Última atualização: 30/03/2021

Capítulo Único

POV

— Tchau, ! — uma das minhas colegas de trabalho me desejou antes que eu saísse pela porta do café onde trabalhava.
— Até amanhã, Haru! — me despedi.

Já era tarde na noite, por volta das dez, então apertei minha bolsa sobre o ombro e comecei a caminhar de cabeça baixa até o lugar onde eu morava, a exatas cinco quadras dali. Evitava olhar para os lados e encarar as poucas pessoas que passavam por mim na rua. Não é fácil ser uma mulher estrangeira na Coreia, posso afirmar isso com tranquilidade. Mas todo o esforço valeria a pena quando eu finalmente terminasse minha faculdade.
Depois de caminhar duas quadras, comecei a sentir uma sensação esquisita na nuca, como se alguém estivesse perto demais, me seguindo. Respirei fundo e comecei a andar mais rápido, ouvindo os passos se apressarem atrás de mim. Eu era corajosa, mas não tive coragem de olhar para trás, com medo de cair e piorar minha situação. Só queria chegar em um lugar mais claro e movimentado o mais rápido possível e procurar ajuda.
Meu coração falhou duas batidas quando olhei para frente e percebi que teria que passar pela rua escura, como eu chamava, uma ruela estranha demais que me dava arrepios sempre que eu a cruzava.
Desacelerei e olhei para trás, vendo a figura de preto que me seguia alguns passos atrás. Respirei fundo para finalmente cruzar a ruela voltei a caminhar rápido, ouvindo os passos cada vez mais próximos de mim. Eu estava sozinha na rua. Não tinha ninguém para me socorrer. Era eu por mim. Quase finalizando a travessia da rua escura, os passos chegaram perto demais e eu já estava pronta para lutar, quando um gato grande, maior que o normal para gatos, pulou na minha frente, assustando a mim e ao homem que me seguia, o fazendo cair no chão pela aparição repentina. Ele tentou se levantar, mas o gato o atacou, tentando mordê-lo mais de uma vez. O homem se arrastou no chão para um pouco mais longe e eu encarei o gato cinza que me encarou de volta. Trocamos um olhar por breves segundos e, em um ímpeto de coragem, tomei o gato nos braços e corri como se minha vida dependesse daquilo. E talvez dependesse.
Corri o máximo que pude com o gato no colo, que ora olhava para mim, ora olhava para trás, como que para checar se ainda estávamos sendo seguidos. E eu esperava que não. Antes de entrar em casa, esbarrei com , meu amigo e vizinho, na porta.

— Hey! Que pressa é essa? — ele me segurou pelos braços e encarou o gato. — , você sabe que é alérgica. Solta esse gato. — ele tomou o felino das minhas mãos e o colocou no chão. Encarei e depois o gato e me lancei nos braços do meu amigo, chorando como uma criança. — Ei, o que foi? — ele apertou o abraço.
— Eu... — funguei. — Eu estava sendo seguida por um homem, . — funguei outra vez. — Ele salvou... — funguei novamente e apontei para o gato aos meus pés. — Ele salvou a minha vida. — e desatei a chorar de novo.
— Ei, fica calma, . Vem, vamos entrar. — ele me pediu a chave e delicadamente me puxou para dentro de casa. — Você fica aí. — ele disse para o gato.
— Não, . Ele vem comigo. — insisti.
, sua alergia... — ele começou a reclamar.
— Eu vou ficar bem. — insisti. — Não posso deixá-lo sozinho no frio, .

suspirou cansado e moveu o pé que bloqueava a passagem, liberando a entrada do gato cinza de olhos azuis acinzentados, agora eu reparava.

