Capítulo Único
Ao ouvir o apito final do juiz, desabei.
Lágrimas desciam descontroladas pelo meu rosto, sem que eu ao menos pudesse contê-las.
Com minha visão periférica, consegui perceber a euforia dos belgas ao meu redor e o sentimento de desolação dos brasileiros.
Com o placar de 2x1, a seleção canarinho se despedia do mundial da Rússia, nas quartas de final, situação pouco especulada pela massa de torcedores e pela mídia esportiva do país. A seleção do Tite era tida como uma esperança diante do vexame que havíamos sofrido em 2014.
Todavia, o sonho ficou só no papel.
Durante os meus devaneios, senti mãozinhas tocando o meu rosto e observei o semblante confuso do meu filho. Luca, vestindo o uniforme completo do time belga, com o número e o nome de seu pai estampados em suas costas, parecia não entender o motivo de minhas lágrimas.
- Mama, por que tá tristinha? Papai perdeu? - questionou em um bico, abraçando minha cintura. Talvez eu fosse muito suspeita para falar, mas meu filho era a criança mais fofa do mundo.
- Não, meu amor, seu pai não perdeu. - neguei, depositando um beijo em sua cabeleira castanha.
- Então não chora, mamãe, papai é campeão! - respondeu se afastando, cruzando os braços como se tivesse com toda a razão.
Igualzinho ao pai, foi o que pensei.
Luca era uma criança bastante calma e tranquila. Quando era um bebê, e eu costumávamos dizer que todo o estresse que esperávamos que ele tivesse, havia vindo para nós, pobres pais de primeira viagem.
Várias vezes acordei durante a noite para checar se meu filho estava vivo, uma vez que sua calmaria não era algo comumente relatado pelas mães que conhecia, ou até mesmo em livros de maternidade. Todavia, o que ele tinha de calmo, tinha de determinado. Apesar da pouca idade e do vocabulário meio enrolado, a criança defendia seu ponto de vista do melhor jeito que podia, sempre questionando o que não entendia.
- Filho, hoje, seu pai e eu estávamos torcendo para seleções diferentes vencerem. Mamãe torcendo para a seleção brasileira, do tio Willian, e o seu pai torcendo e jogando pela seleção belga, junto com o seu tio Thorgan, Thibaut... - expliquei do melhor jeito que podia. Ainda era indigesto fazer com que minha criança torcesse para uma seleção que não fosse a brasileira, mas o amor que Luca tinha pelo pai era bem maior que o meu orgulho besta. Ou seja, eu que lute.
- É para eu ficar tristinho também, mama? - tombou a cabeça para o lado, verdadeiramente preocupado. Adorável.
- Não, Luke. - dei uma risada fraca. - Você não tá orgulhoso do seu papai? - ele assentiu inúmeras vezes, balançando a cabeça para cima e para baixo - Então, meu bem, é isso que importa. Vem aqui me dar mais um abraço que a tristeza da mamãe vai embora bem rápido.
Adotando como verdades absolutas o que eu tinha lhe dito, Luca apenas se jogou nos meus braços e me apertou o máximo que sua pequena força permitia.
- ? - enquanto tentava me consolar nos braços do meu bebê, ouvi ao fundo a voz de Carine, minha sogra, chamando-me. A essa altura, o estádio, que antes tinha uma expressiva torcida brasileira, já estava praticamente vazio, restando apenas alguns torcedores belgas ainda comemorando a classificação para as semifinais. Por sua vez, os jogadores, de ambos os times, já se encontravam dentro dos vestiários.
- Oi, Cari, já vamos? - perguntei-a, assim que a vi se aproximar mais de mim e Luca.
- Nós... - apontou para si e para Thierry, meu sogro, que acenou brevemente para mim. - Já sim, mas vocês dois vão esperar um pouquinho mais.
- Ué. - estranhei, preocupada. - Aconteceu alguma coisa?
- Apenas ordens do , querida. - dito isso, ela me abraçou forte e perguntou meu estado após a partida.
- Estou um pouco frustrada, né? Tinha esperanças de que esse ano iria vir o nosso tão sonhado hexa, mas faz parte. Um perde para o outro ter que ganhar. E, nessa história, fico menos chateada por saber que o time do meu marido e cunhado continua lutando pelo título.
Carine sorriu carinhosa para mim e apertou a minha mão, despedindo-se, junto de Thierry, que me deu um abraço rápido, e indo em direção ao estacionamento.
Enquanto observava com desconfiança meus sogros se afastando, Luca se fez presente, puxando levemente o tecido da minha camisa amarela para baixo.
- Mamãe. – começou, manhoso. - Tô com fominha. - para dar mais credibilidade à sua fala, franziu o cenho em expressão de dor. Eu somente gargalhei de sua atuação dramática e, tentando ignorar a imagem mental do meme do Cristiano Ronaldo e do seu filho, apenas disse que já iríamos comer, vendo uma animação crescer dentro do pequeno ser humano. Eu estava criando um monstrinho.
XX
Esperamos por mais dez minutos até que a figura sorridente e cheirosa do meu marido se aproximou do local onde estávamos. Não era comum que nos encontrasse dentro dos estádios, visto que existia o receio de torcedores fanáticos assustarem Luca, mas aquele dia era especial.
- Papa! - nosso filho correu em direção aos seus braços assim que notou a presença do belga. - Ganhou!
agachou-se para pegar um sorridente Luke em seu colo e sorriu, também animado, em sua direção. Nem esperava o resultado, sendo bastante franca, e eu o zoaria bastante por causa disso.
