Última atualização: 20/04/2023

Prólogo

Rio 2016
- E agora, o momento em que todos os brasileiros estavam esperando. As eliminatórias da plataforma de 10 metros feminino. E todos sabem por quê, certo, Lara? – O repórter falou.
- Sim, João! Temos a nossa primeira atleta brasileira a conseguir uma medalha nessa modalidade. É a curitibana ! – Lara falou animada enquanto as atletas entravam em posição para a apresentação.
- Vamos lembrar que conseguiu uma medalha inédita nas últimas Olimpíadas de Londres dois mil e doze. – João disse.
- E que dia foi aquele, João! Ainda me arrepia de lembrar da primeira oportunidade de em Olimpíadas com a medalha de prata em seu peito e chorando com todo o esforço. – Lara disse.
- Aquela prata teve gosto de ouro, Lara. A diferença das notas era de um décimo! – Ele disse.
- Sim, tanto que a chinesa Chen Ruolin, que estava no topo do pódio, chamou-a para acompanhá-la no degrau mais alto. – Lara disse. – Ah, que dia foi aquele!
- Foi um dia que a história brasileira realmente foi feita! Nunca vi um parque aquático tão ensurdecedor quanto aquele dia. Parecia final de Copa do Mundo. – João disse animado.
- E estamos aqui de novo! – Lara disse.
- Sim! Já faz quatro anos daquele feito, e agora ela vem para o ouro. – Ele disse. – Depois de uma cansativa preparação em Fort Lauderdale nos Estados Unidos, ela vem novamente para a plataforma de 10 metros.
- Será que a forcinha daqui do Rio de Janeiro vai ajudar a trazer o tão desejado ouro, João? – Lara perguntou.
- Esperamos que sim, hein?! O Maria Lenk está lotado! Todo mundo veio para Barra da Tijuca assistir às Eliminatórias. – João disse.
- Lembrando que conseguiu um quarto lugar no sincronizado de dez metros na semana passada com a atleta Carmem dos Santos. – Lara disse.
- Mas esse não é o foco dela. Desde o início da carreira, focou no individual, e é isso que vai fechar as competições aquáticas da Rio 2016.
- E vamos lembrar de que esse ano não tivemos sorte nessa área. A única medalha até agora foi o bronze da Poliana Okimoto na maratona aquática feminina. – Lara falou.
- Vamos lembrar que recebeu medalhas de ouro em todas as qualificatórias até agora. – João disse. – Na Copa do Mundo de Saltos Ornamentais, no Mundial de Esportes Aquáticos e nos jogos Panamericanos.
- Falta somente as Olimpíadas mesmo para ela completar tudo que uma pessoa pode ganhar na categoria. – Lara falou.
- E aqui vem ela! – João disse.
O silêncio dos narradores e comentaristas deu espaço para o barulho dentro do parque aquático Maria Lenk no Rio de Janeiro. Fazia tempos que não viam eliminatórias assim, mas depois do que uma garota de 20 anos, pela primeira vez em Olimpíadas, mostrou com aquele salto. Todos os brasileiros pararam para prestar atenção.
Afinal, qualquer atleta brasileiro que tinha o mínimo de visibilidade entre tantos outros mais famosos, era um respiro de alívio para todos.
Os quatro primeiros saltos foram impecáveis, todas as atletas tinham chance, mas aquelas 18 que passariam para as Semifinais sempre ficavam prontas. Para passar, ela precisava de pelo menos 60 pontos, o que seria fichinha para quem esteve acima dos 75 em todos os saltos.
subiu as escadas da plataforma com o tradicional maiô azul da equipe aquática do Brasil e seguiu até os 10 metros. De lá de cima ela teve a visão completa do parque aquático, mas tentou ignorar tudo e todos, os gritos eram ensurdecedores quanto mais perto do telhado.
Ela jogou sua toalha lá embaixo, calculando o tempo de descida e respirou fundo. Do seu lado esquerdo estavam seus familiares empolgados por sua menina estar em uma competição tão importante. Do lado direito, os juízes, quem ela tanto precisava agradar.
Fazia quatro anos do maior feito da sua carreira, uma medalha de prata em Olimpíadas. Nenhum atleta brasileiro havia conseguido esse feito, mas ela conseguiu, depois de começar sua carreira no clube da sua cidade. Era um orgulho só de estar ali, não podia deixar as emoções tomarem conta de si.
Ela virou de costas para a queda, colocando os pés na beirada da plataforma e respirou fundo, fazendo os ombros subirem e descerem. Inclinou o corpo para frente, colocando as mãos rente aos pés e soltou o ar devagar ao impulsionar seu corpo para cima em uma parada de mão.
Seus braços tensionaram com o movimento, mas era algo normal para ela. Ela deixou as pernas esticarem ao máximo, sabendo que sua avaliação já tinha começado e deu um impulso para frente, deixando suas mãos escaparem da beirada.
Seus braços se juntaram às pernas, dando um mortal, dois e meio, e, quando estava perto da água, esticou o corpo para a entrada perfeita. Infelizmente, sua contagem estava um pouco atrasada e não deu tempo de ela entrar, fazendo suas costas baterem forte na água, jogando água para todos os lados, fazendo o parque aquático se silenciar.
não precisava que dissessem onde ela tinha errado, suas costas doíam demais, era como cair no concreto. Ela sabia o que tinha feito e queria ficar no fundo da piscina, escondida de tudo, mas não pode.
Deixou o ar em seu pulmão levá-la para cima e esperou que as lágrimas fossem misturadas com o molhado em sua face. Sua treinadora a abraçou assim que ela apareceu nas escadas e escondeu seu rosto das câmeras que os rodeavam, e levou-a para dentro antes de sua nota sair: zero.
Depois de uma medalha de prata em Londres 2012, havia ficado em último lugar nas eliminatórias da Rio 2016. Em casa. Com todo seu país assistindo.


Capítuo Um

Tóquio 2021
Poder representar o país em uma competição já era louco, mas poder representar em uma Olímpiada era mais incrível ainda. E, mesmo sendo minha terceira Olímpiada, tornava tudo mais incrível ainda.
Mas eu tinha um foco diferente nessa Olímpiada. Em Londres eu praticamente fui o reserva do Cielo, consegui um quarto lugar, mas isso não quer dizer nada. No Rio, dentro de casa, eu tive a oportunidade de me destacar, mas estava sofrendo dores crônicas nas costas depois de uma série de competições seguidas e piorei meu desempenho, caindo para sexto.
Isso me complicou um pouco, mas o adiamento das Olímpiadas para 2021 por causa da pandemia fez com que eu ganhasse um ano a mais para me preparar. Assim, não era perfeito, eu já tenho 32 anos e isso já é considerado velho para um atleta, sabia que não tinha muito mais tempo. Phelps se aposentou aos 32 anos, Cielo aos 31. Cada um tinha seus problemas pelo desgaste do esporte, mas não dava também para contar muito com a sorte.
Então Tóquio tinha que ser meu ano. Eu era o nadador brasileiro principal, havia parado com os revezamentos e só nadaria 50 metros rasos. Mudei completamente meu regime de treinamentos, fui para um clube particular, consegui contratos de patrocínio por conta e encontrei um treinador só para mim. Tudo em meu poder para vencer esse ano, eu tinha.
Isso sem contar os competidores. Muitos novatos apareceram esse ano e sabia que a competição seria dura, mas precisava pensar em mim mesmo. Os outros que se danem.
Apesar da vontade de vencer, também tinha aquele orgulho em representar o país. Então, chegar em Tóquio depois de 35 horas de viagem e entrar na Vila Olímpica, era a resolução de todos meus planos. Ao menos da primeira parte deles.
O lugar era enorme. Sei que os japoneses fazem umas coisas sensacionais, tecnológicas e minimalistas de forma geral, mas fiquei chocado quando entrei na Vila Olímpica, diferente de Londres e Rio, tudo ficava em um lugar só, então precisei de um ônibus para me levar até o prédio do Brasil.
A decoração de todos é incrível, as cores e bandeiras dos países representantes, especialmente os que possuem vários representantes como o Brasil. Um prédio de quatro andares me esperava quando cheguei. O ônibus parou na frente e desci com minhas bagagens, levando tudo para dentro.
Sabia que alguns já tinham chego e outros estavam em competição, mas o local estava razoavelmente vazio quando cheguei. Encontrei Zanetti da ginástica fazendo seu check-in e fui logo atrás após cumprimentá-lo.
- Bom dia. – Falei para a mulher, esperando que fosse brasileira.
- Bom dia. – Ela disse, me fazendo relaxar. – Nome e modalidade, por favor.
- , natação. – Falei e ela checou as informações antes de se levantar, seguindo até as estantes atrás de si. Ela pegou uma sacola e um papel antes de apoiar ambos na mesa.
- Isso é uma lembrança do Comitê Olímpico e assine aqui, por favor. – Ela disse e me inclinei para assinar. – Seu quarto é no terceiro andar, número 27. – Ela me entregou uma chave. – Como você é o único atleta na sua categoria, seu quarto é sozinho.
- Opa! Melhor ainda! – Falei, vendo-a sorrir.
- Seja bem-vindo e boa sorte.
- Obrigado. – Falei em um sorriso e peguei minhas coisas, seguindo até o elevador.
- Nome, por favor? – A moça falou para a pessoa atrás de mim.
- . – A mulher disse e vi o elevador se abrir.
- Desculpe, não estou achando seu nome. – Entrei no elevador, puxando as malas.
- Tente . – Ela disse e virei o rosto para trás, segurando a porta do elevador e vi a mulher parada ali.
Fazia pelo menos cinco anos que eu não a via. Ela treinava em Fort Lauderdale antes do desempenho dela em 2016. Se eu achei que minhas Olímpiadas em casa foram ruins, as dela foram piores ainda. Ela fez história no esporte ao conseguir a primeira medalha brasileira em Saltos Ornamentais em 2012, todo mundo esperava que ela conseguisse repetir o feito em 2016, mas caiu fora nas Eliminatórias quando seu salto saiu totalmente errado.
- Ah, achei! – A mulher disse. – . Saltos ornamentais.
Achei que ela tinha se aposentado depois de tudo, ninguém soube me dizer o que aconteceu com ela, mas pelo jeito ela continuou treinando e estava aqui para tentar mais uma vez. Cinco anos fazia bastante diferença, mas tirando sua feição mais séria, ela não tinha mudado muito.
- Aqui está! – A mulher lhe entregou as informações e ela assinou. – Terceiro andar, quarto trinta e dois. – A mulher disse. – Sozinha.
- Obrigada. – disse, ajeitando sua mochila nas costas.
- Seja bem-vinda e boa sorte! – A mulher lhe disse e ela se virou para mim e dei um sorriso.
- ! – Ela falou surpresa.
- Oi, sumida! – Brinquei e ela deu um curto sorriso.
- Oi! Está subindo? – Ela perguntou.
- Sim, entra aí! – Falei, abrindo espaço para ela e ela entrou, se encostando no fundo do elevador e deixei que a porta finalmente se fechasse. – Faz tempo que eu não te vejo.
- É... – Ela disse. – Eu saí de Fort depois... – Ela deixou no ar.
- Imaginei. – Sorri. – E como você está? – Perguntei.
- Nada como um dia depois do outro. – Ela deu de ombros e o elevador se abriu novamente.
- Por favor... – Indiquei a frente e ela saiu. Fui logo atrás de uma bagunça maior acontecia no corredor. – Fiquei feliz em te ver aqui.
- Eu também. – Ela deu um curto sorriso. – Espero que sua competição dê tudo certo.
- A sua...
- ! – Me assustei com os gritos do pessoal, sentindo alguns tapas nas costas e vi Breno e Fernando.
- Fala aí, galera! – Abracei-o rapidamente.
- Bom te ver, cara, faz tempo, hein?!
- Depois dessa pandemia louca, tudo faz tempo, né?! – Falei, ouvindo-os rirem.
- É, isso você tem razão! – Eles disseram.
- Ouvi que está em um quarto sozinho. – Fernando disse.
- É, vou ficar longe de vocês dessa vez. – Falei brincando e eles riram.
- Boa sorte para gente, cara! – Eles disseram.
- É, também para a ... – Virei para trás, vendo que não estava mais ali.
- O que foi, cara? – Virei o rosto, vendo entrando em uma porta.
- A estava comigo. – Comentei, abanando a mão.
- ? Dos saltos? – Breno perguntou.
- É! – Falei, confuso.
- Milagre ver ela aqui. Ela se afastou de todo mundo depois de dois mil e dezesseis. – Breno disse.
- Eu também me afastaria de tudo se acontecesse aquilo comigo. – Fernando disse.
- Ela tem os motivos dela. – Falei em um suspiro. – Enfim, gente! Vou para o meu quarto, nos falamos depois? Preciso dormir, tô quebradão!
- É, temos a abertura mais tarde! – Breno disse.
- A gente se encontra lá! – Falei, dando um toque na mão de cada um deles antes de andar, só para parar algum passo à frente com Pedro e Gabriel

Estar nas Olímpiadas é o sonho de todo atleta, especialmente do Brasil onde, desde sempre, precisamos lutar literalmente com unhas e dentes para mostrar nosso valor e conseguir patrocínios e apoio. Mas tenho que dizer que eu odeio essa parte de protocolos. Vestimenta, compromissos, aparecer em tal hora e em um horário específico, tudo me irrita um pouco.
Então, apesar de ser sensacional toda a questão de abertura e poder desfilar sob a bandeira do meu país, eu preferia perder esse tempo dentro da piscina. Fazia dois dias que eu não entrava na piscina, meu corpo precisava voltar a se acostumar.
E as aberturas são muito longas! A vantagem é que somos Brasil, com B, então assim que desfilar, eu cairia fora dali o mais rápido possível.
Saí do meu quarto no horário combinado, já vestido com a roupa tradicional do desfile, bermuda caqui e camisa social de mangas curtas com desenhos de palmeiras. Encontrei meus colegas da natação saindo também e me juntei a eles no ônibus que levou para o Estádio Olímpico.
Lá a farra já começou, o pessoal do vôlei estava no mesmo ônibus do que eu, então eles começaram a batucar e troquei algumas palavras com e o restante da galera. Essa é minha terceira Olímpiada, eu conhecia muita gente! E eu sou simpático, então papeava com qualquer um de qualquer esporte.
Quando chegamos ao estádio, já fomos colocados em posição e as dicas eram sempre as mesmas: pareçam animados, cumprimentem os câmeras e a plateia, finjam que estão bem felizes em estar ali.
E estamos! Não é possível que alguém esteja infeliz na abertura das Olímpiadas, mas muitos haviam vindo dos Estados Unidos ou do Brasil, então o fuso-horário estava literalmente matando.
- Vamos arrasar, hein, ? – Virei para o lado, vendo Monique ali, dos saltos também, assim como .
- Ei, Mô! Como estão as coisas? – Nos cumprimentamos rapidamente.
- Tudo certo e aí? Pronto para uma medalha? – Ela perguntou.
- Ah, tomara, hein?! – Falei rindo. – E você?
- Ah, sabe como é, saltos é complicado. Se eu passar para as Semis já vou ficar feliz. – Ela disse.
- Tá saltando de qual? – Perguntei.
- Eu tô no trampolim. – Ela disse. – A equipe de saltos deu uma reduzida, escolheram só um para cada modalidade de cada sexo. A teve uma posição melhor no mundial, então ficou com a plataforma de dez, eu vou no trampolim de três e vamos juntas no sincronizado de dez. E a é top, né?! Nossa diferença de pontuação foi de quase cento e vinte pontos.
- Uau. – Falei e ela riu.
- Pois é! – Rimos juntos. – Mas vamos saltar juntos no sincronizado, minha melhor chance de uma medalha. – Ri fracamente.
- É seu primeiro ano, tem bastante tempo para você ainda. – Falei.
- Esperamos! – Rimos juntos.
- E onde ela está? ! – Perguntei.
- Ah, não veio. – Ela disse. – Ela está bem excluída de tudo depois da última vez. Está se mantendo o máximo possível longe. – Ela disse suspirando. – Não acho que ela esteja errada.
- Não, lembro de ler comentários nada educados depois de tudo. Ela ficou bem? – Perguntei.
- Não sei, honestamente. Estamos treinando juntas tem só um ano, ela está treinando na Inglaterra agora.
- Inglaterra? – Franzi a testa.
- É... – Ela disse, dando de ombros. – Nós nos encontramos na Itália para treino.
- Ah, entendi. – Assenti com a cabeça.
- Vamos organizar, gente? – A chefe da nossa delegação falou.
- Vamos fazer bonito! – Monique disse.
- Vamos! Aqui e na competição depois. – Falei.
- Deus te ouça! – Ela disse, me fazendo rir.
Todo o cansaço, receio e jet lag sumiram quando eu entrei no estádio. Ele estava lotado e, depois de tudo o que aconteceu no ano passado, era bom ver toda essa galera unida de novo, celebrando o esporte. Então, eu só consegui sorrir, acenar e apitar muito!

Já passava da meia-noite, mas eu não podia deixar de ver o centro de treinamento. Tinha visto o parque aquático somente por fotos, mas a parte de treinamentos não foi mostrada. Estava tarde para eu entrar na piscina, era melhor eu acordar mais cedo e vir cedo, mas eu queria ver o local.
Não estava tão vazio quanto eu pensava, os nadadores australianos tinham pego a mesma ideia minha e caminhavam um pouco mais à frente de mim. Cada país tinha uma instalação especial e era sempre novidade para mim.
- Ei, ! – Virei para Fernando dos 200 livre vindo.
- Ei, cara! Veio para cá também?
- Ah, sempre bom conhecer o espaço, né?! – Ele disse.
- É, estou curioso. – Falei. – Londres era estranho, as piscinas eram de 25, não era a mesma coisa para treinar.
- Falaram que aqui está super tecnológico. – Ele disse.
- Tendo água e o tamanho certo, já está de boa! – Falei e ele riu, andando lado a lado.
- E aí? Preparado? – Ele perguntou.
- Espero que sim. – Suspirei. – Sempre tem aquele receio, né?! Não estou ficando mais novo, então é correr contra o relógio.
- Você vai se sair bem, cara. – Ele disse. – Confia!
- Valeu. – Falei, entrando no parque aquático, vendo duas piscinas lado a lado e várias outras seguindo até perder de vista. – Uau!
- Isso que é parque aquático. – Fernando disse.
- Sensacional. – Falei. – Oito raias cada uma, oito piscinas? – Perguntei.
- As últimas parecem ser de salto. – Ele disse, indicando a frente e caminhamos mais a frente, até que desse para eu enxergar melhor.
- É, não dá para gente essas. – Falei rindo.
- Ei, cara, parece que tem alguém na plataforma. – Ele indicou e andamos a passos rápidos lado a lado, parando ao lado dos australianos.
- Ei, caras. – Jack disse e cumprimentei-o rapidamente, depois Kyle.
- Quem está ali? – Perguntei.
- Uma mulher. – Kyle disse e a mulher apareceu na ponta da plataforma.
- Merda! É a ! – Fernando disse e dei dois passos para frente.
- Coragem entrar na piscina agora. – Kyle comentou com Jack em inglês.
deu dois passos para frente, se colocando de costas e esticou os braços acima da cabeça. Demorou alguns segundos até que ela jogou o corpo para trás, juntando as pernas. Seu corpo deu dois mortais e meio antes de ela furar a água.
- Caralho! – Fernando falou animado, aplaudindo-a e fiz o mesmo, sorrindo.
Ela demorou alguns segundos para sair da água e seu rosto se virou para o nosso.
- VAI, ! – Fernando gritou e ela saiu na escada do outro lado, pegando sua toalha e passando no rosto.
- Oi, gente. – Ela disse, jogando a toalha nas costas. – Fala aí, galera! – Ela cumprimentou os australianos que acenaram para ela.
- Treinando a essa hora? – Perguntei e ela fechou a toalha em seu corpo.
- Aproveitando enquanto posso ficar sozinha. – Ela disse.
- Não te vi no desfile. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Eu não fui. – Ela deu de ombros. – Uma das minhas condições de tentar novamente era fugir de toda papagaiada e puxação de saco da imprensa.
- Não gosto de te ver assim. – Falei
- Assim como? – Ela perguntou.
- Séria. Lembro que tinha um sorriso bonito. – Falei e ela suspirou.
- Eu ainda tenho, só não brinco mais em serviço. – Ela disse.
- Você deveria relaxar um pouco. – Falei. – Desde quando está aqui?
- Umas nove. – Ela disse.
- Não sou especialista, mas não acho que saltar tanto assim seja o indicado. – Falei.
- É assim que se treina. – Ela deu de ombros.
- Vai voltar para a vila? – Perguntei e ela checou o grande relógio na parede.
- Acho que sim, quero voltar amanhã cedo. – Ela disse.
- Vai se trocar, eu te espero. – Falei.
- Eu ainda tenho que tomar banho. – Ela disse e andei até uma cadeira próxima e me sentei.
- Eu espero. – Falei e ela deu um curto sorriso, assentindo com a cabeça antes de dar meia volta.
Ela demorou uns 30 minutos para sair novamente e seguimos juntos até a vila, não trocamos muitas palavras, mas queria que ela soubesse que tinha gente torcendo por ela. Muito mais do que ela imaginava.

