Capítulo Único
Park Seonghwa sempre foi meu melhor amigo. Eu lembro claramente de tê-lo conhecido no jardim de infância, e de ter dito para a minha mãe incontáveis vezes que, um dia, ele seria meu namorado.
O fato é que nós crescemos e eu sempre estava lá em todos os momentos importantes para ele. No primeiro beijo, que não foi comigo, na primeira vez, que, bem, não preciso dizer que também não foi comigo... E Hwa sempre estava comigo. Era recíproco.
O problema talvez fosse que eu finalmente estivesse percebendo meus sentimentos por ele. Não era apenas amizade. Era um amor puro. Não como irmãos, mas como... Um casal. Era isso. Eu amava Park Seonghwa romanticamente.
- Sonhando acordada? – Hwa sentou na minha frente no refeitório na hora do nosso intervalo. O selar casto que ele deixou na minha testa quase me fez suspirar.
- Estava lembrando de quando éramos crianças. – confessei e, de repente, me dei conta de que tinha falado demais.
- De quando você dizia para a sua mãe que eu seria seu namorado? – ele riu e eu entortei a cara para ele.
- Você faz questão de lembrar disso, não é, Seonghwa? – desviei o olhar. Porque era exatamente nisso que eu estava pensando. Mas ele não precisava saber.
- Eu acho fofa sua cara de brava. – ele arrumou meu cabelo atrás da minha orelha e eu automaticamente dei um tapa em sua mão.
- Você me ama, não tente negar. – acusei.
- Você sabe que sim. – ele sorriu de lado e eu quase derreti no banco. Mas me recompus, porque sabia que ele estava brincando.
- Você não veio aqui só para me irritar, Hwa. O que quer? – perguntei e cruzei os braços na frente do peito.
- O que vai fazer amanhã? – ele perguntou sorrindo verdadeiramente. Alguém estava animado.
- Estudar. O curso de Arquitetura está sugando minha alma. – suspirei cansada. Hwa cursava música no prédio vizinho ao meu.
- , eu vou perguntar outra vez. O que vai fazer amanhã? – ele perguntou devagar. Vasculhei na memória algo importante, até me dar conta de que ele tinha uma apresentação em algum bar amanhã, junto com San e Jongho, seus amigos.
- Hwa, sua apresentação é amanhã! – exclamei.
- Já escolheu sua roupa, ? – ele perguntou com a sobrancelha arqueada e aquele sorriso perigoso nos lábios.
- Eu vou pensar em algo. E você, já escolheu sua roupa? – desafiei.
- Não. E preciso de você. Dorme lá em casa hoje? Daí vamos juntos amanhã. O que acha? – ele fez um biquinho, quase implorando.
- Hwa, meu pai está em casa nesse final de semana. Acha que ele concordaria com isso? – levantei assim que ouvi o sinal que denunciava o fim do intervalo. Meu pai era marinheiro e nem sempre estava em casa.
- O senhor me ama, . Você sabe disso. – ele jogou um braço pesado em meu ombro, quase escondendo meu corpo diminuto no seu, enorme.
- Então vá você pedir. Se eles concordarem, eu vou com você. Mas vai ter que me deixar em casa amanhã, assim que acabar. – ordenei.
- Não quer passar duas noites comigo, ? – ele riu quase no meu ouvido. Se ele soubesse o efeito que aquela frase tinha, ele não faria aquilo.
- Você com certeza vai achar alguém para passar a noite com você, Hwa. – alfinetei.
- Qual é, ? Eu deixo você em casa no domingo. Vamos beber amanhã. Não tem a menor condição de eu te deixar em casa. – ele choramingou.
- Depois conversamos sobre isso, Seonghwa. – me desvencilhei do seu abraço. – Agora, boa aula. – me estiquei para beijar seu rosto, mas ele inclinou a cabeça e o beijo saiu perigosamente no canto da boca.
- Boa aula, baixinha. – ele sorriu de lado.
- Baixinha é meu...
- Olha a boca suja, . – ele riu e sumiu entre os alunos que passavam.
***
- Ainda com raiva do Hwa? – , minha amiga do curso, perguntou assim que me viu.
- Ele tem uma apresentação amanhã e me chamou para ajudá-lo com a roupa. – suspirei.
- Ainda não pegou o crush? – ela riu ao meu lado. Aquela frase tinha se tornado nossa piada desde que eu descobrira que nutria sentimentos por meu melhor amigo.
- Ele se acha o gostosão. – respondi e nós duas rimos alto.
- Enfim... Já ajudei San com a roupa dele. – sorriu apaixonada. Ela namorava San e eu posso afirmar com certeza que eu fui a responsável por aquele namoro.
- Devia ter dado dicas ao Seonghwa. Assim eu não precisaria dormir lá. – bufei.
- , não é tão difícil. Chega nele e diz o que sente. – ela brigou.
- Não é tão simples, . Nós somos melhores amigos desde... sempre! E se eu estragar tudo? – perguntei quase triste.
- Vocês vão conseguir superar. – ela sorriu para mim.
- Não quero mais falar dele. – decretei no momento em que meu celular apitou.
“Te pego na saída.”, era a mensagem que piscava na minha tela, cujo remetente estava nomeado como “Hwa ♡”.
“Não prometa o que não vai cumprir, Park.”, respondi sorrindo para a tela.
“Se você queria que eu te pegasse, devia ter dito antes.”, ele rebateu e eu quase podia ver o sorriso atravessado dele, a língua brincando nos dentes, o deixando perigosamente sexy.
- O professor está na sala, . – fui alertada por . – Deixe sua resposta para depois. Ao vivo surge mais efeito. – ela piscou.
Sorri, balançando a cabeça em negativa, e tratei de me concentrar na aula.
***
Assim que as aulas acabaram, fui direto para o portão onde sempre encontrava Hwa e não encontrei absolutamente ninguém. Saquei o celular do bolso, pronta para mandar uma mensagem de puro ódio, quando senti mãos grandes em minha cintura e um hálito quente soprar no meu ouvido.
- Te peguei. – Hwa sussurrou.
- A única coisa que você pega é resfriado, Seonghwa. – me desvencilhei de seus braços e o ouvi rir alto.
- Ah, o amor... – Jongho brincou, logo atrás de nós.
- Seonghwa não para de falar de mim, não é, Jongho? – perguntei rindo e o abracei de lado.
- Nem um minuto sequer. Eu estou quase enjoando de você, . – ele riu, mas Hwa lhe lançou um olhar severo. – Mas infelizmente você é nossa fã número um. Não podemos te dispensar.
- Eu só vou nas apresentações porque gosto do San cantando. – dei de ombros.
- Acabou a palhaçada. Vamos para casa, . – Hwa me puxou pelo braço, me deixando apenas acenar um tchau apressado para Jongho, que ria de nós. Caminhei as quatro quadras que separavam o campus da minha casa com um Seonghwa praticamente agarrado à minha cintura, a mão quase possessiva me segurando. Ele foi o caminho todo em silêncio, a expressão séria no rosto de traços bonitos.
- Estou em casa. – anunciei assim que passei pela porta, Hwa ainda abraçado a mim.
- Filha, você não avisou que o Seonghwa vinha. – minha mãe reclamou assim que viu a figura alta ao meu lado.
- Não vou ficar para o almoço, tia. Não se preocupe. – Hwa me soltou apenas para abraçar a mais velha e voltou a se agarrar a mim, dessa vez, me abraçando por trás, o queixo confortavelmente apoiado no topo da minha cabeça.
- Filho, que bom vê-lo. – meu pai deu dois tapinhas no ombro de Hwa.
- Bom ver você também, pai. – reclamei.
- Senti sua falta, minha princesa. – meu pai sorriu para mim e beijou minha testa.
- Senhor , eu queria... – Hwa começou, mas foi cortado por meu pai.
- Se veio me pedir a , pode levar. – meu pai riu e eu abri a boca, ultrajada.
- Prometo que trago ela de volta no domingo pela manhã. – Hwa endireitou a postura.
- Temos a casa para nós o sábado inteiro, querida! – meu pai gritou animado.
- Pai! – fiz uma careta. – Me fez perder a fome.
- Mas o que eu disse? – ele riu. Às vezes, eu senti falta dele em casa por mais tempo. Às vezes, não.
- Nada. – eu ri sem vontade. – Hwa, me espere, vou com você. Só preciso arrumar minha bolsa. – me soltei de Seonghwa, aliás, isso estava acontecendo com uma frequência absurda, e corri para o meu quarto, ouvindo passos atrás de mim.
- Estou pensando em usar algo mais clássico... – Hwa se jogou em minha cama e encarou o teto. – Ou jeans. – ele devaneou no exato momento em que joguei minha camisa jeans na mochila. Fiquei pensando se tirava a peça ou se ficaria legal andar com uma roupa parecida com a dele e acabei por deixá-la lá.
- Vou perguntar a o que San vai usar. Para não divergir tanto e deixar tudo esquisito. – comentei. Abri a gaveta para pegar meu pijama e a voz dele me fez parar.
- Seu pijama que lembra aquele seu ex ainda está lá. Mamãe o lavou e colocou na minha gaveta. – ele disse com a voz quase seca. O tal pijama trazia a cara do Donkey Kong na blusa e bananinhas estampadas no short, e tinha sido um presente do meu ex-namorado gamer. Não era segredo para ninguém que ele odiava Yunho. Mas o que eu poderia fazer? Esperar por ele a vida toda?
- Vamos embora, ciumento. – fechei a mochila, joguei no ombro e saí do quarto. – Estou saindo. – avisei em alto e bom som.
- Juízo. – minha mãe riu e nós a acompanhamos, Hwa vinha bem atrás de mim.
- Cuide bem da minha filha, Park. – meu pai ordenou.
- Pode deixar, senhor . – Hwa fez uma reverência de noventa graus, como se fosse um cadete respondendo seu superior.
- Até domingo. – abracei meus pais e saí. Hwa tomou minha mão na sua assim que nos vimos na rua e nós caminhamos as duas quadras que separavam minha casa da dele no mais completo silêncio.
- Mãe, cheguei! – ele gritou quando passou pela porta.
- ! – a senhora Park me abraçou apertado. – Diga que veio para o almoço.
- De hoje e de amanhã. – Hwa respondeu por mim e beijou o rosto da mãe. – Estou faminto.
- Conte uma novidade. – a senhora Park riu.
- Vim ajudar seu filho folgado. Espero não estar incomodando. – sorri para ela.
- E desde quando você é um incômodo? Já é da família. – ela sorriu mais ainda. “Eu bem que gostaria, senhora Park”, pensei.
Almoçamos em meio a risadas, ajudamos com a louça e partimos para o quarto de Seonghwa. Eu geralmente ficava ali e dormia na cama dele. Ele dormia em um colchão no chão, claro. A casa não tinha quarto de hóspedes e ele se via na obrigação de me deixar confortável. Peguei o celular para mandar uma mensagem para no exato momento em que o celular de Seonghwa apitou. Nos jogamos na cama e ficamos com os aparelhos em mãos, Hwa em meio a risos e eu analisando as imagens que me mandava.
- O que é tão engraçado, Seonghwa? – perguntei sem tirar os olhos do meu aparelho.
