FFOBS - Matraquilhos, por Moon


Matraquilhos

Finalizada em: 29/06/2018

Capítulo Único

«script>document.write(North) Ward is the biggest asshole
in the whole universe.»


Eu já nem era criança.
Já tinha os meus quinze anos e meio, o meu orgulho, dez dólares no bolso e um nokia de teclas em segunda mão que na altura era o último grito da tecnologia.
No entanto, ali estava eu.
script>document.write(Leia) script>document.write(Greene), de mão dada com o meu irmão mais velho de dezasseis e uma semana, a ser arrastada por uma passadeira como uma criança birrenta, recebendo olhares de cada um dos condutores parados, que provavelmente tinham um desejo infinito de me atropelar pelos quase dez minutos que passámos na passadeira.
A última pinga de dignidade que me sobrou após levar com um balão de tinta no primeiro ciclo deve ter-se esgotado quando script>document.write(Alby) finalmente conseguiu puxar-me como a uma mula teimosa até ao outro lado da rua, a suar como nunca.
Estavam quase quarenta graus lá fora e eu tinha um medo irracional de derreter.
Acontece que a minha mãe pensava que eu ainda não tinha maturidade suficiente para ficar sozinha em casa.
Eu tinha maturidade só para algumas coisas, fique desde já a saber-se. Por exemplo para saber onde pôr o garfo e a faca na mesa, usar o aspirador e ser capaz de lidar com o meu próprio nome.
Afinal, eu tinha maturidade para aturar piadas como "O que aconteceu ao Han Solo, princesa?" só porque nasci numa época em que a minha mãe era totalmente viciada no Star Wars e com uma atração louca pelo Anakin Skywalker.
Antes script>document.write(Leia) do que Anakin.
Mas talvez ela tivesse medo de que eu rebentasse com o microondas, comesse todo o stock de chocolate do armário dos doces ou que partisse a televisão da sala com um taco de golfe.
Até aí, tudo bem. Não me achava incapaz de praticar tais proezas. Pelo menos a do microondas. Essa já seria a segunda vez.
Mas se ela me obrigava a acompanhar o meu irmão à festa de aniversário do idiota que ele tinha o prazer de chamar amigo já o caso mudava de figura.
Eu não gostava dos amigos do meu irmão.
script>document.write(Alby) era demasiado bom. Não merecia aquelas companhias. Perto deles, tornava-se diferente. Deixava de ser o irmão que eu amava e admirava e passava a ser apenas mais um garoto mais velho sem juízo.
Mas eu não gostava principalmente dele.
Quem me dava mais problemas entre aquele bando de rapazes era ele.
Se há algo que têm de saber é que script>document.write(North) Ward era o maior idiota que alguma vez passou pelo nosso planeta. E, por minha grande sorte, foi exatamente a ele que script>document.write(Albert) script>document.write(Greene) decidiu chamar mano.
Que é tipo melhor amigo versão brega.
Ali estava eu.
Com a maior cara de bolo, enquanto os rapazes se divertiam e bebiam cervejas que um deles se gabava de ter trazido, não tinha opção a não ser fingir que realmente estava muito ocupada a falar com alguém por mensagem só para evitar ter de conversar com uma das vidas humanas presentes naquela cave.
script>document.write(Alby), que deveria estar a tomar conta de mim, já me largara e não estava mais no meu campo de visão.
Aquele que me olhava do outro lado da festa com um copo na mão era script>document.write(North) Ward.
Cuidado, não se apaixonem perdidamente como todas as estúpidas das raparigas que conheço. Já me daria jeito alguém para compartilhar o sentimento de raiva que tinha pelo idiota de olhos verdes.
Eu realmente estava a esforçar-me para não me levantar e sair na porrada com ele. A pressão psicológica só agravava mais o meu estado quase permanente de irritação.
- Princesa script>document.write(Greene). Ao que devo a sua ilustre e honrada presença?
Poderia estar a falar com Zara.
Mas a minha melhor e única amiga tinha-me trocado por duas semanas num SPA em Ibiza, rodeada de praia com rodelas de pepino nos olhos. E ali estava eu, mais uma vez, sozinha. E quem sou eu para julgar?
No entanto, aquela miúda, naquela poltrona preta da festa, era eu.
Com o meu aparelho nos dentes e um cabelo esquisito, que parecia ficar cada vez mais sujo sempre que o lavava. Com um ódio desmedido a cada uma das curvas gorduchas que faziam de mim... Eu.
