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Última atualização: 16/03/2023

DEZESSEIS.

arqueou a sobrancelha quando viu o melhor amigo sentado em uma poltrona da recepção da KBE-V, notando quando o se levantou sorridente, andando na direção de e de , que vinha logo atrás, saindo do elevador.
— Que surpresa você aqui, não sabia que vinha… — Começou, passando a língua pelos lábios após cumprimentá-lo com um aperto de mão, estreitando o olhar quando o viu se aproximar da inglesa, beijando-lhe na bochecha.
— Ah, sabe como é, — coçou a nuca — voltei há uns dias e não conseguimos nos ver, então aproveitei que o treino acabou antes para vir te buscar!
— Que prestativo — sorriu forçado, mas não pareceu notar, virando-se para a mulher.
— Podemos conversar rapidinho?
, o moreno reparou, pareceu momentaneamente sem graça, mas concordou com um aceno.
— É rápido, , se quiser ir pro estacionamento…
O alemão concordou com um aceno, virando-se o suficiente para se despedir da inglesa, antes de empurrar a cadeira até a saída, acenando para a recepcionista quando a mulher passou por ele.
Tentou olhar por sobre o ombro, mas só o que conseguiu ver foi os dois conversando mais ao canto, sorria confiante, enquanto parecia estranhamente nervosa, batucando os dedos na pasta que segurava contra o peito. Suspirou, negando com um aceno ao sair pela porta, resmungando sozinho enquanto empurrava sua cadeira de rodas até o estacionamento.
Menos de cinco minutos depois, o jogador apareceu sorrindo, abrindo o carro e dando a volta para ajudar a subir no banco do passageiro, antes de colocar a cadeira de rodas no porta-malas.
— E aí? Conseguiu seu encontro? — Perguntou curioso.
aumentou o sorriso, piscando em sua direção;
— Na verdade, melhor do que isso. Amanhã é aniversário da e ela me chamou pra festa, perguntei se a queria ir comigo, digo, eu passar na casa dela para irmos juntos, sabe? Já que eu só conheço ela e a !
O moreno concordou com um aceno, voltando seu olhar pela janela quando o amigo deu partida no carro, cantarolando alguma música que tocava no rádio. parecia realmente animado, e com isso se sentiu ainda pior: por que não conseguia ficar feliz pelo seu melhor amigo?
não demorou a começar a tagarelar sobre diversos assuntos, mas o outro só concordava com a cabeça ou fazia algum barulho com a boca, sem realmente prestar atenção. Só respondeu quando o escutou perguntar sobre seu tratamento, se já estava vendo algum resultado ou se tinha novidades.
Minutos depois, quando finalmente chegou em casa, pareceu aliviado quando o amigo disse que não poderia entrar, pois tinha uma sessão de fotos com a campanha do novo uniforme.
Conversou pouco com os pais e com Rachel, antes de dizer que estava muito cansado e precisava se deitar um pouco. Encarou o teto por incontáveis minutos, bufando sempre que seus pensamentos voltavam para e . Sabia que não era normal estar tão incomodado com aquilo, mas dizia para si mesmo que era apenas por ser tudo muito estranho: era amiga da garota que estava no outro carro durante o acidente, e, além disso, começaria a sair com o seu melhor amigo. Era muita coisa para sua cabeça. Nem queria pensar no que aconteceria quando começasse o julgamento do acidente, assunto que preferia evitar nas sessões de terapia, embora estivesse curioso para saber o que ela diria quando soubesse. Talvez falasse só para ver sua reação.
Fechou os olhos, respirando fundo quando a imagem da doutora apareceu em sua cabeça.
Era óbvio que só estava incomodado porque era tudo estranho, não porque poderia estar sentindo algo por ela.
Tudo bem, ela era bonita, ele admitia aquilo com facilidade.
E era fácil de se conversar com ela.
também tinha um sorriso bonito e uma risada agradável.
Era inteligente e atenciosa, mas ele só reparava em tudo aquilo porque ela era sua fisioterapeuta.
E não podia evitar de pensar no quão bonita ela era, afinal atração física não era algo que se controlava. Não que ele estivesse atraído, claro que não. Só a achava bonita.
Era claro que também teria certos impulsos durante um exercício ou outro, não era o tipo de coisa que podia controlar. Com certeza aconteceria o mesmo se qualquer outra mulher estivesse espalhando um gel sobre sua coxa. E também tinha certeza que era justificável querer estar apresentável para sua fisioterapia, não era porque estava naquela situação que precisava se descuidar. Ela mesma havia dito que era muito importante que ele tentasse manter o máximo de rotina possível, e talvez ele espirrasse um pouco mais de loção do que o usual, mas estava suando muito mais com todos aqueles exercícios, só não queria ficar fedendo.
Obviamente tudo aquilo não era nada demais. Uma situação normal que qualquer cara em sua posição passaria, mas não significava que ele estava interessado, menos ainda com ciúmes de com .
Claro que não, não sentia ciúmes nem da namorada, por que sentiria de sua fisioterapeuta?

No dia seguinte, o moreno passou as horas de exercício muito mais quieto que de costume, falando apenas o necessário, focado apenas no que precisava fazer.
estranhou, mas não comentou nada. Talvez ele só estivesse cansado, afinal a semana havia sido bem puxada para ele. Imaginou que também poderia estar emburrado pelas notícias que começavam a rodar os noticiários, sobre os primeiros jogos no Iduna Park que o BVB faria para a pré-temporada.
Quando o jogador estava limpando o suor do rosto em uma toalha, já sentado em sua cadeira de rodas, virou-se tranquila em sua direção, lembrando-se de avisá-lo sobre a próxima semana:
, segunda-feira eu te espero após o almoço, ok?
— Por que? — Questionou, ligeiramente confuso.
— Eu começo a atender o Kevin na próxima semana, você disse preferir à parte da tarde… — Explicou, vendo-o concordar segundos depois.
— Ah, claro… Esqueci que já era na próxima semana… — Respondeu, coçando a barba rala antes de jogar a toalha em sua mochila. Arriscou um olhar de canto para a mulher, vendo-a guardar alguns equipamentos que tinham usado, voltando a olhar para frente quando ela se virou em sua direção.
— Algo que queria me dizer, ? — Perguntou suave, o moreno negou — Tem certeza?
a encarou por alguns segundos, falando o que estava em sua cabeça antes que mudasse de ideia:
me falou que vocês têm um encontro hoje.
A mulher pareceu um tanto surpresa ao ouvir aquilo, talvez por ele usar a palavra “encontro”, pois ele sabia que não era exatamente aquilo, e foi, em partes, o motivo de ter dito. Queria ver a reação da inglesa.
— Não chamaria de encontro — negou tranquilamente, passando a língua pelos lábios antes de sentar-se em sua cadeira, atrás da mesa —, vamos à mesma festa, é diferente.
O alemão concordou com um aceno, empurrando a cadeira mais para perto da mesa.
— A festa da sua amiga… — ele continuou pouco depois, foi aí que entendeu o motivo daquela conversa. — É a mesma do acidente, não?
concordou devagar, passando a língua pelos lábios.
— O que quer saber?
— Você fala com o cara também?
— Fomos apresentados, mas não o vi mais de duas vezes… — Explicou, vendo-o concordar, parecendo um tanto ansioso — Não falo sobre você, , se for essa sua dúvida… O que conversamos ou o que acontece durante seu tratamento é entre nós dois. A única pessoa que sabe sobre seu estado é o diretor, porque ele precisa estar ciente de todos os casos que temos na clínica. E ele não sabe suas sessões de terapia, anoto o que preciso na sua ficha e, se um dia for necessário, vou compartilhar com ele, mas nem o que você me diz é necessário que ele saiba, apenas seu estado físico. A menos, é claro, que algo saia um pouco do controle…
— Como assim? — Perguntou ligeiramente confuso.
— Se você começar a usar alguma substância ilícita. Sabe que eu vou descobrir mesmo se você não me contar, não é? — Sorriu pequeno, vendo-o dar de ombros.
— Nem que eu quisesse conseguiria… — Resmungou, passando a mão pelas coxas — Vou fazer o que? Pedir para entregarem em casa tendo meus pais lá?
deu uma risada nasalada, negando com um aceno;
— Se não tivesse esse empecilho, você pensaria a respeito?
arqueou a sobrancelha, sorrindo pequeno ao negar:
— Se nem quando eu era mais novo e irresponsável eu usei alguma coisa, não vai ser agora que eu vou começar, doutora…
A inglesa pareceu satisfeita com a resposta, apoiando a mão sobre a mesa e encostando o queixo na mesma.
— Muito bem, e o que mais está na sua cabeça?
Ele endireitou-se na cadeira, passando a língua pelos lábios antes de tornar a encará-la nos olhos;
— Você sabe que eu estou processando o cara pelo acidente, e sua amiga também vai ser intimada, não sabe? — a viu concordar — Pode me falar sobre ele?
— O que quer saber? — Tornou, ligeiramente confusa.
deu de ombros, passando a mão pelos cabelos.
— Não sei, não conheço ele, quero saber quem é…
— Não acho que eu possa esclarecer isso — respondeu calma —, não o conheço o suficiente, e, da mesma forma que não falo sobre você, também não posso falar sobre e Pete…
O moreno suspirou, concordando embora não parecesse muito feliz com a resposta, mesmo que já esperasse por aquilo. Tornou a passar a mão pelos cabelos, frustrado com sua situação.
disse que sua amiga é legal — acrescentou, olhando-a de canto — e meu pai disse que o advogado do cara está sempre tentando algum contato em nome dele, que não parece uma pessoa ruim…
cruzou os braços sobre a mesa, esperando que ele concluísse sua fala, o que não aconteceu.
— Imagino que deva ser difícil, … Mas como eu disse, não posso te dar detalhes… Nem mesmo sei muito sobre ele…
— Mas você acha que ele é okay? — Tornou de imediato. concordou devagar.
— Pelo pouco que conversamos, parece, sim…
baixou o olhar para suas mãos sobre seu colo, ansioso.
— Por que quer saber como ele é?
O alemão passou alguns instantes em silêncio, encarando-a antes de responder;
— Meu advogado falou que é claro que vou ganhar o caso, tem filmagens de todos os cantos, testemunhas… Além do dinheiro, é provável que ele passe algum tempo preso.
mordeu o lábio inferior, sem saber o que dizer. Sabia que estava interessadíssima em Pete, o elogiava o tempo todo e, de fato, também tinha gostado do homem. Mas não podia palpitar naquela situação, mesmo que quisesse. Não poderia misturar seu lado pessoal e profissional e, até então, estava conseguindo separar muito bem o assunto, precisava continuar naquele caminho.
— Entendo… — Falou, suspirando antes de voltar a falar — Infelizmente esse é um assunto no qual não posso opinar, . Não posso misturar as coisas. O que posso fazer é ouvir o que você tem a dizer sobre, não vou repetir — garantiu, vendo-o acenar —, mas também não posso dar uma opinião a respeito.
— Não tem o que dizer, na verdade… — O moreno continuou, o cenho brevemente franzido.
— Então, qual o problema? — Tornou instantes depois, deu de ombros antes de responder.
— Sinceramente? Não sei. Ainda acho que foi tudo culpa dele o acidente, se não fosse isso, minha maior preocupação no momento seria a preparação para a Copa ano que vem, agora nem sei se volto a andar…
observou o jeito hesitante do jogador por alguns instantes, antes de inclinar-se sobre a mesa;
— Você está em dúvida se continua com o processo? — Questionou devagar, tentando entender o que se passava com o homem. a encarou, demorando para responder sua pergunta.
— Eu não acho que eu esteja errado por processá-lo. Olha o que ele fez comigo! — Apontou para as próprias pernas.
— Não, não está — concordou em voz baixa.
— Então por que me sinto culpado? — Perguntou, frustrado consigo mesmo. — O cara me coloca numa merda de uma cadeira de rodas e eu me sinto culpado por querer que ele pague por isso!
A inglesa respirou fundo, levantando-se e dando a volta da mesa, sentando-se na cadeira ao lado do moreno.
— Você não está errado por querer alguma justiça, — Afirmou, o alemão continuou com o olhar baixo, embora escutasse com atenção o que ela dizia — Mas, talvez, esteja sentindo-se culpado por saber que ele, provavelmente, será preso. Era isso que você queria no começo?
O jogador negou quase de imediato, virando-se de lado para olhá-la;
— Queria algum tipo de punição, uma indenização… Sei lá, que ele pagasse de alguma forma. Não falo nem pelo dinheiro, mas não queria ser o único prejudicado… Mas não achei que ele seria preso por isso…
— É por isso que você quer saber se ele é uma boa pessoa?
concordou com um aceno.
— Você sabe que essa decisão é apenas sua, não sabe? — Tornou, vendo-o acenar mais uma vez — Não é errado você querer que ele pague de alguma forma, não te faz ser uma pessoa ruim, não querer ser o único a sofrer com tudo isso.
— Então por que eu me sinto culpado e egoísta? — Suspirou, passando a mão pelos cabelos mais uma vez, negando em seguida. sorriu pequeno;
— Todos nós somos um pouco egoístas, faz parte da natureza humana. Você querer dar continuidade nesse processo é uma escolha totalmente justificável, mas também entendo sua hesitação, sabendo que outra pessoa poderá ser presa por sua causa — passou a língua pelos lábios, antes de continuar —, de qualquer forma, não acho que você deva se sentir culpado pelo o que pode acontecer, você foi sim uma vítima, .
— Achei que fosse me convencer de não continuar com isso… — Arqueou a sobrancelha, encarando-a duvidoso. meneou a cabeça.
— Não seria justo com você, … E, como eu disse, não acho que esteja errado, nem que deva se sentir culpado por querer que Pete pague de algum jeito… De qualquer forma, se você realmente resolver que não quer ir tão longe, acredito que possa conversar com seu advogado sobre, não? Tentar algum acordo, não sei…
pensou por alguns segundos, concordando pouco depois.
— Talvez…
— Independente do que aconteça, não se cobre tanto por isso. Você está no seu direito de querer alguma reparação…
— Obrigado.
— Aproveite o final de semana para descansar um pouco, , trabalhou bem essa semana! — Colocou a mão sobre seu ombro por alguns segundos, sorrindo largamente em sua direção.
sorriu de canto, sentindo-se estranhamente constrangido com a pequena aproximação.


saiu do elevador, acenando com a cabeça para a recepcionista, despedindo-se, antes de se virar e ver o pai em uma das poltronas, ao lado de . Franziu o cenho confuso por um instante, aproximando-se e escutando-o conversar com Kevin, o garotinho que começaria sua fisioterapia com na próxima semana.
— Eu disse que te entregaria, não foi? — dizia, sorrindo abertamente para o mais novo. — Só falta um autógrafo — Disse, virando-se quando viu o amigo se aproximar — e é daquele cara, ali — apontou com a caneta para , que arqueou a sobrancelha sem entender, pouco depois vendo Kevin com uma camiseta do BVB.
, será que você pode me dar um autógrafo? — O garoto pediu sorridente.
O moreno sorriu de canto, pegando a camiseta e a caneta;
— Muito bem, vamos deixar isso aqui mais bonito — piscou, vendo-o rir animado.
Procurou um espaço no meio de tantas assinaturas, virando-a do outro lado, sorriu sozinho ao ver que era o seu número nas costas, aproveitando para assinar em cima do 21; Für Kevin, BVBs größter Fan¹.
Entregou-o pouco depois, vendo-o abrir um sorriso ainda maior ao ver o que ele tinha escrito.
— Danke!
O pai do garotinho sorriu ao ver a alegria do filho, agradecendo aos dois jogadores antes de saírem em direção ao estacionamento.
— Olha só, alguém está mais animado — elogiou o amigo, vendo-o rolar os olhos — Achei que fosse negar o autógrafo…
— Até parece… — Resmungou, encarando-o pouco depois, enquanto Hadrien se levantava para ir junto do filho ao estacionamento — O que está fazendo aqui?
— Te disse que vou numa festa, não é? — Sorriu galante, e nesse instante observou a camisa social azul que o amigo usava. Sentiu uma grande vontade de socá-lo, mas conteve-se quando ouviu a voz do pai o chamando para irem embora.
— Vê se não faz vergonha — respondeu, antes de se afastar, mal conseguindo encará-lo. riu, achando que o amigo estava brincando.
— Você não faz ideia de como posso ser bem comportado quando eu quero!



O casal entrou no apartamento de , sorrindo para a mulher assim que ela apareceu para abraçá-los, já parecendo um tanto bêbada para o horário;
— Vocês estão atrasados! — Resmungou, ainda abraça a .
— São sete horas, Kuster! — A inglesa riu, antes de entregar-lhe o presente.
— Não pense que não reparei em vocês dois chegando juntos, depois quero os detalhes! — Disse baixo em seu ouvido, embora o volume de voz tenha sido mais alto que apenas um sussurro, como havia planejado, não pareceu ouvir, tendo se distraído ao pegar uma cerveja no cooler ao lado.
— Não tem detalhe nenhum, apenas viemos juntos.
a encarou por alguns segundos, negando com um aceno;
— Está perdendo uma oportunidade e tanto, é óbvio que ele está interessado em você…
— Quem está interessado na ? — Pete perguntou ao se aproximar, com uma longneck em mãos, antes de se inclinar para cumprimentá-la.
— Shiu! Se fosse pra todo mundo escutar eu mesma gritava! — resmungou, acertando-lhe um tapa leve no braço. — E eu tô falando do — Apontou com a cabeça para o , que cumprimentava alguns convidados que o reconheceram quase de imediato.
— Ah, mas isso já não estava claro? — Perguntou confuso, virando-se para — Você não sabia?
A inglesa fechou os olhos, colocando a mão sobre a testa;
— Von Gott! Vamos mudar de assunto, por favor?
— Pega uma bebida, amiga, tenho certeza que até o final da noite vocês dois estarão aos beijos em algum dos quartos!
— Ah, cala a boca, Kuster! — Empurrou-a pelo ombro, antes de virar-se para pegar uma cerveja.
Sabia que , possivelmente, esperava mais do que uma amizade com ela, mas não tinha certeza se nutria o mesmo sentimento pelo , preferindo evitar quaisquer complicações que um beijo impensado poderia resultar.
Talvez, se não tivesse tratando do melhor amigo do cinco dias na semana, já tivesse beijado , mas com tudo o que estava acontecendo, era melhor evitar o máximo possível qualquer coisa que pudesse interferir ainda mais em sua vida profissional.

