Capítulo Único
O tempo estava quente. O sol, no meio do céu azul, era escaldante e a brisa dava sinal de vida uma vez ou outra, deixando no corpo uma sensação esquisita. Para qualquer ser humano, caminhar por quilômetros nessas condições seria desafiador. Entretanto, para o casal que seguia pela trilha no meio daquela mata que se fechava cada vez mais, isso não era um problema.
— Sério que você bolou tudo isso? – a moça perguntou enquanto desviava de alguns galhos. – Não dá pra acreditar que a ideia de virmos para o Brasil acampar, com direito a trilhas, cachoeiras e escaladas radicais saiu de sua cabeça.
Estavam no Brasil, num dos estados mais quentes do país chamado Bahia. Os dois já haviam ouvido falar do lugar, entretanto, a cidade onde estavam era algo totalmente novo e fascinante. Especialmente para a mulher que abrigava dentro de si uma alma aventureira.
— Como conseguiu descobrir que eu gosto dessas coisas? – ela perguntou.
— Fiz minhas pesquisas. – o rapaz respondeu, balançando os ombros uma vez.
— Tenho certeza que tem dedo do Steve nisso. – ela jogou os cabelos para trás, soltando um riso abafado.
— Ele ajudou sim. – ele respondeu, observando os movimentos da companheira com atenção. – Mas também tive mais uma mãozinha.
— E que mãozinha seria essa? – a ajeitou as alças da mochila.
— O Barton. – ele respondeu. – Na verdade, eu pedi ajuda, pois percebi que ele a conhece bem.
— E o que o Clint disse? – ela quis saber.
— Disse que você gostava de coisas desafiadoras e imprevisíveis. – o rapaz respondeu com um meio sorriso.
— Ele me conhece mesmo. – um sorriso singelo surgiu nos lábios da mulher, que parou de repente, obrigando seu parceiro a fazer o mesmo.
— Algum problema? – o moreno questionou.
— Não, nenhum. – ela balançou a cabeça. – É só que...
O homem ergueu as sobrancelhas, aguardando as palavras dela. Porém, estas não vieram. Ela apenas passou a língua entre os lábios e desviou os olhos, fitando as folhas verdes que balançavam graças a um vento suave que passava. Estranhando aquela atitude, ele se aproximou dois passos, preocupado.
— ? – ele a chamou com um tom brando e logo a mulher o encarou. – O que queria dizer?
— Nada, Bucky. – ela deu um sorriso forçado. – É melhor continuarmos.
Sem esperar uma resposta, deu-lhe as costas e voltou a caminhar a passos largos e apressados. Confuso, Bucky a observou se afastar. Soltou um suspiro ao perceber que, a partir do momento que decidiu namorar Romanoff, sua vida não seria mais a mesma. Nem de longe. A , assim como ele, não era de demonstrar sentimentos. No entanto, havia momentos em que ele percebia que a garota queria dizer algo, mas simplesmente não conseguia. Bucky não iria pressioná-la, respeitaria seu espaço. Ainda assim, sentia-se aflito com aquela barreira existente em sua comunicação. Resignado, seguiu a namorada.
não demorou a ouvir os passos de Bucky atrás de si. Ainda constrangida, continuou fitando o caminho à frente, sem desviar o rosto uma vez sequer. Naquele momento, a Romanoff tinha raiva dele por deixa-la tão envergonhada, mas tinha ainda mais raiva de si própria por ser tão covarde. Sempre era assim quando tentava dizer algo mais profundo a seu namorado. As palavras simplesmente não saiam. Ficavam presas em sua garganta, pesando na língua, como se pesassem mais de uma tonelada.
Continuaram em silêncio, evitando trocar olhares. O rapaz até tentou iniciar uma conversa, mas logo percebeu que a moça não estava no clima, por isso decidiu ficar quieto. Após mais uma hora, chegaram ao lugar desejado. Era uma parte da mata com menos árvores. Alguns metros à frente ficava um rio que dava em uma cachoeira. De lá se podia ver um poço grande logo abaixo. Os dois se chegaram até a beirada e olharam para a água lá embaixo sem esconder os sorrisos.
— Sabe que podemos morrer se nos jogarmos aí, não é?! – brincou, se esquecendo do momento de mais cedo.
— Não vamos morrer. – Bucky olhou para ela.
— Só se você me pegar quando eu pular. – ela piscou para ele.
— Sempre. – ele piscou de volta.
A Romanoff sentiu o coração acelerar diante daquele simples gesto. Ultimamente, James Barnes a deixava assim, desconcertada, como uma garotinha adolescente. Quando começaram a namorar, a Vingadora achou que estaria no controle da relação e, de certa forma, estava. Entretanto, com o passar do tempo, James vinha ganhando confiança. E toda essa segurança a assustava. Para a moça, era péssimo não ter domínio dos próprios sentimentos.
Quando soube que o soldado havia planejado uma viagem para o dia dos namorados, dando atenção a cada detalhe, priorizando as suas vontades e não as dele, sentiu seu coração se encher de contentamento. Barnes era um homem valioso e ela reconhecia isso, mesmo que não tivesse coragem de dizê-lo em voz alta. Soltou um suspiro, tirando a mochila das costas, sentando-se numa pedra grande.
Enquanto Bucky armava uma barraca, checava os comunicadores para que pudessem manter contato entre si ou entrar em contato com qualquer um dos Vingadores, caso precisassem de auxílio. Haviam sido deixados num lugar seguro da floresta por um helicóptero do Stark e então seguiram em busca de um bom local para levantar acampamento.
Ainda tirando algumas coisas da bolsa, a mulher ergueu os olhos para o namorado, analisando seu trabalho. Foi impossível não notar a forma como a camisa desenhava seus músculos cada vez que ele se esforçava mais um pouco. Com aquela barba por fazer, o achava extremamente sexy. Sem perceber, mordeu o lábio inferior, parando sua tarefa por um minuto.
James, que fazia tudo com a maior atenção, logo percebeu o olhar da Romanoff queimando sobre si. Olhou em sua direção, vendo-a morder o lábio. Ato que a deixava ainda mais bonita do que o normal. Seus olhares se encontraram, o que fez a mulher soltar um risinho baixo. Largando as peças em suas mãos, o soldado aproximou-se dela, parando em sua frente. Para encará-lo melhor ergueu a cabeça sem deixar de sorrir.
— Gosto de ver o seu sorriso. – ele levou os dedos até a bochecha da garota, fazendo um leve carinho no lugar. – Você fica ainda mais linda.
— O mesmo serve para você. – segurou a mão dele, enlaçando seus dedos.
— Hoje mais cedo, na trilha, você queria me dizer uma coisa. – Bucky resolveu arriscar, sentando-se ao lado dela.
— Aquilo? – de repente, o coração da Romanoff disparou. – Não era nada.
Mas que droga era aquela? Ela era Romanoff, uma Vingadora, implacável e temida por praticamente todos que a conheciam, uma assina treinada para agir sem piedade. Não podia ficar encabulada diante de um simples homem.
Soltando o ar pela boca entreaberta, a moça se deu conta de algo: Bucky não era um simples homem. Era muito mais do que isso. Talvez, esse fosse o motivo de estar tão... apaixonada?
— ? – assim que o rapaz a chamou, ela saiu de seus devaneios.
— Quê? – ela o fitou.
— Você ouviu o que eu disse? – Bucky franziu o cenho.
— Desculpe, eu estava... distraída. – a sorriu. – Pode repetir?
— Eu disse que é melhor terminarmos logo ou o dia vai acabar e não conseguiremos aproveitar nada. – o soldado repetiu.
— Ah claro! – concordou. – Vamos lá então.
Bucky encarou a namorada, erguendo uma sobrancelha, mas resolveu ignorar o fato de estarem deixando o assunto de lado mais uma vez. Juntou-se a ela e terminaram de armar a barraca e de montar a fogueira que deixaram para acender mais tarde. Assim que arrumou os sacos de dormir dentro da barraca, saiu, alongando os músculos.
— Isso é pior do que passar o dia inteiro treinando com o Rogers. – ela ironizou.
— Não é pra tanto. – Bucky riu, se aproximando.
Abraçou a namorada por trás, depositando um beijo em sua nuca, já que seu cabelo estava preso num coque bagunçado. Sorriu quando ela se arrepiou, continuando a distribuir carícias pelo pescoço da .
— Achei que iríamos mergulhar. – soltou um grunhido manhoso quando Bucky deu uma leve mordida na curva de seu pescoço.
— Nós vamos. – ele deslizou uma mão pela cintura fina.
— E o que estamos esperando? – segurou a mão do homem, virando-se de frente para ele. – Se demorarmos, vamos perder o dia, soldado.
— Tudo bem. – ele cedeu.
Voltaram à barraca e trocaram de roupa. Bucky vestiu apenas um short preto de um tecido leve, enquanto a Romanoff colocou um short curto também escuro e a parte superior de um biquíni, soltando os cabelos curtos. Prontos, foram até a beirada da cachoeira, sentindo o vento os açoitar por todos os lados. Graças ao calor tropical, isso não era um problema. Na verdade, deixada tudo mais agradável.
— Eu vou primeiro. – Bucky se prontificou.
