Military Dignity capa
Finalizada em: 16/03/2018

• Capítulo Único •

It has begun

Um aeroporto carrega vários sentimentos, desde os mais alegres aos mais tristes, porém há aquelas pessoas que guardam para si ambos os sentimentos e expressam justamente o último que seu coração sente.
A família aguardava ansiosamente seu primogênito passar pelas portas de vidro fosco com sua mala nas mãos, assim como muitas outras famílias que viram seus entes queridos sacrificarem suas vidas nos últimos tempos.
A guerra estava prestes a acontecer, vizinho contra vizinho, sempre souberam que esse momento chegaria e tentar adiá-lo só piorou. E era isso o que passava na cabeça dos pais de Joe , sua irmã mais nova compartilhava da angústia de seus pais, mas com um peso muito maior.
Seu coração estava sim ansioso para ver seu irmão querido, todavia não deixava de pensar nele. Não o considerava o amor de sua vida, sequer sabia o que tal coisa significava – ou pelo menos era o que falava para si mesma nos últimos meses –, mas saber que ele também tinha se alistado e ido embora no mesmo dia que seu irmão fazia seu coração doer. Vê-lo no mesmo dia que Joe partiu, no aeroporto e sozinho, sabia que a família dele o ignoraria por violar a regra básica de honra da mesma, a fez querer correr para seus braços e dizer que ela estaria ali quando ele voltasse. Ele não podia pensar que tinha perdido todo mundo. Porém, sequer chegou a dar um passo em sua direção, o avião sairia em breve e os soldados deveriam ir. A última coisa que ela viu antes de seus olhos encherem de lágrimas foi os olhos tristes dele encararem seu rosto pela última vez.
E agora ela estava ali, no mesmo lugar, torcendo para que ele também voltasse bem e o principal, vivo.
Viu seu irmão caminhar em direção a eles, seu sorriso aumentou quando viu a família esperando por ele, que não tardou em abraçá-lo com força da melhor forma que puderam. Joe estava mais alto e bem mais forte, agora tinha porte de soldado, mas nada disso o impediu de chorar ao ver os pais e sua irmã ali. Meses sem vê-los, se comunicando apenas por cartas que demoravam semanas para chegar, a saudade machucava o peito de todo mundo.
foi a primeira a se afastar, ainda sorrindo para o irmão enquanto as lágrimas escorriam por seu rosto, entretanto ao ver que dois dos militares se aproximaram de seu irmão, sua feição mudou rapidamente assim como sua postura.
- . - O mais velho falou alto, fazendo Joe o saudar de forma digna. - Ficamos felizes que encontrou sua família.
- Obrigada, senhor. - O rapaz agradeceu em um tom que já estava acostumado.
tentou olhar para baixo, como seus pais faziam para demonstrar respeito aos militares, mas sua curiosidade era grande demais para conter, precisou olhar em volta para saber se ele estava por ali. Quando seus olhos estavam direcionados para frente, tentando enxergar além de onde os corpos dos soldados cobriam sua visão, notou que um deles a encarava de uma forma divertida. Ele era alto, moreno, e o dobro do tamanho de seu irmão. Não precisou sustentar o olhar por mais de três segundos para ficar envergonhada e então abaixar a cabeça. Ele não estava ali, onde estava?
- Estamos tão felizes que decidimos ir até sua casa para almoçarmos. - escutou o moreno falar alto e imponente, sentiu arrepios ao escutar sua voz e não foi porque era forte, mas porque sabia que a família não podia negar.
Ela olhou para sua mãe, que estava estática e seus olhares se encontraram, o medo que tinham não era porque militares iriam almoçar em sua casa, mas o que isso traria.

O almoço se estendeu em uma paz estranha e interminável, Joe e o pai estavam aflitos, afinal, não era todo dia que um Major e um Capitão comiam da sua comida em sua casa, e por ser tão raro assim vinha o medo.
ajudava a mãe com a comida e a louça, mas sua cabeça estava longe, pensando no que aconteceu com ele, perguntar ao irmão estava fora de cogitação já que ele e o pai não sabiam de sua história e tão pouco aprovariam. Apenas sua mãe era a única que estava ciente do que aconteceu mas a mesma não parava de tremer enquanto tentava lavar os pratos sujos.
- Mãe, deixa isso comigo, está tudo bem. - falou suavemente, fazendo a mãe largar o que estava fazendo.
- Desculpe, meu anjo, não quero assustá-la.
viu como a mãe estava e deixou a louça de lado por um tempo, indo segurar a mão dela.
- Você não tem que se desculpar por sentir medo, mãe. Tenho certeza que não é a única a se sentir assim.
- Que alívio, é tão estranho estarem aqui do nada.
- Sim, ainda mais por Joe ser tão novo no exército, não é como se tivessem tido tempo de criar um laço especial. - Analisou. Joe só havia se alistado porque basicamente todos os homens haviam sido convocados, ele implorou para deixarem o pai em casa, se voluntariando a fazer o serviço dobrado. Isso não foi bem aceito por seus pais, mas o exército tinha gostado, Joe era jovem e esforçado, seria ótimo na linha de frente. sabia que o irmão estava apenas poupando sua família de mais sofrimento, perder o primogênito seria horrível mas o alicerce da casa seria pior ainda.
- Tenho medo de que eles estejam planejando algo. - A mãe confessou, e não hesitou em abraçá-la.
- Não se preocupe, vai ficar tudo bem. Eles não podem nos obrigar a fazer o que não queremos. - Garantiu embora soubesse que era uma mentira.
Militares não eram malvados, muito pelo contrário, entretanto aqueles em que o poder havia subido a cabeça ou até mesmo os que foram comprados era preciso ter cautela. Nunca se sabe seus próximos passos.
As duas voltaram para a sala onde os homens estavam para não suspeitarem de nada, eles estavam conversando mas a tensão ainda era palpável.
sentou do lado do irmão, perto do Capitão Walker, o moreno que lhe arrancava arrepios estranhos, ela se encolheu como pôde para ficar mais distante o possível, e ele notou.
- Quero dizer que como responsável por no campo de batalha, vocês têm um filho extremamente habilidoso e dedicado. - O Major falou para os pais que sorriram envergonhados.
- Temos muito do que nos orgulhar. - O pai de Joe deu batidinhas em seu ombro.
- Muito e queremos que pensem nisso quando voltarmos para a base na semana que vem.
- Semana que vem? - perguntou rápido demais e se arrependeu quando o Capitão a olhou e disse:
- só veio se despedir, iremos para a fronteira do país para mantê-la segura.
não era burra, com a ida do irmão e dele ao exército, ela se empenhou em se manter antenada sobre o que estava acontecendo.
O país vizinho queria tomar posse além da fronteira, uma vez que diziam que lhe pertencia por direito vários territórios, o exército havia se preparado meses e meses para poder lutar contra o inimigo que queria tomar as terras. Aparentemente a política não tinha conseguido um acordo pacífico com o país vizinho e agora o exército teria que intervir.
O silêncio se instalou na sala, ninguém queria dizer nada pois sabiam que aquele poderia ser o último momento entre família e as palavras pesariam na batalha.
O Capitão e o Major então anunciaram que estavam de saída, precisavam cuidar dos detalhes da volta e todos necessitavam de um momento para pensar.
notou que o Capitão se aproximou dela e com receio o encarou, ele sorria suavemente.
- Senhorita, sei que não é um momento oportuno, mas gostaria de sair comigo amanhã à noite?
Ela não conseguiu esconder o choque, era apenas uma garota comum que havia abandonado a carreira de cozinheira para ficar com os pais por causa da guerra, não achava que despertaria interesse em pessoas de cargos extremamente importantes. Em contrapartida, não sabia se estava pronta para seguir em frente ainda. Não tivera um relacionamento sério com ele, mas o que sentia era tão forte que era difícil entender. Porém, sua mãe sempre dizia que ela precisava deixar o passado para trás, recomeçar, e sendo sincera consigo mesma, ela não queria abandonar aqueles sentimentos, pelo menos não agora. Mas até quando se limitaria em tentar ser feliz com alguém que jamais poderia ter?
Foi por isso que se limitou a assentir com a cabeça e sorrir de leve. Não faria mal sair para se distrair, certo?
O Capitão e o Major foram embora e levaram a tensão que estava no ar, a família pôde respirar novamente. Joe e o pai foram para os quartos, estavam animados em ter a companhia um do outro, Joe sentia falta do pai e aproveitaria o pouco tempo que lhe restava.
Já a mãe de a abraçou, tentando confortar a filha de alguma forma, mesmo sabendo que era difícil.
- Você tem certeza do que está fazendo? - perguntou.
- Eu espero que sim, mãe, eu espero que sim.

estava nervosa, era a primeira vez que saía com um militar de posto alto, não sabia o que fazer e muito menos conseguia prever o que aconteceria. Também pudera, seus únicos encontros foram com ele, um civil até então comum. Balançou a cabeça tentando em vão afastar as lembranças de todas aquelas noites, precisava focar em retomar a sua vida.
O Capitão chegou na porta de casa com um carro preto e ela sabia que era caro, mas não se importava com isso, não queria saber o quanto ele ganhava ou muito menos as coisas que daria pra ela. Ele saiu do carro, e como um cavalheiro, ajudou a entrar no mesmo, ela ajeitou sua roupa enquanto ele voltava ao volante aparentemente feliz.
- Estava pensando, tudo bem cinema para você? - mesmo mantendo a voz suave, ela ainda saía de uma forma autoritária.
- Está ótimo. - A garota respondeu, se sentindo pequena naquele carro grande.
Ela também não sabia como agir perto dele. Ora, era um Capitão, como era possível se sentir tranquila com ele?
O caminho até o cinema foi longo e ele falava mais do que ela, que tentava não parecer tão assustada.
Descobriu coisas mínimas sobre ele, como por exemplo seu nome era Jason Walker e ele não queria que ela falasse com ele formalmente, isso provavelmente quebrou um pouco o gelo. Ele era quatro anos mais velho que ela e entrou no exército quando completou 18, isso explicava o porquê de ter um cargo tão alto. Ele não era um Capitão atoa mas pela idade, no posto que estava, era de alguma forma especial.
Compraram ingressos para um filme de comédia e ele insistiu em pagar pelos dois, agradeceu, mas o fez concordar que ela compraria a comida.
Os trailers não haviam começado ainda e a sala estava parcialmente vazia, sentiu as mãos suarem, sabia o que rapazes gostavam de fazer antes dos trailers e não sabia se estava nervosa porque queria também ou porque não saberia como reagir caso ele o fizesse. Por Deus, era só um beijo e ela já estava tremendo mais do que tudo.
- Sabe, faz anos que eu não venho ao cinema. É estranho. - Ele comentou assim que sentaram nas poltronas certas.
- Não deve ser tão fácil ficar longe disso tudo. - Por incrível que pareça, a voz dela saiu normal e quase agradeceu aos céus por isso. Estava se esforçando para não demonstrar o nervosismo.
- Às vezes sinto falta da vida normal, é bom estar aqui. - Ele a encarou e sorriu, seus olhos voltaram para os lábios dela dando claro sinal do que queria.
engoliu seco e lembranças começaram a aparecer em sua cabeça, naquele mesmo cinema a algum tempo ela estava abraçada com outra pessoa e se sentindo a pessoa mais protegida do mundo com ele. Virou a cabeça para frente e encarou a tela branca, queria esquecer aquilo tudo, mas não usaria Jason para isso, não era certo e ela não era esse tipo de pessoa.
Os dois ficaram em silêncio e os trailers começaram, logo em seguida o filme no qual sequer prestou atenção. Ela estava ocupada demais tentando controlar suas emoções. Tristeza, raiva, abandono, angústia.
Havia parado de pensar nele todos os dias, estava começando a achar que o esqueceria de uma vez, mas estava errada. Quanto mais tentava esquecer, sua cabeça parecia insistir em relembrar seus momentos juntos. Mas não era justo, ela nunca o teria e sofrer por ele era demais, ele estava longe e ela com a oportunidade de ser feliz, então por que simplesmente não conseguia? Por que tudo o que fazia acabava lembrando dele?
Foram duas horas de puro silêncio que passaram num piscar de olhos, os dois saíram da sala sem dizer uma palavra. Chegaram na praça de alimentação e fizeram os pedidos da comida, ainda sem olhar no rosto dele, se sentou primeiro e encarou a comida.
- Eu... sinto muito se te pressionei a fazer o que não queria. - Ele falou baixo, raramente pedia desculpas, aprendeu que fazer isso demonstrava fraqueza.
- Não é você, sou eu. - Ela suspirou e o encarou. - Sempre sou honesta e preciso te dizer que eu... não estou pronta para algo mais sério agora.
- Você está apaixonada por outro.
- Eu… - ela não conseguia negar, era óbvio que estava, ninguém pensava numa pessoa todos os dias se não sentisse alguma coisa. - Meu coração precisa de um tempo para poder esquecê-lo, tudo o que eu preciso é de um amigo.
- Eu vou esperar o tempo que for necessário. - Ele segurou na mão dela que estava em cima da mesa e sorriu.
Talvez demorasse meses ou anos, mas até mesmo o coração partido cicatrizava, com o tempo, mas sempre acontecia.