, esse gato é de raça. Acho que é um azul russo. — ele tomou o celular nas mãos e começou a digitar, virando a tela para mim em seguida, para me confirmar o que dizia. — Onde o encontrou?
— Eu não o encontrei. Ele que me encontrou, . — sorri e passei as pontas dos dedos na cabeça do gatinho, que miou satisfeito. — Temos que te dar um nome. Que tal Draco? — perguntei com uma voz fofa e ele miou novamente. — Então será Draco.
— Quer me explicar o que aconteceu? — perguntou baixinho.
— Eu saí do café e comecei a andar de volta para casa. Depois de duas quadras, tive uma sensação esquisita de estar sendo observada e comecei a andar mais rápido. Olhei para trás perto da rua escura e confirmei minha teoria. Estava quase sendo atacada por um estranho maluco quando o Draco apareceu. — concluí e Draco miou, como se confirmasse minha explicação.
— Então você colocou o gato no colo e chegou em casa correndo. — concluiu por mim. Confirmei com a cabeça. — Você tá cheia de pelo, . — suspirou. Dispensei seu comentário com a mão e peguei Draco no colo.
— Nossa, Draco. Você precisa de um banho. — fiz uma careta para ele e ele lambeu a pata, como que para confirmar que estava limpo. — Não, não. Amanhã vou te levar ao pet. Comprar ração e coisinhas. Mas hoje você dorme na sala. — o coloquei de volta no chão.
— O que vai fazer a respeito do cara que te seguiu? — perguntou.
— O que eu posso fazer? Não posso sequer fazer um retrato falado do cara para a polícia. Eu nem vi seu rosto direito. — suspirei cansada.
— Vou passar a te esperar na saída do café. Ou vou pedir a um dos meninos quando eu não puder. — ele suspirou.
— Não precisa se preocupar, . — sorri para ele.
— Claro que precisa. Se alguma coisa acontece com você, a me mata. — ele riu.
— Você só está interessado em agradar a sua namorada, . Que coisa feia, sequer está preocupado comigo. — briguei com ele.
— Ei! Isso não é verdade. — ele protestou. — Estou tão preocupado com você que nem queria deixar o gato entrar para não te ver espirrando que nem uma louca.
— Eu estou incrivelmente bem. — parei para pensar que estava coberta de pelo e não tinha espirrado ainda. — Você é mágico, Draco? — perguntei ao gato que lambeu meu dedo.
— Pare de falar besteiras. Talvez os pelos só não tenham entrado no seu nariz ainda. — riu. — Bom, eu vou embora. Estava indo encontrar . — ele se levantou.
— A essa hora? — perguntei e cruzei os braços na frente do corpo. corou violentamente. — Vão errar, não é? Safados.
— Eu deveria ter seguido meu caminho sem parar para te ajudar. — ele bufou e foi saindo.
— Você me ama que eu sei! — gritei para ele. — Diga a que mandei um beijo.

apenas acenou com a mão e saiu porta afora. Olhei para Draco sentado ao meu lado e ele ainda mirava o lugar por onde tinha saído.

— Vamos arrumar uma caixa para você. Amanhã você ganha sua caminha. — disse para o felino e levantei para procurar uma caixa vazia para que ele pudesse dormir.

POV off

POV

Graças a eu estava seguro e quentinho em uma caixa com uma blusa que tinha o cheiro dela.
Tudo o que eu mais queria era poder transmutar e esticar as pernas. Já não fazia isso há muito tempo, mas estava fraco demais para tal. Precisava me alimentar e ganhar forças para poder voltar à forma humana.
O que eu sou? Bom, uma lenda viva.
Minha família foi amaldiçoada há muito tempo e os primeiros filhos homens sempre nasciam destinados a serem o que os japoneses chamam de obake, basicamente um transmorfo. O espírito de um antigo bakeneko, um gato maligno de uma lenda japonesa, é passado do pai para o filho mais velho desde a dinastia Joseon, e, bem, dessa geração sou eu. Como nós nascemos e morremos assim, não nos mantemos juntos para não levantar suspeitas e vivemos a maior parte do tempo como gatos. Não, não somos mais malignos. Aprendemos a controlar nossos extintos e vivemos normalmente.
Claro que uma parte de mim ficou extremamente irritada e atacou o cara que seguia a . Mas essa culpa eu jogo na minha parte humana. A vontade de protegê-la foi mais forte que tudo e, se eu estivesse em condições, teria pulado dali na minha forma humana. Teria sido mais assustadora.

— Está quentinho, garotão? — perguntou de forma fofa e eu me limitei a miar baixinho. Era estranho entender tudo e pensar com clareza quando eu estava na forma felina.

tinha sido bem corajosa mais cedo. Ela tinha me visto “atacar” uma pessoa, certamente era alérgica a pelos, mas não hesitou ao me colocar no colo e me trazer para casa correndo e fugindo de quem ainda poderia estar seguindo ela. Esse ato de compaixão com o pobre gato que aparentemente salvou sua vida me fez ficar. Eu sabia que seria bem tratado aqui.

— Vou ligar para a amanhã e perguntar o que ela indica para você comer e brincar. — ela refletiu sozinha. — Você vai ao pet amanhã e nós vamos passar o dia juntos porque eu estou de folga e não tem aula. — entortou a boca em um bico adorável. — Mas na maior parte do tempo, você vai ficar sozinho. Gatos são inteligentes e independentes, não é? Você vai se sair bem.