- Ganhamos sim, campeão! Gostou da partida? - questionou, ajeitando o menino em seus braços enquanto olhava para mim de soslaio.
- Sim, pirilim! - falou com um sorriso gigante e esquecendo de sua mãezinha que acabara de perder o sonho da sexta estrela. - Mas mamãe chorou! - disse com uma carinha indignada, que mostrava toda a sua confusão com meu estado de espírito.
- Chorou, foi? - olhou para mim rapidamente e voltou a focar sua atenção na criança de 3 anos em seus braços.
- Uhum. - assentiu com a cabeça. - Mas ela disse para eu dar um abraço bem forte nela e assim iria parar de ficar tristinha! - respondeu em tom convencido.
sorriu de lado para o relato do filho e veio também me acalentar em seus braços, formando um desengonçado abraço triplo.
- Meu amor, como você está? - perguntou, carinhoso, em meu ouvido, apertando-me com mais força em seus braços.
- Tô triste porque vocês acabaram com meu hexa. - disse em tom manhoso enquanto escondia meu rosto na curva de seu pescoço. - Mas superarei. – suspirei, dramaticamente, afastando-me e vendo o olhar convencido do cara que chamava de marido.
Dentro de quatro anos. - completei mentalmente.
- Seu marido pode ser campeão mundial, huh? Isso não te anima? - perguntou, escondendo um sorriso pretensioso, começando a nos guiar para fora do estádio vazio.
- Me animaria mais caso você se naturalizasse brasileiro e não fizesse parte do time do mal que tirou meu hexa. – disse, emburrada, seguindo-o pelo mesmo caminho que havia vindo. - Mas estou muito orgulhosa de você, vida. Eu sei o quanto você lutou para fazer uma boa copa pelo seu país e me sinto muito realizada ao te ver brilhando dentro de campo. Sendo, acima de tudo, uma referência para os seus companheiros. – parabenizei-o, em um tom orgulhoso. Mesmo que não estivesse satisfeita com o resultado, sempre seria minha prioridade. Ele e o fruto do nosso amor.
- Eu te amo, , muito. - disse com a voz abafada por ter o rostinho de Luke apoiado em seu pescoço. - É muito importante para mim, ter vocês dois aqui comigo.
- Eu também o amo, lindo. - dei um selinho em seus lábios. - Você não deveria estar com o resto do time? – indaguei, confusa, percebendo naquele momento que não estávamos em casa e que estava concentrado com os compatriotas em outro espaço.
- Em teoria, sim. Mas como estamos em ritmo de comemoração, o Martínez nos deu algum tempo livre com as nossas famílias antes de voltarmos para a concentração. - respondeu meu questionamento, parando em frente a uma grande porta de vidro que dava em direção ao estacionamento.
- E o que você tem em mente? - perguntei, encarando seus lindos olhos. Não havia coisa mais bonita do que aqueles olhos. Agradecia a Deus diariamente por nosso filho ter herdado aquela característica do pai.
- Primeiro, vamos alimentar esse rapazinho aqui. - direcionou o olhar para o Luke, que colocava as mãos na barriguinha com cara de sofrido. Dramático. - Depois o deixamos com meus pais e podemos comemorar a classificação do nosso jeito. - deu um sorriso ladino, puxando minha mão para um carro sedan prata, que eu nunca tinha visto antes.
- Você tem noção de que acabou de eliminar a MINHA seleção, não é? - perguntei, estranhando o seu comentário sobre comemoração, enquanto me encostava no veículo.
- Sei, , mas podemos fazer um acordo, hum? - disse com seu típico sorriso de lado, abrindo a porta traseira e arrumando Luca em uma cadeirinha que tinha ali. - Você comemora o fato do amor da sua vida estar na semifinal da copa do mundo, e eu te consolo pela sua seleção ter sido eliminada. - piscou para mim, safado. - O que acha? Sei um jeito que vai deixar nós dois bem satisfeitos.
- Acho que você fala demais. - empurrei seu ombro de leve, para poder me acomodar no banco do passageiro. - Vamos logo, camisa 10. Quero ver o que você é capaz de fazer.
- Ah, meu amor, você já deveria saber que posso ter as melhores atuações dentro e fora de campo.
XX
Alguns dias tinham se passado desde a fatídica derrota da seleção brasileira para os belgas. Nesse tempo, havíamos sofrido outro baque: a eliminação dos belgas para os franceses. tinha ficado realmente chateado com toda a situação. Eliminar os brasileiros tinha dado bastante confiança para a Bélgica e o inédito título de campeões do mundo não parecia mais tão distante. Infelizmente, com um gol do Umtiti, zagueiro do Barcelona, as chances foram destruídas. Assim, tentando se animar e aproveitar o período de férias antes de regressar para o início da temporada, , de surpresa, alugou para nós um chalé na praia de Pipa, considerada um dos paraísos brasileiros. Eu já tinha visitado o local com meus pais, anos antes, mas voltar lá com a minha família era algo indescritível. Conhecer mais a fundo as falésias alaranjadas, as praias de água cristalina, além das piscinas naturais e dos passeios nas dunas, estava sendo uma experiência incrível. Contudo, a experiência da viagem, com certeza, não combinava com a conversa que estávamos tendo agora.
- Real Madrid? - indaguei com uma cara de desgosto, enquanto me sentava em uma das cadeiras dispostas na varanda do nosso bangalô alugado. - É isso o que você quer? - conclui em uma careta, desgostosa.
