentia que a qualquer momento o meu coração iria saltar pela boca, e quando o vi foi como se os segundos se transformassem em minutos.
Ele me olhou e não esboçou nenhuma emoção, apenas continuou como estava. Eu me questionei se aquilo era bom ou ruim.
Sorri para ele.
Ele não deu outro de volta como sempre fazia. Não falou nada e aquilo me doeu. E o pior de tudo aquilo era ver o olhar dele para mim. Confuso e vazio.
Será que estava tão magoado ao ponto de me odiar?
- Como você está? - O questionei.
- Estou machucado ainda e algumas partes ainda doem, mas ficarei bem. - Ele me respondeu, mas de uma forma tão vaga que era como se nunca tivesse nem ao menos me visto na vida.
Sua rejeição era como mil farpas sendo enfiadas sem dó em meu peito.
- O doutor disse que ele ainda teria que passar algum tempo aqui, querida, para se recuperar. já fez alguns exames depois que acordou e estamos esperando os resultados.
Assenti.
- Iremos deixar vocês a sós para conversar. - se pronunciou.
- E eu a conheço?
Aquela simples frase falada de forma tão curta, fez todos no quarto o olharem.
- Conheço? - Parecia confuso.
- , não se lembra da ? - O pai dele o questionou.
Ele negou.
Se eu ainda não havia sofrido o golpe de pura misericórdia, havia sido agora.
Olhei para os pais dele e eles me olharam com tristeza.
- Irei chamar o médico. - saiu do quarto.
Voltei a olhar o homem que tanto amava e agora eu podia entender seu olhar. Ele havia esquecido de mim, da forma mais terrível. Era como se nosso passado nunca tivesse existido e tudo não tivesse passado de um sonho meu. Mas aquilo não era verdade. Estavam nossos bebês crescendo em meu útero para provar que era verdadeiro.
- Eu deveria lembrar de você?
Suas palavras a cada segundo me dilaceravam cada vez mais e as lágrimas já se formavam em meus olhos quando decidi sair dali.
- Não. Eu... Não sou ninguém importante. Desculpem, tenho que ir.
Sai do quarto tão rápido quando entrei, dando de cara com e o médico.
- Por favor, espere aqui. Irei olhar o que está acontecendo e volto para falar com você.
Assenti sem poder dizer nada com a batata entalada na minha garganta.
Meu ex me abraçou.
- Você não pode ficar assim. As crianças...
- Ele não lembra de mim . Não lembra. - E sem conseguir mais conter as lágrimas, elas vieram com força total.


O resultado dos exames havia saído. O doutor já tinha um laudo e eu temia por tudo aquilo.
Tudo havia sido tão diferente do que tinha imaginado, e naquele instante eu me sentia péssima.
Não sabia do futuro que resguardava para mim e meus bebês e aquilo me assustava. Eu precisava tanto dele naquele momento... Nós precisamos. Havia sonhado tanto com o dia em que acordaria e agora, parecia que só havia piorado as coisas.
O doutor havia me chamado até a sala e Angela havia vindo comigo. Eu estava nervosa demais para fazer aquilo sozinha.
Senti um arrepio percorrer minha espinha com as feições do médico. Ele parecia apreensivo em ter que me contar o resultado dos exames e algo me dizia que aquela conversa não seria nada otimista como queria que fosse.
- Eu não vou enganar vocês. - E naquele instante o resquício de esperança se esvaiu completamente do meu coração. - Não tenho boas notícias. Eu sinto muito, mas passou por uma lesão traumática muito grande. Houve um trauma muito intenso na camada cefálica o que acarretou no esquecimento de alguns acontecimentos de sua vida, mas especificamente de tudo que envolvesse a senhorita . A amnésia dissociativa ou amnésia psicogênica, ocasiona nessa perda da memória, geralmente é relativa a acontecimentos importantes recentes e é mais frequente que seja parcial ou total. Podendo ser utilizada para anular um acontecimento importante de sua vida, mas que o mesmo quisesse esquecer. E foi isso que ocorreu.
Então ele queria me esquecer?
Olhei para a mãe dele. Ela me olhava com tristeza e eu me perguntei como aquilo poderia ficar pior.
- Por... Por quanto tempo? - O questionei.
- Eu sinto muito, mas poderá ser permanente. É incerto.
- Então ele nunca lembrará de mim? – Eu a tal altura já me encontrava atordoada.
- Eu sinto muito.
Naquele instante eu sabia que enquanto o sofria aquele maldito acidente, ele apenas não havia esquecido de mim, mas eu havia morrido para ele e para o futuro que poderíamos ter tido juntos.
- E se contarmos a ele? Meu filho poderia lembrar dela e...
- Eu sinto muito. Em outros casos seria o correto a fazer gradativamente é claro, mas no local onde foi o trauma dele, forçar a memória poderia fazê-lo retornar ao coma. Ele terá que lembrar de tudo por conta própria. Eu sei que é difícil o que terei que pedir a vocês, mas se quiserem vê-lo bem, jamais poderá contar sobre a senhorita a ele. Se ele a bloqueou foi por algum motivo. Ninguém bloqueia outra pessoa por nada. Se forçarmos a ele a lembrar de algo que não quer, poderia ser fatal e não podemos correr esse risco.
Passei a mão em minha barriga.
- Não mesmo.- Olhei para Angela limpando as lágrimas. - Eu irei sumir da vida dele, como se nunca tivesse existido.
- Mas querida e as crianças?
- Vocês poderiam vê-las sempre que quiserem e ele também, mas... Nunca saberá que é o pai. Não tem como ser de outra forma. Se ele souber que eu sou a mãe, poderá forçar a sua memória.
Ela me abraçou e mais uma vez naquele dia, senti meus olhos marejarem.
- Calma, querida... Você o ama não é?! O ama de verdade. Eu vejo nos seus olhos.
Sorri.
- Mas descobri tarde demais a verdade. Dei mais importância à razão do que ao que sentia e agora... É a coisa mais difícil da minha vida, mas se é pela vida dele, vale a pena.
Não podia explicar o que sentia naquele instante. Em um só dia eu havia perdido quase tudo e a única coisa dele que ainda era minha, crescia em meu ventre, só era uma pena ele não saber.


Estava deitada na cama que um dia fora dele sozinha. Seu cheiro ainda impregnava os travesseiros e era a única forma que tinha para lembrá-lo.
O doutor havia receitado alguns medicamentos para que me acalmasse e tomara pelo bem das crianças porque por mim... teria que sentir a dor para sempre. Mas eles sentiam tudo e eu não poderia correr o risco de perdê-los também.
Jane estava comigo em casa. Após insistir que precisava ficar só, ela me deixou repousar a cabeça onde já tanto havia feito aquilo. Na cama dele. Porém tudo era difícil demais. Não tê-lo, era doloroso demais para mim e desta vez era para sempre.
- Você não acha que é melhor voltar ao seu quarto?
Neguei.
- ... Eles precisam de você. - Passou a mão em minha barriga. - Você mais que nunca precisa ser forte.
- Eu sei. - Suspirei. - Eu estou tentando Jane. Se não fosse por eles, nem sabia como iria estar. - Passei a mão na barriga. - São meu tudo agora. - Sorri boba. – Mas por favor, me deixa só por hoje. Só por mais um dia chorar. Eu preciso disso. Só por hoje.
E logo senti algo completamente diferente em mim. Era muito parecido com a sensação de quando está com fome, mas ao mesmo tempo completamente diferente. Eu sentia como se algo estivesse sendo empurrado dentro de mim. De dentro para fora.
Olhei para a minha amiga e ela me olhou com os olhos arregalados.
- Mexeu! - Dissemos na mesma hora.
- Awn titia...
- Nós agora que aprendemos, titia, estamos muito agitados. - Falei enquanto os sentia pressionar em minha barriga.
- Muito bem meus amores, façam a mamãe sofrer.
- Estou pensando seriamente em te tirar do posto de dinda. Se você já está ensinando a ser ruim comigo antes de nascer, avalie depois.
- Nada disso! Por isso que eu tenho que ser a madrinha. Focar na parte não construtiva e sim divertida.
Revirei os olhos.
Coitados dos meus bebês e se a Jane queria mesmo me fazer esquecer de tudo, ela havia conseguido.


Os dias se passavam e eu já entrara no quarto mês de gestação.
havia saído do hospital há algumas semanas. O que para nós seria em alguns dias, acabou se tornando quase um mês devido alguns problemas de atrofiamento depois de tantos meses sem qualquer locomoção dos músculos. Mas agora ele já se encontrava bem.
Por enquanto morava no apartamento do , já que o meu ex se mudaria definitivamente para o Brasil. A maioria de suas coisas já haviam sido levadas, como se ele nunca tivesse passado por aqui. Aquele era o plano. E como ele decidira não voltar para a casa dos pais, a França era um bom lugar para permanecer. Pelo menos era o que ele dizia a todos.
Enquanto a nós dois... As únicas informações que tinha sobre ele, era por seus familiares. Não havia me aproximado novamente, assim como prometera a todos. Havia optado por uma escolha e a levaria até o fim. Não havia outra forma de fazê-la.
Enquanto aos nossos bebês, finalmente havia percebido que não havia como seguir com tudo aquilo, me prendendo a ser justa com o .
Ele nunca poderia saber dos nossos filhos, então naquele momento eu tinha que ser justa comigo e fazer o melhor para nós três. E depois de uma decisão tomada, a descoberta do sexo dos bebês finalmente aconteceria.
Eu estava completamente ansiosa para tudo aquilo e não via a hora de saber se seria dois rapazes ou duas moças para finalmente começar com o enxoval.


- É assim que eu gosto... Linda e produzida. – Jane entrou em minha sala.
Sorri olhando minha roupa.
- O que está fazendo aqui? A consulta é só no final do expediente.
- Eu sei, mas... Eu tenho uma novidade que não vai te agradar em nada...
Desfiz imediatamente o sorriso que carregava no rosto.
- Diz logo, Jane.
- O seu querido ex quer que o fique no lugar dele mais uma vez aqui na empresa.
- O quê?! Ele está maluco? – Gritei.
- Foi o que eu pensei... Mas não fica estressada. Lembre-se das crianças. Você ainda está com quatro meses e não pode ter um parto prematuro ainda.
Parei e respirei fundo, tentando me acalmar.
- Eu vou lá. – Me levantei de minha cadeira.
- Eu vou com você.- Minha amiga me seguiu.
Passei pelo corredor e parei apenas quando cheguei de frente da sua sala, dando de cara com a Jazz.
- Avise ao Sr. que estamos aqui.
- Sim senhora. – Ela falou debochada.
Revirei os olhos.
- Eu não sei porque você ainda não despediu essa puta. – Minha amiga afirmou.
- Não vale a pena.
- As senhoritas podem entrar. – Jazz saiu da sala dando passagem.
Passei pela porta e Jane me seguiu, a fechando.
- Que história é essa do seu irmão vir trabalhar aqui?
- Você já foi contar, não é Jane?!
Minha amiga deu de ombros.
- Eu vou embora para o Brasil. Não posso deixar a empresa abandonada.
- Venda sua parte. Se quiser, eu compro. – Argumentei.
Ele sorriu.
- Eu não acho que isso seja conveniente.
- Mas seu irmão vir trabalhar aqui você acha. Por Deus! Você sabe muito bem que não podemos forçar as lembranças dele. Ele aqui...
- Não estamos forçando nada. Ninguém vai contar nada.
- Mas ele pode...
- Assim ele pode se lembrar de algo na cidade toda!
- Eu sei o que você está tentando fazer! Por favor... Não podemos correr esse risco.
- Se nunca tentarmos, ele nunca lembrará.
- Eu já estou conformada com isso.
- Mas eu não. Meus sobrinhos merecem conhecer o pai. Ele adoraria saber.
- Mas ele não pode... Você acha que eu também não queria? A coisa que mais quero é que eles conheçam o pai. – Passei a mão na barriga. – Mas essa decisão precisou ser tomada. E foi a minha decisão. Não a torne mais difícil do que já é.
- Eu sinto muito, , mas eu não poderei fazer isso.
-
- Essa é minha decisão final.
Revirei os olhos.
- Eu te odeio.
- No final você vai me agradecer. – Ele me abraçou e eu retribui. – E então, esse ultrassom sai hoje?
Sorri.
- Saí sim, titio. Hoje saberemos o sexo dos bebês. – Passei a mão na barriga.
Ele sorriu.
- Não esqueça de me avisar assim que souber. Eu darei um jeito dele saber. – Me soltou e voltou até sua cadeira.
- … o que você está planejando?
- Pode ficar tranquila que não vou colocar seu “plano” em risco cunhadinha.
Revirei os olhos.
- Agora, se me dão licença... Eu tenho que terminar de organizar tudo antes da minha viagem.
Me despedi dele e sai da sala, ainda com a Jane sem dar um piu.
- Sabe... Até que eu gosto dele.
Revirei os olhos.
- Claro que gosta...


- E então, mamãe, está pronta? – A doutora me questionou.
Suspirei, tomando coragem.
Em poucos segundos eu tiraria a dúvida que tanto me martirizava.
- Estou. – Respondi e a Ângela apertou minha mão.
- Vamos lá vê se esse bebê deixa a gente saber... O que a mamãe quer?
- Eu queria que fosse duas meninas, já venho sonhando com garotinhas faz algum tempo, mas vindo com saúde...
- E a dinda e vovó?
- Meninas. – Elas responderam.
- Então é unanimidade. – Sorriu. - E o pai e rapazes da família?
Olhei para Ângela.
- Ele sempre quis um casal. – A mãe dele respondeu. – Já o tio e o avô querem dois meninos.
- Na maioria das vezes é assim. As mulheres querem meninas e os homens garotos. E vocês já escolheram os nomes?
- Ainda não. – Respondi.
- Tudo bem, então vamos lá... – Ela passou o instrumento de metal mais uma vez em minha barriga. - O avô e o tio perderam. A primeira é uma menina.
- Ah...
Todas gritaram na sala e foi aquele alvoroço.
- Meu amor... – Falava louca de vontade de passar a mão na barriga, algo que já se tornara um hábito.
Era tão maravilhoso aquele sentimento de ser mãe, que nem eu sabia ao menos explicar.
- Agora vamos para o segundo... Outra menina. As mulheres da casa estavam certas. – Sorriu. – E digo mais... Univitelinas.
Olhei para a avó das minhas meninas sorrindo.
Duas meninas... Duas princesas. Minhas princesas.


