Capítulo Único
Assim que chegou em casa, deixou a mala em qualquer lugar na sala e se jogou no sofá. Estava cansado. A última semana tinha sido cansativa com as viagens para promoção da sua nova série na Netflix, e tudo o que ele queria era poder dormir na sua própria cama, para variar.
Sentiu o celular vibrar no bolso da calça, anunciando a chegada de uma mensagem.
“Já chegou?”
“Acabei de entrar. Quer vir aqui?”
“Ne. Chego em dez minutos”
Se fosse qualquer outra pessoa que estivesse indo visitá-lo, teria corrido para esconder a mala e arrumar a pequena bagunça que ele tinha causado na sua sala: tênis jogado de qualquer jeito do lado de fora, casaco em cima do sofá, mochila deixada em algum lugar no chão… Mas ele não o fez. Em vez disso, o rapaz se levantou e foi para a cozinha. Estava com sono e com fome, e como não poderia dormir no momento, só lhe restava almoçar.
Colocou a água para ferver enquanto escolhia o sabor do lamen que faria naquele dia. Mal teve tempo de terminar de comer, sua campainha tocou.
— Está aberta. — ele gritou.
Suas pernas doíam e seus olhos estavam pesados. Sua fome, contudo, era o maior obstáculo para ir até à porta receber sua visita.
— Aish, você não deveria deixar a porta destrancada assim. — Jae Hyun, um dos melhores amigos de , reclamou ao entrar.
Foi até a mesa onde estava e se sentou.
— Está servido?
— Eu já almocei, obrigado. — o rapaz respondeu, sabendo que mesmo que aceitasse a oferta, dificilmente dividiria o lamen com ele. — Acabou de chegar de viagem? — perguntou observando a mala do rapaz esquecida na sala.
— Ne. Ainda nem tive tempo de tomar banho e trocar de roupa.
fingiu cheirar embaixo do braço e fez uma careta. Jae Hyun o acompanhou na careta.
— Vim te chamar para irmos ao novo bar que abriu perto da sua casa. Dizem que estão com uma promoção de soju.
fez outra careta, terminando de comer os resquícios do seu lamen. Não estava com cabeça para beber naquele momento. Na verdade, o rapaz só tinha duas coisas em mente.
— Ah, não… Preciso descansar hoje. — ele respondeu ao amigo.
Mas Jae Hyun, que o conhecia há anos, sabia muito bem que o amigo não queria apenas descansar. E prova disso era o fato de estar olhando para o celular daquele jeito pensativo. O rapaz encarava a tela como se esperasse por um sinal, qualquer sinal. Passava o dedo para cima e para baixo, abria uma página apenas para fechá-la em seguida.
O garoto sempre ficava assim quando pensava na estrangeira que havia conhecido há duas semanas. Jae Hyun tentou encorajar o amigo a ligar para ela e chamá-la para sair, mas dizia que não podia, pois estava ocupado com a divulgação da sua nova série. Então Jae Hyun, como bom amigo que era, falava palavras de desencorajamento, para que não se sentisse culpado por ter feito a promessa de ligar para , promessa esta que ele não conseguiria cumprir. Mas então o amigo ficava mal de novo e repetia que estava devendo uma refeição à garota.
— Você sabe que não está devendo nada para ela, não é? — Jae Hyun começou, sabendo que saberia do que ele estava falando. — Ela te fez um favor e você o retribuiu com uma carona. Dívida paga.
— Aish! — o rapaz reclamou. — Eu já disse que vou pagar uma refeição para ela. Por que não pode apoiar as minhas decisões?
Jae Hyun revirou os olhos.
— Então liga para ela, oras.
Mas não era tão simples assim. não queria atrapalhar a garota, já que sabia que ela estudava em período integral. Também não quis ligar no dia seguinte do encontro deles, quando lhe devolveu seu celular perdido, pois não quis parecer desesperado demais. Por outro lado, já se passaram duas semanas, e agora estava envergonhado de ligar para ela, dias depois sem dar sinal de vida.
Patético, . Patético.
— Eu só não ligo porque ela deve estar em aula agora. — ele respondeu ao amigo, mas com a intenção de convencer a si mesmo.
— Ah tá, claro… Se você diz.
Jae Hyun não foi convencido pela desculpa esfarrapada do amigo, mas não falaria mais nada sobre isso. No momento, vendo todo sonolento como estava, também começou a ficar cansado.
— Acho que vou tirar um cochilo aqui no seu sofá. — ele disse já se dirigindo ao sofá do amigo e se jogando ali mesmo.
— Você veio aqui para me chamar para beber, depois decide dormir no meu sofá… E eu pensando que você só estava com saudades de mim. — falou com um tom de brincadeira. — Fique aí, eu vou tomar banho e dormir também, mas vou dormir na minha cama.
— Claro, claro… Fique à vontade.
riu e seguiu para o seu quarto com a mala de viagem ainda fechada, a qual permaneceria assim por um tempo, até ele ter coragem de guardar os seus pertences.
Tirou o casaco que usava e a camiseta. Ligou o chuveiro para esquentar a água, mas antes de terminar de tirar as roupas teve uma ideia. Uma ideia boba, mas uma ideia que, se funcionasse, poderia poupá-lo da vergonha.
Buscou o celular em cima da cama e procurou pelo contato de . Ele havia salvo o seu nome em coreano e em português, exatamente como a garota tinha escrito naquela folha de caderno. Tocou em cima do nome dela, mas em vez de escolher a opção da ligação, abriu uma tela para mensagem.
No topo da tela, logo abaixo da foto de , aparecia a palavra “online”. quase jogou o celular de volta para a cama, mas ele não desistiria da ideia de chamar a garota para sair.
— Eu tenho uma dívida a pagar. É só isso. Sem segundas intenções. — ele disse para si mesmo.
E depois de repetir essa frase algumas vezes, ele finalmente se convenceu de que seu único objetivo era levar a garota para almoçar para, então, se livrar do sentimento que tinha sempre que pensava nela. O sentimento, contudo, não era nada próximo à ideia dele estar devendo algo para ela, até porque, quando pensava em , sentia o coração ficar quentinho e a barriga gelar, tudo ao mesmo tempo.