Ela acabou seu monólogo, acariciou minha cabeça e saiu para o que eu acho ser o quarto. Arrumei o corpo e as patas em uma posição confortável e me preparei para dormir. O dia seguinte seria cheio.
POV Off

POV

Acordei animada e saí do quarto para encontrar Draco sentado no meio sala, olhando para mim.

— Acordou cedo. Está com fome? — perguntei e segui para a cozinha. Draco foi atrás de mim e subiu no balcão. Novamente pude notar que ele era grande. Tinha patas enormes e uma estrutura que me parecia maior que a dos gatos comuns. Mas ele estava magrinho, como se tivesse sido abandonado à própria sorte há muito tempo. — Será que você pode comer frango? — perguntei para ninguém e tirei as sobras da geladeira. — Deve poder. Vou esquentar porque comida gelada faz mal para qualquer um.

Me pus a esquentar o frango para ele enquanto fazia um café para mim. Novamente a sensação de estar sendo observada me atingiu. Mas não fazia sentido. Estávamos apenas Draco e eu ali, não é? Espantei os pensamentos e segui fazendo nosso café.

— Aqui, príncipe. — coloquei o frango em um pratinho na frente de Draco, que cheirou e começou a comer devagar. — Por que você não me faz espirrar? — perguntei enquanto acariciava sua cabeça. Draco parou de olhar para o pratinho e me olhou com os olhos brilhantes, então ronronou baixinho e tornou a comer.

Tratei de tomar meu café e trocar de roupa para levar Draco ao pet. Tinha ligado para antes de sair do quarto e combinado de encontrá-la para irmos juntas. Enrolei o gato em um cobertor velho e andei até o pet próximo do café. me esperava na porta com um emburrado.

— Era só o que faltava eu ter que dividir vocês com esse gato. — reclamou.
— Vocês não que eu não sou nada sua. Me poupe, . — rebati de imediato.
só fala nesse gato desde ontem. — ele bufou e riu ao seu lado.
— Eu amo gatos e você sabe disso. — ela apontou. — Oi, amiga. — ela me abraçou como pôde devido a Draco em meus braços.
— Achei que me amasse. — suspirou.
, por favor. — eu ri. O ciúme dele era fofo.

e eu estudávamos no mesmo campus, ela na Filosofia, eu nas Letras, ambas de Humanas. Ela trabalhava no mesmo café que eu, mas pela manhã, e nós sempre combinávamos nossas folgas para passar o dia jogando conversa fora. Ela conheceu em uma das tantas visitas dele ao café e eles estão juntos há cerca de um ano. Eu, bom, sigo esperando meu príncipe aparecer no café assim como apareceu para .

, eu te amo. Mas me diz, tem como resistir a essa coisa linda? — ela perguntou acariciando a cabeça de Draco, que fechou os olhinhos para receber o carinho.

torceu a boca para Draco e entrou no pet shop sem dizer mais nada.

— Não implique com ele. Ele te ama. — sorri para .
— Eu adoro ver a cara emburrada dele. É fofo. — ela riu.

Soltei Draco no pet para um check-up geral e saí para passear (e gastar) com meu casal favorito. Combinei de voltar para buscar Draco no final do dia e assim o fiz, me despedindo de e antes.

— Como ele está? — perguntei ao veterinário. Draco estava lindo, de gravatinha colorida e cheiroso.
— Está tudo normal, apesar de ele estar um pouco abaixo do peso. — o rapaz me sorriu. — Tem sorte de tê-lo encontrado. Eles são caros.
— Realmente tenho muita sorte. — olhei para Draco e ele retribuiu o olhar, os olhos brilhantes me passando uma sensação boa. — Já que o encontrei na rua, posso simplesmente adotá-lo, não é?
— Sim. Inclusive, passe na recepção para concluir seu cadastro de mãe de pet. — ele riu. — Boa sorte, . — me reverenciou e se afastou.

Tomei Draco no colo e o levei comigo até a recepção, para concluir o tal cadastro. Preenchi tudo o que era necessário e, quase indo embora, notei as plaquinhas onde se escreviam nomes e números de telefone para caso os bichinhos se perdessem. Tomei uma nas mãos e voltei ao balcão, pedindo à moça que gravasse Draco na frente e meu nome e número atrás.

— Agora você é oficialmente meu, Draco. — coloquei a plaquinha em sua corrente e beijei sua testa cheirosinha.