Make me believe again

Um ano havia se passado desde então, a situação no país estava crítica mas apenas o exército sabia disso, não havia redenção em nenhum dos lados e a guerra permanecia sem chances de acabar tão cedo.
Tudo o que a população sabia era que as negociações políticas ainda continuavam, para as informações chegavam mais rápido, Capitão Walker havia subido de cargo já que o Major fora afastado misteriosamente, era o que ele tinha escrito na carta, mas a verdade era que o Major tinha sido atingido em batalha e estava gravemente ferido. Walker o substituiu, agora cada vez mais raivoso e sedento pelo sangue inimigo.
tinha decidido dar uma chance a Walker, sabia que não esperaria por ele o resto da vida e a guerra havia ensinado que talvez não tivesse tanto tempo para procurar a felicidade como havia pensado.
Caminhava no centro da cidade, queria comprar uma roupa bonita quando o irmão voltasse e algum presente para ele, Joe estava bem e suas cartas chegavam mais rápido do que antes para a felicidade da família. Parou para atravessar a rua e do outro lado da avenida vazia pareceu reconhecer o rosto do rapaz que estava parado, ele a encarou também e achou que estava tendo alucinações. Não, não podia ser. Ele era do exército e uma guerra estava acontecendo, não poderia estar ali a metros de distância.
Antes que pudesse pensar mais alguma coisa, gritos ecoaram pelas ruas e os carros pararam, tentou procurar o que estava acontecendo e quando achou, desejou não ter feito. Pessoas corriam desesperadas pela rua, conseguiu ver depois do que elas corriam e sentiu o sangue gelar, vários caras mascarados atiravam para cima e as pessoas entravam em qualquer lugar para se esconder, os comerciantes tentavam fechar seus estabelecimentos rapidamente antes que os mascarados entrassem. Os carros agora tentavam manobrar de alguma forma para sair dali.
estava parada na calçada enquanto o caos acontecia e sentiu alguma coisa puxar seu braço para que ela corresse também. Ela só entendeu o que estava acontecendo quando se viu dentro de uma recepção de um prédio, que agora estava sendo trancado.
Ainda sentindo o aperto em seu braço, encarou a mão forte que a segurava e foi subindo pelo braço, ombro e finalmente o rosto. Achou que talvez seria melhor se ela tivesse ficado para fora, longe de seu então salvador, só assim ela não sentiria suas pernas bambas e seu coração bater mais rápido.
- … - sussurrou. Era impossível respirar normalmente, ele estava ali do lado dela depois de tanto tempo.
- Vamos, precisamos subir. - Seu aperto agora não passava de um toque suave que fez se arrepiar por completo e desejar que suas pernas a obedecessem. Ele sequer tinha olhado em seus olhos, e ela estava pronta para ter um colapso.
Respirou fundo várias vezes enquanto ele ia na frente para mostrar o caminho, sua cabeça girava e ela não entendia nada do que estava acontecendo, mas precisava. E urgentemente.

What a sad beautiful tragic love affair

- Bonito apartamento. - ela elogiou depois de ter entrado primeiro em silêncio, evitaria o máximo que poderia o contato visual.
- Foi o que deu pra alugar com o salário de soldado.
Sabia que ele a encarava, mas era covarde demais para retribuir, olhar nos olhos dele a faria fraca outra vez, todas as muralhas que construiu nos últimos meses seriam destruídas em segundos.
Ficaram em um longo e torturador silêncio, ambos tinham tantas coisas para falar, mas não sabiam como. encarava qualquer ponto no cômodo pequeno, mas aconchegante, e estava tentando pisar em sua vontade de olhar para ele. estava encostado na parede com os braços cruzados tentando pensar nas palavras certas para usar, mas nada vinha, tudo o que ele fazia era encarar o rosto dela.
-
- O que foi aquilo? - ela interrompeu sem sequer olhá-lo, achou melhor falar sobre o ataque de agora pouco do que sobre qualquer outra coisa. - Lá embaixo, o que aconteceu?
- Rebeldes, devem ter invadido pela parte Sul.
- O exército sabe disso?
- Vou avisar.
estava tão perdido que havia se esquecido dos protocolos, como enviar os relatórios, principalmente caso tivesse acontecido algo.
encarava as costas dele, que estavam mais larga e mais forte graças ao treinamento militar. Ela achava que seria impossível gostar ainda mais dele mas agora ela observava cada detalhe que havia perdido. Ele estava mais lindo do que antes.
Ela não reparou quando ele se virou e percebeu que ela o encarava, seus olhos se encontraram por milésimos de segundos, mas foram o suficiente para os dois sentirem coisas muito mais fortes do que sentiram no passado. Seria impossível ficar ali do lado dele sem que cometesse uma loucura.
- O exército ficou sabendo agora e acabou de passar uma mensagem dizendo para ninguém sair de casa. - o encarou, mas dessa vez ignorou as borboletas no estômago para demonstrar sua feição de choque.
- Eu preciso voltar para casa. - Ela não podia ficar ali, não mesmo.
- , são ordens militares. Lá fora está um caos.
- Mas e o… - “caos que está acontecendo dentro de mim graças a você?” ela queria ter falado isso, mas apenas suspirou. - Por quanto tempo?
- Não tem previsão, provavelmente até o exército chegar e prender todos eles.
- Isso pode demorar semanas se eles não se renderem! - apenas deu de ombros, não estava sendo fácil para ele também. Tê-la ali em seu apartamento por dias seria uma tortura, especialmente da forma como ela o fazia sentir. Maldita hora em que ele foi tirá-la da calçada e trazê-la ao hall de seu prédio, mas não podia deixá-la em meio ao caos, com risco de virar refém dos rebeldes. Isso sim seria uma tortura para ele, vê-la ser levada por rebeldes violentos.
- Preciso avisar meus pais, eles devem estar preocupados. - Ela falou depois de muito tempo, estava ali de qualquer forma e isso não mudaria mesmo.
- Fique a vontade, eu vou… - apontou para a porta de seu quarto e saiu rapidamente dali, dando privacidade a ela e correndo para colocar seus pensamentos em ordem.
A situação era complicada tanto dentro quanto fora do apartamento, embora os rebeldes quisessem apenas mostrar seu poder, o que acontecia no apartamento era muito mais sério. Os dois não queriam demonstrar nada, por orgulho e medo, entretanto ficar trancados no mesmo lugar por sabe lá quanto tempo não ajudava nada.
era um bom soldado e havia aprendido a lidar com o inimigo da melhor forma, mas não era inimigo e definitivamente o exército não o ensinou a lidar com a raiva e tristeza da parte dela. Estava sendo mais difícil do que tinha imaginado, tinha pensado que se passasse tempo o suficiente longe ela o esqueceria e viveria feliz com alguém que ela pudesse confiar, mas nem sempre as coisas acontecem como imaginamos.
havia avisado os pais, por sorte sua mãe atendeu o telefone e pôde desabafar um pouco, pediu para a mesma inventar uma boa desculpa ao pai e ao irmão, sem mencionar com quem ela estava. Tudo o que ela não precisava nesse momento era a fúria de sua família por um simples acaso.
Acaso esse que estava brincando com seu coração. não entendia, tinha feito de tudo para esquecê-lo e finalmente viver sua vida, às vezes pensava nele mas a raiva a consumia por ter sido abandonada sem ao menos um adeus. E então quando estava pronta para abrir seu coração novamente, ele aparece do nada e todos os seus planos vão para os ares. Mesmo depois de tanto tempo, ele mexia com ela ainda mais.
E agora, como os dois agiriam depois de tanto tempo sem se falar? As coisas voltariam a ser da mesma forma? O que tinha mudado?
Eram inúmeras perguntas e nenhuma delas tinha uma resposta.

