O apartamento estava relativamente cheio.
havia dito que era apenas uma reunião para comemorar seu aniversário. Seus pais estariam ali, alguns amigos do time, e ela, mas a jovem não conseguia deixar de sentir que tinha mais gente do que imaginava que teria.
estava na cozinha agarrada a sua garrafa de cerveja. Queria juntar todas as suas forças e principalmente coragem para dizer tudo o que precisava para seu melhor amigo.
Ela precisa dizer tudo .
Três anos antes, quando havia conhecido , ela já sabia que havia algo de diferente nele, mas não imaginava que criaria sentimentos tão fortes pelo rapaz.
ainda não sabia o que mais gostava sobre .
Seu sorriso?
Ela morria por aquele sorriso.
Seu cabelo?
Ela se derretia ao passar a mão pelos fios macios de .
Seu jeito desastrado?
Ela achava uma graça.
Talvez ela gostasse da tranquilidade que ele a passava.
sempre foi otimista e bem humorado. Estava sempre acalmando ela em suas crises existenciais.
Talvez ela gostasse dos braços dele ao redor dela.
se sentia mais segura do que nunca naqueles braços. Era como se nada pudesse lhe atingir ali.
Talvez ela gostasse do modo como ele a fazia rir.
tinha piadas terríveis, mas ela sempre ria de todas, porque rir de qualquer coisa que saia da boca dele era fácil demais.
Talvez ela amasse cada pedaço dele. Cada parte do seu corpo, cada qualidade e cada defeito.
Amar.
Uma vez sua mãe lhe disse que você passa a amar uma pessoa quando aceita todos os seus defeitos. Ouviu dizer também que amar era ter sua felicidade dependendo de outra pessoa.
sentia aquilo e muito mais. Era como se seu peito fosse explodir e não haviam palavras melhores para descrever. Eram fogos de artifício explodindo dentro dela, era a droga do zoológico inteiro brincando em seu estômago.
Ela nunca imaginou que poderia sentir tais coisas, e ficou assustada quando finalmente se deu conta, mas no início preferiu guardar os sentimentos para si mesma, afinal, estava claramente feliz em seu relacionamento com Lola.
Mas chegou em um momento que não queria mais segurar todo aquele sentimento para ela. Precisa contar a , mesmo que ele a rejeitasse. Entretanto seu maior medo era perdê-lo para sempre ao dizer o seu segredo.
Porém, de novo, precisava contar.
Suas mãos estavam tremendo e nem a cerveja estava aliviando toda a sua frustração.
havia dito que Lola não estaria presente em seu aniversário, mas a menina havia aparecido de surpresa.
havia planejado contar tudo para o melhor amigo naquele dia, porém, quando a namorada deste apareceu, acabou perdendo um pouquinho de sua coragem.
Afinal, contar para seu melhor amigo que o amava de uma forma diferente já é amedrontador o suficiente, contar com a sua namorada no mesmo ambiente então era terrível.
Mas não desistiria.
Havia prometido que seria naquele dia, e cumpriria sua palavra.
Ela era a única na cozinha. Todos os outros estavam na sala do enorme apartamento de , conversando ao som de uma música que tocava baixinho para não incomodar os vizinhos.
Todos estavam se divertindo e mal imaginavam que uma jovem travava uma luta com seus próprios pensamentos, e sentimentos na cozinha.
Mas notou a falta de sua melhor amiga.
O rapaz a encontrou de cabeça baixa. Seus dedos pressionavam a garrafa de cerveja com tanta força que estavam brancos. - ? - Chamou e a jovem levantou a cabeça em um susto. Seus olhos brilharam ao verem o jogador e um sorriso apareceu em seus lábios - O que está fazendo aqui?
- Ei, aniversariante - Disse baixo e o amigo se aproximou puxando uma cadeira para se sentar ao seu lado - Está se divertindo?
- Estava até notar que minha melhor amiga não se encontrava ao meu lado - Sorriu fraco e levantou um dedo até a bochecha da jovem, dando uma pressionada ali de leve - Está tudo bem?
não sabia o que responder.
Talvez tudo ficasse bem se ela finalmente pudesse colocar aquele enorme e forte sentimento para fora de uma vez.
Suspirou pesadamente.
- Só tenho pensado sobre algumas coisas, Monamour - Sussurrou próxima a ele - Nada demais. - Mentiu.
franziu o cenho.
- O que houve com você, Ma chérie? - Questionou em um tom preocupado. se importava com ela afinal de contas - Sei quando há algo de errado, e você não me parece muito bem.
demorou a dizer.