— E por que você tem que ir primeiro? – ela apoiou uma mão na cintura, fitando-o com uma careta.
— Pra que eu possa te segurar. – ele lhe lançou uma piscada.
Se mais palavras, James aproximou-se da ponta e pulou. Em pleno ar, ajeitou a postura, atingindo a água perfeitamente. Afundou por conta do impacto, mas não demorou a ter novamente o controle de seu corpo, nadando para a superfície. Assim que emergiu, avistou ao longe. De lá de baixo, podia ver seus cabelos se esvoaçando para todos os lados. Uma visão perfeita, em sua concepção.
viu o momento que Bucky reapareceu. Apesar de saber que ele era o Soldado Invernal, preocupou-se que talvez o namorado tivesse se machucado. Ao perceber sua perturbação sem fundamentos, revirou os olhos e, sem pensar mais também pulou. Juntou as pernas e os braços ao tronco, vendo o poço cada vez mais perto. Fechou os olhos no instante que seu corpo adentrou a água, prendendo também a respiração, evitando engolir o líquido sem querer.
Seus cabelos soltos pareceram ganhar vida própria e ela teve um pouco de trabalho para removê-los dos olhos. Porém, não foi nada anormal e logo ela estava livre. Todavia, antes de subir totalmente, sentiu duas mãos em sua cintura, a puxando para cima. Quando emergiu, passou as mãos no rosto, tirando o excesso de água de lá. Em seguida, abriu os olhos, encontrando os de Bucky bem perto.
— Peguei você. – ele continuou a segurando.
— Eu sabia que pegaria. – a moça disse.
Ficaram cara a cara, sustentando sorrisos discretos. Naquele momento, era como se não precisassem de palavras para descrever o quão contentes estavam por encontrarem-se juntos. Eles se completavam e sabia disso. Sabia desde o dia que descobriu que o amava. Mas era tão difícil falar. Na verdade, ela tinha medo de o rapaz não sentir o mesmo, por isso preferia guardar aquilo para si.
Com carinho, passou uma mão no rosto do homem, que fechou os olhos diante do pequeno gesto, estreitando seus braços ao redor da cintura dela. As peles frias conectadas causavam um arrepio bom, como não haviam sentido por um longo tempo. Para Bucky, a Romanoff era como uma âncora. Ela o matinha são quando seus piores pesadelos retornavam e ele a amava. Ainda que sua mente fosse um emaranhado de dor e lembranças ruins, seu coração conseguia distinguir o que sentia por ela e ele tinha a plena certeza de ser amor.
Barnes segurou a mão da moça, colocando-a sobre seu ombro e então aproximou seu rosto do dela. A beijou com intensidade, tentando transmitir tudo o que sentia. Seu coração se descompassou quando ela retribuiu o gesto com o mesmo fervor, então a abraçou apertado. Naquele minuto estavam juntos e não precisavam de mais nada.
~o~
fitava o pôr-do-sol, maravilhada. Apesar de ter tido muitas experiências na vida, nada se comparava a aquela visão. Sentada na beirada do precipício, acompanhava o espetáculo sem desviar os olhos uma vez sequer. Ainda lá, sentiu Bucky sentar ao seu lado, colocando um cobertor sobre seus ombros, sentando-se ao seu lado.
— Obrigada. – agradeceu.
Depois de passar o restante da tarde no poço sob a cachoeira, escalaram o penhasco que deveria ter uns cem metros de altura. Seria um desafio para qualquer outro, mas não para os dois Vingadores, que completaram o percurso sem muita dificuldade. Após isso, acenderam a fogueira e comeram algo leve. Em seguida, a moça seguiu até a beirada do penhasco e sentou-se ali para admirar o crepúsculo.
— No começo eu não tinha concordado em vir para tão longe. – Bucky começou a dizer. – Mas agora vejo que valeu a pena.
— É lindo. – a mulher murmurou.
— Sim, é. – ele concordou, passando o braço sobre seus ombros.
A aconchegou-se no abraço do namorado, deitando a cabeça em seu peitoral. Apreciaram toda aquela grandiosidade em silêncio. Permaneceram ali até verem as estrelas surgirem no firmamento. Não demorou a que a lua estivesse no meio delas, iluminando a escuridão da noite fria.
— Bucky... – de repente o chamou.
— Hm? – Barnes murmurou.
— Sei que foi difícil pra você planejar tudo isso pensando em me agradar. – a começou. – Então quero que saiba que eu gostei muito.
— Fico feliz que tenha gostado. – ele respondeu, acariciando os fios da moça. – Mas, eu... tenho mais uma coisa pra você.
— Agora eu estou interessada. – se afastou dele, encarando-o nos olhos.
Mantendo um sorriso discreto, Barnes levou a mão direita até o bolso de sua bermuda, tirando um pequeno objeto de lá. Era uma delicada corrente prateada com um pingente com duas letras “W” da mesma cor, unidas. Ele pegou a mão da namorada, depositando o colar entre seus dedos.
— Eu não sabia o que fazer, então perguntei para a Wanda. – ele fez uma careta envergonhada. – Ela parecia saber sobre essas... coisas.
— E ela disse para colocar as letras iniciais de nossos disfarces? – um sorriso maroto surgiu no rosto dela. – WinterWidow.
— Ela disse que era uma boa junção. – o rapaz soltou um riso abafado ao perceber como aquela ideia agora soava ridícula. – Me desculpe.
— Não! – ela negou com a cabeça. – Eu gostei, gostei mesmo, Buck.
— Tem certeza? – ele semicerrou os olhos, analisando as expressões dela.
— Sim, eu tenho. – riu de sua reação. – E, se quer saber, vou usar agora mesmo.
— Então tá. – ele disse.
— Pode colocar pra mim? – ela pediu.
— Claro. – ele respondeu, pegando o objeto de volta.
A Romanoff juntou os cabelos curtos com uma das mãos e esperou. Logo Bucky passou a corrente pelo pescoço da mulher fechando-o com todo cuidado, pois tinha medo de danificar o objeto com sua mão metálica. Quando terminou, ela se virou para ele, tentando conter o sorriso que insistia em se alargar. Segurou o pingente e respirou fundo, controlando os sentimentos.
— Obrigada, Buck. – ela disse apenas.
— Só quero que tenha o melhor dia dos namorados possível. – ele revelou, levemente constrangido. – Mesmo que eu não faça ideia de como agir ou do que falar.
— Barnes. – se aproximou mais dele. – Apenas me beije.
Bucky piscou as pálpebras duas vezes, mas assim que assimilou as palavras da companheira, apressou-se em atender o se pedido. Levou os dedos até os fios , os emaranhado por lá, a trazendo para mais perto. Quando os narizes roçaram um no outro, fecharam os olhos quase ao mesmo tempo, sedentos por aquele momento onde compartilhariam os mesmo sentimentos. Um beijo intenso e cheio de amor.
~o~
A noite já estava avançada. A lua brilhava com ainda mais intensidade e o vento soprava frio no território brasileiro. No entanto Bucky e estavam alheios a tudo isso, aconchegados em sua barraca. Trouxeram sacos de dormir, porém, decidiram dividir apenas um deles, mesmo que ficassem um pouco apertados. O que não era um problema.
Bucky abraçava o corpo da namorada contra si, com a intenção de protegê-la da temperatura que havia caído um pouco. O moreno foi o primeiro a dormir e , que continuava desperta, observou como ele estava tranquilo. Geralmente, Barnes tinha pesadelos durante a noite, mas daquela vez, até mesmo a expressão em seu rosto era serena. Enquanto o analisava, pensava em como suas barreiras ia cedendo a cada dia. Era incrível como James a fazia se sentir bem. Era como se se entendessem, completando-se da melhor maneira.
Suspirou discretamente, maldizendo seu coração que ultimamente se derretia por qualquer ação do homem. Foi exatamente assim quando ele a presenteou com o colar. Bucky Barnes era uma pessoa tão doce que se sentia mal só de imaginar o que foram capazes de fazer com ele. Travando o maxilar, decidiu que era hora de dormir, pois teriam mais aventuras no dia seguinte. Precavida, deu uma última olhada no comunicador sob a mochila, apenas para checar.
Nesse instante, ouviu algo do lado de fora. Foi como o som de um galho estalando. Cautelosa, parou o movimento que fazia no mesmo segundo, diminuindo também a respiração para que pudesse pensar melhor. Esperou por mais algum ruído, mas este não veio. Apesar disso, não conseguiu deixar aquela história para lá. Precisava saber se estavam mesmo seguros e se tudo não havia passado de paranoia de sua mente.
Lentamente, se desvencilhou dos braços do companheiro e foi até sua mochila. Pegou o comunicador sobre ela e depois a vasculhou, tirando de lá uma lanterna e uma pistola carregada. Olhou para Bucky, decidindo não chamá-lo, pois tinha quase certeza de que não seria preciso. Poderia resolver o que quer que fosse sozinha.