Capítuo Dois

Acordei seis horas no dia seguinte. Era o único dia completamente livre para treinos e sabia que a piscina estaria lotada com pessoal de todas as modalidades aquáticas em piscina. Amanhã começaria as competições e o caos oficialmente começaria.
Eu não tinha dormido nem cinco horas por esperar , e o jet lag ainda bagunçava meu sono, mas não era hora de ter preguiça, descansava mais tarde. Então pulei da cama, tomei um banho relaxante, arrumei minha mochila e já desci com tudo para o restaurante.
O local era gigante e estava lotado, creio que a maioria dos 178 atletas brasileiros estavam lá. Não sabia todo calendário, mas sabia que hoje tinha 200 metros, surfe, ginástica e mais uma caralhada de coisas.
Tomei meu café reforçado com o pessoal da natação e, após uma rápida passada no banheiro para escovar os dentes, esperei com o pessoal para ir até o parque aquático. Como esperado, aquilo estava bem mais lotado do que antes. Além da parte de competição, onde tinha público e alguns atletas já praticando, o restante que não competia, estava na área de treinamento. E eu não tinha ideia de quantos atletas de piscina tinham ali, mas garanto que a maioria estava ali.
Entrei devagar com o pessoal e segui até uma mesa que não estava ali ontem. Me aproximei, esperando uma fila de nadadores diminuir e aproveitei para cumprimentar alguns que passavam por ali.
- Bom dia. – A mulher me recepcionou em inglês.
- Bom dia, , cinquenta metros rasos. – Falei.
- Ah, sim, sua piscina de treinamento é a número cinco, raia dois. – Ela disse. – Você tem das dez ao meio-dia. Depois das quatro às seis. Ou pode ocupar alguma raia livre de quem está em competição.
- Valeu! – Falei, andando pelo local.
As primeiras piscinas tinham só mulheres, em sua maioria chinesas. Elas sempre arrasavam juntos com os americanos, então, apesar de ser da categoria feminina, era bom ficar de olho. Sou adepto ao fato de que sempre podemos aprender uma coisa diferente.
- Já ajeitou a roupa do balé, Daley? – Virei o rosto para o lado, vendo Dressel, nadador americano falando com Tom Daley dos saltos ornamentais.
Caeleb é praticamente o novo Michael Phelps, ele participa de todas as competições, sendo revezamento ou solo, ele tinha dois ouros das Olímpiadas do Rio por revezamento livre e medley, e sabia que vinha com tudo agora, especialmente os 50 metros que eu participo.
Já Tom Daley é o atleta de saltos ornamentais mais famoso que deve ter. Ele salta na plataforma de 10, como , lembro de ela falar sobre ele anteriormente. Ele tem dois bronzes, uma em Londres, sozinho, e uma no Rio sincronizado.
- Não enche, Caeleb! – Tom disse irritado. – Vai cuidar da sua raia, vai.
A provocação olímpica existe e é completamente normal. Uma provocação antes de entrar e coisas assim, mas no geral todo mundo era de boas, menos esse cara. Americanos, moro lá e posso falar, eles sabem provocar. Ainda mais se forem bons em algo. E esse Caeleb é bom.
- Ih, a Barbie se irritou.
- Cala a boca, Dressel! – Virei para o lado, vendo um pouco longe. – Deixa ele em paz!
- ... – Ele disse galanteador. – Faz tempo que não te vejo.
- Que bom, né?! – Ela deu um sorriso, se aproximando de Tom. – Para de encher o saco, vai. Ninguém aqui para isso.
- Como a senhora desejar. – Ele disse rindo e se afastou com outros atletas, fazendo-a suspirar.
- Ei, Tom! – Ela abraçou o saltador.
- Oi, ! – Eles trocaram um abraço apertado, se afastando em seguida.
- Está tudo bem?
- Sim, ele só gosta de encher o saco. – Ele disse.
- Ele faz isso por causa de mim. – Ela negou com a cabeça.
- Já faz tanto tempo. – Ele disse.
- Homem imaturos. – Ela suspirou. – Enfim, meu treino é logo mais. Nos falamos depois?
- O meu é agora também. Vamos lá. – Ele disse e eles saíram abraçados para o fundo da piscina.
- Esse Caeleb é mala, hein?! – Vi Gabriel ao meu lado.
- Quero me manter bem longe. – Dei de ombros. – Não tenho paciência para essa pressão gratuita. – Neguei com a cabeça.
- Vai treinar agora? – Ele perguntou.
- Só as 10. – Falei. – Vou sentar aqui e começar alongamento.
- Beleza! A gente se fala depois. – Ele disse e assenti com a cabeça, vendo-o seguir também para o fundo do vestiário.

Depois de ontem, observar treinar acabou virando uma obsessão. Ela estava focada ao extremo. Não só daquele jeito de que uma Olímpiada pede, mas uma forma obsessiva talvez. Ela não esboçava nenhum sorriso, ela simplesmente saía da piscina e subia a plataforma de 10 metros novamente e esperava sua vez e, todas as vezes, independente do salto que ela fazia, saía perfeito.
Entendia a preocupação dela. Ela se tornou a primeira atleta brasileira tanto do feminino quanto do masculino a conseguir uma medalha nos saltos ornamentais. Ela se colocou ao lado das chinesas e das americanas e ergueu aquela medalha de prata com orgulho e felicidade nos olhos. Lembro até hoje da felicidade que fiquei.
Ela tinha 20 anos na época e todos os brasileiros simplesmente surtaram quando o resultado saiu. Era algo simplesmente inédito. E pelas nossas dificuldades no esporte, comemoramos cada medalha como se fosse nossa, independente de nosso resultado individual.
Então, nem é preciso dizer que as expectativas de todo mundo em cima dela em 2016 eram gigantes. Ela também estava empolgada com isso. Treinamos no mesmo centro em Fort Lauderdale, então acabamos nos esbarrando algumas vezes, saindo para jantar com nossos treinadores que eram casados, nada demais.
Eu lembro que estava treinando quando ela subiu na plataforma. Vários brasileiros se acumularam em frente ao telão nas piscinas internas para ver. Os gritos dos torcedores ensurdeciam o local e, de repente, o silêncio completo.
Uma caída completamente horizontal de costas fez com que ela zerasse a nota, algo que nunca tinha acontecido, ou aconteceu pouquíssimas vezes. Eu a vi passar aos prantos pela parte interna do centro de treinamento e só a vi novamente agora em Tóquio. Os Mundiais de Natação e de Saltos são diferentes, então nem sabia que ela estava competindo ainda.
Fico feliz por sim, quer dizer que ela tinha mais uma chance.
Mas o fato de ela ser a única atleta brasileira na categoria dela, me deixava nervoso, pois sei que o mundo do esporte adora uma história de superação, e todos esperavam uma dessas vindo dela.
Hoje ela estava com Monique, as finais em duplas é amanhã, então, depois de saltos sozinhas, elas começaram a pular juntas. Eu estou acostumado a nadar o mais rápido possível em uma raia sozinho. Ninguém se importava se eu espirrava pouca ou muita água, a questão era respiração, braçada e chegar primeiro. Então ver a sincronia delas, além das outras duplas, era loucura.
Tom Daley e sua dupla, Matty Lee, também faziam seus saltos e era chocante a sincronia deles. Eu não conseguia nem andar no mesmo passo que alguém, eles conseguiam pular há 10 metros de altura, fazer diversos mortais e caírem juntos ao mesmo tempo. Chocante! E incrível!

Quando chegou minha hora de treinar, segui para minha raia. Um alemão dos 1500 metros estava na minha raia antes disso, então nos cumprimentamos e trocamos de lugar. Eu me sentia bem quando tinha a raia livre para mim. É quase libertador, terapêutico.
Só seria mais terapêutico se Caeleb não estivesse na raia quatro. Esse cara sabe zonear, e talvez faça pelo simples propósito em distrair todo pessoal a sua volta. Cada piscina fechada, ele dava impressão de reduzir seu tempo e gritava, jogava água para cima e eu já estou relativamente velho para isso, estava com zero paciência.
- Se você quiser dar um tempo, fica à vontade. – Adalberto, meu treinador, falou e assenti com a cabeça.
- Tem como tentar me colocar em horário contrário dele? – Perguntei.
- Vou checar. – Ele disse e dei um aceno com a cabeça.
Afundei a cabeça na piscina novamente, levantando em seguida e apoiei os óculos no trampolim fixo. Me segurei no mesmo, me impulsionando para cima e saí pelo lado. Tirei a touca da cabeça e peguei a toalha, passeia no rosto e coloquei-a nas costas. Peguei os óculos novamente, calcei os chinelos e segui para longe da piscina.
- Você não deve se importar com isso. – Ergui meu rosto, vendo parada ali com a toalha enrolada na cintura.
- Desculpe? – Perguntei.
- Caeleb. – Ela indicou-o. – Ele é um cachorro que só late. Se você provocar de volta, ele recua. Só ver ele com o Tom. – Ela falou.
- Eu não estou preocupado. – Dei de ombros. – Ele é só chato mesmo. – Falei. – Eu já sou velho nisso, já lidei com qualquer tipo de pressão possível.
- Às vezes ficar de fora um pouco é o melhor que pode fazer. – Ela disse, continuando a andar e corri andar até ela.
- Nem tanto. – Falei e ela ergueu o rosto para mim. – Eu sei que dois mil e dezesseis foi difícil para você, mas quero que saiba que tem bastante gente torcendo por você. – Ela deu um sorriso.
- Agradeço. – Retribuí o sorriso.
- Então, se você quiser tomar um café da manhã ou jantar com a galera, somos legais. – Ela riu fracamente.
- Eu sei que vocês são legais, saímos muito quando eu morava nos Estados Unidos, caso não se lembre. – Sorri.
- Sim, eu me lembro. E lembro que era bom nossas conversas. – Falei.
- Eram sim... – Ela suspirou. – Me desculpe pelo meu afastamento, não é nada contigo. – Ela suspirou. – Eu só... Não posso errar e amanhã já tem minha primeira. – Apoiei a mão em seu ombro.
- E eu vou torcer por você. – Falei. – Respire fundo e vamos lá! Você não precisa fazer isso sozinha... – Ela assentiu com a cabeça.
- Você sempre foi um cara legal, . – Sorri.
- Jantar comigo mais tarde, então? – Ela riu fracamente.
- Eu tenho treino as sete. – Ela fez uma careta.
- Droga! Eu tenho as quatro. Se não conseguirem mudar. – Falei e ela franziu a testa confusa. – Pedi para mudarem por causa do...
- Do causador de problemas ali? – Ela indicou Dressel.
- Ele mesmo. Natação é para ser algo sério, quieto, libertador... Não esse caos todo. – Falei.
- Se você trocar, eu estarei aqui. – Ela deu um curto sorriso e retribuí.
- ! – Virei para o lado, vendo Alberto.
- Albertinho! – Ela falou sorrindo e o abraçou apertado. – Desculpe, eu te molhei.
- Ah, que isso! – Ele sorriu. – Que saudades de você, garota! – Ele sorriu.
- Saudades de você também! – Ela suspirou. – Como está todo mundo?
- Estamos bem, fiquei triste quando soube que saiu. – Ele suspirou.
- É, você sabe, eu e Patrícia... – Ela ponderou com a cabeça.
- Ela foi uma filha da puta contigo. – Ele disse sobre sua ex-esposa. – Nos separamos pouco depois disso.
- Ah, não! – Ela suspirou. – Você está brincando!
- Foi feio, ! – Ele disse. – Você não merecia isso.
- Sinto saber disso.
- Não sinta. – Ele disse. – Tem coisas que simplesmente não dá para separar.
- Contanto que você esteja bem, fico feliz por ti.
- Eu estou ótimo! – Ele sorriu. – E você? Está sozinha aqui? Veio como independente?
- Não, não! Eu estou treinando em Plymouth, Johanna o nome dela, ela é nova, Tom nos apresentou.
- Ah, então você está em boas mãos. – Alberto a abraçou de novo.
- E você está com , quer algo mais suave do que isso? – Ela brincou, me fazendo rir.
- Tirando o prazer em fazer tatuagens desse homem, fazendo ele tirar folgas desnecessárias, tudo certo. – Rimos juntos.
- É, realmente. – Ela indicou as tatuagens em meu peito, me fazendo rir. – Bom, eu preciso ir, tenho uma entrevista com a Band. – Ela fez uma careta.
- Ah, então você está dando entrevistas. – Falei, ouvindo-a rir.
- Selecionadas, com repórteres de confiança. – Ela disse sugestivamente e sorri.
- Eu consegui trocar seu horário, ! Tem algumas raias vazias no horário da noite, sete horas. Se ficar bom para ti. – Olhei para que sorriu.
- Acho que nos vemos mais tarde, . – Ela disse e sorri.
- Sim, com certeza. – Falei e ela deu um aceno.
- Bom te ver, Albertinho! – Ela disse, dando um aceno e entrando no vestiário.
- Está acontecendo algo que eu não sei? – Ele perguntou.
- Não, só estou sendo amigável. – Abanei a mão. – O que eu faço nesse meio tempo? Academia?
- Academia! – Ele confirmou e seguimos lado a lado para a entrada do vestiário.

Depois de algumas sessões na academia, voltei para a Vila Olímpica e consegui tomar um banho de verdade. Após tantos anos de natação e esporte, ainda não entendia a diferença de um banho no vestiário e em casa ou em hotéis. Parecia que uma cera ficava em nosso corpo por causa do cloro e não saía com facilidade.
Descansei um pouco enquanto lia um livro e por volta das quatro horas eu comecei a me arrumar para o treino da noite. Sete as nove não eram horários perfeitos, mas eu ainda tinha mais quatro dias de treino antes de oficialmente entrar na piscina. A desvantagem de fazer somente uma modalidade era essa, mas a vantagem era que eu tinha somente uma coisa para focar.
Saí do quarto já com a minha mochila e olhei no corredor. Tinha um ou outro atleta chegando ou saindo, mas estava mais vazio do que antes. Pensei por alguns segundos e segui até o final do corredor, não lembrava o número do quarto de , mas lembro de vê-la entrando do lado esquerdo. Bati na primeira porta e esperei retorno.
- Já vai! – Ouvi sua voz e não demorou mais do que 30 segundos para ela abrir a porta já com o moletom da delegação. – !
- Oi! – Falei rindo. – Já que não podemos jantar juntos, que tal um café da tarde? – Perguntei e ela riu fracamente.
- Eu ia fazer exatamente isso. – Ela disse rindo e indiquei com a cabeça o corredor.
- Vamos? – Perguntei.
- Claro! – Ela disse sorrindo. – Só vou pegar minha mochila. – Ela entrou, pegando-a e saiu novamente. – Ok, pronto.
- Vamos lá! – Falei e andamos lado a lado pelo corredor até o elevador. – Você disse que já competir amanhã já.
- Sincronizado. – Ela disse. – Eu e a Monique. – Ela disse. – Estávamos treinando para isso.
- Parecia muito bom hoje. – Falei.
- Eu não sou de trabalhar muito no sincronizado. – Ela suspirou. – São milésimos de segundo de atraso entre mim e ela, ou ela e eu, mas para os jurados é importante.
- Vocês estavam incríveis hoje. – Falei e ela sorriu.
- Valeu.
- Deve ser difícil uma competição que valha notas. – Falei e ela suspirou.
- É uma parte que eu não gosto muito. – Ela disse. – É completamente subjetiva, e depende se o juiz teve um bom dia ou não. – Ela suspirou. – Preferia resultado por velocidade, não tem como ter dúvidas.
- É, é complicado mesmo. – Falei, indicando-a para ir à frente no restaurante da Vila Olímpica do Brasil. – Mas vai dar certo, você vai ver.
- Você está falando de mim, mas e você? – Ela perguntou. – Qual seu foco aqui, ?
- Um pódio! – Falei suspirando. – Eu cheguei tão perto no Rio... Foi por pouco.
- Mas você tem algumas medalhas, não? – Ela perguntou e nos sentamos em uma mesa.
- Não em Olimpíadas. – Falei. – Tenho em Mundiais, Pan-Americano, mas não em Olímpiadas... – Ela pressionou os lábios.
- Desculpe. – Ela disse.
- Antes era o Cielo, aí o Phelps, quando acho que chegou minha vez, veio esse americano... – Falei franzindo os lábios e ela riu.
- Não pense nos outros, pense em você. Apesar dessa falação de representar o país e tal, a medalha vai para casa conosco. Isso é por nós. – Assenti com a cabeça.
- Você está certa, mas é esperado se irritar.
- Ainda mais com Dressel! – Ela disse e ri.
- Parece que conhece a fera de perto.
- Até demais! – Ela suspirou. – Posso dizer com propriedade que isso é tudo aparências! Ele é um cara legal, mas se deixa levar pela bagunça e se torna irritantemente irritante... – Ela deu de ombros e sorri.
- Olá, boa tarde. O que gostariam de comer? – Uma garçonete apareceu e finalmente olhamos para o cardápio.
- Eu quero... – Ela disse. – Eu quero essa salada com abacate e nozes, e esse macarrão integral com tomates.
- Eu quero o mesmo. – Falei. – E um suco de mamão com laranja.
- O mesmo. – Ela disse e trocamos um sorriso, e a mulher se retirou. – Foi fácil.
- Foi! – Falei rindo. – Dieta similares.
- Exatamente. – Ela sorriu.
- Mas e aí, como estão as...
- Fala aí, galera! – Fernando apareceu. – Posso comer com vocês?
- Claro! Senta aí! – falou e ele puxou uma cadeira.
- Estou faminto, acabei de voltar do treino.
- A gente vai as sete! – Falei.
- Hum, treino noturno é punk, hein?!
- Não é como se fizesse diferença, meu jet lag está ferrado ainda. – Ela disse.
- Isso é verdade! Tóquio é longe, cara! – Fernando disse e rimos juntos.

- A gente se fala depois?! – disse em tom de pergunta quando voltamos ao centro de treinamento e assenti com a cabeça.
- Claro! Vamos embora juntos. – Falei. – Eu te espero quando acabar aqui.
- Tudo bem. – Ela deu um sorriso e ela seguiu uma piscina mais à frente do que a minha, encontrando Monique do outro lado.
Fui para a piscina seis, exatamente na frente da piscina oito, a que ela estava treinando. Me aproximei de Alberto que já me esperava ali e lhe entreguei minha mochila. Tirei o casaco e o moletom do Brasil e lhe entreguei.
- Vamos começar devagar, ok?! Você não está acostumado com esse horário. – Ele disse.
- Se a gente levar em conta o fuso-horário. – Brinquei, fazendo-o rir.
- Pega leve! – Ele disse sério e assenti com a cabeça.
Ele me entregou a touca e os óculos e apoiei-os no trampolim fixo. Podia ser mais tarde, mas estava perfeito para treinar. Poucas raias estavam ocupadas e as duas primeiras piscinas estavam sendo usadas pelo pessoal do sincronizado. E eles precisam da piscina inteira para treinar.
Coloquei a touca facilmente, devido aos cabelos raspados quase a zero e coloquei os óculos em cima. Subi no trampolim fixo e coloquei os óculos. A piscina estava quase inteira para mim. Era perfeita.
Mergulhei e deixei meu corpo dar fortes e longas braçadas pela piscina, atravessando-a com rapidez. Ao invés de parar quando cheguei do outro lado, girei o corpo, impulsionando na parede e nadei até o outro lado novamente antes de bater a mão na parede do outro lado.
- Falei para pegar leve, ! – Alberto falou e ri fracamente.
- Só me aquecendo. – Suspirei, apoiando os braços para fora da piscina e soltei a respiração, sentindo a água dos lábios ser cuspida para frente.
Olhei para frente, vendo duas pessoas saltarem, afundando na água e ergui o rosto para plataforma. e Monique estavam lá em cima. Elas conversavam entre si antes de se virarem para as plataformas.
Ambas se colocaram lado a lado, se ajeitando na posição antes de esticarem as mãos para cima. Elas relaxaram os ombros antes de pular. As mãos foram retas em direção aos pés, inclinando o corpo para frente por alguns segundos antes de deixarem o corpo girar em um espiral antes de perfurar a água. Perfeito!
- Isso foi demais! – Alberto falou e ri com ele.
- Elas vão arrasar! – Falei rindo.
- Imagina? Ouro em saltos? – Alberto falou sorrindo.
- Seria legal. – Suspirei.
- Olha, te falar, depois de tudo que aconteceu com ela, eu vou ser o primeiro a aplaudir se ela conseguir esse ouro, viu?!
- Nem fala, Alberto! – Afundei o corpo na piscina por alguns segundos novamente. – Ela merece muito. – Suspirei.
- E você também! – Ele disse. – Vai! Se aquece aí! Quero menos de vinte e um e meio. – Ri, apoiando os braços na beirada e erguendo o corpo, saindo da piscina.
Olhei para o outro lado, vendo e Monique conversando com uma mulher que dava algumas instruções, que imaginei ser a treinador que ela falou. Seu olhar virou para mim, me pegando desprevenido e ela deu um aceno com a mão, retribuí o gesto e notei que tinha um sorriso nos lábios.
Um sorriso estranho nos lábios.