- É, acho que sim. - disse, encarando meus olhos, em um misto de incerteza e de empolgação. - Acredito que possa ter chegado a hora de encerrar a minha história no Chelsea. - finalizou, com certo pesar, apoiando seu corpo no braço da cadeira em que eu estava sentada. Sinceramente, não era fácil para admitir isso, visto que o carinho que tinha pelo Blues era gigantesco. Além disso, sair de Londres significava muito mais do que, simplesmente, trocar de clube. Nosso filho tinha nascido lá, além de nossos melhores amigos, uma segunda família, também estarem alocados na cidade. O peso sentimental era gigantesco.
- Mas logo o Real Madrid? - perguntei, ainda contrariada. Sabia que o meu marido havia recebido propostas de outros clubes, a maioria sendo menos detestável do que o citado em questão e não tão longes da Inglaterra. Mas, também tinha noção de que jogar em Madrid era um dos maiores sonhos do belga, mesmo que isso não fizesse muito sentido para minha mente anti-madridista.
- , você sabe que ir para o maior da Europa... - rolei meus olhos com o termo utilizado. - Seria crucial para a minha carreira. - declarou, com tom de voz sereno, levantando de onde estava apoiado para sentar no chão, na minha frente. - Eu sei que você tem uma birrinha com o Real... - tentou falar, sendo interrompido por um berro indignado meu.
- BIRRINHA? - exasperei, com toda a indignação que sentia no momento. - Você acha que o que eu sinto pelo Real Madrid é uma "birrinha"? - inquiri, realmente ofendida. Birrinha era o que eu sentia pelo Arsenal, um dos principais rivais do Chelsea, mas pelo Real Madrid?! Eu tinha era desgosto mesmo.
- Eu respeito o fato de você ser uma culé e de amar incondicionalmente o Barcelona. - rolou os olhos para a última fala, fazendo-me criar um bico involuntário. Poxa, time não se escolhe. Se pudéssemos escolher, com certeza, eu iria atrás de um que não me causasse tanto estresse. - Mas acredito que isso não será um obstáculo para nós, amor. - finalizou, carinhoso, colocando a mão em meu joelho e fazendo um afago leve ali.
Mesmo sendo brasileira e tendo um amor gigantesco pelo meu país de origem, eu vivi, de fato, poucos anos em terras tupiniquins.
Ao recém completar dez anos, devido ao trabalho do meu pai, minha família e eu deixamos para trás São Paulo e embarcamos em direção à região da Catalunha, mais precisamente para Barcelona.
Vivi em território catalão até conseguir minha sonhada vaga na Imperial College London, na Inglaterra, para cursar fotografia.
Fato este que me fez conhecer , pouco tempo depois, em uma casa de festas.
Assim, inserida naquele ambiente, foi natural apaixonar-me pelo time blaugrana, colocando-o quase como uma religião em minha vida. Minha tentativa frustrada de colocar o nome de Luca de Lionel ilustrava bem essa questão. Infelizmente, meu marido não sabia apreciar esse meu excelente gosto e disse que não teria um filho com o nome do argentino. Talvez no próximo.
- Primeiro elimina a minha seleção da Copa do Mundo; depois escolhe jogar pela equipe do mal... - enumerei, elencando os fatos em meus dedos de forma dramática. - Agora entendo o porquê do teste do BuzzFeed ter colocado Me apaixonei pela pessoa errada como a música da minha vida. - suspirei, lembrando que o hino do Periclés estava, em partes, fazendo sentido para mim.
- Mamãe? - fui interrompida de meus devaneios dramáticos por um Luca sonolento, que vinha coçando os olhos de dentro do bangalô. - Tô com fominha. - disse, em um tom manhoso. Às vezes eu me perguntava se eu alimentava essa criança corretamente. Luke parecia um saquinho sem fundo. Não sendo surpresa nenhuma que sua primeira palavra tenha sido "bolo".
- Vem cá, filho. - chamou , levantando-se para arrumar um lugar para o filho sentar. - Tem café na mesa. - apontou, finalmente chamando a atenção do menino.
Luca, ao enxergar a comida a que o pai se referia, andou o mais rápido que suas perninhas o permitiam para o local apontado, sentando-se prontamente ao meu lado.
- Então, amor, o que você realmente acha? - me questionou, ansioso, enquanto eu preparava um sanduíche para um inquieto Luke.
- Bem... - suspirei profundamente, passando o alimento para meu bebê. - Se é o que você quer, irei te apoiar. Mas não espere que eu vá usar aquela camisa horrorosa ou utilizar o Hala Madrid em algum momento da minha vida. - completei, rapidamente. Torcer pelo meu marido e pai do meu filho, ok, eu aceito. Mas torcer pelo Real Madrid?! Nem que me pagassem muito bem. Até porque, se eu fizesse isso, capaz de ser deserdada da minha família. Eu não era a única que detestava os merengues.
- Eu não espero. – disse, risonho, encarando Luca lambuzando-se de geleia de amora do lanche que eu havia entregado a ele. Teoricamente, o café da manhã era em um dos salões de hotel, mas, aparentemente, ser um jogador famoso traz algumas vantagens, como comer no próprio quarto e provar de alimentos não costumeiros no Brasil. Fala sério, quem come geléia de amora nesse país?
- E nem ache que meu filho vai virar um torcedor merengue. - completei rapidamente, como se não estivesse claro, cuspindo a última palavra com certa repugnância. Não conseguia nem sequer imaginar a decepção de ver meu garotinho, que guardei carinhosamente por nove meses dentro do meu ventre, com uma camisa do Real Madrid. Meu coração não aguentaria aquele duro golpe. Já bastava o fato da criança ser a cópia escarrada do pai.
