Última atualização: 21/10/2019

Capítulo Único

"This world can hurt you.
It cuts you deep and leaves a scar.
Things fall apart, but nothing breaks like a heart, and nothing breaks like a heart."

O cheiro do assoalho de madeira da casa revelava quanto tempo eu não entrava ali. Mas, eu não esperava que estivesse totalmente vazia. Alguma coisa havia acontecido, e por alguma razão estranha eu sabia disso, mas não me lembrava do que era.
Larguei a mala surrada num canto, que eu havia encontrado dentro do carro roubado, e foi aí que a grossa camada de poeira subiu quando ela bateu ao chão. Abanei o ar e caminhei, com meus passos fortes e calmos, ecoando o barulho das minhas botas pela casa de madeira velha. Retirei o lençol encardido de cima de um dos móveis e como um flash a minha memória retornou.

Flashback

— Vai mesmo embora, Richard?
— Eu não tenho razões para ficar, ou tenho? – ele perguntou tomando o cigarro em sua boca e me olhando com sua expressão bandida.
— Você não tem razões para ficar, agora que está com seu dinheiro, não é mesmo? – perguntei com raiva.
— Boa garota.
Beijou meus lábios e mordeu-os e com seu riso sarcástico me deu as costas, saiu batendo a porta da casa velha e o copo de uísque em minha mão voou até a parede mais perto.


Fim do Flashback

Eu havia me tornado uma bandida, uma cúmplice daquele canalha. Eu ajudei-o a roubar um banco, sem deixar o menor rastro da nossa ação graças à minha inteligência com tecnologias e ele não pensou duas vezes antes de me abandonar a esmo, em pleno Texas e sem nada da grana. Ledo engano dele, pois a grana estava comigo.
Eu havia pegado o dinheiro e o enterrei naquela cabana, onde ele nunca desconfiaria ou encontraria, mas depois de dois de dias, quando decidi ir até o posto de gasolina mais próximo da estrada para iniciar minha fuga, um carro bateu no meu, e eu estava tentando fugir da família que me socorreu
. Havia acordado na cama de uma casa simples, e tinha uma faixa por baixo da camisa que eu vestia. Levantei com pouca dificuldade, peguei os pertences sobre o criado mudo que identifiquei como meus, e calcei as botas ao pé da cama. A mulher, que deveria ser quem me socorreu assobiava de um cômodo que supus ser a cozinha. Um batom sobre a cômoda do quarto chamou minha atenção, e escrevi no espelho: “Thanks”. Esgueirei-me até o corredor que dava para a saída, olhando para trás a fim de não ser vista e passei a mão em uma carteira que me deparei nos móveis do caminho e uma chave de uma Ford 1960.
Sorri e saí com cuidado da cabana, o deserto do Texas cegou meus olhos pelo tempo que fiquei sem os abrir. Vasculhei a carteira e peguei a grana largando o restante ao chão. Fugi com a camionete observando à senhora gritando de sua casa, pelo retrovisor. O mesmo batom vermelho que escrevi no espelho, eu levei comigo, passei em minha boca e escrevi novamente no vidro, outro agradecimento. Não poderia roubar de quem havia me ajudado salvando minha vida.
Larguei o carro num desvio da estrada quando tinha me afastado suficientemente, e andei a pé até a rodovia novamente. No caminho, eu ia retirando a faixa de curativo do meu tronco, e ergui a camisa deixando minha pele à mostra. Fiz sinal de carona e quando um Chevrolet Chevelle SS apareceu diminuindo a velocidade. Sorri para o homem lá dentro que mordia um lanche, e ao entrar no banco do carona, dei um soco em sua fronte e bati sua testa no volante. Ele desacordou então abri a porta e o joguei para fora do carro, tomei o lugar do motorista e acelerei sem olhar para trás. O hambúrguer com algumas mordidas foi, a refeição que eu pude fazer naquela hora.