— Aish. — reclamou.
Começou, então, a digitar.
“Yeoboseyo, aqui. Nos conhecemos há alguns dias.”
O rapaz leu e releu a mensagem algumas vezes, achando tola a ideia de explicar onde eles se conheceram, já que a garota não teria conhecido mais de um nos últimos dias. Pelo menos ele esperava por isso, ou seria constrangedor.
A resposta veio imediatamente.
“Pensei que você fosse me ligar.”
E não foi nada parecido com o que ele esperava.
“Imaginei que você estivesse ocupado divulgando a sua nova série da Netflix”, ela mandou em seguida. E aquele início de conversa havia deixado bastante interessado.
“Está pesquisando sobre a minha vida?”
A resposta demorou para vir dessa vez, ainda que não tenha deixado de ficar online uma só vez.
“Você aparece muito nas revistas adolescentes.”
Como se ele próprio fosse um adolescente, o rapaz se jogou de costas na cama, com um sorriso bobo nos lábios, se divertindo muitíssimo com as mensagens de . Ele digitou rápido, perguntando o que ela estava fazendo naquele momento, mas apagou logo em seguida, pensando que seria estranho perguntar isso à garota, afinal, eles nem se conheciam tanto assim.
Por fim, depois de escrever cinco mensagens diferentes e apagar todas, ele voltou à original.
“O que está fazendo agora?”
Ele esperou pela resposta da garota, batucando os dedos no aparelho, desejando que não tivesse almoçado mais cedo, caso contrário, teria uma ótima desculpa para chamá-la para sair.
Chamá-la para sair não, ele se corrigiu. Chamá-la para comer algo a fim de agradecer a ela por tê-lo ajudado com o lance do celular perdido.
Sim, era isso mesmo. O encontro dele, que nem seria um encontro de verdade, tinha como única intenção a gratidão.
“Estou voltando para a universidade”, ela respondeu.
“Por que, está interessado na minha vida?”
O rapaz ficou surpreso com a ousadia dela, não imaginava que ela pudesse falar algo do tipo a ele. Eles nem eram amigos, afinal de contas.
“Estava pensando em chamá-la para almoçar”, ele respondeu, mesmo sendo uma mentira. “Ainda estou te devendo uma refeição, lembra?”
pensou que aquele seria o momento em que ela iria recusar o convite dele, alegando que o rapaz não lhe devia nada, muito menos uma refeição, como ela tentara fazer no dia em que se conheceram. Mas, para a surpresa de , o surpreendeu novamente
“Estou livre amanhã”
Simples e prático. Três palavrinhas, mas que juntas, fizeram o coração dele disparar.
só não imaginava que, do outro lado, também tinha o coração disparado.
Como na vez em que e se conheceram, naquele dia também estava chovendo e fazendo bastante frio. O combinado era de se encontrarem no restaurante sugerido por , um lugar aconchegante e um pouco mais afastado do centro da cidade. E uma vez que a mãe de Jae Hyun, seu melhor amigo, era a dona do local, sabia que conseguiriam uma mesa mais reservada, longe de olhares curiosos.
Mas por conta da chuva, imaginou que poderia se atrasar, e porque estava com fome — e somente por este motivo — ele resolveu aparecer de surpresa na universidade dela para lhe dar uma carona até o local do encontro.
não tinha visualizado a mensagem dele, contudo. E por isso, não viu o carro dele parado ali em frente ao portão. O rapaz precisou buzinar três vezes, chamar a atenção de todos os estudantes e professores que estavam ali fora, para que finalmente olhasse para ele.
Mesmo usando uma máscara, o reconheceu na hora. Nem mesmo precisou abrir a sombrinha, já que estava bem próximo ao portão. A garota se despediu das amigas, recebeu alguns desejos de boa sorte de Yuna e Nina, e correu até o carro dele. Ao se aproximar, se esticou no banco para abrir a porta para ela.
— Yeoboseyo. — ela o cumprimentou. — O que está fazendo aqui?
— Pensei que você fosse gostar de não precisar andar de ônibus debaixo dessa chuva.
tinha um sorriso leve nos lábios.
— Eu ia pedir por um táxi, mas a carona é muitíssimo bem vinda, especialmente porque posso economizar dinheiro.
fez uma careta, descontente com o comentário, mas mudou a expressão assim que viu rindo divertida.
— Você está de bom humor. — ele observou.
A garota deu de ombros.
— Um idol da Coréia do Sul me chamou para sair. A melhor parte? Ele vai pagar tudo. — ela disse com a voz animada. — Li sobre você, , e não em revistas teens. Também assisti uma série que você fez. Você tem talento para ser ator.
revezava o olhar para o trânsito à sua frente e para a garota do lado dele, surpreso. Ele estava receoso de que aquele encontro pudesse ser constrangedor, mas levava tudo na brincadeira, e parecia muitíssimo mais confiante com o seu coreano ruim.
O caminho até o restaurante foi ocupado por comentários banais, correções nas pronúncias de e risadas divertidas de . Se o restante do almoço fosse tão divertido quanto estava sendo a carona, o rapaz tinha certeza de que uma hora com ela não seria o suficiente.
Ao adentrarem no restaurante, ainda usava a sua máscara. Foram recebidos por uma senhora muitíssimo simpática e levados até uma mesa mais ao fundo do restaurante com vista para o lado de fora. O vidro, contudo, não permitia que as pessoas na rua vissem as pessoas do lado de dentro.
— O Kalgooksu daqui é um dos mais famosos de toda a Coréia.
— Oh, é mesmo? — a garota olhava para o cardápio curiosa, mais interessada nas imagens dos pratos do que em seus nomes, até porque ela não entendia muitos deles. — Vamos pedir isso, então. Do tempo que estou morando em Seul, nunca provei.
— Está decidido, então.
fez o pedido, e então esperavam pelo prato principal, provaram alguns petiscos coreanos enquanto jogavam conversa fora como se fossem dois conhecidos de longa data.
