Midnight Love

Última atualização: 28/08/2018

Capítulo Único

Costumava assistir a transmissão do red carpet do MET Gala com minha mãe quando era criança, pois ela era completamente apaixonada por tudo que envolvia o baile, e acabei herdando esse gosto dela. Cresci dizendo que um dia seria famosa o suficiente para ser convidada pela própria Anna Wintour e que usaria um vestido fantástico combinando com o tema do baile.
Mas aqui estava eu, 25 anos, formada em arquitetura pela NYU e trabalhando, na maior parte do tempo, de ajudante de cozinha. Segundas, terças e quartas eu trabalhava no escritório de arquitetura Schulz & Co., e durante as noites e fins de semana me dedicava às sobremesas do Crystal Palace, restaurante de minha madrasta. Era o restaurante mais famoso e disputado de NYC, e o favorito de Anna Wintour. Não que eu já a tenha recebido e a levado até sua mesa, eu só ouvia as histórias dos meus colegas de trabalho. Katarina, minha madrasta, não permitia que eu recebesse as pessoas famosas ou interagisse com eles de qualquer maneira que fosse, tudo porque uma vez alguns anos atrás quando comecei a trabalhar aqui tive um pequeno problema de comunicação com um cliente famoso, mas nada demais. Se tivesse sido qualquer outra pessoa já estaria na rua, mas por consideração a meu pai, ela continuou comigo.
Minha mãe morreu quando eu tinha 13 anos. Passaram-se alguns anos e meu pai conheceu Katarina, algum tempo depois, casaram-se. Até hoje não sei se foi amor à primeira vista ou se meu pai apenas queria que eu tivesse uma figura feminina forte na minha vida, agora que já não tinha mais a minha mãe. Ela tinha sido uma das maiores arquitetas de NYC, tendo até projetado um prédio que, segundo ela, “havia alterado a skyline da cidade”, o que era realmente uma grande coisa para se gabar. Meu pai era o típico homem de negócios de Wall Street, vendendo e comprando ações e sempre lidando com muito dinheiro, passando mais tempo dentro do escritório do que dentro de casa comigo.
Comecei a faculdade de arquitetura um pouco mais tarde, por ter passado dois anos cursando culinária no International Culinary Center, em NYC. Ter duas especialidades tão distintas me deixava confusa, eu não sabia se queria seguir carreira sendo arquiteta ou tendo meu próprio restaurante. Talvez eu pudesse ser uma arquiteta especialista em restaurantes?
Mas nunca imaginei que um dia, de fato, teria a oportunidade de entrar no MET Gala, até que uma onda de gripe chegou e atingiu uma grande parte da população em NYC. A empresa da qual minha madrasta contratava os garçons e hostess para grandes eventos havia sido afetada, o que acabou obrigando-a a tomar medidas desesperadas. E era por esse motivo que na noite do sábado que antecedia a primeira segunda feira de maio, às 01:17 da manhã, eu estava esperando na cozinha do Crystal Palace, junto com alguns garçons e hostess.
- Como vocês já sabem daqui dois dias é o MET Gala, um dos eventos mais importantes para este restaurante – Katarina começou. – Faz alguns anos que somos nós quem preparamos a janta do MET, e isso acaba atraindo mais e mais pessoas, o que é extremamente bom.
Todos concordamos com a cabeça enquanto ela dizia isso.
- Porém, devido a onda de gripe, a empresa que cuida da recepção e dos garçons me avisou que mais de 40% do staff deles está de atestado e não vai poder trabalhar, sem contar nos outros eventos acontecendo na cidade em que eles trabalham. Ou seja, estamos com 13 pessoas a menos para trabalhar, por isso chamei vocês aqui.
Meu coração acelerou. Não podia ser real, podia?
- Não tenho como conseguir pessoas qualificadas para um evento desse porte tão em cima da hora, porém eu tenho minha própria staff, que é tão qualificada quanto qualquer outra. – Ela me lançou um longo olhar que dizia que não acreditava na minha qualificação, mas que estava de mãos atadas.
Todos concordaram prontamente, antes mesmo de ela perguntar se toparíamos trabalhar no MET. Eu apenas assenti, silenciosamente, porém, minha vontade era de sair gritando e pulando pela cozinha.
Eu não conseguia mais prestar atenção nas palavras que Katarina dizia, tudo que eu conseguia pensar era que eu, EU, , ia no MET. Não importava que eu não entraria lá como convidada, que eu não participaria da festa e nem me divertiria dançando ou fazendo o que quer que eles fizessem, MAS EU ESTARIA LÁ! Poderia ver com meus próprios olhos.
Não conseguia lembrar de nada que Katarina havia falado depois do anúncio que eu trabalharia no MET, mas assim que dispensou os outros me chamou, assim como imaginei que ela faria.
- Pode ir tirando esse sorrisinho do rosto – ela me falou em um tom de reprovação, que ela usava especialmente comigo. – Você sabe que só estou te chamando para trabalhar na segunda porque você fez aquele curso de hostess há um tempo atrás e foi muito elogiada, e principalmente, porque estou com pouco pessoal.
- Não precisa se preocupar – comecei, me defendendo. – Sei me comportar perto de gente famosa, e sou muito boa no meu trabalho aqui. Pode perguntar, Willa vai confirmar. – Willa era uma espécie de “mentora” para mim. Me ajudava muito dentro do Crystal, e fora também. Era quase minha segunda mãe.