" acordou na manhã seguinte sentindo-se extremamente bem, teve um sono tranquilo e parecia mais disposto, embora não tivesse nada para fazer; Passaria mais um final de semana em casa, talvez lesse um livro ou assistisse algum filme, suas opções pareciam sempre limitadas.
Olhou para o relógio ao lado da cama, mal passava das dez da manhã.
Sentou-se sem grandes dificuldades, espreguiçando-se antes de se esticar até a cadeira de rodas, sentando-se na mesma em seguida. Foi até o banheiro para suas necessidades básicas, logo decidindo por um banho para, pelo menos, ter alguma coisa para fazer.
Acabou embaixo do chuveiro, tirando a camisa gasta que usava para dormir, analisou brevemente o pequeno corte na costela, resultado da operação que havia feito. Ligou o chuveiro e logo sentiu a água quente caindo por seu corpo, relaxou por alguns instantes, antes de baixar o olhar por seu corpo, parcialmente inútil, em sua opinião. Tentou mexer as pernas, como fazia todas as manhãs, e, assim como nos outros dias, nada aconteceu. Bufou, passando a mão pelos cabelos molhados, mantendo o olhar baixo, encarando seu membro, um tanto visível demais para seu gosto.
Deus, como ele precisava transar.
Rachel evitava qualquer contato além de alguns, poucos, beijos, dizendo que tinha medo de machucá-lo. E, se masturbar algumas vezes na semana não era a mesma coisa. Terminou seu banho, perdendo alguns minutos ao fazer a barba, que já crescia irregular. Voltou pouco depois para o quarto, com uma toalha jogada em seu colo.
Ouvia o barulho do aspirador vindo ao longe, e logo recebeu uma pontada forte na cabeça, agitando-o levemente. Ignorando a dor que logo pareceu crescer, pegou roupas limpas e jogou-as na cama, antes de começar a se vestir.
Terminava de puxar a boxer verde para cima quando a porta de seu quarto abriu de supetão, revelando uma sorridente doutora .
!
a olhou assustado por alguns segundos, e então a mulher deixou o olhar passar rapidamente da cama vazia e bagunçada para o jogador, sentado em sua cadeira, virado em sua direção.
O homem notou os olhos passearem por seu corpo rapidamente, demorando-se dois segundos a mais na região de sua cintura. corou rapidamente olhando para o lado, desculpando-se em voz baixa.
se recompôs do susto, percebendo então que seu membro estava mais animado do que o indicado. Sentiu o próprio rosto esquentar e então as palavras perderam-se em sua boca, repentinamente seca. Acenou com a cabeça quando a mulher novamente se desculpou, ainda olhando para o lado com o rosto vermelho.
— Deveria ter batido... Achei que estava dormindo...
— Sem problemas. — Respondeu baixo, largando a camiseta de lado e puxando a bermuda preta, vestindo-a o mais rápido que conseguiu. — O que está fazendo aqui? — Perguntou chamando-lhe a atenção, arriscou um olhar rápido para certificar-se que o jogador já se encontrava vestido mais apropriadamente.
— Hm... Eu... — Pigarreou, ainda parecendo extremamente nervosa e constrangida — Ahn, você disse que não tinha o que fazer esse final de semana, pensei em te levar para dar uma volta… Se você quiser, claro.
sorriu agradecendo, um pouco mais seguro com a situação.
— Só preciso terminar de me vestir e comer alguma coisa...
sorriu de volta, aguardando que terminasse de colocasse a camiseta.
— Pode me fazer um favor? — Perguntou instantes depois — Preciso de ajuda com os tênis… — Apontou para a última porta do armário, vendo-a concordar antes de andar até a direção e pegar um modelo que ele pediu.
agachou-se à sua frente, calçando os tênis sem grandes dificuldades, puxando um assunto qualquer com o jogador. concordou, respondendo baixo, um tanto nervoso com a proximidade com a mulher. Respirou fundo enquanto a inglesa amarrava os cadarços, sentindo-se nervoso e, principalmente, com tesão. Arrependeu-se instantaneamente por não ter batido uma no chuveiro quando teve vontade. Tentou colocar as mãos sobre o colo, querendo disfarçar sua situação.
levantou o olhar para perguntar-lhe se tudo bem irem ao parque ali perto, mas desviou o olhar para o lado ao notar o que acontecia, pronta para se levantar e afastar-se de .
Quando fez menção de levantar, entretanto, esticou a mão tocando-lhe o braço. tornou a virar-se em sua direção, e então aproveitou a oportunidade que tinha, sem pensar nas consequências que viriam de sua ação.
Inclinou-se o suficiente para encostar os lábios nos dela, e antes que pudesse notar o que acontecia, sentiu os lábios finos do jogador sobre os seus.
Apenas um toque leve, como um selinho demorado, até o moreno fazer o primeiro movimento, abrindo a boca devagar e capturando os lábios dela entre os seus.
— O que...?
— Shiii... — soprou contra sua boca, antes de levar a mão até o braço da mulher, puxando-a levemente de encontro a ele. passou a língua pelos lábios da inglesa, contornando-os lentamente, antes de tentar aprofundar o beijo.
ficou sem reação por um momento, apenas sentindo a pressão de contra sua boca, a mão grande e quente dele segurando-lhe levemente, sua respiração estava presa sem nem mesmo notar, mas um suspiro escapou quando afastou-se momentaneamente, antes de voltar a juntar suas bocas, passando novamente a língua sobre seus lábios.
No instante seguinte realmente se perdeu, tanto em pensamentos quanto em ações. Sentiu a língua dele invadir sua boca em um movimento rápido, tão rápido quanto os de seus braços, que agora puxaram-na com mais força. , em algum momento que a mulher não conseguiu perceber, passou o braço por sua cintura, puxando-a para ele, enquanto sua mão continuava a segurar seu braço, os dedos compridos descendo por ele, indo de encontro a sua mão, sentiu um arrepio dominar-lhe quando suas mãos tocaram-se, suspirando contra a boca do homem.
, por sua vez, tentava a todo custo ignorar os sinais de que aquilo era uma péssima ideia. não correspondia da forma que ele esperava e, se pensasse bem, talvez nem esperasse uma resposta, apenas um tapa na cara e a certeza que ela nunca mais falaria com ele.
Resolveu tentar da mesma forma, insistir no provável erro.
Era quase um crime não aproveitar uma oportunidade daquelas, estava tão próxima, tão bonita... recusou-se a se afastar como sua mente mandava, embora estivesse ficando aflito com a falta de retorno, parecia que não entendia bem o que acontecia. Achou que, ao aprofundar o beijo, as coisas se encaminhariam direito, por isso puxou-a para mais perto.
E então sentiu um solavanco em seu estômago quando ela colocou a mão em seu peito, o desespero de ser rejeitado o atingindo com força. Mas, ao invés de empurrá-lo, , aos poucos, e um tanto incerta, passou a mão por sobre o ombro do jogador, logo alcançando sua nuca e embrenhando os dedos em seus cabelos pretos, puxando-os levemente.
sorriu durante o beijo, até mesmo surpreso de que aquilo estava mesmo acontecendo. Mais confiante de suas ações, novamente puxou-a para perto, sentindo-a colocar a outra mão em seu ombro, apertando-o levemente. Não era das posições mais confortáveis a que se encontravam, mas durante algum tempo nenhum dos dois pareceu se incomodar com isso. Pelo menos até o ar faltar em seus pulmões e eles precisarem se separar, foi o primeiro a abrir os olhos, esperando para encarar os novamente. O sorriso maroto em seus lábios cresceu quando o olhou de volta, as bochechas levemente coradas.
Deus, ela parecia ainda mais bonita naquele instante.
A mulher então tornou a fechar os olhos, soltando um suspiro longo e olhando para baixo, negando com a cabeça. E sentiu o desespero voltar a atingir-lhe, sabia que aquilo não poderia ser um bom sinal. Antes que tivesse tempo de se pronunciar, de acabar com tudo aquilo, puxou-a novamente, encostando suas bocas rapidamente.
...
— Não fala nada agora, deixa isso pra depois.
A mulher tocou-lhe o rosto gentilmente, encostando suas testas por alguns instantes, fechando os olhos, antes de se afastar o suficiente para que ele não conseguisse beijá-la, sentando-se no canto da cama, sem encará-lo.
— Não posso. Isso é errado, e você também sabe.
grunhiu frustrado, olhando para o lado, o coração acelerado e o sentimento de angústia embrenhando-se em seu ser. Como algo tão bom poderia ser errado?
Ele precisava fazer alguma coisa para mostrar para a inglesa que aquilo era certo, Deus como aquilo era certo! Era maravilhoso e eles deveriam continuar.
Segurou-a pela mão, o encarou hesitante quando ele levou sua mão até seu peito.
— Consegue sentir isso? — Perguntou em voz baixa, sentindo o coração acelerado com a mínima proximidade dela. — Consegue ver isso? — Esticou o braço direito, mostrando os pelos arrepiados em seu corpo. — Como pode ser errado?
o olhou por algum tempo, sentindo o próprio coração acelerado, tanto quanto o dele. O beijo de era bom, era... Diferente. Ela queria poder beijá-lo novamente. Ela queria poder abraçá-lo mais uma vez, sentir suas bocas juntas e deixar suas línguas se encontrarem novamente.
Ela queria, mas não podia.
A mulher suspirou negando mais uma vez, deixando a mão que ele segurava pender para baixo, afastando do peito quente de . Afastando-se dele.
— É errado, . Não importa se você beija bem ou...
— Eu beijo bem? — Interrompeu com a sobrancelha arqueada, um sorriso malandro nos lábios.
o encarou, sem dizer nada, mas o tom avermelhado novamente atingiu seu rosto, fazendo-a desviar o olhar dos olhos intensos de .
— É errado, você é meu paciente. — Falou baixo, sem tornar a encará-lo.
inclinou-se novamente em sua direção, sentando-se na ponta da sua cadeira, de modo que ficasse o mais próximo que poderia.
— Só me responde uma coisa; — começou ao tocar a mão da fisioterapeuta, segurando-a com a sua, encarou-o após alguns segundos, os olhos em um misto de nervosismo e insegurança — Você não sentiu nada?
A mulher tornou a olhar para baixo, evitando seu olhar, o tom avermelhado ainda presente em seu rosto, mordeu levemente o lábio inferior antes de negar com a cabeça, o olhar fixo em sua mão.
— Mentirosa.
A inglesa não quis tornar a olhá-lo, demorou a respondê-lo, mas quando falou, sentiu uma corrente elétrica passar por seu corpo ao escutá-la.
— Não importa o que eu senti, . Não podemos, eu não posso.
O jogador manteve a pose inabalável, passando a língua pelos lábios antes de voltar a sorrir, tocando-lhe o queixo e fazendo-a voltar a encará-lo.
— E se eu prometer guardar segredo?
...
— Vai ser o nosso segredinho, doutora!
fechou os olhos quando sentiu a respiração do alemão bater em seu rosto, e correspondeu no mesmo instante quando os lábios dele voltaram a tocar os seus. sentiu seu corpo arrepiar-se quando a inglesa tocou seu pescoço, arranhando sua nuca durante o beijo, da mesma forma que sentiu o corpo esquentar no momento em que ela soltou um suspiro profundo quando ele mordeu o lábio inferior dela, antes de começar a distribuir beijos e chupões em seu pescoço.
A doutora cravou as unhas em seu ombro quando ele mordeu a curva de seu pescoço, antes de beijar o local e então subir para perto de sua orelha, passando os dentes pelo lóbulo, não foi muito além ao sentir o puxão forte em seus cabelos, quando tornou a puxar seu rosto de encontro ao dela, juntando suas bocas mais uma vez.
Deus, como alguém, algum dia, poderia considerar aquilo errado?
O misto de sensações que o atingiam a cada momento em que tinha a mulher tão perto, tão entregue a ele... Nada poderia se comparar aquilo.
Após vários minutos, quis mais contato. Precisava desesperadamente disso.
Sentiu quando as unhas da inglesa novamente fizeram-se presentes, arranhando suas costas e seu peito por baixo da camiseta. Mas não era uma posição que agradava a nenhum deles, começava a sentir suas costas reclamarem, e imaginava que não estaria muito diferente. Puxou-lhe o lábio inferior, mordendo-o com um pouco mais de força do que o necessário, ouvindo-a reclamar em seguida.
Separam-se por um instante, novamente buscando o ar que lhes faltava.
passou a mão por seus cabelos bagunçados pela mulher.
— Deus, odeio essa cadeira! — Reclamou ao perceber a situação constrangedora. Poderia aproveitar muito mais se não estivesse naquela maldita cadeira, a qual não lhe permitia grande mobilidade.
riu baixinho, passando a mão pelo pescoço, constrangida novamente.
reparou no cabelo bagunçado dela, nas marcas avermelhadas em torno da boca e no pescoço, não deveria estar muito diferente daquilo, a respiração ainda agitada e outras partes do corpo também. Mordeu o lábio sem saber o que fazer, como prosseguir. Aproximou-se novamente, sorrindo para a mulher, sentindo-a encostar os lábios nos seus poucos segundos depois.
Não demorou muito para passar as mãos grandes por dentro da regata da mulher, sentindo-a contrair-se no mesmo instante, sorriu durante o beijo, rindo baixo. Puxou a peça de roupa, tirando-lhe pouco tempo depois, separando-se apenas o necessário para executar tal ação, voltando a beijar-lhe o pescoço.
Chegou a um momento complicado pouco depois, queria continuar os amassos, mas era fisicamente impossibilitado de grandes avanços. Constrangido em fazer essa observação, porém achando necessário, especialmente pela situação em que se encontrava naquele instante - com seu membro pulsando por baixo de sua bermuda -, soltou a respiração contra o pescoço da mulher, encostando a testa ali pouco depois, pigarreando antes de começar a falar, ainda procurando as palavras certas. A humilhação novamente correndo por seu corpo.
— Temos... Um problema...
afastou-se brevemente, olhando-o divertida.
— Imagino que eu tenho um problema com isso — apontou para os dois —, mas qual é o seu?
rolou os olhos, apontando para baixo.
— Quis dizer a cadeira! — Avisou rapidamente, o rosto quente ao notar a inglesa franzir o cenho encarando a cintura do jogador.
Ela novamente sorriu, olhando para o lado e dando dois tapinhas na cama na qual estava sentada. mordeu o lábio, tornando a sorrir safado ao vê-la arquear a sobrancelha, um sorriso de canto nos lábios vermelhos e levemente inchados. Aquela atitude mais solta contrastava tanto com a imagem comportada que tinha da mulher, e ao pensar naquilo novamente sentiu o ar faltar-lhe.
Oh, ele estava adorando modificar a visão que tinha da inglesa.
O alemão apoiou os braços na cadeira, quase desesperado, levantando-se como pode, ouvindo a inglesa rir ao lado enquanto ajudava-o a sentar-se na cama; foi constrangedor, mas encontrava-se tão desesperado naquele instante, que pouco se importou. Sentia o calor dominar seu corpo e, quando voltou a beijá-lo... Deus!
Nada mais importava naquele momento, ele só precisava ter mais contato, mais corpo a corpo, e não demorou para deslizar as mãos pelo corpo de , sentindo-a arrepiar-se no mesmo instante.
Deitou-a na cama, curvando-se sobre ela e tornando a beijar-lhe o pescoço, admitiria de bom grado ter um fraco por pescoços, mas não foi muito longe ao notar que sua nova condição física o atrapalhava de outras formas. Não conseguia deitar-se completamente sobre a doutora, não conseguia mexer as pernas o suficiente para ficar entre a inglesa. E era pesado. Em determinado momento, quando a sentiu abrir o botão de sua bermuda – seu membro já duro e incômodo demais -, deixou de beijar-lhe, para alcançar outras partes do corpo da mulher, enquanto suas mãos dirigiam-se ao sutiã dela, mas não aconteceu como o planejado.
simplesmente não conseguia mexer-se o necessário, ainda não tinha força ou habilidade suficiente para isso no momento, o que acabou fazendo-o se desequilibrar e cair sobre , de forma dolorosa.
assustou-se por um segundo, xingou em alto e bom som.
Uma mistura de raiva, frustração, humilhação e tesão disputando o maior espaço em seu corpo.
Então tudo pareceu mudar de repente, não soube exatamente como.
A risada da mulher fez o jogador tencionar o corpo. Ela estava rindo dele?
ergueu-se o suficiente para encará-la de lado, a sobrancelha arqueada e o cenho franzido, os lábios crispados.
— Você está rindo?
A mulher o olhou sorridente, a sobrancelha arqueada, desafiadora.
— Não é engraçado, .
Ela rolou os olhos quando ouviu o tom de voz grosseiro e até mesmo agressivo usado por ele, suspirou baixo, empurrando-o para o lado, sentando-se na cama no instante seguinte. Na hora que a viu ajustar a alça do sutiã e procurar por sua regata, caída no chão do quarto, ele percebeu que tinha feito merda.
— Você é um babaca.
O homem protestou, exclamando um “heeey”, longo e contrariado. Vendo-a colocar a roupa e arrumar os cabelos, antes de voltar a olhá-lo, um sorriso maldoso atravessando seus lábios vermelhos.
— Você não pensou, de verdade, que isso significaria alguma coisa, não é? — O jogador engoliu em seco, a voz fria da mulher o atingindo — Por favor, , olhe para você. O que você poderia me oferecer que eu já não tenha? Foi divertido, mas só. Você não pode me dar nada, . Você nunca mais pode dar nada para uma mulher, você sempre será apenas a distração momentânea, um pequeno lapso. — Então a inglesa soltou uma risada alta, olhando-o enojada — Nem homem o suficiente você é. Você não é nada, .
virou-se, dando-lhe as costas e rumando em direção a porta, deixando na cama, a cara assustada e a boca aberta, completamente sem reação e com o membro latejando dentro da bermuda desabotoada."


acordou assustado, olhando para os lados, a respiração acelerada e o corpo suado. A falta de luz no quarto anunciava que ainda era de madrugada, e confirmou isso ao olhar o relógio ao lado da cama. Sentou-se desajeitadamente, olhando ao redor, como se a qualquer momento fosse aparecer rindo dele.
Passou as mãos pelo rosto, tentando acalmar-se do sonho.
Ou pesadelo. Mas parecia tão real...
Suas mãos tremiam e um aperto no peito o sufocava aos poucos.
Tentava acalmar a respiração, puxando o ar e o soltando devagar, fechou os olhos tentando relaxar, voltar a dormir, porém parecia impossível.
As palavras de ainda reverberavam em sua cabeça, altas e claras, como se a inglesa estivesse ao seu lado; Nem homem o suficiente você é. Você não é nada, .
Sentiu um arrepio no corpo inteiro e a raiva consumi-lo de forma quase irracional.
Era um sonho, apenas um sonho, mesmo que tivesse parecido tão real que ele podia ver com seu sotaque forte, gritando para ele, rindo dele.
Voltou a lembrar de cada detalhe, fou tudo tão vívido.
O perfume, os toques, o sorriso, a forma como falava... Como podia ter sido tudo fruto de sua imaginação? Aquele beijo pareceu tão real, era como se ele pudesse sentir os lábios dela contra os seus se fechasse os olhos...
Não precisava forçar a mente para reviver o momento, e seu corpo parecia concordar, pois a mínima lembrança dos toques que trocou com a de seu sonho fazia seu corpo começar a esquentar.
fechou os olhos com força, respirando fundo.
Queria apagar todas aquelas imagens, as boas e ruins, mas seu corpo não queria cooperar, nem sua mente. Sua respiração começou a acelerar e seu corpo esquentou como não acontecia há semanas.
abriu a boca, deixando o ar quente escapar por entre seus lábios, os olhos permaneceram fechados quando ele baixou a mão em direção à calça de agasalho, puxando-a para baixo.
O aperto que sentia na região o incomodava, a falta de sexo já era grande, e já fazia algum tempo que não se tocava...
Segurou a boxer que usava, puxando-a como pode, antes de liberar seu órgão.
Sentia a respiração falhar conforme sua mão se movimentava, aumentando o ritmo de acordo com as imagens que se formavam em sua cabeça;
sorria para ele, antes de aproximar suas bocas, puxando seus cabelos.
Chamava por seu nome, enquanto ele beijava seu pescoço, apertando-lhe a parte interna da coxa.
gemia conforme ele a tocava com os dedos, pedindo por mais.
Ela puxava-o pelo pescoço, beijando-lhe com rapidez, enquanto descia a mão por sua barriga, antes de lentamente masturba-lo.
soltava o ar contra seu pescoço, apertando-lhe os seios conforme ela acelerava os movimentos.
o empurrou para o lado quando o jogador disse que estava prestes a gozar, o beijou mais uma vez antes de sentar-se sobre ele.

sentia o coração acelerado, a respiração pesada, o suor molhava sua testa e peitoral, a mão cobrindo-o inteiro, movimentando-se rapidamente.
sorria olhando-o nos olhos , beijando-o vez ou outra enquanto cavalgava-o lentamente.
apertou sua cintura, pressionando-a para baixo, de encontro a ele.
gemeu baixo contra seu ouvido, chamando por seu nome, acelerando os movimentos.
Quando chegou ao seu máximo, o corpo da inglesa tremeu sobre o dele.
a abraçou, passando suas mãos por suas costas, puxando-a o máximo possível de encontro a ele, sentindo seus corpos quentes e suados juntos, enterrando o rosto na curva de seu pescoço, sentiu um arrepio por seu corpo quando ela, novamente, chamou seu nome.

então sentiu o gozo subir rápido, atingindo-o no mesmo instante, no qual o beijava, sorrindo contra seus lábios.

¹ Para Kevin, o maior torcedor do BVB.


DEZESSETE.

