Mi Corazón

Última atualização: 01/08/2018

Capítulo Único

Eu estava deslumbrada com a imagem que a minha visão captava.
O Camp Nou estava completamente cheio.
Para onde eu direcionava meu olhar, era possível observar as diversas faixas com dizeres de apoio a Andrés Iniesta. Considerado, por muitos, o maior jogador espanhol de todos os tempos. Inevitavelmente, meu ídolo.
Nunca imaginei ter que dizer adeus ao melhor meio-campista que já vi jogar. Contudo, a sujeição ao tempo era inevitável, sendo a grande responsável por fazer o el mago deixar o território catalão para se aventurar em solo japonês.
Assim, aqui chegamos.
Ao último El Clasico disputado por esse grande ícone do futebol; à última partida* jogada utilizando o uniforme de cores azul e grená.
Não sabia se tinha estruturas o suficiente para dizer adeus sem me desmanchar em lágrimas. Mas, ao encarar a figura de meu noivo, que entrava em uma fila indiana junto aos seus companheiros de time, um pouco do vazio que eu sentia, dissipou-se.
Não se tratava apenas de despedidas, mas também de recomeços.
Era o primeiro clássico que jogava após deixar o Liverpool, seu antigo time, pouco tempo atrás. O camisa 14 do Barcelona não cabia em si de tanto nervosismo.
Noite passada, custou a adormecer, devido aos pensamentos incessantes na partida que viria a acontecer. E, nessa, o meu descanso também foi prejudicado.
A inquietação do meu noivo acabou por acordar mais alguém. Um alguém que estava muito bem protegido por diversas camadas de pele e de músculo.
Helena.
Nossa filha cujo parto estava previsto para daqui pouco mais de três meses.
Sentindo a ansiedade do pai, Lena passou a chutar incansavelmente minha barriga, resultando em três pessoas bem acordadas.

- , amor, vai dar tudo certo. - disse, acariciando seus cabelos.
Eu tinha noção de que o nervosismo do meu noivo não estava apenas relacionado ao fato de enfrentar o Real Madrid no dia seguinte.
Não.
Era muito mais do que isso.
se sentia receoso com a saída de Iniesta da equipe. Saída esta que o colocava como o substituto imediato de Andrés em sua posição. Resultando em muita pressão em cima do brasileiro.
Somado a isso, tínhamos a aproximação da Copa do Mundo, sendo um dos jogadores principais dessa campanha para o tão sonhado hexacampeonato.
- , eu tenho medo de decepcionar todos àqueles que acreditam em mim, inclusive você. - disse pesaroso, enquanto apoiava sua testa em minha barriga descoberta.
- Ei, ei, pode ir parando com isso! - falei, segurando o seu rosto para fazê-lo me encarar. - Você é um excelente jogador e vai mostrar isso para todos, não só amanhã, mas em todas as partidas que disputar! - finalizei, de forma enfática.
- Não é fácil, linda. Às vezes acho que não sou tudo aquilo que pensam de mim. - falou, suspirando profundamente.
- , que baixa autoconfiança é essa agora? Não foi esse o cara que pediu, na cara dura, para os meus pais me deixarem sair do Brasil para acompanhar sua carreira e criar uma vida conjunta na Itália! - disse, indignada com o tom pessimista dele. - E, mais uma coisa, quem te disse que seria fácil? Coisas fáceis vêm e vão e, no fim, poucas agregam. - finalizei, encarando seus lindos olhos.
- Obrigado, . Eu não sei o que seria sem você. - falou, deixando um beijo casto em meus lábios.
- Provavelmente, seria um daqueles caras solitários que desabafam suas inseguranças com o cara do Uber a caminho do bar. - disse, com um tom zombeteiro.
- Bobona. - respondeu-me, mostrando-me sua língua. - Um passarinho me contou que quem mostra a língua pede beijo. - sussurrei em seu ouvido, vendo os pelos de sua nuca arrepiarem-se.
- Ah, é? Vamos testar essa tese, então. - impulsionou-se na cama e iniciou um beijo lento e gostoso.


