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No 3 de Junho






Finalizado a: 14/07/2017

Capítulo 1



- E... Terminei! – anunciou, se afastando. – Meu Deus, eu sou muito rainha, até bêbada consegui fazer uma maquiagem maravilhosa.
Ri, levantando do sofá e correndo até o espelho do banheiro. Eu não era ótima nisso e já que hoje era a noite de abertura do São João em Caruaru e iríamos para uma festa privada antes do pátio do forró, queria estar maravilhosa, especialmente porque a festa privada era super badalada na cidade, sem mencionar que o meu crush iria.
- Ficou ótimo mesmo – falei para , piscando algumas vezes e sorrindo com o resultado. – Especialmente para uma bêbada.
Havíamos passado boa parte do dia no quiosque da piscina do condomínio, bebendo. Eu, ela, o namorado e um amigo nosso, até que eu fui com as meninas pegar as pulseiras que permitiriam a nossa entrada na festa de hoje.
- Eu vou dormir um pouco, se der coragem, mais tarde a gente vai pro pátio também – falou, já indo para o quarto onde o namorado já estava dormindo.
Voltei para o meu quarto e vesti o vestido preto que tinha separado para hoje. Subi nos saltos e peguei a bolsinha onde eu levaria o essencial. Me olhei no espelho algumas vezes, me achando linda. As meninas moravam no condomínio do lado, por isso eu as esperaria em casa até que elas me mandassem descer já que eu iria de carona com elas. Não demorou muito para a mensagem de chegar me pedindo para ir para frente do condomínio delas.
Ao passar pela portaria do meu prédio, cumprimentei o Fernando, porteiro da noite, que me elogiou e fez um sorriso sincero se expandir em meus lábios. A noite estava até fria, mas eu estava empolgada, portanto não me importei. A porta da frente do prédio se abriu e Henrique, melhor amigo do meu crush e minha carona de todo dia pra faculdade, saiu.
- Olha ela – ele disse, sorrindo. – Ei, tome cuidado com , viu?
era primo das amigas da minha prima e alguns meses atrás eu havia o conhecido na faculdade, mesmo que brevemente. Foi no meu aniversário de dezoito anos, dois meses atrás, que tudo começou. Ele era ótimo, divertido e quando começamos a conversar até parecia que nos conhecíamos há anos. Depois desse dia, eu comecei a ter uma leve queda por ele, que com eventos seguintes, se tornaram um abismo. Ele obviamente não sabia, porque eu morria de medo de admitir. Até mesmo para minha prima tinha sido horrível admitir!
- Oxe, por quê? – franzi o cenho, especialmente ao ver o sorriso malicioso nos lábios dele.
- Ah... – ele estava prestes a falar, mas algo atrás de mim o fez mudar de ideia. – Olha, eles já tão saindo.
Ele apontou para a porta da garagem que se abria e o carro de saía, mas com ele na porta do passageiro. Ele sorriu para mim com aquele maldito sorriso.
- Bora? – ele chamou, apontando para porta de trás.
- Tchau – me despedi de Henrique, indo até à porta do carona e entrando.
, Sophie e Gracy estavam espremidas lá atrás e eu só piorei a coisa.
- Ela veio de batom vinho, quero mesmo ver quem vai borrar – zombou, piscando para mim.
- Provavelmente o copo de bebida mesmo – ri, olhando para a janela.
- Diz isso agora... – o motorista, amigo deles que por acaso eu não conhecia, brincou.
- Espero que seja só agora mesmo – falei, voltando a rir.
- Deixa só ela arrumar um boy lá que eu quero ver... – riu, olhando para trás para me ver.
Apenas ri, balançando a cabeça em negação. Hoje era a abertura do São João da cidade e tudo estava um caos, portanto levamos quase quarenta minutos para chegar até a Mansão do Forró, nossa primeira parada. Nesse meio tempo a minha mãe havia me ligado, totalmente preocupada já que esse era meu primeiro São João aqui. Eu tinha me mudado esse ano e estava sem nenhuma das minhas primas, mas tranquilizou-a quando tirou o celular da minha mão e falou com ela.
- Prontas para dar um PT? – Gracy brincou, saindo do carro.
- Não quero nem saber de beber hoje – Sophie reclamou, descendo em seguida.
- O Brasil me obriga a beber então to pronta sim – brinquei, saindo e arrumando a saia do vestido que havia subido.
