Era 23h45 da noite quando ouviu um barulho no quintal, logo abaixo de sua janela.
Estranhando, uma série de possibilidades passou pela sua cabeça, desde ladrões até fantasmas, e em seu pijama velho e amassado, ela remexeu-se na cama onde estava lendo novamente sobre Princeton para acostumar-se com a ideia de que, dali algumas horas, estaria pisando na universidade de seus sonhos.
Com medo de olhar na janela, fingiu que não ouviu nada e voltou à leitura, mas então ouviu um barulho novamente, dessa vez bem mais alto, que parecia tanto com o de alguém derrubando a lata de lixo que não conseguiu mais ignorar aquilo. Teve que levantar e pensar no que fazer.
Pegou o telefone ao lado da mesinha de cabeceira e pensou em chamar a polícia, mas com a imagem na cabeça de policiais chegando até a sua casa e encontrando apenas algum gato bagunceiro fez com que se sentisse envergonhada.
Pensou, então, em ir até o quarto dos pais, que dava para o outro lado do quintal, e acordá-los.
Já estava quase saindo do quarto quando uma voz chegou aos seus ouvidos, alta o suficiente pra ser mais que um sussurro, mas não tão alta que fizesse seus pais ouvirem.
- !
Silêncio.
- ! Sou eu, .
Com o medo se desfazendo instantaneamente, andou a passos rápidos até a janela e abriu, colocando então a cabeça para o lado de fora e olhando para baixo.
- ! - a garota quase gritou, mas depois disse mais baixo: – O que diabos você está fazendo aqui, ?
- Pensei em vir te desejar uma boa viagem – ele disse, fofo e ao mesmo tempo triste, o que fez querer abraçá-lo imediatamente.
Estava logo abaixo de sua janela, com uma roupa amassada e chinelos, o cabelo completamente bagunçado, como se antes de resolver ir até a casa dela, estivesse tentando dormir.
- Meu Deus, - a garota, agora mais doce, repreendeu-o. – Você faz ideia do que meu pai diria se te pegasse aqui a essa hora?
Com uma voz mais grossa e aparentemente mais velha, imitou o pai dela.
- Você, rapaz, ultrapassou mais um limite e isto é inadmissível.
sorriu de lá de cima, o primeiro andar, já sentindo a falta que ele lhe faria.
Encararam-se por alguns momentos, ambos avaliando o que perderiam para realizar seus sonhos.
Namoraram durante dois anos, um namoro que era sincero e real, muito diferente de todos os que eles tiveram antes de começarem a se gostar. Foram dois anos de lutas, de brigas, de terem que abdicar outras coisas que queriam para poderem agradar ao outro. Mas foram também dois anos de amor, carinho, dois anos sabendo que não importava pelo o que passassem, ao fim do dia ainda teriam um ao outro.
Mas agora e estavam prestes a seguir estradas diferentes. Ela iria para Princeton, a faculdade de seus sonhos, e iria para Stanford, do outro lado do país para aproveitar a oportunidade que teve de ser aceito em uma faculdade tão boa.
E por conta disso, decidiram que seria melhor terminarem uma semana antes de partirem, porque ambos concordaram que seria impossível manter um relacionamento de tão longe. E se fosse possível, passariam mais tempo sentindo saudades e machucando um ao outro do que, de fato, juntos.
sorriu para o rapaz parado ao pé de sua janela, o mesmo que ela conhecia tão bem e do qual sentiria tanta falta, e então assentiu para o mesmo.
- Me espere aí, eu vou descer.
Quando chegou lá embaixo, andando silenciosamente pela casa para não correr o risco de acordar os pais, abraçou-a com força e assim ficaram por longos minutos.
- Não vai me largar não? – ela sussurrou no ouvido dele e viu que o garoto se arrepiou com o ato antes de rir.
- Eu não queria – mas largou-a e cruzou os braços, ao passo que ela colocou as mãos nos bolsos do pijama velho e surrado que usava, um que ela amava e era super confortável, mas não a deixava exatamente uma beauty queen.
- Então – começou, olhando para as pantufas que calçava e sentindo-se um pouco estranha. Não contava que fosse ver novamente. Ele iria pra Stanford um dia depois que ela partisse para Princeton e haviam combinado que seria mais fácil assim para ambos. Terminaram exatamente porque não queriam deixar coisas mal resolvidas para trás e embora se sentisse desconfortável com a possibilidade de ter mudado de ideia, não podia negar que estava feliz por ele estar ali. Nem que ela mesma pensara em desistir diversas vezes. – Como estão as coisas?
deu de ombros.