Determinada, guardou o comunicador no bolso da calça e abriu o zíper da barraca até a metade. Apesar da luz da lua ser bem forte, não seria suficiente para que esquadrinhasse o perímetro. Assim, saiu do abrigo, apontando a lanterna acesa para todos os cantos, mantendo a arma empunhada. Caminhou por alguns metros, parando na beirada do precipício, porém, não encontrou nada. Aliviada, soltou um riso abafado, constatando que o fato dela ser uma espiã super secreta tinha mexido com seu cérebro mais do que gostaria.
Parcialmente tranquilizada, baixou a arma, pronta para retornar para a barraca. Virou-se em direção ao abrigo a poucos metros, mas algo fora dos planos ocorreu. Uma mulher loira, vestida de preto e que aparentava ter a sua idade, apareceu em sua frente. Ela sustentava um sorriso maldoso e, apesar de ser muito bonita, seu olhar era ameaçador.
— Viúva negra, não é?! – ela perguntou, mas não esperou uma resposta.
Com uma agilidade impressionante, acertou um potente soco no rosto da , a derrubando. não demorou a recobrar os sentidos, mas antes que se levantasse, a outra desferiu um chute certeiro em seu estômago, lançando-a para trás. Por estar perto da beirada, se desequilibrou, deslizando pelas pedras até estar pendurada. O esforço que fazia para se manter ali era grande, pois com uma mão continuava a segurar a pistola, usando apenas a outra para se sustentar.
— Quando me mandaram vir atrás de vocês achei que seria muito mais difícil. – a estranha se abaixou.
notou no mesmo segundo que ela segurava uma faca. Não fazia ideia de quem ela seria, mas não se importava. Queria apenas dar um jeito de subir para que pudesse tirar aquele sorrisinho prepotente de seu rosto. Atenta a todos os movimentos da loira, franziu o cenho quando esta aproximou a lâmina de sua mão.
— Acho que se manter assim não deve ser tão difícil para você. – a rival fingiu pensar. – Que tal deixarmos as coisas mais interessantes?
Alargando o sorriso maldoso, a mulher cravou a faca na mão de sem nenhuma piedade. A dor excruciante atingiu todo o seu membro superior, mas a Romanoff se negou a demonstrar qualquer tipo de fraqueza, não desviando seu olhar uma vez sequer do dela.
— Realmente muito valente. – a outra debochou, soltando um leve riso. – Mas não vai conseguir se segurar por muito tempo.
Após a frase, removeu a faca de vez, causando mais dor na russa. Trincando os dentes, passou o dedo no gatilho de sua arma, pronta para atirar a queima roupa.
— Nem pense nisso. – a estranha disse. – Ou meus companheiros darão um jeito no Soldado Invernal antes mesmo que pisque.
Naquele momento, arregalou os orbes claros. Então aquela mulher não estava sozinha. Repreendeu-se mentalmente, pois sabia que alguém daquele tipo nunca estava. Pelo menos não quando resolviam enfrentar pessoas como ela e Bucky. Pensou no namorado e que o havia deixado desprotegido, se odiando por isso. Como pôde ser tão descuidada?
Mordeu a bochecha por dentro, mandando embora os sentimentos que só a atrapalhariam. Agora, a razão seria sua maior aliada. Enquanto o seu próprio sangue começava a escorrer pelo braço, deixando a superfície escorregadia, lutou contra o tempo, utilizando-se de suas habilidades mortais para escapar.
Antes que concluísse qualquer raciocínio, sentiu uma estática contra o seu corpo. Era o comunicador. Bucky provavelmente havia despertado e tentava contatá-la. Aliviada, resolveu distrair a moça.
— Você diz que, caso eu reaja, os outros matarão o Soldado Invernal. – falou, soltando um riso desdenhoso. – Isso é realmente interessante.
— Alguma dúvida? – a loira se manteve inabalável.
— Não. – respondeu. – Acontece que, por mais rápidos que sejam, sempre estarão atrasados.
— Olhando para você, eu discordaria. – a mulher inclinou a cabeça para o lado.
— Vocês podem tentar, podem achar que são espertos, mas nunca serão páreos para ele. – ela continuou, mesmo que isso fosse cada vez mais difícil. – Para nenhum de nós.
— Acha mesmo, Romanoff? – a estranha se inclinou mais para perto dela.
— Tenho certeza. – um sorriso maldoso surgiu em seus lábios.
No mesmo minuto, disparos puderam ser ouvidos ao fundo. A mulher loira se sobressaltou, erguendo o corpo para olhar na direção de onde os tiros procediam. Aquilo foi suficiente para que reagisse. Jogou a pistola para longe, usando as duas mãos para impulsionar seu corpo para cima. Ignorando a dor e o sangue, usou a perna direita para acertar o rosto da outra que voltava a olhar em sua direção. A lançou para o chão ao mesmo tempo em que aterrissava com um dos joelhos no solo.
A mulher de preto se surpreendeu com a agilidade da Romanoff, mas não se deixou abalar. Sabia que a Viúva Negra teria cartas na manga, então não pensou duas vezes antes de retirar uma pistola do coldre, se levantando sem dificuldades. Seus companheiros que se virassem com o Barnes.
— Você é esperta. – a mulher admitiu. – Mas nada do que eu não esperasse. Seria até um insulto se eu a matasse com tanta facilidade.
— Quem os mandou aqui? – também se levantou, ignorando aquela fala.
— Alguém que deseja o fim dos Vingadores. – ela respondeu sem rodeios. – E vamos fazer isso. Vamos matá-los, um por um.
— Gostaria de vê-la tentar. – a sorriu de lado.
Assumindo uma posição de combate, as duas avançaram. Quando a loira ergueu a arma, pronta para disparar, jogou-se de joelhos no chão, deslizando até perto de sua pistola que jazia entre a vegetação rasteira. A pegou, rolando para o lado, desviando dos disparos que a outra realizou. Quando conseguiu equilíbrio para se ajoelhar, também atirou duas vezes, obrigando a loira a se esquivar.
Atiraram mais vezes, mas então desistiram, partindo para o combate. Trocaram socos e chutes em pé de igualdade. A mulher se abaixou, tentando dar uma rasteira na Romanoff, mas esta foi mais rápida, lhe acertando um chute no rosto ao mesmo tempo em que saltava. Desequilibrada, a outra caiu de costas. Tempo suficiente para subjugá-la, agarrando um de seus braços e a fazendo se virar com o rosto por terra.
— Foi realmente muito divertido vê-la tentar. – apoiou o joelho em suas costas, impedindo-a de sair. – Mas agora vai me dizer que a mandou nos matar.
— Infelizmente, Romanoff... – a loira murmurou entredentes. — Isso é algo que eu não poderia revelar.
— E por que não? – ela quis saber.
— Porque, se vocês descobrirem quem eles são, seremos mortos. – ela revelou.
— Isso não me comove nem um pouco. – a Romanoff forçou mais seu braço, arrancado dela um grunhido. – Diga, agora!
A mercenária não respondeu, deixando impaciente. Antes que disse algo, ouviu a estática no comunicador mais uma vez. Rapidamente, o tirou do bolso da calça e apertou o botou ao lado do aparelho retangular.
— , está me ouvindo? – imediatamente, a voz de Bucky se fez ouvir. – , responda!
— Bucky! – a respondeu depressa. – Bucky, estou aqui!
— Eu fui atacado por alguns homens, mas dei um jeito neles. – o rapaz continuou. – Onde você está?
— Eu sei, também fui atacada. – ela respondeu. – Mas não se preocupe, está tudo sobe controle.
— Onde você está? – ele insistiu.
— Na beirada da cachoeira. – a disse.
— Estou indo. – ele concluiu.
não teve tempo de protestar. James desligou a comunicação entre eles, seguindo apressado até onde a namorada se encontrava.
— Parece que o seu namoradinho está bem preocupado. – a loira disse, chamando a atenção da russa. — Na verdade, você também deveria estar.
— Posso saber o motivo? – questionou.
— Sabe,Romanoff... eu sempre admirei o seu trabalho. – a mulher explicou. – A forma como todos a temiam por ser uma agente tão letal. E, de certa forma, isso me inspirou a ser como sou agora.
— Uma assassina? – a desdenhou.
— Uma mulher que sempre tem um plano B. – a outra a corrigiu.
Instantes a seguir, ela usou sua mão livre para ativar o adereço em seu pulso. A pequena pulseira metálica estava escondida sob a manga da roupa escura e não a notou até o momento que recebeu a carga elétrica. Contorcendo-se, largou a inimiga. Caindo no chão, tentou controlar os espasmos em seu corpo, mas era praticamente impossível. A dor que sentia era uma das piores que sentiu na vida. E sua lista de tormentas não era nem um pouco curta.
— É doloroso, não é?! – a loira se levantou, limpando a roupa com as mãos. – Agora sabe o que seus adversários sentiram quando os atingiu com o ferrão da Viúva.
Os espasmos começaram a passar, entretanto, suas forças permaneciam escassas. Abraçou o próprio corpo, se encolhendo em posição fetal, especialmente quando a outra se aproximou. Ela não sentia medo. Não, nem um pouco. Apenas se preocupava com Bucky mesmo que ele tivesse muito mais chances de vencer do que ela.
— Pobre Vingadora. – a mulher se abaixou perto de . – Infelizmente, isso não me comove nem um pouco.
