Maturidade

Última atualização: 30/05/2020

Capítulo 1

Cansada ela esperava por ele enquanto passeava pelo catálogo da Netflix.
Não era a primeira vez que ele prometia que iria para a casa dela para que pudessem jantar e assistir alguma coisa juntos e não aparecia. E pior, não dava nem mesmo uma justificativa do porquê de não ter aparecido, pelo menos não até que já fosse madrugada e ela já tivesse o xingado de todos os nomes possíveis no meio da sala de seu apartamento.
Talvez se envolver com ele não tivesse sido a melhor decisão de sua vida.
Cansado ele tentava honrar o compromisso que tinha firmado com ela.
O celular estava sem bateria e pra variar ele tinha esquecido o carregador em casa. Não poderia avisá-la do motivo pelo qual não chegaria no horário combinado.
A reunião estava sendo mais cumprida e entediante do que ele tinha imaginado, mas ainda assim é extremamente necessária para que todo o esforço que ele tem feito ao longo dos últimos anos tenha valido a pena. Era uma chance de ouro e ele não podia sair dali só porque tinha marcado com ela. tinha que entender isso.
Ele a ama, mas o trabalho é uma questão de necessidade.
Ela não fazia ideia do quão longe iam os sentimentos de por ela, mas tinha certeza de que o que sentia por ele não era algo casual.
Sabia que era por isso que não conseguia se concentrar na série que tinha colocado na Tv e porque a cada minuto conferia o celular para saber se tinha alguma nova mensagem.
- Chega. - ela jogou o celular mais uma vez contra as almofadas do sofá e se levantou rumando a cozinha - Ele disse que chegaria no máximo até às oito e já são quase onze horas. - Esbravejava enquanto servia o estrogonofe para si mesma.
sabia que era a comida favorita dele e estava se amaldiçoando por não ter feito as panquecas que tanto ama. Estava com tanta raiva de e a comida feita pensando nele estava lhe causando mais raiva ainda. A cabeça humana tem dessas coisas.
Quando se sentou de novo no sofá com o prato no colo, uma pontinha de esperança se acendeu e ela pegou o celular mais uma vez. Nada. Bloqueou o aparelho e começou a comer.
Enquanto isso, tinha pedido o celular de seu empresário emprestado para chamar um Uber para que fosse para a casa de . O motorista não demorou muito a chegar na frente do prédio, mas ele sabia que levaria pelo menos mais meia hora para que conseguissem atravessar a cidade e chegar na casa da menina. Em qualquer outra situação essa meia hora não seria um grande problema, mas considerando que ele já estava atrasado a quase três horas e sem dar notícias...
- Moço, você poderia me emprestar o seu carregador? - pediu para o motorista do carro assim que pararam em um semáforo - Meu celular descarregou e eu preciso mandar uma mensagem urgente.
- Claro. - o motorista desconectou o cabo do seu próprio celular e passou para o passageiro ao seu lado.
Rapidamente o rapaz conectou o cabo ao seu celular e tamborilava nas pernas ansioso para que o aparelho ligasse o mais rápido possível.
Assim que saiu do banheiro com os dentes escovados ouviu seu celular apitar. Teve certeza de quem era a mensagem que tinha chegado porque fizera questão de colocar um toque específico para ele. Sentou-se mais uma vez no sofá, agora de pijamas e de luzes apagadas, e voltou a assistir a série. Resolveu ignorar a mensagem.

“Eu sei que você está brava, mas eu juro que estou chegando. A reunião demorou demais”


E no instante que enviou a mensagem o motorista entrou na via que deveria ser o caminho mais rápido para a casa da menina. Isso mesmo, deveria, mas naquele momento estava um caos que só São Paulo era capaz de oferecer.
- Eu não acredito numa coisa dessas! - disse com um sorriso de descrença nos lábios - O que está acontecendo nessa cidade? Já são mais de onze horas, não é pra ter trânsito mais.
- Ouvi dizer que ia ter um show grande nessa região. Pode ser que tenha acabado agora e os pais estão por aqui pegando seus milhares de filhos adolescentes. - o motorista olhava para fora do carro vendo a quantidade de pessoas e carros na região.
estava com raiva dessa situação, mas também com uma pontinha de inveja. “Será que algum dia a música que eu faço vai ser responsável por atrapalhar o trânsito de São Paulo?”, pensou consigo mesmo.