Como esperado, o garoto pouco falou sobre a sua vida e sua carreira, e teve a chance de fazer as perguntas, as quais só hesitava em responder quando não sabia pronunciar alguma palavra.
— Você reclama do seu coreano, que realmente não é muito bom, mas está morando na Coréia há cinco meses. Você está indo bem até. — ele comentou.
— Gomawo. — ela agradeceu. — Eu tenho assistido muitas séries e filmes coreanos, e comecei a treinar a minha fala antes mesmo de vir para cá.
— E mesmo assim você nunca tinha assistido nada que eu havia feito? — ele perguntou surpreso enquanto comiam.
— Ani. — negou.
— Puxa, você não deve ter assistido muitas séries boas, então. — ele disse presunçoso.
E quando o prato principal chegou, e o provou pela primeira vez, a garota ficou surpresa por nunca ter comido Kalgooksu antes.
— É porque o melhor local para se provar esse prato é aqui em Myeongdong, já que é a área de Seul mais famosa por Kalgooksu.
— Não sabia disso. — ela disse provando o macarrão de novo. — Obrigada, está muito gostoso.
ficou satisfeito pela escolha do restaurante e da refeição. Ele gostava de ver conversando, especialmente quando a garota se confundia ao tentar explicar as diferenças de culinária do seu país com as da Coréia.
— A começar pelo tempero! — ela disse. — Vocês colocam pimenta em quase tudo, e isso é loucura.
— Mas a pimenta é o que dá gosto à comida. — ele defendeu.
— Ah, claro… Um gosto impossível de comer algumas vezes. Já perdi as contas das vezes que pedi alguma coisa, paguei e saí com fome do restaurante. — ela lamentou.
estava se divertindo. Estava tendo um (quase) encontro realmente genuíno e sem expectativas nenhuma, além de estar tendo a chance de falar de coisas que ele não era muito familiarizado, como o curso que fazia.
— Então você quer ser arquiteta.
— Ne. — ela concordou. — Quero construir prédios que durem mil anos. — disse sonhadora. — Prédios tão bonitos, que serão estudados pelos alunos de arquitetura nos próximos anos.
riu da forma como ela falou, e o acompanhou.
As risadas continuaram mesmo quando o rapaz passou a contar dos perrengues que já passou gravando alguma cena com colegas de trabalho que não iam com a cara dele.
— Nunca me senti tão desconfortável em toda a minha vida.
— E você era obrigado a trabalhar com ele?
tomou um gole de água antes de responder.
— Sim… Mas essa nem foi a pior parte, já que as nossas cenas juntos eram poucas. O pior mesmo foram as entrevistas que precisávamos dar juntos para promover o nosso trabalho, fingindo sermos amigos. Ah, isso foi realmente ruim.
riu discretamente.
— Você está rindo de mim?
— Desculpe, mas é que você fica engraçado falando desse jeito.
A garota não dispensaria a sobremesa se já não estivesse atrasada para a aula da parte da tarde. E se ela não tivesse uma prova para fazer, não se importaria em se esquecer da faculdade por um dia, se isso significasse que seu encontro com duraria mais que uma hora. Mas ela tinha responsabilidades para cumprir, e ainda que não quisesse se despedir e estragar o clima leve em que eles estavam, o precisou fazer.
— Acho que preciso ir.
mal pôde esconder a sua decepção. Como era possível que uma hora já havia se passado?
— A primeira aula da tarde já até começou, mas não estou muito preocupada com ela. Estou mais preocupada com a prova da segunda aula.
Então eles estavam juntos há mais de uma hora… E, ainda assim, parecia que o tempo tinha voado. Ele não queria se despedir dela ainda.
— Vamos, eu te levo de volta à universidade.
não negou a oferta.
A chuva já havia parado do lado de fora, e logo ofereceu a mão para ajudar a pular a poça de água que se formara na porta do carona do seu carro.
— Obrigada. — ela disse sorrindo, e naquele momento, o rapaz pensou que nunca havia visto um sorriso tão lindo. Prova disso foi o longo momento, bem maior que o necessário, ele continuou segurando a mão dela, mesmo que a garota já tivesse entrado no carro.
Como da primeira vez que se encontraram, ele correu para entrar do lado do motorista, mas dessa vez não fugia da chuva, apenas estava ansioso para estar perto de de novo.
O caminho de volta até a Universidade de Seul não foi tão divertido quanto mais cedo. Ambos estavam satisfeitos com a refeição que tiveram e se sentiam leves pelas risadas que deram, mas também sabiam o que aquilo significava: que já não tinham mais uma desculpa para trocarem mensagens, nem tinham mais uma boa desculpa para marcarem um encontro.
E quando o carro parou em frente aos largos portões da faculdade, até mesmo tirou a máscara para falar com ela. A entrada da universidade estava vazia e não havia pessoas na rua capazes de reconhecê-lo. Além disso, ele queria estar livre para fazer o que quer que ele tivesse vontade de fazer… Isso, é claro, caso retribuísse o sentimento dele.
— Bem, acho que está na hora de dizermos annyeong. — ela disse tirando o cinto de segurança. — Obrigada pela refeição. Acho que podemos dizer que a sua dívida foi muito bem paga.
deu uma risadinha, mas lamentava ter que se despedir de . Ah não ser que...
— Nós não tomamos a sobremesa. — ele lembrou.
abriu mais o sorriso.
— Conheço uma doceria realmente boa. Fui na minha primeira semana na Coréia, sempre quis voltar lá.
— Então está combinado, não vale querer voltar atrás.
Ela riu da fala do rapaz. Era mais fácil inventar uma nova desculpa para vê-lo novamente que voltar atrás de um encontro marcado. Mas ela não falaria isso em voz alta.
Eles ainda se olharam por alguns segundos antes de se movimentar em direção à porta. A garota não saiu do carro, contudo. segurou a sua mão, e isso foi o bastante para impedi-la de sair. Ainda estava muito cedo.