- Nada. – ele respondeu e se esticou em minha direção, colocando o rosto entre minha visão e a tela do meu celular. – O que está vendo?
- Seonghwa, isso é invasão de privacidade. – avisei e puxei o celular para o lado. Ele apenas descansou o rosto em meu peito e suspirou.
- Já decidimos o que eu vou usar? – ele perguntou baixinho.
- Estou resolvendo isso. – empurrei sua cabeça e levantei, indo até o guarda-roupa. Separei uma camiseta preta e a blusa jeans sob seus olhos atentos.
- Você anda muito violenta, . – ele reclamou com o rosto espremido contra o colchão.
- Desculpe se não sou a miss carinho. – respondi sem lhe olhar e continuei a mexer nas roupas.
- Eu... Eu fiz algo errado? – ele perguntou incerto. “Não, eu que fiz. Me apaixonei por você”, pensei e suspirei. Caminhei até ele e me ajoelhei ao lado da cama.
- Está tudo bem, Hwa. Eu só ando estressada com o curso. – sorri para ele. – Só me prometa que vai continuar sendo meu melhor amigo.
- Eu prometo. – ele respondeu olhando em meus olhos. Desviei momentaneamente o olhar para seus lábios e o vi se aproximar. Fechei os olhos e esperei o beijo que veio, na minha bochecha.
- Agora vista as camisas que eu separei. – abri os olhos e ordenei.
- , quando eu for famoso, não vou te contratar como minha staff. Você é impossível às vezes. – ele riu e levantou, indo até as peças separadas em um canto.
- Alguém tem de impor ordem. E é exatamente por isso que você vai me contratar. – sentei na cama. Vi Hwa tirar a blusa de mangas compridas e se preparar para tirar a camiseta. – O que pensa que está fazendo, Park Seonghwa?
- Vestindo as blusas que você separou. – ele respondeu como se fosse óbvio, a camiseta a meio caminho de sair do corpo magro.
- Assim, sem mais nem menos? – perguntei rindo.
- Por favor, . – ele riu e puxou a camiseta, revelando aquele abdômen definido e a pele branquinha. – Já passamos dessa fase.
Passamos?
Suspirei pesado e esperei que ele terminasse, aprovei o look e deitei na cama outra vez, de costas para ele. Senti o colchão afundar ao meu lado e o olhei por cima do ombro. Pelo menos ele estava de camiseta.
- Com licença? – estreitei os olhos.
- Essa cama é minha? – ele rebateu rindo.
- Não hoje, meu bem. – virei o corpo e o empurrei com o ombro.
- Eu tenho uma apresentação importante amanhã. Vai me fazer dormir no chão, ? – ele perguntou com um beicinho.
- Ainda não é noite e você não vai dormir agora, Hwa. – rebati rindo.
- Se quer que eu continue sendo seu melhor amigo, vai ter que me mimar mais, . – ele apoiou a cabeça em meu estômago. – Estou esperando, .
Bufei e levei a mão aos seus fios negros, o ouvindo quase ronronar como um gatinho por causa do carinho. Com os dedos inquietos, desenhei o contorno de sua orelha e de seu maxilar, o vendo sorrir de olhos fechados. Meu estômago se agitou e meu coração falhou uma batida. Por que logo você, Park Seonghwa?
Acho que adormeci com uma mão nos cabelos de Hwa, que ainda estava com a cabeça em meu estômago, dormindo como um bebê.
- Você se mexe demais, .
Bom, pelo menos eu achei que ele estava dormindo.
- Você não tem ensaio hoje, Seonghwa? – perguntei. Ele levantou de repente, os cabelos assanhados e o rosto amassado.
- , nós dormimos demais. – ele começou a correr pelo quarto, vestindo um casaco e procurando os pertences. Levantei calmamente e peguei meu celular e minha carteira na mochila. Ele me puxou pela mão e praticamente me arrastou para fora. – Mãe, vamos precisar do carro. – ele anunciou.
- Onde vai com tanta pressa? – ela perguntou.
- me fez dormir demais e agora eu estou atrasado para o ensaio. – ele respondeu e catou as chaves.
- Eu? – perguntei incrédula. – Você que pediu mais carinho. Não me culpe.
- Vão ter que me explicar isso direito quando voltarem. – ela riu.
Saímos com a promessa de dizer tudo na volta e eu tomei meu lugar atrás do volante. Apesar de ter idade, Seonghwa não dirigia. Então essa era uma tarefa minha. Conduzi até a casa de San com um Hwa digitando furiosamente no celular.
- Ah, o príncipe chegou. – Jongho ironizou. Hwa abriu a boca para falar, mas eu fui mais rápida.
- Eu juro que se você me culpar, eu te bato. – ameacei. Jongho depositou um beijo no topo da minha cabeça e Hwa estreitou os olhos para ele.
- E o que estavam fazendo para que você seja o motivo do atraso, ? – perguntou com um sorriso no rosto.
- Seonghwa dormiu e diz que a culpa é minha. – abracei minha amiga e fui abraçar San.
- San, disse que só nos acompanha porque gosta da sua voz. Acredita nisso? – Jongho perguntou rindo. Hwa automaticamente fechou a cara e eu quis rir. Aquilo tudo não passava de uma grande brincadeira, mas era fofo ver a cara de raiva dele por achar que eu, a melhor amiga, preferia a voz de San.
- E o que o Seonghwa hyung acha disso? – San perguntou rindo.
- Acho uma palhaçada. – ele respondeu seco.
- Seonghwa, você fica fofo com ciúmes. – alfinetou.
- Eu não estou com ciúmes. – ele rebateu e foi tomar seu microfone.
- Ele está com ciúmes. – Jongho constatou. Nós rimos e os meninos começaram o ensaio, e era linda a forma como as vozes se encaixavam e completavam. Hwa olhava para mim vez ou outra e eu sempre mandava um beijinho no ar, até que ele desfez a expressão séria e sorriu. E seguiu sorrindo até o final do ensaio.
- Já decidiu o que vai usar amanhã, Jongho? – perguntei inocente.
- Vai oferecer ajuda para ele também? – Hwa perguntou com um toque de ciúmes na voz.
- Hyung, seu ciúme é fofo e bonitinho, mas... eu tenho namorada. – Jongho riu. – Ela já me ajudou com isso.
- E se eu quisesse ajudar o Jongho, você não poderia me impedir, Seonghwa. – constatei. – Se eu ajudo um amigo, posso muito bem ajudar outro, não?
- Vamos para casa, . – ele saiu sem esperar por mim.
- Surtou. – San riu.
- Amiga, não irrita a fera. – disse baixinho.
- Você sabe que essa é minha especialidade, . – respondi sorrindo.
- Quando vocês vão nos contar que estão finalmente namorando? – Jongho perguntou.
- Seonghwa hyung está se fazendo de difícil. – San respondeu.
- E o que te leva a achar isso? – perguntei curiosa.
- Noona, tá na cara que você está caidinha por ele há muito tempo. – ele respondeu e meu queixo caiu, de puro choque. – E a pode ter mencionado algo sem querer.
- ! – a voz impaciente de Seonghwa cortou nossa conversa.
- Conversamos depois. Agora o príncipe quer ir e a motorista sou eu. Até amanhã. – me despedi de todos e fui para o carro. Hwa estava parado, encostado na lataria, a pose de bad boy irritado lhe dando um ar sexy. – Eu não posso acreditar que você está com ciúme dos meninos, Hwa.
Eu sinceramente estava começando a achar que o que eu sentia era recíproco, mas não queria me iludir. Então estava tentando convencer minha cabeça de que aquilo era só uma crise de ciúmes de melhor amigo.
- Você anda muito solícita com eles. – ele formou um bico nos lábios bonitos.
- Hwa, por Deus, eu não vou te trocar por eles. – eu ri e me abracei a sua cintura.
- Eu espero. – ele arrumou meu cabelo atrás da minha orelha e aproximou o rosto perigosamente. Olhei em seus olhos por longos segundos e ele sorriu. – Vamos para casa. Estou com fome.
- Ainda vai ter que explicar a sua mãe por que nos atrasamos. – lembrei a ele. Ele choramingou e me afastou para entrar no carro.
E foi o caminho inteiro ensaiando sua fala. Seria fofo, se ele não estivesse tentando convencer a si mesmo que nós não tínhamos nada. Ele repetiu as palavras para sua mãe quando entramos e ela apenas riu, como se não acreditasse em absolutamente nada do que ele dizia. Depois de comer, ele seguiu para o quarto e eu fui logo atrás, me preparando para a longa noite.
- Quer usar o banheiro primeiro? – ele sorriu para mim e eu apenas confirmei com a cabeça. Peguei meu pijama na gaveta e segui para fazer minha higiene. Quando saí, encontrei Hwa deitado confortavelmente na cama.
- O que aconteceu com o colchão? – perguntei.
- Você vai mesmo me deixar dormir no chão com uma apresentação amanhã, ? – Hwa protestou como uma criança birrenta.
- Vá tomar banho, Hwa. – suspirei pesado. Assim que ele sumiu no banheiro, peguei o colchão inflável e comecei a encher. Terminei antes de ele voltar e me deitei com o celular em mãos.
- ... – ele suspirou. – A cama é grande o suficiente para nós dois.
- Eu já decidi, Seonghwa. Estou confortável aqui. – me esparramei no colchão. – Deite e tente não cair da cama ou eu terei problemas.
- Vou deitar com você. – ele ameaçou se jogar no colchão e eu levantei depressa.
- Nem pensar! Ficou doido? – estiquei a mão para lhe parar.
- Então deita aqui. – ele sentou na cama. – Eu quero carinho da minha melhor amiga. – ele formou um bico. Suspirei pesado de novo. A noite estava ficando cada vez mais difícil.
- Só até você dormir, Seonghwa. – me dei por vencida e deitei na cama. Ele logo apoiou a cabeça em meu estômago, como mais cedo, e eu fiz carinho em seus fios.
É difícil dizer quem dormiu primeiro, mas eu acordei primeiro, assustada com o Sol no meu rosto e Seonghwa agarrado a mim como se eu fosse um travesseiro.
- Hwa, já são... – me estiquei e peguei o celular dele, checando as horas. – Quase dez. Melhor levantar.
- Só mais um pouco. – ele se aconchegou na cama e ajustou o corpo ao meu.
- Seonghwa, se sua mãe entra aqui, todo o seu discurso de ontem vai por água abaixo. – ri baixinho.
- Mas eu estou confortável, . Acho que vou te contratar para dormir comigo toda noite. – ele riu. Não sabia dizer se ele estava consciente do que dizia ou não, mas a frase tinha batido fundo em mim.
- Você vai acabar se apaixonando por mim, Hwa. – provoquei.
- Isso não é possível, é? Se apaixonar duas vezes pela mesma pessoa? – ele quase sussurrou.
- O que disse? – perguntei. Talvez meus ouvidos tivessem me enganado em alguma parte da frase dele.
- Bom dia, . – ele sorriu, mal conseguindo abrir os olhos. – Acho que minha mãe já passou aqui. Eu lembro de ter fechado a janela, e ela está aberta. Qual nosso cronograma de hoje?