Como sempre, havia chego com um bom tempo de antecedência para o início de sua fisioterapia, aproveitando que ainda era o horário do almoço para ficar no sol, colocando os óculos escuros e relaxando momentaneamente. Distraiu-se com os próprios pensamentos, a imagem de fez-se presente em sua mente e logo sentiu o rosto corar ao lembrar-se do sonho de duas noites atrás. Fechou os olhos, respirando fundo, talvez devesse mesmo ter inventado alguma desculpa para não aparecer naquele dia, mas não poderia evitá-la para sempre, nem queria.
Passou incontáveis minutos quieto, tentando pensar em qualquer outra coisa que não fosse a inglesa, mas era difícil quando sabia que a veria em breve.
Não era a primeira vez que sonhava com a mulher ou que imaginava como seria beijá-la, mas tinha sido a primeira que pensava nela na hora de se tocar e, algo lhe dizia, aquela não seria a última.
Bufou frustrado ao pensar na mensagem que Marco ainda não havia respondido; tinha passado boa parte do final de semana ponderando se deveria ou não enviar uma mensagem para o loiro, perguntando sobre a festa. O medo da resposta era grande: O que diria se soubesse que o amigo estava beijando sua fisioterapeuta? E, pior ainda, o que faria na próxima vez que sonhasse com ela, sabendo que era em Reus que a doutora estava interessada?
Quando acordou no hospital e descobriu que não poderia andar, não imaginou que sua vida pudesse se complicar muito mais do que aquilo, mas pelo visto estava errado; além de não andar, ele também estava atraído pelo interesse amoroso do melhor amigo. E, não só atraído, no fundo desejava que desse um fora em Marco, mesmo que soubesse que ele não teria nenhuma chance com a mulher, qualquer coisa era melhor do que imaginá-la com o loiro.
Sentia o estômago revirar só de pensar no assunto.
! — Respirou fundo ao ouvir a voz da mulher, fechando os olhos por um instante antes de virar-se para olhá-la, sorrindo educado — Tudo bem? — Perguntou ao sentar-se no banco ao seu lado, vendo-o concordar com um aceno.
— Um pouco de dor de cabeça — disse baixo, imaginando que talvez fosse o suficiente para justificar qualquer erro que pudesse cometer durante aquela tarde. Com uma dor de cabeça talvez eles não conversassem tanto, o que já era um grande avanço para não acabar perguntando sobre o encontro com Marco.
— Precisa de algum remédio? — Perguntou prestativa, vendo-o negar com um aceno. — De 1 a 10, qual o nível da sua dor?
franziu o cenho, passando a língua pelos lábios antes de responder, pensando sobre sua resposta; não poderia ser muito exagerado, ou ela acabaria mandando-o para casa.
— Ahn, não sei, seis…
— Certo, se piorar ao longo do dia, você me avisa — sorriu, vendo-o concordar — agora, você tem na sua mochila roupas de banho?
Entendeu no mesmo instante ao que se referia, e não achava que era uma boa ideia naquele momento, mas por mais que sua mente lhe mandasse dizer “não”, ouviu um sonoro “sim” sair de sua boca.
— Ótimo, então vamos aproveitar que está calor e fazer a sessão de hoje na piscina!
O alemão concordou, logo vendo-a levantar e empurrar sua cadeira pelo caminho lateral até o prédio ao lado. Viu alguns pacientes acenarem com a cabeça ao vê-lo, sorrindo pequeno e erguendo a mão para responder o cumprimento, parecia fazer tudo no automático, sentia o peito bater acelerado e o estômago revirar. estava de bom humor, talvez tivesse passado o final de semana com Marco, por isso o loiro não falou com ele desde que se viram na sexta. A ideia dos dois juntos parecia ser capaz de fazê-lo vomitar, mas conteve-se, respondendo devagar as poucas perguntas que a mulher fazia sobre seu final de semana.
No fundo sentia que a pergunta estava presa em sua garganta, mas ele não a faria, não queria saber a resposta enquanto estivesse ao lado, achava que talvez não conseguisse disfarçar a cara de desagrado.
Por fim, quando entraram na área da piscina, a inglesa apontou para o lado dos vestiários, para que pudesse se trocar, dizendo que o esperaria ali e qualquer coisa que precisasse ele poderia chamar. Bem, talvez não “qualquer coisa”, pensou. Porque ela não poderia ajudá-lo no que queria no momento.
virou-se o suficiente para alcançar a alça da mochila, presa na parte de trás de sua cadeira, retirando de dentro uma garrafa d’água, sua toalha e uma bermuda extra, conforme pedido por no primeiro dia. Despiu-se o mais breve que pode, deixando suas coisas sobre o banco no meio do vestiário, carregando apenas a toalha em seu colo.
Voltou para a área da piscina, vendo sentada na borda, os cabelos presos em um rabo-de-cavalo alto, vestindo um tipo de macacão de natação preto, com a logo da KBE-V no canto. A mulher sorriu ao vê-lo se aproximar, o moreno tentou retribuir, mas sua expressão estava mais próxima de uma careta, o que a fez rir ao notar;
— Não se preocupe, não vou te deixar se afogar! — Garantiu, vendo-o rir nasalado ao parar ao seu lado.
levantou-se, empurrando com calma a cadeira para a rampa de entrada na piscina, assim que o jogador deixou a toalha na borda. Sem nem mesmo notar, prendeu a respiração quando sentiu a água morna batendo em seus pés, segurando o apoio da cadeira com mais força do que o necessário.
Quando a água já batia em sua cintura, travou a cadeira e deu a volta, indo para o lado mais fundo da piscina para poder ajudá-lo.
— Só preciso que você se apoie em mim, . — Disse tranquila, passando o braço pelas costas do jogador. Ainda hesitante, o moreno esticou o braço até apoiar-se no ombro da mulher, sabendo que poderia machucá-la por ser mais pesado, mas não parecia se importar, ajudando-o a ficar em pé instantes depois.
Quando levantou-se, com medo de escorregar ou cair de alguma forma, aproximou-se mais dele, garantindo que o alemão estaria seguro ao começar a puxá-lo para a parte mais funda da piscina.
sentiu a água elevar-se até seu peito, sentindo-se repentinamente aflito naquela posição; sempre gostou de piscinas, mas apenas porque sabia que só precisava ficar em pé para ter a cabeça fora d’água, o que já não era mais o caso, já que não poderia fazer aquele movimento sozinho. Agarrou-se a barra de metal quando a mulher apontou para a mesma, apenas até ela pegar uma prancha para ele apoiar-se e ficar mais tranquilo.
— Tudo bem? — Perguntou quando o viu segurar-se no objeto.
demorou a concordar, ainda parecendo mais ansioso do que ela previu inicialmente.
— Muito bem, pode relaxar — disse calma, ficando de frente com ele.
Os olhos do jogador pareciam indecisos, olhando da barra de metal na qual ele poderia agarrar-se, para a prancha na qual se apoiava, voltando para a fisioterapeuta quando ela dizia algo e, então, voltando a olhar para a barra.
— Vocês sempre fazem isso? — Questionou nervoso, via os nós esbranquiçados de seus dedos, tamanha a força que se agarrava ao objeto.
— Não o tempo todo, mas com certa frequência — concordou, apontando para suas pernas — como se sente?
— Sei lá, parece que eu vou me afogar a qualquer segundo — respondeu envergonhado, desviando o olhar.
— Não se preocupe, não vou deixar isso acontecer! — Garantiu mais uma vez, vendo-o concordar, embora não parecesse muito confiante. — Mas de resto, alguma diferença?
franziu o cenho, respirando fundo antes de tentar concentrar-se em outra coisa que não fosse seu súbito medo de água. Estava prestes a dizer que não via diferença nenhuma, quando notou que permanecia em pé, mesmo que apoiando boa parte do corpo na prancha de borracha. Arregalou levemente os olhos ao notar, encarando a inglesa no instante seguinte, a qual sorria de canto.
— Como?
— Sente seu corpo mais leve ou mais pesado?
passou a língua pelos lábios, tentando relaxar e não curvar tanto o corpo em cima da prancha, concentrado no que ela dizia.
— Acho… Que mais leve?! — Disse incerto, tornando a franzir o cenho — Não sinto aquela queimação por ficar em pé… É diferente de quando tento levantar de algum lugar…
a encarou quando a mulher começou a explicar os motivos de hidroterapia serem recomendados em casos como o dele, embora não prestasse tanta atenção, ainda surpreso por permanecer em pé sem muito esforço. aproximou-se mais uma vez, servindo como um apoio maior para que ele conseguisse mergulhar, dizendo que com isso ele se sentiria mais tranquilo e confiante com a atividade.
O moreno duvidou em um primeiro momento, mas não queria parecer medroso, então segurou em seus ombros quando a doutora parou de frente a ele, fazendo o que ela dizia para mergulhar de uma forma que não precisasse mexer com as pernas e correr o risco de escorregar.
Repetiu o pequeno exercício três vezes e, aos poucos, notou que parecia mais relaxado, até mesmo arriscando um riso ou outro conforme conversavam. Passados alguns minutos, no qual notou que a tensão do jogador diminuiu, a inglesa puxou da borda da piscina outra boia, na qual garantiu que ele conseguiria apoiar as costas e não correria o risco de afundar, além, é claro, de que ela estaria junto dele para garantir que nada acontecesse.
Mais uma vez não pareceu tão confiante, mas concordou com a atividade, embora preferisse continuar com a prancha de borracha ao seu lado, por garantia. Estava tudo bem, até a mulher dizer que levantaria suas pernas para ajudá-lo a boiar. sentiu um aperto no peito e a ansiedade bater quando a viu segurar em suas pernas, fazendo-o deitar sobre a água. Agarrou-se na prancha, já imaginando que afundaria em segundos: não conseguiria levantá-lo do fundo da piscina, ele ficaria sem ar e assim morreria.
Abriu os olhos ao sentir um toque em suas costas, percebendo que ela o braço da doutora, dando um apoio extra para que ele se sentisse mais seguro. Quando percebeu que realmente não afundaria, nem morreria, relaxou, concordando quando ela disse que estariam fazendo exercícios com suas pernas, de forma a fortalecê-las e ajudar a acelerar sua recuperação.
O moreno olhava de canto para a inglesa, vez ou outra respondendo algo que ela perguntava sobre os exercícios que faziam. Fez uma piada qualquer sobre a situação, escutando-a rir antes de voltar sua atenção ao que fazia. sentia-se extremamente relaxado, algo que ele não esperava que acontecesse aquele dia, principalmente em uma piscina. Minutos depois, disse que já era o suficiente para o dia, para não o forçar mais do que o necessário.
Quando ela tornou a ajudá-lo a ficar em pé, deixando a boia de lado e servindo de apoio para que o jogador voltasse para sua cadeira de rodas, ouviu o comentário animado dela sobre aqueles cinquenta minutos de hidroterapia, dizendo estar confiante em sua recuperação, e foi ali que ele precisou admitir para si mesmo o que tentava negar há semanas: Era a segurança com que ela falava com ele, o apoio que passava, a atenção em tudo o que ele precisava e era, principalmente, o sorriso que ela dava quando o olhava, que fazia seu estômago revirar.
respirou fundo, a certeza do que aquilo realmente significava o fazia se sentir ainda mais miserável.
Poderia ter acontecido em qualquer outro momento, com qualquer outra pessoa, mas não, havia se apaixonado no pior momento de sua vida, pela mesma mulher que seu melhor amigo.



— Por que está tão quieto? Algum problema? — Hadrian perguntou enquanto dirigia de volta para a casa do filho, virando-se em sua direção ao pararem no sinal vermelho.
O mais novo deu de ombros, a cabeça apoiada na janela, o olhar vago, não parecendo focar sua atenção em nada do que via.
? — Hadrian chamou mais uma vez, ouvindo-o suspirar lentamente, antes de encará-lo.
— Só estou cansado, não é nada — respondeu baixo, voltando sua atenção para a rua. O homem voltou a acelerar o carro quando o sinal abriu, ponderando por alguns instantes se deveria ou não insistir no assunto. Sentia falta de quando era mais novo e contava tudo para o pai, por vezes pedindo conselhos ou ajuda com alguma coisa. Já faziam alguns anos que aquilo não acontecia, e Hadrian entendia, afinal agora o caçula já era um homem adulto, havia conquistado muitas coisas em sua vida sem precisar dos pais.
— Você sabe que… — começou devagar, vendo-o encará-lo mais uma vez — se precisar de alguma coisa…
— Eu sei, pai — concordou, embora não parecesse interessado em continuar o assunto.
se sentia a pior pessoa do mundo naquele momento, e dizer o que passava por sua cabeça em voz alta não estava em seus planos, era como se fosse a confirmação de que ele era um ser humano horrível que, intimamente, queria sabotar seu melhor amigo para, de alguma forma, conseguir a mulher que queria. Isso, é claro, sem nem entrar no quesito de ser comprometido.
Contudo, parecia que aquilo o consumia por dentro. Gostava mais quando conseguia fingir que não tinha nada acontecendo.
Bufou, passando a mão pelos cabelos antes de cruzar os braços, olhando de canto para o pai;
— Estou pensando em terminar com a Rachel, mas não sei como fazer.
— E por que resolveu terminar? Achei que estavam bem… — Questionou curioso, franzindo ligeiramente o cenho.
Hadrian gostava da modelo, embora, assim como Amélie, também tivesse reparado na distância do casal desde o acidente do filho, contudo, não diria uma só palavra para o moreno, sabendo que havia uma grande possibilidade deles terminarem e voltarem após algum tempo, como já tinha acontecido outras duas vezes.
— É, eu também — disse baixo, tornando a olhar para o lado. — Não sei bem o que dizer.
— Acho que vai precisar elaborar essa resposta para terminar com ela — riu nasalado, dando sinal e virando à esquerda.
O jogador meneou a cabeça.
— O que acha que eu posso dizer?
— Não faço ideia, por que decidiu terminar agora?
remexeu no banco do passageiro, parecendo incomodado.
— Eu, hm… Não sei bem… Acho que não está dando certo…
— É só isso? — Tornou com a sobrancelha arqueada. O mais novo o encarou por alguns instantes.
— O que quer dizer?
— “Não está dando certo”, por que não? — Perguntou mais uma vez, estacionando o carro na rua e virando-se por completo para encará-lo quando soltou o cinto de segurança. — O que aconteceu que te fez achar que vale mais a pena terminar?
travou a mandíbula, olhando para o lado.
— Já faz um tempo que ela está diferente — disse a primeira coisa que lhe veio à cabeça, a qual não considerava de todo uma mentira.
— Só ela? — Hadrian arriscou, vendo os olhos do filho mirarem-no em dúvida.
— Como assim?
— Talvez eu não seja a melhor pessoa para pontuar, não sei o que se passa no relacionamento de vocês, e se você acha que é melhor terminar depois de tanto tempo, sabe que terá o meu apoio e o da sua mãe — falou calmo, coçando o queixo antes de completar. — Mas, talvez, Rachel não seja a única que está diferente, , você também não parece muito animado em vê-la, até parece fazer questão de ficar longe quando ela está aqui…
— Eu não… — começou a negar, parando no instante seguinte e olhando para o lado — Não faço de propósito.
— Tenho certeza que não, mas você sabe por que se afasta?
O jogador ficou em silêncio por quase um minuto, suspirando em seguida e concordando com um aceno;
— Já esperava que ela fosse terminar comigo — confessou baixo —, e no começo eu não queria ficar sozinho, mas depois achei que seria melhor já me preparar para quando acontecesse…
— E então por que é que você quer terminar? — Perguntou confuso.
fechou os olhos por alguns instantes, pensou em dar qualquer outra desculpa, mas quando se deu conta, as palavras já saiam de sua boca;
— Estou interessado em outra pessoa.
Hadrian não disse nada por um momento, olhando com cuidado para o caçula.
— É a doutora, não é?
O moreno o encarou de olhos arregalados, surpreso que ele soubesse.
— Como...?
— Bom, não é como se você estivesse vendo muitas pessoas nos últimos meses — começou, sorrindo pequeno — e sempre que pode você dá um jeito de falar dela em algum assunto, mesmo quando não é relacionado ao seu tratamento. E, bem, digamos que o exagero no perfume também foi um indicativo forte…
virou para o lado quando sentiu o rosto esquentar, não era possível que estivesse sendo tão óbvio sem perceber.
— Não se preocupe, não é nada demais…
— Não? — Virou no mesmo instante, o tom de voz aumentando sem que se desse conta — Não? Eu estou em uma cadeira de rodas. Ela é minha fisioterapeuta e, pra piorar, Marco gosta dela. Como é que isso não é nada demais?
Hadrian olhou para frente, ponderando antes de responder;
— Talvez você só esteja impressionado, — considerou — ela é uma mulher bonita que você está vendo quase todos os dias. Está te ajudando em um momento difícil… Não quer dizer que seja mais do que uma paquera.
bufou, inclinando a cabeça para trás no apoio do banco, fechando os olhos por um instante;
— Eu já pensei que pudesse ser isso, pai. Não é.
O mais velho concordou devagar, olhando de canto para o filho.
— O que está pensando em fazer após terminar com a Rachel?
— Nada. — Respondeu após algum tempo. — Não tenho o que fazer, não é? Woodyinho chegou primeiro.
— Isso não é uma competição, .
— Eu sei — concordou pesaroso —, mas mesmo se eu não fosse paciente dela, não é como se a fosse me olhar duas vezes quando tem o Marco.
— Você não sabe se ela gosta dele…
— Talvez não, mas não faz diferença, pai. Woodyinho gosta dela, não posso gostar da mesma mulher que ele.
— Bem, não é como se você tivesse escolhido e…
— Não, mas não importa. Mesmo que ele não gostasse, o que eu poderia oferecer? Eu nem posso andar, lembra?
Hadrian abriu a boca para respondê-lo, mesmo sabendo que nada do que dissesse no momento melhoraria o humor do mais novo.
— Não tem mais nada para falar sobre isso, pai. — Concluiu, sorrindo triste na direção dele, antes de abrir a porta do carro, virando-se de lado e esperando por sua cadeira de rodas para descer.


encarou o telefone por incontáveis minutos antes de decidir fazer a ligação. Poderia esperar Rachel voltar a Dortmund na próxima semana, mas ao mesmo tempo que achava que deveriam conversar frente a frente, também achava uma péssima ideia fazê-la ir até lá para terminarem. Sem contar, é claro, no fundo esperava que ela apenas desligasse em sua cara e não questionasse mais nada, pois não sabia se realmente estaria preparado para as respostas àquelas perguntas.
Respirou fundo ao ouvir o primeiro toque, levando o polegar à boca e roendo o canto da unha, ansioso. Olhava pela janela de seu quarto, vendo algumas pessoas andando na rua, quando ouviu a voz da modelo no aparelho.
Suspirou por um instante, antes de responder, começando uma conversa casual antes de chegar ao ponto principal;
— Claro, entendo sim… — Concordou ao escutá-la dizer que viajaria novamente para França para uma sessão de fotos — Rach… — Chamou baixo, passando a língua pelos lábios antes de continuar — Eu queria te perguntar uma coisa…
— O que foi?
— Você está feliz?
— Como assim “feliz”? — Perguntou confusa.
— Com a gente, agora… Com o que tá acontecendo…
A modelo ficou em silêncio por alguns instantes, e imaginou que ela havia entendido a que ponto ele queria chegar.
— Não é muito fácil — admitiu, suspirando em seguida —, não achei que as coisas ficariam assim…
— Eu também não — disse apressado — não acho que ninguém pense que um dia pode ficar assim, Rach.
— Eu sei, quero dizer… — se enrolou um pouco, suspirando em seguida — só é mais difícil…
— É, eu sei.
Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos, até ela completar sua resposta;
— Eu gosto de você, , gostaria de poder te ajudar mais, é só que…
— Eu entendo, Rach, tá tudo bem. — Avisou, escutando-a suspirar do outro lado da linha. — Ainda é o mesmo pra você?
— É pra você? Você está feliz? — Perguntou rápida, não querendo ser a primeira a responder aquela pergunta.
sorriu pequeno, embora a mulher não pudesse ver;
— Eu realmente achei que te pediria em casamento nesse verão…
Rachel deu uma risada abafada;
— Sei que sim, vi no seu celular algumas fotos de anéis, um mais feio que o outro, fico feliz que não tenha comprado!
gargalhou, ouvindo a risada dela acompanhá-lo no segundo seguinte.
— Não é mais a mesma coisa, né? — Ele continuou após alguns minutos de silêncio, no qual escutava a modelo andando por seu apartamento.
— Sinceramente? Acho que já tinha mudado antes do acidente, só ficou mais evidente nos últimos meses…
suspirou, intimamente concordando com aquilo. Gostava de Rachel, sabia que em algum ponto a tinha amado, e muito, não se importaria de ter casado com ela e, quem sabe, mais pra frente ter um filho ou dois, mas não era mais amor, nem mesmo paixão. Era companhia, era amizade, comodismo, mas não era amor. Não mais.
— Então… — Recomeçou, escutando-a rir baixo.
— É, tudo bem, mas se alguém me perguntar vou dizer que eu que te chutei! — Avisou.
— Vai ficar feio pra você ter terminado com um cara numa cadeira de rodas! — Relembrou brincando, notando que era a primeira vez que fazia piada com seu novo estado.
— Vou dizer que descobri alguma traição — emendou, completando segundos depois com um suspiro —, eu espero que você se recupere bem, .
— Obrigado — disse baixo, olhando para as pernas imóveis. — E obrigado pelos últimos anos, Rach.
— Se considere muito sortudo — Rachel brincou, fazendo-o rir —, mas também gostei do tempo que tivemos juntos, você beija bem!
— Só beijo, é?
— Ah, cala a boca, !
Os dois riram por um instante, antes do jogador passar a mão pelos cabelos;
— Se cuida, gata!
— Você também, meu jogador.
desligou instantes depois, encarando o aparelho em suas mãos e suspirando.
Havia sido muito mais simples do que tinha imaginado que seria, mas aquilo não chegava a deixar as coisas mais fáceis; estava solteiro e sabia que deveria ter feito aquilo independentemente de qualquer outro sentimento que tivesse em jogo, mas saber que estava sozinho parecia muito mais assustador do que imaginar que aquilo pudesse, eventualmente, acontecer. Principalmente quando sabia que a pessoa em quem estava interessado não só não corresponderia seus sentimentos, como ele nem mesmo tinha perspectiva de conquistá-la.
Talvez devesse mesmo começar a se acostumar com a solidão, pois aquele parecia o único caminho à sua frente.

DEZOITO.