Coloquei o casaco e peguei as chaves de casa, colocando em minha bolsa. Desci pelo elevador e assim que chegou no hall cumprimentei o porteiro.
Coloquei os pés para fora do prédio e logo senti a brisa do inverno que se aproximava esvoaçar meu cabelo. Puxei mais meu casaco para me cobrir mais e sai pelas ruas da França.
As pessoas pareciam mais preocupadas com suas vidas do que nunca naquele instante. E lá estava eu, acima de tudo aquilo, com a única preocupação inerente de comprar o enxoval das minhas pequenas.
Você deve estar se perguntando por que estou só. Veja bem, eu preciso disso. Preciso ter esse tempo só nosso. Estou começando a ficar sufocada com todos em cima de mim a toda hora. Gente eu estou grávida, não com uma doença grave que posso morrer a qualquer segundo!
Caminhei mais a frente encontrando algumas lojas de departamento infantil e eu me aproximei da vitrine de uma onde havia um quarto montado.
Sorri para mim mesma. Eu mal podia esperar para os delas estar da mesma forma.
Entrei na loja e logo uma atendente veio até mim.
- Bom dia.
- Olá. Eu gostaria de dar uma olhada nos enxovais para meninas. Mas tem um detalhe... São gêmeas. – Passei a mão na barriga.
Ela sorriu.
- Então estamos com sorte... Chegaram uns conjuntos para berço muito parecidos. Qual é a cor que prefere?


Eu estava exausta. Já havia comprado algumas coisas e havia encomendado outras.
Não havia como levar tudo sozinha, e muito menos estando a pé. Então pedi que entregassem mais tarde em minha casa, e apenas levava algumas peças lindas de pagão que encontrara.
Adentrei o Starbucks me sentando em uma mesa. Observei o lugar. Ele estava parcialmente vazio.
- Olá! Já fez o pedido?
- Não. Por favor, me traga um frappuccino.
Ela anotou meu pedido e saiu.
Enquanto eu esperava meu pedido chegar, observei uma mesa mais a distancia. Havia algumas mães e seus filhos sentados. Enquanto as mais velhas conversavam, ainda prestando atenção nos pequenos, os mesmos brincavam de colorir um desenho.
Naquele instante me imaginei naquela mesma cena e sorri.
- Aqui está moça. – A garçonete me entregou meu pedido.
- Obrigado. – Agradeci. – Por favor você poderia trazer a conta?
Ela assentiu e logo voltou ao caixa.
Esperei uns segundos até ela voltar. Entreguei o dinheiro e peguei minhas coisas para sair do Starbucks, mas assim que me virei esbarrei em alguém e quase que meu café fora derramado na pessoa.
- Desculpe, eu estava distraída e... – As palavras me faltaram quando o vi.
Há tanto não via aquele rosto... Ele estava tão bonito, ou talvez até mais do que quando nos conhecemos...
- Você...
- Desculpe, eu tenho que ir. – Tentei passar por ele, mas o mesmo me segurou.
- Você é a moça do hospital não é? – Ele desviou o olhar de meu rosto, para a minha barriga muito mais evidente agora. - Você parecia me conhecer tanto... Por que sumiu?
Engoli aquelas palavras em seco.
- , eu...tenho mesmo que ir. – O olhei.
- … - Me chamou e eu parei de tentar sair dali surpresa.
- Como... Como sabe o meu nome? – O questionei esperançosa.
- Me falaram naquele dia.
Suas palavras destruíram todo e qualquer vestígio de esperança.
- Ah.
- De onde eu te conheço? Eu não lembro, mas eles me disseram que algumas coisas estariam confusas e eu... Sinto uma ligação tão forte com você... Não sei explicar.
Tudo bem, mas aquilo eu não esperava.
- Será que você não teria um tempinho para mim? – Ele sorriu.
E sem que eu percebesse já havia me sentado novamente a mesa que há pouco havia saído.
- E então? Pode começar.
E agora? O que eu faria? Não poderia contar nada! Ele teria que lembrar sozinho.
- O que você quer saber?
- De onde eu te conheço? Por que não lembro nada de você, mas sei que não me é estranha?
- Eu sou CEO da empresa que seu irmão é sócio e você já passou um tempo com a gente substituindo seu irmão. – Fui o mais vazia que pude.
- E por que eu não lembro nada de você? – Me questionou.
- Você disse que algumas coisas ainda estão confusas. Deve ser por isso. De qualquer forma eu não tenho tanta importância assim para você se lembrar.
- E por que eu sinto isso por você? – Ele olhou em meus olhos e eu os desviei incapaz de encará-lo.
O que ele queria dizer com aquilo?
- O que você sente?
Ele suspirou.
- Eu não sei, mas é como... se tivesse uma ligação tão forte com você... Como se estivesse faltando alguma coisa aqui. – Apontou para a cabeça. – Algo que não consigo me lembrar e eu só sinto isso perto de você. Eu não sei, mas sinto que é importante para mim. Mas por quê?
Abri a boca para responder algo, todavia nada saiu.
Ele segurou minha mão sobre a mesa e eu encarei nossas mãos.
- ! – A voz fina ecoou pelo local. – Meu querido…
Olhei para trás, de onde a voz vinha e encarei a Jazz. Rapidamente afastei nossas mãos.
- Chefinha, o que faz aqui com meu namorado?
Namorado? Eles haviam voltado? E por que aquele imbecil estava falando tudo aquilo para mim?
O olhei e ele pareceu ficar sem jeito. Como se ainda não soubesse lidar com o fato dela reconhecê-lo como namorado. Mas por que se eles já namoravam antes? Será que ele havia esquecido disso também? Não, não havia como se estavam namorando.
- Ela estava aqui por coincidência e eu me sentei com ela. – Ele respondeu, me olhando.
Ela sorriu falso e se sentou ao lado dele, depositando um selinho em seus lábios.
Segurei as lágrimas que insistiam em se formar em meus olhos. Aquilo já era demais para mim e eu não precisava ficar vendo.
- Bem, eu tenho que ir. – Me levantei.
- Mas nós estávamos...
- Não se preocupe. O que estávamos conversando não é nada importante.
E falando aquela frase eu sai dali o mais rápido que pude.
Assim que estava longe o suficiente, senti as lágrimas descerem pelo meu rosto.
Dela ele lembrava. Só podia lembrar, caso o contrário não estariam juntos! Dela e daquele estúpido sentimento ele lembrava, mas de mim... Ele poderia até sentir tudo que havia falado para mim, mas no mínimo deveria ser recordações de algo bom. Afinal, não fora ele mesmo que me disse que a amava? Por que quando voltasse seria diferente?
Escute bem, . O melhor que você faz e seguir sua vida com suas filhas e não olhar para trás. Tudo aquilo deveria ter acontecido por algum motivo, você apenas tem que aceitar e seguir.
E era isso que faria dali em diante.



I need you every day and every night


Acariciei minha barriga, sentindo minhas pequenas mexerem.
Há alguns dias havia ido a obstetra para a consulta do quinto mês e confirmei que elas estavam bem. Se desenvolvendo normalmente e ganhando o peso corretamente.
Tudo parecia seguir o curso certo. Tudo menos eu.
Eu sabia que seria difícil esquecer o . Tinha a total certeza disso, mas desta vez... era muito mais. E aquela vadia que é sua namorada ainda por cima vive esfregando na minha cara que ele é dela. Como se eu já não soubesse disso.
O romance deles pegou a família dele de surpresa – e a mim também, claro -. Mas ela afirmava que eles eram namorados – apesar de nunca o ter procurado enquanto estava no hospital -. E eu? O que posso dizer? Afinal, não tinha sido o que afirmara a amar?
- Você tem que esconder sua chave extra em outro lugar. Embaixo do tapete já está muito batido. – Minha amiga apareceu em meu quarto, me arrancando de meus devaneios.
- O que faz aqui?
- Nossa, que recepção calorosa...
Sorri.
- Eu não te esperava aqui hoje.
- Pois é, mas você sabe como é. Eu vim para melhorar sua vida. – Sorriu sugestiva e eu tive medo do que ela estava tramando.
- O que você está planejando?
Ela sorriu maliciosa e foi até o meu closet.
- Jane? Jane! – A chamei, me levantando da cama.
- Veste isso e faz uma maquiagem marra! – Jogou um vestido para mim.
- Aonde nós vamos?
- Isso é surpresa.
- Só para constar, você sabe que eu estou grávida, né? Cuidado para não me meter em encrenca.
Ela revirou os olhos.
- Quando eu fiz isso?
- Quer que eu liste?
- Deixa de ser chata e vai logo se arrumar!
Revirei os olhos e fui ao banheiro.
Tirei a roupa e tomei um banho quente e relaxante. Voltei ao meu quarto e coloquei a roupa que ela mandou. Ajeitei os cabelos e fiz uma maquiagem marcando bem os lábios.
- O que achou?
- Como minha amiga até estando grávida é gata?
Sorri.
- Aonde vamos?
- Eu já disse que é surpresa! Agora vamos.
Revirei os olhos e a segui, fechando o meu apartamento.
Fomos até seu carro, eu me sentei no banco do passageiro e ela deu partida.
Ela dirigiu cerca de vinte minutos até chegarmos a uma casa de camping.
- O que estamos fazendo aqui?
Ela sorriu.
- Fica tranquila. Eu só tenho que pegar algo aqui. Vem comigo.
Ela travou o carro e eu a segui até a entrada da casa. Minha amiga abriu a porta e ligou a luz, fazendo tudo dentro da casa ficar claro.
- Surpresa! - Elas gritaram.
Eu não conseguia falar nada. A casa havia tido seus móveis retirados e na sala se encontrava uma mesa com um bolo, doces e umas lembrancinhas. Nas paredes haviam bolas rosas e um quadro cheio de mensagens. E estavam todas lá.
Amigas do tempo de escola, amigas da empresa, a irmã do e a mãe e muitas outras.
Eu não podia acreditar que elas haviam feito aquilo para nós.
- Você não achou mesmo que não iríamos fazer o chá de bebê para vocês, não é?
- Ô meu Deus... obrigada pessoal. Eu não sei nem o que dizer! – Sorri.
- Que comecem as brincadeiras! - A tia das minhas filhas gritou.
E quando eu dei por mim, eu já estava rindo e me divertindo toda melada de batom dos desenhos que elas fizeram em minha barriga. Porque claro... Elas me fizeram trocar de roupa. E adivinhe quem estava de tutu e sutiã ?Isso mesmo. Euzinha.


- E então? O que achou da surpresa? - Ângela sentou ao meu lado.
Sorri.
- Obrigado por isso.
Ela sorriu.
- E como estão minhas pequenas?
- Muito bem, vovó. - Passei a mão na barriga. - Será que eu serei boa mãe, Ângela? Será que eu vou conseguir criá-las sozinha?
- Não será fácil, minha querida. Nunca é, principalmente sendo mãe de primeira viagem, mas a gente faz o que pode e o resto, somos capacitadas para fazer.
Suspirei.
- Eu espero estar pronta para tudo isso.
- Você está. Elas não poderiam escolher uma mãe melhor.
Sorri.
- Às vezes eu queria que ele de certa forma soubesse. Mesmo sabendo dos riscos.
- Eu entendo, querida. Deve ser tão difícil para você...
- Um pouco. - Sorri. - Mas a vida não é justa.
- Ele me perguntou sobre você.
Suspirei.
- Eu o encontrei há alguns dias. Ele queria conversar e disse umas coisas...
- Você acha que ele está lembrado?
Dei de ombros.
- Ele não gosta dela.
A olhei, entendendo a quem se referia.
- Não foi isso que ele me disse.
- Ele mentiu. Eu conheço meu filho. Ele só está com ela porque está confuso com tudo isso.
- Ele sabe o que está fazendo, Ângela. De qualquer forma, quero que ele seja feliz seja com quem for. Nós já não somos uma possibilidade, Ângela, e eu tenho que me acostumar com isso.


A noite passada havia sido uma maravilha. Todas haviam preparado tudo com muito carinho e amor.
Elas haviam sido uns amores e eu me sentia privilegiada pelo carinho.
Um leve incomodo nas costas me vez me mexer desconfortável na cama.
Passei alguns minutos sem me mexer assim que arrumei uma posição confortável, para ter a certeza que tudo estava bem.
- O que foi, meu bem? Estão brincando? - Alisei minha barriga. - Apenas tomem cuidado para não machucar a mamãe.
Sorri ao dizer aquela palavra. Mãe...
O soar do meu celular me despertou de meus devaneios.
O peguei, vendo que o número que ligava estava em confidencial. Estranhei, mas mesmo assim atendi.

Ligação ON:
- Alô?
Silêncio na linha.
- Alô?
- ?
Aquela voz... Meu coração deu um aperto no mesmo segundo.
- ? O quê...?
- Me desculpe, mas eu não resisti. O me deu seu número e eu precisava ligar para você. Alguns dias atrás nos vimos, mas você acabou não me contando a verdade sobre tudo que diz respeito a nós.
Ah, claro... por que será? Acho que foi porque sua namorada não deixou!
- Olha, não temos nada para conversar. Esqueça isso, por favor.
- Eu não consigo. - Suspirou. - Eu não sei bem o que foi, mas eu acho que eu tive uma lembrança com você.
Nem ao menos havia percebido que prendi o ar com aquela constatação.
- E... o que você... lembrou?
- Estávamos dentro de um carro e parecíamos discutir. E então você saiu do carro e eu a segui. Segurei em seu braço e a impedi de sair. Ainda falamos algo e depois... nos beijamos.
Por que ele tinha que lembrar logo da parte do beijo? Por quê?
- Isso aconteceu não foi?
Suspirei frustrada. Eu estava tão cansada de tudo aquilo...
- Aconteceu.
- Então nós...
- Não existe nós. Você está namorando e eu tenho meus bebês para cuidar. Me esquece. É o melhor que você pode fazer.
- Mas eu não consigo te esquecer.
- É uma pena então. - Desliguei.
Ligação OFF:

Era tão duro dizer tudo aquilo para ele... mas infelizmente era preciso. Quanto mais rápido nos afastarmos, melhor. Já não existia a possibilidade de um futuro que estivéssemos juntos, e quanto mais rápido entendêssemos isso, facilitaria tudo.


