Última atualização:07/03/2023

Capítulo 46

You ever wonder what we could've been?
(Você já se perguntou o que nós poderíamos ter sido?)
You said you wouldn't and you fucking did
(Você disse que não o faria, e você fez, porra)
Lie to me, lie with me, get your fucking fix
(Mentir pra mim, depois se deitar comigo, arrume essa merda)
Now all my drinks and all my feelings
(Agora todas as minhas bebidas e todos os meus sentimentos)
Are all fucking mixed
(Estão misturados)


Narração por Nicholas


No dia seguinte, estávamos animados para o aniversário da Tina, um tanto contagiados pela alegria e empolgação da minha pequena sobrinha, que junto de sua irmã e prima, não escondiam a ansiedade. e eu, ficamos grudados em todos os momentos possíveis, e eu estava orgulhoso daquilo, mesmo que no fundinho, houvesse uma felicidade porquê apesar de estar ali, era em mim que ela estava grudada. No seu “papai nindo”, como dizia a minha pequena. e eu, não conversamos mais a respeito de passado ou coisa alguma que envolvesse relações, mas estávamos cordiais, na medida do possível. Claro que, na hora em que o casal estava ao jardim da casa, ambos sentados à grama conversando e namorando, acidentalmente eu liguei a mangueira do jardim, destinada a aguar as plantas. Ou a baixar o fogo deles, acidentalmente, claro!

— Você fez de propósito! — se aproximou de mim, com seu vestido molhado enquanto tirava a camisa, e ela estava bem nervosa.
— Claro que não! Por que eu faria isso, ? — Fingi cínico balançando o copo de uísque em minha mão.
— Eu sabia que o seu momento de maturidade não duraria, não é Jonas... — ela bufou ao responder negando com a cabeça e logo a mão de Rhodes em sua cintura e seu riso, nos tirou a atenção um do outro.
Má chérie, não fica brava, Nicholas nos fez um favor. — Sussurrou no ouvido dela e me lançou uma piscadela.

Os dois caminharam para dentro de casa, e eu fiquei ali com uma expressão de quem poderia ter evitado o motivo para eles tirarem a roupa. Droga, burro. Continuei fingindo que aguava as plantas e não notei que Priyanka estava sentada também próxima ao jardim, até ela se aproximar de mim, e parar ao meu lado. Seus braços cruzados e os olhos fixos nas flores de Dani, com um sorriso ladino.

— Ela tem razão. É mais forte do que você não é, Nick?
— Ah, foi só uma implicanciazinha. E eles nem devem reclamar, ouviu os planos do Rhodes, acabei ajudando. — Falei bebendo o uísque, sentindo mínimo amargor em meu humor e língua.
— Ela me disse que vocês se acertaram.
— É... Foi... O ponto final que acho que precisávamos.

Me doía admitir aquilo, e Priyanka, não acreditava.

— Será? — Então ela me encarou com a sobrancelha arqueada em dúvida: — Será mesmo que você é capaz deste ponto final?

Suspirei pesadamente. O fato de ninguém me dar o mínimo de crédito era justificável. Eu fui um tremendo idiota por tempo demais, às vezes nem eu me dava o crédito de que saberia lidar direito com aquilo.

— Eu não sei, mas eu estou decidido a isso. A fazer as coisas certas dessa vez. Errei com a , traí a confiança dela, manipulei seus sentimentos para não a perder... errei com você, manipulando também os seus sentimentos para ter a segunda opção, apesar de ter um carinho genuíno por você...
— Uau, Jonas! — Ela falou com certo ressentimento na voz: — Finalmente assume que eu sou uma segunda opção.
— É, eu sou um babaca, eu sei. Mas não quero mais ser. Não quero errar com minha garotinha como errei com a mãe dela.... Não quero que a cresça achando que merece qualquer sentimento de um cara medíocre. Nunca havia parado para pensar em como eu me sentiria se fosse outro cara fazendo com a minha filha o que eu fiz com vocês, mas neste fim de semana foi.... Enfim, percebi que não posso ser um babaca a vida toda.

Priyanka percorreu os olhos pelo meu rosto como se buscasse me analisar. Terminei o uísque que bebia e me abaixei fechando a torneira.

— Aliás, Pri, nós precisamos conversar. Eu te devo desculpas, por tudo. Por todo o tempo que ficamos juntos e mesmo os que não estávamos. Confesso que naquela época, não quis te afastar, porque além da minha grande amiga, você fazia bem ao meu ego. Eu sempre fui um egoísta, eu sei..., mas, agora, eu realmente quero aprender a ser melhor.
— Eu te odeio tanto, Nicholas! — Priyanka falou com humor fraco, deixando lágrimas grossas caírem em seu rosto.
— Priya... — me aproximei tocando seu rosto para limpar as lágrimas, com meu olhar solidário.
— Não! Não vem com “Priya”! Eu odeio te amar, Nicholas! Eu odeio tanto! Porque.... Porque apesar de todos os motivos nítidos para eu me afastar, para me ressentir com você, eu simplesmente não consigo parar de pensar no que teríamos sido se não fosse... tudo!

Ela se afastou com uma mão na cintura e outra sobre a boca abafando o choro que se intensificava. Tentei me aproximar para abraçá-la num sinal de amizade, mas Priyanka deu um passo para trás respirando profundamente e ainda dizendo, sem separar nossos olhares:

— Eu sei que a culpa também é minha de aceitar o tão pouco que você me ofereceu, mas.... Por quê Nicholas? Por que você me envolveu no seu amor de uma forma tão egoísta? Alguma vez você pensou no meu coração? Por que você nunca percebeu que estava me matando lentamente? Foi sua culpa! O meu descontrole, foi totalmente culpa sua...

Com todas aquelas perguntas, Priyanka secou seu rosto e saiu bagunçando os cabelos de forma desesperada, caminhando apressada para dentro de casa. Estalei meu pescoço depois de olhar para frente, e sentir uma vontade absurda de jogar o copo no chão e assim, espairecer a minha frustração. Mas, seria mais uma das minhas sujeiras para eu limpar.

— Nicholas? — A voz de minha mãe atrás de mim, me tirou dos pensamentos de culpa que eu começava a ouvir — Você quer conversar?
— Falar o quê, dona Denise? A senhora tem uma maçã bem podre entre os filhos, e o pior... é que eu não sei onde aprendi a ser este homem destrutivo.

Mamãe tocou meu ombro e sorriu, embora nitidamente estivesse preocupada.

— Nicholas, onde aprendemos a errar não é o que importa na vida, mas sim como aprendemos com os erros. Então agora que você sabe das suas falhas, apenas seja melhor. Esqueça o resto, porque segurar os cacos quebrados, só te farão criar mais feridas.
— Eu sei, só que olhar para as cicatrizes é importante, não é?
— Não quando ainda estamos sangrando. É assustador e doloroso. E você ainda não tem cicatrizes para te lembrar de como não cometer os mesmos erros, você tem feridas abertas e o que deve fazer agora, é curá-las.

Abracei minha mãe como se ainda fosse um garoto amedrontado no primeiro dia de aula. Apesar de compreender o que ela dizia, eu precisava olhar para as feridas da Priyanka antes de olhar as minhas, eu devia isso a ela.
Nós entramos juntos em casa, e eu fui até Pri, mas ela falou não estar pronta para me ouvir. Decidi que respeitar o espaço dela, era uma das coisas em que eu errei com e aprenderia a não repetir.
O aniversário de Tina na parte da tarde se iniciaria, e aquela manhã de conversa conturbada entre Pri e eu passou rapidamente. Quando eu desci para o quintal dos fundos, avistei que Meggie, Miley e tinham chegado. Meu ex-cunhado sorriu e acenou para mim, trazendo sua namorada com ele.

— E aí Nick!
! — Abracei-o e sorri.
— E essa agenda que nunca tem tempo para aquelas bebidas, Jonas? Ou, você cortou laços comigo e esqueceu de dizer?
— Que ironia, não é, Bernard? — Ri pelo tom sarcástico dele — Eu que não queria cortar laços com sua família, estou sendo cobrado por você.
— É, eu não tenho os lindos olhos da , mas qual é! Éramos bons amigos!
— Não seja inconveniente, ! — Miley falou baixinho sorrindo sem graça e então eu sorri a abraçando em cumprimento.
— Relaxa Miley, eu já sou a piada da família Bernard há muito tempo! Aposto que você deve ter escutado muitas coisas lindas sobre mim, da senhora Meggie, não é?
— Por favor, Jonas! Supere! Eu não sou mais a sua sogra para ficar falando de mim pelas costas! — Meg se aproximou com expressão de quem estava brigando, mas eu a conhecia muito bem! A abracei e sorrindo deixei um beijo estalado em seu rosto. — Você é surdo? Pare com isso! Não sou mais sua sogra!
— Você será eternamente a minha sogra, Meg. É você quem tem que superar isso.
— Onde está Denise? Ela já sabe que você está usando drogas pesadas com a sua turminha do falso rock’n’roll?

Meg falou arqueando a sobrancelha e saiu em direção ao Joseph, logo que ele despontou no lugar com uma bandeja de algum quitute.

— Meggiiiiieeeeee! — Ele gritou e ela sorriu largo correndo para abraçar Joe.
— Ele sempre será o favorito dela, supere isso também. — ria ao mencionar a mãe dele que observávamos.
— Claro que sim, os dois são iguais. Irritantes igual, também.
Hey! É a minha mãe!
— Me poupe, ! — Rimos e então não pude evitar: — Ela gosta do Rhodes tanto quanto gostou de mim no começo?
— Quer mesmo a resposta? — riu olhando para Miley com cumplicidade, e pela expressão de sua namorada decidi que era melhor não saber.
— Não. Deixa para lá.

Continuamos conversando um pouco ali, até que Priyanka surgiu arrumada com no colo, as duas sorrindo e conversando sem prestar atenção em nada mais.

— Vovó! — Gritou ), quando viu Meg ao lado de Joe e Sophie.

Senti que Priyanka mudou completamente. Meggie a encarou com seu jeito de sempre, e não adiantava o quanto a senhora Bernard pudesse ser generosa e perdoar, no caso de Priyanka, ela não perdoava. Pri soltou no chão e apenas lançou um aceno de cumprimento à Meg, que a correspondeu de igual modo. Depois olhando ao redor do ambiente, Priyanka sentiu-se perdida e eu nunca a presenciei daquele modo na minha família. Nem mesmo quando a levei para conhecê-los da primeira vez. Olhei ao redor e vi e Rhodes inseparáveis, e extremamente entrosados com o ambiente e com todos. Era como se fôssemos, Priyanka e eu, as visitas ali.

— Com licença , Miley! Fiquem à vontade! — Falei e me direcionei até Priyanka que já estava caminhando para retornar a parte interna da casa.
— Priya. — Chamei e ela se virou para me encarar — Onde vai?
— Eu... Só ia... sei lá. — Suspirou.
— Nada mudou entre você e nenhum deles, Pri. Todos ainda te consideram da mesma forma, então porque está se sentindo tão deslocada?

Ela lançou os olhos para a porta dos fundos atrás de nós, e pelas vidraças viu a festa de aniversário de Tina e todos os convidados familiares, interagindo e rindo... enfim, numa festa familiar como era. Olhei na mesma direção me perguntando o que ela estava vendo de diferente a mim.

— Não mudou ainda. Mas vai mudar, e na verdade, eu não acho que deveria ter vindo...
— Por que não? Por que não estamos juntos ou por causa da ? Ou, Meg? Ela nunca gostou de você então não deveria se importar com a senhora Bernard, Pri e...
— Por causa do que eu fiz Nicholas. É por isso que eu não deveria ter vindo. sempre terá aquele espaço só dela, porque vocês têm uma filha. E eu não vou mais me importar com isso, quem tentou estar num lugar que não pertencia fui eu.
— Do que está falando?

Não tivemos tempo de continuar a conversa. Kevin chamou-a para alguma coisa da qual eu não prestei atenção, e ela o seguiu, ainda nervosa e deslocada. A festa então começou e nós tentamos todos driblar qualquer sensação ruim uns com os outros, afinal, Tina era a estrela da tarde ao lado de Alena, ), e todas as outras crianças que os pais deixavam na festa.

Narração de


estava extremamente feliz aos parabéns de Tina, como se fosse o dela. E brincava com as outras crianças sem nenhum problema, já que Alena era uma prima mais velha muito cuidadosa e tratava como um bibelô.

está tão feliz, não é? — Sophie se aproximou dizendo ao notar minha expressão de contentamento em ver minha filha se deliciando com o bolo de aniversário.
— Sim! Eu acho que ela precisava disso. Apesar de eu nunca a separar das primas e dos eventos desta família, estava sentindo-a distante disso tudo. E até pensei que era minha culpa, sabe?
— Não, não fica neurótica! Eu me lembro de ver a mais vezes do que o próprio pai dela, aqui! Não tem nada de distante !

Sophie ironizou, mas era verdade. Até o retorno de Nick da última turnê pós-divórcio, eram Denise e Paul quem traziam-na para o convívio dos Jonas.

— É verdade... foram tempos turbulentos estes últimos, mas acredito que este fim de semana representou um novo marco da relação dela com o pai. — Procurei Nicholas com o olhar e ao encontrá-lo ao lado de e Kevin conversando sem parar apontei: — Não o tinha o visto tão empenhado na relação dele com até este fim de semana. Parece que ele entendeu, que não é mais sobre nós, mas sobre eles.
— O Nick é um bom cara, você sabe. Ele só não tem maturidade emocional para muita coisa... Joe diz que ele perdeu um pouco do norte desde o fim da banda.
— Que aliás, eu acho que deveria muito voltar! — Confessei.
— Não sei se o Kevin toparia por causa das meninas, mas o Joe sim. Mesmo com a DNCE ele sente falta de dividir o palco com os irmãos.
— É... — Sorri: — Eles ficavam legais nas calças apertadinhas, apesar da chapinha no cabelo.

Sophie estrondou uma gargalhada e eu também.

— Por Deus! Eu tenho vergonha do Joseph naquela era, sabia?
— E mesmo assim ele arrastava um caminhão de fãs!
— Mas é lógico, não é uma chapinha malfeita que apaga o fato de que ele é um tremendo de um gostoso. As calças apertadinhas realçavam isso.

Sophie gargalhou e eu também, então Dani se aproximou perguntando do que ríamos.

— Da era chapinha e calça apertada dos JoBros! — Falei.
— Misericórdia! Só quem salvava era o senhor cachinhos, mas depois... virou sapo, né ? — Danielle riu zombando.
— Vocês não valem nada!

Nos dispersamos depois daquilo, já que Rhodes e Joe se aproximavam.

— Vamos ir a um barzinho? — Joe perguntou.
— O quê? Agora?
— Mais tarde! Dar uma saída em Jersey para o Rhodes conhecer!
— Eu topo! Vamos sair em casais? — Sophie animou-se abraçando Joe.
— Papai e mamãe toparam dar um vale-night para nós e colocar as meninas para dormir. — Joe falou animado e batendo palmas com .
— Típico de Joe Jonas, arquitetar tudo muito bem arquitetado! — Brinquei.

Nós só não tínhamos dimensão de que uma única saída inocente culminaria em um evento catastrófico.
Depois de ajeitarmos todas as coisas da festinha de Tina, mamãe disse que ficaria com Denise e Paul para ajudar com as crianças. Nick zombou-a por “dispensar uma saidinha com ele”, e era bom ver os dois se alfinetando, mas como nos velhos tempos. Mamãe no fundo até gostava do Nick, tudo aquilo era certo teatro dos dois, pois, aos poucos no início do casamento ela passou a ter maior carinho por ele. Perdeu parte do preconceito com “caras famosos”, mas era difícil amar ao Nicholas 100% do tempo. Nossas brigas, durante e após o casamento tornava o fato de amá-lo ser difícil para a senhora Meggie Bernard. Ele era sim, alguém amável, mas era também, irritante. Tinha suas megalomanias, mania de gastar e claro, uma grande resistência a tudo que não era como ele queria.
Eu esperava que depois do nosso famigerado “ponto final, final”, ele e mamãe, pudessem ser como nos tempos em que as implicâncias serviam apenas para fazer rir. Não acho que ela o odiou como dizia quando as coisas ficaram nebulosas, mas entendo como mãe, o sentimento de proteção e revolta dela por tudo o que eu havia passado.
Priyanka não queria ir, mas Nicholas a convenceu de que não fazia sentido ela ficar, então fomos nos arrumar no início da noite, e como eu havia sentido que ela estava distante, comentei com as meninas sobre aquilo.

— Não quero tornar o ambiente desconfortável para ninguém, então não sei se ela está retraída por minha causa ou outra coisa, mas vocês duas, como cunhadas dela, por favor, façam alguma coisa.

Falei pegando um vestido de Dani no armário, já que entre minhas roupas eu não havia levado nada “noturno”.

— Eu não acho que seja por você, conversei com ela e tem alguma coisa a incomodando... — Danielle falou um pouco preocupada.
— É o Nicholas, lógico! Essa situação é desconfortável, gente! Eles terminaram, né.
— Ah não Sophie, mas ela não tem motivo algum para ficar deslocada com a gente! — Dani informou: — Tem alguma coisa no ar... Enfim, eu vou lá no quarto dela a chamar. Miley, você fica à vontade para procurar um vestido se quiser.
— Ai gente, mas será que o vestido que estou usando não serve para esse lugar que o Joseph quer nos lear? — Minha cunhada perguntou preocupada olhando seus trajes.
— Não querida, tenho certeza que está ótimo, eu quis dizer apenas para você escolher o que quiser, se resolver trocar. Não tem nada de errado com sua roupa, está linda! — Danielle esclareceu antes de sair pela porta.
— Será que o embuste do meu cunhado conseguiu convencer a Pri? — Sophie perguntou também procurando algo que não ficasse tão curto em si no closet da Deleasa.
— Ah, mas o Nick vence por cansaço, relaxa... — resmunguei e as outras duas riram.

Sophie então cessou risos e mordeu os lábios, de modo pensativo se virou para mim e perguntou preocupada:

— Tudo bem mesmo, ? Esse lance de ir para balada em casal... O Nicholas e a Priyanka ali, mesmo separados, você e o Rhodes.... Eu sei que as coisas aqui foram tranquilas, mas é porque justamente estamos em um ambiente seguro. Agora, no pub...
— Relaxa Sophie! e eu estamos muito tranquilos de verdade! Se for desconfortável para alguém certamente não será para nós.
— Eu fico preocupada porque.... Sabe como é o Joe, ele às vezes coloca todo o parquinho no mesmo tobogã!
— Fica tranquila! Eu estou sendo sincera. Do meu lado, nada nos incomoda não.
— Bem, e não se esqueça de que eu e estaremos lá, se você quiser uma desculpa elegante para fugir com o ! — Miley afirmou e apontou para Sophie de modo cúmplice: — A senhorita finja que não é uma fuga planejada se ela precisar disso!
— Miley, fofinha, do jeito que o Nicholas é... Eu caio fora do barraco com vocês! Não posso manchar minha imagem!

Miley riu achando graça do que Sophie dissera, mas eu sabia que ela estava falando sério. As outras duas entraram no quarto, e Priyanka já estendia um vestido azul simples e básico, que ela havia trazido.

— Tem certeza que não quer olhar nada no meu closet, Pri?
— Dani, nós temos corpos diferentes, sabe que não caberia nada. Mas, esse vestido está ruim? — Perguntou Priyanka duvidosa para Dani.
— Claro que não! Não é, meninas?

Olhei para as duas, e Sophie analisava o vestido deixando claro que estava bom sim, e tanto Miley quanto eu, concordamos sorrindo.

— Não se preocupe Priyanka, eu acredito que o Joe vai nos levar numa hamburgueria com mistura de parque de diversões. — Falei rindo: — Nós não temos nada nas malas, então vamos vestir o que couber da Dani.
— Fale por você! Eu estou vendo que os vestidos da Dani ficarão curtinhos por causa dessa minha altura! — Sophie reclamou e logo Danielle puxou um vestido um pouco maior.
— É esse, e vai logo se arrumar.
— Quem vai tomar banho primeiro? — Priyanka perguntou.
— Pode ir se quiser, Pri.

Dani assentiu e ela entrou na suíte da Deleasa com suas coisas, e um pouco depois ela já saía. Eu fui em seguida, e quando retornei ao quarto de Dani para me vestir, Priyanka se maquiava já vestida. Eu me vesti, Dani entrou para o banho e depois foi Sophie, que estava me ajudando com a maquiagem. Miley nos aguardava no térreo da casa já que era a única que estava pronta desde que chegara, tanto para uma festa infantil, quanto para uma baladinha.

— Vem Dani, te ajudo com a maquiagem se quiser.
— Pegou sapatos, ?
— Não precisa, sapatos eu trouxe. — Sorri me olhando no espelho: — Droga, acho que a Sophie exagerou nesse olho preto, não é?
— Claro que não! Você está ótima! Só não deixe ela escolher o batom, a Sophie é extravagante. — Dani falou rindo.
— Eu sei bem! Lembra aquela vez que ela saiu com a gente igual uma gótica? O cabelo ruivo! — Falei e Dani gargalhou — Eu já vou passar meu batom logo, para ela não sair do banho com uma cor de canetinha na cabeça!

Priyanka estava sentada à cama e nos observava com um sorriso sem graça.

— E você Priyanka, não tem uma história engraçada com a Sophie?
— Tenho, tenho muitas aliás... — a mulher me respondeu sorrindo, mas se limitou apenas aquilo.
— Pri, tem alguma coisa te incomodando, não é?
— Bem, eu vou deixar vocês duas conversando enquanto pego meus sapatos, tá? Priyanka, o que achou do olho da Dani? — Perguntei como se deixasse claro que sairia para deixá-la confortável, mas sem querer pesar o clima.
— Está linda! Você tem muito bom gosto, . Para tudo. — Sorriu e então nos encaramos com certo constrangimento.

Saí da suíte de Dani deixando-as terminar de se arrumarem lá. Eu estava me esforçando para tornar tudo mais leve, porém, estava preocupada. Não quis demonstrar para Sophie, porque eu tinha absoluta certeza que e eu nos sairíamos bem, mas... E o Nicholas? Nós realmente estávamos saindo para beber com meu ex, nossos irmãos e cunhadas e a atual ex-namorada amante dele. Era tudo estranho demais, e eu não tinha como prever que controle teria daquilo.
Entrei no quarto de hóspedes que era destinado a mim e , e ele estava escolhendo entre uma calça e uma bermuda na cama.

— A calça.
— Eu também pensei nela, mas o Joe está de bermuda e uma camisa estranha, então, estou meio perdido com que tipo de lugar ele nos levará.
— Um parque de diversão com hambúrguer. É bem a cara dele, eu estava falando isso para as meninas.

Me aproximei abraçando pela cintura e trocando um selinho com ele, e então ele deu uma olhada em mim de cima a baixo, e acariciou meu rosto tirando a franjinha que começava a cair em meus olhos.

— Você está maravilhosa! Duvido que o vestido da Dani caía tão bem assim nela.
— Bobo... — Sorri e fechei os olhos ao sentir o beijo dele em meu pescoço: — Não me faça tirar essa toalha.

riu e puxou-a de uma só vez, mostrando que não estava nu e debochando da minha falsa expressão frustrada.

