Capítulo Único
estava exausto. Havia pousado em Lima, no Peru, há cerca de uma hora e já estava tendo que trabalhar, sem ao menos ter tempo de se acostumar com o fuso horário tão diferente. Tudo o que queria era comer e dormir, mas as únicas coisas que teve tempo de fazer assim que chegou ao hotel foram: deixar suas malas, ir ao banheiro e pegar uma barrinha de cereal, logo tendo que voltar ao aeroporto para acompanhar a chegada dos jogadores para aquela final da Copa Libertadores da América.
Quando decidiu cursar jornalismo para trabalhar na área de esportes, não contava com a sorte lhe sorrindo apenas dois anos depois de formado. Pensou que ficaria focado nos esportes locais, cobrindo partidas de futebol e vôlei em seu próprio país, a Coreia do Sul. No entanto, assim que seus chefes notaram que suas matérias eram boas demais e lembraram que falava quatro idiomas fluentemente, começou a ser convidado para viagens de última hora. Principalmente quando o futebol explodiu definitivamente na Coreia do Sul, fazendo com que vários jogadores sul-coreanos fossem enviados para os grandes times do Ocidente — vários jovens que viu começar foram comprados por milhões de wons por clubes grandes como Liverpool, Real Madrid, Inter Milão e outros. Estavam finalmente sendo reconhecidos por seus méritos e não taxados de jogadores sem talento e/ou medianos por serem da Ásia. ficava feliz com toda aquela evolução do esporte e do mundo — estavam sendo mais bem aceitos em todos os lugares, mesmo que a xenofobia ainda fosse enorme; aos poucos, estavam quebrando barreiras e fazendo história.
Mas não estava ali somente por mérito próprio. Óbvio que ser um dos poucos jornalistas da redação que falava espanhol e português fluentemente influenciava na decisão de ter sido enviado para aquela final, mas não era só isso. Ele estava ali porque precisava, além de tudo, escrever sobre a estrela do Flamengo, o time brasileiro que tinha uma torcida de peso. O garoto de vinte e três anos que dominava as paradas era seu alvo, precisava tentar uma entrevista no final do jogo independentemente do resultado, precisava ter o que falar e mostrar dele pelo simples fato dele ser… Sul coreano. era seu nome, o camisa 9, o atacante do momento.
, como gostava de ser chamado — até pela pronúncia ser mais fácil —, havia sido emprestado pela Junventus, um clube italiano de muito prestígio, em um dos investimentos do clube brasileiro para o ano de 2019, já que na temporada anterior não haviam tido sucesso — o time estava desfalcado, não tinham uma boa comissão técnica e afins. E desde que havia sido emprestado por milhões de euros, tem sido a estrela do Brasil. Com seu português arranhado e cheio de sotaque sul-coreano misturado ao italiano, conquistou a nação rubro-negra do Flamengo graças à chuva de gols durante o campeonato brasileiro e aos jogos da própria Libertadores. O garoto tinha talento, driblava como ninguém e não podia ver uma única brecha, por menor que fosse, que pudesse levá-lo até o gol. Era certeiro. E isso deixava toda a torcida confiante e implorando para que o clube pagasse o quanto fosse para mantê-lo no time para a próxima temporada também, afinal, graças a ele e ao entrosamento do time liderado por Jorge Jesus estavam em primeiro lugar no brasileirão também e se a derrota do Palmeiras para o Grêmio viesse no dia seguinte, no domingo, já poderiam comemorar o título. Estavam confiantes.
Ainda assim, quando o sábado da final chegou, não estava preparado para tamanha tensão que presenciava. Ele estava parado na área da imprensa, bem próximo à beirada do campo, cansado, com olheiras profundas e o coração extremamente acelerado. O Flamengo começou o jogo um tanto quanto perdido, desordenado e com zero de entrosamento, sequer parecia o mesmo time que havia arrebentado durante a temporada inteira.
O jornalista não podia evitar: estava triste, torcia para o time brasileiro não só pelo fato de ter um dos seus lá, sendo incrível e brilhando como deveria, mas também porque simpatizava com o time rubro-negro e com o Brasil como um todo — achava o Brasil um país fascinante e com um povo incrível, além das belezas naturais e os pontos turísticos, teve a sorte de fazer uma visita ao país (além de ter ido à casa do Flamengo, no Rio de Janeiro) durante as Olimpíadas de 2016.
Surpreendendo a todos, depois de uma falha da defesa flamenguista, o River Plate, rival argentino, abriu o placar, quase em meados do primeiro tempo. soltou um suspiro fraco e anotou em seu bloco de notas — estava ali a trabalho e não podia dar-se ao luxo de sofrer pela visível derrota em todos os aspectos daquele jogo.
Pelos minutos seguintes, o Flamengo lutou. Porém, o River Plate tinha um ‘jeitinho especial’ de jogar — eles gostavam de segurar a bola, atrasar o rival, fazer com que perdessem a cabeça durante o jogo, além da evidente violência argentina típica de Libertadores.
Com o fim do primeiro tempo, o intervalo chegou e se preparou em seu lugar para fazer a cobertura para o jornal em que trabalhava — precisaria fazer um resumo da partida para os canais vinculados ao jornal naquele intervalo, logo, teria de falar em português, espanhol, inglês e coreano. Levou alguns longos minutos até finalmente terminar a transmissão ao vivo, já que acabou tendo que fazer alguns comentários junto aos profissionais que não estavam no estádio, mas também acompanhavam a partida.
Ao longe podia ver a passagem para o vestiário, onde os jogadores do Flamengo já voltavam com expressões sérias e determinadas nos rostos. E lá estava , cabisbaixo e claramente sentindo-se culpado e decepcionado — era o atacante mais falado e que mais havia marcado gols naquele ano, precisava fazer valer tudo o que gastavam consigo e o salário milionário que ganhava; precisava orgulhar sua torcida.
A questão é que conseguia captar todos esses detalhes porque ele conhecia . Não sabia se o garoto lembrava dele — nem queria saber, na realidade —, mas ele se lembrava claramente de quando esbarrou com o garoto recém contratado pela Juventus, algum tempo atrás, em uma boate qualquer da Itália. precisou ir até lá para cobrir as contratações do ano — já que não havia sido o único sul coreano a ser contratado — e aproveitou para conhecer um pouco mais do lugar, pois raramente tinha tempo de ‘turistar’ pelos países que passava a trabalho — mesmo que morasse atualmente na Europa.
Naquela madrugada, descobriu um segredo de que ele poderia lucrar milhões se fosse um jornalista de ‘fofocas’ — ou se simplesmente fosse um homem oportunista, o que não era, além de que não valeria de nada abrir a boca por aí afora sendo que ele entendia o jogador e partilhava do mesmo segredo. Acabaram sentados no bar, escondidos e camuflados pela escuridão que tomava a boate — as luzes coloridas pegavam apenas na pista de dança —, jogando conversa fora e provando dos mais diversos drinques do local. Quando deram por si, estavam com as bocas coladas uma na outra, as línguas se atracando e as pernas emboladas enquanto tentava grudar os corpos mesmo que estivessem sentados em bancos separados. , o maior atacante que tinham na atualidade, era, no mínimo, bissexual e beijava jornalistas por aí sem ao menos se importar se eles eram realmente jornalistas. E também não se importou se era um astro do futebol e ele um jornalista esportivo reconhecido e com o rosto em todos os canais de maior audiência do continente.
saiu do transe ao perceber que estava atrapalhando a passagem de um colega. Desculpou-se e voltou a prestar atenção na partida que seguia 1 x 0 para o River Plate. A tristeza que sentia se mesclava à da torcida e o fazia querer chorar; haviam saído de tão longe, não mereciam aquela derrota depois de uma bela temporada — não que o River merecesse perder, não era isso, ele só estava sendo passional demais.