- Preparação da pele, aquecimento vocal e apresentação. – listei. – Seu celular está jogado em algum lugar. Tem umas duzentas mensagens. – avisei e corri para o banheiro. Saí de lá completamente vestida e encontrei Hwa desabotoando os botões de seu pijama.
- Você teve um trabalho enorme para nada. – ele riu e apontou para o colchão inflável. – Eu disse que cabíamos os dois na cama.
- E eu bem suspeitei que isso não ia dar certo. Faça sua higiene e desça para o café. – saí do quarto a tempo de ouvi-lo gritar um “sim, mãe”. Tomamos nosso café sob os olhos atentos da mãe de Hwa, que nem sequer parecia perceber o sorriso atravessado da mulher.
Passei o dia inteiro vendo Hwa se preparar para a tal apresentação e comecei a me arrumar cedo. Vesti uma calça de cintura alta e minha blusa jeans amarrada na cintura, tênis branco nos pés e maquiagem leve. Peguei meus pertences e saí do quarto para esperar Seonghwa, que saiu de lá exalando um perfume forte, a roupa lhe deixando mais bonito ainda.
- Roupa de casal? – a senhora Park perguntou quando nos viu. Hwa me olhou e finalmente percebeu que sim, estávamos com roupas parecidas.
- A senhora sabe do amor que a tem por mim, não é? – ele jogou um braço pesado em meu ombro e eu sorri sem graça.
- Não brinque com isso, Seonghwa. – sua mãe o repreendeu e sorriu para mim.
- Eu já estou acostumada, tia. – respondi tentando lhe tranquilizar. Ela balançou a cabeça em negativa, como se não tivéssemos mais jeito, e nos enxotou para fora de casa. Fomos de táxi e encontramos os meninos lá, mais animada que todos.
- Então você pegou o crush? – ela perguntou.
- Ele ainda se acha o gostosão. – respondi.
- Ai, . Por Deus, que coisa difícil. – ela reclamou.
- Ei, não é culpa minha, OK? – me defendi. – Agora fique quieta, vai começar.
A apresentação foi regada a músicas românticas, fazendo , eu e mais uma porção de meninas suspirar apaixonada. Ao final da última música, eles agradeceram ao público e desceram do pequeno palco. Seonghwa tinha um sorriso que não cabia no rosto. Ele caminhou na minha direção e... Passou reto, indo abraçar alguém que estava atrás de mim, uma menina de cabelos tão curtos quanto a saia que vestia. Sorriu para ela, arrumou os cabelos atrás da orelha, como fazia comigo, e seguiu conversando abraçado à cintura fina.
Movida por um acesso de ciúmes, peguei meu celular, minha carteira e saí sem me despedir de ninguém. Não queria ficar ali, vendo Seonghwa agradecer a alguém que eu desconhecia, sendo que eu tinha sido sua ajuda. Estiquei a mão para parar um táxi, mas alguém me impediu de completar minha ação.
- Onde pensa que vai? – Seonghwa me virou para si e me olhou nos olhos. Parecia furioso.
- Para casa. E não a sua, a minha. – tentei me soltar dele.
- O que eu fiz? – ele perguntou confuso e eu sorri sarcástica.
- Nada, Seonghwa. Pode ir se divertir com seus amigos e sua amiga. – rebati sem conseguir controlar o ciúme.
- , você está com ciúmes? – ele perguntou rindo.
- Estou, OK? Você desceu do palco direto para os braços daquela garota, Seonghwa. Eu sei que eu não tenho nenhum direito, porque você é apenas meu amigo, como você mesmo faz questão de ressaltar, mas eu estou com ciúmes sim, OK? – disse tudo de uma vez. – Agora se me der licença, eu estou indo para casa.
- Você está realmente com ciúmes dela? – ele perguntou e me abraçou pela cintura. Bufei e nem precisei responder. – Até onde eu sei, relacionamento entre primos não é bem aceito, sabe? – ele perguntou e eu quis enfiar a cara em um buraco. Ela era prima dele? Como eu não a conhecia? Eu tendo essa crise louca apenas por que ele foi carinhoso com a prima?
- Me solte, Seonghwa. – pedi sem lhe olhar.
- Vamos voltar para dentro, sim? – ele pediu.
- Não, eu vou embora. – insisti.
- Então eu te levo. – ele decidiu.
- Não, fique aí e se divirta. Eu preciso ir sozinha. – decretei.
- OK, teimosa. Então me dê um beijo de despedida. – ele pediu e eu levantei o rosto para lhe encarar, encontrando aquele sorriso brincalhão que deixava minhas pernas moles. Me aproximei incerta e lhe roubei um selar rápido. – Eu disse um beijo, .
Seonghwa tomou meus lábios nos seus, macios e suaves. Sua mão possessiva me apertou ainda mais contra si e ele levou o beijo de uma forma quase sensual. Nosso primeiro beijo. Inesquecível. Seonghwa me soltou e eu apoiei o rosto em seu peito, não queria olhar em seus olhos agora, ou ficaria ali o resto da noite, apenas o beijando.
- Isso foi bom. – ele sussurrou grave.
- Se contente. É só o que você vai ter. – rebati.
- Eu achei que...
- Achou errado. Agora me solte. Eu ainda estou com raiva de você. – pedi.
- Vamos para dentro, . Depois voltamos para casa e conversamos sobre isso, o que acha? – ele afagou meu cabelo.
- A noite acabou para mim, Hwa. Outro dia conversamos sobre isso. – me soltei dele enquanto tinha coragem e selei seus lábios rapidamente. Chamei um táxi e fui para casa, tentando lidar com todas as sensações que Park Seonghwa causava em mim.
+-+
Acordei no domingo, ou melhor, fui acordada no domingo por Seonghwa pulando na minha cama. Literalmente.
- Bom dia, minha baixinha ciumenta. – ele desejou e beijou minha testa.
- Vai a merda, Park Seonghwa. – resmunguei e cobri a cabeça com o cobertor.
- Não. Nós vamos fazer um piquenique. Levanta. – ele puxou meu cobertor e o arremessou para longe. Puxei um travesseiro e cobri o rosto. – Esse pijama é bem melhor, sabia? – ele puxou a alcinha do meu pijama e eu congelei no lugar. Aquele short era curto demais e a blusa era transparente demais. Seonghwa estava vendo mais do que devia.
- Seonghwa, sai do quarto! – ordenei e joguei o travesseiro nele.
- Não até você se arrumar. – ele cruzou os braços.
- Me espere na sala, eu já vou. Juro. – levantei e tentei fazer com que ele saísse do quarto, o empurrando com força e não o movendo nem um centímetro.
- Meu beijo de bom-dia. – ele exigiu. Puxei outro travesseiro e o acertei bem no rosto.
- Não tem. Sai, Hwa. – ordenei. Ele me olhou de cima a baixo e sorriu. E que maldito sorriso. Me deixava completamente desestruturada. – Sai!
- Não demore ou as comidas vão ficar ruins. – ele saiu do quarto, parando para me lançar um último sorriso matador. Me arrumei depressa e saí do quarto, encontrando meu pai e Seonghwa conversando como bons amigos.
- Bom dia, appa. – desejei e abracei meu velho pelo pescoço.
- Achei que passaria o domingo conosco. – ele reclamou.
- Eu bem que tentei. Mas o senhor sabe como é Park Seonghwa. – rolei os olhos.
- Não gosto dessa amizade. – meu pai reclamou. Seonghwa prendeu a respiração e eu também. – Estou brincando. Vão, divirtam-se. O dia está lindo.
Eu estaria mentindo se dissesse que Hwa preparou uma cesta, mas ele jogou uma mochila no ombro e tomou em mãos uma bolsa térmica grande, segurando minha mão com a mão livre. Pediu que eu chamasse um carro pelo aplicativo e foi até o Han fazendo carinho no dorso da minha mão, em completo silêncio. Nós arrumamos um lugar vago e ele tirou uma toalha da mochila e a estendeu no chão, depositando tudo em cima.
- Precisamos conversar. – ele disse assim que sentou.
- No momento, eu só preciso comer. Você nem me deixou tomar café. – reclamei. Ele riu e me serviu café e algumas outras coisas que tirou da bolsa. Pelo que eu o conhecia, ele tinha feito tudo sozinho. – Desde quando, ?
- Você quer mesmo falar sobre isso? – perguntei cansada. Ele apenas confirmou com a cabeça. – Não sei, talvez... Seis meses? É difícil, Hwa.
- , nós poderíamos estar juntos há seis meses e você não me disse nada? – ele reclamou.
- Eu fiquei com medo de estragar tudo, Hwa. Caramba, nós somos melhores amigos desde o pré. – expliquei. – Espera... Como assim juntos?
- Isso que você sente é recíproco, . Eu... Eu não falei nada porque achei que você não me via assim. – ele riu nervoso. – Eu odiava seu ex porque sempre achei que ele não era bom o suficiente para você. Porque eu queria que fosse eu.
Eu mal conseguia respirar. Aquilo era mesmo real?
- E por que você sente ciúme do Jongho? – perguntei.
- Porque eu sei que você gosta do fato de ele ser carinhoso. Mas não era eu te dando carinho. Porque você sempre me bate quando eu tento. – ele riu.
- Era mais fácil para mim cortar esse tipo de relação, Hwa. Para não piorar minha situação. – expliquei.
- Seria mais fácil ainda se você falasse comigo, não acha? – ele cruzou os braços sobre o peito.
- E arriscar perder meu melhor amigo? Acho que não. – rebati.
- E deixar de ter o melhor namorado do mundo por que não quis arriscar? Era melhor sim. – ele sorriu de lado.
- Sabe, o fato de você ser tão confiante às vezes me irrita. – suspirei.
- Você me ama de todas as formas, . – ele sorriu de lado e se aproximou. Seus dedos longos tocaram minha bochecha e logo sua mão pousou ao lado do meu rosto. Pressionei a bochecha contra sua palma e o vi sorrir para mim. – Ainda está com raiva de mim? – ele perguntou e eu neguei com a cabeça. – Isso é bom. – ele venceu toda a distância entre nós e me beijou calmo, sua mão no meu rosto me segurando exatamente onde ele queria que eu estivesse. Quando nos faltou o ar, Hwa olhou no fundo dos meus olhos.
- O que foi? – perguntei, controlando a vontade de sorrir como uma idiota.
- Você quer tentar? Digo... Namorar. Eu vou entender se você não quiser, mas vai ser bem estranho. – ele franziu o cenho e eu lhe roubei um selar.
- É, eu também acho que vai ser estranho. – concordei. – Então eu quero tentar. Quer dizer, eu vou...
Comecei a repetir seu discurso, mas Hwa me calou com mais um de seus beijos de tirar o fôlego. Ali, nos braços do meu melhor amigo (ou seria meu namorado?), com o Han ao nosso lado, eu percebi que finalmente estava completa. Meu coração me dizia isso.
***
Na tarde do piquenique, ele voltou cheio de coragem, abordou meu pai assim que passamos pela porta e disse com todas as letras que estávamos namorando. Não era um pedido, era um comunicado. Mamãe apareceu logo em seguida, quase gritando um ‘finalmente’. Eles marcaram um almoço e de repente estávamos os sete, eu, meus pais, Hwa e os pais e irmão dele, almoçando juntos, como uma grande família.
e os meninos fizeram uma verdadeira algazarra com a notícia.