“I heard you on the phone last night.
We live and die by pretty lies.
You know it, oh, we both know it.
These silver bullet cigarettes.
This burning house, there's nothing left.
It's smoking. We both know it.”


Avancei para dentro da cabana até a parte de trás, onde não havia ninguém. Eu precisava sair dali rapidamente, porque Richard provavelmente já havia descoberto que eu o roubara e estaria atrás de mim. Levantei a tampa do alçapão falso que havia abaixo do tanque e retirei a bolsa preta com o dinheiro escondido. Abri e conferi tudo ali, levantei-me e saí do lugar o mais rápido possível. Joguei a bolsa no chão do Chevelle e acelerei.
Quando estava adentrando ao estado do Tennessee ouvi sirenes de polícia atrás de mim. Certamente, o carro já havia sido rastreado. Consegui despistar os policiais e abandonar o automóvel numa rua. Eu corri a plenos pulmões com as duas malas penduradas ao meu corpo na direção oeste da cidade. Precisava sair de Nashville e adentrar a uma região mais isolada. Passei horas caminhando a pé até a Fazenda Crounch.
Quando avistei a porteira aberta e o chapéu escuro balançando na cadeira da varanda sorri pela cena tão previsível.
— Se transformou no que mais temia: um velho que dorme em uma cadeira de balanço.
Falei mais próxima e o zunir da bala de seu revólver passou próximo a mim quebrando uma garrafa um pouco atrás.
— Mas a mira ainda continua boa, velhote. – respondi.
— O que faz aqui ? – ele perguntou finalmente erguendo a cabeça e chapéu para me olhar.
— Fugindo.
— Não dá para negar o sangue de um Crounch, não é?
Meu avô se levantou me chamando para entrar à casa e eu sorri o acompanhando, lá dentro larguei as malas e me joguei no sofá. O velho Crounch serviu-se de um uísque e me encarou com olhos duvidosos antes de iniciar um diálogo:
— Não conseguiu ficar longe das merdas?
— Eu era uma boa garota, até encontrar um cara mau.
— E qual é a história dessa vez?
— Ajudei no roubo de um banco, ele me largou levando a grana. Ou achando que levava a grana. E para vir aqui, eu tive que roubar uns carros, umas pessoas... Enfim...
— Matou alguém?
— Ainda não. Mas, não se preocupe vovô. A grana está comigo, só preciso de um lugar para escondê-la e para me esconder até conseguir sumir. Richard já deve estar atrás de mim.
— Claro que está. Você é muito ingênua. Ele veio ontem e pela hora vai chegar daqui a pouco.
— Como ele descobriu a fazenda?
— Acha que
Crounch é um nome fácil de esconder? – meu avô disse sarcástico.
Entreguei a sacola de dinheiro para ele, que sabia muito bem onde esconder e fui até meu antigo quarto tomar banho e me trocar. Quando desci, meu avô estava de volta na varanda, e eu servi-me de uísque indo até ele. Ao pisar lá fora, ele disse sem me encarar, o rosto escondido abaixo do chapéu, o revólver apontado para o meu lado.
— Você tem visitas
. Olhei para o lado e me deparei com Richard. Caminhei para perto dele e sentei-me num toco da varanda, bebendo.
— Não acha feio o quê você fez ? – me perguntou ignorando a arma de meu avô em sua direção, assim como a presença do velho.
— Não acha feio o quê você fez Richard? – perguntei no mesmo tom.
Ele cuspiu um ramo de capim que tinha em sua boca, me encarou e se aproximou calmo e firme. Puxou meus cabelos pela minha nuca e me olhou nos olhos. Meu avô continuou imóvel, e eu apenas deixei Richard fazer o que queria com meu sorriso cínico nos lábios.
— Cadê a minha grana? – perguntou sem desviar o olhar do meu rosto.
— Nossa você quis dizer.
— Você não é tão burra como pensei.
— Burra? – perguntei ultrajada — Sem mim você não tinha roubado nem uma moeda daquele banco.
Ele soltou-me e propôs um acordo. Eu me mantive em silêncio, virei o resto do meu uísque sorrindo sarcástica da situação em que ele estava, e novamente Richard se aproximou puxando meus cabelos pela nuca, e me beijou brutalmente. Meu avô levantou um pouco o chapéu para espiar a cena e então retomou sua posição, deixando de apontar a arma em nossa direção.