Meus olhos encontraram os de quando voltei a olhar para cima e ele sorriu para mim, fazendo um friozinho se instalar no meu estômago. Ele não era lindo. Não tinha nem um 1,70m, não tinha tanquinho e seus olhos castanhos eram tão comuns quanto os de qualquer um, mas seu sorriso, nossa, aquele sorriso me derrubava total.
- Então vamos entrando – passou na frente, adentrando na festa.
Mostramos as pulseiras para os seguranças e seguimos em frente. A festa tinha um ar meio sofisticado, mas barraquinhas como a do beijo, de simpatias, correio elegante, deixavam uma festa típica. Mais a frente tinha a pista de dança onde a primeira banda da noite estava tocando. O bar também ficava lá e enquanto eu, Sophie e Gracy fomos para pista de dança, e foram providenciar as bebidas. Os dois voltaram rapidamente, fizeram o orçamento, nos dividimos e pagamos pela bebida. O garçom trouxe uma mesinha e em seguida o saco de gelo, a vodka e os copos.
- Vamos começar os trabalhos? – Gracy sorriu animada, estendendo o copo para colocar a bebida.
- Por favor! – Sophie sorriu, também estendendo o copo.
- Ué, não foi você que disse que não iria beber hoje? – olhou para Sophie, zombando.
- Não me julga e coloca aí – ela revirou os olhos.
- Eu não vou nem perguntar se você quer né... – estreitou os olhos, sorrindo para mim.
- Eu podia muito bem recusar, viu? – ri, fazendo uma careta.
- Mas vai? – ele arqueou as sobrancelhas, afastando a garrafa do meu copo.
- Não, mas só porque eu já paguei – mordi o lábio, sorrindo.
- Sei... – ironizou, despejando o líquido transparente no meu copo.
- Eu quero dar uma volta antes – , a única que não bebia, informou, puxando Gracy com ela.
- Eu vou! – Sophie gritou, acompanhando elas.
Eu não tive tempo nem de pensar em ir junto já que elas sumiram na multidão, me deixando sozinha com . Nós nunca havíamos ficado de fato sozinhos, a não ser na noite que ele foi me deixar em casa no aniversário de Henrique, mas a caminhada de menos de cinco minutos até meu prédio não nos deu oportunidade de conversar muito, portanto eu não sabia o que fazer.
- Ei – ele chamou minha atenção, deixando o copo na mesa e pegando o meu também. – Vamos dançar.
- Mas eu não sei... – choraminguei, mesmo que ele já tivesse me puxado para perto, colocando a mão na minha cintura e segurando a outra mais no alto.
- Eu já te ensinei duas vezes, ! – ele riu, falando perto do meu ouvido, coisa que fez meu corpo arrepiar.
- Você só me ensinou por dois minutos no meu aniversário e mais dois no aniversário de Henrique, nem foi aula direito, – me defendi, fechando os olhos ao sentir seu cheiro, pouco me importando em estar quase pisando em seus pés.
- Me segue – ele riu. – Olha, na real não são dois passos para o lado, são um passo e uma enrolada.
- Uma enrolada? – franzi o cenho, agora olhando para nossos pés.
- Um passo e uma pisadinha, tipo assim – conseguiu puxar o pé antes que eu pisasse. – Calma!
- A gente tá passando vergonha – murmurei, olhando ao redor e vendo algumas pessoas risonhas observarem.
- Presta atenção em mim, – ele apertou minha cintura, me fazendo dar um pulo conta das cócegas.
- Ai, tá, tá... – ri, voltando a olhar para nossos pés.
- Você precisa rebolar mais que isso – avisou, encostando sua bochecha na minha.
- Uhum... – foi o que eu consegui dizer, já meio desnorteada por ele estar assim tão pertinho.
Ele estava deixando a barba crescer então eu sentia sua pré-barba arranhar minha bochecha de uma forma tão gostosinha que eu quase sorri. Sem perceber, nós estávamos dançando e nem tão mal até.
- Tá vendo, tá conseguindo – falou.
- Mas é só com você! Sexta passada eu fui para festa de São João da minha turma e não consegui dançar direito com ninguém – admiti, mas talvez isso tivesse sido por conta da bebida. – E olha que o cara tentou!
- Então quer dizer que a magia só acontece comigo? – afastou o rosto para poder me olhar, sorrindo de forma enviesada.
- Desmancha esse sorriso antes que eu te bata – avisei, rindo e me atrapalhando um pouquinho com os pés. – Ops.