— Nas séries coreanas… — ela falou baixinho. — O casal nunca se beija no primeiro encontro.
molhou os lábios, e no mesmo tom baixinho de , disse:
— Não acredite em tudo o que você vê nas séries.
E como se para provar o que ele dissera, se aproximou da garota. Como não se afastou, ele entendeu aquilo como um sinal para avançar. E foi com um beijo doce que eles se despediram naquele dia, prometendo se encontrar no final de semana, quando poderiam passar mais de uma única hora juntos.
♡♡♡
levantou meio cambaleando, ainda sonolenta. Desligou o despertador do celular e se espreguiçou. Abriu a cortina do quarto, mas o sol forte do meio da manhã fez com que a garota a fechasse de novo.
— Fala sério, verão. Você poderia ser menos intenso. — ela disse entre um bocejo e outro.
Pegou o controle do ar condicionado em cima da cama e diminuiu ainda mais a temperatura. O calor em São Paulo, ainda mais no verão, não era para qualquer um.
se sentou em frente à escrivaninha e abriu a tela do notebook, e enquanto esperava que ele ligasse, puxou um espelho para perto, fazendo uma careta quando viu o estado do cabelo dela.
— Eu deveria lavar com mais frequência.
Pegou o celular e viu que tinha algumas mensagens não lidas no seu grupo de amigas. As meninas tinham ficado acordadas a noite toda comentando sobre algum filme lançado na data anterior, mas estava cansada demais para ir ao cinema com as amigas na noite passada.
E como era a única acordada àquela hora, e ainda estava com o sonho, que estava tendo momentos antes de acordar, fresco na cabeça, a garota mandou um áudio às amigas.
“Vocês nãos vão acreditar no que eu sonhei essa noite”, fez uma pausa para bocejar. “Foi tão real, mas tãaaao real, que eu juro que estou pensando em escrever uma fanfic para não me esquecer dos detalhes do sonho”.
Mandou o primeiro áudio, e passou a gravar o segundo.
“Sonhei que estava na Coréia e que conhecia um idol coreano, um ator famoso, do tipo de faz doramas de comédia romântica”, ela riu. “Mas a melhor parte foi que eu não fazia ideia de quem era aquele idol. Então quando o conheci, eu parecia aquelas protagonistas inocentes dos doramas, que não fazem ideia do que está acontecendo. Uma fanfic perfeita”, riu de novo.
Finalizou o segundo áudio, e passou a gravar um terceiro, suspirando.
“Foi um sonho tão bonito, e tão fofinho. Acho que isso tudo é saudade de viajar e conhecer lugares novos”, ela terminou suspirando.
Antes de mandar o próximo áudio às amigas, falando das ideias que ela havia tido para escrever uma fanfic baseada no seu sonho, seu celular tocou. Deu uma rápida checada nas horas, e ficou surpresa com o nome que apareceu na tela.
— Yeoboseyo? Você ainda está acordado aí?
— Não consigo dormir quando tenho viagem no dia seguinte. Sempre fico ansioso.
voltou a deitar de costas na cama, segurando o celular no ouvido.
— Você deveria tentar dormir. A viagem até o Brasil tem quase trinta horas, e você não vai conseguir descansar no avião.
suspirou do outro lado da linha.
— Vou tentar, eu prometo. E você, não se esqueça de me encontrar no aeroporto amanhã, ou eu ficarei muito chateado.
riu.
— Seria divertido ver você tentando se comunicar em português.
— Nem brinca com isso.
— Também seria uma vingança perfeita por todas as vezes que você falou mal do meu coreano.
A garota riu de novo, dessa vez ouvindo ele xingar do outro lado da linha.
— Ah, adivinha só! Sonhei que já tinha voltado para a Coréia e que conhecia um cara muito gato na rua. Um verdadeiro idol, do tipo que é queridinho por toda a população feminina da Coréia.
— Aish. — ele reclamou. — Você tem coragem de falar para o seu namorado que sonhou com outro homem? Ah, jinsim-eulo! Acho melhor desligar e tentar dormir, não quero falar sobre esse seu sonho estranho.
— Não quer mesmo saber com quem eu sonhei? Ele é um ator muito bonito!
Mas mesmo não segurando a risada, e mostrando que ela, claramente, estava brincando com a cara dele, se despediu da garota meio emburrado, e desligou. , por outro lado, estava muito desperta e, agora, ansiosa para o dia seguinte, já que finalmente voltaria a ver , depois de quase três semanas morando no Brasil durante as férias da Universidade de Seul.
, seu namorado estava chegando, e ela já podia imaginar o que sairia nas capas das revistas teens da Coréia, quando descobrissem que o idol foi ao Brasil passar alguns dias na casa da namorada estrangeira. Aquilo seria interessante. E não via a hora de finalmente reencontrar o seu amor.
Sentiu o celular vibrar no bolso da calça, anunciando a chegada de uma mensagem.
“Já chegou?”
“Acabei de entrar. Quer vir aqui?”
“Ne. Chego em dez minutos”
Se fosse qualquer outra pessoa que estivesse indo visitá-lo, teria corrido para esconder a mala e arrumar a pequena bagunça que ele tinha causado na sua sala: tênis jogado de qualquer jeito do lado de fora, casaco em cima do sofá, mochila deixada em algum lugar no chão… Mas ele não o fez. Em vez disso, o rapaz se levantou e foi para a cozinha. Estava com sono e com fome, e como não poderia dormir no momento, só lhe restava almoçar.
Colocou a água para ferver enquanto escolhia o sabor do lamen que faria naquele dia. Mal teve tempo de terminar de comer, sua campainha tocou.
— Está aberta. — ele gritou.
Suas pernas doíam e seus olhos estavam pesados. Sua fome, contudo, era o maior obstáculo para ir até à porta receber sua visita.
— Aish, você não deveria deixar a porta destrancada assim. — Jae Hyun, um dos melhores amigos de , reclamou ao entrar.
Foi até a mesa onde estava e se sentou.
— Está servido?
— Eu já almocei, obrigado. — o rapaz respondeu, sabendo que mesmo que aceitasse a oferta, dificilmente dividiria o lamen com ele. — Acabou de chegar de viagem? — perguntou observando a mala do rapaz esquecida na sala.