Capítuo Três

- Ei, ! – Ergui o rosto para Fernando.
- Ei, cara! Parabéns! – Abracei-o fortemente. – Uma medalha.
- Valeu, cara! – Ele riu. – Foi bom! – suspirou.
- Parece que estamos indo bem nas medalhas, hein?! – Falei e ele riu.
- Tomara! Precisamos melhorar esses números. – Disse rindo.
- E agora? Descansar para próxima? – Perguntei.
- Que nada, tenho umas entrevistas para dar... Sabe como é, né?! Pessoal fica em cima.
- Ah, mas você merece, cara! – Dei um tapinha em suas costas.
- A gente se fala depois. Vai treinar agora? – Perguntou.
- Acabei de sair, agora volto só amanhã. – Falei.
- Ao menos tem o resto do dia livre. – Disse e ponderei com a cabeça.
- Bom para relaxar, só! – Falei rindo.
- Aproveita as outras competições. A vai competir agora. – Ele disse.
- Agora? – Perguntei.
- É! Eu a vi no vestiário lá dentro. – Ele falou.
- Vou dar uma passada lá. – Falei.
- Ah lá, hein?! – Ele disse rindo.
- O quê? – Ri com ele.
- Você e a ...
- O quê? Nada a ver, cara. – Ri, empurrando-o pelos ombros.
- Por que não? Vocês treinavam juntos, não? Estão conversando bastante, não seria nada de ruim.
- Quando a gente treinava junto eu tinha namorada, cara. Nunca pensei isso dela.
- Até onde eu me lembre, tu estás solteiro agora. – Ele falou e ri fracamente. – E você parece gostar de ficar com ela.
- Eu só estou aqui apoiando ela. – Falei.
- Uhum, tá! – Ele deu um tapa em meus ombros. – Tu estás ficando velho, cara! – Ele riu e ri com ele.
- Sai fora daqui! Vou pegar sua medalha, hein?! – Falei, vendo-o sair a passos rápidos dali e suspirei.
Nunca tinha pensado na dessa forma, mas Fernando era o segundo que pensava isso por mim. Treinei com por uns quatro ou cinco anos. Era o mesmo clube, mas horários separados, às vezes nos encontrávamos e jantávamos juntos, pois nossos treinadores eram casados, mas fiquei em um relacionamento por oito anos até perceber que não estávamos na mesma sintonia, então não pensava nisso sobre ela.
é bonita, muito bonita na verdade. É legal, simpática e possui os mesmos desejos e receios do que eu em relação ao esporte. Tem 28 anos, só quatro mais nova, e tenta manter uma vida mais calma fora dos holofotes, assim como eu. Possui a cabeça centrada no meio desse caos de competições e tem a cabeça feita naquele tradicional “e se”. Além de que está sendo legal acompanhá-la esse ano.
Podia negar para Fernando e Alberto, mas tinha que admitir que a ideia não era má.

Caminhei pelas piscinas internas, vendo diversas modalidades em treinamento, deixei minhas coisas no vestiário antes de seguir para a parte externa do parque aquático. O local já estava cheio. Tivemos competição de natação pela manhã e agora seria dos saltos, então o pessoal que gosta desse tipo de esporte, vem cedo e não sai até o final do dia.
Por sorte, tinha uma área reservada para os atletas, e eu me ajeitei entre alguns nadadores em uma das arquibancadas mais altas. É plataforma de 10 metros, quanto mais alto, melhor. Não sou do tipo que tem medo de altura, mas pensar em me pular livremente há 10 metros de altura dava um gelo na barriga.
Hoje era dia de sincronizado feminino. Só que, diferente dos saltos sincronizados, e até da natação, não tinha rodadas preliminares, então era a final direto. Não entendo muito, mas sei que são seis saltos cada pessoa ou dupla e eles precisam obedecer uma sequência sendo um salto para frente, de costas, revirado, ponta pé para lua e parafuso, e somente o sexto é completamente livre. Além da dificuldade deles. Os primeiros dois saltos são os mais importantes, pois têm um grau de dificuldade fixo de 2.0, independentemente do realizado. E a nota mais alta e mais baixa, entre sete juízes são eliminadas, sobrando uma média das outras cinco.
Eram oito duplas, então teríamos 48 saltos. Apesar de parecer bastante, sei que essas competições aconteciam muito rápidas. e Monique estavam entre duplas do Canadá, China, Alemanha, Grã-Bretanha, Japão, México e Estados Unidos. E elas seriam as sextas a saltarem.
Então quando a primeira dupla despontou nas escadas, comecei a prestar atenção. Não lembro da posição que ficou em 2016, mas não havia sido tão ruim. Não deu medalha, mas não foi tão embaraçante quanto zerar uma nota.
Quando elas apareceram, eu até me ajeitei na arquibancada. Elas estavam com um maiô verde escuro. Os cabelos de Monique me deixaram identificar com mais facilidade do que os escuros de . Elas começaram pelo mesmo salto que eu vi ontem. Na minha opinião, foi simplesmente perfeito, mas os juízes deram uma média de 7,8. Comparado com os 9,6 das chinesas, era bem longe.
Os saltos seguiram e as notas delas foram seguindo a mesma linha, 7,8, 7,7, até 8,1. Mas a melhor delas, foi o último salto. Elas refizeram o primeiro salto, exatamente o mesmo salto, mas tinha uma mortal para trás antes de tudo, e isso aumentou a nota delas para 8,8. Perfeito!
Eu aplaudi animado junto com os brasileiros no local, vendo até um sorriso feliz nos lábios de enquanto ela abraçava Monique e sua técnica. Sobrou somente dois saltos antes de tudo fechar.
Quinto lugar.
Isso me fez murchar. De oito competidores, elas ficaram em quinto. Não era nada bom.
Suspirei, me sentando novamente e neguei com a cabeça. É o que me disse ontem, é uma competição completamente subjetiva. Deveria ter outra forma de avaliação. O pódio acabou ficando com as chinesas, americanas e mexicanas. Depois vieram as britânicas e aí vieram as brasileiras.
Não era o ideal para quem estava lutando para se reerguer.
- Que droga! – Ouvi um inglês forte ao meu lado e vi o britânico Tom Daley ali.
- Nem fala! – Suspirei.
- Elas mereciam mais. – Ele falou suspirando.
- Mereciam mesmo. – Suspirei.
- A vai ficar desolada por isso. – Ele negou com a cabeça.
- Ela ainda tem a chance dela. Ela não vai se deixar derrubar tão fácil assim. – Falei e ele virou para mim.
- Espero que não. – Ele suspirou. – Você é legal com ela.
- Acho que todo mundo do Brasil é, todo mundo quer ver ela indo bem. – Falei. – Na verdade, acho que todo mundo do Brasil quer ver todo mundo indo bem. A gente comemora de arco e flecha a 100 metros rasos. – Brinquei, ouvindo-o rir.
- Isso é bom! Diferente dos britânicos que só se preocupam quando você ganha. – Ele suspirou.
- Falando nisso, você ganhou ontem, certo? Parabéns! – Sorri.
- Sim, meu primeiro ouro. – Ele riu fracamente.
- Parabéns! Você merece! Vocês são incríveis. – Sorri.
- Você é legal! Qual seu nome mesmo? - Ele deu um sorriso.
- . – Falei. – Natação, 50 metros.
- Prazer, , eu sou Tom. – Trocamos um aperto de mão. – Cuida da . – Ri fracamente.
- O que isso quer dizer?
- Ah, vocês estão próximos. – Ele deu de ombros. – Ela está precisando de uma distração depois da última vez. – Franzi a testa.
- Como assim? – Perguntei verdadeiramente confuso.
- Ah, você sabe. Alguém legal, sem muito holofote e escândalos em volta... – Ele deu de ombros.
- Você sabe que eu e não somos namora...
- Sei! Sei sim! – Ele disse rindo. – Mas não tem motivos para não ser, não é?! – Ele deu de ombros e ri fracamente. – A gente se vê depois.
- Com certeza. Até mais!
- Até! – Ele disse, saindo das arquibancadas e ri fracamente.
e Tom são amigos, será que ela falou algo de nós para ele? Ou é só mais uma pessoa notando nossa estranha aproximação?
Quando o pódio acabou, me levantei do meu lugar e voltei para as piscinas internas, aproveitaria alguma raia livre para treinar agora. Não iria ficar pensando besteiras e sabia que elas teriam entrevistas e várias coisas agora.

Voltei para a Vila somente no fim do dia. Depois da competição de saltos, tivemos algumas preliminares da natação. 100 e 800 metros livre, 200 metros peito, e revezamento 4x200 livre. Não são competições que eu participo, mas sou um amante do esporte, gosto de ver os atletas cortando as piscinas como se a nossa vida dependesse disso.
Fui direto para o meu quarto e tomei aquele banho relaxante antes de pensar em comer alguma coisa. Esses dias pesavam. Apesar de não serem tão diferentes dos dias de treinos convencionais, o deslocamento era desgastante, e a interação com outros atletas, uma distração aqui e ali, tornava tudo mais bagunçado. Não era só, ir para o treino, lanchar, continuar, voltar, relaxar e, no máximo, beber alguma coisa no fim do dia.
Após o banho, fui para o refeitório, já jantaria e depois estava livre para relaxar, ler um livro ou algo assim. Antes de sentar nas mesas, fui para o buffet, às vezes era mais rápido do que pedir. Tinha várias opções e decidi pegar ali mesmo. Arroz, frango e bastante salada eram o básico de sempre. Uma vitamina para acompanhar e estava feito. Quando andava até uma mesa vazia, ouvi alguém me chamar.
- Ei, ! – Encontrei Monique algumas mesas para o fundo.
- Ei, Mô! Como está? – Perguntei.
- Tudo bem! Está sozinho? Senta aqui!
- Claro! – Apoiei o prato na mesa e me sentei na frente dela.
- Como está? – Perguntei.
- Tudo certo. – Ela deu um curto sorriso.
- Vi a competição hoje. – Falei.
- Ah, nem fala. – Suspirei. – Esperávamos pelo menos um quarto lugar. Ficar na parte de baixo da tabela não foi nada legal.
- E como você está com isso?
- Ah, chateada, né?! No Rio ficamos em quarto, sabemos que é difícil competir com as chinesas, mas esperávamos ao menos manter a posição ou um terceiro lugar, mas é difícil. – Ela disse.
- Mas vocês foram muito boas, aquele último salto... – Falei.
- Depois ficamos pensando se não deveríamos ter começado com ele, mas são decisões... – Ela deu de ombros. – Não tem por que ficar remoendo agora.
- Sinto muito, achei vocês demais! – Falei e ela sorriu.
- Valeu. – Ela suspirou em seguida. – É só decepcionante. A gente se prepara durante quatro anos, cinco dessa vez, para acabar a competição em quatro dias.
- Já acabou para você? – Perguntei.
- Sim, só vim competir no sincronizado dessa vez. – Ela deu de ombros. – Mas devo ficar, ajudar na competição dela. Talvez ela precise de uma mão amiga.
- Você está certa. – Falei. – Nos tornamos melhores ajudando os outros. – Ela assentiu com a cabeça. – Como ela está? – Perguntei.
- ? – Assenti com a cabeça. – Ela está decepcionada também, o foco maior dela é o individual, isso todo mundo sabe, mas o sincronizado é quase como um termômetro... – Assenti com a cabeça. – E depois que o Tom pegou o ouro, e eles treinam juntos, deixou ela baqueada um pouco. – Pressionei os lábios. – Ela nem quis comer. Demos as entrevistas, voltamos para cá e ela se trancou no quarto.
- Isso que é foda. – Falei. – Quando estamos em baixa, achamos que só podemos melhorar, mas aí vem uma coisa nova e dá uma rasteira na gente, nos sentimos muito pior do que antes... – Ela assentiu com a cabeça.
- Sim. E para ela ainda que bateu recordes, teve medalhas inéditas e tudo mais, ter aquele 2016 do jeito que foi, em casa, com todo mundo torcendo para ela... – Suspirei. – Fico feliz por ela ter ido atrás de tratamento, mas até hoje você nota que ela não relaxa. Ela sorri, tem um sorriso lindo, mas ainda tem aquela baixa inesperada.
- Sei bem o que é isso... – Suspirei, colocando uma folha na boca. – Mas vocês têm tempo. – Ela assentiu com a cabeça.
- Fico feliz por poder estar aqui. E torço muito por ela, porque se ela pode, sei que é possível, e posso tentar me igualar ou melhorar. – Sorri.
- E faz muito bem. Sem os feitos dos outros, não temos no que nos inspirar. – Falei e ela assentiu com a cabeça.

Finalizei meu jantar com Monique sobre assuntos amenos, apesar de toda inspiração que dá para os atletas brasileiros de salto, não estava com ela agora e gosto de conversar com Monique. Enrolamos um pouco lá embaixo antes de subir novamente.
- Eu vou dar uma passada para ver se ela está bem. – Monique disse quando o elevador se abriu.
- Eu vou contigo, se não se importa. – Falei.
- Não, vamos! – Ela disse e atravessamos o corredor do terceiro andar e ela bateu os nós dos dedos na porta. – ! É a Monique! – Ela a chamou e não teve retorno. – ! – Ela chamou novamente, batendo na porta.
- Ela não está. – Falei.
- Ou vai ver já dormiu. – Ela suspirou e olhei o relógio, já passava das onze, então não era difícil. – Eu vou mandar uma mensagem para ela, ela responde quando acordar.
- É, vou dormir também. – Falei. – Preciso pegar pesado, minha competição está chegando.
- Vai dar certo. – Ela sorriu. – Garanto que você tem mais chances do que eu. – Ri fracamente. – Boa noite, .
- Boa noite. – Falei, acenando e segui de volta para o meu quarto, esbarrando em Fernando. – Ei, cara!
- E aí, cara! – Ele disse rindo. – Desculpe!
- Está tudo bem? – Perguntei e ele riu.
- Sim, eu só bebi um pouco. – Ele disse rindo.
- Onde você achou bebida aqui, cara? – Perguntei e ele riu.
- Ah, meu querido, ! Só tem pose de malvadão, né?! Tatuado, se impõe, mas não sabe as coisas boas da vida. – Ele falou dramático, apoiando a mão em meu ombro e eu ri.
- Fala logo, cara! – Cutuquei-o na barriga.
- Lá no telhado, pessoal arranjou uns uísques. Aproveita! Tem uns dias antes da sua competição, dá para aproveitar. – Ri fracamente.
- Acho que eu vou dormir, cara. Tá chegando perto. – Falei.
- Você que sabe. – Ele disse rindo. – Boa noite para ti.
- Valeu, para você também. – Ele seguiu para o outro lado, tropeçando nos pés e ri fracamente. – AH! A está lá. – Ele disse, esbarrando na sua porta.
Então é lá que ela está. Acho que umas doses de uísque não seriam tão más.
Segui pela escada que Fernando havia descido e subi dois degraus, saindo na porta. O tempo estava mais gelado e agradeci pelo moletom do uniforme do Time Brasil. Uma música baixa tocada ali e tinha uns sete ou oito atletas espalhados ali. Um pessoal que eu não conhecia, em sua maioria, mas encontrei Gabriel e Pedro ali. Cantando como se a vida dependesse disso.
- Loucos. – Falei rindo.
- Acredite, estava pior. – Virei para trás, vendo sentada na murada com um copo de plástico e uma garrafa de uísque ao seu lado.
- Ei! – Falei e ela deu um curto sorriso.
- Oi. Uísque? – Ela perguntou e ri fracamente.
- Acho que eu vou ter que aceitar. – Ela riu e tirou um copo de baixo do seu e colocou uma dose para mim, me esticando. Peguei o copo e me sentei ao seu lado.
- Não achei que fosse o tipo de pessoa que trazia bebida escondido. – Falei e ela riu fracamente.
- Às vezes a gente precisa de uma forcinha a mais. – Ela abaixou as pernas, erguendo o olhar para mim.
- Não acho que precise. – Falei, dando um gole na bebida.
- Não? Eu te vi na arquibancada, você viu a competição hoje. – Ela disse.
- Vocês foram incríveis, é o que você disse, é uma competição subjetiva. Para mim vocês mereciam 10. – Ela deu um curto sorriso.
- Valeu, . – Assenti com a cabeça. – Infelizmente, você não é o jurado.
- Mas você não está triste por isso, está? – Ela soltou um longo suspiro.
- Triste não, só chateada. – Ela deu de ombros. – Esperava que fosse um pouco melhor do que há cinco anos. – Assenti com a cabeça. – Preferia manter o quarto lugar, ou um terceiro, mas...
- Encontrei a Monique lá embaixo, ela disse o mesmo... – Ela confirmou com a cabeça.
- Fico triste por ela também. Ela vem para isso e não passamos do quinto lugar. – Ela suspirou.
- Entendo a decepção, mas sinto que você se cobra mais do que deve, ... – Ela ergueu o olhar.
- Todo mundo só me chama assim, mas é tão difícil ver essa pessoa... – Ela suspirou.
- Como assim? – Perguntei.
- Eu não sou mais a . Ela era aquela garota animada, surpresa, feliz, interessada, que fazia todo o possível para chegar aonde queria e comemorava as pequenas conquistas... – Ela suspirou. – Eu sou agora. A pessoa que vira umas doses de uísque para não estourar com qualquer coisa. – Ela suspirou.
- Você não é essa pessoa, . – Falei firme. – Você é a . Você ainda é a . – Falei e ela deu um curto sorriso. – Entendo a decepção, entendo os momentos tristes da profissão, já passei por bastantes também, mas isso não é para te definir.
- Como não, ? – Ela perguntou. – A gente treina para isso, se esforça para isso. Fora isso, eu não sei quem eu sou. – Ela deu de ombros. – Não sei do que eu gosto, do que eu não gosto... – Ela suspirou. – É uma profissão dolorida que nos faz renegar tudo o resto.
- Concordo em partes, mas não essa falta de identidade. – Falei. – Eu lembro de você em Fort, . Você era divertida, animada, criativa, adorava fazer dobraduras com guardanapos, adorava brincar com as crianças no clube e invadir os treinos do pessoal de ginástica. – Ela deu um curto sorriso. – Fez sua treinadora mudar parte da sua dieta porque não consegue largar o vício de massa folhada com geleia de damasco... – Ela riu fracamente. – Levava sua própria térmica de café porque se recusava a beber o café aguado americano. – Ela sorriu. – Adorava ver minhas tatuagens novas, mas nunca se atreveu a fazer uma por medo de agulha, em compensação já te vi saltando em trampolim de 45 metros. – Ela gargalhou, abrindo um largo sorriso.
- Você lembra de bastantes coisa. – Ela disse.
- Eu me lembro de quem você era. – Falei. – Você acha que não tem identidade, , mas essa é a sua identidade. – Falei firme. – Claro que já passaram cinco anos, mas aposto que algo permaneceu. E o que não permaneceu, mudou para coisas novas, talvez melhores. – Ela assentiu com a cabeça.
- Ainda gosto de folhado com geleia de damasco... – Sorri. – Mas agora eu bebo chá... Inglaterra, sabe? – Ri fracamente.
- Isso e muito mais. – Ela assentiu com a cabeça. – Perder é difícil, perder com uma pressão gigantesca nas nossas costas é pior ainda, mas isso não define quem você é. Olhe o Hypólito, por exemplo. – Falei. – Caiu de cara em uma Olímpiadas, de bunda na outra e finalizou com uma prata no Rio. – Ela deu um sorriso. – Para toda história inspiradora, precisa ter um ponto de fraqueza, . Essa é a sua. – Falei. – Mas você só vai ter seu ponto alto novamente, se permitir-se. – Ela assentiu com a cabeça.
- Você está certo. – Ela deu um curto sorriso.
- Já fui colocado em lugares que não queria. Podia dizer que é só frase motivacional, mas vem de experiência pessoal. Agir como quem não se importa, é melhor do que mostrar a todos que se importa profundamente. – Ela confirmou com a cabeça.
- Valeu, . Já falei isso, mas você é um cara legal. – Assenti com a cabeça.
- Quando precisar. – Falei e ela riu fracamente. – Já que eu sou um cara legal, posso perguntar o que houve? – Ela ergueu o rosto. – Pós-Rio. – Ela suspirou fundo.
- Vamos dizer que eu estou um pouco carente de apoio. – Olhei confuso para ela. – Todo mundo me abandonou. – Ela deu de ombros. – Não tinha nem saído da competição e Patrícia me esculachou de uma forma que nunca esperei. Não vale repetir as palavras dela, mas precisei de bastante terapia para voltar a acreditar em mim mesma. – Segurei sua mão solta.
- Sinto muito. – Ela assentiu com a cabeça, apertando minha mão.
- Apesar de não saber detalhes, fiquei feliz em saber que Alberto é melhor do que ela. Ele sempre foi muito bom. – Ela disse.
- Sim, foi. – Dei um curto sorriso.
- Bom, depois disso, eu perdi todos meus patrocínios. O único que ficou é do mercado do meu pai, mas não é exatamente o que paga os clubes, viagens e hotéis, né? – Assenti com a cabeça, pressionando os lábios. – Eu estava há um passo de desistir e largar tudo, até que eu encontrei o Tom em uma dessas competições e ele disse que ia me ajudar. Que eu tinha potencial...
- E tem bastante. – Falei, vendo-a dar um curto sorriso.
- Cancelei o contrato com a Coral Springs, que eu não conseguiria pagar sem os patrocínios, me mudei para Plymouth na Inglaterra, fui morar com o Tom e o marido dele, uma situação interessante, diga-se de passagem. – Rimos juntos. – Era quase um trisal. – Gargalhei alto. – Mas eles foram muito bons para mim. – Suspirei. – Tom me apresentou aos seus treinadores, praticamente fez um dossiê do porquê eu merecia e a Johanna pegou meu caso. – Ela deu de ombros. – Eu estava independente até o mundial de 2019. – Ela falou. – Consegui uma prata no individual e foi aí que os patrocínios voltaram.
- Você conseguiu uma prata no mundial de saltos ornamentais e está assim? – Perguntei incrédulo e rimos juntos.
- Não é uma Olímpiada. – Ela disse rindo.
- Mas demonstra bastante quem você é. – Ela sorriu, assentindo com a cabeça. – Você é uma lutadora, e merece tudo de bom sempre.
- Valeu. – Sorrimos juntos. – Mas acho que é minha última tentativa. – Ela suspirou. – Isso está me desgastando demais, especialmente psicologicamente.
- Não faça essa decisão agora. – Falei. – Aprendi a nunca fazer nenhuma decisão feliz demais ou triste demais. Espera isso acabar. – Ela confirmou com a cabeça.
- Vou esperar. – Ela suspirou. – Mas digo que eu só estou cansada mesmo. Não vejo minha família há anos por causa dessa bagunça, depois por causa da pandemia, não tenho nenhum relacionamento há anos e ainda tenho sonho de ser mãe... – Assenti com a cabeça. – Quando decidimos virar atleta, ninguém diz de tudo que precisamos abrir mão.
- Não. – Falei. – Mas também não dizem tudo que podemos ganhar. – Ela assentiu com a cabeça.
- Não posso discordar disso. – Assenti com a cabeça. – Mas o mundo esportivo é muito desgastante de forma geral, isso você não pode negar. – Ponderei com a cabeça. – Essa provocação gratuita, essa pressão de quem deveria querer o bem de você... Não é certo. Somos competidores sim, mas não te desejo o mal em nenhum momento.
- Você está falando do Dressel? – Perguntei.
- Não só. – Ela disse. – Tenho minhas diferenças com o Dressel, mas as modalidades femininas costumam ser piores, além de tudo, ainda tem toda a questão de vaidade e competição interna. Me irrita. – Assenti com a cabeça.
- Essa parte deve ser irritante, no masculino é mais pressão e provocação mesmo. – Falei.
- E o Dressel faz muito. – Ela revirou os olhos.
- Você parece que conhece bem a fera. – Falei e ela suspirou.
- Nós tivemos um caso no Rio. – Ela negou com a cabeça e tentei não parecer tão surpreso com isso. – Pode ficar chocado. – Ela disse e ri fracamente. – Foi algo de um momento só, mas depois eu percebi como ele era idiota e egocêntrico. – Ela deu de ombros. – Ele veio atrás de mim algumas vezes, mas não é para mim. Poderia dizer que esse foi o motivo do meu resultado no Rio, mas não, foi um erro bobo e totalmente meu. – Ela deu mais um gole na bebida. – Depois disso, e de tudo que aconteceu, comecei a ficar mais na minha, analisar melhor o que fazia. – Assenti com a cabeça. – Estou aqui para trabalhar, então vamos trabalhar. – Ela deu de ombros e pressionei meus lábios. – Cuido da minha vida pessoal depois...
- Uhum... – Falei fracamente.
- Mas e você? Só eu estou falando. – Ela disse. – Sei que você tem sua cota de decepções também. – Suspirei alto, rindo em seguida.
- Eu comecei minha carreira como parte de 4x100, mas era praticamente uma forma de entrar, porque o Cielo comandava tudo, né?! – Ela assentiu com a cabeça. – Em 2016 eu achei que teria minha chance, mas estava com dores crônicas no ombro e as coisas não foram como esperado. Consegui prata no Mundial de 2017, de 2019, ouro no Pan, e pretendo, pelo menos, subir no pódio nas Olímpiadas. – Suspirei. – Aí veio esse seu ex-namorado...
- Não! Uma ficada e só! – Ela disse, me fazendo rir. – Mas não se deixe afetar, ele pressiona e tal, mas é uma boa pessoa, mas é americano e muitos possuem aquele péssimo hábito de...
- Se achar o dono do mundo. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Exatamente. – Ela disse. – Por isso acabo ficando perto das chinesas. Elas são umas fofas. – Rimos juntos.
- A gente vai encontrando nossos espaços, né?! – Ela assentiu com a cabeça.
- É. – Ela sorriu. – Não sei se você sabe disso, mas eu fui nadadora uma época da minha vida.
- Mesmo? – Perguntei surpreso.
- Sim! – Ela disse rindo. – Até meus 14 anos. – Ela suspirou. – Você mencionou sobre suas dores crônicas no ombro, eu lembrei da minha lesão.
- Teve uma lesão no ombro? – Perguntei.
- Sim, fiz cirurgia, coloquei pinos, foram dois anos de luta, quando voltei para a piscina, meu melhor tempo nos 50 metros era de 32 segundos. – Ela riu incrédula. – Fim de carreira.
- E aí você foi para os saltos? – Perguntei.
- É... – Ela suspirou. – Eu não conseguia largar a piscina e, apesar da altura e tal, tem bem menos desgaste nos braços. – Assenti com a cabeça. – Acabou dando certo.
- Às vezes a vida nos manda para uns caminhos que nem a gente espera. – Falei.
- Com certeza não, mas a gente se encontra no meio do caminho. – Ela disse, erguendo o rosto para mim e sorri, vendo-a retribuir.