“We got all night to fall in love.
But just like that we fall apart.
We're broken.
We're broken. Well nothing, nothing, nothing gon' save us now”.


Quando Richard abriu os olhos, eu estava terminando de me vestir em minha cama.
— Onde o velho guardou a grana? – ele perguntou pigarreando e se levantando. — O que pretende fazer com o dinheiro? – perguntei.
— Sumir para um lugar onde eu possa recomeçar, não sem antes roubar mais uma grana já que, a vadia da minha cúmplice me roubou e dificilmente vai devolver tudo.
— Nem se você me matar, vai conseguir seu dinheiro de volta. – cruzei os braços me apoiando na cômoda.
Richard caminhou até mim, novamente me abraçou e me beijou e bufou antes de dizer:
— Como eu poderia matar você?
— Um terço do que roubamos.
— Vá se danar! Um terço é seu, o resto fica comigo! – ele se alterou.
— Sabe onde está pisando? – falei óbvia.
— Filha da mãe... – me xingou contrariado — Tinha que meter o velho Crounch na jogada?
— Para ficar com a grana, vai ter que ficar comigo.
— Feito. – ele disse jogando a toalha.
— Uma pena que eu não queira.
Respondi e dei a meia volta saindo do quarto. Caminhei no corredor pegando a mala que estava no chão, onde eu mesma havia deixado antes que ele acordasse e logo Richard caminhava impaciente atrás de mim. Mas assim que saímos da casa, Richard continuou falando e gesticulando atrás de mim até que eu ouvi o estampido do revólver do velho.
— Esse merda fala demais. – vovô reclamou e me encarou nervoso: — Limpe a bagunça e caia fora logo que o West já está vindo atrás de você.
Peguei o corpo de Richard vivo, mas ferido no chão, joguei na carroceria do carro que vovô me conseguira, e abracei o velho dizendo.
— Esse xerife nunca vai desistir de mim?
— Quem mandou ser bonita igual a sua mãe? – vovô falou fazendo um sinal de cruz em minha testa.
— Obrigada velhote.
Beijei-o e saí em disparada com a camionete. Duas horas depois de ter saído, Richard levantou-se lá atrás, e bateu no vidro da cabine enquanto gritava palavrões para mim.
— Agradeça que eu não o joguei para fora com o carro em movimento! – gritei de volta.
Quando olhei para o lado, lá estava Richard dando a volta na carroceria e entrando na cabine pela janela do carona.
— Vadia, filha da mãe.
— Cala a boca, ou eu termino o que o velho Crounch começou.
Richard reclamou de dor e puxou um canivete de sua calça, pegou meu isqueiro no painel do carro, e esquentou a faca. Olhei para ele e ri da cena.
— Você vai morrer daqui a pouco, poupe-se a dor.
— Eu só morro se você morrer junto, sua vaca.
— Que romântico. – sacaneei.
Ele retirou a bala de seu abdômen sobre gritos de dor, e arrancou a camisa do corpo utilizando-a para estancar o sangramento. Um pouco depois, esquentou novamente o canivete e selou a abertura da bala com uma queimadura.
— Puta que pariu,
. — Você me largou naquela merda de cabana, a culpa é sua, Richard.
— Eu deveria ter abandonado você quando descobri que você era uma Crounch.
— Da próxima vez que envolver alguma mulher nos seus esquemas, certifique-se de ser melhor do que ela.
Ele me olhou com ódio e não acreditou quando eu parei o carro no meio da estrada e o mandei descer.
— Como é?
— Richard Teninson, saia do meu carro.
— Você não vai fazer isso! – me olhou com ódio explícito.
— O velho tinha razão, você fala demais.
Saquei a arma em sua direção e então, ele muito contrariado desceu do carro sem me dar as costas. Acelerei e vi pelo retrovisor o homem chutar o chão levantando a poeira do acostamento, enquanto eu ria.

