Prólogo
"Há muito tempo atrás, numa galáxia muito, muito distante...
O universo é um lugar vasto e diverso, cheio de mistérios e maravilhas que apenas os corajosos ou audaciosos o suficiente desbravam. Sua imensidão é composta por múltiplos planetas e sistemas das mais variadas naturezas; gelados, desérticos, florestais, urbanos. Estes mundos tão diferentes são habitados por seres humanos, alienígenas e robóticos das mais variadas espécies e tipos, vivendo em harmonia ou não, que possuem costumes e culturas singulares, tornando a Galáxia um lugar ainda mais amplo.
Todos estes seres e lugares eram regidos há anos pela chamada República Galáctica – um governo democrático que abrangia todo o universo, e era exercido pelos líderes de cada um dos planetas, que reuniam-se no Senado onde cada rei, presidente e primeiro ministro falava pelos interesses de seu povo. Juntos, eles legislavam em prol do bem de todo o universo, e assim se mantinha o equilíbrio.
Para manter-se de pé e efetiva, a República contava com poderosos aliados. Os responsáveis por proteger a democracia e zelar por seu bem estar, mantendo a sintonia entre os diferentes planetas, eram os corajosos e honrados Cavaleiros Jedi. Membros de uma prática antiquíssima de religião, estes cavaleiros eram treinados como guerreiros destinados a manter a paz e a justiça na Galáxia.
Através de vários anos de intenso treinamento, os Jedi desenvolviam habilidades como telecinese, controle da mente, aprimoramento dos sentidos e previsão do futuro. Além disso, eram especialistas nas artes do combate com sabre de luz, uma arma muito perigosa, mas que era utilizada apenas em ocasiões extremas, já que os Jedi seguiam um rígido código de conduta que não os permitia uso de violência. Eram pessoas extremamente sábias, justas, pacíficas e corajosas que faziam de suas vidas uma missão de paz e altruísmo.
Para obter tantas habilidades especiais que os tornavam praticamente invencíveis, os Jedi utilizavam algo que chamavam de Força – um campo invisível de energia que cerca todos os seres vivos e os interliga, trazendo a eles equilíbrio e harmonia. A Força é responsável por definir e controlar o destino de todos, e os Jedi eram capazes de ouvi-la e compreender seus caminhos, utilizando-a para proteger os fracos e defender o bem. Segundo eles, a Força escolhe quem será capaz de senti-la e controlá-la, dando a estes escolhidos uma sensibilidade especial e a oportunidade de desenvolver incríveis habilidades a partir dela.
O que determina tal sensitividade em um ser humano ou alienígena são as midi-chlorians; estas são partículas microscópicas que vivem em conjunto com as células de todos os seres vivos, em simbiose com elas, sendo sua conexão com a Força e todo o seu plano de equilíbrio que rege o universo. Quando essas partículas estão presentes em concentração elevada no corpo de um ser, ele é capaz de senti-las e portanto tem uma conexão mais ampla com a Força. Esta conexão pode ser explorada de modo a trazer muitas aptidões especiais, e os seres que a possuem podem ser treinados desde a infância para tornarem-se Cavaleiros Jedi. Quanto maior a quantidade de midi-chlorians que o indivíduo possui, maiores são os seus poderes.
Os Jedi eram regidos por um severo código e doavam suas vidas inteiras à missão que haviam recebido, pois acreditavam que a Força lhes abençoara com seus poderes para que buscassem defender a verdade e a benevolência. No entanto, alguns dos que eram dotados da mesma sensibilidade, acreditavam que seus poderes deveriam ser utilizados apenas em benefício próprio, e utilizavam a Força para fins egoístas e maléficos. Estes seres, chamados Sith, pertenciam ao Lado Negro, que era corrompido pelo ódio, pela ganância e pelo medo. Os Sith tentaram por várias vezes conquistar a Galáxia para transformá-la no reino das sombras, e há milênios eram os principais inimigos dos Jedi.
O Lado Negro e o Lado Claro coexistiam em árdua guerra. Várias batalhas entre os dois foram travadas ao longo dos séculos. Ambos tiveram muitas vitórias e derrotas, porém, há muito tempo o domínio da Galáxia pertencia aos Jedi, que tinham uma aliança com o governo da República. E por muito tempo as coisas permaneceram assim, em paz e sincronia.
Porém, o veio renascer do Lado Negro e de toda a sua maldade. Por meio de um golpe de estado perfeitamente orquestrado, um lorde Sith chamado Darth Sidious, que por anos esteve disfarçado dentro da República como um senador, conseguiu quebrar o ciclo de domínio Jedi. Ele tomou o poder da República com a ajuda de seu aprendiz, Darth Vader – um dos Jedi mais poderosos de todos, que foi seduzido pelo Lado Negro e juntou-se aos Sith, traindo seu próprio povo. Unidos, Sidious e Vader dizimaram e extinguiram os Cavaleiros Jedi, e então instalaram um regime militar ditatorial na Galáxia, do qual Sidious era o Imperador. O chamado Império era um governo antidemocrático e extremamente opressor, que jogou o universo numa desgraça sem por décadas.
Foi durante o domínio deste governo que cresceu um rapaz de nome Luke Skywalker. Órfão, ele vivia com seus tios em um planeta desértico e isolado do resto da Galáxia, e levava uma vida mansa e pacata, sonhando em um dia tornar-se um aventureiro.
Tais aventuras vieram até Luke quando informações cruciais sobre os planos do Império, que estava construindo uma imensa arma destruidora de planetas em segredo, caíram em suas mãos por acaso, na memória um de androide de serviço usado que ele comprara.
O androide que carregava as informações secretas levou Luke Skywalker até Obi-Wan Kenobi, um antigo Cavaleiro Jedi que conseguira sobreviver ao genocídio e estava escondido em seu planeta desde que o Império assumira o poder. Obi-Wan conhecia o falecido pai de Luke, Anakin Skywalker, de quem o menino não sabia nada a respeito. Kenobi lhe contou que Anakin era um Jedi como ele, e havia sido assassinado por Darth Vader – o aprendiz traidor que levou os Jedi a extinção e o Império ao poder.
Luke Skywalker, que passara a vida toda isolado do resto do universo, de repente viu-se diretamente envolvido com o problema. Após a morte de seus tios, o garoto aceitou ajudar Obi-Wan Kenobi em sua missão, e ser treinado por ele para tornar-se um Cavaleiro Jedi como seu pai um dia foi.
As informações sobre a nova arma do Império, a Estrela da Morte, precisavam ser levadas urgentemente à Aliança Rebelde – uma resistência armada que se opunha ao governo e que há anos tentava derrubar o Imperador Darth Sidious do poder. Com a ajuda de um caçador de recompensas pilantra e falastrão, chamado Han Solo, Luke e Obi-Wan conseguiram evitar que os soldados do Império recuperassem os planos, e resgataram a princesa Leia Organa, uma das líderes da Aliança Rebelde, que tinha sido mantida como refém pelo Imperador. Agora, a Aliança precisava encontrar uma forma de destruir a nova arma exterminadora de planetas e derrubar o Império de uma vez por todas.
Durante a missão, mestre Obi-Wan treinou o jovem Skywalker nas antigas e adormecidas artes Jedi, antes de sua morte em combate. Seus ensinamentos foram finalizados por Yoda, um Jedi sábio que vivia há muito tempo em exílio em um planeta distante e pantanoso. Ao concluir seu treinamento e aprender a usar todas as habilidades que seu vasto poder na Força o trazia – predisposição que herdou de seu igualmente poderoso pai – Skywalker estava pronto para enfrentar seu destino e combater o temido e maléfico Darth Vader, vingando seu pai e trazendo a Luz de volta.
Porém, a história que Luke conhecia sobre o passado de seu pai tinha informações obscurecidas. Para ele, Anakin Skywalker era um poderoso Jedi, que fora assassinado por Darth Vader, o homem responsável por extinguir os Cavaleiros. No entanto, tudo aquilo não passava de uma grande metáfora. Darth Vader e Anakin Skywalker eram, surpreendentemente, a mesma pessoa. Um nunca havia assassinado o outro, um dera lugar ao outro no momento em que Anakin voltou-se para o Lado Sombrio, e então tornou-se Darth Vader.
Anakin Skywalker fora um inocente garoto de infância humilde, que vivia como escravo, e foi resgatado de tal vida para ser treinado nas artes Jedi pelo mestre Obi-Wan Kenobi. Skywalker era um talentoso e valente Jedi com um poder enorme e sem precedentes, o que fazia com que os Cavaleiros acreditassem que ele era O Escolhido – um guerreiro aguardado há muito tempo, que segundo uma antiga profecia teria um poder enorme e seria o responsável por trazer equilíbrio para a Força.
No entanto, o rapaz sempre fora assombrado por um enorme orgulho e possuía muita raiva em seu coração, o que o tornava propenso ao Lado Negro da Força. Anakin era apaixonado por Padmé, uma senadora com quem tinha um relacionamento sigiloso, já que os Jedi não tinham permissão para amar. Ele tinha muito medo de perdê-la, e ao prever que ela morreria no parto do bebê que esperava, o rapaz desesperou-se. Darth Sidious aproveitou-se da instabilidade de Skywalker e o converteu para um Sith, com a promessa de que salvaria a vida da mulher que ele amava. Sidious fez dele seu aprendiz e utilizou o grande poder que ele possuía para destruir os Jedi e firmar-se no trono.
Após converter-se para o Lado Negro, Anakin acabou queimando em seu próprio ódio num rio de lava fervente, o que lhe rendeu ferimentos permanentes que o obrigaram a passar o resto da vida dentro de uma armadura metálica, que era a única coisa que o mantinha vivo. Após o acidente, ele assumiu totalmente a identidade de Darth Vader, abandonando sua bondade e intensificando ainda mais seu ódio. O Imperador não cumpriu a promessa que fez a Anakin, e Padmé morreu deixando dois filhos recém-nascidos para trás – um deles era Luke, e a outra era sua irmã gêmea da qual ele até ali não tinha conhecimento. Leia Organa, a princesa que liderava a Aliança Rebelde e a garota por quem Luke quase ousara se apaixonar, era a Skywalker perdida. Os dois foram separados ao nascimento e mantidos a salvo de Vader, que jamais poderia saber da existência deles enquanto fosse aliado do Imperador.
Obi-Wan manteve tudo aquilo em segredo para proteger o jovem Luke. Mas aquela era a verdade sobre suas origens. Anakin Skywalker e Darth Vader eram então a mesma pessoa – e seu arqui-inimigo era na verdade, quem lhe dera a vida. O homem que fez todas as escolhas erradas e levou a Galáxia até a perdição.
No entanto, Luke seria incapaz de assassinar o próprio pai. Por isso, tentou trazê-lo novamente para o Lado da Luz, mostrando que ainda havia bondade Jedi dentro dele. O temível Darth Vader rendeu-se ao reconhecer o amor do filho, e ele e Luke uniram-se para derrotar o Imperador e destruir o Império, jogando-o contra as fuselagens de sua arma destruidora de planetas. Vader morreu após o combate, fraco e debilitado pelos ferimentos, e Luke Skywalker transformou-se no maior herói da Galáxia, tornando-se o último Cavaleiro Jedi e trazendo paz para o universo novamente.”
— Conte outra vez, conte outra vez!
— Não, está na hora de dormir. Além disso, já te contei essa história muitas vezes, pequena.
— Por favor, mestre Keet! Eu adoro ouvi-la!
— Você me pede para contá-la quase todos os dias. Nunca se cansa dela?
— Não mesmo. Luke Skywalker é meu herói favorito!
— Eu sei disso. – Riu-se o homem. – Boa noite, Ameenah.
— Não! Conte outra, então.
— Qual você quer?
— Aquela outra sobre os Jedi. A que fala sobre as guerras, os exércitos, as naves, a Força! – Exclamou a garotinha, jogando-se na cama e abrindo os braços com grandeza.
— Seus pais não gostam que eu lhe conte essas histórias.
— E por que não? Você era um deles, não era?
— Já fui. Mas não como os que lhe conto nas minhas histórias.
— Me conte suas próprias aventuras, então.
— Não fui um Jedi como esses, que lutaram em grandes guerras com naves e sabres de luz. Minha jornada nem foi assim tão longa. Eu afastei-me, pois a Força me disse que eu teria outra grande missão em meu caminho.
— E qual era?
— Treinar você, Ameenah. Pois um dia, você se tornará uma grande Jedi.
Capítulo 1
Há muito tempo, numa galáxia muito, muito distante...
O Universo inteiro estava em festa. A felicidade reinava em todos os planetas e sistemas, tomando conta de cada ser vivo humano e alienígena existente. Não havia mais escravidão, medo ou violência. O Império finalmente caíra, e a Luz triunfara sobre as Trevas. Luke Skywalker, o último cavaleiro Jedi, uniu-se aos rebeldes da Aliança e juntos destruíram a Estrela da Morte, acabando com todo e qualquer sinal de escuridão na Galáxia. O terrível e cruel Darth Vader havia morrido, juntamente com seu mestre maligno, Imperador Sidious, que sucumbira aos reflexos do próprio ódio. O antes tão poderoso Lado Negro agora não passava de uma história a se contar para gerações futuras. Não havia mais nada para temer. Finalmente, tudo estava em paz.
Mas não por muito tempo.
A Galáxia se reconstruía aos poucos, a normalidade se recuperava depois do domínio das sombras e as pessoas retomavam suas rotinas simples e felizes. Porém, cerca de um ano depois da queda do inimigo e da vitória triunfante, o jovem herói Luke Skywalker desapareceu.
Ninguém acreditou quando a notícia foi dada. O mais consagrado ídolo de toda a Galáxia desaparecera, sem mais nem menos, e ninguém sabia por que. Será que foi morto? Será que fugiu? Será que enlouqueceu? Nem as pessoas mais próximas a ele tinham essas respostas, pois o rapaz pareceu fazer questão de que ninguém jamais o achasse outra vez. Nenhuma pista ou dica foi deixada pelo grande salvador do Universo.
O sumiço de Luke, além de causar comoção geral ao redor da Galáxia, deixou um grande vazio na vida de alguém. A princesa Leia, que agora não tinha mais nenhum membro da família ao seu lado, estava sozinha. Desde que descobriram a conexão familiar, o irmão Luke passara a representar segurança e estabilidade para ela, e seu desaparecimento a deixou perdida. A jovem estava sem rumo, com saudades de Skywalker, e se perguntava a razão de ele ter ido embora.
Luke lhe fazia falta não só por questões sentimentais, mas também porque vinha exercendo um papel muito importante em sua vida. Durante o ano de paz antecedente à sua fuga, Leia estava aprendendo sobre as artes Jedi com o irmão. Ele decidiu treiná-la, pois sabia que a Força era muito poderosa nela devido ao parentesco. Naquele período, Leia aprimorou suas habilidades e seu grande poder nato, e estava evoluindo, até o desaparecimento repentino de seu mestre.
Apesar de seu treinamento curto e prematuro, Leia possuía vastos poderes na Força e estava apta a usá-los, como a Skywalker genuína que era. Isso fez com que ela, alguns meses depois, detectasse uma presença na Força. Uma presença sombria, de uma forma que ela jamais havia visto igual. Enquanto tentava rastrear o irmão, ela notou o distúrbio do Lado Negro, alguém muito poderoso e cheio de ódio, que procurava ambiciosamente por destruição.
A Galáxia toda comemorava, achando que o mal jamais voltaria a atormentar os planetas novamente. Mas acontece que todos os males causados pelo Império teriam sido apenas o começo, se todo o ódio aprisionado naquela criatura sinistra realmente viesse à tona. Leia descobriu que a criatura sombria que detectara estava recrutando pessoas para o mal, e carregava consigo um enorme desejo pelo poder. Queria comandar a Galáxia, e estava colocando todas as suas energias na elaboração de seu plano perverso para que isso acontecesse.
Leia sabia que aquela criatura precisava ser detida, e sabia que, com a ausência de Luke, ela era a única que poderia fazer algo a respeito. Ninguém mais conhecia os caminhos da Força; só ela sabia como utilizá-la para o bem, portanto era responsável por isso. Então, para tentar impedir o retorno do Lado Sombrio, ela tomou uma decisão para fortalecer e potencializar o Lado da Luz.
Leia iniciou uma nova Academia Jedi, baseada nos ensinamentos de Luke durante seu curto treinamento com ele, e também em um velho caderno que ele deixou para trás com anotações sobre seu treinamento com Yoda e Obi-Wan. Ela desmanchou a Aliança Rebelde e contou com a ajuda de membros confiáveis da resistência, soldados com a presença da Força e estudiosos das artes Jedi para treiná-los e construir o que, em breve, seria a maior concentração de Lado Luminoso na Galáxia inteira.
Leia estabeleceu sua Academia no planeta tropical e praticamente inabitado de Tedros, onde foi construído um grandioso e majestoso palácio numa clareira por entre as florestas densas e altas do planeta. Lá houvera um antigo Templo Jedi uma vez, de onde foi possível resgatar informações e livros que contribuíram para a formação da nova Ordem. Um novo Conselho Jedi foi formado, instalações e templos foram construídos e então a nova geração de Cavaleiros Jedi foi criada, e saiu pela Galáxia em busca de recrutar novos aprendizes para a Luz.
Apesar de ter grande poder com a Força e habilidade com os sabres de luz, a princesa Leia decidiu não se tornar uma mestre Jedi. Ela atuava apenas na parte administrativa da Academia, com a ajuda de seus droids de utilidades R2-D2 e C-3PO, e concentrava-se em manter a ordem. Ainda assim, fazia parte do Conselho Jedi junto com os outros mestres, pois possuía grande sabedoria e poder, e ajudava em todas as decisões tomadas por eles. E era assim que Leia levava sua missão, aguardando pela volta de seu irmão há muito tempo desaparecido, na esperança de que ele um dia retornasse para ajudá-la a combater o inimigo desconhecido.
Logo após a Academia ser construída, a princesa casou-se com o famoso contrabandista Han Solo, e os dois tiveram uma filha. Solo, que por sua vez era um grande piloto, tornou-se, ao lado de seu companheiro Chewbacca, o capitão da frota de naves do novo governo que sucedeu o Império - a chamada Democracia Intergaláctica.
O novo sistema governamental instalado na Galáxia após o Império visava a realização do bem maior para todos os planetas, luas e sistemas, por meio de discussões e debates promovidos entre seus líderes. Todas as federações e organizações governamentais foram abolidas para evitar conflitos, e tudo se resumia ao grupo de diplomatas. Anteriormente, estes foram membros da Aliança Rebelde ou de movimentos de resistência ao Império em seus próprios planetas, e após a queda se reuniram para elaborar uma nova Constituição que regeria a Galáxia. Todo mês os governantes de cada planeta, eleitos pelo povo ou de liderança hereditária, se reuniam na capital de Rasul – uma enorme nave estacionada no espaço que possui uma cidade construída em seu topo, tão grande que passou a ser considerada um planeta - para debater problemas e encontrar soluções, e assim, gerenciar e manter a paz.
Os Democráticos não reconheciam os novos Jedi como aliados do governo, e as instituições política e religiosa não trabalhavam juntas como acontecia durante a República. Os novos líderes temiam quem quer que acreditasse na Força, por medo que o Lado Negro dominasse a Galáxia novamente. Alguns Democratas mais radicais até sugeriram que a religião fosse proibida por temerem o retorno do Império - o que só não foi feito pois o grande herói da batalha contra o Imperador, Luke Skywalker, se denominava um Jedi, e os líderes sabiam da simpatia que o povo criara por ele e sua doutrina. Portanto, os Jedi eram reconhecidos simplesmente como uma religião, para evitar conflitos.
E então cada coisa encontrou o seu devido lugar. A Democracia Intergaláctica ascendeu e a nova Academia Jedi crescia a cada ano com mais e mais aprendizes. Tudo voltou a funcionar e se estabilizou na mais pura ordem. Mas acontece que nem tudo estava perfeito.
Alguns anos depois da construção da nova Academia, algo surgiu para perturbar a paz. A estranha presença sombria na Força, que permanecera estável durante aquele tempo, decidiu revelar-se para toda a Galáxia – e da forma mais cruel possível. O renascido Lado Sombrio realizou um ataque com tropas de soldados ao pacífico planeta Nassor, que nos últimos anos se tornara uma grande referência de comércio, cultura e política. Por meio do caos e da destruição, a presença negra finalmente revelou-se e pôs seu plano em prática. Um novo Lord Sith misterioso intitulado Darth Styg apresentou o seu poder de devastação aos demais sistemas, invadindo e destruindo a capital do planeta com suas tropas. Mostrou que Leia estava certa ao se preocupar com sua existência, pois Darth Styg era mais maligno e poderoso do que jamais foi visto antes, e deixou claro que aquele episódio seria apenas o começo da devastação que estava por vir.
O atentado a Nassor serviu como aviso. Um aviso de que a paz que por anos fora pregada era falsa, e que o Lado Negro ainda existia e não considerava a guerra entre os dois lados da Força como vencida. Tudo que se sabia desde então era que Darth Styg escondera-se em algum lugar perdido pela Galáxia após o atentado, pois apesar de fortes, suas tropas ainda não estavam prontas para o que ele planejava. O maior objetivo do seu ataque foi assustar aos governantes e súditos com um show de demonstração do seu horror. Além de, é claro, alertar a todos os simpatizantes do Lado Negro de sua presença, para que se juntassem a ele e se alistassem para o exército, para tentar tomar o poder e governar o Universo.
Porém, muitos duvidaram disso. Achavam que a história de Darth Styg não passava de charlatanismo, e era uma tentativa de assustar a população ou abalar a Democracia Intergaláctica e seu recém-nascido e prematuro governo. Acreditavam que a ressurreição do Lado Negro era terrorismo barato, comprado por adeptos ao Império e radicalistas violentos. As opiniões eram divididas, mas ninguém estava a salvo. Algo estava errado.
No entanto, em meio às cinzas do ataque, muitas surpresas apareceram e detalhes do passado há muito tempo ocultos se revelaram. Aquele era só o começo de uma jornada que ninguém era capaz de prever. Durante a calmaria, os Jedi se ativeram a combater adversários menos perigosos, como caçadores de recompensas ou contrabandistas. O governo manteve-se em alerta e os Jedi se prepararam, apenas esperando pelo próximo passo, e por muitos anos as coisas continuaram assim.
–
No alto de um dos terraços da Academia, um jovem Jedi observava o horizonte, contemplando a paisagem tropical do planeta Tedros. O vento agitava as copas das árvores e o sol refletia nas águas transparentes do lago, que serviam de espelho às nuvens e ao céu azul. Khali respirou fundo, sentindo o ar fresco invadir suas narinas e a tranquilidade tomar conta de si. Encostou-se na beirada da sacada, sentindo a brisa leve e agradável bater em seu rosto enquanto pensava.
O aprendiz havia acabado de retornar de uma missão com outros Jedi em Naboo, onde passou duas semanas combatendo contrabandistas e foras da lei – apenas uma operação de rotina. Todo o seu treinamento Jedi até ali tinha sido uma aventura, e ele adorava ser levado nas missões para aprender e descobrir cada vez mais coisas. Khali era um excelente aprendiz e sempre se destacara em seus treinamentos, pois era muito habilidoso e poderoso desde o primeiro dia. Esperava que seu desempenho em Naboo só tivesse somado para que o Conselho finalmente o promovesse a tão sonhada posição de mestre.
Até ali, a trajetória do garoto como Jedi havia sido excelente. Sempre tivera muito exigido de si, pois a expectativa que existia em cima de seu poder era grande. Khali sabia que suas habilidades e principalmente sua identidade sempre lhe trariam muitas responsabilidades a onde quer que fosse, pois o sangue que corria por suas veias era poderoso. Tudo graças ao seu pai, de quem herdou toda a grandeza: Luke Skywalker.
O garoto deveria honrar aquela descendência, e apesar de ser uma grande responsabilidade, ele se orgulhava de carregá-la. Tudo que queria era trazer glória ao sobrenome de seu pai pela própria trajetória como Jedi, mesmo que ele pudesse jamais voltar. Khali nascera para ser um cavaleiro, o poder e a busca pela Força estavam em seu DNA. E até agora, isso tudo tinha sido de grande serventia para a Ordem Jedi, que o tinha como uma das maiores promessas para o futuro por ser um de seus aprendizes favoritos.
Apesar de apreciar a aventura, aqueles breves momentos de paz e tranquilidade eram valiosos para Khali. O jovem padawan fechou os olhos, sentindo a Força correr por tudo que estava a sua volta. Adorava fazer aquilo. Sentia as plantas, o vento, a água do lago e as folhas das árvores sendo agitadas pela brisa, tudo em sua mente. Parecia que, por um momento, ele tinha o controle sobre tudo. Era uma sensação maravilhosa de sintonia com o Universo, e com tudo que pertencia a ele.
Então, uma presença poderosa e conhecida apareceu em seus sentidos, e ele abriu os olhos para encontrá-lo. Era Yerodin, seu mestre, que retornara após fazer o relatório da missão para o Conselho Jedi. Ele se aproximara de Khali para conversar.
— Meditando sobre a missão, meu jovem aprendiz? – Disse ele, e o rapaz sorriu.
— Estou apenas relaxando um pouco. Os últimos dias foram agitados, apesar da lerdeza daqueles contrabandistas. – Disse Khali, virando-se para o homem.
— Sua performance em Naboo foi realmente ótima, Khali. Estou orgulhoso de você. – O mestre disse, fazendo o coração do aprendiz encher-se de felicidade.
— Obrigado, mestre Yerodin. Fico satisfeito em ouvir isso.
— Pois tem todo direito de ficar. – Falou o Jedi. – Seus poderes estão se tornando mais fortes a cada missão em que é enviado, e seu treinamento tem dado ótimos resultados. O Conselho está analisando meu pedido para finalizar sua jornada como aprendiz. Logo você deve se tornar um Jedi completo.
— Isso é ótimo, mestre. – Khali sorriu.
— Sua tia está orgulhosa de você. Pediu para que passe para vê-la mais tarde.
— Pode deixar, verei tia Leia assim que sair daqui. – Respondeu, sorrindo ao lembrar-se dela. Sentiu saudades durante a missão. – E então, houve alguma evolução nas investigações sobre o paradeiro de Darth Styg enquanto estivemos longe?
— Ainda não tive tempo de conversar mais a fundo com o Conselho depois da nossa volta, mas acredito que não. Tudo que sabemos é que a sua presença fica mais forte e mais sombria a cada dia. – O mestre disse preocupado, franzindo a testa e olhando para longe.
— É curioso, sabe... – Falou o padawan. – Há anos que ele nem sequer demonstra que está por aí. Será que faz tudo parte de algum plano?
— Ouça sua intuição, jovem aprendiz. A Força está desequilibrada e instável, o mal continua a crescer. Styg está tramando alguma coisa, eu posso sentir.
— E o que a Democracia Intergaláctica diz sobre isso?
— Nada, como de costume. Preferem fingir que o problema não existe e continuar a ignorar os pedidos do Conselho para ajudar e sair em busca dele. – Disse o homem, frustrado. – Eu entendo que os Democráticos queiram manter a calmaria na Galáxia, mas a paz criada por eles é falsa. Cedo ou tarde ela irá desmoronar.
— Arrisco em dizer que acontecerá mais cedo do que eles imaginam. – Disse Khali, encarando o horizonte mais uma vez.
— A Ordem Jedi precisa estar preparada para isso. Quando este dia chegar, nossos cavaleiros serão mais necessários do que nunca. São os únicos capazes de lutar com um adversário conhecedor da Força como Styg, e para isso precisam estar devidamente treinados. O Conselho vem fazendo várias reuniões para discutir este assunto. É por isso que voltei da missão de Naboo alguns dias antes que você e os demais. – Explicou o Jedi. – Estamos recrutando cada vez mais aprendizes, o que é bom. Mas o número de mestres graduados e aptos a treiná-los não cresce na mesma proporção, pois nossa Academia ainda é jovem. Por esta razão, o Conselho está tomando algumas decisões de emergência. – Disse Yerodin. – Vamos começar a aumentar o número de padawans instruídos por cada mestre Jedi, para que todos sejam treinados.
Então, uma voz feminina interrompeu a conversa dos dois cavaleiros.
— Mestre Yerodin Zuma? – Disse a garota, e os dois viraram-se para encará-la. – Desculpe, estou atrapalhando alguma coisa?
Uma jovem simpática em vestes de Jedi postava-se atrás deles, do lado de dentro da sacada, carregando um sabre de luz na cintura. Khali nunca tinha a visto por ali antes. Assim que a notou, Yerodin sorriu e foi cumprimentá-la.
— Olá, minha jovem. Que bom que está aqui. – Disse o Jedi, indo até a garota e a conduzindo para o terraço. – Meu caro aprendiz, está é Ameenah. Como eu disse, alguns mestres Jedi vão aumentar seu número de padawans. Eu serei responsável por treiná-la nas artes Jedi a partir de agora, simultaneamente com o seu treinamento. – Disse mestre Zuma, indicando a garota para Khali. – Ameenah, este é meu outro aprendiz, Khali Skywalker.
— É um prazer conhecê-lo. – Disse a garota, com um simples gesto simpático.
— Igualmente. – Disse Khali, um tanto desconfiado daquilo.
— Mesmo estando aqui há pouco tempo, já ouvi muito sobre o Skywalker. – Ela sorriu, e então se voltou novamente para Yerodin. – Espero não estar interrompendo nenhuma conversa importante entre vocês. Estava indo para o jardim, quando ouvi sua voz conhecida vindo da sacada.
— Não se preocupe, estávamos só confabulando sobre assuntos da Ordem. – Yerodin tranquilizou-a. Khali, que ficou pensativo por alguns segundos, falou em seguida.
— Não entendi muito bem essa decisão do Conselho, mestre. As regras da Ordem não dizem que cada mestre Jedi só pode treinar um aprendiz por vez?
— Bom, esta é uma situação peculiar. Precisamos treinar nossos cavaleiros, e como muitos mestres estão ocupados com as buscas por Darth Styg, o Conselho Jedi decidiu abrir algumas exceções e dar aos mestres mais experientes dois aprendizes ao invés de um. – Explicou Yerodin. – E além do mais, você já está quase finalizando seu treinamento, e logo não será mais meu aprendiz. Eu não terei dois padawans por muito tempo.
Khali analisou a garota cuidadosamente. Parecia tímida, mas determinada. Uma pequena trança Jedi típica de aprendizes pendia por entre seus cabelos loiros, e escondia-se entre as ondas. A menina era claramente muito mais velha do que um padawan no início do treinamento deve ser, pois deveria estar próxima dos dezoito anos, e a aquilo era estranho. Quem era ela, afinal?
— Ameenah é um caso especial de aprendiz. – Continuou mestre Zuma, explicando ao garoto como se soubesse de suas dúvidas. – Ela já tem conhecimento inicial, e foi primeiramente treinada por um antigo Jedi muito poderoso, chamado Horus Keet. Já lhe contei muitas histórias sobre ele, meu aprendiz, pois foi um grande cavaleiro – e também um grande amigo meu. O mestre Keet está aposentado, e durante seu afastamento da Ordem Jedi resolveu tornar Ameenah sua aprendiz e veio treinando-a. Ela chegou à Academia há mais ou menos uma semana, enquanto estávamos em missão. Ela tinha uma carta escrita por ele pedindo para que a aceitássemos como nossa aprendiz e a treinássemos para ser uma cavaleira. Voltei mais cedo de Naboo pois o Conselho queria que eu a conhecesse. Foi pedido que eu a treinasse.
Algo naquela história fez com que o rapaz tivesse um arrepio repentino. De uma coisa Khali não poderia discordar: a Força estava presente na menina, e ele sentia. Horus Keet era um grande Jedi, e não treinaria ninguém que não valesse a pena. Havia um mistério envolvendo aquela garota, e o rapaz estava intrigado por ele.
— Acredito que vocês dois se darão bem. Será uma honra...
Yerodin não foi capaz de terminar a frase. Naquele exato momento, um choque atingiu os três Jedis simultaneamente, causando um vazio repentino no peito e uma inquietação na mente. Haviam sentido um distúrbio na Força.
Não aconteceu apenas com eles. Subitamente, todos na Academia calaram-se ao mesmo tempo, captando a mudança brusca na energia. O impacto da oscilação veio como uma onda e alcançou a cada um, fazendo o palácio ficar imerso em calmaria absoluta por um instante, enquanto todos tentavam entender o que houve.
Então, de repente, um som ensurdecedor veio de cima quebrando a quietude, e todos olharam para o céu. De dentro das nuvens, surgiram enormes naves de modelo e origem desconhecidas, voando como lâminas negras que rasgavam a imensidão azul.
O mestre e os dois aprendizes desceram rapidamente as escadas para ver o que estava acontecendo. Ao chegarem ao andar de baixo, viram uma grande aglomeração de pessoas ao lado de fora, e correram para lá. As naves estranhas pousavam por todos os lados do gramado do jardim, e delas saíram centenas de soldados armados, que miravam na direção deles.
Aqueles soldados eram estranhos, ninguém tinha os visto antes. Eram inteiramente cinzentos, e seus uniformes se pareciam muito com roupas de gladiadores. Ostentavam armas grandes e carregadas com um laser brilhante e vermelho, as quais portavam na lateral dos corpos. Encaravam os Jedi com absoluta impassibilidade, parecendo altamente treinados e obedientes.
Todos estavam surpresos e assustados. Ninguém fazia ideia do que era aquilo, e a cada instante mais e mais pessoas se aglomeravam nas portas e janelas da Academia para ver o que estava acontecendo. Foi então que uma última nave aterrissou, esta com uma aerodinâmica diferente das demais. De repente, tudo ficou mais sombrio, e o ar se tornou gélido. Todos sentiram a que estava há muito tempo ausente, mas que ao mesmo tempo era inconfundível, presença do Lado Negro.
A porta principal da nave se abriu numa rampa, e por ela saiu uma criatura obscura; tinha boa parte do corpo mecanizado, envolto em uma armadura firme e robótica. Usava um aparato de respiração que cobria metade do seu rosto, e a única parte a mostra eram seus olhos, vermelhos e vibrantes de ódio. A pequena parcela de pele exibida próxima a eles era cheia de queimaduras e cicatrizes profundas; possuía uma capa comprida e negra presa às costas, e assemelhava-se a um sinistro e sombrio ciborgue. A criatura que trouxe junto a ela tudo aquilo que havia de ruim, e seu enorme desejo de destruição mais forte do que nunca.
— Styg – Disse mestre Yerodin, sem tirar seu olhar vidrado da figura à frente. Os dois aprendizes o encararam. – Aquele é Darth Styg. Ele voltou.
A cena era como um pesadelo horrível tomando forma. Toda a podridão da Força que há anos atrás havia assombrado a Galáxia retornara, para lembrar a todos o quanto foram privilegiados durante as décadas de paz. Pois agora, aquele tempo calmo tinha se esgotado. Acabou-se por completo no instante em que o primeiro tiro foi disparado, do blaster de algum dos soldados daquele exército da escuridão. E então, uma batalha começou.
Os tiros de laser começaram a vir na direção dos Jedi como uma nuvem brilhante. Logo, num ato de proteção, todos os mestres ali presentes se postaram a frente dos demais para defender os menos experientes. Usando as lâminas de seus sabres como escudos, eles defendiam os lasers desviando-os com movimentos circulares e rápidos, mas não era possível barrar todos. Já na primeira leva, alguns cavaleiros foram atingidos e caíram no chão.
O líder sombrio apontou para frente, bradando palavras em alguma língua desconhecida, e os soldados inimigos começaram a avançar, marchando ordenadamente em filas e portando suas armas laser. Os Jedi aprontaram seus sabres, e então começaram a descer as escadarias da Academia para ir de encontro com eles, e proteger o santuário de Força Luminosa.
Lutas corporais começaram. Os Jedi tentavam impedir uma possível invasão, bolando estratégias para barrar o inimigo desconhecido. Golpeavam os soldados sem parar, e se defendiam para evitar serem acertados pelos lasers.
O jovem Skywalker encontrava-se ao lado de seu mestre, batalhando com os soldados e dando golpes ágeis com seu sabre. Um tentava proteger a retaguarda do outro, e nova garota Ameenah estava logo a alguns metros deles. O rapaz nunca vira nenhum confronto como aquele. A iminência do retorno do mal lhe deu arrepios, mas ele precisava reagir. Atravessou um dos soldados cinzentos com seu sabre de luz, e então era menos um para a contagem das centenas que ali estavam.
O som dos sabres de luz, dos tiros de blaster e dos gritos de sofrimento tomaram o jardim antes tão pacífico da Academia. Muitos caíram, tanto de um lado quanto do outro. Quem olhasse de fora pensaria que aquela era uma cena da guerra civil de muitos anos atrás, mas era diferente. Era atual, outra vez. Exceto pelo medo, a dor e principalmente a competição entre o bem e o mal; aquilo era, e sempre seria igual.
Durante a batalha, os tiros pareciam vencer as espadas, e pouco a pouco os cavaleiros Jedi iam ao chão. Porém, estranhamente, os atingidos pelos tiros não estavam mortos. Sentiam uma dor agonizante, forte demais até para ficarem conscientes, mas continuavam vivos. As balas dos blasters dos soldados que os atingiam pareciam não surtir efeito. Aquilo tudo era muito estranho. Se o objetivo daquele ataque não era dizimar os Jedi, então qual era?
O grande vilão permanecera imóvel durante toda a batalha. Ficou postado com suas grandes pernas mecânicas na saída de sua nave, com um soldado armado de cada lado, apenas assistindo a tudo acontecer. Darth Styg sorria, o que era perceptível mesmo com um enorme pano cobrindo sua boca. Um sorriso cheio de malícia e crueldade, esbanjando o triunfo de seu retorno que prometia muito sangue e sofrimento, principalmente por parte dos inimigos Jedi.
A luta continuou durante algum tempo, com Jedis e soldados caindo no chão, e tiros e golpes rolando. Até que, sem mais nem menos, Darth Styg ordenou algo para seu exército na mesma língua estranha de antes, e todos começaram a recuar. Pouco a pouco, os soldados cinzentos se retiravam enfileirados, com os Jedis restantes ainda em seu encalço, enquanto adentraram novamente as naves em que vieram. E então, mantendo o mesmo sorriso diabólico no rosto, Styg lançou um último olhar ao estrago da batalha e em seguida entrou em sua grande nave, andando triunfante.
Sem dizer nada a respeito daquilo tudo, as tropas cinzentas, lideradas pelo recém-renascido lorde Sith decolaram em suas estranhas naves, desaparecendo da atmosfera tropical de Tedros antes mesmo que os Jedi pudessem tentar derrubá-las. Partiam sem razão aparente, deixando para trás uma porção de cavaleiros feridos e um monte de perguntas.
Poucos eram os estragos causados ao palácio da Academia, e inexistentes eram os números de mortos. Aquela batalha parecia totalmente sem sentido e sem propósito, e era isso que assustava ainda mais os Jedi. Jamais teriam sido poupados por pura clemência. Pouco a pouco, as coisas foram se acalmando e os feridos foram sendo levados para dentro do prédio para receberem atendimento.
— Mestre, o que foi tudo isso? – Disse Khali confuso, aproximando-se de Yerodin, que estava sujo e desgastado. – O que significa esse ataque?
— Eu não sei, caro aprendiz. – O Jedi respondeu, ofegante. – Mas Darth Styg está de volta. E o que acabou de acontecer aqui foi o retorno poderoso e definitivo, não só dele, mas do Lado Negro também, prontos para assombrar a Galáxia novamente.
O Universo inteiro estava em festa. A felicidade reinava em todos os planetas e sistemas, tomando conta de cada ser vivo humano e alienígena existente. Não havia mais escravidão, medo ou violência. O Império finalmente caíra, e a Luz triunfara sobre as Trevas. Luke Skywalker, o último cavaleiro Jedi, uniu-se aos rebeldes da Aliança e juntos destruíram a Estrela da Morte, acabando com todo e qualquer sinal de escuridão na Galáxia. O terrível e cruel Darth Vader havia morrido, juntamente com seu mestre maligno, Imperador Sidious, que sucumbira aos reflexos do próprio ódio. O antes tão poderoso Lado Negro agora não passava de uma história a se contar para gerações futuras. Não havia mais nada para temer. Finalmente, tudo estava em paz.
Mas não por muito tempo.
A Galáxia se reconstruía aos poucos, a normalidade se recuperava depois do domínio das sombras e as pessoas retomavam suas rotinas simples e felizes. Porém, cerca de um ano depois da queda do inimigo e da vitória triunfante, o jovem herói Luke Skywalker desapareceu.
Ninguém acreditou quando a notícia foi dada. O mais consagrado ídolo de toda a Galáxia desaparecera, sem mais nem menos, e ninguém sabia por que. Será que foi morto? Será que fugiu? Será que enlouqueceu? Nem as pessoas mais próximas a ele tinham essas respostas, pois o rapaz pareceu fazer questão de que ninguém jamais o achasse outra vez. Nenhuma pista ou dica foi deixada pelo grande salvador do Universo.
O sumiço de Luke, além de causar comoção geral ao redor da Galáxia, deixou um grande vazio na vida de alguém. A princesa Leia, que agora não tinha mais nenhum membro da família ao seu lado, estava sozinha. Desde que descobriram a conexão familiar, o irmão Luke passara a representar segurança e estabilidade para ela, e seu desaparecimento a deixou perdida. A jovem estava sem rumo, com saudades de Skywalker, e se perguntava a razão de ele ter ido embora.
Luke lhe fazia falta não só por questões sentimentais, mas também porque vinha exercendo um papel muito importante em sua vida. Durante o ano de paz antecedente à sua fuga, Leia estava aprendendo sobre as artes Jedi com o irmão. Ele decidiu treiná-la, pois sabia que a Força era muito poderosa nela devido ao parentesco. Naquele período, Leia aprimorou suas habilidades e seu grande poder nato, e estava evoluindo, até o desaparecimento repentino de seu mestre.
Apesar de seu treinamento curto e prematuro, Leia possuía vastos poderes na Força e estava apta a usá-los, como a Skywalker genuína que era. Isso fez com que ela, alguns meses depois, detectasse uma presença na Força. Uma presença sombria, de uma forma que ela jamais havia visto igual. Enquanto tentava rastrear o irmão, ela notou o distúrbio do Lado Negro, alguém muito poderoso e cheio de ódio, que procurava ambiciosamente por destruição.
A Galáxia toda comemorava, achando que o mal jamais voltaria a atormentar os planetas novamente. Mas acontece que todos os males causados pelo Império teriam sido apenas o começo, se todo o ódio aprisionado naquela criatura sinistra realmente viesse à tona. Leia descobriu que a criatura sombria que detectara estava recrutando pessoas para o mal, e carregava consigo um enorme desejo pelo poder. Queria comandar a Galáxia, e estava colocando todas as suas energias na elaboração de seu plano perverso para que isso acontecesse.
Leia sabia que aquela criatura precisava ser detida, e sabia que, com a ausência de Luke, ela era a única que poderia fazer algo a respeito. Ninguém mais conhecia os caminhos da Força; só ela sabia como utilizá-la para o bem, portanto era responsável por isso. Então, para tentar impedir o retorno do Lado Sombrio, ela tomou uma decisão para fortalecer e potencializar o Lado da Luz.
Leia iniciou uma nova Academia Jedi, baseada nos ensinamentos de Luke durante seu curto treinamento com ele, e também em um velho caderno que ele deixou para trás com anotações sobre seu treinamento com Yoda e Obi-Wan. Ela desmanchou a Aliança Rebelde e contou com a ajuda de membros confiáveis da resistência, soldados com a presença da Força e estudiosos das artes Jedi para treiná-los e construir o que, em breve, seria a maior concentração de Lado Luminoso na Galáxia inteira.
Leia estabeleceu sua Academia no planeta tropical e praticamente inabitado de Tedros, onde foi construído um grandioso e majestoso palácio numa clareira por entre as florestas densas e altas do planeta. Lá houvera um antigo Templo Jedi uma vez, de onde foi possível resgatar informações e livros que contribuíram para a formação da nova Ordem. Um novo Conselho Jedi foi formado, instalações e templos foram construídos e então a nova geração de Cavaleiros Jedi foi criada, e saiu pela Galáxia em busca de recrutar novos aprendizes para a Luz.
Apesar de ter grande poder com a Força e habilidade com os sabres de luz, a princesa Leia decidiu não se tornar uma mestre Jedi. Ela atuava apenas na parte administrativa da Academia, com a ajuda de seus droids de utilidades R2-D2 e C-3PO, e concentrava-se em manter a ordem. Ainda assim, fazia parte do Conselho Jedi junto com os outros mestres, pois possuía grande sabedoria e poder, e ajudava em todas as decisões tomadas por eles. E era assim que Leia levava sua missão, aguardando pela volta de seu irmão há muito tempo desaparecido, na esperança de que ele um dia retornasse para ajudá-la a combater o inimigo desconhecido.
Logo após a Academia ser construída, a princesa casou-se com o famoso contrabandista Han Solo, e os dois tiveram uma filha. Solo, que por sua vez era um grande piloto, tornou-se, ao lado de seu companheiro Chewbacca, o capitão da frota de naves do novo governo que sucedeu o Império - a chamada Democracia Intergaláctica.
O novo sistema governamental instalado na Galáxia após o Império visava a realização do bem maior para todos os planetas, luas e sistemas, por meio de discussões e debates promovidos entre seus líderes. Todas as federações e organizações governamentais foram abolidas para evitar conflitos, e tudo se resumia ao grupo de diplomatas. Anteriormente, estes foram membros da Aliança Rebelde ou de movimentos de resistência ao Império em seus próprios planetas, e após a queda se reuniram para elaborar uma nova Constituição que regeria a Galáxia. Todo mês os governantes de cada planeta, eleitos pelo povo ou de liderança hereditária, se reuniam na capital de Rasul – uma enorme nave estacionada no espaço que possui uma cidade construída em seu topo, tão grande que passou a ser considerada um planeta - para debater problemas e encontrar soluções, e assim, gerenciar e manter a paz.
Os Democráticos não reconheciam os novos Jedi como aliados do governo, e as instituições política e religiosa não trabalhavam juntas como acontecia durante a República. Os novos líderes temiam quem quer que acreditasse na Força, por medo que o Lado Negro dominasse a Galáxia novamente. Alguns Democratas mais radicais até sugeriram que a religião fosse proibida por temerem o retorno do Império - o que só não foi feito pois o grande herói da batalha contra o Imperador, Luke Skywalker, se denominava um Jedi, e os líderes sabiam da simpatia que o povo criara por ele e sua doutrina. Portanto, os Jedi eram reconhecidos simplesmente como uma religião, para evitar conflitos.
E então cada coisa encontrou o seu devido lugar. A Democracia Intergaláctica ascendeu e a nova Academia Jedi crescia a cada ano com mais e mais aprendizes. Tudo voltou a funcionar e se estabilizou na mais pura ordem. Mas acontece que nem tudo estava perfeito.
Alguns anos depois da construção da nova Academia, algo surgiu para perturbar a paz. A estranha presença sombria na Força, que permanecera estável durante aquele tempo, decidiu revelar-se para toda a Galáxia – e da forma mais cruel possível. O renascido Lado Sombrio realizou um ataque com tropas de soldados ao pacífico planeta Nassor, que nos últimos anos se tornara uma grande referência de comércio, cultura e política. Por meio do caos e da destruição, a presença negra finalmente revelou-se e pôs seu plano em prática. Um novo Lord Sith misterioso intitulado Darth Styg apresentou o seu poder de devastação aos demais sistemas, invadindo e destruindo a capital do planeta com suas tropas. Mostrou que Leia estava certa ao se preocupar com sua existência, pois Darth Styg era mais maligno e poderoso do que jamais foi visto antes, e deixou claro que aquele episódio seria apenas o começo da devastação que estava por vir.
O atentado a Nassor serviu como aviso. Um aviso de que a paz que por anos fora pregada era falsa, e que o Lado Negro ainda existia e não considerava a guerra entre os dois lados da Força como vencida. Tudo que se sabia desde então era que Darth Styg escondera-se em algum lugar perdido pela Galáxia após o atentado, pois apesar de fortes, suas tropas ainda não estavam prontas para o que ele planejava. O maior objetivo do seu ataque foi assustar aos governantes e súditos com um show de demonstração do seu horror. Além de, é claro, alertar a todos os simpatizantes do Lado Negro de sua presença, para que se juntassem a ele e se alistassem para o exército, para tentar tomar o poder e governar o Universo.
Porém, muitos duvidaram disso. Achavam que a história de Darth Styg não passava de charlatanismo, e era uma tentativa de assustar a população ou abalar a Democracia Intergaláctica e seu recém-nascido e prematuro governo. Acreditavam que a ressurreição do Lado Negro era terrorismo barato, comprado por adeptos ao Império e radicalistas violentos. As opiniões eram divididas, mas ninguém estava a salvo. Algo estava errado.
No entanto, em meio às cinzas do ataque, muitas surpresas apareceram e detalhes do passado há muito tempo ocultos se revelaram. Aquele era só o começo de uma jornada que ninguém era capaz de prever. Durante a calmaria, os Jedi se ativeram a combater adversários menos perigosos, como caçadores de recompensas ou contrabandistas. O governo manteve-se em alerta e os Jedi se prepararam, apenas esperando pelo próximo passo, e por muitos anos as coisas continuaram assim.
No alto de um dos terraços da Academia, um jovem Jedi observava o horizonte, contemplando a paisagem tropical do planeta Tedros. O vento agitava as copas das árvores e o sol refletia nas águas transparentes do lago, que serviam de espelho às nuvens e ao céu azul. Khali respirou fundo, sentindo o ar fresco invadir suas narinas e a tranquilidade tomar conta de si. Encostou-se na beirada da sacada, sentindo a brisa leve e agradável bater em seu rosto enquanto pensava.
O aprendiz havia acabado de retornar de uma missão com outros Jedi em Naboo, onde passou duas semanas combatendo contrabandistas e foras da lei – apenas uma operação de rotina. Todo o seu treinamento Jedi até ali tinha sido uma aventura, e ele adorava ser levado nas missões para aprender e descobrir cada vez mais coisas. Khali era um excelente aprendiz e sempre se destacara em seus treinamentos, pois era muito habilidoso e poderoso desde o primeiro dia. Esperava que seu desempenho em Naboo só tivesse somado para que o Conselho finalmente o promovesse a tão sonhada posição de mestre.
Até ali, a trajetória do garoto como Jedi havia sido excelente. Sempre tivera muito exigido de si, pois a expectativa que existia em cima de seu poder era grande. Khali sabia que suas habilidades e principalmente sua identidade sempre lhe trariam muitas responsabilidades a onde quer que fosse, pois o sangue que corria por suas veias era poderoso. Tudo graças ao seu pai, de quem herdou toda a grandeza: Luke Skywalker.
O garoto deveria honrar aquela descendência, e apesar de ser uma grande responsabilidade, ele se orgulhava de carregá-la. Tudo que queria era trazer glória ao sobrenome de seu pai pela própria trajetória como Jedi, mesmo que ele pudesse jamais voltar. Khali nascera para ser um cavaleiro, o poder e a busca pela Força estavam em seu DNA. E até agora, isso tudo tinha sido de grande serventia para a Ordem Jedi, que o tinha como uma das maiores promessas para o futuro por ser um de seus aprendizes favoritos.
Apesar de apreciar a aventura, aqueles breves momentos de paz e tranquilidade eram valiosos para Khali. O jovem padawan fechou os olhos, sentindo a Força correr por tudo que estava a sua volta. Adorava fazer aquilo. Sentia as plantas, o vento, a água do lago e as folhas das árvores sendo agitadas pela brisa, tudo em sua mente. Parecia que, por um momento, ele tinha o controle sobre tudo. Era uma sensação maravilhosa de sintonia com o Universo, e com tudo que pertencia a ele.
Então, uma presença poderosa e conhecida apareceu em seus sentidos, e ele abriu os olhos para encontrá-lo. Era Yerodin, seu mestre, que retornara após fazer o relatório da missão para o Conselho Jedi. Ele se aproximara de Khali para conversar.
— Meditando sobre a missão, meu jovem aprendiz? – Disse ele, e o rapaz sorriu.
— Estou apenas relaxando um pouco. Os últimos dias foram agitados, apesar da lerdeza daqueles contrabandistas. – Disse Khali, virando-se para o homem.
— Sua performance em Naboo foi realmente ótima, Khali. Estou orgulhoso de você. – O mestre disse, fazendo o coração do aprendiz encher-se de felicidade.
— Obrigado, mestre Yerodin. Fico satisfeito em ouvir isso.
— Pois tem todo direito de ficar. – Falou o Jedi. – Seus poderes estão se tornando mais fortes a cada missão em que é enviado, e seu treinamento tem dado ótimos resultados. O Conselho está analisando meu pedido para finalizar sua jornada como aprendiz. Logo você deve se tornar um Jedi completo.
— Isso é ótimo, mestre. – Khali sorriu.
— Sua tia está orgulhosa de você. Pediu para que passe para vê-la mais tarde.
— Pode deixar, verei tia Leia assim que sair daqui. – Respondeu, sorrindo ao lembrar-se dela. Sentiu saudades durante a missão. – E então, houve alguma evolução nas investigações sobre o paradeiro de Darth Styg enquanto estivemos longe?
— Ainda não tive tempo de conversar mais a fundo com o Conselho depois da nossa volta, mas acredito que não. Tudo que sabemos é que a sua presença fica mais forte e mais sombria a cada dia. – O mestre disse preocupado, franzindo a testa e olhando para longe.
— É curioso, sabe... – Falou o padawan. – Há anos que ele nem sequer demonstra que está por aí. Será que faz tudo parte de algum plano?
— Ouça sua intuição, jovem aprendiz. A Força está desequilibrada e instável, o mal continua a crescer. Styg está tramando alguma coisa, eu posso sentir.
— E o que a Democracia Intergaláctica diz sobre isso?
— Nada, como de costume. Preferem fingir que o problema não existe e continuar a ignorar os pedidos do Conselho para ajudar e sair em busca dele. – Disse o homem, frustrado. – Eu entendo que os Democráticos queiram manter a calmaria na Galáxia, mas a paz criada por eles é falsa. Cedo ou tarde ela irá desmoronar.
— Arrisco em dizer que acontecerá mais cedo do que eles imaginam. – Disse Khali, encarando o horizonte mais uma vez.
— A Ordem Jedi precisa estar preparada para isso. Quando este dia chegar, nossos cavaleiros serão mais necessários do que nunca. São os únicos capazes de lutar com um adversário conhecedor da Força como Styg, e para isso precisam estar devidamente treinados. O Conselho vem fazendo várias reuniões para discutir este assunto. É por isso que voltei da missão de Naboo alguns dias antes que você e os demais. – Explicou o Jedi. – Estamos recrutando cada vez mais aprendizes, o que é bom. Mas o número de mestres graduados e aptos a treiná-los não cresce na mesma proporção, pois nossa Academia ainda é jovem. Por esta razão, o Conselho está tomando algumas decisões de emergência. – Disse Yerodin. – Vamos começar a aumentar o número de padawans instruídos por cada mestre Jedi, para que todos sejam treinados.
Então, uma voz feminina interrompeu a conversa dos dois cavaleiros.
— Mestre Yerodin Zuma? – Disse a garota, e os dois viraram-se para encará-la. – Desculpe, estou atrapalhando alguma coisa?
Uma jovem simpática em vestes de Jedi postava-se atrás deles, do lado de dentro da sacada, carregando um sabre de luz na cintura. Khali nunca tinha a visto por ali antes. Assim que a notou, Yerodin sorriu e foi cumprimentá-la.
— Olá, minha jovem. Que bom que está aqui. – Disse o Jedi, indo até a garota e a conduzindo para o terraço. – Meu caro aprendiz, está é Ameenah. Como eu disse, alguns mestres Jedi vão aumentar seu número de padawans. Eu serei responsável por treiná-la nas artes Jedi a partir de agora, simultaneamente com o seu treinamento. – Disse mestre Zuma, indicando a garota para Khali. – Ameenah, este é meu outro aprendiz, Khali Skywalker.
— É um prazer conhecê-lo. – Disse a garota, com um simples gesto simpático.
— Igualmente. – Disse Khali, um tanto desconfiado daquilo.
— Mesmo estando aqui há pouco tempo, já ouvi muito sobre o Skywalker. – Ela sorriu, e então se voltou novamente para Yerodin. – Espero não estar interrompendo nenhuma conversa importante entre vocês. Estava indo para o jardim, quando ouvi sua voz conhecida vindo da sacada.
— Não se preocupe, estávamos só confabulando sobre assuntos da Ordem. – Yerodin tranquilizou-a. Khali, que ficou pensativo por alguns segundos, falou em seguida.
— Não entendi muito bem essa decisão do Conselho, mestre. As regras da Ordem não dizem que cada mestre Jedi só pode treinar um aprendiz por vez?
— Bom, esta é uma situação peculiar. Precisamos treinar nossos cavaleiros, e como muitos mestres estão ocupados com as buscas por Darth Styg, o Conselho Jedi decidiu abrir algumas exceções e dar aos mestres mais experientes dois aprendizes ao invés de um. – Explicou Yerodin. – E além do mais, você já está quase finalizando seu treinamento, e logo não será mais meu aprendiz. Eu não terei dois padawans por muito tempo.
Khali analisou a garota cuidadosamente. Parecia tímida, mas determinada. Uma pequena trança Jedi típica de aprendizes pendia por entre seus cabelos loiros, e escondia-se entre as ondas. A menina era claramente muito mais velha do que um padawan no início do treinamento deve ser, pois deveria estar próxima dos dezoito anos, e a aquilo era estranho. Quem era ela, afinal?
— Ameenah é um caso especial de aprendiz. – Continuou mestre Zuma, explicando ao garoto como se soubesse de suas dúvidas. – Ela já tem conhecimento inicial, e foi primeiramente treinada por um antigo Jedi muito poderoso, chamado Horus Keet. Já lhe contei muitas histórias sobre ele, meu aprendiz, pois foi um grande cavaleiro – e também um grande amigo meu. O mestre Keet está aposentado, e durante seu afastamento da Ordem Jedi resolveu tornar Ameenah sua aprendiz e veio treinando-a. Ela chegou à Academia há mais ou menos uma semana, enquanto estávamos em missão. Ela tinha uma carta escrita por ele pedindo para que a aceitássemos como nossa aprendiz e a treinássemos para ser uma cavaleira. Voltei mais cedo de Naboo pois o Conselho queria que eu a conhecesse. Foi pedido que eu a treinasse.
Algo naquela história fez com que o rapaz tivesse um arrepio repentino. De uma coisa Khali não poderia discordar: a Força estava presente na menina, e ele sentia. Horus Keet era um grande Jedi, e não treinaria ninguém que não valesse a pena. Havia um mistério envolvendo aquela garota, e o rapaz estava intrigado por ele.
— Acredito que vocês dois se darão bem. Será uma honra...
Yerodin não foi capaz de terminar a frase. Naquele exato momento, um choque atingiu os três Jedis simultaneamente, causando um vazio repentino no peito e uma inquietação na mente. Haviam sentido um distúrbio na Força.
Não aconteceu apenas com eles. Subitamente, todos na Academia calaram-se ao mesmo tempo, captando a mudança brusca na energia. O impacto da oscilação veio como uma onda e alcançou a cada um, fazendo o palácio ficar imerso em calmaria absoluta por um instante, enquanto todos tentavam entender o que houve.
Então, de repente, um som ensurdecedor veio de cima quebrando a quietude, e todos olharam para o céu. De dentro das nuvens, surgiram enormes naves de modelo e origem desconhecidas, voando como lâminas negras que rasgavam a imensidão azul.
O mestre e os dois aprendizes desceram rapidamente as escadas para ver o que estava acontecendo. Ao chegarem ao andar de baixo, viram uma grande aglomeração de pessoas ao lado de fora, e correram para lá. As naves estranhas pousavam por todos os lados do gramado do jardim, e delas saíram centenas de soldados armados, que miravam na direção deles.
Aqueles soldados eram estranhos, ninguém tinha os visto antes. Eram inteiramente cinzentos, e seus uniformes se pareciam muito com roupas de gladiadores. Ostentavam armas grandes e carregadas com um laser brilhante e vermelho, as quais portavam na lateral dos corpos. Encaravam os Jedi com absoluta impassibilidade, parecendo altamente treinados e obedientes.
Todos estavam surpresos e assustados. Ninguém fazia ideia do que era aquilo, e a cada instante mais e mais pessoas se aglomeravam nas portas e janelas da Academia para ver o que estava acontecendo. Foi então que uma última nave aterrissou, esta com uma aerodinâmica diferente das demais. De repente, tudo ficou mais sombrio, e o ar se tornou gélido. Todos sentiram a que estava há muito tempo ausente, mas que ao mesmo tempo era inconfundível, presença do Lado Negro.
A porta principal da nave se abriu numa rampa, e por ela saiu uma criatura obscura; tinha boa parte do corpo mecanizado, envolto em uma armadura firme e robótica. Usava um aparato de respiração que cobria metade do seu rosto, e a única parte a mostra eram seus olhos, vermelhos e vibrantes de ódio. A pequena parcela de pele exibida próxima a eles era cheia de queimaduras e cicatrizes profundas; possuía uma capa comprida e negra presa às costas, e assemelhava-se a um sinistro e sombrio ciborgue. A criatura que trouxe junto a ela tudo aquilo que havia de ruim, e seu enorme desejo de destruição mais forte do que nunca.
— Styg – Disse mestre Yerodin, sem tirar seu olhar vidrado da figura à frente. Os dois aprendizes o encararam. – Aquele é Darth Styg. Ele voltou.
A cena era como um pesadelo horrível tomando forma. Toda a podridão da Força que há anos atrás havia assombrado a Galáxia retornara, para lembrar a todos o quanto foram privilegiados durante as décadas de paz. Pois agora, aquele tempo calmo tinha se esgotado. Acabou-se por completo no instante em que o primeiro tiro foi disparado, do blaster de algum dos soldados daquele exército da escuridão. E então, uma batalha começou.
Os tiros de laser começaram a vir na direção dos Jedi como uma nuvem brilhante. Logo, num ato de proteção, todos os mestres ali presentes se postaram a frente dos demais para defender os menos experientes. Usando as lâminas de seus sabres como escudos, eles defendiam os lasers desviando-os com movimentos circulares e rápidos, mas não era possível barrar todos. Já na primeira leva, alguns cavaleiros foram atingidos e caíram no chão.
O líder sombrio apontou para frente, bradando palavras em alguma língua desconhecida, e os soldados inimigos começaram a avançar, marchando ordenadamente em filas e portando suas armas laser. Os Jedi aprontaram seus sabres, e então começaram a descer as escadarias da Academia para ir de encontro com eles, e proteger o santuário de Força Luminosa.
Lutas corporais começaram. Os Jedi tentavam impedir uma possível invasão, bolando estratégias para barrar o inimigo desconhecido. Golpeavam os soldados sem parar, e se defendiam para evitar serem acertados pelos lasers.
O jovem Skywalker encontrava-se ao lado de seu mestre, batalhando com os soldados e dando golpes ágeis com seu sabre. Um tentava proteger a retaguarda do outro, e nova garota Ameenah estava logo a alguns metros deles. O rapaz nunca vira nenhum confronto como aquele. A iminência do retorno do mal lhe deu arrepios, mas ele precisava reagir. Atravessou um dos soldados cinzentos com seu sabre de luz, e então era menos um para a contagem das centenas que ali estavam.
O som dos sabres de luz, dos tiros de blaster e dos gritos de sofrimento tomaram o jardim antes tão pacífico da Academia. Muitos caíram, tanto de um lado quanto do outro. Quem olhasse de fora pensaria que aquela era uma cena da guerra civil de muitos anos atrás, mas era diferente. Era atual, outra vez. Exceto pelo medo, a dor e principalmente a competição entre o bem e o mal; aquilo era, e sempre seria igual.
Durante a batalha, os tiros pareciam vencer as espadas, e pouco a pouco os cavaleiros Jedi iam ao chão. Porém, estranhamente, os atingidos pelos tiros não estavam mortos. Sentiam uma dor agonizante, forte demais até para ficarem conscientes, mas continuavam vivos. As balas dos blasters dos soldados que os atingiam pareciam não surtir efeito. Aquilo tudo era muito estranho. Se o objetivo daquele ataque não era dizimar os Jedi, então qual era?
O grande vilão permanecera imóvel durante toda a batalha. Ficou postado com suas grandes pernas mecânicas na saída de sua nave, com um soldado armado de cada lado, apenas assistindo a tudo acontecer. Darth Styg sorria, o que era perceptível mesmo com um enorme pano cobrindo sua boca. Um sorriso cheio de malícia e crueldade, esbanjando o triunfo de seu retorno que prometia muito sangue e sofrimento, principalmente por parte dos inimigos Jedi.
A luta continuou durante algum tempo, com Jedis e soldados caindo no chão, e tiros e golpes rolando. Até que, sem mais nem menos, Darth Styg ordenou algo para seu exército na mesma língua estranha de antes, e todos começaram a recuar. Pouco a pouco, os soldados cinzentos se retiravam enfileirados, com os Jedis restantes ainda em seu encalço, enquanto adentraram novamente as naves em que vieram. E então, mantendo o mesmo sorriso diabólico no rosto, Styg lançou um último olhar ao estrago da batalha e em seguida entrou em sua grande nave, andando triunfante.
Sem dizer nada a respeito daquilo tudo, as tropas cinzentas, lideradas pelo recém-renascido lorde Sith decolaram em suas estranhas naves, desaparecendo da atmosfera tropical de Tedros antes mesmo que os Jedi pudessem tentar derrubá-las. Partiam sem razão aparente, deixando para trás uma porção de cavaleiros feridos e um monte de perguntas.
Poucos eram os estragos causados ao palácio da Academia, e inexistentes eram os números de mortos. Aquela batalha parecia totalmente sem sentido e sem propósito, e era isso que assustava ainda mais os Jedi. Jamais teriam sido poupados por pura clemência. Pouco a pouco, as coisas foram se acalmando e os feridos foram sendo levados para dentro do prédio para receberem atendimento.
— Mestre, o que foi tudo isso? – Disse Khali confuso, aproximando-se de Yerodin, que estava sujo e desgastado. – O que significa esse ataque?
— Eu não sei, caro aprendiz. – O Jedi respondeu, ofegante. – Mas Darth Styg está de volta. E o que acabou de acontecer aqui foi o retorno poderoso e definitivo, não só dele, mas do Lado Negro também, prontos para assombrar a Galáxia novamente.
Capítulo 2
O ar que circulava pela Academia era de dúvida e medo. A maior ameaça iminente da Galáxia acabara de realizar um ataque ao melhor grupo de guerreiros que existia, e seu exército os tinha derrotado com uma arma que não matou ninguém.
Após o ataque surpresa das tropas de Darth Styg ao palácio, os atingidos pelos estranhos tiros de laser foram recolhidos para serem atendidos. Um dos salões de reunião da Ordem Jedi teve de ser transformado em hospital, pois só a enfermaria convencional não comportou todos os feridos.
Ninguém sabia o que eram aqueles blasters das tropas cinzentas. O ferimento causado por eles era mínimo, mas a dor que os atingidos sentiam era imensa. Parecia uma simples queimadura leve na superfície da pele, porém o incômodo ia até bem mais fundo, deixando os Jedi incapazes de sequer levantar.
Pessoas corriam para lá e para cá o tempo todo. Os cavaleiros que não estavam debilitados ajudavam nos reparos do jardim que fora o campo de batalha do lado de fora, enquanto outros se preocupavam com o atendimento dos enfermos. Mas a dúvida sobre o que tinha acontecido e o porquê, eram comuns a todos eles.
Tudo estava muito estranho e confuso, especialmente para a mais nova pupila da Academia, que mal conhecia o lugar ou as pessoas dele. Ameenah estava perdida no meio daquela confusão, tentando entender o que tinha acontecido, e o que era tudo aquilo que acabara de presenciar. A garota tentou se inteirar, ajudou como pôde cuidando de alguns feridos. Depois, se afastou do caos para tomar um pouco de ar fresco.
Era muita coisa acontecendo de uma vez, um desespero generalizado difícil de acompanhar. Aquilo tudo a deixou assustada, mas ao mesmo tempo muito curiosa. Ameenah foi até o lado de fora do salão principal, para refrescar um pouco os pensamentos de sua curta e conturbada estadia na Academia. Chegando lá, viu Khali, o outro aprendiz de seu mestre, conversando com alguns Jedi. Ele era um rosto conhecido, e talvez soubesse lhe explicar alguma coisa. Assim que os outros se afastaram, ela caminhou até ele.
— Você tem alguma ideia do que aconteceu? – Perguntou ela, usando suas últimas esperanças de conseguir uma resposta.
— Acho que ninguém tem – Respondeu o rapaz virando-se para ela, frustrado. – Só o que sabemos é que Styg retornou de seu esconderijo e aparentemente não gosta muito dos Jedi. Mas o que ele quer e por que não nos matou, eu não sei. – Khali terminou a fala, e suspirou para relaxar em seguida.
— Acha que desta vez ele voltou pra valer? – Ela perguntou.
— Bom, por enquanto não adianta ficarmos desesperados. Cedo ou tarde Styg voltaria, sabíamos disso. Só precisamos entender exatamente o que isso significa, e reerguer a Ordem o mais rápido possível. Mas paz e serenidade da Galáxia acabaram, devemos nos preparar. O Conselho tem que se reunir pra discutir, estudar o que aconteceu e decidir o que fazer, e então, seguiremos o que eles mandarem.
— É o melhor a fazer. – Respondeu Ameenah. Ela não pôde deixar de reparar no quanto o garoto soava como um mestre ou cavaleiro experiente enquanto falava. – Você parece conhecer muito bem as coisas aqui. — Comentou.
Normalmente, Khali não seria tão simpático com um forasteiro misterioso como aquela garota. Mas ela parecia querer alguém pra conversar, e estava um tanto perdida por ser nova no lugar. É o que Yerodin iria me mandar fazer, ele pensou.
— Bom, eu moro aqui desde bem pequeno – Khali contou. – É meio inevitável. Sabe, está tudo meio caótico por aqui, mas a Academia é um bom lugar para se estar. – Disse, tentando abafar o clima de tensão. – Você vai ver, logo você vai se adaptar.
— É o que eu espero. Treinar aqui é muito importante pra mim.
— É como um lar, sabe? Por isso o ataque ao palácio mexeu tanto com todos aqui. Sentimos como se fosse nossa casa sendo invadida. – Khali continuou. – Especialmente eu. Não sei o que seria de mim se não estivesse aqui, com todos os mestres e também com minha tia Leia.
Ameenah se impressionou com o fato de o garoto se referir à grande e poderosa Leia Organa como “tia Leia”, fazendo soar tão natural.
— Tia Leia... – Ameenah deu uma risadinha e fez uma pausa. – Então você é de fato o famoso Skywalker, não é mesmo?
O rapaz sorriu de lábios fechados.
— Sou sim. Mas só Khali está bom.
— Não gosta de rótulos? – Ele concordou, e Ameenah sorriu. – Entendo. É difícil estar na sombra dos pais em todo lugar por causa do seu nome. É como se você fosse obrigado a ser igual a eles.
— É mesmo. – Khali respondeu, e em seguida franziu a testa. – Como você sabe?
A garota pareceu processar a pergunta.
— Ah – Ela sorriu sem graça. – Eu também sou reconhecida por causa dos meus pais. Acontece o tempo todo.
— E quem são seus pais? – Khali perguntou, curioso. Embora, agora que ela mencionara, seu rosto lhe parecia familiar.
— São os Governantes-Reais de Nassor. – Ela respondeu. – Muito prazer, pode me chamar de sua alteza real, princesa Ameenah Zulai. – Ela disse, curvando-se para fazer uma reverência nobre em tom de brincadeira.
Agora sim Khali ligara os pontos. Nassor era um dos planetas mais fortes e influentes da Galáxia, e era reconhecido por sua grande inteligência política, seu poder econômico e sua rica cultura. Ele já tinha o visitado em missões da Ordem Jedi, e era um dos planetas mais bonitos que já vira, bem desenvolvido e com uma natureza muito exuberante. Além disso, foi neste planeta que ocorreu o primeiro atentado realizado pelas tropas de Darth Styg, o qual revelou sua existência para toda a Galáxia e chamou simpatizantes. Seus Líderes-Reais eram muito poderosos, altamente influentes na Democracia Intergaláctica, e Khali sabia que eles tinham uma filha.
— Oh, sim – Khali disse, após seu momento de clareza. – Nassor é um planeta realmente bonito, eu gosto de lá.
Aquela informação chamou a atenção do rapaz. Ameenah pertencia à realeza, era filha de alguns dos governantes mais importantes da Galáxia. Não era comum que pessoas atreladas à política, e ainda mais princesas, treinassem para se tornar Jedis. A maior parte dos Democratas nem sequer acreditava na Força e sua doutrina, e era raríssimo que gente desse tipo se envolvesse com assuntos Jedi. Por que será que a princesa de Nassor o fez?
— Isso é curioso, sabe... – Disse Khali. – O que uma princesa da Democracia Intergaláctica faz treinando para tornar-se uma Jedi?
— Sua pergunta não me impressiona. – Ameenah riu. – Naturalmente, eu deveria estar em algum congresso Intergaláctico tratando de assuntos políticos, ou então em casa no palácio aprendendo sobre regras de etiqueta. É onde todos esperam que uma princesa esteja. – Disse ela. – Mas eu nunca gostei muito dessa coisa toda.
— E por que não? Sempre achei que assuntos políticos fossem muito interessantes. — Falou Khali, tentando ter mais informações.
— Não pra mim. Ao contrário dos meus pais, os honoráveis Karasi e Rashid Zulai. – Ameenah disse com certa ironia. – Eles sempre me criaram para ser uma dama diplomática, me ensinando tudo sobre a burocracia e cordialidade. Eu passava a maior parte do tempo no palácio tendo lições ou os acompanhando em viagens da Democracia Intergaláctica, e eles pretendiam que, futuramente, eu fosse a sucessora do trono deles em Nassor. Mas eu nuca quis isso. A vida de princesa nunca me interessou, eu sempre achei que deveria fazer algo diferente. Não queria ser governante, queria ajudar as pessoas. Como os Jedi fazem.
— Mas os Democratas também fazem isso. Eles criam leis e discutem medidas para tornar a Galáxia um lugar melhor para todos, não é?
— Isso em teoria. Quando participava das reuniões do Parlamento, tudo que eu via eram homens e mulheres velhos e ultrapassados, que no fundo eram medrosos demais para enfrentar problemas e não estavam muito interessados no bem da Galáxia. – Ameenah explicou. – Os Jedi não. São cavaleiros honrados e corajosos, que doam seu destino para proteger as outras pessoas, e que abrem mão da própria vida para proteger a dos outros. Eu queria ser assim. Queria poder viver aventuras, participar de missões, salvar pessoas, lutar contra o mal, defender a paz e toda a Galáxia. É um significado muito mais nobre para dar a sua vida, e é muito mais válido do que sentar atrás de uma mesa e discutir planos sem efetividade.
— É um belo ponto de vista. – Disse Khali, surpreso. – Mas e seus pais, o que acharam disso? Quer dizer, eles aceitaram que você deixasse de lado a vida política para se tornar uma Jedi?
— Eles nunca gostaram, mas não foi uma decisão deles. – Ameenah disse, e Khali pode sentir um pouco de tensão naquela frase. – Eu sempre gostei dos Jedi, desde criança. Costumava ouvir histórias sobre eles e vivia sonhando em me tornar uma. No fundo, eu sempre senti que deveria fazer algo a mais, e que a vida que eu levava em Nassor não era pra mim. Tudo que eu queria era sair dali e treinar. Mas os meus pais nunca aprovaram. Diziam que era perigoso demais, que eu teria que abrir mão de muitas coisas e que a vida de um Jedi era muito difícil, além de, é claro, não acreditarem na Força. Eles sempre tentaram me convencer a desistir, principalmente a minha mãe. Ela tinha horror a essa ideia, achava que eu ia acabar morta ou então que algo de muito ruim iria me acontecer.
— É, a vida de um Jedi não é exatamente calma e pacífica... – Khali brincou. – É muito difícil ir contra aquilo que todos esperam de você e fazer algo diferente. Mas... então como você acabou aqui, afinal? Qual é a sua história?