Sem deixar de encarar a Romanoff, levou a mão livre até o cinto, tirando de lá a faca que havia usado para machucá-la. Apontou a lâmina no rosto alvo da adversária com o intuito de intimidá-la, abrindo um sorriso maléfico.
— Eu vou matá-la e quando o soldadinho chegar aqui, também irei dar cabo dele. – a mercenária deslizou a ponta da faca, deixando um corte superficial na pele da russa. – A propósito, meu nome é Yandra. Não que isso importe, é claro. Mas, antes de terminar meu trabalho, quero que saiba quem foi a responsável pelo seu fim.
Yandra ergueu a faca, pronta para acabar com . Em nenhum segundo o sorriso perverso sumiu de seu rosto, mostrando a satisfação por realizar tal tarefa. Porém, ele murchou assim que sentiu uma mão segurar seu pulso, apertando-o com firmeza. Antes que pudesse reagir, seu corpo foi lançado para longe, atingido o chão desnivelado com força.
Quando a moça ergueu os olhos, quase sem fôlego graças ao impacto, avistou quem fora o responsável pela intromissão. Parado entre ela e a Romanoff, estava o Soldado Invernal. E ele parecia furioso. Ignorando as dores, Yandra abriu o sorriso mais uma vez. Lá estava ele, seu principal alvo. Se matasse Bucky Barnes receberia uma grande recompensa, sem contar o prestígio que teria entre seus colegas de trabalho. Levantou-se com certa dificuldade, vendo-o cerrar os punhos.
— Não posso acreditar! – ela falou. — O Soldado Invernal em minha frente.
— Pois deveria. – Bucky disse entredentes.
— Claro que sim. – Yandra riu abertamente.
Ao perceber que o soldado a atacaria, foi mais rápida, tirando uma bomba de fumaça do cinto. A jogou na direção deles e no mesmo segundo tudo ficou branco ao redor do casal. , que a aquela altura já estava melhor, se levantou a procura do companheiro. Acima de tudo, sua maior vontade era socar aquela garota até que estivesse inconsciente.
— Bucky! – o chamou.
Mas, recebeu de volta um golpe no rosto. Por ainda estar debilitada pela carga elétrica, caiu de joelhos, amaldiçoando todas as gerações daquela mulher. Em segundos, ouviu o som de golpes metros à frente, deduzindo que Bucky e Yandra lutavam. Aproveitou-se disso, rastejando em busca de sua pistola. Ao encontra-la, viu que ainda havia algumas balas. Seguiu o ruído dos socos e chutes, mantendo-se sempre deitada.
Aos poucos, a fumaça se esvaiu e a pôde avistar os dois mais afastados, na beirada do penhasco. Bucky acertou a garota, que cambaleou para trás, mas logo se recompôs. Sem pensar, Yandra ergueu o braço na direção do soldado, disparando contra ele uma carga elétrica ainda maior do que a que lançou contra a Viúva Negra. Apesar disso, não conseguiu derrubá-lo, por isso tentou mais uma vez.
Do local que estava, viu Bucky receber várias cargas elétricas seguidas. O homem resistiu por algum tempo, mas logo o ataque se tornou demais até para ele. Soltando um grunhido de dor, Barnes tombou ajoelhado e a sabia que não aguentaria mais. Quando Yandra preparou-se para mais uma rajada elétrica, a Romanoff apontou a pistola para a mulher. Sem cerimônias, disparou contra o dispositivo no pulso da mercenária.
A bala atingiu a pulseira de Yandra, danificando-a. Instantaneamente, a eletricidade atingiu o corpo da moça, arrancando um grito que saiu engasgado por sua garganta. Enquanto era eletrocutada, seus membros se contorciam descontrolados ao mesmo tempo em que a dor lancinante sugou todas as suas forças. Dando passos para trás, ainda conseguiu retirar uma faca do cinto, porém disparou novamente, a acertando no peito. Com o novo impacto, soltou a lâmina, que alcançou o chão ao mesmo tempo em que a mulher despencava do precipício, caindo no poço.
Instantaneamente, o silêncio instalou-se no ambiente e apenas o ruído do vento contra as folhas podia ser ouvido. Transbordando preocupação, se levantou sem se importar com as dores que sentia, correndo na direção do namorado que continuava no chão. Ajoelhou-se ao lado do rapaz, se inclinando em sua direção. Assustou-se com o sangue que escorria pelo nariz dele, chegando sua pulsação sem pensar duas vezes. Suspirou ao constatar que ele estava vivo.
— Bucky! – segurou o rosto dele, o chamando com calma. – Bucky, acorda!
Às suas palavras, o homem não demorou a reagir, abrindo as pálpebras lentamente. Assim que sua visão se focalizou na mulher à sua frente, seu coração bateu aliviado. Se algo acontecesse a , ele nunca se perdoaria. Mesmo debilitado pelas cargas elétricas, ergueu a mão, segurando a dela com firmeza.
— Estou aqui. – Bucky respondeu baixinho.
— Graças a Deus... – a Romanoff murmurou.
Deixando de lado qualquer traço de orgulho, lançou-se sobre o companheiro, o abraçando com força. Logo pôde sentir um dos braços de James à sua volta, a trazendo para mais perto.
— Eu pensei que... que iria perdê-lo. – a voz da vacilou por um instante. – Me desculpe.
— Não... – ele negou com a cabeça. – Não foi culpa sua.
— Eu deveria tê-lo acordado. – a moça se afastou, o encarando nos olhos. – Mas o deixei sozinho, eu...
— ! – Bucky a interrompeu, apoiando uma mão em seu rosto sujo de terra. – Eu posso me proteger sozinho, assim como você também pode. Nenhum de nós tem culpa se psicopatas assassinos tentaram nos matar.
— Não, não temos. – finalmente ela cedeu.
— Acho que faz parte da profissão sofrer ameaças constantemente. – o homem sorriu de lado.
Retribuindo o gesto, a russa ajudou o soldado a se sentar. Apesar do ataque, James era um super-soldado, por isso se recuperaria rapidamente. Juntos voltaram para a barraca. No meio do percurso passaram por alguns homens que Bucky conseguiu derrotar. Todos estavam com Yandra, mas agora jaziam mortos ou inconscientes.
Após se comunicarem com a base dos Vingadores, informando o que havia acontecido e que precisariam de resgate o mais rápido possível, Bucky e permaneceram quietos. Em nenhum momento fizerem a menção de que dormiriam, não demonstrando nem sinal de sono. Sentados à entrada da barraca, fitavam o perímetro sem deixar nada passar até verem o sol começar a nascer no horizonte.
Apesar do clima estranho a garota se aproximou do namorado, deitando a cabeça em seu ombro. Barnes passou o braço em seu ombro, a trazendo para mais junto de si. Respirando fundo, a finalmente tomou coragem para dizer o que vinha guardando dentro do peito há muito tempo. Algo que a consumia a cada instante, tirando seu sono e deixando-a aflita. Soltou o ar de uma vez pelos lábios, permitindo que a sentença escapasse.
— Eu amo você. – sua voz saiu mais natural do que pensou.
— Como? – o homem se surpreendeu.
— Eu disse que amo você, Bucky. – ela finalmente se virou para ele. – Descobri isso há um bom tempo, mas sempre achei que não era necessário expressar meus sentimentos. Pensei que fosse perceber com o tempo. Mas... eu estava enganada. Hoje, quando vi aquela mulher e ouvi suas ameaças, não pensei em mim em nenhum momento. Só havia você. É assustador? Sim, é. Mas eu decidi que te amar é a melhor coisa que já me aconteceu e não posso perdê-lo. Não posso sequer pensar nisso.
— Ei! – James segurou o rosto da moça entre suas mãos grandes. – Está tudo bem.
— Bucky... – ela tentou falar, mas ele continuou.
— Sei o que está sentindo, pois sinto o mesmo. – ele sorriu. – Amo você, Romanoff. E pensar num vida onde não poderia encarar esses seus olhos, pra mim não seria uma vida. Seria o mesmo que voltar aos meus dias de tortura.
— Não deveríamos ter esperado tanto para perceber isso. – a mulher se aconchegou mais nos braços dele.
— Sim. – ele concordou. – Mas agora vamos fazer diferente. Vamos ser sinceros e sempre conversar sobre o que sentimos.
— Acho que posso tentar. – um riso abafado escapou pelos lábios dela. – Mas não prometo nada.
Bucky riu da atitude da russa, a abraçando com força, a puxando para seu colo. Com carinho tocou o rosto alvo, encostando as testas. Delicadamente, uniu os lábios num beijo calmo, onde compartilhavam todo o amor que sentiam. Um beijo singelo, mas que nunca seria esquecido. Quando o ar faltou se separaram, continuando com os rostos próximos.
— Feliz dia dos namorados. – o rapaz disse, arrancando um riso da namorada.
— Definitivamente, o melhor e mais estranho dia dos namorados de todos. – respondeu.
Permaneceram ali, apreciando a companhia um do outro, até que ouviram o som das hélices de um helicóptero. Imediatamente, souberam ser um dos veículos do Stark, por isso se levantaram, apenas aguardando pelo resgaste.