“Well, there's broken silence.
By thunder crashing in the dark (crash in the dark), and this broken record, spin endless circles in the bar (spin 'round in the bar).
This world can hurt you.
It cuts you deep and leaves a scar.
Things fall apart, but nothing breaks like a heart. And nothing breaks like a heart.”


Estava há alguns dias em Nebraska. Havia conseguido alugar um trailer numa região afastada, e pensava em como poderia retomar minha vida de maneira menos caótica. Um carro desconhecido aproximou-se de onde eu estava e um homem, que não reconheci imediatamente desceu. Era um fazendeiro dizendo que a área fora comprada por ele.
— Eu aluguei o trailer, senhor. Não acho que tenho como o ajudar, desocupando aqui. – falei sincera.
— Você não é daqui, não é?
— O que faz o senhor pensar isso?
— Qualquer um que tenha me visto chegar, já teria caído fora.
Olhei para aquele homem, com nenhuma expressão em meu rosto de espanto, medo ou interesse. Continuei sentada à porta do trailer lendo o jornal que havia comprado quando fui à cidade há alguns dias. Ele se apresentou como Dean Northon.
— Northon? Seu avô era o Mike Northon?
— Então você é daqui... – ele disse sorrindo óbvio por eu tê-lo reconhecido pelo sobrenome.
— Não. Não sou, mas... Northon não é um sobrenome que se possa esconder não é? – perguntei lembrando a frase de meu avô dias antes.
— E a senhorita?
— Meu nome é
. E como eu disse senhor Dean. Não é comigo que tem que resolver seu assunto.
— Sobrenome você não tem? – me olhou desconfiado como se pensasse se eu poderia ser alguma pessoa específica a ele.
— Não é tão importante assim, estou bem longe de ser uma Northon.
A questão era que a família dos Northon há muito tempo trabalhou com os Crounch em negócios escusos e domínios territoriais. Um legado de tantas gerações que passaram entre a parceira, a rivalidade, até a situação atual de meros conhecidos. Mas, se um Northon havia comprado àquelas terras, uma coisa eu sabia: havia ouro ali. E agora, é que eu não iria realmente embora.
Dean me ofereceu uma cabana em suas terras, para que eu alugasse e assim, ele poderia tirar o trailer dali. Pelo que eu entendi, havia “negócios a começar” ali. Recusei a cabana logo de cara, eu iria convencê-lo a me deixar com o trailer lá, porque se era ouro que iriam explorar ali, eu não sairia.
Lógico que a primeira conversa não foi boa, e nada foi resolvido. Mas, outras vinham se estendendo por um tempo que ele dedicou a tentar me convencer de sair.
O som do trovão ecoou sobre a cidade silenciosa, e a chuva denunciava meus passos entre as poças até entrar no bar mais próximo do deserto campo de Nebraska, ao qual eu estava morando desde que cheguei. Abri a porta do local avistando alguns poucos homens e mulheres ali, e a vitrola que tocava Billy Ray tantas vezes quanto eu poderia suportar, embalava o som ambiente misturado à chuva externa.

... – Maggie, a dona do bar cumprimentou a me ver, servindo-me um uísque: — Como estão as coisas com o Northon?
— Ele é mais teimoso do que eu pensava. – respondi virando um gole do meu drinque.
— Não mais do que você, pelo que percebi.

“We'll leave each other cold as ice, and high and dry, the desert Wind.
Is blowin', Is blowin'. Remember what you said to me? We were drunk in love in Tennessee.
And I hold it. We both know it.
That nothing, nothing, nothing gon' save us now
Nothing, nothing, nothing gon' save us now."


