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MOMENTS – O Show Já Começou






Prólogo


MOMENTS



Quem é fã sabe quão difícil é amar alguém que vive há milhões de quilômetros de distância de você e, ainda por cima, ter que ouvir “eles nem sabem da sua existência!”. Ser fã é mais do que admirar uma personalidade pública, é mais do que ir a shows ou ter uma coleção de todos os CDs em casa. É muito mais do que simplesmente ter alguém como referencial. Ser fã é cuidar de alguém que você nunca viu pessoalmente para ter a certeza de todo o seu amor. É estar presente nos piores e melhores momentos de uma pessoa que nem ao menos sabe o seu nome. É cantar junto, chorar junto e se emocionar em grupo. É não medir esforços em desafio nenhum porque sabe que aquela pessoa merece todo o seu sentimento. Cada lágrima, cada grito, cada sorriso e, principalmente, cada loucura. O amor de um fã por seu ídolo é algo imensurável.

Elas sabiam disso. E para provar todo amor que tinha por aqueles cinco garotos, embarcaram numa enorme aventura com o objetivo de realizar o sonho de qualquer fã: ir ao show da sua banda preferida. Ah, e uma delas era eu.

Naquela fria manhã de inverno, que na verdade nem parecia tão fria tamanha euforia de todas aquelas garotas na fila do estádio para assistir ao show mais esperado do ano, da boyband mais famosa do século: One Direction.

– Não estou preparada psicologicamente para isso. – disse.
– Eu estou. Esperei tanto por isso que deu para me preparar psicologicamente. – Comentei. – Gente, é impressão minha ou o tempo está fechando? – Perguntei ao olhar para aquelas nuvens escuras que encobriam o céu.
– A gente veio de tão longe para assistir este show, realmente não me importo com esse frio agora. – falou.
– Frio?! Pelo amor de Deus, ! Que frio que nada. Um calor desses... – bufou.
, você é doente. – anunciou enquanto colocava os óculos escuros no rosto.
– Falou a menina que está colocando óculos escuros em um tempo nublado. – Brinquei.
– Eu quero tirar uma selfie. – Confessou . Nós rimos.
– Daqui a pouco o sol abre. São Paulo tem dessas coisas. A gente tem que sair de manhã com casaco, jaqueta e blusa de manga comprida, ah, e não se esquecer das meias e calça jeans. Porém tem que tirar tudo isso quando passa do meio dia, senão a gente frita, e depois colocar tudo de novo às oito da noite. – Expliquei.
As meninas riram mais uma vez.
– Ainda bem que vim de casaco. – articulou.
– Não se esqueça de que você vai ter que tirar isso se não quiser morrer de calor daqui a algumas horas. – Pronunciei.

tirou o celular da bolsa e começou a acompanhar com as fotografias. Eu, e preferimos comentar as estratégias de “como atacar os bastidores e roubar o Liam para a gente”, o que não deu muito certo no fim das contas.

– Ai, gente, eu estou morrendo de fome. Alguém trouxe lanche? – Perguntei.
– Não é novidade. – revirou os olhos. – Eu trouxe Fini, bolacha recheada e dinheiro pra comprar comida. – Completou.

tirou da bolsa o pacote de bolachas e colocou em minhas mãos, retirei o plástico e as coloquei na boca. Era de chocolate, eu já estava enjoada, mas precisava comer. A não ser que quisesse levar um sermão da .

– Eu vi você colocando metade da feira dentro da bolsa hoje. – comentou, rindo.
– Cala a boca. – Ordenei enquanto mastigava.
– Gorda! – Disseram em coro.

Não liguei, apenas continuei comendo. É claro que iria dividir o meu lanche na hora que alguém sentisse fome, mas eu sou viciada em comida. Principalmente bobagem, então de certa forma, não gostava muito de dividir. O que era quase um defeito meu.

– Não tem nenhum lugar para sentarmos? Minha bunda está ficando quadrada. – reclamou.
– Já notaram que só abre a boca para reclamar? – murmurou. – Ali tem uns batentes. Acho que dá para sentar daqui para às cinco da tarde.
– Graças a Deus que os portões abrem às quatro. – Cruzei os braços e caminhamos em direção as escadas. Cada uma sentou em um degrau e ficamos ali, comentando sobre as pessoas, a cidade e claro, o show que estava por vir.
– Estão gostando de São Paulo? – Indaguei.
– Eu estou. – respondeu.
– Também. – e falaram em coro.
– Ainda bem, porque amanhã a gente vai dar uma de turista na cidade. Vai ser bem legal. – Anunciei. – Mas, enfim, vamos fazer alguma coisa? Ficar olhando para vocês me dá tédio. – desta vez, fui eu que banquei a reclamona.
– Que tal se a gente puxar um coro? – sugeriu.
– Acho bom. Quem começa? – .
! – Gritamos todas juntas.
Ela balançou a cabeça negativamente e riu tímida.
– Sempre sobra para mim.
– Quem manda nascer com uma voz perfeitamente perfeita de cantora internacional? – Ri baixo. – Começa logo!
– Aí... – ela colocou as mãos no rosto. – Tudo bem, qual música? – Midnight Memories! – falou quase gritando.
– Certo! One, two, three...

Straight off the plane to a new hotel
Just touched down, you could never tell
Big house party with a crowded kitchen
People talk shit, but we don't listen

Tell me that I'm wrong but I do what I please
Way too many people in the Allison Lane
Now I'm at the age when I know what I need, oh wow

Antes de entrarmos no refrão, metade das garotas que estavam na fila começou a cantar loucamente, balançando as bandeirinhas como um bando de piradas. Outras gritavam tanto que até o segurança do estádio teve que levar as mãos ao ouvido na parte do “I don't wanna stop till get me ohhhhhh”. Foi incrível o jeito que todas nós estávamos cantando. A melhor parte foi quando levantamos e fizemos uma dançinha improvisada na frente dos seguranças, o que gerou tanta risada que quase fomos expulsas da fileira. Eu simplesmente não conseguia parar de rir.

– Gente, vocês têm noção que estamos a horas de ver os nossos ídolos? – Gritei.
– É VERDADE! – falou mais alto.
– POXA, CARA. JÁ SÃO UMA HORA DA TARDE! POR QUANTO TEMPO CANTAMOS? – gritou ainda mais alto que nós duas. – ACHO QUE QUANDO OS PORTÕES ABRIREM EU VOU TER UM TRECO. ALGUÉM ME SEGURA!
gritou histericamente enquanto pulava no meio do tumulto.
– CARACAAAAAAAAA! – Dizia ela.
– ACHO QUE VOU DESMAIAR! – disse.
– Não brinca com isso, . – Ri.

Sentamos nos degraus de novo, dessa vez quase que mortas de calor. Tiramos o casaco e o enrolamos na cintura. Eu abracei as meninas e pedi para que registrassem aquele momento maravilhoso.

– E só de pensar todas as dificuldades que passamos até chegarmos aqui... – comentei.
– Eu me lembro de absolutamente tudo! – comentou, rindo em seguida.
– Eu também! – riu.
– Eu estava me lembrando de como tudo começou... – falei.


Capítulo 1 | A Vida Tem Dessas Coisas


Primeira parte (Narrada por )



Se tem uma coisa na vida que eu gosto de fazer é escrever. Escrevo até texto para o vento se rolar inspiração. Não sei se tenho tanta criatividade, mas tem hora que do nada me dá uma vontade louca de pegar um papel e uma caneta e começar a escrever tudo o que vier na minha cabeça, às vezes escrevo contos e, sei lá, tenho vontade de escrever um livro.

Bem, me chamo e tenho dezesseis anos. Moro numa cidade do Nordeste, mas sou paulistana. Há mais ou menos quatro anos me mudei para minha atual escola onde conheci as amigas ao qual temos um amor em comum: One Direction. Acho que você já deve ter ouvido falar por aí.

Sou bem simpática quando quero. Às vezes fico com raiva de alguma coisa totalmente desnecessária, mas acredite, sou legal. O meu sonho é conhecer os meus ídolos. Ah, também gostaria de visitar a Europa. Itália e Inglaterra, principalmente. Não sou romântica. Detesto essas coisas cheias de mimimis. E, por incrível que pareça, eu escrevo romances. Sim, não que eu goste, prefiro escrever suspense, inclusive. Porém gosto de escrever sobre romance, não curtiria viver um. Talvez por isso que eu seja a que tem menos assunto no grupo. Todas as meninas – quando eu digo todas, são todas mesmo – falam sobre garotos na minha idade. Eu evito. Minha última experiência não foi a melhor, garanto.

***


Cheguei ao colégio meio atrasada, o que era bem normal. Juliana estava comigo, o que também era normal. Nós somos vizinhas, então sempre viemos à escola juntas. Nos juntamos aos outros “atrasadinhos de plantão”, Lucas estava entre eles. Eu ri por dentro, me lembrei da na mesma hora.

Antes que eu pudesse tirar este pensamento da minha cabeça, consegui enxergá-la subindo as escadas. Ela também estava atrasada. O que era mais normal do que as duas outras coisas normais acima.

– Bom dia, atrasadinha. – brinquei.
– Cala a boca, você está aqui mais tempo que eu. – Retrucou.
– Justamente. Isso implica dizer que você é a mais atrasada entre todos nós. – Fiz um sinal de círculo com a mão, como quem quisesse apontar para os outros alunos. – E, olha quem está ali. – Cochichei em seu ouvido. – Paçoca.

desviou o olhar para o Lucas e o encarou por alguns segundos. Eu achava tão lindo o jeito que eles se olhavam. Lucas era visivelmente mais alto do que nós duas juntas. E, às vezes tinha que erguer a cabeça para enxergar o rosto dele, o que era engraçado. O garoto olhou para ela e rapidamente desviou o olhar para mim novamente.

– Ah, droga, seja discreta. – Sussurrou em minha direção.
– Estou sendo. – Falei baixo enquanto segurava o riso.
Fomos interrompidas por uma colega de nossa sala nos puxando para a sala.
– Não ouviram? O auxiliar já mandou a gente ir para a sala. – Disse.

Lucas estava atrás de nós, ele bateu no ombro de e pediu licença, com aquele olhar que só ele conseguia fazer. Uma cara meio “Eu não gostaria de olhar para você.”. A ficou em estado de choque, não disse nada até que chegássemos à sala. Era aula de Filosofia e o professor já estava com o projetor ligado em alguma citação de Sócrates, nem ligamos. Joguei minha bolsa no chão e sentei na penúltima cadeira da quarta fila à esquerda. sentou-se ao meu lado, na quinta fila.

– Bom dia. – falei em direção à , que estava sentada em uma cadeira à minha frente na terceira fila.
– Bom dia. – respondeu.
– Bom dia, . – a cutuquei, sempre sentava na minha frente, o que era bom porque ficávamos nos falando durante as aulas.
– Bom dia! – Contrapôs.

As primeiras quatro aulas foram um verdadeiro tédio, conversamos a maior parte do tempo, e eu fiquei comendo Fin, sou realmente viciada nisso. Depois da quarta e, graças a Deus, última aula antes do intervalo, o sinal tocou e fomos liberados. Tirei da bolsa um pacote de Cookies e um suco de caixinha. Junto a eles tirei meus fones e o meu celular. Como de costume, permaneci em sala de aula com a . Nós fomos para o fim da sala e ficamos conversando.

– Eu vi sua cara quando viu o Lucas hoje. – Comentei.
corou.
Parei de falar quando e sentaram do nosso lado.
– Ok, está sabendo do Grande Anúncio que os meninos irão fazer amanhã de manhã? – disse.
– Sim, cara! O que você acha que é? – Perguntei enquanto mastigava o último Cookie que sobrara no pacote.
– Provavelmente deve ser algo em relação ao novo CD. – respondeu.
– Eu acho que seja algo que envolva uma nova turnê. – pressentiu.
– Tomara, viu?! – Comentei em resposta.
– Estou confiante que seja isso mesmo. – disse.
– Todas nós estamos. – falei rapidamente.
– Isso é verdade, imagina a gente lá no show deles! – idealizou.
– Certo... vamos sonhar menos, eles se esquecem do Brasil. – comentou.

Fomos detidas pelo toque que anunciava uma quinta aula de Geografia. Daí em diante passou mais rápido do que nós imaginávamos e logo estávamos em casa.

***


Na manhã seguinte, estávamos todas nós sentadas nas mesmas cadeiras do dia anterior. O relógio batia oito e meia. Dali a meia hora estaríamos descobrindo o tal anúncio da One Direction. Estávamos no meio da aula de Biologia quando girou-se para mim e me cutucou enquanto eu copiava algo sobre Briófitas no caderno. Virei na direção dela.

– Já saiu o anúncio? – Perguntei aos sussurros.
– Daqui a meia hora, meu 3G não está pegando. Seu celular está na bolsa? – Ela indagou falando ainda mais baixo.
– Está. Espera aí.

já estava virada para comentando sobre o assunto e virou-se para e perguntou alguma coisa que não entendi. Tirei o meu celular da bolsa temendo que o professor visse e entreguei-o nas mãos dela com o maior cuidado do mundo, como se tivesse traficando algum tipo de droga.

Continuei a copiar normalmente, finalmente eu estava entendendo as diferenças entre Briófitas e Pteridófitas, o que me animou bastante. Não demorou muito para que o sinal tocasse e o professor se retirasse da sala.

– E aí, ?! Nada? – perguntou pela milésima vez.
– Não, . Dez minutos. E ainda tem aula de História! Tomara que o professor não perceba o celular. – Ela apontou para o mesmo.
– Também espero que ele não perceba, não estou a fim de explicar o motivo do celular em cima da mesa. – Soltei.
– Bom dia, pessoal. – A voz do Antônio era facilmente identificada. – Onde a gente parou na aula anterior? – Ele ligou o projetor.
– Ditadura! – Alguém gritou.

As luzes da sala foram apagas e o Antônio deu início a mais uma volta ao passado e à ditadura brasileira. Confesso que adoro História, mas no momento eu não estava nem aí para o que estava sendo passando em sala de aula. Sorte que o assunto era bem fácil, então, dava para pegar com tranquilidade depois.

– Olha agora. Nove em ponto. – cochichou.

Os enormes dedos de deslizavam na tela do meu celular, todas nós estávamos bem apreensivas em relação ao anúncio. Ela procurava nervosa a resposta de tantas curiosidades nossas. O site estava demorando a carregar, o que me deixou bem inquieta.

– Droga! Droga! – xingava o celular aos sussurros.
– Calma, . – disse. – Se o Antônio notar alguma coisa a gente está ferrada!

Quando o site finalmente carregou, disfarçou o celular dentro do estojo e fingiu prestar atenção a alguma leitura inexistente em seu caderno. Notei quando os olhos dela brilharam e colocou a mão na boca, como quem quisesse prender um grito. Enlouquecemos com a expressão.

– Pelo amor de Deus, garota, não me mata do coração! – Soltei. – O que diabos tem aí? – Sussurrei apressada.
– Gente, socorro! – Foi só o que ela disse.
– Dá essa merda! – exaltou-se, puxando o celular da mão de .

leu o anúncio e olhou para mim com os olhos quase cheio de lágrimas. Deixou o celular em cima da mesa e olhou fixamente nos olhos de , as duas estavam piradas.

– ELES VÃO VIR PRA CÁ! – Gritou.
Antônio virou-se em nossa direção neste momento com um olhar bravo e disse alguma coisa. A sala toda caiu na risada com a cena. Mas, não nos importamos. Não acreditei até ler com meus próprios olhos.

Turnê pela América do Sul. Simplesmente não acreditei que o momento mais esperado durante três anos, havia chegado, e independe de onde seria, nós iríamos. Nossos pais precisavam entender aquilo.

– Socorro! – falou.
– Eu não estou bem. – foi a vez de pronunciar algo. – É o meu maior sonho. Quer dizer, nosso maior sonho! Ai, eu não acredito que iremos ver os meninos.

Esperamos ansiosas até a hora do intervalo, que seria logo a seguir. Lemos tudo novamente e ficamos gritando na classe feito um bando de retardadas. Ok, nós somos. Quando finalmente conseguimos nos conter, sentamos uma de frente para outra no chão e começamos a discutir como e quando iríamos ao show.

– Aqui, as datas. – Deslizei a tela do meu celular com o dedo. – 8, 10, 12 e 13 de maio. – Elas se entreolharam e eu voltei a ler. – Ok, temos as datas. A turnê será por São Paulo, no dia 8 e 10, Rio de Janeiro no dia 12 e Brasília, no dia 13. – Continuei lendo. – Eu acredito que seja melhor nós irmos para São Paulo. Tenho onde ficar lá, sem dúvida, vocês ficarão comigo. E, por incrível que pareça, o prédio é pertíssimo do local onde vai ser o show. – Contei animada.
– Que sorte a nossa! – sorriu. – Não importa o que faremos, mas vamos!
– Ai, cara, nosso ídolos estão vindo ao nosso país! – quase gritou.
– Juro que ainda não estou crendo. – disse.

O sinal do fim do intervalo tocou, e naquele dia teríamos mais três aulas pela frente, o que era um saco. Ficar na escola até uma da tarde não é uma das melhores experiências da vida.

– Ok, gente, quando chegarmos a nossas casas, depois que falar com pais de vocês, por favor, entrem no chat. Nós vamos organizar tudo. – Falei me levantando.
– Meu pai já deixou, com certeza. – afiançou.
– Espero que os meus pais deixem. – falou.

Após o término de todas as aulas, meu tio não demorou a chegar e eu fui o caminho inteiro gritando que meus ídolos iriam vir para o Brasil. Sinceramente, depois de um tempo fiquei com medo de mim, de verdade.

Entrei em casa como um furacão, corri até a minha mãe e abracei-a com a maior força que obtive.

– MÃE, A ONE DIRECTION VEM PARA O BRASIL! – Gritei enquanto jogava minha bolsa para o alto.
– Que isso, menina! – Ela assustou-se. – Calma, nervosa assim você não vai conseguir me contar nada. – Riu. – Enfim, estou feliz por você.
– Ahhhhhh mããããããe, eu preciso, tipo, muito ir nesse show. – Falei quase implorando.
– Eu sei. Vou ver como está a nossa situação e farei o possível, tudo bem?
– TUDO ÓTIMO, SUA LINDA! – Respondi.
Tenho a melhor mãe do mundo.
Sério, é incrível como ela sempre me dá a maior força em qualquer momento da minha vida, principalmente quando mais preciso. Temos uma relação bem amigável, e nós comentamos juntas tudo que se relaciona com a One Direction. E ela sempre me dá o maior apoio, eu sabia que poderia contar com a minha mãe.

Pulei para o celular depois do almoço. Liguei o aplicativo e esperei que carregasse. Assim que abriu, já tinha duzentas mensagens no grupo das meninas.

: E aí, gente?! Tudo certo?
: Sim, eu disse que o meu pai ia deixar. Haha
: Eeeei gente, que horas abre a venda de ingresso?
: Meia-noite de hoje!
: Ok, as chances de todo mundo comprar com contas diferentes é menor, porque a gente não faz o seguinte, tipo, dividimos os serviços?
: Concordo com , dividir os serviços facilitaria, porque como a demanda dos ingressos vai ser grande, uma pessoa só ficava encarregada de comprar o de todas, outra pela comida...
: O cartão da minha mãe dá pra comprar três ingressos, e os outros dois?
: Eu posso comprar os outros dois.
: Pronto, daí a gente paga a vocês depois.
: Ok, então eu e a vamos ficar ligadas pra comprar os ingressos hoje de madrugada!
: Ok, eu posso ficar com a parte da disponibilidade da casa e as comidas, carro e passeios lá! 
: Ok! Cada uma compra sua passagem, né?!
: É, mas isso ai a gente resolve depois, eu tenho milhas, acho q vocês devem ter também, temos que ver o dia do show...
: dia 8, e podem ficar olhando as promoções de voos, sempre tem de madrugada!
: Certo!

Exatamente as zero hora do dia seguinte, lá estava eu com o celular na mão em busca de notícias de ou . Foi o maior sufoco! No fim das contas, foi a primeira a anunciar a compra de três ingressos na pista Premium! Repito: minha amiga conseguiu três ingressos na pista Premium! Quase caí para trás quando ela noticiou. Não consegui sequer conter minhas lágrimas desesperadas de uma fã prestes a ir ao show do ídolo! Mas, calma lá, ainda faltava conseguir comprar, o que gerou dores de cabeças enormes para todas nós.

Em pouco mais de vinte minutos, ela colocou no grupo que não havia conseguido comprar nada, eu estava para chorar quando descobrimos que ela estava brincando. Também conseguira dois naquela mesma noite. Feito! Nós iríamos ao show da One Direction. Fui dormir quase quatro da manhã, tendo que acordar as seis para ir à escola. Não preciso falar que eu parecia mais um zumbi do seriado The Walking Dead (sim, eu sou apaixonada por esta série, também!) do que uma simples aluna sonolenta.

***


As aulas passaram rapidamente, em um piscar de olhos já estávamos de volta à escola para a aula de Educação Física. Eu estava relativamente ansiosa, pois iria vê-lo. Pietro é o tipo de garoto que qualquer menina ficaria babando. Sério! Eu não estou brincando, se você o visse, concordaria comigo. Nós nos conhecemos de uma forma ridícula, e mantínhamos um relacionamento de uma forma mais ridícula ainda. Nos nós odiávamos. Mas, depois de tudo que aconteceu, sim, sou maluca. Acho que gosto dele.

Início do flashback.

Pela terceira vez naquela manhã, eu senti o papel amassado sendo jogado na minha cabeça. Suspirei fundo mais uma vez. A vontade que eu tinha era de levantar, olhar para trás e socar Pietro, mas eu sabia que não podia fazê-lo, não ali. Tive uma ideia melhor. Levantei o dedo indicador no meio da aula de Matemática.

– Professor, o senhor pode pedir que Pietro pare de jogar peteca em mim, por favor? Ele está atrapalhando o meu raciocínio! E este é o terceiro papel que ele me joga só na sua aula, creio que não está prestando atenção. – Falei em tom de ódio.
O professor parou de copiar na mesma hora.
– Não estou lidando com crianças, Pietro. – Reclamava.
– Mas professor, eu só estava tentando jogar o papel no lixo. Não tenho culpa se a senta na cadeira de frente para ele. – Tentou um argumento.

Inválido. Como essa brincadeira já era de costume, óbvio que eu já havia feito alguma coisa. Afastei o lixo que ficava na minha frente para o outro lado da sala, ou seja, não tinha como dizer que foi sem querer.

– Você está precisando de óculos. – Soltou. – Isso não são atitudes de um garoto de catorze anos. Fora de sala.

Foi o melhor momento da minha vida. Soltei um sorriso de vitória. O observei caminhar até o fim da sala e abrir a porta para sair. Esperei até que o professor se virasse de volta para o quadro e dei um “tchauzinho” para Pietro, que agora olhava friamente na minha direção, e fechava a porta em seguida.

Fim do flashback.

O professor pediu que fizéssemos uma partida de vôlei, eu odeio Educação Física, então, resolvi ficar sentada no banco, observando o pessoal jogar enquanto eu enrolava com uns bambolês. Quando dei por mim, várias pessoas estavam sentando ao meu lado. Pietro passou por mim, fez como quem não tivesse me visto. E sentou na ponta do banco. Aquilo era realmente estranho para mim. Fiquei muito curiosa para saber por que ele tinha chegado tão cedo. Ele fazia futsal, e as aulas de futsal são depois da Educação Física! Geralmente eu o via no final da minha aula. Não sei se sou maluca, mas sinto falta das implicâncias dele. Desde que mudei de sala, ano passado, não tinha o visto.

Fiquei o observando pelo canto do olho. Nada demais. O problema era que os olhos dele me atraiam. É estranho dizer isso, mas, eu não conseguia evitar olhar nos olhos daquele garoto. Era como se tivesse um ímã que me forçasse a olhar na direção dele o tempo inteiro. Mordi meu lábio para que ele (e nem ninguém!) notasse. A sorte é que chegou e sentou-se ao meu lado. Ela estava rindo.

– O que foi? – Perguntei, rindo da risada dela.
– Você não viu? Guilherme acabou de levar uma superqueda no chão! – Ela dizia, aos risos.

Guilherme é um de nossos melhores amigos. Ele é o tipo de garoto que, não importa o que aconteça, sempre vai conseguir te irritar e te fazer rir ao mesmo tempo.

– Droga. Eu estava concentrada neste bambolê. – Apontei para o objeto, mentindo, quando a verdade estava bem ao nosso lado. – Como foi? – Indaguei, mas confesso que não estava com o menor interesse em saber.

Ela contou algo como: ele estava na quadra, iria sacar a bola, alguém apareceu no meio na mesma hora que ele correu para dar o saque. Então, a pessoa conseguiu escapar mesmo na hora em que a bola voou na direção contrária enquanto Guilherme caía de barriga para o chão. Óbvio que dei risada, imaginando a cena. Olhei para a quadra e lá estava ele, limpando a barra da calça da escola. Rimos muito, muito mesmo!

A aula acabou cedo. Ficamos na escola até umas quatro da tarde, quando finalmente, meu tio chegou para nos buscar.

***


Enquanto tomava banho, coloquei o CD da One Direction para tocar, afinal, eu precisava me preparar para o grande show dali a dois meses. Cantei a maioria. Eu nunca conseguia ouvir o álbum todo, sempre terminava o banho antes disso, até porque eu sou a favor da economia de água. Peguei o celular ao terminar de me vesti e chequei as novidades. Não pude conversar muito porque lá estava minha mãe me chamando para lanchar. Dispensar comida? Jamais.

– Oi, . – Pude ouvir a voz do Rafael na minha direção.
– E, aí, Rafa?! – Respondi sorrindo. – Quanto tempo...

Rafael era o filho da melhor amiga da minha mãe, tinha cabelos loiros e olhos escuros, nós nos conhecíamos há pouco tempo, já que ele morava com o pai no interior. Apesar de ser dois anos mais velho do que eu, ele era extremamente legal.

– Verdade. – Ele acenou e me deu um abraço em seguida. – Novidades?
– Hum, vou ao show da minha banda preferida. – Dei ombros, para não parecer tão ridícula e gritar.
– One Direction? – O Rafa riu.
– Como você sabe que eu gosto da One Direction? – Indaguei.
– É impossível não saber, você vive escutando! – Ele riu para mim. – Tudo bem, eu sou fã do Arctic Monkeys e bem, acho que te entendo um pouquinho.
Nós rimos.
– É. Estou feliz por isso. – Falei enquanto tomava um copo do suco.
– Fico feliz por você. – Rafa respondeu. – Aliás, me lembrei de você quando escutei uma dessas músicas na rádio ontem à tarde.
– Sério? Nossa! – Confesso que fiquei meio sem jeito.

Não preciso dizer que nossas mães começaram a tirar onda da gente, preciso? Pois é. Elas sempre faziam isso, e sempre ignorávamos. Até porque, um garoto como Rafael nunca daria bola para mim.

Depois de algum tempo, me despedi deles dizendo que ia estudar e subi para o meu quarto. Em seguida, sentei na cama e comecei a lembrar das coisas que aconteceram no decorrer do dia, principalmente sobre o Pietro. O que era uma merda, pensar sobre ele era uma verdadeira merda. Vê-lo, ainda pior. Apesar de muito tempo separado, quando eu o via, parece que minha mente ecoava a tempos remotos, me fazendo enxergar cada detalhe daquele rosto. Era absurdo. Como uma pessoa, assim como eu, gosta de um garoto que curiosamente, é o seu arqui-inimigo?

***


O final de semana não demorou a chegar. Fui acordada por gritos. O que era totalmente normal na minha casa aos Sábados pela manhã. Olhei para o relógio, dez para as nove. Que saco! Já não bastava acordar cedo, tinha que aguentar minha mãe gritar pelo meio da casa a esta hora da manhã? Suspirei. Como quisesse esquecer os pensamentos, já que hoje eu tinha marcado de ir ao shopping com o pessoal. Passei a manhã inteira escrevendo, sério. Parei em meados de uma da tarde, quando finalmente, decidi me arrumar para sair. Já que o encontro estava marcado para as duas e eu sequer tinha tirado o pijama.

Corri para o banheiro, me aprontei o mais rápido que pude e coloquei delineador com rímel, não, eu não estava a fim de me arrumar naquele dia.

, vamos embora! – Ouvi a voz do Guilherme ecoando no corredor da minha casa enquanto eu ainda procurava o outro par da sapatilha.
– Já vou. Espera aí! – Gritei em resposta, correndo com uma sapatilha só nos pés, procurando a outra pela casa desesperadamente. Achei. Coloquei no outro pé e o abracei fortemente. – Vamos.

Chegamos ao shopping mais ou menos duas e meia. Primeiro lugar que a gente foi: cinema. Não que fossemos assistir a algum filme, claro que não íamos. Em nenhum momento quis sair de perto do Guilherme, e a gente se divertia muito com isso.

– Eu queria tomar um milk-shake. – comentou.
– Ei, eu também! – concordou. – Vamos para a praça de alimentação?
Concordei com a cabeça.
– Mal posso esperar para apresentar a melhor loja de cafés do mundo para vocês: Starbucks! – Comemorei.
– Dois meses! – pulou. – Mal posso esperar.

Descemos pelo elevador que dava acesso à praça. Ficamos na fila por um tempo, e logo estávamos cada um com um copo de milk-shake e batatas fritas na mão e eu, claro, com um hambúrguer. Só como hambúrguer porque odeio batata frita, é verdade, não ache que sou maluca, odeio mesmo.

Olhei rapidamente para a praça enquanto comíamos. Quem eu vejo? Rafael. Creio eu que com os amigos dele. Ele acenou. Fiquei com vergonha porque eu estava com o pessoal da escola, e bem, nós somos mais retardados ainda quando estamos todos juntos. Quando vi que ele estava caminhando até mim. Suspirei fundo, disfarçando minha aflição.

– Que coincidência! – Falei, levantando da cadeira.
– Também acho! – Rafa riu. – São seus amigos? – Ele apontou para a mesa, concordei com a cabeça.
– Sim, são. Aqueles são os seus? – Acenei da direção dos garotos assim que ele confirmou.
– É, eu gostaria de ficar conversando contigo, mas preciso ir. Foi bom te ver por aqui, ! Depois vou à sua casa.

Rafa me abraçou forte e saiu novamente. Olhei para mesa que os meus amigos estavam, e todo mundo me olhava maliciosamente. Por leitura labial, mandei se danarem e falei que era só meu amigo, claro, ninguém acredita mesmo.

***


Outra coisa que poderia entrar para a lista de “Coisas que eu odeio”: segundas-feiras. Tudo bem, você pode me chamar de preconceituosa ou algo assim. Odeio mesmo. Nenhuma aula daquele dia era legal, exceto a de Literatura, que infelizmente, era a última. Bufei ao levantar. Droga! Olhei os livros do dia, coloquei todos na bolsa e fui me aprontar. Dez para as sete nós já estávamos saindo de casa. Coloquei os fones de ouvido e não falei nada durante todo o caminho. Falar me irritava agora.