- Sinto muito, rapaz. Não temos mais como sair daqui. Vamos ter que esperar o trânsito andar. - disse o motorista olhando para .
- Tudo bem… - ele concordou. Não tinha nada que pudessem fazer mesmo. Pegou o celular e digitou mais uma mensagem para

“Agora eu estou parado nessa porra dessa cidade. Mas estou a caminho”


Um barulho estridente atrapalhou o sono tranquilo de em frente a Tv. Levou um tempo para que a menina conseguisse distinguir exatamente que som era aquele e se levantar para atender o interfone.
- Alô? - disse ainda meio dormindo.
- Boa noite, dona . Quem fala é Cláudio da portaria. Desculpe estar interfonando a esta hora, mas tem um rapaz chamado aqui na portaria e ele quer saber se pode subir. - e foi só ouvir o nome dele que se despertou por completo e lembrou do que tinha acontecido antes de pegar no sono assistindo série no sofá.
- Não, ele não pode subir. Muito obrigada e boa noite, Cláudio! - e devolveu o interfone ao gancho.
- Lamento, senhor , ela não autorizou a sua entrada.
- Que? - ele disse incrédulo - Não! Ela não pode fazer isso comigo. Eu… - se afastou do microfone da portaria e pegou o celular procurando o contato de para que pudesse ligar para ela.
Tentou uma, duas, três vezes para que ela atendesse apenas na quarta vez, quando ele já estava desesperado porque a bateria do celular estava prestes a acabar mais uma vez e ele ficaria sem ter como voltar para casa.
- O que foi, ? - ela respondeu séria com o aparelho na orelha.
- Eu estou aqui embaixo e você não me deixou subir.
- Você não chegou no horário combinado. Não sou obrigada a te receber na minha casa a hora que você quer.
- Eu mandei mensagem explicando.
- Depois de horas que eu fiquei te esperando.
- , me deixa subir. Meu celular está quase sem bateria e eu não tenho como ir pra minha casa agora, sem contar que… - a ligação caiu.
“Ele deve ter ficado sem bateria”, pensou assim que encerrou a chamada. Agora sentia-se culpada. Sabia que ele tinha atravessado a cidade para vir vê-la e agora ele estava na calçada de seu prédio sem ter como voltar para casa. Não demorou dois minutos para que o interfone tocasse novamente e ela rapidamente atendeu.
- Oi, Dona . Cláudio da portaria de novo. O rapaz está insistindo…
- Pode deixá-lo subir, Cláudio.
- Obrigado! Boa noite! - disse ao porteiro assim que o mesmo disse que tinha liberado e abriu o portão para que ele passasse.
Ele já estava bem familiarizado com aquele condomínio e sabia que era capaz de chegar no apartamento de de olhos fechados. Assim que entrou no hall da torre em que ela morava ficou extremamente feliz. Estava um pouco mais frio lá fora do que ele esperava que fosse estar considerando a temperatura que havia feito durante o dia. Dentro do elevador ele apertou o botão do 18° andar e esfregou as mãos uma na outra durante a subida para aquecê-las.
Saiu da caixa de metal e refletiu uns dois segundos na frente da porta do apartamento 184 sobre o que falaria primeiro para assim que ela abrisse a porta. A verdade é que ele sabia que não faria diferença qualquer coisa que ele dissesse. Tocou a campainha.
Ela caminhou até a porta e a abriu dando de cara com um cansado, mas ainda assim bonito como só ele sabia ser. Quase se esqueceu de que estava brava.
- Oi! - ele disse lançando o maldito sorrisinho de canto que a desestruturava.
- Oi. - respondeu seca e lhe deu as costas, indo para dentro do apartamento, sendo seguida de perto por ele que fechou a porta depois de entrar.
- Olha eu…
- A comida está em cima do fogão e eu deixei um travesseiro e umas cobertas aqui no sofá. Tem um carregador ali na tomada pra você. Eu estou indo dormir. Boa noite, . - ela disse olhando séria para ele e em seguida, mais uma vez lhe deu as costas.