— E aí, como foi lá no quarto com “as meninas”.
— Estão preocupadas se ficaremos bem com esse passeio.
— Claro que ficaremos! Eu ‘tô ótimo! Vou sair para beber com seu ex e poder te agarrar na frente dele como fizemos daquela vez na boate, só que agora ao vivo! Aliás, me lembre de mandar isso no grupo do bistrô!

Rhodes gargalhava extremamente à vontade, me fazendo rir também.

, você não era assim!
Má chérie, me deixa curtir com a cara dele, vai? As coisas não podem ser tão fáceis para ele, só porque agora está posando de santinho, né?

Eu ri, mas só porque olhar o sorriso largo e maroto de Rhodes me contagiava àquilo.

— Eu sei que você não vai entornar o caldo, mon chér, mas é justamente por estranhar essa reação do Nick que eu estou um pouco preocupada... afinal, estaremos fora desse ambiente seguro. E até agora está tudo indo bem demais!
— Calma, vai dar tudo certo! — Ele vestiu sua camiseta e me abraçou puxando para um beijo — E com a Priyanka? Tudo bem entre vocês?
— Achei ela bem esquisita, viu? E eu não sei se ela está aprontando alguma coisa na mente dela, se só está deslocada pela situação de não ser mais namorada do Nicholas e ainda estar aqui como se fosse... sei lá, eu vou ficar é de olhos abertos!
— Não acho que ela vá aprontar, relaxe. Só que, é um pouco humilhante mesmo, não é? Depois de tudo o que ela passou...
— É, o Nick coloca as pessoas em cada situação...

e eu nos olhamos compadecidos por Priyanka, e então, de repente ele puxou o celular, tirou uma foto nossa e enviou no grupo de funcionários do bistrô.

— Ainda não acredito que você está no nosso grupo dos funcionários! — Ralhei.
— Eu estou até no que eles criaram para falar mal da chefe.
— Rhodes!
‘Tô brincando, má chérie!

ria com vontade, enquanto me abraçava enchendo-me de beijos e eu não imaginei que o veria tão solto e à vontade daquele jeito.
Nós fomos em casal dividindo os carros, exceto Nicholas que foi sozinho com Priyanka no seu próprio e quando chegamos no Maggie’s Bar pegamos uma mesinha do segundo salão, mais afastada e tudo estava indo muito bem. Por incrível que pareça Nicholas não estava sendo um idiota, e eu começava a sentir meu coração mais feliz por imaginar que aquela convivência futura poderia ser uma realidade. Encarei sorrindo alegre e conversando com Kevin como se fossem grandes amigos entrosados num assunto com e Miley. Joe e Nick estavam implicando entre si, por Nicholas estar bebendo. Joe havia dito para ele ir com Kevin no carro, já que ele e Kev seriam os motoristas da rodada, mas Nicholas que estava dirigindo estava bebendo e segundo o meu ex, Priyanka queria ir sozinha então ela levaria o carro. Notei Priyanka desconfortável com aquela situação, e não prestando atenção em quase nada que Dani e Sophie lhe diziam. É... Ela estava estranha.
Depois de um tempo no bar, o álcool já havia nos deixado bem mais confortáveis, e eu estava atenta aos efeitos que aquilo poderia surtir em Nicholas. Ele era mestre de arrumar confusão e culpar o uísque. Então começou a tocar uma música que rapidamente reconheci, como a trilha especial de e eu e exclamei:

Mon chér! É aquela música que tocou quando nos beijamos na primeira vez!

Ele prestou atenção, assim como todos na mesa, e acariciou meu rosto sorrindo ao constatar que era mesmo, e nós trocamos um selo de lábios apaixonado.

— Ai, que lindos! Vocês são tão fofos juntos! — Sophie falou nos encarando animada e arrancando risos — Um casal e tanto mesmo!
— Obrigada Sophie...

Agradeci achando graça e Rhodes, que me abraçava pela cintura, cutucou-me para prestar atenção nele.

— Ela não te lembra alguém? — perguntou e eu neguei, então ele riu perguntando à Sophie: — Você conhece a Marianne?
— A hostess do bistrô? Claro! Por quê?
— Vocês se dariam muito bem!
— Nossa! — Exclamei: — Nunca havia me dado conta disso, amor! Realmente Sophie, vocês duas são muito parecidas em suas personalidades.
— Sério? — Sophie deu de ombros e então olhou desconfiada para Joseph: — É ela a funcionária que você não conta?

Joe sentiu as bochechas avermelhando e todos o encaramos, surpresos. gargalhou alto, antes de dizer:

— Eita, Marianne! Não passa um!
— Ah é? Você passou, por acaso? — Miley perguntou deixando sem graça.
— Foi muito antes de te conhecer.

Percebi que estava numa quase saia justa, então voltei a atenção de novo para Joseph:

— Saiu com a minha funcionária, Joe!?
— Não , não deu tempo. A Sophie e eu começamos a sair antes, mas sim.... Eu e ela trocamos telefone e estávamos conversando. Foi algo de duas semanas só, não foi para frente.
— Eu não acredito que ela não me contou isso! — Falei me sentindo quase traída e então riu:
— Ela contaria se tivesse dado em algo!
— O universo pelo menos uma vez na vida ficou ao meu lado, huh? — Nick zombou — Se você namora com a Marianne eu perdia um irmão.
— Ah para Nicholas!
! Sabe que ela nunca foi com a minha cara! — Ele reclamou e então olhou para Sophie que deu um sorrisinho debochado: — Se bem que, vocês estão certos, tirando que uma é loira e a outra morena, o universo não foi assim tão bom comigo. A vantagem é que Sophie é um pouco mais suportável.
— Nossa Nicholas, me admira como você é desagradável, sabe? Sempre se superando... — Sophie falou apertando a bochecha de Nick ao seu lado e depois voltou-se para mim: — Como uma mulher tão foda como você caiu no papinho dele, hein?

Me limitei a sorrir, mas as coisas ficaram um pouco desconfortáveis quando Sophie direcionou seu olhar lânguido e a língua bêbada à Priyanka, que claramente não estava entregue ao nosso momento de modo positivo, e disse:

— Você também Pri! Uma mulher madura como você suportando o Nicholas!

Notei que a indiana ficou encarando a situação sem muito tato, e quis interromper, mas Nick olhou para Sophie de forma dura:

— E eu que sou o desagradável?
— Ai nossa... — Sophie ruborizou, nos encarando de forma arrependida se desculpou: — Esses malditos mojitos! Desculpem meninas, eu não queria deixar vocês duas desconfortáveis!
— Tudo bem, não falou nenhuma mentira. — Priyanka finalmente respondeu sorrindo amena para Sophie.

Com certeza ela sabia que não foi maldade.

— Relaxa Sophie, nós já entendemos que zoar os fracassos amorosos do Nicholas estão se tornando tradição, e da minha parte, ainda bem que eu estou liberta! — Zombei com meu ex que fez um sinal de arma para a própria cabeça se zombando também.
— Ok, eu sou uma piada para todos vocês.

— O príncipe que virou sapo. — Danielle que quase nunca zombava Nick entrou na brincadeira e todos gargalhamos, quando Kevin complementou: — E ele — apontou para Rhodes — É o príncipe. Digo, o príncipe que como eu, nunca seria um sapo.
— Como eu também, essa até a minha irmã pode garantir. — reforçou.
— Todos concordamos que estamos à frente do Nick anos-luz. — Joe também reforçou rindo.
— Eu te odeio, Kev. Você já sabe disso, né? — Nicholas respondeu jogando uma bolinha de guardanapo no irmão.

E então Nicholas trocou olhares com e eu. Eu encarei sua expressão de quem estava se esforçando a levar tudo de um jeito leve, e sorri para ele, agradecida. E ele sorriu de volta me agradecendo por confiar nele e em sua promessa de mudança. Aquilo era algo que eu conseguia ler em seus olhos. Eu conseguia ler tudo em seus olhos.

— Eu vou ao banheiro rapidinho, pessoal. — Falei e beijei me levantando.

Não notei que Priyanka estava logo atrás de mim e quando eu saí do reservado para ir lavar as mãos, a notei ali retocando o seu batom. Trocamos olhares e me coloquei ao lado dela, abrindo a torneira.

— Está tudo bem, Priyanka? Estou te notando um pouco incomodada.
— Teria como estar diferente? — Ela me respondeu um tanto dura: — Ele está lá agindo como se vocês fossem amiguinhos, ou sei lá, quem sabe.... Fossem formar um trisal!?
— O que é isso Priyanka!? Você está me ofendendo! O Nicholas está tentando seguir em frente e você deveria apoiá-lo e...
— Agora? — Ela me interrompeu duramente: — Apoiá-lo a seguir em frente agora? Depois que eu estou quebrada? Depois de tudo o que eu fiz para ele seguir em frente comigo?
— Que tipo de amor é esse que você diz sentir por ele que é incapaz de torcer para que...
— Cala a droga dessa sua boca, Bernard! — Ela me interrompeu grosseira guardando seu batom da bolsa e eu tive que me segurar para não voar no pescoço dela e perder toda a minha classe ali mesmo — O tipo de amor que eu sinto por ele é bem maior do que, o que você disse sentir! Eu fui capaz de lutar pelo Nicholas de formas que você nunca fez!
— Eu... — respirei fundo e fechei as mãos em punho — Eu vou sair daqui antes que eu desfigure a sua cara!

Saí andando firme rumo à mesa onde todos continuavam conversando baixo entre si. Nicholas e olharam para a direção dos banheiros com semblante preocupado quando me viram retornar séria. Priyanka adiantou-se tempestiva à minha frente e pegou a chave do carro de Nicholas sobre a mesa e sua bolsa apenas dizendo a todos enquanto eu terminava de me aproximar:

— Eu quero ir embora, Nicholas.
— O que? Não, espera aí! O que aconteceu?

Nick olhou para ela e para mim de forma confusa, eu apenas me sentei silenciosa ao lado de sem encarar Priyanka. De repente, o copo de cerveja à minha frente parecia mais atrativo. Miley tocou meu braço e sibilei um “depois te conto” para ela e que me observavam atentos.

— Não estou mais a fim de ficar posando de que tudo está muito bem aqui, apenas isso! Eu vou embora.
— Priyanka eu não vou! Para de ser estraga prazeres, você está com essa cara de quem chupou limão desde que chegou aqui, mas porra, você veio para o aniversário da Tina porquê quis!
— Eu não queria estar aqui, Nicholas! — Ela falou alto e o ânimo deles começou a se exaltar, Nick tinha o corpo tenso na cadeira virado para ela — Você me obrigou! De novo! Você sempre me obriga a fazer milhões de merdas que eu não quero!

Então Nicholas se levantou da mesa e os dois começaram a discutir abertamente, chamando a atenção de quem estivesse ali, e todos em nossa mesa estavam calados e assustados demais para dizer qualquer coisa ou agir. me abraçou e sussurrou no meu ouvido.

— O que aconteceu? Quer sair daqui?

Mas eu não pude respondê-lo, tentava me concentrar em fingir que estava surda e em outro ambiente, para controlar a raiva que me subia pelo que ela dissera no banheiro. Sem falar, que a discussão dos dois começava a invadir meus ouvidos mais alto do que os meus pensamentos.

— Eu não te obriguei a vir! Eu disse que seria melhor para o nosso acordo que fossemos vistos juntos, para evitar qualquer burburinho de que...
— De que não estamos juntos! — Ela gritou em alto e bom tom para que o bar inteiro ouvisse, ou ao menos o salão que estávamos — Foda-se Nicholas! Eu e você não somos mais um casal e me fazer ficar aqui assistindo você fingir que é o terceiro elemento dessa relação é ridículo! Que ótimo que você aceitou que a seguiu em frente! Mas não sou obrigada aceitar que você seguiu em frente agora! Mesmo depois de ter te dopado para ser meu! Mesmo depois de todas as situações em que eu plantei a desconfiança na ! Mesmo depois que eu me tornei uma mulher horrível para que você nunca me largasse! E agora tudo o que me une a você é um contrato milionário que atesta uma relação que não existe! Eu cansei de ser humilhada por você depois de trocar a minha moral por meu sentimento! Eu vendi minha alma ao diabo e é tudo sua culpa, Nicholas Jonas!

Priyanka gritava. Os seguranças do local já estavam próximos de nós tentando encontrar uma forma de intervir. A nossa mesa era um silêncio, tal como todo o ambiente que, fora a música no mesmo volume, estavam todos atentos ao que ocorria.
Nicholas se levantou imediatamente ficando teso em frente à Priyanka, que chorava compulsiva e totalmente descontrolada. Eu imediatamente também me levantei, apoiando-me à mesa, porque eu não conseguia acreditar no que havia escutado.

— Você disse que fez o quê Priyanka? — Nick perguntou, com a voz desnorteada e embargada, misturando as sensações de desespero, raiva e dor.
— EU TE DOPEI! — Priyanka gritou e chorava compulsiva.

Nicholas começou a deixar as lágrimas caírem e me olhou. Nossos olhares extremamente confusos e feridos por ouvir aquilo, sem ter certeza ainda do que ela estava falando. Ou melhor, tínhamos, mas não queríamos tê-la. Joe se levantou e se colocou a postos para segurar Nick, que ia falar mas foi interrompido por Priyanka apontando para mim.

— Ele nunca te traiu! Nem comigo, e nem com ninguém! Você apenas o entregou de bandeja para mim, !

Senti minhas pernas fraquejando, mas por sorte Rhodes estava ali. Segurando-me firme e secando as lágrimas que caiam em meu rosto, sem eu notar. Tudo era um borrão rápido demais... Priyanka novamente pegando as chaves na mesa e saindo correndo para fora do bar, Nicholas sendo segurado por Joe escapando de seus braços correndo atrás dela.

— Kevin! O Nicholas vai fazer merda! VEM!

E os outros dois Jonas indo atrás. Caí no abraço de , chorando compulsiva, mas minha ficha também caiu. Eu queria impedir que Chopra fugisse depois de causar tudo o que causou, queria esclarecimentos maiores, então também fui atrás dela.

Narração por Nicholas

“Eu te dopei...”
“Ele nunca te traiu, nem comigo e nem com ninguém!”


A voz da maldita não saía da minha cabeça. Joseph me segurava enquanto nos deparávamos com Priyanka desesperada e descontrolada cuspindo todas aquelas verdades. Me senti o cara mais idiota do mundo, porque no fundo, eu sempre soube que eu não poderia ter traído ! Eu nunca poderia ter feito aquilo, porque não era algo que eu seria capaz, mas Priyanka me manipulou e me fez acreditar que eu fui capaz.
Eu não era quem eles diziam, então, e estava certo o tempo todo, só não tive como provar, porque no fim, eu sempre confiei nela como minha grande amiga. Como alguém que nunca faria algo para me prejudicar. Quando olhei nos olhos de , e ela chorava como eu, pude ver a culpa de ter me julgado e a culpa pela acusação de Priyanka sobre ela ter me dado de bandeja.... Eu seria capaz de cometer um homicídio com a mulher que corria para o estacionamento. E foi com este pensamento que eu me soltei dos braços de Joe tentando me impedir e a alcancei dentro do meu carro.

— Priyanka! Volta aqui sua vagabunda!
— Cala a boca, Nicholas! Quem é você para me chamar de ...
— Vagabunda sim!
— Nicholas! Nicholas, calma! — As vozes dos meus irmãos correndo até mim, fizeram Priyanka correr para dentro do carro.

Ela sabia que eu estava fora de mim, e a última coisa que eu deveria, era colocar as mãos nela. No entanto, se eu a alcançasse, sacudiria Priyanka até ela voltar para a Índia. Ela entrou em meu carro e bateu a porta, acionando as travas, então eu comecei a bater no vidro a insultando. Kevin e Joe se aproximaram me pedindo para acalmar. Em seguida, apareceu em meu campo de visão amparada por e ao seu lado, e eu fiquei ainda mais irritado! Dei uma cotovelada no vidro do motorista e me soltei de meus irmãos. Priyanka gritou assustada de dentro do carro e bateu a chave na ignição, enquanto chorava balbuciando algo como “desculpas”, e eu não conseguia fazer mais nada além de chorar e bater no vidro.
Os seguranças pareciam se aproximar, porque pude ouvir e tentando fazê-los não intervir, e as mulheres amparando , pedindo ao Kevin para me segurar junto às tentativas de Joe, mas tudo era absolutamente caótico na minha mente! Eu ouvia milhões de vozes na minha cabeça e entre elas, a voz de Priyanka ecoando que havia armado tudo, e a minha própria voz dizendo que eu estive certo e não havia traído . Não da forma como pensávamos.
Priyanka pisou no acelerador, e eu me colocava na frente do carro batendo no capô tentando fazê-la sair dali, e ela ameaçava pisar fundo. Eu não estava raciocinando e não quis nem saber, continuei na frente do carro, e quando senti Kevin e Joe me puxando com mais força, ela acelerou. Os dois saíram da frente do carro, e ela passou me acertando na lateral do meu corpo e me jogando para o chão, num baque.

— Filha da puta! Ela me atropelou! Vadia descarada! — Gritei no chão, socando o asfalto do estacionamento.
— Para Nicholas! Você vai se machucar! — Joe gritou.

Meus irmãos me ajudavam a levantar, eu continuei gritando, urrando, despenteando meu cabelo, chorando e andando em círculos. Todo mundo assistia o meu momento extravasando e na verdade, não sabiam como agir. Enquanto eu chorava como um bebê, senti mãos no meu ombro. . Ela também chorava aparentemente destruída com aquilo tudo.

... — balbuciei o seu nome, e então ela se jogou num abraço em mim.

E juntos, naquele abraço apertado, sufocante, injustiçado, desesperado, nós dois choramos, tão forte que os soluços eram altos. Todos os outros presentes não se manifestaram e naquele momento, e eu apenas dividíamos a dor lancinante de quem era capaz de sentir o coração sangrar.

— É melhor a gente ir para casa... — ela falou baixinho, mas de forma que todos pudessem ouvir.
— Eu vou matar aquela desgraçada, ! — Confessei ainda chorando: — Eu sou capaz de matá-la!
— Nick... Não adianta nada disso agora... — ela falou tentando se manter pacífica — Ela nem deve ter ido para lá.
— A tem razão, Nick. Priyanka com certeza voltou para Los Angeles. — falou se aproximando de nós.
— Vem, nós vamos pagar a conta e voltar. Você volta com a Dani e eu. — Kevin também se aproximou me amparando.

Assenti, fraco. Aéreo. Acabado. A maldita ainda tinha levado o meu carro. Filha da mãe! apertou minha mão num ato solidário, e beijou o meu rosto demoradamente. Senti nossas lágrimas se fundirem umas às outras, e como aquilo só piorava tudo! Eu perdi e não havia feito nada de errado, apenas acreditei ter feito. Soltei minha mão da dela, e troquei um olhar grato com ela, mas saí na frente de todos coçando minha cabeça de modo confuso. E agora? O que eu faria com aquela verdade?


Capítulo 47

Dois dias haviam se passado desde a descoberta de que Nicholas não havia me traído. E as coisas estavam mais confusas do que nunca. Jamais imaginei que, ao descobrir que Nicholas não havia feito o que achávamos que ele teria feito, poderia me abalar tanto.
Quando retornamos à casa de Kevin e Dani naquela noite, fomos todos dormir, ou tentar. como sempre, paciente e compreensivo me abraçou e amparou nos seus braços aquela noite até que eu dormisse. Sem fazer perguntas, sem invadir o meu espaço de dor. Chorei nos braços dele tudo o que eu sentia que deveria chorar.
Na manhã seguinte, Danielle, e Sophie saíram com as meninas para passear antes de nosso retorno a Los Angeles, e eu fiquei com Nicholas, Joe e Kevin, onde contamos para seus pais o que aconteceu. Denise e Paul ficaram chocados e tão sem ação quanto nós, mas a matriarca Jonas falou para Nicholas levar as coisas de Priyanka de volta com Joe e Sophie, e esperar até estar calmo o suficiente para conversar com ela. Eu sabia que aquilo não aconteceria. Nicholas não conseguiria conversar com Priyanka, por um longo, se não eterno, tempo.
Ele e eu, também não conversamos sobre nada daquilo, era muito recente para conseguirmos assimilar toda a situação que se criou entre nós, pautada em uma grave mentira. E mesmo dois dias depois, ainda não tínhamos visto um ao outro.
e eu também estávamos um pouco estranhos, o que nos incomodava bastante, e por isso não evitamos que naquela noite após dois dias do ocorrido, conversássemos no bistrô ao fim do expediente. Eu estava no meu escritório, quando ouvi sua mensagem apitando no celular informando que havia chegado. Abri a porta da frente do restaurante, ele entrou me beijando e sorriu.

— Vai dormir aqui esta noite, má chérie?
— Não. Podemos ir para minha casa. está dormindo com a mamãe hoje, mas.... Eu queria conversar com você aqui, onde nós...
— Começamos. — Ele complementou me acompanhando para dentro do escritório.
— Exatamente! — Sorri para ele — Está com fome?
— Não me mate, mas eu comi um BK hoje.
— Fazer o quê, tenho que aceitar que apesar de uma geladeira profissional à sua disposição, você goste dessa porcaria vez ou outra. — falei rindo e senti sem jeito.

Nós dois olhamos um nos olhos do outro, eu entrelacei minhas mãos atrás de sua nuca e beijei seu queixo, em seguida, selei nossos lábios e encarei suas irises azuis meticulosas sobre mim, no fundo, um tanto amedrontadas.

— É tarde demais para voltar atrás, não se preocupe .
— Nunca é tarde demais para nada, eu só preciso saber se tudo isso que aconteceu é motivo para te fazer desejar voltar atrás, . — Falou sincero e um pouco trêmulo em sua voz: — Sabe que eu seria incapaz de te prender, não é? Apesar de entender agora o quanto é difícil abrir mão de alguém.
— Seu bobo... — Sorri beijando seu pescoço e voltando a encará-lo: — Não tem como eu voltar atrás porque eu não quero. Eu te amo e nada vai mudar isso, . Eu me sinto, sim, injustiçada com o fato de que, eu me deixei levar pelas desconfianças e pela insegurança para descobrir que no fim ele sempre esteve falando a verdade, mas.... O tempo passou, as circunstâncias nos trouxeram até aqui e não há nada que possa mudar isso.
— Quer dizer que você me ama desse jeito?
— De que jeito? — Perguntei achando graça na aparente insegurança dele. Era de certo modo, algo fofo, para alguém que sempre estava muito seguro de suas ações, estava mesmo com medo de me perder.
— Do jeito que não te faz ter algum desejo de tentar de novo com o Nicholas ou...
— Eu não vou terminar contigo, . Eu não quero terminar. — Interrompi passando as mãos de modo tranquilo nos ombros dele, sem tirar os meus olhos, dos dele.

me observou um pouco mais aliviado e me abraçou.

