Capítulo Único
Aquele som irritante começou como um simples ruído distante na mente de Lucas, mas para sua infelicidade, ficava cada vez mais alto e o trazia de volta à consciência. A luz do sol batendo diretamente em sua janela o impedia de abrir os dois olhos, então abriu apenas o olho esquerdo.
— Não me olhe com essa cara. — Anna falou calmamente ao lado dele, enquanto dirigia olhando fixamente para a estrada branca à sua frente.
— Eu nem disse nada! — Lucas falou despretensiosamente, voltando a encostar a cabeça na janela. Porém, no exato segundo em que fechou os olhos, Anna produziu novamente aquele barulho.
— Eu sei que te acordei com o barulho do meu café... — ela chacoalhou o copo descartável em sua mão direita, fazendo ressoar o gelo do frapuccino. — Mas eu preciso me manter acordada de algum jeito para dirigir, então não me olha com essa expressão rabugenta!
Lucas tinha certeza de duas coisas: a namorada fez barulho de propósito para acordá-lo e aquela conversa rumaria para uma censura sobre a noite passada.
— Quer um pouco? É bom para ressaca. — pela visão periférica ele viu o copo de café ser esticado em sua direção. Só de pensar em ingerir qualquer coisa, sentia seu estômago dando cambalhotas, mas resolveu aceitar para tentar despertar um pouco e para acabar de vez com aquele barulho incômodo de gelo e canudo que o impediam de descansar. Em poucos segundos, Lucas pegou o copo, tirou a tampa e virou toda a bebida restante.
— Uau, sua ressaca deve estar muito forte mesmo. — a voz de Anna exalava ironia, mas sua expressão facial permanecia séria
— A ressaca moral está maior! — Lucas ajeitou o corpo no banco do carona para poder olhar para a garota — Mas me espanta muito você me repreender. Onde está aquela Anna que é a alegria de todas as festas?
— A Anna festeira ficou no dormitório da faculdade, achei melhor não a trazer para passar o Natal com os sogros. — O riso amargo de Lucas ressoou no carro silencioso.
— Relaxa, eles vão te adorar. E mesmo que não adorassem, estariam muito ocupados em me castigar por chegar de ressaca, e um pouquinho bêbado ainda, em casa.
Ao ouvir aquela tentativa de acalmá-la, Anna se remexeu nervosa no banco.
— Bom, pelo menos valeu a pena ter ficado na festa até as 5 da manhã? — a garota puxava a orelha de Lucas quando ele era irresponsável, mas era difícil, pois não conseguia manter sua postura brava por muito tempo.
— Eu acho que… sim? — os olhos semicerrados e a boca torta de Lucas denunciavam que ele esforçava a mente para tentar lembrar de algo da noite anterior — Uma das minhas últimas lembranças é apostar com os caras quantos shots de raspadinha com vodka eu conseguiria tomar antes que meu cérebro congelasse. Anna abriu a boca para fazer um comentário, mas sua expressão brava estava de volta e isso foi o suficiente para que Luke relembrasse mais um detalhe.
— E depois disso, claro, a próxima coisa de que me lembro era de você gritando comigo por estar jogando bolas de neve na janela do seu dormitório. Eu só queria fazer uma serenata, mas infelizmente os homens românticos não são mais valorizados — ele terminou de contar suas memórias balançando a cabeça negativamente, num tom de falsa ofensa.
Lucas voltou a se escorar na janela, mas dessa vez manteve os olhos abertos, sentindo que seria quase como um pecado fechá-los. Em nenhum lugar do mundo há inverno tão bonito como no Canadá.
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— Merda! — um sussurro tirou Lucas de seu sono novamente. Ele se sentia culpado por deixar Anna dirigir sozinha numa estrada em que ela não conhecia e apenas com a mulher do GPS como companhia, mas era impossível ficar acordado depois da farra da noite anterior. A falta de experiência dela ao volante e uma estrada coberta de neve deixavam tensos todos os músculos de seu corpo. — Há uns quilômetros atrás tinha um carro na nossa frente, ele teve um vazamento de água e fez a pista ficar muito escorregadia. Eu não sei se consigo dirigir até Regina sem correntes nos pneus, Luke!
O tom suplicante de Anna fez Lucas se sentir infinitamente mais culpado por não estar apto a dirigir e por ter esquecido as correntes em casa.
— Me desculpe, Anna. Vamos parar no próximo posto de gasolina, eu compro um café e umas aspirinas para tentar curar a ressaca de vez, ok? — Lucas esticou sua mão para pegar a mão de Anna, num gesto carinhoso de quem queria se desculpar. Em um segundo, suas mãos se entrelaçaram e Anna apreciou a temperatura da mão de Lucas, que estava quente mesmo sem luvas. Mas no segundo seguinte, tudo mudou.
Ao segurar o volante com apenas uma mão, Anna perdeu o controle do veículo, e quando percebeu, não conseguiu mais retomá-lo. Ela tentou segurar o volante e girá-lo para parar, mas o carro rodopiava na pista como um trenó num lago congelado.
— Lucas, me ajuda, porra!! — ela gritou mesmo sabendo que o namorado poderia fazer algo.
O copo vazio de café saiu voando e caiu no banco traseiro. Lucas segurava na alça de segurança acima da janela do passageiro, sem conseguir ver nada do lado de fora além de um imenso borrão branco e não entendendo o que ocorria. Sua mente ainda embriagada não foi rápida o suficiente para processar o fato de que estavam se acidentando na estrada. Anna prendeu a respiração torcendo para o carro não capotar, e seu pedido foi atendido, mas não como ela esperava. Uma batida forte os tirou do transe.