- Ficou nervosa? – insistiu em me provocar, me segurando por uma mão e soltando minha cintura para me fazer girar.
- Deixa de ser chato, menino – bufei, revirando os olhos ao fingir estar chateada.
- Tá bom, tá bom, vamos dançar... – colando mais o corpo ao meu, encostou seu rosto no meu e eu fechei os olhos.
O cheiro dele era bom demais e eu sempre adorei seus braços apertados ao meu redor quando a gente dançava. No meu aniversário havia sido assim, na saída do cinema quando assistimos A Bela e a Feras – quando eu disse que tinha ficado com vontade de dançar e ainda no corredor de saída, ouvindo a musica dos créditos, ele me puxou e começamos a rodopiar por lá – e na festa de Henrique. Ele tinha o mesmo abraço maravilhoso e eu deveria parar de pensar nisso.
- vai amar ver essa foto – a voz familiar de me despertou para a vida e me afastei de , morrendo de vergonha.
- Que foto? – questionou, pegando o celular da mão da prima.
- Não apaga! – ela gritou, pegando o celular.
- Que foto, gente? – peguei meu copo, dando um gole na bebida.
- Vocês dançando – Gracy informou, sorrindo. – Ficaram até bonitinhos.
Olhei para e ele retribuiu o olhar, sorrindo e balançando a cabeça como se dissesse para deixar para lá e foi o que eu fiz. Dancei com as meninas, rimos um monte, andamos pela festa e mesmo tendo me perdido de – já que ele foi fazer alguma coisa –, sinceramente não liguei muito.
- Vamos na barraquinha de simpatias? – chamou, já me puxando. – Vai que Santo Antônio ajuda.
- , você tá solteira porque quer! – revirei os olhos, mas a segui do mesmo jeito. – O Rafael até aqui tá, você não viu?
Ela arregalou os olhos, parando de vez.
- Tá? – perguntou, olhando para os lados como se fosse o encontrar do nada.
- Está. Na mesa do lado da nossa. Não sei como você ainda não viu – ri, negando com um movimento de cabeça.
- Mas eu nem ligo mesmo – deu de ombros, tentando transparecer uma falsa indiferença. – Mas vamos voltar pra mesa, deve estar lá sozinho.
- ? Nada a ver com o fato do Rafael estar na mesa do lado? – segurei na mão dela para não me perder na multidão, a seguindo até a mesa.
Sophie estava dançando com um cara da mesa do lado e Gracy agora dançava animadamente e perfeitamente bem com .
- Miga, se tu quiser , é melhor ir pra luta porque a Gracy também quer – murmurou para mim, seguindo meu olhar até o casal.
- Eu não quero ele! – retruquei rapidamente.
- me falou que você é afim dele, mandou eu desenrolar – ela riu com a minha cara de taxo. – Mas eu não vou. Você precisa aprender a ir atrás. Foras são da vida, . é um cara decente, se ele não quiser, não vai sair tirando onda da sua cara depois.
Virei o resto da bebida do meu copo, absorvendo as palavras de . Milhares de pessoas já haviam me dito isso, mas eu, cheia de problemas de autoestima e insegurança, chegar em garoto que estaria no meu círculo social por pelo menos mais dois anos – tempo dele terminar a faculdade – e ser rejeitada? Eu não aguentaria. Além do mais, se ele quisesse alguma coisa comigo, provavelmente seria uns beijinhos. Eu não queria só uns beijinhos e se rolasse um beijinho entre nós, só iria ser pior para mim depois.
- Correio elegante para a moça de vestido preto! – uma garota de trancinhas e uma boca marcada de vermelho apareceu na minha frente com um amplo sorriso. – Está com sorte, recebeu dois.
- Eita, que ela já arrasou corações hoje! – brincou, terminando a dança com Gracy e se aproximou da gente. – Quero mesmo ver.
- Quem mandou? – perguntei para a moça, surpresa e até feliz por ter recebido. Peguei os cartõezinhos vermelhos, ainda esperando a resposta.
- Infelizmente os cavalheiros optaram pelo anonimato, mas tenho certeza que você vai descobrir – ela riu, piscando para mim e se afastando em seguida.
- Eu acho isso fofo demais. – sorriu, pegando um dos cartões. – Vamos ler o primeiro. “Seu sorriso é lindo demais para não ser apreciado. Olha para mesa da frente que eu quero admirá-lo”. Olha, até foi uma riminha. Quem será que mandou?