- Tem muita comida nos armários, pegue o que quiser e quando quiser. - estava sentado no sofá e na poltrona, estava cautelosa.
Os dois estavam planejando como seria os dias em que ficassem dentro do apartamento dele, ninguém tinha condição de sair de casa com os rebeldes tomando posse da rua.
- Sei que você não come direito desde que se alistou, então não me importo de cozinhar enquanto estiver aqui. - Ela brincava com o zíper da jaqueta, ignorando o olhar intenso dele. percebeu o sorriso leve que ele deu.
- Tudo bem. Isso me lembra que você pode dormir no meu quarto, é mais confortável e eu acho…
- Não. - Interrompeu, dessa vez levantando o olhar. - É o seu quarto, não vou tirar você de lá. Eu durmo na sala. - Decretou e ele não pôde argumentar, apenas assentiu com a cabeça e abaixou o olhar. Olha-la nos olhos estava sendo mesmo uma tortura.
- Se você insiste… - ele notou o quanto ela estava mudada. Mais direta e decisiva, talvez o tempo tivesse obrigado a ser mais dura e não sabia se isso era bom.
- Hã, … - fechou os olhos ao escutar sua voz agora baixa falar seu nome. Não sabia o quanto tinha sentido falta da voz dela até escutar. - Nós temos um problema, se passar muito tempo, o que eu vou vestir?
Ele abriu os olhos no mesmo segundo e a encarou, não tinha pensado nisso e era um baita problema. Se sair para comprar comida estava fora de questão, imagina ir ao shopping e comprar roupas.
- Vamos torcer para que isso acabe rápido ou então você vai ter que usar minhas roupas… - ele notou a expressão sem graça dela. usava às vezes alguns moletons do irmão quando sentia saudade, mas usar as roupas de … sequer conseguia imaginar. - Ou talvez eu possa pedir algumas emprestadas para minha vizinha. - Sugeriu e ela sorriu, era uma opção bem melhor.
- Bom, se você não se importar, eu posso começar a fazer o jantar?
não disse nada, apenas concordou com a cabeça e correu para a cozinha, onde ela esperava ter um pouco de paz para colocar a cabeça no lugar.
Funcionou perfeitamente enquanto ela estava focada no que cozinhar e nos processos que deveria fazer. Era impressionante o tanto de coisa havia comprado, não conseguia imaginá-lo cozinhando, mas sabia que seria uma boa cena.
Mas tudo mudou quando Behind Blue Eyes começou a tocar em seu celular, gostava de cozinhar ouvindo música e tinha colocado baixo já que não estava em sua casa, mas aquela música havia arruinado tudo. Ela sempre lembrava dele quando escutava, eram muitas lembranças, por uns meses passava direto por ela para não ter que lembrar dele e graças a ironia do destino, ela estava na casa dele escutando a música que o lembrava enquanto ele estava no outro cômodo. Seria cômico se não fosse trágico.
A comida estava pronta e com raiva, ela desligou o celular e o colocou na bancada com força, levando as mãos para o rosto. Maldita hora que ela foi sair de casa!
Levou um susto quando tirou as mãos do rosto e viu na sua frente, com as mãos no bolso e o olhar perdido.
- Eu adorava tocar essa música quando era mais jovem. - falou baixo ainda sem olhar para ela.
- Eu sei. - suspirou. - Eu sei bem disso.
E como sabia, adorava quando ele tocava e não fazia esforço para elogiá-lo, mas agora tudo parecia tão distante.
a encarou e notou que ela lembrava das mesmas coisas que ele, de todas as vezes que ela falava animada sobre como ele era bom tocando e como ele sorria sem graça, ruborizado com o elogio, mas ainda assim agradecido.
Sentiu uma dor no peito que já conhecia, sempre a sentia quando lembrava de algo e reparava que aquilo nunca mais aconteceria outra vez, que não passaria de uma mera lembrança.
- , eu…
- O jantar está pronto, você quer comer agora? - ela mudou de assunto mais uma vez, se virando para a comida para que ele não visse seus olhos marejados.
Respirou fundo antes de pegar os pratos e estender um para ela em silêncio, ambos foram para a sala quando encheram o prato, ligou a tv no noticiário e fixou sua atenção naquilo já que o exército e a invasão eram os temas principais.
assistia também e se perguntou o porquê estava de fora da guerra que acontecia, ele entrou no mesmo tempo que Joe, então por que só um havia ido?
Pensou em perguntar, já que estava curiosa demais, entretanto preferiu engolir a comida junto com sua pergunta, talvez o silêncio fosse melhor naquele momento.
Assim que o noticiário acabou e depois de jantarem em silêncio, avisou que iria para seu quarto para que pudesse se acomodar melhor, levou uma coberta para ela, ele também deixou uma escova de dentes para ela no banheiro e ela agradeceu rapidamente antes de usá-la. Ela só respirou normalmente quando viu que estava sozinha na sala, se ajeitou no sofá e desligou a tv.
Tudo o que ela mais queria era poder dormir, mas sua cabeça não colaborava. Estava cansada fisicamente, mas sua mente trabalhava em pensar nos dias que viriam e no que poderia acontecer. Detestava quando sua cabeça pensava em coisas que não deveria, a ansiedade que ela sentia só piorava as paranoias que sua mente insistia em criar.
Demorou para pegar no sono e quando o fez, saiu de seu quarto em busca de água, ele não estava nem um pouco diferente de mas sabia que não iria conseguir dormir. Além de pensar nela e tê-la em sua casa, pensava na situação fora de seu apartamento, o exército o chamaria em breve caso os rebeldes continuassem a resistir. Seu medo era deixar outra vez, o destino havia insistido em aproximá-los por algum motivo, ele sabia que seja ele qual fosse ela não o perdoaria se fosse embora mais uma vez sem dizer adeus e não queria que fosse assim. Acreditava que tinha recebido uma segunda chance para deixar tudo claro e não desperdiçaria dessa vez.
Passou pela sala e viu que ela dormia encolhida no sofá com o cobertor jogado em seus pés, havia afastado enquanto sua cabeça insistia em criar cenas que não aconteceriam. se aproximou devagar e a cobriu direito, vendo ela sorrir de leve enquanto se remexia para melhor a posição.
Ficou um bom tempo encarando-a, queria poder paralisar o tempo e apreciá-la devidamente. Tinha sido um tolo e se culpava todos os dias por ter ido embora sem explicar seus motivos, ele sabia que ela o entenderia e não poderia lidar com isso. Ela era boa demais pra ele e definitivamente merecia alguém muito melhor, que não a abandonasse como ele fez.

A parte da manhã do dia seguinte foi silenciosa, a primeira coisa que os dois fizeram quando acordaram foi ligar no noticiário e ver qual era a situação. Nada tinha melhorado e sequer tinha resquícios de que iria.
recebeu uma mensagem do pai, ele estava preocupado e pedia para ela não sair da casa da amiga – essa era a história que a mãe dela havia contado – e também para contar que o irmão havia mandado uma carta, dizendo estar bem, mas era tudo muito vago. Todo mundo sabia que nada estava bem. O que a fez pensar no motivo de estar de férias do exército, ele tinha o mesmo tempo de carreira de seu irmão, mas ainda assim conseguiu algo que Joe estava almejando há muito tempo. Talvez ele fosse mais esforçado ou então havia conseguido um cargo maior.
Viu que ele carregava uma caixa e tentou não o encarar explicitamente, mas assim que ele sentou no chão na frente dela foi impossível.
- O que foi? - ela perguntou desconfiada o vendo sorrir. Aquela porcaria de sorriso que ainda mexia com ela!
- Joga comigo? - pediu e encarou a caixa. havia trazido o banco imobiliário, ela até tentou não rir, mas não conseguiu.
- Você quer jogar banco imobiliário enquanto uma guerra está acontecendo lá fora?
- Tem uma sugestão melhor? Não vamos sair desse apartamento tão cedo mesmo. - Deu de ombros. Ela pensou por alguns minutos, talvez precisasse se divertir um pouco para esquecer do que vinha acontecendo.
- Tudo bem, mas eu quero o pino…
- Amarelo. - Completou, fazendo-a sorrir. se acomodou no chão sem conseguir encará-lo.
- Não pensei que ainda lembrasse disso.
- Eu me lembro de tudo. - Ela sentiu as mãos tremerem e as pernas, mesmo relaxadas, ficarem bambas. Ainda bem que estava sentada ou então ele saberia que bastava uma simples frase para tirá-la do controle.
Ela também se lembrava de tudo, por isso não ficou surpresa quando viu ele escolher o pino azul, era sua cor favorita pois lembrava do céu aberto e limpo que lhe trazia paz.
- Mas eu tenho uma proposta, se cair no sorte a pessoa conta algo de si, se cair no revés a outra pessoa conta. - o encarou, ele tinha aceitado o desafio de bom grado e ela não sabia se tinha feito a coisa certa, mas ela tinha tantas perguntas, só que não sabia como fazê-las.
O jogo começou com tendo mais posses, caía na detenção ou no feriado e ficava algumas rodadas sem jogar, o que fez conseguir sair na frente dele. Os dois riam de vez em quando e por um momento ambos esqueceram qualquer outra coisa, era como se nada tivesse mudado e que meses não os separaram.
Mas tudo mudou quando caiu no sorte ou revés, pegou a carta e reclamou por ter pego sorte. A sorte do jogo não era boa para ele no momento.
- Eu senti a sua falta durante esse tempo todo, mais do que eu devia. - Confessou e prendeu a respiração. Não pensou que ele fosse falar esse tipo de coisa. Já , ele não sabia por que tinha falado aquilo, mas saiu antes que notasse.
coçou a nuca e voltou a jogar sem falar nada, o que ela poderia dizer afinal? Confessar que também sentiu falta dele?
Mas aparentemente aquilo só tinha começado, já que ela também caiu no sorte ou revés e pegou a sorte.
- Eu… ainda guardo as nossas fotos. - Sua voz saiu baixa, mas sabia que ele tinha escutado perfeitamente.
- Eu também, uma no bolso do meu uniforme. - admitiu.
não conseguiu evitar de encará-lo, seus olhos não tinham traços de que aquilo era uma mentira e por que ele o faria? Ele estava admitindo justamente o que não devia, que ele a levava junto para todas as batalhas e treinos porque morria de saudade. Mas ele já tinha escondido tanta coisa, era justo esconder mais ainda quando tivera uma segunda chance?
- É… a gente já jogou bastante né? Eu já ia falir mesmo. - Ela se levantou do chão rapidamente e pretendia ir para o banheiro se esconder pro resto da vida, se ele não tivesse segurado seu punho.
- , um dia nós teremos que falar sobre isso.
- Não aconteceu nada então não temos que falar sobre o que não aconteceu.
- Você acha que é fácil pra mim? Acha que foi fácil? - questionou.
- Aparentemente foi, você foi embora sem sequer dizer adeus. - Soltou o braço do aperto dele, mas seus pés não se moveram. Ficaram de frente um para o outro, olhando nos olhos como deveriam ter feito a muito tempo.
- Foi a decisão mais difícil que eu tive que tomar, eu simplesmente não podia escolher.
- Eu sei, você não podia deixar a sua família e não queria me deixar também. Mas tomou sua decisão e me deixou. Eu só esperava que você ao menos me explicasse. - estava se controlando para não chorar, ela já tinha feito muito isso.
- E se te magoasse? Eu nunca quis isso!
- Você me magoou! - o tom de voz dela subiu sem nem ao menos notar. - Eu sei do seu compromisso com a sua família e que eles me acham abaixo do que você merece, eu já escutei tudo isso e não foi da sua boca. Eu só queria que você dissesse isso na minha cara!
- Como você acha que eu me senti quando você descobriu? Eu queria ter te contado, e como eu queria, mas eu não podia. - Ele respirou fundo.
A família de havia planejado a vida dele inteira, ele se casaria com a filha de um dos amigos da família que tinha posses e tornaria o futuro deles seguro, ele se prepararia para trabalhar na empresa de seu futuro sogro e um dia viraria o presidente da multinacional mais famosa e poderosa do país, e jamais se alistaria numa guerra pois a família abominava esse tipo de coisa. Tanto a dele quanto a do futuro sogro.
Mas tudo mudou quando conheceu , melhor amiga da namorada do melhor amigo dele, os dois se conheceram por acaso na festa de aniversário de Lynn e no momento em que colocou os olhos nela, soube que ele não seguiria as regras da família. Os dois se aproximaram, meses conversando, mas sem se verem pessoalmente, quando finalmente tomou a coragem de chamá-la para sair e ela aceitou, nunca negaria que estava de olho nele antes mesmo de serem apresentados.
O que era para ser uma simples amizade acabou virando um caso de romance ainda sem final feliz.
era diferente, romântica e iludida em achar o príncipe encantado, achou que talvez pudesse ser, e quando se deu conta, já havia mergulhado de cabeça na relação sem definição dos dois. Eles se encontravam às escondidas, tudo o que a melhor amiga havia contado era que a família dele era rígida demais e talvez não gostasse de saber que eles estavam saindo juntos. Mas mesmo assim se aproximou. Se todo mundo estava encontrando a felicidade, por que a dela não chegaria agora?
Foi um erro ter pensado assim e se envolver de tal maneira, porém era tarde demais porque ambos estavam apaixonados. , um dia, tentou questionar os pais dizendo que queria fazer seu próprio futuro e comentou sem querer que havia conhecido uma garota, não foi a decisão mais sábia. O pai de ficou furioso e o obrigou a terminar tudo com ela, o filho se casaria com alguém que ele escolheu e ponto final. A briga foi feia e passou uns dias na casa do melhor amigo, confessando seus sentimentos mas também comentando sobre a briga. Isso acabou chegando nos ouvidos de da pior forma possível e ela se quebrou por dentro.
não sabia o que fazer então voltou para casa com sua ficha do exército, a guerra havia sido declarada no mesmo tempo em que eles se afastaram. Ele já tinha quebrado uma das regras do pai, então por que voltar e fazer o que não queria?
Obviamente ele foi expulso de casa e no dia seguinte estava no aeroporto partindo para, quem sabe, um futuro melhor. Entretanto, ver no aeroporto naquele mesmo dia o destruiu de uma forma que ele sequer imaginou. Ele queria tanto correr até ela e dizer que ficaria com ela, que sua intenção jamais tinha sido magoá-la e que enfrentaria qualquer um se soubesse que ela estaria ali no final. Mas foi covarde e o tempo não o ajudou, então partiu.
Talvez aquela não fosse a hora certa. Algumas histórias não ganham um ponto final para justamente terminarem de ser escritas.
- Eu só queria que você fosse honesto, era pedir demais? Mas quer saber, você procurou por espaço e eu respeitei, você tem o suficiente para se casar com quem seja lá que os seus pais querem. Eu não vou ficar mais no seu caminho. - A garganta de doeu ao falar aquilo, era como se cacos de vidro estivessem rasgando sua garganta.
- Que droga, , será que você não pode me deixar falar por mais de 2 minutos?
- Eu não quero escutar o seu papo, eu não vou ser idiota outra vez a ponto de entregar o meu coração para alguém que claramente não sente o mesmo.
não esperava que a segurasse pelos braços, fazendo-a encarar bem fundo seus olhos para que não tivesse erros. Ele foi burro em esconder, mas agora chega.
- Eu amo você. - Isso fez com que ela se calasse. - E sempre amei, eu me apaixonei na maldita hora que coloquei meus olhos em você. Eu reneguei tudo por você. Tudo. E eu faria quantas vezes fosse necessário. - Embora firme, o aperto dele era suave, irradiando uma eletricidade pelo corpo dela totalmente fora do normal. A cabeça de girava, ela não sabia o que falar e muito menos o que pensar. Tantas vezes ela havia desconfiado que tinha sido apenas mais uma, só uma diversão, e ali estava , confessando que a amava depois de tanto tempo. Tinha sonhado com aquele momento, muito diferente de como estava acontecendo, e agora que ele finalmente tinha falado não sabia o que fazer.
esperava a reação, queria que ela falasse alguma coisa, nem que fosse para gritar ‘É tarde demais pra isso agora’ ou qualquer outra coisa. Ele tinha que ter feito isso há muito tempo, antes de partir, tentou evitar quebrar o coração dela ao máximo, mas acabou fazendo da pior forma e agora tudo o que mais queria era discutir com ela sobre aquilo, porque sabia que talvez seria a última vez.
tentou falar alguma coisa, mas apenas gaguejou e fracassou, afastou seu corpo do dele, a proximidade não estava ajudando a sua cabeça voltar a raciocinar. Antes que pudesse fazer alguma coisa, sentiu seus pés a levarem para qualquer outro lugar longe o suficiente dele para poder respirar direito. Acabou indo parar no banheiro e não pensou duas vezes em trancar a porta, precisava de um tempo sozinha.
Ela ficou uns bons minutos encarando a parede sem ter coragem para pensar no que acontecera, mas sua cabeça a trouxe de volta para a realidade mais rápido do que imaginou.
Ele tinha confessado, ele finalmente tinha confessado que a amava!
Mas tinha sido tarde demais? Ele tinha passado dois anos longe, sem dar uma notícia sequer, e consigo havia levado a confiança que ela havia pensado que tinha adquirido. Em seu lugar deixou a agonia, a preocupação e, principalmente, a saudade.
Entretanto, ele estava ali. sentiu o calor de sua mão enquanto a tocava e foi como se toda aquela dor que sentiu antes tivesse sumido, ela sequer importava agora.
Havia um motivo para o destino ter colocado os dois ali mesmo depois de tudo. E os dois tentariam descobrir por quê.

