Prólogo
Nuvens cor de chumbo começavam a cobrir o céu, e a neblina sobrenatural começou a ficar mais densa. Seu corpo sem vida pendia imóvel em meus braços, sua pele com aroma floral começava a perder o calor. Eu não podia aceitar, não podia crer que ela estava morta. Tirei um cacho de seu rosto, o leve delineado preto ainda estava intacto em suas pálpebras, agora fechadas, ela parecia serena como um anjo, como se estivesse apenas dormindo. Senti as lágrimas quentes escorrerem por minhas bochechas, limpei a lama do canto de seu rosto, depositando um beijo em sua testa, e fazendo meu cérebro aceitar que ela estava morta. Mas foi quando a ficha caiu que meu coração se despedaçou.
Capítulo 1
jogou uma caixa para , que pegou habilmente no ar, sorrindo para a irmã.
- Você é ridícula,.- colocou a caixa dentro do elevador do prédio, junto das outras.- Aqui estão os vidros, sorte a sua eu ter pego a caixa.
- Eu sabia que você ia pegar, .- sorriu, piscando para a irmã mais velha.- Você nunca perde nada.
Sorriu, pegou a última caixa do porta-malas e travou o Jeep, indo para dentro da portaria do prédio acompanhada da irmã.
- Decimo andar?- perguntou , apoiando um pé numa caixa e com a mão no painel de botões do elevador.
- Sim, apartamento 687.- confirma, colocando a caixa no chão.
- 3h45min da manhã, maninha.- disse , olhando para seu relógio.- Seja bem-vinda ao seu novo lar.
sorriu ironicamente, mostrando o dedo do meio para a mais velha. Odiava quando se referia a localização de um trabalho como lar, sabia que elas nunca teriam um lar, e sabia que a irmã também tinha conhecimento do fato, até mais que ela mesma.
- Não me olhe com essa cara, .- bufou, se apoiando na parede do elevador, a arma em suas costas, presa ao cós da calça brilhou com a luz.- Foi só uma brincadeira.
bufou, sabia que sua irmã não tinha feito por mal. Ambas estavam estressadas com o caso atual, por mais que tivessem suas cartas na manga, nunca haviam enfrentado um nogitsune, e isso as assustava, já que uma Blackburn era criada para saber matar qualquer ser sobrenatural existente.
- Não gosto dessa cidade.- cortou o silêncio, seus olhos vagueavam por seu reflexo embaçado na superfície de inox do elevador, seus olhos azuis estavam perdidos, indecifráveis.- Quanto antes sairmos daqui, melhor.
- Você viu alguma coisa?- arqueou uma sobrancelha, levemente curiosa com o comentario da irmâ.- Teve alguma visão?
- Ai é que está o problema, . - endireitou a postura, nunca vinha boa coisa quando a chamava pelo nome. - Eu não tive nenhuma visão. E isso é o que me da medo, desde que chegamos aqui, o futuro virou um breu.
piscou, seus olhos ficaram azul escuro, sem retina, pupila ou íris, apenas azuis.
- E meus poderes parecem descontrolados.- ela piscou de novo, seus olhos retornaram a aparencia humana. - Isso nunca aconteceu antes, .
se concentrou no "cozinha" escrito no topo de uma caixa com marcador azul, toda aquela situação era realmente muito estranha. Por serem bruxas, cada uma tinha um "dom a mais", tinha visões do futuro e podia sentir qualquer ser sobrenatural, quase que como um radar, e digamos que nunca ficava sem ter nem que fosse uma dica do futuro, nunca mesmo.
As portas do elevador se abriram, sorriu animadamente, tentando parecer contente. Myra apertou o botão vermelho que travava o elevador.
- Vou abrir o apartamento, então começamos a levar as caixas.- disse , erguendo uma mão para que a irmã jogasse as chaves para ela.
Myra jogou as chaves para a irmã, que já estava fora do elevador, foi atrás de seu novo apartamento. Quando o relógio marcou 4h00min da manhã, todas as caixas estavam dentro do apartamento, e as irmãs estiradas cada uma em um sofá.
- Estou com sono.- grunhiu , o rosto afundado em uma almofada.
- Aluguei essa merda mobiliada, creio que isso inclua um quarto mobiliado, . - resmungou , tirando as botas e quase afofando a mesinha de centro para colocar sua pistola encima. - Escolha um e durma.
- Grossa.- olhou para a irmã com uma expressão de desaprovassão.- Vou dormir, tente descansar, temos muito o que fazer amanhã.
- Vai lá, mana. Já vou dormir. - bocejou, ficando apenas com a regata agarrada que delineava seu corpo cheio de curvas.- Vou fuçar no rádio e arquivos da polícia, até amanhã.
sorriu de canto para a irmã, tirando um cobertor da caixa e se perdendo na escuridão do corredor sem iluminação.
tirou seu laptop prateado de sua mochila e o abriu sobre a mesinha de centro, usando suas habilidades de hacker para invadir o sistema dos computadores da delegacia da polícia local, para ler os arquivos sobre as mortes envolvendo o nogitsune, que haviam sido citadas por Mr. M(apelido que havia dado para o empregador anônimo). Quando hackeou o sistema, olhou para o relógio do celular, que marcava 4h34min da manhã. O céu ainda estava azul cobalto, seus olhos começaram a pesar, a mais velha pegou um cobertor da caixa e foi para o quarto vago, se jogando na confortável cama de casal e criando um casulo com o cobertor, adormencendo assim que sua cabeça tocou o travesseiro.
O relógio marcava exatas 7h15min da manhã quando o toque escandaloso do celular de cortou o silêncio que dominava o apartamento. levantou assustada, pegando uma faca do bolso interno da jaqueta que estava jogada no chão e correndo para o quarto da irmã, a mesma parou na porta, ao ver que era apenas o maldito celular.
- Alô?- resmungou ao atender o telefone, um olho aberto e o outro não, por conta da forte claridade que invadia o quarto.
- Bom dia, pentelha Blackburn.- a voz suave de um homem veio do outro lado da linha, soando animada.
- Daniel? - perguntou, a voz rouca saindo fanha. - Você me acordou, filho de uma quenga.
Daniel riu com gosto, cantarolando junto de Cindy Lauper, que tocava ao fundo.
- Sempre adorei o humor matinal que você e sua irmã têm. - Daniel zombou.
Daniel Jamesson era um alquimista da Flórida, rico e que se gabaza por ostentar uma vida regada às mulheres, álcool e muitas festas, mas fora isso, um alquimista exemplar.
- Mas indo direto ao assunto.- Daniel deu um longo gole em uma xícara de café.
suspirou irritada na porta do quarto, havia posto a chamada no viva-voz e a mais velha estava começando a perder a paciência com os rodeios de Jamesson.
- Eu pesquisei em todos os livros que tenho acesso, todos com exceção de nenhum,- começou ele, parecendo decepcionado consigo mesmo.- E não achei nada sobre um nogitsune, não há origens verídicas, formas de matar, ou qualquer outra coisa. Me parece que se meteram em algo sério, meninas.
apoiou as costas no batente da porta, batendo levemente o cabo da faca na tempora, de olhos fechados. a olhou, em busca de uma resposta, a irmã continuou do mesmo jeito, tornou a olhar para a tela do celular, que mostrava uma foto de Daniel usando óculos escuros de armação rosa e fazendo uma fose feminina, foto tirada em uma de suas milhares festas.
- Obigado de qualquer jeito, Dan, avisaremos se tronarmos a precisar de ajuda.- disse, Daniel concorodu com um grunhido.- E se me acordar de novo, Jamesson, eu mesma vou para Malibu e te mato. Tchau.
- Também amo você.- Daniel riu.- Tchau.
abaixou a faca, olhando fixamente para o assoalho.
- Estou começando a achar que foi um tremendo erro termos pego esse trabalho.- suspirou ela.- Vamos fazer o reconhecimento hoje, se isso me parecer om possível, a gente larga.- falou a mais velha.
- Ele já fez o depósito de metade do dinheiro, .- lembrou , falando alto para a irmã que já havia voltado para seu quarto, a ouvisse.
- Não vou enfiar o nosso na reta por 75 mil dólares, .- quase gritou, catando suas roupas do chão do quarto, o cabelo cacheado caindo sobre seu rosto
Blackburn POV
Comecei a revirar minha mala, atrás de uma troca de roupa. Hoje seria o dia em que eu e iremos começar a ir para a escola, fuçar na vida dos envolvidos nos incidentes do nogitsune, um bando de adolescentes. Peguei de dentro da mala um jeans surrado, uma blusa agrrada de tecido fino preta com decote, minha habitual jaqueta de couro e o par de coturnos que sempre uso.
- Vou tomar banho, não demoro. - parou na porta do quarto, uma toalha violeta pendurada no ombro e a maquiagem toda borrada.- Enquanto isso você decide o que vamos comer de café-da-manhã.
- Tá, não demore, vamos começar na escola local hoje.- aviso, empurrando a mala com o pé para a parede.- Tenho quase certeza que vi uma lanchonete à três quadras daqui.
- Adoro x-bacon de café da manhã.
Jogo a troca de roupa sobre a cama e vou para a sala, sem em importar com minhas roupas. Me sento no sofá e abro o laptop e sintonizo na frequência de rádio da polícia e começo a revirarr as caixas, atrás das mochilas. Onde enfiou as malditas mochilas?
- Querendo achar algo? - uma voz masculina veio de trás de mim, da porta da sacada, me viro lentamente.
- Olá...- suspiro, sem me importar por estar vestida apenas de calcinha e regata.- Peter.
- Como tem passado, ?. - ele sorriu, caminhando lentamente até mim, parando dois passos de distância de mim, me olhando como se eu fosse sua presa.
- Como se você se importasse. - retruco e rio brevemente, olhando para ele.
- O que te traz a minha acolhedora cidade? - ele se aproximou mais um paço.
Há muito tempo atrás, quando eu visitei Beacon Hills pela primeira vez, época que Peter era apenas um rapaz, eu acabei o tornando um de meus "casos de verão", o cara sabia como deixar uma garota louquinha, e devo dizer que o tempo só lhe fez bem.
- Vim a trabalho. - endireitei a postura, sentindo a corrente de ar frio que entra pela porta me fazer arrepiar. - Não pretendo ficar por muito tempo.
- Ah, é uma pena. - ele responde, a malícia transbordando em suas palavras.- Poderíamos nos divertir muito.
- Eu tenho mais o que fazer, Peter, se sua conversinha de boas-vindas já foi dada, - sorrio docemente.- peço que se retire.
- Continua a de sempre...- ele riu levemente, me medindo dos pés a cabeça, como se fosse me agarrar, e se afastou, indo para a sacada outra vez, parando no meio do caminho.- Imortalidade te cai bem, Blackburn.
Rio, ele pula da sacada. Ouço o chuveiro desligar e torno a procurar pelas mochilas, fingindo que nada aconteceu. nunca gostou de Peter.
Da primeira vez que viemos para cá, e eu conheci o Hale, ela continuava me dizendo que ele não prestava. Ainda bem que ela sempre soube que quem não presta sou eu.
- O que está procurando? - veio para a sala, secando os cabelos ruivos com a toalha.
- Nossas mochilas.- olho brevemente para ela, voltando a revirar a caixa.
- Acho um saco a gente ter que ficar estudando.- ela bufa, se encostando no braço do sofá.- Eu já sou formada. E em Harvard, Harvard!
- Sim, e se estou certa, seria estranho uma garota de 18 anos aparecer por ai com um diploma dos anos 80. - olho para ela, dizendo o óbvio.
- Você também deve estar brava por não poder usar seu diploma de Oxford...- resmungou ela.
- Tem diferença entre querer e poder, e eu não quero usar o meu.- jogo a mochila finalmente achada para ela, tiro a minha da caixa e aumento o som do laptop. ela me olha com uma cara que me faz automaticamente lembrar dos anos 20, quando morávamos em Chicago.
Flashback On
Eu me sentei na cadeira, o vestido de miçangas tilintando, eu sorri, alta por conta dos vários Martinis que já havia bebido, e quanto mais bebia, mais queria dançar. puxou levemente meu braço, um sorriso bêbado tomando conta de sua face.
- Que os anos 20 nunca acabem, minha irmã!- disse ela, tentando soar mais alto que o jazz que tocava, ela me passou uma taça cheia de gim. Mais martini.
Eu dei uma gargalhada gostosa, tirando um cacho dos olhos, dando um longo gole no Martini. Um homem, alto e lindo, parou ao meu lado, sorrindo.
- A senhorita me daria à honra de uma dança? - ele sorriu, galanteador, uma música animada começou a tocar
- Claro ... - olhei para ele, esperando o mesmo dizer seu nome.
- Stefan, me chamo Stefan.- ele sorriu de canto, pegando minha mão.
Flashback Off
Entrei embaixo do chuveiro e girei o registro, sentindo a água quente cair em minha cabeça. Minha tempora latejou, minha visão começou a ficar turva. Conheço bem essa sensação. Me virei de costas para a parede, deslizando até o chão do box, senti meus olhos tomarem a forma sobrenatural, e a visão começou.
Eu estava no pé de uma colina, um homem grande e alto corria a minha frente, um grito cortou o silêncio da noite sem luar.
- Derek!- alguém berrou.
A visão subitamente mudou, agora eu estava em uma sacada, uma forte chuva caia. Havia um casal sentado na escadinha na entrada, a moça disse algo que não pude ouvir e o rapaz a abraçou, ela se aninhou em seus braços, e a única coisa que me chamou mais a atenção foi a tatuagem de duas listras, uma mais grossa que a outra, no braço forte do rapaz, então tive um vislumbre de um par de olhos azuis.
Pisquei repetidamente, sentindo o peito subir e descer, com a respiração descompassada. Estiquei a mão até o registro e o girei até o final, sentindo a temperatura da água esfriar, me arrastei para baixo da água, sentindo todos os pelos do meu corpo se eriçarem. Respiro fundo, controlando o ataque de pânico que tenho certeza que vai me atacar.
- ? - apareceu na porta do banheiro, me olhando preocupada.- Você está ai há 30 minutos...
Levantei o rosto, ela me analisou, percebendo que eu havia, finalmente, tido uma visão. Ela veio até o box, abrindo a porta de vidro e se enfiou dentro do box, fechando o registro.
- Aconteceu, não é? - ela me enrolou em uma toalha, me segurando e levantando do chão.- Foi muito ruim?
- Você sabe que não posso te dizer nada...- sussurrei, me apoiando nela. aguenta o meu peso vezes três.
Eu senti meu corpo tremer, me ajudou a sentar na cama. Não importa a intensidade da visão, ela sempre mexe com meu corpo, me deixa zonza e... frágil.
- Podemos ficar aqui hoje, , dane-se essa escola besta.- sugeriu ela, tirando um fio de cabelo que stava grudado em minha testa.
- Não, precisamos ir. - e sim, isso envolve minha visão.- Você mesma disse que Mr. M já fez o depósito de metade do dinheiro.
- E você mesma disse que não precisamos desse dinheiro. - retrucou.
POV Off
Blackburn POV
Enrolei em um roupão felpudo, que tirei de uma caixa qualquer. Ela me olhou, os lábios brancos e as mãos tremendo. Malditas sejam essas visões, odeio vê-la assim.
- Nós vamos.- ela disse por fim, tornando minha argumentação inútil, bufei e fiquei em pé.
- A culpa não vai ser minha se correr algo errado.- digo, voltando para o quarto.- Temos duas horas.
Uma hora depois estacionei o carro no estacionamento desta escola estúpida, digerindo um último donut de vanilla. desceu do carro, ela ainda estava palida, mas a leve maquiagem que cobria seu rosto disfarçava, desci e travei as portas
- Você tem certeza que está bem?- a olhei outra vez, colocando a alça da mochila no braço, o par de óculos escuros facilitou minha visão no sol.- Podemos voltar...
- Sim, eu estou bem.- ela responde, jogando a mochila sobre o ombro.- Vamos logo.
Caminhei ao seu lado, subindo a escadaria da entrada da escola, parecendo estar com uma tremenda ressaca de tanto que meus olhos ardiam. Empurrei a porta e segurei para passar.
Um garoto passou por nós, a única coisa que mais me chamou a atenção foi a tatuagem de duas listras em seu braço, uma mais grossa que a outra. E o poder que senti emanar dele, um poder que só senti uma vez na vida, há 100 anos atrás.
O poder de um alpha genuíno.
- Você é ridícula,.- colocou a caixa dentro do elevador do prédio, junto das outras.- Aqui estão os vidros, sorte a sua eu ter pego a caixa.
- Eu sabia que você ia pegar, .- sorriu, piscando para a irmã mais velha.- Você nunca perde nada.
Sorriu, pegou a última caixa do porta-malas e travou o Jeep, indo para dentro da portaria do prédio acompanhada da irmã.
- Decimo andar?- perguntou , apoiando um pé numa caixa e com a mão no painel de botões do elevador.
- Sim, apartamento 687.- confirma, colocando a caixa no chão.
- 3h45min da manhã, maninha.- disse , olhando para seu relógio.- Seja bem-vinda ao seu novo lar.
sorriu ironicamente, mostrando o dedo do meio para a mais velha. Odiava quando se referia a localização de um trabalho como lar, sabia que elas nunca teriam um lar, e sabia que a irmã também tinha conhecimento do fato, até mais que ela mesma.
- Não me olhe com essa cara, .- bufou, se apoiando na parede do elevador, a arma em suas costas, presa ao cós da calça brilhou com a luz.- Foi só uma brincadeira.
bufou, sabia que sua irmã não tinha feito por mal. Ambas estavam estressadas com o caso atual, por mais que tivessem suas cartas na manga, nunca haviam enfrentado um nogitsune, e isso as assustava, já que uma Blackburn era criada para saber matar qualquer ser sobrenatural existente.
- Não gosto dessa cidade.- cortou o silêncio, seus olhos vagueavam por seu reflexo embaçado na superfície de inox do elevador, seus olhos azuis estavam perdidos, indecifráveis.- Quanto antes sairmos daqui, melhor.
- Você viu alguma coisa?- arqueou uma sobrancelha, levemente curiosa com o comentario da irmâ.- Teve alguma visão?
- Ai é que está o problema, . - endireitou a postura, nunca vinha boa coisa quando a chamava pelo nome. - Eu não tive nenhuma visão. E isso é o que me da medo, desde que chegamos aqui, o futuro virou um breu.
piscou, seus olhos ficaram azul escuro, sem retina, pupila ou íris, apenas azuis.
- E meus poderes parecem descontrolados.- ela piscou de novo, seus olhos retornaram a aparencia humana. - Isso nunca aconteceu antes, .
se concentrou no "cozinha" escrito no topo de uma caixa com marcador azul, toda aquela situação era realmente muito estranha. Por serem bruxas, cada uma tinha um "dom a mais", tinha visões do futuro e podia sentir qualquer ser sobrenatural, quase que como um radar, e digamos que nunca ficava sem ter nem que fosse uma dica do futuro, nunca mesmo.
As portas do elevador se abriram, sorriu animadamente, tentando parecer contente. Myra apertou o botão vermelho que travava o elevador.
- Vou abrir o apartamento, então começamos a levar as caixas.- disse , erguendo uma mão para que a irmã jogasse as chaves para ela.
Myra jogou as chaves para a irmã, que já estava fora do elevador, foi atrás de seu novo apartamento. Quando o relógio marcou 4h00min da manhã, todas as caixas estavam dentro do apartamento, e as irmãs estiradas cada uma em um sofá.
- Estou com sono.- grunhiu , o rosto afundado em uma almofada.
- Aluguei essa merda mobiliada, creio que isso inclua um quarto mobiliado, . - resmungou , tirando as botas e quase afofando a mesinha de centro para colocar sua pistola encima. - Escolha um e durma.
- Grossa.- olhou para a irmã com uma expressão de desaprovassão.- Vou dormir, tente descansar, temos muito o que fazer amanhã.
- Vai lá, mana. Já vou dormir. - bocejou, ficando apenas com a regata agarrada que delineava seu corpo cheio de curvas.- Vou fuçar no rádio e arquivos da polícia, até amanhã.
sorriu de canto para a irmã, tirando um cobertor da caixa e se perdendo na escuridão do corredor sem iluminação.
tirou seu laptop prateado de sua mochila e o abriu sobre a mesinha de centro, usando suas habilidades de hacker para invadir o sistema dos computadores da delegacia da polícia local, para ler os arquivos sobre as mortes envolvendo o nogitsune, que haviam sido citadas por Mr. M(apelido que havia dado para o empregador anônimo). Quando hackeou o sistema, olhou para o relógio do celular, que marcava 4h34min da manhã. O céu ainda estava azul cobalto, seus olhos começaram a pesar, a mais velha pegou um cobertor da caixa e foi para o quarto vago, se jogando na confortável cama de casal e criando um casulo com o cobertor, adormencendo assim que sua cabeça tocou o travesseiro.
O relógio marcava exatas 7h15min da manhã quando o toque escandaloso do celular de cortou o silêncio que dominava o apartamento. levantou assustada, pegando uma faca do bolso interno da jaqueta que estava jogada no chão e correndo para o quarto da irmã, a mesma parou na porta, ao ver que era apenas o maldito celular.
- Alô?- resmungou ao atender o telefone, um olho aberto e o outro não, por conta da forte claridade que invadia o quarto.
- Bom dia, pentelha Blackburn.- a voz suave de um homem veio do outro lado da linha, soando animada.
- Daniel? - perguntou, a voz rouca saindo fanha. - Você me acordou, filho de uma quenga.
Daniel riu com gosto, cantarolando junto de Cindy Lauper, que tocava ao fundo.
- Sempre adorei o humor matinal que você e sua irmã têm. - Daniel zombou.
Daniel Jamesson era um alquimista da Flórida, rico e que se gabaza por ostentar uma vida regada às mulheres, álcool e muitas festas, mas fora isso, um alquimista exemplar.
- Mas indo direto ao assunto.- Daniel deu um longo gole em uma xícara de café.
suspirou irritada na porta do quarto, havia posto a chamada no viva-voz e a mais velha estava começando a perder a paciência com os rodeios de Jamesson.
- Eu pesquisei em todos os livros que tenho acesso, todos com exceção de nenhum,- começou ele, parecendo decepcionado consigo mesmo.- E não achei nada sobre um nogitsune, não há origens verídicas, formas de matar, ou qualquer outra coisa. Me parece que se meteram em algo sério, meninas.
apoiou as costas no batente da porta, batendo levemente o cabo da faca na tempora, de olhos fechados. a olhou, em busca de uma resposta, a irmã continuou do mesmo jeito, tornou a olhar para a tela do celular, que mostrava uma foto de Daniel usando óculos escuros de armação rosa e fazendo uma fose feminina, foto tirada em uma de suas milhares festas.
- Obigado de qualquer jeito, Dan, avisaremos se tronarmos a precisar de ajuda.- disse, Daniel concorodu com um grunhido.- E se me acordar de novo, Jamesson, eu mesma vou para Malibu e te mato. Tchau.
- Também amo você.- Daniel riu.- Tchau.
abaixou a faca, olhando fixamente para o assoalho.
- Estou começando a achar que foi um tremendo erro termos pego esse trabalho.- suspirou ela.- Vamos fazer o reconhecimento hoje, se isso me parecer om possível, a gente larga.- falou a mais velha.
- Ele já fez o depósito de metade do dinheiro, .- lembrou , falando alto para a irmã que já havia voltado para seu quarto, a ouvisse.
- Não vou enfiar o nosso na reta por 75 mil dólares, .- quase gritou, catando suas roupas do chão do quarto, o cabelo cacheado caindo sobre seu rosto
Blackburn POV
Comecei a revirar minha mala, atrás de uma troca de roupa. Hoje seria o dia em que eu e iremos começar a ir para a escola, fuçar na vida dos envolvidos nos incidentes do nogitsune, um bando de adolescentes. Peguei de dentro da mala um jeans surrado, uma blusa agrrada de tecido fino preta com decote, minha habitual jaqueta de couro e o par de coturnos que sempre uso.
- Vou tomar banho, não demoro. - parou na porta do quarto, uma toalha violeta pendurada no ombro e a maquiagem toda borrada.- Enquanto isso você decide o que vamos comer de café-da-manhã.
- Tá, não demore, vamos começar na escola local hoje.- aviso, empurrando a mala com o pé para a parede.- Tenho quase certeza que vi uma lanchonete à três quadras daqui.
- Adoro x-bacon de café da manhã.
Jogo a troca de roupa sobre a cama e vou para a sala, sem em importar com minhas roupas. Me sento no sofá e abro o laptop e sintonizo na frequência de rádio da polícia e começo a revirarr as caixas, atrás das mochilas. Onde enfiou as malditas mochilas?
- Querendo achar algo? - uma voz masculina veio de trás de mim, da porta da sacada, me viro lentamente.
- Olá...- suspiro, sem me importar por estar vestida apenas de calcinha e regata.- Peter.
- Como tem passado, ?. - ele sorriu, caminhando lentamente até mim, parando dois passos de distância de mim, me olhando como se eu fosse sua presa.
- Como se você se importasse. - retruco e rio brevemente, olhando para ele.
- O que te traz a minha acolhedora cidade? - ele se aproximou mais um paço.
Há muito tempo atrás, quando eu visitei Beacon Hills pela primeira vez, época que Peter era apenas um rapaz, eu acabei o tornando um de meus "casos de verão", o cara sabia como deixar uma garota louquinha, e devo dizer que o tempo só lhe fez bem.
- Vim a trabalho. - endireitei a postura, sentindo a corrente de ar frio que entra pela porta me fazer arrepiar. - Não pretendo ficar por muito tempo.
- Ah, é uma pena. - ele responde, a malícia transbordando em suas palavras.- Poderíamos nos divertir muito.
- Eu tenho mais o que fazer, Peter, se sua conversinha de boas-vindas já foi dada, - sorrio docemente.- peço que se retire.
- Continua a de sempre...- ele riu levemente, me medindo dos pés a cabeça, como se fosse me agarrar, e se afastou, indo para a sacada outra vez, parando no meio do caminho.- Imortalidade te cai bem, Blackburn.
Rio, ele pula da sacada. Ouço o chuveiro desligar e torno a procurar pelas mochilas, fingindo que nada aconteceu. nunca gostou de Peter.
Da primeira vez que viemos para cá, e eu conheci o Hale, ela continuava me dizendo que ele não prestava. Ainda bem que ela sempre soube que quem não presta sou eu.
- O que está procurando? - veio para a sala, secando os cabelos ruivos com a toalha.
- Nossas mochilas.- olho brevemente para ela, voltando a revirar a caixa.
- Acho um saco a gente ter que ficar estudando.- ela bufa, se encostando no braço do sofá.- Eu já sou formada. E em Harvard, Harvard!
- Sim, e se estou certa, seria estranho uma garota de 18 anos aparecer por ai com um diploma dos anos 80. - olho para ela, dizendo o óbvio.
- Você também deve estar brava por não poder usar seu diploma de Oxford...- resmungou ela.
- Tem diferença entre querer e poder, e eu não quero usar o meu.- jogo a mochila finalmente achada para ela, tiro a minha da caixa e aumento o som do laptop. ela me olha com uma cara que me faz automaticamente lembrar dos anos 20, quando morávamos em Chicago.
Flashback On
Eu me sentei na cadeira, o vestido de miçangas tilintando, eu sorri, alta por conta dos vários Martinis que já havia bebido, e quanto mais bebia, mais queria dançar. puxou levemente meu braço, um sorriso bêbado tomando conta de sua face.
- Que os anos 20 nunca acabem, minha irmã!- disse ela, tentando soar mais alto que o jazz que tocava, ela me passou uma taça cheia de gim. Mais martini.
Eu dei uma gargalhada gostosa, tirando um cacho dos olhos, dando um longo gole no Martini. Um homem, alto e lindo, parou ao meu lado, sorrindo.
- A senhorita me daria à honra de uma dança? - ele sorriu, galanteador, uma música animada começou a tocar
- Claro ... - olhei para ele, esperando o mesmo dizer seu nome.
- Stefan, me chamo Stefan.- ele sorriu de canto, pegando minha mão.
Flashback Off
Entrei embaixo do chuveiro e girei o registro, sentindo a água quente cair em minha cabeça. Minha tempora latejou, minha visão começou a ficar turva. Conheço bem essa sensação. Me virei de costas para a parede, deslizando até o chão do box, senti meus olhos tomarem a forma sobrenatural, e a visão começou.
Eu estava no pé de uma colina, um homem grande e alto corria a minha frente, um grito cortou o silêncio da noite sem luar.
- Derek!- alguém berrou.
A visão subitamente mudou, agora eu estava em uma sacada, uma forte chuva caia. Havia um casal sentado na escadinha na entrada, a moça disse algo que não pude ouvir e o rapaz a abraçou, ela se aninhou em seus braços, e a única coisa que me chamou mais a atenção foi a tatuagem de duas listras, uma mais grossa que a outra, no braço forte do rapaz, então tive um vislumbre de um par de olhos azuis.
Pisquei repetidamente, sentindo o peito subir e descer, com a respiração descompassada. Estiquei a mão até o registro e o girei até o final, sentindo a temperatura da água esfriar, me arrastei para baixo da água, sentindo todos os pelos do meu corpo se eriçarem. Respiro fundo, controlando o ataque de pânico que tenho certeza que vai me atacar.
- ? - apareceu na porta do banheiro, me olhando preocupada.- Você está ai há 30 minutos...
Levantei o rosto, ela me analisou, percebendo que eu havia, finalmente, tido uma visão. Ela veio até o box, abrindo a porta de vidro e se enfiou dentro do box, fechando o registro.
- Aconteceu, não é? - ela me enrolou em uma toalha, me segurando e levantando do chão.- Foi muito ruim?
- Você sabe que não posso te dizer nada...- sussurrei, me apoiando nela. aguenta o meu peso vezes três.
Eu senti meu corpo tremer, me ajudou a sentar na cama. Não importa a intensidade da visão, ela sempre mexe com meu corpo, me deixa zonza e... frágil.
- Podemos ficar aqui hoje, , dane-se essa escola besta.- sugeriu ela, tirando um fio de cabelo que stava grudado em minha testa.
- Não, precisamos ir. - e sim, isso envolve minha visão.- Você mesma disse que Mr. M já fez o depósito de metade do dinheiro.
- E você mesma disse que não precisamos desse dinheiro. - retrucou.
POV Off
Blackburn POV
Enrolei em um roupão felpudo, que tirei de uma caixa qualquer. Ela me olhou, os lábios brancos e as mãos tremendo. Malditas sejam essas visões, odeio vê-la assim.
- Nós vamos.- ela disse por fim, tornando minha argumentação inútil, bufei e fiquei em pé.
- A culpa não vai ser minha se correr algo errado.- digo, voltando para o quarto.- Temos duas horas.
Uma hora depois estacionei o carro no estacionamento desta escola estúpida, digerindo um último donut de vanilla. desceu do carro, ela ainda estava palida, mas a leve maquiagem que cobria seu rosto disfarçava, desci e travei as portas
- Você tem certeza que está bem?- a olhei outra vez, colocando a alça da mochila no braço, o par de óculos escuros facilitou minha visão no sol.- Podemos voltar...
- Sim, eu estou bem.- ela responde, jogando a mochila sobre o ombro.- Vamos logo.
Caminhei ao seu lado, subindo a escadaria da entrada da escola, parecendo estar com uma tremenda ressaca de tanto que meus olhos ardiam. Empurrei a porta e segurei para passar.
Um garoto passou por nós, a única coisa que mais me chamou a atenção foi a tatuagem de duas listras em seu braço, uma mais grossa que a outra. E o poder que senti emanar dele, um poder que só senti uma vez na vida, há 100 anos atrás.
O poder de um alpha genuíno.
Capítulo 2
Pisquei repetidamente para assimilar o que minha habilidade acabara de me dizer. Um alpha? E um genuíno? Em Beacon Hills? Eu sabia que este lugar tinha poder, mas não tanto. estalou os dedos em frente aos meus olhos, e só assim que me toquei que ainda estava parada em frente à porta.
— O que foi? — perguntou , o cenho franzido.
— Eu senti uma coisa, mas meu radar deve ter dado pane. — Dei um peteleco na minha própria cabeça. — Vamos logo falar com a diretora.
Bufei quando tive que olhar pela quinquagésima vez para a plaquinha na porta, que indicava que aquela sala pertencia a Natalie Martin. Sem contar que as aulas haviam começado faz 20 minutos. Não que eu me importe com isso.
— Vocês são e Jamesson? — ela sorriu, o brilho azul de seu vestido reluziu com a luz artificial da secretaria. Obrigado, Dan, por nos emprestar seu sobrenome. — Entrem, por favor.
Ela abriu passagem para mim e . Eu entrei na frente, fazendo uma atenta varredura pelo escritório da diretora. Se há uma coisa que aprendi com todos esses anos de mercenária é sempre estar preparada para ter um plano de fuga, porque nunca se sabe quem realmente quer matar você. Os inimigos que fazemos em nossos trabalhos são o que eu costumo chamar de ossos do ofício.
— Então, senhoritas... — Natalie sorriu amarelo, folheando uma pasta de papel pardo. — Aqui diz que são emancipadas, o que quer dizer que são responsáveis por suas próprias matrículas. Interessante...
estalou, nervosa, os dedos de uma mão, e eu senti a superfície fria da pistola no coldre, preso na altura de minhas costelas, roçar em minha pele, o que me deu um profundo arrepio. Natalie Martin tinha uma aparência normal; o cabelo levemente ruivo cortado no estilo chanel acentuava as feições com leves rugas, mas, mesmo assim, eu senti, vindo de seu âmago, o poder delas saírem. Eu sabia reconhecer uma banshee quando via uma, mesmo uma que negasse e reprimisse com tanta veemência algo que fazia parte dela. e eu assinamos alguns papéis, trocamos algumas palavras com a diretora e nos retiramos, para tentar chegar até a nossa sala de Biologia, que, segundo a Sra. Cornell, responsável pela secretaria (que fedia a esmalte e acetona, por sinal), disse ser no quinto corredor. Agora, cabia a nós descobrir qual era o maldito quinto corredor. Estávamos paradas iguais duas idiotas no meio do corredor, tentando achar a merda da sala de Biologia, até que uma voz feminina nos chamou:
— Hm, com licença, estão perdidas? — Virei e vi uma garota bonita, de cabelo castanho ondulado, na altura dos ombros, e ela me estendeu a mão. — Me chamo Allison.
— — sorri e apertei sua mão. Ela virou-se para .
— Eu sou — minha irmã sorriu, apertando a mão da moça. — Somos novas aqui. Eu e minha irmã estamos à procura da sala de Biologia.
— Ah, eu estou indo lá agora, posso levar vocês, se quiserem — ela sorriu. Parecia o tipo de garota que valia a pena ter como amiga. Pena que, quem era nosso amigo, sempre acabava com a vida em jogo.
— Seria de grandessíssima ajuda — respondi, arrumando a mochila no ombro.
— Então, vamos lá — ela sorriu, colocando uma mecha da franja atrás da orelha. — Disse que são novatas, né?
— É, primeiro dia de aula. — sorriu de canto, os cachos caindo sobre seus ombros. — É bom já conhecer alguém...
— Claro, posso apresentar vocês a uns amigos meus, se quiserem — sugeriu ela, olhando animadamente para . — Vão gostar de vocês.
Allison parou ao lado de uma porta ainda aberta.
— Aqui é a sala de Biologia. — Allison apontou para a pequena plaquinha escrito “Biology Class’’. — O professor é o Harrison Whitman. Não respirem muito alto, senão, ele vai te mandar para a detenção.
Eu e rimos e seguimos a simpática Allison para dentro da classe. Nos sentamos na última bancada de mármore negro da sala, e Allison sentou-se na da frente com uma garota de cabelo longo e ruivo, linda, que apresentou-se como Lydia Martin, e acabei ligando automaticamente com o nome da diretora.
Depois de 20 minutos de aula, Allison pendeu o corpo para trás na banqueta, fingindo estar se espreguiçando.
— Vou morrer de tédio — sussurrou ela, e Lydia engoliu uma risada.
soltou um risinho e sussurrou:
— O cabelo branco está dando réstia nos meus olhos — ela riu baixinho, o cabelo cacheado preso com um lápis. — Ele é muito chato.
— A conversa de vocês me parece interessante. Compartilhe conosco, senhorita Argent.
enrijeceu a postura. O nome Argent ecoou em minha cabeça. Argent? Argent? Eu quase fui morta por um Argent!
— Estamos falando sobre a matéria, senhor. Como é interessante os seres aclorofilados. — Allison sorriu brevemente.
estava ereta na banqueta, sua face perdeu totalmente a cor. Um homem, 40 anos atrás, quase nos matou e seu nome era Argent. Gerard Argent. Esse é um nome que nunca esquecerei.
— Hum, sei, claro. — Whitman resmungou, voltando a escrever o texto no quadro negro.
piscou repetidamente, tornando a sorrir distraidamente, mas eu percebi, por sua postura, que ela estava alerta com a garota Argent. A cicatriz que corria do meu tórax até a coxa queimou. Não podíamos ser mortas, mas podíamos ser gravemente feridas.
A aula correu rapidamente, depois do incidente com Whitman. Fomos saindo da sala. estava dura, conversando animadamente com Allison. Essa infeliz merece um Oscar em certas horas.
— Beacon Hills será um lar temporário. — contou, soltando o cabelo. — Eu e nos mudamos muito.
— Eu e minha família também éramos assim. Beacon foi nossa última parada — ela sorriu, amigável. Parecia ter gostado mesmo de .
O segundo tempo foi aula de Química. Tirei alguns cochilos durante a aula, a professora me deu alguns milhares de olhares mortais quando me acordava e perguntava algo envolvendo a tabela periódica e eu sabia responder mais corretamente que ela. Fato resultante de fazer o colegial umas 15 vezes.
Íamos saindo da sala outra vez; desta vez, seguindo para o vestiário feminino. Terceiro tempo era Educação Física, algo que sempre fui boa. Empurrei a porta e entrei, olhando o papel que a moça da secretaria havia nos dados, procurando a parte que dizia o número dos nossos armários no vestiário. apontou para a numeração na folha.
— 24 e 23. — Ela começou a olhar para os números dos armários. abriu seu armário, tirando a regata branca. Olhei para as cicatrizes espalhadas por seu corpo; havia marcas de tiros, facadas, mordidas de lobisomens, vampiros. Algo bom de ser uma bruxa milenar é saber como neutralizar o veneno de varias criaturas. E esconder ferimentos de humanos, esse, sim, é mais que útil. Abri o armário e joguei a blusa sobre a prateleira, tirando a baby look do uniforme de Educação Física lá de dentro; a blusa, por ser um número menor, colou-se em mim. ficou resmungando, o short de lycra colado em sua bunda. Ela estava hilária, para mim, e para o público masculino da escola, um monumento. Ela calçou um par de tênis, que trouxera na mochila, amarrando um coque alto no cabelo.
— Ouse rir e eu arrebento sua cara, vaca — ameaçou ela, me olhando com cara de assassina.— E em público. Humilhação em dobro.
— Poupe-me, — engoli uma gargalhada, prendendo o cabelo em um rabo de cavalo, e apertei seu quadril delineado. — Você está deliciosa, maninha.
— Lasque-se.
Uma garota empurrou a porta dupla que dava acesso ao campo da lacrosse. Esperei o grupo se dissipar e fui a um pedaço do campo, junto do resto do pessoal, erguendo uma perna rente ao corpo, estalando quase todos os ossos e alongando todos os músculos. Repeti o processo com a outra.
— Se fosse para ser humilhada, nem vinha à aula, — brincou Lydia, rindo brevemente, e estalou o pescoço, rindo.
— Anos de prática, meu amor. — piscou, alongando os braços, e Lydia seguiu sua deixa, alongando-se. — Se quiser, eu te ensino.
— Vocês são más. — Allison surgiu, usando a mesma camiseta vermelha e short branco que nós, o cabelo ainda solto. — Não consigo nem tocar meu pé sem dobrar o joelho. Que se danem vocês e suas habilidades de ginastas.
deu um riso nasalado, quase caindo no chão e soltando o próprio pé para recobrar o equilíbrio.
— Você me faz rir, Argent — disse ela, o “Argent’’ saiu com um perfeito sotaque francês. Allison a olhou com uma expressão desconfiada. mordeu rapidamente o lábio. Ela estava bolando uma mentira. — Já fiz aulas de francês.
Muito mais que isso, . Moramos por 12 anos na França, na época vitoriana. Maneira eficiente de aprender francês.
— Ótimas aulas, hein. — Allison sorriu.
Bobby Finstock, ou Coach, como a maioria chamava, entrou no campo usando o apito, que vive pendurado em seu pescoço, para chamar nossas atenções.
— Como vejo que já se alongaram, vão ter que dividir o campo com os garotos de lacrosse. Tem a opção de futebol, corrida ou escalada. Escolham e não me encham o saco.— Finstock resmungou a última parte, o embolo de adolescentes se espalhou por metade do campo. Sorri, sugestiva, para , que entendeu meu olhar e correu na minha frente para o paredão de escalada, pendurando-se na primeira pedra.
POV OFF.
O time de lacrosse adentrou o campo; os novatos do primeiro ano recém inscritos para o time, ao seu encalço. Os mais atirados começaram a olhar e assobiar para algumas meninas; umas riam, e outras, respondiam com muxoxos irritados. O que chamou a atenção do atual capitão do time foi um tanto de cabelo ruivo que escalava habilmente o paredão, sem equipamento de segurança algum. A moça virou o rosto para o lado, com um sorriso travesso no rosto. Era linda. Daquela distância era possível ver com clareza os lábios rosados e as leves sardas espalhadas no rosto, os olhos verdes brilhavam. Stiles, o melhor amigo de Scott, lhe acertou um tapa estalado na cabeça.
— Terra para Scott! — Stiles estalou repetidamente os dedos, com o cenho franzido. — Estava olhand... Ow!
Stiles seguiu a linha de visão de Scott, agora, vendo as duas garotas escalando o paredão, ambas lindas.
— A ruiva ou a morena? — Stiles arqueou uma sobrancelha, segurando o taco embaixo do braço e colocando suas luvas. — Deve ser a ruiva, a morena é muito... Não seu tipo.
Scott riu com a última parte, colando suas luvas, e começou a manejar o taco, tirando os olhos da ruiva desconhecida.
— Não estava olhando para ninguém — mentiu o rapaz, estalando suas costas. — Vamos começar logo esse treino.
Lá no paredão, chegou ao topo, antes de , erguendo os braços, em sinal de vitória, e soltando um urro de alegria.
— Ganhei, Garota-Ferrugem! — fez uma dancinha da vitória ridícula. bufou com a menção de seu apelido de infância.— Sou mais rápida que Barry Allen!
riu, sentando-se ofegante no topo do paredão e tirando uma mecha de cabelo do rosto suado.
— Me chame assim de novo que eu te jogo daqui. — A mais nova ofegou, indo à escada na lateral do paredão e começando a descer da estrutura. — Vamos correr um pouco.
desceu o paredão logo atrás da irmã e foram ao início da trajetória da pista de corrida. Lydia e Allison conversavam aos cochichos, provavelmente algo bem particular, já que pararam assim que as irmãs chegaram.
— Vocês são boas, hein! — Brincou Lydia, o sorriso brincalhão realçando as maçãs rosadas do rosto da moça.
— Na nossa antiga cidade, havia bastante penhascos propícios para escaladas. Depois de um tempo, pega-se gosto pela coisa. — sorriu desconfortável. Já viajara o mundo, mas sempre ficava desconsertada quando elogiavam as habilidades que adquirira com o passar dos anos.
— Estavam falando sobre o que? — desconversou, notando o constrangimento da irmã.
— Hum, sobre uma festa que uns amigos estão organizando — omitiu Lydia. O real assunto da conversa não passava nem perto disso. — Uma Rave Neon.
— Vai ser no fim de semana. Venham, se quiserem. — Allison concordou. — Vai ser legal, o pessoal todo vai estar lá.
— Seria uma boa, não acha, ? — sorriu, olhando para a irmã. Estava curiosa para saber se era apenas Daniel quem sabia dar umas boas festas.
— Estou louca para tentar Daniel com algumas fotos de festas que não são dele. — remexeu os dedos, uma expressão maligna e cômica no rosto, e Lydia riu.
— Quem é Daniel?
— Um velho amigo.
A conversa se estendeu até o fim da aula, momento em que Lydia e Allison foram ao encontro de três rapazes do time de lacrosse: um era magricelo e pálido, de cabelo escuro; o outro era alto e de pele branquinha, o cabelo castanho formando leves cachos, realçando a mandíbula destacada; e o último era menor que o segundo e da altura do primeiro, de pele bronzeada, com cabelo escuro, o maxilar torto e olhos cor de avelã, a tatuagem das duas listras destacadas no braço forte. Eram Stilinski, Lahey e McCall, respectivamente, segundo seus uniformes.
— Meninos, estas são e . — Apresentou Lydia, apontando para cada irmã. Scott sorriu de canto ou ver que era a ruiva que escalava o paredão. — e , estes são Stiles, Isaac e Scott, nossos amigos.
cumprimentou cada um com um sorriso acanhado, sua cabeça doía com a intensidade que sentia do poder de Scott Mccal emanar, como se houvesse milhares de martelos batendo em seu crânio. Maldito radar sobrenatural. sorriu abertamente, dando um leve beijo na bochecha de cada; cumprimento brasileiro adquirido há muito tempo. As bochechas de Stiles coraram quando beijou a mesma, murmurando um “prazer em conhecê-lo’’ para cada. Mentalmente, a Blackburn gravou o nome Scott McCall na cabeça, o rapaz que aparecera abraçado à sua irmã naquela tão confusa visão.
Blackburn POV ON.
olhou fixamente para a tatuagem do garoto McCall por alguns segundos, ainda mantendo o falso sorriso distraído no rosto. Algo a perturbava. Nosso plano era conhecer o grupo e descobrir o máximo que podíamos sobre esse nogitsune, porque, afinal, não poderíamos enfrentar algo que nem sabíamos como matar, e essa garota Argent facilitou muito nosso trabalho de nos infiltrarmos para matar esse demônio flango.
— Vocês também vão à festa que a Lydia mencionou? — perguntou, amarrando o cabelo. Notei um leve olhar do garoto McCall para ela, tão discreto que nem ela percebeu. Sempre lerda essa minha irmã.
— Sim, sim — respondeu o tal Isaac Lahey, que, até pouco, estava conversando com Allison. — Vocês vão?
— Creio que sim, as garotas nos convidaram — respondi, e Stiles, que caminhava ao meu lado, sorriu. — Faz um bom tempo que não vou a uma boa festa...
Seguimos até a porta dos vestiários, conversando animadamente. conversava com Scott e Allison, e Isaac também, restando apenas eu, Stiles e Lydia, que conversávamos sobre alguma bobeira das aulas de química, que nem eu estava dando a devida atenção. Quando chegamos às portas dos vestiários, o grupo separou; nós quatro para um lado, e os três para o outro. Segui até meu armário, tirei a blusa e joguei dentro do armário, pegando uma das toalhas na última prateleira, e fui para o chuveiro. Tirei o short e me enfiei embaixo da água gelada, meus antebraços doeram com o esforço da escalada sem equipamentos. 20 metros podem parecer fáceis, mas estão longe disso. Passei a mão pelo rosto, tirando o cabelo ensopado dos olhos. Olhei para a cicatriz que seguia desde minha coxa até o quadril, me lembrando de como a conseguira:
Eu estava em um bar, com meu uniforme e bebendo um belo copo de uísque. Eu estava em um bar de mercenários, onde todos conheciam o nome Blackburn, mas ainda era um mistério a quem pertencia. Um homem gordo e mal encarado estava sentado no balcão, conversando com o barman: “Mas seria impossível existir um mercenário que ninguém sabia quem é”. O barman respondeu: “Elas matam tudo que mandam. Não se sabe da onde vieram, seus nomes ou rostos, mas sabem que uma usam uma bandana vermelha para tapar o rosto, e a outra, uma máscara, que cobre metade do rosto. Não deixam vestígios ou marcas, apenas um B escrito com o sangue do alvo no local. Se elas têm um alvo em suas costas, deixe-me lhe dar um conselho: corra’’. O gordo riu histericamente. “Aposto que fodo as duas por vinte euros’’. Aquilo feriu meu orgulho. Mesmo que dito por um gordo fracassado e bêbado, puxei a bandana até o nariz e levantei da mesa, indo calmamente em direção ao balcão. O barman me olhou com a sobrancelha arqueada. Eles normalmente não recebem mulheres que não sejam putas. Encaixei o indicador direito no buraco na base do facão, puxando a lâmina da bainha e girando a faca. “Eu quero ver você tentar, porco nojento’’. “Então, você é uma dessas Blackburns? Mas que piada’’. Ele quebrou a garrafa, fazendo lascas pontiagudas em quase toda a volta do cilindro e segurando-a como quem segura uma empunhadura. Pulei para frente, prendendo seu pescoço entre meu antebraço e a lâmina da faca, e ele ergueu o braço, as pontas da garrafa rasgando minha pele desde o meio da coxa até o osso do quadril. Aquilo me deixou tão puta que o decapitei, molhei a ponta dos dedos cobertos pelas luvas no seu sangue e desenhei o grande B circulado em seu peito flácido e peludo, engrossando a voz para me dirigir ao resto dos mercenários que estavam no bar: “Que isto sirva de aviso para aqueles que ousarem nos insultar. As Blackburn estão em todos os lugares e em lugar nenhum, então vamos matá-los sem misericórdia”. Chutei, sem muita força, o corpo sem cabeça do gordo, rindo mentalmente com os olhares incrédulos que os mercenários me lançavam. Essa fora uma época em que eu e precisávamos ganhar respeito no nosso meio de trabalho e, sendo uma mercenária, não tinha maneira melhor que matando.
Chacoalhei a cabeça, afastando aquelas lembranças que, considerando o tempo em que aconteceram, pertenceriam à outra vida. Puxei a toalha do gancho, me enrolando nela, e desviei de algumas garotas, voltando ao vestiário. já estava lá, sentada no banco e calçando suas botas. Ela sorriu de canto ao me ver. Abri meu armário, tirando meu bolo de roupas lá de dentro e me vestindo.
— Estou começando a achar que esse nogitsune será meio difícil de matar. Deveríamos fazer o reconhecimento dos locais de ataque — sussurrou ela quando ninguém estava perto. Passei os dedos pelo cabelo, tentando, em vão, desembaraçá-los. — Para termos ao menos uma noção, caso seja necessário algum plano de fuga.
— Eu faço. Estou mesmo querendo arranjar algo pra fazer; talvez, rever alguns amigos... — Ela me olhou com uma expressão de desagrado.
— Nem se atreva a ir atrás daquele garoto Hale, — ela advertiu.
— Ele nem deve mais ser um garoto, . — Fiz de conta que não o tinha visto desde a última vez que estivemos aqui. — Deve estar aparentando ser mais velho que nós.
— Nós fazemos isso pelo dinheiro, . Você lembra-se melhor que eu do que aconteceu da última vez: Thalia Hale morreu, e nós tivemos que viver na sombras por quase 12 anos. Essa família Hale leva destruição pra onde quer que vá.
— Não é como se nós fossemos muito afortunados de sorte — respondi, tentando domar o meu cabelo, que, por não ter sido lavado com condicionador, estava mais de mau humor que eu. — E eu só estava tirando com a sua cara.
bufou. Dei uma risadinha e tranquei meu armário, seguindo para o refeitório, sem esperar pela minha irmã. O almoço seguiu calmo, bebi só o refrigerante de limão, que peguei na maquina, e comi uma barrinha de cereal de pasta de amendoim, visto que o sanduiche que a senhora da cantina me serviu tinha uma aparência mais que duvidosa, mais puxada para nojento. Nem pagando, eu como esse troço. sentou-se ao meu lado. Ela cutucou o sanduiche, que, daquela distância, parecia ser de patê de atum, o que só o fazia parecer mais nojento ainda. Soltei um leve risinho, estendendo uma nota de dez dólares e mordiscando minha barrinha. Ela murmurou um “obrigada” e levantou-se, indo à maquina de comida. Olhei discretamente ao meu redor, procurando pelo grupinho; no caso, Allison, Lydia, Isaac, Stiles e Scott, não encontrando nenhum deles. Maravilha. O resto do dia se estendeu calmamente, passando rápido. Sou obrigada a confessar que dormi nas três últimas aulas. Estava muito entediada para prestar atenção em qualquer outra coisa, além do maldito nogitsune. Nunca temi quase nada na vida. Sempre todas as criaturas que conheci foram fáceis de lidar (lê-se: matar), mas nunca, na vida, nós havíamos enfrentado um nogitsune, só sabíamos que era ligado aos mitos de raposas trapaceiras do folclore japonês, ou era coreano? Ah, não me interessa, todos gostam de flango mesmo.
Saímos da escola por volta das quatro, ainda sem ter nenhuma notícia do grupo metido a detetive sobrenatural. Eu e paramos em um café, nos sentamos em uma mesa mais afastada da entrada, pedi uma xícara de café e um pedaço de torta de frutas que estava na vitrine, parecendo bem apetitosa, e pediu uma xícara de chá e um croissant com recheio de nutella. Gorda como sempre. Tirei de dentro de minha mochila o bolo de pastas de papel pardo, que Mr. M havia nos entregado, com dados sobre o nogitsune e informações que possam, eventualmente, nos ser úteis. Mas, com esse tanto de papel, duvido que alguma coisa que estava ali pudesse nos ser realmente útil.
— Estou até imaginando o tédio que será isso. — comentou, enquanto eu dividia o bolo de pastas em duas partes iguais.
E nosso fim de tarde se estendeu assim, lendo e pesquisando. Ah, não podemos esquecer o “comendo”.
— O que foi? — perguntou , o cenho franzido.
— Eu senti uma coisa, mas meu radar deve ter dado pane. — Dei um peteleco na minha própria cabeça. — Vamos logo falar com a diretora.
Bufei quando tive que olhar pela quinquagésima vez para a plaquinha na porta, que indicava que aquela sala pertencia a Natalie Martin. Sem contar que as aulas haviam começado faz 20 minutos. Não que eu me importe com isso.
— Vocês são e Jamesson? — ela sorriu, o brilho azul de seu vestido reluziu com a luz artificial da secretaria. Obrigado, Dan, por nos emprestar seu sobrenome. — Entrem, por favor.
Ela abriu passagem para mim e . Eu entrei na frente, fazendo uma atenta varredura pelo escritório da diretora. Se há uma coisa que aprendi com todos esses anos de mercenária é sempre estar preparada para ter um plano de fuga, porque nunca se sabe quem realmente quer matar você. Os inimigos que fazemos em nossos trabalhos são o que eu costumo chamar de ossos do ofício.
— Então, senhoritas... — Natalie sorriu amarelo, folheando uma pasta de papel pardo. — Aqui diz que são emancipadas, o que quer dizer que são responsáveis por suas próprias matrículas. Interessante...
estalou, nervosa, os dedos de uma mão, e eu senti a superfície fria da pistola no coldre, preso na altura de minhas costelas, roçar em minha pele, o que me deu um profundo arrepio. Natalie Martin tinha uma aparência normal; o cabelo levemente ruivo cortado no estilo chanel acentuava as feições com leves rugas, mas, mesmo assim, eu senti, vindo de seu âmago, o poder delas saírem. Eu sabia reconhecer uma banshee quando via uma, mesmo uma que negasse e reprimisse com tanta veemência algo que fazia parte dela. e eu assinamos alguns papéis, trocamos algumas palavras com a diretora e nos retiramos, para tentar chegar até a nossa sala de Biologia, que, segundo a Sra. Cornell, responsável pela secretaria (que fedia a esmalte e acetona, por sinal), disse ser no quinto corredor. Agora, cabia a nós descobrir qual era o maldito quinto corredor. Estávamos paradas iguais duas idiotas no meio do corredor, tentando achar a merda da sala de Biologia, até que uma voz feminina nos chamou:
— Hm, com licença, estão perdidas? — Virei e vi uma garota bonita, de cabelo castanho ondulado, na altura dos ombros, e ela me estendeu a mão. — Me chamo Allison.
— — sorri e apertei sua mão. Ela virou-se para .
— Eu sou — minha irmã sorriu, apertando a mão da moça. — Somos novas aqui. Eu e minha irmã estamos à procura da sala de Biologia.
— Ah, eu estou indo lá agora, posso levar vocês, se quiserem — ela sorriu. Parecia o tipo de garota que valia a pena ter como amiga. Pena que, quem era nosso amigo, sempre acabava com a vida em jogo.
— Seria de grandessíssima ajuda — respondi, arrumando a mochila no ombro.
— Então, vamos lá — ela sorriu, colocando uma mecha da franja atrás da orelha. — Disse que são novatas, né?
— É, primeiro dia de aula. — sorriu de canto, os cachos caindo sobre seus ombros. — É bom já conhecer alguém...
— Claro, posso apresentar vocês a uns amigos meus, se quiserem — sugeriu ela, olhando animadamente para . — Vão gostar de vocês.
Allison parou ao lado de uma porta ainda aberta.
— Aqui é a sala de Biologia. — Allison apontou para a pequena plaquinha escrito “Biology Class’’. — O professor é o Harrison Whitman. Não respirem muito alto, senão, ele vai te mandar para a detenção.
Eu e rimos e seguimos a simpática Allison para dentro da classe. Nos sentamos na última bancada de mármore negro da sala, e Allison sentou-se na da frente com uma garota de cabelo longo e ruivo, linda, que apresentou-se como Lydia Martin, e acabei ligando automaticamente com o nome da diretora.
Depois de 20 minutos de aula, Allison pendeu o corpo para trás na banqueta, fingindo estar se espreguiçando.
— Vou morrer de tédio — sussurrou ela, e Lydia engoliu uma risada.
soltou um risinho e sussurrou:
— O cabelo branco está dando réstia nos meus olhos — ela riu baixinho, o cabelo cacheado preso com um lápis. — Ele é muito chato.
— A conversa de vocês me parece interessante. Compartilhe conosco, senhorita Argent.
enrijeceu a postura. O nome Argent ecoou em minha cabeça. Argent? Argent? Eu quase fui morta por um Argent!
— Estamos falando sobre a matéria, senhor. Como é interessante os seres aclorofilados. — Allison sorriu brevemente.
estava ereta na banqueta, sua face perdeu totalmente a cor. Um homem, 40 anos atrás, quase nos matou e seu nome era Argent. Gerard Argent. Esse é um nome que nunca esquecerei.
— Hum, sei, claro. — Whitman resmungou, voltando a escrever o texto no quadro negro.
piscou repetidamente, tornando a sorrir distraidamente, mas eu percebi, por sua postura, que ela estava alerta com a garota Argent. A cicatriz que corria do meu tórax até a coxa queimou. Não podíamos ser mortas, mas podíamos ser gravemente feridas.
A aula correu rapidamente, depois do incidente com Whitman. Fomos saindo da sala. estava dura, conversando animadamente com Allison. Essa infeliz merece um Oscar em certas horas.
— Beacon Hills será um lar temporário. — contou, soltando o cabelo. — Eu e nos mudamos muito.
— Eu e minha família também éramos assim. Beacon foi nossa última parada — ela sorriu, amigável. Parecia ter gostado mesmo de .
O segundo tempo foi aula de Química. Tirei alguns cochilos durante a aula, a professora me deu alguns milhares de olhares mortais quando me acordava e perguntava algo envolvendo a tabela periódica e eu sabia responder mais corretamente que ela. Fato resultante de fazer o colegial umas 15 vezes.
Íamos saindo da sala outra vez; desta vez, seguindo para o vestiário feminino. Terceiro tempo era Educação Física, algo que sempre fui boa. Empurrei a porta e entrei, olhando o papel que a moça da secretaria havia nos dados, procurando a parte que dizia o número dos nossos armários no vestiário. apontou para a numeração na folha.
— 24 e 23. — Ela começou a olhar para os números dos armários. abriu seu armário, tirando a regata branca. Olhei para as cicatrizes espalhadas por seu corpo; havia marcas de tiros, facadas, mordidas de lobisomens, vampiros. Algo bom de ser uma bruxa milenar é saber como neutralizar o veneno de varias criaturas. E esconder ferimentos de humanos, esse, sim, é mais que útil. Abri o armário e joguei a blusa sobre a prateleira, tirando a baby look do uniforme de Educação Física lá de dentro; a blusa, por ser um número menor, colou-se em mim. ficou resmungando, o short de lycra colado em sua bunda. Ela estava hilária, para mim, e para o público masculino da escola, um monumento. Ela calçou um par de tênis, que trouxera na mochila, amarrando um coque alto no cabelo.
— Ouse rir e eu arrebento sua cara, vaca — ameaçou ela, me olhando com cara de assassina.— E em público. Humilhação em dobro.
— Poupe-me, — engoli uma gargalhada, prendendo o cabelo em um rabo de cavalo, e apertei seu quadril delineado. — Você está deliciosa, maninha.
— Lasque-se.
Uma garota empurrou a porta dupla que dava acesso ao campo da lacrosse. Esperei o grupo se dissipar e fui a um pedaço do campo, junto do resto do pessoal, erguendo uma perna rente ao corpo, estalando quase todos os ossos e alongando todos os músculos. Repeti o processo com a outra.
— Se fosse para ser humilhada, nem vinha à aula, — brincou Lydia, rindo brevemente, e estalou o pescoço, rindo.
— Anos de prática, meu amor. — piscou, alongando os braços, e Lydia seguiu sua deixa, alongando-se. — Se quiser, eu te ensino.
— Vocês são más. — Allison surgiu, usando a mesma camiseta vermelha e short branco que nós, o cabelo ainda solto. — Não consigo nem tocar meu pé sem dobrar o joelho. Que se danem vocês e suas habilidades de ginastas.
deu um riso nasalado, quase caindo no chão e soltando o próprio pé para recobrar o equilíbrio.
— Você me faz rir, Argent — disse ela, o “Argent’’ saiu com um perfeito sotaque francês. Allison a olhou com uma expressão desconfiada. mordeu rapidamente o lábio. Ela estava bolando uma mentira. — Já fiz aulas de francês.
Muito mais que isso, . Moramos por 12 anos na França, na época vitoriana. Maneira eficiente de aprender francês.
— Ótimas aulas, hein. — Allison sorriu.
Bobby Finstock, ou Coach, como a maioria chamava, entrou no campo usando o apito, que vive pendurado em seu pescoço, para chamar nossas atenções.
— Como vejo que já se alongaram, vão ter que dividir o campo com os garotos de lacrosse. Tem a opção de futebol, corrida ou escalada. Escolham e não me encham o saco.— Finstock resmungou a última parte, o embolo de adolescentes se espalhou por metade do campo. Sorri, sugestiva, para , que entendeu meu olhar e correu na minha frente para o paredão de escalada, pendurando-se na primeira pedra.
POV OFF.
O time de lacrosse adentrou o campo; os novatos do primeiro ano recém inscritos para o time, ao seu encalço. Os mais atirados começaram a olhar e assobiar para algumas meninas; umas riam, e outras, respondiam com muxoxos irritados. O que chamou a atenção do atual capitão do time foi um tanto de cabelo ruivo que escalava habilmente o paredão, sem equipamento de segurança algum. A moça virou o rosto para o lado, com um sorriso travesso no rosto. Era linda. Daquela distância era possível ver com clareza os lábios rosados e as leves sardas espalhadas no rosto, os olhos verdes brilhavam. Stiles, o melhor amigo de Scott, lhe acertou um tapa estalado na cabeça.
— Terra para Scott! — Stiles estalou repetidamente os dedos, com o cenho franzido. — Estava olhand... Ow!
Stiles seguiu a linha de visão de Scott, agora, vendo as duas garotas escalando o paredão, ambas lindas.
— A ruiva ou a morena? — Stiles arqueou uma sobrancelha, segurando o taco embaixo do braço e colocando suas luvas. — Deve ser a ruiva, a morena é muito... Não seu tipo.
Scott riu com a última parte, colando suas luvas, e começou a manejar o taco, tirando os olhos da ruiva desconhecida.
— Não estava olhando para ninguém — mentiu o rapaz, estalando suas costas. — Vamos começar logo esse treino.
Lá no paredão, chegou ao topo, antes de , erguendo os braços, em sinal de vitória, e soltando um urro de alegria.
— Ganhei, Garota-Ferrugem! — fez uma dancinha da vitória ridícula. bufou com a menção de seu apelido de infância.— Sou mais rápida que Barry Allen!
riu, sentando-se ofegante no topo do paredão e tirando uma mecha de cabelo do rosto suado.
— Me chame assim de novo que eu te jogo daqui. — A mais nova ofegou, indo à escada na lateral do paredão e começando a descer da estrutura. — Vamos correr um pouco.
desceu o paredão logo atrás da irmã e foram ao início da trajetória da pista de corrida. Lydia e Allison conversavam aos cochichos, provavelmente algo bem particular, já que pararam assim que as irmãs chegaram.
— Vocês são boas, hein! — Brincou Lydia, o sorriso brincalhão realçando as maçãs rosadas do rosto da moça.
— Na nossa antiga cidade, havia bastante penhascos propícios para escaladas. Depois de um tempo, pega-se gosto pela coisa. — sorriu desconfortável. Já viajara o mundo, mas sempre ficava desconsertada quando elogiavam as habilidades que adquirira com o passar dos anos.
— Estavam falando sobre o que? — desconversou, notando o constrangimento da irmã.
— Hum, sobre uma festa que uns amigos estão organizando — omitiu Lydia. O real assunto da conversa não passava nem perto disso. — Uma Rave Neon.
— Vai ser no fim de semana. Venham, se quiserem. — Allison concordou. — Vai ser legal, o pessoal todo vai estar lá.
— Seria uma boa, não acha, ? — sorriu, olhando para a irmã. Estava curiosa para saber se era apenas Daniel quem sabia dar umas boas festas.
— Estou louca para tentar Daniel com algumas fotos de festas que não são dele. — remexeu os dedos, uma expressão maligna e cômica no rosto, e Lydia riu.
— Quem é Daniel?
— Um velho amigo.
A conversa se estendeu até o fim da aula, momento em que Lydia e Allison foram ao encontro de três rapazes do time de lacrosse: um era magricelo e pálido, de cabelo escuro; o outro era alto e de pele branquinha, o cabelo castanho formando leves cachos, realçando a mandíbula destacada; e o último era menor que o segundo e da altura do primeiro, de pele bronzeada, com cabelo escuro, o maxilar torto e olhos cor de avelã, a tatuagem das duas listras destacadas no braço forte. Eram Stilinski, Lahey e McCall, respectivamente, segundo seus uniformes.
— Meninos, estas são e . — Apresentou Lydia, apontando para cada irmã. Scott sorriu de canto ou ver que era a ruiva que escalava o paredão. — e , estes são Stiles, Isaac e Scott, nossos amigos.
cumprimentou cada um com um sorriso acanhado, sua cabeça doía com a intensidade que sentia do poder de Scott Mccal emanar, como se houvesse milhares de martelos batendo em seu crânio. Maldito radar sobrenatural. sorriu abertamente, dando um leve beijo na bochecha de cada; cumprimento brasileiro adquirido há muito tempo. As bochechas de Stiles coraram quando beijou a mesma, murmurando um “prazer em conhecê-lo’’ para cada. Mentalmente, a Blackburn gravou o nome Scott McCall na cabeça, o rapaz que aparecera abraçado à sua irmã naquela tão confusa visão.
Blackburn POV ON.
olhou fixamente para a tatuagem do garoto McCall por alguns segundos, ainda mantendo o falso sorriso distraído no rosto. Algo a perturbava. Nosso plano era conhecer o grupo e descobrir o máximo que podíamos sobre esse nogitsune, porque, afinal, não poderíamos enfrentar algo que nem sabíamos como matar, e essa garota Argent facilitou muito nosso trabalho de nos infiltrarmos para matar esse demônio flango.
— Vocês também vão à festa que a Lydia mencionou? — perguntou, amarrando o cabelo. Notei um leve olhar do garoto McCall para ela, tão discreto que nem ela percebeu. Sempre lerda essa minha irmã.
— Sim, sim — respondeu o tal Isaac Lahey, que, até pouco, estava conversando com Allison. — Vocês vão?
— Creio que sim, as garotas nos convidaram — respondi, e Stiles, que caminhava ao meu lado, sorriu. — Faz um bom tempo que não vou a uma boa festa...
Seguimos até a porta dos vestiários, conversando animadamente. conversava com Scott e Allison, e Isaac também, restando apenas eu, Stiles e Lydia, que conversávamos sobre alguma bobeira das aulas de química, que nem eu estava dando a devida atenção. Quando chegamos às portas dos vestiários, o grupo separou; nós quatro para um lado, e os três para o outro. Segui até meu armário, tirei a blusa e joguei dentro do armário, pegando uma das toalhas na última prateleira, e fui para o chuveiro. Tirei o short e me enfiei embaixo da água gelada, meus antebraços doeram com o esforço da escalada sem equipamentos. 20 metros podem parecer fáceis, mas estão longe disso. Passei a mão pelo rosto, tirando o cabelo ensopado dos olhos. Olhei para a cicatriz que seguia desde minha coxa até o quadril, me lembrando de como a conseguira:
Eu estava em um bar, com meu uniforme e bebendo um belo copo de uísque. Eu estava em um bar de mercenários, onde todos conheciam o nome Blackburn, mas ainda era um mistério a quem pertencia. Um homem gordo e mal encarado estava sentado no balcão, conversando com o barman: “Mas seria impossível existir um mercenário que ninguém sabia quem é”. O barman respondeu: “Elas matam tudo que mandam. Não se sabe da onde vieram, seus nomes ou rostos, mas sabem que uma usam uma bandana vermelha para tapar o rosto, e a outra, uma máscara, que cobre metade do rosto. Não deixam vestígios ou marcas, apenas um B escrito com o sangue do alvo no local. Se elas têm um alvo em suas costas, deixe-me lhe dar um conselho: corra’’. O gordo riu histericamente. “Aposto que fodo as duas por vinte euros’’. Aquilo feriu meu orgulho. Mesmo que dito por um gordo fracassado e bêbado, puxei a bandana até o nariz e levantei da mesa, indo calmamente em direção ao balcão. O barman me olhou com a sobrancelha arqueada. Eles normalmente não recebem mulheres que não sejam putas. Encaixei o indicador direito no buraco na base do facão, puxando a lâmina da bainha e girando a faca. “Eu quero ver você tentar, porco nojento’’. “Então, você é uma dessas Blackburns? Mas que piada’’. Ele quebrou a garrafa, fazendo lascas pontiagudas em quase toda a volta do cilindro e segurando-a como quem segura uma empunhadura. Pulei para frente, prendendo seu pescoço entre meu antebraço e a lâmina da faca, e ele ergueu o braço, as pontas da garrafa rasgando minha pele desde o meio da coxa até o osso do quadril. Aquilo me deixou tão puta que o decapitei, molhei a ponta dos dedos cobertos pelas luvas no seu sangue e desenhei o grande B circulado em seu peito flácido e peludo, engrossando a voz para me dirigir ao resto dos mercenários que estavam no bar: “Que isto sirva de aviso para aqueles que ousarem nos insultar. As Blackburn estão em todos os lugares e em lugar nenhum, então vamos matá-los sem misericórdia”. Chutei, sem muita força, o corpo sem cabeça do gordo, rindo mentalmente com os olhares incrédulos que os mercenários me lançavam. Essa fora uma época em que eu e precisávamos ganhar respeito no nosso meio de trabalho e, sendo uma mercenária, não tinha maneira melhor que matando.
Chacoalhei a cabeça, afastando aquelas lembranças que, considerando o tempo em que aconteceram, pertenceriam à outra vida. Puxei a toalha do gancho, me enrolando nela, e desviei de algumas garotas, voltando ao vestiário. já estava lá, sentada no banco e calçando suas botas. Ela sorriu de canto ao me ver. Abri meu armário, tirando meu bolo de roupas lá de dentro e me vestindo.
— Estou começando a achar que esse nogitsune será meio difícil de matar. Deveríamos fazer o reconhecimento dos locais de ataque — sussurrou ela quando ninguém estava perto. Passei os dedos pelo cabelo, tentando, em vão, desembaraçá-los. — Para termos ao menos uma noção, caso seja necessário algum plano de fuga.
— Eu faço. Estou mesmo querendo arranjar algo pra fazer; talvez, rever alguns amigos... — Ela me olhou com uma expressão de desagrado.
— Nem se atreva a ir atrás daquele garoto Hale, — ela advertiu.
— Ele nem deve mais ser um garoto, . — Fiz de conta que não o tinha visto desde a última vez que estivemos aqui. — Deve estar aparentando ser mais velho que nós.
— Nós fazemos isso pelo dinheiro, . Você lembra-se melhor que eu do que aconteceu da última vez: Thalia Hale morreu, e nós tivemos que viver na sombras por quase 12 anos. Essa família Hale leva destruição pra onde quer que vá.
— Não é como se nós fossemos muito afortunados de sorte — respondi, tentando domar o meu cabelo, que, por não ter sido lavado com condicionador, estava mais de mau humor que eu. — E eu só estava tirando com a sua cara.
bufou. Dei uma risadinha e tranquei meu armário, seguindo para o refeitório, sem esperar pela minha irmã. O almoço seguiu calmo, bebi só o refrigerante de limão, que peguei na maquina, e comi uma barrinha de cereal de pasta de amendoim, visto que o sanduiche que a senhora da cantina me serviu tinha uma aparência mais que duvidosa, mais puxada para nojento. Nem pagando, eu como esse troço. sentou-se ao meu lado. Ela cutucou o sanduiche, que, daquela distância, parecia ser de patê de atum, o que só o fazia parecer mais nojento ainda. Soltei um leve risinho, estendendo uma nota de dez dólares e mordiscando minha barrinha. Ela murmurou um “obrigada” e levantou-se, indo à maquina de comida. Olhei discretamente ao meu redor, procurando pelo grupinho; no caso, Allison, Lydia, Isaac, Stiles e Scott, não encontrando nenhum deles. Maravilha. O resto do dia se estendeu calmamente, passando rápido. Sou obrigada a confessar que dormi nas três últimas aulas. Estava muito entediada para prestar atenção em qualquer outra coisa, além do maldito nogitsune. Nunca temi quase nada na vida. Sempre todas as criaturas que conheci foram fáceis de lidar (lê-se: matar), mas nunca, na vida, nós havíamos enfrentado um nogitsune, só sabíamos que era ligado aos mitos de raposas trapaceiras do folclore japonês, ou era coreano? Ah, não me interessa, todos gostam de flango mesmo.
Saímos da escola por volta das quatro, ainda sem ter nenhuma notícia do grupo metido a detetive sobrenatural. Eu e paramos em um café, nos sentamos em uma mesa mais afastada da entrada, pedi uma xícara de café e um pedaço de torta de frutas que estava na vitrine, parecendo bem apetitosa, e pediu uma xícara de chá e um croissant com recheio de nutella. Gorda como sempre. Tirei de dentro de minha mochila o bolo de pastas de papel pardo, que Mr. M havia nos entregado, com dados sobre o nogitsune e informações que possam, eventualmente, nos ser úteis. Mas, com esse tanto de papel, duvido que alguma coisa que estava ali pudesse nos ser realmente útil.
— Estou até imaginando o tédio que será isso. — comentou, enquanto eu dividia o bolo de pastas em duas partes iguais.
E nosso fim de tarde se estendeu assim, lendo e pesquisando. Ah, não podemos esquecer o “comendo”.
Capítulo 3
Eu me joguei no sofá, sentindo os músculos da panturrilha doerem pela fadiga. Havia me esquecido o quão exaustivo e irritante era ir à escola. Já fiz isso tantas vezes que até poderia exercer o cargo de professora. De química, de preferência, mas, provavelmente, a polícia não aprovaria uma professora ensinando os alunos a fazerem bombas.
— O que vamos jantar? — berrou , do quarto. Mas que caralho, acabamos de comer! — Acho que tem uma anaconda no meu estômago.
— Não sei, comi três pedaços de torta — berrei em resposta, soltando o cabelo. — Eu vou sair e investigar os locais em que o nogitsune apareceu.
Puxei, debaixo do gabinete da pia da cozinha, o baú recheado de armas que levamos nos trabalhos; destranquei o cadeado com a chave, que sempre está pendurada em meu pescoço, levantei a tampa e puxei os compartimentos para os lados. Parecia uma imensa caixa de maquiagem, só que melhor, bem melhor. Peguei duas Smith&Wesson e comecei a abastecê-las com balas, preparando mais alguns pentes extras. Peguei uma baioneta militar e um facão. Destranquei o compartimento escondido, abrindo a gaveta, vendo os dois “uniformes’’ dobrados um do lado do outro; a bandana vermelha sobre o couro parecia brilhar. Apanhei o uniforme e tranquei a outra gaveta, fechando o baú e voltando ao gabinete.
Comecei a me despir na cozinha mesmo, afinal, não havia ninguém além de ali. Vesti a calça de couro e as botas de solado reforçado, tirei a regata e vesti o colete sobre o sutiã, fechando o zíper até o final. Amarrei a bandana no pescoço, solto o suficiente para poder puxá-la para cima, até cobrir o nariz, e arrumei o cabelo dentro do capuz, distribuindo minhas armas pelo corpo.
Empoleirei-me na janela. Quando Myra saiu do quarto, ela me olhou, enquanto tirava os resquícios de maquiagem dos olhos.
— Não morra — disse em romeno, uma pequena tradição nossa fazer isso.
Lhe dei um sorriso travesso e respondi com uma piscadela:
— Você sabe que isso é impossível.
Ela riu, e eu pulei do parapeito para o beco que há numa das laterais do prédio, usando a escada de incêndio para chegar ao topo. Pendurei-me no parapeito do terraço, usando uma mão, e me joguei para cima com a outra, e fiquei em pé, começando a correr. Pulei para o prédio vizinho. Fiquei pulando de um terraço para o outro, até chegar ao hospital, o primeiro local. Comecei a examinar cada canto do terraço, tentando achar alguma evidência que nos ajudasse, ao menos, a ter alguma referência de pesquisa para darmos a Dan. E acabei com o quê? Um monte de vagalumes mortos.
Enrijeci a postura quando senti outra pessoa comigo. Ergui a bandana até o nariz, com um leve sorriso no rosto. Estava começando a achar esta cidade entediante.
— Quem é você? — E ainda era homem. Hmmm, mais interessante ainda. — O que você quer aqui?
Virei-me, dando de cara com uma baita montanha de músculos. Uma bela montanha de músculos.
— Não acha que devia tratar uma dama com mais educação? — engrossei a voz para falar. Franzi o cenho, parecendo ofendida, e peguei um vagalume, guardando num saquinho e pondo no bolso interno do colete. — Sua mãe não lhe deu educação?
— Não vou perguntar de novo — ele retrucou. Limitei-me a dar uma gargalhada e dar meia volta. Ele ergueu o braço, para me dar um golpe, então virei num bom reflexo e segurei sua mão. Ele apareceu se surpreender com minha força. — O veneno da mordida fede em você.
Rapidamente, chutei-o para longe, pronta para sacar a Smith&Wesson carregada com prata, mas ele foi mais rápido, tentando me acertar um murro, só tentando. Esquivei três vezes consecutivas de murros, o peguei desprevenido e lhe dei uma cabeçada que fez seu nariz começar a sangrar. Dei um murro logo em seguida, dando três tiros em sua barriga, enquanto me jogava do parapeito.
Scott foi acordado durante a noite com três violentas batidas na porta de sua casa. O rapaz desceu as escadas, ainda sonolento, usando nada além de um samba canção como pijama. Girou a chave e a maçaneta, puxando a porta e dando de cara com Stiles.
— Derek sumiu — anunciou Lydia, que estava ao seu lado. — Sumiu mesmo.
— Como? Você tem certeza? — perguntou o rapaz, abrindo passagem para os amigos entrarem em sua casa.
— Sim, foi Peter quem veio pedir nossa ajuda. — Stiles foi quem respondeu desta vez. Scott piscou rapidamente, parecendo acordado ao ouvir a frase.
— Vou me vestir. — Stiles fez que “sim” com a cabeça, e Lydia recostou-se no sofá. Também havia sido acordada no meio da noite. Usava legging, um par de nike air preto e branco, junto de um moletom de academia roxo, e o cabelo preso num rabo de cavalo, e, mesmo sem qualquer adereço ou maquiagem, continuava linda.
Cinco minutos depois, McCall desceu as escadas, usando um par de coturnos, jeans gasto e um moletom de zíper, para cobrir o tronco desnudo, o rapaz colocou o celular no bolso, junto às chaves de casa.
— Okay, vamos encontrá-lo.
Pendurei-me no cano ao lado da janela aberta e me joguei para dentro, caindo em pé, sem emitir som algum. me olhou; estava no sofá, com um pote de pipoca nos braços e usava uma camiseta enorme dos Patriots, o cabelo trançado caia sobre o ombro esquerdo.
— Não achei muita coisa — respondi, prevendo a pergunta de minha irmã e tirando do bolso o saquinho com o vagalume morto, e joguei para ela. — Só um monte desses.
Comecei a tirar o uniforme, me jogando no sofá, ao lado de , que abriu o saquinho e pegou o vagalume por uma das patinhas, analisando atentamente o bichinho.
— Onde achou isto?
— No hospital que Mr. M havia dito ser o lugar onde apareceu primeiro, o único lugar onde o grupinho não esteve. Tem um monte desses no telhado — expliquei. — Um cara apareceu lá, querendo saber quem eu era. Lobisomem. Dei três tiros de bala de prata. Deve estar morto agora.
— Eu disse que não era pra chamar muita atenção, ... — me repreendeu, voltando o vagalume no saquinho e me devolvendo. — Mandamos isto para o Dan amanhã.
— Balas de prata — lembrou Scott ao olhar os ferimentos de Derek, que ainda convulsionava, e deitou-o em uma das macas de Deaton, com ajuda de Stiles. — Ele está muito pálido...
O Hale havia perdido bastante sangue, e não havia sido nada generosa quanto aos tiros. Uma bala estava alojada num osso da costela, outra havia perfurado o estômago e uma abriu um buraco de saída, mas não saiu. Precisavam da pólvora da bala e precisavam agora. Deaton tirou a bala das costas de Derek com uma pinça, vendo o B marcado à faca na base da bala.
— Não foi nenhum caçador que atirou nele. — Deaton contou, fazendo a face de preocupação de Scott piorar. — Foi alguém bem mais difícil de achar. Primeiro temos que tentar estabilizá-lo até conseguirmos as balas.
Em pouco tempo, Deaton fez sua mágica, então Derek parou de convulsionar.
— Este B, que está na bala, não pertence à família de caçador algum. Desde antigamente, há lendas sobre duas mercenárias, conhecidas apenas como irmãs Blackburn. Não se sabe como — começou o veterinário, e os três o ouviam atentamente —, mas, se alguém as contrata para matar você, elas o fazem sem deixar provas. Não existe um alvo que não tenham eliminado. Elas deixam apenas um B feito com sangue do alvo no local, como assinatura, para todos saberem que elas estiverem ali e que devem temê-las. Só vi balas assim uma vez na vida; na mesma semana, uma pack inteira de lobisomens foi morta. Mas, ao que parece, não estava em seus planos matar Derek.
— De qualquer jeito, vamos nos dividir e tentar rastreá-las — o rapaz suspirou, coçando a nuca; parecia cansado assim como o restante. — Eu e Aiden cobrimos um lado da cidade, Peter e Ethan o outro. Isaac e Allison, a floresta. Stiles e Lydia, o restante da cidade. Vamos achar quem disparou essas balas.
— Preferi deixar o resto para ser vistoriado amanhã. Não seria muito bom deixar o lobisomem ter uma amostra do meu cheiro — expliquei, prendendo os cabelos num coque. — Nem fodendo que eu iria dar chance para qualquer lobisomem nos rastrear.
— Sabe quem era o cara? — perguntou distraída com a reprise do programa da Oprah, que passava na TV. — Ou, ao menos, se ele era de alguma família?
— Um Hale não teria a insolência de me atacar, não depois de Peter. — Pesquei uma pipoca dentro do pote. — Deve ser algum transformado pela mordida. Única explicação que me faz mais sentido.
— Tentem cobrir o máximo de terreno possível, Derek não tem muito tempo. E precisamos achar esse maldito atirador. — Scott bocejou, bagunçando o cabelo. — Vamos nos manter ligados pelo celular. Algo relevante, o que quer que seja, liguem.
As duplas concordaram, indo para seus respectivos carros. Scott subiu em sua moto, acompanhado de Aiden, seguindo em disparada para a cidade. Não deixaria outro amigo morrer. Não mesmo.
Joguei-me na cama, me aninhando no travesseiro, pronta para dormir, quando senti aquela mesma pontada na têmpora. Duas em um dia só? Só pode ser brincadeira. Abri os olhos, vendo a visão tomar forma.
Eu estava no que me parecia ser um baile de máscaras. Eu usava um vestido de renda preta, com um decote bem chamativo, e uma máscara dourada cobria metade do meu rosto. E eu dançava com alguém, até que meu acompanhante me conduziu, e pude ver seu rosto: o infeliz no qual atirei. Mas o que eu senti ao vê-lo tão perto, sentindo o leve cheiro amadeirado de sua pele, foi diferente. Não queria que ele saísse de perto de mim e a vontade de beijá-lo foi maior ainda. Eu quase podia ver o triskelion tatuado em suas costas, que, por mais que eu não pudesse ver, sabia que estava ali, por debaixo do smoking.
A visão se desfez como fumaça.
Lydia bufou irritada quando deram a quinta volta por um quarteirão do centro. Não haviam achado nada e duvidava se iriam.
— Não achamos nada e duvido que acharemos. — Stiles respondeu, o telefone ligado no viva voz. — Sumiram, e Derek não parece muito apto a dizer como se pareciam.
— Peter e Ethan estão dando uma olhada no hospital. Eles devem achar alguma coisa, não é possível — respondeu o alpha, sem deixar sua real irritação aparecer em seu tom. — Liguem, caso acharem uma agulha sequer.
E desligou. Aiden voltou o capacete à cabeça, esperando o outro seguir com a moto.
Levantei-me da cama, praguejando em todos os idiomas que conheço e, olha, não eram poucos. Catei o uniforme no chão da sala e o vesti, sem nem me importar em pegar armas, só peguei a Smith&Wesson, junto do pente extra, subindo a bandana até o nariz. Mas que merda, viu? Eu praticamente mato o cara e sou obrigada a salvá-lo porque ele está ligado ao meu futuro? Mas que merda bem da mal feita. Vinte minutos depois, estou seguindo os rastros do alpha, que está dirigindo à toda na rua, enquanto corro, usando um feitiço de velocidade para acompanhar. Ele freia bruscamente a moto, tirando o capacete e dando uma longa fungada no ar. Ele me sentiu. Contei até vinte para que a porta do telhado fosse quase arrombada e o McCall, junto de um dos gêmeos, entrassem. Suspirei profundamente, antes de me virar. Ele me analisou dos pés a cabeça.
— Eu não planejava ferir seu amigo, ele só estava em meu caminho. Apenas um acidente de percurso. Espero que ele ainda não tenha morrido. — Peguei o pente extra e joguei para ele. — Considere isso uma oferenda de paz. Meu problema não é com você.
— O que você queria no hospital? — Ele pegou o pente no ar e o segurou firmemente.
— Meus casos são apenas de meu interesse e do meu contratante. Sigilo profissional. — Estou irritada demais para, sequer, dar tom de brincadeira à frase. — Não deixe ninguém do seu grupinho no nosso caminho e ninguém se fere.
Aprontei-me para pular do telhado, mas ele me impediu.
— Vamos descobrir quem vocês são — afirmou ele, confiante.
— Quero ver você tentar.
Scott dirigia tão rápido que preferia não pensar no tanto de multas que iria tomar pelas trocentas infrações cometidas naquele único trajeto. O resultado foi que, depois de 15 minutos, já havia chegado à clínica. Descendo às pressas da moto, com o capacete ainda na cabeça, entrou no lugar e jogou o pente de balas para Lydia, que rapidamente passou para Deaton, enquanto Stiles abria o portãozinho do balcão, que, por ser feito de Mountain Ash, impedia que todos os lobisomens o atravessassem, uma vez fechado.