- Ei! - a chamou ainda processando todas as informações que tinha ouvido - Você…
- Não, . Eu não vou ficar aqui com você. Não queria nem te ver, mas também não podia te deixar na rua. Aceita calado o favor que estou te fazendo e me deixa dormir. - ela falou já da porta de seu quarto.
- Não. Eu atravessei a cidade para vir te ver e é assim que você me trata? - ele caminhou até ela.
- Eu fiquei horas te esperando! - ela riu com raiva - Você nem me mandou uma mensagem.
- Eu mandei depois. Desculpa. Meu celular está com problemas e você sabe muito bem disso! - Ela realmente sabia - Eu estava trabalhando. Não cheguei mais cedo por que não quis. Não tinha como. Eu estou assinando com uma gravadora grande que vai fazer minha carreira decolar. É desse trampo que eu vou tirar o meu sustento, entende? Eu lutei a minha vida toda por essa chance.
- Eu sei disso, ! - ela disse com os olhos marejados de raiva - Eu sei da importância que a sua carreira tem na sua vida e eu te dou todo apoio para lutar pelos seus sonhos, mas esperava que você agisse com um pouco mais de maturidade com relação a isso que a gente tem… Ou não tem… Eu sei lá. Você parece estar muito acomodado com toda a situação. - ela falou tudo num fôlego só - A questão é que, por mim tudo bem a gente não estar junto de fato, mas desse jeito não dá. Se for pra ser assim eu te deixo de lado, por que a minha prioridade sempre vai ser eu.
- Você está falando isso só porque está brava.
- Não. Eu estou cansada disso. A gente briga o tempo todo! É sempre igual! Você liga, eu ligo, a gente se desentende e depois entende. - os dois respiraram fundo ao mesmo tempo - Eu não consigo lidar com essa montanha russa de emoções.
- Olha - chegou mais perto dela - Eu prometo que assim que eu receber o meu primeiro pagamento dessa gravadora nova eu vou trocar de celular e nunca mais eu vou deixar de te avisar as coisas.
- E nem vai desaparecer no meio da noite?
Era sexta feira. A agenda do rapaz estava ficando cada vez mais lotada. Ainda não era conhecido no Brasil todo, mas estava produzindo um EP e os Singles que já tinha lançado já estavam fazendo sucesso e seu nome era um dos que mais chamavam atenção no cenário musical da capital paulista.
- Então, seu nome não tinha sido cotado inicialmente para essa apresentação de hoje, mas a atração que estava confirmada acabou de cancelar e não tem como devolver a grana do pessoal todo que está aqui já. Será que não rola de você dar uma chegada?
mudou o celular de orelha enquanto estava debruçado na grade da varanda da casa de . Era a primeira vez em mais de um mês que os dois tinham conseguido se encontrar e ficar mais de uma hora juntos sem ninguém atrapalhar.
- Já são mais de meia noite… - menino respondeu.
- Eu sei, me desculpe por isso, mas é que você é um dos melhores para assumir esse trem em movimento. - o produtor do evento insistiu.
- Eu não sei…
- O cachê é bom e é um evento que pode te dar grande visibilidade…
O rapaz encarou um pouco a cidade. Não era pelo cachê. Ele tinha que ser conhecido e não se deve desperdiçar oportunidades como essa.
- Certo. Chego aí em quarenta minutos.
Acertou mais alguns detalhes com o produtor e voltou para o quarto de . Com cuidado para não fazer barulho e acordá-la, juntou suas coisas perdidas pelo chão e fechou a porta. Vestiu sua roupa no banheiro e deu um jeito no cabelo. Ele iria lá, faria a apresentação e logo voltaria para a casa dela. Não tinha porque acordar a menina só para dizer isso. Chamou um Uber e foi.
Como era de costume, as duas da manhã ela acordou para ir ao banheiro. Não sabia mais se era realmente uma necessidade ou o seu corpo tinha acostumado com essa rotina de levantar e ir. Mas foi quando retornou para seu quarto que se deu conta de que alguma coisa estava faltando. Alguém não estava ali.