Cheguei sem nem cumprimentar ninguém, sentei numa das últimas cadeiras e baixei a cabeça. Esperar pelo professor de Sociologia já era um saco por natureza. Eu bocejava enquanto insistia para que meus olhos permanecessem abertos. Olhei para o lado esquerdo, estava lá.

– Eu estou morrendo de sono. – Confessei.
– Dá pra perceber. – Ela suspirou. – Também estou.

O professor demorou em chegar. Acabei cochilando. Acordei com a voz do professor Leo desejando “bom dia”, em plena Segunda-Feira às 7h da manhã?

Começamos a copiar algo nos cadernos, quando me cutucou.
– O Pietro nem é tããão bonito assim. – Cochichou, no tom mais baixo possível.
– Pois eu acho que ele seja incrivelmente gato! – Falei num tom normal. – O Pietro é desses que a gente não sabe como, não sabe o porquê, mas é gato de todo jeito...

Parei de falar quando vi os olhos dela se esbugalhando para cima de mim, e os lábios se moviam formando uma pequena frase, dita como: “Droga. Ele está do seu lado!”. Meu coração quis parar neste exato momento. Desviei minha cabeça disfarçadamente para o lado direito. Lá estava ele, com a caneta em mãos, copiando a mesma coisa que nós. Eu gelei dos pés à cabeça, não consegui dizer nada. Simplesmente emudeci.

Voltei meu olhar para o quadro e ele já estava totalmente branco. Não sei se foram os meus pensamentos que tomaram conta da minha mente, ou se o Leo realmente teria apagado aquilo tudo. Deitei a cabeça na mesa de novo e fingi dormir. Claro que não iria conseguir, o sono havia passado. Fiquei imóvel. Tempo suficiente para que o sinal tocasse e a aula fosse substituída por a de Matemática. Eu tinha que prestar atenção. Matemática Financeira não era o meu forte.

***


Quarta aula. Desde a primeira, tenho estado totalmente entorpecida, quieta e calada. O que gerou comentários da parte da , óbvio. Ignorei todos. Até que por muita insistência, ela me fez dizer por bilhete o que diabos estava acontecendo, resolvi responder antes que ela descobrisse por si só e depois ficasse me zoando ou algo assim.

Eu gostei dele há dois anos. Besteira! Nada demais.

Ela deu uma risada assim que leu o papel.
– Ah, agora eu entendi. Você deveria falar com ele. – Ela comentou num tom que quase não se ouvia.

Balancei a cabeça negativamente e voltei a prestar atenção na aula de Física. Os minutos se passaram depressa, o sinal para o intervalo foi anunciado e todo mundo já estava descendo para cantina quando eu resolvi ficar e comer os meus Cookies na cadeira mesmo. Não estava com a mínima vontade de sair. Não depois daquele episódio. Parei para pensar se ele havia escutado o que eu disse. Espero que não.

Dividi o meu lanche com metade da sala, no final, me restou dois Cookies e eu nem estava com vontade de comê-los. Os meus pensamentos se voltaram para “Pietro está de volta.” Essa era a única coisa que se passava pela minha cabeça. Não pude pensar muito, ele já estava se sentando ao meu lado. Antes que eu pudesse ficar sem ar, chegou. Essa minha amiga salva minha vida desde sempre!

Pietro estava concentrado em algum desenho na sua folha de caderno. Admirava-me muito o fato dele não ter puxado conversa com ninguém, já que fora tão hiperativo desde sempre. Desviei o olhar para , ela fez um gesto com a cabeça para que eu falasse com ele. Não sei o que houve. Eu assenti. Uma súbita pressão ergueu-se em mim e me virei para o lado dele.

– Você não estava no turno da tarde? – Falei na lata.
– Tava. Mas me mandaram para a manhã e a única turma disponível era essa, entendeu? – Deu de ombros, como quem quisesse pedir alguma desculpa, eu sorri, ele sorriu de volta.
– Seja bem-vindo. – Foi tudo o que consegui dizer.
– Obrigado. – Pietro não tirou o sorriso do rosto.

Ah, aquele sorriso... Como eu poderia me esquecer daquele sorriso? Por que diabos ele tinha que ser tão bonito? Droga! Conversamos relativamente pouco. Mas para duas pessoas que não conseguiam manter um diálogo sem falar mal um do outro, era realmente um mérito. Quando olhei para ela já estava com um sorriso malicioso nos lábios. O que me fez corar. Se nas quatro primeiras aulas eu não havia prestado atenção em nada, óbvio que nas duas últimas também não iria. Nem na de Literatura. Na verdade, eu estava pouco me lixando para aula de Literatura.

Parabéns! Eu não disse que ia ser fácil?

Ri com o bilhete que mandara no meio da aula.

Vai estudar.

Ficamos trocando bilhetes até o fim da aula. Naquele dia eu mal tinha falado com as meninas. Talvez elas estivessem estranhando. Pedi que inventasse alguma coisa. Eu era péssima com mentiras. Cheguei em casa completamente hipnotizada. Tive que falar para a minha mãe que precisava de um banho e dormir, pois “a dor de cabeça está me matando!”, tudo bem, foi a mentira mais original que consegui inventar. Juro.

Terminado o banho, me joguei na cama como se fosse a única coisa que importasse naquele momento. Deitei minha cabeça no travesseiro e fechei os olhos. Não demorou muito para que eu pegasse no sono. Levantei quase oito na noite! Olhei no meu celular, muitas notificações das meninas. Cliquei para visualizar e:

: Vi o jeito que estava olhando para o Pietro hoje...
: Sabe nem disfarçar! Hahaha
: Haha, vão para a merda.
: Confesse que você o quer.
: Se quero ou não, o problema é meu...
: Wow! Hahaha, só porque ficava olhando ele nos intervalos do ano passado!

Por incrível que pareça, ou talvez não, eu não senti absolutamente nada. Digo isso porque minha fama de ciumenta é grande. Inclusive, posso confessar que achei a maior graça! Que ela já estava de olho nele na hora do intervalo do ano passado eu não sabia, mas não posso culpá-la. Além de ser minha amiga, eu não vejo problema nenhum dela achar o Pietro bonito e querer ficar com ele. Tenho em plena consciência de que pelo menos mais da metade das meninas da escola pensam o mesmo.

***


Dali a cinco dias estaríamos embarcando para a capital do estado de São Paulo. Eu estava ansiosa. O show seria em uma semana, lógico que todas nós estávamos pirando, tipo, muito! Ninguém falava em outra coisa a não ser o show da One Direction.

Minhas malas já estavam prontas, o que era impressionante porque eu sempre deixava para arrumar as malas três horas antes do embarque, coisa que estressava muito minha mãe. Naquela tarde, o Rafael apareceu para se despedir, ele iria viajar para visitar o pai no interior por alguns dias, e aquele seria o último dia que nos vimos.

– Espero que você faça uma ótima viagem. – Ele falou enquanto me apertava em um forte abraço.
– Muito obrigada, Rafa. – Disse sorrindo.
– Espero que se divirta por lá. Você vai realizar seu sonho, e bem, é a melhor sensação do mundo! Parabéns.
– Verdade. Obrigada! – eu sorri e o beijei na bochecha.
– Boa viagem! – ele acenou para mim. – Ah, e o que acha da gente ir ao shopping para você me contar tudo? Depois a gente toma um sorvete por lá. Pode ser?
– Claro. – Respondi timidamente, com as bochechas coradas.

Assim que ele saiu, fui para o computador checar as minhas redes sociais e postar a contagem regressiva para o show, quando me deparo com o seguinte evento:

Pietro está em um relacionamento sério com Cecília

Você curtiu isso.

Depois que cliquei no botão me dei conta do que tinha feito. Tive que rir de mim mesma. Ler aquilo, curtir sem sequer clicar na foto da menina foi mais do que engraçado. Naquele momento tive a certeza de que eu não estava a fim de Pietro. Pelo menos não mais. Talvez estivesse confundindo sentimento ou me sentindo atraída. Mas, gostar... Gostar, não. Parei para pensar qual seria minha reação se gostasse. No mínimo eu gritaria de ódio, me morderia por dentro e iria stalkear até o cérebro da menina. Coisa que eu não fiz, nem pensei em fazer. O meu sentimento por ele, além de platônico, era fictício. Confesso que me senti tranquila depois que li aquele evento. Cá pra nós, eu não teria chance. O “nós” não funcionaria conosco.

comentou: Felicidades! :)

Pietro curtiu esse comentário.

Cecília curtiu esse comentário.

Sorri para tela. No fundo, eu também havia curtido aquilo.
Lembrar que iria ao show da One Direction me fazia sentir a pessoa mais feliz e sortuda do mundo. E era como todos os meus problemas tivessem sido solucionados. Pelos menos um deles tinha sido. Eu estava feliz com isso. De verdade. Não existe nada pior do que alimentar um sentimento por alguém que sequer se importa com você, não tem lógica.

***


O grande dia chegou. Estávamos embarcando naquela noite. Antes de ir para o aeroporto me certifiquei de estar tudo guardado na mala, peguei todos os equipamentos eletrônicos, organizei junto com os remédios e coisas de urgência na bagagem de mão e me despedi do meu pai, que fez questão de me levar até o aeroporto com a minha mãe. Saí empurrando a mala até o check-in do voo e lá estava , como sempre, adiantada demais. Corri para abraçá-la.

– CARAAACA! – Eu gritei alto, sem me importar com os olhares. – CARACA, A GENTE ESTÁ INDO VER NOSSOS ÍDOLOS, VOCÊ TEM NOÇÃO?! – Aumentei o tom.
– EU NÃO ESTOU ACREDITANDO! – Respondia enquanto me abraçava. – A FICHA NÃO CAIU! – Ela pulou.

Notamos os olhares de “calem a boca” das nossas mães e rimos uma para a outra. Estávamos tão ansiosas que nada naquele momento me faria mudar de humor. Quando eu digo nada, é nada mesmo. O voo sairia às oito. Já eram seis e eu estava relativamente nervosa, para uma pessoa que é acostumada a viajar de avião duas vezes por ano. Eu estaria ali naquele de qualquer jeito, mas não com o mesmo propósito.

e chegaram vinte minutos depois quando eu e estávamos tomando um milk-shake em uma lanchonete no próprio aeroporto. Acenamos para as duas, que vieram em nossa direção. Pude notar que a mãe de e a de já estavam se juntando as outras “mães” presentes. Levantei junto com e abraçamos as meninas. Nós estávamos muito contentes. Olhei para as mãos da e estavam trêmulas, dei muita risada com a cena. era a mais tranquila do grupo, até agora.

– Eu e já gritamos tanto aqui! – Falei, rindo. – Não querem um milk-shake? – Indaguei.

Acompanhamos as duas até a fila do caixa da lanchonete. Sentamos numa das mesas que o local oferecia e ficamos esperando por um tempo, o que era bem normal ela atrasar.

– Aposto que quando estiverem chamando o embarque pela última vez ela chega. – comentei.
– Aposto que sim. – concordou.
Nós rimos.
– Preparadas para o melhor fim de semana da vida de vocês? – a minha mãe tinha chegado e ninguém notou.
– Sim, tia. Estamos pirando muito aqui. – falou.
– Né! – afirmou. – Vamos conhecer a famosa cidade de São Paulo e iremos ao show da One Direction, eu não poderia estar mais feliz! – Completou.

Sorri para a minha mãe e logo em seguida entrei em desespero quando ouvi a primeira chamada do nosso voo, a sorte é que chegou na mesma hora e todas nós, inclusive os nossos pais, correram conosco até a sala de embarque. Começamos a nossa “sessão de fotos” ali mesmo. Quando ouvimos a chamada pela última vez, aí sim apressamos o passo e rapidamente passamos para a sala de embarque.

Dentro do avião parecia que o meu coração não ia aguentar. Digo isso porque ele deu uma acelerada terrível assim que botei o primeiro pé na escada. A nossa sorte é que a atendente da empresa aera conseguiu que ficássemos todas juntas, o que foi maravilhoso. , e ficaram em uma poltrona logo ao lado da minha e da de . Por insistência dela, deixei que ficasse na janela. O meio era o pior lugar do avião, em minha opinião, mas fazer o quê, como eu mesma disse, nada ali mudaria meu humor.

– Meu, sério, eu acho que vou ter um treco. – Falei.
– Calma, menina. O avião nem subiu ainda... – riu.
– É que nós vamos ver os meninos e isso é perfeito! – Falei.
– Realmente... – ela assentiu. – Ainda não entrei em pânico, acho que vou pirar mesmo quando desembarcamos ou senão, quando os meninos entrarem no palco e falarem: “Hello, São Paulo!”.

Eu ri da cara dela. Tentamos nos comunicar com as meninas no assento ao lado do nosso, nós só conseguimos enxergar as beldades tirando foto pelo celular da . Um carinha que ficou ao meu lado impedia que eu gritasse ou fizesse algum sinal para as garotas.

– Idiotas! – arriscou.

escutou e fez careta para a gente. também, e depois estirou o dedo do meio e achamos que aquilo seria um insulto inapropriado para um lugar público.

***


O desembarque foi tranquilo. Era dez para as onze quando descemos no Aeroporto de Congonhas. Escolhemos Congonhas porque era super perto da casa onde ficaríamos, e como minha tia tem dificuldade para dirigir à noite, Guarulhos não seria uma boa opção. Após nos abraçamos pela milésima vez desde que desembarcamos, pegamos as malas na esteira e fomos direto para a sala de desembarque. Como prometido, minha tia estava lá. Meus olhos brilharam quando a vi. Corri em sua direção e dei o abraço mais demorado que pude.

– Que saudades, ! – Me abraçou.
– Também estava, tia Leni! – Sorri para ela. – Deixa eu te apresentar minhas amigas... – chamei as meninas com a mão e fui dizendo os nomes. – Essa da mala vermelha é a , a é essa do casaco cinza, a é do cabelo cacheado, e a essa de blusa rosa.
– Prazer em conhecer, meninas. – Tia Leni estendeu a mão. – Meu nome é Leni, mas vocês podem chamar de tia. Sejam bem-vindas a São Paulo. – Falou enquanto as cumprimentava.
– Obrigada, tia... – a abraçou.

As meninas fizeram o mesmo. Em seguida, caminhamos para o estacionamento e tivemos dificuldade para enfiar todas as malas no Fiesta Rocam da minha tia. Tive que levar a minha nos pés no banco de carona já que não coube na mala junto com as outras. Não pude deixar de notar os olhares curiosos das meninas a cada Avenida que minha tia dobrava, dei risada por um tempo. Fui mostrando todos os lugares que conhecia até que o carro dobrou no estacionamento do prédio e a vista tinha acabado, a não ser pelo Shopping Ibirapuera do outro lado da rua. Assim que tia Leni estacionou, pegamos todas as malas e caminhamos até o elevador.

– Domingo, quando vocês acordarem, a gente dá um passeio no Parque Ibirapuera, na Galeria do Rock, vamos ao MASP e terminamos o dia nos deliciando com um Starbucks. O que acham? – Minha tia foi sugerindo.

Antes que ela terminasse de falar, as meninas já estavam se entreolhando e gritando entre elas.

– Esse vai ser o melhor fim de semana! – Garanti.
– Sem dúvidas nenhuma! – falou, me abraçando.

Entramos no apartamento e eu as levei para o quarto. Ele não era muito grande, mas era suficiente para caber uma cama king-size e três colchões no chão.

– Eu posso dormir no colchão. – disse.
– Eu também não me importo. – falou.
– Ah, querida, eu me importo sim. Vou dormir na cama. – falou já se sentando.
– Relaxa, fofa, qualquer coisa tem o quarto da minha tia e o de hóspedes, tem cama pra todo mundo. – Falei.

Após o término do banho de todo mundo, e depois que ligamos para os nossos pais, garantindo nossa chegada e estadia na casa da tia Leni, começamos a nos organizar nos dormitórios. Eu fiquei na cama, como já era de se esperar, junto com e . e ficaram no chão, o que não foi tão desconfortável assim já que dormiu em questão de segundos desde que nos deitamos.

Não demorou muito até que todas nós pegássemos no sono até sermos acordadas por minha tia batendo na porta do quarto, dizendo que o café já estava na mesa e ia dar três da manhã. Dei um pulo da cama e acordei as meninas. Fui rápida ao banho assim como na maquiagem. Fiz um delineador gatinho, coloquei um lápis de olho, bastante rímel e pouco de blush.

A gente tinha comprado umas blusas pela internet para irmos ao show. Escolhemos a dedo cada uma delas. A minha era o sobrenome dos garotos, um abaixo do outro, coisa mais fofa do mundo. vestia uma que dizia: “Crazy Mofos”, estava com: “You’ve got the one thing” e um desenho abstrato dos garotos. A de era o desenho de todas as tatuagens do Harry, e a blusa da tinha o nome “1D” das cores da bandeira da Inglaterra em um círculo onde se formava o nome dos garotos. Saímos de casa bem cedo, minha tia nos levou até o Estádio e me fez prometer que ligaríamos assim que o show acabasse.

A fila estava um verdadeiro inferno, tinha gente que dormia lá há pelo menos três dias. Havia muitas pessoas mesmo! Mal dava para respirar ali. Os seguranças tentavam organizar a fila, mas acabava piorando a situação. O frio era grande, já que as madrugadas em São Paulo são frias pra caramba. Pude notar pela reação das meninas que elas estavam sentindo mais frio que eu. A sorte é que na bagunça, dava para se aquecer. Tinha gente de todo jeito, bandeiras, cartazes, blusas personalizadas, assim como as nossas, tinha gente até de faixa na cabeça! No momento pensei que talvez a gente fosse morrer pisoteada ou algo assim, por sorte encontramos um lugar ótimo para ficar, me meti no meio e puxei as meninas comigo.

O sol raiou meio tarde. Quase sete e meia. Tomamos uma bebida quente que minha tia insistiu que eu trouxesse. O frio tinha diminuído, e o fluxo de pessoas começou a aumentar no portão do Estádio. Como éramos da Pista Premium, a fila era do outro lado. Claro que também tinha muita gente, mas não tanta quanto a Pista Comum.

O dia seria longo, o melhor dia de toda a nossa vida estava apenas começando, a emoção que estávamos sentindo aquele momento era indescritível, e independente do que fosse acontecer dali para frente, eu estava realizada. Não me lembro de ter me sentido tão feliz assim antes. Apesar da bagunça, todas aquelas garotas tinham o mesmo propósito que a gente: assistir o show da mais famosa da atualidade, e nada, nem ninguém poderia me fazer desistir disso agora. A realização de um sonho como este teria sido o passo mais difícil e importante que eu tenho dado. Jamais, em hipótese alguma, iria me esquecer de tudo que estávamos passando e de nenhum momento que estava vivendo. Eu. Minhas melhores amigas. São Paulo. One Direction. Sonho realizado.



Capítulo 2 | Calma, Fofa!


Segunda parte (Narrada por )


Você vai ter que perdoar. Meus dons para escrita e, principalmente, para descrição, são péssimos. Prefiro ler. Se pudesse, eu devoraria uns cinco livros em um mês. Primeiro que eu não tenho tempo suficiente, e também não tenho grana. Meu nome é , tenho dezesseis anos e também moro no Nordeste. Tenho muito orgulho de ser daqui. Conheci a há três anos, porém, somos melhores amigas há dois. Conhecemo-nos como colegas de classe, mas as redes sociais nos aproximou, para ser mais exata, a One Direction nos aproximou. Compartilhamos este sonho: conhecer nossos ídolos.

Sabe uma coisa que me encanta muito? Fotografia. Não é à toa que sou tida como a “fotógrafa oficial” entre meus amigos. Comprar uma máquina profissional (e boa!) está entre um dos meus sonhos, também. Apesar disso, quero ser psicóloga. Meus dons para psicologia são ótimos, segundo a , claro. Não sou romântica, nunca namorei, mas desde o nono ano, sou a fim do Lucas. Ele é o garoto mais engraçado que conheço. E é exatamente por isso que gosto dele. Nós éramos amigos até um tempo desses, quando do nada, ele deixou de falar comigo. Certo, o sentimento continua, infelizmente.

Naquele dia eu tinha chegado cedo. Era uma Sexta, dia da aula do André. Sem brincadeira nenhuma, aquele professor podia ser facilmente comparado a um deus grego. Não é só porque é lindo, tem o fato de que ele toca em uma banda! Gente, sério. Tem coisa mais perfeita do que ter um professor de Português supergato e que canta numa banda de rock?! Por favor, né... tenho todo o direito de pirar nas aulas dele, e especialmente naquele dia da semana, eu fazia questão de chegar super cedo. Entrei na sala, poucas pessoas estavam lá. era uma delas.

– Bom dia. – cumprimentei-a.
– Bom dia. – ela respondeu. – Fez o exercício de Português?
– Mas é claro! – Falei.

Assim que ela disse isso, e chegaram. Elas vinham juntas, então, tecnicamente chegariam sempre ao mesmo tempo. Elas começaram a conversar sobre algo que eu não estava a fim de falar. Apesar de ser dia da melhor aula de todas, meu humor matinal nunca foi um dos melhores. Enfiei os fones nos ouvidos e viajei para um mundo mais legal onde eu só conseguiria ouvir a voz da Ariana Grande. À medida que a hora ia passando, as pessoas iam se acomodando em seus lugares, inclusive a , minha melhor amiga que tinha acabado de chegar.

– Bom dia. – dizia. – Eu não fiz o exercício do André, me empresta, por favor?
– Tudo bem. Toma, mas vê se anota rápido porque a aula dele é a primeira. – Falei empurrando o caderno na direção dela.
– Ai, droga! É muita coisa. – Resmungou.
– Calma, mulher. – Eu ri. – Dá tempo.
Nesse instante, o professor entrou na sala.
Ahhhhhhh, quase pirei. Opa, eu “quase piro” toda semana. Que homem lindo!

***


Infelizmente a aula não durou muito tempo, mas foi perfeita. Ele vistou o meu exercício e pude sentir o delicioso perfume dele por um bom tempo. Droga, agora só semana que vem. Fora a aula de Português, as outras foram insuportáveis. Quase não aguentei cinco minutos das aulas posteriores, principalmente a de Matemática Lógica, que era logo a próxima. Por graças do destino, aquela tortura chegou ao fim.

Desci a rampa apressada, já se passava do meio-dia e certamente o meu pai já estava me esperando. Antes que eu pudesse perceber, tinha acabado de tropeçar no Lucas! Sim, um garoto daquele tamanho na minha frente e eu não vi! Lógico que pedi desculpas e tal, prometi para mim mesma que iria começar a olhar para frente enquanto ando. Que vergonha! Tanta gente naquela escola, e eu tinha que me chocar logo com o Lucas? O garoto que eu gosto?! Ah, droga! Fiquei roxa na hora. Espero mesmo que ele não tenha percebido.

Infelizmente alguém percebeu.

– Por que você tá vermelha? – perguntou.
– Acabei de tropeçar em Paçoca! – Disse, nervosa.
– Quem é Paçoca? – Guilherme, o nosso amigo, estava do lado da e eu não tinha notado! Parabéns para mim.

Flashback On

Sexta-Feira, último dia de aula do nono ano.

Estávamos na última aula, faltavam poucos minutos para tocar. Era o último dia de aula do Ensino Fundamental. Todo mundo estava contando os segundos para ir aproveitar as férias. Dali a alguns meses, voltaríamos naquela escola como alunos do Ensino Médio, ou seja, a responsabilidade iria triplicar.

Eu e as meninas estávamos passando batom e tirando fotos para guardar de recordação. Eu realmente estava feliz. Juntei-me à Heloise e pedimos para que alguém tirasse foto. Esse alguém era o Lucas. Assim que ele nos fotografou, correu em nossa direção e fez o mesmo. Pediu para que a Heloise NOS fotografasse! Repito: O Lucas, garoto que eu gosto, está com a mão na minha cintura, me apertando contra ele, encostando-se a mim e tirando uma foto SORRINDO comigo! Para o mundo que vou descer!

Respirei fundo para não desmaiar, olhei para câmera do meu iPod e sorri de orelha a orelha. O maior sorriso que já dei na vida, consequentemente o mais sincero de todos.

– Ah, ! – Lucas me cutucou no braço, depois da foto. – Obrigada por me emprestar a caneta! – Ele sorriu para mim, entregando-me o objeto.

Tentei não sorri. Fiz uma cara de poucos amigos sem perceber. Droga! O Lucas fechou a cara e saiu. Bem, não que eu me preocupasse, ele era esquisito por natureza, e mais uma vez, era por isso que eu gostava dele.

O sinal tocou. Saí correndo em disparada com uma amiga minha até a barraquinha na frente da escola, sofri para fazer o pedido, todo mundo decidiu comprar justo na hora que eu fui!

– Moço, eu quero um real de paçoca! – Falei sorridente.

Comecei a comer o doce, dividi com ela e nós duas fomos embora em seguida. Naquele momento, tudo que eu mais queria, depois de voltar no tempo, era que a estivesse ali. Tudo bem, não estudávamos na mesma sala, e, além disso, ela já estava de férias em São Paulo. O que me fez ter raiva dela por alguns segundos, de qualquer forma, ela sabia sobre o Lucas. Droga, ! Droga! Eu queria muito sacudi-la e gritar: “Mano, tirei uma foto com o Lucas, e ele estava com o sorriso mais lindo do mundo!”.

Cheguei a minha casa correndo, peguei o meu celular e abri a página do perfil da , cliquei em “Chat”.

: AMIGAAAAAAAAA, TÔ MORRENDO DE SAUDADES!

Rapidamente houve uma resposta.

: EU TAMBÉM, MEEEU!
: Cara, aconteceu coisa boa hoje!
: Hmmmmmm, o que foi?!

Não perdi tempo, enviei a foto.

: MEU DEEEEUS! MENTIRAAAAAA! QUE FELIZ!!
: SE VOCÊ ESTÁ FELIZ, IMAGINE EU!
: POIS ÉÉÉÉÉÉ! SCRR!
: Cara, eu to tão feliz que comprei um real de paçoca!

Flasback Off

Desde então, “Paçoca” é uma piada interna entre a gente.

– Deixa de ser curioso. – respondeu por mim.
– Nossa, vocês são muito chatas! – Resmungou ele.
– Falou o garoto mais legal de todos. – Falei com ironia.

Minhas teorias estavam certas. Lá estava o meu pai, buzinando na minha direção. Olhei para ele e sai correndo na direção do carro. Entrei e fechei a porta com pressa.

– Foi mal, pai, não vi que você tinha chegado.
– Tudo bem, sem problemas. A aula foi boa?
– Sim. – Sorri. – Minhas provas já começam semana que vem. – Resmunguei.
– Está entendendo o assunto? – Indagou.
– Estou. – Menti.
– Você não está! – Meu pai falou me olhando, era incrível como não dava para enganá-lo.
– É, pai. Tá difícil pra caramba! – Confessei. – Tem assunto que eu não faço a mínima ideia de como começar a responder, claro que não em todas as matérias, mas sinto que estou com muita dificuldade em Matemática, muita mesmo.
– Você deveria estudar mais. – Ele falou enquanto dirigia.
– Mais do que estudo? Pai, por favor, eu estudo de manhã, faço todos os meus exercícios à tarde, tenho aulas particulares aos fins de semana, inclusive no Domingo, tiro minhas dúvidas em sala e com o professor particular, e você ainda fala que eu preciso estudar mais? – Argumentei.
– Não basta... vou começar a te mandar vir para as aulas de reforço do colégio. – Ele disse.

Não falei mais nada. Discutir com o meu pai seria a última coisa que eu gostaria de fazer naquele momento. Não era bom, e outra, não iria adiantar muito. Meu pai é daqueles que todo mundo queria ter. Além de me apoiar demais em relação aos meus ídolos, de vez em quando ele me escutava. E isso era ótimo. Claro, todo mundo tem defeitos. E um dos defeitos dele era essa pressão toda que ele fazia questão de colocar em minhas mãos. Odiei o fato de ter que começar a frequentar aulas de reforço na escola com um professor que, sinceramente, eu detestava. Apenas respirei fundo e fiquei calada.

***


Três da tarde de um Domingo completamente chuvoso, ah e tedioso também, assim como todos os outros. Levantei na hora que costumava acordar nas férias. Talvez tenha sido pelo fato de madrugar no celular e ir dormir só às sete da manhã, coisa que faço com bastante frequência. Aproveitei que minha irmã estaria fora e dormi o quanto pude sem me preocupar com ninguém pulando em cima de mim enquanto adormeço.

Caminhei até à sala, meus pais estavam lá assistindo a algum filme que não consegui identificar. Ainda estava zonza, isso me acontece quando acordo e me levanto rápido demais. Ouvi minha mãe falar algo como: Lasanha. Micro-ondas. Refrigerante. Geladeira. Pra você. Abri o micro-ondas, peguei o pedaço da lasanha que tinham deixado para mim e coloquei em cima da mesa, em seguida, retirei o copo com refrigerante da geladeira e sentei para almoçar.

Passei horas para terminar de comer. Quando finalmente o fiz, caminhei em direção ao meu quarto e liguei o computador. A última coisa que eu queria era conversar pessoalmente com alguém, então, obviamente, evitei os meus pais.

Ao abrir minha página no Twitter, absolutamente todo mundo, quando eu digo todo mundo, é todo mundo mesmo! Estavam falando sobre um tal de “Grande Anúncio da One Direction”, eu como fã doente, cliquei em um dos links que me direcionou à página inicial da banda. Desci alguns tópicos e pude notar um link que dizia: “Grande Anúncio nesta Terça!”. Não pensei duas vezes. Cliquei no link e era como se fosse um cronômetro. Tudo bem, não “era como se fosse”, era um cronômetro mesmo. E ele estava contando exatamente “02 days, 17 hours, 53 minutes, 36 seconds”. Encarei o cronômetro por alguns segundos. Era realmente impressionante. Ninguém, absolutamente ninguém, imaginaria algo do tipo. Eu não fazia ideia do que seria o Grande Anúncio.

Passei o resto da tarde inteira conversando sobre isso com outras fãs dos meninos pela internet. Cada uma que desse uma opinião diferente. Eu, por exemplo, já tinha dado vários palpites...

1. Fim da banda, porém tirei isso da cabeça assim que levei em consideração o fato de que ninguém faria um cronômetro para dizer que iria se separar.
2. Álbum novo, era um bom palpite levando em consideração que o cronômetro fosse para o link das músicas. Isso seria bem legal.
3. Turnê mundial, de longe essa seria o palpite mais óbvio e a meu ver, o mais certeiro, com certeza.

Metade das pessoas concordava comigo, a outra metade discutia por não concordar, vai entender esse povo...

Um dos meus maiores defeitos, bem, se é que isso seja um defeito, é a curiosidade. Nossa, cara, quer me matar? Deixe-me curiosa. Será uma morte lenta e dolorosa, garanto.