O veterinário tirou três balas do pente e começou a “desmontar’’ a bala, despejando a pólvora no primeiro buraco de tiro e pressionando o ferimento. Uma leve fumaça subiu, as veias da barriga de Hale começaram a voltar a cor normal; o preto voltando ao ferimento como se fosse chupado com um canudo. E assim foi com as outras, e a cor começou a retornar ao rosto de Derek.
— Como acharam as Blackburn? — Deaton perguntou, guardando o pente e virando-se para Scott.
— Nós não achamos, ela veio até nós. Disse que não pretendia ferir Derek, que ele só estava em seu caminho — explicou Mccall. — Alertou-me para não deixar nenhum de nós intrometermos nos assuntos delas.
— Isso deve dizer que não estão aqui por nós.
— Conseguiu uma amostra de cheiro? — Deaton perguntou, removendo a agulha de wolfsbane do braço de Derek.
— Não, mas tenho certeza que, se senti-lo de novo, reconhecerei. — Scott bocejou, apoiando-se em uma das bancadas de inox. — É algo completamente diferente do cheiro que qualquer transmorfo* tem, parece algo mais forte e poderoso. Nunca senti antes.
— Alguns diziam que elas eram sobrenaturais por se saírem tão bem matando coisas que ninguém mais conseguia. — Deaton deu de ombros.
— O quê? Agora existem bruxas, ou sei lá o que, também? — Stiles ironizou.
— Você acha mesmo que só existem banshees e lobisomens no mundo sobrenatural, Stiles? — desta vez foi Scott quem respondeu, com uma sobrancelha arqueada.
— Nunca se sabe...
Quem riu desta vez foi Lydia enquanto checava a temperatura de Derek.
O dia amanheceu escuro, nublado e com nuvens carregadas. Passei a madrugada inteira rolando na cama, com aquela maldita visão na cabeça, vendo e revendo a cara do Hale, no qual atirei, e, pior de tudo, me lembrando de toda a família Hale, até do cunhado e dos sobrinhos de Peter. Todos eles morreram naquele incêndio provocado pelos Argents (o qual, segundo os lobisomens, tivemos culpa também), e não me lembro de nenhum infeliz que estivesse vivo, depois do incêndio, para ter essa idade agora. Ou será que só não estava a fim de me dar ao trabalho de conhecer ninguém além de Peter? Provavelmente. Levantei-me da cama, cansada de tentar dormir, peguei alguma roupa dentro das malas e me vesti. Peguei o celular e as chaves do Jeep, pronta para ir atrás de Peter. Descobriria quem era esse maldito. Ah, se iria. 15 minutos depois, estaciono em frente a um prédio no centro, não muito longe da minha atual moradia. Subi até o andar que sei ser o dele. Ser uma bruxa tem muitas vantagens.
Abri a porta, sem bater, e Peter pulou assustado. Ele estava na cozinha, usando apenas uma calça de moletom; provavelmente, acabara de acordar.
— Qual é o nome do cara no qual atirei? — perguntei, sem rodeios, fechando a porta atrás de mim. — Sei que ele é um Hale.
— Quem disse que ele é um Hale? — Peter apoiou-se na bancada da pia, agora, recuperado da minha entrada repentina.
— Não me faça repetir a pergunta. — Sentei-me em uma das banquetas, uma sobrancelha arqueada. Peter sempre foi difícil de lidar. — Eu vi o triskelion. E foi você quem colocou aquele pirralho no meu rastro. Ninguém, de doze anos atrás, está vivo ou ainda mora aqui. Não me tome por idiota, Peter.
— Lembra-se do filho do meio de Thalia? O mais novo que Laura? — Peter apoiou-se na bancada à minha frente. — O nome dele é Derek.
— Um babaca bem metidinho, hein. Thalia tinha cara de quem educava melhor os filhos — comentei, e ele riu. O filho da puta sabe mesmo quando não estou irritada.
— Você pegou leve com ele, obrigado. Única família... Sabe como é. — Peter deu de ombros. — Ele morre, e Thalia volta para puxar meu pé.
— Beleza, o mantenha fora das minhas coisas e fica tudo beleza. — Dei de ombros, pegando um pedaço do omelete, que estava servido no prato sobre a bancada, e como. Acariciei levemente a bochecha do Hale, e ele sorriu, malicioso. O segurei fortemente pelo cabelo e bati seu rosto contra o mármore, ouvindo a rachadura se abrir na pedra. — Ouse colocar mais alguém atrás de mim, e eu faço questão de esquecer os anos de amizade, e arrebento você, doçura. Assim como foi da primeira vez, só que agora vai ser sem dó.
— Sempre adorei esse seu gênio — ele riu. Maldito seja o sarcasmo! — Realmente acha que a primeira vez foi uma briga, ? Porque eu me lembro de uma outra coisa...
— Você é tão idiota que me faz até perder a vontade de arrebentar esta sua cara de galã de Hollywood aposentado. — Soltei-o, dando a primeira risada espontânea desde que cheguei nesta maldita cidade. — A propósito, você está muito bem, Pete.
— Também senti saudades.
Peter Hale poderia ser o rei dos caras babacas, mas uma coisa eu não negava: ele foi um dos poucos amigos verdadeiros que tive na vida. Mas isso não significa que eu não o arrebentaria, se fosse necessário. Sei que ele não pensaria duas vezes, antes de fazer o mesmo comigo.
O dia se arrastou lentamente. Nem eu, nem estávamos a fim de aparecer naquela escolinha chocha, depois de meu fatídico início de investigação. Quando o relógio no meu pulso marcou 04h50min da tarde, entrei no Jeep, dando-me por vencida e aceitando o fato de que não acordaria antes das seis. Quis tomar meu lugar nas pesquisas e varou a noite, e não achou nenhuma merda útil. Eu teria que anotar na minha lista de afazeres mental: ensiná-la a usar o Google devidamente, porque, se não...
Estacionei o Jeep na frente de um barzinho, saltei do carro e travei a porta. Empurrei a porta do estabelecimento, adentrando seu ambiente aquecido, que tinha cheiro de bebida destilada e café recém passado. Não sei o que chamou mais a atenção do barman, se foi eu ou o Rolex masculino preso ao meu pulso. Sentei-me em uma das banquetas forradas com couro vinho e pedi uma dose de whisky sem gelo. Ele abriu a boca para perguntar minha idade, mas calou-se assim que eu dei a ele meu melhor olhar assassino, que dava medo até nos piores desgraçados que já fui contratada para matar. Ele virou-se, servindo minha dose, enquanto eu me distraia com um joguinho de estourar bolhas no celular, uma merda qualquer. A pontada na têmpora tornou a me atacar, muito mais forte que em qualquer outra visão, como se algum maldito estivesse me fazendo acupuntura com as agulhas erradas. Virei o copo de whisky numa única golada. Normalmente, o whisky amortecia a dor de cabeça, que nenhuma aspirina do mundo curava, das minhas visões, mas nem isso fez até agora.
— Você está bem, moça? Quer que eu ligue para alguém? — perguntou gentilmente o barman quando virei o quarto copo de whisky, sem sequer respirar direito.
— Não, só me traga uma rodada de doses de tequila — respondi, sentindo a cabeça rodar com a tremenda dor de cabeça que essa visão, que nunca começa, estava me dando. Toquei meu nariz, vendo as pontas dos dedos sujas de sangue. — Onde é o banheiro, senhor?
— Passando o arco, tem uma placa indicando — o cara me respondeu, pegando a garrafa de José Cuervo Gold e os copinhos de dose.
Levantei-me apressada, enfiando o celular no bolso do cardigã surrado preto e empurrando a porta que uma placa indicava ser o banheiro feminino. Apoiei-me na bancada de mármore e me olhei no espelho, vendo o filete de sangue escorrer do meu nariz. Nenhuma novidade para mim. Puxei um tanto de toalhas de papel e comecei a tentar estancar o sangue com o ele. Girei o registro da torneira e, junto as mãos, jogando a água fria no rosto, permaneci uns três segundos com os olhos fechados, sentindo as pontadas ficarem cada vez mais fortes. Abri os olhos rapidamente, quando senti outro poder comigo, vendo os olhos azuis de minha primeira visão nesta cidade refletidos no espelho logo atrás de mim. Reconheci, no momento, o rosto do homem.
— Ora. Olá, doçura.
Dei a ele meu sorriso mais sarcástico.
*Não levem 'transmorfo' na cultura de Supernatural. O termo 'transmorfo' se aplica a qualquer criatura que mude de forma, até os lobisomens.
— O que vamos jantar? — berrou , do quarto. Mas que caralho, acabamos de comer! — Acho que tem uma anaconda no meu estômago.
— Não sei, comi três pedaços de torta — berrei em resposta, soltando o cabelo. — Eu vou sair e investigar os locais em que o nogitsune apareceu.
Puxei, debaixo do gabinete da pia da cozinha, o baú recheado de armas que levamos nos trabalhos; destranquei o cadeado com a chave, que sempre está pendurada em meu pescoço, levantei a tampa e puxei os compartimentos para os lados. Parecia uma imensa caixa de maquiagem, só que melhor, bem melhor. Peguei duas Smith&Wesson e comecei a abastecê-las com balas, preparando mais alguns pentes extras. Peguei uma baioneta militar e um facão. Destranquei o compartimento escondido, abrindo a gaveta, vendo os dois “uniformes’’ dobrados um do lado do outro; a bandana vermelha sobre o couro parecia brilhar. Apanhei o uniforme e tranquei a outra gaveta, fechando o baú e voltando ao gabinete.
Comecei a me despir na cozinha mesmo, afinal, não havia ninguém além de ali. Vesti a calça de couro e as botas de solado reforçado, tirei a regata e vesti o colete sobre o sutiã, fechando o zíper até o final. Amarrei a bandana no pescoço, solto o suficiente para poder puxá-la para cima, até cobrir o nariz, e arrumei o cabelo dentro do capuz, distribuindo minhas armas pelo corpo.
Empoleirei-me na janela. Quando Myra saiu do quarto, ela me olhou, enquanto tirava os resquícios de maquiagem dos olhos.
— Não morra — disse em romeno, uma pequena tradição nossa fazer isso.
Lhe dei um sorriso travesso e respondi com uma piscadela:
— Você sabe que isso é impossível.
Ela riu, e eu pulei do parapeito para o beco que há numa das laterais do prédio, usando a escada de incêndio para chegar ao topo. Pendurei-me no parapeito do terraço, usando uma mão, e me joguei para cima com a outra, e fiquei em pé, começando a correr. Pulei para o prédio vizinho. Fiquei pulando de um terraço para o outro, até chegar ao hospital, o primeiro local. Comecei a examinar cada canto do terraço, tentando achar alguma evidência que nos ajudasse, ao menos, a ter alguma referência de pesquisa para darmos a Dan. E acabei com o quê? Um monte de vagalumes mortos.
Enrijeci a postura quando senti outra pessoa comigo. Ergui a bandana até o nariz, com um leve sorriso no rosto. Estava começando a achar esta cidade entediante.
— Quem é você? — E ainda era homem. Hmmm, mais interessante ainda. — O que você quer aqui?
Virei-me, dando de cara com uma baita montanha de músculos. Uma bela montanha de músculos.
— Não acha que devia tratar uma dama com mais educação? — engrossei a voz para falar. Franzi o cenho, parecendo ofendida, e peguei um vagalume, guardando num saquinho e pondo no bolso interno do colete. — Sua mãe não lhe deu educação?
— Não vou perguntar de novo — ele retrucou. Limitei-me a dar uma gargalhada e dar meia volta. Ele ergueu o braço, para me dar um golpe, então virei num bom reflexo e segurei sua mão. Ele apareceu se surpreender com minha força. — O veneno da mordida fede em você.
Rapidamente, chutei-o para longe, pronta para sacar a Smith&Wesson carregada com prata, mas ele foi mais rápido, tentando me acertar um murro, só tentando. Esquivei três vezes consecutivas de murros, o peguei desprevenido e lhe dei uma cabeçada que fez seu nariz começar a sangrar. Dei um murro logo em seguida, dando três tiros em sua barriga, enquanto me jogava do parapeito.
Scott foi acordado durante a noite com três violentas batidas na porta de sua casa. O rapaz desceu as escadas, ainda sonolento, usando nada além de um samba canção como pijama. Girou a chave e a maçaneta, puxando a porta e dando de cara com Stiles.
— Derek sumiu — anunciou Lydia, que estava ao seu lado. — Sumiu mesmo.
— Como? Você tem certeza? — perguntou o rapaz, abrindo passagem para os amigos entrarem em sua casa.
— Sim, foi Peter quem veio pedir nossa ajuda. — Stiles foi quem respondeu desta vez. Scott piscou rapidamente, parecendo acordado ao ouvir a frase.
— Vou me vestir. — Stiles fez que “sim” com a cabeça, e Lydia recostou-se no sofá. Também havia sido acordada no meio da noite. Usava legging, um par de nike air preto e branco, junto de um moletom de academia roxo, e o cabelo preso num rabo de cavalo, e, mesmo sem qualquer adereço ou maquiagem, continuava linda.
Cinco minutos depois, McCall desceu as escadas, usando um par de coturnos, jeans gasto e um moletom de zíper, para cobrir o tronco desnudo, o rapaz colocou o celular no bolso, junto às chaves de casa.
— Okay, vamos encontrá-lo.
Pendurei-me no cano ao lado da janela aberta e me joguei para dentro, caindo em pé, sem emitir som algum. me olhou; estava no sofá, com um pote de pipoca nos braços e usava uma camiseta enorme dos Patriots, o cabelo trançado caia sobre o ombro esquerdo.
— Não achei muita coisa — respondi, prevendo a pergunta de minha irmã e tirando do bolso o saquinho com o vagalume morto, e joguei para ela. — Só um monte desses.
Comecei a tirar o uniforme, me jogando no sofá, ao lado de , que abriu o saquinho e pegou o vagalume por uma das patinhas, analisando atentamente o bichinho.
— Onde achou isto?
— No hospital que Mr. M havia dito ser o lugar onde apareceu primeiro, o único lugar onde o grupinho não esteve. Tem um monte desses no telhado — expliquei. — Um cara apareceu lá, querendo saber quem eu era. Lobisomem. Dei três tiros de bala de prata. Deve estar morto agora.
— Eu disse que não era pra chamar muita atenção, ... — me repreendeu, voltando o vagalume no saquinho e me devolvendo. — Mandamos isto para o Dan amanhã.
— Balas de prata — lembrou Scott ao olhar os ferimentos de Derek, que ainda convulsionava, e deitou-o em uma das macas de Deaton, com ajuda de Stiles. — Ele está muito pálido...
O Hale havia perdido bastante sangue, e não havia sido nada generosa quanto aos tiros. Uma bala estava alojada num osso da costela, outra havia perfurado o estômago e uma abriu um buraco de saída, mas não saiu. Precisavam da pólvora da bala e precisavam agora. Deaton tirou a bala das costas de Derek com uma pinça, vendo o B marcado à faca na base da bala.
— Não foi nenhum caçador que atirou nele. — Deaton contou, fazendo a face de preocupação de Scott piorar. — Foi alguém bem mais difícil de achar. Primeiro temos que tentar estabilizá-lo até conseguirmos as balas.
Em pouco tempo, Deaton fez sua mágica, então Derek parou de convulsionar.
— Este B, que está na bala, não pertence à família de caçador algum. Desde antigamente, há lendas sobre duas mercenárias, conhecidas apenas como irmãs Blackburn. Não se sabe como — começou o veterinário, e os três o ouviam atentamente —, mas, se alguém as contrata para matar você, elas o fazem sem deixar provas. Não existe um alvo que não tenham eliminado. Elas deixam apenas um B feito com sangue do alvo no local, como assinatura, para todos saberem que elas estiverem ali e que devem temê-las. Só vi balas assim uma vez na vida; na mesma semana, uma pack inteira de lobisomens foi morta. Mas, ao que parece, não estava em seus planos matar Derek.
— De qualquer jeito, vamos nos dividir e tentar rastreá-las — o rapaz suspirou, coçando a nuca; parecia cansado assim como o restante. — Eu e Aiden cobrimos um lado da cidade, Peter e Ethan o outro. Isaac e Allison, a floresta. Stiles e Lydia, o restante da cidade. Vamos achar quem disparou essas balas.
— Preferi deixar o resto para ser vistoriado amanhã. Não seria muito bom deixar o lobisomem ter uma amostra do meu cheiro — expliquei, prendendo os cabelos num coque. — Nem fodendo que eu iria dar chance para qualquer lobisomem nos rastrear.
— Sabe quem era o cara? — perguntou distraída com a reprise do programa da Oprah, que passava na TV. — Ou, ao menos, se ele era de alguma família?
— Um Hale não teria a insolência de me atacar, não depois de Peter. — Pesquei uma pipoca dentro do pote. — Deve ser algum transformado pela mordida. Única explicação que me faz mais sentido.
— Tentem cobrir o máximo de terreno possível, Derek não tem muito tempo. E precisamos achar esse maldito atirador. — Scott bocejou, bagunçando o cabelo. — Vamos nos manter ligados pelo celular. Algo relevante, o que quer que seja, liguem.
As duplas concordaram, indo para seus respectivos carros. Scott subiu em sua moto, acompanhado de Aiden, seguindo em disparada para a cidade. Não deixaria outro amigo morrer. Não mesmo.
Joguei-me na cama, me aninhando no travesseiro, pronta para dormir, quando senti aquela mesma pontada na têmpora. Duas em um dia só? Só pode ser brincadeira. Abri os olhos, vendo a visão tomar forma.
Eu estava no que me parecia ser um baile de máscaras. Eu usava um vestido de renda preta, com um decote bem chamativo, e uma máscara dourada cobria metade do meu rosto. E eu dançava com alguém, até que meu acompanhante me conduziu, e pude ver seu rosto: o infeliz no qual atirei. Mas o que eu senti ao vê-lo tão perto, sentindo o leve cheiro amadeirado de sua pele, foi diferente. Não queria que ele saísse de perto de mim e a vontade de beijá-lo foi maior ainda. Eu quase podia ver o triskelion tatuado em suas costas, que, por mais que eu não pudesse ver, sabia que estava ali, por debaixo do smoking.
A visão se desfez como fumaça.
Lydia bufou irritada quando deram a quinta volta por um quarteirão do centro. Não haviam achado nada e duvidava se iriam.
— Não achamos nada e duvido que acharemos. — Stiles respondeu, o telefone ligado no viva voz. — Sumiram, e Derek não parece muito apto a dizer como se pareciam.
— Peter e Ethan estão dando uma olhada no hospital. Eles devem achar alguma coisa, não é possível — respondeu o alpha, sem deixar sua real irritação aparecer em seu tom. — Liguem, caso acharem uma agulha sequer.
E desligou. Aiden voltou o capacete à cabeça, esperando o outro seguir com a moto.
Levantei-me da cama, praguejando em todos os idiomas que conheço e, olha, não eram poucos. Catei o uniforme no chão da sala e o vesti, sem nem me importar em pegar armas, só peguei a Smith&Wesson, junto do pente extra, subindo a bandana até o nariz. Mas que merda, viu? Eu praticamente mato o cara e sou obrigada a salvá-lo porque ele está ligado ao meu futuro? Mas que merda bem da mal feita. Vinte minutos depois, estou seguindo os rastros do alpha, que está dirigindo à toda na rua, enquanto corro, usando um feitiço de velocidade para acompanhar. Ele freia bruscamente a moto, tirando o capacete e dando uma longa fungada no ar. Ele me sentiu. Contei até vinte para que a porta do telhado fosse quase arrombada e o McCall, junto de um dos gêmeos, entrassem. Suspirei profundamente, antes de me virar. Ele me analisou dos pés a cabeça.
— Eu não planejava ferir seu amigo, ele só estava em meu caminho. Apenas um acidente de percurso. Espero que ele ainda não tenha morrido. — Peguei o pente extra e joguei para ele. — Considere isso uma oferenda de paz. Meu problema não é com você.
— O que você queria no hospital? — Ele pegou o pente no ar e o segurou firmemente.
— Meus casos são apenas de meu interesse e do meu contratante. Sigilo profissional. — Estou irritada demais para, sequer, dar tom de brincadeira à frase. — Não deixe ninguém do seu grupinho no nosso caminho e ninguém se fere.
Aprontei-me para pular do telhado, mas ele me impediu.
— Vamos descobrir quem vocês são — afirmou ele, confiante.
— Quero ver você tentar.
Scott dirigia tão rápido que preferia não pensar no tanto de multas que iria tomar pelas trocentas infrações cometidas naquele único trajeto. O resultado foi que, depois de 15 minutos, já havia chegado à clínica. Descendo às pressas da moto, com o capacete ainda na cabeça, entrou no lugar e jogou o pente de balas para Lydia, que rapidamente passou para Deaton, enquanto Stiles abria o portãozinho do balcão, que, por ser feito de Mountain Ash, impedia que todos os lobisomens o atravessassem, uma vez fechado.
O veterinário tirou três balas do pente e começou a “desmontar’’ a bala, despejando a pólvora no primeiro buraco de tiro e pressionando o ferimento. Uma leve fumaça subiu, as veias da barriga de Hale começaram a voltar a cor normal; o preto voltando ao ferimento como se fosse chupado com um canudo. E assim foi com as outras, e a cor começou a retornar ao rosto de Derek.
— Como acharam as Blackburn? — Deaton perguntou, guardando o pente e virando-se para Scott.
— Nós não achamos, ela veio até nós. Disse que não pretendia ferir Derek, que ele só estava em seu caminho — explicou Mccall. — Alertou-me para não deixar nenhum de nós intrometermos nos assuntos delas.
— Isso deve dizer que não estão aqui por nós.
— Conseguiu uma amostra de cheiro? — Deaton perguntou, removendo a agulha de wolfsbane do braço de Derek.
— Não, mas tenho certeza que, se senti-lo de novo, reconhecerei. — Scott bocejou, apoiando-se em uma das bancadas de inox. — É algo completamente diferente do cheiro que qualquer transmorfo* tem, parece algo mais forte e poderoso. Nunca senti antes.
— Alguns diziam que elas eram sobrenaturais por se saírem tão bem matando coisas que ninguém mais conseguia. — Deaton deu de ombros.
— O quê? Agora existem bruxas, ou sei lá o que, também? — Stiles ironizou.
— Você acha mesmo que só existem banshees e lobisomens no mundo sobrenatural, Stiles? — desta vez foi Scott quem respondeu, com uma sobrancelha arqueada.
— Nunca se sabe...
Quem riu desta vez foi Lydia enquanto checava a temperatura de Derek.
O dia amanheceu escuro, nublado e com nuvens carregadas. Passei a madrugada inteira rolando na cama, com aquela maldita visão na cabeça, vendo e revendo a cara do Hale, no qual atirei, e, pior de tudo, me lembrando de toda a família Hale, até do cunhado e dos sobrinhos de Peter. Todos eles morreram naquele incêndio provocado pelos Argents (o qual, segundo os lobisomens, tivemos culpa também), e não me lembro de nenhum infeliz que estivesse vivo, depois do incêndio, para ter essa idade agora. Ou será que só não estava a fim de me dar ao trabalho de conhecer ninguém além de Peter? Provavelmente. Levantei-me da cama, cansada de tentar dormir, peguei alguma roupa dentro das malas e me vesti. Peguei o celular e as chaves do Jeep, pronta para ir atrás de Peter. Descobriria quem era esse maldito. Ah, se iria. 15 minutos depois, estaciono em frente a um prédio no centro, não muito longe da minha atual moradia. Subi até o andar que sei ser o dele. Ser uma bruxa tem muitas vantagens.
Abri a porta, sem bater, e Peter pulou assustado. Ele estava na cozinha, usando apenas uma calça de moletom; provavelmente, acabara de acordar.
— Qual é o nome do cara no qual atirei? — perguntei, sem rodeios, fechando a porta atrás de mim. — Sei que ele é um Hale.
— Quem disse que ele é um Hale? — Peter apoiou-se na bancada da pia, agora, recuperado da minha entrada repentina.
— Não me faça repetir a pergunta. — Sentei-me em uma das banquetas, uma sobrancelha arqueada. Peter sempre foi difícil de lidar. — Eu vi o triskelion. E foi você quem colocou aquele pirralho no meu rastro. Ninguém, de doze anos atrás, está vivo ou ainda mora aqui. Não me tome por idiota, Peter.
— Lembra-se do filho do meio de Thalia? O mais novo que Laura? — Peter apoiou-se na bancada à minha frente. — O nome dele é Derek.
— Um babaca bem metidinho, hein. Thalia tinha cara de quem educava melhor os filhos — comentei, e ele riu. O filho da puta sabe mesmo quando não estou irritada.
— Você pegou leve com ele, obrigado. Única família... Sabe como é. — Peter deu de ombros. — Ele morre, e Thalia volta para puxar meu pé.
— Beleza, o mantenha fora das minhas coisas e fica tudo beleza. — Dei de ombros, pegando um pedaço do omelete, que estava servido no prato sobre a bancada, e como. Acariciei levemente a bochecha do Hale, e ele sorriu, malicioso. O segurei fortemente pelo cabelo e bati seu rosto contra o mármore, ouvindo a rachadura se abrir na pedra. — Ouse colocar mais alguém atrás de mim, e eu faço questão de esquecer os anos de amizade, e arrebento você, doçura. Assim como foi da primeira vez, só que agora vai ser sem dó.
— Sempre adorei esse seu gênio — ele riu. Maldito seja o sarcasmo! — Realmente acha que a primeira vez foi uma briga, ? Porque eu me lembro de uma outra coisa...
— Você é tão idiota que me faz até perder a vontade de arrebentar esta sua cara de galã de Hollywood aposentado. — Soltei-o, dando a primeira risada espontânea desde que cheguei nesta maldita cidade. — A propósito, você está muito bem, Pete.
— Também senti saudades.
Peter Hale poderia ser o rei dos caras babacas, mas uma coisa eu não negava: ele foi um dos poucos amigos verdadeiros que tive na vida. Mas isso não significa que eu não o arrebentaria, se fosse necessário. Sei que ele não pensaria duas vezes, antes de fazer o mesmo comigo.
O dia se arrastou lentamente. Nem eu, nem estávamos a fim de aparecer naquela escolinha chocha, depois de meu fatídico início de investigação. Quando o relógio no meu pulso marcou 04h50min da tarde, entrei no Jeep, dando-me por vencida e aceitando o fato de que não acordaria antes das seis. Quis tomar meu lugar nas pesquisas e varou a noite, e não achou nenhuma merda útil. Eu teria que anotar na minha lista de afazeres mental: ensiná-la a usar o Google devidamente, porque, se não...
Estacionei o Jeep na frente de um barzinho, saltei do carro e travei a porta. Empurrei a porta do estabelecimento, adentrando seu ambiente aquecido, que tinha cheiro de bebida destilada e café recém passado. Não sei o que chamou mais a atenção do barman, se foi eu ou o Rolex masculino preso ao meu pulso. Sentei-me em uma das banquetas forradas com couro vinho e pedi uma dose de whisky sem gelo. Ele abriu a boca para perguntar minha idade, mas calou-se assim que eu dei a ele meu melhor olhar assassino, que dava medo até nos piores desgraçados que já fui contratada para matar. Ele virou-se, servindo minha dose, enquanto eu me distraia com um joguinho de estourar bolhas no celular, uma merda qualquer. A pontada na têmpora tornou a me atacar, muito mais forte que em qualquer outra visão, como se algum maldito estivesse me fazendo acupuntura com as agulhas erradas. Virei o copo de whisky numa única golada. Normalmente, o whisky amortecia a dor de cabeça, que nenhuma aspirina do mundo curava, das minhas visões, mas nem isso fez até agora.
— Você está bem, moça? Quer que eu ligue para alguém? — perguntou gentilmente o barman quando virei o quarto copo de whisky, sem sequer respirar direito.
— Não, só me traga uma rodada de doses de tequila — respondi, sentindo a cabeça rodar com a tremenda dor de cabeça que essa visão, que nunca começa, estava me dando. Toquei meu nariz, vendo as pontas dos dedos sujas de sangue. — Onde é o banheiro, senhor?
— Passando o arco, tem uma placa indicando — o cara me respondeu, pegando a garrafa de José Cuervo Gold e os copinhos de dose.
Levantei-me apressada, enfiando o celular no bolso do cardigã surrado preto e empurrando a porta que uma placa indicava ser o banheiro feminino. Apoiei-me na bancada de mármore e me olhei no espelho, vendo o filete de sangue escorrer do meu nariz. Nenhuma novidade para mim. Puxei um tanto de toalhas de papel e comecei a tentar estancar o sangue com o ele. Girei o registro da torneira e, junto as mãos, jogando a água fria no rosto, permaneci uns três segundos com os olhos fechados, sentindo as pontadas ficarem cada vez mais fortes. Abri os olhos rapidamente, quando senti outro poder comigo, vendo os olhos azuis de minha primeira visão nesta cidade refletidos no espelho logo atrás de mim. Reconheci, no momento, o rosto do homem.
— Ora. Olá, doçura.
Dei a ele meu sorriso mais sarcástico.
*Não levem 'transmorfo' na cultura de Supernatural. O termo 'transmorfo' se aplica a qualquer criatura que mude de forma, até os lobisomens.
Capítulo 4
— Quem te disse quem eu sou? Não deixei nenhuma amostra de cheiro — perguntei retoricamente, me sentando na bancada de mármore cinza, com um sorriso sacana no rosto. — Não precisa nem responder. Sei que foi o rato do Peter, aquele pentelho nunca soube manter a boca fechada.
Ele ficou me encarando, os olhos azuis mostrando certa raiva. Ele era mais bonito do que eu notara. Tinha cabelo escuro e bagunçado, com uma rala barba por fazer cobrindo o rosto, os lábios rosados parecem bons para beijar, sem falar dos braços musculosos cruzados sobre o peito largo, deixando-o mais gato ainda.
Meu Senhor, tenho que parar de ser tão pervertida desse jeito.
Ele continuava me encarando, como se eu fosse um alvo no qual ele se imaginava fazendo vários buracos a faca. Reconheci o olhar, porque o dei-[ repetidamente para .
— Já se decidiu? — perguntei, ficando entediada.
— Me decidi? — Ele quase franziu o cenho em confusão.
— É, se vai me agarrar, ou vai querer vingança por eu ter atirado em você. — Dei de ombros, dando um leve peteleco no joelho, para afastar um pequeno mosquitinho que ali estava. — Por mais que eu ache que a primeira opção é bem mais vantajosa para ambos, já que seria vergonhoso um cara desse tamanho e com essa cara de mau tomar porrada de uma simples e indefesa adolescente como eu.
Ele deu três passos em minha direção. Pulei da bancada, ficando em pé à sua frente.
— Se conseguiu me dar três tiros, não tem nada de indefesa, ou simples, garota — retrucou ele, os braços caindo nas laterais do corpo. — Peter me falou sobre você.
— Se tivesse falado tudo, você não estaria me chamando de garota, criança — sorri de canto, quase que convidando-o com palavras do século 17 para comprar briga comigo.
Analisei seu rosto atentamente. Agora, eu lembrava quem era!
— Agora, eu me lembro de você! — Dei um pulinho de alegria. — Você é o garoto que matou a namorada. Claro, claro! O que se achava pra caramba.
Ele trincou a mandíbula, com a menção da garota morta, as mãos fechando em punho. Estava mesmo me perguntando quando ele ia se revelar o mesmo esquentadinho da adolescência. Escutei um clique vindo da porta. As pessoas achariam mais que estranho ter um cara no banheiro feminino, assim como eu não estou nem um pouco a fim de ser expulsa de bar nenhum hoje. Minhas engrenagens funcionaram com o clique. O empurrei para dentro de um reservado, tapando sua boca, e ele grasnou, tentando falar. Acertei um tapa estalado em sua mão, que tentava me afastar, e indiquei o par de pés visíveis no vão da porta. Ele parou de tentar. Destapei sua boca, o cheiro amadeirado que vinha dele tornou difícil respirar, e o calor fez minha pele pinicar. Reservado pequeno demais para duas pessoas. Empurrei a porta com o pé e saí apressada do reservado e do banheiro, virando a rodada de tequila, quase que num gole só, deixando uma nota de cem no balcão e saindo, quase que correndo, do bar. E minha cabeça voltou a latejar com violência.
— Onde você estava? — me perguntou enquanto varria a sala do apartamento.
— Sei beber — respondi, deixando a carteira sobre a bancada e indo atrás de um Advil. — Estou muito irritada para me importar com aquela escola estúpida. Continuamos o teatro amanhã e, sim, nós precisamos, ainda não descobrimos quem está possuído. Cara, como esse Mr. M sabe das coisas!
Carregando de ironia a última frase, coloquei três advils na boca e virei um copo com água.
— Você está bem, Liv? — apoiou a vassoura na parede, me olhando com o cenho franzido. — Está pálida.
— Minha cabeça dói... — minha voz saiu, quase que num sussurro.
— Vai ter uma visão? — Ela arregalou os olhos, quase entrando em pânico. — Quer sentar?
— Não, não é a dor das visões, é mais forte. Parece que minha cabeça vai explodir. — Cocei os olhos, colocando o copo na pia. — Vou precisar de mais Advil.
Fui para o quarto, me jogando de braços abertos na cama fofa e afundando o rosto num travesseiro. A escuridão nunca me pareceu tão maravilhosa. Assim que adormeci, o sonho em que mergulhei foi tão perturbador quanto minha dor de cabeça:
Uma mulher de cabelo longo e negro corria por uma mata, mas o longo vestido azul cobalto limitava o movimento de suas pernas, fazendo-a tropeçar em algumas raízes retorcidas no chão. Um berro agudo cortou o silêncio da noite, seguido por um som gorgolejante.
— Valerious... Onde está você? Hum? Vamos ter que brincar? — a voz ecoou por quase toda a mata. — Então vamos brincar. Peek-a-boo! Where are you?
— Morra, Gabriel! — a moça berrou, nem se dando ao trabalho de virar o rosto. — Morra!
— Não serei eu quem morrerá hoje... — o homem cantarolou. Agora, consegui ver a luz da tocha iluminar as árvores. — Vamos logo, Valerious. Não tenho a noite toda.
A moça tropeçou em um tronco e caiu de joelhos no chão. Com o pé virado num angulo estranho, ela sentou. Agora, via seu rosto... A mulher era eu.
Acordei num pulo, ofegando e suando frio. Olhei para o relógio digital sobre o criado, que marcava três e meia da manhã. Eu havia dormido isso tudo? Levantei-me, jogando os cobertores para o lado, ficando em pé e sentindo o frio do assoalho subir pela minha panturrilha.
Girei a maçaneta e abri a porta, saindo para o corredor escuro e deserto, com passos lentos e acuados. Do que eu estava com medo, afinal? Pisei em algo molhado e pegajoso. Tateei o sofá, sentindo, até o estofado úmido.
— ? — chamei, num murmuro, sentindo um aperto involuntário no peito. — ? Você está aí?
Passei a mão outra vez pelo sofá; agora, minha mão encontrou outra mão, fria e suja. Bati a mão na parede com tanta força que a luz se acendeu. E a cena que vi fez meu coração parar, quase que literalmente, no peito: estava estirada no sofá, os olhos vidrados mirando a TV, com três buracos no peito e coberta de sangue.
— Não, não, não. Não, por favor, não — comecei a soluçar compulsivamente, tocando o peito esburacado de minha irmã. — Por favor, não, . Não, não, não morra. Oh, minha irmã...
Ouvi o tilintar familiar de uma espada batendo em algo vir das sombras da cozinha e, então, o rosto mais que familiar ficou visível pela meia luz da sala.
— Oh, olá, .
Então, eu acordei outra vez, com um berro entalado na garganta. Puxei o ar ruidosamente, quase caindo de joelhos para fora da cama. Sequei uma lágrima solitária, que insistia em cair, levantando trôpega do chão, quase correndo para o outro quarto. A palpitação parou quando vi enrolada num cobertor, dormindo calmamente em sua cama.
POV OFF.
POV ON.
Acordei lentamente, sentindo meus olhos arderem por conta da luz, que entrava pela cortina aberta. Bocejei, me espreguiçando na cama.
— ? — chamei, indo ao banheiro.
— Hum? — ela respondeu. — Bom dia.
— Bom dia. — Mudei meu curso para a cozinha, vendo-a colocar todos os advils de uma cartela na boca, virando um copo com água em três goles. — Tá tudo bem?
— Uhum, só minha cabeça que ainda dói. — Ela jogou a cartela vazia no lixo, colocando o copo no escorredor. — Pronta para voltar ao teatrinho?
— Oh, nem me fale naquela escolinha. Cara, se não tivéssemos que descobrir quem é que está possuído, nem pisava naquele lugar. Odeio escolas — respondi, me jogando no sofá. — Vamos comer onde hoje?
— Não gostou dos donuts de anteontem? — Ela franziu o cenho, prendendo o cabelo num rabo-de-cavalo. — Sei lá, estou pensando em dar uma volta pela cidade, ver se achamos algum café bom.
— E depois tortura.
— Ah, qual é! O do queixo torto é a fim de você, não vejo maneira melhor para fazer com que ele se torne uma diversão. — Ela deu de ombros, sentando-se no encosto do sofá. — E não se faça de sonsa. Você notou a maneira como ele te olhou, só fingiu que não.
— Você é insuportável quando quer, . — Revirei os olhos, deitando a cabeça de lado e olhando para ela, que me olhava sugestiva. — Ai, tá! Eu percebi, assim como também percebi a tensão que rola entre ele e sua nova BFF.
— Allison não é minha nova “BFF’’. — Ela fez aspas com os dedos. — Ela é a uma Argent, . Argents não são legais, não importa qual.
— Yeah, Gerard era um psicopata completo.
levantou-se, indo ao banheiro, o rabo-de-cavalo se desfazendo, e a cabeleira castanha escura caindo por suas costas. Levantei-me, num salto, do sofá, indo ao meu quarto e começando a revirar as malas, que nem me dei ao trabalho de desfazer. Separei uma camiseta do Metallica e um jeans surrado, junto de uma camisa xadrez preta e branca, e o mesmo par de coturnos que sempre uso. 20 minutos depois, saiu do banheiro, secando o cabelo.
— Faz quanto tempo que você não os corta? — perguntei, entrando no banheiro, e segurei a porta aberta. — Desde a era Medieval?
— Ai, boba. Eu usava cabelo curto na década de vinte, se não se lembra — ela riu.
— Cristo! Quase 100 décadas sem cortar o cabelo! — Brinquei, fechando a porta atrás de mim.
Enfiei-me embaixo do chuveiro, molhando o cabelo e sentindo cada músculo do meu corpo relaxar com a água quente. Nossa! Como isto era bom! Fiquei mais vinte minutos debaixo da água, me esfregando com o sabonete de cereja que comprou, que, por incrível que pareça, fez todo o banheiro ficar cheirando a cereja. Desliguei o registro e me enrolei em uma toalha, voltando ao meu quarto.
estava sentada no sofá, arrumando o cabelo quando saí do quarto. Ela usava uma baby look gola V azul escuro, com uma calça de cintura alta e um par de botas de salto médio, com uma leve maquiagem cobrindo o rosto.
— Está pronta? — Ela me encarou como se não me visse há séculos.
— O quê?
— Nada, só estou feliz por estarmos juntas. — Ela me levantou e me abraçou apertado. — Juro que nunca vou deixar nada te acontecer. É uma promessa.
— Você sabe que eu sempre irei te proteger também, minha querida. — Retribuí seu aperto, afagando o cabelo com cheiro de rosas. — Sempre. É o nosso pacto, lembra? Não precisamos de ninguém além de uma da outra.
Ela sorriu e me deu um beijo na testa, com os olhos lacrimejando. O que aconteceu? Será que ela viu alguma coisa relacionada a mim? Algo ruim? Bom, nem adiantava perguntar, já que ela não me contaria, de qualquer jeito.
— Pronta? Hoje o café é por minha conta. — sorriu, limpando os olhos. — Pago donuts extras.
Sorri, travessa, e puxei a mochila em cima do sofá, indo sorridente à porta.
POV OFF.
O homem sentou-se em uma das cadeiras da mesa, olhando com desaprovação para a esposa sentada à sua frente, que olhava nervosa para as mãos, que se moviam freneticamente, fazendo uma cama de gato com um elástico.
— Não acredito nisso, Noshiko. — O senhor Yukimura balançou a cabeça, em desaprovação. — Você não devia tê-las chamado para cá. Você conhece as histórias.
— Não tinha mais ideias, elas me pareceram a única opção viável. Nossa filha também está em perigo aqui. O nogitsune pode matá-la também — argumentou a mulher, parecendo cansada.
— Mas você devia ter falado comigo, antes de chamar as Blackburn para a cidade! Elas trazem morte para qualquer lugar que vão — respondeu o homem, parecendo exausto por ter que discutir o assunto outra vez.
— Elas são pagas para matar, querido — respondeu Noshiko, quase soando irônica. — E são as únicas capazes de matar o que eu trouxe pra nossas vidas.
— Trazer mercenárias para o nosso lar não vai resolver nossos problemas. — Yukimura bateu com a mão aberta na mesa. — Nós vamos encerrar esse contrato.
— Uma vez contratadas, elas vão até o fim, sem cancelamento — suspirou Noshiko, passando as mãos trêmulas pelo rosto. — Não tem mais jeito.
abocanhou o donut, sujando as extremidades dos lábios com a cobertura de chocolate. Parecendo uma criança feliz, riu, estendendo um guardanapo à sua irmã.
— Você está com a boca toda suja de chocolate. — bebeu um longo gole de café, para ajudar o lanche natural descer pela garganta. — Você parece uma criança comendo donuts.
— Ei! É que eles são tão deliciosos, eu apenas me... Delicio. — riu, limpando o chocolate da boca. — E os de morango são os melhores.
— Não saberia dizer, já que não como donuts. — A mais velha deu de ombros, comendo um último pedaço do lanche numa dentada só. — Não sei, são doces demais, dá pra sentir os cristais de açúcar.
— Esta é a intenção: sentir a gordura e o açúcar. — fez uma expressão de “Mana, você está dizendo o óbvio’’. — É como fast food, você não come porque acha saudável.
— Você é estranha. — riu, terminando seu café.
— É, vem de sangue.
— Vamos logo — a outra riu, tirando uma nota de cinquenta do bolso e deixando na mesa. — Temos que ir à escola.
puxou a mochila da cadeira ao seu lado, pegando o último donut do prato e o enfiando na boca.
25 minutos depois, girou o volante do Jeep, entrando em uma vaga bem em frente às escadas das portas da frente da escola e mordendo uma pelinha solta do lábio inferior, com um par de óculos escuro cobrindo os olhos, enquanto berrava, junto de uma música do Elvis, batucando com a mão no painel do carro e chacoalhando a cabeça animadamente.
— Looooove me trueeeeeeeee — cantou a ruiva, com um tom esganiçado, enquanto a irmã ria alto.
— The Voice, American Idol ou The X Factor?
— O que tem? — franziu o cenho.
— Escolha um para eu te inscrever. — Liv deu de ombros, encrespando os lábios.
— Ai, engraçadinha. Ha ha ha.
As duas juntaram suas mochilas, que estavam no banco de trás do carro, saindo para a ensolarada, mas fria, manhã de Beacon Hills. O estacionamento estava apinhado de adolescentes, alguns estacionando seus carros, e outros, agarravando-se nos bancos espalhados pelo jardim, que, agora, estava coberto de folhas secas da cor do fogo.
— Hoje, a gente descobrimos quem é a porra do possuído. — bocejou, sem nem ver uma garota dar um tapa no namorado por encarar seu quadril avantajado. — Tô ficando de saco cheio desse caso.
— Tá é com saudades de Malibu e das festas do Daniel, fingida. — retrucou, empurrando a porta dupla azul da entrada da escola.
— Ah, e o que é que tem? Aquele mar maravilhoso com aquela casa maravilhosa, o whisky de primeira... — lembrou , com um sorriso no rosto.
— Qual é o problema com o whisky daqui?
— Já bebeu a porcaria que eles vendem? — A moça arqueou uma sobrancelha para a irmã, abrindo seu armário.
Scott fechou a porta de seu armário com um baque, vestindo a jaqueta, e Stiles o olhou sugestivo, com os braços cruzados sobre o peito magricelo.
— Que foi? — perguntou o rapaz, irritado.
— A garota ruiva, você gosta dela. — Stiles sorriu travesso, vendo não muito atrás com o cabelo liso caindo sobre os ombros. — Olha ela aí.
aproximou-se, com um sorriso amigável nos lábios, reparando que o menor, o qual ela não lembrava o nome, estava pálido, mais que o normal, e com os olhos fundos.
— Oi, pessoal — sorriu, soltando a alça da mochila.
— Oi... — Scott começou a cumprimentar, ficando constrangido por não lembrar o nome da moça.
— . , Scott — completou a moça, com um sorriso nos lábios. — Pode me chamar de .
— , desculpe, eu estava tão avoado anteontem que não prestei atenção quando as garotas apresentaram vocês — explicou-se ele, olhando, com um sorriso, para . — Oi.
olhou com uma expressão de “Eu te disse. E olha como eu disse’’, quando viu o sorriso de Scott para . Allison desceu as escadas que davam para o terceiro andar, junto de Isaac. A expressão de Scott fechou.
— Então, gente, as aulas foram muitos tediosas ontem? — perguntou , tentando inutilmente quebrar o clima tenso.
— Whitman não gostou muito de vocês. — Stiles tentou ajudar, enquanto Allison e Isaac iam em direção aos amigos. — Hoje só tem o coach de carne de pescoço.
Finstock era o tipo adorável de professor que sempre conquista os alunos.
— O adorável Bobby Finstock. — Brincou Isaac, o cachecol verde musgo contrastando com os olhos azuis. — Adoro fazer parte do time de lacrosse por causa dele.
— Ou seja, você que seja irritante — retrucou Stiles. — Cara, tá uns 25 graus lá fora, para que esse cachecol?
— Dá um charme, Stilinski.
Bobby Finstock empurrou a porta da sala, entrando com passos pesados no recinto. Todos os alunos viraram para frente.
— Bom dia, coisinhas — desejou o homem, bocejando, o solado de borracha do tênis estalando contra o chão encerado.
O professor continuou, por mais vinte minutos, falando e falando sobre a matéria que ia desde a página 50 a 58. Até que virou-se para Stilinski, que estava duro na cadeira, olhando para as folhas do caderno, os olhos bem abertos.
— Stilinski! — berrou Finstock de sua mesa.
— Hum? Desculpe-me. — O rapaz olhou para os lados, desnorteado. — Acabei cochilando.
— Stiles... — começou Scott.
— Você não estava dormindo — completou , olhando para o garoto, preocupada. — Você está bem?
— Uhum.
— Venha aqui na frente para ler, garoto — mandou Finstock. Stiles levantou, contornando as cadeiras e parando ao lado da mesa de Bobby, e pegou o livro em cima da mesa. Ele olhou para o livro aberto, franzindo o cenho, piscou várias vezes e voltou sua atenção outra vez para o texto. As letras pareciam estar trocando de lugar, tornando impossível ler. Sua cabeça doía loucamente. — Você está bem, Stilinski?
— Eu leio, coach. — levantou-se de sua mesa, pegando o livro, e Stiles a agradeceu com os olhos, voltando à sua mesa, meio zonzo.
começou a ler o texto em voz alta, quase que recitando as frases. Scott ainda olhava para Stiles, preocupado com o amigo.
— Eu não consigo ler! — cochichou Stiles, puxando Scott de volta para dentro da sala. — Simplesmente, não consigo.
— Mas como? Tipo, nada, nada mesmo? — Scott franziu o cenho.
— As letras se embaralham, formam um emaranhado e palavra nenhuma. — O rapaz coçou a cabeça, sentindo a tensão nos ombros aumentar. — O que diabos está acontecendo com a gente?
estava com as costas colada aos armários, ouvindo atentamente ao que Stiles dizia.
— Você não consegue se transformar, Allison está vendo o fantasma da tia morta, e eu não consigo ler — completou Stilinski.
respirou fundo, fazendo sua melhor expressão de confusa. Nem sabia o porquê estava fazendo aquilo, só sabia que tinha que fazer alguma coisa. Dentro de seu peito, dizia que ela deveria ir lá e fazer sua melhor carinha de menina inocente e confusa.
— Transformar no que? — perguntou a moça, fazendo a espinha de Scott gelar.
— Daniel, quer desenrolar pra falar? — mandou , enfiando a mochila no armário com uma mão e segurando o celular com a outra. — Para de rir! Respire. Fale.
— Eu encontrei um livro que fala sobre o nogitsune — anunciou o rapaz, animado. — Parece um Grimório oriental. Monstruosamente grande.
— Você acha que há um meio de matar?
— Lógico, tudo pode ser morto. Menos você e , diferentonas. — Brincou ele, abrindo o enorme grimório, da grossura de duas palmas na horizontal. — Mas como qualquer ficção boa, vai ficar para o final. Eu estou chegando lá. Você e estão bem?
— Uhum. Não gosto desta cidade. — A moça bateu a porta do armário. — Já tive três visões desde que chegamos. Nem uma semana.
— Caralho! Mas você tinha quase uma por mês. Isso não é normal, gata. — O rapaz encheu outra xicara imensa de café. — Vou descobrir como matar esse troço, e vocês saem daí.
— Obrigado, Dan — a moça deu um breve sorriso. — Estou com saudades de Malibu.
— Minhas portas estão sempre abertas para vocês. Sabe disso.
— Família é família, não? — riu.
— Família é família — concordou Daniel, dando um enorme gole na xicara de café. A última frase veio em romeno: — Não morra, garota.
desligou a chamada, afastando-se do armário, a tempo de ver Lydia e Allison arrastando o corpo inerte de para dentro de uma sala, enquanto Stiles e Scott carregavam uma perna.
— Mas que caralho?! — ela quase berrou.
Alguns pouquíssimos minutos antes...
— Transformar em que? — perguntou e, no segundo seguinte, a ruiva caiu, apagada, quase se estatelando no chão, se não fosse por Scott. Lydia estava parada no lugar, com um vaso com a metade quebrada na mão.
— O que? Ela ouviu vocês — tentou argumentar a outra ruiva.
— Mas não precisava apagar a menina! — retrucou Allison, que ninguém havia notado estar ali.
— A irmã dela está no corredor! — completou Stiles, indignado. — Vamos levá-la para dentro da sala.
Allison e Lydia seguraram um braço, e os rapazes, cada um uma perna, levando a moça para dentro da sala de aula, que foi quando apareceu no corredor, o cenho franzido e um celular na mão.
— Mas que caralho?! — quase berrou a moça, andando em passos apressados até o grupo. — Que porra estão fazendo com minha irmã?
Allison deu um pulo, largando o braço, que fez metade do torso de ir ao chão.
— Não é o que parece, . — Allison tentou remediar.
Lydia atirou o pedaço de vaso na Blackburn mais velha. O vaso flutuou no ar.
— Coloquem-na no chão! — ordenou , uma veia em sua têmpora saltou, pulsando loucamente. — Não me faça falar duas vezes.
Scott deitou cautelosamente no chão. Stiles o imitou.
— Afastem-se.
A mudança no costumeiro tom de voz distraído de Olivia foi tanta que Lydia foi a primeira a recuar. correu em direção a irmã, ajoelhando-se ao lado dela, checando seu pulso. Scott ainda olhava para o vaso flutuando no ar.
— O que é isso? — perguntou Scott, cutucando os cacos da peça de cerâmica.
levantou a cabeça da irmã, vendo os estilhaços minúsculos de vidro cravados em sua pela. A raiva subiu à cabeça.
— Ah, lobo, eu vou matar você. — A moça olhou raivosa para McCall, os olhos ficando azuis por completo.
— O que é você? — perguntou Allison, olhando para com o cenho franzido.
— Malditos sejam vocês, Argents — respondeu a moça, deitando a cabeça da irmã delicadamente no chão. Os olhos ainda azuis. — Vocês me irritam.
— O que é você? — perguntou Stiles outra vez quando ficou em pé.
— Sou uma bruxa, graveto de pernas. Uma bruxa — retrucou Blackburn. — Criatura que domina forças sobrenaturais e da natureza, caso você seja muito burro e não saiba o que a palavra significa.
Scott olhava atento para . Ainda não conseguia se transformar, então precisava ficar atento, caso ela fosse para cima de seus amigos. Ainda tinha força para impedi-la. O que aconteceu a seguir pareceu ter a duração de nem um segundo: , ao invés de tentar brigar com Scott, ergueu uma mão para cada lado, a palma aberta na direção de Lydia, Allison e Stiles, e a outra fechando-se em punho na direção de Scott, que começou a tentar respirar, engasgando. O rapaz começou a tossir quando o ar parou definitivamente de entrar. A mão de estava quase toda fechada. Scott conseguia sentir seu pulmão se comprimindo, encolhendo cada vez mais, sentia a traqueia parando de trabalhar, tornando impossível que o oxigênio passasse, e seus amigos não podiam fazer nada, se não, assistir a cena apavorados, já que a moça os segurava no ar com a telescinese. Scott começou a ficar vermelho, as veias verdes saltadas no pescoço contrastando com a pele rosada fortemente. Não demorou muito para que ele começasse a ficar roxo, e a mão de só faltava um pouquinho para estar completamente fechada em punho.
Lydia sentia a garganta queimando, como se alguém a tivesse feito beber ácido puro. Seria este um dos efeitos da magia da garota parada à sua frente? Ela tentava, com todas as suas forças, mexer os braços, que pareciam colados ao tronco por algo invisível. Nem seus pés tocavam o chão. E o pânico em seu peito só crescia, queria ajudar Scott, queria impedir que o amigo morresse sufocado. A tonalidade roxa azulada que sua pele tomava servia apenas para deixá-la ainda mais apavorada. O que eu faria? O que diabos eu podia fazer contra uma bruxa?
Uma vozinha bem lá no fundo de seu consciente parecia ter a resposta para aquela tola pergunta. Primeiro conseguiu ouvir apenas um ruído, enquanto tentava mexer seus braços, mas, então, a voz foi tomando volume e tom. Era a sua própria voz. Sua própria voz lhe dizendo a seguinte frase: grite, Lydia, grite!
O berro agudo e rouco cortou o ar no segundo seguinte. abaixou ambas as mãos, apertando com força seus ouvidos, que vertiam sangue assim como seus olhos. Scott caiu de joelhos no chão, tossindo loucamente, sentindo a sensação maravilhosa que era o ar entrando em seus pulmões. ajoelhou-se, com o sangue pingando no chão de mármore branco. No segundo seguinte, caiu apagada como a irmã.
Ele ficou me encarando, os olhos azuis mostrando certa raiva. Ele era mais bonito do que eu notara. Tinha cabelo escuro e bagunçado, com uma rala barba por fazer cobrindo o rosto, os lábios rosados parecem bons para beijar, sem falar dos braços musculosos cruzados sobre o peito largo, deixando-o mais gato ainda.
Meu Senhor, tenho que parar de ser tão pervertida desse jeito.
Ele continuava me encarando, como se eu fosse um alvo no qual ele se imaginava fazendo vários buracos a faca. Reconheci o olhar, porque o dei-[ repetidamente para .
— Já se decidiu? — perguntei, ficando entediada.
— Me decidi? — Ele quase franziu o cenho em confusão.
— É, se vai me agarrar, ou vai querer vingança por eu ter atirado em você. — Dei de ombros, dando um leve peteleco no joelho, para afastar um pequeno mosquitinho que ali estava. — Por mais que eu ache que a primeira opção é bem mais vantajosa para ambos, já que seria vergonhoso um cara desse tamanho e com essa cara de mau tomar porrada de uma simples e indefesa adolescente como eu.
Ele deu três passos em minha direção. Pulei da bancada, ficando em pé à sua frente.
— Se conseguiu me dar três tiros, não tem nada de indefesa, ou simples, garota — retrucou ele, os braços caindo nas laterais do corpo. — Peter me falou sobre você.
— Se tivesse falado tudo, você não estaria me chamando de garota, criança — sorri de canto, quase que convidando-o com palavras do século 17 para comprar briga comigo.
Analisei seu rosto atentamente. Agora, eu lembrava quem era!
— Agora, eu me lembro de você! — Dei um pulinho de alegria. — Você é o garoto que matou a namorada. Claro, claro! O que se achava pra caramba.
Ele trincou a mandíbula, com a menção da garota morta, as mãos fechando em punho. Estava mesmo me perguntando quando ele ia se revelar o mesmo esquentadinho da adolescência. Escutei um clique vindo da porta. As pessoas achariam mais que estranho ter um cara no banheiro feminino, assim como eu não estou nem um pouco a fim de ser expulsa de bar nenhum hoje. Minhas engrenagens funcionaram com o clique. O empurrei para dentro de um reservado, tapando sua boca, e ele grasnou, tentando falar. Acertei um tapa estalado em sua mão, que tentava me afastar, e indiquei o par de pés visíveis no vão da porta. Ele parou de tentar. Destapei sua boca, o cheiro amadeirado que vinha dele tornou difícil respirar, e o calor fez minha pele pinicar. Reservado pequeno demais para duas pessoas. Empurrei a porta com o pé e saí apressada do reservado e do banheiro, virando a rodada de tequila, quase que num gole só, deixando uma nota de cem no balcão e saindo, quase que correndo, do bar. E minha cabeça voltou a latejar com violência.
— Onde você estava? — me perguntou enquanto varria a sala do apartamento.
— Sei beber — respondi, deixando a carteira sobre a bancada e indo atrás de um Advil. — Estou muito irritada para me importar com aquela escola estúpida. Continuamos o teatro amanhã e, sim, nós precisamos, ainda não descobrimos quem está possuído. Cara, como esse Mr. M sabe das coisas!
Carregando de ironia a última frase, coloquei três advils na boca e virei um copo com água.
— Você está bem, Liv? — apoiou a vassoura na parede, me olhando com o cenho franzido. — Está pálida.
— Minha cabeça dói... — minha voz saiu, quase que num sussurro.
— Vai ter uma visão? — Ela arregalou os olhos, quase entrando em pânico. — Quer sentar?
— Não, não é a dor das visões, é mais forte. Parece que minha cabeça vai explodir. — Cocei os olhos, colocando o copo na pia. — Vou precisar de mais Advil.
Fui para o quarto, me jogando de braços abertos na cama fofa e afundando o rosto num travesseiro. A escuridão nunca me pareceu tão maravilhosa. Assim que adormeci, o sonho em que mergulhei foi tão perturbador quanto minha dor de cabeça:
Uma mulher de cabelo longo e negro corria por uma mata, mas o longo vestido azul cobalto limitava o movimento de suas pernas, fazendo-a tropeçar em algumas raízes retorcidas no chão. Um berro agudo cortou o silêncio da noite, seguido por um som gorgolejante.
— Valerious... Onde está você? Hum? Vamos ter que brincar? — a voz ecoou por quase toda a mata. — Então vamos brincar. Peek-a-boo! Where are you?
— Morra, Gabriel! — a moça berrou, nem se dando ao trabalho de virar o rosto. — Morra!
— Não serei eu quem morrerá hoje... — o homem cantarolou. Agora, consegui ver a luz da tocha iluminar as árvores. — Vamos logo, Valerious. Não tenho a noite toda.
A moça tropeçou em um tronco e caiu de joelhos no chão. Com o pé virado num angulo estranho, ela sentou. Agora, via seu rosto... A mulher era eu.
Acordei num pulo, ofegando e suando frio. Olhei para o relógio digital sobre o criado, que marcava três e meia da manhã. Eu havia dormido isso tudo? Levantei-me, jogando os cobertores para o lado, ficando em pé e sentindo o frio do assoalho subir pela minha panturrilha.
Girei a maçaneta e abri a porta, saindo para o corredor escuro e deserto, com passos lentos e acuados. Do que eu estava com medo, afinal? Pisei em algo molhado e pegajoso. Tateei o sofá, sentindo, até o estofado úmido.
— ? — chamei, num murmuro, sentindo um aperto involuntário no peito. — ? Você está aí?
Passei a mão outra vez pelo sofá; agora, minha mão encontrou outra mão, fria e suja. Bati a mão na parede com tanta força que a luz se acendeu. E a cena que vi fez meu coração parar, quase que literalmente, no peito: estava estirada no sofá, os olhos vidrados mirando a TV, com três buracos no peito e coberta de sangue.
— Não, não, não. Não, por favor, não — comecei a soluçar compulsivamente, tocando o peito esburacado de minha irmã. — Por favor, não, . Não, não, não morra. Oh, minha irmã...
Ouvi o tilintar familiar de uma espada batendo em algo vir das sombras da cozinha e, então, o rosto mais que familiar ficou visível pela meia luz da sala.
— Oh, olá, .
Então, eu acordei outra vez, com um berro entalado na garganta. Puxei o ar ruidosamente, quase caindo de joelhos para fora da cama. Sequei uma lágrima solitária, que insistia em cair, levantando trôpega do chão, quase correndo para o outro quarto. A palpitação parou quando vi enrolada num cobertor, dormindo calmamente em sua cama.
POV OFF.
POV ON.
Acordei lentamente, sentindo meus olhos arderem por conta da luz, que entrava pela cortina aberta. Bocejei, me espreguiçando na cama.
— ? — chamei, indo ao banheiro.
— Hum? — ela respondeu. — Bom dia.
— Bom dia. — Mudei meu curso para a cozinha, vendo-a colocar todos os advils de uma cartela na boca, virando um copo com água em três goles. — Tá tudo bem?
— Uhum, só minha cabeça que ainda dói. — Ela jogou a cartela vazia no lixo, colocando o copo no escorredor. — Pronta para voltar ao teatrinho?
— Oh, nem me fale naquela escolinha. Cara, se não tivéssemos que descobrir quem é que está possuído, nem pisava naquele lugar. Odeio escolas — respondi, me jogando no sofá. — Vamos comer onde hoje?
— Não gostou dos donuts de anteontem? — Ela franziu o cenho, prendendo o cabelo num rabo-de-cavalo. — Sei lá, estou pensando em dar uma volta pela cidade, ver se achamos algum café bom.
— E depois tortura.
— Ah, qual é! O do queixo torto é a fim de você, não vejo maneira melhor para fazer com que ele se torne uma diversão. — Ela deu de ombros, sentando-se no encosto do sofá. — E não se faça de sonsa. Você notou a maneira como ele te olhou, só fingiu que não.
— Você é insuportável quando quer, . — Revirei os olhos, deitando a cabeça de lado e olhando para ela, que me olhava sugestiva. — Ai, tá! Eu percebi, assim como também percebi a tensão que rola entre ele e sua nova BFF.
— Allison não é minha nova “BFF’’. — Ela fez aspas com os dedos. — Ela é a uma Argent, . Argents não são legais, não importa qual.
— Yeah, Gerard era um psicopata completo.
levantou-se, indo ao banheiro, o rabo-de-cavalo se desfazendo, e a cabeleira castanha escura caindo por suas costas. Levantei-me, num salto, do sofá, indo ao meu quarto e começando a revirar as malas, que nem me dei ao trabalho de desfazer. Separei uma camiseta do Metallica e um jeans surrado, junto de uma camisa xadrez preta e branca, e o mesmo par de coturnos que sempre uso. 20 minutos depois, saiu do banheiro, secando o cabelo.
— Faz quanto tempo que você não os corta? — perguntei, entrando no banheiro, e segurei a porta aberta. — Desde a era Medieval?
— Ai, boba. Eu usava cabelo curto na década de vinte, se não se lembra — ela riu.
— Cristo! Quase 100 décadas sem cortar o cabelo! — Brinquei, fechando a porta atrás de mim.
Enfiei-me embaixo do chuveiro, molhando o cabelo e sentindo cada músculo do meu corpo relaxar com a água quente. Nossa! Como isto era bom! Fiquei mais vinte minutos debaixo da água, me esfregando com o sabonete de cereja que comprou, que, por incrível que pareça, fez todo o banheiro ficar cheirando a cereja. Desliguei o registro e me enrolei em uma toalha, voltando ao meu quarto.
estava sentada no sofá, arrumando o cabelo quando saí do quarto. Ela usava uma baby look gola V azul escuro, com uma calça de cintura alta e um par de botas de salto médio, com uma leve maquiagem cobrindo o rosto.
— Está pronta? — Ela me encarou como se não me visse há séculos.
— O quê?
— Nada, só estou feliz por estarmos juntas. — Ela me levantou e me abraçou apertado. — Juro que nunca vou deixar nada te acontecer. É uma promessa.
— Você sabe que eu sempre irei te proteger também, minha querida. — Retribuí seu aperto, afagando o cabelo com cheiro de rosas. — Sempre. É o nosso pacto, lembra? Não precisamos de ninguém além de uma da outra.
Ela sorriu e me deu um beijo na testa, com os olhos lacrimejando. O que aconteceu? Será que ela viu alguma coisa relacionada a mim? Algo ruim? Bom, nem adiantava perguntar, já que ela não me contaria, de qualquer jeito.
— Pronta? Hoje o café é por minha conta. — sorriu, limpando os olhos. — Pago donuts extras.
Sorri, travessa, e puxei a mochila em cima do sofá, indo sorridente à porta.
POV OFF.
O homem sentou-se em uma das cadeiras da mesa, olhando com desaprovação para a esposa sentada à sua frente, que olhava nervosa para as mãos, que se moviam freneticamente, fazendo uma cama de gato com um elástico.
— Não acredito nisso, Noshiko. — O senhor Yukimura balançou a cabeça, em desaprovação. — Você não devia tê-las chamado para cá. Você conhece as histórias.
— Não tinha mais ideias, elas me pareceram a única opção viável. Nossa filha também está em perigo aqui. O nogitsune pode matá-la também — argumentou a mulher, parecendo cansada.
— Mas você devia ter falado comigo, antes de chamar as Blackburn para a cidade! Elas trazem morte para qualquer lugar que vão — respondeu o homem, parecendo exausto por ter que discutir o assunto outra vez.
— Elas são pagas para matar, querido — respondeu Noshiko, quase soando irônica. — E são as únicas capazes de matar o que eu trouxe pra nossas vidas.
— Trazer mercenárias para o nosso lar não vai resolver nossos problemas. — Yukimura bateu com a mão aberta na mesa. — Nós vamos encerrar esse contrato.
— Uma vez contratadas, elas vão até o fim, sem cancelamento — suspirou Noshiko, passando as mãos trêmulas pelo rosto. — Não tem mais jeito.
abocanhou o donut, sujando as extremidades dos lábios com a cobertura de chocolate. Parecendo uma criança feliz, riu, estendendo um guardanapo à sua irmã.
— Você está com a boca toda suja de chocolate. — bebeu um longo gole de café, para ajudar o lanche natural descer pela garganta. — Você parece uma criança comendo donuts.
— Ei! É que eles são tão deliciosos, eu apenas me... Delicio. — riu, limpando o chocolate da boca. — E os de morango são os melhores.
— Não saberia dizer, já que não como donuts. — A mais velha deu de ombros, comendo um último pedaço do lanche numa dentada só. — Não sei, são doces demais, dá pra sentir os cristais de açúcar.
— Esta é a intenção: sentir a gordura e o açúcar. — fez uma expressão de “Mana, você está dizendo o óbvio’’. — É como fast food, você não come porque acha saudável.
— Você é estranha. — riu, terminando seu café.
— É, vem de sangue.
— Vamos logo — a outra riu, tirando uma nota de cinquenta do bolso e deixando na mesa. — Temos que ir à escola.
puxou a mochila da cadeira ao seu lado, pegando o último donut do prato e o enfiando na boca.
25 minutos depois, girou o volante do Jeep, entrando em uma vaga bem em frente às escadas das portas da frente da escola e mordendo uma pelinha solta do lábio inferior, com um par de óculos escuro cobrindo os olhos, enquanto berrava, junto de uma música do Elvis, batucando com a mão no painel do carro e chacoalhando a cabeça animadamente.
— Looooove me trueeeeeeeee — cantou a ruiva, com um tom esganiçado, enquanto a irmã ria alto.
— The Voice, American Idol ou The X Factor?
— O que tem? — franziu o cenho.
— Escolha um para eu te inscrever. — Liv deu de ombros, encrespando os lábios.
— Ai, engraçadinha. Ha ha ha.
As duas juntaram suas mochilas, que estavam no banco de trás do carro, saindo para a ensolarada, mas fria, manhã de Beacon Hills. O estacionamento estava apinhado de adolescentes, alguns estacionando seus carros, e outros, agarravando-se nos bancos espalhados pelo jardim, que, agora, estava coberto de folhas secas da cor do fogo.
— Hoje, a gente descobrimos quem é a porra do possuído. — bocejou, sem nem ver uma garota dar um tapa no namorado por encarar seu quadril avantajado. — Tô ficando de saco cheio desse caso.
— Tá é com saudades de Malibu e das festas do Daniel, fingida. — retrucou, empurrando a porta dupla azul da entrada da escola.
— Ah, e o que é que tem? Aquele mar maravilhoso com aquela casa maravilhosa, o whisky de primeira... — lembrou , com um sorriso no rosto.
— Qual é o problema com o whisky daqui?
— Já bebeu a porcaria que eles vendem? — A moça arqueou uma sobrancelha para a irmã, abrindo seu armário.
Scott fechou a porta de seu armário com um baque, vestindo a jaqueta, e Stiles o olhou sugestivo, com os braços cruzados sobre o peito magricelo.
— Que foi? — perguntou o rapaz, irritado.
— A garota ruiva, você gosta dela. — Stiles sorriu travesso, vendo não muito atrás com o cabelo liso caindo sobre os ombros. — Olha ela aí.
aproximou-se, com um sorriso amigável nos lábios, reparando que o menor, o qual ela não lembrava o nome, estava pálido, mais que o normal, e com os olhos fundos.
— Oi, pessoal — sorriu, soltando a alça da mochila.
— Oi... — Scott começou a cumprimentar, ficando constrangido por não lembrar o nome da moça.
— . , Scott — completou a moça, com um sorriso nos lábios. — Pode me chamar de .
— , desculpe, eu estava tão avoado anteontem que não prestei atenção quando as garotas apresentaram vocês — explicou-se ele, olhando, com um sorriso, para . — Oi.
olhou com uma expressão de “Eu te disse. E olha como eu disse’’, quando viu o sorriso de Scott para . Allison desceu as escadas que davam para o terceiro andar, junto de Isaac. A expressão de Scott fechou.
— Então, gente, as aulas foram muitos tediosas ontem? — perguntou , tentando inutilmente quebrar o clima tenso.
— Whitman não gostou muito de vocês. — Stiles tentou ajudar, enquanto Allison e Isaac iam em direção aos amigos. — Hoje só tem o coach de carne de pescoço.
Finstock era o tipo adorável de professor que sempre conquista os alunos.
— O adorável Bobby Finstock. — Brincou Isaac, o cachecol verde musgo contrastando com os olhos azuis. — Adoro fazer parte do time de lacrosse por causa dele.
— Ou seja, você que seja irritante — retrucou Stiles. — Cara, tá uns 25 graus lá fora, para que esse cachecol?
— Dá um charme, Stilinski.
Bobby Finstock empurrou a porta da sala, entrando com passos pesados no recinto. Todos os alunos viraram para frente.
— Bom dia, coisinhas — desejou o homem, bocejando, o solado de borracha do tênis estalando contra o chão encerado.
O professor continuou, por mais vinte minutos, falando e falando sobre a matéria que ia desde a página 50 a 58. Até que virou-se para Stilinski, que estava duro na cadeira, olhando para as folhas do caderno, os olhos bem abertos.
— Stilinski! — berrou Finstock de sua mesa.
— Hum? Desculpe-me. — O rapaz olhou para os lados, desnorteado. — Acabei cochilando.
— Stiles... — começou Scott.
— Você não estava dormindo — completou , olhando para o garoto, preocupada. — Você está bem?
— Uhum.
— Venha aqui na frente para ler, garoto — mandou Finstock. Stiles levantou, contornando as cadeiras e parando ao lado da mesa de Bobby, e pegou o livro em cima da mesa. Ele olhou para o livro aberto, franzindo o cenho, piscou várias vezes e voltou sua atenção outra vez para o texto. As letras pareciam estar trocando de lugar, tornando impossível ler. Sua cabeça doía loucamente. — Você está bem, Stilinski?
— Eu leio, coach. — levantou-se de sua mesa, pegando o livro, e Stiles a agradeceu com os olhos, voltando à sua mesa, meio zonzo.
começou a ler o texto em voz alta, quase que recitando as frases. Scott ainda olhava para Stiles, preocupado com o amigo.
— Eu não consigo ler! — cochichou Stiles, puxando Scott de volta para dentro da sala. — Simplesmente, não consigo.
— Mas como? Tipo, nada, nada mesmo? — Scott franziu o cenho.
— As letras se embaralham, formam um emaranhado e palavra nenhuma. — O rapaz coçou a cabeça, sentindo a tensão nos ombros aumentar. — O que diabos está acontecendo com a gente?
estava com as costas colada aos armários, ouvindo atentamente ao que Stiles dizia.
— Você não consegue se transformar, Allison está vendo o fantasma da tia morta, e eu não consigo ler — completou Stilinski.
respirou fundo, fazendo sua melhor expressão de confusa. Nem sabia o porquê estava fazendo aquilo, só sabia que tinha que fazer alguma coisa. Dentro de seu peito, dizia que ela deveria ir lá e fazer sua melhor carinha de menina inocente e confusa.
— Transformar no que? — perguntou a moça, fazendo a espinha de Scott gelar.
— Daniel, quer desenrolar pra falar? — mandou , enfiando a mochila no armário com uma mão e segurando o celular com a outra. — Para de rir! Respire. Fale.
— Eu encontrei um livro que fala sobre o nogitsune — anunciou o rapaz, animado. — Parece um Grimório oriental. Monstruosamente grande.
— Você acha que há um meio de matar?
— Lógico, tudo pode ser morto. Menos você e , diferentonas. — Brincou ele, abrindo o enorme grimório, da grossura de duas palmas na horizontal. — Mas como qualquer ficção boa, vai ficar para o final. Eu estou chegando lá. Você e estão bem?
— Uhum. Não gosto desta cidade. — A moça bateu a porta do armário. — Já tive três visões desde que chegamos. Nem uma semana.
— Caralho! Mas você tinha quase uma por mês. Isso não é normal, gata. — O rapaz encheu outra xicara imensa de café. — Vou descobrir como matar esse troço, e vocês saem daí.
— Obrigado, Dan — a moça deu um breve sorriso. — Estou com saudades de Malibu.
— Minhas portas estão sempre abertas para vocês. Sabe disso.
— Família é família, não? — riu.
— Família é família — concordou Daniel, dando um enorme gole na xicara de café. A última frase veio em romeno: — Não morra, garota.
desligou a chamada, afastando-se do armário, a tempo de ver Lydia e Allison arrastando o corpo inerte de para dentro de uma sala, enquanto Stiles e Scott carregavam uma perna.
— Mas que caralho?! — ela quase berrou.
Alguns pouquíssimos minutos antes...
— Transformar em que? — perguntou e, no segundo seguinte, a ruiva caiu, apagada, quase se estatelando no chão, se não fosse por Scott. Lydia estava parada no lugar, com um vaso com a metade quebrada na mão.
— O que? Ela ouviu vocês — tentou argumentar a outra ruiva.
— Mas não precisava apagar a menina! — retrucou Allison, que ninguém havia notado estar ali.
— A irmã dela está no corredor! — completou Stiles, indignado. — Vamos levá-la para dentro da sala.
Allison e Lydia seguraram um braço, e os rapazes, cada um uma perna, levando a moça para dentro da sala de aula, que foi quando apareceu no corredor, o cenho franzido e um celular na mão.
— Mas que caralho?! — quase berrou a moça, andando em passos apressados até o grupo. — Que porra estão fazendo com minha irmã?
Allison deu um pulo, largando o braço, que fez metade do torso de ir ao chão.
— Não é o que parece, . — Allison tentou remediar.
Lydia atirou o pedaço de vaso na Blackburn mais velha. O vaso flutuou no ar.
— Coloquem-na no chão! — ordenou , uma veia em sua têmpora saltou, pulsando loucamente. — Não me faça falar duas vezes.
Scott deitou cautelosamente no chão. Stiles o imitou.
— Afastem-se.
A mudança no costumeiro tom de voz distraído de Olivia foi tanta que Lydia foi a primeira a recuar. correu em direção a irmã, ajoelhando-se ao lado dela, checando seu pulso. Scott ainda olhava para o vaso flutuando no ar.
— O que é isso? — perguntou Scott, cutucando os cacos da peça de cerâmica.
levantou a cabeça da irmã, vendo os estilhaços minúsculos de vidro cravados em sua pela. A raiva subiu à cabeça.
— Ah, lobo, eu vou matar você. — A moça olhou raivosa para McCall, os olhos ficando azuis por completo.
— O que é você? — perguntou Allison, olhando para com o cenho franzido.
— Malditos sejam vocês, Argents — respondeu a moça, deitando a cabeça da irmã delicadamente no chão. Os olhos ainda azuis. — Vocês me irritam.
— O que é você? — perguntou Stiles outra vez quando ficou em pé.
— Sou uma bruxa, graveto de pernas. Uma bruxa — retrucou Blackburn. — Criatura que domina forças sobrenaturais e da natureza, caso você seja muito burro e não saiba o que a palavra significa.
Scott olhava atento para . Ainda não conseguia se transformar, então precisava ficar atento, caso ela fosse para cima de seus amigos. Ainda tinha força para impedi-la. O que aconteceu a seguir pareceu ter a duração de nem um segundo: , ao invés de tentar brigar com Scott, ergueu uma mão para cada lado, a palma aberta na direção de Lydia, Allison e Stiles, e a outra fechando-se em punho na direção de Scott, que começou a tentar respirar, engasgando. O rapaz começou a tossir quando o ar parou definitivamente de entrar. A mão de estava quase toda fechada. Scott conseguia sentir seu pulmão se comprimindo, encolhendo cada vez mais, sentia a traqueia parando de trabalhar, tornando impossível que o oxigênio passasse, e seus amigos não podiam fazer nada, se não, assistir a cena apavorados, já que a moça os segurava no ar com a telescinese. Scott começou a ficar vermelho, as veias verdes saltadas no pescoço contrastando com a pele rosada fortemente. Não demorou muito para que ele começasse a ficar roxo, e a mão de só faltava um pouquinho para estar completamente fechada em punho.
Lydia sentia a garganta queimando, como se alguém a tivesse feito beber ácido puro. Seria este um dos efeitos da magia da garota parada à sua frente? Ela tentava, com todas as suas forças, mexer os braços, que pareciam colados ao tronco por algo invisível. Nem seus pés tocavam o chão. E o pânico em seu peito só crescia, queria ajudar Scott, queria impedir que o amigo morresse sufocado. A tonalidade roxa azulada que sua pele tomava servia apenas para deixá-la ainda mais apavorada. O que eu faria? O que diabos eu podia fazer contra uma bruxa?
Uma vozinha bem lá no fundo de seu consciente parecia ter a resposta para aquela tola pergunta. Primeiro conseguiu ouvir apenas um ruído, enquanto tentava mexer seus braços, mas, então, a voz foi tomando volume e tom. Era a sua própria voz. Sua própria voz lhe dizendo a seguinte frase: grite, Lydia, grite!
O berro agudo e rouco cortou o ar no segundo seguinte. abaixou ambas as mãos, apertando com força seus ouvidos, que vertiam sangue assim como seus olhos. Scott caiu de joelhos no chão, tossindo loucamente, sentindo a sensação maravilhosa que era o ar entrando em seus pulmões. ajoelhou-se, com o sangue pingando no chão de mármore branco. No segundo seguinte, caiu apagada como a irmã.
Capítulo 5 - Parte I
Blackburn POV ON.
Abri os olhos vagarosamente. Com uma luz artificial fazendo minhas vistas arderem, me sentei lentamente na cama. Que está dura demais. Lembro-me do colchão ser mais confortável que isto. Levantei a mão para coçar a nuca, mas minhas unhas entraram em contato com a superfície plana de uma bandagem. Despertei por completo numa fração de segundos. Olhei para os lados, vendo que estava deitada numa maca de aço polido e que estava deitada numa igual, ao meu lado, com sua face pálida manchada de sangue seco. Pulei da maca, checando seu pulso. Estável. Bom, isto era bom. Significava que estava dopada, ou apagada, e que acordaria logo, e, como a conhecia bem, acordaria possuída de raiva.
— Finalmente acordou — uma voz masculina veio detrás de mim, e me limitei apenas a procurar por ferimentos em . — Estava me perguntando qual acordaria primeiro.
Quando não achei ferimento algum, me virei lentamente para ver o rosto de quem falava comigo: era um homem, na faixa de uns 37 anos, de estatura média e careca, que usava por cima de um sweater verde musgo e um jeans surrado, um jaleco branco, que, segundo o bordado sobre o bolso, o identificava como Dr. Allan Deaton.
— Você é , certo? — perguntou ele, me jogando uma garrafinha com água. Peguei no ar e abri. De repente, notei o quão sedenta estava, mas, no meio do caminho, ao levar a garrafinha até a boca, abri a palma sobre o recipiente, e uma substância começou a se solidificar no centro do líquido, com um brilho amarelado. Mistletoe. Esse cara era mais esperto do que parecia. Arqueei uma sobrancelha, fazendo uma expressão de ofendida, puxei a substância para fora e a desfiz no ar, entornando a garrafa e bebendo tudo em três goles.
— Você é . Scott disse que a ruiva é . Não é tão ruiva quanto Lydia, mas é ruiva. Então é você. — Ele tamborilou com os dedos longos e ossudos numa bancada, também de aço polido, dizendo as palavras quase que para si. — Como está? Sente alguma dor na cabeça? Tive que dar um ponto aqui e lá, mas não foi nada grave.
— Estou ótima, agradeço a preocupação. — Rodeei a maca, vendo um largo circulo feito com tramazeira à nossa volta. Isso explicava a falta de amarras. — Como minha irmã se feriu?
— O grito de Lydia causou certo dando, mas nada permanente — ele respondeu como se aquilo não fosse nada demais. — Já cuidei dela. Vai acordar novinha em folha.
— A banshee fez isto? — Apontei para desacordada, com uma sobrancelha arqueada de novo; desta vez, em descrença.
— Visto que foi a única saída de impedir sua irmã de matar Scott sufocado. — Vi, mesmo com a distância entre nós, o brilho de curiosidade em seus olhos, como se estivesse vendo algum animal raro em exposição. Odiava que me olhassem assim. — Mas, como eu disse, ela vai acordar bem.
— Mistletoe não faz efeito em nós. — Sentei-me na maca. Nem tramazeira nos prende, mas iria deixá-lo pensar que sim. — Devia ter tentado wolfsbane ou verbena, garanto que seria mais efetivo.
— Você sentiria o cheiro de qualquer jeito. — Ele deu de ombros, como se isso fosse uma conversa casual que se tem em qualquer momento do cotidiano.
Olhei fixamente para sua figura, usando minha visão intuitiva, mais que a mundana. Eu sentia meu radar apitando, sentia aquela sensação de ter outro poder no cômodo além do meu e de Liv. Fiz as engrenagens do meu cérebro rodarem mais rápido ainda.
Qual era o nome mesmo?
Ah, lembrei! Druída. O nome era druída.
— Estamos aqui há quanto tempo? — perguntei, sustentando o mesmo tom casual na conversa.
— Umas 3 horas. Desde que Stiles e Allison trouxeram vocês aqui — respondeu ele, olhando distraidamente para uma prancheta abarrotada de papéis e escrevendo algumas coisas com uma esferográfica azul. — Perdoe o círculo, mas é que não podíamos arriscar sua irmã tentar matar mais alguém sufocado. Prezo minha vida, caso não se importe.
— Perdoe o temperamento difícil de minha irmã. Ela tende a ficar violenta quando estranhos quebram coisas na minha cabeça — respondi no mesmo tom casual; desta vez, deixando a ironia transparecer em meu tom. Queria saber até que ponto esse povo sabia de nós. — Caso não se importe, pode me dar um cobertor? Minha irmã está um pouco gelada.
E estava mesmo, só que não o suficiente para ser necessário um cobertor, levando em conta que a temperatura normal do corpo de era vinte e cinco graus. Allan começou a fuçar alguns gaveteiros de madeira branca e me jogou uma manta cinza logo em seguida. Peguei o cobertor no ar, fazendo uma ponta raspar no círculo de tramazeira, desfazendo a linha. Eles não sabiam que tramazeira não nos prendia, mas, também, não precisavam ter conhecimento desse detalhe. Então isso seria uma boa explicação para quando eu ficasse de saco cheio e desse o fora daqui. Desfiz as dobras do cobertor e coloquei sobre o corpo de , cujo o peito subia e descia lentamente.
— Eu sei o que quer perguntar. — Ele abaixou a prancheta, me olhando com o mesmo brilho de curiosidade. — Nós não sabemos como neutralizar vocês, apenas sabemos o que são.
Isso era bom. Muito bom.
— Você é bem desantenado para um druída — gracejei, com um sutil sorrisinho nos lábios. — O sobrenome Deaton está fazendo cócegas no meu cérebro.
Ele ignorou a segunda frase, me olhando com o cenho franzido.
— Como sabe o que eu sou? — indagou, mas quem ignorou desta vez fui eu. Enrijeci a postura quando senti aquela mesma sensação, aquele peso desconfortável no peito, aquela ardência nas narinas e aquele mesmo fedor do veneno que todo Hale carrega consigo. Meu modo psicopata odiosa ficou ativo. Estava mesmo me perguntando quando essa prole do Satanás iria aparecer de novo em nossas vidas. Obrigado, Deus, por estar apagada. Mas conhecendo a peça como eu conheço, ela já se encontrou com ele.
— Olá, — a voz rouca e grossa soou suave e mansa.
Abri os olhos vagarosamente. Com uma luz artificial fazendo minhas vistas arderem, me sentei lentamente na cama. Que está dura demais. Lembro-me do colchão ser mais confortável que isto. Levantei a mão para coçar a nuca, mas minhas unhas entraram em contato com a superfície plana de uma bandagem. Despertei por completo numa fração de segundos. Olhei para os lados, vendo que estava deitada numa maca de aço polido e que estava deitada numa igual, ao meu lado, com sua face pálida manchada de sangue seco. Pulei da maca, checando seu pulso. Estável. Bom, isto era bom. Significava que estava dopada, ou apagada, e que acordaria logo, e, como a conhecia bem, acordaria possuída de raiva.
— Finalmente acordou — uma voz masculina veio detrás de mim, e me limitei apenas a procurar por ferimentos em . — Estava me perguntando qual acordaria primeiro.
Quando não achei ferimento algum, me virei lentamente para ver o rosto de quem falava comigo: era um homem, na faixa de uns 37 anos, de estatura média e careca, que usava por cima de um sweater verde musgo e um jeans surrado, um jaleco branco, que, segundo o bordado sobre o bolso, o identificava como Dr. Allan Deaton.
— Você é , certo? — perguntou ele, me jogando uma garrafinha com água. Peguei no ar e abri. De repente, notei o quão sedenta estava, mas, no meio do caminho, ao levar a garrafinha até a boca, abri a palma sobre o recipiente, e uma substância começou a se solidificar no centro do líquido, com um brilho amarelado. Mistletoe. Esse cara era mais esperto do que parecia. Arqueei uma sobrancelha, fazendo uma expressão de ofendida, puxei a substância para fora e a desfiz no ar, entornando a garrafa e bebendo tudo em três goles.
— Você é . Scott disse que a ruiva é . Não é tão ruiva quanto Lydia, mas é ruiva. Então é você. — Ele tamborilou com os dedos longos e ossudos numa bancada, também de aço polido, dizendo as palavras quase que para si. — Como está? Sente alguma dor na cabeça? Tive que dar um ponto aqui e lá, mas não foi nada grave.