***


Quatro meses tinham se passado desde que Draco apareceu na minha vida. continuava brigando por atenção e me visitava sempre que podia apenas ver a evolução de Draco, que ganhou peso e estava com o pelo mais brilhante que nunca.
Ele tinha a própria cama, mas sempre dormia comigo, confirmando minha teoria de que ele era mágico, porque minha alergia nunca atacou, mesmo acordando diversas vezes com a ponta de seu rabo bem debaixo do meu nariz.
Ele não era um gato que mexia nas coisas, mas nos últimos dias tinha notado algumas coisas fora do lugar, como se Draco tivesse esbarrado nelas e, obviamente, não tivesse colocado de volta. Sempre me preocupava em ver se ele não estava machucado ou algo do tipo, mas ele parecia sempre bem.

— Draco, mamãe chegou. — gritei tarde da noite, depois de chegar de mais um turno no café.

Estranhei porque ele não veio me receber como sempre fazia todas as noites. Caminhei devagar pela casa e fui acendendo as luzes aos poucos, já pronta para não encontrá-lo e ter que fazer um cartaz de desaparecido. Acendi a luz do quarto e tive que sufocar o grito. Tinha um homem de mais ou menos um metro e noventa, pele branca, coxas fartas e bunda redonda, de bruços, nu, deitado na minha cama. Ele parecia forte e tinha os cabelos escuros como a noite sem estrelas. Estava com a cabeça apoiada no meu travesseiro e esfregava a bochecha ali como Draco fazia.
Tentei caminhar silenciosamente pelo quarto, em busca de algo que pudesse usar para me defender, mas falhei quando pisei em um brinquedo do meu gato e soltei um palavrão. O homem acordou assustado, se levantou de repente, e eu não consegui segurar o grito.

, não grita. Não grita. — ele pedia, as mãos balançando no ar. Meus olhos estavam divididos entre olhar para o seu rosto e admirar seu corpo nu. , você não devia estar olhando. — Sou eu, Draco.
— Sem chance. Draco é um gato. — rebati. — Quem é você e por que está nu na minha cama? — peguei a primeira coisa que vi, uma caneta largada na mesa, e apontei para ele.
, sou eu. Olha. — ele segurou a plaquinha na fina corrente em seu pescoço e me mostrou. — Draco. Sou eu. Me deixa explicar.

Me aproximei mais dele, mas não conseguia focar em seu rosto. Ele tinha um corpo lindo e, bem, estava exposto e quase pronto, se é que me entendem.

— Cara, sem chance. Se cobre, por favor. — estendi o lençol para ele. Draco, não, o homem estranho olhou para baixo, só então se dando conta de que estava completamente nu. Imediatamente levou as mãos para baixo em uma tentativa mais do que falha de cobrir o membro. Voltei a sacudir o lençol e ele soltou o membro apenas para pegar o tecido e se enrolar nele.
, se você me deixar falar, eu juro que vou conseguir explicar. — ele pediu já desesperado. Me aproximei, finalmente vendo a placa em seu pescoço (e o quanto a corrente ficava bem nele).
— Tente. — ordenei e cruzei os braços sobre o peito.
— Minha família é amaldiçoada desde a dinastia Joseon. — ele soltou de repente enquanto eu caminhava pelo quarto. — O primeiro homem foi amaldiçoado por uma feiticeira a ser um obake, um transmorfo, que ora era homem, ora era um bakeneko, um gato maligno de uma lenda japonesa. Desde então, todos os primeiros filhos homens recebem a maldição. E, bom, eu sou o primeiro filho. — ele suspirou.
— Sem chance. Essas coisas não existem. — decretei. Eu sabia que existiam sim. Ouvia inúmeras lendas sobre goblins e gumihos aqui na Coreia. Só me restava acreditar.

Como que para provar seu ponto, o tal “homem ” simplesmente virou Draco novamente, bem ali na minha frente, em um passe de mágica. Me aproximei do lençol caído no chão e vi Draco em lambendo a patinha. Um segundo depois, era o , em pé e nu na minha frente.