O segundo tempo deu a impressão de que passou mais rápido do que o primeiro e logo o juiz já dava míseros três minutos de acréscimo. A torcida argentina estava eufórica e já comemorava o título, os gritos eram altos, quase ensurdecedores. Os flamenguistas permaneciam tentando empurrar o time, mas o entrosamento não vinha — e não conseguiam esquecer a falha que deu espaço para o gol, até então, da vitória do River Plate. Alguns torcedores choravam, outros bebiam em dobro, outros xingavam e uma grande parcela permanecia esperançosa, gritando o nome de e implorando para que o garoto fizesse alguma coisa.
Como se o jogador fosse capaz de ouvir as lamúrias desesperadas dos torcedores, criou um caminho em direção à área e se infiltrou por lá. Em questão de segundos, a bola já explodia no interior do gol do River Plate, dando o empate que os rubros-negros tanto queriam — e frustrando os argentinos que estavam tão confiantes e agora teriam de lidar com um empate e mais dois tempos de prorrogação antes dos pênaltis caso permanecesse no 1 x 1. O estádio imediatamente explodiu em gritos, mais do que antes, e não se privou de dar um salto em seu lugar e comemorar à sua maneira o gol de seu conterrâneo. Seus companheiros soltaram algumas risadas, fazendo-o se desculpar e ajustar os óculos grossos de grau no rosto, enquanto sentia as bochechas corarem — estava no auge dos seus vinte e seis anos e ainda se empolgava com partidas de futebol como o garotinho de anos atrás quando conheceu o esporte, principalmente quando tinha amor envolvido; seu coração batia preto e vermelho, ele sabia, desde a primeira vez que assistiu um jogo do Flamengo, desde que pisara no Rio de Janeiro e conheceu a sede do clube.
A torcida ainda comemorava quando apareceu correndo em direção à área argentina novamente, com os cabelos longos quase soltando do meio rabo de cavalo que prendia as madeixas lisas e um punhado de argentinos tentando pará-lo. Foram necessários dois passes para que a bola voltasse aos pés do menino de ouro, logo sendo chutada novamente para o gol. O goleiro não teve o que fazer. A bola havia entrado. Outro gol de e a vitória passava a ser do Flamengo — de virada, na raça, do jeito que gostavam. A comemoração enfurecida foi inevitável. arrancou a camisa e deixou o corpo bonito e coberto de tatuagens à mostra, levando a torcida à completa loucura. Seus colegas de time pularam sobre o seu corpo, que permaneceu fortemente de pé, e soltou seus cabelos longos, puxando-os e bagunçando-os enquanto gritavam ao seu lado para a torcida — com a torcida.
E , como o belíssimo bobo que era, não conseguiu continuar fingindo ser imparcial. Comemorou junto, deu alguns pulos animados e gritos de apoio para o time brasileiro, logo voltando a se comportar, senão poderia acabar levando uma bronca dado os olhares reprovadores que recebia naquela área — até porque grande parte das pessoas dali era da Argentina e estava a favor do River Plate, além do fato de que elas não gostavam tanto assim de coreanos.
ficou tão distraído que perdeu um lance importantíssimo do jogo e só percebeu o que estava acontecendo quando o juiz levantou o cartão vermelho e apontou-o em direção a , que sequer se importou e saiu do campo comemorando e pulando como se nada tivesse acontecido. Faltavam pouquíssimos segundos para o fim definitivo do jogo, ele estava pouco se importando se estava sendo expulso ou não — havia sido o herói da partida e trazido a vitória para o Flamengo.
Quando o juiz finalmente apitou anunciando o término da partida, a torcida só faltou invadir o campo. Os gritos, as cantorias, as coreografias e as camisas sacudindo faziam a festa ficar ainda mais bonita. Os jogadores flamenguistas pulavam de um lado para o outro, comemoravam como nunca e compartilhavam de lágrimas emocionadas — levaram 38 anos para chegarem até ali novamente, levantando a taça e indo em direção ao Mundial.
Em determinado momento, parou no meio do campo e observou tudo à sua volta com os olhos transbordando emoção; a felicidade era quase palpável, e ele tinha feito parte daquilo — ele tinha feito tudo aquilo acontecer; foi o jogador da partida, havia realizado o sonho de milhares de pessoas, inclusive o dele mesmo. Sorriu para os torcedores, para os companheiros e voltou a observar ao redor. Sentia-se completamente satisfeito.
E a América do Sul estava novamente pintada de vermelho e preto.
tinha um enorme sorriso no rosto quando correu até à parte do campo onde as entrevistas seriam feitas. Conversou, ao vivo, com alguns jogadores do time argentino, tentando manter-se educado e fazer perguntas inteligentes, mas os caras não queriam falar, não tinha clima para isso, então foram entrevistas curtas e rápidas, com falas pequenas e entristecidas.
Não demorou muito para os jogadores do Flamengo começarem a vir, o que animava . O primeiro entrevistado foi o capitão rubro-negro, Everton Ribeiro, que declarou sua emoção ao fazer parte do time e chegar àquela vitória com tanta garra. Com seu português perfeito e ainda com um bocado de sotaque, perguntou sobre as surpresas daquele jogo e a falha no primeiro tempo que resultou o único gol do River Plate, além da falta de entrosamento inicial. A conversa foi rápida, pois e Bruno Henrique estavam pelos arredores e era óbvio, ambos eram os mais cotados para as entrevistas. precisava correr se quisesse ter algo exclusivo para os canais que trabalhava e até mesmo para sua matéria que sairia no dia seguinte.
— Muito obrigado pelo seu tempo, Everton — agradeceu. — Parabéns pelo título! Agora, temos aqui, os craques da temporada: e Bruno Henrique! — o jornalista exclamou, e logo Everton deu espaço aos outros dois companheiros, retirando-se logo em seguida. — Como se sentem com uma virada tão incrível e na raça como de costume quando se trata do Flamengo?
Bruno Henrique começou a falar e tentou prestar atenção em tudo, no entanto, foi quase impossível focar em seu trabalho já que o encarava com atenção e curiosidade.
O mais novo o olhou de cima a baixo, com aquele ar de reconhecimento e admiração — a mesma coisa que sentiu na primeira vez que o viu naquela boate sozinho. Tinha certeza de que aquele era o jornalista com quem passou a noite mais incrível e inesquecível de sua vida nos confins da Itália.
— Eu lembro de você! — exclamou animado e em coreano, jogando os cabelos longos e suados para trás. — Você é o jornalista coreano da Itália! — o jogador completou, soltando risadas e fazendo com que ficasse levemente envergonhado.
Algumas pessoas ao redor ficaram confusas, por não entenderem coreano e também pela animação quase palpável do jogador para com o jornalista. Principalmente seu companheiro de time, que apenas sorriu e deixou que os tirasse daquela saia justa ao vivo.