Anna fechou os olhos e tirou as mãos do volante as colocando sobre seu colo. Ela tremia feito um filhote assustado. O veículo mal havia parado e segundos depois Lucas já havia saltado para fora. Ainda de olhos fechados, a garota ouvia os gritos e xingamentos abafados do namorado, e um ou dois chutes que ele deu no para-choque.
— Irresponsável! Irresponsável pra caralho! Que merda!
Anna respirou fundo e saiu do carro, indo ver o estrago que o acidente causou. O veículo estava com a dianteira numa valeta no lado oposto ao que ela estava dirigindo. O capô estava enfiado no tronco de uma Ácer, a famosa árvore símbolo do Canadá.
— Você está bem? — Lucas correu ao encontro dela assim que a viu. Ele queria tocá-la para verificar se todos seus ossos estavam no lugar, mas se conteve, pois se ela estivesse machucada, ele poderia acabar a machucando mais.
— Estou sim. E você? — ela sentia seu interior se acalmando, mas sua voz ainda estava levemente trêmula.
— Estou bem, só um pouco tonto.
— Mas a tontura é por causa da bebedeira, não pelo acidente. — eles riram aliviados e se apertaram num abraço.
— Me desculpe por nos colocar nessa situação. Eu fui muito irresponsável — ele falava enquanto beijava o topo da cabeça da namorada.
— O que a gente vai fazer agora? A estrada está deserta e é impossível andar até algum posto de gasolina ou qualquer lugar sem morrermos congelados.
— Bom, só tem uma pessoa pra quem eu posso pedir ajuda agora: o meu pai. O seu celular tem algum sinal? Porque o meu não tem. — Lucas guardou seu celular no bolso da calça ao perceber que o aparelho seria inútil.
— Completamente fora de área! — Anna fez uma careta chateada. — Mas por que ligar para seu pai? Não seria melhor apenas ligar para a seguradora?
— O senhor Smith não gostaria nada da ideia de pagar a franquia do seguro num acidente em que a culpa foi minha. — Lucas colocou as mãos na cintura e olhou pro céu por alguns segundos, antes de pegar seu celular novamente.
— Vou andar pela estrada, talvez em algum ponto próximo eu consiga sinal para telefonar. Entre no carro para se proteger do frio. — Lucas saiu andando com o celular na mão antes mesmo de Anna responder
— Luke, onde você vai? Você vai morrer de frio e eu não quero ficar sozinha! Podem ter lobos por aqui. Podem ter homens por aqui! — ela gritou para Lucas, que parou e olhou pra trás
— Não se preocupe, eu não vou longe e nem estou sentindo tanto frio. Acho que é a adrenalina! Se te faz sentir mais segura, tem um taco de hóquei no porta-malas, você pode usar como arma se precisar. Eu sei que você é forte! — Lucas deu um riso.
— Você trouxe um taco de hóquei, mas esqueceu as correntes dos pneus? Ótimo!
A expressão dele denunciava, ao mesmo tempo, um “me desculpe mais uma vez” e “podemos discutir isso depois?”.
Ele andou por cerca de um quilômetro até conseguir um sinal decente para ligar para o senhor Smith. Se fosse em qualquer outra época do ano, o pai militar rigoroso iria obriga-lo a empurrar o carro até sua casa como forma de castigo. Mas o Natal era importante para a mãe de Lucas, então seu pai se esforçava para fazer tudo perfeito e não estragar a comemoração organizada pela esposa. E, além disso, havia mais um detalhe: o pai não iria punir Anna por um acidente que foi culpa de Lucas. Ele poderia ser durão, mas era justo e um cavalheiro.
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Sentado no banco traseiro, Lucas podia ver o olhar irritado do pai o observando pelo retrovisor quando eles finalmente estacionaram na garagem da residência Smith.
— Duas horas de atraso! Se prepare para lidar com sua mãe. — John falou enquanto descia do carro e olhava rapidamente seu relógio de pulso
— Pai, não assuste a Anna! — Lucas bateu a porta fortemente ao descer também. Saindo pela outra porta, Anna permanecia em silêncio.
— Não estou tentando assustá-la, querida, apenas prepara-la. — John disse ignorando a censura do filho e dirigindo-se à nora. — Enola pode ser muito metódica quando quer, Lucas já deve ter lhe dito isso.
— Eu sei, só espero que ela não me odeie por ter nos atrasado — Anna colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha direita, tentando controlar seu nervosismo.
— Ela não vai odiá-la, como poderia? Você é adorável! — John sorriu para a garota, pois diferentemente da esposa, ele não tinha nada contra as namoradas do filho.
— Agora eu vejo de quem o Luke herdou o cavalheirismo! — ela respondeu e os dois riram juntos.
John abriu a porta da casa e fez um gesto com a mão indicando que Anna entrasse primeiro. Quando ele colocou um pé sobre o tapete, Lucas veio atrás dele o segurou pelo braço antes que entrasse.
— Pai, você poderia não contar para mamãe que a Anna estava dirigindo? Se ela souber, vai culpar Anna pelo atraso, mesmo a culpa sendo minha de qualquer forma. — John olhou fundo nos olhos do filho, ele odiava mentir para a esposa, pois ela sempre descobria. Mas era Natal, então decidiu dar esse presente para ele.