- Ele vai torcer pelo pai dele sempre, não é, campeão? - indagou a Luke, que parecia totalmente alheio ao que nós estávamos conversando. Aquele menino era realmente uma draga.
- Uhum, papai. - respondeu, percebendo que falava com ele, logo após tomar um gole do suco de laranja em seu copo do Homem de Ferro.
Vendo que poderia estar ganhando aquela batalha, resolvi apelar:
- Filho, qual o time feio que você não gosta? - perguntei, antes que começasse a se vangloriar.
- O corintas, mamãe. - falou referindo-se ao Corinthians, grande rival do meu time do coração do Brasil.
- Esse não, Luke. Qual é aquele que o vovô disse que é o time seboso no estádio? - indaguei, fazendo referência ao dia que meu pai nos levou para assistir ao El Clasico mais recente no Camp Nou, o último de Andrés Iniesta, um dos meus grandes ídolos do futebol.
- O Real Madi. - soltou, após pensar por alguns segundos.
- Tá vendo? - olhei para , com um ar de superioridade. - Meu filho nunca se misturará com essa gentalha.
- E se o papai jogar no Real Madrid, Luke? O que você vai fazer? - insistiu , ignorando minha provocação latente.
- Aí não pode - meu filhote balançou a cabeça repetidas vezes, como se estivesse dizendo uma verdade absoluta. E talvez estivesse. - Mamãe chora. É, filhote, mamãe chora.
[...]
Horas depois, já em nossa cama, depois de finalmente conseguirmos fazer com que Luke dormisse, sinto se mexendo inquieto ao meu lado e procuro entender o que se passa em sua cabeça.
- Amor, o que te incomoda? - questionei, preocupada, virando em direção ao homem, que tinha o cenho franzido em preocupação.
- , você acha que esse é o caminho certo? - perguntou, referindo-se à sua transferência para Madrid.
Eu sabia o quanto meu marido amava o blues e entendia o seu receio em trocar o querido Stamford Bridge pelo odioso - palavras minhas - Santiago Bernabéu. Mas, também sabia que ele encarava a experiência que viveu no Chelsea como um ciclo encerrado. Já havíamos falado sobre transferências anteriormente e o Real Madrid sempre foi um dos mais comentados.
- Meu bem, eu sempre te aconselhei a seguir o seu coração. - falei, acariciando sua barba rala e deixando um beijinho ali. - Se você acha que esse é o caminho a ser trilhado, irei te apoiar, incondicionalmente, mesmo que esse caminho seja o Real Madrid. - disse, sorrindo baixo e vendo o homem que eu amava suspirar, de certa forma, aliviado.
- Às vezes eu sinto que esse possa ser o momento de traçar novos objetivos. - suspirou longamente. - Ao mesmo tempo, não me sinto totalmente certo quanto a isso...
- , você está há um tempo considerável no Chelsea e é super normal se sentir receoso em deixar uma equipe e torcida que já são sinônimos de família. - disse, deixando um beijo casto em sua boca. - Só que agora você precisa pesar o que mais importa no momento. Inseguranças sempre irão existir, mas elas devem ser ignoradas para conseguirmos alcançar nossa felicidade.
- É, você tem razão. - falou lentamente, brincando com nossos dedos entrelaçados. - Mas, antes de tomar uma decisão, vou conversar com o Sarri e ver o que ele pretende para essa temporada. - disse, um pouco mais seguro sobre as suas decisões.
- Independente do que você decidir, meu bem, estou aqui sempre. - falei, apertando de leve o seu nariz.
- Eu sei, obrigado por isso. - deu-me um selinho carinhoso. - Eu te amo muito, sabia? - sussurrou, apaixonado, antes de me dar um beijo de verdade.
- Claro que sim, bonitinho. - disse, interrompendo nosso beijo. - Eu sou muito incrível. - completei, de forma exibida, e meu marido rolou os olhos para mim. - Garanto que nós três também te amamos muito. - dei um selinho demorado em seus lábios, sem saber se o meu obtuso marido iria perceber a mensagem que deixei implícita.
- C-como? - gaguejou, confuso. - Nós três?
- Sim, vida. - assenti, olhando em seus olhos que pareciam estar levemente marejados. - O Luke agora vai ser o irmão mais velho. - respondi, sem conseguir conter minha emoção. Meu grande sonho era construir uma família e eu era muito grata a Deus por estar conseguindo realizar isso com o amor da minha vida.
- Quan-quando... Quando você soube? - perguntou, ainda atordoado com a notícia, enquanto acariciava a minha barriga, ainda lisa, descoberta.
- Um pouco antes de viajarmos para a Rússia. Fui ao médico devido a uns enjoos e descobri que estou com cerca de 10 semanas...
- Uou. - disse, finalmente abrindo um sorriso lindo. O meu sorriso. - Então, é oficial? Nossa família vai aumentar? - indagou-me, em um tom trêmulo.
- Sim, agora além de mim e do Luke, teremos mais um ou uma para lamentar ou festejar as escolhas de time do pai.
Lágrimas desciam descontroladas pelo meu rosto, sem que eu ao menos pudesse contê-las.
Com minha visão periférica, consegui perceber a euforia dos belgas ao meu redor e o sentimento de desolação dos brasileiros.
Com o placar de 2x1, a seleção canarinho se despedia do mundial da Rússia, nas quartas de final, situação pouco especulada pela massa de torcedores e pela mídia esportiva do país. A seleção do Tite era tida como uma esperança diante do vexame que havíamos sofrido em 2014.