Aquela havia sido uma viagem cheia de desafios, correram o risco de perder a vida e ainda pior, de perder um ao outro. Porém, foi nesse mesmo dia que revelaram seus sentimentos mais intensos. A partir dali construiriam um amor grande, cheio de cumplicidade. Um amor que só cabia a eles sentir e entender.
— Sério que você bolou tudo isso? – a moça perguntou enquanto desviava de alguns galhos. – Não dá pra acreditar que a ideia de virmos para o Brasil acampar, com direito a trilhas, cachoeiras e escaladas radicais saiu de sua cabeça.
Estavam no Brasil, num dos estados mais quentes do país chamado Bahia. Os dois já haviam ouvido falar do lugar, entretanto, a cidade onde estavam era algo totalmente novo e fascinante. Especialmente para a mulher que abrigava dentro de si uma alma aventureira.
— Como conseguiu descobrir que eu gosto dessas coisas? – ela perguntou.
— Fiz minhas pesquisas. – o rapaz respondeu, balançando os ombros uma vez.
— Tenho certeza que tem dedo do Steve nisso. – ela jogou os cabelos para trás, soltando um riso abafado.
— Ele ajudou sim. – ele respondeu, observando os movimentos da companheira com atenção. – Mas também tive mais uma mãozinha.
— E que mãozinha seria essa? – a ajeitou as alças da mochila.
— O Barton. – ele respondeu. – Na verdade, eu pedi ajuda, pois percebi que ele a conhece bem.
— E o que o Clint disse? – ela quis saber.
— Disse que você gostava de coisas desafiadoras e imprevisíveis. – o rapaz respondeu com um meio sorriso.
— Ele me conhece mesmo. – um sorriso singelo surgiu nos lábios da mulher, que parou de repente, obrigando seu parceiro a fazer o mesmo.
— Algum problema? – o moreno questionou.
— Não, nenhum. – ela balançou a cabeça. – É só que...
O homem ergueu as sobrancelhas, aguardando as palavras dela. Porém, estas não vieram. Ela apenas passou a língua entre os lábios e desviou os olhos, fitando as folhas verdes que balançavam graças a um vento suave que passava. Estranhando aquela atitude, ele se aproximou dois passos, preocupado.
— ? – ele a chamou com um tom brando e logo a mulher o encarou. – O que queria dizer?
— Nada, Bucky. – ela deu um sorriso forçado. – É melhor continuarmos.
Sem esperar uma resposta, deu-lhe as costas e voltou a caminhar a passos largos e apressados. Confuso, Bucky a observou se afastar. Soltou um suspiro ao perceber que, a partir do momento que decidiu namorar Romanoff, sua vida não seria mais a mesma. Nem de longe. A , assim como ele, não era de demonstrar sentimentos. No entanto, havia momentos em que ele percebia que a garota queria dizer algo, mas simplesmente não conseguia. Bucky não iria pressioná-la, respeitaria seu espaço. Ainda assim, sentia-se aflito com aquela barreira existente em sua comunicação. Resignado, seguiu a namorada.
não demorou a ouvir os passos de Bucky atrás de si. Ainda constrangida, continuou fitando o caminho à frente, sem desviar o rosto uma vez sequer. Naquele momento, a Romanoff tinha raiva dele por deixa-la tão envergonhada, mas tinha ainda mais raiva de si própria por ser tão covarde. Sempre era assim quando tentava dizer algo mais profundo a seu namorado. As palavras simplesmente não saiam. Ficavam presas em sua garganta, pesando na língua, como se pesassem mais de uma tonelada.
Continuaram em silêncio, evitando trocar olhares. O rapaz até tentou iniciar uma conversa, mas logo percebeu que a moça não estava no clima, por isso decidiu ficar quieto. Após mais uma hora, chegaram ao lugar desejado. Era uma parte da mata com menos árvores. Alguns metros à frente ficava um rio que dava em uma cachoeira. De lá se podia ver um poço grande logo abaixo. Os dois se chegaram até a beirada e olharam para a água lá embaixo sem esconder os sorrisos.
— Sabe que podemos morrer se nos jogarmos aí, não é?! – brincou, se esquecendo do momento de mais cedo.
— Não vamos morrer. – Bucky olhou para ela.
— Só se você me pegar quando eu pular. – ela piscou para ele.
— Sempre. – ele piscou de volta.
A Romanoff sentiu o coração acelerar diante daquele simples gesto. Ultimamente, James Barnes a deixava assim, desconcertada, como uma garotinha adolescente. Quando começaram a namorar, a Vingadora achou que estaria no controle da relação e, de certa forma, estava. Entretanto, com o passar do tempo, James vinha ganhando confiança. E toda essa segurança a assustava. Para a moça, era péssimo não ter domínio dos próprios sentimentos.
Quando soube que o soldado havia planejado uma viagem para o dia dos namorados, dando atenção a cada detalhe, priorizando as suas vontades e não as dele, sentiu seu coração se encher de contentamento. Barnes era um homem valioso e ela reconhecia isso, mesmo que não tivesse coragem de dizê-lo em voz alta. Soltou um suspiro, tirando a mochila das costas, sentando-se numa pedra grande.
Enquanto Bucky armava uma barraca, checava os comunicadores para que pudessem manter contato entre si ou entrar em contato com qualquer um dos Vingadores, caso precisassem de auxílio. Haviam sido deixados num lugar seguro da floresta por um helicóptero do Stark e então seguiram em busca de um bom local para levantar acampamento.
Ainda tirando algumas coisas da bolsa, a mulher ergueu os olhos para o namorado, analisando seu trabalho. Foi impossível não notar a forma como a camisa desenhava seus músculos cada vez que ele se esforçava mais um pouco. Com aquela barba por fazer, o achava extremamente sexy. Sem perceber, mordeu o lábio inferior, parando sua tarefa por um minuto.
James, que fazia tudo com a maior atenção, logo percebeu o olhar da Romanoff queimando sobre si. Olhou em sua direção, vendo-a morder o lábio. Ato que a deixava ainda mais bonita do que o normal. Seus olhares se encontraram, o que fez a mulher soltar um risinho baixo. Largando as peças em suas mãos, o soldado aproximou-se dela, parando em sua frente. Para encará-lo melhor ergueu a cabeça sem deixar de sorrir.
— Gosto de ver o seu sorriso. – ele levou os dedos até a bochecha da garota, fazendo um leve carinho no lugar. – Você fica ainda mais linda.
— O mesmo serve para você. – segurou a mão dele, enlaçando seus dedos.
— Hoje mais cedo, na trilha, você queria me dizer uma coisa. – Bucky resolveu arriscar, sentando-se ao lado dela.
— Aquilo? – de repente, o coração da Romanoff disparou. – Não era nada.
Mas que droga era aquela? Ela era Romanoff, uma Vingadora, implacável e temida por praticamente todos que a conheciam, uma assina treinada para agir sem piedade. Não podia ficar encabulada diante de um simples homem.
Soltando o ar pela boca entreaberta, a moça se deu conta de algo: Bucky não era um simples homem. Era muito mais do que isso. Talvez, esse fosse o motivo de estar tão... apaixonada?
— ? – assim que o rapaz a chamou, ela saiu de seus devaneios.
— Quê? – ela o fitou.
— Você ouviu o que eu disse? – Bucky franziu o cenho.
— Desculpe, eu estava... distraída. – a sorriu. – Pode repetir?
— Eu disse que é melhor terminarmos logo ou o dia vai acabar e não conseguiremos aproveitar nada. – o soldado repetiu.
— Ah claro! – concordou. – Vamos lá então.
Bucky encarou a namorada, erguendo uma sobrancelha, mas resolveu ignorar o fato de estarem deixando o assunto de lado mais uma vez. Juntou-se a ela e terminaram de armar a barraca e de montar a fogueira que deixaram para acender mais tarde. Assim que arrumou os sacos de dormir dentro da barraca, saiu, alongando os músculos.
— Isso é pior do que passar o dia inteiro treinando com o Rogers. – ela ironizou.
— Não é pra tanto. – Bucky riu, se aproximando.
Abraçou a namorada por trás, depositando um beijo em sua nuca, já que seu cabelo estava preso num coque bagunçado. Sorriu quando ela se arrepiou, continuando a distribuir carícias pelo pescoço da .
— Achei que iríamos mergulhar. – soltou um grunhido manhoso quando Bucky deu uma leve mordida na curva de seu pescoço.
— Nós vamos. – ele deslizou uma mão pela cintura fina.
— E o que estamos esperando? – segurou a mão do homem, virando-se de frente para ele. – Se demorarmos, vamos perder o dia, soldado.
— Tudo bem. – ele cedeu.
Voltaram à barraca e trocaram de roupa. Bucky vestiu apenas um short preto de um tecido leve, enquanto a Romanoff colocou um short curto também escuro e a parte superior de um biquíni, soltando os cabelos curtos. Prontos, foram até a beirada da cachoeira, sentindo o vento os açoitar por todos os lados. Graças ao calor tropical, isso não era um problema. Na verdade, deixada tudo mais agradável.
— Eu vou primeiro. – Bucky se prontificou.
— E por que você tem que ir primeiro? – ela apoiou uma mão na cintura, fitando-o com uma careta.
— Pra que eu possa te segurar. – ele lhe lançou uma piscada.