- Você fez o quê? Eu não acredito! Você é burra ou o que, !?
Revirei os olhos.
- Nem começa... Agora todo mundo acha que pode opinar nas minhas decisões! Eu acho que já sou bem grandinha o suficiente para decidir o que é melhor para mim, não acha?
- Não! Não acho. Você fala como se as tomasse muito bem... – Ironizou. – Vai deixar esse homem escapar novamente?
- Olha o que você está falando, Jane! Ele não está solteiro! Eu não vou cometer o mesmo erro mais uma vez!
- Ela não merece essa consideração!
Revirei os olhos.
- Não se trata se ela merece ou não! Se trata que agora eu vou ser mãe! Se trata que eu não sou e nem posso ser mais aquela jovem que era há cinco meses atrás! Eu não vou mais me envolver com um homem sem que estejamos 100% na relação! Eu não vou começar mais uma coisa já errando. Por isso que nunca demos certo, sempre começamos com um erro. Como isso poderia ir para a frente?
- É por isso que você nunca é feliz!
- Eu sofri muito mais fazendo isso que você acha que é “certo”.
- Tudo porque você não faz o que eu mando!
- Ah... Por favor Jane! Você não tem muito trabalho para fazer não?
- Muito bem... Continue fugindo assim dos assuntos! Você está dando um ótimo exemplo a suas filhas! – Jane pegou a suas coisas e saiu da minha sala batendo os pés.
Ela havia mesmo ficado chateada? Mas quem era para ficar não era eu? Ela que estava criticando minhas decisões, e ela quem fica chateada? Olha que amiga mais normal eu fui arrumar...


Hoje era o dia que repassaria tudo para o . Sua viagem para o Brasil se aproximava e antes que nos deixasse, ele queria que tudo estivesse organizado nos mínimos detalhes.
Tudo pareceu correr no último mês devido a decisão do de se mudar. Em menos de um mês ele estaria se mudando definitivamente para o Brasil e tínhamos que deixá-lo sabendo de todos os projetos que a empresa tinha para os próximos meses. Mas o que mais me preocupava era saber que o me deixaria entre a cruz e a espada daqui há um mês com aquela ideia infeliz de deixar o cuidando da sua parte da empresa.
- , eu... ?
Ele me olhou e sorriu.
- ... O meu irmão disse que talvez viesse me ajudar a entender um pouco da organização da empresa.
Ele disse o quê?!
Sorri sem jeito, lembrando do fora que havia dado a ele na noite passada e senti minhas bochechas corarem.
- Cadê... O seu irmão?
- Ah, ele teve que resolver algumas coisas com o passaporte e me deixou aqui para ir me acostumando. Mas sabe... É como se eu já conhecesse essas planilhas. É estranho. - Deu de ombros.
- Então você vai mesmo ficar mesmo no lugar do seu irmão?
Ele assentiu.
- É... Você sabe, ficarei cuidando dos negócios dele aqui e estou fazendo o melhor que posso.
Minha esperança dele não querer, ou fazer o irmão desistir dessa ideia maluca foi jogada não chão.
Que Deus me ajudasse, porque eu bem sabia que iria precisar...
- Eu trouxe alguns relatórios para o seu irmão ver, já que ele não está, é melhor dar uma olhada. - O entreguei, tomando o cuidado para que não nos tocássemos. - São novos projetos que a empresa pretende colocar de pé. Esse aqui, - Me aproximei dele. - é a nova linha recém lançada. Pretendemos a destacar das outras e pensamos em fazer uma promoção para promovê-la.
- Mas é um risco fazer isso, levando em conta que é uma linha nova. Se a colocarmos em promoção pode vender bem mais, pode não atingir a margem que desejamos.
- Pensamos nisso também e por isso...


- Está explicado porque o não quis vender a parte dele na empresa. Apesar de ter empreitadas malucas e vocês sempre se arriscarem, isso acaba sendo uma vantagem sobre as outras.
Sorri. Ele continuava o mesmo. Era bom ainda ter uma familiaridade para me lembrar que uma parte dele, daquele que eu conhecia ainda estava ali.
- Você também irá administrar a empresa do seu pai aqui? - O questionei.
- Só terei que ir revisá-la em alguns dias por semana. Meus pais estão tentando me deixar o menos carregado possível depois do acidente. - Suspirou. - Eles tem medo que eu me sobre carregue, devido a pequena falta de memória.
- Mas o não?!
sorriu.
- Ele me entende. Sabe que apesar de saber que algo está em falta nas lembranças, não creio que seja algo tão importante assim. Pelo menos não para a empresa e que dificulte a minha convivência. Estou vivendo não estou? Então estou bem. Eu preciso voltar com minha vida ao normal.
Suspirei.
- Não é bem assim, Jonh...Eles se preocupam com você e eu não sei o que o seu irmão tem na cabeça, mas seus pais só não querem forçar sua mente. É recomendação do seu médico. Eles jamais fariam algo que não fosse para te proteger, apesar de magoá-los. Assim como eu. - Olhei para o chão.
- Assim como você?
O olhei, percebendo o meu erro.
- Desculpe, eu... Só quis dizer que assim como os seus pais, se a função aqui na empresa for forçar sua mente, me avise para ser dispensado. Não quero que piore por mim. - Me justifiquei.
- Não... Não foi isso que disse.
Eu o olhei.
- Claro que foi. - Comecei a me arrepender de ter desengatado aquela conversa.
- Não. Você disse que meus pais nunca fariam algo que fosse para te prejudicar, mesmo que os magoasse, assim como aconteceu com você. Eu sei que você sabe muito mais do que aquilo que me lembro, mas como os outros não quer me contar nada!
- Que besteira é essa? Eu apenas me expressei mal. Desculpe. Bem... Agora tenho que ir. Ainda tenho uma reunião hoje e... - Me afastei dele, dando menção de sair.
segurou em meu braço e o simples toque de sua mão, me aqueceu por inteiro.
No mesmo segundo ele soltou o meu braço, da mesma forma quando se toma um choque e aquilo me magoou.
- Desculpe, eu... Você é noiva do ? Mas ele está com a...- E antes que terminasse, cambaleou tonto.
Ele havia lembrado de uma parte de sua vida comigo -mais uma-, mas claro que tinha que ser logo essa. Porque como sempre as lembranças dele nunca estavam ao meu favor...
Segurei em seu braço tentando estabiliza-lo, mas caso caísse, não teria força para segurá-lo e cairíamos os dois.
- , você está bem? O que está sentindo? - O questionei assustada.
Mas nenhuma resposta obtive. Era como se ele não estivesse ali. E aquilo me preocupou.
- ? - O chamei.
piscou algumas vezes, recobrando a consciência.
- Você está bem? - O questionei, ainda assustada.
Ele assentiu.
- Eu apenas...lembrei que... Por favor, estou meio zonzo. Preciso sentar.
O ajudei a sentar em sua poltrona.
- Como está se sentindo agora?
- Estou bem. - Ele suspirou.
- O que... Você... É, lembrou?
Ele me olhou nos olhos.
- Estes bebês são dele? É por isso que você é tão presente na minha vida? Mas por que eu te beijei então? O que tivemos? Por favor, eu preciso saber!
- O quê? Não, as meninas não são filhas dele.
- Mas eu lembrei dele te pedindo em casamento e você aceitando.
Sorri recordando daquele momento.
- Nós já fomos noivos sim, mas isso já faz algum tempo. Rompemos antes do casamento. - mais precisamente no dia do jantar de noivado. - Não nos amávamos. O pai delas é outro.
- Quem é o pai delas?
Me senti atordoada com a pergunta.
- Quem... Por que te importa tanto?
- Eu não sei. – Foi sincero.
Era como se uma parte dele soubesse... Não, não teria como.
Ele me olhou nos olhos e eu não desviei o olhar.
Senti o contato gélido de seu toque contra minha pele, aquecendo meu rosto.
Ele continuava com a carícia, como se soubesse exatamente o que precisava. Seus dedos desceram por minha mandíbula e acariciavam meu pescoço. Estremeci com o contato e ele percebeu.
Meu corpo me traia com tanta veemência...
Sua mão escorregou por minha nuca, me trazendo para ele. E antes que percebesse, já estava a centímetros de seu rosto.
- Quando você está perto... Quando sinto sua pele... Eu preciso de você. - Me olhou com os olhos cheios de sentimentos. - Quando a vi dizer sim... Eu a queria para mim. Ainda quero.
- Você não sabe o que está falando. - Tentei me afastar, mas ele me impediu.
- Eu não deveria te querer. Não sabendo que você era noiva dele, mas eu queria, mesmo sem a conhecer.
- ...
E antes que eu pudesse fazer mais alguma coisa, senti seus lábios quentes cobrirem os meus.
Era como se meu coração estivesse soltando fogos de artifício dentro de mim, de tanto que estava acelerado.
Sua outra mão desceu por minha cintura e ficou ali, acariciando o meu corpo, enquanto as minhas exploravam seus cabelos.
Não havia como resistir, eu o amava demais e sentia isso com força total agora. Eu o queria mais que nunca e meu corpo ardia em saudade.
O beijo foi cortado pela falta de ar e eu demorei alguns segundos para me recompor. Eu queria mais, muito mais, mas não podia, nem devia.
- Não podemos. - Me afastei. - Você não sabe o que está fazendo, . Apenas está confuso devido o acidente. E... Você tem uma namorada. A respeite.
- Está enganada. Eu sei o que sinto por você e sei que tem muito mais do que me contam entre a gente. Você correspondeu ao meu beijo. Sabe de tudo que ele estava carregado. Eu posso não me lembrar de você, posso nem me lembrar do que tivemos, mas não tente me fazer acreditar que fora algo insignificante. Eu sei que não foi. E o que eu tenho com ela... Eu não lembro de tê-la pedido em namoro, muito menos de estar com ela.
- O que está dizendo? Você nem sabe do que fala. Muita coisa está confusa ainda para você e eu... Eu nunca tive nada sério com você.
- Pode até não ter sido sério, mas nem por isso deixou de ser marcante. Caso o contrário não teria se preocupado comigo no hospital. A enfermeira me contou que várias vezes me visitou.
- Esqueça isso. É o melhor que tem a fazer.
- Não tenho como esquecer. Desculpe.
- , não faz isso comigo. Eu estou gravida. Sabe o peso que tem isso? São duas crianças.
- E o que tem? Eu as assumiria.
Senti meu coração se aquecer. O olhei incrédula.
- Se o pai delas se preocupasse com você ou elas, estaria aqui ao seu lado. Se teme por elas, eu as assumiria e seriam minhas filhas.
Senti meus olhos marejarem. Ele estava mesmo se oferecendo para as assumir?
- Não temos nada. Por que você as assumiria?
- Porque eu quero você. Eu acho... não. Eu não acho, eu quero mesmo você.
- Não pode! Você nem ao menos lembra de mim. – Me virei afim de não encara-lo mais. – Como com poucas lembranças já sente isso por mim?
- Você está certa, eu não lembro, mas eu sei o que significou para mim, e não posso e não quero deixar isso morrer.
- Você está não confuso... Por que não se concentra em sua melhora e esquece o resto?
- Porque não consigo esquecer você, desde que entrou no meu quarto de hospital. Naquela hora eu estava confuso, mas depois...
- Eu não te contarei nada. Por favor, é melhor não insistir.
- Por que tem tanto medo que me lembre? Você fez algo assim tão ruim no passado?
- Não tenho, muito pelo contrário, quero que melhore, mas tem que partir de você, não de mim.
E antes que tudo aquilo terminasse em uma confusão maior, eu sai dali completamente arrasada emocionalmente.


- Seu cretino! Como pode?
- Então você já o viu.
- É óbvio que sim! Isso não é o certo, . O que acha que está fazendo? Como já o colocou na empresa e não me avisou nada?
- Eu apenas estou tentando fazer vocês entenderem que quanto mais ele se afastar de você, menos essas crianças terão a possibilidade de ter um pai.
Acariciei minha barriga.
- Você sabe que não podemos contar. - Baixei o timbre da voz, já me acalmando.
- Eu sei, mas temos que estimula-lo. Ele sabe que existiu algo entre vocês. Só não lembra o que.
- Eu sei. - Suspirei. - Ele me disse isso e eu me embaralhei toda. Ele quer que eu conte, mas não posso.
- Ele também tentou fazer com que eu falasse. Então tive a ideia de colocá-lo na empresa para vê se não se lembrava de algo estando mais perto de você.
- E ele lembrou.
- Está vendo? Eu sabia que daria certo.
- Ele lembrou que éramos noivos e deu a maior atrapalhada. Ele achou que as meninas eram suas filhas, mas eu expliquei tudo com meias verdades.
- Ele sabe que gosta de você.
- Eu sei. - Senti meus olhos manejarem. - É tão difícil para mim... Mas não posso fazer nada! É para o bem dele. Se contarmos, ele poderá não voltar desta vez.
- Eu sei que está sendo difícil para você, mas não fica se estressando com isso. Você não pode ter um parto prematuro.
Suspirei.
- Eu sei, mas elas ficarão bem titio. Não precisa se preocupar.
- Tudo bem, mas toma cuidado tá?
- Pode deixar. Elas são fortes. Até mais que todos nós.