— Estou ótima, agradeço a preocupação. — Rodeei a maca, vendo um largo circulo feito com tramazeira à nossa volta. Isso explicava a falta de amarras. — Como minha irmã se feriu?
— O grito de Lydia causou certo dando, mas nada permanente — ele respondeu como se aquilo não fosse nada demais. — Já cuidei dela. Vai acordar novinha em folha.
— A banshee fez isto? — Apontei para desacordada, com uma sobrancelha arqueada de novo; desta vez, em descrença.
— Visto que foi a única saída de impedir sua irmã de matar Scott sufocado. — Vi, mesmo com a distância entre nós, o brilho de curiosidade em seus olhos, como se estivesse vendo algum animal raro em exposição. Odiava que me olhassem assim. — Mas, como eu disse, ela vai acordar bem.
— Mistletoe não faz efeito em nós. — Sentei-me na maca. Nem tramazeira nos prende, mas iria deixá-lo pensar que sim. — Devia ter tentado wolfsbane ou verbena, garanto que seria mais efetivo.
— Você sentiria o cheiro de qualquer jeito. — Ele deu de ombros, como se isso fosse uma conversa casual que se tem em qualquer momento do cotidiano.
Olhei fixamente para sua figura, usando minha visão intuitiva, mais que a mundana. Eu sentia meu radar apitando, sentia aquela sensação de ter outro poder no cômodo além do meu e de Liv. Fiz as engrenagens do meu cérebro rodarem mais rápido ainda.
Qual era o nome mesmo?
Ah, lembrei! Druída. O nome era druída.
— Estamos aqui há quanto tempo? — perguntei, sustentando o mesmo tom casual na conversa.
— Umas 3 horas. Desde que Stiles e Allison trouxeram vocês aqui — respondeu ele, olhando distraidamente para uma prancheta abarrotada de papéis e escrevendo algumas coisas com uma esferográfica azul. — Perdoe o círculo, mas é que não podíamos arriscar sua irmã tentar matar mais alguém sufocado. Prezo minha vida, caso não se importe.
— Perdoe o temperamento difícil de minha irmã. Ela tende a ficar violenta quando estranhos quebram coisas na minha cabeça — respondi no mesmo tom casual; desta vez, deixando a ironia transparecer em meu tom. Queria saber até que ponto esse povo sabia de nós. — Caso não se importe, pode me dar um cobertor? Minha irmã está um pouco gelada.
E estava mesmo, só que não o suficiente para ser necessário um cobertor, levando em conta que a temperatura normal do corpo de era vinte e cinco graus. Allan começou a fuçar alguns gaveteiros de madeira branca e me jogou uma manta cinza logo em seguida. Peguei o cobertor no ar, fazendo uma ponta raspar no círculo de tramazeira, desfazendo a linha. Eles não sabiam que tramazeira não nos prendia, mas, também, não precisavam ter conhecimento desse detalhe. Então isso seria uma boa explicação para quando eu ficasse de saco cheio e desse o fora daqui. Desfiz as dobras do cobertor e coloquei sobre o corpo de , cujo o peito subia e descia lentamente.
— Eu sei o que quer perguntar. — Ele abaixou a prancheta, me olhando com o mesmo brilho de curiosidade. — Nós não sabemos como neutralizar vocês, apenas sabemos o que são.
Isso era bom. Muito bom.
— Você é bem desantenado para um druída — gracejei, com um sutil sorrisinho nos lábios. — O sobrenome Deaton está fazendo cócegas no meu cérebro.
Ele ignorou a segunda frase, me olhando com o cenho franzido.
— Como sabe o que eu sou? — indagou, mas quem ignorou desta vez fui eu. Enrijeci a postura quando senti aquela mesma sensação, aquele peso desconfortável no peito, aquela ardência nas narinas e aquele mesmo fedor do veneno que todo Hale carrega consigo. Meu modo psicopata odiosa ficou ativo. Estava mesmo me perguntando quando essa prole do Satanás iria aparecer de novo em nossas vidas. Obrigado, Deus, por estar apagada. Mas conhecendo a peça como eu conheço, ela já se encontrou com ele.
— Olá, — a voz rouca e grossa soou suave e mansa.
Capítulo 5 - Parte II
Passei o braço por debaixo das pernas de , segurando seus braços com a outra e jogando-a sobre meus ombros como um saco de batatas.
Firmei o torso do corpo e botei o primeiro pé para fora do círculo de tramazeira. Nunca vi druída mais desatento que esse, sorte a dele que foi eu quem acordou primeiro.
Puxei uma maca de inox para fora, fazendo mais tramazeira se espalhar pelo chão. Empurrei a porta dos fundos e saí correndo para fora da clínica, sentindo cada nervo do meu corpo protestar contra o fato de eu ter que carregar peso extra comigo, e um peso extra bem pesadinho.
precisava de uma dieta pra ontem. Estaquei no lugar ao ouvir a voz masculina berrar da entrada da clínica:
— Vá pela esquerda, Argent! — mandou Peter Hale, com a mesma presunção natural e habitual no tom. — Eu vou pela direita. Elas não vão escapar.
A inquietação da ansiedade começou a bombear junto do sangue, o gosto de bile me subindo à garganta. Não se desespere, , vocês sempre tomam o controle. Sempre.
“Simples! Abra um portal!”, chiou uma vozinha maldosa, bem lá no fundo do meu cérebro. “Sabe que pode.”
“Não abra!”, cortou a outra voz, desesperada. “Ele nos encontrariam em questão de horas. Lembre-se do que disse.”
“Ela está muito longe para sentir o rastro que o portal vai deixar, e está muito ocupada apagada”, a vozinha maldosa rosnou. “Vai nos agradecer quando acordar em Malibu.”
Eu corria freneticamente enquanto as duas partes da minha consciência discutiam internamente. O emaranhado de prédios se estendia por todo centro, desde o cinza mórbido do concreto, até o mais vivo carmim. Os becos de ruelas estreitas não pareciam ter fim. Muito menos o peso da carga extra. E ter que ouvir o repetido ruído de pneu raspando contra o asfalto só servia para me enervar mais ainda. Porra de Peter Hale.
Pouco tempo antes...
Virei o corpo, com uma sobrancelha arqueada, vendo o tórax masculino envolto pelas sombras do cômodo apagado, bem mais alto e musculoso que da última vez que o vi. Ele deu três passos na direção da luz, deixando seu rosto visível, ainda na penumbra.
— Cara, juro que eu pensava que você seria aquele tipo de filho da puta que iria recorrer a outro veneno para nunca perder a carinha de bebê que você tinha. — Apoiei-me na maca que estava deitada. — Mas vejo que preferiu deixar sua carcaça do jeito que estava.
— Nem todos preferem desgraçar suas famílias para conseguir uns dias a mais, . — Ele carregou meu apelido com todo seu cinismo.— Sem contar que seria tedioso viver até o fim do mundo.
— Fale da minha família outra vez, e eu esfolarei sua língua no piche, depois arrancarei fora! — respondi suavemente. — Deixarei a garganta para você conseguir comer. Viu como sou generosa?
— Sempre foi a mais doce. — Ele esticou o pescoço, para ver deitada na maca. — E a mais fácil de capturar, se me lembro bem, ou a coisa se inverteu?
— Estou começando a reconsiderar a parte em que disse que deixo a garganta.
Posiciono o dois dedos sobre o pulso de , sentindo sua pulsação sanguínea mais acelerada que antes. Ainda bem que esta cretina estava para acordar.
— E sua irmã continua deslumbrante... — Observou Peter. A essa altura, Allan Deaton já havia sumido.
Não, sério. Estava começando a querer esganar esse energúmeno. Nunca gostei desse infeliz.
— Mesma fuça de sempre, como se você não lembrasse. Ou o Alzheimer já tá te afetando? — questionei, com o cenho franzido, me divertindo ao máximo em zoar sua idade. Não que eu seja muito jovem. — Foi você, não foi? Que disse a eles que tramazeira nos prende também...
— Não sou o fã número um de vocês, desculpe.
Esperava que ele não notasse o que eu faria naquela hora: passei a unha, o mais fundo possível, na palma da mão, fazendo um corte, que sangrou instantaneamente, e comecei a desenhar os símbolos com o polegar na maca. Símbolo de banimento. Poderoso e perigoso, mas eficaz. Peter virou-se, e puxei a energia do símbolo no ar, o círculo com as runas místicas flutuava como uma névoa densa e roxa. Peter prontificou-se a deixar os olhos azuis, mas eu fui mais rápida, joguei o símbolo no chão, que pareceu ser marcado a ferro quente no concreto, e pisei com força em cima. Hale voou longe.
Algum tempo depois...
Bufei irritada e joguei o corpo de , que pairou no ar. Pisquei, deixando meus olhos em sua real forma. O poder fluiu por meu corpo, fazendo o vigor sobrenatural bombear junto do sangue. Não sentia mais fadiga nenhuma. Comecei a correr por toda extensão da rua, me concentrando em manter no ar e, ao mesmo tempo, manter minha velocidade. Vi o prédio branco e vermelho erguendo-se no fim da rua. Enfiei-me no beco lateral e comecei a escalar o cano, tentando não cair. Atravessei janela adentro, caindo com um baque surdo no chão de tacos de madeira. Apoiei os cotovelos na janela e puxei para cima, jogando-a sobre o sofá.
Coloquei-me em pé e me esparramei na poltrona de couro vermelho, puxando o ar loucamente. Nunca corri tanto na vida. Pisquei fortemente e os olhos voltaram ao normal. Agora, notei o cheiro de carne frita e pimenta no ar. Merda. Puxei a Colt Python presa com silver tape debaixo da poltrona e apontei para a silhueta masculina parada no arco da cozinha.
— Porra, Daniel! Que susto! — Abaixei a arma ao reconhecer o rosto de Jamesson na pouca luz. — Nossa, infeliz, e se eu tivesse atirado em você?
POV OFF.
— Você não iria — ele respondeu calmamente, depois olhou para esparramada no sofá. — O que aconteceu com ela?
— Ah, a esquentadinha não conseguiu ficar nem um mês sem arranjar encrenca — explicou , dando um chute na perna da irmã, pendurada para fora do sofá, com força o suficiente para deixar roxo num futuro não muito distante. — Uma banshee a apagou. Neta daquela Martin, ao que parece.
— Mexa a panela do chilli, vou dar uma olhada nela. — Daniel era um rapaz alto e musculoso. Por ter sido criado na Califórnia, tinha a pele com um tom de caramelo, o rosto de mandíbula marcada coberto por uma espessa barba, e o cabelo bagunçado caia sobre a testa. (n/a: tipo Edgar Ramirez em Point Break) apoiou-se na bancada de mármore escuro e começou a mexer o chilli com uma colher de pau. Daniel pegou uma maleta do balcão, que lembrava fielmente as maletas dos médicos do século 19, e abaixou-se ao lado de , abrindo o fecho acobreado. diminuiu o fogo. Jamesson tirou um pequeno frasco etiquetado com os dizeres: infusão de sangue de lycan com verbena. O sangue estava negro por conta da verbena. tirou uma caixinha preta de um dos gabinetes e jogou um pacotinho com uma seringa para Daniel, que pegou o pacote no ar, sem nem tirar os olhos da maleta.
Quando a agulha já estava na veia de , Daniel apertou o embolo da seringa. Os vinte miligramas de sangue de lycan e verbena automaticamente deixaram as veias do braço da morena negras.
— Onde conseguiu sangue de lycan? — franziu o cenho, olhando por cima do ombro de Daniel. — Faz eras que não vejo um. Lucian?
— Sim, tive que cuidar do infeliz faz um tempo. — Daniel tampou o pequeno frasco com uma rolha a rolha outra vez. — Peguei meu pagamento.
— Quanto?
— Hum... Duas bolsas.
— Caralho! Nunca que, em sã consciência, Lucian iria deixar você drenar duas bolsas dele — a moça riu, tirando duas tigelinhas de uma caixa. — Ele estava em coma ou o quê?
— Quase isso... — Jamesson murmurou em resposta, puxando a pálpebra de para cima. Os olhos não estavam em sua forma humana. — Não sei o que a banshee fez, mas o corpo vai trabalhar mais rápido para combater o sangue de lycan. Qualquer dano será curado junto.
— Ótimo. Assim, ela acorda mais rápido, e eu posso socar a cara dela mais rápido.
Daniel fechou a maleta e levantou-se, atirando a seringa na caixa de papelão designada para lixo.
— O chilli ficou bom? — perguntou, olhando para o molho vermelho recém servido na tigela, que fumegava.
— Espera um pouco... — pegou uma colher e entregou outra para Dan, que encheu e enfiou na boca. Seu rosto ficou automaticamente vermelho.
— Que porra de pimenta você colocou nisto aqui?
— Receita própria. — Ele riu travesso. — Não gostou?
— Ah, meu querido, eu adorei!
Daniel riu e comeu mais um tanto.
— Danny, você sabe que eu adoro quando você vem nos dar uma mão no trabalho... — colocou a tigela sobre a bancada, olhando séria para Daniel. — Mas por que está aqui? Não devia estar em Mali?
— Ela me achou, ferrugem... — Dan olhou para o nada, o olhar de malícia e brincadeira habitual sendo substituído por um de extrema tristeza. — Você devia ter visto o estrago, nossa casa queimada até o chão. Consegui acessar o subsolo pela caverna do penhasco e peguei algumas coisas. Esperei uns dias, peguei o Audi de emergência e vim dirigindo até aqui.
— Ela te seguiu? — O pavor estava começando a tomar conta de . — Seguiu?
— Não. Eu a feri com uma lança espectral. — Jamesson apertou carinhosamente a mão de , numa tentativa de tranquilizar a amiga. — O ferimento vai atrasá-la o suficiente, até a gente terminar e sumir.
— Nós sempre teremos Saint Barts. — Brincou , com um sorriso pesaroso.
Um silêncio pesado se instalou por todo o apartamento, enquanto os dois comiam, sem saber o que falar para quebrar o medo daquela ameaça. sentiu raiva, raiva por esquecer como era viver com a maldita sombra daquele fantasma de um passado distante.
Fantasma? Estava mais para demônio.
— Gabrielle! — berrou ao acordar, caindo do sofá. Tamanho o susto. deu um pulo, batendo a mão com força na torneira e derrubando a tigela que ela lavava. Os cacos da louça boiaram na água dentro da pia. — ?
— Estamos aqui. — Daniel sinalizou para si e para a ruiva, ajudando a levantar. — está bem.
— O que houve? Nós estávamos na escola... — olhou à sua volta, atordoada. — Você estava desacordada...
— O Alpha nos levou até uma druida. Eu acordei antes. Peter estava lá, ainda acha que tramazeira nos prende. — explicou, apertando a mão, que latejava com violência. — Eu disse que aquela cobra ia te apunhalar pelas costas.
— Cara, como minha cabeça dói — resmungou a morena, apoiando-se em Dan. — Ah, oi, Danny.
— Oi, .
sentou-se no sofá de três lugares, as veias de seus olhos ainda acinzentadas. As mãos tremiam compulsivamente.
— Eu fiquei apagada todo esse tempo? — perguntou , depois de contar todos os recentes acontecimentos.
— Sua pulsação estava acelerada, mas você não acordava.
— Não sei o que aquela porra de ruiva fez. Eu estava presa em uma visão. — respondeu, um arrepio percorrendo sua espinha, fazendo-a estremecer. — Só que essa era diferente... Mostrava o passado ao invés do futuro.
olhava fixamente para o vidro da mesa de centro e, quando explicou o que acontecera, estacou no lugar, com medo do que via a seguir.
Firmei o torso do corpo e botei o primeiro pé para fora do círculo de tramazeira. Nunca vi druída mais desatento que esse, sorte a dele que foi eu quem acordou primeiro.
Puxei uma maca de inox para fora, fazendo mais tramazeira se espalhar pelo chão. Empurrei a porta dos fundos e saí correndo para fora da clínica, sentindo cada nervo do meu corpo protestar contra o fato de eu ter que carregar peso extra comigo, e um peso extra bem pesadinho.
precisava de uma dieta pra ontem. Estaquei no lugar ao ouvir a voz masculina berrar da entrada da clínica:
— Vá pela esquerda, Argent! — mandou Peter Hale, com a mesma presunção natural e habitual no tom. — Eu vou pela direita. Elas não vão escapar.
A inquietação da ansiedade começou a bombear junto do sangue, o gosto de bile me subindo à garganta. Não se desespere, , vocês sempre tomam o controle. Sempre.
“Simples! Abra um portal!”, chiou uma vozinha maldosa, bem lá no fundo do meu cérebro. “Sabe que pode.”
“Não abra!”, cortou a outra voz, desesperada. “Ele nos encontrariam em questão de horas. Lembre-se do que disse.”
“Ela está muito longe para sentir o rastro que o portal vai deixar, e está muito ocupada apagada”, a vozinha maldosa rosnou. “Vai nos agradecer quando acordar em Malibu.”
Eu corria freneticamente enquanto as duas partes da minha consciência discutiam internamente. O emaranhado de prédios se estendia por todo centro, desde o cinza mórbido do concreto, até o mais vivo carmim. Os becos de ruelas estreitas não pareciam ter fim. Muito menos o peso da carga extra. E ter que ouvir o repetido ruído de pneu raspando contra o asfalto só servia para me enervar mais ainda. Porra de Peter Hale.
Pouco tempo antes...
Virei o corpo, com uma sobrancelha arqueada, vendo o tórax masculino envolto pelas sombras do cômodo apagado, bem mais alto e musculoso que da última vez que o vi. Ele deu três passos na direção da luz, deixando seu rosto visível, ainda na penumbra.
— Cara, juro que eu pensava que você seria aquele tipo de filho da puta que iria recorrer a outro veneno para nunca perder a carinha de bebê que você tinha. — Apoiei-me na maca que estava deitada. — Mas vejo que preferiu deixar sua carcaça do jeito que estava.
— Nem todos preferem desgraçar suas famílias para conseguir uns dias a mais, . — Ele carregou meu apelido com todo seu cinismo.— Sem contar que seria tedioso viver até o fim do mundo.
— Fale da minha família outra vez, e eu esfolarei sua língua no piche, depois arrancarei fora! — respondi suavemente. — Deixarei a garganta para você conseguir comer. Viu como sou generosa?
— Sempre foi a mais doce. — Ele esticou o pescoço, para ver deitada na maca. — E a mais fácil de capturar, se me lembro bem, ou a coisa se inverteu?
— Estou começando a reconsiderar a parte em que disse que deixo a garganta.
Posiciono o dois dedos sobre o pulso de , sentindo sua pulsação sanguínea mais acelerada que antes. Ainda bem que esta cretina estava para acordar.
— E sua irmã continua deslumbrante... — Observou Peter. A essa altura, Allan Deaton já havia sumido.
Não, sério. Estava começando a querer esganar esse energúmeno. Nunca gostei desse infeliz.
— Mesma fuça de sempre, como se você não lembrasse. Ou o Alzheimer já tá te afetando? — questionei, com o cenho franzido, me divertindo ao máximo em zoar sua idade. Não que eu seja muito jovem. — Foi você, não foi? Que disse a eles que tramazeira nos prende também...
— Não sou o fã número um de vocês, desculpe.
Esperava que ele não notasse o que eu faria naquela hora: passei a unha, o mais fundo possível, na palma da mão, fazendo um corte, que sangrou instantaneamente, e comecei a desenhar os símbolos com o polegar na maca. Símbolo de banimento. Poderoso e perigoso, mas eficaz. Peter virou-se, e puxei a energia do símbolo no ar, o círculo com as runas místicas flutuava como uma névoa densa e roxa. Peter prontificou-se a deixar os olhos azuis, mas eu fui mais rápida, joguei o símbolo no chão, que pareceu ser marcado a ferro quente no concreto, e pisei com força em cima. Hale voou longe.
Algum tempo depois...
Bufei irritada e joguei o corpo de , que pairou no ar. Pisquei, deixando meus olhos em sua real forma. O poder fluiu por meu corpo, fazendo o vigor sobrenatural bombear junto do sangue. Não sentia mais fadiga nenhuma. Comecei a correr por toda extensão da rua, me concentrando em manter no ar e, ao mesmo tempo, manter minha velocidade. Vi o prédio branco e vermelho erguendo-se no fim da rua. Enfiei-me no beco lateral e comecei a escalar o cano, tentando não cair. Atravessei janela adentro, caindo com um baque surdo no chão de tacos de madeira. Apoiei os cotovelos na janela e puxei para cima, jogando-a sobre o sofá.
Coloquei-me em pé e me esparramei na poltrona de couro vermelho, puxando o ar loucamente. Nunca corri tanto na vida. Pisquei fortemente e os olhos voltaram ao normal. Agora, notei o cheiro de carne frita e pimenta no ar. Merda. Puxei a Colt Python presa com silver tape debaixo da poltrona e apontei para a silhueta masculina parada no arco da cozinha.
— Porra, Daniel! Que susto! — Abaixei a arma ao reconhecer o rosto de Jamesson na pouca luz. — Nossa, infeliz, e se eu tivesse atirado em você?
POV OFF.
— Você não iria — ele respondeu calmamente, depois olhou para esparramada no sofá. — O que aconteceu com ela?
— Ah, a esquentadinha não conseguiu ficar nem um mês sem arranjar encrenca — explicou , dando um chute na perna da irmã, pendurada para fora do sofá, com força o suficiente para deixar roxo num futuro não muito distante. — Uma banshee a apagou. Neta daquela Martin, ao que parece.
— Mexa a panela do chilli, vou dar uma olhada nela. — Daniel era um rapaz alto e musculoso. Por ter sido criado na Califórnia, tinha a pele com um tom de caramelo, o rosto de mandíbula marcada coberto por uma espessa barba, e o cabelo bagunçado caia sobre a testa. (n/a: tipo Edgar Ramirez em Point Break) apoiou-se na bancada de mármore escuro e começou a mexer o chilli com uma colher de pau. Daniel pegou uma maleta do balcão, que lembrava fielmente as maletas dos médicos do século 19, e abaixou-se ao lado de , abrindo o fecho acobreado. diminuiu o fogo. Jamesson tirou um pequeno frasco etiquetado com os dizeres: infusão de sangue de lycan com verbena. O sangue estava negro por conta da verbena. tirou uma caixinha preta de um dos gabinetes e jogou um pacotinho com uma seringa para Daniel, que pegou o pacote no ar, sem nem tirar os olhos da maleta.
Quando a agulha já estava na veia de , Daniel apertou o embolo da seringa. Os vinte miligramas de sangue de lycan e verbena automaticamente deixaram as veias do braço da morena negras.
— Onde conseguiu sangue de lycan? — franziu o cenho, olhando por cima do ombro de Daniel. — Faz eras que não vejo um. Lucian?
— Sim, tive que cuidar do infeliz faz um tempo. — Daniel tampou o pequeno frasco com uma rolha a rolha outra vez. — Peguei meu pagamento.
— Quanto?
— Hum... Duas bolsas.
— Caralho! Nunca que, em sã consciência, Lucian iria deixar você drenar duas bolsas dele — a moça riu, tirando duas tigelinhas de uma caixa. — Ele estava em coma ou o quê?
— Quase isso... — Jamesson murmurou em resposta, puxando a pálpebra de para cima. Os olhos não estavam em sua forma humana. — Não sei o que a banshee fez, mas o corpo vai trabalhar mais rápido para combater o sangue de lycan. Qualquer dano será curado junto.
— Ótimo. Assim, ela acorda mais rápido, e eu posso socar a cara dela mais rápido.
Daniel fechou a maleta e levantou-se, atirando a seringa na caixa de papelão designada para lixo.
— O chilli ficou bom? — perguntou, olhando para o molho vermelho recém servido na tigela, que fumegava.
— Espera um pouco... — pegou uma colher e entregou outra para Dan, que encheu e enfiou na boca. Seu rosto ficou automaticamente vermelho.
— Que porra de pimenta você colocou nisto aqui?
— Receita própria. — Ele riu travesso. — Não gostou?
— Ah, meu querido, eu adorei!
Daniel riu e comeu mais um tanto.
— Danny, você sabe que eu adoro quando você vem nos dar uma mão no trabalho... — colocou a tigela sobre a bancada, olhando séria para Daniel. — Mas por que está aqui? Não devia estar em Mali?
— Ela me achou, ferrugem... — Dan olhou para o nada, o olhar de malícia e brincadeira habitual sendo substituído por um de extrema tristeza. — Você devia ter visto o estrago, nossa casa queimada até o chão. Consegui acessar o subsolo pela caverna do penhasco e peguei algumas coisas. Esperei uns dias, peguei o Audi de emergência e vim dirigindo até aqui.
— Ela te seguiu? — O pavor estava começando a tomar conta de . — Seguiu?
— Não. Eu a feri com uma lança espectral. — Jamesson apertou carinhosamente a mão de , numa tentativa de tranquilizar a amiga. — O ferimento vai atrasá-la o suficiente, até a gente terminar e sumir.
— Nós sempre teremos Saint Barts. — Brincou , com um sorriso pesaroso.
Um silêncio pesado se instalou por todo o apartamento, enquanto os dois comiam, sem saber o que falar para quebrar o medo daquela ameaça. sentiu raiva, raiva por esquecer como era viver com a maldita sombra daquele fantasma de um passado distante.
Fantasma? Estava mais para demônio.
— Gabrielle! — berrou ao acordar, caindo do sofá. Tamanho o susto. deu um pulo, batendo a mão com força na torneira e derrubando a tigela que ela lavava. Os cacos da louça boiaram na água dentro da pia. — ?
— Estamos aqui. — Daniel sinalizou para si e para a ruiva, ajudando a levantar. — está bem.
— O que houve? Nós estávamos na escola... — olhou à sua volta, atordoada. — Você estava desacordada...
— O Alpha nos levou até uma druida. Eu acordei antes. Peter estava lá, ainda acha que tramazeira nos prende. — explicou, apertando a mão, que latejava com violência. — Eu disse que aquela cobra ia te apunhalar pelas costas.
— Cara, como minha cabeça dói — resmungou a morena, apoiando-se em Dan. — Ah, oi, Danny.
— Oi, .
sentou-se no sofá de três lugares, as veias de seus olhos ainda acinzentadas. As mãos tremiam compulsivamente.
— Eu fiquei apagada todo esse tempo? — perguntou , depois de contar todos os recentes acontecimentos.
— Sua pulsação estava acelerada, mas você não acordava.
— Não sei o que aquela porra de ruiva fez. Eu estava presa em uma visão. — respondeu, um arrepio percorrendo sua espinha, fazendo-a estremecer. — Só que essa era diferente... Mostrava o passado ao invés do futuro.
olhava fixamente para o vidro da mesa de centro e, quando explicou o que acontecera, estacou no lugar, com medo do que via a seguir.
Capítulo 6
Flashback ON
A mulher brandia um par de machados de cabo curto, usando uma calça de couro e uma cota de malha para cobrir o torço. O rosto belo estava ferido e sujo de sangue. Atrás dela havia outra mulher usando um vestido de veludo verde musgo, com uma criança nos braços. O batalhão de soldados avançava lentamente, atentos e com suas armas em mãos. Sabiam o quão boa era a princesa quando o assunto era luta, e isso significava que não podiam nem sequer vacilar.
— Saia da frente, princesa — pediu Mycroft, o mais jovem e mais arrogante dos soldados.
A cota de malha da mulher começava a ficar coberta por uma fina camada de gelo da neve do inverno rigoroso.
— Princesa ...
— Se querem matar essa criança, vão ter que passar por mim primeiro — rugiu a princesa, irada. Realmente estava disposta a acabar com todos aqueles soldados e sabia que podia.
, caída no chão com seu recém-nascido filho nos braços, choramingou. Estava congelando até os ossos, e seu pequeno Benjen não parava de chorar, e, além de tudo, dependia de sua irmã para viver, já que nem sequer sabia lutar.
O primeiro soldado deu um paço à frente, brandindo sua espada, e arrancou metade de seu braço num golpe só. O guerreiro berrou de dor e foi ao chão. O segundo veio, que, sem sucesso algum, tentou ferir a princesa guerreira com um par de sabres, mas acabou com as tripas penduradas para fora do corpo.
Quando já havia massacrado metade do batalhão de soldados, nem se dera conta do perigo que espreitava logo atrás. Mycroft se esgueirava por trás de , que tentava acalmar seu filho. Mycroft agarrou a princesa mais nova, batendo com sua cabeça no chão de pedras, deixando-a completamente desnorteada, pegou a criança nos braços e sacou a adaga, a lâmina afiada brilhando com a luz das tochas. A cena seguinte fez com que congelasse, abaixando o machado com o qual acabara de arrancar a cabeça de um soldado. Mycroft enterrou a adaga no minúsculo peito da criança. berrou, horrorizada e completamente chocada. , irada por, no fim, não ter conseguido proteger a irmã, chutou com os dois pés um soldado e virou-se para Mycroft, tão possuída pela ira que os soldados que restaram recuaram.
— Tenha a decência de, ao menos, devolver essa criança à sua mãe — mandou ela, jogando os machados no chão e pegando uma espada. — Para que eu possa finalmente te matar, garoto arrogante. — Mycroft estendeu a criança para , estático com tamanha frieza no tom da princesa mais velha.
Mycroft conseguiu se defender da maioria dos ataques da princesa, mas acabou ferindo-se mais ainda.
— Você não mata um Valerious e fica sem receber a punição merecida.
E assim, enterrou a espada no peito do rapaz, que engasgou e caiu.
Já era noite quando acendeu uma fogueira para afastar o frio da floresta. permanecia congelada, olhando para o nada. Quando abrira um túmulo para o pequeno Benjen, ela só chorara mais ainda. levantou-se, pegando os dois machados da pedra sobre a qual os deixara e ofereceu um para , que só a olhou confusa.
— Levante a porra da bunda daí! — mandou a mais velha, ainda sentindo frio por estar apenas com aquela maldita cota de malha. — Vou te ensinar a lutar.
— Eu não, não levo jeito nenhum com armas...
— E foi isso que te deixou indefesa quando um guerreiro treinado te tomou seu filho. — chutou levemente a perna da irmã. — Vou te ensinar a lutar, ande logo.
— Eu não...
— Eu não vou falar de novo, . Se você não levantar daí para eu te ensinar a dar umas porradas, vou te dar porrada — ameaçou a morena. — Escolha o que te interessar mais.
levantou-se impaciente; estava cansada, assustada e triste, a última coisa que queria era aprender a lutar. Mas estava certa, não tinha que querer, ela precisava.
— Erga os braços. Não vai se defender com o ar, garota — instruiu a mais velha —, e eu não vou estar sempre por perto pra defender sua retaguarda.
— Você não me protege sempre...
— Quer que eu cite em ordem cronológica ou alfabética?
— A rainha ainda quer nossas cabeças numa lança, — sussurrou , puxando o capuz da capa para tapar o rosto. — Tome cuidado com quem fala...
— Nem todo mundo é espião da rainha, — retrucou , irritada.
— Nem todo mundo é santo, . — Uma carranca se formou no rosto de . — E a maioria nessa taverna vai abusar da sua ingenuidade, sem nem pensar duas vezes.
— Você é paranoica.
rosnou, enfiando um pedaço de queijo na boca. Por mais que soubesse que estava certa, não queria dar o braço a torcer, não para , que sempre fora a mais corajosa, a mais prendada e melhor guerreira.
ainda estava tendo aulas com a irmã, havia se familiarizado mais com um sabre que pegou de um homem que tentara atacá-las durante a madrugada, a arma era mais leve e curta que uma espada, mas ainda não estava cem por cento ótima no quesito luta corpo a corpo. Porém, como não dava descanso nas aulas, ela não estava muito longe disso.
— Coma logo e pare de ficar olhando para o nada — rosnou a morena. Já beirava à meia-noite quando finalmente conseguiu cochilar. Estava dividindo uma cama de casal com a mais nova e, pela primeira vez em um mês, sua irmã havia finalmente dormido profundamente. E não havia começado a gritar para que não matassem seu Benjen, o que já era um grande avanço.
O corredor da hospedagem estava vazio, mergulhado nas sombras, já que a maioria das velas espalhadas pelo cômodo foram apagadas. No fim do corredor, uma porta ainda estava aberta e, dentro daquele quarto, dois amigos altamente alcoolizados discutiam em “sussurros” gritados.
— São duas damas viajando sozinhas, nenhuma das duas tirou o capuz das capas na taverna! — sussurrou o mais alto e mais barbudo. — São as duas princesas fugitivas! Se as capturarmos, vamos ganhar uma recompensa gigante, Dimitru.
— A questão não é a recompensa, Aindreas! — rebateu o outro, cuspindo mais um tanto de saliva enquanto falava. — Os cartazes diziam que a princesa mais velha é a melhor guerreira de todo reino e que matou a Guarda Real com dois machados. Sabe o que isso significa? Que ela acaba com a gente em um estalar de dedos.
— Não se for pega durante o sono — o outro sorriu maliciosamente.
Depois de muito discutir, Aindreas convenceu seu amigo a ir até o quarto das duas moças que julgavam serem as princesas. Os dois já estavam um de cada lado da porta de madeira entalhada; Dimitru com duas adagas na mão, e Aindreas, com uma velha espada de esgrima.
— No três...
Dimitru girou a maçaneta e tentou empurrar a porta, mas algo a bloqueava.
— Posso, por gentileza, saber que porra os senhores estão tentando fazer? — perguntou , detrás da dupla, apoiada numa mesinha, que ocupava o espaço do corredor. O fecho da bainha dos machados preso em X em suas costas estavam abertas, prontos para serem sacados. — E por que estão tentando abrir a porta do quarto de uma dama armados e durante a madrugada?
— Porra! — praguejou Aindreas, depois de pular com o susto.
— Vou ter que arrancar a resposta dessa língua nojenta, cobrinha? — ralhou a morena, a cota de malha cintilando com a pouca luz.
— Você realmente é uma das princesas fugitivas! — quase berrou Dimitru, com o efeito do álcool deixando-o mais sobressaltado ainda. — Os cartazes diziam o que, Aindreas?
— Vale mais viva.
Antes que Dimitru pudesse fazer qualquer gracejo, um facão passou voando rente ao seu rosto, abrindo um curto e fundo corte na maçã de seu rosto. Com a surpresa, Aindreas olhou para a faca cravada na parede de madeira, tremendo, sendo acertado com um chute nas costas, enquanto Dimitru tentava, com uma das adagas, repelir o machado de , sem ter muito sucesso.
A princesa forçou os músculos do braço, aproximando mais ainda o machado do rosto de Dimitru. Aindreas, ainda meio grogue da bebida, acertou um chute na porta, fazendo-a abrir, sem espaço suficiente para entrar. Chutou e chutou. Até que a porta abriu.
estava nos fundos do quarto, grudada à parede e com o sabre na mão, tremendo feito vara verde. Seria mais fácil que tirar doce de criança render aquela ali. Quando ergueu o machado outra vez, para desferir, desta vez, um golpe mortal em Dimitru, Aindreas chamou sua atenção, apontando a ponta do sabre de para o pescoço da mesma. Típico, pensou a mais velha.
jogou o machado no chão, erguendo os braços, em sinal de rendição.
— Liberte-a, e eu não mato seu amigo — ofereceu a princesa.
— Não tão fácil assim, Alteza — retrucou Aindreas maliciosamente.
— Merda — sussurrou a morena, prevendo o que viria a seguir.
E Dimitru bateu com o cabo de madeira do machado na cabeça da mulher, fazendo-a cair como um fantoche no chão.
A mulher brandia um par de machados de cabo curto, usando uma calça de couro e uma cota de malha para cobrir o torço. O rosto belo estava ferido e sujo de sangue. Atrás dela havia outra mulher usando um vestido de veludo verde musgo, com uma criança nos braços. O batalhão de soldados avançava lentamente, atentos e com suas armas em mãos. Sabiam o quão boa era a princesa quando o assunto era luta, e isso significava que não podiam nem sequer vacilar.
— Saia da frente, princesa — pediu Mycroft, o mais jovem e mais arrogante dos soldados.
A cota de malha da mulher começava a ficar coberta por uma fina camada de gelo da neve do inverno rigoroso.
— Princesa ...
— Se querem matar essa criança, vão ter que passar por mim primeiro — rugiu a princesa, irada. Realmente estava disposta a acabar com todos aqueles soldados e sabia que podia.
, caída no chão com seu recém-nascido filho nos braços, choramingou. Estava congelando até os ossos, e seu pequeno Benjen não parava de chorar, e, além de tudo, dependia de sua irmã para viver, já que nem sequer sabia lutar.
O primeiro soldado deu um paço à frente, brandindo sua espada, e arrancou metade de seu braço num golpe só. O guerreiro berrou de dor e foi ao chão. O segundo veio, que, sem sucesso algum, tentou ferir a princesa guerreira com um par de sabres, mas acabou com as tripas penduradas para fora do corpo.
Quando já havia massacrado metade do batalhão de soldados, nem se dera conta do perigo que espreitava logo atrás. Mycroft se esgueirava por trás de , que tentava acalmar seu filho. Mycroft agarrou a princesa mais nova, batendo com sua cabeça no chão de pedras, deixando-a completamente desnorteada, pegou a criança nos braços e sacou a adaga, a lâmina afiada brilhando com a luz das tochas. A cena seguinte fez com que congelasse, abaixando o machado com o qual acabara de arrancar a cabeça de um soldado. Mycroft enterrou a adaga no minúsculo peito da criança. berrou, horrorizada e completamente chocada. , irada por, no fim, não ter conseguido proteger a irmã, chutou com os dois pés um soldado e virou-se para Mycroft, tão possuída pela ira que os soldados que restaram recuaram.
— Tenha a decência de, ao menos, devolver essa criança à sua mãe — mandou ela, jogando os machados no chão e pegando uma espada. — Para que eu possa finalmente te matar, garoto arrogante. — Mycroft estendeu a criança para , estático com tamanha frieza no tom da princesa mais velha.
Mycroft conseguiu se defender da maioria dos ataques da princesa, mas acabou ferindo-se mais ainda.
— Você não mata um Valerious e fica sem receber a punição merecida.
E assim, enterrou a espada no peito do rapaz, que engasgou e caiu.
Já era noite quando acendeu uma fogueira para afastar o frio da floresta. permanecia congelada, olhando para o nada. Quando abrira um túmulo para o pequeno Benjen, ela só chorara mais ainda. levantou-se, pegando os dois machados da pedra sobre a qual os deixara e ofereceu um para , que só a olhou confusa.
— Levante a porra da bunda daí! — mandou a mais velha, ainda sentindo frio por estar apenas com aquela maldita cota de malha. — Vou te ensinar a lutar.
— Eu não, não levo jeito nenhum com armas...
— E foi isso que te deixou indefesa quando um guerreiro treinado te tomou seu filho. — chutou levemente a perna da irmã. — Vou te ensinar a lutar, ande logo.
— Eu não...
— Eu não vou falar de novo, . Se você não levantar daí para eu te ensinar a dar umas porradas, vou te dar porrada — ameaçou a morena. — Escolha o que te interessar mais.
levantou-se impaciente; estava cansada, assustada e triste, a última coisa que queria era aprender a lutar. Mas estava certa, não tinha que querer, ela precisava.
— Erga os braços. Não vai se defender com o ar, garota — instruiu a mais velha —, e eu não vou estar sempre por perto pra defender sua retaguarda.
— Você não me protege sempre...
— Quer que eu cite em ordem cronológica ou alfabética?
— A rainha ainda quer nossas cabeças numa lança, — sussurrou , puxando o capuz da capa para tapar o rosto. — Tome cuidado com quem fala...
— Nem todo mundo é espião da rainha, — retrucou , irritada.
— Nem todo mundo é santo, . — Uma carranca se formou no rosto de . — E a maioria nessa taverna vai abusar da sua ingenuidade, sem nem pensar duas vezes.
— Você é paranoica.
rosnou, enfiando um pedaço de queijo na boca. Por mais que soubesse que estava certa, não queria dar o braço a torcer, não para , que sempre fora a mais corajosa, a mais prendada e melhor guerreira.
ainda estava tendo aulas com a irmã, havia se familiarizado mais com um sabre que pegou de um homem que tentara atacá-las durante a madrugada, a arma era mais leve e curta que uma espada, mas ainda não estava cem por cento ótima no quesito luta corpo a corpo. Porém, como não dava descanso nas aulas, ela não estava muito longe disso.
— Coma logo e pare de ficar olhando para o nada — rosnou a morena. Já beirava à meia-noite quando finalmente conseguiu cochilar. Estava dividindo uma cama de casal com a mais nova e, pela primeira vez em um mês, sua irmã havia finalmente dormido profundamente. E não havia começado a gritar para que não matassem seu Benjen, o que já era um grande avanço.
O corredor da hospedagem estava vazio, mergulhado nas sombras, já que a maioria das velas espalhadas pelo cômodo foram apagadas. No fim do corredor, uma porta ainda estava aberta e, dentro daquele quarto, dois amigos altamente alcoolizados discutiam em “sussurros” gritados.
— São duas damas viajando sozinhas, nenhuma das duas tirou o capuz das capas na taverna! — sussurrou o mais alto e mais barbudo. — São as duas princesas fugitivas! Se as capturarmos, vamos ganhar uma recompensa gigante, Dimitru.
— A questão não é a recompensa, Aindreas! — rebateu o outro, cuspindo mais um tanto de saliva enquanto falava. — Os cartazes diziam que a princesa mais velha é a melhor guerreira de todo reino e que matou a Guarda Real com dois machados. Sabe o que isso significa? Que ela acaba com a gente em um estalar de dedos.
— Não se for pega durante o sono — o outro sorriu maliciosamente.
Depois de muito discutir, Aindreas convenceu seu amigo a ir até o quarto das duas moças que julgavam serem as princesas. Os dois já estavam um de cada lado da porta de madeira entalhada; Dimitru com duas adagas na mão, e Aindreas, com uma velha espada de esgrima.
— No três...
Dimitru girou a maçaneta e tentou empurrar a porta, mas algo a bloqueava.
— Posso, por gentileza, saber que porra os senhores estão tentando fazer? — perguntou , detrás da dupla, apoiada numa mesinha, que ocupava o espaço do corredor. O fecho da bainha dos machados preso em X em suas costas estavam abertas, prontos para serem sacados. — E por que estão tentando abrir a porta do quarto de uma dama armados e durante a madrugada?
— Porra! — praguejou Aindreas, depois de pular com o susto.
— Vou ter que arrancar a resposta dessa língua nojenta, cobrinha? — ralhou a morena, a cota de malha cintilando com a pouca luz.
— Você realmente é uma das princesas fugitivas! — quase berrou Dimitru, com o efeito do álcool deixando-o mais sobressaltado ainda. — Os cartazes diziam o que, Aindreas?
— Vale mais viva.
Antes que Dimitru pudesse fazer qualquer gracejo, um facão passou voando rente ao seu rosto, abrindo um curto e fundo corte na maçã de seu rosto. Com a surpresa, Aindreas olhou para a faca cravada na parede de madeira, tremendo, sendo acertado com um chute nas costas, enquanto Dimitru tentava, com uma das adagas, repelir o machado de , sem ter muito sucesso.
A princesa forçou os músculos do braço, aproximando mais ainda o machado do rosto de Dimitru. Aindreas, ainda meio grogue da bebida, acertou um chute na porta, fazendo-a abrir, sem espaço suficiente para entrar. Chutou e chutou. Até que a porta abriu.
estava nos fundos do quarto, grudada à parede e com o sabre na mão, tremendo feito vara verde. Seria mais fácil que tirar doce de criança render aquela ali. Quando ergueu o machado outra vez, para desferir, desta vez, um golpe mortal em Dimitru, Aindreas chamou sua atenção, apontando a ponta do sabre de para o pescoço da mesma. Típico, pensou a mais velha.
jogou o machado no chão, erguendo os braços, em sinal de rendição.
— Liberte-a, e eu não mato seu amigo — ofereceu a princesa.
— Não tão fácil assim, Alteza — retrucou Aindreas maliciosamente.
— Merda — sussurrou a morena, prevendo o que viria a seguir.
E Dimitru bateu com o cabo de madeira do machado na cabeça da mulher, fazendo-a cair como um fantoche no chão.
Capítulo 7
Blackburn POV ON.
Praguejei pela sexa-não-sei-qual vez, desenhando com tinta azul neon na lateral do meu rosto. Maldita hora em que cismou de ir à essa festa. Olhei novamente para meu reflexo no espelho, bufei, contrariada, e passei uma espessa camada do batom verde fluorescente nos lábios. Coloquei mais um grampo no cabelo, para garantir que aquele tanto de cabelo não tocasse no desenho em meu colo, que parecia bem mais avantajado com o bojo apertado daquele cropped, pincelei mais um pouco de pó e saí do banheiro, checando minha roupa no espelho de corpo inteiro. O figurino que escolhi caiu perfeitamente bem: um top cropped de renda branca, um shorts que o cos ia até meu umbigo, preto e rasgado em alguns pontos, e um par de botas que iam até acima do meu joelho, com saltos bem altos.
Voltei à sala, onde desenhava um bocado de desenhos abstratos com tinta neon de várias cores no abdômen malhado e cheio de gominhos de Daniel. Que também invocara de ir à festa. Mas até que a visão do corpo trabalhado de Danny todo desenhado era bem satisfatória, já que, para mim, ele nunca foi só um irmão. Aproveitava enquanto podia. Ele ergueu o rosto e sorriu em minha direção, com alguns fios do cabelo molhado caindo sobre a testa.
E o público feminino foi ao delírio.
também estava magnifica. Usava um cropped cor de rosa com algumas tiras nos seios, calça azul clara de cintura baixa, um par creme envernizado de peep toes, o cabelo preso numa trança embutida, com desenhos de várias cores espalhados pela barriga e braços. Linda com uma maquiagem que destacava seus olhos.
— Está totalmente, completamente, super sexy, mana — ela comentou, sorrindo. Desde que eu contara sobre a visão da morte de Benjen, ela sorria e brincava 24h por dias. — Já estou terminando o Danny, logo já estamos no Jeep.
— Não estou apressando, corazón — respondi, pegando a caixa dentro do gabinete da cozinha. Abri e comecei a selecionar o melhor e mais discreto par de adagas para esconder nesta roupa minúscula. — Tô me sentindo uma puta...
Daniel gargalhou alto.
— Para, . — repreendeu, também rindo. — Você tá linda. — Não muda o fato de eu estar parecendo uma vadia.
Peguei um par de adagas curtas, pontudas e afiadas, e escondi no cano das botas. Tranquei o baú e voltei ao gabinete, ficando em pé.
Meia hora depois, nós estávamos na entrada de onde seria a festa. Daniel puxou a porta, que mais parecia um portão. O flat tinha teto alto e com vigas espalhadas pelo salão, com janelas de paredes inteiras no fundo do cômodo. A música eletrônica estourava nos autofalantes, e vários corpos pulavam e falavam por todo canto. Entramos e Danny fechou a porta atrás da gente. Olhei em volta, identificando o bar.
— Vejo vocês depois! Divirtam-se! — berrei por conta da música alta e me direcionei para as escadas, assumindo minha personalidade de vadia descarada. Pedi ao rapaz, no bar, uma cerveja, e ele prontamente me entregou uma Budweiser long neck já aberta. Dei um longo gole e me apoiei com os cotovelos no balcão, observando a multidão dançar. Um garoto louro e de feições fortes aproximou-se, dançando, e parou ao meu lado, pedindo uma Heineken ao barman.
— Oi — ele cumprimentou, com um leve sorriso nos lábios, bebendo sua cerveja.
— Olá. — Limitei a olhá-lo pelo canto dos olhos. Gato, no mínimo.
— Me chamo Aiden. — Ele virou-se para mim, me estendendo a mão.
Pense em um nome, rápido! Qual, qual, qual... Já sei!
— Leia — sorri de volta. E quem não disse que Star Wars não salva a gente?
— Não está me zoando, né? — ele perguntou, ainda sorrindo.
— Não, minha mãe não se inspirou em Star Wars — menti, dando de ombros.
— Sendo assim... — Ele me olhou e fez uma breve reverência. — Minhas desculpas.
— Normal. A maioria das risadas escandalosas — inventei, ainda no meu papel de piranha cafajeste — são constrangedoras.
— Não posso nem imaginar... — ele deu uma risada contida, aproximando-se mais. — Mas é mais constrangedor ainda quando me confundem com o meu gêmeo gay.
Ele disse a última parte num tom baixo. Gargalhei alto e aproximei o rosto da orelha dele, a fim de poder ser ouvida.
— Desculpe-me, mas é que eu sempre achei essa possibilidade hilária — expliquei, ainda rindo internamente. — Digo, imagina se algum cara te agarra?
— Já tentaram.
Ri mais uma vez, desviando meus olhos de Aiden. Um remix de She Wolf, da Sia com o David Guetta, começou a tocar nos autofalantes. Amava essa música!
Peguei a mão de Aiden e o puxei para a pista de dança, e ele me olhou desconfiado.
— Eu simplesmente AMO essa música! — berrei, começando a remexer o quadril. — Você tem que dançar comigo!
Comecei a remexer o quadril. As várias roupas fluorescentes e desenhos com tintas também fluorescentes brilhavam por todo lado. Estávamos dançando próximos à imensa janela, que dava visão a uma varanda e ao céu noturno, sem nuvens e apenas com a lua.
Depois de muito dançar e flertar, Aiden se ofereceu a ir pegar bebidas para a gente, e eu concordei, parando encostada na imensa janela.
Olhei para fora. Havia uma garota com um cropped rosa, que brilhava com a luz negra. Eu não podia ver seu rosto por conta da escuridão da noite sombria e a falta de luzes normais no flat. Um garoto sem camisa foi jogado contra o vidro, bem em minha frente, o que me fez pular de susto para me afastar. Vi o mínimo de seu rosto por conta da pintura fluorescente na bochecha. Mas o que...? Aiden? Mas o Aiden foi para lá! Não, espera... O gêmeo! Isso!
Saí para a varanda, vendo o gêmeo caído no chão com os olhos esbugalhados e imóvel. A garota lutava com alguma coisa, quase impossível de ver no meio da escuridão, mas eu sabia que estava lá. Talvez, fosse pelos olhos brilhando feito vagalumes no escuro? Provavelmente.
Puxei as adagas das botas e me incluí na luta, golpeando a coisa como podia. A garota ficou ombro a ombro comigo, a coisa nos circundava, e, mesmo no escuro, consegui distinguir a arma que ele usava: uma katana. Agora, me diz, como é que eu me defenderia da porra de uma katana usando um par de adagas? É o que eu chamava de milagre que só as Blackburn faziam. Estalei pescoço e deixei meus olhos assumirem a sua forma, deixando minha visão cem vezes mais aguçada. Vi a coisa metida à samurai nos rondar, pronto para atacar, e assim o infeliz o fez. Barrei a espada com meu próprio braço, sentindo a dor irradiar do talho recém aberto. Girei a mão e agarrei a mão da coisa, firmando o aperto na adaga com a outra mão. E PAM! Cortei o punho do bicho fora. Mas não jorrou sangue, nem negro, nem vermelho, só fiquei com a mão enluvada na mão. Era só o que me faltava, a mão do troço se desfez em mais sombras.
A escuridão parecia se dissipar quando os olhos de vagalume desapareceram, tornando-se mais fácil ver.
Abaixei-me para checar o pulso do gêmeo Aiden, fraco, mas ainda estava lá. Passei o dedo por seu nariz, sentindo a leve respiração contra minha pele.
— Você está bem? — Levantei e me virei para checar a garota, que, agora, consegui ver o rosto. A menina Argent. A porra da coisa ressurgiu atrás da merda da garota. Puxei a adaga do cano da bota e tentei acertá-lo, mas um buraco se abriu no peito da coisa, e a adaga passou reto. — Se...
Mas a coisa tocou o pescoço dela, antes que eu pudesse sequer terminar a frase.
POV OFF.
Blackburn POV ON.
Não fez muito tempo que havíamos chegado naquela rave e não fez nem cinco minutos que e Dan me abandonaram. Nunca fui muito de festas, mas os dois sempre davam um jeito de me arrastar junto, e vinha de praxe os dois me largarem para ir atrás de algum pobre coitado, ou coitada, para acabar na cama deles.
Arranjei uma cerveja no bar e me sentei na escada em espiral numa das extremidades do loft. Olhei para o amontoado de corpos fluorescentes dançando loucamente com o mais novo lançamento do Aviccii. sempre me dizia que eu devia aproveitar mais a juventude inacabável que tínhamos; devia dançar, beber, arranjar mais namorados. Mas isso nunca foi para mim. Não mesmo.
— Será que podemos conversar? — Dei um pulo quando ouvi a voz do alpha vir por trás de mim.
— Deus do céu! — praguejei, levando a mão ao peito.
— Desculpe, não queria te assustar. — Ele ergueu as mãos, em sinal de rendição.
— Olha, se veio aqui para comprar briga pelo o que minha irmã fez, perdeu seu tempo, Scott — adiantei, segurando o pescoço da garrafa, como um taco, com uma das mãos. — Ela tem temperamento forte e pavio curto, e um maldito instinto protetor quando o assunto sou eu. Então, se ela te feriu, não foi sem motivo.
— Lydia quebrou um vaso na sua cabeça, só rebateu. — Ele sentou-se no pé da escada. — Vocês são as Blackburn, não é?
— Ah, não tem como fugir mais... — sussurrei, sentando ao seu lado. — Somos. Somos nós as Blackburns.
Ele parou, olhando para a multidão dançante.
— Desculpe-me por Lydia ter quebrado um vaso na sua cabeça — ele começou, com um leve sorriso.
— Desculpe-me por minha irmã ter quase te matado sufocado. Ela não sabe se controlar em certas horas — sorri.
— Posso te fazer uma pergunta, ? — Ele me olhou curioso. — Se é que eu ainda posso te chamar assim...
— Ainda pode me chamar assim, Scott — ri, dando outro gole na cerveja. — Faça sua pergunta.
— Vocês estão atrás do quê? — McCall concluiu a frase lentamente, parecendo estar com medo da resposta.
— Eu não posso dizer, Scott — expliquei, coçando a nuca. — Quando alguém nos contrata para ir atrás de alguém, os únicos que sabem quem ou o que somos nós duas e o contratante.
— Mercenárias tem “éticas trabalhistas’’?
O olhei, tentando parecer ofendida. Todo mundo fazia piada com nossa ética de trabalho.
— Okay, desculpe, só pensei que, talvez, eu e o pessoal pudéssemos ajudar. — Ele deu de ombros. — Digo, nós conhecemos a maioria dos seres sobrenaturais desta cidade.
Antes que eu pudesse responder, um estrondo veio, junto da música, que parou repentinamente. Levantei, quase caindo por conta do salto enorme do sapato. Scott segurou meu braço, ajudando-me a ficar em pé.
— Falta de costume com saltos — sorri, meio constrangida, vendo a mesa onde, até poucos minutos antes, o DJ tocava.
— E o dono da casa chegou. — Scott fez uma expressão que, se não fosse pela mesa virada no meio do povo, eu teria rolado de tanto rir.
Segui o lobisomem pelo meio da multidão, sem muita escolha, já que ele segurava a minha mão. Medo de eu fugir? Talvez.
— Todo mundo fora! — uma voz grave e rouca berrou, assustando todo mundo, já que todos os malucos pintados foram correndo para fora do loft.
POV OFF.
Blackburn POV ON.
Passei um braço do garoto pelo meu ombro e da Argent no outro, levando os dois para dentro do loft. E a música havia parado, seguida de um enorme estrondo, e alguém berrando para todo mundo dar o fora. Mas que maravilha. Empurrei a porta com o pé e puxei os dois para dentro. Lydia surgiu, junto com Daniel, e ele estava com a boca toda manchada de vermelho... Ah, esse é o meu Danny!
— Que porra você fez com eles? — Lydia berrou, e eu soltei os dois num reflexo assustado, erguendo os braços.
— Eu não fiz nada! Digo, isto eu fiz. — Apontei para os dois jogados no chão. — Uma coisa que nunca vi na porra da minha vida atacou o amiguinho aqui, e eu tentei ajudar sua amiga a se defender, então coisa sumiu. Fui checar o parceiro aqui, e a coisa apareceu de novo, e fez o mesmo com a Argent.
— Como era a coisa? — perguntou o garoto McCall. Olhei para ao seu lado, com o cenho franzido.
Ela repetiu a pergunta:
— Como era a coisa, ?
— Eu não sei! Não consegui ver o rosto do troço, mas usava uma katana e os olhos brilhavam como vagalumes. — Dei de ombros, ajudando Aiden a por seu gêmeo sentado.
— São os Onis. — Derek Hale surgiu não sei da onde. — Marcaram Allison e Ethan.
— São o quê? — perguntou , ainda ao lado de McCall.
— São como demônios. Eles meio que vêm das sombras. — Daniel foi quem respondeu, e eu, e , olhamos para ele.
— Eu li o grimorio. — Ele deu de ombros.
— Tem vários — completou Stiles. — Eles marcam as pessoas, como fizeram com Allison e Ethan.
Agora, Ethan já estava consciente, e Aiden estava ao lado do irmão, que ainda estava jogado no sofá, com o garoto Hale logo atrás, em pé, com os braços cruzados sobre o peito, e adivinha só! Ainda me olhando como se ele fosse um soldado americano, e eu, o Osama Bin Laden.
Rapazinho adorável esse aí.
— Isso é uma trégua, então? — questionou Scott.
— Uma trégua — eu e respondemos em uníssono.
— Agora, contem tudo o que sabem.
Eles começaram a explicar toda as informações que tinham a essa altura, o que tomou certo tempo.
— Tá bem, então, essa coisa se chama oni e tem vários outro como ele? — perguntei, me levantando do sofá. — Ele está vinculado com essa pessoa possuída, que vocês também não sabem quem é.
— E não vamos deixar você matar — adiantou a banshee.
— Nunca falei que iríamos matar o possuído, Martin. — Revirei os olhos. — Nosso contratante nos mandou exorcizar, ou sei lá que merda, o espirito, não matar a pessoa.
— Nós poderíamos nos ajudar... — sugeriu. Ô linguinha solta. — Nós estamos atrás do nogitsune também. E temos mais experiência em caçar criaturas que vocês.
— Experiência? — Lydia riu irônica. — Vocês mal têm 19 anos!
— Você sabia que pode direcionar suas ondas sonoras sobrenaturais de banshee, para explodir o crânio de alguém? — Ela me olhou confusa e desconfiada. — Ou que existem mais de um tipo de lobisomem? Bom, viu? Ponto para nós.
— Acredite, eu só quero exorcizar esse infeliz e dar o fora desta cidade, Lydia. — completou. — Agora que sabemos que essa coisa tem um monte de Jet Lis do capeta com ele, quero sumir mais ainda.
— Para mim, tudo bem. — Stiles se meteu, e Lydia olhou indignada para ele. — Cara, uma delas deu uma surra e teria matado o Derek, se não tivesse lhe salvado antes de morrer. Imagina o que duas delas não fariam contra esse nogitsune?
— Estou começando a gostar de você, menino — sorri o mais cínica que eu podia.
— Tá, vocês nos ajudam — disse Allison Argent, que eu nem tinha visto que havia voltado à vida. — Desde que não atirem em ninguém que não mereça.
— Não vou dividir dinheiro nenhum, também, que não seja com a minha irmã — completei, e Daniel me olhou indignado — e com o Dan.
Agora foi Derek Hale quem engoliu uma risada.
Puxei as botas e joguei num canto do quarto, sentindo meus pés agradecerem por tirar esse par de instrumentos de tortura. Joguei-me de costas na cama, me agarrando aos travesseiros e, quando estou fechando os olhos, para, ao menos, aproveitar minhas restantes três horas de madrugada para dormir, minha barriga ronca alto.
Puta que me pariu, maldita fome sem fim.
Bufei e me joguei para fora da cama, indo em direção à cozinha. Estava realmente me sentindo naqueles filmes de terror em que a mocinha sai do quarto na casa toda escura, chamando alguém (como se o assassino fosse, em uma hipótese absurda, respondê-la), vai à cozinha sombria (que é onde eu acabei de entrar) e morre tragicamente.
Peguei um pedaço de torta de limão e servi um copo de coca-cola, me sentando na bancada ao lado do fogão, e comecei a vasculhar uma caixa, em busca de uma colher.
Achei!
Peguei uma gigantesca colherada de torta e enfiei na boca. HMMMMM! Caralhos, quem inventou a torta de limão ganhava um beijo meu agora.
— Boa noite, Mermaid. — Dei um pulo na bancada quando ouvi a voz de Dan e virei para ele com minha melhor imitação de Emily Rose*.
— Desgraçado! Quase me matou do coração! — Dei um “sussurro’’ gritado, abaixando meu prato com torta. — Nunca mais faça isso, Daniel!
— Desculpa! — Ele ergueu as mãos, em sinal de rendição. — Você é muito assustada, ...
Ele riu e pegou minha coca-cola, sentando na ilha à minha frente. O olhei assassina de novo. Cretino. Ele arqueou uma sobrancelha, me desfiando a fazer alguma coisa.
Cretino vezes dois.
— Nossa, desde quando você deixa roubar sua comida? — Ele me olhou, fazendo a mais exagerada cara de espanto que já vi na vida.
— Desde quando minha torta tá muito boa para eu perder tempo com você.
Pobre coitado. Pobre mesmo, se achava que eu iria deixá-lo roubar minha comida fácil assim.
Terminei de comer minha torta com, basicamente, duas dentadas, com Daniel ainda me olhando, em desafio, com aquela maldita sobrancelhinha levantada. Um dia, mas um dia, eu a arrancaria na pinça, bem devagarzinho, para ser bem torturante.
Coloquei o prato sujo na pia, jogando um tanto de detergente na bucha, peguei a torneira do pino* e apertei a alavanca; esfreguei o prato com uma mão e passei a água com a outra.
Hmmmmm, perfeita essa ideia que eu acabei de ter...
Coloquei a torneira de volta no pino, deixando o prato no escorredor. Peguei a torneira e apontei para Daniel, e apertei a alavanca, deixando-o ensopado.
— ! — ele engasgou, rindo.
— Ah, mas nunca que você iria ficar impune por me roubar comida! — ri alto, ainda molhando-o com a torneira.
Ele pulou da bancada, tentando me segurar. Desvencilhei-me e continuei apertando a alavanca da torneira, rindo que nem uma retardada.
— ! — ele riu mais ainda, prensando-me contra o balcão. — Retardada.
— Nunca mais me robe comida, garoto — ri junto, soltando a alavanca. — Isso é pra você aprender, tá?
— Olha o meu estado, louca — ele riu, tirando o cabelo molhado da testa.
— Eu vi você com aquela garota Martin — sorri, sentindo uma gota de água escorrer por minha espinha. — Você não perde tempo, Deus que me perdoe, Daniel!
— O quê? Ela é bonita — ele argumentou, uma mão no meu quadril, e a outra coçando os olhos. Menino tapado. — Mas eu ainda prefiro morenas...
— É como diz aquele maldito ditado — começo, segurando uma risada: — pau que nasce torto, nunca se endireita.
— Não que o meu seja.
Gargalhei outra vez. Ele ainda ria, agora, com as duas mãos no meu quadril.
— Senti saudades, Danny — sorri levemente, finalmente beijando-o.
*Emily Rose é a protagonista do filme Exorcismo, de Emily Rose, sendo, assim, a possuída.
*Em algumas casas nos Estados Unidos, a torneira das pias é meio que soltas, tipo uma mangueira, que você solta do pino e aperta a alavancazinha, e a água sai.
Praguejei pela sexa-não-sei-qual vez, desenhando com tinta azul neon na lateral do meu rosto. Maldita hora em que cismou de ir à essa festa. Olhei novamente para meu reflexo no espelho, bufei, contrariada, e passei uma espessa camada do batom verde fluorescente nos lábios. Coloquei mais um grampo no cabelo, para garantir que aquele tanto de cabelo não tocasse no desenho em meu colo, que parecia bem mais avantajado com o bojo apertado daquele cropped, pincelei mais um pouco de pó e saí do banheiro, checando minha roupa no espelho de corpo inteiro. O figurino que escolhi caiu perfeitamente bem: um top cropped de renda branca, um shorts que o cos ia até meu umbigo, preto e rasgado em alguns pontos, e um par de botas que iam até acima do meu joelho, com saltos bem altos.
Voltei à sala, onde desenhava um bocado de desenhos abstratos com tinta neon de várias cores no abdômen malhado e cheio de gominhos de Daniel. Que também invocara de ir à festa. Mas até que a visão do corpo trabalhado de Danny todo desenhado era bem satisfatória, já que, para mim, ele nunca foi só um irmão. Aproveitava enquanto podia. Ele ergueu o rosto e sorriu em minha direção, com alguns fios do cabelo molhado caindo sobre a testa.
E o público feminino foi ao delírio.
também estava magnifica. Usava um cropped cor de rosa com algumas tiras nos seios, calça azul clara de cintura baixa, um par creme envernizado de peep toes, o cabelo preso numa trança embutida, com desenhos de várias cores espalhados pela barriga e braços. Linda com uma maquiagem que destacava seus olhos.
— Está totalmente, completamente, super sexy, mana — ela comentou, sorrindo. Desde que eu contara sobre a visão da morte de Benjen, ela sorria e brincava 24h por dias. — Já estou terminando o Danny, logo já estamos no Jeep.
— Não estou apressando, corazón — respondi, pegando a caixa dentro do gabinete da cozinha. Abri e comecei a selecionar o melhor e mais discreto par de adagas para esconder nesta roupa minúscula. — Tô me sentindo uma puta...
Daniel gargalhou alto.
— Para, . — repreendeu, também rindo. — Você tá linda. — Não muda o fato de eu estar parecendo uma vadia.
Peguei um par de adagas curtas, pontudas e afiadas, e escondi no cano das botas. Tranquei o baú e voltei ao gabinete, ficando em pé.
Meia hora depois, nós estávamos na entrada de onde seria a festa. Daniel puxou a porta, que mais parecia um portão. O flat tinha teto alto e com vigas espalhadas pelo salão, com janelas de paredes inteiras no fundo do cômodo. A música eletrônica estourava nos autofalantes, e vários corpos pulavam e falavam por todo canto. Entramos e Danny fechou a porta atrás da gente. Olhei em volta, identificando o bar.
— Vejo vocês depois! Divirtam-se! — berrei por conta da música alta e me direcionei para as escadas, assumindo minha personalidade de vadia descarada. Pedi ao rapaz, no bar, uma cerveja, e ele prontamente me entregou uma Budweiser long neck já aberta. Dei um longo gole e me apoiei com os cotovelos no balcão, observando a multidão dançar. Um garoto louro e de feições fortes aproximou-se, dançando, e parou ao meu lado, pedindo uma Heineken ao barman.
— Oi — ele cumprimentou, com um leve sorriso nos lábios, bebendo sua cerveja.
— Olá. — Limitei a olhá-lo pelo canto dos olhos. Gato, no mínimo.
— Me chamo Aiden. — Ele virou-se para mim, me estendendo a mão.
Pense em um nome, rápido! Qual, qual, qual... Já sei!
— Leia — sorri de volta. E quem não disse que Star Wars não salva a gente?
— Não está me zoando, né? — ele perguntou, ainda sorrindo.
— Não, minha mãe não se inspirou em Star Wars — menti, dando de ombros.
— Sendo assim... — Ele me olhou e fez uma breve reverência. — Minhas desculpas.
— Normal. A maioria das risadas escandalosas — inventei, ainda no meu papel de piranha cafajeste — são constrangedoras.
— Não posso nem imaginar... — ele deu uma risada contida, aproximando-se mais. — Mas é mais constrangedor ainda quando me confundem com o meu gêmeo gay.
Ele disse a última parte num tom baixo. Gargalhei alto e aproximei o rosto da orelha dele, a fim de poder ser ouvida.
— Desculpe-me, mas é que eu sempre achei essa possibilidade hilária — expliquei, ainda rindo internamente. — Digo, imagina se algum cara te agarra?
— Já tentaram.
Ri mais uma vez, desviando meus olhos de Aiden. Um remix de She Wolf, da Sia com o David Guetta, começou a tocar nos autofalantes. Amava essa música!
Peguei a mão de Aiden e o puxei para a pista de dança, e ele me olhou desconfiado.
— Eu simplesmente AMO essa música! — berrei, começando a remexer o quadril. — Você tem que dançar comigo!
Comecei a remexer o quadril. As várias roupas fluorescentes e desenhos com tintas também fluorescentes brilhavam por todo lado. Estávamos dançando próximos à imensa janela, que dava visão a uma varanda e ao céu noturno, sem nuvens e apenas com a lua.
Depois de muito dançar e flertar, Aiden se ofereceu a ir pegar bebidas para a gente, e eu concordei, parando encostada na imensa janela.
Olhei para fora. Havia uma garota com um cropped rosa, que brilhava com a luz negra. Eu não podia ver seu rosto por conta da escuridão da noite sombria e a falta de luzes normais no flat. Um garoto sem camisa foi jogado contra o vidro, bem em minha frente, o que me fez pular de susto para me afastar. Vi o mínimo de seu rosto por conta da pintura fluorescente na bochecha. Mas o que...? Aiden? Mas o Aiden foi para lá! Não, espera... O gêmeo! Isso!
Saí para a varanda, vendo o gêmeo caído no chão com os olhos esbugalhados e imóvel. A garota lutava com alguma coisa, quase impossível de ver no meio da escuridão, mas eu sabia que estava lá. Talvez, fosse pelos olhos brilhando feito vagalumes no escuro? Provavelmente.
Puxei as adagas das botas e me incluí na luta, golpeando a coisa como podia. A garota ficou ombro a ombro comigo, a coisa nos circundava, e, mesmo no escuro, consegui distinguir a arma que ele usava: uma katana. Agora, me diz, como é que eu me defenderia da porra de uma katana usando um par de adagas? É o que eu chamava de milagre que só as Blackburn faziam. Estalei pescoço e deixei meus olhos assumirem a sua forma, deixando minha visão cem vezes mais aguçada. Vi a coisa metida à samurai nos rondar, pronto para atacar, e assim o infeliz o fez. Barrei a espada com meu próprio braço, sentindo a dor irradiar do talho recém aberto. Girei a mão e agarrei a mão da coisa, firmando o aperto na adaga com a outra mão. E PAM! Cortei o punho do bicho fora. Mas não jorrou sangue, nem negro, nem vermelho, só fiquei com a mão enluvada na mão. Era só o que me faltava, a mão do troço se desfez em mais sombras.
A escuridão parecia se dissipar quando os olhos de vagalume desapareceram, tornando-se mais fácil ver.
Abaixei-me para checar o pulso do gêmeo Aiden, fraco, mas ainda estava lá. Passei o dedo por seu nariz, sentindo a leve respiração contra minha pele.
— Você está bem? — Levantei e me virei para checar a garota, que, agora, consegui ver o rosto. A menina Argent. A porra da coisa ressurgiu atrás da merda da garota. Puxei a adaga do cano da bota e tentei acertá-lo, mas um buraco se abriu no peito da coisa, e a adaga passou reto. — Se...
Mas a coisa tocou o pescoço dela, antes que eu pudesse sequer terminar a frase.
POV OFF.
Blackburn POV ON.
Não fez muito tempo que havíamos chegado naquela rave e não fez nem cinco minutos que e Dan me abandonaram. Nunca fui muito de festas, mas os dois sempre davam um jeito de me arrastar junto, e vinha de praxe os dois me largarem para ir atrás de algum pobre coitado, ou coitada, para acabar na cama deles.
Arranjei uma cerveja no bar e me sentei na escada em espiral numa das extremidades do loft. Olhei para o amontoado de corpos fluorescentes dançando loucamente com o mais novo lançamento do Aviccii. sempre me dizia que eu devia aproveitar mais a juventude inacabável que tínhamos; devia dançar, beber, arranjar mais namorados. Mas isso nunca foi para mim. Não mesmo.
— Será que podemos conversar? — Dei um pulo quando ouvi a voz do alpha vir por trás de mim.
— Deus do céu! — praguejei, levando a mão ao peito.
— Desculpe, não queria te assustar. — Ele ergueu as mãos, em sinal de rendição.
— Olha, se veio aqui para comprar briga pelo o que minha irmã fez, perdeu seu tempo, Scott — adiantei, segurando o pescoço da garrafa, como um taco, com uma das mãos. — Ela tem temperamento forte e pavio curto, e um maldito instinto protetor quando o assunto sou eu. Então, se ela te feriu, não foi sem motivo.
— Lydia quebrou um vaso na sua cabeça, só rebateu. — Ele sentou-se no pé da escada. — Vocês são as Blackburn, não é?
— Ah, não tem como fugir mais... — sussurrei, sentando ao seu lado. — Somos. Somos nós as Blackburns.
Ele parou, olhando para a multidão dançante.
— Desculpe-me por Lydia ter quebrado um vaso na sua cabeça — ele começou, com um leve sorriso.
— Desculpe-me por minha irmã ter quase te matado sufocado. Ela não sabe se controlar em certas horas — sorri.
— Posso te fazer uma pergunta, ? — Ele me olhou curioso. — Se é que eu ainda posso te chamar assim...
— Ainda pode me chamar assim, Scott — ri, dando outro gole na cerveja. — Faça sua pergunta.
— Vocês estão atrás do quê? — McCall concluiu a frase lentamente, parecendo estar com medo da resposta.
— Eu não posso dizer, Scott — expliquei, coçando a nuca. — Quando alguém nos contrata para ir atrás de alguém, os únicos que sabem quem ou o que somos nós duas e o contratante.
— Mercenárias tem “éticas trabalhistas’’?
O olhei, tentando parecer ofendida. Todo mundo fazia piada com nossa ética de trabalho.
— Okay, desculpe, só pensei que, talvez, eu e o pessoal pudéssemos ajudar. — Ele deu de ombros. — Digo, nós conhecemos a maioria dos seres sobrenaturais desta cidade.
Antes que eu pudesse responder, um estrondo veio, junto da música, que parou repentinamente. Levantei, quase caindo por conta do salto enorme do sapato. Scott segurou meu braço, ajudando-me a ficar em pé.
— Falta de costume com saltos — sorri, meio constrangida, vendo a mesa onde, até poucos minutos antes, o DJ tocava.
— E o dono da casa chegou. — Scott fez uma expressão que, se não fosse pela mesa virada no meio do povo, eu teria rolado de tanto rir.
Segui o lobisomem pelo meio da multidão, sem muita escolha, já que ele segurava a minha mão. Medo de eu fugir? Talvez.
— Todo mundo fora! — uma voz grave e rouca berrou, assustando todo mundo, já que todos os malucos pintados foram correndo para fora do loft.
POV OFF.
Blackburn POV ON.
Passei um braço do garoto pelo meu ombro e da Argent no outro, levando os dois para dentro do loft. E a música havia parado, seguida de um enorme estrondo, e alguém berrando para todo mundo dar o fora. Mas que maravilha. Empurrei a porta com o pé e puxei os dois para dentro. Lydia surgiu, junto com Daniel, e ele estava com a boca toda manchada de vermelho... Ah, esse é o meu Danny!
— Que porra você fez com eles? — Lydia berrou, e eu soltei os dois num reflexo assustado, erguendo os braços.
— Eu não fiz nada! Digo, isto eu fiz. — Apontei para os dois jogados no chão. — Uma coisa que nunca vi na porra da minha vida atacou o amiguinho aqui, e eu tentei ajudar sua amiga a se defender, então coisa sumiu. Fui checar o parceiro aqui, e a coisa apareceu de novo, e fez o mesmo com a Argent.
— Como era a coisa? — perguntou o garoto McCall. Olhei para ao seu lado, com o cenho franzido.
Ela repetiu a pergunta:
— Como era a coisa, ?
— Eu não sei! Não consegui ver o rosto do troço, mas usava uma katana e os olhos brilhavam como vagalumes. — Dei de ombros, ajudando Aiden a por seu gêmeo sentado.
— São os Onis. — Derek Hale surgiu não sei da onde. — Marcaram Allison e Ethan.
— São o quê? — perguntou , ainda ao lado de McCall.
— São como demônios. Eles meio que vêm das sombras. — Daniel foi quem respondeu, e eu, e , olhamos para ele.
— Eu li o grimorio. — Ele deu de ombros.
— Tem vários — completou Stiles. — Eles marcam as pessoas, como fizeram com Allison e Ethan.
Agora, Ethan já estava consciente, e Aiden estava ao lado do irmão, que ainda estava jogado no sofá, com o garoto Hale logo atrás, em pé, com os braços cruzados sobre o peito, e adivinha só! Ainda me olhando como se ele fosse um soldado americano, e eu, o Osama Bin Laden.
Rapazinho adorável esse aí.
— Isso é uma trégua, então? — questionou Scott.
— Uma trégua — eu e respondemos em uníssono.
— Agora, contem tudo o que sabem.
Eles começaram a explicar toda as informações que tinham a essa altura, o que tomou certo tempo.
— Tá bem, então, essa coisa se chama oni e tem vários outro como ele? — perguntei, me levantando do sofá. — Ele está vinculado com essa pessoa possuída, que vocês também não sabem quem é.
— E não vamos deixar você matar — adiantou a banshee.
— Nunca falei que iríamos matar o possuído, Martin. — Revirei os olhos. — Nosso contratante nos mandou exorcizar, ou sei lá que merda, o espirito, não matar a pessoa.
— Nós poderíamos nos ajudar... — sugeriu. Ô linguinha solta. — Nós estamos atrás do nogitsune também. E temos mais experiência em caçar criaturas que vocês.
— Experiência? — Lydia riu irônica. — Vocês mal têm 19 anos!
— Você sabia que pode direcionar suas ondas sonoras sobrenaturais de banshee, para explodir o crânio de alguém? — Ela me olhou confusa e desconfiada. — Ou que existem mais de um tipo de lobisomem? Bom, viu? Ponto para nós.
— Acredite, eu só quero exorcizar esse infeliz e dar o fora desta cidade, Lydia. — completou. — Agora que sabemos que essa coisa tem um monte de Jet Lis do capeta com ele, quero sumir mais ainda.
— Para mim, tudo bem. — Stiles se meteu, e Lydia olhou indignada para ele. — Cara, uma delas deu uma surra e teria matado o Derek, se não tivesse lhe salvado antes de morrer. Imagina o que duas delas não fariam contra esse nogitsune?
— Estou começando a gostar de você, menino — sorri o mais cínica que eu podia.
— Tá, vocês nos ajudam — disse Allison Argent, que eu nem tinha visto que havia voltado à vida. — Desde que não atirem em ninguém que não mereça.
— Não vou dividir dinheiro nenhum, também, que não seja com a minha irmã — completei, e Daniel me olhou indignado — e com o Dan.
Agora foi Derek Hale quem engoliu uma risada.
Puxei as botas e joguei num canto do quarto, sentindo meus pés agradecerem por tirar esse par de instrumentos de tortura. Joguei-me de costas na cama, me agarrando aos travesseiros e, quando estou fechando os olhos, para, ao menos, aproveitar minhas restantes três horas de madrugada para dormir, minha barriga ronca alto.
Puta que me pariu, maldita fome sem fim.
Bufei e me joguei para fora da cama, indo em direção à cozinha. Estava realmente me sentindo naqueles filmes de terror em que a mocinha sai do quarto na casa toda escura, chamando alguém (como se o assassino fosse, em uma hipótese absurda, respondê-la), vai à cozinha sombria (que é onde eu acabei de entrar) e morre tragicamente.
Peguei um pedaço de torta de limão e servi um copo de coca-cola, me sentando na bancada ao lado do fogão, e comecei a vasculhar uma caixa, em busca de uma colher.
Achei!
Peguei uma gigantesca colherada de torta e enfiei na boca. HMMMMM! Caralhos, quem inventou a torta de limão ganhava um beijo meu agora.
— Boa noite, Mermaid. — Dei um pulo na bancada quando ouvi a voz de Dan e virei para ele com minha melhor imitação de Emily Rose*.
— Desgraçado! Quase me matou do coração! — Dei um “sussurro’’ gritado, abaixando meu prato com torta. — Nunca mais faça isso, Daniel!
— Desculpa! — Ele ergueu as mãos, em sinal de rendição. — Você é muito assustada, ...
Ele riu e pegou minha coca-cola, sentando na ilha à minha frente. O olhei assassina de novo. Cretino. Ele arqueou uma sobrancelha, me desfiando a fazer alguma coisa.
Cretino vezes dois.
— Nossa, desde quando você deixa roubar sua comida? — Ele me olhou, fazendo a mais exagerada cara de espanto que já vi na vida.
— Desde quando minha torta tá muito boa para eu perder tempo com você.
Pobre coitado. Pobre mesmo, se achava que eu iria deixá-lo roubar minha comida fácil assim.
Terminei de comer minha torta com, basicamente, duas dentadas, com Daniel ainda me olhando, em desafio, com aquela maldita sobrancelhinha levantada. Um dia, mas um dia, eu a arrancaria na pinça, bem devagarzinho, para ser bem torturante.
Coloquei o prato sujo na pia, jogando um tanto de detergente na bucha, peguei a torneira do pino* e apertei a alavanca; esfreguei o prato com uma mão e passei a água com a outra.
Hmmmmm, perfeita essa ideia que eu acabei de ter...
Coloquei a torneira de volta no pino, deixando o prato no escorredor. Peguei a torneira e apontei para Daniel, e apertei a alavanca, deixando-o ensopado.
— ! — ele engasgou, rindo.
— Ah, mas nunca que você iria ficar impune por me roubar comida! — ri alto, ainda molhando-o com a torneira.
Ele pulou da bancada, tentando me segurar. Desvencilhei-me e continuei apertando a alavanca da torneira, rindo que nem uma retardada.
— ! — ele riu mais ainda, prensando-me contra o balcão. — Retardada.
— Nunca mais me robe comida, garoto — ri junto, soltando a alavanca. — Isso é pra você aprender, tá?
— Olha o meu estado, louca — ele riu, tirando o cabelo molhado da testa.
— Eu vi você com aquela garota Martin — sorri, sentindo uma gota de água escorrer por minha espinha. — Você não perde tempo, Deus que me perdoe, Daniel!
— O quê? Ela é bonita — ele argumentou, uma mão no meu quadril, e a outra coçando os olhos. Menino tapado. — Mas eu ainda prefiro morenas...
— É como diz aquele maldito ditado — começo, segurando uma risada: — pau que nasce torto, nunca se endireita.
— Não que o meu seja.
Gargalhei outra vez. Ele ainda ria, agora, com as duas mãos no meu quadril.
— Senti saudades, Danny — sorri levemente, finalmente beijando-o.
*Emily Rose é a protagonista do filme Exorcismo, de Emily Rose, sendo, assim, a possuída.
*Em algumas casas nos Estados Unidos, a torneira das pias é meio que soltas, tipo uma mangueira, que você solta do pino e aperta a alavancazinha, e a água sai.
Capítulo 8
A manhã estava cinzenta e nebulosa, no telhado do prédio, e pulavam e desviavam, ambas usando roupas de ginástica e um par de espadas de madeira, golpeando e desviando da outra.
— Equilíbrio, mana — lembrou-se a morena, girando as espadas nas mãos. — Sempre se esquece do seu próprio equilíbrio.
riu, enxugando o suor que escorria em seus olhos. Treino matinal sempre deixava de bom humor, se é que se chamava cinco e meia da manhã de matinal, já que, na opinião da ruiva, só ficava manhã quando o sol nascia, como era para todo mundo.
— E você sempre é um doce, querida. — Brincou ela, firmando o aperto nas espadas.
— Sabe que te amo.
puxou mais um tanto de ar, investindo contra a irmã e atingindo-a no braço com a espada de madeira. gemeu, segurando na região em que era para ter uma lâmina.
— A garota Argent gosta de você — comentou a ruiva quando a irmã puxou de volta a espada.
— Não vai gostar tanto assim, até Christopher contar sua ladainha a ela. — A morena desviou de outro golpe com um rodopio. — Salvamos a vida do infeliz, e ele ainda acredita em Gerard. Aquele moleque Hale não é muito meu fã.
— Lógico! Você quase o matou com três balas de prata! — argumentou a mais nova, usando uma mureta como apoio para acertar um chute na mais velha. — Não foi só uma, mas três! Deve doer para caralho esse negócio.
— Ele quis pagar de macho comigo. — respondeu, contrariada, massageando o local do chute. — Achei falta de respeito. Continue me enchendo o saco, e eu te faço me pagar o café.
riu, manejando as espadas com habilidade, sem abandonar a postura rija e, ao mesmo tempo, relaxada de espadachim. Daniel subiu a escada, que dava para telhado, aos bocejos, quase derrubando o café de sua caneca incontáveis vezes.
— Dá para as madames pararem de berrar na janela da porra do quarto? — grasnou ele, assim que abriu a porta, parecendo um velho ranzinza. — Pessoas normais, normalmente, dormem às cinco da manhã.
— Vou ignorar seu acesso de raiva e o fato de que só o quarto da é deste lado do prédio. — atacou a irmã outra vez, o top verde ensopado de suor. — Você parece um velho. Deus que me perdoe, Daniel. Vamos melhorar esse humor.
saltou, girando o corpo num pé só, em 360 graus e puxando a espada de madeira da irmã, o cabelo negro voando para todo lado. riu, jogando a segunda espada da mão esquerda para a direita. Daniel bufou contrariado, irritado por nenhuma das duas ter lhe dado atenção.
— Ai, Danny, desfaz essa cara. Ou isso é ressaca da festa? — Brincou , fazendo um movimento digno de Neo do Matrix para desviar da espada da irmã. — Bebeu demais, ou a saliva da Martin tinha muito álcool?
— Vá ferrar, Blackburn! — rosnou Daniel, protegendo os olhos do sol com uma mão. — Psicopatas.
E voltou para dentro do prédio, deixando as duas tentando se matar no telhado.
— Vocês deveriam ser mais discretos — pediu , chutando a espada da irmã para desarmá-la. — Dão muito na cara.
soltou a segunda espada, erguendo os braços em rendição, visto que estava cansada ao ponto de sentir todos os músculos do corpo ameaçarem a ter cãibras.
— Venceu. Minha garganta está mais seca que a merda do Saara! — Riu ela, deitando no chão com uma garrafinha com água na mão.
riu e ajudou a irmã a se levantar, pegando as espadas de madeira do chão.
— Estou pensando em ficar loira... — comentou enquanto colocava uma colherada de pó de café no coador da cafeteira.
— Tá me zoando, né? — perguntou , rindo alto, mas controlou-se ao ver a face a la Kristen Stewart da irmã (n/a: desculpe às fãs da moça, mas não tem definição melhor). — Ah, você está falando sério?
— Palhaça! — resmungou a outra, abaixando a tampa da cafeteira, que começou a trabalhar. — Qual é o problema comigo loira?
— Você ficaria parecendo a Cara Delevigne, sua louca! — Gesticulou , segurando a faca suja de manteiga de amendoim como se fosse uma arma.
— Se você jogar isso em mim, eu te socarei. — se contorceu. Sua alta alergia a amendoim já estava quase atacando. — Abaixa essa merda, !
sorriu maligna, chacoalhando a faca para lá e para cá.
— Você mata pessoas para viver e tem medinha de pasta de amendoim! — A ruiva riu, abaixando a faca. — Essas coisas da vida, viu...
Olivia ergueu o dedo do meio para a irmã, fuçando outra caixa, para achar outra xícara.
— Eu falei que era melhor guardar as coisas nos lugares certos. — cutucou seu sanduíche de pasta de amendoim com geleia. — Não iria ter que ficar fuçando tudo quando for usar.
— Você vai ajudar a guardar quando a gente for embora?
— Não.
— Então. Não vou guardar porra nenhuma para eu ter que guardar tudo sozinha depois. — A outra sentou na bancada com sua inseparável xícara de café. — Sua folgada. Tem que parar de ser preguiçosa desse jeito, fofurinha.
— Nossa, mãe, desculpa aí. — Daniel apareceu no arco da cozinha. — Seu temperamento de velha rabugenta de 60 anos tá atacando de novo?
Myra engasgou, ainda rindo.
— Falou a pessoa que levantou da cama às 5h30 da manhã para reclamar — retrucou a morena, revirando os olhos. — E o que você tá fazendo aqui? Vai dormir, vai...