Foi até a sala, procurou na cozinha e depois retornou ao quarto para ver se ainda tinha alguma coisa do rapaz que tinha adormecido ao seu lado horas antes. Nada. Ficou preocupada e pegou o celular, iniciando uma chamada de voz com . Nada na primeira tentativa e nada na segunda. Foi só na terceira vez que a chamada foi aceita e do outro lado da linha se ouvia muito barulho e uma voz feminina em primeiro plano.
- Alô? - disse a voz.
foi incapaz de responder. Milhões de coisas se passaram por sua cabeça e assim que ela sentiu as lágrimas escorrendo pelo seu rosto encerrou a ligação. Não era capaz de acreditar que ele havia feito isso com ela.
Não era possível.
Tudo bem que eles não tinham nada sério, mas ele saiu no meio da noite sem falar nada e seu celular estava com uma outra mulher…
Respirou fundo.
Estava doendo.
Mas ela não tinha direito de cobrar nada dele.
Secou algumas das lágrimas e tornou a se deitar.
O sono não aparecia e as horas se passaram lentamente.
Ela não sabia dizer ao certo quanto tempo se passou, mas assim que ouviu o barulho na porta do apartamento seu corpo automaticamente se sentou na cama.
- Que susto! - disse levando a mão no peito depois de ter visto sentada na cama no escuro.
- Onde você foi?
suspirou pesadamente e passou a mão pelos cabelos. Não podia acreditar que ela tinha ressuscitado aquela história. Estava crente que já tinham superado esse capítulo.
- Aconteceu só uma vez! E eu te expliquei tudo! - olhava fundo nos olhos dele com uma das sobrancelhas erguidas - Eu já disse que eu não sei quem foi que atendeu o celular, mas eu te garanto que eu estava no palco cantando. - não respondeu então ele continuou - Desculpa por te fazer passar por essas coisas eu… - ele começou, mas foi interrompido.
- Só não gosto quando você desaparece assim e quando eu fico te esperando igual uma idiota. Às vezes eu acho que teria sido melhor se a gente tivesse vazado depois de ficado.
E foi como se as palavras dela tivessem acionado um botão que trouxe para eles o dia em que se conheceram.
frequentava ambientes como aquele desde os doze anos de idade, quando percebeu que queria viver de música. Era legal estar em contato com o pessoal mais velho que produzia um som próximo do que ele desejava fazer quando crescesse. Era a segunda vez que ele se apresentaria naquela casa de shows. Era mais um festival onde cantores ainda não muito conhecidos no cenário musical tinham a chance de apresentar o seu trabalho.
conhecia o lugar porque por um tempo uma amiga trabalhava no bar e às vezes a convidava para ficar lá fazendo companhia. Era ótimo porque ela ganhava algumas bebidas de graça. Mesmo depois de a amiga ter mudado de emprego, continuou frequentando o lugar. Se afeiçoou ao ambiente e sempre que podia estava lá, mesmo que fosse sozinha.
- Obrigada, Pedro! - ela agradeceu o barman que havia lhe entregado uma caipirinha de Kiwi e experimentou - Hm… Essa está ótima!
- Eu sempre capricho para a minha melhor freguesa! - ele piscou para ela, que respondeu com um sorrisinho. Talvez a frequentadora assídua e o barman tatuado já tenham trocado mais do que simples olhares.
A lembrança do beijo com Pedro se desfez na mente de quando o rapaz de cabelos cacheados se sentou ao seu lado em uma das banquetas do bar e se pôs a analisar o cardápio. Ela não tinha bebido o suficiente para colocar a culpa na bebida, mas não conseguia parar de olhar para ele.
- Eu te pagaria uma bebida se você já não estivesse com um copo na mão. - falou olhando a mulher que o encarava. Ele não se sentou ali por acaso.
- Nada impede que você me pague uma quando essa aqui acabar. - ela sorriu e apoiou o copo na bancada.
- Me chamo … E você? - ele estendeu a mão para pegar a dela.
- . - e então ela sentiu o calor dos lábios dele nas costas de sua mão.
- É um prazer. - sorriu de canto sabendo o efeito que aquele ato causava as pessoas.
A mulher recolheu a mão e voltou sua atenção para o copo, mais uma vez bebericando sua caipirinha.