- Eu sei como você é, sou sua chefe, lembra? – Ela me cortou. – É bom que você saiba se comportar mesmo. Se você aprontar mais alguma coisa daquele tipo... – Ela deve ter pensado em várias ameaças, mas não concluiu a frase.
- Pode ficar tranquila. Tudo vai sair maravilhosamente bem. – Assegurei-a. Precisava acabar com essa conversa logo para ligar para Nina, minha melhor amiga, que estava estagiando na Vogue.
. Ela precisava saber disso.
Katarina apenas assentiu, já com mente em outro lugar. Eu estava eufórica. Iria entrar no MET, veria como era participar daquele evento que eu tanto admirava. Tudo bem que não estaria realmente participando, não como eu sempre sonhava que participaria, mas eu poderia ter uma noção. Assim que Katarina sumiu de vista, peguei meu telefone e liguei para Nina.
- Você não vai acreditar – eu praticamente gritei no telefone. – Vou trabalhar no MET Gala!
- O que? Como assim? – Nina estava confusa e um pouco sonolenta. Talvez eu tivesse a acordado.
- Sim! AH! – Soltei uns gritinhos de felicidade. – Meio mundo está com gripe, então vou ser hostess. Não é maravilhoso?
Nina gritou e eu tive que afastar o celular do ouvido para não ficar surda.
- Obrigada Jesus! Sabia que minhas preces para que a onda de gripe afetasse milhares de pessoas daria certo – Nina disse, me fazendo rir. – Mas e aí, o que você vai fazer?
- Ué, vou trabalhar. Serei hostess. – Respondi confusa.
- Sim, isso eu imaginei. Mas só isso?
- Como assim, só isso? – Comecei a falar baixo. Não sabia bem onde aquilo estava indo, mas pressentia que iria gostar.
- Ah, é seu sonho participar desse evento, - ela começou a falar baixo também. – Quando é que você vai ter a chance de entrar lá de novo?
- Ah, a gente nunca sabe – eu disse esperançosa. – Pode ser que ano que vem eu...
- NUNCA, – ela me cortou. – NUNCA!
- Ai, credo. Não precisa ser tão dura.
- Tô sendo realista, , porque essa é uma chance única. Você não pode desperdiçar ela. E além do mais, eu vou estar trabalhando lá também. – Nina disse, de uma forma que me fez entender onde ela queria chegar.
- Você tá dizendo... – comecei, querendo confirmar, mas ela me cortou.
- Exatamente. Amanhã eu te ligo para vermos os detalhes.
E desligou.
Minha melhor amiga, que, indiretamente, trabalhava para a Anna Wintour tinha acabado de me dar a ideia de entrar no baile dela de penetra. E iria me ajudar. Comecei a rir sozinha com o rumo que a situação tomava.
O que poderia dar de mais errado? Eu encontrar a própria Anna, ela perceber que eu era uma intrusa e me expulsar. Seria o escândalo do ano, a reputação do Crystal seria arruinada e minha madrasta, mais do alegremente, me expulsaria de casa. Ou nada aconteceria. Eu passaria despercebida por todo mundo. Veria tudo e voltaria para cozinha. Além do mais, eu não iria passar muito tempo na festa. Apenas uns quinze ou vinte minutos, para poder ver tudo com meus próprios olhos e então voltaria ao meu lugar como hostess. Ninguém nunca saberia. Eu só precisaria de alguém que me desse cobertura na cozinha e um vestido, para poder me misturar. Quer dizer, nada que parecesse fazer parte do tema, mas algo bonito e elegante.
No domingo a tarde Nina me ligou, ela havia acabado de sair de um editorial que estava acontecendo em um dos escritórios da Teen Vogue.
- , você vai precisar de um vestido, e eu tenho um para você.
- Uau, e eu nem precisei pedir. Obrigada?
- Não precisa agradecer – ela respondeu. – Vou deixar com o porteiro do seu prédio, acho que você vai conseguir se misturar e ninguém vai notar que ele sumiu. Só não estraga ele, e me devolve na terça o mais cedo possível.
- Nina! – Exclamei indignada. – Você roubou o vestido?
- Claro que não, , que drama. – Ela respondeu com descaso. – Apenas peguei emprestado sem que ninguém soubesse.
- Ai meu Deus.
- Não é como se eu pudesse pedir, mas se você não quiser... – Ela não terminou a frase, sabendo que eu negaria.
- Não, não. É claro que eu quero. Obrigada.
- De nada, bebê. – Ela respondeu rindo. – Vou te mandar mensagens o tempo todo, mas acredito que o melhor horário para você passear pelo baile será depois que a janta for servida. Você vai precisar que alguém da cozinha te dê cobertura também.
- Willa vai estar lá, vou falar com ela.
- Ótimo! – Nina comentou feliz. – Só tente desviar da Anna e qualquer outra pessoa que esteja segurando uma prancheta ou algo do tipo. A não ser que seja eu.
- Ok – concordei, um pouco receosa.
- Você não vai desistir agora, . – Nina falou, séria. – Se você desistir, vai se arrepender disso pelo resto da vida. Vai dar tudo certo. Então relaxa e confia em mim.
- Tudo bem, - assenti. – Vai ser incrível, não vai?
- Vai ser mágico! – Ela exclamou e desligou.
Já estava no metrô, a caminho do Crystal, e com todos os argumentos possíveis preparados e na ponta da língua, para convencer Willa a me ajudar a entrar no baile sem que mais ninguém da equipe percebesse. Sabia que não seria fácil, mas sentia que se persistisse o suficiente, ela concordaria.