— Draco, você tem que parar de fazer isso! — briguei tentando olhar em seus olhos.
. Meu nome é . — ele sorriu pequeno e baixou o corpo para juntar o tecido do chão e se cobrir novamente.
— Por quê? — perguntei aleatoriamente. Draco, digo, me olhou com uma interrogação no rosto. — Por que me ajudou naquele dia e por que continuou aqui comigo?
, eu te ajudei porque minha parte humana praticamente implorou para que eu fizesse aquilo. Você era a donzela em perigo e eu tinha de salvá-la. — ele se aproximou mais e tirou uma mecha do meu cabelo da frente do meu rosto. Então sua voz adotou um tom grave e baixo. — E eu fiquei aqui porque sabia que seria bem cuidado, sabia que você me amaria. E eu sinto falta disso. Desse cuidado e desse amor.
— Wow. Devagar. — apoiei a mão em seu peito e o afastei delicadamente. — Por que não se transformou antes?
— Eu estava fraco demais. Estava abandonado há muito tempo e meu corpo não tinha forças o suficiente para se transmutar. — ele fez um biquinho.
— Droga, . Você tá nu. Não tem nenhuma roupa que sirva em você aqui. — passei a mão sobre o rosto, cansada por antecipação.
— Ah, eu não tenho problema em ficar assim. — ele riu. Riu. Riu do meu desespero, certamente.
— Mas eu tenho. Não tem a menor condição de eu ficar com um cara de um metro e noventa...
— Quase. — ele me corrigiu.
— Um cara de quase um metro e noventa nu em casa. — encarei seu corpo coberto apenas pelo lençol. — Tem alguma chance de você dormir como um gato hoje?
— Espera, isso significa que vai me deixar ficar aqui? — ele sorriu largo. Eu iria, não é? Não podia simplesmente jogá-lo para fora de casa, podia?
— Eu não posso simplesmente te jogar para fora no meio da noite. — confessei com um suspiro. soltou o lençol no chão e venceu toda a distância entre nós, me abraçando e quase me escondendo em seu corpo grande. — , você tá nu! Sai! — o empurrei para longe. Ele riu uma risada gostosa e se afastou, tentando se cobrir novamente.
— Eu posso até dormir como um gato, mas nada me garante que eu acorde como um. — ele riu. — Às vezes, a transformação é involuntária. — deu de ombros.
— Não saia daqui. Eu volto em um minuto. — saí do quarto, peguei a carteira e as chaves e fui até a loja mais próxima. Eu precisava comprar ao menos umas cuecas. Sem chance dormir com ele nu.

Espera, por que eu estava considerando a possibilidade de dormir com ele? Ah, sim. Eu estava acostumada com a presença de Draco na cama. Era por isso.
Comprei o que precisava e voltei para casa. Encontrei sentado na cama, o lençol ao redor da cintura e um bico nos lábios. Revirei o guarda-roupa atrás de uma camisa grande demais para mim antes de me virar para ele.

— Veste isso. — joguei as peças em sua direção. largou o lençol e simplesmente se vestiu ali, como se eu não estivesse observando. — Você não pode ficar sem roupa na frente das pessoas, OK? Só para que você saiba mesmo.
— Você já me viu nos meus piores dias, . — ele se aproximou novamente e me abraçou, dessa vez parcialmente vestido. — Obrigado. Por cuidar de mim e me deixar ficar. — ele abaixou o rosto e passou a bochecha na minha, como Draco tantas vezes tinha feito.
, pare de me confundir ou vou continuar te chamando de Draco. — briguei para afastar os pensamentos da minha cabeça. — Aliás, até que eu consiga pensar em como explicar isso para a e o , você vai ter que aparecer como Draco para eles, OK?

Ele apenas concordou com um aceno de cabeça, um sorriso que mostrava todos os dentes estampado no rosto.
Céus, o que eu estou fazendo da minha vida?

... — chamou baixinho. — Eu estou com um pouco de fome.
— Suponho que não tenha comido a ração que deixei para você, não é? — perguntei e ele negou sorrindo. — Ok, vem. Vou cozinhar alguma coisa.

Fui até a cozinha com em meu encalço, as coxas fartas moldadas pela boxer e totalmente expostas pela blusa curta.
Isso não vai funcionar. Preciso providenciar roupas para ele urgentemente.

— Onde está sua família? — perguntei para romper o silêncio.
— Espalhados por aí. — ele respondeu como se não fosse importante.
— Vocês mantém contato? — perguntei interessada.
— Nem sequer lembro a última vez que os vi. Por que está tão interessada, ? Quer adotar outro gato? — ele riu.
— Não, você já é suficiente. Chega de gatos que se transformam em gente por aqui. — respondi rápido. Decidi mudar de assunto. — Sabia que o veterinário me recomendou castrar você? — ele arregalou os olhos e eu ri. — Eu disse que ia esperar você ganhar peso. A cirurgia tem uma recuperação difícil.
— Ainda bem que você foi sensata. — ele apertou as coxas e se cobriu com as mãos. Continuei a preparar o lámen enquanto fazia uma série de perguntas aleatórias. — , não podemos dizer para e que eu sou seu namorado? — ele perguntou inocente e eu quase cuspi o macarrão que comia.
, você ao menos sabe o que é um namorado? — respirei fundo.
, eu vivi muito tempo como um humano antes de virar um gato e não conseguir voltar. Eu sei o que é um namorado e eu posso muito bem ser o seu. Se você aceitar, claro. — ele sorriu de lado.
não acreditaria em mim. — confessei. — Nunca tive um namorado aqui. Ela nunca acreditaria que um cara como você simplesmente apareceu para mim.
— Mas você é linda. — ele passou os dedos gélidos na minha bochecha e sorriu.
— Termine de comer e venha deitar. Eu estou exausta. — quebrei o contato e levantei, indo para o quarto.