- Nunca te vi por aqui. - ela falou assim que sentiu o álcool aquecer seu peito.
- É a segunda vez que ponho meus pés aqui. - ele disse e se virou para o barman - Uma água por favor, amigão!
- Não bebe?
- Só de vez em quando. Álcool não faz bem para as cordas vocais e eu preciso delas para viver. - explicou.
- Então você está aqui para cantar?
- Exatamente. - ele indicou o banner que estava acima do palco com o nome das atrações daquela noite.
- E é seu nome artístico?
- Sim. - respondeu recebendo a água que havia pedido.
- Entendi. - ela sorriu para si mesma pensando nos possíveis motivos para que ele optasse por colocar o próprio nome no aumentativo.
- O que foi? - queria rir também.
- Nada. É só uma besteira que passou pela minha cabeça e… - começou a explicar, mas foi interrompida.
- Aí, . Já já é sua vez. É bom se preparar. - disse Júlio, o responsável por organizar os festivais ali.
- Já estou indo! - ficou de pé - Foi um prazer, ! - ele foi na direção da menina e lhe deixou um beijo na bochecha. Achou prudente se despedir educadamente já que não sabia como seria depois que ele tocasse. O local estava enchendo e talvez eles não se encontrassem mais. Uma pena, porque vê-la mais uma vez era tudo o que ele queria. Desejava ter os lábios dela nos seus.
- Imagina, o prazer foi meu!
- ? - Júlio perguntou dando atenção a menina.
- Eu mesma! - ela riu e recebeu um abraço do rapaz.
- A quanto tempo não te vejo por aqui!
- É, a vida anda corrida e eu não tenho tido ânimo pra sair sozinha.
- Ah meu Deus! Vocês dois estavam juntos e eu atrapalhei? - Júlio perguntou intercalando olhares entre e .
- Não, não! Acabamos de nos conhecer. - a menina se apressou em acalmá-lo.
- Você vai amar as músicas dele. Corre pra frente do palco. - Júlio disse enquanto saiu do campo de visão da menina empurrando para qualquer lugar que ela não sabia onde era.
estava com Júlio na coxia colocando o retorno e afinando o violão antes de entrar no palco.
- Você conhece ela?
- ? - Júlio perguntou só para confirmar e viu o amigo fazer que sim com a cabeça - Sim. Ela é melhor amiga da minha irmã e a gente se conhece desde sempre eu acho. Por que?
- Preciso do número dela.
- Eu só tenho as redes sociais dela, mas sei de alguém que pode conseguir esse número.
- Sua irmã?
- Não! Você. Ela vai estar aqui ainda depois que você terminar de cantar. Tenho certeza. Ela ama esse lugar, nunca vai embora cedo. Aí quando você sair do palco, você vai até ela e pede o número.
- Você podia facilitar pra mim.
- E você podia ir pro palco cantar agora. Arrebenta, irmão! - desejou Júlio e rumou o palco iniciando sua primeira música depois de se apresentar para o público.
Ela estava bem na frente do palco.
O rapaz era bom e se pegou várias vezes curtindo o som do violão e a voz de com os olhos fechados, balançando levemente o corpo de um lado para outro de acordo com a música. Quando a apresentação dele terminou, ela retornou para o bar, precisava sentar.
- Mais uma? - perguntou Pedro ao ver que o copo dela estava vazio.
- Hoje não. Obrigada! - ela apoiou os braços na bancada e o queixo nas mãos - Estou bem cansada. Se beber mais eu apago no sofá lá dos fundos como naquele dia - E os dois riram.
Pedro foi atender outros clientes e ficou encarando a prateleira com uma quantidade enorme de bebidas, lendo o rótulo de cada uma enquanto seu corpo, ainda que sentado, se mexia ao som da banda que agora estava no palco.
- Curtiu meu som? - estava de pé ao lado de com o cotovelo apoiado na bancada e a cabeça apoiada na mão.
- Ei! Olha você aí! Eu adorei suas músicas. Tem uma vibe muito boa. - ela sorriu sincera virando de frente para ele - Posso ser sincera? - perguntou sabendo que jamais falaria o que estava prestes a falar se estivesse 100% sóbria.