— Ne. Ainda nem tive tempo de tomar banho e trocar de roupa.
fingiu cheirar embaixo do braço e fez uma careta. Jae Hyun o acompanhou na careta.
— Vim te chamar para irmos ao novo bar que abriu perto da sua casa. Dizem que estão com uma promoção de soju.
fez outra careta, terminando de comer os resquícios do seu lamen. Não estava com cabeça para beber naquele momento. Na verdade, o rapaz só tinha duas coisas em mente.
— Ah, não… Preciso descansar hoje. — ele respondeu ao amigo.
Mas Jae Hyun, que o conhecia há anos, sabia muito bem que o amigo não queria apenas descansar. E prova disso era o fato de estar olhando para o celular daquele jeito pensativo. O rapaz encarava a tela como se esperasse por um sinal, qualquer sinal. Passava o dedo para cima e para baixo, abria uma página apenas para fechá-la em seguida.
O garoto sempre ficava assim quando pensava na estrangeira que havia conhecido há duas semanas. Jae Hyun tentou encorajar o amigo a ligar para ela e chamá-la para sair, mas dizia que não podia, pois estava ocupado com a divulgação da sua nova série. Então Jae Hyun, como bom amigo que era, falava palavras de desencorajamento, para que não se sentisse culpado por ter feito a promessa de ligar para , promessa esta que ele não conseguiria cumprir. Mas então o amigo ficava mal de novo e repetia que estava devendo uma refeição à garota.
— Você sabe que não está devendo nada para ela, não é? — Jae Hyun começou, sabendo que saberia do que ele estava falando. — Ela te fez um favor e você o retribuiu com uma carona. Dívida paga.
— Aish! — o rapaz reclamou. — Eu já disse que vou pagar uma refeição para ela. Por que não pode apoiar as minhas decisões?
Jae Hyun revirou os olhos.
— Então liga para ela, oras.
Mas não era tão simples assim. não queria atrapalhar a garota, já que sabia que ela estudava em período integral. Também não quis ligar no dia seguinte do encontro deles, quando lhe devolveu seu celular perdido, pois não quis parecer desesperado demais. Por outro lado, já se passaram duas semanas, e agora estava envergonhado de ligar para ela, dias depois sem dar sinal de vida.
Patético, . Patético.
— Eu só não ligo porque ela deve estar em aula agora. — ele respondeu ao amigo, mas com a intenção de convencer a si mesmo.
— Ah tá, claro… Se você diz.
Jae Hyun não foi convencido pela desculpa esfarrapada do amigo, mas não falaria mais nada sobre isso. No momento, vendo todo sonolento como estava, também começou a ficar cansado.
— Acho que vou tirar um cochilo aqui no seu sofá. — ele disse já se dirigindo ao sofá do amigo e se jogando ali mesmo.
— Você veio aqui para me chamar para beber, depois decide dormir no meu sofá… E eu pensando que você só estava com saudades de mim. — falou com um tom de brincadeira. — Fique aí, eu vou tomar banho e dormir também, mas vou dormir na minha cama.
— Claro, claro… Fique à vontade.
riu e seguiu para o seu quarto com a mala de viagem ainda fechada, a qual permaneceria assim por um tempo, até ele ter coragem de guardar os seus pertences.
Tirou o casaco que usava e a camiseta. Ligou o chuveiro para esquentar a água, mas antes de terminar de tirar as roupas teve uma ideia. Uma ideia boba, mas uma ideia que, se funcionasse, poderia poupá-lo da vergonha.
Buscou o celular em cima da cama e procurou pelo contato de . Ele havia salvo o seu nome em coreano e em português, exatamente como a garota tinha escrito naquela folha de caderno. Tocou em cima do nome dela, mas em vez de escolher a opção da ligação, abriu uma tela para mensagem.
No topo da tela, logo abaixo da foto de , aparecia a palavra “online”. quase jogou o celular de volta para a cama, mas ele não desistiria da ideia de chamar a garota para sair.
— Eu tenho uma dívida a pagar. É só isso. Sem segundas intenções. — ele disse para si mesmo.
E depois de repetir essa frase algumas vezes, ele finalmente se convenceu de que seu único objetivo era levar a garota para almoçar para, então, se livrar do sentimento que tinha sempre que pensava nela. O sentimento, contudo, não era nada próximo à ideia dele estar devendo algo para ela, até porque, quando pensava em , sentia o coração ficar quentinho e a barriga gelar, tudo ao mesmo tempo.
— Aish. — reclamou.
Começou, então, a digitar.
“Yeoboseyo, aqui. Nos conhecemos há alguns dias.”
O rapaz leu e releu a mensagem algumas vezes, achando tola a ideia de explicar onde eles se conheceram, já que a garota não teria conhecido mais de um nos últimos dias. Pelo menos ele esperava por isso, ou seria constrangedor.
A resposta veio imediatamente.
“Pensei que você fosse me ligar.”
E não foi nada parecido com o que ele esperava.
“Imaginei que você estivesse ocupado divulgando a sua nova série da Netflix”, ela mandou em seguida. E aquele início de conversa havia deixado bastante interessado.
“Está pesquisando sobre a minha vida?”
A resposta demorou para vir dessa vez, ainda que não tenha deixado de ficar online uma só vez.
“Você aparece muito nas revistas adolescentes.”
Como se ele próprio fosse um adolescente, o rapaz se jogou de costas na cama, com um sorriso bobo nos lábios, se divertindo muitíssimo com as mensagens de . Ele digitou rápido, perguntando o que ela estava fazendo naquele momento, mas apagou logo em seguida, pensando que seria estranho perguntar isso à garota, afinal, eles nem se conheciam tanto assim.
Por fim, depois de escrever cinco mensagens diferentes e apagar todas, ele voltou à original.
“O que está fazendo agora?”
Ele esperou pela resposta da garota, batucando os dedos no aparelho, desejando que não tivesse almoçado mais cedo, caso contrário, teria uma ótima desculpa para chamá-la para sair.