- Olá, Idiota Ward. - Ele fez um sorriso azedo e tomou a liberdade de se sentar ao meu lado, passando um braço pelos meus ombros. - O que fazes aqui?
- Faço anos, coisa linda. - Revirei os olhos, desviando-me do seu toque.
Ele voltou a pousar o braço sobre mim e calculei mentalmente as probabilidades de lhe conseguir arrancar o braço com uma das facas de plástico pousadas sobre a mesa. Acabei por não me desviar, aproveitando os braços frios dele.
- Ainda não ouvi os parabéns dessa boca linda hoje. - Disse ele, olhando para mim fixamente.
Eu, sem lhe passar cartão, continuei na minha tentativa de fingir estar realmente a usar o telemóvel. A certa altura, quando eu estava prestes a pedir-lhe para parar, ele aproximou-se perigosamente dos meus lábios.
Nem pensar.
Eu reparara nos seus olhos avermelhados por causa da bebida. A sério que script>document.write(North) estava a tentar algo comigo por estar bêbado? Para depois rir com os outros rapazes das minhas fraquezas e de como eu fui fácil como fazia com todas?
Nunca.
Não queria dar o meu primeiro beijo numa sala cheia de rapazes afetados pela cerveja e por sabe-se lá as bebidas consumidas.
Muito menos com ele.
- Eu não te vou dar os parabéns, Ward.
Coloquei uma mão no seu peito e empurrei-o para longe. Ele olhava-me como se fosse louca por recusar um beijo seu.
E daí?
Eu não era como as outras. E não queria ser. Não estava interessada em ser uma cheerleader loira, de olhos azuis, com peitos grandes, pernas de bronzeado falso e que faziam tudo para terem o toque dele. script>document.write(North) não era virgem, nem santo.
E eu não queria nada dele.
Saí de baixo do seu braço, deslocada naquela maldita festa. Se tivesse sorte e me conseguisse escapar, ainda podia apanhar os últimos dez minutos do novo episódio de Grey's na televisão.
Vagueei como um cachorro perdido pela casa gigante de script>document.write(North). Quem precisa de uma casa tão grande quando se é uma família de três pessoas e um cão?
Parei no que parecia ser uma casa de banho. Estava eu a lavar as mãos com a água gelada da pia – que sabia bem como tudo naquele calor infernal – quando senti alguém a observar-me.
Porra, nem na casa de banho podia estar em paz e sossego, sem o olhar penetrante dele tão concentrado em mim.
- Tu outra vez? – Perguntei, revirando os olhos. script>document.write(North) aproximou-se mais uma vez e eu não tive forças para o impedir.
Talvez tenha deixado acontecer porque script>document.write(North) era mais velho; por ser o sonho de todas as meninas, incluindo o meu, de que um rapaz que já tivesse passado da fase das borbulhas nos notasse. Ou porque Zara me disse que eu devia deixar as coisas acontecer, porque tudo tem um motivo.
Talvez eu nem odiasse script>document.write(North) Ward.
Ele encostou-se a mim e eu acabei com as pernas a entrelaçar a sua cintura, sentada na pia ainda molhada.
Gostava de poder dizer que o meu primeiro beijo foi lindo e que os tutoriais do YouTube serviram para alguma coisa. Que foi como nas histórias que eu adoro ler, os clássicos em que tudo, mas mesmo tudo, dá certo.
Mas não foi nada disso. Nem de perto.
A boca dele sabia a álcool e a tabaco, duas coisas que eu odiava misturadas numa só boca que eu nunca pensara sequer em beijar. Eu não sabia onde havia de meter a língua enquanto a dele dançava na minha boca de uma forma irritante. As suas mãos escorregavam para lugares onde não deviam tocar, e eu estava constantemente preocupada. E se alguém - script>document.write(Albert) - entrasse ali e nos visse assim?
Não foi perfeito, não foi bonito.
Mas nem assim deixou de ser especial.
Na verdade, lá bem no fundo, quase a achar petróleo, para mim foi perfeito. Não porque correu bem ou porque eu perdi o BV como alguém que já beijara muitas vezes.
Mas porque foi com ele.
Foi constrangedor quando finalmente script>document.write(North) fez contacto visual comigo. Sentia-me nua aos olhos dele. Foi aí que soube que tudo mudara. Que eu não o odiava de verdade.
Ódio é uma palavra muito forte.
