Última atualização: 08/07/2022

Prólogo


A vida é cheia de altos e baixos. Sempre existem aqueles momentos em que pensamos que vamos falhar ou que não vamos conseguir algo. Sempre há gente para duvidar do que somos capazes de fazer e até onde iríamos para conseguir o que queremos, mas é isso que sempre motiva várias pessoas a batalharem para mostrar o quanto aquelas pessoas estavam erradas. Foi isso que aconteceu comigo. Eu passei por momentos difíceis e várias frustrações. Houveram momentos em que eu achei que não conseguiria e que todos estavam certos ao dizer que eu não era capaz, e olha que essas pessoas incluíam meus pais, aqueles que deveriam, pelo menos, me apoiar.

Eu queria ser uma nutricionista, mas, acima de tudo, eu queria cursar a faculdade fora do país. Eu passei por várias fases para conseguir terminar um curso e aprender o tão amado inglês, passei anos juntando todas as minhas economias para conseguir ter uma boa quantia no final para poder me sustentar. Eu nunca fui uma garota rica ou com boa condição financeira, talvez seja por isso o motivo de várias pessoas me apontarem como incapaz, mas eu sempre tive esperança de que um dia conseguiria.

E esse dia finalmente tinha chegado, um ano após eu ter terminado o colegial. Foi o dia mais feliz da minha vida em meses, e eu fiquei tão ansiosa que em dois dias minhas malas estavam todas arrumadas. Minhas amigas ficaram felizes e me ajudaram em tudo, inclusive, fizeram uma festa de despedida para mim, que eu até tentei negar, mas quando aquelas duas colocam algo na cabeça ninguém é capaz de mudar.

Realmente me despedir das minhas amigas e da minha família foi a parte mais difícil que eu fiz desde que havia recebido a notícia de que realizaria meus sonhos, mas ao entrar naquele avião, eu pude perceber que aquilo era realmente necessário para que eu pudesse viver o meu sonho. A partir dali eu tinha certeza que a minha jornada estaria apenas começando.


Capítulo I



Aeroporto, Londres. 7 P.M.

Respirei fundo e olhei ao redor. Finalmente eu estava no lugar que sonhei em estar desde que me entendo por gente. O meu sorriso estava tão largo que as pessoas ao meu redor me olhavam com espanto, mas isso não me abalava, eu estava tão feliz que até o frio insuportável daquela cidade não me abalava, - apesar da minha roupa ajudar um pouco a me proteger do frio - nada poderia estragar a minha felicidade.

Ao passar pelo portão de desembarque, avistei um senhor segurando uma placa com o meu nome. Provavelmente um dos funcionários da universidade que me acompanharia até a universidade já que eu não conhecia nada por aqui.

- Olá, você deve ser a Srta. . - Ouvi a voz do senhor ao me aproximar - Meu nome é Alfred e eu vou guiá-la até a Kingston University.

- Eu mesma, mas, por favor, me chame só de . - Dei um sorriso simpático.

- Como quiser, . - Ele retribuiu o sorriso. - Deixe-me ajudá-la com essas malas.

Ele pegou duas das minhas malas e começou a andar em direção a saída do aeroporto, peguei as duas malas que faltavam e o segui. Após colocar as malas dentro do porta-malas, entrei na parte de trás e logo o motorista arrancou com o carro.

Eu admirava a cidade enquanto o carro passava pelas ruas já pouco movimentadas de Londres, a noite deixava a cidade ainda mais bonita. Eu podia apostar que eu estava fazendo a maior cara de idiota, mas estar ali ainda era surreal demais para mim. Eu me sentia como se pertencesse àquela cidade e que tudo o que eu tinha antes era só uma maneira de chegar ao lugar que era meu por direito, quero dizer, eu sempre amei Londres, mas estar ali fazia o sentimento de pertencer àquele lugar parecer ainda mais forte. Perdi a conta dos minutos que eu fiquei observando aquele lugar maravilhoso aos meus olhos, e eu posso garantir que o que veio a seguir não era um terço do que eu imaginava. A universidade era mil vezes mais linda pessoalmente do que em fotos, minha boca se abriu e eu estava tão deslumbrada que nem percebi quando o carro parou.

- Srta. ? – Alfred me tirou de pensamentos, me virei para ele.

- Ahn? Oi? Ah sim, desculpe... – Falei toda atrapalhada enquanto descia do carro, pude perceber que Alfred se segurou para não rir.

- A senhorita precisa ir até a secretaria, lá vão lhe informar onde será o seu quarto e você irá receber seu horário e um mapa. Não se preocupe com as suas malas, eu mesmo me encarrego de deixá-las no seu dormitório.

- Tudo bem. Obrigada. – Sorri e acenei, em seguida caminhei em direção ao lugar que Alfred havia indicado.

Algumas pessoas passeavam pelo campus e não pude deixar de notar alguns olhares curiosos sobre mim, tentei não me importar, afinal eu que era a novata por ali, então era um pouco normal a curiosidade.

Parei em frente a uma porta que tinha escrito secretaria e bati duas vezes antes que minha entrada fosse permitida.

- Com licença. – Disse, timidamente.

- Entre, querida! Você deve ser a aluna nova que veio do Brasil, certo?

- Sim, o motorista disse que eu poderia vir aqui.

- Prazer em conhecê-la, seja bem vinda em nossa universidade. – Ela estendeu a mão para mim e eu a cumprimentei.

- Obrigada! É muito importante para mim estar aqui.

- Que bom, espero que encontre aqui tudo o que deseja. – Ela sorriu, e antes que eu pudesse responder, continuou. - Deixe-me pegar a chave do seu quarto. – Ela andou até uma cômoda que tinha várias chaves e tirou uma. – Aqui está. – Peguei a chave de suas mãos. – E aqui nessa pasta estão os seus horários e um mapa, caso precise. Como você sabe, as aulas começam na próxima semana.

- Sim, muito obrigada Mrs.... – Não sabia seu nome.

- Howkins.

- Muito obrigada, Mrs. Howkins. – Repeti.

Despedi-me e logo já estava de volta no Campus tentando me guiar por entre os prédios.

- Precisa de ajuda? – Uma menina sorridente apareceu ao meu lado.

- Por favor. – Sorri

- Sou .

- , mas, por favor, me chame de .

- Ok, , me chame de .

- Ok, .

- Então, em que você precisa de ajuda?

- Não sei onde fica o meu quarto. – Fiz careta

- Os dormitórios ficam naquela direção. – Ela apontou para direção oposta, ri da minha própria idiotice e refizemos o caminho.

- Você não é daqui, é?

- Não, eu vim do Brasil.

- Que legal! Já ouvi falar muito do Brasil. – Ela exclamou.

- É um lugar maravilhoso. – Sorri

Chegamos em frente ao prédio dos dormitórios.

- Qual é o número do seu quarto?

- 211.

- Não pode ser! Nós vamos ser colegas de quarto! – Ela começou a dar pulinhos, e eu ri da animação dela.

- Isso é ótimo, pelo menos já vai ser alguém que eu conheça.

- Sim, vai ser demais! Em um ano que eu estou aqui ainda não tive uma colega de quarto. – Ela explicou, e eu entendi o motivo de tamanha animação da parte dela.

Paramos em frente à porta do quarto, fiz menção de pegar a chave no bolso, mas foi mais rápida e abriu a porta com a própria chave. Entramos no quarto e eu me assustei com o tamanho. Geralmente quartos de universidade são bem pequenos, mas esse era incrivelmente grande, tão grande que possuía duas camas de casal. Perfeito!

- Esse quarto é duas vezes o tamanho do meu quarto no Brasil! – Falei boquiaberta.

- Eu também fiquei impressionada quando vi esse quarto pela primeira vez. – Ela disse olhando ao redor. – Aquela ali é a sua cama, aquela porta no canto é o banheiro e aquela outra porta é o closet. E quanto a isso não se preocupe, tem bastante espaço.

- Eu não vou precisar de tanto espaço. – Peguei uma das minhas malas que estavam no canto do quarto e coloquei-a em cima da minha cama – Só de pensar em desarrumar todas essas malas me dá uma preguiça. – Reclamei

- Eu te entendo, eu posso te ajudar se você quiser. – Ela se ofereceu.

- Não precisa, não quero te incomodar.

- Não é incômodo, mas acho que antes de arrumar algo você deveria descansar.

- Eu concordo, nunca pensei que viajar pudesse me deixar tão cansada.

- Então eu vou aproveitar que tenho que resolver algumas coisas, e vou te deixar à vontade.

- Tudo bem. – Concordei.

- Até daqui a pouco. – Ela disse, e se retirou do quarto.

Já sozinha, me pus a desarrumar algumas roupas e em minutos eu já havia esvaziado duas malas. Olhei para as duas malas restantes e suspirei, eu terminaria depois. Separei um par de roupas, peguei minha toalha e os produtos que eu iria usar durante o banho e caminhei até o banheiro. Não me surpreendi ao ver que o banheiro também era grande. Os azulejos tão brancos quase me cegaram, no canto tinha uma banheira e um box com chuveiro. Coloquei meus pertences na extremidade da pia que estava vazia, me despi e entrei no box.

Após tomar banho e vestir um pijama, me deitei na cama, cansada demais para fazer alguma outra coisa. Eu tinha que ligar para minha mãe e minhas amigas, mas eu deixaria isso para quando acordasse, eu estava mesmo precisando descansar. Então, só fechei os olhos e deixei que a inconsciência me tomasse.

...




Acordei com a música irritante do meu celular em algum lugar vindo do quarto, tateei a cômoda em busca do aparelho, mas o maldito não estava lá. Bufei ao lembrar que havia o deixado dentro da minha bolsa e me sentei na cama preguiçosamente. O aparelho parou de tocar, mas, antes que eu pudesse voltar a me deitar, a música começou novamente. Frustrada, me levantei de vez e vi que dormia profundamente na própria cama, por um momento senti inveja por ela ter um sono tão pesado, mas então o celular me lembrou do motivo pelo qual eu estava acordada em plena 7:00 da manhã. Porra, eu vou matar o infeliz que me acordou tão cedo!

Depois de vasculhar a minha bolsa, encontrei o telefone e o atendi de uma vez sem ao menos olhar no visor.

- Alô? – Murmurei, o mau humor explícito na minha voz.

- Te acordei? – A voz da minha melhor amiga se fez ouvir.

- Não, . Eu aprendi a atender o telefone dormindo. – Revirei os olhos

- Ouch! Quanto mau humor, aí está tão cedo assim?

- São 7:00 horas da manhã, , e pelas minhas contas, você deveria estar dormindo a essa hora. – Me sentei na cama.

- Eu acabei de chegar de uma festa, e eu vi uma coisa lá que achei que você deveria saber.

- Não podia esperar apenas mais umas horas pra frente? – Bufei e ela ficou calada. – ‘Tá bom, fala o que você viu.

- O ‘tava na festa e ele estava se agarrando com a vadia da Katarina. – Ela foi direta, o que geralmente era uma coisa que eu apreciava em , mas não hoje. Meu corpo ficou estático e eu fiquei sem saber o que responder.

era o meu ex-namorado, eu havia terminado com ele duas semanas antes de vir para Londres. Havia sido a coisa mais difícil que eu havia feito, mas eu não acreditava que namoro a distância daria certo. Por mais que eu o amasse, eu sabia que iriamos terminar no futuro de qualquer maneira, e eu só quis adiar o sofrimento para ambos. Bom, agora eu vejo que foi só pra mim, já que ele não havia pensado duas vezes antes de ficar com a vadia da Katarina, como tinha acabado de me dizer. Mas eu não podia ficar com ciúmes ou raiva, eu havia me colocado nessa situação, então eu teria que lidar com ela e fingir que não me importava.

- ? – A voz de me tirou dos pensamentos, respirei fundo.

- E o que eu tenho a ver com isso, ? Eu e não somos mais nada, ele é livre pra ficar com quem quiser.

- Eu sabia que você diria isso, eu te conheço, . Você não precisa se esconder na sua máscara de indiferença, não pra mim. – Fechei os olhos e dei um suspiro. Eu, sinceramente, odiava o fato de me conhecer tão bem.

- O que você quer que eu faça, ? Eu que me coloquei nessa situação, eu terminei com o e, além do mais, eu estou em Londres. Não posso simplesmente interferir na vida dele, eu não tenho esse direito.

- Eu sei, mas...

- Sem “mas”. – Interrompi-a - Não tem nada que eu possa fazer, então deixe que ele siga em frente, mesmo que seja com a Katarina.

- , o te ama! Ele só fez isso porque ele sabia que eu ia ver e te contar.

- E daí, o que, ? Ele achou que eu iria voltar correndo pro Brasil e pedir pra voltar com ele pra depois voltar pra cá e terminarmos meses depois de novo? As coisas estão melhores assim.

- Você é tão cabeça dura. – Ela resmungou.

- Não sou cabeça dura, estou apenas fazendo o que eu acho que é certo. Você, mais do que ninguém, sabe que namoro a distância não dá certo, imagina por quatro anos.

- Ele se arrepende por não ter se despedido de você.

- Ele te disse isso? – Perguntei.

- Não, mas dá pra perceber.

- Bom, se for, já é tarde demais. E, talvez, tenha sido até melhor, você sabe que eu odeio despedidas. – Menti, a verdade é que eu queria, sim, ter me despedido do , mas eu não admitiria isso para ninguém.

- Se é o que você acha. – disse vagamente, eu odiava quando ela falava assim como se soubesse da verdade mas não quisesse discutir.

- Então quer dizer que eu mal fui embora e você já está se divertindo sem mim? – Mudei de assunto.

- Você fala como se saísse muito comigo, né? – Ela ironizou

- Tem razão. – Ri brevemente. – Como está a ?

- Bêbada e babando no meu colchão, mas bem, eu acho.

- Tão típico da . – Revirei os olhos, sempre que ficava bêbada demais para ir para casa, sempre dormia na minha casa ou na de .

- Me fale de você, como estão as coisas por aí? Tenho certeza que sua mãe vai me encher de perguntas assim que eu a ver mais tarde.

- Estão bem. Pelo pouco que eu vi da cidade, é maravilhosa! Pretendo sair hoje para conhecer mais um pouco.

- Faz bem, e, pelo amor de Deus, você está em Londres! Então me faça o favor de não ficar trancada em casa sempre, sim?

- Eu não tinha essa intenção. – Disse.

- Acho bom que não tenha mesmo. – Ela disse, ouvi um bocejo logo em seguida. – Olha, , eu tenho que desligar. Já está amanhecendo e o sono chegou. Nós nos falamos outra hora.

- Eu não deveria deixar você dormir só de vingança, mas eu sou uma boa amiga, eu vou te dar essa chance. – Ela riu. – Quando vir a mamãe, diga à ela que já estou com saudades e que assim que puder eu ligo pra ela.

- Digo sim, até depois, . – Desliguei o telefone e suspirei, eu já sentia saudade da minha amiga e de todos que eu havia deixado no Brasil.

Totalmente livre do sono, eu decidi que iria tomar banho e depois dar uma volta pela cidade. Separei uma roupa e em seguida entrei no banheiro. Meia hora depois, eu já estava pronta. Peguei algum dinheiro e coloquei na minha bolsa, junto com o celular. Pensei em acordar e convidá-la para ir comigo, já que eu não conhecia bem a cidade, mas desisti logo em seguida, não seria justo acordá-la por um motivo tão bobo.

O campus estava totalmente vazio devido a hora, era sábado e todos ali acordariam tarde, assim como eu faria se meu sono não tivesse sido interrompido pela ligação da minha melhor amiga. Diferentemente da universidade, as ruas de Londres estavam movimentadas, devido a mais um dia de trabalho de cada uma daquelas pessoas que andavam apressadas de um canto a outro. A manhã estava um pouco fria, mas não o suficiente para que o fato de eu ter vestido uma roupa que deveria ser usada no verão me incomodasse. Andei por alguns quarteirões, guardando cada pedaço recentemente na minha memória, para que eu não me perdesse futuramente. Ao passar em frente uma Starbucks, decidi parar e comprar alguma coisa para comer, já que meu estômago roncava furiosamente.

Assim que entrei no lugar, o cheiro de café invadiu minhas narinas e consequentemente minha fome foi triplicada, se é que isso era possível. O lugar estava bem movimentado, o que ajudou para que demorasse um pouco para que eu fizesse o meu pedido e em seguida conseguisse um lugar para me sentar. Senti uma mão tocar meu ombro e virei para olhar quem era.

- Com licença, você se importa se eu me sentar aqui? – Um rapaz, incrivelmente lindo, por sinal, perguntou com um sorriso simpático e sedutor nos lábios. – É que não tem mais nenhum lugar vago. – Ele se explicou ao ver que eu o olhava com cara de idiota.

- Claro, fique à vontade. – Sorri debilmente. Era assim que eu ficava quando via um menino bonito. Patético, eu sei, mas eu tinha uma única explicação óbvia para isso. Eu tinha um abismo por homens britânicos, principalmente pelo sotaque deles.

- Sou , . – Ele estendeu a mão para mim e eu forcei a minha mente a parar de agir como uma adolescente virgem e cumprimentar o rapaz a minha frente, afinal, eu nem o conhecia e não poderia cair de amores pelo primeiro britânico que aparecesse na minha frente, eu ainda amava o .

- , . – Apertei a mão que ele me estendia.

- Você é nova por aqui? Seu sotaque é diferente.

- Sou brasileira, acabei de chegar aqui.

- Brasileira. Interessante. – Ele deu um sorriso misterioso, não entendi o porquê. – Está aqui só a passeio?

- Não, vim cursar faculdade.

- Sério? Qual faculdade?

- Kingston University.

- Eu também faço faculdade lá! Você deve ser a novata que todos estavam falando ontem.

- Como? – Arregalei os olhos, as pessoas estavam falando de mim?

- Sabe como é, sempre que tem uma pessoa nova as pessoas comentam, principalmente quando vem de fora. – Parecendo perceber minha cara assustada, ele continuou - Mas não se preocupe, não é nada como no colegial.

- No Brasil é diferente, não tem essas coisas de novatos virarem assunto. – expliquei. – Aliás, eu pensei que essas coisas só existiam no colegial mesmo.

- Não mesmo, a única coisa que muda são os estudantes, fora isso é tudo igual.

- Entendi, não gosto de ser o centro das atenções. – Admiti

- Relaxa. Daqui a pouco você se acostuma e todo mundo esquece.

- Assim espero. – Dei o último gole no meu café e me levantei. – Eu já vou indo, a gente se esbarra por aí.

- Você não quer companhia? Eu posso te mostrar a cidade, se você quiser. – O olhei e mordi o lábio indecisa, que mal teria em aceitar a proposta dele? Eu não conhecia nada em Londres mesmo.

- Não é uma má ideia, já que eu não conheço nada por aqui. Mas você não tem nada pra fazer? – Perguntei

- Estou livre. – Ele se levantou. – Podemos ir?

Concordei e logo em seguida saímos da Starbucks.

Capítulo II



Aquele passeio estava sendo bem mais divertido do que seria se eu estivesse sozinha. era bem divertido, e não tinha dificuldade de me fazer rir. Às vezes, eu tinha a impressão de que parecia que nos conhecíamos há muito tempo e que éramos velhos amigos. Era estranho ter esse tipo de pensamento considerando que tínhamos acabado de nos conhecer.

- Por favor, me chame de , é menos formal e acho que não precisamos de formalidades, certo? – Ele pediu depois de eu o chamar pelo nome pela centésima vez.

- Tem razão, e já que vamos deixar as formalidades de lado, me chame de .

- Ok, . – Ele sorriu, e eu praticamente me perdi naquele sorriso lindo. Ele não faria isso se soubesse o efeito que causava, ou até soubesse e fizesse de propósito. “Foco, Emilly, você não pode ficar se derretendo por sorrisos de homens lindos.” – Pensei. Eu estava parecendo uma adolescente que nunca tinha visto um homem bonito na vida. Além de que homens bonitos têm uma grande tendência a serem cafajestes, e algo em me dizia que ele era um desses. “Por que eu estou pensando isso mesmo?” – Me perguntei mentalmente.

- Você tem algum namorado? – perguntou de repente, e eu teria agradecido por ele ter me tirado dos meus pensamentos idiotas se não fosse pela pergunta que ele havia feito.

- Por quê? – Questionei.

- Porque é difícil de acreditar que uma menina linda como você não tenha namorado. – Isso foi uma cantada?

- Não tenho. Quer dizer, eu tinha, mas eu tive que terminar com ele antes de vir para cá. – Contei.

- Por quê?

- Porque eu acho que namoro a distância não dá certo, ainda mais uma distância de quatro anos com um oceano nos separando.

- Entendi. Isso é bem complicado mesmo.

- Pois é. – Suspirei. Senti-me triste ao me lembrar de , eu sentia uma falta imensa dele, o buraco que havia no meu peito e que eu sempre tentava ignorar doía só de lembrar que eu não tinha ao menos me despedido dele da forma que eu queria.

- Você ainda não me disse qual curso vai fazer. – mudou de assunto de repente, provavelmente percebeu o meu desconforto em falar do . Agradeci mentalmente por ele não ser inconveniente.

- Nutrição.

- Interessante. Nutrição foi minha primeira opção, mas depois eu vi que não era isso que eu queria fazer, então tranquei e troquei por design.

- Design é um curso bem legal, eu já pensei em fazer, mas não sou boa com desenhos, então eu nem me arrisco. – Ele riu.

- Eu acho que é só questão de prática, eu desenhava muito mal, mas eu pratiquei e agora eu desenho razoavelmente bem.

- Aposto que você desenha muito bem. – Disse e recebi um sorriso como resposta.

- Eu quero te mostrar o meu lugar favorito de Londres, mas é um pouco longe, então fica para outro dia, hoje eu me contento em te mostrar a London Bridge. – Ele apontou para a nossa frente e eu tive certeza que meus olhos brilharam ao olhar para um lugar tão bonito.

- Eu sempre quis vir aqui! – Exclamei. – Vamos até lá. – Disse, e sem esperar resposta o puxei em direção à ponte.

Meu sorriso era tão grande quanto o que eu tinha quando cheguei aqui. Eu tinha certeza que eu ia sustentar esse sorriso a cada vez que eu visse algo lindo nessa cidade. A vista dali era maravilhosa. Decidi que toda vez que eu me sentisse triste seria para ali que eu iria.

- A vista é linda, não é? – Olhei para , que continuava olhando pra frente com um sorriso doce nos lábios.

- É maravilhosa, mas não posso dizer que é meu lugar favorito, porque ainda não conheci os outros.

- Bem pensado. – Ele riu concordando.

Ficamos em silêncio, apenas admirando tudo ao redor. Eu mantinha o meu sorriso nos lábios, assim como , e estava tudo bem assim. Era incrível como eu mal o conhecia, mas me sentia completamente à vontade na presença dele, tanto que o silêncio instalado entre nós não era constrangedor ou incômodo. O lugar estava bastante movimentado, mas isso não me impediu de tirar algumas fotos incluindo o em algumas delas, claro.

Eu não sei quanto tempo ficamos ali conversando e rindo de algumas situações embaraçosas que ele me contava, apenas me dei conta que tinha passado tanto tempo quando recebeu uma mensagem de alguém.

- Caramba! Já é quase a hora do almoço! – Arregalei os olhos e peguei meu próprio celular para checar.

- O tempo passou rápido mesmo. – Concordei.

- Uns amigos me chamaram para almoçar, quer vir junto? – Ele convidou.

- Não, imagina! Não conheço ninguém e não quero atrapalhar algo.

- Você não atrapalha, e quanto a quem você não conhece, nunca é tarde para conhecer novas pessoas.

- Você tem certeza que não vou atrapalhar? -

Claro que não, boba! Vamos logo. – Ele me puxou, e eu me deixei levar por ele para algum lugar que eu ainda não tinha conhecimento.

Dez minutos depois, entramos no restaurante e me puxou em direção a uma mesa com algumas pessoas, reconheci um dos rostos.

- ! – exclamou ao notar minha presença, e se levantou para cumprimentar. – Eu acordei e você tinha desaparecido, estava preocupada.

- Vocês já se conhecem? – indagou. Abri a boca para responder, mas foi mais rápida.

- Ela é minha colega de quarto. E você, desde quando conhece a ?

- Nos conhecemos na Starbucks mais cedo, e desde então o não largou do meu pé. – Brinquei.

- Ei! – me olhou com falsa indignação. – Você estava gostando muito da minha companhia, não negue. – Ele deu um sorriso prepotente, ri com isso.

- Você precisa parar de ser tão convencido, . - revirou os olhos - Eu já te disse que você não é tudo isso. – Gargalhei, fuzilou com o olhar, ela apenas deu um sorrisinho irônico e voltou para mesa. Segui-a e assim que chegamos à mesa ela se pôs a me apresentar a todos que estavam ali.

- Pessoal, essa é a , ela é a nova aluna da Kingston.

- Olá! – Acenei timidamente. já havia se sentado entre um dos garotos e uma garota, que automaticamente começou a conversar com ele.

- Eu sou o , mas pode me chamar de . – Um menino loiro e de olhos azuis se levantou e me cumprimentou.

- , mas me chame de , por favor. – Foi a vez do garoto moreno e olhos verdes, que ao contrário do anterior pegou a minha mão e a beijou, fazendo com que eu corasse fortemente.

- , não tenho apelido, mas você pode me chamar do que quiser. – Ele deu um sorriso galanteador, que me deixou totalmente derretida, eu já disse que tenho uma queda por britânicos, certo? Certo.

- Eu sou a . – Uma garota loira se pronunciou, e pelo olhar que ela me lançou eu tive a impressão de que não gostaria dela nem um pouco.

- É um prazer conhecer vocês. – Disse sorridente, aquela garota e seus olhares não iria afetar o meu humor.

- O prazer é todo meu, acredite. – comentou maliciosamente, corei novamente.

- ! Pare de assustar a menina com as suas frases maliciosas. – o repreendeu.

- Não tem importância, eu não ligo. – Disse, enquanto, finalmente, me sentava.

Um garçom se aproximou da mesa para anotar os nossos pedidos. Assim que anotados, ele se retirou e então começamos a conversar. Os assuntos eram variados, e logo eu já sabia de algumas coisas sobre todos ali, inclusive, tive mais certeza ainda que não gostaria de porque ela parecia totalmente fútil.

- Antes de você e chegarem, estávamos combinando de ir para a boate que inaugurou recentemente. – comentou.

- Opa! Eu ‘to dentro! – respondeu, animado.

- E você, , também vai, né? – se virou para mim, dava pra perceber que ela queria muito que eu fosse.

- Claro! Vai ser bom conhecer mais a cidade. – Disse animada. Eu estava realmente animada. Eu havia dito para que mudaria e aproveitaria e seria exatamente isso que eu iria fazer.

- Tem um porém. Se a boate vai ser inaugurada hoje, isso significa que vai estar com uma fila enorme que não dá pra saber se vamos conseguir entrar, certo? – indagou.

- É aí que eu entro, meu bem. – disse, e eu me segurei para não revirar os olhos. – Meu primo é dono dessa boate, posso conseguir ingressos Vips.

- Yay! – comemorou. – Você é demais, Tiff, eu poderia te beijar agora mesmo.

- E o que está te impedindo? – Ela ergueu a sobrancelha. sorriu de lado, aquele mesmo sorriso que ele havia me dado mais cedo, e então beijou a garota. Ok, agora eu não consegui evitar revirar os olhos com tamanha cena patética. Todos ao redor começaram a gritar, o que me fez pensar que era a primeira vez que e se beijavam, ou todos apenas gostavam de zoar o casal, se é que eles eram um.

- Vão para um quarto! – gritou, quando começou a beijar o pescoço de . Como eu disse antes, cena patética, garota patética e pelo visto ela não tinha um pingo de noção, né?

Eles se separaram, e ela olhou diretamente pra mim com um sorriso vitorioso, agora eu tive que segurar a vontade de gargalhar. Ela realmente achou que aquela cena patética tinha me afetado? Coitadinha. Eu achava, sim, atraente, e ele tinha um sorriso que deixaria qualquer menina aos pés dele, rastejando por atenção, mas aquilo não fazia meu gênero, e mesmo que eu tenha um tombo por britânicos, eu não seria burra o suficiente para cair de amores por um menino que obviamente era o maior cafajeste. Quer dizer, eu apenas conhecia há algumas horas, mas acho que era o suficiente para saber que ele não fazia o tipo fiel ou de uma garota só.


Ignorei, então, os olhares e sorrisos que aquela garota me lançava e me pus a conversar com e sobre algo que eu não estava realmente prestando atenção antes.

- Como você é nova aqui, eu posso te mostrar alguns lugares da cidade. O que acha? – me perguntou, em algum momento da nossa conversa.

- Ei! Eu já sou o guia turístico da . – se intrometeu na conversa, e o olhar que a me lançou foi tão maligno que eu tive vontade de gargalhar novamente.

- Eu garanto que eu posso ser um guia turístico melhor e mais divertido que o . – disse, prepotente.

- Todo mundo sabe que você só tá inventando um motivo pra pegar a , . – disse.

- Então, eu sei que as intenções do são boas. – Comecei. – Mas eu vou ficar com o , ele ainda tem um lugar para me mostrar. – Sorri para apenas para provocar a garota que estava ao lado dele, e pela reação dela, funcionou. E muito bem.

- Não foi dessa vez, caro . – zombou.

- Cala a boca, . – deu-lhe o dedo do meio e todos riram.

- Não ligue, , você pode ter outras oportunidades. – Pisquei para ele, e todos, menos , que parecia emburrada, gritaram novamente.

Depois que saímos do restaurante, eu voltei para o meu dormitório acompanhada por .

- Gostou dos meus amigos? – Ela me perguntou.

- Sim, eles são bem louquinhos, me diverti bastante com eles. Só aquela sua amiga que pareceu que não gostou muito de mim. – Comentei.

- Ela ficou com ciúmes, porque você chegou lá com o , e depois ainda teve aquela disputa sobre seu “guia turístico”.

- Ela é namorada dele ou algo do tipo?

- Não, mas ela sempre foi a fim dele, e hoje, como você viu, eles ficaram.

- Então foi mesmo a primeira vez?

- Pelo nível da pegação, eles já devem ter se pegado algumas vezes.

- Entendi.

Caminhamos em silêncio pelo resto do caminho. A Kingston não ficava longe do restaurante, então logo chegamos ao local. Agora que estava de volta, percebi o quanto eu me sentia exausta, o fuso horário junto com o fato de que andei o dia todo tinha me deixado esgotada, eu queria dormir, mas isso não seria uma tarefa tão fácil sendo que eu tinha uma festa para ir dali a algumas horas.

- Eu não posso mesmo dormir nem um pouquinho? – Perguntei pela milésima vez, enquanto vasculhava o closet atrás de alguma roupa.

- , você já me disse que demora pra se arrumar e nós temos apenas quatro horas para achar a roupa perfeita e nos arrumarmos.

- Eu consigo tudo a tempo quando acordar. – Insisti.

- Tá bom. – Ela se deu por vencida e eu comemorei. – Mas, se você não acordar, eu vou para a boate sem você.

- Eu vou acordar. – Garanti. Sem esperar resposta, me joguei na minha cama e adormeci.

...




- Droga, ! Acorda! – Meu corpo foi balançado fortemente, me sentei na cama rapidamente com o susto.

- Que? Como? Quem morreu? – Exclamei, assustada.

- Ninguém, mas você vai morrer se não se levantar da cama e ir se arrumar. Você tem uma hora. – Ela disse e voltou a se arrumar em frente ao espelho. Bufei e me levantei de uma vez. Eu estava me sentindo descansada, não totalmente, mas o suficiente para aproveitar a noite.

Tomei um banho o mais rápido que consegui. Meus sentidos ainda estavam meio lerdos por causa do despertar repentino, mas como não reclamou, levei isso como um sinal de que eu não tinha demorado tanto. Desliguei a ducha, coloquei um roupão e caminhei até o espelho do banheiro. Retirei tudo que iria precisar da minha bolsinha, e tratei de arrumar o cabelo. Eu já tinha ideia do que iria vestir, então fazer a maquiagem não foi difícil. Quando essa primeira parte já estava pronta, saí do banheiro e rezei mentalmente para que a roupa que eu queria já estivesse no closet, e não dentro das malas que eu ainda tinha que desarrumar. Por sorte tudo estava dentro do closet, e não demorou para que eu estivesse pronta.

- Wow! Você está linda, . – exclamou.

- Obrigada, você também está linda. – retribui o elogio.

O celular dela tocou, e ela correu para atender.

- ‘ta dizendo que já estão esperando a gente.

- Então vamos logo, antes que eles nos deixem aqui. – Ela concordou e saímos do quarto.

Os garotos e a , que já estava grudada no , nos esperavam do lado de fora da universidade. Assim que os avistamos, andamos até eles.

- Wow, vocês estão lindas. – disse, sorri timidamente.

- Você está muito gata, . – se aproximou de mim e falou no meu ouvido, minhas bochechas coraram.

- Vamos logo, já perdemos tempo demais aqui. - Ouvi reclamar, revirei os olhos. Por ter três carros à nossa disposição, acabamos nos dividindo. Eu fui no carro com o . e no carro com , e a foi no carro com .

Durante todo o caminho, pude perceber os olhares de nas minhas pernas, mas eu não ligava, na verdade eu até gostava de estar chamando a atenção dele. era um homem lindo, e somando ao fato de que eu tenho um crush por britânicos, não seria nada mal se ele quisesse algo a mais. E é nessa hora que a minha consciência me pergunta: “E o ?”. É claro que eu ainda tenho sentimentos pelo , mas eu estava longe, e ao que tudo indicava, ele já havia seguido em frente, então eu poderia fazer o mesmo, certo? Certo. Eu estava tão absorta em pensamentos que só me toquei de que já tínhamos chegado ao local quando abriu a porta do meu lado e esticou a mão para me ajudar a descer. Cavalheiro. Ponto pra ele. Encontramo-nos com o resto do pessoal, e após mostrar os ingressos Vips, adentramos no local.

A música no local era muito alta, mas não de um jeito ruim, porque só de escutar eu já me animei. O local estava tão lotado que seria fácil se perder dos outros ali, e eu tive certeza disso quando me arrastou para o bar sem nem avisar a alguém para onde estávamos indo.

- Olá, senhoritas, o que vão querer? – O barman, gato por sinal, nos perguntou.

- A bebida mais forte que você tiver! – exclamou.

- E para a senhorita? – Ele olhou para mim.

- O mesmo que ela. – Ele assentiu e saiu para pegar as bebidas.

- Esse barman é um gato, eu pegava. – falou perto do meu ouvido devido ao barulho alto da música.

- Concordo. – Falei alto.

- Aqui, duas tequilas para as senhoritas por conta da casa. – Ele colocou dois copos na nossa frente e um pratinho com limões e sal.

- Obrigada. – Peguei a bebida e entornei o copo sem o sal e o limão mesmo e pude ver a cara chocada de .

- Como você consegue? – Ela perguntou. Dei de ombros como resposta e pedi outra dose para o barman. Apoiei-me no balcão e dei uma olhada para a pista de dança e arregalei meus olhos ao ver no meio de duas mulheres, beijando uma enquanto a outra se esfregava e passava as mãos pelo corpo dele. era mesmo um cafajeste, estava comprovado agora. Cutuquei e apontei para a pista, sua reação foi a mesma que a minha, tirando a parte que ela quase cuspiu a bebida fora.

- Coitada da . – Ela disse e eu tive que concordar. Olhei para o lado por reflexo e a vi correr em direção a um corredor, provavelmente banheiro, e parecia estar chorando.

- Ela acabou de correr naquela direção. – Disse – Acho melhor você ir ver como ela está.

- Eu já volto. – Ela disse e saiu.

Peguei a bebida que estava em cima do balcão e bebi, instantaneamente uma vontade de dançar se apossou de mim e foi isso que eu fiz, deixei o copo em cima do balcão e caminhei até a pista de dança balançando o corpo e a cabeça no ritmo da música.

A pista parecia mais cheia de perto do que da vista do bar e eu não achava isso ruim. A alguns metros de mim estava e as duas meninas que agora tinham o papel invertido, ri e balancei a cabeça negativamente, esses homens não tinham jeito mesmo.

- É um pecado uma menina como você aqui dançando sozinha. – Uma voz rouca sussurrou no meu ouvido e eu senti minha pele se arrepiar. Ah, o sotaque britânico. – Então eu pensei, porque não vir te fazer companhia? – Ele pôs as mãos na minha cintura e girou o meu corpo me fazendo ficar de frente para ele. Era o .

- Pensou correto, não é certo deixar uma dama sozinha. – Sorri maliciosamente e a minha cintura foi apertada com mais firmeza enquanto ele aproximava nossos corpos.

A música terminou e uma música da Beyoncé começou a tocar, senti que a partir dali tudo iria começar a esquentar, literalmente. Comecei a dançar sensualmente, o meu corpo roçando no corpo do propositalmente. Ele deu um sorriso nada puro e girou o meu corpo fazendo com que eu ficasse de costas pra ele. Eu sabia o que ele queria e aonde aquilo iria dar, por que não aproveitar?

Ele apertava minha cintura fortemente, e eu já podia sentir sua excitação toda vez que ele roçava as suas partes na minha bunda. Meu cabelo foi afastado e os lábios dele tocaram a pele do meu pescoço; suspirei e pressionei ainda mais o quadril contra o corpo dele. O meu corpo foi girado novamente e quando dei por mim eu já estava beijando de uma forma totalmente excitante; a língua dele massageava a minha e a mão dele estava em minha nuca enquanto a outra segurava minha cintura, mantendo assim os nossos corpos colados. Minhas mãos passeavam pelos braços dele e não hesitei por nem um segundo antes de colocar minha mão por dentro da camisa dele e sentir todo aquele abdômen e peitoral definido, que se contraiu ao sentir minhas unhas arranharem sua pele. Quando já nos faltava ar, ele partiu o beijo e desceu novamente para o meu pescoço onde distribuiu algumas mordidas e passeou com a língua, as mãos dele desceram pelo meu corpo até a minha bunda, apertando-a com vigor, o que me fez soltar um gemido involuntário.

- Você é muito gostosa, . – Ele sussurrou no meu ouvido e mordeu o lóbulo. A única reação que eu tive foi puxar os cabelos da nuca dele e voltar a beijá-lo com intensidade. Cochichar malícia no meu ouvido com aquele sotaque era demais para mim, ele já tinha sinal verde para fazer o que quisesse comigo.

- Vamos para algum lugar...privado. – Falei assim que paramos de nos beijar. Ele nem ao menos me respondeu, apenas me puxou para algum lugar que eu não me importava, eu só queria terminar logo aquilo.

Fui empurrada para dentro de um quarto parcialmente escuro e eu não procurei saber que lugar era aquele, apenas puxei e voltei a beijá-lo com mais desejo do que antes. As mãos dele foram direto para o zíper da parte de cima da minha roupa, que foi logo retirada, libertando os meus seios, e jogada para algum lugar que eu não estava interessada em saber. Ele olhou para os meus seios com um olhar faminto de desejo e suas mãos logo os alcançaram e se puseram a massageá-los fazendo com que gemidos escapassem dos meus lábios. Livrei-me da camisa dele e ele prensou meu corpo contra a parede fazendo com que os meus seios encostassem na pele dele, assim me deixando ainda mais excitada. Voltamos a nos beijar e dessa vez eu tratei de me livrar logo da calça dele, abrindo o botão, o zíper e descendo a peça com a ajuda dele. A excitação dele era totalmente evidente na boxer que ele usava, mordi os lábios ao olhar e levei minha mão ao local, acariciando a ereção dele por cima da cueca; ele gemeu em resposta e minha saia foi puxada para baixo com violência, me deixando apenas de calcinha.

As mãos dele passaram por minhas pernas e coxas, até chegar a minha intimidade, onde ele passou um dedo por cima do pano, me fazendo estremecer. Sem mais delongas a peça foi arrancada do meu corpo e ele fez o mesmo com a boxer dele jogando as peças em algum lugar desconhecido. Ele me puxou pela cintura, e imediatamente eu levei minha mão ao membro ereto dele apertando-o de leve e fazendo alguns movimentos masturbando-o. Ele mordeu meu lábio inferior e soltou um gemido.

- Eu não vou aguentar preliminares, você é muito gostosa para que eu espere tanto. – Ele se afastou de mim e pegou um preservativo na calça, colocando-o em seguida.

Sorri maliciosa quando ele se aproximou de mim e me empurrou para um sofá que tinha ali e que eu tinha notado apenas naquele momento. Ele se acomodou entre as minhas pernas e então me invadiu com força, gemi alto em resposta me sentindo ainda mais molhada que antes só por tê-lo quente e delicioso dentro de mim. Ele começou a se movimentar, ora rápido, ora devagar e aquilo estava me levando a loucura; os lábios e língua dele passavam por todo o mesmo corpo, desde barriga, seios, pescoço e por fim a minha boca. Tentamos nos beijar algumas vezes, mas nunca conseguíamos manter o beijo em meio a tantos suspiros e gemidos.

- Está gostando, ? – Ele sussurrou meu apelido da forma mais suja que já ouvi na vida, mais arrepios tomaram conta do meu corpo. Ele diminuiu a velocidade dos movimentos, fazendo-me resmungar em protesto. – Vamos, me responda. – Ele pediu.

- Sim.... M-Mais r-rápido... – Murmurei em meio aos gemidos. Ele atendeu ao meu pedido e voltou a se movimentar rápido novamente. Os meus olhos se reviraram de prazer e quando eu pensei que as coisas não podiam ficar melhores, os dedos dele começaram a estimular o meu clitóris, me levando, assim, ao completo delírio. Eu sabia que estava perto do orgasmo, assim como ele e isso fez com que os movimentos aumentassem ainda mais, se isso ainda era possível. As mãos e lábios dele se aproveitaram dos meus seios enquanto ele estocava cada vez mais rápido e forte. O meu gemido ecoou alto e arrastado indicando que eu havia chegado ao orgasmo e o mesmo aconteceu com o , que relaxou o corpo e se virou fazendo com que eu ficasse deitada por cima do corpo dele. Demorou uns minutos para que eu recuperasse totalmente o fôlego, mas quando o fiz e eu pude pensar direito me senti envergonhada por ter deixado que aquilo acontecesse. Eu nunca havia feito algo assim antes e eu o conheci hoje! O que acharia de mim? Ele iria pensar que eu era uma completa vadia e totalmente fácil.

Levantei-me e comecei a procurar as minhas roupas pelo chão.

- O que houve, ? – Ele perguntou, quando eu já estava vestindo a parte de cima da minha roupa. Ele se aproximou de mim e fechou o zíper, sem que eu pedisse. Virei-me para ele e notei que ele já estava completamente vestido.

- Nada, eu só estava pensando em umas coisas aqui... – Murmurei.

- Como o quê? – Ele perguntou.

- Você deve estar me achando uma vadia super fácil, não é? – Respondi com outra pergunta.

- Por que você acha que eu penso isso de você? – Ele perguntou.

- Porque nós nos conhecemos hoje e eu já...

- Transou comigo? – Ele completou minha frase. Assenti.

- , eu não acho nada disso de você. O que você e eu fizemos se chama sexo casual, isso não te torna nenhuma vadia.

- É que eu nunca fiz isso antes, sabe transar com alguém apenas por transar. – Expliquei. – Você deve me achar uma idiota por isso.

- Não acho. – Ele disse. – Para tudo tem a primeira vez e acho que essa preocupação sua com o que eu vou achar te torna diferente de muitas outras meninas. – Ele me deu um sorriso e foi impossível não retribuir, estava demonstrando ser um cara legal e não um canalha como muitos por aí e isso já lhe dava muitos pontos.

- Tudo bem. – Suspirei. – Acho melhor voltarmos pra festa, já devem estar nos procurando.

- Tem razão, vamos logo.

Abrimos a porta e voltamos para a festa.

Capítulo III

Os raios de sol que passavam pela janela machucavam minha visão, o que me fazia desejar a morte de por ter deixado a maldita das cortinas abertas. Para completar e me deixar de mau humor, minha cabeça latejava tanto que parecia que ia explodir. Me virei de costas para a janela e finalmente consegui abrir os meus olhos. Olhei ao redor apenas para me certificar se estava mesmo no meu quarto, e vi deitada em sua cama. Me sentei na cama, e notei que ainda estava com as roupas da noite anterior. Eu não fazia a menor ideia de como eu havia chegado até ali. A última coisa que eu lembrava de ter feito foi ter transado com o , e depois me sentado na mesa com o pessoal para beber, tudo o que aconteceu depois disso desapareceu da minha mente, e eu não sabia se era algo que eu queria me lembrar, apesar de saber que eu perguntaria alguma coisa a , se é que ela se lembrasse.

Com muito sacrifício me levantei, eu precisava de um remédio e um banho. Peguei meu celular em cima da mesinha apenas para olhar as horas e vi que já passava do meio dia. Por fim, peguei a bolsa que continha os meus remédios, e tirei um comprimido para enxaqueca, tomando-o em seguida. Rezando para que essa dor de cabeça passasse logo, entrei no banheiro. Dessa vez, optei pelo banho de banheira, preparei tudo e logo entrei na mesma, relaxando instantaneamente.

Eu não fazia a menor ideia de quanto tempo eu estava ali, estava tão bom que talvez eu tenha cochilado. Por mim, eu poderia passar o resto da minha vida dentro daquela banheira, que seria ótimo. Minha dor de cabeça até tinha passado.

- , você está viva? – A voz de me tirou dos meus pensamentos. Ela tinha entrado no banheiro.

- Estou. – Respondi ainda de olhos fechados.

- Você tem algum remédio para enxaqueca? – Perguntou.

- Eu deixei o envelope em cima da pia. – Disse.

Fez-se silêncio por uns minutos, até eu ouvir o barulho do chuveiro sendo ligado.

- Então, você e o , huh? – Ela perguntou alto, seu tom era malicioso.

- O que tem?

- Vocês se pegaram que eu sei.

- Acho que a essa altura todo mundo já sabe. – Ri.

- Todos estavam na festa, não tem como não saber. – Concordou. – Você pretende ficar com ele de novo?

- Não sei, talvez. – Disse incerta. Eu gostei de ficar com , mas não achava que era algo que fosse acontecer duas vezes.

- é bem gostoso, se ele não me visse apenas como amiga, eu até ficaria com ele. – Ela comentou.

- Nada é impossível, um dia pode acontecer. – Disse simplesmente. – Como eu vim parar aqui? Eu não me lembro de quase nada.

- Só da parte boa, né, safada! – Gargalhei.

- Mais ou menos isso. – Ela riu.

- Não aconteceu nada demais. Você ficou bêbada, dançou e ficou se agarrando com o . E depois, quando voltamos pra cá, ele ajudou a te carregar até aqui.

- Ah, isso foi muito legal da parte dele, vou agradecer a ele mais tarde. - Peguei minha toalha e me levantei, enrolando-me em seguida. Minha barriga roncou. – Estou com fome, vamos sair pra comer?

- Com certeza, parece que eu não como há anos. – Ela riu, fazendo o mesmo que eu. Sai do banheiro e entrei no closet.

Enquanto escolhia minha roupa, ouvi o meu telefone tocar. Vesti-me na velocidade da luz, deveria ser minha mãe ou então querendo saber alguma novidade. Voltei para o quarto e peguei o telefone, atendi-o sem olhar no visor.

- Alô?

- , minha filha! Se eu não ligar, você não liga, né. – Reclamou. Não contive um sorriso, ouvir a voz da minha mãe me fez perceber o quanto eu já sentia sua falta.

- Desculpe, eu ainda estou me acostumando com o fuso horário. Está tudo bem por aí? – Perguntei

- Está sim, querida. E você? Chegou bem aí? Se instalou direitinho? As pessoas estão sendo legais com você?

- Calma mãe. Respire! – Ri – Está tudo ótimo por aqui, e até agora as pessoas que eu conheci são legais, não se preocupe.

- Que bom! – Ela suspirou, parecendo aliviada. – Já estou com saudade.

- Também estou com saudade, de todos. Prometo que assim que eu puder, eu vou te visitar.

- Tudo bem, eu só quero que fique bem aí. Eu ainda me sinto culpada por ter duvidado tanto de você.

- Não se preocupe com isso, mamãe. Já passou.

- Eu sei, mas...

- Sem “mas”. Está tudo bem. O que importa é que eu estou realizando o meu sonho e que agora você não duvida mais de mim.

- Eu tenho total fé em você, e sei que você vai conseguir o que quer. Só quero sua felicidade.

- A senhora não sabe o quanto isso é importante pra mim. – Disse um pouco emocionada.

- Eu tenho uma ideia. – Nesse momento, saiu do closet, já arrumada.

- Mãe, eu preciso desligar agora. Outra hora eu te ligo, ok?

- Tá certo, não demore pra ligar.

- Não vou, manda um beijo pro papai e para as minhas amigas.

- Pode deixar. Se cuida, amo você.

- Também amo você, mãe. – Me despedi e desliguei o telefone.

- Está pronta? – me perguntou.