For you I'd risk it all

A situação não estava nada boa, tanto dentro quanto fora do apartamento.
Os rebeldes avançavam cada vez mais, e estava preocupado de que eles fizessem algo contra os civis ou então mais recrutas do grupo chegassem. A polícia militar havia feito uma barreira e a rua estava dividida entre os dois, mas a mesma não estava tendo sucesso. Seus negociadores não conseguiram fazer seu trabalho e o prazo do governo para mandar o exército estava quase acabando.
sabia que voltaria a qualquer hora assim que seu batalhão interviesse nisso, por isso tentou estudar ao máximo o perfil dos rebeldes com os arquivos que lhe foram mandados e sua observação da janela de seu apartamento. Ele também repassava estratégias para o exército já que estava numa posição vantajosa.
Mas assim que ele pausava por cinco minutos, sua cabeça voltava a . Pelo menos ela tinha saído do banheiro e ido para a sala, já era um progresso. Também pudera, ele praticamente tinha implorado para que ela voltasse a sala e ficasse confortável já que ele ficaria em seu quarto. Sua preocupação era quando dissesse que teria que sair para enfrentar a guerra lá fora, não podia imaginar a reação dela, mas sabia que se sentiria abandonada novamente.
estava sentada no sofá, não conseguia assistir mais as notícias, poderia ser egoísmo da sua parte, mas ela realmente não conseguia se concentrar nos problemas lá fora quando sua cabeça doía graças aos problemas de dentro. Ela pensou e pensou bastante, chegando na conclusão que preferia tê-lo ali sem se falarem do que perdê-lo outra vez, sabia que seu coração não toleraria outra partida repentina. Ela o amava, mas não podia esperar para sempre. Sim, ela o amava.
Demorou para enxergar, mas agora conseguia admitir para si mesma. Era assustador, porém era a realidade.
O tempo que passaram longe um do outro foi bom por um lado, seus sentimentos estavam amadurecidos e agora eram adultos, lidariam com as consequências de suas escolhas de uma forma ou de outra.
Chega de ficar chorando pelos cantos enquanto deseja sumir, não era mais uma adolescente e precisava agir com maturidade.
Foi por isso que decidiu pedir algumas roupas emprestadas para ele, precisava tomar banho e não tinha coragem de ir até a vizinha, e também era uma desculpa para falar com ele, ainda que fosse brevemente.
Bateu na porta e viu sentado em frente ao notebook, ele a olhou surpreso mas largou o que estava fazendo para prestar atenção.
- Você tinha dito que me emprestaria algumas roupas. - Ela falou sem olhar nos olhos dele, pois estava com vergonha.
- Ah, sim, claro. - Ele levantou da cadeira e foi até a cômoda, demorou um tempo até achar uma roupa que coubesse em . tinha ficado mais forte graças ao exército, então não tinha roupas proporcionais ao corpo dela. Pegou uma calça de moletom cinza e uma blusa de mangas compridas, o tempo tinha esfriado drasticamente.
Entregou as roupas a ela, que ainda olhava para baixo.
- Acho que essas vão servir. - Tentou quebrar o gelo.
- Obrigada. Onde eu acho as toalhas?
- No armário do banheiro, sabe onde fica, né?
- Sim, obrigada, . - Agradeceu e saiu da vista dele o mais rápido possível.
Ele nem se incomodou de fechar a porta novamente antes de se jogar na cama e encarar o teto. Pelo menos ela havia ido falar com ele, já era um avanço.
Durante esses anos, não gostava de imaginar como seria quando a encontrasse, porque isso o distraía e um soldado distraído significava que erros eram cometidos. Porém, de todas as vezes que imaginou o reencontro sempre pensava que ela gritaria com ele e seria grossa, tinha até imaginado ela noiva de alguém. Essa possibilidade machucava seu coração mas poderia ter acontecido, ele foi embora e ela tinha o direito de seguir com sua vida. Queria que ela tivesse feito isso, quem sabe as coisas seriam mais fáceis.
Mas nunca era, não quando se tratava dos dois.
O tempo que ficou pensando foi o tempo de tomar um bom banho e, mesmo debaixo do chuveiro, seu corpo tremia só de pensar no que falaria para ele.
Era difícil não pensar nele, estava na casa dele, vestindo as roupas dele e prestes a conversar com ele.
Mas tentou focar em secar seu cabelo com a toalha enquanto respirava fundo um milhão de vezes antes de tomar coragem e sair do banheiro.
Ela caminhou de volta para o quarto e o encarou, ele ainda estava deitado com as mãos apoiadas atrás do pescoço e ela sorriu. Poderia ficar olhando para ele o tempo todo, na verdade, olhar era o bastante. Para quem não o via há anos, poder vê-lo bem e no mesmo cômodo que ela, já valia a pena.
- Huh, … - o chamou, estava ficando distraída enquanto o encarava, como sempre.
- Sim? - Ele se sentou na cama rapidamente.
- Onde eu coloco? - levantou a toalha molhada.
- Ah sim, me dá aqui que eu coloco no varal. - Foi até ela e pegou a toalha de sua mão, o contato entre as duas mãos foi rápido, mas o suficiente para eles se entreolharem. - Também precisamos lavar sua roupa. - O tom dele agora era baixo e se perdeu por um breve segundo. Ok, aquilo era muito injusto, a voz dele tinha um poder sobre ela e apostava que ele estava fazendo de propósito.
não disse nada, apenas concordou com a cabeça e olhou para os próprios pés. suspirou e foi para a varanda, sentindo que ela o seguia.
Ele apontou para a máquina de lavar e ela tratou de colocar suas roupas para lavar enquanto ele estendia a toalha. a encarou assim que terminou, sua roupa tinha ficado gigantesca nela, a barra da calça praticamente cobria o pé dela e as mangas da blusa atrapalhavam já que eram grandes demais. Subiu o olhar para observar seu rosto, o cabelo estava molhado e embaraçado de um jeito que chegava a deixá-la fofa, ver o rosto natural da garota sem um resquício de maquiagem o fez sorrir. O que daria para acordar todas as manhãs com aquela cena…
sentia que ele a encarava, estava de costas para ele e já sentia as mãos ficarem geladas e as famosas borboletas no estômago. Por Deus, ela sequer estava olhando para ele!
Virou sem um pingo de coragem e sentiu as pernas bambas quando seus olhos se encontraram.
- O que foi? - perguntou incerta, ele estava sorrindo de lado e seu rosto transbordava calma.
- Nada. - Ele se aproximou e seus corpos estavam próximos demais, como há muito tempo não estavam, sua mão alcançou uma mecha de cabelo dela que insistia em ficar em seu rosto, ele a afastou e seus dedos coçaram para acariciar a bochecha dela.
Mas antes que o fizessem, escutaram um barulho vindo da rua. Foi alto o suficiente para pular e a atmosfera que os dois criaram fosse destruída.
- Posso te pedir uma coisa? - ele perguntou, contendo a vontade de abraçá-la.
- Pode. - Ela voltou sua atenção a .
- Essa noite, vamos esquecer o que está acontecendo lá fora e o que já aconteceu. Vamos apenas viver o que é nosso, só por uma noite.
sorriu ao escutar a palavra nosso.
- Essa foi a oferta mais generosa que você já propôs.