Capítuo Quatro

Alguns dias se passaram desde minha conversa com . Ela dizer que precisava focar na competição e somente na competição, me deixou um pouco desanimado, mas me fazia ter certeza de que o comentário que todo mundo me fazia não era em vão. Tinha algo aí e eu estava animado para poder descobrir...
Mas talvez descobrisse somente no final da competição.
Apesar disso, continuamos conversando diariamente. Nos encontrávamos frequentemente nos treinos e sempre tomávamos café ou jantávamos juntos. Meus treinos estavam cada vez mais pesados e os dela também. Agora haviam me liberado seis horas na piscina, e o tempo fora dela, eu passava na academia e em relaxamento.
Eu estava tentando manter minha cabeça totalmente nos treinos, mas minha conversa pareceu ter um pouco de efeito também, e havia começado a sorrir um pouco mais e a se enturmar um pouco. Então, a cada sorriso que ela dava, era mais um desejo para essa competição acabar logo e chamá-la para sair.
Mas hoje eu precisava ignorar tudo isso.
Hoje eu tinha as Eliminatórias. Era o começo de 56 horas pesadas. Eliminatórias hoje à noite. Semifinais amanhã de manhã e Finais daqui dois dias. Por enquanto era tudo brincadeira, mas agora as coisas estavam sérias.
- Bom dia! – Ergui o rosto do meu cereal, vendo sorrindo para mim.
- Bom dia, ! – Falei.
- Hoje é o dia, hein?!
- Ah, nem lembra! – Falei e ela riu, puxando a cadeira.
- Você está pronto, . – Ela disse. – E hoje é só o começo, ficar entre os 16. Não precisa tirar o pai da forca. – Dei um curto sorriso.
- Você age assim nas suas eliminatórias? – Perguntei e ela negou com a cabeça.
- Com certeza não, mas é uma forma de tentar relaxar. Ou prefere uma massagem? – Ela ergueu os olhos para mim e ri fracamente.
- Acho que aceito a massagem depois de tudo. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Bom! Vou pedir para o Albertinho apertar bem firme e exagerar nas ventosas! – Ela disse, rindo em seguida e pressionei os lábios, rindo fracamente.
- Albertinho, Albertinho. – Ri fracamente. – Estou com ele há 15 anos, acredita?
- Não é como se você estivesse ficando mais novo, não é?! – Ela brincou, me fazendo rir.
- Trinta e dois... Você tem razão... – Suspirei.
- Sem drama de idade agora, ! – Ela se levantou. – Você tem muita braçada para dar ainda.
- Aonde vai? – Perguntei.
- Pegar meu café da manhã. – Ela disse rindo. – Já volto. – Ela deu um sorriso e retribuí.
- Ih, a cara de tonto aí! – Vi Fernando apoiado na cadeira ao meu lado. – Tô falando, cara. Tem coisa aí!
- Ah, cala a boca! – Falei, ouvindo-o rir e ergui o olhar para no buffet.

- Você tem treino agora? – Perguntei.
- Sim, vou fazer das oito às 10, depois das quatro às seis. – Ela disse. – Mudei para poder ver suas Eliminatórias. – Sorri.
- Obrigado. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Mas fique focado aqui. – Ela disse. – Tem um longo dia ainda.
- E você? – Perguntei. – Quando são suas eliminatórias?
- Eu tenho quatro dias ainda. Enquanto isso fico cozinhando em banho-maria. – Ela disse.
- Você deveria relaxar. – Falei. – E eu não indico o uísque como uma forma de relaxar. – Ela riu fracamente.
- Talvez eu precise de uma massagem do Albertinho e mais trabalho de ventosas. – Ela disse e rimos juntos.
- Não precisa ser necessariamente do Albertinho. – Falei e ela pressionou os lábios, finalmente consegui.
- É... Talvez não. – Ela desviou o olhar, deixando um sorriso aparecer em seus lábios.
- ! – Ela virou o rosto e vi sua treinadora um pouco mais longe.
- A gente se fala depois. Bom treino! – Ela disse e assenti com a cabeça.
- Você também. – Falei, vendo-a andar uns passos para trás, antes de parar e se virar novamente.
- Talvez eu queira aquela massagem depois. – Ela deu um curto sorriso, voltando a se virar e sorri, seguindo para perto de Alberto.
- Bom dia, ! – Ele disse. – Parece que você me ouviu...
- Bom dia. – Falei rindo. – Cala a boca. – Ele riu comigo.
- Sabe... Sempre achei que vocês combinavam. – Ele disse e virei para ele com a testa franzida.
- Como assim?
- Ah, vocês eram legais juntos, sempre se divertiam e tal... – Ele deu de ombros. – Você tinha a Melanie naquela época, por isso eu nunca falei nada, mas a vida acontece todo dia, né?!
- Por que você nunca me falou nada? – Perguntei. – Digo, ok, eu tinha a Melanie e tal, mas...
- Ah, qual é, . Você era completamente apaixonado na Melanie, mesmo se eu dissesse, você ia rir na minha cara. – Ri fracamente.
- Talvez você esteja certo, por isso foi tão ruim quando acabou. – Suspirei.
- Mais um motivo para você fazer isso dar certo... – Ele disse sugestivamente. – Já faz dois anos, não?
- Teve uma pandemia no meio do caminho, cara. Tudo o que menos indicavam era relacionamentos casuais. – Ele riu fracamente.
- Bom, estamos todos vacinados e testados. – Ele sorriu.
- Achei que eu estava aqui para competir. – Falei e ele riu.
- Ah, claro! Mas depois de amanhã, ainda teremos cinco dias aqui. – Ele disse. – Você vai precisar se ocupar! – Ri fracamente.
- Ela também está aqui para competir. – Falei.
- Cara, você vai morrer sozinho e eu vou rir da sua cara. – Ele me empurrou pelo ombro, me fazendo rir. – Nem vem com esse sorriso que eu sei que você está interessado! – Ele disse firme.
- Fica na paz, Albertinho! Uma coisa de cada vez. – Dei um tapinha em seu ombro. – Ela disse que está focada na competição, depois que tudo acabar eu dou meus jeitos.
- É, quando ela estiver treinando na Inglaterra e você na Flórida. Vai ser legal! – Ele disse ironicamente e sorri.
- A gente pode focar na competição, por favor? – Virei para ele, ouvindo-o rir.
- Vamos! – Ele disse firme. – Você precisa baixar de 22.
- Vamos lá! – Disse sério!

O pior de tudo de competir, não é a competição em si. Entrar na piscina, se preparar e tal, é a espera. Ainda mais nas Eliminatórias. São 10 baterias. Oito nadadores em cada bateria. Dali, os melhores 16 se enfrentam na semifinal de amanhã de manhã. Eu tinha menos de 12 horas entre nadar hoje e estar pronto para amanhã.
Eu estava na bateria oito, e não podia treinar ou fazer algo que me desse alguma vantagem mais tarde. Os treinos pararam as quatro da tarde para todos que competiriam agora à noite. Então eu tive que esperar.
Ficar em um único vestiário com 80 nadadores não era uma situação boa. Todo mundo está ali pelo mesmo motivo e, apesar de Dressel estar quieto hoje, os olhares não tornavam nada melhor. Então eu coloquei meu fone de ouvido, alguns rocks pesados e deixei meu corpo ser embalado pelo clima geral.
Enquanto esperávamos, os olhos de todos foram para os telões acompanhar as outras baterias. Tinha diversos países e sabia da dificuldade de cada país. Tinha países que possuíam um atleta praticamente só para representar, mas ficava feliz por países menores poderem participar daqui.
Na primeira bateria, os tempos ficaram entre 27 e 31 segundos. Na segunda, se manteve em 27 segundos. Já na terceira, os números começaram a descer para 25 segundos. Na quarta bateria desceu para 24. Na quinta bateria desceu para 23 segundos. E nas duas antes da minha, chegamos em 22 segundos.
Eu sei que posso ser melhor, eu preciso ser melhor, então precisava manter esses números abaixo de 22 se quisesse ter chance de seguir para próxima etapa. Sabia que Dressel estava mais rápido, mas eu já o venci no Pro Swim do ano passado, poderia fazer de novo.
Quando a sétima bateria começou, fui chamado a me preparar. Enfiei a touca na cabeça, depois os óculos e fechei o moletom no centro. Ergui a cabeça e segui pelo corredor com os outros participantes da minha bateria. Os atletas comigo eram de diversos países, mas não me preocupei com isso no momento, somente respirei fundo antes de encarar.
- Na raia um, do Canadá, Joshua Liendo! Na raia dois, do Canadá Brent Hayden! – O narrador começou a chamar. – Na raia três, da Holanda, Thom de Boer! Na raia quatro, do Brasil, ! – Respirei fundo e saí para as piscinas.
Eu estava com os fones no ouvido, então não ouvi o grito do pessoal, mas estava cheio. Mais cheio do que que todas as competições. Bom, 50 metros livres é a maior competição.
Atrás de mim ainda vieram Michael Andrew dos Estados Unidos, Maxine Grousset da França, Jesse Puts da Holanda e Nikola Miljenić, da Croácia. Fui até minha plataforma e vi Alberto ali atrás. Ele deu um aceno de cabeça e fiz o mesmo.
Tirei os fones, colocando no bolso do moletom e finalmente ouvi o grito da galera. O negócio tinha tudo para ferver. Tirei o moletom, colocando atrás de mim e estiquei os braços, dando tapas nos mesmos e rotacionando-os por alguns segundos. Observei as bandeiras por alguns segundos e ouvi a primeira buzina.
Subi na plataforma e ajeitei os pés perto da beirada, me fazendo suspirar. A segunda buzina veio logo em seguida, e me coloquei em posição. Antes da terceira, eu tentei fazer uns dois segundos de concentração, mas não adiantava, era na porrada mesmo!
Quando ouvi a terceira buzina, eu pulei!
Meus braços trabalharam com força e rapidez. Não importava ninguém ao meu lado, não importava os gritos que ficavam altos a cada respirada, não importava mais nada. É só eu e 50 metros. Nada demais.
Quando a parede ficou mais perto, eu bati com força, erguendo o corpo e finalmente ouvindo os gritos do pessoal. Deixei os pés irem no chão e ergui meu rosto para o telão. 21,67. Primeiro lugar na bateria.
- ISSO! – Bati as mãos na piscina.
Thom ficou em 21,75 e Jesse com 21,84. Faltava duas baterias ainda, mas parecia ser algo bom.
Nadei para as escadas antes de sair da piscina. Cumprimentei um ou outro atleta antes de ver Albertinho sorrindo para mim.
- Parabéns, cara! Isso é bom demais! – Ele me apertou forte, me fazendo rir. – Melhor do que nos treinos!
- Valeu, cara! – Falei rindo, andando por entre as piscinas.
- VAI, ! – Ouvi alguns gritos e virei o rosto. Primeiro vi sorrindo, depois vi Fernando, Monique e um pessoal da natação. Dei um aceno e segui com Alberto.
- Viu?! Ela veio te ver! – Ele disse e ri fracamente.
- Cala a boca! – Falei em um sorriso.

Finalizei de arrumar as coisas dentro da mochila e me livrei da toalha no descarte. Pensei por um segundo quantas toalhas esse pessoal lava por dia e dei um curto riso. Peguei minha mochila e dei um aceno geral.
- Boa noite, galera! – Falei.
- Boa noite!
- Boa noite! – Alguns responderam e segui para fora, atravessando para a parte de fora do parque aquático, fugindo da hora de treinamento. As últimas duas baterias fizeram com que tudo finalizasse mais de dez horas. Eu fiquei em quarto.
Caeleb ficou em primeiro, o francês Florent Manaudou em segundo, o grego Kristian Gkolomeev em terceiro, eu em quarto. Amanhã de manhã chegaria nessa ordem. Mas eu e Florent estamos na primeira bateria, enquanto Caeleb e Kristian estão na segunda.
Amanhã seria pesado, mas segunda-feira seria pior. E mais de 24 horas me separavam disso, difícil seria aguentar a ansiedade.
- E aqui vem o astro! – Me assustei ao sair do centro e vi se levantar de um banco.
- ! – Falei surpreso, vendo-a vir em minha direção.
- Você foi demais! – Ela falou rindo e me abraçou pelos ombros, deixei que um braço se fechasse em torno de sua cintura, me fazendo sorrir.
- Obrigado! – Falei. – Obrigado por estar lá.
- Ah, não íamos perder a oportunidade! Todo mundo está torcendo por você. – Ela se afastou, me deixando com um sorriso.
- Da mesma forma que estão torcendo por você. – Ela sorriu, rindo fracamente.
- Bem, pelo que mostrou hoje, você tem muitas chances! Terceiro lugar, só na bateria, isso é demais!
- É, mas é só a primeira. – Falei.
- Ah, com toda certeza, mas sabemos que a velocidade das próximas provas aumenta e o tempo reduz... – Ela deu de ombros.
- É, isso é verdade! – Sorri.
- E agora? Descansar? Beber? – Ela perguntou andando ao meu lado e ri fracamente.
- Descansar! Preciso estar de pé as cinco amanhã, começamos as oito. – Falei e ela assentiu com a cabeça. – Já comi logo que finalizei minha prova, estava com o estômago colado nas costas.
- Também, não deve ter comido nada o dia inteiro para ficar mais leve! – Ela disse rindo e não parava de sorrir ao ouvir sua risada.
- E nem passar mal. Sua mãe nunca te ensinou a não nadar de barriga cheia? – Paramos no ponto de ônibus para a Vila Olímpica e ela riu.
- Engraçadinho, senhor ! – Ela virou para mim.
- Você teve treino agora? – Perguntei e ela negou com a cabeça.
- Não, só esperei por você mesmo. – Ela deu de ombros. – Todo mundo precisa de uma forcinha extra de vez em quando.
- Você sabe que tudo que está dizendo vai ser usado contra você em alguns dias, certo? – Perguntei e ela riu fracamente.
- Talvez! – Ela sorriu. – Mas gosto de ver as pessoas felizes, então não me importo.
- Bom! Eu também gosto. – Falei e um ônibus parou em nossa frente. Indiquei para ela ir na frente e ela o fez.
- A ironia, eu sei, eu sei! – Ela abanou a mão, se sentando em um banco e me sentei ao seu lado.
- E você? Vai treinar amanhã? – Perguntei.
- Sim, mas só as 10. Vou te acompanhar novamente. – Ela virou o rosto sorrindo. – Depois vou continuar meus saltos. – Ri fracamente.
- Eu tenho entrevistas amanhã à tarde... – Fiz uma careta. – Espero que tudo continue dando certo, do contrário vai ser decepcionante. – Ela riu fracamente, dando um tapinha em meu ombro.
- Não seja pessimista! Só eu posso ser. E eu só sou comigo mesma. – Falei.
- A-a-ah, entendi! – Falei rindo e ela deu um curto sorriso.
- Mas, diferente de você, eu preciso comer algo, e eu preciso de gordura hoje. – Ri fracamente.
- Queria poder te acompanhar...
- Não se preocupe, teremos tempo para isso depois. – Ela disse. – Você precisa descansar, ter a melhor noite de sono da sua vida... Bem, a segunda melhor. A melhor precisa ser amanhã... – Ri fracamente. – Come alguns hambúrgueres quando tudo isso acabar. – Ela deu um curto sorriso e assenti com a cabeça.
- Vou cobrar. – Falei e foi sua vez de confirmar.