- Finalmente pegou o crush! – gritou e os meninos nos olharam sem entender. Menos Hwa, claro.
- A sabia, ? – ele perguntou ultrajado.
- Só você não sabia, hyung. – Jongho riu do amigo.
Claro que tive que acalmar um Seonghwa quase furioso, até descobrir que ele só queria ser mimado. Aliás, essa uma característica muito forte de Seonghwa: ele adorava ser mimado.
Hoje nós estávamos completando um mês. Nosso primeiro.
Seonghwa não me acordou com mensagens de bom dia, não apareceu na minha porta para irmos juntos, não me esperou na entrada do campus... Eu sequer sabia onde ele estava.
- Sozinha? – me acompanhou em um corredor.
- Eu não sei onde o bonitão se meteu. Ele não me responde. – confessei.
- Abandonada no dia do mêsversário, ? – ela riu.
- Não tem graça, . – fechei a cara.
- Ele vai aparecer amiga. Até lá, se concentre na aula. – ela me empurrou para a sala e saiu.
- , não vai assistir aula? – perguntei para ninguém no corredor. Minha amiga já tinha sumido.
“Me espere na nossa mesa no refeitório, no intervalo entre as aulas. XoXo, Hwa”, foi a mensagem que recebi. Me preparei para manda-lo à merda (eu tinha esse costume), mas o professor entrou e eu tive que me concentrar para não perder o semestre.
Na hora do intervalo, quase corri para o refeitório, peguei meu lanche e me sentei para esperar Seonghwa. continuava sumida.
O som característico do violão de Jongho se fez presente e um arrepio subiu pela minha espinha. Eu conhecia aquelas notas, Hwa já tinha cantado aquela música em um ensaio, olhando diretamente nos meus olhos, mas eu tinha preferido ignorar o recado. As pessoas ao redor pararam para ouvir Seonghwa cantar I like me better, enquanto Jongho tocava ao lado dele.
Ele caminhou em minha direção cantando, e parou na minha frente bem a tempo de dizer “Damn. I like me better when I'm with you”, sorrindo daquele jeito safado que quase me fazia derreter. Hwa me abraçou pela cintura e, de repente, não existia mais nada que não fosse eu, ele e o som do violão. Ele terminou de cantar agarrado a mim e me beijou no final, rápido, mas apaixonado.
- Feliz um mês de namoro. – ele sorriu.
- Você sumiu. – reclamei. – Mas eu adorei a surpresa. Feliz um mês.
- Jantar romântico mais tarde? – ele sorriu de lado.
- O que me diz? – rebati.
- Hambúrguer e refri a luz de velas. – ele riu e eu o acompanhei.
- Casal, nós estamos falando com vocês. – a voz de estourou nossa bolha.
- Aí está você, sua traidora. – acusei.
- Não finja que não gostou, . – ela apontou.
- Eu adorei. Mas você podia ter me dito. – acusei.
- Aí não seria surpresa, amor. – Hwa riu. A forma como ele me chamou de amor bagunçou meu estômago.
- Todos os alunos estão olhando para nós, amor. – sussurrei.
- Deixa eles saberem que eu te amo. – ele segurou meu rosto entre as mãos grandes e selou meus lábios.
- OK, o intervalo acabou, . – me puxou para longe de Seonghwa. – Mais tarde vocês comemoram. – vi quando ela sorriu maliciosa. – O que preparou? – ela sussurrou quando nos afastamos.
- Desculpa? – me fiz de desentendida.
- , não é possível que não tenha pensado em nada. Um mês, pode ser a primeira vez de vocês. E você sequer comprou uma lingerie! – ela gritou a última parte e algumas pessoas pararam para nos olhar.
- Cala a boca, . – ordenei. Eu tinha comprado uma lingerie, mas ela não precisava saber. – Eu não ligo para isso, OK?
- Conta outra. – ela debochou.
- É serio, . Vamos no tempo dele... – sorri.
- Geralmente, eles que tem que ir no nosso tempo. – ela brigou.
- Fique quieta, . – empurrei ela para a sala.
***
Hwa me encontrou na saída e me levou direto para a sua casa, sem me deixar protestar.
- Park, eu tenho que pegar minhas roupas. – tentei argumentar.
- Você não vai precisar, já falei. Veste uma camisa minha e fica tudo certo, . – ele piscou um olho.
- Vai à merda, Park. Eu vou gritar pela sua mãe. Ela vai me libertar desse cativeiro. – ameacei, mas nem me mexi na cama onde estava confortavelmente jogada.
- Mamãe não está em casa. – ele se aproximou com uma camisa preta nas mãos. – Veste. Vai ficar enorme em você. Como naqueles livros adolescentes que você gosta. – e literalmente jogou a camisa no meu rosto. Lhe encarei com os olhos estreitos, pensando se cedia ao seu pedido ou não.
- Só porque estamos fazendo um mês hoje. Considere como seu presente. – peguei a blusa e me levantei, pronta para correr para o banheiro. Hwa me segurou antes que eu desse dois passos. – Não me peça para trocar aqui.
- Mas eu fico sem camisa na sua frente... – ele fez birra.
- É diferente, Seonghwa. – comecei a explicar.
- Somos namorados, . Achei que fosse normal. – ele rebateu. E não estava errado, estava? Sem conseguir argumentar, virei de costas e tirei a blusa que vestia. – Eu te ajudo. – os dedos de Seonghwa tocaram a linha da minha coluna e sua voz soou baixa no meu ouvido, enviando um arrepio por todo o meu corpo. Seus dedos se ocuparam de soltar o fecho do meu sutiã e deslizar as alças por meus braços até que a peça saísse de mim. O toque dele era quente, como se carregasse fogo em si. Ou era eu que estava quente?
- Hwa... – tentei repreender quando seus dedos escorregaram pela minha cintura e me puxaram mais contra si, mas se pareceu mais com um gemido baixo.
- Você... Você não está pronta para isso, ? – ele perguntou incerto, os dedos parados em minha cintura e o nariz nos meus cabelos.
- Você está? – devolvi a pergunta.
- Há mais tempo do que você imagina. – ele sussurrou rouco e tentou nos aproximar mais, como se fosse possível. Seus dedos se deslizaram para minhas costelas e eu juro que prendi a respiração.
- Hwa, seus botões... Incomodam. – reclamei. Claro que estava me referindo à blusa que Seonghwa ainda vestia. Ele riu no meu ouvido e se separou minimamente de mim, me virando de frente para si, os olhos instintivamente caindo sobre meus seios nus. Abracei o tronco numa tentativa de me esconder e ele bufou frustrado. Começou a desabotoar a camisa e parou de repente, o sorriso de lado presente no rosto.
- Não quer fazer isso? – ele perguntou.
- Já não fiz isso quando você passou da conta e bebeu demais? – rebati risonha. Levei os dedos aos botões e comecei a tirá-los das casas, um a um. – Você estava com uma boxer vergonhosa no dia. – lembrei e empurrei a camisa por seus ombros, expondo seu peito e logo me abraçando a sua cintura. A sensação da pele quente dele com a minha exposta a mais tempo me causou um arrepio bom.
- Você adora lembrar disso, não é? – ele riu e suas mãos traçaram a curva da minha bunda como se já conhecessem a região. Seonghwa colou meu quadril ao seu, me fazendo senti-lo. – Você não fez mais que sua obrigação em cuidar de mim. Bebi por sua causa. – ele confessou e eu ri.
- Felizmente eu era uma boa namorada antes mesmo de namorarmos. – beijei seu peito em resposta. As mãos de Seonghwa apertaram minha bunda sob o jeans em resposta. – Eu tinha preparado uma roupa especial para hoje, sabia? – perguntei em um misto de frustração e desejo.
- As roupas não importam, . – ele sussurrou no meu ouvido e mordeu o lóbulo. – Aliás, essa calça pode sair, não é? – ele enganchou os dedos no jeans e o forçou para baixo, na intenção se livrar dele. Ri minimamente e me afastei apenas o suficiente para abrir o botão e o zíper.
- Quer fazer as honras? – perguntei rindo.
- Não, é mais bonito quando você tira. – ele sorriu de lado. – Você balança o quadril e...
- Andou me espionando, Park Seonghwa? – parei na metade do caminho. Ele corou e desviou o olhar. – Ei, olhe para mim. – pedi, brincando. Seus olhos se cravaram nos meus e me acompanharam quando eu olhei para baixo. Continuei a descer a calça sob os olhos atentos do meu namorado.
- Você é linda, sabia? – ele perguntou e me abraçou pela cintura, me empurrando delicadamente até que eu caísse sentada no colchão.
- Eu já ouvi isso algumas vezes. – brinquei.
- De quem? Do seu ex? – impulsionei meu corpo mais para cima e ele se colocou acima de mim, meu quadril preso entre os joelhos.
- Bom, sim. Você não estava disponível no momento. – brinquei. – Então só me restou ouvir do Yunho...
Seonghwa me calou com um beijo sensual. Uma de suas mãos apertou minha cintura enquanto ele sustentava o peso do corpo com a outra. Levei as mãos as suas costas e o arranhei com vontade, o puxando para perto de mim, sentindo seu sorriso entre o beijo.
- Não fale mais dele, sim? – ele pediu com a testa colada na minha. – Vou te fazer esquecer que aquele cara um dia existiu. – ele piscou e sorriu de lado.
- E como pretende fazer isso? – perguntei ainda arranhando suas costas, porém com menos intensidade.
- Vou te dar todo o amor que você merece e vou ser o melhor namorado do mundo. – a mão possessiva voltou a apertar minha cintura.
Ele começou a descer beijos pelo meu pescoço até que seus lábios estivessem no vão entre os meus seios e continuaram a descer até que encontraram a única peça que ainda me cobria. Hwa parou e se afastou apenas para se desfazer da minha calcinha, da própria calça e boxer (e para se proteger), fazendo todo o processo com os olhos fixos nos meus e com um sorriso nos lábios bonitos.
- Pronta para ser minha? – ele perguntou, se aproximando novamente.
- Sua e de mais ninguém. – pisquei para ele.
E Seonghwa me fez dele, devagar e sensual, se deslizando para dentro de mim com toda a paciência que tinha, me mimando e sendo mimado como eu sabia que ele adorava. Sussurrando palavras doces e gemidos graves em meu ouvido. Nos levando ao paraíso e me fazendo confessar um “Eu te amo” sussurrado e sincero.
- Eu te amo. – ele sussurrou de volta e me puxou para deitar a cabeça em seu peito.
- Me desculpe por demorar tanto para confessar. – suspirei e passei a desenhar coisas aleatórias no peito de Seonghwa, vendo sua pele se arrepiar em contato com meu dedo.
- Eu nunca pensei que você retribuía o que eu sentia. Sempre achei que era o único que amava. – ele suspirou e me apertou mais contra si.
- Todas as nossas brincadeiras tinham um fundo de verdade, não é, Seonghwa? – perguntei rindo e levantei os olhos para lhe encarar.