e decidiram passar a noite como dois adolescentes, assistindo filme de super-heróis e comendo besteiras. tinha dito que seu armário estava cheio e ele não estava brincando, achou os ingredientes certos para fazer pretzels com chocolate branco e ficou surpresa com a capacidade de ser um ótimo assistente, embora estivesse um pouco desapontada por eles não terem feito guerra de farinha como nos filmes românticos.
Os dois se sentaram no chão da sala para poder colocar as guloseimas na mesinha de centro, procurava algum filme na tv enquanto cortava o pretzel em pedaços pequenos.
- Você se lembra que comemos isso no nosso primeiro encontro? - ele perguntou e ela sentiu o olhar dele sobre si. sorriu sem graça.
- Eu juro que não fiz de propósito.
Os dois riram juntos e assim que cessou, a atmosfera não ficou estranha como de costume. deu play no filme, Mulher-Maravilha, tudo o que aconteceu em anos estava acontecendo novamente naquela noite, mas ambos estavam mais maduros do que naquela noite. Talvez o destino realmente quisesse que fosse daquele jeito, talvez precisassem que fosse assim.
O filme havia passado e chegado na cena em que Diana e Steve dançavam na rua, colocou o último pedaço do pretzel na boca antes de falar:
- Eu odeio quando eles fazem isso.
- Fazem o quê?
- Fazem o casal principal demorarem para ficar juntos. Eles se amam, poxa. Se beijem logo. - falou alto para a tv e escutou a risada de .
Ela sorriu antes mesmo de encará-lo e quando o fez, notou que ele a olhava também.
Seu sorriso foi desaparecendo aos poucos quando reparou que ele a olhava sério demais agora, o olhar dele desceu até a boca dela e sentiu o coração acelerar.
- Espera aí, está sujo. - levou o dedão para limpar o cantinho da boca dela, típico, mas ela fora pega de surpresa quando ele levou o chocolate preso em seu dedo em sua própria boca. Ele podia ter apenas limpado na blusa ou até mesmo apontado para onde estava sujo mas não, ele preferiu tocá-la e levá-la a loucura. Foi suave e até mesmo bobo, porém significou muito para ambos.
Agora tudo se tornou insignificante, o que acontecia dentro e fora do apartamento, o que tinha acontecido e deixado de acontecer no passado. A única coisa que importava era aquele momento e nada mais.
Como se fossem ímãs, e se aproximaram sem sequer notar, só sabiam que precisavam tanto daquilo. colocou a mão na bochecha dela e acariciou suavemente, suas testas se encostaram e suspirou quando seu nariz tocou o dele. Estar próxima dele a deixava tonta, as mãos suavam como se fosse aquela garotinha de anos atrás.
Ela tentou falar alguma coisa, procurou por diversas desculpas em sua cabeça, mas sua mente a traiu, não queria pensar em mais nada a não ser nos lábios de que estavam perigosamente perto dos seus.
Ele não estava mais aguentando aquela tortura então começou a se aproximar para fazer o que tanto sonhou desde que entrou no exército, fechou os olhos antes de sentir o toque suave em seus lábios. Pareceu ter durado uma eternidade o simples toque, e quando eles finalmente decidiram começar um beijo de verdade, foi como o fogo, cresceu rapidamente. As mãos de foram para os ombros fortes de , que se cansou da distância e sua mão livre alcançou a cintura dela e a trouxe para mais perto de seu corpo.
O beijo agora era urgente, rápido e viciante, seus lábios precisavam matar a saudade que sentiram e definitivamente o ar já não importava para nenhum dos dois.
A mão de , que estava na cintura de , a apertou um pouco mais firme, não queria perder o contato e tinha medo que se a soltasse por um segundo a perderia novamente. Já agarrava na camiseta dele como se garantisse que aquilo faria com que ele ficasse e sentiu a nuca arrepiar quando a mão dele, que estava em sua bochecha, fez o caminho até sua nuca e a segurou ali.
Ela não havia tido esse tipo de contato com nenhum outro cara desde que havia ido embora, suas necessidades físicas pareciam estúpidas quando seu coração estava quebrado. Mas agora, ela o tinha em seus braços, finalmente, e beijá-lo nunca pareceu tão certo.
precisou se separar para que eles voltassem a respirar novamente, ambos buscaram fortemente o ar que necessitavam e abriram os olhos no mesmo segundo, só para poder se perder na imensidão da troca de olhares.
- Eu senti tanto a sua falta. - sussurrou enquanto voltava a acariciar a bochecha dela.
- Então por que foi embora? - o tom de não era acusador, mas foi impossível não perguntar.
- Porque eu sou um covarde. Eu tive medo. - Admitiu.
- De quê? , eu sou uma garota, não um bicho de sete cabeças. - Ela tentou brincar.
- Por ser justamente quem você é. Eu tive medo de não ser bom o suficiente para você. Você merece tanta coisa, .
- Meu coração achava você merecedor, não era o suficiente?
- É o que mais importa. - Ele respondeu e então beijou a testa dela. - Mas não quero perder a nossa noite discutindo sobre o que aconteceu. Eu só quero esquecer os problemas.
- Eu concordo. - Sorriu.
a puxou para um abraço apertado e enterrou seu nariz no pescoço dela, que se arrepiou automaticamente. As mãos de foram para o cabelo dele e brincou com os fios curtos. Ficaram assim por incontáveis minutos, até lembrarem do filme já esquecido.
- Bom, pelo menos pegamos o final. - falou e pegou o controle.
- Acho que vou colocar um filme que tenha muito beijo.
- Por quê? - ela ficou confusa.
- Porque assim podemos imitar a arte, como fizemos agora pouco. - ele roubou um selinho dela e piscou. sentiu as bochechas queimarem e sorriu boba.
Não era uma má ideia, na verdade, ela nem iria reclamar se passasse a noite inteira nos braços dele para matar a saudade.

acordou com um barulho insuportável do telefone tocando, seu corpo reclamou quando ela tentou se mover e quando abriu os olhos, tapou com as mãos assim que a claridade incomodou sua vista.
Assim que sua visão começou a se acostumar, sentiu a mão de acariciar suas costas, ela o encarou e notou que dormiram abraçados no chão.
- Meu Deus, que horas são? - sua voz saiu rouca e sorriu.
- Oito da manhã, eu ia te levar pra minha cama, mas você acordou. Bom dia. - beijou seu nariz e depois desceu para sua boca, porém se afastou rapidamente.
- Não, eu devo estar com bafo. - Reclamou.
- Você quer mesmo reclamar de bafo comigo? O cara que ficou dois anos no exército?
- Ah, mas é diferente, , vocês não eram tão porcos... Né?
- Ficaria surpresa se visse o que acontece lá. - Ele deu vários selinhos nela, que não fez nada a não ser sorrir.
Isso até o telefone tocar novamente.
- Ugh, que saco. - Ao invés de levantar e atender, jogou seu corpo em cima do de .
- Não vai atender? - perguntou enquanto fazia carinho na parte de trás da orelha dele.
- A pessoa deixa recado.
E foi o que aconteceu, depois de insistir mais duas vezes a secretária eletrônica tocou o novo recado que fez o casal sentir um frio na espinha.

“Soldado, aqui é o Major Walker. Estamos a caminho, apresente-se.”

respirou fundo e fechou os olhos, sabia que uma hora voltaria a ser um militar, ainda mais com aquela situação dos rebeldes. O prazo tinha acabado e o governo resolveu mandar o exército para fazer a faxina. Era o que ele mais temia, ter que voltar e deixar .
Ela agora se encontrava em estado de choque. Jason não só era Major do seu irmão, mas também de e deixou claro que estava indo para lá, provavelmente para lidar com os rebeldes, mas antes teria que se apresentar. O mundo não podia ser tão pequeno assim, por que essas coincidências acontecem apenas com ela?
Um longo silêncio se arrastou pela sala, não sabia como ela iria reagir, mas teriam que falar sobre aquilo.
- … - ele sentou no chão e encarou a garota que sequer mexeu.
- Você conhece o Major Walker? - ela retribuiu o olhar, notou um certo medo e não entendeu o porquê.
- Sim, ele era meu Capitão. Eu salvei a vida do Major Walker em um confronto, ele me retribuiu com férias prolongadas e um cargo mais alto.
O queixo de caiu, o amor de sua vida era subordinado e havia salvado a vida daquele que claramente estava a fim dela.
- , eu preciso te contar uma coisa.