A porta foi aberta e ela me encarou.
- O que faz aqui?
Sorri sem jeito.
- Você não vai me dizer que ainda está chateada comigo, vai?
Ela revirou os olhos e logo sorriu.
- Não aguento ficar muito tempo chateada com você. – Ela me abraçou se rendendo.
- Até que durou muito... Assim, uma semana...
- Eu estava me fazendo de difícil, ou você acha o que? Mas na verdade eu já havia te perdoado no mesmo segundo. É que ando meio irritada com algumas coisas ultimamente. – Me deu passagem para entrar.
- Hum... Eu trouxe chocolate, coca e salgadinhos caso você não me perdoasse de primeira.
Ela sorriu.
- Você me conhece mesmo. – Se jogou no sofá. – O que acha de uma seção de filmes? Nunca mais fizemos isso.
- Se eu escolher o filme!
- Se não for aquelas melancolias que você gosta, está feito.
Revirei os olhos.
- “Se não for aquelas melancolias que você gosta” – A imitei.
- Nossa que maduro da sua parte... Estão escutando isso minhas sobrinhas?
- Cala a boca! – Joguei uma almofada nela e peguei o controle para escolher o filme. – Que tal... Malévola? Eu amo esse filme!
- Coloca ai! – Pegou os salgadinhos.
Voltei ao seu lado do sofá e me deitei abrindo o chocolate. Aquela sim era uma digna de uma reconciliação entre amigas.


- Acho que vou para casa. – Falei, já começando a sentir um leve incomodo na coluna.
- Quer que eu vá dormir com você?
- Não precisa... É só uma dor nas costas. É comum, afinal eu estou gravida de gêmeas e quase com seis meses.
- Se você diz... Mas qualquer coisa já sabe... meu número está em chamada de emergência.
Revirei os olhos. - Tão preocupada...
- Amanhã eu apareço por lá para arrumarmos o quarto delas.
- Eu já havia me esquecido...
- As coisas do ainda estão lá?
- A maioria das coisas o já levou, mas ainda tinha algumas coisas pelo quarto que arrumei e coloquei em caixas. Pedi que passasse depois para buscar.
- Tudo bem. Então está marcado. Tem mesmo certeza de que não quer que eu vá dormir com você?
- Eu ficarei bem. Pode ter certeza.
Ela revirou os olhos.
Eu peguei minha bolsa e segui para a porta.
- Qualquer coisa...
- Eu já sei. Número na chamada de emergência. – Foi minha vez de revirar os olhos.
- Isso é sério !
Sorri com ternura.
- Eu sei e obrigado por se importar. Suas afilhadas agradecem. Agora eu tenho mesmo que ir. – Depositei um beijo em seu rosto. – Nos vemos amanhã.
- Certo e se cuida.
- Agora quem é a mãe é você! Estamos invertendo os papeis!
- Há-ha-ha engraçada.


Agora que apenas faltavam dois dias para completar seis meses, tudo parecia correr. Mais cedo as meninas haviam vindo me ajudar a arrumar o quarto das garotas e tudo já estava quase pronto. Apenas faltava o berço que a tal altura já deveria ter chegado.
Passei a mão em minha barriga que já estava imensa. A tal altura todos já podiam ver que eu já não andava mais sozinha. Tinha mais duas vidas se desenvolvendo em meu ventre.
Sorri involuntariamente.
O soar da campainha me despertou. Me levantei do sofá e fui até a porta, vendo pelo olho de vidro que se tratava dos entregadores da loja. Abri a porta e eles sorriram.
- Senhora ?
- É ela.
- Nós viemos entregar os berços e os montar.
- Ah sim... Eu os estava aguardando. – Dei passagem para que entrassem.
- Onde colocamos os berços? - O homem da entrega me questionou.
- Ham... Coloque no quarto delas.
Fui andando na frente e eles me seguiram trazendo o berço em uma caixa. - Como quiser senhora. – Ele colocou no quarto e saiu para pegar o outro.
Esperei até que ele retornasse com o outro berço.
O rapaz deixou o outro ainda na caixa ao lado da outra caixa e começou a desembala-lo para montar.
O deixei sozinho e voltei para a sala. Após uma hora e mais um pouco ele terminou e foi embora. Eu voltei ao quarto para terminar de ajeitar o que havia ficado bagunçado e colocar o conjunto no berço.
Assim que terminei passei a mão na barriga sentindo a agitação das meninas em um nível que eu não esperava.
- Meninas, não dêem trabalho a mamãe. Vocês já estão pesando demais para isso.
E como se me entendessem pararam.
Sorri.
Sentei na cadeira de amamentação afim de descansar. Estava exaltas devido à agitação do dia.
O soar da campainha fez com que eu tomasse coragem de me levantar. Fui até a porta e a abri, sem nem ao menos saber quem era. O que me fez quase cair dura no chão no segundo seguinte. Logo minha mente foi inundada de lembranças, e o sentimento que se abateu sobre mim, era inexplicável. Vê-lo era ao mesmo tempo desesperador e maravilhoso. Principalmente porque após a nossa conversa eu ainda não o vira mais.
- O que faz aqui?- Deixei escapar.
- O , ele me pediu que viesse pegar algo aqui.
E então eu lembrei que havia pedido ao que viesse buscar as coisas que restavam em meu apartamento do . Mas jamais imaginária que ele mandaria o irmão, porém claro que o iria fazer isso. Era bem a cara dele.
- Ah, sim. Entre. - Dei passagem e ele entrou.
- Está se mudando? - Olhou para as caixas dos antigos móveis do quarto que agora estavam encaixotados na sala esperando até serem doados para abrigos.
- Não, apenas são alguns móveis para o abrigo. O quarto que era ocupado por eles agora tem uma decoração mais ao mundo cor de rosa. - Passei a mão na barriga.
- Posso vê-lo? - Ele sorriu e meu coração quase saiu pela boca. Era impressionante com ele sempre arrumava um jeito de me impressionar.
Assenti.
Fui na frente e ele me seguiu.
O levei até o quarto que fora dele.
Jonh assim que chegou ao quarto, pareceu se sentir mal.
- Está tudo bem? - Me preocupei.
- Está, eu apenas... Eu já estive aqui antes?
A pergunta me pegou desprevenida e quando dei por mim, eu já assentia.
- Então deve ser isso. - Sorriu e meu coração voltou a relaxar.- Está lindo mesmo. Digno de duas princesas.
Sorri.
- Onde estão as coisas que o pediu que viesse buscar?
- Ah, desculpe. Siga-me. – Fui até o meu quarto, fechando a porta do das garotas.
- São aquelas duas caixas ali. – Apontei.
foi até elas e pegou uma.
- Eu deixo essa lá e volto para pegar a outra.
Assenti, o vendo fazer o que havia dito.
Era tão estranho o ver ali e sentir que tudo estava em seu devido lugar, quando não estava. E no segundo em que ele passou pela porta da frente, mesmo sabendo que voltaria, mesmo por pouco tempo a confusão se instalou em mim novamente.
Mais que tudo eu queria ali comigo, passando por todas essas experiências juntos, mas infelizmente tudo seria do jeito que tinha que ser. Cada um seguiria seu caminho com a esperança de que iríamos nos encontrar lá na frente e tudo voltaria a ser como era antes. Ou talvez... não.



I guess you are thinking of me now
And you know that I'm thinking of you


Desliguei o celular e me levantei da cama. Caminhei até a cozinha e peguei uma maçã para comer. Enquanto voltava ao meu quarto, percebi que as luzes do quarto das meninas estavam acessas.
Entrei no mesmo, o contemplando. Estava lindo o enxoval das minhas princesas. Tudo em detalhes coral. Acabou que tudo ficara pronto rápido. Até as bolsas que levaria para a maternidade já estavam prontas ao ponto de que, quando sentisse algo, era apenas pegá-las. Mas mesmo sem querer deixar transparecer, ainda estava preocupada. Parecia que quanto mais se aproximava do parto delas, mais ainda eu sentia falta do . Mais eu o queria perto, mais queria que ele estivesse comigo na hora do parto, mas como iria pedir isso? E também não poderia forçar nenhuma lembrança e apesar de existir a remota possibilidade dele voltar a lembrar, eu tinha que me conformar com a possibilidade disso nunca acontecer, afinal, tanto já havia acontecido e ele ainda não lembrou. Eu a cada dia cada vez mais perto de conhecer o rostinho delas. Tinha que entender que o futuro era incerto e nele poderia só ter nós três.
O tempo parecia não estar ao meu favor. Antes que percebesse, o tempo passava rápido demais. Dos poucos dias para o tão esperado seis, se tornou o famoso 7 e lá estava eu com uma barriga tão grande que já não podia nem ao menos ver os meus pés, avalie qualquer outra coisa. Agora sentar era a maior dificuldade e ficar em pé, uma ajudinha sempre era bem venda. E era por esse motivo que a Jane havia ido morar comigo até o parto. Afinal qualquer coisinha para mim, agora era missão impossível. Nem pegar as chaves que caiam no chão eu conseguia!
- Daqui a dois meses elas chegam... – A voz da minha amiga me despertou.
Sorri.
- Eu esperei tanto por esse momento...
- Você não é a única. Pode apostar... Eu não vejo a hora de ver elas correndo pela sua casa...
Olhei para ela, ainda sorrindo.
- Quem diria... eu mãe.
- Você, até que não foi uma surpresa tão grande, mas eu... com toda certeza seria. Eu não sei nem trocar uma fralda!
- Eu também não sabia, mas para isso que existem livros para mamães de primeira viagem.
- Você lê aquilo mesmo?
Dei de ombros.
- Coitadas das minhas sobrinhas. Aquilo é pura besteira...
- Claro, dona sei de tudo sobre bebês...
- Eu não disse isso. – Revirou os olhos. – Vai por mim, eu sou melhor estragando as crianças. – Suspirou. – Mas agora... Já para a cama que amanhã... É dia de muito trabalho e... Não se esqueça que você vai ao aeroporto se despedir do .
- Nossa... Já havia me esquecido.
- Eu sei... sou indispensável na sua vida.
- Muito bem... continue se achando...
Minha amiga deu de ombros e saiu do quarto comigo desligando a luz. Eu só esperava de verdade que conseguisse dormir, por que para falar a verdade, era o que eu menos conseguia fazer, tanto pelo tamanho da barriga, quanto por elas passarem a noite se mexendo.

já havia embarcado. Todos estavam ali. Seus pais, irmãos, e claro; eu. Como prometera estava ali. Por tudo que havíamos vivido, por ele ter me apoiado e ser o melhor amigo que poderia ter; havia ido me despedir.
me olhara do momento em que cheguei, até agora, mas não se aproximou e eu não soube dizer o porquê. Mary, por sua vez, viera falar com as sobrinhas, assim como seus pais.
- Como estão? - Ângela me questionou.
- Estão bem. Mas agora que a barriga está ficando pequena e elas mal me deixam dormir.
- Vai se acostumando, querida, que é daí para pior. – Sorriu.
- Para quando é o parto? - O pai do me questionou.
- O médico marcou para daqui a duas semanas começar a ir todos os dias. É difícil gêmeos segurarem por mais de oito meses e ele acha raro ainda não ter tido complicações. Ele não sabe como ainda consigo andar em pleno sete meses completos.
- Mas você está ótima grávida. Está até mais bonita.
Sorri para a tia das meninas.
- E os nomes? Já escolheu? - A avó delas me indagou.
Meu olhar buscou os olhos de . Ele se encontrava distante, falando ao telefone. Ele me encarou no mesmo segundo e sorriu, me fazendo suspirar em desânimo.
- Ainda não. Uma parte minha ainda acredita que ele irá lembrar, mas quanto mais passa o tempo, quanto mais se aproxima do parto, mesmo sabendo que a probabilidade seja mínima, sinto que se escolher sem ele, tudo estará perdido definitivamente. É como se acabasse a esperança. Acho que a ficha só irá cair definitivamente, quando elas nascerem. - Passei a mão na barriga.
Eles me olharam tristes. Para todos aquela situação era difícil, mas para mim era muito mais e todos sabiam.
- Eu já estou indo. , você quer uma carona? - nos arrancou da melancolia.
- Ah, claro. A Jane não deixa mais que dirija. Também... Nem poderia. - Me aproximei de sua mãe e irmã, as abraçando.
- Cuide bem delas. – Ângela falou antes que saíssemos.
- Pode deixar. – Sorri.
- Isso não foi para você, querida.
Sorri envergonhada.
Ele me olhou vermelho e sorriu.
Nos despedimos de todos e seguimos para seu carro.
me ajudou a sentar quando chegamos ao automóvel e logo tomou o seu lugar no carro, dando partida.
O silêncio cortante era a única coisa que se ouvia no carro e aquilo já começava a me incomodar.
Me mexi desconfortável no meu banco e ele me olhou de rabo de olho.
- Está sentindo alguma coisa?
Neguei.
Ele voltou a olhar para o caminho. parecia incomodado com alguma coisa, que eu não sabia o que era.
- Eu falei com o meu médico. - O olhei mais atentamente, sem saber onde aquela história iria dar. - Ele me contou que eu devo ter esquecido você ou porque foi uma pessoa muito importante na minha vida, ou porque não era tão importante. – Soltou e eu engoli tudo em seco.
- E o que você quer com tudo isso?
- Apenas entender por que só me esqueci de você.
- Eu não sei a resposta. – Fui sincera.
- Pode não saber, mas só você pode me dizer o que fora para mim.
- Há mais nisso do que você imagina, . Se eu contar... Tudo estaria perdido.
- Tudo o que?
- Você. - Fui sincera. Aquela história toda de mentir já me cansava há tanto tempo...
Ele me olhou nos olhos enquanto parávamos em um semáforo.
- Eu?
- É melhor deixar tudo isso para lá. Isso não tem tanta importância. Não mais. - Menti. - Por que não esquece de uma vez por todas?
- Por que você trata isso como se não fosse nada?
Dei de ombros.
- Talvez seja porque não fora importante. - Me provocou.
Engoli em seco.
- Você está certo. Não fora.
Ele bufou.
- Estou cansado de você tratar isso como se fosse irrelevante, mas se quer fazer isso, eu desisto. - Estacionou o carro. - Eu não me importo mais. Eu juro que tentei me lembrar de você, mas você não ajuda! E se você acha mesmo que não tem importância, para mim também não terá.
- Talvez eu faça tudo isso porque eu não queira ser lembrada!
- Está ótimo! Se é o que quer... Não irei atrapalhar mais.
O olhei e ele mantinha as feições sérias.
E naquele segundo algo se quebrou em meu peito, mas desta vez não teria mais remendo.