*

Willa tinha 42 anos e trabalhava no Crystal Palace desde que ele fora inaugurado, começou como hostess e hoje era uma das principais chefs da cozinha, apenas Katarina tinha mais autoridade do que ela. Não sei como, ou porque, ela simpatizou comigo e decidiu me treinar. Era por influencia dela que eu havia decidido fazer todos os cursos de culinária. Se eu não pudesse ser uma arquiteta como minha mãe, seria uma chef como Willa. Só precisava me especializar em pratos salgados também.
Quando Willa e eu estávamos caminhando até o metrô para irmos para casa, no fim do expediente, pedi ajuda a ela. Era agora ou nunca.
- Willa, você sabe que amo muito o MET Gala, não sabe? – Comecei, cautelosa.
- Sim, , todo ano você me fala sobre ele. E sei que costumava assistir com a sua mãe. – Ela colocou seu braço em meus ombros. – Deve estar muito contente, não é mesmo?
- É como um sonho! Nunca imaginei que conseguiria entrar nesse evento de verdade. – Suspirei, ainda sem acreditar completamente. – Seria maravilhoso poder ver tudo.
- Não sei como é, ou se veremos tudo, mas poderemos ver uma boa parte. – Willa comentou, sem dar muita importância ao assunto.
- Willa, preciso da sua ajuda. – Pedi, o mais seriamente que conseguia. – Me prometa que vai me vai me ajudar.
- Meu Deus, menina, o que aconteceu? – Ela virou para me encarar, nervosa com meu pedido. – Em que enrascada você se meteu? Katarina quer expulsá-la de casa? Você está grávida?
- Quê? Não, credo. De onde você tirou isso? – Perguntei confusa? – Não me diga que engordei... Aliás, me prometa que vai me ajudar primeiro. – Pedi novamente.
- É claro, sempre que você precisa vou te ajudar, você sabe disso. Mas agora me diga o que aconteceu.
- Willa, preciso que você me ajude a entrar no MET.
- Mas você vai entrar, vai trabalhar lá, esqueceu? – Ela perguntou de forma sarcástica. – Vai dizer que ficou tão empolgada que achou que era mentira, ou um sonho?
- Não, sei disso. Quero ajuda para participar da festa. Olhar como é. Passear pelas galerias que não teremos acesso.
- , não. – Ela negava com a cabeça enquanto falava. – Ficou louca? Vão te descobrir. Como você vai fazer isso?
- Mas Willa, - me ajoelhei aos pés dela, com as mãos coladas em frente ao meu rosto, como se estivesse fazendo uma prece – e de certa forma estava. – Ninguém vai perceber, e vai ser super-rápido.
- , levanta do chão, todo mundo tá olhando pra gente. - Ela dizia enquanto tentava me puxar para cima. Levantei e continuei implorando.
- Você só precisa distrair o pessoal para eu sair pela cozinha e depois entrar novamente. Ninguém vai perceber, e você vai me ajudar a realizar o maior sonho da minha vida.
- , eu não sei... – Ela suspirou.
- Mas você prometeu. E eu nunca te pedi nada desse tipo! – Olhei com a minha melhor cara de cachorro que caiu da mudança. – Por favorzinho.
- Tudo bem, - ela concordou, claramente contrariada. – Mas se alguém perceber, vou fingir que não sabia de nada. – Me lançou um olhar severo.
- Obrigada! – Praticamente gritei, enquanto a abraçava. – Nada vai dar errado, pode ficar tranquila. E se der, - falei para tranquiliza-la, pois nada poderia dar errado mesmo. – Ninguém vai saber que você me ajudou. Palavra de escoteiro.
Me despedi de Willa quando o metrô dela chegou, e continuei esperando o meu. Estava tão ansiosa para chegar em casa e ver o vestido que Nina havia deixado para mim que os 15 minutos que eu normalmente demorava para chegar em casa pareceram uma eternidade. Peguei o pacote com o porteiro e corri para meu apartamento, torcendo para não encontrar ninguém no elevador e não ter que perder nenhum minuto conversando. Entrei em casa correndo, já sabendo que provavelmente meu pai ainda não havia chegado e que Katarina estava no Crystal.
Tirei o vestido do pacote e quando o vi me apaixonei instantaneamente. Era definitivamente o vestido mais lindo que eu já havia visto. Era de um tom de cinza muito claro, com o colo ornamentado em pedras tão brilhantes que pareciam joias, refletindo a luz do meu quarto. Coloquei-o, e coube perfeitamente. A era saia tão leve que imaginei-a esvoaçando quando caminhasse, e possuía uma fenda do lado direito indicando o caminho do tecido e exibindo minha pele até acima do meio da coxa. O tecido era de tão boa qualidade que sentir ele em minha pele era como um carinho. Sem contar que quando me olhei no espelho fiquei maravilhada com o que vi, pois ele destacava minhas curvas, o que fez com que eu me sentisse sexy. Era incrível o poder que um vestido possuía.

*

Assim que chegamos no MET com toda a equipe e passamos pelos procedimentos padrões de segurança, uma moça que estava coordenando a organização do evento veio nos receber, para nos dar instruções. Ela se chama Melanie Brown e trabalhava na Vogue. Dentre as várias instruções que nos deu, ela frisou que não deveríamos interagir com os convidados desnecessariamente. Obviamente já sabíamos disso, mas fazia parte do protocolo ter que nos informar.