- Você saiu com ele? - foi a primeira coisa que disse depois de um longo silêncio. havia contado sobre sua aproximação com Jason, não iria conseguir esconder aquilo.
- Foi... mas eu achei que nunca mais te veria e… - ela suspirou. - eu realmente quis seguir em frente com alguém. , se eu soubesse que estaríamos aqui, nunca teria saído com ele. Você está bravo? - perguntou receosa.
- O quê? Não, é claro que não! - ele se aproximou e colocou a mão na bochecha dela. - Eu não posso ficar bravo quando deixei você quebrada daquela forma, eu só estou... surpreso.
- Como assim?
- Bom, o Major Walker não é o tipo de cara que eu imaginei que você sairia um dia. Militar, homem das cavernas, egocêntrico.
- Ele foi extremamente respeitoso comigo. - viu torcer o nariz e tentou segurar o riso. - Especialmente quando eu disse que estava apaixonada por outro.
parou por um momento, encarando nos olhos e percebendo que ela estava sendo sincera, a beijou mais uma vez.
A saudade das carícias entre eles nunca cessaria mas aquele beijo teve gosto de um último, fazendo com que agarrasse na camiseta dele como se impedisse que ele fosse embora, a abraçou tão forte que teve que interromper o beijo já que seus troncos estavam esmagados um no outro, tirando o pouco ar que restou.
Ele sentiu a garganta pedir para soltar um grito de desespero, um aperto no coração e engoliu seco. Era como se ele sentisse que fosse perdê-la mais uma vez e detestava aquela sensação.
- , se qualquer coisa acontecer comigo…
- Não, não fala isso. Nada vai acontecer. - Ela acariciou o rosto dele mas este continuava sério demais, chegava a assustá-la.
- Me escuta, por favor. - Ele pegou as mãos dela entre as suas. - Se acontecer, eu te peço para não aparecer.
- O quê? - afastou as mãos das dele. Não, ele não tinha pedido aquilo, ela entendeu errado.
- Se eu sair daqui derrotado, não vou para um hospital… - falava entre os dentes, em toda batalha pensava e se convencia que seria a última, era a forma de se manter vivo. - E a minha família não sabe que você passou esses dias aqui, talvez eles não estejam preparados para…
- Você tá me pedindo pra te deixar até mesmo se eu o perder pra sempre? - ela perguntou, mas não esperou a resposta dele, até porque ele tinha sido bem claro, e se afastou dele rapidamente. Já podia sentir as lágrimas se formarem.
- Eu não quero que eles te olhem da forma que eu sei que vão, , eu não vou embora desse mundo e deixar você sofrer nas mãos dos meus pais. - até tentou se aproximar dela, em sua cabeça só estava tentando protegê-la, mas ela levantou as mãos para sinalizar que ele parasse ali.
- Você já notou que o problema não são seus pais e sim suas decisões? Você assume que eles vão fazer alguma coisa sem nem ao menos ter tentado! - sentia a garganta doer e não sabia se era por causa do bolo ou porque estava falando alto demais. - Você quer que eu suma, ? Eu o farei, mas a partir do momento que essa guerra acabar, eu espero que tenha noção de que eu não vou voltar. Cansei de esperar por você. - uma lágrima teimosa e solitária caiu antes dela dar as costas e se fechar no quarto dele. Sabia que não tinha esse direito, não era a casa dela, mas naquele momento era a última coisa que se preocuparia.
Ele tinha sido claro como a água, ela sequer poderia visitá-lo caso ele... partisse. E doía tanto pensar naquela possibilidade e no fato dela sequer dar o último adeus porque ele tinha medo dos próprios pais.
Ela não notou as horas passarem, sua própria cabeça a traía dizendo que ela estava exagerando e a outra parte não achava justo ele fazer planos por ela caso ele partisse, como podia fazer aquilo depois da noite que tiveram?
Então nada havia mudado, mesmo que ambos sentissem aquilo?
Já estava chegando na hora do almoço quando respirou fundo três vezes antes de bater na porta do quarto e não recebeu resposta nenhuma porém ele entrou da mesma forma. Estava na hora, seus colegas fariam uma barreira para que ele saísse do prédio, já estava devidamente vestido e precisava ver pela última vez, mesmo que apenas ele falasse algo.
- Chegou a hora. - ele anunciou e viu ela virar o pescoço de leve, ainda sem encará-lo completamente.
sentiu o peito se esmagar lentamente, aquilo era uma tortura, ela estava se controlando para não pular nos braços dele e implorar para que ele não fosse.
- Eu pedi para o porteiro evacuar o prédio, por estar na linha de frente, todos os moradores precisam ir para o estacionamento caso os tanques cheguem. - a voz de era firme, mas seu tom de preocupação era notável, era função do exército garantir a segurança dos civis já que estavam no meio da guerra. - Caso escute um sinal, desça as escadas, evite o elevador.
concordou em silêncio e escutou ele suspirar, sabia que ela estava chateada demais, mas tudo o que ele fez foi pensando nela, ao menos um deles deveria ser feliz. Assim que ele se virou para ir embora, ela foi impulsiva.
- … - sua voz falhou e ele voltou para olhá-la. - Só... fique vivo.
Não ligava se eles iriam ou não ficar juntos no final, ela só queria que ele vivesse, não se sentiria bem se o perdesse pra sempre e sacrificaria sua felicidade em estar com ele do seu lado para vê-lo vivo e seguro com outra pessoa.
“Você o ama, deixe-o ir.”, pensou.
Ele bateu continência e tudo pareceu se seguir em câmera lenta, sentiu seus olhos encherem de lágrimas enquanto ele dava as costas e ia embora, ela não conseguiu se mexer para segui-lo até a porta.
pegou sua arma que deixou em cima da mesa e saiu do apartamento com um aperto no coração que precisou ignorar, assim que chegou no hall de entrada notou pelas portas de vidro que seus colegas já estavam lá fora e um deles entrou para lhe passar o que estava acontecendo.
Na mesma hora seu semblante mudou, agora ele assumia sua posição de 1° Tenente.
- Simpson. - o Cabo bateu continência, era um dos melhores amigos de .
- Senhor, a equipe Alfa está pronta para escoltá-lo, o Capitão está no ar.
A equipe Alfa era a melhor equipe do exército para lidar com situações de risco, manter a paz e proteger os civis, na maioria das vezes seus inimigos preferiam o mato e lugares distantes, não a cidade grande. Eles queriam algo e sabia disso. A equipe tinha os melhores atiradores, estrategistas e lutadores, fora designado a comandar a equipe por ter se destacado em ambas as três qualificações. Major Walker era seu superior, embora ultimamente estivesse mais em escritórios do que na ação de verdade, tendo que lidar com o próprio general e o ministro da defesa em reuniões estratégicas.
ainda era do exército mas seu trabalho era muito mais árduo, estar na equipe Alfa significava mais responsabilidade e cuidado, principalmente em não divulgar nada, para seus conhecidos eram apenas soldados.
- Qual a ordem?
- Querem que negociemos, senhor. - reparou no rosto de Simpson, ele não gostou daquela ideia.
- Não negociamos com bandidos, isso nos torna fracos. Estamos aqui para limpar a bagunça.
- Major Walker recebeu ordens específicas do Ministro da Defesa, ele não quer violência, senhor.
tentou não bufar, os rebeldes invadiram a fronteira usando a violência, deixando alguns soldados gravemente feridos, fora as atrocidades que fizeram na invasão até a cidade. Roubos, mortes, estupros… Isso não era o suficiente para meter a bala em todos eles?
- Eu quero saber como eles estão fazendo para não serem atingidos.
- Eles invadiram um prédio de uma farmácia abandonada, tomaram posse e estão prontos para atacar, senhor.
- Atiradores de elite?
- Prontos, esperando as suas ordens. Canal 3, senhor. - se referiu ao comunicador e o ajustou, arrumando melhor no ouvido depois.
- Vamos logo acabar com isso. - falou ao Cabo e olhou para o porteiro. - Não se esqueça, John, evacuar o prédio caso os tanques cheguem. - lembrou o homem e este assentiu rapidamente, se escondendo atrás do balcão. - Eu quero total proteção às pessoas que estão dentro de casa também, os tiros devem ser feitos com habilidade e destreza. - falou para que todos os outros da equipe escutassem.
- Com todo o respeito, senhor, somos a equipe mais preparada para isso. - escutou uma voz brincando e soube bem quem era.
- Não se sinta demais, Tej, se bem me lembro eu bati o seu recorde.
- O senhor sempre lembra disso.
riu, mas não respondeu, preparou o fuzil em sua mão e abriu a porta do prédio, sendo protegido por seus colegas, Simpson saía do seu lado.
Rapidamente, formando um escudo único para que seu superior pudesse passar, os soldados chegaram onde queriam, sempre com suas armas apontadas para os rebeldes, chegou no prédio tomado pelo exército que tinha valor estratégico naquele momento. Ele pegou um dos coletes que sobraram e o vestiu, jamais poderia ir para a guerra sem proteção.
- O Capitão e o Major estão no telefone, senhor. - Tej anunciou, ele era o 2° Tenente.
assentiu e ligou o aparelho no viva-voz.
- 1° Tenente, . - fez a apresentação.
- Temos informação de que os rebeldes estão com explosivos em mãos, 1° Tenente, por isso não ataquem. - escutou a voz do Major e revirou os olhos, se segurou para não bufar. Aquela ordem era ridícula.
- Senhor, eles vieram para a cidade em busca de algo. Suas ações esdrúxulas na fronteira significam alguma coisa, não podemos ceder. - manteve a voz firme, ele conhecia o caso melhor do que ninguém, tudo lhe indicava que se negociam, as coisas ficariam muito piores.
- Não escutou a ordem, ? Sem ataques, estamos esperando o presidente voltar da reunião para saber a questão política, só aí teremos uma ação. Enquanto isso, negocie. - O Capitão anunciou, sua voz saiu abafada por conta das hélices do helicóptero em que ele se encontrava, mas o entendeu perfeitamente, todavia não concordava.
Que se dane as questões políticas, eles invadiram a fronteira e queriam tomar conta do país, colocar o terror na população. Seu trabalho era justamente evitar que isso acontecesse.
- Sim, senhor. - respondeu contra a vontade e segurou firme em sua arma, a ligação de seus superiores fora desligada e ele respirou fundo antes de sair do local.
Sua equipe já esperava pronta para lidar com qualquer ordem que fosse dada, se aproximou e ficou no meio sentindo seus colegas tão tensos quanto ele.
- Não vamos atacar, por enquanto. Vamos negociar. Simpson, pegue meu fuzil, não posso parecer intimidador se for ter uma conversinha com esses idiotas. - Estendeu sua arma para o Cabo, que a pegou rapidamente.
- E os atiradores, senhor? - Rick, seu parceiro que até agora estava em silêncio, decidiu falar.
- Continuem em posição, eu quero cobertura total. Irei sozinho. - Anunciou enquanto se desfazia da formação, andando largamente até o prédio abandonado em que os rebeldes estavam.
Analisou o local minimamente, janelas estratégicas no segundo andar, sem sinais de explosivos do lado de fora e uma estrutura de uma porta bem no meio. Eles sabiam que o exército pararia para negociar, tinha certeza.
- Eu sei que podem me escutar e também me entendem. - Seu tom era alto e firme. - Vim em missão de paz.
Alguns minutos passaram e pôde ver dois caras saírem do prédio, um entregou sua arma para o companheiro e foi na frente. Líder. analisou bem seu rosto, barba mal feita para tentar esconder a grande cicatriz em sua bochecha que descia até o queixo, porte alto e forte, andava como se estivesse em seu território e de um jeito que conhecia bem. Era ex-policial militar.
- É isso o que você acredita que faz, Tenente. - Sorriu presunçoso mas não se abalou, ele escutava muito isso. Notou então que o líder tinha um sotaque quase perfeito, o que significava que ele estivera um tempo no país, isso seria útil para conhecer os lugares e criar estratégias para uma rebelião. - Mas ainda assim sua equipe está pronta para meter uma bala na minha testa.
- Você não parece estar em desvantagem. - Retrucou encarando o capanga que se encontrava mais atrás, com a arma apontada para . Fuzil russo, armamento pesado.
- Todos precisamos de uma cobertura, não acha?
- Senhor, Ethan conseguiu informações sobre ele. Vincent, era policial militar no seu país de origem, mas precisou se afastar por conta de um câncer, ele procurou tratamento aqui e morou por uns 5 anos. Tem uma filha e uma ex mulher. - Tej comentou.
- Chega de enrolação, Vincent. Acredito que tenha um motivo para fazer tudo isso, não é? - foi direto, ele não gostava de enrolar em negociações, geralmente elas nunca davam certo mesmo.
- Ora ora, Tenente, vejo que fez sua lição de casa. - Vincent sorriu irônico ao escutar lhe chamar pelo nome.
- O que você quer? Quem é seu mandante?
- Eu sou meu próprio mandante, Tenente, acha que eu iria me aliar a alguém quando posso fazer tudo sozinho? - perguntou e então sorrindo ao se lembrar de seu plano. - Eu quero a revogação do Tratado dos Vilarejos.
O Tratado havia sido um acordo entre os dois países depois de uma guerra que resultou a invasão de territórios e conquista dos mesmos, o tratado já tem mais de 30 anos e foi a única saída pacífica que os dois países encontraram para não derramar mais sangue de inocentes. Era tudo por questão de poder.
estava no exército, conhecia muito bem aquela história mesmo sendo pequeno na época, ele sabia que o presidente em exercício na época estava com uma rixa grande com o país vizinho e mandou tropas tomarem o território norte do país, alegando que estava tomando de volta o que era seu e só assim o país vizinho notaria que eles não estavam de brincadeira e que só conseguiriam paz daquela forma. Obviamente ele foi deposto do cargo e o presidente que o sucedeu fez o acordo para que a guerra entre os países acabasse logo.
Mas guerras deixam sequelas e uma delas é a vingança.
via esse sentimento nos olhos de Vincent, agora ele entendia que o homem havia sido vítima da guerra e provavelmente sofreu o suficiente com isso, gerando um sentimento de raiva durante todos esses anos. não tinha certeza como aquilo havia começado, talvez as pessoas estavam esperando a hora certa para atacar as fronteiras em busca do que era seu por direito. Talvez o governo do país estivesse financiando aquilo secretamente mas nunca admitiria, ou então uma guerra muito pior começaria.
- Não tenho cara de presidente, tenho? - perguntou, estava começando a perder a paciência. Ele teria que limpar a sujeira de algo que nem era culpa sua, francamente.
- Se tivesse não estaria aqui, Tenente. Me perguntou o que eu quero, agora sabe. Vá falar com o Major, não é pra isso que você serve? Para ser garoto de recados?
inflou as narinas e deu dois passos na direção de Vincent sem perder sua pose.
- Eu poderia matá-lo agora, seu bosta, eu não estou de brincadeira. Deixe a minha cidade e volte ao seu país de merda com as próprias pernas enquanto pode, porque pode apostar que se continuar com essa porcaria, vai voltar num saco preto.
- Você não dá as ordens aqui, Tenente, sou eu quem digo como as coisas vão funcionar.
- E se eu simplesmente te matar aqui e agora? - ameaçou baixo, pronto para colocar a mão no coldre em sua coxa em que sua pistola estava.
- Você irá se tornar o vilão. - Vincent olhou para cima bem na hora em que um helicóptero passava, não seguiu seu olhar, mas sabia o que era.
Porcaria de televisão que gostava de se meter em tudo, quem tinha dado autorização para a mídia voar pelo céu transmitindo a ação?
Aquilo era perigoso, merda.
- Não tenho medo da mídia.
- Mas deveria, , é ela quem vai te tornar um herói ou um vilão.