— Certo, eu não falarei nada. Você estava dirigindo, ficou com sono pois festejou a noite toda e perdeu o controle do carro. Mas não pense que esse assunto morrerá aqui. Você colocou a sua segurança e a da Anna em risco. Entendido?
— Entendido! — Lucas respondeu batendo continência para o general, John abraçou o filho pelo ombro e entraram juntos na casa.
A tradição de Natal diz que as pessoas devem se reunir para confraternizar na noite do dia 24 de dezembro, mas a mãe de Lucas adorava dar festas e era uma ótima anfitriã. Então, a comemoração em sua casa sempre começava com um brunch para amigos, vizinhos e colegas de trabalho, pois a ceia era apenas para familiares mais próximos. Mesmo um brunch sendo uma reunião informal, Enola não via assim. Ela era uma mulher sistemática, que gostava de ter tudo sob seu controle e não ter o filho e o marido para receber os convidados juntos dela na hora marcada, a deixou irritada. Mas sua elegância jamais deixaria transparecer para os colegas.
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— Muito prazer! E obrigada por me receber na sua casa. — Anna disse olhando nos olhos de Enola, após cumprimentar a sogra com um abraço. Enola estranhou um pouco a demonstração de afeto da garota, visto que ela era fã de cumprimentos simples como aperto de mãos. Mas Anna era uma pessoa calorosa, e mesmo sabendo que a sogra é linha dura com as noras, não deixaria sua ansiedade incentivá-la a ser antipática com a anfitriã.
— Que bom que finalmente te conheci, depois de um ano de namoro. — Enola sorriu.
— Antes tarde do que nunca, mãe. — Lucas respondeu
— Seja bem-vinda, Anna. Espero que goste da comemoração, mesmo que tenham chegado atrasados. Eu sei que vocês disseram que estão se sentindo bem, mas se algo mudar e vocês quiserem ir ao hospital, me avisem. Podem levar as malas para o quarto, eu vou voltar para meus convidados.
O casal pegou as malas e subiu as escadas para o segundo piso, indo em direção ao antigo quarto do rapaz. Entre um degrau e outro, Anna suspirou.
— Eu achei que seria muito pior. Você sempre falou da sua mãe como se ela fosse uma megera.
— Eu disse que eles iam te adorar, principalmente meu pai. Aliás, se eu não me atentar, ele vai te roubar de mim. — Anna gargalhou imaginando a situação. — Minha mãe estava preocupada em você se sentir desconfortável dormindo numa cama de solteiro comigo. — eles colocaram a bagagem no chão e Lucas sentou na cama. — como se a gente já não passasse por isso todos os dias. — eles riram juntos.
— Nós já dormimos juntos em lugares piores. Aqui tá ótimo! — Anna andava pelo quarto olhando todos os detalhes, querendo conhecer um pouco da adolescência do namorado.
— Nós vamos ficar aqui pois minha família chega daqui a pouco e vão lotar o quarto de hóspedes. — Lucas levantou e foi até a garota, abraçando ela por trás. — O quarto deles é aqui ao lado, então teremos que ser silenciosos, ok? — sussurrou no ouvido dela antes de beijar-lhe o pescoço.
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— [...] Sim, segundo ano de Medicina. Mal posso acreditar em como o tempo está passando rápido! — Lucas revirou os olhos ao ouvir a voz da mãe enquanto ele descia as escadas de mãos dadas com Anna.— [...] Especialização em Cardiologia, umas das mais concorridas.
A mãe adorava se gabar para todos sobre seu filho estudante de Medicina e não perdia nenhuma oportunidade de relembrar os conhecidos sobre seu prodígio.
— Mãe, eu já disse que não quero mais me especializar em Cardiologia! — ele chegou na sala de estar repleta de pessoas e se dirigiu simpaticamente ao casal de vizinhos com quem Enola conversava. — Pediatria é minha nova escolha.
Enola sorriu embaraçada por Lucas tê-la ouvido, pois sabia que o filho não gostava da vaidade com que ela tratava sua escolha de profissão. Ele não era um gênio e nem um santo por ter escolhido se tornar médico.
— Eu apenas não consigo imaginá-lo cuidando de crianças, não é algo que combine com você, filho.
— Você deveria vê-lo quando fazemos ações sociais no hospital de câncer infantil, Sra. Smith! — Anna disse sorrindo com orgulho. — Todos os pequenos adoram ele! — Os vizinhos parabenizaram Lucas pelo trabalho e lhe desejaram boa sorte na área que escolheu.
— O que você cursa, Anna? — Enola perguntou.
— Literatura! — os olhos da garota brilharam.
— Interessante. Acho que você escolheu bem, pois Literatura me parece ser uma área bem feminina mesmo, não? — a mulher questionou.
— Mãe, você fez aquela torta de nozes que eu gosto? Quero que Anna prove! — ele mudou de assunto rapidamente, antes que a mãe fizesse algum comentário desagradável sobre a carreira de Anna, pois ele sabia que ela ama Literatura.
— Lucas, por que está de jeans e camiseta? Eu deixei uma muda de roupas sociais em cima da sua cama para você se trocar. — Enola disse olhando de cima à baixo as roupas do rapaz e ignorando a pergunta que ele havia feito.
— Mãe, eu não tenho mais 8 anos. Não precisa escolher as roupas que eu vou usar, né?! — todos riram timidamente e Lucas beijou a bochecha da mãe, saindo da sala e puxando Anna junto dele.