- Quase, só um minuto. – Fui até o espelho, e tratei de arrumar o meu cabelo e colocar os acessórios que faltavam.

- Era a sua mãe?

- Sim, eu tinha esquecido de ligar pra ela. – Disse. Me olhei uma última vez no espelho e, então, me virei para . – Podemos ir.

- Ótimo, porque eu estava quase te arrastando porta a fora. – Ri e a segui para fora do quarto.

Andamos em silêncio pelo corredor vazio. Quase ninguém se encontrava na faculdade a essa hora, deviam estar aproveitando o último dia de férias. Caminhando pelo campus, olhei para os lados tentando achar um dos meninos, mas não encontrei nada. Eu ainda não sabia como ia agir quando encontrasse . Eu sabia que tudo havia sido de uma noite só, pelo menos para mim era, afinal, eu ainda tinha em minha mente e definitivamente eu não estava pronta para um relacionamento, além de que , obviamente, não era do tipo que se relaciona sério com alguém.

- Nós vamos para qual lugar? – Perguntei quando saímos da Kingston.

- Burger King. Estou com vontade de comer algo não saudável, algum problema pra você?

- Nenhum.

- ! – Uma voz gritou atrás de nós. Eu e nos viramos automaticamente, e vimos e vindo em nossa direção. Minhas bochechas coraram antes que eu pudesse me controlar.

- Oi, meninos. – cumprimentou-os com um abraço.

- Oi, . – e disseram ao mesmo tempo, e me puxou para um abraço. Meu rosto esquentou mais ainda, se é que ainda era possível.

- É muito engraçado olhar pra vocês e ver aquele clima de “Oi, ficamos ontem e agora não sei como agir”.

- ! – Exclamei. Eu já estava envergonhada o bastante e lá vinha ela com as suas inconveniências.

- Desculpa! – Ela ergueu as mãos para cima, demonstrando inocência.

- Espera, vocês ficaram ontem? – disse, confuso.

- Você não viu? – perguntou, como se o fato de não ter visto fosse um absurdo. – Eles não paravam de se agarrar um minuto!

- ! – Eu e exclamamos juntos dessa vez.

- Mas é a verdade! – Ela se defendeu.

- Eu não vi. Eu estava ocupado fazendo outras coisas. – disse e percebi que fechou a cara, estranhei. Será que ela gostava do ? Eu definitivamente tentaria descobrir depois.

- Então, eu não sei vocês, mas eu estou indo comer. – Disse, tentando mudar de assunto.

- Para onde vocês vão? – perguntou.

- Burger King. – Respondi.

- Vamos com vocês. – Ele disse, e assentiu, confirmando.

- Vamos logo então. – disse, frieza e mau humor eram explícitos em sua voz. Os meninos me olharam como se não entendessem nada e eu apenas dei de ombros. Eu sabia bem do que se tratava, já tinha dado pra sacar mesmo conhecendo há apenas um dia. “Meninos realmente são muito cegos.” – pensei.

Voltamos a andar pelas ruas de Londres. Para minha surpresa, me abraçou pelos ombros, eu não soube como agir em relação aquilo, mas também não tentei afastá-lo.

- Como você está? – Ele me perguntou.

- Bem, pelo menos a ressaca já passou. – Sorri. – E você?

- Bem também, acho que a ressaca não me afeta tanto. Estou acostumado.

- Eu imagino. – Ri – A propósito, obrigada por ter me carregado até o meu quarto ontem.

- Não há de quê. – Ele sorriu. – Pra falar a verdade, eu nem sei como consegui fazer isso sem acabar caindo junto com você. – Rimos.

- Teria sido uma cena engraçada, se eu tivesse acordada. – Ironizei e ele riu novamente.

- Sobre o que os pombinhos estão conversando aí? – perguntou, de repente.

- Nada que seja da sua conta, Jerry. – respondeu.

- Ouch! – exclamou.

Entramos na lanchonete e fomos para uma mesa no canto. sentou ao meu lado e ao lado de à nossa frente. Logo, uma garçonete apareceu.

- Boa tarde, o que desejam? – Ela perguntou.

- Eu quero um Cheeseburger Duplo com bacon, uma porção de batatas fritas e uma coca. – Eu disse.

- Eu quero o mesmo que ela. – .

- Eu quero Cheddar Duplo, uma porção de Onion Rings e uma pepsi. – .

- E eu quero um Stacker triplo e uma coca. – disse.

- Mais alguma coisa? – Ela perguntou após anotar tudo em um bloquinho. Negamos, e ela, por fim, se retirou.

- Onde está o e a ? Ainda não os vi hoje. – Comentei.

- Eu os vi hoje mais cedo, conversando. – respondeu.

- E depois se pegando. – completou.

- Ué, mas ontem a estava chorando porque estava se esfregando com duas meninas, pensei que depois disso ela...

- Ia ficar com raiva do e nunca mais olhar pra ele? – completou minha frase.

- Sim, esse não seria o normal a acontecer?

- Normalmente, sim, mas esse não é o caso da . – disse.

- Como assim? – Perguntei.

- Isso já aconteceu várias vezes. dá esperanças para , que claramente é apaixonada por ele, só que depois sai pegando todas na frente dela, eles brigam, ela chora, depois eles conversam e fica tudo bem entre eles. É sempre assim.

- Que é apaixonada por , eu sempre soube disso, mas não sabiam que eles se pegavam há tanto tempo assim. Agora está explicado porque ela sempre aparecia chorando e dizendo que nunca mais iria querer saber do e depois, de repente, estava tudo bem entre eles outra vez. – disse. – Não sei porquê ela ou vocês nunca me contaram, pensei que fôssemos amigos. – Ela disse, seu tom de voz era magoado.

- Eu pensei que você já tivesse notado, ou que ela tivesse te contado por isso não dissemos nada. – se explicou.

- Eu detesto ser a última a saber das coisas. – Resmungou.

- Tecnicamente, eu também fui a última a saber, então estamos juntas nessa. – Tentei amenizar a situação.

- Sem querer ofender, , mas você chegou aqui ontem. Eu já estava entre eles há mais tempo, então tem uma explicação para você ser a última a saber. Explicação essa que não cabe a mim.

- Não ofendeu. – Dei de ombros e achei melhor ficar calada, não queria piorar a situação.

A garçonete voltou com os nossos pedidos, e eu usei a desculpa de que estava faminta para permanecer de boca fechada enquanto eles continuavam a discutir sobre a mesma coisa. Me segurei para não revirar os olhos, aquele drama todo de estava sendo completamente desnecessário, mas eu não iria me meter, ela devia ter seus motivos.

Meu olhar foi direcionado em direção a porta de entrada e no mesmo instante, e passaram pela porta, de mãos dadas. Olhei em choque para aquela cena. Quer dizer, eu já sabia que eles se acertaram, mas algo naquela cena me pareceu diferente, principalmente pelo sorriso aberto demais que estava estampado na cara de . Desviei o olhar, quando o de olhou na direção da nossa mesa, e logo eles se juntaram a nós.

- Olá, pessoal! – disse, sorridente, e puxou duas cadeiras para que eles se sentassem.

- Que bom que vocês chegaram, porque eu tenho umas perguntinhas para fazer pra vocês, principalmente para a . – disse, ríspida e o sorriso de murchou.

- , agora não, por favor. – Pedi baixinho, aquela não era hora e nem lugar para brigas.

- Não se mete, Emilly. Isso é assunto entre amigos, o que obviamente não inclui você. – Ela disse friamente e todo mundo olhou pra mim. Senti meu rosto corar, por vergonha e por raiva, eu havia sido educada e estava só tentando ajudar.

- Você tem razão. Desculpa por atrapalhar o momento “de amigos”. – Disse, peguei uma quantia qualquer no meu bolso e coloquei em cima da mesa, saí do lugar logo em seguida.

Aquilo havia sido muito indelicado da parte de , eu quis ajudar e em troca só recebi grosseria.

- ! – Ouvi a voz do me chamar, parei e esperei que ele se aproximasse. – Me desculpe pelo modo que a falou com você, ela não devia ter falado dessa forma com você.

- Tudo bem, eu entendo. Eu não deveria ter me intrometido, vocês me conhecem há apenas um dia.

- Isso não significa nada, . Eu já te considero como parte do grupo, como nossa amiga. – Ele deu um sorriso de lado. – Quer dizer, eu te já te considero mais que amiga. – Ele se aproximou.

- ... – Me esquivei – Acho que ainda temos que conversar sobre o que aconteceu ontem.

- Eu sei. – Ele disse – Mas vamos adiar só mais um pouquinho. – E então ele me puxou pela cintura e me beijou. Arregalei os olhos surpresa, mas logo me deixei levar, fechei os olhos e passei meus braços ao redor do pescoço dele. A língua dele passou pelos meus lábios pedindo passagem, e imediatamente concedi deixando que, finalmente, nossas línguas se tocassem. Beijar era muito bom, eu acho que não existe beijo melhor que o dele, que me desculpe.

- O que eu perdi? – A voz de apareceu, de repente. Eu e nos separamos e encontramos ele, e os outros há alguns passos de nós. Evitei olhar para . - Muita coisa, meu caro. – disse, enquanto me abraçava pela cintura.

- Quero saber de tudo depois. – Ele apontou para e depois olhou para mim. Dei um sorrisinho envergonhado.

- Enfim, - disse, atraindo a atenção de todos pra ela. – eu queria contar para todo mundo, mas como a estava preocupada em brigar com todo mundo e o e a saíram, não deu pra contar.

- Contar o quê? – perguntou, curioso.

- Eu e o estamos namorando! – Ela deu um gritinho, animada, e todos olhamos automaticamente para , chocados. Ele apenas deu de ombros, como se aquilo não fosse importante.

- Wow! Nunca pensei que seria você a garota que iria amarrar o aqui. – chegou de repente, assustando todo mundo. – E é bom saber que vocês não me incluem mais nos passeios de amigos.

- Ah não, eu já estou cheio de drama hoje. – disse e todos concordaram.

- Tá bom, seus chatos. – Resmungou.

- Onde você estava?

- Dormindo. – Ele disse simplesmente.

- Típico. – zombou.

- Cala a boca, . – Todos riram.

- Eu acho que vou voltar para a universidade, eu ainda tenho que arrumar algumas coisas. – Disse.

- Quer companhia? – se ofereceu.

- Não precisa. – Dei um selinho nele. – Depois vamos ter aquela conversa.

- Tudo bem, mais tarde a gente conversa. – Ele concordou.

- Nada disso. – se intrometeu – Vocês conversam amanhã, hoje a noite eu pretendo levar a em mais um passeio turístico.

- Leva a sua namorada, . – disse.

- Não, eu...

- Tudo bem! – O interrompi – Hoje à noite, passeio turístico. Amanhã, nossa conversa. – Disse para .

- Ok, não tenho pressa mesmo. – Ele disse.

- Ótimo. Agora eu vou indo. Até mais. – Me despedi e fiz o caminho de volta para a universidade.

Não demorou para que eu chegasse ao meu dormitório. Agradeci mentalmente por não ter me perdido, eu ainda estava me acostumando com os caminhos e podia me perder facilmente. Como havia dito ao pessoal, comecei a arrumar as minhas coisas. Para começar, peguei as duas malas que restavam e coloquei em cima da cama, e comecei a desarrumá-las.

Horas depois, minha cama estava totalmente bagunçada, mas não com roupas e sim com livros. Eu já havia colocado todas as minhas roupas no closet e inclusive já havia separado a roupa que eu usaria no dia seguinte. Agora eu estava arrumando os livros, que eu também tinha trazido para cá, não eram muitos e, para minha sorte, na parede em cima da minha cama tinha uma prateleira que eu achei perfeita para colocar todos os meus livros ali.

Eu estava colocando o último livro na prateleira, quando ouvi o barulho da porta se abrir e em seguida a voz de :

- , podemos conversar? – Me virei para ela e me sentei na cama.

- Claro. – Disse e esperei que ela falasse.

- Eu queria me desculpar pelo modo que eu falei mais cedo. Eu estava estressada e magoada, e acabei descontando em você que estava só querendo ajudar. Me desculpe.

- Tudo bem, eu te entendo. E você teve razão, eu não deveria ter me metido.

- Não, . Eu não tive razão, eu falei como se você já não fizesse parte do grupo e você faz. Você já é amiga de todos nós.

- Não se preocupe com o que aconteceu hoje, . Está tudo bem entre nós.

- Me desculpe, de verdade. – Ela pediu novamente. Me levantei, e caminhei até ela.

- Já disse que está tudo bem. Não precisa se desculpar mais. – Abracei-a.

Eu realmente entendia o porquê de ela ter agido de tal forma, principalmente porque ela já estava magoada por causa do . Eu queria perguntar sobre isso, mas depois do acontecido mais cedo achei melhor que não deveria interferir. sabia o que era certo, e se ela quisesse que eu soubesse sobre os seus sentimentos por , um dia ela me contaria, eu só precisaria ganhar sua confiança. Ficamos conversando, e ela me contou que após eu sair, já havia dado crise de ciúmes por causa do passeio com o .

- Isso é totalmente ridículo. – Disse.

- Concordo. Mas por um lado eu entendo, é um canalha e isso não vai mudar, mesmo que ele esteja namorando com ela.

- Acho que isso é óbvio para todo mundo, menos pra . – Comentei.

- É como dizem, o amor é cego. – Ela concordou. – Falando em , ele disse que viria te buscar às oito. – Olhei o relógio.

- Caramba, tenho meia hora para me arrumar! – Me levantei e corri para o banheiro, sem esperar resposta.

Tomei o banho mais ligeiro de toda minha vida. Já no closet, peguei a primeira roupa, vesti-a e, por fim, passei uma maquiagem básica.

- , já está te esperando lá fora. – gritou, do lado de fora do closet.

- Já estou indo. – Gritei de volta. Me olhei uma última vez no espelho que havia ali, e sai do closet em seguida. – Se precisar de qualquer coisa me liga. – Disse enquanto pegava minha bolsa e celular.

- Pode deixar, divirta-se.

- Eu irei. – mandei beijos para ela e sai do quarto, em seguida.

Caminhei o mais depressa que pude, eu odiava deixar os outros me esperando. Avistei assim que pus meus pés no campus. Ele estava encostado em seu carro, e estava lindo, mas isso não era novidade.

- Oi. Desculpa se demorei muito. – Disse assim que me aproximei.

- Você não demorou nem dois minutos, . – Ele riu.

- Eu sei, é que eu não gosto de deixar pessoas esperando. – Expliquei-me.

- Entendi, mas não se preocupe. – Ele sorriu. – Podemos ir?

- Claro, para onde você vai me levar hoje? – Entramos no carro.

- No meu lugar favorito dessa cidade.

- Que lugar é esse?

- Surpresa. – Ele deu um sorriso misterioso.

- Que maldade! Eu sou curiosa e você faz isso. – Fiz bico.

- É bom saber disso, vou me aproveitar disso mais vezes. – Ele deu um sorriso malicioso.

- ! – Dei um tapinha no braço dele, que apenas riu e arrancou com o carro.

Ele ligou o som, e uma música animada começou a tocar. Dessa vez, o caminho não foi silencioso, não por causa da música que tocava, mas sim pelas nossas risadas. era muito divertido, e a todo o momento estava fazendo uma piada, fora que a voz dele era uma droga e ele fazia questão de cantar o mais desafinado possível.

- Chega! Minha barriga já tá doendo. – Disse entre risadas.

- Então respire, porque acabamos de chegar. – Olhei para a frente e minha boca se abriu ao mesmo tempo que meus olhos brilharam ao ver tamanha beleza. Sai do carro imediatamente, para poder admirar aquilo melhor.

- Não acredito! A London Eye é o seu lugar favorito? – Perguntei.

- Sim, por que o espanto?

- Eu estou espantada comigo mesma por não ter adivinhado que era esse lugar antes. – Confessei.

- Londres tem muitos lugares lindos, não seria tão fácil adivinhar que esse seria o meu.

- Pode ser. – Concordei – Eu ainda não vi o resto de Londres, mas esse agora é meu lugar favorito também. – Sorri, sapeca.

- Só não reclamo porque vai ser um prazer dividir esse lugar com você. Mas você tem que prometer que sempre que vier aqui tem que ser comigo. – Ele propôs.

- Por quê?

- Porque se não for comigo, não vai ter graça. – Ele disse, convencido.

- Meu Deus, você se acha muito. – Ri.

- Sou apenas realista. – Sorriu.– Ainda não acabou, vamos lá em cima. – Ele disse e começou a me puxar em direção a roda gigante.

- Isso não vai ser um pouco... – pausa – romântico?

- Você se importa? – Ele ergueu a sobrancelha.

- Não, mas...

- Então não reclama e vamos logo. – Ele disse. Resolvi ir de uma vez, não faria mal algum ir com ele, e definitivamente eu não deveria perder essa chance.

deu os ingressos para um senhor e logo estávamos sentados em uma das cadeiras. A roda gigante começou a se movimentar. O sorriso apareceu nos meus lábios e ao chegar no topo eu tive certeza de que ele permaneceria ali pelo resto da noite. Dava para ver a cidade toda, dali do alto e tudo era tão lindo e tão iluminado que eu tinha vontade de me grudar ali e não sair nunca mais.

- É lindo, não é? – perguntou, de repente.

- Sim, acho que não existem palavras suficientes para descrever tamanha beleza.

- Concordo. – Olhei para ele, que estava com um sorriso lindo nos lábios. Fiquei paralisada observando aquele sorriso, foi impossível não retribuir o sorriso dele.

- Então, você e o , estão ficando? – Ele perguntou, me tirando dos meus devaneios sobre a beleza dele.

Pigarreei antes de responder:

- Não estamos tecnicamente “ficando”, foi algo de apenas uma noite. – Respondi. – E você?

- Eu o quê? – Ele me olhou confuso

- Você e a namorando.

- Ah, o que tem?

- Ela não ficou com raiva porque você está comigo agora? – Perguntei – Digo, ela não gosta de mim e isso já ficou óbvio.

- A não decide com quem eu saio. Então eu não me importo com o que ela acha. Você também não deveria se importar. – Ele deu de ombros.

- Eu não me importo. – Disse, simplesmente.

A roda gigante começou a descer e eu resolvi ficar em silêncio, eu estava sendo curiosa demais.

- Você quer voltar para a Kingston agora? – Ele me perguntou quando saímos da roda gigante.

- Não sei. Você quer voltar? – Devolvi a pergunta.

- Sinceramente, não. Estou apreciando muito a sua companhia para querer voltar agora. – Corei. Eu nunca ia saber lidar com e suas indiretas.

- Então vamos ficar por aqui mais um pouco. – Encostei-me ao carro dele.

Ele parou em minha frente e ficou me observando, tentei não me importar, mas o olhar que ele me lançava era tão intimidador e ao mesmo tempo mostrava todas as suas segundas, terceiras e quartas intenções, que estava começando a me incomodar.

- O que foi? – Perguntei, incomodada.

- Sabe, eu nunca fui de ter inveja de alguém, mas agora eu estou com uma puta inveja do . – Ele se aproximou, prendi a respiração.

- Por quê? – Perguntei, eu estava ficando tensa com tamanha proximidade. Caralho, eu não lembrava que ele tinha um cheiro tão bom.

- Porque você mal chegou e ele já está fazendo coisas que eu tive vontade de fazer desde o momento em que eu te vi. – Ele tocou meu rosto, senti um arrepio ser tomado pelo meu corpo. O que diabos era aquilo?

- Que coisas? – Perguntei meio grogue. O que estava acontecendo aqui?

O olhar de estava fixo nos meus lábios e o corpo dele prensava o meu contra o carro. Eu sabia o que viria a seguir, e sabia que tinha que impedir, mas eu simplesmente não conseguia me mover.

- Isso. – Ele aproximou o rosto e então me beijou. Eu fiquei surpresa com a minha reação. Assim que os lábios de tocaram os meus, eu não hesitei um segundo sequer e segurei em sua nuca enquanto dava passagem para que a língua dele entrasse em contato com a minha. Eu lembrava de ter dito que o beijo do era o melhor, mas depois de beijar o posto passou definitivamente para ele. parecia ser todo perfeito e naquele momento eu entendi porque era tão apaixonada por ele. Quer dizer, eu sabia bem que não era perfeito e que ele era galinha, cafajeste e todos os outros adjetivos que se dão a tipos de homem como ele, mas acho que é como dizem: Os cafajestes sempre são os melhores. E olha que eu estava dizendo isso apenas com um beijo, imagina se eu transasse com ele?

O beijo foi cortado, e ele passou a beijar meu pescoço. Essa foi a deixa para que minha lucidez voltasse. O que eu estava fazendo? tinha namorada.

- , para. – O empurrei.

- O que foi, ? – Ele perguntou ofegante.

- Não é certo, você tem namorada.

- Eu não me importo com ela. – Ele tentou se aproximar de novo.

- Mas eu sim, você pode fazer isso com qualquer outra, mas não comigo.

- Tudo bem, me desculpe.

- Vamos voltar para Kingston. – Disse e entrei no carro sem esperar resposta, ele entrou alguns segundos depois.

O caminho de volta foi o oposto, totalmente silencioso. Pela primeira vez eu estava me sentindo suja. Eu nunca havia feito isso, e não haviam se passado nem dois dias que eu havia chegado e já estava agindo como uma total vadia. Primeiro eu transei com o , e minutos atrás eu estava no maior amasso com um cara comprometido. Isso definitivamente tinha que parar, minhas amigas ficariam assustadas se eu contasse tudo o que já tinha acontecido em tão pouco tempo. O pior de tudo é que eu não me arrependia pelas minhas ações, tanto pelo beijo quando pelo sexo com o . Eu não estava pronta pra me envolver com alguém, e o que eu ainda não entendia era o porquê eu tinha me envolvido com , e principalmente o porquê de eu já não ter dado um fim em seja o que for que esteja rolando entre a gente. Não que me envolver com o fosse ruim, pelo contrário, eu apenas não queria e nem estava pronta para isso, e eu achava que ele não era o tipo de cara que se envolvia, assim como .

, esse era um que eu não podia me envolver nunca, tanto fisicamente, quanto emocionalmente. Ele é o tipo de cara pelo qual eu nunca devo me apaixonar, mesmo que ele seja completamente lindo e irresistível.

- ? – A voz de próxima a mim, tirou-me dos meus devaneios.

- Oi?

- Já chegamos. – Ele disse e saiu do carro, fiz o mesmo.

- Obrigada pelo passeio, . Eu gostei muito. – Dei um meio sorriso.

- Que bom. Eu também gostei muito de passear com você. – E lá estava aquele sorriso malicioso novamente.

- Bom, acho que eu vou para o quarto. Já está tarde. – Mudei de assunto – Boa noite, .

- Boa noite, . – Ele se aproximou, deu um beijo no canto do meu lábio e, em seguida, saiu em direção aos dormitórios. Fiquei um tempo parada, tentando processar o que tinha acabado de acontecer. não iria me deixar em paz, eu tinha certeza disso. Percebendo que eu estava parecendo uma idiota, balancei a cabeça para afastar os pensamentos e tratei de ir para o meu quarto.

Tudo estava escuro quando cheguei, o que só significava que estava dormindo ou então tinha saído. Acendi a luz e a primeira opção era a correta. Tentando não fazer barulho para não acordá-la, fui para o closet para trocar de roupa e enfim poder dormir. Minutos depois, já com um pijama, voltei para o quarto e deitei-me na cama. Agradeci mentalmente por estar dormindo, porque eu com certeza teria que contar tudo para ela, e do jeito que minha mente estava em conflito, eu não ia conseguir esconder dela que eu e tínhamos nos beijado. Contudo, eu sabia que amanhã as perguntas viriam, pelo menos eu teria um preparo para omitir a parte do beijo. E ainda tinha , e o início das aulas. Caralho, se já tinha tanta coisa na minha mente em tão pouco tempo, imagina daqui a meses, ou anos! Melhor nem pensar, no momento era melhor focar no meu objetivo: a faculdade.

Ao pensar na faculdade, a ansiedade se apossou de mim e eu mal esperava para que a manhã chegasse e as aulas finalmente começassem. Por um momento me peguei pensando no futuro, em como seria minha vida daqui a alguns anos, e foi com esses momentos sonhadores, que eu, finalmente, adormeci.

Capítulo IV



Primeiro dia de aula. Finalmente o dia mais esperado chegou. Eu estava tão ansiosa que nem sequer consegui dormir direito. E agora aqui estava eu me arrumando, ou pelo menos tentando dar um jeito na minha aparência devido a noite mal dormida.

- Meu Deus, ! Eu já vi alguém ficar ansiosa por causa de uma notícia que vai receber e por causa de alguma coisa importante que vai acontecer, mas ficar ansiosa pelo começo das aulas... Essa é a primeira vez! - havia dito durante a madrugada, quando ela acordou por causa dos meus passos pelo quarto.

Ok. Talvez eu estivesse agindo exageradamente, mas era o meu sonho sendo realizado ali, então eu tinha todo o direito de agir dessa forma, certo? Certo. Quando, finalmente, fiquei pronta - o que aconteceu mais cedo do que o previsto -, me sentei na cama apenas para esperar que terminasse de se arrumar, o que estava demorando uma eternidade.

- , se você continuar demorando desse jeito, nós vamos nos atrasar. - Que exagero, ! Você fala como se a gente morasse super longe da universidade, né? - Ela ironizou.

- Eu sei. É que eu queria falar com o antes do sinal tocar.

- Hmm... O dia mal começou e você já quer agarrar o né, safada!

- Não é nada disso! - Ri - Eu apenas quero ter aquela conversa com ele.

- Não! - Ela exclamou. - Não me diga que você vai mesmo dar um fora nele em plena 6:30 da manhã? - Ela me olhou incrédula.

- Eu não posso ficar adiando essa conversa, .

- Quanta pressa pra se livrar do . Ele é tão ruim assim? - Questionou.

- Que? Não! - Ri, nervosa. - Ele é bom, mas eu não sei porque eu devo esperar mais pra ter essa conversa com ele.

- Quer motivo melhor do que você poder "pegar" ele por mais tempo? - Ela ergueu a sobrancelha.

- Aí, tudo bem! Você me convenceu, eu vou esperar mais um pouco.

- Isso! - Ela bateu palmas animada. Ri, era doida. - Estou pronta.

- Aleluia! - Comemorei enquanto me levantava e pegava a minha bolsa. Sai do quarto em seguida com ao meu encalço.

O campus estava lotado, e assim que pus meus pés no gramado olhares se voltaram para mim exatamente como no dia que cheguei aqui. Senti meu rosto esquentar, eu nunca iria me acostumar com isso mesmo sabendo que, eventualmente, as pessoas iriam parar de me olhar com tamanha curiosidade. Qual é, eu não podia ser a única aluna nova por aqui!

- Olha o ali. - Olhei para o lugar que apontava. - Ihh, alerta de vadia! Boa sorte, amiga. - Ela disse, mas eu já não estava ouvindo uma palavra do que ela dizia porque ao lado de estava ninguém menos do que .

Assim que pus o meu olhar nele, meu corpo paralisou e a cena da noite anterior voltou à minha cabeça. Eu ainda não havia pensado em como agiria quando visse , na verdade, eu esperava não o ver tão cedo. Mas o destino provavelmente queria brincar comigo e me colocou em uma situação em que eu não poderia ignorá-lo sem levantar suspeitas. Além do mais, eu não entendia o motivo de tal reação, afinal havia sido apenas um beijo sem importância e significado.

- Terra chamando . - A voz de interrompeu meus pensamentos.

- Desculpa. Eu estava pensando....

- Em ir até lá e mostrar para aquela oferecida que você mal chegou e o já é seu? - Ela deu um sorriso maroto.

- Quê? Claro que não! O não é meu, , o que aconteceu entre a gente foi passageiro e pronto.

- Você gosta de repetir isso, viu. Isso tudo é pra poder convencer a si mesma que não foi nada demais?

- Não, eu estou tentando convencer você e não a mim. - Disse e sai andando em direção aos meninos.

- Bom dia, pessoal! - exclamou enquanto dava um beijo no rosto de cada um dos meninos, incluindo - cujo eu havia acabado de notar ali - o que me surpreendeu, já que ontem ela mal havia falado com ele. Talvez as coisas tivessem se ajeitado, afinal.

- Você está mesmo aqui antes do sinal tocar? - perguntou e depois me olhou. - , você faz milagres! - Ele disse, ri e o abracei.

- Muito engraçado, . - disse seca. Ok, talvez as coisas não tivessem se ajeitado tanto assim.

- Bom dia, linda. - se aproximou de mim e me puxou pela cintura, beijando-me em seguida.

- Bom dia. - Respondi assim que nos separamos.

- "O quê? Essa novata acabou de chegar e já está se engraçando pra cima do meu ? Que abusada! - Ouvi a voz de uma menina dizer, não consegui evitar a gargalhada que subiu pela minha garganta, então afundei meu rosto no peito de para poder abafar o riso. Ele me abraçou e riu junto comigo.

- Meu primeiro dia de aula e eu já tenho haters. - Disse e ele riu novamente.

- O que eu posso fazer se todas me querem? - Ele se gabou.

- Convencido! - Dei um tapinha em seu peito e voltamos a nos beijar.

- Bom dia pra você também, . - Ouvi aquela voz que eu estava querendo tanto evitar. Me separei de e me virei na direção da voz.

- Bom dia, . - Sorri forçado.

- Animada com o primeiro dia?

- Estou sim.

- Que bom. - Ele ficou me olhando de uma maneira que me deixou desconfortável.

- Bom dia, meu amor. - Uma toda feliz chegou de repente e puxou fazendo com que ele desviasse o olhar para ela. Agradeci mentalmente por isso.

- Então, como foi o passeio ontem? - me perguntou.

- Foi legal, eu estou amando conhecer Londres.

- Tenho certeza que sim. - Ele disse - Escuta, eu sei que temos que conversar sobre nós, mas... - O toque do sinal interrompeu a fala dele.

- Eu tenho que ir, não se preocupe, nós conversamos sobre isso depois e com calma.

- Tudo bem. Você quer que eu te acompanhe?

- Não precisa, não quero que você se atrase.

- A gente se vê depois?

- Com certeza. - Sorri e beijei-o antes de correr em direção ao meu prédio.

Quando entrei na sala, o professor ainda não tinha chegado e os alunos ainda estavam chegando e se acomodando.

- ! - Uma voz me chamou, virei-me e me surpreendi ao ver acenando pra mim no fim da sala.

- Hey, . Não sabia que você fazia o mesmo curso que eu. - Disse assim que me aproximei.

- Bom, agora você sabe. - Ele sorriu.

- Tem mais alguém que eu conheça ou somos só eu e você? - Sentei-me na cadeira vazia do lado dele.

- Não, somos só nós dois. Os outros estão em períodos ou cursos diferentes.

- Você também não devia estar? - Perguntei.

- Não, no último semestre eu fiz outro curso, mas não era o que eu queria, então eu troquei.

- Entendi, espero que esse seja o que você queira.

- Eu também. - Ele deu um sorriso sincero. - O professor chegou. - Ele disse olhando para a porta, segui seu olhar e tive que me segurar para não passar mal ali. Meu Deus! Professores como ele deveriam ser proibidos de ensinar, ou talvez eu devesse parar de ficar de quatro por cada britânico que eu visse.

- Boa tarde, meu nome é Derek e eu sou o professor de Anatomia Humana. - Porque eu não me surpreendi com isso? É claro que ele tinha que ser o professor de anatomia! Balancei a cabeça para tentar afastar os pensamentos e me concentrar em algo que aquele deus grego estava dizendo.



...


O restante das aulas passaram rapidamente e eu dei graças a Deus que os outros professores não eram tão atraentes quanto o Derek. Ao sair do prédio no meio da tarde, me deparei com uma cena que não deveria me deixar surpresa, mas eu fiquei mesmo assim: estava encostado em uma árvore praticamente engolindo uma menina às vistas de todo mundo. Patético. Eu sinceramente sentia pena da por ser apaixonada por alguém como .

- Você podia pelo menos ser um pouco discreto. - Me pronunciei e ele se afastou da menina para me olhar.

- Por quê? Ciúmes? - Ele sorriu, prepotente.

- Claro que não! - Revirei os olhos - Você tem sorte que fui eu que vi e não a sua namorada.

- Espera. Você tem namorada? - A menina perguntou surpresa.

- Tenho. Mas isso não é importante.

- Não é importante? - Ela disse incrédula. - Seu cretino! - Ela deu um tapa na cara dele e em seguida saiu andando. Segurei-me para não rir.

- Oops. Doeu? - Sorri ironicamente.

- Na verdade, não. - Ele deu de ombros.

- Sabe, eu sinto pena da por namorar você.

- Sente pena ou inveja? - Ele ergueu a sobrancelha.

- Inveja? - Gargalhei. - Meu Deus, como eu pude achar você legal e amigável quando você é totalmente o oposto?

- Porque a primeira impressão é a que fica e, quando se trata de meninas lindas como você, eu gosto de causar uma boa impressão.

- Bom, eu posso te garantir que não foi a primeira impressão que ficou em relação a você. - Disse e me virei para ir embora, mas fui puxada e prensada contra a árvore.

- Isso é uma pena. - Ele disse perto do meu ouvido fazendo-me arrepiar dos pés a cabeça. O cheiro dele invadiu o meu olfato deixando-me tonta e eu tive que prender a respiração para não ficar embriagada. Mas que merda de sensações são essas? - Mas eu posso te dar uma terceira impressão.

- , não... - Ele apertou minha cintura e me puxou para perto brutalmente, o que interrompeu minha fala e fez-me soltar um gemido. Oh, Deus, eu estava excitada.

- Não lute contra isso, . Eu sei que você quer. - Ele disse com a boca próxima - muito próxima - da minha. A essa altura eu já não controlava minha respiração e mente, eu apenas queria que ele me beijasse logo. E foi o que ele fez, tomou o meu lábio com os seus e me beijou avidamente. Eu soltei minha bolsa no chão e levei minhas mãos para os ombros dele, apertando-os e o puxando mais para perto em busca de mais contato. Eu não sabia o que acontecia entre mim e , mas eu não conseguia me controlar com ele tão perto assim mesmo sabendo que eu não devia perder o controle. Eu o conheci há apenas uns dias mas acho que era assim que a atração física acontecia, certo? Eu só sabia que as mãos dele estavam dentro da minha blusa e os lábios dele no meu pescoço e eu estava gostando, mesmo sabendo que estávamos em público e qualquer um poderia ver.

- Wow, arrumem um quarto! - Ouvi uma voz conhecida e imediatamente minha mente voltou a funcionar. Abri os olhos assustada e empurrei que me olhou um pouco confuso, ignorei e apenas olhei para o autor da voz. . - e ? Não acredito!

- , calma. Isso não é o que parece. - Disse, nervosa.

- Todos dizem isso quando são pegos fazendo algo errado. - Ele riu.

- não vai dizer nada a ninguém, se é isso o que te preocupa. - se pronunciou.

- É, , relaxa. Eu não vi e nem sei de nada. - Ele confirmou, suspirei aliviada. - Mas sejam mais discretos, da próxima vez pode ser que não seja eu quem veja.

- Não se preocupe, porque isso não vai acontecer novamente. - Apanhei a minha bolsa do chão.

- Tem certeza? Porque você disse a mesma coisa ontem. - debochou.

- Tenho, . Você é detestável.

- Você não parecia achar isso minutos atrás.

- Vai se foder. - Murmurei irritada.

- Só se for com você. - Ele piscou e sorriu maliciosamente.

- Aght! Eu te odeio, seu imbecil. - Disse exasperada e sai e o mais rápido de perto daquele idiota antes que eu o matasse e fosse presa. Eu estava irritada, isso raramente acontecia, mas conseguia me irritar dentro de 5 segundos, e pensar que eu havia achado ele encantador.

Durante todo o caminho de volta para o dormitório, eu torci para que ninguém aparecesse de repente e me visse em tal estado deplorável, porque eu tinha certeza que minha maquiagem estava borrada e o meu cabelo bagunçado, fora o péssimo humor que eu estava. Finalmente consegui entrar no quarto sem que alguém me impedisse ou aparecesse no meio do campus e me ferrasse completamente. Minha mente estava uma confusão e tudo o que eu menos queria naquele momento era me encontrar com . O que eu queria saber e não parava de me perguntar era qual era a merda do meu problema, e o que eu estava pensando para deixar me levar daquele jeito primeiro por e agora por . Eu nunca havia me sentido tão fácil em toda a minha vida, na verdade, eu nunca havia perdido o controle das minhas ações antes de vir para Londres, e isso surpreenderia minhas amigas se elas me vissem nesse momento, porque eu estava agindo igual a Katerina, a menina que eu odeio no Brasil. Sem falar que eu não quero nem imaginar o que o diria se ele me visse agindo como uma vadia.

. Eu sentia falta dele apesar de não ter pensado muito nele nos últimos dias. Eu considerava isso como um bom sinal, pelo menos devia ser, não é? Droga, minha mente estava uma confusão só. Se não fosse o meu sonho sendo realizado ali, a essa altura eu já estaria embarcando novamente para o Brasil como uma boa covarde que eu era.

Tranquei-me no banheiro e decidi tomar um banho, eu precisava esquecer dos problemas e me livrar dos vestígios de na minha pele. Eu me encontrava em um dilema, talvez um possível Karma e ele tinha nome e sobrenome, eu só não tinha decidido se isso era bom ou ruim, mas agora devido as circunstâncias eu definitivamente diria que era totalmente ruim e que eu deveria me manter afastada, e era exatamente isso que eu iria fazer.



...


Meu telefone resolveu tocar quando eu estava terminando de trocar de roupa, eu planejava deitar, dormir e esquecer dos problemas que giravam a minha mente. Peguei meu celular e verifiquei o visor. Número desconhecido. Estranho. Por fim, decidi que atenderia.

- Alô? - Disse e o outro lado permaneceu em silêncio. - Alô? - Mais silêncio. - Olha, seja lá quem você for é melhor falar logo ou eu...

- Sou eu, . - Uma voz me interrompeu e foi minha vez de ficar em silêncio. Eu conhecia aquela voz, bem demais até. - Não vai falar nada? - A voz perguntou depois de alguns minutos de silêncio. Soltei o ar dos meus pulmões e decidi, finalmente, falar.

- O que você quer que eu fale, ? - Perguntei. - Na verdade, a pergunta correta seria: O que você quer?

- Eu... Eu quero me desculpar com você.

- Se desculpar? - Que ótimo! Quando eu já não tinha problema suficiente aparecia mais um.

- Sim. Queria me desculpar por, ermm, por não ter ido me despedir de você e por ter te tratado mal quando você quis...terminar.

- Você não precisa se desculpar por nada disso, eu mereci o que você disse e você não ter ido se despedir de mim foi só uma consequência.

- Não é verdade. Eu não entendi e continuo não entendendo porque você terminou comigo, mas você foi embora e eu devia ter pelo menos dito adeus.

- Eu já expliquei o motivo do fim do nosso relacionamento.

- Distância? É só isso ou era apenas uma desculpa que você deu pra terminar o namoro?

- Claro que não, tudo o que eu disse é a mais pura verdade! - Ele ficou em silêncio por uns segundos.

- Então... Você ainda me ama? - Ele perguntou de repente.

- ... Por favor, não torne isso..

- Apenas responda, . - Interrompeu-me. - Você me ama?

- Eu amo, você sabe que eu te amo. - Respirei fundo, porque ninguém nunca facilitava as coisas pra mim?

- Eu te amo e você me ama, isso não deveria ser o suficiente? Eu sinto sua falta.

- Deveria, mas não é. - Disse. Aquilo estava sendo difícil, eu precisava desligar o telefone o mais rápido possível antes que eu acabasse cedendo e dizendo algo que eu iria me arrepender depois.

- Por que não é? - Ele me perguntou.

- É simples, olha para a gente. Eu estou em Londres, você está no Brasil. Tem um oceano entre a gente. Isso nunca vai dar certo, . Nem o mais forte dos relacionamentos sobrevive a isso mesmo que o amor seja mútuo. Eu te amo, mas nesse momento não é suficiente. Eu sinto muito. - Desliguei o telefone e joguei-o em cima da cama. As lágrimas vieram logo em seguida. Tratei de enxugá-las, eu não iria chorar, eu já havia chegado até aqui e tinha que ser forte. Meu celular tocou novamente, mas dessa vez era um toque de mensagem. Hesitei, mas acabei pegando o telefone. Mensagem do .

"Hey, quer dar uma volta? Acho que é hora de ter aquela conversa. Xx."

Hoje definitivamente não era o meu dia. O que era aquilo, um complô? Pelo menos, com o eu só teria que dizer que tinha acabado e pronto, um problema a menos na minha vida. "Como se isso fosse tão fácil." - Pensei. Respondi a mensagem e voltei para o closet para procurar uma roupa, e quando achei tratei de me vestir o mais rápido que pude. Quando estava pegando minha bolsa para sair, entrou no quarto feito um furacão.

- Até que enfim te achei! Preciso te contar uma coisa. - Ela disse toda afobada.

- Calma, o que você tem pra dizer é muito importante? Eu tô de saída.

- Vai se encontrar com o ? - Concordei - Tudo bem, eu te conto depois, mas só porque eu o vi lá embaixo te esperando.

- Eu vou indo então. Volto logo. - Disse e saí do quarto. Ouvi um "tchau" e um “se divirta” vindo de e sorri. Mal sabia ela que tudo o que eu não iria fazer era me divertir.

Avistei sentado em um dos bancos e logo caminhei na direção dele.

- Hey. - Disse assim que me aproximei o suficiente para que ele me escutasse.

- Hey, . - Ele se levantou e me puxou para perto para me dar um selinho. - Você está linda.

- Obrigada. - Sorri timidamente.

- Gostou do primeiro dia de aula? - Ele segurou a minha mão e começamos a andar pela universidade. Pensei em soltar a sua mão, mas achei que seria rude e resolvi deixar assim, além do mais eu gostava do toque dele.

- Sim! é meu colega de classe, eu não sabia disso.

- Isso é legal, pelo menos você já conhece alguém da sua turma.

- Pois é. E a sua aula, como foi?

- Foi normal como sempre. - Ele deu de ombros.

- Você deve me achar estranha por ficar tão animada com as aulas.

- Estranha? De jeito nenhum. - Ele parou na minha frente me fazendo parar também. - Nada em você é estranho, . Na verdade, eu acho esse seu interesse todo por estudos muito sexy. - Ele pôs as mãos na minha cintura e me puxou mais para perto.

- Você é o primeiro a me dizer isso. - Corei. - Mas aposto que não sou o primeiro a dizer que você fica ainda mais linda envergonhada. - Ele aproximou o rosto do meu. Minha mente gritava "alerta vermelho" e eu sabia que esse era um sinal para que eu me afastasse, mas eu simplesmente não conseguia mover um músculo e esse era o efeito de sobre mim, ele me deixava paralisada e a mercê dele e de suas vontades. Não demorou para que os lábios dele tocassem os meus e eu não resisti, os beijos do eram maravilhosos e seria a última vez que eu os teria, então por que não aproveitar? As nossas línguas se tocavam com avidez. Minhas mãos estavam em sua nuca, meus dedos puxavam os fios de cabelo que tinham ali enquanto as mãos dele estavam na minha cintura e cabelo. tinha uma pegada e tanto.

Meu corpo foi pressionado contra algo que eu deduzi que era uma árvore, e foi aí que as coisas começaram a ficar quentes. enganchou a mão entre os meus cabelos com firmeza e os puxou fazendo com que minha cabeça pendesse para trás e ele tivesse acesso livre ao meu pescoço. Senti sua língua tocar a região do meu pescoço e, involuntariamente, soltei um gemido e o puxei para mais perto. Uma das mãos dele desceram pelo meu corpo até a barra do meu vestido, adentrando e apertando minhas coxas com precisão. Soltei um suspiro. Aquilo estava muito bom, mas eu tinha que parar porque bem, fazer sexo no meio do campus da faculdade não era algo que eu queria.

- ... Acho que.... - Ele me interrompeu.

- Shh... - Ele puxou minha perna esquerda pra cima enganchando-a na cintura dele e em seguida, eu senti o toque dele na minha intimidade por cima da calcinha. - Não fala nada, apenas aproveita. - Ele murmurou próximo a minha boca, o suficiente para que ele mordesse meu lábio inferior em seguida. Minha calcinha foi afastada e os dedos dele tocaram a minha intimidade. Fechei os olhos fortemente e mordi os lábios para segurar o gemido. Ele passou o dedo indicador por toda a minha intimidade, meu corpo se contraiu com tal ato, o que o deu um sinal verde para que continuasse. Eu sabia que devia pará-lo mas na situação em que eu estava era impossível e assim que seu dedo polegar tocou o meu clitóris, eu já não me lembrava mais do meu próprio nome.

Olhei ao redor para me certificar que ninguém estava olhando, e por sorte onde estávamos não havia ninguém e era uma parte muito escura do campus, então não corríamos o risco de alguém nos ver. penetrou um dedo na minha intimidade e dessa vez eu não consegui impedir o gemido que saiu. Uma mão dele massageava o meu seio, enquanto a outra estava na minha intimidade. Oh, Deus, como isso estava bom.

- Está gostando? - Ele sussurrou no meu ouvido. Apenas assenti, concordando. - Quer mais um? - Assenti novamente. - Responda, . - Oh, Deus. Aquela voz, aquele sotaque, era demais pra mim.

- Por… Favor... - Pedi.

- Como quiser... - Ele disse e penetrou outro dedo. Cravei a minha unha no seu abdômen definido e foi a vez dele soltar um gemido, bem próximo do meu ouvido. Jesus! Que homem é esse?

Os dedos dele se movimentavam rápido ao mesmo tempo que ele massageava o meu clitóris. Eu estava descontrolada. Meu quadril rebolava constantemente sobre os dedos dele e eu sabia que estava perto do orgasmo. Muito perto. E não demorou para que o mesmo viesse. O meu gemido foi longo e arrastado. Dessa vez minhas unhas foram cravadas nas costas de e ele pressionou o corpo contra o meu, possibilitando que eu sentisse a sua ereção contra a minha intimidade. Isso me excitou novamente.

Levei minha mão até o cós da calça de . Abri o botão e desci o zíper, empurrando a calça para baixo em seguida. Parecendo entender minha atitude, deu um sorriso malicioso e retirou seu membro ereto de dentro da cueca boxer. Minha mão imediatamente foi para o membro dele e os lábios dele tomaram os meus em um beijo cheio de luxúria. Tomei o impulso para que a minha outra perna também enganchasse na cintura dele, e o membro dele me invadiu. Ambos gememos entre o beijo. Ele começou o típico movimento de vai e vem, enquanto os lábios dele agora desfrutavam do meu pescoço novamente. Os movimentos eram ora rápidos, ora lentos e ele me provocava arrancando de mim gemidos em protestos e fricção da minha intimidade com o seu membro em busca de um contato com maior precisão. Uma das mãos dele ainda estavam em meus seios e ele a todo momento sussurrava coisas maliciosas no meu ouvido, o que me deixava cada vez mais excitada e próxima do meu segundo orgasmo da noite. Um gemido longo e rouco escapou da garganta dele, o que indicava que ele havia chegado ao orgasmo primeiro. Ele se movimentou mais algumas vezes até que, finalmente, cheguei ao meu segundo orgasmo. Meu corpo foi tomado por espasmos e eu tive que me segurar mais ao corpo de para que eu não acabasse desequilibrando e caindo no chão junto a ele.

- Wow. Essa foi a maior loucura que eu já fiz. - Me soltei dele, respirei fundo tentando normalizar a respiração e tentei arrumar minhas roupas e cabelo para tentar parecer normal. subiu as calças dele.

- Sério? Não se ofenda, mas você é muito santa, ! - Ele disse e a única reação que eu tive foi rir, gargalhar, para ser mais precisa.

- Não me ofendi porque o que você disse é verdade em partes e eu sei que preciso mudar porque não estou mais no Brasil.

- Você não precisa mudar. Eu me interessei por você sem que você precisasse mudar, então não se preocupe com isso.

- É bom saber disso. - Sorri. - E eu odeio estragar o clima mas nós temos mesmo que conversar. - Fiquei séria. Eu não podia adiar esse assunto.

- Eu sei o que você vai dizer, .

- Sabe? - Arregalei os olhos.

- Sim, acho que isso é bem óbvio.

- Desculpe, . Mas eu mal cheguei aqui e ainda está tudo de cabeça para baixo e...

- Você não quer se envolver com alguém. - Ele completou.

- Sim. - Concordei.

- Tudo bem. Eu realmente te entendo. - Ele disse.

- Sério?

- Relaxa. Nós ainda vamos ser amigos, não é?

- Com certeza. - Sorri abertamente. Eu estava feliz que ele havia me entendido.

- Então, está tudo bem. - Ele devolveu o sorriso.

- Que bom! Então, acho que a gente se vê por aí... -Ddisse timidamente.

- Sim. Nos vemos por aí. - Concordou.

- Acho que vou voltar para o meu quarto. - Disse. - Boa noite.