Fui dormir super tarde no Domingo, e óbvio que acordei atrasada para a escola. Atrasada mesmo, mais que o normal. Ouvir o meu pai quase derrubar minha porta não foi uma das melhores sensações do mundo em plena segunda-feira pela manhã. Corri para o banheiro, me aprontei rapidamente e peguei um achocolatado na geladeira, fui empurrando na garganta enquanto meu pai dirigia até a escola.

já estava lá no grupo dos “atrasados” quando cheguei. O pior, Lucas também! Eu tinha trombado com ele na última Sexta e ainda não tinha conseguido me esquecer disso. Caminhei até a e fiquei parada na sua frente por um tempo, tentado ter coragem para dizer um “bom dia”, que na verdade, de bom não tinha nada. Ela foi mais rápida.

– Bom dia, atrasadinha. – Disse.

Conversamos um pouco e eu olhei para trás e lá estava ele, em pé, com as mãos segurando as alças da bolsa e encarando alguma coisa que eu não conseguia enxergar. Ergui um pouco a cabeça para tentar ver e na mesma hora o Lucas olhou na minha direção, estava rindo, é claro. Óbvio que ele sacou alguma coisa.

Quando estávamos passando pelo corredor em direção à sala, senti o braço de alguém encostar-se ao meu ombro, olhei disfarçadamente e era o Lucas! E ele estava olhando para mim! Meu Deus, não sabia se gritava, chorava, pulava ou simplesmente continuaria andando como se nada tivesse acontecido. Escolhi a última opção, sempre a mais segura.

Dormi durante a aula de Filosofia inteira. Sinceramente, eu não estava dando a mínima para nada, nem para as meninas, elas que me perdoem. O sono era maior do que eu, não hesitei em cair no sono, de jeito nenhum. Cochilei até o fim da segunda aula, que por acaso era de Matemática, e mais por acaso ainda, eu também não estava a fim de assistir. O intervalo chegou rápido, o que era novidade já que a melhor hora da manhã demorava horrores para chegar. Como de costume, peguei o meu biscoito e fui comer no fim da sala com a . A gente sentou no chão e começou a compartilhar o lanche, até que ela começou a tocar no assunto “Lucas”.

– Vocês combinam tanto... – ela começava.
– Ah, cara, para com isso. – Suspirei. – Eu sei, mas é que tipo, ele não está nem aí para mim. – Dei ombros. – Tínhamos uma amizade bonita há três anos. Agora a gente cresceu, tem mentes diferentes, sei lá.
– Hum, eu não acho que tenham mudado tanto assim, você nem olha pra cara dele. – Disse.

Era verdade. Eu tentava colocar a maior cara de desprezo possível, talvez para sentir-se melhor comigo mesma, porém a impressão que eu poderia passar com isso poderia não ser uma das melhores.

– Podemos mudar de assunto? – A cortei.

Ainda bem que não deu tempo de ela responder, neste momento, e tinham acabado de chegar e ninguém tocaria mais em assunto “Lucas” nenhum. Olhei para as duas e fiz sinal para que sentassem.

– Ok, está sabendo do Grande Anúncio que os meninos irão fazer amanhã de manhã? – disse.
– Sim, cara! O que você acha que é? – perguntou.
– Provavelmente deve ser algo em relação ao novo CD. – respondeu.
– Eu acho que seja algo que envolva uma nova turnê. – Falei.
– É o melhor palpite. – concordou.

O toque de fim de intervalo foi anunciado e todas nós voltamos para as nossas cadeiras. O que era uma pena, porque lembrar que o Grande Anúncio estava chegando me fazia querer pirar de curiosidade.

Ah, droga, será que amanhã vai demorar tanto assim?

Suspirei fundo. Peguei a caneta de novo e voltei a olhar para frente da sala, que neste momento estava sendo ocupada por Hélio, o professor de Química. Sim, eu tenho um professor de Química que tem o nome de um elemento químico e não, isso não muda nada na minha vida. Ainda bem que assim como o intervalo, o toque para a saída veio rapidamente. E logo eu já estava no carro, ao lado do meu pai, falando para ele o quão importante era o Grande Anúncio, e o meu pai concordou comigo ao achar que o anúncio seja uma turnê. Segundo ele, eu vou.

***


A Terça-Feira demorou horrores para chegar. Sério. A tarde da Segunda passou tão devagar, que eu realmente pensei na possibilidade de que uma máquina do tempo tivesse sido inventada e todos nós estávamos presos naquele dia. Cheguei no horário, me sentei junto com as meninas e o meu coração já batia forte. Qualquer directioner estaria pirando neste momento. O anúncio só seria divulgado as nove em ponto. Mas, a nossa ansiedade já se mostrava presente desde cedo. A aula de Biologia estava passando mais pausadamente do que realmente é. Sinceramente, Botânica é o pior assunto da área, eu gosto de Biologia, mas não da parte das plantas. Plantas é uma merda.

Quando o relógio bateu às 9h em ponto, dei um pulo da cadeira e avisei para , que também não estava se interessando muito com o assunto do professor de História e logo passou a informação que tinha acabado de dar nove em ponto para a , que eu acho que deve ter falado para a , já que ela estava tirando o celular da bolsa. Foi mal, Antônio, a ditadura terá que esperar um pouco!

Notei que a tinha entregado o celular dela para a , que agora estava mexendo nele ao meu lado, tentando descobrir sobre o Grande Anúncio. Ela não conseguiu falar nada após ler. Puxei o celular da mão dela, deslizei meus dedos na tela e pude ler a melhor notícia do universo.

WHERE WE ARE TOUR IN SOUTH AMERICA!


COUNTRIES&DATES:
COLÔMBIA (BOGOTÁ) – APRIL 25TH
PERU (LIMA) – APRIL 27
CHILE (SANTIAGO) – APRIL 30, MAY 1, MAY 2
ARGENTINA (BUENOS AIRES) – MAY 3, MAY 4
BRAZIL (SÃO PAULO, RIO DE JANEIRO AND BRASÍLIA) – SÃO PAULO: MAY 8, MAY 10; RIO DE JANEIRO: MAY 12 AND BRASÍLIA: MAY 13.

Quando eu li o nome “Brazil” e as datas ao lado, não consegui evitar que as lágrimas se formassem. Era o meu sonho. Nosso sonho que estava se realizando. Lembrei-me de todas as vezes que eu assistia aos shows pela internet, e lembro também que em todas elas, chorávamos por não estar presente. Mas, sabia que o dia chegaria. Ele chegou.

A algazarra foi geral. O professor virou na nossa direção, nos repreendendo por atrasar a aula, os nossos colegas de classe que não faziam ideia do que estava acontecendo começaram a rir por causa da minha frase solta sem sentido. Foi o momento mais louco da história em uma aula de História! O professor foi legal com a gente, não nos tirou de sala pela bagunça. O que foi uma pena, porque eu realmente queria sair para gritar no corredor, chorar, abraças as meninas e tal. Fizemos isso na hora do intervalo. Sentamos em um círculo no fim da sala após gritar e nos abraçar muito.

Não preciso contar que ninguém quis se preocupar com as três últimas aulas, não é? Depois dessa notícia, a gente só falava sobre aquilo. E eu só queria chegar em casa, ligar meu computador, procurar os dias das vendas dos ingressos, pedir oficialmente para os meus pais e depois, claro, comprar. De preferência para a Pista Premium, já que se era pra ver os meninos, ir ao show deles e tudo mais, eu preferia que fosse tudo completíssimo. Quando finalmente cheguei a minha casa, fiz tudo o que planejara e mais um pouco. Já que minha mãe concordou com o meu pai em me deixar ir ao show, ela mesma ligou o som com o CD dos meninos e ficamos comemorando a grande notícia.

– Você vai ter que prometer que vai ter cuidado. – Minha mãe dizia.
– Claro que vou ter, mãe. Prometo. – Eu respondi.

Corri para o celular no mesmo instante e entrei no grupo das meninas para anunciar a grande novidade.

: E aí, gente?! Tudo certo?
: Sim, eu disse que meu pai ia deixar HAHA
: Ei gente, que horas abre a venda de ingresso?
: Meia-noite de hoje!

Por fim, ficou combinado que eu e nos encarregaríamos de comprar os ingressos, já que nossos pais poderiam emprestar o cartão de crédito. Mais um passo dado! Antes que o relógio batesse meia-noite, eu já estava com os pulsos colados no computador de mesa do escritório da minha casa, com o site da venda de ingressos aberto no nome da banda. Eu e conversávamos via FaceTime enquanto cada uma fazia sua compra. Nos comunicávamos através de gritos, e o meu pai, que estava bem ao meu lado, falava em voz alta os números do cartão de crédito. Ele parecia até mais nervoso do que eu. Era engraçado.

– Premium Branca, ! – Gritava eu. – Premium Branca! – Repeti isso assim que tentava confirmar a compra.

Cartão Inválido.

– PAAAAAAAAAI! – Me desesperei ao ler tal frase.
– Sai, menina. Calma, eu vou comprar isso! – Ele tomou a frente.

Vi pela feição de através do celular que ela tinha confirmado a compra, pois estava gritando contente para mim. O meu pai mexia no computador com os dedos nervosos, buscando o botão “Finalizar”. Antes que pudéssemos começar a chorar, ele disse que conseguiu. Minutos depois, a compra do primeiro lote estava esgotada! Depois do sufoco, comemoramos juntas por algum tempo. Até que eu tive a ideia de tirar sarro da cara das meninas e falar que eu não tinha conseguido comprar. Geo achou que seria sacanagem, mas eu sou bem zoeira às vezes.

: Não consegui comprar... 
: Mentiiiiira, boy!
: Mentiiiiira, boy! Como assim?
: Eu já tava pulando aqui, cara! 
: O cartão do meu pai deu inválido, quando a gente foi tentar de novo, disse que estava esgotado.
: Merda! Estou chorando aqui.
: TAMBÉM, QUE ÓDIO, MERDAAAAA!
: Calma gente, amanhã eu ligo pra lá, abre às 8h, né?
: É... Que merda! 
: Eu consegui três na Premium, quem vai comigo?
: Eu queria!
: Também.
:  eu fico então, a gente tenta amanhã.
: Vocês são lesadas?
: AHAHAHAHA
: É brincadeira, gente! HAHAHA eu consegui comprar.

A lista de xingamentos foi inevitável. E enorme, por sinal. Eu me acabei de rir com o desespero delas. Ainda bem que a situação era falsa. Íamos ao primeiro show em São Paulo. E seria a primeira vez que eu visitava a cidade, também. Optamos por ficarmos quatro dias. Assim daria tempo de chegar ao Sábado, ir ao show e aproveitar a cidade no Domingo e na Segunda, é claro. Não sei quando teria outra oportunidade de ir lá, e eu sempre quis fazer um álbum de fotos no Ibirapuera. Dizem que é maravilhoso. Queria sentir isso. Fui dormir mais de duas da manhã, ou seja, escola amanhã? Nem pensar.

***


Quarta-Feira, meio dia.

Acordei com uma cara nada agradável para alguém que tinha perdido seis aulas pela manhã, e que teria que levantar para ir à Educação Física. Eu sou louca por esportes, principalmente vôlei e basquete. Acho bem legal. Mas naquele dia, levantar da cama era a última coisa que eu faria se tivesse escolhas.

– Vamos, levanta! – Ouvi meu pai me chamar. – Você não acha que dormiu demais, não?! É quase uma da tarde. Vamos! Deixei você faltar hoje porque ontem foi cansativo para nós. Quase não acordei para trabalhar. Mas, vamos logo! Levanta. Vou deixar sua irmã na escola, aproveito e te levo para a Educação Física.

Quase chorei para não ter que sair da cama. Depois de mais duas advertências, finalmente sai em direção ao banheiro da minha casa. Entrei no chuveiro e tomei um banho rápido. Afinal, eu já estava atrasada. Coloquei o uniforme da escola e penteei os cabelos nas pressas. Ouvi o chamado da minha mãe e caminhei vagarosamente em direção à cozinha.

– Nem parece que está feliz. – Ela comentava sobre o meu mau-humor matinal.
– Estou sim, mãe. – Respondi. – Só não queria ir para a escola hoje. – Suspirei fundo e dei a primeira garfada no macarrão.
– Você está muito relaxada mesmo, hein?! – Minha mãe ria.
– Calma, fofa. – Falei rindo.

Depois do almoço, meu pai deixou minha irmã na escola, e em seguida me levou para a Educação Física, cheguei cedo por sinal. Ainda não tinha ninguém, na verdade. Coloquei minha bolsa em um dos bancos e fiquei esperando alguém chegar.

– Oi, . – O treinador de basquete tinha acabado de chegar.
– Oi treinador. – Respondi. – Como estão indo os jogos?

Por um momento, a saudade de jogar basquete me fez parar um pouco e senti-la. Os treinos eram tão maravilhosos, pode-se dizer que era uma das melhores coisas do mundo, eu amava treinar quase todos os dias, inclusive aos Sábados. Apesar de não fazer pouco tempo que havia saído, ao olhar para aquela quadra, era o mesmo que está voltando ao passado e ver os treinos rígidos que praticávamos. Mas, a falta de tempo e o cansaço me fizeram desistir da minha paixão.

Lembro que Lucas entrou para equipe no ano em que eu saí. Falar sobre Lucas ainda é esquisito para mim, de alguns anos para cá, nós havíamos nos tornado dois desconhecidos. E eu sinto muito por isso. Tínhamos uma amizade no passado. Agora nem olhamos na cara do outro. O treinador me fez voltar à realidade ao atrapalhar meus pensamentos com a sua resposta.

– Este mês está complicado. Perdemos um ótimo jogador na equipe. – Ele fechou a cara. – O Lucas era um bom garoto, eu lamento pelo o que aconteceu com ele no jogo passado.

O mundo parou ali. O tom de voz dele denunciava que algo péssimo tinha acontecido. Tentei disfarçar minha preocupação.

– Como assim?! – Franzi o cenho. – O que houve?
– Você não soube?! Ele sofreu uma forte lesão. – O treinador virou-se para mim. – Acho que nem vai voltar mais para a equipe. Ele já estava péssimo porque o pai está doente, e essa lesão dele fez piorar o caso.

Que o pai dele estava mal, disso eu sabia, mas não fazia ideia da tal lesão sofrida no jogo, que pelo jeito, foi mais grave do que imaginávamos. Sinceramente, de todo o meu coração, eu gostaria muito de poder ajudá-lo.

– Entendi. Espero que ele fique bem e volte a jogar. – Sorri brevemente. – Acho que seria uma perda enorme se desistisse.
– O problema nem é ele desistir, é colocá-lo na equipe sabendo que o tornozelo dele não aguentaria muitos saques. – O treinador suspirou fundo. – Para falar a verdade, estou mais preocupado com o problema do pai dele.
– Concordo. – Falei rápido, tentando evitar desconfianças.
– Por que você não tenta falar com ele? Acho que uma palavra amiga o ajudaria neste momento. – Sugeriu. – Câncer é uma doença terrível, e nem todo mundo sabe lidar com isso.

Arqueei uma sobrancelha. Eu realmente queria poder dizer que gostaria muito de falar com ele, de abraçá-lo e dizer o quanto lamento o que está acontecendo em sua vida. Mas não posso. Infelizmente não. O que era uma pena. Nem notei quando o treinar foi embora, dando lugar ao nosso professor de Educação Física. E a quadra já estava lotada. Droga, eu sou tão sentimental. Suspirei fundo e fui cumprimentar os meus colegas, isso incluía responder o porquê de eu ter faltado.

Durante a aula, pude matar um pouco da saudade do basquete, já que consegui jogar uma partida com o pessoal. Também joguei vôlei, o que veio a ser engraçado a partir do momento em que o Guilherme caiu no chão. Nós rimos tanto! Ainda bem, porque isso me fez esquecer um pouco o que me atormentava. Corri na direção da que estava sentada num dos banquinhos da quadra. Ficamos rindo por um tempão, até que a aula acabou e nós fomos comer algo na cantina. Quando cheguei em casa, troquei de roupa e fui para o computador. Como sempre.

***


Eu estava me arrumando para sair quando recebi a notícia da morte do pai de Lucas. Era um sábado pela manhã. O chat da escola ao qual participava estava infestado de coisas relacionadas a isso. Eu fiquei muito preocupada com o fato. Não por ser o Lucas exatamente, mas por se tratar de uma morte de um pai. Mais uma batalha vencida pelo câncer. Coloquei-me no lugar dele por alguns instantes e foi como se quem tivesse sentindo toda a dor fosse eu. O que mais me deixou mal foi o fato de eu não ter conversando com o Lucas assim como sugerido pelo nosso técnico do basquete. Até o vi na Sexta depois da prova, mas a vergonha foi maior que eu. Não falei.

, você vai ao shopping? Estou saindo. Vai querer uma carona? – Meu primo disse ao bater na porta do meu quarto.
– Ah, sim. Espera um pouquinho, por favor? – Sorri.

Terminei de me vestir e nem passei maquiagem, na verdade eu não sabia fazer isso de forma correta. E também não sou tão fã das coisas. Muito menos num dia como este. Corri para o estacionamento da minha casa, na esperança de que meu primo ainda estivesse lá, e por sorte, ele estava. Entrei no veículo rapidamente e coloquei o cinto enquanto saíamos da garagem. Quando cheguei ao shopping, todo mundo já estava reunido por lá. Fomos comer algo na praça de alimentação, eu estava morta de vontade de um milk-shake. Esse passeio iria me trazer ótimos benefícios, entre eles: lembrar que o show da One Direction estava chegando e eu iria realizar o meu maior sonho.

– Eu estou tão ansiosa! – Comentei.
– Imagina eu. É o sonho da minha vida! – falou.
– Da nossa! – Corrigiu .
– Pois é, da nossa! – Ressaltou .
, você tem que nos prometer que todo mundo vai para o Ibirapuera no domingo, sério, preciso tirar umas fotos para o feed. – Falei, rindo.
– Certeza! – Ela também riu. – A Galeria do Rock é meio que é um paraíso!
– Imagino. – disse. – vai pirar com as coisas do Paramore!
– AS COISAS DO PARAMORE?! – Me assustei na hora. – SÉRIO?! CARACA, EU PRECISO IR LÁ!

Lógico que tinha coisa do Paramore na Galeria do Rock. Isso me fez lembrar o primeiro e único show deles que eu fui até agora. E a sensação de que eu estaria indo ver a One Direction se misturava com a nostalgia do show do Paramore.

***


A grande viagem estava se aproximando. Menos de uma semana até que nós embarcássemos rumo à capital paulista. Bem, eu estava ansiosa mais pelo show do que por conhecer a cidade. Lá tem seus cantos legais, mas sinceramente, poluição, agonia e frio não são coisas que combinam comigo. Por isso que digo e repito sempre: o Nordeste é um dos melhores lugares do mundo, eu não trocaria minha cidade por nada. Acho que só por Brasília, ou não... Enfim... Segunda-Feira de novo. Argh! A parte boa é que sexta-feira à noite eu já não estaria mais naquela cidade. Então, enquanto mais rápido o tempo passasse, melhor para mim. Acordei cedo naquele dia, por incrível que pareça. Não sei se a ansiedade de acabar logo aquela semana estava me consumindo muito, ou se a sensação de liberdade era forte demais. Eu simplesmente estava me sentindo maravilhosa, diferente de sempre.

– Gente, só eu que estou sentindo uma sensação muito boa? – Argumentei na sala com as meninas. – Sério mesmo, parece que tipo, a ansiedade aumenta a cada dia, e vocês me conhecem, eu não sou assim normalmente.
– É. Acho que deve ser ansiedade-pré-One-Direction! – brincou.
– Também estou ansiosa. Parece que cada segundo dessa segunda-feira se torna uma eternidade! – falou com um jeito engraçado, bem, ela geralmente tinha um jeito engraçado.
– Né! – disse. – Eu não consigo acreditar ainda.
– Não é só você. – virou-se na nossa direção.
– Com certeza, não. – Eu garanti.

As aulas demoraram muito para passar. Era como se alguém estivesse colocado o relógio para girar sempre na direção anti-horário. Eu já estava quase morrendo de tédio quando o professor de Literatura nos liberou. Peguei minha bolsa rapidamente e desci para ligar para o meu pai.

– Oi, pai. – Falei no celular. – Você pode vir me buscar?
– Poxa, filha, agora não dá. – Respondeu. – Estou resolvendo uns problemas meio sérios aqui. Você pode esperar uma hora?
– UMA HORA? – Baixei o tom de voz quando notei os olhares na minha direção. – Pai, uma hora é muito tempo!
– Então pede uma carona para a . – Sugeriu.

Desliguei o celular e fui atrás da minha amiga. Surpresa ótima: o carro da mãe dela já estava dobrando a esquina! Adivinha quem vai ficar até duas da tarde na escola?!

EU.

Suspirei um pouco brava, já que eu estava bastante faminta. Olhei para os lados e caminhei na direção de e , que por sorte estavam ali, mas moravam num bairro bem distante do meu.

Já se passava de uma e meia quando Lucas encostou-se ao meu lado com sua cadeira de rodas. Vê-lo naquele estado me fazia querer chorar. Não por causa dele. Mas por causa da situação que ele estava passando. Perder um pai para o câncer justo no mês que você sofreu uma grave fratura no tornozelo é uma coisa que não se deseja nem para o pior inimigo. O observei por alguns instantes e quando finalmente ele olhou para mim, dei um sorriso. Não sei como consegui fazer essa proeza já que sou bem durona quando o assunto é garotos.

– Como você está? – Perguntei. – Diante da situação, é claro.
– Relativamente bem. – Respondeu ele num tom seco.
– Entendo... – suspirei fundo e continuei a conversa. – Olha, talvez você não acredite, mas de verdade, eu sinto muito por você. Principalmente pelo seu pai.
– Obrigado, eu acho. – Ele deu ombros. – Eu vou me acostumar. Na verdade, eu tenho que me acostumar. – Pude sentir um suspiro forte e pesado vindo dele.
– Espero que dê tudo certo. Essas coisas fazem parte da vida, lógico que ninguém quer e nem merece passar por isso, mas sabe, junte todas as forças que você tem e supere isso na medida do possível.

Lucas deu um sorriso de canto. Aquilo fez com tudo tivesse valido a pena. Mesmo com o jeito chato dele, sei que no fundo, há um garoto normal como qualquer outro. Com seus defeitos e qualidades, uma das maiores qualidades dele era ser brincalhão, não levar as coisas tão a sério e fazer com que as pessoas sorrissem. E conseguir arrancar um sorriso dele, por menor que fosse, era um mérito enorme para mim.

– Obrigado, . Você é uma menina bem legal. Sinto sua falta.

Ele disse mesmo meu nome????????????

Lucas falou mesmo aquilo de mim?!?

– De nada, Lucas. A gente não se fala com frequência, mas pode contar comigo. Acho que posso ajudá-lo quando precisar. – Devolvi o sorriso com um pouco de vergonha. – Ah, antes que eu me esqueça... também sinto muito a sua falta.

Ele estendeu os braços para mim, como quem quisesse me dar um abraço. Sem pensar muito, o abracei. Como os braços dele eram de longe, maiores que os meus, fez com que a cena fosse um pouco engraçada, tinha pouca “” para muito “braço do Lucas”, nós até rimos com isso. Quando ele me soltou, o meu sorriso denunciava as emoções, que droga, tentei disfarçar olhando para a tela do celular que estava em minhas mãos. Espero que ele não tenha notado, é sério.

Ouvi uma buzina assim que o clima ficou pesado de novo, e isso me salvou. Apesar de tudo, eu nunca fiquei tão feliz por ter sido esquecida na escola. Obrigada, pai, por ter tido problemas no trabalho. Obrigada, , por ter ido embora cedo. Eu nunca teria tido esse momento. E nunca aconteceria de novo, tenho certeza! Já fui entrando no carro pensando em contar tudo para a quando chegasse a minha casa, mas de verdade, o momento tinha sido meu, acho que ela não se importaria s e eu guardasse e o curtisse só pra mim para sempre.

– Hum, ele não me é estranho. – Meu pai disse enquanto encarava o Lucas de longe, que o encarava de volta.
– Pai... Vamos! – Falei num tom mais bravo. – Vamos logo.
– Espera, acho que conheço sim... – ele franziu o cenho. – Ah! Lembrei quem é! Por que ele está de cadeira de rodas?
– Porque ele sofreu uma fratura no tornozelo no treino do basquete, pai, agora vamos. – Bati o pé no banco do carro e cruzei os braços, um pouco nervosa.
– Coitado, deve tá sentindo tanta dor. – Meu pai fez careta. – Se ele é seu amigo, não sei qual o motivo do nervosismo. – Ele riu de mim.
– Não estou nervosa, e nós não somos amigos. – Revirei os olhos. – Dá pra a gente ir pra casa agora?
– Não é o que parece. Pessoas que não são amigas, não se abraçam... – ele arqueou uma de suas sobrancelhas.
– Você... você viu o nosso abraço?! – Falei, na tentativa de repreendê-lo. – Af, pai! – Bufei.
– Tudo bem, mocinha. Não precisa me explicar nada. Estou de olho, ouviu? – Continuou rindo.
– Não vou explicar porque não tem o que explicar. Ele estudou comigo, nós conversávamos há anos, mas paramos de nos falar há um tempo. Ele perdeu o pai recentemente. Só quis dar umas palavras de apoio, achei que fosse bom. – Suspirei. – O senhor tem imaginação fértil, pai. – Foi minha vez de rir.
– Ah! Entendi... Bonito de sua parte. – Ele sorriu, dando partida ao carro. – Me orgulha ter uma filha assim.
– Você também me orgulha. – Sorri de volta.

O caminho pra casa foi curto, e a fome que eu estava sentindo num instante passou. Graças a quê? Lucas. Obrigada por tirar minha fome, cara. Mas, cheguei em minha casa e minha mãe estava nos esperando com um dos melhores almoços do mundo. A comida da minha mãe é maravilhosa, vale ressaltar. E é mais maravilhoso ainda quando ela faz panqueca!

– Fiz panqueca pra você. – Ela falou.
– Obrigada, mãe. Eu tava com muita fome mesmo! – Peguei o prato e sentei à mesa para comer. – Você comprou a mala grande que a gente combinou? – Indaguei.
– Ainda não. Deixei pra comprar hoje no shopping com sua madrinha, vamos nós três e escolhemos uma bem bonita. Eu não saberia escolher sozinha, aliás. – Ela riu e saiu da cozinha logo em seguida.

Fiquei comendo com o meu pai na cozinha, que claro, não poderia deixar escapar a oportunidade de fazer inúmeras perguntas sobre a viagem. Meu pai é tão legal, que quando ele diz que também queria ir ao show conosco, eu realmente acredito. Nós fomos juntos ao show do Paramore, e ele nem ficou na mesma pista que eu. Então na real, eu acho que ele vai porque gosta mesmo. O admiro tanto. Não tenho nenhuma dúvida de que tenho o melhor pai do mundo. Ficar sem eles por quatro dias, bem, iria doer um pouquinho. Você supera, .

***


Sete de maio.

A espera acabou. Eu mal tinha dormido na noite anterior. A ideia de viajar com minhas amigas pela primeira vez na vida havia sido fantástica e ainda não entrava totalmente na minha cabeça. Já se passava das cinco da tarde e eu ainda estava com a mala aberta em cima da cama, desesperada, é claro. Dali a três horas o voo estaria decolando rumo a São Paulo e minhas malas ainda não estavam prontas!

– Cadê sua calça jeans?
– Mãe, eu vou com ela para o aeroporto! Não vou levar outra, são só quatro dias. Calma. Acho que quatro blusas, dois shorts, uma calça e um vestido estão de bom tamanho. – Falei dobrando a última peça. – Os sapatos já coloquei todos na sacola. Pode ir colocando na mala.
– Certo. É melhor você levar uma roupa de sair. Caso a tia dela queira levar vocês para um lugar chique. – Meu pai disse.

Eu tive que rir com o jeito que ele expressou as palavras.

– Já coloquei o vestido, pai. Já sei todas as roupas que vou para todos os passeios. – Eu ri. – Essa calça vai para o show amanhã e vou usá-la no shopping, falou que tem um shopping legal lá, os shorts serão para os passeios no parque e na Galeria do Rock e na hora eu vejo o sapato.
– Ok! Vai terminar de se arrumar, por favor. – Minha mãe avisou e começou a colocar tudo dentro da minha mala.

Quando finalmente terminei, olhei para o relógio que anunciava seis e meia. Quase tive um colapso nervoso, na passagem avisava para está no aeroporto as sete e eu ainda nem tinha feito o check-in! A sorte é que meus pais me apressaram e no final, voei para dentro do carro. Meu corpo começou a balançar forte. Ai, droga, será que eu estava com medo? Ou era só nervosismo mesmo? O ruim é que nessas horas ninguém se entende. Meu pai pisou fundo no acelerador, o que me causou mais nervosismo ainda já que odeio andar num carro em alta velocidade. Ah, e vale ressaltar que minha irmã ficava gritando a cada segundo dentro do carro. E isso me irritava muito. A pessoa já está nervosa, e a criança fica gritando no ouvido ao seu lado, bem, ninguém tem uma paciência de Jó.

– Ai, meu Deus, será que vai dar tempo? – Fui dizendo assim que olhei o engarrafamento próximo ao aeroporto. – Por que todo mundo tem que viajar justo hoje? – Bufei. – Droga.
– Calma, vai sim. – Foi a única palavra com sentido que minha irmã poderia me passar naquela hora.

Cheguei ao aeroporto justo na hora que a empresa aérea estava chamando para o nosso voo. Meu pai correu junto comigo para a fila do check-in, que por sinal estava pequena, para a nossa sorte, enquanto minha irmã e minha mãe foram tratar de achar minhas amigas no aeroporto. Malas encaminhadas. Check-in feito. Poltrona escolhida. Tudo ok. Assim que saímos dali, encontramos minha mãe e minha irmã, dizendo que as meninas já estavam indo para a sala de embarque. Lógico que eu corri como nunca. Subi as escadas rolantes correndo, tudo isso para não perder o voo. Até porque se eu perdesse não me perdoaria nunca.

Dentro do avião foi tranquilo, na hora de sentar, notamos que a ficaria na janela, então eu meio que exigi que trocássemos de lugar. Poxa, eu adoro a janela!

– Por favor, por favor! – Pedi. – Eu amo ficar na janela!

Até o rapaz que estava na mesma fileira que nós deu risada. No fim das contas, fiquei na janela. Antes de sair de casa, minha mãe de deu um chá para acalmar um pouco os nervos, mas esqueceu de avisar que aquilo dava sono. E olha que eu não sou de dormir em avião, tenho que me certificar de que ele está voando normalmente.