Assim como eu, , e Gracy olharam para a mesa da frente onde alguns garotos estavam reunidos e olhavam para cá. Um deles, o loiro alto, estava abraçando os ombros de um cara de cabelos escuros que estava sorrindo e olhando para cá como se estivesse envergonhado. Os outros meninos apontavam para ele.
- Acho que encontramos – Gracy sorriu.
Ainda sorrindo, acenei para o cara que supostamente me enviou isso. Minha atenção estivera tão voltada para que eu não tinha observado quem estava ao meu redor e o cara era lindo.
- Vamos ver o outro – peguei o segundo cartão, mas antes que eu abrisse, tirou o bilhete da minha mão e deixou na mesa, me puxando em seguida. – Ei!
- Vamos ver se tu aprendeu a dançar direito – ele disse, me rodando até que eu estivesse de costas para as meninas.
- Eu poderia ter lido o correio antes – fiz uma careta.
- Demorou demais. – piscou, sorrindo daquele jeito que só ele sabia.
- Chato – bufei, mesmo que não estivesse irritada, só curiosa pelo bilhete.
- Vai falar com o cara do seu correio? – ele perguntou, encostando a bochecha na minha, gesto que me fez fechar os olhos.
- Depende... – me vi falando sem nem pensar, já sentindo meu coração acelerar com o que eu queria dizer em seguida.
- Do quê? – soou confuso.
- De... – estava prestes a dizer “você”, quando senti alguém me puxar para trás.
- Com licença, mas eu quero dançar com meu primo agora! – sorriu e apontou para o seu lado, onde o cara do correio elegante estava. – Mas como eu não iria te deixar sozinha, esse cavalheiro se prontificou para dançar com você.
Engoli em seco e me obriguei a sorrir para . Eu sabia que ela estava tentando me ajudar, mas aquela havia sido a minha chance de falar para e ela foi totalmente arruinada. Mas talvez eu devesse encarar como um sinal. Não era para eu falar.
- E qual o nome desse cavalheiro? – perguntei, pegando a mão que ele havia me estendido e dando um passo em sua direção.
- – sorriu, colocando a mão na minha cintura e me puxando para perto. – E o seu, moça do sorriso bonito?
Seu comentário só fez um sorriso se alargar sem dó pelo meu rosto.
- – me apresentei. – E muito obrigada pelo elogio e pelo correio.
- Isso pode parecer meio stalker, mas eu já te vi antes daqui – confessou, parecendo meio envergonhado.
- Sério? Onde? – perguntei, surpresa. Nunca havia o notado antes.
- Da faculdade. Já te vi correndo pelo espaço VIP com uma câmera, com suas amigas. Você sempre tava sorrindo ou rindo, te achei linda – podia ou não, estar apenas sendo um conquistador, mas estava surtindo efeito pois eu não conseguia parar de sorrir.
- Ah, as aulas de fotografia – ri, lembrando de uma que tivemos que tirar fotos ao redor do campus na aula prática.
Mesmo sem saber dançar e ainda embolando num passo e outro, mal pareceu ligar e a conversa foi fluindo tão bem que eu nem notei o tempo passar. No minutinho que paramos de conversar um pouco, deixei meu olhar se voltar para a mesa onde o pessoal estava e meu estômago se revirou completamente ao ver como Gracy e estavam próximos e obviamente flertando. Sophie e haviam sumido, estavam só os dois lá.
- Barraca do beijo! – um homem segurando uma estrutura de barraca do beijo feito com papelão e muito bonitinha, parou na nossa frente, concentrando a atenção em nós dois.
Arregalei os olhos ao notar que também estávamos passando no telão ao lado do palco. A barraca do beijo era uma brincadeira para arrecadar fundos para o hospital de câncer local. Eles pegavam casais desprevenidos e os faziam se beijar. O casal também teria que doar 2 reais para a causa.
- Eu to morta de vergonha! – murmurei para , escondendo o rosto na curva do pescoço dele.
Ele riu, deslizando as mãos para a minha cintura, depois segurou meu queixo entre seu polegar e o indicador, me fazendo encará-lo.
- Finge que somos só nós dois, tá?
E em seguida ele me beijou. Ouvi gritos, assovios, risos e incentivos, mas pouco liguei. O beijo dele era muito calmo, suas mãos apertavam minha cintura de um jeito delicioso e seus lábios faziam uma pressão muito boa contra os meus. Eu não tenho certeza por quanto tempo nos beijamos, mas tivemos que parar quando eu fiquei sem fôlego. Ele fez questão de pagar e eu apenas agradeci.