— Você conversou com ele, má chérie?
— Ainda não. Acho que vou telefonar para ele amanhã.
— Faça isso. Eu acho que qualquer coisa que ele tenha avançado pode estar bagunçado agora.... Enfim, isso ainda é algo de vocês dois.
— Eu imagino que ele deve estar arrasado, de novo. Se eu procurá-lo, você fica chateado?
, como eu disse, isto é algo de vocês dois, eu não tenho que ficar chateado. Ele é o pai da sua filha e não vou deixar de reconhecer que o Nick tentou muito neste fim de semana, foi agradável. Então, eu só vou ficar chateado se ele voltar a ser um idiota com você em tempo integral.
— Você não existe. Não é possível! — Sorri orgulhosa e falei depois de encarar sua expressão pacífica e tímida pelo assunto: — Você é o homem da minha vida, . E nada vai mudar isso agora que te encontrei.
— E você é a mulher da minha vida, . Vamos para casa, eu quero te mostrar isso.

Ele me abraçou apertado me beijando apaixonadamente e então, eu peguei as minhas coisas aos risos e beijos, e saí o acompanhando para fora do bistrô rumo ao estacionamento.

— Mas se ele tentar te beijar, me conte.

falou num tom de brincadeira enquanto abria a porta do seu carro e quando entramos no automóvel, seu celular tocou. Precisavam dele em uma emergência no hospital, e ali, nosso plano de passar a noite agarrados de todas as formas possíveis, foi por água abaixo. Depois de beijá-lo e me despedir, saí rumando para o meu carro, que antes ficaria aquela noite no estacionamento privado do restaurante.

— Prometo que assim que eu acabar, eu vou até você.
— Não se preocupe com isso, mon chér, apenas salve uma vida, ?
— Ah, claro, você poderia colocar expectativa na minha volta só. Menos pressão... — debochou ele piscando e saiu com o carro apressado.

Voltei para casa, pensando em como Nicholas estaria. Mesmo diante de todos os momentos em que Nick fez tudo para eu detestá-lo, eu ainda não conseguia ser indiferente a ele. E acho que nunca seria, ele era o pai da minha filha, afinal. Cheguei na entrada da minha casa e percebi o carro de Toni estacionado.

— Ué? O que faz aqui?
— “Olá querido irmão, como é bom ver você! Por favor, entre, deve estar exausto...” — Toni falou me arrancando um riso.
— Isso também, mas o que aconteceu?
— Estava na casa da mamãe, passei lá após o expediente e resolvi esperar até dar a hora de saída do seu trabalho, para te ver. Ela brigou comigo, aliás, falando que dormiria lá e que eu deveria desconfiar que viria. — Toni falou me seguindo para dentro de casa — Mas, vocês não tinham planos pelo visto.
— Tínhamos, mas ele teve uma cirurgia de emergência. O médico plantonista que o cobriria não consegue realizar sozinho, ou algo assim... Sei lá, desde que ele foi promovido, o trabalho só dobrou.

Joguei minha bolsa no sofá e me joguei nele em seguida. Toni fez o mesmo ficando ao meu lado, especulativo.

— Não é que eu não goste de você aqui, ou que eu esteja te acusando, mas... Qual é Toni? Para você vir me ver assim do nada, aconteceu alguma coisa.
— Estou preocupado contigo, por causa do fim de semana em Jersey. Você está bem?
— Ah... vai lá na cozinha, pegue duas taças, vinho e tem uma torta de frango que fiz ontem, na geladeira. Não vamos ter essa conversa sem comer.
— E porque eu tenho que pegar? — Reclamou ele em tom de ultraje.
— Porque a sua irmã trabalhou o dia inteiro e está muito cansada e faminta!
— E eu não posso estar cansado e faminto não? Eu também trabalho!
— Você saiu do trabalho às 17 horas, Antoine! Estava até agora na casa da mamãe comendo, aposto!
— Você é folgada.

Antoine saiu e eu ri fraco, me deitando mais e relaxando em meu sofá. Meu irmão retornou com um pedaço de torta para mim, as nossas taças e o vinho. Assim que se sentou ao meu lado de novo, ele puxou os meus pés para seu colo e iniciou uma massagem.

— Não pedi por isso, quanto vai me custar?
— É um mimo, porque eu te amo. — Falou dando de ombros e então, uma luz de alerta se acendeu diante os meus olhos.
— Fala logo! Aconteceu alguma coisa, Antoine!
— Bem... — suspirou e pegou o celular me mostrando várias páginas de revistas de fofocas, e alguns vídeos: — Alguém que estava no PUB delatou para a imprensa, saíram fotos e vazaram vídeos do que aconteceu. E, não demora muito vão te cercar de novo, a mamãe acha melhor a ficar lá esta semana, pelo menos até a gente saber se os abutres vão voltar. Da última vez acamparam aí na sua porta, não foi?
— Não acredito! — Murmurei virando um grande gole de vinho e me lembrando: — Na verdade, havia um paparazzo na porta da casa deles. Nós nos esquecemos totalmente disso quando saímos aquele dia! Certamente ele nos seguiu e por isso, tudo parou na imprensa dessa forma...
— Se foram os paparazzi ou não, não dá para ter certeza. Qualquer pessoa do bar pode ter vendido as informações e imagens.
— Aqui diz que eles especulam a minha relação com o Nick depois de tudo isso... — li a reportagem e devolvi o celular de Toni depois de bufar: — Especular o quê? Eles acham que nós vamos voltar um para o outro agora!?

Toni deu de ombros, apertando um pouco mais o peito do meu pé, desfazendo alguns nós plantares ali, e me perguntou como o homem que mais me conhecia, antes de Alex:

— Você não acha que essa é uma pergunta pertinente, depois de tudo?
— Qual é, Toni! Acha que eu vou voltar para os braços dele agora? Logo agora?
— Não, não foi o que eu perguntei. Só que eu te conheço bem demais para saber que dentro de si, deve estar culpando-se por ter pedido o divórcio depois da traição que não aconteceu. Esse foi o feito que gotejou no copo derramando tudo.

Meu irmão era mesmo alguém que sabia me ler. Não achei que voltaria para o Nicholas, mas ponderei realmente àquela situação. Vinha pensando se eu não fui culpada em julgá-lo, se eu não lutei o suficiente como a Priyanka deixou claro.

— Só estou me perguntando se havia outra forma das coisas acontecerem... O Nick não soube se defender e eu não tive nenhuma prova de que ele era inocente. Foi questão de confiança, de acreditar na inocência dele ou não, e eu não confiei no Nicholas ou no sentimento dele. O fato de ele não saber me explicar aquelas circunstâncias, me mostravam que eu estava certa de desistir, porque.... Porque ninguém te ensina a como confiar diante de um chifre e várias mancadas anteriores!
— Você não deve se culpar por desconfiar, como acabou de dizer, tiveram mancadas que minaram essa confiança antes.
— Eu sei, mas... Era sobre o amor que ele sentia, e que eu não acreditei.... As coisas fazem mais sentido agora, por exemplo, o modo como ele lutou tanto quando outro homem apareceu. O Nicholas fugiu no meio do divórcio porque ele é orgulhoso demais para implorar perdão, e se ele acha que está certo, ele não vai pedir mesmo. No fundo ele sabia ser inocente, então o fato de eu não acreditar nele, com certeza o feria muito mais! Só que ele voltou da turnê, e eu já tinha outra pessoa possível diante dos meus olhos, embora eu não tivesse intenções com o .
— Fala sério, qualquer um que visse vocês dois de fora, sabiam que uma hora as intenções viriam! Desde o começo vocês se olhavam como almas gêmeas um do outro! — Toni zombou.
— O fato é que o Nick ficou entre o orgulho e a chance real de me perder, por isso ele só agiu depois de todos aqueles meses. No fim, ele foi fiel... Apesar de tudo, ele foi fiel.
— Sério ? — Toni perguntou em tom de reprovação: — O que é ser fiel para você? Não ir às vias de fato com uma mulher? E todas as vezes em que ele não ficou do seu lado, para ficar do lado da Priya? E quando ele te acusou de ter um caso com o Shawn, o Alex, e se não me engano ele sentiu ciúmes até do Joe!
— Isso não é sobre fidelidade, você está falando de lealdade.
— A linha entre as duas coisas é bem tênue para mim!
— Eu entendo o que você está falando, Toni, mas....
— Nada de “mas”!

Meu irmão interrompeu emendando em outro choque de realidade:

— Não comece a apagar todo o resto! Vocês dois foram tóxicos entre si, desconfiaram muitas vezes um do outro. Exigiram, um do outro, de estar em lugares que não queriam ou podiam nas suas vidas e trabalhos. Não é só sobre a confiança que você perdeu no Nicholas, a cada vez que a Priyanka mostrava que estava com ele nos momentos em que ele dizia estar em outros lugares, apenas para você não se estressar ou seja lá que desculpas ele dava! Assim como não é só, sobre as provocações que você também alimentou em várias situações para revidar com ciúme nele! É sobre o respeito que vocês perderam um pelo outro, sobre a cumplicidade, sobre a parceria e tudo isso, na minha opinião, mora na coisa da fidelidade ou lealdade, . Você e o Nicholas não teriam como suportar mais tempo aquilo tudo, mana, por mais amor que tivessem.
— Porque só o amor não basta.
— Isso. Não basta.... Então, não se culpe. Eu sabia que você começaria a pensar esse monte de coisa e enfiar a cara no vinho!

Olhei para Toni agradecida. Ele sempre cuidava de mim, independente de precisar aparecer logo após o expediente dele, interromper o seu trabalho ou aparecer no meio da madrugada após o meu.

— Eu te amo, Toni. Obrigada por me lembrar de todas as outras coisas.
— O Nicholas te amou, e ainda ama, claro. Mas, o te ama da forma como você precisa e merece. Com ele, eu sei que qualquer dor entre vocês será muito menor. Coisa boba que todo casal passa.

Suspirei e abracei Toni. Terminei de comer a torta pensando em todas as coisas que eu poderia dizer a imprensa quando me procurassem. Meu irmão que também era o meu advogado me ajudou numa breve consultoria, de como seria melhor relatar sem ter conversado com o Nick antes, porque certamente a qualquer momento os “abutres” — como a senhora minha mãe dizia — apareceriam.
Naquela noite, Antoine dormiu na minha casa. Assistimos filmes na TV, como não fazíamos há bastante tempo. Não sei que horas eram quando ouvi as vozes de Toni e , um pouco depois, mas sonolenta, percebi se deitando ao meu lado na cama.

Mon chér? — Sibilei ainda pensando estar sonhando.
— Cheguei meu amor.
— Salvou uma vida?
— Com certeza!
— Você sempre salva... — sorri me deixando pegar no sono.

Narração por Nicholas


Desde que Joseph me deixou em minha casa em Los Angeles, Priyanka não teve a decência de me contatar ou devolver o meu carro. E claro que eu iria atrás dela, mas eu estava me permitindo um tempo para acalmar. A raiva era muito grande e a possibilidade de que eu agisse de forma a me prejudicar mais era proporcional, então, fiquei em casa. Sozinho e pensativo por dois dias, infelizmente foi o tempo mínimo que a merda da imprensa conseguiu me dar. Os tabloides estampavam aquele barraco no bar em Jersey de todas as formas: vídeos vazados, declarações em revistas e programas de TV... Minha vida particular, mais uma vez, se tornou um concerto e dessa vez, a Priyanka era a maior culpada. As coisas que a minha fanbase diziam sobre ela, não eram nada agradáveis, principalmente, aquela parte dos fãs que torciam por e eu.
Contudo, eu só me preocupava com duas coisas: a multa estratosférica que teríamos que arcar pela mancada dela e que vínhamos tentado evitar, e claro, a verdade. Talvez eu nunca fosse capaz de perdoá-la. Eu tive que a deixar me tirar tudo pela confiança que depositei nela, para decidir que eu queria distância. Uma distância, que eu não sabia se teria aproximação novamente, um dia.
As coisas dela num canto da sala em minha mansão, já estavam incomodando, então me levantei do sofá decidido a pedir um táxi, colocar aquilo tudo dentro e entregar a ela, buscando também o meu carro. Quando toquei em meu celular a campainha da frente soou e, surpreso, fui atender.

— Achei que a minha entrada estaria proibida na guarita da mansão. — Priyanka falou logo que eu abri a porta.
— Não tive tempo. Estava vomitando há dois dias por nojo de você. Mas, não se preocupe, da próxima vez, você terá que implorar para chegar perto de mim.

Ela suspirou com uma expressão dura de quem seguraria o choro, e a culpa estava estampada até no frizz de seus cabelos.

— Eu vim devolver o seu carro, e... Me desculpar. Embora eu saiba que seja inútil.

Priyanka ergueu as chaves do meu carro e eu as peguei e dei passagem para ela entrar:

— Entre. Você não vai apenas devolver a única coisa que não tirou definitivamente de mim, pegar suas trouxas e sair. Você me deve uma explicação, se é que pode explicar o que fez.

Não, eu não era nada o tipo de cara compassivo em circunstâncias de raiva, nunca escondi, e ela sabia o que esperar quando foi até ali. Deboches e rompantes de acusação, eram previsíveis, certo? E não, eu não estava errado daquela vez!
Priyanka entrou e logo ficou de pé parada ao lado das suas coisas, nem mesmo quis se sentar. Mexeu brevemente em seu telefone enquanto eu, com as mãos à cintura, parado de frente para ela apenas a observava, me segurando para não explodir.

— Acho que você deveria começar a falar, não?
— Estou apenas chamando um carro, esta conversa não tem porque demorar mesmo.
— Inacreditável... — murmurei — Não me diga que acha que está certa!?
— Não, eu não acho. — Falou guardando o telefone em sua bolsa — Eu sei de tudo que eu fiz e o quanto foram ações reprováveis. Não espero que você vá me perdoar porque, há tempos atrás quando optei por cada decisão errada, eu sabia que seriam segredos para eu levar até a minha morte. Mas, eu explodi este fim de semana.... Vê-lo seguindo em frente, ou tentando de forma pacífica com ela, era tudo o que eu sempre quis. Só que eu não estava incluída. Eu não queria que você só seguisse em frente sobre a , eu queria que você a esquecesse por eu estar ao seu lado também! Você a perdeu e me descartou!
— Priyanka!

Interrompi falando em tom de desespero, mas ela interrompeu de volta:

— Me deixe falar! Apenas ouça, por favor! Não estou dizendo que agi racionalmente. Eu não agi e sei disso. Mas, essa hipótese de contar a verdade a vocês dois nunca existiu porque eu sempre soube que quando eu falasse isso, eu perderia você para sempre, Nicholas. E estive disposta a pagar o preço do silêncio, porém... A culpa foi corrosiva este fim de semana, assim como a frustração. Nesse fim de semana, nós duas tivemos a conversar que nunca aconteceu antes, e a .... Ela foi uma mulher incrível comigo e eu só conseguia me sentir a pior pessoa do mundo!
— Que bom que você teve alguma consciência! E está certa. Eu não tenho como perdoar você por acabar comigo! Você estava disposta a passar o resto da sua vida ao meu lado, mentindo para mim, Priyanka! Eu te dei uma chance de esclarecer esta história tempos atrás e você de novo mentiu para mim! Me garantiu que eu realmente havia a traído!
— Eu sei! Eu sei! — Ela respondia em tom de aflição, mas conformada — Até cogitei falar a verdade, mas.... Você iria correndo par ela e não descansaria a até fazer a voltar.
— Então foi estratégico. Contar tudo quanto eu tivesse jogado a toalha! Quando não tivesse mais como eu voltar com ela, porque agora, ela já está vivendo outra história! Foi estratégico da sua parte como um plano B fodido e vingativo, por você perder também! Se jogou no buraco e me levou junto!

Eu gritava e ela apenas negava com um aceno de cabeça. Mas, por mais que ela negasse ou buscasse justificar suas ações atrás da desculpa de amor, eu não queria ouvir e prolongar aquilo. Achei que ouvir Priyanka fosse aplacar um pouco da raiva, mas pelo contrário, me cortava ainda mais a pele.

— Eu não quero mais te ouvir. Depositei confiança em você. Lutei para ter você em minha vida, como amiga, mesmo que eu também tenha visto na sua presença uma forma de manter meu ego em alta, e provocar ciúmes na mulher que eu amava...

Eu andava de um lado para o outro enquanto, desnorteado em minha própria dor e mágoa, eu desabafava sobre a mulher que outrora foi minha noiva e cogitei, como melhor amiga:

— A quando me conheceu era perfeita! Sem nenhum problema afirmativo... ela era forte, empoderada, e nunca se abalava com o fato de eu ser famoso, nunca se importou se eu tinha muitas mulheres aos meus pés e aquilo me incomodava! Eu achava que era indiferença dela, mas... Era só a sendo mais madura do que eu, como sempre! Destruí tudo isso nela, provoquei que ela também se jogasse aos meus pés, Priyanka! E ela se jogou! Ela caiu na minha teia de inseguranças, e eu usei você, confesso! O medo que a sentia de me perder para você, a minha ex-noiva que eu insistia em ter como amiga, era um prato cheio para a minha masculinidade tóxica! Mas, eu nunca achei que você também se alimentaria disso, usando contra a . Nunca achei que você iria ferir a ela, porque você dizia que me amava, que era minha amiga, ouviu cada desabafo meu em nossas brigas, e sempre soube que a era a mulher da minha vida! Como você pôde atingir a desse jeito? Em algum momento pensou que atingindo a ela, você me atingiria?

E tomada por uma aparente revolta ao meu surto de sanidade, Priyanka respondia as minhas perguntas, colérica. Ela tentava tornar o meu discurso mais irracional – como sempre foi, aliás – para justificar o peso das nossas ações, numa balança equilibrada. Porém, claramente, nenhum de nós poderia pesar o peso de culpa do outro naquele triângulo. Quem poderia fazer isso, afinal?

— O problema foi esse! Você foi ingênuo em falar para outra mulher quem era o amor da sua vida, principalmente para alguém que sonhou uma vida ao seu lado um dia. Você não pensou nisso, também. Apagou totalmente a nossa história, o nosso noivado, e o quanto eu te amava. Me colocou no lugar da “amiga”, mas no fundo, como você disse, sabia que poderia me usar e eu também sabia que estava sendo usada. Então... eu agi movida à inveja e crueldade.... Eu quis me vingar da , eu quis você de volta, e aproveitei as brechas! No fim, nós fomos dois canalhas.
— Agora é tarde para dizer quem foi mais canalha, mas, eu exijo... aliás, eu mereço, que você me conte as coisas que fez além de me dopar e armar aquela situação da foto. — Falei incisivo segurando o choro.

Não choraria na frente dela! Nunca mais, Priyanka veria as minhas vulnerabilidades, embora o contrário não fosse tão certo, diante da mulher chorando sem vergonha à minha frente.

— Todas as vezes que nós estávamos juntos, e que você mentia para ela dizendo não estar comigo.

Priyanka parou de falar e então eu mesmo concluí.

— Você dava provas duvidosas de que estávamos juntos?
Posts no mesmo lugar, fotos em que você não aparecia nos stories, mas que mostravam semelhanças com as suas.... Você nunca notou isso, mas a sim. E quando estávamos em situações que não podíamos mostrar publicamente, por trabalho ou outra coisa, eu dava um jeito das fotos chegarem nela...

Diversas situações passavam em minha mente. Todas as vezes que me pegava mentindo, e ou me acusava, ou me sondava, tinham o dedo da Priyanka. A época em que brotavam fotos minhas com a Pri, por meio de paparazzi e a sempre descobria, tinha o dedo da Priyanka. E era aterrorizante pensar que eu fui manipulado daquele jeito.

— Sabe que eu mentia para ela, porque a não queria que nós dois fôssemos amigos. Sabe que eu bati o pé para defender a nossa relação no meio do meu casamento e era você quem... — parei de falar olhando meus próprios pés e então lembrei de outras coisas: — E as desconfianças que eu tive dela? Aquelas fotos com o Mendes?
— Ela e o Shawn eram realmente amigos que se afastaram porque a mídia estava criando coisas que, de certa maneira foram manipuladas.
— Você envolveu o Mendes nisso!?
— Ele é tão vítima do meu ciúme quanto você! Nicholas, se eu apontasse qualquer coisa contra a você não acreditaria, porque era eu! Mas, se a mídia começasse a...
— Fazer fofoca e inferno nas nossas vidas e ainda envolver um artista que não tinha nada a ver com isso! Você é pior do que eu pensava! A minha amizade com o Mendes acabou por sua causa! E eu... Acusei a ! Eu.... Ela também se afastou do amigo dela por sua causa! Sinceramente, Priyanka...

Retomei a andar de um lado ao outro, sentindo que a pouca dor de cabeça que se manifestava aquela manhã, tornava-se uma enxaqueca.

— Vai embora, Priyanka.... Pega as suas coisas e não volte aqui.
— Sobre o contrato, a...
— Nossos agentes resolvem isso! Daqui para frente eu não quero te ver. Nunca mais. — Falei a cortando e dei as costas subindo as escadas.

Priyanka apenas recolheu as suas coisas chorando, e saiu pela porta da frente da mansão. Não sei se o táxi que ela pediu havia chegado ou não, mas não verifiquei. No momento, eu só queria chorar, e sentando nos degraus, eu me permiti ser vulnerável sem que ninguém estivesse vendo.

Narração por


Telefonei ao Nicholas, quando ainda estava no bistrô, e a voz dele demonstrava-se exatamente como eu imaginei: arrastada. Combinei de que iria encontrá-lo, embora ele quisesse vir até minha casa. Mas, os paparazzi estavam cercando meu endereço, e por isso, Toni, mamãe e eu decidimos que ficaria na casa da avó naquela semana. Assim, também era inadequado que ele fosse visto entrando na nossa antiga casa, ou eu, em sua mansão. Combinamos de nos encontrar em um lugar aleatório de Los Angeles, mas que para nós significava um ponto de encontro da nossa história. Cheguei antes que o Nicholas na praia de Santa Mônica, certamente porque era mais fácil eu despistar os abutres da mídia do que ele.
Estava observando as ondas calmas, sentada sobre uma toalha de flanela que eu havia estendido na areia, e poucas eram as pessoas que faziam cooper pela orla do mar. Na verdade, ao fim da tarde, era icônico que a praia estivesse vazia diante daquele pôr-do-Sol. Estar ali, daquela forma, à espera do Nicholas, me trazia memórias.

— Eu cheguei a dizer em algumas entrevistas que era aqui que nós nos encontrávamos escondido para namorar. Eu espero que eles não matem a charada.

Ouvi a voz de Nicholas e sua figura surgindo ao meu lado, se sentando sobre a mesma toalha que eu, e me esticando um copo de café quente. Nós sorrimos ameno um para o outro, e ele só me olhou de canto antes de concentrar sua retina meio verde ao mar. Aliás, nunca acertei o tom dos olhos dele.

— Obrigada. — Eu disse ao pegar o copo de café — Você foi seguido?
— Até certo ponto, mas eu acho que deu para despistá-los depois que parei para comprar o café. Não vi nenhum carro atrás de mim até aqui. E você?
— Eles estão acampados na porta de casa de novo, alguns tentaram me entrevistar, mas o Toni me orientou a falar de forma cuidadosa. E... Bem, quanto ao bistrô, não é de se espantar que estejam ali, né? Alguns entram e consomem e a única coisa que posso fazer é não permitir que fotografem lá dentro, no fim das contas é público.
— Quem está tomando conta de lá agora?
— Pedi a Marianne que ficasse tomando conta de tudo até o Alex chegar para o contra turno noturno dele.
Argh... — Nick murmurou com humor — Mais um motivo para ela me odiar ainda mais.