Todavia, o sonho ficou só no papel.
Durante os meus devaneios, senti mãozinhas tocando o meu rosto e observei o semblante confuso do meu filho. Luca, vestindo o uniforme completo do time belga, com o número e o nome de seu pai estampados em suas costas, parecia não entender o motivo de minhas lágrimas.
- Mama, por que tá tristinha? Papai perdeu? - questionou em um bico, abraçando minha cintura. Talvez eu fosse muito suspeita para falar, mas meu filho era a criança mais fofa do mundo.
- Não, meu amor, seu pai não perdeu. - neguei, depositando um beijo em sua cabeleira castanha.
- Então não chora, mamãe, papai é campeão! - respondeu se afastando, cruzando os braços como se tivesse com toda a razão.
Igualzinho ao pai, foi o que pensei.
Luca era uma criança bastante calma e tranquila. Quando era um bebê, e eu costumávamos dizer que todo o estresse que esperávamos que ele tivesse, havia vindo para nós, pobres pais de primeira viagem.
Várias vezes acordei durante a noite para checar se meu filho estava vivo, uma vez que sua calmaria não era algo comumente relatado pelas mães que conhecia, ou até mesmo em livros de maternidade. Todavia, o que ele tinha de calmo, tinha de determinado. Apesar da pouca idade e do vocabulário meio enrolado, a criança defendia seu ponto de vista do melhor jeito que podia, sempre questionando o que não entendia.
- Filho, hoje, seu pai e eu estávamos torcendo para seleções diferentes vencerem. Mamãe torcendo para a seleção brasileira, do tio Willian, e o seu pai torcendo e jogando pela seleção belga, junto com o seu tio Thorgan, Thibaut... - expliquei do melhor jeito que podia. Ainda era indigesto fazer com que minha criança torcesse para uma seleção que não fosse a brasileira, mas o amor que Luca tinha pelo pai era bem maior que o meu orgulho besta. Ou seja, eu que lute.
- É para eu ficar tristinho também, mama? - tombou a cabeça para o lado, verdadeiramente preocupado. Adorável.
- Não, Luke. - dei uma risada fraca. - Você não tá orgulhoso do seu papai? - ele assentiu inúmeras vezes, balançando a cabeça para cima e para baixo - Então, meu bem, é isso que importa. Vem aqui me dar mais um abraço que a tristeza da mamãe vai embora bem rápido.
Adotando como verdades absolutas o que eu tinha lhe dito, Luca apenas se jogou nos meus braços e me apertou o máximo que sua pequena força permitia.
- ? - enquanto tentava me consolar nos braços do meu bebê, ouvi ao fundo a voz de Carine, minha sogra, chamando-me. A essa altura, o estádio, que antes tinha uma expressiva torcida brasileira, já estava praticamente vazio, restando apenas alguns torcedores belgas ainda comemorando a classificação para as semifinais. Por sua vez, os jogadores, de ambos os times, já se encontravam dentro dos vestiários.
- Oi, Cari, já vamos? - perguntei-a, assim que a vi se aproximar mais de mim e Luca.
- Nós... - apontou para si e para Thierry, meu sogro, que acenou brevemente para mim. - Já sim, mas vocês dois vão esperar um pouquinho mais.
- Ué. - estranhei, preocupada. - Aconteceu alguma coisa?
- Apenas ordens do , querida. - dito isso, ela me abraçou forte e perguntou meu estado após a partida.
- Estou um pouco frustrada, né? Tinha esperanças de que esse ano iria vir o nosso tão sonhado hexa, mas faz parte. Um perde para o outro ter que ganhar. E, nessa história, fico menos chateada por saber que o time do meu marido e cunhado continua lutando pelo título.
Carine sorriu carinhosa para mim e apertou a minha mão, despedindo-se, junto de Thierry, que me deu um abraço rápido, e indo em direção ao estacionamento.
Enquanto observava com desconfiança meus sogros se afastando, Luca se fez presente, puxando levemente o tecido da minha camisa amarela para baixo.
- Mamãe. – começou, manhoso. - Tô com fominha. - para dar mais credibilidade à sua fala, franziu o cenho em expressão de dor. Eu somente gargalhei de sua atuação dramática e, tentando ignorar a imagem mental do meme do Cristiano Ronaldo e do seu filho, apenas disse que já iríamos comer, vendo uma animação crescer dentro do pequeno ser humano. Eu estava criando um monstrinho.
Esperamos por mais dez minutos até que a figura sorridente e cheirosa do meu marido se aproximou do local onde estávamos. Não era comum que nos encontrasse dentro dos estádios, visto que existia o receio de torcedores fanáticos assustarem Luca, mas aquele dia era especial.
- Papa! - nosso filho correu em direção aos seus braços assim que notou a presença do belga. - Ganhou!
agachou-se para pegar um sorridente Luke em seu colo e sorriu, também animado, em sua direção. Nem esperava o resultado, sendo bastante franca, e eu o zoaria bastante por causa disso.
- Ganhamos sim, campeão! Gostou da partida? - questionou, ajeitando o menino em seus braços enquanto olhava para mim de soslaio.
- Sim, pirilim! - falou com um sorriso gigante e esquecendo de sua mãezinha que acabara de perder o sonho da sexta estrela. - Mas mamãe chorou! - disse com uma carinha indignada, que mostrava toda a sua confusão com meu estado de espírito.
- Chorou, foi? - olhou para mim rapidamente e voltou a focar sua atenção na criança de 3 anos em seus braços.