A voz masculina atrás de mim denunciou a presença de Dean e Maggie saiu nos deixando sós, ao balcão. Ele sentou-se ao meu lado, pegou um copo passando o braço por cima do balcão e serviu uma dose do uísque, cuja garrafa havia ficado à minha frente.
— Por que quer tanto desocupar a área? – perguntei.
— São minhas terras, e eu faço com elas o que eu quiser. – ele respondeu me encarando de lado.
— É o ouro, não é?
— Do que você está falando? – me perguntou fingindo desentendimento.
— Os Northon não deixam escapar meio metro de chão que tenha ouro... – sussurrei me aproximando dele e o homem estranhou o fato de eu conhecer àquela informação — E bem... O problema é que eu também não, então... Que tal nos ajudarmos?
Propus e Dean Northon imediatamente indicou o lado de fora do bar. Pagou as duas bebidas e eu o segui. Quando cheguei lá fora, ele pediu para eu acompanhá-lo, mas logo mostrei que estava dirigindo. Então, eu iria segui-lo com meu carro. Certamente, eu estava com minha arma bem escondida e preparada caso ele tentasse uma emboscada, mas ao chegar à Fazenda Northon, nada mais tinha ali do que ruínas de um casarão que não era tão pomposo quanto antes.
— Então é isso... – eu falei rindo.
— Estamos quebrados há um bom tempo, e como herdeiro dos Northon, eu preciso reaver o que é meu por direito.
— Como perderam tudo? – perguntei me sentando em uma das poltronas do casarão ainda conservado, mas menos imponente do que eu imaginava.
— Primeiro... Quem é você, - Como sabe da minha família e dos nossos negócios com o ouro?
— Quando nós tínhamos dez anos, costumávamos cavar ouro juntos no Tennessee. – respondi observando-o atenta.
Crounch? – seu olhar mudou e um sorriso surpreso surgiu em sua face.
Dean me contou que o avô e o pai arrumaram muitos problemas com coronéis locais e por isso, a fortuna Northon foi minando pouco a pouco. E agora, sem nenhum parente para ajudá-lo a reerguer, ele se viu ocupado tentando recuperar o que perderam, e até pouco tempo antes do pai morrer, não lhe deixavam gerir.
Fizemos um acordo onde iríamos explorar o ouro juntos e, um acordo sexual, onde iríamos explorar os corpos um do outro, juntos vez ou outra. Dean e eu ficamos há algum tempo naquilo. Cerca de sete meses. Quando aceitou minha ajuda, ele havia feito bem a lição de casa, e dito que sabia tudo o que eu havia feito até chegar a Nebraska. De certa forma eu não esperava que conseguisse o enganar. As coisas só ficaram realmente confusas, quando Dean se apaixonou, mas ao passo que ficaram confusas, ficaram também mais certas.