Nos entreolhamos e sorrimos, e então nossos olhos finalmente cruzaram.

— Como a está?
— Ela está ótima! Alheia a tudo isso, como sempre, e ficará na mamãe essa semana. A mídia ainda não sabe que a minha mãe é minha vizinha, não se atentaram a isso..., mas, logo saberão.
— Vamos nos pronunciar, . Eu e você. — Nicholas disse de forma contundente: — Quanto mais cedo respondermos a eles, mais cedo eles deixam vocês em paz. Acredito que não ficarão em sua volta por muito tempo também.... Se o morar na sua casa uma semana, eles já terão material para dizer que nada entre nós vai mudar e te deixam em paz. Eu não quero essa atenção sobre você e a , vocês não têm nada a ver com isso.
— Nicholas eu agradeço o seu cuidado, de verdade! Mas, é sim sobre nós. Sobre nós cinco, porque além do triângulo do passado, e não deixam de ser atingidos por essa história. Agora estão pintando como o seu rival... E isso, bem, isso realmente tem que acabar. Eu concordo em nos pronunciarmos.
— É o melhor a ser feito. Sobre Priyanka... os agentes estão vendo tudo. Contudo, no que diz respeito a você e eu, posso falar sobre nós, sobre nossa relação de ex-casados. Vamos responder o que for possível sobre essa história, tudo bem?

Ele me perguntou voltando o seu olhar do mar para meu rosto, assenti demorando-me em olhá-lo, mas Nicholas não mantinha o contato visual, logo ele desviava.

— Nick, eu quis te chamar para essa conversa, não pelos paparazzi, embora eles fossem um ponto da conversa em algum momento... — eu disse calma e ainda o encarando — Estou preocupada com você.

Imediatamente, o olhar dele encontrou de novo com o meu, e eu pude ver seus olhos brilhando. Não era nada além de reflexo das lágrimas que ele segurava.

— Obrigado. Eu não falei com ninguém ainda sobre o que estou sentindo.
— Eu sei. Eu sabia que você ficaria mais... recluso e...
— Derrotado. — Respondeu — Revoltado. Injustiçado... com uma raiva mortal dela...
— Fala comigo Nick! Eu entendo exatamente o que você está sentindo. A gente pode e deve conversar sobre isso, sem nenhuma balança entre nós para pesar coisa alguma... nós merecemos falar abertamente um com o outro.

Nicholas enxugou uma lágrima que estava caindo teimosa em seu rosto, colocou seu copo de café na areia, de forma a cavar um buraquinho para o encaixar sem que derramasse, e relaxou os ombros. Estava tenso e eu notei aquilo desde que ele chegara.

— Ela esperou eu jogar a toalha para contar tudo, . Eu a confrontei tempos atrás sobre essa história porque, lá no fundo, eu sempre achei absurdo esse deslize. Eu nunca entendi como eu poderia ter traído você, se em todas as oportunidades eu neguei veemente! Era um jogo! Um jogo de sedução idiota para deixar você maluca, pra sentir que você tinha medo de me perder e quando estivéssemos juntos eu pudesse mostrar de todas as formas o quanto você sempre foi e ainda é a única que eu realmente desejo! Mas, a Priyanka soube de tudo o que eu sentia porque me deixei ser lido e manipulado! E ela jogou de volta contra nós dois, de um modo tão inconsequente, que... eu juro que não tirando a minha culpa! Eu sei que eu fui um marido de merda, ?
— Não fala assim...
— Não, ! – Ele me interrompeu — Eu fui! A gente teve ótimos momentos, eu sei, mas as pequenas coisas nos minaram.... Eu tenho essa consciência! Sei que a gente já não estava bem porque eu fui um merdinha. Mas.... Mesmo sabendo disso, é errado eu me sentir dessa forma? Vitimado com o que ela fez?

Ele me olhou chorando silencioso, como um garotinho que brigou na escola e perguntava à mãe o que havia feito de errado.

— Claro que não Nicholas. Nós tivemos nossos erros, e ela o dela. Você pode se sentir vítima da Priyanka e eu posso me sentir vítima dela também! Uma coisa não anula a outra! Pelo contrário! Ela utilizou as nossas fragilidades para manipular tudo.... Erramos? Sim! Mas, quem garante que se ela não tivesse feito o que fez, nós não teríamos dado um jeito? — Confessei sentindo o embargo na voz e ele franziu as sobrancelhas, atento e confuso por descobrir o que eu pensava: — Não me olha com essa cara. Eu também estou surpresa. Tenho pensado nisso, sabe? Se a Priyanka não tivesse armado uma cena de traição, eu teria pedido o divórcio ou seguiria tentando? Provavelmente eu ficaria presa naquele ciclo que estávamos. Mesmo sabendo que era um ciclo tóxico, então.... Eu realmente não sei se as coisas ocorreram do jeito certo pra nós dois, mas de qualquer forma, o divórcio era algo que deveria acontecer. E por ter acontecido, a gente se libertou daquele ciclo. O que não quer dizer que não poderia ter sido menos doloroso.

Nicholas soltou um riso abafado de revolta. Ele enxugou o rosto e me contou as coisas sobre a sua ótica:

— É mais do que isso ! Ela não só armou a cena da traição que fez o teu copo de mágoas derramar, ela encheu o copo! O meu e o seu!
— O que está dizendo? — Perguntei sentindo que sabia menos coisas da trágica novela que vivíamos.
— Tudo, exatamente tudo o que nos colocou um contra o outro, tinha o dedo dela. Por minha culpa, pois, fiquei insistindo que ela era uma amiga e de que você era injusta em acusá-la de má influência entre nós! Ela realmente armou situações, . E não falando só das fotos que chegavam até você por ela em momentos que denunciavam eu e ela juntos em algum trabalho, ou nos momentos que eu te escondia algo. E você sabe... eu só escondia porque eu não queria ter que escolher entre a amizade dela e o nosso amor.
— É, e várias vezes tentou podar as minhas amizades né, Nicholas? — Acusei me lembrando de como ele me fazia parecer uma megera possessiva com a relação dele e da Chopra, mas quando se tratava das minhas relações ele agia igual.
— É. Eu estava mais preocupado com meu próprio umbigo... desculpe, de novo, por isso. Mas, o fato é que nessas coisinhas pequenas todas, ou na maioria, ela tinha culpa. Até aqueles momentos em que os paparazzi nos fotografavam e especulavam fofocas, era tudo coisa da Priyanka também, pelo menos algumas vezes era, para gerar buzz na mídia e te atingir de alguma forma.
— Ela foi capaz de comprar os paparazzi para isso? — Perguntei chocada deixando agora o meu café do mesmo jeito que Nick deixou o dele.

Nicholas assentiu silencioso e dobrou os joelhos de forma a abraçar as pernas e encarar o Sol que descia aos poucos no horizonte.

— Nicholas, eu sempre soube que ela precisava de ajuda psicológica em relação a você, mas isso.... Nossa! Ela enfiou a imagem dela no meio de um turbilhão de acusações só... por prazer? Quero dizer, quem gosta de se passar por amante de alguém?
— Calma que ainda tem mais. — Ele disse me olhando de novo, percebendo a minha feição extremamente abismada — A Priyanka armou aquela situação com o Shawn.
— QUÊ? — Gritei — Como assim Nicholas?! Sabia que o Shawnie até hoje não voltou no bistrô por um receio público? Quero dizer, a gente tem contato um com o outro por telefone, redes, mas não é como antes! Aquele burburinho da mídia no passado atrapalhou um pouco a nossa aproximação. — Eu imagino. Eu perdi a amizade dele por conta daquilo tudo, . E o Shawn é um cara foda! Eu sei que muito da distância que ele manteve de você tem minha culpa também.
— Eu o encontrei naquela premiação que você pediu para eu ir. Foi a última vez que eu realmente o vi.

Shawn Mendes era o único amigo famoso, do círculo de amizades do Nick, que eu realmente trouxe para perto de mim. Eu sempre falei com o círculo do Nick, sempre tive uma cordialidade em comum, uma amizade em comum, mas, o Shawnie era diferente. Se eu tinha o Alex como meu melhor amigo da vida, alguém do “meu mundo real”, o Shawn se tornou um melhor amigo da vida no mundo mágico da fama.
Ele é um cara tão simples quanto eu, e por isso, acho que a gente se dava tão bem! Ao mesmo tempo, o Shawn entendia o mundo do Nicholas, entendia as minhas preocupações com tudo aquilo, entendia as inseguranças de uma que só queria cozinhar por amor, enquanto também por amor, caiu de paraquedas na calçada da fama. O Mendes se tornou alguém que sempre estava por perto quando o Nick e eu estávamos alegres, tristes ou até mesmo separados. Várias vezes, quando a agenda dele folgava, acontecia do Shawn ir me visitar no nosso apartamento por um fim de semana inteiro, e me fazer companhia enquanto o Nick não estava. E foi ali que começaram as desconfianças do Jonas.
Um belo dia, o Nick tinha uma viagem e eu avisei que o Shawn estava vindo e queria que ele ficasse para passar tempo comigo e com o Mendes, e o Nick não desistiu de ir. Quando pensamos que estávamos só nós, o Nicholas aparece em casa e nos flagra fazendo maratona de filmes de heróis. Não estava acontecendo absolutamente nada de mais, e nem poderia! Shawn e eu éramos apenas bons amigos. O Nick chegou em casa aquela noite, dizendo que seus planos foram cancelados e o Mendes ficou tão feliz que ele imediatamente se levantou perguntando o que meu marido queria fazer. Ele estava louco para passar um tempo “de garotos” com o amigo, e eu notei. Mas, também notei como o Nicholas parecia preocupado e mesmo sendo amigável, gentil e animando-se com o amigo, ele não me enganava.
No fim, Nick e eu discutimos aquela noite a sós no quarto, sem que o Shawn percebesse e antes de dormir porque eu descobri que nunca tivera viagem nenhuma, que tudo foi um jogo do Nick apoiado em desconfianças da cabeça doente dele, para tentar descobrir se Shawn e eu éramos amantes. Foram semanas, sem engolir aquela história, sem perdoar o Nick, e me sentindo envergonhada pelo Mendes! Foi aquele o começo de uma série de ciúmes que aos poucos o Nick foi nutrindo na minha amizade com o outro cantor, até que as coisas saíram do controle. Ele acusou o Shawn de ter algum interesse em mim, e a amizade dos dois trincou. Shawn ficou do meu lado o tempo todo, até a mídia soltar uma bomba sobre nós dois, dizendo que éramos affaire um do outro e que eu traía o Nicholas. Por mais que o Nick soubesse que era mentira, quando isso chegou na imprensa, não importava mais. Mendes se afastou de nós dois, e eu permaneci lutando para não ser a que a vida de casada com uma celebridade pintava, e sim, ser a , simples cozinheira.
Mesmo com tudo aquilo, o Shawnie sempre esteve presente de alguma forma. Quando Nicholas viajou para o trabalho com a Chopra, onde culminou a armação da fotografia que nos causou a certeza da traição inexistente, eu já estava cansada de muita coisa! E foi para o Shawn que eu liguei contando que pensava em pedir o divórcio se as coisas não mudassem quando o Nick voltasse. Mas, no fim, antes do Nick voltar, teve a foto. E foi de novo, para o Shawn eu que recorri. Contei primeiro para Alex, que foi até minha casa me consolar, e enquanto chorava nos braços do meu melhor amigo, eu ouvia por vídeo chamada o conforto do meu amigo, Mendes. Alex e Shawn sempre se deram bem, o que era também motivo de ciúme do Nick. Tudo passou a ser ciúme do Nicholas e meu, de um para o outro.

— Escuta, ...

Nicholas falou depois daquele momento de silêncio entre nós, enquanto eu pensava no Shawn e no quanto houve injustiça também com ele:

— Eu sentia pavor de te perder pro Mendes. Ele... Ele era uma mistura do que e eu somos, não é? — Nicholas perguntou sorrindo.
— Nunca parei para pensar sobre isso, mas realmente.... O Shawnie é um cavalheiro, um doce de pessoa e muito gentil, tal como o , mas é um excelente músico cheio das mulheres aos seus pés como você.
— Por Deus, mulher! Você não consegue nunca arrancar uma qualidade sobre mim?
— Estou apenas tornando a conversa menos pesada. — Sorri zombeteira — Você e ele tem a mesma empolgação com o trabalho, a mesma paixão pela música, e... Mesmo ele sendo uma calmaria e você um vulcão, os dois conseguem ser extremamente atraentes e divertidos, além de companhias incríveis.

Nicholas sorriu enviesado e me olhou com um raro rubor na face, um pouco surpreso.

— É Nicholas, você era assim. — Apontei para seu rosto enrubescido — Costumava avermelhar-se de vergonha ao ser elogiado, sorrir tímido e criar uma coragem quase pré-adolescente para responder de volta. Mas, aí... A fábrica da fama te ensinou direitinho como arrancar suspiros e não ser abalado. Eu não sei... acho que entre nossos primeiros anos de namoro, e nossos primeiros anos de casado, nós dois mudamos muito. Talvez tenha sido este o problema. O Jonas por quem me apaixonei e casei, não era um cara cheio de si. Ele era mais como... O Shawn. Leve. Vocês dois realmente se parecem...

Suspirei e desenhei um bichinho na areia com o indicador, prestando mais atenção nele do que, em como o Nicholas reagiria.

— Eu já achei mesmo que o Shawn podia ser a sua alma gêmea. Vendo a forma como ele me parece agora... Ele tem um pouco do seu presente e do seu passado... talvez, se não for o , seja ele. Era para ser eu, mas o universo claramente não quis. Então, eu prefiro que seja o . — Nick sorriu de modo mais brincalhão me cutucando para o olhar — Seria horroroso e até traumático vê-la com o Mendes agora! Pelo menos, com o seu doutorzinho eu já... Meio que aceitei.
— Você é um idiota. — Falei de implicância e nós dois rimos.
— Obrigado .
— Por?
— Por me chamar para conversar e me ouvir. Eu não sabia se deveria fazer isso embora estivesse doido para te contar essas coisas, pra te ver e saber como você reagiu a tudo.
— Eu não estou “quebrada” como você. — Falei sincera ajeitando minha postura com os dois braços estendidos para trás, as mãos apoiadas no chão — Mas, também quero esfregar a cara dela no muro de chapisco.

Nicholas deu uma gargalhada alta.

Uow! Eu não vejo essa maluca e vingativa há tanto tempo que eu achei que era delírio!
— Sua fábrica te fez um galã, mas também me fez uma megera. Eu ainda lembro algumas coisas desse papel... — ri de volta — Mas, sabe Nick... não adianta. Não adianta sofrer com tudo isso agora, por mais que essa dor seja legítima de ser vivida por nós dois. Ela pode ser sentida, mas não prolongada. Entende o que eu digo?
— Entendo. É como o luto. A gente vai passar por ele, mas a vida segue, certo?
— Certo! Eu e você temos uma garotinha linda para nos concentrarmos em fazer feliz, assim como temos que nos concentrar na própria felicidade. E quando você estiver pronto, quem sabe nós dois não possamos ser mais amigos do que hoje?
— Sabe o que é pior? — Ele perguntou me encarando e eu neguei — Perceber em momentos como este, que eu perdi você. Eu realmente dei a maior mancada do mundo, porque você é incrível. Você sempre foi incrível , mesmo quando estava no meio da minha escuridão. Você acredita que eu sempre te amei de verdade?

Nicholas pegou uma mecha do meu cabelo que esvoaçava com a brisa do anoitecer e colocou atrás da minha orelha, de um modo que me trazia familiaridade e desconcertava meu peito. Aquilo não era hora!

— Eu juro que não estou cantando você a essa altura do campeonato, .... — Ele falou risonho, de um modo que escondia seu rosto ao olhar para o chão, e mordendo os lábios mostrando os dentinhos tortos que eu tanto gostava — Mas, aquele dia... Quando eu voltei da viagem, tudo o que eu queria era você. Te sentir e matar a saudade, e a forma como você me recebeu, o modo como tudo aconteceu.... Eu senti... ainda sinto, na verdade, que não houve uma verdadeira despedida. Fomos arrancados um do outro, e se eu soubesse que a última vez que ficamos juntos era realmente a última... eu teria eternizado ela de um modo maior na minha memória, porque eu não sei se eu lembro...
Pigarrei sentindo não só um rubor, mas um calor no meu peito. Que raios de conversa era aquela? O que o Nicholas pretendia? Não tive tempo de responder nada, porque ele se levantou e me estendeu a mão em minha frente para eu levantar. E quando estávamos os dois de pé, um de frente ao outro, ouvimos cliques. Cliques. Flashes, e mais cliques. Olhamos para trás e os paparazzi se aproximavam mais.

— Merda! Como nos acharam!?
— Vem! — Catei as coisas ao chão e peguei em sua mão o puxando para correr dali, e os repórteres nos seguiam gritando nossos nomes.
! Onde vamos!?
— Vamos subir para o píer, a gente despista eles nas lojinhas, e depois damos um jeito de fugir.
— Hey! Lembra do Kyle? — Nicholas falou do nada enquanto corríamos.
— Será que ele ainda existe?
— Claro que existe! Quem deixaria de fabricar pranchas em plena praia!?

Então, corremos em direção à antiga loja de surf, do nosso velho amigo Kyle.


Capítulo 48

Narração por .


Mesmo com deixando esclarecido o que sentia por mim, e eu sabendo que era verdadeiro, do contrário ela não diria, aquela ponta de insegurança morava em mim. Nunca imaginei passar por aquele tipo de sentimento de novo, desde Rosalyn. havia me informado que se encontraria com Nicholas, mas não disse onde e por mais idiota que fosse o ciúme, lá estava eu encostado na parede do elevador, olhando para a lâmpada do mesmo como se ela fosse se tornar uma bola de cristal que me mostraria as cenas que estariam prestes a acontecer. A porta se abriu, e Stella entrou por ela.

— Ora, ora, se não é 402... — a garota falou revirando os olhos apenas para provocar.
— E aí, pirralha. Ainda saindo escondido do seu pai?
— Não se meta na minha vida 402!
— Longe de mim.

Quando notou que eu não iria dar assunto para provocações, Stella decidiu que ela iria.

— O que houve? Levou um chute da ?
— Por que você é tão desagradável para uma garota de 16 anos? Ah, é verdade! É por isso que você é desagradável, você tem 16 anos... Há cinco anos que moro aqui.
— Eu também fico chocada em, como o síndico permite um morador tão mala como você por tanto tempo!
— Seu argumento nem faz sentido... — zombei.

Ela deu de ombros pegando o celular no bolso e mexendo nele, viu as notícias que mostravam as recentes atualizações sobre seu ídolo e suspirou.

Hey, doutor... — me chamou e eu a encarei como se não estivesse a espiando antes.
— Hm?
— Como a está? Digo.... Essas notícias abalaram o fandom inteiro, os dois devem estar...
— Péssimos, Stella. Na verdade, eu não sei do Nicholas se é o que você quer saber mesmo, mas ele estava bem neste fim de semana até a verdade dessa história surgir.
— Eu ainda não digeri o fato de que vocês convivem! Você estava na casa do Kevin! Eu vi tudo na internet! A realmente é o seu bilhete dourado...
— Para de falar bobeira menina!
— Eles realmente são incríveis como parece, 402?
— São sim. Pessoas ótimas! Até mesmo o seu ídolo que é geralmente um babaca, estava um cara mais suportável, e eu não digo isso por conta da , Stella. Ele realmente era um péssimo ex... Ainda é. — falei e a menina não gostou do que ouviu, por mais que já tivesse conversado com ela sobre tudo.
— Eu ainda espero que eles voltem, desculpa. — Falou sincera e dessa vez não tinha tom de provocação: — Eles eram um casalzão, e o Nick.... Eu sei que ele amava, ou ainda ama a ! Estou tão enfurecida com a Priyanka que eu seria capaz de pisar na cara dela com meus coturnos!

Não consegui segurar o riso, e a porta abriu no nosso andar no exato momento em que Stella também ria comigo. Caminhamos mais devagar do que o devido para a porta do meu apartamento, e eu sabia que ela não queria entrar, apenas prolongar as fofocas.

— Ei 402, pode dizer à que apesar de tudo, eu ‘tô do lado dela?
— Claro Stella, obrigado pela preocupação.
— Ela está em casa? Devem ter vários jornalistas por lá, não é?
— Na verdade, ela está com o Nicholas. Mais revelações foram feitas ao que me parece e eles precisavam conversar.
— Você não tem medo?

Stella estava sendo genuinamente curiosa e até certo ponto, cuidadosa em suas palavras, e por isso eu não me importei em permanecer conversando. Abri a porta da minha casa e entrei, mas a garota ficou parada no batente da mesma, ainda me escutando.

— Da me deixar por ele? — Perguntei e ela assentiu — Não. Até ontem estava, mas agora está tudo bem. Eu tenho maturidade para compreender os laços que os prendem, Stella, e não é como você pensa. Eles estão encaminhando-se para uma amizade futura depois de tantas brigas.
— Bem, eu só espero que os dois fiquem bem... com ou sem você no meio deles. — falou sorrindo e depois fechou a cara para me intimidar ao dizer: — Mas não se esqueça que eu sou “team Nicholas forever!”.
— Se você ficar menos desagradável quem sabe não te levo na casa do Kevin um dia... — Provoquei de volta apenas para ela não esquecer a nossa rincha saudável.
— Idiota... — deu a língua e sorriu maldosa: — Eu estava disposta a contar onde eles estão, mas você não sabe aproveitar as chances de trégua, 402.
— Como você saberia? — Perguntei confessando que eu mesmo não sabia, e ela riu — Saiu alguma coisa na internet?
— Não, até agora não, mas eu conheço aqueles dois. Eu sou líder de um fã-clube, meu querido! E todas as fãs do meu clube sabem que o lugar de encontro dos dois era a praia de Santa Mônica, ao pôr do sol. — Stella olhou o próprio relógio colorido no pulso ironizando: — E olha só! Não é mesmo a hora do crepúsculo dos apaixonados?

Dito isso, Stella acenou e saiu fechando a minha porta com certa dramatização perversa. Ouvi seu pai falando no corredor que ela estava demorando e ele já estava prestes a ir na escola a buscar, e em seguida ela riu dizendo que estava tirando uma com a minha cara. E por conta daquele comentário eu pensei que deveria tudo ser brincadeira, mas o meu telefone logo começou a apitar.
Uma chuva de mensagens de jornalistas me procurando, mensagens de amigos de do bistrô que agora eram meus amigos também, mensagens de Joe e Kevin Jonas, e mensagens do meu pai. Todas em torno de uma única questão: o escândalo de e Nicholas nos últimos dias, e o mais recente, de ambos abraçados numa praia. Em Santa Mônica. Stella com certeza estaria rindo do outro lado do corredor.

Narração por


Nick e eu corremos o quanto pudemos para chegar até Kyle sem nenhum paparazzo em nossa cola, e conseguimos. Nicholas bateu no sino que ficava à porta e logo a figura de um homem alto, parrudo, bem mais gordinho do que nos lembrávamos, com a barba russa e o rosto castigado numa vermelhidão sufista, surgiu.