— Bem, como você notou meus pais tem mania de superproteção. Devido à vida política deles em Nassor, e ainda mais depois do ataque de Darth Styg ao nosso planeta, eles temiam que alguém que quisesse atingi-los ou chantageá-los pudesse tentar me usar para isso e fazer-me mal. Por isso, assim que eu aprendi a andar eles contrataram um guarda costas pra mim, que era um Jedi aposentado. Eles achavam que seria melhor do que um guarda convencional, pois, por ter habilidades sensitivas, um Jedi conseguiria sentir qualquer problema antes mesmo de acontecer, e isso impediria que eu fosse exposta a qualquer situação. – Ela explicou. – O Jedi que meus pais procuraram era Horus Keet, que como você sabe, foi meu primeiro mestre. Ele tinha se ferido gravemente em uma batalha Jedi e perdido uma das pernas, e portanto decidiu se afastar da Ordem. Por isso meus pais o procuraram. Ele aceitou a oferta, colocou uma prótese mecânica e então se tornou meu vigia durante vinte e quatro horas por dia. Horus era como se fosse minha babá, estava sempre cuidando de mim e ia pra onde quer que eu fosse... e também foi responsável por me contar grande parte das histórias de Jedi que me fizeram querer ser uma. Ele me falava sobre as grandes batalhas, sobre os tempos sombrios do domínio do Império, sobre a vitória da Aliança Rebelde ao derrubá-lo, sobre os grandes heróis, sobre as missões e expedições das quais ele participou, sobre como é estar em sintonia com o Universo através da Força e sobre o compromisso dos Jedi com a paz e a justiça. Aquilo me deixava encantada. Horus via isso e sabia o quanto eu desejava fazer parte desse universo, e também sabia da importância dos Jedi depois do ataque a Nassor. Então, apesar da proibição dos meus pais, ele decidiu me treinar. Eu tinha seis anos quando comecei. Praticávamos em segredo, de madrugada ou então bem cedinho de manhã. Eu adorava aprender, ficava ansiosa o dia todo esperando as próximas lições, e evolui muito durante os anos, sem ninguém nunca descobrir. As coisas ficaram assim por um bom tempo, até que neste ano eu completei dezoito. Horus me contou que a Academia Jedi localizada em Tedros, comandada pela Ordem da qual ele fez parte, estava buscando novos aprendizes para reconstruir a Ordem. Ele disse que eu deveria finalizar meu treinamento perto de outros Jedi, e que eu poderia ajudá-los. Então eu decidi ir. No entanto, mas meus pais jamais poderiam descobrir, porque não sabiam sobre o meu treinamento. Eles tentariam impedir de qualquer jeito, e acabaríamos brigando. Portanto, eu peguei minha nave e fugi de Nassor durante a madrugada, sem que ninguém soubesse. Horus escreveu uma carta para seus antigos companheiros do Conselho, pedindo pra que finalizassem meu treinamento de modo a me integrar na Ordem, para que eu pudesse participar e ajudar, que é o que eu sempre quis. Eu vim até aqui e entreguei esta carta ao Conselho, e eles me designaram ao mestre Yerodin, pois você já está finalizando seu treinamento. — Ela fez uma pausa e suspirou. — Não sei como meus pais reagiram a minha fuga ou se estão me procurando, e sinceramente nem quero saber. Estou vivendo minha própria vida agora.
— Você tem uma jornada e tanto. – Khali disse e ela sorriu de canto. Por dentro, estava impressionado com a garota, pois não esperava que ela fosse quem era e tivesse feito o que fez. – É muito corajosa.
— Quando sentimos que uma coisa é certa, devemos persegui-la até o fim. – Ameenah sorriu. – E é isso que um Jedi faz, a final de contas.
— Tem razão.
— Mas e você, Khali Skywalker? – Disse a garota, arqueando uma sobrancelha. – Qual é a sua história?
— Sobre o que quer saber, exatamente? — Ele perguntou. Não gostava de falar de si mesmo.
— Ah, não sei... Você é filho de um dos maiores Jedis que já existiu, e hoje em dia ele é uma lenda desaparecida e misteriosa. Deve haver uma história e tanto por trás disso tudo.
— Não muito, na verdade. Passo longe de qualquer história emocionante de herói nobre e destemido como meu pai. — Disse Khali. — Nem sempre eu soube quem eu era. Eu tive uma infância pobre, morava em uma casa simples com meus pais na periferia de uma grande cidade. Na verdade, só com a minha mãe, pois hoje em dia eu sei que aquele homem não era meu pai de verdade... – Ele riu. – Nunca fui ninguém especial, vivia uma vida igual a de todo mundo.
— E como foi que você se tornou um Jedi?
— Um dia, quando eu tinha cinco anos, a região da favela em que eu morava foi atacada, e meus pais morreram em uma explosão de bomba. Eu estava em casa junto com eles, mas sobrevivi pois minha mãe me protegeu. Eu fui o único da minha família que restou graças a ela, pois ela estava abraçada comigo o tempo todo, então o corpo dela serviu como uma espécie de escudo. – Khali contou, e Ameenah se sensibilizou. – Eu fiquei ileso, mas desmaiei por causa do impacto da explosão. Os Jedi vieram até meu planeta em missão para ajudar os feridos e procurar os culpados, e eles me encontraram no meio dos escombros da minha casa. Um dos mestres me tirou de lá, e então sentiu algo em mim. Ele viu que a Força em mim era poderosa, e pensou que eu poderia ser um bom cavaleiro Jedi. Ele queria que eu fosse treinado, então como eu não tinha mais família nem ninguém para ficar comigo no meu planeta, eu me recuperei dos ferimentos e vim com os Jedi para a Academia. Eu comecei meu treinamento e moro aqui desde então.
— Caramba... e como foi que você descobriu que era filho de Luke Skywalker?
— Perto da época em que aconteceram as explosões, o Supremo Mestre da Ordem previu por meio de uma visão que Luke havia tido um filho em segredo, antes de partir. Eles sabiam que, naquela época, a criança já tinha mais ou menos a minha idade, e sua verdadeira descendência estava sendo escondida para protegê-la, por meio de outra família e um falso pai. A mãe havia tido um breve romance com Luke, e guardava isso em segredo de todos, pois se fosse descoberto traria sérias consequências, tanto para a vida dela e como a do filho. Também sabiam que a criança Skywalker era muito poderosa, e que quando chegasse a hora certa – o que não ia demorar –, os Jedi iriam encontrá-la ao acaso, no meio de uma situação de conflito e tensão, e seu grande poder seria descoberto para que fosse treinada para ajudar a todos. – Khali explicou. – Eu me encaixava perfeitamente nessa descrição. Fui encontrado por acaso no meio do entulho de uma explosão trágica. Logo depois de me salvarem, os Jedi acharam dentro do meu bolso uma carta da minha mãe, que ela colocou lá enquanto me protegia. A carta contava que o casamento dela com o meu “pai” era apenas para encobrir o seu filho, e que o pai da criança não era quem todos achavam. Dizem também que eu tinha uma semelhança física muito grande com Luke.
— Ainda tem, na verdade. – Disse Ameenah, encarando o rapaz loiro de grandes olhos azuis à sua frente. Ela sabia muito sobre Luke Skywalker graças às histórias de Horus, e viu que Khali era mesmo muito parecido com ele. Sem dúvidas eles eram pai e filho.
— Pois é. – Disse o rapaz. — Para confirmar o parentesco, o Conselho analisou uma amostra do meu sangue e constatou que o número de midi-chlorians no meu sangue era idêntico ao do sangue dele. – Khali explicou. – A partir daí, tiveram certeza de que eu era o filho de Skywalker.
— E como foi que você lidou com o fato de o seu "pai" não ser seu pai de verdade? Você ficou bravo ou algo assim?
— Acho que bravo não seria bem a palavra. Eu fiquei apenas bem surpreso. – Respondeu Skywalker. – Mas isso não foi lá um grande impacto na minha vida. Meu pai de infância não era muito presente, estava sempre fora e eu não era incrivelmente próximo dele como normalmente um garoto de cinco anos é do pai. Então eu encarei bem. O que mais me surpreendeu na época foi o fato de a minha mãe ter escondido isso de mim o tempo todo.
— Deve ter sido muito duro pra ela, afinal de contas Luke desapareceu sem deixar pistas pra ninguém. – Ameenah falou. – Você chegou a conhecê-lo?
— Não que eu me lembre. Talvez quando era bem novo tenhamos convivido, mas eu não sei dizer. Minha mãe é a única que saberia explicar.
A conversa dos dois aprendizes foi interrompida por um aviso vindo de dentro do palácio.
— O Supremo Mestre está chamando a todos no salão principal! – Disse o Jedi que estava passando por ali. – Andem logo, ou vão perder o pronunciamento sobre o ataque de hoje!
A menção do ataque despertou interesse tanto de Khali quanto de Ameenah. Os dois aprendizes logo se encaminharam para o salão principal, em busca de um esclarecimento sobre toda aquela loucura de horas atrás. Juntaram-se aos outros Jedi, aguardando o pronunciamento.
Enquanto o tumulto e os burburinhos dominavam o salão do palácio, um Jedi mais velho, com barba e cabelos grisalhos usando roupas claras se aproximou, e atraiu os olhares de todos. Aquele era o Supremo Mestre Idowu, líder do Conselho Jedi. Ele parecia preocupado, olhou em volta com a testa franzida, e gentilmente pediu silêncio geral.
— Meus caros Jedis – Disse o homem, projetando sua voz grave no salão. – Sei que estão todos assustados e confusos com o que aconteceu, mas peço que fiquem calmos e escutem. – O silêncio tomou conta do grande salão, e o homem continuou a falar. – Darth Styg está de volta, e seus planos ainda são um mistério. Seu exército cinzento é poderoso, e suas armas são de uma alta tecnologia que até agora era desconhecida por nós. – Disse o homem, fazendo uma pausa. – Ao prestar socorro para os feridos, nossos médicos constataram que aqueles que foram atingidos pelos tiros não se feriram gravemente, mas em compensação ficaram doentes: eles não estão mais sensíveis à Força. Os cavaleiros atingidos não conseguem mais mover objetos com telecinese, comunicar-se por pensamento nem se conectar com outros cavaleiros, e tiveram todas as suas habilidades Jedi neutralizadas. – Ao ouvir isso, todos no salão ficaram surpresos e começaram a falar novamente. Idowu esperou até que todos se calassem novamente. – Ainda não sabemos o porquê disso, e nem sabemos se existem outros efeitos colaterais do contato com o que chamamos de “tiros anti-Luz”. Estamos trabalhando duro para obter a resposta, e colocamos todos os nossos cientistas e pesquisadores para estudar o acontecido. Iremos investigar os novos blasters de batalha e os tiros de laser de Styg para sabermos o que exatamente atingiu nossos cavaleiros, e iremos curá-los o mais rápido possível. Então, quando soubermos com que estamos lidando, poderemos combater e assim derrotar o mal. – Idowu explicou. –Por ora, todos vocês continuarão ajudando no atendimento dos feridos e nos reparos do palácio, para que possamos voltar o mais rápido possível a nossas atividades normais. Qualquer um que tiver informações relevantes sobre Styg, sobre os tiros anti-Luz ou qualquer outro tópico relacionado ao assunto, procure o Conselho imediatamente. – O homem suspirou, encarando a todos os presentes ali com aflição. – Fiquem alertas, e que a Força esteja com vocês.
Assim que terminou de falar, o homem grisalho se retirou, dando lugar para um rumor generalizado com palpites e preocupações vindos de todos os Jedi ali reunidos. Ninguém sabia o que estava acontecendo, e estavam todos preocupados com o que viria a seguir. Será que seriam atacados outra vez? Será que os tiros possuíam mais consequências? Será que o Lado Negro estava realmente de volta para ameaçar a paz da Galáxia novamente?
Estes pensamentos cruzavam a cabeça de todos, principalmente da jovem aprendiz Ameenah. Era tudo muito novo pra ela, especialmente porque chegou num momento de tanto alvoroço na Academia. Se nem os grandes especialistas da Força entendiam o que estava acontecendo, ela entendia menos ainda. No entanto, estar ali e finalmente fazer parte daquele universo era incrível para ela, e todos os detalhes e acontecimentos atiçavam sua curiosidade.
No entanto, devia confessar que a menção do Lado Negro a assustava. Só ouvira sobre ele em livros de história, assim como boa parte dos Jedi que ali estavam. Ela nasceu logo depois que os tempos sombrios acabaram, e nunca conviveu de perto com nenhuma guerra ou batalha pelo poder. Darth Styg era uma figura assustadora, assim como seu Exército Cinzento e seus blasters com tiros anti-Luz. Aquilo tudo era apavorante, mas ainda assim, a empolgava.
Não era tão fácil assim assustar a jovem Ameenah. Ser uma Jedi era tudo que ela sempre quis. Ao escolher esta vida, ela sabia que teria que conviver com aquele tipo de coisa. Combater o mal era seu único objetivo, e ao menos agora com tudo isso acontecendo, ela teria esta oportunidade. Em breve, se tornaria uma heroína assim como Leia era.
Os pensamentos da garota estavam a mil, mas ela precisava descansar. No dia seguinte a ação começaria de fato. A Academia retornaria à suas atividades normais, e Ameenah teria seu primeiro dia de treinamento com seu novo mestre Yerodin. Um pequeno passo para iniciar uma grande jornada de aventuras e histórias inesquecíveis. Era tudo que ela queria.
Após o ataque surpresa das tropas de Darth Styg ao palácio, os atingidos pelos estranhos tiros de laser foram recolhidos para serem atendidos. Um dos salões de reunião da Ordem Jedi teve de ser transformado em hospital, pois só a enfermaria convencional não comportou todos os feridos.
Ninguém sabia o que eram aqueles blasters das tropas cinzentas. O ferimento causado por eles era mínimo, mas a dor que os atingidos sentiam era imensa. Parecia uma simples queimadura leve na superfície da pele, porém o incômodo ia até bem mais fundo, deixando os Jedi incapazes de sequer levantar.
Pessoas corriam para lá e para cá o tempo todo. Os cavaleiros que não estavam debilitados ajudavam nos reparos do jardim que fora o campo de batalha do lado de fora, enquanto outros se preocupavam com o atendimento dos enfermos. Mas a dúvida sobre o que tinha acontecido e o porquê, eram comuns a todos eles.
Tudo estava muito estranho e confuso, especialmente para a mais nova pupila da Academia, que mal conhecia o lugar ou as pessoas dele. Ameenah estava perdida no meio daquela confusão, tentando entender o que tinha acontecido, e o que era tudo aquilo que acabara de presenciar. A garota tentou se inteirar, ajudou como pôde cuidando de alguns feridos. Depois, se afastou do caos para tomar um pouco de ar fresco.
Era muita coisa acontecendo de uma vez, um desespero generalizado difícil de acompanhar. Aquilo tudo a deixou assustada, mas ao mesmo tempo muito curiosa. Ameenah foi até o lado de fora do salão principal, para refrescar um pouco os pensamentos de sua curta e conturbada estadia na Academia. Chegando lá, viu Khali, o outro aprendiz de seu mestre, conversando com alguns Jedi. Ele era um rosto conhecido, e talvez soubesse lhe explicar alguma coisa. Assim que os outros se afastaram, ela caminhou até ele.
— Você tem alguma ideia do que aconteceu? – Perguntou ela, usando suas últimas esperanças de conseguir uma resposta.
— Acho que ninguém tem – Respondeu o rapaz virando-se para ela, frustrado. – Só o que sabemos é que Styg retornou de seu esconderijo e aparentemente não gosta muito dos Jedi. Mas o que ele quer e por que não nos matou, eu não sei. – Khali terminou a fala, e suspirou para relaxar em seguida.
— Acha que desta vez ele voltou pra valer? – Ela perguntou.
— Bom, por enquanto não adianta ficarmos desesperados. Cedo ou tarde Styg voltaria, sabíamos disso. Só precisamos entender exatamente o que isso significa, e reerguer a Ordem o mais rápido possível. Mas paz e serenidade da Galáxia acabaram, devemos nos preparar. O Conselho tem que se reunir pra discutir, estudar o que aconteceu e decidir o que fazer, e então, seguiremos o que eles mandarem.
— É o melhor a fazer. – Respondeu Ameenah. Ela não pôde deixar de reparar no quanto o garoto soava como um mestre ou cavaleiro experiente enquanto falava. – Você parece conhecer muito bem as coisas aqui. — Comentou.
Normalmente, Khali não seria tão simpático com um forasteiro misterioso como aquela garota. Mas ela parecia querer alguém pra conversar, e estava um tanto perdida por ser nova no lugar. É o que Yerodin iria me mandar fazer, ele pensou.
— Bom, eu moro aqui desde bem pequeno – Khali contou. – É meio inevitável. Sabe, está tudo meio caótico por aqui, mas a Academia é um bom lugar para se estar. – Disse, tentando abafar o clima de tensão. – Você vai ver, logo você vai se adaptar.
— É o que eu espero. Treinar aqui é muito importante pra mim.
— É como um lar, sabe? Por isso o ataque ao palácio mexeu tanto com todos aqui. Sentimos como se fosse nossa casa sendo invadida. – Khali continuou. – Especialmente eu. Não sei o que seria de mim se não estivesse aqui, com todos os mestres e também com minha tia Leia.
Ameenah se impressionou com o fato de o garoto se referir à grande e poderosa Leia Organa como “tia Leia”, fazendo soar tão natural.
— Tia Leia... – Ameenah deu uma risadinha e fez uma pausa. – Então você é de fato o famoso Skywalker, não é mesmo?
O rapaz sorriu de lábios fechados.
— Sou sim. Mas só Khali está bom.
— Não gosta de rótulos? – Ele concordou, e Ameenah sorriu. – Entendo. É difícil estar na sombra dos pais em todo lugar por causa do seu nome. É como se você fosse obrigado a ser igual a eles.
— É mesmo. – Khali respondeu, e em seguida franziu a testa. – Como você sabe?
A garota pareceu processar a pergunta.
— Ah – Ela sorriu sem graça. – Eu também sou reconhecida por causa dos meus pais. Acontece o tempo todo.
— E quem são seus pais? – Khali perguntou, curioso. Embora, agora que ela mencionara, seu rosto lhe parecia familiar.
— São os Governantes-Reais de Nassor. – Ela respondeu. – Muito prazer, pode me chamar de sua alteza real, princesa Ameenah Zulai. – Ela disse, curvando-se para fazer uma reverência nobre em tom de brincadeira.
Agora sim Khali ligara os pontos. Nassor era um dos planetas mais fortes e influentes da Galáxia, e era reconhecido por sua grande inteligência política, seu poder econômico e sua rica cultura. Ele já tinha o visitado em missões da Ordem Jedi, e era um dos planetas mais bonitos que já vira, bem desenvolvido e com uma natureza muito exuberante. Além disso, foi neste planeta que ocorreu o primeiro atentado realizado pelas tropas de Darth Styg, o qual revelou sua existência para toda a Galáxia e chamou simpatizantes. Seus Líderes-Reais eram muito poderosos, altamente influentes na Democracia Intergaláctica, e Khali sabia que eles tinham uma filha.
— Oh, sim – Khali disse, após seu momento de clareza. – Nassor é um planeta realmente bonito, eu gosto de lá.
Aquela informação chamou a atenção do rapaz. Ameenah pertencia à realeza, era filha de alguns dos governantes mais importantes da Galáxia. Não era comum que pessoas atreladas à política, e ainda mais princesas, treinassem para se tornar Jedis. A maior parte dos Democratas nem sequer acreditava na Força e sua doutrina, e era raríssimo que gente desse tipo se envolvesse com assuntos Jedi. Por que será que a princesa de Nassor o fez?
— Isso é curioso, sabe... – Disse Khali. – O que uma princesa da Democracia Intergaláctica faz treinando para tornar-se uma Jedi?
— Sua pergunta não me impressiona. – Ameenah riu. – Naturalmente, eu deveria estar em algum congresso Intergaláctico tratando de assuntos políticos, ou então em casa no palácio aprendendo sobre regras de etiqueta. É onde todos esperam que uma princesa esteja. – Disse ela. – Mas eu nunca gostei muito dessa coisa toda.
— E por que não? Sempre achei que assuntos políticos fossem muito interessantes. — Falou Khali, tentando ter mais informações.
— Não pra mim. Ao contrário dos meus pais, os honoráveis Karasi e Rashid Zulai. – Ameenah disse com certa ironia. – Eles sempre me criaram para ser uma dama diplomática, me ensinando tudo sobre a burocracia e cordialidade. Eu passava a maior parte do tempo no palácio tendo lições ou os acompanhando em viagens da Democracia Intergaláctica, e eles pretendiam que, futuramente, eu fosse a sucessora do trono deles em Nassor. Mas eu nuca quis isso. A vida de princesa nunca me interessou, eu sempre achei que deveria fazer algo diferente. Não queria ser governante, queria ajudar as pessoas. Como os Jedi fazem.
— Mas os Democratas também fazem isso. Eles criam leis e discutem medidas para tornar a Galáxia um lugar melhor para todos, não é?
— Isso em teoria. Quando participava das reuniões do Parlamento, tudo que eu via eram homens e mulheres velhos e ultrapassados, que no fundo eram medrosos demais para enfrentar problemas e não estavam muito interessados no bem da Galáxia. – Ameenah explicou. – Os Jedi não. São cavaleiros honrados e corajosos, que doam seu destino para proteger as outras pessoas, e que abrem mão da própria vida para proteger a dos outros. Eu queria ser assim. Queria poder viver aventuras, participar de missões, salvar pessoas, lutar contra o mal, defender a paz e toda a Galáxia. É um significado muito mais nobre para dar a sua vida, e é muito mais válido do que sentar atrás de uma mesa e discutir planos sem efetividade.
— É um belo ponto de vista. – Disse Khali, surpreso. – Mas e seus pais, o que acharam disso? Quer dizer, eles aceitaram que você deixasse de lado a vida política para se tornar uma Jedi?
— Eles nunca gostaram, mas não foi uma decisão deles. – Ameenah disse, e Khali pode sentir um pouco de tensão naquela frase. – Eu sempre gostei dos Jedi, desde criança. Costumava ouvir histórias sobre eles e vivia sonhando em me tornar uma. No fundo, eu sempre senti que deveria fazer algo a mais, e que a vida que eu levava em Nassor não era pra mim. Tudo que eu queria era sair dali e treinar. Mas os meus pais nunca aprovaram. Diziam que era perigoso demais, que eu teria que abrir mão de muitas coisas e que a vida de um Jedi era muito difícil, além de, é claro, não acreditarem na Força. Eles sempre tentaram me convencer a desistir, principalmente a minha mãe. Ela tinha horror a essa ideia, achava que eu ia acabar morta ou então que algo de muito ruim iria me acontecer.
— É, a vida de um Jedi não é exatamente calma e pacífica... – Khali brincou. – É muito difícil ir contra aquilo que todos esperam de você e fazer algo diferente. Mas... então como você acabou aqui, afinal? Qual é a sua história?
— Bem, como você notou meus pais tem mania de superproteção. Devido à vida política deles em Nassor, e ainda mais depois do ataque de Darth Styg ao nosso planeta, eles temiam que alguém que quisesse atingi-los ou chantageá-los pudesse tentar me usar para isso e fazer-me mal. Por isso, assim que eu aprendi a andar eles contrataram um guarda costas pra mim, que era um Jedi aposentado. Eles achavam que seria melhor do que um guarda convencional, pois, por ter habilidades sensitivas, um Jedi conseguiria sentir qualquer problema antes mesmo de acontecer, e isso impediria que eu fosse exposta a qualquer situação. – Ela explicou. – O Jedi que meus pais procuraram era Horus Keet, que como você sabe, foi meu primeiro mestre. Ele tinha se ferido gravemente em uma batalha Jedi e perdido uma das pernas, e portanto decidiu se afastar da Ordem. Por isso meus pais o procuraram. Ele aceitou a oferta, colocou uma prótese mecânica e então se tornou meu vigia durante vinte e quatro horas por dia. Horus era como se fosse minha babá, estava sempre cuidando de mim e ia pra onde quer que eu fosse... e também foi responsável por me contar grande parte das histórias de Jedi que me fizeram querer ser uma. Ele me falava sobre as grandes batalhas, sobre os tempos sombrios do domínio do Império, sobre a vitória da Aliança Rebelde ao derrubá-lo, sobre os grandes heróis, sobre as missões e expedições das quais ele participou, sobre como é estar em sintonia com o Universo através da Força e sobre o compromisso dos Jedi com a paz e a justiça. Aquilo me deixava encantada. Horus via isso e sabia o quanto eu desejava fazer parte desse universo, e também sabia da importância dos Jedi depois do ataque a Nassor. Então, apesar da proibição dos meus pais, ele decidiu me treinar. Eu tinha seis anos quando comecei. Praticávamos em segredo, de madrugada ou então bem cedinho de manhã. Eu adorava aprender, ficava ansiosa o dia todo esperando as próximas lições, e evolui muito durante os anos, sem ninguém nunca descobrir. As coisas ficaram assim por um bom tempo, até que neste ano eu completei dezoito. Horus me contou que a Academia Jedi localizada em Tedros, comandada pela Ordem da qual ele fez parte, estava buscando novos aprendizes para reconstruir a Ordem. Ele disse que eu deveria finalizar meu treinamento perto de outros Jedi, e que eu poderia ajudá-los. Então eu decidi ir. No entanto, mas meus pais jamais poderiam descobrir, porque não sabiam sobre o meu treinamento. Eles tentariam impedir de qualquer jeito, e acabaríamos brigando. Portanto, eu peguei minha nave e fugi de Nassor durante a madrugada, sem que ninguém soubesse. Horus escreveu uma carta para seus antigos companheiros do Conselho, pedindo pra que finalizassem meu treinamento de modo a me integrar na Ordem, para que eu pudesse participar e ajudar, que é o que eu sempre quis. Eu vim até aqui e entreguei esta carta ao Conselho, e eles me designaram ao mestre Yerodin, pois você já está finalizando seu treinamento. — Ela fez uma pausa e suspirou. — Não sei como meus pais reagiram a minha fuga ou se estão me procurando, e sinceramente nem quero saber. Estou vivendo minha própria vida agora.
— Você tem uma jornada e tanto. – Khali disse e ela sorriu de canto. Por dentro, estava impressionado com a garota, pois não esperava que ela fosse quem era e tivesse feito o que fez. – É muito corajosa.
— Quando sentimos que uma coisa é certa, devemos persegui-la até o fim. – Ameenah sorriu. – E é isso que um Jedi faz, a final de contas.
— Tem razão.
— Mas e você, Khali Skywalker? – Disse a garota, arqueando uma sobrancelha. – Qual é a sua história?
— Sobre o que quer saber, exatamente? — Ele perguntou. Não gostava de falar de si mesmo.
— Ah, não sei... Você é filho de um dos maiores Jedis que já existiu, e hoje em dia ele é uma lenda desaparecida e misteriosa. Deve haver uma história e tanto por trás disso tudo.
— Não muito, na verdade. Passo longe de qualquer história emocionante de herói nobre e destemido como meu pai. — Disse Khali. — Nem sempre eu soube quem eu era. Eu tive uma infância pobre, morava em uma casa simples com meus pais na periferia de uma grande cidade. Na verdade, só com a minha mãe, pois hoje em dia eu sei que aquele homem não era meu pai de verdade... – Ele riu. – Nunca fui ninguém especial, vivia uma vida igual a de todo mundo.
— E como foi que você se tornou um Jedi?
— Um dia, quando eu tinha cinco anos, a região da favela em que eu morava foi atacada, e meus pais morreram em uma explosão de bomba. Eu estava em casa junto com eles, mas sobrevivi pois minha mãe me protegeu. Eu fui o único da minha família que restou graças a ela, pois ela estava abraçada comigo o tempo todo, então o corpo dela serviu como uma espécie de escudo. – Khali contou, e Ameenah se sensibilizou. – Eu fiquei ileso, mas desmaiei por causa do impacto da explosão. Os Jedi vieram até meu planeta em missão para ajudar os feridos e procurar os culpados, e eles me encontraram no meio dos escombros da minha casa. Um dos mestres me tirou de lá, e então sentiu algo em mim. Ele viu que a Força em mim era poderosa, e pensou que eu poderia ser um bom cavaleiro Jedi. Ele queria que eu fosse treinado, então como eu não tinha mais família nem ninguém para ficar comigo no meu planeta, eu me recuperei dos ferimentos e vim com os Jedi para a Academia. Eu comecei meu treinamento e moro aqui desde então.
— Caramba... e como foi que você descobriu que era filho de Luke Skywalker?
— Perto da época em que aconteceram as explosões, o Supremo Mestre da Ordem previu por meio de uma visão que Luke havia tido um filho em segredo, antes de partir. Eles sabiam que, naquela época, a criança já tinha mais ou menos a minha idade, e sua verdadeira descendência estava sendo escondida para protegê-la, por meio de outra família e um falso pai. A mãe havia tido um breve romance com Luke, e guardava isso em segredo de todos, pois se fosse descoberto traria sérias consequências, tanto para a vida dela e como a do filho. Também sabiam que a criança Skywalker era muito poderosa, e que quando chegasse a hora certa – o que não ia demorar –, os Jedi iriam encontrá-la ao acaso, no meio de uma situação de conflito e tensão, e seu grande poder seria descoberto para que fosse treinada para ajudar a todos. – Khali explicou. – Eu me encaixava perfeitamente nessa descrição. Fui encontrado por acaso no meio do entulho de uma explosão trágica. Logo depois de me salvarem, os Jedi acharam dentro do meu bolso uma carta da minha mãe, que ela colocou lá enquanto me protegia. A carta contava que o casamento dela com o meu “pai” era apenas para encobrir o seu filho, e que o pai da criança não era quem todos achavam. Dizem também que eu tinha uma semelhança física muito grande com Luke.
— Ainda tem, na verdade. – Disse Ameenah, encarando o rapaz loiro de grandes olhos azuis à sua frente. Ela sabia muito sobre Luke Skywalker graças às histórias de Horus, e viu que Khali era mesmo muito parecido com ele. Sem dúvidas eles eram pai e filho.
— Pois é. – Disse o rapaz. — Para confirmar o parentesco, o Conselho analisou uma amostra do meu sangue e constatou que o número de midi-chlorians no meu sangue era idêntico ao do sangue dele. – Khali explicou. – A partir daí, tiveram certeza de que eu era o filho de Skywalker.
— E como foi que você lidou com o fato de o seu "pai" não ser seu pai de verdade? Você ficou bravo ou algo assim?
— Acho que bravo não seria bem a palavra. Eu fiquei apenas bem surpreso. – Respondeu Skywalker. – Mas isso não foi lá um grande impacto na minha vida. Meu pai de infância não era muito presente, estava sempre fora e eu não era incrivelmente próximo dele como normalmente um garoto de cinco anos é do pai. Então eu encarei bem. O que mais me surpreendeu na época foi o fato de a minha mãe ter escondido isso de mim o tempo todo.
— Deve ter sido muito duro pra ela, afinal de contas Luke desapareceu sem deixar pistas pra ninguém. – Ameenah falou. – Você chegou a conhecê-lo?
— Não que eu me lembre. Talvez quando era bem novo tenhamos convivido, mas eu não sei dizer. Minha mãe é a única que saberia explicar.
A conversa dos dois aprendizes foi interrompida por um aviso vindo de dentro do palácio.
— O Supremo Mestre está chamando a todos no salão principal! – Disse o Jedi que estava passando por ali. – Andem logo, ou vão perder o pronunciamento sobre o ataque de hoje!
A menção do ataque despertou interesse tanto de Khali quanto de Ameenah. Os dois aprendizes logo se encaminharam para o salão principal, em busca de um esclarecimento sobre toda aquela loucura de horas atrás. Juntaram-se aos outros Jedi, aguardando o pronunciamento.
Enquanto o tumulto e os burburinhos dominavam o salão do palácio, um Jedi mais velho, com barba e cabelos grisalhos usando roupas claras se aproximou, e atraiu os olhares de todos. Aquele era o Supremo Mestre Idowu, líder do Conselho Jedi. Ele parecia preocupado, olhou em volta com a testa franzida, e gentilmente pediu silêncio geral.
— Meus caros Jedis – Disse o homem, projetando sua voz grave no salão. – Sei que estão todos assustados e confusos com o que aconteceu, mas peço que fiquem calmos e escutem. – O silêncio tomou conta do grande salão, e o homem continuou a falar. – Darth Styg está de volta, e seus planos ainda são um mistério. Seu exército cinzento é poderoso, e suas armas são de uma alta tecnologia que até agora era desconhecida por nós. – Disse o homem, fazendo uma pausa. – Ao prestar socorro para os feridos, nossos médicos constataram que aqueles que foram atingidos pelos tiros não se feriram gravemente, mas em compensação ficaram doentes: eles não estão mais sensíveis à Força. Os cavaleiros atingidos não conseguem mais mover objetos com telecinese, comunicar-se por pensamento nem se conectar com outros cavaleiros, e tiveram todas as suas habilidades Jedi neutralizadas. – Ao ouvir isso, todos no salão ficaram surpresos e começaram a falar novamente. Idowu esperou até que todos se calassem novamente. – Ainda não sabemos o porquê disso, e nem sabemos se existem outros efeitos colaterais do contato com o que chamamos de “tiros anti-Luz”. Estamos trabalhando duro para obter a resposta, e colocamos todos os nossos cientistas e pesquisadores para estudar o acontecido. Iremos investigar os novos blasters de batalha e os tiros de laser de Styg para sabermos o que exatamente atingiu nossos cavaleiros, e iremos curá-los o mais rápido possível. Então, quando soubermos com que estamos lidando, poderemos combater e assim derrotar o mal. – Idowu explicou. –Por ora, todos vocês continuarão ajudando no atendimento dos feridos e nos reparos do palácio, para que possamos voltar o mais rápido possível a nossas atividades normais. Qualquer um que tiver informações relevantes sobre Styg, sobre os tiros anti-Luz ou qualquer outro tópico relacionado ao assunto, procure o Conselho imediatamente. – O homem suspirou, encarando a todos os presentes ali com aflição. – Fiquem alertas, e que a Força esteja com vocês.
Assim que terminou de falar, o homem grisalho se retirou, dando lugar para um rumor generalizado com palpites e preocupações vindos de todos os Jedi ali reunidos. Ninguém sabia o que estava acontecendo, e estavam todos preocupados com o que viria a seguir. Será que seriam atacados outra vez? Será que os tiros possuíam mais consequências? Será que o Lado Negro estava realmente de volta para ameaçar a paz da Galáxia novamente?
Estes pensamentos cruzavam a cabeça de todos, principalmente da jovem aprendiz Ameenah. Era tudo muito novo pra ela, especialmente porque chegou num momento de tanto alvoroço na Academia. Se nem os grandes especialistas da Força entendiam o que estava acontecendo, ela entendia menos ainda. No entanto, estar ali e finalmente fazer parte daquele universo era incrível para ela, e todos os detalhes e acontecimentos atiçavam sua curiosidade.
No entanto, devia confessar que a menção do Lado Negro a assustava. Só ouvira sobre ele em livros de história, assim como boa parte dos Jedi que ali estavam. Ela nasceu logo depois que os tempos sombrios acabaram, e nunca conviveu de perto com nenhuma guerra ou batalha pelo poder. Darth Styg era uma figura assustadora, assim como seu Exército Cinzento e seus blasters com tiros anti-Luz. Aquilo tudo era apavorante, mas ainda assim, a empolgava.
Não era tão fácil assim assustar a jovem Ameenah. Ser uma Jedi era tudo que ela sempre quis. Ao escolher esta vida, ela sabia que teria que conviver com aquele tipo de coisa. Combater o mal era seu único objetivo, e ao menos agora com tudo isso acontecendo, ela teria esta oportunidade. Em breve, se tornaria uma heroína assim como Leia era.
Os pensamentos da garota estavam a mil, mas ela precisava descansar. No dia seguinte a ação começaria de fato. A Academia retornaria à suas atividades normais, e Ameenah teria seu primeiro dia de treinamento com seu novo mestre Yerodin. Um pequeno passo para iniciar uma grande jornada de aventuras e histórias inesquecíveis. Era tudo que ela queria.
Capítulo 3
— Concentre-se, padawan. Feche os olhos. Se conseguir entrar em sintonia com a Força, não precisará ver. Tudo que acontecer ao seu redor poderá ser sentido através da energia que envolve você.
Naquele momento, tudo parecia se encaixar em perfeita forma; a vida fluía em seu curso, a mente fazia sentido, o Universo todo estava em sintonia. A Força corria pelas suas veias, tomando conta de todo o seu corpo como uma sinapse nervosa. Era possível notar o vento balançando as copas das árvores, a água do rio fluindo e os pássaros voando no céu, como se fizessem parte dela. Era como se o tempo ficasse mais lento, andando tão devagar que tudo pudesse ser apreciado sem pressa alguma. Aquela sempre foi a sensação preferida da garota.
A paz e harmonia de Ameenah foram interrompidas por uma pequena perturbação estranha. Sentiu uma aproximação suspeita à sua direita, e rapidamente desferiu um golpe com seu sabre de luz naquela direção.
Acertou em cheio em alguma coisa. Porém, mal teve tempo de raciocinar, pois logo em seguida sentiu outra aproximação às suas costas. Pegou o sabre com as duas mãos e golpeou algo logo atrás de sua cabeça, fazendo o laser tilintar ao cortar alguma coisa. Logo após veio outra ondulação, dessa vez bem à sua frente. Refez o mesmo movimento ao contrário com sua espada, e em seguida golpeou à direita, partindo no meio o último obstáculo.
Logo depois, abriu os olhos.
— Muito bem, jovem aprendiz. Vejo que suas habilidades já são bem treinadas. – Disse a voz calma de mestre Yerodin, que estava parado à sua frente. Ele segurava quatro mini droids remotos de treinamento partidos ao meio, os quais ela havia destruído há pouco. – Horus Keet fez um ótimo trabalho com você durante esse tempo.
— Obrigada, mestre. – Agradeceu Ameenah, sentindo uma mistura de alívio e satisfação. Aquele era seu primeiro dia de treinamento na Academia. Ela reconheceu aqueles robozinhos que havia partido ao meio, pois mestre Keet também os utilizava para treinar sua percepção. – Eu tive um ótimo mentor.
— Seu mestre sem dúvidas foi excelente, mas muito do seu aprendizado se deve a você. – Disse Yerodin sentando-se na grama. A garota logo sentou-se ao lado dele. – Sabe, conectar-se com a Força não é uma tarefa fácil. Requer muito foco, habilidade e serenidade, talentos que levam tempo para se desenvolver. É preciso ter sensibilidade para perceber a energia que flui tímida e silenciosa pelas coisas que nos cercam – e também por nós mesmos. Uma vez que se nota a tênue linha que nos conecta a todos os outros seres vivos do planeta, uma infinidade de possibilidades se abre diante de nossos olhos. O treinamento Jedi serve para ajudar você a enxergar todas estas possibilidades, e também fazer o melhor uso delas.
— Aplicar suas habilidades para fazer o bem e proteger a Galáxia de quem quer que tente usá-las para fazer o contrário. – Disse Ameenah, trazendo à tona um dos mantras que sempre aprendera em seus ensinamentos.
— Isso mesmo. – O mestre sorriu. – Mas, também, fazer o bem a si própria. Encontrar o equilíbrio para sua mente, corpo e alma através da meditação e do desenvolvimento da sua sensibilidade. Além disso, para proteção. Como guardiões da paz e da justiça, os Jedi são um grande alvo para qualquer um que queira destruir aquilo que protegemos. Para que possamos executar nosso dever com sucesso, é necessário saber se defender. Levante-se.
A garota obedeceu. Yerodin também colocou-se de pé, e ativou seu sabre de luz azul dando alguns passos para trás em seguida.
— A sensibilidade dos Jedi e a sua conexão com a Força também pode ser utilizada para aprimorar suas habilidades de batalha. Utilizando sua sabedoria e treinamento, você pode sentir o seu inimigo, saber seu próximo passo antes mesmo que ele saiba, e escolher quando é o melhor momento para atacar. Vamos, saque seu sabre.
Ameenah o fez. Logo em seguida, Yerodin apontou-lhe sua arma, colocando um pé atrás do outro e ficando em posição de batalha.
— A precisão e agilidade nos movimentos são fundamentais para uma luta – Explicou o mestre, dando um pequeno golpe no sabre de Ameenah. – Manter o foco no oponente e em seus passos é muito importante, pois é o único modo de encontrar o seu ponto fraco, e assim explorá-lo. – Yerodin dizia, enquanto ele e sua aprendiz andavam pelo gramado iniciando uma batalha. – Além disso, é importante ficar atento a tudo que acontece ao seu redor, pois os Jedi lutam nos mais diversos ambientes, com um grande número de variáveis. É preciso manter-se alerta para qualquer adversidade, pois um único descuido pode levar à sua derrota. – Disse o mestre intencionalmente, e segundos depois Ameenah desequilibrou-se ao dar um passo para trás no início de um barranco. Yerodin sorriu. – Entende?
Após Ameenah recuperar o equilíbrio, ela e mestre Zuma caminharam até o centro do gramado novamente.
— Você luta bem, padawan. Procure utilizar sua percepção para desenhar o ambiente ao seu redor. Ela será o seu guia durante as batalhas, funcionará com uma segunda visão, um anjo da guarda. – Explicou o homem. – O que difere um Jedi dos demais guerreiros não é sua exatidão de golpes ou sua maestria nos movimentos, mas sim a capacidade de enxergar o confronto de uma forma que o oponente jamais conseguirá. Use isso e se tornará uma grande guerreira.
— Sim, mestre. – Disse Ameenah ao final, tomando notas mentais do ensinamento.
— Deixe-me mostrar esta habilidade aplicada em uma batalha – Yerodin dirigiu o olhar para o outro lado do jardim. – Khali, venha até aqui, por favor – O mestre chamou alto pelo outro pupilo, e o rapaz que passava distraído rapidamente se apresentou.
— Pois não, mestre Zuma? – Falou Khali com formalidade, de prontidão.
— Pegue seu sabre, vai lutar comigo para fazer uma demonstração à senhorita Zulai. – Yerodin disse, e o rapaz obedeceu. Rapidamente, os dois Jedi ficaram de frente um para o outro e sacaram suas armas.
—Devo te deixar ganhar? — Khali provocou o mestre com um sorriso malandro, e o mais velho riu.
—Vá se exibindo.
Ameenah estava curiosa para ver Khali em batalha. Ela lutara ao seu lado no dia da invasão à Academia, mas não conseguira reparar no combate dele; sabia apenas de sua fama como grande guerreiro, que agora assistiria propriamente. Nos instantes seguintes, o jovem Skywalker e seu mentor começaram uma batalha. O primeiro a atacar foi Yerodin, que avançava sobre o mais jovem enquanto seu sabre rodopiava de um lado para o outro na tentativa de furar sua defesa. Skywalker esquivou-se e reagiu com um golpe direto que por pouco não acertou o mestre.
Os dois Jedi tinham movimentos ágeis e precisos, rodavam os sabres com total domínio, e davam pulos e giros pelo gramado verde. A luta mais parecia uma coreografia ensaiada, o que era impressionante. Foram quase cinco minutos de batalha incessante, e Ameenah assistia a tudo atentamente. Conseguia observar os ensinamentos que Yerodin lhe dera há pouco na prática, com ambos os guerreiros sabendo exatamente o que havia nas proximidades enquanto caminhavam pelo jardim.
Alguns minutos de combate se passaram, e Yerodin acertou Khali passando-lhe uma rasteira, o que faria com que o garoto caísse de costas numa grande árvore logo atrás dele. Porém, antes que pudesse atingi-la em cheio, Khali apoiou um dos pés no tronco e tomou impulso, para fazer uma cambalhota no ar e cair de pé de frente para seu mestre, num reflexo impressionante. Durante a queda, com um rápido golpe, o garoto desarmou o adversário.
— É assim, jovem aprendiz, que a sensibilidade ao ambiente de batalha pode ajudar você a vencer. – Explicou Yerodin com um sorriso orgulhoso, pegando de volta o sabre que Khali o esticava. Os dois fizeram uma reverência em sinal de respeito após o combate. – Muito obrigado, rapaz. Ameenah, agora é sua vez. Saque sua arma e lute com ele, sentindo o ambiente ao redor.
A garota aproximou-se de Khali com certo receio, e ativou seu sabre de luz. Ele não seria um oponente fácil. O rapaz chegou mais perto e ativou novamente sua arma, e os dois posicionaram-se preparados. Ameenah tentou não se deixar intimidar e foi quem desferiu o primeiro golpe da batalha entre os dois aprendizes. Cruzaram os sabres, e logo os dois saíram lutando pelo jardim.
Khali era um guerreiro habilidoso. Mantinha um semblante sério durante toda a luta, concentrado em seus movimentos. Ameenah tentava acompanhar seu ritmo, e com o tempo foi ganhando algum espaço. Após recuar alguns passos, o garoto subiu em um dos bancos do jardim tornando-se mais alto, e logo pulou por cima da adversária, pronto para golpeá-la por trás. Rapidamente, Ameenah cruzou seu sabre às próprias costas, parando a lâmina do rapaz a centímetros de aparar a trança de padawan que pendia de seu cabelo. Num giro rápido a garota voltou-se para Khali, e a luta continuou.
Khali era bom guerreiro, mas Ameenah não era fácil de assustar. Pensando na lição que seu mestre há pouco passara, a garota procurou sentir o jardim e seus elementos que encontravam-se próximos. Sua percepção aguçada disse-lhe que estava próxima de uma das fontes do jardim, e rapidamente ela desviou o caminho.
A batalha entre os aprendizes continuou por vários minutos, até que Ameenah teve uma ideia. Ela estava andando de costas, e usou sua sensibilidade para constatar que há poucos metros estava um grande pilar cilíndrico que fazia parte da estrutura do castelo. Ela estava aproximando-se cada vez mais, e resolveu utilizá-lo para encurralar Khali e tentar vencê-lo.
Quando sentiu que estava a poucos centímetros de chocar-se com a construção, a garota girou para a direita dando a volta no grande pilar, esperando encontrar o garoto de costas do outro lado para poder rendê-lo. Ameenah esticou seu sabre ansiosa para surpreendê-lo, porém deu de cara com o rapaz virado para ela na mesma posição. Rapidamente, o rapaz chocou seus sabres e girou o punho em cento e oitenta graus forçando as lâminas e fazendo com que Ameenah derrubasse sua arma, encerrando o combate.
Logo em seguida, mestre Zuma apareceu para declarar a luta encerrada.
— Excelente, jovens aprendizes.
— Meus parabéns, princesa – Disse Khali guardando seu sabre de luz no cinto preso à cintura. – Você sabe lutar.
— Obrigada. Você também tem talento. – A garota respondeu.
Enquanto os dois cavaleiros recuperavam-se do combate, alguém se aproximou e caminhou até eles pela trilha de pedras no gramado. Este alguém já estava os observando a algum tempo, mas pela distância antes não era possível dizer de quem se tratava. Agora estava claro: era uma mulher, de cabelos e olhos castanhos inconfundíveis.
Leia Organa.
— Olá, meu sobrinho. — Disse ela dirigindo-se a Khali, que sorriu e a cumprimentou afetuosamente.
— Boa tarde, tia. Dando um passeio? — Perguntou o rapaz.
— Estava observando como estão as coisas por aqui depois do ocorrido ontem. Fiquei assistindo vocês dois treinarem. — Leia disse e isso fez com que Ameenah sentisse um gelo instantâneo na espinha. — Boa tarde, mestre Yerodin. Ótimo trabalho com seus padawans. — Disse Organa, e mestre Zuma agradeceu. — Princesa Ameenah? Estou feliz em finalmente conhecê-la.
— O prazer é todo meu, mestre Organa. – Respondeu Ameenah, ainda surpresa com a presença da mulher. As duas deram um aperto de mão.
— Gostaria de ter falado com você antes. Queria conversar sobre seu treinamento, seus pais e também sobre seu antigo mestre Horus Keet, que não vemos há tanto tempo. Sinto muito que tenha chego à Academia em um momento tão tumultuado.
— Não há porque. – A garota sorriu. – Espero que tudo seja resolvido em breve.
— É o que todos queremos, sem dúvida. – Disse Organa. – Mas não se preocupe. Recebemos você com muita alegria, em especial por ter sido treinada por um dos nossos melhores mestres. Se tiver qualquer problema ou precisar de ajuda, procure-me. Sou responsável pela administração da Academia. Sinta-se em casa, jovem aprendiz. – Disse Leia, com um sorriso receptivo.
—Obrigada, mestre.
— Perdoem-me a pressa, mas se me derem licença, tenho uma reunião com o Conselho agora. Foi um prazer, princesa.
— Eu a acompanho – Disse Khali. — Preciso conversar com Supremo Mestre Idowu sobre uma missão.
Khali fez uma reverência ao seu mestre e a garota, e em seguida ele e Leia despediram-se dos dois para adentrar o palácio.
Leia Organa era muito simpática e gentil, e Ameenah sempre a admirou muito. Era a principal heroína das histórias que mestre Horus lhe contava quando criança. Talvez por se identificar com o título de princesa que ela também possuía, ou simplesmente por considerá-la uma mulher forte e corajosa, a garota sempre a viu como uma inspiração.
— Seu mestre deve ter lhe contado muitas histórias sobre Leia. — Disse Yerodin, e Ameenah virou-se para ele. — Os dois eram muito amigos. Horus foi um de seus maiores parceiros durante a fundação da Academia.
— Ele contava, sim. — Ameenah sorriu, lembrando-se das aventuras sobre as quais ouvia.
— Horus era um Jedi incrível, e adorava boas histórias. Nós éramos muito próximos antes de ele se aposentar. Ele lhe contava essa?
— Ele mencionava você com frequência. — Respondeu Ameenah, recordando-se das histórias sobre Yerodin.
— Fomos amigos de infância. Se não fosse pela família Keet, não sei o que seria de mim.
—Vocês moravam juntos, não é?
—Mais que isso. Os pais de Horus me adotaram como um filho. — Disse Yerodin, e em seguida sentou-se em um banco do jardim próximo ao grande pilar. Fez sinal para que a garota o acompanhasse, e ela o fez. — Sabe, meus pais eram políticos. Estavam no cargo de senadores do planeta Mansur na época da República, e foram mortos durante o golpe político que deu origem ao Império, quando eu era apenas um garoto. Os pais de Horus eram velhos amigos dos meus, e me levaram para morar com eles, pois eu não tinha mais ninguém. Horus e eu tínhamos quase a mesma idade, e logo viramos amigos. Fomos criados juntos como irmãos, e crescemos muito próximos um do outro. Sempre tivemos interesses em comum: assim como eu, Horus admirava os Jedi e tinha aversão ao Império. Quando garotos costumávamos brincar juntos de Guerras Clônicas, um era o Jedi e o outro o Stormtrooper. Sempre brigávamos para ver quem seria o primeiro – Yerodin riu. — Quando completamos idade, nós dois nos alistamos juntos para a Aliança Rebelde, eu como comissário e ele como espião. Combatemos o Império lado a lado, como sempre quisemos.
— Não sabia disso – Disse Ameenah. — Digo, sabia sobre terem lutado juntos, mas não sabia sobre seus pais. Horus não havia me contado essa parte.
— Foi bem triste, mas a família Keet cuidou muito bem de mim. — Explicou mestre Zuma. — Senti muito a falta de Horus quando ele se aposentou da Ordem. Mas vejo que ele se manteve bem ocupado com você durante esse tempo, e fez um ótimo trabalho. Ao chegar aqui com a carta dele, você deixou todos nós surpresos; não fazíamos ideia de que ele estava treinando alguém fora daqui. Quando soube que ele pedira para que eu a treinasse, fiquei muito feliz. Ver você lutar me lembra muito dele. Acho que faremos um ótimo trabalho juntos, jovem Ameenah. — O mestre sorriu.
A garota sorriu de volta. Também achava aquilo. Acreditava do fundo do coração que era verdade, pois acreditava na decisão de seu mestre em confiar o restante de seu treinamento a um de seus melhores amigos, de quem tanto lhe falara. Após a conversa, mestre e padawan se despediram com uma reverência, e Ameenah dirigiu-se ao seu dormitório.
Aquele havia sido um intenso primeiro dia de treinamento. Apesar de confiar em seus poderes, Ameenah ficou pressionada pelo desejo de agradar seu novo mestre. Esperava que seu desempenho tivesse sido suficiente.
Estar com outros Jedi e terminar sua jornada de aprendiz era tudo que a garota mais queria. Fugiu de casa para isso, afinal. Nem queria imaginar a confusão que gerara em Nassor após seu sumiço. Mestre Horus deu-lhe sua confiança e teve fé nela, e Ameenah não planejava desapontá-lo. Ia realizar seu grande sonho, e em breve se tornaria uma Cavaleira Jedi para proteger as pessoas e livrar a Galáxia do mal.
Ah sim, o mal. Ele estava de volta agora, mais forte do que nunca, depois de um longo tempo sem dar as caras. Darth Styg – era um nome de arrepiar, pra um ser ainda mais assustador. Quem diria que mesmo depois de Luke Skywalker varrer a ameaça dos Sith da Galáxia eles arrumariam um caminho de volta?
As dúvidas relacionadas ao recém-renascido Lado Negro eram muitas, e ninguém tinha as respostas. Mas aquilo não amedrontava tanto Ameenah quanto a alguns outros Jedi. Ela estava chocada, é claro, mas ao mesmo tempo sentia-se ainda mais encorajada a treinar. Cedo ou tarde os Jedi iriam ter que enfrentar Styg e suas Tropas Cinzentas, e ela queria ter certeza de que estaria bem preparada para lutar pelo bem-estar da Galáxia. Alguém tinha que fazer isso, e esse alguém seriam os cavaleiros da paz e da justiça.
Ameenah foi deitar-se com pensamentos como aqueles em mente. Pouco antes de cair no sono, ela pensou ter ouvido passos no corredor. A madeira do piso rangeu, assustando-a, mas ela pensou ser apenas fruto da sua imaginação, já que pensava em coisas assustadoras. Talvez justamente por esses pensamentos sombrios, a garota não teve um sonho muito agradável para se ter numa noite calma.
— Escondam-se, rápido!
— As bombas e tiros estão vindo de todas as direções, precisamos ir!
— Por aqui!
O castelo estava em chamas, as árvores e casas do outro lado dos muros caíam, e o garotinho deixado para trás sumira junto com tudo que um dia foi tão calmo.
— É uma guerra, papai? – Perguntou a menininha assustada.
— Não há mais guerras nesses tempos, filha. Apenas cubra seus ouvidos e tudo irá passar num instante.
E os instantes se tornaram minutos, horas...
——
— Caros Jedi, vim até aqui para trazer-lhes as atualizações.
A voz de Yerodin era projetada em alto e bom som no grande salão, e todos os grandes mestres presentes prestavam atenção. O Conselho Jedi se reunira como de costume em uma conferência para discutir as situações e acontecimentos da Academia – como era o caso no momento.
— Fui apresentado à nova aprendiz que veio até nossa Academia procurando por treinamento. Creio que conseguiremos bons resultados com ela.
— Que detalhes você nos traz? – Disse mestre Daren, um dos Jedi que constituía a bancada dos grandes mestres do Conselho.
— A Força é presente nela. A garota já possui habilidades adquiridas anteriormente, que eu acredito que poderão ser aprimoradas com meu treinamento posterior. Eu ficaria satisfeito em poder treiná-la.
— Tem certeza que é capaz de administrar dois padawans de uma só vez, mestre Yerodin? – Indagou Daren. – Khali Skywalker ainda não passou pelos testes de Cavaleiro, e tampouco concluiu seu treinamento.
— Acredito que Khali está em um estágio avançado de seu treinamento, e não me incomodaria treiná-lo junto com Ameenah.
— Com licença, mestre Yerodin – O Jedi foi interrompido por outro membro do Conselho, mestre Gahiji. – Está se referindo à princesa de Nassor?
— Sim, mestre Gahiji.
— Com todo respeito, mestre, não acredito que o Conselho deveria permitir o treinamento da garota.
—Mas já permitiu, não? — Perguntou Yerodin. — Mediante a apresentação da carta de Horus Keet.
— Permitimos apenas uma avaliação da garota, realizada pelo senhor. — Esclareceu Gahiji. — Porém não acredito que o treinamento deva prosseguir.
— E por que não?
— Ameenah não passou por todas as etapas do treinamento em nossa Academia. Não foi treinada sob nossa supervisão e com nossos métodos assim como todos os outros. Ela não participou dos testes para Iniciados e não seguiu todos os protocolos. Além do mais, tem idade muito avançada para tornar-se uma padawan.
— Mas ela apresenta todas as habilidades exigidas para tornar-se aprendiz de um mestre. Foi o que constatei. – Yerodin discordou. – E, pois mais que seu treinamento não tenha sido orquestrado em nossa Academia, Ameenah foi ensinada por um de nossos mestres mais antigos e respeitados.
— Com todo respeito, Yerodin, a menina é um nome da política, nascida em berço real. Não está destinada a se tornar uma Jedi.
— O que te leva a tal palpite, Gahiji? – Mestre Daren perguntou.
— Ora, todos nós sabemos que os Democratas tem certo temor aos Jedi. Por que um deles viria nos procurar para treinamento? E justo a herdeira do trono de um dos principais sistemas da Galáxia? É do conhecimento de todos que Jedis não assumem cargos políticos de nenhuma espécie. Será que os Governantes-Reais estão cientes da indireta renúncia da princesa ao trono?
— Não sei se recorda-se, mestre Gahiji, mas o Conselho prometeu não se envolver com os assuntos familiares da princesa, a pedido dela. Foi sua única exigência ao ingressar na Academia. E independente de concordarmos ou não, decisões políticas não cabem a nós, de qualquer forma. — Rebateu Yerodin. — Quem sabe o fato de Ameenah ser uma democrata não seja ruim. Ela pode representar a nossa tão esperada união com a Democracia Intergaláctica.
— Devo concordar que isso é no mínimo incomum – Interferiu mestre Mothusi. – Os Democratas não gostam dos Jedi, pensaram até em nos extinguir. Quem sabe não enviaram a garota para nos espionar? Além do mais, Gahiji tem razão, não deveríamos aceitar aprendizes que não foram treinados por nós.
— Desculpem-me, mas não acho que o Conselho esteja na posição de negar instrução a ninguém no momento. – Leia se pronunciou. – Com o retorno de Darth Styg, a Ordem precisa do maior número de guerreiros treinados que puder recrutar. Supor que ela seja uma espiã me parece um exagero. Segundo a princesa, seus pais sequer aprovam a estadia dela na Academia.
— Sem dúvidas o treinamento da garota é um impasse. – Um pronunciamento interrompeu a discussão, vindo do Supremo Mestre Idowu, que até agora não tinha esboçado opiniões. – Façamos o seguinte, então. Já que não temos total conhecimento de seus ensinamentos e capacidade de aprendizagem, testaremos a garota para decidir se está apta a prosseguir conosco.
— Mas Yerodin já fez isso. – Gahiji disse.
— Mas não foi assistido pelo Conselho. Podemos avaliá-la da mesma forma como avaliaríamos outro padawan qualquer. O Torneio de Iniciados seria uma boa opção para tal, não acham? – Sugeriu Mothusi.
— Leu meus pensamentos, mestre Akia. – Idowu prosseguiu. – Eis o que eu acho: a princesa Ameenah deverá participar do próximo Torneio de Iniciados em algumas semanas e enfrentar outros padawans para conquistar o direito de ser treinada, assim como todos aqui fazem. Se sua performance for satisfatória, ela poderá dar continuidade ao seu aprendizado conosco. Após o Torneio, o Conselho se reunirá novamente para deliberar.
Todos os mestres do Conselho pareceram concordar com a sugestão.
—Decisão aprovada? — Perguntou Idowu, e não houve objeções.
— Assim será, então. – Disse Yerodin, finalizando seu discurso com uma reverência cortês e afastando-se do centro do salão.
Naquele momento, tudo parecia se encaixar em perfeita forma; a vida fluía em seu curso, a mente fazia sentido, o Universo todo estava em sintonia. A Força corria pelas suas veias, tomando conta de todo o seu corpo como uma sinapse nervosa. Era possível notar o vento balançando as copas das árvores, a água do rio fluindo e os pássaros voando no céu, como se fizessem parte dela. Era como se o tempo ficasse mais lento, andando tão devagar que tudo pudesse ser apreciado sem pressa alguma. Aquela sempre foi a sensação preferida da garota.
A paz e harmonia de Ameenah foram interrompidas por uma pequena perturbação estranha. Sentiu uma aproximação suspeita à sua direita, e rapidamente desferiu um golpe com seu sabre de luz naquela direção.
Acertou em cheio em alguma coisa. Porém, mal teve tempo de raciocinar, pois logo em seguida sentiu outra aproximação às suas costas. Pegou o sabre com as duas mãos e golpeou algo logo atrás de sua cabeça, fazendo o laser tilintar ao cortar alguma coisa. Logo após veio outra ondulação, dessa vez bem à sua frente. Refez o mesmo movimento ao contrário com sua espada, e em seguida golpeou à direita, partindo no meio o último obstáculo.
Logo depois, abriu os olhos.
— Muito bem, jovem aprendiz. Vejo que suas habilidades já são bem treinadas. – Disse a voz calma de mestre Yerodin, que estava parado à sua frente. Ele segurava quatro mini droids remotos de treinamento partidos ao meio, os quais ela havia destruído há pouco. – Horus Keet fez um ótimo trabalho com você durante esse tempo.
— Obrigada, mestre. – Agradeceu Ameenah, sentindo uma mistura de alívio e satisfação. Aquele era seu primeiro dia de treinamento na Academia. Ela reconheceu aqueles robozinhos que havia partido ao meio, pois mestre Keet também os utilizava para treinar sua percepção. – Eu tive um ótimo mentor.
— Seu mestre sem dúvidas foi excelente, mas muito do seu aprendizado se deve a você. – Disse Yerodin sentando-se na grama. A garota logo sentou-se ao lado dele. – Sabe, conectar-se com a Força não é uma tarefa fácil. Requer muito foco, habilidade e serenidade, talentos que levam tempo para se desenvolver. É preciso ter sensibilidade para perceber a energia que flui tímida e silenciosa pelas coisas que nos cercam – e também por nós mesmos. Uma vez que se nota a tênue linha que nos conecta a todos os outros seres vivos do planeta, uma infinidade de possibilidades se abre diante de nossos olhos. O treinamento Jedi serve para ajudar você a enxergar todas estas possibilidades, e também fazer o melhor uso delas.
— Aplicar suas habilidades para fazer o bem e proteger a Galáxia de quem quer que tente usá-las para fazer o contrário. – Disse Ameenah, trazendo à tona um dos mantras que sempre aprendera em seus ensinamentos.
— Isso mesmo. – O mestre sorriu. – Mas, também, fazer o bem a si própria. Encontrar o equilíbrio para sua mente, corpo e alma através da meditação e do desenvolvimento da sua sensibilidade. Além disso, para proteção. Como guardiões da paz e da justiça, os Jedi são um grande alvo para qualquer um que queira destruir aquilo que protegemos. Para que possamos executar nosso dever com sucesso, é necessário saber se defender. Levante-se.
A garota obedeceu. Yerodin também colocou-se de pé, e ativou seu sabre de luz azul dando alguns passos para trás em seguida.
— A sensibilidade dos Jedi e a sua conexão com a Força também pode ser utilizada para aprimorar suas habilidades de batalha. Utilizando sua sabedoria e treinamento, você pode sentir o seu inimigo, saber seu próximo passo antes mesmo que ele saiba, e escolher quando é o melhor momento para atacar. Vamos, saque seu sabre.
Ameenah o fez. Logo em seguida, Yerodin apontou-lhe sua arma, colocando um pé atrás do outro e ficando em posição de batalha.
— A precisão e agilidade nos movimentos são fundamentais para uma luta – Explicou o mestre, dando um pequeno golpe no sabre de Ameenah. – Manter o foco no oponente e em seus passos é muito importante, pois é o único modo de encontrar o seu ponto fraco, e assim explorá-lo. – Yerodin dizia, enquanto ele e sua aprendiz andavam pelo gramado iniciando uma batalha. – Além disso, é importante ficar atento a tudo que acontece ao seu redor, pois os Jedi lutam nos mais diversos ambientes, com um grande número de variáveis. É preciso manter-se alerta para qualquer adversidade, pois um único descuido pode levar à sua derrota. – Disse o mestre intencionalmente, e segundos depois Ameenah desequilibrou-se ao dar um passo para trás no início de um barranco. Yerodin sorriu. – Entende?
Após Ameenah recuperar o equilíbrio, ela e mestre Zuma caminharam até o centro do gramado novamente.
— Você luta bem, padawan. Procure utilizar sua percepção para desenhar o ambiente ao seu redor. Ela será o seu guia durante as batalhas, funcionará com uma segunda visão, um anjo da guarda. – Explicou o homem. – O que difere um Jedi dos demais guerreiros não é sua exatidão de golpes ou sua maestria nos movimentos, mas sim a capacidade de enxergar o confronto de uma forma que o oponente jamais conseguirá. Use isso e se tornará uma grande guerreira.
— Sim, mestre. – Disse Ameenah ao final, tomando notas mentais do ensinamento.
— Deixe-me mostrar esta habilidade aplicada em uma batalha – Yerodin dirigiu o olhar para o outro lado do jardim. – Khali, venha até aqui, por favor – O mestre chamou alto pelo outro pupilo, e o rapaz que passava distraído rapidamente se apresentou.
— Pois não, mestre Zuma? – Falou Khali com formalidade, de prontidão.
— Pegue seu sabre, vai lutar comigo para fazer uma demonstração à senhorita Zulai. – Yerodin disse, e o rapaz obedeceu. Rapidamente, os dois Jedi ficaram de frente um para o outro e sacaram suas armas.
—Devo te deixar ganhar? — Khali provocou o mestre com um sorriso malandro, e o mais velho riu.
—Vá se exibindo.
Ameenah estava curiosa para ver Khali em batalha. Ela lutara ao seu lado no dia da invasão à Academia, mas não conseguira reparar no combate dele; sabia apenas de sua fama como grande guerreiro, que agora assistiria propriamente. Nos instantes seguintes, o jovem Skywalker e seu mentor começaram uma batalha. O primeiro a atacar foi Yerodin, que avançava sobre o mais jovem enquanto seu sabre rodopiava de um lado para o outro na tentativa de furar sua defesa. Skywalker esquivou-se e reagiu com um golpe direto que por pouco não acertou o mestre.
Os dois Jedi tinham movimentos ágeis e precisos, rodavam os sabres com total domínio, e davam pulos e giros pelo gramado verde. A luta mais parecia uma coreografia ensaiada, o que era impressionante. Foram quase cinco minutos de batalha incessante, e Ameenah assistia a tudo atentamente. Conseguia observar os ensinamentos que Yerodin lhe dera há pouco na prática, com ambos os guerreiros sabendo exatamente o que havia nas proximidades enquanto caminhavam pelo jardim.
Alguns minutos de combate se passaram, e Yerodin acertou Khali passando-lhe uma rasteira, o que faria com que o garoto caísse de costas numa grande árvore logo atrás dele. Porém, antes que pudesse atingi-la em cheio, Khali apoiou um dos pés no tronco e tomou impulso, para fazer uma cambalhota no ar e cair de pé de frente para seu mestre, num reflexo impressionante. Durante a queda, com um rápido golpe, o garoto desarmou o adversário.
— É assim, jovem aprendiz, que a sensibilidade ao ambiente de batalha pode ajudar você a vencer. – Explicou Yerodin com um sorriso orgulhoso, pegando de volta o sabre que Khali o esticava. Os dois fizeram uma reverência em sinal de respeito após o combate. – Muito obrigado, rapaz. Ameenah, agora é sua vez. Saque sua arma e lute com ele, sentindo o ambiente ao redor.
A garota aproximou-se de Khali com certo receio, e ativou seu sabre de luz. Ele não seria um oponente fácil. O rapaz chegou mais perto e ativou novamente sua arma, e os dois posicionaram-se preparados. Ameenah tentou não se deixar intimidar e foi quem desferiu o primeiro golpe da batalha entre os dois aprendizes. Cruzaram os sabres, e logo os dois saíram lutando pelo jardim.
Khali era um guerreiro habilidoso. Mantinha um semblante sério durante toda a luta, concentrado em seus movimentos. Ameenah tentava acompanhar seu ritmo, e com o tempo foi ganhando algum espaço. Após recuar alguns passos, o garoto subiu em um dos bancos do jardim tornando-se mais alto, e logo pulou por cima da adversária, pronto para golpeá-la por trás. Rapidamente, Ameenah cruzou seu sabre às próprias costas, parando a lâmina do rapaz a centímetros de aparar a trança de padawan que pendia de seu cabelo. Num giro rápido a garota voltou-se para Khali, e a luta continuou.
Khali era bom guerreiro, mas Ameenah não era fácil de assustar. Pensando na lição que seu mestre há pouco passara, a garota procurou sentir o jardim e seus elementos que encontravam-se próximos. Sua percepção aguçada disse-lhe que estava próxima de uma das fontes do jardim, e rapidamente ela desviou o caminho.
A batalha entre os aprendizes continuou por vários minutos, até que Ameenah teve uma ideia. Ela estava andando de costas, e usou sua sensibilidade para constatar que há poucos metros estava um grande pilar cilíndrico que fazia parte da estrutura do castelo. Ela estava aproximando-se cada vez mais, e resolveu utilizá-lo para encurralar Khali e tentar vencê-lo.
Quando sentiu que estava a poucos centímetros de chocar-se com a construção, a garota girou para a direita dando a volta no grande pilar, esperando encontrar o garoto de costas do outro lado para poder rendê-lo. Ameenah esticou seu sabre ansiosa para surpreendê-lo, porém deu de cara com o rapaz virado para ela na mesma posição. Rapidamente, o rapaz chocou seus sabres e girou o punho em cento e oitenta graus forçando as lâminas e fazendo com que Ameenah derrubasse sua arma, encerrando o combate.
Logo em seguida, mestre Zuma apareceu para declarar a luta encerrada.
— Excelente, jovens aprendizes.
— Meus parabéns, princesa – Disse Khali guardando seu sabre de luz no cinto preso à cintura. – Você sabe lutar.
— Obrigada. Você também tem talento. – A garota respondeu.
Enquanto os dois cavaleiros recuperavam-se do combate, alguém se aproximou e caminhou até eles pela trilha de pedras no gramado. Este alguém já estava os observando a algum tempo, mas pela distância antes não era possível dizer de quem se tratava. Agora estava claro: era uma mulher, de cabelos e olhos castanhos inconfundíveis.
Leia Organa.
— Olá, meu sobrinho. — Disse ela dirigindo-se a Khali, que sorriu e a cumprimentou afetuosamente.
— Boa tarde, tia. Dando um passeio? — Perguntou o rapaz.
— Estava observando como estão as coisas por aqui depois do ocorrido ontem. Fiquei assistindo vocês dois treinarem. — Leia disse e isso fez com que Ameenah sentisse um gelo instantâneo na espinha. — Boa tarde, mestre Yerodin. Ótimo trabalho com seus padawans. — Disse Organa, e mestre Zuma agradeceu. — Princesa Ameenah? Estou feliz em finalmente conhecê-la.
— O prazer é todo meu, mestre Organa. – Respondeu Ameenah, ainda surpresa com a presença da mulher. As duas deram um aperto de mão.
— Gostaria de ter falado com você antes. Queria conversar sobre seu treinamento, seus pais e também sobre seu antigo mestre Horus Keet, que não vemos há tanto tempo. Sinto muito que tenha chego à Academia em um momento tão tumultuado.
— Não há porque. – A garota sorriu. – Espero que tudo seja resolvido em breve.
— É o que todos queremos, sem dúvida. – Disse Organa. – Mas não se preocupe. Recebemos você com muita alegria, em especial por ter sido treinada por um dos nossos melhores mestres. Se tiver qualquer problema ou precisar de ajuda, procure-me. Sou responsável pela administração da Academia. Sinta-se em casa, jovem aprendiz. – Disse Leia, com um sorriso receptivo.
—Obrigada, mestre.
— Perdoem-me a pressa, mas se me derem licença, tenho uma reunião com o Conselho agora. Foi um prazer, princesa.
— Eu a acompanho – Disse Khali. — Preciso conversar com Supremo Mestre Idowu sobre uma missão.
Khali fez uma reverência ao seu mestre e a garota, e em seguida ele e Leia despediram-se dos dois para adentrar o palácio.
Leia Organa era muito simpática e gentil, e Ameenah sempre a admirou muito. Era a principal heroína das histórias que mestre Horus lhe contava quando criança. Talvez por se identificar com o título de princesa que ela também possuía, ou simplesmente por considerá-la uma mulher forte e corajosa, a garota sempre a viu como uma inspiração.
— Seu mestre deve ter lhe contado muitas histórias sobre Leia. — Disse Yerodin, e Ameenah virou-se para ele. — Os dois eram muito amigos. Horus foi um de seus maiores parceiros durante a fundação da Academia.
— Ele contava, sim. — Ameenah sorriu, lembrando-se das aventuras sobre as quais ouvia.
— Horus era um Jedi incrível, e adorava boas histórias. Nós éramos muito próximos antes de ele se aposentar. Ele lhe contava essa?
— Ele mencionava você com frequência. — Respondeu Ameenah, recordando-se das histórias sobre Yerodin.
— Fomos amigos de infância. Se não fosse pela família Keet, não sei o que seria de mim.
—Vocês moravam juntos, não é?
—Mais que isso. Os pais de Horus me adotaram como um filho. — Disse Yerodin, e em seguida sentou-se em um banco do jardim próximo ao grande pilar. Fez sinal para que a garota o acompanhasse, e ela o fez. — Sabe, meus pais eram políticos. Estavam no cargo de senadores do planeta Mansur na época da República, e foram mortos durante o golpe político que deu origem ao Império, quando eu era apenas um garoto. Os pais de Horus eram velhos amigos dos meus, e me levaram para morar com eles, pois eu não tinha mais ninguém. Horus e eu tínhamos quase a mesma idade, e logo viramos amigos. Fomos criados juntos como irmãos, e crescemos muito próximos um do outro. Sempre tivemos interesses em comum: assim como eu, Horus admirava os Jedi e tinha aversão ao Império. Quando garotos costumávamos brincar juntos de Guerras Clônicas, um era o Jedi e o outro o Stormtrooper. Sempre brigávamos para ver quem seria o primeiro – Yerodin riu. — Quando completamos idade, nós dois nos alistamos juntos para a Aliança Rebelde, eu como comissário e ele como espião. Combatemos o Império lado a lado, como sempre quisemos.
— Não sabia disso – Disse Ameenah. — Digo, sabia sobre terem lutado juntos, mas não sabia sobre seus pais. Horus não havia me contado essa parte.
— Foi bem triste, mas a família Keet cuidou muito bem de mim. — Explicou mestre Zuma. — Senti muito a falta de Horus quando ele se aposentou da Ordem. Mas vejo que ele se manteve bem ocupado com você durante esse tempo, e fez um ótimo trabalho. Ao chegar aqui com a carta dele, você deixou todos nós surpresos; não fazíamos ideia de que ele estava treinando alguém fora daqui. Quando soube que ele pedira para que eu a treinasse, fiquei muito feliz. Ver você lutar me lembra muito dele. Acho que faremos um ótimo trabalho juntos, jovem Ameenah. — O mestre sorriu.
A garota sorriu de volta. Também achava aquilo. Acreditava do fundo do coração que era verdade, pois acreditava na decisão de seu mestre em confiar o restante de seu treinamento a um de seus melhores amigos, de quem tanto lhe falara. Após a conversa, mestre e padawan se despediram com uma reverência, e Ameenah dirigiu-se ao seu dormitório.
Aquele havia sido um intenso primeiro dia de treinamento. Apesar de confiar em seus poderes, Ameenah ficou pressionada pelo desejo de agradar seu novo mestre. Esperava que seu desempenho tivesse sido suficiente.
Estar com outros Jedi e terminar sua jornada de aprendiz era tudo que a garota mais queria. Fugiu de casa para isso, afinal. Nem queria imaginar a confusão que gerara em Nassor após seu sumiço. Mestre Horus deu-lhe sua confiança e teve fé nela, e Ameenah não planejava desapontá-lo. Ia realizar seu grande sonho, e em breve se tornaria uma Cavaleira Jedi para proteger as pessoas e livrar a Galáxia do mal.