estranhou que o estivesse tão calado durante os dias que se seguiram, mas inicialmente resolveu não insistir em perguntar se estava tudo bem, quando estivesse pronto para conversar iniciaria o assunto ele mesmo.
Tentou distraí-lo com conversas aleatórias entre um exercício e outro, mas nada realmente significativo. Sabia que não o conhecia bem o suficiente para definir com exatidão o que poderia estar se passando pela cabeça do alemão, mas notou o olhar e sorriso triste presentes constantemente em seu rosto, independente do que estivessem conversando ou fazendo, aquilo a preocupava por dois motivos; Primeiro por solidarizar-se com a situação delicada em que se encontrava. Além, é claro, de também tê-lo achado uma pessoa agradável de se ter por perto, diferente do que havia imaginado anteriormente. Obviamente havia um dia ou outro que o se agitava ao pensar no tratamento, mas de forma geral, era até bem tranquilo para se trabalhar.
O segundo motivo era o mais complicado; não sabia o que estava acontecendo para ele estar tão chateado, e considerando a situação em que ele se encontrava, tinha medo de que o alemão resolvesse descontar os problemas em alguma substância para sentir-se melhor. Não adiantava só trabalhar seu lado físico se o psicológico não estivesse bem para acompanhá-lo nessa nova empreitada.
Vez ou outra notava o olhar do sobre si, o qual ele desviava sempre que o encarava, parecendo estranhamente constrangido.
— Algum problema? — Perguntou após liberá-lo do exercício que fazia.
— Que? — Tornou em voz baixa, sem olhá-la.
— Quer me perguntar alguma coisa? — Tentou mais uma vez.
Percebeu quando o pescoço do jogador avermelhou, assim como seu rosto, tamanho seu constrangimento. apenas negou com a cabeça, sem nada dizer.
suspirou, concordando com um aceno antes de voltar sua atenção para a prancheta ao lado, fazendo algumas anotações sobre o desempenho de na atividade anterior.
O alemão passou a mão pelos cabelos suados, sentindo-se um perdedor completo; não sabia mais como agir na frente da mulher e, pior ainda, nem poderia lhe dizer nada a respeito. Se fosse uma situação “normal”, poderia simplesmente chamá-la para um jantar ou lançar alguma cantada, como fazia quando era mais novo e solteiro. Com Rachel não havia sido muito diferente daquilo: se conheceram em um evento em Munique, flertaram por algum tempo e pouco depois ele a convidou para um jantar. Ao final daquela noite acabaram em seu quarto de hotel, trocando telefones na manhã seguinte antes que ele voltasse para Dortmund.
Mas agora era tudo diferente, ele não poderia flertar, menos ainda chamá-la para sair. Se não bastasse sua situação física, ainda tinha na jogada, o que era tão ruim quanto ele não poder andar.
havia demorado para responder sua mensagem, mas não porque tinha passado o final de semana com a inglesa, apenas porque estava sem graça de dizer a que havia passado um bom tempo da festa conversando com Peter, e inclusive tinham marcado de saírem para beber a qualquer hora. não soube como reagir àquela informação, imaginar seu melhor amigo se dando bem com o cara responsável por ele estar em uma cadeira de rodas beirava ao absurdo. Contudo, não fez qualquer comentário a respeito, preferindo guardar para si mesmo. Se fosse sincero, não era como se odiasse Peter Fischer, mas se estava naquela situação era por culpa dele. Peter e saíram numa boa do acidente, mesmo tendo sido os responsáveis pela batida, mas nem mesmo sabia quando poderia voltar a andar. Não odiava o casal, mas ao mesmo tempo queria o máximo de distância possível, porém também não era como se desejasse vê-los na cadeia. Era uma confusão tão grande de sentimentos que preferia nem mesmo pensar a respeito, pois sempre acabava com dor de cabeça e se sentindo culpado por dar seguimento no processo. Culpado por querer justiça!
De qualquer forma, embora contrariado ao saber que estava próximo de Fischer, não foi aquela a notícia que o abalou.
aproveitou o final da festa e beijou . Um beijão, segundo o loiro. Nessa hora sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. Porém, na mensagem seguinte, admitiu a contragosto que o afastou pouco depois.
Não chegou a me dar um fora, mas desviou quando eu me aproximei de novo”, e ao ler isso, agradeceu por não estarem frente a frente, pois seria impossível esconder sua expressão de alívio ao saber.
O problema daquilo foi o drama que se seguiu, pois estava realmente interessado na doutora e havia gostado do beijo, queria repeti-lo o mais breve possível, mas não parecia corresponder. Então, agora, tinha um novo objetivo em mente: conquistar a inglesa.
enviou qualquer coisa como resposta, dizendo apenas que preferia não se envolver em nada daquilo, afinal, ainda era sua fisioterapeuta e ele não queria causar nenhum atrito que pudesse resultar em um atraso em seu tratamento. Obviamente era tudo uma grande mentira, mas não pareceu perceber, muito pelo contrário, até mesmo se desculpou com ele por saber que deveria ser estranho para o amigo vê-lo interessado na mulher.
E aquilo só o fazia se sentir pior ainda; era uma pessoa ótima e um amigo incrível, mas torcia para que ele não conseguisse nada com .
? — Virou-se assustado ao sentir o toque da mulher em seu ombro — Tudo bem?
— Ah, claro — concordou —, desculpe, só estava pensando em outra coisa.
— Algo que eu possa ajudar?
a encarou por um instante, negando com um aceno.
A inglesa concordou, apontando então para o fundo da sala, para encerrarem o dia com a terapia. O empurrou a cadeira até o canto, sentando-se no sofá enquanto pensava no que diria.
Sabia que precisava falar algo, então resolveu comentar sobre seu término, parecia seguro o suficiente falar sobre aquilo e, de fato, havia ficado um pouco incomodado com o fim do relacionamento, mesmo que tivesse sido ele quem entrou no assunto.
— Terminaram? — perguntou visivelmente surpresa. — Ela terminou com você?
— Não exatamente — suspirou, passando a mão pelos cabelos —, foi meio que uma decisão conjunta…
— E como se sente?
— Sei lá, acho que foi bom, mas também não sei… — Suspirou, pensando em uma forma de explicar o que sentia sem correr o risco de falar mais do que deveria — Chegamos à conclusão que estávamos adiando o término, mas que acabaria acontecendo em algum momento... Ao mesmo tempo, eu tinha certeza que casaria com ela, entende? Já estava procurando uma aliança no começo do ano, tinha pensado em pedí-la em casamento nesse verão enquanto estivéssemos de férias… Mas não é como se eu estivesse perdidamente apaixonado ou qualquer coisa… Na verdade, pensando agora, não sei direito porque pensei em pedi-la em casamento — foi sincero, franzindo o cenho enquanto pensava a respeito.
— Comodismo? — sugeriu — Às vezes é difícil saber se estamos apenas passando por um momento complicado ou se, de fato, deixamos o sentimento de lado e apenas nos acostumamos com a presença...
— Pode ser — concordou com um aceno — Era um relacionamento bom, talvez não o melhor exemplo do mundo, mas não era tão ruim quanto poderia parecer, mesmo com toda essa distância… Quer dizer, nós dois sabíamos que nossa prioridade era o trabalho — passou a língua pelos lábios, olhando de canto para a mulher, vendo-a erguer as sobrancelhas, surpresa.
— O que foi?
— Não me entenda mal, — começou, sorrindo pequeno — é claro que em algum momento a carreira precisa vir primeiro, mas, normalmente, isso acaba mudando com o passar do tempo — explicou devagar —, principalmente se você pensa em um casamento ou filhos, o mínimo seria dividir sua atenção igualmente entre sua carreira e relacionamento. Não quero generalizar, mas se apenas uma pessoa se dedica ao relacionamento, o mesmo tende a não funcionar muito bem. E, quando o mesmo não é a prioridade de nenhuma das partes, bem… — deu de ombros, vendo-o concordar com um aceno.
sabia que mesmo se tivesse casado, Rachel não seria sua prioridade, nem ele a dela. Talvez as coisas mudassem se tivessem um filho, mas também não era como se imaginassem ter uma criança tão cedo.
— Você acha que seria feliz se tivessem se casado?
Encarou-a pensativo, passando a mão pelos cabelos antes de responder;
— Talvez por algum tempo, não é como se eu odiasse estar com ela, mesmo se estivéssemos brigando ou afastados… Mas não sei, só parecia a coisa certa a fazer depois de tanto tempo — explicou sem graça, coçando a nuca.
Agora parecia tão absurdo ter realmente considerado se casar sem realmente se sentir feliz com a ideia, como se um casamento não fosse nada demais. E talvez não fosse mesmo, porque sabia que qualquer coisa era só pedir um divórcio.
— Quanto tempo vocês ficaram juntos?
— Quase cinco anos, sei lá, só é estranho ter terminado de repente, não diria inesperado, mas estranho… Principalmente pelo motivo de termos chegado a esse ponto… Quer dizer, se eu não tivesse me acidentado, talvez continuássemos juntos por mais tempo…
concordou, passando a língua pelos lábios.
— É mais complicado quando o relacionamento é tão longo, dá a sensação que você perdeu alguns anos, não é?
— Exato. — Respondeu rápido — Achei que depois de três anos juntos a chance de acabarmos nos separando seria mínima. Depois do quarto eu só ficava pensando que seria horrível terminar e precisar começar tudo de novo, então era mais fácil só conversar sobre o que fosse o problema…
concordou, sorrindo pequeno.
— Você namorou quanto tempo antes de terminar? — Perguntou curioso, vendo-a arquear a sobrancelha ao olhá-lo. Não é como se a inglesa se irritasse quando ele lhe perguntava alguma coisa particular, mas sabia que tentava tirar a atenção de seus próprios problemas sempre que fazia aquilo.
— Depende — disse baixo, o cenho levemente franzido — já nos conhecíamos porque nossos pais são amigos — contou — começamos a sair quando eu tinha uns 17, mas nada muito sério. Começamos a namorar mesmo quase um ano depois, mas terminamos por algum tempo quando me mudei… Se desconsiderarmos todos os términos que tivemos, e foram vários — riu nasalado — mais ou menos 10 anos.
fez um barulho com a boca, surpreso com aquilo.
— E por que você terminou com ele? — Questionou, mais interessado do que gostaria de admitir.
negou com um aceno, sorrindo pequeno;
— Nunca disse que fui eu quem terminei.
O arregalou levemente os olhos .
— Foi ele? Por que?
o encarou por alguns instantes, negando com um aceno;
— Não sou eu quem estou em terapia, .
— Só fiquei curioso, — deu de ombros, sorrindo sem graça.
— Terminamos porque ele estava interessado em outra mulher — disse em voz baixa, querendo encerrar o assunto e dar continuidade na sessão.
— O que? — quase gritou, pigarreando ao vê-la franzir o cenho com sua reação — Quer dizer, — balbuciou por alguns instantes — então… Você ainda gosta dele? É por isso que não quer sair com o ? — Arriscou, só se dando conta da última frase após já ter proferido.
A mulher abriu e fechou a boca, passando a língua pelos lábios antes de respondê-lo;
— Já falamos sobre isso, , da mesma forma que não falo sobre você para outras pessoas, espero que você também não tente se envolver na minha vida pessoal.
— Foi ele quem comentou comigo — explicou rápido, um tanto sem graça — só fiquei curioso…
não respondeu, apenas concordou com um aceno.
— E como vai ser daqui pra frente, agora que está solteiro? — Perguntou instantes depois, dando o assunto anterior como encerrado — Interessado em alguém?
riu nasalado, passando a mão pelos cabelos, sentiu o estômago revirar só de imaginar que ela talvez suspeitasse de seus sentimentos.
— Não é como se eu estivesse vendo muitas pessoas, não é? — Respondeu simplesmente, dando de ombros.
— E por que não está?
a encarou por alguns instantes, pensando se ela estava fazendo alguma brincadeira. Por fim, deu um sorrisinho irônico;
— Por que será? — Apontou para suas pernas.
— Digamos que seu tratamento demore, até mais do que previmos — começou, falando com cuidado — vai passar todo esse tempo sem sair de casa? Sem ver ninguém?
travou a mandíbula, olhando para o lado. Não era realmente sua intenção se isolar do mundo, mas a simples ideia de outras pessoas o vendo naquele estado e fazendo comentários sobre, era tão ruim quanto não poder andar.
— Já conversamos sobre isso inúmeras vezes, não é? Você tem que estar preparado para tudo, , e isso inclui levar uma vida normal durante esses meses.
— Fácil para você falar — respondeu mal-humorado, olhando para baixo —, não é você quem está presa em uma cadeira, é?
suspirou, inclinando-se levemente na cadeira para encará-lo;
— Como você espera melhorar se continua sentindo pena de si mesmo? É assim que você conquistou as coisas em sua vida? Isolado em um canto esperando tudo dar certo sem fazer nenhum esforço? Nenhuma tentativa de conseguir o que deseja?
O a encarou furioso;
— Não é a mesma coisa de antes!
— Não, realmente não é. — Concordou, mantendo o contato visual — Mas é o que está acontecendo agora, . Não adianta vir aqui todos os dias trabalhar seu corpo se sua cabeça continua do mesmo jeito. É difícil? Com certeza, mas você pretende passar o resto da vida lamentando e se sentindo um peso para o universo? Incapaz até mesmo de manter um relacionamento por estar em uma cadeira de rodas?
abriu e fechou a boca, sem respondê-la. Olhou para o lado, mantendo as mãos fechadas em punho e uma vontade crescente de gritar. Ao mesmo tempo em que não queria ser grosseiro e, de fato, sabia que ela tinha razão no que dizia, achava aquilo absurdo. Era fácil dizer para ele se motivar e tentar levar uma vida normal quando ela podia fazer aquilo. podia andar, dançar, correr, fazer qualquer coisa que quisesse sem precisar de ajuda. não tinha mais essa opção, estava preso em uma cadeira de rodas e não importava o que a mulher dissesse, aquilo não mudava sua situação.
— E o que exatamente eu vou fazer? — Questionou a contragosto — O que eu posso oferecer além de ser um peso para qualquer pessoa?
sorriu minimamente, um sorriso triste, ele percebeu. Talvez uma pontada de decepção com ele? Bem, ele já tinha decepcionado muita gente, inclusive ele mesmo, era só mais uma na fila.
— Obviamente não conquistaria ninguém sendo grosseiro e irônico desse jeito — concordou, arqueando a sobrancelha ao, sutilmente, repreendê-lo por seu tom de voz. — Mas estou curiosa, o que você oferecia quando podia andar? Uma corrida no parque?
— Quem está sendo irônica agora? — Tornou debochado.
— Só estou curiosa; tudo bem, atualmente você não pode andar e isso limita algumas ações, fora isso, o que mais mudou para você ter virado uma pessoa tão ruim para sequer imaginar que pudesse ter um encontro ou algo do tipo?
passou a mão pelos cabelos, frustrado;
— Quem você acha que vai querer sair comigo? De verdade. Que mulher, no mundo, vai olhar para um cara que não consegue andar e pensar “nossa, é com ele que eu quero sair”.
mais uma vez sorriu pequeno em sua direção;
— Desculpe, não fazia ideia que você era a única pessoa no mundo que não podia andar. Realmente deve ser muito difícil ser o único ser humano nessa situação. Como podemos pensar que uma pessoa nessas condições levaria uma vida normal, não é? Trabalhar, casar, ter filhos… E, é claro, não é como se existisse um torneio com esportes adaptados para pessoas com alguma deficiência…
— Muito engraçado! — Respondeu grosseiro.
— Talvez pareça para você neste momento — ela tornou a dizer, inclinando-se mais para olhá-lo —, mas você não é o único passando por essa situação, . Você não é o único que, por algum motivo, não pode mais andar. Milhares de pessoas no mundo têm algum problema físico, e precisaram se adaptar para continuar vivendo. O que você espera, de verdade? Passar sua vida reclamando que não pode andar? Que não pode viver?
— Eu espero sair dessa cadeira — respondeu no mesmo instante.
— E se isso demorar? — Repetiu, vendo-o mexer-se incomodado com o pensamento — Se demorar mais de um ano? Vai passar todo esse tempo triste em um canto? Incapaz de ver ou conversar com outras pessoas? — Continuou, desviou o olhar — Eu já te vi no refeitório e em outros cantos da clínica, , você se afasta de todos. Quantas vezes já te convidaram para participar de palestras ou reuniões com outros pacientes? Em quantas você quis vir? Você mal olha para o lado, .
O homem manteve o olhar em seu colo, sem saber o que responder.
— Você precisa mudar de atitude, continuou, de forma suave — você tem que sair dessa bolha que se colocou, se isolando de todos. Ninguém aqui vai rir de você ou fazer algum comentário maldoso. Todos os pacientes da clínica estão em situações parecidas com a sua, você só precisa olhar para o lado para ver que não está sozinho, que não é o único sofrendo. Você precisa dar uma chance a você mesmo, .
O alemão a encarou por um instante, sem saber o que dizer. No fundo não esperava que ela soubesse que ele também se isolava na clínica, que ignorava convites e conversas. Parte de si queria acreditar no que ela dizia, queria realmente achar que as coisas poderiam voltar a ser como eram ou pelo menos próximo do que eram, mesmo que não pudesse andar. Contudo, seu ego continuava ferido, sua autoestima estava abalada. Não conseguia pensar de forma positiva, ver a luz no fim do túnel. Não diria aquilo para ela, jamais admitiria aquilo em voz alta, porque parecia tornar mais real, mas a ideia de não voltar a andar o aterrorizava todos os dias, porque sabia que seria quase impossível para ele adaptar-se a uma nova vida diferente da que ele tinha.
Por fim, suspirou, baixando o olhar mais uma vez, tornando a sentir um aperto em seu peito. Não aguentava aquela sensação de fraqueza, o medo e a incerteza que estavam sempre presentes, a vontade constante de chorar. Odiava tudo aquilo, mas ao mesmo tempo não era capaz de evitar. Parecia que suas emoções também estavam fora de controle, porque ele simplesmente não era capaz de evitar as lágrimas, menos ainda a vergonha por, mais uma vez, chorar na frente da mulher. Além de não poder andar, ainda era emocionalmente instável. Chorava o tempo todo perto dela. Realmente não imaginava que algum dia pudesse olhar para ele, mesmo que voltasse a andar, porque era claro que ela se lembraria de tudo aquilo. Ele estava tão fodido em tantos sentidos que, honestamente, já estava considerando uma vitória absurda levantar na cama todos os dias.
Sentiu quando sentou-se ao seu lado, passando um braço por seus ombros e apertando-o gentilmente, o deixando chorar audivelmente, com as mãos sobre o rosto.
— Vai dar tudo certo — ela disse baixo após alguns minutos, quando notou que ele já estava mais calmo — só precisamos trabalhar um pouco na sua autoestima, daqui a pouco você vai estar me contando dos vários encontros que teve!
riu nasalado;
— Eu gostaria de acreditar nisso.
— Você quer fazer uma aposta? — Brincou.
virou-se para olhá-la, notando a proximidade dos dois e, então, encarou por um instante o sorriso da mulher à sua frente, antes de tomar a atitude mais impensada que poderia ter;
esticou-se os poucos centímetros que os separavam, juntando seus lábios aos da inglesa, num beijo que já sonhava há várias semanas.

DEZENOVE.

Em um segundo estava às lágrimas, sentindo um aperto do peito e a vontade de desistir de tudo em sua vida. No instante seguinte, sentiu o corpo esquentar e uma vontade absurda de sorrir. Por aqueles poucos segundos parecia que a cor havia voltado para seu mundo monocromático. Ao mesmo tempo que pareciam horas, no fundo não passavam de alguns poucos segundos.
Foi apenas juntar seus lábios em uma pressão pequena, antes que pudesse sequer tomar a atitude de beijá-la de verdade, sentiu as mãos da inglesa o afastarem devagar. E foi ao abrir os olhos e encarar a expressão surpresa da mulher que se deu conta do que havia feito. Ou tentado fazer.
Não havia sido um sonho como os anteriores, ele realmente tentou beijá-la.
Foi preciso apenas uma piscada de olhos para sentir as mãos tremerem e o coração bater acelerado. O ar faltou e logo sentiu o rosto esquentar violentamente, desviando o olhar apressado.
não disse nada, talvez também precisasse entender o que ele havia feito antes de poder ter uma reação apropriada.
Ficaram em silêncio por alguns instantes, que na cabeça do homem pareceram horas intermináveis. Por um instante rezou para que seu horário tivesse terminado e pudesse ir para casa o mais rápido possível. Se pudesse correr, já estaria no estacionamento, indo para o mais longe possível da inglesa.
Fechou os olhos quando a ouviu suspirar, provavelmente se decidindo no que fazer naquele momento. Achou que a melhor saída seria fazer algum comentário, antes que a situação piorasse ainda mais;
— Foi você quem disse que eu deveria me arriscar, não é? — Arriscou um sorriso ao olhá-la de canto. A mulher arqueou a sobrancelha por um segundo, dando uma risadinha sem graça no momento seguinte.
— Não foi bem isso que eu quis dizer — respondeu no mesmo tom, passando a mão pelos cabelos soltos antes de voltar a encará-lo; —
— Desculpe — disse apressado, tornando a desviar o olhar — não sei… eu…
— Tudo bem — falou, sorrindo pequeno para ele antes de levantar-se e voltar para seu lugar —, não diria que acontece o tempo todo, mas tudo bem.
riu nasalado, ainda sem encará-la, no fundo aliviado pela doutora não parecer com raiva ou qualquer coisa do tipo, porém precisou ignorar a pontada em seu peito ao assimilar que havia sido rejeitado por ela, mesmo que já esperasse.
— Estamos bem? — perguntou hesitante ao notar que ele ainda não olhava em sua direção, coçou o pescoço, concordando com um aceno.
— Sinto muito — repetiu baixo, antes de olhá-la — mas se serve de alguma coisa, foi você quem veio com esse papo de encontros!
A mulher concordou, rindo fraco.
— Já que eu não fui específica o suficiente — brincou, deixando o tom constrangido para trás e voltando a conversar como se nada tivesse acontecido — quando disse que logo você estará saindo com várias pessoas, não quis me incluir, ok?
O sorriu pequeno, tornando a concordar, embora ainda sentisse o rosto quente.
— É uma pena — adicionou com um tom brincalhão, passando a mão pelas pernas — seria muito mais fácil pra mim, não é? Quer dizer, te vejo todos os dias e tudo o mais…
— Justamente — a mulher negou sorrindo —, você é meu paciente, , qualquer outra coisa fora da barreira profissional seria completamente fora de cogitação. Seria antiético da minha parte me aproveitar da sua situação — avisou, vendo-o erguer as sobrancelhas, sorrindo de canto ao entender a brincadeira.
— Quer dizer que se você não fosse minha fisioterapeuta eu teria chances? — Questionou, tentando manter o tom ameno na conversa.
sorriu leve;
— Talvez, se tivéssemos nos conhecido em outra situação — deu de ombros.
sorriu fraco, baixando o olhar;
— Então você me fala todo dia pra parar de pensar que minha vida acabou, mas está dizendo que não sairia comigo em uma cadeira de rodas? — Falou, tentando segurar a ironia e a decepção.
o encarou por alguns instantes, notando o olhar baixo do alemão;
— O que eu estou dizendo, — começou devagar — é que por você ser um paciente da KBE-V, mesmo que fosse com outro fisioterapeuta daqui, não teria qualquer chance de sairmos, pois seria antiético da minha parte. Independentemente de ser com ou qualquer outra pessoa. — Explicou, vendo-o franzir o cenho ao voltar a olhá-la — Se eu te encontrasse aleatoriamente em um bar e você oferecesse uma bebida, não me importaria se você pode ou não andar. Entendeu a diferença?
acenou com a cabeça, parecendo ainda mais sem graça após ter feito aquela insinuação do que pelo “beijo”.
— Desculpe…
A mulher suspirou, parecendo um tanto cansada.
— Acha mesmo que eu teria escolhido essa profissão se tivesse algum tipo de aversão a pessoas em situações como a sua? — Questionou por fim, vendo-o negar constrangido. — Achei que a essa altura eu teria um pouco mais de crédito com você.
— Você tem — disse em voz alta, confiante — Eu só… — Bufou, frustrado — Talvez seja um pouco do meu ego ferido após ter levado um fora… — Confessou, sentindo o rosto esquentar mais uma vez.
franziu o cenho, assimilando aquelas palavras.
Num primeiro momento achou que havia sido só o impulso da situação que o levou a tentar beijá-la, mas agora já considerava não ter sido só aquele o motivo. E, se realmente confirmasse sua suspeita, as coisas poderiam sair de seu controle rapidamente.
? — Perguntou após um tempo de silêncio entre eles, vendo-o tornar a olhá-la, curioso — Você não gosta de mim, não é?
— O que? — Tornou nervoso, fechando as mãos em punho, o rosto novamente esquentando e o coração batendo acelerado.
— Você sabe que eu sou sua fisioterapeuta e que vou estar aqui para te ajudar, mas você não me vê de outra forma, vê? Algo além de uma amizade, talvez? — Tentou explicar da melhor forma que pode, sabendo que possivelmente estivesse usando as palavras erradas para fazer aquela pergunta.
— O que…? — Gaguejou, ansioso, desviando o olhar — Por que?
A mulher passou a língua pelos lábios, parte de si constrangida por poder ter interpretado diferente a situação, mas precisava ter certeza. Era melhor passar vergonha do que ter um paciente atraído por ela.
— É como eu disse — explicou devagar — você é meu paciente, . Acho você uma pessoa incrível e espero poder te ajudar no seu tratamento, mas é só isso. Nossa relação é apenas profissional. É assim que você me enxerga, correto? Apenas como sua fisioterapeuta?!
— C-claro — balbuciou, pigarreando antes de confirmar, embora não olhasse em sua direção — claro que sim.
concordou com um aceno, sem dizer mais nada sobre o assunto, embora notasse o rosto vermelho e a expressão constrangida do jogador. Respirou fundo ao olhar para o relógio, notando que faltavam poucos minutos para as seis horas.
— Muito bem, vou deixar você ir para casa mais cedo hoje — sorriu leve, mas ele continuou sem encará-la, apenas concordando com a cabeça.
despediu-se apressado, pegando suas coisas e saindo da sala o mais rápido que conseguiu. No fundo sabia que tinha sido extremamente óbvio, deveria ter reagido de forma tranquila, talvez feito alguma brincadeira, mas simplesmente não conseguiu. A pergunta o pegou totalmente desprevenido.
Era claro que a mulher já sabia de seu interesse, mas esperava que ela pensasse que era apenas uma atração momentânea, nada além daquilo. Torcia para que pensasse que era o resultado de sua situação geral, afinal estava em uma cadeira de rodas com o ego ferido e a autoestima no lixo.
Respirou fundo ao ver que seu pai o esperava na recepção, sorrindo brevemente para o mais velho antes de seguirem para o estacionamento. Permaneceu em silêncio boa parte do caminho para casa, respondendo apenas o essencial.
Foi direto para seu quarto e deitou-se em sua cama, encarando o teto ao repassar dezenas de vezes toda a conversa em sua cabeça, do pseudo-beijo até a hora de ir embora. Colocou as mãos sobre o rosto, xingando-se mentalmente por tudo aquilo. Se não tivesse sido impulsivo nada estaria acontecendo, teriam conversado e ele teria acabado a sessão como sempre fazia, mas ao invés disso agora a inglesa sabia que ele tinha algum sentimento por ela. Como chegaria no dia seguinte fingindo que nada havia acontecido? E, pior ainda, o que ela estaria pensando dele?
bufou completamente frustrado, virando-se para o lado e fechando os olhos, ignorando o estômago roncando, talvez acordasse em algum momento e descobrisse que tudo aquilo não tinha passado de mais um sonho.