- Por favor!
- Parece que você compôs essas músicas depois de transar! - riu divertida.
- Já me disseram isso antes. - ele riu junto.
Estavam muito próximos e o sorriso foi se perdendo aos poucos, tendo seu lugar tomado por olhares que se intercalavam entre os olhos e a boca um do outro. Foi quem acabou com o espaço entre ele e passando a mão pela cintura da menina a trouxe para mais perto e deu início ao beijo que ele desejava desde o primeiro instante que a viu no bar.
Depois daquele instante os dois não desgrudaram a noite inteira. Passaram o tempo dançando, cantando as músicas conhecidas e beijando, é claro. Quem olhasse de fora acreditaria que eles eram um casal.
Só se deram conta de quanto tempo tinha passado quando Júlio apareceu para se oferecer para levar para casa. Estava tarde e eles moravam próximos e não custava nada. A menina aceitou e disse que o encontraria do lado de fora.
- Quando é que eu vou te ver de novo? - perguntou com o rosto bem próximo do dela.
- Me empresta seu celular?
tirou o celular do bolso da calça e entregou pra ela. rapidamente salvou seu número no aparelho dele o devolveu.
- É só me mandar mensagem! - ela sorriu e deu um selinho nele - Nos vemos em breve.
A menina se levantou e saiu. Não olhou para trás nenhuma vez. Não queria arriscar que ele visse o sorriso bobo no rosto dela. Era o álcool, mas ainda assim… E ele ficou ali sentado observando-a se afastar enquanto reunia forças para pegar o violão e ir embora para casa.
Ambos sabiam que aquele não era o fim da história.
- Não teria sido melhor se tivéssemos vazado. Você sabe muito bem disso. - respondeu.
- Pelo menos evitaríamos todo esse estresse.
- Pra mim vale a pena… - ele chegou mais perto e olhando ela nos olhos pousou sua mão na bochecha direita da menina.
- É bom que valha mesmo. - ela sorriu de canto. Chegava a ser irritante a forma como ele logo conseguia fazê-la esquecer que estava brava com ele - Você sabe… Se não for você, tanta gente vai querer. - provocou.
Era uma brincadeirinha, mas ela não sabia o quanto ele odiava quando falava isso. se sentia completamente substituível para aquela que jamais teria o lugar tomado em seu coração. Mesmo se algum dia eles não estiverem mais juntos, ela sempre terá um lugar cativo no coração e na história do rapaz. Mas ao invés de expressar sua insatisfação com a frase dela e iniciar uma possível nova discussão, ele optou por utilizar isso a seu favor:
- Mas diferente dessas outras pessoas, eu sei o que você gosta na cama.
E antes que fosse capaz de formular qualquer resposta à altura, a puxou pela cintura, colando seu corpo no dela e juntando suas bocas no beijo que ele havia ansiado a semana inteira.
Era por isso que valia a pena. Tudo que parecia impeditivo para que os dois continuassem a se ver desaparecia quando eles estavam juntos. Com a mão dele apertando fortemente a cintura dela não fazia diferença a que horas que ele havia chegado, seu corpo estava feliz que ele estava ali.
Não demorou muito para ambos perceberem que o corredor estava ficando quente, as peças de roupa jogadas no chão eram a prova. Não se ouviam mais frases completas, todas morriam no meio do caminho em meio a suspiros.
Talvez o corredor já não fosse o melhor lugar para continuar aquela conversa.

+++


Eles não tinham se encontrado nenhuma vez naquela semana, o que significa que tinham muito papo para colocar em dia e deitados na cama, pele com pele, eles atualizavam as novidades. havia feito sua primeira apresentação solo de verdade, sem ser participação em festivais, e as pessoas estavam lá para ouvir o som dele, do .
- É uma loucura! - ele disse sorrindo enquanto fazia carinho na coxa dela.
- Imagino. - sorriu junto - Está começando a ficar famoso, Senhor .
- Eu nem acreditei quando disseram que tinham umas pessoas querendo falar comigo. - ele fechou os olhos como se tal ato fizesse com que a lembrança se torna-se mais concreta - É bom ter o trabalho reconhecido.