Chamá-la para sair não, ele se corrigiu. Chamá-la para comer algo a fim de agradecer a ela por tê-lo ajudado com o lance do celular perdido.
Sim, era isso mesmo. O encontro dele, que nem seria um encontro de verdade, tinha como única intenção a gratidão.
“Estou voltando para a universidade”, ela respondeu.
“Por que, está interessado na minha vida?”
O rapaz ficou surpreso com a ousadia dela, não imaginava que ela pudesse falar algo do tipo a ele. Eles nem eram amigos, afinal de contas.
“Estava pensando em chamá-la para almoçar”, ele respondeu, mesmo sendo uma mentira. “Ainda estou te devendo uma refeição, lembra?”
pensou que aquele seria o momento em que ela iria recusar o convite dele, alegando que o rapaz não lhe devia nada, muito menos uma refeição, como ela tentara fazer no dia em que se conheceram. Mas, para a surpresa de , o surpreendeu novamente
“Estou livre amanhã”
Simples e prático. Três palavrinhas, mas que juntas, fizeram o coração dele disparar.
só não imaginava que, do outro lado, também tinha o coração disparado.
Como na vez em que e se conheceram, naquele dia também estava chovendo e fazendo bastante frio. O combinado era de se encontrarem no restaurante sugerido por , um lugar aconchegante e um pouco mais afastado do centro da cidade. E uma vez que a mãe de Jae Hyun, seu melhor amigo, era a dona do local, sabia que conseguiriam uma mesa mais reservada, longe de olhares curiosos.
Mas por conta da chuva, imaginou que poderia se atrasar, e porque estava com fome — e somente por este motivo — ele resolveu aparecer de surpresa na universidade dela para lhe dar uma carona até o local do encontro.
não tinha visualizado a mensagem dele, contudo. E por isso, não viu o carro dele parado ali em frente ao portão. O rapaz precisou buzinar três vezes, chamar a atenção de todos os estudantes e professores que estavam ali fora, para que finalmente olhasse para ele.
Mesmo usando uma máscara, o reconheceu na hora. Nem mesmo precisou abrir a sombrinha, já que estava bem próximo ao portão. A garota se despediu das amigas, recebeu alguns desejos de boa sorte de Yuna e Nina, e correu até o carro dele. Ao se aproximar, se esticou no banco para abrir a porta para ela.
— Yeoboseyo. — ela o cumprimentou. — O que está fazendo aqui?
— Pensei que você fosse gostar de não precisar andar de ônibus debaixo dessa chuva.
tinha um sorriso leve nos lábios.
— Eu ia pedir por um táxi, mas a carona é muitíssimo bem vinda, especialmente porque posso economizar dinheiro.
fez uma careta, descontente com o comentário, mas mudou a expressão assim que viu rindo divertida.
— Você está de bom humor. — ele observou.
A garota deu de ombros.
— Um idol da Coréia do Sul me chamou para sair. A melhor parte? Ele vai pagar tudo. — ela disse com a voz animada. — Li sobre você, , e não em revistas teens. Também assisti uma série que você fez. Você tem talento para ser ator.
revezava o olhar para o trânsito à sua frente e para a garota do lado dele, surpreso. Ele estava receoso de que aquele encontro pudesse ser constrangedor, mas levava tudo na brincadeira, e parecia muitíssimo mais confiante com o seu coreano ruim.
O caminho até o restaurante foi ocupado por comentários banais, correções nas pronúncias de e risadas divertidas de . Se o restante do almoço fosse tão divertido quanto estava sendo a carona, o rapaz tinha certeza de que uma hora com ela não seria o suficiente.
Ao adentrarem no restaurante, ainda usava a sua máscara. Foram recebidos por uma senhora muitíssimo simpática e levados até uma mesa mais ao fundo do restaurante com vista para o lado de fora. O vidro, contudo, não permitia que as pessoas na rua vissem as pessoas do lado de dentro.
— O Kalgooksu daqui é um dos mais famosos de toda a Coréia.
— Oh, é mesmo? — a garota olhava para o cardápio curiosa, mais interessada nas imagens dos pratos do que em seus nomes, até porque ela não entendia muitos deles. — Vamos pedir isso, então. Do tempo que estou morando em Seul, nunca provei.
— Está decidido, então.
fez o pedido, e então esperavam pelo prato principal, provaram alguns petiscos coreanos enquanto jogavam conversa fora como se fossem dois conhecidos de longa data.
Como esperado, o garoto pouco falou sobre a sua vida e sua carreira, e teve a chance de fazer as perguntas, as quais só hesitava em responder quando não sabia pronunciar alguma palavra.
— Você reclama do seu coreano, que realmente não é muito bom, mas está morando na Coréia há cinco meses. Você está indo bem até. — ele comentou.
— Gomawo. — ela agradeceu. — Eu tenho assistido muitas séries e filmes coreanos, e comecei a treinar a minha fala antes mesmo de vir para cá.
— E mesmo assim você nunca tinha assistido nada que eu havia feito? — ele perguntou surpreso enquanto comiam.
— Ani. — negou.
— Puxa, você não deve ter assistido muitas séries boas, então. — ele disse presunçoso.
E quando o prato principal chegou, e o provou pela primeira vez, a garota ficou surpresa por nunca ter comido Kalgooksu antes.
— É porque o melhor local para se provar esse prato é aqui em Myeongdong, já que é a área de Seul mais famosa por Kalgooksu.
— Não sabia disso. — ela disse provando o macarrão de novo. — Obrigada, está muito gostoso.
ficou satisfeito pela escolha do restaurante e da refeição. Ele gostava de ver conversando, especialmente quando a garota se confundia ao tentar explicar as diferenças de culinária do seu país com as da Coréia.
— A começar pelo tempero! — ela disse. — Vocês colocam pimenta em quase tudo, e isso é loucura.
— Mas a pimenta é o que dá gosto à comida. — ele defendeu.