Flashback

Eu observava o homem à cama dormir tranquilo. Acendi um cigarro e fiquei refletindo entre enganá-lo, ou falar a verdade. Depois de uma noite inteira de muito sexo quase sem parar, Dean fazia carinho em meus cabelos quando soltou aquelas malditas três palavras que destroem qualquer humano: eu te amo.
Não respondi e nem pretendia. Nada quebra tão intensamente e facilmente como um coração, e eu já havia passado por aquilo várias vezes até me tornar a mulher que eu sou. O melhor ali era o ouro e o nosso sexo sem compromisso. Eu não iria abrir mão do ouro nem fodendo, mas, ele aceitaria minhas condições, de não tornar aquilo que tínhamos um rótulo de bebida? Uma relação como a nossa implicaria um selo de “confiabilidade e eternidade”, tal qual o rótulo de um Jack Daniel’s. Mas, pensar no que vinha acontecendo entre Dean e eu, me estressava muito. Por dois motivos: o querer o risco, e o saber o risco.
Engatinhei de volta à cama, e toquei ao corpo nu de Dean, provocando-o até que ele acordasse. Quando abriu os olhos se deparando com meu corpo sobre dele, naquelas carícias nada castas, o homem riu e me puxou para um beijo.
— Até hoje ninguém me acordou de forma melhor. – ele disse e eu ri.
Saí de cima dele e falei que precisávamos conversar. Retomei meu espaço na cadeira de frente para a cama, e enquanto eu estava nua de pernas abertas, sentada e fumando, Dean não acreditava que eu falava sério, e nem podia se concentrar. Jogou uma camiseta sua para que eu vestisse, e assim me cobri.
— Que merda foi aquela de “eu te amo”, Dean?
— Não precisa dizer que sente o mesmo, porque eu sei bem o tipo de mulher que você é. – ele falou tranquilo com os braços atrás da cabeça — Eu só quis dizer.
— Não fode com o que a gente tem ok? – falei dura e ele me encarou curioso.
Respirou fundo sentando-se na cama e pegando um cigarro em sua cabeceira. Acendeu-o, um dos braços apoiado na cama, o outro apoiado na perna dobrada, soltou um riso fraco e sarcástico. Eu continuei o olhando e então resolvi descontrair também:
— Você é sexy demais para eu ter que te matar por ter se apaixonado por mim.
— Você não lembra mesmo, não é? – a minha expressão de dúvida o fez continuar: — Tínhamos dezesseis anos, e estávamos bêbados e um pouco drogados no Tennessee...
— Ah, já sei... Vai falar de quando eu disse que estava apaixonada e queria foder com você para o resto da minha vida, então você respondeu: “você não é garota para homem nenhum, e eu não sou homem pra você.”
— Só lembra essa parte?
Mantive o silêncio, porque de fato eu não lembrava.
— Não lembra quando eu disse que apesar de não ser homem pra você, e você ser demais para qualquer homem, você deveria ser só minha?
— Não me lembro de um Dean Northon tão bobo e infantil assim.
— Mas ele era, porque logo depois de dizer isso, James West, o queridinho da cidade, estava enfiando a mão entre as suas pernas.
E então como um lampejo eu novamente me lembrei daquela noite. West sempre foi apaixonado por mim, e depois de achar que tinha levado um fora do Dean, eu saí para buscar bebidas e me James me beijou.
Então eu voltei para onde Dean estava e ele falou alguma coisa em meu ouvido, mas eu não tinha escutado pelo som alto do banjo dentro do bar e por James ter passado por trás de Dean me fazendo um sinal. Inventei uma desculpa rápida e saí na direção de West, onde não pude resistir devido ao álcool e à raiva pelo fora que achei ter levado de Dean. Um pouco depois, quando voltei pensando em que desculpa eu daria, Dean estava beijando outra garota e então, eu fui embora com James.
Nunca mais tocamos naquele assunto, porque no dia seguinte Dean estava voltando com o pai e o avô para Nebraska, onde dariam prosseguimentos aos negócios parceiros que tinham com a minha família, e eu ainda nem sabia direito. Encarei Dean surpresa e então ele riu baixo.
— Alguma coisa aconteceu naquela noite, que nos fez perder o interesse em lutar pelo que sentíamos quando adolescentes. Mas, foda-se. O tempo passou e eu estou aqui como o homem de trinta e sete anos que se apaixonou por você. E não estou te cobrando porra nenhuma,
.
“This world can hurt you.
It cuts you deep and leaves a scar.
Things fall apart, but nothing breaks like a heart.
Mhmm, and nothing breaks like a heart. Nothing breaks like a heart... Nothing, nothing, nothing gon' save us now...”.


Ele se levantou da cama andando arrastado e se aproximou da cadeira onde eu estava e abaixou-se abrindo minhas pernas com certa rudez.
— A única coisa que eu quero cobrar agora, é a posse de fazer aquilo que o babaca do James fez anos atrás.
A voz rouca dele sussurrada em meu ouvido e os dedos ágeis a tocar a minha intimidade, me fizeram esquecer por um momento, qualquer merda de coração partido. Dean sabia me fazer agir como uma cadela no cio, e eu adorava aquilo. Enquanto ele aprofundava a massagem de seus dedos dentro de mim, eu retirava a camiseta que havia vestido e juntava nossos corpos. Ele beijava e mordiscava meus seios, enquanto eu gemia entre um trago e outro do meu cigarro. Quando apaguei o fumo, uni minhas mãos à sua nuca levando-o a chupar a parte que eu mais desejava no momento.
Dean Northon foi o único homem que depois de todas as vezes que meu coração foi partido, conseguiu dominar o meu corpo por minha total entrega.