— Oh, desculpe, preciso falar em português, certo? — perguntou com seu sotaque carregado e apenas assentiu positivamente. — O jogo foi incrível, tivemos um adversário à nossa altura e foi… Demais! Fico feliz por ter trazido esse título para nós!
— E como é para você, , sendo tão jovem e já considerado um dos melhores jogadores da atualidade? Como é para você ser campeão de um time tão longe de casa e com uma torcida tão passional?
— É diferente de tudo que já vivi. — O garoto sorriu e fez uma pausa até alguns colegas passarem por trás deles, levando Bruno Henrique com eles sem dá-lo tempo para se despedir; a típica euforia do esporte e da transmissão ao vivo. — Ser campeão é sempre muito bom, mas ser campeão pelo Flamengo… Em um momento desses… Ah, é incrível, surreal, eu não tenho palavras.
— Você foi o herói do momento e tem sido assim desde que veio para o time. Acha que há a possibilidade de ser contratado de uma vez por todas?
— A chance sempre existe e seria ótimo continuar aqui — respondeu animado. — E fico feliz por me considerar um herói, mas eu jamais faria todos esses jogos tão bem se não fosse a equipe como um todo. Somos muito unidos e nos completamos, é assim que conseguimos tudo isso.
— E qual foi a maior motivação de vocês no segundo tempo? Vocês não estavam tão entrosados — explicou, tentando fugir do olhar analítico do jogador, que fazia questão de encará-los nos olhos. — Jorge Jesus deu uma bronca em vocês ou usou frases motivacionais?
— Nah. — riu e abanou com as mãos. — O Jesus fez o que sempre faz: nos deu gás e disse o que precisávamos melhorar, além de ajudar a nos concentrarmos melhor. Como eu disse, somos bem unidos e não tem essa coisa de dar broncas, ele apenas tenta abrir nossos olhos e repassar as táticas.
— Entendi! Muito obrigado pelo seu tempo, . Parabéns pelo título! — terminou a entrevista com um tanto de pressa, voltando a olhar para a câmera que estava focada apenas em seu rosto agora. Finalizou a transmissão após fazer alguns comentários com os outros profissionais e soltou um suspiro cansado. Finalmente toda aquela confusão tinha terminado e ele poderia ter uma boa noite de sono.
— Eu realmente me lembro de você. — A voz suave de voltou a ecoar por seus ouvidos, fazendo com que o jornalista desse um pulo de susto. — Cheguei a achar que não fôssemos nos ver mais.
— Isso é meio difícil, . — riu sem jeito, coçando a nuca e ajustando os óculos outra vez, enquanto entregava o microfone para o companheiro que juntava os equipamentos. — Sou um jornalista esportivo, lembra? Estou sempre por aí, assistindo e cobrindo seus jogos.
— É… Mas raramente nos encontramos. Fico feliz por estar aqui hoje, é um título importante e sei que fará uma matéria incrível.
— E você já leu algo meu, campeão? — perguntou brincalhão, começando a andar em passos lentos em direção à saída com em seu encalço.
— Comecei a ler tudo o que você escreve depois do nosso encontro na Itália. — O jogador deu de ombros. — Mesmo que você tenha me deixado sozinho no hotel na manhã seguinte.
— Não vamos lembrar e falar disso… — o jornalista pediu baixinho, olhando em volta para ter certeza de que ninguém prestava atenção neles. — Eu te deixei um bilhete explicando que precisava trabalhar e não pegaria bem para você, um jogador famoso e recém contratado pela Juventus, ser pego em uma situação dessas.
— Tudo bem, tudo bem, confesso que só fui encontrar seu bilhete quase à noite, quando um colega visitou meu quarto e encontrou por mim — confessou cabisbaixo, sentindo-se corar até às orelhas. — Foi uma pena que não deixou seu número, tive que pesquisar no Google suas redes sociais e para onde você escreve.
— E nunca pensou em me enviar uma mensagem privada no Twitter?
— Milhares de vezes, mas meus assessores têm acesso à minha conta e não seria legal eles saberem o que eu tanto queria falar com você.
teria respondido se não fosse alguns jogadores chamando o nome de para que voltassem às comemorações. A expressão de decepção que tomou o rosto do jogador fez soltar uma risada fraca, era tão bonitinho quando ele fazia charme daquele jeito. Uma completa fofura.
— Vai lá, campeão — murmurou. — Podemos nos falar depois.
— Nós vamos comemorar aqui, agora, e lá no Rio amanhã com os torcedores — falou apressado. — Você não teria uma folga para voar para o Brasil com a gente, teria?
— Olha…
— Pode me dar a resposta daqui a pouco no hotel Marriot? Vamos comemorar lá, só o time e a família — interrompeu o jornalista. — Eu prometo que será divertido.
— Tudo bem. — suspirou. — Mas não crie tantas expectativas, campeão.
— Tarde demais, hyung.
sabia que não se arrependeria da decisão que tomou, mas não estava esperando nada além de bebidas de graça e umas conversas aleatórias que talvez fossem até boas para seu trabalho, apenas estava ali por estar. Ir até àquele hotel não lhe custaria nada e estava hospedado bem próximo — infelizmente jornalistas não ficavam em hotéis cinco estrelas, mas até que ganhavam quartos espaçosos e com camas confortáveis, onde queria muito estar, mas não conseguiu negar o pedido do jogador rubro-negro.
Antes de ir embora do estádio, conseguiu passar por ele e dizer que se quisesse levar alguém era só passar o nome que ele colocaria na lista privada da festa que aconteceria no Marriot. Mas, ainda assim, decidiu ir sozinho, não queria que ninguém visse como ele ficava derretido quando falava com — já bastava o fiasco da entrevista, onde as falas em coreano do jogador já deveriam estar traduzidas em todas as redes sociais, enquanto os torcedores e a mídia especulavam que eles eram amigos (e logo começariam a procurar sinais de que eram próximos para aquele tipo de conversa ao vivo).
Após soltar um suspiro, seguiu até à recepção do hotel e deu seu nome. Não demorou muito até ser levado ao salão onde a comemoração acontecia. A música estava num tom gostoso de ouvir, pessoas andavam de um lado para o outro com bebidas e petiscos nas mãos, enquanto as conversas paralelas ecoavam pelo ambiente.
— Eu sabia que você viria. — A voz do jogador surgiu atrás de , fazendo-o sorrir.
— É, eu também sabia — respondeu, dando de ombros e pegando a taça de champanhe que lhe era estendida. — Só quis me fazer um pouco de difícil.
— Isso não combina com a gente, hyung. — riu e indicou um lugar mais reservado com um aceno.
o acompanhou logo em seguida, finalmente parando para analisá-lo naquele momento. Os cabelos grandes estavam presos em um ‘coque samurai’ bem feito e as roupas eram casuais, mas, ainda assim, de grife — provavelmente de alguma marca em que ele era garoto propaganda. Enquanto ele, um jornalista comum, estava… Ele. Óculos de grau, jeans escuros apertados e uma camisa social de botões dobrada até os cotovelos.
— Eu realmente estou feliz em rever você, hyung — murmurou enquanto bebericava um suco natural; não estava proibido de tomar álcool, mas gostava de evitar, porque sabia que perdia a linha.
— Também estou feliz, . — sorriu, deixando suas covinhas à mostra. — Como tem passado?
riu e revirou os olhos.