— Vem amor, vamos na cozinha pegar algo pra comer.
— Tem algo para beber? Eu gostaria de um ponche! — Anna questionou.
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Com uma toalha amarrada na cintura e outra secando o cabelo, Lucas parou no meio do quarto e sorriu ao olhar Anna.
— Eu não estou simples demais? — ela questionou enquanto se olhava no espelho.— Eu achei que um vestido vermelho e meu cardigan branco seriam suficientes, mas todo mundo no brunch parecia tão chique.
— Você está ótima, minha mãe que exagera no dress code. Ninguém vai reparar se sua roupa está simples ou não, apenas vão ver o quão linda você está!
As bochechas de Anna coraram e ela sorriu, indo de encontro ao namorado e colocando os braços ao redor do pescoço dele.
— Se você continuar assim, não terá chance alguma de seu pai me roubar de você! — Lucas jogou a cabeça para trás e gargalhou, logo ganhando um beijo apaixonado da namorada, que não se importava em borrar todo seu batom.
O casal foi interrompido por gritos de crianças e sons de pézinhos rápidos subindo as escadas. Finalmente a família paterna de Lucas havia chegado, vinda dos Estados Unidos.
— Luke, me lembre de novo o nome das pessoas! Não quero me confundir.
— Ok, vamos lá: meu tio Anthony, que é irmão mais velho do pai, trouxe a esposa Diane e os filhos gêmeos Daniel e Duncan, de 7 anos, e Dinah, a garota emo de 15 anos. A irmã caçula do meu pai é a tia Joy, casada com o Scott e mãe da Penelope, que ainda é bebê. Fácil, né?! — ele observou a expressão confusa de Anna.
— Eu definitivamente não vou me lembrar de nada disso, mas boa sorte pra mim! Agora vá se arrumar logo para podermos descer. — ela deu um tapinha na bunda dele e foi para o banheiro escovar os dentes.
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— Querida, espero que Enola não tenha sido assustadora com você. Ela é rigorosa com o Lucas, mas é uma boa pessoa! — Joy, a tia de Lucas, estava sentada no braço do sofá da sala de estar, conversando com Anna em pé à sua frente. — Ele é filho único e é homem, é normal que ela tenha ciúmes da nora.
— Tudo bem, eu entendo. E tenho certeza de que se tivéssemos uma filha, Luke seria tão ciumento quanto Enola. — elas riram.
— Você gostou das pessoas que conheceu até agora? — Anthony perguntou à Anna ao se juntar à conversa das duas mulheres.
— Sim! Mais cedo no brunch eu pude conhecer alguns vizinhos que são amigos de infância do Luke e eles me contaram várias histórias engraçadas sobre ele.
— Se ele conquistou uma mocinha tão adorável quanto você, então imagino que hoje ele se interesse mais por mulheres do que pelo hóquei, não? Você tinha que vê-lo quando mais novo, se não estava jogando hóquei, estava assistindo à uma partida na tv.
— Bom, então ele não mudou muito. Eu tive de brigar com o hóquei muitas vezes para conseguir a atenção dele. — eles riram.
— DUNCAN, TIRE ESSE VASO DA CABEÇA DO SEU IRMÃO AGORA!! — Anthony gritou e correu até os gêmeos que brincavam com um vaso de flores que parecia ser bem caro.
— Meu irmão acabou de chama-la de ‘mocinha’?? — Joy levantou uma sobrancelha em sinal de dúvida. — Meu Deus, quem se dirige à uma mulher chamando ela de 'mocinha' hoje em dia? Ele fala como meu avô. — as duas gargalharam juntas
— Reparei que sua mão está vazia e trouxe para você experimentar — Scott, marido de Joy, ofereceu para Anna uma taça de champagne, que ela prontamente aceitou, agradecida.
— Hey Scott, cuidado, Don Perignon é um champagne muito caro pra deixar perto da Anna, ela vai secar sua garrafa! Ela bebe mais do que todos meus amigos juntos!— Lucas disse em voz alta do outro lado da sala, onde conversava com seus pais, fazendo todos na sala rirem.
— Ao menos eu não fui quase presa por andar nua na avenida principal da cidade! — Anna rebateu sorrindo, ao passo que toda a família de Lucas se aproximou dela rindo querendo saber mais detalhes da história. Lucas olhou para os pais, que o observavam com as sobrancelhas levantadas, querendo explicações.
— O que foi? Os caras do time de hóquei me desafiaram, eu não podia recusar! — ele deu de ombros. — Além disso, Anna exagerou, pois eu estava vestindo uma cueca. — ele saiu de perto dos pais antes que eles fizessem perguntas ou o reprimissem por seu comportamento embriagado. Na universidade, ele era um rapaz muito diferente do nerd quieto que sempre foi em casa. Ele finalmente se sentia livre.
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Finalmente havia chegado a hora da ceia e toda a família pôde se reunir na mesa para fazer uma prece e jantar. Dinah, a prima adolescente de Lucas, não deixava o celular de lado em nenhum momento, e Lucas achou que era uma boa oportunidade para provoca-la.
— Com quem você está falando? Com seu namoradinho? Seu pai sabe disso? — Dinah revirou os olhos e diminuiu a luz da tela do celular, para que Lucas não pudesse enxergar o que ela fazia no aparelho.
— Luke, deixe a menina em paz. — disse Anna, sentada do lado esquerdo do namorado.