- De verdade e de desejo, . – ele sorriu de lado, me fazendo perceber que nossas comemorações estavam longe de acabar.
O fato é que nós crescemos e eu sempre estava lá em todos os momentos importantes para ele. No primeiro beijo, que não foi comigo, na primeira vez, que, bem, não preciso dizer que também não foi comigo... E Hwa sempre estava comigo. Era recíproco.
O problema talvez fosse que eu finalmente estivesse percebendo meus sentimentos por ele. Não era apenas amizade. Era um amor puro. Não como irmãos, mas como... Um casal. Era isso. Eu amava Park Seonghwa romanticamente.
- Sonhando acordada? – Hwa sentou na minha frente no refeitório na hora do nosso intervalo. O selar casto que ele deixou na minha testa quase me fez suspirar.
- Estava lembrando de quando éramos crianças. – confessei e, de repente, me dei conta de que tinha falado demais.
- De quando você dizia para a sua mãe que eu seria seu namorado? – ele riu e eu entortei a cara para ele.
- Você faz questão de lembrar disso, não é, Seonghwa? – desviei o olhar. Porque era exatamente nisso que eu estava pensando. Mas ele não precisava saber.
- Eu acho fofa sua cara de brava. – ele arrumou meu cabelo atrás da minha orelha e eu automaticamente dei um tapa em sua mão.
- Você me ama, não tente negar. – acusei.
- Você sabe que sim. – ele sorriu de lado e eu quase derreti no banco. Mas me recompus, porque sabia que ele estava brincando.
- Você não veio aqui só para me irritar, Hwa. O que quer? – perguntei e cruzei os braços na frente do peito.
- O que vai fazer amanhã? – ele perguntou sorrindo verdadeiramente. Alguém estava animado.
- Estudar. O curso de Arquitetura está sugando minha alma. – suspirei cansada. Hwa cursava música no prédio vizinho ao meu.
- , eu vou perguntar outra vez. O que vai fazer amanhã? – ele perguntou devagar. Vasculhei na memória algo importante, até me dar conta de que ele tinha uma apresentação em algum bar amanhã, junto com San e Jongho, seus amigos.
- Hwa, sua apresentação é amanhã! – exclamei.
- Já escolheu sua roupa, ? – ele perguntou com a sobrancelha arqueada e aquele sorriso perigoso nos lábios.
- Eu vou pensar em algo. E você, já escolheu sua roupa? – desafiei.
- Não. E preciso de você. Dorme lá em casa hoje? Daí vamos juntos amanhã. O que acha? – ele fez um biquinho, quase implorando.
- Hwa, meu pai está em casa nesse final de semana. Acha que ele concordaria com isso? – levantei assim que ouvi o sinal que denunciava o fim do intervalo. Meu pai era marinheiro e nem sempre estava em casa.
- O senhor me ama, . Você sabe disso. – ele jogou um braço pesado em meu ombro, quase escondendo meu corpo diminuto no seu, enorme.
- Então vá você pedir. Se eles concordarem, eu vou com você. Mas vai ter que me deixar em casa amanhã, assim que acabar. – ordenei.
- Não quer passar duas noites comigo, ? – ele riu quase no meu ouvido. Se ele soubesse o efeito que aquela frase tinha, ele não faria aquilo.
- Você com certeza vai achar alguém para passar a noite com você, Hwa. – alfinetei.
- Qual é, ? Eu deixo você em casa no domingo. Vamos beber amanhã. Não tem a menor condição de eu te deixar em casa. – ele choramingou.
- Depois conversamos sobre isso, Seonghwa. – me desvencilhei do seu abraço. – Agora, boa aula. – me estiquei para beijar seu rosto, mas ele inclinou a cabeça e o beijo saiu perigosamente no canto da boca.
- Boa aula, baixinha. – ele sorriu de lado.
- Baixinha é meu...
- Olha a boca suja, . – ele riu e sumiu entre os alunos que passavam.
- Ainda com raiva do Hwa? – , minha amiga do curso, perguntou assim que me viu.
- Ele tem uma apresentação amanhã e me chamou para ajudá-lo com a roupa. – suspirei.
- Ainda não pegou o crush? – ela riu ao meu lado. Aquela frase tinha se tornado nossa piada desde que eu descobrira que nutria sentimentos por meu melhor amigo.
- Ele se acha o gostosão. – respondi e nós duas rimos alto.
- Enfim... Já ajudei San com a roupa dele. – sorriu apaixonada. Ela namorava San e eu posso afirmar com certeza que eu fui a responsável por aquele namoro.
- Devia ter dado dicas ao Seonghwa. Assim eu não precisaria dormir lá. – bufei.
- , não é tão difícil. Chega nele e diz o que sente. – ela brigou.
- Não é tão simples, . Nós somos melhores amigos desde... sempre! E se eu estragar tudo? – perguntei quase triste.
- Vocês vão conseguir superar. – ela sorriu para mim.
- Não quero mais falar dele. – decretei no momento em que meu celular apitou.
“Te pego na saída.”, era a mensagem que piscava na minha tela, cujo remetente estava nomeado como “Hwa ♡”.
“Não prometa o que não vai cumprir, Park.”, respondi sorrindo para a tela.
“Se você queria que eu te pegasse, devia ter dito antes.”, ele rebateu e eu quase podia ver o sorriso atravessado dele, a língua brincando nos dentes, o deixando perigosamente sexy.
- O professor está na sala, . – fui alertada por . – Deixe sua resposta para depois. Ao vivo surge mais efeito. – ela piscou.
Sorri, balançando a cabeça em negativa, e tratei de me concentrar na aula.
Assim que as aulas acabaram, fui direto para o portão onde sempre encontrava Hwa e não encontrei absolutamente ninguém. Saquei o celular do bolso, pronta para mandar uma mensagem de puro ódio, quando senti mãos grandes em minha cintura e um hálito quente soprar no meu ouvido.
- Te peguei. – Hwa sussurrou.
- A única coisa que você pega é resfriado, Seonghwa. – me desvencilhei de seus braços e o ouvi rir alto.
- Ah, o amor... – Jongho brincou, logo atrás de nós.
- Seonghwa não para de falar de mim, não é, Jongho? – perguntei rindo e o abracei de lado.
- Nem um minuto sequer. Eu estou quase enjoando de você, . – ele riu, mas Hwa lhe lançou um olhar severo. – Mas infelizmente você é nossa fã número um. Não podemos te dispensar.
- Eu só vou nas apresentações porque gosto do San cantando. – dei de ombros.
- Acabou a palhaçada. Vamos para casa, . – Hwa me puxou pelo braço, me deixando apenas acenar um tchau apressado para Jongho, que ria de nós. Caminhei as quatro quadras que separavam o campus da minha casa com um Seonghwa praticamente agarrado à minha cintura, a mão quase possessiva me segurando. Ele foi o caminho todo em silêncio, a expressão séria no rosto de traços bonitos.
- Estou em casa. – anunciei assim que passei pela porta, Hwa ainda abraçado a mim.
- Filha, você não avisou que o Seonghwa vinha. – minha mãe reclamou assim que viu a figura alta ao meu lado.
- Não vou ficar para o almoço, tia. Não se preocupe. – Hwa me soltou apenas para abraçar a mais velha e voltou a se agarrar a mim, dessa vez, me abraçando por trás, o queixo confortavelmente apoiado no topo da minha cabeça.
- Filho, que bom vê-lo. – meu pai deu dois tapinhas no ombro de Hwa.
- Bom ver você também, pai. – reclamei.
- Senti sua falta, minha princesa. – meu pai sorriu para mim e beijou minha testa.
- Senhor , eu queria... – Hwa começou, mas foi cortado por meu pai.
- Se veio me pedir a , pode levar. – meu pai riu e eu abri a boca, ultrajada.
- Prometo que trago ela de volta no domingo pela manhã. – Hwa endireitou a postura.
- Temos a casa para nós o sábado inteiro, querida! – meu pai gritou animado.
- Pai! – fiz uma careta. – Me fez perder a fome.
- Mas o que eu disse? – ele riu. Às vezes, eu senti falta dele em casa por mais tempo. Às vezes, não.
- Nada. – eu ri sem vontade. – Hwa, me espere, vou com você. Só preciso arrumar minha bolsa. – me soltei de Seonghwa, aliás, isso estava acontecendo com uma frequência absurda, e corri para o meu quarto, ouvindo passos atrás de mim.
- Estou pensando em usar algo mais clássico... – Hwa se jogou em minha cama e encarou o teto. – Ou jeans. – ele devaneou no exato momento em que joguei minha camisa jeans na mochila. Fiquei pensando se tirava a peça ou se ficaria legal andar com uma roupa parecida com a dele e acabei por deixá-la lá.
- Vou perguntar a o que San vai usar. Para não divergir tanto e deixar tudo esquisito. – comentei. Abri a gaveta para pegar meu pijama e a voz dele me fez parar.
- Seu pijama que lembra aquele seu ex ainda está lá. Mamãe o lavou e colocou na minha gaveta. – ele disse com a voz quase seca. O tal pijama trazia a cara do Donkey Kong na blusa e bananinhas estampadas no short, e tinha sido um presente do meu ex-namorado gamer. Não era segredo para ninguém que ele odiava Yunho. Mas o que eu poderia fazer? Esperar por ele a vida toda?
- Vamos embora, ciumento. – fechei a mochila, joguei no ombro e saí do quarto. – Estou saindo. – avisei em alto e bom som.
- Juízo. – minha mãe riu e nós a acompanhamos, Hwa vinha bem atrás de mim.
- Cuide bem da minha filha, Park. – meu pai ordenou.
- Pode deixar, senhor . – Hwa fez uma reverência de noventa graus, como se fosse um cadete respondendo seu superior.
- Até domingo. – abracei meus pais e saí. Hwa tomou minha mão na sua assim que nos vimos na rua e nós caminhamos as duas quadras que separavam minha casa da dele no mais completo silêncio.
- Mãe, cheguei! – ele gritou quando passou pela porta.
- ! – a senhora Park me abraçou apertado. – Diga que veio para o almoço.
- De hoje e de amanhã. – Hwa respondeu por mim e beijou o rosto da mãe. – Estou faminto.
- Conte uma novidade. – a senhora Park riu.
- Vim ajudar seu filho folgado. Espero não estar incomodando. – sorri para ela.
- E desde quando você é um incômodo? Já é da família. – ela sorriu mais ainda. “Eu bem que gostaria, senhora Park”, pensei.
Almoçamos em meio a risadas, ajudamos com a louça e partimos para o quarto de Seonghwa. Eu geralmente ficava ali e dormia na cama dele. Ele dormia em um colchão no chão, claro. A casa não tinha quarto de hóspedes e ele se via na obrigação de me deixar confortável. Peguei o celular para mandar uma mensagem para no exato momento em que o celular de Seonghwa apitou. Nos jogamos na cama e ficamos com os aparelhos em mãos, Hwa em meio a risos e eu analisando as imagens que me mandava.
- O que é tão engraçado, Seonghwa? – perguntei sem tirar os olhos do meu aparelho.
- Nada. – ele respondeu e se esticou em minha direção, colocando o rosto entre minha visão e a tela do meu celular. – O que está vendo?