Quando o avião deu partida, meu coração palpitou. Não é questão de medo, mas saber que aquela aeronave iria nos manter no céu por três horas, me dava agonia, não vou negar. Antes que eu pudesse me preparar para decolagem, o avião começou a subir, me apertei na cadeira com a maior força que pude. Meus pés insistiam em não ficar parados. Mordi a boca por um tempo, até me garantir de que estava segura. Suspirei fundo. O chá foi tão forte que meus olhos estavam querendo fechar, apenas permiti que o fizessem. Ainda pude ouvir conversando com as meninas, eu estava tecnicamente dormindo, mas de olhos bem abertos.

Quando desembarcamos em São Paulo, quase não senti meus pés, de tanta pressão que coloquei neles. Odeio pousos e decolagens, é sério. O meu relógio marcava vinte para meia noite. Pegamos nossas malas na esteira e caminhamos juntas ao desembarque.

– Gente! – falou um pouco alto. – A gente vai ver os meninos, cara!
– Eu não estou acreditando até agora. – abraçou fortemente. – Poxa vida, eu vou chorar, cara. – Ela abraçou em seguida. – Estamos realizando nosso sonho.

Sorri para ele e nós nos abraçamos grupalmente. Não nos importávamos com os olhares, o importante é ser feliz. A tia da já estava a nossa espera. Ela era bem engraçada, pelo menos foi o que deu para notar nos primeiros minutos que estivemos com ela, ou seja, primeira impressão.

– Prazer em conhecê-las, meninas. – Tia Leni estendeu a mão. – Meu nome é Leni, mas vocês podem chamar de tia. Sejam bem-vindas a São Paulo. – Falou enquanto nos cumprimentava.

A gente foi para o estacionamento, colocamos as malas dentro do carro e nos apertamos para caber todo mundo dentro. A cena foi épica. A mais ansiosa de todas, por incrível que pareça era a . Ela não parava de falar, pular e gritar o tempo todo. Demos muitas risadas com ela, inclusive a tia Leni.

Já no carro, olhamos atentas para os anúncios, o trânsito que tanto falavam, e principalmente, para as ruas largas. Não era tão diferente da minha cidade. Era só maior. Olhei ao redor, nada de muito interessante. e que ficavam falando a cada segundo sobre o quanto deveria ser legal morar em São Paulo, eu discordo, mas estava cansada demais para intervir numa dessas conversas sem pé nem cabeça. A viagem do aeroporto para o prédio não levou nem vinte minutos, na verdade. Segundo Leni, o trânsito estava perfeito para um fim de semana daqueles, coisa que ela estranhava muito. Descemos na garagem do edifício, cada uma pegou sua bagagem e foi caminhando até o elevador.

– Domingo quando vocês acordarem, a gente dá um passeio no Parque Ibirapuera, na Galeria do Rock, vamos ao MASP e terminamos o dia nos deliciando com um Starbucks. O que acham? – Leni foi sugerindo.

Antes que ela terminasse de falar, as meninas já estavam se entreolhando e gritando entre elas. Inclusive eu, a Galeria do Rock seria um dos melhores lugares que eu iria conhecer na vida. E eu sempre quis tomar Starbucks, então, nossa guia de turismo acertou em cheio.

– Esse vai ser o melhor fim de semana de todos! – riu.
– Sem dúvidas nenhuma! – Respondi, abraçando-a.

Quando entrei na casa, não sei dizer qual foi minha reação. Acho que nenhuma. Geralmente, a gente idealiza “apartamentos” como lugares pequenos e sem espaço. Mas, aquele ali era de longe, um dos maiores que já vi. Quer dizer, o maior que já vi. Não sou muito de ir a apartamentos.

– Você mora aqui sozinha? – Minha primeira pergunta.
– Ah, sim, na verdade, esta casa é da mãe dela. – Apontou para a . – Elas vivam aqui antes de mim. Eu morava em Guarulhos com meu marido, mas daí ele faleceu. Minha irmã também mora lá com a família dela, mas como eu e meu marido não tínhamos filhos, não vi necessidade de ficar por lá. O apartamento estava vazio, então resolvi me mudar. Adoro aqui. – Ela me respondeu.
– É enorme! – tirou as palavras da minha boca.

Fui seguindo a até ela mostrar o quarto onde passaríamos a noite, no caso, onde cochilaríamos. As meninas ficaram brincando por “quem iria dormir na cama”, eu simplesmente não dei muita bola. O colchão no chão parecia ótimo, grande e confortável. Por que não? Não esperei que elas se decidissem quem dormiria aonde. Peguei minhas coisas, tomei um banho rápido e deitei no colchão. Sei que por fim, , e ficaram na cama. Peguei meu celular e fiz o que minha mãe pediu. “Ligue para mim quando chegar.”

– Oi, mãe. – Falei ao telefone. – Acabei de chegar aqui na casa da tia da . Tomei banho e já vamos dormir. De madrugada a gente vai para o estádio.
– Certo. Eu já estava ficando preocupada com você sem dar notícias. Mas ainda bem que está tudo certo. – Ela suspirou aliviada. – E, aí? Está gostando?
– Bem, ainda não conheci nada. – Eu ri. – Mas, o que deu pra ver é bem legal. Domingo a gente vai conhecer os pontos turísticos, vou postar as fotos no meu mural na internet.
– Vou curtir todas! – Ela riu junto. – Vá dormir, minha filha. Aproveite muito, viu? Nem vou falar para o seu pai que você está no telefone, senão ele vai querer passar a noite conversando. Um beijo!

Desliguei a ligação e caí no sono quase de imediato.

***


Fui acordada por uma travesseirada de . Nada legal para um sábado de madrugada. Eu mal tinha recuperado as energias e já tinha que estar de pé. Se não fosse por uma ótima causa, até que ficaria com raiva.

– Venham tomar café antes de ir. – Leni anunciou na porta.

Como prometido, ela nos apresentou a casa de uma forma breve, eu vou tentar resumir: A sala era enorme, e quando eu digo enorme, era porque é muito grande mesmo. Tinha dois sofás, duas poltronas e o rack com a televisão, no chão tinha um tapete com uns desenhos legais. Nesta mesma sala, tem uma varanda incrivelmente linda. Dá pra ver os outros prédios bem longe, o estádio que iríamos e até as pessoas passando lá em baixo. O que não aguentei foi o frio. Assim que puxaram a persiana da janela, eu quase congelei instantaneamente. O vento estava muito gelado naquela madrugada, neste momento eu entendi o motivo das pessoas estarem bem agasalhadas lá em baixo. O interessante é que uma porta ao lado esquerdo da varanda tinha uma sauna pequena. Mas, bem bonitinha. Por um momento quis ficar ali para me livrar do frio. Até , que nunca sente frio, estava com os braços enfiados dentro do casaco. Depois da sala, tinha um corredor longo que levava à cozinha ao lado direito e aos quartos. A cozinha era tipicamente americana, com umas bancadas e sem portas. Achei bem legal o designer e tudo mais. No apartamento ainda tinha dois quartos, uma dispensa e outro quarto maior. Ah, e tinha um escritório bem bonito também, enfim, era tudo muito lindo no meu ponto de vista.

O café da manhã foi a hora mais esquisita. Digo isso porque eu detesto melão, e era basicamente isso, ver a comer melão com chocolate fazia meu estômago virar. O café da manhã era composto por frutas como melão, damasco e morango. Comi morango com chocolate derretido, tudo bem, não é a melhor refeição do mundo em termos “saudáveis”, mas era gostoso pra caramba. Comi um sanduíche também e um copo de suco, nós tínhamos que estar bem alimentadas até a hora do almoço, sei lá se iríamos almoçar.

– Alô? Oi mãe... já estamos indo para o show. – Disse ao telefone. – Não se preocupa, tá tudo bem. Acabamos de tomar café da manhã, comi fruta, metade de um sanduíche e suco.
– Certo. – Minha mãe suspirava. – Toma cuidado, você não está numa cidade pequena. Fica ao lado da sempre.
– Eu sei, mãe. Estou muito feliz hoje e gostaria de agradecer a vocês aí. Cadê o papai? – Perguntei.
– Dormindo, disse que te ligava mais tarde. – Respondeu.
– Certo. Vou indo então, te amo.
– Eu também, filha.

Quando chegamos ao estádio, mal consegui esconder minha emoção. Era lindo! Aquele encontro de fãs ali em frente, era definitivamente tudo o que eu sonhava ver um dia. Principalmente porque já fui ao show do Paramore no ano passado. O lugar estava muito lotado, tinha até gente acampando há semanas! O que era de se esperar. Cara, era a One Direction! Fazia tanto frio naquela madrugada, mas tanto frio que eu senti meu nariz congelar. Fiquei com medo de ele sangrar ou algo assim. Cobri metade do rosto com a manga do meu casaco. Minhas mãos estavam trêmulas. Peguei o celular rapidamente para checar a temperatura. Nove graus. NOVE GRAUS CELSIUS. Droga! Por que São Paulo tinha que ser tão frio assim? Argh! Notei pela reação das meninas que elas estavam sentindo o mesmo.

Por volta das oito da manhã, o céu já estava totalmente claro. E um segurança já tinha nos locomovido até o portão da Pista Premium. Apesar disso, aquela fila não se diferenciava das demais. Tinha tanta menina pirada, com cartaz na mão, com presentes e outros objetos, que eu tive que rir alto.

– Acho injusto não ter Meet&Greet. – Alguém disse.
– Também acho. – Me meti na conversa. – É injusto. O primeiro show deles aqui deveria ter pelo menos 100 ingressos para o M&G. – argumentei.

O resto da manhã foi recheado de fotos, vídeos, choros e principalmente gritos. A gente fez até um coro na fila! Foi incrível. Não consigo descrever exatamente o que estava sentindo ali. Era uma mistura de sentimentos enorme. Eu não sabia se ria, se chorava, se dançava, se cantava... Só sabia que estava onde deveria estar e com quem eu deveria estar. Era exatamente isso que eu sonhava todas as noites antes de dormir.

Fiquei olhando para o portão de entrada assim que ele abriu. Os garotos apareceram, e nossa, eles eram reais! Coloquei as mãos no rosto como se não estivessem acreditando, e exatamente como pensei, minhas lágrimas rolaram de emoção na hora em que o Harry gritou: “Hello, São Paulo! Are you ready?”, foi como se o mundo estivesse parado, olhei para a e ela piscou de volta para mim, entendendo a colocação exata que estávamos. Faço que nem ela... A vida tem dessas coisas. E a única coisa que eu queria naquele exato momento, era que aquilo durasse para sempre.

Capítulo 3 | Cala a Boca, “CANTORA”!


Terceira parte (Narrada por )


Eu poderia ser uma escritora best-seller, uma atriz de sucesso, quem sabe uma bailarina dedicada ou até mesmo mais uma garotinha que veio ao mundo com um talento diferente..., mas, de todos os eventos que poderiam ter acontecido na minha vida, nascer apaixonada pela música, foi de longe, o mais constrangedor deles. Digo isso porque segundo meus amigos, minha voz é maravilhosa. Sinceramente, eu não acho. Apesar de quê, às vezes eu concordo com eles. Não só por nada disso, mas talvez por ter me acostumado com os: “Menina! Que voz linda!”, ou “Nossa! Você deveria fazer cover no Youtube!”, ou qualquer outra frase parecida com essas.

Meu nome é e eu gosto de cantar. Não sei se deu pra perceber, mas sou bem indecisa na maioria das vezes, na maioria não, mas talvez... Tudo bem, eu confesso, sou indecisa pra caramba! Porém, quando boto uma coisa na cabeça, é preciso ter argumentos bons o suficiente para fazer com que eu mude de ideia. Além da minha paixão pela música, como todos já sabem, sou apaixonada por línguas estrangeiras, falo inglês (muito bem, por sinal), e estudo francês.

Eu me acho bem brincalhona, e não digo brincalhona no sentido de “ser legal”, digo no sentido de gostar de zoar. E é verdade, odeio ver as pessoas que gosto chorando por alguma coisa. Pior que isso, é saber que não posso ajudá-las. Se você quer alguém com quem contar quando estiver passando por uma situação não tão boa, eu não sou psicóloga, não tenho os dons da , mas juro que vou me esforçar para te arrancar algum sorriso. E se eu gostar de você, choro junto. Pode até não parecer, mas sou sentimental, por trás de uma menina um tanto arrogante, existe uma garota bem sensível. De todas as minhas qualidades, sinceridade é o meu forte. Para muitos, ser totalmente sincera machuca as outras pessoas, eu não acho, sou bem pé no chão. Até você mexer com um dos mais sensíveis sentimentos humanos: o amor.

***


Não lembro exatamente de como conheci as meninas. Eu e nascemos juntas, praticamente, então não preciso explicar como a conheci, até porque eu não ia lembrar mesmo. Estudamos na mesma escola há anos, e creio que nosso primeiro encontro tenha sido numa delas ou na rua, talvez. Ano passado resolvemos mudar de escola, na verdade não foi porque queríamos, foi porque o colégio onde estudávamos não tinha classe para primeiros anos. Então, logicamente, tivemos que deixar a nossa simpática escola do bairro para trás. Foi difícil, mas, de um jeito ou de outro, tínhamos que ter feito isso e, para mim, não foi tão complicado. sentava na minha frente, ela foi minha primeira amiga ali. No começo, achei que ia ser chato porque todo mundo dizia que naquela escola só tinha gente metida, rica e chata. A princípio concordei com as afirmações, até que comecei a interagir com o pessoal. Eles eram bem legais.

Passado alguns meses, descobri que uma garota na minha sala, chamada , que no começo eu achava que ela era a garota mais metida e chata da sala, também era fã da mesma boyband que eu: One Direction. Então, óbvio, fãs quando se encontram, parece que são amigas de infância e foi assim que eu fiz minha segunda melhor amiga ali.

Não sei explicar como conheci a exatamente. Ela e a andavam juntas, então a gente sempre se falava, mas no começo nós não íamos com a cara da outra. Tá certo, admito, eu não ia bem com a cara dela. Principalmente porque depois, descobri que ela tinha sido “amiguinha” do Igor, então pensei que assim como eu, ela também tinha uma queda por ele. Que nada! Você vai entender essa história direito depois...

***


Assim como a maioria das pessoas do mundo, detesto segundas-feiras. Velho, eu detesto todos os dias da semana. A ideia de acordar para encarar uma manhã inteira de aulas não valia a pena para mim. O transporte escolar chegava às seis e meia. Eram seis em ponto e eu sequer havia me levantado. Minha mãe veio até mim, puxou meu cobertor e ficou me gritando por algum tempo. Até que finalmente decidi acordar.

Ter cabelo cacheado é uma merda. Tudo bem, eu gosto dele. Mas é que me sinto péssima quando acordo. Não consigo domá-lo na maioria das vezes e isso me irrita pra caramba. Tenho que passar pelo menos um litro de creme para que ele fique “aceitável”. Odiava isso! Só não faltei aula naquele dia porque precisava comentar com as meninas sobre um tal de “Grande Anúncio da One Direction” que vi no domingo. Achei bem interessante, apesar da curiosidade. Pensei em várias possibilidades, inclusive na de ter uma turnê por aí.

– Bom dia. – foi logo dizendo na van.
– Bom dia... – respondi ainda com uma voz de sono.
– Alguém foi dormir tarde ontem. – Ela riu.
– Alguém foi obrigada a levantar para ir à escola. – Resmunguei. – Mas de boa, tô preocupada com o tal anúncio.
– Também fiquei mega curiosa! – Confessou. – Você acha que é um álbum novo? – Indagou.
– Pode ser...

Chegamos à escola no horário de sempre. Antes de tocar e depois da , já que ela costumava ser uma das primeiras a chegar. Coloquei minha bolsa numa das cadeiras e fiquei conversando com o pessoal, até que o sinal deu início a mais uma aula insuportável de Filosofia que, sinceramente, ninguém estava dando à mínima.

Graças a Deus a aula foi interrompida para a entrada dos alunos “atrasados” que só podia adentrar depois de vinte minutos da aula ter começado. e eram uma dessas.

– Bom dia! – falou em minha direção.
– Bom dia. – respondi.
– Quer um Fini? – Foi a primeira pergunta dela da manhã.

Na hora do intervalo, sentamos todas lá atrás para conversar, o que costumávamos fazer geralmente. O assunto não podia ser outro, a não ser o “Grande Anúncio” da One Direction. Passamos o tempo todo falando sobre isso.

A droga do toque anunciando a quinta aula atrapalhou nossa conversa. Sentei-me ainda mastigando o Cookie roubado da . Aguentar mais duas aulas insuportáveis não estava na minha lista de coisas favoritas a se fazer. Peguei o celular na bolsa escondido, coloquei em cima da mesa e comecei a olhar os “Today’s” dos meninos. Tudo tranquilo em relação ao Grande Anúncio, a não ser o fato de que todo mundo estava pirando muito a essa altura do campeonato. No site deles tem um cronômetro calculando quanto tempo falta até a hora do anúncio e isso me deixava mais nervosa ainda.

“@RealLiamPayne: We’re extremely excited to announce our One Biggest Announcement 2morrow, guys!!”

Droga, Liam. Você me deixou ainda mais curiosa! Joguei o celular dentro da bolsa de novo e comecei a escrever o que Hélio anotava no quadro. Sim, tenho um professor de Química com nome de elemento químico e bem, isso é legal.

A aula não demorou muito pra acabar, o que foi bom porque eu já estava me revirando de fome. Argh. Não demorou muito até que eu chegasse em casa e começasse a comentar com minha mãe. Ainda bem que me garantiu que a mãe dela conversaria direitinho com a minha porque, pelo jeito, eu falando sozinha com ela não ia dar muito certo.

***


Ainda estávamos na segunda aula daquela terça-feira insuportavelmente chata. Faltava cerca de uma hora até o anúncio e meu estômago estava se revirando por dentro, não por fome ou algo assim, mas por causa do nervosismo. Acho que de todas as meninas, eu estava mais nervosa que a soma do nervosismo dela juntos. Fiquei olhando a hora de minuto em minuto e ela parecia não passar. Mas que merda! Será que o tempo parou e todo mundo ficou preso naquela aula chata do professor de Biologia? Minhas hipóteses foram negadas a partir do toque de aviso para a terceira aula, História. Na verdade, para todas nós, o toque avisava que dali a dez minutos já saberíamos sobre o Grande Anúncio.

– Ainda faltam dez minutos! – Resmunguei num tom áspero.
– Calma, gente. – tentava nos apaziguar.
– Cara, me peça qualquer coisa, menos calma! – tirou as palavras da minha boca. – Sério, meu, eu fico mais nervosa!

Fiquei batendo o pé no chão continuamente, esta era uma das minhas manias chatas, o colega da frente sempre reclamava por eu estar balançando a cadeira dele. Mas, para falar a verdade mesmo, naquela hora, esta era a última coisa a qual eu me importaria. Guilherme que se dane, dá para aguentar minhas pisadas, sim. Olhei para os lados, ninguém estava me observando, tirei meu celular da bolsa e chequei a hora. NOVE EM PONTO.

Desbloqueei o celular da , corri para os sites dos meninos e esperei carregar! Isso é mesmo uma droga! A internet do celular dela estava lenta pra caramba. Bem, pelo menos é melhor do que a minha. A minha paciência estava se esgotando na hora em que o site abriu. Meus olhos quiseram pular. BRASIL. O Grande Anúncio, na verdade era uma turnê pela América do Sul. Não contive a emoção. Só senti a mão de puxar o celular das minhas.

– Eles estão vindo para cá! – Ela gritou o mais alto possível.

O professor virou na nossa direção na mesma hora.

– Que bagunça é essa?! – Rezingou. – O grupinho aí tem que parar com esse barulho, senão tiro as cinco! Desde que entrei aqui vocês não estão prestando nem atenção às minhas explicações. Se eu perguntar qualquer coisa sobre o assunto, aposto como nenhuma vai responder. – Completou furioso.

Dane-se, pensei.

Ficamos imóveis até a hora do intervalo, o que demorou muito para chegar, já que nossa ansiedade era mais do que a velocidade do tempo. Sustentei o cotovelo na carteira e pus a mão direita no queixo, apoiando. Meus pés começaram a bater na cadeira do colega da frente, que não esperou muito até arrumar as coisas e sair de perto da gente.

– Que saco! – Gritou. – Parece que está com formiga na bunda!

Nós rimos bastante com a cena, o que fez Antônio se virar de novo e nos apontar mais uma vez. Juro que na hora quis sair de sala só para comemorar no banheiro com as meninas.

Quando o intervalo chegou, nem me lembrei do meu lanche na bolsa. O show dos meninos era muito mais importante do que as bolachas que trouxe, isso eu garanto. Sentamos as cinco lá atrás, como sempre fazíamos em todos os intervalos. praticamente voou para o chão.

Vimos as datas e aquilo fez com que nós nos animássemos na mesma hora!

– O meu medo é minha mãe não deixar. – Fiz uma careta. – Ela é meio fresca com essas coisas.

deu uma gargalhada sarcástica.

– Até parece! Se a sua mãe é fresca com isso, imagina a minha! – Ela falou com um tom mais sério. – Vou ter que rodar muito a baiana para convencer aquela mulher. – revirou os olhos logo em seguida.
– Relaxa. Eu peço para minha tia ligar para ela, ou sei lá, com quem ela quiser falar. – afiançou. – Só não quero que uma de nós deixe de ir por proibição dos pais e, em relação a ser cidade grande, ela não precisa se preocupar. Tia Leni vai nos vigiar o tempo inteiro. – Terminou a fala com uma convicção de uma advogada que acabara de ganhar uma causa.
– Já pensou em cursar Direito? – arqueou uma sobrancelha para ela, segurando o riso. – Você daria uma ótima advogada.
deu risada.
– Não, , não seja ridícula. – Fez careta. – Só quero garantir que nosso sonho seja realizado da maneira que é para ser, certo? – Piscou. – Ah, e só pra avisar mesmo: eu quero ser jornalista.

A gente riu de novo, até que o sinal tocou para a próxima aula. Eu não fazia ideia de qual seria, na verdade nem queria saber. O que eu mais queria agora, era chegar em casa e me jogar aos pés da minha mãe e implorá-la para me deixar ir.

***


Cheguei em casa quase duas da tarde, culpa do transporte escolar que quebrou no meio do percurso. O que me deixou estressada. Eu me estresso com tudo, isso é fato. E principalmente nas horas que menos preciso.

– Mamãe linda do meu coração! – Fui logo gritando.

Minha mãe apareceu na porta segurando um prato de vidro. Vai ver estava almoçando ou colocando a minha comida. Ela me olhou de cima a baixo, cerrou os olhos e chegou mais perto de mim, o que me fez rir na mesma hora.

– Para, mãe! – Falei aos risos.
– Quem é você e o que fez com a minha filha? – Minha mãe disse, deixando escapar uma risada baixa. – É sério, o que foi?
– A gente precisa conversar bem sério, mãe. – Tentei ficar realmente séria e esconder a minha vontade de gritar alto ali.
– Tudo bem... fala logo que eu já estou ficando preocupada.
– Senta aí. – Apontei para o sofá. – É coisa simples.
, não brinca, o que foi? – Ela já estava ficando mesmo nervosa.
– Assim, mãe, sabe aquele anúncio da One Direction? – Fui direto ao ponto, enrolar só faria minha mãe ficar mais nervosa.
– Hum... sei. – Respondeu ela depois de pensar um pouco. – O que você achava que iria ser um CD novo.
– Isso! – Concordei com a cabeça. – Na verdade não era um CD novo. – Suspirei. – Eles vão vir para o Brasil! – Não consegui me conter ao dizer isso, e dei um pulo enorme.
– O QUÊ? – Mamãe teve um susto, acho que por causa da minha reação. – Eles estão vindo ao Brasil? Quando?
– Daqui a três meses! – Continuei pulando. – Mãe, é sério, é o meu sonho. Eu juro que nunca mais peço nada na minha vida, por favor, me dá isso de presente, por favor. – Fiz bico.
, você fez esse mesmo discurso quando pediu para ir a Disney. – Ela não expressava mais nenhuma reação agora.
– E você deixou! – Falei na defensiva.
– É que assim filha... – notei que ela estava procurando palavras na mente. – Não é tão fácil assim quanto parece.
Revirei os olhos e ergui a mão para falar, ela me deu a vez.
– Mãe, antes que você diga: “Você não tem onde ficar” ou “Não tenho dinheiro suficiente”, já te digo que tenho sim onde ficar e tenho dinheiro guardado por aí, posso pedir a vovó também. – Pausei. – Mas sério, isso é o meu sonho e você sabe. Sabe que sempre assisto aos shows deles na internet todas às vezes. Cansei disso, quero ver pessoalmente. Por favor, dessa vez eu realmente não peço mais nada.
Ela não respondeu nada. Pelo menos por dez segundos.
– Onde você vai ficar? Vai dormir na porta do clube?
– Não! A é paulista e tem uma tia que mora praticamente do lado do estádio. Ela falou que a tia dela mora sozinha, e não se importa que fossemos junto. É só um fim de semana! – Me ajoelhei no tapete e cheguei perto dela. – É sério, por favor!

Ouvi o longo suspiro dela e aquele olhar de quem estava pensando ser mirado em mim, continuei com o bico.

– Vou falar com o seu pai. – Ela disse se levantando. – Ah, e quero o número dessa tia da e da mãe dela também.

Eu me levantei do chão e dei um super abraço nela, com direito a beijo na bochecha e tudo. Comecei a dizer o quanto isso era importante para mim e o quanto eu a amava por me entender. O fato era que, quando minha mãe falava “Vou falar com o seu pai”, quer dizer que ela iria convencê-lo a me deixar ir. Claro que não toda vez, mas na maioria delas. E pelo menos naquela hora, eu imaginava que fosse.

***


Flashback On

Enquanto mais o tempo passava, mais eu ia ficando preocupada, nervosa, ansiosa e feliz. Tudo isso ao mesmo tempo, se era possível. Após quase nove horas de voo, o avião ia aterrissando. Ouvia-se cada vez mais o barulho das turbinas se preparando para descer e isso fez com que eu me espremesse um pouco na poltrona. Eu não sabia explicar e, apesar do medo, este era o momento mais esperado desde minha infância. Quando as rodas da aeronave finalmente encontraram o solo. O barulho foi um pouco chato e o balanço do avião também. Tentei ignorar isso e olhei pela minúscula janela. Lá estava o aeroporto. Naquele momento, já consegui sentir o clima, a pressão e a maravilhosa sensação de está nos Estados Unidos.

“Senhoras e senhores passageiros, sejam bem-vindos a Orlando. A temperatura local é 30graus Celsius. Orlando hoje está com um tempo ensolarado. Horário local: 04:00PM, ajustem seus relógios, a empresa aérea agradece a sua preferência. Tenham todos uma ótima estádia. Boa tarde.”

Depois de fazer todo o processo de desembarque, fomos obrigados a sentar naquelas cadeiras desconfortáveis de aeroportos, pra falar a verdade nem me importei. Estar em Orlando me impressionava mais.

– Galera, vamos esperar mais meia horinha. – Anunciou o guia. – A gente tem que esperar o grupo verde. O voo deles está próximo!

Suspirei fundo e olhei a hora no relógio. O voo do grupo verde parece até que tinha errado o caminho! Nós estávamos há pelo menos duas horas ali e ninguém da equipe verde havia aparecido. Tinha um trio do meu lado, e eles vieram puxar conversa comigo, a menina não me era estranha.

– Oi. – Ela falou. – É a sua primeira viagem também?

– Para a Disney? – Respondi. – Aham. – Confirmei com a cabeça. – E de vocês?

– Também! – Ela respondeu. – Eu sou a Clara, esse baixinho de óculos é o Victor e aquele lá é o Igor. Vem cá, Igor! – Ela gritou. – A gente tá jogando adedonha no papel. Quer brincar também?

“Brincar” soa estranho quando se tem quinze anos.

– Quero. – Respondi rindo. – Daqui que o grupo verde chegue, vamos esperar muito ainda...
– Né! – O Igor falou. – Como é teu nome?
. – Respondi sorrindo. – Qual a sala de vocês?
– Turma E. E você é da A, né? – Clara disse. – Já te vi umas vezes lá.
– Sou! – Confirmei novamente.

Para resumir tudo, ficamos três horas no aeroporto de Orlando. A parte boa é que eu fiz amizade com algumas pessoas. E eles eram bem legais. Bem legais mesmo, um pouco diferentes de mim, digamos assim. O que eu mais gostei foi o Igor, ele tinha um jeito meio tímido que nem eu. O Victor também era legal, e a Clara nem se fala, aos poucos fomos nos reconhecendo melhor e fazendo novos amigos.

***


Passava da meia noite quando eu, Clara, Igor e Victor estávamos fazendo um “tour” pelo hotel. Naquele dia havíamos só feito compras, amanhã iríamos realmente começar os passeios da viagem. Isso me animava bastante, afinal, estou na Disneyland! – Gente, que lugar é esse? – Clara foi abrindo uma porta que nos levava a um corredor.

Caminhamos até o fim dele e no terraço do hotel, tinha uma casinha. Na verdade, não sei se era bem uma casinha, argh, sou péssima com descrições, então vou chamar de “cabana”.

– É tipo uma cabana! – Falei rindo.
– Vamos ficar aqui? – Igor sugeriu.

Ninguém discordou da ideia, terminamos o percurso e abrimos a portinha do local. A gente sentou no chão frio daquele lugar e voltou a conversar. Nossas experiências tinham sido as melhores, e eu não podia estar mais feliz. Igor era o mais legal de todos, não sei o que ele tinha, acho que era o charme! Claro, só podia ser o charme, além de lindo era charmoso pra caramba.

– Ainda não acredito que estou aqui! – Falei animada.
– Muito menos eu! – Igor riu baixo. – Vai ser superlegal ter vocês como colegas de viagem.
– Espero que nada disso acabe quando pousarmos no Brasil. – Victor tirou as palavras da minha boca.
– Concordo com o Victor. – Ressaltei.
– Essa conversa está meio chata. – Foi a vez de Igor fazer careta. – Vamos jogar verdade ou desafio? – Sugeriu.
– Eu começo! – Falei isso já girando a garrafa. – Minha pergunta vai para o Igor! Verdade ou desafio?
– Verdade. – Ele piscou.

E assim foi a nossa madrugada. Passamos bastante tempo naquela cabana, e combinamos que ali seria o nosso ponto de encontro. Todo mundo concordou com a ideia, que afinal, era ótima. Ah, até me esqueci de ressaltar que além de lindo e charmoso, o Igor era muito cheiroso! Senti isso ao abraça-lo na despedida.

***


A manhã seguinte foi bem tranquila. Ficamos juntos o tempo todo nos parques. Puxamos mais uma garota para o nosso grupo, e ela se chama Carolinne. A viagem tem sido maravilhosa ao longo do tempo, e ter um grupo de amigos na Disney é uma coisa que eu imaginava todos os dias antes do embarque.

– Vem , vamos. – Igor me chamou. – Esse povo fraco está com medinho de ir à casa do terror. – Zoou.
– Né isso, Igor! – Dei risada junto com ele.