Manter aqui ia ser mais difícil do que eu pensei.

***


Tinha se tornado um hábito acordar com a cabeça no peito quente de ou com ele agarrado a mim, as pernas enroscadas às minhas. e ainda o viam como Draco às vezes, quando me visitavam de surpresa, mas já o tinham visto como , quando finalmente lhe comprei roupas e ele foi me buscar no café.

! — entrou na minha casa gritando, sem ao menos bater na porta. Eu estava lavando a louça depois do jantar e estava na sala, vestindo apenas uma blusa e a boxer, como sempre ficava quando estávamos sozinhos, e sequer teve tempo de virar Draco. — Ah, . Não sabia que estava aqui. — ela demorou o olhar nas pernas dele.
, pare olhar para as pernas do meu namorado! — ralhei. — , vá se vestir. — ordenei. Ele se levantou sorrindo, caminhou até mim e me roubou um selar antes de entrar no quarto. Fiquei encarando a porta fechada, surpresa demais com a atitude dele. Nunca havíamos nos beijado, não por falta de insistência dele. Eu que não queria. Não estava na hora.
— OK, não sabia que esse namoro estava tão sério. — comentou baixinho. — Onde está Draco?
— Fugiu. — respondi rápido. — Já o procurei por toda parte. Ele simplesmente desapareceu da mesma forma que apareceu. — menti. Tinha que acabar com a farsa. — Mas você não invadiu minha casa apenas para ver o Draco, não é?
— Me desculpe pela invasão. E me desculpe pelo que vou dizer, mas você está bem servida, não é? — ela olhou para a porta do quarto fechada e riu.
, vá direto ao ponto. — ri também.
— Sim, minha invasão. Eu vim te dizer que consegui a bolsa do mestrado! — ela pulou no lugar.
, isso é maravilhoso! — me abracei a ela e começamos a pular juntas.
— Agora estou indo contar a para comemorar com ele. — ela sorriu de lado. — Boa noite, amiga.
— Diga a ele que mandei um beijo. — sorri para ela.

Ela me abraçou mais uma vez e saiu porta afora, quase saltitando de felicidade. Respirei fundo e fui para o quarto, tirar satisfações com sobre o selar roubado.

— Então quer dizer que eu sou seu namorado? — ele perguntou sentado na cama, vestindo apenas a boxer.
— De que outra forma eu explicaria você de boxer na minha sala? — me aproximei dele com as mãos na cintura. — Por que me beijou?
— Estava feliz por ver você me defendendo e me chamando de seu namorado. — ele ficou de joelhos na cama e aproximou o nariz de mim. — Você está com um cheiro forte. — ele mordeu o lábio.

Inspirei ao redor e não senti nada além do meu perfume de sempre.

— Eu tomei banho e passei o óleo de sempre. — franzi as sobrancelhas.
— Não esse cheiro, . — ele ficou de pé e me abraçou pela cintura, o nariz encontrando meu pescoço. — Um cheiro forte de...
— De? — o incentivei a continuar.
— Você está no cio, . — ele quase sussurrou.
— Está brincando comigo? — o empurrei para longe. — Não sou as gatas com quem você se agarrou por aí, .
, eu posso te ajudar. — ele tornou a se aproximar sorrateiramente.
— Se continuar a insistir, vai dormir no sofá. — dei as costas para ele. Má ideia. se abraçou às minhas costas e passou o nariz na minha nuca exposta, raspando os dentes ali. — Me solte.
— Você quer mesmo isso, ? — ele colou mais ainda seu corpo ao meu, me mostrando que estava pronto para qualquer coisa.
— Sim. — respondi sem muita firmeza na voz. me virou no abraço e passou a me encarar.
— Posso ao menos ter um beijo? Só um, . E juro que vou dormir no sofá. — perguntou com um bico adorável.

Suspirei, me dando por vencida, e selei seus lábios. , porém, queria mais e aprofundou o beijo, sua língua quente e áspera encontrando a minha e me fazendo suspirar mais uma vez. Sua mão grande encontrou minha nuca e se firmou ali, segurando minha cabeça onde ele queria que eu estivesse. O homem era quente demais e eu estava sentindo certas áreas do meu corpo mais quentes que o normal.