Ah sim, o mal. Ele estava de volta agora, mais forte do que nunca, depois de um longo tempo sem dar as caras. Darth Styg – era um nome de arrepiar, pra um ser ainda mais assustador. Quem diria que mesmo depois de Luke Skywalker varrer a ameaça dos Sith da Galáxia eles arrumariam um caminho de volta?
As dúvidas relacionadas ao recém-renascido Lado Negro eram muitas, e ninguém tinha as respostas. Mas aquilo não amedrontava tanto Ameenah quanto a alguns outros Jedi. Ela estava chocada, é claro, mas ao mesmo tempo sentia-se ainda mais encorajada a treinar. Cedo ou tarde os Jedi iriam ter que enfrentar Styg e suas Tropas Cinzentas, e ela queria ter certeza de que estaria bem preparada para lutar pelo bem-estar da Galáxia. Alguém tinha que fazer isso, e esse alguém seriam os cavaleiros da paz e da justiça.
Ameenah foi deitar-se com pensamentos como aqueles em mente. Pouco antes de cair no sono, ela pensou ter ouvido passos no corredor. A madeira do piso rangeu, assustando-a, mas ela pensou ser apenas fruto da sua imaginação, já que pensava em coisas assustadoras. Talvez justamente por esses pensamentos sombrios, a garota não teve um sonho muito agradável para se ter numa noite calma.
— Escondam-se, rápido!
— As bombas e tiros estão vindo de todas as direções, precisamos ir!
— Por aqui!
O castelo estava em chamas, as árvores e casas do outro lado dos muros caíam, e o garotinho deixado para trás sumira junto com tudo que um dia foi tão calmo.
— É uma guerra, papai? – Perguntou a menininha assustada.
— Não há mais guerras nesses tempos, filha. Apenas cubra seus ouvidos e tudo irá passar num instante.
E os instantes se tornaram minutos, horas...
— Caros Jedi, vim até aqui para trazer-lhes as atualizações.
A voz de Yerodin era projetada em alto e bom som no grande salão, e todos os grandes mestres presentes prestavam atenção. O Conselho Jedi se reunira como de costume em uma conferência para discutir as situações e acontecimentos da Academia – como era o caso no momento.
— Fui apresentado à nova aprendiz que veio até nossa Academia procurando por treinamento. Creio que conseguiremos bons resultados com ela.
— Que detalhes você nos traz? – Disse mestre Daren, um dos Jedi que constituía a bancada dos grandes mestres do Conselho.
— A Força é presente nela. A garota já possui habilidades adquiridas anteriormente, que eu acredito que poderão ser aprimoradas com meu treinamento posterior. Eu ficaria satisfeito em poder treiná-la.
— Tem certeza que é capaz de administrar dois padawans de uma só vez, mestre Yerodin? – Indagou Daren. – Khali Skywalker ainda não passou pelos testes de Cavaleiro, e tampouco concluiu seu treinamento.
— Acredito que Khali está em um estágio avançado de seu treinamento, e não me incomodaria treiná-lo junto com Ameenah.
— Com licença, mestre Yerodin – O Jedi foi interrompido por outro membro do Conselho, mestre Gahiji. – Está se referindo à princesa de Nassor?
— Sim, mestre Gahiji.
— Com todo respeito, mestre, não acredito que o Conselho deveria permitir o treinamento da garota.
—Mas já permitiu, não? — Perguntou Yerodin. — Mediante a apresentação da carta de Horus Keet.
— Permitimos apenas uma avaliação da garota, realizada pelo senhor. — Esclareceu Gahiji. — Porém não acredito que o treinamento deva prosseguir.
— E por que não?
— Ameenah não passou por todas as etapas do treinamento em nossa Academia. Não foi treinada sob nossa supervisão e com nossos métodos assim como todos os outros. Ela não participou dos testes para Iniciados e não seguiu todos os protocolos. Além do mais, tem idade muito avançada para tornar-se uma padawan.
— Mas ela apresenta todas as habilidades exigidas para tornar-se aprendiz de um mestre. Foi o que constatei. – Yerodin discordou. – E, pois mais que seu treinamento não tenha sido orquestrado em nossa Academia, Ameenah foi ensinada por um de nossos mestres mais antigos e respeitados.
— Com todo respeito, Yerodin, a menina é um nome da política, nascida em berço real. Não está destinada a se tornar uma Jedi.
— O que te leva a tal palpite, Gahiji? – Mestre Daren perguntou.
— Ora, todos nós sabemos que os Democratas tem certo temor aos Jedi. Por que um deles viria nos procurar para treinamento? E justo a herdeira do trono de um dos principais sistemas da Galáxia? É do conhecimento de todos que Jedis não assumem cargos políticos de nenhuma espécie. Será que os Governantes-Reais estão cientes da indireta renúncia da princesa ao trono?
— Não sei se recorda-se, mestre Gahiji, mas o Conselho prometeu não se envolver com os assuntos familiares da princesa, a pedido dela. Foi sua única exigência ao ingressar na Academia. E independente de concordarmos ou não, decisões políticas não cabem a nós, de qualquer forma. — Rebateu Yerodin. — Quem sabe o fato de Ameenah ser uma democrata não seja ruim. Ela pode representar a nossa tão esperada união com a Democracia Intergaláctica.
— Devo concordar que isso é no mínimo incomum – Interferiu mestre Mothusi. – Os Democratas não gostam dos Jedi, pensaram até em nos extinguir. Quem sabe não enviaram a garota para nos espionar? Além do mais, Gahiji tem razão, não deveríamos aceitar aprendizes que não foram treinados por nós.
— Desculpem-me, mas não acho que o Conselho esteja na posição de negar instrução a ninguém no momento. – Leia se pronunciou. – Com o retorno de Darth Styg, a Ordem precisa do maior número de guerreiros treinados que puder recrutar. Supor que ela seja uma espiã me parece um exagero. Segundo a princesa, seus pais sequer aprovam a estadia dela na Academia.
— Sem dúvidas o treinamento da garota é um impasse. – Um pronunciamento interrompeu a discussão, vindo do Supremo Mestre Idowu, que até agora não tinha esboçado opiniões. – Façamos o seguinte, então. Já que não temos total conhecimento de seus ensinamentos e capacidade de aprendizagem, testaremos a garota para decidir se está apta a prosseguir conosco.
— Mas Yerodin já fez isso. – Gahiji disse.
— Mas não foi assistido pelo Conselho. Podemos avaliá-la da mesma forma como avaliaríamos outro padawan qualquer. O Torneio de Iniciados seria uma boa opção para tal, não acham? – Sugeriu Mothusi.
— Leu meus pensamentos, mestre Akia. – Idowu prosseguiu. – Eis o que eu acho: a princesa Ameenah deverá participar do próximo Torneio de Iniciados em algumas semanas e enfrentar outros padawans para conquistar o direito de ser treinada, assim como todos aqui fazem. Se sua performance for satisfatória, ela poderá dar continuidade ao seu aprendizado conosco. Após o Torneio, o Conselho se reunirá novamente para deliberar.
Todos os mestres do Conselho pareceram concordar com a sugestão.
—Decisão aprovada? — Perguntou Idowu, e não houve objeções.
— Assim será, então. – Disse Yerodin, finalizando seu discurso com uma reverência cortês e afastando-se do centro do salão.
Capítulo 4
Duas semanas se passaram e a Academia estava agitada. Era dia do Torneio de Iniciados, e os Jedi mais jovens estavam alvoroçados e tagarelando por todo o palácio, ansiosos pela data que chegara.
Aquele era um evento muito esperado. Todos os anos os Jedi Iniciados que finalizaram seu primeiro estágio de treinamento como younglings participavam do Torneio, que consiste em batalhas promovidas entre os jovens para que tenham a chance de mostrar todo o conhecimento que adquiriram em seus primeiros anos como Cavaleiros. O intuito das lutas é fazer uma espécie de apresentação, para que os mestres Jedi possam observá-los e assim escolher quais guerreiros tomarão como seus aprendizes dali para frente.
O que na verdade trazia tamanha ansiedade e curiosidade aos jovens era o fato de que nem todos os Iniciados eram escolhidos para continuar seus treinamentos como aprendizes de um Jedi. Os que não se destacam nas lutas ou perdem muitas batalhas seguidas não são escolhidos pelos mestres, salvo raríssimas exceções. Estes costumam encerrar suas carreiras como guerreiros, e são designados para trabalhar nas áreas administrativas ou de pesquisa da Academia. Embora os Jedi mais velhos sempre digam aos pequenos que receber tais funções não é sinônimo de fracasso, o sentimento de derrota e a vergonha sempre prevalecia nos rejeitados, assim como os olhares tortos dos outros colegas.
Havia uma pessoa em particular que estava demasiadamente apreensiva com a chegada do Torneio. Há poucos dias, Yerodin havia contado à Ameenah sobre a decisão do Conselho a respeito de seu treinamento, e do fato de que ela precisaria competir com outros Iniciados para conquistar seu direito de se tornar uma aprendiz. Ela não entendera ao certo o que aquilo significava; será que não tinha se mostrado boa o suficiente para ser aprovada logo de cara? Será que os mestres tinham algum problema com o fato de ela estar conectada à Democracia Intergaláctica?
Fosse o motivo que fosse, a insegurança atingiu a garota. Confiava em seu treinamento, mas não tinha ideia se suas habilidades estavam à altura das que as crianças da Academia possuíam. Suas instruções foram dadas de uma maneira completamente diferente da deles e embora todos os oponentes fossem mais novos, as divergências a deixaram nervosa. E se tudo desse errado?
Ameenah não viera até lá para nada. Ser recusada num teste como aquele depois de tudo que ela passou seria decepcionante. No entanto, a decisão não era dela – se queria fazer parte da Ordem, precisava acatar as decisões do Conselho. Preparou-se durante a semana que se seguiu, e apenas rezou para que aquilo que tinha fosse o suficiente para agradar aos mestres.
Todas as centenas de Jedis da Academia dirigiam-se em procissão para fora do palácio para assistir à cerimônia. Desceram um enorme barranco depois do jardim frontal e andando por alguns minutos chegaram a uma enorme cachoeira à beirada da floresta tropical. A enorme queda d’água surgia de um grande rochedo suspenso e formava uma lagoa rasa e cristalina, que fluía ligando-se ao lago que cortava o palácio. Aquela seria a arena de batalha. Todos os Jedi espectadores juntaram-se à beira d’água para poder ver, sentando-se na grama e nas pedras. Todos os mestres colocaram-se junto com os membros do Conselho na parte de trás da cachoeira, para observar tudo.
Todo ano o Torneio acontecia em um local diferente. E a cada ano o campo de batalha era mais peculiar e inusitado. A ideia era proporcionar aos aprendizes os mais diversos ambientes como cenário de luta, também para testar a sua capacidade de se adaptar ao meio durante as batalhas que eventualmente encarariam na vida real como Jedis de verdade. Este ano, o ambiente aquático e rochoso traria um panorama interessante aos mestres avaliadores à procura de novos aprendizes.
O Supremo Mestre Idowu deu alguns passos à frente na direção da grande queda d'água e abriu os braços pedindo para que todos se calassem. Usando a Força, o homem projetou sua voz em alto e bom som na ribanceira, fazendo seu discurso inicial.
— Caros Jedi, sejam bem-vindos ao nosso décimo quinto Torneio de Iniciados. – Todos aplaudiram alegremente. – Como sabem, o intuito desta competição é permitir que os Jedi mais jovens mostrem suas habilidades aos seus possíveis mestres, que escolherão seus aprendizes baseando-se no que virem durante os duelos. O laço entre padawan e mestre é muito significativo e importante para que o treinamento de um novo cavaleiro Jedi tenha sucesso. Por isso, caros Iniciados, não se desesperem caso sua performance não seja completamente satisfatória no dia de hoje; a Força sabe o que faz. Nem sempre um mestre escolherá você por sua agilidade com o sabre de luz ou sua destreza com os saltos, mas porque sentiu em você uma conexão. Sentiu que a Força reserva para você um caminho como cavaleiro, que deverá ser guiado por ele. Por isso, não tentem parecer habilidosos ou poderosos, mas sim concentrados e comprometidos acima de tudo. Se for o seu destino, um padawan você será. Boa sorte à todos.
Todos os cavaleiros presentes concordaram e aplaudiram a fala. Mestre Idowu agradeceu com uma reverência, e logo depois esticou sua mão direita para frente como um gesto de solenidade. Todos os outros Jedi copiaram o ato imediatamente, e a uma só potente voz começaram a entoar:
Não há emoção, há paz.
Não há ignorância, há conhecimento.
Não há paixão, há serenidade.
Não há caos, há harmonia.
Não há morte, há a Força.
O forte e poderoso som das vozes unidas proferindo o mantra Jedi ecoou por toda a ribanceira, seguido por uma reverência conjunta e uma salva de palmas. Então, a cerimônia estava oficialmente aberta.
Antes de iniciar as batalhas entre os novos padawans, era típico da Academia promover um tipo de luta modelo ou teste, em que dois dos aprendizes mais velhos e de mais destaque demonstrariam aos mais novos e também a toda a Ordem sua evolução no treinamento. Era uma forma de mostrar aos younglings tudo que o treinamento ministrado por um Mestre Jedi poderia proporcionar aos seus poderes, e também servia para inspirá-los.
Este ano, os escolhidos para realizar a luta de abertura eram Khali Skywalker e Talib Mashaba. Ambos eram aprendizes conceituados, muito habilidosos e estavam quase concluindo seu treinamento, próximos de se tornarem mestres Jedi. Os dois eram amigos de longa data, o que só tornava tudo mais interessante. Para os aprendizes escolhidos para a luta de abertura, ser designado era um sinal de reconhecimento tanto da parte de seu mestre como do Conselho, por apontá-lo como um de seus favoritos e mais habilidosos candidatos a Jedi.
Os dois rapazes posicionaram-se ao centro da arena de batalha. As águas rasas do pequeno lago serviriam como palco para sua demonstração de habilidade e poder. Os dois companheiros de treinamento e amigos dirigiram-se ao centro e ativaram seus sabres de luz, prontos para começar. Mestre Daren, que iria arbitrar as batalhas, colocou-se no meio dos dois e em seguida os liberou com um sinal para que iniciassem o combate.
Ambos preparavam-se. Rodeavam a pequena lagoa a passos lentos, estudando os movimentos do adversário para enfim poder atacar. A água batia na altura de seus tornozelos, cristalina e calma. Khali foi o primeiro a desferir um golpe, após uma cambalhota que o aproximou de seu oponente. O gesto deu origem a uma série de movimentos rápidos e precisos pela parte dos dois Jedi, que agitavam e chocavam seus sabres de luz com destreza.
Talib recuou a fim de ganhar espaço. Com um giro rápido, livrou-se da posição desfavorável, dominando o centro da lagoa e golpeando abertamente com seu sabre de luz. Os dois Jedi rodopiavam, saltavam e atacavam com precisão. Percorreram todo o campo de batalha, correndo a passos largos e espirrando água nos espectadores sentados mais próximos. Os younglings e Jedi mais novos maravilhavam-se, assistindo a luta com admiração.
Ataques e defesas depois, com os dois combatentes um pouco afastados, Talib utilizou telecinese para desequilibrar e derrubar Khali, e este caiu sentado e acabou derrubando seu sabre dentro d´água. Talib pensou ter a vitória, e correu até a arma desligada do oponente para apanhá-la. Mas Skywalker, num movimento ligeiro, usou a Força para afastá-lo alguns metros, e em seguida trouxe seu sabre de luz de volta às suas mãos, ligando-o rapidamente e colocando-se em posição de combate outra vez.
Sem demora, Talib levantou-se em um movimento rápido e a batalha continuou com gestos ligeiros e o som das lâminas zunindo no ar e se chocando. Os dois aprendizes rapidamente voltaram a correr pelo campo de batalha, trocando golpes. Khali recuou e sentiu a queda d'água atingir suas costas, e enquanto lutavam ambos atravessaram a cachoeira e em seguida continuaram a lutar.
Mais alguns golpes depois, e Khali preparou-se para finalizar a luta desarmando Talib com um golpe por trás. Porém, tentar concretizar seu plano, Mashaba agiu com destreza impedindo a finalização, apontando seu sabre para Skywalker. Não havia mais possibilidade de ataque ou defesa de nenhum dos lados, o que selou um empate.
A luta terminou com um estrondoso aplauso vindo de todos os presentes. Yerodin tinha a satisfação estampada no rosto, orgulhoso do desempenho de seu aprendiz. Os dois padawans voltaram ao centro, fizeram a típica reverência pós-batalha e cumprimentaram-se calorosamente, e logo em seguida abriram caminho para que as lutas entre Iniciados começassem efetivamente.
Sem demora, mestre Daren anunciou a primeira dupla sorteada para lutar. Ao ouvir seus nomes, dois garotos de aproximadamente doze anos apresentaram-se no centro da lagoa, e apreensivos cumprimentaram-se e ativaram seus sabres de luz.
Agora era possível compreender porque todos da Academia ficavam tão animados para o Torneio. Além de instrutivo, era um evento divertido e que saía da rotina séria de treinamentos e obrigações que todos tinham. Mas não era assim tão legal para os que iam competir: o nervosismo era imenso. O medo de errar e estragar tudo na frente de todos era gritante. Ameenah que o diga.
A cada luta que se passava, o nervosismo da princesa aumentava. Todos que haviam lutado até agora eram muito talentosos, e até o pior deles era habilidoso. Os iniciados eram todos mais novos que Ameenah, e tinham entre doze e quatorze anos – o que não os fazia parecer menos ameaçadores diante da jovem. E se perdesse para aquela garotada? Jamais seria escolhida para treinamento algum se passasse por tal humilhação.
Mas não, aquilo não seria possível. Todo o seu treinamento com mestre Keet não poderia ter sido em vão a ponto de não ser suficiente nem para derrotar uma criança. Ameenah sabia que todo o seu esforço ao longo daqueles anos servia para muito mais do que isso. E ela queria provar para todos que era boa, tão boa quanto ela queria acreditar ser. Faria isso, e ganharia a chance de ser treinada na Academia como sempre quis.
As lutas foram passando, até que cerca de uma hora depois o nome de Ameenah foi chamado. Era a sua hora. Restava apenas descobrir com quem iria lutar.
— Próximo combate: Ameenah Zulai contra Ayana Solo.
Do outro lado da lagoa, uma garota com idade próxima da de Ameenah levantou-se entre a plateia e caminhou pela multidão até chegar ao campo de batalha. Aquilo era curioso, pois Ameenah pensou ser a única que destoava da idade dos demais aprendizes. A oponente aproximou-se. A princesa sabia quem era a garota: a filha de Leia Organa e Han Solo.
Ao constatar que lutaria com ela, Ameenah engoliu seco – afinal, Ayana pertencia à família Skywalker, e todos sabem que o poder da Força é muito grande com os que fazem parte dela. Carregar esse título intimida a qualquer adversário. Por que colocaram Ameenah para lutar justamente com ela?
Ao observar as duas jovens se aproximarem do centro do campo de batalha, todos os espectadores estranharam por um minuto. Colocar a filha de uma Skywalker para lutar com a Jedi novata? Era curioso. Uma dessas pessoas reflexivas era Khali, que após sua luta observava tudo de longe, sentado próximo aos mestres.
Aquilo foi interessante especialmente para ele, afinal a garota lutaria com sua prima. Sabia dos níveis de habilidade de ambas, e perguntava-se quem havia tido a ideia. Alguém do Conselho devia estar tentando desafiar a caloura, para ver como reagiria sob pressão. Ou escolheram a dupla simplesmente pela idade próxima.
Khali observou a princesa com atenção. Apesar dos olhares curiosos de todos, ela não parecia com medo. Será que ela sabia do risco que estava correndo, ou só era boa em ocultar sentimentos?
Aquela princesa despertava a curiosidade dele. Desde o dia em que chegou, muitas perguntas sobre ela se formaram em sua mente. O que ela fazia ali? Por que chegara justo agora? O que mais ela esconde? Ele se perguntava. Era sem dúvidas uma garota misteriosa, mas não parecia estar ali para brincar.
Quando conversaram algumas semanas atrás, Khali pôde sentir a Força nela. Era poderosa, e, se recebesse o devido treinamento, se tornaria uma ótima cavaleira. Uma besteira o que o Conselho fez, na sua opinião, fazendo-a competir no Torneio para ter o direito de ser treinada. A garota possuía as habilidades e o pré-treinamento necessário, e a Ordem não estava em posição de negar guerreiros poderosos como ela na atual situação. Mas ele compreendia em partes, pois era uma dos que achava a presença de um Democrata na Ordem um tanto curiosa, e até suspeita.
A batalha estava prestes a começar. Independente de quais fossem suas dúvidas sobre a garota, era hora de vê-la lutar.
Ameenah respirou fundo. Ayana não parecia nada nervosa, mas não era muito ameaçadora. Era uma jovem morena muito semelhante a mãe, que aparentava até mesmo delicadeza. No entanto, isso não podia enganar: ela era poderosa. Ao parar em posição de combate, ela lançou um sorriso breve para a adversária Ameenah. As duas moças dirigiram-se ao centro do lago e ativaram seus sabres de luz, prontas para iniciar a demonstração.
Ayana foi a primeira a desferir um golpe. A princesa simplesmente defendeu-se, tentando afastar de si qualquer insegurança e medo que a situação lhe passava naquele momento. Respondeu o ato da adversária com um movimento rápido, e logo uma série de golpes ágeis começou a ser trocada pelas garotas.
Ayana golpeava muito bem. Era sólida e precisa em seus movimentos, e aquilo era visível e um pouco intimidador. Ameenah estava concentrada em defender-se do sabre ligeiro de Ayana, e mal percebeu que estava andando para trás. Recuou vários metros involuntariamente. Só notou quando trombou em um dos rochedos, e logo em seguida notou os olhares apreensivos de todos sobre ela.
Eles estavam duvidando, ela sabia.
Aquele combate era sobre impressões. Ameenah não podia deixar uma visão ruim cair sobre si, pois jamais seria treinada naquela Academia se fosse assim. Respirou fundo e contou até três mentalmente, tentando imaginar-se em um dos seus treinamentos secretos no palácio com Horus Keet. Pensou na voz de seu mestre lhe passando os ensinamentos, e sentiu-se calma.
Numa rápida inversão da situação, Ameenah começou a rodar seu sabre de um lado para o outro com destreza e agilidade, ganhando espaço e levando a luta para o centro da arena novamente. Com uma cambalhota, Ameenah defendeu-se de um golpe direto da adversária, e logo após atacou-a com um rodopio rápido, o que fez todos que assistiam vibrarem. Mais uma série de golpes ágeis vindos dos dois lados se iniciou.
A confiança da garota começava a se recompor. Não sabia se poderia ganhar, mas pelo menos não pareceria fraca na frente de todos. Continuou golpeando e usando seu sabre da melhor maneira que podia, pulando e girando sempre que necessário para desviar dos ataques habilidosos de Ayana.
A luta já tinha aproximadamente dez minutos, e as duas Jedi percorriam toda a circunferência da rasa lagoa trocando golpes e tilintando os sabres com vigor. Todos os espectadores assistiam ao combate concentrados, vibrando a cada choque das armas.
Em um ataque rápido, as duas adversárias rodopiaram e pararam frente a frente, agarrando o punho uma da outra, na tentativa de parar o sabre adversário. Seguraram-se forte por alguns segundos, até que Ayana girou para fora e em um movimento ligeiro, arrancou o sabre das mãos de Ameenah.
Todos os presentes aplaudiram. Logo em seguida, a Skywalker-Solo estendeu a arma de volta para Ameenah, com um sorriso sutil. Esta por sua vez ofegava, e retribuiu o gesto com cortesia. Pegou sua arma novamente e colocou-a no cinto de utilidades de seu uniforme, e as duas adversárias se reverenciaram para finalizar o combate.
Ameenah tinha perdido, mas não estava sentindo-se triste ou humilhada. Sabia que a luta não havia sido tão ruim. Todos aplaudiam, e alguns a olhavam com sorrisos no rosto. Pelo menos ela não passou vergonha. No entanto, o que realmente importava era a opinião dos membros do Conselho, afinal de contas ela tinha sido derrotada. Era preciso saber se sua performance tinha sido satisfatória para que decidissem a seu favor, no que dizia respeito ao seu destino na Academia.
Os espectadores aplaudiram o combate final do Torneio, inclusive os que estavam sentados na área do Conselho. Tinha sido uma boa luta.
A novata vinda da Democracia Intergaláctica surpreendeu a todos, inclusive a gestora da Academia, Leia Organa. A princesa de Nassor era habilidosa, e a Força era presente nela. A garota demonstrou coragem e disciplina ao lutar com sua filha, e seu estilo de combate lhe era muito agradável. Em sua opinião, Ameenah levava jeito para ser guerreira, e com o treinamento adequado o faria muito bem.
Aquele tinha sido o desfecho do Torneio de Iniciados daquele ano. Após o breve discurso de encerramento do Supremo Mestre Idowu, os Jedi começaram a se dirigir de volta para o palácio, para retornar às suas atividades normais. Agora, os mestres Jedi fariam suas escolhas entre os Iniciados apresentados e o Conselho se reuniria para deliberar e traçar o destino de seus Jedis.
Ameenah estava caminhando em meio ao aglomerado de pessoas de volta para o castelo, pensando sobre a luta, quando alguém tocou seu ombro e interrompeu seus pensamentos.
— Ei, princesa Ameenah – Disse-lhe uma voz, e ela virou-se para ver quem era. Era Ayana Solo, sua adversária há pouco. – Queria te dar os parabéns pela batalha. Você luta bem.
— Obrigada – Ameenah sorriu. – Você também.
— Obrigada. Eu estava um pouco nervosa, para ser honesta. – A garota riu e continuou puxando assunto. – Você é nova por aqui. Está se dando bem?
— Está meio confuso por enquanto, mas estou me adaptando.
— Se precisar de qualquer coisa, pode me procurar. Moro aqui desde criança, posso te ajudar.
— É muito gentil da sua parte, obrigada. – Ameenah agradeceu, surpresa com a simpatia da garota. – Posso te fazer uma pergunta? – Ayana assentiu. A princesa se questionava isso desde o início do combate, e já que a menina parecia tão simpática, resolveu falar. – Por que você participou do Torneio de Iniciados? Pensei que eu fosse a mais velha dos participantes, e que todos os younglings fossem crianças. Quer dizer, você é uma Skywalker...
— Na verdade eu sou uma youngling também. É uma história complicada – Ayana riu, e Ameenah atentou-se para ouvir, pois estava curiosa pra saber. Ayana resolveu contar. – Apesar de a minha família ser muito ligada aos Jedi e a Força, eu particularmente não gosto muito de lutar. Nunca gostei dessa história de guerreiros e missões, e nunca quis treinar para ser uma Jedi. Quando eu era criança costumava fugir das aulas e me esconder para não lutar, e os mestres sempre me achavam e me levavam para minha mãe dizendo que eu não queria participar. — Ela riu. — Essa sempre foi uma briga que tive com meus pais: eles não aceitavam a ideia de eu não querer ser ensinada nas artes Jedi. Até que um dia, quando fiquei mais velha, cansei de ouvi-los reclamar e concordei em ser treinada. Fiz um acordo de que terminaria minha formação, e depois do treinamento poderia atuar apenas na área administrativa da Academia. Por isso comecei só perto dos onze anos como uma youngling treinando com as outras crianças, e só agora vou me tornar uma aprendiz, mesmo que com a minha idade o certo seja estar perto de virar um mestre.
— Jura? – Ameenah surpreendeu-se. — Mas você tem tudo para ser uma Jedi muito poderosa, por que não queria ser treinada?
— É o que todos dizem. — Ayana riu. — Você tem um minuto? — Ela indicou um banco vazio próximo a uma árvore para que pudessem sentar e conversar.
— Claro. — Disse Ameenah, e as duas garotas sentaram-se dando continuidade ao assunto.
— Apesar de não me dedicar muito ao treinamento, sempre fui boa; lutava bem e aprendia rápido, graças à minha predisposição. Ninguém nunca entendeu o porquê de eu não querer ser Jedi, e muitos até hoje me julgam por isso. Não sei, nunca quis me envolver com guerras. Toda essa história de Jedis e Siths, eu nunca quis fazer uma escolha entre nada disso. Eu só queria ser alguém normal, entende?
— Entendo. — Disse Ameenah. — Bom, sua situação é totalmente a oposta da minha em relação a família. Eu sempre fui louca para treinar, e meus pais é que nunca quiseram deixar. Sempre sonharam que eu seria da política assim como eles, e eu nunca quis. Adoraria estar no seu lugar.
— Jura? Eu também adoraria trocar de lugar com você – Riu a garota. — Eu amo política e qualquer coisa que envolva a área administrativa.
— Acho que nascemos nas famílias erradas. — Ameenah riu.
— Acho que sim. — Ayana concordou brincando. — Bom, minha mãe me ama e eu sempre soube disso, mas ela é incapaz de entender o fato de eu não querer me envolver com a Força. Ela tem essa ideia de missão do destino tão fixa nela que pensa que deveria ser a mesma coisa comigo, e isso a deixa frustrada.
— E Han Solo? Ele te apoia como pai ou concorda com ela?
— Ele também nunca quis se envolver com a Força, tanto que não ficou na Academia quando minha mãe a fundou e se tornou um piloto, que é o que ele gosta de fazer. No entanto ele também acha que eu tenho que treinar, pois ele quer que eu fique com a minha mãe, embora eu secretamente prefira estar com ele na Democracia.
— Deve ser difícil para Leia ficar longe dele... Vocês se veem bastante?
— Muito pouco. Ele vem até a Academia me visitar as vezes, mas ele está sempre muito ocupado. — Contou Ayana. — Bom, eu não sei direito o que há entre ele e minha mãe... eles mal se veem. Sei que eles dois se amam e se querem muito bem, mas ambos tem vidas muito ocupadas com suas próprias missões e afazeres, e como são muito comprometidos com seus serviços, colocam isso sempre na frente. — Ela suspirou. — Mas eu entendo. Não há espaço na vida da minha mãe para um casamento. Ela e meu pai me tiveram antes de ela abrir a Academia e tornar-se uma Jedi. Antes não havia problema em ela ter uma família, mas depois da Ordem ficou mais difícil, pois uma das regras principais é que Jedis não podem ter envolvimentos afetivos. Mas, sabe, até acho que meus pais estarem separados é bom por um lado. Os dois brigavam muito e estavam sempre discutindo. No fim das contas, acho que a falta de convivência faz com que eles gostem mais um do outro. — Ela riu.
— Coisas de casal. – Ameenah riu também.
— Sabe, as vezes sinto que sou uma decepção para a minha família. Todos sempre estiveram envolvidos com a Força e fizeram coisas incríveis por meio dela, mas eu nunca me vi assim. Nunca quis ser uma guerreira. A Força trouxe muito sofrimento pra minha família; meu avô fez as escolhas erradas e passou a vida amputado dentro de uma armadura robótica como Vader, meu tio Luke sumiu e se isolou de todos que amava, e minha mãe carrega o fardo sem ele e administra essa Academia sozinha, se sacrificando muito por isso. Ao contrário de todos, não vejo isso como glória. É por isso que queria me manter longe de tudo.
— Nunca tinha pensado dessa forma, faz sentido. — Disse Ameenah, surpresa com a história da garota. — Mas e agora, o que acontece com seus planos depois de hoje?
— Eu estou torcendo pra não ser escolhida por ninguém no Torneio. Espero que nenhum mestre vá querer me treinar, pois todos sabem que sou um caso difícil. Apesar de querer me boicotar, tive que lutar pra valer com você, pois se minha mãe percebesse que estava indo mal de propósito iria ficar furiosa comigo.— Ela contou. — Mas meus planos seguem os mesmos. Vou treinar até o fim se alguém tiver me escolhido e então poderei usar a Força e os meus poderes aguçados para outras coisas, e fazer o que eu realmente gosto.
— Como o que?
— Propriedades de cura, estudo... Eu sempre fui muito ligada à natureza. Adoro estudar animais e plantas, sempre ajudo os seres feridos que vem parar na Academia usando a Força. Eu também gosto de cuidar do jardim, normalmente uso meus poderes para fazer as plantas crescerem mais rápido ou reavivo as que estão fracas usando a Força.
— Que incrível! – Disse a princesa, achando aquilo muito curioso. Usar a Força para jardinagem? Ela nunca tinha visto isso. – Interessante usar as habilidades pra esse tipo de coisa.
— Obrigada. – Ayana sorriu. – Os legumes e vegetais das refeições da Academia só são suculentos assim porque eu aprendi a fazê-los crescer. Posso te mostrar um dia, se você quiser.
— Eu iria adorar. – Ameenah sorriu de volta. No meio da conversa, mestre Gahiji apareceu no meio da multidão que caminhava de volta para a Academia, e chamou Ayana com um gesto.
— Eu preciso ir, princesa. Foi um prazer te conhecer. – Ayana disse vendo o sinal. – Se precisar de ajuda, procure-me.
— O prazer foi meu, você é muito simpática. – Disse Ameenah. – Obrigada.
As duas se despediram e Ayana saiu andando na direção de Gahiji. A garota era muito receptiva, e Ameenah ficou feliz por tê-la conhecido. Jamais poderia imaginar uma Skywalker que não quisesse se envolver com assuntos Jedi, ainda mais porque se interessava por medicina e jardinagem. Aquilo era curioso, mas muito interessante. E agora ela tinha uma amiga.
Todos os membros da Ordem estavam reunidos no grande salão de reuniões para discutir os resultados do Torneio de Iniciados. O Conselho Jedi aprovaria as decisões dos mestres que escolheram seus aprendizes, e designaria aqueles que não foram escolhidos para funções da área administrativa da Academia.
— Senhores, acredito que este seja o momento de tomarmos o que arrisco chamar de a decisão mais importante da noite. – Disse mestre Daren, para todos os presentes, após longas horas de discussão. – A nossa recém-chegada aprendiz Ameenah Zulai, que demonstrou suas habilidades em combate com Ayana Solo, deve ter seu destino escolhido. Foi solicitado pelo seu possível mestre, Yerodin Zuma, que o Conselho deliberasse sobre a autorização para que ela seja treinada em nossa Academia.
— As habilidades da princesa são inegáveis – Disse mestre Mothusi. – O treinamento que a garota obteve com nosso antigo mestre Horus Keet foi satisfatório, e acredito que seja o suficiente para que ela possa dar continuidade à sua jornada Jedi em nossa Academia.
Assim que o mestre terminou sua fala, alguns Jedi se manifestaram favoráveis ao seu parecer.
— Se me permitem, companheiros, eu mantenho minhas dúvidas a respeito da capacidade da garota em se tornar uma Jedi. – Disse mestre Gahiji, defendendo seu posicionamento já demonstrado anteriormente. – Ameenah Zulai é uma princesa, descendente de grandes líderes da Democracia Intergaláctica. A Força escolhe seus agentes logo no nascimento, e assim também funciona a política. A garota tem, por nascença, o destino de herdar o trono de Nassor e governá-lo após seus pais, e eu acredito que assim deve ser.
— Não acho que essa decisão política caiba a nós, mestre Gahiji. – Disse Yerodin, saindo em defesa de sua possível aprendiz. – Sim, a Força escolhe seus futuros agentes ao nascer, mas nem todos que nascem com a sua sensibilidade a utilizarão no futuro. Veja os younglings que rejeitamos hoje. Todos possuem um destino, mas também possuem o direito de escolher que caminho seguir. Ameenah escolheu seguir o caminho da Força, e estamos aqui para ajudá-la a trilhá-lo.
— Mestre Yerodin, creio que não tenha entendido meu ponto de vista. Com todo o respeito, eu não acredito que uma princesa tenha capacidade para se tornar uma Jedi.
— Perdoe-me, mestre Gahiji - Leia imediatamente o interrompeu, falando pela primeira vez durante toda a reunião. – Mas um título político não é suficiente para determinar a capacidade de alguém, ou a falta dela. Do mesmo modo, ter sensibilidade à Força não quer dizer saber usá-la. Como sabe, mestre Gahiji, eu mesma fui criada em uma família de políticos durante toda a minha juventude, carreguei este título por muito tempo e mesmo assim fui capaz de erguer esta Academia, graças ao meu poder e à presença da Força em mim. A senhorita Zulai não é diferente. – Disse Leia, olhando diretamente para mestre Gahiji enquanto proferia as palavras. Aquele era um ponto delicado. – Um dos princípios dos Jedi é não julgar ninguém pela sua origem ou antecedência, e ajudar a quem quer que peça para ser guiado pelos caminhos da Força. Não vejo porque o fato de Ameenah ser uma princesa deva ser empecilho para que seja treinada como Jedi. Nós não somos capazes de compreender completamente as escolhas feitas pela Força. Mas ela escolheu esta garota, e isso é evidente pela demonstração de poder e coragem que ela nos deu hoje, mesmo após ter sido desafiada injustamente por este Conselho a provar seu valor para que pudesse ser treinada por nós. Para mim, não há prova maior de que ela seria uma grande guerreira, pois é habilidosa e destemida. Durante o seu combate, pude sentir a presença da Força nela, e duvido muito que tenha sido a única. Todos aqui sabem que, em tempos como estes, Jedis poderosos não podem ser desperdiçados pela Ordem. Independente de quem ela seja, Ameenah Zulai tem um grande potencial para tornar-se uma Jedi. Inclusive – Neste momento, Leia levantou-se de sua cadeira para encarar a todos os mestres presentes. – Quero fazer um pedido a este Conselho. Eu gostaria de ter a princesa Ameenah como minha aprendiz. Enquanto eu a observava lutar, pude sentir algo que me dizia que deveria ensiná-la o que sei. Embora eu nunca tenha desejado o título de mestre, a Força me disse para treiná-la. Tive uma conexão com ela.
Assim que Leia terminou sua fala, um burburinho começou entre os mestres do Conselho. Uns concordavam com Organa, outros com Gahiji, alguns com nenhum dos dois. Segundos depois, o Supremo Mestre interrompeu os debates com um pedido de silêncio.
— Caros mestres, todos sabemos que esta é uma situação delicada. – Disse Idowu. – Contudo, segundo as regras estabelecidas por nós mesmos a respeito do Torneio de Iniciados, o potencial de um aprendiz deve ser analisado de acordo com seu desempenho na luta de demonstração, e não a fatores externos, como sua origem. Dito isso, todos devemos concordar que a princesa Ameenah teve uma performance bastante satisfatória no combate a nós imposto para ela, e com isso, ela conquista seu direito de ser treinada em nossa Academia. – O buchicho começou novamente, com Jedis comemorando e outros discordando. Mestre Idowu abafou o barulho e continuou a falar. – A respeito de quem deve treiná-la, as regras dizem que o mestre que sentir uma conexão com o aprendiz pode solicitar proceder seus ensinamentos, e a vontade da Força deve ser sempre respeitada. Embora Leia Organa não seja oficialmente uma mestra disponível para treinar padawans, todos aqui concordam que ela possui conhecimento suficiente, por óbvio, para fazê-lo se achar necessário. Inicialmente, a senhorita Zulai seria treinada pelo mestre Yerodin. A troca pode ser feita, se os dois mestres estiverem de acordo.
— Eu concordo com a troca, Supremo Mestre. – Disse Yerodin, manifestando-se. – Acredito que a senhorita Zulai estará em ótimas mãos sendo treinada pela mestre Organa. Eu dedicarei meu tempo apenas a finalizar o treinamento de meu então padawan Khali Skywalker.
— Muito bem. Algum dos mestres ainda se opõe à decisão? – Perguntou Idowu, e todos permaneceram em silêncio. – Pois bem, Ameenah Zulai é oficialmente uma aprendiz Jedi, a ser treinada pela agora mestre Jedi, Leia Organa.
Capítulo 5
No meio do ecossistema tropical e pacífico de Tedros, a Academia funcionava incessante. Todos os seus moradores dedicavam-se aos estudos e ao trabalho com apreço, comprometidos com seus deveres e com a missão Jedi. O empenho não era diferente com mestra e aprendiz, que à beira do grande lago do palácio davam continuidade às suas lições diárias.
-Excelente, minha aprendiz – Disse Leia, após terminarem um dos exercícios que ela havia passado e Ameenah fazer-lhe a reverência de padawans para mestres. - Você está se saindo muito bem.
-Obrigada, mestre. - A garota agradeceu, contente.
Aquela era a primeira semana de treinamento de Ameenah com sua nova mestra. A garota ainda estava um tanto surpresa com a mudança de mentor, e com o desejo repentino de Leia em treiná-la como sua aprendiz. Não sabia direito o porquê da decisão, mas apesar disso, sentia-se muito honrada por poder aprender com ela – afinal Leia era uma das pessoas mais poderosas da Galáxia - e pelo mesmo motivo também estava nervosa. Queria ser uma aprendiz à altura de sua professora, e estava esforçando-se para conseguir impressioná-la.
-Mais do que muito bem, arrisco dizer. - Leia sorriu. - Acho que você está pronta para avançar mais um passo. Você já teve treinamento anterior. Os exercícios que venho lhe passando são muito básicos para o seu nível. O que acha de tentarmos algo mais desafiador?
Aquela pergunta estremeceu Ameenah. Não sabia se concordava com Leia a respeito de estar além daquelas atividades. Mas se ela dissesse que não queria tentar ia parecer covarde. Assim como se concordasse e falhasse poderia parecer fraca. Bom... Leia não iria propor algo que ela não fosse capaz de fazer, certo? Talvez fosse melhor confiar em sua mestra.
-Vamos tentar isso. Venha cá - Disse Leia, indicando para que a garota se sentasse na grama à beira do lago. - Você já é capaz de perceber a Força fluindo nas coisas vivas que estão ao seu redor. Consegue ouvir os pássaros no alto das árvores, consegue sentir um inimigo se aproximando. Mas acontece que coisas não vivas, embora não possuam a Força propriamente dita, também têm um tipo de energia. É um campo muito mais sutil do que o que cerca um ser humano ou um animal, mas ainda assim é perceptível e, mais interessante que isso, manipulável. - Leia explicou à sua pupila, que ouvia tudo com atenção. Ela voltou-se para o lago. - Olhe para a água. É límpida, cristalina, calma e fonte de vida. Em Tedros os rios raramente tem correnteza, são sempre calmos e suaves. Tudo que carrega as águas do lago da Academia é o vento, com algumas ondas leves. - Disse Leia. - Quero que concentre-se no que vê. Mentalize cada molécula que percorre estas margens agora. Imagine que elas pertencem a você, que fazem parte do seu corpo.
Enquanto terminava a frase, mestre Organa começou a balançar levemente os dedos das mãos. Ameenah olhou para o lago, e viu pequenas gotículas de água se erguerem lentamente na superfície, como se dançassem valsa. Leia as moveu para cima com todo o cuidado e delicadeza, e trouxe-as para a direita. À medida que a luz do sol passava pela água, esta reluzia e formava um arco-íris levemente desenhado a frente delas. Então, Leia soltou as gotinhas, fazendo com que caíssem feito uma garoa logo acima das duas.
Aquilo era incrível, e além disso, muito bonito. Horus Keet nunca tentou ensinar este poder à Ameenah. Ela estava encantada com a delicadeza do feito, e com a forma que Leia fazia-o parecer tão natural.
-Sua vez. Ache o campo de energia que percorre a água e concentre-se nele. - Leia orientou e sorriu de lábios fechados. - Fique tranquila, não é tão difícil quanto parece.
Ameenah preparou-se, apreensiva. Não sabia se conseguiria fazer aquilo, nunca tentara nada parecido. Já havia levitado pequenos objetos e coisas inanimadas, mas nunca tentou controlar um elemento da natureza. Parecia ser algo extremamente complexo, e sua mestra o fazia com tanta maestria que deixou a garota insegura. Esperava que Leia não estivesse esperando que ela conseguisse na primeira tentativa, pois era bem improvável. Ameenah colocou-se em posição, e esticou as mãos na direção das águas estáticas.
Tentou concentrar-se ao máximo. Imaginou que as moléculas eram parte dela. Mas nada aconteceu. Nem mesmo uma gotinha se moveu.
-Isso é difícil. - Disse a garota, tentando ao máximo não parecer covarde.
Ameenah concentrou-se mais ainda. Tentava de todas as formas sentir uma energia emanando daquela imensidão transparente, mas não captava nada.
-Você consegue, padawan, concentre-se. - Incentivou Leia, sentindo a insegurança da garota.
A princesa fechou os olhos por um instante, procurando relaxar. Sentia sua sensibilidade aumentar quando fazia isso, como se fechar os olhos na verdade a fizesse enxergar mais longe. Procurou estabelecer uma conexão com qualquer campo próximo, por mínimo que fosse.
Ao abrir um dos olhos, viu que há poucos metros dela algumas áreas da superfície começavam a se elevar um pouco mais que as outras. Sem querer, acabou soltando as gotas que havia fisgado, mas em poucos segundos conseguiu recuperá-las e continuou fazendo sua altitude aumentar.
A garota conseguiu levar um punhado de gotículas cristalinas cerca de um metro acima da superfície. Seus movimentos eram trêmulos e disformes, mas ainda assim Ameenah completou a tarefa. Sorriu orgulhosa de si, e em poucos segundos devolveu as gotas ao lago, cortando a conexão com o campo de energia. Voltou-se para sua mestra, esperando comprovar sua satisfação, mas Leia não parecia assim tão feliz.
- Bom. Mas, Ameenah, não acha que consegue fazer melhor que isso? - Organa questionou, e a princesa sentiu aquela pontada de felicidade momentânea se esvair imediatamente de dentro dela. - Não é uma tarefa assim tão difícil. Normalmente, younglings em seu segundo ou terceiro ano de treinamento já conseguem dominar a água perfeitamente. Não quer tentar de novo?
Aquilo foi uma espécie de tiro no orgulho. Ameenah pensou estar realizando algo tão grandioso ao levitar aquelas gotinhas, mas não tinha sido o suficiente para impressionar Leia. A garota tinha que admitir que, depois daquilo, não estava com muita vontade de tentar de novo – tinha se esforçado bastante para conseguir da primeira vez, e sabia que não chegaria muito mais longe que aquilo. Elementos da natureza tinham um campo muito complexo, difícil de controlar. Mas até crianças faziam, não é mesmo? Ela não poderia passar por tal humilhação, não sem tentar outra vez.
Ameenah voltou a encarar a lagoa e engoliu seco. Esforçando-se para manter a calma, ela fechou os olhos novamente, tentando concentrar-se o máximo possível. Respirou fundo, eliminando todas as distrações. Tentou esquecer de onde estava, da pressão, e direcionou-se para a água, como se sua vida dependesse daquilo. Com sua audição Jedi aguçada, a garota conseguia ouvir os sopros do vento acariciando a superfície do lago. Imaginou-se como o vento, correndo rápido e levemente sob a água. Ergueu as duas mãos no ar e sentiu como se as gotas fossem as pontas dos seus dedos, como se a água fosse uma extensão do seu corpo.
Abriu os olhos. Quando olhou à sua frente, uma grande esfera formada por água corrente erguia-se no centro do lago. Tinha o tamanho de uma copa de árvore, e suas moléculas estavam agitadas fazendo com que tudo fluísse de um lado para o outro e espirrasse pelos cantos.
Os outros Jedi que estavam cuidando de suas próprias tarefas pararam o que estavam fazendo para observar o feito. Todos a volta de Ameenah começaram a se aproximar, surpresos, ao observar o acontecimento que tirou dezenas de pessoas de dentro da Academia para comentar: a princesa novata tinha feito aquilo.
Após quase dois minutos de admiração, Ameenah cessou a conexão e derrubou a esfera aquosa de volta no lago, praticamente sem fôlego. Foi uma mistura de orgulho e satisfação que a englobou, ao ver a grande massa de água atingindo a superfície e gerando consideráveis ondas na lagoa, que pouco a pouco foram se aproximando da margem. A movimentação chegou a transbordar o lago, expulsando um pouco de água para fora, com ondas que chegaram até os pés de Leia, que estava postada logo atrás dela com um sorriso satisfeito no rosto.
-Muito bem, padawan. - Ela disse com os lábios curvados de orgulho. - Eu disse que conseguiria. Acredite na força que existe em você, e será capaz de fazer coisas que nem imagina que é capaz.
Ameenah não sabia o que responder. Sorriu em consequência ao comentário.
-Acho que terminamos por hoje. Está liberada. – Disse Leia, e em seguida a princesa curvou-se em reverência a mestra, que logo deixou o jardim.
Alguns dos curiosos ainda permaneciam no local, os olhares todos sobre ela. A atenção vinha inclusive de Khali, que encontrava-se atravessando o castelo junto com Ayana Solo e seu amigo Talib naquele momento. Os três aproximaram-se da garota, que recebia os olhares um tanto lisonjeada.
-Ei, princesa – Exclamou Khali, para chamar a atenção da garota que logo virou-se para ele.
-Como é que fez aquilo? - Perguntou Talib, ainda encarando o centro do lago onde até há pouco havia uma esfera gigantesca de água.
-Não sei direito – Ela sorriu torto. - Mas por que o choque?
Ayana riu brevemente.
- Aquilo é muito difícil de fazer.
-Mesmo? - Disse Ameenah, confusa. - Leia disse que até os younglings eram capazes de controlar a água.
-Não conheço nenhum youngling que faz isso. - Falou Talib. - Se houver algum, deem a ele a cadeira de Mestre Supremo. - Brincou, e os dois outros amigos riram.
-É incomum que alguém com o seu nível de treinamento faça algo desse tamanho. - Disse Ayana. - Isso é surpreendente.
-O que você fez ali requer muita prática, princesa. Eu demorei semanas pra erguer míseras gotas desse lago quando era como você. - Disse Khali.
-Mas você era um padawan lesado, Skywalker. - Brincou Talib. - Eu aprendi antes de você, se lembra? Ficou tão decepcionado... - O rapaz riu.
- E logo depois afogou-se, e eu lhe salvei. – O amigo respondeu, e Talib lançou-lhe um olhar irritado antes de juntar-se ao riso. - Bom, acho que Leia estava te testando. Disse que era fácil só pra que se obrigasse a conseguir. - Continuou Skywalker.
Ameenah ficou chocada. Então era realmente uma tarefa tão difícil quanto pareceu de primeira. Leia a desmereceu propositalmente, e ela de fato conseguiu realizar o feito.
-Foi uma psicologia muito inteligente, devo dizer. - A garota riu, ainda surpresa com a informação.
Ameenah ainda estava extasiada. Primeiro por ter conseguido realizar algo tão grande quanto aquilo, pois nunca tinha feito algo daquela magnitude. E segundo, porque descobriu que aquilo era de fato algo grandioso, e que ela sabia que jamais teria conseguido realizar se não fosse pelo incentivo às avessas que sua mestre Leia havia lhe dado. Controlar a água foi um aumento à autoestima e à motivação da garota, que desde que chegou tanto se preocupou em impressionar e ser boa o bastante.
Fazer aquilo na frente de todos foi nostálgico. Ameenah lembrou-se de sua infância no palácio, onde os empregados sempre a aplaudiam e comemoravam mesmo suas menores conquistas, como aprender a amarrar os sapatos sozinha, provavelmente a pedido de seus pais para fazer com que se sentisse esperta. Sentira-se exatamente da mesma maneira hoje, mas a diferença era que, agora, o que ela realizara era algo realmente grande.
Aquilo lhe causou uma pontada de saudades de casa. Por um momento sentiu falta de seus pais e de como a tratavam como uma verdadeira "princesinha", sentiu falta de ter Horus Keet sempre ao seu lado onde quer que fosse e a incentivando durante seus treinos sigilosos. Seu passado em Nassor não era uma época da qual poderia reclamar, apesar de tudo.
Há algumas semanas, Ameenah teve um sonho com uma das suas lembranças daquele tempo. Sonhou com o dia em que toda aquela infância feliz tinha sido ameaçada pelo primeiro contato dela com o Lado Negro – o dia em que Darth Styg revelou-se para a Galáxia durante o ataque à Nassor, e destruiu a cidade inteira.
- Escondam-se, rápido!
- As bombas e tiros estão vindo de todas as direções, precisamos ir!
- Por aqui!
Ameenah ainda lembrava-se daquele dia como se fosse ontem. A cidade em chamas, as pessoas correndo, o som de tiros e explosões por todos os cantos. Foi o dia em que mais teve medo em toda sua vida. Foram milhares de mortos, dentre eles seu melhor amigo de infância, Zaki. Ela, junto com seus pais e toda a corte real, esconderam-se no abrigo antibombas do castelo e ficaram lá até que tudo passou. Foram horas e horas de terror sem fim, que devastaram a cidade e todo o reino. Mas, mais que isso, trouxeram o medo generalizado para toda a Galáxia a partir daquele dia.
Foi horrível. Agora, Ameenah tinha a chance de concertar as coisas como uma Jedi, combatendo o Lado Negro e as forças cada vez mais intensas de Styg por todo o universo. Aquilo a confortava, de certa forma. Treinava tão arduamente com o objetivo de proteger as pessoas da aniquilação que Styg poderia trazer. Queria ter certeza de que nenhuma outra garotinha tivesse que passar por aquilo nas mãos de vilões como aquele. Essa era sua missão.
Ameenah foi dormir naquela noite com estes pensamentos. Eles ocasionaram mais um sonho parecido com o de semanas atrás, com as explosões, os gritos e a fumaça. A princesa acordou dele no meio da madrugada, ofegante e suada em seu quarto.
Era por volta de quatro da manhã, o lado de fora ainda estava escuro e a Academia encontrava-se em silêncio total. Ao constatar que tudo não passara de um pesadelo, Ameenah virou-se de lado em sua esteira para voltar a dormir. Porém, assim que fechou os olhos novamente, ouviu um barulho estranho vindo do corredor.
Eram rangidos abafados na madeira do piso do lado de fora, parecendo passos, iguais aos que tinha ouvido algumas noites atrás. Imediatamente, Ameenah pegou seu sabre de luz na cômoda ao lado de onde deitava. Rapidamente desperta por conta do susto, a garota tentou sentir algum perigo usando a Força. Não conseguiu captar nada. Levantou-se e foi até a porta com cuidado para tentar ver o que era.
Ao abrir uma pequena fresta, Ameenah avistou o brilho de um sabre de luz azul que iluminava o caminho para alguém que por ali caminhava. Ela constatou ser Khali, vestindo seu uniforme Jedi e tomando cuidado para não fazer muito barulho.
-O que está fazendo aí? - Ela cochichou, e o rapaz deu um pulo para trás.
-Por acaso quer me matar de susto? – Ao vê-la pela fresta da porta, ele respondeu no mesmo tom.
-Desculpe, não sou eu quem está vagando pelos corredores da Academia no meio da madrugada feito um sonâmbulo, portanto, te faço a mesma pergunta, Skywalker. - Ameenah respondeu, debochada. - Por acaso quer me matar de susto?
-Bom argumento. – Ele admitiu a derrota. - Está tudo bem, pode voltar a dormir.
-O que está fazendo acordado?
-Assunto pessoal. - Khali indagou, e recebeu um olhar entediado em troca. Ele sabia que aquela não era a hora nem o lugar certo para se ter uma discussão, principalmente naquele tom de cochicho que cedo ou tarde acabaria acordando algum outro Jedi dormindo nas proximidades. - Vou treinar um pouco.
-Agora? - A garota disse indignada. - Não pode fazer isso de manhã?
-Apenas volte a dormir.
Ameenah fechou a porta de seu quarto, contrariada com a resposta. Aquela definitivamente não era a hora adequada pra resolver sair praticar seus golpes. O que é que Skywalker estava pensando? De qualquer maneira, a garota deitou-se novamente, procurando dormir.
No entanto, aquela seria uma tarefa difícil. Isso porque, de seu quarto, era possível ouvir o som do sabre de luz de Khali do lado de fora enquanto o rapaz "treinava um pouco". Pelo som, a garota constatou que ele estava praticando perto da árvore logo atrás de seu dormitório. Ela tentou ignorar, mas o som irritante da lâmina tilintando aos golpes tornou aquilo impossível. Cerca de meia hora depois, sem paciência e sem sono, ela resolveu se levantar.
Já que não conseguiria dormir por conta de ter seu sono perturbado, Ameenah não viu porque não ir até o lado de fora e juntar-se ao garoto. Vestiu seu uniforme e caminhou cuidadosamente pelos corredores do palácio até chegar ao jardim.
A lua ainda brilhava triunfante no céu límpido e escuro, e o gramado verde encontrava-se coberto pelo orvalho da madrugada. O rapaz estava próximo a grande árvore há alguns metros do prédio do castelo como Ameenah suspeitou, e golpeava concentradamente a madeira com seu sabre.
-Não consegue treinar em silêncio? - Disse a garota e Khali apontou seu sabre para ela em reflexo.
-Pode parar de me assustar? - Skywalker reclamou, em seguida afastando sua arma. - Por que ainda está acordada?
-Alguém resolveu começar a zunir um sabre de luz debaixo da minha janela e não consegui mais dormir. - Ela disse sentando-se no gramado. - Por isso, resolvi vir até aqui para assistir seu treinamento.
-Não quero ser indelicado, mas não gosto que me observem. – Disse o rapaz, e voltou a golpear a árvore com seu sabre, mas Ameenah não fez a mínima menção de sair dali. - Você não é muito flexível em suas decisões, é, princesa?
-Obrigada. - Ela brincou ao receber o "elogio", e os dois riram. - Pensei que tivesse pessoas lhe observando o tempo todo.
-É justamente por isso que não gosto – Explicou Khali. - E é justamente por isso que treino sozinho de madrugada.
Isso explicava o barulho de passos que Ameenah tinha ouvido algumas noites atrás nos corredores de madrugada. Era Khali dando sua escapada.
Ao ver que a garota não cederia, Skywalker rendeu-se e desligou seu sabre, e logo em seguida sentou-se no gramado ao lado dela, dando um suspiro.
-Estou só brincando com você. Sei como é isso. - Ameenah sorriu. - Posso ir embora se quiser.
-Não tem problema. Você já tirou minha concentração de qualquer forma. – Ele brincou e a fez rir, embora não fosse totalmente mentira. Mas uma conversa cairia bem.
- Sabe se o Conselho já descobriu algo sobre o retorno do Styg? - Disse a princesa, lembrando de seu sonho.
- Nada de novo pelo que eu ouvi. Aquele Sith ficou escondido durante muito tempo, ainda é novidade para todos que esteja por perto, e não sabemos onde é o esconderijo dele. Mas não vai demorar pra que os mestres e o Conselho consigam rastreá-lo ou descobrir onde ele está usando suas visões. - O rapaz respondeu.
- É, só nos resta crer que a Ordem tem o que é preciso para detê-lo antes que ele possa fazer um estrago. Espero que os Democratas abram os olhos para esse problema quando souberem do ataque que sofremos.
- Acho difícil que eles se importem. – Lamentou Khali. – A Democracia Intergaláctica sempre procura se envolver o menos possível com os assuntos Jedi. Eles acham que as questões da Força não passam de adversidades religiosas, e agem como se não fosse problema deles. Até parece que se esqueceram do domínio do Império e do Lado Negro sob a Galáxia há anos atrás.
- Esse é um dos vários motivos pelos quais nunca quis me envolver com política. – Explicou Ameenah depois de um suspiro, com frustração na voz. – Os Democratas são totalmente cegos aos problemas que os cercam. Ignorar a Força e recusar a ajuda dos Jedi é o pior de seus defeitos, e em breve eles vão pagar caro por isso. Quer dizer, a população é que vai.
- Ainda é muito cedo pra perder as esperanças. Daremos um jeito. - Tranquilizou Khali. Após alguns segundos de silêncio, ele preferiu iniciar um assunto mais alegre. - Sabe, aquilo que fez hoje mais cedo foi incrível. Você é realmente muito poderosa. Qualquer um nesta Academia que tenha duvidado da sua capacidade não abrirá mais a boca.
-É, ainda estou tentando entender o que foi aquilo... - Ameenah sorriu sem graça. - Mas eu espero que esteja certo. Não vim pra cá querendo causar problemas, apenas quero ser treinada como todos os outros.
-Infelizmente é inevitável que a presença de uma princesa, filha de Democratas Galácticos como você, cause problemas por aqui. Sabe, a Força é onipresente e homogênea, mas as pessoas que são responsáveis por exercer sua doutrina nem sempre pensam da mesma forma. Boa parte do Conselho sofre desse mal.
-Não os culpo por isso. Os Democratas fecharam os olhos para os Jedi durante todos esses anos.
-Mas não foi por culpa sua. - Khali expôs razão e fez uma pausa. - A Força escolheu você, ninguém precisa concordar ou entender por que. Funciona assim desde sempre, e temos que acreditar que as escolhas feitas são corretas.
-Mas, como você disse, quem exerce a Força são as pessoas - Ameenah deu um meio sorriso. - e pessoas tem um sério problema em aceitar designações que não foram elas que fizeram. Como meus pais, por exemplo. Eles nunca aceitaram e jamais aceitarão a ideia de eu ser uma Jedi.
-Eu pensei que tivesse resolvido as coisas com eles antes de ir embora.
-Na verdade não foi bem assim, eles nunca opinaram sobre a minha ida. Sequer sabiam, na verdade. – Ameenah explicou. - Horus e eu sempre treinamos escondido, e foi assim até o dia em que ele precisou partir. Depois que ele fosse embora, eu não teria mais ninguém para me ajudar em meu treinamento, então ficaria estagnada - a não ser que encontrasse outro lugar que desenvolvesse minhas habilidades. Horus me aconselhou a procurar a Academia para dar continuidade ao meu caminho, e deixou sua carta de recomendação comigo pra que eu decidisse o que fazer de acordo com o meu coração. Após pensar um pouco, eu decidi vir, pois sabia que ficar em Nassor não era o meu destino e muito menos era o que eu queria. No entanto, meus pais jamais aceitariam a ideia. Se eu falasse com eles, tentariam me impedir de qualquer jeito e acabaríamos brigando feio. Resumindo, era uma discussão pesada e não alteraria em nada a opinião deles. Além disso, meu pai e minha mãe não sabiam que eu vinha treinando todos esses anos, o que seria mais um motivo para me proibirem. Portanto, eu decidi que fugiria. Peguei minha nave e saí de Nassor durante a madrugada, sem que ninguém soubesse.
-Você é ainda mais atrevida do que parece. – Brincou Khali, surpreso. - E, definitivamente, não é nada flexível quando coloca uma ideia na cabeça.
Ameenah riu em resposta, um pouco nervosa.
-Eu não podia continuar lá, entende? O universo gritava pra mim que aquela não era a vida que eu nascera para levar. Foi difícil tomar essa decisão, é claro, mas foi preciso. - A garota suspirou. - Não sei como meus pais reagiram a minha fuga ou se estão me procurando. Não fiz contato desde então, e sinceramente, acho melhor que continue assim. Preciso me concentrar no que estou fazendo agora.
-Isso é notável em você, princesa. Está disposta a sacrificar tudo pelo que você acredita. - Disse Khali. - Deve ter sido bem difícil.
-É, foi sim. - Eles ficaram quietos por alguns segundos. - Você tem sorte, Skywalker. Já nasceu com tudo isso posto a você. As pessoas não precisam te aceitar, te permitir; ao invés disso elas te admiram.
-Não diria que isso é sorte. - Khali deu um longo suspiro e deitou-se de costas no gramado. - Tudo que tenho posto para mim não é graças a nada que eu fiz, e sim ao que meu pai fez. Você, assim como a maioria aqui, está escrevendo sua própria história e reputação do zero. Mas quando as pessoas já esperam algo de você como é o meu caso, a grandeza te é imposta. É engraçado: você a almeja e eu a temo. - Ele sorriu. - Entende? A Força não me escolheu, ela simplesmente veio junto. É a mesma coisa com a minha prima Ayana. Ela nunca quis ser uma Jedi, mas por ser filha de Leia Organa ela é obrigada a viver uma vida que não quer.
-Mas você não gosta de ser um Jedi? – Perguntou Ameenah, juntando-se a ele deitada ao seu lado no gramado.
-Claro que gosto – Khali respondeu. - É tudo que eu sempre quis fazer. Lutar e meditar são coisas únicas pra mim, me fazem sentir vivo e parte do Universo. Eu só faço isso sob muita pressão. Pra alguém que nasceu em um lugar pobre como eu, e cresceu como um garoto comum que nunca teve as expectativas de ninguém sobre si, é uma grande mudança. Mas acho que faz parte do caminho que a Força trilhou para mim. São desafios que eu preciso ser forte o suficiente para lidar. No fim das contas, isso só me obriga a treinar um pouco mais que os outros.
-Engraçado... - Disse a garota, com um sorriso pensativo. - Quando cheguei aqui e ouvi as pessoas falando sobre o filho de Luke Skywalker, pensei que você já tinha nascido num berço de ouro e tinha certeza durante a vida toda que seria um Jedi incrível, pois todos lhe diziam isso e você era esnobe o suficiente para acreditar. Não esperava que sua história fosse assim.
-Bom, quando ouvi que a princesa de Nassor estava na Academia para treinar e se tornar uma Jedi, também não pensei que fosse tão corajosa pra fugir de casa e contrariar as expectativas de todos para seguir o que acreditava. - Khali riu. - E tampouco esperava que fosse tão poderosa.
Os dois ficaram em silêncio por alguns instantes, e tudo que se ouvia eram os grilos e cigarras que conversavam alegremente pelo jardim. O céu estrelado estava lindo; nenhuma nuvem sequer manchava o céu, deixando a Galáxia lá em cima completamente exposta em sua magnitude e esplendor. Estrelas, nebulosas e luas espalhavam-se pelo vasto céu, formando a paisagem que os dois Jedis admiravam. De Tedros, era possível observar diversos outros sistemas próximos, como Coruscant, Endor... e até Nassor.
-Sente falta de casa? - Perguntou Khali, como se adivinhasse que era para lá que a garota estava olhando.
-Não sei. - Ela respondeu, e o rapaz estranhou. - Eu não queria estar lá agora, mas tenho saudades. Do planeta, da minha casa, dos meus pais, de Horus... mas estou feliz aqui. É onde sempre quis estar.
-Sempre que vejo você andando pelo palácio, posso perceber o quanto está satisfeita. - Skywalker comentou. - Você olha para tudo com encantamento.
-Este lugar é muito melhor do que eu imaginei – Disse ela. - Claro, é bem diferente de treinar sozinha, só com mestre Keet pra me observar e ensinar, a pressão é maior. Sem falar que, em casa, eu nunca fui desafiada. Querendo ou não, eu era a princesa, e por conta disso e também pela superproteção dos meus pais, nunca tive muitos problemas pra lidar. Me sinto mal por isso. – Ela riu. - Mas é bom estar cercada de pessoas que querem o mesmo que eu. Poder ser quem eu quero ser, sem precisar mais esconder.
-Ter treinado com Horus durante todos esses anos sem ninguém saber deve ter sido muito difícil. - Comentou Khali.
-E foi. Só podíamos praticar de madrugada ou muito cedo, e sem fazer muito barulho. Várias vezes escapamos por pouco de sermos descobertos. - Ela contou. - Horus foi um mestre incrível, eu devo muito a ele. Se não fosse sua disposição em me treinar, jamais teria saído do lugar.
-Não me lembro muito bem... como foi que ele se tornou um Jedi?
-Horus era um grande fã dos Jedi antes de se tornar um. Quando ele era criança, o vilarejo onde morava foi atacado por contrabandistas, e sua família inteira foi salva por um Jedi. Seu nome era Obi-Wan Kenobi. Graças a ele todos continuaram vivos, depois que a casa onde viviam explodiu. Desde então toda a família Keet passou a admirar os Jedi; os pais dele lhe contavam as mesmas histórias que ele costumava me contar quando me colocava pra dormir. Horus estudou muito sobre a Ordem e a Força durante a infância e a adolescência, e foi esse conhecimento que o fez um dos mestres mais importantes para a fundação dessa Academia. Muito do que ele sabia sobre a antiga Ordem foi utilizado para construir esta.
-E por que ele se aposentou? - Perguntou Khali.
-Foi pouco depois que a Ordem se estabeleceu. Ele se feriu gravemente em uma missão, e teve que amputar a perna direita e substituí-la por uma mecânica. Durante uma disputa com vendedores de escravos, a nave dele caiu em um planeta desabitado e o deixou muito debilitado, então ele decidiu se afastar da Ordem. Ele diz que a Força estava lhe chamando para outra missão longe dali.
-E qual era? - Disse o rapaz, entretido.
-Me treinar.
-É, a Força sempre mostra o caminho. - Khali sorriu. - Assim como mostrou a ele que era hora de você treinar aqui.
-E aqui estou eu. - A menina sorriu. - Fico me perguntando quais são os planos da Força. - Ela desviou o olhar para observar as estrelas e os outros sistemas exibidos bem acima de suas cabeças. - Por que ela me escolheu. Qual será meu papel como sua seguidora.
-Penso a mesma coisa. - Khali disse. - Ao mesmo tempo em que me pergunto quais são os planos dela para o Universo como um todo. O mal tão iminente, uma criatura tão poderosa como Styg aliando-se ao Lado Negro... e tendo a Galáxia estado nas mãos de outros iguais a ele por tanto tempo, por que precisa passar por isso de novo? Seria um ciclo, algo linear em busca de coisas maiores?
-Com tanta coisa ruim acontecendo, é fácil perder a fé e duvidar do destino quando ele faz as pessoas sofrerem. Nessas horas, ser uma Jedi me conforta um pouco. Significa que ao menos posso fazer alguma coisa para amenizar essa dor, para ajudar as coisas a encontrem seu caminho novamente.
Após a fala de Ameenah, os dois interromperam seus discursos ao reparar que, no horizonte, o sol já começava a revelar seus primeiro raios para trazer a manhã que se aproximava.
-Sabe, estive pensando... - Disse Khali após os instantes de silêncio. - Lordes Sith nunca estão sozinhos. Quando aparecem, eles estão sempre em dois: um mestre e um aprendiz.
-Sim, e daí?
-Styg provavelmente é o mestre - Indagou Skywalker. - Já se perguntou quem seria o seu aprendiz?
-Excelente, minha aprendiz – Disse Leia, após terminarem um dos exercícios que ela havia passado e Ameenah fazer-lhe a reverência de padawans para mestres. - Você está se saindo muito bem.
-Obrigada, mestre. - A garota agradeceu, contente.
Aquela era a primeira semana de treinamento de Ameenah com sua nova mestra. A garota ainda estava um tanto surpresa com a mudança de mentor, e com o desejo repentino de Leia em treiná-la como sua aprendiz. Não sabia direito o porquê da decisão, mas apesar disso, sentia-se muito honrada por poder aprender com ela – afinal Leia era uma das pessoas mais poderosas da Galáxia - e pelo mesmo motivo também estava nervosa. Queria ser uma aprendiz à altura de sua professora, e estava esforçando-se para conseguir impressioná-la.
-Mais do que muito bem, arrisco dizer. - Leia sorriu. - Acho que você está pronta para avançar mais um passo. Você já teve treinamento anterior. Os exercícios que venho lhe passando são muito básicos para o seu nível. O que acha de tentarmos algo mais desafiador?
Aquela pergunta estremeceu Ameenah. Não sabia se concordava com Leia a respeito de estar além daquelas atividades. Mas se ela dissesse que não queria tentar ia parecer covarde. Assim como se concordasse e falhasse poderia parecer fraca. Bom... Leia não iria propor algo que ela não fosse capaz de fazer, certo? Talvez fosse melhor confiar em sua mestra.
-Vamos tentar isso. Venha cá - Disse Leia, indicando para que a garota se sentasse na grama à beira do lago. - Você já é capaz de perceber a Força fluindo nas coisas vivas que estão ao seu redor. Consegue ouvir os pássaros no alto das árvores, consegue sentir um inimigo se aproximando. Mas acontece que coisas não vivas, embora não possuam a Força propriamente dita, também têm um tipo de energia. É um campo muito mais sutil do que o que cerca um ser humano ou um animal, mas ainda assim é perceptível e, mais interessante que isso, manipulável. - Leia explicou à sua pupila, que ouvia tudo com atenção. Ela voltou-se para o lago. - Olhe para a água. É límpida, cristalina, calma e fonte de vida. Em Tedros os rios raramente tem correnteza, são sempre calmos e suaves. Tudo que carrega as águas do lago da Academia é o vento, com algumas ondas leves. - Disse Leia. - Quero que concentre-se no que vê. Mentalize cada molécula que percorre estas margens agora. Imagine que elas pertencem a você, que fazem parte do seu corpo.
Enquanto terminava a frase, mestre Organa começou a balançar levemente os dedos das mãos. Ameenah olhou para o lago, e viu pequenas gotículas de água se erguerem lentamente na superfície, como se dançassem valsa. Leia as moveu para cima com todo o cuidado e delicadeza, e trouxe-as para a direita. À medida que a luz do sol passava pela água, esta reluzia e formava um arco-íris levemente desenhado a frente delas. Então, Leia soltou as gotinhas, fazendo com que caíssem feito uma garoa logo acima das duas.
Aquilo era incrível, e além disso, muito bonito. Horus Keet nunca tentou ensinar este poder à Ameenah. Ela estava encantada com a delicadeza do feito, e com a forma que Leia fazia-o parecer tão natural.
-Sua vez. Ache o campo de energia que percorre a água e concentre-se nele. - Leia orientou e sorriu de lábios fechados. - Fique tranquila, não é tão difícil quanto parece.
Ameenah preparou-se, apreensiva. Não sabia se conseguiria fazer aquilo, nunca tentara nada parecido. Já havia levitado pequenos objetos e coisas inanimadas, mas nunca tentou controlar um elemento da natureza. Parecia ser algo extremamente complexo, e sua mestra o fazia com tanta maestria que deixou a garota insegura. Esperava que Leia não estivesse esperando que ela conseguisse na primeira tentativa, pois era bem improvável. Ameenah colocou-se em posição, e esticou as mãos na direção das águas estáticas.
Tentou concentrar-se ao máximo. Imaginou que as moléculas eram parte dela. Mas nada aconteceu. Nem mesmo uma gotinha se moveu.
-Isso é difícil. - Disse a garota, tentando ao máximo não parecer covarde.
Ameenah concentrou-se mais ainda. Tentava de todas as formas sentir uma energia emanando daquela imensidão transparente, mas não captava nada.
-Você consegue, padawan, concentre-se. - Incentivou Leia, sentindo a insegurança da garota.
A princesa fechou os olhos por um instante, procurando relaxar. Sentia sua sensibilidade aumentar quando fazia isso, como se fechar os olhos na verdade a fizesse enxergar mais longe. Procurou estabelecer uma conexão com qualquer campo próximo, por mínimo que fosse.
Ao abrir um dos olhos, viu que há poucos metros dela algumas áreas da superfície começavam a se elevar um pouco mais que as outras. Sem querer, acabou soltando as gotas que havia fisgado, mas em poucos segundos conseguiu recuperá-las e continuou fazendo sua altitude aumentar.
A garota conseguiu levar um punhado de gotículas cristalinas cerca de um metro acima da superfície. Seus movimentos eram trêmulos e disformes, mas ainda assim Ameenah completou a tarefa. Sorriu orgulhosa de si, e em poucos segundos devolveu as gotas ao lago, cortando a conexão com o campo de energia. Voltou-se para sua mestra, esperando comprovar sua satisfação, mas Leia não parecia assim tão feliz.
- Bom. Mas, Ameenah, não acha que consegue fazer melhor que isso? - Organa questionou, e a princesa sentiu aquela pontada de felicidade momentânea se esvair imediatamente de dentro dela. - Não é uma tarefa assim tão difícil. Normalmente, younglings em seu segundo ou terceiro ano de treinamento já conseguem dominar a água perfeitamente. Não quer tentar de novo?
Aquilo foi uma espécie de tiro no orgulho. Ameenah pensou estar realizando algo tão grandioso ao levitar aquelas gotinhas, mas não tinha sido o suficiente para impressionar Leia. A garota tinha que admitir que, depois daquilo, não estava com muita vontade de tentar de novo – tinha se esforçado bastante para conseguir da primeira vez, e sabia que não chegaria muito mais longe que aquilo. Elementos da natureza tinham um campo muito complexo, difícil de controlar. Mas até crianças faziam, não é mesmo? Ela não poderia passar por tal humilhação, não sem tentar outra vez.