— Ela sabe que eu estou apenas brincando, não é Di? Ela é minha priminha querida! — ele tirou a touca que ela usava e desarrumou o cabelo dela, que gritou:
— PARA LUCAS! — e puxou o acessório da mão dele. Lucas apenas riu e Anna não pôde evitar rir também.
— Que confusão é essa? Vamos nos acalmar para comer. — Enola chegou da cozinha trazendo uma travessa de prata com pedaços de carne.
Com a ordem da matriarca, todos começaram a se servir. A mesa estava repleta de comida, como peru, torta de carne, gemada, bolo de frutas, e uma casinha de biscoito que os gêmeos destruíram em alguns segundos.
— Não encham muito seus pratos, pois ainda falta o principal. — disse Enola, passando pelo prato de cada pessoa e colocando um ou dois pedaços de carne. Anna cortou um pequeno pedaço e comeu, sentindo um sabor que a agradou.
— Hum, que gostoso! O que é isso? — ela perguntou após engolir.
— Carne de coelho! — Lucas respondeu entre uma garfada e outra. Anna ficou em silêncio e arregalou os olhos
— COELHO?? Ai meu Deus, me desculpe, mas eu não posso comer! — o desespero a fez falar um pouco alto, e todos na mesa se viraram para ela, a vendo colocar os pedaços de carne no prato de Lucas.
— Algo errado, querida? — John questionou.
— Me desculpe, eu não deveria ter aceitado esse prato. Eu não sabia que era coelho.
— Você aceitou quando minha mãe ofereceu, achei que soubesse o que era. Aqui na região a carne de coelho é muito comum.
— Mas você gostou daquele pedaço que comeu, Anna. Por que não dá mais uma chance ao prato? — perguntou Enola.
— Desculpe, mas não posso. Meu primeiro animal de estimação foi um coelho, minha memória afetiva não me deixaria comer coelho nem se minha vida dependesse disso.
— É uma receita tradicional da família de John. Um pedaço não vai te matar. — Enola disse sorrindo, mas seu tom não era amigável.
— Eu não posso fazer isso com… o Sr. Bigodes. — Anna sussurrou o nome de seu coelhinho de estimação, enquanto olhava hipnotizada a travessa em sua frente.
— Tudo bem Anna, ninguém precisa comer nada que não goste. Se quiser outra carne, temos um belo peru recheado. Juro que nenhum coelho foi maltratado no preparo desse recheio! — todos riram e voltaram a prestar atenção em suas próprias refeições. John olhou cúmplice para Anna e piscou um olho, sorrindo. Ela sorriu de volta e deu um aceno de cabeça demonstrando gratidão.
Lucas cortava um pedaço de peru para Anna, quando Scott perguntou:
— Anna, você aceita outra taça de champagne? Aparentemente, só nós dois temos um gosto refinado aqui. — ele levantou a garrafa quase cheia e a balançou levemente.
— Joy, avise seu marido que uma bebida não se torna boa só porque é cara. Com todo o respeito, esse champagne tem sabor de xixi de alce! — todos gargalharam com a piada de Anthony e Anna quase se engasgou com um pedaço de comida ao dar risada também.
— Eu aceito, Scott. Muito obrigada. — ela esticou a mão segurando a taça para que Scott pudesse enchê-la com a bebida do outro lado da mesa
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— AI MEU DEUS, EU AMO A DISNEY! — Anna disse animada em voz alta na sala de estar, conforme o champagne começara a fazer efeito em seu organismo. Os gêmeos finalmente deram trégua na bagunça ao perceberem que um canal transmitia ‘O Estranho Mundo de Jack’. Anna se juntou à eles e não pôde evitar cantar todas as músicas do filme junto dos personagens. A família ria ao observar a cena.
— Anna, você canta bem! Já pensou em ser cantora? — Diane, esposa de Anthony falou.
— O que? Eu? Não! Eu apenas arranho algumas notas. — disse Anna achando engraçada a ideia de cantar profissionalmente.
— Cante algo para nós. Canta! Canta! — Anthony puxou um coro e de repente todos estavam entoando CANTA! CANTA! CANTA! e batendo palmas, deixando a garota sem saída.
— Tudo bem meus fãs! O que vocês querem ouvir? ESPERA, EU JÁ SEI! — Anna riu e nem ao menos esperou que as pessoas respondessem, já pegando um controle remoto que estava em cima da lareira para usar como microfone. Andou até Lucas e ficou na ponta dos pés para falar algo no ouvido dele.
— Ok, só um minuto! — ele sorriu e pegou o celular no bolso da calça, pesquisando algo rapidamente.
De repente, começou a tocar ‘All I Want For Christmas is You’, da Mariah Carey. Anna não conseguiu pensar numa música melhor para cantar naquela noite. Ela começou a cantar, mas se empolgou tanto a ponto de realizar uma verdadeira performance. Dançava, apontava seu “microfone” para o público e entoava cada palavra olhando nos olhos de Lucas, que foi incapaz de conter um sorriso largo. No fim da canção, todos já estavam cantando junto dela.
— Eu não posso ficar sozinha nessa situação. Quem mais vai cantar? — Anna falou ofegante e com o rosto vermelho.
A cantoria seguiu animada até depois da meia-noite, com diversas performances. Scott cantou ‘I’ve The Time of My Life’ dedicada para Joy, e fez todos os casais cantarem juntos. Mas Anna foi além e puxou Lucas para dançar, tentando recriar a cena clássica em que o protagonista do filme levanta a namorada no ar.