despediu-se de Kevin na recepção, acenando para a mãe do garoto antes de caminhar em direção ao refeitório, não demorando para fazer um prato e sentar-se em uma mesa mais ao canto, aproveitando que o local estava parcialmente vazio.
— Não vai comer? — Ouviu a voz de Aaron quando o amigo se sentou ao seu lado, só então notando a quantidade de pessoas que se encontravam no local. Suspirou, tomando um gole de água antes de menear a cabeça.
— Não estou com muita fome — respondeu devagar, olhando para o prato praticamente intocado, empurrando-o para o lado.
— Algum problema? — O outro perguntou entre uma garfada e outra, já havia reparado na tarde anterior que a inglesa estava anormalmente quieta, até mesmo tendo recusado o happy hour após o fechamento da clínica.
negou com um aceno, embora não parecesse muito convincente. Mudou de assunto pouco depois, ouvindo o amigo tagarelar sobre um encontro que teria no sábado com uma mulher que conversou por um aplicativo de relacionamento. manteve um sorriso educado no rosto enquanto escutava-o conversar, vez ou outra rindo junto dele, tudo no automático.
No fundo estava ansiosa demais para conseguir prender sua atenção em alguma coisa, até mesmo na sessão de Kevin teve certa dificuldade de focar-se. Mal havia dormido na noite anterior, sem saber ao certo o que fazer com toda a situação de . Não imaginava que ele estivesse apaixonado por ela ou algo do tipo, possivelmente apenas uma atração que ela esperava que acabasse tão logo ele começasse a ter contato com outras pessoas, o problema era saber como interagir com ele depois da tarde anterior. Se não fosse o suficiente ele ter tentado beijá-la, toda a cena após aquilo pareceu ainda pior do que o beijo em si.
E ainda tinha mandando-lhe mensagens e chamando-a para sair. Adorava o , era muito simpático, engraçado e bonito também, mas não conseguia enxergá-lo mais do que como um bom amigo e simplesmente não sabia como dizer aquilo para .
Nunca havia sido muito boa em dispensar alguém, sempre sentia um pouco de culpa por fazer outra pessoa triste ou decepcionada. Era quase como se sentisse responsável pelo emocional de terceiros, o que era ridículo, em sua opinião. Mas ainda era algo que ela não conseguia ignorar completamente, por mais que tentasse trabalhar aquilo toda semana em sua própria sessão de terapia; Não era responsável pela idealização de outros, não poderia ir contra suas vontades para agradar alguém. E aquilo incluía . Não que não o achasse interessante, apenas não sentia nenhuma atração real por ele, diferente do que havia imaginado quando se conheceram. Contudo, ainda seria mais fácil lidar com do que com , pelo menos não via o todos os dias em seu ambiente profissional.
— Tá bom, o que aconteceu? — Aaron perguntou ao notar o olhar perdido da inglesa, a qual piscou duas vezes antes de encará-lo — E não vem pensando que pode me enganar, te conheço melhor do que isso.
suspirou, deixando a cabeça pender sobre a mesa, frustrada.
— Nossa, não me diga que isso é ressaca! — Weiss perguntou divertido ao sentar-se na mesa junto dos dois.
— Impossível, ela nem saiu pra beber com a gente — o outro relembrou, sorrindo malicioso em seguida — a menos que tenha ido beber com outra pessoa…
— Antes fosse — brincou negando com um aceno, voltou seu olhar para o moreno a sua frente e então uma ideia surgiu em sua cabeça, embora soubesse que a probabilidade daquilo funcionar fosse mínima, afinal já havia tentado outras vezes que negou todas — mudando de assunto, — passou a língua pelos lábios ao olhar de Heinz para Aaron — vocês vão fazer o rodízio de pacientes hoje, né?
— Vamos sim, por que? mudou de ideia? — O mais velho perguntou curioso.
— Não perguntei essa semana — respondeu, batucando os dedos na mesa — poderíamos tentar…
— Tá querendo se livrar dele, é? — Krauẞ questionou divertido, vendo-a rolar os olhos ao negar — Ele já chegou? Posso perguntar se quiser… Aproveito para convidá-lo para o Poker da próxima semana!
— Klaus sabe que você está tentando tirar dinheiro de pacientes? — Weiss tornou brincando, vendo-o dar de ombros.
— Aposto que ele não se importaria, assim quem sabe ele para de perder pra mim! — Debochou, escutando o colega rir ao concordar.
— Deixa só ele te escutar falando assim — comentou, negando com um aceno — Mas agradeceria se você conversasse com , não apenas sobre hoje — adicionou apressada, não querendo dar uma má impressão —, com certeza seria melhor pra ele interagir com outras pessoas…
— E como ele está indo com o tratamento? — Heinz perguntou interessado, antes de levar mais uma garfada de arroz à boca.
— Ansioso — sorriu pequeno —, no geral ainda não podemos ver grandes avanços, mas ele já parece muito mais preparado fisicamente… O problema é justamente esse isolamento…
— E você quer que ele saia com um bando de macho? — Aaron tornou com a sobrancelha arqueada — Talvez a solução para o problema fosse levar ele para uma noitada, não poker…
rolou os olhos, rindo pequeno;
— Comece devagar, por favor. E seja sutil, se você o assustar antes mesmo de saírem, aí sim ele nunca mais olha pro lado!
— Está pedindo algo impossível para o Aaron — o outro brincou — Sutileza não é o forte desse cara! — Apontou para o loiro, que deu de ombros, nem se dando ao trabalho de se defender.
— Minha abordagem é muito mais eficiente, não é à toa que todos me amam!
— Numere esse “todos”, por favor! — tornou com a sobrancelha arqueada, escutando a risada de Weiss ao lado, ao tempo que o amigo mostrava o dedo do meio.
— Enfim — resmungou, levantando-se pouco depois —, tenho que assinar uma papelada, se encontrar com o falo com ele, mas não garanto nada!
Heinz esperou o loiro se afastar, tomando o restante de seu suco antes de olhar para a inglesa, sentada à sua frente;
— Tudo bem? — Perguntou baixo, a mulher o olhou com o cenho franzido — Algum problema com o tratamento de ?
— Não, não, tudo sob controle no geral… Tem dias e dias, não é?
O mais velho concordou, ainda mantendo o olhar atento sobre a inglesa;
— Sabe que se precisar de alguma coisa pode contar comigo, não?
— Sei, sim — sorriu agradecida, suspirando em seguida — só não gosto muito dessa fase em que eles estão sempre pra baixo…
— Quem sabe a insistência do Aaron não serve pra alguma coisa? — Tornou sorrindo, vendo-a rir ao concordar.



havia acabado de entrar na recepção quando escutou seu nome ser chamado, virou-se em tempo de ver Aaron Krauẞ aproximar-se sorrindo. Cumprimentou-o com um aperto de mão, um tanto curioso, principalmente porque, depois de , o que mais conversava com o era Max, embora Aaron sempre parecesse simpático ao cumprimentá-lo;
— Não sei se já comentaram com você sobre — começou um tanto pensativo —, mas vez ou outra marcamos um jogo de poker com o pessoal, depois de várias semanas conseguimos juntar um número legal, vamos jogar quarta-feira lá em casa. Tá afim?
— Ah, o Max tinha comentado comigo um dia desses — falou, pensando sobre o assunto.
— E então? Quer perder um pouco de dinheiro pra gente? — Perguntou brincalhão, vendo-o arquear a sobrancelha — O Max e o Heiz vão, e mais uns dois pacientes daqui, não sei se você os conhece… Klaus talvez apareça também, mas ainda não confirmou… Que tal?
pensou por um instante, até não seria uma má ideia sair um pouco, ainda mais considerando que, embora não fosse muito próximo de ninguém, eram todos pessoas da KBE-V então duvidava que teria algum comentário constrangedor sobre sua situação. E sabia que estava certa em dizer que ele deveria tentar interagir mais com as pessoas, ao invés de se manter isolado.
— É, talvez seja uma boa — concordou instantes depois, coçando a barba rala — o que eu preciso levar?
— A cerveja e uns aperitivos são por minha conta — avisou, animado por ele ter aceito o convite — só leva se quiser beber alguma coisa diferente, no mais é só o dinheiro que você vai perder pra mim!
riu, negando com um aceno;
— Até parece… — respondeu baixo, escutando-o rir.
— Se gostar de jogar, normalmente fazemos um rodízio, toda vez na casa de uma pessoa diferente, essa é na minha e a próxima é pra ser no Max — avisou, vendo-o concordar — normalmente tentamos duas vezes no mês, mas nem sempre conseguimos… Enfim, depois te passo meu endereço e o horário e… — Interrompeu-se ao ver Heinz e saindo do refeitório, rindo de alguma coisa — Ah, é, — voltou a sorrir e encarar o jogador — hoje fazemos aquele rodízio de pacientes, não quer tentar? A sessão é praticamente a mesma que você está acostumado, mas comigo ou com o Heinz ao invés da .
abriu a boca para negar, mas então pensou de novo. Poderia usar aquilo como desculpa para ficar alguns dias sem falar com a mulher e, se perguntassem, diria que era uma forma de melhorar sua adaptação, o que não era de todo mentira; já estava até mesmo disposto a participar de um jogo de baralho com outras pessoas.
— Hm, tá, pode ser sim — concordou hesitante, o loiro pareceu surpreso com sua afirmação, mas sorriu de lado, concordando antes de acenar para os dois que se aproximavam.
— Conseguimos mais alguém pra jogar — disse quando Heinz se aproximou o suficiente.
— Sério? — O homem perguntou, olhando para o jogador, que concordou com um aceno — Tome cuidado, ele sempre rouba.
— Ah, começou! Vocês que são péssimos perdedores — debochou, cruzando os braços, ao tempo que o colega cumprimentava o com um aperto de mão, parou logo atrás sorrindo pequeno para . — vai participar do rodízio hoje — falou sorrindo.
— Caramba, não é que deu certo mesmo? — Heinz comentou com , a qual riu ao concordar. Aaron e olharam confusos para os dois, até a mulher explicar;
— Você vence todo mundo no cansaço, estávamos apostando que talvez não se deixasse levar…
— Há, há.
deu uma risada baixa, negando com um aceno, sem olhar pra ninguém, enquanto Aaron reclamava.
— Muito bem, então — Heinz pigarreou, olhando no relógio de pulso — preferência entre nós dois? — Perguntou ao apontar dele para o loiro. negou com um aceno, tomando cuidado de não olhar para ?
— Posso ficar com a Helena, faz um tempo desde a última vez que conversamos — falou segundos depois.
— Certo, fico com o Neil e, , boa sorte nas próximas horas! — Weiss piscou para o jogador, que riu divertido.
— Ah, por favor, ele vai querer trocar a em dois segundos depois de hoje! — Aaron avisou, escutando-os rir — Vamos lá, você vai ver que eu sou muito melhor que a inglesinha!



Ao final do dia, após despedir-se de , Aaron pegou suas coisas e desceu as escadas em direção a recepção, pronto para aproveitar o final de semana descansando como merecia, depois de uma semana agitada no trabalho. Acenou para Marielle e mais alguns pacientes que estavam na recepção, e saiu em direção ao estacionamento. Entrou em seu carro, colocando suas coisas no banco do passageiro, logo colocando a chave na ignição. Só então olhou para o carro estacionado à frente do seu, notando dentro do mesmo, olhando para baixo, distraída. Franziu o cenho por alguns segundos, rindo sozinho ao dar uma buzinada, não demorando a notar o pulo que a mulher deu devido ao susto, mostrando-lhe o dedo do meio ao ver que havia sido proposital.
— Problemas com o carro? — Perguntou com a cabeça fora da janela, vendo-a negar. Passou a língua pelos lábios, suspirando antes de sair do veículo, dando a volta e entrando no banco do passageiro no carro da inglesa, ao tempo que ela colocava suas pastas no banco de trás. — O que aconteceu com você?
A mulher deu de ombros, batucando no volante antes de virar-se para o loiro, mudando o assunto;
— Como foi com o ?
— Tudo certo — respondeu, virando-se no banco para olhá-la de frente — conversamos sobre algumas coisas aleatórias enquanto ele fazia alguns exercícios. Nada muito importante, mas foi tudo bem… Por que? Ficou com medo dele voltar atrás no meio da tarde? — Perguntou divertido, vendo-a negar com um riso nasalado.
— Não, é bom ele conversar com você, fico feliz que tenha aceitado fazer o rodízio hoje…
— Eu te disse que era só uma questão de tempo até ele se sentir à vontade, não é? — Relembrou a conversa de semanas anteriores. — E, é claro, eu sou uma ótima pessoa para se ter ao lado. É claro que ele iria gostar!
rolou os olhos por um instante, mantendo o sorriso leve nos lábios.
— O que aconteceu? — Repetiu instantes depois, vendo Nadine acenar ao entrar no carro estacionado ao lado.
— Não sei o que fazer — confessou em voz baixa, respirando fundo antes de virar-se para olhá-lo nos olhos — O que você fez quando aquela mulher se declarou pra você?
— Que mulh…? Ah, Christina? — Perguntou confuso, vendo-a concordar — Não fiz muito, não. Nem sabia o que fazer na verdade, — falou, brincando com o botão de abrir e fechar a janela — conversamos depois e ficou um pouco estranho, mas ela entendeu que não era recíproco. Por que? Quem se decl… — Interrompeu-se, olhando-a assustado — ?
— Não! — Negou apressada, bufando no segundo seguinte — Ele não se declarou, mas…
— Mas? — Insistiu, curioso.
— Estávamos no meio da terapia ontem, ele ficou mal, fui ajudá-lo e bem… — Fechou os olhos por um segundo, parecendo constrangida com a situação — Ele tentou me beijar.
— O que? — Quase gritou, baixando o tom de voz quando ela sinalizou — Como assim tentou?
— Eu desviei, não é? Foi coisa de uns cinco segundos…
— Foi por isso que ele aceitou mudar hoje, não foi? — Disse, negando em seguida — Caralho, e depois?
— Ele se desculpou, deu a entender que foi o impulso na hora… E acho que foi mesmo…
Aaron concordou, esperando que a mulher continuasse, escutando-a suspirar pelo o que parecia a milésima vez.
— Conversei com ele depois disso, achei que estava tudo bem…
— E por que não está? Ele falou alguma coisa?
negou, mordendo o lábio inferior.
— Eu disse que nada aconteceria, porque pensei que se ele tivesse qualquer ideia, mudaria no mesmo momento, certo? — Questionou, não dando tempo para que o homem respondesse antes de continuar seu raciocínio — Mas ele parecia bastante constrangido, mais do que antes, sabe? Então eu perguntei se ele me via de outro jeito que não fosse como fisioterapeuta e…
— Você o que? — Tornou surpreso, o encarou com o cenho franzido — Você não pergunta pra um cara um negócio desses, . Menos ainda se esse cara é um paciente!
— Eu sei — concordou nervosa —, mas não sabia o que fazer. Precisava tirar a dúvida na hora!
— E o que ele disse? — Questionou por fim, curioso.
— Falou que era só aquilo, claro — falou, passando a mão pelo pescoço — mas foi o jeito que ele disse que me deixou confusa. Não acho que ele esteja apaixonado e pronto para se declarar, como aconteceu com você, mas…
— Ele tem interesse — completou, vendo-a concordar incerta.
— Não posso afirmar, é claro, talvez eu só tenha interpretado tudo errado, ele poderia estar constrangido pelo incidente de antes e…
— o loiro chamou baixo — ele tentou te beijar. Só por isso já demonstra algum interesse. Pode ter sido uma situação momentânea? Pode. Mas ninguém tenta beijar uma pessoa sem sentir algum tipo de atração…
— E o que eu faço com isso? — Perguntou aflita, Aaron deu de ombros.
— Não tem o que fazer. Não é o primeiro, e nem deve ser o último caso de paciente se interessando por um de nós. Pensa — dizia, passando a língua pelos lábios antes de continuar — o cara está há meses sem ver ninguém direito, com a moral lá embaixo e solteiro… Ele me contou — Adicionou ao vê-la abrir a boca para perguntar — E aí tem você, passando horas por dia com ele, conversando e ajudando no momento mais difícil da vida dele e, convenhamos, você é bem bonitinha — comentou sacana, sentindo um tapa leve em seu ombro como resposta — não me parece nenhum mistério ele ter criado algum tipo de interesse em você.
— Ótimo, e como eu vou trabalhar agora? — Suspirou, jogando a cabeça contra o banco.
— Do mesmo jeito, ué? — Deu de ombros, olhando pra frente — Não tem problema ele criar algum crush em você, o problema vai ser se isso evoluir para outras coisas e chegar ao ponto dele se declarar. Só pensar que seria legal te beijar não é nada demais…
— Talvez não pra você — respondeu baixo, escutando-o rir.
— Você vai deixar de trabalhar com ele por causa de uma paixãozinha platônica?
pensou por um instante, negando pouco depois.
— E se não for só isso?
— Bom, aí você descobre o que fazer mais pra frente, — comentou, dando de ombros mais uma vez — mas se já deixou claro que não vai acontecer nada, imagino que ele fique na dele. E tenho certeza que não deve ser nada demais, é o mesmo que aconteceu com a Christina; ela estava carente e tinha um cara lindo como eu dando atenção, depois passou, não foi? — Lembrou, sorrindo de canto — E se já está disposto a interagir conosco, daqui a pouco volta a sair com os amigos dele e essas coisas, vai ver outras mulheres e essa atração passa assim — estalou os dedos.
— Não sei se devo ficar feliz ou ofendida com esse pensamento — resmungou. Aaron gargalhou, concordando com um aceno.
— De qualquer jeito, vai precisar contar para o Klaus sobre isso…
— Você acha?
— O cara tentou te beijar, . É óbvio que você vai precisar contar! Mas, se quer saber, ele só vai dizer pra você tentar não mostrar que é um sentimento recíproco e coisas assim… Aliás, não é recíproco, é? — A encarou com o cenho franzido.
— É claro que não! — Respondeu no mesmo instante, negando com a cabeça — É claro que acho ele bonito — acrescentou, voltando seu olhar pra frente —, mas é só isso.
— É, bem — o loiro passou a mão pelos cabelos — então é isso: ele vai pedir pra você demonstrar que não tem interesse ou falar diretamente que nada vai acontecer, essas coisas...
— Basicamente o que eu já fiz! — Respondeu, vendo-o rir baixo ao concordar.
— É realmente um fardo, não é?
— O que?
— Sermos tão incríveis a ponto de nem precisarmos fazer nada para as pessoas se apaixonarem… — Piscou, escutando-a gargalhar ao seu lado.
— Eu, sinceramente, tenho pena da alma da mulher que acabar do seu lado. Você é insuportável!
Foi a vez de Aaron rir alto ao ouvir aquilo, sorrindo sacana ao encará-la;
— Você vai é chorar por dias quando isso acontecer, pensando em todos os anos e oportunidades que perdeu de me conquistar — riu, passando a língua pelos lábios antes de finalizar — não pense que eu esqueci o dia que você me beijou!
pareceu ultrajada, acertando-lhe outro tapa no braço;
— Por dez segundos! E porque eu estava bêbada e tinha acabado de tomar um pé na bunda!
— Seja como for — brincou, abrindo a porta do carro, pronto para sair — eu sei bem que você não vive sem mim! Talvez devesse dizer isso ao , fazê-lo pensar que temos um caso!
— Ah, cala boca! — Respondeu rindo, negando com um aceno ao vê-lo se afastar, mandando um beijo antes de entrar no próprio carro.
Ainda via Aaron sair do estacionamento quando notou e Hadrian aproximando-se, acenou levemente para o jogador quando ele olhou em sua direção, parecendo tão sem graça quanto no dia anterior. Por um instante agradeceu não precisar vê-los pelos próximos dois dias, assim teria tempo de colocar os pensamentos em ordem para continuar seu trabalho.

VINTE.

respirou fundo, soltando o ar lentamente conforme a mulher pedia. A olhava de canto, enquanto ajudava-o com os novos exercícios que começaram aquela semana e ele ainda não conseguia fazer sozinho. Obviamente não reclamava mais da dificuldade e das dores da pós-sessão, afinal, como ela havia dito várias vezes, aquilo apenas demonstrava que, mesmo que aos poucos, seus movimentos estavam voltando, e aquilo era mais do que suficiente para motivá-lo todos os dias.
Lembrava-se muito bem da alegria que sentiu ao notar um pequeno movimento de sua perna direita dias atrás, por um momento pensou que estava delirando, até senti-lo novamente ao encostar a mão sobre a mesma. Era quase como um formigamento, não parecia grande coisa, não era como se ele fosse começar a andar em dois dias, mas naquele instante sentiu as lágrimas escorrerem por seu rosto, tamanha sua felicidade ao constatar que, sim, estava acontecendo. Ele estava um tiquinho mais próximo de voltar a andar.
E agora, não era sempre, mas vez ou outra ele voltava a sentir esse formigamento, às vezes no pé, às vezes na perna. fez mais uma sequência de exames que a inglesa solicitou, não entendeu muito o que ela disse sobre os resultados. Tudo aquilo parecia japonês pra ele, mas parecia animada, dizendo que poderiam começar novos exercícios para fortalecer seus músculos e, ao mesmo tempo, acelerar a resposta dos nervos responsáveis pelos movimentos das pernas.
Durante aqueles quase 10 dias desde o primeiro formigamento, focou-se tanto em fazer tudo o que podia o mais certo possível para recuperar-se o mais breve possível, e naquelas duas semanas ele nem mesmo havia pensado no beijo de dois meses antes.
Aquela primeira segunda-feira foi estranha e incômoda, ele diria. Não conseguia olhar direito para a mulher sem sentir a vergonha dominá-lo, mas tentou manter tudo o mais profissional possível, garantindo inúmeras vezes que estava tudo bem e, com o passar dos dias, ele já não se sentia assim tão constrangido, até voltarem a conversar e interagir como se nada tivesse acontecido.
É claro que isso não o impedia de ter pensamentos e sonhos com a inglesa, apenas evitava pensar muito sobre o assunto, afinal a doutora era uma mulher bonita e o contato mais próximo que ele tinha atualmente com o sexo oposto, era óbvio que pensaria nela na hora de bater uma. Apenas por aquilo. estava determinado a ignorar qualquer outro sentimento que pudesse nutrir pela mulher, e foi pensando nisso que aceitou ir ao jogo do time e depois a uma festa naquele final de semana. Ele realmente precisava beber e se distrair, preferencialmente encontrar alguma outra mulher para passar o tempo, e agora que estava mais animado com a recuperação, sentia-se confiante o suficiente para aquilo.
Sabia que seria complicado pisar no Signal Iduna Park apenas como um torcedor. Também tinha plena consciência que teriam fotos e comentários sobre ele, ainda mais após tantos meses fora das notícias, mas estava determinado a ignorar aquilo também.
Talvez fosse os meses de tratamento que já haviam passado, as conversas motivacionais do dia a dia ou simplesmente porque naquelas últimas duas semanas estava mais eufórico do que nunca, mas algo dentro dele estava mudando. podia sentir isso. É claro que de tempos em tempos sua mente tentava sabotá-lo, deixando-o para baixo, lembrando-o de que não andava, que precisava da ajuda dos outros, que estava fora dos campos, que perderia a Copa do Mundo e, aquela parte por vezes era a que mais o atingia, havia sido rejeitado pela inglesa, mas tentava ignorar aqueles pensamentos gritando em sua mente. Distrair-se sempre que possível e, quando não conseguia, apenas tomava um remédio para dormir e esquecer de tudo por algumas horas.
também havia notado a mudança de comportamento dele, havia o elogiado algumas vezes e o incentivado a diferentes atividades, parecendo contente com o progresso que alcançava dia após dia. E, uma pequena parte do jogador, ainda sentia uma pontinha de esperança sempre que ela falava com ele daquela forma, achava que se conseguisse se recuperar logo poderia ter uma chance de verdade. Sabia que era uma jogada no escuro, não correspondia aos seus sentimentos - e ele esperava que ela nem mesmo soubesse da verdade por trás daquele beijo. Não era como se ela fosse acordar um dia, olhar para o e descobrir que estava apaixonada por ele. Não era uma droga de filme adolescente, era a vida real. E, por mais que lhe apertasse o peito saber que não tinha chances com ela, estava certo de que deveria focar em sua recuperação e em distrair-se sempre que aquela sensação de desespero invadisse seu coração. Se no futuro as coisas mudassem, tanto melhor, mas continuaria a deixar aquele sentimento de lado.