I just need somebody to die for

encarava a televisão aflita, todos os canais passavam ao vivo a operação do exército para tentar conter os rebeldes. Ela reconheceu na linha de frente, e quando ele foi conversar com o líder dos rebeldes.
A televisão havia passado com exclusividade a identidade do mandante, que dava a cara a tapa sem medo dos soldados ou da mídia – talvez ele soubesse que morreria hoje, quem sabe –, o cara tivera uma vida sofrida por causa do Tratado e se auto denominava contrário às ideias do seu governo. É claro que ele era, afinal seu presidente era a favor do Tratado e dos dois países se darem bem.
Até mesmo as identidades de seus comparsas e sua família havia sido revelada, ficara triste ao ver a garotinha que era filha do líder, era apenas uma criança que provavelmente teria a vida destruída por escolhas de outras pessoas.
Mas seu coração estava mesmo apertado por causa de , se pudesse fazer qualquer coisa para protegê-lo ela o faria, só detestava saber que era ele quem faria o trabalho sujo e que ainda corria risco por causa disso. Poderia ser egoísmo de sua parte quando o país enfrentava um problema maior, mas ela só queria que ele ficasse bem.

entrava no prédio que agora era a sua base com raiva, era aquilo que se ganhava quando negociava com bandidos. Pouco se importava se seus superiores haviam escutado a conversa, ele não gostava de conversar, preferia a ação. Queria socar alguma coisa, sabia que aquela missão iria demorar mais do que o suficiente com aquele papo de política envolvido. Ele só queria ir pra casa abraçar e pedir desculpas pelo que falara, mas teria que desligar seu lado humano e não pensar nela, poderia ser seu último dia e se culpava intensamente por machucá-la mais uma vez. Porém precisava ser frio e calculista, a situação pedia por isso.
- , seu idiota, eu falei para negociar com ele e não ameaçar. - Escutou o Capitão pelo comunicador e rolou os olhos.
- Com todo o respeito, senhor, conversar não é o meu forte. Mas agora sabemos para que vieram.
- O presidente ainda está em reunião com presidente do país vizinho, poderá levar horas.
- O senhor sabe que não temos tempo, Vincent nos deu apenas 4 horas para acabar com o Tratado, o Capitão ouviu muito bem.
- Sei sei, ou então ele vai explodir toda a parte norte do país, eu escutei.
passou a mão na nuca e fechou os olhos, Vincent ainda lhe deu um prazo curto como se fosse ele quem mandava ali, era um absurdo aceitar as condições dele. Vincent podia ser um louco e explodir a parte norte da mesma forma se o tratado for rompido.
- Senhor, a equipe alfa está pronta para atacar, só precisamos da ordem e tomamos o prédio em 15 minutos.
- Acione o alarme para as pessoas se protegerem, mandarei os tanques para assustarmos os rebeldes mas escute bem : eu não quero que ataquem até eu mandar, entendeu?
- Sim, senhor. Mas e o Major? - estava com um sorriso de lado, sabia que o Capitão confiava em sua equipe e o agradecia por isso.
- Ele não está num helicóptero no meio do campo de guerra, está? Eu me acerto com ele depois. Fique pronto para as minhas ordens.
O Capitão desligou e foi até a sua equipe, eles escutaram a conversa mas agora era hora dele agir como um Tenente.
- Eu sei que estão cansados de limpar a sujeira do passado do nosso país, mas preciso que o façam mais uma vez. As pessoas precisam da nossa proteção, mesmo estando dentro de suas casas, é nossa função garantir isso. Vamos logo acabar com essa palhaçada, se for para morrer, que façamos isso com honra.
olhava nos olhos de seus parceiros com determinação, ele precisava passar segurança mesmo que não sentisse isso. Seu coração estava apertado e por mais que quisesse ignorar esse sentimento, era praticamente impossível.
- É, eu tenho uma longa noite de amor com a minha mulher. - Tej falou com um sorriso enorme e todos começaram a fazer barulhos com a boca.
- Eu realmente não preciso ter a imagem de você dormindo com a Claire, Tej. - brincou, mas sentia inveja do amigo. Ele tem alguém que está esperando em casa.
A leveza do ar cessou e deu lugar a soldados determinados, todos sabiam que a hora estava próxima e cada um sabia a sua função, faziam aquilo milhares de vezes. Eram de fato os melhores.
Assim que o alarme soou pelo bairro, a tensão se instalou, aquele era o sinal de que tudo pioraria.
As pessoas dentro de casa e estabelecimentos se trancavam em porões ou lugares adequados para que ficassem o mais longe da guerra que estava para acontecer.
sentiu o coração parar na boca quando escutou o alarme, sua mão começou a suar e suas pernas a tremerem porque ela sabia que agora precisava sair do apartamento o mais rápido e ir para o estacionamento antes que os tanques chegassem. Ela correu para fora do apartamento de e viu os vizinhos correrem desesperados escada abaixo, tentou se acalmar e respirou fundo antes de segui-los.
Assim que chegou no térreo, na recepção, pôde ver os tanques de longe pela porta de vidro do prédio e engoliu seco. O porteiro do prédio sinalizava para as pessoas descerem as escadas rapidamente, estava prestes a descer quando escutou um choro.
- Minha boneca! - uma garotinha gritou quando seu brinquedo caiu de sua mão no meio da multidão desesperada.
suspirou antes de voltar e pegar a boneca, nada seria pior do que uma garotinha chorando por causa de uma boneca num estacionamento lotado de pessoas aflitas, ela entregou para o porteiro que devolveu para a criança que fora levada pela mãe rapidamente.
Antes que pudesse descer, ela escutou um estrondo do lado de fora do prédio e um clarão atrapalhou sua visão, ela caiu de susto e tampou os ouvidos que agora zuniam. Agora de joelhos e com a cabeça baixa, ela não pôde ver que a porta de vidro e o portão do prédio foram destruídos e um cara forte entrava no prédio e ia em sua direção.
foi puxada para cima com força e ela cambaleou enquanto era arrastada para fora, ela não entendia nada que estava acontecendo e sentiu um braço rodear seu pescoço e algo gelado tocar sua testa. Tentou olhar para quem a levava para fora, mas era inútil uma vez que o cara estava atrás dela.
só foi entender quando saiu do prédio e viu o exército mais a frente, todos com as armas apontadas para ela, involuntariamente seus olhos procuraram e assim que encontraram, ela pôde vê-lo vacilar e sua boca abrir enquanto a encarava. Foi aí que ela percebeu que estava sendo feita de refém.
- Ok, eu cansei de ser bonzinho e esperar, vamos negociar para valer, Tenente. Ou a garota morre. - Ela sentiu um frio na espinha quando escutou o homem que a segurava falar.
O cara andou estrategicamente até estar de frente para , seu braço apertou ainda mais o pescoço de quando o mesmo deu a entender que se aproximaria, ela por reflexo levou as duas mãos para o braço do homem para dizer silenciosamente que estava machucando.
- Você não tem que fazer isso. - falou sem tirar os olhos de , que agora o olhava com medo. Podia sentir as lágrimas se formarem.
- Vocês trazem a porra de um tanque e quer que faça o quê? Me renda? Eu falei que sou eu quem dou as cartas por aqui, Tenente.
- Você acaba de cometer mais um crime, com isso eu garanto que ficará o resto da vida na cadeia.
- Não antes de matar essa belezinha aqui. - A arma de Vincent grudou ainda mais na testa de e ela fechou os olhos, com medo da morte.
- Me leva no lugar dela. - falou sem hesitação. Tudo o que faria agora seria para mantê-la segura.
o encarou com a boca aberta, ele não podia estar falando sério. Como ele propunha para ser refém no lugar dela?
Vincent gargalhou tanto que tombou a cabeça para trás, se tivesse as ordens certas poderia ter atirado em sua garganta e acabado com aquilo. Se o Major não fosse tão medroso.
- Você é um verdadeiro herói, Tenente . Infelizmente para mim, você não tem valor nenhum. - não quis demonstrar o desespero que sentia ao escutar a fala do homem, mas foi difícil esconder. - Embora eu veja o quanto ela tem valor para você.
Uma eternidade se passou quando e se entreolharam, tantas coisas que queriam dizer um para o outro mas que puderam ser sentidas. As palavras de Vincent eram verdadeiras e isso tornava em fraco agora.
- Sabe, Tenente, eu sei o que é escutar os gritos de agonia de quem mais amamos quando simplesmente não podemos fazer nada. - a arma do homem dançava perigosamente no rosto de . - Você não é o culpado, mas terá que pagar no lugar deles enquanto não tenho o que quero.
- Eu vou te matar. - falou devagar.
- Não, meu caro, você não vai. - Vincent olhou para cima e tal fato chamou a atenção de , que fez o mesmo.
O helicóptero do exército sobrevoava acima deles, quando ele foi fazer uma volta mais a frente, algo colidiu com o objeto e a explosão fora barulhenta. não soube o que fazer, apenas cobriu a sua cabeça para que os restos não caíssem em si, escutou gritar de desespero enquanto Vincent a segurava fortemente. Ele poderia usar aquele momento de distração para a puxá-la se ele não estivesse completamente chocado. Seu Capitão estava naquele helicóptero.
- Vamos, gracinha. - Vincent falou para e a arrastou consigo. - Até mais, Tenente... ou deveria chamá-lo de Capitão?
quis dar um passo e puxar o desgraçado pelas costas e matá-lo com as próprias mãos, mas tudo o que fez foi assistir ser arrastada para o prédio abandonado, para o covil dos rebeldes, sem poder fazer algo.
Sentiu seu sangue ferver e borbulhar de raiva, fechou o punho até sentir os dedos reclamarem. A guerra de Vincent era pessoal e agora havia se tornado também para .
Apenas um lado venceria e não estava disposto a ver sua amada morta.
Ele andou em passos largos para a sua base e chutou a primeira coisa que apareceu em sua frente.
- Inferno! - ralhou, guardando a arma no coldre e bateu as mãos na parede com força, ignorando a dor que iria sentir.
- Senhor. - Simpson entrou, receoso.
- Eu vou matar ele.
- . - Tej estava lá também e foi firme com o amigo.
- Eu juro que vou matar ele, Tej. Eu vou cortar a maldita cabeça daquele desgraçado.
- Calma, cara. Resolver as coisas com a cabeça quente não vai adiantar nada.
- É ela, Tej. É a . - olhou para o amigo e seus olhos estampavam dor, que não foi ignorado pelo amigo.
- ? A sua ? - perguntou e ele assentiu.
- Senhor, o Major está no telefone. - Simpson falou e apontou com a cabeça para o telefone que estava na mesa.
passou as mãos no cabelo e respirou fundo antes de atender o telefone, sem se importar se estava no viva-voz para os amigos escutarem. Já não se importava com detalhes como esse no momento.
- 1° Tenente , você acaba de se tornar Capitão com a morte de Johnson. - Major Walker falou, mais frio do que nunca. - Aguardaremos instruções do general que está com o presidente nesse exato momento.
- O quê? Vamos aguardar? - ele perguntou, incrédulo. - Eles têm uma refém e mataram o Capitão, o armamento deles é pesado. Vamos usar o tanque e estourar todos eles.
- Olhe como fala comigo, , foi promovido, mas ainda está abaixo de mim. Você obedece às minhas ordens e eu digo que não colocaremos essa operação em risco por causa de uma cidadã qualquer.
trincou os dentes e bateu as mãos na mesa.
- Essa cidadã qualquer é tão importante quanto seus soldados, Major, provavelmente mais importante do que todos os políticos corruptos que tem se encontrado ultimamente e alego até mesmo ter se vendido, senhor. - sentia a raiva entre suas palavras e o ódio em seus poros. - Capitão Johnson morreu acreditando na sua equipe e eu também morrerei se for necessário, mas não antes de matar cada um desses rebeldes. Indo contra você, o general ou até mesmo o presidente, senhor.
- Se virar as costas para as minhas ordens…
- Poderá me matar, senhor, mas vou salvá-la já que você não tem coragem o suficiente para fazê-lo.
Sem dizer mais nada, desligou o telefone na cara do Major e olhou para Tej.
- Eu espero que sua mira continue muito boa, meu amigo, porque vou precisar da sua ajuda.