— Não é possível! — Ele falou arregalando os olhos e em seguida gargalhando.

Nick e eu nos olhamos e abrimos um longo sorriso ao cumprimenta-lo também.

— Oi Kyle! A gente precisa de um esconderijo!
— Ora, ora , como se esse não fosse o lugar de vocês dois fugirem, não é mesmo?
— Dessa vez é diferente, Kyle... — Nick falou entrando logo atrás de mim e fechando a porta: — Pode fechar as janelas?

Kyle não perguntou os motivos, apenas fechou-as, acendeu as luzes e nos convidou a sentar. Logo explicamos a ele a situação e o mesmo disse saber que estávamos separados há algum tempo, mas não soube dos últimos escândalos.

— Bem, eu já estava fechando aqui. Vocês deram sorte! Mas, ficarão por muito tempo?
— Não fazemos ideia Kyle, a praia está cheia de jornalistas. — Falei.

Nicholas tocou o ombro do homem e deu aquele sorriso que sempre dava quando ia pedir para Kyle nos deixar dormir na loja anos atrás.

— Será que dessa vez você pode nos ajudar de outro jeito? — O homem assentiu risonho para nós dois — Nossos carros estão estacionados próximo ao terceiro canal da orla, e bem... não temos como ir até lá buscar, porque seríamos pegos.
— E nem posso pedir a alguém para trazê-los, não é? — Kyle perguntou e Nick assentiu — Relaxem queridos, aqui não tem risco de fazerem nada com os carros, mas eu peço a dois dos meus garotos para rebocarem os carros para a oficina de um amigo, assim não levantamos suspeitas.
— Obrigada, Kyle! Desculpe a gente surgir assim do nada, depois de tanto tempo e nessa enrascada.
document.write(Annie)! Mas, vocês querem passar a noite na loja ou precisam de um carro?

Nicholas e eu nos olhamos certos de que não havia a menor chance de passarmos a noite juntos naquela loja, seria absolutamente desconfortável. Então aceitamos o carro. Kyle telefonou para um de seus funcionários fazer o reboque, e nos emprestou um dos jipes da loja.
Nicholas ainda tirou sua jaqueta e pegou umas camisas de surfista que a loja vendia e trocou de roupa, e eu fiz o mesmo pegando um vestido para diferenciar a minha roupa que havia sido fotografada. Agradecemos Kyle, que nos pediu que voltássemos, e eu o convidei a ir no bistrô ansiosa para que ele realmente fosse. Kyle era uma espécie de surfista pescador cheio de carisma e histórias boas, um grande coração, um bom amigo.
Entramos no jipe e logo eu peguei o telefone para telefonar para casa, acalmei mamãe avisando que conseguimos fugir da emboscada e ela disse que era melhor eu não ir para casa, e em seguida telefone i ao contado o que ocorreu, e ele disse que estaria me esperando em sua casa.

— Te deixo no então?
— Sim... E você? Sua casa deve estar um caos!
— Eu não tenho como ir para casa de ninguém, não quero meter meus irmãos nisso também... talvez eu passe a noite num hotel.

Assenti e nós suspiramos cansados.

— Precisamos mesmo nos pronunciar o quanto antes... Como eles nos acharam!? — Reclamei.
— Eles sempre dão um jeito de achar... agora será essa guerra até que todos se pronunciem e eu te juro que, o que nós dois vamos dizer é a menor das minhas preocupações agora, . Eu quero saber é como escapar da Priyanka...
— Parando para pensar nisso, ela com certeza deve estar sendo atacada de todos os lados...
— Que se dane! — A mágoa na voz de Nick era tão visível quanto cruel. — Olha, amanhã eu peço a alguém para vir buscar o meu carro, posso pedir para pegarem o seu também e deixarem no bistrô. Tudo bem?
— Ótimo, se puder resolver essa... — estendi a chave do meu carro para ele e Nick pegou.

Nossas mãos se tocaram e sentimos um arrepio ao mesmo tempo. Aquilo era estranho. Era como se a tensão de tudo aquilo estivesse nos manipulando a sensações antigas, e naquele momento, Nicholas não observava a estrada com atenção. Apenas ouvimos o barulho oco de algo estourar. O pneu.

— Merda!

Falamos ao mesmo tempo. A estrada já estava escura, porque anoitecia muito mais rápido na costa de Los Angeles, sem todas aquelas luzes citadinas, e não era tão movimentada no início da noite quanto estava aquele dia, mas a razão era clara: ires e vires de carros jornalísticos e da mídia especulativa.

— Eu vou descer para trocar.
— Espera! Está muito recente, podem acabar nos vendo, ou parando para ajudar. Dirige até o acostamento e vamos ficar parados aqui um tempo, pelo menos até essa hora do pico de trabalho passar.
— Mas corremos o risco de encontrar os jornalistas mais tarde na tentativa de fugir.
— Eu ainda acho que dá para segurar um pouco.

Nicholas concordou comigo, dirigiu até o acostamento, acendeu a lanterna desligando os faróis, e ligou o rádio. Ficamos num silêncio confortável, olhando para o teto solar do carro, onde as nuvens do anoitecer pareciam dançar no céu, enquanto uma estrela ou outra, tímidas, iam surgindo.

— Como estão as coisas entre você e o com tudo isso? — Ele perguntou de repente, enquanto a voz suave de Miley Cyrus entoava “Malibu” no rádio.

Suspirei e virei o rosto para ele no banco, e Nicholas também. Que ideia mais estapafúrdia foi a minha em manter nós dois ali naquela penumbra de noite, trancados num carro.

— Estão bem. Ele ficou um pouco abalado com as minhas decisões diante isso tudo, e não é de se estranhar...
— Você... — falou e fez silêncio ponderando se deveria falar ou não.

Nicholas fugiu os olhos aos meus, negou com a cabeça e seus dentes tortos morderam seu lábio inferior num claro sinal de quem segura a língua.

— Você quer saber se eu pensei em voltarmos?
— Não. Não tenho que ficar pensando em nada disso, eu tenho é... — E então voltou a me olhar com aqueles olhos castanho-esverdeados pequenos, mas brilhantes e disse tocando meu rosto com o indicador de forma carinhosa: — Eu tenho é que esquecer estes seus olhos que me queimavam de amor, os seus lábios que eram tão macios... A sua pele aveludada... enfim! — Parou de falar e soltou uma lufada de ar pesarosa: — Eu tenho que te esquecer.

Fraquejei por um momento pensando em como os olhos de Nicholas também ardiam a minha pele, os lábios dele sumiam sob os meus, e a pele dele, ressecada, arranhava a minha. Senti o ar faltar então fechei os olhos de forma dura, sabendo que responder aquela pergunta que ele não fez, – mas queria – seria cruel.

— Não quero te ferir. ‘Tô fazendo isso para não alimentar nenhuma ilusão, Nick... — abri os olhos o encarando e o mesmo me devolveu a expressão de desconfiança e apreensão — Apesar de tudo o que aconteceu agora, em momento algum eu pensei em voltar para você, porque eu amo o . Mas eu me culpei, pensei que fui injusta contigo e na verdade, ainda penso. Apesar das manipulações eu me permiti desconfiar de você, só que como já conversamos várias vezes: não adianta pensar no ontem, se o que temos para viver é o agora.

Nicholas assentiu depois de um tempo em silêncio e bateu a chave da ignição.

— O que está fazendo?
— Vou trocar o pneu logo. — Falou abrindo a porta e declarando abertamente: — Um minuto a mais nesse carro e você vai se arrepender.

Segurei a mão dele confusa o impedindo de descer:

— Do que está falando?
— Do fato de que, tanto eu quanto você, estamos tendenciosos a arrancar as próprias roupas aqui.

Ruborizei e Nicholas desceu do carro, passando a mão na cabeça de um jeito nervoso, como se coçasse os cabelos. Respirei aliviada por tê-lo distante brevemente, e me odiando por saber que ele percebeu o quanto eu também estava mexida com aquela tarde nostálgica que tivemos.


Capítulo 49

Narração por


chegou mais tarde do que calculei. Vestia-se de um vestido florido em estilo havaiano e eu pude apostar que não eram as roupas que ela teria ido encontrar-se com Nicholas.

— O que houve meu amor? — perguntei quando abri a porta dando passagem para ela.
— Fomos perseguidos pelos paparazzi e tivemos que recorrer a um velho amigo.
— Velho amigo?
— Sim, dono de uma loja de surfe que nos abrigou para fugirmos despercebidos... Enfim...

não me parecia muito bem, algo abalava os seus pensamentos e por isso, ela sentou-se cansada no sofá. Sentei-me ao lado dela a puxando para um abraço que pude comprovar, era necessário. Ela me abraçou de volta apertadamente.

— Certo... Parece que o encontro de vocês não foi bom...
— Não é isso... — murmurou suspirosa: — Eu descobri mais coisas em relação aos feitos da Priyanka, que foram cruciais para o andamento das coisas, sabe?
— A manipulação da Priyanka, de fato, atrapalhou o casamento de vocês mais do que os pequenos problemas que poderiam ser resolvidos?
— Talvez... Silêncio e um suspiro. Eu não estava tão ansioso com tudo aquilo até aquele momento. Agora sim, parecia que eu deveria sentir alguma ameaça por conta do passado. estava mexida com a ideia de que a sua história poderia ter sido outra, seja lá o que ela tenha descoberto acerca das ações de Priyanka, as quais pareciam ser bem maiores do que a ponta daquele iceberg que havíamos presenciado.

— Você quer tomar banho enquanto eu preparo um chá ou algo para você comer? — perguntei com a voz um tanto tensa.
— Eu só quero ficar com você aqui, coladinha, mon chér.
— Me conta como foi... Se estiver bem para isso, é claro.
— Bem, Nicholas e eu fomos à praia de Santa Mônica...
— Stella... — murmurei como um pensamento que escapou em voz alta.
— O quê?
— Ela estava certa. Disse que lá era “o lugar” de vocês dois.

se afastou do meu abraço para me olhar com atenção, e eu apenas mantive meu sorriso de canto, enciumado por saber que a pirralha da minha vizinha tinha alguma razão sobre aquilo, e amedrontado que ela estivesse correta sobre outras coisas também.

— Stella veio aqui? Por quê? — tentava entender o contexto da minha história.
— Encontrei-a no elevador, ela me fez perguntas sobre tudo isso sempre deixando muito claro, o quanto torce por você voltar com ele, e comentou sobre a simbologia dessa praia para vocês dois...
...

se ergueu no sofá, com a voz de quem previa ser necessária uma justificativa por mais que eu não a tivesse pedido, embora, com certeza, minha expressão mostrasse claramente o que eu sentia, já que cinismo não é a minha:

— Não pense que fomos até lá por conta de qualquer sentimento, que não fosse o desejo de ficar confortáveis para tocar num assunto que se tornou ainda mais doloroso, ok?
— Eu não pensei nada, má chérie. Na verdade, eu compreendo que vocês tenham ido até lá para colocar o ponto final de vez, não é?

Minha voz não saiu tão tranquila quanto deveria, e estava de olhos arregalados, em surpresa, e um sorriso bobo tomou seus lábios enquanto ela tentava disfarçar que não tinha massageado o próprio ego com a minha fragilidade.

— Está com ciúme do Nick!
— Eu... — suspirei e fugi ao olhar dela, depois a encarei envergonhado confirmando: — Eu não sou uma mosca morta, , e embora as pessoas possam achar que sim, eu também não tenho sangue de barata... Este tipo de sentimento frustrante e irracional também me atinge e é lógico que eu sinto ciúme do Nicholas! A estrada de vocês é bem maior e com mais frutos do que a nossa!

riu baixinho e engatinhou do sofá até mim, sentando em meu colo, agarrando-se ao meu corpo como se não quisesse me soltar ou me deixar respirar. Sua cabeça encostada em meu ombro, com a face afundada na curva do meu pescoço me fizeram arrepiar ao sentir o hálito dela batendo ali. Parecia uma adolescente emocionada.

— Tão adorável saber que você não é uma mosca morta, !
— Sério? Você não deveria me tranquilizar dizendo que não tem razões para que eu alimente esse tipo de insegurança? — falei irônico e ria ainda com o rosto abafado em meu corpo.
— Ora, ... — beijou meu pescoço uma vez — Quantas vezes eu precisar dizer, eu direi... — beijou novamente e se afastou encarando os meus olhos: — O que me importa agora é a nossa estrada, seu bobo.
— Fala isso para a Stella de novo? Sinto que essa garota vai me infernizar a vida toda com isso de “Nicholas e ainda vão voltar”.

olhou em dúvida para a porta e abrindo a boca em choque, me fez gargalhar quando disse:

— Stella gosta de você!
— O que?
— Não é óbvio? Ela é uma adolescente muito espertinha! Está tentando nos separar porque você é o vizinho forte, simpático e bonitão por quem ela nutre um amor platônico!
Bernard, o que o Nicholas deu para você comer?
— Sei não ... Isso é bem comum, sabe? Uma jovem de dezesseis anos apaixonada platonicamente num vizinho mais velho... Se eu fosse sua vizinha, sonharia com você toda noite...

Com aquele clima de piada, eu me senti mais confortável. Foi a minha vez de abraçar , e beijá-la de forma cômica. Por mais que meus desejos viessem à tona ao menor contato com a Bernard, eu ainda queria ouvir sobre o dia que ela tivera com o ex. Não queria dar brechas para o assunto morrer.

— Teorias sobre a Stella e sobre o meu ciúme declarado à parte, vamos voltar ao assunto principal: o que aconteceu na praia?
— Bem... Nick me contou todas as coisas que a Priyanka o confessou, e de fato, nós dois nos sentimos ainda pior porque, sei lá... Fica uma sensação de buscar outros culpados, sabe? — Ela sustentava uma expressão de pesar por tudo aquilo e acariciando meu rosto, olhou profundamente em meus olhos: — Mas, como eu conversei com o , eu também cheguei à mesma conclusão com o Nick... Não dá para esquecer que havia motivos maiores por trás de tudo aquilo. Era imensa a rachadura que pendia entre nós dois, do contrário, as ações da Chopra não teriam sucesso. Se ela conseguiu o que queria, é porque ela enxergou onde nós tínhamos o que era necessário para minar o casamento. Culpá-la por tudo agora é injusto, mas inocentá-la é ultrajante também.
— E o Nicholas... Aceitou isso como?
— Ele está arrasado, mas acredito que identificou que essa situação estava o fazendo buscar se inocentar das próprias mágoas. No fundo, Nicholas sabe exatamente que ele errou e que eu errei, e que a Priyanka jogou bem sujo tirando vantagem dos nossos erros.
— Nada mudou, então? — perguntei e franziu o cenho sem entender, de modo que esclareci: — Digo... Nas expectativas dele, na forma como ele tem sido mais consciente?
— Ah! Ele está e vai ficar revoltado por um tempo, afinal, o Nick é absolutamente orgulhoso, mas... Sim, ele quer seguir em frente e por isso nós dois teremos que nos apoiar no que for importante, e isso inclui a mídia. Fora a mídia, o Nick precisa esquecer a nossa história, sozinho... Por um tempo, a é o nosso assunto e só.
— E você? Como está depois que descobriu isso tudo?
— Louca pra esfregar a cara da Priyanka no muro de chapisco.

Aquela não era uma versão que eu conhecia, mas gargalhei. no fim, também não era tão madura assim, e eu tinha certeza que era muito bom a indiana ficar bem longe por um tempo. Pelo menos, até não estar mais com aquela raiva.

— Se você fizer isso eu terei que te visitar na cadeia, e não sou muito o tipo que combina com aquele ambiente, amor... Então, vamos evitar. Tenho certeza de que a Chopra está bem longe agora.
— Que esteja no inferno, . Definitivamente, eu não me importo e tenho todo o direito de querer picadinho dessa mulher agora! Depois eu lido com a culpa da minha falta de empatia ou sororidade.

Nós dois rimos e em seguida foi tomar banho para descansar. Eu também estava exausto, mas antes de dormir ela ainda me contou que teríamos que nos manifestar diante da mídia, e Nicholas ajeitaria aquele assunto para que nós pudéssemos ir retornando a nossa vida a um estágio de paz.
No dia seguinte, o hospital parecia mais um tapete de premiação pela quantidade de jornalistas na recepção do lado de fora. Jamais imaginei que seria uma questão comigo, por mais que devesse. “Algum famoso internado”, foi para mim mais verídico de se pensar, entretanto, não estava assim tão errado uma vez que depois de sair do estacionamento, entrar no elevador e chegar à minha ala, eu encontrei Nicholas aguardando-me na minha sala.

— Dr. , finalmente!
— O que houve Stevenson? — perguntei à enfermeira que esbaforida vinha em minha direção.

Notei também os olhares de outros colegas de profissão que estavam ociosos pelo corredor conversando, fingindo lerem suas pastas e prontuários, mas sem tirar os olhos de mim.

— Isto está uma loucura hoje, o primeiro andar está em euforia com a recepção! Estes jornalistas não tem o mínimo de bom senso! Isso aqui é um hospital! — Stevenson dizia com as mãos em sua farta cintura, num claro tom de revolta: — Aquele Jonas está aí em sua sala. Eu o mandei ficar bem quieto e sentado lá dentro! Os pacientes já são nossa responsabilidade, não precisamos de fotógrafos e celebridades por aqui, a menos que sejam pacientes e não é o caso dele, Dr. Diretor.

Senti que Stevenson apesar da amizade e carinho, e agora também, apesar de ser subordinada ao meu cargo, estava me lançando indiretas culposas. Sorri para ela verdadeiramente constrangido, e imaginando o quanto o diretor-geral do hospital falaria em meus ouvidos por aquilo. Não fui eu quem chamou aqueles jornalistas, mas Nicholas poderia ter evitado aparecer ali para assuntos pessoais.

— Me desculpe Stevenson! Diga a todos para concentrarem-se em nosso dever, que eu vou imediatamente dar um fim neste assunto.

Caminhei até minha sala e ao abrir a porta dei de cara com Nicholas em pé perto da janela, olhando pelas persianas o movimento lá embaixo e falando ao telefone com .

— Eu sei, eu sei que você acabou de chegar no bistrô , mas por favor... Eles cercaram o lugar e eu acredito que será melhor justificar com um fim logo nisso. Afinal, é o trabalho do seu namorado.

O som da maçaneta chamou a atenção dele, e me vendo, Nicholas direcionou-se para finalizar a chamada.

... Olha... O chegou aqui. Eu... Eu...

Ela parecia falar e não deixá-lo responder pela expressão que o mesmo fazia segurando o nariz entre os dedos à altura dos olhos:

— Por Deus, , você pode me deixar falar?! — Silêncio por parte dele e eu apenas acenei num cumprimento calado antes de sentar-me em minha cadeira — Eu vim até aqui porque estava em meu caminho, para falar com ele a respeito do pronunciamento... — Novamente silêncio — , nós já conversamos sobre isso e o não é uma extensão sua! É claro que eu deveria falar com ele, mas olha... Eu tenho que desligar... Ok. Até mais, venha logo!

Nicholas desligou e soltou um suspiro pesaroso. Puxou a cadeira na mesa à minha frente e jogou-se nela, enquanto eu mantinha meus braços cruzados sobre a mesma mesa o observando.

— Bom dia, Jonas.
— E aí, doutorzinho. — falou em tom de escárnio, mas diferente do que antigamente ele utilizava para me desprezar — Manhã difícil, não?
— Não para mim. Onde quer que você vá o tumulto lhe acompanha não é mesmo?
— Eu não achei que eles estariam atrás de você no seu trabalho. Quando cheguei, eles já estavam aqui. Se eu soubesse não teria vindo.
— E por que veio?
— Para nós dois também colocarmos um pingo no nosso “i”...
— Achei que as coisas tinham sido finalizadas no fim de semana na casa do seu irmão, Nicholas.
— E foram de certa forma. Mas, eu me coloquei no seu lugar depois de todo o escândalo, e por mais que eu saiba que você deve estar cagando e andando para os fatos, eu estaria extremamente nervoso com meu relacionamento e o futuro dele. Infernizei vocês dois até onde deu, e no final das contas, descobrimos toda a manipulação envolvida...
— Jonas... — antes que eu terminasse, ele interrompeu-me:
— Espera . Eu sei que você, não sou eu, e que provavelmente, assuntos do tipo já foram tratados entre você e , sei que não tenho nada a ver com isso. Mas...

Nicholas suspirou ainda mais pesado e mordeu os lábios, contrariado.

— Mas, eu quero me desculpar de novo com você, . Você chegou na vida das duas mulheres da minha vida e fez por elas aquilo que eu deveria ter feito. Você foi um homem decente com a , soube preservar a de tudo, além de ser um excelente médico para minha filha. No fundo, eu senti inveja de você, além do ciúme óbvio por não estar no seu lugar ao lado delas... Mas, mesmo com as ações da Priyanka, a culpa de não estar ali foi minha. Então, eu sei que invadi a sua vida com meus problemas quando você assumiu ficar com a . E eu não quero que seja lá o que estes jornalistas tiverem dito, ou venham dizer, vocês dois tenham ainda mais problemas por minha causa.

Uau. Quem era aquele cara, e o que ele fez com o Jonas que eu conheci? A expressão nos olhos dele de todas as vezes que nós trocamos palavras, era a mais sóbria. Sóbria de postura adulta, sóbria da embriaguez que sentimentos perturbadores podem causar. Sóbria de alguém que parecia estar recomeçando a jogar a vida, sem qualquer truque para avançar as casas de forma negligente.

— Não vou dizer que não me assusta te ouvir falar tudo isso, Jonas. Me apavora porque claramente eu não conheci nada de bom em você. — Nicholas abaixou a cabeça no momento em que eu disse aquilo, envergonhado, mas ao escutar o que eu disse em seguida, ergueu um olhar agradecido a mim: — Até algumas semanas, quando você me mostrou que há alguma coisa decente aí.
— É, às vezes eu demoro um pouco para pegar no tranco... Enfim, eu vim aqui para me desculpar, agradecer e dizer a você que espero que cuide muito bem das duas, porque apesar de não insistir em ocupar um espaço que não é mais meu, eu não vou deixar nenhum outro Nicholas surgir na vida delas.
— Não se preocupe, como você disse, somos o perfeito oposto um do outro, e se nós dois dermos as mãos, cuidaremos muito bem da . Porque, sinceramente... — eu ri, embora quisesse mostrá-lo que eu estava impondo um limite: — Da , eu cuido sozinho.
— Não cuida não. Vai nessa... — falou zombando: — Ela tem uma legião em torno dela, e aceite você ou não, posso não fazer parte dessa armada como um amigo ainda, mas daqui a alguns anos, eu estarei no natal do mesmo jeito.

Nicholas riu zombando e eu ri de volta. Risos contidos de ambos os lados. Havia entendido o que ele queria dizer e não era o velho Nicholas disputando nada, mas o atual Nicholas tentando ser um novo.
Eu diria que ele poderia confiar em mim, que eu respeitaria a memória que ele representava na vida das duas, mas fomos interrompidos pelo som da porta. E na verdade... À merda o Nicholas! Eu não tinha que falar o que eu já vinha demonstrando desde o início e ele sabia bem! Não dava para baixar minha guarda totalmente com ele ainda, porque no fim das contas, mesmo sem me preocupar com uma recaída dele, eu devia àquele cara um mínimo de perturbação já que ele me perturbou tanto.