- Uhum. - assentiu com a cabeça. - Mas ela disse para eu dar um abraço bem forte nela e assim iria parar de ficar tristinha! - respondeu em tom convencido.
sorriu de lado para o relato do filho e veio também me acalentar em seus braços, formando um desengonçado abraço triplo.
- Meu amor, como você está? - perguntou, carinhoso, em meu ouvido, apertando-me com mais força em seus braços.
- Tô triste porque vocês acabaram com meu hexa. - disse em tom manhoso enquanto escondia meu rosto na curva de seu pescoço. - Mas superarei. – suspirei, dramaticamente, afastando-me e vendo o olhar convencido do cara que chamava de marido.
Dentro de quatro anos. - completei mentalmente.
- Seu marido pode ser campeão mundial, huh? Isso não te anima? - perguntou, escondendo um sorriso pretensioso, começando a nos guiar para fora do estádio vazio.
- Me animaria mais caso você se naturalizasse brasileiro e não fizesse parte do time do mal que tirou meu hexa. – disse, emburrada, seguindo-o pelo mesmo caminho que havia vindo. - Mas estou muito orgulhosa de você, vida. Eu sei o quanto você lutou para fazer uma boa copa pelo seu país e me sinto muito realizada ao te ver brilhando dentro de campo. Sendo, acima de tudo, uma referência para os seus companheiros. – parabenizei-o, em um tom orgulhoso. Mesmo que não estivesse satisfeita com o resultado, sempre seria minha prioridade. Ele e o fruto do nosso amor.
- Eu te amo, , muito. - disse com a voz abafada por ter o rostinho de Luke apoiado em seu pescoço. - É muito importante para mim, ter vocês dois aqui comigo.
- Eu também o amo, lindo. - dei um selinho em seus lábios. - Você não deveria estar com o resto do time? – indaguei, confusa, percebendo naquele momento que não estávamos em casa e que estava concentrado com os compatriotas em outro espaço.
- Em teoria, sim. Mas como estamos em ritmo de comemoração, o Martínez nos deu algum tempo livre com as nossas famílias antes de voltarmos para a concentração. - respondeu meu questionamento, parando em frente a uma grande porta de vidro que dava em direção ao estacionamento.
- E o que você tem em mente? - perguntei, encarando seus lindos olhos. Não havia coisa mais bonita do que aqueles olhos. Agradecia a Deus diariamente por nosso filho ter herdado aquela característica do pai.
- Primeiro, vamos alimentar esse rapazinho aqui. - direcionou o olhar para o Luke, que colocava as mãos na barriguinha com cara de sofrido. Dramático. - Depois o deixamos com meus pais e podemos comemorar a classificação do nosso jeito. - deu um sorriso ladino, puxando minha mão para um carro sedan prata, que eu nunca tinha visto antes.
- Você tem noção de que acabou de eliminar a MINHA seleção, não é? - perguntei, estranhando o seu comentário sobre comemoração, enquanto me encostava no veículo.
- Sei, , mas podemos fazer um acordo, hum? - disse com seu típico sorriso de lado, abrindo a porta traseira e arrumando Luca em uma cadeirinha que tinha ali. - Você comemora o fato do amor da sua vida estar na semifinal da copa do mundo, e eu te consolo pela sua seleção ter sido eliminada. - piscou para mim, safado. - O que acha? Sei um jeito que vai deixar nós dois bem satisfeitos.
- Acho que você fala demais. - empurrei seu ombro de leve, para poder me acomodar no banco do passageiro. - Vamos logo, camisa 10. Quero ver o que você é capaz de fazer.
- Ah, meu amor, você já deveria saber que posso ter as melhores atuações dentro e fora de campo.
Alguns dias tinham se passado desde a fatídica derrota da seleção brasileira para os belgas. Nesse tempo, havíamos sofrido outro baque: a eliminação dos belgas para os franceses. tinha ficado realmente chateado com toda a situação. Eliminar os brasileiros tinha dado bastante confiança para a Bélgica e o inédito título de campeões do mundo não parecia mais tão distante. Infelizmente, com um gol do Umtiti, zagueiro do Barcelona, as chances foram destruídas. Assim, tentando se animar e aproveitar o período de férias antes de regressar para o início da temporada, , de surpresa, alugou para nós um chalé na praia de Pipa, considerada um dos paraísos brasileiros. Eu já tinha visitado o local com meus pais, anos antes, mas voltar lá com a minha família era algo indescritível. Conhecer mais a fundo as falésias alaranjadas, as praias de água cristalina, além das piscinas naturais e dos passeios nas dunas, estava sendo uma experiência incrível. Contudo, a experiência da viagem, com certeza, não combinava com a conversa que estávamos tendo agora.
- Real Madrid? - indaguei com uma cara de desgosto, enquanto me sentava em uma das cadeiras dispostas na varanda do nosso bangalô alugado. - É isso o que você quer? - conclui em uma careta, desgostosa.
- É, acho que sim. - disse, encarando meus olhos, em um misto de incerteza e de empolgação. - Acredito que possa ter chegado a hora de encerrar a minha história no Chelsea. - finalizou, com certo pesar, apoiando seu corpo no braço da cadeira em que eu estava sentada. Sinceramente, não era fácil para admitir isso, visto que o carinho que tinha pelo Blues era gigantesco. Além disso, sair de Londres significava muito mais do que, simplesmente, trocar de clube. Nosso filho tinha nascido lá, além de nossos melhores amigos, uma segunda família, também estarem alocados na cidade. O peso sentimental era gigantesco.