- Ah, você sabe... Uma correria pra arrumar tudo o que preciso levar e um chororô da minha mãe porque vou ficar longe e tal – deu de ombros novamente, agora descruzando os braços. – E por aqui?
- A mesma coisa – sorriu e então o silêncio se instalou.
Ambos pensavam o mesmo. Dali a algumas horas, ela estaria indo para New Jersey, tão longe da Califórnia, onde estaria, que nem queriam imaginar.
Mas eram seus sonhos em jogo, afinal. E eles, ao contrário de muita gente, resolveram encarar a dura realidade: conheceriam um mundo completamente novo daquele que viviam na Flórida. Conheceriam novas pessoas, novas coisas... talvez novos amores. E mesmo que naquele momento se amassem, não queriam ser um peso na vida do outro.
Precisavam seguir em frente.
O silêncio foi interrompido por uma risada de , que puxou para um abraço novamente.
- Isso é tão estranho – ele disse. – Eu sei o que devemos fazer. Juro que sei. Mas agora, nesse momento, eu não me importaria de largar tudo, até o medo do seu pai, pra ter uma última noite com você.
manteve o silêncio, apenas pensando. Já era meia-noite e os dois estavam no quintal da casa dela correndo o risco de alguém vê-los e o pai dela dar-lhe uma bronca enorme por culpa disso.
Mas incrivelmente, ela não estava ligando de verdade. estava ali com ela pela última vez. E nenhum dos dois fazia a menor ideia de quando se veriam novamente.
Soltando-se dele, a garota sorriu.
- Então larga – ela disse, e ergueu as sobrancelhas. – Larga tudo e vamos ter uma última noite juntos, . Acho que nós dois merecemos isso.
O sorriso do rapaz foi aumentando aos poucos e ao final ele já tinha um sorriso quase maior que a cara estampado no rosto.
Sem falar nada, começou a puxá-la para fora e relutou.
- Ei, espera! Eu estou de pijama, seu maluco!
- Quem liga? – ele respondeu, continuando a puxá-la. – Eu gosto desse pijama, você fica linda nele, .
A garota bufou e tentou voltar, mas pegou-a no colo e começou a levá-la para longe da casa, enquanto ela esperneava em silêncio pra não chamar muita atenção.
Quando chegaram à frente da casa e colocou-a no chão, a garota estapeou-o.
- Seu idiota, olha como eu estou!
- Já disse que não ligo! – Ele riu. – Vamos! Nosso encontro à meia noite começa agora!
E, revirando os olhos, seguiu o garoto pelas ruas da pequena cidade na Flórida que, por aquela noite, eles ainda podiam chamar de casa. A mesma cidadezinha que vira todo um romance começar.
As poucas pessoas passando na rua, quando os viam andando de mãos dadas e balançando-as para a frente e para trás como crianças, enquanto estava de pijama e pantufas e todo amassado e com cara de sono, mudavam de calçada. O que só fazia com que os dois trocassem um olhar e começassem a gargalhar.
Estava tudo fechado àquela hora, com exceção de alguns bares e lojinhas de conveniência, e levou em uma dessas, a mesma que eles foram dois anos antes, na primeira vez que foram à praia juntos, pra que comprasse um par de chinelos depois que pisou sem querer no que ele usava enquanto o garoto tentava andar e acabou por arrebentá-lo.
Compraram sorvete, enquanto o funcionário do turno da noite os olhava como se fossem marcianos, e enquanto tomavam, foram andando pelas ruas, fazendo o caminho de volta.
Foram conversando sobre o passado, relembrando as coisas que marcaram o relacionamento dos dois.
- Lembra aquela vez que você disse que seus pais não estariam em casa – começou e já fez uma careta.
- E aí você foi lá e o cachorro te atacou? – ele completou por ela. – Sim, eu lembro. – Riu dela e a garota fez cara feia.
- Sério, não importa quantos anos passem nem o que você faça, nunca vou conseguir te desculpar por aquilo.
- Ei! – ele protestou. – Quando você disse que os seus pais não estavam em casa e eu fui lá, seu pai chegou na hora mais crítica da história! – ele falou bravo. – Deve ser por isso que ele não gosta de mim.