Mas o que eu senti chegou bem próximo disso quando ele me olhou, tirou as mãos de mim e, sem dizer uma palavra, deixou a casa de banho como se nada tivesse acontecido momentos antes. Ficou próximo de ódio, de dor e de humilhação.
Humilhação pura por me ter entregado sabendo que, no fim de dois – talvez três – minutos de pegação, acabaria descartada como todas as outras.
Todas as outras...
Afinal eu não era diferente delas.
Lembro-me tão bem de como eu passei horas a remoer naquilo. A torturar-me com pensamentos idiotas sobre mim mesma, quem eu era e o castigo que merecia por ter confiado em script>document.write(North).
Finalmente tive coragem para sair dali.
Encontrei script>document.write(Alby) com outros garotos, a rodearem a mesa de matraquilhos como se fosse uma preciosidade. O meu irmão marcou um golo brilhante, manipulando os bonecos azuis com maestria, como se a barra de ferro que os controlava fosse parte do seu braço.
- Vitória! – Deu um aperto de mão a Brian e Nick, que formavam a equipa adversária. Voltou-se para o bando de rapazes e perguntou, com a voz cheia de orgulho: – Quem está a seguir?
Ninguém falou.
Era como se todos temessem script>document.write(Albert) script>document.write(Greene), o Rei dos matraquilhos de Chicago, como se tivessem medo de serem arrasados por ele em campo. E eu ri da situação e aproximei-me, tomando os manípulos da equipa vermelha. script>document.write(Alby) nem era assim tão bom. Eu conseguia vencê-lo com apenas uma mão.
- Não podes jogar. – Disse script>document.write(Alby).
Estava com medo que lhe tirasse as suas glórias. Os rapazes de dezasseis anos são sempre assim. Superficiais e com um ego acima da média. Frágil. Basta uma sacudidela para que o seu ego vá abaixo.
- Porquê? – Desafiei.
Olhei-o nos olhos como se o relembrasse das tardes passadas a jogar junto à piscina na casa do tio Ty. Aquelas tardes em que eu saía sempre vencedora.
- Porque és uma rapariga. – Respondeu Nick, com um sorriso de escárnio. A maneira como falou, como se fosse óbvio, fez-me bater o pé.
Eu queria tanto vingar-me por me terem obrigado a vir àquela maldita festa. Estava sedenta de vingança daquela horda de machistas idiotas. Queria mesmo era assassinar script>document.write(North), que continuava a beber cerveja que nem um perdido como se não tivesse nada melhor para fazer, e pendurar o seu cadáver à porta do meu quarto, para mostrar o que acontecia a todos aqueles que me tratavam como lixo.
- Eu vou correr o risco. – Ironizei.
Quem sabe, talvez eu apanhasse uma doença terminal por jogar matraquilhos, que era "só para rapazes". Quis mandar todos passear, menos o meu irmão, que parecia o único traste que se salvava no meio deles, mas acabei por me controlar.
- Hey, mano, eu jogo. É justo que ela jogue com o melhor jogador desta sala.
Não.
As atenções passavam de mim para ele, na expectativa. Eu apertei os manípulos com mais força, até os nós dos meus dedos ficarem brancos. script>document.write(North) tomou a equipa azul e script>document.write(Alby), sério e curioso, apoiou-se nos lados livres de onde podia assistir ao jogo, intrigado com a nossa troca de olhares.
- Posso?
- Podes.
Ao meu sinal, script>document.write(North) atirou a bola para dentro do campo. Nem sequer me deu tempo de pensar ou de fazer uma roleta com o guarda-redes.
Eu ainda estava a controlar os atacantes quando a bola atravessou o campo e, sem eu a ver, entrou na baliza, entrando e saindo com uma força brutal.
- Pensei que fosses melhor a agarrar bolas. – Disse apenas, seco. Deixou a sua equipa e voltou a sentar-se numa das poltronas ao fundo da sala. Uma menina com calções curtíssimos sentou-se no seu colo e deu-lhe um copo de vodka à boca. A sua piada de duplo sentido fez-me ferver de raiva.
Tinha vontade de continuar a jogar.
Eu sempre gostara de matraquilhos, mas, pelo menos naquele momento, as vitórias contra outros garotos tinham perdido o sabor. Não sabiam a tabaco e álcool, atirava-me o meu subconsciente. Fui sentar-me num cantinho da festa, sozinha, observando script>document.write(Alby) feliz com os amigos. Ele realmente gostava de estar na companhia deles: talvez fossem menos idiotas dentro do seu círculo.