havia se afastado e cumprira o que prometera. Havia pedido licença da empresa e havia viajado. Há alguns dias não sabia dele e nem sabia se queria saber. Mas a falta que me fazia... Como tudo poderia ser tão injusto? Eu continuava ali. As semanas se passavam e o oitavo mês estava cada vez mais perto. Já havia me afastado da empresa devido às dores nas costas que estavam cada vez mais frequentes.
Meu estado de uma hora para a outra se tornara crítico. As meninas começaram a crescer mais e a barriga não. O espaço estava limitado e elas começaram a se deslocarem para as costelas, o que me fizera ter que abandonar tudo e me dedicar a descansar. Mas como sempre era monitorada, nada era para se preocupar demais. Os medicamentos que tomava entorpeciam a dor e controlavam o crescimento das meninas. O fato era que o hospital era a minha nova moradia e aquilo já começava a me irritar.
As histórias que inventam sobre as comidas serem péssimas, não é mentira.
Todos os dias todos vinham me visitar e quanto mais o parto se aproximava, mais eu me preocupava com as minhas pequenas.
Nos últimos meses eu tentara ser positiva. Tentara fazer o melhor para todos e para nós três, mas ao ver tantas famílias recém compostas aqui, o vazio se fazia presente em mim. A quem eu queria enganar? Estava tão insegura com o futuro... Não havia um porto seguro. Por mais que todos me "ajudassem" essa barra seria só minha no final e eu não sabia como a suportaria.
Eu não sei o que havia pensado nesse tempo todo. Na verdade sabia. Me agarrei a ideia de que no final tudo daria certo. Mas me esquecera que conforme o tempo passa, os caminhos se tornam diferentes e propensos para outras pessoas. Mas não fora isso que o mandei fazer?
Porém era apenas para que parasse de me pressionar. E por fim eu dei um tiro no pé.
A porta do quarto fora aberta e eu encarei a pessoa a minha frente.
A última pessoa que esperava ali, era ele.
Sorriu.
- O que...
- Precisamos conversar.
- Mais do que já fizemos?
- Desta vez com as verdades.
- Eu não posso.
Ele se aproximou da cama e segurou em minha mão.
- Nós temos um problema.
O olhei confusa.
- Elas não podem crescer sem um pai.
Arregalei os olhos.
- O que você...
- Eu precisava lembrar, e foi isso que fiz.
- Você... - Senti as lágrimas se formarem.
- Me lembrei? Sim, . Eu lembrei de tudo. Principalmente daquilo que fora irrelevante. - Me olhou reprovativo.
Deixei algumas lágrimas escorrerem.
Tudo aquilo só poderia ser um sonho...

Abri os olhos assustada. Mais um de tantos sonhos com ele.
Me mexi na cama desconfortável. Aquela seria mais uma noite mal dormida. Mas não era aquilo que me afligia. Mas sim o que havia conversado com o mais cedo.
O havia tirado definitivamente de nossas vidas. E tudo aquilo, parecia injusto para elas. Minhas filhas não mereciam não ter um pai. E tentando fazer tudo certo, eu fiz tudo errado.
O estava certo todo aquele tempo... Eu deveria ter insistido para ele lembrar, mas invés disso, apenas desisti.
Que boa mãe eu já estava sendo... Ensinando as minhas filhas a desistirem de tudo tão facilmente...
Mas não importava o quanto eu quisesse. Tudo já estava perdido e era tarde demais para se arrepender.


- Você não vai acreditar! – Jane entrou na minha sala esbaforida.
A olhei.
- Por acaso está acontecendo a terceira guerra mundial?
- Não. Mas... O e a senhorita puta terminaram.
- O quê?!
Ela sorriu vitoriosa.
- Ela está no banheiro chorando e a empresa em peso está comentando.
- Mas eu achei que ele a amasse...
- Pelo visto ele ama outra pessoa. – Sorriu maliciosa para mim.
Revirei os olhos.
- Acredite em mim, eu sou a última pessoa que ele quer ver.
- Não seja boba... Você vai deixar um homem lindo daquele escapar de você? Cuidado que do jeito que ele é gato, não vai passar muito tempo sozinho.
Revirei os olhos.
- O que você acha? Que eu gravidíssima, vou arranjar alguém?
- As filhas são dele!
- Mas ele não sabe!
- Isso não o impediu de se oferecer para as assumir.
Bufei.
- Por que uma vezinha você não faz o que mando?
- Porque você só me mete em encrenca!
- Nós já tivemos essa conversa antes.
- E eu continuo irreversível!
- Você vai acabar criando suas filhas sozinha porque é muito cabeça dura!
- Será que é tão difícil assim para você entender?
- É!
- Pois quando você arrumar um namorado e estiver grávida, a gente conversa. – Voltei a mexer em meu computador.
Ela bufou.
- Depois que perder ele pela terceira vez, não reclame! – bateu a porta.
Ah se ela soubesse que eu já o havia perdido...


Última semana de trabalho... Os oito meses se aproximavam e eu ao mesmo tempo que ansiava em tê-las em meus braços, eu temia pelo que o mundo resguardaria para elas.
- Aqui estão os relatórios que me pediu. - Jane entrou em minha sala.
Peguei a pasta de suas mãos e analisei as planilhas.
- Eu não sei o que vou fazer quando não for mais trabalhar.
- Simples. Vai cuidar dessas duas princesas.
Sorri, passando a mão em minha barriga.
- Você tem que levar para ele. É ele que irá substituí-la enquanto estiver de licença.
Suspirei.
- Eu sei, mas ainda não falei com ele desde aquele dia.
Ela me olhou com cara de quem fala “se você fizesse o que eu mando...”
- Mas... eu tenho que agir com profissionalismo.- Me levantei com dificuldade da cadeira.
- Toma cuidado. Você ainda está com sete meses, mas a barriga já está grande. – Segurou meu braço, me ajudando.
- Pode deixar. – Puxei o vestido, o ajeitando.
Sai de minha sala e andei pelos corredores calmamente, retardando cada vez mais minha entrada.
Assim que cheguei a frente de sua sala percebi que sua secretaria não se encontrava. Revirei os olhos.
Desde o dia em que a vira com ele, nunca mais simpatizara com ela. Mas isso não era motivo suficiente para demiti-la. Apesar de tudo que ela já havia feito, eu não estava com cabeça nenhuma de arrumar outra secretária.
Balancei a cabeça, tentando tirar aquilo de minha mente.
Eu não tinha o direito de achar aquilo ruim. Eu tinha que ser ciente que se eles reatassem mais uma vez, não poderia fazer nada.
Bati na porta de seu escritório e apenas entrei quando foi consentido.
- Eu trouxe os relatórios para analisar. – Percebi que ela não se encontrava em sua sala.
No mínimo já deveria estar sentada no colo de outro acionista.
- Obrigado, Srta. . - Ele pegou o relatório, o folheando. - Quando vai tirar a licença?
- A partir de segunda tudo será por sua conta.
Ele assentiu.
- Tudo bem. A senhorita poderia enviar tudo que irei precisar para o meu e-mail?
- Claro.
- Obrigado.
O silêncio incômodo se instalou na sala. Ele estava sendo tão frio, que era como se existisse um iceberg entre a gente e aquilo fez meu coração doer.
Eu tinha que parar com aquilo... já não tinha direito nenhum de sentir tudo que sentia.
O olhei e ele continuava a olhar os relatórios me ignorando por completo.
Aquilo era o que seríamos um para o outro dali em diante. Apenas colegas de trabalho.
Abri a porta e sai dali.
Naquele momento me questionei como um sentimento tão grande havia se tornado nada. E eu descobri que não havia sido do nada. Tudo acontecera pouco a pouco e quando notamos, já era tarde demais e a principal culpada era eu.


Havia insistido para a Jane ir na frente, mas naquele instante me arrependera.
Pedi que me esperasse no carro enquanto terminava de arrumar minhas coisas e assim ela fez, mas se soubesse que essa bendita dor nas costas pioraria, ao ponto de não conseguir me levantar não teria pedido. E como se já não bastasse, sentia que havia algo de muito errado comigo.
Eu havia começado a soar frio e me sentia mais pesada que nunca.
Comecei a me preocupar, tirando o meu celular da bolsa afim de ligar para a minha amiga. Mas para a minha total surpresa, estava sem bateria.
Que maravilhoso!
Desci minha mão até minhas pernas e não senti nada molhado. Aquilo era um bom sinal. Pelo menos eu esperava que fosse.
Me apoiei na mesa e coloquei toda a força que tinha em meus braços, me levantando. Porém assim que fiquei de pé, logo fui atingida por uma tontura que nunca senti antes. Me segurei com forças e pedi a Deus força para conseguir sair daquela empresa.
Fiquei parada por alguns instantes até que me senti um pouco melhor e me apoiando nas coisas, sai de minha sala. Assim que cheguei na porta minha vista começou a embaçar e eu sentia minhas pernas fracas. Eu não podia desmaiar ali sozinha. E foi quando senti uma dor forte em meu ventre.
- Ah! – Gritei, me contorcendo e me segurando na porta para não despencar, mas eu ainda não sabia quanto eu aguentaria.
As lágrimas de preocupação já começavam a escorrer de minha face. Eu não sabia o que estava acontecendo, apenas sabia que não havia entrado em trabalho de parto porque a bolsa ainda não havia estourado. O que de fato eu não sabia se era pior.
- ? ! O que aconteceu? – Ele correu até mim, me pegando no colo.
- Eu preciso de um hospital... – Eu a tal altura apenas fazia chorar. Não pela dor, mas sim por medo.
- Calma, eu estou aqui... Tudo vai ficar bem. – beijou o topo da minha cabeça.
Ele foi até o elevador comigo em seus braços e apesar de tentar manter a calma, era perceptível que ele estava apreensivo.
Ele correu pela garagem comigo em seu colo. Me colocou em seu carro e saiu cantando pneu. Ele desviava dos carros e não se importou em parar nos semáforos vermelhos. Enquanto isso eu apenas chorava e olhava minha barriga, me questionando se elas estariam bem.
- O que eu fiz de errado, ? Eu apenas queria ser uma boa mãe.
- E você vai ser! Elas vão estar bem. Vai ter sido apenas um susto. Eu te prometo.
O olhei. Ele tirou sua mão que estava na marcha e a colocou em cima da minha barriga, fazendo um carinho. Imediatamente as senti chutar.
Ele sorriu.
- O que eu disse? Se elas não estivessem bem, não fariam isso.
Olhei para a minha barriga. Talvez ele tivesse razão...
Não demorou muito para estarmos no hospital e assim que ele parou o carro de qualquer jeito em frente à emergência, correu até o meu lado e me pegou no colo.
- Por favor, a minha mulher está grávida de gêmeas e está muito mal. – Gritou, passando pela porta e logo enfermeiros trouxeram uma maca e começaram a examinar minha pressão ali mesmo.
Um médico veio até nós e começou a me examinar.
- O que aconteceu? – Me questionou.
- Eu estou sentindo muitas dores no útero. – Reclamei.
- Levem ela para a obstetrícia. – Pediu.
segurou em minha mão e beijou o topo de minha cabeça.
- Você não pode ir com ela. – Um enfermeiro o informou.
Ele assentiu.
- Tudo ficará bem.
E escutando aquelas suas últimas palavras eu fui levada para longe dele.


- Eu não disse? – Sorriu, se aproximando da cama.
Sorri para ele.
- E você estava certo. – Suspirei aliviada. – Obrigada por estar quando eu precisei. Eu nunca vou ter como te agradecer.
Foi a vez dele de sorrir.
- Eu até poderia te cobrar um favor por outro, mas como sei que não irá contar, nem vou gastar saliva. – Suspirou. – É bom saber que elas estão bem.
- Verdade. – Passei a mão na barriga. - Foi apenas um susto. Mas agora de verdade eu terei que me afastar da empresa e você vai ter que ficar cuidando de lá mais cedo do que pretendíamos.
- Pode ficar tranquila que quando você voltar, eu não a terei falido.
Sorri.
Duas batidas na porta nos fizeram encara-la.
- Bom dia... Vejo que já está melhor pela sua carinha.
Sorri.
- Eu apenas vim te liberar e passar alguns medicamentos para ajudar a segurar as garotas, mais elas estão bem e você apenas tem que ter total repouso. Papai, fica de olho na mamãe.
Ele sorriu olhando para mim e eu fique vermelha.
- Aqui está – Ela entregou para ele. – Finalmente te conheci senhor...?
- . – Ele sorriu.
- É maravilhoso saber que o senhor está com ela agora. Não imagina pelo que ela já passou enquanto você estava no coma.
Engoli em seco ficando vermelha. Ela não podia contar para ele.
Ele me olhou confuso e eu já podia presumir o que ele estava tentando fazer naquela cabecinha... Ele estava tentando entender tudo.
- Ela nem ao menos queria descobrir o sexo das meninas sem você. – Ela sorriu. – Ela ama muito você... E agora, já escolheram o nome das garotas?
Olhei para eles branca igual a um papel.
- Er...
- Está se sentindo mal ? Está branca. – Ela se aproximou, olhando o monitor ao meu lado.
- Não eu... Deve ser por causa do hospital. Eu quero ir para casa.
- Ah, claro. Mas já sabe, se sentir algo me liga. Você agora está liberada e já sabe... muito descanso.
Assenti.
- Novamente, foi um prazer conhecê-lo, Sr. . – Ela apertou a mão dele e saiu do quarto.
Ele me olhou.
- Por que ela falou... , eu sou o pai das meninas?
Engoli em seco. Como eu sairia daquela? Eu não queria mentir.
- Se eu responder... Tenho medo que você... – Senti meus olhos marejarem.
- Não, por favor, você não pode ter fortes emoções. Esqueça, tudo bem? – Fez um carinho em meu rosto secando as lágrimas. - Eu irei levá-la para casa. Jane já me ligou umas mil vezes perguntando como você estava.
- Tudo bem apenas me dê a receita que depois peço para Jane comprar os remédios.
- De jeito nenhum... Eu compro.
- O quê? Mas isso não tem nem cabimento!
- Eu compro e está resolvido. Quem está cuidando de você agora sou eu e se elas forem minhas filhas... Me desculpe por passar por seu marido, eu apenas achei que assim...
- Tudo bem, na verdade obrigada por fazer isso. – Passei a mão na barriga e ele olhou meu gesto.