- É exatamente por isso – riu. – Teve aquela vez também, lá na escola, que estávamos andando no intervalo e eu te derrubei, lembra?
A garota caiu na gargalhada e, , no início, fez cara feia, mas acabou por rir também. era uma desastrada, tropeçou nas próprias pernas e, pra não cair, se jogou pra cima dele e então os dois foram pro chão.
- No meio do pátio! – ele lembrou. – Pra todo mundo ver! Só você mesmo pra me aprontar uma dessas.
Olharam-se e sorriram. Eram muitas memórias, muitas coisas passadas juntos. Também porque, depois do namoro, não eram apenas namorados. Tornaram-se amigos e poderia dizer com toda a certeza que era seu melhor amigo agora. E era também mais coisa que ela perderia quando partisse pela manhã.
Chegaram à frente da casa da garota e encostaram-se ao portão. Ainda não tinham trocado nenhum beijo aquela noite. Saíram juntos, sim. Andaram de mãos dadas, sim. Ficaram abraçados por muito tempo, sim. Mas mais que isso era como realmente se despedir e mesmo que quisessem aproveitar cada minuto, nenhum dos dois queria admitir que aquela seria a última vez. Pelo menos, não queriam admitir àquela hora.
sorriu triste quando seu sorvete acabou e fez o mesmo.
- Que foi, ?
- Não queria me separar de você – ela foi sincera e o garoto puxou-a pra perto.
- Não precisa – disse. – Fica coladinha assim comigo que tá tudo certo. – Piscou e a garota riu, estalando um beijo gelado na bochecha dele, o que fez o garoto encará-la.
Colocou uma mão na nuca dela, entre os cabelos que estavam presos em um rabo de cavalo.
- Vem cá – chamou e então puxou-a pra mais perto, colando seus lábios aos dela, em um beijo calmo e gelado, que logo foi ficando quente conforme o ritmo aumentava.
- – a garota disse, quando se separaram por alguns segundos. – Eu quero você, – pediu. – Uma última noite. Pode ser?
O rapaz assentiu e beijou-a novamente, enquanto ela o puxava para dentro da casa e eles tropeçavam nas pernas um do outro.
Riram quando quase o derrubou de novo e então ela saiu correndo na frente dele, indo em direção à porta de entrada.
foi atrás, esperando a garota checar se seus pais continuavam dormindo e quando ela confirmou, subiram rápidos e em silêncio para o quarto dela.
Quando chegaram, abraçou-a pela cintura e deu-lhe um beijo no pescoço.
- Se o seu pai me pegar aqui – ele começou, mas o interrompeu.
- Ele não vai te matar – prometeu. – Eu te protejo. – Piscou do jeito que fazia e ele deu risada.
- Então ok, minha Mulher Maravilha. Confio em você.
Estavam ambos deitados na cama de , cobertos apenas por um lençol, abraçados.
deu um beijinho no nariz de , tentando afastar da mente que aquela seria uma das últimas oportunidades que ela teria de fazer um carinho como aquele.
- Psiu – chamou a atenção do garoto e ele a encarou. – Vou sentir sua falta.
- Claro que vai, qualquer uma sentiria – brincou, com cara de convencido, e depois retribuiu o beijo que ela lhe deu, – Vou sentir sua falta também, .
Encararam-se novamente e, como se soubessem que o fim estava próximo, abraçaram-se mais forte.
- Eu preciso ir.
- Você precisa ir – confirmou e suspirou.
Levantaram-se devagar e no mesmo ritmo lento, vestiram suas roupas e arrumaram a bagunça que deixaram no quarto. Não queriam que acabasse de forma rápida.
Desceram as escadas em silêncio e tiveram um minuto de pânico quando ouviram um barulho vindo do quarto dos pais de , mas no fim nenhum dos dois levantou e a garota conseguiu levar até a porta.
- Ei – ele disse, antes de ir embora. – Eu sei que isso parece o fim, mas nós nunca vamos acabar pra mim, ok? – ameaçou chorar e abraçou-a. – Mesmo que você encontre outra pessoa lá, ou eu na Califórnia, nunca vou esquecer nem um minuto do que passamos juntos, . Você me ajudou a realizar meu sonho, me deu dois anos incríveis ao seu lado e eu sou muito feliz por ter a chance de ao menos lembrar tudo o que passamos.
fungou, tentando controlar as lágrimas. Tinha prometido não chorar na frente dele.