— Ai, quanto amor rolando no ar nesta manhã, viu? — provocou a ruiva, dando outra dentada em seu sanduíche. — Beijem-se logo. Não! Mentira, eu tô comendo, façam depois.
— Mudando de assunto agora — cortou , pegando uma maçã de uma das sacolas de compras. — Você acha mesmo que essa trégua de ajuda com a molecada vai ajudar em alguma coisa?
— Ele é a porra do alfa da cidade! E um genuíno ainda! , significa que ele tem um bom caráter. Significa que dá para confiar. — deu de ombros, limpando na roupa os farelos de pão. — Sem contar que não sabemos se podemos com essa coisa. Cinco lobos, uma banshee e uma caçadora no time seria extremamente útil.
— Imaginei que você fosse recorrer ao Hale...
— Peter é uma cobra, só pensa em si próprio — a outra retrucou, bebendo uma golada de café. — Nos ajudaria apenas se fosse de seu próprio interesse.
— Descrição perfeita — ironizou Daniel.
— Não precisa ter ciúme, Levi.
Blackburn POV.
Coloquei a caneca de café na pia e fui ao meu quarto, começando a catar as roupas do chão carpado, algumas delas sendo de Daniel. Ah, como eu adorava uma baguncinha. Joguei algumas peças sujas no cesto de vime, tirando alguns pares de sapatos do caminho.
Joguei uma bolsa de couro castanho ao lado do espelho e parei, por um minuto, para olhar o meu reflexo, que, no momento, não era dos melhores. Meu cabelo estava todo desgrenhado, um hematoma estava se formando em volta do meu pescoço e a camiseta de pano fino colada ao corpo, por conta do suor, não deixava minha situação muito confortável. Soltei o par de botas e peguei uma toalha em cima da cômoda, me enfiando embaixo do chuveiro logo em seguida.
Enfiei a cabeça debaixo da água quente, fechando os olhos com força e sentindo o efeito dos advils começarem a passar, e minha cabeça voltar a latejar violentamente. As imagens começaram a rodar lentamente e aquele maldito triskelion se repetia várias e várias vezes, a maioria das imagens eram borrões, mas o triskelion aparecia claramente. Como se alguma coisa quisesse me dizer alguma merda, e sempre tinha que ter a porra de um Hale envolvido!
Terminei meu banho, me enrolei na toalha e encarei outra vez meu reflexo no espelho, agora, com a cara limpa e com o cabelo parecendo uma vassoura com dreads. Minha aparência não era lá das melhores. Peguei a sacola da farmácia em uma das gavetas e enfiei a mão dentro, apanhando uma cartela de advil e enfiando os quatro na boca, junto de mais cinco aspirinas, e engoli tudo, e puxei mais um tanto de ar. Pisquei com força, sentindo a dor começar a diminuir.
Toquei a bandagem enrolada em meu antebraço, molhada e suja de sangue, descolei o esparadrapo e desenrolei, vendo o talho feito pelo oni fechado por dez pontos que começavam a verter sangue. Peguei mais um tanto de gaze e virei metade do vidro de iodo em cima, pressionando sobre os pontos e contendo um gemido de dor. Refiz o curativo e prendi com um pedaço de esparadrapo outra vez.
Allison me deu um cutucão com o lápis, me fazendo bufar pela não sei qual vez no dia. Virei, tentando não chamar atenção do professor Yukimura.
— O quê? — cochichei.
— O que houve com seu braço? — Ela apontou para meu braço enfaixado.
— O oni me feriu com a espada — respondi, indicando o óbvio.
Voltei minha atenção ao professor, mas a infeliz me cutucou outra vez.
— Que foi? — cochichei irritada.
— Obrigado por tentar me ajudar — ela sorriu minimamente, ainda cochichando.
— Eu e meu instinto heroico imbecil.
Virei-me para frente, no mesmo segundo em que senhor Yukimura olhou em minha direção com aquele olhar de reprovação que todo professor tinha para seu aluno arteiro. Dei a ele meu melhor sorriso de desculpas.
A aula se seguiu com a mesma chatice de sempre, a mesma explicação que já ouvi incontáveis vezes de uma perspectiva diferente do habitual. Dei graças a Deus quando a sineta tocou, indicando o intervalo no meio das aulas, juntei os cadernos em cima da mesa e quase voei para fora da sala, correndo, até sentir aquela maldita sensação sufocante passar, que me faz parar no jardim. Sentei-me no gramado, com as costas apoiadas num banco.
— Você está bem? — a voz da garota Martin veio detrás de mim.
— Minha cabeça que dói para o inferno. — Afastei os punhos dos olhos, e ela sentou-se ao meu lado. — E não para.
— Desculpe — pediu ela, sincera.
— Tenho certeza que minha dor de cabeça não é sua culpa, Lydia. — Brinquei, rindo fraco.
— Não por sua dor. Mas por ter feito a coisa do grito com você — ela explicou. — Deve ter doído pra caramba.
— Eu estava quase matando seu amigo. — Dei uma leve ombrada nela. — Teve seus motivos.
— Foi assustador. Digo, você segurando a gente no ar e sufocando o Scott só com as mãos mexendo.
— Truque maneiro, né? — ri, enrolando o cabelo e deixando só de um lado do pescoço. — Prometo que, na próxima, não uso em um de vocês.
— Agradeço.
Um silêncio leve se instalou entre nós. Agora, sabia que Lydia Martin não era o poço de futilidade como eu imaginava que fosse. Ela me olhou assustada.
— O que houve?
— Seu nariz está sangrando! — Ela apontou para o meu rosto.
Toquei meu nariz, sentindo o líquido viscoso e quente molhar meus dedos. Minha visão começou a se embaralhar, perdendo a cor, e meu corpo parecia leve... Tão leve quanto uma pena.
— ? — chamou a Martin, sua voz soou oca, parecendo distante demais de mim. — Lydia?
A última coisa que vi, antes da escuridão tomar conta, foi o rosto desesperado de Lydia.
POV OFF.
Blackburn POV ON.
Eu estava em minha aula de cálculo avançado, sentada em dupla com Danny. Bocejei, olhando para o nada, enquanto a professora divagava sobre o Diagrama de Ishikawa, e estava divagando mesmo, já que, metade dos alunos que enchiam a sala estavam mandando sms escondido, cochichando com sua dupla, dormindo ou pensando na morte da bezerra.
— E então, é por sua forma que foi apelidado de Diagrama Escama de Peixe. — Miss Vennp explicou, apontando para seu desenho a la Picasso com o giz.
— Você entendeu alguma coisa? — Danny cochichou para mim.
— Não, só prestei atenção na parte que diz “Diagrama de Nagazaki” — respondi em tom de brincadeira.
— Ishikawa, , Ishikawa — ele me corrigiu, rindo baixo.
— Ah, você entendeu.
A professora olhou, irritada, na nossa direção, me fazendo calar a boca na hora. Continuei a desenhar algumas imitações de Salvador Dali nas bordas da folha do meu caderno, que eram, na maioria, flores retorcidas e abstratas. Quando miss Vennp iria começar a divagar sobre o criador do Diagrama, a sineta do intervalo entre as aulas berrou.
Saí da sala lentamente, conversando sobre lacrosse com Danny, coisa que ele achou estranho de primeira, alegando que nenhuma menina nunca conversara com ele sobre lacrosse entendendo do assunto como eu. Fiquei lisonjeada, agradeci o elogio e continuei perguntando se era legal fazer parte de um time e quando era o próximo jogo. Entramos na fila da cantina, com certa relutância da minha parte, mas Danny jurou de pé junto que iria me ajudar a escolher um prato que não fosse me dar uma intoxicação alimentar mais fodida que a Sasha Grey (n/a: outra piadinha que não deu pra segurar, desculpem-me).
— Se eu morrer por comer isso aqui, não quero você no meu velório. — Brinquei, enquanto a senhora da cantina servia um sanduiche natural embalado com papel filme no prato da minha bandeja.
— Juro que será a melhor coisa que vai comer — ele sorriu, enquanto a mulher servia o mesmo para ele. — Pálida desse jeito deve estar com fome.
— Eu sou branca, é para combinar com o cabelo. — Pisquei. Pedi uma maçã à senhora e me afastei da fila.
— Isso é natural? — ele riu, me seguindo até uma mesa.
— Claro que é. — Fiz cara de ofendida, deixando minha bandeja sobre a mesa e indo à máquina de refrigerantes, que ficava quase colada à mesa. — Parece tintura?
Olhei para o painel da máquina, e tudo pareceu brilhar além do que deveria. Pisquei com força, sentindo o ar ameaçar me faltar, e a nota de cinco dólares escorregou por entre meus dedos. Apoiei-me na máquina. Tudo à minha volta pareceu rodar, ficando fora de seu eixo natural.
— ? — Danny chamou, sua voz ecoou distante.
Virei-me precariamente, mal conseguindo me equilibrar no salto curto das botas. Meu nariz ficou quente e começou a arder. Senti toda a força do meu corpo se esvair e minhas pernas bambearem.
— Me aju...
Antes que eu pudesse terminar o pedido, meu corpo ficou leve feito uma pena, como se eu estivesse flutuando no ar, e, lentamente, fui tombando para o lado, até meu corpo cair na grama curta, com a escuridão tomando conta de tudo.
POV OFF.
Os alunos montaram um círculo ao redor de Danny, que segurava uma apagada nos braços.
— Alguém chame a droga da ambulância! — berrou o rapaz, tentando acordar a mais nova amiga.
Greenberg, que, até pouco tempo, tinha saído correndo aos tropeços para fora da cafeteria, voltou acompanhado de Natalie Martin e Georgina Vennp.
— O que foi que aconteceu? — indagou a Martin, acotovelando alguns alunos para abrir caminho até a ruiva. — Georgina, chame uma ambulância! Agora!
Georgina Vennp puxou o celular do bolso do blazer e discou o número da emergência.
— Ela estava indo pegar um refrigerante na máquina e caiu com sangue saindo do nariz! — um tom de desespero tomava conta da voz de Danny. — Ela vai ficar bem?
Natalie ajoelhou-se ao lado do corpo inerte de , que ainda tinha sangue escorrendo do nariz. Amais velha checou o pulso de Blackburn e olhou para Danny.
— A irmã dela está onde?
— ? Eu não sei — respondeu o rapaz, gaguejando. — Ela não estava na última aula com a gente.
— Alguém ache Jamesson e a traga aqui agora! — mandou Martin.
O som estridente das sirenes da ambulância sendo ouvidos distantes.
— ? ? Acorde! — Lydia chacoalhava assustada o corpo de . — Por favor, acorde!
O braço enfaixado, que estava coberto pela manga lilás da blusa, tinha sangue negro pingando dos dedos. Lydia tocou o braço, puxando a manga para cima. A bandagem estava totalmente enegrecida, deixando parte dos pontos estourados à mostra.
— Alguém me ajude! Minha amiga não está bem! — chamou ela.
Ninguém apareceu no jardim deserto. Maldita hora do almoço! Lydia deitou com cuidado a cabeça de na grama, saindo numa corrida ao máximo que podia com aquele par de saltos. A maioria dos alunos estavam na cafeteria, aproveitando seu santo horário de almoço. E uma inquietante sirene berrava não muito longe da entrada da escola.
— Alguém ajude! — Tentou de novo.
Georgina Vennp corria pelo corredor, seguindo a ordem de Natalie de ir guiar os paramédicos.
— Lydia! O que foi que houve?
— ! Jamesson desmaiou no jardim! — explicou a ruiva, ofegando. — Tem sangue saindo do nariz dela!
— Oh, droga, a irmã dela está desmaiada na cafeteria — contou a professora, discando o número da emergência outra vez, e foi atendida logo em seguida. — Preciso de outra ambulância na escola, outra menina desmaiou!
As ambulâncias chegaram com um estardalhaço, subindo sobre as calçadas. Dois paramédicos desceram de cada uma. Professora Vennp e a diretora guiando cada dupla para um lado.
— Vamos, Lydia! Elas são nossas amigas! — argumentou Allison, parada com a mão na maçaneta do motorista.
— São? Tem certeza disso? é legalzinha, mas ainda tem uma pontinha homicida! — Allison a repreendeu com uma careta.
— Você que estava tentando virar amiga dela! — argumentou a outra. — Entra na merda do carro, Lydia!
Martin bateu o pé, literalmente parecendo uma criança.
— Lydia Martin, agora! — mandou a morena, batendo com a mão no capô do carro.
— Tá, tá!
A outra entrou no carro, a contra gosto, prendendo o cinto.
O hospital era extremamente branco e limpo, tão branco que as luzes fluorescentes faziam os olhos de qualquer um doerem. As duas ambulâncias chegaram com uma sonora barulheira, as duplas de paramédicos puxaram as macas de dentro das ambulâncias, correndo pela porta dupla de vidro. Melissa McCall e mais três enfermeiras se aproximaram assim que viram o sangue negro escorrendo pelo braço, que pendia para fora da maca, da moça morena. McCall, prontamente, puxou a maca para a área de primeiros socorros.
— Deixem essa comigo. Juliard? Pode cuidar da outra? — pediu Melissa. Juliard Owens fez que “sim” com a cabeça, acompanhando a colega com a segunda maca. McCall desatou os farrapos que haviam se tornado o curativo improvisado. O corte quase dava a volta no antebraço todo e era profundo, muito mais que qualquer corte comum. Algumas pontas de linha para pontos estavam presas nas extremidades da pele que vertia o sangue negro. Sobrenatural. As veias do braço todo estavam enegrecidas.
— Não sei o que, nem quem você é... Mas sei que isso vai doer mais que o toque do Satan. — A outra morena ensopou um tanto de gaze com água oxigenada e apertou contra o ferimento, que causou tamanha ardência que, se estivesse acordada, teria berrado mais que uma banshee.
— Ela não aparenta danos externos. O nariz dela está sangrando por dano interno, Melissa. — Juliard olhou alarmada para Melissa. — Pode até ser um caso avançado de aneurisma. Essa garota pode estar morrendo sem nem saber!
— Alguém da escola informou nomes?
— Os paramédicos disseram que são e Jamesson. Agora, qual é qual, eu não faço ideia. — Owens olhou de uma a outra.
— Eu quero saber como minha amiga está! Elas não têm família! — uma voz feminina berrou no corredor da recepção. — Não tente me acalmar, não, minha filha! Eu quero saber de e Jamesson!
— Senhorita, por favor, acalme-se... — Tentou uma das enfermeiras.
— Então fala como a minha amiga está! Senão, eu quebro este hospital inteiro!
Melissa enfiou a cabeça para fora da sala.
— Ei, vocês duas!
Lydia e Allison viraram num pulo. A enfermeira encarregada da recepção quase agradeceu a colega de trabalho por afastar a ruiva dela.
— Elas são amigas de vocês? — A mais velha apontou para as duas macas.
— Sim, elas estão bem? — perguntou Allison.
— Estarão, se vocês pararem de fazer escândalo no corredor — repreendeu Melissa. — Parem de berrar e esperem. Vou tratar a amiga de vocês e, assim que puder dar um aval, falo com vocês.
— Sim, senhora — responderam as duas em uníssono.
Melissa voltou para dentro da sala, colocando um par de luvas de látex e começando a preparar uma agulha para refazer os pontos do braço da menina, e, em pouco tempo, o talho sangrento estava fechado e coberto por uma grossa bandagem.
Allison sentou-se ao lado da amiga, impaciente.
— Odeio hospitais. — A Argent se remexeu inquieta. Desde a morte de sua mãe, Victoria, ela sempre se sentia desconfortável quando entrava no hospital da cidade. — Será que elas vão ficar bem?
— Espero que sim. — Lydia olhava fixamente para um ponto qualquer no chão de linóleo branco.
— Tenho certeza que aquela enfermeira nunca vai esquecer seu rosto. — Allison conteve uma risada, olhando para a amiga. — Vou te chamar quando tiver um problema para resolver.
— Não tem graça, boba. Algumas delas só te fornecem informações quando você faz um escândalo pequeno. — Brincou a ruiva.
— Chama aquilo de pequeno?
Lydia riu baixo e tornou a olhar para o ponto no chão. Se Allison não gostava de hospitais, ela gostava menos ainda. Sempre que passava perto de algum leito, sentia aquela sombra segui-la, como se uma mão invisível segurasse seu coração e o apertasse, fazendo-a ter uma ligeira falta de ar. Depois de descobrir que, ao invés de vidente, era uma banshee, para ela, aquela sombra deveria ser a morte, que espreitava pelos corredores dos hospitais. Esperando para que algum doente terminal desistisse de lutar.
Juliard Owens passou pelas duas, empurrando a maca a qual estava deitada. Uma agulha aplicava soro em sua veia e uma cânula estava encaixada em seu nariz. Melissa veio logo atrás, tirando as luvas.
— Vão levar a ruiva para a tomografia primeiro — explicou ela, olhando Owens afastar-se rapidamente com a maca. — Acham que é algum tipo de dano interno que causou o sangramento no nariz. Juliard acha até que possa ser um aneurisma. Mas a outra tinha sangue negro vertendo do ferimento... O que me leva a crer que elas não precisam de exames nenhum.
— Elas são bruxas... — começou Lydia, cochichando.
— Mas não sabemos como o processo de cura delas funciona — completou Argent, no mesmo tom de voz. — Elas podem se curar como um lobisomem assim como também podem não ter poder nenhum de cura.
— Isso não ajuda em muita coisa... — Melissa suspirou, olhando pensativa para o corredor.
Antes que McCall ou as outras duas pudesse falar muita coisa, um estrondo alto veio de dentro da sala dos primeiros socorros. As três correram para a sala.
estava escorada na parede. A maca a qual estava deitada foi tombada de lado. Ela puxava as agulhas de seus braços e os plugs de seu peito. O braço não vertia mais sangue, mas as veias ainda estavam escuras. Assim como o sangue ainda escorria de seu nariz, seus olhos estavam azuis por completo, com sua forma sobrenatural para todos verem. Blackburn tentou andar, mas suas pernas ainda pareciam serem feitas de gelatina. Allison foi mais rápida e a amparou, antes que a morena se estatelasse no chão.
— Ache Daniel... — sussurrou ela com a voz fraca e apagou novamente.
— Equilíbrio, mana — lembrou-se a morena, girando as espadas nas mãos. — Sempre se esquece do seu próprio equilíbrio.
riu, enxugando o suor que escorria em seus olhos. Treino matinal sempre deixava de bom humor, se é que se chamava cinco e meia da manhã de matinal, já que, na opinião da ruiva, só ficava manhã quando o sol nascia, como era para todo mundo.
— E você sempre é um doce, querida. — Brincou ela, firmando o aperto nas espadas.
— Sabe que te amo.
puxou mais um tanto de ar, investindo contra a irmã e atingindo-a no braço com a espada de madeira. gemeu, segurando na região em que era para ter uma lâmina.
— A garota Argent gosta de você — comentou a ruiva quando a irmã puxou de volta a espada.
— Não vai gostar tanto assim, até Christopher contar sua ladainha a ela. — A morena desviou de outro golpe com um rodopio. — Salvamos a vida do infeliz, e ele ainda acredita em Gerard. Aquele moleque Hale não é muito meu fã.
— Lógico! Você quase o matou com três balas de prata! — argumentou a mais nova, usando uma mureta como apoio para acertar um chute na mais velha. — Não foi só uma, mas três! Deve doer para caralho esse negócio.
— Ele quis pagar de macho comigo. — respondeu, contrariada, massageando o local do chute. — Achei falta de respeito. Continue me enchendo o saco, e eu te faço me pagar o café.
riu, manejando as espadas com habilidade, sem abandonar a postura rija e, ao mesmo tempo, relaxada de espadachim. Daniel subiu a escada, que dava para telhado, aos bocejos, quase derrubando o café de sua caneca incontáveis vezes.
— Dá para as madames pararem de berrar na janela da porra do quarto? — grasnou ele, assim que abriu a porta, parecendo um velho ranzinza. — Pessoas normais, normalmente, dormem às cinco da manhã.
— Vou ignorar seu acesso de raiva e o fato de que só o quarto da é deste lado do prédio. — atacou a irmã outra vez, o top verde ensopado de suor. — Você parece um velho. Deus que me perdoe, Daniel. Vamos melhorar esse humor.
saltou, girando o corpo num pé só, em 360 graus e puxando a espada de madeira da irmã, o cabelo negro voando para todo lado. riu, jogando a segunda espada da mão esquerda para a direita. Daniel bufou contrariado, irritado por nenhuma das duas ter lhe dado atenção.
— Ai, Danny, desfaz essa cara. Ou isso é ressaca da festa? — Brincou , fazendo um movimento digno de Neo do Matrix para desviar da espada da irmã. — Bebeu demais, ou a saliva da Martin tinha muito álcool?
— Vá ferrar, Blackburn! — rosnou Daniel, protegendo os olhos do sol com uma mão. — Psicopatas.
E voltou para dentro do prédio, deixando as duas tentando se matar no telhado.
— Vocês deveriam ser mais discretos — pediu , chutando a espada da irmã para desarmá-la. — Dão muito na cara.
soltou a segunda espada, erguendo os braços em rendição, visto que estava cansada ao ponto de sentir todos os músculos do corpo ameaçarem a ter cãibras.
— Venceu. Minha garganta está mais seca que a merda do Saara! — Riu ela, deitando no chão com uma garrafinha com água na mão.
riu e ajudou a irmã a se levantar, pegando as espadas de madeira do chão.
— Estou pensando em ficar loira... — comentou enquanto colocava uma colherada de pó de café no coador da cafeteira.
— Tá me zoando, né? — perguntou , rindo alto, mas controlou-se ao ver a face a la Kristen Stewart da irmã (n/a: desculpe às fãs da moça, mas não tem definição melhor). — Ah, você está falando sério?
— Palhaça! — resmungou a outra, abaixando a tampa da cafeteira, que começou a trabalhar. — Qual é o problema comigo loira?
— Você ficaria parecendo a Cara Delevigne, sua louca! — Gesticulou , segurando a faca suja de manteiga de amendoim como se fosse uma arma.
— Se você jogar isso em mim, eu te socarei. — se contorceu. Sua alta alergia a amendoim já estava quase atacando. — Abaixa essa merda, !
sorriu maligna, chacoalhando a faca para lá e para cá.
— Você mata pessoas para viver e tem medinha de pasta de amendoim! — A ruiva riu, abaixando a faca. — Essas coisas da vida, viu...
Olivia ergueu o dedo do meio para a irmã, fuçando outra caixa, para achar outra xícara.
— Eu falei que era melhor guardar as coisas nos lugares certos. — cutucou seu sanduíche de pasta de amendoim com geleia. — Não iria ter que ficar fuçando tudo quando for usar.
— Você vai ajudar a guardar quando a gente for embora?
— Não.
— Então. Não vou guardar porra nenhuma para eu ter que guardar tudo sozinha depois. — A outra sentou na bancada com sua inseparável xícara de café. — Sua folgada. Tem que parar de ser preguiçosa desse jeito, fofurinha.
— Nossa, mãe, desculpa aí. — Daniel apareceu no arco da cozinha. — Seu temperamento de velha rabugenta de 60 anos tá atacando de novo?
Myra engasgou, ainda rindo.
— Falou a pessoa que levantou da cama às 5h30 da manhã para reclamar — retrucou a morena, revirando os olhos. — E o que você tá fazendo aqui? Vai dormir, vai...
— Ai, quanto amor rolando no ar nesta manhã, viu? — provocou a ruiva, dando outra dentada em seu sanduíche. — Beijem-se logo. Não! Mentira, eu tô comendo, façam depois.
— Mudando de assunto agora — cortou , pegando uma maçã de uma das sacolas de compras. — Você acha mesmo que essa trégua de ajuda com a molecada vai ajudar em alguma coisa?
— Ele é a porra do alfa da cidade! E um genuíno ainda! , significa que ele tem um bom caráter. Significa que dá para confiar. — deu de ombros, limpando na roupa os farelos de pão. — Sem contar que não sabemos se podemos com essa coisa. Cinco lobos, uma banshee e uma caçadora no time seria extremamente útil.
— Imaginei que você fosse recorrer ao Hale...
— Peter é uma cobra, só pensa em si próprio — a outra retrucou, bebendo uma golada de café. — Nos ajudaria apenas se fosse de seu próprio interesse.
— Descrição perfeita — ironizou Daniel.
— Não precisa ter ciúme, Levi.
Blackburn POV.
Coloquei a caneca de café na pia e fui ao meu quarto, começando a catar as roupas do chão carpado, algumas delas sendo de Daniel. Ah, como eu adorava uma baguncinha. Joguei algumas peças sujas no cesto de vime, tirando alguns pares de sapatos do caminho.
Joguei uma bolsa de couro castanho ao lado do espelho e parei, por um minuto, para olhar o meu reflexo, que, no momento, não era dos melhores. Meu cabelo estava todo desgrenhado, um hematoma estava se formando em volta do meu pescoço e a camiseta de pano fino colada ao corpo, por conta do suor, não deixava minha situação muito confortável. Soltei o par de botas e peguei uma toalha em cima da cômoda, me enfiando embaixo do chuveiro logo em seguida.
Enfiei a cabeça debaixo da água quente, fechando os olhos com força e sentindo o efeito dos advils começarem a passar, e minha cabeça voltar a latejar violentamente. As imagens começaram a rodar lentamente e aquele maldito triskelion se repetia várias e várias vezes, a maioria das imagens eram borrões, mas o triskelion aparecia claramente. Como se alguma coisa quisesse me dizer alguma merda, e sempre tinha que ter a porra de um Hale envolvido!
Terminei meu banho, me enrolei na toalha e encarei outra vez meu reflexo no espelho, agora, com a cara limpa e com o cabelo parecendo uma vassoura com dreads. Minha aparência não era lá das melhores. Peguei a sacola da farmácia em uma das gavetas e enfiei a mão dentro, apanhando uma cartela de advil e enfiando os quatro na boca, junto de mais cinco aspirinas, e engoli tudo, e puxei mais um tanto de ar. Pisquei com força, sentindo a dor começar a diminuir.
Toquei a bandagem enrolada em meu antebraço, molhada e suja de sangue, descolei o esparadrapo e desenrolei, vendo o talho feito pelo oni fechado por dez pontos que começavam a verter sangue. Peguei mais um tanto de gaze e virei metade do vidro de iodo em cima, pressionando sobre os pontos e contendo um gemido de dor. Refiz o curativo e prendi com um pedaço de esparadrapo outra vez.
Allison me deu um cutucão com o lápis, me fazendo bufar pela não sei qual vez no dia. Virei, tentando não chamar atenção do professor Yukimura.
— O quê? — cochichei.
— O que houve com seu braço? — Ela apontou para meu braço enfaixado.
— O oni me feriu com a espada — respondi, indicando o óbvio.
Voltei minha atenção ao professor, mas a infeliz me cutucou outra vez.
— Que foi? — cochichei irritada.
— Obrigado por tentar me ajudar — ela sorriu minimamente, ainda cochichando.
— Eu e meu instinto heroico imbecil.
Virei-me para frente, no mesmo segundo em que senhor Yukimura olhou em minha direção com aquele olhar de reprovação que todo professor tinha para seu aluno arteiro. Dei a ele meu melhor sorriso de desculpas.
A aula se seguiu com a mesma chatice de sempre, a mesma explicação que já ouvi incontáveis vezes de uma perspectiva diferente do habitual. Dei graças a Deus quando a sineta tocou, indicando o intervalo no meio das aulas, juntei os cadernos em cima da mesa e quase voei para fora da sala, correndo, até sentir aquela maldita sensação sufocante passar, que me faz parar no jardim. Sentei-me no gramado, com as costas apoiadas num banco.
— Você está bem? — a voz da garota Martin veio detrás de mim.
— Minha cabeça que dói para o inferno. — Afastei os punhos dos olhos, e ela sentou-se ao meu lado. — E não para.
— Desculpe — pediu ela, sincera.
— Tenho certeza que minha dor de cabeça não é sua culpa, Lydia. — Brinquei, rindo fraco.
— Não por sua dor. Mas por ter feito a coisa do grito com você — ela explicou. — Deve ter doído pra caramba.
— Eu estava quase matando seu amigo. — Dei uma leve ombrada nela. — Teve seus motivos.
— Foi assustador. Digo, você segurando a gente no ar e sufocando o Scott só com as mãos mexendo.
— Truque maneiro, né? — ri, enrolando o cabelo e deixando só de um lado do pescoço. — Prometo que, na próxima, não uso em um de vocês.
— Agradeço.
Um silêncio leve se instalou entre nós. Agora, sabia que Lydia Martin não era o poço de futilidade como eu imaginava que fosse. Ela me olhou assustada.
— O que houve?
— Seu nariz está sangrando! — Ela apontou para o meu rosto.
Toquei meu nariz, sentindo o líquido viscoso e quente molhar meus dedos. Minha visão começou a se embaralhar, perdendo a cor, e meu corpo parecia leve... Tão leve quanto uma pena.
— ? — chamou a Martin, sua voz soou oca, parecendo distante demais de mim. — Lydia?
A última coisa que vi, antes da escuridão tomar conta, foi o rosto desesperado de Lydia.
POV OFF.
Blackburn POV ON.
Eu estava em minha aula de cálculo avançado, sentada em dupla com Danny. Bocejei, olhando para o nada, enquanto a professora divagava sobre o Diagrama de Ishikawa, e estava divagando mesmo, já que, metade dos alunos que enchiam a sala estavam mandando sms escondido, cochichando com sua dupla, dormindo ou pensando na morte da bezerra.
— E então, é por sua forma que foi apelidado de Diagrama Escama de Peixe. — Miss Vennp explicou, apontando para seu desenho a la Picasso com o giz.
— Você entendeu alguma coisa? — Danny cochichou para mim.
— Não, só prestei atenção na parte que diz “Diagrama de Nagazaki” — respondi em tom de brincadeira.
— Ishikawa, , Ishikawa — ele me corrigiu, rindo baixo.
— Ah, você entendeu.
A professora olhou, irritada, na nossa direção, me fazendo calar a boca na hora. Continuei a desenhar algumas imitações de Salvador Dali nas bordas da folha do meu caderno, que eram, na maioria, flores retorcidas e abstratas. Quando miss Vennp iria começar a divagar sobre o criador do Diagrama, a sineta do intervalo entre as aulas berrou.
Saí da sala lentamente, conversando sobre lacrosse com Danny, coisa que ele achou estranho de primeira, alegando que nenhuma menina nunca conversara com ele sobre lacrosse entendendo do assunto como eu. Fiquei lisonjeada, agradeci o elogio e continuei perguntando se era legal fazer parte de um time e quando era o próximo jogo. Entramos na fila da cantina, com certa relutância da minha parte, mas Danny jurou de pé junto que iria me ajudar a escolher um prato que não fosse me dar uma intoxicação alimentar mais fodida que a Sasha Grey (n/a: outra piadinha que não deu pra segurar, desculpem-me).
— Se eu morrer por comer isso aqui, não quero você no meu velório. — Brinquei, enquanto a senhora da cantina servia um sanduiche natural embalado com papel filme no prato da minha bandeja.
— Juro que será a melhor coisa que vai comer — ele sorriu, enquanto a mulher servia o mesmo para ele. — Pálida desse jeito deve estar com fome.
— Eu sou branca, é para combinar com o cabelo. — Pisquei. Pedi uma maçã à senhora e me afastei da fila.
— Isso é natural? — ele riu, me seguindo até uma mesa.
— Claro que é. — Fiz cara de ofendida, deixando minha bandeja sobre a mesa e indo à máquina de refrigerantes, que ficava quase colada à mesa. — Parece tintura?
Olhei para o painel da máquina, e tudo pareceu brilhar além do que deveria. Pisquei com força, sentindo o ar ameaçar me faltar, e a nota de cinco dólares escorregou por entre meus dedos. Apoiei-me na máquina. Tudo à minha volta pareceu rodar, ficando fora de seu eixo natural.
— ? — Danny chamou, sua voz ecoou distante.
Virei-me precariamente, mal conseguindo me equilibrar no salto curto das botas. Meu nariz ficou quente e começou a arder. Senti toda a força do meu corpo se esvair e minhas pernas bambearem.
— Me aju...
Antes que eu pudesse terminar o pedido, meu corpo ficou leve feito uma pena, como se eu estivesse flutuando no ar, e, lentamente, fui tombando para o lado, até meu corpo cair na grama curta, com a escuridão tomando conta de tudo.
POV OFF.
Os alunos montaram um círculo ao redor de Danny, que segurava uma apagada nos braços.
— Alguém chame a droga da ambulância! — berrou o rapaz, tentando acordar a mais nova amiga.
Greenberg, que, até pouco tempo, tinha saído correndo aos tropeços para fora da cafeteria, voltou acompanhado de Natalie Martin e Georgina Vennp.
— O que foi que aconteceu? — indagou a Martin, acotovelando alguns alunos para abrir caminho até a ruiva. — Georgina, chame uma ambulância! Agora!
Georgina Vennp puxou o celular do bolso do blazer e discou o número da emergência.
— Ela estava indo pegar um refrigerante na máquina e caiu com sangue saindo do nariz! — um tom de desespero tomava conta da voz de Danny. — Ela vai ficar bem?
Natalie ajoelhou-se ao lado do corpo inerte de , que ainda tinha sangue escorrendo do nariz. Amais velha checou o pulso de Blackburn e olhou para Danny.
— A irmã dela está onde?
— ? Eu não sei — respondeu o rapaz, gaguejando. — Ela não estava na última aula com a gente.
— Alguém ache Jamesson e a traga aqui agora! — mandou Martin.
O som estridente das sirenes da ambulância sendo ouvidos distantes.
— ? ? Acorde! — Lydia chacoalhava assustada o corpo de . — Por favor, acorde!
O braço enfaixado, que estava coberto pela manga lilás da blusa, tinha sangue negro pingando dos dedos. Lydia tocou o braço, puxando a manga para cima. A bandagem estava totalmente enegrecida, deixando parte dos pontos estourados à mostra.
— Alguém me ajude! Minha amiga não está bem! — chamou ela.
Ninguém apareceu no jardim deserto. Maldita hora do almoço! Lydia deitou com cuidado a cabeça de na grama, saindo numa corrida ao máximo que podia com aquele par de saltos. A maioria dos alunos estavam na cafeteria, aproveitando seu santo horário de almoço. E uma inquietante sirene berrava não muito longe da entrada da escola.
— Alguém ajude! — Tentou de novo.
Georgina Vennp corria pelo corredor, seguindo a ordem de Natalie de ir guiar os paramédicos.
— Lydia! O que foi que houve?
— ! Jamesson desmaiou no jardim! — explicou a ruiva, ofegando. — Tem sangue saindo do nariz dela!
— Oh, droga, a irmã dela está desmaiada na cafeteria — contou a professora, discando o número da emergência outra vez, e foi atendida logo em seguida. — Preciso de outra ambulância na escola, outra menina desmaiou!
As ambulâncias chegaram com um estardalhaço, subindo sobre as calçadas. Dois paramédicos desceram de cada uma. Professora Vennp e a diretora guiando cada dupla para um lado.
— Vamos, Lydia! Elas são nossas amigas! — argumentou Allison, parada com a mão na maçaneta do motorista.
— São? Tem certeza disso? é legalzinha, mas ainda tem uma pontinha homicida! — Allison a repreendeu com uma careta.
— Você que estava tentando virar amiga dela! — argumentou a outra. — Entra na merda do carro, Lydia!
Martin bateu o pé, literalmente parecendo uma criança.
— Lydia Martin, agora! — mandou a morena, batendo com a mão no capô do carro.
— Tá, tá!
A outra entrou no carro, a contra gosto, prendendo o cinto.
O hospital era extremamente branco e limpo, tão branco que as luzes fluorescentes faziam os olhos de qualquer um doerem. As duas ambulâncias chegaram com uma sonora barulheira, as duplas de paramédicos puxaram as macas de dentro das ambulâncias, correndo pela porta dupla de vidro. Melissa McCall e mais três enfermeiras se aproximaram assim que viram o sangue negro escorrendo pelo braço, que pendia para fora da maca, da moça morena. McCall, prontamente, puxou a maca para a área de primeiros socorros.
— Deixem essa comigo. Juliard? Pode cuidar da outra? — pediu Melissa. Juliard Owens fez que “sim” com a cabeça, acompanhando a colega com a segunda maca. McCall desatou os farrapos que haviam se tornado o curativo improvisado. O corte quase dava a volta no antebraço todo e era profundo, muito mais que qualquer corte comum. Algumas pontas de linha para pontos estavam presas nas extremidades da pele que vertia o sangue negro. Sobrenatural. As veias do braço todo estavam enegrecidas.
— Não sei o que, nem quem você é... Mas sei que isso vai doer mais que o toque do Satan. — A outra morena ensopou um tanto de gaze com água oxigenada e apertou contra o ferimento, que causou tamanha ardência que, se estivesse acordada, teria berrado mais que uma banshee.
— Ela não aparenta danos externos. O nariz dela está sangrando por dano interno, Melissa. — Juliard olhou alarmada para Melissa. — Pode até ser um caso avançado de aneurisma. Essa garota pode estar morrendo sem nem saber!
— Alguém da escola informou nomes?
— Os paramédicos disseram que são e Jamesson. Agora, qual é qual, eu não faço ideia. — Owens olhou de uma a outra.
— Eu quero saber como minha amiga está! Elas não têm família! — uma voz feminina berrou no corredor da recepção. — Não tente me acalmar, não, minha filha! Eu quero saber de e Jamesson!
— Senhorita, por favor, acalme-se... — Tentou uma das enfermeiras.
— Então fala como a minha amiga está! Senão, eu quebro este hospital inteiro!
Melissa enfiou a cabeça para fora da sala.
— Ei, vocês duas!
Lydia e Allison viraram num pulo. A enfermeira encarregada da recepção quase agradeceu a colega de trabalho por afastar a ruiva dela.
— Elas são amigas de vocês? — A mais velha apontou para as duas macas.
— Sim, elas estão bem? — perguntou Allison.
— Estarão, se vocês pararem de fazer escândalo no corredor — repreendeu Melissa. — Parem de berrar e esperem. Vou tratar a amiga de vocês e, assim que puder dar um aval, falo com vocês.
— Sim, senhora — responderam as duas em uníssono.
Melissa voltou para dentro da sala, colocando um par de luvas de látex e começando a preparar uma agulha para refazer os pontos do braço da menina, e, em pouco tempo, o talho sangrento estava fechado e coberto por uma grossa bandagem.
Allison sentou-se ao lado da amiga, impaciente.
— Odeio hospitais. — A Argent se remexeu inquieta. Desde a morte de sua mãe, Victoria, ela sempre se sentia desconfortável quando entrava no hospital da cidade. — Será que elas vão ficar bem?
— Espero que sim. — Lydia olhava fixamente para um ponto qualquer no chão de linóleo branco.
— Tenho certeza que aquela enfermeira nunca vai esquecer seu rosto. — Allison conteve uma risada, olhando para a amiga. — Vou te chamar quando tiver um problema para resolver.
— Não tem graça, boba. Algumas delas só te fornecem informações quando você faz um escândalo pequeno. — Brincou a ruiva.
— Chama aquilo de pequeno?
Lydia riu baixo e tornou a olhar para o ponto no chão. Se Allison não gostava de hospitais, ela gostava menos ainda. Sempre que passava perto de algum leito, sentia aquela sombra segui-la, como se uma mão invisível segurasse seu coração e o apertasse, fazendo-a ter uma ligeira falta de ar. Depois de descobrir que, ao invés de vidente, era uma banshee, para ela, aquela sombra deveria ser a morte, que espreitava pelos corredores dos hospitais. Esperando para que algum doente terminal desistisse de lutar.
Juliard Owens passou pelas duas, empurrando a maca a qual estava deitada. Uma agulha aplicava soro em sua veia e uma cânula estava encaixada em seu nariz. Melissa veio logo atrás, tirando as luvas.
— Vão levar a ruiva para a tomografia primeiro — explicou ela, olhando Owens afastar-se rapidamente com a maca. — Acham que é algum tipo de dano interno que causou o sangramento no nariz. Juliard acha até que possa ser um aneurisma. Mas a outra tinha sangue negro vertendo do ferimento... O que me leva a crer que elas não precisam de exames nenhum.
— Elas são bruxas... — começou Lydia, cochichando.
— Mas não sabemos como o processo de cura delas funciona — completou Argent, no mesmo tom de voz. — Elas podem se curar como um lobisomem assim como também podem não ter poder nenhum de cura.
— Isso não ajuda em muita coisa... — Melissa suspirou, olhando pensativa para o corredor.
Antes que McCall ou as outras duas pudesse falar muita coisa, um estrondo alto veio de dentro da sala dos primeiros socorros. As três correram para a sala.
estava escorada na parede. A maca a qual estava deitada foi tombada de lado. Ela puxava as agulhas de seus braços e os plugs de seu peito. O braço não vertia mais sangue, mas as veias ainda estavam escuras. Assim como o sangue ainda escorria de seu nariz, seus olhos estavam azuis por completo, com sua forma sobrenatural para todos verem. Blackburn tentou andar, mas suas pernas ainda pareciam serem feitas de gelatina. Allison foi mais rápida e a amparou, antes que a morena se estatelasse no chão.
— Ache Daniel... — sussurrou ela com a voz fraca e apagou novamente.
Capítulo 9 - Parte I
Blackburn POV ON.
Tudo à minha volta era trevas, uma escuridão sem tamanho e fim. Minha cabeça doía com uma força descomunal e meu nariz não parava um segundo sequer de escorrer aquele filete de sangue negro.
— Mas que droga, ! — praguejei, dando um leve murro na minha própria testa. — O que raios está acontecendo?
Olhei à minha volta de novo, dando um pulo para recuar da figura deformada que se materializara uns dois metros longe de mim. A face era ocultada por bandagens sujas e esfarrapadas. No lugar dos dentes, havia apenas presas amarelas e afiadas, a criatura usava uma calça caqui e uma jaqueta de aviador de couro castanho. Nunca havia visto aquilo na vida. Afastei-me. Meu instinto me dizia que aquilo era mais que perigoso.
— Não se acanhe, . Aqui não te farei mal... — A voz não era humana, rouca e grave.
— “Aqui”? — Arqueei uma sobrancelha, sentindo cada nervo do meu corpo tremer. — Quem é você?
— Eu deixei de ser “quem” há muito tempo, criança — ele me corrigiu. Toquei o lado esquerdo das minhas costelas, não achando o costumeiro coldre ali. Merda. — Estou aqui para te alertar.
— Alertar-me para o que?
— Para que você e sua irmã não se metam nos meus planos — ele respondeu, quase num rosnado. — Vocês são peças fora do tabuleiro...
— Por quê? Tem medo de que possamos te mandar de volta ao buraco de onde você saiu? — provoquei. — Já devo presumir que você é o nogitsune?
— A única coisa que você precisa saber é que não deve ficar no caminho, Valerious — ele retrucou em tom de deboche, se é que há tom de deboche para aquela voz demoníaca. — Sim, eu sei do passado que tentam tanto enterrar.
— O que você quer aqui? Há mil e uma cidades nas quais você pode tocar o terror — comentei, quase que para mim.
— Mas é em Beacon Hills que está quem me chamou... — Ele arreganhou a boca descarnada num tipo macabro de sorriso desumano. — E, agora, não há nada que possam fazer. Vocês eram uma ameaça, por sua experiência, mas já confinei-as ao hospital. Verbena tem um efeito certeiro como veneno...
A criatura começou a se afastar lentamente, ainda me encarando com aquele ar de deboche.
— Eu vou descobrir a quem você possuiu! — gritei, antes que a criatura fosse totalmente consumida pelas trevas. — E vou te mandar ao buraco infernal do qual saiu!
POV OFF.
Já passava das quatro da tarde quando Allison olhou para o relógio do celular. Estava há tanto tempo sentada naquela cadeira, que já sentia as pernas dormentes. As Blackburn estavam lado a lado, deitadas em macas, com soros nas veias e cânulas presas aos narizes. Lydia havia saído a menos de uma hora, para achar Daniel, que Allison descobrira ser o cara que estava com as duas na “Neon Rave” do loft. Dito cujo que Lydia havia dado uns beijos na mesma festa.
Melissa medicou com um calmante mais forte, que, segundo a enfermeira, serviria até para apagar um cavalo, visto que outro episódio da moça acordando e quase jorrando sangue do furinho do soro (sim, jorrando, o chão do quarto tinha ficado parcialmente vermelho) havia assustado os enfermeiros, e o médico que estava “tratando-as” ficou com medo de ela acabar se ferindo mais ainda. E Allison quase tinha armado um belo barraco, bem do estilo Lydia, para a enfermeira deixá-la ficar no quarto. Era realmente estranho. Mal conhecia as duas, mas também sabia que, lá no fundo, se importava. Talvez, fosse porque uma delas não pensou duas vezes, antes de tentar ajudá-la numa briga contra algo que nunca tinha visto na vida. Seria aquilo uma nova amizade crescendo?
— Hey, querida, trouxe isto. — Melissa apareceu na porta do quarto com um copo de café nas mãos e o entregou a Allison. — Não quer ir para casa?
— Oh, obrigada, senhora McCall — ela sorriu de canto, ajeitando-se na poltrona.
— Oh, garota, pare de me chamar de senhora! — McCall riu, apoiando-se na parede. — Não é porque eu já fui sua sogra, que tem que me chamar de senhora.
Allison remexeu-se, desconfortável, na cadeira, bebericando o café.
— Bom, eu vou à UTI agora. Caso precise de alguma coisa, pode chamar Juliard, ela vai cuidar de suas amigas muito bem. Garanto! — a mais velha sorriu, ajeitando o cobertor de .
E saiu. Não demorou muito para que Lydia aparecesse na porta, acompanhada de Daniel, que carregava, em uma das mãos, uma maleta de couro castanho.
— Elas estão desacordadas há quantas horas? — perguntou ele, puxando a pálpebra inferior e dando uma olhada na pupila de .
— Uma hora. Talvez, duas — respondeu Allison, um tanto confusa. — Não sei ao certo...
— Daniel Levi Jamesson. — Daniel estendeu a mão à Argent, apresentando-se. — Alquimista à seu dispor.
— Allison Argent — respondeu ela, apertando a mão do rapaz.
— Uma Argent? Isso, sim, é peculiar — murmurou ele para si, voltando sua atenção para as duas desacordadas. — Hummm, posso tentar o sangue de Lycan outra vez...
— Lycan? — Lydia franziu o cenho, confusa.
— Sim, é o último estágio de transformação dos lobisomens — explicou ele, ainda deixando no ar o porquê daquilo vir a ajudá-las. Allison e Lydia afastaram-se, deixando Daniel trabalhar. Jamesson estava com um óculos de armação fina, com várias lentes de aumento. Ele abriu a maleta e seus vários compartimentos, cheio de frascos, ramos de ervas, pedrinhas e mais uma infinidade de coisas.
— Por que não me contou desse corte, hein, idiota? — sussurrou ele para a mais velha, moendo com as mãos algumas florzinhas de Mistletoe. O aspecto pálido de ambas as irmãs não era boa, menos ainda eram as veias negras e pulsantes destacadas na pele.
Lydia seguiu para a máquina de café do fim do corredor, com Allison em seu encalço.
— Estão fazendo testes no Stiles, para ver se encontram algum motivo para o surto de ontem. Scott saiu mais cedo da escola para vir vê-lo — contou a ruiva, enchendo um copo grande com café. — Ninguém fala, mas sei que eles acham que é a mesma doença que matou a mãe dele.
— Ainda não acredito que meu celular estava desligado ontem — praguejou Allison. — Ele e o Sheriff devem estar arrasados.
— Não posso nem imaginar o quanto...
As duas sentaram-se lado a lado, encarando o nada, enquanto Lydia bebia curtos goles se seu café.
Scott apareceu no fim do corredor. Allison e Lydia viraram para olhar. Ele deu uma longa olhada dentro do quarto das Blackburn, provavelmente, trocou algumas palavras com Daniel e virou-se para olhar para a outra extremidade do corredor onde estavam suas amigas, e foi até elas.
— Hey — cumprimentou Allison, tentando sorrir solidariamente. — Como ele está?
— Está bem. Estão fazendo uma tomografia. Só permitiram o Sheriff com o médico — ele explicou. — Vai levar alguns minutos.
— Stiles é forte — disse Lydia, mais a si que aos amigos. — Vai ficar bem, no final.
— E o que aconteceu com as outras duas? — perguntou ele, apontando para trás de si.
— Desmaiaram, até, então, por motivos desconhecidos — contou Allison, e Lydia confirmou com a cabeça. — Esperamos que o Daniel possa nos dizer que merda foi que aconteceu.
Derek apareceu no mesmo arco do qual Scott havia vindo.
— O qu... — Ele apontou para as duas, confuso.
— As Blackburn estão no fim do corredor. Estamos como acompanhante — explicou Lydia.
— Ela está bem? — perguntou o Hale.
— “Ela”?
— É, a morena quase me matou. — Ele deu de ombros. — Não gosto dela.
Scott tentou engolir a risada que lhe escapara pelos lábios. Os quatro sentaram-se em algumas das poltronas, que ficavam espalhadas pelo corredor, e ficaram, por alguns longos minutos, em silêncio, sem saber o que falar.
— Ouviu isso? — perguntou Hale, concentrando-se em sua audição.
— O que é? — perguntou McCall.
— Não sei, parece um zunido... — contou Derek, ainda ouvindo o curto e repetido chiado. Scott concentrou-se no som e seu rosto pareceu se iluminar quando finalmente conseguiu preencher uma das lacunas relacionadas ao surto do amigo na noite anterior (n/a: é o episódio 18, no qual o Stiles tem a primeira “alucinação” com o nogitsune, em que ele tem o surto de sonambulismo e vai parar na toca da Malia na forma de coiote. Sendo também e, automaticamente, o episódio no qual ele é totalmente possuído, e isso não é contado aqui, porque as Blackburn ainda não se integraram “oficialmente” na pack do Scott para estarem inclusas no acontecido, já que os mais envolvidos são os amigos próximos do Stilinski).
Os dois se olharam, fazendo ser quase possível ver as engrenagens em suas cabeças rodando. Os dois levantaram e correram para o fim do corredor. Argent e Martin nem se deram ao trabalho de perguntar.
— Lembra-se de que me disse ontem que Stiles estava lutando consigo aqui, que deixou rastro pelo cheiro? — perguntou McCall. Hale concordou com a cabeça, ainda correndo. — Acho que ele estava nos protegendo! Ele estava lutando com si próprio, para não fazer algo!
Conforme mais próximos chegavam ao telhado, mais alto e audível ficava o ruído estalado, que parecia algum tipo de chiado de energia. Hale empurrou a porta de ferro do telhado e entrou, seguido de Scott. Agora, o chiado estava claramente audível, até mesmo para quem não tinha a super audição de um lobo como eles. Ambos seguiram o ruído até o gabinete de controle de energia. McCall tateou o superior do armário, e uma mala com várias ferramentas e cabos se espatifou no chão. E o cabo de energia, que estava produzindo o chiado que Derek ouvira, ficava acima do gabinete e soltava faísca prateadas. De súbito, todo o gerador de energia principal do hospital explodiu, mandando todo o lugar para o escuro.
O fio arrebentou, ainda conduzindo energia e ricocheteando por todo o telhado. A claridade incomum capturou a atenção do motorista de uma ambulância, que, por um descuido estúpido, bateu no hidrante que ficava na porta do espaço, e a água começou a formar uma enorme poça no asfalto. Uma mulher, assustada com o incidente, desceu de seu carro, tomando uma descarga de energia pela água.
— Fiquem dentro dos carros! — berrou a mais nova Yukimura, pisando na poça de água.
O fio ricocheteou mais uma vez e bateu na água, e quem foi atingido, desta vez, foi o recém-chegado Isaac Lahey, que não havia visto que a agua já havia o alcançado. Derek, que mal havia chegado ao estacionamento com Scott, correu para socorrer seu beta, checando seu pulso e respiração.
— Scott! — chamou ele, olhando para o mais novo. — Ele não está respirando!
E foi a, até então, normal Kira Yukimura, que recebeu toda a descarga de energia do fio, antes que o mesmo matasse mais alguém.
Tudo à minha volta era trevas, uma escuridão sem tamanho e fim. Minha cabeça doía com uma força descomunal e meu nariz não parava um segundo sequer de escorrer aquele filete de sangue negro.
— Mas que droga, ! — praguejei, dando um leve murro na minha própria testa. — O que raios está acontecendo?
Olhei à minha volta de novo, dando um pulo para recuar da figura deformada que se materializara uns dois metros longe de mim. A face era ocultada por bandagens sujas e esfarrapadas. No lugar dos dentes, havia apenas presas amarelas e afiadas, a criatura usava uma calça caqui e uma jaqueta de aviador de couro castanho. Nunca havia visto aquilo na vida. Afastei-me. Meu instinto me dizia que aquilo era mais que perigoso.
— Não se acanhe, . Aqui não te farei mal... — A voz não era humana, rouca e grave.
— “Aqui”? — Arqueei uma sobrancelha, sentindo cada nervo do meu corpo tremer. — Quem é você?
— Eu deixei de ser “quem” há muito tempo, criança — ele me corrigiu. Toquei o lado esquerdo das minhas costelas, não achando o costumeiro coldre ali. Merda. — Estou aqui para te alertar.
— Alertar-me para o que?
— Para que você e sua irmã não se metam nos meus planos — ele respondeu, quase num rosnado. — Vocês são peças fora do tabuleiro...
— Por quê? Tem medo de que possamos te mandar de volta ao buraco de onde você saiu? — provoquei. — Já devo presumir que você é o nogitsune?
— A única coisa que você precisa saber é que não deve ficar no caminho, Valerious — ele retrucou em tom de deboche, se é que há tom de deboche para aquela voz demoníaca. — Sim, eu sei do passado que tentam tanto enterrar.
— O que você quer aqui? Há mil e uma cidades nas quais você pode tocar o terror — comentei, quase que para mim.
— Mas é em Beacon Hills que está quem me chamou... — Ele arreganhou a boca descarnada num tipo macabro de sorriso desumano. — E, agora, não há nada que possam fazer. Vocês eram uma ameaça, por sua experiência, mas já confinei-as ao hospital. Verbena tem um efeito certeiro como veneno...
A criatura começou a se afastar lentamente, ainda me encarando com aquele ar de deboche.
— Eu vou descobrir a quem você possuiu! — gritei, antes que a criatura fosse totalmente consumida pelas trevas. — E vou te mandar ao buraco infernal do qual saiu!
POV OFF.
Já passava das quatro da tarde quando Allison olhou para o relógio do celular. Estava há tanto tempo sentada naquela cadeira, que já sentia as pernas dormentes. As Blackburn estavam lado a lado, deitadas em macas, com soros nas veias e cânulas presas aos narizes. Lydia havia saído a menos de uma hora, para achar Daniel, que Allison descobrira ser o cara que estava com as duas na “Neon Rave” do loft. Dito cujo que Lydia havia dado uns beijos na mesma festa.
Melissa medicou com um calmante mais forte, que, segundo a enfermeira, serviria até para apagar um cavalo, visto que outro episódio da moça acordando e quase jorrando sangue do furinho do soro (sim, jorrando, o chão do quarto tinha ficado parcialmente vermelho) havia assustado os enfermeiros, e o médico que estava “tratando-as” ficou com medo de ela acabar se ferindo mais ainda. E Allison quase tinha armado um belo barraco, bem do estilo Lydia, para a enfermeira deixá-la ficar no quarto. Era realmente estranho. Mal conhecia as duas, mas também sabia que, lá no fundo, se importava. Talvez, fosse porque uma delas não pensou duas vezes, antes de tentar ajudá-la numa briga contra algo que nunca tinha visto na vida. Seria aquilo uma nova amizade crescendo?
— Hey, querida, trouxe isto. — Melissa apareceu na porta do quarto com um copo de café nas mãos e o entregou a Allison. — Não quer ir para casa?
— Oh, obrigada, senhora McCall — ela sorriu de canto, ajeitando-se na poltrona.
— Oh, garota, pare de me chamar de senhora! — McCall riu, apoiando-se na parede. — Não é porque eu já fui sua sogra, que tem que me chamar de senhora.
Allison remexeu-se, desconfortável, na cadeira, bebericando o café.
— Bom, eu vou à UTI agora. Caso precise de alguma coisa, pode chamar Juliard, ela vai cuidar de suas amigas muito bem. Garanto! — a mais velha sorriu, ajeitando o cobertor de .
E saiu. Não demorou muito para que Lydia aparecesse na porta, acompanhada de Daniel, que carregava, em uma das mãos, uma maleta de couro castanho.
— Elas estão desacordadas há quantas horas? — perguntou ele, puxando a pálpebra inferior e dando uma olhada na pupila de .
— Uma hora. Talvez, duas — respondeu Allison, um tanto confusa. — Não sei ao certo...
— Daniel Levi Jamesson. — Daniel estendeu a mão à Argent, apresentando-se. — Alquimista à seu dispor.
— Allison Argent — respondeu ela, apertando a mão do rapaz.
— Uma Argent? Isso, sim, é peculiar — murmurou ele para si, voltando sua atenção para as duas desacordadas. — Hummm, posso tentar o sangue de Lycan outra vez...
— Lycan? — Lydia franziu o cenho, confusa.
— Sim, é o último estágio de transformação dos lobisomens — explicou ele, ainda deixando no ar o porquê daquilo vir a ajudá-las. Allison e Lydia afastaram-se, deixando Daniel trabalhar. Jamesson estava com um óculos de armação fina, com várias lentes de aumento. Ele abriu a maleta e seus vários compartimentos, cheio de frascos, ramos de ervas, pedrinhas e mais uma infinidade de coisas.
— Por que não me contou desse corte, hein, idiota? — sussurrou ele para a mais velha, moendo com as mãos algumas florzinhas de Mistletoe. O aspecto pálido de ambas as irmãs não era boa, menos ainda eram as veias negras e pulsantes destacadas na pele.
Lydia seguiu para a máquina de café do fim do corredor, com Allison em seu encalço.
— Estão fazendo testes no Stiles, para ver se encontram algum motivo para o surto de ontem. Scott saiu mais cedo da escola para vir vê-lo — contou a ruiva, enchendo um copo grande com café. — Ninguém fala, mas sei que eles acham que é a mesma doença que matou a mãe dele.
— Ainda não acredito que meu celular estava desligado ontem — praguejou Allison. — Ele e o Sheriff devem estar arrasados.
— Não posso nem imaginar o quanto...
As duas sentaram-se lado a lado, encarando o nada, enquanto Lydia bebia curtos goles se seu café.
Scott apareceu no fim do corredor. Allison e Lydia viraram para olhar. Ele deu uma longa olhada dentro do quarto das Blackburn, provavelmente, trocou algumas palavras com Daniel e virou-se para olhar para a outra extremidade do corredor onde estavam suas amigas, e foi até elas.
— Hey — cumprimentou Allison, tentando sorrir solidariamente. — Como ele está?
— Está bem. Estão fazendo uma tomografia. Só permitiram o Sheriff com o médico — ele explicou. — Vai levar alguns minutos.
— Stiles é forte — disse Lydia, mais a si que aos amigos. — Vai ficar bem, no final.
— E o que aconteceu com as outras duas? — perguntou ele, apontando para trás de si.
— Desmaiaram, até, então, por motivos desconhecidos — contou Allison, e Lydia confirmou com a cabeça. — Esperamos que o Daniel possa nos dizer que merda foi que aconteceu.
Derek apareceu no mesmo arco do qual Scott havia vindo.
— O qu... — Ele apontou para as duas, confuso.
— As Blackburn estão no fim do corredor. Estamos como acompanhante — explicou Lydia.
— Ela está bem? — perguntou o Hale.
— “Ela”?
— É, a morena quase me matou. — Ele deu de ombros. — Não gosto dela.
Scott tentou engolir a risada que lhe escapara pelos lábios. Os quatro sentaram-se em algumas das poltronas, que ficavam espalhadas pelo corredor, e ficaram, por alguns longos minutos, em silêncio, sem saber o que falar.
— Ouviu isso? — perguntou Hale, concentrando-se em sua audição.
— O que é? — perguntou McCall.
— Não sei, parece um zunido... — contou Derek, ainda ouvindo o curto e repetido chiado. Scott concentrou-se no som e seu rosto pareceu se iluminar quando finalmente conseguiu preencher uma das lacunas relacionadas ao surto do amigo na noite anterior (n/a: é o episódio 18, no qual o Stiles tem a primeira “alucinação” com o nogitsune, em que ele tem o surto de sonambulismo e vai parar na toca da Malia na forma de coiote. Sendo também e, automaticamente, o episódio no qual ele é totalmente possuído, e isso não é contado aqui, porque as Blackburn ainda não se integraram “oficialmente” na pack do Scott para estarem inclusas no acontecido, já que os mais envolvidos são os amigos próximos do Stilinski).
Os dois se olharam, fazendo ser quase possível ver as engrenagens em suas cabeças rodando. Os dois levantaram e correram para o fim do corredor. Argent e Martin nem se deram ao trabalho de perguntar.
— Lembra-se de que me disse ontem que Stiles estava lutando consigo aqui, que deixou rastro pelo cheiro? — perguntou McCall. Hale concordou com a cabeça, ainda correndo. — Acho que ele estava nos protegendo! Ele estava lutando com si próprio, para não fazer algo!
Conforme mais próximos chegavam ao telhado, mais alto e audível ficava o ruído estalado, que parecia algum tipo de chiado de energia. Hale empurrou a porta de ferro do telhado e entrou, seguido de Scott. Agora, o chiado estava claramente audível, até mesmo para quem não tinha a super audição de um lobo como eles. Ambos seguiram o ruído até o gabinete de controle de energia. McCall tateou o superior do armário, e uma mala com várias ferramentas e cabos se espatifou no chão. E o cabo de energia, que estava produzindo o chiado que Derek ouvira, ficava acima do gabinete e soltava faísca prateadas. De súbito, todo o gerador de energia principal do hospital explodiu, mandando todo o lugar para o escuro.
O fio arrebentou, ainda conduzindo energia e ricocheteando por todo o telhado. A claridade incomum capturou a atenção do motorista de uma ambulância, que, por um descuido estúpido, bateu no hidrante que ficava na porta do espaço, e a água começou a formar uma enorme poça no asfalto. Uma mulher, assustada com o incidente, desceu de seu carro, tomando uma descarga de energia pela água.
— Fiquem dentro dos carros! — berrou a mais nova Yukimura, pisando na poça de água.
O fio ricocheteou mais uma vez e bateu na água, e quem foi atingido, desta vez, foi o recém-chegado Isaac Lahey, que não havia visto que a agua já havia o alcançado. Derek, que mal havia chegado ao estacionamento com Scott, correu para socorrer seu beta, checando seu pulso e respiração.
— Scott! — chamou ele, olhando para o mais novo. — Ele não está respirando!
E foi a, até então, normal Kira Yukimura, que recebeu toda a descarga de energia do fio, antes que o mesmo matasse mais alguém.
Capítulo 9 - parte II
despertou num pulo, quase caindo no chão do quarto. Allison jogou o cobertor para o lado e levantou-se num outro pulo, da poltrona, e, no mesmo tempo em que ficou em pé, as luzes de todos os hospitais se apagaram e foram substituídas pelas luzes de emergência. No corredor afora, havia médicos e enfermeiros andando para todo lado.
— O que aconteceu? — sussurrou , a voz mais rouca e grave que o normal. — Onde estou? ?
— Você está no hospital. Alguma coisa aconteceu. Vocês duas desmaiaram na escola e não acordavam — explicou Allison, ajudando-a a sentar. — está bem. Bem, eu acho que está...
focou o olhar na parede atrás de Allison, lembrando-se da visão que tivera em seu estado de inconsciência, o que era estranho, já que a vidente da dupla era Olivia e não ela.
— Ele nos envenenou... — A Blackburn se apoiou na Argent para descer da maca. — Aquela merda de espirito japonês nos envenenou!
— O que? Mas como? — Allison franziu o cenho.
afastou-se brevemente de Allison, erguendo a palma esquerda aberta para cima e de olhos fechados. Ela estava tentando fazer algo. Uma febril chama roxa se acendeu em sua palma. grunhiu de dor, chacoalhando a mão para apagar a chama, que deixou uma queimadura superficial na pele branca.
— Por isso, ele bloqueou nossos poderes. Não consigo nem manter uma chama espectral! — praguejou a ruiva, segurando-se no gaveteiro para não cair. — foi ferida pelo Oni, a verbena, ou seja lá o que for. Entrou no sistema dela pelo corte.
Agora, tudo realmente fazia sentido, excluindo a hipótese besta de que os desmaios haviam sido sem motivo.
— Precisamos sair daqui agora, Allison. Algo ruim vai acontecer. — ofegou, sentindo a cabeça rodar.
— Sua irmã tomou uma dose alta de sedativo. Ela vai demorar muito tempo para acordar, . — Allison respondeu.
— Por favor, Allison. é sempre quem me livra dos problemas. Ela está indefesa. Só me ajude a retribuir o favor.
Allison bufou, dando-se por vencida com o pedido da ruiva e indo passar pela porta do quarto, mas se deteve quando a chamou de novo.
— Algo muito ruim vai acontecer, Argent. Eu só quero sair daqui! — murmurou . — Quero que todos nos saiamos daqui.
Blackburn POV.
Allison me entregou as roupas que eu estava usando antes de ir ao hospital; a camiseta estava com um enorme rastro de sangue negro na frente, mas, como não havia muita opção, vesti-a. Minha cabeça estava doendo, e eu ainda estava lutando para permanecer em pé, o que eu estava ainda conseguindo fazer.
— Eu vou tentar conseguir ajuda de um dos rapazes — disse ela, parada no arco da porta —, porque nem eu e, muito menos, você, vai conseguir levantar da cama.
Eu fiz que “sim” com a cabeça, subindo o zíper das botas.
— Allison? Eu sei que já estou pedindo demais, mas... — Puxei o ar, que estava começando a me faltar. — Precisamos de um lugar seguro para ficar, até nos recuperarmos...
— Fique tranquila, vamos resolver isso também.
E ela se foi. Eu me levantei lentamente da cadeira, com medo de cair sentada de novo. O que quer que esse nogitsune tenha usado para nos envenenar, não era verbena, mas, ainda assim, tinha um forte efeito. Verbena é como se fosse a wolfsbane das bruxas. Enfraquece-nos e queima mais que o inferno, e, se for usada em grande quantidade e do jeito certo, pode nos deixar enfraquecidas por meses.
Ao que parece, o nogitsune descobriu como usar.
Não demorou muito para a última pessoa que eu esperava vir nos ajudar, atravessar a porta: Derek Hale.
— Onde está a Allison? — Franzi o cenho.
— Isaac não está bem, e ela foi ficar com ele. Scott ficou junto — explicou ele. Eu joguei os cobertores de para o lado. — Precisa que eu a leve para fora?
— Sim, como está visível, eu não estou no cem por cento da minha força — respondi.
Ele fez que “sim” com a cabeça, passando o braço por debaixo dos joelhos de e apoiando as costas de minha irmã no braço livre. Ele a levantou da cama, sem fazer muito esforço. A força sobre-humana dos lobisomens sempre vem a calhar.
— Fique alerta, porque nenhuma enfermeira ou médico nos deixará sair fácil assim — ele disse. Eu enfiei minha cabeça para fora do quarto e olhei para ambos os lados. Aquele corredor, provavelmente, não era usado para pacientes de risco, então estava basicamente deserto. — Podemos ir?
— Sim, podemos ir. Rápido.
Derek saiu do quarto, apressado, e eu me forcei a acompanhá-lo. Jesus! Eu estava me sentindo presa num corpo de uma velha de 90 anos. Não existia agonia maior que não poder se mexer com total liberdade. Vou me lembrar disso quando me recuperar. Ah, se vou!
— Você está bem, ? — Ele me olhou, enquanto eu chamava o elevador.
— Sim, só está difícil ficar em pé — expliquei, enrolando o cabelo todo junto. Meus bolsos estavam ocupados pelo meu celular e o de . — Vou ficar bem.
Ele fez que “sim” com a cabeça. A cabeça de estava apoiada em seu ombro. Como alguns fios de cabelo caiam sobre seu rosto, parecia até estar dormindo. E Hale parecia incrivelmente desconfortável com ela nos braços, mesmo considerando o fato de que minha irmã era linda. Ah, é verdade, ela meteu três balas de prata nele.
As portas prateadas do elevador se abriram. Derek entrou primeiro, e eu, em seguida. Minha cabeça ainda estava doendo e eu ainda estava zonza, e ainda me pergunto o porquê o nogitsune apareceu para mim, já que duvido que eu tenha sonhado com aquele monstro. Havia detalhes demais para eu ter apenas sonhado. E isso me assustava mais ainda!
O andar térreo do hospital estava apinhado de gente correndo em todas as direções. Vi, de relance, uma enfermeira empurrar uma maca para dentro de uma sala e Allison segui-la. Provavelmente, era Isaac.
Passamos o mais rápido que consegui acompanhar. Os enfermeiros estavam ocupados demais com humanos doentes para prestar sua atenção em nós. Derek me guiou para um jeep cinza envelopado*, abri a porta do banco de trás, e ele deitou no banco, e, agora, eu pude ver o quão ruim seu ferimento estava. A gaze, que estava recém-posta, já estava ficando manchada de sangue negro. As veias salientes na pele pálida estavam completamente negras, o que começou a me assustar.
— Vai demorar muito pra entrar? — ironizou Derek, do motorista. Voltei a mim e bati a porta, dando a volta no carro e entrando no passageiro. Ele deu partida e saiu do estacionamento do hospital.
Eu soltei o ar, que estava congelado nos meus pulmões, finalmente sentindo certa segurança. Esses pressentimentos de bruxas eram, com certeza, a pior parte de nossos poderes.
— Onde deixo vocês? — perguntou ele, os olhos verdes enegrecidos pela falta de luz.
— Temos um probleminha quanto a isso. Digamos que eu não estou nem em 5 por cento da minha força total — expliquei, ainda meio zonza com as luzes dos postes passando rápido demais por nós. — É, depois de eu ser envenenada, sem nem saber como, estou apavorada em ficar sozinha em um lugar totalmente desprotegido. Allison disse que ajudaria com isso.
Derek suspirou, limpando a garganta.
— Não acredito que vou fazer isso... Que merda... — ele murmurou para si mesmo.
Hale enfiou o pé no freio, e o carro deu um solavanco violento. Enfiei o braço entre os bancos e segurei no banco, olhando assustada para Derek, que estava com o olhar fixo na rua. Ele manobrou o jeep e entrou na rua contraria a qual iria seguir, tomando um caminho totalmente diferente.
— Aonde estamos indo?
— Ao meu loft. Eu moro sozinho. Tem espaço o suficiente para nós três lá, por mais que não me agrade a ideia de ficar sob o mesmo teto que a psicopata da sua irmã. — Ele deu de ombros.
— Se serve de alguma coisa, sinto muito por ela ter atirado em você. é pavio curto. Tudo, pra ela, se resolve na força e, agora que está nos ajudando, sinto muito mesmo. — Olhei para ele, sendo sincera pela primeira vez em semanas.
Ele me olhou por um breve momento e fez que “sim” com a cabeça, em agradecimento.
— Mas isso não muda o fato de ela ser meio doida — ele murmurou, e eu soltei uma risada.
Derek Hale não era tão babaca quanto imaginei, ou, provavelmente, eu tinha essa imagem apenas porque Peter era um puta de um babaca arrogante. Essa, sim, deveria ser a verdade.
Derek estacionou o jeep em frente a um prédio cinzento. A porta era de ferro, pintada de azul descascado. Saí na frente e abri, enquanto ele tirou do carro. Subimos uns três lances de escada, até chegarmos ao loft, o mesmo caminho o qual eu me lembrava. Derek me entregou suas chaves, e eu abri a porta. O loft era bem diferente, com uma mobília. De um lado havia dois sofás e, no outro, uma mesa de ferro com seis cadeiras, e as janelas ficavam ao fundo, e, ao seu lado, uma escada em espiral, que dava para o segundo andar.
— Tem um quarto vago no andar de cima. Podem ficar lá, até conseguirem se defender sozinhas — explicou ele, subindo a escada e tomando cuidado para não bater nenhum membro de . — Feche a porta, por favor.
Segurei com as duas mãos na alça do portão, que servia como porta de entrada, puxei-o e garanti que estava trancado. Desci os curtos degraus e deixei as chaves sobre a mesa. Segui o mesmo caminho que Derek havia tomado. No segundo andar havia uma cozinha grande e bem equipada, uma bancada dividia com a sala, que tinha dois sofás e uma tevê de tela plana. Um curto corredor dava acesso a ambos os quartos e um banheiro. Tudo muito limpo, organizado e com design bem moderno. Bem a cara da casa de um homem.
Entrei no quarto que tinha a porta aberta. Derek estava ajeitando na cama de casal no centro do cômodo, cobrindo-a até a altura da cintura com os cobertores.
— Eu ainda devo ter algumas roupas da minha irmã por aqui. Posso conseguir alguma coisa limpa, se quiser — ele ofereceu, afastando-se da cama.
— Eu agradeço, se puder.
Derek não tardou a voltar com um conjunto de moletom feminino, um pouco menor que eu, mas serviu. Tomei um banho e me livrei de todo o sangue seco, que manchava a minha pele. Tirei o cordão da toca do capuz e prendi o cabelo molhado num “rabo de cavalo”.
Derek estava na cozinha, usando pijamas, desta vez.
— Posso fazer uma pergunta? — Parei, encostada no arco do corredor.
— Já está fazendo, — ele respondeu, colocando água num bule.
— Por que está nos ajudando? — Sentei-me em uma das banquetas. — Digo, você não nos deve nada...
Ele parou por um segundo, então ergueu o rosto para me olhar.
— De certo modo, você lembra minha irmã mais nova — ele explicou. Franzi o cenho, sem entender. — Muita coragem pra pouco tamanho.
— Qual era o nome dela? Se não se importa de eu perguntar.
— Cora. — Ele manteve-se calado por alguns segundos e, depois, um curto sorriso se formou em seu rosto. Pela primeira vez em semanas, eu vi Derek sorrir. — Vocês duas realmente não se parecem, mas a personalidade é quase a mesma. Ela quase se matou uma vez, para tentar me ajudar...
— Não deve ter sido nada bonito — comentei.
Cora me parecia uma garota legal.
— Tem tudo o que precisa? — Ele mudou o rumo da conversa.
— Sim, obrigada. De novo, não tinha que fazer isso por nós e está fazendo, então, obrigada — respondi, descendo da banqueta.
— Já falei que não tem problema. — Ele deu de ombros, servindo-se de uma xicara com chá feita da água recém-fervida e indo ao corredor. — Tenha uma boa noite.
Usei os 25% restantes de bateria do meu celular e liguei para Daniel, que, provavelmente, estava no apartamento. Ele se surpreendeu ao ouvir minha voz. Disse que o meu estado e o de estava bem ruim no hospital.
— Prometa-me uma coisa, Danny — pedi, olhando o céu nublado pela janela. — Vá para bem longe daqui. O que está habitando este lugar é perigoso. Eu acordei, mas o que esse nogitsune fez foi forte, e eu não tenho força em meus poderes. Não posso proteger ninguém. Então, por favor, entre em um carro e não olhe para trás.
— Você está me assustando, Ferrugem... — ele respondeu.
— É sério, Dan. Não quero você na linha de fogo também. Essa coisa mexeu com as pessoas erradas, e eu vou ter revanche. — Suspirei, começando a sentir o cansaço se espreitando; se é que isso era possível, já que passei um bom tempo apagada. — Vá a Saint Barths. Já nos basta Gabrielle. Mantenha-se em segurança. Por mim...
— Certo. Tá. Esta cidade é parada, de qualquer jeito. Despeça-se da ruiva Martin por mim — ele respondeu, voltando a ser o Daniel de sempre. — E, por favor, , me avise quando acordar.
— É a primeira coisa que farei, Dan. — Cocei a nuca. — E, de novo, tome cuidado.
— Você também, Ferrugem. Você também...
Desliguei a chamada e me sentei na beirada da cama. Daniel era humano e nos conhecíamos por quase toda sua vida, então isso me garantia que ele sabia se cuidar, se não, não estaria vivo até hoje. Desatei o laço do cabelo e respirei fundo, controlando a tontura, que estava me atacando de novo. O banho havia ajudado, mas minha cabeça ainda estava doendo.
— No final, somos apenas nós. Certo, mana? — Suspirei e me ajeitei na cama, que era mais confortável do que aparentava.
Fechei os olhos e deixei a escuridão consumir tudo.
Eu acordei com o que me pareceu a maior ressaca da história. A luz do sol, que estava passando pelas janelas, me cegou, fazendo meus olhos arderem mais do que já estavam. Tinha que me lembrar de fechar as cortinas. Joguei-me para fora da cama, até que o detalhe que estava faltando chamou minha atenção: o outro lado da cama estava vago.
— ?! — chamei, me apoiando na cama para ficar em pé. — ? Inferno! Por favor, não esteja apagada na sala do Derek...
Havia gotas de sangue negro fazendo uma trilha para fora do quarto. O corredor estava iluminado pelo sol, sem sinal de Olivia.
— Cacete! ! Cadê você? — praguejei, empurrando a porta do banheiro.
estava sentada no vaso sanitário, segurando uma toalha de rosto contra o talho, que quase dava uma volta em seu antebraço.
— Não para de sangrar... — Sua voz soou baixa e fanha.
— Jesus! Você me assustou, ! — praguejei e me abaixei ao lado dela. — Aqui, deixe-me te ajudar...
Soltei a gaze que estava pendendo em seu braço. A linha dos pontos estava pingando sangue, mas não havia arrebentado outra vez, o que era bom. Joguei a toalha ensopada de sangue na pia e peguei uma limpa, limpando o sangue de sua mão.
— Como está se sentindo? — Limpei a garganta, pressionando levemente a toalha contra os pontos. — O efeito do sedativo deve ter passado, pra você acordar antes de mim...
— Meu braço está doendo tanto que eu mal consigo movê-lo e, se eu me mexo muito bruscamente, meu corpo todo arde e dói... — ela sussurrou. — Onde estamos? O que aconteceu, ?
— O nogitsune, essa coisa maldita, nos envenenou. Bloqueou nossos poderes... — expliquei, limpando o corte por completo. — Com você, deve ter sido por este corte... E estamos na casa de Derek Hale. Não podemos ficar sozinhas, fracas desse jeito.
— Eu meti três balas de prata no cara, e ele ainda nos ajuda? — Ela uniu as sobrancelhas.
— É, a maioria das pessoas têm almas mais caridosas que a sua, — resmunguei, fuçando o gabinete debaixo da pia, à procura de gaze. — E me faça o favor de pedir desculpa. Porque... Porra, hein! Não poderia ter atirado no Peter? Digo, essa é até uma versão mais nova e mais bonita! Você é uma especialista em dedo podre. Cruzes...
Ela riu, mas parou no meio da gargalhada e grunhiu de dor, massageando a têmpora.
— Tá, eu peço desculpas a ele — ela murmurou.
Peguei o pacotinho de gaze no gabinete e enrolei sobre os pontos; nem muito solto, nem muito preso, e prendi com esparadrapo.
— Vai aguentar. Faça-me o favor de não forçar este braço. Se os pontos estouram, você está definitivamente ferrada — falei, fechando o gabinete. — Consegue ficar em pé?
fez que “sim” com a cabeça, apoiando-se à parede atrás de si para ficar em pé. Ela parecia mais pálida ainda com a camisola de hospital, e olha que a infeliz já era pálida por natureza.
Saí do banheiro com ela logo atrás. Não sei se era a falta de comida no estômago, ou o que, mas a tontura estava três vezes pior. Um pedaço de papel estava preso na geladeira. A caligrafia era terrível de bagunçada, mas, com dificuldade, consegui ler: “Sinta-se em casa! Tem comida na geladeira e nos armários!”. Eu estava literalmente começando a sentir que os tiros estavam pesando na minha consciência, por mais que não tivesse sido.
precisava urgentemente começar a controlar esse temperamento.
— Eu sei no que está pensando, Ferrugem. Eu vou me desculpar, só não imaginava que o garoto era tão diferente do Peter. — Ela tossiu, parecendo um gato engasgado. Essa era a melhor descrição, acredite. — E você foi esperta. Digo, não estamos nem conseguindo parar em pé. Estar sob o teto de um lobo passa certa segurança.
Servi um copo com água e lhe entreguei, que bebeu em dois goles.
— Agora, eu consigo falar direito. — Ela tossiu, e eu revirei os olhos.
— E eu agradeço se continuar de boca fechada.
— Sempre carinhosa.
— Eu vou sair, aproveitar o sol e ir ao apartamento para buscar roupas e nossas coisas — avisei. — Você, me faça o favor e não toque em nada que não deve.
POV OFF.
Blackburn POV ON.
Se falasse que esse trabalho não era pessoal, eu estaria mentindo. A dor que irradiava do meu braço era tão forte que minhas pernas estavam parecendo gelatina, e isso estava me fazendo ficar cada vez mais com raiva. não demorou a sair, e eu me sentei no sofá da sala de estar de Derek. Sentindo minha cabeça rodar, tentei forçar meus olhos a assumirem sua verdadeira forma e, quando os olhos assumiram a forma azulada, pareciam estar em chamas, o que me fez voltar à forma humana na mesma hora.
— Jesus Cristo! Que merda! — praguejei, dando um leve murro na coxa, que doeu também.
— Manhã ruim? — Dei um pulo ao ouvir a voz de Derek vir detrás de mim. Não sabia de onde ele havia saído. — Ôpa! Foi mal! Nah! Foi nada! Foi mesmo é engraçado te ver assustada.
Ele riu, não de uma maneira verdadeira. Não me pergunte como, mas eu notei apenas pelo som, pois ele feliz seria totalmente diferente.
— Bom saber que a minha dor te diverte. — Sorri cínica. Ele sentou-se ao meu lado, com uma caneca de chá na mão, que eu também não o havia visto fazer. — Engraçado... Pensei que fosse uma pessoa do café.
— Oh, não é para mim, é para você. — Ele ainda tinha um sorriso cínico. — Vai ajudar com a dor. Não entendo muito sobre bruxas, mas minha mãe me ensinou algumas coisas. Beba. Talvez, até ajude com o veneno.
Agora, eu entendia o porquê de querer tanto que eu me desculpasse.
— Derek? — chamei, pegando a caneca.
— Hum?
— Sinto muito pelos tiros que te dei. — Beberiquei o chá. — De verdade. — Percebi, pelo canto do olho, a forte encarada que ele me deu.
— Está tudo bem. Querendo ou não, você acabou me salvando depois. — Ele deu de ombros. Não me parecia uma pessoa rancorosa. — E a dor que você deve estar sentindo com esse braço deve estar nos deixando quites.
— E obrigada pelo chá. — O gosto era almiscarado, adocicado e também meio amargo, mas não era ruim. E também já estava na hora de eu começar a ser mais simpática com as pessoas. — De verdade, obrigada. Você nem tem motivos, mas está nos ajudando.
— Não há de.. — Ele parou no meio da sentença, erguendo a cabeça como um cão farejador.
Pela minha rasa experiência com lobos, pude dizer que ele estava concentrado na audição e baixei o copo.
— O que foi? — Franzi o cenho.
— Um emissor. O som está alto. — Ele se dirigiu cauteloso à escada, e eu o segui.
— Um Argent?
Transmissores são como estacas de prender tendas, feitos de prata pura. No topo há um núcleo que funciona como um transmissor de ondas sonoras que apenas lobisomens podem ouvir. É como um apito de cachorro gigante.
Derek chegou ao primeiro andar. Não havia ninguém no loft, apenas o transmissor cravado no chão de concreto.
— O que isso está fazendo aqui? — perguntei, parada ao pé da escada, enquanto Derek puxava o aparelho do chão.
— Não sei, mas acho que está na hora de fazer uma visita a Chris Argent.
*Termo usado quando a pintura de um carro é fosca.
— O que aconteceu? — sussurrou , a voz mais rouca e grave que o normal. — Onde estou? ?
— Você está no hospital. Alguma coisa aconteceu. Vocês duas desmaiaram na escola e não acordavam — explicou Allison, ajudando-a a sentar. — está bem. Bem, eu acho que está...
focou o olhar na parede atrás de Allison, lembrando-se da visão que tivera em seu estado de inconsciência, o que era estranho, já que a vidente da dupla era Olivia e não ela.
— Ele nos envenenou... — A Blackburn se apoiou na Argent para descer da maca. — Aquela merda de espirito japonês nos envenenou!
— O que? Mas como? — Allison franziu o cenho.
afastou-se brevemente de Allison, erguendo a palma esquerda aberta para cima e de olhos fechados. Ela estava tentando fazer algo. Uma febril chama roxa se acendeu em sua palma. grunhiu de dor, chacoalhando a mão para apagar a chama, que deixou uma queimadura superficial na pele branca.
— Por isso, ele bloqueou nossos poderes. Não consigo nem manter uma chama espectral! — praguejou a ruiva, segurando-se no gaveteiro para não cair. — foi ferida pelo Oni, a verbena, ou seja lá o que for. Entrou no sistema dela pelo corte.
Agora, tudo realmente fazia sentido, excluindo a hipótese besta de que os desmaios haviam sido sem motivo.
— Precisamos sair daqui agora, Allison. Algo ruim vai acontecer. — ofegou, sentindo a cabeça rodar.
— Sua irmã tomou uma dose alta de sedativo. Ela vai demorar muito tempo para acordar, . — Allison respondeu.
— Por favor, Allison. é sempre quem me livra dos problemas. Ela está indefesa. Só me ajude a retribuir o favor.
Allison bufou, dando-se por vencida com o pedido da ruiva e indo passar pela porta do quarto, mas se deteve quando a chamou de novo.
— Algo muito ruim vai acontecer, Argent. Eu só quero sair daqui! — murmurou . — Quero que todos nos saiamos daqui.
Blackburn POV.
Allison me entregou as roupas que eu estava usando antes de ir ao hospital; a camiseta estava com um enorme rastro de sangue negro na frente, mas, como não havia muita opção, vesti-a. Minha cabeça estava doendo, e eu ainda estava lutando para permanecer em pé, o que eu estava ainda conseguindo fazer.
— Eu vou tentar conseguir ajuda de um dos rapazes — disse ela, parada no arco da porta —, porque nem eu e, muito menos, você, vai conseguir levantar da cama.
Eu fiz que “sim” com a cabeça, subindo o zíper das botas.
— Allison? Eu sei que já estou pedindo demais, mas... — Puxei o ar, que estava começando a me faltar. — Precisamos de um lugar seguro para ficar, até nos recuperarmos...
— Fique tranquila, vamos resolver isso também.
E ela se foi. Eu me levantei lentamente da cadeira, com medo de cair sentada de novo. O que quer que esse nogitsune tenha usado para nos envenenar, não era verbena, mas, ainda assim, tinha um forte efeito. Verbena é como se fosse a wolfsbane das bruxas. Enfraquece-nos e queima mais que o inferno, e, se for usada em grande quantidade e do jeito certo, pode nos deixar enfraquecidas por meses.
Ao que parece, o nogitsune descobriu como usar.
Não demorou muito para a última pessoa que eu esperava vir nos ajudar, atravessar a porta: Derek Hale.
— Onde está a Allison? — Franzi o cenho.
— Isaac não está bem, e ela foi ficar com ele. Scott ficou junto — explicou ele. Eu joguei os cobertores de para o lado. — Precisa que eu a leve para fora?
— Sim, como está visível, eu não estou no cem por cento da minha força — respondi.
Ele fez que “sim” com a cabeça, passando o braço por debaixo dos joelhos de e apoiando as costas de minha irmã no braço livre. Ele a levantou da cama, sem fazer muito esforço. A força sobre-humana dos lobisomens sempre vem a calhar.
— Fique alerta, porque nenhuma enfermeira ou médico nos deixará sair fácil assim — ele disse. Eu enfiei minha cabeça para fora do quarto e olhei para ambos os lados. Aquele corredor, provavelmente, não era usado para pacientes de risco, então estava basicamente deserto. — Podemos ir?