Ameenah voltou a encarar a lagoa e engoliu seco. Esforçando-se para manter a calma, ela fechou os olhos novamente, tentando concentrar-se o máximo possível. Respirou fundo, eliminando todas as distrações. Tentou esquecer de onde estava, da pressão, e direcionou-se para a água, como se sua vida dependesse daquilo. Com sua audição Jedi aguçada, a garota conseguia ouvir os sopros do vento acariciando a superfície do lago. Imaginou-se como o vento, correndo rápido e levemente sob a água. Ergueu as duas mãos no ar e sentiu como se as gotas fossem as pontas dos seus dedos, como se a água fosse uma extensão do seu corpo.
Abriu os olhos. Quando olhou à sua frente, uma grande esfera formada por água corrente erguia-se no centro do lago. Tinha o tamanho de uma copa de árvore, e suas moléculas estavam agitadas fazendo com que tudo fluísse de um lado para o outro e espirrasse pelos cantos.
Os outros Jedi que estavam cuidando de suas próprias tarefas pararam o que estavam fazendo para observar o feito. Todos a volta de Ameenah começaram a se aproximar, surpresos, ao observar o acontecimento que tirou dezenas de pessoas de dentro da Academia para comentar: a princesa novata tinha feito aquilo.
Após quase dois minutos de admiração, Ameenah cessou a conexão e derrubou a esfera aquosa de volta no lago, praticamente sem fôlego. Foi uma mistura de orgulho e satisfação que a englobou, ao ver a grande massa de água atingindo a superfície e gerando consideráveis ondas na lagoa, que pouco a pouco foram se aproximando da margem. A movimentação chegou a transbordar o lago, expulsando um pouco de água para fora, com ondas que chegaram até os pés de Leia, que estava postada logo atrás dela com um sorriso satisfeito no rosto.
-Muito bem, padawan. - Ela disse com os lábios curvados de orgulho. - Eu disse que conseguiria. Acredite na força que existe em você, e será capaz de fazer coisas que nem imagina que é capaz.
Ameenah não sabia o que responder. Sorriu em consequência ao comentário.
-Acho que terminamos por hoje. Está liberada. – Disse Leia, e em seguida a princesa curvou-se em reverência a mestra, que logo deixou o jardim.
Alguns dos curiosos ainda permaneciam no local, os olhares todos sobre ela. A atenção vinha inclusive de Khali, que encontrava-se atravessando o castelo junto com Ayana Solo e seu amigo Talib naquele momento. Os três aproximaram-se da garota, que recebia os olhares um tanto lisonjeada.
-Ei, princesa – Exclamou Khali, para chamar a atenção da garota que logo virou-se para ele.
-Como é que fez aquilo? - Perguntou Talib, ainda encarando o centro do lago onde até há pouco havia uma esfera gigantesca de água.
-Não sei direito – Ela sorriu torto. - Mas por que o choque?
Ayana riu brevemente.
- Aquilo é muito difícil de fazer.
-Mesmo? - Disse Ameenah, confusa. - Leia disse que até os younglings eram capazes de controlar a água.
-Não conheço nenhum youngling que faz isso. - Falou Talib. - Se houver algum, deem a ele a cadeira de Mestre Supremo. - Brincou, e os dois outros amigos riram.
-É incomum que alguém com o seu nível de treinamento faça algo desse tamanho. - Disse Ayana. - Isso é surpreendente.
-O que você fez ali requer muita prática, princesa. Eu demorei semanas pra erguer míseras gotas desse lago quando era como você. - Disse Khali.
-Mas você era um padawan lesado, Skywalker. - Brincou Talib. - Eu aprendi antes de você, se lembra? Ficou tão decepcionado... - O rapaz riu.
- E logo depois afogou-se, e eu lhe salvei. – O amigo respondeu, e Talib lançou-lhe um olhar irritado antes de juntar-se ao riso. - Bom, acho que Leia estava te testando. Disse que era fácil só pra que se obrigasse a conseguir. - Continuou Skywalker.
Ameenah ficou chocada. Então era realmente uma tarefa tão difícil quanto pareceu de primeira. Leia a desmereceu propositalmente, e ela de fato conseguiu realizar o feito.
-Foi uma psicologia muito inteligente, devo dizer. - A garota riu, ainda surpresa com a informação.
Ameenah ainda estava extasiada. Primeiro por ter conseguido realizar algo tão grande quanto aquilo, pois nunca tinha feito algo daquela magnitude. E segundo, porque descobriu que aquilo era de fato algo grandioso, e que ela sabia que jamais teria conseguido realizar se não fosse pelo incentivo às avessas que sua mestre Leia havia lhe dado. Controlar a água foi um aumento à autoestima e à motivação da garota, que desde que chegou tanto se preocupou em impressionar e ser boa o bastante.
Fazer aquilo na frente de todos foi nostálgico. Ameenah lembrou-se de sua infância no palácio, onde os empregados sempre a aplaudiam e comemoravam mesmo suas menores conquistas, como aprender a amarrar os sapatos sozinha, provavelmente a pedido de seus pais para fazer com que se sentisse esperta. Sentira-se exatamente da mesma maneira hoje, mas a diferença era que, agora, o que ela realizara era algo realmente grande.
Aquilo lhe causou uma pontada de saudades de casa. Por um momento sentiu falta de seus pais e de como a tratavam como uma verdadeira "princesinha", sentiu falta de ter Horus Keet sempre ao seu lado onde quer que fosse e a incentivando durante seus treinos sigilosos. Seu passado em Nassor não era uma época da qual poderia reclamar, apesar de tudo.
Há algumas semanas, Ameenah teve um sonho com uma das suas lembranças daquele tempo. Sonhou com o dia em que toda aquela infância feliz tinha sido ameaçada pelo primeiro contato dela com o Lado Negro – o dia em que Darth Styg revelou-se para a Galáxia durante o ataque à Nassor, e destruiu a cidade inteira.
- Escondam-se, rápido!
- As bombas e tiros estão vindo de todas as direções, precisamos ir!
- Por aqui!
Ameenah ainda lembrava-se daquele dia como se fosse ontem. A cidade em chamas, as pessoas correndo, o som de tiros e explosões por todos os cantos. Foi o dia em que mais teve medo em toda sua vida. Foram milhares de mortos, dentre eles seu melhor amigo de infância, Zaki. Ela, junto com seus pais e toda a corte real, esconderam-se no abrigo antibombas do castelo e ficaram lá até que tudo passou. Foram horas e horas de terror sem fim, que devastaram a cidade e todo o reino. Mas, mais que isso, trouxeram o medo generalizado para toda a Galáxia a partir daquele dia.
Foi horrível. Agora, Ameenah tinha a chance de concertar as coisas como uma Jedi, combatendo o Lado Negro e as forças cada vez mais intensas de Styg por todo o universo. Aquilo a confortava, de certa forma. Treinava tão arduamente com o objetivo de proteger as pessoas da aniquilação que Styg poderia trazer. Queria ter certeza de que nenhuma outra garotinha tivesse que passar por aquilo nas mãos de vilões como aquele. Essa era sua missão.
Ameenah foi dormir naquela noite com estes pensamentos. Eles ocasionaram mais um sonho parecido com o de semanas atrás, com as explosões, os gritos e a fumaça. A princesa acordou dele no meio da madrugada, ofegante e suada em seu quarto.
Era por volta de quatro da manhã, o lado de fora ainda estava escuro e a Academia encontrava-se em silêncio total. Ao constatar que tudo não passara de um pesadelo, Ameenah virou-se de lado em sua esteira para voltar a dormir. Porém, assim que fechou os olhos novamente, ouviu um barulho estranho vindo do corredor.
Eram rangidos abafados na madeira do piso do lado de fora, parecendo passos, iguais aos que tinha ouvido algumas noites atrás. Imediatamente, Ameenah pegou seu sabre de luz na cômoda ao lado de onde deitava. Rapidamente desperta por conta do susto, a garota tentou sentir algum perigo usando a Força. Não conseguiu captar nada. Levantou-se e foi até a porta com cuidado para tentar ver o que era.
Ao abrir uma pequena fresta, Ameenah avistou o brilho de um sabre de luz azul que iluminava o caminho para alguém que por ali caminhava. Ela constatou ser Khali, vestindo seu uniforme Jedi e tomando cuidado para não fazer muito barulho.
-O que está fazendo aí? - Ela cochichou, e o rapaz deu um pulo para trás.
-Por acaso quer me matar de susto? – Ao vê-la pela fresta da porta, ele respondeu no mesmo tom.
-Desculpe, não sou eu quem está vagando pelos corredores da Academia no meio da madrugada feito um sonâmbulo, portanto, te faço a mesma pergunta, Skywalker. - Ameenah respondeu, debochada. - Por acaso quer me matar de susto?
-Bom argumento. – Ele admitiu a derrota. - Está tudo bem, pode voltar a dormir.
-O que está fazendo acordado?
-Assunto pessoal. - Khali indagou, e recebeu um olhar entediado em troca. Ele sabia que aquela não era a hora nem o lugar certo para se ter uma discussão, principalmente naquele tom de cochicho que cedo ou tarde acabaria acordando algum outro Jedi dormindo nas proximidades. - Vou treinar um pouco.
-Agora? - A garota disse indignada. - Não pode fazer isso de manhã?
-Apenas volte a dormir.
Ameenah fechou a porta de seu quarto, contrariada com a resposta. Aquela definitivamente não era a hora adequada pra resolver sair praticar seus golpes. O que é que Skywalker estava pensando? De qualquer maneira, a garota deitou-se novamente, procurando dormir.
No entanto, aquela seria uma tarefa difícil. Isso porque, de seu quarto, era possível ouvir o som do sabre de luz de Khali do lado de fora enquanto o rapaz "treinava um pouco". Pelo som, a garota constatou que ele estava praticando perto da árvore logo atrás de seu dormitório. Ela tentou ignorar, mas o som irritante da lâmina tilintando aos golpes tornou aquilo impossível. Cerca de meia hora depois, sem paciência e sem sono, ela resolveu se levantar.
Já que não conseguiria dormir por conta de ter seu sono perturbado, Ameenah não viu porque não ir até o lado de fora e juntar-se ao garoto. Vestiu seu uniforme e caminhou cuidadosamente pelos corredores do palácio até chegar ao jardim.
A lua ainda brilhava triunfante no céu límpido e escuro, e o gramado verde encontrava-se coberto pelo orvalho da madrugada. O rapaz estava próximo a grande árvore há alguns metros do prédio do castelo como Ameenah suspeitou, e golpeava concentradamente a madeira com seu sabre.
-Não consegue treinar em silêncio? - Disse a garota e Khali apontou seu sabre para ela em reflexo.
-Pode parar de me assustar? - Skywalker reclamou, em seguida afastando sua arma. - Por que ainda está acordada?
-Alguém resolveu começar a zunir um sabre de luz debaixo da minha janela e não consegui mais dormir. - Ela disse sentando-se no gramado. - Por isso, resolvi vir até aqui para assistir seu treinamento.
-Não quero ser indelicado, mas não gosto que me observem. – Disse o rapaz, e voltou a golpear a árvore com seu sabre, mas Ameenah não fez a mínima menção de sair dali. - Você não é muito flexível em suas decisões, é, princesa?
-Obrigada. - Ela brincou ao receber o "elogio", e os dois riram. - Pensei que tivesse pessoas lhe observando o tempo todo.
-É justamente por isso que não gosto – Explicou Khali. - E é justamente por isso que treino sozinho de madrugada.
Isso explicava o barulho de passos que Ameenah tinha ouvido algumas noites atrás nos corredores de madrugada. Era Khali dando sua escapada.
Ao ver que a garota não cederia, Skywalker rendeu-se e desligou seu sabre, e logo em seguida sentou-se no gramado ao lado dela, dando um suspiro.
-Estou só brincando com você. Sei como é isso. - Ameenah sorriu. - Posso ir embora se quiser.
-Não tem problema. Você já tirou minha concentração de qualquer forma. – Ele brincou e a fez rir, embora não fosse totalmente mentira. Mas uma conversa cairia bem.
- Sabe se o Conselho já descobriu algo sobre o retorno do Styg? - Disse a princesa, lembrando de seu sonho.
- Nada de novo pelo que eu ouvi. Aquele Sith ficou escondido durante muito tempo, ainda é novidade para todos que esteja por perto, e não sabemos onde é o esconderijo dele. Mas não vai demorar pra que os mestres e o Conselho consigam rastreá-lo ou descobrir onde ele está usando suas visões. - O rapaz respondeu.
- É, só nos resta crer que a Ordem tem o que é preciso para detê-lo antes que ele possa fazer um estrago. Espero que os Democratas abram os olhos para esse problema quando souberem do ataque que sofremos.
- Acho difícil que eles se importem. – Lamentou Khali. – A Democracia Intergaláctica sempre procura se envolver o menos possível com os assuntos Jedi. Eles acham que as questões da Força não passam de adversidades religiosas, e agem como se não fosse problema deles. Até parece que se esqueceram do domínio do Império e do Lado Negro sob a Galáxia há anos atrás.
- Esse é um dos vários motivos pelos quais nunca quis me envolver com política. – Explicou Ameenah depois de um suspiro, com frustração na voz. – Os Democratas são totalmente cegos aos problemas que os cercam. Ignorar a Força e recusar a ajuda dos Jedi é o pior de seus defeitos, e em breve eles vão pagar caro por isso. Quer dizer, a população é que vai.
- Ainda é muito cedo pra perder as esperanças. Daremos um jeito. - Tranquilizou Khali. Após alguns segundos de silêncio, ele preferiu iniciar um assunto mais alegre. - Sabe, aquilo que fez hoje mais cedo foi incrível. Você é realmente muito poderosa. Qualquer um nesta Academia que tenha duvidado da sua capacidade não abrirá mais a boca.
-É, ainda estou tentando entender o que foi aquilo... - Ameenah sorriu sem graça. - Mas eu espero que esteja certo. Não vim pra cá querendo causar problemas, apenas quero ser treinada como todos os outros.
-Infelizmente é inevitável que a presença de uma princesa, filha de Democratas Galácticos como você, cause problemas por aqui. Sabe, a Força é onipresente e homogênea, mas as pessoas que são responsáveis por exercer sua doutrina nem sempre pensam da mesma forma. Boa parte do Conselho sofre desse mal.
-Não os culpo por isso. Os Democratas fecharam os olhos para os Jedi durante todos esses anos.
-Mas não foi por culpa sua. - Khali expôs razão e fez uma pausa. - A Força escolheu você, ninguém precisa concordar ou entender por que. Funciona assim desde sempre, e temos que acreditar que as escolhas feitas são corretas.
-Mas, como você disse, quem exerce a Força são as pessoas - Ameenah deu um meio sorriso. - e pessoas tem um sério problema em aceitar designações que não foram elas que fizeram. Como meus pais, por exemplo. Eles nunca aceitaram e jamais aceitarão a ideia de eu ser uma Jedi.
-Eu pensei que tivesse resolvido as coisas com eles antes de ir embora.
-Na verdade não foi bem assim, eles nunca opinaram sobre a minha ida. Sequer sabiam, na verdade. – Ameenah explicou. - Horus e eu sempre treinamos escondido, e foi assim até o dia em que ele precisou partir. Depois que ele fosse embora, eu não teria mais ninguém para me ajudar em meu treinamento, então ficaria estagnada - a não ser que encontrasse outro lugar que desenvolvesse minhas habilidades. Horus me aconselhou a procurar a Academia para dar continuidade ao meu caminho, e deixou sua carta de recomendação comigo pra que eu decidisse o que fazer de acordo com o meu coração. Após pensar um pouco, eu decidi vir, pois sabia que ficar em Nassor não era o meu destino e muito menos era o que eu queria. No entanto, meus pais jamais aceitariam a ideia. Se eu falasse com eles, tentariam me impedir de qualquer jeito e acabaríamos brigando feio. Resumindo, era uma discussão pesada e não alteraria em nada a opinião deles. Além disso, meu pai e minha mãe não sabiam que eu vinha treinando todos esses anos, o que seria mais um motivo para me proibirem. Portanto, eu decidi que fugiria. Peguei minha nave e saí de Nassor durante a madrugada, sem que ninguém soubesse.
-Você é ainda mais atrevida do que parece. – Brincou Khali, surpreso. - E, definitivamente, não é nada flexível quando coloca uma ideia na cabeça.
Ameenah riu em resposta, um pouco nervosa.
-Eu não podia continuar lá, entende? O universo gritava pra mim que aquela não era a vida que eu nascera para levar. Foi difícil tomar essa decisão, é claro, mas foi preciso. - A garota suspirou. - Não sei como meus pais reagiram a minha fuga ou se estão me procurando. Não fiz contato desde então, e sinceramente, acho melhor que continue assim. Preciso me concentrar no que estou fazendo agora.
-Isso é notável em você, princesa. Está disposta a sacrificar tudo pelo que você acredita. - Disse Khali. - Deve ter sido bem difícil.
-É, foi sim. - Eles ficaram quietos por alguns segundos. - Você tem sorte, Skywalker. Já nasceu com tudo isso posto a você. As pessoas não precisam te aceitar, te permitir; ao invés disso elas te admiram.
-Não diria que isso é sorte. - Khali deu um longo suspiro e deitou-se de costas no gramado. - Tudo que tenho posto para mim não é graças a nada que eu fiz, e sim ao que meu pai fez. Você, assim como a maioria aqui, está escrevendo sua própria história e reputação do zero. Mas quando as pessoas já esperam algo de você como é o meu caso, a grandeza te é imposta. É engraçado: você a almeja e eu a temo. - Ele sorriu. - Entende? A Força não me escolheu, ela simplesmente veio junto. É a mesma coisa com a minha prima Ayana. Ela nunca quis ser uma Jedi, mas por ser filha de Leia Organa ela é obrigada a viver uma vida que não quer.
-Mas você não gosta de ser um Jedi? – Perguntou Ameenah, juntando-se a ele deitada ao seu lado no gramado.
-Claro que gosto – Khali respondeu. - É tudo que eu sempre quis fazer. Lutar e meditar são coisas únicas pra mim, me fazem sentir vivo e parte do Universo. Eu só faço isso sob muita pressão. Pra alguém que nasceu em um lugar pobre como eu, e cresceu como um garoto comum que nunca teve as expectativas de ninguém sobre si, é uma grande mudança. Mas acho que faz parte do caminho que a Força trilhou para mim. São desafios que eu preciso ser forte o suficiente para lidar. No fim das contas, isso só me obriga a treinar um pouco mais que os outros.
-Engraçado... - Disse a garota, com um sorriso pensativo. - Quando cheguei aqui e ouvi as pessoas falando sobre o filho de Luke Skywalker, pensei que você já tinha nascido num berço de ouro e tinha certeza durante a vida toda que seria um Jedi incrível, pois todos lhe diziam isso e você era esnobe o suficiente para acreditar. Não esperava que sua história fosse assim.
-Bom, quando ouvi que a princesa de Nassor estava na Academia para treinar e se tornar uma Jedi, também não pensei que fosse tão corajosa pra fugir de casa e contrariar as expectativas de todos para seguir o que acreditava. - Khali riu. - E tampouco esperava que fosse tão poderosa.
Os dois ficaram em silêncio por alguns instantes, e tudo que se ouvia eram os grilos e cigarras que conversavam alegremente pelo jardim. O céu estrelado estava lindo; nenhuma nuvem sequer manchava o céu, deixando a Galáxia lá em cima completamente exposta em sua magnitude e esplendor. Estrelas, nebulosas e luas espalhavam-se pelo vasto céu, formando a paisagem que os dois Jedis admiravam. De Tedros, era possível observar diversos outros sistemas próximos, como Coruscant, Endor... e até Nassor.
-Sente falta de casa? - Perguntou Khali, como se adivinhasse que era para lá que a garota estava olhando.
-Não sei. - Ela respondeu, e o rapaz estranhou. - Eu não queria estar lá agora, mas tenho saudades. Do planeta, da minha casa, dos meus pais, de Horus... mas estou feliz aqui. É onde sempre quis estar.
-Sempre que vejo você andando pelo palácio, posso perceber o quanto está satisfeita. - Skywalker comentou. - Você olha para tudo com encantamento.
-Este lugar é muito melhor do que eu imaginei – Disse ela. - Claro, é bem diferente de treinar sozinha, só com mestre Keet pra me observar e ensinar, a pressão é maior. Sem falar que, em casa, eu nunca fui desafiada. Querendo ou não, eu era a princesa, e por conta disso e também pela superproteção dos meus pais, nunca tive muitos problemas pra lidar. Me sinto mal por isso. – Ela riu. - Mas é bom estar cercada de pessoas que querem o mesmo que eu. Poder ser quem eu quero ser, sem precisar mais esconder.
-Ter treinado com Horus durante todos esses anos sem ninguém saber deve ter sido muito difícil. - Comentou Khali.
-E foi. Só podíamos praticar de madrugada ou muito cedo, e sem fazer muito barulho. Várias vezes escapamos por pouco de sermos descobertos. - Ela contou. - Horus foi um mestre incrível, eu devo muito a ele. Se não fosse sua disposição em me treinar, jamais teria saído do lugar.
-Não me lembro muito bem... como foi que ele se tornou um Jedi?
-Horus era um grande fã dos Jedi antes de se tornar um. Quando ele era criança, o vilarejo onde morava foi atacado por contrabandistas, e sua família inteira foi salva por um Jedi. Seu nome era Obi-Wan Kenobi. Graças a ele todos continuaram vivos, depois que a casa onde viviam explodiu. Desde então toda a família Keet passou a admirar os Jedi; os pais dele lhe contavam as mesmas histórias que ele costumava me contar quando me colocava pra dormir. Horus estudou muito sobre a Ordem e a Força durante a infância e a adolescência, e foi esse conhecimento que o fez um dos mestres mais importantes para a fundação dessa Academia. Muito do que ele sabia sobre a antiga Ordem foi utilizado para construir esta.
-E por que ele se aposentou? - Perguntou Khali.
-Foi pouco depois que a Ordem se estabeleceu. Ele se feriu gravemente em uma missão, e teve que amputar a perna direita e substituí-la por uma mecânica. Durante uma disputa com vendedores de escravos, a nave dele caiu em um planeta desabitado e o deixou muito debilitado, então ele decidiu se afastar da Ordem. Ele diz que a Força estava lhe chamando para outra missão longe dali.
-E qual era? - Disse o rapaz, entretido.
-Me treinar.
-É, a Força sempre mostra o caminho. - Khali sorriu. - Assim como mostrou a ele que era hora de você treinar aqui.
-E aqui estou eu. - A menina sorriu. - Fico me perguntando quais são os planos da Força. - Ela desviou o olhar para observar as estrelas e os outros sistemas exibidos bem acima de suas cabeças. - Por que ela me escolheu. Qual será meu papel como sua seguidora.
-Penso a mesma coisa. - Khali disse. - Ao mesmo tempo em que me pergunto quais são os planos dela para o Universo como um todo. O mal tão iminente, uma criatura tão poderosa como Styg aliando-se ao Lado Negro... e tendo a Galáxia estado nas mãos de outros iguais a ele por tanto tempo, por que precisa passar por isso de novo? Seria um ciclo, algo linear em busca de coisas maiores?
-Com tanta coisa ruim acontecendo, é fácil perder a fé e duvidar do destino quando ele faz as pessoas sofrerem. Nessas horas, ser uma Jedi me conforta um pouco. Significa que ao menos posso fazer alguma coisa para amenizar essa dor, para ajudar as coisas a encontrem seu caminho novamente.
Após a fala de Ameenah, os dois interromperam seus discursos ao reparar que, no horizonte, o sol já começava a revelar seus primeiro raios para trazer a manhã que se aproximava.
-Sabe, estive pensando... - Disse Khali após os instantes de silêncio. - Lordes Sith nunca estão sozinhos. Quando aparecem, eles estão sempre em dois: um mestre e um aprendiz.
-Sim, e daí?
-Styg provavelmente é o mestre - Indagou Skywalker. - Já se perguntou quem seria o seu aprendiz?
Capítulo 6
Era início de manhã em Tedros e a brisa do dia recém-nascido soprava suavemente os primeiros raios de sol forte por entre as árvores. Khali observava tudo do alto da sacada do palácio, seu lugar favorito na Academia. Com os olhos ao longe e o coração calmo, ele meditava. Acabara de ir até o Conselho para fazer a requisição do seu teste para tornar-se Mestre Jedi. Yerodin finalizara suas lições e os conselheiros deliberariam sobre o tão sonhado ingresso do rapaz à Ordem de fato.
Havia sido um longo caminho. Khali lembrava de si mesmo criança, quando sonhava em ser como aqueles homens de tranças e espadas de luz que via passarem por ele na cidade. Muito mudou desde aquela época, e tudo o levou a este caminho de sabedoria e poder em que estava. Pronto para dar mais um passo.
Queria que seu pai estivesse ali para ver. O que será que ele pensaria? Provavelmente estaria orgulhoso de ver o filho seguindo seus passos, tornando-se um cavaleiro como ele um dia fez. Será que lhe daria um abraço? Ou será que manteria a postura? Como agiria aquele homem misterioso, de quem Khali nem sequer se lembrava?
Quem sabe, de onde quer que Luke esteja agora - se é que está mesmo em algum lugar - esteja sentindo os passos do rapaz em direção a Força. Pensar assim o confortava.
Seus pensamentos foram interrompidos por um barulho no corredor às suas costas. De lá veio mestre Gahiji, trazendo-lhe um aviso.
-Skywalker, está sendo chamado na sala de reuniões. Temos uma nova missão.
Na sala de estratégias da Ordem, em volta da grande mesa redonda cercada de estátuas e quadros, estava seu amigo Talib, a prima Ayana e Ameenah, junto com os mestres Gahiji, Yerodin e Daren. Ao centro, Supremo Mestre Idowu estava ao lado de Mothusi com planos e mapas postos à frente. Após a chegada de Khali, o Supremo iniciou sua fala.
-Cavaleiros Jedi, trago-lhes notícias. - Sua grave voz se projetou nas paredes. - Esta manhã um de nossos espiões nos trouxe informações importantíssimas sobre nosso inimigo Darth Styg. Conseguimos localizar uma base de seu exército Cinzento no planeta pantanoso de Tirok, onde ele mantém um esconderijo e provavelmente possui um sistema informacional. Queremos enviá-los em uma força-tarefa até lá para fazer o reconhecimento e buscar respostas. - Todos na sala concordaram com a cabeça. - Queremos que vasculhem a área à procura do paradeiro de Styg ou informações que nos levem a ele, e investiguem a logística das Tropas Cinzentas. Precisamos entender o que são os tiros que atingiram nossos cavaleiros no dia do ataque, o porquê seus poderes desapareceram e se possível saber como curá-los. A Ordem confia em vocês para realizar esta missão e nos trazer esclarecimentos. Não queremos nenhum tipo de confronto, mas não sabemos bem o que encontrarão por lá, portanto estamos enviando-os em maior número. Coletem o máximo de informações que conseguirem, e tentem não ser vistos.
-Segundo as informações que recebemos, a base se localiza num campo seco e aberto após o pântano - Explicou Mothusi, que montara as estratégias. - Haverá guardas nas portas que terão que despistar. Lembrem-se que não queremos que as tropas saibam que estão lá, portanto, tentem não entrar em conflito com soldados. Esta espionagem é nossa chance de ficar à frente de Styg, já que ele não sabe que estamos indo. Apenas mantenham-se escondidos e coletem todos os dados que puderem. Queremos que observem a logística da base para que tenhamos noção de quem estamos lidando. O planeta possui um sistema de reconhecimento de pouso, portanto usem o sinal de rádio da nave para confundir o radar.
-A nave da missão está no hangar 3, e parte em uma hora. Perguntas? - Ninguém se manifestou. - Que a Força esteja com vocês. - Finalizou Idowu, e todos fizeram uma reverência antes de se retirarem para prepararem-se para a missão.
O planeta Tirok ficava após um cinturão de asteroides, há trezentos klicks dali. Os sete Jedis convocados para a missão embarcaram numa nave Interceptor Delta 7-B, e sem demora lançaram-se ao espaço rumo as respostas que a Ordem tanto procurava.
A ansiedade parecia compartilhada. Aquele seria o primeiro passo para a revanche dos Jedi contra o perverso Darth Styg. Quem sabe o que poderiam encontrar por lá? Perguntas como essa passavam pela mente de Ameenah, que brilhava de alegria e ao mesmo tempo tremia de medo por ter sido escolhida logo de cara para uma missão tão importante.
-É sua primeira vez em campo? - Perguntou Ayana a ela, sentada num dos bancos da nave de frente para Ameenah.
-É sim. - Ela respondeu. Será que sua ansiedade transparecia?
-Está nervosa?
-Um pouco. - Ela disse sinceramente.
-Não precisa ficar preocupada, princesa. Não será nada demais. É apenas uma missão de reconhecimento, não corremos grande perigo. - Ayana sorriu simpática.
-Tem sorte de sua primeira missão ser como esta - Disse o rapaz sentado ao lado de Ayana. Aquele era Talib, o melhor amigo de Skywalker. - Quando eu fui a campo pela primeira vez, os Jedi estavam indo apaziguar uma guerrilha num planeta da Orla Exterior. Foi bem complicado.
-O que aconteceu?
-A guerrinha era na verdade uma cilada dos nativos para tentar roubar nossos sabres de luz e armas. Eles faziam parte de um daqueles grupos estúpidos de apoio ao retorno do Império, e queriam nos atingir. O planeta era tropical, cercado por florestas, e tivemos que sair correndo em direção as naves para voltar e impedir os roubos. No caminho, ainda fomos atacados por banthas selvagens. Eu caí no chão e quebrei meu tornozelo.
-E aí eu tive que salvar a pele dele, outra vez. – Interrompeu Skywalker, que estava sentado alguns bancos ao lado, com um sorriso divertido. - Quando os banthas o machucaram, tive que carregá-lo nos ombros por uns duzentos metros até chegarmos a nave. Eu me lembro disso, foi minha primeira missão também. - Ele disse e virou-se para Ameenah para continuar contando. - Pra completar a confusão, nossa nave ficou sem combustível durante a fuga e quase caímos. Tivemos que pousar num planeta deserto das proximidades e esperar que naves de resgate da Academia fossem nos buscar.
-É, foi um desastre – Talib riu. - Estávamos orgulhosos por sermos os dois únicos padawans escolhidos para a missão, nos sentindo os mais corajosos aprendizes da Galáxia. Tínhamos acabado de passar pelo Torneio de Iniciados e recebido nossos mestres.
-Lembro que não quis que Yerodin me levasse a missões da Ordem durante uns seis meses depois daquilo. – Khali riu. - Foi traumático.
-Ok, já chega - Disse Ayana com uma sobrancelha arqueada. - Vão assustar a garota.
-Pelo contrário - Interrompeu Talib. - Isso é uma dose de otimismo. Estamos mostrando a ela que sua primeira missão não poderá ser tão ruim a ponto de superar a nossa.
-Bom, eu espero que não. - Ameenah riu, e de certa forma sentiu a tensão que antes a afligia amenizar.
Sem demora, a nave que transportava os Jedi adentrou na atmosfera de Tirok utilizando a camuflagem por ondas de rádio e pousou no solo lamoso do planeta. Grandes árvores de raízes expostas erguiam-se da terra macia, mergulhadas em lagos de lama e água escura. Havia troncos caídos e pedras cobertas de musgo por toda a parte, e o cheiro forte de decomposição do local logo invadiu os pulmões dos cavaleiros. Ao longe, ouviam-se os grunhidos dos peculiares animais nativos, e o som das botas dos Jedi afundando no solo do pântano.
-Cavaleiros, mantenham-se unidos até encontrarmos a base do exército. Uma vez lá, nos separaremos em duplas para vasculhar a área e coletar informações, e em seguida voltaremos à nave sem sermos vistos. - Yerodin disse para todos. - Que a Força esteja conosco.
Todos concordaram e se prepararam, pegando suas armas e equipando seus cintos de utilidades. Logo, o grupo de cavaleiros começou a caminhar pelo pântano, todos concentrados e atentos.
Durante o caminho, a conversa era quase nula. Tudo para que no silêncio fosse possível captar qualquer aproximação de Tropas Cinzentas ou animais selvagens perigosos. Usando as orientações de mestre Mothusi, os Jedi caminhavam na direção leste em busca do campo seco em que a base do exército estaria locada. Caminhando com dificuldade, devido a lama que sugava suas botas do uniforme, os guerreiros seguiram por cerca de meia hora.
O local de onde vieram e a nave da Ordem já não eram mais visíveis há muito tempo. A mata se fechava cada vez mais a medida que seguiam, com cipós e troncos se impondo no caminho. Pelos cálculos de mestre Gahiji, a base se aproximava. Deviam todos ficar preparados para camuflarem-se e se espalharem pelo perímetro para observar.
De repente, mais ao longe, uma clareira por entre a densa mata do pântano tornou-se visível. O solo tinha um aspecto mais firme e sua cor parecia de grama. Era ali. Cuidando de seus passos, os Jedi se aproximaram do local, mas quanto mais perto chegavam, mais estranho aquilo parecia. Ao saírem de dentro da mata, sem que as árvores atrapalhassem a vista, constataram: não havia nada ali.
-Tem algo errado. - Talib disse alarmado, olhando em volta. - Acho que não deveríamos estar aqui.
Confuso, o grupo parou a alguns metros do pântano, olhando em volta da planície e procurando a base militar inexistente. De repente, o som de um tronco de árvore se partindo chamou a atenção de todos e fez com que se virassem para a direita, de onde o barulho tinha vindo.
-A Força está ociosa, não consigo saber o que é. Vamos embora, agora – Disse Yerodin imediatamente, e todos deram meia volta preparando-se para bater em retirada.
No entanto, ninguém conseguiu se mexer. Ao olharem para baixo, os Jedi viram que o solo em que pisavam não era firme e seguro como parecia, mas sim uma densa lama, que já os tinha mergulhado até as canelas. Eram várias poças espalhadas pela planície.
-É lama movediça - Disse Khali, imediatamente procurando algum galho ou tronco para se agarrar e sair dali. Todos os cavaleiros começaram a fazer o mesmo.
-É uma armadilha – Indagou Gahiji. - mestre Yerodin, avise a Ordem...
A fala foi interrompida por um tiro luminoso que veio do outro lado da clareira, de dentro do pântano. Alarmados, os Jedi, que já estavam afundados quase até as coxas, apressaram-se na busca de um meio de sair dali, mas já era tarde demais. De repente, soldados começaram a aparecer de toda a circunferência da clareira, por entre as árvores, marchando e carregando blasters. Naves nos mesmos modelos estranhos do dia do ataque à Academia começaram a descer do céu, e os cavaleiros Jedi viram-se encurralados.
As tropas se aproximavam, novos soldados desciam das naves e mais tiros estavam sendo disparados na direção dos Jedi, que não conseguiam sair da lama.
-Alguém tem alguma ideia? - Perguntou mestre Daren, tentando mover os pés inutilmente.
A situação ficava cada vez pior. Antes que seu corpo ficasse ainda mais imerso, Ameenah tirou do cinto seu sabre de luz para tentar se defender. Ao ativá-lo, ela notou que a lama movediça reagia ao calor, tornando-se rígida próxima a lâmina de sua espada acesa.
-Liguem seus sabres! – Ela exclamou por entre o som dos tiros de blaster. Ao verem o que ela estava fazendo, os outros cavaleiros imitaram imediatamente.
Os Jedi aproximaram suas lâminas uns dos outros para enrijecer a terra. Queriam torná-la mais fácil de ser rompida, para libertarem uns aos outros. Rapidamente, a poça de lama onde estavam endureceu, e os cavaleiros a romperam com suas espadas e deram pulos altos, impulsionados com a Força, para saírem dali. Os soldados Cinzentos se aproximavam cada vez mais, e o grupo se preparou para iniciar um combate.
As tropas estavam por todo lado, às dezenas. Os blasters com que estavam equipados eram os mesmos usados no ataque à Academia, com os mesmos tiros luminosos que vinham como nuvens para cima deles. Os Jedi tentavam defendê-los com movimentos giratórios dos sabres. De repente, mestre Daren foi atingido no ombro pro um tiro, e caiu no chão contorcendo-se de dor. Yerodin, que estava próximo dele, foi prestar-lhe assistência, enquanto apontava seu sabre para os soldados que se aproximavam.
Eles estavam encurralados. As Tropas Cinzentas fizeram um cerco em volta deles, deixando-os sem saída numa bela e orquestrada armadilha. No céu, uma enorme nave de modelo diferenciado aproximou-se, e rapidamente aterrissou no solo a dez metros deles. Assim que esta atingiu o chão, os soldados pararam de avançar, e mantiveram-se apenas com as miras apontadas, enquanto a porta principal do veículo se abria.
De repente, o ar se tornou gélido e o céu pareceu fechar-se com as nuvens. Tudo ficou mais sombrio, e a Força gritava aos Jedi que o perigo se aproximava intensamente. Era ele: Darth Styg. Ele gritou uma ordem incompreensível a seus soldados, que de prontidão abriram um corredor entre as tropas para que o chefe pudesse passar.
Todos estremeceram. Os passos pesados e firmes de sua armadura de aço faziam o chão parecer tremer, enquanto Styg se aproximava do grupo cercado e rendido de Jedis que o encaravam com repulsa.
-Os tão bravos cavaleiros do bem e da justiça vem novamente a mim para sofrer em sua mediocridade. - Disse ele, com uma voz grave e um tanto mecanizada que pareceu ecoar pela clareira. A criatura ciborgue parou em frente aos Jedi, triunfante. - Parece que mesmo depois de aniquilar a escolinha Jedi, sobraram alguns dispostos a viajar até Tirok para encontrar minha "base militar secreta". - Mesmo por trás do aparelho de respiração que cobria seu rosto, foi possível ver que Styg sorriu.
Ele parou durante alguns segundos para observar o grupo a sua frente, penetrando seus olhos vermelhos assustadores em cada um.
-Não percebem? Sua falsa coragem e o desespero pelo bem os cega, o que só torna tudo muito mais fácil. A base que vieram procurar não existe, Jedis estúpidos. Eu passei as coordenadas aos seus informantes, para que a ingênua Ordem enviasse seus melhores cavaleiros ávidos por vingança direto para uma morte certa.
Darth Styg deu meia volta, e começou a caminhar por entre seus soldados mais próximos.
-Corja Jedi – Ele disse entredentes, cheio de nojo, enquanto encarava cada um dos cavaleiros diretamente. - Me admira que seus valores deturpados e infantis consigam iludir a tantos ao redor da Galáxia. São fracos, tolos, não conhecem o verdadeiro poder da Força. E agora se curvam diante de mim. - Ele fez uma pausa, e continuou andando, fazendo um círculo em volta do grupo encurralado. - Por anos o Lado Negro esteve no comando, e há anos o Universo não vivia em tamanha harmonia e paz. Ele é a verdade da Força. Porém, esta paz foi destruída por vocês, e pelo seu estúpido costume de não aceitarem suas derrotas. Os Jedi estavam extintos, mortos, acabados, até que vocês inconvenientemente resolveram trazer suas ridículas doutrinas de volta. - Styg olhou para mestre Daren caído no chão, inconsciente, e soltou um riso abafado. - Não passam de uma imitação barata. Acabar com vocês será simples. Com vocês e com todos aqueles que acreditam na democracia. - Ele fez mais uma pausa, e continuou caminhando com os olhares de seus reféns o acompanhando. - Como foi que pessoas medíocres como vocês conseguiram acabar com o Império? Oh, eu sei que são Rebeldes. Eu sei que a Ordem é construída em cima da antiga aliança de guerrilheiros, ministrados pela desprezível e odiosa Leia Organa, irmãzinha do ainda mais desprezível Skywalker. - O vilão sorriu novamente. - Ousam chamá-lo de salvador. Desperdiçam fé e esperança em sua figura ao redor da Galáxia. Bom, onde está o seu herói agora? Pra onde ele foi, justo agora que tanto precisam dele? Ele fugiu! – Styg gritou, e em seguida deu uma gargalhada. - Abandonou seus preciosos seguidores, pois é um covarde! Pois sabe que nunca derrotou realmente o Império e o Lado Negro!
-O Império caiu, Styg, e você também cairá - Indagou Khali de repente, em alto e bom som, ainda empunhando seu sabre de luz. Styg voltou-se para ele imediatamente, e encarou-o por alguns segundos.
-Você tem muita convicção para quem não sabe de nada. – Ele respondeu num tom mais baixo, aproximando-se de Khali. Styg passou a rodear apenas a ele com seus passos. - Oh, sim. - Ele sorriu por trás da máscara. - Entendo esta sua arrogância, é muito conhecida. A raiva faz parte de você, não faz, Skywalker? - Ele continuou cercando o rapaz, sorrindo cinicamente. - Tolo como o pai.
-Meu pai derrubou o Império, e derrubaria você também! - Khali exclamou novamente, destemido, olhando no fundo dos olhos vermelhos de Styg.
-Você não percebe, garoto idiota? Eu sou o Império! - Ele berrou em resposta, aproximando-se de Skywalker. - O Império nunca caiu, ele apenas padeceu para então poder renascer mais forte do que nunca! Para dar lugar à minha Ditadura Intergaláctica! Para derrotar os Jedi de uma vez por todas!
Ao terminar de gritar estas palavras, Darth Styg deu dois passos para trás colocando-se no centro, e estendeu os braços criando raios azulados de eletricidade com a Força, que saiam das pontas de seus dedos.
Aquele era um poder que só uma pessoa na Galáxia inteira possuía. E esta pessoa estava morta, há muito tempo. Mas ao ver a cena, principalmente os mestres mais velhos surpreenderam-se. Nenhum dos Jedi acreditou em seus olhos.
Ele estava vivo.
-Darth Sidious era meu nome Sith, até que pai e filho Skywalker se viraram contra mim e quase me destruíram - Styg falou, com faíscas azuis ainda saindo de seus dedos pálidos e cheios de cicatrizes. - Mas eu sobrevivi. Durante todos estes anos eu estive esperando recuperar-me das feridas causadas, apenas para retornar das cinzas como Darth Styg: aquele que ressurge. Reuni os antigos serventes do meu esfacelado governo, Stormtroopers e simpatizantes espalhados em todos os planetas, para então criar as Tropas Cinzentas. E desta vez, ninguém se colocará no meu caminho! Especialmente um grupo ínfimo de guerreiros entusiastas e inexperientes, que nem sequer imaginam a enorme desgraça que está por atingi-los! Eu irei destruir os Jedi e seus estúpidos princípios, derrubarei cada líder e governante deste universo que se opuser a mim, e assim reconquistarei a Galáxia de uma vez por todas!
Os soldados em posição de espera recarregaram suas armas já apontadas para os Jedi, e com a liberação de Styg através de um gesto com a mão, voltaram a atirar todos de uma vez.
Darth Styg era o Imperador. O Sith por trás do domínio do Lado Negro que causou sofrimento e desgraça na Galáxia por décadas durante o Império, estava vivo.
Havia sido um longo caminho. Khali lembrava de si mesmo criança, quando sonhava em ser como aqueles homens de tranças e espadas de luz que via passarem por ele na cidade. Muito mudou desde aquela época, e tudo o levou a este caminho de sabedoria e poder em que estava. Pronto para dar mais um passo.
Queria que seu pai estivesse ali para ver. O que será que ele pensaria? Provavelmente estaria orgulhoso de ver o filho seguindo seus passos, tornando-se um cavaleiro como ele um dia fez. Será que lhe daria um abraço? Ou será que manteria a postura? Como agiria aquele homem misterioso, de quem Khali nem sequer se lembrava?
Quem sabe, de onde quer que Luke esteja agora - se é que está mesmo em algum lugar - esteja sentindo os passos do rapaz em direção a Força. Pensar assim o confortava.
Seus pensamentos foram interrompidos por um barulho no corredor às suas costas. De lá veio mestre Gahiji, trazendo-lhe um aviso.
-Skywalker, está sendo chamado na sala de reuniões. Temos uma nova missão.
Na sala de estratégias da Ordem, em volta da grande mesa redonda cercada de estátuas e quadros, estava seu amigo Talib, a prima Ayana e Ameenah, junto com os mestres Gahiji, Yerodin e Daren. Ao centro, Supremo Mestre Idowu estava ao lado de Mothusi com planos e mapas postos à frente. Após a chegada de Khali, o Supremo iniciou sua fala.
-Cavaleiros Jedi, trago-lhes notícias. - Sua grave voz se projetou nas paredes. - Esta manhã um de nossos espiões nos trouxe informações importantíssimas sobre nosso inimigo Darth Styg. Conseguimos localizar uma base de seu exército Cinzento no planeta pantanoso de Tirok, onde ele mantém um esconderijo e provavelmente possui um sistema informacional. Queremos enviá-los em uma força-tarefa até lá para fazer o reconhecimento e buscar respostas. - Todos na sala concordaram com a cabeça. - Queremos que vasculhem a área à procura do paradeiro de Styg ou informações que nos levem a ele, e investiguem a logística das Tropas Cinzentas. Precisamos entender o que são os tiros que atingiram nossos cavaleiros no dia do ataque, o porquê seus poderes desapareceram e se possível saber como curá-los. A Ordem confia em vocês para realizar esta missão e nos trazer esclarecimentos. Não queremos nenhum tipo de confronto, mas não sabemos bem o que encontrarão por lá, portanto estamos enviando-os em maior número. Coletem o máximo de informações que conseguirem, e tentem não ser vistos.
-Segundo as informações que recebemos, a base se localiza num campo seco e aberto após o pântano - Explicou Mothusi, que montara as estratégias. - Haverá guardas nas portas que terão que despistar. Lembrem-se que não queremos que as tropas saibam que estão lá, portanto, tentem não entrar em conflito com soldados. Esta espionagem é nossa chance de ficar à frente de Styg, já que ele não sabe que estamos indo. Apenas mantenham-se escondidos e coletem todos os dados que puderem. Queremos que observem a logística da base para que tenhamos noção de quem estamos lidando. O planeta possui um sistema de reconhecimento de pouso, portanto usem o sinal de rádio da nave para confundir o radar.
-A nave da missão está no hangar 3, e parte em uma hora. Perguntas? - Ninguém se manifestou. - Que a Força esteja com vocês. - Finalizou Idowu, e todos fizeram uma reverência antes de se retirarem para prepararem-se para a missão.
O planeta Tirok ficava após um cinturão de asteroides, há trezentos klicks dali. Os sete Jedis convocados para a missão embarcaram numa nave Interceptor Delta 7-B, e sem demora lançaram-se ao espaço rumo as respostas que a Ordem tanto procurava.
A ansiedade parecia compartilhada. Aquele seria o primeiro passo para a revanche dos Jedi contra o perverso Darth Styg. Quem sabe o que poderiam encontrar por lá? Perguntas como essa passavam pela mente de Ameenah, que brilhava de alegria e ao mesmo tempo tremia de medo por ter sido escolhida logo de cara para uma missão tão importante.
-É sua primeira vez em campo? - Perguntou Ayana a ela, sentada num dos bancos da nave de frente para Ameenah.
-É sim. - Ela respondeu. Será que sua ansiedade transparecia?
-Está nervosa?
-Um pouco. - Ela disse sinceramente.
-Não precisa ficar preocupada, princesa. Não será nada demais. É apenas uma missão de reconhecimento, não corremos grande perigo. - Ayana sorriu simpática.
-Tem sorte de sua primeira missão ser como esta - Disse o rapaz sentado ao lado de Ayana. Aquele era Talib, o melhor amigo de Skywalker. - Quando eu fui a campo pela primeira vez, os Jedi estavam indo apaziguar uma guerrilha num planeta da Orla Exterior. Foi bem complicado.
-O que aconteceu?
-A guerrinha era na verdade uma cilada dos nativos para tentar roubar nossos sabres de luz e armas. Eles faziam parte de um daqueles grupos estúpidos de apoio ao retorno do Império, e queriam nos atingir. O planeta era tropical, cercado por florestas, e tivemos que sair correndo em direção as naves para voltar e impedir os roubos. No caminho, ainda fomos atacados por banthas selvagens. Eu caí no chão e quebrei meu tornozelo.
-E aí eu tive que salvar a pele dele, outra vez. – Interrompeu Skywalker, que estava sentado alguns bancos ao lado, com um sorriso divertido. - Quando os banthas o machucaram, tive que carregá-lo nos ombros por uns duzentos metros até chegarmos a nave. Eu me lembro disso, foi minha primeira missão também. - Ele disse e virou-se para Ameenah para continuar contando. - Pra completar a confusão, nossa nave ficou sem combustível durante a fuga e quase caímos. Tivemos que pousar num planeta deserto das proximidades e esperar que naves de resgate da Academia fossem nos buscar.
-É, foi um desastre – Talib riu. - Estávamos orgulhosos por sermos os dois únicos padawans escolhidos para a missão, nos sentindo os mais corajosos aprendizes da Galáxia. Tínhamos acabado de passar pelo Torneio de Iniciados e recebido nossos mestres.
-Lembro que não quis que Yerodin me levasse a missões da Ordem durante uns seis meses depois daquilo. – Khali riu. - Foi traumático.
-Ok, já chega - Disse Ayana com uma sobrancelha arqueada. - Vão assustar a garota.
-Pelo contrário - Interrompeu Talib. - Isso é uma dose de otimismo. Estamos mostrando a ela que sua primeira missão não poderá ser tão ruim a ponto de superar a nossa.
-Bom, eu espero que não. - Ameenah riu, e de certa forma sentiu a tensão que antes a afligia amenizar.
Sem demora, a nave que transportava os Jedi adentrou na atmosfera de Tirok utilizando a camuflagem por ondas de rádio e pousou no solo lamoso do planeta. Grandes árvores de raízes expostas erguiam-se da terra macia, mergulhadas em lagos de lama e água escura. Havia troncos caídos e pedras cobertas de musgo por toda a parte, e o cheiro forte de decomposição do local logo invadiu os pulmões dos cavaleiros. Ao longe, ouviam-se os grunhidos dos peculiares animais nativos, e o som das botas dos Jedi afundando no solo do pântano.
-Cavaleiros, mantenham-se unidos até encontrarmos a base do exército. Uma vez lá, nos separaremos em duplas para vasculhar a área e coletar informações, e em seguida voltaremos à nave sem sermos vistos. - Yerodin disse para todos. - Que a Força esteja conosco.
Todos concordaram e se prepararam, pegando suas armas e equipando seus cintos de utilidades. Logo, o grupo de cavaleiros começou a caminhar pelo pântano, todos concentrados e atentos.
Durante o caminho, a conversa era quase nula. Tudo para que no silêncio fosse possível captar qualquer aproximação de Tropas Cinzentas ou animais selvagens perigosos. Usando as orientações de mestre Mothusi, os Jedi caminhavam na direção leste em busca do campo seco em que a base do exército estaria locada. Caminhando com dificuldade, devido a lama que sugava suas botas do uniforme, os guerreiros seguiram por cerca de meia hora.
O local de onde vieram e a nave da Ordem já não eram mais visíveis há muito tempo. A mata se fechava cada vez mais a medida que seguiam, com cipós e troncos se impondo no caminho. Pelos cálculos de mestre Gahiji, a base se aproximava. Deviam todos ficar preparados para camuflarem-se e se espalharem pelo perímetro para observar.
De repente, mais ao longe, uma clareira por entre a densa mata do pântano tornou-se visível. O solo tinha um aspecto mais firme e sua cor parecia de grama. Era ali. Cuidando de seus passos, os Jedi se aproximaram do local, mas quanto mais perto chegavam, mais estranho aquilo parecia. Ao saírem de dentro da mata, sem que as árvores atrapalhassem a vista, constataram: não havia nada ali.
-Tem algo errado. - Talib disse alarmado, olhando em volta. - Acho que não deveríamos estar aqui.
Confuso, o grupo parou a alguns metros do pântano, olhando em volta da planície e procurando a base militar inexistente. De repente, o som de um tronco de árvore se partindo chamou a atenção de todos e fez com que se virassem para a direita, de onde o barulho tinha vindo.
-A Força está ociosa, não consigo saber o que é. Vamos embora, agora – Disse Yerodin imediatamente, e todos deram meia volta preparando-se para bater em retirada.
No entanto, ninguém conseguiu se mexer. Ao olharem para baixo, os Jedi viram que o solo em que pisavam não era firme e seguro como parecia, mas sim uma densa lama, que já os tinha mergulhado até as canelas. Eram várias poças espalhadas pela planície.
-É lama movediça - Disse Khali, imediatamente procurando algum galho ou tronco para se agarrar e sair dali. Todos os cavaleiros começaram a fazer o mesmo.
-É uma armadilha – Indagou Gahiji. - mestre Yerodin, avise a Ordem...
A fala foi interrompida por um tiro luminoso que veio do outro lado da clareira, de dentro do pântano. Alarmados, os Jedi, que já estavam afundados quase até as coxas, apressaram-se na busca de um meio de sair dali, mas já era tarde demais. De repente, soldados começaram a aparecer de toda a circunferência da clareira, por entre as árvores, marchando e carregando blasters. Naves nos mesmos modelos estranhos do dia do ataque à Academia começaram a descer do céu, e os cavaleiros Jedi viram-se encurralados.
As tropas se aproximavam, novos soldados desciam das naves e mais tiros estavam sendo disparados na direção dos Jedi, que não conseguiam sair da lama.
-Alguém tem alguma ideia? - Perguntou mestre Daren, tentando mover os pés inutilmente.
A situação ficava cada vez pior. Antes que seu corpo ficasse ainda mais imerso, Ameenah tirou do cinto seu sabre de luz para tentar se defender. Ao ativá-lo, ela notou que a lama movediça reagia ao calor, tornando-se rígida próxima a lâmina de sua espada acesa.
-Liguem seus sabres! – Ela exclamou por entre o som dos tiros de blaster. Ao verem o que ela estava fazendo, os outros cavaleiros imitaram imediatamente.
Os Jedi aproximaram suas lâminas uns dos outros para enrijecer a terra. Queriam torná-la mais fácil de ser rompida, para libertarem uns aos outros. Rapidamente, a poça de lama onde estavam endureceu, e os cavaleiros a romperam com suas espadas e deram pulos altos, impulsionados com a Força, para saírem dali. Os soldados Cinzentos se aproximavam cada vez mais, e o grupo se preparou para iniciar um combate.
As tropas estavam por todo lado, às dezenas. Os blasters com que estavam equipados eram os mesmos usados no ataque à Academia, com os mesmos tiros luminosos que vinham como nuvens para cima deles. Os Jedi tentavam defendê-los com movimentos giratórios dos sabres. De repente, mestre Daren foi atingido no ombro pro um tiro, e caiu no chão contorcendo-se de dor. Yerodin, que estava próximo dele, foi prestar-lhe assistência, enquanto apontava seu sabre para os soldados que se aproximavam.
Eles estavam encurralados. As Tropas Cinzentas fizeram um cerco em volta deles, deixando-os sem saída numa bela e orquestrada armadilha. No céu, uma enorme nave de modelo diferenciado aproximou-se, e rapidamente aterrissou no solo a dez metros deles. Assim que esta atingiu o chão, os soldados pararam de avançar, e mantiveram-se apenas com as miras apontadas, enquanto a porta principal do veículo se abria.
De repente, o ar se tornou gélido e o céu pareceu fechar-se com as nuvens. Tudo ficou mais sombrio, e a Força gritava aos Jedi que o perigo se aproximava intensamente. Era ele: Darth Styg. Ele gritou uma ordem incompreensível a seus soldados, que de prontidão abriram um corredor entre as tropas para que o chefe pudesse passar.
Todos estremeceram. Os passos pesados e firmes de sua armadura de aço faziam o chão parecer tremer, enquanto Styg se aproximava do grupo cercado e rendido de Jedis que o encaravam com repulsa.
-Os tão bravos cavaleiros do bem e da justiça vem novamente a mim para sofrer em sua mediocridade. - Disse ele, com uma voz grave e um tanto mecanizada que pareceu ecoar pela clareira. A criatura ciborgue parou em frente aos Jedi, triunfante. - Parece que mesmo depois de aniquilar a escolinha Jedi, sobraram alguns dispostos a viajar até Tirok para encontrar minha "base militar secreta". - Mesmo por trás do aparelho de respiração que cobria seu rosto, foi possível ver que Styg sorriu.
Ele parou durante alguns segundos para observar o grupo a sua frente, penetrando seus olhos vermelhos assustadores em cada um.
-Não percebem? Sua falsa coragem e o desespero pelo bem os cega, o que só torna tudo muito mais fácil. A base que vieram procurar não existe, Jedis estúpidos. Eu passei as coordenadas aos seus informantes, para que a ingênua Ordem enviasse seus melhores cavaleiros ávidos por vingança direto para uma morte certa.
Darth Styg deu meia volta, e começou a caminhar por entre seus soldados mais próximos.
-Corja Jedi – Ele disse entredentes, cheio de nojo, enquanto encarava cada um dos cavaleiros diretamente. - Me admira que seus valores deturpados e infantis consigam iludir a tantos ao redor da Galáxia. São fracos, tolos, não conhecem o verdadeiro poder da Força. E agora se curvam diante de mim. - Ele fez uma pausa, e continuou andando, fazendo um círculo em volta do grupo encurralado. - Por anos o Lado Negro esteve no comando, e há anos o Universo não vivia em tamanha harmonia e paz. Ele é a verdade da Força. Porém, esta paz foi destruída por vocês, e pelo seu estúpido costume de não aceitarem suas derrotas. Os Jedi estavam extintos, mortos, acabados, até que vocês inconvenientemente resolveram trazer suas ridículas doutrinas de volta. - Styg olhou para mestre Daren caído no chão, inconsciente, e soltou um riso abafado. - Não passam de uma imitação barata. Acabar com vocês será simples. Com vocês e com todos aqueles que acreditam na democracia. - Ele fez mais uma pausa, e continuou caminhando com os olhares de seus reféns o acompanhando. - Como foi que pessoas medíocres como vocês conseguiram acabar com o Império? Oh, eu sei que são Rebeldes. Eu sei que a Ordem é construída em cima da antiga aliança de guerrilheiros, ministrados pela desprezível e odiosa Leia Organa, irmãzinha do ainda mais desprezível Skywalker. - O vilão sorriu novamente. - Ousam chamá-lo de salvador. Desperdiçam fé e esperança em sua figura ao redor da Galáxia. Bom, onde está o seu herói agora? Pra onde ele foi, justo agora que tanto precisam dele? Ele fugiu! – Styg gritou, e em seguida deu uma gargalhada. - Abandonou seus preciosos seguidores, pois é um covarde! Pois sabe que nunca derrotou realmente o Império e o Lado Negro!
-O Império caiu, Styg, e você também cairá - Indagou Khali de repente, em alto e bom som, ainda empunhando seu sabre de luz. Styg voltou-se para ele imediatamente, e encarou-o por alguns segundos.
-Você tem muita convicção para quem não sabe de nada. – Ele respondeu num tom mais baixo, aproximando-se de Khali. Styg passou a rodear apenas a ele com seus passos. - Oh, sim. - Ele sorriu por trás da máscara. - Entendo esta sua arrogância, é muito conhecida. A raiva faz parte de você, não faz, Skywalker? - Ele continuou cercando o rapaz, sorrindo cinicamente. - Tolo como o pai.
-Meu pai derrubou o Império, e derrubaria você também! - Khali exclamou novamente, destemido, olhando no fundo dos olhos vermelhos de Styg.
-Você não percebe, garoto idiota? Eu sou o Império! - Ele berrou em resposta, aproximando-se de Skywalker. - O Império nunca caiu, ele apenas padeceu para então poder renascer mais forte do que nunca! Para dar lugar à minha Ditadura Intergaláctica! Para derrotar os Jedi de uma vez por todas!
Ao terminar de gritar estas palavras, Darth Styg deu dois passos para trás colocando-se no centro, e estendeu os braços criando raios azulados de eletricidade com a Força, que saiam das pontas de seus dedos.
Aquele era um poder que só uma pessoa na Galáxia inteira possuía. E esta pessoa estava morta, há muito tempo. Mas ao ver a cena, principalmente os mestres mais velhos surpreenderam-se. Nenhum dos Jedi acreditou em seus olhos.
Ele estava vivo.
-Darth Sidious era meu nome Sith, até que pai e filho Skywalker se viraram contra mim e quase me destruíram - Styg falou, com faíscas azuis ainda saindo de seus dedos pálidos e cheios de cicatrizes. - Mas eu sobrevivi. Durante todos estes anos eu estive esperando recuperar-me das feridas causadas, apenas para retornar das cinzas como Darth Styg: aquele que ressurge. Reuni os antigos serventes do meu esfacelado governo, Stormtroopers e simpatizantes espalhados em todos os planetas, para então criar as Tropas Cinzentas. E desta vez, ninguém se colocará no meu caminho! Especialmente um grupo ínfimo de guerreiros entusiastas e inexperientes, que nem sequer imaginam a enorme desgraça que está por atingi-los! Eu irei destruir os Jedi e seus estúpidos princípios, derrubarei cada líder e governante deste universo que se opuser a mim, e assim reconquistarei a Galáxia de uma vez por todas!
Os soldados em posição de espera recarregaram suas armas já apontadas para os Jedi, e com a liberação de Styg através de um gesto com a mão, voltaram a atirar todos de uma vez.
Darth Styg era o Imperador. O Sith por trás do domínio do Lado Negro que causou sofrimento e desgraça na Galáxia por décadas durante o Império, estava vivo.
Capítulo 7
Uma enorme revelação. Mudava completamente o rumo das coisas. Redesenhava a história que todos pensavam conhecer. Styg ser o Imperador transformava muitos conceitos, ameaçava muitas certezas e também trazia várias dúvidas a serem respondidas. A nova informação descoberta pelo grupo de Jedis era bem mais do que a Ordem esperava conseguir com a expedição – mas para que as notícias bombásticas alcançassem o Conselho, os cavaleiros precisavam chegar vivos até a Academia para contá-la.
Isto era um problema. Dezenas de soldados das Tropas Cinzentas cercavam os cavaleiros e os bombardeavam com seus tiros de blaster, capazes de exterminar seus poderes em segundos. Um dos cavaleiros já encontrava-se abatido, mestre Daren, que era carregado quase inconsciente por Talib. Os Jedi lutavam contra os soldados com tudo que podiam, golpeando seus sabres contra as pistolas e armaduras romanas dos Cinzentos, tomando cuidado para não cair em mais nenhuma poça de lama movediça.
-Separem-se! - Ordenou mestre Gahiji, e os guerreiros começaram a se distanciar pouco a pouco.
Alguns metros a esquerda, Ameenah enfrentava cerca de três soldados de uma vez. Seus blasters, que atiravam a longo alcance, possuíam um adereço de facão para lutas corporais, que utilizavam com avidez contra a garota, que defendia-se com o sabre de luz.
Khali apareceu para ajudá-la logo após derrubar um Cinzento, e juntos os dois rapidamente derrotaram os três inimigos. O rapaz deu uma rápida olhada no campo de batalha, vendo todos os seus amigos esforçando-se para lutar, e começou a tentar bolar um plano.
-Venha comigo. - Ele disse para Ameenah e ela o fez.
Khali começou a dar a volta na clareira, correndo pela esquerda do campo de batalha com a princesa logo atrás, ambos golpeando avidamente os soldados que se entrepunham em seu caminho. Balançavam os sabres de luz de um lado para o outro derrubando Cinzentos, até chegarem perto de uma das naves nas quais as tropas desembarcaram. Os dois Jedi abaixaram-se e esconderam-se na lataria do veículo.
-Preciso da sua ajuda – Disse Khali a Ameenah, e ela concordou com a cabeça. - Temos que achar respostas, certo?
Após terminar sua fala, Khali voltou-se para o campo de batalha novamente. O cavaleiro mais próximo deles era Yerodin, que lutava bravamente contra quatro soldados Cinzentos a cerca de dez metros deles. Um quinto inimigo aproximava-se pelas costas do mestre, com o blaster em punhos pronto para atirar nele. Skywalker concentrou-se no soldado, cerrando os olhos enquanto encarava fixamente sua arma. Quando ele estava prestes a disparar, o tiro ricocheteou e explodiu dentro do cano do blaster, jogando o soldado para trás e afetando os outros quatro que atacavam Yerodin. A explosão causara uma espessa nuvem de fumaça, suficiente para distrair e cegar os demais soldados que não tinham sido atingidos.
-Rápido! - O rapaz apressou Ameenah, que ainda encarava os soldados caídos tentando entender o que exatamente o parceiro tinha feito. Então, os dois saíram correndo em direção a outra nave que estava pousada no centro da clareira. A nave de Styg.
Sem que ninguém em volta se desse conta, os dois Jedi adentraram o veículo pela porta abaixada de onde as tropas entravam e saíam o tempo todo e esconderam-se atrás de um carregamento de suprimentos, tomando cuidado para não serem vistos. Ao constatarem que a área estava limpa, dirigiram-se rapidamente ao corredor principal da nave.
A nave Y-Wing de tamanho médio encontrava-se praticamente vazia, pois quase todos os tripulantes ocupavam-se com o combate que ocorria do lado de fora. Ameenah e Khali andavam rápido e cautelosamente pelos corredores em busca do objetivo inicial de sua missão: encontrar respostas sobre as Tropas Cinzentas, Darth Styg e seus planos.
-O que foi aquilo que fez lá fora? - Ameenah perguntou em tom de cochicho, empunhando seu sabre de luz e olhando em volta para analisar a segurança do perímetro.
-Usei a Força e o controle da mente – Ele respondeu, igualmente alerta. - Explodi o tiro do blaster que o soldado disparou antes que ele saísse da arma.
-Mas como? Blasters não atiram com energia?
Antes que Skywalker pudesse responder, o som de um comunicador ecoou pelo corredor que cruzava com o caminho dos dois, e os dois Jedi rapidamente se esconderam entre as fiações que desciam pela parede. Dois soldados apareceram marchando apressados com suas armas nos braços, conversando com um terceiro pelo comunicador em seus capacetes:
-GNC-138, qual a sua posição?
-Comandante Reade, estamos no Corredor 3 indo em direção à sala de armas.
-Precisamos recarregar os blasters, voltando a combate em quatro minutos.
-Copiado.
Parecia uma oportunidade. A sala de armas seria o melhor lugar para aprender um pouco mais sobre o que eram os tiros Anti-Luz e toda a nova tecnologia envolvida nas Tropas Cinzentas. Ameenah e Khali entreolharam-se e saíram de trás dos fios, então começaram a seguir os dois soldados em direção a sala – e possivelmente, em direção a esclarecimentos.
Não demorou muito para que chegassem ao local, os soldados marchantes e os dois Jedi que os seguiam escondendo-se em seu encalço. Cerca de vinte metros à frente, uma enorme porta redonda de ferro com o símbolo dos Cinzentos esperava no fim do corredor. Um dos soldados aproximou o pulso de um leitor óptico, que scaneou o que parecia ser um código em sua armadura na parte da luva, e a porta se abriu.
Khali e Ameenah esperaram alguns segundos para então adentrar na sala. Esconderam-se e fizeram o máximo de silêncio, concentrados em observar a atividade dos dois soldados.
A dita sala de armas era pequena e alta. Possuía caixas de carregamentos espalhadas, formando um corredor até uma parte mais elevada, onde depois de um degrau havia vários pedestais enfileirados com suportes para os blasters. Todas as plataformas estavam conectadas a um compartimento enorme que pendia do teto, de onde a munição descia por tubos até chegar às armas.
Os dois soldados encaixaram seus blasters nos pedestais e conectaram os tubos aos compartimentos de balas, e pareciam familiarizados com o processo. Assim que o fizeram, cápsulas avermelhadas e brilhantes começaram a descer pelos encanamentos até chegarem às armas, e rapidamente completaram os tambores de munição.
-Então as armas não são munidas de energia como a maioria dos blasters – Cochichou a garota o mais baixo que pôde. - São balas.
A princesa Zulai começou a analisar a caixa de carregamentos na qual os dois estavam escondendo-se atrás. Sem fazer barulho, ela acionou seu sabre de luz e com cuidado abriu um pequeno buraco na lateral da caixa utilizando a lâmina, e Khali observou. Ela passou sua mão pelo buraco, e de lá tirou uma cápsula avermelhada, igual às que carregavam as armas dos soldados naquele momento. Os dois analisaram-na, vívida e brilhante, mas Ameenah colocou-a de volta quando ouviu os soldados voltarem a conversar.
-Tudo pronto, Comandante. GNC-138 e ATF-299 retornando ao campo de batalha. - Disse um deles no comunicador.
-Entendido.
Os dois Cinzentos começaram a ir em direção à porta, marchando apressados. De repente, um barulho os deteve. Os comunicadores de Ameenah e Khali começaram a transmitir uma mensagem em pleno volume, que vinha de Yerodin:
-Equipe, Talib conseguiu escapar do campo de batalha e está no pântano tentando buscar nossa nave. Preparem-se para bater em retirada a qualquer momento.
Ambos tentaram desligar seus respectivos dispositivos, mas era tarde demais. Os dois soldados já tinham ouvido e agora caminhavam pela sala com suas armas apontadas procurando a origem do chamado. Como não havia para onde correr, os Jedi empunharam seus sabres e se prepararam para iniciar um combate a qualquer instante.
-Esquadrão, precisamos de reforços na sala de armas. Acho que temos um infiltrado – Disse um dos soldados no comunicador, e seus colegas logo responderam de prontidão.
-Fique comigo, andaremos rápido. Precisamos sair daqui antes que Talib chegue com a nave. – Khali disse a Ameenah, que concordou com a cabeça.
Para acelerar a fuga Khali levantou-se do esconderijo, e foi recebido com uma chuva de tiros por parte dos dois Cinzentos, que ele defendeu girando seu sabre no ar. Os dois Jedi saíram correndo pela porta aberta, e Ameenah ficou na retaguarda para defender os ataques.
Sem demora, uma equipe de cinco soldados apareceu no corredor, e Skywalker teve que driblá-los, até aproximar-se o suficiente para iniciar lutas corporais. Golpeou dois deles com o sabre, enquanto Ameenah estava do lado oposto desviando os tiros dos inimigos na sala. A princesa utilizou seu sabre para inverter as balas e derrubá-los, já que os tiros não causariam grande dano uma vez que não eram sensíveis à Força. Enquanto isso, Khali já derrubara outros dois soldados, e Ameenah encarregou-se de finalizar o último para que então pudessem bater em retirada.
Os dois parceiros correram pelo corredor e rapidamente chegaram ao seu fim, evitando qualquer outro conflito. Saíram da nave rapidamente, e logo voltaram para o campo de batalha onde as lutas continuavam.
-Mestre, onde está Talib? - Khali perguntou em seu comunicador, e logo recebeu a resposta.
-Estou a caminho – Disse o próprio rapaz. - Pousarei no campo em dois minutos. Dirijam-se a leste, vou abrir o compartimento de cargas para entrarem.
Os dois Jedi obedeceram imediatamente. Enfrentaram alguns soldados no caminho e desviaram alguns tiros, e logo a Interceptor Delta 7-B já era visível acima deles. Mestre Yerodin e outros Jedi já encontravam-se nas proximidades, e Talib fez um pouso rápido e furtivo no solo. O compartimento de carga já estava aberto, e enquanto defendiam-se de tiros e golpeavam os guardas mais próximos, foram entrando na nave um a um.
Gahiji, Ayana, Yerodin, Ameenah e Khali já estavam dentro – mas ainda faltava um. Mestre Daren, que havia sido atingido por um tiro logo no início do combate, não havia sido trazido para dentro.
-Talib, onde está o mestre Daren? Você não estava com ele? - Gahiji gritou no comunicador por conta do barulho das hélices, enquanto defendia-se de um Cinzento.
-Tive que deixá-lo para trás para poder correr pra dentro do pântano - Talib respondeu. - Pensei que Ayana o tivesse pego!
-Você não me avisou sobre isso! - Ayana protestou, golpeando com seu sabre um soldado que tentara entrar.
-Olhem! - Khali interrompeu a discussão apontando para o lado de fora, e todos atentaram-se ao que ele indicava.
Cerca de dez metros à frente, mestre Daren rastejava em meio aos soldados que atiravam na direção da nave. Ele estava muito fraco, prestes a perder a consciência, e tentava com todas as forças resistir aos efeitos do tiro Anti-Luz. Nenhum dos Cinzentos o enxergava ali, pois todos estavam concentrados em atirar nos tripulantes da Interceptor.
Em reação ao que viu, por puro reflexo, Ameenah saiu correndo da nave imediatamente. Golpeou com agilidade dois Cinzentos que vieram para cima dela e os derrubou, e então começou a correr em direção ao Jedi caído.
-Ameenah, onde você vai?! - Yerodin gritou preocupado, mas a garota não respondeu. Continuou correndo e esquivando-se dos tiros, defendendo-se como podia dos disparos e dos guardas que se aproximavam dela.
Em um minuto, a princesa já estava bem à frente do mestre quase desmaiado. Um soldado tentou atacar Daren no chão usando seu facão de curto alcance, mas Ameenah golpeou seu braço e derrubou a arma antes que ele pudesse fazê-lo. Ela abaixou-se e colocou o braço esquerdo do Jedi em volta de seu pescoço, ergueu-o do chão e começou a andar em direção à nave novamente.
Para ajudar a garota, Gahiji e Khali saltaram da nave e começaram a derrubar os Cinzentos próximos para abrir caminho para ela e seu resgatado. Ameenah caminhava com dificuldade o mais rápido que conseguia, e Daren tentava ajudá-la com os passos fracos e descompassados que seu estado debilitado permitia. Os dois já estavam próximos o suficiente da nave, então Khali matou o último soldado que ameaçava golpeá-los pelas costas e pegou o mestre dos braços de Ameenah, e todos entraram rapidamente na nave para que Talib pudesse fechar a porta e finalmente decolar para longe daquela loucura.
-Estão todos bem? - Disse o rapaz, abrindo a divisória que separava o compartimento de carga da cabine do piloto.
-Acho que sim. - Disse Ayana, ofegante por conta de toda a ação.
Talib liberou todas as passagens e compartimentos e então a nave retornou ao estado normal com velocidade de cruzeiro, com todos desligando seus sabres e sentando-se nas poltronas, enquanto a Interceptor deixava a atmosfera conturbada e traumática de Tirok.
Ayana e Gahiji imediatamente prestaram socorro à Daren, que após toda a adrenalina dos últimos minutos ficara inconsciente. Deitaram-no em uma maca com a qual a nave estava equipada e colocaram um pano frio em sua testa, e por ora era tudo que podiam fazer até que chegassem à Academia, onde ele receberia atendimento médico apropriado.
-Essa foi por pouco. - Disse Ameenah, jogando-se em um dos acentos, exausta.
-Bela primeira missão, princesa. Me superou. - Talib falou com um sorriso brincalhão no rosto, e ela riu em resposta.
-Ainda acho que escapamos muito facilmente pelo ar. – Khali falou desconfiado.
-Styg nos deixou fugir. Ele quer que levemos o recado, que contemos à Ordem, que aterrorizemos a Galáxia com as descobertas. – Yerodin respondeu com a respiração pesada, sentado em um dos bancos.
-Bom, todos com certeza ficarão aterrorizados com o que temos a dizer sobre o Imperador. – Respondeu Ayana, acomodando Daren numa posição melhor na maca.
-Bom trabalho, princesa – Yerodin dirigiu-se a Ameenah, que pareceu surpresa ao ouvi-lo direcionar-se a ela. – Arriscado, mas bom. Você é corajosa.
-Obrigada, mestre. – A menina respondeu um pouco lisonjeada.
-Vocês dois é que parecem ter descobertas a reportar. – Gahiji interrompeu a conversa, olhando para Ameenah e Khali. – Descobriram alguma coisa dentro da nave de Styg?
-Conseguimos entrar na sala de armas das tropas – Contou Ameenah. – é onde eles recarregam seus blasters.
-Aparentemente as armas deles não são como as de um exército comum, que usam energia. Eles têm munição. Os tiros que atingiram os Jedi no ataque à Academia eram de balas, que ficam armazenadas em um grande compartimento no teto da sala de armas e descem por tubos até os blasters. As cápsulas que eles atiram tem um líquido vermelho vivo dentro, não sei direito o que era. Ameenah e eu conseguimos pegar uma delas na mão, mas os soldados nos ouviram e tivemos que deixá-la para trás.