Ele sorriu se aproximando de mim sentando na cama ao meu lado. O olhei. colocou a mão na minha barriga e logo elas mexeram.
Eu sorri.
- Acho que alguém gosta de mim...
- Elas amam você.


- Você quer mesmo me matar do coração! Só pode ser isso... Eu quase enfartei quando voltei a empresa porque você estava demorando muito e quando cheguei a sua sala, você não estava lá! Deu para imaginar o susto que tomei?
sorriu da minha amiga.
- A culpa foi minha. Me desculpe por não ter te avisado antes, mas eu tive que correr com a para o hospital e depois eu estava tão preocupado que não lembrei. – Me defendeu.
Ela serrou os olhos.
- Tudo bem. Desta vez eu desculpo os dois por ter sido por uma causa maior, mas agora elas estão bem, não é?
- A médica apenas recomendou descanso e passou uns remédios que ele já comprou. – Respondi.
Ela me olhou sugestiva.
- Então quer dizer que vocês se acertaram? Eu super apoio.
Revirei os olhos.
Ele me olhou divertido.
- Ele apenas foi gentil, amiga. Nada demais. – Esclareci.
- você é mesmo muito lenta. – Revirou os olhos.
riu.
Eu não acredito que ela falou mesmo aquilo.
- Jane! – Protestei.
Ela deu de ombros. - Já que está por aqui... O que acha de tomar café com a gente? É o mínimo que podemos fazer depois que passou a noite em claro em um hospital cuidando da chatinha aqui.
- Por que não? – Ele sorriu.
- Ótimo! A mesa já está posta e você vai ficar bem não é?
Eu assenti desconfiando do que ela faria.
- Você fique a vontade. Agora eu já vou indo para a empresa. Tenho que terminar alguns relatórios e se cuida . – Me abraçou.
Aquela puta que eu chamo de amiga... Aquilo era invenção dela para me deixar sozinha com ele, porque eu bem sabia que não havia relatório nenhum.
- Tchau, , até mais tarde e cuida dela.
- Pode deixar! - Ele sorriu e ela saiu, levando a chave extra.
- Vamos? – Me levantei do sofá com um pouco de dificuldade e ele todo atencioso me ajudou.
Sentamos a mesa e começamos a nos servir.
- Obrigada, por estar me ajudando tanto nesta reta final da minha gravidez. Não só por ontem, mas na empresa.
Ele sorriu.
- Isso não é nada demais. Qualquer um faria a mesma coisa e para mim é um prazer te ajudar. Sempre que precisar, saiba que pode me ligar e contar comigo.
- Obrigada.
- Sabe, eu sei que não deveria estar falando disso agora. Não quero te estressar, mas por que você não pode me contar nada? O que eu tenho?
Suspirei cansada.
- Se eu contar ...- O olhei nos olhos. – Você nunca poderá saber por mim. Foi uma promessa que eu fiz, me perdoa, mas você nunca poderá saber por mim. Isso custaria sua vida. Eu não posso correr esse risco.
Ele assentiu.
- Então eu irei descobrir. Me desculpe, mas não dá mais para aguentar sem saber. É como se algo muito importante faltasse e você , eu não posso assegurar como sei, mas eu apenas sei que foi muito importante para mim, porque eu ainda sinto que te amo. Você e nossas filhas. – Sorriu.
O olhei surpresa. Eu esperava tudo, menos aquilo.
- ... – Ele me olhou. Eu me levantei de minha cadeira e me aproximei da dele. Ele ficou em pé e me encarou. Passei a mão em seu rosto fazendo um carinho e me aproximei de seu rosto.
Eu queria tanto beija-lo... Um turbilhão de emoções se passava em meu coração naquele instante.
- Você não lembra de tanta coisa... – Encostei nossas testas. – E você só saberá quando lembrar.
Ele olhou nos meus olhos e roçou nossos lábios.
- Eu apenas te asseguro que eu irei lembrar de nós. É uma promessa.


- Você deveria ter pelo menos contado do passado...
- Eu não posso, Jane. Não posso pelo bem dele. Que droga!
- Calma, não fica assim. Ele vai lembrar. Ele prometeu, não foi?
Assenti.
- Eu tenho medo dele piorar tudo.
- Ele não vai amiga. Confia...
- Ele disse que me ama. Eu quase morri. Temos tanto o que esclarecer ainda...
- Eu nem posso imaginar o que está se passando com você. Deve está tão confusa...
- E estou, amiga. – Suspirei. – Eu não sei nem por onde prosseguir!
- Você confia nele?
Assenti.
- Então não se preocupe. Ele dará um jeito. Ele sempre deu.


- Já vai! – Gritei do quarto enquanto as batidas na portas ecoavam pelo apartamento.
Me levantei com mais dificuldade ainda por estar com oito meses e fui atender a porta.
A abri sem olhar quem era.
- ? Entre. – Dei passagem para ele passar.
Ele entrou.
- Eu fui ao meu médico. – Disparou sem ao menos se sentar. – Ele confirmou o que você havia me falado. Eu sou como uma bomba relógio prestes a estourar se alguém me contar demais sobre nós. Era por isso que você nunca quis me falar?
Eu assenti.
- Droga! Como irei lembrar agora? – Ele parecia tão atordoado...
- Calma... – Segurei seu rosto fazendo ele me encarar. – Você não precisa lembrar tudo de uma vez eu tive uma ideia. Se voltarmos a todos os lugares especiais que já estivemos antes para ajudar a sua memória? Quando você esteve na minha casa naquele dia, você lembrou, se fizermos do mesmo jeito...
- É muito arriscado. Você está grávida. Não pode me acompanhar.
Suspirei.
- Eu não quero que se sinta na obrigação de se lembrar.
- Se esse for o preço para te ter em minha vida...
- Não é. – O olhei nos olhos. – Eu quero começar do zero com você. Se aceitar, se me quiser, a partir de hoje faremos uma nova história.
Ele sorriu.
- Então... Você está me pedindo em namoro?
Ri.
- Por quê? Você aceitaria?
Ele fez menção de pensar.
- Claro! – Fez um carinho em meu rosto. – Eu te amo tanto...
- Eu também. – Me aproximei mais dele.
Ele me puxou mais para ele e logo senti seus lábios se moldarem aos meus, iniciando um beijo calmo e completo de sentimento. Seus lábios macios se fechando sobre os meus era como se sentisse uma explosão de sentimentos.


Já estávamos juntos há algumas semanas e eu estava finalmente feliz. Parecia que tudo agora sim iria a nosso favor. Mesmo ainda morando no apartamento que fora do irmão, ele passava agora mais tempo dormindo no meu e era um verdadeiro pai para as meninas. Já havia comprado tantas coisas para elas e ficava me enlouquecendo com as escolhas dos nomes. Mas sim, eu estava feliz.
A empresa prosperava e tudo estava percorrendo um curso maravilhoso em minha vida, o que mais poderia desejar?
Me olhei no espelho, contemplando meu vestido
Aquela seria uma noite muito importante para mim. Era a festa de fim de ano da empresa e como ex -presidente e namorada do atual presidente, teria que estar lá.
Apoiei as mãos nas curvas das costas, sentindo um leve incomodo.
Ignorei aquilo e prometi a mim mesma que caso a dor voltasse, retornaria imediatamente para casa.
Escutei meu celular apitar, avisando que havia uma mensagem nova.
Peguei ele, vendo que era a mensagem do .

“Já estou te esperando. -
Sai do quarto e peguei minha bolsa. Tranquei a casa e desci pelo elevador até o hall. Sai do prédio cumprimentando o porteiro na guarita e fui até o carro do meu namorado. Entrei em seu automóvel e ele logo me olhou sorrindo.
- Está linda. – Se aproximou, depositando um selinho em meus lábios.
- Obrigada. Você também. – Sorri.
Ele deu partida, seguindo até o local onde seria a festa.
Demoramos uns vinte minutos para chegar e enquanto isso conversávamos animadamente em seu carro, ao ponto de até eu esquecer um pouco as dores em minhas costas.
Assim que chegamos, ele estacionou o carro e descemos para a casa de eventos. O local já estava lotado de funcionários e seus familiares.
Jane veio até mim e me abraçou.
- Ainda bem que chegaram, agora vão começar as homenagens e vocês precisam ir para mais perto.
- Homenagens? Jane! – Protestei.
- Ai, cala a boca e vamos. - Me arrastou de perto do .
Minha amiga só me soltou depois que estava no canto que ela queria e finalmente as homenagens começaram.
Eu não tinha nenhuma noção de quanto tempo demorou. Apenas sei que chorei. Era tão gratificante saber quantas pessoas te admiram e gostam de você por aquilo que é.
Senti uma leve pontada em meu baixo ventre e acariciei minha barriga. Eu já estava em pé há tanto tempo. Depois das homenagens viveram os discursos e agora que finalmente até o jantar havia sido servido e a festa de verdade começava, poderia me sentar.
Meu pés estavam me matando, porém não podia sair dali antes de tudo terminar. Apesar de saber que eles entenderiam, não podia fazer isso depois das homenagens tão lindas que fizeram.
- Com licença, eu vou tomar um ar. – Falei, saindo enquanto sentia a dor nas costas aumentando.
Meu namorado me olhou.
- Quer que eu vá com você?
Neguei.
- Apenas vou tomar um ar. É rápido. – Sorri agradecida.
Fui até a área de lazer, sentindo a brisa esvoaçar meus cabelos e achei que aquilo me faria sentir melhor.
E até fez por um breve momento. Eu já não aguentava mais. Eu havia tentado ser forte, mas não dava mais, as pontadas cada vez mais aumentavam e o intervalo de tempo entre elas apenas diminuía. Sem falar nas dores das costas que parecia não ter fim.
Estava decidida em me despedir de todos e ir embora quando a vi se aproximar de mim.
- Então você conseguiu, chefinha... Mesmo estando com um barrigão desse conseguiu prender meu homem.
- Ele nunca foi seu, Jazz.
- E ele foi de quem? Seu? – Riu sem gosto.
- Ele não é um objeto para ter dono, e se me dá licença. – Fiz menção de sair, mas ela me segurou.
- Não tão rápido. A gente ainda não terminou aqui.
- Você está louca? – Tentei puxar meu braço, o que só a fazia fechar os dedos ainda mais sobre eles me machucando.
E como se não bastasse às dores só pioravam a cada minuto.
- Você ainda não viu nada, chefinha. – Ela me puxou até o encosto de ferro da área de lazer, onde ninguém poderia nos ver. A senti fazer pressão sobre o meu corpo que apenas tinha a metade do ferro para me sustentar. Enquanto a outra mão dela tampava minha boca para não gritar.
Ela estava pretendendo me jogar da sacada.
Eu segurava em seus pulsos tentando a impedir, enquanto ela forçava ainda mais. E logo outra pontada veio, essa muito mais forte me fazendo me curvar.
Ela aproveitou a deixa e me empurrou mais. Quase que eu caia e as lágrimas vieram aos meus olhos.
- Socorro! – Tentei gritar.
- Ninguém vai te escutar, o som está muito alto. – Sussurrou em meu ouvido. – Como será cair daqui? Deve doer muito, não?
As lágrimas de preocupação já escorriam pela minha face.
- Por favor...
Ela sorriu divertida.
- Agora? Parece um pouco tarde...
Senti as lágrimas descerem com força total. Eu temia por mim e pelas minhas filhas. Eu sabia que ela teria coragem de me jogar dali.
A dor voltou com uma maior intensidade e eu deixei um pequeno resmungo escapar.
Aquilo foi o suficiente para ela me forçar mais uma vez e já sem forças para me segurar devida a dor que sentia, temi por minha vida.
E foi quando o vi. percebeu o que acontecia em um segundo e pediu que eu fizesse silêncio com o dedo. Em um movimento rápido ele a puxou para longe de mim e a segurou em seus braços, a impedindo de se soltar.
Assim que ela me soltou, pelo susto eu desabei no chão e gemi de dor.
- Ah! – Gritei, chorando.
Logo senti uma pontada mais forte e com mais intensidade que as outras e em seguida, senti algo descer por minhas pernas.
Jane correu até mim e foi quando percebi que alguns funcionários se encaminhavam para a área de lazer em agitação.
- Ligue para a polícia! Rápido! – Meu namorado gritou. – Ela tentou matar a !
Enquanto isso a Jazz tentou se soltar dele, mas ele não deixou.
- O que você está sentindo? – Minha amiga me perguntou. - Você está branca! - Falou assustada.
Desci minha mão pelo meu corpo até alcançar meu baixo ventre e senti algo molhado.
As lágrima vieram com força total. Eu não queria olhar porque sabia justamente o que estava acontecendo.
Levantei meus dedos e a Jane gritou antes mesmo que eu pudesse ver.
- Meu Deus!
No segundo seguinte eu já tinha total certeza do que acontecera.
Percebi que a música havia parado e todos estavam em silêncio acompanhando tudo.
- Você tem que ir ao hospital. - me pegou no colo.
E foi quando percebi que ele havia passado a Jazz para dois funcionários a segurar e veio até mim aflito.
Tudo em seguida aconteceu muito rápido. Em um segundo eu já estava no carro do com a Jane e ele acelerava cada vez mais rápido para o hospital.
Minha amiga já havia ligado para a minha médica e tudo estaria pronto quando chegasse, mas a única coisa que me importava naquele momento era com as minhas pequenas. Não queria as perder e eu não sabia o que estava acontecendo.
Não demorou para chegarmos ao hospital. Eu ainda sentia dores intensas e assim que adentrei na emergência no colo do pai das minhas filhas, a médica e os enfermeiros me rodearam. me colocou na maca e em um segundo eu fui tirada de perto de todos.
Os minutos pareciam segundos e tudo acontecia tão rápido que era impossível captar.
A doutora fez um exame de toque e constatou o problema.
- Você está em trabalho de parto prematuro.
Aquelas palavras foram o suficiente para me fazer chorar mais. Eu bem sabia que crianças que nasciam com oito meses corriam risco muito maior que qualquer outra.
- Prepare a sala de parto. Ela vai dar a luz a qualquer instante. Ela está dilatando muito rápido. - Informou a um enfermeiro e após escutar isso eu temi por nossas vidas.
- Doutora as salve. Não pense duas vezes, mas as salve. Escolha a elas a mim. - a segurei pelo braço.
- Calma, . Tudo ficará bem. - Tentou me acalmar.
- Por favor...- As lágrimas inundaram minha visão.
- Doutora a sala de parto já está pronta.
A olhei assustada. Eu não queria passar por aquilo só.
- Querida você confia em mim?
Assenti.
- Então tudo dará certo. - Me acalmou.
- O , ele...
- Pode querida. Iremos chamá-lo, agora se acalme porque as dores irão aumentar.
Assenti.
A doutora saiu de meu campo de visão e logo minha maca foi empurrada para uma sala de parto.
Mesmo com a esperança que tudo desse certo eu ainda temia, não queria as perder por motivo nenhum. Elas eram tudo que eu ainda tinha e que era meu.
adentrou a sala vestindo trajes de hospital. Se aproximou de mim e segurou minha mão, se abaixando até ficar na minha altura. Beijou minha testa e naquele segundo eu soube que apesar dele estar com medo, ele não sairia de perto de mim um único instante.