- Mas logo o Real Madrid? - perguntei, ainda contrariada. Sabia que o meu marido havia recebido propostas de outros clubes, a maioria sendo menos detestável do que o citado em questão e não tão longes da Inglaterra. Mas, também tinha noção de que jogar em Madrid era um dos maiores sonhos do belga, mesmo que isso não fizesse muito sentido para minha mente anti-madridista.
- , você sabe que ir para o maior da Europa... - rolei meus olhos com o termo utilizado. - Seria crucial para a minha carreira. - declarou, com tom de voz sereno, levantando de onde estava apoiado para sentar no chão, na minha frente. - Eu sei que você tem uma birrinha com o Real... - tentou falar, sendo interrompido por um berro indignado meu.
- BIRRINHA? - exasperei, com toda a indignação que sentia no momento. - Você acha que o que eu sinto pelo Real Madrid é uma "birrinha"? - inquiri, realmente ofendida. Birrinha era o que eu sentia pelo Arsenal, um dos principais rivais do Chelsea, mas pelo Real Madrid?! Eu tinha era desgosto mesmo.
- Eu respeito o fato de você ser uma culé e de amar incondicionalmente o Barcelona. - rolou os olhos para a última fala, fazendo-me criar um bico involuntário. Poxa, time não se escolhe. Se pudéssemos escolher, com certeza, eu iria atrás de um que não me causasse tanto estresse. - Mas acredito que isso não será um obstáculo para nós, amor. - finalizou, carinhoso, colocando a mão em meu joelho e fazendo um afago leve ali.
Mesmo sendo brasileira e tendo um amor gigantesco pelo meu país de origem, eu vivi, de fato, poucos anos em terras tupiniquins.
Ao recém completar dez anos, devido ao trabalho do meu pai, minha família e eu deixamos para trás São Paulo e embarcamos em direção à região da Catalunha, mais precisamente para Barcelona.
Vivi em território catalão até conseguir minha sonhada vaga na Imperial College London, na Inglaterra, para cursar fotografia.
Fato este que me fez conhecer , pouco tempo depois, em uma casa de festas.
Assim, inserida naquele ambiente, foi natural apaixonar-me pelo time blaugrana, colocando-o quase como uma religião em minha vida. Minha tentativa frustrada de colocar o nome de Luca de Lionel ilustrava bem essa questão. Infelizmente, meu marido não sabia apreciar esse meu excelente gosto e disse que não teria um filho com o nome do argentino. Talvez no próximo.
- Primeiro elimina a minha seleção da Copa do Mundo; depois escolhe jogar pela equipe do mal... - enumerei, elencando os fatos em meus dedos de forma dramática. - Agora entendo o porquê do teste do BuzzFeed ter colocado Me apaixonei pela pessoa errada como a música da minha vida. - suspirei, lembrando que o hino do Periclés estava, em partes, fazendo sentido para mim.
- Mamãe? - fui interrompida de meus devaneios dramáticos por um Luca sonolento, que vinha coçando os olhos de dentro do bangalô. - Tô com fominha. - disse, em um tom manhoso. Às vezes eu me perguntava se eu alimentava essa criança corretamente. Luke parecia um saquinho sem fundo. Não sendo surpresa nenhuma que sua primeira palavra tenha sido "bolo".
- Vem cá, filho. - chamou , levantando-se para arrumar um lugar para o filho sentar. - Tem café na mesa. - apontou, finalmente chamando a atenção do menino.
Luca, ao enxergar a comida a que o pai se referia, andou o mais rápido que suas perninhas o permitiam para o local apontado, sentando-se prontamente ao meu lado.
- Então, amor, o que você realmente acha? - me questionou, ansioso, enquanto eu preparava um sanduíche para um inquieto Luke.
- Bem... - suspirei profundamente, passando o alimento para meu bebê. - Se é o que você quer, irei te apoiar. Mas não espere que eu vá usar aquela camisa horrorosa ou utilizar o Hala Madrid em algum momento da minha vida. - completei, rapidamente. Torcer pelo meu marido e pai do meu filho, ok, eu aceito. Mas torcer pelo Real Madrid?! Nem que me pagassem muito bem. Até porque, se eu fizesse isso, capaz de ser deserdada da minha família. Eu não era a única que detestava os merengues.
- Eu não espero. – disse, risonho, encarando Luca lambuzando-se de geleia de amora do lanche que eu havia entregado a ele. Teoricamente, o café da manhã era em um dos salões de hotel, mas, aparentemente, ser um jogador famoso traz algumas vantagens, como comer no próprio quarto e provar de alimentos não costumeiros no Brasil. Fala sério, quem come geléia de amora nesse país?
- E nem ache que meu filho vai virar um torcedor merengue. - completei rapidamente, como se não estivesse claro, cuspindo a última palavra com certa repugnância. Não conseguia nem sequer imaginar a decepção de ver meu garotinho, que guardei carinhosamente por nove meses dentro do meu ventre, com uma camisa do Real Madrid. Meu coração não aguentaria aquele duro golpe. Já bastava o fato da criança ser a cópia escarrada do pai.
- Ele vai torcer pelo pai dele sempre, não é, campeão? - indagou a Luke, que parecia totalmente alheio ao que nós estávamos conversando. Aquele menino era realmente uma draga.
- Uhum, papai. - respondeu, percebendo que falava com ele, logo após tomar um gole do suco de laranja em seu copo do Homem de Ferro.
Vendo que poderia estar ganhando aquela batalha, resolvi apelar:
- Filho, qual o time feio que você não gosta? - perguntei, antes que começasse a se vangloriar.