Minutos depois, quando finalmente terminaram a sessão, voltou a sentar-se em sua cadeira de rodas, passando uma toalha sobre seu rosto e pescoço, limpando o suor excessivo. Olhou de canto para a inglesa, que agora guardava os equipamentos utilizados, pigarreou instantes depois, chamando a atenção da mulher, que virou-se para olhá-lo;
— Eu… Hm… — Pigarreou mais uma vez, antes de falar sobre a programação daquela semana, afinal, embora tivesse comentado anteriormente sobre os convites, não havia confirmado que iria, apenas que pensava no caso. Achou que após a inglesa o incentivá-lo tanto, era justo saber que havia aceito — Vou ao jogo esse final de semana…
sorriu para ele, concordando com a cabeça;
— Vai ser bom para você, — disse tranquila, aproximando-se alguns passos do jogador — e acredito que também será legal para seus companheiros contarem com seu apoio!
— Imagino que sim — concordou, sorrindo pequeno ao olhar para baixo, respirou fundo antes de voltar a olhar para a mulher — não quero pensar muito no que vão dizer se verem que eu estou lá… A mídia — explicou, passando a língua pelos lábios — mas sei que vai me incomodar depois… Só que não quero que atrapalhe, sabe? Não quero mais ficar nisso… — Apontou para a cadeira de rodas e depois em direção a cabeça — Mas também não quero mais ficar em casa sem fazer nada, só pensando nos problemas…
abriu um sorriso maior, animada com a mudança gradativa que via no ;
No começo foram os jogos de pôquer que começou a frequentar junto dos outros homens da clínica, e por duas vezes ele aceitou dar uma volta em um parque próximo a sua casa, apenas para arejar. No começo do mês aceitou ir jantar em um restaurante que gostava junto de seus pais, mas havia dito que só concordou com tudo aquilo porque sabia que teriam poucas pessoas ao redor, e algumas poderiam nem o reconhecer devido à distância.
Quando contou dias atrás que havia sido convidado para assistir ao jogo do BVB da arquibancada, embora soubesse que o alemão sentia falta de tudo aquilo, achou pouco provável que ele aceitasse, mesmo que o incentivasse a comparecer. Saber que ele não só decidiu comparecer, mas mais importante ainda, resolveu deixar seu medo para trás e voltar a viver sua vida, era um avanço enorme e, vê-lo naquele estado, parecendo tão disposto a recuperar tudo o que havia perdido nos últimos meses, a deixava realmente contente. Era claro para ela que sua confiança estava voltando conforme ele via os resultados no tratamento, mas ele também estava se dedicando no dia-a-dia, tanto na fisioterapia quanto na terapia. Nem parecia o cara pessimista dos primeiros dias.
No fundo sempre achou que demoraria o dobro de tempo para conformar-se com sua situação, considerando que era um cara famoso e estava sempre na mídia, contudo, lá estava ele, pronto para enfrentar o que viesse pela frente!
— Eu sei que não deve ser fácil para você aparecer em público de novo — disse suave, sentando-se em um banco próximo de onde ele estava —, mas fico feliz que esteja decidido a não deixar mais isso te segurar, . São essas pequenas escolhas que fazemos todos os dias que nos tornam mais fortes!
O jogador riu sem graça, coçando a nuca;
— Não é pra tanto… É só um jogo…
— Hoje é um jogo, amanhã… Quem sabe? — Piscou, sorrindo em sua direção antes de tornar a ficar em pé, terminando de recolher os equipamentos.
conteve um suspiro quando a mulher se afastou, respirando fundo antes de sorrir pequeno. Não foi só aquilo que o fez repensar suas escolhas e se decidir por voltar, aos poucos, ao seu normal, mas admitia internamente que após notar a animação da inglesa por ele ter saído duas vezes com Aaron e o restante do pessoal da KBE-V, sentiu-se mais animado para tentar outras coisas, mesmo que não fosse o tempo todo. Aquela confiança que tinha nele, o sorriso animado, o olhar de admiração… Não queria desapontá-la quando a mulher colocava tantas expectativas nele, quando se dedicava tanto em seu tratamento. Era por ele mesmo que se esforçava, mas saber que podia contar com seu apoio parecia dar-lhe mais força para não desistir, mesmo nas noites em que aquilo parecia ser tudo o que sua mente gritava para ele.


Sentia-se extremamente nervoso, mas respirava fundo, tentando praticar um dos exercícios que havia ensinado, quando sentia que talvez tivesse um ataque de ansiedade ou apenas estivesse a ponto de perder a paciência com alguma coisa. Inspirou e expirou algumas vezes, com os olhos fechados, tocando os dedos nos polegares, um a um, enquanto pensava no motivo de estar fazendo aquilo. Era por ele mesmo que estava ali, e pelos amigos também. Sentia falta de tudo aquilo, queria estar no campo junto dos companheiros, mas no momento só podia estar na arquibancada, então seria o suficiente, por hora.
Aos poucos o barulho ao redor não parecia mais tão alto, e quando voltou a abrir os olhos, viu seu pai sorrindo confiante em sua direção, acenando com a cabeça, como se garantisse que estava tudo bem. E estava mesmo. estava no Signal Iduna Park, o lugar que considerava sua casa há anos. É claro que estava tudo bem.
Remexeu-se no banco em que estava, olhou para a cadeira de rodas desmontada à sua frente, sorriu pequeno antes de voltar seu olhar para o gramado. Naquele pequeno instante não precisava dela, estava apenas sentado em um banco como qualquer outro torcedor.
Cumprimentou algumas pessoas que passaram ao seu lado na tribuna de honra, em sua maioria figurões do Borussia, mas também haviam convidados dos jogadores; familiares e alguns amigos. Reconheceu alguns rostos, mas evitava ficar olhando para os cantos, se alguém falasse com ele, seria educado, porém também preferia evitar mostrar a todos que estava ali. Só queria assistir ao jogo e matar um pouco das saudades que sentia daquele lugar.
Não demorou para a partida começar, assim como todos, aplaudiu cada um dos jogadores que entrou em campo com a camiseta amarela. Sorriu ao ver a torcida cantando animada com várias bandeiras ao redor, só então notando uma em particular, hasteada ao lado esquerdo, próxima ao gramado:
Spiele, als wärst du und trägst die 21.
piscou algumas vezes, sentindo o peito apertar. Sentiu o sorriso largo formar-se em seu rosto, ao mesmo tempo em que sentia uma bola enorme crescer em sua garganta. Não sabia ao certo o que mais queria naquele momento; chorar ou gritar agradecendo.
Por fim, pouco antes do juiz apitar o início do jogo, pegou o celular no bolso, filmando a torcida cantando e, finalmente, a bandeira mais ao canto.


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Foi ótimo voltar para casa após tantos meses afastado e ver essa torcida de novo.
Grande jogo, caras. Tragam o troféu para casa no final da temporada!
. .
“Jogue como se fosse usando a 21.”
Eu, particularmente, diria para eles fazerem melhor do que isso xD



Já estava na segunda cerveja, enquanto ria de uma história contada por , quando um grupo de mulheres passou pela porta de entrada. Notou, é claro, que alguns dos jogadores já estavam acompanhados de namoradas ou esposas, por isso não imaginou que quando falou algumas mulheres ele quisesse dizer mais do que cinco, talvez seis.
Ao ver o conversando com uma ruiva recém-chegada, sorriu sozinho. Aparentemente ele e continuavam conversando com certa regularidade, mas com os jogos e as viagens eles não haviam saído mais vezes após a festa de aniversário, a qual havia ficado um pouco desapontado ao perceber que não correspondia suas investidas - mesmo que, aparentemente, o garantisse que tinha sido sutil. De qualquer forma, sentiu-se bastante aliviado com aquilo. Sabia que o amigo ainda sentia algo pela mulher e parecia disposto a investir assim que tivesse uma oportunidade, mas ao vê-lo com outra mulher imaginou que, talvez, ele não estivesse assim tão apaixonado. E não era como se pensasse que teria uma chance se estivesse fora do caminho, mas a possibilidade de seu melhor amigo sair com a mulher por quem ele também estava apaixonado era demais para ele.
Com um pouco mais de sorte iria realmente se interessar por outra pessoa e esqueceria da inglesa. É claro que também não sabia muito sobre a vida pessoal da mulher, talvez ela já estivesse saindo com outro cara - na verdade, ao pensar naquilo sentiu uma raiva súbita borbulhar em seu interior - quais eram as chances reais de não sair com ninguém em todos aqueles meses? Talvez ela já tivesse até um namorado.
Remexeu-se incomodado ao pensar naquilo, sendo tirado de seus devaneios quando sentiu uma cotovelada em sua costela, virando-se ao tempo de ver uma morena com mechas coloridas andando em sua direção, sorrindo para ele.
engoliu em seco ao perceber, subitamente sentindo as mãos suarem, esfregando-as sutilmente na calça que usava. Sorriu pequeno para a mulher quando ela se sentou do seu lado esquerdo - ainda pode ouvir a risada de próximo a si, antes do moreno afastar-se para pegar mais bebida.
, não é? — Perguntou com a voz baixa, vendo-o apenas concordar com um aceno. estranhou aquela reação em seu corpo, parecia que havia acabado de correr pelo campo, seu coração bateu disparado e o nervosismo já estava visível em sua cara. — Sou a Heide, muito prazer!
— Igualmente — respondeu em um sussurro quando ela inclinou-se em sua direção, beijando-lhe a bochecha demoradamente.
Fazia tanto tempo que não ficava tão perto de uma mulher que o jogador se sentiu como um adolescente prestes a dar o primeiro beijo. Era claro que ela havia percebido suas reações exageradas, imaginou que qualquer um naquele lugar pudesse perceber se o olhasse.
— Como você se sente hoje? — Perguntou amigável, cruzando as pernas antes de tomar um gole de seu drink.
— Tudo… Bem… — Respondeu devagar, baixando o olhar por um instante para as pernas torneadas da mulher, notando que a saia havia subido alguns centímetros, deixando suas coxas mais expostas. — E você? Tudo bem? — Tornou ao olhar para seu rosto, vendo-a sorrir, concordando com um aceno.
— Poderia estar melhor — piscou para ele, escutando-o rir sem graça — posso ser sincera? — Perguntou retoricamente — É claro que eu sabia quem era você, soube assim que te vi aqui, e sou grande fã do Borussia, fiquei realmente triste quando soube do seu acidente, mas fico feliz em te ver bem e espero que possa voltar logo, com certeza está fazendo falta!
piscou, concordando com um aceno ao olhar para as pernas, agradecendo em voz baixa. Suspirou profundamente e então sentiu a mão da mulher sobre a sua;
— Desculpe, não quis te deixar triste — falou, parecendo sincera em cada palavra.
— Tudo bem, não foi você — respondeu, tomando mais um gole de sua cerveja — é a situação inteira… — deu de ombros, passando a mão pelos cabelos antes de voltar a olhá-la. — Não precisa ficar aqui comigo, pode ir conversar com os outros, de verdade…
A mulher riu, negando com um aceno;
— E perder a chance de conversar com você? — Disse sorrindo lasciva em sua direção. arqueou a sobrancelha, passando a língua pelos lábios.
— Está falando sério? — Questionou, visivelmente surpreso e desacreditado.
Heide sorriu abertamente, tornando a levar a mão até a do , fazendo um leve carinho ao subir por seu pulso e braço.
— Se você quiser… Por que não?
, inconscientemente, apontou para suas pernas, como se fosse claro o motivo e ela fosse doida por sequer cogitá-lo tendo tantas outras opções naquela festa.
A mulher encarou-o por um instante, franzindo o cenho;
— Você não esteve com ninguém depois do acidente? Nem com sua ex? — Questionou curiosa, notando a expressão de desconcerto do alemão. — Eu não me importo — garantiu, atraindo mais uma vez o olhar dele — se você quiser… Podemos dar um jeitinho nisso… — A mulher então inclinou-se sobre ele, cochichando em sua orelha — Não me importaria nenhum pouco em sentar em você, é só você pedir!
sentiu o membro pulsar ao ouvir aquela frase, ao mesmo tempo em que sua boca pareceu secar por um segundo e o coração disparar. Virou-se para encará-la mais uma vez, como se quisesse garantir que ela não fosse mudar de ideia, que não seria outro sonho. No instante seguinte inclinou-se sobre a morena, juntando suas bocas em um beijo apressado, correspondido da mesma forma pela mulher.
Não era ela quem queria beijar e, menos ainda, quem ele queria que estivesse rebolando em seu colo, mas seu pênis não parecia se importar com quem estava sobre ele. Aparentemente seu corpo e seu coração poderiam sim querer coisas bem diferentes, e não seria ele a negar uma chance daquelas, afinal, como a própria doutora dizia, estava na hora dele retomar sua vida e aquele era o primeiro passo.


VINTE E UM.

abriu os olhos encarando o teto branco de seu quarto, sorrindo leve ao lembrar-se da noite anterior e das horas que passou acompanhado.
Admitia que demorou mais do que imaginava para relaxar no começo, embora extremamente ansioso e excitado, sua mente não colaborava com seu corpo. Felizmente, Heide não pareceu se importar nenhum pouco e, pensando em tudo o que havia acontecido, estava de fato muito grato pela mulher ter sido tão compreensiva. Achava que parte de si não estava tão tranquila na noite anterior porque, no fundo, não era Heide quem realmente queria, mas não podia reclamar. Nem iria.
Passou a mão pelos cabelos, mantendo o sorriso de canto enquanto ia até o banheiro para a higiene matinal.
Minutos depois, encontrou seus pais tomando café, rindo de qualquer assunto.
— Alguém está bem humorado! — Ouviu Hadrian comentar, sorrindo ao notar a expressão relaxada do filho. riu baixo, dando de ombros. — A festa foi boa?
— Sim, se tem algo que Mats e sabem fazer é dar uma festa — Respondeu, servindo-se de uma xícara de café preto.
— Fico feliz em te ver tão animado — Amélie comentou, sorrindo terna. — Aposto que a doutora também vai gostar de saber que você se divertiu com seus amigos!
— Vai mesmo — Hadrian concordou, tomando um gole de sua bebida.
preferiu se manter em silêncio sobre o comentário, embora tivesse visto o olhar divertido de seu pai.
Concordou algumas vezes com a conversa do casal, ignorando com êxito as olhadas do pai enquanto comia. Contou sobre alguns acontecimentos que não revelavam muito e assim que sua mãe terminou de comentar sobre o que faria no almoço, foi para a sala.
Passou o domingo muito mais tranquilo do que as semanas anteriores, o que o fez rir nasalado ao reparar que, talvez, estivesse certo: estava com muita tensão sexual acumulada e por isso seu humor estava péssimo na maioria das vezes.
Obviamente não sabia quem era a pessoa de seu interesse, e sinceramente esperava que continuasse assim. Na verdade, ele esperava que nem mesmo sentisse mais nada pela mulher. Seria muito mais fácil do que torcer para que a inglesa trocasse por ele, a culpa o consumia sempre que pensava na doutora e no melhor amigo. Deus, aquilo tudo era um pesadelo.
Deveria ter sido uma péssima pessoa para ter um karma como aquele.