Respirei fundo, olhando para frente. Faltavam mais duas. Só mais duas. Preciso me manter concentrado. Com isso, tudo acontece magicamente. Só preciso focar e acreditar.
E trabalhar duro, mas isso não é algo que eu precise pedir.
- Na raia um, da Venezuela, Alberto Mestre! – Os autofalantes me distraíram. – Na raia dois, do Comitê Olímpico Russo, Kliment Kolesnikov. Na raia três, Thom de Boer, dos Países Baixos. – Respirei fundo. – Na raia quatro, da França, Florent Manaudou. – Soltei o ar devagar. – Na raia cinco, do Brasil, .
Saí do meu local, andando para fora do parque aquático e dessa vez ouvi os gritos. Não me preocupei em levar fones dessa vez, eles não faziam nada, quem faz sou eu. E era isso que eu precisava fazer novamente. Segui até a minha raia enquanto ouvia o restante dos nomes.
- Na raia seis, do Canadá, Brent Hayden! Na raia sete, do Comitê Olímpico Russo, Vladimir Morozov. E, na raiva oito, da Polônia, Pawel Juraszek.
Tirei meu moletom, fazendo a mesma preparação de ontem e dei uma rápida olhada para trás. Albertinho estava ali, me dando um sorriso e um polegar, me fazendo assentir com a cabeça. Olhei para frente, vendo algumas bandeiras do Brasil e alguns uniformes do Time Brasil espalhados por ali.
Dei um curto sorriso, enquanto ouvi a primeira buzina, me fazendo subir na plataforma.
Só fazer como ontem. Mais rápido e melhor.
Na segunda buzina, ajeitei os pés na beirada da plataforma e endireitei o corpo para frente.
E, como ontem, na terceira buzina, eu pulei.
Um, dois, três, quatro...
Minhas braçadas ficavam cada vez mais rápidas e pesadas com a força que batiam de volta na água. Dessa vez os gritos do pessoal ficaram silenciosos com as batidas. Quando a parede chegou perto de mim, dei uma última impulsionada antes de tocá-la.
Dessa vez minha reação foi mais rápida. Ergui os olhos com rapidez, focando no telão e vi meu nome em segundo lugar. Florent na frente com sete centésimos a mais. Eu estou na final! Isso é perfeito, mas é uma diferença enorme.
Dependemos do resultado da próxima bateria, mas posso ficar feliz por um momento.
Eu estou na final.
Segui para fora da raia, andando até a escada e saí da mesma. Os gritos e aplausos me distraíram e sorri, acenando para o mesmo pessoal que estava ali ontem, me fazendo sorrir ao ver ali.
Merda! Essa mulher está mexendo comigo de uma forma muito estranha.

- Ah! Você está na final! – foi a primeira a falar quando voltei para piscina de treinamento.
Os aplausos de alguns atletas me distraíram e sorri, sentindo-a me abraçar novamente. Hoje estava sem a mochila, então pude abraçá-la propriamente agora.
- Obrigado! – Falei rindo.
- Foi bom, ! – Fernando disse rindo e trocamos um aperto de mão seguido de um abraço. – Amanhã vai ser bom!
- Vai ser muito bom! – Gabriel disse rindo.
- Você merece, cara! – Pedro disse em seguida, me fazendo rir.
- Obrigada, caras! Mas ainda temos amanhã. – Falei rindo.
- Vai dar tudo certo! – disse, se virando para mim. – Você vai arrasar. – Sorri.
- Obrigado, galera! – Sorri.
- Bebidas mais tarde, hein?! – Fernando disse e ri fracamente.
- Nem vem, só amanhã! – Falei rindo e o pessoal deu um aceno rindo.
- Parabéns! – falou e me virei para ela.
- Obrigado. – Sorri. – Não foi perfeito, mas...
- Você ficou em terceiro, ! É perfeito! – Ela disse rindo.
- Empatado com o grego, mas é. – Falei e ela sorriu.
- Mas sua bateria foi antes, então... – Ela disse sugestivamente e vi Caeleb passar ao nosso lado, olhando para .
- E tem ele. – Comentei e ela virou o rosto.
- Não pense nos outros, pense em si mesmo. Porque se você ganhar, a glória é sua. Se perder, a derrota também é sua. – Ela disse. – Ninguém vai nem se lembrar de quem esteve lá. – Assenti com a cabeça.
- Sábias palavras, . – Falei e ela deu um sorriso.
- Você tem sua entrevista agora, certo? – Ela perguntou.
- Sim, ao meio-dia. – Chequei o relógio na parede. – E você? – Perguntei.
- Treino. O meu também está chegando perto. Preciso estar pronta. – Assenti com a cabeça.
- Vai dar tudo certo, você vai ver. – Falei.
- Eu estou começando a acreditar em você, . – Assenti com a cabeça. – Te vejo mais tarde?
- Sim, eu vou voltar para cá depois da entrevista. – Falei.
- Beleza, nos falamos demais. Eu estarei por aqui! – Ela deu um curto sorriso e retribuí.
- Até mais tarde, . – Falei e ela acenou com a mão antes de seguir pelas piscinas internas.

Capítuo Cinco

- Vai dar tudo certo.
Essas palavras de quando nos separamos no ônibus hoje de manhã ainda rondavam em minha cabeça. Eu tinha confiança de que tudo daria certo, mas aquele receio falava um pouco mais alto.
Entre o primeiro ao último classificado, a distância era de 36 milésimos. Era pouco, para quem era de fora do esporte, mas para mim era muito. Especialmente os sete milésimos entre mim e Florent, ou entre os 16 entre mim e Caeleb.
Eu tinha que ser forte e estava em completa desvantagem de altura. Eu tenho 1,87. Isso para os padrões de natação é baixo. Caeleb tinha 1,91 e Florent chegava a 1,99. Eram bastantes centímetros a mais em uma braçada.
Por isso eu preciso me manter focado! Sem pensar, só agir!
Fechei os olhos por alguns segundos e o sorriso de veio em minha mente novamente. Droga! Não conseguia tirar ela da minha cabeça, mas agora não é a hora!
- Vamos, garotos! – A organizadora falou e suspirei.
Coloquei os óculos e depois a touca por cima. Fechei o moletom do Time Brasil e respirei fundo. É agora!
- Na raia oito, da Holanda, Thom de Boer! – Começaram a chamar. – Na raia um, da Itália, Lorenzo Zazzeri. – Eles saíram. – Na raia sete, dos Estados Unidos, Michael Andrew! Na raia dois, do Reino Unido, Benjamin Proud! Na raia seis, da Grécia, Kristian Gkolomeev! – Respirei fundo. – Na raiva três, do Brasil, !
Saí para fora, vendo o local completamente lotado e sorri! As bandeiras do Brasil sacudiam e sabia que o pessoal estava lá novamente. Segui para minha cadeira de apoio e comecei a me despir.
- Na raia cinco, da França, Florent Manaudou! Na raia quatro, dos Estados Unidos, Caeleb Dressel!
Dei tapas em meus ombros e rotacionei os braços algumas vezes enquanto movimentava o pescoço. É agora! É agora!
Me aproximei da plataforma, ajeitando minha toalha ali e vi Alberto do outro lado. Ele deu um aceno de cabeça e fiz o mesmo movimento.
Ouvi a primeira buzina e subi na plataforma, ajeitando um pé na beirada dela e outro atrás.
- Em suas marcas... – Ouvi a voz robotizada antes da outra buzina, me fazendo pular na água.
Fiz as ondulações igual o nado borboleta enquanto o corpo seguia para a superfície novamente. Quando saiu, comecei a nadar como se minha vida dependesse disso. Dessa vez só depende de mim, não tem corpo doendo, não tem lesão, não tem nenhum outro atleta brasileiro sendo priorizado, sou eu!
Quando vi a parede se aproximando, dei uma braçada mais longa, batendo a mão com força na parede antes de erguer o rosto para o telão.
Caeleb em primeiro. Florent em segundo... E eu no terceiro! É medalha! É bronze!
- ISSO! – Falei empolgado, deixando meu corpo cair para trás e vi Caeleb rindo ao meu lado.
- Isso, cara! – Ele esticou a mão para mim e bati feliz. É um bronze, mas é uma medalha e o sentimento é incrível!
- Mes amis! – Florent falou, atravessando as raias e rimos juntos.
Ergui o corpo, ouvindo os gritos do pessoal e as bandeiras se mexendo fortemente. Virei o rosto para o telão novamente, vendo os números e consegui baixar para 21,57. Três milésimos a menos, Florent ficou em 21,55, mas Caeleb foi para 21,07. Caralho! É recorde olímpico. O último é de Cielo com 21,30. Não podia negar, o cara é foda!
Segui para perto da escada, sendo abraçado pelos outros atletas das raias e saí da piscina novamente. Ah, cara! Eu não podia estar mais feliz! Foi sensacional!
Virei o rosto para o pessoal do Brasil e identifiquei a torcida de sempre. e Fernando gargalhavam enquanto aplaudiam. Gabriel e Monique gritavam e eu só consegui sorrir mais. Sinto por meus pais e minha irmã não poderem me acompanhar em todas, mas era bom encontrar pequenas famílias que torcem por nós em qualquer lugar que vamos.
Peguei minha credencial com os organizadores e voltei para dentro, encontrando Alberto ali!
- AH, GAROTO! – Ele me abraçou fortemente, me fazendo rir. – ISSO FOI DEMAIS!
- Valeu! – Falei rindo.
- Mano-o-o! Foi sensacional! – Ele disse me levantando, me fazendo rir.
- Obrigado! – Falei rindo.
- Se arruma agora! Você tem uma medalha para ganhar.

Fechei o moletom do Time Brasil novamente e me olhei no espelho. O largo sorriso não saía do meu rosto e isso é sensacional! Só tinha uma coisa para tudo ficar perfeito e pretendia encontrá-la logo depois disso daqui.
- Em ordem, garotos! – O organizador falou e Caeleb e Florent saíram na minha frente e sorri quando fui logo atrás deles.
- VAI, ! – Ouvi alguns gritos e virei, erguendo os braços e pulando com o pessoal com as bandeiras do Brasil.
Parei atrás do pódio com Florent e Caeleb dos outros lados e sorri. Me abaixei, tocando aquele degrauzinho e a emoção me atingiu. Foi tanto tempo no quase, sendo jogado para outras modalidades que estar aqui tornava tudo perfeito.
- Em terceiro lugar, medalha de bronze, do Brasil, ! – Subi no degrau, erguendo as mãos e ouvindo os gritos do pessoal.
- VAI, ! – Sorri, vendo , Fernando e Alberto aplaudindo dos degraus mais baixos, junto de Tom Daley, amigo de .
O membro do Comitê Olímpico se aproximou com a bandeja e, agora, pós-Covid, algumas mudanças foram feitas. Peguei minha medalha, levando-a até a boca e não acreditava que era real! Não acredito que está realmente acontecendo. As lágrimas finalmente caíram, me fazendo respirar fundo.
- GO, ! – Caeleb gritou ao meu lado e assenti em agradecimento.
Todo mundo passa pelos seus demônios, todos temos nossas dificuldades, mas chegar aqui e ver isso finalizado, é perfeito.
Coloquei a medalha no peito e peguei o ramo de flores com o mascote das Olímpiadas, ouvindo o pessoal aplaudindo e gritando bem alto. Segurei ambos, erguendo-os para o alto, indicando para o pessoal ao longe.
- Valeu, galera!
Florent foi logo em seguida, depois Caeleb, e aplaudi ambos com a mesma empolgação que me aplaudiram. Para eles era mais normal o pódio, então não teve tanta emoção quanto a minha, mas eles mereciam.
Fiquei em silêncio quando o hino dos Estados Unidos tocou para Caeleb, depois teve alguns momentos para as fotos. Segurei-a novamente em minha mão e sorri para os diversos fotógrafos que estavam ali. Não tinha felicidade maior.
Desci do pódio e era hora de mais fotos e mais entrevistas.
- VAI, ! – O pessoal do Brasil falou ao meu lado esquerdo, agora na mesma altura e corri rapidamente até eles.
- Você ganhou! – falou animada.
- Vai, garoto! – Alberto gritou entre eles, me fazendo rir.
- Você tem que ir com eles! – disse rindo e puxei-a para perto de mim. – ! – Ela disse rindo.
Puxei-a pela cintura e colei meus lábios nos dela. Ela fechou os braços ao redor de meu pescoço e mantive os lábios por alguns segundos, dando curtos selinhos ao nos separar e abri os olhos, vendo seu olhar surpreso e seus lábios mordicados.
- Eu explico depois. – Falei, lhe entregando o buquê de flores com o mascote e dei meia volta junto dos outros atletas.
- Isso, cara! – Florent falou rindo, me abraçando e retribuí.
- Valeu! – Rimos juntos.
- Quem sabe dá mais sorte do que eu? – Caeleb falou rindo e assenti com a cabeça.
- É... Quem sabe? – Ri nervoso, sabendo do breve relacionamento dele e de .
- ! – Virei para o lado, vendo Alberto me estender uma bandeira e peguei-a rapidamente, voltando para perto dos fotógrafos.
Hora das fotos, depois entrevistas. E então, de volta a .

Voltar para o centro de treinamento foi caótico. Depois de ganhar uma medalha, tudo se amplificava. Todo mundo queria falar comigo, mas eu só queria chegar em uma pessoa e não lembro do horário que ela treinava. Ontem foi logo após a competição. Talvez hoje fosse também?
Mas depois das fotos, entrevistas, programas especiais e ser parado a cada pessoa que eu passava, era quase meio-dia quando voltei para as piscinas. O local não estava tão lotado, mas tinha bastante gente ainda.
- AH, GAROTO! – Fernando passou o braço em minha nuca e esfregou minha cabeça.
- Ah, caramba! – Falei rindo.
- UMA MEDALHA, MANO! ISSO É DEMAIS! – Ele disse rindo e finalmente me soltei.
- Eu estou quase sem cabelo, cara, pega leve! – Falei rindo.
- Parabéns, cara! – Ele me abraçou direito, me erguendo um pouco e sorri.
- Valeu, cara! – Sorri.
- E você e a , hein?! – Ele disse rindo. – Que beijão foi aquele? – Ele me cutucou na barriga, me fazendo rir.
- Ah, cara. Ela disse que estava focada nos treinos, mas eu não paro de pensar nela.
- É DISSO QUE EU TAVA FALANDO! – Ele me sacudiu, me fazendo rir.
- Ela disse algo? – Perguntei.
- Nada, mas ficou super envergonhada. – Ele disse rindo. – Mas ela gostou, tenho certeza! – Ele disse rindo.
- E onde ela está? – Perguntei.
- Ah, você sabe, em um lugar inalcançável! – Ele desdenhou, me fazendo franzir o rosto. – Olha para cima! – Ele indicou a mão e virei o rosto para a plataforma de 10 metros, a tempo de ver lá em cima antes dela pular.
Ela pulou com os braços abertos e deu uma volta de 180 graus antes de cair retinha na água, me fazendo sorrir.
- Espero que ela ganhe sua medalha. – Falei.
- Espero também. Ela está treinando igual doida e você deu uma amolecida nela. É uma coisa boa! – Ele disse e assenti com a cabeça.
- Espero, pelo menos. – Falei rindo, vendo sair pela escada da piscina. – Já volto! – Dei uma corrida para perto dela. – Precisa de uma ajuda? – Perguntei e ela ergueu o rosto para mim.
- ! – Ela disse rindo, passando a toalha no rosto.
- Ei, . – Falei, me sentindo intimidado por alguns segundos.
- Talvez eu aceite a ajuda de um medalhista olímpico. – Ela disse, me fazendo sorrir. – Parabéns!
- Obrigado. – Falei rindo.
- Foi incrível! De verdade! – Ela riu.
- Fiquei meio chocado com o tempo do Caeleb, mas... – Ela negou com a cabeça.
- Suas conquistas, esqueceu? – Ela disse e dei um aceno de cabeça.
- Eu...
- Eu... – Falamos juntos, rindo em seguida.
- Você primeiro. – Falei antes.
- Eu tenho só mais 10 minutos do meu treino, será que podemos almoçar juntos? – Ela mordiscou os lábios. – Para você me explicar sobre aquele beijo? – Ri fracamente. – Ou o senhor medalhista olímpico é muito ocupado?
- Sempre vou ter espaço para você. – Falei e ela sorriu. – Nos encontramos daqui a pouco?
- Sim, eu vou dar mais uns dois saltos, depois me troco e a gente almoça. – Assenti com a cabeça.
- Combinado. – Falei e ela segurou uma mão em minha nuca antes de pressionar os lábios em minha bochecha.
- Volto logo. – Ela disse, seguindo para a escada da plataforma novamente.

- Não é exatamente um restaurante chique, mas espero que sirva. – Falei, indicando a entrada da cafeteria da Vila Olímpica do Brasil.
- Bem, eu estou com cabelos molhados e toda enrugada, não é perfeito também. – Ela disse rindo.
- Você é linda. – Falei, vendo-a dar um sorriso.
- Você sempre foi um cara legal, . – Nos aproximamos de uma mesa e puxei a cadeira para ela. Quando ela sentou, dei a volta do outro lado, me sentando em sua frente.
- E eu demorei muito para ver que você é uma mulher sensacional, . – Ela riu fracamente.
- Você namorou durante todo tempo que nos conhecemos. – Ela disse.
- É, tinha isso também. – Falei. – Desde que terminamos, fiquei um tanto desolado com tudo... – Ponderei com a cabeça. – Mas agora contigo...
- Desde quando? – Ela perguntou.
- O quê? – Franzi a testa.
- Que você gosta de mim... – Ela deu um curto sorriso.
- Não muito, desde os últimos dias, eu creio. Pouco antes da nossa conversa no telhado... – Ela mordiscou o lábio inferior.
- Que eu disse que estava não estava com foco para relacionamentos esse ano?! – Assenti com a cabeça, ouvindo-a rir em seguida. – Não foi direcionado a você... Na verdade, nunca pensei que você gostasse de mim.
- Eu gosto. – Falei rindo. – E foi difícil fugir desse tipo de perguntas nas entrevistas... – Ela sorriu. – Você me faz bem, . E não sei o que é, eu só quis te beijar e ver o que isso vai dar... Posso esperar até o fim da competição, ou...
- Talvez possamos fazer isso. – Ela disse e ergui o rosto para ela. – E não precisamos esperar o fim da competição. Você está me acalmando de uma forma que eu não esperava, e me permitindo ver a vida de outro jeito. – Sorri. – Você tem um dos sorrisos mais engraçados que eu vi na minha vida, mas gosto quando são para mim. – Assenti com a cabeça. – Eu quero ficar ao seu lado, . E, se você quer também, não precisamos esperar.
- Eu não estou ficando mais novo, . – Segurei sua mão na mesa e ela sorriu. – Eu não quero esperar.
- Bom. – Inclinei na mesa e ela fez o mesmo.
Sua mão apertou a minha quando nossos lábios se tocaram e um sorriso surgiu em meu rosto novamente. É bom!
- Ah, meu novo casal aqui! – Senti algo me sacudir e ergui o rosto, vendo Fernando ali.
- Ah, o inconveniente! – Tombei a cabeça para trás.
- Ah, para de ser chato! – Ele se sentou ao meu lado, fazendo rir. – Eu não estou atrapalhando, não é?!
- Imagina... – foi irônica.
- Então, quando aconteceu? Quando vocês dois começaram a ficar de love? – Ri fracamente.
- Eu vou pegar algo para comer, tenho que treinar à tarde ainda. – disse, se levantando e virei para Fernado.
- E aí, cara? Podia ter contado seu plano, né?! – Fernando disse e ri fracamente.
- Cara, eu não quero ser mal-educado, mas você podia, sei lá, dá no pé daqui? – Virei para ele, vendo-o pressionar os lábios em um sorriso confuso.
- Você me conta sobre tudo depois? – Ele perguntou.
- Quando eu também descobrir tudo que é isso. Eu te conto! – Falei, vendo-o rir e ele assentiu com a cabeça.
- Parabéns de novo! – Ele disse e ri fracamente.
- Valeu, cara! – Ele se afastou enquanto voltava.
- Conseguiu se livrar dele? – Ela perguntou, colocando a bandeja na mesa.
- Foi fácil! – Disse rindo. – Podemos aproveitar esse momento a sós.
- Você não tem entrevistas ou algo assim? – Perguntei.
- Talvez eu tenha, mas estamos em Tóquio, deixa os caras dormirem um pouco. – Falei e ela riu. – Posso perder um pouco de tempo aqui.
- Ok... – Ela deu um sorriso.