- Seonghwa, isso é invasão de privacidade. – avisei e puxei o celular para o lado. Ele apenas descansou o rosto em meu peito e suspirou.
- Já decidimos o que eu vou usar? – ele perguntou baixinho.
- Estou resolvendo isso. – empurrei sua cabeça e levantei, indo até o guarda-roupa. Separei uma camiseta preta e a blusa jeans sob seus olhos atentos.
- Você anda muito violenta, . – ele reclamou com o rosto espremido contra o colchão.
- Desculpe se não sou a miss carinho. – respondi sem lhe olhar e continuei a mexer nas roupas.
- Eu... Eu fiz algo errado? – ele perguntou incerto. “Não, eu que fiz. Me apaixonei por você”, pensei e suspirei. Caminhei até ele e me ajoelhei ao lado da cama.
- Está tudo bem, Hwa. Eu só ando estressada com o curso. – sorri para ele. – Só me prometa que vai continuar sendo meu melhor amigo.
- Eu prometo. – ele respondeu olhando em meus olhos. Desviei momentaneamente o olhar para seus lábios e o vi se aproximar. Fechei os olhos e esperei o beijo que veio, na minha bochecha.
- Agora vista as camisas que eu separei. – abri os olhos e ordenei.
- , quando eu for famoso, não vou te contratar como minha staff. Você é impossível às vezes. – ele riu e levantou, indo até as peças separadas em um canto.
- Alguém tem de impor ordem. E é exatamente por isso que você vai me contratar. – sentei na cama. Vi Hwa tirar a blusa de mangas compridas e se preparar para tirar a camiseta. – O que pensa que está fazendo, Park Seonghwa?
- Vestindo as blusas que você separou. – ele respondeu como se fosse óbvio, a camiseta a meio caminho de sair do corpo magro.
- Assim, sem mais nem menos? – perguntei rindo.
- Por favor, . – ele riu e puxou a camiseta, revelando aquele abdômen definido e a pele branquinha. – Já passamos dessa fase.
Passamos?
Suspirei pesado e esperei que ele terminasse, aprovei o look e deitei na cama outra vez, de costas para ele. Senti o colchão afundar ao meu lado e o olhei por cima do ombro. Pelo menos ele estava de camiseta.
- Com licença? – estreitei os olhos.
- Essa cama é minha? – ele rebateu rindo.
- Não hoje, meu bem. – virei o corpo e o empurrei com o ombro.
- Eu tenho uma apresentação importante amanhã. Vai me fazer dormir no chão, ? – ele perguntou com um beicinho.
- Ainda não é noite e você não vai dormir agora, Hwa. – rebati rindo.
- Se quer que eu continue sendo seu melhor amigo, vai ter que me mimar mais, . – ele apoiou a cabeça em meu estômago. – Estou esperando, .
Bufei e levei a mão aos seus fios negros, o ouvindo quase ronronar como um gatinho por causa do carinho. Com os dedos inquietos, desenhei o contorno de sua orelha e de seu maxilar, o vendo sorrir de olhos fechados. Meu estômago se agitou e meu coração falhou uma batida. Por que logo você, Park Seonghwa?
Acho que adormeci com uma mão nos cabelos de Hwa, que ainda estava com a cabeça em meu estômago, dormindo como um bebê.
- Você se mexe demais, .
Bom, pelo menos eu achei que ele estava dormindo.
- Você não tem ensaio hoje, Seonghwa? – perguntei. Ele levantou de repente, os cabelos assanhados e o rosto amassado.
- , nós dormimos demais. – ele começou a correr pelo quarto, vestindo um casaco e procurando os pertences. Levantei calmamente e peguei meu celular e minha carteira na mochila. Ele me puxou pela mão e praticamente me arrastou para fora. – Mãe, vamos precisar do carro. – ele anunciou.
- Onde vai com tanta pressa? – ela perguntou.
- me fez dormir demais e agora eu estou atrasado para o ensaio. – ele respondeu e catou as chaves.
- Eu? – perguntei incrédula. – Você que pediu mais carinho. Não me culpe.
- Vão ter que me explicar isso direito quando voltarem. – ela riu.
Saímos com a promessa de dizer tudo na volta e eu tomei meu lugar atrás do volante. Apesar de ter idade, Seonghwa não dirigia. Então essa era uma tarefa minha. Conduzi até a casa de San com um Hwa digitando furiosamente no celular.
- Ah, o príncipe chegou. – Jongho ironizou. Hwa abriu a boca para falar, mas eu fui mais rápida.
- Eu juro que se você me culpar, eu te bato. – ameacei. Jongho depositou um beijo no topo da minha cabeça e Hwa estreitou os olhos para ele.
- E o que estavam fazendo para que você seja o motivo do atraso, ? – perguntou com um sorriso no rosto.
- Seonghwa dormiu e diz que a culpa é minha. – abracei minha amiga e fui abraçar San.
- San, disse que só nos acompanha porque gosta da sua voz. Acredita nisso? – Jongho perguntou rindo. Hwa automaticamente fechou a cara e eu quis rir. Aquilo tudo não passava de uma grande brincadeira, mas era fofo ver a cara de raiva dele por achar que eu, a melhor amiga, preferia a voz de San.
- E o que o Seonghwa hyung acha disso? – San perguntou rindo.
- Acho uma palhaçada. – ele respondeu seco.
- Seonghwa, você fica fofo com ciúmes. – alfinetou.
- Eu não estou com ciúmes. – ele rebateu e foi tomar seu microfone.
- Ele está com ciúmes. – Jongho constatou. Nós rimos e os meninos começaram o ensaio, e era linda a forma como as vozes se encaixavam e completavam. Hwa olhava para mim vez ou outra e eu sempre mandava um beijinho no ar, até que ele desfez a expressão séria e sorriu. E seguiu sorrindo até o final do ensaio.
- Já decidiu o que vai usar amanhã, Jongho? – perguntei inocente.
- Vai oferecer ajuda para ele também? – Hwa perguntou com um toque de ciúmes na voz.
- Hyung, seu ciúme é fofo e bonitinho, mas... eu tenho namorada. – Jongho riu. – Ela já me ajudou com isso.
- E se eu quisesse ajudar o Jongho, você não poderia me impedir, Seonghwa. – constatei. – Se eu ajudo um amigo, posso muito bem ajudar outro, não?
- Vamos para casa, . – ele saiu sem esperar por mim.
- Surtou. – San riu.
- Amiga, não irrita a fera. – disse baixinho.
- Você sabe que essa é minha especialidade, . – respondi sorrindo.
- Quando vocês vão nos contar que estão finalmente namorando? – Jongho perguntou.
- Seonghwa hyung está se fazendo de difícil. – San respondeu.
- E o que te leva a achar isso? – perguntei curiosa.
- Noona, tá na cara que você está caidinha por ele há muito tempo. – ele respondeu e meu queixo caiu, de puro choque. – E a pode ter mencionado algo sem querer.
- ! – a voz impaciente de Seonghwa cortou nossa conversa.
- Conversamos depois. Agora o príncipe quer ir e a motorista sou eu. Até amanhã. – me despedi de todos e fui para o carro. Hwa estava parado, encostado na lataria, a pose de bad boy irritado lhe dando um ar sexy. – Eu não posso acreditar que você está com ciúme dos meninos, Hwa.
Eu sinceramente estava começando a achar que o que eu sentia era recíproco, mas não queria me iludir. Então estava tentando convencer minha cabeça de que aquilo era só uma crise de ciúmes de melhor amigo.
- Você anda muito solícita com eles. – ele formou um bico nos lábios bonitos.
- Hwa, por Deus, eu não vou te trocar por eles. – eu ri e me abracei a sua cintura.
- Eu espero. – ele arrumou meu cabelo atrás da minha orelha e aproximou o rosto perigosamente. Olhei em seus olhos por longos segundos e ele sorriu. – Vamos para casa. Estou com fome.
- Ainda vai ter que explicar a sua mãe por que nos atrasamos. – lembrei a ele. Ele choramingou e me afastou para entrar no carro.
E foi o caminho inteiro ensaiando sua fala. Seria fofo, se ele não estivesse tentando convencer a si mesmo que nós não tínhamos nada. Ele repetiu as palavras para sua mãe quando entramos e ela apenas riu, como se não acreditasse em absolutamente nada do que ele dizia. Depois de comer, ele seguiu para o quarto e eu fui logo atrás, me preparando para a longa noite.
- Quer usar o banheiro primeiro? – ele sorriu para mim e eu apenas confirmei com a cabeça. Peguei meu pijama na gaveta e segui para fazer minha higiene. Quando saí, encontrei Hwa deitado confortavelmente na cama.
- O que aconteceu com o colchão? – perguntei.
- Você vai mesmo me deixar dormir no chão com uma apresentação amanhã, ? – Hwa protestou como uma criança birrenta.
- Vá tomar banho, Hwa. – suspirei pesado. Assim que ele sumiu no banheiro, peguei o colchão inflável e comecei a encher. Terminei antes de ele voltar e me deitei com o celular em mãos.
- ... – ele suspirou. – A cama é grande o suficiente para nós dois.
- Eu já decidi, Seonghwa. Estou confortável aqui. – me esparramei no colchão. – Deite e tente não cair da cama ou eu terei problemas.
- Vou deitar com você. – ele ameaçou se jogar no colchão e eu levantei depressa.
- Nem pensar! Ficou doido? – estiquei a mão para lhe parar.
- Então deita aqui. – ele sentou na cama. – Eu quero carinho da minha melhor amiga. – ele formou um bico. Suspirei pesado de novo. A noite estava ficando cada vez mais difícil.
- Só até você dormir, Seonghwa. – me dei por vencida e deitei na cama. Ele logo apoiou a cabeça em meu estômago, como mais cedo, e eu fiz carinho em seus fios.
É difícil dizer quem dormiu primeiro, mas eu acordei primeiro, assustada com o Sol no meu rosto e Seonghwa agarrado a mim como se eu fosse um travesseiro.
- Hwa, já são... – me estiquei e peguei o celular dele, checando as horas. – Quase dez. Melhor levantar.
- Só mais um pouco. – ele se aconchegou na cama e ajustou o corpo ao meu.
- Seonghwa, se sua mãe entra aqui, todo o seu discurso de ontem vai por água abaixo. – ri baixinho.
- Mas eu estou confortável, . Acho que vou te contratar para dormir comigo toda noite. – ele riu. Não sabia dizer se ele estava consciente do que dizia ou não, mas a frase tinha batido fundo em mim.
- Você vai acabar se apaixonando por mim, Hwa. – provoquei.
- Isso não é possível, é? Se apaixonar duas vezes pela mesma pessoa? – ele quase sussurrou.
- O que disse? – perguntei. Talvez meus ouvidos tivessem me enganado em alguma parte da frase dele.
- Bom dia, . – ele sorriu, mal conseguindo abrir os olhos. – Acho que minha mãe já passou aqui. Eu lembro de ter fechado a janela, e ela está aberta. Qual nosso cronograma de hoje?