O suor escorria pelo meu rosto. Meus cabelos estavam encharcados de suar e eu nunca me sentira tão exausta na minha vida.
- Mais uma vez, , só mais uma vez.
- Você consegue, . Por elas.
Reuni todas as minhas forças mais uma vez e empurrei. O suor escorreu por minha testa e eu comprimi os olhos fazendo mais força.
- A cabeça saiu! - A doutora informou e eu fiz mais força enfim escutando o choro da minha princesa.
- Quer cortar o umbigo papai?
Ele me olhou preocupado e eu assenti.
Ele me soltou apreensivo e pegou a tesoura da mão da enfermeira e cortou o cordão.
Senti as lágrimas descerem pelo meu rosto e ele olhou para mim, sorrindo.
entregou a tesoura a enfermeira e segui a outra que levou nossa filha. O olhei atentamente enquanto ele via ela de longe, já que o pediatra estava a examinando.
Eu queria vê-la, saber se estava bem, mas não podia. Logo as dores voltaram e eu soube que a minha segunda princesa já estava vindo.
- Força, mamãe...
E após escutar isso voltou ao meu lado. Beijou minha cabeça e segurou minha mão mais uma vez.
Eu sabia que havia ferido sua mão com as unhas e sorri ao saber que nada daquilo para ele importava se era para me ajudar.
Mais uma vez fiz força e apesar de estar completamente exausta e suada, sabia que no fim desde que tivesse minhas duas princesas em meus braços, nada importaria.
Empurrei com força sentindo mais gotículas de suor se formarem em minha testa.
- Você consegue... - Ele me incentivou.
Segurei em sua mão com mais força e empurrei enquanto comprimia os olhos com força.
- Já está vindo... Isso, mamãe, não pare!
Empurrei com toda a força que ainda tinha e finalmente escutei o chorinho da minha segunda princesa.
Foi um alivio saber que estavam bem...
- Papai... - A enfermeira o entregou novamente a tesoura.
Desta vez ele não me questionou e apenas cortou o cordão e fez justamente o que fez com a primeira. Acompanhou tudo.
Eu estava exausta demais para fazer qualquer coisa, mas apenas queria vê-las.
as pegou no colo e as trouxe até mim. As me entregou e eu voltei a chorar.
- Tão lindas... Elas estão bem, né?
- Perfeitas. - Sorriu.
Eu voltei a olha-las e elas pareciam tanto com ele... mas os cabelos eram meus.
Eu finalmente as tinha e me permiti pensar o quanto nossa família seria feliz junta.


O que denota o fim e o começo é a forma de pensar

Abri meus olhos, encarando o quarto branco. Olhei para o berço ao meu lado e não vi minhas filhas. Por um segundo me levantei sobressaltada até que senti um leve incomodo na vagina devido os pontos recém dados.
- O que foi? - se levantou da poltrona, vindo até mim.
- Cadê as meninas?
- Calma, elas estão na incubadora. Mas a doutora disse que ainda à noite elas voltam.
Assenti e voltei a me recostar na cama.
- Quando eu poderei vê-las? Não vejo a hora de pegá-las, de tê-las conosco.
Ele sorriu.
- Se quiser, irei perguntar.
Assenti.
O vi sair do quarto e depois de uns dez minutos retornou.
- Daqui a pouco podemos ir vê-las. Uma enfermeira vai vir nos chamar.
Assenti.
- Você passou a noite inteira aqui dormindo nessa poltrona?
Ele sorriu.
- Eu estou bem tá legal? Você deveria estar preocupada consigo mesma, não comigo.
Foi a minha vez de sorrir.
- Nós ainda temos que decidir os nomes delas.
- Eu sei. Que tal... Marry e Lexie?
Ele sorriu.
- Você encontrou a lista que fiz, não foi? - Olhou desconfiado.
- Talvez... - Fiz bico.
Ele se aproximou de mim e depositou um selinho em meus lábios.
- Como se sente sendo pai?
Ele pareceu pensar.
- Eu não sei... - Foi sincero. - Ao mesmo tempo que tudo muda, tudo permanece igual, com a única diferença que tenho duas princesas para cuidar e proteger de qualquer marmanjo. Eu acho que vou ter muito trabalho com duas. - Pareceu pensar.
Sorri.
- É um pouco cedo para pensar nisso...
- Você que pensa!
- Já sei que você vai ser muito protetor.
- Talvez. - Olhou desconfiado. - Liguei para todos da minha família contando que elas nasceram. A mamãe enlouqueceu.
Sorri.
- Ela deve apenas estar animada para conhecer as netas.
Duas batidas na porta nos fizeram parar nossa conversa.
- Senhorita ? - Uma enfermeira entrou no quarto. - Você e o seu marido já podem ir ver as meninas.
Assim que escutei aquelas palavras, algo se acendeu em mim e eu corei. Marido era uma palavra tão...
veio até mim e me ajudou a levantar.
Os pontos ainda estavam doloridos e eu ainda sentia uma ardência quando dei as primeiras passadas.
Ele me acompanhou e eu não soube dizer o que se passava em sua mente. ultimamente presumia ser o pai das meninas, mas eu não sabia dizer quanto disso ele teria quanto verdade. Desde o momento que decidimos deixar o passado para trás, aquilo pareceu deixar de importar, mas era algo que ele precisava e eu também, porque ainda tínhamos que resolver pendências que ficaram no passado.
A enfermeira abriu a porta de vidro e eu passei segurando a mão do meu namorado. Olhei para aqueles dois bercinhos de acrílico. Elas estavam apenas de fralda e um gorro. Marry com um vermelho e Lexie com um rosa típico.
Marry estava dormindo, enquanto a irmã olhava tudo a sua volta curiosa. Me aproximei de seu berço.
- Hey, Lexie... Aqui é a mamãe, e esse é o papai, quando vocês saírem daí, nós as levaremos para conhecer a nossa casa.
Ela me olhou, como se estivesse entendendo tudo que eu falava.
Me aproximei do outro berço.
- Dorminhoca... A mamãe e o papai vieram te ver. Por que não abre esses olhinhos para a gente?
E como se estivesse me entendido, ela abriu com um olhar de sono.
- Acho que alguém já entendeu que desobedecer a mamãe é encrenca na certa.
- Há, há, há. Muito engraçado você...
- Obrigado. Eu sempre tento fazer o melhor. - Me abraçou por trás.
- Querem pegá-las? - A enfermeira que nos acompanhou perguntou.
Assenti de imediato.
Ela foi até o berço da Lexie e a entregou a e depois pegou a Marry e me deu. Olhei para as minhas filhas e senti que tudo finalmente estava perfeito e completo.
Olhei para o pai das minhas pequenas e ele parecia em êxtase total.
- Obrigada por voltar para a minha vida. – Sorri, olhando para ele.
Desviei o olhar para a pequena em seus braços e o senti ficar tenso.
Voltei a olhar o e ele mantinha um semblante sério.
- Pegue-a. - Sussurrou.
- O quê? - Eu não entendia o que havia acontecido para ele ter mudado tão rápido.
- Pegue-a! - Ele falou um pouco mais alto, olhando para a enfermeira e ela a pegou.
Assim que nossa filha não estava em seus braços ele saiu da sala tão rápido que nem ao menos tive como impedi-lo. Eu não sabia o que estava acontecendo e aquilo me perturbou.
Eu sem entender nada, mas preocupada, coloquei a pequena de volta no berço.
- Eu já volto. – Saí, o seguindo.
Assim que saí da sala o vi um pouco longe de mim.
- ! - O chamei.
Algo estava errado.
- ! – fui mais ríspida.
E foi quando ele me olhou, seu olhar carregava desespero e ele não estava nada bem.
Meu coração se contraiu em preocupação.
Fui em sua direção, mas assim que cheguei próxima ele caiu na minha frente, completamente apagado.
- ! ! - Me ajoelhei no chão onde ele se encontrava desmaiado, apesar de ainda sentir muita ardência devido o parto, não me importei. O que naquele momento importava era ele e o meu medo de perdê-lo.
- ! Por favor...
- O que aconteceu? - Um enfermeiro que eu não fazia ideia de onde havia vindo me questionou.
Talvez se ele estivesse nos observando o tempo todo, eu não saberia dizer.
- Eu não... A culpa é minha. Ele vai morrer e a culpa é toda minha!

O barulho do aparelho no quarto me fazia ter a certeza de que ele permanecia vivo, mas apenas isso.
Eu estava nervosa. Temia pela vida do e por ter estragado tudo. Como não podia tomar calmante devido estar amamentando, teria que me manter calma sem nada. Mas aquilo não estava dando certo, apesar de eu saber que tudo aquilo poderia secar meu leite.
- Me perdoa... Eu fui tão egoísta... - As lágrimas começaram a surgir.
- ... Por que está chorando? – Sua voz era arrastada.
Levantei meu rosto o encarando e quase pulei no seu colo de tamanha felicidade. Ele havia acordado e estava aparentemente bem, mas claro que me contive.
- Eu achei que... O que você está sentindo?
- Quem teve bebê a menos de 24 horas foi você, não eu.
O encarei.
- Você desmaiou. Porquê?
Ele me olhou sério.
- Você estava grávida quando me mandou sair da sua vida?
O encarei perplexa. Será que ele havia lembrado? Havia sido por isso que ele passou mal?
- Você... Você lembrou?
- De tudo.
O olhei séria. O que aconteceria agora?
- Eu... Sim. Elas são suas filhas. – Não o encarei mais, sem ter coragem nenhuma.
- Como você pode, mesmo grávida me mandar ir embora? Me privaria de ser pai? – Me acusou.
Fiquei perplexa com sua acusação. Ele nem ao menos sabia tudo que passei, por que me acusava de tal forma?
- Isso é absurdo ! Você não sabe o que tive que fazer, o que sofri para te proteger... Se eu não o quisesse como pai, não estaríamos juntos hoje. Quer dizer, eu nem sei mais se estamos alguma coisa.
- Que eu me lembre, você não me queria.
O olhei triste.
- Que tipo de mulher acha que sou? Não nego que o impedi de se aproximar da gente... mas eu tinha meus motivos.
Ele me olhou e eu prossegui:
- Eu não sabia na época. Eu não tinha ainda os sintomas e... Você disse que amava a Jenny, o que queria que eu fizesse? Só descobri a gravidez na véspera do noivado, foi por isso também que o casamento não aconteceu.
Ele acalmou a carranca parecendo que agora começava a pensar com clareza.
- Eu nunca tive nada com ela. Eu menti por raiva. Nem ao menos nos beijamos. Nunca namoramos, nem nada, ela me agarrou naquele dia e o namoro, era falso. Ela inventou tudo aquilo depois que acordei. Eu só queria te atingir, mas nunca imaginei que tudo tomaria aquela proporção.
O olhei triste. Eu não queria brigar e nem ele.
- Se eu soubesse da gravidez, apesar de estar com raiva eu teria contado e não o afastaria delas. Só optei por não te contar, por motivos que você já sabe. - Ele assentiu, lembrando do que o médico havia falado sobre mim.- Eu perdi o chão quando o me ligou dizendo que havia morrido, me senti culpada quando descobri do acidente, me senti péssima quando descobri que nunca me enganou e eu acreditei na idiota da sua ex-noiva. E me perdi completamente quando descobri que estava grávida e sem você. - Dei uma pequena pausa quando senti lágrimas em minha face. - Quando o seu médico me pediu para não te contar sobre nós, eu morri por dentro, mas por você eu fiz. Iria encarar ser a mãe das meninas sozinhas e te deixaria em paz. Foi horrível esperar você acordar do coma e depois mesmo assim ainda te perder tantas vezes, vendo você ali tentando e eu não podia fazer nada por medo de te perder definitivamente. Eu não sou perfeita e nunca fui. Tentei sempre fazer o meu melhor para sair disso ainda com um pouco de esperança, mas sempre agi da forma que achei melhor. Principalmente quando fugia de você.
- Perdão. Eu apenas estou confuso. - Suspirou. - É coisa demais para mim e... Caramba! Eu sou pai!
Sorri.
- É sim e elas o amam tanto... - Suspirei e sentei na poltrona. - Enquanto a nós?
Ele me olhou.
- Eu não quero mudar nada. Quer dizer... quase nada. Eu te amo, e apesar de tudo entendo suas decisões. Eu ainda te amo muito .
O olhei.
- Eu te amo, . - Sorri.
Me levantei e fui até ele.
Pegou em minha mão e afastou na cama me dando espaço para deitar com ele. E assim eu fiz. Ficamos de tal forma até cairmos no sono e para mim, aquele já era o fim perfeito.