— Entre! — falei alto olhando à porta e o rosto redondo e rosado de Rosalyn surgiu na fresta. — Entre, Rose.
— Ah...

Dois passos dados por ela para dentro do meu consultório e Nicholas virou-se para trás a fim de olhá-la, e na mesma hora percebi Rosalyn ruborizar. O quê, afinal, as mulheres viam em Nicholas Jonas?

— Eu só queria dizer que estão tentando conter os jornalistas, a ... Está na recepção e não consegue subir porque lá na entrada do hospital...

Nicholas me olhou preocupado e eu também, não demos tempo de Rose terminar de explicar, fomos diretivos até a .

— Obrigado Rose. — bati em seu ombro e saí como um vulto acompanhado por Nick.

De fato, o diretor-geral teria uma longa conversa comigo.

Narração por


Mal cheguei ao bistrô e já estava o Nicholas me telefonando às sete e meia da manhã! Eu imaginei que ele diria algo como , seu carro já está a caminho”, ou “Quando posso ir levar seu carro e suas chaves?”. Mas ele veio me pedir para ir até o hospital, dar declarações públicas à horda de jornalistas que ali estavam. O Nick era muito estranho mesmo!

— Oi Nicholas! Bom dia, já está mandando meu carro?
— Oi ! Bom dia... — disse com voz suave — Eu mandei sim, agora pela manhã para o bistrô. Imaginei que seria melhor, certo?
— Claro! Muito obrigada!
— Mas não é para isso que estou ligando... Sabe o que é, ... — usou aquele tom de quem hesitava — Estou no hospital, aqui onde o trabalha e...
— O que faz aí há esta hora?! Não me diga que você sofreu um acidente!? — interrompi assustada e um pouco preocupada.
— Não, está tudo bem comigo. Quero dizer, eu não imaginava que os paparazzi estariam de prontidão aqui. ainda não chegou, mas isso está um pouco caótico, principalmente depois que eu cheguei e fui rodeado por eles na recepção. Então, penso que talvez seja um bom momento de nós três nos pronunciarmos, você poderia vir?
— Espera!

Larguei a caneta e o caderno que anotava algumas coisas ao bar do bistrô, em cima do tampo marmóreo e franzi a sobrancelha tentando compreender o que Nicholas dizia.

— Nicholas, você quer que eu vá agora ao hospital para um pronunciamento de última hora? Não me disse que conversaria com seu agente e que em seguida me avisaria e...
— Sim, ! Mas, eu não imaginei que eles viriam acampar na porta do hospital! Isso pode sair do controle depois das notícias de ontem. Eles nos seguiram e agora estão aqui para... Você sabe que tipo de intenções eles tem em estar aqui! Vão cercar o e ele terá que dizer alguma coisa, então não é melhor nós nos anteciparmos?
— Por Deus, Nicholas!

Marianne parou no balcão e revirou os olhos ao ouvir o nome dele, e também ficou estática e bem fofoqueira em minha frente, enquanto eu fazia caras e bocas incrédulas para ela.

— Eu acabei de chegar aqui no bistrô!
— Eu sei, eu sei que você acabou de chegar no bistrô , mas por favor... Eles cercaram o lugar e eu acredito que será melhor justificar com um fim isso. Afinal, é o trabalho do seu namorado.

Eu simplesmente detestava quando o Nicholas bancava o espertinho.

— Exatamente Jonas! – me exaltei com ele, mas mantendo um tom de voz contido no meu ambiente de trabalho — O trabalho do meu namorado, o qual não deveria ser envolvido nesta situação toda, tampouco ser pego de surpresa por nós dois!
... Olha...
— Não era nem para você estar aí, Jonas!
— O chegou aqui. Eu...
— Estes jornalistas te seguiram, Nicholas!
— Eu...
— Você não pensou no peso da sua ação de ir incomodar o logo depois de ontem? Aposto que foi aí para falar merdas ao , não é? Afinal de contas, para que outra razão você estaria...
— Por Deus, , você pode me deixar falar?! — ele me interrompeu depois das minhas seguidas interrupções.
— Fale! Explique logo qual a merda você conseguiu aprontar as sete da manhã, Nicholas!
— Eu vim até aqui porque estava em meu caminho, para falar com ele a respeito do pronunciamento...
— Falar do pronunciamento com ele!? — perguntei sarcástica por achar claramente que aquilo era uma mentira deslavada do meu ex. — Você tem que falar disso é comigo! E não com o ! Estávamos combinados de você acertar os ponteiros e a sua agenda com sua equipe, me avisar e então eu iria comunicar ao quando nós três nos pronunciaríamos! Que tipo de situação é esta, Nicholas?
, nós já conversamos sobre isso e o não é uma extensão sua! É claro que eu deveria falar com ele, mas olha... Eu tenho que desligar...
— Seja lá o que você fez, estou indo, Nicholas.
— Ok. Até mais, venha logo!

Marianne sustentava uma expressão de preguiça e tédio, o que nós todos no bistrô chamávamos de “Efeito Nicholas de Marianne”, e eu bufei pegando as coisas que estava ali usando para as minhas anotações, além do meu celular e dei a volta no bar.

— Eu tenho que dar um pulo no hospital, Mari. Eu não sei direito o que o Nicholas tramou dessa vez, mas está cheio de paparazzi na porta do hospital e deve realmente estar um caos!
— Pobre , carne nova para os abutres e eles estão famintos.
— É bem por aí! Mas, Nick pareceu preocupado em como isso pode afetar negativamente o , o que me cheira muito esquisito! Desde quando Nick tem compaixão com ?
— Ou ele fez de propósito para o passar um pouquinho do perrengue da falta de privacidade... Vai saber que tipo de picuinhas o Nick é capaz de fazer...
— Ai, e pra variar o meu carro está com ele!

Marianne me seguia até o meu escritório para eu pegar minha bolsa e tirar o dólmã.

— Isso é outra história que a senhorita vai me explicar melhor! Eu não entendi absolutamente nada disso de, seu carro ficar com ele e vocês dois... Em Santa Mônica, !? Fala sério!
— Olha Marianne, depois a gente discute isso, mas vá pegar sua bolsa, por favor, e me leve até lá! O hospital é bem perto, de carro chegamos em uns quinze minutos!
— Eu? Como assim? — tentou se fazer de desentendida.
— Eu vi você chegar com o carro do Alex.
— Ah... É... — murmurou constrangida pelo meu flagrante enquanto eu a encarava com um risinho de escárnio, e respondeu-me: — Eu já volto.

Saiu disparada para pegar suas coisas como eu bem disse, e deixamos Jackson e Giovanna, uma das garçonetes, controlando as coisas do início da manhã e fomos para o hospital enfrentar aquela confusão.
Mal cheguei e não consegui andar muitos metros, só alguns poucos passos. Porque assim que desci do carro, com Marianne ao meu lado, ouvimos alguém me gritando:

! !

Olhei para trás e Stella surgiu sabe-se lá de onde, correndo em minha direção e se aproximando. O problema é que, os paparazzi se aproximaram também como uma nuvem de vespas.

— Corre ! — a adolescente gritava gargalhando ao olhar para trás e fugir dos jornalistas.
— Cacete! Quem é esta garota, !? — Marianne falou me puxando pela mão e indo apressada para a área de entrada lateral do hospital.
— A Stella!
— A pirralha que acampava no seu bairro?
— Eu mesma! Mas não sou pirralha, ouviu? — Stella nos alcançou repreendendo com a cara fechada, a Marianne.

Entramos pela porta lateral e íamos seguir dentro do hospital, quando vimos alguns repórteres na entrada dando trabalho aos seguranças que os impediam de entrar, e ao mesmo tempo outros seguranças tentavam expulsar nós três de entrar.

— Eu preciso falar com ! — falei para um deles.
— Senhorita ?

Ouvi uma enfermeira que passava por ali, com três residentes, aparentemente, ao seu lado. Ao encará-la reconheci Stevenson. Ela fez sinal aos seguranças para me deixarem, e na mesma hora eles correram para a entrada lateral onde os demais paparazzi haviam nos seguido.

— Que inferno! Este hospital está uma loucura hoje! — Stevenson falou se aproximando de nós e me puxando para um corredor que eu queria acessar e não consegui — Venha!
— Obrigada senhora Stevenson!
— Você e estão filmando alguma comédia romântica adolescente?
— Me desculpe! Eu imagino o quanto tudo isto deve estar perturbando a vocês e os pacientes, me desculpe!
— Os pacientes não. Eles adoram uma fofoca, na verdade! — Stevenson olhou para os residentes que a seguiam assustados, e para Marianne e Stella: — Vocês querem o quê?
— Elas estão comigo! — falei apontando as duas.
— Certo! Vocês três podem subir para o segundo andar e encontrar o Dr. Gutierrez! Diga-o que eu desovei vocês para eles! Não façam merda, já viram que estamos caóticos o suficiente, não é?

Ela ordenou aos residentes que riram animados pela confusão causada por nós, e saíram seguindo suas ordens. Stevenson encarou a mim e as duas ao meu lado, e disse seguindo em frente, enquanto nós íamos a seguindo:

— Não posso ficar com a senhorita, e é melhor trancá-la numa salinha como fiz com o outro. Então, entrem e pelo amor de Deus, aguardem! Chamarei o até vocês.

Abrindo a porta de uma sala que parecia um consultório desocupado, embora mobiliado, Stevenson pegou o bip médico e bipou para alguém.

— Pronto. Sei que o deve estar atendendo, então pedi a Rosalyn que o avisasse. Fiquem por aqui, ok?

Assenti e ela saiu.

— Caramba, que manhã divertida! — Stella quebrou o silêncio.
— Garota, você não deveria estar na escola? Por que está perseguindo a por aí?

Marianne perguntou cruzando os braços na direção de Stella que imitou sua postura, um tanto ultrajada pelo tom de Mari e a respondendo. Não havia me dado conta de que as duas eram bem parecidas exceto por uma odiar o Nicholas ao extremo, e a outra, amá-lo.

— Não vim atrás da ! Recebi o alerta do fandom de que o Nicholas estava aqui, então vim para ver o meu ídolo e de quebra tirar um sarro do 402!
— Stella, Marianne tem razão. Você deveria estar na escola! Que ideia!
— Se ela soubesse o embuste que o Nicholas é, não perderia aula por ele.
, quem é esta mulher?

A mais nova me perguntou de forma ríspida, e caminhou até mim entrelaçando o braço ao meu, para mostrar à Marianne que era próxima a mim. Mari olhou e riu.

— O Nicholas nunca vai deixar de dar trabalho a você, . Agora eu tenho certeza! Até mesmo as fãs piradas dele continuam atrás de você...
— Você é bastante mal educada! — Stella falou ainda mais irritada com as provocações de Marianne, não sei se por ofenderem a ela ou ao Nick.
— Vocês duas, parem! Já não basta tudo isso?
, me conta! O que o Nick veio fazer aqui? Vocês se acertaram em Santa Mônica ontem, não é? Eu sabia! Aquele é o lugar de vocês dois! E...
— Stella! — falei enérgica sem ser malvada com a garota: — Não tem essa de me acertar com o Nicholas, eu disse isso a você há algum tempo não foi? E por favor, pare de comentários desnecessários com o , ele não merece que você e ninguém plante maldade entre nós dois. Não permitirei isso. Além do mais, seja lá o motivo que você tenha para isso, aceite que e eu somos, um casal. Até mesmo Nicholas aceitou.

Marianne abaixou a cabeça para não constranger ainda mais a jovem. E Stella pareceu envergonhada, se redimindo:

— Me perdoe, não era a minha intenção . Não quis magoar você, nem mesmo o 402! De verdade! Era só peraltice. Ele implica comigo e eu com ele, mas... Eu espero que vocês fiquem bem. Apesar de...
— Apesar de você sentir uma pena absurda do Nick! — falei completando a fala dela — Nós já sabemos Stella. Embora, não precise de toda esta sua pena por ele. Nicholas ficará muito bem.
— Acha que eu posso vê-lo hoje?
— Misericórdia menina! Você deveria manter distância dele, tem certeza do que está fazendo? — Marianne zombou.
— NUNCA! — Stella falou categórica — Nicholas Jonas pode errar quantas vezes for nesta vida, mas eu nunca deixarei de estar ao lado dele porque ele é uma pessoa incrível! É o amor da minha vida inteirinha!

Ela dizia aquilo como alguém que jurava à bandeira ou defendia a própria pátria. Amor de fã era mesmo um negócio esquisito e doido. Stella estava lá bradando suas declarações de fã amorosa para Marianne que nem viu quando a porta do lugar que estávamos se abriu, e entrou acompanhado por Nicholas que escutou aquilo tudo, e me encarou confuso.
Eu sorri, porque, só mesmo no desandado cenário da minha vida para uma cena tão engraçada acontecer no meio de tanto caos. Stella virou-se para nós, e então deu de cara com o par de olhos de Nicholas a analisando de cima a baixo, curioso. Nem um fio de sua voz, nem um movimento de seu corpo. O choque mesclado à admiração nos olhos dela, só não deram mais espaço para os surtos da fã porque em um poucos segundos, Stella estava caindo desfalecida para trás.

— Segura! — gritei assustada.

E lá estava Marianne ao chão, caindo sentada à medida que tentava segurar o corpo da moça de dezesseis anos, e parecia ser pesada.

— Você não serve nem mesmo para segurar a fã que tu desmaia, não é Nicholas?
— Por quantos anos mais você vai reprimir este amor encubado por mim, Marianne? — rebateu Nick se aproximando de Marianne.
— Não acredito que estão discutindo com uma adolescente desmaiada aqui! — falei.
— Amor... — se aproximou de mim negando com a cabeça a olhar os dois ao chão, Marianne com a garota em seu colo e Nicholas agachando perto delas — Se eu for demitido hoje, você me arruma uma vaga no restaurante?

Beijei rapidamente , rindo e respondi:

— Não tenha dúvida disso.
— Ótimo! Fico mais aliviado.

Nicholas ergueu o corpo de Stella para pô-la na maca, e pediu para que ele esperasse. Sacou o celular e fotografou aquilo.

— O que está fazendo? — Nick perguntou confuso.
— Garantindo negociações! — respondeu maroto — Pode fazer uma cara de apaixonado para ela?
— O que?
— Anda Nicholas! Faça uma gracinha aí para a garota!

Eu comecei a rir já com Marianne em pé do meu lado, depois que eu a ajudei a se levantar.

— Eu não ‘ sabendo lidar com esses dois quase pacíficos. — disse a minha hostess.
— Pronto! Ponha ela na maca. — disse que logo foi atender à Stella.
— Sabe que eu vou tirar fotos com ela quando acordar, não sabe? Ainda mais depois de vê-la me defender daquele jeito. — Nick ironizou tentando tirar a felicidade de por sua “fonte de negociações”.
— Tem certeza? Você costumava fugir dela... — falei e ele me encarou surpreso. — Principalmente quando ia ao banheiro.
— É aquela fã?
— Ela mesma.
— Pela expressão de pânico do Nick, acho que vou voltar atrás e me tornar amiga de Stella.

Mari afirmou e todos chocaram com o que eu disse a seguir:

— Uma vez Stella espionou nosso banheiro pela árvore do quintal vizinho. Nicholas tomava banho... Vai ver foi ali que ela ficou obcecada de verdade.
— Para, não deve ser tão grande coisa assim... — Marianne sussurrou em meu ouvido e eu ri.

Nicholas e não ouviram o que ela disse, mas me ouviram e estavam bastante constrangidos entre si, principalmente com o risinho que nós duas dávamos atrás deles. Então, concentrou-se no atendimento e Nicholas cruzou os braços assistindo-o, calado. Antes de irmos lidar com o furacão dos paparazzi, alguém precisava acordá-la e garantir que ela voltasse para o colégio ou para casa.


Capítulo 50

Narração por


, e se nós dois fôssemos falar com eles agora? — Nicholas perguntou-me e viu que Stella estava acordando.
— Ela está acordando.

Nick, Marianne e eu, observamos a maca onde estava Stella. Ela abriu os olhos e deu de cara com checando seus olhos.

— Sai para lá, 402! — resmungou baixinho.
— Estou prestando atendimento, afinal, uma garota maluca matou aula para vir desmaiar no meu hospital! — zombou rindo baixinho e a jovem fez cara de poucos amigos para ele — Você se lembra do desmaio?
— Não é possível, 402! — ela falou alarmada, finalmente arregalando os olhos e apoiando o corpo sobre os cotovelos — O amor da minha vida estava aqui! Tão pertinho de mim! Isso foi um sonho não é?
— Seu namoradinho fugitivo? — se fazia de desentendido zombando, e nós três, atrás da maca segurávamos o riso.

Olhei para Nicholas e ele encarava aquela comoção de uma fã com certa ternura e um sorriso grato em seu rosto. Eu sempre achei que aquele tipo de fã o fizesse mal, primeiro por alimentar seu ego de super astro, segundo, por sufocá-lo. Mas observando as reações dele e analisando as recentes experiências de Nick, o fanatismo de Stella era até compassivo. E Nicholas estava recebendo muito desamor nos últimos tempos; então, talvez, conviver com aquele surto da vizinha maluca do , pudesse fazê-lo bem em algum ponto.

— Não estou falando do Julien, 402! Estou falando do Nick! O amor da minha vida!
começou a rir e olhou para mim ao dizer:
— Julien, o nome do fugitivo! Um francês!
— Stella tem bom gosto, afinal! — respondi sorrindo pelo trocadilho e com exceção de Nicholas; Marianne e me encararam ultrajados.
— E tem o mesmo problema de dedo em curva que você, não é? — Marianne zombou apontando de mim para Nick, me fazendo notar a situação.

Quando retornamos atenção para a garota, os olhos dela faltavam sair de novo das órbitas de tão arregalados. tocou a sua mão:

— Stella, não desmaia de novo, por favor. — pediu — É o Nicholas mesmo ali, mas se você ficar desmaiando e surtando ele não vai chegar perto.
— Não! — Ela gritou e se ajeitou levantando-se de um supetão. Sentou à maca, já se movendo e sacudindo os pés para descer, me olhou preocupada: — , eu posso...?

Arqueei a sobrancelha rindo e dando de ombros, deixando esclarecido que não era para mim que ela deveria perguntar nada.
Stella desceu e Nicholas se aproximou poucos passos dela, ainda tímido e sorridente e, de novo, as íris da garota pareciam dois diamantes de tanto que brilhavam.

— É um prazer te conhecer, Stella. Acho que até já falei com você antes... Era você que ficava acampada no nosso bairro às vezes, não é? — Ela apenas assentiu e Nick olhou para mim, soltando um riso fraco e perguntou-a: — Você quer um abraço?

Stella nem mesmo respondeu, apenas se jogou nos braços de Nicholas fazendo-o cambalear para trás e a segurando.

— Você não faz ideia de como salvou a minha vida, Nick! — soltou murmurando em muitas lágrimas soluçantes.

De repente, nenhum de nós entendia a raiz daquele amor de fã, Stella falou como se Nicholas fosse um corpo de bombeiros que a tirou do meio do fogo.

— Poxa Stella... Eu... Eu realmente acho que não sei... — Nick afagava o cabelo dela sentindo sua camisa molhando com o choro compulsivo — Mas, eu adorarei que você me conte melhor sobre isso qualquer dia.

A jovem se afastou dele aos poucos e assentiu silenciosa, correu até mim e me abraçou apertadamente também; o que nos deixou ainda mais surpresos.

— Ei, você está bem? — perguntei baixinho no ouvido dela — Stella?
— Ele salvou minha vida ... Vocês salvaram!

Afastou-se de mim após dizer aquilo e enxugou as próprias lágrimas se recompondo. Ela então se voltou ao Nick, um pouco menos desesperada e pediu:

— Você promete? Promete que poderei te contar tudo?
— Se você prometer que não irá desmaiar, eu até te levo para jantar!
— Meu Deus! O Julien vai ficar doidinho quando eu contar pra ele que vou ter um encontro com você! — falou risonha já voltando ao seu normal e nos acalmou.
Hey, Stella! — Marianne chamou-a e fazendo careta para o Nick ela disse: — Cuidado! O Julien certamente é mil vezes melhor do que este projeto de homem aí.
— Não Marianne! Eu não vou sair com você, desista! — Nick provocou e encarando Stella deu de ombros ao zombar de volta: — Esta italiana nunca superou o fora que o Joseph deu nela e desconta tudo em mim!

Stella abriu a boca chocada com a fofoca ao olhar para minha hostess que revirava os olhos.

— Olha só, isso aqui ainda é um hospital e eu tenho muito trabalho! Então... Por favor, pessoal resolvam esta situação. — pediu ao ouvir seu bipe.
— Tem razão meu amor, me desculpa! Eu vou arrastar o Nick lá para fora e a gente se livra deles! Qualquer coisa na hora de ir embora, se ainda houver comoção por aqui, me fale tá? — me aproximei do meu namorado o beijando e abraçando em despedida.
— Aonde vamos desovar a garota? — Marianne perguntou. — E o Nicholas, é claro...
— Eu posso levá-la de volta! — Nick prontificou e a adolescente deu pulinhos — Para o colégio não é?
— Não, a essa altura o meu pai já sabe que eu fugi da escola! Se eu chegar em casa com você, ele vai entender melhor! E acreditar na minha versão, lógico!
— Espera... — olhei para a situação e suspirou, beijando minha testa e se despediu de nós todos, sem dar mais opiniões sobre aquilo. Quando ele saiu eu disse: — Seu pai não vai aliviar nada por ser o Nicholas, Stella! Na verdade, as coisas vão ser piores.
— Conhece o pai dela? — Nick perguntou e eu murmurei que sim — Então vamos juntos. Nós explicamos o que houve, e claro... — Ele olhou para Stella: — Você terá que liar com o seu castigo, porque eu não acho que posso salvar a sua vida agora também, desculpe.

Os dois riram e Marianne pegou em minha mão e na mão de Stella nos afastando de Nick:

— Beleza! Elas vão comigo, e você no seu carro! Até porque os paparazzi te seguirão! Agora vai lá arrumar a sua bagunça, Jonas!

Eu ri e fui acompanhando Nick para fora. Quando chegamos à entrada do hospital, a nuvem de fotógrafos, misturada aos seguranças do hospital e repórteres nos enchendo de perguntas foi grande.

— Pessoal, por favor! Isso é um hospital, e vocês causaram comoção demais!
— Nicholas e eu daremos uma coletiva de imprensa no final desta semana, e iremos responder as suas questões, só pedimos que, por favor, aguardem e não fiquem perseguindo ao meu namorado! — pedi.
, então você realmente está namorando este tal Dr. Adam ? Você e o Nicholas não reataram? Porque estavam juntos em Santa Mônica? — Um deles perguntou e; antes que eu respondesse Nick o fez:
e eu não somos casal há algum tempo e todos sabem disso! Então respeitem a nova relação dela com o . Não temos mais nada a declarar aqui, já incomodamos demais o funcionamento do hospital, então, por favor, guardem as suas perguntas para a coletiva.
— Priyanka estará na coletiva, Nicholas? Por que vocês não têm estado mais juntos? — Outro repórter perguntou quando começamos a dar as costas.
— Não sei. Mas, Priyanka e eu também daremos uma coletiva em breve, só nós dois.