Na segunda-feira pela manhã, se sentiu estranho enquanto esperava pela inglesa, a qual terminava uma ligação com algum cliente antes de atendê-lo. não sabia definir exatamente aquele sentimento, até minutos atrás estava realmente bem relaxado, mas algo havia mudado dentro de si assim que viu a mulher.
havia sorrido em sua direção e dito bom dia, como fazia todas as manhãs e então o telefone tocou. Era algo no sorriso dela, ele tinha certeza. Algo fez com que uma pontada atingisse seu peito e ele não sabia definir o motivo. Não era como se a tivesse visto com outro cara - não que também pudesse reclamar sobre aquilo. Não era ciúmes, tinha certeza, mas o não sabia identificar qual poderia ser o problema.
Menos de cinco minutos depois, seu devaneio foi interrompido pela voz da mulher, desculpando-se pela demora.
— E então, como foi seu final de semana? — Perguntou animada, sentando-se em sua mesa e o olhando curiosa — Vi sua postagem sobre o jogo, como foi voltar para o estádio após tanto tempo?
arqueou a sobrancelha, sorrindo pequeno;
— Está me stalkeando, doutora? — Brincou, vendo-a rir ao negar com um aceno.
— Como se eu precisasse — respondeu no mesmo tom — vi em três canais diferentes falarem sobre sua presença no jogo, foi o destaque da partida!
— Ah, é, acho que ficaram felizes após tanto tempo sem novidades sobre mim… — Suspirou, desviando o olhar por um instante ao negar com a cabeça — Mas foi legal, muito melhor do que eu esperava. Quer dizer, — passou as mãos pelas pernas — foi estranho no começo, principalmente quando as pessoas falam comigo, é esse olhar de pena, sabe? “Nossa, sinto muito pela sua situação” — Afinou a voz por um segundo — Bem, eu também sinto, mas preferia que não ficassem tocando no assunto o tempo todo!
sorriu compreensiva, sem nada comentar, apenas concordando com um aceno enquanto o alemão desabafava de leve;
— Depois que o jogo começou foi tudo bem, e teve aquela parte com a torcida também que estavam cantando meu nome antes mesmo de me verem lá, achei bem legal…
— Você não tinha visto isso das outras vezes? — Perguntou um tanto surpresa, nem mesmo torcia pelo Borussia Dortmund e já sabia sobre a homenagem dos fãs em todos os jogos.
— Não deixe ninguém saber disso, — baixou a voz, passando a língua pelos lábios por um instante — mas tenho evitado assistir as partidas, pelo menos por enquanto. Então só dou uma olhada no resultado porque sei que ou algum dos caras vai falar alguma coisa… Só concordo com o que eles me dizem sobre o jogo e finjo que acompanhei tudo — deu de ombros — eu sei, sou um péssimo perdedor. — Suspirou, passando a mão pelos cabelos.
— Você não é um perdedor, — a inglesa começou suave, sorrindo pequeno em sua direção — mas entendo preferir evitar acompanhar alguns jogos por um tempo. Não quer dizer que é uma má pessoa por isso!
— É, talvez… — Murmurou, coçando de leve a barba por fazer.
— E como foi a festa? — Tornou instantes depois ao notar o momentâneo silêncio do homem. Notou o tom avermelhado em seu rosto, enquanto manteve o olhar baixo, parecendo constrangido demais para qualquer coisa. — O que aconteceu? — Perguntou curiosa, sem conseguir negar o divertimento na voz; era engraçado ver tão sem graça, por qualquer motivo que fosse.
— Foi boa… — Respondeu quase em um sussurro, ainda evitando o olhar da mulher.
? — Insistiu, ao notar que ele não parecia muito interessado em continuar no assunto, começou a se levantar para iniciar a sessão — Tudo bem, não precisa dizer nada que você não queira…
sentiu o rosto esquentar violentamente, parecia um adolescente contando sobre o primeiro beijo. Por fim resolveu falar antes que voltasse atrás, mas disse tão baixo que se não estivessem no mais completo silêncio, tinha certeza que a doutora não escutaria;
— Eu transei. — Confessou, finalmente olhando na direção de .
No momento que seu olhar cruzou com o dela que o jogador sentiu aquela mesma fisgada no peito, e foi então que compreendeu o que era aquele sentimento estranho: culpa.
estava se sentindo culpado por ter transado com uma mulher. Sentiu-se mal ao pensar naquilo, por algum motivo o qual não entendia, sua mente e seu coração sentiam a culpa daquele acontecimento, como se tivesse traído a inglesa.
Traído a mulher por quem estava realmente apaixonado.
Se pudesse, teria saído correndo naquele exato momento que entendeu o sentimento que o preenchia. Sentiu o rosto esquentar ainda mais e desviou rapidamente o olhar, culpado demais para continuar a encarando.
Aquilo tudo era humilhante. Culpa por transar?
Von Gott, sua situação parecia cada dia pior.
— E como foi? — Ouviu a voz suave da mulher, enquanto voltava a se sentar em sua cadeira. não respondeu, constrangido demais e extremamente arrependido por ter entrado naquele assunto — Foi ruim assim? — Perguntou calma, tentando adivinhar o que se passava na cabeça do pelas suas expressões exageradas.
estava a ponto de concordar e dizer que foi horrível, talvez a culpa que sentia diminuísse, mas quando olhou novamente em seus olhos, mudou de ideia;
O que pensaria dele se dissesse que havia sido ruim? Talvez imaginasse que ele transava mal.
Não podia deixar que ela pensasse aquilo dele, sabia que não tinha nenhuma chance ali, mas não queria que a inglesa questionasse suas habilidades na cama. No fundo torcia para que também pensasse nele, mesmo que involuntariamente e ela cogitar que ele era ruim no sexo poderia acabar com qualquer fantasia.
— Não, — revelou com a garganta seca — quer dizer, — desesperou-se ao notar que não sairia daquele assunto tão cedo, passou a língua pelos lábios e a mão pelos cabelos escuros — não foi ruim, só um pouco estranho no começo.
Sentiu o rosto corar mais ao dizer aquilo em voz alta. Caramba, será que não conseguiria parar de se colocar em situações constrangedoras na frente daquela mulher?
O que havia feito de tão errado no mundo para estar sempre se humilhando na presença da doutora?
Notando o quão sem graça parecia, tentou intervir, dizer algo que achava poder ajudar na situação, talvez ele só estivesse sem jeito de dizer que não sabia direito como agir agora que estava fisicamente incapacitado de algumas ações.
— Sabe, — começou baixo, tentando por tudo não deixá-lo ainda mais constrangido, colocando uma mexa do cabelo atrás da orelha — não é incomum se sentir estranho na hora do sexo depois de um acidente como o seu, . Quer dizer, você tem que redescobrir seu corpo, entende? Não é raro o número de homens que não conseguem…
— O que? — Interrompeu em voz alta assim que entendeu o que ela tentava dizer — Não! — Repetiu, negando de imediato: pior do que ela imaginar que ele não era bom de cama era pensar que ele havia broxado. — Não foi nada disso, eu consegui… Sabe? Não foi esse o problema! — Garantiu, respirando fundo e fechando os olhos por um instante — Só me senti estranho no começo porque não sabia exatamente como fazer, quer dizer, não é como se eu pudesse ficar por cima, não é? — Respondeu frustrado — Não sabia se ela estava esperando alguma coisa de mim e eu não sabia o que seria seguro fazer…
— Entendi! É bem compreensível essa insegurança inicial, — garantiu, sorrindo confiante em sua direção — então foi tudo bem no final, certo?
— Foi, foi sim. — Concordou, desviando brevemente o olhar ao sentir outra pontada no peito.
— Eu disse que não demorava e você já estaria tendo encontros, não foi? — Piscou, fazendo-o rir sem graça. — E então, pensando em sair com ela de novo?
— Hm… Não, não, não me parece uma boa ideia… — Respondeu sem graça, encarando um ponto qualquer na mesa da fisioterapeuta.
— E por que não? Você não gostou da companhia?
— Ah, foi legal…
— Não me diga que você é desses que promete que vai ligar e joga o número fora? — Brincou, vendo-o negar com um aceno.
— Às vezes — admitiu, dando de ombros — mas não é esse o caso… Eu só… Acho que sairia muito caro.
— Como assim? — Perguntou confusa, erguendo as sobrancelhas pouco depois — Acha que ela iria na mídia ou…?
— Ahn, não, acho que isso não — respondeu, coçando a nuca antes de tornar a olhá-la sem graça — é só que o encontro sairia muito caro, entende…? — Questionou sem graça, demorou alguns instantes para compreender o que ele dizia.
— Ah, era esse tipo de festa! — Comentou surpresa, vendo-o negar de imediato.
— Não era não, não exatamente… Quer dizer… — Se enrolou, passando a mão pelos cabelos — Tinha algumas mulheres, não muitas, a maioria dos caras estava com as namoradas ou esposas, mas alguém chamou algumas outras para o restante do pessoal e bem, entende? Pensei que era um grupo de fãs ou algo assim, sempre tem esse tipo querendo entrar em alguma festa, não achei que eram de programa mesmo… — Começou a se justificar, parecendo ainda mais nervoso que no começo da narrativa — E eu não fui o único! — Alertou, preocupado com o que a mulher fosse pensar dele — O também tava e… — Calou-se ao pensar melhor no que estava prestes a dizer.
Claro que tinha ciúmes e esperava que não tivesse nada com a mulher, mas também não podia atrapalhá-lo daquela forma.
— Quer dizer, não… Ele não…
— Não se preocupe — avisou, abanando a mão — não precisa justificar as ações dele, não tem problema se ele saiu com outras mulheres, .
— Ah, não? — Perguntou surpreso, vendo-a concordar — Bem, para ser justo eu só o vi conversando com uma mulher, não sei o que aconteceu depois… — Sentiu-se aliviado ao não perceber nenhum sinal de ciúmes vindo da inglesa. Talvez ela não estivesse interessada no , e ele realmente torcia para que não.
— Muito bem, muito bem, então pelo menos você já sabe que não tem motivos para toda essa insegurança, não é? Já sabe que pode continuar tendo encontros e seguir com sua vida normalmente, uh? O que foi? — Interrompeu-se ao notar o cenho franzido do , o olhar perdido em algum canto.
— É isso, não? Claro que sim, como não pensei antes? — Começou a falar, negando com um aceno, o riso sarcástico presente.
— Do que você está falando, ? — perguntou confusa até o alemão a olhar com o sorriso debochado nos lábios.
— Foi por isso que ela veio direto falar comigo, não foi? Com certeza falou com os caras e eles acharam que seria uma boa ideia para levantar minha moral! É claro que foi isso! Meu Deus, como eu sou estúpido! — Fechou os olhos, negando repetidas vezes.
— O que? — perguntou surpresa, ouvindo apenas mais resmungos do outro como resposta — Você acha que eles fariam isso?
— E não é óbvio? — Tornou no mesmo instante. — O que mais seria? É claro que foi isso, !
A inglesa piscou sem reação por poucos segundos, o clima da conversa tinha mudado muito rápido; de constrangido, porém um tanto confiante, foi para um estado ainda mais miserável do que antes.
— Eu não acredito que não pensei nisso antes! — Dizia frustrado, passando a mão pelos cabelos.
, — começou com a voz calma pouco depois, levantando-se para sentar na cadeira ao seu lado — sinceramente me parece irreal você imaginar que o único motivo de uma mulher se interessar por você é porque algum dos seus amigos a pagou para isso. — Falou tentando melhorar a situação, o alemão riu nasalado sem nada responder. — Vamos lá, — continuou, convencida a fazê-lo mudar de ideia sobre a situação — quando está de bom humor você é engraçado e simpático — cutucou vendo-o franzir o cenho —, também é inteligente e esforçado, claramente muito carinhoso e bonito também. Tá vendo? Em três segundos já consegui lembrar de várias qualidades suas, por que acha que outras pessoas não te veem da mesma forma?
sentiu o rosto esquentar mais uma vez, negando com um aceno antes de encará-la de lado;
— Você não pode falar coisas assim quando eu estou nesse estado e esperar que eu não me apaixone, doutora.
Os dois se encararam por um instante e notou quando as bochechas foram tingidas por um tom rosado antes dela desviar o olhar, rindo baixo ao negar com um aceno.
— Pois bem, assunto resolvido, certo? — Perguntou retoricamente, ainda sem encará-lo — Vamos começar com os exercícios de hoje antes que dê seu horário de ir embora!
concordou sem nada dizer, empurrando a cadeira para o outro lado da sala, próximo aos equipamentos, sentindo-se mais leve e mantendo o sorriso pequeno nos lábios.

Com o passar das semanas notou que a inglesa tentava evitar a todo custo ficar muito próxima a ele, embora muito solicita em tudo o que ele precisava; sempre o incentivava e o elogiava pelo seu desempenho nas sessões, mas parecia tentar distanciar-se o máximo possível e manter tudo o mais profissional que podia.
As sextas trabalhava com Aaron ou Heinz, o que era sempre bem divertido, principalmente com Aaron que tinha um senso de humor parecido com o de e parecia deixar as coisas mais amigáveis do que profissionais. Não que fosse um problema a forma com qual Heinz e trabalhavam, mas é claro que sentia falta das conversas aleatórias que tinha com , as quais diminuíram significativamente e focaram-se de forma geral em seu tratamento. Aos poucos o alemão também se permitia sair mais e tentava controlar aquela sensação de vergonha sempre que alguém o reconhecia e falava com ele; aquilo era o que mais vinha tratando nas sessões de terapia com a mulher, porque ambos reconheciam que boa parte daquilo era apenas o ego ferido do jogador.
Também foi em mais dois jogos do BVB, tendo ignorado a after-party e, mesmo que estivesse realmente tentado a perguntar sobre Heide, preferiu deixar aquela história para trás. É claro que parte de si ainda parecia confiante de que o único motivo da mulher falar com ele era por ter sido paga para isso, mas de forma geral o resultado parecia ter sido positivo: mesmo que estivesse apenas tentando animá-lo, os elogios sinceros de fizeram um efeito enorme no . Se era verdade que ela pensava tudo aquilo dele, quem sabe ele não teria alguma chance? Por menor que fosse.
O fato de ter alguns encontros esporádicos também ajudaram a melhorar seu humor, ele não falava mais tanto assim da doutora. Com um pouco mais de sorte o descobriria que não era realmente apaixonado pela inglesa e tudo não passou de um pouco de atração.
Estava tudo indo muito bem até uma quinta-feira à noite, enquanto comia um pedaço de um bolo que sua mãe havia feito e parou para olhar o Instagram: Enquanto curtia algumas fotos, parou ao reparar em Rachel junto de outro cara que ele não conhecia, um ruivo grandão com cara estranha. Ao olhar a legenda reparou se tratar do novo namorado da modelo. Não soube exatamente o que pensar, estava feliz por ela, Rachel era uma boa pessoa e se aquele ruivo com cara de bobo era de quem gostava, esperava que desse tudo certo. Parte de si ficava contente, mas outra sentiu uma leve cutucada ao vê-la com outra pessoa tão rápido. Por fim, preferiu apenas dar um like e seguir em frente antes que pensasse demais sobre o assunto.
Comentou algumas quando eram amigos próximos, curtiu algumas referentes a bandas e famosos que ele gostava e, quando estava prestes a deixar o telefone de lado, franziu o cenho ao reparar melhor de quem se tratava. Primeiramente por só naquele momento perceber que havia aceitado seu pedido para segui-la na rede social, embora ele não soubesse se havia sido algo recente ou não, já que a mulher disse que raramente usava o aplicativo. O segundo foi pela imagem e pela legenda.
estava com Aaron, de braços dados e sorrindo para a foto como um casal “Feliz Aniversário, meu amor!”.
sentiu o estômago embrulhar e o coração bater acelerado. Pensando por um momento, lembrou-se de todas as vezes que os viu juntos pela clínica antes ou depois de algum atendimento, e como sempre almoçavam juntos rindo de alguma coisa. Talvez fosse por isso que não parecia interessada em , talvez ela já gostasse do fisioterapeuta. Talvez eles até tivessem algum tipo de relacionamento.
Sentiu-se idiota de não ter percebido aquilo anteriormente e, de repente, toda a auto-estima que estava aos poucos construindo, pareceu ter ido por água a baixo.
Rachel já havia seguido em frente e estava feliz com o novo namorado e agora também estava em um relacionamento. Precisava ter aquelas duas informações no mesmo dia? Com cinco minutos de diferença? Pelo Instagram?
O pior de tudo era que uma parte de si realmente acreditava ter alguma chance com a doutora, por menor que fosse. Riu de si mesmo e de quão patética era toda aquela situação, passando a mão pelos cabelos ao deixar o celular de lado.
Será que era pedir muito ter uma semana de sossego?


VINTE E DOIS.

Com o passar dos dias, se esforçou para não parecer tão incomodado com o suposto relacionamento da inglesa com o loiro. Continuava sem saber se era ou não algo real, afinal não tinha presenciado nada "comprometedor", embora os dois sempre estivessem próximos. Pensou em comentar sobre o assunto com , mas preferia continuar evitando falar de com o jogador, ainda não sabia se já estava em outra ou não já que o estava focado na temporada do Borussia, e não seria a relembrá-lo da mulher.
Na semana seguinte, mesmo sabendo que precisava tratar de outro assunto muito mais importante com a inglesa, precisou morder a própria língua para evitar perguntar sobre o suposto romance:
— Hm... Você... — Respirou fundo, ignorando o assunto quando a mulher virou-se para encará-lo, terminando de guardar parte dos equipamentos que haviam utilizado. — Meu advogado disse que nos próximos dias vai começar o julgamento... — Começou em voz baixa, encarando as pernas. — E você…
— Eu já recebi — respondeu no mesmo tom, sorrindo pequeno em sua direção.
— Você vai? — Tornou curioso, o cenho franzido.
riu baixo;
— Não dá para dizer não quando você é intimado a depor, !
O concordou com a cabeça, sorrindo sem graça.
— Eu disse que não era para te chamar como testemunha — começou sem olhá-la.
— Mas você é meu paciente, faz sentido ser chamada, — suspirou, colocando a mão em seu ombro pouco depois — não se preocupe. Já havia cogitado essa possibilidade há alguns meses. — Ela então sentou na cadeira próxima ao , prestando atenção em suas reações — Como você está?
O alemão respirou fundo, frustrado com tudo aquilo;
— Cansado. Preferia não ter nada disso para me preocupar.
concordou devagar, imaginando o impasse que ele deveria estar; parecia muito tranquilo para querer se envolver com tanta burocracia.
— Bem, pelo menos deve acabar logo, não é?
— Aparentemente, sim. Seus amigos estão querendo um acordo. — Falou, querendo saber se a mulher já sabia sobre a proposta. apenas concordou com um aceno, sem dizer nada. tornou a olhar para o lado, sem saber direito o que falar, queria poder reclamar sobre o assunto, mas também sabia que não deveria ser fácil para ela, afinal era sua melhor amiga.
Havia passado algumas semanas pensando no que deveria fazer, é claro que a raiva permanecia, achava que se sentiria daquele jeito até voltar a andar. Ainda queria que o casal fosse punido de alguma forma, mas já não tinha mais aquela ideia de vingança, só queria que tudo terminasse logo.
— Vai ficar tudo bem — escutou a voz da mulher, olhando-a no instante seguinte — não se preocupe tanto com isso, , daqui a pouco vai ser só mais uma lembrança.
— Imagino que sim, mas preferia não ter que passar por um julgamento.
— Mas não deve ser um longo, certo?
— Não, aparentemente será um dia com provas e testemunhos e no segundo já teremos a sentença, não precisa estender mais do que isso já que tiveram outras conversas com os advogados e seus amigos — explicou, passando a mão pelos cabelos no momento seguinte.
— Então não precisa se preocupar muito com isso, não é? — Tentou animá-lo, ignorando a pontada no peito sempre que pensava no assunto.
Considerar que Lie ou mesmo Peter pudessem passar algum tempo presos devido ao acidente parecia muita coisa para processar. E saber que seria uma das pessoas a testemunhar contra o casal a consumia por dentro. Deveria ter pensado a respeito meses antes, quando aceitou trabalhar com , se naquela época tivesse focado em tudo o que poderia acontecer ao começar a tratar do jogador, teria dito não na mesma hora.
— O que você faria? — O perguntou, encarando-a de lado. — Se estivesse no meu lugar.
negou com um aceno pequeno, no fundo queria pedir, implorar para que o jogador tentasse amenizar a pena dos amigos, que poderiam ficar de 2 a 5 anos presos, mas também sabia que não era justo com , ele era o menos culpado de tudo aquilo. Ao mesmo tempo que queria poder ajudar sua melhor amiga, não podia trair a confiança do .
— Sabe que não posso responder isso por você, . Esse é um daqueles momentos decisivos na vida que é você quem precisa decidir o que fazer.
sorriu sem humor;
— Pra ser sincero, imaginei que as coisas fossem muito mais fáceis do que isso e que nem mesmo precisaria encontrar com os dois, achei que meu advogado poderia resolver tudo sozinho.
— Você não quer estar presente para ouvir a sentença? — Questionou curiosa.
— Eu não sei mais o que eu quero, doutora.

Com o julgamento se aproximando, embora soubesse que não tinha muito com o que se preocupar, estava cada vez mais ansioso e mal-humorado. Fato que não passou despercebido por seus pais e, menos ainda, pela inglesa. Mas entendendo a situação, a mulher preferiu apenas dar o espaço que ele precisava para lidar com tudo aquilo, se mostrando disposta a conversar caso ele quisesse, como sempre fazia.
agradecia mentalmente, mas também preferia ignorar aquela situação, no fundo ainda tinha esperanças de não ser necessário passar por tudo aquilo, com sorte seu advogado poderia resolver o problema sem sua presença.
Contudo, contrariando qualquer expectativa do , na quinta-feira precisou sair de casa e ir para o Arbeitsgt Dortmund. Chegaram mais cedo do que o necessário, porque sabia, ele tinha certeza, que estaria cheio de repórteres e ele queria evitar todos eles. De alguma maneira a notícia sobre seu julgamento havia vazado e vários portais de notícias já estavam comentando o assunto desde o início da semana.
Tendo pelo menos um pouco de sorte, perto de tanta coisa, conseguiu entrar por uma porta lateral do edifício, conseguindo ignorar completamente todos os repórteres e câmeras que estavam na frente do prédio.
Se perguntassem como havia sido as coisas a partir desse momento, não seria capaz de dar muitos detalhes. Ao mesmo tempo que fazia um grande esforço para não prestar atenção em nada daquilo, pois não queria se lembrar de nada que envolvesse seu acidente ou a situação em que se encontrava, sabia que precisava passar por tudo.
Inicialmente recusou-se a olhar para o lado e ver o casal sentado à esquerda, ignorando também todos os presentes (embora não fossem muitos, pois o juiz atendeu seu pedido de tentar ter o mínimo possível de público presente, com exceção dos familiares próximos dos três envolvidos).
Após uma sessão de discursos dos dois advogados, a acusação começou a mostrar vídeos e fotografias do acidente, além de laudos médicos e forenses, provando que o casal estava errado, algo que não foi rebatido pela defesa.
Em nenhum momento, notou, eles disseram ser inocentes ou que o jogador era o real culpado pelo acidente. Talvez fosse pelo número de provas contra eles, mas achou que em algum momento eles tentariam uma abordagem diferente, o que, até então, não tinha acontecido.
Em algum momento foi chamada para dar sua versão dos acontecimentos, o que não fugiu do que já sabia;
— Foram apenas alguns segundos — dizia com a voz trêmula —, no instante seguinte ouvimos a buzina e então aconteceu tudo muito rápido. A próxima coisa que eu lembro foi acordar no hospital, sem saber exatamente o que tinha acontecido… Nunca foi nossa intenção, foi um descuido momentâneo… Eu sei que não faz diferença, mas eu realmente sinto muito… Me desculpe…
Seu advogado fez mais algumas perguntas, as quais o alemão não prestou muito atenção, sentindo-se ansioso com a situação toda. Talvez fosse a forma que a loira havia dito, o tom arrependido em sua voz, mas sentia-se cada vez mais desconfortável com a situação toda.
Em seguida Peter Fisher começou a responder as perguntas que eram feitas por ambos os advogados, confirmou que havia bebido um pouco, mas conforme apresentado no bafômetro que havia feito, não havia sido uma quantia alta, embora ele mesmo admitisse que não deveria ter pego o carro. , por mais que se sentisse estranho ao pensar naquilo, não o culpava pela bebida: Duas cervejas. Ele mesmo costumava tomar mais do que isso e ainda sim pegar o carro, sabia que não era o suficiente para deixá-lo bêbado, mas ainda era contra a lei e era aquilo o que seu advogado estava usando contra o homem.
Assim como , Fisher disse que havia acontecido muito rápido. Estavam indo para uma festa após o jantar em um restaurante próximo e o alemão virou-se para conversar com a mulher, ver algo que ela mostrava no celular, apenas poucos segundos de distração, mas o suficiente para furar o sinal e não conseguir frear a tempo de evitar a batida.
— Eu sei que isso não importa agora, mas eu realmente sinto muito — falou, e ergueu a cabeça apenas para confirmar que o homem o encarava ao dizer aquilo —, e eu sei que é injusto que só você tenha se machucado, quando nem foi sua culpa. Me desculpe.
se manteve em silêncio, tornando a olhar para o lado, enquanto ouvia seu advogado voltar a falar, ironizando as palavras do outro;
— Realmente, é fácil pedir desculpas após o acidente, principalmente quando você está bem e pode seguir sua vida normalmente.
, mais uma vez, parou de prestar atenção, torcendo para que tudo aquilo acabasse logo. Odiava a situação toda, só queria voltar pra casa e dormir por semanas.
Minutos depois, Robert Schümmer foi chamado. Sendo o primeiro médico a atender após o acidente, a versão do homem foi bastante técnica, apontando o estado inicial que ele havia chego ao hospital e a medicação utilizada nas primeiras semanas. respirou fundo ao começar a ver as fotos dele mesmo no acidente, sentindo o estômago embrulhar ao ver como havia sido retirado do carro pelo resgate e como estava nos primeiros dias.
Com o que pareceu horas depois, o ouviu o nome de ser chamado, também como testemunha da acusação. Inicialmente, tal qual o Dr. Schümmer, explicou com calma os resultados do jogador e o que cada nome técnico significava, explicando por fim que não era um quadro irreversível, embora tivesse sido bastante delicado no começo.
O advogado de acusação então tornou a levantar, fazendo algumas perguntas para a fisioterapeuta, que respondia com calma, embora fosse visível seu desconforto com a situação.
— É garantido que ele voltará a andar, doutora? — Perguntava o ruivo.
— O quadro de é sim reversível, já tendo tido uma grande melhora desde que iniciamos seu tratamento. Não vejo motivos para que ele não pudesse voltar a andar — Respondeu confiante.
— Quando isso deve acontecer? — Derek questionou, com a voz firme, encarando a fisioterapeuta.
— Infelizmente não temos como garantir, depende muito de cada caso. Até o momento, nosso foco ainda está na melhora da condição física de .
— Certo, mas você diria que ele voltará em tempo da Copa do Mundo, doutora? — O ruivo insistiu, mudando de tática. Sabia por que o casal no banco de réus era próximo a inglesa, e por um momento havia reconsiderado chamá-la para depor, mas sabia que era necessário ter o laudo profissional de um especialista, e como a mulher era quem tratava diretamente com , não tinha opções.
se mexeu desconfortável em seu lugar.
— Como disse, não podemos dar um prazo exato!
— Você acha que ele poderá voltar a jogar futebol?
A inglesa respirou fundo, inclinando-se levemente para frente, dizendo com a voz calma;
— Eu entendo que todos querem que ele volte para jogar a Copa, mas minha prioridade no momento é que volte a andar. O restante será consequência de seu esforço.
— Mas você acha que ele poderá voltar a ter uma carreira no esporte? — O advogado tentou mais uma vez, faria aquilo o número de vezes que fosse necessário. Era óbvio para ele que tentava não prejudicar os amigos, mas ele tinha um trabalho a fazer e conseguiria aquela condenação, mesmo que para isso precisasse ferir os sentimentos de seu cliente.
— Acredito que seja possível, sim.
— Em tempo para a Copa?
— Não posso dar um prazo para a recuperação de . — respondeu, encarando-o com firmeza. Ambos sabiam o que viria a seguir, assim como , que também se mexeu desconfortável de onde estava, fechando as mãos em punho.
— Entendo, claro, mas dentro da sua opinião profissional, acha que isso seja possível? — Insistiu, vendo-a respirar fundo — Doutora?
deu-se por vencida, achando melhor encerrar aquilo de uma vez por todas e pensar em uma forma de conversar com o jogador depois;
— Não, não acho que tenha tempo suficiente para isso. — Respondeu por fim, olhando para o enquanto dizia, quase como se lamentasse precisar dizer aquilo para ele.
— Sem mais perguntas.