- Você sabe que não precisa fazer isso... ! Me coloca no chão! – Tentava protestar.
Ele sorriu.
- Deixa de reclamar, se não nunca mais te carrego.
Sorri.
- Tudo bem, você ganhou!
Ele abriu a porta de nosso apartamento e entrou comigo em seu colo.
- Agora sim estamos em casa! – Me colocou no chão. – Já não aguentava o cheiro daquele hospital.
- Ainda teremos que ir durante 15 dias por causa das meninas.
- E pelas minhas filhas irei com prazer.
Sorri. Ele já havia virado um pai babão.
- O que acha de fazermos algo para comermos? Agora que estou amamentando, só vivo com fome.
- Eu acho uma ótima ideia, mas quem cozinha sou eu e você pode ser minha assistente.
Dei de ombros.
Fomos juntos até a cozinha. Meu namorado resolveu preparar umas panquecas para comermos e enquanto ele as preparava eu ficava sentada esperando ele terminar, tendo a visão privilegiada de seu corpo torneados pela camisa que vestia.
- Será que mudará muito tudo quando as meninas estiverem com a gente?
Dei de ombros.
- Provavelmente. São dois bebês, então teremos muito trabalho, até porque não quero deixa-las com babá, não por enquanto. Elas são muito pequenas e eu confio em você para cuidar da empresa.
- Ah, sobre isso... Eu demiti a Janny, não tinha mais porque ela permanecer conosco depois do que ela fez com você.
Assenti.
- Eu fui tão tolo... Eu que trouxe essa mulher para nossas vidas e quase perco você e minhas filhas por culpa dela.
Suspirei, me levantando.
- Não pensa nisso, o que passou, passou, o que importa é que agora estamos todos bem e juntos.
- Eu queria que essa felicidade durasse para sempre.
- E vai.
Sorri.


Os dias haviam passado voando e a Marry e Lexie já estavam em casa. O cuidado com elas era grande devido o pai babão que queria mimá-las a todo custo e eu, que tinha que manter as rédeas curtas. Todos já haviam vindo visitá-las e ultimamente minha casa vivia lotada com a família do e a Jane.
O lado bom de tudo isso era que tinha muitas mãos para segurá-las.
- Era para você ter tido três invés de duas. – Jane protestou, se sentando ao meu lado no sofá.
A olhei.
- Assim não teríamos que dividir. – Falou, se referindo a minha sogra e cunhada que seguravam minhas filhas.
Sorri.
- Por que você não tem um também?
- Ownt! Vamos com calma aí, agora que estou “namorando” você já está falando em filhos? Vamos com calma amiga...
Gargalhei. - A também não pretendia ficar grávida, Jane, e olha onde estamos agora.
- Não me leve a mal, , mas se você tivesse tomado cuidado com esse negócio ai, não teria acontecido, então não vem jogar urucubaca aqui não. Eu só sirvo para ser tia, quando as pessoas vão entender isso? – Bufou, se levantando do sofá e indo pegar Marry que estava no colo da tia.
riu e colocou a cabeça em meu colo para que pudesse mexer em seus fios.
- Eu estava pensando... Lembra daquela chácara?
- Aquela que passamos aquele fim de semana?
- Ela mesma. Eu estava pensando de irmos para lá, passarmos uns dias com as meninas.
- Algum motivo? - Não, eu apenas quero um tempo só para nós quatro.
Suspirei, assentindo.
- Ótimo, então vá arrumar suas coisas.
- O quê? Não podemos fazer isso, sua família está aqui, a Jane está aqui, não podemos fazer essa desfeita.
Ele bufou.
- Então amanhã logo cedo. Eu direi aos meus pais e você a sua amiga e pronto.
- Que pressa toda é essa? A chácara não sairá correndo não.
- Engraçadinha, eu apenas quero... fazer uma surpresa.
- Eu sabia! O que você tem em mente?
- Se é surpresa, para que vou te contar?
- ....
- Eu te amo. – Ele depositou um selinho em meus lábios e se levantou indo para o nosso quarto.
Eu sabia que ele estava aprontando, só faltava saber o que era.


- Eu achei que iriamos para a chácara. – Olhei desconfiada enquanto passávamos pelo litoral. – Pelo que me lembre, ela não passa por aqui.
- Tive que pegar outra rota, aquela estrada está horrível, não poderíamos levar as pequenas por ela.
Suspirei, concordando.
- Por que não dorme um pouco?
- O que você está aprontando que quer que eu durma?
- Oras, estou apenas te propondo porque vai demorar, que mulher mais desconfiada.
- Aham... eu te conheço, !
- E eu te amo.
Voltei a olhar pela janela, ainda tentando decifrar onde estávamos e foi quando eu o vi. Eu não podia acreditar que ele havia feito aqui.
- Seu mentiroso!
Ele sorriu.
- Eu não acredito! Meu namorado estacionou o carro bem em frente da pousada e um turbilhão de emoções voltou a minha mente.
- Eu queria fazer uma surpresa, e nada melhor do que onde nos conhecemos.
Sorri.
- Eu te amo. - O beijei.
Visivelmente, a pousada não havia mudado nada.
Saí do carro, pegando as meninas nas cadeirinhas. pegou nossas coisas e conforme adentrávamos o espaço, mais lembranças viam em minha mente.
- Por favor, quarto 54. - Ele se apressou e eu o olhei.
já havia programado tudo. Aquele era o quarto no qual ele havia ficado e no qual passamos nossas melhores noites e onde descobri que o amava pela primeira vez.
- Foi aqui que sua mãe me fisgou, garotas. - brincou, olhando para a escada onde nos cruzamos pela primeira vez.
Sorri boba.
- Foi aqui onde nosso destino foi traçado.


- Vamos, ! - Ele me apressava.
- Você já pegou a bolsa delas?
Ele negou.
- Então não me apresse.
Ele revirou os olhos.
Havia algo diferente nele. Parecia nervoso.
- Agora podemos ir. - Peguei a bolsa e entreguei a ele, enquanto pegava Lexie e entregava Marry a ele.
Saímos do quarto e seguimos pelo hall até a praia.
Meu namorado continuava tenso e apesar de estranhar não falei nada. Só apenas não entendia o motivo para tanta agitação assim.
- Vamos para aquela barraca para as meninas não ficarem no sol.
Dei de ombros e o segui.
Escolhemos uma mesa e passamos uns minutos até que o dono chamou o pai das minhas filhas. Estranhei mas deixei quieto.
Assim que ele voltou sorriu para mim.
- Aconteceu algo?
- Não se preocupe. Fui apenas fazer o pedido.
Dei de ombros tentando acreditar naquilo. Logo a praia começou a encher. As pessoas começaram a aparecer e eu estranhei. Muita coisa estava estranha hoje. As pessoas começaram a se aproximar. se levantou e pegou as meninas no colo.
Eu já não entendia mais nada.
- Aonde você vai?
- Ver o que está acontecendo.
Me levantei, o seguindo, e assim que saímos da barraca as pessoas que antes só se aproximavam começaram a me puxar para perto delas, me colocando no centro de um circulo no meio delas. Logo todos tiraram uma camisa e percebi que na camisa por baixo havia uma letra. Eles começaram a formar palavras na minha frente. ", casa comigo?"
Senti meus olhos marejarem, surpresa.
E foi quando apareceu com as meninas no colo.
- Passamos por tantas coisas juntos e hoje somos nós quatro. Você me fez o cara mais sortudo do mundo, mesmo eu te fazendo sofrer você me amou. Me ensinou tanta coisa, me aturou e eu te amo , mais do que a minha vida. Agora só resta você dizer que sim. Você aceita casar comigo?
E foi quando ele deixou que eu visse as meninas com blusas que diziam "Diz sim ao papai".
Sorri com aquilo, já sentindo o rosto molhar com lágrimas.
- Sim!


- Como você pode? – Falei, ainda com o rosto corado enquanto voltávamos a pousada.
Ele sorriu.
- Eu sei que foi meio...
- Nada disso! Foi maravilhoso eu só estou com vergonha. - Depositei um beijo em seu rosto.
Ele sorriu.
- Agora que você disse sim, vai ter que me aturar para o resto das nossas vidas.
- Ah, será que eu aguento? - Fiz bico.
- Já era, você deveria ter pensado em fugir de mim antes de engravidar, agora nós temos dois elos para nos unir.
- Isso se a família não crescer...
Ele parou abrupto.
- Você está grávida de novo? - Me olhou assustado.
- Claro que não! Eu ainda nem me recuperei das meninas e da próxima, se houver uma próxima, só quero quando elas já estiverem grandes.
- Que história é essa se houver? Vai haver! Quero meu time de futebol.
- Então compra uma seleção, querido.
- ... Pelo menos seis... cinco... quatro...
- Três é mais que o suficiente.
- A menos que sejam gêmeos novamente.
- Ok, isso está indo rápido demais...
Ele sorriu galanteador e colocou o braço que estava desocupado nos meus ombros, nos aproximando.
- Você já me deu tudo o que eu precisava, obrigado.
Sorri.
Ele hoje estava fazendo de tudo para me ver corada.


Os dias se passaram, e havíamos marcado a data do casamento. Não queríamos esperar muito e por fim decidimos fazer uma cerimônia na praia. Simples e singelo.
Enquanto eu me encontrava andando de um lado para o outro nervosa, esperava o cerimônialista me chamar.
Escutei duas batidas na porta e a olhei esperançosa que fosse ele.
- , está pronta? Ele já está te esperando.
Senti meus pelos eriçarem.
- Eu nunca estive tão pronta
Ele me olhou.
- Você está linda, garota! O vai enlouquecer.
Abri um sorriso ainda maior.
Ele me ofereceu o braço e eu aceitei e segui com ele até a entrada da pousada onde já estava.
Meu cunhado sorriu quando me viu.
- Você está linda.
- Obrigado.
- Se me der a honra... - Me ofereceu o braço e eu o peguei.
Logo a marcha nupcial começou a tocar e conforme andávamos até o altar, era como se eu estivesse em câmera lenta vendo tudo que havíamos passado.
Chegamos tão longe juntos e agora, seriamos um ao outro eternamente.
Assim que chegamos a frente do , me entregou a ele e saiu para o lado da namorada.
Meu noivo beijou minha testa e nos viramos para o padre.
- Estamos aqui para conceber em matrimônio esse jovem casal, e . É por livre espontânea vontade que estão aqui?
- Sim. - Respondemos juntos.
- Então repita comigo . Eu , aceito como minha legítima esposa na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até o último dia de nossas vidas.
- Eu aceito como minha legítima esposa na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até o último dia de nossas vidas. - Ele sorriu colocando a aliança em meu dedo.
- Agora você . Eu aceito como meu legítimo esposo na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até o último dia de nossas vidas.
- Eu aceito como meu legítimo esposo na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até o último dia de nossas vidas. - Coloquei a aliança em seu dedo.
- Pelo poder em mim investido, eu vos declaro marido e mulher, pode beijar a noiva.
me olhou nos olhos e nos aproximou selando nossos lábios.
- Agora sim, você é minha. Só minha e eu só seu.




- Faz um pedido, papai! - As pequenas insistiram.
fechou os olhos e assoprou as velas. Todos aplaudiram.
- O que pediu? - Lexie o questionou.
O pai olhou para a pequena sorrindo e logo olhou para a mulher a sua frente.
- O que mais eu poderia querer, querida?
- A mamãe disse que um irmãozinho. - Marry deixou escapar e a irmã tapou sua boca.
olhou para , que vinha até ele com uma caixa embalada em mãos.
- Seu presente, querido. - Depositou um selinho nos lábios do marido e se afastou para ele abrir.
rasgou o papel de embrulho e abriu a caixa, encontrando uma camisa.
- Obrigada, amor! - Beijou a mulher.
- Por que não prova? - O questionou, já colocando o plano em prática.
Assim que puxou a camisa da caixa um envelope caiu. Ele se abaixou, pegando o envelope marrom com uma frase escrita em vermelho.
"Eu ganhei!"
Ele olhou para a mulher sem entender.
- Abre logo, papai! - As meninas o apresaram.
Ele abriu o envelope tirando um papel de lá onde havia umas medições. Peso, altura, tamanho da cabeça, braços e pernas e lá em baixo sexo: masculino.
O marido olhou para a mulher surpreso e ainda tentando absorver as novas informações.
- O que eu falei? Agora temos três.
a abraçou e beijou-a.
- Eu então... Eu vou ser pai de novo?
Ela assentiu.
a beijou mais uma vez. Estava tão feliz com a recém descoberta que mal se cabia em si.
- Eu vou ser pai de novo! - Gritou para todos escutassem.
- ! Calma. - Ela riu enquanto ele a beijava apaixonado.
Mesmo com seis anos de casamento, ele ainda continuava o mesmo, assim como ela.
Eles dois se completavam e sempre foi assim, eles só não sabiam que estavam destinados a ficarem juntos para sempre, pois um amor tão bonito, não poderia ser esquecido ou desvalorizado de tal forma. Aquele era um sentimento que poucos tem a sorte de se encontrar para que seja eterno e os que o encontram, estão fardados a serem um do outro o revivendo cada dia.
- Eu sei que eu já disse isso um milhão de vezes, - pegou suas meninas no colo, enquanto elas riam.- Mas, você mudaria alguma coisa se pudesse?
Ela olhou para as garotas que o pai já havia colocado no chão e corriam pela casa. - Se fosse para não ter tudo isso, não.
Ele sorriu a abraçando por trás.
- Nem eu. - Sussurrou em seu ouvido. - Nem um grãozinho.




FIM.



Nota da autora: (20/08/2017) Muitas lágrimas! Chegou ao fim a tão esperada história do casal mais complicado do mundo. Eles passaram tanta coisa e obrigado aquelas que continuaram aqui até o fim. Acompanharam eles nos momentos ruins e bons, os apoiando e sofrendo com eles. Isso as faz parte da história deles também. Agora vamos dando um tchauzinho e comentando ai o que acharam! Beijocas.




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