Respondeu e deu as costas me empurrando com educação para dentro novamente, por onde pudemos sair furtivos ao estacionamento pela parte lateral. Stella pediu para ir com Nicholas no carro e assim seguimos. Depois que a entregamos ao pai, ele ficou absolutamente chocado com a história de fuga da filha, — e que segundo ele “a cada vez se superava mais” — e também, ficou surpreso por Nicholas estar mesmo ali. Stella, apesar de saber da bronca colossal, sorria de orelha a orelha.

Depois, Nick despediu-se e seguiu seu caminho. E Marianne e eu voltamos para o bistrô.

Narração por


Quando saí daquela salinha deixando o grupo de três pessoas insanas e uma mulher maravilhosa, a sós, eu retornei ao meu posto de trabalho com Stevenson me aguardando.

— Conseguiram conter a confusão? — A enfermeira chefe perguntou.
— Eles conseguirão. No momento, estou mais preocupado com meus pacientes e com a direção do hospital...
— É Dr. ... Eu falei que namorar ex-mulher de homens como ele era um tanto problemático! — Karev surgiu ao meu lado e deixou um prontuário na recepção; tocou meu ombro e saiu com um sorriso de solidariedade.

Retomei minhas tarefas, e quase ao final do dia, estava pensativo sobre o que viria a ser aquela coletiva de imprensa. Pela primeira vez em todo o tempo de namoro com a , me senti genuinamente incomodado por uma situação invadindo minha rotina daquela forma. Rosalyn apareceu na sala de descanso médico e me cumprimentou, enquanto massageava seu ombro.

— Nossa hoje foi tão cansativo! — declarou e sentou-se em uma das camas ao meu lado — Não vai para casa, ?
— Estou pensando em trocar o plantão e ficar.
— Por quê? Não seria melhor ir embora para afastar os poucos jornalistas que estão aí te esperando?
— Eles ainda estão lá, não é? — perguntei e ela acenou com um sinal de “joia” — Droga...
... — Rosalyn tirou os sapatos dos pés e se ajeitou melhor em sua cama, me perguntando: — Você não odiava ser o centro das atenções?
— Eu ainda odeio.
— E a sua namorada sabe disso? Ela não deveria fazer algo pra evitar este tipo de confusão com o ex dela?

O tom de Rosalyn não era agressivo, jocoso e nem provocativo, ela estava fazendo uma pergunta sincera sobre . Mas, ainda assim, eu me senti com raiva de tê-la dizendo que era responsabilidade da .

— Ela não tem culpa de nada. O problema é que onde o Nicholas estiver a imprensa também estará.
— Pelo o que eu soube, ela tem culpa sim. Ela andou se encontrando com ele em Santa Mônica, o que gerou essa animosidade da imprensa... Ou seja, ela não deveria estar se encont...
— Não fale o que não sabe Rose! — bronqueei por fim — Este tipo de coisa é algo que eu tenho que lidar por ter me apaixonado pela mãe da minha paciente, que por sinal é filha de um popstar.

Rosalyn encarou o teto da sala, entendendo que eu não havia gostado do comentário dela, e deu de ombros se desculpando antes de voltar-se para o outro lado a fim de dormir.

— Tudo bem, . Não digo mais nada, mas ficar aqui evitando encarar o motivo dessa sua irritação, não vai apaziguar nada. Melhor ir para casa do que fazer um plantão com esse humor.

Suspirei e antes de sair, já contido em minha rudez, passei a mão na cabeça da médica carinhosamente.

— Desculpe Rose. Você tem razão.
— É eu sei. — ela sorriu e voltou a tentar dormir.

Fui pegar minhas coisas para ir embora. No fim daquela semana, enfrentaria uma chuva de repórteres.

Sexta-feira, 10 horas da manhã, mansão do Nicholas


Foi decidido que a coletiva seria dada na casa do Nicholas, e, portanto, eu estava na porta da casa de a aguardando. Meg estava ao ponto de fazer cozido de Jonas.

— De novo, este inferno todo por conta deste homem!
— Mãe, não fala assim, ok? — pediu paciente — É o fim agora.

Meg e ela trocaram olhares cheios de significados e um abraço tenro, e eu notei que havia muito mais simbolismo naquela situação do que eu poderia imaginar. e eu entramos no carro, e durante todo o percurso ela não falou nada. Quando chegamos à casa de Jonas, havia muitos repórteres do lado de fora, em seus carros aguardando. Tivemos a passagem liberada, e quando entramos Nicholas não tinha uma expressão tão boa, parecia um funeral. E eu acho que para os dois, realmente era. Senti-me mais uma vez, estranho.
Fomos sendo organizados num salão, sentados em uma mesa que já tinha inúmeras câmeras montadas, microfones e eu pensei que provavelmente era daquele jeito que os réus se sentiam diante de um julgamento.

— Fique tranquilo, é opressor quando a gente encara, mas... Na verdade, são só perguntas. — falou tocando minha mão.
— Só, perguntas? Tem certeza? Eu sinto como se vocês dois estivessem prestes a anunciar que alguém morreu...

Meu comentário foi escutado pro Nicholas e ele trocou um olhar com , também cheio de significados entre eles.

— Nós nunca anunciamos o divórcio assim, . Foram apenas notas soltas, e... Agora é como se realmente fôssemos dizer tudo. — explicou.
— Fique à vontade para negar ou responder qualquer pergunta . E não fique assustado se eles vierem com tom de ataque, é a especialidade deles. — Nicholas falou.
— Ok, mas não tem porque me atacarem, nada disso é sobre mim.

Minha resposta foi a última frase trocada entre nós três, a agente de Nick surgiu dizendo que eles estavam entrando e conforme os repórteres iam se acomodando, Nicholas e iam ficando mais relaxados, e eu mais tenso. Senti as mãos dela apertando as minhas e quando todos estavam acomodados, Nicholas se pronunciou.

— Bom dia. Obrigado a todos pela presença. Esta coletiva é algo que e eu deveríamos ter feito há um ano, mas as circunstâncias quiseram que fosse desta forma, e acreditamos que este é, de fato, o melhor momento. Nós queremos anunciar por nós mesmos, o fim do nosso casamento.

Os flashes e barulhos de vozes sussurrando foram crescendo e de repente, algumas perguntas pareceriam querer surgir, então deu prosseguimento antes que fossem os jornalistas a falar:

— Vocês devem pensar que houve um equívoco ou um engano por termos soltado notas e agora virmos pessoalmente dizer isso, mas ocorre que diante das atuais veiculações da imprensa, percebemos que ficou um ruído. Há também uma comoção de fãs que não compreenderam o fim deste relacionamento, e nos demos conta de que; a razão pode ser por nosso silêncio. Nicholas e eu, sempre fomos um casal exposto à mídia, inclusive naquilo que deveria ser nossa privacidade, como por exemplo, em nossos desentendimentos. Contudo, nós ficamos calados, distanciados e achamos que uma manifestação pública de nossas assessorias seria o suficiente.
— Por tal razão, notamos que todos mantiveram alguma esperança de que não fosse real. E não foi fácil mesmo para nós dois, entendermos o final disso... — Nicholas continuou e suspirou — Nós iremos responder as perguntas de vocês que nos sentirmos à vontade em responder, mas antes... Eu quero contar minha parte da história.

de repente o olhou surpresa, parecia que aquilo não estava no script deles. Nick a olhou confortável e pegou em sua mão, sobre a mesa a apertando como um sinal de que tudo estava bem. Observei a assessoria de imprensa dele se encarando entre si, um pouco preocupados. Mas ao olhar Nicholas, ele estava absolutamente seguro. E começou a contar:

— Achei que era uma propriedade da minha própria consciência. Na verdade, passei nosso relacionamento inteiro tratando-a como o meu oxigênio, e isso gerou uma dependência tóxica. E aquilo que era amor intenso, também se tornou um pouco de veneno. foi a melhor mulher que eu poderia ter, foi o amor verdadeiro da minha vida, e foi a minha maior lição sobre mim. Eu acho que não fui um namorado e marido ruim no todo, mas eu fui muito menos do que ela merecia. Porque diante desses holofotes que vocês colocaram sobre mim, eu ofusquei a minha luz própria me apropriando do que o status de popstar me incutiu, e ofusquei também a natureza do brilho natural dela. Vocês de certa forma criaram personagens sobre nós, que adotamos sem perceber. E quanto mais nós íamos sendo o casal Jonas, menos éramos Nick e . Foram muitas as situações em que o ciúme, a imaturidade e o descontrole emocional estiveram acima do nosso amor. E tudo isso nos desgastou. Descobri que apenas sentimento não basta. É preciso uma cumplicidade que não seja apenas diante às câmeras, e uma força maior de fazer dar certo que só a maturidade pode propor. Nas minhas inseguranças eu alimentei o medo da . E isso foi nos intoxicando, ao ponto de eu envolver uma terceira pessoa entre nós. Achei que uma amizade não faria mal, até que a minha esposa estava tão ferida que eu a perdi.

Os burburinhos foram maiores e as perguntas começaram a pipocar, e eu nunca vi hienas famintas ao vivo, mas aquilo deveria ser algo parecido.

— Traição? Nicholas houve traição?
— Quem entre os dois traiu?
— Quais as pessoas envolvidas?
— Houve violência?


A última pergunta tomou de sobressalto. Ela respirou profundamente e tocando o microfone à sua frente, o aproximou de si e falou antes de outras coisas serem mal interpretadas.

— Não houve traição. E nunca, jamais, houve violência física por nenhum de nós. Na verdade, a violência foi emocional de ambas as partes, porque Nicholas e eu entramos em um jogo de nos fazer provar um para o outro, e alimentamos os ciúmes inexplicáveis um sobre o outro. E é disso que ele está falando! Por estarmos inseguros achamos que sentir a falta e o medo de perder o outro, era algo que sustentaria nossas certezas e um matrimônio não é sobre isso. Amar não é sobre ciúme ou posse. Nenhuma relação deve ser sobre o medo de perder. Não há relação sadia na dependência emocional do outro. E este é o maior erro que qualquer casal possa cometer, hoje sabemos. Por favor, peço que nos ouçam sem distorcer nenhuma das nossas falas. O Nicholas está sendo absurdamente sincero e vulnerável aqui!
, pode nos contar sua versão? — uma pergunta se fez ouvir e ela olhou do jornalista ao Nick que sorriu assentindo.
— Diante muitas situações eu me tornei obsessiva quanto ao ciúme com Nicholas, e cheguei mesmo a achar que houve uma traição e por tal razão pedi o divórcio. Foi assim que nos separamos, sob certezas de uma falsa traição, mas... Recentemente, descobri que Nicholas não havia me traído e por isso, estávamos conversando em Santa Mônica. Nós estávamos pedindo perdão um ao outro, pelo respeito que nos restou em nossa relação; pelo carinho um com o outro, e por nossa filha que é nosso maior bem e sempre será nosso elo. Mas, Nicholas e eu não somos mais um casal há muito tempo. E não pretendemos voltar a ser.
— Nicholas, porque permitiu a separação quando sabia que não havia a traído? — Outra jornalista perguntou.
— Porque eu achava que a tinha traído. Caí numa armadilha bem piegas, e não tinha como provar o contrário até recentemente.
, por que está aqui?

Aquela era uma pergunta que me deixou curioso pela resposta, porque sinceramente nem eu sabia mais. me olhou sorridente, e pegou em minha mão com carinho e a beijou ao responder:

— Nicholas e eu nos entendemos, com respeito e afeto por nossa história, por amor à nossa filha, e por isso, somos amigos. Estamos reconstruindo nossa amizade. — ela olhou para o ex que sorriu de volta. — Mas, vocês precisam entender que eu amo outra pessoa agora, e que eu quero fazer uma nova vida ao lado dele. E é por isso que o está aqui. Para que entendam que Nicholas e ele não são inimigos. Para que os respeitem e não levantem rivalidades; e nem invadam a privacidade de como fizeram comigo por anos, porque a minha relação com o não tem nada a ver com o que foi a minha relação com o Nicholas. É por isso que o está aqui: para apresentá-lo aos fãs e todos vocês como o meu novo amor, como a minha nova história, a quem eu espero que respeitem e estimem.
é o melhor companheiro que a poderia ter. Ele é um daqueles casos de cinema em que o mocinho nasce sob medida para a mocinha. — Nicholas falou — E não foi nem um pouco fácil chegar ao ponto de admitir isso, porque, o meu amor por foi real e admitir que há alguém que saiba amar de uma forma melhor que você, é doloroso. Mas, eu reconheço que ele é um grande homem, com um grande caráter e que vai cuidar da nossa filha quando eu não estiver por perto também, como o pai dela fará.
— Nick, então você apoia o namoro de e ? — Outra pergunta desnecessária.
— Eu não tenho que apoiar nada. É como a disse; essa história deles não tem nada a ver comigo, mas como alguém que quer ver a feliz e a também, eu posso dizer que eu estimo as mais sinceras alegrias a este casal. E aos poucos, vou construindo também a minha amizade respeitosa por este... Inglês certinho. — falou rindo com uma provocação brincalhona.

Nós dois rimos um para o outro e a imprensa parecia ter entendido o clima de paz. Alguns sorrisos no rosto de alguns repórteres e certo alívio nos rostos da assessoria de Nicholas, diziam que a coisa estava sendo bem instruída.

! Como tem sido para você ser o namorado de ? Apesar de ela ser uma mulher simples, o status de mãe da filha do Nicholas deve pesar um pouco, não?

A pergunta direcionada a mim me fez rememorar o sentimento do começo da semana no hospital, onde de fato aquilo pesou pela primeira vez.

— No começo da semana, quando os paparazzi invadiram meu trabalho, foi a primeira vez que este dito status pesou. Porque eu senti que ter a nossa privacidade invadida é uma violência muito grande. Mas, antes disso acontecer, eu nunca tive nenhum problema com quem ela foi, ou era. Eu amo a , e é sobre isso. Não é sobre quem foi casado com ela, sobre com quem ela teve uma história e uma construção de família antes, é sobre quem ela é. É sobre o que nós estamos construindo. E por isso, amar a é fácil, é leve. Ela é mesmo este encaixe que o Nick falou, na minha vida: um amor de cinema.
— Você compreende que haverá assédio da imprensa em alguns momentos, por que afinal, é filha de Nicholas e...
— Eu não acho... — interrompi de forma educada a pergunta que viria — Que há razão para assédio midiático sobre elas, na verdade. Vocês deveriam ficar em torno do Nicholas pelo trabalho dele. Ele quem é a estrela da música. E para ser sincero, mesmo ele, acredito que a privacidade particular deveria ser respeitada. A imprensa confunde muito a vida particular dos artistas com seu trabalho. Mas é só a minha opinião... É claro que se vocês não fossem jornalistas, não fariam metade do que fazem, porque é só estando do lado de cá que entenderiam a violência que é, por exemplo, ter seu trabalho invadido porque um famoso entrou no hospital.

começou a rir, sem conseguir se segurar, e Nicholas a acompanhou. E de repente percebi que todos estavam de olhos surpresos.

— Ah, eu não queria ser grosseiro, eu só, estava dizendo o que eu penso... Desculpem-me... — Sem jeito, corrigi e Nicholas rindo fez sinal de “ok” com uma das suas mãos para mim.
— Você foi ótimo! — me disse baixinho.

Diante aquilo, as perguntas caminhariam para algo mais direcionado à e eu, mas minha namorada logo fez questão de cortá-los:

— Bem, esta coletiva foi para explicitar que Nicholas e eu nos divorciamos há quase um ano e não temos nenhuma intenção de reatar, pois, seguimos em frente. Queríamos agradecer ao carinho dos fãs dele e de certa forma, aos fãs do casal, por todo este tempo. Espero que continuem nos amando, em separados agora, e contamos com o respeito e apoio de todos aos nossos novos caminhos.

Nicholas a encarou e sorriu contendo a emoção que ele até vinha segurando bem, ele suspirou soltando o ar com a cabeça baixa e disse para os repórteres:

— Priyanka e eu ainda temos um pronunciamento a ser feito, ela está a caminho, por isso, peço uma pausa de meia hora a vocês e agradeço a atenção de todos.

Ele se levantou e nós dois também, depois o seguimos. Saímos do salão para um ambiente mais privado, a sala principal da mansão dele, que estava coberta de todas as cortinas possíveis. Nicholas se escorou no sofá e esfregou os olhos e o rosto. Depois olhou para e eu.

— Eu achei que fosse ser mais difícil. — falou, assentiu e ele me olhou — Foi muito bem !
— Eu só falei o que penso. Mas, achei que eles iriam perguntar coisas mais diretas... — dei de ombros.
— Eles iam. Estavam prestes a começar a sabatina sobre nós dois, quando eu cortei. Até porquê não era a intenção transformar nós dois no novo espetáculo. — me respondeu.

Nicholas assentiu silencioso; e ele se olharam de novo, com o mesmo sentimento cúmplice de antes de começar a coletiva. Ela começou a chorar de repente, e Nick também, e então soltando minha mão, ela caminhou até o ele e os dois se abraçaram de um jeito forte. Era mesmo um funeral, e eu notei naquele exato momento.

Narração por Nicholas


O abraço do até logo, às vezes é mais doloroso que o abraço do adeus.
Apesar de todo aquele tempo em que a maioria das minhas feridas já havia entrado em processo de cicatrização, o sangrar da culpa seria constante até que eu o estancasse. Um processo que seria lento, eu sabia, mas necessário.
e eu fizemos um bom trabalho naqueles últimos meses. Já estava batendo quase um ano desde o meu retorno, um ano desde que eu experimentei todas as sensações mais instintivas em mim. Quase um ano, e agora estávamos a um passo definitivo de virar a página. Escreveríamos livros diferentes agora, mas de histórias que mencionam-se entre si.
Depois daquele abraço, depois daquela coletiva, eu assisti a e saindo de minha casa de braços dados para sua própria história, e vi Priyanka chegando por outro corredor para que enfrentássemos outro funeral. Aquele seria talvez mais difícil para ela, do que para mim, porém... Eu aprendi muitas coisas nos últimos tempos, inclusive, a assumir a culpa sem vitimismo. Priyanka errou sim, mas eu dei a ela a oportunidade do erro. E era o momento de esclarecer aquilo.
Diante uma reunião da minha assessoria com a dela, decidiu-se que teríamos discrição sobre os acontecidos reais. Eu não queria difamá-la, apesar de tudo. Porque era como o dissera: a exposição da privacidade também era uma forma de violência. As nossas vidas particulares, nada tem a ver com a profissional, e a imprensa só iria entender aquilo quando nós também entendêssemos.
Declaramos o fim do nosso relacionamento como algo natural. Num esgotamento de sentimentos. E decidimos não expor a relação entre , Priyanka e eu, até porque queríamos por um basta em tudo. Logicamente, tivemos ambos que romper contratos importantes, milionários. Mas, nem tudo se resume a quanto você perde.
Perder também pode ser ganhar, e quando eu me desprendi de Priyanka perdi alguns milhões de dólares, mas recebi a minha consciência de volta. E a minha consciência dali para frente, não tinha mais preço.

Dois meses depois...


Narração por


O bistrô estava como sempre, alegre e produtivo. Era a nossa última noite antes das férias. Finalmente, naquele ano eu decidi fechar o bistrô antes do Natal, meus funcionários vinham trabalhando incansáveis por mim, durante quatro anos. Portanto, as equipes iriam revezar. Na última quinzena de dezembro, o restaurante seria fechado e todos descansariam; depois, em janeiro uma equipe cobriria uma quinzena e outra descansaria, em seguida revezaria.
corria pelo restaurante com atrás dela. Ele havia pedido Miley em casamento aquela noite, em um jantar privado no bistrô. estava ali comigo. Dessa vez, na cozinha como funcionário. Foi engraçado ver vestido como um dos meus atendentes, se dando bem com a equipe como se ele também trabalhasse com a equipe há tempos.
No fim, ele me ajudou a preparar o jantar do noivado, e mamãe chegou um pouco antes do pedido de . Ela veio de intrometida que era, já que ao descobrir a novidade havia jurado para e eu, que não se meteria. Mas, era afinal, madame Meg. Ela veio, trouxera e as duas ficaram espiando do escritório junto com e eu.

! Hora de ir para a casa, não faça bagunça no bistrô da mamãe com seu tio! — Meg pegou minha filha no colo, bronqueando ao comportamento dos dois.
— Eu só estava tentando pegá-la mamãe. — se justificou ao vê-la o encarar dura.
— Vê Miley? É mesmo este, o homem que irá se casar contigo querida; um tio sem noção que corre com crianças em restaurantes chiques!

Nós rimos do comentário da mamãe, e nos despedimos dos quatro. Miley e iriam curtir a noite de noivado, lógico. Mamãe iria para o bailinho de fim de ano, do grupo de dança de salão e iria para a casa de Nicholas.
e eu os acompanhamos até a entrada do bistrô, o número de clientes era bem menor naquele momento, já que no final do ano as reservas diminuíam. Nick estacionava o carro e gritou ao vê-lo descer do automóvel.

— Papai!

Mamãe colocou-a no chão e ela correu até ele, que se abaixou pegando-a no colo animado, enchendo a filha de beijos carinhosos. Aproximou-se de nós e fez piada com por estar de funcionário do bistrô.

— Ora, ora, virou o funcionário do mês é?
— Não fica com inveja, por ela nunca ter colocado você para trabalhar.
— Ela tentou. — Nick deu de ombros justificando: — Mas eu sou péssimo nisso.

Mamãe concordou e Nick beliscou sua cintura.

— A senhora não tem que arrastar o seu saião, num certo salão com um coroa grisalho bem apessoado não, Meg?
— Você está cada vez mais fofoqueiro Jonas!
— É que agora eu não preciso mais me segurar com a minha sogra. Sou um homem livre da sogra.

Nick provocou e rimos todos quando mamãe reclamou que teria uma conversa sobre a falta de educação dele com Denise.

, eu vou indo! Eu não quero que certo Jonas me atrase, porque realmente, hoje eu tenho um saião lindo para rodar no salão! — mamãe manifestou-se toda pomposa e orgulhosa de si.
— Não esquece o coroa grisalho! — Nick provocou.

Mamãe beijou , e eu, e até mesmo Nick, e antes de beijar e Miley, foi intrometida como sempre:

— Vocês dois, me poupem de netos antes de se casarem! Comemorem com juízo esta noite.

E saiu caminhando elegante e rebolante até o carro de que a deixaria em casa. Nick arqueou a sobrancelha para Miley e , perguntando surpreso:

— Sério? Vamos ter um casamento?
pediu-me esta noite! — Miley dissera animada rindo e erguendo a mão para Nicholas ver o anel.

Nicholas sorriu largo, com ao colo abraçando Miley e , seguidamente os desejando felicidades.

— Eu fico muito feliz por vocês! Você vai ter uma família incrível, ! — Nick desejou.

E então um flashback veio em minha memória...