-Quem disse que deixamos para trás? – Ameenah o interrompeu com um sorriso malandro no rosto, tirando do meio de seu uniforme uma bolinha reluzente vermelha.
-Mas... – Khali perdeu a fala. – Você não tinha colocado de volta na caixa?
-Tinha, mas quando os guardas nos descobriram e eu percebi que precisaríamos correr, decidi trazer uma prova. – Ela respondeu, ainda sorrindo orgulhosa.
Todos aproximaram-se da garota para ver o item valioso que ela tinha roubado. A cápsula tinha pouco mais que dois centímetros de comprimento, e era cilíndrica como uma pílula. Era envolvida num polímero transparente rígido que parecia impenetrável, e o líquido vermelho vívido que continha ocupava pouco mais que a metade da bala.
-Vamos levar isso ao Conselho. – Disse Yerodin. – Ótimo trabalho, meus caros aprendizes. Ótimo trabalho a todos.
A viagem de volta à Tedros foi rápida e calma, ao contrário da ida cheia de ansiedade, por conta do cansaço e também da intrigante verdade revelada por Styg. Assim que a nave chegou à Academia Jedi, mestre Daren foi carregado pelos companheiros até o lado de fora para ser levado por enfermeiros até a área médica. Os funcionários responsabilizaram-se por descarregar e fazer a manutenção da nave, enquanto os cavaleiros da missão se dirigiam até o interior do palácio para descansar.
-Khali, Ameenah – Chamou mestre Yerodin, enquanto todos estavam no hangar descarregando as armas. Os dois se aproximaram. - Quero que venham comigo e com mestre Gahiji para fazer a devolutiva da missão ao Conselho.
-Mas estas reuniões não são apenas para mestres? - Perguntou Ameenah.
-Normalmente sim, mas a grande vitória da missão se deve a vocês dois. Acho justo que sejam os responsáveis por apresentar as informações que coletaram ao Supremo Mestre Idowu.
-Tudo bem.
Assim que terminaram seus serviços no hangar, os quatro Jedi seguiram apressados pelos corredores do castelo, em direção à sala de reuniões onde o Conselho, que já sabia de sua chegada, aguardava atualizações. Ameenah andava um tanto insegura, sem saber direito como agiria perante todos os grandes mestres reunidos; Já Khali, mais familiarizado com responsabilidades como aquela, marchava confiante pelo saguão.
A sala de reuniões do Conselho era ampla e alta, com grandes pilares erguidos nos cantos e uma enorme janela de vidro que erguia-se do chão até o teto na parede principal. Cada mestre possuía um assento, e juntas as poltronas formavam uma meia-lua em volta do símbolo da Ordem Jedi estampado com mosaicos no piso. O design era inspirado na sala do antigo Conselho Jedi, o qual servira à República.
-Sejam bem-vindos de volta, caros Jedi – Saudou Idowu assim que os quatro passaram pela grande porta de entrada. - Espero que tenham boas notícias.
-Não exatamente. - Iniciou Gahiji.
-Supremo Mestre Idowu, a missão que enviamos era uma armadilha. - Contou Yerodin, o que fez o Supremo Mestre retesar-se em surpresa. - Os dados recebidos por nosso informante foram enviados pelo próprio Styg, que estava esperando a nossa equipe com uma emboscada. As Tropas Cinzentas nos atacaram, e mestre Daren foi atingido por um tiro Anti-Luz. Mas esta não é a pior parte. - O mestre fez uma pausa. - Darth Styg não é um novo Sith, ele retornou de um longo período nas sombras. Ele é o Imperador. - Ao ouvir isso, todos na sala espantaram-se e começaram a falar juntos. - Styg é apenas um codinome, que significa "ressurgir". Durante todo esse tempo escondido ele esteve recrutando novos membros e treinando-os junto aos remanescentes seguidores do Império, para poder criar os Cinzentos e retomar o poder.
-E como sabem disso? - Perguntou mestre Mothusi, intrigado.
-Styg relevou. Ele lançou o poder de raios azuis que só o Imperador era capaz de ministrar.
-Isso é inconcebível! - Algum dos mestres exclamou, e novamente o burburinho começou.
-Silêncio! - Gritou Leia, que até agora só observara com a expressão fechada, e todos obedeceram. - A presença negra na Força, que por anos permaneceu adormecida, foi sentida pouco tempo depois da queda do Império. É um período muito curto para o treinamento e surgimento de um novo Sith. Darth Sidious, que era o único Sith na Galáxia além de Darth Vader, não tinha aprendizes. Nenhum dos dois tinha. E seu corpo nunca fora achado.
-Mestre, a senhora está dizendo que Styg é...
-Não é impossível. - Interrompeu Idowu, impassível e pensativo. - Não vejo razão para ele inventar tal mentira. Se ele sabe utilizar o poder dos raios, então não há dúvidas. Precisamos meditar sobre isso, mestres, e ficar preparados. Com Sidious ameaçando a paz da Galáxia novamente, ninguém está a salvo. - Ele fez uma pausa e deu um longo suspiro. - Mais alguma informação?
-Sim, senhor. - Continuou Yerodin. - Enquanto éramos atacados na emboscada, estes dois aprendizes conseguiram escapar e adentrar em uma das naves da frota dos Cinzentos. Eles encontraram a sala de armas, e constataram que os blasters que nos atacaram com os tiros Anti-Luz não são carregados com energia, mas sim com isto. - Ele entregou nas mãos do Supremo Mestre a cápsula vermelha que Khali e Ameenah haviam conseguido.
Idowu analisou o objeto em suas mãos com atenção. Todos os mestres aproximaram seus olhares para observá-lo, intrigados e curiosos. Com sorte, aquilo traria algumas respostas sobre os enigmas que acabaram de ser lançados.
-Interessantíssimo.
-Mas, mestre Idowu – Um dos Jedi da sala questionou. - Desculpe minha fala, mas por que Styg não nos mata de uma vez? Por que quer tirar nossos poderes ao invés de nos eliminar?
O Supremo Mestre pareceu pensar alguns segundos para responder, enquanto encarava a cápsula vermelha em sua mão.
-Styg não quer reduzir nossos números. Ele quer nos exterminar. - Falou Idowu, após segundos de ponderação. - Ele sabe muito bem quais são nossas fraquezas, sabe que o governo não nos apoia. Estamos lutando desde o início desta Academia para que a sociedade e os Democratas reconheçam os Jedi como os guerreiros da paz que são. Styg sabe o quanto as pessoas mais antigas simpatizam conosco, devido a tudo que Luke Skywalker fez para salvar a galáxia do Império. Seus planos não incluem matar os Jedi, inclui tirar de nós a única coisa que poderia nos erguer novamente: a fé. Nossa doutrina foi trazida de volta graças à fé de mestre Leia e daqueles que ainda acreditavam na Força. Se Styg nos matar, morremos como heróis - mas se ele nos humilhar, tirando de nós a única coisa que nos faz respeitados, no caso nossos poderes, ele nos apaga. Da próxima vez que os futuros cidadãos pensarem nos Jedi, não passaremos de um bando de religiosos fervorosos que foram magnificamente derrotados. Ninguém jamais irá querer ressuscitar uma doutrina de derrotados. Então desapareceremos, para sempre, como ele quer. Se Styg nos deixa vivos, deixa à mostra a vergonha e a desonra de um cavaleiro sem sua espada, de um guerreiro sem sua fé, pois passaríamos o resto de nossas vidas com as cicatrizes e a invalidez às nossas costas. Iriamos manchar toda a trajetória milenar dos Cavaleiros. Além disso, se Styg se demonstra mais forte que nós, ele coloca medo em toda a galáxia. "Se os poderosos Jedi não conseguiram enfrentá-lo, como nós conseguiremos?".
-As Trevas triunfariam sobre a Luz, e nós teríamos que assistir junto a todo o universo. - Complementou Yerodin, com um ar mórbido. - Mas talvez agora haja um meio de impedir isso. Se esta cápsula nos trouxer respostas, podemos derrubar a vantagem do Imperador.
-Exatamente. - Disse Idowu, e então ficou em silêncio alguns segundos. - E como está mestre Daren? - Ele questionou, parecendo bem preocupado.
-Debilitado, contudo irá sobreviver. Mas se não fosse por Ameenah, ele provavelmente não voltaria com vida. Ela se arriscou no campo de batalha para poder trazê-lo para dentro da nave em segurança antes de batermos em retirada.
O Supremo Mestre concordou com a cabeça, parecendo ligeiramente perturbado.
-Irei mandar esta bala para que nossos cientistas a analisem em laboratório. - Ele falou, colocando a cápsula dentro de um compartimento que surgira no braço de seu assento ao apertar um botão. Ele dirigiu-se a Skywalker e Zulai. - Bom trabalho, aprendizes. Foi possível ver que, apesar de tudo, vocês conseguiram concluir o objetivo da missão, que era coletar informações. Isto que trouxeram poderá resultar um grande avanço no que diz respeito a entendermos esta arma misteriosa. Obrigado.
Os dois aprendizes fizeram uma breve reverência ao Supremo Mestre em resposta.
-Bom, Skywalker, acredito que isso seja um indício de que está realmente preparado para se tonar um mestre Jedi muito em breve. - Idowu comentou, e fez com que o rapaz abrisse um ligeiro sorriso em resposta.
-Obrigado, mestre.
-E quanto a você - Ele virou-se na direção de Ameenah, que retesou o corpo. - Você tem sido inesperada, princesa. No melhor dos sentidos. Tem se mostrado muito inteligente e corajosa, e surpreendeu a todos nesta Academia com sua competência. Arriscar sua vida para salvar a de outro mestre em campo só prova que você é, ao contrário do que muitos aqui pensavam, muito comprometida e completamente capaz. - Ele correu seu olhar por todos os mestres sentados à sua volta, e focou especificamente em Gahiji, que era o mais contrário ao seu treinamento. - Não tenho acompanhado suas lições tão de perto como gostaria, mas sei pelos relatórios de mestre Leia que você tem se saído muito bem. Imagino que ela deva estar muito orgulhosa de você agora. Meus parabéns.
A garota corou levemente ao ouvir os elogios, sentindo-se orgulhosa de si mesma. Khali deu-lhe um rápido sorriso.
-Estão dispensados.
Os dois aprendizes saíram da sala de reuniões logo em seguida, deixando à sós os membros do Conselho - que provavelmente teriam muito o que discutir à respeito da chuva de novas informações que receberam.
-Mestre Mothusi, mande uma mensagem à Assembleia da Democracia Intergaláctica. Diga a eles sobre as nossas recentes descobertas. - Pediu Idowu, e mestre Akia atendeu de prontidão. - Quem sabe ao ouvir que o maior e mais temido, perigoso e tirano ditador que já existiu na história da Galáxia retornou dos mortos, mais poderoso e pior do que nunca, eles finalmente comecem a levar os Jedi mais a sério.
Isto era um problema. Dezenas de soldados das Tropas Cinzentas cercavam os cavaleiros e os bombardeavam com seus tiros de blaster, capazes de exterminar seus poderes em segundos. Um dos cavaleiros já encontrava-se abatido, mestre Daren, que era carregado quase inconsciente por Talib. Os Jedi lutavam contra os soldados com tudo que podiam, golpeando seus sabres contra as pistolas e armaduras romanas dos Cinzentos, tomando cuidado para não cair em mais nenhuma poça de lama movediça.
-Separem-se! - Ordenou mestre Gahiji, e os guerreiros começaram a se distanciar pouco a pouco.
Alguns metros a esquerda, Ameenah enfrentava cerca de três soldados de uma vez. Seus blasters, que atiravam a longo alcance, possuíam um adereço de facão para lutas corporais, que utilizavam com avidez contra a garota, que defendia-se com o sabre de luz.
Khali apareceu para ajudá-la logo após derrubar um Cinzento, e juntos os dois rapidamente derrotaram os três inimigos. O rapaz deu uma rápida olhada no campo de batalha, vendo todos os seus amigos esforçando-se para lutar, e começou a tentar bolar um plano.
-Venha comigo. - Ele disse para Ameenah e ela o fez.
Khali começou a dar a volta na clareira, correndo pela esquerda do campo de batalha com a princesa logo atrás, ambos golpeando avidamente os soldados que se entrepunham em seu caminho. Balançavam os sabres de luz de um lado para o outro derrubando Cinzentos, até chegarem perto de uma das naves nas quais as tropas desembarcaram. Os dois Jedi abaixaram-se e esconderam-se na lataria do veículo.
-Preciso da sua ajuda – Disse Khali a Ameenah, e ela concordou com a cabeça. - Temos que achar respostas, certo?
Após terminar sua fala, Khali voltou-se para o campo de batalha novamente. O cavaleiro mais próximo deles era Yerodin, que lutava bravamente contra quatro soldados Cinzentos a cerca de dez metros deles. Um quinto inimigo aproximava-se pelas costas do mestre, com o blaster em punhos pronto para atirar nele. Skywalker concentrou-se no soldado, cerrando os olhos enquanto encarava fixamente sua arma. Quando ele estava prestes a disparar, o tiro ricocheteou e explodiu dentro do cano do blaster, jogando o soldado para trás e afetando os outros quatro que atacavam Yerodin. A explosão causara uma espessa nuvem de fumaça, suficiente para distrair e cegar os demais soldados que não tinham sido atingidos.
-Rápido! - O rapaz apressou Ameenah, que ainda encarava os soldados caídos tentando entender o que exatamente o parceiro tinha feito. Então, os dois saíram correndo em direção a outra nave que estava pousada no centro da clareira. A nave de Styg.
Sem que ninguém em volta se desse conta, os dois Jedi adentraram o veículo pela porta abaixada de onde as tropas entravam e saíam o tempo todo e esconderam-se atrás de um carregamento de suprimentos, tomando cuidado para não serem vistos. Ao constatarem que a área estava limpa, dirigiram-se rapidamente ao corredor principal da nave.
A nave Y-Wing de tamanho médio encontrava-se praticamente vazia, pois quase todos os tripulantes ocupavam-se com o combate que ocorria do lado de fora. Ameenah e Khali andavam rápido e cautelosamente pelos corredores em busca do objetivo inicial de sua missão: encontrar respostas sobre as Tropas Cinzentas, Darth Styg e seus planos.
-O que foi aquilo que fez lá fora? - Ameenah perguntou em tom de cochicho, empunhando seu sabre de luz e olhando em volta para analisar a segurança do perímetro.
-Usei a Força e o controle da mente – Ele respondeu, igualmente alerta. - Explodi o tiro do blaster que o soldado disparou antes que ele saísse da arma.
-Mas como? Blasters não atiram com energia?
Antes que Skywalker pudesse responder, o som de um comunicador ecoou pelo corredor que cruzava com o caminho dos dois, e os dois Jedi rapidamente se esconderam entre as fiações que desciam pela parede. Dois soldados apareceram marchando apressados com suas armas nos braços, conversando com um terceiro pelo comunicador em seus capacetes:
-GNC-138, qual a sua posição?
-Comandante Reade, estamos no Corredor 3 indo em direção à sala de armas.
-Precisamos recarregar os blasters, voltando a combate em quatro minutos.
-Copiado.
Parecia uma oportunidade. A sala de armas seria o melhor lugar para aprender um pouco mais sobre o que eram os tiros Anti-Luz e toda a nova tecnologia envolvida nas Tropas Cinzentas. Ameenah e Khali entreolharam-se e saíram de trás dos fios, então começaram a seguir os dois soldados em direção a sala – e possivelmente, em direção a esclarecimentos.
Não demorou muito para que chegassem ao local, os soldados marchantes e os dois Jedi que os seguiam escondendo-se em seu encalço. Cerca de vinte metros à frente, uma enorme porta redonda de ferro com o símbolo dos Cinzentos esperava no fim do corredor. Um dos soldados aproximou o pulso de um leitor óptico, que scaneou o que parecia ser um código em sua armadura na parte da luva, e a porta se abriu.
Khali e Ameenah esperaram alguns segundos para então adentrar na sala. Esconderam-se e fizeram o máximo de silêncio, concentrados em observar a atividade dos dois soldados.
A dita sala de armas era pequena e alta. Possuía caixas de carregamentos espalhadas, formando um corredor até uma parte mais elevada, onde depois de um degrau havia vários pedestais enfileirados com suportes para os blasters. Todas as plataformas estavam conectadas a um compartimento enorme que pendia do teto, de onde a munição descia por tubos até chegar às armas.
Os dois soldados encaixaram seus blasters nos pedestais e conectaram os tubos aos compartimentos de balas, e pareciam familiarizados com o processo. Assim que o fizeram, cápsulas avermelhadas e brilhantes começaram a descer pelos encanamentos até chegarem às armas, e rapidamente completaram os tambores de munição.
-Então as armas não são munidas de energia como a maioria dos blasters – Cochichou a garota o mais baixo que pôde. - São balas.
A princesa Zulai começou a analisar a caixa de carregamentos na qual os dois estavam escondendo-se atrás. Sem fazer barulho, ela acionou seu sabre de luz e com cuidado abriu um pequeno buraco na lateral da caixa utilizando a lâmina, e Khali observou. Ela passou sua mão pelo buraco, e de lá tirou uma cápsula avermelhada, igual às que carregavam as armas dos soldados naquele momento. Os dois analisaram-na, vívida e brilhante, mas Ameenah colocou-a de volta quando ouviu os soldados voltarem a conversar.
-Tudo pronto, Comandante. GNC-138 e ATF-299 retornando ao campo de batalha. - Disse um deles no comunicador.
-Entendido.
Os dois Cinzentos começaram a ir em direção à porta, marchando apressados. De repente, um barulho os deteve. Os comunicadores de Ameenah e Khali começaram a transmitir uma mensagem em pleno volume, que vinha de Yerodin:
-Equipe, Talib conseguiu escapar do campo de batalha e está no pântano tentando buscar nossa nave. Preparem-se para bater em retirada a qualquer momento.
Ambos tentaram desligar seus respectivos dispositivos, mas era tarde demais. Os dois soldados já tinham ouvido e agora caminhavam pela sala com suas armas apontadas procurando a origem do chamado. Como não havia para onde correr, os Jedi empunharam seus sabres e se prepararam para iniciar um combate a qualquer instante.
-Esquadrão, precisamos de reforços na sala de armas. Acho que temos um infiltrado – Disse um dos soldados no comunicador, e seus colegas logo responderam de prontidão.
-Fique comigo, andaremos rápido. Precisamos sair daqui antes que Talib chegue com a nave. – Khali disse a Ameenah, que concordou com a cabeça.
Para acelerar a fuga Khali levantou-se do esconderijo, e foi recebido com uma chuva de tiros por parte dos dois Cinzentos, que ele defendeu girando seu sabre no ar. Os dois Jedi saíram correndo pela porta aberta, e Ameenah ficou na retaguarda para defender os ataques.
Sem demora, uma equipe de cinco soldados apareceu no corredor, e Skywalker teve que driblá-los, até aproximar-se o suficiente para iniciar lutas corporais. Golpeou dois deles com o sabre, enquanto Ameenah estava do lado oposto desviando os tiros dos inimigos na sala. A princesa utilizou seu sabre para inverter as balas e derrubá-los, já que os tiros não causariam grande dano uma vez que não eram sensíveis à Força. Enquanto isso, Khali já derrubara outros dois soldados, e Ameenah encarregou-se de finalizar o último para que então pudessem bater em retirada.
Os dois parceiros correram pelo corredor e rapidamente chegaram ao seu fim, evitando qualquer outro conflito. Saíram da nave rapidamente, e logo voltaram para o campo de batalha onde as lutas continuavam.
-Mestre, onde está Talib? - Khali perguntou em seu comunicador, e logo recebeu a resposta.
-Estou a caminho – Disse o próprio rapaz. - Pousarei no campo em dois minutos. Dirijam-se a leste, vou abrir o compartimento de cargas para entrarem.
Os dois Jedi obedeceram imediatamente. Enfrentaram alguns soldados no caminho e desviaram alguns tiros, e logo a Interceptor Delta 7-B já era visível acima deles. Mestre Yerodin e outros Jedi já encontravam-se nas proximidades, e Talib fez um pouso rápido e furtivo no solo. O compartimento de carga já estava aberto, e enquanto defendiam-se de tiros e golpeavam os guardas mais próximos, foram entrando na nave um a um.
Gahiji, Ayana, Yerodin, Ameenah e Khali já estavam dentro – mas ainda faltava um. Mestre Daren, que havia sido atingido por um tiro logo no início do combate, não havia sido trazido para dentro.
-Talib, onde está o mestre Daren? Você não estava com ele? - Gahiji gritou no comunicador por conta do barulho das hélices, enquanto defendia-se de um Cinzento.
-Tive que deixá-lo para trás para poder correr pra dentro do pântano - Talib respondeu. - Pensei que Ayana o tivesse pego!
-Você não me avisou sobre isso! - Ayana protestou, golpeando com seu sabre um soldado que tentara entrar.
-Olhem! - Khali interrompeu a discussão apontando para o lado de fora, e todos atentaram-se ao que ele indicava.
Cerca de dez metros à frente, mestre Daren rastejava em meio aos soldados que atiravam na direção da nave. Ele estava muito fraco, prestes a perder a consciência, e tentava com todas as forças resistir aos efeitos do tiro Anti-Luz. Nenhum dos Cinzentos o enxergava ali, pois todos estavam concentrados em atirar nos tripulantes da Interceptor.
Em reação ao que viu, por puro reflexo, Ameenah saiu correndo da nave imediatamente. Golpeou com agilidade dois Cinzentos que vieram para cima dela e os derrubou, e então começou a correr em direção ao Jedi caído.
-Ameenah, onde você vai?! - Yerodin gritou preocupado, mas a garota não respondeu. Continuou correndo e esquivando-se dos tiros, defendendo-se como podia dos disparos e dos guardas que se aproximavam dela.
Em um minuto, a princesa já estava bem à frente do mestre quase desmaiado. Um soldado tentou atacar Daren no chão usando seu facão de curto alcance, mas Ameenah golpeou seu braço e derrubou a arma antes que ele pudesse fazê-lo. Ela abaixou-se e colocou o braço esquerdo do Jedi em volta de seu pescoço, ergueu-o do chão e começou a andar em direção à nave novamente.
Para ajudar a garota, Gahiji e Khali saltaram da nave e começaram a derrubar os Cinzentos próximos para abrir caminho para ela e seu resgatado. Ameenah caminhava com dificuldade o mais rápido que conseguia, e Daren tentava ajudá-la com os passos fracos e descompassados que seu estado debilitado permitia. Os dois já estavam próximos o suficiente da nave, então Khali matou o último soldado que ameaçava golpeá-los pelas costas e pegou o mestre dos braços de Ameenah, e todos entraram rapidamente na nave para que Talib pudesse fechar a porta e finalmente decolar para longe daquela loucura.
-Estão todos bem? - Disse o rapaz, abrindo a divisória que separava o compartimento de carga da cabine do piloto.
-Acho que sim. - Disse Ayana, ofegante por conta de toda a ação.
Talib liberou todas as passagens e compartimentos e então a nave retornou ao estado normal com velocidade de cruzeiro, com todos desligando seus sabres e sentando-se nas poltronas, enquanto a Interceptor deixava a atmosfera conturbada e traumática de Tirok.
Ayana e Gahiji imediatamente prestaram socorro à Daren, que após toda a adrenalina dos últimos minutos ficara inconsciente. Deitaram-no em uma maca com a qual a nave estava equipada e colocaram um pano frio em sua testa, e por ora era tudo que podiam fazer até que chegassem à Academia, onde ele receberia atendimento médico apropriado.
-Essa foi por pouco. - Disse Ameenah, jogando-se em um dos acentos, exausta.
-Bela primeira missão, princesa. Me superou. - Talib falou com um sorriso brincalhão no rosto, e ela riu em resposta.
-Ainda acho que escapamos muito facilmente pelo ar. – Khali falou desconfiado.
-Styg nos deixou fugir. Ele quer que levemos o recado, que contemos à Ordem, que aterrorizemos a Galáxia com as descobertas. – Yerodin respondeu com a respiração pesada, sentado em um dos bancos.
-Bom, todos com certeza ficarão aterrorizados com o que temos a dizer sobre o Imperador. – Respondeu Ayana, acomodando Daren numa posição melhor na maca.
-Bom trabalho, princesa – Yerodin dirigiu-se a Ameenah, que pareceu surpresa ao ouvi-lo direcionar-se a ela. – Arriscado, mas bom. Você é corajosa.
-Obrigada, mestre. – A menina respondeu um pouco lisonjeada.
-Vocês dois é que parecem ter descobertas a reportar. – Gahiji interrompeu a conversa, olhando para Ameenah e Khali. – Descobriram alguma coisa dentro da nave de Styg?
-Conseguimos entrar na sala de armas das tropas – Contou Ameenah. – é onde eles recarregam seus blasters.
-Aparentemente as armas deles não são como as de um exército comum, que usam energia. Eles têm munição. Os tiros que atingiram os Jedi no ataque à Academia eram de balas, que ficam armazenadas em um grande compartimento no teto da sala de armas e descem por tubos até os blasters. As cápsulas que eles atiram tem um líquido vermelho vivo dentro, não sei direito o que era. Ameenah e eu conseguimos pegar uma delas na mão, mas os soldados nos ouviram e tivemos que deixá-la para trás.
-Quem disse que deixamos para trás? – Ameenah o interrompeu com um sorriso malandro no rosto, tirando do meio de seu uniforme uma bolinha reluzente vermelha.
-Mas... – Khali perdeu a fala. – Você não tinha colocado de volta na caixa?
-Tinha, mas quando os guardas nos descobriram e eu percebi que precisaríamos correr, decidi trazer uma prova. – Ela respondeu, ainda sorrindo orgulhosa.
Todos aproximaram-se da garota para ver o item valioso que ela tinha roubado. A cápsula tinha pouco mais que dois centímetros de comprimento, e era cilíndrica como uma pílula. Era envolvida num polímero transparente rígido que parecia impenetrável, e o líquido vermelho vívido que continha ocupava pouco mais que a metade da bala.
-Vamos levar isso ao Conselho. – Disse Yerodin. – Ótimo trabalho, meus caros aprendizes. Ótimo trabalho a todos.
A viagem de volta à Tedros foi rápida e calma, ao contrário da ida cheia de ansiedade, por conta do cansaço e também da intrigante verdade revelada por Styg. Assim que a nave chegou à Academia Jedi, mestre Daren foi carregado pelos companheiros até o lado de fora para ser levado por enfermeiros até a área médica. Os funcionários responsabilizaram-se por descarregar e fazer a manutenção da nave, enquanto os cavaleiros da missão se dirigiam até o interior do palácio para descansar.
-Khali, Ameenah – Chamou mestre Yerodin, enquanto todos estavam no hangar descarregando as armas. Os dois se aproximaram. - Quero que venham comigo e com mestre Gahiji para fazer a devolutiva da missão ao Conselho.
-Mas estas reuniões não são apenas para mestres? - Perguntou Ameenah.
-Normalmente sim, mas a grande vitória da missão se deve a vocês dois. Acho justo que sejam os responsáveis por apresentar as informações que coletaram ao Supremo Mestre Idowu.
-Tudo bem.
Assim que terminaram seus serviços no hangar, os quatro Jedi seguiram apressados pelos corredores do castelo, em direção à sala de reuniões onde o Conselho, que já sabia de sua chegada, aguardava atualizações. Ameenah andava um tanto insegura, sem saber direito como agiria perante todos os grandes mestres reunidos; Já Khali, mais familiarizado com responsabilidades como aquela, marchava confiante pelo saguão.
A sala de reuniões do Conselho era ampla e alta, com grandes pilares erguidos nos cantos e uma enorme janela de vidro que erguia-se do chão até o teto na parede principal. Cada mestre possuía um assento, e juntas as poltronas formavam uma meia-lua em volta do símbolo da Ordem Jedi estampado com mosaicos no piso. O design era inspirado na sala do antigo Conselho Jedi, o qual servira à República.
-Sejam bem-vindos de volta, caros Jedi – Saudou Idowu assim que os quatro passaram pela grande porta de entrada. - Espero que tenham boas notícias.
-Não exatamente. - Iniciou Gahiji.
-Supremo Mestre Idowu, a missão que enviamos era uma armadilha. - Contou Yerodin, o que fez o Supremo Mestre retesar-se em surpresa. - Os dados recebidos por nosso informante foram enviados pelo próprio Styg, que estava esperando a nossa equipe com uma emboscada. As Tropas Cinzentas nos atacaram, e mestre Daren foi atingido por um tiro Anti-Luz. Mas esta não é a pior parte. - O mestre fez uma pausa. - Darth Styg não é um novo Sith, ele retornou de um longo período nas sombras. Ele é o Imperador. - Ao ouvir isso, todos na sala espantaram-se e começaram a falar juntos. - Styg é apenas um codinome, que significa "ressurgir". Durante todo esse tempo escondido ele esteve recrutando novos membros e treinando-os junto aos remanescentes seguidores do Império, para poder criar os Cinzentos e retomar o poder.
-E como sabem disso? - Perguntou mestre Mothusi, intrigado.
-Styg relevou. Ele lançou o poder de raios azuis que só o Imperador era capaz de ministrar.
-Isso é inconcebível! - Algum dos mestres exclamou, e novamente o burburinho começou.
-Silêncio! - Gritou Leia, que até agora só observara com a expressão fechada, e todos obedeceram. - A presença negra na Força, que por anos permaneceu adormecida, foi sentida pouco tempo depois da queda do Império. É um período muito curto para o treinamento e surgimento de um novo Sith. Darth Sidious, que era o único Sith na Galáxia além de Darth Vader, não tinha aprendizes. Nenhum dos dois tinha. E seu corpo nunca fora achado.
-Mestre, a senhora está dizendo que Styg é...
-Não é impossível. - Interrompeu Idowu, impassível e pensativo. - Não vejo razão para ele inventar tal mentira. Se ele sabe utilizar o poder dos raios, então não há dúvidas. Precisamos meditar sobre isso, mestres, e ficar preparados. Com Sidious ameaçando a paz da Galáxia novamente, ninguém está a salvo. - Ele fez uma pausa e deu um longo suspiro. - Mais alguma informação?
-Sim, senhor. - Continuou Yerodin. - Enquanto éramos atacados na emboscada, estes dois aprendizes conseguiram escapar e adentrar em uma das naves da frota dos Cinzentos. Eles encontraram a sala de armas, e constataram que os blasters que nos atacaram com os tiros Anti-Luz não são carregados com energia, mas sim com isto. - Ele entregou nas mãos do Supremo Mestre a cápsula vermelha que Khali e Ameenah haviam conseguido.
Idowu analisou o objeto em suas mãos com atenção. Todos os mestres aproximaram seus olhares para observá-lo, intrigados e curiosos. Com sorte, aquilo traria algumas respostas sobre os enigmas que acabaram de ser lançados.
-Interessantíssimo.
-Mas, mestre Idowu – Um dos Jedi da sala questionou. - Desculpe minha fala, mas por que Styg não nos mata de uma vez? Por que quer tirar nossos poderes ao invés de nos eliminar?
O Supremo Mestre pareceu pensar alguns segundos para responder, enquanto encarava a cápsula vermelha em sua mão.
-Styg não quer reduzir nossos números. Ele quer nos exterminar. - Falou Idowu, após segundos de ponderação. - Ele sabe muito bem quais são nossas fraquezas, sabe que o governo não nos apoia. Estamos lutando desde o início desta Academia para que a sociedade e os Democratas reconheçam os Jedi como os guerreiros da paz que são. Styg sabe o quanto as pessoas mais antigas simpatizam conosco, devido a tudo que Luke Skywalker fez para salvar a galáxia do Império. Seus planos não incluem matar os Jedi, inclui tirar de nós a única coisa que poderia nos erguer novamente: a fé. Nossa doutrina foi trazida de volta graças à fé de mestre Leia e daqueles que ainda acreditavam na Força. Se Styg nos matar, morremos como heróis - mas se ele nos humilhar, tirando de nós a única coisa que nos faz respeitados, no caso nossos poderes, ele nos apaga. Da próxima vez que os futuros cidadãos pensarem nos Jedi, não passaremos de um bando de religiosos fervorosos que foram magnificamente derrotados. Ninguém jamais irá querer ressuscitar uma doutrina de derrotados. Então desapareceremos, para sempre, como ele quer. Se Styg nos deixa vivos, deixa à mostra a vergonha e a desonra de um cavaleiro sem sua espada, de um guerreiro sem sua fé, pois passaríamos o resto de nossas vidas com as cicatrizes e a invalidez às nossas costas. Iriamos manchar toda a trajetória milenar dos Cavaleiros. Além disso, se Styg se demonstra mais forte que nós, ele coloca medo em toda a galáxia. "Se os poderosos Jedi não conseguiram enfrentá-lo, como nós conseguiremos?".
-As Trevas triunfariam sobre a Luz, e nós teríamos que assistir junto a todo o universo. - Complementou Yerodin, com um ar mórbido. - Mas talvez agora haja um meio de impedir isso. Se esta cápsula nos trouxer respostas, podemos derrubar a vantagem do Imperador.
-Exatamente. - Disse Idowu, e então ficou em silêncio alguns segundos. - E como está mestre Daren? - Ele questionou, parecendo bem preocupado.
-Debilitado, contudo irá sobreviver. Mas se não fosse por Ameenah, ele provavelmente não voltaria com vida. Ela se arriscou no campo de batalha para poder trazê-lo para dentro da nave em segurança antes de batermos em retirada.
O Supremo Mestre concordou com a cabeça, parecendo ligeiramente perturbado.
-Irei mandar esta bala para que nossos cientistas a analisem em laboratório. - Ele falou, colocando a cápsula dentro de um compartimento que surgira no braço de seu assento ao apertar um botão. Ele dirigiu-se a Skywalker e Zulai. - Bom trabalho, aprendizes. Foi possível ver que, apesar de tudo, vocês conseguiram concluir o objetivo da missão, que era coletar informações. Isto que trouxeram poderá resultar um grande avanço no que diz respeito a entendermos esta arma misteriosa. Obrigado.
Os dois aprendizes fizeram uma breve reverência ao Supremo Mestre em resposta.
-Bom, Skywalker, acredito que isso seja um indício de que está realmente preparado para se tonar um mestre Jedi muito em breve. - Idowu comentou, e fez com que o rapaz abrisse um ligeiro sorriso em resposta.
-Obrigado, mestre.
-E quanto a você - Ele virou-se na direção de Ameenah, que retesou o corpo. - Você tem sido inesperada, princesa. No melhor dos sentidos. Tem se mostrado muito inteligente e corajosa, e surpreendeu a todos nesta Academia com sua competência. Arriscar sua vida para salvar a de outro mestre em campo só prova que você é, ao contrário do que muitos aqui pensavam, muito comprometida e completamente capaz. - Ele correu seu olhar por todos os mestres sentados à sua volta, e focou especificamente em Gahiji, que era o mais contrário ao seu treinamento. - Não tenho acompanhado suas lições tão de perto como gostaria, mas sei pelos relatórios de mestre Leia que você tem se saído muito bem. Imagino que ela deva estar muito orgulhosa de você agora. Meus parabéns.
A garota corou levemente ao ouvir os elogios, sentindo-se orgulhosa de si mesma. Khali deu-lhe um rápido sorriso.
-Estão dispensados.
Os dois aprendizes saíram da sala de reuniões logo em seguida, deixando à sós os membros do Conselho - que provavelmente teriam muito o que discutir à respeito da chuva de novas informações que receberam.
-Mestre Mothusi, mande uma mensagem à Assembleia da Democracia Intergaláctica. Diga a eles sobre as nossas recentes descobertas. - Pediu Idowu, e mestre Akia atendeu de prontidão. - Quem sabe ao ouvir que o maior e mais temido, perigoso e tirano ditador que já existiu na história da Galáxia retornou dos mortos, mais poderoso e pior do que nunca, eles finalmente comecem a levar os Jedi mais a sério.
Capítulo 8
Aquela deve ter sido a pior e mais aterrorizante, perigosa, surpreendente e desastrosa primeira missão de todas. Os elogios recebidos pelo bom trabalho em compensação foram gratificantes, mas Ameenah Zulai estaria muito mais orgulhosa de si se as notícias não fossem tão ruins.
O Imperador retornou. Por anos, ele fora o vilão das histórias que ela ouvia antes de dormir. Protagonizara os maiores pesadelos e desastres dos quais Ameenah já ouvira falar. E agora ele estava de volta. Se os Jedi pensavam que o "desconhecido" Darth Styg era um perigo difícil de enfrentar, é porque não sabiam que poderia ser tão pior. Mas o que mais assustava a princesa nisso tudo era pensar que, se nem Luke Skywalker foi capaz de matar Sidious da primeira vez, como a nova e prematura Ordem Jedi seria?
Aqueles eram problemas preocupantes, mas que no momento não valiam a pena ser pensados. Nada poderia ser feito antes de se saber mais sobre os planos de Styg e as Tropas Cinzentas. Agora, questões menores deveriam ser avaliadas: como o estado de saúde do mestre ferido em combate, que Ameenah ajudara a salvar.
A garota estava caminhando pelos corredores em direção à ala dos feridos, quando topou com Ayana na porta da enfermaria.
-Oi, princesa! - Ayana disse surpresa, pois estava imersa em pensamentos quando se encontraram. - Você está bem?
-Cansada e assustada, mas bem - Ameenah respondeu. - e você?
-Igual. E preocupada também.
-Como está o mestre Daren?
-Ele acordou faz pouco tempo. Está como todos os outros - Ela deu um meio sorriso triste. - Bem, mas sem a Força.
-Sinto muito pelo seu mestre. - Ameenah falou pousando a mão em seu ombro. Daren tinha escolhido Ayana como sua padawan, pelo que ela soubera.
-Eu também. Temos que torcer pra que os Jedi achem a cura para essa bala.
-E como estava indo o seu treinamento com ele? Lembro que quando conversamos depois do Torneio você estava preocupada com o mestre que a escolheria. - Ameenah procurou mudar o rumo do assunto, para tentar acalmar a garota.
-No começo eu estava apreensiva, mas depois acabei gostando dele. Na verdade, tive sorte que foi Daren quem me escolheu. Não sei se os outros mestres daqui trabalhariam comigo tão bem. - Ayana explicou. - Ele entende meu ponto de vista. Não acha que eu deva treinar para me tornar uma guerreira se não quiser. Ele me ensina sobre coisas que eu gosto, me fala sobre as questões do Conselho e sobre a burocracia da Academia.
-Que bom – A princesa sorriu. - Finalmente você está fazendo o que gosta, então.
-Com certeza. Minha mãe insistiu muito para que eu continuasse meu treinamento, pois ela ainda tem esperanças de que no meio do caminho eu acabe me interessando pela Força e queira me tornar uma mestra. - Contou Solo. - Mas eu conversei com Daren sobre isso, e nós fizemos um acordo. Quando eu me inscrever para o teste de Mestre Jedi, com certeza não irei passar. O Conselho levará em consideração a minha falta de interesse, sem falar que eu não estou treinando minhas habilidades para isso. Quando eu reprovar, Daren vai conversar com o Conselho e me recomendar para a parte administrativa da Academia, que é o que eu sempre quis fazer. Vai dizer que tenho aptidão para esse assunto, e muito provavelmente eles ouvirão. A opinião do mestre sempre conta. Ele está me ensinando sobre a área administrativa, para que eu tenha conhecimentos que sirvam de argumento para abandonar o sabre de luz quando for a hora. - Ela sorriu ligeiramente.
-Isso é ótimo, Ayana, estou feliz por você. - Ameenah sorriu também.
-Só nos resta torcer para que a cura seja achada e ele continue sendo meu mestre. - Ela desmanchou um pouco o sorriso. - Eu tenho que ir, princesa. Se quiser entrar, acho que mestre Daren ficará feliz em falar com você.
-Eu vou sim. Até mais – Zulai se despediu.
Assim que a garota se afastou, Ameenah abriu as duas altas e pesadas portas da ala médica da Academia. O salão era amplo, com dezenas de macas separadas por cortinas espalhadas pelos dois lados, formando um longo corredor o qual médicos e enfermeiros cruzavam apressados a todo momento. Equipamentos modernos de diagnósticos e tratamento, alguns que Ameenah nunca tinha visto, espalhavam-se pela sala, que atendia desde aprendizes feridos em treinamento até os cavaleiros que foram atingidos pelos tiros Anti-Luz. Já não era mais necessário manter o salão principal como hospital para os feridos no ataque à Academia, pois o efeito da dor infernal e da perda de consciência após o tiro passava em poucos dias. No entanto, as visitas destes cavaleiros ao centro médico eram frequentes, pois eles costumavam ter dores, fraqueza e desmaios de vez em quando.
Mestre Daren estava deitado numa das últimas camas do corredor, e tinha dois médicos em volta de si, que o atendiam já familiarizados com o processo. Ele utilizava um roupão branco semelhante ao uniforme Jedi, destinado a pacientes da área médica, substituindo seu traje sujo e rasgado devido ao combate. Ele estava acordado, tinha curativos nas feridas, e parecia um pouco melhor.
A garota aproximou-se do leito devagar, e ao notarem sua presença os dois médicos se retiraram. Mestre Daren se ajeitou na maca para ver quem estava ali, e logo abriu um sorriso que torceu um de seus curativos no rosto.
-Olá, princesa. – Ele disse, e voltou a se deitar quando ela se aproximou dele.
-Olá, mestre. Como você está?
-Bem, graças a você. - Falou Daren. - Ayana acabou de sair daqui, estava ajudando a me acomodar.
-Encontrei com ela na saída. Ela está muito preocupada com você.
-É, eu sei – Ele entortou a boca. - Não queria que ela ficasse. Será que você poderia ajudá-la para mim? Sei que vocês duas se dão bem.
-É claro. - A garota sorriu e sentou-se em uma cadeira ao lado da maca. - Percebi pela forma como ela me contou que vocês dois tem se dado muito bem no treinamento dela.
-Oh, sim. Ayana é uma padawan única. Eu a compreendo em seus ideais, é por isso que dá certo. Foi justamente por isso que a escolhi. - Daren explicou.
-Sério?
-Sim. Quando a vi no Torneio de Iniciados e lembrei-me do histórico dela, soube que não havia nenhum mestre aqui que poderia entendê-la e treiná-la da maneira correta. Senti que deveria escolhê-la, pois assim ela seria guiada num caminho que realmente quer seguir.
-E ela parece estar muito satisfeita com isso. A Força foi sábia em colocá-los juntos.
-Também acredito nisso. Não acho que a menina deva ser obrigada a seguir um caminho que não deseja, pois alguém com as habilidades dela deve prosperar naquilo que nasceu para fazer. E eu entendo o posicionamento que ela tem em relação a ser uma cavaleira e envolver-se com a Força.
-E o que te faz pensar tão diferente do resto dos Conselheiros?
-A mesma guerra que causou tantos danos à família de Ayana, matou a minha.
-Mesmo? - Ameenah ficou surpresa. - Sinto muito.
-Está tudo bem – Daren sorriu. - Como você mesma disse, a Força é sábia em tudo que faz. Sou grato pelo caminho em que isso me colocou.
-E que caminho é esse?
-O caminho da luz. - O homem sorriu, e Ameenah atentou-se para ouvir a história dele. - Meus pais eram membros talentosos e fiéis da Aliança Rebelde na época em que lutavam contra o Império. Meu pai, Tarec Zunduri, era um comandante, e minha mãe, Maya, uma almirante. Os dois se apaixonaram enquanto serviam ao exército, na tripulação da mesma nave, durante a Guerra Civil Galáctica. Eles se casaram e me tiveram. Eu costumava ficar na base da Aliança sendo cuidado pelas equipes de estratégia, enquanto eles saiam para lutar e defender os planetas oprimidos. Infelizmente, durante a batalha que destruiu a Estrela da Morte e derrubou o Império, a nave dos dois explodiu e eles morreram.
-Que horrível. - Disse Ameenah, triste.
-É, foi sim. Depois que eles se foram, eu não tinha mais família alguma para ficar comigo. Foi aí que Idowu apareceu. - Continuou Daren. - O Supremo Mestre Idowu era um almirante da Aliança Rebelde naquela época. Ele era muito amigo dos meus pais, treinou e serviu junto com o meu pai durante muitos anos. Foi ele quem cuidou de mim - me pegou e criou. Quando ele e os outros mestres vieram fundar a Academia, ele me trouxe junto, e alguns anos depois sentiu a Força em mim e começou a me treinar. Fui seu primeiro padawan. Eu o acompanhei em todo o processo, o vi ser escolhido como Supremo Mestre, cresci e fui criado na Ordem, e alguns anos depois me formei e comecei a fazer parte do Conselho. - Ele contou. - Eu sempre tive interesse em administração e estratégias, e me dava muito bem com questões políticas e assuntos desse tipo. Acho isso tão importante quanto o trabalho dos guerreiros. É por isso que acredito que Ayana deve poder fazer o que gosta.
-Entendo. - Ameenah disse vendo que tudo fazia sentido. - Não sabia que mestre Idowu havia sido seu mestre.
-Ele foi meu mestre e um pai para mim. - Acrescentou Daren. - Ele é uma pessoa incrível, e sempre fez questão de me dizer o quanto meus pais também eram. Tenho orgulho de ser filho de pessoas que se sacrificaram para salvar vidas inocentes. Sei que, se os dois tivessem sobrevivido, provavelmente também teriam sido chamados para participar do projeto da Ordem Jedi, pois eram ótimos rebeldes. - Ele contou e fez uma pausa. - Mesmo nem me lembrando dos dois, sinto falta deles. Mas, como eu disse, a Força trilhou meu caminho, e todo o meu passado me trouxe até onde estou hoje.
-E sua trajetória é incrível. Você é o mais jovem mestre a fazer parte do Conselho.
-Vivi muitas aventuras, sim. Só é terrível pensar que tudo isso que foi construído graças ao sacrifício e o esforço de tantos, que acompanhei desde criança, está agora ameaçado com o retorno do Imperador.
-É, devemos ter fé na Força e no destino que ela traça... mas são tempos difíceis demais para negar-se à dúvida e ao medo.
-Ainda mais quando se está nesta situação - Daren olhou para si mesmo, mais precisamente para o local em que tinha sido atingido pelo tiro Anti-Luz, próximo ao ombro. - É uma péssima sensação. Não por causa das dores e da fraqueza, pois sei que isso logo passará, como aconteceu com todos; o que mais dói é saber que agora não poderei mais lutar. Ficarei fraco demais e, pior ainda, não tenho mais nenhuma habilidade Jedi.
-Isso é cruel... - Ameenah apiedou-se.
-Meu maior medo agora é nunca mais poder sentir a Força novamente. Rezo pra que isso não se concretize. Com fé, os Jedi terão respostas e conseguirão encontrar uma cura para mim e para os outros. E graças ao Khali e a você, agora há esperança. - O mestre curvou os lábios em um sorriso. - Embora eu estivesse quase desmaiado, ouvi vocês falando sobre a bala que você conseguiu roubar. Agora existe uma chance para mim e para todos os outros que foram atingidos, e devemos isso a você, Ameenah. Eu mais ainda. Você salvou minha vida naquele pântano, princesa. Obrigado.
-Não precisa agradecer – Ela ficou lisonjeada. - É o meu trabalho.
-Um trabalho que você teve muita coragem ao escolher. Sabe, assim como acredito que Ayana deve ter o direito de seguir seus sonhos, acho que isso também se aplica a você. Não deixe que nenhum outro Jedi de mente fechada diga-lhe o contrário, só porque veio da Democracia. Você tem tudo para ser uma incrível cavaleira, princesa, assim como qualquer outro.
-Obrigada, mestre. - Ela sorriu.
-Com licença, princesa Ameenah – Um sullustano que pelo uniforme trabalhava na secretaria da Academia apareceu e interrompeu a conversa. - Chegou uma carta para você. Vem de Nassor. - A garota estremeceu. - É da sua mãe.
O Imperador retornou. Por anos, ele fora o vilão das histórias que ela ouvia antes de dormir. Protagonizara os maiores pesadelos e desastres dos quais Ameenah já ouvira falar. E agora ele estava de volta. Se os Jedi pensavam que o "desconhecido" Darth Styg era um perigo difícil de enfrentar, é porque não sabiam que poderia ser tão pior. Mas o que mais assustava a princesa nisso tudo era pensar que, se nem Luke Skywalker foi capaz de matar Sidious da primeira vez, como a nova e prematura Ordem Jedi seria?
Aqueles eram problemas preocupantes, mas que no momento não valiam a pena ser pensados. Nada poderia ser feito antes de se saber mais sobre os planos de Styg e as Tropas Cinzentas. Agora, questões menores deveriam ser avaliadas: como o estado de saúde do mestre ferido em combate, que Ameenah ajudara a salvar.
A garota estava caminhando pelos corredores em direção à ala dos feridos, quando topou com Ayana na porta da enfermaria.
-Oi, princesa! - Ayana disse surpresa, pois estava imersa em pensamentos quando se encontraram. - Você está bem?
-Cansada e assustada, mas bem - Ameenah respondeu. - e você?
-Igual. E preocupada também.
-Como está o mestre Daren?
-Ele acordou faz pouco tempo. Está como todos os outros - Ela deu um meio sorriso triste. - Bem, mas sem a Força.
-Sinto muito pelo seu mestre. - Ameenah falou pousando a mão em seu ombro. Daren tinha escolhido Ayana como sua padawan, pelo que ela soubera.
-Eu também. Temos que torcer pra que os Jedi achem a cura para essa bala.
-E como estava indo o seu treinamento com ele? Lembro que quando conversamos depois do Torneio você estava preocupada com o mestre que a escolheria. - Ameenah procurou mudar o rumo do assunto, para tentar acalmar a garota.
-No começo eu estava apreensiva, mas depois acabei gostando dele. Na verdade, tive sorte que foi Daren quem me escolheu. Não sei se os outros mestres daqui trabalhariam comigo tão bem. - Ayana explicou. - Ele entende meu ponto de vista. Não acha que eu deva treinar para me tornar uma guerreira se não quiser. Ele me ensina sobre coisas que eu gosto, me fala sobre as questões do Conselho e sobre a burocracia da Academia.
-Que bom – A princesa sorriu. - Finalmente você está fazendo o que gosta, então.
-Com certeza. Minha mãe insistiu muito para que eu continuasse meu treinamento, pois ela ainda tem esperanças de que no meio do caminho eu acabe me interessando pela Força e queira me tornar uma mestra. - Contou Solo. - Mas eu conversei com Daren sobre isso, e nós fizemos um acordo. Quando eu me inscrever para o teste de Mestre Jedi, com certeza não irei passar. O Conselho levará em consideração a minha falta de interesse, sem falar que eu não estou treinando minhas habilidades para isso. Quando eu reprovar, Daren vai conversar com o Conselho e me recomendar para a parte administrativa da Academia, que é o que eu sempre quis fazer. Vai dizer que tenho aptidão para esse assunto, e muito provavelmente eles ouvirão. A opinião do mestre sempre conta. Ele está me ensinando sobre a área administrativa, para que eu tenha conhecimentos que sirvam de argumento para abandonar o sabre de luz quando for a hora. - Ela sorriu ligeiramente.
-Isso é ótimo, Ayana, estou feliz por você. - Ameenah sorriu também.
-Só nos resta torcer para que a cura seja achada e ele continue sendo meu mestre. - Ela desmanchou um pouco o sorriso. - Eu tenho que ir, princesa. Se quiser entrar, acho que mestre Daren ficará feliz em falar com você.
-Eu vou sim. Até mais – Zulai se despediu.
Assim que a garota se afastou, Ameenah abriu as duas altas e pesadas portas da ala médica da Academia. O salão era amplo, com dezenas de macas separadas por cortinas espalhadas pelos dois lados, formando um longo corredor o qual médicos e enfermeiros cruzavam apressados a todo momento. Equipamentos modernos de diagnósticos e tratamento, alguns que Ameenah nunca tinha visto, espalhavam-se pela sala, que atendia desde aprendizes feridos em treinamento até os cavaleiros que foram atingidos pelos tiros Anti-Luz. Já não era mais necessário manter o salão principal como hospital para os feridos no ataque à Academia, pois o efeito da dor infernal e da perda de consciência após o tiro passava em poucos dias. No entanto, as visitas destes cavaleiros ao centro médico eram frequentes, pois eles costumavam ter dores, fraqueza e desmaios de vez em quando.
Mestre Daren estava deitado numa das últimas camas do corredor, e tinha dois médicos em volta de si, que o atendiam já familiarizados com o processo. Ele utilizava um roupão branco semelhante ao uniforme Jedi, destinado a pacientes da área médica, substituindo seu traje sujo e rasgado devido ao combate. Ele estava acordado, tinha curativos nas feridas, e parecia um pouco melhor.
A garota aproximou-se do leito devagar, e ao notarem sua presença os dois médicos se retiraram. Mestre Daren se ajeitou na maca para ver quem estava ali, e logo abriu um sorriso que torceu um de seus curativos no rosto.
-Olá, princesa. – Ele disse, e voltou a se deitar quando ela se aproximou dele.
-Olá, mestre. Como você está?
-Bem, graças a você. - Falou Daren. - Ayana acabou de sair daqui, estava ajudando a me acomodar.
-Encontrei com ela na saída. Ela está muito preocupada com você.
-É, eu sei – Ele entortou a boca. - Não queria que ela ficasse. Será que você poderia ajudá-la para mim? Sei que vocês duas se dão bem.
-É claro. - A garota sorriu e sentou-se em uma cadeira ao lado da maca. - Percebi pela forma como ela me contou que vocês dois tem se dado muito bem no treinamento dela.
-Oh, sim. Ayana é uma padawan única. Eu a compreendo em seus ideais, é por isso que dá certo. Foi justamente por isso que a escolhi. - Daren explicou.
-Sério?
-Sim. Quando a vi no Torneio de Iniciados e lembrei-me do histórico dela, soube que não havia nenhum mestre aqui que poderia entendê-la e treiná-la da maneira correta. Senti que deveria escolhê-la, pois assim ela seria guiada num caminho que realmente quer seguir.
-E ela parece estar muito satisfeita com isso. A Força foi sábia em colocá-los juntos.
-Também acredito nisso. Não acho que a menina deva ser obrigada a seguir um caminho que não deseja, pois alguém com as habilidades dela deve prosperar naquilo que nasceu para fazer. E eu entendo o posicionamento que ela tem em relação a ser uma cavaleira e envolver-se com a Força.
-E o que te faz pensar tão diferente do resto dos Conselheiros?
-A mesma guerra que causou tantos danos à família de Ayana, matou a minha.
-Mesmo? - Ameenah ficou surpresa. - Sinto muito.
-Está tudo bem – Daren sorriu. - Como você mesma disse, a Força é sábia em tudo que faz. Sou grato pelo caminho em que isso me colocou.
-E que caminho é esse?
-O caminho da luz. - O homem sorriu, e Ameenah atentou-se para ouvir a história dele. - Meus pais eram membros talentosos e fiéis da Aliança Rebelde na época em que lutavam contra o Império. Meu pai, Tarec Zunduri, era um comandante, e minha mãe, Maya, uma almirante. Os dois se apaixonaram enquanto serviam ao exército, na tripulação da mesma nave, durante a Guerra Civil Galáctica. Eles se casaram e me tiveram. Eu costumava ficar na base da Aliança sendo cuidado pelas equipes de estratégia, enquanto eles saiam para lutar e defender os planetas oprimidos. Infelizmente, durante a batalha que destruiu a Estrela da Morte e derrubou o Império, a nave dos dois explodiu e eles morreram.
-Que horrível. - Disse Ameenah, triste.
-É, foi sim. Depois que eles se foram, eu não tinha mais família alguma para ficar comigo. Foi aí que Idowu apareceu. - Continuou Daren. - O Supremo Mestre Idowu era um almirante da Aliança Rebelde naquela época. Ele era muito amigo dos meus pais, treinou e serviu junto com o meu pai durante muitos anos. Foi ele quem cuidou de mim - me pegou e criou. Quando ele e os outros mestres vieram fundar a Academia, ele me trouxe junto, e alguns anos depois sentiu a Força em mim e começou a me treinar. Fui seu primeiro padawan. Eu o acompanhei em todo o processo, o vi ser escolhido como Supremo Mestre, cresci e fui criado na Ordem, e alguns anos depois me formei e comecei a fazer parte do Conselho. - Ele contou. - Eu sempre tive interesse em administração e estratégias, e me dava muito bem com questões políticas e assuntos desse tipo. Acho isso tão importante quanto o trabalho dos guerreiros. É por isso que acredito que Ayana deve poder fazer o que gosta.
-Entendo. - Ameenah disse vendo que tudo fazia sentido. - Não sabia que mestre Idowu havia sido seu mestre.
-Ele foi meu mestre e um pai para mim. - Acrescentou Daren. - Ele é uma pessoa incrível, e sempre fez questão de me dizer o quanto meus pais também eram. Tenho orgulho de ser filho de pessoas que se sacrificaram para salvar vidas inocentes. Sei que, se os dois tivessem sobrevivido, provavelmente também teriam sido chamados para participar do projeto da Ordem Jedi, pois eram ótimos rebeldes. - Ele contou e fez uma pausa. - Mesmo nem me lembrando dos dois, sinto falta deles. Mas, como eu disse, a Força trilhou meu caminho, e todo o meu passado me trouxe até onde estou hoje.
-E sua trajetória é incrível. Você é o mais jovem mestre a fazer parte do Conselho.
-Vivi muitas aventuras, sim. Só é terrível pensar que tudo isso que foi construído graças ao sacrifício e o esforço de tantos, que acompanhei desde criança, está agora ameaçado com o retorno do Imperador.
-É, devemos ter fé na Força e no destino que ela traça... mas são tempos difíceis demais para negar-se à dúvida e ao medo.
-Ainda mais quando se está nesta situação - Daren olhou para si mesmo, mais precisamente para o local em que tinha sido atingido pelo tiro Anti-Luz, próximo ao ombro. - É uma péssima sensação. Não por causa das dores e da fraqueza, pois sei que isso logo passará, como aconteceu com todos; o que mais dói é saber que agora não poderei mais lutar. Ficarei fraco demais e, pior ainda, não tenho mais nenhuma habilidade Jedi.
-Isso é cruel... - Ameenah apiedou-se.
-Meu maior medo agora é nunca mais poder sentir a Força novamente. Rezo pra que isso não se concretize. Com fé, os Jedi terão respostas e conseguirão encontrar uma cura para mim e para os outros. E graças ao Khali e a você, agora há esperança. - O mestre curvou os lábios em um sorriso. - Embora eu estivesse quase desmaiado, ouvi vocês falando sobre a bala que você conseguiu roubar. Agora existe uma chance para mim e para todos os outros que foram atingidos, e devemos isso a você, Ameenah. Eu mais ainda. Você salvou minha vida naquele pântano, princesa. Obrigado.
-Não precisa agradecer – Ela ficou lisonjeada. - É o meu trabalho.
-Um trabalho que você teve muita coragem ao escolher. Sabe, assim como acredito que Ayana deve ter o direito de seguir seus sonhos, acho que isso também se aplica a você. Não deixe que nenhum outro Jedi de mente fechada diga-lhe o contrário, só porque veio da Democracia. Você tem tudo para ser uma incrível cavaleira, princesa, assim como qualquer outro.
-Obrigada, mestre. - Ela sorriu.
-Com licença, princesa Ameenah – Um sullustano que pelo uniforme trabalhava na secretaria da Academia apareceu e interrompeu a conversa. - Chegou uma carta para você. Vem de Nassor. - A garota estremeceu. - É da sua mãe.
Capítulo 9
Minha doce Ameenah,
Sei que você deve estar com medo do que foi escrito nesta carta. Mas peço que a leia até o final, não importa quanta raiva esteja sentindo.
Não conseguimos rastrear seu destino, pois você teve certeza de desligar o GPS da sua nave ao fugir. Endereçamos isto à Academia Jedi apenas na esperança de encontrá-la lá. Acredito que unir-se à Ordem e tornar-se uma cavaleira seja o único motivo que a faria abandonar Nassor, tão certa de que jamais a acharíamos novamente.
A mágoa de te ver partir desta maneira é muito grande. Nenhuma mãe ou pai deseja que sua relação com a filha seja brutalmente terminada assim, com grandes chances de nunca mais ser a mesma. E é por esta razão que decidi escrever esta carta, com a vaga esperança de que você chegue a lê-la; para pedir perdão.
Não queria que você tivesse fugido, pois você partiu meu coração. Mas eu errei com você, filha. Me esqueci de que você não é mais uma criança, que tem um livre-arbítrio que lhe permite fazer suas escolhas e, claro, uma personalidade forte que nunca deixa que ninguém lhe diga o que fazer. Eu te prendi aos meus próprios medos, te impedi de fazer o que achava certo pra si mesma, e eu espero que possa me perdoar por isso.
Espero que compreenda que tudo que eu fiz foi por amor a você. Espero que saiba que eu nunca duvidei da sua capacidade de seguir seus sonhos, eu apenas temia o que poderia acontecer e tinha medo de te perder. E justamente por isso, perdi.
Você devia estar esperando que eu tivesse te escrito para brigar, te mandar voltar para casa, ameaçar enviar equipes de resgate atrás de você... Mas não. Eu cometi esse erro por muito tempo. Agora, quero que você ande com as próprias pernas, e espero do fundo do coração que tenha certeza e orgulho dos passos que der. Espero que esteja feliz e realizada por finalmente fazer o que sempre sonhou, e que tenha uma carreira brilhante como a Jedi corajosa que eu sei que será, e que, apesar de tudo, sempre tive certeza que você tinha poder para ser. Deixarei você seguir o seu caminho como quiser, sabendo que a porta da sua casa estará sempre aberta caso queira voltar, apesar da imensa tristeza.
Não escrevo a você na esperança de receber uma resposta. Sei que a mágoa que você carrega é grande demais para que faça isso. Deixarei que o tempo resolva. Acho que, um dia, você será capaz de entender.
Eu amo você.
Rainha Karasi.
Ler aquelas palavras trouxe à Ameenah uma série de emoções que ela seria incapaz de descrever. A garota ficou por minutos à fio apenas segurando aquele pedaço de papel, sem saber o que fazer, com milhares de pensamentos em sua cabeça.
Ela não esperava receber uma carta como aquela nunca; ou porque sua mãe estaria furiosa demais para escrevê-la, ou então porque jamais saberia para onde endereçá-la. Essas também não eram as palavras que ela esperava que a mãe escolhesse. Se algum dia falasse com Karasi novamente, pensava que seus sentimentos em relação à sua fuga seriam diferentes. Que ela estaria extremamente furiosa, magoada, brigaria com ela e a mandaria de volta para Nassor, de onde ela nunca mais sairia.
Ameenah não sabia o que pensar diante daquela leitura. Era uma mistura de surpresa, alívio, tristeza, saudade e remorso, que a impediam de ter qualquer reação a não ser encarar as letras perfeitamente desenhadas no papel.
O processo até ali não havia sido fácil - muitas brigas, lágrimas, esforços perdidos e a sua fuga, que provavelmente separou sua família pra sempre. Para Ameenah, os fatos jamais teriam levado a esta conclusão. Depois de tantos anos a proibindo, agora sua mãe decidira deixá-la ficar na Academia?
Se parasse para pensar, era fácil recordar das inúmeras brigas que ela tivera com a mãe por conta daquilo. Ela se aborrecia toda vez que Ameenah falava sobre se tornar uma Jedi. A aversão de seus pais era realmente enorme toda vez que ela trazia esse assunto, mas da mãe principalmente. No início ela tentava argumentar, dizendo que era perigoso e que não queria que Ameenah se machucasse, e que os Jedi não eram algo pra se acreditar. Mas depois de um tempo ela perdeu a paciência, e qualquer menção aos Jedi era motivo de discussão.
Ameenah nunca entendera o motivo daquele ódio todo. Por que seria um absurdo tão grande se ela treinasse? Por que ela não deveria acreditar nos Jedi? Se a mãe sabia que ela tinha poder e capacidade, pra que temer tanto e impedi-la?
Karasi mencionou que esperava que um dia ela fosse capaz de entender. Agora, ela se perguntava o motivo. O que gerara tanta discórdia durante todos aqueles anos, e por que de repente isso deixou de ser importante?
Quem sabe fosse apenas superproteção da parte de seus pais. Quem sabe a mãe não quisesse que ela sofresse, que presenciasse uma guerra. Isso não era crime nenhum – todo pai quer manter seu filho são e salvo. Vivendo como vivia agora, Ameenah reconhecia que ouvir histórias sobre guerras e realmente vivê-las era muito diferente. Não parecia mais tão glorioso, aventureiro, poético como quando ouvia alguém contá-las. Talvez fosse isso que seus pais estivessem lutando tanto para proteger: a inocência da doce princesa Ameenah.
Viver dentro do castelo sem nenhum contato com o mundo exterior e suas atrocidades era um privilégio. Este era o resumo de sua vida; apenas dentro do palácio, cercada pelo luxo de líderes políticos e de criados que atendiam a todos os seus pedidos. Nunca nada lhe faltara, tinha tudo que queria. A melhor educação, a melhor comida, os melhores brinquedos. Era uma vida totalmente alienada, mas ainda assim muito boa de se viver.
Abandonar Nassor não tinha sido tão fácil para ela quanto ela esforçava-se para fazer parecer. Ameenah vinha pensando muito em casa nos últimos tempos. Em brincar nos arredores do castelo, treinar com mestre Keet, ter os pais sempre por perto, em viver naquele entediante paraíso em que esteve por tantos anos. Ela até sonhara com isso. Relembrou o dia do ataque ao planeta, quando sua vida perfeita foi quase destruída, e recordou também do seu melhor amigo de infância, Zaki, que morrera na explosão da cidade. Ele era seu único amigo, seu único contato com o exterior. Fora isso, tudo se resumia à chatices de política e burocracia – mas era bom, mesmo assim.
Ameenah tocou seu dedo indicador direito. Ali havia um anel dourado gravado com imagens e dizeres na língua primitiva de Nassor, contando a história do planeta. Aquilo a levava para casa, de uma certa maneira. Sua mãe havia lhe dado aquilo. Ele tinha lhe pertencido, e antes fora da mãe dela. O anel passou pelas mãos dos governantes-reais de Nassor ao longo dos anos, e simbolizava o compromisso do líder para com seu povo e seu planeta, e a promessa de sempre governar em benefício dele.
Uma promessa que Ameenah jamais cumpriria, e uma missão que jamais realizaria.
A política nunca foi sua ambição. Vivendo no meio em que vivia, governar não lhe parecia uma forma assertiva de ajudar os outros. Para ela, a grande maioria dos Democratas não passava de preguiçosos e inexperientes que foram colocados no poder para tapar os buracos que o Império havia deixado. Muitos deles eram Rebeldes ou militantes antes de assumirem o poder, portanto, serviam para a guerra e não para a política. Eles lutaram pela paz em sua juventude, e muitos preferem acreditar até hoje que venceram a guerra unicamente poder da Aliança, sem a ajuda de Luke Skywalker e da Força. Eles estão cansados de lutar, e fecham os olhos para os problemas que ainda existem, como Styg, limitando-se a pensar que a Força é meramente uma religião que leva as pessoas para o mal, só por causa do Império. Nenhum dos democratas parece interessado em boas mudanças, em melhorar as coisas. Ameenah nunca sentiu que aquele era seu destino, sua vocação, ou que governar era sua missão.
Muito diferente de visão de sua mãe, é claro. Ela nascera para governar um povo. Karasi era uma rainha muito querida e adorada pelos nassorianos, tinha sua vida toda dedicada a proteger e ajudar seus súditos. Ela governava com afinco e amor para desenvolver o planeta, e ela tinha o dom. Era realmente uma excelente líder, algo que Ameenah sempre admirou nela. Era uma qualidade que ela internamente desejava ter, e até invejava um pouco. Afinal, quem dera ela tivesse o mesmo gosto por política que a mãe. Se fosse assim, tudo seria mais fácil: ela se orgulharia de sua condição de princesa, nunca teria brigado com os pais, e seria feliz apenas sendo quem era, sem precisar fazer tudo o que fez.
No entanto, ela sempre soube que jamais seria assim. Nunca seria capaz de se conformar com as condições que lhes eram impostas, nunca seria feliz daquela maneira. Sabia disso, pois puxara isso de sua mãe. Talvez o que fazia dela uma boa líder, diferente dos demais, era justamente o fato de nunca se contentar com a situação. E aquilo vinha da família dela como um todo, e era a razão para estarem no poder.
A família de Ameenah nem sempre fora de linhagem real. Nassor passou por muitas revoluções ao longo do tempo, com deposições de líderes e novas revoluções, que nunca mantiveram uma família no poder por muito tempo. A maioria dos líderes anteriores só queria se aproveitar do planeta pequeno e insignificante para benefício próprio. Sua família não chegou lá pelo sangue que possuíam. Na verdade, era uma história muito heroica.
Os pais de Karasi, Husani e Zaya, eram militantes de um movimento revolucionário de Nassor na época do governo Imperial. O rei daquela época era simpatizante do Império, e o povo estava passando fome e sofrendo na mão de Stormtroopers devido a ele. Os avós de Ameenah lideraram esse movimento, que visava a independência de Nassor e a eleição de um novo líder. Karasi cresceu no meio deste processo, sempre convivendo com os revolucionários e participando da luta que durou anos. Eles mobilizaram recursos, fizeram assembleias, protestos, greves e organizaram tudo que era necessário para atingirem seu objetivo.
A revolta dos nassorianos contava com grande apoio da Aliança Rebelde. Para eles era extremamente interessante ter movimentos de cidadãos contrários ao Império, e foi por isso que os dois se uniram. Um dava suporte e recursos para o outro, e eles estavam sempre em contato. Vários revolucionários se alistaram para fazer parte dos Rebeldes, e estes até montaram uma base escondida em Nassor onde mantinham soldados disfarçados.
Quando Karasi tinha mais ou menos a idade de Ameenah, ela decidiu que queria se alistar para a Aliança. Tendo convivido a vida toda com revolucionários e gente que lutava pelo que acreditava, ela se motivou a aderir ao movimento. Ela teve apoio dos pais, e foi. Fez o treinamento e tornou-se pilota de caça dos Rebeldes. Ela era uma excelente rebelde, uma das primeiras de seu pelotão, pilotava muito bem. Ela exerceu a função por vários anos, até a batalha da Estrela da Morte, que derrubou o Império.
Com a queda do governo tirano, a Aliança se diluiu em várias vertentes, e Karasi voltou para casa – que estava bem diferente. O movimento de seus pais teve sucesso, e o antigo líder fora deposto e exilado. Após a vitória, os nassorianos fizeram uma eleição e elegeram Husani e Zaya como os novos governantes-reais, por terem libertado o planeta das garras do Império e da opressão. Então, eles tornaram-se os líderes do sistema, e adquiriram posição de nobreza.
Naquela época, Nassor mal era notado na galáxia. Era um planeta pequeno e distante, sem muito a oferecer. Foi graças ao governo de Zaya e Husani que ele se desenvolveu, e assim ganhou a visibilidade que tem hoje. Eles criaram plantações, estabeleceram comércio com outros planetas, reformaram a educação e investiram na cultura, e tudo isso tornou Nassor um dos principais sistemas da galáxia toda.
Desde aquela época, o rei e a rainha já preparavam Karasi para ser sua sucessora no trono. E, desde o mesmo período, ela já demonstrava muita aptidão para assuntos políticos. Muitas das ideias que contribuíram para a visibilidade do planeta partiram dela, que na época era princesa e ministra das relações exteriores. Ela tinha muito contato com o povo, costumava pegar sua nave e visitar as cidades para conversar com os súditos por horas e horas. Ela manteve esse hábito mesmo coroada rainha, e era isso que a fazia tão querida.
Mais ou menos nesse período, Karasi conheceu o pai de Ameenah, Rashid. Ele era filho dos líderes de Bespin, um planeta próximo dali, e eles encontraram-se em uma reunião diplomática sobre comércio com sistemas vizinhos. Os eram descendentes de líderes poderosos, eram um príncipe e uma princesa, e se apaixonaram. Os reis tinham interesse em estabelecer laços entre os dois planetas, e a relação de Karasi e Rashid parecia a oportunidade perfeita. A união foi abençoada pelos líderes de Nassor e de Bespin, e então os dois se casaram. Rashid não era herdeiro do trono, o que permitiu que os dois ficassem em Nassor e assumissem o governo logo depois que o pai de Karasi morreu e Ameenah nasceu.
Aquela era uma história grandiosa, a qual Ameenah adorava ouvir desde criança pois sentia-se contagiada pela coragem. Ser destemido e lutar pelos próprios ideais estava no sangue de sua família, e isso era algo de que ela se orgulhava.
Era justamente por conta disso tudo que, para ela, o posicionamento de sua mãe não fazia sentido. Por que ela não queria que Ameenah fosse uma Jedi? Ela própria possuía uma história tão notável, de valentia e independência, morando longe de sua família e sendo uma soldada que erguia a bandeira daquilo pelo que lutava. E ainda vinha de uma família como a dela, cheia de exemplos de perseverança e batalha. Todos eles lutaram pela galáxia, e agora ela não queria que Ameenah fizesse o mesmo.
A garota caminhou até o jardim da Academia, ainda com a carta em mãos. Sentou-se num banco debaixo de uma das árvores, com os grilos e cigarras já cantarolando o início da noite. Aquele tinha sido um dia cheio: primeiro, a missão da Ordem que terminou na revelação de que Styg é na verdade o Imperador; segundo, uma carta totalmente inesperada de sua mãe, escrita com palavras que ela jamais esperava dela. A brisa do anoitecer balançou as folhas das árvores e chegou até os cabelos da garota, e ela fechou os olhos para tentar meditar.
Alguns minutos depois que o silêncio e a tranquilidade voltaram a invadir sua mente, Leia apareceu do lado de fora do castelo e aproximou-se dela. Ela possuía um sorriso no rosto que misturava seu orgulho pela aprendiz bem-sucedida em sua primeira missão, e pena por saber que ela não estaria aproveitando nem um pouco o seu sucesso, devido ao que deveria ter lido naquela carta.
-Olá, minha aprendiz – Ela disse, com tom gentil. - Tendo pensamentos demais em sua cabeça?
-Você não faz ideia, mestre – Ameenah respondeu com um riso breve, indicando a carta. Leia retribuiu o riso.
-Seu feito na missão de hoje se tornou popular entre os membros do Conselho – Contou Leia, sentando-se ao lado da garota. - Você será levada para mais missões daqui pra frente. É uma heroína.
-Mesmo? Fico feliz em saber. - Um grãozinho de felicidade despontou em meio ao oceano de confusão na mente da garota.
-Oh sim. Você é uma aprendiz de grande talento, Ameenah. É corajosa, comprometida, apaixonada, inteligente e muito poderosa. Os que ainda se recusavam a ver isso aos poucos estão se rendendo ao seu ótimo desempenho.
-Obrigada, mestre. Você é muito gentil.
-Não estou sendo gentil, eu sei disso. - Leia falou - E sei que sua mãe também sabia.
Ameenah torceu o canto da boca com remorso.
-Se ela não soubesse, não se preocuparia tanto com você. - Disse Leia. - Sabe, nós mães conhecemos nossos filhos como ninguém. Sabemos exatamente quais são seus pontos fortes e fracos, seus talentos e as coisas que não gostam. E somos capazes de fazer qualquer coisa por eles. Ao proibir você de treinar por todo esse tempo, sua mãe só estava tentando te proteger. Você não deve odiá-la por isso. - Ela fez uma pausa e olhou para frente. - Nós fazemos de tudo por aqueles a quem amamos.
Ameenah sorriu fraco e olhou para a mesma direção na qual sua mestra estava olhando. Ali, ela viu Khali andando por um dos corredores externos do palácio.
-A mãe de Khali também fez algo parecido por ele. Ela sabia o quanto era perigoso para ele que soubessem quem era seu pai. Então, ela casou-se com um homem que não amava para encobrir o segredo e mantê-lo à salvo até que ele tivesse idade para se proteger sozinho. Ela deu a ele uma vida segura e normal para que só descobrisse a verdade quando estivesse pronto. - Contou a mestra. - Isso é a mais pura e sincera prova de amor.