— Eu preciso parar. — ele cortou o beijo. — Vejo você pela manhã. — deixou um último selar em meus lábios e se afastou, pronto para sair do quarto.
. — chamei baixinho e passei as mãos sobre o rosto. — Fica.

sorriu, mas negou com a cabeça.

— Você não quer isso. É melhor eu dormir no sofá. — ele abriu a porta do quarto.
— Você não tem medo? — perguntei de repente. — De passar sua maldição para seu filho?
— Tenho certeza de que nós conseguiríamos criar ele bem. — ele caminhou de volta até mim e passou o dedo na minha bochecha. — É disso que você tem medo? De gerar um mini gatinho em você? — ele riu.
— Ou dois, ou três. Gatos nunca nascem filhos únicos. — eu ri.
— Não existem gêmeos na minha família, só para que você saiba. — ele rebateu e riu também.
— Eu não vou conseguir dormir sem você aqui. — me abracei à sua cintura nua. — Dorme comigo. — beijei seu peito exposto e vi sua pele se arrepiar.
— Tem certeza, ? — ele perguntou e eu apenas confirmei com a cabeça. — Vai se trocar, te espero na cama.
— Nossa, . Soou como uma promessa. — eu ri e ele me acompanhou.

Peguei a blusa que ele estava vestindo e fui até o banheiro. Tirei minhas peças, ficando apenas de calcinha e vesti a blusa dele. Fiz minha higiene e voltei para a cama, o encontrando deitado, mirando o teto. Deitei de lado e ele virou o corpo para me encarar. Se aproximou o suficiente para enroscar suas pernas às minhas, tão perto que nossos narizes quase se tocavam.

— Você me ama? — ele perguntou baixinho, quase sussurrando. Fiz uma careta em sua direção e ele riu. — Estou falando sério, . Você me ama?
— Faz diferença? — perguntei. Jamais admitiria facilmente que sim, eu estava amando . — Vai quebrar sua maldição?
— Não, mas se você não me amar, eu vou embora amanhã mesmo. — ele sorriu, mas parecia triste.
— Nem pensar. Já pensou no quanto eu vou ficar triste sem meu gatinho? — perguntei com um bico nos lábios, que foram prontamente beijados por ele.
— Você gosta de mim como seu bichinho. — ele fez uma careta.
— Você já não é o Draco há muito, muito tempo. — selei seus lábios. — Vamos dormir.

Livrei minhas pernas das suas e rolei na cama, ficando de costas para ele. se encaixou atrás de mim e me abraçou pela cintura. O corpo grande dele ainda estava quente demais e seu baixo ventre em contando com minha bunda quase descoberta estava me aquecendo. Ele ainda estava animado.

. — chamei em tom alerta quando seus dedos deslizaram por minha barriga e encontraram meu seio coberto.
— Seu cheiro, ... — ele passou o nariz na minha nuca descoberta e, em seguida, deixou um selar na pele arrepiada. movimentou o quadril contra minha bunda e eu segurei um gemido. — Melhor eu ir dormir no sofá. — ele fez menção de se levantar, mas eu segurei sua mão contra meu seio.
— Fica. Eu quero. — me dei por vencida. A quem eu queria enganar? Queria aquilo tanto quanto ele. — Só... Você sabe.

Ouvi sua risada baixinha e soltei sua mão. Senti ele se afastar e virei o corpo de novo para vê-lo ficar de pé ao lado da cama, revirando a gaveta da mesa de cabeceira. Então simplesmente tirou a boxer, o membro teso saltando para fora, me fazendo salivar. Ele desenrolou o preservativo no membro e voltou para a cama, me encarando, as bochechas vermelhas.

— Está pronta? — ele selou meus lábios e sua mão atrevida se deslizou para debaixo da minha blusa, os dedos longos encontrando o bico eriçado e apertando ali. Apenas gemi baixinho em resposta. — Eu juro que outro dia nós fazemos direito... — ele sussurrou no meu ouvido.
— Mas hoje, só vai logo, por favor. — pedi, ouvindo sua risada baixinha.

Sua mão que estava em meu seio escorregou pelo meu corpo e achou espaço entre minhas coxas.