No fundo, sabia que suas chances para voltar a andar e, principalmente, estar em forma a tempo da Copa, eram baixíssimas, mas era o tipo de coisa que o mantinha focado em seu tratamento, buscando sua recuperação o mais breve possível. Sabia que era difícil e sua prioridade era realmente voltar a andar, mas seu ego pedia por mais; queria voltar a jogar, precisa participar da Copa, depois de todas as notícias falando que ele estava acabado, no fundo queria provar o contrário.
E ouvir da inglesa que ela não acreditava ser possível, foi como receber um soco no estômago. Ela nunca havia dito que aquilo aconteceria, nunca fez qualquer promessa, embora tivesse dito mais de uma vez que tentaria ajudá-lo o máximo possível em todos os passos do tratamento, contudo, agora ter a confirmação de que provavelmente não aconteceria, pareceu quebrá-lo por dentro.
Mais uma vez.
Se questionava quantas vezes ainda se sentiria daquela forma até que realmente parasse de doer ou até que chegasse a decisão de desistir de tudo. A sensação que tinha era como se estivesse brincando com um jogo de tabuleiro que o mandava retornar ao início sempre que estava dando um passo pra frente, começando a se sentir melhor.
Sabia muito bem qual era o outro motivo que o fazia sair da cama todos os dias e ir para a KBE-V, mas agora parecia ainda mais estúpido contar com qualquer um deles. Sua garganta parecia apertar com o nó que se formou, tornando difícil para ele respirar ou mesmo segurar as lágrimas. Fez um esforço tremendo para ficar de olhos fechados e respirando fundo, devagar, tentando se acalmar.
esperou o final da audiência para tentar falar com o , vendo-o andar junto de Egon em direção ao corredor. Respirou fundo uma vez, vacilando nos primeiros passos ao andar até o alemão. travou a mandíbula ao vê-la se aproximar, mas sorriu pequeno em sua direção antes que a inglesa pudesse dizer qualquer coisa;
— Amanhã. — Disse em voz baixa, concordou com um aceno sem dizer mais nada, embora tivesse sentido um pequeno desconforto no peito.
Esperou mais alguns minutos, vendo então Lie e Peter saírem de mãos dadas, acompanhados pelos pais e pelo advogado. A loira correu na direção da amiga, abraçando-a apertado.
— Eu sinto muito — disse baixinho, sorriu triste, concordando com um aceno, ainda abraçada a amiga;
— Eu sei! Vem — disse a voz levemente mais confiante — vamos jantar conosco!
— Não sei…
— Qual é, — Peter adicionou ao olhar para a inglesa — talvez esse seja nosso último dia de liberdade, devemos aproveitar! — Brincou, mas era possível notar o nervosismo em sua voz.
— E espero que você me visite — Lie riu nasalado, entrelaçando a mão com o namorado e puxando a melhor amiga pelo braço, em direção a saída lateral do prédio.

Uma das piores partes, na opinião do ex-jogador (ele ainda tentava se acostumar com o termo), era que, embora sentisse como se seu coração estivesse destroçado, ele não conseguia esquecer o olhar de derrota da inglesa desde o começo de seu depoimento. E ele sabia que era por causa da amiga dela.
questionou o que faria em seu lugar, se precisasse testemunhar contra ou algum outro amigo próximo, nem conseguia imaginar direito o que sentiria. Era impossível para ele ter que escolher fazer aquilo, mas não teve opção, e ele sabia.
Sentia-se péssimo por aquilo ter acontecido, mesmo que no fundo não fosse bem sua culpa e até tivesse tentado convencer Egon a desistir de chamá-la, ao mesmo tempo sabia que era uma parte importante do processo. Suspirou profundamente, passando a mão pelos cabelos, ansioso. Só desejava que tudo aquilo se encerasse o mais breve possível, para poder seguir em frente de um jeito ou de outro.
Ao chegar no tribunal na sexta-feira, manteve-se em silêncio durante todo o tempo, ouvindo seus pais comentarem algo aqui e ali junto a Egon, que dizia confiante que o caso já estava ganho desde o começo. Tinha certeza que a defesa tentaria mais algum acordo para evitar a prisão de Peter, mas que não precisava se preocupar com nada.
Ignorou os comentários e, minutos depois, a inglesa se aproximou para cumprimentá-los, embora fosse visível seu nervosismo. Provavelmente tão ansiosa quanto o . , mais uma vez, ignorou de forma nem tão sutil a tentativa de conversa da mulher, usando uma suposta vontade de ir ao banheiro como desculpa. Ficou por incontáveis minutos no banheiro, sem importar-se com o que poderiam pensar sobre aquilo - uma dor de barriga seria o menor de seus problemas agora -, até seu pai aparecer, dizendo que já estavam para iniciar o julgamento.
Mais uma vez achou que tudo aconteceu sem que ele se desse conta, era como um murmurinho ao seu redor; A defesa do casal alegando que os mesmos estavam extremamente arrependidos e que não havia sido por mal, além de terem tentado inúmeras vezes se aproximar de para tentar, de alguma forma, se desculpar e ajudar na medida do possível. Em seguida, Egon voltou a falar, afirmando que, acidentalmente ou não, os dois colocaram a vida do em risco, deixando-o em coma por longas semanas, além de ninguém, nem mesmo a fisioterapeuta, poder confirmar quando poderia voltar a andar, e se, de fato, voltaria. Usando ainda algumas conversas privadas para construir a narrativa de que o estava depressivo e mal saia de casa, como mais alguns argumentos favoráveis a condenação do casal.
olhou para o lado, vendo o casal em silêncio, de mãos dadas embora fosse visível o desespero de ambos, os pais do loiro pareciam ainda pior, a mulher chorava copiosamente desde que iniciaram a sessão.
Virou-se por sobre o ombro para seus pais e , sentados lado a lado duas fileiras atrás dele, esperando pela decisão final, a mulher olhou em sua direção por um instante, sorrindo pequeno para ele, como se confirmasse que estava tudo bem.
então respirou fundo, voltando a olhar para frente, sentiu o coração bater acelerado, tanto quanto quando descobriu que não poderia andar. Fechou os olhos por alguns segundos, ouvindo minimamente o que diziam ao redor e, antes que o juiz dispensasse o júri para deliberar (o que, no fundo, todos sabiam qual seria o resultado, ele tinha certeza), pigarreou alto, erguendo a mão por um instante, resolvendo se manifestar pela primeira vez.
não queria falar, nem mesmo queria estar ali. Havia recusado veementemente de depor, porque com o passar do tempo descobriu que simplesmente não sabia mais como falar em público. Obviamente já havia conversado sobre aquilo em terapia e ele tinha concordado com o motivo: não queria mais chamar atenção, não estando naquele estado.
Todos os presentes o encararam por um momento e o sentiu o rosto queimar, travou por alguns instantes sem saber o que fazer em seguida.
— Senhor ? Gostaria de adicionar algo? — O juiz perguntou após alguns segundos de silêncio. O homem ruivo ao lado do jogador virou-se confuso, parecendo tão surpreso quanto todos os outros.
tornou a respirar fundo, soltando o ar lentamente antes de erguer o rosto e encarar o homem de roupa preta à sua frente. Passou a língua pelos lábios finos pigarreando outra vez antes de dizer com a voz mais alta do que esperava, muito mais firme do que imaginou que sairia, pois sentia sua mão tremer levemente e o coração bater acelerado;
— Eu retiro as acusações. — Falou simplesmente, ouvindo as exclamações surpresas ao redor, não dando-se ao trabalho de virar-se para responder nenhuma delas, nem mesmo a de seu advogado, o qual parecia a ponto de explodir de tão vermelho. — Não tenho interesse em dar continuidade ao processo, não preciso que mais ninguém tenha problemas com isso. Ele ser preso não vai me fazer sair mais rápido dessa cadeira. Contudo — passou a língua pelos lábios, virando-se para olhar o homem ao seu lado, de olhos arregalados tamanho o choque do que ouvia —, sabendo que você e sua família tem dinheiro suficiente para isso, acho justo que gaste o mesmo valor que eu pago para meu tratamento em doações. — Peter acenou rapidamente, embora ainda parecesse descrente. tornou a olhar para o juiz — Isso é tudo. Sinto muito por ter perdido seu tempo com o caso, senhor.
— Meritíssimo — alguém disse em voz alta, o corrigiu no instante seguinte. Embora o homem à frente não parecesse ofendido com o uso do termo errado, apenas surpreso, assim como todos os outros.
— Bem, se o senhor tem certeza...? — Começou, vendo o alemão concordar firmemente — O senhor Fisher continuará com sua carteira apreendida por mais 12 meses, devido ao acidente — dizia, encarando o homem —, no mais, declaro o caso encerrado. Sessão dispensada.
O primeiro momento que soube ter feito a coisa certa, foi quando viu a reação do casal e seus familiares, extremamente aliviados com o resultado.
Respirou fundo ao ouvir Egon transtornado ao seu lado, parecendo incapaz de aceitar aquele desfecho, afinal era um caso ganho para ele desde o primeiro dia e todos sabiam, além, é claro, do "marketing" que trouxe para o currículo do advogado - embora muito competente, sabia que o ruivo já estava com uma demanda maior de processos desde que seu nome foi ligado ao de .
— Obrigado pelos seus serviços, mas acredito que encerramos por aqui. Não se preocupe, pagarei todos os honorários combinados! — Avisou, sorrindo minimamente enquanto estendia a mão para o homem apertar. O viu respirar fundo antes de retribuir o aperto, em seguida, saindo rapidamente do tribunal.
Seu pai parecia não saber como reagir aquilo, ainda sentado olhando na direção do filho, como se o caçula tivesse criado uma segunda cabeça. Amélie, embora claramente sem entender, sorriu levemente em sua direção, compreensiva. Sabia que estava há dias sem dormir direito por não saber exatamente como lidar com toda a situação.
Acenou com a cabeça para o casal, pronto para sair dali o mais breve possível, seus pais pareceram notar, pois se levantaram quase de imediato, contudo, antes que pudesse se afastar de onde estava, viu pelo canto do olho Fisher aproximar-se hesitante. Virou-se para encará-lo pela primeira vez, sem saber exatamente o que sentir ao fazer aquilo;
— Eu sei que não tem nada que eu possa dizer para melhorar a situação, mas eu realmente sinto muito por tudo isso. — Começou a falar em tom baixo, parecendo extremamente sem graça — Sinceramente, não sei se eu estivesse no seu lugar teria tomado essa decisão de retirar as acusações…
— Espero que você não precise descobrir — foi a resposta do , vendo-o concordar, estendendo a mão para um aperto.
— Obrigado!
correspondeu instantes depois, parecendo disposto a deixar toda a raiva para trás e aceitando o pedido de desculpas sincero do loiro. Pouco depois aproximou-se, abraçando-o por alguns instantes, pegando-o completamente desavisado. Ouviu ainda algumas palavras dos pais do casal, antes de conseguir se retirar do lugar, querendo realmente esquecer de tudo aquilo, achava que quanto mais rápido se afastasse, mas fácil seria deixar para trás.
Antes de sair por completo, porém, teve pela segunda vez a certeza de que havia feito a coisa certo, ao reparar no abraço de e , ambas extremamente aliviadas e sorridentes.
Pela primeira vez em muito tempo dormiu bem, acordando descansado como se tivesse dormido por vários dias, sentindo como se um peso estivesse saído de seus ombros ao dar aquilo por encerrado.
Ainda tinha mais uma coisa para resolver, mas sabia que seria mais difícil do que esperava tomar aquela decisão, então, por hora, aproveitaria seu domingo para relaxar como sabia que merecia, deixaria para falar com outro dia, sabia que a mulher continuaria no mesmo lugar para quando ele precisasse conversar.

VINTE E TRÊS.

ignorou todas as ligações que recebeu nos dois dias após o julgamento. Não respondeu nenhuma mensagem, nem mesmo abriu qualquer mídia social. Evitou canais de notícias, principalmente os esportivos e, por fim, ignorou a tentativa de conversar de seu pai sobre o assunto. Para ele, aquilo estava finalizado.
Havia passado meses remoendo o acidente e desejando se vingar, de alguma forma, dos responsáveis pelo o que aconteceu a ele, mas sabia que não era o que o ajudaria no final. Ter alguém preso não o faria voltar a andar, não o deixaria mais feliz.
não seria o responsável por estragar a vida de outras pessoas, não importava quem fosse ou o que tivesse feito. Ver aquele casal preso, embora pudesse trazer alguma sensação boa num primeiro momento, acabaria por o consumir por dentro. E após tanto tempo de terapia, embora não quisesse dizer aquilo em voz alta, prezava por ter sua mente sã, ou o mais próximo disso que poderia.
E foi pensando naquilo que pegou o telefone domingo à tarde, enviando uma mensagem para , pedindo para ela encontrá-lo em sua casa. Era importante.
Quando a campainha tocou, quase uma hora depois, seus pais já haviam saído de casa a seu pedido. Abriu a porta vendo a inglesa o olhar um tanto ansiosa, provavelmente assustada com o que poderia ser; não disse muito na mensagem, apenas que era urgente.
— Está tudo bem? — Perguntou assim que entrou na casa, olhando rapidamente ao redor — Seus pais estão bem?
— Está todo mundo bem, não se preocupe — garantiu, sorrindo pequeno ao tornar a aproximar-se do sofá, a mulher o seguiu após fechar a porta.
ofereceu algo para ela tomar ou comer, o qual a mulher recusou de forma educada.
sentou na ponta do sofá, próxima do moreno, esperando-o começar a falar e, ao olhar para ela, o alemão começou a questionar o que estava prestes a fazer. Mas não mudaria de ideia, havia pensado bastante sobre o assunto, era a coisa certa a fazer. Poderia se arrepender depois, mas era importante.
— Eu vou sair da KBE-V — disse baixinho, quase em um sussurro. Se não estivessem apenas os dois, no mais completo silêncio, duvidaria que ela tivesse escutado.
A inglesa piscou lentamente, franzindo o cenho no instante seguinte ao entender o que aquilo significava.
— O que…? Por que…?
deu de ombros, sorrindo pequeno em sua direção;
— Vou continuar o tratamento, mas em outro local.
— Eu fiz algo que você não gostou ou…?
— Não, não foi você, doutora. Aliás, foi você, sim — respondeu, passando a língua pelos lábios, notou o olhar surpreso e confuso da inglesa, antes de explicar. Respirou fundo, olhando para o lado por um instante, antes de encará-la — Primeiro queria me desculpar com você, por te fazer testemunhar em um caso que poderia colocar sua amiga na cadeia, não sei o que faria se estivesse no seu lugar. Sinto muito por ter sido envolvida nisso. — começou, negando quando ela fez menção de falar algo — Em segundo, gostaria de agradecer pelos últimos meses, foi importante pra mim ter você ao meu lado durante esse tempo e não vou me esquecer disso. O único motivo de eu ter levantado todos esses dias foi porque eu sabia que você estava lá, e, acredite, a vontade de simplesmente largar tudo é enorme, todos os dias. — Sorriu triste — Não foi nada que você tenha feito profissionalmente — sentiu a voz falhar, pigarreando antes de continuar —, acredito que não seja, exatamente, uma surpresa para você… E eu sei que não tem nada que se possa ser feito sobre isso, e nem espero que você corresponda, mas eu estou apaixonado por você.
sentiu-se completamente sem reação, queria responder algo. Qualquer coisa, mas parecia impossível naquele instante. Sentiu o coração apertar ao entender o que acontecia.
— Não vou usar aquele clichê de amor à primeira vista, porque não acho que seja o caso — brincou, olhando para as próprias mãos antes de continuar —, talvez pela convivência diária ou por saber que você estava ali todas as vezes que eu precisava. Talvez seja realmente porque eu não tenho tido tanto contato com outras mulheres ou pode ser apenas porque é você… — Falava, ainda sem coragem de voltar a olhá-la, sabendo que não conseguiria dizer tudo o que queria se o fizesse — Porque eu acho você incrível. Então, não é só uma atração física, eu estou realmente apaixonado por você e ao mesmo tempo que saber que eu vou te ver todo dia é o que me faz sair de casa toda manhã, eu simplesmente não aguento não poder dizer nada ou mesmo te chamar para sair… E eu sei que você está com o Aaron e ele é um cara ótimo, mas… Não é algo que eu possa controlar, entende? Então eu prefiro não te ver do que passar por isso todos os dias.
não notou quando a primeira lágrima chegou a seus olhos, mas a limpou rapidamente, desviando o olhar antes de começar a falar;
— Eu sei que não é algo fácil o que você está passando e eu sei o quão difícil é continuar seguindo em frente — Respirou fundo antes de contar-lhe algo pessoal, que ela não costumava compartilhar com ninguém — Eu não posso dizer que eu sei como é, mas eu vi pelo o que meu irmão passou, anos atrás — o moreno a encarou no mesmo instante, vendo-a sorrir pequeno em sua direção — ele sofreu um acidente durante nossas férias e sabia que não teria como se recuperar, todos sabíamos, mas é claro que ninguém queria deixá-lo desistir, não é? Natan era novo e talvez ele conseguisse, talvez em algum momento tivesse um tratamento, mas ele não queria passar anos dependendo de outras pessoas, não era apenas a cadeira de rodas, ele precisava de ajuda para tudo… Não foi realmente uma surpresa quando desistiu de tudo aquilo… Natan era uma das pessoas mais ativas que eu conheci… Então eu entendo, parcialmente, o que você passa, , porque eu vi meu irmão sofrer da mesma forma — sorriu pequeno, limpando outra lágrima que escorria — e eu fico realmente feliz por saber que você continua tentando, todos os dias, porque eu sei que é difícil, entende? Eu já vi isso acontecer mais vezes do que gostaria, não é fácil, mas você tem se esforçado mais do que qualquer pessoa que eu tenha atendido e você é uma pessoa incrível, . Você é muito mais forte do que pensa, não apenas fisicamente. Você é uma pessoa realmente boa. — concordou com um aceno, sorrindo de canto ao olhá-la — E, embora eu não esteja com o Aaron — disse sorrindo fraco —, eu sinto muito por não poder corresponder o que você sente, porque eu tenho certeza que você é uma ótima pessoa para se ter ao lado, seja como um amigo ou como um parceiro.


Ao mesmo tempo em que se sentia mais relaxado por ter finalmente dito o que precisava, parecia que seu coração estava esmagado. Não esperava uma resposta diferente, no fundo sempre soube que não era correspondido pela inglesa, mas ter a confirmação não facilitava as coisas. Parte de si tinha sim criado a expectativa de escutar algo diferente vindo dela. Ele havia considerado vários cenários em que o final daquela conversa seria completamente diferente, mesmo que pouco provável, um homem podia sonhar, não é?
Havia optado por algumas semanas de tratamento em casa, com um fisioterapeuta indicado pela própria KBE-V, um ex-funcionário que havia saído da clínica há alguns meses por motivos pessoais. Joseph estava com seus quase cinquenta anos, extremamente bem humorado. Sua forma de trabalhar o lembrou um pouco mais de Heinz, que ao mesmo tempo que conversava bastante, tinha sempre um tom mais profissional presente.
estava gostando da fisioterapia, mas não negava que sentia falta da rotina da clínica, ainda mais após finalmente ter começado a socializar mais com o pessoal. Contudo, era claro para ele que o que mais sentia falta era ver a inglesa todos os dias.
Joseph era um ótimo profissional, mas não era a .
Tentava não pensar muito a respeito, pois havia sido uma escolha sua.
E estava feliz de tê-la tomado.
Precisava continuar por ele mesmo, não na esperança de conquistar a inglesa.
Virou-se ao final de uma das sessões, quando ouviu o mais velho chamar seu nome, enquanto mexia na mochila que sempre levava consigo;
— Klaus pediu para te entregar — comentou, tirando um envelope do bolso lateral —, nos encontramos no final de semana, disse que estão todos esperando por você! — Explicou ao entregar-lhe. franziu o cenho, abrindo o envelope e logo notando um convite para festa de Natal da KBE-V, que aconteceria no dia 22, antes de fecharem para as festas de final de ano. — Se eu fosse você não perderia, são sempre ótimas festas! — Joseph piscou, colocando a mochila nas costas antes de esticar a mão para se despedir.
— Vou pensar a respeito! — Agradeceu, apertando-lhe a mão antes de acompanhá-lo até a porta — Até amanhã!
Respirou fundo ao tornar a olhar para o convite em seu colo, era uma oportunidade boa para rever o pessoal e despedir-se de verdade, embora ainda mantivesse contato com Max e Aaron. Passou a língua pelos lábios, pensando sobre o assunto.
Sabia que o motivo de sequer considerar participar da festa tinha nome e sobrenome, e olhos que não conseguia esquecer.
queria se manter distante, queria afastar-se para assim ter uma chance de esquecer da mulher e seguir em frente, mas parte de si estava desesperada para vê-la mais uma vez.
É, talvez uma festa não fosse a pior das ideias.



Continua...



Nota da autora: Todo mundo sabe que eu fico procrastinando pra att essa fic, os pp's que lutem, mas agora é promessa de 2023: mais quatro (ou cinco) capítulos para finalizar. VAMOS QUE VEM AÍ! Não vamos passar mais uma Copa do Mundo com essa fic att, né? Um beijo pra quem estava aqui em 2013. DEZ ANOS! Chegou a hora de criar vergonha na cara e finalizar! VEM AÍ!!!
Beijão
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