- Boa noite. - Ele se aproximou e me deu um beijo na bochecha. Sorri para ele, que acenou para mim e se afastou em seguida. O observei caminhar até a saída da Kingston e suspirei. Um problema resolvido.

Por fim, acabei me sentando em um dos bancos que tinha por ali apenas para adiar a minha volta para o quarto. Eu sei que tinha algo para me contar, mas eu não queria interrogatórios sobre mim e . Na verdade, tinha muito a contar, mas a minha cabeça estava cheia demais para que eu partilhasse os meus problemas. De repente, meu celular tocou indicando que havia chegado uma mensagem. Peguei-o dentro da bolsa, olhei no visor e vi o mesmo número desconhecido que eu havia visto mais cedo. Merda!O meu tormento não acaba nunca? Eu já havia deixado tudo muito claro para o mais cedo, o que ele ainda queria comigo?

Se eu não fosse uma pessoa curiosa a primeira coisa que faria era ignorar essa maldita mensagem, mas como além de ser curiosa, eu também gostava de sofrer, abri a mensagem de uma vez.

"Pra mim é e sempre vai ser suficiente. Eu não vou desistir de você, de nós, como você desistiu. Eu te amo. Xx" Meus olhos se encheram de lágrimas. O que ele queria dizer com aquilo? Quer dizer, aquilo não era justo! Eu já havia dito que não ia dar certo, então por que ele não facilita pra mim e me deixa seguir em frente?

Droga! Pra quem eu estou mentindo? Eu não quero seguir em frente! Eu nunca quis. Bem, eu tentei seguir em frente ficando com o , e essa foi uma tentativa bem falha. Quer dizer, o é maravilhoso e engraçado, mas ele não é o . E quanto ao , é tudo apenas atração física, não é algo que eu possa me permitir que aconteça novamente até porque ele tem namorada e... Bem, de certa forma, eu tinha o .

Espera! O que é isso? Eu estou tendo esperança? Esperança de que eu e ainda vamos ficar juntos? Eu nunca me permiti sentir isso e eu não sentia até dez minutos atrás. Uma simples mensagem pode realmente mudar todo o meu conceito sobre relacionamentos a distância? A resposta era simples e clara: Não. Não podia e não iria. Eu não podia deixar que minhas emoções tomassem conta de mim, eu teria que agir com a razão. O estava no Brasil, eu estava em Londres. Isso nunca ia funcionar, eu já havia deixado bem claro isso. E mesmo que me doesse, mesmo que eu não quisesse seguir em frente, eu teria que seguir porque eu não podia voltar atrás, era tarde demais para isso. Eu realmente havia desistido, e seria mais que justo que ele fizesse o mesmo. Era isso o que eu queria, que ele desistisse de mim assim como eu havia desistido antes mesmo de vir pra cá. Não respondi a mensagem. Quem sabe assim ele, finalmente, entenda que não existe esperança para nós. Nunca houve.

- ? - Alguém deu uma leve sacudida no meu ombro - ! Você está chorando? - Despertei dos meus devaneios e olhei para a pessoa que agora estava alhada em frente a mim. . - , você está me ouvindo? - Ele perguntou. Sua voz transbordava preocupação. - Estou. - Minha voz saiu tão baixa e rouca que se ele não estivesse tão próximo a mim, ele não teria escutado.

- O que aconteceu? fez alguma coisa com você? - Ele insistiu.

- Ele não fez nada. Eu estou bem. - Passei a mão no rosto para enxugar as lágrimas e forcei um sorriso para tentar convencê-lo. Não funcionou.

- Você não parece bem. - Ele disse - Me fala o que aconteceu.

- Não foi nada com o . É coisa minha, eu estou bem. - Repeti e fiquei em pé, estava na hora de voltar para o quarto.

- Tudo bem! - Ele ficou em pé na minha frente - Você não quer falar, eu respeito isso. - Ele levou a mão direita até a minha bochecha e fez um carinho de leve.

- Obrigada. - Tirei a mão dele do meu rosto. - Eu vou para o meu quarto. - Dei um passo à frente.

- Espera! - Ele segurou meu braço e olhei-o esperando que continuasse. - Fica mais um pouco.

- Pra quê? - Ergui a sobrancelha.

- Nós podíamos nos divertir um pouquinho. - Ele sussurrou no meu ouvido, minha pele se arrepiou. Maldita atração física.

- Você não desiste mesmo, não é? - Questionei.

- Nunca. Não vou desistir até ter você. - Ele sorriu malicioso. E que sorriso, mas eu não iria cair no joguinho dele. Eu não era a vagabunda que ele achava que eu era.

- Isso é bom para você, que vai morrer tentando. - Disse e o sorriso que ele sustentava desapareceu - Eu já deixei claro antes, mas parece que você não entende. Eu e você não vai acontecer. Eu não sou do tipo que fica com homens que já tem namorada, e nem com homens cafajestes e você é os dois. Então você pode tirar a ideia da sua cabeça. Quer ser meu amigo, ótimo, mas nunca vamos passar disso. - Soltei meu braço das mãos dele.

- Claro, o seu tipo é o . - Ele ironizou - Pois fique sabendo que o é tão cafajeste quanto eu.

- Pode até ser, mas o tem muitas outras qualidades que você não deve ter.

- Você não me conhece. - Ele disse entre dentes. Eu havia conseguido irritar ele. Ponto para mim.

- E, sinceramente, não quero conhecer. - Sorri vitoriosa e me virei para sair dali.

- Você vai ser minha, . Você vai implorar por mim. - Gargalhei alto.

- Vai sonhando, querido , porque vai ser apenas nos seus sonhos que isso vai acontecer. - Disse, e em seguida entrei no prédio que ficava os quartos.

Era só o que me faltava! querendo que eu seja uma das vagabundas dele. Era isso que eu ganhava por me deixar levar por britânicos e seus sotaques maravilhosos. Nesse momento eu senti falta da minha vida de antes, não tinham britânicos perfeitos para complicar a minha vida.

- , , ! - disse afobada assim que eu entrei no quarto. - Eu estava só te esperando!

- Minha nossa! O que você tem para me contar deve ser muito bom mesmo. - Ri, impressionada com o tamanho da animação dela. v - É sim! Senta aí. - Ela apontou para o espaço vazio na frente dela. Andei até lá e sentei-me.

- Pronto, pode contar.

- O me beijou hoje! - Ela exclamou.

- Quê? - A olhei surpresa.

- É! Depois das aulas ele veio me pedir ajuda com umas coisas que ele não estava entendendo, daí rolou. - Contou. - Ai, , eu sei que foi só um beijo e provavelmente para ele não significou nada mas eu estou tão feliz.

- Eu te entendo. Você gosta dele, tem mais que estar feliz.

- Está tão na cara que eu gosto dele?

- Está, e eu já tinha percebido.

- Sério? E você acha que ele percebeu?

- Duvido muito. Meninos são tão lerdos para essas coisas.

- E o é mais lerdo que o normal. - Ela riu.

- Mas mesmo assim, se vocês se beijaram é um grande passo.

- É mesmo. - Ela disse sorridente. - Chega de falar sobre mim, conte-me sobre você e .

- Não tem nada pra contar, somos amigos agora. - Dei de ombros.

- Então, vocês terminaram mesmo?

- Nós só estávamos ficando, não era nada sério.

- Pelo menos a amizade continua.

- Sim. - Bocejei. - Tá ficando tarde, acho que vou dormir.

- Eu também vou. - Levantei-me e ela se ajeitou na cama - Boa noite.

- Boa noite. - Respondi e entrei no closet para colocar o meu pijama. Após trocar de roupa, voltei para o quarto e me deitei na minha cama. Fiquei um tempo olhando para o teto e tudo o que eu estava realmente vendo era o rosto de . Eu sentia falta dele, e esquecer dele ia ser a coisa mais difícil que eu iria fazer, na realidade, eu nem sabia se queria esquecê-lo. Ao perceber para onde minha mente estava me levando, tentei afastar os pensamentos e desliguei a luz do quarto para, então, tentar dormir.





2 semanas depois.

A manhã havia começado quente e eu realmente estava surpresa. Diferente do primeiro dia de aula, eu estava atrasada. Por isso peguei a primeira roupa que tinha no closet e vesti rapidamente.

- Você está me levando pro mal caminho, . - Brinquei, enquanto terminava de me arrumar em frente ao espelho.

- Acordar um pouco tarde não faz mal a ninguém. - Ela deu de ombros.

- Só faz com que a gente se atrase. - Peguei meu celular em cima da mesinha. - Estou pronta.

- Você que demora muito para se arrumar. - Ela me estendeu uma maçã. - Toma, peguei algo pra gente comer na cozinha.

- Obrigada. - Peguei a maçã. - Agora vamos logo, eu ainda tenho que pegar os meus materiais no armário.

Saímos do quarto em direção a mais um dia de aula. Nas últimas semanas minha vida estava uma correria. As aulas mal começaram e os professores já haviam passado milhares de trabalhos para serem apresentados. Só hoje eu tinha três para apresentar. A única coisa que eu podia contar como positiva disso tudo é que eu estava tão ocupada que minha tarefa de ignorar estava sendo 100% cumprida. A parte ruim é que quase não sobrava tempo para conversar com minhas amigas e família no Brasil, e olha que o fuso horário já atrapalhava bastante. Eu também não havia saído com o pessoal, o que só podia significar que eles estavam tão ocupados quanto eu. E, na verdade, ultimamente, os únicos com quem eu tenho falado são a e o .

- Amanhã é sexta, estamos combinando de sair para alguma festa ou apenas para nos divertirmos em algum lugar. Você vai, né? - me disse assim que eu sentei no meu lugar na sala.

- Se não tiver nada para o fim de semana, eu vou sim.

- Mesmo se tiver, você vai. Estamos precisando nos divertir, tirar o foco um pouco dos estudos.

- , a aula começou há apenas duas semanas. - Ri.

- Exatamente! Isso significa que já faz duas semanas que eu não pego ninguém! - Ele falou como se isso fosse um absurdo. Gargalhei.

- Tudo bem, eu vou. - Me rendi. - Agora deixa eu me concentrar no trabalho que eu vou ter que apresentar daqui a pouco.

- Sim, senhora. - Ele disse e se virou para frente.



...


O dia foi tenso. Felizmente, eu havia me saído bem nas apresentações e devido a isso as aulas haviam acabado mais cedo. Os professores não haviam pedido mais nenhum trabalho e graças a isso eu não teria nada para apresentar amanhã e se tudo continuasse assim eu teria o fim de semana todo para descansar. Guardei todo o meu material no armário e segui em direção ao campus, que, como sempre, estava lotado. Caminhei por entre as pessoas e já estava sonhando com a minha cama quando ouvi meu nome ser chamado.

- ! ! - Paralisei. Eu conhecia aquela voz. Não podia ser quem eu estava pensando, podia? Eu só podia estar imaginando coisas. - Mily... - A voz disse mais perto. Não, eu não estava imaginando coisas, minha mente não era tão fértil assim. Me virei lentamente e arregalei os olhos ao ver a pessoa que eu temia ver, e que era a única que eu não queria ver no momento.

- Da-? - Gaguejei - O que você tá fazendo aqui?

Capítulo V

Eu não acreditava que aquilo estava mesmo acontecendo. Eu não acreditava que ele estava mesmo ali. estava na minha frente e eu simplesmente não sabia o que fazer ou como agir.

- Eu vim atrás de você. - Ele sorriu. O meu sorriso. - Você não está feliz em me ver?

- Eu... Não sei... - Pisquei algumas vezes, atônita. - Você me pegou de surpresa.

- , eu vim porque... - Ele fez uma pausa. - Eu não desisti da gente e eu sei que o que precisamos conversar tinha que ser pessoalmente e não por telefone. - Senti o mundo girar ao meu redor e meu coração palpitar fortemente. Meu estômago não parava de dar voltas e eu achava que a qualquer momento eu poderia vomitar. estava ali por mim, para tentar reatar o nosso namoro e eu não tinha a menor ideia do que dizer ou fazer. - Você está bem? - Ele se aproximou e tocou o meu rosto, senti minha perna fraquejar. - Wow, ! Você está pálida. Fala alguma coisa! - Ele me segurou pelo braço, para me dar apoio.

- Eu estou bem. - Respondi, por fim - Eu só fiquei surpresa, não esperava te ver por aqui.

- Eu não te avisei porque sabia que você não iria querer que eu viesse, mas eu precisava vir. Eu precisava te ver. - Ele fez carinho na minha bochecha, fechei os olhos. Toda essa proximidade estava me deixando confusa. Eu não devia está demonstrando um pouco de resistência? Eu havia terminado o namoro, não podia ceder assim!

- ... - Respirei fundo e tirei sua mão do meu rosto. - Você quer conversar, tudo bem. Mas isso não quer dizer que vamos voltar. As coisas estão bem assim.

- Não, não estão! - Ele exclamou. - Eu não sei ficar sem você, !

- Sabe sim! Tanto sabe que você não perdeu tempo e ficou com a Katarina no mesmo dia que eu fui embora.

- Você sabe? - Gaguejou.

- Sei. Eu não estou mais lá, mas eu ainda tenho amigos lá, não sei se você se lembra disso.

- , aquilo não foi nada pra mim! Eu estava magoado e bêbado, eu não estava pensando direito.

- Essa é a desculpa que todos dão quando fazem algo errado! - Me exasperei e desviei o olhar para o lado.

Várias pessoas estavam olhando para a gente, embora não pudessem entender nada porque estávamos falando em português. Bando de fofoqueiros! Respirei fundo tentando me controlar.

- Escute, vamos para algum outro lugar. Eu estou com fome e aqui está todo mundo olhando.

- Claro. - Ele concordou.

- Vem comigo. - Ajeitei minha bolsa no ombro, e andei em direção a saída da universidade com em meu encalço.

Durante todo o trajeto nós ficamos em silêncio, não que não havia nada para ser dito mas apenas não sabíamos por onde conversar. Minha mente estava confusa e no fundo da minha consciência eu tinha medo dessa conversa. Eu tinha medo de ceder e acabar me machucando depois. Mas, por outro lado, eu sentia tanta falta dele, que eu tinha vontade de jogar tudo para o alto e me jogar nos braços dele. Contudo, eu não podia fazer isso, eu tinha que continuar firme e forte na minha decisão. Avistei um carrinho de cachorro-quente em frente à uma pequena praça e me encaminhei até lá.

- É isso que você vai comer?

- Sim, não estou com paciência para ir em algum restaurante. Eu como outra coisa quando voltar para a Kingston.

- Ainda acho que você deveria comer algo saudável. - Ele disse, preocupado.

- Não se preocupe comigo. Você vai querer algum?- Perguntei e ele negou. - Tem certeza?

- Tenho, eu comi antes de vir para cá. - Assenti e fiz o pedido ao vendedor. Não demorou para que meu pedido ficasse pronto, paguei e peguei o cachorro-quente.

- Obrigada. - Agradeci e virei para , que apenas apontou com a cabeça para um dos bancos e saiu andando em direção a ele.

Segui-o enquanto comia o cachorro-quente o mais devagar que eu conseguia. Eu queria adiar aquela maldita conversa. Os minutos a seguir foram de completo silêncio. Eu fazia questão de manter a boca cheia e ele olhava para todos os lados, tenso. Como eu não podia fugir para sempre, o maldito cachorro-quente acabou e eu sabia que não poderia mais adiar. O olhar dele se voltou pra mim e pela primeira vez desde que eu o visto no campus, eu olhei dentro daqueles olhos azuis que eu tanto amava. Nesse momento, eu sabia que estava perdida, porque tudo o que eu tinha trancado a sete chaves tinha voltado à tona. Eu senti tanta falta dele.

- O que foi? - Ele me perguntou, envergonhado. Sorri, ele ficava ainda mais lindo quando ficava tímido.

- Nada. Eu só estava pensando no quanto eu senti a sua falta. - Confessei.

- ... - Não deixei ele continuar.

- Eu só quero saber duas coisas. A primeira é: Por que você ficou com a Katarina?

- E-Eu não sei. - Ele baixou a cabeça. - Eu estava tão magoado e com raiva por você ter me deixado, e eu vi a na festa e pensei que se ficasse com alguém que você não goste, ela iria ver e te contar. Eu sei que foi um pouco infantil, mas eu queria que você sentisse um pouco do que eu estava sentindo. - Você acha que eu não já estava sentindo? - Senti as lágrimas encherem meus olhos, mas me mantive firme. - Você acha que para mim foi fácil terminar tudo? Terminar com você foi a coisa mais difícil que eu já fiz, .

- Se foi difícil, se te magoou, por que você terminou, então?

- Eu já te disse! Namoros a distância não dão certo, nunca dão! Eu preferia me magoar agora do que acabar me magoando muito depois.

- Eu não entendo, . Eu te faço feliz, eu te amo. Não entendo o seu medo de que tudo dê errado. Eu disse que iria te esperar.

- Se eu voltar! E se eu não voltar? E se você cansasse de me esperar e se apaixonasse por outra?

- Isso não vai acontecer! Você é a mulher da minha vida, . E se eu estou aqui é porque eu quero você de volta, eu não desisti de nós.

- Não desistiu? Você não foi nem ao menos se despedir de mim no aeroporto! - Me levantei e comecei a andar de um lado para o outro.

- Porque era muito doloroso! - Ele exclamou exasperado. - Era muito doloroso ver você ir embora, você tinha terminado comigo, !

- Mas eu queria me despedir de você! Te ver uma última vez, te abraçar. - As lágrimas já desciam livremente pelos meus olhos. - Droga, eu terminei com você para te dar uma chance de ser feliz! Eu iria estar longe, não tem como ser feliz com um namoro a distância!

- , você ouviu alguma coisa que eu disse? - Ele se aproximou de mim e me segurou pelos dois braços, me chocalhando levemente. - Eu te amo, porra! - Ele gritou. - Se eu estou aqui é porque eu ainda estou lutando por nós! Com você longe ou perto, só você pode me fazer feliz, só você e mais ninguém! - Ele respirou fundo tentando se acalmar. - Você está longe? Beleza. A gente pode dar um jeito! A gente sempre deu um jeito em tudo.

- , eu... - Fechei os olhos, mais lágrimas escorreram pelos meus olhos - Me desculpa.

- Não precisa se desculpar. Só fique comigo... - Ele passou os dedos por debaixo dos meus olhos, secando as minhas lágrimas. - Eu te amo tanto... - Ele aproximou o rosto do meu e eu não recuei. Eu não tinha mais forças para resistir, eu não queria resistir. Os nossos lábios se tocaram, e um beijo calmo foi iniciado. Joguei meus braços ao redor do pescoço dele enquanto o beijo era aprofundado.

Meu coração batia rápido e forte. Só Deus sabe o quanto eu tinha sentido falta desse beijo, desse toque, da sensação que ele me causava. estava ali, lutando por nós, ele me amava e me queria de volta. Eu não sabia o que fazer, minha mente estava em conflito e o meu coração e a razão estavam em guerra. Daquilo tudo eu só tinha certeza de uma coisa: meu amor por estava ali, vivo e mais forte do que nunca. O beijo foi partido e nós nos abraçamos fortemente. Aproveitei e inalei o cheiro que emanava do seu pescoço, eu nem preciso dizer que senti falta do cheiro dele, né?

- Volta pra mim? - Ele se afastou para me olhar nos olhos.

- Eu preciso pensar, você se importa?

- Não. Eu espero o tempo que for necessário. - Ele sorriu.

- Quanto tempo você vai ficar por aqui?

- Cinco dias.

- Amanhã meus amigos estão planejando ir para algum canto. Venha me buscar às 19h e te darei minha resposta até o fim da noite.

- Amanhã, então. - Ele sorriu abertamente.

- Eu preciso voltar agora.

- Eu te acompanho até lá.

- Tudo bem. - Ele estendeu a mão para mim e segurei-a, eu tinha sentido falta do toque dele na minha mão assim. Andamos todo o trajeto de volta em silêncio, mas dessa vez não era um silêncio perturbador, estávamos apenas curtindo a presença um do outro, já que não havia mais nada a ser dito.

Chegamos em frente a universidade, e me virei para ainda segurando suas mãos.

- Eu preciso entrar.

- Tudo bem. Te vejo amanhã? - Perguntou e levou uma de minhas mãos aos seus lábios, beijando-a. Sorri.

- Com certeza. - Me aproximei e depositei um beijo em sua bochecha. - Até amanhã.

- Até. - Soltamos as mãos e eu me afastei para entrar no campus. Acenei uma última vez e, finalmente, me virei adentrando no campus.

- ! - Mal dei dois passos e um todo suado apareceu na minha frente. - Pensei que tinham te sequestrado, faz tempo que não te vejo. - Ele me abraçou rapidamente.

- Ew, . Você está todo suado. - Me afastei fazendo careta.

- Deixa de frescura, é só um suorzinho.

- Que frescura que nada, moleque. - Ri e dei um tapa em sua cabeça.

- Quem é o cara que tanto te observa? - perguntou, de repente, e apontou com a cabeça para alguém atrás de mim. Olhei para trás e vi que ainda estava lá, e pela cara que ele fazia eu apostava que ele estava com ciúme do . Dei um sorriso sem graça para ele, e acenei novamente, me virando para frente em seguida. - É um amigo, você não conhece. - Dei de ombros, e voltei a andar, me acompanhou.

- Você vai amanhã, né? - Ele perguntou.

- Vou. - Confirmei. - Será que eu posso levar alguém, ou o pessoal vai se importar? - Perguntei.

- Pode levar quem você quiser, .

- Quem que a vai levar? - surgiu, de repente e colocou as mãos nos meus ombros. Revirei os olhos, o que eu fiz pra merecer isso, Deus?

- , eu vou para o meu quarto. Te vejo depois. - Ignorei a pergunta de e tirei o braço dele de cima dos meus ombros.

- , - me chamou uma última vez antes que eu me afastasse - se você ver a diz que eu to procurando por ela, por favor?

- Digo sim, . - Dei um sorriso discreto e acenei para ele antes de voltar a andar, agora em direção ao prédio residencial.

Quando estava abrindo a porta de entrada, alguém me puxou pelo braço bruscamente fazendo com que meu corpo se chocasse de frente com o corpo desconhecido por mim.

- Mas que merda é...

- Qual é o seu problema, garota? - sibilou, aparentemente irritado. Será que eu não podia ter mais um pouco de paz?

- Qual é o SEU problema, seu imbecil? - Puxei meu braço bruscamente, me soltando do aperto da mão dele.

- Você é o meu problema. - Ele deu um sorriso sombrio. Senti um arrepio esquisito na espinha. - Tá fugindo de mim por quê? Medo de não resistir?

- Resistir a quê? A você? - Gargalhei ironicamente. - Você é muito convencido, não é?

- Convencido não, eu só falo o que eu vejo. - Respirei fundo tentando me acalmar. - , será que você podia me deixar em paz? - Pedi.

- Mmmm... - Ele se aproximou novamente. - Não. - Disse próximo ao meu ouvido ao mesmo tempo em que suas mãos me puxavam pela cintura, apertando-a. Me arrepiei. Maldita atração que sempre me entregava. Abri a boca algumas vezes, mas nenhum som saia. A sua atitude me pegou desprevenida. Percebendo o meu silêncio, ele continuou. - Que foi? Agora não tem mais nada pra dizer? - E lá estava aquele sorriso prepotente que eu odiava.

- Tenho. - Sorri ironicamente. - Sai. De. Perto. De. Mim. - Disse pausadamente e o empurrei, o sorriso dele desapareceu. Ponto pra mim! - Por que você não larga do meu pé e vai encher o saco da sua namorada?

- não está aqui. Ela saiu com a .

- Então vai atrás de uma dessas que você geralmente come e me deixa em paz! - Exclamei.

- Você está com ciúmes? - Ele ergueu a sobrancelha.

- Ciúmes? Se manca garoto! - Toda aquela prepotência dele estava me tirando do sério. - Eu não quero nada com você e nunca vou querer, mesmo que você seja o último homem da face da terra! - Isso não era totalmente verdade, mas eu tinha meu orgulho e alguém tinha que mostrar para ele que ele não é o centro do universo.

- Isso tudo soa como um desafio pra mim, sabe? - Ele deu um passo à frente e, automaticamente, eu dei um pra trás.

- Entenda como quiser. A única coisa que eu te peço é que desapareça da minha frente e me deixe em paz. - Disse, e antes que ele dissesse alguma coisa para me irritar ainda mais, adentrei o prédio.

Eu estava farta de . Ele era irritante. Eu realmente não entendia porque eu me sentia atraída por ele. Tudo bem, eu sei que ele é bonito e gostoso, mas... Espera! O que eu tô pensando? "Nada de colocar adjetivos nele, .", me repreendi mentalmente. Entrei no quarto vazio, e pude, finalmente, suspirar em alívio. Minha vida estava de cabeça para baixo. E eu que pensava que assim que eu viesse pra Londres meus problemas iriam desaparecer. Como eu estava enganada.

Joguei minha bolsa em algum canto do quarto e joguei-me na cama em seguida. e eram os únicos problemas que rondavam a minha cabeça. O pior é que eles eram problemas que eu não podia fugir, não adiantaria, mas eu também sabia que minha força de vontade para resolver era pequena.

Eu não sabia o que fazer em relação a . Ele queria voltar, ele me ama, e eu o amo também, mas ainda não sei se voltar com ele é a melhor solução. Com era ainda mais complicado. Ele queria transar comigo e depois me jogar fora como todas as outras, mas eu não era uma qualquer, e mesmo sentindo uma pequena atração física por ele, eu tinha minha integridade, nunca iria ceder para ele. Pelo menos era isso que eu tinha em mente. Eu tinha dois dilemas para resolver e não sabia o que fazer. Eu estava precisando dos conselhos das minhas amigas urgentemente.

Sem pensar duas vezes, peguei o meu celular e digitei rapidamente uma mensagem para minhas amigas, marcando de fazermos uma videochamada em dez minutos. A resposta não demorou muito para chegar, agora só restava esperar. Aqueles foram os dez minutos mais demorados da minha vida. Eu estava ansiosa para falar com elas, mas eu também estava apreensiva com o que eu ia contar, tinha medo de ser julgada ou interpretada mal. De qualquer forma, seja como for, elas são minhas amigas e vão me entender e me apoiar.

- ! Que saudades! - Minhas amigas gritaram assim que a videochamada foi iniciada. Sorri, eu sentia tanta falta delas.

- Também estou com saudade de vocês. Está tudo bem por aí?

- Tudo ótimo!

- Maravilhoso. E por aí?

- Está tudo bem, eu estou tão feliz de estar aqui, sabe, realizando o meu sonho.

- Eu imagino, amiga. - Elas me analisaram por um segundo, franziu a testa - Aconteceu algo? Você parece preocupada.

- Também percebi, é alguma coisa com a faculdade?

Sorri fracamente. Minhas amigas me conheciam mesmo.

- Quem dera que meus problemas fossem apenas a faculdade. - Suspirei - está aqui.

- QUÊ? - As duas gritaram ao mesmo tempo, surpresas.

- Eu estou tão surpresa quanto vocês.

- O que ele foi fazer aí?

- Deixa de ser tapada, . É óbvio que ele foi atrás da . - Ri das duas.

- Como a disse, ele veio atrás de mim. A gente conversou, rolou um beijo e agora ele quer voltar.

- Vocês se beijaram? - Perguntaram incrédulas.

- Sim. Eu não consegui evitar e agora eu não sei o que fazer.

- , você gosta dele?

- Sim, eu amo ele, mas...

- Se você gosta dele, e já está provado que ele gosta de você - me interrompeu -, então porque você não volta logo com ele?

- É, e nem venha falar sobre a distância e blá blá blá. Ele saiu daqui do Brasil para ir atrás de você. - apoiou.

- Não é apenas isso, eu estou um pouco enrolada. - Fiz careta.

- Enrolada? - Elas fizeram cara de confusão - Espera! Você está saindo com alguém?

- Não. - Elas me olharam desconfiadas. - Quero dizer, estava.

- Sabia!

- , sua safada!

- Parem! - Ri fraco. - Foi só algumas vezes, mas já faz mais de duas semanas que parei de sair com esse menino.

- Ahhh, mas se já faz tanto tempo, qual é o problema?

- Eu não sei. - Suspirei - Eu tenho medo de voltar com ele e me machucar, ou o machucar. Ele livre de mim vai ter mais oportunidades para conhecer outro alguém, sabe?

- Te entendo, mas tem certeza que é só esse o motivo? - Minhas amigas ergueram as sobrancelhas.

- Aí, eu não sei. - Fiz careta. - Tem outro menino, mas...

- Outro? - Elas fizeram cara de espanto.

- Quem é você e o que fizeram com a minha amiga? - .

- Posso terminar? - Elas assentiram. - Ótimo. Como eu estava dizendo, tem esse outro menino que fica me rondando, mas ele é insuportável e tem namorada. - Frisei a palavra namorada. - E ele é um cafajeste e quer de todas as maneiras transar comigo.

- E já rolou algo entre vocês?

- Já. Dois beijos. - Fiz careta ao me lembrar.

- O menino é insuportável e já aconteceram dois beijos.

- Né, imagina se ele não fosse insuportável, eles já teriam feito mais do que dar apenas beijos. - zombou.

- Vocês vão ficar apenas me zoando? - Questionei. Tudo aquilo já estava me irritando.

- Desculpa, .

- É. Não vamos mais te zoar, continue.

Respirei fundo antes de continuar:

- Ok, continuando. Ele é insuportável e quer transar comigo, já aconteceram dois beijos. Mas não vai acontecer nada entre a gente, é a última coisa que eu quero. Só que o problema não é esse.

- E qual é? - perguntou, confusa.

- Eu não consigo me controlar quando ele chega perto demais. Eu sinto uma atração física por ele, e ele sabe disso e tenta se aproveitar. Até agora eu tenho tentado manter distância, mas isso não vai funcionar pra sempre.

- Mas e o ?

- Eu não sei! Eu amo o , essa é a única certeza que eu tenho. Mas eu não quero dar falsas esperanças para ele e acabar fazendo algo que o machuque depois.

- , esquece esse outro garoto. Ele é comprometido e só quer te usar. O não, ele te ama e quer ficar com você independente da distância.

- Eu sei, e eu não quero nada com o eu só tenho que aprender a me controlar.

- Esse menino deve ser muito gostoso para deixar você descontrolada. - Elas riram. Ignorei.

- Isso não vem ao caso. De qualquer maneira, eu preciso pensar no que vou dizer ao amanhã.

- Eu acho que você deveria dar uma chance a ele. - disse.

- Eu também acho. Quer dizer, você quer uma prova de amor maior do que essa? Ele atravessou o oceano só por você!

- Realmente, isso foi muito fofo da parte dele. - Concordei.

- Aproveite a oportunidade. Não se acham meninos como ele hoje em dia. - Minhas amigas tinham razão. já havia provado que merecia o meu amor, então por que não dar uma chance para ele?

- Tudo bem, meninas, eu vou pensar sobre isso.

- Isso! Não tenha medo de ser feliz.

- Não vou ter, . Obrigada, meninas, mesmo longe eu não sei o que seria de mim sem vocês.

- Eu sei que você não vive sem a gente. - se gabou.

- Aí, retiro o que eu disse. , eu não sei o que seria de mim sem você. - Brinquei e fez bico.

- Como você é ingrata, !

- E você é convencida demais. - Dei língua e ela riu.

A porta do quarto foi aberta de repente e uma lotada de sacolas entrou. Desviei a atenção do celular por uns segundos.

- ! Fui fazer umas comprinhas.

- Tô vendo. - Ri - perguntou por você.

- Quê? - Ela soltou as sacolas rapidamente em cima da cama e correu até a minha cama animada, mas seu sorriso murchou quando viu que eu estava falando no telefone. - Ah, você está falando no telefone. - Ela apontou para o aparelho.

- Sim, com minhas amigas do Brasil. - Olhei para o telefone e minhas amigas me olhavam confusas.

- Meninas, essa é a , minha colega de quarto. essas são e , minhas melhores amigas.

- Oii! É um prazer conhecer vocês. - disse, simpática.

- O prazer é nosso. - retribuiu o sorriso.

- , se você nos trocar por ela eu te mato! - disse, enciumada. Ri alto.

- Deixa de ser boba. Você é insubstituível.

- Acho bom mesmo. - Ela continuou com a cara emburrada.

- Ela está com ciúme. - Disse para , que apenas riu e se levantou, voltando a dar atenção às suas sacolas. Voltei a dar atenção às minhas amigas.

- , eu tenho que desligar. Minha mãe acabou de chegar e ela tá me chamando. - disse e eu pude ouvir de longe os gritos da mãe dela.

- Tudo bem, . Diz para a sua mãe que eu mandei um beijo.

- Pode deixar. Beijo. - Ela acenou e em seguida saiu da conversa.

- Eu também preciso ir, tenho que terminar umas coisas da faculdade. Mas antes de ir, eu quero ter certeza que você vai fazer a coisa certa em relação ao .

- Não se preocupe, eu sei o que estou fazendo. Não vou tomar nenhuma decisão precipitada.

- Tomara que não, só quero que você seja feliz. Você sabe que eu vou te apoiar no que você decidir, não sabe?

- Sei sim. Obrigada.

- Não precisa agradecer. - Ela sorriu, mas logo ficou séria novamente. - Outra coisa. Eu tô longe, mas eu tô de olho em você, viu?

- Sim, senhora. - Sorri - , se você ver a mamãe diz pra ela que eu tô com muita saudade dela.

- Digo sim. Agora eu realmente preciso desligar. A gente se fala uma outra hora.

- Tá certo. Tchau, amo você. - Acenei para a tela do celular.

- Também amo você, se cuida. - Respondi um "você também" e desliguei o telefone.

Olhei em direção a minha colega de quarto e notei o tamanho da bagunça que já estava em cima de sua cama. Aquele tanto de roupa saiu de todas aquelas sacolas?

- Você comprou todas essas roupas? - Me levantei e aproximei-me da cama dela.

- Sim! E esses sapatos também. - Ela exclamou, animada.

- Tem certeza que isso tudo vai caber no closet?

- Eu dou um jeito. Mas me conte, - ela soltou uma peça de roupa em cima da cama e se virou para mim - o que o queria?

- Não sei, ele apenas falou para eu te dizer que ele estava te procurando.

- Aí, meu Deus! O que será que ele quer? Será que ele vai dizer que o que aconteceu foi um erro? Ou que não vai rolar mais nada entre a gente e toda aquela baboseira de manter a amizade? - Ela disparou, aflita.

- Calma! Seja o que for, uma hora você vai ter que ir falar com ele.

- Eu sei, mas não sei se tô preparada para levar um fora.

- Não pense só no pior. Vai que seja alguma coisa boa.

- Pode ser que seja. - Ela concordou. - Será que eu vou atrás dele agora?

- Espere um pouco, você está muito ansiosa. Primeiro mande uma mensagem para ele, depois vamos arrumar essa bagunça e daí você sai.

- É, você tem razão. Obrigada, . - Ela correu até a cômoda e pegou seu celular.

- De nada. Eu vou tomar banho, quando sair te ajudo com essa bagunça, ok? - Ela assentiu. Peguei as coisas que iria precisar e entrei no banheiro.

Durante o banho me permiti pensar em toda a situação que me encontrava e percebi que estava sendo tola ao me sentir intimidada por . Eu era adulta e dona do meu próprio nariz. Eu sempre tive controle sobre mim mesma, então por que eu estava deixando um moleque que não sabia ouvir um "não" mexer comigo daquele jeito? Eu não precisava fugir dele, eu não sou de fugir. E essa situação não podia sair do meu controle, eu tinha que me impor e mostrar que eu sei o que quero e nada pode mudar minha opinião. Era isso que eu iria fazer.

Finalizei o banho e troquei de roupa. Era hora de parar de pensar um pouco nos meus problemas e me concentrar em outras coisas, como ajudar minha colega de quarto com .

- Você vai sair com a gente amanhã, né? - Ela me perguntou assim que me viu sair do banheiro.

- Vou. - Me juntei a ela e comecei a ajudá-la a dobrar as roupas. - Mandou a mensagem para ?

- Sim, ele quer me encontrar no campus daqui a uma hora. Estou nervosa. - Ela me olhou ansiosa.

- Eu posso imaginar, mas vai dar tudo certo. Tente ficar calma.

- Tudo bem, não vou pensar no pior.

- Isso mesmo. - Incentivei - Escuta, você comprou essas roupas todas hoje com que propósito?

- Não sei, eu entrei em uma loja para experimentar uma roupa e quando dei por mim já estava com milhares de sacolas.

- Você é louca! - Ri. - Se toda vez que você for fazer compras e voltar com esse tanto de sacola não vai sobrar mais espaço nenhum.

- Eu sei que sou um tanto compulsiva, mas vou me controlar. Prometo.

- Você fala isso até parar em frente a uma loja de novo.

- Aí, para! - Ela riu e jogou uma peça de roupa em mim, fazendo-me rir também.

Continuamos a bagunça em meio à risadas e brincadeiras. até que tinha bom gosto para roupa, e achei que até um dia se precisasse pediria uma roupa emprestado.

Não demorou muito para que todo o quarto fosse arrumado e, finalmente, saiu para o seu encontro com . Desejei que tudo desse certo, pois ela merecia ser feliz.

Ao me ver sozinha no quarto, me deitei na cama e peguei um livro na estante para que eu pudesse me distrair, ou ao menos tentar me distrair com coisas fora da minha realidade. Comecei a folhear o livro, e até li algumas palavras, mas minha mente logo me traiu e quando dei por mim eu já estava pensando nele e em tudo que ele havia me dito hoje. Era clichê ficar pensando nisso o tempo todo. Eu até considerava isso um pouco tolo, mas eu não podia evitar, não pelo menos até que essa parte da minha vida fosse resolvida.

Decidida a não ficar remoendo as minhas decisões, me levantei e caminhei até a saída do quarto. Minha barriga dava sinais de que eu estava com fome, então eu iria até a cozinha para procurar algo comestível.

Já na cozinha, vasculhei os armários a procura de algo que fosse prático, e acabei por pegar uma caixa de cereais e leite na geladeira por falta de coragem para procurar algo mais gostoso. Coloquei os alimentos em uma tigela, me sentei de frente para a bancada e me pus a comer enquanto mexia no celular e atualizava o meu status nas redes sociais.

“Hey, ainda lembra que eu existo?”

Sorri ao ler a mensagem de no whatsapp. Fazia um tempo que eu não falava com ele. Respondi a mensagem e não demorou muito para que a resposta fosse recebida.

“Está fazendo o quê? Estou entediado, quer sair para dar uma volta?”

Ir dar uma volta era até uma boa ideia, mas eu não estava nem um pouco afim de sair para passear e correr o risco de dar de cara com . Além do mais, eu não tinha certeza se esse “dar uma volta” de era apenas uma desculpa para ele tentar “relembrar” o que tivemos semanas atrás, então eu preferia não arriscar, afinal, eu não estava mesmo com a menor vontade de sair. Inventei que estava com dor de cabeça e não poderia ir. “Tudo bem, fica pra próxima”, essa foi a resposta dele e eu agradeci mentalmente por não ser insistente.

Ficamos conversando coisas banais, e assim como e , ele me perguntou se eu iria sair com eles no dia seguinte. Não pude deixar de sorrir com essa situação, eu me sentia feliz em saber que era tão querida pelos meus amigos, e que mesmo que eu tenha chegado há somente algumas semanas, eles já faziam questão da minha presença nos lugares para onde eles iam.

De volta ao quarto, deitei-me em minha cama já sentindo os sinais do sono aparecer, mas eu não poderia dormir, eu havia prometido à que esperaria que ela voltasse. Despedi-me de , que já estava indo dormir, e coloquei meu celular em cima da cômoda ao lado da minha cama, não antes de verificar o horário. Meia noite e nada de voltar. que me desculpe, mas eu não vou conseguir esperar que ela volte.”, pensei. Resolvendo então que o melhor a fazer seria dormir, cobri-me com o lençol e permiti que o sono me banhasse por completo.

Despertei com o despertador tocando pela milésima vez. “Onde estava que não desligava essa porcaria?”, indaguei mentalmente. Completamente irritada, arremessei o travesseiro no objeto sem me importar se iria ou não quebrar. Eu odiava despertadores e sabia disso, não sei por que tanta demora para desligar aquele troço. Tateei a cômoda em busca do meu celular, e ao encontrá-lo, chequei as horas no relógio digital. Cinco e meia. Quem em sã consciência colocava um despertador pra tocar às cinco e meia, quando a aula só começaria às oito? Eu iria matar .

Com mau humor explícito, me levantei de uma vez, pronta para cometer um homicídio. Meus planos foram por água abaixo quando me deparei com a cama da minha colega de quarto vazia e arrumada do mesmo jeito que ela havia deixado no dia anterior. Então ela dormiu fora, e provavelmente com o . Meu humor melhorou consideravelmente depois disso. Se ela havia dormido fora era sinal de que as coisas entre eles tinham dado certo.

Por fim, ciente de que não iria conseguir voltar a dormir, me dirigi ao banheiro pronta para começar o dia. Antes de tomar banho, coloquei-me frente a pia com a escova e a pasta de dente em mãos. Após ter feito minha higiene bucal, despi-me, entrei no Box e liguei o chuveiro deixando a água gelada escorrer pelo meu corpo. Durante o banho, não pude deixar de pensar que hoje seria o dia em que eu teria que dar a resposta a . De repente, me senti ansiosa e ao mesmo tempo nervosa. Eu ainda não tinha certeza do que iria responder, mas como eu sempre ajo com o coração, tinha 99,9% de chances de eu acabar voltando para ele. Só bastava eu por meus olhos nele hoje novamente. Eu só esperava que, independentemente do que escolhesse, eu não me arrependesse depois.

Ao terminar o banho, enrolei-me na toalha e me dirigi até o closet em busca de uma roupa que me agradasse. Após escolher, vesti-me e me coloquei em frente ao espelho para fazer o cabelo e a maquiagem. Deixei o cabelo solto e tentei deixar o meu rosto o mais natural possível, pois não gostava de utilizar muita maquiagem pela manhã – como muitas das estudantes faziam -. Assim que finalizei essa segunda parte, me sentei na cama para que pudesse colocar os calçados nos pés e chequei o horário no meu celular novamente. Sete e meia. Faltava apenas meia hora para a aula começar e nada de voltar. Eu já estava começando a me preocupar, onde será que ela tinha se metido?

Estava quase ligando para ela, quando uma sorridente adentrou o quarto.

- Bom dia, flor do dia! – Ela exclamou ao me ver.

- Bom dia. – Sorri. – Onde você estava? Tava começando a ficar preocupada...

- Estava com . Ontem foi a melhor noite da minha vida. – Ela suspirou feliz.

- Tenho certeza que sim, mas depois você me conta. Vai se arrumar se não vamos nos atrasar. – Me levantei e pus minha bolsa no ombro. – Eu vou estar na cozinha.

- Tudo bem, eu já desço. – Ela entrou no banheiro.

A cozinha estava bastante movimentada. Alunos andavam de um lado para o outro pegando tudo o que podiam em cima da mesa cheia de comida – que provavelmente era preparada por alguma copeira -. Minha barriga roncou assim que eu vi um maravilhoso bolo de chocolate em cima da mesa. Caminhei imediatamente para lá, tirei um pedaço, colocando-o no prato e saboreando-o em seguida. Estava uma maravilha. Peguei a jarra de suco que jazia em cima da mesa e coloquei um pouco em um copo, bebendo o líquido em seguida. Melhor café da manhã ever.

- Quanta fome, . – apareceu do meu lado de repente. – Nunca pensei que fosse te ver atracada com um copo de suco e um bolo de chocolate. – Riu ela.

- Você não viu nada. – Disse com a mão em frente a boca enquanto mastigava. – Eu simplesmente amo bolo de chocolate!

- Percebi. – Ela riu novamente e tirou um pedaço do bolo para ela.

- Eu me entupo com essas coisas e não sei como não engordo. – Ri.

- Que inveja! Eu bem queria poder comer de tudo sem ter que me matar na academia depois.

- E quem te disse que eu não me mato na academia? – Ergui a sobrancelha.

- Então retiro o que eu disse, não tenho mais inveja. – Gargalhei sendo acompanhada por ela. - Melhor a gente ir andando ou vamos nos atrasar. – Concordei, enfiei o resto de bolo na boca e ajeitei a bolsa no ombro antes de sair da cozinha acompanhada por .

Enquanto caminhávamos pelo campus, me contava sobre a noite anterior. Segundo ela, havia dito que gostava dela e que queria que eles ficassem mais vezes. Fiquei feliz ao ouvir isso. estava tão feliz que era possível ver a sua felicidade a quilômetros de distância.

Ao chegar em frente ao meu prédio, despedi-me de e adentrei o local, me encaminhando diretamente para o meu armário. Peguei todo o material necessário e fechei a porta do meu armário, apoiando bem os livros nos braços antes de me virar e andar até a sala.

- Bom dia, . – apareceu ao meu lado de repente.

- Bom dia. – Respondi. – Vejo que está muito animado.

- Claro, hoje é sexta! – Exclamou ele. – Esse é um bom motivo para estar de bom humor.

- Tem razão. – Concordei.

- Fiquei sabendo que vai levar alguém hoje. Quem é? – Ele perguntou curioso, arregalei os olhos ao ouvir tal coisa.

- Meu Deus, como o é fofoqueiro! – Exclamei incrédula.

- Na verdade foi o que me contou.

- ? – Franzi o cenho. – Outro fofoqueiro então.

- Tenho que concordar, é mais fofoqueiro que mulher. – Riu ele.

- Ei! Eu não sou fofoqueira. – Protestei. Sentei-me na cadeira e ele sentou à minha frente.

- Você é exceção. Mas e então, quem é o cara? – Ele perguntou novamente.

- Um amigo do Brasil, ele veio me fazer uma visita. – Disse sem entrar muito em detalhes.

- Amigo colorido? – Ele me olhou com a sobrancelha erguida. Fiquei em silêncio por uns minutos pensando no que responder.

- É complicado, eu não sei exatamente o que somos. – Respondi simplesmente.

Ele abriu a boca pra responder, mas nesse momento o professor entrou na sala. Ele fez sinal dizendo que conversamos depois e se virou para frente.

O dia passou lentamente, e consequentemente, as aulas também. Eu não achava ruim, pelo contrário, eu amava assistir aulas, acho que era o espírito de novata em faculdade no exterior que me levava a me sentir assim, porque, definitivamente, eu era a única que me sentia normal com as horas passando lentamente. A todo tempo reclamava, e eu apenas fazia rir e falar para ele se concentrar na aula que o horário passaria mais rápido.

Na hora do intervalo, diferentemente das últimas semanas, eu decidi não ir à biblioteca e, sim, ir me juntar com os meus amigos no campus. Caminhei lentamente até a mesa onde estavam , , , , e .

- Olha só quem resolveu se juntar a nós. – disse assim que me sentei na cadeira ao seu lado.

- Pensei que tinha voltado para o Brasil. – alfinetou, fiz cara de desgosto, não tinha como eu gostar dessa garota.

- Para sua infelicidade, eu vou ficar por aqui por muito tempo. – Sorri falsamente e todos ao redor olharam tensos para nós duas.

- Então, animados para sair hoje? – mudou de assunto.

- Sim! – Todos exclamaram.

- Temos que nos decidir para onde vamos. – .

- Podemos ir para um barzinho que tem aqui perto, daí nem precisamos ir de carro. – deu a ideia.

- Eu aprovo. – concordou imediatamente.

- Eu também. – Concordei.

- Então todo mundo concorda? – Perguntou e todos afirmaram. – Então, tudo certo.

- Só vamos nós sete ou alguém pretende levar mais alguma pessoa. – Perguntou .

- vai levar o namorado dela. – se pronunciou e todos os olhares da mesa se viraram pra mim, exceto o de e que já sabiam. Fuzilei com o olhar.

- Se não tiver problema para vocês, eu vou levar um amigo do Brasil que veio me visitar.

- Não tem problema nenhum, . – respondeu sorrindo. Ele pareceu não se incomodar com o fato de eu levar alguém, mas eu me senti desconfortável com a situação, porque, bem, eu e tivemos algo e isso eu não podia mudar.

- É, , pode levar quem quiser. – concordou.

- Obrigada, gente. – Sorri abertamente.

- Qual é o nome do seu amigo? – Perguntou .

- . – Disse e quase instantaneamente senti o olhar de sobre mim.

- Amigo huh? – Ele ergueu a sobrancelha, o tom de voz dele era irônico. Os outros olharam para mim esperando minha resposta, mas dessa vez eu não cai nas provocações do , ele que dissesse o que quisesse, eu não estava nem aí pra ele.

O assunto foi mudado novamente, e eu agradeci mentalmente por ter amigos que se tocam quando o momento está tenso demais e o assunto precisa ser desviado. Não demorou muito para que o sinal do fim do intervalo tocasse e cada um tivesse que voltar para a aula. O restante das aulas passou mais rápido do que o primeiro tempo e, para a felicidade de todos, nenhum professor passou algum trabalho.