- Preparação da pele, aquecimento vocal e apresentação. – listei. – Seu celular está jogado em algum lugar. Tem umas duzentas mensagens. – avisei e corri para o banheiro. Saí de lá completamente vestida e encontrei Hwa desabotoando os botões de seu pijama.
- Você teve um trabalho enorme para nada. – ele riu e apontou para o colchão inflável. – Eu disse que cabíamos os dois na cama.
- E eu bem suspeitei que isso não ia dar certo. Faça sua higiene e desça para o café. – saí do quarto a tempo de ouvi-lo gritar um “sim, mãe”. Tomamos nosso café sob os olhos atentos da mãe de Hwa, que nem sequer parecia perceber o sorriso atravessado da mulher.
Passei o dia inteiro vendo Hwa se preparar para a tal apresentação e comecei a me arrumar cedo. Vesti uma calça de cintura alta e minha blusa jeans amarrada na cintura, tênis branco nos pés e maquiagem leve. Peguei meus pertences e saí do quarto para esperar Seonghwa, que saiu de lá exalando um perfume forte, a roupa lhe deixando mais bonito ainda.
- Roupa de casal? – a senhora Park perguntou quando nos viu. Hwa me olhou e finalmente percebeu que sim, estávamos com roupas parecidas.
- A senhora sabe do amor que a tem por mim, não é? – ele jogou um braço pesado em meu ombro e eu sorri sem graça.
- Não brinque com isso, Seonghwa. – sua mãe o repreendeu e sorriu para mim.
- Eu já estou acostumada, tia. – respondi tentando lhe tranquilizar. Ela balançou a cabeça em negativa, como se não tivéssemos mais jeito, e nos enxotou para fora de casa. Fomos de táxi e encontramos os meninos lá, mais animada que todos.
- Então você pegou o crush? – ela perguntou.
- Ele ainda se acha o gostosão. – respondi.
- Ai, . Por Deus, que coisa difícil. – ela reclamou.
- Ei, não é culpa minha, OK? – me defendi. – Agora fique quieta, vai começar.
A apresentação foi regada a músicas românticas, fazendo , eu e mais uma porção de meninas suspirar apaixonada. Ao final da última música, eles agradeceram ao público e desceram do pequeno palco. Seonghwa tinha um sorriso que não cabia no rosto. Ele caminhou na minha direção e... Passou reto, indo abraçar alguém que estava atrás de mim, uma menina de cabelos tão curtos quanto a saia que vestia. Sorriu para ela, arrumou os cabelos atrás da orelha, como fazia comigo, e seguiu conversando abraçado à cintura fina.
Movida por um acesso de ciúmes, peguei meu celular, minha carteira e saí sem me despedir de ninguém. Não queria ficar ali, vendo Seonghwa agradecer a alguém que eu desconhecia, sendo que eu tinha sido sua ajuda. Estiquei a mão para parar um táxi, mas alguém me impediu de completar minha ação.
- Onde pensa que vai? – Seonghwa me virou para si e me olhou nos olhos. Parecia furioso.
- Para casa. E não a sua, a minha. – tentei me soltar dele.
- O que eu fiz? – ele perguntou confuso e eu sorri sarcástica.
- Nada, Seonghwa. Pode ir se divertir com seus amigos e sua amiga. – rebati sem conseguir controlar o ciúme.
- , você está com ciúmes? – ele perguntou rindo.
- Estou, OK? Você desceu do palco direto para os braços daquela garota, Seonghwa. Eu sei que eu não tenho nenhum direito, porque você é apenas meu amigo, como você mesmo faz questão de ressaltar, mas eu estou com ciúmes sim, OK? – disse tudo de uma vez. – Agora se me der licença, eu estou indo para casa.
- Você está realmente com ciúmes dela? – ele perguntou e me abraçou pela cintura. Bufei e nem precisei responder. – Até onde eu sei, relacionamento entre primos não é bem aceito, sabe? – ele perguntou e eu quis enfiar a cara em um buraco. Ela era prima dele? Como eu não a conhecia? Eu tendo essa crise louca apenas por que ele foi carinhoso com a prima?
- Me solte, Seonghwa. – pedi sem lhe olhar.
- Vamos voltar para dentro, sim? – ele pediu.
- Não, eu vou embora. – insisti.
- Então eu te levo. – ele decidiu.
- Não, fique aí e se divirta. Eu preciso ir sozinha. – decretei.
- OK, teimosa. Então me dê um beijo de despedida. – ele pediu e eu levantei o rosto para lhe encarar, encontrando aquele sorriso brincalhão que deixava minhas pernas moles. Me aproximei incerta e lhe roubei um selar rápido. – Eu disse um beijo, .
Seonghwa tomou meus lábios nos seus, macios e suaves. Sua mão possessiva me apertou ainda mais contra si e ele levou o beijo de uma forma quase sensual. Nosso primeiro beijo. Inesquecível. Seonghwa me soltou e eu apoiei o rosto em seu peito, não queria olhar em seus olhos agora, ou ficaria ali o resto da noite, apenas o beijando.
- Isso foi bom. – ele sussurrou grave.
- Se contente. É só o que você vai ter. – rebati.
- Eu achei que...
- Achou errado. Agora me solte. Eu ainda estou com raiva de você. – pedi.
- Vamos para dentro, . Depois voltamos para casa e conversamos sobre isso, o que acha? – ele afagou meu cabelo.
- A noite acabou para mim, Hwa. Outro dia conversamos sobre isso. – me soltei dele enquanto tinha coragem e selei seus lábios rapidamente. Chamei um táxi e fui para casa, tentando lidar com todas as sensações que Park Seonghwa causava em mim.
Acordei no domingo, ou melhor, fui acordada no domingo por Seonghwa pulando na minha cama. Literalmente.
- Bom dia, minha baixinha ciumenta. – ele desejou e beijou minha testa.
- Vai a merda, Park Seonghwa. – resmunguei e cobri a cabeça com o cobertor.
- Não. Nós vamos fazer um piquenique. Levanta. – ele puxou meu cobertor e o arremessou para longe. Puxei um travesseiro e cobri o rosto. – Esse pijama é bem melhor, sabia? – ele puxou a alcinha do meu pijama e eu congelei no lugar. Aquele short era curto demais e a blusa era transparente demais. Seonghwa estava vendo mais do que devia.
- Seonghwa, sai do quarto! – ordenei e joguei o travesseiro nele.
- Não até você se arrumar. – ele cruzou os braços.
- Me espere na sala, eu já vou. Juro. – levantei e tentei fazer com que ele saísse do quarto, o empurrando com força e não o movendo nem um centímetro.
- Meu beijo de bom-dia. – ele exigiu. Puxei outro travesseiro e o acertei bem no rosto.
- Não tem. Sai, Hwa. – ordenei. Ele me olhou de cima a baixo e sorriu. E que maldito sorriso. Me deixava completamente desestruturada. – Sai!
- Não demore ou as comidas vão ficar ruins. – ele saiu do quarto, parando para me lançar um último sorriso matador. Me arrumei depressa e saí do quarto, encontrando meu pai e Seonghwa conversando como bons amigos.
- Bom dia, appa. – desejei e abracei meu velho pelo pescoço.
- Achei que passaria o domingo conosco. – ele reclamou.
- Eu bem que tentei. Mas o senhor sabe como é Park Seonghwa. – rolei os olhos.
- Não gosto dessa amizade. – meu pai reclamou. Seonghwa prendeu a respiração e eu também. – Estou brincando. Vão, divirtam-se. O dia está lindo.
Eu estaria mentindo se dissesse que Hwa preparou uma cesta, mas ele jogou uma mochila no ombro e tomou em mãos uma bolsa térmica grande, segurando minha mão com a mão livre. Pediu que eu chamasse um carro pelo aplicativo e foi até o Han fazendo carinho no dorso da minha mão, em completo silêncio. Nós arrumamos um lugar vago e ele tirou uma toalha da mochila e a estendeu no chão, depositando tudo em cima.
- Precisamos conversar. – ele disse assim que sentou.
- No momento, eu só preciso comer. Você nem me deixou tomar café. – reclamei. Ele riu e me serviu café e algumas outras coisas que tirou da bolsa. Pelo que eu o conhecia, ele tinha feito tudo sozinho. – Desde quando, ?
- Você quer mesmo falar sobre isso? – perguntei cansada. Ele apenas confirmou com a cabeça. – Não sei, talvez... Seis meses? É difícil, Hwa.
- , nós poderíamos estar juntos há seis meses e você não me disse nada? – ele reclamou.
- Eu fiquei com medo de estragar tudo, Hwa. Caramba, nós somos melhores amigos desde o pré. – expliquei. – Espera... Como assim juntos?
- Isso que você sente é recíproco, . Eu... Eu não falei nada porque achei que você não me via assim. – ele riu nervoso. – Eu odiava seu ex porque sempre achei que ele não era bom o suficiente para você. Porque eu queria que fosse eu.
Eu mal conseguia respirar. Aquilo era mesmo real?
- E por que você sente ciúme do Jongho? – perguntei.
- Porque eu sei que você gosta do fato de ele ser carinhoso. Mas não era eu te dando carinho. Porque você sempre me bate quando eu tento. – ele riu.
- Era mais fácil para mim cortar esse tipo de relação, Hwa. Para não piorar minha situação. – expliquei.
- Seria mais fácil ainda se você falasse comigo, não acha? – ele cruzou os braços sobre o peito.
- E arriscar perder meu melhor amigo? Acho que não. – rebati.
- E deixar de ter o melhor namorado do mundo por que não quis arriscar? Era melhor sim. – ele sorriu de lado.
- Sabe, o fato de você ser tão confiante às vezes me irrita. – suspirei.
- Você me ama de todas as formas, . – ele sorriu de lado e se aproximou. Seus dedos longos tocaram minha bochecha e logo sua mão pousou ao lado do meu rosto. Pressionei a bochecha contra sua palma e o vi sorrir para mim. – Ainda está com raiva de mim? – ele perguntou e eu neguei com a cabeça. – Isso é bom. – ele venceu toda a distância entre nós e me beijou calmo, sua mão no meu rosto me segurando exatamente onde ele queria que eu estivesse. Quando nos faltou o ar, Hwa olhou no fundo dos meus olhos.
- O que foi? – perguntei, controlando a vontade de sorrir como uma idiota.
- Você quer tentar? Digo... Namorar. Eu vou entender se você não quiser, mas vai ser bem estranho. – ele franziu o cenho e eu lhe roubei um selar.
- É, eu também acho que vai ser estranho. – concordei. – Então eu quero tentar. Quer dizer, eu vou...
Comecei a repetir seu discurso, mas Hwa me calou com mais um de seus beijos de tirar o fôlego. Ali, nos braços do meu melhor amigo (ou seria meu namorado?), com o Han ao nosso lado, eu percebi que finalmente estava completa. Meu coração me dizia isso.
Na tarde do piquenique, ele voltou cheio de coragem, abordou meu pai assim que passamos pela porta e disse com todas as letras que estávamos namorando. Não era um pedido, era um comunicado. Mamãe apareceu logo em seguida, quase gritando um ‘finalmente’. Eles marcaram um almoço e de repente estávamos os sete, eu, meus pais, Hwa e os pais e irmão dele, almoçando juntos, como uma grande família.
e os meninos fizeram uma verdadeira algazarra com a notícia.