- Meu Deus, você tá parecendo o coringa! – gargalhei, olhando para a boca dele.
- Foi por uma boa causa – ele riu. – É melhor a gente ir arrumar isso. Você também tá muito semelhante a um Coringa.
Por não querer ir sozinha para o banheiro com , puxei , que tinha voltado, comigo. foi para o masculino, nós duas para o feminino.
- tá se mordendo, ! – riu, se olhando no espelho da pia.
- Ué, por quê? Não era ele que tava lá super de papinho com Gracy? – arqueei as sobrancelhas, limpando os arredores da minha boca.
- Ai, por favor – ela revirou os olhos, sorrindo presunçosa. – A festa já tá acabando, a gente vai de carona para o pátio. Sophie já tá louca, meu Deus. Não sei como ela consegue ficar bêbada só sentindo o cheiro de vodka.
Eu apenas ri. Não podia julgar Sophie já que eu normalmente também ficava assim. Assim que saímos do banheiro, ouvimos que o cantor havia acabado o show. estava nos esperando e ficou comigo até que os amigos dele foram embora. Ele pegou meu número e já mandou um oi no whats como promessa de que iria manter contato.
- Partiu pátio, mores? – Gracy gritou, agarrada no pescoço de .
- Só vamos! – ele sorriu, estalando um beijo na bochecha dela.
Tentei dizer para mim mesma que não fiquei afetada, mas eu estava me mordendo de ciúmes. Saímos da mansão e fomos para onde o carro do amigo de Sophie estava. Eu, Gracy, , Sophie e nos esprememos no banco de trás já que um amigo do motorista estava indo na frente.
- Eu amei demais essa festa – Sophie disse.
- Claro que amou. Conheceu aquele empresário e ainda conseguiu as pulseiras de um camarote para a gente ficar lá no pátio – Igor, amigo dela, riu.
Eu não conseguia prestar atenção na conversa, então me matinha com o olhar fixo na rua através da janela do meu lado. Minha mente estava meio confusa e anuviada pela bebida, e o que tinha acontecido com . Olhei para o outro lado vendo que parecia tão absorto quanto eu na rua do lado dele. Reprimi um suspiro e voltei a olhar pela janela.
...Você de lá e eu de cá, olhando o mesmo céu, que distância cruel. Eu assisto o tempo passar, tempo me dispersar, olhando o celular... Metade do meu coração só quer te ver de novo e a outra só pensa em você.
Essa musica tocar agora foi uma ironia que não passou despercebida por mim. Eu só queria sair desse carro e gastar o resto do meu dinheiro em bebida, mas não evitei quando meu olhar se voltou para quando o refrão da musica começou. Dessa vez ele estava olhando para mim e eu apenas desviei.
Não demoramos muito mais para chegar ao estacionamento ao lado do pátio e saímos do carro enquanto Igor arrumava um lugar para estacionar. Nesse breve momento, tentamos nos recompor para a festa.
- , me ajuda a me arrumar! – Gracy sorriu, o puxando pelos ombros e colocando as mãos dele na cintura dela.
Eu senti meu coração apertar novamente quando ele começou a passar as mãos pelo corpo dela, compartilhando do sorriso malicioso de Gracy. Virei de costas e respirei fundo enquanto tentava não deixar aquilo me machucar. Agradeci muito e praticamente sai correndo com quando Igor voltou. O famoso Pátio do Forró era realmente um espetáculo! Mesmo com a chuva que começava a cair e o caos, era imponente. Havíamos vindo para o palco principal e Sophie havia descolado pulseiras de um camarote para nos protegermos da chuva durante os shows. Quando nos ofereceram bebida, apenas aceitei.

Capítulo 2



- Olha para o céu, meu amor, vê como ele está lindo... – Gracy e Sophie cantavam ao som de Elba Ramalho, já totalmente bêbadas.
Eu observava a cena com diversão mesmo que estivesse quase tão ruim quanto elas. Estivera em uma mesa com e pela última meia hora e estava mais calado que de costume.
- Ei, viu ? – perguntou.
Neguei, notando agora que já fazia meia hora que ele havia dito que ia ao banheiro e ainda não tinha voltado.
- Eu já rodei tudo aqui procurando por ele, mas não encontro – ela bufou. – Acho que ele saiu. Vou lá fora procurar. Ele tá bêbado, to preocupada.
- Nessa chuva? – arregalei os olhos, apontando lá para fora.