Caminhamos juntos até a entrada do brinquedo, assim que mostramos o nosso “free pass”, sentimos Carolinne chegar ao nosso lado e me empurrar para o canto.

– Oi gente, quero ir com vocês. – Disse.

Aquilo me deu certa raiva. Era a oportunidade que eu tinha para ficar sozinha com o Igor e a Carol tem que aparecer... tudo bem, tentei me controlar ao máximo, afinal, ela não fazia ideia do que estava se passando na minha cabeça. Comecei a notar durante todo o caminho que a Carolinne se aproximava mais e mais do Igor. Era como se fosse uma “cola”, durante a apresentação da casa do terror, ela não desgrudou dele e via-se claramente que ela não estava com medo de verdade, e sim se aproveitando da situação. Aquilo me incomodou um pouco, mas segurei para não explodir. Olhei para a Clara na fila do sorvete, e isso me deu uma ideia.

– Carol, acho que a Clara está te chamando. – Menti.

Carolinne olhou na direção da Clara, deu ombros e segurou no braço do Igor como se tivesse segurando um item valioso.

– Ah, não. – Falou. – Acho que ela está te chamando. Mal falei com ela hoje.

Puxei o braço dela de leve, como que quem quisesse comentar algum segredo, eu iria inventar algo. Igor me viu puxando a Carol e fez uma cara de quem não estava entendendo.

– Vem cá, Carol. Deixa eu te contar uma coisa. – A tirei de perto do Igor e puxei-a mais para perto. – É que...

Neste momento, Carolinne puxou o braço dela da minha mão com força e voltou a apoiar-se no Igor. E me olhou com uma cara de nojo, talvez.

– Sai, ! – Ela falou um pouco alto. – Depois você me fala, agora não!

Ela arqueou uma sobrancelha para a direção do Igor sem que ele visse, como quem dissesse: “Estou com ele agora, não vou sair daqui por nada neste mundo. ”, não consegui segurar a raiva e tentei disfarçar, dizendo que iria tomar um sorvete junto com os outros, ficar ali só iria me fazer muito mal.

– O que foi, ? – Victor perguntou.
– Carolinne está meio maluca hoje. – Tentei parecer calma.
– Maluca, tipo...? – Clara fez cara de interrogação.
– Deixa para lá! – Olhei na direção da Carol e revirei os olhos.

***


A noite chegou rápido. O meu primeiro passeio no parque tinha sido perfeito se não fosse a Carolinne querendo aparecer para o Igor na minha frente. Não é que eu esteja com ciúmes, é que essa cena dela foi totalmente desnecessária. Após o banho, ouvi o telefone do quarto tocar e atendi.

, aqui é a Clara. Vem para a cabana.
– Ah, espera um pouco, vou me vestir e já desço.

Sai assim que me troquei. O caminho até a cabana foi curto, afinal, eu estava praticamente correndo. Abri a porta rapidamente e lá estava: Carolinne ao lado do Igor e com a mão tocando nele. Suspirei fundo e tentei aguentar. Ela nem pertencei àquele lugar. Tem gente que não se toca mesmo!

– Oi, . – Carol me cumprimentou com um sorriso.
– Oi Carol, oi Victor, oi Clarinha, oi Igor... – este último me deu um sorriso de orelha a orelha, que quase me fez desmaiar.
– Vamos brincar de verdade ou desafio de novo? – Sugeriu.
– Vamos! – Tentei parecer contente.
– Vamos... eu te desafio a me beijar! – Carolinne falou alto em direção ao Igor. – Calma, estou só brincando! – E caiu numa gargalhada. – A não ser que você realmente queira fazer isto.

Aquilo era demais para mim! Simplesmente levantei, disse que estava me sentindo mal e fui embora.

***


Estávamos nos preparando para ir ao Epcot na manhã seguinte. O dia estava bem tranquilo em relação ao dia anterior. Graças a Deus que ninguém tinha ido atrás de mim depois que eu saí correndo do terraço daquele jeito na noite passada. Todo mundo só falava na festa da viagem, eu não estava tão ansiosa quanto a isso, de verdade.

– E aí, com que roupas vocês vão? – Clara indagou contente.
– Clara falando de roupa desse jeito me impressiona muito. – Dei uma risada baixa. – Eu acho que vou com o vestido cor prata que trouxe. Mas não sei, pensei em tanta roupa... – fiz careta.
– Vou de calça. – Carol disse. – Na verdade tem um vestido preto muito fofinho, mas acho que muita gente vai de preto.
– É festa de confraternização e não Halloween, Carol. – Clara falou ironicamente. – Pela primeira vez na vida estou me preocupando com roupas, olha gente, todo Pokémon evolui!
Nós rimos no quarto. Peguei minha mochila e desci.
– Cadê as meninas? – Victor perguntou. – Todo mundo já tomou café da manhã, só falta vocês. – Ele disse isso e saiu para o ônibus.

Desesperei-me na mesma hora quando vi só algumas pessoas do grupo na mesa do café da manhã. Liguei para o nosso quarto imediatamente e apressei as meninas, depois disso, corri para pegar um prato e comecei a por minha comida. Coloquei pouca coisa, afinal, não sou acostumada a comer tanto pela manhã. Saímos um pouco atrasadas, por isso tivemos que ir no fundão, não tinha mais espaço na frente. O grupo da gente era enorme. Ao chegar ao Epcot, fomos em direção à fila para pegar o free pass, e depois começamos a andar.

– Qual brinquedo a gente vai primeiro? – Perguntei.
Soarin. O guia acabou de falar para irmos para lá. – Igor me respondeu. – Se bem que dizem que ele é legal.
– Legal. – Carol comentou enquanto se aproximava dele novamente.

Começou a palhaçada, pensei logo. Mas não. Hoje Igor a recusou totalmente. Foi como se algo tivesse o atingido da madrugada de um dia para o outro, estranhei muito. Mas, achei legal a atitude dele. Menina atirada não presta mesmo.

Assim que entramos, confesso que me assustei um pouco com o corredor escuro, mas, logo sentei numa das cadeiras, ao meu lado esquerdo estava a Clara, e ao direito, Igor. Em instantes, a cadeira começou a “flutuar” e ao olhar para baixo, a gente enxergava diversos lugares, inclusive a cidade de São Francisco, na Califórnia. Logo em seguida, era como se tivéssemos passando por cima de uma plantação de laranja. E como num passe de mágica, o cheiro de laranja madura tomava conta do olfato das pessoas. Por fim, nós “aterrissamos” na Disney.

– Foi massa! Eu adorei! – Sai elogiando.
– Eu esperava mais. – Igor fez careta.
– Também. – Carol concordou com ele. – Enfim, vamos para qual agora?
Corremos para os outros brinquedos do parque, mas logo em seguida tivemos que acompanhar o grupo nos pavilhões dos países, e confesso que foi a parte que mais gostei do passeio. O curioso era que Igor havia se perdido, não é se perdido, digamos que ele não quis nos acompanhar.

– Vocês viram a Anna? – Uma menina loira perguntou.
– Não. – Respondemos em coro.
– Eu não sei onde ela está. – A garota fez careta. – Sério, Carol, há horas que eu estou procurando aquela menina...

Depois que ela saiu, nós nos olhamos com cara de interrogação. Até que o Victor cogitou a possibilidade de ela estar com o Igor, já que segundo ele, os dois trocaram mensagens durante parte da madrugada. Meu sangue congelou.

– Quem é essa menina? – Tentei parecer desinteressada.
– É da turma F, não conheço. – Victor falou.
– Uhum... – Carol parecia um pouco nervosa também.

Suspirei fundo e tentei continuar o passeio. Mas, àquela possibilidade não saía da minha cabeça. Por todo lugar que passávamos, eu olhava para os lados, na tentativa de achar Igor. Só o encontrei duas horas depois, e ele estava acompanhado de um dos garotos do nosso grupo. O que foi um alívio saber que a tal Anna não estava com eles. A gente sentou em um dos bancos e esperou o pessoal terminar de fazer as compras. O show de fogos iria começar em pouco tempo e eu não queria perder de jeito nenhum. Falaram-me que o tal show de luzes na água era ainda mais bonito do que o do Magic Kingdom.

A gente aproveitou o pouco tempo que tinha para conversar. Não parecíamos os adolescentes que se conheceram há três dias, mas, amigos de longas datas. À medida que o tempo passava, o lugar ia ficando mais lotado, tudo parava para ver a magia do Illuminations. Pouco tempo depois, tudo se apagou e alguns ruídos de som ambiente calou o lugar. Só o lago começava a se ilumina agora. O silêncio foi quebrado por um incrível clarão no céu, todos ficaram de boca aberta com tamanho espetáculo, até os mais acostumados, como por exemplo, o nosso guia. Os fogos de artifício começaram a tomar conta do lugar, hesitei em segurar uma lágrima que caía no meu rosto, era impossível. Eu não conseguia parar de olhar para o lago, estava encantada. Os meus olhos brilhavam. Não existiam palavras para descrever o que estava sentido. Quando o último brilho incendiou o céu, olhei para o lado, Igor estava bem ao meu lado e eu sequer havia notado, ele estava com um sorriso estampado no rosto, não sabia o motivo, mas, o sorriso dele me fazia sorrir também.

– Isso foi tão lindo! – Elogiei em voz alta, enquanto limpava uma lágrima que ainda insistia cair.
– Realmente... – Igor me respondeu, sorrindo.
– Sério, eu quero morar aqui! – Carol gritou.

Nós demos uma risada e nos levantamos para ir embora. O tumulto já iria começar e a porta que dava acesso à saída deveria estar um caos há esta hora. Fomos todos juntos até a praça de alimentação, pedimos uma pizza. Conversamos durante o dia até que eu cheguei ao assunto “Anna”.

– Ei, Victor... já acharam a Anna? – Indaguei.
– Já... ela tava comigo. – Igor anunciou enquanto mordia um pedaço da pizza.

Parei de comer e fiquei encarando a Carol por alguns seguidos, bufei alto e ele percebeu, tentei disfarçar dizendo que a pizza estava muito quente, mas não colou, porque claramente ninguém me olhou convencidamente. Quando terminamos o jantar, fomos para a porta de saída, e como se eu já soubesse, a multidão que passava por aquelas catracas era imensa. Foi difícil até que todo mundo conseguisse sair. Mas, finalmente, conseguimos chegar ao ônibus e voltar para o hotel na maior tranquilidade do mundo.

– Cansada? – Clara perguntou.
– Nem um pouco. – Respondi, forçando um sorriso.

Clara sentou na poltrona com o Victor, e o Igor estava junto com a Carol, eu fiquei sozinha. Tentei não me importar. Ainda estava com vergonha do que aconteceu na hora do jantar. Enquanto o ônibus seguia até o hotel, fiquei olhando para o nada, como quem quisesse buscar uma resposta para algo.

No outro dia, as meninas fizeram uma reuniãozinha no saguão do hotel. Coisa boba, só para conversar e se conhecer direito. Achei a ideia boa e resolvi participar, no final das coisas, vi que aquilo estava parecendo mais o Clube da Luluzinha, ninguém se conhecia, mas estávamos todas ali, até as meninas do grupo verde.

– O que vocês vão vestir na confraternização? – Laura, uma das meninas do meu grupo perguntou. – Estou ansiosa para esta festa, vai ser tipo a minha de quinze anos, já que não vou ter por causa da viagem.
– Eu tive. Mas foi surpresa. – Falei ao me lembrar dos meus amigos que ficaram. – Minha mãe fez no tema do One Direction!
– Hahaha, que legal. Eu sou apaixonada por eles também. – Carol comentou.
– Massa! – Retruquei rindo. – Enfim, vou de vestido mesmo. Decidi um ontem.
– Eu também vou de vestido. – Anna, a garota que Igor estava conversando no dia anterior falou. – Tenho que estar linda! – Ela falou com expressividade.
– Por quê? – Clara estranhou. – Tipo, por que tanta exuberância? – Ela riu.
– Vou ficar com o Igor! – Ela ousou gritar.

O meu coração apertou, não sei explicar direito a sensação, foi tão ruim que tive vontade de chorar e me afastei do grupo. Controlei-me durante toda a reunião, até que a Carol insistiu que fossemos embora, a agradeci do fundo da minha alma. Ao voltar para o quarto, segurei o choro ao máximo e fiquei com aquela cara de demente, digo isso porque as meninas sentaram na minha cama e me olharam sério.

– Você está gostando dele, não é? – Clara perguntou.
– Não! – Respondi rápida.
– Claro que está. – Carol falou.
– Não! – Cruzei os braços. – De onde vocês tiraram isso? – Forcei um riso.
– Porque está, tipo, muito na cara. – Clara me acompanhou com a risada. – Igor é assim mesmo, não sei o que as meninas sentem por ele, mas deve ser algo muito sério. Ainda bem que sou bem tranquila em relação a ele, afinal, somos amigos.
– Já não posso dizer o mesmo... – Carol me olhou. – A gente não pode se enganar, mas que você está gostando do Igor, você está sim, .

Ela falou isso e foi para a cama dormir, Clara ainda falou mais algumas coisas que tentei ignorar. Não consegui. Fiquei com aquilo na cabeça por um tempo, e sim, depois de todos esses episódios, eu estava gostando do Igor.

Merda.

***


Três dias depois, nós estávamos atrasados para ir ao Universal, desta vez o atraso foi todo e somente dos garotos. Igor e Victor demoraram muito para comer, e resultou em meia hora de atraso. Péssimo. Meia hora a menos no parque, obrigada meninos.

– Que demora! – Carol reclamava.
– Gordos! – Foi a minha vez de falar. – Só pensa em comer, comer, comer... vão voltar ao Brasil com uma tonelada.
– Não fala dos gordos! – Clara disse com uma cara feia.

A gente deu risada e o passeio começou oficialmente.

Igor e eu estávamos ficando cada vez mais próximos desde a noite que as meninas insistiram que eu estava gostando dele. Naquele dia eu neguei até a morte, mas sim, eu estava. Era óbvio e me enganar não ia adiantar, não agora.

– Fiquei mal por não ter visto a Shamu ontem! – Carol falou.
– Também. Com toda aquela chuva, foi impossível mesmo. – Clara comentou.
– E parece que hoje vai chover pra caramba também. – Igor falou olhando para as nuvens escuras no céu. – Que droga!
Awn, ele é tão lindo. Além de lindo é simpático, tem como não se apaixonar? Pela forma como ele agia durante toda a viagem, notava-se claramente isso. Tudo bem que nos conhecíamos há uma semana, não sei dizer se era bem paixão, nunca acreditei em amor à primeira vista, aliás. Se não era amor, nem paixão... não sei bem o que era. Mas Igor mexia muito comigo.

Não demorou muito até que chegássemos ao parque. Já tinha gente pra caramba na entrada, o guia já nos deixou claro que não tinha condições de pegar o free pass nesses casos. Fiquei um pouco chateada porque esperar na fila ia ser um saco. Sério. No final das contas, acabamos acompanhando o guia e o grupo verde em um dos brinquedos por lá. Victor e Clara foram comprar limonada, Carol estava perdida por aí, então eu e Igor ficamos sozinhos na fila e eu não perdi a oportunidade de comentar sobre a Anna.

– Ei, Igor, e a Anna? – Arqueei a sobrancelha, disfarçando o meu ciúme.
– Anna do grupo verde? – Ele fez de desentendido. – O que é que tem ela?
– Soube que ela queria ficar com você... – depois de ter dito isso me arrependi muito, e se ele topasse ficar com ela agora?
– Sério? – Disse surpreso. – Hum... ela não faz o meu tipo.
Bingo!

– Ah, só ouvi mesmo... – comentei, querendo gritar.

Ele me olhou estranho e depois riu, como se eu tivesse acabado de contar uma piada. Fui salva por Clara e Victor, com as limonadas na mão. Ofereci a minha frente para a Clara e a gente ficou muito tempo ali naquela fila interminável. Quase no fim do dia, encontramos Carolinne comprando algumas coisas na lojinha do parque. Aproveitei para comprar uns Mickeys para a minha irmã, ela gosta bastante. Coloquei tudo numa bolsa e voltamos a caminhar no parque.

– Gente, eu vou comprar alguma coisa para comer ali. – Igor falou isso e saiu em direção à lanchonete.
– Ah, eu vou também! – Carolinne despertou o sensor “Igor” de novo. – Estou morrendo de fome.
– Carol, você acabou de tomar um milk-shake. – Desmenti-a.
Ela ficou branca na hora, e parou de andar.

– Você está me policiando do que posso ou não comer? – Ela arqueou a sobrancelha direita. – É nutricionista? Que eu saiba, eu posso comer o que eu quero na hora que eu quero.
– Gente... – Clara tentou apartar uma possível “briga”.

Neste momento, o Igor já tinha saído para comprar a comida dele, e eu havia notado que o Victor foi junto, ainda bem, porque eles terem visto aquilo iria ser uma baita vergonha.

– Só porque você está gostando do Igor acha que é dona dele agora? – Carolinne cruzou os braços e me olhou de canto. – Saiba você que não é a única!
– Em nenhum momento eu falei que gostava dele! – Respondi em bom tom.
– Mas visivelmente gosta! – Ela falou mais alto. – Fica aí se derretendo toda quando ele fica perto de você, e nenhuma garota pode chegar perto, porque senão já cospe fogo!
– A última pessoa que pode falar de ciúmes aqui é você, querida. – Cruzei os braços e a observei. – Não queira mandar na minha vida, você não tem esse direito!
– Quem está mandando na minha vida é você! – Ela se aproximou. – Só porque gosta do... – a interrompi.
– GOSTO MESMO, E DAÍ? – Gritei.
Ela bufou alto e me empurrou para o lado.
– Ele nem olha na sua cara, como você é idiota!
– Quem não vai olhar mais na SUA cara sou EU! – A empurrei para trás, e saí correndo na direção contrária dela, sem perceber que o Igor estava vindo ali.

Não sei se ele ouviu algo, mas passou reto pela Carol, deixou o lanche com a Clara e veio correndo atrás de mim. Não sei por que eu sou tão besta para chorar. Ela poderia estar certa. Ele nunca ia querer saber de mim, mas eu já estava chegando a um ponto de não querer saber mais o que me esperava.

– Ei! – Ouvi a voz dele logo atrás de mim.
Eu me sentei em um dos bancos e cobri o rosto com as mãos para tentar esconder minhas lágrimas.
– Não chora! – Disse sentando-se ao meu lado.

Não consegui dizer uma palavra, ele simplesmente me abraçou. E foi o melhor abraço da minha vida, talvez o mais sincero de todos. Pude sentir o cheiro dele bem próximo de mim, e o meu coração apertou tanto. Deitei minha cabeça no ombro dele e fui tentando me acalmar aos poucos.

– Não sei o motivo da briga, não sei o que aconteceu, mas você não precisa chorar desse jeito. – Igor foi falando. – Sério, não sei como consolar garotas, e nem ao menos o que fazer quando vocês choram. Mas, só queria dizer que vai ficar tudo bem.

O soltei aos poucos e olhei na direção dele, enquanto enxugava minhas lágrimas, eu ainda estava soluçando, mas consegui sorrir.

– Obrigada. – Suspirei fundo. – Obrigada mesmo.
– De nada... – deu de ombros. – Fiquei preocupado com você. O que aconteceu? – Assim que terminou a frase, fiquei com receio de explicar o motivo.
– Nada demais, a gente só se desentendeu e ela me falou umas coisas horríveis.
– Olha, eu já estudei com a Carolinne antes de ir para a turma E. E ela é bem complicada de lidar. Nós nunca fomos próximos, na verdade eu mal falava com ela, a gente “se conheceu” de verdade aqui na Disney. – Pausou. – Mas ela é complicada.
– É incrível como amizades podem ser destruídas por ga... Quer dizer, besteiras! – Suei frio.
– Não foi destruída! – Rebateu. – Não deixa isso estragar a nossa viagem, estamos na Disney! – Falou apontando para a figura do chapéu do Mickey na entrada do parque.

Eu dei um sorriso largo e o abracei, ele deu uma risada de satisfação, e fiquei bem feliz com isso, foi como um: “Consegui fazer ela parar de chorar!”.

– Obrigada. De verdade. – Falei no abraço. – Me desculpa.
– Só desculpo se você for tomar um chocolate quente comigo, me fez largar o lanche para vir correndo atrás de você, então, me deve um chocolate! – Ele cruzou os braços, rindo.

Aquilo foi mais fofo do que eu esperava, apenas assenti com a cabeça, levantei e nós caminhamos juntos, enquanto a chuva batia na gente, eu sabia que meu cabelo ia amanhecer horrível, nem me importei, aquilo estava acontecendo de verdade, e tenho absoluta certeza que todas aquelas cenas, sobretudo as lembranças daquela noite, ficariam na minha mente para sempre.

Flashback Off

***


Minha mãe me acordou gritando na manhã da viagem. Acordei mais ansiosa do que quando fui dormir, pulei na cama na mesma hora e automaticamente saltei de felicidade, acordar bem-humorada era coisa que raramente acontecia, então ela deu uma risada ao me ver naquele estado.

– Eita, tem alguém ansiosa! – Minha mãe falou rindo.
– EU VOU VER OS MENINOS! – Falei pulando.
– Mas antes vai ter que ir para escola... – ela me jogou o uniforme, parando de rir. – Se arruma logo!

Parei de pular e fiz careta na hora. Droga, eu não precisava ir para a escola naquele dia, poxa! Mas, segundo o meu pai: “Você já vai perder aula na segunda e na terça!”. Afffff! Tomei banho nas pressas, até porque já estava um pouco atrasada mesmo. Coloquei o uniforme e fui tomar café, na verdade eu não tomava café da manhã, até acho que já comentei isso, eu só tomo leite antes de ir à escola.

– Mas, mãe... não vai ter nada demais na aula hoje. – ainda não desisti de convencê-la. – Por favor!
– Você vai sim! – Ela cruzou os braços. – E o transporte já está chegando.

Bufei e saí em direção ao portão, o empurrei e fiquei do lado de fora, não demorou muito tempo até que o transporte parou bem em frente à minha casa. Entrei nas pressas, procurando a .

– Caraaaaaaaaaca! – Gritei. – É hoje, magrela! – Dei risada.
– Só vou perdoar o xingamento, porque é o melhor dia de todos os melhores dias do ano! – Rimos juntas. – É hoooje!
– Né, eu tô feliz demais! – Comemorei. – Já arrumou suas malas? – Indaguei. – As minhas já estão prontas desde ontem!
– Já! Arrumei ontem também. – respondeu. – Só faltam as coisas básicas mesmo, mas isso a gente arruma rapidinho. – Ela riu. – Que horas você vai para o aeroporto?
– Sei lá. Vou cedo. – Dei ombros. – Não quero me atrasar. Imagina se a gente perde o voo!
– Não fala isso nem brincando! – reclamou.
– Aposto como vai ser a melhor viagem de todos os tempos! – Falei. – Tudo bem, a melhor não, a melhor foi a da Disney, mas vai ser tão boa quanto. – Comentei.
– Como ainda não fui para a Disney, essa vai ser a melhor. – riu.

Chegamos à escola, e a aula foi um tédio, como sempre, não vale a pena detalhar. A turma toda ficou zoando a gente por causa dos gritos, mas ninguém se importou, estávamos tão felizes que sequer iríamos ouvir a bagunça da sala.

Cheguei mais cedo em casa, implorei para que o transporte fosse buscar a gente mais rápido na escola, jurei que faltava mil e uma coisas para fazer, e menti até a hora da viagem.

– Milagre é esse você chegar em casa dez minutos depois que acabou a aula? – Minha mãe riu. – Nem almoçamos ainda.
– Verdade. Acho que o motorista adiantou o relógio. – Dei risada, mentindo. – Mas é bom. Que horas a gente vai para o aeroporto?
– Você quer ir agora? – Mamãe arqueou uma de suas sobrancelhas. – Vai para o seu quarto, toma um banho e vem almoçar. – Ela bufou.

Fiz careta e em seguida fui fazer o que ela pediu. Após o banho, hesitei em ir almoçar naquela hora, se minha mãe ainda não tinha gritado, quer dizer que o almoço ainda não estava pronto e, para falar a verdade eu nem estava com fome. Liguei o computador para ler alguma Fanfic, fui surpreendida pelo meu bate papo na rede social. Quando li o nome, me surpreendi. Igor. Ele nunca me chamou para conversar, tipo, nunca mesmo.

Igor: Olá! Vai viajar hoje, né? Nem fala pros amigos, tá certo, viu...
: Poxa, Igor! Vou sim, quem te falou?!
Igor: Carol. Ela disse que ia, mas, não deu certo.
: É verdade, falei com ela esses dias, parece que a mãe não deixou!
Igor: Foi, haha. Algo assim, eu não lembro! Você vai ficar em hotel?
: Não, vou ficar na casa da tia da , lá em Moema, conhece?!
Igor: Nunca foi a São Paulo, mas, de boa, espero que você faça uma boa viagem!
: Valeu! Até achei estranho você vir me chamar no chat HAHAHA xD
Igor: Eu não sou muito de chamar não, mas sei lá, faltei hoje à escola, não tinha como te desejar boa viagem por lá, então...
: Obrigada! Vou fazer uma boa viagem sim , melhor do que a da Disney até haha!
Igor: Ahhh... Melhor do que aquela não tem não!!
: Verdade, com certeza não! Melhor viagem EVER #boragrupovermelho
Igor: #boragrupovermelho
: foi massa demais, melhor viagem de todas!
Igor: Nenhum grupo vai ser melhor do que o nosso, e nenhuma equipe vai ser tão animada quanto: #boragrupovermelho
: HAHAHA, deixou saudades...
Igor: Pois é... Pena que a gente não pode voltar atrás 
: NÉÉÉÉÉÉ! Ei, to indo! Mamãe está chamando aqui pra comer, affff... Obrigada aí de novo, beijos! ;*
Igor: tchau, beijo!
está offline.

Almocei calada, fiquei pensando na conversa. Era incrível que mesmo depois de tanto tempo, o Igor ainda mexia comigo. Na maioria das vezes eu achava que não valia mais a pena, ele não gostava de mim, e isso nunca iria acontecer. Aqueles dias nos Estados Unidos foram maravilhosos, mas, acabou e, só de pensar que o meu sentimento ainda continuava ali, me doía bastante, e eu não gostava de me lembrar disso.

***


Eu fiquei pronta as sete em ponto. Esperei até que a mãe de ligasse avisando que já estavam saindo de casa, iríamos chegar juntas. Minha irmã estava na casa da minha avó, então eu podia ir tranquila que ninguém ia encher o meu saco. Fui com a roupa mais simples possível, como odeio vestir calça jeans, coloquei um short mais comprido, dissera que São Paulo no inverno, e principalmente de madrugada, faz muito frio. Como eu sou bem calorenta, nem me preocupei tanto. Chegamos ao aeroporto às sete horas, o trânsito estava horrível.

e estavam tomando um milk-shake quando a encontramos. Elas acenaram na nossa direção, enquanto nossas mães se falavam, nós nos abraçávamos.

– Eu e já gritamos tanto aqui! – falou rindo.

Nós quatro fomos até a fila da lanchonete, só de vê-las comendo me bateu uma fome, e até estranhei porque tinha comido um prato cheio antes de sair de casa. Sentamos na mesinha e ficamos comendo enquanto esperávamos .

Ouvimos a última chamada para o embarque do voo, e caminhamos feito um monte de loucas dentro do aeroporto, e isso foi bem engraçado. Assim que me dei conta que iria ficar quatro dias fora de casa, superlonge da minha família, mas que estava indo pelo motivo de uma realização de um sonho, não pude deixar que algumas lágrimas escapassem do meu rosto, enquanto mais eu limpava, mais elas caíam. Tentei segurar o choro por mais algum tempo, mas foi em vão. Definitivamente, , você é chorona demais!

***


O voo foi maravilhoso. Nunca me diverti tanto dentro de um avião, sem dúvidas, muito melhor do que o da Disney. Quando desembarcamos em São Paulo, a tia da já estava a nossa espera, ela era bem simpática e parecia ser bem divertida. São Paulo era tipo uma BR da minha cidade. As ruas largas e enormes. A diferença é que tinha muito mais carro e muitos anúncios na rua. As lojas pareciam mil vezes maiores do que eu era acostumada. Por incrível que pareça, me lembrei, automaticamente, da Flórida.

– Domingo quando vocês acordarem, a gente dá um passeio no Parque Ibirapuera, na Galeria do Rock, vamos ao MASP e terminamos o dia nos deliciando com um Starbucks. O que acham? – Tia Leni foi sugerindo.

Lógico que piramos. A viagem tinha começado perfeita. E eu sabia, no fundo do coração, que as surpresas seriam grandes, tanto para mim, quanto para as meninas, é claro. O apartamento dela era enorme. Não posso deixar de confessar que fiquei impressionada, até elogiei. Na hora de dormir, liguei para a minha mãe, falei que tinha chegado bem e ela disse que o meu pai estava ficando preocupado com a demora da ligação. Com tanta novidade aparecendo, quem é que vai se lembrar de ligar para casa? Desculpa, mãe.

***


Dormi na cama de casal com e . No outro dia, -Despertador, nos acordou. Ainda bem, porque senão iríamos perder a hora. Quando tirei os meus pés do carpete para ir ao banheiro, juro por qualquer coisa, nunca senti tanto frio na minha vida. Meu corpo congelou de cima para baixo de uma forma brusca. Peguei a sandália e corri para o banheiro. Depois do banho quente, estávamos prontas com as blusas encomendadas do site. Eu estava me sentindo extremamente feliz. E com muito frio. Muito frio mesmo. Quando a foi mostrar a casa pra gente, ao abrir a janela, meu nariz doeu do vento forte. Fiquei com medo de não aguentar, vesti duas blusas e um casaco antes de ir para a cozinha.

– Ao meio dia vocês não vão aguentar o calor. – Leni dizia.
– O clima daqui é muito louco. – completou.
– Eu imagino. – Falei enquanto cortava um pedaço do pão.

Nós tomamos um café da manhã bem fortificado. Afinal, iríamos passar o dia sem comer, praticamente. Não bebi só o leite como de costume, tomei vergonha na cara e me acabei nos pães e frutas. Antes de sairmos, me lembrei de ligar para a minha mãe, foi o que mais ela me encomendou.

– E, aí? Como está? – Ela falava do outro lado da linha.
– Com frio. – Respondi ainda me tremendo.
com frio é o fim do mundo. – Pude ouvir o comentário vindo da cozinha. – Vai é nevar! – Completaram.
– Se protege bem. Cuidado para não ficar doente. – Minha mãe falava no telefone. – Sei que vocês estão bem ocupadas agora, mas só queria falar que estou feliz por você, tenha cuidado, ouviu?! Essa cidade é um inferno. – Dizia. – Não saia de perto de ninguém para não se perder. Eu te amo.
– Eu te amo mais. Obrigada por tudo, mãe. – Desliguei.