Ameenah encarou o rapaz andando em direção aos jardins, imaginando aquilo tudo. Não deve ter sido fácil descobrir aquelas coisas sobre si mesmo e suas origens, ainda mais tão jovem. Khali carregava muitas emoções das quais não falava pra ninguém, e a menina já tinha percebido isso.
-O que estão falando a meu respeito, senhoritas? - Disse Khali parando em frente às duas.
-Como você sabe que é sobre você?
-Estavam me encarando há tempo demais. Posso saber do que se trata? - Ele sorriu.
-Estava contando para Ameenah como a façanha de vocês dois na missão de hoje agradou ao Conselho. - Explicou Leia, virando-se para a menina.
-Eu não tenho praticamente nenhum mérito nisso. - Disse Khali. - Foi tudo a Ameenah.
-Eu acredito em você. - Leia sorriu para sua aprendiz. Ela fez uma pausa. - Bom, se vocês me derem licença, preciso encontrar o Supremo Mestre para fazer relatórios. Boa noite, queridos aprendizes.
-Boa noite. - Responderam os dois ao mesmo tempo, e mestre Organa se retirou. O rapaz encarou Ameenah por alguns segundos.
-Você está bem? - Khali perguntou.
-Estou. Só tenho muita coisa na cabeça. - Ela respondeu, e ele se sentou ao lado dela.
-Olha, seja lá o que sua mãe escreveu nesta carta, ou quais foram as atitudes que ela tomou ao longo do tempo, lembre-se que ela te ama, está bem? Sei que as vezes fica difícil de acreditar, mas até as decisões mais erradas dela foram tomadas por esse motivo. Experiência própria.
-Sei disso. - Ameenah respondeu e suspirou. - É por esse motivo que começo a achar que errei ao ter fugido.
-Não pense desse jeito. - Khali discordou. - Sabe, de certa forma eu fico feliz que você tenha desobedecido seus pais. Isso te trouxe até aqui... e eu acredito que é aqui que você deve estar. Você é muito poderosa, princesa, e eu percebi isso hoje mais que nunca. Eu não teria conseguido entrar na nave dos cinzentos se não fosse pela sua ajuda. Você tem talento.
-Obrigada, Khali. - Ela sorriu de lado. - Também não teria feito isso sem você.
Alguns segundos de silêncio se passaram, até que Talib apareceu em uma das janelas do salão de reuniões, que ficava bem de frente para o jardim.
-Boa noite para os dois heróis - Ele exclamou, e ambos sorriram e acenaram. - Preciso emprestar o Skywalker.
-O que você quer, Mashaba? - Khali falou de volta para o amigo.
-Se esqueceu? É hora do nosso treinamento noturno.
-Ah sim, é claro. Eu já vou.
-Vamos, Skywalker, eu já estou me aquecendo!
-Só um momento.
-A ideia foi sua. Ande logo, Zaki! - Talib disse em um tom debochado.
Nesse momento um arrepio percorreu a espinha de Ameenah.
-Zaki? - Ela questionou, alarmada.
-Sim, Zaki – Talib riu. - Pouca gente sabe desse nome do Khali. É de infância, da época em que ele morava em Nassor.
Ameenah virou-se para Khali, com memórias voltando a ela num turbilhão.
-Zaki... - Repetiu a garota.
Esse era um nome que ela não esperava ouvir novamente.
Sei que você deve estar com medo do que foi escrito nesta carta. Mas peço que a leia até o final, não importa quanta raiva esteja sentindo.
Não conseguimos rastrear seu destino, pois você teve certeza de desligar o GPS da sua nave ao fugir. Endereçamos isto à Academia Jedi apenas na esperança de encontrá-la lá. Acredito que unir-se à Ordem e tornar-se uma cavaleira seja o único motivo que a faria abandonar Nassor, tão certa de que jamais a acharíamos novamente.
A mágoa de te ver partir desta maneira é muito grande. Nenhuma mãe ou pai deseja que sua relação com a filha seja brutalmente terminada assim, com grandes chances de nunca mais ser a mesma. E é por esta razão que decidi escrever esta carta, com a vaga esperança de que você chegue a lê-la; para pedir perdão.
Não queria que você tivesse fugido, pois você partiu meu coração. Mas eu errei com você, filha. Me esqueci de que você não é mais uma criança, que tem um livre-arbítrio que lhe permite fazer suas escolhas e, claro, uma personalidade forte que nunca deixa que ninguém lhe diga o que fazer. Eu te prendi aos meus próprios medos, te impedi de fazer o que achava certo pra si mesma, e eu espero que possa me perdoar por isso.
Espero que compreenda que tudo que eu fiz foi por amor a você. Espero que saiba que eu nunca duvidei da sua capacidade de seguir seus sonhos, eu apenas temia o que poderia acontecer e tinha medo de te perder. E justamente por isso, perdi.
Você devia estar esperando que eu tivesse te escrito para brigar, te mandar voltar para casa, ameaçar enviar equipes de resgate atrás de você... Mas não. Eu cometi esse erro por muito tempo. Agora, quero que você ande com as próprias pernas, e espero do fundo do coração que tenha certeza e orgulho dos passos que der. Espero que esteja feliz e realizada por finalmente fazer o que sempre sonhou, e que tenha uma carreira brilhante como a Jedi corajosa que eu sei que será, e que, apesar de tudo, sempre tive certeza que você tinha poder para ser. Deixarei você seguir o seu caminho como quiser, sabendo que a porta da sua casa estará sempre aberta caso queira voltar, apesar da imensa tristeza.
Não escrevo a você na esperança de receber uma resposta. Sei que a mágoa que você carrega é grande demais para que faça isso. Deixarei que o tempo resolva. Acho que, um dia, você será capaz de entender.
Eu amo você.
Rainha Karasi.
Ler aquelas palavras trouxe à Ameenah uma série de emoções que ela seria incapaz de descrever. A garota ficou por minutos à fio apenas segurando aquele pedaço de papel, sem saber o que fazer, com milhares de pensamentos em sua cabeça.
Ela não esperava receber uma carta como aquela nunca; ou porque sua mãe estaria furiosa demais para escrevê-la, ou então porque jamais saberia para onde endereçá-la. Essas também não eram as palavras que ela esperava que a mãe escolhesse. Se algum dia falasse com Karasi novamente, pensava que seus sentimentos em relação à sua fuga seriam diferentes. Que ela estaria extremamente furiosa, magoada, brigaria com ela e a mandaria de volta para Nassor, de onde ela nunca mais sairia.
Ameenah não sabia o que pensar diante daquela leitura. Era uma mistura de surpresa, alívio, tristeza, saudade e remorso, que a impediam de ter qualquer reação a não ser encarar as letras perfeitamente desenhadas no papel.
O processo até ali não havia sido fácil - muitas brigas, lágrimas, esforços perdidos e a sua fuga, que provavelmente separou sua família pra sempre. Para Ameenah, os fatos jamais teriam levado a esta conclusão. Depois de tantos anos a proibindo, agora sua mãe decidira deixá-la ficar na Academia?
Se parasse para pensar, era fácil recordar das inúmeras brigas que ela tivera com a mãe por conta daquilo. Ela se aborrecia toda vez que Ameenah falava sobre se tornar uma Jedi. A aversão de seus pais era realmente enorme toda vez que ela trazia esse assunto, mas da mãe principalmente. No início ela tentava argumentar, dizendo que era perigoso e que não queria que Ameenah se machucasse, e que os Jedi não eram algo pra se acreditar. Mas depois de um tempo ela perdeu a paciência, e qualquer menção aos Jedi era motivo de discussão.
Ameenah nunca entendera o motivo daquele ódio todo. Por que seria um absurdo tão grande se ela treinasse? Por que ela não deveria acreditar nos Jedi? Se a mãe sabia que ela tinha poder e capacidade, pra que temer tanto e impedi-la?
Karasi mencionou que esperava que um dia ela fosse capaz de entender. Agora, ela se perguntava o motivo. O que gerara tanta discórdia durante todos aqueles anos, e por que de repente isso deixou de ser importante?
Quem sabe fosse apenas superproteção da parte de seus pais. Quem sabe a mãe não quisesse que ela sofresse, que presenciasse uma guerra. Isso não era crime nenhum – todo pai quer manter seu filho são e salvo. Vivendo como vivia agora, Ameenah reconhecia que ouvir histórias sobre guerras e realmente vivê-las era muito diferente. Não parecia mais tão glorioso, aventureiro, poético como quando ouvia alguém contá-las. Talvez fosse isso que seus pais estivessem lutando tanto para proteger: a inocência da doce princesa Ameenah.
Viver dentro do castelo sem nenhum contato com o mundo exterior e suas atrocidades era um privilégio. Este era o resumo de sua vida; apenas dentro do palácio, cercada pelo luxo de líderes políticos e de criados que atendiam a todos os seus pedidos. Nunca nada lhe faltara, tinha tudo que queria. A melhor educação, a melhor comida, os melhores brinquedos. Era uma vida totalmente alienada, mas ainda assim muito boa de se viver.
Abandonar Nassor não tinha sido tão fácil para ela quanto ela esforçava-se para fazer parecer. Ameenah vinha pensando muito em casa nos últimos tempos. Em brincar nos arredores do castelo, treinar com mestre Keet, ter os pais sempre por perto, em viver naquele entediante paraíso em que esteve por tantos anos. Ela até sonhara com isso. Relembrou o dia do ataque ao planeta, quando sua vida perfeita foi quase destruída, e recordou também do seu melhor amigo de infância, Zaki, que morrera na explosão da cidade. Ele era seu único amigo, seu único contato com o exterior. Fora isso, tudo se resumia à chatices de política e burocracia – mas era bom, mesmo assim.
Ameenah tocou seu dedo indicador direito. Ali havia um anel dourado gravado com imagens e dizeres na língua primitiva de Nassor, contando a história do planeta. Aquilo a levava para casa, de uma certa maneira. Sua mãe havia lhe dado aquilo. Ele tinha lhe pertencido, e antes fora da mãe dela. O anel passou pelas mãos dos governantes-reais de Nassor ao longo dos anos, e simbolizava o compromisso do líder para com seu povo e seu planeta, e a promessa de sempre governar em benefício dele.
Uma promessa que Ameenah jamais cumpriria, e uma missão que jamais realizaria.
A política nunca foi sua ambição. Vivendo no meio em que vivia, governar não lhe parecia uma forma assertiva de ajudar os outros. Para ela, a grande maioria dos Democratas não passava de preguiçosos e inexperientes que foram colocados no poder para tapar os buracos que o Império havia deixado. Muitos deles eram Rebeldes ou militantes antes de assumirem o poder, portanto, serviam para a guerra e não para a política. Eles lutaram pela paz em sua juventude, e muitos preferem acreditar até hoje que venceram a guerra unicamente poder da Aliança, sem a ajuda de Luke Skywalker e da Força. Eles estão cansados de lutar, e fecham os olhos para os problemas que ainda existem, como Styg, limitando-se a pensar que a Força é meramente uma religião que leva as pessoas para o mal, só por causa do Império. Nenhum dos democratas parece interessado em boas mudanças, em melhorar as coisas. Ameenah nunca sentiu que aquele era seu destino, sua vocação, ou que governar era sua missão.
Muito diferente de visão de sua mãe, é claro. Ela nascera para governar um povo. Karasi era uma rainha muito querida e adorada pelos nassorianos, tinha sua vida toda dedicada a proteger e ajudar seus súditos. Ela governava com afinco e amor para desenvolver o planeta, e ela tinha o dom. Era realmente uma excelente líder, algo que Ameenah sempre admirou nela. Era uma qualidade que ela internamente desejava ter, e até invejava um pouco. Afinal, quem dera ela tivesse o mesmo gosto por política que a mãe. Se fosse assim, tudo seria mais fácil: ela se orgulharia de sua condição de princesa, nunca teria brigado com os pais, e seria feliz apenas sendo quem era, sem precisar fazer tudo o que fez.
No entanto, ela sempre soube que jamais seria assim. Nunca seria capaz de se conformar com as condições que lhes eram impostas, nunca seria feliz daquela maneira. Sabia disso, pois puxara isso de sua mãe. Talvez o que fazia dela uma boa líder, diferente dos demais, era justamente o fato de nunca se contentar com a situação. E aquilo vinha da família dela como um todo, e era a razão para estarem no poder.
A família de Ameenah nem sempre fora de linhagem real. Nassor passou por muitas revoluções ao longo do tempo, com deposições de líderes e novas revoluções, que nunca mantiveram uma família no poder por muito tempo. A maioria dos líderes anteriores só queria se aproveitar do planeta pequeno e insignificante para benefício próprio. Sua família não chegou lá pelo sangue que possuíam. Na verdade, era uma história muito heroica.
Os pais de Karasi, Husani e Zaya, eram militantes de um movimento revolucionário de Nassor na época do governo Imperial. O rei daquela época era simpatizante do Império, e o povo estava passando fome e sofrendo na mão de Stormtroopers devido a ele. Os avós de Ameenah lideraram esse movimento, que visava a independência de Nassor e a eleição de um novo líder. Karasi cresceu no meio deste processo, sempre convivendo com os revolucionários e participando da luta que durou anos. Eles mobilizaram recursos, fizeram assembleias, protestos, greves e organizaram tudo que era necessário para atingirem seu objetivo.
A revolta dos nassorianos contava com grande apoio da Aliança Rebelde. Para eles era extremamente interessante ter movimentos de cidadãos contrários ao Império, e foi por isso que os dois se uniram. Um dava suporte e recursos para o outro, e eles estavam sempre em contato. Vários revolucionários se alistaram para fazer parte dos Rebeldes, e estes até montaram uma base escondida em Nassor onde mantinham soldados disfarçados.
Quando Karasi tinha mais ou menos a idade de Ameenah, ela decidiu que queria se alistar para a Aliança. Tendo convivido a vida toda com revolucionários e gente que lutava pelo que acreditava, ela se motivou a aderir ao movimento. Ela teve apoio dos pais, e foi. Fez o treinamento e tornou-se pilota de caça dos Rebeldes. Ela era uma excelente rebelde, uma das primeiras de seu pelotão, pilotava muito bem. Ela exerceu a função por vários anos, até a batalha da Estrela da Morte, que derrubou o Império.
Com a queda do governo tirano, a Aliança se diluiu em várias vertentes, e Karasi voltou para casa – que estava bem diferente. O movimento de seus pais teve sucesso, e o antigo líder fora deposto e exilado. Após a vitória, os nassorianos fizeram uma eleição e elegeram Husani e Zaya como os novos governantes-reais, por terem libertado o planeta das garras do Império e da opressão. Então, eles tornaram-se os líderes do sistema, e adquiriram posição de nobreza.
Naquela época, Nassor mal era notado na galáxia. Era um planeta pequeno e distante, sem muito a oferecer. Foi graças ao governo de Zaya e Husani que ele se desenvolveu, e assim ganhou a visibilidade que tem hoje. Eles criaram plantações, estabeleceram comércio com outros planetas, reformaram a educação e investiram na cultura, e tudo isso tornou Nassor um dos principais sistemas da galáxia toda.
Desde aquela época, o rei e a rainha já preparavam Karasi para ser sua sucessora no trono. E, desde o mesmo período, ela já demonstrava muita aptidão para assuntos políticos. Muitas das ideias que contribuíram para a visibilidade do planeta partiram dela, que na época era princesa e ministra das relações exteriores. Ela tinha muito contato com o povo, costumava pegar sua nave e visitar as cidades para conversar com os súditos por horas e horas. Ela manteve esse hábito mesmo coroada rainha, e era isso que a fazia tão querida.
Mais ou menos nesse período, Karasi conheceu o pai de Ameenah, Rashid. Ele era filho dos líderes de Bespin, um planeta próximo dali, e eles encontraram-se em uma reunião diplomática sobre comércio com sistemas vizinhos. Os eram descendentes de líderes poderosos, eram um príncipe e uma princesa, e se apaixonaram. Os reis tinham interesse em estabelecer laços entre os dois planetas, e a relação de Karasi e Rashid parecia a oportunidade perfeita. A união foi abençoada pelos líderes de Nassor e de Bespin, e então os dois se casaram. Rashid não era herdeiro do trono, o que permitiu que os dois ficassem em Nassor e assumissem o governo logo depois que o pai de Karasi morreu e Ameenah nasceu.
Aquela era uma história grandiosa, a qual Ameenah adorava ouvir desde criança pois sentia-se contagiada pela coragem. Ser destemido e lutar pelos próprios ideais estava no sangue de sua família, e isso era algo de que ela se orgulhava.
Era justamente por conta disso tudo que, para ela, o posicionamento de sua mãe não fazia sentido. Por que ela não queria que Ameenah fosse uma Jedi? Ela própria possuía uma história tão notável, de valentia e independência, morando longe de sua família e sendo uma soldada que erguia a bandeira daquilo pelo que lutava. E ainda vinha de uma família como a dela, cheia de exemplos de perseverança e batalha. Todos eles lutaram pela galáxia, e agora ela não queria que Ameenah fizesse o mesmo.
A garota caminhou até o jardim da Academia, ainda com a carta em mãos. Sentou-se num banco debaixo de uma das árvores, com os grilos e cigarras já cantarolando o início da noite. Aquele tinha sido um dia cheio: primeiro, a missão da Ordem que terminou na revelação de que Styg é na verdade o Imperador; segundo, uma carta totalmente inesperada de sua mãe, escrita com palavras que ela jamais esperava dela. A brisa do anoitecer balançou as folhas das árvores e chegou até os cabelos da garota, e ela fechou os olhos para tentar meditar.
Alguns minutos depois que o silêncio e a tranquilidade voltaram a invadir sua mente, Leia apareceu do lado de fora do castelo e aproximou-se dela. Ela possuía um sorriso no rosto que misturava seu orgulho pela aprendiz bem-sucedida em sua primeira missão, e pena por saber que ela não estaria aproveitando nem um pouco o seu sucesso, devido ao que deveria ter lido naquela carta.
-Olá, minha aprendiz – Ela disse, com tom gentil. - Tendo pensamentos demais em sua cabeça?
-Você não faz ideia, mestre – Ameenah respondeu com um riso breve, indicando a carta. Leia retribuiu o riso.
-Seu feito na missão de hoje se tornou popular entre os membros do Conselho – Contou Leia, sentando-se ao lado da garota. - Você será levada para mais missões daqui pra frente. É uma heroína.
-Mesmo? Fico feliz em saber. - Um grãozinho de felicidade despontou em meio ao oceano de confusão na mente da garota.
-Oh sim. Você é uma aprendiz de grande talento, Ameenah. É corajosa, comprometida, apaixonada, inteligente e muito poderosa. Os que ainda se recusavam a ver isso aos poucos estão se rendendo ao seu ótimo desempenho.
-Obrigada, mestre. Você é muito gentil.
-Não estou sendo gentil, eu sei disso. - Leia falou - E sei que sua mãe também sabia.
Ameenah torceu o canto da boca com remorso.
-Se ela não soubesse, não se preocuparia tanto com você. - Disse Leia. - Sabe, nós mães conhecemos nossos filhos como ninguém. Sabemos exatamente quais são seus pontos fortes e fracos, seus talentos e as coisas que não gostam. E somos capazes de fazer qualquer coisa por eles. Ao proibir você de treinar por todo esse tempo, sua mãe só estava tentando te proteger. Você não deve odiá-la por isso. - Ela fez uma pausa e olhou para frente. - Nós fazemos de tudo por aqueles a quem amamos.
Ameenah sorriu fraco e olhou para a mesma direção na qual sua mestra estava olhando. Ali, ela viu Khali andando por um dos corredores externos do palácio.
-A mãe de Khali também fez algo parecido por ele. Ela sabia o quanto era perigoso para ele que soubessem quem era seu pai. Então, ela casou-se com um homem que não amava para encobrir o segredo e mantê-lo à salvo até que ele tivesse idade para se proteger sozinho. Ela deu a ele uma vida segura e normal para que só descobrisse a verdade quando estivesse pronto. - Contou a mestra. - Isso é a mais pura e sincera prova de amor.
Ameenah encarou o rapaz andando em direção aos jardins, imaginando aquilo tudo. Não deve ter sido fácil descobrir aquelas coisas sobre si mesmo e suas origens, ainda mais tão jovem. Khali carregava muitas emoções das quais não falava pra ninguém, e a menina já tinha percebido isso.
-O que estão falando a meu respeito, senhoritas? - Disse Khali parando em frente às duas.
-Como você sabe que é sobre você?
-Estavam me encarando há tempo demais. Posso saber do que se trata? - Ele sorriu.
-Estava contando para Ameenah como a façanha de vocês dois na missão de hoje agradou ao Conselho. - Explicou Leia, virando-se para a menina.
-Eu não tenho praticamente nenhum mérito nisso. - Disse Khali. - Foi tudo a Ameenah.
-Eu acredito em você. - Leia sorriu para sua aprendiz. Ela fez uma pausa. - Bom, se vocês me derem licença, preciso encontrar o Supremo Mestre para fazer relatórios. Boa noite, queridos aprendizes.
-Boa noite. - Responderam os dois ao mesmo tempo, e mestre Organa se retirou. O rapaz encarou Ameenah por alguns segundos.
-Você está bem? - Khali perguntou.
-Estou. Só tenho muita coisa na cabeça. - Ela respondeu, e ele se sentou ao lado dela.
-Olha, seja lá o que sua mãe escreveu nesta carta, ou quais foram as atitudes que ela tomou ao longo do tempo, lembre-se que ela te ama, está bem? Sei que as vezes fica difícil de acreditar, mas até as decisões mais erradas dela foram tomadas por esse motivo. Experiência própria.
-Sei disso. - Ameenah respondeu e suspirou. - É por esse motivo que começo a achar que errei ao ter fugido.
-Não pense desse jeito. - Khali discordou. - Sabe, de certa forma eu fico feliz que você tenha desobedecido seus pais. Isso te trouxe até aqui... e eu acredito que é aqui que você deve estar. Você é muito poderosa, princesa, e eu percebi isso hoje mais que nunca. Eu não teria conseguido entrar na nave dos cinzentos se não fosse pela sua ajuda. Você tem talento.
-Obrigada, Khali. - Ela sorriu de lado. - Também não teria feito isso sem você.
Alguns segundos de silêncio se passaram, até que Talib apareceu em uma das janelas do salão de reuniões, que ficava bem de frente para o jardim.
-Boa noite para os dois heróis - Ele exclamou, e ambos sorriram e acenaram. - Preciso emprestar o Skywalker.
-O que você quer, Mashaba? - Khali falou de volta para o amigo.
-Se esqueceu? É hora do nosso treinamento noturno.
-Ah sim, é claro. Eu já vou.
-Vamos, Skywalker, eu já estou me aquecendo!
-Só um momento.
-A ideia foi sua. Ande logo, Zaki! - Talib disse em um tom debochado.
Nesse momento um arrepio percorreu a espinha de Ameenah.
-Zaki? - Ela questionou, alarmada.
-Sim, Zaki – Talib riu. - Pouca gente sabe desse nome do Khali. É de infância, da época em que ele morava em Nassor.
Ameenah virou-se para Khali, com memórias voltando a ela num turbilhão.
-Zaki... - Repetiu a garota.
Esse era um nome que ela não esperava ouvir novamente.
Capítulo 10
Por entre as barracas da feira e os comerciantes gritando ofertas, um menininho corria vivaz e saltitante desviando-se das pessoas e dos alienígenas, numa espécie de brincadeira de corrida que apostava consigo mesmo. Era mais um dia quente e ensolarado, que propiciava muito as vendas ao ar livre do mercado de Nassor. Zaki movia-se enérgico, feliz por poder passear pelas ruas do planeta, algo que tanto gostava.
Apesar da pressa, o garotinho observava atento tudo que acontecia ao seu redor. Via as pessoas passando apressadas com suas cestas, os falumpasets selvagens recém capturados sendo selados e vendidos, os comerciantes repondo suas exposições rapidamente. Notava os brinquedos tecnológicos incríveis vindos da capital pendurados nas tendas, as naves das mais novas gerações, e também os pães e bolos, as sementes expostas nas cestas, as caixas de frutas e legumes tão fresquinhos sendo vendidos.
Ao ter aquela visão, o estômago dele começou a roncar. Mas ele sabia que não poderia ter nada daquilo, é claro. Ele não tinha dinheiro como aquelas pessoas.
Zaki continuou a caminhar pelas ruas da cidade, tomando cuidado para não entrar no caminho de nenhuma nave trafegando por ali. Ele caminhou vários quarteirões, e então chegou até os arredores do castelo, onde viviam os ricos e poderosos líderes. Os muros que cercavam o palácio eram altos, o que dificultava um pouco a visão lá de dentro, mas ainda assim aquilo o maravilhava. Aquela era a parte da cidade que ele mais gostava, pois era muito grande e bonita, especialmente para um menino da periferia como ele.
Enquanto ele estava concentrado tentando observar a torre mais alta do castelo, um convor, pássaro curioso e colorido, atravessou o seu campo de visão. Zaki adorava aquele bichinho, que quando pousava costumava entoar um canto muito peculiar e bonito. O garoto começou a segui-lo, enquanto ele voava até o outro lado do castelo. O convor era ligeiro, o que obrigou-o a correr. No entanto, quando Zaki quase o alcançara, o pássaro mergulhou para dentro dos muros do castelo.
O menino quase ficou decepcionado, mas notou que bem próximo de onde ele estava, alguns tijolos que compunham a parede haviam se soltado. O buraco formava uma espécie de janela para que ele tivesse a vista do convor entoando seu canto exótico, perfeitamente pousado em um dos galhos de uma enorme árvore de cambylictus.
A atenção de Zaki imediatamente se desviou do pássaro para a árvore. Aquela era uma espécie raríssima de planta, encontrada apenas em oceanos e lagos, e estava plantada bem ali no riacho que passava por dentro do castelo. Era uma árvore enorme, majestosa, mais bonita que todas as que o menino já havia visto. No entanto, não era isso que mais chamava a atenção nela: eram os frutos. As cambylictus davam pequenas frutinhas roxas de uma cor vívida e brilhante, chamadas amoras camby. Elas só cresciam na época da primavera, de dez em dez anos. Eram um fruto raro e caro, que apenas os ricos compravam, e o qual Zaki sempre teve curiosidade de experimentar.
Ele não comia há dias. Em sua casa, a situação ficava cada vez mais difícil. Seu pai havia perdido o emprego e sua mãe, costureira, estava com problemas para vender seus casacos em pleno verão nassoriano. O dinheiro era curto, portanto, as refeições estavam mais escassas. Zaki estava morrendo de fome, e vendo aquela árvore bem ali, cheia de amoras, fez com que ele hesitasse alguns segundos. Aquilo não era certo, ele sabia, e o pensamento fez seu coração se apertar. Mas ele estava faminto. Zaki pediu perdão a todos os deuses, antes de decidir entrar no jardim do castelo pelo buraco no muro.
Seria bem rápido. Ele entraria e pegaria algumas das frutas, umas para si e outras para levar para sua mãe e seu pai. Ninguém perceberia.
O garoto olhou para os lados para verificar se ninguém estava prestando atenção e então adentrou rapidamente pela abertura nos tijolos. De dentro, aquele castelo parecia ainda maior, e o jardim possuía mais variedades de plantas do que Zaki jamais sonhou que a galáxia poderia ter. No entanto, não havia tempo para se maravilhar com a construção – era preciso agir rápido, e sair sem que ninguém ficasse sabendo de seu pequeno delito.
Zaki arregaçou as pernas das calças esfarrapadas e entrou dentro do riacho, então agarrou-se ao tronco da cambylictus e começou a subir. Ele era ótimo em escalar árvores, e não demorou para chegar até cerca de dois metros do chão, onde ficava o primeiro galho recheado de amoras camby. Pegou o máximo delas que conseguiu, e com os frutos armazenados numa trouxinha que fez com a própria camiseta, ele começou a descer.
Quando já estava próximo do chão, louco para sair daquele lugar antes que alguém o apanhasse, Zaki acabou escorregando do tronco por conta dos pés molhados. Ele caiu sentado na água, e pior ainda, a queda esmagara todas as suas amoras.
O garotinho já estava pronto para sair correndo dali, arrependido e envergonhado, quando uma voz o impediu.
-Você gosta de amoras?
Paralisado pelo medo e pela culpa, Zaki virou-se para encontrar o dono das palavras. Era uma garotinha loira com bochechas rosadas e um vestido lilás, encarando-o com ar de destemida. Ela possuía um sabre de luz em mãos, como se estivesse pronta para se defender de algum perigo. No entanto, parecia mais curiosa do que perigosa.
-Nunca comi. - Zaki engoliu seco para responder. A menina era mais ou menos da sua idade, era bonita e usava uma longa trança em seu cabelo.
-De onde você veio?
-Do Contorno – Ele gaguejou. Esse era o nome do bairro pobre em que ele vivia.
-E as pessoas não comem essas amoras por lá? - A menina franziu a testa achando estranho.
-Não. Elas não comem quase nada lá.
A garota do vestido lilás pareceu surpresa em ouvir aquela resposta. Sua expressão passou de desconfiança para curiosidade, e ela desligou seu sabre de luz e atou-o ao cinto do vestido. Notando a deixa, Zaki, confuso e amedrontado, levantou-se de dentro da água e preparou-se para correr de volta para o buraco de tijolos.
-Pode pegar as amoras se quiser. - A menina falou, apiedando-se da história dele. - O castelo tem quatro pés cheios delas.
Zaki parou.
-Mas os guardas irão me pegar – Disse ele. - Eu roubei.
-Eu prometo que não irei contar.
-Mesmo? - Ele disse desconfiado, e ela concordou com a cabeça. Para a garotinha era muito diferente conhecer alguém que não comia aquelas coisas – ou que não comia nada.
-Contanto que me prometa outra coisa.
-O que?
-Que vai ser meu amigo.
O menino achou aquele pedido muito estranho. Por que ela iria querer uma promessa como aquela? Ainda mais de alguém como ele. Ninguém nunca quis ser amigo dele antes.
-É que eu não tenho muitos amigos por aqui. - Ela caminhou até a grama e sentou-se num banco de mármore. - Fico no castelo o tempo todo.
O menino encarou-a com pena. Até a maior e mais bonita casa deve ser muito solitária para se viver se você não tem amigos.
-Está bem – Ele concordou, o que a fez sorrir ligeiramente, e então sentou-se no banco ao lado dela.
-Qual é o seu nome?
-Zaki. - Ele respondeu. - E o seu?
-Ameenah.
O gelo logo se quebrou entre os dois, e o que antes era estranheza logo se transformou em uma linda amizade. Depois daquele dia, Zaki voltava ao castelo sempre que podia para encontrar sua nova amiga, que o esperava ansiosa na fenda do muro. Os dois brincavam juntos, comiam amoras camby e conversavam sobre suas vidas tão diferentes uma da outra. A garotinha era uma princesa, filha do rei e da rainha do planeta, e o menino vivia num barraco nos entornos da cidade sem sequer ir à escola.
No entanto, aquilo parecia não importar para Zaki e Ameenah. Os dois eram apenas crianças, inocentes e puras, sem noção nenhuma de poder ou ganância, e se davam bem pois apesar de tantas diferenças, eram muito parecidos.
O programa preferido deles era quando o guarda-costas de Ameenah, Horus, levava a garota para passear na cidade, e então eles podiam brincar e correr em meio as ruas e as pessoas.
-O seu amigo Horus carrega uma espada muito brilhante. Por que ele a usa?
-É um sabre de luz. É a arma dos Cavaleiros Jedi – Ameenah disse com um sorriso e ênfase na voz. - Eles protegem toda a galáxia do mal e da injustiça.
-Oh sim, eu já os vi andando pela cidade antes. - Zaki recordou. - São impressionantes.
-Eles são. E um dia, quando eu crescer, vou ser um deles. - Os olhos da garota brilharam. - Você também podia ser um, Zaki. Salvaríamos a galáxia juntos!
-Ah, eu não sei – O menino desviou o olhar. - Acho que eu não levaria jeito pra isso.
-E por que não?
-Eu sou só um menino comum. Meninos comuns não se tornam heróis.
-Bom, princesas também não. - Ela disse. - Mas eu serei uma mesmo assim.
Zaki e Ameenah eram melhores amigos como poucos. Ele era a diversão dela, e vice versa. Os dois faziam tudo juntos, brincavam de qualquer coisa, passavam horas sonhando sobre serem as mais variadas coisas quando crescessem. E, secretamente, o carinho era mais do que apenas amizade. Eles gostavam um do outro, compartilhavam segredos, tristezas, memórias... um conhecia o outro como ninguém mais o fazia.
Até que, um dia, tudo isso veio ao chão.
Os dois estavam caminhando pela praça central em um de seus passeios comuns com o guardião de Ameenah durante uma tarde ensolarada. Todos passavam por ali tranquilos, com suas rotinas diárias, num dia comum. No entanto, aquele era um dia muito importante, escolhido por alguém que desejava acabar com as vidas normais dos nassorianos.
Zaki e Ameenah brincavam na grama quando as primeiras tropas vieram. Soldados vestidos com uniformes romanos chegaram em naves estranhas que pousaram por todas as ruas e vielas, e marchavam numa sincronia amedrontadora. Ninguém sabia quem eles eram ou o que era aquilo, ficaram assustados e atônitos.
-A paz em que vivem os cidadãos da galáxia é falsa e patética. Saibam que por trás da mentira em que vivem, um ser superior e poderoso une forças com seus semelhantes para por um fim à soberania das enganações ao redor do Universo!
Um ser encapuzado e robótico projetava uma rouca voz do topo de uma nave. Os soldados que empunhavam grandes blasters começaram a avançar em direção à multidão, que começou a recuar na tentativa de se proteger. Eles agrediram cidadãos, tombaram naves, incendiaram casas, atiraram em pessoas desarmadas. Havia mulheres e crianças, todos presos na mesma confusão de uma multidão desesperada tentando escapar do horror que se formava.
-Por anos vocês tem vivido em deturpação e paganismo, esquecendo-se de como a Força realmente funciona. Pois eu, Darth Styg, venho da sabedoria da Escuridão, para mostrar a vocês que nenhum homem, mulher ou planeta é páreo para o poder do Lado Negro!
Mestre Horus já encontrava-se alerta desde minutos antes de as primeiras naves pousarem, e assim que as coisas ficaram feias imediatamente agarrou o braço dos pequenos puxou-os para perto de si. Seu dever era protegê-los, e ele precisava levá-los para algum lugar seguro longe daquela confusão.
No entanto, a multidão estava muito agitada, pessoas puxavam e empurravam de todos os lados querendo fugir daquele show de horrores. O pânico era muito grande, as pessoas muito fortes, e estava ficando difícil se manter em pé. De repente, após trombarem com algum cidadão desesperado, o braço de Zaki se soltou de Horus.
-Zaki! - Gritou Ameenah, tentando alcançar o amigo.
Antes que algum deles conseguisse recuperar o contato com o garotinho, ele caiu no chão, e desapareceu no meio das pessoas. Horus colocou Ameenah atrás de si para protegê-la e começou a andar contra o fluxo de pessoas para tentar chegar a Zaki, mas sem sucesso. Os dois estavam sendo basicamente carregados pelas pessoas na direção oposta.
Mestre Keet pegou a princesa no colo e saiu correndo na mesma direção que os fugitivos, e rapidamente os dois chegaram à nave real em que tinham vindo. O Jedi colocou a menina dentro do veículo para que ficasse a salvo, pediu que ela se acalmasse e então enfiou-se novamente naquele mar de pessoas para tentar encontrar Zaki.
-Zaki! - Ameenah disse observando o caos através do vidro, com os olhinhos cheios de lágrimas esquadrinhando a praça devastada.
Keet procurou pelo garoto por todo canto a que conseguiu chegar, mas sem sucesso. Tentou usar a Força pra senti-lo, mas nem mesmo a brilhante luz que ele sabia que Zaki possuía era detectável no meio daquela confusão. Tudo que ele conseguia sentir era o medo incontrolável e raiva – tudo estava encoberto pelo Lado Negro.
Após tentar de tudo, Horus precisou acreditar que Zaki achara sozinho o caminho de casa. Era o que lhe restava, afinal, precisava voltar para a princesa Ameenah e para sua missão de protegê-la. O Jedi voltou à nave onde a garotinha o esperava aflita, e rapidamente deu partida.
-Cadê ele, mestre Horus? - Disse ela com o medo estampado nos olhos.
-Zaki vai ficar bem, ele voltará para a casa dele, e nós voltaremos para a nossa. - Respondeu o homem, alçando voo e saindo dali imediatamente.
-Irmãos e simpatizantes da única e verdadeira corrente da Força, eu venho até aqui pedir a vocês que se unam à mim, para que juntos possamos restaurar o equilíbrio do universo outra vez!
Ao enfim chegar no castelo, a pequena princesa finalmente sentiu-se segura, ao correr para os braços de sua mãe e seu pai, que estavam muito preocupados com ela. Assim que Horus e Ameenah chegaram, toda a corte real se dirigiu para o porão do palácio, para proteger-se das tropas que agora soltavam bombas na cidade.
Nassor não possuía exército, pois naquela época um não se fazia necessário - a galáxia estava em paz. O rei e a rainha enviaram os poucos policiais que tinham disponíveis para tentar conter a invasão, mas foi um massacre. Não era possível fazer nada, apenas assistir ao pequeno e emergente planeta de Nassor ruir, nas mãos de um ser misterioso que de repente encobrira tudo de cinza.
Ameenah observava a tudo pela pequena janelinha do escuro e apertado porão onde todos estavam. Seus olhinhos vidrados e cheios de lágrimas estavam fixos na região da periferia da cidade, ao longe, de onde barracos e casas de madeira eram visíveis. Era lá que Zaki morava, no Contorno, e ela encarava as casas na infantil esperança de conseguir enxergá-lo são e salvo com sua família.
- É uma guerra, papai? – Ela perguntou assustada.
- Não há mais guerras nesses tempos, filha. Apenas cubra seus ouvidos e tudo irá passar num instante. - Respondeu o rei tentando parecer o mais calmo possível diante da garota.
Ameenah continuou observando o caos e as casas de madeira. Uma nave cinzenta começou a se aproximar da região, e então, como num piscar de olhos, um clarão cheio de fogo e fumaça consumiu o que formava a pequena favela da cidade. A princesinha não acreditou no que viu. Não demorou até que as singelas moradias viessem todas abaixo, como se nunca tivessem existido. Ela tentou utilizar seus poderes destreinados e prematuros com a Força para localizar a força vital de seu amigo tão querido, mas era longe e tarde demais. Ele se fora. E então, os instantes se tornaram minutos, horas...
Aquele dia ficou marcado na história de Nassor. O planeta que aos poucos ganhava prestígio ruíra em poucas horas, por um ataque sem fundamento e sem aviso. Mas aquilo aconteceu, seja lá pelo que foi motivado. Um fato isolado, duvidoso, preocupante. Porém, os nassorianos jamais esqueceram. Foram plantações, ruas, moradias, vidas perdidas.
Muitas perguntas foram feitas. Ninguém nunca entendeu por que o atentado derrubou toda a cidade, mas não atacou o castelo dos governantes, que manteve-se intacto. Muitos duvidaram do ocorrido, duvidaram do perigo. Teorias da conspiração foram levantadas, enquanto os cidadãos ao redor da galáxia se recusavam a acreditar no retorno do Lado Negro.
Mas isso, ao mesmo tempo, trouxe ao pequeno Nassor uma vantagem. O atentado tão polêmico trouxe ao planeta a atenção suficiente para que ele se reerguesse, com investimento de outros sistemas, abertura de comércio, visitação e crescimento geral. Isso tudo fez com que Nassor expandisse ainda mais e se tornasse o planeta mais influente politicamente dentro da Democracia Intergaláctica, dentro de poucos anos.
Mas o coração da jovem princesa jamais foi concertado. Anos se passaram, sem que seu amigo Zaki aparecesse para mostrar a ela que estava errada em pensar que ele não tinha conseguido, como ela queria que fizesse. A área em que ele morava fora totalmente devastada, quase sem sobreviventes. Ela nunca mais pôde brincar com ele, rir de suas piadas, ou ver o amigo outra vez. Aquele vazio se calcificou e permaneceu guardado ali no fundo, junto à saudade. E ela permaneceu por muitos anos pensando, 'se aquilo tudo não tivesse acontecido, teria sido diferente?'
_
-Zaki? - Repetiu Ameenah, tentando conter o turbilhão de lembranças que a atingiu.
Talib já tinha deixado a janela e entrado para o palácio, sem ouvir a pergunta que ela balbuciara. Poderia ter sido apenas uma coincidência com seu passado, mas ela sabia que não era. A garota dirigiu seu olhar perdido a Khali, que já a encarava, com uma expressão indecifrável.
-Você é Zaki? - Foi o que ela conseguiu dizer.
-Zaki era meu apelido de infância - Disse ele, começando a explicar. - Minha mãe me chamava assim pois significa "espertinho", e para ela era a palavra que melhor me definia, pois eu sempre aprontava. Eu me acostumei a ser chamado assim e todos começaram a utilizar Zaki como um nome. Quando fui resgatado da explosão e me tornei um Jedi, decidi abandonar esse costume e ser chamado pelo meu nome real. Minha mãe sempre dizia que era meu pai quem tinha o escolhido pra mim. Foi uma forma de admitir e abraçar minha identidade Skywalker. Talib é o único que sabe sobre Zaki. - Ele fez uma pausa. - Sou eu.
Ameenah não sabia o que dizer. A sensação de ver aquele garoto novamente, que tanto significada para ela, era indecifrável. Por anos ela pensou que Zaki estivesse morto. Então ele estava ali o tempo todo?!
-Meu Deus, você está vivo! - Ela exclamou, e num ímpeto abraçou o garoto à sua frente. Em toda a sua vida, ela jamais imaginou que reencontraria aquela pessoa tão especial.
Porém, aos poucos o sorriso surpreso da garota foi desaparecendo. Zaki estava ali o tempo todo. Mas por que, se ambos eram tão amigos, ele nunca tinha dito nada a ela?
-Desde quando você sabe? - Ela perguntou, soltando Khali e olhando para ele.
-Eu soube no dia em que você chegou. – Disse Khali, sem alterar o tom de voz.
-E por que não me disse? - Ameenah falou com uma ponta de raiva.
Khali permaneceu em silêncio, com a mesma expressão do início da conversa. Ele não esperava entrar neste assunto com ela, pois sabia a confusão que causaria, e Ameenah não tinha ideia de como reagir diante do choque, depois que parou para pensar. Agora ela já não sabia mais se a descoberta era boa ou ruim.
-Você não confiava em mim – Ela deduziu ao não obter uma resposta.
-Eu não te via há muito tempo.
-Você não confiava em mim! - A garota repetiu, levantando-se do banco involuntariamente.
-Foram treze anos sem te ver. Eu não sabia mais quem você era. - Skywalker retrucou.
-Sua melhor amiga! - Ameenah exclamou, sentindo suas emoções começando a transbordar.
-Pessoas mudam, Ameenah, eu não tinha como saber se você continuava a mesma. Todos no Conselho desconfiavam de você quando chegou. Uma princesa treinada, algo tão incomum, aparecendo tão de repente, vindo de onde veio, e bem na época que as coisas começaram a acontecer. Suspeitavam que você poderia ser uma espiã da Democracia, e não sabiam se podiam confiar em você.
-E você acreditou neles? - Ela disse de testa franzida. - Mesmo sabendo que meu sonho era ser uma Jedi desde quando tínhamos cinco anos?!
-Ameenah, eu não tinha como tirar conclusões sobre nada...
-Você mentiu pra mim, Khali!
-Eu não menti – Ele protestou. - Eu estava apenas analisando a situação.
-Ah, é? E quando ia decidir me contar? - Zulai provocou-o. - Ou por acaso, ainda continuo sendo uma ameaça pra você?
-Pare com isso, eu já deixei de pensar assim há muito tempo – Khali defendeu-se. - Desde quando começamos a conversar, desde o Torneio de Iniciados, eu percebi que você não queria causar nenhum mal.
-E até agora não me disse nada? Se fosse eu a te reconhecer, a primeira coisa que eu faria era te contar quem eu era!
-Me desculpe, Ameenah! - Ele rendeu-se. - Mas eu precisava ter certeza!
-Zaki nunca precisaria ter certeza. - A garota cuspiu as palavras, e então saiu andando para dentro do castelo.
Era impossível de acreditar que o rapaz tinha feito uma coisa daquelas com ela. Khali era Zaki? E ele nunca revelou? Era uma espécie de insulto a toda a memória que Ameenah manteve do amigo por tantos anos. Mais do que amigo, na verdade, por mais que ela fosse uma criança. Ameenah se sentiu traída, pois sabia que se fosse ela no lugar de Khali não teria agido daquela maneira.
Aquele dia precisava terminar imediatamente, era muita coisa para processar. A garota dirigiu-se imediatamente ao seu dormitório, onde depois de uma longa meditação para tentar se acalmar, foi dormir. Tentou espantar todas as lembranças que retornaram, todos os sentimentos que se misturaram, toda a mágoa que a acometeu. Secou as lágrimas que rolaram durante o processo para não pensar mais naquilo. Respirou fundo e deitou a cabeça no travesseiro.
Khali ficara sentado naquele banco durante um bom tempo. Aquela não era a conversa que ele esperava ter com ela naquela noite, não era a conversa que ele queria ter nunca, ainda mais daquela maneira. Ele não queria magoá-la. Ameenah já tinha sido sua amiga antes – uma das únicas que ele já teve – e era uma amiga agora. Não era para a garota ter descoberto daquela maneira, ainda mais em um dia que já estava com a cabeça ocupada com um monte de outras questões.
Ele mal podia imaginar como deveria ter sido para ela pensar durante tantos anos que seu melhor amigo estava morto. E ainda mais, que ele estava com ela o tempo todo, e nunca se deu a trabalho de contar quem era. Khali sabia que se ela fizesse o mesmo com ele, não haveria como não ficar decepcionado. Ele se detestava agora, por ter deixado as coisas correrem daquela maneira. Mas o que ele poderia fazer? Não tinha como desacatar as ordens do Conselho, contrariar seu instinto que sempre o previne.
O rapaz foi dormir ainda pensando na forma como os olhos azuis dela se acinzentaram ao descobrir da mentira. Ele mentira, sim. Escondera-se por trás de um nome evitando enfrentar seus próprios sentimentos, era isso que ele tinha feito. Sim, no início era apenas precaução, mas ele sabia que no fundo tinha medo de acordar o antigo Zaki. Tinha medo de remexer aquela parte toda do seu passado, sua infância, seus pais, Nassor. E tinha medo também do que isso poderia trazer, de desviar-se de seu caminho Jedi, tinha medo de voltar a sentir por ela a mesma coisa que já sentira antes. E que sentia agora.
Que belo covarde ele era. Talvez devesse ter lidado com aquilo de forma diferente. Enfrente seus demônios, mestre Yerodin sempre dizia para ele. Mas o que fazer quando seu demônio é você mesmo? Seus próprios sentimentos, lembranças? E o que fazer quando isso afeta outra pessoa com quem você se importa? Khali não sabia, mas esperava que Ameenah pudesse perdoá-lo.
Skywalker deitou-se na esteira de seu dormitório ouvindo no fundo de sua mente as gargalhadas dos pequenos Zaki e Ameenah brincando no gramado do castelo nas tardes ensolaradas. E logo em seguida, as bombas que vieram do céu e destruíram tudo no dia do atentado.
Depois de cair no chão e perder-se na multidão, a única coisa que Khali soube fazer foi correr de volta para sua casa, esforçando-se para não ser empurrado ou pisoteado no meio do ataque. Ao chegar, abraçou sua mãe e tapou os ouvidos que enchiam-se com o som das bombas e daquela voz rouca e robótica que parecia anunciar o fim dos tempos. Ele ficou pensando na princesa, e se tinha chego bem até o castelo que brilhava com as chamas vermelhas da praça na vista da janela de seu quarto. E então, antes que ele pudesse perceber, perdera a consciência - e tudo que ele mais prezava.
Depois de acordar na enfermaria, seu primeiro pensamento foi a mãe, e depois Ameenah. Ele viu os Jedi carregando seus sabres de luz, e pensou no quanto ela gostaria de vê-los. Quando fora chamado para treinar na Academia, ele quis poder levá-la junto – mas a verdade é que também não tinha certeza se ela estava viva ou não. Só foi descobrir anos depois, ao viajar para uma de suas primeiras missões à Nassor aos doze anos, e vê-la de longe acenando aos súditos da torre mais alta do palácio ao lado de seus pais.
A garota permaneceu em seus pensamentos durante toda a sua jornada, de alguma forma. Ameenah fora uma presença muito especial em sua vida, e muito mais do que sua paixão impossível de criança, entre a princesa da realeza e o garotinho do Contorno - mas uma amiga que o entendia perfeitamente. Foi ela quem o inspirou a ser um Jedi, afinal. De tanto ouvi-la falar sobre os cavaleiros e como queria ser uma quando crescesse, essa também se tornou a ambição dele – e isso o trouxe até suas origens, e até onde estava hoje.
E que bela forma ele encontrou para agradecê-la. As risadas das crianças tão nítidas em sua mente logo começaram a desaparecer na medida em que ele meditava. No entanto, a imagem dos olhos cinzentos de Ameenah fugindo decepcionada não sumira. De alguma forma, aquele cinza misturou-se às cinzas da cidade durante as explosões, e transformou-se numa espécie de pesadelo com o passado que há muito tempo ele não tinha.
Apesar da pressa, o garotinho observava atento tudo que acontecia ao seu redor. Via as pessoas passando apressadas com suas cestas, os falumpasets selvagens recém capturados sendo selados e vendidos, os comerciantes repondo suas exposições rapidamente. Notava os brinquedos tecnológicos incríveis vindos da capital pendurados nas tendas, as naves das mais novas gerações, e também os pães e bolos, as sementes expostas nas cestas, as caixas de frutas e legumes tão fresquinhos sendo vendidos.
Ao ter aquela visão, o estômago dele começou a roncar. Mas ele sabia que não poderia ter nada daquilo, é claro. Ele não tinha dinheiro como aquelas pessoas.
Zaki continuou a caminhar pelas ruas da cidade, tomando cuidado para não entrar no caminho de nenhuma nave trafegando por ali. Ele caminhou vários quarteirões, e então chegou até os arredores do castelo, onde viviam os ricos e poderosos líderes. Os muros que cercavam o palácio eram altos, o que dificultava um pouco a visão lá de dentro, mas ainda assim aquilo o maravilhava. Aquela era a parte da cidade que ele mais gostava, pois era muito grande e bonita, especialmente para um menino da periferia como ele.
Enquanto ele estava concentrado tentando observar a torre mais alta do castelo, um convor, pássaro curioso e colorido, atravessou o seu campo de visão. Zaki adorava aquele bichinho, que quando pousava costumava entoar um canto muito peculiar e bonito. O garoto começou a segui-lo, enquanto ele voava até o outro lado do castelo. O convor era ligeiro, o que obrigou-o a correr. No entanto, quando Zaki quase o alcançara, o pássaro mergulhou para dentro dos muros do castelo.
O menino quase ficou decepcionado, mas notou que bem próximo de onde ele estava, alguns tijolos que compunham a parede haviam se soltado. O buraco formava uma espécie de janela para que ele tivesse a vista do convor entoando seu canto exótico, perfeitamente pousado em um dos galhos de uma enorme árvore de cambylictus.
A atenção de Zaki imediatamente se desviou do pássaro para a árvore. Aquela era uma espécie raríssima de planta, encontrada apenas em oceanos e lagos, e estava plantada bem ali no riacho que passava por dentro do castelo. Era uma árvore enorme, majestosa, mais bonita que todas as que o menino já havia visto. No entanto, não era isso que mais chamava a atenção nela: eram os frutos. As cambylictus davam pequenas frutinhas roxas de uma cor vívida e brilhante, chamadas amoras camby. Elas só cresciam na época da primavera, de dez em dez anos. Eram um fruto raro e caro, que apenas os ricos compravam, e o qual Zaki sempre teve curiosidade de experimentar.
Ele não comia há dias. Em sua casa, a situação ficava cada vez mais difícil. Seu pai havia perdido o emprego e sua mãe, costureira, estava com problemas para vender seus casacos em pleno verão nassoriano. O dinheiro era curto, portanto, as refeições estavam mais escassas. Zaki estava morrendo de fome, e vendo aquela árvore bem ali, cheia de amoras, fez com que ele hesitasse alguns segundos. Aquilo não era certo, ele sabia, e o pensamento fez seu coração se apertar. Mas ele estava faminto. Zaki pediu perdão a todos os deuses, antes de decidir entrar no jardim do castelo pelo buraco no muro.
Seria bem rápido. Ele entraria e pegaria algumas das frutas, umas para si e outras para levar para sua mãe e seu pai. Ninguém perceberia.
O garoto olhou para os lados para verificar se ninguém estava prestando atenção e então adentrou rapidamente pela abertura nos tijolos. De dentro, aquele castelo parecia ainda maior, e o jardim possuía mais variedades de plantas do que Zaki jamais sonhou que a galáxia poderia ter. No entanto, não havia tempo para se maravilhar com a construção – era preciso agir rápido, e sair sem que ninguém ficasse sabendo de seu pequeno delito.
Zaki arregaçou as pernas das calças esfarrapadas e entrou dentro do riacho, então agarrou-se ao tronco da cambylictus e começou a subir. Ele era ótimo em escalar árvores, e não demorou para chegar até cerca de dois metros do chão, onde ficava o primeiro galho recheado de amoras camby. Pegou o máximo delas que conseguiu, e com os frutos armazenados numa trouxinha que fez com a própria camiseta, ele começou a descer.
Quando já estava próximo do chão, louco para sair daquele lugar antes que alguém o apanhasse, Zaki acabou escorregando do tronco por conta dos pés molhados. Ele caiu sentado na água, e pior ainda, a queda esmagara todas as suas amoras.
O garotinho já estava pronto para sair correndo dali, arrependido e envergonhado, quando uma voz o impediu.
-Você gosta de amoras?
Paralisado pelo medo e pela culpa, Zaki virou-se para encontrar o dono das palavras. Era uma garotinha loira com bochechas rosadas e um vestido lilás, encarando-o com ar de destemida. Ela possuía um sabre de luz em mãos, como se estivesse pronta para se defender de algum perigo. No entanto, parecia mais curiosa do que perigosa.
-Nunca comi. - Zaki engoliu seco para responder. A menina era mais ou menos da sua idade, era bonita e usava uma longa trança em seu cabelo.
-De onde você veio?
-Do Contorno – Ele gaguejou. Esse era o nome do bairro pobre em que ele vivia.
-E as pessoas não comem essas amoras por lá? - A menina franziu a testa achando estranho.
-Não. Elas não comem quase nada lá.
A garota do vestido lilás pareceu surpresa em ouvir aquela resposta. Sua expressão passou de desconfiança para curiosidade, e ela desligou seu sabre de luz e atou-o ao cinto do vestido. Notando a deixa, Zaki, confuso e amedrontado, levantou-se de dentro da água e preparou-se para correr de volta para o buraco de tijolos.
-Pode pegar as amoras se quiser. - A menina falou, apiedando-se da história dele. - O castelo tem quatro pés cheios delas.
Zaki parou.
-Mas os guardas irão me pegar – Disse ele. - Eu roubei.
-Eu prometo que não irei contar.
-Mesmo? - Ele disse desconfiado, e ela concordou com a cabeça. Para a garotinha era muito diferente conhecer alguém que não comia aquelas coisas – ou que não comia nada.
-Contanto que me prometa outra coisa.
-O que?
-Que vai ser meu amigo.
O menino achou aquele pedido muito estranho. Por que ela iria querer uma promessa como aquela? Ainda mais de alguém como ele. Ninguém nunca quis ser amigo dele antes.
-É que eu não tenho muitos amigos por aqui. - Ela caminhou até a grama e sentou-se num banco de mármore. - Fico no castelo o tempo todo.
O menino encarou-a com pena. Até a maior e mais bonita casa deve ser muito solitária para se viver se você não tem amigos.
-Está bem – Ele concordou, o que a fez sorrir ligeiramente, e então sentou-se no banco ao lado dela.
-Qual é o seu nome?
-Zaki. - Ele respondeu. - E o seu?
-Ameenah.
O gelo logo se quebrou entre os dois, e o que antes era estranheza logo se transformou em uma linda amizade. Depois daquele dia, Zaki voltava ao castelo sempre que podia para encontrar sua nova amiga, que o esperava ansiosa na fenda do muro. Os dois brincavam juntos, comiam amoras camby e conversavam sobre suas vidas tão diferentes uma da outra. A garotinha era uma princesa, filha do rei e da rainha do planeta, e o menino vivia num barraco nos entornos da cidade sem sequer ir à escola.
No entanto, aquilo parecia não importar para Zaki e Ameenah. Os dois eram apenas crianças, inocentes e puras, sem noção nenhuma de poder ou ganância, e se davam bem pois apesar de tantas diferenças, eram muito parecidos.
O programa preferido deles era quando o guarda-costas de Ameenah, Horus, levava a garota para passear na cidade, e então eles podiam brincar e correr em meio as ruas e as pessoas.
-O seu amigo Horus carrega uma espada muito brilhante. Por que ele a usa?
-É um sabre de luz. É a arma dos Cavaleiros Jedi – Ameenah disse com um sorriso e ênfase na voz. - Eles protegem toda a galáxia do mal e da injustiça.
-Oh sim, eu já os vi andando pela cidade antes. - Zaki recordou. - São impressionantes.
-Eles são. E um dia, quando eu crescer, vou ser um deles. - Os olhos da garota brilharam. - Você também podia ser um, Zaki. Salvaríamos a galáxia juntos!
-Ah, eu não sei – O menino desviou o olhar. - Acho que eu não levaria jeito pra isso.
-E por que não?
-Eu sou só um menino comum. Meninos comuns não se tornam heróis.
-Bom, princesas também não. - Ela disse. - Mas eu serei uma mesmo assim.
Zaki e Ameenah eram melhores amigos como poucos. Ele era a diversão dela, e vice versa. Os dois faziam tudo juntos, brincavam de qualquer coisa, passavam horas sonhando sobre serem as mais variadas coisas quando crescessem. E, secretamente, o carinho era mais do que apenas amizade. Eles gostavam um do outro, compartilhavam segredos, tristezas, memórias... um conhecia o outro como ninguém mais o fazia.
Até que, um dia, tudo isso veio ao chão.
Os dois estavam caminhando pela praça central em um de seus passeios comuns com o guardião de Ameenah durante uma tarde ensolarada. Todos passavam por ali tranquilos, com suas rotinas diárias, num dia comum. No entanto, aquele era um dia muito importante, escolhido por alguém que desejava acabar com as vidas normais dos nassorianos.
Zaki e Ameenah brincavam na grama quando as primeiras tropas vieram. Soldados vestidos com uniformes romanos chegaram em naves estranhas que pousaram por todas as ruas e vielas, e marchavam numa sincronia amedrontadora. Ninguém sabia quem eles eram ou o que era aquilo, ficaram assustados e atônitos.
Um ser encapuzado e robótico projetava uma rouca voz do topo de uma nave. Os soldados que empunhavam grandes blasters começaram a avançar em direção à multidão, que começou a recuar na tentativa de se proteger. Eles agrediram cidadãos, tombaram naves, incendiaram casas, atiraram em pessoas desarmadas. Havia mulheres e crianças, todos presos na mesma confusão de uma multidão desesperada tentando escapar do horror que se formava.
Mestre Horus já encontrava-se alerta desde minutos antes de as primeiras naves pousarem, e assim que as coisas ficaram feias imediatamente agarrou o braço dos pequenos puxou-os para perto de si. Seu dever era protegê-los, e ele precisava levá-los para algum lugar seguro longe daquela confusão.
No entanto, a multidão estava muito agitada, pessoas puxavam e empurravam de todos os lados querendo fugir daquele show de horrores. O pânico era muito grande, as pessoas muito fortes, e estava ficando difícil se manter em pé. De repente, após trombarem com algum cidadão desesperado, o braço de Zaki se soltou de Horus.
-Zaki! - Gritou Ameenah, tentando alcançar o amigo.
Antes que algum deles conseguisse recuperar o contato com o garotinho, ele caiu no chão, e desapareceu no meio das pessoas. Horus colocou Ameenah atrás de si para protegê-la e começou a andar contra o fluxo de pessoas para tentar chegar a Zaki, mas sem sucesso. Os dois estavam sendo basicamente carregados pelas pessoas na direção oposta.
Mestre Keet pegou a princesa no colo e saiu correndo na mesma direção que os fugitivos, e rapidamente os dois chegaram à nave real em que tinham vindo. O Jedi colocou a menina dentro do veículo para que ficasse a salvo, pediu que ela se acalmasse e então enfiou-se novamente naquele mar de pessoas para tentar encontrar Zaki.
-Zaki! - Ameenah disse observando o caos através do vidro, com os olhinhos cheios de lágrimas esquadrinhando a praça devastada.
Keet procurou pelo garoto por todo canto a que conseguiu chegar, mas sem sucesso. Tentou usar a Força pra senti-lo, mas nem mesmo a brilhante luz que ele sabia que Zaki possuía era detectável no meio daquela confusão. Tudo que ele conseguia sentir era o medo incontrolável e raiva – tudo estava encoberto pelo Lado Negro.
Após tentar de tudo, Horus precisou acreditar que Zaki achara sozinho o caminho de casa. Era o que lhe restava, afinal, precisava voltar para a princesa Ameenah e para sua missão de protegê-la. O Jedi voltou à nave onde a garotinha o esperava aflita, e rapidamente deu partida.
-Cadê ele, mestre Horus? - Disse ela com o medo estampado nos olhos.
-Zaki vai ficar bem, ele voltará para a casa dele, e nós voltaremos para a nossa. - Respondeu o homem, alçando voo e saindo dali imediatamente.
-
Ao enfim chegar no castelo, a pequena princesa finalmente sentiu-se segura, ao correr para os braços de sua mãe e seu pai, que estavam muito preocupados com ela. Assim que Horus e Ameenah chegaram, toda a corte real se dirigiu para o porão do palácio, para proteger-se das tropas que agora soltavam bombas na cidade.
Nassor não possuía exército, pois naquela época um não se fazia necessário - a galáxia estava em paz. O rei e a rainha enviaram os poucos policiais que tinham disponíveis para tentar conter a invasão, mas foi um massacre. Não era possível fazer nada, apenas assistir ao pequeno e emergente planeta de Nassor ruir, nas mãos de um ser misterioso que de repente encobrira tudo de cinza.
Ameenah observava a tudo pela pequena janelinha do escuro e apertado porão onde todos estavam. Seus olhinhos vidrados e cheios de lágrimas estavam fixos na região da periferia da cidade, ao longe, de onde barracos e casas de madeira eram visíveis. Era lá que Zaki morava, no Contorno, e ela encarava as casas na infantil esperança de conseguir enxergá-lo são e salvo com sua família.
- É uma guerra, papai? – Ela perguntou assustada.
- Não há mais guerras nesses tempos, filha. Apenas cubra seus ouvidos e tudo irá passar num instante. - Respondeu o rei tentando parecer o mais calmo possível diante da garota.
Ameenah continuou observando o caos e as casas de madeira. Uma nave cinzenta começou a se aproximar da região, e então, como num piscar de olhos, um clarão cheio de fogo e fumaça consumiu o que formava a pequena favela da cidade. A princesinha não acreditou no que viu. Não demorou até que as singelas moradias viessem todas abaixo, como se nunca tivessem existido. Ela tentou utilizar seus poderes destreinados e prematuros com a Força para localizar a força vital de seu amigo tão querido, mas era longe e tarde demais. Ele se fora. E então, os instantes se tornaram minutos, horas...
Aquele dia ficou marcado na história de Nassor. O planeta que aos poucos ganhava prestígio ruíra em poucas horas, por um ataque sem fundamento e sem aviso. Mas aquilo aconteceu, seja lá pelo que foi motivado. Um fato isolado, duvidoso, preocupante. Porém, os nassorianos jamais esqueceram. Foram plantações, ruas, moradias, vidas perdidas.
Muitas perguntas foram feitas. Ninguém nunca entendeu por que o atentado derrubou toda a cidade, mas não atacou o castelo dos governantes, que manteve-se intacto. Muitos duvidaram do ocorrido, duvidaram do perigo. Teorias da conspiração foram levantadas, enquanto os cidadãos ao redor da galáxia se recusavam a acreditar no retorno do Lado Negro.
Mas isso, ao mesmo tempo, trouxe ao pequeno Nassor uma vantagem. O atentado tão polêmico trouxe ao planeta a atenção suficiente para que ele se reerguesse, com investimento de outros sistemas, abertura de comércio, visitação e crescimento geral. Isso tudo fez com que Nassor expandisse ainda mais e se tornasse o planeta mais influente politicamente dentro da Democracia Intergaláctica, dentro de poucos anos.
Mas o coração da jovem princesa jamais foi concertado. Anos se passaram, sem que seu amigo Zaki aparecesse para mostrar a ela que estava errada em pensar que ele não tinha conseguido, como ela queria que fizesse. A área em que ele morava fora totalmente devastada, quase sem sobreviventes. Ela nunca mais pôde brincar com ele, rir de suas piadas, ou ver o amigo outra vez. Aquele vazio se calcificou e permaneceu guardado ali no fundo, junto à saudade. E ela permaneceu por muitos anos pensando, 'se aquilo tudo não tivesse acontecido, teria sido diferente?'
-Zaki? - Repetiu Ameenah, tentando conter o turbilhão de lembranças que a atingiu.
Talib já tinha deixado a janela e entrado para o palácio, sem ouvir a pergunta que ela balbuciara. Poderia ter sido apenas uma coincidência com seu passado, mas ela sabia que não era. A garota dirigiu seu olhar perdido a Khali, que já a encarava, com uma expressão indecifrável.
-Você é Zaki? - Foi o que ela conseguiu dizer.
-Zaki era meu apelido de infância - Disse ele, começando a explicar. - Minha mãe me chamava assim pois significa "espertinho", e para ela era a palavra que melhor me definia, pois eu sempre aprontava. Eu me acostumei a ser chamado assim e todos começaram a utilizar Zaki como um nome. Quando fui resgatado da explosão e me tornei um Jedi, decidi abandonar esse costume e ser chamado pelo meu nome real. Minha mãe sempre dizia que era meu pai quem tinha o escolhido pra mim. Foi uma forma de admitir e abraçar minha identidade Skywalker. Talib é o único que sabe sobre Zaki. - Ele fez uma pausa. - Sou eu.
Ameenah não sabia o que dizer. A sensação de ver aquele garoto novamente, que tanto significada para ela, era indecifrável. Por anos ela pensou que Zaki estivesse morto. Então ele estava ali o tempo todo?!
-Meu Deus, você está vivo! - Ela exclamou, e num ímpeto abraçou o garoto à sua frente. Em toda a sua vida, ela jamais imaginou que reencontraria aquela pessoa tão especial.
Porém, aos poucos o sorriso surpreso da garota foi desaparecendo. Zaki estava ali o tempo todo. Mas por que, se ambos eram tão amigos, ele nunca tinha dito nada a ela?
-Desde quando você sabe? - Ela perguntou, soltando Khali e olhando para ele.
-Eu soube no dia em que você chegou. – Disse Khali, sem alterar o tom de voz.
-E por que não me disse? - Ameenah falou com uma ponta de raiva.
Khali permaneceu em silêncio, com a mesma expressão do início da conversa. Ele não esperava entrar neste assunto com ela, pois sabia a confusão que causaria, e Ameenah não tinha ideia de como reagir diante do choque, depois que parou para pensar. Agora ela já não sabia mais se a descoberta era boa ou ruim.
-Você não confiava em mim – Ela deduziu ao não obter uma resposta.
-Eu não te via há muito tempo.
-Você não confiava em mim! - A garota repetiu, levantando-se do banco involuntariamente.
-Foram treze anos sem te ver. Eu não sabia mais quem você era. - Skywalker retrucou.
-Sua melhor amiga! - Ameenah exclamou, sentindo suas emoções começando a transbordar.
-Pessoas mudam, Ameenah, eu não tinha como saber se você continuava a mesma. Todos no Conselho desconfiavam de você quando chegou. Uma princesa treinada, algo tão incomum, aparecendo tão de repente, vindo de onde veio, e bem na época que as coisas começaram a acontecer. Suspeitavam que você poderia ser uma espiã da Democracia, e não sabiam se podiam confiar em você.
-E você acreditou neles? - Ela disse de testa franzida. - Mesmo sabendo que meu sonho era ser uma Jedi desde quando tínhamos cinco anos?!
-Ameenah, eu não tinha como tirar conclusões sobre nada...
-Você mentiu pra mim, Khali!
-Eu não menti – Ele protestou. - Eu estava apenas analisando a situação.
-Ah, é? E quando ia decidir me contar? - Zulai provocou-o. - Ou por acaso, ainda continuo sendo uma ameaça pra você?
-Pare com isso, eu já deixei de pensar assim há muito tempo – Khali defendeu-se. - Desde quando começamos a conversar, desde o Torneio de Iniciados, eu percebi que você não queria causar nenhum mal.
-E até agora não me disse nada? Se fosse eu a te reconhecer, a primeira coisa que eu faria era te contar quem eu era!
-Me desculpe, Ameenah! - Ele rendeu-se. - Mas eu precisava ter certeza!
-Zaki nunca precisaria ter certeza. - A garota cuspiu as palavras, e então saiu andando para dentro do castelo.
Era impossível de acreditar que o rapaz tinha feito uma coisa daquelas com ela. Khali era Zaki? E ele nunca revelou? Era uma espécie de insulto a toda a memória que Ameenah manteve do amigo por tantos anos. Mais do que amigo, na verdade, por mais que ela fosse uma criança. Ameenah se sentiu traída, pois sabia que se fosse ela no lugar de Khali não teria agido daquela maneira.
Aquele dia precisava terminar imediatamente, era muita coisa para processar. A garota dirigiu-se imediatamente ao seu dormitório, onde depois de uma longa meditação para tentar se acalmar, foi dormir. Tentou espantar todas as lembranças que retornaram, todos os sentimentos que se misturaram, toda a mágoa que a acometeu. Secou as lágrimas que rolaram durante o processo para não pensar mais naquilo. Respirou fundo e deitou a cabeça no travesseiro.
Khali ficara sentado naquele banco durante um bom tempo. Aquela não era a conversa que ele esperava ter com ela naquela noite, não era a conversa que ele queria ter nunca, ainda mais daquela maneira. Ele não queria magoá-la. Ameenah já tinha sido sua amiga antes – uma das únicas que ele já teve – e era uma amiga agora. Não era para a garota ter descoberto daquela maneira, ainda mais em um dia que já estava com a cabeça ocupada com um monte de outras questões.
Ele mal podia imaginar como deveria ter sido para ela pensar durante tantos anos que seu melhor amigo estava morto. E ainda mais, que ele estava com ela o tempo todo, e nunca se deu a trabalho de contar quem era. Khali sabia que se ela fizesse o mesmo com ele, não haveria como não ficar decepcionado. Ele se detestava agora, por ter deixado as coisas correrem daquela maneira. Mas o que ele poderia fazer? Não tinha como desacatar as ordens do Conselho, contrariar seu instinto que sempre o previne.
O rapaz foi dormir ainda pensando na forma como os olhos azuis dela se acinzentaram ao descobrir da mentira. Ele mentira, sim. Escondera-se por trás de um nome evitando enfrentar seus próprios sentimentos, era isso que ele tinha feito. Sim, no início era apenas precaução, mas ele sabia que no fundo tinha medo de acordar o antigo Zaki. Tinha medo de remexer aquela parte toda do seu passado, sua infância, seus pais, Nassor. E tinha medo também do que isso poderia trazer, de desviar-se de seu caminho Jedi, tinha medo de voltar a sentir por ela a mesma coisa que já sentira antes. E que sentia agora.
Que belo covarde ele era. Talvez devesse ter lidado com aquilo de forma diferente. Enfrente seus demônios, mestre Yerodin sempre dizia para ele. Mas o que fazer quando seu demônio é você mesmo? Seus próprios sentimentos, lembranças? E o que fazer quando isso afeta outra pessoa com quem você se importa? Khali não sabia, mas esperava que Ameenah pudesse perdoá-lo.
Skywalker deitou-se na esteira de seu dormitório ouvindo no fundo de sua mente as gargalhadas dos pequenos Zaki e Ameenah brincando no gramado do castelo nas tardes ensolaradas. E logo em seguida, as bombas que vieram do céu e destruíram tudo no dia do atentado.
Depois de cair no chão e perder-se na multidão, a única coisa que Khali soube fazer foi correr de volta para sua casa, esforçando-se para não ser empurrado ou pisoteado no meio do ataque. Ao chegar, abraçou sua mãe e tapou os ouvidos que enchiam-se com o som das bombas e daquela voz rouca e robótica que parecia anunciar o fim dos tempos. Ele ficou pensando na princesa, e se tinha chego bem até o castelo que brilhava com as chamas vermelhas da praça na vista da janela de seu quarto. E então, antes que ele pudesse perceber, perdera a consciência - e tudo que ele mais prezava.
Depois de acordar na enfermaria, seu primeiro pensamento foi a mãe, e depois Ameenah. Ele viu os Jedi carregando seus sabres de luz, e pensou no quanto ela gostaria de vê-los. Quando fora chamado para treinar na Academia, ele quis poder levá-la junto – mas a verdade é que também não tinha certeza se ela estava viva ou não. Só foi descobrir anos depois, ao viajar para uma de suas primeiras missões à Nassor aos doze anos, e vê-la de longe acenando aos súditos da torre mais alta do palácio ao lado de seus pais.
A garota permaneceu em seus pensamentos durante toda a sua jornada, de alguma forma. Ameenah fora uma presença muito especial em sua vida, e muito mais do que sua paixão impossível de criança, entre a princesa da realeza e o garotinho do Contorno - mas uma amiga que o entendia perfeitamente. Foi ela quem o inspirou a ser um Jedi, afinal. De tanto ouvi-la falar sobre os cavaleiros e como queria ser uma quando crescesse, essa também se tornou a ambição dele – e isso o trouxe até suas origens, e até onde estava hoje.
E que bela forma ele encontrou para agradecê-la. As risadas das crianças tão nítidas em sua mente logo começaram a desaparecer na medida em que ele meditava. No entanto, a imagem dos olhos cinzentos de Ameenah fugindo decepcionada não sumira. De alguma forma, aquele cinza misturou-se às cinzas da cidade durante as explosões, e transformou-se numa espécie de pesadelo com o passado que há muito tempo ele não tinha.
Capítulo 11
Khali acordou num sobressalto, suado e ofegante, do horrível pesadelo que parecia ter durado a noite inteira. Durante o sonho, ele revivera o ataque a Nassor, as explosões e todo o desespero, e também a última vez que vira sua amiga Ameenah quando criança, com um olhar triste e cinzento como o da noite passada.
Era um sonho tolo, fruto de uma noite conturbada como ontem. Khali levantou-se, vestiu rapidamente o robe Jedi e dirigiu-se para o templo da Academia, sabendo que estava atrasado para a meditação matinal.
Quando chegou à sala de meditação, correndo e ajeitando o uniforme, a sessão havia acabado a pouco e todos já estavam saindo. Ele perdera o ritual matutino - teria que se desculpar com mestre Yerodin depois, pois ele detestava atrasos. Khali já estava preparando-se para dar meia volta e ir até o salão dos mestres, mas seu olhar encontrou Ameenah descendo as escadas do templo.
A noite toda seu subconsciente o lembrara de seu erro. Ele precisava tentar concertá-lo, e era essa a deixa que vira para fazer. O rapaz esperou que a princesa passasse por ele, então tocou seu ombro.
-Podemos conversar? - Ele disse, após receber um olhar fechado dela.
Ameenah o seguiu até o jardim de estátuas que ficava atrás da capela do templo, sem dizer uma palavra. Aquele era um lugar mais reservado, onde poderiam conversar em particular sobre aquele assunto tão delicado. Ninguém passava por ali nem ouvia nada. A garota ainda encarava Khali com a mesma impaciência, e ele molhou os lábios antes de começar a falar.
-Me desculpe. - Foram suas primeiras palavras. - Eu agi mal ontem, na verdade, agi mal desde que nos encontramos. Fui um péssimo amigo, tanto como Zaki anteriormente quanto como Khali agora. Só quero uma chance de te explicar o porquê.