Se mais palavras, James aproximou-se da ponta e pulou. Em pleno ar, ajeitou a postura, atingindo a água perfeitamente. Afundou por conta do impacto, mas não demorou a ter novamente o controle de seu corpo, nadando para a superfície. Assim que emergiu, avistou ao longe. De lá de baixo, podia ver seus cabelos se esvoaçando para todos os lados. Uma visão perfeita, em sua concepção.
viu o momento que Bucky reapareceu. Apesar de saber que ele era o Soldado Invernal, preocupou-se que talvez o namorado tivesse se machucado. Ao perceber sua perturbação sem fundamentos, revirou os olhos e, sem pensar mais também pulou. Juntou as pernas e os braços ao tronco, vendo o poço cada vez mais perto. Fechou os olhos no instante que seu corpo adentrou a água, prendendo também a respiração, evitando engolir o líquido sem querer.
Seus cabelos soltos pareceram ganhar vida própria e ela teve um pouco de trabalho para removê-los dos olhos. Porém, não foi nada anormal e logo ela estava livre. Todavia, antes de subir totalmente, sentiu duas mãos em sua cintura, a puxando para cima. Quando emergiu, passou as mãos no rosto, tirando o excesso de água de lá. Em seguida, abriu os olhos, encontrando os de Bucky bem perto.
— Peguei você. – ele continuou a segurando.
— Eu sabia que pegaria. – a moça disse.
Ficaram cara a cara, sustentando sorrisos discretos. Naquele momento, era como se não precisassem de palavras para descrever o quão contentes estavam por encontrarem-se juntos. Eles se completavam e sabia disso. Sabia desde o dia que descobriu que o amava. Mas era tão difícil falar. Na verdade, ela tinha medo de o rapaz não sentir o mesmo, por isso preferia guardar aquilo para si.
Com carinho, passou uma mão no rosto do homem, que fechou os olhos diante do pequeno gesto, estreitando seus braços ao redor da cintura dela. As peles frias conectadas causavam um arrepio bom, como não haviam sentido por um longo tempo. Para Bucky, a Romanoff era como uma âncora. Ela o matinha são quando seus piores pesadelos retornavam e ele a amava. Ainda que sua mente fosse um emaranhado de dor e lembranças ruins, seu coração conseguia distinguir o que sentia por ela e ele tinha a plena certeza de ser amor.
Barnes segurou a mão da moça, colocando-a sobre seu ombro e então aproximou seu rosto do dela. A beijou com intensidade, tentando transmitir tudo o que sentia. Seu coração se descompassou quando ela retribuiu o gesto com o mesmo fervor, então a abraçou apertado. Naquele minuto estavam juntos e não precisavam de mais nada.
fitava o pôr-do-sol, maravilhada. Apesar de ter tido muitas experiências na vida, nada se comparava a aquela visão. Sentada na beirada do precipício, acompanhava o espetáculo sem desviar os olhos uma vez sequer. Ainda lá, sentiu Bucky sentar ao seu lado, colocando um cobertor sobre seus ombros, sentando-se ao seu lado.
— Obrigada. – agradeceu.
Depois de passar o restante da tarde no poço sob a cachoeira, escalaram o penhasco que deveria ter uns cem metros de altura. Seria um desafio para qualquer outro, mas não para os dois Vingadores, que completaram o percurso sem muita dificuldade. Após isso, acenderam a fogueira e comeram algo leve. Em seguida, a moça seguiu até a beirada do penhasco e sentou-se ali para admirar o crepúsculo.
— No começo eu não tinha concordado em vir para tão longe. – Bucky começou a dizer. – Mas agora vejo que valeu a pena.
— É lindo. – a mulher murmurou.
— Sim, é. – ele concordou, passando o braço sobre seus ombros.
A aconchegou-se no abraço do namorado, deitando a cabeça em seu peitoral. Apreciaram toda aquela grandiosidade em silêncio. Permaneceram ali até verem as estrelas surgirem no firmamento. Não demorou a que a lua estivesse no meio delas, iluminando a escuridão da noite fria.
— Bucky... – de repente o chamou.
— Hm? – Barnes murmurou.
— Sei que foi difícil pra você planejar tudo isso pensando em me agradar. – a começou. – Então quero que saiba que eu gostei muito.
— Fico feliz que tenha gostado. – ele respondeu, acariciando os fios da moça. – Mas, eu... tenho mais uma coisa pra você.
— Agora eu estou interessada. – se afastou dele, encarando-o nos olhos.
Mantendo um sorriso discreto, Barnes levou a mão direita até o bolso de sua bermuda, tirando um pequeno objeto de lá. Era uma delicada corrente prateada com um pingente com duas letras “W” da mesma cor, unidas. Ele pegou a mão da namorada, depositando o colar entre seus dedos.
— Eu não sabia o que fazer, então perguntei para a Wanda. – ele fez uma careta envergonhada. – Ela parecia saber sobre essas... coisas.
— E ela disse para colocar as letras iniciais de nossos disfarces? – um sorriso maroto surgiu no rosto dela. – WinterWidow.
— Ela disse que era uma boa junção. – o rapaz soltou um riso abafado ao perceber como aquela ideia agora soava ridícula. – Me desculpe.
— Não! – ela negou com a cabeça. – Eu gostei, gostei mesmo, Buck.
— Tem certeza? – ele semicerrou os olhos, analisando as expressões dela.
— Sim, eu tenho. – riu de sua reação. – E, se quer saber, vou usar agora mesmo.
— Então tá. – ele disse.
— Pode colocar pra mim? – ela pediu.
— Claro. – ele respondeu, pegando o objeto de volta.
A Romanoff juntou os cabelos curtos com uma das mãos e esperou. Logo Bucky passou a corrente pelo pescoço da mulher fechando-o com todo cuidado, pois tinha medo de danificar o objeto com sua mão metálica. Quando terminou, ela se virou para ele, tentando conter o sorriso que insistia em se alargar. Segurou o pingente e respirou fundo, controlando os sentimentos.
— Obrigada, Buck. – ela disse apenas.
— Só quero que tenha o melhor dia dos namorados possível. – ele revelou, levemente constrangido. – Mesmo que eu não faça ideia de como agir ou do que falar.
— Barnes. – se aproximou mais dele. – Apenas me beije.
Bucky piscou as pálpebras duas vezes, mas assim que assimilou as palavras da companheira, apressou-se em atender o se pedido. Levou os dedos até os fios , os emaranhado por lá, a trazendo para mais perto. Quando os narizes roçaram um no outro, fecharam os olhos quase ao mesmo tempo, sedentos por aquele momento onde compartilhariam os mesmo sentimentos. Um beijo intenso e cheio de amor.
A noite já estava avançada. A lua brilhava com ainda mais intensidade e o vento soprava frio no território brasileiro. No entanto Bucky e estavam alheios a tudo isso, aconchegados em sua barraca. Trouxeram sacos de dormir, porém, decidiram dividir apenas um deles, mesmo que ficassem um pouco apertados. O que não era um problema.
Bucky abraçava o corpo da namorada contra si, com a intenção de protegê-la da temperatura que havia caído um pouco. O moreno foi o primeiro a dormir e , que continuava desperta, observou como ele estava tranquilo. Geralmente, Barnes tinha pesadelos durante a noite, mas daquela vez, até mesmo a expressão em seu rosto era serena. Enquanto o analisava, pensava em como suas barreiras ia cedendo a cada dia. Era incrível como James a fazia se sentir bem. Era como se se entendessem, completando-se da melhor maneira.
Suspirou discretamente, maldizendo seu coração que ultimamente se derretia por qualquer ação do homem. Foi exatamente assim quando ele a presenteou com o colar. Bucky Barnes era uma pessoa tão doce que se sentia mal só de imaginar o que foram capazes de fazer com ele. Travando o maxilar, decidiu que era hora de dormir, pois teriam mais aventuras no dia seguinte. Precavida, deu uma última olhada no comunicador sob a mochila, apenas para checar.
Nesse instante, ouviu algo do lado de fora. Foi como o som de um galho estalando. Cautelosa, parou o movimento que fazia no mesmo segundo, diminuindo também a respiração para que pudesse pensar melhor. Esperou por mais algum ruído, mas este não veio. Apesar disso, não conseguiu deixar aquela história para lá. Precisava saber se estavam mesmo seguros e se tudo não havia passado de paranoia de sua mente.
Lentamente, se desvencilhou dos braços do companheiro e foi até sua mochila. Pegou o comunicador sobre ela e depois a vasculhou, tirando de lá uma lanterna e uma pistola carregada. Olhou para Bucky, decidindo não chamá-lo, pois tinha quase certeza de que não seria preciso. Poderia resolver o que quer que fosse sozinha.
Determinada, guardou o comunicador no bolso da calça e abriu o zíper da barraca até a metade. Apesar da luz da lua ser bem forte, não seria suficiente para que esquadrinhasse o perímetro. Assim, saiu do abrigo, apontando a lanterna acesa para todos os cantos, mantendo a arma empunhada. Caminhou por alguns metros, parando na beirada do precipício, porém, não encontrou nada. Aliviada, soltou um riso abafado, constatando que o fato dela ser uma espiã super secreta tinha mexido com seu cérebro mais do que gostaria.
