Oblivion






Não é e nunca foi surpresa para ninguém que Garrett era uma pessoa particularmente muito reservada e quieta. Era o tipo de cara observador que tinha olhares misteriosos que geralmente o ajudavam quando a questão era mulheres. Sabem como é, algumas mulheres curtem essa história de olhares azuis e secretos, e sempre se empenhavam para descobrir o que tinha por trás daquilo, e ele se aproveitava disso para descontar nessas mulheres a frustração que sentia em relação à vida como um todo.
Esse era o Garrett Nickelsen, ele simplesmente preferia Star Wars a pessoas. Talvez porque nunca se encaixou entre elas, ou porque ninguém o entendia, ou compreendia o modo como ele via o mundo. O garoto achava estranho demais como as pessoas não entendiam como a vida era curta demais para beber soda diet. A vida devia ser vivida ao máximo, e por esse mesmo motivo mantinha o relacionamento aberto com , onde tinha total liberdade para esbanjar seus olhares ambíguos, sem perder a linda garota dos olhos por quem era completamente apaixonado. Ou melhor, devo fazer uma correção: ele perdeu a linda garota. Não só a garota, mas esse seu jeito de ser lhe custou mais do que só o amor da vida dele, levou também os amigos que se cansaram das longas maratonas de séries e filmes nerds, das vezes em que Garrett encheu a cara mais do que devia, e também das vezes em que os amigos acabaram por consolar durante o resto da noite porque seu namorado estava tão bêbado a ponto de largar a garota para transar com uma groupie.
E lá estava ele em uma quinta-feira, seu dia da semana favorito, na ponte da Mill Avenue, na cidade de Tempe. O garoto olhava a água quieta abaixo de seus pés e respirava fundo, com lágrimas crescendo em seus olhos e o coração apertado.
Era como se a dor psicológica tivesse ultrapassado o limite a ponto de sentir dores físicas por todo seu corpo. Talvez fosse apenas paranóia a real dor que sentia no peito, ou a dor nas pernas fosse por ter andado mais de uma hora sem parar pela cidade de Tempe, Arizona, concluindo a ideia de que era realmente aquilo que queria, e a dor na mão pudesse ser apenas por causa da força que fazia enquanto segurava o poste de luz ao seu lado com tanta força que os ossos doíam ao relaxar membro. Seja o motivo que for, o que realmente importava era que se a dor psicológica não fosse absurda, ele não estaria ali, olhando o rio e pensando se aquela altura seria suficiente para matá-lo.
Era por volta das três da manhã e a ponte estava iluminada e encantadora, como sempre, a cidade estava quieta e vazia por causa do horário e o coração de Garrett batia depressa. O garoto fechou os olhos e jurou ter ouvido seu próprio coração bater, mas ele estava ficando louco e isso o assustava. vivia dizendo que ele precisava de ajuda psiquiátrica, mas essa ideia era surreal; ele não precisava de ajuda nenhuma, ninguém o ajudaria, porque afinal de contas todos os humanos compactuam para o fim deles mesmos e ele estava começando a acreditar nos, até então, loucos que gostavam de dizer como o mundo ia acabar. Mas diferente deles, Garrett cria que não será um fenômeno da natureza que matará todos, e sim o próprio ser humano e ele não queria estar presente para ver isso acontecer.
O garoto suspirou e fechou os olhos, aliviando a mão que segurava o poste. Pediu desesperadamente que alguém se lembrasse dele, que pelo menos alguém mandasse uma mensagem antes que ele soltasse o poste, queria ser lembrado uma última vez. Mas ele tinha caído no esquecimento das pessoas e aquilo doía mais ainda porque a culpa era toda e única dele, ele afastou as pessoas que mais se importavam com ele e agora estava gritando em sua mente por socorro, por uma pequena lembrança de quem fosse. , alguém da banda, seus pais, qualquer um, até mesmo o menino que costuma entregar o jornal e conversar com ele sobre Game Of Thrones todas as manhãs, mas se o amor da sua vida não lembrava dele por qual motivo o jornaleiro iria?
Garrett pensou em e foi inevitável não chorar, ele o amava. Soltou a mão do poste e estava preparado para pular, mas precisava se despedir da amada.
– Droga, . Eu errei com você. – ele cuspiu as palavras seguidas de um soluço. – Eu sempre quis te fazer feliz e ser feliz com você, mas eu fiz tudo errado, demonstrei das maneiras erradas o quão seu eu sou, tentei mostrar que não importava com quantas meninas eu dormisse eu ainda te amaria, mas a verdade é que se eu fosse realmente seu eu nunca nem dormiria com elas, nem sequer cogitaria a ideia, mas percebi isso tarde demais e sei que você não pode me ouvir, mas eu preciso falar. – ele suspirou – Eu te amo, , te amei desde a primeira vez que te vi dançar ao som de Everything I Ask For. Eu sinto muito por não ser o que você desejou, mas você sempre foi tudo que eu pedi.
Um de seus pés se movimentou para frente, mas antes que pudesse deixar seu corpo cair por completo, algo o puxou para trás e ele caiu no asfalto da ponte, sentindo seu cotovelo ralar contra o piso duro.
Garrett olhou para o lado e encontrou os de , a garota chorava tanto quanto ele. Ela foi para perto dele e o abraçou mesmo estando caídos no chão. Ele passou a mão por seus cabelos, sentindo o cheiro do seu shampoo de baunilha, tentando guardar o máximo de detalhes de que podia, como se aquele fosse seu último momento junto a ela.
– Garrett, pelo amor de Deus, não faz isso. – ela pediu, segurando o rosto do garoto entre as mãos. – Eu também errei, eu concordei com seu plano só porque tinha medo de te perder, mas eu não aguentei a pressão daquilo tudo. Me desculpa por fazer uma promessa que não pude cumprir, desculpa por te fazer sentir como se a culpa fosse só sua.
O baixista a olhou e ela falava tão desesperadamente, passando os olhos por todo o rosto do menino que só o fez se sentir mais culpado. Ele a puxou para perto dele e a beijou, na esperança que todo o desespero da garota parasse, na esperança que o próprio desespero parasse.
– Me desculpa tentar fazer isso, desculpa te ignorar quando você tentou me ajudar, desculpa por tudo. Prometo que vou ser um namorado melhor, se você ainda me quiser.
A garota sorriu e o menino retribuiu o sorriso. Garrett se levantou e puxou a garota para cima.
– Não tente se matar. Eu te amo, os meninos te amam, seus pais te amam, seus fãs te amam, e por mais que ache que foi esquecido, saiba que você não saiu da minha cabeça durante um segundo.
Sem dizer nada, Garrett passou o braço pelo ombro da garota e começou a andar, mancando, pela ponte, em diração ao carro dela que não estava tão longe assim.
– Promete que vamos ser um casal de verdade agora? – ela pediu – E que você vai procurar ajuda?
– Sim. – ele suspirou – E, aliás, podemos até beber soda diet.



Nota da autora: (11.03.2016) Sem nota.




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