, tire esse tecido. — ele pediu baixinho. Virei de barriga para cima e levantei o quadril apenas para tirar a calcinha rapidamente, ouvindo seu riso baixo. Quando voltei ao meu lugar, a mão de ganhou espaço entre minhas coxas e ele pressionou um dedo em meu ponto sensível, me fazendo gemer. Ele começou a estimular ali e eu apertei seu braço em resposta. — Está bom, ? — ele perguntou e, entre meus olhos quase se fechando, pude ver que ele estava sorrindo.
. — chamei manhosa. — Por favor.

Ele parou seu trabalho e sua mão se espalmou em minha coxa, puxando minha perna mais para cima da sua. Descansei minha coxa na sua e aproximei nossos corpos o máximo que pude. colou a testa à minha e usou a mão para levar o membro à minha entrada, se deslizando para dentro lentamente, me fazendo quase delirar com os sons que saíam da sua boca. Os movimentos começaram lentos, e a cada vez que ele se enterrava todo em mim, deixava um selar no meu rosto ou nos meus lábios, o ritmo tortuosamente lento.

, mais rápido. — pedi entre um gemido e outro. Ele já estava suado e eu já estava a ponto de explodir com aquele ritmo.
— Achei que não fosse pedir nunca. — ele sorriu ladino.

Parou os movimentos por um momento e me empurrou de costas no colchão, se colocando imediatamente acima de mim, entre minhas pernas, retomando os movimentos. Sua mão direita encontrou meu seio embaixo da blusa que permanecia no meu corpo, e sua esquerda encontrou minha direita acima da minha cabeça, os dedos se entrelaçando aos meus. Enrolei as pernas em sua cintura enquanto ele investia com força medida, nunca deixando de beijar meu pescoço.
Cheguei ao meu ápice com um gemido agudo que com certeza acordou na casa vizinha. veio alguns momentos depois, desabando em cima de mim e ofegando no meu pescoço, causando um arrepio bom.

— Eu te amo. — ele confessou com a boca colada em meu pescoço.
— Eu também te amo. — confessei e recebi um beijinho. — Meu gatinho. — e o beijinho se tornou uma mordida, e outra e outra, até que eu o empurrei para longe, o fazendo cair de costas no colchão. — Você disse que tinha controlado seu lado maligno! — acusei.
— Gatinhos demonstram amor mordendo. E eu vou te marcar, para você parar de me chamar de gatinho. — ele voltou a colocar o corpo acima do meu, os joelhos prendendo minhas pernas e a boca ainda deixando marcas na minha pele.
— Como quer que eu te chame? De gatão? — provoquei e recebi uma mordida mais forte. — !
— De seu namorado. — ele parou o ataque para olhar em meus olhos. Estava sério.
— Tá, tá. Meu namorado. — passei o polegar sobre sua bochecha e ele sorriu.
— Casamos semana que vem. — ele decretou e saiu da cama, indo em direção ao banheiro.
— Como é? — sentei de repente no colchão, vendo o contorno de sua bunda bonita sumindo da minha vista. — , volta aqui e me explica isso!

Ouvi sua risada alta no banheiro e fui atrás dele.

— Eu te marquei. — ele me abraçou por trás e me virou de frente para o espelho, me mostrando as marcas de suas mordidas no meu pescoço. — Agora você é minha. — ele quase sussurrou a última palavra.
— Isso não estava nos termos de adoção. — provoquei de novo. Sim, eu adorava brincar com o perigo.
— Estava nas letrinhas miúdas, você que não viu. — ele me largou e entrou no box, ligando o chuveiro. Tirei a blusa e fui atrás dele.
— Não está falando sério, está? — perguntei. Ele olhou em meus olhos antes de confirmar com a cabeça. Ficamos nos encarando por alguns segundos. — Preciso de mais tempo. Uma semana não vai ser suficiente para convencer e a irem conosco até o cartório.
— Não está falando sério, está? — ele repetiu minha pergunta. — Vamos nos casar?
, você... — me interrompi, molhada e confusa. O sorriso se alargou em seu rosto e então eu entendi: ele estava apenas tirando uma com a minha cara. — Eu vou te matar, !
— Ei! Eu falei sério sobre a marca, ok? Minha gatinha. — ele selou meus lábios. — Podemos deixar o casamento para depois. Mas agora você é minha e eu sou seu.
— Todo meu? — perguntei. Ele confirmou com a cabeça. — Meu namorado. Meu gatinho.




Fim



Nota da autora: Hey! E então, gostaram desse gatinho? Esse plot tava perdido e eu adotei ele. Não, não sei de onde saiu a ideia. Provavelmente do dorama do L, “Miau, o Garoto Secreto” (fica a dica). Mas eu pesquisei bastante para escrever e espero que tenham gostado. Vejo vocês por aí!



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