Quando nós saímos do prédio, os termômetros marcavam nove graus, mas a sensação térmica era de nove graus negativos, sem brincadeira nenhuma. Eu batia o pé no chão com força assim que descemos no estádio. O frio parece que diminuiu quando eu vi a quantidade de gente que estava ali no estádio. Nunca vi tanta menina gritando em um lugar só. O tumulto passou depois das oito da manhã, quando o segurança nos transferiu para a fila Premium.

– Que tal se a gente puxar um coro? – sugeriu.
– Acho bom. Quem começa? – .
! – Gritamos todas juntas.
Balancei a cabeça negativamente, corada.

– Sempre sobra para mim.
– Quem manda nascer com uma voz perfeitamente perfeita de cantora internacional? – riu baixo. – Começa logo!
– Aí... – cobri o meu rosto. – Tudo bem, qual música?
– Midnight Memories! – falou quase gritando.
– Certo! One, two, three....

A partir daquele momento, nós éramos as garotas mais felizes do mundo. Tive liberdade de chorar, gritar e cantar muito. Mais um sonho realizado, minha lista estava se completando. Daquele dia em diante, eu nunca mais seria a mesma, pois as imagens do show e dos meninos ficariam guardadas para sempre no fundo do meu coração.

Capítulo 4 | Cadê Meu Boy Magia?


Quarta parte (Narrada por )


Definitivamente, não nasci para escrever. Não mesmo. Principalmente quando se trata de escrever sobre mim. É meio estranho, acho que nunca seria capaz de escrever uma biografia ou algo assim. De qualquer forma, me considero uma das meninas mais tímidas do grupo, senão a mais tímida. Falar em público é um pesadelo, com o garoto que gosto, então, sem chances. Eu odeio ser assim.

Meu nome é , também tenho dezesseis anos e sou directioner há menos tempo que as outras garotas, ah e minha história como directioner começou de uma forma engraçada. Pra falar a verdade, nunca fui de gostar muito de bandas. Não sei o motivo, mas sei lá, simplesmente não curtia. E quando a One Direction apareceu, não foi diferente. era louca apaixonada por esses garotos, certo, ela ainda é. Porém, antes era mais. Enfim, eu tinha ódio quando ela chegava cantando, gritando ou falando daqueles garotos. Aos poucos, fui me apaixonando por eles de uma forma que não consigo explicar. Confesso que até chorei quando descobri o antigo namoro do Harry. Certo, isso é bem coisa de criança, cá para nós, me arrependo disso, mas acho que valeu a pena.

***


Era um domingo pela manhã quando acordei com o toque do meu despertador. Sim, tinha colocado despertador no domingo, pois iria passar o dia na casa da minha tia. Eu gostava bastante porque lá tinha a Sofia e ela era um amor. Apesar de almoços em família serem um saco, quando se tem um bebê fofo as coisas se tornam mais legais, pelo menos para mim que sou apaixonada por bebês. Quando chegamos, tive uma surpresa. Meu primo havia acabado de chegar da Inglaterra com a esposa e os dois filhinhos deles. Quase que eu pirei!

! – Ele falou abrindo os braços. – Você está linda!

Dei um superabraço nele, meu coração quase saía pela boca. Eu não o via desde que era pequena, nos falávamos frequentemente pelas redes sociais, mas jamais teria imaginado que ele nos visitaria assim, de surpresa.

– Marcelo! Muito obrigada. – Respondi sorrindo. – Cara, eu estou em estado de choque, é sério. Como assim vocês não avisaram nada? Ahhh! – Resmunguei.
– Queríamos mesmo fazer uma surpresa. – Disse sorrindo. – Só queria sabia disso era sua tia! – Apontou para mesma.

Quando olhei para o Rafael, quase tive um ataque de fofura. Que lindo! Os olhinhos dele eram tão azuis! Peguei o bebê no colo e não quis mais desgrudar, eu nunca tinha o visto antes, a não ser por foto, é claro. Ele falava algo que eu não entendia, até porque linguagem de bebê já é difícil, imagina em inglês!

He likes you! – Samantha, a esposa do Marcelo disse.
I know! He is so cute! – Arrisquei o inglês. – I’m so happy right now. – Falei em relação à surpresa.
Yeah, Marcelo said that you would be happy. – Sam respondeu sorrindo.

Ai, que massa! Eu estava falando em inglês com uma britânica, não que isso fosse algo novo, já que nos falávamos pelo computador, mas realmente era tipo, um pasmo muito, meio que muito grande mesmo!

Passamos a tarde toda conversando, Marcelo me contou como estava sua rotina na cidade em que moravam na Inglaterra, Sam ainda conversou bastante comigo, confesso que depois de um tempo, passei a não entendê-la, mas nada do que um: “Yeah!” sorrindo não resolva.

– E aí, ?! Sua mãe falou que você vai para Disney. Está ansiosa? – Meu primo indagou. – Fiquei feliz quando soube.
– Ah, sim! – Falei ao me lembrar da viagem. – Vou sim! Em julho. Mal posso esperar, é sério. Vai ser a viagem da minha vida. – Comemorei.

Assim que disse isso, ouvi meu celular tocar. . Pedi licença, deixei o Rafa com a mãe dele e saí para atender o celular na varanda.

– Fala, .
! Você viu esse cronômetro no site dos meninos?
– Cronômetro? Site dos meninos? – Não tinha entendido nada. – Como assim? Não estou sabendo de nada!
– Abri agora o site dos meninos aqui. Tem um cronômetro. Tipo, o site todo está sem funcionar. Você acessa o link e aparece só esse cronômetro com o nome em cima: “One Biggest Annouceament”.
– Grande Anúncio? – Traduzi mentalmente. – Hum, não estou sabendo de nada disso. Vou olhar aqui no compu... Merda! – Me interrompi. – Estou na casa da minha tia. O Marcelo está aqui. Ele veio de surpresa! Está ele, os filhos e a esposa.
– O Marcelo da Inglaterra? Que massa! – Ela falou. – Então aproveita aí. Se eu ficar sabendo o que é isso no site, te ligo de novo, tá bom?
– Tá certo. Beijo.

Assim que coloquei o celular na bolsa, fiquei com aquele pensamento. O que diabos seria um cronômetro no site da One Direction? Um CD? Não é possível. Show? Provavelmente.

– Quem era? – Minha mãe perguntou.
. – Respondi.
– Ah, tá. Algo de importante?
– Não, quer dizer, sei lá. Ela me falou sobre um negócio que está no site da One Direction. Disse que era tipo um cronômetro com o nome “Grande Anúncio”. – Comentei.
– Ah... estranho. – Interpretou.

***


A segunda-feira tinha começado bem tranquila. Depois de um domingo maravilhoso daqueles, acordar de mau humor não seria tão interessante assim. Ao chegar em casa na noite anterior, chequei o tal anúncio que a me falou pelo celular e, sim, era bem mais estranho do que parecia. Tipo, eles estavam esperando a Terça, a uma da tarde no horário britânico, para dizer alguma coisa para as fãs. Merda, não seria mais fácil falar de uma vez, não? Argh.

– Bom dia, . – Falei assim que ela entrou no transporte.

O humor dela talvez não estivesse num dos melhores, e isso seria uma das coisas as quais eu não me surpreenderia de forma alguma. Apenas desci do transporte escolar assim que ele parou em frente à escola e sai andando em direção à sala.

Pelo que notei naquele intervalo de segunda, não era somente eu quem estava completamente ansiosa para saber sobre o Anúncio. Pelo menos metade das directioners da escola também estava, é o que pude notar nas outras turmas. Dentro da nossa sala, mais precisamente entre o nosso grupinho, todas estávamos pirando, é óbvio. Naquele momento estávamos todas sentadas na parte de trás da classe, nosso ponto de encontro preferido nas horas dos intervalos. As cadeiras não iam até o fim da sala, e isso fazia com que o espaço ficasse maior, para falar a verdade tinha gente que até deitava lá. Eu comia uma bolacha recheada de chocolate quando começamos a falar sobre o Anúncio.

– Ok, está sabendo do Grande Anúncio que os meninos irão fazer amanhã de manhã? – disse.
– Sim, cara! O que você acha que é? – perguntou.
– Provavelmente deve ser algo em relação ao novo CD. – Respondi, dando de ombros.
– Eu acho que seja algo que envolva uma nova turnê. – comentou. – Eles têm focado nisso ultimamente.
– É o melhor palpite. – concordou.
– Concordo. – afirmei com a cabeça.
O maldito toque anunciava mais uma aula insuportável naquela manhã de ansiedade. Só suspirei e voltei para a cadeira, infelizmente a manhã ia ser muito longa.

***


Era manhã de terça-feira. Todas nós estávamos piradas por causa da manifestação do Grande Anúncio. Cada uma que fizesse uma aposta diferente. Na verdade, ninguém fazia muita ideia do que poderia ser, já que a banda não tinha dito nada até o presente momento. Acordei cedo, como de costume, tomei banho, comi e fui para a escola. Acho que me esqueci de ressaltar, sofro “bullying” por ser magrinha e comer demais. Alguns me chamam de atrasa, velha, idosa ou algo do tipo, pelo simples motivo de eu ser a última a saber das coisas, e obviamente, comentar sobre elas. Ou seja, era muito bullying para uma pessoa tão fofa feito eu.

Sim, voltando aos fatos, como muito. Isso é uma certeza que tenho da vida. Como muito, mas não engordo. Era aula de Biologia quando a gente começou a ter um troço porque o anúncio estava quase saindo. Vi que estava com o celular da em mãos, já que o dela, pelo que ouvi, estava sem sinal nenhum.

– Será que é mesmo o negócio do show? – Comentei com , que estava numa cadeira ao meu lado.
– Não sei, . Mas, sei lá, acho que é um CD novo com músicas inéditas e exclusivas... – opinou.
– Se são inéditas, claro que são exclusivas! – falei rindo.
Voltei minha atenção para , que com as mãos trêmulas, buscava as respostas para as nossas dúvidas. Cara, são nessas horas que eu odeio ser fã. Poxa vida.

– E aí?! Nada? – perguntei pela milésima vez.
– Não, . Dez minutos. E ainda tem aula de História! Tomara que o professor não perceba o celular. – ela apontou para o mesmo.
– Também espero que ele não perceba, não estou a fim de explicar o motivo do celular em cima da mesa. – soltou.

Nem percebi quando o professor entrou e apagou as luzes da sala. Cruzei os braços e passei a observar os slides que ele apresentava, na tentativa de fazer como que o professor realmente achasse que eu estava prestando atenção ou sequer entendendo o assunto, quando na real, só soube que o assunto era Ditadura porque alguém gritou antes dele começar.

– Olha agora. Nove em ponto. – cochichou.

Notei que se assustou um pouco, pegou o celular e o desbloqueou na mesma hora. Os dedões dela deslizavam pela tela do aparelho, e eles estavam inquietos. Assim como a gente.

– Droga! Droga! – xingava o celular aos sussurros. – Mas que internet merda!

– Calma. – tentei acalmá-la. – Cuidado com o professor.
– Ah, que se dane! – deu de ombros. – Se notar notou, se tirar de sala a gente sai, tem recuperação depois. – tive que rir.

Quando o site finalmente carregou, disfarçou o celular dentro do estojo e fingiu prestar atenção a alguma leitura inexistente em seu caderno. Ela se segurou para não gritar. Nos olhos com quase lágrimas nos olhos e tentou falar alguma coisa, foi em vão.

– Pelo amor de Deus, garota, não me mata do coração! – falou. – O que diabos tem aí? – sussurrou apressada.
– Gente, socorro! – foi só o que ela disse.
– Me dá essa merda! – exaltou-se, puxando o celular da mão de .

Ela leu o anúncio e olhou para mim com os olhos quase cheio de lágrimas. Deixou o celular em cima da mesa e olhou fixamente nos olhos de , as duas estavam piradas.

– ELES VÃO VIR PRA CÁ! – gritou. Antônio virou na nossa direção, reclamou com a gente. Disse que ia tirar de sala, ia nos colocar na recuperação ou algo assim, sinceramente, ele poderia fazer o que quiser. Eu não estava acreditando naquilo que acabara de falar. Sério.

– Socorro! – falei.

Na hora do intervalo, ninguém quis saber de comida, muito menos eu e a , as comilonas do grupo. O assunto era outro. Era o show, e sinceramente, esperei anos por isso.

– Eu tô tão feliz, é sério. – disse. – Você tem noção da gravidade da coisa? Meu, só pode ser um sonho!
– Né! – apontei pra ela, rindo. – Temos que conversar com nossos pais pra saber se vamos mesmo poder ir.
– Como a gente vai? Essa é a dúvida. – disse. – Olha aí, . As datas todas certinhas.

***


Cheguei em casa um pouco receosa no que minha mãe iria achar. Ultimamente ela havia gastado dinheiro demais comigo por causa da viagem. Esperei meu pai chegar à tarde para falar sobre o assunto. Prontamente disse tudo o que havia acontecido e fiz a pergunta final.

– É o meu sonho. Eu posso ir?

Meu corpo tremeu quando eu disse isso. A feição da minha mãe não era uma das melhores, nem comento a do meu pai.

– Não.
– Mas, pai... – ele me interrompeu.
– Nada de “mas pai”. – disse se levantando do sofá.

Minha mãe o seguiu com o olhar e eu fitei meus olhos nela, na esperança dele dizer algo para me salvar. Ela ficou calada.

– Por favor! Eu esperei tanto por isso. – joguei.
... Não tenho dinheiro. Você acha o quê? As coisas não são de graça, minha filha. Já gastei muito com você.

O mundo meio que girou naquela hora. Ele estava certo. Era despesa demais. Apesar de a ter a bondade de nos oferecer lugar e comida, tinha o dinheiro do ingresso, o transporte e as outras coisas. Parei para pensar naquele exato momento. Eu ia para a Disney. Não tem mais como voltar no tempo e dizer para os meus pais que não queria mais ir aos Estados Unidos, pois agora o destino seria o show.

– Três anos da minha vida. – falei com lágrimas nos olhos. – Três anos da minha vida esperando por este momento. – tentei continuar. – Pra você pode até parecer uma besteira de fã. Mas, para mim, não é. Eu sei o que você vai falar. É sobre a Disney, não é? – suspirei. – Poxa, a Disney é um presente de quinze anos, atrasado por sinal. O show é a realização de uma droga de sonho de adolescente que eu tenho. Eu vou ficar velha, vou me lembrar disso pra sempre. – passei a mão no rosto, sentindo a lágrima descer. – Tudo bem, é despesa, é gasto, é tudo isso. Mas a ofereceu a casa da tia dela para ficarmos, temos milhas, os meus irmãos viajam o tempo todo. A única coisa que estou te pedindo é pra me dar um ingresso que não vai custar mais de duzentos reais, pai.

Ele ia dizer alguma coisa, apontou o dedo na minha direção, quando abriu a boca pra falar, minha mãe nos interrompeu.

– Ela vai. – minha mãe falou na lata.
– Suzana, você está ficando louca?
– Eu pago, peço ajuda a avó dela. Ela vai. – foi a vez da minha mãe se levantar do sofá. – , me dá o número da mãe da sua amiga. Quero saber como vai ser.

Quis gritar na hora. Eu estava imóvel, trêmula, nervosa, feliz, tudo isso ao mesmo tempo, sei lá se era possível. Claro que meus pais começaram a discutir na sala, fiquei até com medo, mas não falei nada, sabia que minha mãe poderia convencê-lo a isso. Lógico que não foi tão fácil assim, ainda pensei em desistir por causa da Disney, mas sabia que não seria necessário.

***


Dias se passaram. As meninas piraram quando eu contei da reação da minha mãe, ainda estava preocupada se ia ou não, a mãe dela arredou o pé, mesmo depois de termos comprado os ingressos. Logo, era segunda de novo. A semana tinha sido bem corrida em relação à preparação para o show. A gente tinha conseguido ingressos e passagens quase de graça. Só comprei a passagem de volta, a ida, nós já tínhamos acertado com as milhas dos meus irmãos. Ah, como eu adoro milhas!

Eu havia chegado mais cedo naquele dia. O transporte passou antes porque o dono do carro tinha uns problemas a tratar, então todo mundo concordou em ir mais cedo para a escola. Cheguei à aula, nem tinha chegado ainda. Então dá pra ter noção de quão cedo era. estava reclamando tanto que nem dei ouvidos a ela. Escolhi uma cadeira qualquer e fiquei ouvindo música. não demorou a chegar, então a gente ficou conversando enquanto a aula não começava.

O momento mais esquisito da minha vida estava prestes a acontecer. Estávamos lá, viradas em direção à porta da sala, na esperança de que ou aparecessem, até que passa pela porta, ninguém mais, ninguém menos do que Pietro. O garoto ao qual eu era “interessada” no ano passado. Ele era da outra turma. Não sei por qual motivo estava ali, de pé na nossa frente, procurando um lugar para se sentar na nossa turma. O conheci ano passado nas aulas de inglês, na escola que estudo, eles separam as turmas por língua estrangeira, e eu tinha ficado numa turma com ele. Então não demorou para que eu notasse quão gato ele era e ir comentar isso com as meninas.

! – , que estava tão estressada, virou-se na minha direção com olhar de espanto assim que viu que Pietro estava ali.
– Cala a boca! – sussurrei para que ele não escutasse.
!! – repetiu a expressão de . – Acho que alguém vai pirar...
, para, por favor! – anunciei em bom tom. – Isso foi ano passado, por favor, né?
– Huuuum... – gritou.
– Bem que dizem que todo príncipe vai atrás da sua princesa, hein?! – falou pra mim.
Fingi não me importar, mas, por dentro estava me mordendo de raiva. Suspirei.
– Para.
– Haha, agora que não assiste mais nenhuma aula mesmo. – continuou. – Pode comemorar.
– PARA, CACETE! – gritei.

Por graça divina, o professor chegou e então elas pararam de me zoar por um tempo. Mas, no fundo eu sabia que isso estava apenas começando.

– Olha, , o teu boy magia voltou pra você. – me fez corar.
– Nem coloca essa cara, ! – falou aos gritos.
– Por que as meninas estão te zoando tanto? – perguntou inocentemente. – Até parece que você gosta dele.
Gelei.
– Não se lembra das aulas de inglês do ano passado? – falei na tentativa de que ela se recordasse. – Lembra não das meninas me zoando com o Pietro o ano passado inteiro?
– Ahhhh... Claro que lembro. – ela falou rindo dessa vez. – Nossa, ! Você faz falta, né? Os bofes vieram todos atrás de você. – todas as outras meninas riram, é óbvio.
– Até tu, ?! – bufei.
– Desculpa, tive que zoar. – ela falou sem parar de rir.
– Aham... – revirei os olhos.

A aula passou voando, o que foi bom porque com a vergonha que estava, era bem capaz de ter um treco ali mesmo. Ainda bem que não foi preciso, já que eu mal olhei para o Pietro durante todas as aulas, mas na única vez que olhei, notou e isso acabou com minha manhã, ela deu uma piscadela.

Droga. já tinha chegado, mas, nem falou com a gente, sentou na cadeira dela e fechou a cara, disse que estava com sono e precisava dormir por pelo menos até o intervalo. Respeitamos, é óbvio.

***
Cheguei em casa meio tarde naquele dia. O transporte levou séculos para nos buscar e isso me irritou bastante porque eu estava com muita fome. Enquanto comia, minha mãe veio me lembrar da reunião da agência de viagens, como que eu tinha me esquecido desse grande e maravilhoso detalhe?

– É hoje? Jurava que era amanhã. – falei, na tentativa de me desculpar por ter esquecido.
– Então come isso aí e vai se arrumar logo, odeio chegar atrasada nos cantos, pelo visto vamos nos atrasar muito porque a reunião está marcada para as três, e já são duas. Você sabe como demora daqui para lá, né? – minha mãe disse enquanto colocava o meu suco na mesa.
– Tudo bem, mãe, vou apressar. – respondi de boca cheia.
Engoli a comida, praticamente. Tomei o suco às pressas e corri em direção ao banheiro, me molhei rápido, peguei a primeira roupa que vi, que por sorte era uma calça jeans escura e uma blusa branca de renda. Nada mal para uma segunda-feira nublada, apesar de quê, essa cidade nunca esfria. No rosto só passei batom e rímel, não gosto de sair de casa sem maquiagem, mas bem, naquele dia era preciso. A gente saiu de casa em cima da hora. Duas e quarenta. Lógico que chegamos à agência atrasadas. Nossa sorte era porque não éramos as únicas, pelo menos duas pessoas também atrasaram, então não precisei ficar com tanta vergonha assim. Procuramos um lugar para sentar e logo voltamos o olhar ao guia que estava falando sobre as compras em Orlando.

– Como sabemos que o que o pessoal mais espera é o dia das compras, a gente já coloca isso no primeiro dia, ou seja, já desembarcamos direto para as lojas. – ele ia falando. – Geralmente chegamos aos Estados Unidos de manhã, este ano vai ser igual ao ano passado, vamos desembarcar já em Orlando, perdíamos muito tempo quando íamos para Miami.
Fiz careta. Eu queria descer em Miami.
– Então, à tarde, depois que nos organizarmos no hotel, vamos fazer as compras fora dos parques da Disney, ok? – concordamos em coro. – Muitos me perguntam sobre a questão da compra de iPhones por lá. Se você é um desses, então não leve o seu celular “brasileiro”. Senão a taxa vai ser alta e é complicado para todo mundo, vai nos atrasar. Deixem para comprar o celular nos Estados Unidos, e não tragam a caixa para o Brasil, tirem bastante foto e tal. É melhor porque se alguém for pego, você vai ter como provar que o celular é seu.

Minha mãe me deu uma cutucada. Ela sabia que eu ia querer comprar um. Lógico que eu ia comprar um. Acenei para ela ao meu lado.

– Eu estou prestando atenção, mãe. – falei baixinho, segurando uma risada.
– É bom mesmo.
– Com certeza.

A reunião foi bem legal, consegui tirar minhas dúvidas e afins. Quando chegamos em casa, os meus irmãos já tinham saído para a faculdade, meu pai também não estava. O que era bom porque desde o começo ele estava implicado com as duas viagens. Lógico que eu me sentia um pouco culpada por estar causando isso tudo. O problema é que: a viagem da Disney é presente de quinze anos (atrasado, mas continua sendo presente), e o show dos meninos é o meu sonho de pré-adolescência. Não podia desistir de nenhum dos dois. Meu pai sempre foi calmo e compreensível comigo, tudo bem que aquilo era passar um pouco dos limites, mas minha avó estava ajudando, bem, pelo que ela e minha mãe conversaram, ela praticamente deu a viagem para São Paulo e os ingressos para o show. passou o meu no cartão da mãe dela, já que se fossemos comprar cada uma o seu ingresso, as chances de conseguirmos ir na mesma pista iria ser bem pequena. Enfim, tudo estava indo perfeitamente bem, e só de pensar que nós iríamos para o show dos nossos ídolos juntas, me fazia querer gritar loucamente na rua, é sério.

***


Mais um dia de aula, ou melhor,mais um dia de zoação. A quinta-feira não havia começado nada legal para mim. Eu quase tive que colocar um esparadrapo na boca de e , elas estavam realmente enchendo minha paciência. De uma forma que, até eu comecei a notar que estava vendo o Pietro com outros olhos. Contei os segundos para acabar a aula, e quando finalmente cheguei em casa, relaxei o dia inteiro. O que foi ótimo, parei para pensar sobre ele. E foi como se eu estivesse cometendo um erro fatal. Em todos os sentidos, Pietro nunca seria bom o suficiente para mim, eu não sou o tipo de garota que ele está acostumada. Mas era como se minha cabeça rodasse e só quisesse manter o foco nele. O tempo inteiro, e isso me incomoda tanto. Tive coragem de pegar o meu celular somente à noite, e as meninas já estavam à solta, criando fatos pra confundir minha cabeça.

: Vi o jeito que estava olhando para o Pietro hoje...
: Sabe nem disfarçar! Hahaha
: Haha, vão para a merda.
: Confesse que você o quer.
: Se quero ou não, o problema é meu...
: Wow! Hahaha, só porque ficava olhando ele nos intervalos do ano passado!
: Deixem a menina!
: Eu fico com vergonha, parem!
: Se fosse com vocês, aposto como não iam gostar...
: Ela sabe que a gente está brincando!! :D
: Muito sem graça essa brincadeira de vocês...
: HAHAHAHAHA
: Ué, , brotasse foi? HAHAHAHA
: Foi HAHAHA! , eu te chamei no chat privado!

Cliquei no ícone dela e demos início à conversa.

: Sobre você e o Pietro...
: Ai, meu pai, até você?
: Eu só quero saber haha
: Eu acho que estou gostando dele...
: Sério?! :o
: Aham, por quê?
: Porque eu também estou.

Choque!

Eu só consegui encarar a tela do celular bom um longo tempo. Parecia que o cérebro tinha parado de funcionar. Só pensei em: “Merda, ela também?”.

: É sério isso? Você já o conhecia?
: Conheço há dois anos
: Sério?! E agora?
: E agora, eu que vou desencanar.
: Por causa de mim?
: Não, menina, por causa de mim, e eu te aconselho a fazer o mesmo :/
: Como assim?
: , o Pietro não merece nenhuma de nós... Você não vê as meninas que ele fica? É tudo patricinha metida que se acha “a tal”, que nem ele, Pietro nunca foi um garoto que merecesse sequer que a gente olhasse na cara dele que dirá ter um crush por ele!
: Eu não sei, , eu estou muito confusa ainda...
: Entendo, mas pensa aí. Depois de tudo o que aconteceu e, principalmente, tudo o que pode acontecer em relação a esse “triângulo”, pode dar errado até mesmo para nós duas.
: Aconteça o que acontecer, eu não quero perder sua amizade!

Eu nunca, em hipótese alguma tinha imaginado algo do tipo. Tudo bem que é de esperar que eu não fosse a única, claro que eu não era a única. Mas, uma de minhas melhores amigas? Bem, isso era muito chato. Não sei como seria daí pra frente, claro que eu não queria ter que assumir isso da forma que foi. Nós conversamos durante o resto da noite e bem, claro que não foi a melhor conversa que tivemos, mas me contou que ela já estudou com ele, e aquela carinha de anjo dele, era só pra disfarçar o lado “oculto” do Pietro.

: Enfim, te aceito como minha marida. Nos declaro, marida e marida.
: Hahaha, está certo, eu também aceito. Estamos oficialmente casadas! Mas,é sério, nunca pensei que ele fosse desse jeito que você me contou.
: Pois é, de anjo só tem a cara mesmo... E, que cara! ‘-‘
: Hahahaha, verdade, e que cara...

Infelizmente, de uma coisa eu tenho total certeza: Pietro nunca ficaria com nenhuma de nós duas. Infelizmente, ou felizmente, sei lá. Imagina se ele ficasse. Tudo bem que a fosse uma de minhas melhores amigas e tals, mas vê-la com ele não seria nada bom, eu acho. Certo, eu dou uma de durona, difícil (não que eu não seja) e tudo, mas naquele momento eu só tava achando tudo ainda mais confuso. Será que era paixão mesmo? Será que aquilo acontecia com todas as meninas que eram a fim dele? E que coisa... A fim de um garoto mais disputado do que a Taça da Copa do Mundo. Parabéns, , você só se ferra na vida.

***


A manhã seguinte já foi mais um pouco tranquila. sentou atrás de mim e ficou mexendo no meu cabelo como todas às vezes, na minha frente, como todas às vezes também, do meu lado direito e , uma cadeira atrás de mim no lado esquerdo, ou seja, o mesmo esquema de sempre. A aula de Geografia já estava chata o suficiente para que eu não prestasse mais atenção a nenhuma palavra do professor, o que era comum em praticamente todas as aulas dele no ano letivo.

– Acho que o Pietro estava olhando para cá. – ouvi cochichar no meu ouvido, me salvando do incrível “tédio” que estava na minha cabeça enquanto Demitri se esforçava para explicar alguma coisa sobre os tipos de climas na lousa.
– Sério? – falei tentando não olhar na direção dele.
– Juro. E acho que era pra você. – confessou ela, pela forma que se pronunciou, pude imaginar o sorrisinho de canto dela.
– Claro. – finalmente, virei na direção dela e nós rimos baixinho. – Eu sou simplesmente linda – arqueei uma sobrancelha, com um tom sarcástico.
– Você pode ser linda, mas nunca será eu. – ironizou, fazendo beiçinho. – Mas, é sério. Ele olhou e depois foi falar com Zayn, com certeza é algo sobre você.

Ah, me esqueci de falar que na nossa sala, temos um menino que é a cara do nosso ídolo da One Direction, por isso o chamamos assim, o que é bem engraçado, porque ele não sabe. Ainda.

– Não tem nada a ver. – dei uma risada baixa.
Aham. Você que pensa. – riu. – Não estou gostando dessas intimidades todas, hein? – fingiu está brava. – Não mesmo. Pode ir parando por aí.
– O que eu posso fazer se ele prefere a mim? – dei de ombros, tentando não rir. – Aceita que dói menos. – joguei o cabelo.
– Poxa, , não joga esse cabelo em cima da minha carteira, vai empestar de piolho! – pude senti-la jogando meus cabelos de volta aos meus ombros.
– Por que o desespero? Peguei todos com você. – brinquei.

A gente deu uma risada alta, e isso fez com que Demitri olhasse na nossa direção e nos calamos na mesma hora. Não que fosse perigoso ele nos tirar de sala, com certeza, Demitri não faria isso, afinal, ele é o professor mais “nem aí” que a gente tem. Não que seja um péssimo professor, a gente só... A gente só não suporta a aula dele. Voltei a prestar atenção na aula, quer dizer, tentar fazer isso.

– Ei, não pense que esqueci. – cochichou de novo. – Temos muito que discutir sobre o nosso relacionamento.
Dei uma risada baixa no mesmo momento que o sinal tocou.

***


A cada dia que passava, eu ia ficando cada vez mais ansiosa. Era como um monte de emoções se misturasse dentro de mim. Apesar de tudo, eu ainda estava me sentindo desconfortável por causa da viagem da Disney. Lógico que eu iria. Era praticamente no próximo mês e eu estava indo para um show internacional daqui a uma semana. Eu estava indo para São Paulo, mas com o pensando nos Estados Unidos. São dois sonhos que eu irei realizar, deveria está feliz, mas não tinha como me sentir bem sabendo que nada disso tinha sido planejado.

– E aí, ? – minha mãe entrou no quarto e sentou-se ao meu lado. – Ansiosa pra viajar?
– Bem, mais ou menos. – ri. – Estou ansiosa, mas estou preocupada com a viagem da Disney também. – dei de ombros. – Apesar de ser um sonho meu ir ao show, é complicado ir para outra cidade sabendo que não vou poder gastar absolutamente nada por lá.
– Claro que vai. Só que não muito. – ela olhou na direção do meu guarda-roupa. – E você tem que arrumar logo as roupas que vai levar.
– Não faço a mínima ideia. – suspirei fundo. – A gente vai comprar umas personalizadas no site hoje lá na casa de .
– Ah, entendi. – respondeu. – Para o show?
– É, mãe. Para o show. – me levantei da cama. – A mãe da quase não a deixava ir. – comentei. – Obrigada por ter falado com ela. A viagem não seria a mesma sem a minha amiga.
– De nada. – minha mãe sorriu de lado. – O que é que eu não faço por você?