— Não me venha com esses assuntos de tio-avô — pediu. — Acho que conseguimos ser melhores do que isso.
— Desculpe. — riu. — Eu realmente não sei o que falar.
— Não seja por isso, eu sei. — estufou o peito. — Que tal falarmos da vontade que estou de pegar uma garrafa de champanhe e subir para o meu quarto com você?
— É uma proposta tentadora.
— Lá em cima teremos privacidade e uma vista incrível do céu, estou na cobertura.
— Ok, é uma proposta muitíssimo tentadora. Onde podemos pegar essa garrafa de champanhe?
sorriu satisfeito e se levantou.
— Vem comigo.
carregava um balde com gelo e duas garrafas caras de espumante enquanto tagarelava sem parar sobre seus últimos meses. prestava atenção e ria vez ou outra quando ouvia uma história engraçada do mais novo — e ele era cheio delas.
Os olhares trocados eram carregados de saudade e curiosidade, sabiam o que queriam e sabiam que não iriam enrolar tanto. Queriam saber se suas bocas ainda se encaixavam, se tinham o mesmo gosto da última vez, se seus corpos ainda combinavam, se as tatuagens de realçavam a cor da pele de quando grudadas nele e se ainda eram bons como se lembravam. A tensão era visível, assim como toda a vontade reprimida que tentavam fingir que não existia. Não queriam acelerar e atropelar as coisas, mas também não queriam perder toda a noite dando risada de histórias antigas enquanto caminhavam por aquele longo corredor do hotel de luxo.
A suíte de parecia que nunca chegaria.
— Seja muito bem-vindo ao meu palácio temporário, hyung — gracejou assim que chegaram ao quarto, abrindo a porta com o cartão magnético em seguida. — Fique à vontade.
O jornalista entrou e tentou não se deslumbrar muito — já havia estado em outros hotéis daquele porte, mas o choque inicial era sempre o mesmo; coisas fora de sua realidade costumavam deixá-lo assim (e não era pobre, estava muito bem estabilizado em sua profissão e ganhava o suficiente para frequentar lugares como aquele sempre que quisesse).
Seguiram em direção à varanda do quarto e se sentaram no chão mesmo, tendo total visão do céu estrelado acima deles. O balde de gelo ficou entre ambos e sorria feito um garoto bobo.
— Eu estava pensando em uma coisa — murmurou após alguns segundos.
— No quê? — perguntou interessado, enquanto enchia uma taça com champanhe.
— Você me deu sorte hoje, hyung.
— Claro que não, garoto, você só é muito bom no que faz.
— Não… É sério — insistiu, rendendo-se à bebida também. — Eu te vi quando estava saindo do vestiário e logo de cara te reconheci. A partir dali, fiquei mais determinado, não sei explicar… Eu só senti que precisava fazer ao menos um gol. E depois que o fiz, pareceu que algo dentro de mim explodiu e eu te vi comemorar de longe. Quando dei por mim, já estava chutando a bola para o gol outra vez. Você foi como um talismã.
— Pare de ser bobo, — pediu baixinho, corando até às orelhas e tomando todo o conteúdo de sua taça de uma vez.
— Não estou sendo bobo, apenas verdadeiro. — O jogador sorriu. — Eu pensei em você todos os dias desde que nos vimos pela última vez. Sei que você apareceu em outros jogos, mas não conseguimos nos encontrar e eu nunca consigo ver ninguém direito quando saio do campo. Sem contar que os dias estavam sendo conturbados na Juventus, as negociações com o Flamengo já estavam acontecendo e todo mundo estava pegando no meu pé.
— Você não me deve explicações — disse calmamente. — O que tivemos foi casual e momentâneo.
— Não estou explicando, hyung, estou desabafando. Eu queria ter te visto, queria ter te encontrado de novo. Todas as noites, antes de dormir, eu lembro do seu cheiro. Da sua pele contra a minha. Do gosto da sua boca. E eu sei que é recíproco, o seu olhar não mente.
— E nem quero mentir para você, — praticamente sussurrou. — É óbvio que é recíproco. Às vezes não consigo acreditar que me deixei levar dessa maneira por um garoto.
revirou os olhos e soltou uma risada. A diferença de idade entre eles nem era tão grande assim — apenas três anos.
— Naquela noite, enquanto você gemia meu nome, eu não era só um garoto — falou, direto.
— Não, não era. Tampouco quero que seja um esta noite, .
A fala de foi o suficiente para que desistisse de esperar. Agora, tinha pressa. E queria aquele jornalista entre seus braços novamente — não aguentaria sequer mais um segundo longe daqueles lábios grossos. E com uma vontade jamais vista, avançaram um contra o outro para um beijo lento e repleto de saudade. A urgência estava presente no ósculo, mas não conseguiam acelerar as coisas ali, suas bocas encaixavam bem demais para que apressassem algo que não tinha por que apressar.
Os corpos grudaram de forma automática e permitiram-se rolar pelo chão da varanda, sob o céu escuro, a Lua e as estrelas. Aos poucos, conforme a excitação crescia, as roupas foram deixando seus corpos e, com elas, o balde de gelo rolou para um lado, fazendo com que tudo espalhasse pelo chão — misturando água, gelo e champanhe, mas nada além deles dois importava. E quando os primeiros gemidos escaparam em uníssono, descobriram que era aquilo que queriam sempre que se encontrassem.
abriu os olhos de forma preguiçosa, sentindo todo seu corpo reclamar pela posição mal dormida — além do esforço em excesso no chão desconfortável da varanda. Ele não lembrava muito bem como havia ido parar na cama, mas tinha quase certeza que fora ideia de para que não fossem flagrados pela manhã dormindo pelados em plena varanda da suíte mais cara do hotel cinco estrelas.
.
O jogador viu-se sorrindo de forma automática apenas por lembrar do jornalista — este que ainda dormia ao seu lado, com o corpo nu, mostrando-se tão belo que perdia o ar. Para ele, era como uma obra de arte caríssima e impecável, pintada com detalhes ricos de ouro e prata, com tons de vermelho, preto e branco, realçando seu fogo, seu calor e sua aura gostosa de rodear.
Sem pensar, afundou o rosto entre os cabelos escuros do mais velho, inspirando seu cheiro gostoso. Já acordado e de costas para o jogador, sorriu enquanto sentia o coração acelerar. Havia se rendido mais uma vez para um garoto-não-tão-garoto assim e não se arrependia.
— Bom dia — sussurrou quando percebeu que estava acordado.
virou-se em direção ao mais novo e puxou-o para mais perto, deixando as bocas próximas, roçando uma na outra sem se importar com mais nada além daquele momento. Tão baixinho quanto o ‘bom dia’ que recebeu, disse:
— Vou para o Rio com você.
sorriu bobo e juntou seus lábios num selar tranquilo. Estava tão feliz que sentia que poderia explodir a qualquer segundo, como um adolescente apaixonado pela primeira vez — e talvez o fosse mesmo, já que nunca havia sentido nada como aquilo por ninguém; mexia com seu corpo, sua mente e seu coração.
— Que ótimo — o jogador sussurrou quando separaram os lábios. — Quero uma matéria bem incrível sobre mim quando você voltar para a Europa.
— E você terá, meu bem. A melhor delas.
não respondeu, apenas sorriu e juntou suas bocas novamente. Sentia-se completo.