Diane cantou músicas do Rei Leão com os filhos, e até Dinah se rendeu, fazendo um dueto com Anna para cantar ‘We Rock’, tema do musical da Disney ‘Camp Rock’.
— Parabéns, Luke! — Anthony bateu no ombro do sobrinho, enquanto observavam Anna ensinando a macarena para os gêmeos. — Ela é uma garota legal. E canta bem!
— Pois é, tio. Ela é incrível! Acredita que eu a conheci num karaokê? Foi amor à primeira música.
Enola não quis cantar, pois se sentia muito envergonhada para tal, se contentando em apenas observar os familiares. Enquanto uma das últimas músicas era cantada, Anna sentou no colo de Lucas, que descansava em uma poltrona, e começou a beijá-lo calmamente. Ele segurou na cintura dela e retribuiu o beijo, a fazendo ficar mais entusiasmada. Ela aprofundou a carícia e mordeu o lábio inferior dele, o fazendo afastá-la levemente.
— Ei, ei, ei, amor! Se você quiser, nós podemos subir, mas aqui todos vão olhar pra gente. — ele sussurrou.
— Tudo bem, vamos subir então. — ela lhe deu um sorriso travesso e levantou, o puxando pela mão.
— Boa noite pra quem fica, mas nós vamos subir. — Lucas acenou para todos e deu um beijo na bochecha de sua mãe.
Ao andar, Lucas tropeçou em uma garrafa vazia de champagne que estava aos pés da escada. Enquanto subiam, o casal ouviu John dizer:
— Ah, o amor jovem…
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Anna rolou na cama ficando por cima de Lucas, assim seria mais fácil tirar o vestido. Dobrou um braço pra trás, tentando abrir o zíper da roupa, mas não conseguia.
— Calma, eu te ajudo! — Lucas falou e esticou a mão para tocar as costas de Anna. Ela estava tão empenhada em puxar o zíper que virou seu corpo de maneira que parecia um cachorro girando para pegar o próprio rabo. Acabou se desequilibrando e caindo no chão, assustando Lucas.
— Você está bem? — ele perguntou se levantando na cama e olhando para ela, estatelada no piso. A garota não conseguia responder, pois suas gargalhadas tiravam seu fôlego.
Entre um riso e outro, ela disse:
— Estou bem. Quer dizer, bebi muito, não consigo fazer nada hoje! — ele estendeu a mão para ajuda-la a levantar, mas Anna não tinha forças para segurar a mão dele. Então Lucas teve de pegá-la no colo e trazê-la de volta à cama. Depois disso, ele não pôde evitar rir também. Quando finalmente as gargalhadas cessaram, Anna deitada sobre o peito de Lucas, fitava o teto do quarto de maneira pensativa.
— Luke, você acha que eu estraguei a comemoração da sua mãe? — ela perguntou sem olhar o rosto de Lucas. O garoto abriu os olhos e olhou-a.
— Claro que não. Por que está perguntando isso?
— Pelo o que você me contou sobre seu Natal em família, hoje foi bem diferente do usual. Vocês jantavam, jogavam alguns jogos de tabuleiro, conversavam sobre coisas do cotidiano de cada um e dormiam antes mesmo da meia noite. Não é?
— É, era exatamente assim. Bem formal, sério e… chato! Você animou todo mundo hoje.
— Eu não sei. Essa é a casa dela, a comemoração dela e da família dela. Eu sou uma estranha, é apenas meu primeiro Natal aqui, e já cheguei mudando suas tradições. — ele não conseguiu ver a expressão de preocupação no rosto dela.
— Anna, tradições existem para serem quebradas. — ele fechou os olhos novamente para tentar cair no sono, enquanto Anna continuava a fitar o teto, sentindo o carinho que ele fazia em seu rosto.
— Amanhã eu vou conversar com ela. Não quero que fique nenhum climão entre nós. — Anna terminou a frase com um soluço, que desencadeou uma série de outros soluços que não paravam. Lucas só fazia rir da situação.
— Meu presente de Natal será ver você acordar de ressaca amanhã. — ele riu provocando ela.
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— Enola, você não acha que pegou pesado com a Anna hoje? — John falou enquanto tirava seu relógio, se preparando para dormir.
— O que você quer dizer?
— Ora, você sabe. Comentários sobre o curso dela na universidade, os olhares que você dava à ela quando ela bebia, ria alto, dançava, cantava. Cada passo dela parecia te incomodar.
— John, eu apenas achei sua personalidade muito expansiva. Geralmente, esperamos que um convidado de primeira viagem se comporte de maneira mais recatada, não? — O homem pensou um pouco antes de refletir.
— Eu realmente não entendo essa sua obsessão em ser tão formal, séria, recatada. Sempre fazendo cerimônia para tudo e para todos, nunca agindo com espontaneidade, sempre tão sistemática, organizada, controladora. Como se nós fôssemos uma família da alta sociedade canadense. Somos apenas uma família comum de classe média. — Enola não respondeu, apenas deu um olhar amargo para o esposo. — Ela me lembra muito de você na juventude — ele continuou a falar, dessa vez entrelaçando seus dedos com os dedos de Enola. O silêncio reinou entre os dois antes que John terminasse seu discurso. — Se continuar assim tão rígida, vamos perde-lo, Enola. A cada vez que o Lucas volta para casa, sinto que ele está mais distante de nós. Entendo que talvez você tenha ciúmes dela, mas não deixe isso atrapalhar a boa relação que vocês podem ter, pelo bem do nosso filho.