- Eu quero muito ir embora. Sophie e Gracy tão muito bêbadas, ninguém merece.
- Quer que eu vá contigo? – me ofereci.
- Não. Só fica aqui caso ele volte, daí tu me avisa – apontou para o celular.
Assenti. saiu no meio da chuva e voltei para a mesa das meninas. Passou dez minutos, vinte, meia hora e e eu apenas trocando mensagens sobre a falta de notícias de . Eu já estava me irritando com ele que não atendia o celular e que tinha saído sem aviso nenhum! Sem mencionar que estava preocupada. A cidade era perigosa, ainda mais para um bêbado meio esquentado como ele. Portanto, ignorando os pés doloridos nos saltos, fui atrás dele também.
Eu não conhecia nada lá, mal sabia para onde estava indo e sem óculos e ainda na chuva, tudo que eu via eram borrões. Rodei por um tempo e sem encontrá-lo, voltei para a barraca. Meu celular tocou e por um momento achei que era dando sinal de vida, mas era .
- Ei, eu encontrei e Guilherme. Vou ficar aqui com eles na frente da barraca Boneca de Pano. Se tu achar , vem para cá com ele – gritou para poder ser ouvida.
- Onde é? – gritei de volta.
- Ele sabe. Beijos!
Suspirei, voltando a guardar o celular e ignorando a mensagem que havia mandado. Eu me sentia uma idiota por estar preocupada com quando ele claramente não estava nem aí para nada. Já estava começando a perder as esperanças quando o vi.
Andando a alguns metros da barraca estava .
- Ei! – gritei, acenando para ele.
O segurança me deixou sair e corri até , que me abraçou pela cintura.
- Menino, onde tu tava? – bati no ombro dele, não sabendo se chorava ou reclamava.
- Uns amigos meus estavam ali – ele apontou para o outro lado perto da barca.
- Eu e estávamos loucas te procurando! – bufei, passando a mão no rosto.
- Mas eu já to aqui, relaxa – ele sorriu, alisando minha bochecha com o polegar.
Meus olhos encontraram os dele e esse momentinho de conexão fez meu corpo estremecer. Nenhum de nós desviou o olhar. Ele ficou me encarando e eu também. Eu devia beijá-lo agora? Se devia, não fiz.
- está com e Guilherme na frente da Boneca de Pano. Ela chamou a gente para lá – falei, quebrando o contato visual. – Vamos?
Ele suspirou e acenou que sim. Pegando minha mão e entrelaçando nossos dedos, ele guiou o caminho. A essa altura eu já estava louca. Ele flertava com Gracy, mas tinha momentos assim comigo. Qual era a dele?
Mal notei quando chegamos até onde minha prima estava com o namorado e . abriu um sorriso malicioso em nossa direção.
- Oxente, os dois juntos? – ela arqueou as sobrancelhas.
- Nem começa – mostrei a língua.
- Até porque ela é do hoje – resmungou.
- Eu sou minha hoje – retruquei, sorrindo para ele. – Guilherme, tá bebendo o quê?
- Whisky – ele ergueu o copo e não demorei a pegar da mão dele. – Eita!
- Deixa ela – sorriu, me abraçando pelos ombros.
Depois de um tempo de conversa, começou a dançar com , com Guilherme e eu sobrei. Foi então que um cara que devia ter idade para ser meu avô, começou a rondar. Primeiro ele segurou minha mão, mas eu me afastei e ele continuou me olhando, me deixando muito desconfortável.
- Gente, me deem atenção, por favor – pedi, fazendo um biquinho.
- Vem cá, meu amor! – me puxou, dando um beijo estalado na minha bochecha.
- Cadê, tem que arrumar um boy para dançar! – Guilherme falou.
- Já chega de boys para mim por hoje – ri, descartando a ideia.
- Isso porque ela já beijou um hoje – explicou. – E tem uma foto muito linda com .
- Tem é? – os olhos de brilharam.
- Eu já dancei com ele antes, não sei porque tanto drama – revirei os olhos.
- Porque a gente não sabia antes o que sabe agora – me respondeu com uma piscada e um sorriso malicioso.
- Eu vou comprar bebida – avisou, apontando para uma barraca.
- Parem de ser tão óbvias, suas chatas! – resmunguei.
- Te amo – minha prima soprou um beijo para mim. – E só assim para alguma coisa acontecer.
voltou e continuamos como um grupinho feliz mesmo que eu ainda estivesse louca por nada. O cara continuou rondando e eu já estava ficando assustada, especialmente quando me vi “sozinha” quando os quatro voltaram a dançar. O homem se aproximou de mim, dessa vez me puxando pela cintura.