Além da taça da Libertadores nos braços, tinha também.
Quando decidiu cursar jornalismo para trabalhar na área de esportes, não contava com a sorte lhe sorrindo apenas dois anos depois de formado. Pensou que ficaria focado nos esportes locais, cobrindo partidas de futebol e vôlei em seu próprio país, a Coreia do Sul. No entanto, assim que seus chefes notaram que suas matérias eram boas demais e lembraram que falava quatro idiomas fluentemente, começou a ser convidado para viagens de última hora. Principalmente quando o futebol explodiu definitivamente na Coreia do Sul, fazendo com que vários jogadores sul-coreanos fossem enviados para os grandes times do Ocidente — vários jovens que viu começar foram comprados por milhões de wons por clubes grandes como Liverpool, Real Madrid, Inter Milão e outros. Estavam finalmente sendo reconhecidos por seus méritos e não taxados de jogadores sem talento e/ou medianos por serem da Ásia. ficava feliz com toda aquela evolução do esporte e do mundo — estavam sendo mais bem aceitos em todos os lugares, mesmo que a xenofobia ainda fosse enorme; aos poucos, estavam quebrando barreiras e fazendo história.
Mas não estava ali somente por mérito próprio. Óbvio que ser um dos poucos jornalistas da redação que falava espanhol e português fluentemente influenciava na decisão de ter sido enviado para aquela final, mas não era só isso. Ele estava ali porque precisava, além de tudo, escrever sobre a estrela do Flamengo, o time brasileiro que tinha uma torcida de peso. O garoto de vinte e três anos que dominava as paradas era seu alvo, precisava tentar uma entrevista no final do jogo independentemente do resultado, precisava ter o que falar e mostrar dele pelo simples fato dele ser… Sul coreano. era seu nome, o camisa 9, o atacante do momento.
, como gostava de ser chamado — até pela pronúncia ser mais fácil —, havia sido emprestado pela Junventus, um clube italiano de muito prestígio, em um dos investimentos do clube brasileiro para o ano de 2019, já que na temporada anterior não haviam tido sucesso — o time estava desfalcado, não tinham uma boa comissão técnica e afins. E desde que havia sido emprestado por milhões de euros, tem sido a estrela do Brasil. Com seu português arranhado e cheio de sotaque sul-coreano misturado ao italiano, conquistou a nação rubro-negra do Flamengo graças à chuva de gols durante o campeonato brasileiro e aos jogos da própria Libertadores. O garoto tinha talento, driblava como ninguém e não podia ver uma única brecha, por menor que fosse, que pudesse levá-lo até o gol. Era certeiro. E isso deixava toda a torcida confiante e implorando para que o clube pagasse o quanto fosse para mantê-lo no time para a próxima temporada também, afinal, graças a ele e ao entrosamento do time liderado por Jorge Jesus estavam em primeiro lugar no brasileirão também e se a derrota do Palmeiras para o Grêmio viesse no dia seguinte, no domingo, já poderiam comemorar o título. Estavam confiantes.
Ainda assim, quando o sábado da final chegou, não estava preparado para tamanha tensão que presenciava. Ele estava parado na área da imprensa, bem próximo à beirada do campo, cansado, com olheiras profundas e o coração extremamente acelerado. O Flamengo começou o jogo um tanto quanto perdido, desordenado e com zero de entrosamento, sequer parecia o mesmo time que havia arrebentado durante a temporada inteira.
O jornalista não podia evitar: estava triste, torcia para o time brasileiro não só pelo fato de ter um dos seus lá, sendo incrível e brilhando como deveria, mas também porque simpatizava com o time rubro-negro e com o Brasil como um todo — achava o Brasil um país fascinante e com um povo incrível, além das belezas naturais e os pontos turísticos, teve a sorte de fazer uma visita ao país (além de ter ido à casa do Flamengo, no Rio de Janeiro) durante as Olimpíadas de 2016.
Surpreendendo a todos, depois de uma falha da defesa flamenguista, o River Plate, rival argentino, abriu o placar, quase em meados do primeiro tempo. soltou um suspiro fraco e anotou em seu bloco de notas — estava ali a trabalho e não podia dar-se ao luxo de sofrer pela visível derrota em todos os aspectos daquele jogo.
Pelos minutos seguintes, o Flamengo lutou. Porém, o River Plate tinha um ‘jeitinho especial’ de jogar — eles gostavam de segurar a bola, atrasar o rival, fazer com que perdessem a cabeça durante o jogo, além da evidente violência argentina típica de Libertadores.
Com o fim do primeiro tempo, o intervalo chegou e se preparou em seu lugar para fazer a cobertura para o jornal em que trabalhava — precisaria fazer um resumo da partida para os canais vinculados ao jornal naquele intervalo, logo, teria de falar em português, espanhol, inglês e coreano. Levou alguns longos minutos até finalmente terminar a transmissão ao vivo, já que acabou tendo que fazer alguns comentários junto aos profissionais que não estavam no estádio, mas também acompanhavam a partida.
Ao longe podia ver a passagem para o vestiário, onde os jogadores do Flamengo já voltavam com expressões sérias e determinadas nos rostos. E lá estava , cabisbaixo e claramente sentindo-se culpado e decepcionado — era o atacante mais falado e que mais havia marcado gols naquele ano, precisava fazer valer tudo o que gastavam consigo e o salário milionário que ganhava; precisava orgulhar sua torcida.
A questão é que conseguia captar todos esses detalhes porque ele conhecia . Não sabia se o garoto lembrava dele — nem queria saber, na realidade —, mas ele se lembrava claramente de quando esbarrou com o garoto recém contratado pela Juventus, algum tempo atrás, em uma boate qualquer da Itália. precisou ir até lá para cobrir as contratações do ano — já que não havia sido o único sul coreano a ser contratado — e aproveitou para conhecer um pouco mais do lugar, pois raramente tinha tempo de ‘turistar’ pelos países que passava a trabalho — mesmo que morasse atualmente na Europa.
Naquela madrugada, descobriu um segredo de que ele poderia lucrar milhões se fosse um jornalista de ‘fofocas’ — ou se simplesmente fosse um homem oportunista, o que não era, além de que não valeria de nada abrir a boca por aí afora sendo que ele entendia o jogador e partilhava do mesmo segredo. Acabaram sentados no bar, escondidos e camuflados pela escuridão que tomava a boate — as luzes coloridas pegavam apenas na pista de dança —, jogando conversa fora e provando dos mais diversos drinques do local. Quando deram por si, estavam com as bocas coladas uma na outra, as línguas se atracando e as pernas emboladas enquanto tentava grudar os corpos mesmo que estivessem sentados em bancos separados. , o maior atacante que tinham na atualidade, era, no mínimo, bissexual e beijava jornalistas por aí sem ao menos se importar se eles eram realmente jornalistas. E também não se importou se era um astro do futebol e ele um jornalista esportivo reconhecido e com o rosto em todos os canais de maior audiência do continente.
saiu do transe ao perceber que estava atrapalhando a passagem de um colega. Desculpou-se e voltou a prestar atenção na partida que seguia 1 x 0 para o River Plate. A tristeza que sentia se mesclava à da torcida e o fazia querer chorar; haviam saído de tão longe, não mereciam aquela derrota depois de uma bela temporada — não que o River merecesse perder, não era isso, ele só estava sendo passional demais.