Eram exatamente 18:00 horas quando a aula acabou, isso só significava que eu teria que correr para não me atrasar, pois eu só tinha uma hora para me arrumar. Assim que entrei no quarto, joguei a bolsa em cima da cama, e caminhei até o banheiro tirando a roupa no trajeto. Por sorte, ainda não tinha chegado, o que significava que eu não era a única que estava atrasada ali. Meu banho foi super rápido, eu não teria tempo para um banho demorado.

Ao sair do banheiro vestida com o roupão, deparei-me com jogando as roupas do closet para tudo que é lado.

- O que é isso? – Questionei com os olhos arregalados.

- Eu não acho a roupa que eu comprei especialmente pra hoje.

- Com esse tanto de roupa que você comprou fica difícil de achar mesmo. – Ri dela.

- Uma ajudinha aqui, por favor? – Implorou.

- Tudo bem. – Suspirei. – Vamos achar logo essa roupa.

Me juntei a ela no meio da bagunça e comecei a procurar a roupa que ela me descreveu, enquanto colocava as roupas que não eram a escolhida de volta no lugar.

- Achei! – Exclamei com a peça nas mãos.

- Aí, obrigada, ! – Ela pegou as peças da minha mão e correu para o banheiro.

Aproveitando que já estava ali, tratei de vestir uma roupa íntima e escolher minha própria roupa. Após achar, deixei as peças em cima da cama e coloquei-me em frente ao espelho para fazer a maquiagem. Procurei marcar bem os olhos, mas não exagerar tanto já que a minha roupa seria o que mais iria chamar atenção ali.

Enquanto arrumava o cabelo, peguei-me pensando em . Ele não tinha dado nenhum sinal de vida desde o dia anterior. Será que ele havia desistido e ido embora? Por um momento fiquei em pânico com tal pensamento, mas logo tentei pensar que ele queria me dar espaço para pensar para que eu não achasse que ele estava me pressionando a tomar uma decisão caso ele ligasse ou mandasse mensagem. É, isso era bem típico do e era isso que me fazia pensar que talvez eu devesse dar uma chance a nós, mesmo não tendo me decidido por completo.

Quando terminei de fazer maquiagem e cabelo, vesti-me, dessa vez optando por um par de botas sem salto, mas que combinava perfeitamente com a minha roupa.

- , você está linda! - disse quando saiu do banheiro enrolada na toalha.

- Obrigada. – Sorri amigavelmente.

O toque de mensagem do meu celular chamou minha atenção e eu corri para pegar o aparelho. Sorri abertamente ao ler o nome de no visor.

“Hey, já estou te esperando aqui embaixo. Xx”

Coloquei o celular em cima da mesa e me olhei no espelho uma última vez. ainda estava trancada no closet se arrumando.

- , o meu amigo chegou, eu vou te esperar lá embaixo. – Gritei do quarto.

- Tá certo. Eu não vou demorar. – Respondeu ela.

Peguei minha bolsa, coloquei o necessário dentro, incluindo telefone, dinheiro e maquiagem, e em seguida deixei o quarto. Meus passos eram ansiosos, mas eu estava nervosa. Eu sabia que essa noite mudaria minha vida em algum aspecto, e tudo isso era devido à decisão que eu iria tomar. foi a primeira coisa que eu avistei assim que pus meus pés no campus, e olhe que o lugar ainda tinha um bom tanto de pessoas andando para todos os lados. Meu coração disparou no peito e minhas mãos começaram a suar enquanto eu andava até ele. Assim que notou minha presença, abriu um sorriso de orelha a orelha, o que arrancou um sorriso dos meus lábios quase que imediatamente.

- Oi. – Disse timidamente ao parar em sua frente.

- Oi. Você está linda. – Ele disse após me olhar da cabeça aos pés.

- Obrigada. – Olhei para baixo, minhas bochechas esquentaram. Ele se aproximou e colocou o dedo embaixo do meu queixo em um pedido para que eu olhasse para ele.

- Desculpa só ter dado sinal de vida agora, eu não queria causar a impressão de que estava te impressionando caso te ligasse ou mandasse mensagem. – Explicou-se. Sorri abertamente ao ouvir aquilo. era mesmo um amor, não tinha como eu me apaixonar ainda mais por ele.

- Tudo bem, eu entendo.

- Que bom. – Ele olhou ao redor. – Onde estão seus amigos?

- Já devem estar vindo. – Respondi. Ele ficou em silêncio por um tempo como se estivesse decidindo se me perguntaria algo ou não.

- ...

- Diga. – O encorajei a continuar.

- Eu sei que você disse que me daria a resposta até o fim da noite e eu vou esperar, mas eu queria saber se, bem... – Ele gaguejou, nervoso. – Eu queria saber se tem problema que mesmo sem resposta a gente fique junto essa noite. – Respirou fundo, e me olhou esperançoso. Ri achando engraçado o jeito nervoso dele, só o mesmo para ficar nervoso com isso, mas eu até achava fofo. Não respondi, apenas me aproximei dele e encostei nossos lábios em um selinho que logo foi transformado em beijo, pois ele segurou minha cintura e sua língua invadiu minha boca aprofundando o beijo. Levei minha mão até a nuca dele, acariciando-a levemente e sorri entre o beijo. era o certo pra mim, eu tinha certeza, agora mais do que nunca. Um pigarro chamou minha atenção, fazendo com que separássemos os nossos lábios. Virei-me para ver quem era, me deparando com e .

- Desculpa interromper o seu momento com o seu amigo. disse ironicamente, enfatizando ao dizer “amigo”. Revirei os olhos. Agora teria que aguentar as provocações dele a noite toda. Maldita hora a que eu fui abrir a boca para contar sobre o pra ele.

- O que eu posso fazer? Você sempre aparece nos momentos inapropriados. – Rebati.

- Pena que não posso dizer que você não aprecia alguns deles. – Ele sorriu com escárnio.

- O que está acontecendo? – me perguntou confuso.

- Nada. – Respondi e olhei para – Por favor, retira o seu namorado daqui antes que eu dê uma bofetada nele. – Murmurei entre dentes, tinha conseguido me tirar do sério, mas isso não era novidade nenhuma.

- Amor, vem, vamos esperar o pessoal lá fora. – tentou puxar ele pela mão sem sucesso.

- Não, eu quero conhecer o amigo da . – Disse ele.

- Sou o . – Ele se colocou na minha frente e estendeu a mão para apertar.

- . – Ele apertou a mão do outro.

- Ótimo, conheceu? Agora vaza. – Disse rispidamente.

- Que agressividade, docinho. – Ele debochou. Abri a boca pra dar uma resposta mal educada, mas fui interrompida por , e que chegaram.

- Oi, pessoal. – .

- Oi, meninos. – Cumprimentei cada um com um abraço.

- Não vai apresentar o seu amigo, ? – perguntou olhando para .

- Pessoal, – me aproximei de novamente – esse é o .

- E aí, cara?! Eu sou . – Eles se cumprimentaram com um toque de mãos. – E esses babacas aqui são o e . – Ele apontou para os meninos, que se aproximaram para cumprimentar também.

- Já podemos ir? – Perguntou .

- Não, está faltando a . – Respondi.

- como sempre atrasada. – comentou.

- Estou aqui. – Ela chegou afobada.

- Então vamos logo. – falou demonstrando impaciência e começou a arrastar para fora da universidade. Revirei os olhos, aquela menina e se mereciam, dois insuportáveis.

e seguiram o casal sendo seguidos por e , que estavam de mãos dadas, sorri ao ver a cena.

- Vamos? – me perguntou estendendo a mão para mim.

- Claro. – Peguei a mão dele e andamos para fora da Kingston.

Eu estava sentindo que aquela noite ia ser boa de diferentes maneiras, e as risadas que os meus amigos davam à minha frente só reforçaram tal ideia.

- , você não me apresentou seu namorado. – falou de repente, resolvi ignorar a parte que ela fala “namorado”.

- , essa é a louca da minha amiga .

- Ei, louca não! – Ela protestou. – Talvez só um pouquinho sem juízo.

- O que dá no mesmo. – Ri dela.

- Anyway, é um prazer conhecer você, .

- Digo o mesmo. – Ele respondeu educadamente.

- Depois eu quero saber de tudo nos mínimos detalhes, dona . – Ela cochichou para que apenas eu ouvisse. Assenti rindo.

Ao chegar ao bar, procuramos uma mesa para sentar e logo todos estavam sentados rindo. Meus amigos incluíram ao máximo nas conversas e eu agradeci mentalmente por isso. Quem não parecia muito feliz era , mas quem ligava para o que ele achava? Eu que não era.

- Vou pegar uma bebida, quer alguma coisa? – cochichou no meu ouvido algum tempo depois.

- Quero. – Ele se levantou e caminhou até o bar.

iniciou uma conversa comigo e de repente se levantou e saiu marchando de raiva pra algum lugar do bar. Olhamos na direção que ela saiu sem entender.

- Ela está com ciúme. Ela acha que você está trocando ela pela . – explicou.

- Quanta bobagem. é tão amiga dela quanto minha. – Disse com indignação.

- Você sabe como a é. – Ele disse olhando para . – Eu vou atrás dela. – E dizendo isso saiu na mesma direção que foi segundos atrás.

- Agora estou me sentindo mal. – Ela disse assim que saiu. – Não queria passar essa impressão pra ela.

- Depois você conversa com ela. Deixe que fale com ela primeiro.

- Tem razão. – Ela concordou. – parece estar gostando mesmo dela. Você percebeu que ele não saiu atrás de outras garotas? Desde quando namorar impede ir atrás de outras garotas? Ele só pode estar apaixonado por ela.

- Duvido muito. – Disse lembrando de todas as vezes que ficou atrás de mim nas últimas semanas. – não sabe o que é ter sentimentos.

- O que está acontecendo entre vocês? – Ela franziu o cenho. – Eu percebi que vocês vêm se estranhando ultimamente e não entendi. Vocês se davam tão bem!

- Eu só percebi que é um grande idiota. – Disse simplesmente. Ela abriu a boca para falar algo, mas voltou com as bebidas, interrompendo-nos. Tive vontade de beijá-lo nesse momento por gratidão. Tudo o que eu menos queria era ficar falando sobre mim e .

Depois de algum tempo de conversa, e saíram, provavelmente em busca de alguma mulher, e e saíram para se pegar em algum lugar, até aposto. e ainda não tinham voltado, o que só podia significar que eles também estavam se agarrando por aí.

- Quer ir dançar? – me perguntou.

- Achei que você nunca ia me chamar. – Sorri abertamente.

Levantamo-nos e seguimos para a pista de dança onde uma música lenta começava a tocar. segurou minha cintura e aproximou nossos corpos, enquanto eu repousei minhas mãos em seus ombros. Meu coração batia acelerado no peito com a proximidade e eu não podia me sentir mais segura.

Eu já havia tomado minha decisão. Meu coração tinha ganhado a batalha com a razão mais uma vez. Eu amava e não tinha nada que eu pudesse fazer para mudar isso. Talvez até tivesse, se ele não tivesse vindo até Londres atrás de mim, mas ele veio e isso mudou tudo.

- Eu já me decidi. – Murmurei próximo ao ouvido dele. Imediatamente ele se afastou para poder me olhar.

- E então...

- Voltar com você era uma opção descartada, confesso. – Dei um sorriso triste. – Mas você veio aqui e bagunçou a minha cabeça. Ver você mudou tudo.

- O que isso quer dizer?

- Quer dizer que eu te amo, e eu não vou ficar fugindo disso por causa dos meus medos. Eu decidi me arriscar e ver no que isso vai dar. – Ele ficou um tempo olhando para o meu rosto, talvez processando o que eu havia dito. E então sorriu abertamente e me beijou. Beijo que foi recebido de muito bom grado. O sorriso não saia dos meus lábios mesmo que estivéssemos nos beijando, e a língua dele estivesse massageando a minha demonstrando todo o amor que sentíamos pelo outro.

- Eu te amo. – Ele disse assim que nos separamos.

- Eu também te amo. – Voltamos a nos beijar.

Eu me sentia completa e plenamente feliz. Dar uma chance aos meus sentimentos ia contra tudo o que a razão mandava, mas se o meu coração pedia, o que eu poderia fazer senão dar uma chance e me arriscar? Era melhor do que perder tudo e me sentir vazia. Eu só esperava que desse tudo certo e no final eu não me saísse magoada como a minha razão a toda hora me alertava. Procurei não pensar negativamente, me amava da mesma forma que eu o amava e o que me restava era aproveitar hoje e todo o tempo que estiver com ele. E era exatamente isso que eu ia fazer.

Capítulo VI

No sábado pela manhã acordei com um sorriso no rosto. Tudo se devia ao fato de que estava dormindo ao meu lado e fazia horas que eu o observava com um sorriso bobo permanente no rosto. Eu não negava que ainda me sentia um pouco apreensiva quando pensava que depois de amanhã ele já estava indo embora novamente, mas daí eu procurava mudar os pensamentos e me entregar de vez ao que o meu coração gritava que era o certo. E se meu coração estava bem com isso não seria eu que iria fazê-lo mudar de ideia.

- Bom dia. – falou com os olhos fechados, as bochechas dele coraram me fazendo sorrir, ele sempre ficava envergonhado com pessoas o observando.

- Bom dia, amor. – Dei um selinho nele.

- Eu senti falta de acordar assim. – Ele abriu os olhos e me olhou com um sorriso doce no rosto.

- Eu também senti. – Retribui o sorriso. – E eu detesto ter que estragar o clima, mas já está tarde e eu estou com fome. – Assim que eu falei minha barriga roncou como se concordasse comigo.

- Eu te chamaria de esfomeada, mas eu também estou com fome. – Rimos juntos. – Que horas são? – Indagou.

- Mmmm... Onze horas. – Disse após checar o celular.

- Vamos almoçar juntos? – Ele propôs.

- Sim, mas antes eu preciso passar na Kingston e trocar de roupa.

- Você não vai nem tomar banho comigo? – Ele fez bico.

- Talvez mais tarde. – Sorri de lado e me levantei de uma vez para procurar as minhas roupas.

- Vou me lembrar disso. – Ele se levantou e entrou no banheiro, fiz o mesmo após vestir a roupa.

Ele entrou na parte do banho, enquanto eu escovava os dentes – com os dedos mesmo – e dava um jeito no meu cabelo.

- Eu vou pra Kingston, me arrumo e te encontro no restaurante que tem a duas quadras da universidade, você consegue encontrar?

- Acho que sim, qualquer coisa eu te ligo.

- Tudo bem, então eu vou indo. Até daqui a pouco. – Soltei beijos para ele e sai do local.

De volta a Kingston, andei a passos rápidos até o prédio residencial, não me deparando com ninguém conhecido no caminho. Entrei no quarto cautelosamente, com medo de ver algo que não devia. Eu sabia que era tarde, mas era sábado, então nunca se sabe. Suspirei aliviada ao ver que não tinha ninguém no quarto e caminhei até o closet na intenção de escolher uma roupa para vestir. Após escolher a roupa, deixei-a em cima da cama e fui para o banheiro. O meu banho foi rápido devido à pressa, eu não queria deixar me esperando.

Após tomar banho e pôr a troca de roupa, enviei uma mensagem para avisando que estava a caminho enquanto caminhava para fora do quarto.

O campus estava mais deserto do que o normal, quer dizer, todo fim de semana era assim, mas eu não deixava de achar estranho. O enorme relógio que tinha ali apontava que era quase meio dia e meia, ou seja, eu estava atrasada. Apressei meus passos e devido a minha pressa acabei por esbarrar com .

- ! Já vai sair de novo? – Ela perguntou.

- Vou almoçar com o .

- Ah, o seu namorado do Brasil. – Ela sorriu maliciosamente. – Aliás, eu lembro que a senhorita disse que ia me contar sobre ele.

- É uma história longa, mas eu prometo que te conto depois.

- Tudo bem, só me diz uma coisinha, ele é mesmo seu namorado? – Perguntou curiosa.

- Sim, ele é. – Sorri abertamente.

- Awn, você está apaixonada! – Ela exclamou e eu senti minhas bochechas esquentarem.

- Eu vou embora, depois a gente se fala. – Mandei beijo pra ela e voltei a caminhar pelas ruas. A sorte era que o caminho não era tão longe então eu logo cheguei ao local.

Ao adentrar o restaurante, avistei sentado em uma das mesas no canto e imediatamente andei até ele. Assim que me viu se aproximando, ele abriu um sorriso lindo e se levantou para me cumprimentar.

- Desculpa a demora.

- Não tem problema, a espera valeu a pena. – Ele me olhou de cima a baixo, fazendo-me corar.

Fiz menção de puxar a cadeira para me sentar, mas ele fez questão de puxá-la pra mim. Sorri em agradecimento e ele se sentou à minha frente ao mesmo tempo em que chamava o garçom para nos atender.

- Boa tarde. Aqui está o cardápio do dia. – Peguei o cardápio da mão dele, e dei uma rápida olhada.

- Eu quero o prato do dia. – Pedi.

- O mesmo pra mim. – disse e o garçom anotou.

- O pedido de vocês não vai demorar. – Assentimos e ele se retirou.

- Você já se acostumou com a comida daqui? É tudo tão diferente! – Ele arregalou os olhos.

- Ainda não, mas um dia eu me acostumo. – Ri.

- Já conheceu muitos lugares por aqui?

- Alguns, mas os que eu fui foram suficientes. – Sorri ao lembrar dos lugares que eu fui com . Apesar de ele ter se tornado insuportável com toda aquela história de querer ficar comigo, eu até que sentia falta dos nossos passeios pela cidade.

- Qual você vai me mostrar hoje? – Perguntou com um sorriso esperto.

- Que tal fazermos assim, em vez de te mostrar um lugar que eu já conheço, a gente pode ir conhecer um juntos.

- Ideia aprovada. – Sorrimos um pro outro.

O almoço chegou e ambos começamos a comer. A conversa continuou animada durante a refeição. Eu estava nas nuvens, porque eu havia sentido falta de todas aquelas coisas com ele e agora ele estava ali comigo em Londres e disposto a conhecer os lugares. Pena que ele não poderia ficar pra sempre, ou pelo menos enquanto eu estiver aqui.

- Então, que lugar vamos visitar? – ele perguntou quando saímos do restaurante.

- Que tal o Big Ben e aproveitamos para ir ao Palácio de Westminster, eu sempre quis visitar aquele lugar! – Exclamei animada.

- Concordo, qualquer lugar com você vai ser maravilhoso. – Sorri encantada, era mesmo um príncipe.

Pegamos um táxi e eu passei o endereço para o taxista. Durante todo o caminho, eu e olhávamos para os lugares e sempre tínhamos algo para comentar sobre, era maravilhoso. Ao chegar ao local, meus olhos brilharam ao olhar para aquele lugar, mas isso não era novidade, meus olhos sempre brilhariam em qualquer lugar naquela cidade maravilhosa. Assim que o carro parou, entreguei o dinheiro ao taxista e sai do carro sem me importar com troco. Eu estava tão animada que dinheiro não era nada naquele momento.

parou ao meu lado segurando minha mão e eu não hesitei em puxá-lo para mais próximo da Torre do Relógio ao mesmo tempo em que tirava o celular da bolsa pronta para tirar fotos.

- Calma, amor. – Ele riu da minha pressa.

- Não tem como eu ficar calma estando ansiosa desse jeito, você me conhece, então não adianta pedir. – Ele riu.

- Eu sei, mas não custava tentar.

- Vem, vamos tirar foto! – O puxei para que tirássemos uma selfie.

Foto pra mim é que nem droga, depois da primeira vicia de um jeito que eu não consigo parar. E foi isso que aconteceu, eu tirei tantas fotos que perdi as contas. Nas fotos podia-se notar o tamanho da minha felicidade e eu até pensei em mandar uma para as minhas amigas, mas elas não sabiam que eu e tínhamos voltado então eu deixaria pra mandar depois.

- Chega de fotos por agora, amor, eu sei que você ainda vai querer tirar lá no Palácio.

- Vou mesmo. – Concordei. – Podemos ir lá agora? – Pedi.

- Seu pedido é uma ordem. – Disse ele e me puxou em direção ao enorme Palácio. Antes de entrar, tivemos que comprar os ingressos para o tour pelo lugar. Depois que compramos, fomos até onde estavam várias pessoas envolta de um guia turístico que falava todas as regras do local e infelizmente uma delas é que eu não poderia tirar fotos lá dentro, pois eram somente permitidas no Westminster Hall.

A fila de turistas se organizou, e assim que chegamos à entrada tivemos que parar para que os policiais revistassem um por um para a segurança do local. Após passarmos por essa parte da tour, adentramos o Palácio.

- Esta aqui é a Sala Robing* e como vocês podem ver as pinturas nas paredes são de William Dyce e elas descrevem cenas da lenda do Rei Arthur. – O guia explicava, enquanto os turistas – incluindo eu e – olhavam os quadros expostos na parede.

A seguir fomos para a Galeria Real que de acordo com o guia as paredes eram decoradas com duas grandes pinturas de Maclise, as quais eu não decorei os nomes, mas de acordo com o que eu via eram belíssimas pinturas. Tudo aquilo era muito interessante pra mim, eu sempre quis fazer um tour assim em algum lugar e agora eu estava aqui e era tudo tão mágico, eu me sentia como uma criança em um parque de diversões.

Passamos pelo Gabinete do Príncipe, a Câmara dos Lordes, o Salão Nobre, o Salão Central, o Salão dos Membros e, em penúltimo lugar, a Câmara dos Comuns. Todos esses lugares possuíam pinturas e estátuas magníficas. A cada lugar que passamos o guia explicava um pouco da história do Palácio e era tão impressionante que me deixava cada vez mais apaixonada pelo lugar e, principalmente, por Londres.

- Por aqui é o Westminster Hall. – O guia nos levou para a extremidade da Câmara dos Comuns e saímos em uma área mais ampla e eu pude ver várias pessoas tirando fotos por vários lugares.

- Vem, amor, vamos tirar foto. – Puxei e tirei o celular do bolso.

- Tava tão bom sem fotos. – Ele reclamou.

- Vamos lá, a gente tá em Londres e em um Palácio! Quer algo mais merecedor de foto do que isso? – Fiz bico.

- Tudo bem! – Ele cedeu. – Mas você fazer essa carinha não é justo!

- É o meu charme. – Sorri convencida.

Posicionamo-nos e a partir daí várias fotos foram tiradas e de tantas formas e posições que eu nunca imaginaria que poderia ser tiradas, até que o guia chamou todos novamente.

- Quem quiser ir assistir o debate parlamentar que vai acontecer agora, pode ir e após quem desejar tomar o chá das cinco na casa do parlamento com a vista para o Rio Tamisa, custa apenas 25 libras. – O guia informou.

- Você quer ir? – Perguntei a .

- Claro, deve ser interessante. – Sorri e seguimos as pessoas que iam em direção à sala que ia acontecer o debate.

Ver um debate de perto é algo superinteressante. Sem brincadeira, eu nunca fui de me interessar por algo assim, mas agora que eu estava presenciando tudo soava tão incrível pra mim, que até parece que eu sempre gostei do assunto. e eu trocávamos olhares e sorrisos a todo tempo. Ele podia até não gostar dessas coisas, mas eu sabia que ele estava feliz, isso dava para ver no olhar dele e eu tinha certeza que o meu refletia o mesmo.

Assim que o debate terminou e todos nós saímos do local, tanto o meu estômago quanto o de imploravam por comida, então acabamos por decidir ir tomar o chá das cinco. Caminhamos por entre as pessoas e pedimos algumas informações, já que o tempo do guia havia acabado e agora estávamos por conta própria. Depois de achar o local e fazer o pagamento necessário, eu e nos sentamos em uma das mesas disponíveis. Eu fiz questão de sentar em um lugar onde eu pudesse apreciar a bela vista que estava à minha frente. O bom de poder ver aquela vista é que era fim da tarde e eu podia ver o pôr do sol. Assim que eu e nos sentamos, imediatamente, apareceram “garçons” com variados pratos dentre eles salmão, queijo, ovos, bolo, geléia, chá e café.

Com tanto prato variado ali a minha frente, seria mentira dizer que eu não fiquei em dúvida sobre o que comer primeiro. Eu estava me sentindo em um banquete da rainha, sem brincadeira.

- Isso aqui é um banquete para uma rainha! – Exclamei maravilhada.

- E quem disse que você não é uma? – disse com um sorriso galanteador. Minhas bochechas ficaram da cor de tomate, certeza.

- Se eu sou uma rainha, você é o meu rei. – Disse e juntei nossos lábios em um selinho. – Mas é sério, eu não sei por onde começar.

- Então me deixe te ajudar. – Ele disse e pegou um pedaço de queijo com o garfo e colocou na minha boca.

- Esse queijo é muito bom, prova. – Fiz o mesmo com ele.

- Tem razão. – Ele concordou enquanto mastigava.

Continuamos comendo e eu acabei por comer um pouco de cada coisa, tanto que quando eu terminei, tive certeza de que não comeria nada por pelo menos dois dias. Como era de praxe, não pude deixar de tirar algumas fotos depois da refeição, principalmente quando o sol começou a se pôr.

- Melhor a gente ir embora, daqui a pouco vem alguém expulsar a gente. – Ele disse risonho.

- Não exagera, ainda tem algumas pessoas aqui, mas vamos mesmo assim só pra garantir. – Rimos. Ele pegou minha mão e caminhamos para a saída do local.

- Para onde você quer ir agora? – Ele me perguntou.

- Kingston, mas eu quero só pegar um par de roupas.

- Hm, quer dizer que a senhorita pretende dormir comigo hoje de novo? – Ele me olhou e ergueu a sobrancelha.

- Se você não quiser, eu posso dormir na Kingston. – Comentei.

- Como você é boba, ! – Ele parou na minha frente. – É óbvio que eu quero a sua companhia. Eu seria doido se recusasse.

- Se você está dizendo. – Fingi indiferença e ele me puxou para um beijo. O beijo foi lento, mas demonstrava todo o desejo que estávamos sentindo um pelo outro. Eu estava com uma abstinência de , que apenas um dia não tinha acabado com a minha necessidade. – Vamos embora logo, quanto mais rápido chegarmos ao hotel melhor. – Disse. Ele apenas riu e me puxou para fora do lugar.

O caminho foi um pouco mais longo por causa da parada na Kingston. Eu procurei ser o mais rápida possível ao escolher uma roupa e colocá-la em uma mochila e como minha amiga não estava lá, resolvi deixar um bilhete para que ela não ficasse preocupada com a minha volta. Assim que havia escrito o bilhete e pegado tudo que precisava, deixei o quarto e a universidade.

- Que demora. – reclamou assim que entrei no carro.

- Desculpe, eu tive que escrever um bilhete para a , avisando que eu iria dormir fora.

- Tudo bem, você está certa em não querer preocupar a sua amiga, mas passar esse tempinho longe de você foi uma tortura. – Ele sorriu travesso.

- Ah é? – Retribui o sorriso e me arrastei para mais perto dele. – Eu posso resolver isso?

- Pode? – Ele pôs a mão na minha cintura. – Então, o que está esperando? – Ergueu a sobrancelha. Não respondi, apenas selei nossos lábios. Ele apertou minha cintura enquanto o beijo era aprofundado. Beijar era indescritível, as sensações que eu tinha somente ele me proporcionava; o coração acelerado, as mãos suando, algo como borboletas no estômago. Aquilo era sempre inovador pra mim, nunca era igual, pois parecia sempre a primeira vez e era isso que me fazia me apaixonar por ele cada vez mais. A mão dele subiu pela minha coxa, adentrando minha saia ao mesmo tempo em que ele mordeu meu lábio levemente. Em resposta, minha mão adentrou a camisa dele e arranhei o abdômen definido dele.

Um pigarro chamou minha atenção e eu me afastei com as bochechas coradas ao perceber que o carro havia parado e o taxista estava nos olhando. Peguei a quantia necessária na minha bolsa rapidamente e entreguei ao taxista que parecia tão sem graça quanto eu. - Obrigada. – Agradeci e saí do veículo em seguida. já tinha saído e me esperava segurando o riso. – O que foi, hein? – O encarei risonha.

- Eu tava lembrando... – Ele explodiu em gargalhadas quando eu compreendi onde ele estava querendo chegar.

- Ah, cala a boca! – Ri também, envergonhada. – A culpa foi sua aquela vez! – Acusei.

- Minha? – Ele fez cara de inocente.

- Sua, sim! Você que veio todo gostoso pra cima de mim e eu não resisti.

- Ah, sendo assim, eu assumo toda a culpa mesmo. – Ele me abraçou rindo.

Adentramos o hotel e fomos direto para o elevador. Percebendo que não tinha ninguém dentro do cubículo além de nós, meu corpo foi prensado contra a parede e um beijo fervoroso foi começado. Minhas mãos automaticamente se postaram nas costas dele, adentrando a camisa que ele usava e puxando ele para mais perto de mim – se é que isso ainda era possível -. O barulho da porta do elevador se abrindo chamou a nossa atenção e nós andamos em direção ao quarto sem partir o beijo. Ele abriu a porta com um pouco de dificuldade, o que nos causou risos, mas assim que finalmente conseguimos entrar, meu corpo voltou a ser pressionado, agora contra a porta e minhas mãos voltaram a se posicionar nas costas dele, dessa vez puxei a barra da camisa dele pra cima e ele levantou os braços para que o tecido passasse e fosse jogado em algum canto desconhecido.

desceu os lábios para o meu pescoço enquanto eu tirava o blazer que eu usava e ele aproveitou para desamarrar o pequeno cinto que rodeava minha saia. Desci as minhas mãos pelo tronco dele, logo chegando ao zíper da calça, que tratei de desabotoar, parando apenas para retirar a minha blusa, que ele tinha puxado para cima. Minha saia foi a próxima peça a encontrar o chão e os lábios dele foram para o meu seio direito.

- Acho que estou em desvantagem. – Disse ao notar que eu estava apenas de calcinha enquanto ele ainda estava com a calça e boxer. – Precisamos dar um jeito nisso. – Ri e minhas mãos voltaram para a calça já desabotoada, puxando a penúltima peça para baixo.

Voltamos a andar pelo quarto, agora em direção à cama. Meu corpo foi jogado em cima dela e ele se pôs em cima de mim, voltando a beijar os meus lábios. Troquei as posições, ficando por cima dele.

- Você ama estar no comando, não é?

- Claro, em alguma coisa eu tenho que comandar, não é? – Disse, sorrindo divertida. – E eu sei que você gosta.

- Com algumas melhoras, talvez. – Ele fez uma cara esperta.

- Ah é? Vamos dar um jeito nisso então. – Ele riu e me puxou para que continuássemos de onde paramos.



...


O domingo foi maravilhoso. Eu e acordamos bem cedo e após um demorado banho, que na verdade não foi apenas banho, se é que vocês me entendem, decidimos sair para comer em algum lugar. Dessa vez optamos por ir a alguma lanchonete e acabamos por encontrar com e no local.

Durante o “lanche” aproveitei para contar minha história com para os meus amigos, já que os olhares insinuadores de me pediam para que eu contasse a cada cinco segundos. Eles se surpreenderam ao ouvir tudo e como já era de se esperar, ficou encantada pela atitude de de vir atrás de mim. Eu a entendia, afinal aquela havia mesmo sido uma prova de amor e tanto.

À noite, e eu saímos para jantar com e em um “encontro de casais” como ela havia rotulado. O jantar foi agradável e divertido. Não preciso nem dizer o quanto eu fiquei feliz por eles terem se dado bem. O sorriso não saia do meu rosto em nenhum momento, e isso era o que bastava para que eu soubesse que a decisão que eu havia tomado era a melhor. Eu só esperava não me arrepender, mas eu não procurava pensar nisso.

Infelizmente, tudo o que era bom durava pouco. O final de semana acabou e com isso chegou o dia em que iria embora. Eu estava com medo do que aconteceria depois, mas eu precisaria ser forte e acreditar em se quisesse que esse relacionamento desse certo.

- Eu não queria ter que me despedir de você. – Disse manhosa enquanto me despedia dele no aeroporto.

- Eu também não queria, amor. Se eu pudesse ficava aqui com você, mas infelizmente eu não posso.

- Eu tô com medo. – Assumi.

- Amor, nós já conversamos sobre isso. – Ele segurou meu rosto e olhou nos olhos. – Vai dar tudo certo, ok? Não precisa ter medo, eu vou estar longe mas vou estar te esperando e te amando da mesma forma. Além do mais, eu vou dar um jeito de te visitar sempre que puder.

- Tudo bem, mas é que isso é tão novo pra mim.

- Pra mim também, vamos passar por isso juntos e vai dar tudo certo, confie em mim.

- Eu confio. – Dei um selinho nele.

“Primeira chamada para o voo 1417E com destino ao Brasil, por favor, se dirija até o portão de embarque.”

- Chegou a hora. – Fez careta.

- Eu detesto despedidas.

- Eu sei, eu também detesto. – Ele me abraçou. – Tenho que ir.

- Por favor, me ligue quando chegar lá, e diga para as doidas das minhas amigas que estou morrendo de saudade.

- Pode deixar. – Ele sorriu.

- Aí, vem cá! – O puxei e beijei-o com urgência. Eu não queria ter que me despedir. Ele retribuiu o beijo com a mesma urgência que a minha, desejei que aquele momento congelasse e durasse para sempre.

"Última chamada para o voo 1417E com destino ao Brasil, por favor, se dirija até o portão de embarque."

O abracei fortemente, agora eu não podia mais adiar a despedida. iria mesmo embora.

- Eu te amo. – Ele disse ao se afastar.

- Eu também te amo. – Respondi.

- Isso não é um adeus, , é um até logo, lembre-se disso. – Assenti, deixando que algumas lágrimas descessem pelos meus olhos. – Não chore, por favor. – Ele suplicou.

- Eu vou ficar bem. Você tem que ir senão vai perder o voo.

- Eu sei. – Ele me beijou novamente. – Eu te ligo assim que chegar. – assenti e ele deu-me um selinho antes de se afastar de vez e ir embora.

Fiquei parada o observando passar pelo portão de embarque, parando antes para acenar para mim uma última vez. Eu estaria mentindo se dissesse que não estava com medo, mas ele havia me garantido que nada mudaria e seria a essa promessa que eu me agarraria com todas as forças. Decidida a parar de pensar negativo, andei para fora daquele aeroporto com um sorriso no rosto. Eu havia recuperado o amor da minha vida, e não deixaria que minhas inseguranças atrapalhassem a minha própria felicidade.

De volta a Kingston, resolvi aproveitar o restante da noite daquela segunda-feira para poder assistir filmes já que tinha saído com e eu ficaria sozinha. Algumas pessoas ainda andavam pelo campus devido ao horário noturno, então ainda procurei ao redor algum rosto conhecido, mas como não encontrei nenhum, decidi ir de vez para o meu quarto.

Antes de ir para o quarto, parei na cozinha para beber um copo d'água. O lugar estava vazio como já era de se esperar. Peguei um copo no armário e abri a geladeira em busca de alguma garrafa de água, pegando-a ao encontrar e colocando uma quantidade grande do líquido no copo. Após beber o líquido, lavei o copo que havia usado e deixei a cozinha. O corredor que dava para os quartos estava um pouco escuro, mas nada que não desse pra enxergar. Eu já estava pronta pra entrar no quarto, quando uma mão me puxou bruscamente pelo braço fazendo com que o meu corpo girasse em direção ao desconhecido.

- Então, o seu namoradinho já foi embora? – A voz inconfundível de penetrou os meus ouvidos. Senti meu sangue borbulhar de raiva, aquele garoto só podia ter enlouquecido de vez.

- O que você pensa que você está fazendo? Você está louco? – Perguntei entre dentes. Eu não podia gritar, pois isso chamaria muita atenção dos alunos dos quartos vizinhos.

- Você não respondeu a minha pergunta. – Ele disse.

- Não é da sua conta, . – Tentei puxar meu braço, em vão. – Dá pra você me soltar? Está me machucando.

- Você voltou com ele? O que aconteceu com “namoros a distância nunca dão certo”? – Ele imitou minha voz com deboche.

- Eu continuo sem saber como isso pode ser da sua conta. – Disse começando a ficar irritada e com medo. continuava apertando o meu braço, dessa vez mais forte. – Me solta, seu maluco. – Tentei puxar o meu braço novamente e dessa vez ele soltou, mas apenas para me encurralar entre a parede.

- Se tornou da minha conta desde quando você veio encher minha cabeça com essa história.

- Eu fui encher sua cabeça? – Ri incrédula. – Você quis saber, eu apenas contei!

- O que dá no mesmo. Depois não venha chorar perto de mim quando ele quebrar o seu coração.

- Porque você está tão preocupado com isso? Ciúmes ou inveja? – Ironizei erguendo as sobrancelhas.

- Ciúmes? Se toca, garota, eu não tenho ciúmes de você e nem de ninguém. – Ele estava irritado, isso estava mais do que óbvio. – E por que diabos eu teria inveja daquele viadinho?

- Talvez porque o “viadinho” pode me ter enquanto você fica aí só chupando o dedo. – Sorri vitoriosa, eu não iria permitir que ele me intimidasse.

- Escuta aqui, garota, – Ele voltou a segurar meu braço, me puxando mais pra perto - eu posso te ter a hora que eu quiser, entendeu? – Meu corpo se arrepiou ao ouvir aquilo, me deixando um pouco desnorteada. O rosto dele estava bem próximo ao meu e isso não facilitava em nada, mas eu teria que manter a pose, a última coisa que poderia acontecer era eu fraquejar. Eu tinha agora e não tinha a mínima intenção de estragar as coisas.

- Vai sonhando, . – Ri com escárnio. – Se antes isso já não ia acontecer, imagina agora que eu tenho namorado de novo. – O empurrei com toda força que ainda me restava. – Eu vou te pedir uma última vez, me deixa em paz. – Disse a última frase pausadamente para que ele entendesse.

- Vamos ver se é tão impossível assim. – ele disse e então me puxou colando nossos lábios. Arregalei os olhos assustada e tentei me debater, mas ele foi mais rápido e segurou meus braços impedindo que eu me movimentasse. Meu coração acelerou e eu senti uma vontade enorme de retribuir aquele beijo, mas eu iria me manter firme, era questão de honra, além de que eu precisava provar para ele que ele não podia me ter a hora que quisesse como havia afirmado na minha cara. Percebendo que eu não iria corresponder o beijo, ele se afastou bruscamente com o rosto vermelho de raiva. não suportava ser rejeitado, isso estava comprovado.

- Você pode resistir agora, , mas eu ainda vou ter você pra mim.

- Eu vou deixar você se iludir e vou entrar para o meu quarto agora. – Abri a porta do quarto, mas antes de entrar me virei para ele novamente. – Outra coisa, eu devia meter a mão na sua cara por ter tentado me beijar, mas não vale a pena sujar minhas mãos com pouca coisa. – Sorri vitoriosa com a cara de bosta que ele fez. – Passar bem, . – Tranquei a porta e andei até a cama com um sorriso satisfeito no rosto por ter deixado com a maior cara de babaca no corredor. Se ele achava que eu era uma das que ele podia ter e jogar fora, ele estava muito enganado.





6 meses depois

Havia se passado seis meses desde que eu e havíamos voltado e eu posso dizer que o meu namoro estava razoavelmente bem. Nos primeiros meses nós nos falávamos praticamente todo dia, eu sempre arranjava um tempinho para conversar com ele, seja por ligação, mensagem ou skype. Nesse meio tempo ele veio me visitar algumas vezes e cada momento era maravilhoso. Mas então como eu temia, as coisas começaram a ficar ruins. As ligações não eram mais frequentes, raramente aconteciam pra falar a verdade, também parei de receber mensagens e para piorar a situação a época de provas tinha começado, ou seja, meu horário de estudo tinha dobrado.

Eu estava com medo, porque tudo o que eu previa estava acontecendo, e o pior não era isso. Eu até tentava ligar para ele às vezes, mas ele nunca atendia, o que era estranho, mas talvez ele estivesse tão ocupado quanto eu ou então talvez a minha mente estivesse tentando me convencer de tal coisa. Pelo visto não estava funcionando.

Eu tentei esquecer esse assunto me focando nos estudos, mas agora que as provas tinham acabado eu não tinha mais nada para distrair a minha mente.

- ! – apareceu de repente, afobada.

- Que foi?

- Fim das provas, sabe o que isso significa? – Ela perguntou animada.

- Não... – Falei um pouco aérea.

- Significa festa! – Ela deu um gritinho. – Você vai sair com a gente hoje, não vai?

- Não tô afim de sair. – Murmurei desanimada.

- Ah, qual é, ? Vamos você precisa sair! Não pode ficar trancada só porque aquele idiota do seu namorado não te liga. – Ela tentou me convencer e aquela era até uma boa oportunidade para sair se eu estivesse no clima pra qualquer tipo de festa.

- Não estou com clima pra festa e nem pra ficar de vela.

- Aí, como você é chata! Eu e te damos atenção sempre! – Ela resmungou.

- Que mentira! Vocês ficam se agarrando enquanto eu fico olhando pro nada. – Reclamei.

- Tudo bem, eu assumo. – Ela riu fraco. – Mas vamos sair hoje, por favor. – ela implorou.

- Não sei, eu vou pensar, ok?

- Você e a deviam estar me agradecendo por estar querendo tirar vocês da fossa.

- Tirar a da fossa? Como assim? – Franzi o cenho, confusa.

- Você não está sabendo? e terminaram.

- Por quê? – Arregalei os olhos.

- Aparentemente, pegou na cama com outra.

- Bem, eu não fico nem um pouco surpresa com isso. Aliás, eu sempre me perguntava como esse namoro estava durando tanto.

- Eu confesso que me perguntava a mesma coisa, mas depois de um tempo achei que tinha mudado e que gostava mesmo da , pelo visto me enganei.

- Eu sempre achei que ele não tinha mudado, homens da qualidade do não mudam assim tão rápido.

- No caso do , porque o mudou.

- Por que o sabe o que é ter sentimentos, coisa que o não sabe.

- Como você é má. – Ela riu. – Eu tenho que ir, está me esperando. Te vejo mais tarde, caso resolva ir pra festa com a gente.

- Tudo bem. – Concordei e me despedi dela.

Voltei para o meu quarto mergulhada em pensamentos. Eu não conseguia parar de pensar em um motivo plausível para a ausência do . Eu sabia que ambos estávamos ocupados com a universidade, mas pelo menos eu havia tentado me comunicar, ao contrário dele. Desistindo de tentar achar um bom motivo, mudei o rumo dos pensamentos e lembrei-me do que a minha amiga havia me contado minutos atrás. Eu sentia pena da por ela estar sofrendo por alguém como , mas olhando pelo lado bom, agora ela tinha se livrado daquela peste de uma vez por todas. Ou pelo menos era o que eu pensava. Por falar em , ele tinha parado de tentar me agarrar por aí, eu estava totalmente agradecida por isso, pois dessa vez eu esperava realmente que ele tivesse atendido o meu pedido de me deixar em paz. Apesar de que as piadinhas e as provocações não haviam parado, já era um bom avanço que pelo menos a obsessão dele por mim tivesse acabado.

Já no meu quarto, liguei meu notebook e resolvi checar o meu e-mail que eu não olhava há dias. No meio dos milhares de e-mails das minhas melhores amigas, fiquei surpresa ao encontrar um de , que havia sido enviado para mim há dois dias. Meu coração acelerou de uma forma assustadora e minha mente me alertava a todo o momento que dali não vinha coisa boa, principalmente porque não costumava me mandar e-mail. Hesitei uma, duas, três vezes antes de finalmente abrir o e-mail de uma vez por todas, a curiosidade estava me matando e dessa vez eu nunca pensei que fosse odiar tanto ser curiosa.

",

Faz tempo que não nos falamos e eu espero que esteja tudo bem com você, imagino que deva estar ocupada com a faculdade e tudo mais. Eu sei que você deve estar estranhando que eu tenha te mandado um e-mail, mas essa foi a única maneira que eu encontrei para te falar o que é preciso. Na verdade, não existe forma fácil para o que quero dizer e eu nem sei como iniciar. Pra começar, eu acho que te devo um pedido de desculpas por ter sumido e não ter respondido as suas ligações e mensagens, mas eu precisava de um tempo para pensar. Eu também te devo um pedido de desculpas por não ter acreditado quando você me dizia que namoros a distância não davam certo. Eu tentei, juro que tentei, mas relacionamento a distância não é algo para mim e agora eu vejo isso. O que eu quero dizer é que essa nossa situação não dá mais e o melhor é que cada um siga o próprio caminho. Eu ainda te amo, confesso, mas não da mesma forma que meses atrás, e eu me sinto perdido por não ter a menor ideia de quando tudo mudou. Talvez até tenha, mas é difícil de admitir, embora eu saiba que tenho que ser honesto com você. Eu encontrei alguém, ela me faz feliz e me faz sentir completo. Acho que é isso que significa amor e tal sentimento me fez perceber que eu deveria te libertar para que você pudesse sentir isso com outra pessoa. Você pode me odiar, eu mereço, ainda mais porque eu não tive coragem de fazer isso de uma forma decente. Porém eu espero que um dia você possa me perdoar e que talvez possamos ser amigos. Eu te desejo toda felicidade do mundo, coisa que você não vai encontrar comigo, você está livre para encontrar a felicidade com outro alguém. Bom, era isso que eu tinha para falar. Seja feliz, .
."

Ao chegar ao fim da mensagem, eu já estava soluçando. não podia ter feito isso comigo, não podia. Onde estavam todas as promessas que ele havia me feito? E onde estava o "nós vamos dar um jeito nisso, nós sempre damos"? Era tudo mentira, eu devia saber disso. Ele sabia que namoro a distância não era fácil, eu tinha o alertado e ele não quis me escutar, veio aqui, me implorou para voltar e a otária aqui cedeu. Como eu fui burra! Eu fui contra todos os meus princípios e me ferrei no final. Mas eu já devia saber que isso iria acontecer. Por que eu pensei que ia ser diferente comigo?

A gargalhada que saiu da minha garganta foi meio engasgada devido ao choro, mas demonstrava toda a minha frustração e raiva de mim mesma. Sem pensar, peguei o notebook que estava à minha frente e arremessei contra a parede. Meu choro se tornou mais forte e tudo o que eu queria era que a dor no meu peito passasse. havia quebrado meu coração em milhares de pedacinhos e tudo o que eu desejava era me esmurrar por ter sido tão tola em pensar que algo iria ser diferente e que eu não iria sair quebrada da forma que eu estava agora. Eu não devia ter permitido que tal coisa acontecesse quando tive a chance, mas agora não adiantava mais me lamentar pelo leite que estava não só derramado, mas azedo.

Sem conseguir me equilibrar, caí de joelhos no chão e gritei. Gritei por frustração, por raiva, por arrependimento, por estar de coração partido, mas eu gritei principalmente por, apesar de tudo, ainda o amar, eu me sentia estúpida por nutrir tal sentimento quando ele já havia deixado de sentir a muito tempo. Acabei por me deitar no chão frio do quarto, eu não estava com forças para ir para a cama, eu só queria ficar ali até que esse sentimento horrível passasse. Eu não sei o quanto tempo eu fiquei ali perdida em pensamentos, mas o céu estava parcialmente escuro quando adentrou o quarto, me despertando dos meus devaneios.

- OMG! O que aconteceu por aqui? - Ela disse olhando para o notebook quebrado no chão e depois desviou o olhar para mim, arregalando os olhos ao ver meu estado deplorável - Aí, meu Deus, o que aconteceu com você, ? - Ela veio até mim e me ajudou a levantar e andar até a cama. O choro que veio a seguir foi inevitável.

- O ... Ele... - O choro ficou mais forte, não permitindo que eu terminasse de falar.

- Calma, por favor. Respira fundo e me conta o que aconteceu. - Ela pediu. Obedeci, respirei fundo três vezes, e quando o choro estava mais controlado, tentei novamente.

- Acabou, . terminou comigo. - Meus olhos se encheram de lágrimas novamente, mas dessa vez eu me controlei.

- Espera, o quê? - Ela me olhou sem acreditar.

- Ele terminou comigo. Por e-mail.

- Mas que filho da puta! - Ela exclamou indignada. - Quem esse idiota pensa que é pra fazer isso com você?

- Eu sabia que isso iria acontecer. A culpa foi minha.

- Para com isso! - Ela me repreendeu. - A culpa não é sua coisa nenhuma. Se um dia eu ver esse moleque de novo eu vou dar umas porradas nele pra ele aprender. -Ri fracamente com a indignação dela.

- Você está passando tempo demais com o . Tá até falando como ele.

- Isso é um elogio pra mim, obrigada. - Ela sorriu. - Mas isso não é hora de falar sobre mim. - Ela segurou minha mão. - Você está bem?

- Não, mas vou ficar. Eu só quero esquecer isso e seguir em frente.

- Vem com a gente. É uma ótima maneira de esquecer os problemas.

- Não quero sair, não estou no clima.