Durante nosso caminho para a cozinha, Willa me puxou para ficarmos afastadas do grupo. Eu já sabia o que ela iria dizer.
- Você ouviu aquela, moça, não ouviu?
- Sim, mas eu prometo que ninguém vai me notar.
Willa suspirou.
- Que ideia idiota você teve...
- E você prometeu que ajudaria, - a interrompi.
- Sim, eu sei, e já estou completamente arrependida disso.
- Eu prometo que não vou falar com ninguém, vou apenas olhar em volta. – Eu dizia a ela enquanto ela revirava os olhos. – Vou olhar as decorações, as pessoas. Apenas olhar. Que mal tem nisso?
- Você não pode simplesmente olhar as fotos amanhã, na internet ou na revista?
- Willa, não tem fotos – falei como se fosse óbvio, pois para mim era. – Os convidados são proibidos de postar fotos online, e mesmo que o fizessem, o máximo que postariam seriam selfies. Não quero ver selfies, quero ver a decoração, quero ver a festa acontecendo. Quero ver as outras galerias, que não terei acesso como hostess – disse antes que ela tentasse usar esse argumento. – Só uma hora, para que eu possa ver tudo com calma – pedi.
- Uma hora? Você está louca? – Willa perguntou, ultrajada. – Sabe que não estou feliz com isso, então você tem 15 minutos.
Ela é quem estava louca, se achava que em 15 minutos eu conseguiria ver tudo.
- Olha o tamanho desse lugar, vou demorar 15 minutos só para ir de uma galeria até a outra! 1 hora – propus novamente.
- Em 1 hora já vamos ter organizado tudo para voltarmos, você será pega – Willa me lembrou.
Suspirei resignada.
- Meia hora? – Sugeri. – Vai ser corrido, mas vou dar um jeito.
Willa concordou por fim.

A galeria Charles Engelhard Court, onde a janta era servida, foi transformada em um jardim inglês. O chão havia sido coberto com grama sintética, e havia topiarias elaboradas por todos os lados, assim como vários arranjos com flores nas mesas.
Nas primeiras horas, enquanto os convidados chegavam, passei a maior parte do tempo indo da cozinha até a galeria, levando bebidas. Mal tive tempo de olhar o interior do museu, ou de ver quem estava presente. Conseguia prestar atenção apenas nas pessoas com quem conversei, quando me pediam alguma coisa. Vi vários atores e atrizes de filmes famosos, vi também modelos e socialites. Era bizarro ver todas essas pessoas, que viviam em uma realidade tão diferente da minha, tão perto de mim.
Durante a janta as coisas correram mais tranquilamente, pois só tive de servir algumas mesas, levando o prato que as pessoas haviam escolhido e também lhes trazendo bebidas. Aos poucos as pessoas iam terminando e se dirigindo para a outra galeria, onde ocorreriam as performances de uma cantora e um DJ estaria tocando.
Quando notei que boa parte da esquipe estava ocupada organizando e limpando a cozinha chamei Willa para avisar que iria me trocar. Ela concordou, mas não sem antes me dizer o quanto desaprovava tudo aquilo.
Peguei minha mochila com o vestido e fui até o banheiro reservado para os funcionários, e comecei a trabalhar na minha maquiagem e cabelo. Acabei por só aplicar muito rímel e batom, a apenas desarrumei um pouco o coque que estava usando para dar a impressão que eu havia perdido muito tempo fazendo um penteado. Coloquei brincos e o vestido, calcei as sandálias e me olhei no espelho uma última vez, antes de enviar uma mensagem para Nina avisando que já estava a caminho.
Era tão estranho estar andando pelo Metropolitan no meio da noite, mas nem por isso deixava de ser incrível. Era quase como entrar na escola escondido, ou então ficar trancado dentro do shopping durante a noite e ter que passar a noite lá. Mas era muito melhor, porque era o Met e porque tinha um baile acontecendo.
Passei pela galeria onde estavam expostos os trajes da estilista que estava sendo homenageada neste ano. Muitas flores e folhagens estavam dispostas entre os manequins. Passei também pela galeria onde foi servido o jantar, para por fim chegar na terceira galeria usada pelo evento, onde a festa estava acontecendo. A decoração era exuberante, era como se o teto fosse feito de flores, e haviam muitas árvores e arbustos pequenos dispostos pela galeria. Estava me sentindo dentro de O Jardim Secreto, de Frances Hodgson Burnett.
Para todo lado que eu olhava podia ver atrizes, atores, modelos, músicos, jogadores e apresentadores famosos. Por várias vezes tive que me controlar para não correr até alguém e dizer o quanto eu era fã do seu trabalho, pois sabia que a fangirl dentro de mim não seria contida uma vez que eu abrisse a boca.
Tentei me comportar como se realmente pertencesse a aquele lugar, pois eu queria aproveitar meus minutos tão preciosos naquele evento que eu tanto amava, e aparentemente eu estava conseguindo. Até o momento ninguém tinha me olhado torto ou feito qualquer coisa que indicasse que sabia que eu não deveria estar ali, mesmo as pessoas a quem eu havia servido bebias anteriormente. Garçons e hostess eram realmente invisíveis para as pessoas.
Alisei meu vestido enquanto olhava para a festa que estava acontecendo procurando por Nina. Poderia ser uma festa normal, em um clube normal. Um DJ tocava ao fundo e várias pessoas dançavam na pista, alguns casais se beijavam, e pude ver alguns grupos de amigos rindo e conversando em um canto, enquanto algumas meninas tiravam selfies em outro. Era hipnotizante ver todas aquelas pessoas agindo com tanto naturalidade e tranquilidade, sem medo de dizer a coisa errada ou agir de forma equivocada.