Era isso.
Encerrava-se aqui a trajetória, na liga espanhola, de um dos maiores jogadores de todos os tempos.
Após um jogo complicado, com direito à expulsão do camisa 20 catalão, Sergi Roberto, após uma cotovelada no, também brasileiro, Marcelo; além de uma substituição de Cristiano Ronaldo por lesão, a partida foi finalizada com um empate.
2x2 era o resultado final.
Com duas assistências de e com direito a gol do melhor do mundo: Lionel Messi.
Para mim, ainda era surreal o fato de conseguir assistir ao vivo e a cores uma partida do argentino. Sendo mais surreal ainda poder vê-lo como um team mate do meu noivo.
Com a cultura do futebol muito presente em minha família, era inevitável não me apaixonar pelo esporte também.
Desde pequena, fui sendo levada a estádios, mais precisamente ao Maracanã, sede do meu time do coração, o Flamengo.
Ironicamente, time rival do clube que revelou , o Vasco da Gama.
Sendo este um dos motivos para uma implicância inicial do meu pai e dos meus irmãos com ele.
Por já ser muito apaixonada pelo Brasileirão, acabei por desbravar outros campeonatos mundo afora, como La Liga.
Conhecendo, assim, o Futbol Club Barcelona e apaixonando-me de forma imediata.
Então, quando recebeu uma proposta para deixar a Inglaterra e desembarcar na Catalunha, para mim foi quase que a realização de um sonho.
Felizmente, também era um sonho de .
Então, embarcamos de cabeça nessa nova aventura, que não se resumia apenas a um novo time, país e costumes, mas também a um bebê.
Helena não fora planejada.
Na verdade, por alguns dias, ela foi confundida com uma infecção alimentar causada por um burrito consumido em meio a um festival mexicano.
Fato que foi desmentido quando me obrigou a ir ao hospital.
Lá descobrimos que o agente infeccioso que eu abrigava em meu corpo era, na verdade, nossa filha.
Quando o médico veio nos parabenizar, eu não tive reação.
Um dos meus grandes sonhos sempre foi ser mãe, mas, em minha cabeça, aquele não era o momento.
Estávamos em um processo de mudança e um bebê dificultaria um pouco as coisas.
Contudo, ao observar o rosto embebido de lágrimas de meu noivo que, ao ouvir a notícia, não conseguiu segurar a emoção, o meu receio inicial diminuiu consideravelmente.
Claro, ele ainda estava ali, apenas criando caraminholas e me gerando ansiedade, mas foi suprimido.
Eu não estava sozinha.

- Então, doutor, o que ela tem? - questionou o médico, que encarava, com um sorriso tranquilo no rosto, sua prancheta. - É mesmo uma infecção alimentar?
- Bem, você, senhorita , - fixou o olhar em mim - realmente possui um ser vivo em desenvolvimento em seu corpo. Mas, devo dizer que não é o bem o que você esperava... - disse, encarando nós dois sentados no leito do quarto privativo.
- Por que esse homem está fazendo charadas, ? E eu lá tenho tempo pra isso? - sussurrei nervosamente, sem entender o que o médico tentava nos explicar.
Eu detestava hospitais e, aumentar minha estadia por lá devido à falta de objetividade do meu médico, não estava nos meus planos.
- Doutor Crawford, o senhor poderia ser um pouco mais claro? - perguntou , com o semblante um pouco retraído.
Pelo o que eu conhecia do meu noivo, a sua veia fatalista já deveria estar imaginando cenários bem trágicos para mim e meu diagnóstico.
- Claro, claro, meu jovem. - disse o médico, arrumando os seus óculos em seu rosto calmo e um pouco enrugado. - Perdoem-me essa minha enrolação, mas sempre fico emocionado ao me deparar com o dom da vida, mesmo após tantos anos de profissão... - disse Crawford, divagando.
- E isso quer dizer...? - questionei já impaciente.
- Parabéns, papais! Vocês estão grávidos!


Ali, em meio à torcida culé, assistindo às lágrimas emocionadas de Iniesta, eu me sentia realizada.
Enquanto acariciava a protuberância em minha barriga, não percebi a aproximação de , que caminhava em direção à área destinada aos familiares dos jogadores.
- Eu sobrevivi, . - disse, teatralmente, abraçando-me com cuidado por causa do volume entre nós.
- Menino dramático. - falei, sugando o seu lábio inferior. - Você foi incrível hoje, lindo! Duas assistências, hum? Nem parecia que ontem estava com um discurso de derrotado.
- Vocês duas foram a minha força, amor. - selou os meus lábios com carinho, depois se agachou para dar um beijo em minha barriga. - Quando ficamos em dez, pensar em você e na Lena foi essencial para eu não perder o meu rumo. Você são o meu norte. - disse, fazendo referência à expulsão do Sergi, aos 48 minutos do primeiro tempo.
- Eu amo você, . Muito. - declarei, emocionada, tanto por suas palavras, tanto pelo contexto em que estava inserida.
- Você é o amor da minha vida, . Obrigado por estar aqui por mim.

*Na verdade, a despedida do Iniesta deu-se em um jogo contra o Real Sociedad, em que o Barcelona foi o vencedor com um gol do . Todavia, achei que colocar o adeus em um clássico tornaria tudo um pouco mais significativo. Alguns outros fatos dessa partida também foram alterados.


Fim.



Nota da autora: Alguém me para, pelo amor de Deus! Agora desembestei a escrever e não consigo mais parar! Enfim, meninas, o Andrés é um dos caras mais incríveis que eu já tive noção da existência e eu precisava escrever algo enaltecendo esse ícone. Mesmo ele não sendo o pp, acho que consegui transparecer um pouco do carinho que sinto por ele. Se chegaram até aqui, seria pedir demais deixar um comentário? Qualquer coisa que eu leio de vocês me deixa super feliz! Beijo <3

Nota da beta: Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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