- Que isso, me solta! – reclamei, empurrando ele, mas ele me puxou de volta.
- É só uma dança, meu amor – ele sorriu, apertando minha cintura.
- Mas eu não quero! – fiz uma careta. – Sério, me solta.
- Você não vai morrer, linda – riu, alisando minha bochecha.
- Me solta!
- Ei, o que é isso aqui? – apareceu do meu lado, me puxando para trás com ele.
- Eu só tava querendo dançar – o cara ergueu as mãos.
- Mas ela não queria – ele retrucou.
- Não sabia que ela tinha namorado, foi mal, já vou – o outro recuou, já se afastando.
- Não é para mim que você devia pedir desculpas, sim para ela – resmungou, parando na minha frente. – Tá bem?
Assenti que sim, mas eu não estava.
- Que cara ridículo – fez uma careta.
- Eu to cansada. Vocês não querem ir embora não? – perguntei.
foi a primeira a concordar com a ideia. Ela estava muito cansada e reclamando pelo salto estar machucando o pé, sem contar que a chuva havia engrossado ainda mais. também concordou e o casal também não fez objeções, portanto saímos do pátio e fomos procurar como voltar para casa. Como previsto, não tinha nenhum táxi disponível. O último show estava acabando e todo mundo estava voltando para casa. Sophie e Gracy haviam pegado carona com os amigos delas, então eram menos duas.
- Gente, olha o ônibus que passa por lá, corre! – apontou para o ônibus que estava parado no sinal.
Eu estava de salto, então correr não era uma opção a menos que eu quisesse quebrar o pescoço, portanto acabei ficando para trás. A chuva nublava minha visão e o vento fazia meu cabelo grudar no rosto, dificultando tudo.
- Corre! – gritou.
- Tira o salto, ! – parou na minha frente. – Segura em mim e tira esse bendito.
Acabei rindo e fazendo isso mesmo.
- Eu to necrosando, – choraminguei, apontando para as costas nuas do meu vestido.
- Não vai adiantar muito não, mas... – ele riu, tirando a jaqueta e colocando em cima dos meus ombros. – Vai se esquenta aí e vamos correr!
Assim que tirei os saltos, me puxou pela mão e começamos a correr em direção ao ônibus. Como a boa iludida que eu era, a cena me fez lembrar dos filmes de romance onde cenas semelhantes aconteciam, mas tratei de empurrar esses pensamentos para longe. Não chegamos nem perto do ônibus e o sinal abriu, ou seja, perdemos.
- Que bosta viu... – Guilherme reclamou.
- Esse táxi tá livre, corre! – gritou, apontando para o táxi que vinha.


Capítulo 3



A louca parou na frente do carro e já foi abrindo a porta. Me enfiei no banco de trás com ela, Guilherme e . foi na frente. Demos o endereço e fomos embora. Estávamos tão cansados que ninguém nem falou nada durante o caminho. Quando chegamos ao condomínio, como ninguém mais tava com dinheiro, e subiram para pegar. e Guilherme foram na frente para nosso apartamento para pegarem a chave com a portaria – já que eles preferiram deixar lá – e eu fiquei como garantia de que o dinheiro chegaria. Não demorou muito até que voltasse sozinho e pagasse a viagem, permitindo que eu saísse do carro.


- Quer que eu te leve em casa? – perguntou, se aproximando de mim enquanto o táxi pegava seu caminho.
- Não precisa – murmurei, sorrindo. – Dá para ir sem morrer. E tá chovendo, vai ser pior para tu.
- Já to molhado mesmo – ele sorriu.
- Não precisa mesmo, sério – dei de ombros.
- Então boa noite – se aproximou, me puxando para um abraço apertado.
Fechei os olhos e apoiei a cabeça em seu ombro, deixando seu cheiro inundar meus sentidos. Essa era a hora que eu percebia que precisava esquecê-lo? Sim, era a hora.
- Boa noite – me soltei com relutância e dei a costas, respirando fundo e me forçando a seguir meu caminho.
- O seu correio tá no bolso da jaqueta – ele gritou. – Caso ainda queira ler.
Virei para trás apenas para assentir, mas por ímpeto, talvez pela bebida, talvez por uma angustia acumulada por sempre reprimir meus sentimentos e minhas vontades por pura vergonha, abri a boca e comecei a despejar tudo.