A garota continuou o encarando, impassível. Ele interpretou como permissão para falar.
-Eu sei que deveria ter te contado sobre quem eu era depois que percebi sua inocência no Torneio, ou até antes. Mas eu tive medo. Não só medo de como você reagiria, mas medo do meu próprio passado. Minha infância é um assunto delicado pra mim, é uma espécie de enigma, e qualquer menção àquela época dificulta meu julgamento. - Khali explicou, com certo peso. - A pessoa que eu era em Nassor e a pessoa que eu sou agora são muito diferentes. Eu não tenho o mesmo nome, não tenho as mesmas raízes, e você sabe que isso é difícil pra mim.
-Todas as pessoas mudam, Khali. - Ameenah falou pela primeira vez naquela manhã. - Isso não quer dizer que tenham que mentir sobre quem eram.
-Eu sei que não. Mas quando você chegou, eu não era mais quem você conhecia. Fiquei com medo do que você poderia pensar, se iria se lembrar, muitas coisas se passaram pela minha cabeça. Eu tentei fugir de você, do meu passado, e com isso eu te magoei e traí a imagem que você guardou de mim. E eu peço desculpas sinceras por isso.
-Eu entendo tudo o que disse – Ameenah disse sem desmanchar a cara. - Mas naquela madrugada em que fomos treinar e deitamos no gramado, você se abriu comigo sobre tudo isso. Você vem se aproximando de mim faz tempo, me contou sobre os seus medos, sobre os problemas com seus pais, com sua identidade, com a pressão... por que você omitiu a parte que me envolvia?
-Porque essa é a única parte com que eu não tive que lidar durante todo esse tempo. - Khali respondeu. - Você e a nossa amizade eram o único assunto do passado que permaneceu adormecido, sem que eu precisasse digeri-lo ou mudá-lo por saber que eu sou alguém diferente de quem eu pensava. Você permaneceu a mesma continuamente, entende? E de repente apareceu aqui do nada, na situação em que chegou, com todo mundo colocando pontos de interrogação à sua frente. E eu não esperava te ver de novo, não esperava desenterrar essa parte do passado.
-E o que tem demais em fazer isso?
-Foi importante pra mim. Você era minha única amiga, vinha de um mundo diferente do meu, me falava sobre coisas que eu jamais sonhei em conhecer. Você foi importante de muitas formas, Ameenah. E eu não queria trazer à tona algumas delas. - Khali falou olhando no fundo dos olhos da menina. - Eu não sei se signifiquei a mesma coisa pra você, mas eu te tive como alguém muito especial durante muito tempo. E ao ver você de novo, eu tive tudo isso trazido de volta. Quando voltamos a nos aproximar, eu vi que você não tinha mudado nada, que ainda nos dávamos bem, nós falamos sobre muita coisa...
-Khali – Ela o interrompeu. - Onde quer chegar?
-Quero chegar no fato de que manter tudo em segredo também mantinha interna qualquer coisa que pudesse me atrapalhar em relação a você - O rapaz falou. - Você entende, Ameenah. Eu consigo sentir que entende. - Ele fez uma pausa, dando ênfase, e a garota estremeceu com a fala. Ela entendia. - E eu também sei que você é tão focada quanto eu. Jedis não podem sentir isso, jamais, e nós dois temos tentando camuflar isso atrás das coisas que deixamos de dizer. Bem, este era meu segredo. Eu te via, mas você não me via. E até agora eu consegui permanecer dessa maneira.
-Khali, o passado foi há muito tempo – Ameenah argumentou. - O que quer que tenha acontecido indiretamente ou internamente entre nós, é antigo. Éramos só crianças - Ressaltou. - Isso não pode ser levado em conta, nem por mim e nem por você.
-O problema não é o passado, Ameenah, e você sabe. - Disse o rapaz.
A princesa desviou o olhar.
-E que diferença faz? Passado ou presente, a regra é a mesma. Nós não podemos. - Ela indagou convicta.
-É claro que eu sei disso – Respondeu Khali. - É por isso que eu nunca disse nada. Mas não falar sobre isso não vai fazer com que pare de existir. Ainda mais agora.
-E o que você quer, então?
-Um Jedi deve saber lidar com seus sentimentos. Devemos sempre controlá-los e colocar nossa missão acima do nosso coração. - Disse ele.
-Eu sei – Ela respirou fundo, aborrecida. - Talvez devêssemos nos afastar.
-Não - Ele discordou prontamente. - Nem seria possível. Moramos no mesmo castelo, vamos as mesmas reuniões, somos convocados para missões em conjunto. Continuaríamos nos vendo da mesma forma, nossa convivência é inevitável. - Ele fez uma pausa e aproximou-se dela. - Além do mais, Ameenah, nada mudaria com o tempo. Ficamos afastados por treze anos, e de alguma forma as coisas continuam iguais. Não somos tão simples.
-E o que você sugere? - Ela lamentou.
-Eu não tenho ideia. Mas longe ou perto de você meu coração continua acelerando, não importa o quanto minha mente grite que é errado. - Khali aproximou-se mais e segurou a mão dela. - É externo a mim.
Os dois calaram-se, e seus olhares se encontraram de forma sincera e intensa como sempre fizeram. Seus rostos começaram a se aproximar, com suas respirações descompassas se misturando, e o momento pareceu desacelerar e isolá-los de tudo. Mais alguns segundos teriam levado a algo de que os dois se arrependeriam, se não fosse pela voz de Leia procurando sua aprendiz.
-Vocês viram Ameenah? - Ela perguntou para alguém na porta do templo, que negou.
Ouvir aquilo foi uma espécie de lampejo para a garota, que imediatamente recobrou a consciência e afastou-se de Khali.
-Eu tenho que ir - Ela disse ofegante por conta do coração acelerado. - Temos uma missão, certo? - Realçou, e então se retirou.
O momento tinha sido delicado para os dois Jedi. Ameenah logo encontrou-se com sua mestra e dirigiu-se ao campo de batalha para iniciar seu treinamento. No entanto, os sabres de luz e golpes não foram suficientes para tirar a cabeça da moça daquela cena.
Aquela conversa nunca deveria ter existido, o assunto não devia ter sido levantado. Não havia o que discutir, pois as circunstâncias não deixavam opções. As coisas tinham começado a ficar perigosas. Khali e Ameenah sabiam muito bem das regras, e sabiam o quanto infringi-las poderia acabar completamente com suas vidas. A norma é clara: nenhum cavaleiro Jedi pode se apaixonar, e jamais terá permissão para ter um relacionamento amoroso. Qualquer um que quebrasse a regra seria expulso. O Conselho acreditava, desde a antiga Ordem, que o amor pode afetar o julgamento e desconcentrar o cavaleiro de sua missão principal. E eles provavelmente tinham razão.
No entanto, saber daquilo não impedia que os dois sentissem o que sentiam. As regras os proibiam de tomar qualquer atitude, mas não inibiam suas emoções.
Ameenah remoía aquilo enquanto treinava. Na infância, Zaki havia sido o mais próximo que ela estivera do amor. Mesmo que os dois fossem apenas crianças e não tivessem noção alguma do que realmente representava amar alguém como um adulto, ela sentia algo por ele à sua maneira. Depois de sua suposta morte, aquilo se manteve como uma memória antiga, enterrada por trás de saudades. Ela gostava dele como pessoa, independente de ser de uma classe social diferente, e viver em uma realidade totalmente oposta. Ela gostava dele pois Zaki era como ela, compartilhava sonhos e brincadeiras, a entendia e era uma alma doce.
Já crescida, sua relação com Khali não era muito diferente. Desde que ela e o rapaz começaram a se aproximar, ela sabia que algo dentro de si queria mantê-lo perto. Os dois se entenderam, eram almas parecidas, e havia algo na forma que os dois se relacionavam que a fazia sentir bem, de um jeito especial. Era algo tímido, escondido por trás de pequenos olhares e pensamentos que ela involuntariamente evitava. Mas estava lá.
Agora, descobrindo o que descobriu, as duas coisas se misturaram. O menininho que há muito tempo significara algo, também era o rapaz que significava atualmente. E esse sentimento, que até agora permanecera sutil, foi falado pela primeira vez. Se tornou algo consciente, admitido, e mais ainda, recíproco.
Mas não havia o menor cabimento para nada daquilo, jamais.
Khali se sentia da mesma maneira. Caminhando pelos corredores da Academia, ele olhava para os majestosos quadros com pinturas de grandes Jedis antigos, e se perguntava a razão das regras que criaram. Será que algum deles havia passado pelo que ele passava agora?
A princesinha Ameenah de Nassor fora a grande aventura de sua infância. Ela era tudo que o tirava de sua vida difícil e ordinária da periferia, ela era a diversão de seus dias e a mente grande que o fazia sonhar tão alto quanto ela. Era quase inevitável que ele se apaixonasse pela amiga, que a seus olhos era tão diferente dele que jamais poderia descobrir. Após Khali deixar Nassor e descobrir tantas verdades escondidas sobre sua vida, aquela garotinha loira de tranças passou a ser seu doce segredo, a única coisa que vivera naqueles anos que não tinha sido uma mentira. E por anos ele pensou que ela nunca passaria disso, daquela lembrança no subconsciente que indiretamente o levara até ali.
Mas aí ela apareceu novamente. Misteriosa, tão diferente, e encoberta por muitas dúvidas. Assim que Khali a viu pela primeira vez, soube que a conhecia. Ao ouvir seu nome, foi difícil segurar o turbilhão de lembranças que o atingiu e impedir que ele fosse percebido. A realidade é que ele se apavorou. Passara tanto tempo concentrado apenas em si mesmo e no rumo que seu caminho tomaria no futuro, que não esperava que um pedaço de seu passado aparecesse para se misturar a ele.
Então o Conselho Jedi veio com todas as suas dúvidas e questionamentos sobre a nova garota e suas intenções, e ele sabia que jamais poderia testemunhar contra. Do contrário, como forma de conter seu espanto, ele concordara com eles. Passou semanas desconfiado até que constatou que a garota nunca mudara, e até ter todos aqueles sentimentos anteriores sendo liberados sem que ele notasse. Khali aproximou-se dela, e viu que ela não só permanecia a mesma doce garotinha, mas também se tornara melhor de muitas formas. Ela continuava a entendê-lo, a ser sensível e altruísta com o mundo, e a ter a mesma mente vasta e sonhadora que tanto o encantara. E encantou novamente.
Mas ele também sabia que tê-la consigo jamais passaria de um sonho de criança. Ele tinha muito foco em sua carreira. Estava prestes a se tornar um mestre Jedi. A Força havia escolhido aquele caminho para ele, um caminho que ele estava se preparando a vida toda para trilhar. Ele precisava seguir os passos de seu pai, ser o cavaleiro que todos esperavam que ele fosse. E ele sabia que Ameenah compartilhava da mesma devoção e dedicação à sua missão, que para ela possuía seus próprios desafios e provações. Os dois eram envolvidos demais com suas próprias jornadas para interferirem no caminho um do outro, ou para se deixarem interromper. Aquilo que quase aconteceu no jardim das estátuas jamais poderia se repetir, assim como mentiras. Eles precisavam resolver aquilo.
Mas Cavaleiros Jedi eram treinados para ter autocontrole e domínio sobre seus sentimentos. Eles deveriam – e iriam conseguir – passar por cima daquilo. Ou então, não tinham aprendido nada.
No entanto, não era mais hora de ficar pensando em sentimentos. O dever chamava, e era preciso se concentrar na missão principal.
Uma reunião de emergência foi convocada com os mestres do Conselho e seus aprendizes, para dar uma informação muito importante. Parecia ter a ver com alguma novidade ou descoberta. Os Jedi chamados dirigiram-se imediatamente ao salão de conferências da Ordem, onde o Supremo Mestre Idowu já os aguardava sentado em volta da mesa acompanhado por uma equipe de estudiosos da Academia.
Dois a dois, mestre e padawan se postaram nas cadeiras vazias, esperando pela nova informação. Assim que todos chegaram, Idowu começou a falar.
-Meus caros Jedi, depois de muito estudo e pesquisa, os cientistas de nossa Ordem fizeram uma descoberta a respeito daquilo que tanto desejamos saber. - Ele iniciou com seu costumeiro tom de orador. - Graças ao artefato que os aprendizes Khali e Ameenah nos trouxeram da missão em Tirok, tornou-se possível conhecer um pouco mais sobre o que está afetando nossos cavaleiros, que estão perdendo seus poderes. A cápsula que lhes foi entregue para estudo continha muitas das respostas que precisávamos.
Idowu interrompeu sua fala e deu a deixa para um dos cientistas, que aparentava ser o líder, explicar sua descoberta.
- Os tiros Anti-Luz, como os chamamos, são compostos por uma substância com enorme concentração de Lado Sombrio. - Disse o Jedi com muita formalidade. - De alguma forma, Darth Styg encontrou um meio de materializar a Força Negra, transformando-a numa espécie de plasma que fica contido nas cápsulas. Essa Força é retirada de uma fonte incrivelmente maligna, com muito poder para o mal, que não sabemos o que é. De algum jeito, esse poder retirado é fracionado em pequenas porções e colocado dentro das balas dos blasters, onde ficam até serem disparadas.
O estudioso Jedi tocou na mesa, que possuía uma tela acoplada, e um holograma com algumas ilustrações tridimensionais se projetou na sala.
-Em nosso corpo, possuímos pequenas organelas que são conectadas a todas as células do organismo, as chamadas midi-chlorians. Todos os seres vivos as possuem, pois elas são aquilo que nos conecta à Força, e no caso dos Jedi, elas são aguçadas para poder ouvi-la e controlá-la. Nós Jedi possuímos nossas midi-chlorians programadas para trabalhar em sintonia com a Força boa, portanto, é a esta que elas atendem. Esse plasma de escuridão contido nos tiros penetra no corpo e une-se às midi-chlorians das células dos Jedi, com um poder de reprodução muito rápida, espalhando-se pelo organismo todo em minutos. A substância contida no plasma imobiliza as midi-chlorians e as impede de agir e se conectar com a Força, ou exercer qualquer habilidade que dependa dela, tal como leitura da mente, telecinese ou apenas senti-la. Por isso, ao atingir uma pessoa do lado Claro, os tiros Anti-Luz a enfraquecem e paralisam seus poderes do bem, deixando-a debilitada e incapaz de lutar.
Todos na sala estavam surpresos com a informação. Mestre Idowu desativou o holograma e retomou a palavra para si, com um ar que parecia ter pesado ao ouvir aquela notícia novamente.
-Styg desenvolveu esta arma na tentativa de imobilizar as forças do bem que pudessem tentar impedi-lo de executar seu plano - Disse ele colocando-se no meio do salão. - Com os Jedi fora do caminho e sem possibilidade de defender a galáxia ou lutar contra ele, torna-se muito mais fácil para as Tropas Cinzentas atacarem a Democracia Intergaláctica e assumirem o poder. Assim, Darth Styg teria a chance de instalar a Ditadura Sombria sem resistência ou luta. - O mestre deu um leve suspiro. - Infelizmente, ainda não conseguimos encontrar um meio de cura para nossos cavaleiros afetados pela arma covarde de Styg. Nossos cientistas estão trabalhando nisso, realizando novas pesquisas e testes, e esperamos obter mais resultados em breve. Quando houverem novas informações, vocês serão avisados. Obrigado.
A reunião acabou, deixando todos os presentes surpresos. Aquela era uma boa notícia, pois pelo menos os Jedi haviam tido algum avanço. No entanto a cura, que era a mais importante das conquistas, ainda não tinha sido atingida – mas com sorte seria em breve. Ninguém encontrou muitos motivos para comemorar, pois os cavaleiros doentes preocupavam muito a Ordem – especialmente porque abriam uma brecha enorme para Styg, e era exatamente o que ele queria. Qual seria seu próximo passo? Como ele pretendia concretizar seus planos? Essa era a maior preocupação no momento.
Apesar de a Ordem permanecer de mãos atadas e o perigo ainda ser iminente, Khali sentia-se até orgulhoso por fazer parte da razão que levara à descoberta. Trazer a bala dos blasters Anti-Luz ajudou os Jedi a terem um panorama maior sobre o problema com que estavam lidando, e ter participado desse fato o fazia sentir minimamente gratificado – mesmo que a grande sacada tenha sido de Ameenah.
-Khali – Disse a grave voz que tirou o rapaz de seus pensamentos. - Preciso falar com você.
-Mestre Yerodin – O aprendiz o saudou. O homem barbado vinha sério em sua direção.
O garoto retesou o corpo imediatamente. Talvez por culpa ou arrependimento, a mente de Khali logo dirigiu-se a Ameenah e a conversa que tiveram mais cedo. Tecnicamente, ele revelara a ela uma segredo do Conselho da Ordem, sem falar, é claro, em sentimentos extremamente proibidos que tinha por ela. Será que mestre Yerodin tinha ouvido ou ficado sabendo de alguma forma? Mas não havia ninguém lá, e ele fora muito cuidadoso.
-Quero te dar os parabéns - Continuou o mestre, agora abrindo um sorriso receptivo. Khali relaxou o corpo instantaneamente. - Tenho ótimas notícias. O Conselho reuniu-se esta manhã para deliberar sobre os testes. Você está pronto para se tornar um mestre Jedi.
Ouvir aquelas palavras fez o coração do rapaz bater mais rápido e um sorriso se formar em seu rosto. Há cerca de uma semana ele tinha sido chamado pelo Conselho para realizar o teste para mestre Jedi, que consistia em provas físicas, mentais e perguntas para testar sua aptidão para subir de nível na hierarquia Jedi. O resultado sempre vinha alguns dias depois, após todos os mestres da banca discutirem e chegarem a um veredicto sobre o destino do aprendiz. Para Khali, receber tal notícia depois de dias de espera em angústia silenciosa foi como erguer-se em felicidade e ter um peso enorme tirado das costas. Basicamente, era o que ele tinha esperado a vida toda para ouvir.
-Isso é ótimo, mestre – Ele respondeu ainda extasiado.
-Isso é excelente, meu caro aprendiz! - Yerodin exclamou seguido de uma alta risada. Ele pousou a mão afetuosamente sobre o ombro de Khali. - Estou muito orgulhoso de você, garoto. Seu caminho na Força será muito iluminado.
-Muito obrigado – O rapaz sorriu abertamente.
A notícia fez com que todos os problemas de Khali instantaneamente fossem embora. Ele estava tão feliz e realizado com o feito que qualquer outra coisa que estivesse acometendo sua mente parecia pequena demais para incomodá-lo. Enquanto ele caminhava leve e feliz pelo pátio do palácio, ele cruzou com Talib.
-Skywalker – Ele lhe cumprimentou. - Parece contente.
-Estou – Khali riu. - Mestre Yerodin acabou de me dar uma ótima notícia.
-E posso saber qual foi?
-Fui aprovado no teste para mestre Jedi.
-Nossa – Talib ergueu as sobrancelhas. - Isso é ótimo, Khali! Meus parabéns. - Skywalker sorriu em resposta. -Parece que ontem mesmo eu e você éramos dois garotinhos inexperientes loucos para começar a batalhar com sabres de luz. Correndo pelo templo, enlouquecendo os mestres, treinando juntos...
-E juntos estamos – Completou Khali. - Olhe só para nós agora. E como foi o seu teste?
-Ah, eu não fiz – Talib desmanchou levemente o sorriso, disfarçadamente. - Meu mestre disse que ainda não estou pronto. Quer que eu aprenda mais algumas coisas...
-Não se preocupe – Khali deu-lhe um tapinha nas costas. - Você logo o fará. Vai se dar bem.
-É, acredito que sim...
_
-Não é possível. Os mestres têm certeza?
Do lado mais afastado da Academia, dentro das paredes altas e reverberantes do templo Jedi, mestres Idowu, Mothusi e Gahiji encontravam-se ajoelhados em estado de meditação.
-É o que a Força diz.
Com os ouvidos atentos e os corações abertos, eles ouviam a voz da sabedoria. Sussurravam os fantasmas da Força, almas antigas que há muito tempo haviam servido em prol dos mesmos ideais Jedi, que de tempos em tempos, com a permissão da Força, apareciam para informar e aconselhar em assuntos importantes a nova Ordem de cavaleiros que os sucederam.
-Novos ares estão por soprar sob os Jedi. Coisas das quais pensam ter certeza precisarão ser revistas. Passados obscuros como esse virão para a clareza, assim como as histórias que ouviram.
-Mas, mestre Kenobi, se o que dizem é verdade, o que deve ser feito?
-Mudar o rumo das coisas, isto irá. Se preparar vocês devem. A realidade a tona chegará, e saber o que fazer vocês irão. A Força com vocês está.
-Precisamos avisar ao restante do Conselho. – Disse Idowu, atônito, a seus companheiros vivos. - Precisamos avisar a todos.
Era um sonho tolo, fruto de uma noite conturbada como ontem. Khali levantou-se, vestiu rapidamente o robe Jedi e dirigiu-se para o templo da Academia, sabendo que estava atrasado para a meditação matinal.
Quando chegou à sala de meditação, correndo e ajeitando o uniforme, a sessão havia acabado a pouco e todos já estavam saindo. Ele perdera o ritual matutino - teria que se desculpar com mestre Yerodin depois, pois ele detestava atrasos. Khali já estava preparando-se para dar meia volta e ir até o salão dos mestres, mas seu olhar encontrou Ameenah descendo as escadas do templo.
A noite toda seu subconsciente o lembrara de seu erro. Ele precisava tentar concertá-lo, e era essa a deixa que vira para fazer. O rapaz esperou que a princesa passasse por ele, então tocou seu ombro.
-Podemos conversar? - Ele disse, após receber um olhar fechado dela.
Ameenah o seguiu até o jardim de estátuas que ficava atrás da capela do templo, sem dizer uma palavra. Aquele era um lugar mais reservado, onde poderiam conversar em particular sobre aquele assunto tão delicado. Ninguém passava por ali nem ouvia nada. A garota ainda encarava Khali com a mesma impaciência, e ele molhou os lábios antes de começar a falar.
-Me desculpe. - Foram suas primeiras palavras. - Eu agi mal ontem, na verdade, agi mal desde que nos encontramos. Fui um péssimo amigo, tanto como Zaki anteriormente quanto como Khali agora. Só quero uma chance de te explicar o porquê.
A garota continuou o encarando, impassível. Ele interpretou como permissão para falar.
-Eu sei que deveria ter te contado sobre quem eu era depois que percebi sua inocência no Torneio, ou até antes. Mas eu tive medo. Não só medo de como você reagiria, mas medo do meu próprio passado. Minha infância é um assunto delicado pra mim, é uma espécie de enigma, e qualquer menção àquela época dificulta meu julgamento. - Khali explicou, com certo peso. - A pessoa que eu era em Nassor e a pessoa que eu sou agora são muito diferentes. Eu não tenho o mesmo nome, não tenho as mesmas raízes, e você sabe que isso é difícil pra mim.
-Todas as pessoas mudam, Khali. - Ameenah falou pela primeira vez naquela manhã. - Isso não quer dizer que tenham que mentir sobre quem eram.
-Eu sei que não. Mas quando você chegou, eu não era mais quem você conhecia. Fiquei com medo do que você poderia pensar, se iria se lembrar, muitas coisas se passaram pela minha cabeça. Eu tentei fugir de você, do meu passado, e com isso eu te magoei e traí a imagem que você guardou de mim. E eu peço desculpas sinceras por isso.
-Eu entendo tudo o que disse – Ameenah disse sem desmanchar a cara. - Mas naquela madrugada em que fomos treinar e deitamos no gramado, você se abriu comigo sobre tudo isso. Você vem se aproximando de mim faz tempo, me contou sobre os seus medos, sobre os problemas com seus pais, com sua identidade, com a pressão... por que você omitiu a parte que me envolvia?
-Porque essa é a única parte com que eu não tive que lidar durante todo esse tempo. - Khali respondeu. - Você e a nossa amizade eram o único assunto do passado que permaneceu adormecido, sem que eu precisasse digeri-lo ou mudá-lo por saber que eu sou alguém diferente de quem eu pensava. Você permaneceu a mesma continuamente, entende? E de repente apareceu aqui do nada, na situação em que chegou, com todo mundo colocando pontos de interrogação à sua frente. E eu não esperava te ver de novo, não esperava desenterrar essa parte do passado.
-E o que tem demais em fazer isso?
-Foi importante pra mim. Você era minha única amiga, vinha de um mundo diferente do meu, me falava sobre coisas que eu jamais sonhei em conhecer. Você foi importante de muitas formas, Ameenah. E eu não queria trazer à tona algumas delas. - Khali falou olhando no fundo dos olhos da menina. - Eu não sei se signifiquei a mesma coisa pra você, mas eu te tive como alguém muito especial durante muito tempo. E ao ver você de novo, eu tive tudo isso trazido de volta. Quando voltamos a nos aproximar, eu vi que você não tinha mudado nada, que ainda nos dávamos bem, nós falamos sobre muita coisa...
-Khali – Ela o interrompeu. - Onde quer chegar?
-Quero chegar no fato de que manter tudo em segredo também mantinha interna qualquer coisa que pudesse me atrapalhar em relação a você - O rapaz falou. - Você entende, Ameenah. Eu consigo sentir que entende. - Ele fez uma pausa, dando ênfase, e a garota estremeceu com a fala. Ela entendia. - E eu também sei que você é tão focada quanto eu. Jedis não podem sentir isso, jamais, e nós dois temos tentando camuflar isso atrás das coisas que deixamos de dizer. Bem, este era meu segredo. Eu te via, mas você não me via. E até agora eu consegui permanecer dessa maneira.
-Khali, o passado foi há muito tempo – Ameenah argumentou. - O que quer que tenha acontecido indiretamente ou internamente entre nós, é antigo. Éramos só crianças - Ressaltou. - Isso não pode ser levado em conta, nem por mim e nem por você.
-O problema não é o passado, Ameenah, e você sabe. - Disse o rapaz.
A princesa desviou o olhar.
-E que diferença faz? Passado ou presente, a regra é a mesma. Nós não podemos. - Ela indagou convicta.
-É claro que eu sei disso – Respondeu Khali. - É por isso que eu nunca disse nada. Mas não falar sobre isso não vai fazer com que pare de existir. Ainda mais agora.
-E o que você quer, então?
-Um Jedi deve saber lidar com seus sentimentos. Devemos sempre controlá-los e colocar nossa missão acima do nosso coração. - Disse ele.
-Eu sei – Ela respirou fundo, aborrecida. - Talvez devêssemos nos afastar.
-Não - Ele discordou prontamente. - Nem seria possível. Moramos no mesmo castelo, vamos as mesmas reuniões, somos convocados para missões em conjunto. Continuaríamos nos vendo da mesma forma, nossa convivência é inevitável. - Ele fez uma pausa e aproximou-se dela. - Além do mais, Ameenah, nada mudaria com o tempo. Ficamos afastados por treze anos, e de alguma forma as coisas continuam iguais. Não somos tão simples.
-E o que você sugere? - Ela lamentou.
-Eu não tenho ideia. Mas longe ou perto de você meu coração continua acelerando, não importa o quanto minha mente grite que é errado. - Khali aproximou-se mais e segurou a mão dela. - É externo a mim.
Os dois calaram-se, e seus olhares se encontraram de forma sincera e intensa como sempre fizeram. Seus rostos começaram a se aproximar, com suas respirações descompassas se misturando, e o momento pareceu desacelerar e isolá-los de tudo. Mais alguns segundos teriam levado a algo de que os dois se arrependeriam, se não fosse pela voz de Leia procurando sua aprendiz.
-Vocês viram Ameenah? - Ela perguntou para alguém na porta do templo, que negou.
Ouvir aquilo foi uma espécie de lampejo para a garota, que imediatamente recobrou a consciência e afastou-se de Khali.
-Eu tenho que ir - Ela disse ofegante por conta do coração acelerado. - Temos uma missão, certo? - Realçou, e então se retirou.
O momento tinha sido delicado para os dois Jedi. Ameenah logo encontrou-se com sua mestra e dirigiu-se ao campo de batalha para iniciar seu treinamento. No entanto, os sabres de luz e golpes não foram suficientes para tirar a cabeça da moça daquela cena.
Aquela conversa nunca deveria ter existido, o assunto não devia ter sido levantado. Não havia o que discutir, pois as circunstâncias não deixavam opções. As coisas tinham começado a ficar perigosas. Khali e Ameenah sabiam muito bem das regras, e sabiam o quanto infringi-las poderia acabar completamente com suas vidas. A norma é clara: nenhum cavaleiro Jedi pode se apaixonar, e jamais terá permissão para ter um relacionamento amoroso. Qualquer um que quebrasse a regra seria expulso. O Conselho acreditava, desde a antiga Ordem, que o amor pode afetar o julgamento e desconcentrar o cavaleiro de sua missão principal. E eles provavelmente tinham razão.
No entanto, saber daquilo não impedia que os dois sentissem o que sentiam. As regras os proibiam de tomar qualquer atitude, mas não inibiam suas emoções.
Ameenah remoía aquilo enquanto treinava. Na infância, Zaki havia sido o mais próximo que ela estivera do amor. Mesmo que os dois fossem apenas crianças e não tivessem noção alguma do que realmente representava amar alguém como um adulto, ela sentia algo por ele à sua maneira. Depois de sua suposta morte, aquilo se manteve como uma memória antiga, enterrada por trás de saudades. Ela gostava dele como pessoa, independente de ser de uma classe social diferente, e viver em uma realidade totalmente oposta. Ela gostava dele pois Zaki era como ela, compartilhava sonhos e brincadeiras, a entendia e era uma alma doce.
Já crescida, sua relação com Khali não era muito diferente. Desde que ela e o rapaz começaram a se aproximar, ela sabia que algo dentro de si queria mantê-lo perto. Os dois se entenderam, eram almas parecidas, e havia algo na forma que os dois se relacionavam que a fazia sentir bem, de um jeito especial. Era algo tímido, escondido por trás de pequenos olhares e pensamentos que ela involuntariamente evitava. Mas estava lá.
Agora, descobrindo o que descobriu, as duas coisas se misturaram. O menininho que há muito tempo significara algo, também era o rapaz que significava atualmente. E esse sentimento, que até agora permanecera sutil, foi falado pela primeira vez. Se tornou algo consciente, admitido, e mais ainda, recíproco.
Mas não havia o menor cabimento para nada daquilo, jamais.
Khali se sentia da mesma maneira. Caminhando pelos corredores da Academia, ele olhava para os majestosos quadros com pinturas de grandes Jedis antigos, e se perguntava a razão das regras que criaram. Será que algum deles havia passado pelo que ele passava agora?
A princesinha Ameenah de Nassor fora a grande aventura de sua infância. Ela era tudo que o tirava de sua vida difícil e ordinária da periferia, ela era a diversão de seus dias e a mente grande que o fazia sonhar tão alto quanto ela. Era quase inevitável que ele se apaixonasse pela amiga, que a seus olhos era tão diferente dele que jamais poderia descobrir. Após Khali deixar Nassor e descobrir tantas verdades escondidas sobre sua vida, aquela garotinha loira de tranças passou a ser seu doce segredo, a única coisa que vivera naqueles anos que não tinha sido uma mentira. E por anos ele pensou que ela nunca passaria disso, daquela lembrança no subconsciente que indiretamente o levara até ali.
Mas aí ela apareceu novamente. Misteriosa, tão diferente, e encoberta por muitas dúvidas. Assim que Khali a viu pela primeira vez, soube que a conhecia. Ao ouvir seu nome, foi difícil segurar o turbilhão de lembranças que o atingiu e impedir que ele fosse percebido. A realidade é que ele se apavorou. Passara tanto tempo concentrado apenas em si mesmo e no rumo que seu caminho tomaria no futuro, que não esperava que um pedaço de seu passado aparecesse para se misturar a ele.
Então o Conselho Jedi veio com todas as suas dúvidas e questionamentos sobre a nova garota e suas intenções, e ele sabia que jamais poderia testemunhar contra. Do contrário, como forma de conter seu espanto, ele concordara com eles. Passou semanas desconfiado até que constatou que a garota nunca mudara, e até ter todos aqueles sentimentos anteriores sendo liberados sem que ele notasse. Khali aproximou-se dela, e viu que ela não só permanecia a mesma doce garotinha, mas também se tornara melhor de muitas formas. Ela continuava a entendê-lo, a ser sensível e altruísta com o mundo, e a ter a mesma mente vasta e sonhadora que tanto o encantara. E encantou novamente.
Mas ele também sabia que tê-la consigo jamais passaria de um sonho de criança. Ele tinha muito foco em sua carreira. Estava prestes a se tornar um mestre Jedi. A Força havia escolhido aquele caminho para ele, um caminho que ele estava se preparando a vida toda para trilhar. Ele precisava seguir os passos de seu pai, ser o cavaleiro que todos esperavam que ele fosse. E ele sabia que Ameenah compartilhava da mesma devoção e dedicação à sua missão, que para ela possuía seus próprios desafios e provações. Os dois eram envolvidos demais com suas próprias jornadas para interferirem no caminho um do outro, ou para se deixarem interromper. Aquilo que quase aconteceu no jardim das estátuas jamais poderia se repetir, assim como mentiras. Eles precisavam resolver aquilo.
Mas Cavaleiros Jedi eram treinados para ter autocontrole e domínio sobre seus sentimentos. Eles deveriam – e iriam conseguir – passar por cima daquilo. Ou então, não tinham aprendido nada.
No entanto, não era mais hora de ficar pensando em sentimentos. O dever chamava, e era preciso se concentrar na missão principal.
Uma reunião de emergência foi convocada com os mestres do Conselho e seus aprendizes, para dar uma informação muito importante. Parecia ter a ver com alguma novidade ou descoberta. Os Jedi chamados dirigiram-se imediatamente ao salão de conferências da Ordem, onde o Supremo Mestre Idowu já os aguardava sentado em volta da mesa acompanhado por uma equipe de estudiosos da Academia.
Dois a dois, mestre e padawan se postaram nas cadeiras vazias, esperando pela nova informação. Assim que todos chegaram, Idowu começou a falar.
-Meus caros Jedi, depois de muito estudo e pesquisa, os cientistas de nossa Ordem fizeram uma descoberta a respeito daquilo que tanto desejamos saber. - Ele iniciou com seu costumeiro tom de orador. - Graças ao artefato que os aprendizes Khali e Ameenah nos trouxeram da missão em Tirok, tornou-se possível conhecer um pouco mais sobre o que está afetando nossos cavaleiros, que estão perdendo seus poderes. A cápsula que lhes foi entregue para estudo continha muitas das respostas que precisávamos.
Idowu interrompeu sua fala e deu a deixa para um dos cientistas, que aparentava ser o líder, explicar sua descoberta.
- Os tiros Anti-Luz, como os chamamos, são compostos por uma substância com enorme concentração de Lado Sombrio. - Disse o Jedi com muita formalidade. - De alguma forma, Darth Styg encontrou um meio de materializar a Força Negra, transformando-a numa espécie de plasma que fica contido nas cápsulas. Essa Força é retirada de uma fonte incrivelmente maligna, com muito poder para o mal, que não sabemos o que é. De algum jeito, esse poder retirado é fracionado em pequenas porções e colocado dentro das balas dos blasters, onde ficam até serem disparadas.
O estudioso Jedi tocou na mesa, que possuía uma tela acoplada, e um holograma com algumas ilustrações tridimensionais se projetou na sala.
-Em nosso corpo, possuímos pequenas organelas que são conectadas a todas as células do organismo, as chamadas midi-chlorians. Todos os seres vivos as possuem, pois elas são aquilo que nos conecta à Força, e no caso dos Jedi, elas são aguçadas para poder ouvi-la e controlá-la. Nós Jedi possuímos nossas midi-chlorians programadas para trabalhar em sintonia com a Força boa, portanto, é a esta que elas atendem. Esse plasma de escuridão contido nos tiros penetra no corpo e une-se às midi-chlorians das células dos Jedi, com um poder de reprodução muito rápida, espalhando-se pelo organismo todo em minutos. A substância contida no plasma imobiliza as midi-chlorians e as impede de agir e se conectar com a Força, ou exercer qualquer habilidade que dependa dela, tal como leitura da mente, telecinese ou apenas senti-la. Por isso, ao atingir uma pessoa do lado Claro, os tiros Anti-Luz a enfraquecem e paralisam seus poderes do bem, deixando-a debilitada e incapaz de lutar.
Todos na sala estavam surpresos com a informação. Mestre Idowu desativou o holograma e retomou a palavra para si, com um ar que parecia ter pesado ao ouvir aquela notícia novamente.
-Styg desenvolveu esta arma na tentativa de imobilizar as forças do bem que pudessem tentar impedi-lo de executar seu plano - Disse ele colocando-se no meio do salão. - Com os Jedi fora do caminho e sem possibilidade de defender a galáxia ou lutar contra ele, torna-se muito mais fácil para as Tropas Cinzentas atacarem a Democracia Intergaláctica e assumirem o poder. Assim, Darth Styg teria a chance de instalar a Ditadura Sombria sem resistência ou luta. - O mestre deu um leve suspiro. - Infelizmente, ainda não conseguimos encontrar um meio de cura para nossos cavaleiros afetados pela arma covarde de Styg. Nossos cientistas estão trabalhando nisso, realizando novas pesquisas e testes, e esperamos obter mais resultados em breve. Quando houverem novas informações, vocês serão avisados. Obrigado.
A reunião acabou, deixando todos os presentes surpresos. Aquela era uma boa notícia, pois pelo menos os Jedi haviam tido algum avanço. No entanto a cura, que era a mais importante das conquistas, ainda não tinha sido atingida – mas com sorte seria em breve. Ninguém encontrou muitos motivos para comemorar, pois os cavaleiros doentes preocupavam muito a Ordem – especialmente porque abriam uma brecha enorme para Styg, e era exatamente o que ele queria. Qual seria seu próximo passo? Como ele pretendia concretizar seus planos? Essa era a maior preocupação no momento.
Apesar de a Ordem permanecer de mãos atadas e o perigo ainda ser iminente, Khali sentia-se até orgulhoso por fazer parte da razão que levara à descoberta. Trazer a bala dos blasters Anti-Luz ajudou os Jedi a terem um panorama maior sobre o problema com que estavam lidando, e ter participado desse fato o fazia sentir minimamente gratificado – mesmo que a grande sacada tenha sido de Ameenah.
-Khali – Disse a grave voz que tirou o rapaz de seus pensamentos. - Preciso falar com você.
-Mestre Yerodin – O aprendiz o saudou. O homem barbado vinha sério em sua direção.
O garoto retesou o corpo imediatamente. Talvez por culpa ou arrependimento, a mente de Khali logo dirigiu-se a Ameenah e a conversa que tiveram mais cedo. Tecnicamente, ele revelara a ela uma segredo do Conselho da Ordem, sem falar, é claro, em sentimentos extremamente proibidos que tinha por ela. Será que mestre Yerodin tinha ouvido ou ficado sabendo de alguma forma? Mas não havia ninguém lá, e ele fora muito cuidadoso.
-Quero te dar os parabéns - Continuou o mestre, agora abrindo um sorriso receptivo. Khali relaxou o corpo instantaneamente. - Tenho ótimas notícias. O Conselho reuniu-se esta manhã para deliberar sobre os testes. Você está pronto para se tornar um mestre Jedi.
Ouvir aquelas palavras fez o coração do rapaz bater mais rápido e um sorriso se formar em seu rosto. Há cerca de uma semana ele tinha sido chamado pelo Conselho para realizar o teste para mestre Jedi, que consistia em provas físicas, mentais e perguntas para testar sua aptidão para subir de nível na hierarquia Jedi. O resultado sempre vinha alguns dias depois, após todos os mestres da banca discutirem e chegarem a um veredicto sobre o destino do aprendiz. Para Khali, receber tal notícia depois de dias de espera em angústia silenciosa foi como erguer-se em felicidade e ter um peso enorme tirado das costas. Basicamente, era o que ele tinha esperado a vida toda para ouvir.
-Isso é ótimo, mestre – Ele respondeu ainda extasiado.
-Isso é excelente, meu caro aprendiz! - Yerodin exclamou seguido de uma alta risada. Ele pousou a mão afetuosamente sobre o ombro de Khali. - Estou muito orgulhoso de você, garoto. Seu caminho na Força será muito iluminado.
-Muito obrigado – O rapaz sorriu abertamente.
A notícia fez com que todos os problemas de Khali instantaneamente fossem embora. Ele estava tão feliz e realizado com o feito que qualquer outra coisa que estivesse acometendo sua mente parecia pequena demais para incomodá-lo. Enquanto ele caminhava leve e feliz pelo pátio do palácio, ele cruzou com Talib.
-Skywalker – Ele lhe cumprimentou. - Parece contente.
-Estou – Khali riu. - Mestre Yerodin acabou de me dar uma ótima notícia.
-E posso saber qual foi?
-Fui aprovado no teste para mestre Jedi.
-Nossa – Talib ergueu as sobrancelhas. - Isso é ótimo, Khali! Meus parabéns. - Skywalker sorriu em resposta. -Parece que ontem mesmo eu e você éramos dois garotinhos inexperientes loucos para começar a batalhar com sabres de luz. Correndo pelo templo, enlouquecendo os mestres, treinando juntos...
-E juntos estamos – Completou Khali. - Olhe só para nós agora. E como foi o seu teste?
-Ah, eu não fiz – Talib desmanchou levemente o sorriso, disfarçadamente. - Meu mestre disse que ainda não estou pronto. Quer que eu aprenda mais algumas coisas...
-Não se preocupe – Khali deu-lhe um tapinha nas costas. - Você logo o fará. Vai se dar bem.
-É, acredito que sim...
-Não é possível. Os mestres têm certeza?
Do lado mais afastado da Academia, dentro das paredes altas e reverberantes do templo Jedi, mestres Idowu, Mothusi e Gahiji encontravam-se ajoelhados em estado de meditação.
-É o que a Força diz.
Com os ouvidos atentos e os corações abertos, eles ouviam a voz da sabedoria. Sussurravam os fantasmas da Força, almas antigas que há muito tempo haviam servido em prol dos mesmos ideais Jedi, que de tempos em tempos, com a permissão da Força, apareciam para informar e aconselhar em assuntos importantes a nova Ordem de cavaleiros que os sucederam.
-Novos ares estão por soprar sob os Jedi. Coisas das quais pensam ter certeza precisarão ser revistas. Passados obscuros como esse virão para a clareza, assim como as histórias que ouviram.
-Mas, mestre Kenobi, se o que dizem é verdade, o que deve ser feito?
-Mudar o rumo das coisas, isto irá. Se preparar vocês devem. A realidade a tona chegará, e saber o que fazer vocês irão. A Força com vocês está.
-Precisamos avisar ao restante do Conselho. – Disse Idowu, atônito, a seus companheiros vivos. - Precisamos avisar a todos.
Capítulo 12
No campo de treinamento de sabre de luz, todos os aprendizes da Academia estavam reunidos para assistir à seus parceiros darem um grande passo em suas missões com a Força: receber o título oficial de mestre Jedi.
A pequena cerimônia contava com a presença do Conselho e dos mestres que guiaram aqueles padawans até tal momento, enquanto o Supremo Mestre Idowu proferia palavras de coragem, equilíbrio e incentivo aos mais novos membros da Ordem. Todos os outros aprendizes estavam sentados à volta deles, com seus sabres de luz acesos, como se iluminassem o caminho dos novos mestres.
Khali estava ajoelhado bem no centro, ao lado dos dois outros padawans a receberem seus títulos, com mestre Yerodin logo atrás de si. Idowu estava de pé a frente deles, proferindo lindas palavras sobre a Força e seus destinos. O coração de Khali estava cheio de paz e exultação, orgulhoso de seu caminho até ali e ansioso com os novos rumos que ele iria tomar.
Mestre Idowu colocou-se à frente do rapaz. Ele pegou o sabre de luz de Khali e ativou-o, aproximando-o do ombro direito do aprendiz. Skywalker abaixou a cabeça e fechou os olhos.
-A Força guiou você durante toda a sua vida, e te guiará até o fim dela por todos os caminhos e escolhas que fizer. De agora em diante, ela será seu instrumento de justiça e benevolência, será seu guia espiritual e guerreiro, será sua única certeza e verdade. Promete ouvi-la e obedecer suas vontades, e seguir sua doutrina por meio dos ensinamentos e valores dos Jedi pelo resto de sua jornada?
-Eu prometo. - Khali respondeu convicto.
-Pelo poder investido em meu título de Supremo Mestre e pela vontade da Força, eu o nomeio Mestre Jedi.
Com um movimento rápido para cima, Idowu puxou a lâmina do sabre de luz para cortar dos cabelos de Khali a longa e fina trança lateral, que durante todo aquele tempo servira para simbolizar o seu estágio de aprendiz.
Uma sinapse de alegria e satisfação percorreu o rapaz, que sentia-se com uma missão cumprida, tendo novos horizontes se abrindo a partir do encerramento de um ciclo e o início de outro cheio de diversas outras aventuras.
Todos os padawans e mestres ali presentes ergueram seus sabres de luz no ar, e com uma só potente voz entoaram o mantra dos Jedi.
Não há emoção, há paz.
Não há ignorância, há conhecimento.
Não há paixão, há serenidade.
Não há caos, há harmonia.
Não há morte, há a Força.
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Era fim de tarde em Tedros, as árvores balançavam no ritmo da brisa leve e os exóticos pássaros interestelares começavam a se esconder em seus ninhos. O Conselho Jedi tinha sido convocado para uma reunião importante no Salão Redondo, com a presença de alguns mestres e aprendizes de prestígio, para ouvirem e discutirem sobre algo extremamente significativo para a Ordem.
O Supremo Mestre aguardava a chegada de todos os convocados sentado em sua poltrona em frente a mesa, enquanto um a um os membros do Conselho se colocavam em seus assentos e os demais aprendizes e mestres se acomodavam à volta deles, pois a reunião era minuciosa e requeria proximidade entre os participantes para discussão. Respectivamente a direita e a esquerda de Idowu estavam Gahiji e Mothusi, aguardando a oportunidade para falarem de sua descoberta.
-Excelentíssimos colegas do Conselho, mestres e aprendizes Jedi – Iniciou Idowu. - Vocês todos foram chamados aqui, pois eu recentemente, acompanhado pelos cavaleiros Mothusi e Gahiji, estive em contato com os mestres da antiga Ordem Jedi por meio de meditações. Ao conversar com os fantasmas da Força, que tanto nos ajudaram e aconselham, descobrimos que alguns conceitos que durante todos estes anos tomamos como certeza, estão errados.
-Durante todo este tempo, os Jedi souberam que o Escolhido, protagonista da profecia milenar dos cavaleiros, era Anakin Skywalker. Conhecido como Darth Vader, ele foi o cavaleiro Jedi que, segundo a profecia, foi responsável por trazer equilíbrio para a Força. - Disse mestre Mothusi. - No entanto, isso está errado. Anakin não era o Escolhido.
Um burburinho começou entre os Conselheiros e os mestres presentes na sala.
-Anakin é um dos Jedi mais poderosos que já existiu. Mesmo tendo se tornado um Sith, ele ainda era considerado o Escolhido pois nenhum outro cavaleiro jamais superara seu poder. A prova para sua afiliação à profecia se devia ao acontecimento da queda do Império, em que ele, como Darth Vader, matou o Imperador para salvar a vida de seu filho Luke. Este teria sido o momento em que a Força fora reequilibrada por ele, pois com a consequente queda do Império o Lado Negro estaria extinto e a Luz estaria no comando da Galáxia novamente. - Explicou Gahiji.
-No entanto, agora que sabemos que Darth Styg é na verdade o antigo Imperador, este conceito fica em xeque. A Força nunca foi equilibrada, pois o Imperador, que é quem sustentava o Lado Negro, nunca morreu. E por meio de diversas meditações em contato com a Força, conseguimos descobrir por que.
-A resposta encontra-se em uma antiga lenda dos Sith. Segundo essa história, há muito tempo atrás, existia um mestre Sith chamado Darth Plagueis, que era tão poderoso que aprendeu a evitar a morte. O segredo de seu conhecimento era muito bem guardado, e ele utilizava-o para salvar seus aliados. A única pessoa a quem Plagueis ensinou o poder foi seu aprendiz. Por ganância, o padawan, após aprender tudo o que podia com seu mestre, assassinou-o e guardou o segredo da imortalidade consigo. - Contou Gahiji. - Descobrimos que esta lenda é real. O fato aconteceu há muito tempo atrás, e Plagueis realmente teve um padawan, que roubou seu poder e o traiu. O Sith citado na lenda como o aprendiz traidor é o próprio Imperador.
-Ele assassinou seu mestre quando ainda era muito jovem, e durante anos manteve seu conhecimento escondido. Styg utilizou-se disto para chantagear Anakin Skywalker, e o trouxe para o Lado Negro pela promessa da vida eterna. Porém, mais tarde, quando Vader e Luke Skywalker uniram-se e o derrotaram, o Imperador foi arremessado numa queda de dez metros em direção às fuselagens da nave Imperial, que explodiu - o que acreditava-se que tinha o matado. No entanto, Styg utilizou as habilidades que conhecia para manter-se vivo. Durante todos estes anos, ele esteve escondido e se recuperando de seus ferimentos, para então poder retornar como Darth Styg e retomar o poder da Galáxia. - Disse Idowu.
-É por este motivo que Anakin Skywalker nunca restaurou realmente o equilíbrio da Força. - Mothusi explicou. - Como o Imperador nunca morreu, a Força nunca esteve realmente balanceada, pois o Lado Negro não se extinguiu; estava apenas adormecido.
-Mas Anakin Skywalker possuía o maior nível de midi-chlorians já registrado – Protestou um dos conselheiros. - Ele era filho da Força!
-Isso foi dito durante muito tempo – Contradisse mestre Gahiji. - Mas não é exatamente verdade. Anakin foi concebido sem um pai, e por isso acreditava-se que seu nascimento acontecera por vontade da Força, que o gerara espontaneamente no ventre da mãe por meio das midi-chlorians. Agora sabemos: ele foi sim concebido por meio das midi-chlorians, mas não por conta da Força.
-Darth Plagueis, o antigo mestre de Styg, tornou-se um fantasma da Força após ter sido assassinado. Ele carregava um ódio mortal por seu antigo aprendiz, por ter acabado com sua soberania e ter roubado seu poder, então planejou durante anos vingar-se dele. - Contou Idowu. - Como Plagueis sabia como dominar as midi-chlorians para controlar a vida, ele utilizou seus poderes para manipulá-las, de dentro do plano espiritual da Força, para que elas gerassem uma criança; um garoto tão poderoso que impressionaria a todos os seguidores da Força, tanto do lado Claro como do lado Sombrio, que se interessariam imensamente por suas habilidades. Porém, além de dar a esta criança o poder, Plagueis também colocou nela muito ódio, medo, ganância, orgulho e desejo por soberania. Seu objetivo era que estas características levassem o garoto a, mais tarde, virar-se para o Lado Sombrio. O Imperador se interessaria muito por suas habilidades, e eventualmente faria dele o seu aprendiz – o que, de fato, ocorreu. Então, depois de um tempo, o poderoso aprendiz mataria Styg, assim como Styg matou seu próprio mestre. Dessa forma, Plagueis conseguiria sua vingança, fazendo com que o aprendiz se voltasse contra seu professor e acabasse com seu poder, ironizando o que foi feito a ele. Anakin foi seu instrumento.
-Mas se Anakin não era o Escolhido, então quem é? - Perguntou mestre Organa.
-Não sabemos. - Disse Mothusi. - Ele ainda não foi descoberto. Mas será em breve.
-E o que ele fará?
-O extraordinário acontecimento da geração da vida sem a presença de um pai, a partir da fusão de midi-chlorians, só se repetirá mais uma vez na história. - Proferiu Idowu. - Agora, a concepção será vontade da Força, sem o auxílio de nenhum terceiro, especialmente para que o fruto cumpra a missão que lhe será dada. A criança gerada por este processo, que atualmente já é nascida, será a verdadeira Escolhida. Este aprendiz ou aprendiza será muito poderoso, e o nível de midi-chlorians em seu sangue estará sempre subindo a medida que ele treinar e se desenvolver, até que se torne cem por cento. Quando isso acontecer, este Jedi será capaz de um poder especial, o Poder do Escolhido, que apenas ele terá; tal habilidade irá auxiliá-lo na batalha contra Darth Styg, possibilitando que ele, se seguir o caminho certo, restaure o equilíbrio da Força de uma vez por todas.
-E como saberemos quem é o Escolhido?
-Segundo os antigos mestres, ele irá se revelar quando estiver pronto. - Disse Gahiji.
-Mas o Escolhido já tem consciência de quem é?
-Quanto tempo irá demorar?
-Que poder é esse?
-Quer dizer que Styg vai perder?
-Acalmem-se, todos – Idowu bradou por cima das diversas perguntas disparadas pelos reunidos ao mesmo tempo. - Precisamos ter paciência; a Força nos revelará tudo que precisamos saber. Mas por enquanto, isso é tudo que temos.
O buchicho e as discussões continuaram até depois que a reunião terminou, entre mestres, aprendizes e conselheiros. Logo, a novidade tomou conta da Academia inteira; todos estavam surpresos e curiosos com as descobertas, e uma pergunta comum a todos eles: quem era o verdadeiro Escolhido, e onde ele estaria agora?
Ameenah deixou a sala redonda com vários pensamentos funcionando. Um novo Escolhido era uma notícia e tanto, que servia para gerar muitas dúvidas. Mas também, traria um pouco de esperança à Ordem, que andava tão preocupada com os recentes acontecimentos e descobertas. Um salvador poderoso e benevolente era tudo que eles precisavam para restaurar a fé.
A garota lembrava-se de ter ouvido o nome Anakin Skywalker antes da reunião. Houvera alguma citação nas histórias de mestre Horus e em livros Jedi que já lera. Ela recordava-se que no corredor principal da Academia havia um quadro do homem pendurado, junto com retratos de muitos outros grandes mestres Jedi da antiga e da atual Ordem. E sabia também que Anakin era o pai de Leia e Luke Skywalker.
Ameenah foi até o corredor dos heróis, e constatou que sua memória não falhara; havia mesmo um retrato seu ali. O rapaz de cabelos loiros compridos e olhos claros com uma cicatriz ao lado direito do rosto, encontrava-se empunhando um sabre de luz azul com aparência destemida. Ao olhar para o lado, Ameenah notou que Leia estava lá, parada em frente ao quadro observando-o com ar pensativo. A garota hesitou, pois não sabia se era uma boa hora para conversas, mas decidiu aproximar-se da mestra.
-Um rosto bondoso - Disse a mulher, sem tirar os olhos da pintura. - Mas com uma história surpreendentemente sombria a sua volta.
-Sinto muito, mestre. – Lamentou Ameenah. Não deve ter sido fácil para Leia ouvir o descrédito de seu pai daquela forma.
-Oh, não sinta. A Ordem precisa mesmo de um herói para guiá-la por estes tempos tão sombrios. - Falou Leia. - Só é uma pena que agora a história Anakin Skywalker vá se resumir apenas a seus erros e ao estrago que eles causaram.
-Como assim?
-Ser o Escolhido fazia com que, de alguma forma, sua vida toda não tivesse servido apenas para trazer a perdição dos Jedi. – Explicou Organa, com um meio sorriso melancólico. - Ao menos, ele havia feito algo bom. Mas agora, até sua coragem para salvar a vida do filho será chamada de falha.
-Mas o que Anakin fez manteve a galáxia a salvo até agora. O Imperador demorou anos para retornar.
-Não acho que isso seja o bastante para impedir que ele seja rotulado apenas como um terrível Sith. Mais do que já é. Uma vida tão difícil, tantas escolhas erradas... - Lamentou Leia. - Pode parecer estranho, mas eu sempre acreditei que ele era um bom homem, apesar de ter sido Darth Vader. Um bom homem a quem coisas terríveis aconteceram. E agora, parece que foi tudo em vão. O que será que Luke pensaria?
As duas ficaram em silêncio alguns segundos. Leia pousou uma das mãos sobre o quadro, como se confortasse em saudade.
-É uma bela pintura. - Constatou Ameenah.
-Este quadro foi encontrado nos vestígios de um antigo templo Jedi que existiu em Tedros há muito tempo atrás - Ela contou para a garota. - Assim como os outros que estão nesta parede, e boa parte dos arquivos que compõem biblioteca da Ordem. Essa é uma das poucas lembranças de Anakin que não se referem a ele como o traidor e cruel Darth Vader.
A garota atentou-se mais para a obra.
-Não existe mais nada sobre ele? - Perguntou.
-No passado, os arquivos Jedi, assim como lembranças de poderosos cavaleiros antigos, eram muito maiores. Eram milhares de livros, estátuas, mapas, armas, artigos milenares... - Explicou Organa. - Porém, tudo isso foi perdido quando os Jedi foram extintos. Quando construímos a nova Ordem, conseguimos recuperar apenas uma pequena parcela de todo o conhecimento e da cultura que havia naquela época. Algumas coisas estavam em Tedros, outras guardadas com Luke, outras espalhadas pela galáxia... e infelizmente muitas delas, a maioria, se perderam para sempre. - Leia lamentou. - Vamos demorar séculos para juntar um material tão grande quanto o anterior.
-Devem haver tantas histórias... - Disse Ameenah. - É uma pena que jamais poderemos conhecê-las.
-Eu concordo. - Leia falou e suspirou. - Mas não se martirize por isso, minha aprendiz. Ao menos, temos a possibilidade de escrever uma história nova. - Ela sorriu ternamente para Ameenah. - Me desculpe por cancelar o nosso treinamento hoje, querida. Precisava conversar com Supremo Mestre sobre todas essas questões ligadas ao Escolhido. Eu vou para o templo agora, meditar um pouco. Quer vir comigo?
-Sem problemas, mestre. – Respondeu a garota. - Eu adoraria, mas tenho alguns assuntos a resolver. Obrigada.
-Tudo bem. - Leia acenou com a cabeça. - Que a Força esteja com você, minha aprendiz.
-Que a Força esteja com você, mestre.
As duas fizeram uma reverência rápida, e então Organa se retirou.
Ameenah virou-se para encarar o quadro na parede mais uma vez. Nas histórias que mestre Horus lhe contava quando criança, Darth Vader sempre fora um vilão muito malvado, que torturava e matava brutalmente os seus inimigos, e tinha sido responsável pela extinção dos antigos Jedi. Por sua causa, milhões de pessoas morreram nas mãos do Império durante anos - inclusive sua própria esposa, que ele mesmo matou – gerando uma ruína quase impossível de erradicar.
A garota encarou os olhos azuis sérios e destemidos do homem desenhado à sua frente. Anakin havia cometido diversas atrocidades enquanto era vivo, e foi responsável pela desgraça em que a galáxia esteve durante muitos anos. Ameenah se perguntou como todos foram capazes de acreditar por tanto tempo que ele tinha sido o encarregado de trazer o equilíbrio da Força. Até porque, naquele momento, ela não estava nada equilibrada.
Os pensamentos de Ameenah pensamentos foram em direção a Khali. Ele também devia estar muito abalado com a notícia do Escolhido, afinal Anakin Skywalker era seu avô. Família é algo muito importante para o rapaz, portanto qualquer coisa relacionada a sua descendência devia ser de grande impacto. Ela se preocupou com ele por um segundo, até lembrar-se dos acontecimentos da última semana.
Khali era um assunto delicado para seus pensamentos. Ameenah respirou fundo, contrariada pela própria lembrança. Eles precisavam conversar, como dois adultos. Resolver tudo que tinha acontecido, se desculpar pelos maus entendidos, e entrar num acordo pelo bem de seus trabalhos na Ordem. Seja lá o que tenham sentido, feito ou falado, era hora de enterrarem os sentimentos e seguirem o que o Código Jedi mandava.
Passar o resto da vida evitando um ao outro não era a solução. Sim, ele tinha a magoado e mentido para ela. Sim, eles um dia foram apaixonados um pelo outro. Sim, talvez eles ainda fossem. Mas nada disso importava, principalmente porque, numa competição entre seus sentimentos e suas missões, é claro que a primeira opção perderia. Era hora de deixar isso claro e transformar o drama dos últimos dias em águas passadas por baixo da ponte.
A garota decidiu ir atrás dele, resolver aquele assunto de uma vez por todas e poder descansar sua consciência, para ocupá-la com coisas mais importantes. Ameenah saiu andando determinada pelo castelo, e perguntou a um dos padawans onde Khali estava. O garoto indicou-lhe a frente do palácio, e lá ela foi – insegura e preocupada, mas decidida.
Ameenah estava andando em direção ao jardim, e viu Khali sentado debaixo de uma árvore na beira do lago. Ela respirou fundo e se aproximou dele, que estava imerso em pensamentos, com um ar longínquo.
-Imagino que isso tudo tenha sido uma revelação e tanto para você - Disse a garota, e Khali pareceu não ter notado a presença dela até ali.
-É, foi sim. - Ele concordou, e Ameenah sentou ao seu lado. - Acho que foi para todos de um modo geral.
-Ninguém esperava por isso. Mas é bom, de certa forma.
-É sim. Espero que o novo Escolhido apareça depressa – Disse Khali. - Precisamos dele.
-Precisamos. - Ameenah concordou, e depois ficou em silêncio. Aquilo era um pouco desconfortável.
-O que veio fazer aqui? Pensei que estivesse me evitando. - O rapaz perguntou.
-Eu estava. Mas então percebi que não poderia fazer isso pra sempre, e decidi vir aqui para resolvermos o que precisamos de uma vez.
-Entendi. - Khali respondeu, parecendo ponderar. - Eu começo, então. Me desculpe por ter mentido pra você, por ter omitido quem eu era e por ter me aproximado de você daquele jeito no jardim das estátuas.
-Aceito suas desculpas – Ameenah respondeu. - Me desculpe também, por não ter compreendido seus motivos pra se esconder e por agir daquele jeito no jardim das estátuas.
-Aceito suas desculpas. - Ele concluiu.
O silêncio tomou conta da conversa novamente. O sol já estava se pondo, sumindo por dentro das árvores da densa floresta do outro lado da margem do lago, e refletindo sua luz dourada nas águas calmas. Os dois Jedi observavam a natureza exuberante, sem olhar um para o outro.
-E agora? - Khali perguntou. - O que vamos fazer?
-Como assim?
-Não podemos fazer nada, se você me entende. E o que vamos fazer, então?
Ameenah pensou por algum tempo.
-Esquecer tudo, eu acho. - Ela falou diretamente, e Khali a olhou. - Você sabe, temos que deixar qualquer sentimento de lado. Eles podem nos comprometer.
O rapaz ficou quieto.
-Até que ponto você acha que as regras tem valor se te impedem de fazer o que você sente ser certo? - Perguntou.
Ameenah sorriu de lado. De fato, ela nunca permitiu que as regras a impedissem de fazer aquilo em que acreditava. Ela seguiu seus sonhos, fugiu de casa, enfrentou muitas coisas para chegar a onde estava. Mas agora era diferente.
-Prefiro não pensar nisso. - Ela respondeu.
-Eu também. - Ele concordou sorrindo de lado. -Então vamos continuar como estamos?
-Acho que sim.
-Muito bem. - Khali voltou-se novamente para o horizonte.
-Acha que um dia vamos nos acostumar? - A garota perguntou. - Conviver com isso e não dar importância?
-Não sei. Espero que sim. - Respondeu o rapaz. - Mas, se for pra continuar vendo você e convivendo da forma como fazíamos antes, pra mim já é válido.
-É, pra mim também. - Concordou. Ela voltou-se para o horizonte. - Aliás, meus parabéns. Você agora é um mestre.
-Obrigado – Khali sorriu. - O dobro de tarefas, o dobro de responsabilidades.
-Você dará conta. - Ameenah deu seu voto de confiança. - Pelo menos, quando fingíamos ser Jedis quando crianças, você sempre dominava as batalhas nas brincadeiras. - Ela sorriu.
-Tem razão, eu era um ótimo mestre Jedi – O rapaz riu. - Era até melhor do que você.
-Eu não disse isso – A garota riu também, arqueando a sobrancelha. - Não se superestime.
-Tudo bem, tudo bem – Khali ergueu as mãos, rendendo-se. - Logo poderemos comprovar isso.
-Sonhe.
Os dois Jedi continuaram rindo por mais alguns minutos, encarando a despedida de um dos dois sóis de Tedros, que se punha no horizonte. Aquele sol se chamava Lief, e aparecia apenas na época de verão e primavera. A outra estrela, Dashuri, iluminava o planeta no inverno e no outono, quando Lief se afastava. Os dois sóis nunca se encontravam; quando um se aproximava para aquecer o planeta, o outro se afastava em viagens distantes para que o primeiro pudesse brilhar – afinal, luz demais poderia queimar o planeta. Porém, juntos, os dois sóis realizavam um ótimo trabalho fazendo de Tedros um dos planetas mais bonitos e ricos em natureza de toda a galáxia.
E depois dos risos, a conversa caiu no silêncio novamente.
A pequena cerimônia contava com a presença do Conselho e dos mestres que guiaram aqueles padawans até tal momento, enquanto o Supremo Mestre Idowu proferia palavras de coragem, equilíbrio e incentivo aos mais novos membros da Ordem. Todos os outros aprendizes estavam sentados à volta deles, com seus sabres de luz acesos, como se iluminassem o caminho dos novos mestres.
Khali estava ajoelhado bem no centro, ao lado dos dois outros padawans a receberem seus títulos, com mestre Yerodin logo atrás de si. Idowu estava de pé a frente deles, proferindo lindas palavras sobre a Força e seus destinos. O coração de Khali estava cheio de paz e exultação, orgulhoso de seu caminho até ali e ansioso com os novos rumos que ele iria tomar.
Mestre Idowu colocou-se à frente do rapaz. Ele pegou o sabre de luz de Khali e ativou-o, aproximando-o do ombro direito do aprendiz. Skywalker abaixou a cabeça e fechou os olhos.
-A Força guiou você durante toda a sua vida, e te guiará até o fim dela por todos os caminhos e escolhas que fizer. De agora em diante, ela será seu instrumento de justiça e benevolência, será seu guia espiritual e guerreiro, será sua única certeza e verdade. Promete ouvi-la e obedecer suas vontades, e seguir sua doutrina por meio dos ensinamentos e valores dos Jedi pelo resto de sua jornada?
-Eu prometo. - Khali respondeu convicto.
-Pelo poder investido em meu título de Supremo Mestre e pela vontade da Força, eu o nomeio Mestre Jedi.
Com um movimento rápido para cima, Idowu puxou a lâmina do sabre de luz para cortar dos cabelos de Khali a longa e fina trança lateral, que durante todo aquele tempo servira para simbolizar o seu estágio de aprendiz.
Uma sinapse de alegria e satisfação percorreu o rapaz, que sentia-se com uma missão cumprida, tendo novos horizontes se abrindo a partir do encerramento de um ciclo e o início de outro cheio de diversas outras aventuras.
Todos os padawans e mestres ali presentes ergueram seus sabres de luz no ar, e com uma só potente voz entoaram o mantra dos Jedi.
Não há emoção, há paz.
Não há ignorância, há conhecimento.
Não há paixão, há serenidade.
Não há caos, há harmonia.
Não há morte, há a Força.
Era fim de tarde em Tedros, as árvores balançavam no ritmo da brisa leve e os exóticos pássaros interestelares começavam a se esconder em seus ninhos. O Conselho Jedi tinha sido convocado para uma reunião importante no Salão Redondo, com a presença de alguns mestres e aprendizes de prestígio, para ouvirem e discutirem sobre algo extremamente significativo para a Ordem.
O Supremo Mestre aguardava a chegada de todos os convocados sentado em sua poltrona em frente a mesa, enquanto um a um os membros do Conselho se colocavam em seus assentos e os demais aprendizes e mestres se acomodavam à volta deles, pois a reunião era minuciosa e requeria proximidade entre os participantes para discussão. Respectivamente a direita e a esquerda de Idowu estavam Gahiji e Mothusi, aguardando a oportunidade para falarem de sua descoberta.
-Excelentíssimos colegas do Conselho, mestres e aprendizes Jedi – Iniciou Idowu. - Vocês todos foram chamados aqui, pois eu recentemente, acompanhado pelos cavaleiros Mothusi e Gahiji, estive em contato com os mestres da antiga Ordem Jedi por meio de meditações. Ao conversar com os fantasmas da Força, que tanto nos ajudaram e aconselham, descobrimos que alguns conceitos que durante todos estes anos tomamos como certeza, estão errados.
-Durante todo este tempo, os Jedi souberam que o Escolhido, protagonista da profecia milenar dos cavaleiros, era Anakin Skywalker. Conhecido como Darth Vader, ele foi o cavaleiro Jedi que, segundo a profecia, foi responsável por trazer equilíbrio para a Força. - Disse mestre Mothusi. - No entanto, isso está errado. Anakin não era o Escolhido.
Um burburinho começou entre os Conselheiros e os mestres presentes na sala.
-Anakin é um dos Jedi mais poderosos que já existiu. Mesmo tendo se tornado um Sith, ele ainda era considerado o Escolhido pois nenhum outro cavaleiro jamais superara seu poder. A prova para sua afiliação à profecia se devia ao acontecimento da queda do Império, em que ele, como Darth Vader, matou o Imperador para salvar a vida de seu filho Luke. Este teria sido o momento em que a Força fora reequilibrada por ele, pois com a consequente queda do Império o Lado Negro estaria extinto e a Luz estaria no comando da Galáxia novamente. - Explicou Gahiji.
-No entanto, agora que sabemos que Darth Styg é na verdade o antigo Imperador, este conceito fica em xeque. A Força nunca foi equilibrada, pois o Imperador, que é quem sustentava o Lado Negro, nunca morreu. E por meio de diversas meditações em contato com a Força, conseguimos descobrir por que.
-A resposta encontra-se em uma antiga lenda dos Sith. Segundo essa história, há muito tempo atrás, existia um mestre Sith chamado Darth Plagueis, que era tão poderoso que aprendeu a evitar a morte. O segredo de seu conhecimento era muito bem guardado, e ele utilizava-o para salvar seus aliados. A única pessoa a quem Plagueis ensinou o poder foi seu aprendiz. Por ganância, o padawan, após aprender tudo o que podia com seu mestre, assassinou-o e guardou o segredo da imortalidade consigo. - Contou Gahiji. - Descobrimos que esta lenda é real. O fato aconteceu há muito tempo atrás, e Plagueis realmente teve um padawan, que roubou seu poder e o traiu. O Sith citado na lenda como o aprendiz traidor é o próprio Imperador.
-Ele assassinou seu mestre quando ainda era muito jovem, e durante anos manteve seu conhecimento escondido. Styg utilizou-se disto para chantagear Anakin Skywalker, e o trouxe para o Lado Negro pela promessa da vida eterna. Porém, mais tarde, quando Vader e Luke Skywalker uniram-se e o derrotaram, o Imperador foi arremessado numa queda de dez metros em direção às fuselagens da nave Imperial, que explodiu - o que acreditava-se que tinha o matado. No entanto, Styg utilizou as habilidades que conhecia para manter-se vivo. Durante todos estes anos, ele esteve escondido e se recuperando de seus ferimentos, para então poder retornar como Darth Styg e retomar o poder da Galáxia. - Disse Idowu.
-É por este motivo que Anakin Skywalker nunca restaurou realmente o equilíbrio da Força. - Mothusi explicou. - Como o Imperador nunca morreu, a Força nunca esteve realmente balanceada, pois o Lado Negro não se extinguiu; estava apenas adormecido.
-Mas Anakin Skywalker possuía o maior nível de midi-chlorians já registrado – Protestou um dos conselheiros. - Ele era filho da Força!
-Isso foi dito durante muito tempo – Contradisse mestre Gahiji. - Mas não é exatamente verdade. Anakin foi concebido sem um pai, e por isso acreditava-se que seu nascimento acontecera por vontade da Força, que o gerara espontaneamente no ventre da mãe por meio das midi-chlorians. Agora sabemos: ele foi sim concebido por meio das midi-chlorians, mas não por conta da Força.
-Darth Plagueis, o antigo mestre de Styg, tornou-se um fantasma da Força após ter sido assassinado. Ele carregava um ódio mortal por seu antigo aprendiz, por ter acabado com sua soberania e ter roubado seu poder, então planejou durante anos vingar-se dele. - Contou Idowu. - Como Plagueis sabia como dominar as midi-chlorians para controlar a vida, ele utilizou seus poderes para manipulá-las, de dentro do plano espiritual da Força, para que elas gerassem uma criança; um garoto tão poderoso que impressionaria a todos os seguidores da Força, tanto do lado Claro como do lado Sombrio, que se interessariam imensamente por suas habilidades. Porém, além de dar a esta criança o poder, Plagueis também colocou nela muito ódio, medo, ganância, orgulho e desejo por soberania. Seu objetivo era que estas características levassem o garoto a, mais tarde, virar-se para o Lado Sombrio. O Imperador se interessaria muito por suas habilidades, e eventualmente faria dele o seu aprendiz – o que, de fato, ocorreu. Então, depois de um tempo, o poderoso aprendiz mataria Styg, assim como Styg matou seu próprio mestre. Dessa forma, Plagueis conseguiria sua vingança, fazendo com que o aprendiz se voltasse contra seu professor e acabasse com seu poder, ironizando o que foi feito a ele. Anakin foi seu instrumento.
-Mas se Anakin não era o Escolhido, então quem é? - Perguntou mestre Organa.
-Não sabemos. - Disse Mothusi. - Ele ainda não foi descoberto. Mas será em breve.
-E o que ele fará?
-O extraordinário acontecimento da geração da vida sem a presença de um pai, a partir da fusão de midi-chlorians, só se repetirá mais uma vez na história. - Proferiu Idowu. - Agora, a concepção será vontade da Força, sem o auxílio de nenhum terceiro, especialmente para que o fruto cumpra a missão que lhe será dada. A criança gerada por este processo, que atualmente já é nascida, será a verdadeira Escolhida. Este aprendiz ou aprendiza será muito poderoso, e o nível de midi-chlorians em seu sangue estará sempre subindo a medida que ele treinar e se desenvolver, até que se torne cem por cento. Quando isso acontecer, este Jedi será capaz de um poder especial, o Poder do Escolhido, que apenas ele terá; tal habilidade irá auxiliá-lo na batalha contra Darth Styg, possibilitando que ele, se seguir o caminho certo, restaure o equilíbrio da Força de uma vez por todas.
-E como saberemos quem é o Escolhido?
-Segundo os antigos mestres, ele irá se revelar quando estiver pronto. - Disse Gahiji.
-Mas o Escolhido já tem consciência de quem é?
-Quanto tempo irá demorar?
-Que poder é esse?
-Quer dizer que Styg vai perder?
-Acalmem-se, todos – Idowu bradou por cima das diversas perguntas disparadas pelos reunidos ao mesmo tempo. - Precisamos ter paciência; a Força nos revelará tudo que precisamos saber. Mas por enquanto, isso é tudo que temos.
O buchicho e as discussões continuaram até depois que a reunião terminou, entre mestres, aprendizes e conselheiros. Logo, a novidade tomou conta da Academia inteira; todos estavam surpresos e curiosos com as descobertas, e uma pergunta comum a todos eles: quem era o verdadeiro Escolhido, e onde ele estaria agora?
Ameenah deixou a sala redonda com vários pensamentos funcionando. Um novo Escolhido era uma notícia e tanto, que servia para gerar muitas dúvidas. Mas também, traria um pouco de esperança à Ordem, que andava tão preocupada com os recentes acontecimentos e descobertas. Um salvador poderoso e benevolente era tudo que eles precisavam para restaurar a fé.
A garota lembrava-se de ter ouvido o nome Anakin Skywalker antes da reunião. Houvera alguma citação nas histórias de mestre Horus e em livros Jedi que já lera. Ela recordava-se que no corredor principal da Academia havia um quadro do homem pendurado, junto com retratos de muitos outros grandes mestres Jedi da antiga e da atual Ordem. E sabia também que Anakin era o pai de Leia e Luke Skywalker.
Ameenah foi até o corredor dos heróis, e constatou que sua memória não falhara; havia mesmo um retrato seu ali. O rapaz de cabelos loiros compridos e olhos claros com uma cicatriz ao lado direito do rosto, encontrava-se empunhando um sabre de luz azul com aparência destemida. Ao olhar para o lado, Ameenah notou que Leia estava lá, parada em frente ao quadro observando-o com ar pensativo. A garota hesitou, pois não sabia se era uma boa hora para conversas, mas decidiu aproximar-se da mestra.