***


A manhã passou num piscar de olhos. Eu e estávamos na casa dela quando e chegaram, ainda demorou um pouco e depois explicou que a mãe dela não estava querendo deixá-la ir.

– Minha mãe tá cada dia mais chata. – reclamou.
– Calma, fofa. – falou. – Todas as mães se estressam muito às vezes. Talvez ela achasse melhor que você não fosse pra viagem, mas cara, tu tem que viver!
– A minha também arredou o pé no começo. – confessou. – Todo mundo passa por dificuldades, . Relaxa, vamos aproveitar o nosso sábado.
– Vamos logo, daqui a pouco minha mãe liga. – falei.

Sentamos todas no chão da sala, pegou o notebook e acessou o site que vendia as camisetas. No começo foi horrível, porque ninguém queria se decidir por nada. Brigamos pela posse do computador, até que a mãe de apareceu e nos deu o notebook dela para tentar amenizar o barulho.

– Gente, eu gostei dessa daqui. – apontou para uma que tinha a frase “Crazy Mofos”, todas nós achamos a blusa linda.
Meu, essa blusa é a tua cara. – disse.
– Pode comprar essa. – afirmou. – Não tem outra melhor do que essa pra mim.

clicou no link de compra, digitou o número do cartão e conseguiu comprar a blusa. A gente voltou a observar o site, e enquanto mais roupa passava, mais a dúvida aumentava. Mas, pediu que (que estava com o computador da mãe da ) parasse de subir a página assim que ela bateu o olho numa das blusas.

– Essa! – disse com toda certeza. – Amei essa! Salva aí que eu acho que vou querer essa.

A blusa era linda mesmo, tinha o nome “1D” das cores da bandeira da Inglaterra num círculo onde se formava o nome dos garotos. Logo que ela escolheu, vi uma abaixo que sinceramente, todo mundo concordou ser “feita para a ”. Era o desenho com todas as tatuagens do Harry, Deus e o mundo sabe que ele é o meu favorito. A coisa mais linda do mundo!

– Pode comprar essa, ! – garanti, animada.
– Poxa, . Não tem a letra “F” nos tamanhos. – ela fez uma careta. – E agora, posso comprar assim mesmo?
– F? Por quê? – perguntei. – O meu tamanho é P.
– Não, , o seu tamanho é F. P é para pessoas pequenas. – notei que ela estava tentando segurar o riso.
– E é o quê? – tirou as palavras da minha boca.
– Formiga. – não se conteve e caiu na gargalhada.

Revirei os olhos, um tanto aborrecida, mas tive que rir também. começou a dar aquelas risadas escandalosas, a mãe dela veio até sala saber o que foi, a gente teve que se controlar antes que a mãe da nos desse um sermão.

– Aproveitem a bagunça e venham lanchar. – disse.

Levantamos-nos do chão e caminhamos em direção à cozinha, ficou falando o quanto estava contente por sua irmã não está em casa. Fitei o relógio e já passava das quatro da tarde, e nós ainda não tínhamos finalizado todas as compras.

– Ei, e ainda não escolheram. – lembrei.
– E não vão escolher nem tão cedo, do jeito que essas duas são decididas... – ironizou. – Daqui a pouco eu vou embora, mas antes quero saber o que compraram.
– Certo, vamos lá que vou escolher uma agora. – falou. – Até salvei uns modelos para vocês me ajudarem aqui.

Voltamos para a sala e continuamos a pesquisa, no final das contas, ela escolheu uma que tinha o sobrenome dos garotos um abaixo do outro, a fonte era fofinha e dava para usar no dia a dia depois, sinceramente, se eu não já estivesse escolhido, teria brigado pela camiseta, mas a minha era melhor mesmo.

– Eu amei essa! – admiti.
– Eu sei. – virou os olhos na minha direção. – Você ama tudo que é meu, marida. – ela piscou para mim.

Tivemos que rir, no começo as meninas ficaram “boiando”, até que a me disse que poderíamos contar o babado. achou a coisa mais estranha do mundo, porque nós éramos duas garotas superciumentas, bem, eu nem tanto, vai.

– Vocês são malucas! – dizia ela, aos risos. – Mas, sério. Que massa! Eu acho que não conviveria com isso nunca.
– Nem eu. – concordou com . – Vocês duas são é idiotas.
– Eu sei! E ser idiota é um máximo. – falei.
– Não é não. – olhou para a e elas riram.
– Gente, essa história é brincadeira. – falou. – Antes, era verdade na minha situação. Mas ontem, ele trocou o status da rede social. Vocês não viram? Está namorando. E em hipótese alguma nenhuma de nós teria chance, né ? E fora que tipo, por favor, qualquer garota que tiver um nível de inteligência acima de zero sabe que ele não a merece.

COMO ASSIM?

Ninguém tinha me dito que ele estava namorando! Eu tentei parecer tranquila, até porque ela tinha acabado de falar coisas totalmente certas. Mas, cara... Como assim? Eu não tinha o visto mudar status nenhum!

– Eu não sabia que ele estava namorando. – revelei.
– Está. – olhou na minha direção.
– Todo mundo sabia. Pensei que você soubesse. – falou.
– Não, eu não sabia. – repeti. – Por que você não me contou? A gente sempre zoa ele no chat. – perguntei para a assim que ela olhou para mim.
– Ué, achei irrelevante demais. – ela deu ombros. – Eu não me importo mais com ele. Na verdade, tudo não passava de uma imaginação minha. Ele é bonito, mas não vale investir.

deu um suspiro longo, clicou na compra de uma camiseta e depois nos mostrou que era uma que estava com: “You’ve got the one thing” e um desenho abstrato dos garotos. Bem a cara dela isso, mesmo. já tinha ido embora quando eu parei para notar o ambiente. Fiquei pensando no que falou sobre o Pietro, e é verdade. Mas, por mais que ele não nos merece, aliás, por mais que ele não ME mereça, meus pensamentos só se formavam na imagem dele. E isso é uma merda, definitivamente uma merda!

! – a mãe da me interrompeu. – Seu irmão veio te buscar. – ela me chamou com a mão e eu me despedi da minha amiga.

Lógico que não consegui “não pensar mais nisso”. Fiquei pensando sim, e o resto da noite toda. Por que eu tenho essa incrível capacidade de ser besta até quando não sou? Sinceramente, será mesmo que eu estaria a fim de um garoto que nunca, repito: NUNCA, falou comigo?

***


Acordei cedo no dia da viagem. Na verdade, teríamos que acordar cedo de todo jeito, nós tínhamos aula apesar de tudo. estava tão feliz no começo do dia, que eu até estranhei vê-la desse jeito. Para uma pessoa que acordava emburrada todos os dias, chegava até a dar medo, principalmente quando ela entrou no transporte pulando. Bufei e saí em direção ao portão, o empurrei e fiquei do lado de fora, não demorou muito tempo até que o transporte parou bem em frente à minha casa.

Enfim, Estávamos na aula de História quando me toquei que hoje seria a primeira de muitas viagens de avião que eu faria. Passei a aula toda tentando me concentrar, mas todas elas sem sucesso. Era incrível o meu problema com a ansiedade.

– E aí, marida... Ansiosa? – indagou.
– Você não sabe o quanto. – respondi, rindo. – É a minha primeira viagem de avião, eu estou, tipo, muito ansiosa! – confessei.
– Ah, você vai gostar muito. Principalmente porque iremos juntas, não sei se você vai vir ao meu lado, mas de qualquer forma, peço para alguém segurar sua mão. – brincou.
– Acho que vai precisar mesmo. – contestei.

Claro que ninguém prestou atenção em nenhuma das aulas do dia. Pelo menos eu não estava dando à mínima. A única aula que realmente me importei foi a de inglês, a nossa professora já tinha viajado à Inglaterra, portanto conhecia bem os meninos. Ficamos falando disso por pelo menos trinta minutos da aula da professora, até ela se tocar que estava se esquecendo de mostrar o conteúdo. Nessa hora a gente também parou de prestar atenção. Para ser bem sincera, meus pensamentos passavam longe de Pietro. Parece que por incrível que pareça, ele estava bem longe do que eu poderia chamar de “”.

***


A tarde passou voando. O nosso voo seria às oito horas, porém, teríamos que chegar pelo menos uma hora antes, é o que dizia na passagem. Eu fui a primeira a ficar pronta. Vesti uma calça jeans nova com uma blusa azul que tenho. Era a roupa mais adequada que eu achei para a situação. Na verdade, eu não queria ir de jeans, mas foi o que me falaram para usar num clima frio.

– Tudo pronto, ? – minha mãe perguntou. – Já falou com o seu pai? Acho que ele não vai poder te deixar no aeroporto.
– Não. Vou falar com ele. – peguei minha mala de mão e fui até a sala, meu pai já estava me esperando, como quem soubesse que eu iria até lá.
– E você vai mesmo, né, ? – ele soltou um riso de lado. – Já vi que não adianta implicar contigo. – suspirou. – Eu não vou poder ir te deixar, queria muito, mas não vou. – meu pai fez uma careta. – Só quero que tome muito cuidado por lá.
– Vou tomar, pai. – respondi sorrindo. – Apesar de tudo, eu estou muito feliz, muito mesmo. – suspirei fundo. – É tipo, como se fosse um sonho e eu pudesse ser acordada a qualquer momento, sabe? Eu sempre sonhei com este momento.
– Sei como é. – ele me puxou para perto dele e me deu um abraço forte. – Sei que estará sã e salva daqui a quatro dias. Vai ser um fim de semana vazio sem você. Não se esqueça de ligar todos os dias, ouviu?
– Sim, pai. Prometo ligar todo dia! – beijei a bochecha dele. – Vou morrer de saudade de você e dos meninos, é sério.
– Também iremos sentir sua falta. – beijou o topo da minha cabeça. – A gente sobrevive. – meu pai sabia ser irônico às vezes. – Boa viagem, meu amor. Eu amo você.

Eu, minha mãe, e a mãe dela fomos juntas em carros diferentes, mas chegaríamos no mesmo horário porque combinamos isso. Obviamente coloquei o Midnight Memories na maior altura possível, minha mãe até que tentou me calar. Foi em vão porque eu estava tão feliz que nada me mudaria.

Fizemos o check-in de forma rápida, o que foi ótimo. Quando chegamos ao primeiro andar do aeroporto, e já estavam lanchando. Aproveitamos para fazer o mesmo, afinal, a gente só ia comer bem mesmo no outro dia de manhã. Pedi um milk-shake com hambúrguer numa das lanchonetes e ficamos lá até dar a hora de voar.

– Gente, cadê a , hein? – perguntou, olhando na direção da escada rolante, esperando que a visse subir.
– Aposto que quando estiverem chamando o embarque pela última vez ela chega. – comentou.
– Aposto que sim. – concordei.

Quando o guichê anunciou a primeira chamada do nosso voo, avistamos correr na nossa direção junto com os pais dela. Por pouco não tivemos um ataque do coração quádruplo ao lembrar que dali a três horas estaríamos em São Paulo.

– Preparada para o melhor fim de semana da sua vida? – ela me perguntou, sorrindo, enquanto caminhávamos até a escada.
– Mais do que preparada. – pisquei, sorrindo de volta.

Fiquei na mesma poltrona que e . Na cadeira da janela, o que foi ótimo porque eu nunca tinha voado antes. Quando as luzes da aeronave se apagaram, eu não sei explicar bem o que senti. Acompanhei o avião caminhar na pista de voo até a hora da decolagem, quando eu ouvi as turbinas pegarem força, fechei os olhos e tirei o meu olhar da janela, desviando-os na direção de , que estava se apertando na cadeira, não hesitei em fazer o mesmo. Quando dei por mim, estávamos voando. E era uma sensação incrível. Uma sensação de pura liberdade. Desembarcamos quase meia noite no Aeroporto de São Paulo. Meu coração já estava querendo sair pela boca, não vou mentir. Depois que pegamos todas as malas na esteira, parei de caminhar até a sala do desembarque, as meninas fizeram o mesmo, estranhando a minha reação.

– Gente! – falei alto. – A gente vai ver os meninos! EU NÃO ACREDITO.
– Eu não estou acreditando até agora, marida. – me abraçou. – Poxa vida, eu vou chorar, cara. – ela abraçou em seguida. – Estamos realizando nosso sonho!

Abraçamos-nos em grupo no meio do aeroporto todo. Ninguém se importava com que as pessoas estavam pensando. Há horas atrás, ainda duvidávamos se estaríamos mesmo em São Paulo para assistir ao show da One Direction. E nós tínhamos essa certeza agora. Eu quis chorar, mas segurei as lágrimas para não parecer ridícula demais.

Como prometido, a tia de tinha ido nos buscar no aeroporto. E ela era uma das pessoas mais incríveis que eu já havia conhecido, e olha que não passamos nem uma hora juntas ainda. Ela gostava de conversar, e já tinha planejado todo um passeio para nós no dia seguinte. Quando chegamos ao apartamento dela, era como se tudo não fosse real. Eu ainda estava esperando o meu despertador me chamar.

– Isso não está acontecendo de verdade, não é possível. – comentei, rindo em direção a .
– Pior que está... Eu estou, tipo, muito feliz. – respondeu ela.

***


No outro dia acordamos de madrugada, na verdade eu mal consegui dormir. Passei a noite me remexendo na cama. Dormi junto com e , e nós três juntas chutávamos mais do que toda a seleção brasileira junta em época de Copa. A tia de já tinha preparado um café da manhã superdiferente para a gente. Eu não costumava comer frutas de manhã, é fato. Mas tinha tanta coisa gostosa que eu e devoramos praticamente o fruteiro todo.

– Parece que nunca viram comida na vida. – zoou.
Meu, que saudade de comer esse melão! – falou.
– Eu nunca tinha comido melão com chocolate antes. Isso é tão bom! – comentei, enquanto comia mais outro pedaço.

Quando terminamos o café da manhã, fizemos um tour pelo apartamento, e nossa, que apartamento! Liguei para o meu pai em seguida, avisando que tinha chegado bem e que já estávamos a caminho do show. No começo ele ficou preocupado, mas sei que tenho a confiança dele.
O estádio estava simplesmente lotado. Eu nunca vi tanta gente junta em um lugar só em toda a minha vida! Confesso que fiquei até um pouco agoniada, eu já estava morrendo de frio antes, agora que estava mesmo, o nervosismo era maior.

– CARACAAAAAAAAA! – disse.
– ACHO QUE VOU DESMAIAR! – gritei desesperada.
– Não brinca com isso, . – ela riu.

Ficamos na fila por um bom tempo, até que os portões se abriram. Então eu corri enquanto pude porque tinha gente com força. Muita gente mesmo. Era a coisa mais maluca que eu já tinha visto na vida. Segurei-me nas meninas e saí correndo em disparada para perto do palco. Nós ficamos num lugar bem acessível, dava pra ver tudo de forma muito boa. O primeiro show foi de uma banda local que não me lembro do nome, ninguém queria saber o nome, na verdade. Estávamos esperando pela One Direction, e era só isso que gritávamos o tempo inteiro.

Finalmente eles chegaram. Lá estávamos nós, cinco melhores amigas completamente apaixonadas por aquela banda britânica que estava tocando agora. Olhei para que estava do meu lado, e ela estava chorando e gritando ao mesmo tempo. Fiz o mesmo. Fiz e não me arrependo de absolutamente nada naquela noite. Vendo o Harry ali, na minha frente, apontando na nossa direção... Valeu a pena cada segundo, cada desespero e cada lágrima derramada. A primeira música era Midnight Memories, e essa nós já tínhamos treinado. Cantei como se não houvesse amanhã. Na hora do “I don't wanna stop till get me ohhhhhh”, a única coisa que eu pensei é que havia conseguido realizar um dos maiores sonhos da minha vida, e independente do que acontecesse a partir de agora, eu jamais seria a mesma pessoa. Eu estava realizada agora. Realizada e feliz. Como nunca teria conseguido ser antes, e como jamais conseguiria ser depois. Gritei como se eu fosse a pessoa mais feliz do mundo, e definitivamente, naquele momento eu era.

Capítulo 5 | Ah, Guilherme!


Quinta parte (Narrada por )


Meu nome é , eu tenho dezesseis anos e também sou directioner, óbvio. Desculpe pela minha má apresentação. Pra falar sério, eu sou péssima em falar sobre mim mesma, acho que isso é um defeito de todos nós. Não sei se pode ser chamado de defeito, mas, sei lá, uma dificuldade. Enfim, eu gosto muuuuito de ler livros e Fanfics. Muito mesmo, também gosto de dançar. Mas, sabe, gosto de fazer isso sozinha, trancada no quarto, volume no máximo. Gosto de tomar banho de piscina, certo, isso não é nada relevante no quesito "quem sou eu", mas eu quis falar, o irônico é que eu detesto meu corpo e usar biquíni para mim nunca passou de imaginação. Sou bastante dramática, então você tem o livre direito de me chamar de "drama queen", não estará mais do que certo, com certeza.

Entrei no colégio onde estudo há um pouco mais de quatro anos, o que foi uma barra pesada pra mim, já que eu era apaixonada pela minha antiga escola, desde que nasci estudava lá, então desapegar assim de todo mundo foi bem difícil, e o pior que eu não tive escolha, a escola iria fechar e todo mundo tomou seu rumo, hoje não falo mais com ninguém (não que eu me lembre agora) que estudou comigo na sexta série. Pela fama do colégio atual ser de "gente metida e chata", optei por me fechar para todos e não fazer amizade. Péssima escolha, .

A partir do ano seguinte, fui fazendo novas amizades, conheci algumas pessoas e decidi mudar o meu jeito "rude" de ser. Foi a melhor decisão que eu já tomei na minha vida. Conheci pessoas que sinceramente, irei levar para minha vida inteira. Conheci a no mesmo ano que entrei na escola, apesar de bancar "a chata", ela foi bem acolhedora comigo. A eu não lembro muito bem, mas sei que eu tinha ódio dela porque tinha roubado minha antiga melhor amiga, a Jéssica. Ficamos amigas este ano, e quem diria, eu a amo. e conheci por meio da Marília, a minha forte melhor amiga da época. Lembro que no começo eu achava meio chato andar com elas, eram novatas e gente novata sempre é um saco.

Certo, vamos falar sobre o carma da minha vida: Guilherme. Velho, sério, esse garoto já foi um nada na minha vida, e hoje eu gosto dele. Isso é uma droga, gostar de alguém que não dá à mínima pra você é sempre uma droga. O pior vem agora: ele é um dos meus melhores amigos, andamos juntos o tempo inteiro. Claro que não só nós dois, temos um "grupinho", mas de qualquer forma, ele me vê como uma menina comum, uma amiga. Eu o vejo com outros olhos, digamos assim. Lembro que notei que quando eu estava começando a gostar dele, ele namorava a Carolinne, uma menina que era uma das minhas melhores amigas da outra turma. Sim, eu era apaixonada pelo namorado da minha amiga, e não, não estamos numa Fanfic ou algo assim, isso é coisa séria. Quando o namoro dele finalmente acabou, achei que teria uma chance, pois é, não tive. Minha vida é mesmo uma porcaria.

***


Cinco e quinze da manhã. Lá estava eu, acordando para mais uma manhã de aula. Assim, eu até gosto de ir pra escola. Mas, gente, ninguém merece acordar cinco horas da manhã pra ir para aquela joça, né?! Vamos combinar... O problema é que minha mãe tem que ir ao trabalho cedíssimo, então ela aproveita e já nos deixa na escola, ah, me esqueci de ressaltar que tenho uma irmã insuportável e o nome dela é Gabriela (isso rimou).

Eu poderia até dispensar minha mãe e ir andando para a escola, já que moro na mesma rua. Mas, só de pensar que vou ter que caminhar aquilo tudo sozinha, me dá mais preguiça do que acordar cedo. Cheguei à escola a mesma hora de sempre, seis em ponto. Sala vazia, corredor vazio, ninguém havia chegado além de mim e do pessoal da portaria. Joguei minha mochila em um canto da sala e fui escutar música enquanto ninguém estava lá. Fiquei ouvindo o álbum da One Direction praticamente todo. Assim que a segunda pessoa chegou, notei que era alguém que eu não gostava, na verdade, alguém que eu não costumava conversar. Então, voltei aos meus garotos. Quando eu parei para notar, a sala estava praticamente completa. e chegaram quarenta minutos depois que eu. Nós sentamos e ficamos conversando por alguns minutos, até que o professor deu início a aula e nada de e chegarem, bem, isso era mais do que normal.

Sete e meia. A porta da sala se abriu e os atrasados começaram a entrar, assim que vi minhas amigas, apontei para o lugar marcado de sempre. Elas sentaram assim que viram meu dedo indicador apontando para o assento.

– Bom dia, . – falei em direção a ela.
Sem respostas.
– Nossa, está atacada hoje? – comentei.
– Eu estou com sono. – ela resmungou.
– O que houve com ela? – disse assim que notei que estava me olhando.
– Melhor deixar quieto. – dei uma risada baixa.

A aula foi uma merda. As aulas sempre são uma merda, na verdade, mas pelo menos naquela segunda-feira estava mais do que imoral de chato. Ainda bem que o intervalo não demorou muito para chegar, aliás, ele chegou rapidinho. Comprei meu lanche na cantina e subi para a sala de novo, e também estavam entrando na sala e antes que eu pudesse chegar até elas, ouvi dizer algo como: “Estão sabendo do Grande Anúncio que os meninos irão fazer amanhã de manhã?”, e na mesma hora me lembrei do meu desespero no Fã-Clube na noite anterior assim que vi o tal cronômetro no site dos meninos, me juntei a elas e entrei no assunto também.

– Espero que dessa vez seja diferente. Estou meio que persistente no assunto com minha mãe, às vezes ela diz que deixa, outras que não... Não sei se deixaria mesmo. – foi falando.
– Claro que sim, eu peço pra minha mãe ligar para tua. – afirmou. – Se a minha deixar, com certeza tua mãe deixa, relaxa.
– Tenho inveja de vocês. Minha mãe nunca deixaria. – comentei num tom sarcástico. – Iria ser complicado demais pra ela deixar.
, a gente não sabe nem sobre o que se trata o anúncio, e tipo, se for uma turnê, talvez nem seja aqui na América do Sul. – disse, acabei concordando com isso.

***


Fui para casa andando com Gabriela depois do final da aula. Ela foi falando lá, coisas sobre o tal namorado dela e eu não estava dando à mínima, era incrível como uma criatura de onze anos tem mais sorte do que eu nessa vida! Sinceramente, eu nasci pra sofrer. Sofrer muito! Minha mãe não estava em casa quando eu cheguei, apenas fui até a panela, pus o meu almoço e esperei que Gabriela fizesse o mesmo.

– Coloca pra mim? – ela disse.
– Não. – respondi enquanto mastigava. – Coloque você.
– Ai, , deixa de ser chata. – resmungou.
– Deixa de ser preguiçosa, pirralha! – não consegui segurar o riso. – Você é insuportável.
– Nem ligo. – respondeu.
– Um dia eu acabo convencendo a mamãe de que você namora e aí você vai se ver comigo. – piquei.
– Aham, só diz isso porque não namora. – Gabi retrucou.
– Af, Gabriela, que nada a ver!
Mas, sério, tinha um pinguinho de verdade sim.

***
A terça-feira tinha começado muito agitada para a gente. Por incrível que pareça, todas nós chegamos cedo à escola. Claro que fui a primeira, como sempre, mas digo, pelo menos antes das sete e quinze já estávamos todas sentadas conversando sobre o quão ansiosa estávamos para o show.

– Meu, eu estou ansiosa pra saber sobre o que se trata esse tal anúncio! – disse num tom eufórico.
– Também, visse... – falou.
– Se for um álbum novo, eu vou comprar logo hoje! – comentou.
– Imagina que massa seria liberar todas as músicas inéditas juntas de uma vez só, sem vazar! – voltou a falar.
– Acho que teria vazado. Sempre vaza. – disse.
– Isso é verdade! – concordei com ela.

O toque de anúncio para a primeira aula foi anunciado, e só de saber que dali a duas horas nós já saberíamos qual seria o Grande Anúncio! Ah, esqueci-me de ressaltar uma coisa minha: provavelmente, eu sou a pessoa mais curiosa que você conhecerá. Ah, eu e o meu crush, Guilherme. Por falar nele, hoje ele decidiu sentar do meu lado, na frente de e isso tirava completamente minha concentração do anúncio. Era como se tudo se misturasse dentro da minha cabeça e eu ficava nervosa pra caramba.

– Por que vocês estão mais loucas hoje? – comentou ele sobre a nossa euforia durante toda a primeira aula.
– Vai sair um anúncio da One Direction hoje. E pode ser qualquer coisa! – respondi prontamente.
– É tipo, a gente pensa que pode ser um CD novo, turnê nova, mudança de alguma coisa na banda. – concluiu.
– Todas as directioners do mundo estão do mesmo jeito que nós agora! – comentei novamente em seguida.
– É! Eu estou ansiosa pra caramba. – disse.
– Mas que merda! – Guilherme falou alto.
– Merda pra você, meu querido, pra a gente não é! – foi logo grossa.
– Estou nem aí! – ele deu ombros.
– Também não estou nem aí pra você, nem por isso eu falo nada, né meu querido. – brincou.

Eu dei uma risada baixa, não sei se foi pelo que disse ou pelo que ele respondeu antes, ou até mesmo por ele. É até constrangedor falar isso, mas, ele mexia demais comigo, uma coisa que tipo, eu nunca senti antes. Isso é tão horrível!

***


Quando o relógio bateu às 9h em ponto, me avisou no mesmo instante que eu iria avisá-la, então virei na direção da e a cutuquei. Foi na hora que descobrimos o que era o anúncio. Meu coração parecia que ia explodir! Simplesmente não acreditei no que tinha acabado de ler. Meus olhos não queriam sequer acreditar no que eu tinha lido, nem meus ouvidos no que eu tinha escutado. Filosofei. Dane-se, era a ONE DIRECTION! Na hora do intervalo, nem as mais comilonas, quando digo “comilonas” quero me referir a e a , lógico, quiseram saber de comida. A gente correu feito loucas para o fim da sala, como sempre e nos jogamos sentadas no chão.

***


Quando cheguei em casa, eu nem quis saber de almoçar, fui direto para o computador, pesquisar mais sobre o tal Grande Anúncio. Eu não me cansava de ler “Brasil”, “São Paulo”, “Maio”. Entrei no grupo que tínhamos no celular, começamos a conversar sobre como iria ser o processo, decidimos tudo de forma calma, depois de algum tempo, me toquei de que: eu nem tinha falado com a minha mãe ainda. Minha mãe chegou em casa um pouco antes do jantar. Eu estava trêmula, não queria ter que perguntar uma coisa assim tão diretamente. Me assegurei de que o humor dela fosse dos melhores, porque caso ela não deixasse, o que diabos eu iria fazer com o ingresso que as meninas iam comprar? Eu teria que vendê-lo de alguma forma.

– Mãe, posso falar com você? – fui direta.
– Pode. – ela respondeu
– A senhora sabe o quanto eu sou fã da One Direction, não é? – fui tentando amenizar a coisa.
– Sim, , diga logo o que você quer. – desconfiou.
– Eles vão vir para o Brasil em maio! – não consegui segurar a euforia ao dizer isso, e acabei soltando um grito enorme.
– E daí? – ela sentou na cama.
– Por favor, eu prometo que não vou pedir mais. Mas, por favor... Eu posso ir ao show? – falei rapidamente – Antes de tudo, queria falar que eu e as meninas já nos organizamos, a tem uma tia que vai ficar tomando conta da gente lá, é só um fim de semana, eu sei que você confia em mim, sabe que tenho cuidado, viajei sozinha no ano passado para os Estados Unidos e você elogiou minha responsabilidade... Por favor!
– Você combinou com suas amigas sem nem me perguntar nada antes, ? – ela arqueou a sobrancelhas.
– Mas mãe, por favor... Eu estou tentando conversar com você agora! – sentei ao lado dela e cruzei os dedos.
– A resposta é não. – minha mãe foi direta.
– Mãe, por favor... – comecei a implorar e a fazer chantagem emocional, querendo chorar e tudo.
– Quer saber? Vai falar com o seu pai.

***


Lógico que passei horas chorando no quarto da minha mãe, acabei por estressar ela e fazer com que ela ligasse para o meu pai às onze da noite para conversar sobre isso. É lógico que ele não deixou logo de cara. Tentei manter a calma e não falar sobre isso com as meninas no dia seguinte, pelo menos ganhava tempo para falar com os meus pais. Por que eu tinha que insistir tanto nisso? Por que eu fico criando esperanças para essas coisas? Mas que merda! Até Gabriela ficou com pena de mim e tentou convencer minha mãe junto comigo, mas claro que foi sem sucesso. Minha mãe é dessas superprotetoras, eu sabia que ela tinha que deixar de alguma forma, hoje eu iria falar sobre os ingressos já comprados. Óbvio que ela ia me matar! Mas, fazer o quê? Pelo menos eu sabia que poderia vendê-lo. Pista Premium. Quem não iria quer a melhor? Já fiquei sabendo que muita gente na escola não tinha conseguido comprar. Optei por ficar calada sobre isso a aula toda. Não queria tirar as esperanças das garotas, porque por sorte, as mães de todas elas já deixaram. Ouvi dizer que teve dificuldades com o pai, porém nada comparado a minha situação. Meu Deus, em que merda eu fui me meter? Eu sabia que ia ser assim. Mas não, tinha que ser teimosa e não perder essa mania de idealizar coisas na minha cabeça que eu sabia que não iriam dar certo. Merda, , você só faz merda!

***


Estávamos na aula de Literatura, as meninas estavam comentando sobre o show, lógico que tentei me animar, falando que seria bom nós cinco em São Paulo, essas coisas. Até que o professor pediu silêncio, pois ia passar um trabalho para a gente. Droga!

– Quero um grupo de no máximo, oito pessoas. O tema é algum conto de Machado de Assis. Aconselho que vocês dividam quem vai falar oralmente, e quem vai fazer a parte escrita. – ele foi anotando tudo na lousa enquanto falava. – Data de entrega: a partir da semana que vem. Podem começar a se organizarem agora.

A sala virou uma bagunça. Cada um que quisesse falar mais alto que o outro. Como nosso grupo sempre era o mesmo, eu nem comentei nada. Ainda estava pensando no show, é lógico. Poxa, cara, era o meu sonho. Todas as minhas amigas iram, menos eu. Caramba, velho.