- ! – Ouvi dois toques na porta e me levantei para seguir até a mesma. – !
- Estou indo! – Falei, abrindo a porta e vi ali. – Ei, você voltou! – Falei e ela sorriu.
- Sim! – Ela passou as mãos nos cabelos molhados. – Já tomei banho e estou pronta para fazer o que você quiser. – Ela riu.
- Não podemos sair da Vila Olímpica, mas pensei em ver algum filme aqui mesmo com pipoca e suco. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Parece bom! – Ela deu um passo para dentro do quarto e segurou minha nuca antes de nossos lábios se tocarem. Fechei os braços em sua cintura antes de fechar a porta. – Mas essa vida de dieta é bem chata! – Ela disse ao se separar. – Saudades refrigerante.
- Gosta de sair da dieta um pouco? – Perguntei, ouvindo-a rir.
- Eu adoro sair da dieta! – Ela se sentou na cama. – Não sou a maior fã de peixe, mas fiquei viciada na maionese que vai com o fish and chips e agora só como isso.
- Melhor do que os hambúrgueres da Flórida? – Perguntei, me sentando ao seu lado.
- Olha, os Estados Unidos não possuem muita cultura, mas são bons de fazer hamburgueres, mas vou ter que defender meu lado e ficar com fish and chips. – Sorri.
- E como é treinar na Inglaterra? É frio, não? – Perguntei.
- É! – Ela disse firme. – É bem difícil quando chega no fim do ano, mas tem aquecimento em tudo, então é praticamente sair do carro e entrar no parque aquático. – Ela deu de ombros. – Demorou só para eu me acostumar com a temperatura da água da piscina, eles deixam muito quente até no calor, então pular de cabeça não é nada confortável. – Ri fracamente.
- Imagino. – Sorri. – Já sabe o que vai fazer depois daqui? – Perguntei.
- Tudo depende do que acontecer na minha competição. Você já ganhou sua medalha, preciso tentar conseguir a minha. – Ela disse.
- Achei que, por um momento, você pudesse ter desistido da ideia de aposentadoria... – Falei e ela riu, virando o corpo para mim.
- Não penso em desistir pela questão geral, eu só estou cansada. – Ela suspirou. – É ridículo querer se aposentar com 28 anos, eu sei, mas a mídia e a opinião externa literalmente acabam comigo. – Suspirei.
- Mas te falar que ficar fora do radar deles não é nada legal. – Falei em um suspiro.
- O que aconteceu? – Ela perguntou.
- Em 2016, depois da final, fui dar uma entrevista e o cara perguntou como eu tava me sentindo e eu falei que estava felizão. Na maior ironia de todas. – Suspirei. – A mídia acabou me afastando um pouco e isso foi péssimo para divulgação, patrocínios e tal. – Ela apoiou a mão em minha perna.
- Aposto que teve uma vantagem disso.
- Ah, teve, eu consegui me focar mais nos treinos, mas os patrocínios não querem isso, eles querem resultados, aparições, medalhas...
- Posso ver? – Ela perguntou e me estiquei para pegar a caixa com a medalha e ela a abriu. – Ela é linda.
- Você tem uma, certo? – Perguntei.
- Sim, de Londres. – Ela suspirou. – Tinha até me esquecido como é bonita. – Ela fechou a caixa, me entregando de novo.
- Você vai saber de novo, . – Falei. – E aquele salto que você deu hoje... Achei incrível! – Falei e ela sorriu.
- Treinando meu salto livre. Agora que a piscina está mais livre, posso colocar as manguinhas para fora.
- Hum, então você tem algumas coisas escondidas? – Perguntei e ela riu fracamente.
- É claro! – Ela sorriu. – Não vim até aqui para fazer o que todo mundo faz. – Sorri.
- E é por isso que eu tenho certeza de que uma medalha vem. – Ela assentiu com a cabeça.
- Que Deus e os jurados te ouçam. – Ela disse, nos fazendo rir.
- Vai dar certo. – Apertei sua mão. – Eu estarei lá por você, da mesma forma que esteve comigo. – Ela sorriu, assentindo com a cabeça. – E nunca mais quero ver esse sorriso sair do seu rosto.
- Não vai... Não enquanto eu estiver contigo. – Ela falou antes de nossos lábios se tocarem.
Ela inclinou o corpo para frente e virei o meu na cama para conseguir segurar sua cintura. Nossos corpos se aproximaram e suas mãos passaram pelos meus ombros, caindo em minhas costas. O beijo começou a ficar mais rápido, fazendo o ar começar a faltar, mas não queria nos separar.
- Espera! Espera! – Ela falou rindo, colando nossas testas e olhei em seus olhos.
- Está tudo bem?
- Sim, eu só... – Ela se levantou da cama e ficou em minha frente, apoiando um joelho na cama e depois o outro antes de se sentar em meu colo. – Agora está melhor. – Levei minhas mãos para suas costas, deslizando até chegar em sua bunda.
- Não quer ver um filme? – Perguntei entre risadas e ela sorriu, negando com a cabeça.
- Não, eu tenho que treinar. – Ela mordiscou meu lábio inferior, me fazendo sorrir antes de nossos lábios se colarem novamente, fazendo nossas mãos se mexerem com agilidade no corpo do outro pouco antes das roupas serem jogadas para o lado e o local ficar realmente quente.

Capítuo Seis

Me despertei com o despertador de e entreabri os olhos devagar. Ela se mexeu ao meu lado e estiquei os braços para cima, me espreguiçando. Ela virou seu corpo entre meus braços e vi seu sorriso.
- Bom dia. – Ela disse.
- Bom dia. – Falei e ela se inclinou antes de nossos lábios se tocarem rapidamente. – Como está?
- Não dormi muito. – Ela suspirou.
- Vai dar tudo certo. – Falei. – Hoje são só as Eliminatórias.
- Devo te lembrar que foi delas que eu não passei da última vez? – Ela disse se sentando.
- Devo te lembrar que já faz cinco anos? – Me sentei com ela. – Você mudou. A situação é outra. Respire fundo e faça valer a pena toda dor de cabeça. – Ela assentiu com a cabeça.
- Eu vou. – Ela suspirou. – Vou tomar um banho.
- Ok. – Falei e ela segurou minha nuca mais uma vez antes de nossos lábios se tocarem.
Ela seguiu direto para o banheiro e me levantei. Peguei minha camiseta dobrada do lado da cama e a vesti. Passei a mão nos cabelos ainda ralos e esperei.
Esses três dias estavam sendo incríveis! Fazia anos que eu não me envolvia com ninguém, mas me envolver com estava sendo uma opção incrível. Assim, eu já estou velho, pensando em aposentadoria no esporte e querendo dar netos para minha mãe, mas era bem diferente se envolver em alguém da mesma realidade que você.
Ela é atleta, ela é da mesma categoria do que eu, passou por altos e baixos difíceis demais de engolir, fez natação quando mais nova e convivemos por vários anos antes de isso tudo acontecer. É perfeito! Temos bastantes diferenças, mas semelhanças também.
Minha última namorada foi uma fisiculturista. Ela tinha bastantes qualidades, mas era difícil compartilhar algumas coisas. Acabamos terminando pelo cansaço. Namorar estava sendo “normal”, mas ninguém estava disposto a dar o próximo passo.
- Você pode ir, se quiser. – disse ao sair do banheiro de toalha.
- Eu vou no meu quarto depois. – Me levantei, me aproximando dela. – Que horas é sua competição?
- Às quatro. – Ela disse. – Mas diferente de vocês, eu posso treinar antes, então eu vou dar um pulo no centro de treinamento, dar umas alongadas, fazer alguns saltos... – Ela deu de ombros, pegando o moletom do Time Brasil.
- Eu vou deixar você ir sozinha, mas estarei lá mais tarde. – Falei e ela assentiu com a cabeça antes de colar nossos lábios.
- Eu vou adorar isso, mas toma café comigo, pelo menos? – Ela perguntou e passei as mãos em sua cintura.
- É claro! E com o Fernando, você deve esperar. – Ela riu fracamente.
- Se ele quiser segurar vela, aí é problema dele. – Ela me abraçou pela cintura.
- Ele é chato, mas dá para engolir.
- Ele está nos apoiando, ele nem precisava estar aqui, mas está! – Ela disse. – E logo acaba, só mais dois dias para nós. Depois podemos fazer planos em outro lugar.
- Isso que me preocupa. Ficar longe de você. – Falei e ela pressionou os lábios.
- Uma coisa de cada vez, pode ser? – Ela beijou minha bochecha e assenti com a cabeça. – Deixa eu me arrumar, logo saímos.
- Ok, eu espero! – Sorri, me jogando na cama novamente, vendo-a rir.

- Ei, !
- Ei, Tom! – Subi dois degraus das arquibancadas e trocamos um rápido abraço.
- Chegou cedo? – Perguntei.
- Ah, mais ou menos. – Ele deu de ombros. – Treinei um pouco, depois vim para cá.
- Você tem uma competição ainda, não?
- Sim, a mesma que a dela, começa no dia seguinte que acaba a dela.
- E como está? – Perguntei.
- Nervoso, sempre. – Ele riu fracamente.
- Você conseguiu ouro no sincronizado, cara. É mais difícil, não?
- Até é, mas você está sozinho nisso. Não tem ninguém com quem te comparar. É só você. – Ele suspirou. – não gosta muito do sincronizado, ela gosta de trabalhar sozinha. – Ri fracamente.
- Já notei isso. – Rimos juntos.
- Fico feliz que vocês estão juntos. – Ele disse, me fazendo virar para ele. – Ela ficou bem chateada com tudo que houve depois do Rio, inclusive se fechou para todo mundo... Bom, você viu. – Assenti com a cabeça.
- Como você a encontrou? Digo... Ela disse que você a ajudou.
- Não demorou muito, as notícias da perda de patrocínios e demissão da treinadora dela chegou na imprensa entre as Olímpiadas e Paraolimpíadas, eu mandei mensagem para ela na hora. Não sabia ainda quem a treinaria, mas ofereci um ombro amigo... – Assenti com a cabeça.
- Fiquei muito triste por não saber disso...
- Ela me disse que você estava passando pelos seus próprios problemas.
- Mas nada como isso. – Falei.
- Minha mãe sempre disse que Deus escreve certo por linhas tortas, talvez ela estivesse certa. – Ele disse.
- Talvez sim. – Suspirei. – Mas obrigado. – Virei para ele. – Digo, você é mais amigo dela do que eu, mas sinto necessidade de falar isso.
- A é talentosa demais, ela não poderia estar com a confiança abalada assim. – Ele negou com a cabeça. – Espero que ela volte a ser aquela mulher incrível de antes.
- Eu também. – Sorri, dando uma rápida olhada nas arquibancadas enchendo, especialmente de bandeiras do Brasil. – Posso te perguntar algo?
- Claro! – Ele disse.
- Por que você a chama de sempre? Vocês são amigos, apelidos são permitidos. – Ele riu fracamente.
- Ela liga o apelido ao passado dela. – Ele pressionou os lábios. – À glória de Londres, depois a falha do Rio... Ela tentou banir o apelido por muito tempo...
- Eu não sabia disso... – Suspirei. – Agora faz sentido algumas coisas.
- Fazia. Até você chamá-la assim. – Ele disse. – criou outra conotação agora. – Assenti com a cabeça. – E eu gosto disso.
- E eu gosto da amizade de vocês, Tom. Me deixa feliz. – Ele assentiu com a cabeça.
- E eu gosto do relacionamento de vocês, então cuide dela! – Ele disse sério e sorri.
- Pode deixar! – Sorri.

- Aqui vamos nós! – Falei, vendo os protocolos da competição iniciar.
- Espero que ela me ouça. – Tom disse em um suspiro.
- O que disse a ela? – Perguntei.
- Para não mostrar tudo nas Eliminatórias. Aqui ela só precisa passar.
- Ela disse que estava guardando umas coisas na manga. – Falei.
- Espero que ela continue com essa ideia. – Ele disse. – Preparado para uma longa competição? – Ele sussurrou.
- Por quê? – Perguntei.
- 30 atletas, cinco saltos cada atleta... – Ele se virou para mim.
- Qual a pontuação máxima? – Perguntei.
- 500. – Ele disse. – Mas hoje não deve passar de 400. – Ele disse e assenti com a cabeça.
- Freida Lim, de Singapura. – Ouvi o narrador.
- E comecem os jogos! – Tom disse sério e pressionei os lábios.
Tom estava certo, ver 150 saltos não foi exatamente muito prazeroso, mas cada vez que eu via no topo da plataforma, eu ficava feliz. Como ela disse alguns dias atrás, ela realmente estava guardando algo na manga e fez saltos mais simples, pulos de frente, parafusos, mortais, coisas que eu não conseguia fazer nem se quisesse.
Suas notas foram saindo uma a uma e a tensão em mim aumentava, mas fiquei feliz em todos seus saltos serem perfeitos, aos meus olhos pelo menos. Sei que ela zerou a última nota em Rio, o que fez que ela não passasse das Eliminatórias, mas agora ela estava indo bem, todas suas notas ficaram acima de 70 e isso me deixava confortável.
Quando ela deu o último salto, sua nota total foi 350,75. E, quando todos os atletas terminaram, ela ficou em quinto lugar.
- ISSO! – Comemorei animado.
- Isso, garota! – Tom falou animado.
As duas chinesas estavam na frente, depois uma australiana, uma mexicana e depois .
- Quinto é bom, certo? – Perguntei.
- É ótimo, ela passou! E não é natação, não tem raia, a ordem do salto não interfere. – Ele deu de ombros. – Ser o primeiro nem sempre é bom, mas no final todo mundo vai saltar cinco vezes mesmo. E ela guardou ótimos truques na manga. Vamos, !
Ri fracamente. Tom era um cara animado e feliz, mas tinha sangue nos olhos como todos quando se falava de competição, e acabava se tornando um cara bem mais sério do que antes.
Era legal!

- Você foi incrível hoje. – Falei e passou o braço em minha barriga.
- Quinto não é perfeito, mas são só as Eliminatórias... – Ela suspirou e abaixei o rosto. – Pelo menos eu passei.
- E você passou muito bem. – Falei, acariciando seu rosto. – Não entendo muito, mas as pontuações ficaram bem perto...
- Sim, minha pontuação da mais alta é de 40 pontos. Não é tão mal, mas essas chinesas... – Ela suspirou.
- Parece que as chinesas são seu Caeleb? – Falei e ela riu fracamente.
- Talvez. Somos amigáveis no vestiário e tudo mais, mas sempre queremos nos superar. – Assenti com a cabeça.
- Entendo o que é isso. – Falei em um suspiro. – Descobri que, no final, Caeleb é um cara legal. Ele até comentou algo sobre você depois que...
- Depois que você me beijou na frente do mundo inteiro? – Ela disse com os lábios pressionados.
- Sim! – Falei, jogando seus cabelos para trás e ela riu fracamente. – Não lembro o que era, mas...
- Foi uma ficada só, não era para ser, simplesmente. – Ela disse.
- Fico feliz por isso. – Colei nossos lábios levemente. – Que horas é amanhã? – Perguntei.
- Semifinais às 10, finais às quatro. – Ela suspirou. – Vai ser um longo dia.
- E terminaremos nessa cama novamente. – Falei e ela riu fracamente.
- Você está me acalmando demais, . Onde você esteve todo esse tempo? – Ela brincou me fazendo rir.
- Ao seu lado, literalmente. – Coloquei seu cabelo atrás da orelha. – Só percebi quando você foi embora, cinco anos depois. – Rimos juntos.
- Bom, ainda bem que estamos aqui, certo? – Ela virou o corpo na cama, se ajeitando entre as cobertas.
- Ainda somos jovens. – Falei, me debruçando sobre ela. – Temos muito o que viver, muito o que curtir.
- Ai, eu estou com preguiça agora. – Ela abraçou um travesseiro.
- Por que não vamos jantar? Depois você já se prepara? Imagino que vá acordar mais cedo ainda amanhã. – Ela fez uma careta, assentindo com a cabeça.
- Sim, vou. – Ela suspirou. – Preciso que isso acabe. Preciso de uma Neosaldina, mas não posso. – Ela gemeu fracamente.
- Não tem outra coisa para você tomar?
- Feijão, melancia, ovo... – Ela ergueu o rosto para mim. – Eu queria um rodízio gigantesco de comida japonesa e, estando no Japão, queria muito poder comer, mas não dá. – Ela disse rindo e sorri.
- Que tal quando tudo acabar? – Sugeri. – Você, eu, Tom talvez, Alberto, Fernando, Monique... – Ela assentiu com a cabeça.
- Tudo depende do meu humor amanhã até o fim do dia. – Ela suspirou.
- Vai ser o melhor possível, e tenho certeza de que serei o homem mais feliz do mundo para isso. – Falei, ouvindo-a rir.
- Deus te ouça, . Ou vou roubar sua medalha de você. – Ela disse com um sorriso fofo no rosto e ri com ela.
- Ei, você já tem uma, ok?! Deixa essa minha. – Rimos juntos.
- Eu sei, mas você não tem noção como eu quero outra... – Ela disse em um suspiro.
- Você vai conseguir. Eu tenho certeza. – Ela deu um curto sorriso e nossos lábios se tocaram levemente.

E estava de volta aqui.
De 18, 12 iriam para as Finais mais tarde.
O esquema era o mesmo de ontem, com todas as atletas saltando cinco vezes. E, logo nos primeiros saltos, já vi que os níveis tinham aumentado e as notas começaram a chegar mais perto de 85, o que ontem mal chegava a 80.
Isso deixava a plateia mais animada e a torcida por mais forte. O pessoal estava em peso à nossa volta, mas não só nós e Tom, os fãs brasileiros apareciam cada vez mais e deixavam tudo mais animador.
O primeiro salto de foi um mortal de costas com quatro voltas, fazendo-a cair de cabeça no chão em uma entrada perfeita, isso fez sua nota ir para 96. UM INCRÍVEL 96! É a melhor nota que eu tinha visto em toda a competição. Melhor que as duas chinesas.
- Isso, ! Vamos! – Tom a aplaudiu animado. – Ela veio para jogo!
- Ela veio. – Sorri.
Minha cabeça tentava voltar para os anos em que treinamos no mesmo clube, mas a piscina de saltos e de natação eram totalmente diferentes. A de saltos sempre foi dentro do clube, eu sempre gostei de aproveitar o exterior por causa do sol e da liberdade de treinar com objetos mais pesados para resistência.
Mas vê-la assim, incrivelmente livre e solta, me trazia algumas lembranças. Não dos saltos, mas dos almoços. Mesmo antes de Patrícia se tornar uma grande filha da mãe, ela e Albertinho eram bem apaixonados, então sempre acabávamos segurando vela e rindo dos escândalos deles.
Nunca olhei para da forma que a olho hoje, mas penso que talvez não adiantasse nada se eu o tivesse feito. Também não estava nos meu melhor momento, então talvez não teria ajudado-a, teria sido um babaca como tantos outros.
Talvez a vida saiba mesmo o que está fazendo.
- Aqui vai o último! – Fernando chamou atenção.
apareceu no topo do da plataforma e esticou os braços para cima, rente ao corpo. Ela pulou em um mortal para frente, segurou as pernas e o corpo deu três mortais antes de ela entrar na água. Ela espalhou um pouco de água, mas pareceu incrível para mim.
- Vamos! – Tom disse nervoso, com os olhos focados no telão e o número apareceu.
- 82,50. – Falei.
- Isso! – Tom aplaudiu animado.
- Que posição? – Fernando me apertou forte.
- Terceiro! – Falei animado, aplaudindo-a animado.
- VAI, ! – Falamos animados, aplaudindo-a e seu olhar veio para nós enquanto ela saía da piscina e dei um aceno, vendo-a retribuir.
- Tem chances de ela cair? – Perguntei.
- Não, o top cinco já pulou. – Tom disse. – Ela está em terceiro! Ela está nas Finais.
- Graças a Deus! – Falei em um suspiro.
- Aproveite, ! – Fernando me sacudiu. – Essa menina vai ganhar mais tarde!
- Deus te ouça! Deus te ouça! – Tom dramatizou, esticando as mãos para cima, nos fazendo rir.

Capítuo Sete

- Com licença... – Virei o rosto para o lado. – Eu sou Johanna, treinadora da . – A loira falou.
- Oi, tudo bem? ! – Trocamos um aperto de mão.
- Pode vir aqui um momento? Tom, você também! – Ela disse, descendo das arquibancadas e olhei para Tom vendo-o assentir com a cabeça.
- Só vai! – Ele disse e segui a mulher até as partes internas da competição.
Fiz o mesmo caminho de quando vim para minhas competições. Logo que passei, encontrei algumas atletas já com o maiô e se ajeitando para os saltos. Segui a treinadora de até encontrá-la com as mãos apoiadas no espelho.
Nunca tinha parado para realmente observar de maiô, mas era uma visão muito boa. Ela sempre estava há 10 metros de altura de mim, não dava para reparar muito no maiô colado em todas as melhores partes do corpo. Ela tinha dois adesivos de salonpas perto da nuca, nos pés e nas mãos
- . – Johanna falou e ela se virou para nós.
- Ei, gente! – Ela disse.
- Jo chamou, a gente chegou! – Tom disse, dando um abraço nela em seguida.
- Obrigada por virem. – Ela fechou os olhos no braço do amigo, apertando-o fortemente.
- Você vai ser incrível, ! Você vai mostrar para todos que tudo não passou de uma brincadeira de mal gosto. – Ele disse e ela o apertava cada vez mais. – Faça isso por você, mas mostre para eles quem é . – O sobrenome de ficou engraçado no sotaque do inglês, mas isso só me fez sorrir.
- Obrigada, meu amigo, por tudo. – Ele deu um beijo em sua cabeça antes de se afastar.
- Para sempre. – Ele disse e ambos olharam para mim.
- Depois dessas palavras, eu nem tenho o que dizer. – Falei e riu antes de me abraçar.
- Não precisa dizer nada. – Fechei meus braços em seu corpo, sentindo o tecido liso do maiô preto. – Só estou feliz por estar aqui.
- Eu sempre vou estar ao seu lado. – Falei e ela assentiu com a cabeça antes de colar nossas testas. – Não se contenha agora, dê seu melhor. – Falei e ela assentiu com a cabeça antes de colar nossos lábios. – Eu estarei torcendo por você lá embaixo.
- Espero te encontrar em um lugar mais alto. – Ela disse e assenti com a cabeça.
- Eu também. – Ela falava do pódio e era o que eu mais queria para ela.
- Boa sorte. – Dei um curto beijo.
- Boa sorte! – Tom disse e ela assentiu com a cabeça antes de nos separamos. – Agora ela está pronta. – Ele disse enquanto voltávamos para nossos lugares.
- Espero que sim. – Falei em um suspiro.