não fazia ideia do que estava acontecendo, o prédio que os rebeldes a levaram era pouquíssimo iluminado e era muito sujo, ela estava jogada num canto qualquer e tentava pensar numa alternativa de escapar dali, mas com os brutamontes que a vigiavam era impossível. Ainda mais com todas aquelas armas e bombas que eles tinham.
Reparou que Vincent caminhava em sua direção e se encolheu ainda mais na parede, tentando se manter afastada dele o máximo que conseguia. Não queria que o homem visse suas lágrimas que insistiam em cair, não queria parecer mais fraca do que era.
- Olha só, boneca, não precisa ficar assim. Seu namorado vai dar o que eu quero e você vai poder voltar para os braços dele. - ele se agachou para ficar na mesma altura que ela e levantou a mão para acariciar sua bochecha.
virou o rosto para se afastar do toque nojento dele.
- Isso antes ou depois de você atirar nele?
- Garota esperta, vejo que não é burra como eu pensei. Muito bem. - ele sorriu em aprovação e desceu o olhar para a cicatriz dele no rosto, que o deixava ainda mais perigoso.
Num relance de coragem, sem saber de onde aquilo viera, falou:
- Meu namorado vai acabar com você. - olhou os olhos dele e viu que ele suspirou antes de fechar os olhos.
Quando ele abriu novamente, as costas de sua mão bateram no rosto de , com o impacto o rosto dela virou e bateu a cabeça na parede. Depois de soltar um resmungo de dor, ela sentiu um gosto metálico em sua boca e percebeu que a mesma começava a inchar. Nada para acabar com a sua dignidade do que um tapa na cara, sentiu algumas lágrimas fazerem o mesmo caminho seco em suas bochechas que as outras fizeram.
- Anda logo que eu não tenho o dia todo. - ele a pegou pelos braços sem delicadeza nenhuma e a arrastou novamente. Precisava da refém para se manter vivo.
- Eu já falei para tirar a mão de mim. - falou enquanto era empurrada para fora do prédio outra vez.
- Cala a boca e anda logo.
Ela sentia a arma apontada para a sua cabeça e sentia suas pernas tremerem, não era uma situação em que alguém gostaria de estar e valentia nunca fora seu forte, a cada passo que dava sentia seu coração bater mais forte e mais rápido.
Ficou aliviada em ver que estava ali, um pouco mais a frente, e a caminhada lenta até ele foi torturadora. Ao notar que ele a encarava seriamente, sentiu algo estranho no estômago.
Tinha alguma coisa errada, sabia isso.
- E então, Capitão, já fez o que me prometeu? - Vincent perguntou e o olhou como se pudesse matá-lo a qualquer momento.
E de fato poderia, ele e sua equipe não respondiam mais pelo exército, agora estavam por conta própria para salvar . Nenhum deles vestia mais a farda do exército, embora estivessem devidamente equipados, não era mais Capitão naquele momento. Mas sua prioridade ainda era salvar os civis.
não sabia a decisão do general e muito menos do presidente, mas ele teria que arriscar de qualquer forma, era isso ou viver a mercê dos rebeldes para sempre.
analisou o rosto de antes de falar qualquer coisa e notou o medo e indagação em seus olhos, entretanto algo chamou sua atenção, o lábio cortado de . Ele não precisou falar nada, sabia como ela havia conseguido aquilo e sua fúria aumentou. Filho da mãe desgraçado.
- Sim, você vai conseguir o que quer. - o olhou, praticamente soltava fumaça pelas narinas. - No inferno, seu desgraçado. - ele encarou que se tremia toda, ela estava com uma sensação horrível. - Vai ficar tudo bem, , confia em mim.
era péssimo em tentar mentir para ela, mas ele sabia que pelo menos seria salva, e ela queria poder dizer que confiava nele mais do que qualquer outra coisa, mas estava assustada demais.
- Ah, , você realmente achou que poderia me subestimar. Tsc, tsc. - Vincent agarrou pelo cabelo e ela gritou de dor.
Isso só acendeu mais ainda a raiva de .
- Vou matar sua namorada na sua frente para começar a me levar a sério.
nada disse, sequer teve tempo, ele apenas sorriu maldoso para Vincent antes de uma bala perfurar a testa do rebelde, o corpo caiu como uma jaca no chão e o barulho foi estrondoso. só teve tempo de tapar os ouvidos e fechar os olhos, achou que estaria morta quando viu a bala em sua direção, mas não sentiu a queimadura ou o impacto em nenhum lugar de seu corpo e notou que Vincent a soltara, sua mão que agarrava fortemente seu cabelo já não estava mais lá.
Assim que abriu os olhos viu avançar, fazendo-a curvar-se para que ele pudesse puxar sua arma e atirar no capanga de Vincent, com sua mira perfeita acertou o lado esquerdo do cara, bem no coração.
Escutou mais tiros e olhou para frente onde a equipe Alfa atirava incansavelmente contra os rebeldes que ainda estavam no prédio.
- Vai, , corre. - gritou e ela o fez desesperadamente, abaixando de vez em quando ao escutar os tiros.
Olhou para trás quando passou por um dos soldados e não estava atrás dela, ele ficara para trás para atirar mais algumas vezes.
Foi então que tudo passou como câmera lenta. estava prestes a suspirar ao ver o amado em ação quando sentiu algo perfurar seu ombro duas vezes e no canto da sua costela onde o colete não o protegia, ele caiu de joelhos e os olhos se perderam, berrou e as lágrimas já formadas começaram a cair, sem pensar em qualquer coisa ela correu em direção a ele que cambaleava para frente e para trás.
Ela se jogou de joelhos ao seu lado e ele caiu para trás no momento em que os braços dela estavam prontos para envolvê-lo, a equipe Alfa cuidou do atirador e pouco se importava se estava no meio de um tiroteio, o amor da sua vida estava caído no chão com dois tiros no ombro e outro na costela. O sangue começava a jorrar furiosamente.
olhou para cima e lá estava ela, sentia as lágrimas dela caírem em seu rosto e começou a se sentir fraco, as balas queimavam seu corpo.
- ! Não, por favor, fica comigo! - ele escutou falar enquanto ela passava a mão pelo seu corpo.
As mãos dela tremiam, ele estava perdendo muito sangue e estava prestes a desfalecer, estava desesperada.
- ... Eu…
- Fica quieto, só continua respirando. - ela falou e olhou para trás. - Alguém chama uma ambulância!
-
- Que droga, , cala a boca. - ela chorava compulsivamente ao ver que ele estava perdendo a cor. - Eu preciso de você, por favor, não me deixa!
- Eu amo você. - ele falou com dificuldade.
- Não, não faz isso. Não se despede, você tem muito para viver! !
O grito de foi a última coisa que ouviu antes de se entregar a escuridão que o insistia em puxá-lo, teve a impressão de um helicóptero se aproximar, mas não conseguiu constatar pois já tinha apagado, sabendo e orgulhoso de ter cumprido sua promessa. estava segura.

I've always known from the start that it ends with you and me

sentia seus olhos reclamarem por estarem tão secos, também pudera, ela chorava todo dia pedindo para que um milagre fosse atendido. Ela sabia que era egoísmo de sua parte pedir por algo que talvez não fosse a vontade do destino, mas ela não podia perder , não daquela forma.
O soldado havia perdido muito sangue graças as balas alojadas em seu corpo mas descumpriu o que disse que faria, quando o viu apagado no chão não conseguia pensar em deixá-lo para trás enquanto ela morria de preocupação e seu coração doía. Ela não se importava com mais nada, com os pais de , o exército ou a situação política do país, ela não iria abandoná-lo.
E se tivessem deixado, ela teria ido para a sala de cirurgia com ele, mas fora impedida e abraçada por Tej, que consolava a mulher todos os dias.
estava em coma há quatro dias, precisou de uma transfusão de sangue urgente e agora parecia se recuperar aos poucos, mas aquilo era uma tortura para porque ele não estava acordado!
Ela não podia sentir os olhos dele a encarando seriamente, ou então podia escutar sua voz suave. Aquilo estava matando ela por dentro.
Os únicos olhares que sentia era dos pais de , os dois estavam na sala de espera há dias e questionavam a garota sem ao menos dizer uma só palavra. Tej até tentou convencê-la de voltar depois quando o amigo acordasse, mas ela se recusou, não sairia dali até ele acordar, então ele apenas ficou do lado da mulher da vida do amigo dele. Ela também precisava de apoio.
- Eles me odeiam. - ela comentou baixo para Tej e olhou para frente.
- Se te conforta, eles odeiam todo mundo. - o rapaz deu de ombros e encarou a mulher. Ela estava com pequenas manchas pretas debaixo dos olhos, já que não dormia direito há dias, e sua posição demonstrava que ela estava com dor nas costas por estar sentada naquela cadeira dura.
não respondeu nada, aquilo não a confortava, a única coisa que o faria seria acordar. Como se suas preces tivessem sido ouvidas, o médico parou no corredor e todos o olharam apreensivos.
- Dr., o que foi? - o pai de perguntou.
- O meu filho está bem? - foi a vez da mãe.
- Ele acordou. - anunciou e suspiros puderam ser ouvidos, sentiu o corpo relaxar e levou as mãos ao coração. - E chama pela senhorita .
Ela paralisou e sentiu todos os olhares em si, gaguejou sem saber o que falar e levantou da cadeira sentindo sua lombar reclamar. seguiu o médico, que a deixou entrar sozinha, ela imaginou que fossem instruções de .
Sentia o coração pular e as mãos tremeram ao tocar a maçaneta da porta, assim que ela abriu segurou as lágrimas e entrou no quarto, abriu os olhos e a encarou tão intensamente que ela achou que fosse desmaiar.
Ela se aproximou dele sentindo seu corpo esquentar a cada passo que dava, lentamente ela parou do lado da cama e colocou a mão no colchão, levantou o olhar e viu que ele a analisava minuciosamente.
- Oi. - a voz dele saiu fraca e rouca e ela nunca tinha ficado tão feliz em escutá-lo. Mesmo ainda estando debilitado, a voz dele ainda era música para os ouvidos dela.
- Oi. - sorriu fraco. - Como se sente?
- Como se eu tivesse levado um tiro. - brincou, fazendo-a rir de leve.
Ambos ficaram em silêncio por um tempo até falar devagar.
- Você está aqui.
- Eu sei. - suspirou. - Eu sei que disse que iria embora, mas... eu simplesmente não consegui, , achei que tivesse te perdido e eu nunca me senti tão sozinha. Vê-lo caído foi o pior momento da minha vida. - admitiu.
- Ei, - ele segurou a mão dela e o calor das mãos juntas nunca pareceu tão certo. - acabou agora. Está tudo bem. - ele manteve um carinho gostoso na mão dela, que não parava de encarar as duas juntas. - Eu fui um idiota por ter pedido para você ir embora.
- O quê?
- , eu te amo. - ela sorriu ao escutá-lo dizer mais uma vez. - Eu nunca devia ter te abandonado e quer saber de uma coisa? Que se dane o que os outros vão pensar, eu quero você e não vou mais negar.
- , o que está querendo dizer? - ela estreitou os olhos, sentindo o coração bater mais forte de felicidade, como se estivesse prevendo o que ele fosse dizer.
- Que se não for tarde demais para uma segunda chance, eu quero que seja minha.
piscou algumas vezes sem saber o que dizer, esperava que ele fosse falar qualquer coisa menos aquilo, aparentemente não tinha se preparado o suficiente pra aquilo.
- Mas... os seus pais, eles…
- Não vão me obrigar a ficar longe de você. Tinha razão, , e eu peço perdão por ter te magoado tanto.
Ela sorriu em meio as lágrimas, dessa vez estava chorando por outros motivos, eram motivos bons que a deixavam feliz em saber que suas preces foram atendidas.
- É claro que eu te perdoo, seu bobo, eu amo você mais do que qualquer coisa.
Num impulso, ela colou os lábios no dele suavemente, foi apenas um toque para selar a segunda chance do casal, mas que trouxe muitos significados e um misto de sentimentos.
- Eu nunca mais vou deixar você ir, eu prometo. - acariciou a nuca e depois a bochecha dela devagar. Estava fraco, mas não se importava nem um pouco em estar numa cama de hospital, o amor da sua vida estava do seu lado e isso lhe dava forças.
- Mas antes, , seus pais estão aqui. - ela mordeu o lábio e se afastou dele, para ver sua reação. Por incrível que pareça, ele estava calmo.
- Eu posso lidar até com o general agora, contanto que você esteja do meu lado.
levou a mão que ainda segurava dele até seus lábios e depositou um beijo.
- Sempre.




Fim...?



Nota da autora: Sem nota.



Nota da beta: Lembrando que qualquer erro e reclamações somente no e-mail.


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