— Sim, podemos ir. Rápido.
Derek saiu do quarto, apressado, e eu me forcei a acompanhá-lo. Jesus! Eu estava me sentindo presa num corpo de uma velha de 90 anos. Não existia agonia maior que não poder se mexer com total liberdade. Vou me lembrar disso quando me recuperar. Ah, se vou!
— Você está bem, ? — Ele me olhou, enquanto eu chamava o elevador.
— Sim, só está difícil ficar em pé — expliquei, enrolando o cabelo todo junto. Meus bolsos estavam ocupados pelo meu celular e o de . — Vou ficar bem.
Ele fez que “sim” com a cabeça. A cabeça de estava apoiada em seu ombro. Como alguns fios de cabelo caiam sobre seu rosto, parecia até estar dormindo. E Hale parecia incrivelmente desconfortável com ela nos braços, mesmo considerando o fato de que minha irmã era linda. Ah, é verdade, ela meteu três balas de prata nele.
As portas prateadas do elevador se abriram. Derek entrou primeiro, e eu, em seguida. Minha cabeça ainda estava doendo e eu ainda estava zonza, e ainda me pergunto o porquê o nogitsune apareceu para mim, já que duvido que eu tenha sonhado com aquele monstro. Havia detalhes demais para eu ter apenas sonhado. E isso me assustava mais ainda!
O andar térreo do hospital estava apinhado de gente correndo em todas as direções. Vi, de relance, uma enfermeira empurrar uma maca para dentro de uma sala e Allison segui-la. Provavelmente, era Isaac.
Passamos o mais rápido que consegui acompanhar. Os enfermeiros estavam ocupados demais com humanos doentes para prestar sua atenção em nós. Derek me guiou para um jeep cinza envelopado*, abri a porta do banco de trás, e ele deitou no banco, e, agora, eu pude ver o quão ruim seu ferimento estava. A gaze, que estava recém-posta, já estava ficando manchada de sangue negro. As veias salientes na pele pálida estavam completamente negras, o que começou a me assustar.
— Vai demorar muito pra entrar? — ironizou Derek, do motorista. Voltei a mim e bati a porta, dando a volta no carro e entrando no passageiro. Ele deu partida e saiu do estacionamento do hospital.
Eu soltei o ar, que estava congelado nos meus pulmões, finalmente sentindo certa segurança. Esses pressentimentos de bruxas eram, com certeza, a pior parte de nossos poderes.
— Onde deixo vocês? — perguntou ele, os olhos verdes enegrecidos pela falta de luz.
— Temos um probleminha quanto a isso. Digamos que eu não estou nem em 5 por cento da minha força total — expliquei, ainda meio zonza com as luzes dos postes passando rápido demais por nós. — É, depois de eu ser envenenada, sem nem saber como, estou apavorada em ficar sozinha em um lugar totalmente desprotegido. Allison disse que ajudaria com isso.
Derek suspirou, limpando a garganta.
— Não acredito que vou fazer isso... Que merda... — ele murmurou para si mesmo.
Hale enfiou o pé no freio, e o carro deu um solavanco violento. Enfiei o braço entre os bancos e segurei no banco, olhando assustada para Derek, que estava com o olhar fixo na rua. Ele manobrou o jeep e entrou na rua contraria a qual iria seguir, tomando um caminho totalmente diferente.
— Aonde estamos indo?
— Ao meu loft. Eu moro sozinho. Tem espaço o suficiente para nós três lá, por mais que não me agrade a ideia de ficar sob o mesmo teto que a psicopata da sua irmã. — Ele deu de ombros.
— Se serve de alguma coisa, sinto muito por ela ter atirado em você. é pavio curto. Tudo, pra ela, se resolve na força e, agora que está nos ajudando, sinto muito mesmo. — Olhei para ele, sendo sincera pela primeira vez em semanas.
Ele me olhou por um breve momento e fez que “sim” com a cabeça, em agradecimento.
— Mas isso não muda o fato de ela ser meio doida — ele murmurou, e eu soltei uma risada.
Derek Hale não era tão babaca quanto imaginei, ou, provavelmente, eu tinha essa imagem apenas porque Peter era um puta de um babaca arrogante. Essa, sim, deveria ser a verdade.
Derek estacionou o jeep em frente a um prédio cinzento. A porta era de ferro, pintada de azul descascado. Saí na frente e abri, enquanto ele tirou do carro. Subimos uns três lances de escada, até chegarmos ao loft, o mesmo caminho o qual eu me lembrava. Derek me entregou suas chaves, e eu abri a porta. O loft era bem diferente, com uma mobília. De um lado havia dois sofás e, no outro, uma mesa de ferro com seis cadeiras, e as janelas ficavam ao fundo, e, ao seu lado, uma escada em espiral, que dava para o segundo andar.
— Tem um quarto vago no andar de cima. Podem ficar lá, até conseguirem se defender sozinhas — explicou ele, subindo a escada e tomando cuidado para não bater nenhum membro de . — Feche a porta, por favor.
Segurei com as duas mãos na alça do portão, que servia como porta de entrada, puxei-o e garanti que estava trancado. Desci os curtos degraus e deixei as chaves sobre a mesa. Segui o mesmo caminho que Derek havia tomado. No segundo andar havia uma cozinha grande e bem equipada, uma bancada dividia com a sala, que tinha dois sofás e uma tevê de tela plana. Um curto corredor dava acesso a ambos os quartos e um banheiro. Tudo muito limpo, organizado e com design bem moderno. Bem a cara da casa de um homem.
Entrei no quarto que tinha a porta aberta. Derek estava ajeitando na cama de casal no centro do cômodo, cobrindo-a até a altura da cintura com os cobertores.
— Eu ainda devo ter algumas roupas da minha irmã por aqui. Posso conseguir alguma coisa limpa, se quiser — ele ofereceu, afastando-se da cama.
— Eu agradeço, se puder.
Derek não tardou a voltar com um conjunto de moletom feminino, um pouco menor que eu, mas serviu. Tomei um banho e me livrei de todo o sangue seco, que manchava a minha pele. Tirei o cordão da toca do capuz e prendi o cabelo molhado num “rabo de cavalo”.
Derek estava na cozinha, usando pijamas, desta vez.
— Posso fazer uma pergunta? — Parei, encostada no arco do corredor.
— Já está fazendo, — ele respondeu, colocando água num bule.
— Por que está nos ajudando? — Sentei-me em uma das banquetas. — Digo, você não nos deve nada...
Ele parou por um segundo, então ergueu o rosto para me olhar.
— De certo modo, você lembra minha irmã mais nova — ele explicou. Franzi o cenho, sem entender. — Muita coragem pra pouco tamanho.
— Qual era o nome dela? Se não se importa de eu perguntar.
— Cora. — Ele manteve-se calado por alguns segundos e, depois, um curto sorriso se formou em seu rosto. Pela primeira vez em semanas, eu vi Derek sorrir. — Vocês duas realmente não se parecem, mas a personalidade é quase a mesma. Ela quase se matou uma vez, para tentar me ajudar...
— Não deve ter sido nada bonito — comentei.
Cora me parecia uma garota legal.
— Tem tudo o que precisa? — Ele mudou o rumo da conversa.
— Sim, obrigada. De novo, não tinha que fazer isso por nós e está fazendo, então, obrigada — respondi, descendo da banqueta.
— Já falei que não tem problema. — Ele deu de ombros, servindo-se de uma xicara com chá feita da água recém-fervida e indo ao corredor. — Tenha uma boa noite.
Usei os 25% restantes de bateria do meu celular e liguei para Daniel, que, provavelmente, estava no apartamento. Ele se surpreendeu ao ouvir minha voz. Disse que o meu estado e o de estava bem ruim no hospital.
— Prometa-me uma coisa, Danny — pedi, olhando o céu nublado pela janela. — Vá para bem longe daqui. O que está habitando este lugar é perigoso. Eu acordei, mas o que esse nogitsune fez foi forte, e eu não tenho força em meus poderes. Não posso proteger ninguém. Então, por favor, entre em um carro e não olhe para trás.
— Você está me assustando, Ferrugem... — ele respondeu.
— É sério, Dan. Não quero você na linha de fogo também. Essa coisa mexeu com as pessoas erradas, e eu vou ter revanche. — Suspirei, começando a sentir o cansaço se espreitando; se é que isso era possível, já que passei um bom tempo apagada. — Vá a Saint Barths. Já nos basta Gabrielle. Mantenha-se em segurança. Por mim...
— Certo. Tá. Esta cidade é parada, de qualquer jeito. Despeça-se da ruiva Martin por mim — ele respondeu, voltando a ser o Daniel de sempre. — E, por favor, , me avise quando acordar.
— É a primeira coisa que farei, Dan. — Cocei a nuca. — E, de novo, tome cuidado.
— Você também, Ferrugem. Você também...
Desliguei a chamada e me sentei na beirada da cama. Daniel era humano e nos conhecíamos por quase toda sua vida, então isso me garantia que ele sabia se cuidar, se não, não estaria vivo até hoje. Desatei o laço do cabelo e respirei fundo, controlando a tontura, que estava me atacando de novo. O banho havia ajudado, mas minha cabeça ainda estava doendo.
— No final, somos apenas nós. Certo, mana? — Suspirei e me ajeitei na cama, que era mais confortável do que aparentava.
Fechei os olhos e deixei a escuridão consumir tudo.
Eu acordei com o que me pareceu a maior ressaca da história. A luz do sol, que estava passando pelas janelas, me cegou, fazendo meus olhos arderem mais do que já estavam. Tinha que me lembrar de fechar as cortinas. Joguei-me para fora da cama, até que o detalhe que estava faltando chamou minha atenção: o outro lado da cama estava vago.
— ?! — chamei, me apoiando na cama para ficar em pé. — ? Inferno! Por favor, não esteja apagada na sala do Derek...
Havia gotas de sangue negro fazendo uma trilha para fora do quarto. O corredor estava iluminado pelo sol, sem sinal de Olivia.
— Cacete! ! Cadê você? — praguejei, empurrando a porta do banheiro.
estava sentada no vaso sanitário, segurando uma toalha de rosto contra o talho, que quase dava uma volta em seu antebraço.
— Não para de sangrar... — Sua voz soou baixa e fanha.
— Jesus! Você me assustou, ! — praguejei e me abaixei ao lado dela. — Aqui, deixe-me te ajudar...
Soltei a gaze que estava pendendo em seu braço. A linha dos pontos estava pingando sangue, mas não havia arrebentado outra vez, o que era bom. Joguei a toalha ensopada de sangue na pia e peguei uma limpa, limpando o sangue de sua mão.
— Como está se sentindo? — Limpei a garganta, pressionando levemente a toalha contra os pontos. — O efeito do sedativo deve ter passado, pra você acordar antes de mim...
— Meu braço está doendo tanto que eu mal consigo movê-lo e, se eu me mexo muito bruscamente, meu corpo todo arde e dói... — ela sussurrou. — Onde estamos? O que aconteceu, ?
— O nogitsune, essa coisa maldita, nos envenenou. Bloqueou nossos poderes... — expliquei, limpando o corte por completo. — Com você, deve ter sido por este corte... E estamos na casa de Derek Hale. Não podemos ficar sozinhas, fracas desse jeito.
— Eu meti três balas de prata no cara, e ele ainda nos ajuda? — Ela uniu as sobrancelhas.
— É, a maioria das pessoas têm almas mais caridosas que a sua, — resmunguei, fuçando o gabinete debaixo da pia, à procura de gaze. — E me faça o favor de pedir desculpa. Porque... Porra, hein! Não poderia ter atirado no Peter? Digo, essa é até uma versão mais nova e mais bonita! Você é uma especialista em dedo podre. Cruzes...
Ela riu, mas parou no meio da gargalhada e grunhiu de dor, massageando a têmpora.
— Tá, eu peço desculpas a ele — ela murmurou.
Peguei o pacotinho de gaze no gabinete e enrolei sobre os pontos; nem muito solto, nem muito preso, e prendi com esparadrapo.
— Vai aguentar. Faça-me o favor de não forçar este braço. Se os pontos estouram, você está definitivamente ferrada — falei, fechando o gabinete. — Consegue ficar em pé?
fez que “sim” com a cabeça, apoiando-se à parede atrás de si para ficar em pé. Ela parecia mais pálida ainda com a camisola de hospital, e olha que a infeliz já era pálida por natureza.
Saí do banheiro com ela logo atrás. Não sei se era a falta de comida no estômago, ou o que, mas a tontura estava três vezes pior. Um pedaço de papel estava preso na geladeira. A caligrafia era terrível de bagunçada, mas, com dificuldade, consegui ler: “Sinta-se em casa! Tem comida na geladeira e nos armários!”. Eu estava literalmente começando a sentir que os tiros estavam pesando na minha consciência, por mais que não tivesse sido.
precisava urgentemente começar a controlar esse temperamento.
— Eu sei no que está pensando, Ferrugem. Eu vou me desculpar, só não imaginava que o garoto era tão diferente do Peter. — Ela tossiu, parecendo um gato engasgado. Essa era a melhor descrição, acredite. — E você foi esperta. Digo, não estamos nem conseguindo parar em pé. Estar sob o teto de um lobo passa certa segurança.
Servi um copo com água e lhe entreguei, que bebeu em dois goles.
— Agora, eu consigo falar direito. — Ela tossiu, e eu revirei os olhos.
— E eu agradeço se continuar de boca fechada.
— Sempre carinhosa.
— Eu vou sair, aproveitar o sol e ir ao apartamento para buscar roupas e nossas coisas — avisei. — Você, me faça o favor e não toque em nada que não deve.
POV OFF.
Blackburn POV ON.
Se falasse que esse trabalho não era pessoal, eu estaria mentindo. A dor que irradiava do meu braço era tão forte que minhas pernas estavam parecendo gelatina, e isso estava me fazendo ficar cada vez mais com raiva. não demorou a sair, e eu me sentei no sofá da sala de estar de Derek. Sentindo minha cabeça rodar, tentei forçar meus olhos a assumirem sua verdadeira forma e, quando os olhos assumiram a forma azulada, pareciam estar em chamas, o que me fez voltar à forma humana na mesma hora.
— Jesus Cristo! Que merda! — praguejei, dando um leve murro na coxa, que doeu também.
— Manhã ruim? — Dei um pulo ao ouvir a voz de Derek vir detrás de mim. Não sabia de onde ele havia saído. — Ôpa! Foi mal! Nah! Foi nada! Foi mesmo é engraçado te ver assustada.
Ele riu, não de uma maneira verdadeira. Não me pergunte como, mas eu notei apenas pelo som, pois ele feliz seria totalmente diferente.
— Bom saber que a minha dor te diverte. — Sorri cínica. Ele sentou-se ao meu lado, com uma caneca de chá na mão, que eu também não o havia visto fazer. — Engraçado... Pensei que fosse uma pessoa do café.
— Oh, não é para mim, é para você. — Ele ainda tinha um sorriso cínico. — Vai ajudar com a dor. Não entendo muito sobre bruxas, mas minha mãe me ensinou algumas coisas. Beba. Talvez, até ajude com o veneno.
Agora, eu entendia o porquê de querer tanto que eu me desculpasse.
— Derek? — chamei, pegando a caneca.
— Hum?
— Sinto muito pelos tiros que te dei. — Beberiquei o chá. — De verdade. — Percebi, pelo canto do olho, a forte encarada que ele me deu.
— Está tudo bem. Querendo ou não, você acabou me salvando depois. — Ele deu de ombros. Não me parecia uma pessoa rancorosa. — E a dor que você deve estar sentindo com esse braço deve estar nos deixando quites.
— E obrigada pelo chá. — O gosto era almiscarado, adocicado e também meio amargo, mas não era ruim. E também já estava na hora de eu começar a ser mais simpática com as pessoas. — De verdade, obrigada. Você nem tem motivos, mas está nos ajudando.
— Não há de.. — Ele parou no meio da sentença, erguendo a cabeça como um cão farejador.
Pela minha rasa experiência com lobos, pude dizer que ele estava concentrado na audição e baixei o copo.
— O que foi? — Franzi o cenho.
— Um emissor. O som está alto. — Ele se dirigiu cauteloso à escada, e eu o segui.
— Um Argent?
Transmissores são como estacas de prender tendas, feitos de prata pura. No topo há um núcleo que funciona como um transmissor de ondas sonoras que apenas lobisomens podem ouvir. É como um apito de cachorro gigante.
Derek chegou ao primeiro andar. Não havia ninguém no loft, apenas o transmissor cravado no chão de concreto.
— O que isso está fazendo aqui? — perguntei, parada ao pé da escada, enquanto Derek puxava o aparelho do chão.
— Não sei, mas acho que está na hora de fazer uma visita a Chris Argent.
*Termo usado quando a pintura de um carro é fosca.
Capítulo 10
Blackburn POV ON.
Eu desci os lances de escadas do prédio lentamente, com medo de tropeçar nos próprios pés e cair não sei quantos metros de escada abaixo. Ouvi, ao longe, o ronco de uma moto, não muito alto, mas, ainda assim, audível, e quando cheguei ao fim das escadas, Scott estava passando pela porta de entrada do prédio.
— Oi! — saudou ele, tirando o capacete da cabeça. — Como vocês estão?
— Ainda estamos vivas... — Sorri minimamente e dei de ombros. — Estou indo ao apartamento, pegar nossas roupas. Derek será nosso anfitrião, até estarmos bem para lutar, caso necessário.
— Quer uma carona? — ele ofereceu, apontando para trás de si. — Vai chegar mais rápido de moto que andando, e eu vim aqui para ver como vocês estão...
— Ah, não vejo por que não — respondi.
— Conseguiram descobrir como o Stiles envenenou vocês?
Passamos pelo arco da porta. O clima estava ameno; nem frio, nem calor.
— Apenas . No dia da festa, quando ela foi ajudar Allison com o Oni, acabou ferindo o braço. Como o nogitsune envenenou o ferimento, eu não sei. — Peguei o capacete na mão dele.
— É estranho chamá-lo assim... — Scott subiu na moto. — É estranho saber que não é mais o meu melhor amigo e, sim, um espirito japonês do mal.
— Nós vamos dar um jeito. — Subi na garupa.
— De matá-lo ou salvá-lo?
— Nós matamos apenas quem merece, Scott. — Estava começando a me irritar com todo mundo achando que somos uma dupla de vadias sem coração que sai matando sem piedade. — Stiles é uma vítima.
McCall assentiu com a cabeça e deu partida na moto. O caminho do loft de Derek até o apartamento onde havíamos nos instalado era relativamente longo. Passei as direções, e Scott seguiu. O prédio vermelho não demorou a ficar à nossa vista. Scott estacionou, e eu desci da moto e lhe entreguei o capacete, e pedi que me esperasse ali. Usei o elevador e subi ao nosso andar. O apartamento estava empoeirado e escuro. Juntei uma quantidade considerável de roupas e armas, e enfiei tudo na “mala da Hermione”, peguei as chaves do jeep (dito cujo que eu não faço a mínima ideia de como veio da escola até aqui) e tranquei todo o apartamento de novo. A mala cinza batia na minha cintura e não estava nada leve. Não estava nada fácil puxá-la.
Joguei a mala no elevador e apertei o botão da portaria, e, assim que a porta se abriu, Scott apareceu para ajudar.
— Aquele jeep de vocês, com certeza, parece uma versão melhorada do Roscoe — começou ele.
— Quem é Roscoe?
— O jeep azul do Stiles... — Ele riu de canto, parecendo se lembrar de algo engraçado.
— Eu falei sério. Àquela hora, eu e a daremos um jeito de salvar o garoto — murmurei em resposta, tentando me convencer de que aquilo era realmente possível. — Sempre tem um jeito.
— Eu realmente espero que, desta vez, tenha.
Destranquei o porta-malas do jeep e puxei a porta, dando espaço para que ele jogasse a mala lá dentro. Minha cabeça estava a ponto de explodir.
— Obrigada pela carona, Scott. Acho que, daqui, eu me viro. — Tentei sorrir, mas até os músculos do meu rosto doíam. — Vou voltar para o Derek. deve estar louca por umas roupas limpas.
— Até depois, . — Ele sorriu.
— Até depois, McCall.
Entrei no jeep e saí da vaga, seguindo pela rua quase deserta.
POV OFF.
Blackburn POV ON.
Olhei pela enorme janela do loft de Derek, vendo o sol brilhar alto no céu azul turquesa, a caneca de chá quente aquecendo minha palma. Meu braço doía tanto que acabei por imobilizá-lo com uma tipóia improvisada. A pior parte do veneno é a dor e o fato de que ele não te mata, só põe você em sofrimento. O chá de ervas medicinais de Derek veio mesmo a calhar. Não faz nem meia hora que o Hale saiu para ir atrás de Christopher.
O porquê diabos ele deixou um emissor aqui, eu não sei. Os argents sempre têm um jeito sorrateiro e elaborado de trabalhar, de uma maneira que você só vê o que te atingiu quando já tomou a porrada.
Não me parece o modo de um caçador agir.
De qualquer modo, a porta de aço maciço fez um estrondo ao se abrir, e passou pela porta, puxando uma mala enorme.
— Jesus! Trouxe o guarda-roupa inteiro? — Brinquei, tossindo em seguida.
— E peguei a mala da Hermione. — Ela riu, jogando as malas pelos poucos degraus na entrada. — E algumas armas.
— Uh! Isso é uma boa notícia! Não vejo a hora de arrancar esta camisola horrorosa! — Bocejei, sentindo o formigamento no braço. — Nós sabemos o antídoto para verbena?
— Arrancar seu braço fora, talvez? — ironizou ela, puxando a mala escada a cima. — Quer me dá uma ajuda aqui?
— Acho que eu não conseguiria erguer uma mala com um braço só. — Segui-a pela escada.
— Mas pegar a mala da Hermione foi esperto, admite.
Eu até riria do comentário, se isso não fosse me causar falta de ar e dor nas têmporas. colocou com dificuldade sobre a cama. “Mala da Hermione” tem um nome bem autoexplicativo, com um feitiço de extensão que funciona mais como um portal.
Útil, muito útil.
— Tudo bem, ? — virou-se para mim. — Você está mais pálida que o comum, não o comum, comum, mas o comum.
— Comum envenenada por verbena? Não consigo comer, tá todo mundo atrás do garoto possuído, e odeio me sentir impotente. — Dei de ombros, e ela me jogou uma troca de roupa limpa. — Valeu.
— Trouxe seus coturnos também. As armas estão no fundo falso. — sinalizou com a cabeça para a mala. — Tome um banho e tire essa camisola horrorosa. Vou ver se consigo arranjar um vicodin forte o suficiente para nos ajudar com a dor.
— Sim, senhora.
desapareceu pelo corredor, e eu entrei no banheiro, doida para tirar a trilha machada de sangue negro que cobria quase todo o meu braço. Soltei a tipóia e me despi, e quando girei o registro do banheiro, ouvi a porta da entrada se fechar. Enfiei-me embaixo da água e parei por um momento, sentindo cada nervo do meu corpo entorpecido pelo veneno; cada sentido que o meu poder deixava mais aguçado reduzido ao mínimo. Havia uma possibilidade bem arriscada para nos ajudar, mas incluía facas, gargantas cortadas e muito, muito sangue. Sem contar o tempo de recuperação estendido. Terminei meu banho e me vesti, e também prendi uma 9mm no coldre, que uso na altura das costelas.
— ! — Ouvi uma voz berrar no primeiro andar. A voz de Peter Hale. — Sei que está aqui!
Porra.
Enrolei meu braço em gaze e dobrei as mangas da blusa até a altura dos cotovelos, e desci a escada.
— O que você quer, Hale? — Bufei em desinteresse.
— Preciso da sua ajuda. — O mesmo sorriso petulante de sempre se formou no canto de seus lábios, e ele ergueu uma caixa, que, com a visão precária, vi ter o triskelion dos Hale esculpido na tampa. Porra mais uma vez. — Sei que bruxas são telepáticas.
— Eu não vou te ajudar a recuperar memória nenhuma, Peter. — Revirei os olhos. — Não sei nem como você conseguiu as garras de Talia, mas não vou te ajudar.
— Não preciso te lembrar do quão incapacitada você está e que posso muito bem te fazer me ajudar. — O sorriso se esticou um pouco mais. — Vamos lá! Em nome dos velhos tempos!
— Eu ensinei a Talia a roubar memórias, idiota. E, se ela usou isso em você, pode crer que não é algo que você vai querer lembrar — retruquei. — E, pentelho, nem comigo entrevada numa cama, você vai estar em posição de me ameaçar. Eu não posso usar meus poderes, mas ainda atiro muito bem e soco o cacete em você com um braço nas costas.
— Eu quero saber o que ela me roubou, . Sinto que é importante. — O olhar petulante em seu rosto suavizou, parecendo o menino inexperiente que eu havia conhecido há quase 15 anos. — Eu sei que não sou o exemplo de amigo, mas estou pedindo. Quero saber o que ela me roubou.
Droga.
— Porra. Tá, eu faço. Mas vou ter que canalizar sua força e não me responsabilizo pelo que vou ver, e como isso vai influenciar. — Bufei em derrota e estendi a mão esquerda na direção dele. — Dê-me a caixa.
Peter me entregou a caixinha, e eu me sentei na cadeira da mesa, me preparando para o quanto aquela merda iria doer.
— Transforme-se e, droga, crave as garras no meu pescoço. Não tente acessar minhas memórias. Falo sério! Eu meto uma bala na sua testa, se você tentar acessar minhas memórias. — Olhei para ele séria. Não estava mentindo na ameaça. — De qualquer modo, foque em compartilhar sua força comigo.
— Tá, deixa comigo. — Seus olhos foram dos azuis humanos aos azuis sobrenaturais. — E qual é? O que de tão sombrio há nas suas memórias que eu não posso ver?
— Uh, Peter, você não imagina o tanto de merda que há aqui. — Abri a caixinha e peguei as garras de Talia, e fechei a mão em punho. — Só espero que você não tenha estuprado e matado uma namorada do colégio, Hale. Isso seria realmente perturbador.
Arfei de dor quando senti as garras perfurando a pele, mas foi o mesmo que uma dose bem reforçada de adrenalina. Funcionou. Minha cabeça não doeu tanto quando eu usei a telepatia. Fechei a mão com força o suficiente para as pontas das garras furarem a pele da minha palma. As imagens começaram a se formar na escuridão, e eu não acreditei no que vi, ou que Talia Hale teve coragem de tirar isso de alguém. Peter puxou as garras e me segurou pelos ombros, enquanto abri a mão e as garras escorregaram para o chão.
— ? ! Jesus Cristo! Não me diga que eu te dei a porra de um aneurisma. — Ele me chacoalhou, enquanto eu recuperava a consciência. — Que merda você viu? O que foi que ela me roubou?
Peter me soltou quando eu tentei me levantar, e minha cabeça rodou com a imagem de Talia com o bebê nos braços. Minhas pernas bambearam e eu me apoiei à parede para ficar em pé.
— Peter... — Tossi, piscando com força. — Você tem um filho.
— O quê? — O olhar costumeiro de arrogância foi substituído por um de desespero. — Ela me escondeu que eu tenho um filho?! Quem é a mãe?
Minha cabeça rodou e eu me apoiei nele para parar em pé, e, como sempre, a gaze, que há cinco minutos estava limpinha, estava mais preta que o meu delineador de sangue.
— Eu não sei. O que eu vi foi Talia e um bebê nos braços, dizendo que a criança era sua. — Respirei fundo, controlando a dor de cabeça crescente. — Não deu para deduzir se era menino ou menina. Era tão pequenino, enrolado numa mantinha branca.
Peter caiu, sentado na cadeira de aço, olhando perdido para o nada.
— Não se lembra de ninguém que possa ser a mãe, Pete? — Apoiei-me à parede.
— Não faça isso...
— Além de quase ter me matado, não que isso seja realmente possível, para ajudar você? — Bufei na maior parte de dor. — Um ‘obrigado’ serviria.
— Não me chame de Pete, depois da merda que aconteceu, ! — ele quase berrou, e eu quase soquei a mão na cara dele.
— Jesus Cristo! Peter! Não esse drama. Foque no detalhe que a sociopata contida da sua irmã morta te escondeu o fato que você tem um filho, sim? — Quase levantei o dedo do meio para ele. — Sem essa história de novo. Eu não vou pedir desculpa. Você ainda está vivo. Pelo amor de Deus!
— Meu... Dane-se. — Ele bufou. — Tem certeza que ela não falou mais nada?
“Corinne não sabe. Vou dá-la aos Tate. Terá uma vida boa”.
— Sim, Talia não disse mais nada — menti. Sei muito bem que onde quer que essa menina esteja, está muito melhor sem ter Peter Hale como seu pai. Levantei-me da cadeira e pressionei a gaze contra os pontos para tentar evitar que o sangue pingasse no chão. — E, da próxima vez que você precisar da minha ajuda, vá ao inferno.
Subi a escada, tentando não tropeçar nos meus próprios pés; a descarga de força que Peter me dera passou tão rápido quanto chegou e também tem o fato de que não sinto o meu braço. Estou completamente bem, tirando o fato de que ainda sou idiota por ajudar um babaca feito o Peter. É como adora dizer: sou mesmo uma babaca.
Joguei o trapo, que a gaze virou, no lixo, lavei o sangue com água e quase agradeci pelo momento em que não sentia o membro, porque o quanto esta merda ardeu fez eu me arrepender de reclamar. Refiz o curativo a tempo de sentir o celular no bolso vibrar.
— Conseguiu o Vicodin? — Atei a gaze com esparadrapo. — ?
— Puta que pariu! Não. Preciso de ajuda. — A voz de soou oca do outro lado da linha. — Estamos com Stiles e...
— Vocês estão com a merda do possuído? Prenda o Stiles agora! — interrompi o meio da frase.
— É o Stiles que está no controle, ! Os Onis estão vindo para matá-lo! — ela retrucou. A chuva quase soando mais alta que ela. — Stiles não merece morrer, ! Nós concordamos que iríamos tirar o nogitsune dele!
— Scott pediu sua ajuda? — Ajeitei a manga da blusa.
Mais previsível que ele, não existe.
— Também, mas quem deles sabe lidar tão bem com uma arma quanto nós?
— A merda dos Argents? As Blackburn não são as únicas que sabem lidar com uma arma por aqui, . — Bufei, começando a pensar nas possibilidades. — Droga! Diga onde você está, e eu vou te ajudar. Não acredito que você vai me fazer sair na merda de uma tempestade!
— Apenas venha! E traga minha espada! — pediu ela. — Estamos indo falar com Deaton.
Meu Jesus Cristo. O que a gente não faz pelo sangue? Fechei a porta do banheiro e segui para o quarto. Abri a tampa da mala e joguei as roupas na cama; o fundo estendido ficou visível, então enfiei a mão e comecei a tatear todo o tanto de armas que enfiou nesta coisa. O fundo engoliu quase todo meu braço bom, até o ombro, para que eu sentisse o cabo da espada de . Puxei a espada pelo cabo e também alcei uma 9mm. Vesti uma jaqueta com gorro e saí do loft. A chuva já caia tão forte que, até lá dentro do prédio, eu já ouvia a barulheira dos pingos caindo feito pedras.
A minha sorte era que a clínica veterinária de Deaton não era nem um pouco longe do loft de Derek, o que me rendeu apenas quinze minutos de caminhada numa rua deserta, com uma espada na mão, debaixo de uma tempestade. Se alguém tivesse me visto, teria chamado a polícia, com toda certeza.
Quando virei a esquina e vi a clínica, Stiles estacionou o jeep na entrada e saiu correndo, junto de Scott. e uma garota asiática, que eu nunca tinha visto na vida, na hora em que fui dar um passo para me tornar visível à minha irmã, alguém me agarrou pela barra da jaqueta e me puxou para trás; quase berrei de susto, até ver o rosto de Allan Deaton.
— Puta que pariu! Se eu pudesse morrer, juro que teria morrido de ataque cardíaco! — sussurrei, vendo o vulto dos Onis dando o cacete em Scott e na desconhecida.
— Não é Stiles quem está no controle, . — Deaton murmurou em resposta.
— Como diabo eu vou saber? Nunca vi a merda de um nogitsune antes! — Tentei manter meu tom baixo.
Deaton revirou o bolso da jaqueta e tirou uma seringa de metal com um líquido verde fluorescente dentro, que eu reconheci no momento em que vi, o que me surpreendeu mais ainda.
— Onde você arranjou isso? — Olhei abismada para a seringa. — Faz uns 400 anos que eu não vejo Letharia Vulpina!
— Preciso que entre lá e injete isto no Stiles. Eu sei sobre a verbena, mas, ainda assim, você está armada. — Allan me estendeu a seringa, e eu o olhei desconfiada. — Ele vai matar Scott e sua irmã, se você não fizer.
— Fuck...
Peguei a seringa e escutei a barulheira passar e a porta bater. Eles entraram. Destravei a arma e coloquei a seringa no bolso da calça. Nenhum Oni levantou. Puxei com todo o cuidado a porta da clínica para não fazer barulho algum e entrei. Ouvi praguejar alguma coisa, seguido de um estrondo oco e alto, acompanhado do som de algo batendo em metal. Escondi-me na sombra da parede de um dos arcos que dava acesso à sala em que estavam, tendo clara visibilidade das pernas caídas de alguém.
— Você está bem? — Ouvi a voz de Stiles.
— Por favor, não — respondeu Scott. — Pare.
— Está tudo bem — foi a resposta do nogitsune. O que veio em seguida foi um gemido esquálido de dor de Scott. — Isso dói? Ei! Olhe para mim! Você deveria ter terminado sua leitura, Scott. Veja, um nogitsune se alimenta de caos, conflito e dor. — Eu quase sentia a energia de alfa de Scott desfalecendo no ar e vi claramente a espada de Oni atravessada no abdômen do garoto, que a versão pálida 2000 do Stiles tinha em mão. Ainda não. — Esta manhã, você a tirou do Isaac e, então, tirou do Treinador. E de um policial que estava morrendo. Toda a dor. Você a tirou por inteiro. — A raposa segurou com firmeza o rosto molhado de McCall, ainda girando a espada. — Agora, dê-me!
A expressão de Scott foi de dor para extrema dor e, depois, ele recuperou os sentidos, e Stiles parecia ter bebido uma garrafa inteira de energético. Não ainda.
— Você realmente tem que aprender a não confiar em uma raposa... — começou Stiles, em tom de deboche. — Sabe por quê? Porque elas são trapaceiras. — Scott olhou para ele, um misto de emoções que nem eu pude decifrar. — Elas enganarão todo mundo.
Agora, sim.
O aperto de Stiles na empunhadura da katana negra soltou-se, e eu saí da sombra. Scott fingiu não me ver, e eu peguei a seringa do bolso, passando a arma para o braço ruim.
— Uh! Não todo mundo. — Stiles rapidamente virou a cabeça para mim, e eu enfiei a agulha da seringa no seu pescoço e injetei todo o veneno. O rapaz segurou-se na minha jaqueta com o mínimo de consciência que lhe restava, me olhando nos olhos. — Não poderia desperdiçar a chance de retribuir o favor que me fez.
E caiu, desacordado, no chão.
Deixei a arma e a seringa em cima da maca e olhei para Scott, que grunhiu de dor. Peguei o cabo da espada e puxei de uma vez só.
— Ahhh! — ele teria gritado se não estivesse rouco.
— Tem que ser como um band-aid: puxar de uma vez só.
— O que foi isso? — Ele olhou para o amigo caído no chão. — Foi uma cura? Ele vai ficar bem?
— Pfff! A raposa está envenenada, mas não morta — assegurei e olhei para a figura de Stiles branca feito papel e com fundas olheiras. — Pelo menos, não ainda.
Eu desci os lances de escadas do prédio lentamente, com medo de tropeçar nos próprios pés e cair não sei quantos metros de escada abaixo. Ouvi, ao longe, o ronco de uma moto, não muito alto, mas, ainda assim, audível, e quando cheguei ao fim das escadas, Scott estava passando pela porta de entrada do prédio.
— Oi! — saudou ele, tirando o capacete da cabeça. — Como vocês estão?
— Ainda estamos vivas... — Sorri minimamente e dei de ombros. — Estou indo ao apartamento, pegar nossas roupas. Derek será nosso anfitrião, até estarmos bem para lutar, caso necessário.
— Quer uma carona? — ele ofereceu, apontando para trás de si. — Vai chegar mais rápido de moto que andando, e eu vim aqui para ver como vocês estão...
— Ah, não vejo por que não — respondi.
— Conseguiram descobrir como o Stiles envenenou vocês?
Passamos pelo arco da porta. O clima estava ameno; nem frio, nem calor.
— Apenas . No dia da festa, quando ela foi ajudar Allison com o Oni, acabou ferindo o braço. Como o nogitsune envenenou o ferimento, eu não sei. — Peguei o capacete na mão dele.
— É estranho chamá-lo assim... — Scott subiu na moto. — É estranho saber que não é mais o meu melhor amigo e, sim, um espirito japonês do mal.
— Nós vamos dar um jeito. — Subi na garupa.
— De matá-lo ou salvá-lo?
— Nós matamos apenas quem merece, Scott. — Estava começando a me irritar com todo mundo achando que somos uma dupla de vadias sem coração que sai matando sem piedade. — Stiles é uma vítima.
McCall assentiu com a cabeça e deu partida na moto. O caminho do loft de Derek até o apartamento onde havíamos nos instalado era relativamente longo. Passei as direções, e Scott seguiu. O prédio vermelho não demorou a ficar à nossa vista. Scott estacionou, e eu desci da moto e lhe entreguei o capacete, e pedi que me esperasse ali. Usei o elevador e subi ao nosso andar. O apartamento estava empoeirado e escuro. Juntei uma quantidade considerável de roupas e armas, e enfiei tudo na “mala da Hermione”, peguei as chaves do jeep (dito cujo que eu não faço a mínima ideia de como veio da escola até aqui) e tranquei todo o apartamento de novo. A mala cinza batia na minha cintura e não estava nada leve. Não estava nada fácil puxá-la.
Joguei a mala no elevador e apertei o botão da portaria, e, assim que a porta se abriu, Scott apareceu para ajudar.
— Aquele jeep de vocês, com certeza, parece uma versão melhorada do Roscoe — começou ele.
— Quem é Roscoe?
— O jeep azul do Stiles... — Ele riu de canto, parecendo se lembrar de algo engraçado.
— Eu falei sério. Àquela hora, eu e a daremos um jeito de salvar o garoto — murmurei em resposta, tentando me convencer de que aquilo era realmente possível. — Sempre tem um jeito.
— Eu realmente espero que, desta vez, tenha.
Destranquei o porta-malas do jeep e puxei a porta, dando espaço para que ele jogasse a mala lá dentro. Minha cabeça estava a ponto de explodir.
— Obrigada pela carona, Scott. Acho que, daqui, eu me viro. — Tentei sorrir, mas até os músculos do meu rosto doíam. — Vou voltar para o Derek. deve estar louca por umas roupas limpas.
— Até depois, . — Ele sorriu.
— Até depois, McCall.
Entrei no jeep e saí da vaga, seguindo pela rua quase deserta.
POV OFF.
Blackburn POV ON.
Olhei pela enorme janela do loft de Derek, vendo o sol brilhar alto no céu azul turquesa, a caneca de chá quente aquecendo minha palma. Meu braço doía tanto que acabei por imobilizá-lo com uma tipóia improvisada. A pior parte do veneno é a dor e o fato de que ele não te mata, só põe você em sofrimento. O chá de ervas medicinais de Derek veio mesmo a calhar. Não faz nem meia hora que o Hale saiu para ir atrás de Christopher.
O porquê diabos ele deixou um emissor aqui, eu não sei. Os argents sempre têm um jeito sorrateiro e elaborado de trabalhar, de uma maneira que você só vê o que te atingiu quando já tomou a porrada.
Não me parece o modo de um caçador agir.
De qualquer modo, a porta de aço maciço fez um estrondo ao se abrir, e passou pela porta, puxando uma mala enorme.
— Jesus! Trouxe o guarda-roupa inteiro? — Brinquei, tossindo em seguida.
— E peguei a mala da Hermione. — Ela riu, jogando as malas pelos poucos degraus na entrada. — E algumas armas.
— Uh! Isso é uma boa notícia! Não vejo a hora de arrancar esta camisola horrorosa! — Bocejei, sentindo o formigamento no braço. — Nós sabemos o antídoto para verbena?
— Arrancar seu braço fora, talvez? — ironizou ela, puxando a mala escada a cima. — Quer me dá uma ajuda aqui?
— Acho que eu não conseguiria erguer uma mala com um braço só. — Segui-a pela escada.
— Mas pegar a mala da Hermione foi esperto, admite.
Eu até riria do comentário, se isso não fosse me causar falta de ar e dor nas têmporas. colocou com dificuldade sobre a cama. “Mala da Hermione” tem um nome bem autoexplicativo, com um feitiço de extensão que funciona mais como um portal.
Útil, muito útil.
— Tudo bem, ? — virou-se para mim. — Você está mais pálida que o comum, não o comum, comum, mas o comum.
— Comum envenenada por verbena? Não consigo comer, tá todo mundo atrás do garoto possuído, e odeio me sentir impotente. — Dei de ombros, e ela me jogou uma troca de roupa limpa. — Valeu.
— Trouxe seus coturnos também. As armas estão no fundo falso. — sinalizou com a cabeça para a mala. — Tome um banho e tire essa camisola horrorosa. Vou ver se consigo arranjar um vicodin forte o suficiente para nos ajudar com a dor.
— Sim, senhora.
desapareceu pelo corredor, e eu entrei no banheiro, doida para tirar a trilha machada de sangue negro que cobria quase todo o meu braço. Soltei a tipóia e me despi, e quando girei o registro do banheiro, ouvi a porta da entrada se fechar. Enfiei-me embaixo da água e parei por um momento, sentindo cada nervo do meu corpo entorpecido pelo veneno; cada sentido que o meu poder deixava mais aguçado reduzido ao mínimo. Havia uma possibilidade bem arriscada para nos ajudar, mas incluía facas, gargantas cortadas e muito, muito sangue. Sem contar o tempo de recuperação estendido. Terminei meu banho e me vesti, e também prendi uma 9mm no coldre, que uso na altura das costelas.
— ! — Ouvi uma voz berrar no primeiro andar. A voz de Peter Hale. — Sei que está aqui!
Porra.
Enrolei meu braço em gaze e dobrei as mangas da blusa até a altura dos cotovelos, e desci a escada.
— O que você quer, Hale? — Bufei em desinteresse.
— Preciso da sua ajuda. — O mesmo sorriso petulante de sempre se formou no canto de seus lábios, e ele ergueu uma caixa, que, com a visão precária, vi ter o triskelion dos Hale esculpido na tampa. Porra mais uma vez. — Sei que bruxas são telepáticas.
— Eu não vou te ajudar a recuperar memória nenhuma, Peter. — Revirei os olhos. — Não sei nem como você conseguiu as garras de Talia, mas não vou te ajudar.
— Não preciso te lembrar do quão incapacitada você está e que posso muito bem te fazer me ajudar. — O sorriso se esticou um pouco mais. — Vamos lá! Em nome dos velhos tempos!
— Eu ensinei a Talia a roubar memórias, idiota. E, se ela usou isso em você, pode crer que não é algo que você vai querer lembrar — retruquei. — E, pentelho, nem comigo entrevada numa cama, você vai estar em posição de me ameaçar. Eu não posso usar meus poderes, mas ainda atiro muito bem e soco o cacete em você com um braço nas costas.
— Eu quero saber o que ela me roubou, . Sinto que é importante. — O olhar petulante em seu rosto suavizou, parecendo o menino inexperiente que eu havia conhecido há quase 15 anos. — Eu sei que não sou o exemplo de amigo, mas estou pedindo. Quero saber o que ela me roubou.
Droga.
— Porra. Tá, eu faço. Mas vou ter que canalizar sua força e não me responsabilizo pelo que vou ver, e como isso vai influenciar. — Bufei em derrota e estendi a mão esquerda na direção dele. — Dê-me a caixa.
Peter me entregou a caixinha, e eu me sentei na cadeira da mesa, me preparando para o quanto aquela merda iria doer.
— Transforme-se e, droga, crave as garras no meu pescoço. Não tente acessar minhas memórias. Falo sério! Eu meto uma bala na sua testa, se você tentar acessar minhas memórias. — Olhei para ele séria. Não estava mentindo na ameaça. — De qualquer modo, foque em compartilhar sua força comigo.
— Tá, deixa comigo. — Seus olhos foram dos azuis humanos aos azuis sobrenaturais. — E qual é? O que de tão sombrio há nas suas memórias que eu não posso ver?
— Uh, Peter, você não imagina o tanto de merda que há aqui. — Abri a caixinha e peguei as garras de Talia, e fechei a mão em punho. — Só espero que você não tenha estuprado e matado uma namorada do colégio, Hale. Isso seria realmente perturbador.
Arfei de dor quando senti as garras perfurando a pele, mas foi o mesmo que uma dose bem reforçada de adrenalina. Funcionou. Minha cabeça não doeu tanto quando eu usei a telepatia. Fechei a mão com força o suficiente para as pontas das garras furarem a pele da minha palma. As imagens começaram a se formar na escuridão, e eu não acreditei no que vi, ou que Talia Hale teve coragem de tirar isso de alguém. Peter puxou as garras e me segurou pelos ombros, enquanto abri a mão e as garras escorregaram para o chão.
— ? ! Jesus Cristo! Não me diga que eu te dei a porra de um aneurisma. — Ele me chacoalhou, enquanto eu recuperava a consciência. — Que merda você viu? O que foi que ela me roubou?
Peter me soltou quando eu tentei me levantar, e minha cabeça rodou com a imagem de Talia com o bebê nos braços. Minhas pernas bambearam e eu me apoiei à parede para ficar em pé.
— Peter... — Tossi, piscando com força. — Você tem um filho.
— O quê? — O olhar costumeiro de arrogância foi substituído por um de desespero. — Ela me escondeu que eu tenho um filho?! Quem é a mãe?
Minha cabeça rodou e eu me apoiei nele para parar em pé, e, como sempre, a gaze, que há cinco minutos estava limpinha, estava mais preta que o meu delineador de sangue.
— Eu não sei. O que eu vi foi Talia e um bebê nos braços, dizendo que a criança era sua. — Respirei fundo, controlando a dor de cabeça crescente. — Não deu para deduzir se era menino ou menina. Era tão pequenino, enrolado numa mantinha branca.
Peter caiu, sentado na cadeira de aço, olhando perdido para o nada.
— Não se lembra de ninguém que possa ser a mãe, Pete? — Apoiei-me à parede.
— Não faça isso...
— Além de quase ter me matado, não que isso seja realmente possível, para ajudar você? — Bufei na maior parte de dor. — Um ‘obrigado’ serviria.
— Não me chame de Pete, depois da merda que aconteceu, ! — ele quase berrou, e eu quase soquei a mão na cara dele.
— Jesus Cristo! Peter! Não esse drama. Foque no detalhe que a sociopata contida da sua irmã morta te escondeu o fato que você tem um filho, sim? — Quase levantei o dedo do meio para ele. — Sem essa história de novo. Eu não vou pedir desculpa. Você ainda está vivo. Pelo amor de Deus!
— Meu... Dane-se. — Ele bufou. — Tem certeza que ela não falou mais nada?
“Corinne não sabe. Vou dá-la aos Tate. Terá uma vida boa”.
— Sim, Talia não disse mais nada — menti. Sei muito bem que onde quer que essa menina esteja, está muito melhor sem ter Peter Hale como seu pai. Levantei-me da cadeira e pressionei a gaze contra os pontos para tentar evitar que o sangue pingasse no chão. — E, da próxima vez que você precisar da minha ajuda, vá ao inferno.
Subi a escada, tentando não tropeçar nos meus próprios pés; a descarga de força que Peter me dera passou tão rápido quanto chegou e também tem o fato de que não sinto o meu braço. Estou completamente bem, tirando o fato de que ainda sou idiota por ajudar um babaca feito o Peter. É como adora dizer: sou mesmo uma babaca.
Joguei o trapo, que a gaze virou, no lixo, lavei o sangue com água e quase agradeci pelo momento em que não sentia o membro, porque o quanto esta merda ardeu fez eu me arrepender de reclamar. Refiz o curativo a tempo de sentir o celular no bolso vibrar.
— Conseguiu o Vicodin? — Atei a gaze com esparadrapo. — ?
— Puta que pariu! Não. Preciso de ajuda. — A voz de soou oca do outro lado da linha. — Estamos com Stiles e...
— Vocês estão com a merda do possuído? Prenda o Stiles agora! — interrompi o meio da frase.
— É o Stiles que está no controle, ! Os Onis estão vindo para matá-lo! — ela retrucou. A chuva quase soando mais alta que ela. — Stiles não merece morrer, ! Nós concordamos que iríamos tirar o nogitsune dele!
— Scott pediu sua ajuda? — Ajeitei a manga da blusa.
Mais previsível que ele, não existe.
— Também, mas quem deles sabe lidar tão bem com uma arma quanto nós?
— A merda dos Argents? As Blackburn não são as únicas que sabem lidar com uma arma por aqui, . — Bufei, começando a pensar nas possibilidades. — Droga! Diga onde você está, e eu vou te ajudar. Não acredito que você vai me fazer sair na merda de uma tempestade!
— Apenas venha! E traga minha espada! — pediu ela. — Estamos indo falar com Deaton.
Meu Jesus Cristo. O que a gente não faz pelo sangue? Fechei a porta do banheiro e segui para o quarto. Abri a tampa da mala e joguei as roupas na cama; o fundo estendido ficou visível, então enfiei a mão e comecei a tatear todo o tanto de armas que enfiou nesta coisa. O fundo engoliu quase todo meu braço bom, até o ombro, para que eu sentisse o cabo da espada de . Puxei a espada pelo cabo e também alcei uma 9mm. Vesti uma jaqueta com gorro e saí do loft. A chuva já caia tão forte que, até lá dentro do prédio, eu já ouvia a barulheira dos pingos caindo feito pedras.
A minha sorte era que a clínica veterinária de Deaton não era nem um pouco longe do loft de Derek, o que me rendeu apenas quinze minutos de caminhada numa rua deserta, com uma espada na mão, debaixo de uma tempestade. Se alguém tivesse me visto, teria chamado a polícia, com toda certeza.
Quando virei a esquina e vi a clínica, Stiles estacionou o jeep na entrada e saiu correndo, junto de Scott. e uma garota asiática, que eu nunca tinha visto na vida, na hora em que fui dar um passo para me tornar visível à minha irmã, alguém me agarrou pela barra da jaqueta e me puxou para trás; quase berrei de susto, até ver o rosto de Allan Deaton.
— Puta que pariu! Se eu pudesse morrer, juro que teria morrido de ataque cardíaco! — sussurrei, vendo o vulto dos Onis dando o cacete em Scott e na desconhecida.
— Não é Stiles quem está no controle, . — Deaton murmurou em resposta.
— Como diabo eu vou saber? Nunca vi a merda de um nogitsune antes! — Tentei manter meu tom baixo.
Deaton revirou o bolso da jaqueta e tirou uma seringa de metal com um líquido verde fluorescente dentro, que eu reconheci no momento em que vi, o que me surpreendeu mais ainda.
— Onde você arranjou isso? — Olhei abismada para a seringa. — Faz uns 400 anos que eu não vejo Letharia Vulpina!
— Preciso que entre lá e injete isto no Stiles. Eu sei sobre a verbena, mas, ainda assim, você está armada. — Allan me estendeu a seringa, e eu o olhei desconfiada. — Ele vai matar Scott e sua irmã, se você não fizer.
— Fuck...
Peguei a seringa e escutei a barulheira passar e a porta bater. Eles entraram. Destravei a arma e coloquei a seringa no bolso da calça. Nenhum Oni levantou. Puxei com todo o cuidado a porta da clínica para não fazer barulho algum e entrei. Ouvi praguejar alguma coisa, seguido de um estrondo oco e alto, acompanhado do som de algo batendo em metal. Escondi-me na sombra da parede de um dos arcos que dava acesso à sala em que estavam, tendo clara visibilidade das pernas caídas de alguém.
— Você está bem? — Ouvi a voz de Stiles.
— Por favor, não — respondeu Scott. — Pare.
— Está tudo bem — foi a resposta do nogitsune. O que veio em seguida foi um gemido esquálido de dor de Scott. — Isso dói? Ei! Olhe para mim! Você deveria ter terminado sua leitura, Scott. Veja, um nogitsune se alimenta de caos, conflito e dor. — Eu quase sentia a energia de alfa de Scott desfalecendo no ar e vi claramente a espada de Oni atravessada no abdômen do garoto, que a versão pálida 2000 do Stiles tinha em mão. Ainda não. — Esta manhã, você a tirou do Isaac e, então, tirou do Treinador. E de um policial que estava morrendo. Toda a dor. Você a tirou por inteiro. — A raposa segurou com firmeza o rosto molhado de McCall, ainda girando a espada. — Agora, dê-me!
A expressão de Scott foi de dor para extrema dor e, depois, ele recuperou os sentidos, e Stiles parecia ter bebido uma garrafa inteira de energético. Não ainda.
— Você realmente tem que aprender a não confiar em uma raposa... — começou Stiles, em tom de deboche. — Sabe por quê? Porque elas são trapaceiras. — Scott olhou para ele, um misto de emoções que nem eu pude decifrar. — Elas enganarão todo mundo.
Agora, sim.
O aperto de Stiles na empunhadura da katana negra soltou-se, e eu saí da sombra. Scott fingiu não me ver, e eu peguei a seringa do bolso, passando a arma para o braço ruim.
— Uh! Não todo mundo. — Stiles rapidamente virou a cabeça para mim, e eu enfiei a agulha da seringa no seu pescoço e injetei todo o veneno. O rapaz segurou-se na minha jaqueta com o mínimo de consciência que lhe restava, me olhando nos olhos. — Não poderia desperdiçar a chance de retribuir o favor que me fez.
E caiu, desacordado, no chão.
Deixei a arma e a seringa em cima da maca e olhei para Scott, que grunhiu de dor. Peguei o cabo da espada e puxei de uma vez só.
— Ahhh! — ele teria gritado se não estivesse rouco.
— Tem que ser como um band-aid: puxar de uma vez só.
— O que foi isso? — Ele olhou para o amigo caído no chão. — Foi uma cura? Ele vai ficar bem?
— Pfff! A raposa está envenenada, mas não morta — assegurei e olhei para a figura de Stiles branca feito papel e com fundas olheiras. — Pelo menos, não ainda.
Capítulo 11
v). Deaton vai me ajudar e espero que Derek também — contei, uma mão ainda nos pontos. — Ocultei o Stiles do radar sobrenatural... O feitiço deve durar umas 15 horas. Espero ter ganhado tempo o suficiente para que consigam alguma coisa...
— Obrigado, , de verdade. — Ele sorriu suavemente, apertando levemente minha mão. Ainda estava pálido. — Tenha cuidado.
— Você também.
Segui para a saída da clínica e tirei o celular do bolso, vendo a tela toda ferrada. Maravilha! Stiles, agora, me devia também um celular novo. O loft de Derek não era tão longe da clínica, e a chuva havia parado, o que me rendia uma caminhada bem curta, que seria mais curta ainda se não fossem os malditos pontos que doíam na lateral do meu abdômen.
E, em menos de 30 minutos, eu já estava entrando no loft. Joguei as roupas molhadas em um canto do quarto em que estávamos ficando e vesti top de ginástica, e um short de lycra, e roupas secas por cima, peguei a faca mais afiada que achei e uma magnum; mais por precaução e paranoia que por achar que realmente usaria. Usei a lista de contatos e liguei para Derek.
Agora, eu conseguiria meu guarda.
POV OFF.
Blackburn POV ON.
A rua era larga e deserta, e a noite estava se estendendo lentamente. Mr. M era esperto, escolheu um lugar onde todo mundo veria, se eu perdesse a paciência e decidisse usar a arma que sempre levava comigo. Bom, isso se houvesse alguém, além de mim, na rua.
— Você está pálida. — A voz quase feminina veio detrás de mim, e não me dei ao trabalho de me virar. — O que o nogitsune fez com você?
— Algo que acrescenta mais cinco milhões em meu pagamento — respondi. — Não gosto de surpresas, não mesmo. E você deveria ficar contente que eu não quero matar você para provar meu ponto. Isso não importa, de qualquer modo, o demônio está envenenado.
— Não por feito seu, certo? E não me ameace, Blackburn. Você pode ser uma mercenária lendária, mas não quer comprar briga comigo! — retrucou Mr. M. — Acabe com a criatura, e o restante será depositado na conta, juntamente com os 5 milhões.
— Mas é melhor, mesmo, senão, a história será outra.
Duas horas depois...
Olhei para as duas banheiras de alumínio no meio da sala de Deaton. Não estava muito confortável por estar quase de lingerie ao lado de Hale, mas guardei isso para mim.
— O quê? Está com medo de uma adaga, ? — O tom que Derek mandou em minha direção foi de deboche.
— Só... Seja rápido. — estava em pé dentro da outra banheira. — Sabemos algo sobre Stiles?
— Ele está contido — respondeu Deaton — por hora.
— Focaremos só na tarefa atual, por favor — pedi, sentando-me na banheira e apoiando as costas no latão.
Hale estava abaixado logo atrás.
— Qual eu corto primeiro? — Ele olhou em minha direção.
Respirei fundo.
— Sério, Derek, demoraremos a acordar, então mantenha qualquer coisa indesejada longe... — sussurrei, segurando firme nas bordas da banheira. — Por favor.
Sua expressão se suavizou e o aperto na adaga aumentou.
— Não gosto de você, mas não vou deixar você morrer — respondeu. — Leve isso como um quase elogio.
Soltei um leve sorriso e ouvi engasgar com o sangue quando Deaton cortou sua garganta.
Não me atrevi a olhar.
— Fermural. — Enfiei os braços para dentro da banheira e fechei os olhos, sentindo o toque tímido das mãos ásperas em minha coxa. O corte foi limpo e preciso. Assim que senti a pele se partindo, o sangue quente se espalhou pela banheira.
Derek cortou a outra e abriu dois talhos na diagonal em meus braços.
— Isso, sim, que é muito sangue... — resmungou ele, dando dois passos para se aproximar do meu rosto. — E eu acho que isso nos deixará quites pelos tiros que você me deu.
Eu quase sorri e encarei os olhos verdes, enquanto a lâmina da adaga corria pela pele lisa do meu pescoço. O sangue lavou meu tronco, e eu não lutei para respirar, vagando entre o estado de inconsciente para acordada. O calor começou a deixar meu corpo, junto com o líquido escarlate.
— Fazemos o que agora? — A voz de Derek soou oca.
— disse para suturar as artérias só depois de parar de sangrar. Não conheço o poder de bruxas, mas espero que dê certo! — respondeu Deaton.
Senti meus olhos pesarem, fazendo ficar difícil piscar. A maldição que nos acompanhava era de que nossos corações nunca parariam de bater, até que a pessoa que nos amaldiçoou nos pegasse e nos matasse pelas próprias mãos. Então Derek e Allan não nos matariam por algumas artérias abertas...
Minha cabeça pendeu para o lado, e a última coisa que vi foram os olhos verdes de Derek Hale me encarando preocupados.
A escuridão não era amedontradora, não mais. Depois de um ferimento grave, a consciência vaga para um plano diferente, onde só os feiticeiros alcançam. Não demorou a surgir.
— Espero que dê certo como da outra vez. — O cabelo cor de cobre flutuou em torno de seu rosto. — Não me lembrava de que doía tanto...
— Hale não seguiu minhas cicatrizes. Terei duas de lembranças. — Brinquei.
— Verbena fora do sistema e nós ficamos boas para lutar de novo — comentou ela. — Da última vez que isso aconteceu...
— Yeah, Chicago, Stef estava com a gente — completei, me lembrando da pessoa em questão.
— Fuck. Sinto falta dele, até hoje.
— Algumas pessoas nós temos que deixar para trás, Ferrugem. Stefan Salvatore foi uma delas.
Ela assentiu com pesar. Lembro-me de como ela se dera com o vampiro na nossa curta estadia em Chicago. Era uma boa pessoa, para um vampiro, e devia estar morto agora.
— Você gosta do garoto, não gosta? — perguntei, quebrando o silêncio entre nós. — O alfa...
— Eu não sei, . O último homem que eu amei acabou corrompido até a alma... — Ela olhou para um ponto na escuridão interminável à nossa volta. — Parece outra maldita maldição. Não quero que nada de ruim aconteça com ele por minha causa.
— Para de ser fresca. Scott McCall sabe bem se cuidar sozinho. — Quase gargalhei. — Sou eu quem vive para autopunição e tenho motivo para isso. Você merece ser feliz, mais que ninguém, .
— Em qualquer lugar em que estamos felizes, ela nos acha e destrói tudo, . — Ela me olhou, os olhos verdes repletos de tristeza. — Da última vez que passamos tempo demais em um lugar, ela quase matou o Danny! Imagine o que faria com um bando de lobisomens... Ela é uma anciã. Nós, com o poder em cem por cento, somos poderosas. Gabrielle é o dobro disso.
— Só... Focaremos em não entrar em coma — pedi. — Pensamos nela depois.
Na projeção, os nossos corpos não apresentam os antigos ferimentos, então, sem cicatrizes, é até estranho ver minha pele limpa de marcas.
— É estranho, né? — sorriu.
— Pode apostar! Sinto falta da minha cicatriz na coxa. Cara, aquele trabalho foi doido! — Quase gargalhei.
— Louco? Você fraturou o fêmur, !
— Mas você se lembra da cara de pavor do Danny quando os ghoul nos atacaram?! — Ri alto. — Aquilo, sim, foi demais.
— Coitado! Fora sua primeira vez em campo... Dê um desconto. — Olhei para ela com uma sobrancelha arqueada. — Tá, foi engraçado, mesmo.
Logo, o riso morreu em minha garganta. A situação era ruim, e isso eu não podia negar, e era assustador pensar que não teríamos força o suficiente para voltar.
— Outch! — gemeu, e eu me virei para vê-la. — Ele começou a me costurar.
— Pare de falar e concentre o poder — mandei. — Foque em acordar, , e, se eu não acordar, termine o trabalho e me leve até Daniel, ouviu? Você termina o trabalho e vai à segurança.
— Você vai voltar! — ela murmurou. — Você vai, !
— Processo de Sangue é arriscado, e você sabe. — Apertei levemente suas mãos. — Tome cuidado, Ferrugem.
— Eu vou — respondeu ela, beijando-me na testa.
fechou os olhos e deitou-se, os fios de cabelo cor de cobre tocando o rosto pálido e, em menos de 5 segundos, ela estava imersa em voltar.
— Por favor, , seja forte e volte... — murmurei para mim, sentando-me ao lado de . — Não só por ela, por todos eles.
Não demorou a eu começar a sentir as fisgadas de Deaton me costurando, como uma picada de um mosquito que foi funda demais; começou pelos braços, depois meu pescoço e, então, as artérias femorais, e eu não conseguia clarear minha cabeça, não conseguia parar de pensar no meu corpo ensanguentado jogado dentro da banheira, sem sinal de consciência. E a imagem me apavorava até a morte.
— Obrigado, , de verdade. — Ele sorriu suavemente, apertando levemente minha mão. Ainda estava pálido. — Tenha cuidado.
— Você também.
Segui para a saída da clínica e tirei o celular do bolso, vendo a tela toda ferrada. Maravilha! Stiles, agora, me devia também um celular novo. O loft de Derek não era tão longe da clínica, e a chuva havia parado, o que me rendia uma caminhada bem curta, que seria mais curta ainda se não fossem os malditos pontos que doíam na lateral do meu abdômen.
E, em menos de 30 minutos, eu já estava entrando no loft. Joguei as roupas molhadas em um canto do quarto em que estávamos ficando e vesti top de ginástica, e um short de lycra, e roupas secas por cima, peguei a faca mais afiada que achei e uma magnum; mais por precaução e paranoia que por achar que realmente usaria. Usei a lista de contatos e liguei para Derek.
Agora, eu conseguiria meu guarda.
POV OFF.
Blackburn POV ON.
A rua era larga e deserta, e a noite estava se estendendo lentamente. Mr. M era esperto, escolheu um lugar onde todo mundo veria, se eu perdesse a paciência e decidisse usar a arma que sempre levava comigo. Bom, isso se houvesse alguém, além de mim, na rua.
— Você está pálida. — A voz quase feminina veio detrás de mim, e não me dei ao trabalho de me virar. — O que o nogitsune fez com você?
— Algo que acrescenta mais cinco milhões em meu pagamento — respondi. — Não gosto de surpresas, não mesmo. E você deveria ficar contente que eu não quero matar você para provar meu ponto. Isso não importa, de qualquer modo, o demônio está envenenado.
— Não por feito seu, certo? E não me ameace, Blackburn. Você pode ser uma mercenária lendária, mas não quer comprar briga comigo! — retrucou Mr. M. — Acabe com a criatura, e o restante será depositado na conta, juntamente com os 5 milhões.
— Mas é melhor, mesmo, senão, a história será outra.
Duas horas depois...
Olhei para as duas banheiras de alumínio no meio da sala de Deaton. Não estava muito confortável por estar quase de lingerie ao lado de Hale, mas guardei isso para mim.
— O quê? Está com medo de uma adaga, ? — O tom que Derek mandou em minha direção foi de deboche.
— Só... Seja rápido. — estava em pé dentro da outra banheira. — Sabemos algo sobre Stiles?
— Ele está contido — respondeu Deaton — por hora.
— Focaremos só na tarefa atual, por favor — pedi, sentando-me na banheira e apoiando as costas no latão.
Hale estava abaixado logo atrás.
— Qual eu corto primeiro? — Ele olhou em minha direção.
Respirei fundo.
— Sério, Derek, demoraremos a acordar, então mantenha qualquer coisa indesejada longe... — sussurrei, segurando firme nas bordas da banheira. — Por favor.
Sua expressão se suavizou e o aperto na adaga aumentou.
— Não gosto de você, mas não vou deixar você morrer — respondeu. — Leve isso como um quase elogio.
Soltei um leve sorriso e ouvi engasgar com o sangue quando Deaton cortou sua garganta.
Não me atrevi a olhar.
— Fermural. — Enfiei os braços para dentro da banheira e fechei os olhos, sentindo o toque tímido das mãos ásperas em minha coxa. O corte foi limpo e preciso. Assim que senti a pele se partindo, o sangue quente se espalhou pela banheira.
Derek cortou a outra e abriu dois talhos na diagonal em meus braços.
— Isso, sim, que é muito sangue... — resmungou ele, dando dois passos para se aproximar do meu rosto. — E eu acho que isso nos deixará quites pelos tiros que você me deu.
Eu quase sorri e encarei os olhos verdes, enquanto a lâmina da adaga corria pela pele lisa do meu pescoço. O sangue lavou meu tronco, e eu não lutei para respirar, vagando entre o estado de inconsciente para acordada. O calor começou a deixar meu corpo, junto com o líquido escarlate.
— Fazemos o que agora? — A voz de Derek soou oca.
— disse para suturar as artérias só depois de parar de sangrar. Não conheço o poder de bruxas, mas espero que dê certo! — respondeu Deaton.
Senti meus olhos pesarem, fazendo ficar difícil piscar. A maldição que nos acompanhava era de que nossos corações nunca parariam de bater, até que a pessoa que nos amaldiçoou nos pegasse e nos matasse pelas próprias mãos. Então Derek e Allan não nos matariam por algumas artérias abertas...
Minha cabeça pendeu para o lado, e a última coisa que vi foram os olhos verdes de Derek Hale me encarando preocupados.
A escuridão não era amedontradora, não mais. Depois de um ferimento grave, a consciência vaga para um plano diferente, onde só os feiticeiros alcançam. Não demorou a surgir.
— Espero que dê certo como da outra vez. — O cabelo cor de cobre flutuou em torno de seu rosto. — Não me lembrava de que doía tanto...
— Hale não seguiu minhas cicatrizes. Terei duas de lembranças. — Brinquei.
— Verbena fora do sistema e nós ficamos boas para lutar de novo — comentou ela. — Da última vez que isso aconteceu...
— Yeah, Chicago, Stef estava com a gente — completei, me lembrando da pessoa em questão.
— Fuck. Sinto falta dele, até hoje.
— Algumas pessoas nós temos que deixar para trás, Ferrugem. Stefan Salvatore foi uma delas.
Ela assentiu com pesar. Lembro-me de como ela se dera com o vampiro na nossa curta estadia em Chicago. Era uma boa pessoa, para um vampiro, e devia estar morto agora.
— Você gosta do garoto, não gosta? — perguntei, quebrando o silêncio entre nós. — O alfa...
— Eu não sei, . O último homem que eu amei acabou corrompido até a alma... — Ela olhou para um ponto na escuridão interminável à nossa volta. — Parece outra maldita maldição. Não quero que nada de ruim aconteça com ele por minha causa.
— Para de ser fresca. Scott McCall sabe bem se cuidar sozinho. — Quase gargalhei. — Sou eu quem vive para autopunição e tenho motivo para isso. Você merece ser feliz, mais que ninguém, .
— Em qualquer lugar em que estamos felizes, ela nos acha e destrói tudo, . — Ela me olhou, os olhos verdes repletos de tristeza. — Da última vez que passamos tempo demais em um lugar, ela quase matou o Danny! Imagine o que faria com um bando de lobisomens... Ela é uma anciã. Nós, com o poder em cem por cento, somos poderosas. Gabrielle é o dobro disso.
— Só... Focaremos em não entrar em coma — pedi. — Pensamos nela depois.
Na projeção, os nossos corpos não apresentam os antigos ferimentos, então, sem cicatrizes, é até estranho ver minha pele limpa de marcas.
— É estranho, né? — sorriu.
— Pode apostar! Sinto falta da minha cicatriz na coxa. Cara, aquele trabalho foi doido! — Quase gargalhei.
— Louco? Você fraturou o fêmur, !
— Mas você se lembra da cara de pavor do Danny quando os ghoul nos atacaram?! — Ri alto. — Aquilo, sim, foi demais.
— Coitado! Fora sua primeira vez em campo... Dê um desconto. — Olhei para ela com uma sobrancelha arqueada. — Tá, foi engraçado, mesmo.
Logo, o riso morreu em minha garganta. A situação era ruim, e isso eu não podia negar, e era assustador pensar que não teríamos força o suficiente para voltar.
— Outch! — gemeu, e eu me virei para vê-la. — Ele começou a me costurar.
— Pare de falar e concentre o poder — mandei. — Foque em acordar, , e, se eu não acordar, termine o trabalho e me leve até Daniel, ouviu? Você termina o trabalho e vai à segurança.
— Você vai voltar! — ela murmurou. — Você vai, !
— Processo de Sangue é arriscado, e você sabe. — Apertei levemente suas mãos. — Tome cuidado, Ferrugem.
— Eu vou — respondeu ela, beijando-me na testa.
fechou os olhos e deitou-se, os fios de cabelo cor de cobre tocando o rosto pálido e, em menos de 5 segundos, ela estava imersa em voltar.
— Por favor, , seja forte e volte... — murmurei para mim, sentando-me ao lado de . — Não só por ela, por todos eles.
Não demorou a eu começar a sentir as fisgadas de Deaton me costurando, como uma picada de um mosquito que foi funda demais; começou pelos braços, depois meu pescoço e, então, as artérias femorais, e eu não conseguia clarear minha cabeça, não conseguia parar de pensar no meu corpo ensanguentado jogado dentro da banheira, sem sinal de consciência. E a imagem me apavorava até a morte.
Capítulo 12
Os olhos de se abriram lentamente, adaptando-se à forte luz. O líquido quente manchava sua pele de vermelho. Ela tentou erguer o braço, mas seus músculos pareciam feitos de gelatina, sem força alguma.
— ? — a voz de Deaton soou distante e baixa. Seu corpo estava focado em reproduzir o sangue perdido no processo. Allan tocou seu queixo e ergueu seu rosto, checando a dilatação de suas pupilas. — Consegue me ouvir?
A ruiva puxou um pouco de ar e piscou firmemente, forçando sua garganta a funcionar.
— Eu estou... Estou bem... — gaguejou ela, olhando, desnorteada, para os lados. A pele com os pontos repuxou de uma maneira desconfortável, com o esforço para falar: — ?! acordou? Ela está bem?
O corpo de jazia imóvel dentro da banheira de aço, o cabelo escuro e desgrenhado ocultava o rosto desacordado. Derek estava em pé, ao lado da banheira, com os dedos sobre o punho da bruxa, garantindo que ainda havia pulso.
— Hum... Deaton? Eu não acho que ela está respirando... — comentou o lobisomem.
desesperou-se, apoiando os braços nas laterais da banheira para tentar se levantar, mas ainda não tinha forças o suficiente para conseguir.
— Ela tem que estar completamente funcional para conseguir voltar... — explicou ela, deslizando de volta para dentro da banheira. — Ela tem que estar respirando, Derek.
O Hale praguejou algo em voz baixa e abaixou-se ao lado da banheira, carregando a Blackburn desacordada, no “estilo noiva”, e a deitou no chão. Seu corpo entrou no piloto automático. Não sabia ao certo o porquê da ideia da morena permanecer desacordada o perturbava tanto.
— Use seus olhos, seus verdadeiros olhos. — instruiu, a voz rouca e baixa. — Seu corpo saberá o que fazer...
Os olhos de Derek passaram do verde humano para o azul sobrenatural. Ele abaixou-se e começou o processo de respiração boca a boca em , enquanto Deaton checava os sinais vitais de .
O peito de subiu suavemente com o estímulo externo, e Derek sentiu que uma pequena parte de sua força estava sendo passada para ela, mas não houve sinal nenhum de que a consciência estava voltando ao seu corpo.
— ! , foque em mim! Derek trará sua irmã de volta! — Deaton pediu, fazendo a ruiva olhar para ele. — Está sentindo alguma coisa?
— Apenas a minha pele presa por pontos. Eu estou bem, Deaton. — respondeu. — Apenas mais algumas horas, e estarei novinha em folha. Não se preocupe.
De súbito, despertou, puxando o ar desesperadamente, enquanto Derek a amparava para que não caísse. Um suspiro de alívio deixou os lábios da ruiva, e o único som que correu o ambiente foi o das suaves risadas de .
— Do que está rindo, maluca?
— Se queria tanto me beijar, bonitão, deveria ter me pagado uma bebida antes! — Brincou ela.
— Você não toma jeito, nervosinha! — respondeu o Hale, com um breve sorriso em seu rosto. — Então funcionou?
ergueu a mão direita, a chama espectral arroxeada se acendeu em sua mão e o fogo tocando a pele pálida sem causar dano algum. Não havia mais verbena em seu sistema.
— Maravilhosamente bem. — respondeu, olhando para a irmã, enquanto as chamas dançavam por sua palma. Depois, tornou a olhar para Derek. — Então, acho que estamos quites, agora, não? Eu atirei em você, e você cortou minha garganta.
— É, bem quites, para mim! — Ele riu, ajudando-a a se levantar, sem escorregar com o sangue coagulado que ainda sujava seu corpo.
Blackburn POV ON.
Algumas horas depois...
— Stiles está se internando na Eichen House. O líquen ainda não parou de fazer efeito. — contou, desligando a chamada em seu celular. — Talvez, lá, ele fique seguro do Nogitsune.
— Não sei. Não há como ter certeza de nada quanto a essa criatura — respondi, checando o corte quase curado que o Oni fizera em meu braço —, mas espero que sim, porque será difícil prendê-lo novamente.
— Eu realmente espero que ele fique. Aquele garoto não merece isso.
— Sim, na maioria das vezes, eles nunca merecem — concordei, umedecendo os lábios. — Está pronta? Já está tudo arrumado? Não quero abusar muito da hospitalidade do nosso anfitrião.
— Sim, vou levar a mala ao carro, e veja se esqueci de alguma coisa! — ela disse, e eu concordei com a cabeça. — Vejo você lá embaixo.
saiu, puxando a mala. Eu chequei para garantir que não havia mais nada deixado para trás. Apenas um cartucho extra de balas havia sido esquecido na mesinha de cabeceira; peguei-o e enfiei no bolso da jaqueta, e saí do quarto, fechando a porta atrás de mim. Caminhei pelo corredor dos quartos, até alcançar a cozinha, onde Derek estava.
— Que bom que estão melhores! — comentou ele.
— Só uma dorzinha de cabeça, mas nada que um Advil não resolva. — Cocei a nuca, em desconforto com a situação. Não sei o porquê diabos! — Nós estamos voltando para casa... Queria agradecer por ter nos ajudado...
— Não tem problema! — ele me interrompeu.
— Por ter nos ajudado, mesmo não tendo obrigação alguma... — continuei, ignorando suas palavras. — Você não tinha o porquê nos ajudar, mas ajudou, mesmo assim. Obrigada. De verdade.
— Não há de quê, ! — ele respondeu, com um sorriso suave em seus lábios.
Derek Hale acabou por não ser o poço de amargura que imaginei.
— Bom, eu tenho que ir — completei. — Sabe como me encontrar, caso precise de alguma coisa. Até!
Não obtive resposta e desci a escada em espiral para o primeiro andar do loft. A lua minguante banhava o cômodo escuro com sua luz perolada, dando um ar macabro às sombras dos poucos móveis que Derek mantinha naquela área do lugar. Usei o elevador e, em menos de cinco minutos, já estava na entrada do prédio.
estava sentada no capô do Jeep, digitando algo em seu celular.
— Papeando com seu novo namorado? — provoquei.
— Não, engraçadinha, estou conversando com o Danny. — Ela rolou os olhos, guardando o celular e descendo de cima do carro. — Ele chegou bem onde quer que tenha ido.
— O engraçado é que você não negou...
— Neguei o que?
— Que ele seja seu novo namoradinho — expliquei o óbvio. Ela jogou as chaves na minha direção, e eu as peguei. — Você gosta dele?
— Scott é um cara legal, mas ele me parece ainda estar ligado a Allison — ela respondeu, enquanto eu dava partida no carro —, e não quero drama na minha vida.
— Levarei isso como um sim.
Ela permaneceu calada, depois disso. Manobrei o carro para fora da vaga e segui pela extensa rua do loft. Havia uma expressão indecifrável no rosto de sobre a qual eu não comentei, nem insisti para conversar sobre.
O lobisomem realmente havia mexido com ela.
Chegamos ao que era nossa casa durante o caso. foi dormir, e fiquei sentada na varanda, lendo as páginas do grimório que Daniel havia escaneado e mandado para mim, e não consegui pregar os olhos a noite inteira. Minha cabeça estava cheia demais para se desligar num momento como aquele.
A dor do veneno não existia mais. Agora, eu sentia que, aos poucos, estava voltando ao normal; voltando a sentir as coisas normalmente, e isso inclui recuperar a sensibilidade do braço ferido. O corte não sangrava, nem incomodava mais, já que a aura de poder reestabelecida estava me curando lentamente — uma das vantagens de ser uma bruxa milenar. Desde que não era mais necessário comparecermos à escola, não me importei em acordar quando o relógio marcou oito horas.
Olhei para o céu azul. O sol brilhava alto no céu, e minha cabeça estava doendo outra vez desde quando voltamos para casa, com aquelas mesmas agulhadas nas têmporas de antes, e também havia aquela sensação aflita de que algo ruim aconteceria.
E me apavorava pensar com quem seria.
POV OFF.
Blackburn POV ON.
Pisquei lentamente, sentindo os raios de sol, que escapavam pela cortina, aquecerem meu rosto. O relógio do celular indicava que era perto das nove e meia da manhã. Passei a mão pelo rosto, sentindo os resquícios de sono me abandonarem por completo, mas o cansaço ainda estava lá. Era o preço pelo processo de sangue.
Levantei-me e fui até a cozinha, à procura de comida.
— ?! Está acordada? — chamei, abrindo a geladeira.
— Estou na varanda. Tem café novo na cafeteira! — ela respondeu.
— Você passou a noite inteira em claro? — Servi-me com uma caneca com café e parei na porta, ao seu lado. — Deveria descansar, depois de ontem.
— Vou descansar quando o Nogitsune estiver fora do Stiles! — ela respondeu, me olhando com um curto sorriso. — Estava estudando umas partes do grimório que Danny me mandou.
— Alguma sorte?
— Nada. Há explicações sobre kitsunes, mas nada que a gente já não saiba — respondeu ela.
— Nunca me senti tão frustrada na vida! — resmunguei, sentando-me na cadeira vaga.
— Nós acharemos um jeito de salvá-lo... Nós sempre achamos.
O celular dela vibrou, e abaixou a caneca para ler a mensagem.
— É a Allison. Parece que Christopher tem um contato na Yakuza que pode ter informações sobre a criatura... — contou. — Deaton vai checar, e ela nos avisará depois.
— Isso é bom! Alguém está conseguindo alguma coisa! — Bebi um gole de café e olhei para os carros que passavam na rua.
— Deus! Eu ainda detesto esta cidade! — ela resmungou, coçando os olhos.
Fiquei calada, deixando que a cafeína começasse a fazer efeito. Eu estava cansada e frustrada. Já havia vivido o suficiente para ver várias pessoas ruins merecerem e também para ver pessoas boas terem fins que não mereciam. Stiles não merece morrer. Não mesmo!
— Vou tomar um banho. Depois, a gente sai atrás de algo para comer! — levantou-se.
Havia olheiras roxas sob seus olhos e estava mais pálida que o normal. Eu concordei com a cabeça e olhei para o café dentro da minha caneca, pensando sobre o que havia insinuado na noite anterior...
Eu estaria mesmo deixando a afeição que sentia por Scott crescer?
Algumas horas depois...
Sentei-me junto com à mesa de um café qualquer na cidade. Nenhuma das duas estava com muito ânimo para papo. Eu sabia o que ela estava sentindo: aquela leve agulhada na parte de trás do crânio e a sensação de que havia lava correndo pelas veias. Do mesmo jeito que era horrível, era maravilhoso, ao mesmo tempo, como se fosse puro poder correndo pelo corpo. Pedimos nossas comidas, e os hambúrgueres não demoraram a chegar, e, enquanto nos deliciávamos, o celular de começou a vibrar loucamente.
— Alô?! — ela grunhiu com a boca cheia ao atender a chamada. — Oh! Oi, Lydia.
Eu olhei para ela com o cenho franzido. Desde quando ela recebia ligações da Lydia?
— Okay! Tudo bem! — ela disse, depois de um tempo em silêncio, ouvindo o que a banshee dizia. — Nós estamos almoçando, mas já chegaremos aí...
Mais alguns segundos de silêncio se seguiram.
— Sim, espero o seu sms! — ela completou e desligou a chamada, enquanto eu ainda a encarava, confusa. — Ela disse que a Allison descobriu alguma coisa. Temos que encontrá-las na casa dela.
Eu fiz que “sim” com a cabeça e enfiei outra batata na boca. Por mais que eu estivesse adorando aqueles minutos de paz e sossego para poder comer sem tentar impedir que alguém morresse, eu também estava curiosa e torcendo internamente para que Christopher tivesse conseguido algo com seu contato na Yakuza.
Terminamos de comer e pagou pelas refeições, enquanto eu pesquisava no GPS o endereço de Allison, e acabou que não demoramos para achar o prédio e chegar ao andar.
respirou fundo e apertou a campainha.
— Ah, que bom que chegaram! — Lydia saudou, ao abrir a porta, nos dando espaço para entrar. Scott e os gêmeos também estavam lá. — Podemos começar, Allison.
— Agora que sabemos que Katashi tinha o pergaminho durante esse tempo todo, meu pai conseguiu descobrir o que farão com as evidências que seu pai achou junto ao cadáver. — Imagino que ela esteja se referindo ao pai de Scott. — Alguns oficiais disseram que transferirão as evidências hoje.
— E como ele ficou sabendo? — questionou, apoiando-se à escrivaninha do escritório.
— Ah, esqueci que vocês não sabem. — Allison resmungou. — Ele e Derek foram presos como suspeitos da morte de Katashi.
Mas só podia ser brincadeira!
— ? — a voz de Deaton soou distante e baixa. Seu corpo estava focado em reproduzir o sangue perdido no processo. Allan tocou seu queixo e ergueu seu rosto, checando a dilatação de suas pupilas. — Consegue me ouvir?
A ruiva puxou um pouco de ar e piscou firmemente, forçando sua garganta a funcionar.
— Eu estou... Estou bem... — gaguejou ela, olhando, desnorteada, para os lados. A pele com os pontos repuxou de uma maneira desconfortável, com o esforço para falar: — ?! acordou? Ela está bem?
O corpo de jazia imóvel dentro da banheira de aço, o cabelo escuro e desgrenhado ocultava o rosto desacordado. Derek estava em pé, ao lado da banheira, com os dedos sobre o punho da bruxa, garantindo que ainda havia pulso.
— Hum... Deaton? Eu não acho que ela está respirando... — comentou o lobisomem.
desesperou-se, apoiando os braços nas laterais da banheira para tentar se levantar, mas ainda não tinha forças o suficiente para conseguir.
— Ela tem que estar completamente funcional para conseguir voltar... — explicou ela, deslizando de volta para dentro da banheira. — Ela tem que estar respirando, Derek.
O Hale praguejou algo em voz baixa e abaixou-se ao lado da banheira, carregando a Blackburn desacordada, no “estilo noiva”, e a deitou no chão. Seu corpo entrou no piloto automático. Não sabia ao certo o porquê da ideia da morena permanecer desacordada o perturbava tanto.
— Use seus olhos, seus verdadeiros olhos. — instruiu, a voz rouca e baixa. — Seu corpo saberá o que fazer...
Os olhos de Derek passaram do verde humano para o azul sobrenatural. Ele abaixou-se e começou o processo de respiração boca a boca em , enquanto Deaton checava os sinais vitais de .
O peito de subiu suavemente com o estímulo externo, e Derek sentiu que uma pequena parte de sua força estava sendo passada para ela, mas não houve sinal nenhum de que a consciência estava voltando ao seu corpo.
— ! , foque em mim! Derek trará sua irmã de volta! — Deaton pediu, fazendo a ruiva olhar para ele. — Está sentindo alguma coisa?
— Apenas a minha pele presa por pontos. Eu estou bem, Deaton. — respondeu. — Apenas mais algumas horas, e estarei novinha em folha. Não se preocupe.
De súbito, despertou, puxando o ar desesperadamente, enquanto Derek a amparava para que não caísse. Um suspiro de alívio deixou os lábios da ruiva, e o único som que correu o ambiente foi o das suaves risadas de .
— Do que está rindo, maluca?
— Se queria tanto me beijar, bonitão, deveria ter me pagado uma bebida antes! — Brincou ela.
— Você não toma jeito, nervosinha! — respondeu o Hale, com um breve sorriso em seu rosto. — Então funcionou?
ergueu a mão direita, a chama espectral arroxeada se acendeu em sua mão e o fogo tocando a pele pálida sem causar dano algum. Não havia mais verbena em seu sistema.
— Maravilhosamente bem. — respondeu, olhando para a irmã, enquanto as chamas dançavam por sua palma. Depois, tornou a olhar para Derek. — Então, acho que estamos quites, agora, não? Eu atirei em você, e você cortou minha garganta.
— É, bem quites, para mim! — Ele riu, ajudando-a a se levantar, sem escorregar com o sangue coagulado que ainda sujava seu corpo.
Blackburn POV ON.
Algumas horas depois...
— Stiles está se internando na Eichen House. O líquen ainda não parou de fazer efeito. — contou, desligando a chamada em seu celular. — Talvez, lá, ele fique seguro do Nogitsune.
— Não sei. Não há como ter certeza de nada quanto a essa criatura — respondi, checando o corte quase curado que o Oni fizera em meu braço —, mas espero que sim, porque será difícil prendê-lo novamente.
— Eu realmente espero que ele fique. Aquele garoto não merece isso.
— Sim, na maioria das vezes, eles nunca merecem — concordei, umedecendo os lábios. — Está pronta? Já está tudo arrumado? Não quero abusar muito da hospitalidade do nosso anfitrião.