- Eu gosto de você. Para ser bem sincera, creio que eu estou apaixonada.
Falei, sentindo meu coração ameaçar sair pela boca. Os olhos de se arregalaram e ele fez menção de falar, mas o impedi.
- Só me escuta – pedi, puxando a jaqueta dele ao meu redor. – Eu tenho tendência a gostar de quem não gosta de mim. Parece até destino. Mas quando eu comecei a gostar de você foi diferente. Você não era idiota comigo. Você sempre foi ótimo e o dono do melhor abraço que já me deram. E podia ser coisa da minha cabeça, mas eu senti que você sentia algo, mesmo que só amizade, o que já era bem mais do que outros já sentiram.
Dei uma pausa para respirar, mas rapidamente continuei.
- Eu estava muito empolgada para hoje. Eu adoro o São João. Tem uma coisa mágica, sabe? Talvez seja pela fogueira, a comida, o clima ou as simpatias, mas eu sempre acho que tudo pode acontecer durante o São João. E eu tentei não me encher de esperanças, mas foi inútil e como sempre eu vi tudo ir por água a baixo. Eu queria você hoje. Não o , não outra pessoa, só você, mas depois de tudo... Eu só quero te esquecer, .
Ele escutava calado, parecendo me choque com minha súbita confissão. Eu também estava. Estava tremendo e não era por frio.
- Eu não sei o que você sente por mim e não quero mais saber. Você me confundiu toda hoje! Às vezes eu achava que também me queria, mas do nada você tava em cima da Gracy! Tá, eu também não demonstrei muito bem o que eu queria quando estava beijando o , mas de qualquer forma já era. Para o bem da nossa amizade e da minha sanidade, eu vou te esquecer enquanto ainda tá cedo. E por favor, não fala nada quando eu terminar de falar.
- Eu não posso falar o que eu sinto com tudo isso? – ele murmurou, apertando os lábios.
- Você teve muito tempo para falar, . Agora é tarde – mordisquei o lábio. – Boa noite.
Voltei a dar as costas e praticamente corri. Fernando abriu rapidamente a porta ao me ver, mas antes de entrar, olhei para fora e vi que ainda estava parado no mesmo lugar, parecendo em um estupor.
- A festa foi boa, ? – Fernando perguntou.
- De certa forma foi sim – sorri para ele.
- E esse rapaz? – ele perguntou, se referindo a .
- Tá na hora de esquecer – admiti.
- Uma pena – ele fez uma careta. – Sempre achei que vocês formavam um casal bonito desde quando ele te trouxe aqui na outra noite.
- Boa noite, Fernando.
As bandeirinhas de São João que ornamentavam meu prédio faziam barulho quando o vento batia foram a trilha sonora do meu caminho até o lobby do meu bloco. Lá já estava escuro e silencioso. As portas do elevador se abriram assim que eu chamei. Eu não via a hora de chegar em casa e tirar a roupa molhada. Não demorou muito e cheguei até o meu andar. e Guilherme já haviam ido deitar, portanto tudo já estava escuro.
Tomei um banho quente, me enfiei em um pijama e me deitei na cama com a jaqueta molhada no colo. Levei o colarinho até o nariz e inspirei o cheiro familiar do perfume dele. Um perfume, que assim como ele, eu precisava esquecer. Vasculhei os bolsos até encontrar o papelzinho do correio elegante. O que estava escrito em cima fez meu coração disparar.
“Você só sabe dançar comigo e eu só sei gostar de você”

Eu mal sabia o que pensar agora. E tudo que eu havia falado? Ele nem se quer havia retrucado! Eu não dei chance! Ele só tinha me deixado falar e... Agora já era. Retorci o papel entre meus dedos e na parte dobrada pude ver que tinha alguma coisa escrita. Diferente da frase de cima, esse havia sido escrito a mão e pude reconhecer a caligrafia dele.
“Eu devia ter te beijado antes, não devia? Sinto muito por ter perdido a chance”

E então eu desmoronei.
Eu havia acabado com tudo quando ele estava apenas querendo começar.

FIM.



Nota da autora: Hello! Essa fic é baseada em experiências e fatos reais, portanto é isso mesmo haha. Se alguém conseguiu terminar, tenho certeza de podem estar me odiando pelo final, mas é como eu disse, tudo pode acontecer, inclusive nada. Espero que tenham gostado e digam o que acharam. Beijos!




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