O segundo tempo deu a impressão de que passou mais rápido do que o primeiro e logo o juiz já dava míseros três minutos de acréscimo. A torcida argentina estava eufórica e já comemorava o título, os gritos eram altos, quase ensurdecedores. Os flamenguistas permaneciam tentando empurrar o time, mas o entrosamento não vinha — e não conseguiam esquecer a falha que deu espaço para o gol, até então, da vitória do River Plate. Alguns torcedores choravam, outros bebiam em dobro, outros xingavam e uma grande parcela permanecia esperançosa, gritando o nome de e implorando para que o garoto fizesse alguma coisa.
Como se o jogador fosse capaz de ouvir as lamúrias desesperadas dos torcedores, criou um caminho em direção à área e se infiltrou por lá. Em questão de segundos, a bola já explodia no interior do gol do River Plate, dando o empate que os rubros-negros tanto queriam — e frustrando os argentinos que estavam tão confiantes e agora teriam de lidar com um empate e mais dois tempos de prorrogação antes dos pênaltis caso permanecesse no 1 x 1. O estádio imediatamente explodiu em gritos, mais do que antes, e não se privou de dar um salto em seu lugar e comemorar à sua maneira o gol de seu conterrâneo. Seus companheiros soltaram algumas risadas, fazendo-o se desculpar e ajustar os óculos grossos de grau no rosto, enquanto sentia as bochechas corarem — estava no auge dos seus vinte e seis anos e ainda se empolgava com partidas de futebol como o garotinho de anos atrás quando conheceu o esporte, principalmente quando tinha amor envolvido; seu coração batia preto e vermelho, ele sabia, desde a primeira vez que assistiu um jogo do Flamengo, desde que pisara no Rio de Janeiro e conheceu a sede do clube.
A torcida ainda comemorava quando apareceu correndo em direção à área argentina novamente, com os cabelos longos quase soltando do meio rabo de cavalo que prendia as madeixas lisas e um punhado de argentinos tentando pará-lo. Foram necessários dois passes para que a bola voltasse aos pés do menino de ouro, logo sendo chutada novamente para o gol. O goleiro não teve o que fazer. A bola havia entrado. Outro gol de e a vitória passava a ser do Flamengo — de virada, na raça, do jeito que gostavam. A comemoração enfurecida foi inevitável. arrancou a camisa e deixou o corpo bonito e coberto de tatuagens à mostra, levando a torcida à completa loucura. Seus colegas de time pularam sobre o seu corpo, que permaneceu fortemente de pé, e soltou seus cabelos longos, puxando-os e bagunçando-os enquanto gritavam ao seu lado para a torcida — com a torcida.
E , como o belíssimo bobo que era, não conseguiu continuar fingindo ser imparcial. Comemorou junto, deu alguns pulos animados e gritos de apoio para o time brasileiro, logo voltando a se comportar, senão poderia acabar levando uma bronca dado os olhares reprovadores que recebia naquela área — até porque grande parte das pessoas dali era da Argentina e estava a favor do River Plate, além do fato de que elas não gostavam tanto assim de coreanos.
ficou tão distraído que perdeu um lance importantíssimo do jogo e só percebeu o que estava acontecendo quando o juiz levantou o cartão vermelho e apontou-o em direção a , que sequer se importou e saiu do campo comemorando e pulando como se nada tivesse acontecido. Faltavam pouquíssimos segundos para o fim definitivo do jogo, ele estava pouco se importando se estava sendo expulso ou não — havia sido o herói da partida e trazido a vitória para o Flamengo.
Quando o juiz finalmente apitou anunciando o término da partida, a torcida só faltou invadir o campo. Os gritos, as cantorias, as coreografias e as camisas sacudindo faziam a festa ficar ainda mais bonita. Os jogadores flamenguistas pulavam de um lado para o outro, comemoravam como nunca e compartilhavam de lágrimas emocionadas — levaram 38 anos para chegarem até ali novamente, levantando a taça e indo em direção ao Mundial.
Em determinado momento, parou no meio do campo e observou tudo à sua volta com os olhos transbordando emoção; a felicidade era quase palpável, e ele tinha feito parte daquilo — ele tinha feito tudo aquilo acontecer; foi o jogador da partida, havia realizado o sonho de milhares de pessoas, inclusive o dele mesmo. Sorriu para os torcedores, para os companheiros e voltou a observar ao redor. Sentia-se completamente satisfeito.
E a América do Sul estava novamente pintada de vermelho e preto.
tinha um enorme sorriso no rosto quando correu até à parte do campo onde as entrevistas seriam feitas. Conversou, ao vivo, com alguns jogadores do time argentino, tentando manter-se educado e fazer perguntas inteligentes, mas os caras não queriam falar, não tinha clima para isso, então foram entrevistas curtas e rápidas, com falas pequenas e entristecidas.
Não demorou muito para os jogadores do Flamengo começarem a vir, o que animava . O primeiro entrevistado foi o capitão rubro-negro, Everton Ribeiro, que declarou sua emoção ao fazer parte do time e chegar àquela vitória com tanta garra. Com seu português perfeito e ainda com um bocado de sotaque, perguntou sobre as surpresas daquele jogo e a falha no primeiro tempo que resultou o único gol do River Plate, além da falta de entrosamento inicial. A conversa foi rápida, pois e Bruno Henrique estavam pelos arredores e era óbvio, ambos eram os mais cotados para as entrevistas. precisava correr se quisesse ter algo exclusivo para os canais que trabalhava e até mesmo para sua matéria que sairia no dia seguinte.
— Muito obrigado pelo seu tempo, Everton — agradeceu. — Parabéns pelo título! Agora, temos aqui, os craques da temporada: e Bruno Henrique! — o jornalista exclamou, e logo Everton deu espaço aos outros dois companheiros, retirando-se logo em seguida. — Como se sentem com uma virada tão incrível e na raça como de costume quando se trata do Flamengo?
Bruno Henrique começou a falar e tentou prestar atenção em tudo, no entanto, foi quase impossível focar em seu trabalho já que o encarava com atenção e curiosidade.
O mais novo o olhou de cima a baixo, com aquele ar de reconhecimento e admiração — a mesma coisa que sentiu na primeira vez que o viu naquela boate sozinho. Tinha certeza de que aquele era o jornalista com quem passou a noite mais incrível e inesquecível de sua vida nos confins da Itália.
— Eu lembro de você! — exclamou animado e em coreano, jogando os cabelos longos e suados para trás. — Você é o jornalista coreano da Itália! — o jogador completou, soltando risadas e fazendo com que ficasse levemente envergonhado.
Algumas pessoas ao redor ficaram confusas, por não entenderem coreano e também pela animação quase palpável do jogador para com o jornalista. Principalmente seu companheiro de time, que apenas sorriu e deixou que os tirasse daquela saia justa ao vivo.
— Oh, desculpe, preciso falar em português, certo? — perguntou com seu sotaque carregado e apenas assentiu positivamente. — O jogo foi incrível, tivemos um adversário à nossa altura e foi… Demais! Fico feliz por ter trazido esse título para nós!
— E como é para você, , sendo tão jovem e já considerado um dos melhores jogadores da atualidade? Como é para você ser campeão de um time tão longe de casa e com uma torcida tão passional?