- Vem com a gente, por favor. Eu não quero que você fique aqui se lamentando porque aquele babaca terminou com você.

- Não sei se é uma boa ideia. - Hesitei.

- Depois que tiver lá se você quiser vir embora tudo bem, mas não fica aí. - Insistiu ela.

- Tudo bem. - Cedi, ela não ia parar até que eu aceitasse ir mesmo. - Mas se eu não me sentir legal lá eu volto pra cá.

- EBA! - Ela gritou ao mesmo tempo em que dava pulinhos comemorando. - Prometo que não vai se arrepender, .

- Vamos ver. -Rii com toda a felicidade dela. É, talvez não fosse tão ruim assim sair e esquecer os problemas.



...


Olhei-me no espelho uma última vez, aprovando o que via. Minha roupa - que tinha sido escolhida por - e a maquiagem - que também havia sido feita por ela - estavam perfeitas e eu estava me sentindo linda. tinha um bom gosto para moda, eu me perguntava o porquê de ela estar fazendo outro curso se estava óbvio que ela se encaixava perfeitamente fazendo algo relacionado a moda.

- Você está maravilhosa, agora vamos. já me mandou milhares de mensagens. – Ela saiu me puxando pelo braço e eu quase cai com tal ato.

No campus me surpreendi ao ver que junto ao pessoal estavam e . Quer dizer, eu não estava surpresa por ver , afinal eu sabia que ele não era de negar uma festa, ainda mais agora que estava solteiro, mas quanto a , pensei que ela iria querer ficar trancada no quarto chorando por causa do fim do relacionamento, assim como eu planejava ficar antes que me arrastasse para essa festa. Pelo visto, eu era a única com pensamentos depressivos ali, ou talvez minha amiga tenha conseguido arrastar da mesma forma que fez comigo.

- Lema da Tiff: Por que ficar em casa chorando se eu posso mostrar para o cara o que ele perdeu? - cochichou pra mim enquanto andávamos na direção dos nossos amigos. Pensando por esse lado, até que tinha um pouco de razão. Eu queria poder fazer o mesmo se não fosse pelo fato de que meu ex-namorado morava do outro lado do mundo.

- Desculpe o atraso - disse assim que nos aproximamos e se colocou logo ao lado de .

- Olá, moça, eu tenho a impressão de ter conhecido uma menina parecida com você semanas atrás, mas ela sumiu. Você por acaso é irmã gêmea dela? - disse olhando em minha direção com um sorriso brincalhão nos lábios. Gargalhei em resposta.

- Cala a boca, bobão, eu sumi por causa das provas. - Dei um tapa leve em seu braço.

- Eu sei, bobona. - Ele me imitou ao mesmo tempo em que me puxava para um abraço. - Só fico com ciúmes porque e te veem quase todo dia. - Ele fez bico.

- Isso é um privilégio para poucos, meu caro. - se gabou.

- Namore com a que você me vê todo dia também. - Brinquei.

- Ei! - protestou.

- Ew, ! Namorar o é o mesmo que dizer para eu pegar o meu tio velho e barbudo. - Ela fez cara de nojo fazendo com que todos gargalhassem.

- Assim você machuca meus sentimentos, . - fez cara de coitado. Todos riram novamente. Uma buzina vinda de um carro do lado de fora da Kingston se fez ouvir chamando a nossa atenção.

- Acho melhor a gente ir antes que o Mark nos abandone aqui. - se pronunciou e só agora eu percebi que tanto ele quanto estavam calados. Talvez fosse melhor assim, porque eu tinha certeza que se um resolvesse falar algo que não deveria, acabaria gerando briga.

- Para onde estamos indo mesmo? - Questionei.

- Para uma festa na casa do Chad. Ele dá as melhores festas de Londres. - informou. Senti-me um pouco animada com tal informação, as melhores festas costumavam ter muita bebida e era disso que eu estava precisando.

Com a minha falta de sorte, no carro tivemos que nos espremer para caber todo mundo e isso significa que eu tive que sentar no colo de alguém. foi no banco do passageiro, enquanto os outros três meninos se sentaram atrás. obviamente sentou no colo de , e eu tive vontade de dar um soco em quando ela se sentou no colo de me deixando para sentar no colo de .

- Vem logo, , eu não mordo. - reclamou e deu um sorrisinho malicioso - A não ser que você queira...

Respirei fundo e entrei de vez no veículo. Ainda pude ouvir a bufar e me fuzilar com o olhar, bem feito pra ela, se queria sentar no colo dele por que não veio logo?

O veículo começou a se movimentar. Aquela situação estava me deixando extremamente desconfortável, ainda mais porque vez ou outra se mexia e acabava por passar a mão na minha bunda. Tinha certeza que aquilo era intencional. Quando estava prestes a reclamar por tal atrevimento, o carro parou e não hesitei antes de descer rapidamente. Eu não estava com cabeça para lidar com os assédios de hoje.

Esperei que todos descessem e assim que o fizeram puxei , que por sua vez puxou , e adentramos a casa sendo seguidas pelos meninos. A casa do tal Chad estava lotada. Alguns rostos eu até reconheci como sendo meus colegas de classe, mas o resto eu nunca tinha visto na vida. A música que tocava era alta e animada. - Quem é Chad? - Perguntei assim que adentramos o local.

- Um amigo dos garotos, são colegas de classe, mas ele não anda com a gente. - Explicou.

- Entendi. - Balancei a cabeça compreendendo.

Olhei ao redor novamente vendo todos dançando e alguns casais se agarrando pelos cantos. Desejei estar empolgada da mesma forma, mas a verdade é que minha vontade de ir embora era maior do que nunca. Eu estava me sentindo deslocada no meio de tantos casais se agarrando. Era como se esfregasse na minha cara que o meu namorado havia terminado comigo e agora eu não tinha ninguém.

- , tá aí? - passou a mão na frente do meu rosto me despertando dos meus devaneios. Pisquei algumas vezes antes de responder:

- Estou. Me desculpa, mas acho que vou embora. - Dei um passo para trás na intenção de ir embora.

- Ah, não. Você não vai embora, a gente mal chegou! - Exclamou ela.

- Você disse que eu poderia voltar se quisesse. - Disse já saindo do local.

- Eu disse, mas não faz nem cinco minutos que a gente chegou e você nem tentou se divertir! - Ela acusou e segurou meu braço.

- Eu não consigo! Você fala como se fosse fácil, mas você não sabe como eu tô me sentindo! - Rebati.

- Tem razão, eu não sei, mas eu estou tentando te ajudar e tenho certeza que ficar trancada em um quarto chorando por um cara que já deve estar com outra não é a solução, mas se é o que você quer, fique à vontade! - Ela disse irritada e sem esperar resposta adentrou o local novamente.

Fiquei paralisada olhando para a porta onde ela havia entrado segundos atrás. Ela tinha razão. O que eu estava fazendo comigo mesma? Eu nunca fiquei assim por garoto nenhum, então por que eu estava desse jeito agora? terminou comigo, já devia estar com outra ou outras e eu aqui me lamentando. Essa não era eu, nunca foi. Eu não deixava que garotos me abalassem assim. Eu era , a menina que se divertia a todo custo e eu precisava me lembrar disso. Decidida, caminhei novamente para a entrada da casa. Eu iria me divertir hoje, nem que eu tivesse que beber todas para isso.

Capítulo VII

Decidida, adentrei a casa novamente. Não procurei por , ela devia estar se divertindo com e eu não iria atrapalhar, então apenas andei diretamente para o bar.

- Uma dose da bebida mais forte que você tiver. - Pedi ao barman, que apenas assentiu e saiu de perto para pegar a bebida.

- Aqui, moça. - Ele me entregou a bebida. Tomei o shot de uma vez, sentindo a bebida passar queimando pela minha garganta. Aquilo era tequila, certeza.

Pedi mais uma dose da bebida, bebendo-a de uma vez, assim como foi feita com a primeira. E assim se seguiu com a terceira, quarta, quinta e outras mais doses que eu perdi a conta. Algum tempo depois, um par de mãos segurou minha cintura, encostando o corpo nas minhas costas, já que eu estava de frente para o balcão.

- Pensei que você tinha ido embora. - A voz falou no meu ouvido. Arrepiei-me ao perceber que era . Girei meu corpo, ficando de frente pra ele e aproximei meus lábios da orelha dele.

- Mudei de ideia. - Minha voz saiu um pouco enrolada devido ao meu nível de embriaguez.

- Você está bêbada? - Ele se afastou para me olhar.

- Um pouquinho. - Fiz sinal com os dedos.

- Isso não é normal. - Ele me olhou espantado.

- Ah, , deixa de ser chato e vamos dançar. - Disse e sai puxando-o para a pista de dança.

No momento em que meus pés pisaram na pista de dança uma música agitada começou a tocar. Dei um gritinho e soltei a mão de para que pudesse dançar livremente. Eu me sentia nas nuvens, naquele momento nenhum problema existia, minha cabeça estava livre. Meu corpo balançava de modo que eu julgava sensual e pude perceber que isso atraiu vários olhares masculinos. Meu olhar se encontrou com o de , que me olhava com um sorriso safado no rosto. Retribui o sorriso e chamei-o com o dedo e quase que imediatamente ele veio em minha direção. Ele pôs a mão em minha cintura, puxando-me para perto. Girei o meu corpo ficando de costas pra ele e continuei a mexer meus quadris bem próximo a ele, provocando-o. Eu não tinha muita noção do que estava fazendo, eu só queria provocar como nunca quis antes.

Em um momento meu corpo foi girado e no próximo minuto tudo o que eu senti foi os lábios de nos meus. Eu não recuei, pelo contrário, dei espaço para que a língua dele adentrasse minha boca. Eu não estava em condições de negar nada, tudo o que eu queria era aproveitar. Ele apertou minha cintura fortemente fazendo-me suspirar e morder o lábio inferior dele em resposta. As mãos dele desceram por minhas pernas e subiram novamente adentrando a saia do meu vestido. Não consegui conter o gemido que escapou dos meus lábios quando ele apertou uma de minhas coxas.

- Vem comigo ou eu vou arrancar essa roupa aqui mesmo.

Não respondi, apenas deixei que ele me guiasse para qualquer lugar. Subi as escadas aos tropeços, o que me causou risos, dificultando ainda mais a minha subida. também riu do meu estado e me ajudou a subir o resto dos degraus.

Assim que pisamos no primeiro andar, ele voltou a me puxar e entrou no primeiro quarto vazio que encontrou.

- Quanta pressa, . - Murmurei risonha quando meu corpo foi pressionado contra a porta, e , sem perder tempo, começou a beijar meu pescoço ao meu tempo em que puxava a alça do meu vestido para baixo.

- Essa é uma oportunidade única, tenho que aproveitar. - Ele murmurou contra minha pele arrepiada. Com as alças livres dos meus braços, os meus seios ficaram a mostra. parou para apreciá-los e deu um sorriso safado antes de levar os lábios até a região rosada dos meus mamilos. Mordi os lábios para abafar o gemido e levei minhas mãos até a barra da camisa do , puxando-a para cima. Ele se afastou de mim apenas para que a blusa fosse tirada por completo e assim que a peça foi jogada em um lugar qualquer, levei a minha mão até a nuca dele e o puxei para um beijo. Ele, por sua vez, envolveu minha cintura me puxando mais para perto e embrenhou meus cabelos, puxando-os sem a menor delicadeza. Mordi seu lábio em resposta.

Puxei o meu vestido que estava "preso" em minha cintura para baixo e chutei a peça para longe quando ela atingiu o chão. Meus lábios voltaram a ser tomados por ele e meu corpo pressionado a porta com mais força ao mesmo tempo em que ele puxava minhas pernas pra cima para que eu as enganchasse em sua cintura. Ele começou a cambalear pelo quarto comigo em seu colo e devido ao nível de embriaguez de ambos quase caímos duas vezes, o que causou risadas altas. Caímos na cama e voltou a me beijar novamente. Não hesitei ao levar a mão até a calça dele e passar a mão por cima da ereção dele já visível na calça. mordeu meu lábio em resposta, o que me motivou a apertar o local levemente, arrancando, dessa vez, um gemido dele. Tratei de desabotoar o botão e meus pés empurraram o tecido para baixo, que foi retirado com a ajuda dele. , por sua vez, voltou a dar atenção aos meus seios e começou a dar lambidas, mordidas e chupões fazendo com que eu gemesse seu nome. Em resposta mordi seu ombro ao mesmo tempo em que passava minhas unhas pelas costas definidas e musculosa dele. Que é gostoso eu já sabia, mas estar aqui com ele, dessa forma, era bom demais e foda-se se eu não se lembrasse de nada amanhã, eu queria aproveitar até o último minuto.

E foi com esse pensamento que eu girei meu corpo e fiquei em cima dele. Minhas mãos foram automaticamente em direção àquele volume maravilhoso destacado pela boxer vermelha que ele usava e não hesitei em abaixar a peça, libertando o membro dele. Mordi o lábio e olhei para ele, que me encarava com curiosidade. Dei o sorriso mais safado que consegui antes de me inclinar e tocar o membro dele com os lábios e massageá-lo com uma das mãos ao mesmo tempo. Pude ouvir gemer e o olhei, tendo a visão mais sexy do mundo. estava com a cabeça jogada para trás e a expressão no rosto dele era de puro prazer. Satisfeita com o efeito causado nele, voltei a me concentrar no membro dele e nos movimentos de vai e vem que eu fazia com o pênis dele em minha boca. Não demorou para que a mão de tocasse minha cabeça me auxiliando com os movimentos para que eu fizesse da forma que ele gostava.

Algum tempo depois, ele me puxou para cima e voltou a me beijar ao mesmo tempo em que rolava na cama e ficava por cima de mim. Ele terminou de tirar a boxer e pegou a calça dele que estava ao lado da cama e tirou um preservativo do bolso. Enquanto ele se prevenia, aproveitei para tirar minha calcinha e fiz menção de tirar os saltos que ainda estavam nos meus pés, mas me impediu.

- Deixa os saltos, é sexy. - Disse ele. Assenti e ele me puxou para um beijo cheio de desejo e luxúria. Me deitei novamente na cama, com ele por cima de mim, e não demorou para que eu sentisse o membro dele na minha entrada. Ele me olhou uma última vez antes que me penetrasse sem dó. Gemi alto e comecei a movimentar meu quadril na mesma sintonia que ele. A cada movimento de eu me sentia nas nuvens e eu me perguntava o porquê de não ter transado com ele antes. O motivo de ele ser um babaca em todas as vezes que eu conseguia me lembrar parecia ser tão irrelevante agora.

Os movimentos continuaram e às vezes retirava o membro e voltava a colocar lentamente, arrancando gemidos reprovadores e desesperados dos meus lábios. Eu perdi a conta de quantas vezes eu chamei pelo nome dele e aquilo seria constrangedor se eu estivesse me importando com isso. Naquele momento tudo o que importava era ali me fodendo como eu sempre quis, mesmo que eu nunca tivesse admitido isso em voz alta.

- Mily... Eu não... Aguento mais... - Ele diz com a voz entrecortada. Não respondi, mas eu também não aguentava mais, eu estava atingindo o meu limite e faltava pouco para que eu atingisse meu orgasmo. desceu a mão pelo meu corpo e tocou o meu clitóris, massageando-o. Aquilo foi o suficiente para que eu explodisse, juntamente com ele. O prazer dominou meu corpo fazendo com que meu gemido saísse alto e arrastado. se jogou ao meu lado e a sua respiração estava tão descompassada como a minha.

- Pra quem disse que nunca ia ficar comigo, você até que estava safadinha. - Ele disse. A respiração dele estava controlada e o tom de voz dele era malicioso.

- Fica calado, vai. - Pedi manhosa, o efeito da bebida tava passando e isso tava me causando uma sonolência sem fim. Ok, talvez não fosse só isso.

- Está com sono, bonitinha? - A voz dele estava mais próxima. Tentei olhá-lo, mas a minha visão estava embaçada e os meus olhos queriam se fechar. - Pode dormir, não se preocupe, eu vou estar aqui. - Ele disse ao perceber que eu não iria responder. Com isso, permiti que os meus olhos se fechassem e deixei que o sono tomasse conta do meu corpo.



...


Abrir os olhos nunca pareceu tão difícil. Minha cabeça latejava tão forte que não me deixava pensar. Eu não tinha a menor ideia de onde eu estava ou ao menos que horas eram e eu esperava que eu estivesse em casa, na minha cama, apesar de não saber se/como voltei para casa. A noite passada era um borrão para mim, as únicas coisas que eu lembrava com clareza era de ter entrado na casa do tal Chad e de ter começado a beber tudo o barman me dava. "Nunca mais eu bebo dessa forma.", pensei. Depois de alguns minutos deitada e com os olhos fechados, decidi me levantar e ir atrás de algum remédio para enxaqueca. Abri os olhos devagar. De início, a claridade quase me cegou e a dor de cabeça aumentou, mas logo a minha visão se acostumou e eu pude olhar ao redor. "Espera, esse aqui não é o meu quarto.", pensei ao olhar ao redor do quarto desconhecido. Eu não estava na Kingston, isso era óbvio. Então, onde eu estava? E de quem era esse quarto?

Impulsionei meu corpo para que eu me sentasse na cama e eu arregalei os olhos ao perceber que estava completamente nua debaixo do cobertor.

- O que diabos aconteceu? - Levei a mão à boca, assustada. - O que eu fiz? - Perguntei-me. Aquilo definitivamente não era um bom sinal e eu sequer lembrava o que tinha acontecido. Eu nunca mais iria beber novamente.

Levantei-me da cama enrolada no lençol e comecei a catar minhas roupas, que estavam no chão e as vesti. Eu precisava sair daquele lugar rápido antes que alguém entrasse ou seja lá a pessoa que eu tivesse dormido aparecesse. Olhei-me no espelho apenas para ajeitar o cabelo e caminhei para fora do quarto em seguida. Fora do quarto, andei por todo o corredor silencioso rezando para que ninguém aparecesse de surpresa. Por sorte, minhas preces foram ouvidas e o andar de baixo da casa também estava silencioso. Algumas pessoas dormiam pelo chão e sofá, o que me deu a certeza que eu estava na casa do tal Chad. Menos mal, pelo menos eu não estava na casa de nenhum outro estranho. Caminhei em passos rápidos para fora da casa. Eu estava envergonhada, tanto por estar na casa de uma pessoa que eu mal conhecia, como por não me lembrar do que tinha acontecido na noite anterior. Não que isso nunca tivesse acontecido antes, eu já havia tomado vários porres quando morava no Brasil, mas as circunstâncias eram diferentes. Lá, eu pelo menos sabia que acabaria na cama de , e não na de um completo estranho.

Já distante da casa, andei por uns quarteirões, até achar um táxi. Aliviada, entrei no veículo e informei ao motorista o endereço. Minha cabeça ainda doía, mas não era na mesma intensidade de antes. Eu estava mesmo era precisando de um bom banho gelado e daí com a cabeça mais fria, talvez, eu me lembrasse de algo útil. O carro parou em frente à universidade e eu desci do veículo após pagar o valor necessário e entregar ao motorista. Assim que o carro deu partida, entrei na universidade, caminhando devagar pelo campus deserto. Minha cabeça parecia saber que eu estava chegando em casa e resolveu voltar a doer fortemente como antes. Eu, sinceramente, não sabia como eu ainda conseguia andar.

Antes de ir para o meu quarto resolvi ir à cozinha, apenas para pegar um copo d'água. O local também estava vazio, o que era estranho, pois mesmo que fosse sábado, sempre costumava ter um bocado de gente andando para todos os lados. Procurei não pensar nisso e apenas me arrastei para o meu quarto. De acordo com o relógio pendurado na parede da cozinha era 13:30 da tarde e tudo o que eu pensava era que eu queria dormir novamente.

Ao entrar no quarto, suspirei aliviada ao notar que ainda dormia, pois tudo o que eu menos queria era que ela me enchesse de perguntas sobre onde eu estava até essa hora. Com sorte, ela sequer notaria que eu não dormi aqui.

Tomei o comprimido para enxaqueca e após escolher um par de roupas confortáveis, entrei no banheiro para tomar um banho relaxante. Por um momento, fiquei em dúvida entre a banheira e o chuveiro, mas acabei por decidir que seria melhor tomar banho de chuveiro mesmo, já que eu queria um banho gelado. Despi-me e entrei no box, ligando o chuveiro em seguida. Ao sentir a água gelada em contato com a minha pele, meu corpo relaxou e minha mente clareou o suficiente para que eu pudesse me forçar a lembrar de algo.

Alguns flashes invadiram a minha mente, mas nenhum deles era suficiente e não me diziam muita coisa. Tentei me lembrar de mais alguma coisa, mas a minha mente não ajudava em nada então acabei por desistir. Completamente frustrada, desliguei o chuveiro e peguei a toalha pendurada para que eu pudesse enxugar o corpo. Vesti a roupa que eu havia separado e após secar e pentear os cabelos saí do banheiro e andei diretamente para a minha cama, jogando-me nela em seguida.

Eu me sentia cansada, esse era um dos efeitos da ressaca. Meu corpo pedia para eu dormir e só acordar daqui a 30 anos. Pelo menos a dor de cabeça tinha dado uma trégua.

Fechei os olhos na intenção de dormir, mas no mesmo instante flashbacks da noite anterior vieram a minha cabeça e eu abri os olhos rapidamente, não acreditando no que eu tinha acabado de lembrar.

"Quanta pressa, ." ,"Essa é uma oportunidade única, tenho que aproveitar." - Frases de momentos distintos não paravam de vir a minha cabeça, e se eu já estava querendo morrer só de pensar na merda que eu tinha feito, veio a minha mente o momento que concretizava que aquilo tinha sido real e não um colapso da minha mente perturbada.

"Pra quem disse que nunca ia ficar comigo, você até que tava safadinha" - ao lembrar disso, eu senti um nojo enorme de mim mesma. Como eu pude fazer aquilo? E com o ? Eu tinha que estar alucinando ou tendo um pesadelo, porque mesmo o sendo gostosinho e tudo o mais, dormir com ele era a última coisa que eu faria, era a única coisa que o meu orgulho não permitia e agora nem isso eu tinha mais. O meu amor próprio, orgulho e, principalmente, a minha dignidade foram jogadas no lixo por causa de umas doses de tequila. Tequila que eu havia bebido por causa do maldito do que havia me dispensado pra ficar com uma vadiazinha qualquer.

Eu estava com ódio e repulsa. Ódio de por ter terminado comigo, ódio e repulsa de mim mesma por ter bebido e transado com o e, principalmente, com ódio do por ter se aproveitado da situação para conseguir o que queria. Agora ele ia se gabar pro resto da vida, disso eu tinha certeza.

Droga, eu nunca mais quero ver bebida na minha frente.

Por um momento desejei nunca ter lembrado disso, talvez teria sido melhor se eu nunca ficasse sabendo, isso se o não tentasse passar isso na minha cara depois, o que eu tinha certeza que ele faria.

Aqueles pensamentos estavam começando a me deixar louca, ainda mais do que eu já estava. Eu precisava conversar com alguém que não fosse a , porque eu tenho certeza de que ela iria amar a ideia de eu ter dormido com , ou talvez, ela odiasse a ideia e começasse a me dar lição de moral. Definitivamente, sermão não era o que eu estava precisando agora. Eu precisava de alguém que me entendesse e me desse conselhos. Isso eu encontraria em minhas amigas do Brasil, mas além da distância, elas não sabiam toda a história que envolvia . Na verdade, elas ainda nem sabiam que eu e tínhamos terminado. Bem, que terminou comigo, quero dizer.

Levantei-me e andei pelo quarto na intenção de procurar uma roupa apropriada para sair dali. Vesti um vestido de alça florido e da cor azul que eu tinha encontrado no closet e calcei um par de sandálias rasteiras. Parei em frente ao espelho apenas para amarrar o cabelo em um rabo de cavalo, e dar um jeito em minha aparência de ressaca. Após ter feito isso, peguei o meu celular e sai do quarto. Agora que descobri o que tinha acontecido, eu não conseguiria ficar trancada no quarto e nem muito menos conseguiria dormir. Não com todos aqueles pensamentos rondando minha cabeça, não sem conversar com alguém sobre isso. Eu só tinha uma pessoa a quem eu podia confiar para contar isso e que eu tinha certeza que não iria ter julgamentos ou qualquer coisa do gênero. E era para lá que eu estava indo agora. Eu só esperava que ele não estivesse dormindo.

- Eu sabia que você viria, só não achei que fosse tão cedo. – Disse , assim que abriu a porta. A cara de sono dele era notável.

- São quase duas da tarde, . – Defendi-me. Ele apenas riu e deu espaço para que eu passasse.

Adentrei o cômodo bagunçado, mas aquilo já não era mais surpresa pra mim. Organização não era muito a cara de , e do colega de quarto dele que, coincidência ou não, era . Este se encontrava babando e roncando na cama.

- Sinceramente, eu não sei como você aguenta. – Olhei para ele e apontei para . gargalhou.

- Eu também não sei, acredite. – Ri também.

A minha amizade com havia nascido por causa do namoro dele com a . Ele vivia no nosso quarto, e praticamente me arrastava para todos os lugares que ela e iam. Sim, eu não era só vela, eu era o castiçal por completo. Pelo menos disso saiu uma coisa boa, que foi a minha amizade com . Nós tínhamos nos tornado melhores amigos, e ele sempre estava lá para mim e vice-versa. era o único que me entendia e nunca me criticava, talvez isso tenha ajudado para a construção da nossa amizade.

Tirei o meu olhar da cama em que dormia, e notei que me olhava atentamente, esperando que eu falasse.

- Eu fiz merda. – Disse, simplesmente.

- Eu sei, eu vi. – Arregalei os olhos.

- viu também? – Perguntei.

- Sim. Na verdade, todos viram. – Sentei-me na cama, chocada. Eu não queria que todos tivessem visto, apesar de saber que seria bem provável, afinal, todos que estavam ali são da universidade. – está uma fera com você, se ela te ver, é capaz que ela arranque suas tripas fora.

- Você não está ajudando. – Di, nervosa.

- Desculpe. – Ele sorriu, culpado.

- O que eu faço, ? Eu estou me sentindo tão suja. Como eu pude ser tão burra?

- Você bebeu, pessoas bêbadas fazem coisas estúpidas. Não fique se lamentando por isso.

- Eu to me lamentando, porque foi com o que eu transei. – Falei com pesar. – Agora eu tenho certeza que ele vai ficar se gabando por aí.

- Ok, vamos começar pelo início. Por que você bebeu?

- Porque o estúpido do terminou comigo por e-mail, a sua namorada me arrastou para aquela maldita festa e eu estava na maior fossa.

- O terminou com você? Por e-mail? – Ele fechou os punhos, com raiva. – Eu nunca gostei desse cara, sempre achei que ele não era homem pra você. Se eu ver esse infeliz, eu juro que...

- Ei, está tudo bem. – Garanti. – O meu problema agora é outro.

- Tem certeza?

- Por enquanto, tenho.

- Eu acho que você não deve se preocupar com isso. O que está feito, está feito. Você não vai mudar o passado.

- Eu sei, mas você não entende. Transar com o , era a última coisa que eu não faria. Era questão de orgulho e dignidade. Eu queria mostrar pra ele que eu não era como as vagabundas que ele come, eu não sou qualquer uma para ele achar que pode me ter quando quiser e a hora que quiser.

- Eu te entendo, mas realmente não há mais nada que possa ser feito. Se você quiser, eu posso falar com o , mas pode acontecer de ele não lembrar, ele estava bêbado também.

- Ele vai lembrar, eu tenho certeza.

- Então, o que resta é esperar e ver o que ele vai dizer.

- É. – Suspirei. – Uma hora ou outra eu vou ter que enfrentar isso.

- Eu posso ficar por perto, caso você precise de mim e tudo o mais. – Sorri abertamente ao ouvir isso, era o melhor amigo que alguém poderia ter.

- Obrigada, , mas eu não posso te pedir pra ser meu guarda costas.

- Isso não seria nada, .

- Seria sim, e de qualquer forma, eu nem sei quando vou ver ele por aí.

- Assim que você pôr os pés no campus, provavelmente.

- Não se eu tentar evitar.

- E você vai fazer o quê? Se trancar no quarto pelo resto do ano?

- Claro que não! Eu só preciso sair quando ele não estiver por perto.

- Eu pensei ter ouvido você dizer que ia ter que enfrentar isso uma hora ou outra.

- E eu vou, mas enquanto eu puder fazer alguma coisa para evitar, eu farei. – Sorri, nervosa.

- Eu acho que não vai funcionar. – ele deu de ombros.

- Bom, eu só vou saber se tentar.

- Você sabe que ainda tem a . – ele lembrou – Dela você não pode fugir.

- Para de me assustar! – exclamei – Do jeito que você fala, parece que estou sendo perseguida por uma assassina.

- Vai saber, né... – ele riu.

- Cala a boca! – ri junto. Chequei as horas no meu celular, e percebendo que já tinha ficado muito tempo ali, me levantei, decidindo que já estava na hora de ir embora.

- Já vai? – assenti e ele se levantou também – Ótimo, já estava me perguntando quando você ia deixar que eu voltasse a dormir. – não contive a gargalhada que escapou por minha garganta.

- Preguiçoso! – zombei.

Ele abriu a porta para mim, e eu passei por ela após me despedir dele.

- Ei, – estava na metade do corredor, quando ouvi ele me chamar. Me virei em sua direção.

- Sim?

- Você está mesmo bem? – ergui as sobrancelhas confusa – Em relação ao , quero dizer...

- Ah, estou bem sim. Não se preocupe. – sorri sem os dentes e acenei uma última vez, antes de voltar a andar novamente.

Acabei decidindo que não voltaria para o quarto, e mesmo correndo o risco de dar de cara com , eu queria respirar um pouco de ar puro. Na verdade, eu só queria me distrair pra não ter que ficar pensando em tudo o que tinha acontecido no dia anterior, incluindo o fim do meu namoro por e-mail.

Eu tinha destruído o meu notebook e depois transado com o cara que eu odeio por causa do . Sim, a culpa foi dele, pois eu tinha certeza que se ele não tivesse sido um total imbecil e não tivesse terminado comigo por e-mail, meu notebook estaria intacto e eu não teria bebido, e consequentemente, dormido com o cara mais detestável da terra.

Se bem que pensando com mais clareza, a idiota havia sido eu, por ter quebrado algo valioso e que, obviamente, seria eu que gastaria dinheiro para comprar um novo depois. Quanto a parte de , eu me recusava a me culpar por tal deslize, a culpa era de e do próprio , que como eu já havia dito antes, ele se aproveitou do meu estado para conseguir o que queria. Patético.

- TE ACHEI SUA VADIA MALDITA! – a voz de ressoou no meu ouvido, assim que eu pus meus pés no campus, e eu não precisei olhar para o lado, para saber que era comigo que ela falava. Mas eu olhei, só pra ter mesmo a certeza, porém eu não consegui ver nada mais que um borrão e o meu rosto arder do lado direito. Levei a mão até o rosto, massageando o local atingido. Aquela puta tinha me batido.

- VOCÊ ESTÁ LOUCA? – gritei, irritada. Quem ela pensava que era pra chegar me batendo assim?

- VOCÊ ME HUMILHOU! VOCÊ PRATICAMENTE DEU PRA O MEU NAMORADO NA FRENTE DE TODO MUNDO! – ela gritou, histérica.

- SEU NAMORADO? – ri com escárnio – ELE TERMINOU COM VOCÊ, SUA MALUCA!

- ELE IA VOLTAR PRA MIM, MAS VOCÊ SEMPRE FICA NO MEIO!

- Eu fiquei no meio? – gargalhei alto, já tinha muitas pessoas ao redor, por isso resolvi que já tava na hora parar de gritar, pois já tínhamos chamado muita atenção. Mas o projeto de Barbie não conseguia ser civilizada e continuou a gritar feito uma gazela.

- SIM, VOCÊ MESMA! NÃO CONSEGUE MANTER UM RELACIONAMENTO A DISTANCIA E TENTA DAR EM CIMA DO HOMEM DOS OUTROS PRA SE SENTIR MELHOR.

Ouvir aquilo foi a gota d’água. Ela não tinha direito algum de falar assim comigo.

- Escuta aqui, sua piranha, o seu namorado dá em cima de mim desde do primeiro dia em que eu entrei nessa universidade. Até mesmo namorando com você, ele dava em cima de mim e eu nunca dei bola. Eu não devo satisfação da minha vida a você ou sobre o que acontece na minha vida particular e, definitivamente, não é da minha conta se você não consegue segurar o seu homem, porque, querida, você não tem mesmo noção do tanto de meninas que passou por aquele imbecil. Quer dizer, talvez você até tenha, já que pegou ele transando com outra.

A cara dela ao final do meu mini discurso foi impagável, a expressão dela demonstrava tanto ódio que eu sentiria medo se eu não estivesse feliz pelo que eu tinha acabado de dizer. Um coro de “uhh” foi ouvido e aquilo só pareceu ativar ainda mais a raiva de , porque ela voou em minha direção, em um piscar de olhos. - SUA PIRANHA! – ela gritou e senti um par de mãos puxando o meu cabelo. Ela queria mesmo brigar? Então era briga que ela ia ter.

Minhas mãos embrenharam nos cabelos dela e o puxaram com tanta força que ela soltou os meus por alguns segundos. Agarradas uma à outra, cambaleamos pelo campus até caímos no chão. Tapas foram trocados, mais meus do que dela. Eu estava com tanto ódio que não conseguia ouvir nada concreto além de burburinhos.

No meio de tantos tapas, eu consegui sentar em cima de , e eu estava pronta para lhe dar mais um tapa, quando os braços de alguém passaram por minha cintura e eu fui puxada para longe de .

- ME LARGA, EU VOU ACABAR COM ESSA VAGABUNDA! – ela gritava repetidamente, enquanto eu apenas permaneci parada tentando me acalmar. segurava e pedia pra ela se acalmar várias vezes, mas estava difícil.

- Eu sempre tive vontade de ver mulheres brigando por mim, mas nunca imaginei que você seria uma delas. – ouvi a voz de bem perto do meu ouvido e meu corpo congelou quase que imediatamente. “Ah, não. Isso só pode ser um pesadelo.”.

- Larga de ser idiota, sua namorada é uma doida! – me soltei dele bruscamente e andei para longe de toda aquela confusão, deixando aquela doida gritando um , NÃO VAI ATRÁS DAQUELA VADIA, VOLTA AQUI, AGORA!”, o que só me deu a certeza que eu não ia ter a paz que eu queria, pelo menos, não agora.

- Ela não é minha namorada. – ele disse, enquanto tentava me alcançar.

- Foda-se! – apressei os passos, mas não foi o suficiente, pois meu braço foi puxado de forma que meu corpo girou e foi de encontro com o dele.

- Dá para ter calma? Seu supercílio tá cortado.

- Eu posso cuidar disso. – tentei puxar o meu braço, em vão.

- Larga de ser teimosa! Eu vou cuidar disso, quer você queira ou não.

- Larga você de ser chato! Eu não quero a sua ajuda.

- Mas você vai ter. – e dizendo isso, ele, de uma forma desconhecida por mim, me colocou em suas costas e saiu andando comigo pendurada ali, de cabeça pra baixo.

- ME PÕE NO CHÃO, ! – gritei.

- Não.

- AGHT, EU TE ODEIO! – esperneei.

- Você não parecia me odiar ontem. – ele riu, malicioso.

- CALA A BOCA, SEU IDIOTA! – ele apenas riu, novamente e continuou andando.

Entramos em uma outra parte do residencial que eu não conhecia, o que me levou a crer que ele estava me levando até o quarto dele. Eu queria protestar, mas eu tinha certeza que não adiantaria de nada, então o que me restava era aguentar isso e rezar para acabar logo, para que eu possa ir embora.

Assim que entramos na cômoda, ele me colocou no chão e trancou a porta.

- Pra que trancar a porta? Eu não vou fugir. – disse, assustada.

- Calma, . Eu não vou fazer nada que você não queira. – ele sorriu e entrou no banheiro, voltando segundos depois, com uma caixa de primeiros socorros.

- Quem me garante? Você fez ontem...

- Eu não fiz nada sozinho, você queria tanto quanto eu.

- Eu estava bêbada e você se aproveitou.

- Eu estava tão bêbado quanto você.

- Mas estava sóbrio o suficiente para saber o que estava fazendo, você até se lembra. – acusei.

- E até onde eu sei, você também se lembra, então... – ele deu um sorriso irônico. Abaixei a cabeça, sentindo o meu rosto esquentar, eu não tinha argumentos contra isso. – Não tem mais acusações para fazer?

- Só termine logo isso. – apontei para o algodão que estava na mão dele. Ele voltou a fazer o serviço, enquanto eu apenas o observava cuidar do meu ferimento com uma delicadeza que era desconhecida por mim.

Eu não entendia , uma hora ele parecia ser o cara que eu conheci no Starbucks, em outra hora ele é aquele babaca que eu odeio. Eu nunca sabia o que pensar sobre ele, e talvez fosse melhor assim, pois eu não queria uma terceira impressão pior do que a segunda, e também não queria nada que me aproximasse de . Eu já sabia das intenções dele e ele já teve o que queria, fim de papo.

- Pronto, nervosinha. – ele disse ao se afastar e guardar os objetos usados no lugar.

- Obrigada. – sorri sem os dentes – ...

- Diga. – ele me olhou.

- Eu só quero dizer que independente do que aconteceu ontem, aquilo foi um erro e que não vai se repetir. Eu só quero esquecer e fingir que nada disso aconteceu.

- Isso é sério? – ele riu, incrédulo – Esse papinho? Fala sério, !

- Eu estou falando sério.

- Você vai mesmo continuar mentindo pra si mesma?

- Eu não estou mentido pra mim mesma! – defendi-me.

- Ah, não? Então quer dizer que tudo o que aconteceu foi um erro, que você não gostou e que se arrepende?

- É isso mesmo. – disse, com falsa certeza na voz.

- Você é uma mentirosa terrível, . Nós dois sabemos que você gostou e que não se arrepende de nada do que aconteceu. Você pode até colocar a culpa toda em mim, vá em frente, eu deixo. Mas dizer que não gostou e que se arrepende, isso é mentira.

Tudo o que ele tinha dito era verdade, eu não me arrependia, mas uma coisa era eu admitir pra mim mesma e outra é eu admitir pra ele. Isso nunca ia acontecer.

- Você é tão cheio de si, não é?

- Não sou. – ele negou com a cabeça – Eu só falo a verdade e você sabe disso.

- Não vem com esse papinho pra cima de mim! – me levantei, indignada. Eu não suportava esse lado insuportável dele – Eu vou embora. – tentei andar até a porta, mas ele segurou o meu braço, impedindo que eu desse um passo sequer – Me larga!

- Eu não vou deixar você fugir, não até que eu te prove que eu estou certo.

- Eu não quero que você me prove nada! – exclamei, mas a verdade era que eu queria que ele me beijasse naquele momento. Mas que merda eu estou pensando?

, parecendo perceber o meu conflito mental, passou os braços por minha cintura, colando os nossos corpos. Droga, aquilo não estava ajudando!

- Diga que você não sente essa atração, que você não perde o ar quando eu te pego assim. – ele falou perto do meu ouvido. Minha pele se arrepiou, instantaneamente.

- Para, por favor. – pedi, com a voz fraca.

- Só diga, e se você me convencer, eu te deixo ir.

- Eu... – ele pressionou mais o meu corpo ao dele, me inebriando com aquele perfume maravilhoso que emanava dele.

- Eu vou dizer o que você realmente quer. – ele disse, ainda com a boca próxima ao meu ouvido – Você quer que eu te pegue de jeito, te jogue naquela cama e te coma de uma forma que ninguém te comeu antes. – ao ouvir as palavras sujas e maliciosas dele, eu, vergonhosamente, me senti excitada. Os pelos do meu corpo se arrepiaram novamente e eu queria mesmo que ele fizesse tudo aquilo que ele tinha dito. Eu estava cedendo novamente, a moleza das minhas pernas denunciava isso. Eu estava pateticamente caindo no jogo dele novamente, porque ele não podia facilitar as coisas pra mim? - Diga que você quer isso. Se você me convencer de que não quer, eu deixo você ir. – aí estava a minha oportunidade de fugir, mas porque parecia ser tão difícil de se falar? Era isso que eu queria, não era? A resposta era bem clara, eu não queria fugir, mas eu precisava, pelo bem do restinho que sobrou do meu orgulho.

Respirei fundo, tentando me controlar e o empurrei de leve.

- , eu não quero nada com você. Eu não vou permitir que você me use novamente. Aquilo só aconteceu porque eu estava bêbada, não vai acontecer de novo, isso eu te garanto. – ele me olhou estupefato e eu aproveitei essa reação dele para abrir a porta do quarto – Muito obrigada pelo curativo, estou te devendo uma. – foi a última coisa que eu disse, antes de sair do cômodo.

Quando pisei no campus, agora silencioso, não pude evitar dar um suspiro de alívio. Eu havia me livrado de dois problemas em um dia só. Eu só esperava que a não resolvesse me atacar novamente.

Apesar de tudo parecer estar resolvido, eu não pude deixar de pensar em minhas decisões confusas quando se tratava de . Na verdade, eu não sabia o porquê de eu continuar tentando achar uma solução ou um motivo para os meus pensamentos bipolares. era bonito, era Britânico, bom de cama e eu sabia que rolava uma atração entre nós. Mas ele era um cafajeste, e isso era o suficiente para me afastar de um cara. O problema era que com , as coisas não funcionavam dessa maneira. Eu estava sempre tentando me afastar, mas, de alguma forma, eu sempre acabava voltando para o mesmo ponto. E eu não sabia se isso se devia à insistência dele, ou se isso era o destino tirando uma com a minha cara.

Outra coisa que eu não entendia, era o fato de que mesmo conseguindo o que queria, ele continua atrás de mim. Ele já havia conseguido o que queria, não é? Então por que ele não me deixava em paz?

Suspirei. Eu estava me sentindo cansada, minha vida tinha virado uma bagunça, e isso aconteceu desde o momento em que eu pus meus pés em Londres. Em menos de um ano, eu já tinha me envolvido em tanta bagunça, na minha vida amorosa, quero dizer. Que agora eu não queria saber de namorado nem tão cedo.

Tudo na vida tem um lado positivo. Acho que o lado positivo do que tinha acontecido com , era que eu não tinha mais pensado em e isso era tudo que eu queria. Eu não queria ficar me lamentando ou lembrando de um cara que, provavelmente, nem se lembrava que eu existia e eu esperava que ele não estivesse esperando que eu respondesse aquele e-mail, porque isso nunca ia acontecer.

- Finalmente você resolveu aparecer! – disse, assim que eu entrei no quarto – Onde você estava?

- Por aí – deitei-me na cama e fiquei olhando pro teto.

- Com “por aí”, você quer dizer que estava dando uns pegas no ?

- Ai que horror, ! – me apoiei nos cotovelos, podendo assim, olhar para ela, que por sua vez, estava parada em frente ao espelho, aparentemente se arrumando para sair.

- Bem, eu fiquei sabendo da briga com e também soube que você saiu de lá com , então, eu tirei minhas próprias conclusões. – deu de ombros.

- é mesmo um fofoqueiro! – ri, meu melhor amigo era pior que mulher quando se tratava de uma boa fofoca.

- Eu não disse que foi ele que me disse. – ela me olhou através do espelho, com as sobrancelhas erguidas – Todos estão comentando. – informou – Além do mais, a briga parece ter mesmo sido feia, esse curativo aí comprova tudo.

- Não tente defender , eu sei que foi ele. – ela fez careta, o que me causou uma risada curta – E quanto a briga, tenho certeza que saiu muito mais machucada.

- Uhhhhhhhh, fortona! - zombou, gargalhando, em seguida.

- Eu não tô falando isso para me gabar. Eu odeio brigas, mas a garota é maluca, ela veio pra cima de mim, do nada! – arregalei os olhos ao lembrar da cena – Eu tive que me defender, né.

- Você dormiu com o ex dela, né. Então, eu meio que entendo os motivos para ela ficar puta com você.

- Eu estava bêbada! Eu nunca teria dormido com o , se eu estivesse sóbria.

- Nunca? Fala sério, ! – ela riu, incrédula – Eu vejo as faíscas e a tensão sexual que existe entre vocês dois.

- Eu falo sério. Eu sei que existe um certo tipo de tensão sexual entre mim e ele, mas não é o tipo de cara com quem eu me relacionaria. Eu tento me afastar dele o máximo que eu posso. Não é minha culpa se ele fica atrás de mim.

- pode ser bem insistente quando quer. – concordou.

- Eu só espero que agora que ele conseguiu o que queria que ele me deixe em paz.

- Para sua felicidade, provavelmente isso aconteça.

- Eu espero que sim. – suspirei – Enfim, você vai sair de novo? – ela assentiu.

- quer me levar em algum lugar que eu não faço a menor ideia de onde é. Ele não quis me dar detalhes.

- Parece que sua noite vai ser divertida.

- É o que eu espero. – ela sorriu maliciosamente – Como eu estou?

- Tá linda! – sorri – Um dia, eu vou querer esse seu vestido emprestado.

- Há, vai sonhando!

- Que egoísta! – rimos.

Algum tempo depois, mandou mensagem e ela saiu, me deixando sozinha novamente. Quer dizer, isso já fazia parte da minha rotina, ficar sozinha. Porém, ficar sozinha tinha os seus lados negativos, e um deles era: muito tempo livre para pensar em coisas indesejáveis.

Então para evitar esse tipo de pensamentos, eu escolhi fazer algo que eu tinha certeza que iria distrair a minha mente. E eu só sabia de duas coisas que podiam fazer isso, uma delas era ler e a outra era estudar.

Após colocar uma roupa confortável, peguei o livro em cima da cômoda ao lado da minha cama, e abri-o na página em que eu havia parado de ler. Me ajeitei na cama, e posicionei o livro em frente a meu rosto pronta para ler, quando várias batidas na porta chamaram a minha atenção. Bufei, e contrariada, me levantei, me perguntando quem poderia ser.

- SURPRESA! – duas vozes conhecidas gritaram no momento em que eu abri a porta. Arregalei os olhos, surpresa ao ver minhas duas melhores amigas ali, na minha frente.

- , ? – sorri abertamente – Oh, meu Deus! – abri os braços e as duas praticamente pularam em cima de mim. E apesar de eu estar sendo esmagada, eu me senti confortada e aliviada. Minhas amigas estavam ali, eu ficaria bem.

Capítulo VIII

- VOCÊ FEZ O QUÊ? – gritou um tanto indignada. – Poxa, eu tinha mais fé em você, . Tudo ilusão e só resultou em perda de dinheiro – lamentou.

- Como? – franzi o cenho, confusa. começou a rir descontroladamente.

- Obrigada, , mais uma vez você me fez mostrar para a que eu estava certa e ela errada.

- Do que vocês estão falando?

- Quando você nos contou sobre o Britânico gostoso da universidade, eu apostei que vocês não iam ficar só em dois beijinhos e que iam chegar nos finalmente – disse.

- E disse que seu orgulho era mais forte e que isso não ia acontecer. Pelo visto me enganei, né.

- Suas vacas! Mesmo longe vocês ainda continuam apostando sobre minha vida? – fingi indignação.

- Sempre! – elas riram e fizeram um high-five. Acabei rindo também, minhas amigas são loucas. E só de pensar que elas vieram do Brasil só pra ver como eu estava, fez meu coração se aquecer e um sentimento de paz e segurança se apossou de mim.

- Eu senti muita saudade de vocês duas – disse. – Ainda nem acredito que vocês vieram só pra ver como eu estava.

- E pra conhecer os seus amigos gatos – disse. Revirei os olhos.

- sempre tem que estragar o clima – reclamou.

- Não seria eu, se eu não fizesse isso – ela deu um sorriso debochado.

Um bipe avisou que meu celular tinha recebido uma nova mensagem. Deixei as pirralhas discutindo e fui em busca do aparelho que estava jogado em cima do sofá no canto do quarto. Mensagem do .

“Soube do que aconteceu. Quer dar uma volta por aí e, sei lá, conversar?”

Não pude deixar de sorrir ao ler a mensagem. era um bom amigo e mesmo que depois do que aconteceu entre a gente, a proximidade não seja a mesma, ainda assim ele demonstra preocupação comigo e com o meu bem estar. Eu deveria valorizar mais amizades desse tipo.

- Quem é esse? – a voz de soou atrás de mim, me fazendo dar um pulo de susto.

- Que susto! Você e essa sua mania de andar silenciosamente – ralhei. – É um amigo.

- Ele quer conversar com você. Por que você não o chama pra vir aqui? – ela deu um sorriso malicioso.

- Sua safada! Eu sei por que você quer que eu o chame aqui.

- Por favor – ela fez uma cara de anjo.

- Fazer essa cara não vai funcionar – ri dela. – Amanhã o apresento a você e outro amigo a . Por enquanto, abaixa esse fogo.

- Aaaaaah – lamentou-se.