Parcialmente tranquilizada, baixou a arma, pronta para retornar para a barraca. Virou-se em direção ao abrigo a poucos metros, mas algo fora dos planos ocorreu. Uma mulher loira, vestida de preto e que aparentava ter a sua idade, apareceu em sua frente. Ela sustentava um sorriso maldoso e, apesar de ser muito bonita, seu olhar era ameaçador.
— Viúva negra, não é?! – ela perguntou, mas não esperou uma resposta.
Com uma agilidade impressionante, acertou um potente soco no rosto da , a derrubando. não demorou a recobrar os sentidos, mas antes que se levantasse, a outra desferiu um chute certeiro em seu estômago, lançando-a para trás. Por estar perto da beirada, se desequilibrou, deslizando pelas pedras até estar pendurada. O esforço que fazia para se manter ali era grande, pois com uma mão continuava a segurar a pistola, usando apenas a outra para se sustentar.
— Quando me mandaram vir atrás de vocês achei que seria muito mais difícil. – a estranha se abaixou.
notou no mesmo segundo que ela segurava uma faca. Não fazia ideia de quem ela seria, mas não se importava. Queria apenas dar um jeito de subir para que pudesse tirar aquele sorrisinho prepotente de seu rosto. Atenta a todos os movimentos da loira, franziu o cenho quando esta aproximou a lâmina de sua mão.
— Acho que se manter assim não deve ser tão difícil para você. – a rival fingiu pensar. – Que tal deixarmos as coisas mais interessantes?
Alargando o sorriso maldoso, a mulher cravou a faca na mão de sem nenhuma piedade. A dor excruciante atingiu todo o seu membro superior, mas a Romanoff se negou a demonstrar qualquer tipo de fraqueza, não desviando seu olhar uma vez sequer do dela.
— Realmente muito valente. – a outra debochou, soltando um leve riso. – Mas não vai conseguir se segurar por muito tempo.
Após a frase, removeu a faca de vez, causando mais dor na russa. Trincando os dentes, passou o dedo no gatilho de sua arma, pronta para atirar a queima roupa.
— Nem pense nisso. – a estranha disse. – Ou meus companheiros darão um jeito no Soldado Invernal antes mesmo que pisque.
Naquele momento, arregalou os orbes claros. Então aquela mulher não estava sozinha. Repreendeu-se mentalmente, pois sabia que alguém daquele tipo nunca estava. Pelo menos não quando resolviam enfrentar pessoas como ela e Bucky. Pensou no namorado e que o havia deixado desprotegido, se odiando por isso. Como pôde ser tão descuidada?
Mordeu a bochecha por dentro, mandando embora os sentimentos que só a atrapalhariam. Agora, a razão seria sua maior aliada. Enquanto o seu próprio sangue começava a escorrer pelo braço, deixando a superfície escorregadia, lutou contra o tempo, utilizando-se de suas habilidades mortais para escapar.
Antes que concluísse qualquer raciocínio, sentiu uma estática contra o seu corpo. Era o comunicador. Bucky provavelmente havia despertado e tentava contatá-la. Aliviada, resolveu distrair a moça.
— Você diz que, caso eu reaja, os outros matarão o Soldado Invernal. – falou, soltando um riso desdenhoso. – Isso é realmente interessante.
— Alguma dúvida? – a loira se manteve inabalável.
— Não. – respondeu. – Acontece que, por mais rápidos que sejam, sempre estarão atrasados.
— Olhando para você, eu discordaria. – a mulher inclinou a cabeça para o lado.
— Vocês podem tentar, podem achar que são espertos, mas nunca serão páreos para ele. – ela continuou, mesmo que isso fosse cada vez mais difícil. – Para nenhum de nós.
— Acha mesmo, Romanoff? – a estranha se inclinou mais para perto dela.
— Tenho certeza. – um sorriso maldoso surgiu em seus lábios.
No mesmo minuto, disparos puderam ser ouvidos ao fundo. A mulher loira se sobressaltou, erguendo o corpo para olhar na direção de onde os tiros procediam. Aquilo foi suficiente para que reagisse. Jogou a pistola para longe, usando as duas mãos para impulsionar seu corpo para cima. Ignorando a dor e o sangue, usou a perna direita para acertar o rosto da outra que voltava a olhar em sua direção. A lançou para o chão ao mesmo tempo em que aterrissava com um dos joelhos no solo.
A mulher de preto se surpreendeu com a agilidade da Romanoff, mas não se deixou abalar. Sabia que a Viúva Negra teria cartas na manga, então não pensou duas vezes antes de retirar uma pistola do coldre, se levantando sem dificuldades. Seus companheiros que se virassem com o Barnes.
— Você é esperta. – a mulher admitiu. – Mas nada do que eu não esperasse. Seria até um insulto se eu a matasse com tanta facilidade.
— Quem os mandou aqui? – também se levantou, ignorando aquela fala.
— Alguém que deseja o fim dos Vingadores. – ela respondeu sem rodeios. – E vamos fazer isso. Vamos matá-los, um por um.
— Gostaria de vê-la tentar. – a sorriu de lado.
Assumindo uma posição de combate, as duas avançaram. Quando a loira ergueu a arma, pronta para disparar, jogou-se de joelhos no chão, deslizando até perto de sua pistola que jazia entre a vegetação rasteira. A pegou, rolando para o lado, desviando dos disparos que a outra realizou. Quando conseguiu equilíbrio para se ajoelhar, também atirou duas vezes, obrigando a loira a se esquivar.
Atiraram mais vezes, mas então desistiram, partindo para o combate. Trocaram socos e chutes em pé de igualdade. A mulher se abaixou, tentando dar uma rasteira na Romanoff, mas esta foi mais rápida, lhe acertando um chute no rosto ao mesmo tempo em que saltava. Desequilibrada, a outra caiu de costas. Tempo suficiente para subjugá-la, agarrando um de seus braços e a fazendo se virar com o rosto por terra.
— Foi realmente muito divertido vê-la tentar. – apoiou o joelho em suas costas, impedindo-a de sair. – Mas agora vai me dizer que a mandou nos matar.
— Infelizmente, Romanoff... – a loira murmurou entredentes. — Isso é algo que eu não poderia revelar.
— E por que não? – ela quis saber.
— Porque, se vocês descobrirem quem eles são, seremos mortos. – ela revelou.
— Isso não me comove nem um pouco. – a Romanoff forçou mais seu braço, arrancado dela um grunhido. – Diga, agora!
A mercenária não respondeu, deixando impaciente. Antes que disse algo, ouviu a estática no comunicador mais uma vez. Rapidamente, o tirou do bolso da calça e apertou o botou ao lado do aparelho retangular.
— , está me ouvindo? – imediatamente, a voz de Bucky se fez ouvir. – , responda!
— Bucky! – a respondeu depressa. – Bucky, estou aqui!
— Eu fui atacado por alguns homens, mas dei um jeito neles. – o rapaz continuou. – Onde você está?
— Eu sei, também fui atacada. – ela respondeu. – Mas não se preocupe, está tudo sobe controle.
— Onde você está? – ele insistiu.
— Na beirada da cachoeira. – a disse.
— Estou indo. – ele concluiu.
não teve tempo de protestar. James desligou a comunicação entre eles, seguindo apressado até onde a namorada se encontrava.
— Parece que o seu namoradinho está bem preocupado. – a loira disse, chamando a atenção da russa. — Na verdade, você também deveria estar.
— Posso saber o motivo? – questionou.
— Sabe,Romanoff... eu sempre admirei o seu trabalho. – a mulher explicou. – A forma como todos a temiam por ser uma agente tão letal. E, de certa forma, isso me inspirou a ser como sou agora.
— Uma assassina? – a desdenhou.
— Uma mulher que sempre tem um plano B. – a outra a corrigiu.
Instantes a seguir, ela usou sua mão livre para ativar o adereço em seu pulso. A pequena pulseira metálica estava escondida sob a manga da roupa escura e não a notou até o momento que recebeu a carga elétrica. Contorcendo-se, largou a inimiga. Caindo no chão, tentou controlar os espasmos em seu corpo, mas era praticamente impossível. A dor que sentia era uma das piores que sentiu na vida. E sua lista de tormentas não era nem um pouco curta.
— É doloroso, não é?! – a loira se levantou, limpando a roupa com as mãos. – Agora sabe o que seus adversários sentiram quando os atingiu com o ferrão da Viúva.
Os espasmos começaram a passar, entretanto, suas forças permaneciam escassas. Abraçou o próprio corpo, se encolhendo em posição fetal, especialmente quando a outra se aproximou. Ela não sentia medo. Não, nem um pouco. Apenas se preocupava com Bucky mesmo que ele tivesse muito mais chances de vencer do que ela.
— Pobre Vingadora. – a mulher se abaixou perto de . – Infelizmente, isso não me comove nem um pouco.
Sem deixar de encarar a Romanoff, levou a mão livre até o cinto, tirando de lá a faca que havia usado para machucá-la. Apontou a lâmina no rosto alvo da adversária com o intuito de intimidá-la, abrindo um sorriso maléfico.