Anna deu uma última olhada no espelho antes de sair do quarto, tendo certeza que seu cabelo estava apresentável. Alguns minutos antes, ela ouvira a voz de Enola na cozinha e decidiu falar com a sogra sobre a noite passada e a relação delas. O resto da casa ainda permanecia em silêncio, ninguém havia acordado para abrir os presentes e os sons que Anna ouviu faziam parecer que a anfitriã estava preparando o café da manhã. Ela saiu do quarto deixando Lucas profundamente adormecido na cama.
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— Eu estive pensando sobre o que você me disse ontem a noite. Acho que devo desculpas à Anna, ela não fez nada de errado, eu me deixei levar pelo ciúmes materno. — Enola preparava o café da manhã dos hóspedes e John fazia companhia à ela.
— Que bom, ela é uma boa garota, e parece gostar muito de Lucas. — John respondeu.
— E sobre o carro de Lucas, a batida foi muito séria? — ela perguntou.
— Infelizmente ele terá que voltar para a universidade com o nosso carro, enquanto o dele fica aqui na cidade para que eu possa levar ao conserto.
— Quando ele ligou eu fiquei tão preocupada, mal consegui socializar com os convidados no brunch.
— Ah, eles deram sorte. Anna foi esperta e não dirigia em alta velocidade… — John deu uma última colherada em seu cereal e percebeu o erro que cometeu.
— O que disse? — Enola virou para olhar nos olhos do marido, que permaneceu em silêncio e desviou o olhar.
— JOHN! — ela falou severamente. Ele suspirou, se rendendo.
— Lucas não bateu o carro, foi Anna. Ela é quem estava dirigindo. — ele disse de uma vez, Enola apagou o fogo onde cozinhava com raiva e saiu em direção à sala de estar.
— Eu não acredito que ela foi responsável por destruir o carro do Lucas e ainda colocar a segurança dele em risco! Quão mais irresponsável ela poderia ser? — Enola aumentou o tom de voz.
— Enola, ela nem ao menos deveria estar dirigindo…
— Não mesmo! Se ela quiser dirigir, que compre o próprio carro. E agora nós teremos que pagar pelo conserto.
— Olha só, ela não foi irresponsável. Me deixe explicar…
— Eu acho que ela não se importa com o que eu tenho a dizer... — Anna surgiu descendo as escadas. — Mas eu vou falar mesmo assim! — Enola olhou fundo nos olhos da nora. — Sim, eu quem dirigia o carro no momento do acidente, mas desde o início eu não queria. Apenas aceitei dirigir pois o Lucas não estava em condição alguma de estar na direção. Ele passou a madrugada numa festa, estava de ressaca, um pouco bêbado ainda, e não dormiu. Eu aceitei dirigir numa estrada que eu não conheço, repleta de neve e fui prudente para não causar nenhum acidente. — Enola abriu a boca para rebater Anna, mas a garota apenas levantou a mão para a sogra, como quem diz “eu ainda não terminei de falar!”. Enola fez uma expressão chocada. — Nada daquilo foi minha culpa, a estrada estava molhada e não tínhamos correntes nos pneus. Eu tentei, mas não pude evitar.
— Só isso? — Enola perguntou, cruzando os braços.
— Sim. Eu já falei bastante, agora gostaria de ouvir você. Qual seu problema comigo?
— Todos. Eu acredito que você não é a garota certa para namorar meu filho e estar nessa família. Quando ele nos contou que começou a namorar, imaginei que ele havia se apaixonado por uma garota com mais classe, como sempre o ensinamos.
— Quer saber, Enola? Você pode achar que não sou uma dama elegante e sofisticada o suficiente para o Luke, mas isso me deixa MUITO FELIZ! — agora Anna também falava alto. — Pois isso significa que eu sou diferente de você, eu não sou um robô sem expressões e emoções. Deve ter sido isso que chamou a atenção de Luke para mim: eu tenho VIDA, algo que falta nessa sua família perfeita. — Anna respirou fundo ao terminar de falar. Se sentia livre.
— Esse seu show apenas prova meu ponto: você não serve para o Lucas. E se você acha que minha família é tão sem graça, a porta da rua é a serventia da casa! — ela apontou para a porta da sala atrás de si.
— Enola! — John, de quem Anna até esqueceu da presença, repreendeu a mulher.
— O que está acontecendo? — os três se viraram e olharam para trás. Lucas apareceu correndo, ainda com os cabelos pretos bagunçados, e vestindo apenas uma calça de moletom. — Por favor, me digam que vocês não estão discutindo. Eu ouvi gritos mas me recusei a acreditar que poderia ser verdade.
— Sua mãe está apenas me dizendo o quanto ela acha que sou inadequada para você. — Anna falou num tom de voz mais baixo
— Desculpe, acho que não entendi bem. — os ombros de Lucas ficaram tensos, ele levantou uma sobrancelha e olhou para a mãe. — Quando você vai entender que não é você quem decide se uma pessoa é adequada para mim? Apenas EU decido isso, e EU decidi que a Anna é a pessoa com quem quero estar! — ele puxou a namorada pela cintura levemente, aproximando seus corpos. Anna se sentiu mais segura.