— É diferente de tudo que já vivi. — O garoto sorriu e fez uma pausa até alguns colegas passarem por trás deles, levando Bruno Henrique com eles sem dá-lo tempo para se despedir; a típica euforia do esporte e da transmissão ao vivo. — Ser campeão é sempre muito bom, mas ser campeão pelo Flamengo… Em um momento desses… Ah, é incrível, surreal, eu não tenho palavras.
— Você foi o herói do momento e tem sido assim desde que veio para o time. Acha que há a possibilidade de ser contratado de uma vez por todas?
— A chance sempre existe e seria ótimo continuar aqui — respondeu animado. — E fico feliz por me considerar um herói, mas eu jamais faria todos esses jogos tão bem se não fosse a equipe como um todo. Somos muito unidos e nos completamos, é assim que conseguimos tudo isso.
— E qual foi a maior motivação de vocês no segundo tempo? Vocês não estavam tão entrosados — explicou, tentando fugir do olhar analítico do jogador, que fazia questão de encará-los nos olhos. — Jorge Jesus deu uma bronca em vocês ou usou frases motivacionais?
— Nah. — riu e abanou com as mãos. — O Jesus fez o que sempre faz: nos deu gás e disse o que precisávamos melhorar, além de ajudar a nos concentrarmos melhor. Como eu disse, somos bem unidos e não tem essa coisa de dar broncas, ele apenas tenta abrir nossos olhos e repassar as táticas.
— Entendi! Muito obrigado pelo seu tempo, . Parabéns pelo título! — terminou a entrevista com um tanto de pressa, voltando a olhar para a câmera que estava focada apenas em seu rosto agora. Finalizou a transmissão após fazer alguns comentários com os outros profissionais e soltou um suspiro cansado. Finalmente toda aquela confusão tinha terminado e ele poderia ter uma boa noite de sono.
— Eu realmente me lembro de você. — A voz suave de voltou a ecoar por seus ouvidos, fazendo com que o jornalista desse um pulo de susto. — Cheguei a achar que não fôssemos nos ver mais.
— Isso é meio difícil, . — riu sem jeito, coçando a nuca e ajustando os óculos outra vez, enquanto entregava o microfone para o companheiro que juntava os equipamentos. — Sou um jornalista esportivo, lembra? Estou sempre por aí, assistindo e cobrindo seus jogos.
— É… Mas raramente nos encontramos. Fico feliz por estar aqui hoje, é um título importante e sei que fará uma matéria incrível.
— E você já leu algo meu, campeão? — perguntou brincalhão, começando a andar em passos lentos em direção à saída com em seu encalço.
— Comecei a ler tudo o que você escreve depois do nosso encontro na Itália. — O jogador deu de ombros. — Mesmo que você tenha me deixado sozinho no hotel na manhã seguinte.
— Não vamos lembrar e falar disso… — o jornalista pediu baixinho, olhando em volta para ter certeza de que ninguém prestava atenção neles. — Eu te deixei um bilhete explicando que precisava trabalhar e não pegaria bem para você, um jogador famoso e recém contratado pela Juventus, ser pego em uma situação dessas.
— Tudo bem, tudo bem, confesso que só fui encontrar seu bilhete quase à noite, quando um colega visitou meu quarto e encontrou por mim — confessou cabisbaixo, sentindo-se corar até às orelhas. — Foi uma pena que não deixou seu número, tive que pesquisar no Google suas redes sociais e para onde você escreve.
— E nunca pensou em me enviar uma mensagem privada no Twitter?
— Milhares de vezes, mas meus assessores têm acesso à minha conta e não seria legal eles saberem o que eu tanto queria falar com você.
teria respondido se não fosse alguns jogadores chamando o nome de para que voltassem às comemorações. A expressão de decepção que tomou o rosto do jogador fez soltar uma risada fraca, era tão bonitinho quando ele fazia charme daquele jeito. Uma completa fofura.
— Vai lá, campeão — murmurou. — Podemos nos falar depois.
— Nós vamos comemorar aqui, agora, e lá no Rio amanhã com os torcedores — falou apressado. — Você não teria uma folga para voar para o Brasil com a gente, teria?
— Olha…
— Pode me dar a resposta daqui a pouco no hotel Marriot? Vamos comemorar lá, só o time e a família — interrompeu o jornalista. — Eu prometo que será divertido.
— Tudo bem. — suspirou. — Mas não crie tantas expectativas, campeão.
— Tarde demais, hyung.
sabia que não se arrependeria da decisão que tomou, mas não estava esperando nada além de bebidas de graça e umas conversas aleatórias que talvez fossem até boas para seu trabalho, apenas estava ali por estar. Ir até àquele hotel não lhe custaria nada e estava hospedado bem próximo — infelizmente jornalistas não ficavam em hotéis cinco estrelas, mas até que ganhavam quartos espaçosos e com camas confortáveis, onde queria muito estar, mas não conseguiu negar o pedido do jogador rubro-negro.
Antes de ir embora do estádio, conseguiu passar por ele e dizer que se quisesse levar alguém era só passar o nome que ele colocaria na lista privada da festa que aconteceria no Marriot. Mas, ainda assim, decidiu ir sozinho, não queria que ninguém visse como ele ficava derretido quando falava com — já bastava o fiasco da entrevista, onde as falas em coreano do jogador já deveriam estar traduzidas em todas as redes sociais, enquanto os torcedores e a mídia especulavam que eles eram amigos (e logo começariam a procurar sinais de que eram próximos para aquele tipo de conversa ao vivo).
Após soltar um suspiro, seguiu até à recepção do hotel e deu seu nome. Não demorou muito até ser levado ao salão onde a comemoração acontecia. A música estava num tom gostoso de ouvir, pessoas andavam de um lado para o outro com bebidas e petiscos nas mãos, enquanto as conversas paralelas ecoavam pelo ambiente.
— Eu sabia que você viria. — A voz do jogador surgiu atrás de , fazendo-o sorrir.
— É, eu também sabia — respondeu, dando de ombros e pegando a taça de champanhe que lhe era estendida. — Só quis me fazer um pouco de difícil.
— Isso não combina com a gente, hyung. — riu e indicou um lugar mais reservado com um aceno.
o acompanhou logo em seguida, finalmente parando para analisá-lo naquele momento. Os cabelos grandes estavam presos em um ‘coque samurai’ bem feito e as roupas eram casuais, mas, ainda assim, de grife — provavelmente de alguma marca em que ele era garoto propaganda. Enquanto ele, um jornalista comum, estava… Ele. Óculos de grau, jeans escuros apertados e uma camisa social de botões dobrada até os cotovelos.
— Eu realmente estou feliz em rever você, hyung — murmurou enquanto bebericava um suco natural; não estava proibido de tomar álcool, mas gostava de evitar, porque sabia que perdia a linha.
— Também estou feliz, . — sorriu, deixando suas covinhas à mostra. — Como tem passado?
riu e revirou os olhos.
— Não me venha com esses assuntos de tio-avô — pediu. — Acho que conseguimos ser melhores do que isso.
— Desculpe. — riu. — Eu realmente não sei o que falar.
— Não seja por isso, eu sei. — estufou o peito. — Que tal falarmos da vontade que estou de pegar uma garrafa de champanhe e subir para o meu quarto com você?
— É uma proposta tentadora.
— Lá em cima teremos privacidade e uma vista incrível do céu, estou na cobertura.