Se perdeu naqueles imensos olhos azuis por alguns segundos. Eles tinham certo poder de hipnotiza-la.
Respirou fundo uma última vez antes de começar a contar tudo.
- Acho que estou doente, - Disse ainda baixo. Ninguém poderia ouvi-los ali, mas ela não queria arriscar. queria dizer apenas para ele - Acho que estou amando .
se surpreendeu.
O rapaz endireitou sua postura na cadeira e mordeu os lábios. Aquilo foi inesperado.
Desde que conheceu , nunca a viu em um relacionamento sério. Seus casos não passavam de uma semana. Ela até dizia que nunca amaria ninguém.
Pobre . Devia se lembrar que a amiga estava se formando em artes cênicas por um motivo.
era boa em fingir .
- O quê? - não conseguiu deixar de rir - Isso é impossível, !
- Também estou surpresa - Murmurou e soltou uma risada baixa - Quem imaginaria que poderia amar alguém além de si mesma e seu gato, uh? - Disse se referindo ao gato, que coincidentemente ganhou de aniversário do amigo um ano antes.
- Acho que depois dessa o mundo pode até acabar - O jogador brincou - Desde quando isso está acontecendo?
- Há um longo tempo - Fechou a mão com força. Seu coração estava muito acelerado, e a respiração começando a ficar desregulada - Mas isso não importa. Digo, o tempo.
- O que importa então?
- O jeito como ele me faz sentir - sorriu e fechou os olhos por alguns segundos - Ele é engraçado, desastrado, mas ao mesmo tempo é o cara mais inteligente e esforçado que conheci. Ele é perfeito.
“O sorriso dele me traz paz, e o abraço segurança. E quando ele segura minha mão, de repente, parece que sou invencível. Sinto como se ele me completasse. , ele é um péssimo cantor, mas eu adoro vê-lo cantar. Ele… E-Ele é perfeito” - Repetiu.
abriu a boca uma ou duas vezes sem saber o que dizer. Estava surpreso.
- É a primeira vez que sinto isso por alguém - continuou - Os caras que passaram pela minha vida sempre me chamaram de egoístas, e diziam que eu nunca amaria ninguém além de mim mesma, mas com esse cara é tudo diferente, - Fez uma breve pausa e olhou para o rapaz aonde conseguiu mais forças para prosseguir - Eu faria tudo por ele. Quando não estou perto dele, meu mundo parece que fica cinza, e tudo perde o sentido.
“Conto as horas para vê-lo todos os dias. Seus olhos são a primeira coisa que penso quando acordo, e seu sorriso é a última coisa que penso antes de dormir. Só no ato de pensar nele, meu coração acelera tão rápido e tão forte que sinto que ele vai dar um pulo e sair pela minha boca. Esse cara é o sol que ilumina meus dias. Me faz querer ser uma pessoa melhor, porque muitas vezes penso que ele é bom demais para mim.”
falava rápido e parou para puxar as mãos de , que a olhava atentamente. Escutava cada palavra que saia de sua boca.
não sabia se aquilo era bom ou era ruim, mas teria de arriscar.
- - Disse um pouco mais alto, e o amigo a olhou com seriedade. Aquela era a hora.
Porém não conseguiu terminar.
Lola entrou apressadamente na cozinha com um enorme sorriso no rosto.
- Vocês estão aqui! - Exclamou animada.
forçou um sorriso. Ela queria tanto conseguir odiar a namorada do cara que amava, mas era impossível.
Não havia nenhum jeito se odiar Lola. A jovem era bonita, simpática, alegre e a pessoa mais generosa que havia conhecido em toda sua vida.
Lola era perfeita.
- Atrapalhei alguma coisa? - Perguntou olhando as mãos de e unidas - Oh, você estava contando para ? - Indagou de repente em animação.
- Contou o que? - A jovem perguntou olhando de para Lola.
- Na verdade, estava me contando algo - disse olhando para a namorada.
Porém não poderia continuar a conversa com Lola ali.
- Aquilo pode esperar, - Mordeu os lábios nervosa e deu um gole na cerveja que começava a ficar quente - O que querem me contar?
Lola olhou para o namorado, e este lhe deu um enorme sorriso. tentou, mas não conseguiu evitar sentir uma pontada em seu peito, e de repente ela sentiu medo do que estava por vir.
- A novidade é que - começou e se levantou para ficar ao lado da namorada - Nós vamos nos casar.
Era como se alguém estivesse pisando, chutando e socando seu coração.
Era como se ela estivesse se afogando e ninguém lhe salvaria.
tentaria respirar, tentaria chegar a superfície, tentaria tudo, mas nada funcionaria.