Senti alguém se aproximar e parar ao meu lado. Quando virei para ver quem era, quase caí para trás. Um homem alto, musculoso, loiro e de olhos azuis. Praticamente um deus grego, poderia até ser Apolo ou Adônis, mas não, era o Capitão América. Aliás, Chris Evans.
Não consegui conter meu sorriso, que cresceu ainda mais quando notei que ele me observava. Nunca senti tanta vontade de fazer algo que eu sabia que não deveria fazer, como naquele momento.
- Oi, - cumprimentei Chris.
- Hey, - ele respondeu, enquanto me observava.
Respirei fundo, tentando pensar em algo inteligente, ou até irreverente para falar, mas nada me vinha a mente, que estava totalmente ocupada pela beleza dele e por cada detalhe da decoração e de tudo o que tinha a ver com o baile.
- Está tudo tão maravilhoso, é quase... Mágico. – Consegui dizer por fim. – É como se O Jardim Secreto fosse aqui dentro do Metropolitan.
Chris olhou ao redor, como se tentasse ver tudo aquilo sob o meu ponto de vista.
- Eu estava pensando nos Jardins Suspensos da Babilônia, - nós dois rimos. - Você parece muito feliz em estar aqui, - Chris comentou, entre um gole e outro de sua bebida.
- Bom, é claro, é o MET Gala! – Desatei a falar. – Para quem adora moda, é o evento mais esperado do ano, mais até do que o Óscar, afinal, tudo o que importa sobre esse evento é o tapete vermelho. E tem o tema também! – Eu estava começando a me empolgar cada vez mais, gesticulando enquanto falava. Se ninguém havia percebido que eu não fazia parte daquele lugar até agora, era porque eu tinha ficado de boca fechada, mas Chris certamente perceberia. – A gente descobre o tema, as hosts do evento, e então ficamos na expectativa das roupas. E tem todo o mistério do que acontece aqui dentro, obviamente. Sem contar que estamos dentro do MET, no meio da noite! É uma festa que mexe com a imaginação das pessoas. – Pausei para respirar. - Bom, pelo menos com a minha.
Ele riu da minha empolgação.
- Seu primeiro MET? – Perguntou em meio a risos, mesmo sendo bem óbvio que era.
- Eu estou sorrindo demais, não estou? – Peguei uma taça de Champagne que um garçom nos ofereceu. – Devo estar parecendo meio maníaca.
- É claro que não – ele me disse, rindo. – É adorável. Você tem aquele brilho nos olhos igual a uma criança quando vai para a Disney pela primeira vez.
- Na verdade, eu fico assim toda vez que vou para a Disney. Talvez até mais animada. - Nós dois rimos.
- Bom, acho que seria divertido fazer isso na Disney. Digo, entrar lá no meio da noite – ele explicou, após ver a confusão na minha cara.
- Bom, seria realmente incrível, e totalmente bizarro – respondi. – Você já ouviu as histórias de fantasmas da Disney? Muita gente já morreu lá.
Chris colocou as mãos, cruzadas, no peito e desatou a rir. Chris Evans estava gargalhando de algo que eu tinha dito. Algo bem imbecil, mas mesmo assim. Ri junto com ele.
- Você está me dizendo que o lugar mais feliz do mundo é assombrado?
- Não sou eu, - fiz uma pausa dramática. – É a internet.
Chris gargalhou mais uma vez.
- Então você quer dizer que se tá na internet é verdade? – Concordei enquanto gargalhava também.
- É só que acho que existe uma linha muito tênue quando se trata de parques de diversão desativados bizarros e que parecem assombrados e os parques da Disney desligados no meio noite.
Ele ponderou por alguns segundo.
- Você tem razão, - concordou por fim. – Sem Disney durante a noite para nós... – Ele pausou por alguns segundos. – Acho que não perguntei seu nome.
- , mas pode me chamar de .
- Muito prazer em conhecê-la, – Chris pegou minha mão esquerda e deu um beijo, me fazendo gargalhar com a cena. – Eu sou Christopher, mas pode me chamar de Chris.
- Encantada, Chris – fiz uma pequena reverencia, para entrar na brincadeira, e nós dois rimos. – Vem, vou te pagar uma bebida. – Comecei a andar em direção ao bar.
- Agora? – Ele perguntou confuso. – Não precisava pagar aqui dentro.
- Eu sei, por isso estou te chamando.
Ele riu, e logo falou.
- Por um momento fiquei feliz, achando que teríamos um encontro na próxima sexta.
- Não acho que sou o tipo de pessoa com quem você costuma ir a encontros. – Respondi assim que chegamos ao bar.
- Pessoas engraçadas e interessantes?
- Você nem sabe se eu sou interessante.
- Então talvez você devesse me contar mais sobre você, - ele sugeriu, encostando-se no bar.
- Tudo bem, mas você também vai ter que me contar mais sobre você também. – Repliquei, e ele concordou. – Vamos começar com a sua bebida favorita, assim eu saberei que bebida te pagar, quando sairmos para o nosso encontro. – Provoquei, e ele sorriu.
- Sou um homem simples. Gosto de cerveja e whisky.
Pedi um whisky para Chris ao garçom que estava atendando no bar, e um mojito para mim.