— Sim, vou levar a mala ao carro, e veja se esqueci de alguma coisa! — ela disse, e eu concordei com a cabeça. — Vejo você lá embaixo.
saiu, puxando a mala. Eu chequei para garantir que não havia mais nada deixado para trás. Apenas um cartucho extra de balas havia sido esquecido na mesinha de cabeceira; peguei-o e enfiei no bolso da jaqueta, e saí do quarto, fechando a porta atrás de mim. Caminhei pelo corredor dos quartos, até alcançar a cozinha, onde Derek estava.
— Que bom que estão melhores! — comentou ele.
— Só uma dorzinha de cabeça, mas nada que um Advil não resolva. — Cocei a nuca, em desconforto com a situação. Não sei o porquê diabos! — Nós estamos voltando para casa... Queria agradecer por ter nos ajudado...
— Não tem problema! — ele me interrompeu.
— Por ter nos ajudado, mesmo não tendo obrigação alguma... — continuei, ignorando suas palavras. — Você não tinha o porquê nos ajudar, mas ajudou, mesmo assim. Obrigada. De verdade.
— Não há de quê, ! — ele respondeu, com um sorriso suave em seus lábios.
Derek Hale acabou por não ser o poço de amargura que imaginei.
— Bom, eu tenho que ir — completei. — Sabe como me encontrar, caso precise de alguma coisa. Até!
Não obtive resposta e desci a escada em espiral para o primeiro andar do loft. A lua minguante banhava o cômodo escuro com sua luz perolada, dando um ar macabro às sombras dos poucos móveis que Derek mantinha naquela área do lugar. Usei o elevador e, em menos de cinco minutos, já estava na entrada do prédio.
estava sentada no capô do Jeep, digitando algo em seu celular.
— Papeando com seu novo namorado? — provoquei.
— Não, engraçadinha, estou conversando com o Danny. — Ela rolou os olhos, guardando o celular e descendo de cima do carro. — Ele chegou bem onde quer que tenha ido.
— O engraçado é que você não negou...
— Neguei o que?
— Que ele seja seu novo namoradinho — expliquei o óbvio. Ela jogou as chaves na minha direção, e eu as peguei. — Você gosta dele?
— Scott é um cara legal, mas ele me parece ainda estar ligado a Allison — ela respondeu, enquanto eu dava partida no carro —, e não quero drama na minha vida.
— Levarei isso como um sim.
Ela permaneceu calada, depois disso. Manobrei o carro para fora da vaga e segui pela extensa rua do loft. Havia uma expressão indecifrável no rosto de sobre a qual eu não comentei, nem insisti para conversar sobre.
O lobisomem realmente havia mexido com ela.
Chegamos ao que era nossa casa durante o caso. foi dormir, e fiquei sentada na varanda, lendo as páginas do grimório que Daniel havia escaneado e mandado para mim, e não consegui pregar os olhos a noite inteira. Minha cabeça estava cheia demais para se desligar num momento como aquele.
A dor do veneno não existia mais. Agora, eu sentia que, aos poucos, estava voltando ao normal; voltando a sentir as coisas normalmente, e isso inclui recuperar a sensibilidade do braço ferido. O corte não sangrava, nem incomodava mais, já que a aura de poder reestabelecida estava me curando lentamente — uma das vantagens de ser uma bruxa milenar. Desde que não era mais necessário comparecermos à escola, não me importei em acordar quando o relógio marcou oito horas.
Olhei para o céu azul. O sol brilhava alto no céu, e minha cabeça estava doendo outra vez desde quando voltamos para casa, com aquelas mesmas agulhadas nas têmporas de antes, e também havia aquela sensação aflita de que algo ruim aconteceria.
E me apavorava pensar com quem seria.
POV OFF.
Blackburn POV ON.
Pisquei lentamente, sentindo os raios de sol, que escapavam pela cortina, aquecerem meu rosto. O relógio do celular indicava que era perto das nove e meia da manhã. Passei a mão pelo rosto, sentindo os resquícios de sono me abandonarem por completo, mas o cansaço ainda estava lá. Era o preço pelo processo de sangue.
Levantei-me e fui até a cozinha, à procura de comida.
— ?! Está acordada? — chamei, abrindo a geladeira.
— Estou na varanda. Tem café novo na cafeteira! — ela respondeu.
— Você passou a noite inteira em claro? — Servi-me com uma caneca com café e parei na porta, ao seu lado. — Deveria descansar, depois de ontem.
— Vou descansar quando o Nogitsune estiver fora do Stiles! — ela respondeu, me olhando com um curto sorriso. — Estava estudando umas partes do grimório que Danny me mandou.
— Alguma sorte?
— Nada. Há explicações sobre kitsunes, mas nada que a gente já não saiba — respondeu ela.
— Nunca me senti tão frustrada na vida! — resmunguei, sentando-me na cadeira vaga.
— Nós acharemos um jeito de salvá-lo... Nós sempre achamos.
O celular dela vibrou, e abaixou a caneca para ler a mensagem.
— É a Allison. Parece que Christopher tem um contato na Yakuza que pode ter informações sobre a criatura... — contou. — Deaton vai checar, e ela nos avisará depois.
— Isso é bom! Alguém está conseguindo alguma coisa! — Bebi um gole de café e olhei para os carros que passavam na rua.
— Deus! Eu ainda detesto esta cidade! — ela resmungou, coçando os olhos.
Fiquei calada, deixando que a cafeína começasse a fazer efeito. Eu estava cansada e frustrada. Já havia vivido o suficiente para ver várias pessoas ruins merecerem e também para ver pessoas boas terem fins que não mereciam. Stiles não merece morrer. Não mesmo!
— Vou tomar um banho. Depois, a gente sai atrás de algo para comer! — levantou-se.
Havia olheiras roxas sob seus olhos e estava mais pálida que o normal. Eu concordei com a cabeça e olhei para o café dentro da minha caneca, pensando sobre o que havia insinuado na noite anterior...
Eu estaria mesmo deixando a afeição que sentia por Scott crescer?
Algumas horas depois...
Sentei-me junto com à mesa de um café qualquer na cidade. Nenhuma das duas estava com muito ânimo para papo. Eu sabia o que ela estava sentindo: aquela leve agulhada na parte de trás do crânio e a sensação de que havia lava correndo pelas veias. Do mesmo jeito que era horrível, era maravilhoso, ao mesmo tempo, como se fosse puro poder correndo pelo corpo. Pedimos nossas comidas, e os hambúrgueres não demoraram a chegar, e, enquanto nos deliciávamos, o celular de começou a vibrar loucamente.
— Alô?! — ela grunhiu com a boca cheia ao atender a chamada. — Oh! Oi, Lydia.
Eu olhei para ela com o cenho franzido. Desde quando ela recebia ligações da Lydia?
— Okay! Tudo bem! — ela disse, depois de um tempo em silêncio, ouvindo o que a banshee dizia. — Nós estamos almoçando, mas já chegaremos aí...
Mais alguns segundos de silêncio se seguiram.
— Sim, espero o seu sms! — ela completou e desligou a chamada, enquanto eu ainda a encarava, confusa. — Ela disse que a Allison descobriu alguma coisa. Temos que encontrá-las na casa dela.
Eu fiz que “sim” com a cabeça e enfiei outra batata na boca. Por mais que eu estivesse adorando aqueles minutos de paz e sossego para poder comer sem tentar impedir que alguém morresse, eu também estava curiosa e torcendo internamente para que Christopher tivesse conseguido algo com seu contato na Yakuza.
Terminamos de comer e pagou pelas refeições, enquanto eu pesquisava no GPS o endereço de Allison, e acabou que não demoramos para achar o prédio e chegar ao andar.
respirou fundo e apertou a campainha.
— Ah, que bom que chegaram! — Lydia saudou, ao abrir a porta, nos dando espaço para entrar. Scott e os gêmeos também estavam lá. — Podemos começar, Allison.
— Agora que sabemos que Katashi tinha o pergaminho durante esse tempo todo, meu pai conseguiu descobrir o que farão com as evidências que seu pai achou junto ao cadáver. — Imagino que ela esteja se referindo ao pai de Scott. — Alguns oficiais disseram que transferirão as evidências hoje.
— E como ele ficou sabendo? — questionou, apoiando-se à escrivaninha do escritório.
— Ah, esqueci que vocês não sabem. — Allison resmungou. — Ele e Derek foram presos como suspeitos da morte de Katashi.
Mas só podia ser brincadeira!
Capítulo 13
— Sabe a quantidade de chances que isso tem de dar absurdamente errado? — constatou o óbvio, gesticulando com as mãos. — Comboios de carro forte tem agentes armados até os dentes!
— É por isso que vamos montar o plano perfeito, e vocês vão ajudar. — Allison completou.
— Espera lá, colega...
— O dinheiro de vocês depende disso, não depende? — Lydia cruzou os braços sobre os seios, olhando para com um olhar sugestivo.
ponderou por alguns segundos e fechou os olhos pesarosa, provavelmente se xingando mentalmente em uma imensa infinidade de idiomas.
bufou exasperada, colocando as mãos na cintura como uma mãe irritada. Por mais que estivesse mais que habituada com situações que colocavam sua vida em risco, mas não fazia nem 24h que haviam se recuperado da verbena e já queriam entrar em outra missão suicida.
Aqueles adolescentes eram totalmente malucos ou tinham sérias tendências suicidas.
— Se vamos fazer isso, vamos fazer do jeito certo. Eu não mato humanos por esporte, então não vou ferir ninguém que estiver guardando esse pergaminho. — retorquiu, olhando diretamente para Scott McCall. — E se isso der merda, o que provavelmente vai, eu caio fora, dane-se vocês.
— Nossa, isso é muito gentil da sua parte. — Allison ironizou.
— Mas é a única alternativa que vocês tem. — bufou, odiava fazer as coisas contra sua vontade. — Não é o meu melhor amigo que está em um manicômio.
Scott virou o rosto na direção da ruiva, parecendo um misto de surpresa e mágoa. ao notar a reação do alfa, fez o que fazia de melhor: revirou os olhos. E depois desviou a atenção do comentário infeliz que sua irmã havia feito.
— Vocês pelo menos sabem a rota que vão seguir? — arqueou uma sobrancelha na direção da banshee.
— Se a Allison conseguir colocar um dos rastreadores do pai dela no carro forte, nós podemos segui-lo. — Lydia respondeu, como se fazer aquilo de fato fosse a coisa mais fácil do mundo.
— Então quando chegar aqui... — Allison apontou para o nome da ponte Roosevelt grifado no mapa.
— Nós atacamos? — Aiden completou.
Lydia se virou para o gêmeo, com uma expressão de quem havia ouvido a pergunta mais idiota da vida.
— Não, suas motos estarão no meio da estrada como se vocês tivessem se metido em um acidente. — começou a explicar. — Quando o motorista descer para ajudar...
— Nós o atacamos?
— Não! Você vai distrai-lo. — Lydia respondeu, apontando para Ethan, Aiden e . — Vocês três. Enquanto Scott quebra a porta dos fundos e o ajuda.
— Eu espero. — McCall comentou, sem muita fé em si mesmo.
— E pega o dedo do Katashi.
— Não é realmente o dedo dele, né? — perguntou Ethan.
— Puta que pariu... — murmurou, quase rindo das perguntas dos gêmeos.
— Porque não vamos pedir ajuda ao Stilinski? — Ethan continuou.
— Porque o Sheriff não pode pegar ele mexendo com evidência federal. — Scott respondeu.
— Isso vai funcionar, gente. — Allison se pronunciou, tentando ser a injeção de coragem que todo mundo estava precisando. — Podemos fazer isso. Estamos perdendo o Stiles, meu pai está preso por assassinato. Precisamos fazer isso.
sabia que a Argent estava coberta de razão, só nunca admitiria aquilo em voz alta. Muito menos quando ela estava concordando com algo tremendamente estúpido como aquele plano.
O grupo se dispersou, cada um indo se preparar para quando a noite caisse e chegasse a hora de finalmente por o plano em prática. permaneceu com os gêmeos, mesmo que contragosto, já que teriam de estar os três juntos na ponte. foi com Scott, visto que seriam os dois que de fato roubariam o pergaminho. Enquanto Allison e Lydia ficaram juntas.
— Então, o que tá rolando com você e ?— questionou encostada no sofá da casa dos McCall enquanto Scott subia para pegar o capacete extra. — Você está afim dela ou o quê?
— O quê?! Eu e sua irmã não temos nada! — Scott berrou do andar de cima, por mais que a bruxa pudesse ouvi-lo perfeitamente.
engoliu uma risada, vendo o nervosismo evidente estampado no tom de voz do lobisomem. Ele era mesmo só um adolescente.
— Não precisa mentir, garoto. — a Blackburn sorriu quando Scott estava a sua frente novamente. — Não ligo de ter um novo cunhado, mas se a magoar, não esqueça o quão boa eu sou com algumas balas de prata.
Scott engoliu em seco mas concordou com a cabeça, os dois rumaram para a porta da cozinha. Prontos para irem finalmente roubar o bendito carro forte, quando se depararam com Kira Yukimura parada na soleira da porta.
— Hey, o que faz aqui? — saudou McCall depois de deixar a garota entrar.
— Eu quero ajudar. — Kira respondeu.
— Não sei se é uma boa ideia, garota... — comentou.
— Se eu posso ajudar, não deveria? — Yukimura encolheu os ombros, remexendo a alça da bolsa vermelha.
— Quem nos ajuda normalmente acaba se machucando. — Scott completou. — Gravemente.
— Tá, mas eu tenho praticado. — a oriental abriu o ziper da bolsa sob um olhar desconfiado da bruxa.
— Praticado o quê?
— Eu tenho aprendido rápido, rápido mesmo. — ela puxou uma katana de dentro da bolsa, que se e Scott não tivessem dado um pulo para trás, teria lhes cortado a garganta.
— Tem certeza? — Scott indagou com os olhos arregalados.
— Desculpa! — ela respondeu com uma risadinha constrangida. — olha.
A garota começou a movimentar a espada, era realmente habilidadosa. Tinha pouca técnica e menos ainda de experiência. Em um único movimento agarrou a espada pelo lado não cortante e a puxou da mão da garota, jogando a espada no ar e a agarrando pelo cabo.
— Você não sabe o suficiente para se defender numa situação de risco, isso que eu acabei de fazer não é nada comparado ao que alguém querendo te matar faria. — começou, num tom que beirava ao duro. Ela ofereceu a espada de volta para Kira.— Desculpe, garota, mas não teremos tempo para salvar quem não vai conseguir se cuidar sozinha.
Scott queria responder, queria mesmo, mas preferiu seguir a vozinha em sua cabeça que dizia que tinha razão. E realmente tinha. Aquele plano já era arriscado e perigoso, não precisariam de nenhum peso morto.
Alguns minutos depois...
Allison observou os agentes se afastarem do carro pela luneta da besta, e Scott agachados ao seu lado.
— Vai!
segurou o rastreador com firmeza e correu em direção ao carro, prendendo o dispositivo abaixo da placa, que foi quando ouviu a porta abrir de novo.
— Porra! — praguejou ela, se egueirando para lateral do carro.
Jordan Parrish desceu as escadas e abriu a porta do lado do passageiro, vendo o motorista inconsciente ele sacou a arma e começou a caminhar lentamente para a traseira do automóvel, pronto para revidar a qualquer sinal de uma ameaça.
— Temos que fazer alguma coisa... — Scott sussurrou, vendo que logo estaria com problemas.
Até que bruscamente as portas do fundo se abriram e um cara enorme pulou do carro, nocauteando o policial com um único golpe na cabeça. O pobre teria uma tremenda enxaqueca quando acordasse de novo.
— Quem diabos é aquele? — Scott olhou assustado para a figura enorme.
— Kincaid. — Allison abaixou a besta.
Kincaid rasgou o saquinho de evidência e pegou o dedo de prata. sacou sua amada Desert Eagle e saiu de trás do caminhão em estado de alerta, temendo pelo qual seria o desfecho daquela situação.
— Vou precisar desse dedo, companheiro. — pediu ela, enquanto Allison e Scott se aproximavam da mercenária.
— E por que eu deveria dá-lo a você? — Kincaid debochou, um sorrisinho cínico no rosto, ao julgar a diferença de tamanho, o lobisomem acreditava que podia mandar a mulher para o hospital com um único tapa.
— Porque eu estou pedindo com jeitinho, você não vai gostar de quando minha arma pedir por mim. — retrucou.
— Tem uma maleta aí dentro, com $150,000. — Allison ofereceu.
— O pergaminho dentro desse dedo vale três milhões. — Kincaid rebateu.
— Me dê o dedo. — mandou Scott. O homem apenas riu com a ordem. respirou fundo, sentindo o cheiro do veneno da licantropia irradiando do brutamontes, ela havia jurado não ferir humanos, coisa que ele vagamente era. Uma bala foi disparada, não acertando o pé do homem por milímetros. — Me dê o dedo.
O sorriso cínico no rosto de Kincaid se alargou, seus olhos brilhando azul.
— Bom, acho que as negociações acabaram. — gracejou o lobisomem, rugindo logo em seguida.
Blackburn POV On
Allison disparou uma flecha, que serviu para irritá-lo mais ainda. A situação não estava muito vantajosa para o nosso lado considerando o tamanho daquele cara. Guardei a arma e deixei a energia do poder fluir completamente, sem barreiras, fazendo minha força aumentar. Scott se transformou, o brutamontes acertou um tapa em Allison que a fez voar na parede mais próxima, acertei um chute no peito do lobisomem que serviu apenas para fazê-lo recuar três passos, Kincaid me agarrou pelo pescoço, tirando-me do chão dando a deixa perfeita para que eu o imobilizasse, uma bela tentativa em vão. O brutamontes me arremessou na parede, cai de joelhos e logo me recuperei ajudando Allison a ficar em pé.
— Você está bem? — perguntei e ela concordou com a cabeça.
Scott batia e arranhava Kincaid mas não parecia fazer efeito algum, até que o outro lobisomem lhe acertou um chute que o fez cair mal conseguindo respirar.
— Você tem os olhos de um alfa, mas onde está a força? — debochou ele, vi os gêmeos se aproximarem pela plataforma superior.
— Aqui em cima. — Aiden atraiu a atenção do outro lobisomem para si. Deixei que meus olhos assumissem a verdadeira forma e conjurei um selo de força.
— E aqui também, babaca. — Acertei um murro que com o selo conseguiu machuca-lo. Os gêmeos saltaram da plataforma se juntando a luta. Ethan acertou, literalmente, uma voadora no peito do brutamontes enquanto o irmão acertava uma série de socos logo em seguida. Combinando a força de nós três juntos, conseguimos encurralá-lo com vários golpes em sequência, mesmo não sendo um jeito muito efetivo de lutar.
Agarrei o lobisomem pelo colarinho da jaqueta e o fiz voar na mureta mais próxima, por mais que ele não estivesse apresentando mais quase nenhuma resistência, agora eu estava com raiva.
— Parem! — Lydia e Scott pediram juntos.
— Querem que ele venha atrás de nós? — Aiden indagou.
— Scott, nós conhecemos caras como ele... — Ethan continuou.
— Confie em mim quando digo que ele é perigoso. — completei.
— Nós também somos. — rebateu o alfa. — E ele me parece inteligente o suficiente para se lembrar disso.
Kincaid limpou o sangue dos lábios enquanto me olhava com raiva. Scott tirou o dedo do bolso de sua jaqueta e pegou o pergaminho de dentro da peça de prata.
— Estamos aqui para salvar uma vida, não por fim em outra. — completou ele enquanto jogou o dedo no chão.
, que até então eu não havia visto aparecer, parou ao meu lado, não parecendo tão desapontada quanto eu.
Levamos o pergaminho para Deaton, já que das doze línguas que eu e minha irmã falamos, japonês não está incluso. E segundo a tradução do druída, temos que mudar o corpo do hospedeiro do nogitsune.
Mudá-lo, transformando Stiles em um lobisomem.
Nem havíamos tentado e meu instinto já estava me dizendo que aquilo ia dar tremendamente errado.
POV Off
Blackburn POV On
Olhei para Scott, que parecia arrasado com a tradução do pergaminho. Não é certo se todo mundo consegue ter um resultado "bom" com a exposição ao veneno dos lobos, já que algumas pessoas simplesmente não nasceram para ser assim, são essas mesmas pessoas as que morrem. Para tentar salvar Stiles, corríamos o risco de matá-lo.
— Você está bem? — perguntei, tocando seu ombro.
— Yeah... Só estou... — ele não parecia saber que palavra completaria sua frase.
— Preocupado? — tentei e ele concordou com a cabeça. — Eu sei que minha irmã não é a melhor pessoa quando o assunto é demonstrar, mas também estamos preocupadas com Stiles. Ele parece um bom garoto, não merece tudo isso.
— Não merece mesmo. — ele concordou com um meio sorriso desanimado. — O que vão fazer depois que salvarmos Stiles?
Aquela pergunta me pareceu meio inoportuna, eu não sabia o que faria, ou melhor, o que eu queria fazer.
— Não sei, vamos arranjar outro trabalho que não envolva verbena... — uma leve risada me escapou. — Tomar nosso rumo, não sei...
— Você é bem-vinda se quiser ficar, , de verdade. — ele apertou levemente minha mão, um arrepio correu minha espinha quase como se houvesse uma corrente elétrica correndo por meu corpo. De um jeito extremamente bom.
— Eu não tenho nada aqui, Scott...
— Você tem a mim. — a resposta foi quase que automática, e por sua expressão, ele pareceu se arrepender de ter deixado escapar. — Digo, você tem todos nós...
Aquilo mexeu comigo um pouquinho, não vou mentir. Nem conseguiria. Scott era gentil e doce, mas me assustava o meu histórico com relação amorosas, já que todas acabaram em morte, ou em algumas vezes as pessoas já estavam mortas (Deus amaldiçoe vampiros e sua beleza imortal). Não queria que nada de ruim acontecesse com ele, ele não merecia, merecia uma vida longa e feliz que não envolvesse as desgraças que eu causo.
— Vou checar , ver se ela não rasgou ou distendeu nada batendo naquele cara. — soltei um curto bocejo de cansaço. — Te vejo amanhã?
— Sim, claro.
,br> Amanhã iríamos atrás de Stiles na Eichen House para por um fim de uma vez nesse maldito nogitsune. Eu sentia pena do garoto por ter sido internado logo lá, Eichen House era um inferno para qualquer ser sobrenatural. Esse trabalho já estava apelando para a minha honra, e eu vou terminá-lo nem que isso me custe outro Processo de Sangue. estava sentada nas poltronas de espera da clínica, aparentemente não havia nenhum ferimento sério. Apenas sua expressão de extremo tédio.
— Então? Qual a tradução? — ela arqueou uma sobrancelha, curiosa. — Por favor, não me diga que teremos que decapitá-lo...
— Não! Sem decapitações pela semana. — uma leve risada me escapou com sua pergunta. Sentei-me ao seu lado, não sabia se minha exaustão era física ou emocional. — O pergaminho diz que temos que mudar o corpo do hospedeiro, o que significa algum tipo de transformação, Scott quer mordê-lo.
— Não deu a idéia de lançar alguma maldição nele? — franziu o cenho. — Seria bem menos doloroso, e tem uma gama bem maior de opções de criaturas...
— Não podemos lançar maldições desde Mystic Falls, esqueceu disso? — apoiei o rosto na mão, olhando para a minha irmã. — Maldições requerem uma carga muito grande de poder, que você mesma sabe que deixa um rastro muito forte.
— Yeah, esqueci desse pequeno detalhe... — ela revirou os olhos, bufando irritada. — Esqueci que somos tão fodidas que até nossa mãe quer nos matar.
— Bom, todo mundo tem problemas. — levantei e estendi a mão para ela, que aceitou e levantou também.
Preciso de um banho e minha cama, tirei as chaves do Jeep do bolso e girei no dedo. Considerando o estado zumbi em que estava, ela nem reclamaria porque queria dirigir, o que era bem típico dela. Desativei o alarme e as portas destravaram, sentou-se no banco do passageiro sem protestar e permaneceu calada o caminho inteiro até o apartamento. Era o que sempre acontecia quando o assunto que envolvia Gabrielle era trazido à tona. Nossa progenitora ainda tinha grande impacto nela.
— Ela não vai nos achar se continuarmos na surdina, ela não vai nos achar. — comecei, guiando o carro. — E nós também podemos parar de aceitar trabalhos e sossegar de uma vez em um lugar... — Não! A última vez em que nós nos instalamos em um lugar foi para haver uma chacina. — seu tom era duro e firme. — Não vou correr esse risco, não de novo. E você não deveria cogitar essa idéia também.
— Nós poderíamos vencê—-la se removêssemos os selos que limitam nosso poder... — o comentário escapou de meus lábios antes que eu sequer pudesse raciocinar com clareza.
— Caralho, !— ela preguejou, dando um murro no painel do carro. — Não se lembra o que ela fez da última vez? Não lembra da imagem do seu filho morto nos seus braços?! Não se lembra de Damon sufocando no próprio sangue?!
— Me lembro, e lembro bem! — enfiei o pé no freio e ela quase socou a testa no painel. — E é exatamente por isso que eu estou dizendo isso, até quando vamos fugir? Até quando vamos temer por nossas vidas e pela vida de Danny? Ela nos amaldiçoou, pelo amor de Deus! Já pensou que podemos ser uma ameaça real para ela?
— Não vou discutir isso agora.
— Você nunca fala sobre isso. O que foi que Gabrielle fez pra você que te deixou com tanto medo? — insisti, vendo uma veia em sua tempora pulsar loucamente. — Acha que eu não percebi? Você sempre foi forte, uma guerreira e uma matadora. Gabrielle fez algo com você, ela quebrou alguma coisa em você.
— Ela assassinou nosso pai, matou seu único filho, nos amaldiçoou e nos caça como se fossemos dois animais.— trincou a mandíbula. — Ela precisa fazer mais? Precisar ser mais louca e psicótica que isso? Por favor, , vamos para casa. Já temos problemas o suficiente hoje além de Gabrielle.
Bufei e troquei o pé para o pedal do acelerador, mesmo que Gabrielle fosse um assunto delicado para nós duas, fugia daquele assunto mais do que o diabo foge da cruz. Ou como nós fugimos dela. Depois de quase uma eternidade fugindo, aquilo estava começando a se tornar exaustivo, ficar pulando de cidade em cidade, sempre atenta com quais feitiços usar para não deixa um rastro forte demais que fosse rastreável. Eu sabia que chegaria o momento em que aquilo se tornaria exaustivo, viver na estrada, não imaginei que levaria três séculos para isso acontecer.
Estacionei em uma das vagas em frente ao prédio e subimos em silêncio até o apartamento. Depois de nossa breve discussão nenhuma de nós duas sabia exatamente o que dizer, eu temia que se falasse alguma coisa outra discussão se iniciaria. Abri a porta da nossa atual casa e deixei que ela entrasse primeiro, já que o que ela provavelmente faria é se afogar numa garrafa de whisk até não conseguir parar em pé. Álcool era sempre sua consolação. Depois de homens.
Fechei a porta atrás de mim e olhei para as caixas espalhadas pela cozinha escura, pensando se valia a pena preparar um chá antes de ir para cama, ou uma bela dose de vodka para prevenir os pesadelos que eu sabia que viriam. Sim, talvez uma vodka tenha mais efeito que um chá.
POV Off
Blackburn POV On
Fechei a porta do quarto e tirei minhas botas, as jogando em qualquer lugar do cômodo escuro. Minha cabeça estava latejando e meus planos da noite eram ficar chapada de Vicodin e beber a garrafa de whisky da minha mesinha de cabeceira, até estar louca o suficiente para só conseguir cair e dormir.
Gabrielle era um assunto desgastante, e quanto mais eu pensava sobre ela, mais minha cabeça doía. Como se a infeliz estivesse enfiando agulhas em um boneco de voodoo meu, e eu não duvidaria que realmente estivesse. Tirei minhas roupas e girei o registro da banheira da suíte, sem me dar ao trabalho de acender as luzes. Não que uma bruxa realmente precisasse de luz para poder enxergar. Peguei a garrafa de Jack Daniels da minha cabeceira e um vidro lacrado de Vicodin. Sentei-me na água quente e abri o lacre da garrafa, bebendo um longo e revigorante gole do álcool.
Gabrielle Valerious nunca fora humana, e se tivesse alguma característica do tipo, duvido que fosse de muita influência. Se ela era capaz de assassinar o próprio marido e caçar as únicas filhas que tem, duvido que ela tenha alguma humanidade restante lá.
Meu celular vibrou e eu grunhi em descontentamento, pegando o aparelho da borda da banheira e lendo algo inesperado na tela:
DEREK HALE:
Está tudo bem com você e ? Scott me contou sobre a luta com Kincaid.
Franzi o cenho com o remetente da mensagem. Desde quando Derek Hale se preocupa se nos ferimos em alguma batalha? Bom, desde quando ele manda mensagens perguntando se não morremos?
Deixando as perguntas de lado, limpei a umidade da mão na toalha mais próxima e digitei uma resposta:
Estamos bem, obrigado. O brucutu era forte mas acabou caindo.
Apertei para enviar e bloqueei a tela, abaixando o aparelho outra vez. Talvez estivesse certa e Gabrielle realmente tivesse quebrado algo em mim. Ou talvez assistir meu pai, uma das únicas pessoas que eu amei no mundo, ser assassinado tivesse me quebrado. Andreas Valerious foi o homem mais gentil e carinhoso que eu tivera a oportunidade de conhecer, e ele também foi arrancado de mim bruscamente. Deus, eu realmente sentia saudades de meu pai.
Sai da banheira e enrolei-me em uma toalha felpuda, tentando revirar o fundo da minha memória para tentar me lembrar do maldito feitiço de rastreamento.
Me enfiei em um conjunto de moletom e fui para a cozinha, abri o gabinete da pia e peguei o baú de lá, peguei um pergaminho e o abri sobre a bancada. Procurei entre os pequenos frascos o que continha cinzas de salvia, já que era a madeira necessária para o feitiço. Despejei as cinzas sobre o pergaminho e comecei a entoar o feitiço, senti o formigamento costumeiro na minha palma quando o selo se formou, mesmo minha magia não estando 100% forte, aquilo serviria.
No momento em que toquei o pergaminho, a salvia começou a queimar e formar as runas do selo no papel. O feitiço consiste em marcar um selo em um rolo de pergaminho, junto de um objeto pessoal da pessoa que deseja ser encontrada, colocar sobre um mapa, então a localização é mostrada pelas cinzas.
Então apenas me sentei ali, encarando as runas negras no pergaminho, pensando em quanto minha vida teria sido pacífica e feliz se eu não tivesse nascido com magia. Como eu poderia ter sido livre. E foi com essas mesmas possibilidades me rondando que acabei adormecendo no sofá, na companhia de quem nunca me deixou: a velha e boa garrafa de whisk.
Noshiko Yukimura pegou a foto amarelada da mão de Scott, olhando para os rostos nela gravados com um misto de descrença e nostalgia.
— Se essa é você, então você teria que ter uns noventa anos. — Scott comentou.
— Mais próximo à novecentos. — Noshiko corrigiu, ganhando um olhar assustado de sua filha.
— Porque não, certo? Quantos anos você tem, pai?
— Quarenta e três — ele respondeu. — mas já me deram trinta.
Kira deixou escapar uma risada nervosa e ofereceu a espada embainhada para sua mãe, que pegou e tirou o punho da bainha, deixando os fragmentos da lâmina quebrada caírem pela superfície da mesa.
— A lâmina se quebrou na última vez que foi usada. — contou Noshiko.
— Quando foi isso?
— 1943, contra um nogitsune. — respondeu a mais velha.
— Tudo isso... — Scott interrompeu. — Já aconteceu antes não aconteceu?
Ken olhou para sua esposa, apreensivo com a resposta que esta daria ao alfa.
— Sim, Scott. — Noshiko concordou. — Já aconteceu.
— Aqueles que não se recordam do passado, estão fadados a repeti-lo. — Ken citou.
— E de onde foi que isso veio? — Kira virou-se para sua mãe, o cenho franzido em confusão.
— Estava em um campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. — a kitsune milenar começou a explicar. — Em Oak Creek, não é muito longe daqui.
— Mas você disse a Allison e Isaac que não havia nenhum campo em Oak Creek. — Scott se virou para o sr. Yukimura.
— A família da Allison tem um longo histórico de violência. — Ken se defendeu. — Eu não sabia se ela era confiável. Sim, houve um campo, mas todos os registros sobre ele foram apagados.
— Eles encobriram tudo.
Ken abriu uma das gavetas de sua mesa e tirou de lá um maço de fotos antigas e amareladas pelo tempo, colocando-as sobre a mesa. — Quando eu estava na faculdade, um projeto meu, na verdade mais como obsessão — ele mostrou uma foto, que relatava as monstruosidades feitas com as vítimas que eram confinadas lá. — era descobrir a verdade sobre o que aconteceu em Oak Creek. Foi também como conheci sua mãe.
Kira pegou uma das fotos da mesa, que mostrava um homem com profundas queimaduras em seu rosto, deitado em uma cama do que parecia uma enfermaria.
— De onde veio o nogitsune, então? — questionou a mais nova.
— Ainda não está claro? — Noshiko respondeu. — Veio de mim.
Um flash de luz do sol me cegou quando abri os olhos, minha cabeça pesou e eu senti como se ela fosse explodir. E como parecia haver feitiços para tudo, o único que me ajudaria eu não podia praticar.
Então algum milagre humano teria que me ajudar, e normalmente atende pelo nome de "aspirina", o relógio no meu pulso marcava que ainda eram oito e meia da manhã, e considerando o silêncio instalado na casa ainda não parecia ter acordado.
Troquei o moletom por um jeans escuro, uma camiseta qualquer da minha banda preferida e meus mais confortáveis coturnos, enfiei a carteira no bolso e sai em busca de uma farmácia. Desta vez caminhando, já que o ar fresco da manhã parecia me ajudar, nem que fosse um pouco.
Entrei na primeira CVS que encontrei e comprei algumas cartelas de aspirina. Desde aquela maldita visão que tive no banho tudo parecia fora de controle. Meu celular vibrou e eu peguei o aparelho do bolso, enquanto empurrava a porta de saída da farmácia.
—? Está ocupada? — a voz de Allison soou do outro lado da linha.
— Não, alguma coisa aconteceu? — perguntei atravessando a rua. — Acharam Stiles? Ou conseguiram alguma pista?
— Não, ainda não. — respondeu a caçadora. — Mas estamos indo atrás dele e toda ajuda é bem vinda.
— Sim, me diga onde te encontrar e eu já estou indo. — pedi, mascando dois comprimidos. — Levarei algo que pode nos ajudar, me arranje algo pessoal de Stiles para o feitiço.
Ela concordou e eu desliguei a chamada, pouco tempo depois recebendo a mensagem com o endereço, mandei para e também pedi para que ela levasse o pergaminho. Pela hora que cheguei no endereço, levando em consideração que a caminhada não fora muito curta, já estava me esperando do lado de fora. Como eu não estava cem por cento de bom humor para conversar com ela, apenas segui para o interior do prédio e ela me seguiu, também permanecendo em silêncio quando pegamos o elevador para o andar. As portas metálicas se abriram e eu segui pelo corredor até achar a porta correta e tocar a campainha.
— Uh. Olá, Christopher. — saudei com um sorriso amarelo quando a porta se abriu, o caçador me olhou sem expressão. — Está muito melhor desde a última vez que nos vimos.
— Allison nos chamou. — minha irmã completou.
Christopher permaneceu calado e apenas concedeu passagem para que entrássemos em sua casa. Ao que parece o garoto Argent continua nos detestando.
— Sigam-me. — ele pediu e nos guiou até outro cômodo da casa, um escritório. Allison, o Sheriff e Derek já estavam lá.
— Conseguiu o que eu pedi? — olhei para Allison, e me entregou o pergaminho. — Também preciso de um mapa.
— O que é isso? — Derek perguntou olhando para o pergaminho recém aberto sobre a mesa.
— É um selo mágico feito de cinzas de salvia, são runas de localização. — começou a explicar.
— Com um mapa e um objeto pessoal do desaparecido(a), nos mostrará onde essa pessoa está ou onde está indo. — completei, abrindo o mapa que Allison me ofereceu sobre o pergaminho.
O Sheriff se aproximou com uma foto em mãos e me entregou, era uma fotografia de Stiles criança, sentado junto de quem deduzi ser um Scott criança em um parquinho. Ambos com enormes sorrisos, alguns dentes faltando nas bocas... era uma bela foto.
— Vai servir sim, obrigado.
Coloquei a foto sobre o mapa, e minha palma por cima dela, deixei que meus olhos brilhassem e comecei a entoar o feitiço. Normalmente demoraria apenas alguns segundos para a localização ser revelada.
E o meu erro fora pensar que essa era uma ocasião como as outras.
— Deveria demorar tanto assim? — Derek perguntou para . Antes que ela pudesse responder o mapa começou a pretear, como se estivesse sendo queimado mas não havia chama alguma.
— Era para isso acontecer? — Allison me olhou com o cenho franzido.
— Não — observei até que o papel virasse cinzas por completo. — Mas é isso que se ganha quando tenta ultrapassar um trapaceiro, presumo eu. Ele está ocultado de qualquer feitiço que possa achá-lo.
— Então agora nossa única opção é que Derek consiga pegar o rastro do cheiro de Stiles na Eichen House. — disse Christopher. — E estarmos preparados para neutralizá-los quando acharmos.
— Mas vocês não fizeram tudo isso antes? — questionou. — E não acabaram em uma armadilha no hospital?
— Stiles está tentando fazer com que repitamos as mesmas jogadas. — Christopher completou por fim.
— E faremos o que? Esperamos até que ele simplesmente apareça?
— Não podemos, os onis vão atrás dele quando o Sol se por. — Derek lembrou.
— Scott e Kira estão lidando com essa parte. — Sheriff nos contou.
— Essa é a droga do problema. — suspirei exasperada. — Estamos tentando ser mais espertos que a raposa.
Um curto silêncio se instalou entre todos os presentes, já que estávamos tentando pensar no plano mais plausível e inesperado para conseguir encontrar Stiles.
— Vou entender se alguém quiser desistir. — Stilinski comentou.
Todo mundo permaneceu em silêncio por um minuto.
— Nós estamos, literalmente, sendo pagas para isso. — relembrou. — Não vamos desistir agora.
— E não será eu o primeiro lobo a correr de uma raposa. — Derek concordou, guardando uma pistola de tranquilizantes na bolsa.
— Sheriff e eu vamos ao hospital, e Derek ficam com Eichen House, e meu pai vão para a escola. — Allison distribuiu os lugares, e eu agradeci mentalmente por ela não ter mandado e eu para o mesmo lugar. — Nos encontramos todos lá, pode ser?
Allison saiu junto do Sheriff seguidos por mim, , Derek e Christopher. A outra bruxa me entregou a chave do Jeep, peguei a mala da mão de Derek e me armei de uma pistola de dardos, que parecia estúpido demais para enfrentar um nogitsune.
Nos separamos em três carros e seguimos todos para nossas respectivas direções. Girei a chave na ignição assim que Derek bateu a porta do passageiro.
— Por que não foi com sua irmã? — o lobisomem questionou.
— Digamos que minha relação com já viu dias melhores. — manobrei para fora da vaga e segui pela rua. — E ficarmos separadas agora vai ajudar os nervos a se acalmarem. Por que você não pediu para ir com outra pessoa? Sei bem que não é meu maior fã...
— Não te odeio, Olivia. — Derek me olhou, me fazendo desviar a atenção da rua para ele, brevemente. Queria eu não ter feito isso. Os olhos azuis olhando diretamente nos meus me causou um arrepio tão profundo que eu não sabia se ficava assustada ou desconfortável.
— Eu fui sincera quando disse que sinto muito por ter atirado em você. — cortei o silêncio que havia se instalado entre nós, por mais que não fosse o tipo desconfortável. — Eu posso matar por dinheiro, mas não machuco ninguém por esporte.
— E eu não estava mentindo quando disse que estávamos quites. — aquela era a primeira vez que a ficha parecia ter finalmente caido: Ele havia salvado minha vida, havia empedido que eu ficasse no coma místico caso o Processo de Sangue desse errado. — Vamos apenas deixar isso no passado, onde pertence.
Antes que eu abrisse a boca para responder, o celular dele começou a tocar, Derek atendeu e ativou o vivo a voz.
— Vão para a casa do Sheriff agora! Stiles está lá! — Allison soou afobada do outro lado da linha, enfiei o pé tão fundo no freio que o carro brecou.
— Estamos a caminho. — Derek respondeu e finalizou a chamada.
Girei o volante para a direita e troquei de via na rua, acelerando tanto que provavelmente iria receber uma montanha de multas por excesso de velocidade. Não que isso realmente importasse no momento. Chegamos juntos de Allison e Sheriff na rua, basicamente pulei para fora do carro e tirei a pistola do coldre.
— Tem certeza que ele está aí dentro? — Derek perguntou.
— Eu tenho câmeras pela casa inteira, alguém invadiu e era ele. — o Sheriff respondeu, seguindo cautelosamente para a entrada da casa.
— Cuidado, precisamos ter o máximo de cautela com essa coisa. — destravei a arma, seguindo o Sheriff de perto.
A casa estava vazia, isso sim. Pelo tempo que chegamos lá ele já havia fugido, deixando para trás apenas um rastro macabro de um poder mais obscuro do que todas as magias negras que eu já havia conhecido com todas aquelas décadas de vida.
— Fugiu? Ele fugiu?— apareceu no arco da porta do quarto de Stiles, ofegando pela corrida, Christopher apareceu logo depois.
— Na hora que chegamos ele não estava mais aqui. — Allison contou, olhando tempo demais para um tabuleiro de xadrez. — Sheriff, para que são essas notas?
— Ah! É como Stiles me explicou sobre voc... — ele parou no meio da frase, franzindo o cenho. — Isso é novo.
Stilinski apontou para as duas peças do cavalo, me aproximei mais para ver sobre o que ele estava falando até que li os nomes nos papéis: e .
— O nome de vocês não estava aí antes. — ele explicou.
— Talvez seja uma mensagem do Stiles, do verdadeiro. — Allison sugeriu.
— Você saberia o motivo do meu nome estar no rei? — Derek perguntou com uma sobrancelha arqueada, peguei um peão que estava caído para fora do tabuleiro e o nome nele não me surpreendeu. Isaac.
— Você estava bem protegido, mas creio que o detalhe alarmante é que você está há um movimento de levar o xeque mate. — Stilinski respondeu.
— Isso não é uma mensagem do Stiles. — engoliu em seco antes de completar sua frase. — É uma ameaça do nogtisune.
— Ele está no loft, é isso que está querendo nos dizer. — Allison completou. — E quer nos atrair para lá.
— E a noite está chegando.
— É claramente uma armadilha. — Christopher apontou o óbvio.
— Não acho que seja. — Stilinski discordou.
— Sua opinião pode estar um pouco equivocada, Sheriff. — comentei.
— Só escutem. Estamos lidando com alguém que tem falta de motivo. Sem razão, certo? — ele continuou.
— E...?
— Nosso inimigo não é um assassino. É um trapaceiro. A matança é apenas resultado. — Sheriff continuou a explicação do seu ponto de vista.
— Se o que você está querendo dizer é que não vai nos matar, eu não confio muito nessa idéia. — Derek comentou, cruzando os braços sobre o peito.
— Por que não? Ele quer ironia. Pregar uma peça, quer uma piada. — agora eu estava entendendo aonde ele queria chegar. — E tudo que precisamos fazer é lhe dar uma boa o bastante.
— O sol está se pondo...
— O que você tem em mente, Sheriff? — indagou o Argent mais velho.
E parece que agora estamos todos indo direto em direção ao encontro do inimigo. Como se ele não fosse perigoso o sufiente estando longe. E o que me assusta mais, é que talvez devêssemos começar a considerar a possibilidade de acabar com Stiles.
De uma vez.
— É por isso que vamos montar o plano perfeito, e vocês vão ajudar. — Allison completou.
— Espera lá, colega...
— O dinheiro de vocês depende disso, não depende? — Lydia cruzou os braços sobre os seios, olhando para com um olhar sugestivo.
ponderou por alguns segundos e fechou os olhos pesarosa, provavelmente se xingando mentalmente em uma imensa infinidade de idiomas.
bufou exasperada, colocando as mãos na cintura como uma mãe irritada. Por mais que estivesse mais que habituada com situações que colocavam sua vida em risco, mas não fazia nem 24h que haviam se recuperado da verbena e já queriam entrar em outra missão suicida.
Aqueles adolescentes eram totalmente malucos ou tinham sérias tendências suicidas.
— Se vamos fazer isso, vamos fazer do jeito certo. Eu não mato humanos por esporte, então não vou ferir ninguém que estiver guardando esse pergaminho. — retorquiu, olhando diretamente para Scott McCall. — E se isso der merda, o que provavelmente vai, eu caio fora, dane-se vocês.
— Nossa, isso é muito gentil da sua parte. — Allison ironizou.
— Mas é a única alternativa que vocês tem. — bufou, odiava fazer as coisas contra sua vontade. — Não é o meu melhor amigo que está em um manicômio.
Scott virou o rosto na direção da ruiva, parecendo um misto de surpresa e mágoa. ao notar a reação do alfa, fez o que fazia de melhor: revirou os olhos. E depois desviou a atenção do comentário infeliz que sua irmã havia feito.
— Vocês pelo menos sabem a rota que vão seguir? — arqueou uma sobrancelha na direção da banshee.
— Se a Allison conseguir colocar um dos rastreadores do pai dela no carro forte, nós podemos segui-lo. — Lydia respondeu, como se fazer aquilo de fato fosse a coisa mais fácil do mundo.
— Então quando chegar aqui... — Allison apontou para o nome da ponte Roosevelt grifado no mapa.
— Nós atacamos? — Aiden completou.
Lydia se virou para o gêmeo, com uma expressão de quem havia ouvido a pergunta mais idiota da vida.
— Não, suas motos estarão no meio da estrada como se vocês tivessem se metido em um acidente. — começou a explicar. — Quando o motorista descer para ajudar...
— Nós o atacamos?
— Não! Você vai distrai-lo. — Lydia respondeu, apontando para Ethan, Aiden e . — Vocês três. Enquanto Scott quebra a porta dos fundos e o ajuda.
— Eu espero. — McCall comentou, sem muita fé em si mesmo.
— E pega o dedo do Katashi.
— Não é realmente o dedo dele, né? — perguntou Ethan.
— Puta que pariu... — murmurou, quase rindo das perguntas dos gêmeos.
— Porque não vamos pedir ajuda ao Stilinski? — Ethan continuou.
— Porque o Sheriff não pode pegar ele mexendo com evidência federal. — Scott respondeu.
— Isso vai funcionar, gente. — Allison se pronunciou, tentando ser a injeção de coragem que todo mundo estava precisando. — Podemos fazer isso. Estamos perdendo o Stiles, meu pai está preso por assassinato. Precisamos fazer isso.
sabia que a Argent estava coberta de razão, só nunca admitiria aquilo em voz alta. Muito menos quando ela estava concordando com algo tremendamente estúpido como aquele plano.
O grupo se dispersou, cada um indo se preparar para quando a noite caisse e chegasse a hora de finalmente por o plano em prática. permaneceu com os gêmeos, mesmo que contragosto, já que teriam de estar os três juntos na ponte. foi com Scott, visto que seriam os dois que de fato roubariam o pergaminho. Enquanto Allison e Lydia ficaram juntas.
— Então, o que tá rolando com você e ?— questionou encostada no sofá da casa dos McCall enquanto Scott subia para pegar o capacete extra. — Você está afim dela ou o quê?
— O quê?! Eu e sua irmã não temos nada! — Scott berrou do andar de cima, por mais que a bruxa pudesse ouvi-lo perfeitamente.
engoliu uma risada, vendo o nervosismo evidente estampado no tom de voz do lobisomem. Ele era mesmo só um adolescente.
— Não precisa mentir, garoto. — a Blackburn sorriu quando Scott estava a sua frente novamente. — Não ligo de ter um novo cunhado, mas se a magoar, não esqueça o quão boa eu sou com algumas balas de prata.
Scott engoliu em seco mas concordou com a cabeça, os dois rumaram para a porta da cozinha. Prontos para irem finalmente roubar o bendito carro forte, quando se depararam com Kira Yukimura parada na soleira da porta.
— Hey, o que faz aqui? — saudou McCall depois de deixar a garota entrar.
— Eu quero ajudar. — Kira respondeu.
— Não sei se é uma boa ideia, garota... — comentou.
— Se eu posso ajudar, não deveria? — Yukimura encolheu os ombros, remexendo a alça da bolsa vermelha.
— Quem nos ajuda normalmente acaba se machucando. — Scott completou. — Gravemente.
— Tá, mas eu tenho praticado. — a oriental abriu o ziper da bolsa sob um olhar desconfiado da bruxa.
— Praticado o quê?
— Eu tenho aprendido rápido, rápido mesmo. — ela puxou uma katana de dentro da bolsa, que se e Scott não tivessem dado um pulo para trás, teria lhes cortado a garganta.
— Tem certeza? — Scott indagou com os olhos arregalados.
— Desculpa! — ela respondeu com uma risadinha constrangida. — olha.
A garota começou a movimentar a espada, era realmente habilidadosa. Tinha pouca técnica e menos ainda de experiência. Em um único movimento agarrou a espada pelo lado não cortante e a puxou da mão da garota, jogando a espada no ar e a agarrando pelo cabo.
— Você não sabe o suficiente para se defender numa situação de risco, isso que eu acabei de fazer não é nada comparado ao que alguém querendo te matar faria. — começou, num tom que beirava ao duro. Ela ofereceu a espada de volta para Kira.— Desculpe, garota, mas não teremos tempo para salvar quem não vai conseguir se cuidar sozinha.
Scott queria responder, queria mesmo, mas preferiu seguir a vozinha em sua cabeça que dizia que tinha razão. E realmente tinha. Aquele plano já era arriscado e perigoso, não precisariam de nenhum peso morto.
Alguns minutos depois...
Allison observou os agentes se afastarem do carro pela luneta da besta, e Scott agachados ao seu lado.
— Vai!
segurou o rastreador com firmeza e correu em direção ao carro, prendendo o dispositivo abaixo da placa, que foi quando ouviu a porta abrir de novo.
— Porra! — praguejou ela, se egueirando para lateral do carro.
Jordan Parrish desceu as escadas e abriu a porta do lado do passageiro, vendo o motorista inconsciente ele sacou a arma e começou a caminhar lentamente para a traseira do automóvel, pronto para revidar a qualquer sinal de uma ameaça.
— Temos que fazer alguma coisa... — Scott sussurrou, vendo que logo estaria com problemas.
Até que bruscamente as portas do fundo se abriram e um cara enorme pulou do carro, nocauteando o policial com um único golpe na cabeça. O pobre teria uma tremenda enxaqueca quando acordasse de novo.
— Quem diabos é aquele? — Scott olhou assustado para a figura enorme.
— Kincaid. — Allison abaixou a besta.
Kincaid rasgou o saquinho de evidência e pegou o dedo de prata. sacou sua amada Desert Eagle e saiu de trás do caminhão em estado de alerta, temendo pelo qual seria o desfecho daquela situação.
— Vou precisar desse dedo, companheiro. — pediu ela, enquanto Allison e Scott se aproximavam da mercenária.
— E por que eu deveria dá-lo a você? — Kincaid debochou, um sorrisinho cínico no rosto, ao julgar a diferença de tamanho, o lobisomem acreditava que podia mandar a mulher para o hospital com um único tapa.
— Porque eu estou pedindo com jeitinho, você não vai gostar de quando minha arma pedir por mim. — retrucou.
— Tem uma maleta aí dentro, com $150,000. — Allison ofereceu.
— O pergaminho dentro desse dedo vale três milhões. — Kincaid rebateu.
— Me dê o dedo. — mandou Scott. O homem apenas riu com a ordem. respirou fundo, sentindo o cheiro do veneno da licantropia irradiando do brutamontes, ela havia jurado não ferir humanos, coisa que ele vagamente era. Uma bala foi disparada, não acertando o pé do homem por milímetros. — Me dê o dedo.
O sorriso cínico no rosto de Kincaid se alargou, seus olhos brilhando azul.
— Bom, acho que as negociações acabaram. — gracejou o lobisomem, rugindo logo em seguida.
Blackburn POV On
Allison disparou uma flecha, que serviu para irritá-lo mais ainda. A situação não estava muito vantajosa para o nosso lado considerando o tamanho daquele cara. Guardei a arma e deixei a energia do poder fluir completamente, sem barreiras, fazendo minha força aumentar. Scott se transformou, o brutamontes acertou um tapa em Allison que a fez voar na parede mais próxima, acertei um chute no peito do lobisomem que serviu apenas para fazê-lo recuar três passos, Kincaid me agarrou pelo pescoço, tirando-me do chão dando a deixa perfeita para que eu o imobilizasse, uma bela tentativa em vão. O brutamontes me arremessou na parede, cai de joelhos e logo me recuperei ajudando Allison a ficar em pé.
— Você está bem? — perguntei e ela concordou com a cabeça.
Scott batia e arranhava Kincaid mas não parecia fazer efeito algum, até que o outro lobisomem lhe acertou um chute que o fez cair mal conseguindo respirar.
— Você tem os olhos de um alfa, mas onde está a força? — debochou ele, vi os gêmeos se aproximarem pela plataforma superior.
— Aqui em cima. — Aiden atraiu a atenção do outro lobisomem para si. Deixei que meus olhos assumissem a verdadeira forma e conjurei um selo de força.
— E aqui também, babaca. — Acertei um murro que com o selo conseguiu machuca-lo. Os gêmeos saltaram da plataforma se juntando a luta. Ethan acertou, literalmente, uma voadora no peito do brutamontes enquanto o irmão acertava uma série de socos logo em seguida. Combinando a força de nós três juntos, conseguimos encurralá-lo com vários golpes em sequência, mesmo não sendo um jeito muito efetivo de lutar.
Agarrei o lobisomem pelo colarinho da jaqueta e o fiz voar na mureta mais próxima, por mais que ele não estivesse apresentando mais quase nenhuma resistência, agora eu estava com raiva.
— Parem! — Lydia e Scott pediram juntos.
— Querem que ele venha atrás de nós? — Aiden indagou.
— Scott, nós conhecemos caras como ele... — Ethan continuou.
— Confie em mim quando digo que ele é perigoso. — completei.
— Nós também somos. — rebateu o alfa. — E ele me parece inteligente o suficiente para se lembrar disso.
Kincaid limpou o sangue dos lábios enquanto me olhava com raiva. Scott tirou o dedo do bolso de sua jaqueta e pegou o pergaminho de dentro da peça de prata.
— Estamos aqui para salvar uma vida, não por fim em outra. — completou ele enquanto jogou o dedo no chão.
, que até então eu não havia visto aparecer, parou ao meu lado, não parecendo tão desapontada quanto eu.
Levamos o pergaminho para Deaton, já que das doze línguas que eu e minha irmã falamos, japonês não está incluso. E segundo a tradução do druída, temos que mudar o corpo do hospedeiro do nogitsune.
Mudá-lo, transformando Stiles em um lobisomem.
Nem havíamos tentado e meu instinto já estava me dizendo que aquilo ia dar tremendamente errado.
POV Off
Blackburn POV On
Olhei para Scott, que parecia arrasado com a tradução do pergaminho. Não é certo se todo mundo consegue ter um resultado "bom" com a exposição ao veneno dos lobos, já que algumas pessoas simplesmente não nasceram para ser assim, são essas mesmas pessoas as que morrem. Para tentar salvar Stiles, corríamos o risco de matá-lo.
— Você está bem? — perguntei, tocando seu ombro.
— Yeah... Só estou... — ele não parecia saber que palavra completaria sua frase.
— Preocupado? — tentei e ele concordou com a cabeça. — Eu sei que minha irmã não é a melhor pessoa quando o assunto é demonstrar, mas também estamos preocupadas com Stiles. Ele parece um bom garoto, não merece tudo isso.
— Não merece mesmo. — ele concordou com um meio sorriso desanimado. — O que vão fazer depois que salvarmos Stiles?
Aquela pergunta me pareceu meio inoportuna, eu não sabia o que faria, ou melhor, o que eu queria fazer.
— Não sei, vamos arranjar outro trabalho que não envolva verbena... — uma leve risada me escapou. — Tomar nosso rumo, não sei...
— Você é bem-vinda se quiser ficar, , de verdade. — ele apertou levemente minha mão, um arrepio correu minha espinha quase como se houvesse uma corrente elétrica correndo por meu corpo. De um jeito extremamente bom.
— Eu não tenho nada aqui, Scott...
— Você tem a mim. — a resposta foi quase que automática, e por sua expressão, ele pareceu se arrepender de ter deixado escapar. — Digo, você tem todos nós...
Aquilo mexeu comigo um pouquinho, não vou mentir. Nem conseguiria. Scott era gentil e doce, mas me assustava o meu histórico com relação amorosas, já que todas acabaram em morte, ou em algumas vezes as pessoas já estavam mortas (Deus amaldiçoe vampiros e sua beleza imortal). Não queria que nada de ruim acontecesse com ele, ele não merecia, merecia uma vida longa e feliz que não envolvesse as desgraças que eu causo.
— Vou checar , ver se ela não rasgou ou distendeu nada batendo naquele cara. — soltei um curto bocejo de cansaço. — Te vejo amanhã?
— Sim, claro.
,br> Amanhã iríamos atrás de Stiles na Eichen House para por um fim de uma vez nesse maldito nogitsune. Eu sentia pena do garoto por ter sido internado logo lá, Eichen House era um inferno para qualquer ser sobrenatural. Esse trabalho já estava apelando para a minha honra, e eu vou terminá-lo nem que isso me custe outro Processo de Sangue. estava sentada nas poltronas de espera da clínica, aparentemente não havia nenhum ferimento sério. Apenas sua expressão de extremo tédio.
— Então? Qual a tradução? — ela arqueou uma sobrancelha, curiosa. — Por favor, não me diga que teremos que decapitá-lo...
— Não! Sem decapitações pela semana. — uma leve risada me escapou com sua pergunta. Sentei-me ao seu lado, não sabia se minha exaustão era física ou emocional. — O pergaminho diz que temos que mudar o corpo do hospedeiro, o que significa algum tipo de transformação, Scott quer mordê-lo.
— Não deu a idéia de lançar alguma maldição nele? — franziu o cenho. — Seria bem menos doloroso, e tem uma gama bem maior de opções de criaturas...
— Não podemos lançar maldições desde Mystic Falls, esqueceu disso? — apoiei o rosto na mão, olhando para a minha irmã. — Maldições requerem uma carga muito grande de poder, que você mesma sabe que deixa um rastro muito forte.
— Yeah, esqueci desse pequeno detalhe... — ela revirou os olhos, bufando irritada. — Esqueci que somos tão fodidas que até nossa mãe quer nos matar.
— Bom, todo mundo tem problemas. — levantei e estendi a mão para ela, que aceitou e levantou também.
Preciso de um banho e minha cama, tirei as chaves do Jeep do bolso e girei no dedo. Considerando o estado zumbi em que estava, ela nem reclamaria porque queria dirigir, o que era bem típico dela. Desativei o alarme e as portas destravaram, sentou-se no banco do passageiro sem protestar e permaneceu calada o caminho inteiro até o apartamento. Era o que sempre acontecia quando o assunto que envolvia Gabrielle era trazido à tona. Nossa progenitora ainda tinha grande impacto nela.
— Ela não vai nos achar se continuarmos na surdina, ela não vai nos achar. — comecei, guiando o carro. — E nós também podemos parar de aceitar trabalhos e sossegar de uma vez em um lugar... — Não! A última vez em que nós nos instalamos em um lugar foi para haver uma chacina. — seu tom era duro e firme. — Não vou correr esse risco, não de novo. E você não deveria cogitar essa idéia também.
— Nós poderíamos vencê—-la se removêssemos os selos que limitam nosso poder... — o comentário escapou de meus lábios antes que eu sequer pudesse raciocinar com clareza.
— Caralho, !— ela preguejou, dando um murro no painel do carro. — Não se lembra o que ela fez da última vez? Não lembra da imagem do seu filho morto nos seus braços?! Não se lembra de Damon sufocando no próprio sangue?!
— Me lembro, e lembro bem! — enfiei o pé no freio e ela quase socou a testa no painel. — E é exatamente por isso que eu estou dizendo isso, até quando vamos fugir? Até quando vamos temer por nossas vidas e pela vida de Danny? Ela nos amaldiçoou, pelo amor de Deus! Já pensou que podemos ser uma ameaça real para ela?
— Não vou discutir isso agora.
— Você nunca fala sobre isso. O que foi que Gabrielle fez pra você que te deixou com tanto medo? — insisti, vendo uma veia em sua tempora pulsar loucamente. — Acha que eu não percebi? Você sempre foi forte, uma guerreira e uma matadora. Gabrielle fez algo com você, ela quebrou alguma coisa em você.
— Ela assassinou nosso pai, matou seu único filho, nos amaldiçoou e nos caça como se fossemos dois animais.— trincou a mandíbula. — Ela precisa fazer mais? Precisar ser mais louca e psicótica que isso? Por favor, , vamos para casa. Já temos problemas o suficiente hoje além de Gabrielle.
Bufei e troquei o pé para o pedal do acelerador, mesmo que Gabrielle fosse um assunto delicado para nós duas, fugia daquele assunto mais do que o diabo foge da cruz. Ou como nós fugimos dela. Depois de quase uma eternidade fugindo, aquilo estava começando a se tornar exaustivo, ficar pulando de cidade em cidade, sempre atenta com quais feitiços usar para não deixa um rastro forte demais que fosse rastreável. Eu sabia que chegaria o momento em que aquilo se tornaria exaustivo, viver na estrada, não imaginei que levaria três séculos para isso acontecer.
Estacionei em uma das vagas em frente ao prédio e subimos em silêncio até o apartamento. Depois de nossa breve discussão nenhuma de nós duas sabia exatamente o que dizer, eu temia que se falasse alguma coisa outra discussão se iniciaria. Abri a porta da nossa atual casa e deixei que ela entrasse primeiro, já que o que ela provavelmente faria é se afogar numa garrafa de whisk até não conseguir parar em pé. Álcool era sempre sua consolação. Depois de homens.
Fechei a porta atrás de mim e olhei para as caixas espalhadas pela cozinha escura, pensando se valia a pena preparar um chá antes de ir para cama, ou uma bela dose de vodka para prevenir os pesadelos que eu sabia que viriam. Sim, talvez uma vodka tenha mais efeito que um chá.
POV Off
Blackburn POV On
Fechei a porta do quarto e tirei minhas botas, as jogando em qualquer lugar do cômodo escuro. Minha cabeça estava latejando e meus planos da noite eram ficar chapada de Vicodin e beber a garrafa de whisky da minha mesinha de cabeceira, até estar louca o suficiente para só conseguir cair e dormir.
Gabrielle era um assunto desgastante, e quanto mais eu pensava sobre ela, mais minha cabeça doía. Como se a infeliz estivesse enfiando agulhas em um boneco de voodoo meu, e eu não duvidaria que realmente estivesse. Tirei minhas roupas e girei o registro da banheira da suíte, sem me dar ao trabalho de acender as luzes. Não que uma bruxa realmente precisasse de luz para poder enxergar. Peguei a garrafa de Jack Daniels da minha cabeceira e um vidro lacrado de Vicodin. Sentei-me na água quente e abri o lacre da garrafa, bebendo um longo e revigorante gole do álcool.
Gabrielle Valerious nunca fora humana, e se tivesse alguma característica do tipo, duvido que fosse de muita influência. Se ela era capaz de assassinar o próprio marido e caçar as únicas filhas que tem, duvido que ela tenha alguma humanidade restante lá.
Meu celular vibrou e eu grunhi em descontentamento, pegando o aparelho da borda da banheira e lendo algo inesperado na tela:
DEREK HALE:
Franzi o cenho com o remetente da mensagem. Desde quando Derek Hale se preocupa se nos ferimos em alguma batalha? Bom, desde quando ele manda mensagens perguntando se não morremos?
Deixando as perguntas de lado, limpei a umidade da mão na toalha mais próxima e digitei uma resposta:
Apertei para enviar e bloqueei a tela, abaixando o aparelho outra vez. Talvez estivesse certa e Gabrielle realmente tivesse quebrado algo em mim. Ou talvez assistir meu pai, uma das únicas pessoas que eu amei no mundo, ser assassinado tivesse me quebrado. Andreas Valerious foi o homem mais gentil e carinhoso que eu tivera a oportunidade de conhecer, e ele também foi arrancado de mim bruscamente. Deus, eu realmente sentia saudades de meu pai.
Sai da banheira e enrolei-me em uma toalha felpuda, tentando revirar o fundo da minha memória para tentar me lembrar do maldito feitiço de rastreamento.
Me enfiei em um conjunto de moletom e fui para a cozinha, abri o gabinete da pia e peguei o baú de lá, peguei um pergaminho e o abri sobre a bancada. Procurei entre os pequenos frascos o que continha cinzas de salvia, já que era a madeira necessária para o feitiço. Despejei as cinzas sobre o pergaminho e comecei a entoar o feitiço, senti o formigamento costumeiro na minha palma quando o selo se formou, mesmo minha magia não estando 100% forte, aquilo serviria.
No momento em que toquei o pergaminho, a salvia começou a queimar e formar as runas do selo no papel. O feitiço consiste em marcar um selo em um rolo de pergaminho, junto de um objeto pessoal da pessoa que deseja ser encontrada, colocar sobre um mapa, então a localização é mostrada pelas cinzas.
Então apenas me sentei ali, encarando as runas negras no pergaminho, pensando em quanto minha vida teria sido pacífica e feliz se eu não tivesse nascido com magia. Como eu poderia ter sido livre. E foi com essas mesmas possibilidades me rondando que acabei adormecendo no sofá, na companhia de quem nunca me deixou: a velha e boa garrafa de whisk.
Noshiko Yukimura pegou a foto amarelada da mão de Scott, olhando para os rostos nela gravados com um misto de descrença e nostalgia.
— Se essa é você, então você teria que ter uns noventa anos. — Scott comentou.
— Mais próximo à novecentos. — Noshiko corrigiu, ganhando um olhar assustado de sua filha.
— Porque não, certo? Quantos anos você tem, pai?
— Quarenta e três — ele respondeu. — mas já me deram trinta.
Kira deixou escapar uma risada nervosa e ofereceu a espada embainhada para sua mãe, que pegou e tirou o punho da bainha, deixando os fragmentos da lâmina quebrada caírem pela superfície da mesa.
— A lâmina se quebrou na última vez que foi usada. — contou Noshiko.
— Quando foi isso?
— 1943, contra um nogitsune. — respondeu a mais velha.
— Tudo isso... — Scott interrompeu. — Já aconteceu antes não aconteceu?
Ken olhou para sua esposa, apreensivo com a resposta que esta daria ao alfa.
— Sim, Scott. — Noshiko concordou. — Já aconteceu.
— Aqueles que não se recordam do passado, estão fadados a repeti-lo. — Ken citou.
— E de onde foi que isso veio? — Kira virou-se para sua mãe, o cenho franzido em confusão.
— Estava em um campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. — a kitsune milenar começou a explicar. — Em Oak Creek, não é muito longe daqui.
— Mas você disse a Allison e Isaac que não havia nenhum campo em Oak Creek. — Scott se virou para o sr. Yukimura.
— A família da Allison tem um longo histórico de violência. — Ken se defendeu. — Eu não sabia se ela era confiável. Sim, houve um campo, mas todos os registros sobre ele foram apagados.
— Eles encobriram tudo.
Ken abriu uma das gavetas de sua mesa e tirou de lá um maço de fotos antigas e amareladas pelo tempo, colocando-as sobre a mesa. — Quando eu estava na faculdade, um projeto meu, na verdade mais como obsessão — ele mostrou uma foto, que relatava as monstruosidades feitas com as vítimas que eram confinadas lá. — era descobrir a verdade sobre o que aconteceu em Oak Creek. Foi também como conheci sua mãe.
Kira pegou uma das fotos da mesa, que mostrava um homem com profundas queimaduras em seu rosto, deitado em uma cama do que parecia uma enfermaria.
— De onde veio o nogitsune, então? — questionou a mais nova.
— Ainda não está claro? — Noshiko respondeu. — Veio de mim.
Um flash de luz do sol me cegou quando abri os olhos, minha cabeça pesou e eu senti como se ela fosse explodir. E como parecia haver feitiços para tudo, o único que me ajudaria eu não podia praticar.
Então algum milagre humano teria que me ajudar, e normalmente atende pelo nome de "aspirina", o relógio no meu pulso marcava que ainda eram oito e meia da manhã, e considerando o silêncio instalado na casa ainda não parecia ter acordado.
Troquei o moletom por um jeans escuro, uma camiseta qualquer da minha banda preferida e meus mais confortáveis coturnos, enfiei a carteira no bolso e sai em busca de uma farmácia. Desta vez caminhando, já que o ar fresco da manhã parecia me ajudar, nem que fosse um pouco.
Entrei na primeira CVS que encontrei e comprei algumas cartelas de aspirina. Desde aquela maldita visão que tive no banho tudo parecia fora de controle. Meu celular vibrou e eu peguei o aparelho do bolso, enquanto empurrava a porta de saída da farmácia.
—? Está ocupada? — a voz de Allison soou do outro lado da linha.
— Não, alguma coisa aconteceu? — perguntei atravessando a rua. — Acharam Stiles? Ou conseguiram alguma pista?
— Não, ainda não. — respondeu a caçadora. — Mas estamos indo atrás dele e toda ajuda é bem vinda.
— Sim, me diga onde te encontrar e eu já estou indo. — pedi, mascando dois comprimidos. — Levarei algo que pode nos ajudar, me arranje algo pessoal de Stiles para o feitiço.
Ela concordou e eu desliguei a chamada, pouco tempo depois recebendo a mensagem com o endereço, mandei para e também pedi para que ela levasse o pergaminho. Pela hora que cheguei no endereço, levando em consideração que a caminhada não fora muito curta, já estava me esperando do lado de fora. Como eu não estava cem por cento de bom humor para conversar com ela, apenas segui para o interior do prédio e ela me seguiu, também permanecendo em silêncio quando pegamos o elevador para o andar. As portas metálicas se abriram e eu segui pelo corredor até achar a porta correta e tocar a campainha.
— Uh. Olá, Christopher. — saudei com um sorriso amarelo quando a porta se abriu, o caçador me olhou sem expressão. — Está muito melhor desde a última vez que nos vimos.
— Allison nos chamou. — minha irmã completou.
Christopher permaneceu calado e apenas concedeu passagem para que entrássemos em sua casa. Ao que parece o garoto Argent continua nos detestando.
— Sigam-me. — ele pediu e nos guiou até outro cômodo da casa, um escritório. Allison, o Sheriff e Derek já estavam lá.
— Conseguiu o que eu pedi? — olhei para Allison, e me entregou o pergaminho. — Também preciso de um mapa.
— O que é isso? — Derek perguntou olhando para o pergaminho recém aberto sobre a mesa.
— É um selo mágico feito de cinzas de salvia, são runas de localização. — começou a explicar.
— Com um mapa e um objeto pessoal do desaparecido(a), nos mostrará onde essa pessoa está ou onde está indo. — completei, abrindo o mapa que Allison me ofereceu sobre o pergaminho.
O Sheriff se aproximou com uma foto em mãos e me entregou, era uma fotografia de Stiles criança, sentado junto de quem deduzi ser um Scott criança em um parquinho. Ambos com enormes sorrisos, alguns dentes faltando nas bocas... era uma bela foto.
— Vai servir sim, obrigado.
Coloquei a foto sobre o mapa, e minha palma por cima dela, deixei que meus olhos brilhassem e comecei a entoar o feitiço. Normalmente demoraria apenas alguns segundos para a localização ser revelada.
E o meu erro fora pensar que essa era uma ocasião como as outras.
— Deveria demorar tanto assim? — Derek perguntou para . Antes que ela pudesse responder o mapa começou a pretear, como se estivesse sendo queimado mas não havia chama alguma.
— Era para isso acontecer? — Allison me olhou com o cenho franzido.
— Não — observei até que o papel virasse cinzas por completo. — Mas é isso que se ganha quando tenta ultrapassar um trapaceiro, presumo eu. Ele está ocultado de qualquer feitiço que possa achá-lo.
— Então agora nossa única opção é que Derek consiga pegar o rastro do cheiro de Stiles na Eichen House. — disse Christopher. — E estarmos preparados para neutralizá-los quando acharmos.
— Mas vocês não fizeram tudo isso antes? — questionou. — E não acabaram em uma armadilha no hospital?
— Stiles está tentando fazer com que repitamos as mesmas jogadas. — Christopher completou por fim.
— E faremos o que? Esperamos até que ele simplesmente apareça?
— Não podemos, os onis vão atrás dele quando o Sol se por. — Derek lembrou.
— Scott e Kira estão lidando com essa parte. — Sheriff nos contou.
— Essa é a droga do problema. — suspirei exasperada. — Estamos tentando ser mais espertos que a raposa.
Um curto silêncio se instalou entre todos os presentes, já que estávamos tentando pensar no plano mais plausível e inesperado para conseguir encontrar Stiles.
— Vou entender se alguém quiser desistir. — Stilinski comentou.
Todo mundo permaneceu em silêncio por um minuto.
— Nós estamos, literalmente, sendo pagas para isso. — relembrou. — Não vamos desistir agora.
— E não será eu o primeiro lobo a correr de uma raposa. — Derek concordou, guardando uma pistola de tranquilizantes na bolsa.
— Sheriff e eu vamos ao hospital, e Derek ficam com Eichen House, e meu pai vão para a escola. — Allison distribuiu os lugares, e eu agradeci mentalmente por ela não ter mandado e eu para o mesmo lugar. — Nos encontramos todos lá, pode ser?
Allison saiu junto do Sheriff seguidos por mim, , Derek e Christopher. A outra bruxa me entregou a chave do Jeep, peguei a mala da mão de Derek e me armei de uma pistola de dardos, que parecia estúpido demais para enfrentar um nogitsune.
Nos separamos em três carros e seguimos todos para nossas respectivas direções. Girei a chave na ignição assim que Derek bateu a porta do passageiro.
— Por que não foi com sua irmã? — o lobisomem questionou.
— Digamos que minha relação com já viu dias melhores. — manobrei para fora da vaga e segui pela rua. — E ficarmos separadas agora vai ajudar os nervos a se acalmarem. Por que você não pediu para ir com outra pessoa? Sei bem que não é meu maior fã...
— Não te odeio, Olivia. — Derek me olhou, me fazendo desviar a atenção da rua para ele, brevemente. Queria eu não ter feito isso. Os olhos azuis olhando diretamente nos meus me causou um arrepio tão profundo que eu não sabia se ficava assustada ou desconfortável.
— Eu fui sincera quando disse que sinto muito por ter atirado em você. — cortei o silêncio que havia se instalado entre nós, por mais que não fosse o tipo desconfortável. — Eu posso matar por dinheiro, mas não machuco ninguém por esporte.
— E eu não estava mentindo quando disse que estávamos quites. — aquela era a primeira vez que a ficha parecia ter finalmente caido: Ele havia salvado minha vida, havia empedido que eu ficasse no coma místico caso o Processo de Sangue desse errado. — Vamos apenas deixar isso no passado, onde pertence.
Antes que eu abrisse a boca para responder, o celular dele começou a tocar, Derek atendeu e ativou o vivo a voz.
— Vão para a casa do Sheriff agora! Stiles está lá! — Allison soou afobada do outro lado da linha, enfiei o pé tão fundo no freio que o carro brecou.
— Estamos a caminho. — Derek respondeu e finalizou a chamada.
Girei o volante para a direita e troquei de via na rua, acelerando tanto que provavelmente iria receber uma montanha de multas por excesso de velocidade. Não que isso realmente importasse no momento. Chegamos juntos de Allison e Sheriff na rua, basicamente pulei para fora do carro e tirei a pistola do coldre.
— Tem certeza que ele está aí dentro? — Derek perguntou.
— Eu tenho câmeras pela casa inteira, alguém invadiu e era ele. — o Sheriff respondeu, seguindo cautelosamente para a entrada da casa.
— Cuidado, precisamos ter o máximo de cautela com essa coisa. — destravei a arma, seguindo o Sheriff de perto.
A casa estava vazia, isso sim. Pelo tempo que chegamos lá ele já havia fugido, deixando para trás apenas um rastro macabro de um poder mais obscuro do que todas as magias negras que eu já havia conhecido com todas aquelas décadas de vida.
— Fugiu? Ele fugiu?— apareceu no arco da porta do quarto de Stiles, ofegando pela corrida, Christopher apareceu logo depois.
— Na hora que chegamos ele não estava mais aqui. — Allison contou, olhando tempo demais para um tabuleiro de xadrez. — Sheriff, para que são essas notas?
— Ah! É como Stiles me explicou sobre voc... — ele parou no meio da frase, franzindo o cenho. — Isso é novo.
Stilinski apontou para as duas peças do cavalo, me aproximei mais para ver sobre o que ele estava falando até que li os nomes nos papéis: e .
— O nome de vocês não estava aí antes. — ele explicou.
— Talvez seja uma mensagem do Stiles, do verdadeiro. — Allison sugeriu.
— Você saberia o motivo do meu nome estar no rei? — Derek perguntou com uma sobrancelha arqueada, peguei um peão que estava caído para fora do tabuleiro e o nome nele não me surpreendeu. Isaac.
— Você estava bem protegido, mas creio que o detalhe alarmante é que você está há um movimento de levar o xeque mate. — Stilinski respondeu.
— Isso não é uma mensagem do Stiles. — engoliu em seco antes de completar sua frase. — É uma ameaça do nogtisune.
— Ele está no loft, é isso que está querendo nos dizer. — Allison completou. — E quer nos atrair para lá.
— E a noite está chegando.
— É claramente uma armadilha. — Christopher apontou o óbvio.
— Não acho que seja. — Stilinski discordou.
— Sua opinião pode estar um pouco equivocada, Sheriff. — comentei.
— Só escutem. Estamos lidando com alguém que tem falta de motivo. Sem razão, certo? — ele continuou.
— E...?
— Nosso inimigo não é um assassino. É um trapaceiro. A matança é apenas resultado. — Sheriff continuou a explicação do seu ponto de vista.
— Se o que você está querendo dizer é que não vai nos matar, eu não confio muito nessa idéia. — Derek comentou, cruzando os braços sobre o peito.
— Por que não? Ele quer ironia. Pregar uma peça, quer uma piada. — agora eu estava entendendo aonde ele queria chegar. — E tudo que precisamos fazer é lhe dar uma boa o bastante.
— O sol está se pondo...
— O que você tem em mente, Sheriff? — indagou o Argent mais velho.
E parece que agora estamos todos indo direto em direção ao encontro do inimigo. Como se ele não fosse perigoso o sufiente estando longe. E o que me assusta mais, é que talvez devêssemos começar a considerar a possibilidade de acabar com Stiles.
De uma vez.
Capítulo 14
Blackburn POV On
Arrependimento. Era o que eu estava sentindo.
Arrependimento por ter trazido aquele maldito assunto sobre Gabrielle à tona apenas para fazer com que não olhasse na minha cara o dia todo.
Chegamos no prédio do loft de Derek, do qual não havia muito tempo que tínhamos saído. E só de pensar em ter que enfrentar aquela coisa, principalmente depois da visão que tive no hospital, eu preferia voltar a ter verbena no corpo. Igualmente letais. O pior é que não estamos aqui nem para pará-los e sim para protegê-los dos Oni.
Deus, como eu queria ter ficado em Manhattan.
— Scott está vindo? — perguntei, empurrando a porta e segurando para o resto do pessoal, Allison concordou com a cabeça.
Stilinski entrou primeiro no loft, para ao menos tentar de algum modo alcançar o Stiles que ele conhecia. O que obviamente não correu muito certo já que Stiles estava perdido dentro do nogitsune, e não era nem um pouco necessário ser uma bruxa para saber disso, e quando ele estava prestes a se ferrar lindamente o restante de nós entrou em cena para seu auxílio. Allison tentou usar um Taser na coisa, apenas para Stiles agarrar os pinos e o choque não surtir efeito algum. Derek tentou logo em seguida, apenas para ser lindamente nocauteado.
Click .
Christopher sacou a arma tão rápido que eu mal tive tempo para piscar. Ele trouxe uma pistola de verdade, e por "de verdade" quero dizer do tipo que mata, que todos haviam estritamente concordado em não usar. E estava apontando para o meio da testa de Stiles.
— Merda. — ouvi praguejar baixinho.
— Argent, não faça isso... — Sheriff pediu.
— Por que não? Já fiz antes com lobisomens, berserkers, posso muito bem adicionar um nogitsune para a lista. — Chris respondeu firmemente sem abaixar a arma.
E com essa frase o Stilinski mais velho, levantou a sua própria arma para a cabeça de Christopher, a face impassível do nogitsune mudou para uma de quase divertimento.
— Você não vai atirar no meu filho.
— Você mesmo disse, Sheriff. — Christopher discordou. — Esse não é o seu filho.
— Abaixe. A. Arma.
— Pai, ele vai atirar em mim. — a voz de Stiles agora estava coberta de medo e um falso desespero. Bastava olhar em seus olhos para ver que aquele estava longe de ser Stiles. — Ele vai me matar, pai!
— Não dê ouvidos, Sheriff. — se intrometeu. — Esse não é o Stiles, e você sabe que não.
— Abaixa a arma!
Os três começaram a berrar, Sheriff mandando Christopher abaixar a arma, o Nogitsune mandando Christopher atirar e Allison chamando pelo pai. Deus, estou me sentindo na porra de uma sala de aula do maternal.
— Calem a boca todos vocês! — berrei, de algum modo fazendo minha voz soar mais alto que as do restante. — Não vêem que é exatamente isso que ele quer?
— Não exatamente. — a Coisa virou para mim. — Eu meio que estava esperando que Scott estivesse aqui. Mas estou contente que estão todos com suas armas em mãos, porque vocês não estão aqui para me matar...
Então, foi quando percebi que o sol não estava mais baixo no céu, e que as estrelas estavam começando a pintar o céu azul cobalto.
— Estão aqui para me proteger.
Antes que ele terminasse a sentença, as sombras pareciam começar a se solidificar, e os Oni a se formar. O nogitsune foi para trás de Christopher e do Sheriff, eu me posicionei ao lado dos dois, sacando o facão de prata que havia escondido em minhas costas. Os dois atiraram e conseguiram acertar dois Onis que apenas se teletransportaram para trás de nós, apenas para ficarem contra Derek, Allison e . Vai dar merda, eu tenho certeza que vai dar merda.
Barrei a espada de um Oni com o lado plano do facão, impedindo que meu braço direito fosse quase cortado fora. Enquanto Christopher e Stilinski tentavam acabar com o outro, o Oni com o qual eu estava lutando, parecia bem engajado na tentativa de me matar.
Escutei o estalo de um chicote e com a visão periférica consegui ver lutando com um Oni usando um chicote espectral. Usei o pilar a minha esquerda como apoio para dar um salto e acertar um chute na máscara do Oni, o efeito não fora muito grande, mas ao menos o fizera recuar o suficiente para que eu me recuperasse, e conjurasse um selo de força para equilibrar melhor a luta que estava mais que desvantajosa para o meu lado. No momento em que ouvi Derek berrar de dor, os cinco desapareceram. Literalmente desapareceram no ar, levando Stiles junto deles.
— ? Você está bem? — me olhou, o chicote desaparecendo em sua mão.
— Estou bem, estou bem.
Ela não estava ferida, parecia apenas cansada. Derek era o único que estava no chão, um talho enorme em seu ombro, provavelmente feito pelas espadas. Sangrava fortemente tornando sua camiseta branca, vermelha. Christopher e Stilinski apontaram suas armas para porta, enquanto tentava ajudar Derek, apenas para abaixá-las quando Scott e Kira apareceram.
— O que aconteceu? — ele questionou. — Onde ele está?
— Eles desapareceram. — Allison respondeu.
— E o Stiles também.
Meus olhos foram de Scott e Kira para e Derek, ela estava tentando estancar o sangramento da ferida do lobisomem com mais cuidado e preocupação do que eu imaginei que teria, e aquilo não era comum dela considerando que minha irmã não era a maior fã de lobisomens.
— Você está bem? — não havia notado a presença do alfa ao meu lado até ouvir sua voz. —?
— Sim, estou. Os Oni não conseguiram me ferir. — concordei com a cabeça. — Sinto muito que tenhamos perdido Stiles, Scott, sinto mesmo.
— Está tudo bem, vamos achá-lo de novo. — ele me deu um meio sorriso e eu senti o olhar de alguém queimar nas minhas costas, não precisei ver quem era para saber que era Kira. — Fico feliz que não tenha se ferido, de verdade.
— Estava preocupado comigo, McCall? — brinquei, tentando aliviar o clima pesado.
— É, talvez eu esteja preocupado com você, Blackburn. — ele respondeu no mesmo tom, não se importando em admitir.
A escada velha e pútrida rangeu sob seus pés, o ar rançoso estava impregnado com o cheiro e mofo. Era possível ver claramente as partículas de poeira dançando no ar. Noshiko viu, com lágrima nos olhos, o cadáver enfiado dentro da parede oca, os pedaços de madeira e gesso quebrados espalhados pelo chão. A carcaça apodrecida e empoeirada parecia longe do belo soldado que ela amara a quase uma década atrás. Porque não era, Rhys estava morto. Morto por sua causa.
Kitsune se abaixou próxima aos poucos destroços espalhados no chão, seus olhos focaram na marca que parecia ter sido feita por garras, a mulher juntou os pedaços com a sobrancelha franzida em confusão, vendo o mesmo kanji dos onis.
— Porque esse kanji? Porque "si mesmo"? — a voz de Stiles Stilinski se fez ouvir, ou melhor: a voz do nogitsune.
— Para representar que ele morreu, ele mesmo. — Noshiko se pôs em pé, seu último kaiken* em sua mão. — Porque Rhys nunca foi um monstro, diferente de você.
O arrependimento estava estampado nos olhos da mulher. Sua vingança não valia toda aquela dor e desgraça, Rhys não iria querer que todas aquelas atrocidades fossem cometidas em seu nome. Apenas não valia a pena.
— Se eu sou um monstro, por que chamou os Oni de volta? — ele se aproximava lentamente. — O que aconteceu a mulher que implorou por caos, dor e sofrimento?
— Eu não quero mais isso. — sua voz era firme. — Não quero.
— Pois eu quero.
O nogitsune agarrou Noshiko pela mão que segurava o kaiken, a força da criatura sendo maior do que a kitsune esperava.
— Trouxe isso aqui achando que poderia esconder de mim? — ele tomou a faca facilmente da mão da mulher. — Péssima idéia.
Noshiko esperou que ele a atacasse, mas não. A criatura cravou o kaiken na própria barriga, abrindo uma ferida que quase ia de uma lateral para a outra.
— O que foi que você fez? — indagou Yukimura, chocada.
Stiles não a respondeu, apenas cambaleou para trás, as mãos na ferida sangrenta, o garoto caiu de joelhos parecendo mais pálido ainda.
— Caos está chegando novamente. — foi a única coisa que o nogitsune murmurou, antes que um enxame de vagalumes começasse a sair da ferida em sua barriga.
Não era muito longe da madrugada quando chegamos na casa, e por casa me refiro a residência dos McCall, já que na calçada do loft eu acabara por contar a Scott sobre a briga que tivera com e como ela não olhava para mim desde então, e quando o fazia era para me lançar olhares de desgosto e raiva, e ele ofereceu sua casa caso eu quisesse passar um tempinho longe de minha adorável e raivosa irmã.
— Sua mãe não vai ficar brava? — perguntei enquanto ele guiava o caminho escada acima. — Não quero causar problemas.
— Dona Melissa está de plantão, e ela não vai achar ruim de eu oferecer abrigo para alguém que está precisando. — ele deu de ombros e segurou a porta para que eu entrasse. — Ela não vai se importar, pode ficar tranquila.