Estávamos Nicholas e eu em casa, após uma briga, onde havia presenciado a discussão e pego , ainda com apenas alguns meses de idade e saiu batendo a porta. Nicholas e eu nos encaramos frustrados, sentindo-nos fracassados. Caí sentada ao sofá e ele também.

— Será que seu irmão um dia vai desistir do sonho dele? Das coisas que seus pais te ensinaram, por nossa causa?
— Nicholas... Se nosso casamento é o exemplo certo do que não viver para outras pessoas, então... O que estamos fazendo? — perguntei com olhos lacrimejados encarando os dele, também vermelhos de choro.
— Eu não sei, mas eu não vou abrir mão de você e nem de nós. Por mais difícil que seja eu também quero uma família completa e feliz. A precisa de nós dois juntos, . Não vamos desistir agora, tá?


E eu naquela ocasião, aceitei o esforço.
A memória mexeu comigo, e eu mordi os lábios virando o rosto para não ser pega em momento sensível. E foi então que eu fugi o olhar para o lado, e avistei a poucos metros distantes na calçada do bistrô, a figura de Priyanka em pé a nos observar. Cutuquei , e ele olhou para o mesmo lugar que eu. O som da porta do carro de chamou-nos atenção. Mamãe havia descido rápida, ela também avistara Priyanka. Vinha caminhando em nossa direção, quando eu intervi a segurar o braço dela.

— Me deixe dar um bofetão nesta mulher, ! — disse dura me encarando e eu a segurava pelos braços assim como .

Não demorou, para que todos notassem a Chopra ali, sem graça e estática, ainda um pouco afastada.

— Vamos mamãe! A está com , bem acompanhada e este assunto não diz respeito à senhora. Recomponha-se! — falou enfático, acenando para Nick, e fazendo sinal com a cabeça para Miley o seguir.
— Te enviaremos o convite, Nick! — Miley falou para ele, antes de seguir.

, Nick e eu trocamos olhares confusos.

— Juro que não sei o que ela faz aqui. — Ele justificou.
— Só leve a e vá. Qualquer coisa me liga!
— Tia Pri! — apontou acenando para ela.

Chopra sorriu para nossa filha e aproximou-se a passos lentos e tímidos. Nicholas retesou o corpo e eu apertei a mão de temendo que os dois discutissem.

— Olá ... — Priyanka falou sorrindo e acenou para minha filha, que estendeu a mãozinha para a indiana.
— A tia não é mais a namorada do papai.
— Não , eu não sou.
— Mas eu gosto da tia! — Ela falou e apoiou a cabecinha no ombro de Nicholas.
— E eu também gosto de você princesa! — respondeu à minha filha.

O suspiro de Priyanka foi prosseguido de um silêncio palpável entre nós, até Nicholas pigarrear e ajeitar em seu colo.

— Boa noite, Chopra.

Ela o encarou, com certa dor nos olhos e não respondeu, apenas acenou com a cabeça. Nicholas suspirou mais uma vez e abraçou a mim e a em despedida. Deu-nos as costas e foi para seu carro com nossa criança que acenava alegre para e eu.
Depois que o carro de Nicholas partiu, ficamos os três ali se olhando, e Priyanka sorriu para , antes de me cumprimentar.

— Boa noite a vocês...
— Olá Priyanka! Boa noite! — respondeu em meu lugar — Não podemos dizer que não estamos surpresos. Aconteceu alguma coisa?
— Sim... — Ela falou sem graça ajeitando a bolsa no ombro e então aspirou o ar pesadamente antes de erguer a cabeça em minha direção e dizer convicta: — , eu sei que está ocupada. Não pretendo tomar seu tempo, mas... Embarco para a Índia amanhã e não queria encerrar este ano com culpas maiores do que aquelas que eu já carrego. Por isso vim até aqui implorar o seu perdão por tudo o que fiz a você. E compreendo se não me perdoar tal como o Nicholas, mas... Eu precisava colocar para fora.

Eu só não deixei meu queixo cair ao chão, porque àquela altura havia aprendido que todas as pessoas têm direito às suas tentativas. Se elas serão eficazes... É outra história, mas, ela estava ali tentando conviver com a própria culpa de forma mais digna. Então, só me restava uma coisa: dizer para ele ir em paz, ou ir com Deus. Preferi que ela fosse com Deus.

— Meu sangue frio de mulher renovada e evoluída tem limite Priyanka e você já o atingiu há algum tempo. Eu não consigo te perdoar ainda, mas nem por isso desejo algum mal a você. Espero que consiga se libertar da maldade, do amor doentio e das suas culpas. Infelizmente, não posso mesmo passar por cima de tudo agora.
— Tudo bem. Eu só precisava fazer o mínimo para tentar me redimir... Desculpe de novo .

Eu assenti e respirei fundo, logo lhe dei as costas voltando ao meu trabalho. observou a minha reação e demorou um pouco mais, mas pude ouvi-lo dizer a ela:

— Boa sorte Priyanka, eu sei que ela te perdoará um dia. Não desista de tentar o seu melhor a partir de agora, e se aceita meu conselho; não se busque em ninguém que não seja você.
— Obrigada .

Quando entrou, eu seguia para o escritório, e ele veio logo atrás de mim. Assim que fechou a porta, eu avancei sobre ele batendo em seus braços fortes e dando beliscões.

— Que papinho é aquele de que “ela te perdoará um dia!”? Eu posso saber que história é essa de solidariedade com ela, !?
— Ai, ai! — ele reclamava rindo — Que isso! Que versão é esta?
— Você não provoca! Eu sou madura até a página dois!

caiu sentado no sofá do meu escritório, de olhos esbugalhados e um sorriso cafajeste e descrente para mim. Ele sabia que eu não estava falando sério, e eu comecei a rir desfazendo a personagem ciumenta.

— Caramba ! Então era essa a maluca do Nicholas?
— Era bem pior do que este teatro! — falei ainda rindo sentando ao colo dele — Sabe... Eu acho que a perdoo sim, em algum momento. Sei lá, depois destes meses eu tenho é pena da Priyanka. Ela foi vítima de ilusões que ela e o Nick criaram e alimentaram também, sabe? Algum dia, eu acho que vou encará-la como uma mulher que foi tão vítima de paixões patriarcais quanto eu...
— Você fez muito bem em conversar com a Drª Grace, depois daquela coletiva. Apesar de vir se reconstituindo de suas dores se apoiando na sua família, amigos, seu trabalho... Eu acho que esta sua consciência com a Priyanka foi mais capaz quando você enfrentou aquelas semanas de terapia.
— Pode ser, . Mas, eu tenho uma tendência de me reerguer logo quando caio. Eu acho até que demorei demais se tratando do Nick... Talvez seja como você disse: a rede de apoio. Tantas pessoas me amando me fizeram notar meu amor próprio de novo. Que razão eu tinha para não me querer bem?
— Fico orgulhoso de você, ! Você me ensina muita coisa todos os dias, má chérie. — sorriu e perguntou ainda curioso: — E não te magoa mais olhar para ela e pensar em tudo o que ela fez?
— Ainda magoa. — ressaltei — Mas, não a condeno. Eu também a magoei muitas vezes, e sei disso. Só que é fácil passar uma borracha nas feridas que a gente causa aos outros, não é?

concordou comigo e me abraçou forte, beijando minha testa e com a mão em meu rosto, falou:

— Um dia, acredito que todos nós estaremos comemorando algo juntos, e sem todas estas mágoas, má chérie.
— Casados? — perguntei risonha, o encarando, ainda abraçada a ele em seu colo.
— E com um filho! Um irmãozinho para , que tal? — sorriu ainda mais largo.

Rocei o nariz em seu rosto e o beijei.

— Essa é a nossa promessa de felicidade, .

Encaramo-nos olhos nos olhos e com um abraço cheio de carinho e afeto, encerramos aquele livro.
Eu fechei a contracapa da minha história com Nicholas, nos braços de , mas nem por isso eu me perdi de novo. Não troquei um amor por outro. Não depositei necessidade de amor próprio no amor de outro homem por mim. Eu me redescobri. Me reconheci. Despertei para as minhas dores, desejos, crenças e sonhos. Eu voltei a ser a Bernard. Não somente aquela que veio da França com o sonho de seu próprio restaurante em Los Angeles, mas esta, e mais. A soma de minhas fases de dor trouxe a minha alegria madura. E hoje eu poderia dizer que, jamais aceitaria de nenhuma pessoa, menos do que aquilo que eu mesma sou capaz de me dar.
E para todas as mulheres, é assim que deveríamos ser: sobre nós, entre nós, e por nós. Nenhum amor no mundo é mais valioso do que o próprio. Para todas as mulheres que se buscam nas paixões que leram nos livros, nos amores eternos que assistiram nos cinemas, ou nos casamentos perfeitos que passaram a vida a serem ensinadas a ambicionar, eu gostaria de dizê-las, que nada disso é melhor e maior do que a potência de conhecer a si primeiro. Quando sabemos quem somos, o que queremos de verdade, e o quanto merecemos de cada luta e afeto, nós somos capazes de criar paixões maiores que as dos livros, amores reais e não apenas cinematográficos; casamentos não perfeitos, mas felizes e plenos.
No final, a mamãe sempre esteve certa sobre uma coisa... Ela costumava me dizer ainda quando eu era adolescente: , você não sabe o poder valioso que é ser mulher; e você só conseguirá reconhecer o seu poder ancestral, quando reconhecer na sua autoconsciência de ser, esta força da natureza que somos”.
Ouvi aquilo a minha vida toda, mas precisei passar pela pequenez de um Nicholas para entender a grandeza de uma .


Epílogo

nunca mais sentiu a ausência do pai. Apesar de sua agenda lotada e bagunçada, Nicholas não deu mais brechas para que sua filha se afastasse. Depois daquele ano, Nicholas aproveitou as férias de e os dois viajaram juntos com Daniele, Kevin, e as primas para o Canadá. Em seguida, e os encontraram em Orlando, numa passeio familiar para a Disney. Mas, quando a rotina da pequenina voltou ao normal, assim como a de todos, Nick conversou com ela sobre suas viagens a trabalho e ele tirou um tempo para si. Mesmo longe, se fazia presente todos os dias, nos telefonemas às quatro. Não importava a hora que fosse para ele, do outro lado do mundo ou na cidade vizinha.
Nicholas também iniciou um acompanhamento com um terapeuta, recomeçou do zero a conhecer os seus sentimentos e aquele primeiro passo o levou, dois anos depois, ao casamento de e como um amigo querido do casal. Nicholas e conseguiram reatar laços de amizade e respeito. Ele não voltou a namorar ninguém, e até conheceu uma pessoa bacana no Canadá, a Nanda, mas não se tornaram mais do que amigos. Jurou-se que outra pessoa só entraria na vida dele, quando ele estivesse bem para entender o limite entre “ofertar amor que sobra em si” e “oferecer o que não tem ou não deve dar”.
Nicholas e perdoaram Priyanka, que em nome da amizade de Sophie e Daniele, aos poucos retomou o contato com a família Jonas. Os três, devagar e respeitosamente conseguiram deixar as histórias ruins para trás. Priyanka também estava vivendo a sua paz interior e não voltou a namorar ninguém. Esteve em contato com sua família, com sua cultura e seus projetos independentes, enquanto compreendia em si, que amor não é sobre migalhas, nem sobre desperdício. Amor é sobre uma fartura substancial, sobre compreender qual o nosso suficiente. Nada aconteceu rápido, mas em fases.
E assim, as novas páginas dos livros das vidas daqueles personagens foram sendo escritas.

Quatro anos depois...


Meg e Isaac terminavam de ajudar a montar a árvore quando a campainha soou e abriu a porta revelando a família Jonas em peso. Joe e Sophie entraram com Willa que corria apressada na direção de Patrick. O caçula era justamente a nova mascote da família! Dani e Kevin também entraram risonhos com suas pequenas Alena e Tina, já maiores do que as outras crianças e sempre educadas.

— Meggie! — Denise gritou animada para a mãe de : — Eu consegui aquele presentinho que você queria! E Isaac! Que prazer revê-lo! Paul tem um presente especial para você também! E seus namorados, não vieram?

A animação de Paul e Denise com Meg e Isaac superava a de todos os outros amigos. e trocaram olhares e sorrisos. sentiu uma mão no seu ombro e era Priyanka lhe cumprimentando, após a euforia dos ex-sogros.

— Ah! Entre Priyanka! Bem-vinda de volta! Como foram os últimos anos na Índia? — O médico falou gentil e olhou para trás dela procurando: — Onde está o Nicholas?
— Obrigada , foram sabáticos e maravilhosos. O Nick estava saindo do carro dele quando estacionei. — falou e encarou à : — Olá ! Obrigada pelo convite!
— Imagina. O passado ficou lá atrás e... Além de amiga das minhas amigas, você também é alguém que a minha filha gosta muito.

informou a abraçando e a mulher novamente a agradeceu. Priyanka estendeu dois embrulhos natalinos a dizendo: — Onde coloco os presentes?

— Deixa abaixo da árvore... Você já vai conhecer o...
— Anda logo, Jonas! Ou eu vou te deixar aí na neve! — O grito de da porta, interrompeu .

Priyanka e ela se olharam rindo.

— Venha conhecer o Patt, Priya! — Sophie gritou com o pequeno no colo, rindo das cócegas do tio Joe — ! Você sabe que o Nicholas é doido, não é? Eu falei para ele que Patt era muito novo para um quadriciclo, mas o Joe apoiou!
— Sophie! — Joseph reclamou e explicou à : — Como padrinho da eu sei que ela não vai carregar o irmão dela! Afinal, ela é possessiva igual ao pai com aquela coisa!

revirou os olhos e sorriu para Sophie e Joseph, e pegou na mão de Priyanka para ela entrar e deixar de cerimônia. A indiana pegou cuidadosa, ao Patrick do colo de Sophie e o bebê de dois anos começou a sorrir fofo deixando a todos encantados.

— Esse menino é lindo, ! — Danielle reforçou como sempre.
— Lógico! Ele é meu afilhado! — Nicholas entrou com os pacotes, um tanto desajeitado, com várias caixas de presente empilhadas e as crianças começaram a gritar felizes pela farra que era o Natal com o tio Nick.

deu um peteleco na orelha dele pelo tumulto, e trocou um olhar cúmplice com .

— Nicholas sendo Nicholas... — Ela falou e viu o ex-marido deixando os pacotes nos braços de , Kevin e Joe.

Nick se apressou indo de encontro à e a abraçou apertado, tirando o corpo dela do chão e a rodopiando no ar, pediu:

— Por favor, , não brigue comigo! Mas o Patt vai ficar lindão no quadriciclo! Igual ao padrinho dele!
— Ele já é lindão como o pai dele, Jonas. — interviu zombando.
— O padrinho é infinitamente melhor! Minha fã número um, me disse que vem hoje para te provar com todos os argumentos únicos dela!
— Guarde o seu ego, Jonas. Stella está chegando e você poderá se exibir para ela, a única doida que você ainda convence!
— O namorado dela vem? — Kevin perguntou e assentiu.
— Nicholas, pelo amor de Deus, vê se não pega no pé do Julien! — pediu — Toda vez você fica se gabando com o fanatismo da Stella e todo já entendemos que a sua falta de noção e a dela continuam a mesma!
— No fim ainda tem alguém que cai na sua lábia Jonas! — abraçou-o pelos ombros e disse sussurrado: — Eu até tenho uma pessoa para te apresentar, mas eu não quero ser assim, tão mal com ela... Ainda estou ponderando se devo.
— Se for a sua ex, esquece! — disse abraçando e batendo no peito do — Eu já tenho o telefone dela!
— Como assim? — perguntou surpresa. — Quando e como você se encontrou com a Rosalyn?
— Tem alguma coisa que o meu ídolo peça que eu não consiga? — Stella justificou a questão de , surgindo de repente pela porta semiaberta da casa dos acompanhada de seu pai e namorado.

Nick aclamou a chegada dela e quando ela correu até ele, eufórica e o abraçando, ele estendeu a mão para Julien fazer um high five, afinal, queria paz com o namorado da fã-girl.

— Julien, eu já te falei para pular fora, a Stella é doida! — provocou.
— Fica quieto 402!

A agora ex-vizinha de quase 20 anos deu a língua para o médico reclamando e indo correndo até as crianças que a amavam.
Enquanto os demais convidados iam chegando e se acomodando para o almoço de Natal, Nicholas e implicavam entre si porque os Jonas zombavam ao médico. O time dele havia perdido na temporada passada de baseball, e ao lado de Priyanka olhou para tudo aquilo e sentiu finalmente uma paz. As suas maldades veladas de “amor”, não foram capazes mesmo de separar aquelas famílias. Só uniu de um jeito maior e melhor.

— Quem diria que eu retornaria e veria isso. Nicholas padrinho do seu filho com , e os dois praticamente melhores amigos.
— Eu confesso que às vezes eu tenho medo do Nicholas estar apaixonado pelo ! — brincou e surpreendeu a todo mundo com a fofoca:
— Eca mãe! O papai agora beija a tia loira!

Rosalyn? Talvez a página do livro dele estivesse reescrevendo mesmo um novo capítulo.

— Rosalyn? Juro por Deus que eu não estou me vingando da minha ex! — deu de ombros para ; que gargalhou.

Os amigos do bistrô foram chegando e a casa de e era a mais animada e festiva do bairro naquele dia de Natal.

“Nem toda mágoa sentida deveria ser maior do que a esperança no amor que há no ser humano”. – Ray Dias.


Carta da Autora

“Se você... Se você pudesse seguir tentando não mentir, as coisas não seriam tão confusas. E eu não me sentiria tão usada, mas você realmente sempre soube que eu só quero ficar com você...” – Linger, The Cranberries


Mais uma história que eu passei quatro anos escrevendo.
“Linger” se iniciou em 2019 e nunca foi uma história para ser sobre um retorno de casal. Nicholas não foi criado para ser o mocinho que apesar de tudo fica com a mocinha. Annie não foi criada para ser a mulher frágil que se prende num novo príncipe encantado. Rhodes não foi criado para ser o salva-vidas de Annie. Na conformidade do enredo, eles foram acomodando-se entre os papéis de opressor e oprimida; de vítima e malfeitor, de dependência emocional e autoconsciência.
A Annie é real. Ela é muitas mulheres que assim como ela, tem a sua personalidade difusa dentro de uma relação, tem suas inseguranças manipuladas contra si, tem seus medos mais ingênuos e a sua força interior não reconhecida por si. Nicholas é ainda mais real. Ele é muitos homens que se agarram nas mulheres como botes salva-vidas de sua própria inconsistência.
Algumas leitoras me disseram ao longo destes quatro anos: “como ela não enxerga?”, “como ele pode ser tão egoísta?”, “porque tudo o que ele admira nela ele sufocou?”. E a questão, vai além da relação de um com outro. Linger é no fim de tudo, sobre a relação consigo.
Esta fanfic, assim como No Coração da Fazenda, nasceu para ser livro; no meu anseio de escritora e leitora, mas coube muito bem na roupagem de fanfic. Eu mergulhei nestes personagens por quatro anos, e houve uma simbiose de amadurecer junto a eles, de enxergar as falhas deles em mim. Vi-me sendo Annie, me vi agarrando-me à esperança de Rhodes ser o grande herói da história, me vi sendo Nicholas.
Para não deixar dúvidas, é preciso dizer que, não, o Rhodes não merece troféu porque ele não fez absolutamente nada para isso. Ele foi criado para ser o mínimo que nós deveríamos aceitar e querer em todo homem. E ainda assim, eu ouvi muitas de vocês dizerem que ele era “sem graça demais”. Algumas mais desconfiadas, por instinto protetor, disseram-me: “não confio nele, é bom demais para ser verdade”. E essas frases de vocês me disseram TANTA COISA.
Assim também, quero dizer que o Nick não merece uma redenção imediata, e por isso, a passagem de tempo mostrou que apesar do próprio tempo, ele não retomou à sua vida de amores, tão rápido. E na verdade, há ainda tanto para falar desse Nicholas... Mas, deixo a vocês escreverem o julgo final dele: se ele deveria acabar mesmo só ou acompanhado.
O que eu queria provocar em vocês, eu consegui: a antipatia pelas ações dele, e a simpatia pela humanidade dele. Porque é isso, o Nicholas não é o vilão. Ele é a sua própria vítima e como todo ser humano emocionalmente ignorante, merece ser redescoberto. Ele também está neste processo, tal como a Annie esteve. A diferença é o ritmo. O ritmo dela é outro porque ela sempre esteve alguns passos à frente em se tratar de emoções, até se perder no meio dele. Priyanka também não é a vilã. Ela é uma mulher como tantas outras reais também, que se vestem de um amor tão necessitado do outro, que são capazes de apagar a própria consciência em prol desse desejo gutural de serem aceitas. A Priyanka também passa pelo processo.
Originalmente, ela e o Nicholas terminariam juntos, mas como meus personagens, eu também passei pelo processo. E o meu processo, da reflexão enquanto cria e do mergulhar na criação, me ensinou no caminho deste enredo que não caberia a eles, se curar da pneumonia para dormir na chuva de novo. Dois corações em tratamento como o deles, não se sustentariam. Talvez, algum dia, completamente sóbrios de si, eles até pudessem, contudo... As ranhuras do passado não deixam de existir só porque passamos tinta nelas.
Annie disse a Priyanka que “o passado ficou lá atrás”, mas ter consciência disso não quer dizer que o passado deixa de existir. Talvez vocês não sejam capazes de perdoar como a Annie perdoou, tampouco de enxergar a situação no mesmo patamar que a Annie se dispôs a enxergar. Mas, eis a razão pela qual eu escrevo.
Eu escrevo para aprender e refletir, e para convidar vocês a, se divertido; fazerem o mesmo. Talvez “Linger” não mude nada na vida de alguém, nem mesmo leve a qualquer reflexão que eu me dispus oferecer, mas a mim, levou. “Linger” me levou a vestir a pele dos personagens e aprender enquanto os criava, e se ao menos fez sentido para esta escritora e mulher, então, tudo valeu a pena.
Obrigada a cada leitora e/ou leitor que acompanhou essa história do começo ao fim. Obrigada também a você que possa ter lido esta fanfic no futuro. Espero que você tenha sentido muitas emoções ao longo dessa narrativa.
Encerro “Linger” em 2023, mas não a abandono, e nem abandono a vocês. Vejo-lhes por aí, amoras. Nesta fic ou em outras; nos meus livros ou leituras... E se quiser ficar mais pertinho, me siga no instagram: @escritoraraydias.

Muito, muito, muito, obrigada.
Com afeto, Ray Dias.


Fim.



Nota da AutoraObrigada a cada uma das pessoas que estão lendo esta história, desde quem começou há alguns anos comigo, até quem está chegando após a finalização dela. “Linger” foi meu terceiro maior projeto, e eu estou imensamente feliz com o resultado dela, ainda mais feliz por ter tido a sua companhia aqui. Deixem seus comentários, eu vou ficar muito agradecida e feliz de saber o que esta história causou em você! Todo meu carinho: ♥.



Outras Fanfics:

*No link da página de autora acima, vocês podem acessar todas essas minhas histórias aqui no site.*




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Eu não escrevo nenhuma dessas fanfics, apenas scripto elas, qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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