Abriu a boca uma ou duas vezes, mas seus pensamentos estavam todos rápidos e desordenados. não conseguiu formular algo racional para dizer.
- O quê?
O casal não se abalou. ainda olhava com ternura para a namorada e Lola mantinha um sorriso enorme em seu rosto.
- Mas vocês estão novos! - exclamou tentando não demonstrar o verdadeiro motivo de estar exaltada - Já ouviram falar naquela teoria de que o casamento destrói relacionamentos?
- Nós sabíamos que poderiam agir assim - Lola começou - Mas nós estamos realmente felizes - Olhou para , que ao menos se lembrava mais da conversa que estava tendo com sua melhor amiga antes.
- Nós três - O jogador esticou sua mão e colocou a mão sobre a barriga da namorada.
já começava sentir suas pernas falharem.
Aquilo não estava acontecendo.
- Vocês vão ter um bebê? - Perguntou em um fio de voz e tentando controlar as lágrimas que começavam a se acumular em seus olhos - Oh, Meu Deus!
- Ela está tão emocionada, que está chorando! - Lola exclamou e correu na direção da jovem que não conseguia mais segurar suas lágrimas - Não chore, .
- É só que - Ela fez uma longa pausa para esfregar as lágrimas que insistiam em cair - Estou tão feliz por vocês.
se aproximou da melhor amiga a puxando para um abraço apertado.
- Era tudo o que eu precisava - Sussurrou - Seu apoio.
- Vou estar aqui sempre, . Sempre.
E era verdade. Ela nunca o deixaria.
- E nós queremos que você seja a madrinha dele ou dela - Ouviu Lola dizer.
- Ficarei feliz em ser a madrinha - Forçou a voz. Ela tinha de se controlar.
Eles se separaram e voltou a ficar ao lado da namorada. Ambos com enormes sorrisos nos rostos. Eles estavam felizes, eram perfeitos um para o outro afinal. Entretanto, ainda sentia uma dor enorme em seu peito.
- Pronto para contar para todos lá fora? - Lola disse nervosa olhando para o namorado.
- Vamos fazer isso - sorriu e puxou a namorada para um breve beijo, fazendo desviar o olhar - Oh, , e quem é o cara que conquistou seu coração?
Perguntou do nada e Lola olhou surpresa para .
- Alguém finalmente fisgou nossa garota? - Bateu palmas alegre - E quem ele é?
mordeu os lábios e secou os últimos resquícios de lágrimas do seu rosto.
- Vocês vão conhecer ele - Forçou um sorriso - Um dia.
- Tenho certeza que vou gostar dele - disse - Ele parece ser uma ótima pessoa.
- Ele me lembra muito você - disse e pressionou os lábios com força. As lágrimas ainda queriam descer, mas ela tinha de se controlar.
- Então acho que vamos nos dar muito bem - O rapaz sorriu abertamente se aproximou da melhor amiga depositando um beijo demorado na testa dela.
desejou que o tempo parasse ali, desejou que ele fosse eterno, mas se afastou e puxou a namorada para a sala onde fariam o grande anúncio.
A jovem ficou alguns segundos na cozinha raciocinando sobre tudo o que havia acabado de acontecer.
reapareceu na cozinha, como se tivesse esquecido algo importante, e o encarou ainda com o coração quebrado e forçou um sorriso.
- , seja quem for esse cara - Ele começou - Ele é quem tem sorte de ter alguém como você. Você é boa demais para ele - se aproximou da amiga e puxou suas mãos. Ele tinha uma péssima mania de unir as suas mãos, fazendo com que o coração dela se acelerasse mais ainda - Se ele não percebeu isso, é um tolo.
- Obrigada, - O puxou pelo pescoço e o abraçou forte enterrando sua cabeça no peitoral dele - Eu te amo.
se separou dela e a olhou sorridente.
- Eu também te amo, .
“Não como eu te amo” Pensou consigo mesma.
- Agora vai lá - Ela o empurrou de leve - Lola está te esperando.
saiu da cozinha e foi de encontro com sua namorada.
ficou parada ali alguns instantes apenas absorvendo tudo o que havia acabado de acontecer.
Por fim, pegou seu casaco, sua bolsa, e deixou o apartamento sem que ninguém notasse.
Ali descobriu que amar era estar feliz ao ver feliz, mesmo que com outra pessoa, porque no fundo ela estava sim feliz por ele, mesmo que seu coração estivesse quebrado em mil pedaços, mesmo que não fosse ela a estar proporcionando tal sentimento a ele, mesmo que ele nunca fosse dela.
Amar era deixar ir.

Nota da autora: (05/06/17) Sem nota.

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