- Então, , já sei que você gosta da Disney, que esse é seu primeiro MET, e que você gosta de mojitos, - concordava com a cabeça enquanto ele ia enumerando. – E o que faz? Com o que você trabalha?
Pausei por uns instantes, pensando se deveria contar a verdade. Calculei as consequências de contar, enquanto tomava um gole da minha bebida. Chris apenas me observava.
- Trabalho em um restaurante. O Crystal Palace. – Resolvi contar parte da verdade. Ele já deveria ter percebido que eu não era famosa nem nada, levando em conta o seleto grupo que era convidado, e a minha fascinação por tudo.
- Mesmo? – Ele pareceu realmente empolgado. – Adoro o Crystal! Que prato você me recomenda?
- Os brownies, - respondi de imediato, e ele riu. – São minha especialidade. – Ele levantou uma sobrancelha, me encorajando a continuar a falar. – Cuido das sobremesas, e minha receita de brownies é – modéstia à parte – a melhor de todas.
- Eu definitivamente quero provar, - Chris me disse, e bebeu um gole de seu whisky. Eu sorri.
- Mas, se você quer realmente me conhecer, ou conhecer qualquer pessoa de verdade, você deve fazer as perguntas certas.
- Que tipo de pergunta? Qual o seu tipo sanguíneo e o número do seu cartão de crédito?
- Não, quem é que liga pra isso? – Respondi rindo.
- Traficantes de órgãos e estelionatários, - ele respondeu como se fosse óbvio. – O que não é meu caso, então acho que realmente não é importante. – Ele sorriu.
- Não, o que importa é qual seu filme favorito da Disney. Qual era seu dinossauro favorito quando você era criança. – Tomei mais gole da minha bebida enquanto pensava. – Que livro você está lendo no momento, a última coisa que você roubou, quando foi a última vez que você chorou e porquê.
- Uau, - ele riu. – Ok, isso escalou rapidamente, mas vou responder SE você responder também. Acho que suas respostas serão mais interessantes do que as minhas. – Eu ri.
- Talvez não tanto, sou bem sem graça.
- Você pensou nas perguntas, elas devem ter uma história.
- Sim, mas nem todas são divertidas. – Dei de ombros.
- Tudo bem, - ele bebeu o resto de seu whisky. – Vamos começar. Filme favorito da Disney. O meu é “Robin Hood”, mesmo não sendo tão reconhecido. Adorava assisti-lo com meu irmão quando era criança.
- O meu é “Alice no País das Maravilhas”, porque sempre quis viver num mundo louco como aquele. Sempre imaginei como seria o meu País das Maravilhas.
- Não lembro de muitos detalhes, acho que só assisti “Alice” uma vez na vida.
Olhei para ele com uma falsa indignação.
- Christopher, não sei se poderemos continuar nos relacionando depois de eu descobrir uma coisa dessas. – Ele riu, entrando na brincadeira.
- Calma, talvez a resposta sobre meu dinossauro favorito te convença a ficar.
- Okay.
- O meu favorito era o Braquiossauro. – Ele aguardava minha resposta.
- Hm... Que chato, - fingi descaso. – O meu era o T-Rex.
- O quê? Agora eu é que tenho que cortar relações com você, - ele disse, fingindo estar ofendido, e eu ri, e logo ele me acompanhou com uma gargalhada.
- Não gostava de dinossauros quando era criança, na verdade. – Expliquei. – Mas acho que hoje escolheria aquele com o pescoço comprido.
- O Braquiossauro, - ele me informou, rindo da minha expressão.
- Esse mesmo, - Concordei. Coloquei meu copo vazio no bar, e olhei em volta. A banda agora estava tocando uma balada romântica, e alguns casais estavam dançando. Chris acompanhou meu olhar, e então arrumou sua postura.
- , - ele disse, enquanto fazia uma breve reverência. – Quer dançar comigo?
Sorri, um pouco constrangida, mas segurei meu vestido para fazer uma pequena reverência também, aceitando o pedido. Ele me guiou ate o meio do salão, colocou uma mão em minha cintura, e com a outra segurou minha mão, e a mão livre coloquei em seu ombro. E deixei que ele me conduzisse, afinal, sempre fui péssima dançarina.
- Então, Chris, - comecei a falar totalmente constrangida pela nossa proximidade. – Qual foi a última coisa que você roubou?
Chris deu uma gargalhada. Eu havia quebrado o nosso momento. Talvez devesse ter perguntado algo menos absurdo e idiota.
- Só consigo pensar que se você está me perguntando algo desse tipo é porque existe uma história por trás da pergunta, - Chris comentou ainda rindo, e eu ri também.
- Mais ou menos, não é como se eu fizesse isso o tempo todo, - comecei a me defender, para que ele não pensasse que eu era uma completa louca. – O último escritório em que trabalhei era abusivo com os funcionários, então antes de sair, roubei vários materiais de escritório, como canetas, post it e até um grampeador.
- Escritório? De que?
- Arquitetura.
- Uau, uma mulher de muitos talentos.
- Sou bem eclética com meus trabalhos – sorri, e ele retribuiu.
- Então, , qual sua comida favorita?
Parei para pensar, e ele logo adicionou:
- Esse é o tipo de pergunta que te faz conhecer alguém, certo? – Eu ri, concordando com a cabeça.
- É importantíssimo conhecer os hábitos alimentares das pessoas. Como é muito difícil escolher uma comida só eu diria... Macarrão. Ou então os waffles com Nutella e frutas que vendem na Disney.