Subimos as escadas para o segundo andar e ele entrou no que presumi ser seu quarto, eu permaneci parada na porta.
— Posso te emprestar uma camiseta se quiser... — ele ofereceu.
— Vou aceitar, jeans e jaqueta de couro não são exatamente meu pijama preferido. — brinquei e ele riu, abrindo uma das gavetas e pegando uma camiseta vermelha escuro. — A única longa o suficiente para ser usada como camisola, o banheiro é ali.
— Obrigado. — peguei a camiseta e fui até o banheiro da suíte. Tranquei a porta atrás de mim e me olhei no espelho sobre a pia, vendo minha face pálida e marcada por olheiras. Suspirei cansada e tirei a jaqueta e o par de botas, seguidos da camiseta e do jeans, dobrei tudo e deixei sobre o gabinete. Vesti a camiseta que por sorte chegou até o meio de minhas coxas. Talvez eu ainda tenha um pouquinho de sorte no fundo do pote.
Abri a porta e sai para o quarto, e tão rápido quanto Scott olhou para as minhas pernas descobertas, ele desviou o olhar.
— Pode ficar com a cama, eu fico com a poltrona. — ofereceu ele, parecendo um tanto constrangido.
— Está com medo de dividir a cama comigo? — debochei rindo, enquanto me sentei do lado esquerdo da cama. — Não é como se eu fosse te agarrar no meio da madrugada nem nada...
Ele corou, o que foi difícil de perceber sob a pele bronzeada. Depois soltou uma gargalhada espontânea, que não me parecia nada do tipo constrangida.
— Não estou com medo de dividir a cama com uma garota, . — ele afirmou, eu me deitei e olhei para ele com uma sobrancelha arqueada.
— Você quis dizer com uma bruxa milenar imortal. — corrigi com um sorriso presunçoso no rosto.
Aceitando o desafio ele levantou da cadeira e se deitou no lado vago da cama.
— Viu? Não mordo nem nada. — na posição em que nós dois estávamos, eu podia ver até o comprimento de seus cílios. — E nem sou eu quem tem presas e garras.
As suaves risadas foram silenciando aos poucos, e pela primeira vez em um longo período de tempo eu me sentia segura, mesmo não tendo um revólver enfiado debaixo do meu travesseiro. Me sentia leve e até ousaria dizer que feliz. E foi com essa sensação se segurança e os olhos cor de mel de Scott McCall, que adormeci facilmente.
Acordei com um sobressalto, assustada com as altas batidas na porta do primeiro andar, Scott ainda dormia pesadamente, sem ser incomodado pela barulheira.
— Scott! Scott! — chamei, cachoalhando o garoto. — McCall!
— Hmm, o quê? — ele resmungou sonolento.
— Tem alguém na porta. — bocejei coçando os olhos. — alguém bem apressado.
Agora parecendo ter se tocado das batidas incessantes na porta, ele levantou num salto, pulando para fora da cama. Eu me levantei logo atrás, parei na metade dos degraus esperando que ele abrisse a porta. E quando abriu eu quase cai sentada, Lydia estava parada na soleira junto de Aiden, e este carregava um Stiles desacordado e coberto de sangue.
— O que foi que aconteceu? — perguntei descendo os últimos degraus enquanto Lydia e Aiden entravam.
— Coloque-o no sofá. — mandou Scott e Aiden obedeceu.
— Nós encontramos ele desmaiado em um estacionamento, bom, Lydia o encontrou. — Aiden explicou.
Me abaixei ao lado da figura descordada e toquei sua testa, a luz arroxeada irradiou da minha palma e pude sentir a energia vital dele estável.
— Ele vai viver, a energia vital está estável. — me levantei. — Mas é melhor ligar para o druída, da última vez ele que conseguiu um modo de nautralizar a Coisa. Sua mãe tem um kit de primeiro socorros?
— Sim, ela tem.
— Vamos precisar dele também, eu vou por umas roupas e já volto para limpar essa ferida. — Scott concordou com a cabeça e eu subi as escadas outra vez, dessa vez para vestir minhas roupas, o que fiz em tempo recorde por sinal. Desci outra vez, agora discando o número de , se fosse necessário um feitiço muito forte era preferível que fizéssemos juntas.
A ligação caiu na caixa postal.
— , eu sei que a última pessoa que você quer ver agora sou eu. Mas achamos Stiles, e estou com um pressentimento de que vou precisar de você. Venha o mais rápido possível para a casa do Scott.
— Deaton está a caminho, essa ferida não deveria ser fechada? — Lydia respondeu e me entregou a maleta de primeiros socorros.
— Dar pontos em ferimentos é a especialidade de , vou limpar e prevenir que pegue uma infecção até que Deaton chegue aqui. — abri a maleta e peguei uma bolota de algodão e molhei com álcool, limpando delicadamente a ferida enorme.
— Os Oni fizeram isso? — Aiden perguntou, as sobrancelhas unidas em confusão.
— Não tenho certeza, mas me parece raso demais para ter sido feito por uma espada...
Limpei o ferimento devidamente para esperar até que Deaton chegasse para dar o devido tratamento que era requerido para aquele rasgo.
Só espero que ele não chegue tarde demais.
POV Off
Blackburn POV On
Acordei com o sol queimando meu rosto, minha cabeça estava dolorida pela falta necessária de sono e dormir no sofá não era muito indicado. Me arrastei para a cozinha e coloquei a cafeteira para trabalhar, pesquei meu celular do amontoado de roupas e chequei o histórico de chamadas. Havia um recado de :
, eu sei que a última pessoa que você quer ver agora sou eu. Mas achamos Stiles, e estou com um pressentimento de que vou precisar de você. Venha o mais rápido possível para a casa do Scott.
Merda!
Bufei e desliguei a cafeteira, comecei a vestir outra vez o jeans que estava jogado no meio da sala e fui para o quarto que estava ocupando. Vesti a primeira camiseta que achei no meio das malas e peguei apenas uma pistola com balas de prata, enfiei o celular no bolso e peguei as chaves do Jeep. Girei a maçaneta apenas para dar de cara com Derek parado na soleira da minha entrada.
— Caralho, Hale! Quase me deu um treco! — levei a mão ao peito, ofegando com o susto.
— Preciso falar com você, é importante. — respondeu ele, passando por mim e entrando no apartamento.
— Seja breve, porque estou atrasada para ir ao resgate de minha irmã. — pedi fechando a porta novamente. — Aconteceu alguma coisa? Você está bem?
Ele não me respondeu, apenas tirou uma pequena caixinha de dentro da mochila e eu pude ver claramente o triskelion esculpido na tampa. As garras de Talia. Hale despejou as garras sobre a mesa e não me olhou por nenhum momento.
— Sabe o que são?
— São as garras de Talia. — respondi, havia as usado para recuperar a memória sobre a criança de Peter. — O que tem elas?
— São a única coisa que restou dela... — olhei para ele por um momento, havia algo errado. — É verdade? O que descobri? que vocês os ajudaram a queimar minha família inteira?!
— O quê? Não! Isso é mentira. Sim, nós costumávamos ser associadas dos Argents mas não depois daquela noite. — expliquei. — Eu jamais compactuaria com a loucura da Kate. Jamais.
— Acho difícil de acreditar. Na primeira vez que nos encontrarmos você quase me matou sem nem pensar duas vezes. — agora ele começou a avançar na minha direção, com um olhar psicótico que não estava me agradando. — Por que não os mataria?
Recuei três passos para trás, isso não vai acabar bem...
— Quem você acha que tirou Cora e Peter do meio das chamas? — arqueei uma sobrancelha, arregacei a manga esquerda da blusa até o ombro, mostrando a cicatriz de queimadura que eu levava desde aquele dia. — Eu tirei, queria ter conseguido salvar mais pessoas, todos eles. Mas consegui tirar apenas Cora sem me matar junto, eu não ajudei a matar sua família.
— Uma pena que eu não acredito em você. — que caralhos aconteceu com ele? — E sabe o que me irrita mais ainda? Que você permitiu que eu começasse a me importar com você!
— Não quero te machucar, Derek, não me obrigue a fazê-lo. — recuei mais três passos. — Então se afasta, porra!
— Quando eu acabar com você, vai implorar pela morte.
A chama homicida em seus olhos não era dele. Havia algo errado. O primeiro murro me acertou na boca do estômago antes que eu pudesse desviar ou segurar, mas ainda não era o suficiente para me derrubar, segurei a mão do lobisomem e a puxei para trás de suas costas num movimento ágil para imobilizá-lo. E tão facilmente quanto eu o prendi, Derek me acertou uma cabeçada no nariz que me fez cambalear para trás, tocando o sangue que jorrou pelo meu rosto. Barrei o segundo murro com o braço e acertei um chute em seu peito, apenas para afastar.
— Pare! Não quero perder a paciência com você, garoto! — a alteração no meu tom de voz foi incontrolável. Havia um sorriso maníaco em seus lábios que só comprovou a idéia de que aquele não era ele. Tentei desviar do tapa mas não havia me sobrado espaço o suficiente, meu ombro queimou no lugar onde as garras haviam rasgado. Aparentemente ele estava mesmo querendo me matar. Usei a parede como apoio para dar uma chave de pescoço com a perna nele, mas considerando a diferença de forças entre nós houve apenas a oportunidade de ele me jogar sobre a mesinha de centro. E foi o que aconteceu. O vidro se estilhaçou sob o meu peso e senti os cacos fincarem por vários lugares da minha pele. Estou começando a perder a paciência. Acertei uma rasteira e ele caiu encima do sofá, me dando tempo o suficiente para me recompor.
Cada centímetro das minhas costas ardiam, e podia sentir claramente os cacos pontiagudos perfurando a pele. Pense antes de atacar, , você tem o dobro de técnica e experiência que ele, pense e vai ganhar fácil essa luta. Hale se levantou, dessa vez totalmente transformado em lobisomem o que só reforçou o quão ferrada eu estava. Deixei que ele se aproximasse intencionalmente, bolando o melhor jeito de tê-lo perfeitamente desacordado, talvez uma porrada com a cabeça no mármore da cozinha faça o serviço por si só...
Me abaixei rapidamente para desviar de um soco, agarrei a gola de sua camiseta e usei o peso dele para girar nós dois para a esquerda, na direção da bancada da cozinha. O que teria funcionado se ele também não tivesse me agarrado pelo pescoço, fazendo-me ir de encontro com a parede mais próxima. Tá, agora acabou a palhaçada.
Saquei a arma que estava no coldre das minhas costelas, tentando não morrer esganada, murmurei um feitiço de força e acertei um chute com os dois pés em seu peito, que ainda não fora forte o suficiente para quebrar alguma coisa. O lobisomem caiu sobre o sofá e eu cai sentada no chão tentando recobrar o fôlego que me faltava. Ouvi o rosnado e levantei a cabeça apenas para vê-lo em pé outra vez e vindo na minha direção.
— Ah, quer saber? — destravei a arma e atirei em seu joelho. — Foda-se.
Derek caiu sobre o joelho não ferido, com sangue escorrendo de sua boca e nariz. Tá, eu não atirei tão alto assim para fazê-lo cair desmaiado tão facil, limpei o sangue da minha boca e toquei a área dolorida no meu olho esquerdo.
Droga, vai acabar ficando roxo.
— Dere...? — engasguei e tossi, sentindo minha garganta mais seca que a porra do Saara.
Me apoiei na parede e fiquei em pé, cambaleei até a figura descordada do lobisomem e me ajoelhei ao seu lado, toquei sua testa e a luz azulada irradiou da palma da minha mão, a energia vital dele estava estável. Fraca, mas estável.
— Pelo menos morto você não está. — resmunguei e puxei um caco de vidro que estava cravado no meu braço. Eu adorava essa blusa, droga. — Mas o que foi que aconteceu com você?
POV Off
Blackburn POV On
Não demorou muito para que Deaton chegasse, considerando a importância vital do assunto. E ainda não deu as caras, o fato dela não ter atendido o celular cedo não me surpreendeu, a maluca deveria estar apenas dormindo. Mas essa demora toda não era normal, alguma coisa havia acontecido. É a única possibilidade considerando que é de que estamos falando.
— Precisamos contê-lo antes que ele acorde. — comentei do meu lugar na poltrona da lateral da sala.
— Eu tenho algo que possa ser útil. — Deaton fuçou dentro de sua maleta até pegar um vidro de conta-gotas com um líquido transparente. — Veneno de Kanima.
Scott segurou os braços do nogitsune e Aiden abriu sua boca, Deaton encheu o conta-gotas de veneno e despejou na boca da criatura. Invés de ficar paralisado, ele agarrou Aiden pelo pescoço, começando a sufocá-lo, levantei da cadeira num pulo.
— Me solta! — Aiden grasnou, tentando respirar.
Acho que nunca conjurei um selo de força sobre-humana em toda a minha vida tão rápido quanto agora, segurei a mão do nogitsune com força o suficiente para que se fosse um humano comum os ossos quebrassem no primeiro aperto.
— Uh, veneno de Kanima. — seu braço caiu imóvel ao lado do corpo. — Boa escolha.
Chacoalhei o braço e o selo se desfez, Aiden rosnou, as presas se sobressaindo entre os lábios.
— Sabe quando dizem que um gêmeo sabe quando o outro está com dor? Não perdeu essa habilidade, também, perdeu? — Stiles provocou. — Ohh, espero que não porque você vai precisar. Okay, vou te dar uma pequena dica: Ethan está na escola.
Aiden e Scott trocaram olhares nervosos até que o alfa mandou que ele fosse ao auxílio de seu irmão. O nogitsune tombou a cabeça para trás observando enquanto Aiden corria para fora da casa.
— Espero que ele chegue lá a tempo. Eu gosto dos gêmeos. — a ironia transbordava de seu tom de voz. — Pavio curto, instintos homicidas. Bem parecidos com você e não, Valerious?
— Quer calar a boca ou quer que eu cale por você?
— De qualquer modo, eles são mais divertidos que vocês bakemono* tentando salvar o mundo todo dia. — ele continuou. Então a visão no hospital não fora nenhuma alucinação maluca.
— Ninguém aí tem silver tape para calar a boca desse infeliz antes que eu arrebente todos os dentes que ele tem? — Deaton atendeu meu pedido e paçou um pedaço de fita na boca dele.
Nos afastamos todos da sala indo para a cozinha, Melissa havia chegado não fazia nem cinco minutos e havia se prontificado para dar os devidos cuidados para a ferida de Stiles.
— Quanto tempo ainda temos? — Scott questionou.
— Queria poder te responder, mas se não pensarmos em algo logo vamos precisar de um lugar mais seguro para mantê-lo. — Deaton respondeu. — Porque estamos subestimando o perigo aqui, ele pode estar paralisado mas ainda tenho a sensação que ele nos tem bem na palma da mão.
— Eu posso ter uma opção, mas apenas para quando realmente não houver opção alguma. — lembrei de como era feito o Círculo da Perdição. — É perigoso, então se alguém tiver alguma outra opção seria bem útil.
— O pergaminho disse que era para mudar o hospedeiro. — Lydia relembrou.
— Isso se eu tiver traduzido corretamente. — o druida rebateu. — Estamos procurando uma cura em algo que pode ser apenas um provérbio ou uma metáfora.
— E se ele não quiser? — Scott saiu em defesa do melhor amigo, ou do que restara dele. — Ele nunca me pediu para ser um lobisomem.
— E se salvar a vida dele?!
— Eu nunca fiz isso antes, e se ao mordê-lo acabar atingindo uma artéria? — o alfa ponderou, já que realmente era um risco possível.
— Às horas estão passando, e quando aquele veneno acabar vamos querer ter feito alguma coisa. — olhei para Stiles deitado no sofá, e ele olhou diretamente de volta.
— Vou tentar ligar para o Derek outra vez. — Scott puxou o celular do bolso.
— Talvez devêssemos tentar ligar para outra pessoa. — Martin ofereceu e eu sabia bem a quem ela se referia.
Revirei os olhos e bufei.
— Estamos mesmo ferrados a ponto de pedir ajuda para o traste do Peter? — arqueei uma sobrancelha.
E foi exatamente o que fizeram. Ótimo. Agora como se não bastasse termos de aturar os comentários cínicos e irônicos da Coisa, agora também vamos pedir ajuda para a pessoa mais egocêntrica que já pisou na terra.
Me afastei um pouco do grupo e disquei o número de outra vez e esperei que a chamada chamasse umas cinco vezes de novo, apenas para cair na caixa postal.
— Aqui é , não posso atender porque devo estar dormindo ou bêbada. Deixe sua mensagem e eu vou retornar assim que eu quiser. — a mensagem pré gravada foi reproduzida.
— Aconteceu alguma coisa? Você está bem, ? — perguntei preocupada. — Me ligue assim que puder, estou preocupada.
Foi quando a possibilidade me ocorreu, desliguei a chamada e enfiei o celular no bolso. Puxei a fita da boca de Stiles, o que provavelmente deve ter doido para um senhor caralho.
— Ela não está atendendo, está? — o sorriso zombeteiro não deixou seu rosto por nenhum minuto.
— O que você fez com ela? — Stiles apenas gargalhou em resposta, a raiva borbulhou no meu peito e eu enfiei o dedo na ferida recém tratada. — RESPONDA!
— Ela está viva, bom, não pode realmente morrer, pode? — ele ironizou.
— Scott! Vou precisar da sua moto emprestada. — chamei, voltei a fita na boca do nogitsune e me virei para o alfa. — Ele fez algo com , preciso ver se ela está bem.
— Aqui, me ligue assim que chegar lá. — McCall me entregou a chave da moto. — Tome cuidado.
Fiz que sim com a cabeça e peguei a chave de sua mão, vesti minha jaqueta e peguei o capacete ao lado da porta. Abri a porta apenas para dar de cara com Peter Hale.
— Onde você está indo? — ele franziu a sobrancelha na minha direção.
— Sai da minha frente, Peter, que eu tenho mais o que fazer. Aquela coisa fez alguma coisa com .— pedi mas ele não se moveu. — então se você se importa nem que seja um pouco com ela, sai da minha frente por que se eu fizer você sair não vai ser bonito!
— Pelo amor de Deus, ! sabe bem se cuidar sozinha, e nem aquele nogitsune conseguiria derrubá-la. — Hale revirou os olhos. — E se vamos fazer o que estou pensando, não vai ser a mim que o garoto vai canalizar.
— Ah mas você só pode estar de brincadeira com a minha cara! — grunhi em irritação e voltei o capacete no lugar. — E tá te faltando quantos parafusos na cabeça? O garoto não parece que sobreviveria nem a um tapa!
Peter passou por mim e entrou na casa de Scott, o lobisomem rodeou o nogitsune quase que estatelado no sofá.
— É, realmente parece que ele vai morrer só com um tapa, quem dirá uma mordida de lobisomem. — Peter concordou com as minhas palavras.
— Então não funcionaria? — Scott se aproximou.
— É mais uma guerra da mente que do corpo. — cruzei os braços sobre o peito e me encostei na parede.
— E há melhores métodos para vencê-la. — Peter acrescentou.
— Quais métodos?
— Vamos entrar na cabeça dele. — Peter esclareceu, quase sorrindo.
— Nós temos um plano? — Deatom perguntou.
— Scott vai entrar na mente do pálido e doentio Stiles malvado. — Hale respondeu. — Para trazer de volta o pálido e doente Stiles verdadeiro. E guiá-lo de volta das profundezas de seu subconsciente.
Uma pausa se seguiu, quase como se o imbecil estivesse querendo fazer suspense.
— Mas não vai sozinho. — Peter finalizou.
— Como assim?
— Alguém precisa ir com você. — ele olhou para Lydia. — E vai precisar canalizar alguém, e é aí que entra.
Scott se posicionou atrás do sofá e Lydia sentou-se ao lado do nogitsune, Peter posicionou as garras de Scott na nuca dos dois outros adolescentes corretamente e eu fiquei em pé atrás do alfa.
— Como essa coisa de canalizar funciona realmente? — ele perguntou outra vez.
— Eu basicamente vou emprestar minha energia para você, que vai potencializar o seu poder. — expliquei. — Mas como não vamos poder fazer um elo de sangue, o método vai ser um pouquinho mais dolorido: Vou ter que usar um selo de transferência.
— Doer como...? — ele me olhou brevemente.
— A sensação vai ser como se um ferro quente estivesse tostando sua pele, vai ficar uma cicatriz por alguns dias mas depois vai curar. — continuei a explicação. — E vai te dar mais clareza para não se perder dentro da cabeça dele.
Cortei o meu polegar esquerdo e desenhei as runas na minha palma direita, a energia fluiu para meu braço e o espectro foi passando de névoa colorida para formas quase que sólidas.
— Pronto? — ele fez que sim com a cabeça e esperei que Peter posicionasse as garras na nuca de Lydia.
— Tente lhe devolver controle de sua mente e de seu corpo. — Peter comentou. — Guiá-lo de volta, de algum modo.
— Poderia elaborar o "de algum modo" ? — Lydia pediu. — Não está parecendo muito específico no momento...
Considerando o que podia acontecer se aquilo desse errado, eu podia entender e dar razão para a apreensão da banshee.
— Improvise. — Peter quase deu de ombros.
— E se for apenas outro truque? — outra pergunta com razão.
— Quando vocês vão começar a confiar em mim? — a pergunta retórica de Peter saiu carregando certo humor.
— Não de você, idiota. — revirei os olhos e apontei para Stiles com a cabeça. — Dele.
— Estamos ficando sem tempo. — Deaton lembrou.
Expandi o círculo e acertei um leve soco nas costas de Scott, ele grunhiu de dor quando o selo queimou em sua pele mas enfiou as garras na nuca dos outros dois. Sentia meus olhos brilhando, com aquele formigamento costumeiro que quase pareciam cócegas.
Quando se faz uso desse selo, é como se entrasse num loop onde tudo é mais lento e embaçado, a sensação é de que meu cérebro estivesse usando metade da velocidade habitual para processar o que acontecia ao meu redor.
Vai ser um longo dia.
Meia hora depois...
A única coisa que eu sentia era exaustão, podia ver apenas as sombras das pessoas ao nosso redor, se movendo como vultos fantasmagóricos. Fui puxada para fora do loop quase como se um tapa tivesse me acertado, cai quase sentada no chão mas me segurei no aparador a tempo.
— Funcionou? — Scott indagou, ofegando.
— O que aconteceu? — Lydia limpou o sangue do nariz. — Porque não funcionou?
— Porque não é uma ciência exata, é sobrenatural. — Peter comentou. — A minha parte eu fiz.
Stiles acordou num pulo e puxou a fita de sua boca, começou a vomitar ataduras. Sim, você leu direito. Quando uma parte do chão já estava coberto pelas ataduras uma mão saiu do meio, do resto e a criatura da minha visão começou a sair da poça de nevoa negra. Puxei os outros três mortais para trás de mim a tempo de defender caso a coisa avançasse na nossa direção. Peter e Scott conteram o Nogitsune antes que se aproximasse demais e o jogaram encima da poltrona.
— Segura ele, caramba! — Peter grunhiu, tentando manter a coisa abaixada. Me aproximei dos três, ficando entre os dois lobisomens, não parecia que ele estava tentando lutar, mais como se estivesse tentando... Respirar. Puxei a ponta da gaze e comecei a desenrolar até que se fez visível o rosto de... Stiles?
— Scott? — o garoto chamou, parecendo assustado.
— Gente? — Deaton chamou, me virei e a druida saiu da minha frente mostrando a porta da entrada escancarada e o outro Stiles e Lydia em nenhum lugar da sala.
— Onde eles estão? — o alfa se desesperou e saiu correndo. — Lydia? Lydia!
Ele berrando pela banshee foi a última coisa que ouvi antes que ele sumisse pela porta. Ah, mas eu sabia que ia dar merda.
Arrependimento. Era o que eu estava sentindo.
Arrependimento por ter trazido aquele maldito assunto sobre Gabrielle à tona apenas para fazer com que não olhasse na minha cara o dia todo.
Chegamos no prédio do loft de Derek, do qual não havia muito tempo que tínhamos saído. E só de pensar em ter que enfrentar aquela coisa, principalmente depois da visão que tive no hospital, eu preferia voltar a ter verbena no corpo. Igualmente letais. O pior é que não estamos aqui nem para pará-los e sim para protegê-los dos Oni.
Deus, como eu queria ter ficado em Manhattan.
— Scott está vindo? — perguntei, empurrando a porta e segurando para o resto do pessoal, Allison concordou com a cabeça.
Stilinski entrou primeiro no loft, para ao menos tentar de algum modo alcançar o Stiles que ele conhecia. O que obviamente não correu muito certo já que Stiles estava perdido dentro do nogitsune, e não era nem um pouco necessário ser uma bruxa para saber disso, e quando ele estava prestes a se ferrar lindamente o restante de nós entrou em cena para seu auxílio. Allison tentou usar um Taser na coisa, apenas para Stiles agarrar os pinos e o choque não surtir efeito algum. Derek tentou logo em seguida, apenas para ser lindamente nocauteado.
Click .
Christopher sacou a arma tão rápido que eu mal tive tempo para piscar. Ele trouxe uma pistola de verdade, e por "de verdade" quero dizer do tipo que mata, que todos haviam estritamente concordado em não usar. E estava apontando para o meio da testa de Stiles.
— Merda. — ouvi praguejar baixinho.
— Argent, não faça isso... — Sheriff pediu.
— Por que não? Já fiz antes com lobisomens, berserkers, posso muito bem adicionar um nogitsune para a lista. — Chris respondeu firmemente sem abaixar a arma.
E com essa frase o Stilinski mais velho, levantou a sua própria arma para a cabeça de Christopher, a face impassível do nogitsune mudou para uma de quase divertimento.
— Você não vai atirar no meu filho.
— Você mesmo disse, Sheriff. — Christopher discordou. — Esse não é o seu filho.
— Abaixe. A. Arma.
— Pai, ele vai atirar em mim. — a voz de Stiles agora estava coberta de medo e um falso desespero. Bastava olhar em seus olhos para ver que aquele estava longe de ser Stiles. — Ele vai me matar, pai!
— Não dê ouvidos, Sheriff. — se intrometeu. — Esse não é o Stiles, e você sabe que não.
— Abaixa a arma!
Os três começaram a berrar, Sheriff mandando Christopher abaixar a arma, o Nogitsune mandando Christopher atirar e Allison chamando pelo pai. Deus, estou me sentindo na porra de uma sala de aula do maternal.
— Calem a boca todos vocês! — berrei, de algum modo fazendo minha voz soar mais alto que as do restante. — Não vêem que é exatamente isso que ele quer?
— Não exatamente. — a Coisa virou para mim. — Eu meio que estava esperando que Scott estivesse aqui. Mas estou contente que estão todos com suas armas em mãos, porque vocês não estão aqui para me matar...
Então, foi quando percebi que o sol não estava mais baixo no céu, e que as estrelas estavam começando a pintar o céu azul cobalto.
— Estão aqui para me proteger.
Antes que ele terminasse a sentença, as sombras pareciam começar a se solidificar, e os Oni a se formar. O nogitsune foi para trás de Christopher e do Sheriff, eu me posicionei ao lado dos dois, sacando o facão de prata que havia escondido em minhas costas. Os dois atiraram e conseguiram acertar dois Onis que apenas se teletransportaram para trás de nós, apenas para ficarem contra Derek, Allison e . Vai dar merda, eu tenho certeza que vai dar merda.
Barrei a espada de um Oni com o lado plano do facão, impedindo que meu braço direito fosse quase cortado fora. Enquanto Christopher e Stilinski tentavam acabar com o outro, o Oni com o qual eu estava lutando, parecia bem engajado na tentativa de me matar.
Escutei o estalo de um chicote e com a visão periférica consegui ver lutando com um Oni usando um chicote espectral. Usei o pilar a minha esquerda como apoio para dar um salto e acertar um chute na máscara do Oni, o efeito não fora muito grande, mas ao menos o fizera recuar o suficiente para que eu me recuperasse, e conjurasse um selo de força para equilibrar melhor a luta que estava mais que desvantajosa para o meu lado. No momento em que ouvi Derek berrar de dor, os cinco desapareceram. Literalmente desapareceram no ar, levando Stiles junto deles.
— ? Você está bem? — me olhou, o chicote desaparecendo em sua mão.
— Estou bem, estou bem.
Ela não estava ferida, parecia apenas cansada. Derek era o único que estava no chão, um talho enorme em seu ombro, provavelmente feito pelas espadas. Sangrava fortemente tornando sua camiseta branca, vermelha. Christopher e Stilinski apontaram suas armas para porta, enquanto tentava ajudar Derek, apenas para abaixá-las quando Scott e Kira apareceram.
— O que aconteceu? — ele questionou. — Onde ele está?
— Eles desapareceram. — Allison respondeu.
— E o Stiles também.
Meus olhos foram de Scott e Kira para e Derek, ela estava tentando estancar o sangramento da ferida do lobisomem com mais cuidado e preocupação do que eu imaginei que teria, e aquilo não era comum dela considerando que minha irmã não era a maior fã de lobisomens.
— Você está bem? — não havia notado a presença do alfa ao meu lado até ouvir sua voz. —?
— Sim, estou. Os Oni não conseguiram me ferir. — concordei com a cabeça. — Sinto muito que tenhamos perdido Stiles, Scott, sinto mesmo.
— Está tudo bem, vamos achá-lo de novo. — ele me deu um meio sorriso e eu senti o olhar de alguém queimar nas minhas costas, não precisei ver quem era para saber que era Kira. — Fico feliz que não tenha se ferido, de verdade.
— Estava preocupado comigo, McCall? — brinquei, tentando aliviar o clima pesado.
— É, talvez eu esteja preocupado com você, Blackburn. — ele respondeu no mesmo tom, não se importando em admitir.
A escada velha e pútrida rangeu sob seus pés, o ar rançoso estava impregnado com o cheiro e mofo. Era possível ver claramente as partículas de poeira dançando no ar. Noshiko viu, com lágrima nos olhos, o cadáver enfiado dentro da parede oca, os pedaços de madeira e gesso quebrados espalhados pelo chão. A carcaça apodrecida e empoeirada parecia longe do belo soldado que ela amara a quase uma década atrás. Porque não era, Rhys estava morto. Morto por sua causa.
Kitsune se abaixou próxima aos poucos destroços espalhados no chão, seus olhos focaram na marca que parecia ter sido feita por garras, a mulher juntou os pedaços com a sobrancelha franzida em confusão, vendo o mesmo kanji dos onis.
— Porque esse kanji? Porque "si mesmo"? — a voz de Stiles Stilinski se fez ouvir, ou melhor: a voz do nogitsune.
— Para representar que ele morreu, ele mesmo. — Noshiko se pôs em pé, seu último kaiken* em sua mão. — Porque Rhys nunca foi um monstro, diferente de você.
O arrependimento estava estampado nos olhos da mulher. Sua vingança não valia toda aquela dor e desgraça, Rhys não iria querer que todas aquelas atrocidades fossem cometidas em seu nome. Apenas não valia a pena.
— Se eu sou um monstro, por que chamou os Oni de volta? — ele se aproximava lentamente. — O que aconteceu a mulher que implorou por caos, dor e sofrimento?
— Eu não quero mais isso. — sua voz era firme. — Não quero.
— Pois eu quero.
O nogitsune agarrou Noshiko pela mão que segurava o kaiken, a força da criatura sendo maior do que a kitsune esperava.
— Trouxe isso aqui achando que poderia esconder de mim? — ele tomou a faca facilmente da mão da mulher. — Péssima idéia.
Noshiko esperou que ele a atacasse, mas não. A criatura cravou o kaiken na própria barriga, abrindo uma ferida que quase ia de uma lateral para a outra.
— O que foi que você fez? — indagou Yukimura, chocada.
Stiles não a respondeu, apenas cambaleou para trás, as mãos na ferida sangrenta, o garoto caiu de joelhos parecendo mais pálido ainda.
— Caos está chegando novamente. — foi a única coisa que o nogitsune murmurou, antes que um enxame de vagalumes começasse a sair da ferida em sua barriga.
Não era muito longe da madrugada quando chegamos na casa, e por casa me refiro a residência dos McCall, já que na calçada do loft eu acabara por contar a Scott sobre a briga que tivera com e como ela não olhava para mim desde então, e quando o fazia era para me lançar olhares de desgosto e raiva, e ele ofereceu sua casa caso eu quisesse passar um tempinho longe de minha adorável e raivosa irmã.
— Sua mãe não vai ficar brava? — perguntei enquanto ele guiava o caminho escada acima. — Não quero causar problemas.
— Dona Melissa está de plantão, e ela não vai achar ruim de eu oferecer abrigo para alguém que está precisando. — ele deu de ombros e segurou a porta para que eu entrasse. — Ela não vai se importar, pode ficar tranquila.
Subimos as escadas para o segundo andar e ele entrou no que presumi ser seu quarto, eu permaneci parada na porta.
— Posso te emprestar uma camiseta se quiser... — ele ofereceu.
— Vou aceitar, jeans e jaqueta de couro não são exatamente meu pijama preferido. — brinquei e ele riu, abrindo uma das gavetas e pegando uma camiseta vermelha escuro. — A única longa o suficiente para ser usada como camisola, o banheiro é ali.
— Obrigado. — peguei a camiseta e fui até o banheiro da suíte. Tranquei a porta atrás de mim e me olhei no espelho sobre a pia, vendo minha face pálida e marcada por olheiras. Suspirei cansada e tirei a jaqueta e o par de botas, seguidos da camiseta e do jeans, dobrei tudo e deixei sobre o gabinete. Vesti a camiseta que por sorte chegou até o meio de minhas coxas. Talvez eu ainda tenha um pouquinho de sorte no fundo do pote.
Abri a porta e sai para o quarto, e tão rápido quanto Scott olhou para as minhas pernas descobertas, ele desviou o olhar.
— Pode ficar com a cama, eu fico com a poltrona. — ofereceu ele, parecendo um tanto constrangido.
— Está com medo de dividir a cama comigo? — debochei rindo, enquanto me sentei do lado esquerdo da cama. — Não é como se eu fosse te agarrar no meio da madrugada nem nada...
Ele corou, o que foi difícil de perceber sob a pele bronzeada. Depois soltou uma gargalhada espontânea, que não me parecia nada do tipo constrangida.
— Não estou com medo de dividir a cama com uma garota, . — ele afirmou, eu me deitei e olhei para ele com uma sobrancelha arqueada.
— Você quis dizer com uma bruxa milenar imortal. — corrigi com um sorriso presunçoso no rosto.
Aceitando o desafio ele levantou da cadeira e se deitou no lado vago da cama.
— Viu? Não mordo nem nada. — na posição em que nós dois estávamos, eu podia ver até o comprimento de seus cílios. — E nem sou eu quem tem presas e garras.
As suaves risadas foram silenciando aos poucos, e pela primeira vez em um longo período de tempo eu me sentia segura, mesmo não tendo um revólver enfiado debaixo do meu travesseiro. Me sentia leve e até ousaria dizer que feliz. E foi com essa sensação se segurança e os olhos cor de mel de Scott McCall, que adormeci facilmente.
Acordei com um sobressalto, assustada com as altas batidas na porta do primeiro andar, Scott ainda dormia pesadamente, sem ser incomodado pela barulheira.
— Scott! Scott! — chamei, cachoalhando o garoto. — McCall!
— Hmm, o quê? — ele resmungou sonolento.
— Tem alguém na porta. — bocejei coçando os olhos. — alguém bem apressado.
Agora parecendo ter se tocado das batidas incessantes na porta, ele levantou num salto, pulando para fora da cama. Eu me levantei logo atrás, parei na metade dos degraus esperando que ele abrisse a porta. E quando abriu eu quase cai sentada, Lydia estava parada na soleira junto de Aiden, e este carregava um Stiles desacordado e coberto de sangue.
— O que foi que aconteceu? — perguntei descendo os últimos degraus enquanto Lydia e Aiden entravam.
— Coloque-o no sofá. — mandou Scott e Aiden obedeceu.
— Nós encontramos ele desmaiado em um estacionamento, bom, Lydia o encontrou. — Aiden explicou.
Me abaixei ao lado da figura descordada e toquei sua testa, a luz arroxeada irradiou da minha palma e pude sentir a energia vital dele estável.
— Ele vai viver, a energia vital está estável. — me levantei. — Mas é melhor ligar para o druída, da última vez ele que conseguiu um modo de nautralizar a Coisa. Sua mãe tem um kit de primeiro socorros?
— Sim, ela tem.
— Vamos precisar dele também, eu vou por umas roupas e já volto para limpar essa ferida. — Scott concordou com a cabeça e eu subi as escadas outra vez, dessa vez para vestir minhas roupas, o que fiz em tempo recorde por sinal. Desci outra vez, agora discando o número de , se fosse necessário um feitiço muito forte era preferível que fizéssemos juntas.
A ligação caiu na caixa postal.
— , eu sei que a última pessoa que você quer ver agora sou eu. Mas achamos Stiles, e estou com um pressentimento de que vou precisar de você. Venha o mais rápido possível para a casa do Scott.
— Deaton está a caminho, essa ferida não deveria ser fechada? — Lydia respondeu e me entregou a maleta de primeiros socorros.
— Dar pontos em ferimentos é a especialidade de , vou limpar e prevenir que pegue uma infecção até que Deaton chegue aqui. — abri a maleta e peguei uma bolota de algodão e molhei com álcool, limpando delicadamente a ferida enorme.
— Os Oni fizeram isso? — Aiden perguntou, as sobrancelhas unidas em confusão.
— Não tenho certeza, mas me parece raso demais para ter sido feito por uma espada...
Limpei o ferimento devidamente para esperar até que Deaton chegasse para dar o devido tratamento que era requerido para aquele rasgo.
Só espero que ele não chegue tarde demais.
POV Off
Blackburn POV On
Acordei com o sol queimando meu rosto, minha cabeça estava dolorida pela falta necessária de sono e dormir no sofá não era muito indicado. Me arrastei para a cozinha e coloquei a cafeteira para trabalhar, pesquei meu celular do amontoado de roupas e chequei o histórico de chamadas. Havia um recado de :
Merda!
Bufei e desliguei a cafeteira, comecei a vestir outra vez o jeans que estava jogado no meio da sala e fui para o quarto que estava ocupando. Vesti a primeira camiseta que achei no meio das malas e peguei apenas uma pistola com balas de prata, enfiei o celular no bolso e peguei as chaves do Jeep. Girei a maçaneta apenas para dar de cara com Derek parado na soleira da minha entrada.
— Caralho, Hale! Quase me deu um treco! — levei a mão ao peito, ofegando com o susto.
— Preciso falar com você, é importante. — respondeu ele, passando por mim e entrando no apartamento.
— Seja breve, porque estou atrasada para ir ao resgate de minha irmã. — pedi fechando a porta novamente. — Aconteceu alguma coisa? Você está bem?
Ele não me respondeu, apenas tirou uma pequena caixinha de dentro da mochila e eu pude ver claramente o triskelion esculpido na tampa. As garras de Talia. Hale despejou as garras sobre a mesa e não me olhou por nenhum momento.
— Sabe o que são?
— São as garras de Talia. — respondi, havia as usado para recuperar a memória sobre a criança de Peter. — O que tem elas?
— São a única coisa que restou dela... — olhei para ele por um momento, havia algo errado. — É verdade? O que descobri? que vocês os ajudaram a queimar minha família inteira?!
— O quê? Não! Isso é mentira. Sim, nós costumávamos ser associadas dos Argents mas não depois daquela noite. — expliquei. — Eu jamais compactuaria com a loucura da Kate. Jamais.
— Acho difícil de acreditar. Na primeira vez que nos encontrarmos você quase me matou sem nem pensar duas vezes. — agora ele começou a avançar na minha direção, com um olhar psicótico que não estava me agradando. — Por que não os mataria?
Recuei três passos para trás, isso não vai acabar bem...
— Quem você acha que tirou Cora e Peter do meio das chamas? — arqueei uma sobrancelha, arregacei a manga esquerda da blusa até o ombro, mostrando a cicatriz de queimadura que eu levava desde aquele dia. — Eu tirei, queria ter conseguido salvar mais pessoas, todos eles. Mas consegui tirar apenas Cora sem me matar junto, eu não ajudei a matar sua família.
— Uma pena que eu não acredito em você. — que caralhos aconteceu com ele? — E sabe o que me irrita mais ainda? Que você permitiu que eu começasse a me importar com você!
— Não quero te machucar, Derek, não me obrigue a fazê-lo. — recuei mais três passos. — Então se afasta, porra!
— Quando eu acabar com você, vai implorar pela morte.
A chama homicida em seus olhos não era dele. Havia algo errado. O primeiro murro me acertou na boca do estômago antes que eu pudesse desviar ou segurar, mas ainda não era o suficiente para me derrubar, segurei a mão do lobisomem e a puxei para trás de suas costas num movimento ágil para imobilizá-lo. E tão facilmente quanto eu o prendi, Derek me acertou uma cabeçada no nariz que me fez cambalear para trás, tocando o sangue que jorrou pelo meu rosto. Barrei o segundo murro com o braço e acertei um chute em seu peito, apenas para afastar.
— Pare! Não quero perder a paciência com você, garoto! — a alteração no meu tom de voz foi incontrolável. Havia um sorriso maníaco em seus lábios que só comprovou a idéia de que aquele não era ele. Tentei desviar do tapa mas não havia me sobrado espaço o suficiente, meu ombro queimou no lugar onde as garras haviam rasgado. Aparentemente ele estava mesmo querendo me matar. Usei a parede como apoio para dar uma chave de pescoço com a perna nele, mas considerando a diferença de forças entre nós houve apenas a oportunidade de ele me jogar sobre a mesinha de centro. E foi o que aconteceu. O vidro se estilhaçou sob o meu peso e senti os cacos fincarem por vários lugares da minha pele. Estou começando a perder a paciência. Acertei uma rasteira e ele caiu encima do sofá, me dando tempo o suficiente para me recompor.
Cada centímetro das minhas costas ardiam, e podia sentir claramente os cacos pontiagudos perfurando a pele. Pense antes de atacar, , você tem o dobro de técnica e experiência que ele, pense e vai ganhar fácil essa luta. Hale se levantou, dessa vez totalmente transformado em lobisomem o que só reforçou o quão ferrada eu estava. Deixei que ele se aproximasse intencionalmente, bolando o melhor jeito de tê-lo perfeitamente desacordado, talvez uma porrada com a cabeça no mármore da cozinha faça o serviço por si só...
Me abaixei rapidamente para desviar de um soco, agarrei a gola de sua camiseta e usei o peso dele para girar nós dois para a esquerda, na direção da bancada da cozinha. O que teria funcionado se ele também não tivesse me agarrado pelo pescoço, fazendo-me ir de encontro com a parede mais próxima. Tá, agora acabou a palhaçada.
Saquei a arma que estava no coldre das minhas costelas, tentando não morrer esganada, murmurei um feitiço de força e acertei um chute com os dois pés em seu peito, que ainda não fora forte o suficiente para quebrar alguma coisa. O lobisomem caiu sobre o sofá e eu cai sentada no chão tentando recobrar o fôlego que me faltava. Ouvi o rosnado e levantei a cabeça apenas para vê-lo em pé outra vez e vindo na minha direção.
— Ah, quer saber? — destravei a arma e atirei em seu joelho. — Foda-se.
Derek caiu sobre o joelho não ferido, com sangue escorrendo de sua boca e nariz. Tá, eu não atirei tão alto assim para fazê-lo cair desmaiado tão facil, limpei o sangue da minha boca e toquei a área dolorida no meu olho esquerdo.
Droga, vai acabar ficando roxo.
— Dere...? — engasguei e tossi, sentindo minha garganta mais seca que a porra do Saara.
Me apoiei na parede e fiquei em pé, cambaleei até a figura descordada do lobisomem e me ajoelhei ao seu lado, toquei sua testa e a luz azulada irradiou da palma da minha mão, a energia vital dele estava estável. Fraca, mas estável.
— Pelo menos morto você não está. — resmunguei e puxei um caco de vidro que estava cravado no meu braço. Eu adorava essa blusa, droga. — Mas o que foi que aconteceu com você?
POV Off
Blackburn POV On
Não demorou muito para que Deaton chegasse, considerando a importância vital do assunto. E ainda não deu as caras, o fato dela não ter atendido o celular cedo não me surpreendeu, a maluca deveria estar apenas dormindo. Mas essa demora toda não era normal, alguma coisa havia acontecido. É a única possibilidade considerando que é de que estamos falando.
— Precisamos contê-lo antes que ele acorde. — comentei do meu lugar na poltrona da lateral da sala.
— Eu tenho algo que possa ser útil. — Deaton fuçou dentro de sua maleta até pegar um vidro de conta-gotas com um líquido transparente. — Veneno de Kanima.
Scott segurou os braços do nogitsune e Aiden abriu sua boca, Deaton encheu o conta-gotas de veneno e despejou na boca da criatura. Invés de ficar paralisado, ele agarrou Aiden pelo pescoço, começando a sufocá-lo, levantei da cadeira num pulo.
— Me solta! — Aiden grasnou, tentando respirar.
Acho que nunca conjurei um selo de força sobre-humana em toda a minha vida tão rápido quanto agora, segurei a mão do nogitsune com força o suficiente para que se fosse um humano comum os ossos quebrassem no primeiro aperto.
— Uh, veneno de Kanima. — seu braço caiu imóvel ao lado do corpo. — Boa escolha.
Chacoalhei o braço e o selo se desfez, Aiden rosnou, as presas se sobressaindo entre os lábios.
— Sabe quando dizem que um gêmeo sabe quando o outro está com dor? Não perdeu essa habilidade, também, perdeu? — Stiles provocou. — Ohh, espero que não porque você vai precisar. Okay, vou te dar uma pequena dica: Ethan está na escola.
Aiden e Scott trocaram olhares nervosos até que o alfa mandou que ele fosse ao auxílio de seu irmão. O nogitsune tombou a cabeça para trás observando enquanto Aiden corria para fora da casa.
— Espero que ele chegue lá a tempo. Eu gosto dos gêmeos. — a ironia transbordava de seu tom de voz. — Pavio curto, instintos homicidas. Bem parecidos com você e não, Valerious?
— Quer calar a boca ou quer que eu cale por você?
— De qualquer modo, eles são mais divertidos que vocês bakemono* tentando salvar o mundo todo dia. — ele continuou. Então a visão no hospital não fora nenhuma alucinação maluca.
— Ninguém aí tem silver tape para calar a boca desse infeliz antes que eu arrebente todos os dentes que ele tem? — Deaton atendeu meu pedido e paçou um pedaço de fita na boca dele.
Nos afastamos todos da sala indo para a cozinha, Melissa havia chegado não fazia nem cinco minutos e havia se prontificado para dar os devidos cuidados para a ferida de Stiles.
— Quanto tempo ainda temos? — Scott questionou.
— Queria poder te responder, mas se não pensarmos em algo logo vamos precisar de um lugar mais seguro para mantê-lo. — Deaton respondeu. — Porque estamos subestimando o perigo aqui, ele pode estar paralisado mas ainda tenho a sensação que ele nos tem bem na palma da mão.
— Eu posso ter uma opção, mas apenas para quando realmente não houver opção alguma. — lembrei de como era feito o Círculo da Perdição. — É perigoso, então se alguém tiver alguma outra opção seria bem útil.
— O pergaminho disse que era para mudar o hospedeiro. — Lydia relembrou.
— Isso se eu tiver traduzido corretamente. — o druida rebateu. — Estamos procurando uma cura em algo que pode ser apenas um provérbio ou uma metáfora.
— E se ele não quiser? — Scott saiu em defesa do melhor amigo, ou do que restara dele. — Ele nunca me pediu para ser um lobisomem.
— E se salvar a vida dele?!
— Eu nunca fiz isso antes, e se ao mordê-lo acabar atingindo uma artéria? — o alfa ponderou, já que realmente era um risco possível.
— Às horas estão passando, e quando aquele veneno acabar vamos querer ter feito alguma coisa. — olhei para Stiles deitado no sofá, e ele olhou diretamente de volta.
— Vou tentar ligar para o Derek outra vez. — Scott puxou o celular do bolso.
— Talvez devêssemos tentar ligar para outra pessoa. — Martin ofereceu e eu sabia bem a quem ela se referia.
Revirei os olhos e bufei.
— Estamos mesmo ferrados a ponto de pedir ajuda para o traste do Peter? — arqueei uma sobrancelha.
E foi exatamente o que fizeram. Ótimo. Agora como se não bastasse termos de aturar os comentários cínicos e irônicos da Coisa, agora também vamos pedir ajuda para a pessoa mais egocêntrica que já pisou na terra.
Me afastei um pouco do grupo e disquei o número de outra vez e esperei que a chamada chamasse umas cinco vezes de novo, apenas para cair na caixa postal.
— Aqui é , não posso atender porque devo estar dormindo ou bêbada. Deixe sua mensagem e eu vou retornar assim que eu quiser. — a mensagem pré gravada foi reproduzida.
— Aconteceu alguma coisa? Você está bem, ? — perguntei preocupada. — Me ligue assim que puder, estou preocupada.
Foi quando a possibilidade me ocorreu, desliguei a chamada e enfiei o celular no bolso. Puxei a fita da boca de Stiles, o que provavelmente deve ter doido para um senhor caralho.
— Ela não está atendendo, está? — o sorriso zombeteiro não deixou seu rosto por nenhum minuto.
— O que você fez com ela? — Stiles apenas gargalhou em resposta, a raiva borbulhou no meu peito e eu enfiei o dedo na ferida recém tratada. — RESPONDA!
— Ela está viva, bom, não pode realmente morrer, pode? — ele ironizou.
— Scott! Vou precisar da sua moto emprestada. — chamei, voltei a fita na boca do nogitsune e me virei para o alfa. — Ele fez algo com , preciso ver se ela está bem.
— Aqui, me ligue assim que chegar lá. — McCall me entregou a chave da moto. — Tome cuidado.
Fiz que sim com a cabeça e peguei a chave de sua mão, vesti minha jaqueta e peguei o capacete ao lado da porta. Abri a porta apenas para dar de cara com Peter Hale.
— Onde você está indo? — ele franziu a sobrancelha na minha direção.
— Sai da minha frente, Peter, que eu tenho mais o que fazer. Aquela coisa fez alguma coisa com .— pedi mas ele não se moveu. — então se você se importa nem que seja um pouco com ela, sai da minha frente por que se eu fizer você sair não vai ser bonito!
— Pelo amor de Deus, ! sabe bem se cuidar sozinha, e nem aquele nogitsune conseguiria derrubá-la. — Hale revirou os olhos. — E se vamos fazer o que estou pensando, não vai ser a mim que o garoto vai canalizar.
— Ah mas você só pode estar de brincadeira com a minha cara! — grunhi em irritação e voltei o capacete no lugar. — E tá te faltando quantos parafusos na cabeça? O garoto não parece que sobreviveria nem a um tapa!
Peter passou por mim e entrou na casa de Scott, o lobisomem rodeou o nogitsune quase que estatelado no sofá.
— É, realmente parece que ele vai morrer só com um tapa, quem dirá uma mordida de lobisomem. — Peter concordou com as minhas palavras.
— Então não funcionaria? — Scott se aproximou.
— É mais uma guerra da mente que do corpo. — cruzei os braços sobre o peito e me encostei na parede.
— E há melhores métodos para vencê-la. — Peter acrescentou.
— Quais métodos?
— Vamos entrar na cabeça dele. — Peter esclareceu, quase sorrindo.
— Nós temos um plano? — Deatom perguntou.
— Scott vai entrar na mente do pálido e doentio Stiles malvado. — Hale respondeu. — Para trazer de volta o pálido e doente Stiles verdadeiro. E guiá-lo de volta das profundezas de seu subconsciente.
Uma pausa se seguiu, quase como se o imbecil estivesse querendo fazer suspense.
— Mas não vai sozinho. — Peter finalizou.
— Como assim?
— Alguém precisa ir com você. — ele olhou para Lydia. — E vai precisar canalizar alguém, e é aí que entra.
Scott se posicionou atrás do sofá e Lydia sentou-se ao lado do nogitsune, Peter posicionou as garras de Scott na nuca dos dois outros adolescentes corretamente e eu fiquei em pé atrás do alfa.
— Como essa coisa de canalizar funciona realmente? — ele perguntou outra vez.
— Eu basicamente vou emprestar minha energia para você, que vai potencializar o seu poder. — expliquei. — Mas como não vamos poder fazer um elo de sangue, o método vai ser um pouquinho mais dolorido: Vou ter que usar um selo de transferência.
— Doer como...? — ele me olhou brevemente.
— A sensação vai ser como se um ferro quente estivesse tostando sua pele, vai ficar uma cicatriz por alguns dias mas depois vai curar. — continuei a explicação. — E vai te dar mais clareza para não se perder dentro da cabeça dele.
Cortei o meu polegar esquerdo e desenhei as runas na minha palma direita, a energia fluiu para meu braço e o espectro foi passando de névoa colorida para formas quase que sólidas.
— Pronto? — ele fez que sim com a cabeça e esperei que Peter posicionasse as garras na nuca de Lydia.
— Tente lhe devolver controle de sua mente e de seu corpo. — Peter comentou. — Guiá-lo de volta, de algum modo.
— Poderia elaborar o "de algum modo" ? — Lydia pediu. — Não está parecendo muito específico no momento...
Considerando o que podia acontecer se aquilo desse errado, eu podia entender e dar razão para a apreensão da banshee.
— Improvise. — Peter quase deu de ombros.
— E se for apenas outro truque? — outra pergunta com razão.
— Quando vocês vão começar a confiar em mim? — a pergunta retórica de Peter saiu carregando certo humor.
— Não de você, idiota. — revirei os olhos e apontei para Stiles com a cabeça. — Dele.
— Estamos ficando sem tempo. — Deaton lembrou.
Expandi o círculo e acertei um leve soco nas costas de Scott, ele grunhiu de dor quando o selo queimou em sua pele mas enfiou as garras na nuca dos outros dois. Sentia meus olhos brilhando, com aquele formigamento costumeiro que quase pareciam cócegas.
Quando se faz uso desse selo, é como se entrasse num loop onde tudo é mais lento e embaçado, a sensação é de que meu cérebro estivesse usando metade da velocidade habitual para processar o que acontecia ao meu redor.
Vai ser um longo dia.
Meia hora depois...
A única coisa que eu sentia era exaustão, podia ver apenas as sombras das pessoas ao nosso redor, se movendo como vultos fantasmagóricos. Fui puxada para fora do loop quase como se um tapa tivesse me acertado, cai quase sentada no chão mas me segurei no aparador a tempo.
— Funcionou? — Scott indagou, ofegando.
— O que aconteceu? — Lydia limpou o sangue do nariz. — Porque não funcionou?
— Porque não é uma ciência exata, é sobrenatural. — Peter comentou. — A minha parte eu fiz.
Stiles acordou num pulo e puxou a fita de sua boca, começou a vomitar ataduras. Sim, você leu direito. Quando uma parte do chão já estava coberto pelas ataduras uma mão saiu do meio, do resto e a criatura da minha visão começou a sair da poça de nevoa negra. Puxei os outros três mortais para trás de mim a tempo de defender caso a coisa avançasse na nossa direção. Peter e Scott conteram o Nogitsune antes que se aproximasse demais e o jogaram encima da poltrona.
— Segura ele, caramba! — Peter grunhiu, tentando manter a coisa abaixada. Me aproximei dos três, ficando entre os dois lobisomens, não parecia que ele estava tentando lutar, mais como se estivesse tentando... Respirar. Puxei a ponta da gaze e comecei a desenrolar até que se fez visível o rosto de... Stiles?
— Scott? — o garoto chamou, parecendo assustado.
— Gente? — Deaton chamou, me virei e a druida saiu da minha frente mostrando a porta da entrada escancarada e o outro Stiles e Lydia em nenhum lugar da sala.
— Onde eles estão? — o alfa se desesperou e saiu correndo. — Lydia? Lydia!
Ele berrando pela banshee foi a última coisa que ouvi antes que ele sumisse pela porta. Ah, mas eu sabia que ia dar merda.
Capítulo 15
Blackburn POV On.
Meu corpo estava inteiro dolorido, mesmo depois de limpar os ferimentos que eu podia ver ainda sentia alguns cacos nas minhas costas. Olhei no espelho do banheiro e vi a área envolta do meu olho começava a ficar esverdeada e levemente inchada. Passei um pouco de antisséptico no corte do meu lábio e peguei as algemas de prata de cima da pia.
— Okay, bonitão, vamos prevenir outra luta... — puxei o lobisomem pelas mãos até a varanda do apartamento e o algemei na grade do parapeito.
Aproveitando que Hale estava desacordado, eu comecei a tentar arrumar um pouco da minha sala sem distender outro músculo. Empurrei o sofá com o pé e comecei a varrer os cacos de vidro do carpete, mas é melhor Derek ter uma ótima explicação para atrapalhar até minha mania de andar descalça em casa.
!
Merda, me esqueci totalmente de minha irmã e do nogitsune. Merda!
Peguei o celular do bolso e pra variar a tela estava toda ferrada e quebrada, apertei o primeiro número da discagem rápida e esperei que ela atendesse.
— Você está bem, ? — ela perguntou assim que atendeu.— O que ele fez com você?
— Quê? Como você sabe de Derek? — franzi a sobrancelha em confusão.
— Ahn? Quem falou de Derek? O nogitsune fez alguma coisa, mas eu não pude ir te socorrer porque salvamos Stiles! — ela tagarelou tão rápido que se eu não fosse rápida não teria entendido nada.
E agora o lobisomem assassino querendo me trucidar fazia sentido.
— O quê? Como?!
— Scott entrou na cabeça da coisa e trouxe ele de volta! Aquela porcaria psíquica de lobisomem. — ela explicou. — Mas o que aconteceu com o Derek?
— Ele apareceu na minha porta quando eu estava saindo para a casa de Scott, tipo assassino psicótico tentando me estripar, basicamente. — contei. — Mas agora faz sentido a raiva sem razão, a Coisa deve ter feito algo com ele.
— Você não matou ele, matou? — não precisava vê-la para saber que estava com aquela cara tosca que sempre fazia quando tinha dúvida.
— Ele está bem vivo, mas destruiu metade da sala. — expliquei, sentindo uma fisgada no ombro ao tentar varrer os cacos de vidro e segurar o celular ao mesmo tempo. — E estou com um belíssimo olho roxo.
— Derek Hale te deu um olho roxo? — engoliu uma risada. — O que? Vai me dizer que não lutou para machucar?
— Prometi para Peter que não feriria o garoto. — revirei os olhos com a minha desculpa furreca.
— Tá, e eu acredito. — ironizou ela. — Eu vou desligar, maninha, tome cuidado com o lobo.
— Não morra, Ferrugem.
Desliguei a chamada e deixei a vassoura de lado com a pá. Me aproximei do lobisomem desacordado e deixei que meus olhos assumissem a verdadeira forma, comecei a entoar o feitiço de revelação esperando que o controle mental executado pelo espírito se manifestasse no mínimo de modo espectral. Não por sangue. A blusa vermelha começou a ficar preta quando sangue começou a escorrer do ombro que o Oni havia ferido, puxei a gola da camiseta e vi a ferida ainda aberta sangrando.
Porque diabos ele ainda não havia se curado?
Pela profundidade do corte o ferimento já deveria ter cicatrizado há horas atrás. Dei continuidade ao feitiço e a ferida sangrou mais ainda até que um vagalume morto saiu misturado com o sangue negro, achei a razão do controle mental. Esmaguei o vagalume entre o polegar e o indicador me levantando para ir buscar minha maleta de utensílios médicos para dar o devido atendimento para o ferimento, que se não estava curando precisaria de pontos.
Peguei a maleta debaixo do gabinete da pia e alguns pacotes de gaze para estancar todo aquele sangue. Joguei antisséptico na ferida e pressionei com força o suficiente até que o sangramento começasse a parar, considerando o tamanho do corte deveria estar doendo bastante e eu estava quase sentindo pena do estado que aquilo estava, tratei do tiro do joelho e ao apertar a pólvora no buraco ele soltou um baixo grunhido de dor.
— O… O que?... — o lobisomem gemeu quando começou a recobrar a consciência lentamente. — Ouch!
— Bom dia, Bela Adormecida. — debochei automaticamente. — Desculpe as algemas mas não estou muito afim de tomar outra cabeçada na cara…
Derek permaneceu em silêncio, como se estivesse tentando absorver o que havia acontecido, preparei a agulha para dar os pontos e esterilizei com o isqueiro que estava no meu bolso.
— Vou te costurar, por favor não faça barulho porque já estou quase sendo expulsa do prédio. — segurei a agulha e auxiliei com a pinça para dar o primeiro ponto, e pelo tamanho daquele talho seria necessário no mínimo vinte pontos e mais sangue ainda no meu chão, como se não me bastasse a montanha de cacos de vidro na sala. – Por que você não está curando normalmente?
— Não sei… Imaginei que fosse por ter sido feita pela espada de um Oni. — Derek explicou. — E me costurar vai adiantar?
— Vai, ou ninguém te ensinou sobre o processo de cicatrização dos lobisomens? — arqueei uma sobrancelha e usei uma bola de algodão para limpar o sangue de cima dos pontos já dados. — Considerando que vocês tem o mesmo processo de cura que os humanos apenas cem vezes mais rápido, estou apenas dando uma ajuda externa para facilitar o trabalho do seu próprio sistema.
— Você é boa nisso… — Hale comentou enquanto eu já estava fechando metade da ferida.
— Explicando seus próprios poderes? — debochei, tentando não sentir dor na garganta ao dar risada.
— Não, em suturar feridas.
— Ah sim, eu frequentei uma faculdade de medicina alguns anos atrás. — expliquei, relembrando brevemente dos meus anos em Oxford. — É o tipo de coisa que não se esquece tão fácil como fazer.
Podia sentir o olhar constante sobre mim enquanto eu fingia estar concentrada em dar os pontos, por mais que pudesse fazer aquilo mesmo de olhos vendados. A verdade era que não queria causar culpa nele pelo o que o nogitsune fez.
— ?
— Hum?
— Olhe para mim.
Meu rosto não estava em seu melhor estado no momento depois de uma cabeçada e três murros, também havendo a marca arroxeada de dedos no meu pescoço, levantei o rosto o suficiente para que os cabelos saíssem do meu campo de visão. Derek encarou meu rosto marcado por alguns minutos, os belos olhos azuis cheios de pesar.
— Está tudo bem, juro. — continuei dando os pontos. — Já estive em piores condições.
— Eu… Eu sinto muito, de verdade. — seu tom de voz era baixo e quase vacilante. — Eu não sei como ele fez aquilo, mas eu só não conseguia parar…
— Estou bem, sério. — tentei dar um sorriso tranquilizador mas o corte no meu lábio me impediu. — São apenas ferimentos superficiais, nem doem tanto assim.
Uma belíssima mentira, no momento até para falar eu estava sentindo dor e a pele das minhas costas estava queimando com o ardor dos cortes abertos. Mas pelo menos eu sempre soube mentir bem, coisa que milênios como mercenária eu aprendi a fazer maravilhosamente bem, mas mesmo assim ele pareceu ver completamente através da minha mentira. Finalizei os pontos e limpei com mais um pouco de antisséptico, tampei com gaze limpa e guardei a pinça dentro da maleta.
— Agora vou abrir as algemas, vai doer um pouquinho. — toquei seus pulsos, vendo as queimaduras superficiais que prata havia causado na pele, destravei e as abri lentamente para não machucar mais ainda. — Você está bem?
Ofereci uma mão e ele aceitou a ajuda para se levantar, peguei a maleta com os utensílios sujos do chão e entrei para o apartamento, limpei o sangue das minhas mãos rapidamente com água.
— ? Suas costas estão sangrando. — a voz rouca e baixa tirou a minha atenção da água, girei o registro da torneira e puxei a manga da camiseta vendo o tecido escuro manchado de vermelho. — Você está bem?
— Sim, só devo ter deixado algum caco para trás. — respondi, puxei a barra da camisa para cima e fiquei apenas com o top esportivo. Garanti que a pinça estava limpa e puxei uma das banquetas da bancada da cozinha, me sentei e tentei ignorar a dor aguda e irritante que vinha do meu ombro.
— Deixe me te ajudar… ele pediu, neguei com a cabeça ao puxar um caco de vidro pela ponta para fora da minha pele. — Eu machuquei você, permita ao menos que eu ajude, .
Soltei um suspiro exasperado e entreguei a pinça para ele. Meu orgulho não permitia que eu aceitasse ajuda externa mas nem que eu quisesse conseguiria alcançar todos os cacos cravados, o toque das mãos grandes fora delicado ao tirar o pequeno estilhaço de vidro quase que com medo.
— Avise se eu machucar mais que ajudar. — quase soltei uma risada com suas palavras. — Já passei por pior, pode acreditar.
Um silêncio pesado se instalou entre nós, quase pude sentir o tamanho de sua culpa mas o inchaço do meu olho roxo era mais gritante.
— Você tinha uma arma… Por que não deu um tiro na minha cabeça? — ele questionou.
— Eu… Todos nós morreremos um dia, quando o seu dia chegar não será pelas as minhas mãos, Derek. — grunhi quando ele puxou outro caco, pela dor que senti aquele era maior. — E eu fiz uma promessa a Peter de que não mataria você, e seu tio pode ser um tremendo babaca mas devo alguns favores a ele.
— Não pensou assim no hospital.
— Eu não conhecia você no hospital. — retruquei, nem sabia que meu futuro estava entrelaçado ao dele. — Aquilo foi diferente, e eu salvei sua vida, não salvei?
Ele não se importou em responder, eu não me daria o trabalho. Não sabia exatamente o que sentir, dor ou raiva, raiva porque mesmo com aqueles hematomas espalhados pelo meu rosto e a traqueia quase esmagada, eu não sentia raiva nem aquela vontade insana de matar quem quer que fosse que erguesse a mão na minha direção.
O que havia de errado comigo?
Hale terminou de remover os cacos e limpou os cortes com todo o cuidado do mundo, não imaginei que ele seria tão gentil com alguém que o causara tanta dor. Física, claro.
— Obrigado… — puxei a blusa da bancada, me vestindo. — E mais uma vez, Derek, não sinta culpa por algo que não foi seu feito.
— Sei que a culpa não é minha, mas ainda sim fui eu quem deixou essas marcas em você. — no momento parecia impossível que minha garganta funcionasse propriamente e impedisse a falta de ar que me acertou. — Você estaria conseguindo respirar certamente se eu tivesse sido forte a ponto de lutar contra ele.
— Já tive alguém na minha cabeça, controlando meu corpo enquanto eu ficava como plateia. Sei o quanto é difícil. — arrumei a blusa no meu corpo. — E eu não sou nenhuma boneca de porcelana pela qual você deve sentir pena.
— Não foi isso que eu quis dizer, .
— Não me interessa, deveria estar contente que não matei você como meu instinto mandou, mas burra como sou não obedeci. — não sabia de onde toda aquela irritação vinha mas nunca havia conseguido manter minhas emoções sob controle, então que se dane. — Agora faça o favor de sair, já tirei o vagalume de você, não vai tentar matar ninguém na rua.
Abri a porta e segurei pela maçaneta. Ele olhou para mim e riu. O infeliz riu!
— Isso lhe cai bem, combina com a sua amargura. — Hale comentou, parado na soleira da porta.
— O que me cai bem?
— Afastar quem tenta se aproximar de você. — ele arqueou uma sobrancelha. — Vem no pacote de bruxa imortal amargurada com o passado?
Bufei de raiva e soltei a porta, a batendo com um alto estrondo. A sensação era de que o sangue estivesse fervendo em minhas veias, dando a sensação de que meu corpo todo estava em chamas, acertei um murro na parede no automático, meu punho afundando no gesso.
— Merda! Merda! — praguejei ao sentir os nós dos dedos sangrarem. — Se controle, porra!
POV Off.
estava se sentindo perdida, metade dela queria permanecer com Scott até encontrar Lydia e a outra queria correr de volta para casa e garantir que estava bem. A ruiva temia que a afeição que a outra bruxa estava começando a nutrir pelo mais novo dos Hale, sem nem que ela mesma notasse, tivesse acabado por influenciar a luta entre os dois e o quanto sua irmã estaria ferida.
Mesmo que a possibilidade de perder uma luta para um lobisomem lhe parecesse estúpida demais para ser verdade, ela ainda estava preocupada.
— Pode checar ela. — Scott murmurou, coçando brevemente os olhos.
— Como?!
— Sua preocupação é quase palpável. Está preocupada com . — Scott esclareceu, parecia mais cansado que qualquer outra vez que havia o visto. — Pode ir, te ligo caso aconteça algo.
não sabia exatamente o porquê de seu desconforto, agora ela já estava vestidas com suas roupas normais invés da camiseta enorme do time de lacrosse que Scott havia lhe emprestado. A bruxa se levantou da cadeira e vestiu sua jaqueta parando a poucos passos do alfa.
— Obrigado por me deixar passar a noite. — a ruiva murmurou, batucando levemente os dedos no mármore da cozinha. — Volto logo para ajudar a procurar pela Lydia.
— Toda ajuda é bem-vinda.
caminhou lentamente até a porta, sem saber exatamente se devia fazer alguma coisa. Se queria fazer alguma coisa. Ela suspirou exasperada, dando meia volta e voltando para perto do lobisomem, o envolvendo em um tímido abraço que o pegara completamente de surpresa mas retribuiu com a mesma intensidade contida.
— Vamos encontrá-la, eu prometo. — a ruiva sussurrou, tentando confortá-lo. — Voltarei antes que possa sentir minha falta.
McCall soltou uma baixa e curta risada com as palavras da ruiva, que saiu mais rápido do que havia voltado, deixando para trás apenas um suave traço de seu perfume floral no ar.
Algum tempo depois…
abriu a porta do apartamento uma hora depois de sair da casa de Scott, tomando um susto com a bagunça alastrada pela sala. Claramente a luta havia sido pior do que ela havia imaginado.
— Porra... — resmungou ela, tomando cuidado para não pisar em nenhum caco de vidro. — ?! !
A outra bruxa enfiou a cabeça para fora do arco da cozinha.
— Poderia parar de gritar? Ainda não morri. — a morena resmungou, ocupada em enfaixar sua mão ferida, que havia parado de sangrar agora.
— Você está bem? — perguntou, observando enquanto a irmã fazia o último curativo. — Deus, você está horrível…
— Estou bem ciente desse detalhe. — revirou os olhos e prendeu a atadura em sua mão com um pedaço de esparadrapo. — O que aconteceu na casa do alfa?
— Lydia foi sequestrada. — respondeu, andando cautelosamente pela sala para ter melhor visão do estrago causado. — Precisam de nós para tentar encontrá-la e acabar de vez com esse Nogitsune.
— Agora que ele foi separado do garoto podemos finalmente matá-lo? — parecia animada demais com a ideia. Ela queria vingança.
— Podemos, mas ele ainda tem a aparência do Stiles, apenas mais pálido e com cara de doente. — a ruiva explicou, olhando para a pequena mancha de sangue no chão da varanda. — Então se for dar um golpe ou tiro fatal tenha certeza de que não está matando a pessoa errada.
Um leve silêncio se seguiu pelos minutos seguintes enquanto limpava e armazenava propriamente seus instrumentos cirúrgicos e tentava limpar a zona que havia se tornado a sala.
— Glamour deixa um rastro muito forte? — perguntou enquanto guardava a maleta no gabinete da pia.
— Não que eu esteja ciente.— respondeu, jogando dentro de um saco de lixo o que um dia fora as pernas de madeira da mesinha de centro. — Quer esconder a sua cara de quem foi usada como saco de pancada pelo Rocky Balboa?
— A cada palavra trocada com você meu ego vai parar na estratosfera, irmãzinha. Sabe que eu acho que verde, roxo e vermelho combinam comigo? Realçam a cor dos meus olhos. — a mais nova soltou uma gargalhada involuntária. — Lógico que eu quero esconder meu rosto! Imagina só se alguma criança me vê assim na rua, vai ter pesadelos para o resto da vida.
— Não está tão ruim assim, só tá um pouquinho... — olhou para a irmã com uma sobrancelha arqueada enquanto a ruiva abria e fechava a boca sem saber exatamente qual palavra usar. — É, tá bem ruim, tá horrível na verdade.
começou a rir copiosamente sem nenhum motivo aparente enquanto a olhava com uma expressão que ela chamava de “Que porra você tá fazendo, sua retardada?”.
— Eu abri um buraco na parede, eu fiquei tão irada que quebrei a parede. — a morena gemeu de dor na garganta entre uma risada.
— Sim, eu notei junto com as poças de sangue e os danos na mobília que nem nossa é. — negou levemente com a cabeça. — Deus, você é esquisita.
murmurou quase que inaudível o feitiço de glamour, o selo com as runas se formou em seu antebraço, enquanto a ruiva murmurava o feitiço, o selo se desfez no que se assemelhava a glitter e caiu sobre a cabeça de , num estalar de dedos seu rosto estava normal outra vez ou era o que feitiço fazia ver.
— Pronto.
se levantou e olhou para o espelho ornamentado pendendo ao lado da porta, a superfície trincada refletia seu rosto intacto mas ela ainda podia sentir os cortes e áreas doloridas dos hematomas se os tocasse. Ainda era melhor que sair toda roxa de casa. Ela agradeceu a irmã e seus olhos brilharam em dúvida.
— O que vamos fazer? — questionou.
— Eu pretendo ajudar a achar Lydia, Deus sabe lá o que ela está passando na mão do nogitsune. — a ruiva respondeu — A limpeza pode ficar para depois.
A ruiva abriu o gabinete sob a pia e tirou de lá de dentro a caixa preta que continha todo o armamento que haviam trazido para a cidade. Não era muito mas era o suficiente. Enquanto a mais nova se armava encarou a bandana vermelha, o pedaço de tecido carmesim era quase tão velho quanto ela mesma, carregando muita história consigo.
— Nós vamos achar essa criatura e vamos acabar com isso de uma vez. — disse por fim, pegando o tecido, ela estava com raiva.
Meia hora depois estavam ambas paradas na sala de estar da casa dos McCall enquanto Scott tentava entrar em contato com Noshiko Yukimura e Melissa examinava o Stiles que eles acreditavam ser o humano. O plano era fazer com que os Oni garantissem que Stiles era realmente Stiles e se não fosse… Bom, era para isso que elas estavam ali.
A mão de estava fechada com força em volta da coronha de sua arma, os braços cruzados sobre o peito. Ela não gostava da presença de Noshiko nem dos Oni, e agora que Scott havia lhe contado toda a história que a mulher havia contado ao alfa e Kira, nada lhe tirava da cabeça que Noshiko era sua contratante.
Era a única opção com no mínimo um pingo de sentido.
trocou o peso do corpo dos pés desconfortável, por ser quem havia lançado o glamour a ruiva podia ver os ferimentos da irmã e se olhasse por tempo demais para as marcas de dedos em seu pescoço, marcando a pele pálida com um tom quase violeta, ela iria querer arrebentar Derek Hale na porrada.
— Você está bem? — perguntou, a voz ainda baixa e fanha, o facão estava preso em um lado de sua cintura e a Desert Eagle no outro.
— Sim, apenas preocupada. — respondeu, coçando a nuca. — Alguma coisa me diz que Noshiko Yukimura é quem está nos pagando.
— Essa ideia também está na minha cabeça. — ela concordou, olhando fixamente para uma das janelas da sala. — Coincidência demais ela saber tanto sobre o nogitsune e Mr. M ser familiar com a criatura…
passou a língua pelo fino corte em seu lábio, sentindo um leve ardor. O que ela mais queria no momento era estar nas praias de Saint Barths com uma bebida gelada na mão e a água do mar tocando seus pés.
A vida realmente é uma merda.
Ela ouviu o som dos paços de Scott entrando na casa outra vez e o lobisomem entrou no campo de visão de ambas as bruxas.
— Estão vindo, se os oni o marcarem é porque deu certo caso contrário… — concordou com a cabeça ao ouvir as palavras do rapaz, deu meia volta e saiu para a varanda, manca o suficiente para que o lobiomente notasse. — Ela está bem?
— Sim, está. Hum… Ela meio que se controlou mais do que deveria na hora de conter Derek. — tentou explicar.
Scott franziu a sobrancelha, um pouco confuso com a escolha de palavras da ruiva.
— Acredite, se ela não tivesse… Digamos que de Hale restaria apenas uma pessoa.
McCall não fez mais perguntas sobre o que havia acontecido no apartamento das bruxas, a expressão de desgosto de lhe denunciava que não era um assunto desejável naquele momento.
estava na varanda com um cigarro, sua face bem desenhada estava concentrada no enfeite pendurado no teto, os sinos chacoalhando suavemente com o vento. Ouvindo passos na frente da casa ela apagou a guimba do cigarro na sola de sua bota e voltou para dentro antes de que Noshiko entrasse.
— Ele está pronto? — ela perguntou, parando no meio da sala.
— Vou trazê-lo aqui. — foi a resposta que Scott deu, subindo as escadas para o segundo andar. As Blackburn se encostaram no balcão da cozinha, lado a lado elas encaravam Yukimura atentas.
— Você olha com toda essa raiva para todos que te pagam meio milhão, ? — a mulher se virou, não havia sorriso em seu rosto para denunciar o tom zombeteiro.
— Apenas os que deixam detalhes vitais de fora. — respondeu pela irmã.
olhou para sua direita, vendo Scott e Melissa ajudando Stiles a descer os degraus da escada. O garoto parecia que ia desmaiar a qualquer momento.
— Você me reconhece? — questionou Noshiko.
Stiles não respondeu mas era evidente que sim, o adolescente se soltou de Scott e deu passos bambos na direção da mais velha quando Kira entrou correndo pela porta da frente.
— Mãe, não! — ela tentou puxar a outra pelo braço.
— Está tudo bem, foi eu quem pediu que ela viesse. — Stiles tentou lhe assegurar.
— É você quem vai ser esfaqueado por espadas. — retorquiu ela. — Mãe? Não faça isso com ele.
Noshiko não olhou para a filha outra vez.
— Já está feito.
Stiles olhou para ela em dúvida, no momento seguinte as formas sombrias dos Oni se materializaram atrás dele, dois em cada lado até que o terceiro apareceu em sua frente. A criatura agarrou Stilinski pelo pescoço e seus olhos brilharam, Stilinski ofegou tentando respirar e tão rápido quanto as criaturas sumiram ele foi para o chão.
— Olhe atrás da orelha dele. — mandou a Yukimura mais velha.
Scott puxou a orelha do melhor amigo levemente para o lado, vendo o kanji marcado na pele.
— Funcionou. — disse McCall aliviado.
— Eu sou eu mesmo então? — perguntou Stilinski, se levantando.
— Mais você que nogitsune.
— Os Oni conseguem encontrá-lo? — questionou.
— Amanhã à noite. Noshiko respondeu. — Hoje está muito perto do amanhecer.
O rosto pálido de Stiles se contorceu em raiva. Não era aquela resposta que ele queria.
— Podem matá-lo? — completou.
— Depende do quão forte ele está. — ponderou ela.
— E Lydia? — McCall indagou. — Por que ele a levaria?
— Vantagem. — respondeu pela kitsune fazendo que McCall se virasse para ela.
— O poder dela você diz?
— O poder de uma banshee. — Noshiko concordou.
As Yukimura se retiraram, o Sol nascia lentamente no horizonte banhando a sala numa luz dourada.
— Você devia levá-lo para o pai dele. — murmurou.
— Hum? — Stiles murmurou em resposta.
— Seu pai, ele deve estar morto de preocupação com você. — reformulou a frase. — Devia ir vê-lo.
Scott concordou com a cabeça e foi buscar os capacetes de sua moto.
Algum tempo depois…
Depois de voltarem da delegacia, as bruxas concordaram em ajudar Scott a ficar de olho em Stiles enquanto Allison, os gêmeos e o Isaac tentavam achar algum rastro de onde Lydia estava.
Não havia levado mais de cinco minutos para que Stilinski pegasse no sono no sofá, estava encolhida na poltrona cochilando pela falta do que fazer. estava com Scott na cozinha, conversando sobre algo banal enquanto aproveitavam o café recém feito por Melissa, que havia saído para seu turno no hospital.
De súbito Stiles acordou, dando passos trôpegos em direção ao arco da cozinha. se levantou abruptamente, segurando o rapaz antes que ele caísse.
— Se acalme! Você está seguro, Stiles. — assegurou ela. — Você está bem?
— O… O que aconteceu? Quanto tempo fiquei apagado? — perguntou ele, piscando firmemente.
— Algumas horas apenas. — Scott respondeu. — Você deveria se sentar.
— Não não… Onde está meu pai?
— Está na Eichen House, procurando pela Meredith. — respondeu. — A gente prometeu que não ia tirar o olho de você enquanto ele estivesse fora.
— Ok, e os outros? — acrescentou ele, o soltou ao ter certeza que ele podia ficar em pé sozinho.
— Allison, Isaac e os Gêmeos estão todos procurando pela Lydia. — assegurou Scott. — Eles vão encontrá-la, Stiles.
Stilinski concordou com a cabeça, coçando compulsivamente uma parte de pele exposta em seu braço. Ele estava tremendo, puxando a jaqueta do braço do sofá a ofereceu para ele, que agradeceu com um murmuro e a vestiu.
— Você está bem? — Scott repetiu a pergunta.
— Sim, não sei porque parece que eu não consigo me aquecer. — respondeu o outro.
— Talvez você deva se sentar, se acalmar um pouco. — o alfa tocou a mão do amigo para ajudá-lo e automaticamente as veias de sua mão e braço ficaram negras. — Você está com dor.
— Não é tão ruim assim. — resmungou Stiles, ainda tremendo. — É mais como uma agulhada…
— Onde?
— Em todo lugar.
Scott foi tentar tirar a dor do amigo outra vez mas Stiles puxou sua mão para longe. — Você está congelando, Stiles. — Stilinski se sentou no sofá e Scott se abaixou em sua frente. — Diz a verdade, o quanto realmente dói?
Antes que Stiles respondesse o celular de Scott começou a vibrar dentro do bolso.
—É a Kira. — ele contou e Stiles concordou com a cabeça enquanto McCall foi para a cozinha atender. conjurou um selo andando cautelosa até Stiles.
— Vai te ajudar com o frio por um tempo. — explicou ela e a expressão assustada de Stiles se desfez. — Não vai doer nem nada, vou apenas deixar uma marca em você que vai agir para te esquentar.
Stiles ofereceu o braço e transferiu o selo que marcou a pele branca demais do garoto como tinta de caneta. Automaticamente ele parou de tremer, pelo menos tremer de frio.
— Meredith está na escola, temos que ir antes que chamem os enfermeiros. — Scott voltou para a sala.
Não fora preciso dizer mais nada para que os quatro saíssem correndo da casa, entrando no carro e subindo na moto, dirigindo acima do limite de velocidade para a escola na vã expectativa de que Meredith pudesse dar uma mínima pista de onde a banshee estava.
Blackburn POV On.
Corremos metade do corredor principal da escola, olhando de sala em sala tentando achar a garota. Por sorte estava na troca de aula então não havia basicamente ninguém fora do corredor.
—! — Scott chamou e eu e minha irmã nos viramos para olhar em sua direção. — Aqui!
Eles estavam na sala de música, corremos para o outro lado do corredor vendo Meredith em pé ao lado do piano, Finstock ao lado com um taser na mão e o enfermeiro brutamontes da Eichen House caído no chão tendo espasmos.
—Andem logo! — mandou o homem. — Tirem ela daqui!
Stiles puxou a garota para fora da sala, correndo para fora da escola com o restante em seu encalço. Meia hora depois estávamos todos de volta na casa dos McCall.
— O que você está fazendo aqui? — Scott indagou surpreso quando entramos em sua casa para dar de cara com um homem na casa dos quarenta anos conversando com Isaac.
— Não seria eu quem deveria fazer essa pergunta?
— Período livre. — rebateu.
— É, estamos fazendo um grupo de estudo. — Stiles completou a mentira.
— Quem são elas? — o homem gesticulou com a cabeça para mim, Meredith e minha irmã.
— Somos alunas novas. — respondi automaticamente. — os garotos estão nos ajudando com matemática.
— Então vamos começar a estudar. — Stiles cortou as explicações, guiando Meredith para as escadas. — Vamos subindo.
, Isaac e eu seguimos com tempo o suficiente para que eu ouvisse Scott chamar o homem de pai. Isso explica muita coisa. Entramos em um dos quartos e Meredith se sentou no pé da cama.
—Então… Lydia. Sabe onde ela está? — Stiles perguntou outra vez.
— Lydia… Você diz a garota de cabelos ruivos? — Meredith tinha o cenho franzido olhando para Stiles como uma criança perdida olha para um adulto.
— Sim! Ela mesmo. — Stiles concordou. — Agora você só precisa nos dizer onde ela está.
— Tudo bem… — os dois paspalhos olharam para a banshee em expectativa. — Se ela me disser.
— Se ela te disser? — Isaac repetiu a frase. — Pode perguntar a ela?
— Eu já perguntei. — respondeu Meredith com um meio sorriso orgulhoso.
— Ótimo. O que ela disse?
— Que não quer ser encontrada.
— Merda. — ouvi resmungar.
Isaac gesticulou com a cabeça para o banheiro e o seguimos para o cômodo adjacente.
— Você não vai torturar a garota de 45 quilos, Lahey.— respondeu rapidamente.
— Eu não falei de torturar! — Isaac se defendeu. — Falei de assustar.
Poderia até ser útil fazer algo do tipo mas a garota parecia… Ter sofrido o suficiente durante os seus dias no manicômio.
— Espera. — Isaac se pronunciou outra vez. — Você disse que ela ouve vozes?
Stiles concordou com a cabeça.
—Isso significa que ela é igual a Lydia? — todas as cabeças se viraram na direção da garota magrela. — Uma banshee?
Beacon Hills realmente não deixa de surpreender. Em todos esses anos conhecemos apenas uma banshee, que se matou porque não aguentava mais ouvir gente morta falando com ela.
— Talvez as vozes possam dizer a ela onde a Lydia está. — deu de ombros.
— Meredith? Querida? — chamei docemente e a banshee se virou para me olhar. — Pode tentar fazer algo para nós?
Meredith concordou lentamente com a cabeça enquanto Stiles se abaixava a sua frente.
— Tente focar nos sons a sua volta, no que você está ouvindo. — Stiles começou. — Foque no silêncio.
— Escute o silêncio. — Isaac completou, parecendo um eco do que Stilinski estava dizendo.
— Foque no silêncio. — Stiles repetiu.
— Escutando…
— Dá pra calar a boca? — acertou um tapa no ombro do lobisomem, que se calou.— Obrigado.
— Eu lido com isso, Isaac. — Stiles revirou os olhos. — Tenho mais experiência com banshees.
— É, e pacientes de manicômios. — Lahey murmurou e Stiles olhou para ele irritado.
— Ninguém vai atender? — Meredith interrompeu a breve discussão.
— Atender o quê?
— O telefone que está tocando. — ela respondeu inocentemente.
— Que telefone? — franzi o cenho confusa por um momento… Ah! Ela realmente focou no silêncio. Bati levemente no ombro de Stiles e ele pareceu entender o que significava, puxou o celular do bolso e fingiu atender uma chamada e passou o aparelho para a garota que segurou por alguns segundos na orelha e logo devolveu para Stilinski.
— Eles disseram Coup de foudre.
Descarga elétrica?
— Coup de quê? — Stiles tentou repetir. — Isso é espanhol?
— Tola eu que achei que você era o esperto da turminha do Scooby-Doo. — revirei os olhos e suspirei. — É francês, imbecil. Significa descarga elétrica, raio ou paixão súbita. Depende do sentido da frase.
Scott pareceu entender algo que o restante de nós não havia entendido.
— Oak Creek, ele levou ela para o campo de concentração! — ele exclamou.
— Só eu que perdi alguma coisa? — olhei para Isaac que deu de ombros.