Fim do Flashback

Richard apareceu na fazenda Northon e eu descia do meu cavalo quando o som do tiro batendo no lampião da varanda, me fez abaixar. Olhei para trás e vi o velhote Crounch com seu chapéu levantado, o olhar repressor e o revólver fumegando por seu tiro certeiro. Richard estava morto ao chão, e sua arma caída um pouco à frente. O filho da mãe tentou matar um Crounch? Era realmente, menos esperto do que eu imaginava.
— Velhote. – falei sorrindo e o abraçando quando chegou perto de mim.
— Eu sempre tenho que limpar a sua bagunça é?
— Não achei que ele seria idiota de tentar atirar num Crounch.
— E o Northon?
— Fiscalizando a descarga na mina.
— Eu achei que teria que... Ahhr... – resmungou após tirar as botas e se jogar na cadeira de balanço da varanda Northon, para então continuar: — Trazer você até ele pelos cabelos.
— Você sabia do ouro não é velhote? Por isso me mandou vir para cá.
— Não vejo o que tem de errado em ficar com o ouro, e consertar esse seu coração fodido.
Ri do que Bart Crounch estava insinuando. Ele sabia dos sentimentos antigos de Dean por mim, e sabia do ouro. O velhote era muito esperto, me manipulou direitinho.
Sentei na escada da varanda ao seu lado, e estendi a ele a garrafa de uísque que eu havia acabado de virar um gole. Ele repetiu o gesto e Dean aproximou-se com um saco em mãos.
— O dote de
Crounch. – jogou no colo do meu avô.
— Está vinte anos atrasado. – o velhote murmurou bebendo e eu ri da cena. — Eu mato os dois e fico com esse ouro todo se continuarem.
Entreolhamo-nos desconfiados, e soltamos uma gargalhada. O velho bebeu o uísque, devolvendo-o a mim que logo voltei a bebê-lo junto ao Dean, e baixou o chapéu como de costume para fingir que dormia na cadeira de balanço.


Fim



Nota da autora: O que acharam dessa fic? A música da Miley é um hino, que me inspirou muito com essa short no dia do meu aniversário. Espero que gostem! ♥ O link da música no Spotify está aí abaixo. ♥ Vamos conversando pelos comentários, grupos e etc!



Outras Fanfics da Autora:
Até a data desta fanfic constam postadas:

Longfics:

No Coração da Fazenda
Linger
Entre Lobos e Homens: Killiam Mark
Western Love

Shortfics

A garota da Jaqueta
All I Wanna Do
Cidade Vizinha
Coletâneas de Amor
Conversas de Varanda
Entre Lobos e Homens
Deixe-me Ir
F.R.I.E.N.D.S
Intro: Singularity
Mais Que Um Verão
Nothing Breaks Like a Heart
O cara do meu time
O modo mais insano de amar é saber esperar
O teu ciúme acabou com o nosso amor
Pretend
Semiapagados
With You

Music Video

MV: Drive
MV: Me Like Yuh
MV: You Know
MV: Take Me To Church

Ficstapes

Nick Jonas – Nick Jonas #086 – 07. Take Over
BTS – Young Forever #103 – 04. House Of Cards
Camp Rock 2: The Final Jam #125 – 09. Tear It Down
Descendants of the Sun #130 – 05. Once Again
Descendants of the Sun #130 – 06. Say It
Taemin – Move #148 – 02. Love
Paramore – Riot #160 – 09. We Are Broken



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


comments powered by Disqus