- Estás bem? – O meu irmão finalmente veio ter comigo. Sentou-se numa das poltronas ao meu lado e estendeu-me um copo cheio de cerveja. Eu neguei com um gesto de cabeça, deixando a bebida sobre uma mesa. – Podes beber. A mãe não está aqui para ver.
Normalmente não gostava de beber.
Mas queria que o meu cérebro mudasse de mentalidade nem que fosse um pouco. Que deixasse de estar brava por alguém que não valia a pena. Talvez o álcool diminuísse a mágoa, pensei. Mas isso não aconteceu. Embarquei quase dez copos de cerveja e dois shots de algo mais forte cujo sabor nem identifiquei – mas sabia igualmente mal – e nem assim a minha dolorida realidade se alterou.
- Não pareces bem. – Declarou ele, tentando arrancar-me informações. – Podes ir para casa, se quiseres. Eu vou lá ter daqui a pouco. Vou só jogar mais umas partidas de matraquilhos e dar a prenda ao script>document.write(North).
Eu deixara o meu irmão arrastar-me para a festa principalmente pelo bolo.
Mas não resisti a ir embora para a minha casa, a dois quarteirões dali. Em simples horas, tudo mudou. E eu estava brava por isso. Porque gostava da distância emocional que script>document.write(North) mantia de mim. Permitia-me viver a minha vida junto dele como se ele não existisse. Era mais fácil fingir odiar a sua pessoa quando ele não tinha os lábios juntos aos meus. Chutei uma pedra, que foi acertar na caixa de correio do meu vizinho.
Trepei pela hera nas traseiras da casa até à janela aberta do meu quarto e deixei-me cair de cara na cama. Não chorei. Não senti nada durante os dez minutos em que respirava a custo contra a almofada. Apenas vazio, o silêncio da casa sem ninguém, apenas eu e a minha raiva.
A janela – que andava a precisar e muito de óleo – chiou. Alguém tocou no meu ombro. Quando abri os olhos para olhar para cima, script>document.write(North) estava lá. Com uma mão na minha cintura, outra vez. Ele nem devia imaginar o quanto o toque dele mexia comigo. Ficou a olhar para mim durante longos segundos, como se não visse mais nada que não eu.
Calma. Aquele psicopata realmente tinha trepado pela minha hera?
- O que foi? – Rosnei. – Sai do meu quarto, ninguém…
Calou-me com um beijo simples, só um toque de lábios.
- Shh. Não digas nada, script>document.write(Greene).
Beijou-me outra vez. Com mais intensidade ainda do que da outra vez. Sentia o efeito da bebida finalmente a mexer-me com os neurónios: se eu não estivesse tão bêbada de paixão, tê-lo-ia afastado sem pensar duas vezes. Mas não estava nem um pouco sóbria nesse quesito, e as minhas mãos puxaram-no mais para mim antes que tivesse tempo para realmente ponderar no que estava a fazer.
Desta vez correu melhor.
Ainda desajeitado e bêbado. script>document.write(North) não parecia, ainda menos do que eu, saber o que estava a fazer. Mas era eu que ainda tinha muito que aprender no que tocava a beijar.
- Desta vez vais embora sem dizer nada? – Perguntei, quando ele parou o beijo.
- Não. Posso dizer que não beijas bem, se quiseres. – Provocou. Embora o dissesse em tom de brincadeira, eu dei-lhe uma chapada. Segurou as minhas mãos e encaixou o meu corpo no seu. Ele ficou por cima de mim, olhando-me com os olhos risonhos. – Mas eu gosto de ti.
Merda. Como é que a situação se inverteu tão de repente? O meu coração parou. A minha voz tremeu.
- Eu odeio-te.
- Não pareces odiar-me quando estamos assim.
- Mas odeio.
Ficámos mais de uma hora juntos, quase sempre com os lábios colados. Não avançámos, não fizemos nada de mais. Embora eu imaginasse que script>document.write(Alby) ia ficar furioso se um dia soubesse daquilo. Só nós. Ele a mostrar o que sabia, anestesiado pela vodka, e eu a deixar-me embebedar pelo seu sabor.
- Eu tenho que ir.
Pensei que, a partir daí, tudo se fosse tornar num infinito jogo de gato e rato.
E talvez tivesse.
Talvez nós nos tivéssemos beijado mais vezes daquela forma, se essa não tivesse sido a última vez que eu vi script>document.write(North) Ward após receber de script>document.write(Alby) a notícia que ele se mudaria para o outro lado do oceano.




FIM





Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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