- O corintas, mamãe. - falou referindo-se ao Corinthians, grande rival do meu time do coração do Brasil.
- Esse não, Luke. Qual é aquele que o vovô disse que é o time seboso no estádio? - indaguei, fazendo referência ao dia que meu pai nos levou para assistir ao El Clasico mais recente no Camp Nou, o último de Andrés Iniesta, um dos meus grandes ídolos do futebol.
- O Real Madi. - soltou, após pensar por alguns segundos.
- Tá vendo? - olhei para , com um ar de superioridade. - Meu filho nunca se misturará com essa gentalha.
- E se o papai jogar no Real Madrid, Luke? O que você vai fazer? - insistiu , ignorando minha provocação latente.
- Aí não pode - meu filhote balançou a cabeça repetidas vezes, como se estivesse dizendo uma verdade absoluta. E talvez estivesse. - Mamãe chora. É, filhote, mamãe chora.
Horas depois, já em nossa cama, depois de finalmente conseguirmos fazer com que Luke dormisse, sinto se mexendo inquieto ao meu lado e procuro entender o que se passa em sua cabeça.
- Amor, o que te incomoda? - questionei, preocupada, virando em direção ao homem, que tinha o cenho franzido em preocupação.
- , você acha que esse é o caminho certo? - perguntou, referindo-se à sua transferência para Madrid.
Eu sabia o quanto meu marido amava o blues e entendia o seu receio em trocar o querido Stamford Bridge pelo odioso - palavras minhas - Santiago Bernabéu. Mas, também sabia que ele encarava a experiência que viveu no Chelsea como um ciclo encerrado. Já havíamos falado sobre transferências anteriormente e o Real Madrid sempre foi um dos mais comentados.
- Meu bem, eu sempre te aconselhei a seguir o seu coração. - falei, acariciando sua barba rala e deixando um beijinho ali. - Se você acha que esse é o caminho a ser trilhado, irei te apoiar, incondicionalmente, mesmo que esse caminho seja o Real Madrid. - disse, sorrindo baixo e vendo o homem que eu amava suspirar, de certa forma, aliviado.
- Às vezes eu sinto que esse possa ser o momento de traçar novos objetivos. - suspirou longamente. - Ao mesmo tempo, não me sinto totalmente certo quanto a isso...
- , você está há um tempo considerável no Chelsea e é super normal se sentir receoso em deixar uma equipe e torcida que já são sinônimos de família. - disse, deixando um beijo casto em sua boca. - Só que agora você precisa pesar o que mais importa no momento. Inseguranças sempre irão existir, mas elas devem ser ignoradas para conseguirmos alcançar nossa felicidade.
- É, você tem razão. - falou lentamente, brincando com nossos dedos entrelaçados. - Mas, antes de tomar uma decisão, vou conversar com o Sarri e ver o que ele pretende para essa temporada. - disse, um pouco mais seguro sobre as suas decisões.
- Independente do que você decidir, meu bem, estou aqui sempre. - falei, apertando de leve o seu nariz.
- Eu sei, obrigado por isso. - deu-me um selinho carinhoso. - Eu te amo muito, sabia? - sussurrou, apaixonado, antes de me dar um beijo de verdade.
- Claro que sim, bonitinho. - disse, interrompendo nosso beijo. - Eu sou muito incrível. - completei, de forma exibida, e meu marido rolou os olhos para mim. - Garanto que nós três também te amamos muito. - dei um selinho demorado em seus lábios, sem saber se o meu obtuso marido iria perceber a mensagem que deixei implícita.
- C-como? - gaguejou, confuso. - Nós três?
- Sim, vida. - assenti, olhando em seus olhos que pareciam estar levemente marejados. - O Luke agora vai ser o irmão mais velho. - respondi, sem conseguir conter minha emoção. Meu grande sonho era construir uma família e eu era muito grata a Deus por estar conseguindo realizar isso com o amor da minha vida.
- Quan-quando... Quando você soube? - perguntou, ainda atordoado com a notícia, enquanto acariciava a minha barriga, ainda lisa, descoberta.
- Um pouco antes de viajarmos para a Rússia. Fui ao médico devido a uns enjoos e descobri que estou com cerca de 10 semanas...
- Uou. - disse, finalmente abrindo um sorriso lindo. O meu sorriso. - Então, é oficial? Nossa família vai aumentar? - indagou-me, em um tom trêmulo.
- Sim, agora além de mim e do Luke, teremos mais um ou uma para lamentar ou festejar as escolhas de time do pai.
Fim!
Nota da autora: Essa foi a primeira fic que eu escrevi na vida, arrasada logo depois da derrota do Brasil para a eterna promessa belga. Decidi reescrever porque, mesmo não sendo a melhor coisa do mundo, é bem importante para mim hahaha. Então comentem o que acharam, por favor.
Beijo e até a próxima!
Nota da beta: Me mandar fic com o Hazard é uma puta sacanagemmmmmm! Como eu amo esse homem, e ver ele assim todo fofo com a família é incrível, aaaaaaaa! Só doeu ver esse ódio pelo Madrid, porque meu ódio só foi ele sair do meu time mesmo hahahah amei demaisss, você é incrível, amo suas fics <3
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Beijo e até a próxima!
Nota da beta: Me mandar fic com o Hazard é uma puta sacanagemmmmmm! Como eu amo esse homem, e ver ele assim todo fofo com a família é incrível, aaaaaaaa! Só doeu ver esse ódio pelo Madrid, porque meu ódio só foi ele sair do meu time mesmo hahahah amei demaisss, você é incrível, amo suas fics <3