— Ah, claro… Um gosto impossível de comer algumas vezes. Já perdi as contas das vezes que pedi alguma coisa, paguei e saí com fome do restaurante. — ela lamentou.
estava se divertindo. Estava tendo um (quase) encontro realmente genuíno e sem expectativas nenhuma, além de estar tendo a chance de falar de coisas que ele não era muito familiarizado, como o curso que fazia.
— Então você quer ser arquiteta.
— Ne. — ela concordou. — Quero construir prédios que durem mil anos. — disse sonhadora. — Prédios tão bonitos, que serão estudados pelos alunos de arquitetura nos próximos anos.
riu da forma como ela falou, e o acompanhou.
As risadas continuaram mesmo quando o rapaz passou a contar dos perrengues que já passou gravando alguma cena com colegas de trabalho que não iam com a cara dele.
— Nunca me senti tão desconfortável em toda a minha vida.
— E você era obrigado a trabalhar com ele?
tomou um gole de água antes de responder.
— Sim… Mas essa nem foi a pior parte, já que as nossas cenas juntos eram poucas. O pior mesmo foram as entrevistas que precisávamos dar juntos para promover o nosso trabalho, fingindo sermos amigos. Ah, isso foi realmente ruim.
riu discretamente.
— Você está rindo de mim?
— Desculpe, mas é que você fica engraçado falando desse jeito.
A garota não dispensaria a sobremesa se já não estivesse atrasada para a aula da parte da tarde. E se ela não tivesse uma prova para fazer, não se importaria em se esquecer da faculdade por um dia, se isso significasse que seu encontro com duraria mais que uma hora. Mas ela tinha responsabilidades para cumprir, e ainda que não quisesse se despedir e estragar o clima leve em que eles estavam, o precisou fazer.
— Acho que preciso ir.
mal pôde esconder a sua decepção. Como era possível que uma hora já havia se passado?
— A primeira aula da tarde já até começou, mas não estou muito preocupada com ela. Estou mais preocupada com a prova da segunda aula.
Então eles estavam juntos há mais de uma hora… E, ainda assim, parecia que o tempo tinha voado. Ele não queria se despedir dela ainda.
— Vamos, eu te levo de volta à universidade.
não negou a oferta.
A chuva já havia parado do lado de fora, e logo ofereceu a mão para ajudar a pular a poça de água que se formara na porta do carona do seu carro.
— Obrigada. — ela disse sorrindo, e naquele momento, o rapaz pensou que nunca havia visto um sorriso tão lindo. Prova disso foi o longo momento, bem maior que o necessário, ele continuou segurando a mão dela, mesmo que a garota já tivesse entrado no carro.
Como da primeira vez que se encontraram, ele correu para entrar do lado do motorista, mas dessa vez não fugia da chuva, apenas estava ansioso para estar perto de de novo.
O caminho de volta até a Universidade de Seul não foi tão divertido quanto mais cedo. Ambos estavam satisfeitos com a refeição que tiveram e se sentiam leves pelas risadas que deram, mas também sabiam o que aquilo significava: que já não tinham mais uma desculpa para trocarem mensagens, nem tinham mais uma boa desculpa para marcarem um encontro.
E quando o carro parou em frente aos largos portões da faculdade, até mesmo tirou a máscara para falar com ela. A entrada da universidade estava vazia e não havia pessoas na rua capazes de reconhecê-lo. Além disso, ele queria estar livre para fazer o que quer que ele tivesse vontade de fazer… Isso, é claro, caso retribuísse o sentimento dele.
— Bem, acho que está na hora de dizermos annyeong. — ela disse tirando o cinto de segurança. — Obrigada pela refeição. Acho que podemos dizer que a sua dívida foi muito bem paga.
deu uma risadinha, mas lamentava ter que se despedir de . Ah não ser que...
— Nós não tomamos a sobremesa. — ele lembrou.
abriu mais o sorriso.
— Conheço uma doceria realmente boa. Fui na minha primeira semana na Coréia, sempre quis voltar lá.
— Então está combinado, não vale querer voltar atrás.
Ela riu da fala do rapaz. Era mais fácil inventar uma nova desculpa para vê-lo novamente que voltar atrás de um encontro marcado. Mas ela não falaria isso em voz alta.
Eles ainda se olharam por alguns segundos antes de se movimentar em direção à porta. A garota não saiu do carro, contudo. segurou a sua mão, e isso foi o bastante para impedi-la de sair. Ainda estava muito cedo.
— Nas séries coreanas… — ela falou baixinho. — O casal nunca se beija no primeiro encontro.
molhou os lábios, e no mesmo tom baixinho de , disse:
— Não acredite em tudo o que você vê nas séries.
E como se para provar o que ele dissera, se aproximou da garota. Como não se afastou, ele entendeu aquilo como um sinal para avançar. E foi com um beijo doce que eles se despediram naquele dia, prometendo se encontrar no final de semana, quando poderiam passar mais de uma única hora juntos.
levantou meio cambaleando, ainda sonolenta. Desligou o despertador do celular e se espreguiçou. Abriu a cortina do quarto, mas o sol forte do meio da manhã fez com que a garota a fechasse de novo.
— Fala sério, verão. Você poderia ser menos intenso. — ela disse entre um bocejo e outro.
Pegou o controle do ar condicionado em cima da cama e diminuiu ainda mais a temperatura. O calor em São Paulo, ainda mais no verão, não era para qualquer um.
se sentou em frente à escrivaninha e abriu a tela do notebook, e enquanto esperava que ele ligasse, puxou um espelho para perto, fazendo uma careta quando viu o estado do cabelo dela.
— Eu deveria lavar com mais frequência.
Pegou o celular e viu que tinha algumas mensagens não lidas no seu grupo de amigas. As meninas tinham ficado acordadas a noite toda comentando sobre algum filme lançado na data anterior, mas estava cansada demais para ir ao cinema com as amigas na noite passada.
E como era a única acordada àquela hora, e ainda estava com o sonho, que estava tendo momentos antes de acordar, fresco na cabeça, a garota mandou um áudio às amigas.
“Vocês nãos vão acreditar no que eu sonhei essa noite”, fez uma pausa para bocejar. “Foi tão real, mas tãaaao real, que eu juro que estou pensando em escrever uma fanfic para não me esquecer dos detalhes do sonho”.