- Aeeeeeeeeee – comemorou.

Ri delas e voltei a me concentrar para responder a mensagem.

“Minhas amigas do Brasil estão aqui. Elas me fizeram uma surpresa. Podemos conversar amanhã?”

Não demorou e a resposta chegou:

“Sem problemas, amanhã conversamos e eu quero conhecer essas suas amigas =D. Boa noite. Xx”

Ri com o comentário dele. Definitivamente, ele e se dariam muito bem.

Juntei-me às minhas amigas novamente e prosseguimos a conversa, mas dessa vez com um tópico diferente. Minhas amigas sabiam que não deviam tocar na ferida, então eu sabia que elas não iriam perguntar sobre . E eu sei que disse que não queria pensar nele e nem queria sofrer por ele porque ele não merecia, mas minha mente a todo o momento me traia e mesmo que no fundo eu soubesse que não devia perguntar, porque eu não iria querer saber da resposta, eu precisava saber como ele estava.

- Como ele está? – perguntei de repente e minhas amigas me olharam confusas com a súbita mudança de assunto. – O , quero dizer. Como ele está? – reformulei a pergunta. Elas se olharam, tensas.

- Olha, eu acho que você não vai querer saber...

- Eu sei, mas... – respirei fundo antes de continuar – minha mente não me deixa em paz, e eu fico me perguntando como ele deve estar o tempo todo. Eu só... Preciso saber.

- Ele está bem. Da última vez que o vi, ele parecia... feliz.

Fechei os olhos, tentando controlar as lágrimas. Eu já sabia que a resposta era essa, eu só fui burra em pensar que podia ser diferente. Hesitei um pouco antes de fazer a próxima pergunta.

- Vocês a viram com ele?

- Vimos, mas isso não importa. Você é mil vezes melhor que ela.

- Mas é ela que está lá com ele e eu estou aqui, distante, sem poder fazer nada – olhei para baixo, sentindo a primeira lágrima escorrer pelo meu rosto. E essa foi só a deixa para as próximas começaram a cair, molhando meu rosto. Minhas amigas se aproximaram e poucos segundos depois, senti dois pares de braços me abraçando.

- Não fica assim, por favor.

- Ele não te merece.

- A culpa foi minha – me separei do abraço, enxugando as lágrimas. – Eu sabia que isso ia acontecer, foi por isso que eu terminei. Mas daí ele veio atrás de mim e eu voltei atrás. Eu fui burra!

- Não, você não foi! – exclamou. – Não diga isso de si mesma. Você fez o que achou que era certo. Você agiu por amor, com o coração.

- Agi, e me fodi, de novo – elas me olharam, sem saber o que dizer. – Eu só fico me perguntando o porquê de ele ter feito e dito tudo aquilo e agora jogou tudo fora, por um e-mail.

- Pare de se questionar. Levanta essa cabeça e esquece esse garoto. Ele não te merece e você merece coisa melhor. Se não deu certo, é porque não era pra ser.

- O amor da sua vida está aí fora, em algum lugar. Talvez ele esteja aqui em Londres.

- Talvez ele seja o disse, e eu tive que rir. Rir não, gargalhar diante de tamanho absurdo. , o amor da minha vida? Fala sério!

- Obrigada pela piada, . Eu estava mesmo precisando rir.

- , . Pensei que já tinha dado prova suficiente de que não se deve duvidar de mim.

- , não diga absurdos. Você teve sorte dessa vez. O que aconteceu foi apenas porque eu estava incapaz de pensar direito.

- Tá bom, . Vamos aguardar pra ver no que dá. Dessa vez eu não vou nem precisar apostar. Quando acontecer, você só vai precisar ouvir o meu “eu disse que ia acontecer”, por um ano.

- Ainda bem que isso nunca vai acontecer – ri fracamente.

- Veremos – ela disse.

e essas “predições” para o futuro sempre me assustavam, mas não dessa vez. Dessa vez eu tinha certeza que ela estava errada. Até porque além de eu não querer relacionamentos com o , ele não era o tipo que se relaciona com alguém. Então, enquanto permanecesse dessa forma, eu estava bem.

Algum tempo depois, minhas amigas disseram que tinham que ir, pois era tarde e elas ainda iriam para o hotel. Eu até ofereci para que elas dormissem aqui, mas elas recusaram e disseram que nos veríamos no dia seguinte. Então, sem mais nada pra fazer, liguei a TV em um canal qualquer e me enfiei debaixo das cobertas até adormecer.



...


- ACORDA, FLOR DO DIA! – um grito ecoou pelo quarto, me fazendo levantar assustada. – Só assim pra fazer você acordar, hein?

- Você quase me matou de susto, sua doida! – joguei o travesseiro nela.

- É por uma boa causa – ela se defendeu. – Eu preciso compartilhar com alguém sobre a minha noite com – olhei pra ela, não acreditando que ela tinha me acordado só pra isso.

- Vai se foder, – disse e me joguei na cama novamente.

- Quanta agressividade! – ela sentou na minha cama e começou a pular feito criancinha. Bufei, ela não ia sossegar enquanto não me contasse.

- Conta de uma vez – resmunguei e me sentei na cama.

- Então, ontem ele me levou pra conhecer os pais dele.

- Sério? Essa foi a surpresa?

- Não! Mas eu entrei em pânico quando descobri onde íamos jantar.

- E aí? Deu tudo certo?

- Apesar do meu nervosismo, eu acho que os pais dele me amaram! Quer dizer, quem não me amaria?

- Como você é modesta! – ironizei. Ela riu.

- Continuando, depois que saímos da casa dos pais dele, ele me levou para um lugar perto da casa dele. O lugar é lindo!

- Sério? Onde fica?

- Não posso dizer, é nosso segredo – revirei os olhos.

- Mas enfim, lá ele me disse umas coisas lindas e me deu esse anel pra firmar o nosso compromisso – ela me mostrou o anel.

- Que anel lindo! – disse admirada. – O tá se superando a cada dia mais, esse é meu amigo!

- Ai, acho que fiquei mais apaixonada por ele do que já estava.

- Awn, estou tão feliz por vocês, de verdade. Vocês formam um casal lindo.

- Eu sei, né, afinal nós dois somos lindos – sorriu convencida.

- Ai, meu Deus, retiro o que disse! A pessoa não pode nem elogiar mais.

- , querida, elogios são sempre bem vindos.

- Seu ego cansa minha beleza – ri.

Batidas na porta interromperam nossa conversa. olhou pra mim confusa, provavelmente perguntando pra si mesma quem era. Fiz sinal de que iria atender e levantei-me de uma vez quando as batidas voltaram a se repetir. Era e , certeza.

- BOM DIA! – as duas gritaram animadas.

- Bom dia. Se vocês pensaram que iria me acordar, chegaram atrasadas. já fez isso por vocês – ri da cara de desapontamento delas.

- Mas quem são essas? – apareceu ao meu lado, com a feição confusa.

- Minhas amigas, do Brasil. Elas chegaram ontem aqui – expliquei-me.

- Ah, eu sou a , a colega de quarto – elas se cumprimentaram.

- Já ouvi falar muito de você, – falou .

- Espero que bem, hein – ela sorriu.

- Então, quando vai nos apresentar os seus amigos gatos? – me perguntou.

- Ela me encheu o saco a noite toda com isso. Agora é sua vez de aguentar – revirei os olhos.

- , meu amor. Se você não se aquietar, eu não te apresento mais ninguém.

- Af, como você é chata – ela fez bico e se sentou na minha cama.

- Então, o que vamos fazer?

- Não sei vocês, mas eu vou dormir – disse, se jogando na cama.

- E como eu não tenho escolha, vou tomar um banho e trocar de roupa.

Entrei no banheiro, ansiando por um banho. Pelo que eu conhecia das minhas amigas, elas iam me obrigar a andar por tudo que é canto, então eu tinha relaxar pra isso.

Preparei a banheira para o banho e despi-me devagar. Parei em frente a pia e peguei minha escova de dente para fazer a higiene bucal. Assim que terminei, caminhei até a banheira e entrei na mesma, tentando relaxar o máximo que eu podia. Mas foi só fechar os meus olhos, que minha paz foi embora. Lá estava ele, de novo nos meus pensamentos. Porque eu não conseguia esquecer ? Era como se ao ficar com ele, tivesse sido injetada em mim uma dose de alguma droga, que agora minha mente não conseguia esquecer. Principalmente quando se tratava daquela noite.

Por mais que eu quisesse esquecer, minha mente parecia gostar de continuar me lembrando do seu toque, dos seus beijos, da sensação que era ter ele dentro de mim. Isso tinha que parar. nem era lá essas coisas.

Mas a quem eu estava querendo enganar? Ele era essa coisa toda, sim.

Ah, droga! Eu vou enlouquecer! O que aquele homem fez comigo?

Depois de alguns minutos tentando esquecer, acabei por desistir e resolvi sair daquela banheira. Meus pensamentos já não era mais meu amigo, agora era eu sozinha tentando lutar contra algo que eu não sabia se tinha força pra lutar. E o pior é que eu não poderia pedir ajuda para ninguém. Eu era a única que podia me ajudar.

Enrolei a toalha ao redor do meu corpo e saí do banheiro diretamente para o closet. O clima estava relativamente frio, então acabei por escolher uma roupa que me protegeria um pouco do frio. Penteei os meus cabelos e os prendi em um rabo de cavalo e por fim, optei por usar apenas um pó no rosto e um batom da cor da minha pele.

- Até que enfim! – reclamou, assim que saí do closet.

- Se reclamar muito, eu não te apresento ninguém – ameacei novamente.

- Tá bom! Não falo mais nada – ela disse, emburrada.

- Ótimo, podemos ir.

Ambas se levantaram alegremente e correram em direção a porta. O que a falta de um homem não fazia na vida dessas meninas.

- Para onde vamos? – perguntou.

- Tomar café da manhã. Eu não sei vocês, mas eu estou faminta.

- Nós também! – responderam ao mesmo tempo, o que nos causou uma curta risada.

- Então, vou levar vocês a maravilhosa Starbucks que tem aqui perto.

- E os seus amigos? – perguntou .

- O que tem eu? – apareceu, de repente, passando o braço ao redor do meu pescoço.

- Desde quando você entende português? – franzi o cenho, demonstrando confusão.

- Eu não entendo, a sua amiga estava falando inglês – ele deu de ombros e eu arregalei os olhos.

- Sério? – perguntei para ela, que assentiu. Como eu não tinha percebido isso antes?

- Eu podia ter dito que você estava falando português e a gente inglês, mas estava tão divertido e eu estava me sentindo tão fluente, que não me importei.

- Vocês não prestam! – ri da minha própria idiotice.

- Você que tá muito desligada, se defendeu.

- Ta bom, ta bom – rendi-me, eu estava mesmo com a cabeça no mundo da lua, não poderia contestar isso. – Enfim, esse aqui é o , o namorado de .

- E seu melhor amigo – ele completou.

- E meu melhor amigo – repeti.

- Olha, começou a falar. – Eu até poderia contestar isso de melhor amigo, mas como você é bonito, eu vou deixar passar.

- Tá vendo? Minha beleza sempre me salva – disse, convencido.

- Cala a boca! – dei um tapinha em seu braço, rindo.

- Escuta, hoje vamos dar uma festa na residência dos meninos do outro lado do campus. Ta afim?

- Vocês só vivem de festas? – questionei.

- Basicamente, sim – ele riu. – Vai ou não?

- Eu não sei se é....

- Claro que ela vai! – me interrompeu. A fuzilei com o olhar.

- Ótimo, vocês duas também podem ir – ele deu uma piscadela para as meninas e abriu um sorriso derretido. – Eu tenho que ir, vejo vocês à noite – ele deu um beijo na minha bochecha e com um último aceno, foi embora.

- Vocês estão loucas? – me virei para elas, indignada. – Eu não quero ir a festa alguma. Vocês lembram o que aconteceu da última vez?

- Relaxa. Dessa vez vamos ficar de olho e nada vai acontecer.

- Ah, claro. Vocês vão ficar de olho até um Britânico gostoso passar por vocês.

- , deixa de ser chata! Nós merecemos um pouco de diversão. Estamos em Londres!

Eu não queria ir à festa, mas minhas amigas vieram até aqui pra me ver e saber como eu estava. O mínimo que eu podia fazer, era ir nessa maldita festa com elas. Mesmo que isso implicasse que eu teria que ver durante toda a noite.

- Tudo bem, eu vou com vocês – suspirei derrotada.

- Você é a melhor amiga de todas! – exclamou, me abraçando.

- Eu sei, agora vamos comer.

Durante todo o percurso e parte do café da manhã, as meninas não pararam de fazer planos para a festa que aconteceria à noite. Apesar de estar feliz em vê-las empolgadas por participarem de algo em outro país, eu não conseguia me sentir da mesma forma que elas. Eu não estava nem um pouco animada para essa festa. A ideia de ver lá era assustadora, principalmente depois do que aconteceu no quarto dele após a briga com a .

Por outro lado, eu tinha medo de cometer a mesma burrada de duas noites atrás e com isso eu perderia tudo o que restava do meu orgulho, pois se eu sóbria não tinha controle dos meus atos perto de , imagina bêbada. O primeiro passo então, seria não beber, só assim eu poderia monitorar os meus passos mais confiante e o segundo, seria não deixar em hipótese alguma que chegue perto de mim.

De repente, uma mão tapou os meus olhos, me tirando dos meus pensamentos devido a o susto por tal ato inesperado.

- Adivinha quem é? – a voz inconfundível de soou perto do meu ouvido.

- , você quase me matou do coração – reclamei, tirando a mão dele do meu rosto.

- Desculpe, não era minha intenção – ele sentou-se na cadeira vaga ao meu lado. – Como você está?

- Bem - respondi. Olhei para as minhas amigas de relance e elas olhavam fixamente para , admiradas. Deixei um risonho escapar, já era de se esperar que isso fosse acontecer, pois era muito bonito. – , essas são as minhas amigas que te falei. e – ele olhou para elas e sorriu de uma maneira que julguei sedutora e ao julgar pela reação das minhas amigas, acho que elas acharam a mesma coisa.

- Olá, garotas, é um prazer conhecê-las.

- Pode ter certeza que é um prazer conhecer você também – disse, descaradamente. riu sacana, eu conhecia aquela risada dele. Minha amiga tinha chamado a atenção dele, isso era fato.

Eles engataram em uma conversa, que durou o restante do café e grande parte do nosso passeio pela cidade. a todo tempo apertava meu braço impaciente com todo o falatório dos dois, mas na verdade eu sabia que a verdadeira intenção do aperto era um questionamento do porquê eu ainda não tinha apresentado ninguém pra ela.

- Vocês vão ficar aqui até quando? – ele perguntou.

- Não muito tempo, viemos apenas por causa da .

- Ah, entendo. Caso fiquem por mais tempo, talvez eu possa te mostrar um pouco da cidade – ele disse olhando para .

- Eu adoraria – ela sorriu completamente derretida.

Como de costume, revirei os olhos. Era tão óbvio o que ele realmente queria mostrar pra ela, que eu tive que soltar uma risada irônica.

- O que foi, ? – ele perguntou.

- Nada – dei de ombros, com descaso.

– Está com ciúme? – ele se aproximou, me abraçando de lado, ao mesmo tempo que andávamos.

- Claro que não, bobão – ri com tamanha bobagem.

Ele riu e voltou a andar próximo da minha amiga. Enquanto o casal conversava, eu tentava puxar papo com . Eu precisava manter minha mente ocupada, se não quisesse pensar em coisas indevidas.

- Sabe quem vai gostar da sua amiga? – indagou, de repente.

- Quem? – perguntou, interessada.

- .

A menção daquilo me fez ficar séria. De certa forma, eu não gostei da ideia de rodeando minha amiga. Quer dizer, minha amiga pode conseguir coisa melhor.

- Me diga, de quem o não gosta? - questionei, com a feição ainda séria. olhou pra mim com um sorriso no canto dos lábios. O que foi? Ela realmente achava que eu estava com ciúme da possibilidade de ver com minha amiga? Pff, claro que não.

Ninguém ousou responder a minha pergunta, porque afinal, estava tão óbvio que não precisava ser respondido.

- HEY, ! – me virei em direção da voz que gritava por meu amigo, dando de cara com ... E . "Falando no diabo..." – pensei.

- E aí, cara – eles fizeram o típico toque de mãos para se cumprimentar. – Hey, ! Ouvi dizer que você bota pra quebrar em brigas – sorri envergonhada, não perdia uma oportunidade de me zoar. que estava dois passos atrás, soltou uma risadinha cínica. Idiota.

- Você não perde uma – disse.

- Claro que não, te zoar faz parte do meu cotidiano.

- Idiota! – ri. – Hey, essas são minhas amigas do Brasil. e . Eles se cumprimentaram e pelo canto do olho pude perceber analisando-as descaradamente. Cerrei os olhos diante de tal cena, ele não tinha mesmo um pingo de vergonha na cara.

Ao perceber que eu o observava, ele deu um sorriso sacana em minha direção e eu juro que tive vontade de dar um soco naquela cara bonitinha dele, só pra que ele parasse de sorrir assim pra mim.

- Não vai falar comigo e me apresentar suas amigas também, ? – ele perguntou, ainda com aquele maldito sorriso no rosto.

- Por que você mesmo não se apresenta, ? – respondi e minhas amigas viraram rapidamente a cabeça para olhá-lo, de olhos arregalados. Suspirei, minhas amigas estavam precisando de algumas aulas de discrição.

- Claro – ele andou em direção a . – Deixe-me adivinhar – ele a olhou de cima a baixo. – Você é a ? – ela assentiu de forma completamente idiota e com um sorriso mais idiota ainda. – Prazer, eu sou o , mas você pode me chamar de – ele pegou a mão dela e depositou um beijo ali. Aquilo foi o suficiente pra fazer minha amiga derreter e suspirar. Ver aquilo me causou náuseas.

Ele se afastou e caminhou em direção a .

- E você deve ser a – ele pegou a mão dela e a beijou da mesma forma que fez com . – Você pode me chamar do que quiser, eu deixo.

Pera, com essa cantada eu tive que rir. Rir não, gargalhar e alto.

- Porra, , que cantada lixo! – disse em meio as risadas.

- Isso é sua forma de esconder de que tá com ciúmes? – ele ergueu as sobrancelhas.

- Não mesmo, , eu tô rindo mesmo da sua falta de criatividade para cantadas. Eu sinceramente não sei como você consegue pegar alguma mulher com essas cantadinhas.

- Tem certeza que não sabe? – ele questionou com as sobrancelhas erguidas.

- Talvez quando elas não estão bêbadas elas fiquem com você por pena.

- Ouch! – zoou.

- Você não brinca com fogo, . Você pode acabar se queimando.

- Duvido muito – sorri vitoriosa. Ele cerrou os olhos em minha direção e não disse mais nada, o que me fez achar que ele não tinha mais uma resposta que superasse o que eu tinha dito. Eu só tinha esquecido uma coisinha. Ele era e se tinha uma coisa que ele sempre tinha, era uma resposta na ponta da língua.

Ainda sem dizer uma palavra, ele se aproximou de mim e se inclinou de modo que seus lábios tocassem no meu lóbulo da orelha. Nem preciso dizer que minha pele se arrepiou instantaneamente, né? Merda de corpo que nunca me ajuda.

- Vamos ver se você vai se queimar ou não mais tarde, na festa – ele se afastou e piscou pra mim, antes de se virar e andar para longe, sendo seguido por e , depois que ambos se despediram de mim e das minhas amigas.

- , que gato é aquele? Não acredito que você pegou ele e ainda ficou reclamando! – disparou, assim que os meninos se afastaram. Pisquei os olhos tentando me concentrar no que ela falava, mas a voz de ainda permanecia na minha cabeça. – ! – ela gritou bem próximo do meu ouvido. Fiz uma careta. Pelo menos minha mente agora estava focada em outra coisa.

- Pegar o não é motivo pra sair me gabando por aí – ela me olhou como se eu fosse louca. – Ele é gostoso, ok, mas não vale a roupa que veste.

- E daí? Prestando ou não prestando, você provou da coisa e tá reclamando.

- Eu tenho meus motivos. é um idiota e é o ultimo cara com qual eu desejo ter algo a mais. Nem amizade, nem caso, nem nada! O que aconteceu é pra ser esquecido, mas nem vocês e nem ele permitem que eu faça isso – bufei, frustrada.

- Ele parece gostar de você – disse.

- não sabe o que é gostar de alguém – disse. – Eu chego até a duvidar que ele tenha sentimentos.

- Não seja cruel! – me repreendeu.

- Não estou sendo – balancei a cabeça negativamente. – Se eu falo, é porque eu o conheço bem.

- Se você diz... – ela disse, vagamente.

- Vocês ainda vão ficar falando mais sobre o ou vão escolher um lugar pra ir? – perguntei, impaciente.

- Shopping! – as duas disseram ao mesmo tempo, animadas.

- Vamos, então – murmurei e sai andando sem esperar que elas respondessem.

- , você precisa ser menos amarga – começou.

- É, só porque uma ou duas coisas aconteceram e te deixaram chateada, não significa que você tem que se fechar pro mundo – concordou.

Suspirei. Elas tinham razão, eu estava um pé no saco. Tudo por causa de dois garotos que nem valiam tanto a pena assim. Minhas amigas estavam ali, do meu lado e eu não estava dando o devido valor. Assim como eu não estou dando o certo valor a várias coisas ultimamente.

- Vocês tem razão, me desculpe – sorri verdadeiramente. – Mas vocês precisam parar de falar do , isso está me dando nos nervos.

- ? Quem é ? – perguntou para , fingindo estar confusa.

- Não sei, nunca ouvi falar – respondeu. Sorri para as duas, apesar de às vezes elas serem um pé no saco, elas sabiam como fazer meu humor melhorar.



...


- Você não vai comprar nada, ?

- Não, eu acho que tenho tudo que preciso em casa.

- Ah não, você vai ter que comprar alguma coisa – disse e parou bruscamente em frente a uma vitrine de uma loja de sapatos. – Olha esse sapato, é a sua cara! Você tem que comprar ele!

Ri do repentino ataque dela. Se tem uma pessoa que sempre ficava animada em compras, essa pessoa era a . Não importava se as compras eram pra ela ou pra qualquer outra pessoa, se tratando de compras e shopping já era o suficiente pra deixá-la feliz. Analisei o sapato, achando-o realmente lindo.

- É mesmo a minha cara – concordei. – Vem, vamos comprar – puxei uma saltitante para dentro da loja enquanto só fazia rir de nós duas.

Por fim, eu não comprei apenas um, mas três pares de sapatos. No fim das compras, a gente estava tão cheia de sacolas que acabamos por ter que voltar de táxi. As meninas optaram por voltar para o hotel, para poderem se arrumar para a festa. Então acabou que voltei sozinha para casa.

- Obrigada, moço, pode ficar com o troco – agradeci e saí do carro, caminhando rapidamente em direção à entrada da Kingston. Meu celular apitou e eu tentei pegar ele no bolso, mas acabei me atrapalhando e derrubando o aparelho no chão.

- Droga – murmurei e coloquei as sacolas no chão, para que eu pudesse me abaixar e juntar as partes do meu celular novamente.

- Dia ruim? – ouvi uma voz desconhecida falar próximo de mim. Olhei para cima e me deparei com um par de olhos azuis olhando pra mim.

- Um pouco – sorri timidamente. Eu tinha prometido pra mim mesma que não queria saber de garotos, mas era impossível não prestar atenção naquele garoto à minha frente. Como eu nunca tinha notado ele aqui antes? – Você estuda aqui?

- Não, eu vim visitar a minha irmã.

- Ah, isso explica o motivo de eu nunca ter te visto por aqui.

- Eu nunca tinha vindo aqui antes, é a primeira vez – explicou-se. – A propósito, eu sou o Jake.

- – apertei a mão que ele estendeu para mim. – Espera! Você é irmão da ?

- Sou, como você sabe? – ele me olhou surpreso.

- Ela já me falou sobre você – ele franziu a testa, provavelmente se perguntando o motivo pelo qual a irmã dele tinha falado sobre ele. – Eu divido o quarto com ela – expliquei-me e a feição dele mudou de confusão para compreensão.

- Ah, espero que ela tenha dito coisas boas então. – “Ela com certeza não disse que tinha um irmão gato assim” – pensei. – Eu preciso ir, foi um prazer te conhecer, .

- Foi um prazer te conhecer também, a gente se vê por aí.

- Espero que sim – ele sorri de forma galanteadora, fazendo com que minhas bochechas corassem. Ele acenou e foi embora. Como é possível nunca ter me mostrado uma foto do irmão dela antes?

Sem mais indagações, peguei as sacolas no chão e voltei a caminhar em direção ao meu quarto.

- sua vaca – disse assim que entrei no quarto. Ela me olhou assustada e confusa, segurei a vontade de rir. – Como você nunca me disse que tem um irmão? E ainda mais um irmão gato!

- Credo, , já tá de olho no meu irmão? – ela arregalou os olhos.

- Não da forma que você pensa, estou dando um tempo de homens agora – disse e ri de forma sapeca. – Mas se você tivesse me apresentado ele antes...

- ! – ela jogou o travesseiro em mim, fazendo-me rir diante da reação dela. Era lógico que eu estava apenas brincando. – O que você tem aí nessa sacola?

- Ih, nem vem – escondi as sacolas atrás do meu corpo. – Não vou te emprestar nada.

- Como você é malvada! – reclamou. – E ainda pergunta por que eu não apresentei meu irmão antes.

- Ei! Eu sou uma boa amiga – protestei.

- Então você vai me deixar ver as sacolas – ela disse com as sobrancelhas arqueadas.

- Tá bom, olha vai – entreguei as sacolas a ela.

- A propósito, meu irmão vai hoje pra festa.

- Sério? – sorri largamente com a notícia.

- Sim, mas olhe, eu tô de olho viu? – ela apontou dois dedos para os próprios olhos e depois pra mim. Balancei a cabeça, rindo.

- Não sabia que você tinha ciúmes do seu irmão.

- Eu tenho, quer dizer, você já olhou pra ele? – ela bateu a mão na testa. – Claro que já! Ele é um gato e como eu sou a irmã mais velha, tenho que cuidar do meu irmão.

- Essa situação é engraçada.

- Por quê?

- Porque geralmente o irmão cuida da irmã e não o contrário.

- Amiga, aprenda, nada na minha vida é normal.

- Eu já estou familiarizada com isso – ri.

- AI, MEU DEUS! QUE SAPATO LINDO! – ela gritou, de repente, me assustando.

- Você me assustou, sua louca – tomei o sapato dela. – Nem vem, eu vou usar esse hoje.

- Ah não, me deixa usar esse, por favor – implorou. – Eu deixo você ficar com o meu irmão.

- Como? – gargalhei. – Então quer dizer que todo o seu ciúme e sua proteção desaparecem com um simples par de sapatos?

- Não é qualquer par de sapatos, é O par de sapatos – se defendeu.

- É um par de sapatos de qualquer maneira.

- Vai me emprestar ou não?

- Não – tomei os sapatos dela. – Eu vou usá-los hoje à noite.

- Tá bom! – ela cruzou os braços, emburrada.

Balancei a cabeça negativamente e peguei as sacolas para colocar no closet. Após colocar as sacolas lá, resolvi que seria melhor escolher a roupa com a qual iria pra festa. Como de costume acabei por escolher um vestido que combinasse com o sapato que eu tinha comprado. Peguei as peças escolhidas e coloquei em cima da cadeira que tinha ali para que eu as vestisse assim que saísse do banho.

O relógio marcava 17:30. Ainda era cedo, mas como eu conhecia minha colega de quarto, eu sabia que quando ela entrasse naquele banheiro, ela demoraria uma eternidade pra sair, então era melhor que eu fosse primeiro.

- Eu vou tomar banho logo, quando eu sair você entra – avisei a e entrei no banheiro sem esperar resposta.

Tentei ser rápida com o banho, ainda mais porque após 10 minutos, começou a bater na porta do quarto dizendo que iria se atrasar e a culpa ia ser minha. Não podia deixar de rir com tamanha besteira, apesar de saber que demoraria mesmo esse tanto de tempo para se arrumar.

- ! Meu irmão vai chegar daqui a pouco e vai me matar se eu ainda não estiver pronta – ela gritou do quarto.

- , ainda falta mais de uma hora para a festa começar – revirei os olhos. Desliguei o chuveiro e peguei a toalha, me enxugando com a mesma antes de enrolá-la ao redor do meu corpo.

- Você sabe que eu demoro a me arrumar!

- Tá bom – abri a porta do banheiro e ela entrou feito um furacão, me empurrando pra fora. – Ih, esqueceu a educação, foi?

- DESCULPA! – ela gritou de dentro do banheiro.

Entrei no closet e tratei de me arrumar logo, do jeito que minha amiga estava era capaz de ela enfartar se eu não estivesse quase pronta quando ela saísse do banheiro. Ainda enrolada na toalha, me sentei de frente para o espelho e peguei minhas maquiagens a fim de escolher o que usar. Optei por não escurecer muito os meus olhos como geralmente faço e transferi toda a atenção para os meus lábios ao passar um batom vermelho. Aos meus cabelos, fiz alguns cachos com o babyliss, deixando-os soltos.

- Você ainda tá assim? – entrou no closet, enrolada na toalha.

- Se você reclamar mais um pouquinho, eu jogo essa escova na sua cara – ameacei, apontando a escova pra ela.

- Uiii, estressadinha – debochou, levantando as mãos. Revirei os olhos e me levantei antes que eu jogasse mesmo aquela escova nela.

Peguei a peça íntima que estava em cima da cadeira e a vesti, em seguida vesti o vestido e, por fim, me sentei na cadeira e calcei os maravilhosos sapatos que eu tinha comprado hoje.

- Ainda acho que esse sapato iria ficar melhor se estivesse nos meus pés – disse, me olhando através do espelho.

- Continue achando isso, enquanto você me vê saindo daqui com eles nos meus pés – retruquei e ela riu, sendo acompanhada por mim. Duas batidas na porta chamaram minha atenção fazendo-me sair apressada do quarto. Devia ser as meninas, ou o irmão da doida da minha colega de quarto. Abri a porta, me deparando com aquele mesmo belo par de olhos azuis que tinha visto horas atrás.

- Oi – sorri, sem graça.

- Oi, , né? – assenti. Ele me olhou de cima a baixo, o que obviamente, me deixou constrangida. – Você está linda.

- Er... Obrigada. Você também está – olhei para baixo por um segundo antes de voltar a olhá-lo. – Entra, ainda vai demorar um pouco.

- Como sempre – ele revirou os olhos e adentrou o quarto. Ao passar por mim, o perfume dele invadiu minhas narinas e minha nossa, que homem era aquele? Eu estava seriamente começando a pensar em abrir uma exceção para ele na minha fase de dar um tempo em homens. Mas que merda eu estava pensando? Eu estava tão desesperada assim? – ? – Jake me chamou. Balancei a cabeça, afastando os pensamentos e fechei a porta do quarto.

- Desculpe, eu me distraio fácil – sorri, envergonhada. – Então, eu vou avisar a que você está aqui.

- Não precisa, ela vai demorar que eu sei. Por que você não senta aqui e conversa um pouco comigo? – ele bateu a mão do lado dele, no colchão.

- Ahñ... Erm... Claro – dei um sorriso nervoso e me sentei ao lado dele.

- Então, ...

- – o interrompi. - – ele sorriu. – Há quanto tempo está aqui?

- Um pouco mais que sete meses.

- Legal! E o que você cursa?

- Nutrição.

- Oh, então um dia, quando eu precisar de uma nutricionista, posso procurar você? – ri do comentário dele. Ele poderia arranjar cantadas melhores.

- Talvez, apesar de que acho que você não vá precisar.

- Olha, se você está dizendo, eu vou acreditar – ele riu.

- E você? O que faz?

- Por enquanto, nada. Mas ano que vem, planejo me juntar a vocês aqui.

- Sério? O que você quer cursar?

- Odontologia.

- Sério? Então temos aqui um futuro dentista?

- Talvez, espero que sim.

- Você parece ser um cara muito inteligente, tenho certeza que vai se sair bem em qualquer coisa que quiser fazer.

- Você falando assim, até me dá certa confiança.

- É essa a intenção.

- Você não é daqui, né?

- Não, sou do Brasil.

- Brasil? Legal. Não é à toa que as pessoas falam que as mulheres do Brasil são lindas.

Certo, agora ele me fez corar e não foi pouco. Ele estava ficando ousado e se eu não freasse isso, talvez acabasse acontecendo coisas que eu não queria que acontecesse. Ou talvez quisesse, mas sabia que não era o certo.

- Obrigada?

- Não precisa me agradecer, foi só a verdade. Você tem os olhos muito bonitos e chamativos.

- Você tá me deixando constrangida – ri, olhando para baixo. E talvez eu não devesse ter feito isso, porque quando eu levantei minha cabeça novamente, Jake estava tão próximo de mim, que nossos lábios quase se encontraram. Aquele mar azul que era os olhos deles estava ali, próximo demais, me hipnotizando.

- Não precisa ficar constrangida – ele levou a mão até uma das minhas bochechas e aproximou ainda mais o rosto do meu. Agora me diz, como eu vou resistir a isso? Não que eu seja uma vagabunda, mas eu era muito fraca quando se tratava de homem britânico. Eu ainda não tinha superado o meu crush por aquele maldito sotaque. Os lábios dele ainda chegaram a tocar os meus levemente, quando abriu a porta do closet, nos assustando e fazendo com que nós nos separássemos rapidamente.

- Eu vou fingir que não percebi o que estava acontecendo por aqui – ela disse e me olhou seriamente. Olhei para ela como um pedido de desculpas e batidas na porta me salvaram do clima tenso que tinha se instalado por ali. Dessa vez eram as minhas amigas e com elas ali, eu consegui me manter um pouco distante do irmão de . Eu não queria problemas, nem pra mim e nem pra nossa amizade.

Depois de meia hora, finalmente fomos para festa. Minhas amigas fizeram amizade com Jake e com isso, o clima tenso de antes desapareceu e eu pude voltar a conversar com ele sem me sentir intimidada pelos olhares de . Eu até entendia o ponto dela, pois ela apenas queria proteger o irmão por ele ser mais novo e toda aquela coisa de irmãos mais velhos, mas eu não entendia essa cisma dela justo comigo, como se eu fosse uma qualquer que não merece confiança.

- VOCÊS CHEGARAM! – abriu a porta, sorridente. – Amor, senti saudades – ele puxou para um beijo.

- Estou começando a ficar com ciúme disso aí – cruzei os braços, fingindo estar brava.

- Awn, venha cá você também – ele me puxou e me abraçou. – Isso é o que dá ficar sem homem, a carência toma de conta – todos riram.

- Cala a boca – me afastei e dei uma tapinha no braço dele. – , seu namorado é um idiota.

- Eu sei, mas é o idiota mais lindo de todos – ela apertou as bochechas dele.

- Ih, vou ficar diabética com todo esse doce, melhor eu entrar – disse e puxei as meninas para dentro do lugar, deixando o casal sozinho. As meninas mal entraram no local e já começaram a se agitar com a música alta que tocava por ali. Eu ficaria sozinha a noite toda, isso já era certo.

Me sentei no sofá, sem a menor vontade de ir dançar. Eu sinceramente não sabia o porquê de estar nesse lugar contra a minha vontade. Parecia aquele maldito dia que eu queria esquecer se repetindo novamente, só que dessa vez eu ficaria bem sóbria e me manteria longe do .

- Não vai dançar? – Jake perguntou, sentando-se ao meu lado.

- Não estou no clima pra festa.

- Então por que veio? – ele me olhou confuso.

- Por causa das minhas amigas, elas queriam vir.

- Você não devia estar se divertindo com elas?

- Devia, mas...

- Mas nada, vem, vamos dançar – ele se levantou e me estendeu a mão.

- Não, Jake, eu...

- Por favor, . Um pouco de diversão não vai machucar.

- Tá bom, mas só uma música – peguei a mão dele e deixei que ele me guiasse para junto das meninas.

Dançamos uma, duas, três músicas. Eu estava me divertindo e eu nem precisei de álcool para isso. Agora eu dançava alegremente com Jake, já que minhas amigas tinham sumido por aí com alguém que eu não fazia a menor ideia. Não pude deixar de notar que eu ainda não tinha visto nenhum dos meninos além de . Eu considerei isso como um bom sinal, já que eu ainda não tinha visto o também.

- Pra quem não estava no clima pra festa, você tá muito animadinha – Jake disse, sorrindo.

- Eu gosto de dançar – dei de ombros e ele me puxou pela cintura para perto dele.

- Acho que eu tô te devendo um beijo... – ele disse, colocando a mão na minha nuca e aproximando os nossos rostos.

- Jake, eu não quero arrumar problema – “e eu não quero me envolver com ninguém” – completei mentalmente. Mas como dizer isso a ele?

- Eu sei cuidar de mim mesmo, deixe que eu lido com depois.

Olhei para o lado, em busca de uma forma de evitar que aquele beijo acontecesse e acabei por encontrar o olhar de , ali, do outro lado da sala, me observando com uma vadia sentada no colo, beijando o pescoço dele. Ver aquilo me deu náuseas e eu tive que desviar meu olhar, voltando a observar Jake. Ele estava ainda mais próximo agora, aqueles olhos bem perto dos meus, implorando para que eu permitisse que ele me beijasse. Mas eu não podia, minha vida já estava bagunçada o suficiente para que eu arranjasse mais problemas.

- Eu... – me afastei. – Eu preciso ir ao banheiro. Já volto – virei as costas e andei apressadamente para longe dele e longe do problema que estava sentado a alguns passos de mim.

O lugar estava lotado, então foi um pouquinho difícil pra que eu achasse um banheiro. Eu até pensei em subir e ir ao quarto de , mas ao pensar que ele podia estar lá com , desisti da ideia. Assim que achei o banheiro, caminhei apressadamente até o local, mas antes que eu tocasse a maçaneta, uma mão pegou o meu braço e me empurrou para dentro do banheiro, trancando a porta em seguida. Me virei assustada para a pessoa e me deparei com .

- VOCÊ ESTÁ MALUCO?

- Quem é aquele babaca?

- Como? – perguntei, sem entender.

- Quem é aquele babaca que estava com você?

- Eu não acredito que você me seguiu até aqui só pra me perguntar isso – ri incrédula e andei até a porta, mas ele ficou no meio, bloqueando a saída. – Me deixa sair, .

- Eu não estou brincando, . Quem é aquele cara?

- E desde quando é da sua conta com quem eu saio ou deixo de sair? Você não é nada meu garoto, se toca – ele me olhou em fúria e me empurrou fazendo com que eu me encostasse na pia. Ele apoiou as mãos no mármore da pia, me prendendo entre os braços dele.

- Eu vou perguntar pela última vez – disse. – Quem é aquele babaca?

- É o irmão da – revirei os olhos. – Satisfeito? Agora se me der licença...

- Você ainda não aprendeu, não foi? – ele riu ironicamente.

- Aprendi o que, ? – perguntei impaciente.

- Que você é minha, e eu não quero te ver com nenhum outro cara que não seja eu.

- Me desculpe, o quê? – ri alto. – Eu não sou um objeto pra ser seu, . Eu nunca fui sua e nunca serei. Porque você não me deixa em paz e volta pra vadia que você tava quase comendo na frente de todo mundo há cinco minutos?

- Você está com ciúme?

- Ciúme? De você? – ri debochada. – Claro que não! Se me der licença, o Jake ta me esperando... – tentei sair, mas os braços dele permaneceram firmes como uma pedra.

- , ... Será que eu preciso mesmo te ensinar novamente para que você aprenda? – ele colocou as mãos na minha cintura e me puxou de forma brusca. Os pelos do meu corpo se arrepiaram e eu perdi o ar por alguns segundos. Maldito perfume que me embriagava.

- Não tem nada para ser ensinado.

- Ah, não? Então eu vou te castigar por não se comportar.

- , me dei... – e ele me beijou sem permitir que eu completasse a frase. Os lábios dele eram urgentes e por mais que eu quisesse me afastar e correr, por mais que meu cérebro gritasse socorro e implorasse para que eu o empurrasse e saísse dali, o meu corpo reagiu de forma contrária. Com os braços ao redor do pescoço dele, eu permiti que ele aprofundasse o beijo. Naquele momento meu corpo não queria lutar, eu estava sendo fraca. me deixava fraca e aquilo definitivamente não me agradava.

Meu corpo parecia ansiar pelo dele, a forma como minhas mãos seguravam a gola da camisa dele denunciava isso e apesar do meu corpo parecer saber o que queria, a minha mente continuava em conflito, sem saber o que era realmente certo ou errado. Eu precisava de algo para me agarrar e fazer com que eu saísse dali e esse algo não era a pessoa que estava à minha frente, beijando o meu pescoço de uma forma insaciável. Forcei minha mente a pensar em algo que não fosse ele, mas estava difícil com todos aqueles beijos e toques. E agora é que me perguntam, cadê a minha força e resistência? Pois é, não sei. Até isso esse maldito fez com que desaparecesse como mágica.

Os lábios dele voltaram a tocar os meus e outro beijo foi iniciado com mais urgência que o anterior. A resistência há muito tempo tinha sido esquecida e os meus pensamentos agora resumiam a tudo o que eu queria que acontecesse ali, naquele banheiro. desceu a alça do meu vestido lentamente, os lábios dele tocaram a pele onde a alça estava minutos atrás, fazendo com que eu jogasse a cabeça para trás para que ele tivesse mais acesso na região do meu pescoço e colo. Minhas mãos automaticamente se instalaram nas costas dele por debaixo da camisa, arranhando a pele com dedicação. Estava prestes a puxar a camisa de para cima, quando batidas na porta foram ouvidas, me trazendo de volta a realidade. Parei meu olhar em , que ainda tinha os lábios no meu pescoço como se não se importasse com quem estivesse do lado de fora. O que diabos eu estava fazendo de novo?

- , para – pedi, tirando as mãos de dentro da camisa dele e o empurrando. Ele me olhou sem entender, mas eu não dei tempo para que ele fizesse perguntas, apenas ajeitei a alça do meu vestido e praticamente corri até a porta do banheiro, destrancando-a e saindo do local sem ao menos ver quem era o indivíduo que tinha batido na porta. Seja quem for, eu fiquei muito agradecida nesse momento. Corri pelos corredores o mais rápido que eu conseguia, eu sabia que viria atrás de mim, ele sempre vem, mas dessa vez eu não queria que ele me encontrasse.

- ? – deparei-me com saindo do quarto do . – O que aconteceu?

- – disse, simplesmente. Parecendo entender a situação, ela não disse nada, apenas me puxou para dentro do quarto de e trancou a porta ao passar.

- Isso explica o seu batom borrado – disse.

- Eu sai com tanta pressa que nem me lembrei da aparência – expliquei-me e caminhei até o espelho que tinha no canto do quarto.

- Você não cansa de se meter em furadas?

- Ele veio atrás de mim e me encurralou no banheiro.

- E esse foi um bom motivo pra você se atracar com ele?

- Foi ele que me agarrou – defendi-me. – Eu não quero nada com o , já deixei isso claro, mas ele não me deixa em paz!

- Ele vai te deixar em paz, eu vou pedir pra falar com ele.

- Não – disse. – Não quero que o se meta nisso e acabe brigando com o amigo dele por minha causa. O vai parar, eu só preciso fingir que ele não existe.

- E você acha que consegue?

- Claro que sim. O não significa nada pra mim.

- Tudo bem, agora vamos voltar para a festa.

- Acho que eu vou voltar para o meu quarto.

- De jeito nenhum, você vai curtir essa festa até o fim – ela disse e sem esperar que eu respondesse me puxou pela mão para fora do quarto.

E mesmo que no fundo eu quisesse matar ela por não me dar direito de escolha, no fundo eu sabia que eu deveria ir. Ao descer aquelas escadas e me juntar a elas e meus amigos, eu decidi que iria me divertir e aproveitar o tempo que me restava com as minhas amigas. Era hora de eu aprender a viver e enfrentar meus problemas. era um problema? Sim, ele era. Mas eu poderia lidar com isso mais tarde.

Capítulo IX

“Eu preciso arrumar um emprego” foi a única solução que eu achei durante a manhã de aula. Eu quase não consegui me concentrar nas aulas e atividades, meus pensamentos a toda hora me levavam para outro lugar, ou melhor, para dois lugares. Eu não aguentava mais pensar em Daniel com a namorada nova, como eu também não aguentava mais lembrar o que aconteceu com na noite anterior. Digo, eu sou melhor que isso, não devia deixar dois homens bagunçar assim com a minha mente e vida, então para evitar que isso continuasse acontecendo, porque não arrumar um trabalho? Eu ocuparia a mente e ganharia dinheiro com isso. É uma ideia brilhante, não é?

- E aí chegou de repente, me assustando. – Nossa, hoje você tá no mundo da lua.

- Eu só estava pensando que seria legal se eu arrumasse um emprego.

- Você está falando sério? – ele olhou incrédulo.

- Sim, porque não estaria?

- Você já tá ficando pobre?

- O quê? Não! – ri. – Só achei que seria legal fazer algo além de estudar – menti.

- Você é louca então.

- Babaca – ri.

- O que tem eu? – aquela voz da pessoa que tanto atormenta meus pensamentos, surgiu do meu lado. Tentei ignorar, mas como sempre, ele parecia não querer atender o meu pedido de me deixar em paz. – , podemos conversar?

- Não – disse.

- Por favor, eu prometo não fazer nada – parei, olhando-o de forma duvidosa.

- Tudo bem – disse, por fim. – Mas se tentar algo, arranco suas bolas.

- Fechado – ele ergueu as mãos como se dissesse que era inocente.

- Bom... Eu vou andando... – disse, deu um beijo na minha bochecha e foi embora após fazer o típico toque de mãos com . Me virei para ele, esperando o que ele iria falar. Olhei para ele, esperando que ele falasse de uma vez.

- Eu não vim falar sobre ontem, embora eu acho que devêssemos – ele começou.

- Fala logo, – pedi, impaciente.

- Eu preciso da sua ajuda.

- Para o que?

- Eu preciso que você veja meus desenhos e me ajude a escolher alguns para minha apresentação amanhã.

- E porque eu te ajudaria? – cruzei os braços. – Nós não somos amigos.

- Eu sei, mas você é a pessoa mais ideal pra me ajudar nisso. Eu preciso de uma opinião feminina.

- Pede para a .

- Eu já pedi, ela não ajudou muito.

- E a ? – ele me olhou de forma óbvia. – Ok, entendi, ela também não.

Parei para pensar. Eu devia ou não ajudar ele com isso? Uma parte de mim dizia que era furada, que eu não deveria ajudá-lo. Mas outra parte de mim continuava dizendo para mim que eu não devia recusar. Afinal era relacionado a universidade.

- Vai me ajudar ou não?

- Sem segundas intenções?

- Sim, prometo.

- Devo confiar em você?

- Acho que você vai ter que se arriscar para descobrir – ele sorriu.

- Ok, eu ajudo – disse. – Mas se fizer gracinha, já sabe.

- Tá bom – revirou os olhos.

O silêncio que se seguiu foi constrangedor e apesar de não ter durado nem um minuto, foi o suficiente para me fazer sentir vontade de sair correndo de perto dele. Minutos a mais algo da universidade. Mesmo que ele não tenha segundas intenções – o que é bastante perto de , podiam ser bem perigosos e eu não podia nem ao menos me dar o luxo de confiar em mim mesma. Meu autocontrole já tinha sido provado ser bastante inútil e fraco, e honestamente, isso me fazia ter sérias dúvidas sobre eu ter aceitado ajudá-lo com duvidoso –, só de pensar em estar com ele sozinha em um quarto, já fazia as sirenes em minha cabeça começarem a alarmar gritando “perigo” constantemente.

- Eu sei que sou lindo, mas não precisa ficar me encarando dessa forma – a voz de me trouxe de volta a realidade. Franzi a testa um pouco confusa e balancei a cabeça tentando pensar em alguma resposta para dar a aquele abusado.

- Eu não... – comecei a falar, mas fui interrompida pelo meu celular que começou a tocar e vibrar no meu bolso. Agradeci mentalmente a pessoa abençoada que estava me ligando enquanto puxava o aparelho do bolso e olhava quem me ligava antes de atender. Era . Deslizei o dedo na tela, para que a ligação fosse atendida, sem me importar com a presença de ali. – Alô?

- , está ocupada?

- Eu estou bem, obrigada por perguntar – ironizei. Ela riu.

- De nada – ela respondeu. Foi minha vez de rir.

- Não estou ocupada, aconteceu algo?

- Não, eu só ia te chamar pra almoçar. Sabe como é, eu não conheço nada daqui e nem a .

- Claro, eu ia mesmo chamar vocês para almoçar e depois eu... – ela não me deixou terminar.

- Vai nos mostrar mais um pouco da cidade? – exclamou, animada.

- Não, eu vou procurar um emprego – meu olhar se cruzou com o olhar curioso de e pude perceber que ele prendeu o riso. Babaca, o que ele ainda estava fazendo aqui mesmo?