— Eu vou matá-la e quando o soldadinho chegar aqui, também irei dar cabo dele. – a mercenária deslizou a ponta da faca, deixando um corte superficial na pele da russa. – A propósito, meu nome é Yandra. Não que isso importe, é claro. Mas, antes de terminar meu trabalho, quero que saiba quem foi a responsável pelo seu fim.
Yandra ergueu a faca, pronta para acabar com . Em nenhum segundo o sorriso perverso sumiu de seu rosto, mostrando a satisfação por realizar tal tarefa. Porém, ele murchou assim que sentiu uma mão segurar seu pulso, apertando-o com firmeza. Antes que pudesse reagir, seu corpo foi lançado para longe, atingido o chão desnivelado com força.
Quando a moça ergueu os olhos, quase sem fôlego graças ao impacto, avistou quem fora o responsável pela intromissão. Parado entre ela e a Romanoff, estava o Soldado Invernal. E ele parecia furioso. Ignorando as dores, Yandra abriu o sorriso mais uma vez. Lá estava ele, seu principal alvo. Se matasse Bucky Barnes receberia uma grande recompensa, sem contar o prestígio que teria entre seus colegas de trabalho. Levantou-se com certa dificuldade, vendo-o cerrar os punhos.
— Não posso acreditar! – ela falou. — O Soldado Invernal em minha frente.
— Pois deveria. – Bucky disse entredentes.
— Claro que sim. – Yandra riu abertamente.
Ao perceber que o soldado a atacaria, foi mais rápida, tirando uma bomba de fumaça do cinto. A jogou na direção deles e no mesmo segundo tudo ficou branco ao redor do casal. , que a aquela altura já estava melhor, se levantou a procura do companheiro. Acima de tudo, sua maior vontade era socar aquela garota até que estivesse inconsciente.
— Bucky! – o chamou.
Mas, recebeu de volta um golpe no rosto. Por ainda estar debilitada pela carga elétrica, caiu de joelhos, amaldiçoando todas as gerações daquela mulher. Em segundos, ouviu o som de golpes metros à frente, deduzindo que Bucky e Yandra lutavam. Aproveitou-se disso, rastejando em busca de sua pistola. Ao encontra-la, viu que ainda havia algumas balas. Seguiu o ruído dos socos e chutes, mantendo-se sempre deitada.
Aos poucos, a fumaça se esvaiu e a pôde avistar os dois mais afastados, na beirada do penhasco. Bucky acertou a garota, que cambaleou para trás, mas logo se recompôs. Sem pensar, Yandra ergueu o braço na direção do soldado, disparando contra ele uma carga elétrica ainda maior do que a que lançou contra a Viúva Negra. Apesar disso, não conseguiu derrubá-lo, por isso tentou mais uma vez.
Do local que estava, viu Bucky receber várias cargas elétricas seguidas. O homem resistiu por algum tempo, mas logo o ataque se tornou demais até para ele. Soltando um grunhido de dor, Barnes tombou ajoelhado e a sabia que não aguentaria mais. Quando Yandra preparou-se para mais uma rajada elétrica, a Romanoff apontou a pistola para a mulher. Sem cerimônias, disparou contra o dispositivo no pulso da mercenária.
A bala atingiu a pulseira de Yandra, danificando-a. Instantaneamente, a eletricidade atingiu o corpo da moça, arrancando um grito que saiu engasgado por sua garganta. Enquanto era eletrocutada, seus membros se contorciam descontrolados ao mesmo tempo em que a dor lancinante sugou todas as suas forças. Dando passos para trás, ainda conseguiu retirar uma faca do cinto, porém disparou novamente, a acertando no peito. Com o novo impacto, soltou a lâmina, que alcançou o chão ao mesmo tempo em que a mulher despencava do precipício, caindo no poço.
Instantaneamente, o silêncio instalou-se no ambiente e apenas o ruído do vento contra as folhas podia ser ouvido. Transbordando preocupação, se levantou sem se importar com as dores que sentia, correndo na direção do namorado que continuava no chão. Ajoelhou-se ao lado do rapaz, se inclinando em sua direção. Assustou-se com o sangue que escorria pelo nariz dele, chegando sua pulsação sem pensar duas vezes. Suspirou ao constatar que ele estava vivo.
— Bucky! – segurou o rosto dele, o chamando com calma. – Bucky, acorda!
Às suas palavras, o homem não demorou a reagir, abrindo as pálpebras lentamente. Assim que sua visão se focalizou na mulher à sua frente, seu coração bateu aliviado. Se algo acontecesse a , ele nunca se perdoaria. Mesmo debilitado pelas cargas elétricas, ergueu a mão, segurando a dela com firmeza.
— Estou aqui. – Bucky respondeu baixinho.
— Graças a Deus... – a Romanoff murmurou.
Deixando de lado qualquer traço de orgulho, lançou-se sobre o companheiro, o abraçando com força. Logo pôde sentir um dos braços de James à sua volta, a trazendo para mais perto.
— Eu pensei que... que iria perdê-lo. – a voz da vacilou por um instante. – Me desculpe.
— Não... – ele negou com a cabeça. – Não foi culpa sua.
— Eu deveria tê-lo acordado. – a moça se afastou, o encarando nos olhos. – Mas o deixei sozinho, eu...
— ! – Bucky a interrompeu, apoiando uma mão em seu rosto sujo de terra. – Eu posso me proteger sozinho, assim como você também pode. Nenhum de nós tem culpa se psicopatas assassinos tentaram nos matar.
— Não, não temos. – finalmente ela cedeu.
— Acho que faz parte da profissão sofrer ameaças constantemente. – o homem sorriu de lado.
Retribuindo o gesto, a russa ajudou o soldado a se sentar. Apesar do ataque, James era um super-soldado, por isso se recuperaria rapidamente. Juntos voltaram para a barraca. No meio do percurso passaram por alguns homens que Bucky conseguiu derrotar. Todos estavam com Yandra, mas agora jaziam mortos ou inconscientes.
Após se comunicarem com a base dos Vingadores, informando o que havia acontecido e que precisariam de resgate o mais rápido possível, Bucky e permaneceram quietos. Em nenhum momento fizerem a menção de que dormiriam, não demonstrando nem sinal de sono. Sentados à entrada da barraca, fitavam o perímetro sem deixar nada passar até verem o sol começar a nascer no horizonte.
Apesar do clima estranho a garota se aproximou do namorado, deitando a cabeça em seu ombro. Barnes passou o braço em seu ombro, a trazendo para mais junto de si. Respirando fundo, a finalmente tomou coragem para dizer o que vinha guardando dentro do peito há muito tempo. Algo que a consumia a cada instante, tirando seu sono e deixando-a aflita. Soltou o ar de uma vez pelos lábios, permitindo que a sentença escapasse.
— Eu amo você. – sua voz saiu mais natural do que pensou.
— Como? – o homem se surpreendeu.
— Eu disse que amo você, Bucky. – ela finalmente se virou para ele. – Descobri isso há um bom tempo, mas sempre achei que não era necessário expressar meus sentimentos. Pensei que fosse perceber com o tempo. Mas... eu estava enganada. Hoje, quando vi aquela mulher e ouvi suas ameaças, não pensei em mim em nenhum momento. Só havia você. É assustador? Sim, é. Mas eu decidi que te amar é a melhor coisa que já me aconteceu e não posso perdê-lo. Não posso sequer pensar nisso.
— Ei! – James segurou o rosto da moça entre suas mãos grandes. – Está tudo bem.
— Bucky... – ela tentou falar, mas ele continuou.
— Sei o que está sentindo, pois sinto o mesmo. – ele sorriu. – Amo você, Romanoff. E pensar num vida onde não poderia encarar esses seus olhos, pra mim não seria uma vida. Seria o mesmo que voltar aos meus dias de tortura.
— Não deveríamos ter esperado tanto para perceber isso. – a mulher se aconchegou mais nos braços dele.
— Sim. – ele concordou. – Mas agora vamos fazer diferente. Vamos ser sinceros e sempre conversar sobre o que sentimos.
— Acho que posso tentar. – um riso abafado escapou pelos lábios dela. – Mas não prometo nada.
Bucky riu da atitude da russa, a abraçando com força, a puxando para seu colo. Com carinho tocou o rosto alvo, encostando as testas. Delicadamente, uniu os lábios num beijo calmo, onde compartilhavam todo o amor que sentiam. Um beijo singelo, mas que nunca seria esquecido. Quando o ar faltou se separaram, continuando com os rostos próximos.
— Feliz dia dos namorados. – o rapaz disse, arrancando um riso da namorada.
— Definitivamente, o melhor e mais estranho dia dos namorados de todos. – respondeu.
Permaneceram ali, apreciando a companhia um do outro, até que ouviram o som das hélices de um helicóptero. Imediatamente, souberam ser um dos veículos do Stark, por isso se levantaram, apenas aguardando pelo resgaste.
Aquela havia sido uma viagem cheia de desafios, correram o risco de perder a vida e ainda pior, de perder um ao outro. Porém, foi nesse mesmo dia que revelaram seus sentimentos mais intensos. A partir dali construiriam um amor grande, cheio de cumplicidade. Um amor que só cabia a eles sentir e entender.