- Nossa, aqueles waffles, - Chris suspirou. – Mas... sorvete. Nada ganha de sorvete.
- Ah! Foi você quem pediu sorvete de sobremesa hoje!
- Como você sabe? – Ele riu, parecendo constrangido.
Pensei bem em como responder a isso. Eu poderia mentir ou eu poderia contar a verdade, que enquanto estava na cozinha um garçom chegou dizendo que alguém havia pedido sorvete. Decidi responder com meia verdade.
- Bom, não tinha sorvete como opção de sobremesa, mas eu vi um garçom passando com sorvete.
Ficamos em silêncio por um momento, apenas girando no ritmo da música. Apoiei a cabeça no ombro dele, apenas apreciando o momento. Ficamos assim até a música acabar e então nos afastamos.
- Quer mais uma taça? – Chris perguntou-me, fazendo sinal as taças de Champagne que um garçom trazia em uma bandeja em nossa direção, e eu concordei.
- Então, - ele me entregou uma taça e pegou outra para si. – Quando foi a última vez que você chorou?
- Olha... Faz tanto tempo que nem me lembro, - dei uma risadinha. Tomei um gole da minha bebida. – E você?
- Acho que ontem mesmo, - ele respondeu e eu comecei a rir.
- Desculpa, mas... É sério? Por quê?
- Por causa de um comercial, - ele respondeu rindo, enquanto mexia no cabelo. – Sou um cara que chora por qualquer coisa. Patético, não?
- Claro que não! É fofo, - eu disse rindo, e ele riu junto. – Mas então, me fala da sua infância. Do seu primeiro porre.
- Bom, meu primeiro porre não foi na infância, e espero que o seu também não tenha sido, - nós dois rimos. – Eu fiz muito teatro. Fui a acampamentos de teatro, oficinas de teatro, aulas de teatro. E meu primeiro porre... Foi em um baile do colégio, eu convidei uma garota que gostava, e chegando lá ela voltou com o ex namorado dela. A partir daí não lembro muita coisa, só de acordar no gramado do meu vizinho da frente, no outro dia. – Ele deu de ombros como se não fosse nada demais, e eu ri.
- Bom, eu passei boa parte da minha infância indo ao Central Park e shows da Broadway com a minha mãe, e depois explorando a cidade. E meu primeiro porre... – Pensei por uns segundos. – Acho que foi no primeiro ano da faculdade, em uma festa que até hoje não sei de quem era e também não faço ideia de como cheguei no meu dormitório. Bem sem graça, eu sei.
- Bom, eu não fiz faculdade, então acho incrível. – Ele sorriu.
- É legal na teoria, e na prática te faz querer morrer e desistir todos os dias, - nos dois rimos. – Fico feliz que já tenha acabado. – Apenas nos encaramos por alguns momentos, até que voltei a perguntar, - Mas então, você tem algum guilty pleasure? – E Chris começou a rir.
- Se você não me achou um idiota até agora, você vai achar, - ele tomou um gole da sua bebida. – Eu adoro ver vídeos de crianças caindo, principalmente se foi um cachorro que as derrubou.
Comecei a rir. Definitivamente não esperava isso. Abri a boca para responder, mas vi Nina vindo em minha direção, gesticulando algo que não fazia sentido para mim. Apertei os olhos, como se isso fosse me ajudar a ver melhor, e Chris virou parar olhar o que havia chamado minha atenção, e foi então que percebi que eu estava atrasada. Havia perdido a noção do tempo.
- , aí está você! – ouvi Nina dizer, assim que ela chegou perto o suficiente. – Tem uma pessoa procurando por você. – Então ela notou com quem eu estava conversando, e pareceu ficar meio desconcertada. – Ah, oi. Desculpe interromper, mas precisa ir.
Chris apenas sorriu e a cumprimentou.
- Droga, que horas são? – Perguntei, tentando não transparecer minha aflição.
- Já passou de meia noite e meia, - Nina respondeu. – Vem, - pegou minha mão e começou a me puxar.
- Espera, tem uma coisa que eu preciso fazer antes, - pedi a Nina. – Vai ser rápido. – Completei, após ela fazer uma careta. Virei o resto do Champagne e coloquei a taça no balcão. Virei-me para Chris e dei um passo, aproximando-me dele. – Eu geralmente não faço isso, mas sei que se não fizer, vou me arrepender amanhã.
Ele não respondeu, e apenas me olhou confuso. Coloquei uma das mãos em sua nuca e com a outra segurei a lapela de seu terno, puxando-o para mim. Chris entendeu o que eu estava fazendo, e puxou-me pela cintura me colando em seu corpo, e eu o beijei. E a melhor parte? Ele retribuiu.
Eu estava no MET Gala e estava beijando Chris Evans. Minha vida não poderia ser melhor. Eu nem ligava se havia me atrasado, ou se Katarina iria querer me matar ou me expulsar de casa amanhã, não ligava para nada que não fosse esse momento, que não fosse esse beijo. Já havia beijado vários caras, e até algumas meninas, mas nada se comparava a esse beijo, nenhum havia sido tão bom e nenhum havia feito eu sentir borboletas no estômago – clichê, eu sei. Ao mesmo tempo em que pareceu durar horas, pareceu ter acabado muito rápido.
Afastei-me de Chris lentamente, enquanto ainda nos olhávamos nos olhos.
- Bom, tenho que ir agora – falei, tímida.