Afastou-se e pousou suas mãos no rosto do, até uma semana atrás, namorado, e então depositou um leve beijo em seus lábios – esse sim, o último.
- Também não vou esquecer de nada, . Você vai sempre ser a melhor pessoa que eu já conheci.
O rapaz sentiu os olhos arderem, mas abraçou-a novamente e, no ouvido dela, disse o que viera dizer:
- Boa viagem. Tudo de bom lá em Princeton. Tenho certeza que você vai se dar super bem.
- Pra você também – ela sussurrou de volta. – Não esqueça de me contar tudo o que acontecer lá em Stan...
Uma luz se acendendo no corredor fez com que a garota se calasse e os dois arregalassem os olhos.
- ? – a voz do pai dela chamou e a menina quase surtou.
- Vai, vai! – disse para e mesmo que estivesse com medo, ele riu.
Deu-lhe um selinho rápido e, antes de correr pra fora, sussurrou uma última promessa em seu ouvido.
- Essa não foi a última vez, .
Quando o pai da garota a encontrou, ela estava parada na porta, olhando para o nada, com um pequeno sorriso no rosto e o cheiro de ainda em sua pele.
- , o que está fazendo aqui? – o pai dela olhou-a desconfiado e ela deu de ombros.
- Ouvi um barulho e vim ver o que era.
- E...?
- Era um gato – mentiu. – Derrubou a lata de lixo, mas já a levantei. – Fechou a porta e sorriu para o pai. – Vou voltar para o meu quarto. Boa noite.
Subiu as escadas correndo, trancou a porta e jogou-se na cama, repassando cada momento daquela noite em sua cabeça, pra não correr o risco de esquecer algum detalhe depois.
Agarrou-se ao travesseiro e, com o cheiro de invadindo suas narinas, relaxou o suficiente para conseguir dormir.
Pela manhã, estava no aeroporto e uma vozinha chata de mulher já anunciava a última chamada para seu voo.
Abraçou o pai, despedindo-se, e ela e a mãe caminharam para o portão de embarque. A mãe iria com ela apenas para checar se estava tudo certo lá e ajudar com o que precisasse, mas depois voltaria para a Flórida e então estaria, definitivamente, sozinha.
A garota estava um pouco distraída, pensando em como sentiria falta daquele lugar e de seus amigos e, principalmente, de . Mesmo que soubesse que fizeram a escolha certa, aquela dorzinha no peito não sumia assim, de repente.
A mãe a guiou até o avião e, na hora de embarcar, ela deixou que uma lágrima escorresse.
Acenou para ninguém à vista, pensando que aquele aceno seria para uma das pessoas mais importantes de sua vida, se essa pessoa estivesse ali para vê-la, e então entrou no avião, triste, mas preparada para encarar sua nova vida.
Ela só não sabia que, ao longe, um rapaz olhava para a direção em que ela estava. E mesmo que não pudesse enxergar ninguém direito daquela distância, ele acenou também.
Os olhos de ardiam novamente, naquela vontade de chorar, mas ele se manteve forte com o pensamento de que aquela não era a última vez que a veria.
Ainda se encontrariam de novo, porque o futuro era incerto, mas o que ele sentia por ela, sabia ser mais certo do que qualquer outra coisa que já sentira.
Fim
Nota da autora: (11/10/2015)
Escrevi essa fic pra um especial de um outro site, mas não consegui enviar a tempo porque tinha preguiça de escrever dentro de prazos HAHAHAHA mas no fim, terminei a história e gostei do resultado final, então, espero que vocês gostem também ;)
Se quiserem ler outras fics minhas, aqui vai a listinha:
Em andamento:
The Hardest Part (Outros)
Finalizadas:
Story Of Us (McFLY, Restrita) – Longfic;
5 Canções (McFLY);
All We Ever do Is Say Goodbye (Outros) – Songfic;
Anatomia (The Maine, Restrita);
Famous in My Heart (Outros);
I Know I’m Not Alone (Outros) – Songfic;
Last Night With You (Outros);
Love is on The Radio (McFLY) – Songfic;
Lovely (Outros);
Pequeno Infinito (The Maine);
Sorriso Fugitivo (Outros, Não-Interativa);
Without The Love (Outros) – Songfic.
Obrigada por terem lido e obrigada à minha beta, Nanda <3
Qualquer erro nessa atualização são apenas meus, portanto para avisos e reclamações somente no e-mail.
Para saber quando essa linda fic vai atualizar, acompanhe aqui.
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