Me sentar novamente naquela arquibancada, esperando que 12 mulheres saltassem cinco vezes enquanto eu via os pontos subirem, não era confortável. Quando se assiste essa competição sem realmente torcer para ninguém, é uma diversão, mas não quando você realmente espera por alguém.
era a décima a pular. A antepenúltima. A ordem contrária da classificação de ontem. Então, depois que sair as notas de , ainda precisaria esperar pelas duas chinesas, as mais fortes na competição. O pior de tudo é que uma tem somente 14 anos. Uma vantagem enorme.
Quando as 12 finalistas entraram, só consegui sorrir e aplaudir. havia coberto o maiô com o uniforme do Time Brasil e parecia bem confortável com ele. Todas foram apresentadas uma a uma, como se fosse ginastas mesmo, depois elas se separaram e foi a vez da primeira subir na plataforma.
Fiquei apertando meus dedos até ver subir para seu primeiro salto. Ela se colocou de frente para a plataforma, olhando para o horizonte e foi como se eu prendesse minha respiração. Ela deu um pulo para frente e para cima ao mesmo tempo, dando um mortal para trás antes de juntar os braços e pernas. Ela girou três vezes antes de esticar os braços para cima, estender as pernas e caiu rente a água.
- ISSO, ! VAI! – Fernando gritou ao meu lado, nos fazendo aplaudir junto a ele.
- Foi muito bom! – Tom disse em um suspiro e ele entendia mais do que eu. É perfeito.
- Nota! Nota! Nota. – Alberto falava forte ao meu lado.
- 82,5! Isso! – Tom comemorou pulando e aplaudimos com eles.
- Vai, ! Vamos! Vamos! – Falei aplaudindo.
A primeira chinesa fez seu salto e sua nota foi de 75, já a segunda foi a mesma de , 82,5.
Ela e estavam empatadas em primeiro lugar.
- Droga!
- É só o primeiro salto. É só o primeiro salto. – Tom nos acalmou e respirei fundo.
Pensando nas cinco finalistas principais de ontem, a mexicana fez 65,6 no segundo salto, a australiana fez 71 e chegou a vez de , me fazendo respirar fundo.
Ela fez a mesma preparação da primeira vez, mas dessa vez de costas. Ela jogou seu corpo para trás e juntou-o em uma bomba. Seu corpo girou quatro vezes antes de ela estendê-lo e ainda deu um parafuso antes de cair perfeita na água.
- VAI, ! – Tom não se controlou com Fernando.
- ISSO! VAMOS! – Falei animado, aplaudindo junto com o resto da torcida.
- VAMOS! VAMOS! – Monique e Alberto gritavam ao meu lado
- 96! – Tom gritou antes de todo mundo. – PORRA, ! VAI! – Gargalhei com eles, vendo a felicidade de quando a nota saiu, abraçando sua nadadora animadamente.
- Isso, garota! Vamos firmes! – Falei, me sentando novamente.
As duas chinesas vieram em seguida com o mesmo salto as duas, e ficaram com a mesma nota 76,8.
- Isso, ! Assim que é bom! – Tom disse. – Ela com 20 pontos de vantagem, isso é bom demais!
- Vai, amor! Força! – Respirei fundo.
Após nove saltadoras, já poderia tirar a australiana e a mexicana de jogo. Com três saltos, elas tinham uma diferença de somente 20 pontos de , não era exatamente grande coisa. E quando chegou na ponta da plataforma, eu gelei mais uma vez. Acho que prefiro minha competição de 22 segundos. Isso dá muito nervoso.
Para o terceiro salto, ela fez diferente. Ela se afastou quase no começo da escada e pulou até saltar. Ela deu um mortal para frente, deixando seu corpo cair em três mortais, antes de ela cair em um parafuso na piscina.
- ISSO, ! VAMOS! QUASE, GAROTA! – Tom se esgoelava ao meu lado e eu parecia travado. O nervosismo pelos outros falada mais alto.
- Vamos, garota!
- VAMOS, ! – Fernando se esgoelava ao meu lado.
- 95,7. – Monique falou.
- ISSO, GAROTA! – Nos levantamos apressados, ouvindo o surto do pessoal.
- VAMOS, ! VAI!
Sorri ao vê-la pular novamente no colo de sua treinadora e só consegui aplaudir animadamente. Enquanto isso, a primeira chinesa pulou e sua nota deu 64,4.
- É entre a e a chinesa agora. – Falei, respirando fundo.
- A não pode zerar nenhuma nota. – Tom falou em um suspiro.
- Como assim? – Perguntei.
- No Rio. Ela zerou a última nota. Zerar uma nota é muito pior do que notas baixas em todos os saltos. Faz com que a média dela estagne. Então, mesmo se a chinesa estiver com notas baixas, não pode zerar.
- Ela não vai zerar. – Falei firme. – Ela vai até o fim. – Ele deu um aceno com a cabeça.
Quando despontou na plataforma novamente, eu estava tenso depois do que Tom me disse. Com quatro saltos, liberava com 274,5. Logo em seguida vinha a chinesa Quan com 248,4 e a chinesa Chen com 216,2. tinha que ser perfeita.
Ela se colocou de costas para a plataforma novamente e esticou as mãos para cima, ficando na ponta dos pés. Ela deu um mortal de costas e abraçando as pernas retas. Ela deu três giros antes de esticar o corpo e furar a água.
- VAMOS, ! ACABA COM ELES! – Fernando entrou na de Tom, me fazendo rir.
- Ela está indo bem, cara! – Alberto me sacudiu.
- ISSO, GAROTA! – O pessoal gritava à nossa volta enquanto saía pela escada do outro lado.
- Nota, nota, nota! – Tom gritou. – NOVENTA E SEIS! ESSA É MINHA GAROTA!
- 96, mano! – Fernando me sacudiu!
- Isso, , você está indo bem. – Suspirei.
- 370,2. Pódio ela já está! E se ela não tirar menos que 60 no próximo salto, ela é ouro! – Alberto disse e senti meu rosto se encher de lágrimas.
- Vamos, garota! Você consegue. – Falei em um suspiro.
- Um ouro nos saltos, vocês imaginam isso? Para o Brasil? – Monique estava tão emocionada quanto eu. – Ah, eu amo essa mulher.
- Foca, gente! Foca! – Tom pediu, me fazendo suspirar.
Quan saltou e fiquei apreensivo pela sua nota. O salto me pareceu ser perfeito. Quando a nota sair, sabíamos que as coisas estavam melhores. 89,1. Isso dava uma diferença de mais de 35 pontos entre ela e . E Chen ainda estava na casa dos 200 após esse salto.
- ISSO, ! VAMOS! – Aplaudimos animados.
- Só falta um. Só um. – Tom pressionou as mãos. – O mais difícil.
- Como assim? – Perguntei.
- Ela vai repetir o salto que a eliminou no Rio. – Ele pressionou as mãos. – Ela precisa superar esse. – Suspirei.
- Ela não vai errar. – Falei. – Ela vai superar! Ela vai. – Pressionei os lábios.
Esperar nove saltadoras foi fichinha quando chegou a vez de . O tempo pareceu parar quando ela apareceu na escada para a plataforma. Era como se eu estivesse em câmera lenta novamente.
Ela subiu as escadas com uma pequena toalha em suas mãos e a passou na testa quando chegou lá em cima. Ela jogou a toalha lá embaixo antes de virar as costas. Ela se afastou devagar até chegar na ponta da plataforma e seus ombros relaxaram.
Ela inclinou o corpo para frente, colocando as mãos entre os pés e impulsionou seu corpo para cima em uma parada de mão. Seus braços pareceram firmes como uma rocha e suas pernas se esticaram em uma reta perfeita com os pés em ponta.
Ela deu um salto para frente, deixando suas mãos escaparem da plataforma e me fez gelar com a proximidade de sua cabeça da plataforma de concreto. Ela deu um parafuso, girando o corpo em 360 graus antes de ela dar um mortal, depois outro e finalizar em meio, de frente para a plataforma antes de seu corpo afundar na água, sem deixar um pingo de água escapar na entrada.
- AH! HÁ! HÁ! HÁ! ISSO, GAROTA! ISSO!
- VAI, MENINA!
- VAI, ! – O pessoal gritou junto enquanto o resto do parque aquático gritava em comemoração com ela.
- VAI, !
- É DO BRASIL!
- Ela melhorou o salto! – Tom me sacudiu. – ELA DEU UM PARAFUSO! ISSO NÃO TAVA INCLUSO! – Ele me sacudiu forte, me fazendo rir.
- Como ela foi? Como ela foi? – Perguntei, sentindo Fernando também me sacudir.
- Ela está feliz! – Tom disse aos risos e vi sair da piscina e ser abraçada por Johanna que também tinha um largo sorriso nos lábios.
- Nota! Sai, nota! – Falei esfregando as mãos.
- Vamos, . Vamos! – Tom dizia da mesma forma.
- 10? – Monique perguntou confusa quando o placar mudou.
- O quê? – Perguntei confuso.
- Não é 10! É cem! – Tom disse rindo. – Olha o valor total! 470,2!
- PORRA! – Gritamos juntos.
- É CEM!
- É OURO! – Alberto me sacudiu, me fazendo rir e desci meu olhar para que havia se desmanchado nos braços de Johanna.
- ESSA É MINHA AMIGA! – Tom gritou.
Meus olhos se encheram de lágrimas e só queria estar lá embaixo com elas. Ninguém realmente se importou com o salto das duas chinesas. Não importava mais agora. é ouro! é a primeira atleta a trazer o ouro ao Brasil nos saltos ornamentais.
Bem que dizem, precisamos passar por altos e baixos para nossas conquistas. E a dela é agora!

Demorou um pouco para que a cerimônia de premiação começasse. Entendo o protocolo, é preciso se secar, se trocar, para depois subir ao pódio, mas quando começou, a parte emotiva em mim já estava ligada e eu só conseguia chorar de emoção.
Quan entrou com logo atrás e Chen novamente. Um pódio chino-brasileiro. Quem diria que uma brasileira ganharia das chinesas?
A mais feliz de todas era . Ela não conseguia tirar o sorriso dos lábios. Quando ela parou no pódio do meio, foi visível as lágrimas em seus olhos. Queria poder saber o que ela estava pensando. Que filme passava em sua cabeça depois de tanta luta e tanto sofrimento. é ouro! Nossa sétima medalha de ouro nessas Olímpiadas.
Sabe quando você só consegue sentir orgulho de uma pessoa? Orgulho de tudo que ela passou, tudo que ela superou para estar aqui? Esse sou eu. Queria ter meu ouro também? É claro que sim, mas cada um passou pelas suas dificuldades e vê-la subir no ponto mais alto do pódio faz tudo valer à pena.
As medalhas foram entregues para o terceiro e o segundo lugar, e fez questão de aplaudi-las com força. Apesar de tudo, 14 anos era uma conquista incrível ali. E já é mais velha, como eu, tem horas que precisamos nos afastar e inspirar ao invés de ser inspirados. E que inspiração estava dando para todos hoje.
- No primeiro lugar, do Brasil, ! – O narrador falou e ela deu um pulo para o ponto mais alto do pódio.
- VAI, ! – A aplaudimos animados.
- VAI, GAROTA! – Os gritos no parque aquático são ensurdecedores, tanto de brasileiros como de não brasileiros.
O membro do COI foi até ela e ela pegou a medalha de ouro. Ela deu um beijo na mesma, apertando-a contra o peito e suas lágrimas caíram mais uma vez, fazendo seus lábios tremerem. A mulher lhe esticou a mão, falando algumas palavras inaudíveis o que fez só com que assentisse várias vezes antes de receber o buquê com o mascote.
colocou a medalha com as mãos trêmulas e a segurou novamente, olhando-a de perto. Ela está incrédula e isso fazia com que mais lágrimas caíssem de meus olhos.
- Senhoras e senhores, o hino do Brasil.
- Eu sou chorar. – Monique disse e assenti com a cabeça.
Se eu já estava chorando antes, ouvir meu hino sendo tocado, foi o que mais me emocionou. colocou o buquê no chão e levou uma mão ao peito, fechando aos olhos enquanto a música tocava e nossa bandeira era hasteada.
Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heroico, o brado retumbante
E o Sol da liberdade, em raios fúlgidos
Brilhou no céu da pátria nesse instante

Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte
Em teu seio, ó liberdade
Desafia o nosso peito a própria morte

Ó Pátria amada
Idolatrada
Salve! Salve!

Brasil, um sonho intenso, um raio vívido
De amor e de esperança, à terra desce
Se em teu formoso céu, risonho e límpido
A imagem do Cruzeiro resplandece

Gigante pela própria natureza
És belo, és forte, impávido colosso
E o teu futuro espelha essa grandeza

Terra adorada
Entre outras mil
És tu, Brasil
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo, és mãe gentil
Pátria amada, Brasil!
A música foi abafada pelo canto no parque aquático. Não parecia, mas tinha muito brasileiro ali e ver aos prantos era minha maior felicidade. Ela conseguiu! E nada mais importa.

Elas se juntaram para as fotos e dessa vez foi minha vez de descer alguns degraus para ficar no térreo. Johanna já tinha se juntado a nós e chorava tanto quanto todos. A fila foi puxada mais uma vez por uma das chinesas e veio em nossa direção com um largo sorriso no rosto.
- Ah, garota! – O pessoal gritou quando ela se aproximou e ela veio em minha direção, me puxando pela cintura.
- Já vi isso antes! – Brinquei e ela riu antes de colar nossos lábios. – Parabéns! – Apertei-a fortemente, ouvindo-a rir. – Foi impecável.
- Obrigada. – Ela disse ainda sorridente e acariciei seu rosto, limpando as lágrimas.
- Você foi incrível, perfeita! Linda! – Tom disse ao meu lado animado, me fazendo rir. – Você merece tudo isso e muito mais. – Ele a abraçou fortemente, sacudindo-a lado a lado.
- Obrigada por tudo, Tom! – Ela o apertou fortemente. – Sem você nada disso seria possível.
- Seria sim, minha amiga. Isso que aconteceu estava dentro de você! – Ele disse, respirando tudo. – Você só precisou que te lembrassem disso.
- Eu te amo. – Ela disse e ele sorriu.
- Eu te amo também, amiga. – Ele deu um beijo em seu rosto.
- Eu também te amo, Jo! – Ela foi até sua treinadora e ambas se abraçaram. Johanna chorou copiosamente e só imaginava o que essas duas passaram durante esses cinco anos. – Obrigada! Obrigada! Obrigada!
- Ah, meu anjo! Não foi nada! Realmente, não foi nada. – Elas riram com lágrimas nos olhos.
- Pandemia, frio, lesões... – disse e ela negou com a cabeça.
- Nada! Nada é tão importante quanto isso. – Ela bateu na medalha. – E sua felicidade.
- Ah, eu amo vocês! – Ela suspirou e Alberto, Fernando e Monique a abraçaram.
- AH, GAROTA! ORGULHO DO BRASIL! – Fernando falou exaltado como sempre. – Agora sim, hein?! – Ri fracamente.
- Agora tudo vai mudar. – Jo disse e ela negou com a cabeça.
- Não. Nada vai mudar. – disse em um suspiro. – Não abandono quem fica ao meu lado nos momentos difíceis. – Ela deu um sorriso. – E quero vocês ao meu lado de novo.
- Você precisa ir para suas entrevistas. – Jo disse. – Teremos tempo de fazer planos. Depois! – Jo disse, fazendo-a sorrir.
- Espera! Espera! – Tom disse e esticou o celular para .
- Mãe! – Ela falou surpresa com a ligação.
- AH, MINHA FILHA! VOCÊ GANHOU! ESTAMOS TÃO ORGULHOSOS DE VOCÊ! – Alguns gritos foram ouvidos em volta, fazendo voltar a se desmanchar em lágrimas. – VOCÊ FOI INCRÍVEL, MEU AMOR! TOCEMOS TANTO POR VOCÊ! riu.
- Obrigada, mãe! – Ela suspirou. – Mas vocês precisam ir dormir.
- São cinco da manhã! Você realmente acha que vamos dormir agora, maninha? – Uma voz masculina disse, fazendo-a rir. – Você foi demais!
- Amo vocês! Amo vocês! – Ela mandou beijos para eles.
- Quero ver a medalha! Onde está? – Uma voz mais fina disse e esticou a mão, mostrando a medalha para a câmera.
- A-A-AH! – Mais gritos foram ouvidos, me fazendo rir da felicidade dela.
- Agradece ao Tom por ligar para nós. – Sua mãe foi ouvida de novo.
- Agradeço ao Tom por tudo sempre. Ele já deve estar enjoado de me ouvir dizer isso. – Ela falou rindo e Tom abanou a mão.
- Eu sou demais, eu sei, eu sei! – Ele disse, nos fazendo sorrir.

Capítuo Oito

Abri meus olhos e senti falta do despertador por alguns segundos. Era dia seguinte da competição da , tínhamos mais dois dias no Japão ainda, mas nenhum dos dois tínhamos compromissos agora. Desligar o despertador havia sido um agrado que nós dois merecemos.
Depois da premiação de , eu não lembro de muita coisa. Algumas bebidas surgiram das malas e aproveitamos o fim do dia bebendo e rindo das conquistas. Até Tom e Johanna, britânicos, se enfiaram na nossa Vila Olímpica para celebrar conosco.
só sabia sorrir. Ela olhava para longe, para o telhado do parque aquático não longe daqui e sorria. Nenhuma luta deve ser desmerecida, mas sofreu muito mais do que eu para chegar aqui. Ela agiu da forma certa, quieta e silenciosa. Eu fui babaca em algumas situações, dei respostas atravessadas e talvez não merecesse as glórias desse ano, ela preferiu afastar tudo que lhe fez mal e ressurgir como uma fênix.
Depois de muitas risadas e bebidas, só restou que eu a levasse para cama. Ela não estava falando mais nada com nada e capotou logo que eu a coloquei na cama, ainda com o uniforme do Time Brasil.
Abri os olhos devagar, me mexendo na cama e virei o corpo, encontrando sentada na mesma. Ela tinha a mesma caixinha que eu tenho guardada, mas a cor dourada brilhava ali dentro, me fazendo sorrir.
- Sabe... – Ela virou o rosto para mim. – Foi incrível ouvir nosso hino. – Ela deu um curto sorriso. – Precisava ser mais tocado.
- Quem sabe em 2024? – Ela disse, fechando a caixa e apoiei as mãos na cama, me sentando nela.
- Não. – Falei rindo. – Não quero que chegue tão cedo. – Passei o braço em seus ombros, trazendo-a para mais perto.
- Nem eu. – Ela disse em um suspiro. – Eu nem acredito que eu consegui...
- Você conseguiu, . – Falei, dando um beijo em sua cabeça.
- Parece que é mentira ainda. – Sorri.
- Sempre vai parecer, mas é por isso que temos vídeos e reprises e YouTube... – Falei, ouvindo-a rir.
- Vai ficar em replay na minha TV para sempre. – Ela sorriu.
- Mas falando sério, , suas notas... Foi perfeito! – Ela sorriu.
- Me certifiquei que fossem. – Ela engoliu em seco. – Estava guardando muita coisa nos treinos. – Ela suspirou.
- Fez bem! Até o Tom se surpreendeu com o último. – Falei.
- Foi quase igual do Rio. – Ela disse. – Tom disse que eu precisava superar, mas não disse nada sobre melhorá-lo. – Ela deu um sorriso, rindo fracamente em seguida. – Eu fiquei assustada quando vi a nota 10. – Ri fracamente.
- Nós também! – Sorrimos. – Mas parece que esses marcadores são feitos para não passarem de 99...
- O que vemos já a natureza do esporte. – Ela disse. – Honestamente, não sei como. – Ela negou com a cabeça.
- Vai ver foi um pouco de sorte... Ou destino. – Ela riu fracamente.
- Sorte, definitivamente! – Brincamos juntos e ela fez uma careta. – Eu estou toda dolorida. – Ela suspirou.
- Espero que vá descansar um pouco. – Falei e ela assentiu com a cabeça, apoiando a cabeça em meu ombro.
- Com toda certeza. – Ela riu fracamente. – Vou para casa e espero que esteja bem frio em Curitiba, não quero ver uma piscina tão cedo. – Sorri com ela.
- Bom, você é de Curitiba e eu que sou de Macaé? – Falei e ela riu.
- Nossa! No Rio não tem hora para calor. – Ela disse rindo.
- Aceita companhia em Curitiba? – Perguntei e ela ergueu o olhar para mim.
- Você quer para Curitiba comigo? Conhecer meus pais, meu irmão mais velho, sua esposa, minha irmãzinha de 10 anos? – Ela riu fracamente e ergui a mão até sua bochecha.
- Eu quero ficar contigo, . – Falei. – Ou Mel, ou , o que preferir.
- está bom. – Ela sorriu. – Você deu uma conotação nova a esse apelido. – Sorri com ela.
- Eu acredito que nossa relação aconteceu um pouco rápido, mas estou disposto para descobrir e fazer isso dar certo. – Ela assentiu com a cabeça.
- Eu gosto de você, . Eu gosto de como você faz eu me sentir. – Ela assentiu com a cabeça. – E se você também gosta disso, podemos fazer dar certo.
- Eu gosto. – Nossos lábios se tocaram levemente.
- Você na Flórida e eu na Inglaterra? – Ela perguntou e ponderei com a cabeça.
- Acho que podemos fazer isso funcionar, não? – Disse. – Não sei como, mas acho que podemos passar as férias com a sua família, se eles me aprovarem, vemos o que acontece depois. – Dei de ombros.
- É uma forma de viver perigosamente. – Ela disse.
- Pula de plataformas de 10 metros por diversão e se preocupa com isso? – Perguntei e ela riu fracamente.
- Não exatamente diversão, está tudo doendo... – Ela suspirou, se aninhando em meu braço e apoiando uma mão em meu peito.
- Você merece descansar. – Falei.
- Eu preciso ver o Tom hoje. É a competição dele, ele viu todas as minhas competições, se esgoelou por mim em todos, eu preciso estar ao lado dele.
- Podemos ir. – Falei. – Eu vou contigo. Agora que eu sou... Podemos dar título ao outro? – Ela riu fracamente.
- Espero que sim, como vou te apresentar para minha mãe? “Oi, mãe, esse é o , meu...” – Ela deu a deixa, me fazendo rir.
- É, melhor colocarmos títulos. Namorados? – Sugeri.
- Assim? Eu não pareço, mas sou mais romântica do que isso. – Ela disse.
- Senhorita , medalhista de ouro, daria a honra para esse medalhista de bronze em ser meu namorado? – Ela riu fracamente.
- É claro, . – Ela acariciou meu rosto, colando os lábios nos meus novamente. – Apesar que imagino que minha mãe já saiba do nosso relacionamento, por causa de todos os beijos de ontem e da sua competição. – Ri fracamente.
- É... Não dá para esconder isso.
- Você viu a entrevista do Caeleb? – Ela perguntou.
- Devo ficar com ciúmes de vocês dois? – Ela riu fracamente.
- Não! Ele disse que ficou feliz em ver sua celebração. Que fez ele pensar muito mais sobre a vida. – Ela disse. – Em valorizar todas as vitórias.
- Cada pessoa possui sua história. – Falei, colocando seu cabelo atrás da orelha. – Suas dificuldades, suas vantagens, algumas mais visíveis do que outras, como a sua, mas todos superamos obstáculos. – Ela assentiu com a cabeça.
- Não quero mais precisar superar obstáculos. – Ela suspirou.
- Às vezes são necessários. – Falei.
- Não! Chega! – Ela suspirou. – Ao menos no aspecto profissional. O único obstáculo que eu quero lutar agora é como fazer uma ponte aérea entre Plymouth e Coral Springs. – Ri com ela.
- Ah... Isso vai ser complicado. – Falei, vendo-a sorrir. – Mas daremos um beijo.
- Beijo?
- Jeito! – Falei rindo. – Mas pode ser um beijo também. – Ela riu, roçando nossos narizes e trocamos outro beijo.
- Daremos quantos beijos você quiser. – Ela disse. – E daremos um jeito também. – Sorrimos.
- Posso perguntar algo?
- Acabamos de oficializar um namoro e você pergunta isso?
- Talvez você não saiba a resposta ainda. – Falei.
- Diga! – Ela disse.
- Depois de ontem, decidiu se aposentar? – Perguntei e ela suspirou.
- Eu não sei ainda, estou cansada, dolorida, preciso de férias...
- Preciso de férias também. – Falei e ela sorriu.
- Mas meu irmão me agencia, ele disse que está chovendo e-mails com propostas de parceiras e patrocínios... – Ela deu de ombros. – Quem sabe? Eu sobrevivi cinco anos com patrocínio de pequenos estabelecimentos de Curitiba e de Plymouth, talvez seja uma afronta abandoná-los agora.
- Não precisa abandoná-los, talvez só somar. – Falei e ela ponderou com a cabeça.
- Talvez. – Ela suspirou. – Mas eu não quero pensar nisso agora, eu pago meu irmão para isso. – Ela disse e rimos juntos.
- O que quer fazer agora? Descansar? Comer? – Ela suspirou.
- Honestamente? Preciso de um banho. – Ela passou a mão na calça de moletom. – E comida, muita comida!
- Que horas é a competição do Tom? – Perguntei.
- Às quatro. – Ela disse. – E amanhã os mesmos horários do que eu.
- Perfeito! Eu vou te levar para jantar hoje. Todo mundo, na verdade. – Ela riu fracamente. – Devemos comemorar de uma forma verdadeira.
- Combinado. – Ela sorriu.