- Emprego? Sério isso? – ela me perguntou, parecendo chocada.

- Sim, – revirei os olhos. Qual era o problema de arrumar um emprego? – Ei, eu tenho que desligar. Encontro você e a daqui a meia hora na frente do hotel – desliguei o telefone e comecei a andar em direção ao meu prédio, ignorando totalmente a presença do ali.

- Ei, ei, ei – ele segurou o meu braço –, perdeu os bons modos foi?

- Eu estou com pressa – puxei meu braço e continuei andando, mas ele se pôs a minha frente, bloqueando a passagem.

- Você vai arrumar um emprego? – ele perguntou e riu.

- Não vejo como isso possa ser dar sua conta – retruquei.

- Foi só uma pergunta, o que você tem hoje?

- Nada, você que me irrita – respirei fundo. – Agora sai da minha frente, por favor.

- E o meu trabalho?

- Eu vejo mais tarde – disse. – Me encontra aqui às cinco.

- Tudo bem, estressadinha – ele debochou, mas saiu da minha frente, então não me dei nem o trabalho de responder.

Apenas quando cheguei ao meu quarto foi que pude respirar normalmente. Meu humor era muito bipolar perto de , e esse era mais um motivo para que eu me mantesse longe dele. Até a confiança em mim mesma aquele filho da puta havia tirado de mim.

Respirei fundo duas vezes, decidida a esquecer por pelo menos algumas horas. Joguei meus livros e bolsa em cima da cama e entrei no closet, com o intuito de procurar alguns documentos que seria necessário, caso eu quisesse arrumar um emprego o mais rápido possível. Após achar o envelope com os documentos, voltei para o quarto e peguei o meu celular e minha carteira, antes de sair do quarto e voltar a me misturar naquela multidão de universitários no Campus. Já fora da Kingston, chequei as horas no meu relógio de pulso e, ao ver que já haviam se passado 15 minutos desde que falei com , apressei meus passos, caminhando apressadamente pelas ruas, em direção ao hotel que minhas amigas estavam hospedadas. Não ficava muito longe, mas do jeito que elas não tinham paciência para esperar, era melhor que eu chegasse na hora ou até uns minutos antes.

Quando cheguei na rua do hotel, já pude avistá-las do lado de fora me esperando. Sorri ao me aproximar.

- Oi meninas.

- Por que você vai arrumar um emprego? – disparou, assim que me aproximei.

- Estou muito bem, , obrigada por perguntar – repeti ironicamente a mesma coisa que tinha dito a pelo telefone mais cedo.

- Aí, nem vem. Responde a minha pergunta logo – ela pediu, aflita. e sua curiosidade.

- Porque eu preciso me distrair.

- Só por causa disso?

- É, por que mais seria?

- Sei lá, pra ganhar dinheiro? – perguntou debochada.

- Eu me distraio e ganho dinheiro, quer algo melhor que isso?

- Isso é por causa do gato britânico?

- não tem nada a ver com isso – menti. – Vamos logo? – elas concordaram e eu voltei a caminhar, com elas ao meu lado.

- Então, o que vamos fazer? – mudou de assunto. Agradeci mentalmente por isso.

- Almoçar, depois vocês podem ir comigo e me ajudar a achar um emprego legal e ao mesmo tempo vocês conhecem mais um pouco da cidade. O que vocês acham?

- Está ótimo pra mim – disse e concordou.

Entramos no meu restaurante favorito daquela cidade e nos sentamos em uma mesa perto da janela.

- E aí, – Cody, o garçom se aproximou sorrindo. – Trouxe pessoas novas?

- São minhas amigas, vieram me visitar.

- Legal! – ele sorriu – O que vão querer?

- Eu vou querer o de sempre – pedi.

- Certo, e vocês? – ele olhou para as minhas amigas.

- Eu quero o prato do dia e uma coca – disse.

- Eu também – disse, ele anotou os pedidos e se afastou.

- Vocês vão ficar aqui até quando?

- Ihh, já tá querendo se ver livre da gente? – perguntou, fazendo cara de ofendida.

- Claro que não, vocês sabem que se dependesse de mim, vocês morariam aqui.

- Temos que ir daqui a dois dias, não podemos ficar por muito tempo.

- Então vamos aproveitar o máximo – disse e elas comemoraram.



...


Depois do almoço, fomos para a estação, onde pegamos um metrô para o centro da cidade. Minhas amigas estavam ansiosas para conhecer um pouco mais da cidade. Quando desembarcamos do metrô, elas praticamente me arrastaram por entre as pessoas e eu tive que pedir três vezes até que elas me soltaram e me deixaram andar livremente.

Andamos por vários cantos e entramos em vários lugares. Eu cheguei a perder a conta de quantas lojas, restaurantes, bares e até hotéis nós fomos. Não encontrei nada, nem uma vaga sequer de emprego. Eu estava cansada e estava começando a ficar tarde, as únicas pessoas que pareciam se divertir ali eram minhas amigas. Elas já tinham conhecido Londres praticamente toda, enquanto eu não tinha achado nada. Até tinha deixado alguns currículos, mas não achava que ia dar em alguma coisa. Olhei para o enorme relógio da torre, constatando que já eram quatro da tarde. Eu tinha menos de uma hora para achar alguma coisa útil e voltar para a universidade, afinal, eu ainda lembrava que tinha marcado de encontrar com . Infelizmente.

- Meninas, acho melhor voltarmos para casa, eu não vou conseguir achar nada – suspirei, derrotada.

- Não desiste amiga, você vai encontrar alguma coisa – incentivou.

- Olha – disse , apontando para uma loja de roupas masculinas. – Tem vaga de emprego. Quem sabe você consegue alguma coisa?

- Não custa nada tentar – dei de ombros. – Vocês me esperam aqui? – elas assentiram. – Me desejem sorte – respirei fundo antes andar em direção à loja. Eu apertava a pasta em minhas mãos com força. Aquela era a minha última chance de encontrar um trabalho decente.

- Boa tarde. Em que posso ajudá-la? – uma moça se aproximou, assim que entrei na loja.

- Eu vi na placa da vitrine que vocês estão precisando de vendedora e eu queria deixar o meu currículo – dei um sorriso nervoso. Eu tinha que causar uma boa impressão.

- Claro, você pode entregar para mim – ela sorriu. Abri a pasta, tirando de lá o papel necessário e entreguei à moça. Ela observou atentamente o papel por um tempo e depois olhou para mim com um sorriso no rosto. – Eu vou entregar o seu currículo para a gerente e até amanhã você terá uma resposta. Boa sorte, – ela esticou a mão para mim e eu apertei-a em um cumprimento.

- Obrigada... – li o nome no crachá dela – Sarah.

Saí do local me sentindo um pouco confiante. Apesar da tal Sarah ser apenas uma funcionária, ela pareceu gostar do que viu no meu currículo, então aquilo só podia ser um bom sinal, certo?

- E aí? – perguntou quando me aproximei.

- A menina disse que me daria a resposta até amanhã.

- Isso é ótimo! Os outros lugares que fomos não te deixaram tão positiva assim.

- Agora é só esperar e ver no que vai dar – olhei as horas novamente. – Preciso ir, já estava ficando tarde e eu combinei de ajudar um amigo com algumas coisas da universidade – preferi omitir que o amigo era . Se eu contasse, minhas amigas iriam tirar conclusões erradas e tudo o que eu menos queria eram perguntas sobre o assunto.

- Tudo bem, eu também preciso ir e me arrumar pro meu encontro com disse e eu parei, a olhando surpresa.

- te chamou pra sair? Como você não me conta isso?

- Estou contando agora.

- Sua safada! – ri e dei um leve empurrão nela.

- Eu também tenho um encontro hoje – Mih se pronunciou. – Com o .

- Suas duas safadas! Pegando meus amigos e nem pra me contar – coloquei as mãos na cintura, ofendida.

- Desculpa, você estava tão empenhada em arrumar um emprego que não quisemos desviar sua atenção.

- Você é péssima em inventar desculpas, – ri. – Mas eu vou deixar essa passar, porque tenho que ir ou vou me atrasar.

Voltamos para a estação e alguns minutos depois, entramos no metrô, a caminho de casa. Sentei-me no banco vago e olhei as horas mais uma vez. Quatro e cinquenta. Eu iria me atrasar. Comecei a mexer as pernas freneticamente. Eu odiava atrasos e além do mais, eu não queria dar motivos pro vir com gracinhas pro meu lado.

- Tem certeza que você vai apenas ajudar alguém? – perguntou de repente, me tirando os meus pensamentos.

- Tenho, por quê? – franzi a testa.

- Você está ansiosa demais pra quem só vai “ajudar” um amigo – ela fez aspas com os dedos.

- Eu só não gosto de chegar atrasada – retruquei. Meu celular apitou, peguei o aparelho no bolso. Era uma mensagem de .

“Cadê você? Já estou te esperando.

Respondi a mensagem com um breve “estou chegando” e bloqueei o aparelho para evitar que minhas amigas fizessem perguntas. Mas curiosas como elas eram, era óbvio que nada ia passar despercebido por elas.

- Era o seu amigo?

- Era – revirei os olhos.

- Pensei que o não fosse seu amigo – disse. Droga, ela tinha visto.

- E ele não é – retruquei. – Mas eu não nego ajuda as pessoas, principalmente quando se trata de algo da faculdade.

- Se essa é a desculpa que você dá a si mesma pra tudo isso.

- Meninas, por favor, não comecem – pedi e elas pareceram atender meu pedido pois ficaram caladas o resto do caminho.

Logo o metrô parou e desembarcamos. Me despedi das minhas amigas e segui o caminho oposto ao delas, em direção a universidade. Verifiquei o horário uma última vez. Estava trinta minutos atrasada. Apressei o passo e minutos depois, cruzei os portões da universidade, dando de cara com , me esperando no meio do campus.

- Pensei que tinha me dado o bolo.

- Eu perdi a hora, desculpe – meu olhar desviou para as mão deles, notando-as vazias. – Então, cadê os seus desenhos?

- No meu quarto.

- E por que você não trouxe? – ergui a sobrancelha. Ele não achava que eu iria ver os desenhos no quarto dele, achava?

- Está ficando escuro, então achei que seria melhor se você fosse ver lá no meu quarto.

- Você tá brincando com minha cara, né? – ri ironicamente.

- Qual é o problema? Eu prometi que não ia fazer nada.

- O problema é que eu não acredito nas suas promessas – cruzei os braços.

- Não precisa me ajudar então, eu me viro – ele virou as costas e se afastou, indo em direção ao dormitório masculino. Fechei os olhos, respirei fundo e contei até três. Merda, eu iria me arrepender disso.

- Espera! – gritei. – Eu vou com você – corri até ele e sem dizer uma única palavra, entramos no prédio. Subimos as escadas e seguimos pelo extenso corredor até a última porta a direita. tirou a chave do bolso e abriu a porta e deu espaço para que eu entrasse. Adentrei o local, olhando ao redor. Para um quarto de meninos até que estava bem arrumado.

- O saiu, então ele não vai atrapalhar – desviei meu olhar para . Ele tinha fechado a porta e agora estava perto da mesa, mexendo em uma gaveta.

- Eu sei, ele saiu com minha amiga?

- Qual das duas?

- .

- Ela é gata. se deu bem – ele tinha um sorriso malicioso nos lábios. Fechei a cara, eu não tinha gostado do que ele tinha dito e nem muito menos daquele sorrisinho que ele sustentava nos lábios como se tivesse imaginando minha amiga em momentos nada decentes.

- Vai me mostrar os desenhos ou não? – perguntei, impaciente. abriu um sorriso misterioso nos lábios e se aproximou de mim com uma pasta nas mãos.

- Aqui – ele me entregou a pasta. Caminhei até a cadeira mais próxima e me sentei, colocando a pasta sobre o meu colo e abri, tirando algumas folhas de dentro.

- Wow – exclamei, enquanto olhava folha por folha. Aqueles desenhos eram incríveis. Eu tinha que admitir, desenhava muito bem.

- Gostou? – ele perguntou. Sua feição demonstrava ansiedade.

- São lindos! Você tem mesmo talento pra isso – dei um sorriso sincero. Ali tinha todos os tipos de desenhos que se possa imaginar. De pessoas, carros, prédios, animais, de tudo um pouco. – Que tipo de desenho você tem que apresentar amanhã?

- Um que impressione o professor o suficiente para que ele me dê uma nota boa.

- Certo, deixe-me ver – analisei os desenhos novamente, de um em um. Todos eram impressionantes, o que tornava a escolha um pouco difícil, mas logo achei um que se destacava de todos os outros. – Esse aqui! – entreguei a ele o desenho que mostrava toda a cidade de uma forma impressionante. Eu tinha amado aquele desenho.

- Tem certeza que esse está bom? – ele murmurou, indeciso.

- Claro que sim – confirmei. – Você vai ganhar a melhor nota da sua vida com esse desenho.

- Não sei. Só de olhar eu consigo ver um monte de defeitos e já posso imaginar o professor me dando sermão.

- Espera ai! , o garoto mais prepotente que eu conheço, está inseguro com alguma coisa? – o olhei de boca aberta.

- É, estou, pode me zoar – ele bufou. Segurei o riso. Apesar de aquilo ser engraçado de se ver, eu senti que tinha que dar apoio a ele. Me levantei, coloquei as folhas em cima da cadeira e andei até ele.

- Ei – segurei em seu braço. – Eu não vou te zoar. Os seus desenhos são perfeitos e tenho certeza que independente do desenho que você levar amanhã, você vai arrebentar e vai tirar a melhor nota daquela sala – ele ficou olhando pra mim por uns segundos, talvez sem acreditar em minhas palavras ou que era justo eu que estava dizendo aquelas coisas pra ele. Abri o sorriso mais sincero que consegui dar e fui correspondida, por um sorriso agradecido dele.

- Obrigado – ele disse, ainda sorrindo. Por um momento eu me perdi naquele sorriso e tudo o que eu consegui pensar foi que ele ficava lindo sorrindo daquela maneira. Acho que fiquei o observando tempo demais, porque quando vim cair em mim, nossos rostos estavam próximos, muito próximos. Pisquei algumas vezes e me afastei, pigarreando. Dessa vez eu não iria perder o controle da situação.

- Bem, já que está tudo certo, eu vou indo.

- Claro – concordou. – Obrigado mais uma vez – ele me acompanhou até a porta.

- Por nada – sai do quarto e parei do lado de fora, o olhando pela última vez. – Boa noite, .

- Boa noite – respondeu. Dei as costas e andei para fora do local. Eu tinha a sensação de que tinha passado horas ali dentro, apesar de ter consciência de que tinha passado um pouco mais que meia hora.

O meu quarto estava vazio quando eu voltei. devia ter saído com . Tirei os sapatos e joguei-os em qualquer lugar do quarto e separei uma muda de roupa antes de entrar no banheiro. Tomei um banho relaxante, porém rápido. O dia tinha sido desgastante, eu estava exausta. As férias estavam chegando e pelo menos daqui a alguns dias eu teria algumas horas a mais de descanso, mas enquanto esse dia não chegasse, eu teria que me afundar nos estudos e me esforçar para tirar notas boas nas provas.

Saí do banheiro enrolada na toalha e entrei no closet para trocar de roupa. Nunca era seguro trocar de roupa no quarto, vai que entrasse com lá? Ia ser o maior mico da minha vida. Peguei uma calcinha com desenhos de ursinhos e passei o pano por minhas pernas, vestindo-a. A noite estava um pouco quente, então optei por vestir uma camisola curta. Peguei a escova de cabelo em cima da penteadeira e soltei meus cabelos, passando o objeto por meus cabelos algumas vezes. Alguns minutos depois, sai do closet e me joguei na cama, agarrada a um dos livros da universidade. Abri o livro na devida página, peguei meu caderno e abri ambos em cima da cama, à minha frente.

Eu lia o conteúdo atentamente e de vez em quando anotava alguma coisa necessária no caderno. Vários minutos se passaram e quando dei por mim, já tinha acabado de estudar toda a matéria. Fechei o caderno e os livros, jogando-os em cima da mesa do lado da cama. Me deitei agora de maneira confortável e fechei os olhos com a esperança de que o sono viesse, mas o que veio no lugar do sono foi o rosto de ... E o de .

Eu não entendia o que tinha de errado comigo. Minha mente nunca tinha se fixado em dois garotos. Era esse tipo de pensamento que ficava me fazendo bater na mesma tecla sempre e aquilo já estava me irritando. Eu não tinha mais , eu deveria estar sofrendo, mas meu coração e mente já pareciam ter superado isso. Quer dizer, eu ainda sentia um pouco de falta dele e ainda me sentia triste pela forma como tudo terminou, mas isso era normal. O que eu não entendia, era o motivo de eu não estar sofrendo como uma louca depressiva da forma que uma garota normal sofre com o término de um relacionamento. Eu queria desesperadamente sentir alguma coisa, mas nada me vinha. Nem vontade de chorar eu tinha mais. E aquilo fazia eu me questionar constantemente se eu realmente amava , ou se todo aquele sentimento que eu tinha por ele tinha se esvaído antes mesmo do relacionamento acabar de fato. A segunda opção era a única que parecia fazer mais sentido, mas eu me recusava a acreditar que fosse verdade. Eu amei com todo o meu coração, eu ainda o amava. Não se deixa de amar uma pessoa de um dia pro outro, não é? Porém todas essas afirmações que eu insistia em fazer pra mim mesma não pareciam verdadeiras, não mais.

Por um outro lado tinha . Ah... . Eu não queria pensar nele. Tudo relacionado àquele homem era confuso demais pra mim. Uma hora eu o odiava, em outra hora eu queria beijá-lo e tirar todas as roupas daquele corpo maravilhoso. Minhas ações perto dele eram bem bipolares. Eu não podia ficar muito tempo próxima daquele perfume maravilhoso, não era confiável pra minha sanidade ficar muito tempo perto daquele filho da puta gostoso. Meus atos não eram confiáveis, isso já tinha sido provado várias vezes. Eu o culpava por isso. O culpava por ser lindo e gostoso e o culpava por ter aquele sotaque britânico incrível e que me deixava aos pés dele. Claro que aquilo eu nunca assumiria em voz alta, soava ridículo só de pensar.

Balancei a cabeça decidida a mudar a direção dos meus pensamentos. Eu me recusava a continuar pensando no ou eu iria enlouquecer. Felizmente, chegou, então não foi muito difícil pensar em qualquer outra coisa.

- Ainda acordada? – ela perguntou. Só então notei que já era mais de meia noite.

- Estava estudando – sentei-me na cama e a observei tirar os sapatos e entrar no closet.

- Você e esses livros – ela gritou de dentro do closet. – Tá precisando arrumar um namorado pra ver se larga os estudos pelo menos um pouco – deixei uma risada irônica escapar. “Ah, se fosse simples assim” – pensei.

- Meu namoro acabou dias atrás, então acredite, tudo o que eu menos quero é um homem na minha vida. Me deixe com meus livros, por favor.

- , meu amor, está na hora de seguir em frente e deixar o papo de “não quero saber de homem” pra trás – ela saiu do closet, já trocada de roupa e se sentou na cama com as pernas cruzadas, de modo que ficasse de frente para mim.

- Meu namoro mal acabou e você já quer que eu siga em frente? – questionei, fingindo indignação.

- Sinceramente, você já parece ter seguido em frente – ergui as sobrancelhas com tal afirmação.

- Você não tem como saber isso.

- Tem razão, mas é o que parece – ela deu de ombros.

- Podemos mudar de assunto? – pedi, desconfortável. Eu não queria pensar naquilo novamente.

- Claro – ela sorriu. – O que vai fazer nas férias?

- Ainda não me decidi, mas talvez, eu vá passar no Brasil com minha família – disse, eu sentia falta dos meus pais e não via a hora de vê-los novamente. – E você?

- Eu ainda não sei, eu e os meninos estávamos pensando em viajar juntos para algum lugar, mas ainda não... – ela parou de falar de repente e abriu um largo sorriso como se tivesse acabado de ter uma ideia genial.

- O que foi? – ri, sem entender.

- Eu acabei de ter uma ideia genial! – ela exclamou, pulando na cama.

- Que ideia?

- Não posso contar ainda, primeiro eu vou falar com o resto do pessoal e depois te conto.

- Que segredo é esse que eu não posso saber?

- Não é segredo, só não quero te animar à toa – ela pegou o celular e começou a digitar rapidamente. Fiquei olhando pra ela sem entender nada. Ela realmente não iria me contar?

- Será que todos esses meses de convivência não te ensinaram que não se deve me deixar curiosa? – protestei. Aquilo não era justo!

- Se tudo der certo, você vai amar!

- Ótimo! Obrigada por me deixar ainda mais curiosa – bufei, me jogando de costas na cama. – Eu vou dormir. Boa noite.

- Boa noite amiga linda – ela cantarolou. Mostrei-lhe o dedo do meio, o que só a fez rir. As luzes foram apagadas e eu fechei os olhos, sentindo o sono me envolver para mais uma noite de descanso.



...




- , VOCÊ VAI PERDER A PROVA! – ouvi o grito de e em seguida alguma coisa voou na minha cara. Levantei da cama num pulo, assustada. Olhei para o lado, o relógio marcava seis e meia. Puta que pariu. Aquela vaca só podia tá de brincadeira com a minha cara.

- Você perdeu o juízo? – a fuzilei com o olhar.

- Você não acordava, eu tive que apelar – ela ergueu as mãos e fez cara de inocente.

- Vai tomar no cu, – levantei, irada e marchei para o banheiro. – NUNCA MAIS FAÇA ISSO – gritei, antes de bater a porta do banheiro com força.

Me olhei no espelho e respirei fundo tentando me acalmar. Obrigada , você acabou de iniciar o meu mau humor que provavelmente iria se estender pelo resto do dia.

Minha aparência estava horrível e por mais que eu tenha dormido algumas horas, meu corpo parecia não ter descansado por completo. Abri a torneira e inclinei o corpo, jogando um pouco de água no rosto, para ver se eu acordava por completo. Aproveitei e passei a mão na nuca, antes de pegar minha escova e pasta. Coloquei a pasta na escova e levei o objeto à boca, escovando os dentes e a língua por uns minutos. Após enxaguar a boca, coloquei minha escova no local e caminhei em direção ao box, tirando minha roupa pelo caminho. Fechei a porta de vidro e girei a torneira, deixando que a água do chuveiro caísse em cima de mim. A água estava gelada, mas eu não ajeitei a temperatura, eu estava precisando mesmo acordar e acalmar os neurônios. Se minha amiga fosse esperta e não quisesse morrer, era melhor que ela estivesse bem longe daqui quando eu saísse do banho. Não fiquei muito tempo embaixo d’água, afinal eu ainda era humana e a água estava gelada demais para uma pessoa normal. Desliguei o chuveiro e abri a porta de vidro. Peguei minha toalha e enrolei ao redor do corpo, antes de andar até a pia, onde tinha algumas coisas lá, como secador, pranchinha, etc. Era tudo da , mas eu não ligava, quem mandou me acordar?

Peguei o secador e uma escova de cabelo e comecei a secar o meu cabelo. Ouvi algo como “Ei, meu secador não!”, mas ignorei. Essa era a única forma de me vingar dela, eu sabia o quanto ela tinha ciúme dos objetos dela. Era uma coisa fútil, mas não era meu problema. Quando terminei, saí do banheiro com um sorriso vitorioso nos lábios.

- Seu secador é uma maravilha, olha só como meus cabelos ficaram maravilhosos – joguei o cabelo pro lado, só pra provocar mesmo. Ela cerrou os olhos.

- Te odeio. Da próxima vez, eu deixo você perder a hora – retrucou. Soltei uma gargalhada e mandei beijo pra ela, recebendo o dedo do meio em troca.

Sem mais delongas, entrei no closet e fui em busca de um par de roupas apropriadas para o dia. Acabei por escolher uma calça jeans com uns rasgos nas pernas, uma blusa de mangas compridas cinza e o meu inseparável all star branco. Decidi não colocar maquiagem, apenas um gloss claro, para dar uma cor aos lábios. Ao voltar para o quarto, não estava mais lá. Garota esperta.

Juntei o material que iria precisar hoje e o coloquei dentro da bolsa, pendurando-a no ombro em seguida. Peguei meu celular em cima da mesa e saí do quarto, trancando a porta ao passar. Já no andar de baixo, passei pela cozinha apenas para pegar uma maça na cesta e saí do prédio, pela porta da cozinha mesmo.

Ainda era cedo, então vários alunos andavam pelo campus, cada um indo em direção ao prédio ao qual teriam aulas. Alguns outros alunos estavam sentados nos bancos em grupos, conversando. Meus amigos eram um desses grupos. De longe pude avistar eles conversando e rindo de alguma coisa e até pensei em me juntar a eles, mas logo vi que estava entres eles e como não queria piorar ainda mais o meu humor, mudei de direção e segui para o prédio de nutrição. Ao contrário do Campus, o corredor estava um pouco vazio, o que era normal já que faltava mais de meia hora para que as aulas começassem. Entrei na minha sala e me arrastei para a última cadeira, bem no fundo da sala. Abri minha bolsa e peguei alguns livros, abrindo-os em cima da mesa para que pudesse revisar o assunto mais uma vez.

- Bom dia – levantei o olhar e dei de cara com olhando pra mim.

- Eu pareço estar tendo um bom dia? – perguntei ironicamente sem me importar se estava sendo rude ou não.

- Ouch, quanto mau humor – resmungou. – Bem que avisou.

- é a culpada do meu humor estar desse jeito.

- Pensei que fosse a falta de sexo – ele sussurrou, mas eu ouvi.

- Olha aqui, – bati a mão com força na mesa – se você não quiser morrer, te aconselho a sair de perto de mim agora mesmo! – ele olhou para mim assustado e não disse mais nada, apenas se afastou e se sentou longe de mim. Quem ele pensava que era pra falar de falta de sexo? Minha vida sexual estava muito bem, obrigada. Será que para todos os meus amigos, eu tinha que estar agarrada no pescoço de um homem 24 horas e se eu não estivesse eu era algo como uma louca? Já não bastava o enchendo meu saco, querendo me levar pra cama direto, o meu namoro que acabou não faz nem uma semana, as minhas amigas sempre querendo me jogar pra cima de homem e tentando me fazer admitir que tinha algo entre mim e o e agora vinha o com essa. Eu não teria descanso nunca?

Bufei e fechei os livros, colocando-os com raiva na bolsa, não iria conseguir estudar mesmo. No lugar, peguei meu celular e os fones de ouvido. Nada melhor do que uma boa música para acalmar os nervos. Coloquei no aleatório e Dark Horse da Katy Perry começou a tocar. Pude sentir meus músculos relaxando, aquela música era uma das minhas favoritas.

- I knew you were, you were gonna come to me. And here you are, but you better choose carefully. 'Cause I, I'm capable of anything, of anything and everything – cantarolei baixinho. Algumas pessoas que entravam na sala me olhavam torto, mas desde que ninguém viesse me perturbar, eu não me importava.

Quando a música estava quase no fim, o professor entrou na sala e eu me vi obrigada a desligar a música e o aparelho.

- Bom dia. Estão preparados para a prova? – ele perguntou, enquanto tirava algumas folhas de dentro da maleta. Ninguém nunca está preparado para fazer as provas, não sei por que esses professores sempre insistem em fazer essas perguntas estúpidas. Alguns alunos resmungaram algo que eu não fiz esforço pra tentar entender e o professor começou a distribuir as provas para os alunos. – Boa sorte, – ele piscou e me entregou a prova. Pisquei três vezes, um pouco atônita. Ele se afastou, me dando uma visão super privilegiada dos seus atributos traseiros. É, pelo menos agora eu tinha ganhado um ótimo motivo para arrasar nessa prova.



...


“O seu amigo é gato e gostoso, mas definitivamente não sabe como agradar uma garota como eu em um encontro. Te conto tudo mais tarde. Xx

Isso era o que dizia uma das mensagens que recebi assim que liguei o celular no fim do dia. Tsc, tsc. O que será que tinha feito de errado? Fechei a mensagem e abri a próxima.

, preciso te contar T-U-D-O que aconteceu ontem! Eu e iremos pra festinha ao ar livre que vai ter aí hoje e eu te conto tudo. Xx

Eu tinha me esquecido completamente dessa festa. Apesar de ser apenas um monte de gente bebendo e conversando besteira ao redor de uma fogueira, eu preferia ficar no meu quarto, estudando, mas já que minhas amigas viriam, eu teria que participar também. Não tinha mais nenhuma ligação ou mensagem então joguei o telefone dentro da minha bolsa e a coloquei no ombro. Dei alguns passos em direção a saída da sala, mas me abordou no meio do caminho.

- Espera – ele me chamou. Olhei para ele e não disse nada, apenas esperei que ele continuasse. – Eu queria me desculpar. O que eu disse mais cedo não foi legal.

- Está tudo bem – sorri amigavelmente. – Eu sei que tenho andado muito ranzinza ultimamente.

- Mesmo assim, me desculpe.

- Owwn, venha cá – o puxei para um abraço. – Eu já esqueci o que você disse, então esqueça também – me separei do abraço e passei a mão em seu cabelo, bagunçando-os.

- Ei! – protestou. – Então, você vai participar da fogueira? – agora andávamos lado a lado no corredor do prédio.

- Claro, não perderia por nada – tentei parecer animada, mas acho que não funcionou, porque ele riu alto.

- Você finge muito mal – caçoou.

- Juro que eu tento parecer animada, mas ultimamente tudo o que eu tenho desejado é ficar trancada no quarto direto.

- Você tem sorte de ter – ele comentou, sério.

- Por quê?

- Porque ela te obriga a sair. Se você ficasse trancada direto, poderia acabar entrando em depressão.

- Pensando por esse lado, você até tem razão – concordei. Mesmo que às vezes eu odiasse por me obrigar a sair, ao mesmo tempo me sentia grata por ter a amizade dela. Sei que tudo que ela faz é pra me ver feliz e, às vezes ela até que consegue. Paramos entre os caminhos que dividiam os dormitórios femininos e masculinos.

- Er... Eu queria te perguntar uma coisa – ele passou a mão no cabelo, em sinal de nervosismo.

- Pergunte – sorri por dentro, já imaginando sobre o que ele queria falar.

- Sua amiga vai vir mais tarde?

- Ela vai vir sim – ele abriu um sorriso de orelha a orelha ao ouvir minha afirmação. – Smith, você está caidinho por ? – estava escuro, mas deu pra ver que ele ficou vermelho com a minha pergunta.

- Ela é uma garota legal.

- Sim, ela é – concordei. – Só não a machuque ok? Ela vai embora daqui a alguns dias e eu não quero que ela saia daqui com o coração partido.

- Não se preocupe, eu não quero machucá-la.

- Owwwwwwn, que bonitinho – apertei as bochechas dele, o fazendo ficar ainda mais envergonhado.

- Tá, pode parar – ele afastou minhas mãos. Apenas ri e mandei beijinhos para ele antes de me virar e seguir caminho para o meu dormitório. Pude ouvir ele gritar um “tchau” e olhei para trás, acenei e virei-me para frente novamente.

Antes de ir para o quarto, resolvi entrar na cozinha e preparar algo para comer. Eu não tinha comido nada o dia todo e minha barriga protestou para que eu ingerisse algo o mais rápido possível. Abri a geladeira e tirei de lá todos os ingredientes que iria precisar para fazer um sanduíche. No armário peguei o pão e um prato.

Coloquei tudo em cima do balcão e comecei a preparar o sanduíche.

- Hey – adentrou a cozinha e foi direto para a geladeira. – Melhorou o humor? – lancei-a um olhar mortal. – Já vi que não – concluiu. Ela tirou uma jarra de suco da geladeira e pegou um copo, colocando um pouco do líquido dentro. – Tenho uma novidade que pode te deixar animada.

- Qual? – olhei para ela, levemente curiosa.

- Estive conversando com o sobre as nossas férias e pra onde vamos e eu dei a ele a ideia de irmos para o Brasil, todo mundo – meus olhos arregalaram e minha boca se abriu, tamanha era minha surpresa e incredulidade.

- Você está falando sério?

- Sim! Já está quase tudo certo, só falta falar com o resto do pessoal – não me contive, simplesmente comecei a pular e gritar de felicidade. Aquela notícia era maravilhosa!

- Eu não acredito, isso é maravilhoso! – começou a pular junto comigo e nos abraçamos em meio a tanta agitação.

- Eu sabia que ia gostar! – ela disse quando nos separamos do abraço.

- Gostar? Eu amei! Vou até fazer um sanduíche pra você também.

- Aí sim hein? – ela riu. – Se eu soubesse que isso ia te deixar de tão bom humor, eu tinha te dito mais cedo – agora foi a minha vez de rir.

- Não abusa também, eu posso mudar de humor rapidinho.

- Parei então – ela ergueu as mãos. Balancei a cabeça, rindo e voltei a me concentrar em terminar de fazer os sanduíches. Não demorou muito para que eu terminasse. pegou os pratos no armário e os colocou à minha frente para que eu pudesse colocar os sanduíches dentro de um copo com suco para mim. Sentamo-nos nos banquinhos e começamos a comer. – Você vai hoje né?

- Pra fogueira? – ela assentiu. – Vou. Minhas amigas vieram pra cá e elas parecem bem animadas.

- Uma delas saiu com o ontem, não foi? – concordei. – O encontro deles parece que não foi muito bom.

- Como você sabe?

- me contou – revirei os olhos. era mesmo um fofoqueiro.

- O que aconteceu? – eu podia esperar para saber da boca da minha amiga, mas eu poderia saber da versão do também e analisar ambos os lados, certo? Certo.

- Segundo , quis levar a sua amiga pra cama no fim do encontro e ela surtou.

- Sério? Só isso? – perguntei incrédula. recusando sexo e com o ? Conhecendo minha amiga, algo muito pior deve ter acontecido para que ela negasse e surtasse, disso eu tinha certeza.

- Eu acho que não foi só isso, mas essa é a versão do .

- Eu vou procurar saber melhor dessa história quando chegar.

- E como uma boa amiga vai me contar tudo.

- Você e se merecem mesmo, dois fofoqueiros! – ela riu.

- Não sou fofoqueira, só gosto de saber o que acontece com os meus amigos – Se defendeu.

- Sei... Finjo que acredito – ela me mostrou o dedo do meio, arrancando uma risada de mim.

Terminamos o nosso lanche e subimos para o quarto. foi para o banheiro se arrumar e eu achei que seria melhor ir procurar logo uma roupa para vestir aquela noite. Corri para o closet e caminhei até o meu lado de roupas. Abri uma das gavetas, tirando de lá um conjunto de lingerie branca e colocando-as em cima da cadeira que tinha ali. Em seguida, fui para a parte das roupas, olhando-as uma por uma. Depois de vasculhar praticamente todo o closet, acabei escolhendo um vestido simples e florido. Em relação aos calçados, optei por uma sapatilha. Hoje eu não torturaria meus pés com saltos.

A porta que ligava o closet ao banheiro foi aberta e entrou por ela, com a toalha envolta do corpo.

- Eu diria que você escolher a roupa primeiro que eu é vantagem pra você, mas te conhecendo como conheço, posso garantir que ainda termino de me arrumar primeiro que você – zombou.

- Isso é uma aposta? – ergui a sobrancelha, desafiando-a.

- Pode apostar que é – ela disse enquanto intercalava o olhar entre mim e as roupas dela. – O tempo está passando. Click clock – revirei os olhos e andei até o banheiro, pegando minha toalha no caminho.

Tomei banho o mais rápido que consegui. tinha despertado o meu lado competitivo e agora, eu queria mostrar pra ela que eu terminaria de me arrumar primeiro que ela. Quando terminei o banho, enrolei-me na toalha e entrei no closet. ainda estava lá e ainda procurava uma roupa. Soltei um risinho prepotente, eu iria ganhar essa fácil. Ainda com um sorriso no rosto, comecei a vestir minha roupa, agora mais devagar. Eu não tinha motivo pra ter pressa.

- Ainda acha que vai terminar de se arrumar primeiro que eu?

- Cala a boca – ela disse mau humorada. – Não consigo achar meu vestido favorito.

- Aquele ali? – apontei o canto, onde tinha um vestido lilás.

- Esse mesmo! – ela deu um gritinho e correu para pegar a peça.

Sentei em frente à penteadeira para que pudesse arrumar os cabelos e dar um jeito na minha aparência. Resolvi começar pela maquiagem. Optei por passar uma sombra clara, um lápis de olho e destacar meus lábios com um batom vermelho e para finalizar, penteei os meus cabelos, deixando-os soltos. Me olhei no espelho uma ultima vez, antes de virar pra .

- Acho que alguém aqui perdeu – ironizei.

- Você teve sorte dessa vez – ela rebateu. – Agora sai daí que eu quero me arrumar.

- Sim senhora – ri e me levantei.

Assim que saí do closet, escutei batidas na porta. Andei até a porta e girei a maçaneta dando de cara com e .

- Hey meninas, entrem – dei espaço para elas passarem.

- , seu amigo é um pesadelo! Só de pensar que vou ter que olhar pra cara dele hoje, já sinto vontade de encher a cara até não conseguir lembrar dele.

- O que ele fez de tão grave? – perguntei. Eu já sabia da versão do , agora eu queria saber a da minha amiga.

- Aquele filho da puta me levou pra um lugar totalmente precário, mas isso não foi o suficiente, ele ainda ficou paquerando outras garotas e, no final do encontro, teve a cara de pau de me perguntar se eu toparia um threesome.

- NÃO ACREDITO! – gargalhei, mas não foi porque achei engraçado, até porque aquilo não tinha sido e sim, porque eu tinha ficado tão surpresa que era melhor rir para não lamentar.

- Não ri! – ralhou. – Sério, que tipo de amigo você foi arranjar?

- O é um bom amigo – dei de ombros. – E eu sei que ele é safado, mas sinceramente, eu estou surpresa com essa atitude.

- Eu nunca mais quero ver ele na minha frente de novo.

- Acho meio impossível – disse, entrando na conversa. – Posso falar sobre o meu encontro agora?

- Não – exclamou, emburrada.

- Deve, – fuzilei com o olhar.

- Ótimo! – ela bateu palminhas. – O me levou para jantar em um restaurante lindo, ele foi um cavalheiro comigo todo o tempo. Depois do jantar ele me levou até um lugar onde podíamos ver a cidade toda, e então ele me beijou. Foi tão lindo! – ela suspirou.

- Wow! – exclamou, saindo do closet, totalmente pronta. – Tem certeza que foi realmente que te levou para esse encontro?

- ! Dê crédito ao . Sei que ele é capaz disso, estava apenas faltando a garota certa – sorri para a minha amiga que tinha um sorriso bobo nos lábios.

- AGHT! – se levantou indignada. – Eu vou lá pra fora – e saiu do quarto, batendo a porta com força.

- O que eu perdi? – perguntou, confusa.

- Ela só está chateada por causa do encontro que não deu certo – expliquei.

- Do jeito que ela tá, é melhor torcer pra que ela fique bêbada logo ou então hoje um homicídio vai acontecer por aqui – disse, rindo.

- Então sugiro que a gente desça logo atrás dela – concordamos e saímos do quarto em seguida.

O campus não estava tão lotado quanto eu previa, mas tinha gente o suficiente para que fosse impossível encontrar alguém. Olhei ao redor, em busca da minha amiga, mas não a encontrei em canto nenhum, então, decidi que a procuraria depois.

- ! – chamei por ele, ao encontrá-lo sentado em um dos bancos conversando com . Ele olhou em minha direção e se levantou.

- Hey, – ele disse quando se aproximou. Dei um tapa um pouco forte em seu braço. – Ouch! O que eu fiz?

- Isso é por você ter aprontado ontem com a minha amiga – ralhei. – Qual é o seu problema? Ela tá uma fera com você.

- Me desculpe, foi só uma ideia louca que passou pela minha cabeça. Não achei que ela fosse ficar brava.

- Garotos, sempre acham que nada chateia as mulheres – disse, balançando a cabeça negativamente.

- Eu não tenho culpa se é difícil de entender a mente das mulheres – ele tentou se justificar.

- Dude, isso não tem desculpa. Você pisou na bola – disse, abraçando . Ela abriu um sorriso todo derretido pra ele.

- Tá bom, depois eu me desculpo com ela.

- Caro , se você não quiser morrer, te aconselho a ficar bem longe dela – disse. – Eu ainda quero meu amigo vivo.

- Tá bom – ele me olhou assustado. – Eu vou... andar por aí – e saiu.

- Acho que assustei ele – disse e todos caíram na risada.

- A cara dele foi a melhor – disse entre risadas.

- Bem, a conversa tá ótima, mas eu vou procurar meu namorado – disse e logo desapareceu em meio às pessoas.

- E se você não se importar, eu quero roubar a sua amiga um pouquinho – falou.

- Tudo bem, pode ir, eu vou procurar a – eles comemoraram e assim como , também desapareceram em meio às pessoas.

Suspirei. Não sei por que eu ainda insistia em vir pra essas festas, sempre ficava sozinha mesmo. Segui um caminho oposto dos meus amigos, olhando para todos os lugares em busca da minha amiga, mas eu não a achava em lugar algum. Pra todo lado tinha gente bebendo e chegaram até a me oferecer, mas não aceitei. Só os doidos bebem sabendo que amanhã tem aula e provas e definitivamente eu não estava no meio deles.

Depois de meia hora procurando por sem achar, resolvi apenas caminhar e achar um lugar pra me sentar. Ela já devia ter achado outra pessoa, ou até mesmo e agora estava cortando ele em pedacinhos. Ri com esse pensamento. Óbvio que eu estava exagerando, minha amiga não seria capaz de tal brutalidade.

Saindo do meio de toda aquela bagunça e barulho, passei em frente ao prédio no qual eu tinha aula todos os dias. Por aqui eu acharia um lugar tranquilo para sentar um pouco. Parei subitamente ao ouvir um barulho. Forcei minha audição a ouvir o mínimo barulho que fosse e pude ouvir umas risadas, seguidos de barulhos de beijos. Eu conhecia aquela risada. Olhei em direção ao barulho, mas nada vi devido a escuridão. Era o mesmo lugar que eu tinha dado uns amassos com o meses atrás. Engoli seco ao me lembrar daquilo e me aproximei mais para ver se era quem eu estava pensando. Mas no minuto seguinte desejei não ter feito isso.

Bem á frente, encostada na árvore e no maior amasso estava aos beijos com .

Capítulo X

Horas tinham se passado e eu ainda não acreditava no que tinha visto.

É óbvio que eu não tinha interrompido a “pegação” dos dois. Afinal, o que eu diria? não era nada meu e eu não era nada dele. Ele podia pegar quem quisesse, não era da minha conta.

Mas, porque isso estava me incomodando tanto? Eu tentava arduamente acreditar que era por causa de , pois ela tinha caído nos braços de facilmente. Só que algo dentro de mim me dizia que não era apenas isso. Uma batalha acontecia dentro de mim, uma parte dizia uma coisa e outra parte dizia outra, só que eu não queria escutar nenhuma das duas. Eu queria continuar no escuro, não queria descobrir coisas ou sentimentos que eu não queria sentir.

Sentimentos? Mas que merda eu estava pensando?

Me revirei na cama novamente, tentando pregar os olhos, sem sucesso. O relógio marcava duas da madrugada e eu ainda não tinha se quer cochilado. ainda não tinha voltado pro quarto, o que me levava a crer que ela tinha ido dormir com . E minhas amigas... eu sequer sabia se elas tinham voltado pro hotel. Depois da cena que vi, minha primeira reação foi me trancar no quarto. Eu não sabia bem o motivo de ter agido daquela forma, mas eu não queria ver ou falar com ninguém. Porém, agora que eu parei para pensar no assunto, foi impossível não imaginar a possibilidade da minha amiga ter dormido com o . Ter aquele maldito pensamento me deu uma náusea tão forte, que eu tive que me levantar correndo em direção ao banheiro para que não colocasse tudo o que eu tinha comido pra fora ali, no meio do quarto.

Que porra estava acontecendo comigo? Será que eu nutria algum tipo de sentimento pelo ? Soltei uma risada irônica. Não, isso era impossível. A ideia soava tão absurda que eu já estava começando a ficar louca. Toda essa situação estava me enlouquecendo. Eu odiava não ter uma explicação exata para tudo isso.

Bufei e me sentei na cama novamente. Ia ter que apelar para os remédios para dormir. Abri a gaveta e tirei uma cartela de comprimidos, tirando um. Joguei o comprimido na boca e peguei o copo d’água, tomando alguns goles para ajudar o comprido a descer por minha garganta. Deitei-me na cama, cobri o meu corpo com o cobertor e fechei os olhos, desejando que o remédio logo fizesse efeito.

A claridade do sol me acordou. Droga, eu tenho que aprender a fechar as cortinas. Me remexi na cama e me estiquei para alcançar o celular em cima da bancada. Sete e cinquenta. Arregalei os olhos ver a hora no relógio digital do meu celular. Puta que pariu, eu tinha dormido além da conta.

Os minutos seguintes foram uma correria só. Tomei um banho na velocidade da luz e vesti a primeira roupa que encontrei no meu armário. Eu tinha prova no primeiro horário e não podia me atrasar. Juntei meus livros de qualquer maneira e corri pra fora do quarto. Café da manhã estava fora de cogitação. Atravessei o campus correndo, às vezes tropeçando em algumas pessoas, mas eu estava com pressa demais para parar e me desculpar. Quando cheguei à sala, o professor já estava lá distribuindo as provas.

- Srta. , você está atrasada – ele me olhou feio. Merda, tinha que ser com um dos professores menos amigáveis?

- Desculpe, eu perdi o horário – disse, tentando recuperar o fôlego.

- Entre de uma vez e sente-se no seu lugar – disse, ríspido.

Caminhei silenciosamente até a cadeira e sentei-me. Teria muita sorte se tirasse uma nota boa depois dessa. Ele se aproximou e colocou a prova em cima da mesa à minha frente.

- Dá próxima vez é zero – disse e saiu. Pisquei algumas vezes, sem acreditar no que tinha acabado de escutar. Nunca mais eu tomaria remédios pra dormir quando tivesse prova no dia seguinte. Olhei para a prova e sorri, estava tudo fácil, sorte minha ter estudado muito.

Na hora do almoço, minha barriga roncava de um jeito que me vi obrigada a sair da sala para ir almoçar.

- Você deve estar com muita fome – disse, caminhando ao meu lado no corredor.

- Me atrasei hoje, não tive tempo de comer – bufei.

- Dormiu tarde – ele sorriu, sacana. – Você sumiu ontem à noite, te procurou por todo canto antes de ir embora.

- Eu voltei pro quarto mais cedo pra estudar – menti. – Esqueci-me de me despedir dela.

- Não tem problema, eu a levei até o hotel.

- Hmm... A foi junto? – perguntei, com interesse.

- Não, não conseguiu achar ela – senti um gelo na espinha ao ouvir aquilo. Não era a resposta que eu esperava. Decidi não perguntar mais nada, eu já sabia o que tinha acontecido. Entramos na lanchonete da Kingston e seguimos para a enorme fila. Geralmente eu comeria em algum lugar fora daqui, mas era semana de prova e isso significava que em alguns minutos eu teria que retornar pra sala e não daria tempo se eu saísse daqui pra comer em outro canto. E, definitivamente, eu não queria arriscar e levar outra bronca.

Depois de pegar e pagar o meu almoço, me encaminhei em direção a mesa que geralmente meus amigos ficavam. De longe eu pude avistar e . Tinha uma terceira pessoa com eles, mas eu só consegui identificar quando cheguei mais perto. Travei onde estava, sem acreditar no que via. O que estava fazendo ali? E com as mesmas roupas da noite anterior? Senti vontade de bater na minha própria cabeça com tamanha pergunta besta, eu sabia muito bem o motivo de ela ainda estar aqui.

Pensei em dar meia volta, mas me viu e começou a acenar feito louca antes mesmo que eu desse o primeiro passo. Respirei fundo e contei até três, antes de ir até lá com um sorriso falso no rosto.

- Hey meninas – sentei-me ao lado de . me olhou feio e eu percebi o erro na minha frase. – E . – me corrigi e deu uma risada escandalosa.

- , você não dormiu no hotel? – fui direta. me olhou tensa e desviou o olhar ao perceber que eu a observava atentamente.

- Eu... – ela mexeu no cabelo, nervosa. – Ficou tarde e já tinha ido, então eu dormi por aqui.

- Onde? – perguntei. Queria saber até onde ela ia seguir com a mentira.

- dormiu fora, no hotel com sua amiga. Então eu dei a vaga da cama dele pra interviu. Então ele estava acobertando minha amiga? Bom saber o tipo de melhor amigo que eu tinha.

- Jura? – virei meu olhar em sua direção. – Engraçado que eu encontrei com e ele disse que tinha deixado no hotel, mas não mencionou sobre ter dormido lá – disse ironicamente e vi engolir seco. No mesmo momento, se sentou à mesa, colocando a bandeja com o seu almoço a sua frente. – , estávamos mesmo falando de você! – ele franziu a testa demonstrando confusão.