Depois de horas conversando sem parar o silêncio se fez presente e aproveitou para admirar o rosto de enquanto ele encarava o teto do quarto dela.
- Que foi? - ele perguntou se virando para olha-la.
- Eu gosto tanto quando você não some. - ela disse com um sorriso tímido de canto.
- Eu sempre volto pra você. - ele lhe deu um selinho - Eu sempre volto pra você. Eu sempre vou voltar pra você.
- Está assumindo um compromisso, hein? - provocou.
- Estou. Já teria assumido, mas cê nem deixou eu terminar de te dizer.. - e então se sentou, sendo seguido por ela segundos depois. o olhava fundo nos olhos esperando que continuasse - Eu quero você pra mim. Quero que você tenha certeza de que estou aqui pra você, mesmo quando eu estiver longe. Vamos dar um nome pra isso aqui que a gente tem! Pode ser sorvete, chocolate, Kebler, Cleide ou só namoro mesmo. Eu só quero que você tenha a certeza que eu estou dando o meu melhor por nós e que eu quero você comigo.
- Esse foi de longe o melhor pedido de namoro que eu já vi. - ela sorriu. Pessoas apaixonadas são extremamente bobas - Eu também quero você pra mim.
E como quem assina alguma coisa para assegurar que concorda, beijaram-se.
- Nossa! Já são quase cinco da manhã! - disse depois de pegar o celular para conferir as horas.
- A gente podia ver o sol nascer. - sugeriu olhando para ela.
- Vamos! - a menina levantou mais que depressa da cama e foi atrás das roupas que haviam largado pela casa. Voltou para o quarto vestindo o moletom vermelho dele - Você não vem?
- Ainda deve faltar um tempinho… - disse preguiçoso - E você vestiu minha roupa.
- A ideia foi sua. - ela o encarou com as mãos na cintura e então se virou para o guarda-roupas - Certeza que aqui tem outra coisa para você vestir.
pegou um moletom preto e atirou na direção do rapaz ainda deitado na cama.
- Esse aqui é meu também, hein? Você tem que parar de roubar minhas roupas.
- Você tem que parar de esquecer elas aqui. - piscou para ele saindo do quarto em seguida com o prato que tinha usado para comer o estrogonofe que ela tinha feito.
Depois de reunir um pouco de forças, ele se vestiu também e quando saiu do quarto ela estava colocando o prato no escorredor.
- Eu que devia ter lavado.
- Ah, só um pratinho. - ela fez cara de pouco caso - Vem, temos um nascer do sol para vermos juntos, namorado. - ambos sorriram bobos.
A varanda era o lugar favorito de no seu apartamento e fez de tudo para que fosse o ambiente mais acolhedor. Não falhou. Era uma varanda bastante espaçosa com algumas plantas e um sofázinho para no máximo duas pessoas onde ela passava o tempo vendo a cidade e lendo alguns livros. Ela e se sentaram confortavelmente ali, aninhando-se um no outro para esperar a chegada do sol.
Pela primeira vez em várias horas os dois ficaram sem emitir nenhum som, só aproveitando aquele momento, o calor de seus corpos próximos um do outro, os carinhos trocados discretamente.
Aos poucos o sol foi mostrando que estava chegando, mudando de cor o céu sobre suas cabeças. estava com a cabeça apoiada no ombro dele e com a cabeça apoiada na cabeça dela quando os primeiros raios de sol apareceram. Foram recebidos com muita satisfação pelos dois que estavam com os narizes gelados da brisa da madrugada.
- Devíamos registrar isso. - falou enquanto tirava o celular do canguru do moletom.
Não houve resposta alguma da menina, então ele levantou a cabeça e olhou para ela vendo que cochilava em seu ombro. Tirou algumas fotos do céu, mas também registrou aquele momento dos dois juntos em várias selfies. A respiração dela era tão tranquila que não teve coragem de acordá-la para irem dormir na cama.
- Amo você.
Ele disse deixando um beijo na testa dela e então ficou ali vendo o sol nascer por completo.




Fim



Nota da autora: Sem nota.
Nota da beta: E eu me cativei demais nesses personagens! Quem mais aí acha que shortfic é injusto e quer continuação. hahaha.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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