Todos nós nos amontoamos dentro do jeep azul de Stiles, o tão falado Roscoe. Eu, e Isaac atrás, Scott e Stiles na frente. O último a ser citado parecia piorar a cada segundo que se passava, ficando cada vez mais pálido e com cara de doente.
— O que foi? — Stilinski se virou para Scott, estávamos quase chegando.
— Nada. Não se preocupe comigo.
— Está bem, eu digo. Parece que você está morrendo, está pálido, — Isaac se intrometeu. — magro e parece estar apenas piorando. Estamos todos pensando a mesma coisa. Quando encontrarmos o outro… você, ele vai parecer estar melhorando?
— O que acontece se ele se machucar? — McCall completou.
— Você diz se ele morrer eu também morro? Não me importa. — Stiles continuou olhando para a estrada. — Desde que ninguém mais morra por minha causa, me lembro de tudo o que eu fiz, Scott. Lembro de ter enfiado aquela espada em você.
— Não era você. — o alfa rebateu.
— É, mas eu lembro. Vocês tem que me prometer que não vão deixar mais ninguém se machucar por minha causa.
Ninguém concordou com o pedido nem descordou.
Quando chegamos Kira e Allison já estavam lá. Descemos do carro e paramos em frente ao portão, e eu checando nossas armas e o restante olhando para Scott.
— Já fizemos isso antes, pessoal. — disse ele. — Algumas semanas atrás estávamos fazendo um círculo igual a esse aqui e salvamos Malia, lembram? Uma completa estranha, essa é a Lydia.
— Estou aqui para salvar minha melhor amiga. — Allison apertou a mão envolta do arco. — Eu vim salvar o meu. — Scott olhou para Stilinski.
— Eu só não queria fazer minha lição de casa. — Isaac deu de ombros e eu engoli uma risada.
O campo era escuro e sujo, Allison, Kira, eu e Isaac tomamos o caminho de cima enquanto Stiles, Scott e foram para os túneis achar Lydia. Nós seríamos a distração. Como de esperado Noshiko estava no meio do pátio acompanhada de dois Oni.
— Volte para casa agora, Kira. — ela mandou. — E leve seus amigos com você.
— Não posso. — a garota respondeu prontamente, engatilhei minha arma olhando para as figuras sombrias atrás da kitsune. — Quando olhei para o jogo percebi quem eu estava realmente jogando. Era você.
Allison preparou uma flecha e ergueu o arco, apontando para o peito do Oni direito, segui a sua deixa e apontei para o do lado esquerdo. Balas de prata devem fazer algum efeito neles.
— Chame-os de volta. — a Argent mandou.
— Você acha que pode levá-lo vivo? — Noshiko quase ironizou. — Que pode salvá-lo?
— E se pudermos?
— Eu tentei algo do tipo setenta anos atrás. Seu amigo se foi. — ela se manteve firme na decisão.
— Como você pode ter certeza? — Kira deu três passos na direção da mãe. — E se Stiles não tiver que morrer? Talvez Rhys não tivesse tido que morrer também…
Os Oni tiraram as espadas das bainhas de forma sincronizada, se era porque Kira estava se aproximando ou porque Allison e eu não havíamos abaixo as armas eu não sabia.
— Vejo que não sou mais a Raposa, Kira. — Yukimura disse, quase orgulhosa. — Você é. Mas o Nogitsune ainda é o meu demônio para enterrar.
Os Oni desapareceram. Noshiko ofegou e cambaleou para trás, abrindo a mão direita, havia um vagalume em sua mão, a luz do pequeno inseto se apagou e ele virou fumaça.
— Mãe?
— O que foi?
— O que isso significa? — perguntei por último, sentindo a presença maligna atrás de mim.
— Significa que houve uma mudança de proprietário. — o Nogitsune respondeu por Noshiko, todos os Oni parados de prontidão atrás dele. — Agora eles me pertencem.
— Merda!
A luta começou acirrada considerando a desvantagem numérica e que as únicas pessoas que lutavam corpo a corpo contra as espadas éramos eu e Kira. Saquei o facão e parei a espada de um dos Oni antes que me acertasse no meio da testa.
— Como nós os paramos? — Kira berrou desesperada para a mãe, lutando contra dois Oni.
— Você não pode!
Isaac rugiu e pulou em um dos Oni, o derrubando e tentando imobilizá-lo. Estava ficando difícil me defender e impedir que os outros fossem mortos esfaqueados, um dos espadachins avançou contra Allison, me enfiei na frente e o puxei pela cabeça travando uma chave de perna que fez com que nós dois caíssemos, conjurei um selo de força em tempo recorde e bati com o facão na máscara da criatura, quebrando-a em vários cacos. Me levantei num salto e tirei a atenção de um dos Oni que estavam cercando Isaac, ninguém além do Nogitsune vai morrer hoje.
Em um milésimo de desatenção eu abri minha guarda e espadachim me acertou com a lâmina negra na lateral do tronco, cravando a espada na carne. Um berro de dor me escapou e uma flecha passou zunindo pela lateral da minha cabeça, acertando o Oni que estava prestes a executar Isaac no peito.
A criatura congelou, segurando a flecha pela extensão de madeira. Uma luz esverdeada começou a vazar da ferida, ela havia o matado, a caçadora havia matado um Oni. Cai de joelhos, puxando a espada do meu torso e a joguei no chão, me virei o mais rápido que pude com a arma na mão… Não rápido o suficiente para impedir que o Oni enterrasse a espada no estômago de Allison.
Meu corpo estava inteiro dolorido, mesmo depois de limpar os ferimentos que eu podia ver ainda sentia alguns cacos nas minhas costas. Olhei no espelho do banheiro e vi a área envolta do meu olho começava a ficar esverdeada e levemente inchada. Passei um pouco de antisséptico no corte do meu lábio e peguei as algemas de prata de cima da pia.
— Okay, bonitão, vamos prevenir outra luta... — puxei o lobisomem pelas mãos até a varanda do apartamento e o algemei na grade do parapeito.
Aproveitando que Hale estava desacordado, eu comecei a tentar arrumar um pouco da minha sala sem distender outro músculo. Empurrei o sofá com o pé e comecei a varrer os cacos de vidro do carpete, mas é melhor Derek ter uma ótima explicação para atrapalhar até minha mania de andar descalça em casa.
!
Merda, me esqueci totalmente de minha irmã e do nogitsune. Merda!
Peguei o celular do bolso e pra variar a tela estava toda ferrada e quebrada, apertei o primeiro número da discagem rápida e esperei que ela atendesse.
— Você está bem, ? — ela perguntou assim que atendeu.— O que ele fez com você?
— Quê? Como você sabe de Derek? — franzi a sobrancelha em confusão.
— Ahn? Quem falou de Derek? O nogitsune fez alguma coisa, mas eu não pude ir te socorrer porque salvamos Stiles! — ela tagarelou tão rápido que se eu não fosse rápida não teria entendido nada.
E agora o lobisomem assassino querendo me trucidar fazia sentido.
— O quê? Como?!
— Scott entrou na cabeça da coisa e trouxe ele de volta! Aquela porcaria psíquica de lobisomem. — ela explicou. — Mas o que aconteceu com o Derek?
— Ele apareceu na minha porta quando eu estava saindo para a casa de Scott, tipo assassino psicótico tentando me estripar, basicamente. — contei. — Mas agora faz sentido a raiva sem razão, a Coisa deve ter feito algo com ele.
— Você não matou ele, matou? — não precisava vê-la para saber que estava com aquela cara tosca que sempre fazia quando tinha dúvida.
— Ele está bem vivo, mas destruiu metade da sala. — expliquei, sentindo uma fisgada no ombro ao tentar varrer os cacos de vidro e segurar o celular ao mesmo tempo. — E estou com um belíssimo olho roxo.
— Derek Hale te deu um olho roxo? — engoliu uma risada. — O que? Vai me dizer que não lutou para machucar?
— Prometi para Peter que não feriria o garoto. — revirei os olhos com a minha desculpa furreca.
— Tá, e eu acredito. — ironizou ela. — Eu vou desligar, maninha, tome cuidado com o lobo.
— Não morra, Ferrugem.
Desliguei a chamada e deixei a vassoura de lado com a pá. Me aproximei do lobisomem desacordado e deixei que meus olhos assumissem a verdadeira forma, comecei a entoar o feitiço de revelação esperando que o controle mental executado pelo espírito se manifestasse no mínimo de modo espectral. Não por sangue. A blusa vermelha começou a ficar preta quando sangue começou a escorrer do ombro que o Oni havia ferido, puxei a gola da camiseta e vi a ferida ainda aberta sangrando.
Porque diabos ele ainda não havia se curado?
Pela profundidade do corte o ferimento já deveria ter cicatrizado há horas atrás. Dei continuidade ao feitiço e a ferida sangrou mais ainda até que um vagalume morto saiu misturado com o sangue negro, achei a razão do controle mental. Esmaguei o vagalume entre o polegar e o indicador me levantando para ir buscar minha maleta de utensílios médicos para dar o devido atendimento para o ferimento, que se não estava curando precisaria de pontos.
Peguei a maleta debaixo do gabinete da pia e alguns pacotes de gaze para estancar todo aquele sangue. Joguei antisséptico na ferida e pressionei com força o suficiente até que o sangramento começasse a parar, considerando o tamanho do corte deveria estar doendo bastante e eu estava quase sentindo pena do estado que aquilo estava, tratei do tiro do joelho e ao apertar a pólvora no buraco ele soltou um baixo grunhido de dor.
— O… O que?... — o lobisomem gemeu quando começou a recobrar a consciência lentamente. — Ouch!
— Bom dia, Bela Adormecida. — debochei automaticamente. — Desculpe as algemas mas não estou muito afim de tomar outra cabeçada na cara…
Derek permaneceu em silêncio, como se estivesse tentando absorver o que havia acontecido, preparei a agulha para dar os pontos e esterilizei com o isqueiro que estava no meu bolso.
— Vou te costurar, por favor não faça barulho porque já estou quase sendo expulsa do prédio. — segurei a agulha e auxiliei com a pinça para dar o primeiro ponto, e pelo tamanho daquele talho seria necessário no mínimo vinte pontos e mais sangue ainda no meu chão, como se não me bastasse a montanha de cacos de vidro na sala. – Por que você não está curando normalmente?
— Não sei… Imaginei que fosse por ter sido feita pela espada de um Oni. — Derek explicou. — E me costurar vai adiantar?
— Vai, ou ninguém te ensinou sobre o processo de cicatrização dos lobisomens? — arqueei uma sobrancelha e usei uma bola de algodão para limpar o sangue de cima dos pontos já dados. — Considerando que vocês tem o mesmo processo de cura que os humanos apenas cem vezes mais rápido, estou apenas dando uma ajuda externa para facilitar o trabalho do seu próprio sistema.
— Você é boa nisso… — Hale comentou enquanto eu já estava fechando metade da ferida.
— Explicando seus próprios poderes? — debochei, tentando não sentir dor na garganta ao dar risada.
— Não, em suturar feridas.
— Ah sim, eu frequentei uma faculdade de medicina alguns anos atrás. — expliquei, relembrando brevemente dos meus anos em Oxford. — É o tipo de coisa que não se esquece tão fácil como fazer.
Podia sentir o olhar constante sobre mim enquanto eu fingia estar concentrada em dar os pontos, por mais que pudesse fazer aquilo mesmo de olhos vendados. A verdade era que não queria causar culpa nele pelo o que o nogitsune fez.
— ?
— Hum?
— Olhe para mim.
Meu rosto não estava em seu melhor estado no momento depois de uma cabeçada e três murros, também havendo a marca arroxeada de dedos no meu pescoço, levantei o rosto o suficiente para que os cabelos saíssem do meu campo de visão. Derek encarou meu rosto marcado por alguns minutos, os belos olhos azuis cheios de pesar.
— Está tudo bem, juro. — continuei dando os pontos. — Já estive em piores condições.
— Eu… Eu sinto muito, de verdade. — seu tom de voz era baixo e quase vacilante. — Eu não sei como ele fez aquilo, mas eu só não conseguia parar…
— Estou bem, sério. — tentei dar um sorriso tranquilizador mas o corte no meu lábio me impediu. — São apenas ferimentos superficiais, nem doem tanto assim.
Uma belíssima mentira, no momento até para falar eu estava sentindo dor e a pele das minhas costas estava queimando com o ardor dos cortes abertos. Mas pelo menos eu sempre soube mentir bem, coisa que milênios como mercenária eu aprendi a fazer maravilhosamente bem, mas mesmo assim ele pareceu ver completamente através da minha mentira. Finalizei os pontos e limpei com mais um pouco de antisséptico, tampei com gaze limpa e guardei a pinça dentro da maleta.
— Agora vou abrir as algemas, vai doer um pouquinho. — toquei seus pulsos, vendo as queimaduras superficiais que prata havia causado na pele, destravei e as abri lentamente para não machucar mais ainda. — Você está bem?
Ofereci uma mão e ele aceitou a ajuda para se levantar, peguei a maleta com os utensílios sujos do chão e entrei para o apartamento, limpei o sangue das minhas mãos rapidamente com água.
— ? Suas costas estão sangrando. — a voz rouca e baixa tirou a minha atenção da água, girei o registro da torneira e puxei a manga da camiseta vendo o tecido escuro manchado de vermelho. — Você está bem?
— Sim, só devo ter deixado algum caco para trás. — respondi, puxei a barra da camisa para cima e fiquei apenas com o top esportivo. Garanti que a pinça estava limpa e puxei uma das banquetas da bancada da cozinha, me sentei e tentei ignorar a dor aguda e irritante que vinha do meu ombro.
— Deixe me te ajudar… ele pediu, neguei com a cabeça ao puxar um caco de vidro pela ponta para fora da minha pele. — Eu machuquei você, permita ao menos que eu ajude, .
Soltei um suspiro exasperado e entreguei a pinça para ele. Meu orgulho não permitia que eu aceitasse ajuda externa mas nem que eu quisesse conseguiria alcançar todos os cacos cravados, o toque das mãos grandes fora delicado ao tirar o pequeno estilhaço de vidro quase que com medo.
— Avise se eu machucar mais que ajudar. — quase soltei uma risada com suas palavras. — Já passei por pior, pode acreditar.
Um silêncio pesado se instalou entre nós, quase pude sentir o tamanho de sua culpa mas o inchaço do meu olho roxo era mais gritante.
— Você tinha uma arma… Por que não deu um tiro na minha cabeça? — ele questionou.
— Eu… Todos nós morreremos um dia, quando o seu dia chegar não será pelas as minhas mãos, Derek. — grunhi quando ele puxou outro caco, pela dor que senti aquele era maior. — E eu fiz uma promessa a Peter de que não mataria você, e seu tio pode ser um tremendo babaca mas devo alguns favores a ele.
— Não pensou assim no hospital.
— Eu não conhecia você no hospital. — retruquei, nem sabia que meu futuro estava entrelaçado ao dele. — Aquilo foi diferente, e eu salvei sua vida, não salvei?
Ele não se importou em responder, eu não me daria o trabalho. Não sabia exatamente o que sentir, dor ou raiva, raiva porque mesmo com aqueles hematomas espalhados pelo meu rosto e a traqueia quase esmagada, eu não sentia raiva nem aquela vontade insana de matar quem quer que fosse que erguesse a mão na minha direção.
O que havia de errado comigo?
Hale terminou de remover os cacos e limpou os cortes com todo o cuidado do mundo, não imaginei que ele seria tão gentil com alguém que o causara tanta dor. Física, claro.
— Obrigado… — puxei a blusa da bancada, me vestindo. — E mais uma vez, Derek, não sinta culpa por algo que não foi seu feito.
— Sei que a culpa não é minha, mas ainda sim fui eu quem deixou essas marcas em você. — no momento parecia impossível que minha garganta funcionasse propriamente e impedisse a falta de ar que me acertou. — Você estaria conseguindo respirar certamente se eu tivesse sido forte a ponto de lutar contra ele.
— Já tive alguém na minha cabeça, controlando meu corpo enquanto eu ficava como plateia. Sei o quanto é difícil. — arrumei a blusa no meu corpo. — E eu não sou nenhuma boneca de porcelana pela qual você deve sentir pena.
— Não foi isso que eu quis dizer, .
— Não me interessa, deveria estar contente que não matei você como meu instinto mandou, mas burra como sou não obedeci. — não sabia de onde toda aquela irritação vinha mas nunca havia conseguido manter minhas emoções sob controle, então que se dane. — Agora faça o favor de sair, já tirei o vagalume de você, não vai tentar matar ninguém na rua.
Abri a porta e segurei pela maçaneta. Ele olhou para mim e riu. O infeliz riu!
— Isso lhe cai bem, combina com a sua amargura. — Hale comentou, parado na soleira da porta.
— O que me cai bem?
— Afastar quem tenta se aproximar de você. — ele arqueou uma sobrancelha. — Vem no pacote de bruxa imortal amargurada com o passado?
Bufei de raiva e soltei a porta, a batendo com um alto estrondo. A sensação era de que o sangue estivesse fervendo em minhas veias, dando a sensação de que meu corpo todo estava em chamas, acertei um murro na parede no automático, meu punho afundando no gesso.
— Merda! Merda! — praguejei ao sentir os nós dos dedos sangrarem. — Se controle, porra!
POV Off.
estava se sentindo perdida, metade dela queria permanecer com Scott até encontrar Lydia e a outra queria correr de volta para casa e garantir que estava bem. A ruiva temia que a afeição que a outra bruxa estava começando a nutrir pelo mais novo dos Hale, sem nem que ela mesma notasse, tivesse acabado por influenciar a luta entre os dois e o quanto sua irmã estaria ferida.
Mesmo que a possibilidade de perder uma luta para um lobisomem lhe parecesse estúpida demais para ser verdade, ela ainda estava preocupada.
— Pode checar ela. — Scott murmurou, coçando brevemente os olhos.
— Como?!
— Sua preocupação é quase palpável. Está preocupada com . — Scott esclareceu, parecia mais cansado que qualquer outra vez que havia o visto. — Pode ir, te ligo caso aconteça algo.
não sabia exatamente o porquê de seu desconforto, agora ela já estava vestidas com suas roupas normais invés da camiseta enorme do time de lacrosse que Scott havia lhe emprestado. A bruxa se levantou da cadeira e vestiu sua jaqueta parando a poucos passos do alfa.
— Obrigado por me deixar passar a noite. — a ruiva murmurou, batucando levemente os dedos no mármore da cozinha. — Volto logo para ajudar a procurar pela Lydia.
— Toda ajuda é bem-vinda.
caminhou lentamente até a porta, sem saber exatamente se devia fazer alguma coisa. Se queria fazer alguma coisa. Ela suspirou exasperada, dando meia volta e voltando para perto do lobisomem, o envolvendo em um tímido abraço que o pegara completamente de surpresa mas retribuiu com a mesma intensidade contida.
— Vamos encontrá-la, eu prometo. — a ruiva sussurrou, tentando confortá-lo. — Voltarei antes que possa sentir minha falta.
McCall soltou uma baixa e curta risada com as palavras da ruiva, que saiu mais rápido do que havia voltado, deixando para trás apenas um suave traço de seu perfume floral no ar.
Algum tempo depois…
abriu a porta do apartamento uma hora depois de sair da casa de Scott, tomando um susto com a bagunça alastrada pela sala. Claramente a luta havia sido pior do que ela havia imaginado.
— Porra... — resmungou ela, tomando cuidado para não pisar em nenhum caco de vidro. — ?! !
A outra bruxa enfiou a cabeça para fora do arco da cozinha.
— Poderia parar de gritar? Ainda não morri. — a morena resmungou, ocupada em enfaixar sua mão ferida, que havia parado de sangrar agora.
— Você está bem? — perguntou, observando enquanto a irmã fazia o último curativo. — Deus, você está horrível…
— Estou bem ciente desse detalhe. — revirou os olhos e prendeu a atadura em sua mão com um pedaço de esparadrapo. — O que aconteceu na casa do alfa?
— Lydia foi sequestrada. — respondeu, andando cautelosamente pela sala para ter melhor visão do estrago causado. — Precisam de nós para tentar encontrá-la e acabar de vez com esse Nogitsune.
— Agora que ele foi separado do garoto podemos finalmente matá-lo? — parecia animada demais com a ideia. Ela queria vingança.
— Podemos, mas ele ainda tem a aparência do Stiles, apenas mais pálido e com cara de doente. — a ruiva explicou, olhando para a pequena mancha de sangue no chão da varanda. — Então se for dar um golpe ou tiro fatal tenha certeza de que não está matando a pessoa errada.
Um leve silêncio se seguiu pelos minutos seguintes enquanto limpava e armazenava propriamente seus instrumentos cirúrgicos e tentava limpar a zona que havia se tornado a sala.
— Glamour deixa um rastro muito forte? — perguntou enquanto guardava a maleta no gabinete da pia.
— Não que eu esteja ciente.— respondeu, jogando dentro de um saco de lixo o que um dia fora as pernas de madeira da mesinha de centro. — Quer esconder a sua cara de quem foi usada como saco de pancada pelo Rocky Balboa?
— A cada palavra trocada com você meu ego vai parar na estratosfera, irmãzinha. Sabe que eu acho que verde, roxo e vermelho combinam comigo? Realçam a cor dos meus olhos. — a mais nova soltou uma gargalhada involuntária. — Lógico que eu quero esconder meu rosto! Imagina só se alguma criança me vê assim na rua, vai ter pesadelos para o resto da vida.
— Não está tão ruim assim, só tá um pouquinho... — olhou para a irmã com uma sobrancelha arqueada enquanto a ruiva abria e fechava a boca sem saber exatamente qual palavra usar. — É, tá bem ruim, tá horrível na verdade.
começou a rir copiosamente sem nenhum motivo aparente enquanto a olhava com uma expressão que ela chamava de “Que porra você tá fazendo, sua retardada?”.
— Eu abri um buraco na parede, eu fiquei tão irada que quebrei a parede. — a morena gemeu de dor na garganta entre uma risada.
— Sim, eu notei junto com as poças de sangue e os danos na mobília que nem nossa é. — negou levemente com a cabeça. — Deus, você é esquisita.
murmurou quase que inaudível o feitiço de glamour, o selo com as runas se formou em seu antebraço, enquanto a ruiva murmurava o feitiço, o selo se desfez no que se assemelhava a glitter e caiu sobre a cabeça de , num estalar de dedos seu rosto estava normal outra vez ou era o que feitiço fazia ver.
— Pronto.
se levantou e olhou para o espelho ornamentado pendendo ao lado da porta, a superfície trincada refletia seu rosto intacto mas ela ainda podia sentir os cortes e áreas doloridas dos hematomas se os tocasse. Ainda era melhor que sair toda roxa de casa. Ela agradeceu a irmã e seus olhos brilharam em dúvida.
— O que vamos fazer? — questionou.
— Eu pretendo ajudar a achar Lydia, Deus sabe lá o que ela está passando na mão do nogitsune. — a ruiva respondeu — A limpeza pode ficar para depois.
A ruiva abriu o gabinete sob a pia e tirou de lá de dentro a caixa preta que continha todo o armamento que haviam trazido para a cidade. Não era muito mas era o suficiente. Enquanto a mais nova se armava encarou a bandana vermelha, o pedaço de tecido carmesim era quase tão velho quanto ela mesma, carregando muita história consigo.
— Nós vamos achar essa criatura e vamos acabar com isso de uma vez. — disse por fim, pegando o tecido, ela estava com raiva.
Meia hora depois estavam ambas paradas na sala de estar da casa dos McCall enquanto Scott tentava entrar em contato com Noshiko Yukimura e Melissa examinava o Stiles que eles acreditavam ser o humano. O plano era fazer com que os Oni garantissem que Stiles era realmente Stiles e se não fosse… Bom, era para isso que elas estavam ali.
A mão de estava fechada com força em volta da coronha de sua arma, os braços cruzados sobre o peito. Ela não gostava da presença de Noshiko nem dos Oni, e agora que Scott havia lhe contado toda a história que a mulher havia contado ao alfa e Kira, nada lhe tirava da cabeça que Noshiko era sua contratante.
Era a única opção com no mínimo um pingo de sentido.
trocou o peso do corpo dos pés desconfortável, por ser quem havia lançado o glamour a ruiva podia ver os ferimentos da irmã e se olhasse por tempo demais para as marcas de dedos em seu pescoço, marcando a pele pálida com um tom quase violeta, ela iria querer arrebentar Derek Hale na porrada.
— Você está bem? — perguntou, a voz ainda baixa e fanha, o facão estava preso em um lado de sua cintura e a Desert Eagle no outro.
— Sim, apenas preocupada. — respondeu, coçando a nuca. — Alguma coisa me diz que Noshiko Yukimura é quem está nos pagando.
— Essa ideia também está na minha cabeça. — ela concordou, olhando fixamente para uma das janelas da sala. — Coincidência demais ela saber tanto sobre o nogitsune e Mr. M ser familiar com a criatura…
passou a língua pelo fino corte em seu lábio, sentindo um leve ardor. O que ela mais queria no momento era estar nas praias de Saint Barths com uma bebida gelada na mão e a água do mar tocando seus pés.
A vida realmente é uma merda.
Ela ouviu o som dos paços de Scott entrando na casa outra vez e o lobisomem entrou no campo de visão de ambas as bruxas.
— Estão vindo, se os oni o marcarem é porque deu certo caso contrário… — concordou com a cabeça ao ouvir as palavras do rapaz, deu meia volta e saiu para a varanda, manca o suficiente para que o lobiomente notasse. — Ela está bem?
— Sim, está. Hum… Ela meio que se controlou mais do que deveria na hora de conter Derek. — tentou explicar.
Scott franziu a sobrancelha, um pouco confuso com a escolha de palavras da ruiva.
— Acredite, se ela não tivesse… Digamos que de Hale restaria apenas uma pessoa.
McCall não fez mais perguntas sobre o que havia acontecido no apartamento das bruxas, a expressão de desgosto de lhe denunciava que não era um assunto desejável naquele momento.
estava na varanda com um cigarro, sua face bem desenhada estava concentrada no enfeite pendurado no teto, os sinos chacoalhando suavemente com o vento. Ouvindo passos na frente da casa ela apagou a guimba do cigarro na sola de sua bota e voltou para dentro antes de que Noshiko entrasse.
— Ele está pronto? — ela perguntou, parando no meio da sala.
— Vou trazê-lo aqui. — foi a resposta que Scott deu, subindo as escadas para o segundo andar. As Blackburn se encostaram no balcão da cozinha, lado a lado elas encaravam Yukimura atentas.
— Você olha com toda essa raiva para todos que te pagam meio milhão, ? — a mulher se virou, não havia sorriso em seu rosto para denunciar o tom zombeteiro.
— Apenas os que deixam detalhes vitais de fora. — respondeu pela irmã.
olhou para sua direita, vendo Scott e Melissa ajudando Stiles a descer os degraus da escada. O garoto parecia que ia desmaiar a qualquer momento.
— Você me reconhece? — questionou Noshiko.
Stiles não respondeu mas era evidente que sim, o adolescente se soltou de Scott e deu passos bambos na direção da mais velha quando Kira entrou correndo pela porta da frente.
— Mãe, não! — ela tentou puxar a outra pelo braço.
— Está tudo bem, foi eu quem pediu que ela viesse. — Stiles tentou lhe assegurar.
— É você quem vai ser esfaqueado por espadas. — retorquiu ela. — Mãe? Não faça isso com ele.
Noshiko não olhou para a filha outra vez.
— Já está feito.
Stiles olhou para ela em dúvida, no momento seguinte as formas sombrias dos Oni se materializaram atrás dele, dois em cada lado até que o terceiro apareceu em sua frente. A criatura agarrou Stilinski pelo pescoço e seus olhos brilharam, Stilinski ofegou tentando respirar e tão rápido quanto as criaturas sumiram ele foi para o chão.
— Olhe atrás da orelha dele. — mandou a Yukimura mais velha.
Scott puxou a orelha do melhor amigo levemente para o lado, vendo o kanji marcado na pele.
— Funcionou. — disse McCall aliviado.
— Eu sou eu mesmo então? — perguntou Stilinski, se levantando.
— Mais você que nogitsune.
— Os Oni conseguem encontrá-lo? — questionou.
— Amanhã à noite. Noshiko respondeu. — Hoje está muito perto do amanhecer.
O rosto pálido de Stiles se contorceu em raiva. Não era aquela resposta que ele queria.
— Podem matá-lo? — completou.
— Depende do quão forte ele está. — ponderou ela.
— E Lydia? — McCall indagou. — Por que ele a levaria?
— Vantagem. — respondeu pela kitsune fazendo que McCall se virasse para ela.
— O poder dela você diz?
— O poder de uma banshee. — Noshiko concordou.
As Yukimura se retiraram, o Sol nascia lentamente no horizonte banhando a sala numa luz dourada.
— Você devia levá-lo para o pai dele. — murmurou.
— Hum? — Stiles murmurou em resposta.
— Seu pai, ele deve estar morto de preocupação com você. — reformulou a frase. — Devia ir vê-lo.
Scott concordou com a cabeça e foi buscar os capacetes de sua moto.
Algum tempo depois…
Depois de voltarem da delegacia, as bruxas concordaram em ajudar Scott a ficar de olho em Stiles enquanto Allison, os gêmeos e o Isaac tentavam achar algum rastro de onde Lydia estava.
Não havia levado mais de cinco minutos para que Stilinski pegasse no sono no sofá, estava encolhida na poltrona cochilando pela falta do que fazer. estava com Scott na cozinha, conversando sobre algo banal enquanto aproveitavam o café recém feito por Melissa, que havia saído para seu turno no hospital.
De súbito Stiles acordou, dando passos trôpegos em direção ao arco da cozinha. se levantou abruptamente, segurando o rapaz antes que ele caísse.
— Se acalme! Você está seguro, Stiles. — assegurou ela. — Você está bem?
— O… O que aconteceu? Quanto tempo fiquei apagado? — perguntou ele, piscando firmemente.
— Algumas horas apenas. — Scott respondeu. — Você deveria se sentar.
— Não não… Onde está meu pai?
— Está na Eichen House, procurando pela Meredith. — respondeu. — A gente prometeu que não ia tirar o olho de você enquanto ele estivesse fora.
— Ok, e os outros? — acrescentou ele, o soltou ao ter certeza que ele podia ficar em pé sozinho.
— Allison, Isaac e os Gêmeos estão todos procurando pela Lydia. — assegurou Scott. — Eles vão encontrá-la, Stiles.
Stilinski concordou com a cabeça, coçando compulsivamente uma parte de pele exposta em seu braço. Ele estava tremendo, puxando a jaqueta do braço do sofá a ofereceu para ele, que agradeceu com um murmuro e a vestiu.
— Você está bem? — Scott repetiu a pergunta.
— Sim, não sei porque parece que eu não consigo me aquecer. — respondeu o outro.
— Talvez você deva se sentar, se acalmar um pouco. — o alfa tocou a mão do amigo para ajudá-lo e automaticamente as veias de sua mão e braço ficaram negras. — Você está com dor.
— Não é tão ruim assim. — resmungou Stiles, ainda tremendo. — É mais como uma agulhada…
— Onde?
— Em todo lugar.
Scott foi tentar tirar a dor do amigo outra vez mas Stiles puxou sua mão para longe. — Você está congelando, Stiles. — Stilinski se sentou no sofá e Scott se abaixou em sua frente. — Diz a verdade, o quanto realmente dói?
Antes que Stiles respondesse o celular de Scott começou a vibrar dentro do bolso.
—É a Kira. — ele contou e Stiles concordou com a cabeça enquanto McCall foi para a cozinha atender. conjurou um selo andando cautelosa até Stiles.
— Vai te ajudar com o frio por um tempo. — explicou ela e a expressão assustada de Stiles se desfez. — Não vai doer nem nada, vou apenas deixar uma marca em você que vai agir para te esquentar.
Stiles ofereceu o braço e transferiu o selo que marcou a pele branca demais do garoto como tinta de caneta. Automaticamente ele parou de tremer, pelo menos tremer de frio.
— Meredith está na escola, temos que ir antes que chamem os enfermeiros. — Scott voltou para a sala.
Não fora preciso dizer mais nada para que os quatro saíssem correndo da casa, entrando no carro e subindo na moto, dirigindo acima do limite de velocidade para a escola na vã expectativa de que Meredith pudesse dar uma mínima pista de onde a banshee estava.
Blackburn POV On.
Corremos metade do corredor principal da escola, olhando de sala em sala tentando achar a garota. Por sorte estava na troca de aula então não havia basicamente ninguém fora do corredor.
—! — Scott chamou e eu e minha irmã nos viramos para olhar em sua direção. — Aqui!
Eles estavam na sala de música, corremos para o outro lado do corredor vendo Meredith em pé ao lado do piano, Finstock ao lado com um taser na mão e o enfermeiro brutamontes da Eichen House caído no chão tendo espasmos.
—Andem logo! — mandou o homem. — Tirem ela daqui!
Stiles puxou a garota para fora da sala, correndo para fora da escola com o restante em seu encalço. Meia hora depois estávamos todos de volta na casa dos McCall.
— O que você está fazendo aqui? — Scott indagou surpreso quando entramos em sua casa para dar de cara com um homem na casa dos quarenta anos conversando com Isaac.
— Não seria eu quem deveria fazer essa pergunta?
— Período livre. — rebateu.
— É, estamos fazendo um grupo de estudo. — Stiles completou a mentira.
— Quem são elas? — o homem gesticulou com a cabeça para mim, Meredith e minha irmã.
— Somos alunas novas. — respondi automaticamente. — os garotos estão nos ajudando com matemática.
— Então vamos começar a estudar. — Stiles cortou as explicações, guiando Meredith para as escadas. — Vamos subindo.
, Isaac e eu seguimos com tempo o suficiente para que eu ouvisse Scott chamar o homem de pai. Isso explica muita coisa. Entramos em um dos quartos e Meredith se sentou no pé da cama.
—Então… Lydia. Sabe onde ela está? — Stiles perguntou outra vez.
— Lydia… Você diz a garota de cabelos ruivos? — Meredith tinha o cenho franzido olhando para Stiles como uma criança perdida olha para um adulto.
— Sim! Ela mesmo. — Stiles concordou. — Agora você só precisa nos dizer onde ela está.
— Tudo bem… — os dois paspalhos olharam para a banshee em expectativa. — Se ela me disser.
— Se ela te disser? — Isaac repetiu a frase. — Pode perguntar a ela?
— Eu já perguntei. — respondeu Meredith com um meio sorriso orgulhoso.
— Ótimo. O que ela disse?
— Que não quer ser encontrada.
— Merda. — ouvi resmungar.
Isaac gesticulou com a cabeça para o banheiro e o seguimos para o cômodo adjacente.
— Você não vai torturar a garota de 45 quilos, Lahey.— respondeu rapidamente.
— Eu não falei de torturar! — Isaac se defendeu. — Falei de assustar.
Poderia até ser útil fazer algo do tipo mas a garota parecia… Ter sofrido o suficiente durante os seus dias no manicômio.
— Espera. — Isaac se pronunciou outra vez. — Você disse que ela ouve vozes?
Stiles concordou com a cabeça.
—Isso significa que ela é igual a Lydia? — todas as cabeças se viraram na direção da garota magrela. — Uma banshee?
Beacon Hills realmente não deixa de surpreender. Em todos esses anos conhecemos apenas uma banshee, que se matou porque não aguentava mais ouvir gente morta falando com ela.
— Talvez as vozes possam dizer a ela onde a Lydia está. — deu de ombros.
— Meredith? Querida? — chamei docemente e a banshee se virou para me olhar. — Pode tentar fazer algo para nós?
Meredith concordou lentamente com a cabeça enquanto Stiles se abaixava a sua frente.
— Tente focar nos sons a sua volta, no que você está ouvindo. — Stiles começou. — Foque no silêncio.
— Escute o silêncio. — Isaac completou, parecendo um eco do que Stilinski estava dizendo.
— Foque no silêncio. — Stiles repetiu.
— Escutando…
— Dá pra calar a boca? — acertou um tapa no ombro do lobisomem, que se calou.— Obrigado.
— Eu lido com isso, Isaac. — Stiles revirou os olhos. — Tenho mais experiência com banshees.
— É, e pacientes de manicômios. — Lahey murmurou e Stiles olhou para ele irritado.
— Ninguém vai atender? — Meredith interrompeu a breve discussão.
— Atender o quê?
— O telefone que está tocando. — ela respondeu inocentemente.
— Que telefone? — franzi o cenho confusa por um momento… Ah! Ela realmente focou no silêncio. Bati levemente no ombro de Stiles e ele pareceu entender o que significava, puxou o celular do bolso e fingiu atender uma chamada e passou o aparelho para a garota que segurou por alguns segundos na orelha e logo devolveu para Stilinski.
— Eles disseram Coup de foudre.
Descarga elétrica?
— Coup de quê? — Stiles tentou repetir. — Isso é espanhol?
— Tola eu que achei que você era o esperto da turminha do Scooby-Doo. — revirei os olhos e suspirei. — É francês, imbecil. Significa descarga elétrica, raio ou paixão súbita. Depende do sentido da frase.
Scott pareceu entender algo que o restante de nós não havia entendido.
— Oak Creek, ele levou ela para o campo de concentração! — ele exclamou.
— Só eu que perdi alguma coisa? — olhei para Isaac que deu de ombros.
Todos nós nos amontoamos dentro do jeep azul de Stiles, o tão falado Roscoe. Eu, e Isaac atrás, Scott e Stiles na frente. O último a ser citado parecia piorar a cada segundo que se passava, ficando cada vez mais pálido e com cara de doente.
— O que foi? — Stilinski se virou para Scott, estávamos quase chegando.
— Nada. Não se preocupe comigo.
— Está bem, eu digo. Parece que você está morrendo, está pálido, — Isaac se intrometeu. — magro e parece estar apenas piorando. Estamos todos pensando a mesma coisa. Quando encontrarmos o outro… você, ele vai parecer estar melhorando?
— O que acontece se ele se machucar? — McCall completou.
— Você diz se ele morrer eu também morro? Não me importa. — Stiles continuou olhando para a estrada. — Desde que ninguém mais morra por minha causa, me lembro de tudo o que eu fiz, Scott. Lembro de ter enfiado aquela espada em você.
— Não era você. — o alfa rebateu.
— É, mas eu lembro. Vocês tem que me prometer que não vão deixar mais ninguém se machucar por minha causa.
Ninguém concordou com o pedido nem descordou.
Quando chegamos Kira e Allison já estavam lá. Descemos do carro e paramos em frente ao portão, e eu checando nossas armas e o restante olhando para Scott.
— Já fizemos isso antes, pessoal. — disse ele. — Algumas semanas atrás estávamos fazendo um círculo igual a esse aqui e salvamos Malia, lembram? Uma completa estranha, essa é a Lydia.
— Estou aqui para salvar minha melhor amiga. — Allison apertou a mão envolta do arco. — Eu vim salvar o meu. — Scott olhou para Stilinski.
— Eu só não queria fazer minha lição de casa. — Isaac deu de ombros e eu engoli uma risada.
O campo era escuro e sujo, Allison, Kira, eu e Isaac tomamos o caminho de cima enquanto Stiles, Scott e foram para os túneis achar Lydia. Nós seríamos a distração. Como de esperado Noshiko estava no meio do pátio acompanhada de dois Oni.
— Volte para casa agora, Kira. — ela mandou. — E leve seus amigos com você.
— Não posso. — a garota respondeu prontamente, engatilhei minha arma olhando para as figuras sombrias atrás da kitsune. — Quando olhei para o jogo percebi quem eu estava realmente jogando. Era você.
Allison preparou uma flecha e ergueu o arco, apontando para o peito do Oni direito, segui a sua deixa e apontei para o do lado esquerdo. Balas de prata devem fazer algum efeito neles.
— Chame-os de volta. — a Argent mandou.
— Você acha que pode levá-lo vivo? — Noshiko quase ironizou. — Que pode salvá-lo?
— E se pudermos?
— Eu tentei algo do tipo setenta anos atrás. Seu amigo se foi. — ela se manteve firme na decisão.
— Como você pode ter certeza? — Kira deu três passos na direção da mãe. — E se Stiles não tiver que morrer? Talvez Rhys não tivesse tido que morrer também…
Os Oni tiraram as espadas das bainhas de forma sincronizada, se era porque Kira estava se aproximando ou porque Allison e eu não havíamos abaixo as armas eu não sabia.
— Vejo que não sou mais a Raposa, Kira. — Yukimura disse, quase orgulhosa. — Você é. Mas o Nogitsune ainda é o meu demônio para enterrar.
Os Oni desapareceram. Noshiko ofegou e cambaleou para trás, abrindo a mão direita, havia um vagalume em sua mão, a luz do pequeno inseto se apagou e ele virou fumaça.
— Mãe?
— O que foi?
— O que isso significa? — perguntei por último, sentindo a presença maligna atrás de mim.
— Significa que houve uma mudança de proprietário. — o Nogitsune respondeu por Noshiko, todos os Oni parados de prontidão atrás dele. — Agora eles me pertencem.
— Merda!
A luta começou acirrada considerando a desvantagem numérica e que as únicas pessoas que lutavam corpo a corpo contra as espadas éramos eu e Kira. Saquei o facão e parei a espada de um dos Oni antes que me acertasse no meio da testa.
— Como nós os paramos? — Kira berrou desesperada para a mãe, lutando contra dois Oni.
— Você não pode!
Isaac rugiu e pulou em um dos Oni, o derrubando e tentando imobilizá-lo. Estava ficando difícil me defender e impedir que os outros fossem mortos esfaqueados, um dos espadachins avançou contra Allison, me enfiei na frente e o puxei pela cabeça travando uma chave de perna que fez com que nós dois caíssemos, conjurei um selo de força em tempo recorde e bati com o facão na máscara da criatura, quebrando-a em vários cacos. Me levantei num salto e tirei a atenção de um dos Oni que estavam cercando Isaac, ninguém além do Nogitsune vai morrer hoje.
Em um milésimo de desatenção eu abri minha guarda e espadachim me acertou com a lâmina negra na lateral do tronco, cravando a espada na carne. Um berro de dor me escapou e uma flecha passou zunindo pela lateral da minha cabeça, acertando o Oni que estava prestes a executar Isaac no peito.
A criatura congelou, segurando a flecha pela extensão de madeira. Uma luz esverdeada começou a vazar da ferida, ela havia o matado, a caçadora havia matado um Oni. Cai de joelhos, puxando a espada do meu torso e a joguei no chão, me virei o mais rápido que pude com a arma na mão… Não rápido o suficiente para impedir que o Oni enterrasse a espada no estômago de Allison.
Capítulo 16
estaria sendo hipócrita se dissesse que não havia congelado no lugar ao ver sua irmã caída desacordada no chão envolta por uma poça de sangue e Scott segurando o corpo sem vida de Allison Argent. A ruiva correu para a irmã, tirando a camisa xadrez que estava usando por debaixo da jaqueta de couro para estancar o sangramento, o corte era muito fundo e extenso demais para que apenas alguns pontos e um curativo dessem conta.
Blackburn começou a xingar mentalmente, tentando inutilmente cobrir o ferimento com a blusa.
— Ela está viva? — Isaac gemeu de dor, se levantando com dificuldade.
— Não por muito tempo, preciso da ajuda de Deaton. — ela respondeu, voltando a arma no coldre.
— Você leva ela para clínica. Yukimura? — Christopher se pronunciou, se virou para ele surpresa com a súbita presença do homem.
— Sim?
— Você leva Stiles. — ele engoliu em seco. — Eu assumo daqui.
fechou os olhos com força e os abriu, agora em sua verdadeira forma. Um enorme selo se formou no ar enquanto ela continuava a entoar um feitiço em latim, o corpo de fora do chão para o carro de Stiles e o pátio virou uma zona.
— Quando a polícia perguntar, foi um roubo de carro.
Deaton se assustou quando passou correndo pela porta da clínica carregando a irmã mais velha que vagava entre a consciência e a escuridão.
— Preciso da sua ajuda, agora! — pediu ela, a ferida aberta lavando sua mão de sangue.
— Traz ela para dentro. — Allan abriu o portão e correu para dentro, deitando a irmã na maca. — Os Oni fizeram isso?
— Sim, Lydia está a salvo mas Allison… Ela está morta. — contou a bruxa, o veterinário resmungou algo e pegou um bocado de gaze e antisséptico.
— O Nogitsune? — ele quase soou esperançoso que a notícia não fosse ficar pior do que já estava.
— Fugiu, agora ele tem controle dos Oni. — suspirou cansada, se apoiando na outra maca. — Allison conseguiu matar um deles antes de…
Deaton concordou com a cabeça, não precisando de mais detalhes ele começou a costurar o ferimento de com cuidado. foi para a sala de espera da clínica no intuito de deixar Deaton trabalhar em paz, ela se jogou em uma das poltronas e olhou para as mãos sujas de sangue se sentindo mais cansada que o normal, como se suas energias tivessem sido sugadas para fora de seu corpo.
O dia todo havia sido exaustivo demais para todos.
Ela não havia tido tempo o suficiente para realmente conhecer Allison como deveria, mas isso não excluía o fato de que ela sentia profundamente pela morte da caçadora que tão jovem, havia morrido pelos amigos.
— ?— Deaton chamou e a ruiva levantou da cadeira num pulo indo ao auxílio do veterinário. — Preciso que cauterize a parte da ferida que já está suturada, o sangramento está atrapalhando.
A ruiva concordou com a cabeça e as chamas espectrais dançaram por seus dedos, tocando a pele de sua irmã. começou a piscar lentamente, sentindo o ardor do fogo em seu tronco.
— Onde… Eu estou? — ela murmurou quase baixo demais para que lhe ouvissem. — Ferrugem?
— Estou aqui, aguenta só mais um pouco. — sorriu para a irmã, tentando tranquilizá-la. — Quanto falta?
— Só mais três.
concordou brevemente com a cabeça, continuando a cauterizar a ferida. permaneceu imóvel na maca, encarando o teto do quarto da clínica com um olhar perdido, a cena do Oni atravessando a espada pelo estômago de Allison se repetia em sua mente, junto com a sensação de impotência por não ter tido a chance de fazer nada para impedir.
— Acabei. — Allan avisou, dando o nó do último ponto e queimou a área com a chama roxa.
— Obrigado. — murmurou, sentindo a pele arder quando o veterinário limpou com antisséptico. O veterinário se retirou e ajudou a irmã a se sentar, notando o semblante triste que esta tinha. — Não me olhe com essa cara, foi só um arranhão.
e seus eufemismos.
—Eu… Você está bem? — não sabia bem o que perguntar.
— Eu estou viva, que é mais do que podemos dizer sobre outros. — ela respondeu de maneira seca, tentando tapar o curativo com a barra da jaqueta sem muito sucesso. Pulando para fora da maca, gemeu de dor quando seus músculos se tencionaram. — Pode parar de fazer essa cara de encarnação ruiva do Dr. Phil? Eu não vou ficar sentada aqui chorando as minhas pitangas porque a garota morreu.
— Você não precisa chorar mas hum… sabe que pode conversar comigo, sempre. — deu um passo rápido para frente quando o corpo da irmã oscilou, pronta para segurá-la se ela caísse.
trincou os dentes, salientando o osso de sua mandíbula. Só Deus sabia o tamanho da raiva que ela estava sentindo naquele momento. O soco acertou a superfície da maca no mesmo momento em que soltou um sonoro ‘Porra!’, sua mão afundou no metal e apenas apertou carinhosamente o ombro da irmã.
— Melhor? — a pergunta da ruiva saiu em sussurro.
— É o suficiente, por enquanto.
concordou levemente com a cabeça, oferecendo o braço para que a irmã se apoiasse enquanto andava, a morena prontamente aceitou. Antes que as duas pudessem sair da sala, Deaton retornou na companhia de Scott e Lydia.
— Stiles e Kira disseram que foi o Nemeton que manteve preso. — contou o alfa.
— O nogitsune? — se intrometeu e Lydia concordou com a cabeça.
— O problema é que não está lutando contra uma pessoa, Scott. — Deaton suspirou exasperado, olhando para o buraco feito na maca. — Só se parece com uma, é um espírito que tomou a forma de uma pessoa.
— Do meu melhor amigo.
— Alguém já o prendeu antes. — Lydia cruzou os braços, desviando o olhar do chão para Deaton. — Alguém deve conseguir prender de novo, não é?
— Eu não faço ideia. Essa coisa foi preso muito tempo atrás, antes do Nemeton ter sido derrubado. Agora não tem o mesmo poder de antes. — respondeu o veterinário.
— Existe alguma coisa que tenha? — Scott se pronunciou. — Ou que chegue ao menos perto?
— Talvez… — foi quem respondeu. — A caixa que contém as garras de Talia Hale foi feita da madeira do Nemeton.
— Sim! — Allan concordou. — Quando a árvore era inteira, algumas vezes a madeira era usada para conter objetos poderosos, ou muito raros. Espera um minuto… Como você sabe dessa caixa?
— Você tem certeza que foi usada madeira do Nemeton? — Lydia questionou.
— Sim.
— Como?
tossiu sentindo o gosto de sangue na boca, ao que parece a ferida fora mais profunda do que ela havia imaginado.
— Porque foi eu quem fez aquela caixa. — respondeu a mais velha das Blackburn. — Durante a nossa primeira visita à cidade.
A memória do dia em que havia feito a caixa ainda estava fresca em sua mente, o trikelion esculpido na tampa havia sido feito com um selo mágico que tornava a caixa indestrutível. Perfeita para conter o poder das garras.
— Vou ligar para o Derek, pedir que nos traga a caixa. — McCall anunciou. — Precisamos fazer isso rápido.
A ligação com Hale durou cerca de vinte minutos, com Scott explicando detalhadamente o porquê de precisarem da caixa.
— Ele está com a caixa, vai nos encontrar.
Lydia piscou com firmeza, quase caindo para trás ao se apoiar no alfa.
— Lydia? — Allan a olhou preocupado. — O que foi?
— Algo está acontecendo. De repente tive essa sensação de… — respondeu a banshee. — Pressa. Como se estivéssemos ficando sem tempo.
virou a cabeça em direção a porta, ouvindo passos apressados se aproximando. Era Stiles e Kira.
— É, eu meio que também estou sentindo a mesma coisa. — Stiles concordou.
Traçando um plano rápido e eficiente, todos pegaram uma carona no jeep de Stiles, os seis dirigiram rumo a escola outra vez. Quando chegaram lá o prédio e estava sombrio e vazio, sem nenhum sinal dos Oni ou do nogitsune.
— Gente… Espera, eu sei o que vocês estão pensando. Se isso funcionar, pode me matar também. Mas mesmo se mate, vocês têm que continuar. — Stiles fez com que todos parassem nas portas da escola, antes de dizer suas últimas palavras ele olhou para as duas bruxas, na esperança que elas o ouvissem.— Sigam o plano, tudo bem?
— O plano é salvar você, Stiles. — Scott quase deu de ombros. — É o plano que eu vou seguir. Scott e Kira empurraram ambos os lados das portas duplas, a visão dentro do prédio era completamente diferente do comum: Um jardim oriental macabro e coberto de neve substituía o corredor da escola. , Stiles, Kira e Scott entraram mas não pode, como se uma barreira invisível a impedisse.
— ? — Lydia se virou, vendo a bruxa socar o ar. — Não consigo entrar. — respondeu ela. — Não dá!
— Eu…— começou a dizer algo mas as portas de madeira fecharam na cara de sua irmã.
— Porra! — praguejou, socando a porta.
Se virando lentamente ela viu a versão maligna de Stiles sentado nas escadas, dois Oni em pé atrás dele com as espadas em mãos, prontos para atacar.
— Own! Você nos trouxe um presente? — o tom de voz da criatura transbordava sarcasmo.
Se aproximando da cena ela viu com quem ele falava, era Derek. Seu rosto estava diferente, transformado com as feições lupinas, os olhos brilhando num azul sobrenatural, a caixinha de madeira do Nemeton em sua mão direita.
— Trouxe dois, na verdade. — os gêmeos se posicionaram atrás de Hale.
Blackburn fechou os olhos com força, se xingando mentalmente pelo o que estava perto de fazer. Quando abriu os olhos outra vez, agora não havia íris e pupilas, apenas uma cor azul escura levemente brilhante. Suas costas queimou com tanta força que ela gemeu de dor, se apoiando no corrimão para não cair.
O selo que marcava suas costas, contendo parte do seu poder, desapareceu, começando a descer lenta e silenciosamente as escadas, o chicote espectral se formou em sua mão.
— Eu já ouvi falar de uma alcateia de alfas, Derek. — zombou o nogitsune, os olhos do lobisomem focaram brevemente na bruxa e voltaram para o nogitsune. — Mas nunca de uma alcateia de antigos alfas. Meio triste, não acha?
— Posso não ser mais um alfa. — Hale respondeu. — Mas pode ter certeza que ainda luto como um.
O lobisomem rugiu como se fosse um grito de guerra, os Oni trocaram de posição, as espadas cortando o ar. Antes que a lâmina pudesse acertar Ethan no ombro o chicote estalou no ar e segurou a lâmina da espada no meio do trajeto.
— Surprise, motherfucker!
Enquanto isso, dentro da escola…
olhou para o que imaginou que fosse o céu, sentindo os flocos de neve caírem em seu rosto, estava escuro em uma cor que beirava o preto, sem estrela alguma. Seu radar interno estava apitando tão alto com a presença da força maligna que cada pelo em seu corpo estava arrepiado, ela estava em alerta apenas esperando o momento em que precisasse lutar. Blackburn virou-se num pulo quando ouviu os passos lentos e arrastados, vendo perfeitamente em sua frente o nogitsune, sua versão mumificada, num movimento automático Kira sacou sua espada.
— Assim como eu havia prometido, Stiles. — a criatura apontou para todo o grupo. — Nós vamos matar todos eles, um por um.
Um Oni se materializou das sombras ao lado de Kira, Yukimura rapidamente bloqueou a espada que vinha em sua direção com a própria. Scott estendeu o braço sobre o torço de , a puxando para trás junto com ele.
— O que diabos é isso aqui? — indagou o alfa. — Onde nós estamos?
— Entre a vida e a morte. — respondeu a raposa.
— Bardo. — Lydia completou.
— Mas não há nenhuma divindade pacífica aqui, Lydia. Você está morrendo, Stiles e agora todos que você se importa também estão morrendo.
— O que você quer dizer com isso?
— Eu conquistei quase todos os territórios do tabuleiro, Stiles. — ele começou a lista. — O hospital, a delegacia agora a clínica veterinária.
A raposa começou a andar de um lado para o outro, rondando o inimigo com os três Oni a postos, esperando a ordem para atacar.
— Conhece o ritual do seppuku*, Stiles? — a criatura começou a se aproximar lentamente.
— Não e nem quero. — Stilinski rebateu.
— Quando um samurai estripa a si mesmo com a própria espada para manter sua honra, mas não é o corte que o mata. — explicou o nogitsune. — O golpe letal é dado por seu kaishakunin*, que decapita o samurai com sua própria katana. Scott é o seu kaishakunin. Vou fazer com que o seu melhor amigo mate você, Stiles e você vai permitir que ele o faça, porque assim como você… Eles vão morrer.
fechou o punho envolta do cabo do facão, pronta para atacar o espírito que agora estava frente a frente com Stilinski.
— Todos que foram tocados pela a espada de um Oni vão morrer a não ser que Scott mate você antes. — completou a raposa.
— Porquê? Porque você está fazendo isso? — indagou o garoto.
— Para vencer o jogo.
Os Oni entraram em posição de ataque e puxou o facão da bainha, se virando para um dos três espadachins. Ninguém mais ia morrer. A luta estava acirrada considerando que os espadachins pareciam mais fortes que da última vez e focados em acertar qualquer ponto fraco desprotegido que vissem.
— Como é que nós entramos neste lugar? — McCall perguntou ofegante a Yukimura quando os três assumiram uma posição ombro à ombro. — E como é que saímos?
— Você está pergunto para mim? — rebateu a outra, indignada. — Um mês atrás eu não havia nem tocado em um espada!
— Vamos focar em não morrer no momento. — respirou fundo, rezando para que sua irmã estivesse com mais sorte que ela. — Depois a gente descobre como sair daqui.
— Isso não pode ser real… — murmurou Lydia, agachada atrás da pequena ponte ela ajudava Stiles a se manter em pé.
— É? Tente dizer isso para eles. — Stilinski respondeu, observando de onde estava seus amigos lutarem arduamente para se manterem vivos.
Os dedos de latejaram quando ela acertou outro soco na máscara do Oni com qual lutava, sua aura de poder estava tão forte combinada com a adrenalina que ela mal podia sentir a dor de seus pontos a essa altura do campeonato. Seu peito subia e descia freneticamente enquanto ela recuava rapidamente para longe do Oni, daquele jeito nunca que eles conseguiriam vencer. — Onde raios eles estão? — berrou Aiden, desviando de outro golpe do Oni com que lutava. — Na escola! — respondeu, tropeçando em um dos degraus da escada, Hale segurou com a mão a espada que iria acertar a bruxa, de novo. O espadachim recuou alguns passos, dando tempo o suficiente para que o lobisomem ajudasse a bruxa a levantar.
— A caixa! — Hale berrou, o chicote de bateu na parede e se enrolou no pescoço de um dos Oni que quase acertara Aiden. — Alguém tem que pegar a caixa!?
A bruxa parou ao lado do gêmeo, puxando freneticamente o ar enquanto observava os dois Oni que haviam se materializado atrás da pequena caixinha.
— Eu odeio ninjas. — Aiden rosnou.
— Seja bem-vindo ao clube.
Estavam todos encurralados, cada um em uma ponta do jardim com um Oni se certificando que permaneceriam onde estavam. Os olhos de vaguearam na direção de Lydia e Stiles, que havia pego a espada de Kira e agora a apontava para a própria barriga.
— Stiles, não! — Scott mandou desesperado.
— Solte a espada, Stilinski. Não precisa ser assim… — pediu a bruxa.
— E se salvar vocês? — Stilinski olhou para seu amigo. — E se salvar todos vocês?
— E se for apenas outro truque?! — Lydia ponderou.
— Sem mais truques, Lydia. — a raposa respondeu por Stiles. — Termine, Scott. Permita que seu amigo caia pela própria espada, faça por ele o que ele não pode fazer por si só. Faça!
Stilinski congelou olhando fixamente para o que via refletido na superfície lisa da espada: A capa de um livro sobre economia, ele virou a cabeça para o lado lentamente vendo uma mesa da escola coberta por neve. Finalmente havia entendido o que estava acontecendo.
— Você não tem mais nenhuma jogada. — provocou o nogitsune.
Stiles abaixou a espada e devolveu a arma para seu dono.
— Eu tenho sim. — discordou o garoto. — Uma jogada divina.
O garoto quase caiu e Lydia o segurou outra vez.
— Parem de lutar contra eles. Vocês tem que parar! — ele mandou, parecendo ainda mais pálido. — É uma ilusão, é tudo uma ilusão. Parece real mas não. Tem que confiar em mim, Scott, é uma ilusão.
McCall se virou na direção da criatura, os quatro Oni em formação de fila para defender seu mestre. Caminhando em linha em direção ao nogitsune, eles não se defenderam quando os Oni retalharam cada pedaço de pele que podiam, o alfa agarrou o espírito pelo colarinho da jaqueta aviadora e o empurrou contra a porta dupla, de súbito a visão do jardim se dissolveu e eles estavam de volta ao corredor, intactos.
— Nós… Nós estamos bem. — comentou McCall incrédulo examinando o próprio torso livre de ferimentos. — Nós estamos…
Sua frase foi interrompida pela metade ao ser arremessado contra os armários, Blackburn se virou a tempo de ver a versão má de Stiles acertar um tapa em Kira que fizera a garota cair desacordada, a ruiva se posicionou na frente de Stiles e Lydia, os protegendo com o corpo de qualquer ataque que viesse.
— Esse era o meu jogo, acha que pode me vencer no meu próprio jogo? — indagou a raposa, avançando rapidamente em direção ao trio que recuava na mesma velocidade. — Jogada divina? Você realmente acha que tem qualquer jogada? Podem matar os Oni mas eu? Eu? Eu tenho milhares de anos. Você não pode me matar!
— Mas podemos mudar você. — foi a resposta que a banshee deu.
— O quê?
— Esqueceu do pergaminho? — arqueou uma sobrancelha em tom de zombaria, vendo ao fundo do corredor a sua recém chegada irmã ajudando Scott a se levantar. — O pergaminho de Shugendo? Lembra-se dele?
— Mude o hospedeiro. — ele mesmo finalizou.
— Não se pode ser uma raposa e um lobo.
Sicronizadas, e prenderam ambas as mãos do nogitsune com dois chicotes, o forçando contra o chão durante tempo o suficiente para que Scott lhe mordesse. A criatura berrou de dor, cambaleando para trás quando as irmãs o soltaram, por garantia Yukimura atravessou a lâmina da espada no peito do inimigo que caiu de joelhos, de sua boca saiu um vagalume que tentou voar para longe sem sucesso já que Isaac o prendeu na caixa. O receptáculo se rachou, caindo ao chão e virando pó. Houve um segundo de alívio.
Até que Stiles caiu no chão desacordado. Formando uma rodinha em volta do rapaz, se abaixou para garantir que estava tudo bem fisicamente com ele, havia levado no máximo meia hora para que ele recobrasse a consciência.
— Oh Deus… Eu desmaiei, não desmaiei? — ele resmungou, ajeitando a cabeça sobre a jaqueta de Scott, que riu de sua reação.
— Apenas por umas cinco horas. — deu de ombros como se não fosse nada.
— O quê?!
— Brincadeira, eu estou brincando. — a bruxa riu. — Foram apenas trinta minutos.
Stilinski encarou o teto por um momento.
— Nós estamos vivos… — ele respirou fundo, parecendo aliviado. — Nós estamos todos vivos? — Sim, estamos todos bem. — concordou McCall.
Lydia se levantou, olhando para a porta com o cenho franzido como se tivesse ouvido algo, Stiles olhou para ela confuso quanto sua reação. De súbito a banshee saiu correndo com o resto do grupo ao seu encalço, o coração de apertou no peito quando ela viu o motivo de Martin estar agarrada a Stiles chorando: Ethan segurava o corpo morto do irmão.
Não estavam todos bem.
Uma semana depois.
vestiu a jaqueta de couro e pegou o capacete de cima da moto, o sol brilhava forte e estava parada na calçada com uma xícara de café na mão usando um par de pantufas de coelhinho rosa fluorescente.
— Nada que eu diga vai te fazer ficar? — perguntou a ruiva com um nó na garganta.
— Eu preciso disso, . Nós passamos tanto tempo juntas na estrada que esquecemos os porquê de estarmos juntas depois de tanto tempo. — sorriu de madeira terna para a irmã, acariciando sua bochecha sardenta. — Além disso, não vou estar muito longe, Daniel conseguiu uma casa na Flórida, precisando de mim é só ligar.
— Hum… Eu acho que outra pessoa também quer dizer tchau. — sinalizou para o outro lado da rua com o queixo, se virou, vendo Derek Hale na outra calçada.
— Volto num minuto. — concordou com a cabeça assistindo a irmã ir de encontro ao lobisomem.
— Já está indo embora? — perguntou ele, um meio sorriso no rosto. — Achei que gostasse do estoque infinito de situações perigosas que essa cidade garante.
— Já está sentindo minha falta, bonitão? — ironizou ela, coçando a nuca. — O que está fazendo aqui, Derek?
A cada momento que ela olhava para o rosto belo do lobisomem ela se lembrava da visão que havia tido mais cedo com o homem de joelhos em meio a fumaça com um ferimento de bala no meio do estômago. La Loba era quem o homem estava atrás.
— Quando Peter me contou que estava indo embora não consegui ignorar essa sensação de que… De que devia me desculpar pelo o que te disse aquele dia no seu apartamento. — Hale respondeu. — Você não é amarga e não quero que vá embora achando que eu sou imbecil igual meu tio.
— Pode acreditar que é bem difícil chegar ao nível de imbecilidade do seu tio. Mas aceito suas desculpas, aquilo ficou no passado. — ela sorriu brevemente, tirando uma mecha de cabelo dos olhos.
— Você vai voltar algum dia? — ele perguntou, mordendo a própria língua por tê-lo feito.
— Possivelmente. — ela riu. — Minha irmãzinha atrai problemas onde quer que vá, duvido que demore muito para ela precise da minha ajuda.
— Então boa viagem.
— Obrigado. — seu sorriso se alargou. — Te vejo em breve, Derek Hale.
deu a meia volta para o outro lado da calçada parando na metade do caminho e voltando para o lado de Derek, apertando o lobisomem num repentino abraço, Hale congelou de início mas retribui, inspirando o perfume doce que vinha dela.
— Eles querem a loba. — ela sussurrou. Se xingando mentalmente por tê-lo feito, não se mexia com o destino e ela mais que ninguém não tinha direito nenhum de fazer isso. Ela correu para o outro lado, se despedindo da irmã com um curto abraço, montando na moto e colocando o capacete, e Derek ficaram para trás, assistindo o modelo de Harley Davidson desaparecer ao virar a esquina.
Blackburn começou a xingar mentalmente, tentando inutilmente cobrir o ferimento com a blusa.
— Ela está viva? — Isaac gemeu de dor, se levantando com dificuldade.
— Não por muito tempo, preciso da ajuda de Deaton. — ela respondeu, voltando a arma no coldre.
— Você leva ela para clínica. Yukimura? — Christopher se pronunciou, se virou para ele surpresa com a súbita presença do homem.
— Sim?
— Você leva Stiles. — ele engoliu em seco. — Eu assumo daqui.
fechou os olhos com força e os abriu, agora em sua verdadeira forma. Um enorme selo se formou no ar enquanto ela continuava a entoar um feitiço em latim, o corpo de fora do chão para o carro de Stiles e o pátio virou uma zona.
— Quando a polícia perguntar, foi um roubo de carro.
Deaton se assustou quando passou correndo pela porta da clínica carregando a irmã mais velha que vagava entre a consciência e a escuridão.
— Preciso da sua ajuda, agora! — pediu ela, a ferida aberta lavando sua mão de sangue.
— Traz ela para dentro. — Allan abriu o portão e correu para dentro, deitando a irmã na maca. — Os Oni fizeram isso?
— Sim, Lydia está a salvo mas Allison… Ela está morta. — contou a bruxa, o veterinário resmungou algo e pegou um bocado de gaze e antisséptico.
— O Nogitsune? — ele quase soou esperançoso que a notícia não fosse ficar pior do que já estava.
— Fugiu, agora ele tem controle dos Oni. — suspirou cansada, se apoiando na outra maca. — Allison conseguiu matar um deles antes de…
Deaton concordou com a cabeça, não precisando de mais detalhes ele começou a costurar o ferimento de com cuidado. foi para a sala de espera da clínica no intuito de deixar Deaton trabalhar em paz, ela se jogou em uma das poltronas e olhou para as mãos sujas de sangue se sentindo mais cansada que o normal, como se suas energias tivessem sido sugadas para fora de seu corpo.
O dia todo havia sido exaustivo demais para todos.
Ela não havia tido tempo o suficiente para realmente conhecer Allison como deveria, mas isso não excluía o fato de que ela sentia profundamente pela morte da caçadora que tão jovem, havia morrido pelos amigos.
— ?— Deaton chamou e a ruiva levantou da cadeira num pulo indo ao auxílio do veterinário. — Preciso que cauterize a parte da ferida que já está suturada, o sangramento está atrapalhando.
A ruiva concordou com a cabeça e as chamas espectrais dançaram por seus dedos, tocando a pele de sua irmã. começou a piscar lentamente, sentindo o ardor do fogo em seu tronco.
— Onde… Eu estou? — ela murmurou quase baixo demais para que lhe ouvissem. — Ferrugem?
— Estou aqui, aguenta só mais um pouco. — sorriu para a irmã, tentando tranquilizá-la. — Quanto falta?
— Só mais três.
concordou brevemente com a cabeça, continuando a cauterizar a ferida. permaneceu imóvel na maca, encarando o teto do quarto da clínica com um olhar perdido, a cena do Oni atravessando a espada pelo estômago de Allison se repetia em sua mente, junto com a sensação de impotência por não ter tido a chance de fazer nada para impedir.
— Acabei. — Allan avisou, dando o nó do último ponto e queimou a área com a chama roxa.
— Obrigado. — murmurou, sentindo a pele arder quando o veterinário limpou com antisséptico. O veterinário se retirou e ajudou a irmã a se sentar, notando o semblante triste que esta tinha. — Não me olhe com essa cara, foi só um arranhão.
e seus eufemismos.
—Eu… Você está bem? — não sabia bem o que perguntar.
— Eu estou viva, que é mais do que podemos dizer sobre outros. — ela respondeu de maneira seca, tentando tapar o curativo com a barra da jaqueta sem muito sucesso. Pulando para fora da maca, gemeu de dor quando seus músculos se tencionaram. — Pode parar de fazer essa cara de encarnação ruiva do Dr. Phil? Eu não vou ficar sentada aqui chorando as minhas pitangas porque a garota morreu.
— Você não precisa chorar mas hum… sabe que pode conversar comigo, sempre. — deu um passo rápido para frente quando o corpo da irmã oscilou, pronta para segurá-la se ela caísse.
trincou os dentes, salientando o osso de sua mandíbula. Só Deus sabia o tamanho da raiva que ela estava sentindo naquele momento. O soco acertou a superfície da maca no mesmo momento em que soltou um sonoro ‘Porra!’, sua mão afundou no metal e apenas apertou carinhosamente o ombro da irmã.
— Melhor? — a pergunta da ruiva saiu em sussurro.
— É o suficiente, por enquanto.
concordou levemente com a cabeça, oferecendo o braço para que a irmã se apoiasse enquanto andava, a morena prontamente aceitou. Antes que as duas pudessem sair da sala, Deaton retornou na companhia de Scott e Lydia.
— Stiles e Kira disseram que foi o Nemeton que manteve preso. — contou o alfa.
— O nogitsune? — se intrometeu e Lydia concordou com a cabeça.
— O problema é que não está lutando contra uma pessoa, Scott. — Deaton suspirou exasperado, olhando para o buraco feito na maca. — Só se parece com uma, é um espírito que tomou a forma de uma pessoa.
— Do meu melhor amigo.
— Alguém já o prendeu antes. — Lydia cruzou os braços, desviando o olhar do chão para Deaton. — Alguém deve conseguir prender de novo, não é?
— Eu não faço ideia. Essa coisa foi preso muito tempo atrás, antes do Nemeton ter sido derrubado. Agora não tem o mesmo poder de antes. — respondeu o veterinário.
— Existe alguma coisa que tenha? — Scott se pronunciou. — Ou que chegue ao menos perto?
— Talvez… — foi quem respondeu. — A caixa que contém as garras de Talia Hale foi feita da madeira do Nemeton.
— Sim! — Allan concordou. — Quando a árvore era inteira, algumas vezes a madeira era usada para conter objetos poderosos, ou muito raros. Espera um minuto… Como você sabe dessa caixa?
— Você tem certeza que foi usada madeira do Nemeton? — Lydia questionou.
— Sim.
— Como?
tossiu sentindo o gosto de sangue na boca, ao que parece a ferida fora mais profunda do que ela havia imaginado.
— Porque foi eu quem fez aquela caixa. — respondeu a mais velha das Blackburn. — Durante a nossa primeira visita à cidade.
A memória do dia em que havia feito a caixa ainda estava fresca em sua mente, o trikelion esculpido na tampa havia sido feito com um selo mágico que tornava a caixa indestrutível. Perfeita para conter o poder das garras.
— Vou ligar para o Derek, pedir que nos traga a caixa. — McCall anunciou. — Precisamos fazer isso rápido.
A ligação com Hale durou cerca de vinte minutos, com Scott explicando detalhadamente o porquê de precisarem da caixa.
— Ele está com a caixa, vai nos encontrar.
Lydia piscou com firmeza, quase caindo para trás ao se apoiar no alfa.
— Lydia? — Allan a olhou preocupado. — O que foi?
— Algo está acontecendo. De repente tive essa sensação de… — respondeu a banshee. — Pressa. Como se estivéssemos ficando sem tempo.
virou a cabeça em direção a porta, ouvindo passos apressados se aproximando. Era Stiles e Kira.
— É, eu meio que também estou sentindo a mesma coisa. — Stiles concordou.
Traçando um plano rápido e eficiente, todos pegaram uma carona no jeep de Stiles, os seis dirigiram rumo a escola outra vez. Quando chegaram lá o prédio e estava sombrio e vazio, sem nenhum sinal dos Oni ou do nogitsune.
— Gente… Espera, eu sei o que vocês estão pensando. Se isso funcionar, pode me matar também. Mas mesmo se mate, vocês têm que continuar. — Stiles fez com que todos parassem nas portas da escola, antes de dizer suas últimas palavras ele olhou para as duas bruxas, na esperança que elas o ouvissem.— Sigam o plano, tudo bem?
— O plano é salvar você, Stiles. — Scott quase deu de ombros. — É o plano que eu vou seguir. Scott e Kira empurraram ambos os lados das portas duplas, a visão dentro do prédio era completamente diferente do comum: Um jardim oriental macabro e coberto de neve substituía o corredor da escola. , Stiles, Kira e Scott entraram mas não pode, como se uma barreira invisível a impedisse.
— ? — Lydia se virou, vendo a bruxa socar o ar. — Não consigo entrar. — respondeu ela. — Não dá!
— Eu…— começou a dizer algo mas as portas de madeira fecharam na cara de sua irmã.
— Porra! — praguejou, socando a porta.
Se virando lentamente ela viu a versão maligna de Stiles sentado nas escadas, dois Oni em pé atrás dele com as espadas em mãos, prontos para atacar.
— Own! Você nos trouxe um presente? — o tom de voz da criatura transbordava sarcasmo.
Se aproximando da cena ela viu com quem ele falava, era Derek. Seu rosto estava diferente, transformado com as feições lupinas, os olhos brilhando num azul sobrenatural, a caixinha de madeira do Nemeton em sua mão direita.
— Trouxe dois, na verdade. — os gêmeos se posicionaram atrás de Hale.
Blackburn fechou os olhos com força, se xingando mentalmente pelo o que estava perto de fazer. Quando abriu os olhos outra vez, agora não havia íris e pupilas, apenas uma cor azul escura levemente brilhante. Suas costas queimou com tanta força que ela gemeu de dor, se apoiando no corrimão para não cair.
O selo que marcava suas costas, contendo parte do seu poder, desapareceu, começando a descer lenta e silenciosamente as escadas, o chicote espectral se formou em sua mão.
— Eu já ouvi falar de uma alcateia de alfas, Derek. — zombou o nogitsune, os olhos do lobisomem focaram brevemente na bruxa e voltaram para o nogitsune. — Mas nunca de uma alcateia de antigos alfas. Meio triste, não acha?
— Posso não ser mais um alfa. — Hale respondeu. — Mas pode ter certeza que ainda luto como um.
O lobisomem rugiu como se fosse um grito de guerra, os Oni trocaram de posição, as espadas cortando o ar. Antes que a lâmina pudesse acertar Ethan no ombro o chicote estalou no ar e segurou a lâmina da espada no meio do trajeto.
— Surprise, motherfucker!
Enquanto isso, dentro da escola…
olhou para o que imaginou que fosse o céu, sentindo os flocos de neve caírem em seu rosto, estava escuro em uma cor que beirava o preto, sem estrela alguma. Seu radar interno estava apitando tão alto com a presença da força maligna que cada pelo em seu corpo estava arrepiado, ela estava em alerta apenas esperando o momento em que precisasse lutar. Blackburn virou-se num pulo quando ouviu os passos lentos e arrastados, vendo perfeitamente em sua frente o nogitsune, sua versão mumificada, num movimento automático Kira sacou sua espada.
— Assim como eu havia prometido, Stiles. — a criatura apontou para todo o grupo. — Nós vamos matar todos eles, um por um.
Um Oni se materializou das sombras ao lado de Kira, Yukimura rapidamente bloqueou a espada que vinha em sua direção com a própria. Scott estendeu o braço sobre o torço de , a puxando para trás junto com ele.
— O que diabos é isso aqui? — indagou o alfa. — Onde nós estamos?
— Entre a vida e a morte. — respondeu a raposa.
— Bardo. — Lydia completou.
— Mas não há nenhuma divindade pacífica aqui, Lydia. Você está morrendo, Stiles e agora todos que você se importa também estão morrendo.
— O que você quer dizer com isso?
— Eu conquistei quase todos os territórios do tabuleiro, Stiles. — ele começou a lista. — O hospital, a delegacia agora a clínica veterinária.
A raposa começou a andar de um lado para o outro, rondando o inimigo com os três Oni a postos, esperando a ordem para atacar.
— Conhece o ritual do seppuku*, Stiles? — a criatura começou a se aproximar lentamente.
— Não e nem quero. — Stilinski rebateu.
— Quando um samurai estripa a si mesmo com a própria espada para manter sua honra, mas não é o corte que o mata. — explicou o nogitsune. — O golpe letal é dado por seu kaishakunin*, que decapita o samurai com sua própria katana. Scott é o seu kaishakunin. Vou fazer com que o seu melhor amigo mate você, Stiles e você vai permitir que ele o faça, porque assim como você… Eles vão morrer.
fechou o punho envolta do cabo do facão, pronta para atacar o espírito que agora estava frente a frente com Stilinski.
— Todos que foram tocados pela a espada de um Oni vão morrer a não ser que Scott mate você antes. — completou a raposa.
— Porquê? Porque você está fazendo isso? — indagou o garoto.
— Para vencer o jogo.
Os Oni entraram em posição de ataque e puxou o facão da bainha, se virando para um dos três espadachins. Ninguém mais ia morrer. A luta estava acirrada considerando que os espadachins pareciam mais fortes que da última vez e focados em acertar qualquer ponto fraco desprotegido que vissem.
— Como é que nós entramos neste lugar? — McCall perguntou ofegante a Yukimura quando os três assumiram uma posição ombro à ombro. — E como é que saímos?
— Você está pergunto para mim? — rebateu a outra, indignada. — Um mês atrás eu não havia nem tocado em um espada!
— Vamos focar em não morrer no momento. — respirou fundo, rezando para que sua irmã estivesse com mais sorte que ela. — Depois a gente descobre como sair daqui.
— Isso não pode ser real… — murmurou Lydia, agachada atrás da pequena ponte ela ajudava Stiles a se manter em pé.
— É? Tente dizer isso para eles. — Stilinski respondeu, observando de onde estava seus amigos lutarem arduamente para se manterem vivos.
Os dedos de latejaram quando ela acertou outro soco na máscara do Oni com qual lutava, sua aura de poder estava tão forte combinada com a adrenalina que ela mal podia sentir a dor de seus pontos a essa altura do campeonato. Seu peito subia e descia freneticamente enquanto ela recuava rapidamente para longe do Oni, daquele jeito nunca que eles conseguiriam vencer. — Onde raios eles estão? — berrou Aiden, desviando de outro golpe do Oni com que lutava. — Na escola! — respondeu, tropeçando em um dos degraus da escada, Hale segurou com a mão a espada que iria acertar a bruxa, de novo. O espadachim recuou alguns passos, dando tempo o suficiente para que o lobisomem ajudasse a bruxa a levantar.
— A caixa! — Hale berrou, o chicote de bateu na parede e se enrolou no pescoço de um dos Oni que quase acertara Aiden. — Alguém tem que pegar a caixa!?
A bruxa parou ao lado do gêmeo, puxando freneticamente o ar enquanto observava os dois Oni que haviam se materializado atrás da pequena caixinha.
— Eu odeio ninjas. — Aiden rosnou.
— Seja bem-vindo ao clube.
Estavam todos encurralados, cada um em uma ponta do jardim com um Oni se certificando que permaneceriam onde estavam. Os olhos de vaguearam na direção de Lydia e Stiles, que havia pego a espada de Kira e agora a apontava para a própria barriga.
— Stiles, não! — Scott mandou desesperado.
— Solte a espada, Stilinski. Não precisa ser assim… — pediu a bruxa.
— E se salvar vocês? — Stilinski olhou para seu amigo. — E se salvar todos vocês?
— E se for apenas outro truque?! — Lydia ponderou.
— Sem mais truques, Lydia. — a raposa respondeu por Stiles. — Termine, Scott. Permita que seu amigo caia pela própria espada, faça por ele o que ele não pode fazer por si só. Faça!
Stilinski congelou olhando fixamente para o que via refletido na superfície lisa da espada: A capa de um livro sobre economia, ele virou a cabeça para o lado lentamente vendo uma mesa da escola coberta por neve. Finalmente havia entendido o que estava acontecendo.
— Você não tem mais nenhuma jogada. — provocou o nogitsune.
Stiles abaixou a espada e devolveu a arma para seu dono.
— Eu tenho sim. — discordou o garoto. — Uma jogada divina.
O garoto quase caiu e Lydia o segurou outra vez.
— Parem de lutar contra eles. Vocês tem que parar! — ele mandou, parecendo ainda mais pálido. — É uma ilusão, é tudo uma ilusão. Parece real mas não. Tem que confiar em mim, Scott, é uma ilusão.
McCall se virou na direção da criatura, os quatro Oni em formação de fila para defender seu mestre. Caminhando em linha em direção ao nogitsune, eles não se defenderam quando os Oni retalharam cada pedaço de pele que podiam, o alfa agarrou o espírito pelo colarinho da jaqueta aviadora e o empurrou contra a porta dupla, de súbito a visão do jardim se dissolveu e eles estavam de volta ao corredor, intactos.
— Nós… Nós estamos bem. — comentou McCall incrédulo examinando o próprio torso livre de ferimentos. — Nós estamos…
Sua frase foi interrompida pela metade ao ser arremessado contra os armários, Blackburn se virou a tempo de ver a versão má de Stiles acertar um tapa em Kira que fizera a garota cair desacordada, a ruiva se posicionou na frente de Stiles e Lydia, os protegendo com o corpo de qualquer ataque que viesse.
— Esse era o meu jogo, acha que pode me vencer no meu próprio jogo? — indagou a raposa, avançando rapidamente em direção ao trio que recuava na mesma velocidade. — Jogada divina? Você realmente acha que tem qualquer jogada? Podem matar os Oni mas eu? Eu? Eu tenho milhares de anos. Você não pode me matar!
— Mas podemos mudar você. — foi a resposta que a banshee deu.
— O quê?
— Esqueceu do pergaminho? — arqueou uma sobrancelha em tom de zombaria, vendo ao fundo do corredor a sua recém chegada irmã ajudando Scott a se levantar. — O pergaminho de Shugendo? Lembra-se dele?
— Mude o hospedeiro. — ele mesmo finalizou.
— Não se pode ser uma raposa e um lobo.
Sicronizadas, e prenderam ambas as mãos do nogitsune com dois chicotes, o forçando contra o chão durante tempo o suficiente para que Scott lhe mordesse. A criatura berrou de dor, cambaleando para trás quando as irmãs o soltaram, por garantia Yukimura atravessou a lâmina da espada no peito do inimigo que caiu de joelhos, de sua boca saiu um vagalume que tentou voar para longe sem sucesso já que Isaac o prendeu na caixa. O receptáculo se rachou, caindo ao chão e virando pó. Houve um segundo de alívio.
Até que Stiles caiu no chão desacordado. Formando uma rodinha em volta do rapaz, se abaixou para garantir que estava tudo bem fisicamente com ele, havia levado no máximo meia hora para que ele recobrasse a consciência.
— Oh Deus… Eu desmaiei, não desmaiei? — ele resmungou, ajeitando a cabeça sobre a jaqueta de Scott, que riu de sua reação.
— Apenas por umas cinco horas. — deu de ombros como se não fosse nada.
— O quê?!
— Brincadeira, eu estou brincando. — a bruxa riu. — Foram apenas trinta minutos.
Stilinski encarou o teto por um momento.
— Nós estamos vivos… — ele respirou fundo, parecendo aliviado. — Nós estamos todos vivos? — Sim, estamos todos bem. — concordou McCall.
Lydia se levantou, olhando para a porta com o cenho franzido como se tivesse ouvido algo, Stiles olhou para ela confuso quanto sua reação. De súbito a banshee saiu correndo com o resto do grupo ao seu encalço, o coração de apertou no peito quando ela viu o motivo de Martin estar agarrada a Stiles chorando: Ethan segurava o corpo morto do irmão.
Não estavam todos bem.
Uma semana depois.
vestiu a jaqueta de couro e pegou o capacete de cima da moto, o sol brilhava forte e estava parada na calçada com uma xícara de café na mão usando um par de pantufas de coelhinho rosa fluorescente.
— Nada que eu diga vai te fazer ficar? — perguntou a ruiva com um nó na garganta.
— Eu preciso disso, . Nós passamos tanto tempo juntas na estrada que esquecemos os porquê de estarmos juntas depois de tanto tempo. — sorriu de madeira terna para a irmã, acariciando sua bochecha sardenta. — Além disso, não vou estar muito longe, Daniel conseguiu uma casa na Flórida, precisando de mim é só ligar.
— Hum… Eu acho que outra pessoa também quer dizer tchau. — sinalizou para o outro lado da rua com o queixo, se virou, vendo Derek Hale na outra calçada.
— Volto num minuto. — concordou com a cabeça assistindo a irmã ir de encontro ao lobisomem.
— Já está indo embora? — perguntou ele, um meio sorriso no rosto. — Achei que gostasse do estoque infinito de situações perigosas que essa cidade garante.
— Já está sentindo minha falta, bonitão? — ironizou ela, coçando a nuca. — O que está fazendo aqui, Derek?
A cada momento que ela olhava para o rosto belo do lobisomem ela se lembrava da visão que havia tido mais cedo com o homem de joelhos em meio a fumaça com um ferimento de bala no meio do estômago. La Loba era quem o homem estava atrás.
— Quando Peter me contou que estava indo embora não consegui ignorar essa sensação de que… De que devia me desculpar pelo o que te disse aquele dia no seu apartamento. — Hale respondeu. — Você não é amarga e não quero que vá embora achando que eu sou imbecil igual meu tio.
— Pode acreditar que é bem difícil chegar ao nível de imbecilidade do seu tio. Mas aceito suas desculpas, aquilo ficou no passado. — ela sorriu brevemente, tirando uma mecha de cabelo dos olhos.
— Você vai voltar algum dia? — ele perguntou, mordendo a própria língua por tê-lo feito.
— Possivelmente. — ela riu. — Minha irmãzinha atrai problemas onde quer que vá, duvido que demore muito para ela precise da minha ajuda.
— Então boa viagem.
— Obrigado. — seu sorriso se alargou. — Te vejo em breve, Derek Hale.
deu a meia volta para o outro lado da calçada parando na metade do caminho e voltando para o lado de Derek, apertando o lobisomem num repentino abraço, Hale congelou de início mas retribui, inspirando o perfume doce que vinha dela.
— Eles querem a loba. — ela sussurrou. Se xingando mentalmente por tê-lo feito, não se mexia com o destino e ela mais que ninguém não tinha direito nenhum de fazer isso. Ela correu para o outro lado, se despedindo da irmã com um curto abraço, montando na moto e colocando o capacete, e Derek ficaram para trás, assistindo o modelo de Harley Davidson desaparecer ao virar a esquina.
To be continued…
Nota da autora: MEU DEUS DO CÉU! MS TÁ EM QUARTO LUGAR NO TOP FANFICS!
Senhor Deus, depois do ataque cardíaco que eu tive ao ver isso essa atualização tá prontinha e recém saída do forno, quero também agradecer a todas as leitoras MARAVILHOSAS que acompanharam essa trajetória de dois anos de Mercenary Sisters e quero dizer que todas vocês têm um lugar especial demais no meu coração.
Mercenary Sisters é minha primogênita, a primeira história que alguém além da autora que vos fala leu. Sempre vai ser o meu bebêzinho.
Agradeço imensamente a todas as betas com quem já trabalhei, cada uma de vocês serviu para que eu aprimorasse meu trabalho em alguma coisa e também agradeço a paciência. Vocês são demais♡
A segunda parte dessa história tem previsão para chegar ao site no aniversário de três anos de MS, dia 13 de março de 2019.
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.