- Finalmente pegou o crush! – gritou e os meninos nos olharam sem entender. Menos Hwa, claro.
- A sabia, ? – ele perguntou ultrajado.
- Só você não sabia, hyung. – Jongho riu do amigo.
Claro que tive que acalmar um Seonghwa quase furioso, até descobrir que ele só queria ser mimado. Aliás, essa uma característica muito forte de Seonghwa: ele adorava ser mimado.
Hoje nós estávamos completando um mês. Nosso primeiro.
Seonghwa não me acordou com mensagens de bom dia, não apareceu na minha porta para irmos juntos, não me esperou na entrada do campus... Eu sequer sabia onde ele estava.
- Sozinha? – me acompanhou em um corredor.
- Eu não sei onde o bonitão se meteu. Ele não me responde. – confessei.
- Abandonada no dia do mêsversário, ? – ela riu.
- Não tem graça, . – fechei a cara.
- Ele vai aparecer amiga. Até lá, se concentre na aula. – ela me empurrou para a sala e saiu.
- , não vai assistir aula? – perguntei para ninguém no corredor. Minha amiga já tinha sumido.
“Me espere na nossa mesa no refeitório, no intervalo entre as aulas. XoXo, Hwa”, foi a mensagem que recebi. Me preparei para manda-lo à merda (eu tinha esse costume), mas o professor entrou e eu tive que me concentrar para não perder o semestre.
Na hora do intervalo, quase corri para o refeitório, peguei meu lanche e me sentei para esperar Seonghwa. continuava sumida.
O som característico do violão de Jongho se fez presente e um arrepio subiu pela minha espinha. Eu conhecia aquelas notas, Hwa já tinha cantado aquela música em um ensaio, olhando diretamente nos meus olhos, mas eu tinha preferido ignorar o recado. As pessoas ao redor pararam para ouvir Seonghwa cantar I like me better, enquanto Jongho tocava ao lado dele.
Ele caminhou em minha direção cantando, e parou na minha frente bem a tempo de dizer “Damn. I like me better when I'm with you”, sorrindo daquele jeito safado que quase me fazia derreter. Hwa me abraçou pela cintura e, de repente, não existia mais nada que não fosse eu, ele e o som do violão. Ele terminou de cantar agarrado a mim e me beijou no final, rápido, mas apaixonado.
- Feliz um mês de namoro. – ele sorriu.
- Você sumiu. – reclamei. – Mas eu adorei a surpresa. Feliz um mês.
- Jantar romântico mais tarde? – ele sorriu de lado.
- O que me diz? – rebati.
- Hambúrguer e refri a luz de velas. – ele riu e eu o acompanhei.
- Casal, nós estamos falando com vocês. – a voz de estourou nossa bolha.
- Aí está você, sua traidora. – acusei.
- Não finja que não gostou, . – ela apontou.
- Eu adorei. Mas você podia ter me dito. – acusei.
- Aí não seria surpresa, amor. – Hwa riu. A forma como ele me chamou de amor bagunçou meu estômago.
- Todos os alunos estão olhando para nós, amor. – sussurrei.
- Deixa eles saberem que eu te amo. – ele segurou meu rosto entre as mãos grandes e selou meus lábios.
- OK, o intervalo acabou, . – me puxou para longe de Seonghwa. – Mais tarde vocês comemoram. – vi quando ela sorriu maliciosa. – O que preparou? – ela sussurrou quando nos afastamos.
- Desculpa? – me fiz de desentendida.
- , não é possível que não tenha pensado em nada. Um mês, pode ser a primeira vez de vocês. E você sequer comprou uma lingerie! – ela gritou a última parte e algumas pessoas pararam para nos olhar.
- Cala a boca, . – ordenei. Eu tinha comprado uma lingerie, mas ela não precisava saber. – Eu não ligo para isso, OK?
- Conta outra. – ela debochou.
- É serio, . Vamos no tempo dele... – sorri.
- Geralmente, eles que tem que ir no nosso tempo. – ela brigou.
- Fique quieta, . – empurrei ela para a sala.
Hwa me encontrou na saída e me levou direto para a sua casa, sem me deixar protestar.
- Park, eu tenho que pegar minhas roupas. – tentei argumentar.
- Você não vai precisar, já falei. Veste uma camisa minha e fica tudo certo, . – ele piscou um olho.
- Vai à merda, Park. Eu vou gritar pela sua mãe. Ela vai me libertar desse cativeiro. – ameacei, mas nem me mexi na cama onde estava confortavelmente jogada.
- Mamãe não está em casa. – ele se aproximou com uma camisa preta nas mãos. – Veste. Vai ficar enorme em você. Como naqueles livros adolescentes que você gosta. – e literalmente jogou a camisa no meu rosto. Lhe encarei com os olhos estreitos, pensando se cedia ao seu pedido ou não.
- Só porque estamos fazendo um mês hoje. Considere como seu presente. – peguei a blusa e me levantei, pronta para correr para o banheiro. Hwa me segurou antes que eu desse dois passos. – Não me peça para trocar aqui.
- Mas eu fico sem camisa na sua frente... – ele fez birra.
- É diferente, Seonghwa. – comecei a explicar.
- Somos namorados, . Achei que fosse normal. – ele rebateu. E não estava errado, estava? Sem conseguir argumentar, virei de costas e tirei a blusa que vestia. – Eu te ajudo. – os dedos de Seonghwa tocaram a linha da minha coluna e sua voz soou baixa no meu ouvido, enviando um arrepio por todo o meu corpo. Seus dedos se ocuparam de soltar o fecho do meu sutiã e deslizar as alças por meus braços até que a peça saísse de mim. O toque dele era quente, como se carregasse fogo em si. Ou era eu que estava quente?
- Hwa... – tentei repreender quando seus dedos escorregaram pela minha cintura e me puxaram mais contra si, mas se pareceu mais com um gemido baixo.
- Você... Você não está pronta para isso, ? – ele perguntou incerto, os dedos parados em minha cintura e o nariz nos meus cabelos.
- Você está? – devolvi a pergunta.
- Há mais tempo do que você imagina. – ele sussurrou rouco e tentou nos aproximar mais, como se fosse possível. Seus dedos se deslizaram para minhas costelas e eu juro que prendi a respiração.
- Hwa, seus botões... Incomodam. – reclamei. Claro que estava me referindo à blusa que Seonghwa ainda vestia. Ele riu no meu ouvido e se separou minimamente de mim, me virando de frente para si, os olhos instintivamente caindo sobre meus seios nus. Abracei o tronco numa tentativa de me esconder e ele bufou frustrado. Começou a desabotoar a camisa e parou de repente, o sorriso de lado presente no rosto.
- Não quer fazer isso? – ele perguntou.
- Já não fiz isso quando você passou da conta e bebeu demais? – rebati risonha. Levei os dedos aos botões e comecei a tirá-los das casas, um a um. – Você estava com uma boxer vergonhosa no dia. – lembrei e empurrei a camisa por seus ombros, expondo seu peito e logo me abraçando a sua cintura. A sensação da pele quente dele com a minha exposta a mais tempo me causou um arrepio bom.
- Você adora lembrar disso, não é? – ele riu e suas mãos traçaram a curva da minha bunda como se já conhecessem a região. Seonghwa colou meu quadril ao seu, me fazendo senti-lo. – Você não fez mais que sua obrigação em cuidar de mim. Bebi por sua causa. – ele confessou e eu ri.
- Felizmente eu era uma boa namorada antes mesmo de namorarmos. – beijei seu peito em resposta. As mãos de Seonghwa apertaram minha bunda sob o jeans em resposta. – Eu tinha preparado uma roupa especial para hoje, sabia? – perguntei em um misto de frustração e desejo.
- As roupas não importam, . – ele sussurrou no meu ouvido e mordeu o lóbulo. – Aliás, essa calça pode sair, não é? – ele enganchou os dedos no jeans e o forçou para baixo, na intenção se livrar dele. Ri minimamente e me afastei apenas o suficiente para abrir o botão e o zíper.
- Quer fazer as honras? – perguntei rindo.
- Não, é mais bonito quando você tira. – ele sorriu de lado. – Você balança o quadril e...
- Andou me espionando, Park Seonghwa? – parei na metade do caminho. Ele corou e desviou o olhar. – Ei, olhe para mim. – pedi, brincando. Seus olhos se cravaram nos meus e me acompanharam quando eu olhei para baixo. Continuei a descer a calça sob os olhos atentos do meu namorado.
- Você é linda, sabia? – ele perguntou e me abraçou pela cintura, me empurrando delicadamente até que eu caísse sentada no colchão.
- Eu já ouvi isso algumas vezes. – brinquei.
- De quem? Do seu ex? – impulsionei meu corpo mais para cima e ele se colocou acima de mim, meu quadril preso entre os joelhos.
- Bom, sim. Você não estava disponível no momento. – brinquei. – Então só me restou ouvir do Yunho...
Seonghwa me calou com um beijo sensual. Uma de suas mãos apertou minha cintura enquanto ele sustentava o peso do corpo com a outra. Levei as mãos as suas costas e o arranhei com vontade, o puxando para perto de mim, sentindo seu sorriso entre o beijo.
- Não fale mais dele, sim? – ele pediu com a testa colada na minha. – Vou te fazer esquecer que aquele cara um dia existiu. – ele piscou e sorriu de lado.
- E como pretende fazer isso? – perguntei ainda arranhando suas costas, porém com menos intensidade.
- Vou te dar todo o amor que você merece e vou ser o melhor namorado do mundo. – a mão possessiva voltou a apertar minha cintura.
Ele começou a descer beijos pelo meu pescoço até que seus lábios estivessem no vão entre os meus seios e continuaram a descer até que encontraram a única peça que ainda me cobria. Hwa parou e se afastou apenas para se desfazer da minha calcinha, da própria calça e boxer (e para se proteger), fazendo todo o processo com os olhos fixos nos meus e com um sorriso nos lábios bonitos.
- Pronta para ser minha? – ele perguntou, se aproximando novamente.
- Sua e de mais ninguém. – pisquei para ele.
E Seonghwa me fez dele, devagar e sensual, se deslizando para dentro de mim com toda a paciência que tinha, me mimando e sendo mimado como eu sabia que ele adorava. Sussurrando palavras doces e gemidos graves em meu ouvido. Nos levando ao paraíso e me fazendo confessar um “Eu te amo” sussurrado e sincero.
- Eu te amo. – ele sussurrou de volta e me puxou para deitar a cabeça em seu peito.
- Me desculpe por demorar tanto para confessar. – suspirei e passei a desenhar coisas aleatórias no peito de Seonghwa, vendo sua pele se arrepiar em contato com meu dedo.
- Eu nunca pensei que você retribuía o que eu sentia. Sempre achei que era o único que amava. – ele suspirou e me apertou mais contra si.
- Todas as nossas brincadeiras tinham um fundo de verdade, não é, Seonghwa? – perguntei rindo e levantei os olhos para lhe encarar.
- De verdade e de desejo, . – ele sorriu de lado, me fazendo perceber que nossas comemorações estavam longe de acabar.
Script feito pela pupila Ells.