Depois de Tom se classificar em quinto lugar, juntamos todo mundo em alguns Uber e fomos até um restaurante japonês sugerido por uma das voluntárias que ficava na Vila Olímpica brasileira. Todos os brasileiros estavam de folga, mas Tom ainda ia competir, então ele foi quase incógnito conosco. Ele e seu marido, que eu não tinha reparado a presença até hoje quando o cumprimentou.
- Eu não posso comer demais! – Ele disse dramático.
- Ah, meu amigo. A gente calcula a velocidade de novo e está tudo certo. – brincou, abraçando-o, nos fazendo rir.
- Você sabe que não é be-em assim que funciona, dona . – Rimos juntos.
- Claro que sei, mas independente do seu resultado amanhã, você já tem uma medalha de ouro, meu amigo. Isso é sensacional! – Rimos juntos.
- Bom, acho que todo mundo tem medalhas, não? – Fernando disse.
- Não, sem noção! – Monique falou, dando um tapão em sua cabeça.
- Ai, Mo! – Ele disse. – Não seja tão má.
- Ih, isso vai dar namoro! – Gabriel cochichou para nós.
- Assassinato, isso sim. – Falei, ouvindo-os rirem.
- Cara, por que não sempre os chineses? O que que eles têm, hein?! É chato demais! – Tom disse ainda dramático, me fazendo rir.
- Mas o seu está mais espaçado do que o meu. – disse. – E tem o Kawan, ele é brasileiro, então parte da torcida aqui está dividida.
- É, cara. Não vai ser fácil assim, não. – Fernando disse. – Você virou presidente do fã-clube da , mas...
- Deixa o cara! – Empurrei a cabeça de Fernando, ouvindo-o rir.
- Ok, ok. – Tom abanou a mão. – Eu deixo passar, se...
- Lá vai... – disse rindo.
- Pagarem minha conta hoje.
- O que convidou, é trabalho dele. – Gabriel disse.
- Ah, porque somos ricos agora. Esqueceram de dizer que somos atletas brasileiros. – Falei, ouvindo todo mundo rir.
- Eu pago! – disse. – Posso não ter patrocínios, mas meu bônus de medalha do Brasil vai vir a calhar.
- AH Ê! – O pessoal aplaudiu, fazendo-a rir.
- Agora quietos, é um restaurante de comida japonesa no Japão, não no Brasil. – Ela disse e entramos no restaurante onde a reserva para 10 pessoas foi feita. – Boa noite...
- Ah, meu garoto! – Alberto me abraçou de lado. – Feliz te vendo fazendo umas coisas diferentes para variar.
- O que isso quer dizer? – Perguntei.
- Ah, você sabe, se permitindo abrir novamente, aproveitando as oportunidades da vida, entrando em um novo relacionamento... – Ele riu fracamente.
- Aconteceu sem querer, Albertinho. Acho que mereço aproveitar. – Falei, andando com o pessoal para dentro do restaurante, me ajeitando nas cadeiras que nos foi indicada, reparando na bela decoração de tudo.
- Você merece, garoto! Às vezes lutar sozinho é legal, mas principalmente com quem nos quer bem. – Sorri, virando para .
- Sim... Você está certo. – Sorri.
- Aproveite! – Ele disse, dando um tapinha em meu ombro.
- Alberto... – O chamei, vendo-o se virar para mim novamente.
- Sim. – Ele disse.
- O que acha da Inglaterra? – Perguntei, vendo um sorriso aparecer em seu rosto.
- Eu quero salmão! Muito salmão! – Ouvi dizer. – E se alguém me parar, eu vou comer mais! – Rimos juntos.
- Acho que você tem uma draga no lugar de namorada, . – Fernando disse, nos fazendo rir.
- Com a quantidade de saltos que ela dá, acho que liberado. – Falei, me sentando ao lado de .
- Eu não posso comer tanto, quem vai dar saltos amanhã sou eu. – Tom disse, nos fazendo rir.
- Guarda para depois. – disse, nos fazendo rir.
- Tá liberado beber? – Fernando perguntou.
- Você ainda pergunta depois de ontem? – Gabriel disse, nos fazendo rir.
- Não carrego ninguém, hein?! – disse, me fazendo rir.
- Como eu te carreguei ontem? – Falei e ela fez uma careta, me mostrando a língua.
- Xi! Ninguém precisa saber. – Ela disse, fazendo o pessoal rir.
- Todos já sabem. – Monique disse, fazendo as risadas aumentarem.

- Vai, Tom! Só mais um! – mordia as mãos, nervosa ao meu lado, assim com o marido de Tom.
- Vamos, garoto! Vamos! – O restante da torcida brasileira estava ao seu lado, torcendo os dedos de nervosismo.
Tom surgiu na plataforma lá em cima e eu estava tão nervoso quanto o restante do pessoal. A competição masculina é diferente da feminina, são seis saltos ao invés de cinco. Não entendo muito a questão, mas preferi não entrar em detalhes agora, mas era a sexta vez que Tom aparecia na plataforma.
Ele saltou de frente e tudo aconteceu muito rápido. Ele deu dois mortais, um parafuso e entrou na água perfeitamente. Não deu tempo de respirar. Talvez o sushi de ontem tivesse algum efeito.
- ISSO, TOM! – gritou ao meu lado, parabenizando o amigo.
A nota de 91,80 foi mostrada, fazendo o pessoal parabenizar fortemente, mas ele estava 80 pontos do segundo lugar, isso sem o último salto dele. Só com uma nota zerada para Tom ficar em segundo ou até em primeiro lugar, mas não aconteceu.
Dois chineses novamente, ficaram em sua frente e ele ficou com o bronze. Para ele não importava, nem para e nem para seu treinador. A felicidade era visível! Tom não tinha nenhum altos e baixos, ao menos não visivelmente, mas aposto que luta suas próprias batalhas, especialmente sendo homossexual e casado em um esporte que já vê os homens de forma ruim.
Ele estava feliz, é o que importa.
foi a primeira a ir até ele e abraçá-lo logo que ele saiu da piscina. Não precisávamos de muito para quebrar protocolos, mas estávamos fazendo de formas inesperadas. Ao menos ninguém levou xingo nesse meio tempo.
O hino chinês acabou sendo tocado, apesar de querermos impedir isso de várias formas, mas todos têm seu merecimento. Todos possuem suas lutas e merecem ser valorizados por isso. Queremos ganhar sempre, mas às vezes não podemos, e precisamos conviver com isso. Mas existem oportunidades em que somos colocados no alto e devemos aproveitar, sozinhos, com amigos e familiares, com todos, pois nosso momento chegou e ele precisa ser valorizado.
E poder subir no pódio, ver , Fernando, Tom e outros subindo nesse lugar, é o cumprimento de todo trabalho. Muitos não conseguem, eu sei, muitos ainda estão lutando contra seus demônios e dificuldades, mas nunca devem deixar de tentar, porque alguém sempre estará lá para torcer por eles.

- ? – Toquei duas vezes na porta.
- Entra! – Ela disse e empurrei a porta, vendo-a mexendo na cama, de costas para a porta.
- Pronta? – Perguntei.
- Quase, só fechando aqui. – Ela disse e a vi fechar a mala. – Falta só guardar isso. – Ela foi até a mesa, pegando a caixinha com a medalha e sorri.
- Essa é a mais importante. – Falei.
- Sim. – Ela riu e colocou a medalha dentro de uma bolsa menor, fechando-a em seguida.
Ela colocou a primeira a tiracolo, depois desceu a mala para o chão. Ela deu uma olhada em volta, como se fizesse um rápido check-up antes de se virar para mim.
- Acho que é isso.
- Tentando guardar memórias? – Perguntei e ela suspirou.
- Talvez... – Ela deu de ombros. – Sei que teremos muito mais histórias para contar e vamos viver muito mais, mas acabo sendo um pouco nostálgica...
- Só se for de coisas boas. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Sim, mas memórias são sempre memórias, né?! – Deu um aceno com a cabeça.
- Sim, mas existem para lembrarmos onde estávamos e onde estamos agora.
- Você é bem poético, né?! – Ela disse, apoiando as mãos em meu ombro e ri fracamente.
- Aprendi a ser melhor com as palavras. Agora tenho uma mulher para fazer sorrir. – Falei, ouvindo-a rir.
- Bom. – Ela sorriu e nossos lábios se tocaram levemente.
- Vamos? – Indiquei o corredor com a cabeça e ela assentiu.
Ela pegou sua mala de rodinhas e saí um pouco à frente com minha bagagem para ela passar. Andamos lado a lado pelo corredor, vendo outros atletas também tirando suas coisas e dei alguns acenos antes de ir para o elevador.
- Então, preparado para dois dias de viagem? – Ela perguntou e fiz uma careta.
- Não! – Falei, ouvindo-a rir. – Será que não dá para gente ir parando e fazendo turismo pelo meio do caminho? – Falei e ela riu fracamente. – E não estou querendo fugir do seu pai, só tenho preguiça...
- Não são dois dias de verdade, é o fuso-horário.
- Mesmo assim, é cansativo! – Falei, vendo-a rir e saímos do elevador.
- O que não fazemos pelos nossos sonhos, não? – Ela disse e lhe estendi a mão, sentindo-a pegar a entrelaçar os dedos.
- Agora, o que temos? – Perguntei.
- Não sei e não quero saber. – Ela disse rindo. – Férias, ! Até parece que nunca ouviu falar nisso.
- Eu sei, mas sempre tem algo em vista.
- Eu vejo depois. Bem depois! – Ela disse, me fazendo rir.
- França 2024 é logo ali. – Falei.
- Temos muito tempo até lá. – Ela sorriu quando saímos do prédio e viramos para trás. – Aproveite as memórias enquanto isso.
- Eu vou! Essas eu vou guardar para sempre. – Falei, olhando para ela, vendo-a sorrir. – Ganhei uma medalha e uma namorada. Que competição vai me dar isso? – Brinquei, ouvindo-a rir.
- Nenhuma mais, eu espero. – Ela disse rindo, me fazendo rir.
- Não, nenhuma. – Segurei sua nuca, acariciando sua bochecha. – Uma está bom. – Falei antes de nossos lábios se tocarem levemente.
Nos separamos com sorrisos no rosto e seguimos para perto do ônibus que estava ali. Deixamos nossas malas com os motoristas, dando rápidos cumprimentos e deixei-a ir a minha frente para entrar no ônibus.
- Fala aí, casal! – Ana, campeã da maratona aquática feminina, me puxou pelo pescoço, esfregando meu cabelo, fazendo o pessoal rir.
- Por que todo mundo faz isso? – Falei, me soltando dela, ouvindo-a rir.
- Ah, a gente gosta ficou feliz por vocês! – Ela disse, me fazendo rir.
- Vocês se merecem. – do vôlei disse, me fazendo rir.
- Espero que isso seja em uma conotação boa. – disse, me fazendo rir.
- Vou deixar para você tirar suas conclusões, ! – Ele disse antes de abraçá-la. – Parabéns por tudo. Pela medalha, pelo relacionamento. Vocês realmente se merecem, e falo sério. Talvez precisassem um do outro.
- E isso é ele sendo dramático. – Wallace disse, nos fazendo rir.
- Não que seja novidade. – Fernando se meteu no papo, nos fazendo rir.
- Vocês são muito enxeridos. – Falei rindo.
- Só queremos te ver feliz, amigo! – Ana disse, me fazendo sorrir.
- Valeu, galera. Posso dizer que estou. – Virei para que sorria. – Muito feliz. – Ela piscou para mim.
- Agora para seus lugares, vamos! Temos uma longe viagem para casa! – Ouvi algumas palmas e dei a mão para para seguirmos até nosso lugar. Deixei-a ir na janela e me sentei ao seu lado.
- Temos. Uma longa viagem. – Ela disse em um suspiro, apoiando a cabeça em meu ombro.
- Vai dar tudo certo. – Falei. – Logo estaremos em casa.
- Acho que já estou em casa. – Ela ergueu o rosto para mim e sorri, trocando um curto selinho.
- Eu também.

Epílogo

O local estava vazio. É novembro, então a neve que começava a cair do lado de fora, fazia com que as pessoas fugissem do tempo gelado em suas casas, trabalhos ou até nos mais diversos pubs da cidade.
Menos dois homens, e Alberto. Depois de uma longa viagem de avião entre Miami e Londres, com várias bagagens que indicavam a mudança dos dois, e mais algumas horas de trem, eles finalmente chegaram na pacata Plymouth. A cidade com pouco mais de 60 mil habitantes que tinha um estilo resort de férias com clube de golfe, seria a cidade de ambos agora.
Escolher se mudar para Plymouth nem foi uma grande decisão para ele. Nunca poderia pedir para sair daqui. Ela precisou se encontrar praticamente sozinha em um lugar novo com desconhecidos e ainda assim triunfar. Nada o apegava a Coral Springs. Viveu boa parte de sua vida ali sim, mas nada o realmente segurava lá, nem Alberto, que topou ir com ele sem nem pensar duas vezes. Agora que havia se separado de Patrícia e sem filhos, nada realmente o segurava também.
- É aqui. – Alberto indicou, parando o carro em frente ao clube e ambos saíram. Os casacos apertados no corpo. – Eu vou odiar isso daqui.
- Eu já não estou gostando. – falou, sentindo sua boca tremer
- As coisas que fazemos por amor, certo? – Alberto fez uma piada, mas só queria ir para o coberto o mais rápido possível.
Chegaram na catraca e se identificaram, não foi difícil liberar a entrada, Tom e deixaram tudo pronto para eles durante esses meses. Eles seguiram as placas em direção à piscina e se perguntava como se treinava nessa piscina com uma fina camada de gelo.
- Eu vou congelar. – disse, fazendo Alberto rir.
- Frio é bom para resistência, sabe? – Alberto brincou e lhe deu a língua, fazendo-os rirem.
- Alberto, Alberto... Não me provoque! – disse.
- Vem! Vamos lá para dentro. Ela disse que estaria lá. – Alberto indicou o complexo coberto e abriu a porta com força, sentindo o bafo quente sair lá de dentro. – Uh, agora gostei.
entrou na frente e Alberto logo atrás. O local interno é quase como um dos parques aquáticos que eles encontram nas competições. Duas largas piscinas, uma de nado e outra para saltos com diversas plataformas, inclusive outras mais altas.
- Bem-vindos a Plymouth Park! – Uma voz os distraiu e e Tom apareceram do fundo das plataformas de roupões e roupas de banho embaixo, e os treinadores deles logo atrás.
- Me recebendo em um péssimo dia, não? Demorou duas horas até pousar por causa da neve. – disse, fazendo-a rir.
- É, começou a nevar essa noite, linda, mas nada confortável. – Ela disse. – Já avisando, neve com chuva ou neve derretida, é péssimo, então comprem os sapatos adequados e cuidado onde pisem. – Ela passou as mãos em meus ombros e abracei-a apertado.
- Podemos voltar para Flórida? No sol? No calor? – perguntou, fazendo-a rir.
- Não pensem que aqui não faz calor. As ondas de calor são quase piores do que as do Rio de Janeiro, acredite. – Ela disse.
- Ah, então você me trouxe para o inferno? – brincou.
- Quase isso. – Ela sorriu. – Fez boa viagem? – Ele sorriu.
- Sim, fizemos. – Eles trocaram um rápido beijo. – Apesar de tudo, gostei daqui.
- Plymouth é uma cidade boa, calma, sem muito caos, mais perto de Cardiff do que de Londres, tem praias sensacionais, aquários e vários tipos de esporte. – Tom disse. – Vocês se acostumam. – Ele disse rindo. – E, se quiser, estamos a poucas horas da França. – Ele disse.
- Bom, dá para eu fazer um jantar romântico para você. – sorriu para , fazendo-a piscar.
- Temos tempo. – Ela disse.
- , olha o horário. – Johanna disse.
- Ah sim, eu e Tom estamos no nosso horário de treinamento. – disse. – Essa é a Johanna que vocês já conhecem, e Michael, treinador do Tom. – Ele acenou. – Esse é Alberto e , nossos novos atletas.
- Uhul! – Johanna e Michael aplaudiram, fazendo os brasileiros rirem.
- Nunca tivemos nadadores aqui. – Michael disse.
- Espero que valha à pena. – disse.
- Sempre vale. – Johanna disse.
- Eu vou treinar, depois posso te levar para fazer um tour pelo clube, depois pela nossa casa e mostrar o cafofo do Alberto. – disse, se aproximando. – O que acha?
- O que achar melhor, amor. Estou contigo. – Falei e ela sorriu, fazendo nossos lábios se colarem por alguns segundos.
- Espero que goste daqui.
- Meu amor está aqui, já é um motivo de eu gostar. – Falei, ouvindo-a rir.
- Bom! – Ela sorriu. – Fique à vontade. – Ela indicou as arquibancadas vazias.
- Eu vou, pode ter certeza. – Falei, vendo-a piscar, antes de seguir para onde os outros três foram.
- Gostei daqui. – Alberto disse, me fazendo rir. – Será que a Johanna é solteira? – Ele perguntou, me fazendo rir.
- Ah, Alberto. – Neguei com a cabeça, indo até a arquibancada.
- O quê? Eu só perguntei.
- Você tem um tipo, Alberto, com toda certeza. – Dei um tapinha em seu ombro antes de me sentar, ouvindo sua risada.




Fim.



Nota da autora: Terminando com Mergulhando em Emoções e espero que vocês tenham gostado!
É uma ideia que veio nas Olímpiadas após a medalha do Fratus e as dificuldades dele, e achei que fosse propícia para um enredo de fanfic.
Apesar de ter ficado curtinha, fiquei feliz com o resultado e espero que tenham gostado também
Agradeço a Fê pela betagem e a todas que leram aqui!
Beijos e até a próxima!




Nota da beta: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


comments powered by Disqus