! Você surda? – Guilherme atrapalhou meus pensamentos. – Vai querer ficar no trabalho oral?
– Pode ser. – dei de ombros. – Quem vai ficar no escrito?
, Juliana, Jéssica e Maíra. – ele respondeu rápido. – No escrito vai ficar eu, você, e Diego. – concluiu.
Ouvi-lo falando “eu, você” era tão fofinho. Certo, gente, eu sou idiota, alguém, por favor, me ajuda a ser menos retardada? Obrigada, de nada.
– Certo. – confirmei sorrindo.
– Então vai lá pra casa hoje. – todo o meu pensamento sobre a One Direction tinha ido embora a partir do momento que ele disse isso. – Vamos fazer logo esse negócio.
– Beleza! – me segurei para não sorrir de novo.

Óbvio que não ia acontecer nada. Eu é que idealizava as coisas na cabeça e ficava querendo que elas dessem certo, sendo que ele nunca iria gostar de mim o tanto quanto eu gosto dele, e ele era idiota às vezes, eu sei que me merecia. Por que ele é o único a não perceber isso?

***


Troquei de roupa assim que falei para minha mãe que teria que fazer um trabalho na casa de Guilherme. Ela deixou, claro, era coisa da escola. Eu estou tentando fazer de tudo para parecer a “filha perfeita” até minha mãe convencer-se de que tem que me recompensar de alguma forma. Almocei, coloquei a comida da Gabriela, lavei todos os pratos e depois disso, fui para a casa dele. O ônibus não demorou a passar, assim que eu cheguei à parada ele estava estacionado, algumas pessoas descendo, então consegui alcançá-lo fácil. Quando cheguei na casa dele, a porta estava trancada e eu fiquei batendo até ele vir abrir. Ainda estava com o uniforme da escola, com cara de sono e segurando um lençol.

– Sério que você ainda está assim? – perguntei, rindo em seguida da cena.
– E vou continuar até o povo chegar. Fecha a porta no cadeado aí e quando eles chegarem, você abre. Acho que minha mãe não chega nem tão cedo. – ele disse isso e colocou a chave na minha mão, fiz o que ele pediu e fui para a sala.

Sentei em um dos sofás, fiquei mexendo no celular e meio confusa com tudo isso. Ele não dava à mínima para mim, e olha que eu tentava de tudo. Insistia em todos os sentidos. Olha só, lá estava eu, na casa do menino que eu gosto, sozinha com ele. Pois é. Ele está dormindo. Eu fiquei olhando para o teto, na esperança de que meus pensamentos fossem esquecidos no tempo, ou apagados, talvez. Eu não aguentava mais aquela vida de sofrer por ele. Ahhh... Guilherme! Por sorte, ouvi a campanhia tocar e corri para atender. Sabia que era , ela estava gritando, então obviamente sua voz era facilmente identificada por mim.

– Ué, cadê Guilherme? – perguntou ela assim que entrou.
– Dormindo... – respondi rapidamente.
– Dormindo?! Aquele idiota me faz vir correndo até aqui com medo de atrasar muito e ainda está dormindo? Ah, não... – só vi quando ela correu pro quarto e eu fui atrás dela, a cena foi engraçada, ele quase caiu da cama.
– Cara, liga para o Diego. – ela jogou o celular na minha mão. – Não estou com paciência de acordar mais ninguém.

Enquanto ela ligava o computador, Guilherme tomava banho e eu estava tentando ligar para o Diego, sim, ele também estava dormindo. Mas que legal...

– Péssima notícia. – falei enquanto desligava o telefone. – Ele também estava dormindo. E pelo jeito, acho que vai demorar muito ainda.
– MEEEEEEEEEEEEEEEEEEEU! – tive que cobrir os ouvidos com a mão tamanha gritaria. – O COMPUTADOR TÁ QUEBRADO! – ela se levantou e colocou as mãos no rosto. – ANDRAAAAADE!

Ele veio correndo, pensando ser alguma coisa tipo muito séria. Mas, tecnicamente era. O pior aconteceu, Guilherme confirmou que o computador estava quebrado e ele tinha se esquecido disso. Lógico que a quis matá-lo.

Resumindo: fomos para a casa dela assim que o Diego chegou. Começamos o trabalho com toda seriedade do mundo. Lemos o conto por pelo menos, umas quinze vezes. Os meninos estavam bem concentrados e nós também. Até que depois das cinco da tarde, ninguém tinha mais saco pra ler nada. Deitamos na cama da e começamos a falar sobre coisas aleatórias, mexer no celular e tudo mais. Até que a começou a bater no Guilherme, eu no Diego, e as coisas ficaram mais infantil do que realmente estavam. Começamos a brincar de bater um no outro, fazer cócegas, e por mais bocó que seja, esse foi o momento mais divertido de toda a tarde.

Lógico que não podia faltar a zoação. A e o Diego começaram a zoar Guilherme e eu. Não gosto disso. Na verdade detesto, sabe? É como se já não bastasse o que sinto, o que passo e o que eu sei sobre mim mesma. Eu tenho certeza que nós não ficaríamos juntos apesar de tudo. Tudo por culpa dele.

– Eu shippo vocês dois. – Diego disse.
– Eu também, gente, é sério. – a deu risada.

Suspirei fundo, resolvi não falar nada.

– Cara, vocês são chatos pra caramba. – Guilherme soltou.

Os garotos foram terminar alguma coisa do trabalho no computador da , e eu e ela fomos conversar na sala.

– Você viu a cara que ele botou quando o Diego falou sobre me shippar com o Guilherme? – fui logo falando.
– Vi. – respondeu. – Você acha que isso tem a ver com...
– Pâmella? – interrompi-a. – Com certeza! Mano, você não vê? Ele meio que ainda é muito apaixonado por ela. – bufei. – Não tenho chance.
– Eu sei. Até acho ela legal, mas... – ela fez uma pausa. – Não tem nada a ver com Guilherme, e outra, ela não dá nem bola pra ele. Aposto como se ele insistir, se ferra.
– Tomara! – falei com raiva. – O problema está nele querer agradar qualquer uma. Guilherme é desses que dá o mundo se a garota pedir. E eu acho que não sou muito exigente. – rimos.
– Você ficaria com ele, não ficaria? – indagou.
– Lógico. , eu gosto dele.
– E eu como melhor amiga dos dois, dou o maior apoio! – ela deu uma piscadinha e a gente continuou rindo.

***


Tarde de quarta-feira. Fim da aula de Educação Física. Eu já estava indo embora quando Guilherme sentou perto de mim e a gente começou a conversar sobre a queda dele durante a aula. Eu dei muita risada da cena, ele como sempre, mega desastrado.

– Quando você vai deixar de ser desastrado, hein? – perguntei, em um tom cômico.
– Sempre fui e sempre vou ser. – ele me acompanhou na ironia.
– É... Pior que sei. – suspirei fundo, olhando para a quadra. – Não vai embora agora?
– Por acaso você está me expulsando? – Guilherme me olhou de canto. – Tá certo...

Droga, ! Nunca na vida que ele vem conversar assim, só vocês dois, e você faz isso! Deixa de ser burra, menina.

– Não, ué. – dei de ombros, para não parecer tão ridícula. – Até estranhei você vir falar comigo do nada.
– Ah... – ele olhou na direção contrária. – Vou ter que ficar aqui até às cinco horas hoje. E como você é a única pessoa que eu conheço que está aqui eu...
– Como sempre: , a segunda opção. – pensei alto.

Ele parou de falar e ficou me olhando sério. Pensei na merda que eu tinha dito e quis procurar um buraco para enfiar a minha cabeça.

– Você está dizendo isso em relação à Carolinne? – depois de algum tempo, essa foi a frase que “quebrou o gelo”.
– Não exatamente. – respondi rápido. – Por que diz isso?
– Porque quando eu namorava a Carol, ela me dizia que tinha certeza de que você gostava de mim. No começo eu não acreditava, até porque eu nunca tinha parado pra notar. Mas aí, depois que ela ficava falando isso, você se lembra, né? Ela era muito ciumenta. – ele olhou para mim. – Eu comecei a achar que bem, você realmente gostava. Enfim, você gosta de mim?

Gelei na hora. Eu simplesmente não sabia o que dizer. Olhei para os lados, na esperança de que alguma coisa acontecesse e eu fosse liberada de responder aquilo... Mas, por alguma força do destino, eu me lembrei de me dizendo que se um dia ele perguntasse isso, eu não negasse. Por que se ele já “sabia” e não tinha mudado nada, não era eu dizendo que ia mudar em alguma coisa, e sei lá, vai que fosse tudo diferente do que eu pensava e ele também gostasse de mim?

– Gosto. – respondi depois de pensar.

Ele ficou me olhando e se aproximou mais de mim. Tive que prender a respiração para não parecer desesperada, porque era fato, eu estava muito desesperada. Nunca que um crush veio me perguntar desse jeito se eu gostava dele.

– O fim do meu antigo relacionamento ainda é muito recente.

“Tinha que falar na Carol”, pensei.

– Mas, , você é uma menina muito legal. E é bonita, também. Se eu não tivesse tão confuso... – ele suspirou. – Bem que a gente podia ter uma amizade colorida, né? Não quero nada sério agora, então ter uma amizade colorida, eu acho que seria o ideal para o momento. Só não quero machucar você.

Assim que ele disse isso, meu coração quase que saía pela boca, e eu já ao estava conseguindo mais disfarçar.

– É. Eu concordo. – sorri de lado.

Sério, eu nunca tinha ficado tão feliz antes na minha vida. Porque, cara, o menino que eu gosto acabou de dizer que ficaria comigo!

– O que você vai fazer amanhã depois da escola? – indagou.
– Nada. – dei risada. – E você?
– Nada, também. Acho que vou à sua casa, pode ser? – ele me perguntou. – Daí a gente chama Jéssica e Maíra para o povo não ficar pensando besteira.

MEU DEUS!
– Tudo certo. – concordei totalmente feliz.
O resto da tarde passou rápido, e logo nós fomos para casa, mas sério, eu estava quase tendo um treco de tanta alegria.

***


Parece que demorou séculos para a quinta-feira chegar. A briga na minha casa por causa do show ainda estava rolando, mas eu estava começando a notar que aos poucos, minha mãe ia cedendo. E isso era maravilhoso! Assim que eu saí para a escola hoje cedo, ela me disse para perguntar o número da tia da , lógico que isso era um bom sinal.

Bem, eu passei a aula inteira pinando por causa da conversando com o Guilherme no dia anterior. Ele sabia que eu nunca tinha beijado alguém antes, e caramba, ele seria o primeiro! O garoto dos meus sonhos seria o primeiro! Ainda bem que a Jéssica e a Maíra toparam em ir para minha casa tomar banho de piscina. Lógico que era fachada, a gente inventou um trabalho só para poder ir sem chamar muita gente, porque aí não rolaria nada. Quando chegamos ao portão do prédio onde eu moro, Jéssica e Maíra disseram que a gente precisava trocar a roupa e tal, e fomos para o meu apartamento. Guilherme ficou em baixo, disse que nos esperaria e tipo, nossa.

– Vai rolar alguma coisa. – Jéssica riu.
– Claro que não. É só um banho de piscina. – eu menti.
– Até parece que você ia fazer essa cerimônia toda por causa de um banho de piscina. Por favor, né, ... – Maíra concordou com Jéssica e acabei confessando que sim.
– Então vamos descer logo! – anunciei em voz alta.

Tudo estava saindo conforme planejado. Os quatro na minha casa, dentro da minha piscina, conversando sobre absolutamente tudo... Esse momento, sem dúvidas, foi o melhor da minha vida. Guilherme não saía de perto de mim por nada, e isso foi tão fofinho. Ele não parecia ele naquele momento.

– Estou com fome. – falou Maíra. – Vou buscar as bolachas que a gente trouxe.

Ela disse isso e se levantou da piscina. Jéssica concordou e foi atrás dela. Por um momento, eu pensei que estivesse sonhando, mas tudo aquilo era real. Eu estava realmente muito ansiosa para o beijo.

– Sobre ontem... – ele começou a falar quando as meninas saíram de perto da gente.
Congelei.
– Eu estava falando sério. – concluiu.

Ele se aproximou de mim e me deu um selinho demorado. Na hora eu quase piro, lógico que eu queria mais! Porém, as meninas voltaram, a gente ficou com vergonha e num instante, deu a hora deles irem embora. Foi neste momento que eu pensei que o mundo fosse cair na minha cabeça de tanta decepção. Assim que terminei de tomar banho, caí na real do que tinha acabado de acontecer: absolutamente nada. Eu simplesmente não acreditei que mal tinha dormido no dia anterior, pensando que iria ser “o dia” e ele acaba assim... Sinceramente, nasci pra sofrer MESMO.

Na parte da noite, depois do jantar, eu ainda estava bem decepcionada com o que não tinha acontecido, mas poxa. Ele não disse nada, não fez nada, então não tinha pra quê eu está agindo como se tivesse acabado de terminar um namoro. Eu tinha que aprender a controlar os meus sentimentos.

! – minha mãe gritou da sala. – Seu pai no telefone! – suspirei fundo e fui até ela.
– Oi, pai. – falei.
– Oi, filha. – ele dizia com uma voz alegre. – Nós decidimos por te deixar ir ao show. Mas olha, não vai comemorando... Temos muito que ver ainda. Tem que fazer por onde! – meu pai aumentou o tom de voz. – E eu quero saber se você vai ter responsabilidade por lá. Este é o seu presente de aniversário.

E daí que meu aniversário era só em agosto?????????????
Eu comecei a pular na sala feito uma retardada. E mais uma vez, esqueci a história de Guilherme. Aquilo era muito perfeito! A minha vontade era de correr para a piscina e me jogar nela. Claro que tentei me controlar, afinal de contas, qualquer movimento brusco iria me tirar do show.

Segurei as lágrimas e abracei a Gabriela com a maior força que pude. Ela tinha me ajudado pra caramba, tive que reconhecer e fazer um esforçinho.

São Paulo, show dos meus ídolos, realização do meu sonho com minhas melhores amigas. Tem coisa melhor?

Dane-se, Guilherme!

***


Estávamos a uma semana da viagem. Meu coração não podia está mais feliz. Meio que eu estava contente mesmo. Vim saber algumas horas depois que e Guilherme haviam brigado feio naquele dia depois que ele chegou em casa, ou seja, ficamos semanas sem nos falar. Voltamos a nos falar a alguns dias, as coisas ainda não estavam totalmente certas, por um lado, mas ficar longe dele me fez ver o quanto eu gostava.

Tirando esse pequeno (grande) detalhe, tudo estava ocorrendo completamente bem. Minha mãe tinha me deixado comprar as camisas personalizadas, a gente já tinha feito mil e um planos do que fazer no dia após o show e tudo. Eu estava realmente pirando porque ia ver meus ídolos de pertinho.

– Ei, agora que você e Guilherme voltaram a se falar, o que acha da gente ir dar um passeio no shopping? – falou.
– Quem? – perguntei em relação a quem iria.
– Eu, você, Guilherme e Diego. – ela deu ombros.

No fundo, eu sabia que ela queria que nós ficássemos juntos. E eu também queria isso, apesar de tudo. Ficar longe dele tinha sido um dos piores momentos da minha vida. Mas eu tinha aprendido que conseguiria viver sem ele de boa. Com ele perto, eu me machucava de propósito.

– Tudo bem. Quando? – indaguei.
– No dia que vocês puderem. – ela respondeu de volta.
– Sexta à tarde? – optei.
– Pode ser. Eu vou conversar com os meninos.
– Certo. – sorri de canto.

Já era quarta-feira, talvez minha mãe não deixasse, mas se eu não perguntasse iria ser pior, então acabei por perguntar e ela deixou. Minha mãe ultimamente tinha ficado mais legal. E eu estava gostando muito disso. No mesmo dia, na parte da noite, confirmamos o passeio como sendo uma “despedida” da gente. E por incrível que pareça, eu não estava assim tão ansiosa. Talvez não desse para conversar com Guilherme do jeito que eu queria. Mas pelo menos na minha consciência, eu já tinha dito tudo o que precisava. Abri o aplicativo de conversas no meu celular e tinha uma mensagem de Guilherme.

Guilherme: Você vai ao shopping depois de amanhã?
: Vou, já disse no chat em grupo! Haha
Guilherme: Desculpa aí, então. Hahaha, enfim, só espero que as coisas não mudem por causa daquela briga...
: Não vão mudar, relaxe! <3
Guilherme: Eu espero J

***


Eu não estava ansiosa até o dia do passeio. ficou falando para mim o quão feliz estava de todos nós sermos amigos de novo. Concordamos de que estava sendo horrível para todo mundo. E ela me disse que aproveitasse para conversar com ele no shopping. E esse diálogo tinha me deixado bem ansiosa. Demorei em chegar ao shopping porque minha mãe insistiu em sair mais cedo para resolver umas coisas e não tinha quem me levasse, então eu tive que ir de ônibus e demora pra caramba. Quando eu cheguei, os três estavam na praça de alimentação, tomando sorvete de Oreo sem mim! Caminhei em direção ao grupo e a foi a primeira a me abraçar.

– Eu tava quase ligando pra você. – ela me falou. – Senta aí.
– Pois é! Minha mãe que saiu e não tive com quem vir. Fiz o maior sacrifício do mundo por vocês! – falei rindo.
– Você não vai se arrepender. – riu.
– E aí? O que vamos fazer? – Diego perguntou.
– Comer. – foi direta.
– Menina, tu só pensa em comer! – Guilherme comentou. – Vamos olhar as lojas, andar, bater perna, sei lá... – deu ombros.
– É. Só pra andar mesmo. – ressaltei.

A gente começou a olhar loja de roupa, depois fomos para as de calçados e ficamos conversando normalmente, como se nunca tivesse ocorrido uma briga entre eu e Guilherme, e bem, as coisas estavam ótimas assim.

– Estou cansada. – reclamou. – Vamos lá pra parte do cinema sentar nos banquinhos? – sugeriu. – Nunca andei tanto dentro de um shopping antes.
– Sedentária. – Diego comentou.
– Quem fala... – ela revirou os olhos.
– Tudo bem, vamos lá pra o cinema. – concordei com ela.
– É. A gente compra alguma coisa pra comer antes. – insinuou. – Estou morrendo de fome!
– Tinha que ser... – Guilherme riu.

A gente caminhou de volta ao nosso ponto de encontro, compramos uns sanduíches, refrigerantes e também comprou um milk-shake. A gente ficou lá, falando da viagem para os meninos, dizendo que íamos tomar muito Starbucks em São Paulo e tal.

– Tô nem aí. – Guilherme deu ombros.
– Nem eu. – Diego concordou.
– Vocês são muito chatos, sabia? – comentei. – Deixa, , esse povo está é com inveja da gente! – joguei o cabelo.
– Com certeza! – ela concordou comigo.

Terminamos de comer e subimos logo para a parte de cima do shopping, onde fica o cinema, boliche e o salão de jogos. Perto da entrada do cinema, tem uns sofás super aconchegantes que dá até pra dormir de tão gostoso que é! O pior é que estavam lotados. Na verdade, tinha lugar, mas não para os quatro sentarem juntos. Então, , como sempre, disse para eu e Guilherme sentarmos no sofá menor que eles sentariam no da frente. Tudo bem, assim ficamos. Até que por um deslize, Guilherme deitou a cabeça no meu ombro e eu não sabia o motivo, provavelmente sono. E nessa mesma hora, o clima já tinha ficado tedioso.

– Eu vou ao banheiro. – Diego disse isso e saiu na direção contrária da nossa.

ficou na nossa frente, mexendo no celular, eu também estava mexendo, mas nessa hora, Guilherme olhou pra mim e a gente começou a conversar sobre tudo.

– Desculpa se eu fiz você se sentir mal alguma vez. – falou.
– Não, tudo bem, não foi culpa sua. Não é culpa sua, na verdade. – respondi, forçando um sorriso. – Você não tem culpa de nada.
– Claro que tenho. Eu deveria ser mais legal com você.
– Relaxa, está tudo bem...

Eu não sei o que houve nessa hora, mas a deu um pulo do sofá e disse que iria comprar um Pretzel e depois voltava. Juro como achei estranho.

Enfim, estávamos a sós no sofá menor do salão de lazer do shopping. Nós ficamos conversando por mais alguns segundos, e eu não sei explicar como, nem quando, nem sequer sei o que aconteceu. Quando notei, a gente já estava num abraço. Juro que não sei o que estava acontecendo, mas Guilherme estava com as mãos no meu rosto, e as minhas estavam nos ombros dele, e sim, nós estávamos nos beijando. Ficamos algum tempo daquele jeito, até que ele parou o beijo com alguns selinhos. Eu estava morta de vergonha, simplesmente não sei o que fiz, e nem ao menos se teria feito certo, porque pelo jeito, ele não tinha gostado. Pra falar a verdade eu idealizava tanta coisa do primeiro beijo. E ele ter acontecido assim, tão babado, tão “eu não sei o que eu faço”. Olhei na direção contrária, nossos amigos estavam nos olhando de longe, com umas caras fofas, eu tive que dar risada e mostrar para Guilherme a situação. Lógico que a vergonha só aumentou, mas enquanto eles caminhavam na nossa direção, eu não perdi tempo, beijei a bochecha de Guilherme só mostrar o quanto eu me importava com ele.

– Ninguém vai precisar saber disso agora. – cochichei.
– Menos eles. – Guilherme apontou na direção contrária e eu dei risada.

Nunca na minha vida que eu pensava que um shopping center ia ser palco para isso, logo eu, uma das garotas mais tímidas do grupo? Eu, hein. Mas foi. Depois que a ficha caiu, tive que me segurar para não ter um troço.

***


Graças a Deus o dia da viagem não demorou muito para chegar, mas também, depois do acontecimento da última sexta, era impossível não está mais feliz. Simplesmente tinha ficado boba. Apesar de saber que tudo não iria passar daquilo, por pelo menos um bom e grandioso tempo.

Tudo bem, eu não queria mesmo ir para a escola naquele dia. Mas, como eu já disse antes, bancar a filhinha perfeita estava me ajudando muito a conseguir as coisas. E não ia desistir no último dia da viagem. Cheguei à escola cedo, como sempre, o que não era uma surpresa pra ninguém. Surpresa mesmo é saber que Guilherme também tinha chegado cedo. E tipo, o que era bem anormal pra situação.

– Que milagre é esse você chegar cedo? – perguntei.
– Minha mãe que teve que sair cedo hoje. – ele me deu de ombros. – Enfim, pelo que eu vejo você tá muito ansiosa.
– Pior que estou mesmo. – eu dei uma risada. – Muito mesmo. – sorri de leve. – Nunca fui a São Paulo antes, e tu sabes como foi difícil pra minha mãe me deixar ir. – suspirei. – É o meu sonho né, Guilherme?
– Aham, eu sei como é. – ele sorriu também. – Estou muito feliz por você, . É sério. Parabéns. – ele abriu os braços pra me abraçar, assim o fizemos. – Vou sentir a sua falta.
– Mas são só quatro dias. – eu ri.
– Tempo demais pra sentir sua falta. – ele riu. – De todas vocês, na verdade.
– Awn, que fofo! – deixei escapar. – Obrigada por tudo.
– Imagina, você sabe, além de tudo... – senti a indireta. – Vocês são minhas amigas. Essa sala vai ficar tão vazia sem vocês, porque claro que vocês são as quem eu mais me importo aqui. – senti um beijo na bochecha e lógico que corei.
– Também vou sentir sua falta. Vou ficar mandando fotos de lá o tempo todo, prometo. – sorri em agradecimento.
– E olha que vai ter que mandar mesmo, viu? Vou ficar esperando! Trás um Starbucks pra mim! – brincou.

Guilherme sabia ser fofo quando ele queria, e isso era maravilhoso. Claro que o resto do dia foi muito agitado. As meninas chegaram e fizemos a maior festa. Aquela tinha sido a melhor sexta-feira de todas, e olha que estávamos na manhã dela ainda.

***


Cinco e meia minha mãe já estava na porta do apartamento, tentando se comunicar com o meu pai. Ele prometeu que me levaria no aeroporto as seis em ponto. Eu já estava na sala, com minha mala e a bagagem de mão, superansiosa, é lógico.

– Ele vai vir ou não? – suspirei fundo ao vê-la desligar.
– Não... Vamos, eu te deixo. – ela me chamou com a mão e Gabriela veio junto. – Vem, Gabriela. Ai, o pai de vocês é muito complicado, promete as coisas e esquece.

Descemos até o estacionamento do prédio, entramos no carro e rumamos até o aeroporto. Apesar de tudo, chegamos primeiro que todo mundo. Isso deu tempo de fazer o check-in, olhar os outros voos e esperar chegar. Quando a vi passando pela escada rolante, abri os braços contente, gritando com minhas amigas ali dentro. Olhamos na direção das nossas mães e elas estavam meio desesperadas por causa do barulho, afinal de contas o aeroporto inteiro estava olhando na nossa direção. Fiquei com um pouco de vergonha, mas e daí? Ninguém se importa. A nossa felicidade valia muito mais. me puxou pelo braço e nós fomos na direção de uma lanchonete, pedimos um lanche e comemos enquanto esperávamos as outras meninas.

Estávamos lanchando quando e chegaram, elas vieram pulando na nossa direção, pelo visto a “One Direction fever” estava bem exaltada naquela noite de sexta-feira. A gente se abraçou com força, elas também fizeram o pedido e enquanto nossas mães conversavam de longe, nós ficamos sentadas conversando também.

– Preparadas para o melhor fim de semana da vida de vocês? – a mãe de tinha chegado e ninguém notou.
– Sim, tia. Estamos pirando muito aqui. – falou.
– Né! – afirmei. – Vamos conhecer a famosa cidade de São Paulo e iremos ao show da One Direction, eu não poderia estar mais feliz! – completei sorrindo.
– Vocês vão adorar. Leva elas pra conhecer o Ibirapuera! – minha mãe foi sugerindo.
– Cuidado por lá, viu? Vocês não estarão em casa! – a mãe da ficou falando em direção a ela e a .

demorou bastante pra chegar, ela chegou na hora que anunciaram o nosso voo, e estava com os pais e a irmã, Sarah. A gente comemorou junta tirou fotos e finalmente, fomos embarcar. Minha mãe, bobona do jeito que é, me abraçou forte, e Gabriela nos acompanhou no abraço. Foi um momento fofinho em família. Prometi tomar cuidado e obedecer à tia. Quando entrei do avião, automaticamente me lembrei da minha viagem a Nova Iorque no ano passado. Tinha sido tudo tão perfeito. E ia ser de novo, eu tenho certeza que iria. Afinal, como uma viagem com minhas melhores amigas não seria?

***


Desembarcamos quase meia-noite na capital paulista. Assim que descemos do avião, um ônibus do aeroporto veio nos buscar na escada e a gente foi zoando o caminho inteiro. Por incrível que pareça, a sala de desembarque era meio longe, e naquele dia fazia frio, muito frio, por sinal. A tia de foi facilmente identificada por todas nós, ela segurava uma plaquinha fofa com o nome: “Directioners”, aquilo poderia ser vergonhoso, mas diante das circunstâncias, não era. correu até ela e as duas se abraçaram com força.

– Bem-vindas a São Paulo, meninas! – ela falou com um sorriso no rosto. – Vamos nos divertir muito!

“Já gostei dela.”, pensei comigo.

O passeio até o apartamento dela foi tranquilo. Mas eu e não calamos a boca um segundo, ficamos falando sobre o quão ótimo seria morar em São Paulo. Não sei como não mandaram a gente ficar quieta. Porque tipo, velho, nunca na minha vida que aquilo estivesse acontecendo, e poxa, estava! Eu não conseguia guardar a felicidade só para mim. Chegamos ao apartamento minutos depois, foi um passeio bem rápido até. No elevador, Leni foi falando o que faríamos no fim de semana, e aquilo nos animou muito, porque era um sonho para todas nós. Liguei para a minha mãe assim que entrei no apartamento. Nos dividimos no quarto, e acabaram por ficar na cama, eu fiquei no colchão com Bia e não me incomodei.

Mal consegui dormir, a sorte era que eu tinha dormido muito na tarde de sexta. Levantei rapidamente, antes de todas as outras, fui ao banheiro, tomei banho e me troquei. Já consegui senti o frio congelar ainda mais a minha pele. Resolvi por colocar um casaco por cima da blusa. As meninas ainda não tinham acordado, então, delicada como sou, peguei um travesseiro e joguei em cima da primeiramente. Que acabou acertando na e fazendo com que as três se levantassem ao mesmo tempo. Dei a maior risada, joguei outro em Bia e ela acordou à força.

– É HOJE! – falei. – FALTA POUCO!

Sentei na sala enquanto as meninas se arrumavam, depois de um tempo, a gente tomou café da manhã, eu tentei comer algumas frutas, já que não é meu forte, digamos assim. Fiz outra ligação para a minha mãe e ela ressaltou os perigos de São Paulo, como se eu já não soubesse. Quando a gente chegou ao estádio, juro como nunca tinha visto tanta algazarra num lugar só. O frio estava de matar, eu não aguentava nem respirar direito que meu pulmão doía. O empurra-empurra na fila estava enorme!

– Gente, é sério... Eu vou congelar. – falou, tremendo.
– Eu já estou congelada! – completei, batendo o pé no chão. – Ainda bem que eu trouxe casaco.
– Não se esqueça de que você vai ter que tirar isso se não quiser morrer de calor daqui a algumas horas. – falou na minha direção.

Não levou muito tempo até que eu tirasse o casaco, como tinha muita gente em cima da outra. Já se passava das oito quando fomos para a fila Premium, e ufa, lá estava bem melhor.

– Isso não está acontecendo de verdade, não é possível. – comentaram, rindo em minha direção.
– Está! E eu estou, tipo, muito feliz. – respondi.
A ficha só caiu quando o segurança abriu os portões e saímos correndo feito um bando de retardadas. Uma segurando na outra para não se perder. Eu já estava pirando. Conseguimos ficar num lugar bom, ou seja, iríamos ver os meninos de perto!

Quando o show finalmente começou, ninguém conseguiu segurar as lágrimas. Eu chorei tanto. Olhei para as meninas na hora que eles entraram, e todas elas, ou melhor, o estádio inteiro estava tendo um ataque epilético. Ouvi-los ali na frente e saber que eu contribuí para aquilo, foi mais do que um presente. Eu, minhas melhores amigas, One Direction numa metrópole, não... Não era possível. Chorei muito. Quando eles começaram a tocar “Little Things”, cantei com todo o meu coração, e ao final da última música, quando o palco se apagou, eu sabia que havia começado uma nova vida dentro de mim. Nenhuma de nós segurou a emoção. Conseguimos nos abraçar em grupo embora ainda estivéssemos no meio da multidão. A única coisa que consegui gritar veio de dentro do meu coração, do meu mais profundo sentimento, o amor.

ESTE FOI O NOSSO MOMENTO!

Fim.



Nota da autora: (20/12/2015) Sem nota.




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