Mandou o primeiro áudio, e passou a gravar o segundo.
“Sonhei que estava na Coréia e que conhecia um idol coreano, um ator famoso, do tipo de faz doramas de comédia romântica”, ela riu. “Mas a melhor parte foi que eu não fazia ideia de quem era aquele idol. Então quando o conheci, eu parecia aquelas protagonistas inocentes dos doramas, que não fazem ideia do que está acontecendo. Uma fanfic perfeita”, riu de novo.
Finalizou o segundo áudio, e passou a gravar um terceiro, suspirando.
“Foi um sonho tão bonito, e tão fofinho. Acho que isso tudo é saudade de viajar e conhecer lugares novos”, ela terminou suspirando.
Antes de mandar o próximo áudio às amigas, falando das ideias que ela havia tido para escrever uma fanfic baseada no seu sonho, seu celular tocou. Deu uma rápida checada nas horas, e ficou surpresa com o nome que apareceu na tela.
— Yeoboseyo? Você ainda está acordado aí?
— Não consigo dormir quando tenho viagem no dia seguinte. Sempre fico ansioso.
voltou a deitar de costas na cama, segurando o celular no ouvido.
— Você deveria tentar dormir. A viagem até o Brasil tem quase trinta horas, e você não vai conseguir descansar no avião.
suspirou do outro lado da linha.
— Vou tentar, eu prometo. E você, não se esqueça de me encontrar no aeroporto amanhã, ou eu ficarei muito chateado.
riu.
— Seria divertido ver você tentando se comunicar em português.
— Nem brinca com isso.
— Também seria uma vingança perfeita por todas as vezes que você falou mal do meu coreano.
A garota riu de novo, dessa vez ouvindo ele xingar do outro lado da linha.
— Ah, adivinha só! Sonhei que já tinha voltado para a Coréia e que conhecia um cara muito gato na rua. Um verdadeiro idol, do tipo que é queridinho por toda a população feminina da Coréia.
— Aish. — ele reclamou. — Você tem coragem de falar para o seu namorado que sonhou com outro homem? Ah, jinsim-eulo! Acho melhor desligar e tentar dormir, não quero falar sobre esse seu sonho estranho.
— Não quer mesmo saber com quem eu sonhei? Ele é um ator muito bonito!
Mas mesmo não segurando a risada, e mostrando que ela, claramente, estava brincando com a cara dele, se despediu da garota meio emburrado, e desligou. , por outro lado, estava muito desperta e, agora, ansiosa para o dia seguinte, já que finalmente voltaria a ver , depois de quase três semanas morando no Brasil durante as férias da Universidade de Seul.
, seu namorado estava chegando, e ela já podia imaginar o que sairia nas capas das revistas teens da Coréia, quando descobrissem que o idol foi ao Brasil passar alguns dias na casa da namorada estrangeira. Aquilo seria interessante. E não via a hora de finalmente reencontrar o seu amor.
Fim
Nota da autora: Ai meu deus! Parte dois da fanfic amorzinho feita com Min-ho (porque ele merece todo o amor do mundo, haha). Não sei se o finalzinho causou um susto, mas se causou, era essa intenção mesmo, HAHAHAHA.
Espero que vocês tenham gostado <3 Recomendem a fanfic para as amigas e deixem um comentário cheio de amor no final.
Beijos de luz
Angel
Outras Fanfics:
Finalizada:
Ainda Lembro de Você
Em andamento:
It’s Always Been You
Shortfics:
21 Months ● Accidentally in Love I ● Accidentally in Love II ● Ainda Lembro de Nós ● Babá Temporária ● Beautifuly Delicious ● Because of the War ● Café com Chocolate ● Elemental ● Give Love a Try ● O Amor da Minha Vida ● O Conto da Sereia ● O Garoto do Metrô ● Reencontro de Natal ● Refrigerante de Cereja ● Rumor ● She Was Pretty ● Sorry Sorry ● Suddenly Love I ● Suddenly Love II ● Welcome to a new word ● When We Met
Ficstapes:
02. Cool ● 05. Paradise ● 05. The Man Who Never Lied ● 06. Every Road ● 06. Love Somebody ● 07. Face ● 10. Sol Que Faltava ● 10. What If I ● 11. Woke Up in Japan ● 12. Epilogue: Young Forever ● 15. Does Your Mother Know
MVs:
MV: Change ● MV: Run & Run ● MV: Hola Hola
Meu Deus, Angel. O coração passou por aquele leve bug e desespero só de imaginar que era um plot twist nível fim da saga Crepúsculo. Menina, que nervoso hahaha! Mas sua história ficou ótima, como sempre ♥ Eu juro que consegui ver o Minho nos pequenos detalhes, e nos aish. Parabéns, amiga!
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Espero que vocês tenham gostado <3 Recomendem a fanfic para as amigas e deixem um comentário cheio de amor no final.
Beijos de luz
Angel
Outras Fanfics:
Finalizada:
Ainda Lembro de Você
Em andamento:
It’s Always Been You
Shortfics:
21 Months ● Accidentally in Love I ● Accidentally in Love II ● Ainda Lembro de Nós ● Babá Temporária ● Beautifuly Delicious ● Because of the War ● Café com Chocolate ● Elemental ● Give Love a Try ● O Amor da Minha Vida ● O Conto da Sereia ● O Garoto do Metrô ● Reencontro de Natal ● Refrigerante de Cereja ● Rumor ● She Was Pretty ● Sorry Sorry ● Suddenly Love I ● Suddenly Love II ● Welcome to a new word ● When We Met
Ficstapes:
02. Cool ● 05. Paradise ● 05. The Man Who Never Lied ● 06. Every Road ● 06. Love Somebody ● 07. Face ● 10. Sol Que Faltava ● 10. What If I ● 11. Woke Up in Japan ● 12. Epilogue: Young Forever ● 15. Does Your Mother Know
MVs:
MV: Change ● MV: Run & Run ● MV: Hola Hola
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.