- Vem , - Nina começou a me puxar novamente, quebrando o clima.
- Como faço pra te encontrar? – Chris perguntou.
- No Crystal Palace – gritei para ele, e fui correndo até a cozinha com Nina.
*

Já havia se passado um mês desde o MET Gala e eu ainda não havia encontrado . Havia entrado em contato com o Crystal Palace – o que me deixou bem esperançoso, afinal, ela havia me dito que trabalhava lá – mas logo tudo foi por água abaixo, quando a dona do restaurante veio falar comigo e me assegurou que não havia nenhuma lá. Entrei em contato com todo mundo que havia feito parte da organização do baile, mas não tive sucesso, pois nenhum deles podia – ou queria – me enviar a lista de convidados ou me passar informações pessoais das pessoas que haviam trabalhado no evento, o que acabou com as minhas chances de encontrar Nina, amiga de , que notei que estava com um crachá igual ao de algumas pessoas da staff.
Suspirei, e Sebastian me olhou torto.
- Qual é cara, ainda tá nessa da menina do MET? – Sebastian havia me ajudado a entrar em contato com as pessoas da organização, mas também não teve sucesso.
- Não, já desisti. – Menti. – Mas cara, preciso ir agora, tenho que comprar umas coisas ainda, - deixei o controle do vídeo game em cima da mesinha de centro e me levantei. Como bons adultos que éramos, eu e Sebastian havíamos passado a tarde de sexta jogando vídeo game.
- Tudo bem, mas a noite você vai na casa da Nicky, não é? Ela está louca para conhecer você, - Sebastian falou, enquanto me acompanhava até a porta. Nicky era sua nova namorada. – Ela até me perguntou o que você gosta de comer para cozinhar.
- Sebastian, já adoro sua namorada e nem a conheço ainda. Diz pra ela que adoro sorvete. Se tiver sorvete não precisa mais nada. - Sebastian riu, e nos despedimos.
Peguei um táxi até a Blomingdales da 59th, precisava comprar um pijama. O problema é que era muito fácil perder a noção do tempo lá dentro, então fui direto até a seção se pijamas masculinos, e logo encontrei um que gostei, tinha calça cinza lisa e o tecido parecia bem confortável e de boa qualidade. Mas foi só quando peguei o cabide que notei que a parte de cima vinha junto. Fui até uma vendedora.
- Com licença, tem como eu levar apenas a parte de baixo?
Ela franziu os lábios.
- Infelizmente não, senhor.
- Tem certeza? – Insisti. – Não uso a parte de cima, não tenho porquê levar.
- Eu entendo, senhor, - a vendedora me respondeu, educada. – Mas não podemos vender separadamente.
- E não tem nenhum outro modelo que seja apenas a parte de baixo?
Ela foi verificar no sistema, e fui atrás dela.
- São apenas essas opções, senhor.
Suspirei.
- Mas vou ver se não podemos abrir uma exceção, - pegou o pijama das minhas mãos e saiu.
Fiquei por ali olhando outras peças de roupa até ela voltar, alguns minutos depois.
- Senhor, infelizmente não tem como vendermos apenas a parte de baixo, mas acho que encontrei uma outra solução para isso.
- Mesmo? – Perguntei surpreso.
- Sim, - ela respondeu sorridente. – Uma outra cliente está procurando apenas a parte de cima. Se o senhor concordar, poderão comprar o pijama juntos. Pois, coincidentemente, ela quer o mesmo modelo e tamanho que o senhor.
Quais eram as chances?
- Claro, claro. – Concordei, e segui a vendedora até o caixa, onde uma moça de cabelos longos estava parada de costas.
- Senhora, este é o cliente de quem falei, - a vendedora falou para a moça, que se virou para me olhar.
Por um momento nós dois ficamos com a boca aberta sem saber o que dizer, então comecei a rir, não acreditando nas coincidências, e pareceu sem jeito.
- Ah, oi, - ela disse por fim, timidamente.
Foi então que me ocorreu. Ela não sabe que tentei procurá-la durante esse mês, deve achar que me assustei, ou que não gostei de sua companhia, ou qualquer outra coisa, quando na verdade não conseguia parar de pensar nela.
- Se eu soubesse que te encontraria aqui, teria vindo antes. – Falei enquanto me aproximava dela, que sorriu, corando. – Fui até o Crystal Palace, mas...
- Já sei, Katarina disse que não havia nenhuma , certo? – Ela perguntou. – Agora tudo faz sentido. Ela vem me atormentando desde então, achando que fiz algo errado no MET.
- Te coloquei em apuros? – Perguntei, preocupado.
- Ah não, - ela deu de ombros. – Katarina é minha madrasta e dona do Crystal Palace. – Explicou. – E já que estou contando tudo isso, preciso falar mais uma coisa, - ela continuou. Notei que ela mexia muito com as mãos enquanto falava, parecia nervosa. – Eu nem fui convidada para o MET, estava trabalhando e dei um jeito de entrar lá.
Comecei a rir. Essa garota era, definitivamente, a pessoa mais interessante que eu já havia conhecido.
- , - fiz uma pequena reverência. – Você aceitaria me acompanhar em um jantar hoje a noite e me contar toda essa história?


Fim!



Nota da autora: Oie! Tudo bem? Sei que essa fic ficou um pouco bobinha, mas desde que essa história surgiu na minha cabeça eu não consegui sossegar, até por ela pra fora. Espero que você tenha gostado e se divertido com ela. Obrigada por ler. <3

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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