— Lucas, isso é apenas paixão jovem. Logo você se cansará dela. — Anna tremeu levemente, de maneira quase imperceptível, mas foi o suficiente para Lucas notar. Ele vê duas lágrimas rolando pelo rosto dela.
— Mãe, preste atenção nas suas palavras! — ele aponta o dedo na cara de Enola. — Você a vê apenas como uma pilha de defeitos, mas nem por 1 minuto, desde que chegamos, se interessou no que ela tem para dizer, para mostrar. Em 1 ano de namoro eu nunca conheci alguém que não gostasse dela. Sua obsessão por ter uma família perfeita que você nunca teve na infância está te deixando cega e amarga.
— Calma, Lucas. — John toca o ombro do filho, mas o garoto chacoalha o ombro para se livrar da mão do pai.
— Você acha que eu mereço uma princesa, como se eu fosse perfeito. Você, melhor do que ninguém, sabe tudo que há de errado comigo. Eu não sou perfeito, assim como ninguém é. Aliás, eu sou tão imperfeito a ponto de não saber o que fiz para merecer uma garota como Anna. Na noite passada tivemos o Natal mais divertido que essa família já viu, pergunte a qualquer um. Todos a amaram!
— Luke, está tudo bem. É a casa dela, ela faz as regras. — Anna fala resignada e se afasta do namorado, indo em direção as escadas.
— Mas na minha vida sou eu quem faz as regras. Ela não é apenas uma “paixão jovem que vai me cansar logo”. — ele anda rápido até a amada que o observa no primeiro degrau e segura a mão dela. — Eu tinha planejado fazer isso hoje mesmo, depois de abrirmos os presentes. Não é a circunstância ideal, mas sinto que agora é o melhor momento para deixar claro o quanto eu te amo.
Todos olham confusos para Lucas quando ele se ajoelha em frente à Anna.
— Anna, você quer casar comigo? — O silêncio reina na sala.
— Lucas, você tá delirando?
— Não, meu amor! Nunca falei tão sério na minha vida. Eu quero que você não tenha dúvidas de que isso! — Lucas apontou para eles dois. — É sério pra mim. Eu não deixaria nada e nem ninguém ficar entre nós! — ele sussurrou essa última sentença para que só ela ouvisse. Anna pegou as mãos de Lucas, pedindo para que ele se levantasse. Ela se jogou nos braços dele e o beijou apaixonadamente.
— O que mais eu poderia dizer além de ‘sim’? Óbvio, claro, com certeza eu me caso com você, Lucas Smith! — ele suspirou e sorriu aliviado, a levantando no colo e girando.
— Esse é um grande passo, filho — John falou, contente pelo casal, mas um pouco preocupado.
— Eu sei, pai! — ele respondeu passando um braço pela cintura de Anna e olhando para John. — Mas eu tenho certeza de que quero passar o resto da minha vida com Anna. E não precisamos ter pressa; podemos nos casar só depois da formatura. — Agora ele olhava para Enola. — Mãe, eu te amo muito, tanto quanto amo a Anna. Mas agora isso deixa de ser apenas uma inimizade da sogra com a nora. Ela é minha noiva e em breve será minha esposa. Você tem que compreender e respeitá-la. — Enola desviou o olhar, constrangida.
— Eu acho que você está sendo precipitado, Lucas... mas qualquer coisa pela felicidade do meu filho.
— Eu respeito sua opinião, mas estou decidido. — ele olhou sorrindo para Anna. — E você?
— 1000% decidida! — ela retribuiu o sorriso.
— Você é uma garota incrível, Anna. Lucas está mais feliz desde que te conheceu. — John abraçou a nora, a parabenizando pelo noivado.
— Eu sinto que encontrei minha alma gêmea! — Lucas afirmou.
— PRESENTEEEEEES!!!!!! — os gêmeos desciam as escadas correndo freneticamente.
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Lucas e Anna sentavam no chão da sala de estar, montando uma casinha de biscoito de gengibre em cima da mesa de centro. Dinah debochava dos suéteres natalinos feios que eles usavam combinando.
— Olha como ficou nosso jardim. O que você achou? Podemos colocar mais chantilly.
Anna não respondeu à pergunta de Lucas. O anel de noivado em seu dedo a distraía e ela olhava apaixonadamente para a própria mão.
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Lucas colocava as malas no porta malas do SUV de seu pai.
— Smith! — John exclamou em voz alta, se dirigindo ao filho.
— Sim, senhor! — o garoto respondeu ajeitando a postura como um soldado, mas sem evitar rir.
— Não esqueça de colocar as correntes nos pneus! E Anna... — John se livrou da expressão séria de general e sorriu amável para a nora. — Muito obrigado por vir, sua presença foi muito especial. — disse John.
— Eu que agradeço o convite, eu adorei conhece-los! — Anna abraçou o sogro de maneira afetuosa.
Enola que até então permanecia calada, deu um leve abraço em Anna e disse:
— Tenho certeza que você será uma noiva linda — Anna sorriu com o comentário. — Sinta-se livre para voltar a nos visitar na Páscoa. Não se preocupe, garanto que só teremos coelhos vivos aqui! — todos eles gargalharam.
Fim.
Nota da autora: Olá, que bom te ver aqui! Eu me chamo Luana e sou uma autora nova, essa é minha primeira história! Se gostou da história do Lucas e da Anna, saiba que tenho uma longfic sobre eles sendo escrita e estreia em 2021. Se quiser, comenta o que achou, eu vou adorar ler! :)
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