— Ok, é uma proposta muitíssimo tentadora. Onde podemos pegar essa garrafa de champanhe?
sorriu satisfeito e se levantou.
— Vem comigo.
carregava um balde com gelo e duas garrafas caras de espumante enquanto tagarelava sem parar sobre seus últimos meses. prestava atenção e ria vez ou outra quando ouvia uma história engraçada do mais novo — e ele era cheio delas.
Os olhares trocados eram carregados de saudade e curiosidade, sabiam o que queriam e sabiam que não iriam enrolar tanto. Queriam saber se suas bocas ainda se encaixavam, se tinham o mesmo gosto da última vez, se seus corpos ainda combinavam, se as tatuagens de realçavam a cor da pele de quando grudadas nele e se ainda eram bons como se lembravam. A tensão era visível, assim como toda a vontade reprimida que tentavam fingir que não existia. Não queriam acelerar e atropelar as coisas, mas também não queriam perder toda a noite dando risada de histórias antigas enquanto caminhavam por aquele longo corredor do hotel de luxo.
A suíte de parecia que nunca chegaria.
— Seja muito bem-vindo ao meu palácio temporário, hyung — gracejou assim que chegaram ao quarto, abrindo a porta com o cartão magnético em seguida. — Fique à vontade.
O jornalista entrou e tentou não se deslumbrar muito — já havia estado em outros hotéis daquele porte, mas o choque inicial era sempre o mesmo; coisas fora de sua realidade costumavam deixá-lo assim (e não era pobre, estava muito bem estabilizado em sua profissão e ganhava o suficiente para frequentar lugares como aquele sempre que quisesse).
Seguiram em direção à varanda do quarto e se sentaram no chão mesmo, tendo total visão do céu estrelado acima deles. O balde de gelo ficou entre ambos e sorria feito um garoto bobo.
— Eu estava pensando em uma coisa — murmurou após alguns segundos.
— No quê? — perguntou interessado, enquanto enchia uma taça com champanhe.
— Você me deu sorte hoje, hyung.
— Claro que não, garoto, você só é muito bom no que faz.
— Não… É sério — insistiu, rendendo-se à bebida também. — Eu te vi quando estava saindo do vestiário e logo de cara te reconheci. A partir dali, fiquei mais determinado, não sei explicar… Eu só senti que precisava fazer ao menos um gol. E depois que o fiz, pareceu que algo dentro de mim explodiu e eu te vi comemorar de longe. Quando dei por mim, já estava chutando a bola para o gol outra vez. Você foi como um talismã.
— Pare de ser bobo, — pediu baixinho, corando até às orelhas e tomando todo o conteúdo de sua taça de uma vez.
— Não estou sendo bobo, apenas verdadeiro. — O jogador sorriu. — Eu pensei em você todos os dias desde que nos vimos pela última vez. Sei que você apareceu em outros jogos, mas não conseguimos nos encontrar e eu nunca consigo ver ninguém direito quando saio do campo. Sem contar que os dias estavam sendo conturbados na Juventus, as negociações com o Flamengo já estavam acontecendo e todo mundo estava pegando no meu pé.
— Você não me deve explicações — disse calmamente. — O que tivemos foi casual e momentâneo.
— Não estou explicando, hyung, estou desabafando. Eu queria ter te visto, queria ter te encontrado de novo. Todas as noites, antes de dormir, eu lembro do seu cheiro. Da sua pele contra a minha. Do gosto da sua boca. E eu sei que é recíproco, o seu olhar não mente.
— E nem quero mentir para você, — praticamente sussurrou. — É óbvio que é recíproco. Às vezes não consigo acreditar que me deixei levar dessa maneira por um garoto.
revirou os olhos e soltou uma risada. A diferença de idade entre eles nem era tão grande assim — apenas três anos.
— Naquela noite, enquanto você gemia meu nome, eu não era só um garoto — falou, direto.
— Não, não era. Tampouco quero que seja um esta noite, .
A fala de foi o suficiente para que desistisse de esperar. Agora, tinha pressa. E queria aquele jornalista entre seus braços novamente — não aguentaria sequer mais um segundo longe daqueles lábios grossos. E com uma vontade jamais vista, avançaram um contra o outro para um beijo lento e repleto de saudade. A urgência estava presente no ósculo, mas não conseguiam acelerar as coisas ali, suas bocas encaixavam bem demais para que apressassem algo que não tinha por que apressar.
Os corpos grudaram de forma automática e permitiram-se rolar pelo chão da varanda, sob o céu escuro, a Lua e as estrelas. Aos poucos, conforme a excitação crescia, as roupas foram deixando seus corpos e, com elas, o balde de gelo rolou para um lado, fazendo com que tudo espalhasse pelo chão — misturando água, gelo e champanhe, mas nada além deles dois importava. E quando os primeiros gemidos escaparam em uníssono, descobriram que era aquilo que queriam sempre que se encontrassem.
abriu os olhos de forma preguiçosa, sentindo todo seu corpo reclamar pela posição mal dormida — além do esforço em excesso no chão desconfortável da varanda. Ele não lembrava muito bem como havia ido parar na cama, mas tinha quase certeza que fora ideia de para que não fossem flagrados pela manhã dormindo pelados em plena varanda da suíte mais cara do hotel cinco estrelas.
.
O jogador viu-se sorrindo de forma automática apenas por lembrar do jornalista — este que ainda dormia ao seu lado, com o corpo nu, mostrando-se tão belo que perdia o ar. Para ele, era como uma obra de arte caríssima e impecável, pintada com detalhes ricos de ouro e prata, com tons de vermelho, preto e branco, realçando seu fogo, seu calor e sua aura gostosa de rodear.
Sem pensar, afundou o rosto entre os cabelos escuros do mais velho, inspirando seu cheiro gostoso. Já acordado e de costas para o jogador, sorriu enquanto sentia o coração acelerar. Havia se rendido mais uma vez para um garoto-não-tão-garoto assim e não se arrependia.
— Bom dia — sussurrou quando percebeu que estava acordado.
virou-se em direção ao mais novo e puxou-o para mais perto, deixando as bocas próximas, roçando uma na outra sem se importar com mais nada além daquele momento. Tão baixinho quanto o ‘bom dia’ que recebeu, disse:
— Vou para o Rio com você.
sorriu bobo e juntou seus lábios num selar tranquilo. Estava tão feliz que sentia que poderia explodir a qualquer segundo, como um adolescente apaixonado pela primeira vez — e talvez o fosse mesmo, já que nunca havia sentido nada como aquilo por ninguém; mexia com seu corpo, sua mente e seu coração.
— Que ótimo — o jogador sussurrou quando separaram os lábios. — Quero uma matéria bem incrível sobre mim quando você voltar para a Europa.
— E você terá, meu bem. A melhor delas.
não respondeu, apenas sorriu e juntou suas bocas novamente. Sentia-se completo.
Além da taça da Libertadores nos braços, tinha também.
FIM
Nota da autora: E foi isso! hahaha sei que é uma coisa bem improvável de acontecer, mas eu precisei reviver o momento da final da Libertadores e colocar no meu ship queridinho do BTS nesse universo — e devo confessar: foi uma experiência incrível e essa fanfic é um dos meus maiores xodós da vida; de Gabi Gol foi TUDO pra mim hahaha.
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Para saber quando essa fanfic vai atualizar, acompanhe aqui.
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