- Estávamos contando pra que você dormiu com a ontem no hotel e por isso eu dormi no seu lugar – se apressou em dizer. olhou para minha amiga com cara de paisagem, ainda mais confuso que antes.

Fechei os olhos e contei até dez, eu precisava me manter calma, mas estava difícil, principalmente quando eu sabia que minha amiga mentia pra mim na maior cara de pau. Eu já sabia o que tinha acontecido, eu vi, então pra que mentir pra mim? Me sentia traída pela minha melhor amiga e por meu melhor amigo juntos. Ela por estar mentindo pra mim e ele por estar acobertando a minha melhor amiga. Sem dizer nenhuma palavra, me levantei e caminhei pra fora daquele refeitório. Ninguém tentou me impedir, então acho que ficou bem claro que eu já sabia que tudo era mentira.

A vida estava curtindo com a minha cara. Todo passo que eu dava mais problemas surgiram na minha vida. Meu namorado terminou comigo por e-mail, eu bebi e transei com o cara mais insuportável da minha vida, briguei com a ex dele, tive meus sentimentos confusos por e agora meus amigos estão mentindo pra mim. Eu não sabia mais em quem confiar. Se eu não pudesse confiar nos meus próprios amigos, em quem mais eu confiaria?

- , espera! – ouvi a voz de me chamar e em seguida o meu braço foi puxado, me fazendo virar em sua direção.

- O que você quer ? – soltei-me dele e cruzei os braços, o olhando seriamente.

- Por que você saiu de lá assim? Você nem comeu!

- Ah, agora você vem dar uma de amiguinho preocupado – disse com sarcasmo. – Mas na hora de encobrir as mentiras da minha melhor amiga, você não se preocupou comigo, não é?

- Do que está falando? – ele se fez de desentendido e eu tive que me segurar para não meter a porrada nele.

- Qual é, você acha que eu sou trouxa? – o olhei furiosa. – Você acha que eu não sei que estão mentindo? Eu sei que a não dormiu na cama do porra nenhuma, como eu também sei que o não dormiu no hotel. Eu sei muito bem que a dormiu com o ! – despejei de uma vez. – Eu vi. Eu vi os dois se atracando ontem a noite!

- Mas se você sabia, por que...

- Porque eu queria ver se ela ia mentir, se a minha melhor amiga ia mentir pra mim – senti meus olhos arderem. – Não só ela mentiu, como você acobertou a mentira dela. O meu melhor amigo. Eu esperava mais de vocês dois. - , eu...

- Não diz nada – o interrompi. – Eu não quero ouvir – disse e dei as costas a ele, adentrando o prédio. Ele não me seguiu e eu agradeci mentalmente por isso. Pelo menos uma coisa ele sabia respeitar.

Enxuguei as lágrimas que queriam escapar e sentei-me no meu lugar, ao mesmo tempo em que o professor adentrava a sala. entrou em seguida, mas eu não ousei olhar em sua direção, mesmo sabendo que o seu olhar estava em mim. Era hora de deixar os problemas de lado e me concentrar na única coisa que importava ali naquele momento.

~~**~~


Colocar os pés fora daquele prédio nunca foi tão gratificante e tão angustiante. Gratificante porque eu não teria que fazer mais provas por hoje e angustiante porque eu teria que lidar com algo que eu não estava preparada.

Eu andava pelo campus com pressa, pois eu não queria ter que dar de cara com alguém e ter que ouvir explicações vazias e mentiras deslavadas. De repente, meu celular começou a tocar e eu o tirei do bolso. No momento seguinte, toda a minha pressa foi dissipada e eu me encontrei paralisada no meio do campus, olhando para a tela do telefone sem acreditar. me ligava.

Mil coisas passaram pela minha cabeça enquanto me decidia se atendia aquela ligação ou não. O que ele queria comigo? Será que... Não! Eu não iria me dar o luxo de criar falsas esperanças. tinha me magoado muito e eu não podia me esquecer da parte que ele terminou comigo por e-mail. A possibilidade de que ele ou a namorada dele estejam ligando só pra zombar da minha cara fez meu sangue ferver.

Fiz menção de atender, mas o telefone parou de tocar, me levando a acreditar que talvez isso tenha sido um sinal de que eu não deveria ter atendido... Até o telefone começar a tocar de novo.

Com uma atitude que não sei de onde surgiu, atendi o telefone. Eu duvidava que algo pior pudesse acontecer na minha vida.

- Alô? – disse, tentando demonstrar firmeza na voz.

- ... É o . – Ok, eu não estava preparada para aquilo. Meu coração acelerou de forma patética e minhas pernas fraquejaram tanto, que tive que procurar um lugar para me sentar.

- Eu sei – levei alguns segundos para me recompor. – O que você quer?

- Eu só... Eu só queria saber se você estava bem. – Como? Ele só podia estar de brincadeira com a minha cara.

- Estou ótima – disse, com certa raiva na voz.

- Olha, ... – ele fez uma breve pausa antes de continuar. – Eu sinto muito pela forma como tudo terminou. Eu não queria que fosse assim.

- Pode parar – pedi. – É muito tarde para as suas desculpas e sinceramente, eu não preciso disso.

- , eu sei que está chateada, mas...

- Chateada? – o interrompi. – Não estou chateada, estou com ódio de você e da sua covardia.

- E você tem todo o direito de se sentir assim. Eu não vou te pedir pra que me entenda, só para que me perdoe.

- Perdoar? – ri com escárnio. – Você só pode tá de brincadeira com a minha cara.

- Eu sei que vai levar um tempo, mas...

- Não vai levar tempo algum, . Eu nunca vou te perdoar pelo que você fez comigo. Você devia ter tido pelo menos a consideração de ter vindo pessoalmente terminar comigo, assim como você fez quando veio insistir para reatar o namoro. Mas não, você terminou comigo por e-mail, a pior forma de se terminar com alguém e isso, eu não vou perdoar.

- , por favor...

- Não, não tem por favor. – Senti meus olhos arderem, mas eu não ia desabar agora, eu precisava ser firme, indiferente por mais alguns minutos. – Eu e você não temos mais nada para conversar, tudo que podia haver entre nós já acabou. Então, por favor, me deixe em paz e não ligue mais.

- Tudo bem – ele concordou. – Se cuide e seja feliz, – não respondi, apenas desliguei o telefone. Maldita hora em que resolvi atender. As lágrimas escorriam pelo meu rosto e, eu tentava a todo custo enxugá-las, afinal, eu ainda estava no meio do campus lotado de pessoas curiosas.

Com um enorme peso no coração, eu me levantei. Eu ainda não tinha superado o fim do meu relacionamento, agora dava pra ver isso. Talvez, a distância e a falta de contato tenha ocultado os meus sentimentos, mas agora que veio tudo à tona, eu só queria afundar em minha cama e chorar até meus olhos secarem.

Meu corpo estava esgotado. Eu não queria mais ter que lidar com os problemas da minha vida. Eu não queria lidar com os meus sentimentos confusos por , não queria mais sofrer por meu ex e, principalmente, não queria lidar com o fato de que minha melhor amiga dormiu com o e mentiu para mim. Eu só queria paz. Não era pedir demais, era?

Mas é claro que era. Não sei por que me surpreendi ao ver sentada na minha cama ao entrar no quarto. Fechei os olhos por alguns segundos, questionando-me mentalmente o que foi que fiz de errado para merecer tanto carma. Eu até podia ouvir o diabo rindo de mim no inferno.

- Quem te deixou entrar? – perguntei friamente. Ela levantou o olhar em minha direção, seus olhos vermelhos denunciavam que ela estava chorando, mas isso não iria me amolecer, não dessa vez.

- – ela se pôs de pé e me olhou, hesitante. – Podemos conversar?

- Não. Você já mentiu demais pra mim por um dia, não acha? – ela fez um bico de choro que quase amoleceu meu coração, eu disse quase.

- Me desculpa, eu não sabia como te contar.

- Eu nunca escondi nada de você, nem nunca menti. Era só dizer: “, eu dormi com o ”. Qual é a dificuldade disso?

- Eu não queria te magoar! Eu sei que você gosta dele, só não admite.

- E essa foi a pior desculpa que você deu para justificar seu ato – ri ironicamente. – E é mais um motivo para não te perdoar. Que tipo de amiga é você, que dorme com o cara que hipoteticamente, a sua melhor amiga gosta? Digo, será que você é digna mesmo de confiança? Quem me garante que você não fez isso antes?

- Agora você está sendo ridícula.

- Você mente pra mim e vem dizer que eu estou sendo ridícula? – ri ironicamente. – Não, eu não sou a .

- Eu nunca faria essas coisas com você. Eu não quis te magoar, eu juro.

- Eu não acredito em você – cuspi as palavras. – Agora se você me der licença, saia do meu quarto – segurei a porta aberta, e apontei para fora. – Eu não quero mais te ver na minha frente.

O soluço que subiu pela garganta dela foi tão forte, que eu senti pena. Eu a amava, ela era minha melhor amiga e fazer aquilo doía mais em mim do que nela, mas eu não ia voltar atrás. Permaneci impassível, quando ela passou por mim em direção a saída do quarto e fechei a porta com força assim que ela saiu. Só assim eu pude desabar de vez. Eu não consegui nem chegar à cama, desabei ali mesmo, no chão. Deitei-me no chão, sem forças para levantar, chorando igual a uma criança quando perde o pirulito. Meu coração doía, e tudo que eu queria, era que essa dor passasse. A dor estava tão forte que chegava a me faltar o ar. Eu chorei como nunca tinha chorado antes. Chorei pelo fim do meu relacionamento, chorei pelo fim da minha amizade, chorei por mágoa da minha melhor amiga, chorei por raiva de , chorei por não saber quando meu sofrimento ia acabar, chorei tanto até adormecer, ali mesmo no chão.

Nos dias que se seguiram, evitei contato com todo mundo. Até mesmo eu estava evitando. Eu acordava cedo demais, ia direto para sala, não me juntava com ninguém na hora do almoço, não saia com ninguém e voltava pro quarto tarde demais para evitar contato com a minha colega de quarto. O único contato que tive foi com , quando ele veio me avisar que e tinham ido embora. Senti-me mal por não ter me despedido de , mas nada que uma ligação não resolvesse. Contanto, eu não liguei até me sentir bem o suficiente para conversar com alguém.

O restante da semana foi o tempo que eu precisei para colocar minha cabeça e meus sentimentos no lugar. Nesse meio tempo de provas e trabalhos de fim de ano, decidi que era hora de seguir em frente e parar de sofrer por ex-namorado. não merecia minhas lágrimas, então eu não iria mais derramá-las por ele. Eu também havia reconstruído meu muro anti-. Eu não deixaria que ele se aproximasse de mim novamente e tentasse me usar da forma suja como ele já tinha me usado algumas vezes. Eu não seria mais fraca, chega de demonstrar fraqueza na presença dele, eu era melhor que isso.

Era fim de tarde de uma sexta-feira e com o fim das provas e a chegada das férias, eu não tive outra escolha ou desculpa para fugir dos meus amigos. Eles iriam me encher de perguntas, eu sabia disso e o pior de tudo era ter que enfrentar as perguntas de . Ela devia estar bem brava comigo, apesar de ter certeza de que ela compreendia meus motivos. Enquanto caminhava em direção ao meu quarto, lembrei-me que em nenhum momento tentou me contatar ou me interceptar. Senti-me feliz com isso, pois se ele não tinha me procurado, era porque tinha desistido de atormentar e isso definitivamente fazia o meu muro se fortalecer ainda mais. Contudo, eu não pude evitar pensar na possibilidade de minha ex-melhor amiga ser o motivo de tal afastamento. Pensar isso deixou um gosto amargo na minha boca e um mal estar se instalou no meu estômago.

No entanto, quando cheguei em frente a porta do meu quarto, tratei de deixar esses pensamentos de lado. deveria estar do outro lado da porta, e provavelmente viraria uma fera assim que me visse. Respirei fundo, antes de girar a maçaneta o mais devagar que consegui. Não demorou para que eu identificasse , de costas para mim, colocando roupas em uma mala. Assim que percebeu minha presença, ela se virou em minha direção e sua expressão se fechou, deixando claro o quanto ela estava brava comigo.

A olhei em silêncio e não pude deixar de pensar o quanto eu tinha sentido a falta da minha amiga e de todas as suas loucuras. Pra falar a verdade, eu senti falta de todos, até do insuportável do e o seu ego maior que o planeta.

- Desculpe – foi a única coisa que disse. A única porque não havia mais nada a ser dito além do meu sincero pedido de desculpas, porque era isso que eu devia a ela. Um pedido de desculpas.

Minha amiga jogou a roupa que estava em suas mãos de qualquer jeito dentro da mala e andou em minha direção com o semblante sério.

- Eu devia te espancar por ter se afastado assim – ela falou autoritária. – Mas como eu senti sua falta, só vou te abraçar – ela me puxou, em uma abraço um pouco desajeitado. Retribui o gesto, me sentindo aliviada por saber que ainda tinha uma amiga. – Da próxima vez que você fizer isso, eu te mato – ela ameaçou, quando nos soltamos. Ri fraco.

- Me desculpe, eu só precisava de um tempo pra mim mesma – expliquei-me. – Eu também senti sua falta.

- Eu entendo seus motivos. O que sua amiga fez não foi legal.

- Eu sei, mas eu não quero mais falar sobre isso. Só quero esquecer.

- Claro, como quiser – ela voltou a arrumar a mala. – Você ainda vai viajar com a gente, né?

- Claro que sim! – exclamei, me animando. – Eu falei com minha mãe hoje cedo e ela liberou a casa da praia pra gente.

- PERFEITO! – ela gritou, empolgada. – Ai, , você é a melhor amiga do mundo.

- Eu sei – fiz uma pose convencida, arrancando gargalhadas dela. – Falando em melhores amigos... Como está o ?

- Bem... – ela fez um barulho com a boca antes de continuar. – Ele sente sua falta e se arrepende pelo que aconteceu.

- Eu também sinto falta dele.

- Ele até pensou em te procurar e tentar se desculpar, mas eu não deixei, pois sabia que você queria ter um tempo pra você.

- Obrigada – sorri agradecida. – Eu irei falar com ele em breve. Mas primeiro, vou arrumar minha mala também – levantei-me e segui para o closet, em busca de uma das minhas enormes malas.

- Nem acredito que amanhã, a essa hora, vou estar em solo brasileiro.

- E nem eu acredito que vou ter todos os meus amigos comigo.

- É uma pena que a não vai.

- Não? – foi impossível não me sentir surpresa com tal fato. – Eu pensei que ela ia ser a primeira a entrar no avião.

- Vocês não se dão bem e ela ainda está evitando o . Então, tudo o que ela menos quer é passar um mês no mesmo lugar que vocês dois.

- Confesso que estou aliviada – ri. – Já bastar ter que aguentar o por um mês inteiro.

- Isso é sério? – ela entrou no closet, com uma expressão um tanto quanto indignada. – Esses dias todos sozinha não foram o suficiente para fazer você admitir que sente algo pelo ?

- Não seja ridícula, . Não sinto nada pelo – afirmei, me sentido confiante do que dizia. Afinal, era verdade, eu não sentia nada por ele. Nunca senti.

- Eu desisto de você – ela diz e sai do closet indignada. Ri e voltei a arrumar minha mala.

Joguei-me na minha cama, sentindo-me exausta. Eu tinha passado as ultimas cinco horas arrumando tudo para a viagem sem parar, e agora meu corpo implorava por descanso. Porém, eu sabia que não iria ser possível, pois iriamos viajar daqui a duas horas e eu tinha uma amiga que não me deixaria descansar nem sob tortura.

- Sem descanso mocinha, ainda tem muito o que fazer – se aproximou, me puxando pelas pernas.

- Ta bom, ta bom, eu levanto – disse, entre risadas. Ela soltou minhas pernas, para que eu pudesse levantar.

Como todas as minhas coisas já estavam arrumadas e eu não tinha mais nada para fazer por ali, decidi ir tomar um banho. Peguei as roupas e produtos que tinha separado mais cedo, e entrei no banheiro, trancando a porta ao passar. Praticamente me arrastei para dentro do Box e acabei optando por deixar a água do chuveiro fria, quando liguei o chuveiro, para que pudesse despertar por completo.

Minutos depois, peguei a toalha e enxuguei meu corpo devagar. Não me arrumei muito, prendi o meu cabelo em rabo de cavalo e em relação à roupa, vesti apenas um short jeans e uma blusa de alça. Optei por não colocar maquiagem no rosto, e para finalizar calcei minhas sapatilhas favoritas.

andava de um lado pro outro feito um furacão, quando sai do banheiro.

- Meu biquíni, eu não acho meu biquíni – ela abria as gavetas, jogando tudo para todos os lados e entrava e saia do closet totalmente desesperada.

- É só um biquíni – ri do desespero dela. Pra que isso gente?

- Não é SÓ um biquíni – ela me olhou de forma quase que ameaçadora. – É o meu biquíni favorito.

- Tem calma, desse jeito você não vai encontrar nada – apontei para a bagunça do quarto.

- Eu estou correndo contra o tempo – ela entrou no closet novamente. – AAAAAAAAAAAAH EU NÃO ENCONTRO EM LUGAR ALGUM! – eu juro que tentei, mas não consegui segurar a gargalhada que escapou de minha garganta. – Não ri – ela me lançou um olhar mortal, o que só me fez rir ainda mais. Ela me mandou o dedo do meio, e voltou para o closet pisando duro. – Já que você não vai me ajudar, vai chamar os outros, por favor – ela voltou a gritar, alguns minutos depois.

Pensei um pouco antes de responder. Eu sabia que em alguma hora eu ia ter que ver meus amigos novamente, então por que adiar?

- Claro – respondi, por fim. – Boa sorte em achar seu biquíni – debochei, antes de sair do quarto.

Alguns minutos depois, me encontrei parada em frente ao prédio dos dormitórios masculino, tentando decidir em qual quarto eu iria primeiro. Na verdade, eu não tinha muita escolha; ou iria ao quarto de e , ou iria até o quarto de e . Era óbvio que eu preferia ir primeiro ao quarto de e depois pedir para um deles chamar os outros dois, mas o que estava me mantendo indecisa era o simples fato que dias atrás, eu e brigamos e agora eu não sabia o que fazer ou dizer quando o encontrar. Eu não iria mentir e dizer que ainda não estava magoada por ele ter acobertado a mentira de , mas eu estava com saudade do meu amigo e no fundo, eu queria que a gente se acertasse.

Decidindo que ir ao quarto de seria o certo, entrei no prédio de uma vez e subi as escadas em direção ao primeiro andar. O corredor estava silencioso e deserto por causa da hora, todos deveriam estar dormindo, então, procurei fazer o mínimo de barulho possível durante o meu trajeto até a porta do quarto dos meninos.

Parei em frente a última porta do extenso corredor e respirei fundo. Bati na porta três vezes, e logo ouvi passos de alguém vindo em direção a porta. Desesperadamente, vasculhei minha mente, em busca de algo para falar caso fosse que abrisse a porta, mas não tive tempo de pensar em algo bom o suficiente, pois a porta logo foi aberta e apareceu.

- ? – ele parecia surpreso por me ver ali, talvez ainda pensasse que eu não queria o ver nem pintado de ouro.

- Er... Oi – mexi no cabelo nervosamente. Eu queria abraçá-lo e dizer o quanto eu senti saudade dele, mas eu não faria isso; era medrosa demais para dar o primeiro passo. – me pediu para vir aqui chamar vocês – continuei quando vi que ele não iria falar nada.

- Estamos só terminando de arrumar algumas coisas e já descemos.

- Tudo bem – balancei a cabeça repetidamente. – Er... Eu vou esperar por vocês lá embaixo – dei um passo para trás, olhando para qualquer lugar que não fosse ele. Eu estava muito envergonhada.

- ... – ele segurou meu pulso, atraindo minha atenção para si novamente. – Eu sinto sua falta... Me desculpe – a sua feição demonstrava o quanto ele estava se sentindo mal pelo nosso distanciamento e isso destruiu todo e qualquer ressentimento que eu pudesse sentir em relação ao que aconteceu.

Tudo aconteceu muito rápido, em um momento estávamos nos olhando e no segundo seguinte nos abraçamos. Palavras não eram necessárias naquele momento, aquele abraço demonstrava que eu também senti saudade dele, e que mesmo que nosso afastamento tenha sido apenas por alguns dias, parece que foram meses longe um do outro.

- Me desculpa – ele voltou a repetir quando nos separamos.

- Shh, não tem nada para ser perdoado – segurei suas mãos. – Está tudo bem. – Sorrimos um para o outro.

- Vejo que se acertaram – apareceu atrás de com um sorriso no rosto.

- Sim – o respondi.

- Droga, só porque eu estava planejando tomar o lugar do – brincou.

- Há-Há! Muito engraçado, palhaço – deu um soquinho no braço de e eu ri da cara que ele fez.

- Eu já terminei de arrumar tudo lá, cara – ele falou para . – Acho melhor você ir terminar logo de juntar suas coisas – ele assentiu e adentrou o quarto, me puxando junto.

- Calma, eu ainda tenho que chamar os outros dois paspalhos – revirei os olhos. Eu não estava com a menor vontade de ir até o quarto do .

- Pode deixar que eu vou – se pronunciou e no segundo seguinte, saiu do quarto. era um anjo, sério! Ele tinha ganhado ainda mais pontos comigo depois dessa.

Sentei-me na cama e observei jogar algumas coisas dentro de uma mochila.

- Você não vai levar uma mala? – indaguei.

- Vou – ele apontou para uma grande mala preta no canto da parede.

- Hmm...

Ele fechou a mochila, colocando-a junto da mala e em seguida sentou-se ao meu lado na cama.

- Posso te perguntar uma coisa? – ele pediu, hesitante.

- Já está perguntando – retruquei, descontraída e ele riu. – Mas eu deixo você me fazer outra pergunta.

- Por que se afastou de todo mundo? Quer dizer... Eu entendo que tenha se afastado de mim por que estava chateada, mas eu não entendi o motivo de você ter se isolado de todo mundo.

- Eu me afastei porque precisava de um tempo sozinha para clarear a minha mente e colocar um rumo na minha vida – expliquei-me. – Eu estava muito confusa e precisava desse tempo para colocar os pensamentos em ordem e fazer decisões importantes.

- Tipo?

- Tipo... Deixar tudo relacionado ao no passado, e... – pensei um pouco antes de continuar. – Deixar qualquer tipo de pensamento confuso que envolvia o para trás.

- Então, você admite que sentia algo por ele?

- Atração, talvez. Mas isso ficou no passado, eu quero o bem longe de mim.

- Não fique tão esperançosa, – olhei para porta, encontrando passando pela mesma e me olhando com um sorriso sacana no rosto. O quanto ele tinha escutado? – Vamos ter que ficar sobre o mesmo teto durante o mês inteiro.

- Infelizmente, mas isso não significa nada.

- Realmente, acho que não vou ter tanto tempo para te dar atenção se a gostosa da sua amiga estiver lá. o nome dela, não é? – provocou, com um sorriso irônico no rosto. Cerrei os punhos e o fuzilei com os olhos, e uma risada irônica preencheu o local. Ah, como eu odiava .

- , deixe a em paz – pediu .

- Eu vou atrás da e ver se ela já terminou tudo – me levantei, decidida a sair dali. – Nos encontramos lá embaixo – andei até a porta, não esquecendo de cumprimentar quando passei por ele. Tadinho, nem tinha falado com ele direito por causa do idiota do amigo dele.

Saí do quarto fervendo de ódio. Quem aquele idiota pensava que era para falar comigo daquela maneira? E ainda por cima se referir a minha... AGHT! Eu queria que o fosse para o inferno junto com a ! A culpa era toda dela!

- O que aconteceu? – me olhou assustada, quando bati a porta do quarto com força ao entrar.

- aconteceu! Ele me irrita – bufei e me sentei na cama. – A minha paz estava muito grande para ser verdade.

- Se acalma – pediu. – O que ele fez dessa vez?

- Continua respirando – disse com raiva. – Em pensar que vou ter que aturar esse idiota por um mês.

- É só não ficar por perto.

- Por favor – ri com ironia –, estamos falando de . Ele não vai me deixar em paz.

- Tenho certeza que todo esse tempo sozinha serviu para alguma coisa... – comentou.

- Serviu para muita coisa, mas meu pavio é curto e ninguém me irrita tão fácil como ele – reclamei. Ela riu de maneira sapeca, não gostei disso.

Ok, já vi que meu muro construído serviu só pra mim não cair no papo dele. Eu preciso de mais, eu não podia deixar me irritar assim, tão fácil; isso era tudo o que ele queria, me tirar do sério.

- Olha, é só se manter afastada dele e problema resolvido – disse, como se estivesse lendo meus pensamentos o tempo todo. – Eu te ajudo – sorriu.

- Obrigada, toda ajuda é bem vinda – e era mesmo. Quanto mais longe eu ficasse do melhor.

- Ótimo! – ela bateu na perna e levantou. – Agora vamos, se não vamos nos atrasar – assenti e a segui para fora do quarto, arrastando minhas malas.



Os minutos se arrastavam lentamente. Ainda faltavam mais de meia hora para que o nosso voo fosse chamado, deixando a mim e aos meus amigos cada vez mais ansiosos. Eu não me sentia tão ansiosa assim, desde que eu vim para Londres há quase um ano, e agora eu estava voltando ao meu país de origem, eu veria meus pais depois de tanto tempo. Ah, como eu sentia saudade deles!

Ainda era difícil para mim acreditar que já fazia tanto tempo que eu estava longe deles, que já fazia quase um ano que eu estava em Londres realizando o meu sonho. Sonho esse que muitos duvidaram que eu não seria capaz de realizar, e agora, eu tive a oportunidade de chegar para essas pessoas e falar: “Quem é que não consegue mesmo, hein?”.

- , eu vou comprar algo pra comer, você quer algo? – me cutucou, me despertando.

- Não, obrigada – dei-lhe um sorriso agradecido, e logo, ele e saíram atrás de alguma lanchonete.

Tanta coisa tinha acontecido nesse meio tempo, que apesar de às vezes eu reclamar por minha vida ter virado de cabeça para baixo, eu sei que eu não iria querer que minha vida fosse de outra maneira.

- Hey! – levantei o olhar e vi o irmão de , Jake, se aproximando da gente. – Desculpe o atraso, perdi o horário – explicou-se. Ele olhou em minha direção e abriu um sorriso lindo para mim e foi impossível não sorrir de volta. Jake era lindo e isso eu não poderia negar.

- não me disse que você iria com a gente – comentei, quando ele se aproximou de mim e sentou-se ao meu lado.

- Sério? – arregalou os olhos. – Se isso for um problema pra você, eu posso ir embora.

- Não! – ri do repentino desespero dele. – Não foi isso que quis dizer, você é mais do que bem-vindo – ele abriu outro sorriso estonteante.

- Sendo assim, fico feliz – sorri para ele. – Brasil, huh?

- Sim, nem acredito que vou ver meus pais depois de tanto tempo!

- Você deve sentir muita falta deles.

- E como! – sorrio. – Mas também estou com saudade do meu país, das praias, essas coisas.

- Bem, você vai ter um mês pra matar toda a saudade.

- Ah, a ansiedade está me matando.

- Tenho certeza que sim – ele riu. Por um momento, fiquei olhando para ele, fascinada com a sua risada, tão contagiante e que o deixa ainda mais bonito do que já é, ou talvez seja só os efeitos do encanto britânico dele que estão me deslumbrando.

Quando a situação já estava ficando constrangedora, desviei o olhar e acabei por encontrar com o de , que estava nos observando atentamente e com as feições sérias, o olhar irradiando ódio. Revirei os olhos, diante de tal comportamento e um sorriso cheio de ironia se abriu em meu rosto. “Toma essa, ”, minha parte maldosa pensou. Se achava que eu estava me lamentando por ele ter comido minha amiga, agora ele sabe que eu estou pouco me fodendo para isso. Apesar de que eu não quero nenhum tipo de relação com o gostoso do Jake, o não precisava saber disso; Obrigada, Jake, mesmo sem saber você acabou de aumentar a força da minha muralha anti-.

“Primeira chamada para o voo 2530G com destino ao Brasil, por favor, se dirijam ao portão de embarque.”

Qualquer pensamento que eu pudesse ter sobre foi afastado, dando lugar à ansiedade. Levantei-me em um pulo e puxei as minhas malas para perto de mim, pronta para ir embora.

e surgiram por entre a multidão, correndo feito dois destrambelhados e se juntaram a nós.

- Ai, é agora – disse, animada. – Nem acredito que estou indo para o Brasil! – ela bateu palminhas, parecendo uma criança. – Jake! – exclamou, quando percebeu a presença do irmão ali. – Pensei que tinha desistido de vir.

- Até parece – ele murmurou, revirando os olhos.

- Ok, ok, menos conversa e mais ação, vamos logo! – ela disse, e começou a puxar em direção ao portão de embarque. Rimos de toda a animação dela, mas a verdade era que estávamos tão ansiosos quanto ela com essa viagem.

Alguns minutos depois, todos já estavam dentro da aeronave, procurando os assentos. Eu rezava internamente para pegar um assento bom, que não fosse no fundo. Infelizmente, meu assento ficou um pouco longe dos meus amigos, mas pelo menos eu consegui o assento que queria, em um bom lugar.

Coloquei minha bolsa no compartimento acima, e me sentei na poltrona, sentindo a ansiedade tomar conta de mim. Eu iria ver meus pais novamente em algumas horas, eu iria ver o meu país novamente. Nunca pensei que sentiria falta do Brasil quando eu saísse de lá, e perceber agora que eu sinto falta daquele lugar me deixou um pouco surpresa. Fechei os olhos por um momento, imaginando como seria quando chegasse lá, e por uma fração de segundo me passou pela cabeça que eu poderia esbarrar com e a nova namorada por lá, mas logo tratei de afastar esses pensamentos inoportunos. era passado.

- Ora, ora, mas que surpresa – abri os olhos rapidamente ao ouvir aquela voz conhecida perto de mim. – Não acredito que vou ter o prazer de viajar ao seu lado – olhei para , com incredulidade. Tantas pessoas naquele avião, eu tinha que me sentar justo ao lado de ? Isso só podia ser carma.

- Pena que não posso dizer o mesmo – retruquei azeda. Ele sustentava um sorriso irônico nos lábios, que me fazia querer quebrar aquele rostinho lindo.

Ele abriu a boca para responder, mas a voz da aeromoça o interrompeu, o que foi um alívio pra mim. Coloquei o cinto como a aeromoça pediu, e ouvi atentamente o restante das instruções, ignorando completamente a presença do ser irritante ao meu lado.

Não demorou muito para que o avião decolasse e logo estávamos no ar. Ainda ignorando , mas tendo a plena consciência de que ele estava me observando atentamente, vasculhei minha bolsa, em busca do meu iPod e fones de ouvido.

- Foi você que chamou o irmão de ? – ele perguntou, de repente, me pegando de surpresa.

- Não – murmurei. – Mas o que você tem a ver com isso?

- Eu pensei que já tivesse deixado bem claro pra você que não quero te ver com nenhum outro cara, principalmente com aquele babaca. – O olhei incrédula por um instante, mas logo a incredulidade deu lugar a uma gargalhada.

- , você é hilário! – empurrei o ombro dele, como se estivesse compartilhando uma boa piada com um amigo. – Você ainda acha que eu quero alguma coisa com você?

- Você só está assim porque eu comi a sua amiga – ele se gabou. O sorriso sumiu do meu rosto, se tornando sério.

- Olha, não é da minha conta se você comeu ou não a . Você pode comer ela quantas vezes quiser, o que você faz ou deixa de fazer não me interessa.

- Tem certeza? – ele tinha o maldito sorriso irônico no rosto. Cerrei os punhos, me irritando com o assunto.

- Absoluta – disse, entre dentes. – Quando você vai entender que eu não quero nada com você? – ele me olhou por um instante, e então deu de ombros.

- Obrigado por ter me ajudado com os desenhos naquele dia – franzi o cenho, totalmente confusa com a brusca mudança de assunto, esse menino só pode ser bipolar. – Eu não tive a oportunidade de agradecer antes, então estou fazendo agora – acrescentou, quando viu minha cara de paisagem.

- Por nada – respondi educadamente. – Espero que tenha se saído bem.

- Também espero – disse e voltou a olhar para frente, dando o assunto por encerrado. Com o cenho franzido, voltei a procurar meu aparelho eletrônico a bolsa, me perguntando o que diabos tinha acabado de acontecer. Acho que eu nunca vou entender , e talvez seja melhor não entender.

- Boa noite – uma voz feminina me chamou atenção, e levantei minha cabeça dando de cara com a aeromoça parada ao lado das nossas poltronas. – Vocês desejam alguma coisa? – eu sei que ela estava perguntando para ambos, mas ela só encarava . Aquilo me deixou desconfortável, ainda mais quando o vi a secando dos pés a cabeça.

- Uma água está de bom tamanho – pedi. Ela olhou para mim rapidamente, mas logo o seu olhar se voltou para o .

- E o senhor?

- O seu número de telefone, talvez – ele disse, sorrindo descaradamente. Ela sorriu, envergonhada e eu tive que me segurar para não rolar os olhos com tamanha cena patética.

- Eu já volto com os pedidos – ela sorriu mais uma vez e se retirou.

Era só o que faltava! Agora tenho que ficar presenciando o paquerando as aeromoças.

Minutos depois ela voltou com o meu copo d’água e com o canto do olho a vi entregar um pedaço de papel a . Revirei os olhos, e resolvi parar de prestar atenção no que o fazia, afinal, nada daquilo era da minha. Coloquei o copo em cima do suporte apropriado e abri minha bolsa, que estava em meu colo, tirando de dentro o meu iPod e os fones de ouvido. se remexeu desconfortável, e um sorriso irônico surgiu em meus lábios; era muito bom saber que ele era quem estava desconfortável e não eu. Após colocar o iPod para tocar no aleatório e olhei para a janela, decidida a ignorar completamente , e apenas focar minha atenção na escuridão através das janelas.

Não demorou muito para que meus olhos pesassem e o cansaço dominasse todo o corpo, levando-me para um sono profundo.

- , acorda – uma mão sacudiu o meu corpo de leve, despertando-me. Pisquei os olhos algumas vezes, até que a imagem nítida de apareceu em minha frente. – Já chegamos – disse, e sem dizer mais nada, pegou a mochila e foi embora, me deixando sozinha.

Tirei os fones e os joguei dentro da bolsa, juntamente com o iPod. Levantei-me, ainda meio grogue de sono, pendurei minha bolsa no ombro e andei pelo corredor, em direção à saída do avião.

Ao colocar os pés fora daquele avião, respirei fundo e olhei em volta, feliz por estar no meu país de origem. Apesar de sentir que não faço mais parte desse lugar, eu senti falta do Brasil, e do clima quente que só o Brasil tinha. Encontrei com os meus amigos no fim da escada, e juntos caminhamos para o portão de desembarque.

Um largo sorriso tomou conta do meu rosto, quando eu vi minha mãe e meu pai me esperando, no saguão. Empurrei meu carrinho em direção a eles, que sorriram assim que me viram. Eu estava ciente de que meus amigos estavam me seguindo, então não me preocupei em olhar para trás. Quando cheguei perto o suficiente, larguei o carrinho, e corri em direção aos dois, os abraçando ao mesmo tempo.

- Mãe, pai, que saudade! – apertei o abraço, que foi correspondido com vigor.

- Minha filha, sentimos tanto a sua falta! – me soltei do abraço, analisando suas feições.

- E eu a de vocês – meus olhos se encheram de lágrimas, mas não me permiti chorar, não era hora para isso. – Deixe-me apresentar meus amigos – apontei para eles, atrás de mim.

- Ah, claro – o rosto dela se iluminou. Minha mãe amava conhecer meus amigos.

- Esses são , , , , o irmão de , Jake e – eu ia apontando para cada um, conforme diziam seus nomes. Meus pais os cumprimentaram com abraços e beijos e pude dizer que eles haviam gostado dos meus amigos. Isso me deixou feliz.

- É um prazer conhecer todos vocês, espero que gostem do Brasil – minha mãe disse, em um inglês perfeito. Agradeci mentalmente por minha mãe saber falar outra língua, pois eu odiaria ter que ficar traduzindo tudo.

- Eu arrumei a casa e já comprei tudo o que vocês possam precisar – meu pai se pronunciou.

- Paizinho, você é um amor! – exclamei, feliz e o abracei.

- ! – apareceu, de repente à minha frente. – Que bom que ainda está aqui – me abraçou. – Oi tio e tia – ela cumprimentou meus pais e logo, foi cumprimentar meus amigos também, mas eu não prestei atenção, pois, logo em frente, se aproximava. O que ela estava fazendo aqui?

- Oi... – murmurou, timidamente, atraindo a atenção de todos pra ela. Não respondi, minha expressão estava rígida, e ela deve ter percebido isso, pois não olhou para mim em nenhum momento.

- , como é bom te ver – se pronunciou, e a puxou pela mão para um abraço. Cerrei os punhos, já sentindo o sangue borbulhar de raiva. Ela era muito cara de pau para aparecer aqui depois de tudo. Olhei para , em busca de alguma resposta, mas ela apenas deu de ombros, como se não entendesse o que ela estava fazendo ali.

- O que está fazendo aqui? – finalmente expressei meus pensamentos.

- Eu a chamei – disse, e pude notar um sorriso malicioso tomar conta do seu rosto. Que cara de pau!

- Nós vamos andando para o carro, esperamos vocês lá – meu pai disse, e em seguida, puxou minha mãe para fora do aeroporto. Talvez ele tivesse percebido o clima tenso que se instalou, e quisesse me dar "privacidade" para resolver.

- Eu não te chamei aqui – falei, assim que meus pais não estavam mais no meu campo de visão. – Você é muito cara de pau pra aparecer por aqui depois de tudo.

- Me desculpe, mas eles são meus amigos também, e como disse, ele me chamou, então não preciso de convite seu – respondeu, ríspida.

- Ótimo, então você e , vão pra onde vocês quiserem, porque na minha casa você não pisa – e dizendo isso, dei as costas para eles e saí, a procura da saída e, consequentemente, dos meus pais.

Assim que me viram, meu pai se dispôs a colocar as minhas malas e a dos meus amigos, que se aproximavam, no carro. Sentei-me no banco e cruzei os braços, bufando de raiva.

- Filha... – minha mãe me chamou. – Eu não sei o que aconteceu entre você e a , mas... Deixe-a ficar com vocês na casa de praia.

- Eu não quero ver a na minha frente, mãe, imagina conviver com ela na mesma casa por um mês.

- Eu sei, é muito tempo, mas talvez ela nem fique lá esse tempo todo.

- Não sei, mãe...

- Por favor. Ela está passando por algumas dificuldades em casa, os pais estão se separando e ela precisa se distrair.

- Que? – a olhei chocada. Não acreditava que os pais de iriam se separar, eles pareciam se amar tanto.

- Também foi um choque pra mim. Imagina como isso está sendo pra ela. – Pensei por um momento. havia traído minha confiança e eu não a queria perto de mim, mas devido às circunstâncias, eu estava disposta a torcer o braço e deixá-la ficar conosco. Eu não negaria um pedido vindo da minha mãe.

- Tudo bem, ela pode ficar com a gente – disse, por fim.

- Que bom! Obrigada, filha.

- Não precisa me agradecer – sorrimos uma para outra.

Ela saiu do carro e pelo retrovisor pude vê-la falando algo para , que por sua vez, abriu um largo sorriso e a abraçou. Suspirei, eu iria me arrepender disso.

Não demorou muito para que todos entrassem na van do meu pai, e logo estávamos a caminho de casa. Vendo ali, feliz e conversando com meus amigos, me permiti questionar o porquê de termos chegado a esse ponto. Eu nunca imaginaria que minha melhor amiga traísse a minha confiança e mentisse pra mim. Justo ela que era quase como uma irmã pra mim, como fui inocente. Senti uma mão apertar a minha, e olhei pro lado, encontrando olhando pra mim, com um sorriso confortante no rosto. Sorri de volta para o meu melhor amigo e deitei a cabeça em seu ombro, sendo envolvida por seu abraço em um abraço de lado.

- Obrigada – sussurrei e dei um beijo em seu rosto.

- Pelo que? – ergueu a sobrancelha, confuso.

- Por tudo – sorrimos um pro outro e eu voltei a encostar a cabeça em seu ombro.

Algum tempo depois, o carro parou em frente a enorme casa de praia dos meus pais. deu um gritinho empolgado, e desceu do carro toda afobada.

- Acho melhor você ir controlar sua namorada – falei para , que concordou e saiu do carro, atrás de sua namorada. Desci do carro logo em seguida, e me dispus a ajudar meu pai a tirar as malas do carro.

- Não precisa me ajudar, filha; eu ainda posso carregar algumas malas.

- Que isso, eu vou ajudar, sim – insisti e ele deu de ombros; ele sabia que não adiantava discutir comigo.

Depois de que todas as malas foram tiradas do carro, e todos entraram na casa, minha mãe fez questão de mostrar a casa a todos os meus amigos, inclusive os quartos de cada um. Deixei que eles seguissem minha mãe por um dos corredores, e segui a direção oposta, em direção as escadas.

- Como você está? – apareceu ao meu lado, me assustando. Percebi que ela carregava uma das minhas malas. – Desculpe.

- Não tem problema – sorri. Abri a porta do meu quarto e adentrei o mesmo, colocando a mala que eu carregava e a minha bolsa em cima da poltrona. – Estou bem – sentei-me na cama.

- Você não me parece muito bem – ela se sentou à minha frente.

- Eu só não sei como lidar com...

- e juntos no mesmo lugar que você? – ela me interrompeu.

- Não exatamente. Tem mais a ver com o fato de que vou ter que aguentá-la aqui por um mês. A situação saiu completamente do meu controle.

- Às vezes eu fico me perguntando, como foi que vocês chegaram a esse ponto?

- Acredite, eu me faço essa pergunta todos os dias.

- Eu não sei o que deu na , ela não estava nenhum pouco interessada no e, de repente, eles estão ficando.

- Eu não quero ficar remoendo essa história. mentiu pra mim, traiu minha confiança, agora está agindo como uma verdadeira vadia; ela morreu pra mim. Não existe mais amizade, nem respeito, não sobrou nada; a única coisa que quero dela é distância.

- Eu entendo e respeito sua decisão – ela sorriu e segurou minha mão direita. – Lembre-se, estou aqui pra qualquer coisa.

- Obrigada – apertei sua não, em agradecimento. – Mas não quero que você escolha lados aqui, eu sou tão sua amiga quanto .

- Não estou escolhendo lados, só estou te dizendo que você pode contar comigo sempre e pra qualquer coisa.

- Obrigada. – sorri sinceramente. – Mas agora eu quero saber sobre você... Você e o ...? – deixei a pergunta no ar. Ela abriu um sorriso, e as bochechas dela coraram.

- Ai, não sei...

- Você gosta dele? – quis saber.

- Gosto, e parece que ele gosta de mim, mas eu não quero criar expectativas.

- Por quê não?

- Você sabe... Esse relacionamento tende a não dar certo.

- Por causa da distância – conclui, e ela assentiu.

- Não daria certo – ela disse, tristonha. Fiquei em silêncio, eu não podia dizer que minha amiga estava errada, pois iria contra as minhas ideias, além de que, por experiência própria, eu sabia que relacionamentos à distância não dão certo. Porém, eu precisava falar algo útil pra minha amiga, para animá-la, pelo menos.

- Tenho certeza que vocês vão dar um jeito nisso – disse, por fim, pegando sua mão.

- Eu espero que sim – ela abriu um sorriso. Sorri, aliviada; eu ainda sabia dar conselhos.

A porta foi aberta de repente, revelando uma ainda mais afobada que o normal. Educação mandou lembranças.

- O que vocês ainda estão fazendo aqui em cima? Vamos nos divertir, ir à praia. Vamos, vamos – ela batia palmas ao mesmo tempo que falava. Ri, achando graça daquela atitude; era mesmo uma figura.

- Ir à praia? Agora? Você tá falando sério?

- Eu pareço que estou brincando, ? – ela fez cara de brava.

- Mas, eu estou cansada! Quero dormir – choraminguei. – Você não está cansada?

- Claro que não! Dormi tudo o que tinha que dormir no avião. Você não dormiu?

- Dormi, mas...

- Então, sem mas! – ela me cortou. – Quero você lá embaixo em dez minutos – ordenou. – Isso vale pra você também, dona – e em seguida, saiu do quarto.

- COMO QUISER, MAMÃE! – eu e gritamos ao mesmo tempo, o que nos arrancou boas gargalhadas.

- Melhor eu ir e deixar você se trocar, antes que sua amiga venha te puxar pelos cabelos – disse, ainda rindo. Assenti, concordando, e logo, ela também saiu do quarto.

Abri a mala, tirei alguns biquínis e coloquei-os em cima da cama para escolher. Acabei por colocar um biquíni preto com bolinhas brancas, e por cima, coloquei um vestido de praia vermelho; calcei minha sandália rasteirinha e coloquei alguns produtos em uma bolsa, antes de sair do quarto.

Quando cheguei no andar de baixo, todos estavam lá. Evitei olhar para e , que estavam bem próximos no sofá.

- Finalmente – exclamou. Agora vamos logo! – disse, e puxou para fora da casa; e os seguiram.

- Você está linda, – a voz de Jake chamou minha atenção. Chinguei-me mentalmente, ao perceber que somente naquele momento eu tinha notado a presença dele.

- Obrigada.

- Já disse que você está linda, ? – disse, alto o suficiente para que eu escutasse; revirei os olhos.

- Vem, vamos atrás do pessoal – peguei a mão dele e o arrastei para fora da casa, ignorando completamente aquela cena patética.

- Ei, está tudo bem?

- Claro, por quê? – franzi o cenho.

- Você está um pouco distante.

- Ah – abaixei o olhar por um instante, mas logo voltei a olhar para ele. – Não é nada para se preocupar – garanti.

- Qualquer coisa, estou aqui – ele apertou gentilmente, a mão que ainda estava entrelaçada na minha.

- É bom saber disso – sorri.

Soltei a mão dele, e estendi minha toalha no chão, junto das coisas dos meus amigos. De onde estava podia vê-los se divertindo no mar; ver aquilo enchia meu coração de felicidade.

- Você não vai entrar na água? – Jake perguntou-me, quando me viu sentar de joelhos na areia, em cima da toalha.

- Agora não – peguei o protetor e comecei a espalhar por minha pele.

- Deixe-me te ajudar – Jake se ofereceu. Entreguei o protetor a ele, que, por sua vez, se ajoelhou atrás de mim e começou a passar o produto por minhas costas. Fechei os olhos, aproveitando aquelas mãos maravilhosas e másculas por minhas costas e, em um momento de insanidade, imaginei que fosse as mãos do me tocando. Abri os olhos, voltando a realidade. Por que eu estava pensando naquele traste?– Pronto. – ele me entregou o protetor.

- Obrigada. – Coloquei o protetor na bolsa novamente, e tirei meus óculos escuros, colocando-o no rosto, em seguida.

- Eu acho que vou me juntar ao pessoal. Tem certeza que não quer vir?

- Tenho, vá se divertir – ele soltou um "ok", e correu em direção ao mar.

Me levantei da areia, e me sentei em uma das cadeiras de praia que tinha ali. Essa provavelmente era de .

Fiquei observando meus amigos de longe, rindo felizes e me senti a garota mais sortuda do universo. Pela primeira vez em dias, ou talvez, meses, eu estava feliz. Verdadeiramente feliz. Apesar dos acontecimentos recentes, eu me permiti pensar que nada mais poderia acontecer para me deixar pra baixo; eu sentia que nada podia abalar minha felicidade; eu me sentia confiante.

- ? – uma voz estranhamente familiar, me trouxe de volta a realidade.

- ? – incredulidade e surpresa dominavam a minha voz, e quando eu pensei que não podia ficar mais surpresa, uma figura feminina aparece ao lado dele, sorrindo pra mim com desdém. – Katarina?

What the fuck? Foi por ela que ele me trocou?

Senti o mundo girar ao meu redor, e por um momento eu senti vontade de vomitar.

Sabe aquilo que eu tinha acabado de dizer sobre "nada pode abalar minha felicidade"? Eu não podia estar mais errada...



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Nota da autora: Olá, pessoas! Estou de volta e dessa vez não vou embora até dar um final digno para LOMD. Espero que vocês não tenham me abandonado haha. Por enquanto, os capítulos vão ser re-postados aqui aos poucos, então aproveitem para relembrar dos primeiros momentos da nossa historinha haha. No mais, caso você ainda não faça parte ou é novo(a) por aqui, temos um grupo no facebook. e você será muito bem vindo(a) lá.
Por favor, não esqueçam de comentar. Eu sempre leio tudo e cada comentário me motiva ainda mais a escrever.
Até o próximo capítulo!
Xoxo, Mily.
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