-Um rosto bondoso - Disse a mulher, sem tirar os olhos da pintura. - Mas com uma história surpreendentemente sombria a sua volta.
-Sinto muito, mestre. – Lamentou Ameenah. Não deve ter sido fácil para Leia ouvir o descrédito de seu pai daquela forma.
-Oh, não sinta. A Ordem precisa mesmo de um herói para guiá-la por estes tempos tão sombrios. - Falou Leia. - Só é uma pena que agora a história Anakin Skywalker vá se resumir apenas a seus erros e ao estrago que eles causaram.
-Como assim?
-Ser o Escolhido fazia com que, de alguma forma, sua vida toda não tivesse servido apenas para trazer a perdição dos Jedi. – Explicou Organa, com um meio sorriso melancólico. - Ao menos, ele havia feito algo bom. Mas agora, até sua coragem para salvar a vida do filho será chamada de falha.
-Mas o que Anakin fez manteve a galáxia a salvo até agora. O Imperador demorou anos para retornar.
-Não acho que isso seja o bastante para impedir que ele seja rotulado apenas como um terrível Sith. Mais do que já é. Uma vida tão difícil, tantas escolhas erradas... - Lamentou Leia. - Pode parecer estranho, mas eu sempre acreditei que ele era um bom homem, apesar de ter sido Darth Vader. Um bom homem a quem coisas terríveis aconteceram. E agora, parece que foi tudo em vão. O que será que Luke pensaria?
As duas ficaram em silêncio alguns segundos. Leia pousou uma das mãos sobre o quadro, como se confortasse em saudade.
-É uma bela pintura. - Constatou Ameenah.
-Este quadro foi encontrado nos vestígios de um antigo templo Jedi que existiu em Tedros há muito tempo atrás - Ela contou para a garota. - Assim como os outros que estão nesta parede, e boa parte dos arquivos que compõem biblioteca da Ordem. Essa é uma das poucas lembranças de Anakin que não se referem a ele como o traidor e cruel Darth Vader.
A garota atentou-se mais para a obra.
-Não existe mais nada sobre ele? - Perguntou.
-No passado, os arquivos Jedi, assim como lembranças de poderosos cavaleiros antigos, eram muito maiores. Eram milhares de livros, estátuas, mapas, armas, artigos milenares... - Explicou Organa. - Porém, tudo isso foi perdido quando os Jedi foram extintos. Quando construímos a nova Ordem, conseguimos recuperar apenas uma pequena parcela de todo o conhecimento e da cultura que havia naquela época. Algumas coisas estavam em Tedros, outras guardadas com Luke, outras espalhadas pela galáxia... e infelizmente muitas delas, a maioria, se perderam para sempre. - Leia lamentou. - Vamos demorar séculos para juntar um material tão grande quanto o anterior.
-Devem haver tantas histórias... - Disse Ameenah. - É uma pena que jamais poderemos conhecê-las.
-Eu concordo. - Leia falou e suspirou. - Mas não se martirize por isso, minha aprendiz. Ao menos, temos a possibilidade de escrever uma história nova. - Ela sorriu ternamente para Ameenah. - Me desculpe por cancelar o nosso treinamento hoje, querida. Precisava conversar com Supremo Mestre sobre todas essas questões ligadas ao Escolhido. Eu vou para o templo agora, meditar um pouco. Quer vir comigo?
-Sem problemas, mestre. – Respondeu a garota. - Eu adoraria, mas tenho alguns assuntos a resolver. Obrigada.
-Tudo bem. - Leia acenou com a cabeça. - Que a Força esteja com você, minha aprendiz.
-Que a Força esteja com você, mestre.
As duas fizeram uma reverência rápida, e então Organa se retirou.
Ameenah virou-se para encarar o quadro na parede mais uma vez. Nas histórias que mestre Horus lhe contava quando criança, Darth Vader sempre fora um vilão muito malvado, que torturava e matava brutalmente os seus inimigos, e tinha sido responsável pela extinção dos antigos Jedi. Por sua causa, milhões de pessoas morreram nas mãos do Império durante anos - inclusive sua própria esposa, que ele mesmo matou – gerando uma ruína quase impossível de erradicar.
A garota encarou os olhos azuis sérios e destemidos do homem desenhado à sua frente. Anakin havia cometido diversas atrocidades enquanto era vivo, e foi responsável pela desgraça em que a galáxia esteve durante muitos anos. Ameenah se perguntou como todos foram capazes de acreditar por tanto tempo que ele tinha sido o encarregado de trazer o equilíbrio da Força. Até porque, naquele momento, ela não estava nada equilibrada.
Os pensamentos de Ameenah pensamentos foram em direção a Khali. Ele também devia estar muito abalado com a notícia do Escolhido, afinal Anakin Skywalker era seu avô. Família é algo muito importante para o rapaz, portanto qualquer coisa relacionada a sua descendência devia ser de grande impacto. Ela se preocupou com ele por um segundo, até lembrar-se dos acontecimentos da última semana.
Khali era um assunto delicado para seus pensamentos. Ameenah respirou fundo, contrariada pela própria lembrança. Eles precisavam conversar, como dois adultos. Resolver tudo que tinha acontecido, se desculpar pelos maus entendidos, e entrar num acordo pelo bem de seus trabalhos na Ordem. Seja lá o que tenham sentido, feito ou falado, era hora de enterrarem os sentimentos e seguirem o que o Código Jedi mandava.
Passar o resto da vida evitando um ao outro não era a solução. Sim, ele tinha a magoado e mentido para ela. Sim, eles um dia foram apaixonados um pelo outro. Sim, talvez eles ainda fossem. Mas nada disso importava, principalmente porque, numa competição entre seus sentimentos e suas missões, é claro que a primeira opção perderia. Era hora de deixar isso claro e transformar o drama dos últimos dias em águas passadas por baixo da ponte.
A garota decidiu ir atrás dele, resolver aquele assunto de uma vez por todas e poder descansar sua consciência, para ocupá-la com coisas mais importantes. Ameenah saiu andando determinada pelo castelo, e perguntou a um dos padawans onde Khali estava. O garoto indicou-lhe a frente do palácio, e lá ela foi – insegura e preocupada, mas decidida.
Ameenah estava andando em direção ao jardim, e viu Khali sentado debaixo de uma árvore na beira do lago. Ela respirou fundo e se aproximou dele, que estava imerso em pensamentos, com um ar longínquo.
-Imagino que isso tudo tenha sido uma revelação e tanto para você - Disse a garota, e Khali pareceu não ter notado a presença dela até ali.
-É, foi sim. - Ele concordou, e Ameenah sentou ao seu lado. - Acho que foi para todos de um modo geral.
-Ninguém esperava por isso. Mas é bom, de certa forma.
-É sim. Espero que o novo Escolhido apareça depressa – Disse Khali. - Precisamos dele.
-Precisamos. - Ameenah concordou, e depois ficou em silêncio. Aquilo era um pouco desconfortável.
-O que veio fazer aqui? Pensei que estivesse me evitando. - O rapaz perguntou.
-Eu estava. Mas então percebi que não poderia fazer isso pra sempre, e decidi vir aqui para resolvermos o que precisamos de uma vez.
-Entendi. - Khali respondeu, parecendo ponderar. - Eu começo, então. Me desculpe por ter mentido pra você, por ter omitido quem eu era e por ter me aproximado de você daquele jeito no jardim das estátuas.
-Aceito suas desculpas – Ameenah respondeu. - Me desculpe também, por não ter compreendido seus motivos pra se esconder e por agir daquele jeito no jardim das estátuas.
-Aceito suas desculpas. - Ele concluiu.
O silêncio tomou conta da conversa novamente. O sol já estava se pondo, sumindo por dentro das árvores da densa floresta do outro lado da margem do lago, e refletindo sua luz dourada nas águas calmas. Os dois Jedi observavam a natureza exuberante, sem olhar um para o outro.
-E agora? - Khali perguntou. - O que vamos fazer?
-Como assim?
-Não podemos fazer nada, se você me entende. E o que vamos fazer, então?
Ameenah pensou por algum tempo.
-Esquecer tudo, eu acho. - Ela falou diretamente, e Khali a olhou. - Você sabe, temos que deixar qualquer sentimento de lado. Eles podem nos comprometer.
O rapaz ficou quieto.
-Até que ponto você acha que as regras tem valor se te impedem de fazer o que você sente ser certo? - Perguntou.
Ameenah sorriu de lado. De fato, ela nunca permitiu que as regras a impedissem de fazer aquilo em que acreditava. Ela seguiu seus sonhos, fugiu de casa, enfrentou muitas coisas para chegar a onde estava. Mas agora era diferente.
-Prefiro não pensar nisso. - Ela respondeu.
-Eu também. - Ele concordou sorrindo de lado. -Então vamos continuar como estamos?
-Acho que sim.
-Muito bem. - Khali voltou-se novamente para o horizonte.
-Acha que um dia vamos nos acostumar? - A garota perguntou. - Conviver com isso e não dar importância?
-Não sei. Espero que sim. - Respondeu o rapaz. - Mas, se for pra continuar vendo você e convivendo da forma como fazíamos antes, pra mim já é válido.
-É, pra mim também. - Concordou. Ela voltou-se para o horizonte. - Aliás, meus parabéns. Você agora é um mestre.
-Obrigado – Khali sorriu. - O dobro de tarefas, o dobro de responsabilidades.
-Você dará conta. - Ameenah deu seu voto de confiança. - Pelo menos, quando fingíamos ser Jedis quando crianças, você sempre dominava as batalhas nas brincadeiras. - Ela sorriu.
-Tem razão, eu era um ótimo mestre Jedi – O rapaz riu. - Era até melhor do que você.
-Eu não disse isso – A garota riu também, arqueando a sobrancelha. - Não se superestime.
-Tudo bem, tudo bem – Khali ergueu as mãos, rendendo-se. - Logo poderemos comprovar isso.
-Sonhe.
Os dois Jedi continuaram rindo por mais alguns minutos, encarando a despedida de um dos dois sóis de Tedros, que se punha no horizonte. Aquele sol se chamava Lief, e aparecia apenas na época de verão e primavera. A outra estrela, Dashuri, iluminava o planeta no inverno e no outono, quando Lief se afastava. Os dois sóis nunca se encontravam; quando um se aproximava para aquecer o planeta, o outro se afastava em viagens distantes para que o primeiro pudesse brilhar – afinal, luz demais poderia queimar o planeta. Porém, juntos, os dois sóis realizavam um ótimo trabalho fazendo de Tedros um dos planetas mais bonitos e ricos em natureza de toda a galáxia.
E depois dos risos, a conversa caiu no silêncio novamente.
Capítulo 13
-Com todo o respeito, Supremo Mestre, é só uma questão de tempo.
-Mas o que sugere que façamos, então? Arrisquemos tudo por medo?
-Não por medo, mas por estratégia.
Os membros do Alto Conselho Jedi estavam reunidos com os cientistas da Academia, tarde da noite, para receberem os relatórios do andamento da pesquisa sobre os tiros Anti-Luz. As notícias não eram muito satisfatórias, uma vez que os estudos não progrediram nem um pouco durante o mês inteiro.
-Mestre Idowu, reavalie sua compreensão. - Disse mestre Mothusi, enquanto ele, Idowu, Gahiji e Leia caminhavam pelos corredores do palácio em reflexão grupal. - Nossos cientistas não irão descobrir muito mais com as informações que temos. Uma bala de blaster não é o suficiente para revelar o que é esta arma e como destruí-la. Styg jamais deixaria que tais informações fossem fáceis de encontrar.
-Tenho consciência disso, Mothusi – Respondeu Idowu com o semblante sério. - Porém, ainda não concordo com a ideia dos senhores. Atacar fere os princípios Jedi. Nós não começamos guerras.
-Mestre, tal plano também me preocupa – Falou Leia Organa. - Mas infelizmente, a guerra já começou. Styg planeja exterminar os Jedi completamente com esta arma, portanto, não iremos ter paz até que ele o faça. Seus dois ataques contra nós não invalidaram tantos guerreiros para que ele possa prosseguir com seus planos de domínio do governo. Styg voltará, e continuará retornando até que acabe com cada um de nós.
-Sabemos onde encontrá-lo. Precisamos finalizá-lo antes que ele nos finalize. - Defendeu Gahiji.
Há cerca de duas semanas, mestre Idowu conseguira encontrar uma localização na galáxia com grande concentração de Força Negra, por meio de suas meditações. A energia sombria era muito abundante, e isso o fez crer que encontrara a base do exército de Styg – ou uma delas. Pela gravidade da informação, e devido ao grande volume de notícias polêmicas já rodando pela Academia, tal descoberta ficou apenas entre os membros do Conselho para que decidissem o que fazer a respeito.
-Nosso inimigo não perde tempo, Idowu. Provavelmente já deve estar planejando um novo ataque ou emboscada para os Jedi. Precisamos agir – Leia enfatizou. - e rápido. Enquanto ainda possuímos guerreiros aptos e saudáveis para isso.
-Pense em todos os guerreiros que já perdemos. Pense em Daren – Gahiji tocou no ponto fraco do Supremo Mestre, que piscou várias vezes ao ouvir a menção ao seu ex-aprendiz. - Estes cavaleiros estão sem seus poderes, talvez para sempre. Precisamos garantir que seus sacrifícios não sejam em vão. Ou então a Ordem toda ficará como eles.
-Mestre, o Senhor sabe que não venceremos esta batalha sozinhos. Precisamos do apoio dos Democratas para podermos enfrentar Styg e vencer. - Falou Gahiji. - Por mais que nossos guerreiros sejam muito bem treinados, precisamos de investimento para desenvolver nossas armas. Styg não fica para trás com suas tecnologias, e precisamos superá-lo. Se provarmos nosso valor contra ele e acabarmos com a desconfiança que estes tiros causam, talvez a Democracia finalmente aceite uma aliança conosco.
-Este planeta que o senhor achou, mestre, pode ser o esconderijo da fonte que os cientistas falam. Um lugar incrivelmente repleto de Força Negra, que abastece os blasters Anti-Luz. Talvez seja isso que o senhor sentiu. Se formos até lá e pegarmos os guardas de surpresa com um grande exército, talvez consigamos destruir esta fonte. - Sugeriu Mothusi.
-Não me agrada nem um pouco expor nossos cavaleiros a tamanho perigo – O Supremo Mestre disse após um longo suspiro. - Mas acredito que os senhores tem razão.
-E o que faremos a respeito dos Jedi que já foram atingidos pelos tiros? - Perguntou Leia.
-Bom, para estes só nos resta rezar. Infelizmente, é o que podemos fazer. - Gahiji lamentou.
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O dia amanheceu agitado na Academia, com um pronunciamento convocando todos os mestres e padawans para o salão principal antes mesmo do café da manhã. O Supremo Mestre aguardava seus estimados cavaleiros para anunciar a missão corajosa em que estavam prestes a se envolver.
-Os tempos mudaram, meus caros Jedi - Proferiu o homem grisalho, com os olhos baixos de consternação. - Infelizmente, nossa Academia não está mais imersa numa maré de paz e tranquilidade, onde a Luz impera nos permitindo a liberdade em nossa crença e vida. Um opositor ameaça nossa paz, nosso equilíbrio, nossa doutrina, e todos aqueles a quem juramos proteger com ela. A Ordem precisa agir. - Todos os cavaleiros ajeitaram-se em seus lugares, surpresos com a frase. - É com pesar que peço isso a vocês, meus cavaleiros. Gostaria de não ter que envolvê-los em guerras; porém a Força nos reservou este destino, e a Força tudo controla. Ela encontra-se desequilibrada, suja, e conta conosco, seus conhecedores e discípulos fiéis, para trazer seu brilho e estabilidade de volta. A galáxia precisa de nós, jovens guerreiros, e nós devemos defendê-la.
Neste momento, uma movimentação de acordo se iniciou entre os guerreiros ouvindo o discurso.
-Por meio de contato com a Força espiritual, o Conselho conseguiu rastrear o paradeiro de uma grande concentração de Força Negra na galáxia. Acreditamos que Styg tem suas tropas sediadas neste local, e que a fonte dos tiros Anti-Luz está escondida lá. O plano que temos consiste em levar todos os cavaleiros aptos, com idade suficiente e que não foram expostos aos tiros, para lutar com as Tropas Cinzentas e tentar destruir a fonte da arma que tem neutralizado nossos poderes. Desta forma, evitando que Darth Styg nos extermine e assim encontre o caminho livre para tomar o poder da galáxia novamente. - Idowu explicou, e a agitação entre os cavaleiros aumentou. - Nossa missão se passará no planeta Pasua, onde as savanas propiciam um esconderijo cercado de animais ferozes e selvagens para a base militar. O plano é partir ao meio dia, com todos os convocados, e fazer uma entrada incisiva com um ataque inesperado para as tropas. Combatendo os soldados e encontrando Styg e a fonte de seu poder, teremos a chance de acabar com isso de uma vez por todas.
Ao final, todos os cavaleiros presentes concordaram e reverenciaram o Supremo Mestre, com o desejo de batalha estampado em suas expressões sérias e concentradas. Logo após o pronunciamento, os guerreiros dirigiram-se à sala de armas para equiparem-se. Era hora de se preparar. As naves foram abastecidas, os sabres polidos, as preces à Força feitas com fé. O clima de preparação predominou em Tedros durante toda a manhã.
Tirando os mestres membros do Conselho, que na juventude haviam servido à Aliança Rebelde, nenhum dos cavaleiros da Ordem havia estado em uma guerra de verdade. Todos os Jedi que foram treinados pela nova Academia cresceram já nos tempos de paz da Democracia, sem presenciar batalhas. Como cavaleiros, o máximo que enfrentaram eram pequenas disputas com caçadores de recompensa ou piratas espaciais, que eram facilmente derrotados pelo seu poder e habilidades inferiores. Desta vez era diferente; o inimigo era poderoso, misterioso e muito perigoso, de uma maneira que nem mesmo os mestres mais experientes haviam visto. O cuidado precisava ser redobrado, assim como a coragem e a disciplina, para que o ataque tivesse sucesso.
Ameenah preparava-se na sala de armas assim como todos os outros cavaleiros convocados para o combate. A garota abastecia seu cinto de utilidades com armas e outros objetos úteis para a batalha, enquanto pensava sobre a missão em que estavam prestes a embarcar. Durante anos a princesa sonhara em fazer parte daquilo. Participar de batalhas, ajudar as pessoas, viver aventuras e salvar vidas. Agora, tudo parecia bem mais perigoso e amedrontador do que na sua imaginação, porém, a coragem da garota vinha de dentro, de algum lugar desconhecido, que ao invés de tremer de medo a fazia enrijecer-se e enfrentar a situação a qual ela sabia que nascera para enfrentar.
Khali também fazia parte dos guerreiros em preparação. Já de uniforme e sabre de luz à postos, o rapaz decidiu fazer sua prece antes da batalha. Ele dirigiu-se até o corredor dos heróis, onde, bem no meio da parede, havia um quadro de seu pai pendurado. Luke Skywalker, o grande salvador da galáxia. Como Khali queria que o pai estivesse ali, para lutar ao lado dele e orgulhar-se de suas conquistas. Como queria ser como ele. O rapaz fechou os olhos, e pediu para que a Força lhe desse sorte durante a batalha; pediu para que o pai, onde quer que estivesse, conseguisse sentir sua presença e desse a ele coragem e sabedoria.
Era a primeira vez que a Ordem se aventurava a ministrar qualquer tipo de ataque. Uma missão como aquela gerava muita insegurança, mas também muito vigor por parte dos Jedi em geral. Afinal, defender a galáxia era a função de um cavaleiro, e todos ali treinaram por isso a vida toda. Tropas por tropas, os guerreiros embarcaram nas naves, preparando-se para a viagem até o desconhecido. Então, ao meio dia, eles deixaram a atmosfera de Tedros, e depois de algum tempo no espaço, a forma redonda e bege de Pasua já se tornava visível.
Os Jedi pousaram no solo do planeta utilizando caças menores, indetectáveis por radar, para que sua presença não fosse percebida pelo inimigo. Segundo as suposições dos chefes da missão, Idowu e Mothusi, eles estavam a um quilômetro de savana da base escondida de Darth Styg.
Seria necessário encontrar transporte terrestre para acelerar a chegada. As savanas de Pasua eram habitadas por feras e animais interestelares das mais variadas espécies exóticas e perigosas da galáxia - o que, nas mãos de Jedis, poderia representar uma montaria que serviria ao mesmo tempo como transporte e arma poderosa. Eles haviam pousado propositalmente perto de um bando de mastiff-phalones, animais grandes que eram uma curiosa mistura de ave com dinossauro. Utilizando a Força para conectar-se à mente daqueles seres, os cavaleiros puderam sentir o quanto a presença sombria do Lado Negro os amedrontava. Eles estavam sofrendo, e os Jedi prometeram ajudá-los. Eles usaram o poder da Luz para acalmar as enormes feras, e elas permitiram que os Jedi se aproximassem, e então montassem neles.
Devidamente acompanhados de suas feras domadas, os cavaleiros Jedi seguiram em bando. Andaram por cerca de dois quilômetros até alcançarem a planície em que a base militar estava instalada, e então aceleraram o passo. Logo, a enorme estrutura cinzenta ficou visível no horizonte, com fracas luzes de sinalização acesas. Eles se prepararam para o ataque.
De longe, os trotes dos enormes phalones no solo duro da savana já podiam ser ouvidos, tremendo o chão com baques surdos. Os guardas dos portões da base se colocaram a postos, e surpreenderam-se ao ver dezenas de Jedi montados nos enormes animais, preparados para atacar.
-Atenção, código azul 2373, invasores no perímetro dos portões - Disse um soldado cinzento em seu comunicador de pulso, enquanto empunhava seu blaster. - Repetindo, código azul 2373!
Os tremores foram aumentando a medida que os cavaleiros se aproximavam. Sem demora, uma tropa de soldados cinzentos se apresentou na frente da base, com armas em punho e em posição de ataque, esperando pela chegada dos inimigos.
Os trotes imponentes ficavam cada vez mais intensos. Metro a metro, as lâminas azuis e verdes dos sabres começavam a se acender e revelar a grandeza do grupo de Jedi que partia para a batalha. Os cinzentos, carregando seus blasters com precisão, começaram a avançar em formação protetiva para barrar os invasores. Quando a distância se tornou viável, eles começaram a disparar a longo alcance seus tiros de veneno. Os Jedi, montados em cima das feras, agitavam suas espadas para defenderem-se e bloquear as balas. O avanço não foi contido, e logo eram apenas cinco metros de distância entre as espadas laser e os revólveres acinzentados.
-Pela Força luminosa! - Bradou um Jedi, seguido por gritos de apoio de seus companheiros.
O ataque pegara aos Cinzentos de surpresa. Sem pelotões suficientes para segurar o avanço dos Jedi, o Lado Luminoso da batalha os alcançou dentro do perímetro da base. Os animais enormes que montavam foram abrindo caminho por entre os soldados com seus golpes brutais, e os sabres começaram a rodopiar pelo ar em lutas corpo a corpo.
Mais tropas negras apareceram de dentro da base. Com seus blasters em modo de combate próximo, os soldados combatiam os Jedi que já haviam caído ou descido de seus phalones, que por sua vez encontravam-se derrubando até quatro soldados por vez com suas investidas e cabeçadas no exército inimigo.
Os Jedi ganhavam espaço. Pouco a pouco, eles avançavam no território conforme o plano, na tentativa de conseguir infiltrar uma das equipes dentro da base para tentar encontrar a fonte das armas. Os cavaleiros juntavam-se em grupos para defenderem uns aos outros e incidirem para tentar uma invasão.
Yerodin e Ameenah lutavam lado a lado, já no chão, combatendo os cinzentos que aos poucos começaram a cercá-los. Golpes daqui e de lá, e logo eram dois contra dez. Ayana e Khali juntaram-se a eles, montados em seus phalones, e arremessaram os soldados que os emboscavam para metros longe com um coice. Os primos desmontaram-se das feras, que saíram golpeando cinzentos, e então uniram-se ao mestre e à princesa para que juntos se aproximassem da porta lateral da base.
O grupo espalhou-se ligeiramente para dar conta da nova investida de soldados que se aproximara deles. Ameenah combatia um deles com golpes ágeis de sabre, desviando a lâmina insistente do facão de luz do cinzento. Khali, que encontrava-se a poucos metros, notou a cena e viu que um soldado aproximava-se da garota por trás. Com um giro rápido, a princesa derrubou o inimigo, mas não notara a aproximação do segundo. Skywalker estava muito longe para intervir, então, para ajudar a parceira, arremessou seu sabre, que atingiu o cinzento bem nas costas, e logo em seguida puxou-a de volta utilizando a mente. Ameenah virou-se para trás, alarmada, e agradeceu rapidamente com um gesto de cabeça que o rapaz correspondeu, e logo em seguida os dois Jedi voltaram a enfrentar mais inimigos.
Os sabres se chocavam com os blasters em forma de facões luminosos super afiados, enquanto o quarteto avançava na direção da base. Os pelotões cinzentos, agora todos a postos para a batalha, começaram a chegar montados para poder competir com os Jedi utilizando os phalones. Eles utilizavam katzens, uma espécie de felino de aproximadamente dois metros de comprimento com enormes presas e um rabo de crocodilo, também nativos de Pasua. Aqueles animais possuíam uma peculiaridade: não eram afetados pelos truques mentais da Força, por uma resistência natural que desenvolveram. Portanto, os Jedi não conseguiam controlar seus instintos de forma que não os atacassem, e eles avançavam nos cavaleiros e em seus phalones livremente a mando dos soldados.
As duas feras se enfrentavam fervorosamente, enquanto seus cavaleiros travavam lutas de espadas e facões vorazes. Soldados caíam de ambos os lados, tanto Jedis quanto cinzentos. Alguns dos cavaleiros foram atingidos pelos tiros inibidores dos blasters, e ao passarem pelo estágio de intensa dor após o ferimento eram ajudados por alguns colegas para chegarem a um lugar seguro.
Enquanto a confusão acontecia, a porta principal da base se abriu novamente, mas sem liberar nenhum esquadrão armado. Desta vez, acompanhado por dois guardas, uma criatura obscura e encapuzada saiu de seu esconderijo, e era o próprio Darth Styg. O ciborgue sombrio saiu rangendo suas pernas mecânicas no piso metálico, e ao parar de frente para o combate, ativou o sabre de luz vermelho que possuía consigo.
De cara, o senhor das sombras golpeou dois cavaleiros que vieram ao seu encontro, decepando-lhes os braços que empunhavam os sabres de luz. Styg parecia visivelmente irritado com o movimento surpresa dos Jedi, e aquilo refletia em sua forma extremamente agressiva de batalhar. Ainda cercado por seus dois soldados ostensivamente armados e atirando em quem quer que se aproximasse, o homem robótico caminhava pesadamente por entre os tiros, o fogo e as feras.
O quarteto de Jedis assistia a cena pela direita - agora quinteto, pois Talib se juntara a eles a pouco. Ameenah observava a cena de esguelha, impressionada. Nunca tinha visto um sabre de luz vermelho antes. A arma era muito ameaçadora, e combinava com o reluzir quase púrpura dos olhos de Styg, o tornando ainda mais maligno.
O grupo de cavaleiros começou então a recuar, tentando acompanhar os movimentos do Sith para ver até onde ele ia. Imparável, Styg caminhou golpeando até uma extensão mais escondida da base militar, em forma de meia esfera, e lá entrou enquanto seus dois soldados seguravam os cavaleiros que tentavam invadir. Batalhando com alguns cinzentos, os Jedi do grupo próximo observaram aquilo com estranheza, e só alguns segundos depois tudo fez sentido.
A instalação, que parecia ser um prolongamento da base, era na verdade uma nave, e começou a ativar-se e abrir diversos compartimentos liberando asas e cabines para decolar. As turbinas traseiras da máquina acenderam-se, incendiando parte da vegetação próxima, e então a estrutura começou a mover-se. Aquilo desencadeou uma ideia, e pareceu gerar nos cavaleiros uma espécie de plano compartilhado.
Era no mínimo estranho que Styg decidisse abandonar a batalha e toda a sua base, com soldados e tudo, para ir embora. Ele sabia que os Jedi estavam lá atrás de algo, e sabia muito bem que havia certas coisas que precisava esconder deles. Provavelmente, o que quer que estivesse dentro daquela nave, era muito importante. Styg queria ocultá-lo e levá-lo para longe, e os Jedi tinham um ótimo palpite sobre qual seria este segredo.
Sem nem precisar usar palavras, Yerodin fez sinal para que todos corressem na direção da nave. Após finalizar os soldados com que estavam lutando, Ayana, Ameenah e Talib seguiram suas instruções, e os quatro partiram em direção à nave que preparava-se para decolar. Antes de avançar, Ayana e Ameenah olharam para trás, encontrando Khali ainda parado lutando contra dois cinzentos vorazes.
-Podem ir, eu vou atrasá-los! - Ele gritou, enquanto golpeava os soldados que agora eram três. - Encontro vocês num instante!
Sem tempo para discussões, as duas adiantaram-se para encontrar Yerodin e Talib, que dirigiram-se furtivamente até a parte de trás da nave tentando encontrar um jeito de entrar. Enquanto Talib os defendia dos soldados que se aproximavam, Yerodin usou seu sabre para perfurar a lataria da nave e arrumar uma forma de abrir uma das portas do compartimento de cargas para que pudessem entrar. Um a um, os quatro foram subindo na plataforma, Ayana sendo a última, que foi auxiliada por Talib e Ameenah quando a nave já começava a erguer-se do chão.
Enquanto decolavam, Khali os acompanhava com o canto da visão, concentrado em derrotar os cinco ou seis cinzentos que tentavam passar por ele e impedir seus colegas. Tiros começaram a voar na direção da traseira da nave, para derrubar os guerreiros invasores.
-Eu encontro vocês! - Gritou, para os quatro que defendiam os tiros girando os sabres no ar rapidamente.
A nave de Styg já estava a mais de dez metros do chão, preparando-se para dar velocidade total e deixar a atmosfera do planeta. O Jedi precisava encontrar uma forma de acompanhar seus amigos, e então começou a pensar enquanto se defendia dos soldados. Com um pulo seguido de um giro rápido, Khali conseguiu derrubar três dos seis que o ameaçavam, logo chutando um deles e derrubando mais um com um golpe nas costas.
Aproveitando a deixa, Khali correu o mais rápido que pôde na direção contrária da base, e logo encontrou um dos phalones que os Jedi utilizavam. Com os poderes da mente, o rapaz acalmou o animal, que logo cedeu a ele e permitiu que montasse em suas costas. Fazendo a fera correr o mais rápido que podia, Khali partiu rumo ao local de chegada dos Jedi, enquanto acompanhava a nave cinzenta mover-se pelo céu ganhando altitude. A ave réptil que o locomovia corria com máxima velocidade, logo levando-o até o local onde as naves dos Jedi estavam pousadas.
Khali saltou para fora do animal e correu na direção de um dos caças, abrindo sua cabine sem demora e colocando-se na cadeira do piloto. O rapaz ligou a nave e começou a pilotar, então decolou imediatamente com potência máxima para tentar alcançar a nave cruzeiro cinzenta que já se perdia na atmosfera. Pelos enormes tamanho e peso da nave inimiga, e sua consequente lentidão, talvez Khali ainda tivesse uma chance.
Aumentando os propulsores e colocando toda a força a frente, Khali logo encontrava-se a poucos metros da nave, que estava prestes a entrar no espaço. Os outros Jedi ainda estavam no compartimento de cargas segurando-se para não caírem. Quando Khali estava quase próximo, tiros de laser começaram a partir da cruzeiro na direção dele. O rapaz reagiu assustado, assim como seus companheiros de dentro da nave. Os cinzentos sabiam que ele estava ali.
Em resposta, Khali começou a atirar de volta utilizando as duas metralhadoras frontais de seu caça. A cruzeiro cinzenta começou a acelerar, seguindo para frente e para cima, e o Jedi a acompanhava. Os tiros continuavam vindo, e Khali continuava os respondendo. Para evitar serem atingidos, Yerodin e os outros fecharam o compartimento de carga, dando para Skywalker uma grande área de metal na qual podia mirar.
A troca de tiros e as manobras no céu continuaram por minutos, até que ambos atingiram o espaço. Khali jogava sua nave de um lado para o outro para desviar-se dos lasers da cruzeiro, que já possuía dois ou três buracos na lataria ocasionados pelos tiros do rapaz. Skywalker se aproximava cada vez mais da grande nave cinzenta.
Ao notarem a aproximação do caça, seus companheiros abriram novamente o compartimento de cargas, afim de que Khali pudesse pousar ali dentro, e travaram a alavanca para que o piloto da nave fosse incapaz de fechá-la. O garoto estava preparando-se para fazê-lo, desviando com maestria dos tiros contra si dando piruetas, voltas e curvas, demonstrando muita habilidade com a pilotagem. Até porque, ele tinha de quem herdar.
O piloto do cruzeiro parecia já estar ficando cheio daquela perseguição, então, com um movimento brusco, jogou sua enorme nave para cima do caça de Khali, batendo violentamente em seu lado esquerdo. Ayana e os outros se assustaram, vendo o Jedi dar uma pirueta desajeitada na tentativa de resistir ao impacto e retomar o controle da máquina. Após algumas manobras feias, Khali retornou ao equilíbrio, e voltou a perseguir a cruzeiro, que estava cada vez mais veloz e furtiva.
Novamente, apesar das tentativas de abatimento, Skywalker encontrava-se com seu caça a poucos metros do compartimento de cargas. Ele preparava-se para pousar, já liberando as rodas da nave, e seus companheiros abriam espaço no hangar para que ele finalmente o fizesse.
Porém, mais rápido do que todos puderam acompanhar, a cruzeiro fez uma curva acentuadíssima para a direita, liberando caminho para seus canhões e disparando um tiro. Os Jedi a bordo caíram no chão com a violência da manobra, e o super laser disparado acertou bem no meio do caça azul, que começou a rodopiar descontroladamente no ar, pegando fogo.
-Mas o que sugere que façamos, então? Arrisquemos tudo por medo?
-Não por medo, mas por estratégia.
Os membros do Alto Conselho Jedi estavam reunidos com os cientistas da Academia, tarde da noite, para receberem os relatórios do andamento da pesquisa sobre os tiros Anti-Luz. As notícias não eram muito satisfatórias, uma vez que os estudos não progrediram nem um pouco durante o mês inteiro.
-Mestre Idowu, reavalie sua compreensão. - Disse mestre Mothusi, enquanto ele, Idowu, Gahiji e Leia caminhavam pelos corredores do palácio em reflexão grupal. - Nossos cientistas não irão descobrir muito mais com as informações que temos. Uma bala de blaster não é o suficiente para revelar o que é esta arma e como destruí-la. Styg jamais deixaria que tais informações fossem fáceis de encontrar.
-Tenho consciência disso, Mothusi – Respondeu Idowu com o semblante sério. - Porém, ainda não concordo com a ideia dos senhores. Atacar fere os princípios Jedi. Nós não começamos guerras.
-Mestre, tal plano também me preocupa – Falou Leia Organa. - Mas infelizmente, a guerra já começou. Styg planeja exterminar os Jedi completamente com esta arma, portanto, não iremos ter paz até que ele o faça. Seus dois ataques contra nós não invalidaram tantos guerreiros para que ele possa prosseguir com seus planos de domínio do governo. Styg voltará, e continuará retornando até que acabe com cada um de nós.
-Sabemos onde encontrá-lo. Precisamos finalizá-lo antes que ele nos finalize. - Defendeu Gahiji.
Há cerca de duas semanas, mestre Idowu conseguira encontrar uma localização na galáxia com grande concentração de Força Negra, por meio de suas meditações. A energia sombria era muito abundante, e isso o fez crer que encontrara a base do exército de Styg – ou uma delas. Pela gravidade da informação, e devido ao grande volume de notícias polêmicas já rodando pela Academia, tal descoberta ficou apenas entre os membros do Conselho para que decidissem o que fazer a respeito.
-Nosso inimigo não perde tempo, Idowu. Provavelmente já deve estar planejando um novo ataque ou emboscada para os Jedi. Precisamos agir – Leia enfatizou. - e rápido. Enquanto ainda possuímos guerreiros aptos e saudáveis para isso.
-Pense em todos os guerreiros que já perdemos. Pense em Daren – Gahiji tocou no ponto fraco do Supremo Mestre, que piscou várias vezes ao ouvir a menção ao seu ex-aprendiz. - Estes cavaleiros estão sem seus poderes, talvez para sempre. Precisamos garantir que seus sacrifícios não sejam em vão. Ou então a Ordem toda ficará como eles.
-Mestre, o Senhor sabe que não venceremos esta batalha sozinhos. Precisamos do apoio dos Democratas para podermos enfrentar Styg e vencer. - Falou Gahiji. - Por mais que nossos guerreiros sejam muito bem treinados, precisamos de investimento para desenvolver nossas armas. Styg não fica para trás com suas tecnologias, e precisamos superá-lo. Se provarmos nosso valor contra ele e acabarmos com a desconfiança que estes tiros causam, talvez a Democracia finalmente aceite uma aliança conosco.
-Este planeta que o senhor achou, mestre, pode ser o esconderijo da fonte que os cientistas falam. Um lugar incrivelmente repleto de Força Negra, que abastece os blasters Anti-Luz. Talvez seja isso que o senhor sentiu. Se formos até lá e pegarmos os guardas de surpresa com um grande exército, talvez consigamos destruir esta fonte. - Sugeriu Mothusi.
-Não me agrada nem um pouco expor nossos cavaleiros a tamanho perigo – O Supremo Mestre disse após um longo suspiro. - Mas acredito que os senhores tem razão.
-E o que faremos a respeito dos Jedi que já foram atingidos pelos tiros? - Perguntou Leia.
-Bom, para estes só nos resta rezar. Infelizmente, é o que podemos fazer. - Gahiji lamentou.
O dia amanheceu agitado na Academia, com um pronunciamento convocando todos os mestres e padawans para o salão principal antes mesmo do café da manhã. O Supremo Mestre aguardava seus estimados cavaleiros para anunciar a missão corajosa em que estavam prestes a se envolver.
-Os tempos mudaram, meus caros Jedi - Proferiu o homem grisalho, com os olhos baixos de consternação. - Infelizmente, nossa Academia não está mais imersa numa maré de paz e tranquilidade, onde a Luz impera nos permitindo a liberdade em nossa crença e vida. Um opositor ameaça nossa paz, nosso equilíbrio, nossa doutrina, e todos aqueles a quem juramos proteger com ela. A Ordem precisa agir. - Todos os cavaleiros ajeitaram-se em seus lugares, surpresos com a frase. - É com pesar que peço isso a vocês, meus cavaleiros. Gostaria de não ter que envolvê-los em guerras; porém a Força nos reservou este destino, e a Força tudo controla. Ela encontra-se desequilibrada, suja, e conta conosco, seus conhecedores e discípulos fiéis, para trazer seu brilho e estabilidade de volta. A galáxia precisa de nós, jovens guerreiros, e nós devemos defendê-la.
Neste momento, uma movimentação de acordo se iniciou entre os guerreiros ouvindo o discurso.
-Por meio de contato com a Força espiritual, o Conselho conseguiu rastrear o paradeiro de uma grande concentração de Força Negra na galáxia. Acreditamos que Styg tem suas tropas sediadas neste local, e que a fonte dos tiros Anti-Luz está escondida lá. O plano que temos consiste em levar todos os cavaleiros aptos, com idade suficiente e que não foram expostos aos tiros, para lutar com as Tropas Cinzentas e tentar destruir a fonte da arma que tem neutralizado nossos poderes. Desta forma, evitando que Darth Styg nos extermine e assim encontre o caminho livre para tomar o poder da galáxia novamente. - Idowu explicou, e a agitação entre os cavaleiros aumentou. - Nossa missão se passará no planeta Pasua, onde as savanas propiciam um esconderijo cercado de animais ferozes e selvagens para a base militar. O plano é partir ao meio dia, com todos os convocados, e fazer uma entrada incisiva com um ataque inesperado para as tropas. Combatendo os soldados e encontrando Styg e a fonte de seu poder, teremos a chance de acabar com isso de uma vez por todas.
Ao final, todos os cavaleiros presentes concordaram e reverenciaram o Supremo Mestre, com o desejo de batalha estampado em suas expressões sérias e concentradas. Logo após o pronunciamento, os guerreiros dirigiram-se à sala de armas para equiparem-se. Era hora de se preparar. As naves foram abastecidas, os sabres polidos, as preces à Força feitas com fé. O clima de preparação predominou em Tedros durante toda a manhã.
Tirando os mestres membros do Conselho, que na juventude haviam servido à Aliança Rebelde, nenhum dos cavaleiros da Ordem havia estado em uma guerra de verdade. Todos os Jedi que foram treinados pela nova Academia cresceram já nos tempos de paz da Democracia, sem presenciar batalhas. Como cavaleiros, o máximo que enfrentaram eram pequenas disputas com caçadores de recompensa ou piratas espaciais, que eram facilmente derrotados pelo seu poder e habilidades inferiores. Desta vez era diferente; o inimigo era poderoso, misterioso e muito perigoso, de uma maneira que nem mesmo os mestres mais experientes haviam visto. O cuidado precisava ser redobrado, assim como a coragem e a disciplina, para que o ataque tivesse sucesso.
Ameenah preparava-se na sala de armas assim como todos os outros cavaleiros convocados para o combate. A garota abastecia seu cinto de utilidades com armas e outros objetos úteis para a batalha, enquanto pensava sobre a missão em que estavam prestes a embarcar. Durante anos a princesa sonhara em fazer parte daquilo. Participar de batalhas, ajudar as pessoas, viver aventuras e salvar vidas. Agora, tudo parecia bem mais perigoso e amedrontador do que na sua imaginação, porém, a coragem da garota vinha de dentro, de algum lugar desconhecido, que ao invés de tremer de medo a fazia enrijecer-se e enfrentar a situação a qual ela sabia que nascera para enfrentar.
Khali também fazia parte dos guerreiros em preparação. Já de uniforme e sabre de luz à postos, o rapaz decidiu fazer sua prece antes da batalha. Ele dirigiu-se até o corredor dos heróis, onde, bem no meio da parede, havia um quadro de seu pai pendurado. Luke Skywalker, o grande salvador da galáxia. Como Khali queria que o pai estivesse ali, para lutar ao lado dele e orgulhar-se de suas conquistas. Como queria ser como ele. O rapaz fechou os olhos, e pediu para que a Força lhe desse sorte durante a batalha; pediu para que o pai, onde quer que estivesse, conseguisse sentir sua presença e desse a ele coragem e sabedoria.
Era a primeira vez que a Ordem se aventurava a ministrar qualquer tipo de ataque. Uma missão como aquela gerava muita insegurança, mas também muito vigor por parte dos Jedi em geral. Afinal, defender a galáxia era a função de um cavaleiro, e todos ali treinaram por isso a vida toda. Tropas por tropas, os guerreiros embarcaram nas naves, preparando-se para a viagem até o desconhecido. Então, ao meio dia, eles deixaram a atmosfera de Tedros, e depois de algum tempo no espaço, a forma redonda e bege de Pasua já se tornava visível.
Os Jedi pousaram no solo do planeta utilizando caças menores, indetectáveis por radar, para que sua presença não fosse percebida pelo inimigo. Segundo as suposições dos chefes da missão, Idowu e Mothusi, eles estavam a um quilômetro de savana da base escondida de Darth Styg.
Seria necessário encontrar transporte terrestre para acelerar a chegada. As savanas de Pasua eram habitadas por feras e animais interestelares das mais variadas espécies exóticas e perigosas da galáxia - o que, nas mãos de Jedis, poderia representar uma montaria que serviria ao mesmo tempo como transporte e arma poderosa. Eles haviam pousado propositalmente perto de um bando de mastiff-phalones, animais grandes que eram uma curiosa mistura de ave com dinossauro. Utilizando a Força para conectar-se à mente daqueles seres, os cavaleiros puderam sentir o quanto a presença sombria do Lado Negro os amedrontava. Eles estavam sofrendo, e os Jedi prometeram ajudá-los. Eles usaram o poder da Luz para acalmar as enormes feras, e elas permitiram que os Jedi se aproximassem, e então montassem neles.
Devidamente acompanhados de suas feras domadas, os cavaleiros Jedi seguiram em bando. Andaram por cerca de dois quilômetros até alcançarem a planície em que a base militar estava instalada, e então aceleraram o passo. Logo, a enorme estrutura cinzenta ficou visível no horizonte, com fracas luzes de sinalização acesas. Eles se prepararam para o ataque.
De longe, os trotes dos enormes phalones no solo duro da savana já podiam ser ouvidos, tremendo o chão com baques surdos. Os guardas dos portões da base se colocaram a postos, e surpreenderam-se ao ver dezenas de Jedi montados nos enormes animais, preparados para atacar.
-Atenção, código azul 2373, invasores no perímetro dos portões - Disse um soldado cinzento em seu comunicador de pulso, enquanto empunhava seu blaster. - Repetindo, código azul 2373!
Os tremores foram aumentando a medida que os cavaleiros se aproximavam. Sem demora, uma tropa de soldados cinzentos se apresentou na frente da base, com armas em punho e em posição de ataque, esperando pela chegada dos inimigos.
Os trotes imponentes ficavam cada vez mais intensos. Metro a metro, as lâminas azuis e verdes dos sabres começavam a se acender e revelar a grandeza do grupo de Jedi que partia para a batalha. Os cinzentos, carregando seus blasters com precisão, começaram a avançar em formação protetiva para barrar os invasores. Quando a distância se tornou viável, eles começaram a disparar a longo alcance seus tiros de veneno. Os Jedi, montados em cima das feras, agitavam suas espadas para defenderem-se e bloquear as balas. O avanço não foi contido, e logo eram apenas cinco metros de distância entre as espadas laser e os revólveres acinzentados.
-Pela Força luminosa! - Bradou um Jedi, seguido por gritos de apoio de seus companheiros.
O ataque pegara aos Cinzentos de surpresa. Sem pelotões suficientes para segurar o avanço dos Jedi, o Lado Luminoso da batalha os alcançou dentro do perímetro da base. Os animais enormes que montavam foram abrindo caminho por entre os soldados com seus golpes brutais, e os sabres começaram a rodopiar pelo ar em lutas corpo a corpo.
Mais tropas negras apareceram de dentro da base. Com seus blasters em modo de combate próximo, os soldados combatiam os Jedi que já haviam caído ou descido de seus phalones, que por sua vez encontravam-se derrubando até quatro soldados por vez com suas investidas e cabeçadas no exército inimigo.
Os Jedi ganhavam espaço. Pouco a pouco, eles avançavam no território conforme o plano, na tentativa de conseguir infiltrar uma das equipes dentro da base para tentar encontrar a fonte das armas. Os cavaleiros juntavam-se em grupos para defenderem uns aos outros e incidirem para tentar uma invasão.
Yerodin e Ameenah lutavam lado a lado, já no chão, combatendo os cinzentos que aos poucos começaram a cercá-los. Golpes daqui e de lá, e logo eram dois contra dez. Ayana e Khali juntaram-se a eles, montados em seus phalones, e arremessaram os soldados que os emboscavam para metros longe com um coice. Os primos desmontaram-se das feras, que saíram golpeando cinzentos, e então uniram-se ao mestre e à princesa para que juntos se aproximassem da porta lateral da base.
O grupo espalhou-se ligeiramente para dar conta da nova investida de soldados que se aproximara deles. Ameenah combatia um deles com golpes ágeis de sabre, desviando a lâmina insistente do facão de luz do cinzento. Khali, que encontrava-se a poucos metros, notou a cena e viu que um soldado aproximava-se da garota por trás. Com um giro rápido, a princesa derrubou o inimigo, mas não notara a aproximação do segundo. Skywalker estava muito longe para intervir, então, para ajudar a parceira, arremessou seu sabre, que atingiu o cinzento bem nas costas, e logo em seguida puxou-a de volta utilizando a mente. Ameenah virou-se para trás, alarmada, e agradeceu rapidamente com um gesto de cabeça que o rapaz correspondeu, e logo em seguida os dois Jedi voltaram a enfrentar mais inimigos.
Os sabres se chocavam com os blasters em forma de facões luminosos super afiados, enquanto o quarteto avançava na direção da base. Os pelotões cinzentos, agora todos a postos para a batalha, começaram a chegar montados para poder competir com os Jedi utilizando os phalones. Eles utilizavam katzens, uma espécie de felino de aproximadamente dois metros de comprimento com enormes presas e um rabo de crocodilo, também nativos de Pasua. Aqueles animais possuíam uma peculiaridade: não eram afetados pelos truques mentais da Força, por uma resistência natural que desenvolveram. Portanto, os Jedi não conseguiam controlar seus instintos de forma que não os atacassem, e eles avançavam nos cavaleiros e em seus phalones livremente a mando dos soldados.
As duas feras se enfrentavam fervorosamente, enquanto seus cavaleiros travavam lutas de espadas e facões vorazes. Soldados caíam de ambos os lados, tanto Jedis quanto cinzentos. Alguns dos cavaleiros foram atingidos pelos tiros inibidores dos blasters, e ao passarem pelo estágio de intensa dor após o ferimento eram ajudados por alguns colegas para chegarem a um lugar seguro.
Enquanto a confusão acontecia, a porta principal da base se abriu novamente, mas sem liberar nenhum esquadrão armado. Desta vez, acompanhado por dois guardas, uma criatura obscura e encapuzada saiu de seu esconderijo, e era o próprio Darth Styg. O ciborgue sombrio saiu rangendo suas pernas mecânicas no piso metálico, e ao parar de frente para o combate, ativou o sabre de luz vermelho que possuía consigo.
De cara, o senhor das sombras golpeou dois cavaleiros que vieram ao seu encontro, decepando-lhes os braços que empunhavam os sabres de luz. Styg parecia visivelmente irritado com o movimento surpresa dos Jedi, e aquilo refletia em sua forma extremamente agressiva de batalhar. Ainda cercado por seus dois soldados ostensivamente armados e atirando em quem quer que se aproximasse, o homem robótico caminhava pesadamente por entre os tiros, o fogo e as feras.
O quarteto de Jedis assistia a cena pela direita - agora quinteto, pois Talib se juntara a eles a pouco. Ameenah observava a cena de esguelha, impressionada. Nunca tinha visto um sabre de luz vermelho antes. A arma era muito ameaçadora, e combinava com o reluzir quase púrpura dos olhos de Styg, o tornando ainda mais maligno.
O grupo de cavaleiros começou então a recuar, tentando acompanhar os movimentos do Sith para ver até onde ele ia. Imparável, Styg caminhou golpeando até uma extensão mais escondida da base militar, em forma de meia esfera, e lá entrou enquanto seus dois soldados seguravam os cavaleiros que tentavam invadir. Batalhando com alguns cinzentos, os Jedi do grupo próximo observaram aquilo com estranheza, e só alguns segundos depois tudo fez sentido.
A instalação, que parecia ser um prolongamento da base, era na verdade uma nave, e começou a ativar-se e abrir diversos compartimentos liberando asas e cabines para decolar. As turbinas traseiras da máquina acenderam-se, incendiando parte da vegetação próxima, e então a estrutura começou a mover-se. Aquilo desencadeou uma ideia, e pareceu gerar nos cavaleiros uma espécie de plano compartilhado.
Era no mínimo estranho que Styg decidisse abandonar a batalha e toda a sua base, com soldados e tudo, para ir embora. Ele sabia que os Jedi estavam lá atrás de algo, e sabia muito bem que havia certas coisas que precisava esconder deles. Provavelmente, o que quer que estivesse dentro daquela nave, era muito importante. Styg queria ocultá-lo e levá-lo para longe, e os Jedi tinham um ótimo palpite sobre qual seria este segredo.
Sem nem precisar usar palavras, Yerodin fez sinal para que todos corressem na direção da nave. Após finalizar os soldados com que estavam lutando, Ayana, Ameenah e Talib seguiram suas instruções, e os quatro partiram em direção à nave que preparava-se para decolar. Antes de avançar, Ayana e Ameenah olharam para trás, encontrando Khali ainda parado lutando contra dois cinzentos vorazes.
-Podem ir, eu vou atrasá-los! - Ele gritou, enquanto golpeava os soldados que agora eram três. - Encontro vocês num instante!
Sem tempo para discussões, as duas adiantaram-se para encontrar Yerodin e Talib, que dirigiram-se furtivamente até a parte de trás da nave tentando encontrar um jeito de entrar. Enquanto Talib os defendia dos soldados que se aproximavam, Yerodin usou seu sabre para perfurar a lataria da nave e arrumar uma forma de abrir uma das portas do compartimento de cargas para que pudessem entrar. Um a um, os quatro foram subindo na plataforma, Ayana sendo a última, que foi auxiliada por Talib e Ameenah quando a nave já começava a erguer-se do chão.
Enquanto decolavam, Khali os acompanhava com o canto da visão, concentrado em derrotar os cinco ou seis cinzentos que tentavam passar por ele e impedir seus colegas. Tiros começaram a voar na direção da traseira da nave, para derrubar os guerreiros invasores.
-Eu encontro vocês! - Gritou, para os quatro que defendiam os tiros girando os sabres no ar rapidamente.
A nave de Styg já estava a mais de dez metros do chão, preparando-se para dar velocidade total e deixar a atmosfera do planeta. O Jedi precisava encontrar uma forma de acompanhar seus amigos, e então começou a pensar enquanto se defendia dos soldados. Com um pulo seguido de um giro rápido, Khali conseguiu derrubar três dos seis que o ameaçavam, logo chutando um deles e derrubando mais um com um golpe nas costas.
Aproveitando a deixa, Khali correu o mais rápido que pôde na direção contrária da base, e logo encontrou um dos phalones que os Jedi utilizavam. Com os poderes da mente, o rapaz acalmou o animal, que logo cedeu a ele e permitiu que montasse em suas costas. Fazendo a fera correr o mais rápido que podia, Khali partiu rumo ao local de chegada dos Jedi, enquanto acompanhava a nave cinzenta mover-se pelo céu ganhando altitude. A ave réptil que o locomovia corria com máxima velocidade, logo levando-o até o local onde as naves dos Jedi estavam pousadas.
Khali saltou para fora do animal e correu na direção de um dos caças, abrindo sua cabine sem demora e colocando-se na cadeira do piloto. O rapaz ligou a nave e começou a pilotar, então decolou imediatamente com potência máxima para tentar alcançar a nave cruzeiro cinzenta que já se perdia na atmosfera. Pelos enormes tamanho e peso da nave inimiga, e sua consequente lentidão, talvez Khali ainda tivesse uma chance.
Aumentando os propulsores e colocando toda a força a frente, Khali logo encontrava-se a poucos metros da nave, que estava prestes a entrar no espaço. Os outros Jedi ainda estavam no compartimento de cargas segurando-se para não caírem. Quando Khali estava quase próximo, tiros de laser começaram a partir da cruzeiro na direção dele. O rapaz reagiu assustado, assim como seus companheiros de dentro da nave. Os cinzentos sabiam que ele estava ali.
Em resposta, Khali começou a atirar de volta utilizando as duas metralhadoras frontais de seu caça. A cruzeiro cinzenta começou a acelerar, seguindo para frente e para cima, e o Jedi a acompanhava. Os tiros continuavam vindo, e Khali continuava os respondendo. Para evitar serem atingidos, Yerodin e os outros fecharam o compartimento de carga, dando para Skywalker uma grande área de metal na qual podia mirar.
A troca de tiros e as manobras no céu continuaram por minutos, até que ambos atingiram o espaço. Khali jogava sua nave de um lado para o outro para desviar-se dos lasers da cruzeiro, que já possuía dois ou três buracos na lataria ocasionados pelos tiros do rapaz. Skywalker se aproximava cada vez mais da grande nave cinzenta.
Ao notarem a aproximação do caça, seus companheiros abriram novamente o compartimento de cargas, afim de que Khali pudesse pousar ali dentro, e travaram a alavanca para que o piloto da nave fosse incapaz de fechá-la. O garoto estava preparando-se para fazê-lo, desviando com maestria dos tiros contra si dando piruetas, voltas e curvas, demonstrando muita habilidade com a pilotagem. Até porque, ele tinha de quem herdar.
O piloto do cruzeiro parecia já estar ficando cheio daquela perseguição, então, com um movimento brusco, jogou sua enorme nave para cima do caça de Khali, batendo violentamente em seu lado esquerdo. Ayana e os outros se assustaram, vendo o Jedi dar uma pirueta desajeitada na tentativa de resistir ao impacto e retomar o controle da máquina. Após algumas manobras feias, Khali retornou ao equilíbrio, e voltou a perseguir a cruzeiro, que estava cada vez mais veloz e furtiva.
Novamente, apesar das tentativas de abatimento, Skywalker encontrava-se com seu caça a poucos metros do compartimento de cargas. Ele preparava-se para pousar, já liberando as rodas da nave, e seus companheiros abriam espaço no hangar para que ele finalmente o fizesse.
Porém, mais rápido do que todos puderam acompanhar, a cruzeiro fez uma curva acentuadíssima para a direita, liberando caminho para seus canhões e disparando um tiro. Os Jedi a bordo caíram no chão com a violência da manobra, e o super laser disparado acertou bem no meio do caça azul, que começou a rodopiar descontroladamente no ar, pegando fogo.
Capítulo 14
Os painéis começaram a apitar, o botão de emergência se acendeu e as estrelas começaram a girar vistas da máquina rodopiante no espaço. Khali encontrava-se em uma situação muito crítica, com a turbina principal de sua nave em chamas e ameaçando explodir a qualquer momento. Atordoado, o rapaz tentava manobrar para recuperar a estabilidade, enquanto seus companheiros encaravam sua situação muito preocupados.
Cerca de dois minutos depois, o caça restituiu um pouco do equilíbrio e começou a cambalear pelo espaço, liberando uma fumaça densa e preta pelo motor. Khali lutava com todas as forças para manter-se no ar, enquanto pensava em alguma forma de salvar-se daquela situação.
-Tenho uma ideia – Disse Talib pensativo, e logo em seguida correu para a beirada do hangar. - Use o impulso máximo! - Berrou, fazendo sinal com as mãos para que o amigo entrasse no hangar.
-Talib, a nave está em chamas – Alertou Yerodin. - Se Khali estacioná-la aqui pode queimar todos nós!
-Confie em mim, sei o que estou fazendo!
O Jedi continuou fazendo sinais frenéticos para Skywalker trazer sua nave até a rampa da cruzeiro. O rapaz não compreendeu a ideia no início, temendo a mesma coisa que seu mestre. No entanto, ele confiava em Talib, e decidiu seguir suas ordens - até porque, não lhe restavam muitas opções.
Com muito esforço, Khali acionou os propulsores secundários do caça, que de início engasgaram por conta do mau funcionamento da nave, mas depois funcionaram. O Jedi recuperou a distância perdida por conta da colisão, e desajeitada e irregularmente preparou-se para tentar pousar seu caça na abertura.
Ele mirou com o máximo de precisão que sua debilitada nave permitia, dificultado ainda pelos movimentos curvos que a cruzeiro fazia agora que sua aproximação estava crescendo e consequentemente sua chance de pouso também. Todos dentro do hangar estavam vidrados, segurando-se às fuselagens como podiam, torcendo para que o rapaz conseguisse sair daquela vivo.
Após uma última investida torta, seguida de um estrondoso choque com os metais da rampa, o caça conseguiu prender-se pelas rodas na pequena plataforma, que continuava movendo-se de um lado para o outro na tentativa de derrubá-lo.
O constante movimento da nave cruzeiro fazia com que a gambiarra ficasse totalmente instável, e logo após a nave prender-se na plataforma pelo trem de pouso, as rodas já ameaçavam soltar-se. O caça destroçado escorregou para trás, colocando metade de sua estrutura para fora.
-Saia da nave! Khali, saia da nave! - Berrava e gesticulava Talib, segurando-se num dos pilares da plataforma, tentando desesperadamente ajudar o melhor amigo.
Skywalker desatou os cintos e abriu o compartimento da cabine, sendo imediatamente pressionado pela força contrária do ar devido à grande velocidade. Ao fazer este movimento, o peso do caça levou-o cerca de meio metro a mais para fora.
-Se segure, vou pegar você! - Gritou Mashaba, mexendo freneticamente em seu cinto de utilidades.
Após atar-se à coluna de aço em que estava apoiado utilizando uma corda, Talib fez todo o esforço para colocar-se de pé e retirar de seu cinto uma espécie de pistola, que atirava um cordão de metal com um gancho na ponta, uma arma típica dos Jedi utilizada para escalar e subir paredes. Meio desajeitado por conta da movimentação intensa da superfície, Talib atirou a corda na direção de Khali, mantendo-a presa a sua pistola.
A corda prendeu-se pelo gancho na mira da nave, que estava a meio metro de onde Khali lutava heroicamente para manter-se agarrado. Desesperado pela queda iminente, o Jedi foi agarrando-se pela superfície da nave e deu um salto para frente, agarrando a ponta de metal que quase escorregou de sua mão e caiu para fora. Ao ver que o amigo tinha conseguido, Talib começou a puxar a pistola com toda a força, enquanto Khali tentava chegar mais próximo ao nariz da nave para poder sair de cima dela antes que despencasse.
Não demorou muito para que uma curva mais brusca por parte da cruzeiro soltasse o trem de pouso do caça de seu encaixe, e o restante da nave começasse a escorregar livremente pela plataforma. Ao perceber o movimento, Khali impulsionou seus pés na lataria dando um salto o mais alto que pôde, erguendo-se cerca de trinta centímetros, suficientes para que o caça azul deslizasse sob seu corpo em direção ao infinito mar de estrelas abaixo dele.
O rapaz ficou pendurado pelo cabo de metal, balançando-se desprovido com os pés sem apoio. Ao notar a estrutura metálica em chamas do caça caindo para fora da plataforma, os movimentos ziguezague da cruzeiro cessaram, permitindo aos outros Jedi que se soltassem de seus apoios e corressem para ajudar Talib a levantar o sobrevivente e trazê-lo para dentro.
O rapaz foi puxado para cima e erguido até a rampa, onde caiu enfraquecido e deitou-se de costas, ofegante. Seu uniforme estava cheio de fuligem, queimaduras pretas e rasgos, e seu sabre que soltava-se do cinto quase rolara para fora da nave se não fosse Yerodin parando-o com os pés.
-Muito obrigado, parceiro – Khali soltou numa arfada, e sua voz saiu quase como um sussurro. - por ter salvo minha vida.
-Agora estamos quites. - Respondeu Talib igualmente ofegante, largado ao lado do amigo.
Khali respirou fundo, aliviado. Após ficar alguns segundos deitado no chão, refletindo sobre sua quase morte, o rapaz relaxou. De repente, o som de comunicadores foi ouvido no corredor que chegava até o compartimento de cargas.
-Positivo, estamos vindo ao encontro dos invasores. – Ouviu-se um soldado cinzento com a voz mecanizada para o microfone em seu pulso.
O som alarmou os cinco Jedi, que imediatamente prepararam-se para a batalha contra os dez soldados que adentraram o hangar segundos depois. Khali e Talib levantaram-se num pulo, ativando seus sabres de luz imediatamente. Os cinzentos começaram a atirar na direção deles, que desviaram-se e defenderam-se, e então uma luta começou.
Com um rodopio, Talib derrubou dois deles sem demora utilizando seu sabre. Khali e Yerodin travavam uma competição com três deles, que logo foram derrotados com a ajuda de Ameenah que lhes golpeou por trás. Ayana chutou um dos cinzentos contra outros dois, e eles caíram no chão. Quando um deles se levantou, Khali cuidou do serviço com um golpe, e os outros dois restantes foram arremessados na parede do hangar com o poder da mente utilizado por Talib.
-O que fazemos agora? - Perguntou Ameenah quando finalizaram os inimigos. - Mais virão atrás de nós.
-Eu tenho uma ideia – Disse Talib de prontidão. - Precisamos nos separar. Styg já sabe que estamos aqui, embora, para nossa sorte, não saiba em quantos nós somos. Precisamos distraí-lo, para que ele pense que tem a todos nós sob controle. Três de nós devem se render aos cinzentos para que sejam levados até ele. Porém, ainda precisamos encontrar a fonte dos tiros Anti-Luz e destruí-la. Dois de nós podem pegar os trajes dos soldados que matamos para utilizar como disfarce, e tentar chegar até a sala de armas. Procuramos outros soldados dizendo que precisamos recarregar os blasters, então eles nos levam até o local onde o fazem, e onde a fonte deve estar escondida. Uma vez lá, podemos destruí-la. Os três primeiros se libertam quando tiverem oportunidade, e tomam o controle da nave a levando de volta para Pasua. – O garoto sugeriu, e todos pareceram acatar a ideia.
-Eu fico com Khali e Ayana. - Disse Yerodin, e os dois citados concordaram com a cabeça. - Ameenah e Talib vão até a sala de armas.
Assim que acabaram de falar, os Jedi ouviram mais soldados se aproximando no corredor. Pela intensidade dos passos batendo no chão, eram muitos, o que significava que assumir o controle não seria tão fácil.
-Escondam-se! - Ordenou Ayana, e Ameenah e Talib ocultaram-se atrás de uma pilha de caixas.
Assim que o pelotão de soldados adentrou no hangar, Yerodin, Ayana e Khali já esperavam por eles com seus sabres em punho. Os três lutaram bravamente contra os cinzentos, e após alguns minutos de golpes, lâminas tilintando e rodopios, eles foram cercados e rendidos pelos inimigos, como se deixaram fazer. Os guardas tomaram seus sabres e um deles os algemou, e então foram arrastados até o lado de fora do hangar, levados corredor adentro.
A brecha que Talib e Ameenah possuíam era pequena. Assim que se viram livres do perigo, os dois saíram imediatamente de seus esconderijos e encarregaram-se de retirar os uniformes romanos dos guardas cinzentos, e os vestir por cima dos trajes Jedi como indicava o plano do rapaz. Pegaram seus capacetes e suas armas, e então saíram do hangar caminhando pelo corredor com uma típica sincronia robótica, com o máximo de cuidado para não levantarem nenhuma suspeita.
-Assim que conseguirmos destruí-la, vamos procurar os outros. - Disse Talib cochichando, e Ameenah concordou com a cabeça. - Agora temos que encontrar alguém para nos levar até a fonte.
Por não conhecerem a nave, os dois caminharam pelos intermináveis corredores, que pareciam todos iguais, à procura da sala de armas. Após cerca de dez minutos, um soldado cinzento com um uniforme ligeiramente diferente do deles cruzou seu caminho.
-Relatório. A onde estão indo, soldados? - Indagou a voz mecânica debaixo do capacete.
Com um pensamento rápido, Talib dirigiu seu olhar ao peitoral da armadura do sujeito, que possuía uma etiqueta que dizia "general".
-Procuramos a sala de armas, general. - Respondeu o Jedi naturalmente, com a voz também soando mecanizada por conta do capacete. - Estávamos em combate com os invasores quando meu blaster parou de funcionar, provavelmente por falha técnica.
-Muito bem, sigam para a sala de armas. - Respondeu o general, e estava dando meia volta para se retirar.
-Espere – Impediu Talib, e o homem deu meia volta. - Não sabemos onde fica.
O general ficou em silêncio, e aproximou-se deles com um passo, como se achasse aquilo muito estranho.
-É que não pertencemos a este pelotão, senhor. - Talib tentou se explicar procurando parecer despreocupado. - Pertencíamos à equipe do interior da base, nunca estivemos nesta unidade.
O general pareceu relativamente convencido.
-Venham comigo.
Ameenah e Talib obedeceram. Os dois Jedi seguiram o soldado por um corredor estreito e três ou quatro curvas, mantendo a postura do disfarce. Sem demora, chegaram a uma porta de metal que se abriu com o reconhecimento da identificação do general.
A porta revelou um sala de tamanho médio, repleta de pedestais com encaixes para os blasters, e peças das mais variadas para substituição. Cerca de quinze outros soldados encontravam-se no interior da sala, reparando seus utensílios ou polindo-os. Aquilo transparecia uma estima de Styg por sua invenção, pois aquele lugar parecia ter sido perfeitamente projetado para suprir qualquer eventual defeito que os preciosos tiros Anti-Luz poderiam ter. Aquele era o elemento crucial das tropas, e seus soldados o tratavam como tal.
No entanto, aquilo que Ameenah e Talib realmente procuravam não estava ali. A fonte das cápsulas deveria ficar em outra sala, talvez onde as armas eram recarregadas. Aquela era apenas uma sala de reparos.
O general deu passagem para os dois Jedi adentrarem e então se retirou. Sem demora, Talib encaixou a arma que carregava em um dos pedestais, com Ameenah logo ao seu lado, e um dos técnicos apareceu prontamente para ajudá-lo. O cinzento, que vestia um uniforme um pouco diferente do usual, provavelmente destinado apenas a missões internas, o encarou como se esperasse alguma reação de sua parte.
-Não está funcionando. - Talib disse, impassível, e manteve-se à sua história original enquanto pensava num plano B. - Acredito que o gatilho esteja emperrado.
O cinzento à sua frente analisou a arma com cuidado. Utilizando alguns aparelhos de tecnologia completamente desconhecida e rebuscada, ele scaneou o blaster e pareceu fazer todas as checagens possíveis antes de dizer:
-Não há nada de errado com a sua arma, soldado.
Talib permaneceu sem dizer nada, então o técnico retirou a pistola de seu pedestal e apontou-a para a parede no final na sala, e disparou um tiro. A bala, obviamente, saiu sem nenhum problema.
O soldado esticou a arma para ele, com o mesmo ar de seriedade que todos ali pareciam ter. Talib fez um aceno de cabeça em sinal de agradecimento e pegou-a.
-Preciso recarregar.
-O blaster está cheio. - O soldado o interrompeu, impaciente.
Talib permaneceu em silêncio alguns segundos, tentando pensar numa maneira boa o suficiente de convencer aquele sujeito a levá-lo até a fonte das cápsulas.
-A arma dela. - Ele disse, apontando para Ameenah. - Esta está vazia.
O soldado mal-encarado pegou o blaster que estava com a garota e deu uma olhada, e em seguida devolveu-o.
-Sigam-me. - Disse, e saiu marchando para que os dois o acompanhassem.
Ameenah e Talib foram andando junto ao soldado, que parecia estar levando-os a uma porta no final da sala. Enquanto marchavam, um cinzento vinha em sua direção contrária, e olhava-os fixamente enquanto dava passadas largas. Ao cruzar com eles, o sujeito trombou com Ameenah, batendo seu ombro no dela, e a intensidade do choque fez com que seu sabre de luz se soltasse do uniforme e caísse, rolando pelo chão.
-São Jedis! - Exclamou o cinzento, e logo todos os soldados que estavam na sala alarmaram-se. - Eu sabia!
Talib sacou seu sabre imediatamente, enquanto os guardas se amontoavam em volta deles apontando seus blasters. Ameenah usou a telecinese para tentar trazer sua arma de volta, porém um cinzento pegou o sabre no ar antes que ela o alcançasse. Talib protegia os dois, apontando corajosamente a sua espada na direção dos cinzentos, mas não havia nada que pudessem fazer. Eram dois contra quinze, sendo que um deles estava desarmado.
-Sabíamos que estavam se escondendo – Disse o técnico que estava atendendo-os. - Styg vai gostar de saber disso. Pegue a arma deste crápula! - Ordenou, e o cinzento que trombara em Ameenah arrancou o sabre das mãos de Talib e desativou-o.
Os soldados arrancaram os capacetes dos dois Jedi e os algemaram, levando-os escoltados até o outro lado da nave. Pararam em frente ao que parecia ser uma parede monitorada por dois guardas, que os encararam impassíveis. O responsável pela captura dos dois falou algo em seu comunicador de pulso, e então a parede, que na verdade era uma porta, ergueu-se revelando uma ampla sala.
Talib e Ameenah foram empurrados para dentro, com dificuldade de andar devido aos uniformes metalizados que trajavam. Os dois Jedi perceberam que o ar daquele lugar era ligeiramente mais frio que do lado de fora, e quando ergueram os olhos, perceberam por que.
Encostado na parede oposta, um enorme trono dourado erguia-se sob um tablado de dois degraus, e sentado ali estava Darth Styg. Com sua capa preta esticada até chão, as enormes e pesadas pernas mecânicas do homem - se é que ele ainda poderia ser considerado um e não uma máquina - descansavam enquanto seu rosto deformado pousava-se sob o punho fechado, enquanto observava os prisioneiros que entravam.
A sala era cercada por adornos e quadros do que deveriam ser vários Sith importantes que viveram ao longo dos milênios, e o luxo todo parecia demonstrar o saudosismo de Styg aos seus tempos de Imperador. Atrás do trono, uma estrutura metálica e oval erguia-se, e conectava-se aos dois braços da cadeira, e no canto direito, uma porta. Tirando aquilo, o local parecia não ter nenhuma outra utilidade, a não ser amaciar o ego enorme do senhor das sombras. Yerodin, Khali e Ayana estavam na sala, algemados e ajoelhados à direita, cercados por quatro guardas com seus blasters empunhados.
-Vejam só, se não são os patéticos Jedi tentando salvar o dia! - Styg projetou a voz mecanizada cheia de ironia.
Ele levantou-se de seu trono e desceu os dois degraus com dificuldade, enquanto os cinzentos colocavam Ameenah e Talib ajoelhados à frente dele.
-E sabem qual é a parte mais curiosa disso tudo? É que vocês realmente acharam que podiam me tapear. - Ele parou bem na frente dos dois, dando um sorriso diabólico que arrepiava até mesmo estando coberto pelos enormes respiradouros de sua armadura.
Três cinzentos colocaram-se à escolta de Talib e Ameenah, e o restante se retirou e fechou a enorme porta.
-Bom, eu devo admitir. Para seres semi-inteligentes, vocês até que foram muito espertos se infiltrando na minha nave – Styg falou como se ponderasse. - Mas a cada dia a ingenuidade dos Jedi me surpreende mais. Disfarçarem-se de guardas? Jogarem seus amigos como distrações? Terem a audácia de invadir a minha sala de armas? - Ele soltou uma gargalhada abafada. - Sei muito bem o que vocês dois inúteis foram procurar lá. Pois saibam que mesmo que meus guardas fossem cegos e atrasados o suficiente para não os notarem, vocês jamais teriam a encontrado.
Os dois se olharam, e Khali, Ayana e Yerodin também trocaram encaradas com eles. Os três pareciam furiosos. Styg caminhou até um dos guardas postados atrás de Talib, e tocou em seu blaster.
-São armas incríveis, não? Com um só tiro são capazes de exterminar todas as suas boas intenções. - Falou cínico. - O Lado Claro jamais conseguiria entender uma tecnologia tão complexa como essa. Suponho que todo este ataque ridículo e esta cena de humilhação tenha ocorrido porque os Jedi desesperaram-se por não saber como reverter os efeitos da minha engenhosa invenção. - Ele começou a caminhar em volta dos guardas e os dois cavaleiros ajoelhados. - Pois era exatamente este o pânico que eu esperava causar com ela.
Ele parou de frente para eles.
-Vocês devem se achar incrivelmente bravos, não? Se metendo na casa do inimigo, desbravando sua nave atrás de destruir o que quer que alimenta os blasters que tem lhes dizimado como frangos. - Falou Styg, sério. - Mas é claro que isso não seria tão fácil, sim? Até porque, minha tecnologia vai além de tudo que possam imaginar. A fonte daquilo que alimenta meus blasters está sempre próxima a mim, pois ela depende de mim. Querem forma melhor para combater o Lado da Luz do que o próprio Lado Sombrio em forma de arma?
O ciborgue riu. Seus guardas permaneciam sérios, enquanto ele parecia divertir-se imensamente com aquela cena de horror.
-Deixe-me ver se posso colocar isto em palavras fáceis. Suas bondosas e altruístas midi-chlorians estão sendo exterminadas pelas midi-chlorians mais maléficas e perversas que existem na Galáxia - Styg explicou em tom superior. - As minhas.
Os cinco Jedi algemados surpreenderam-se, embora não demonstrassem nada mais do que pura raiva.
-O coletor das midi-chlorians está ali ligado ao meu trono, e suga minha maldade e transformando-a no líquido das cápsulas. Brilhante, não é? - Ele perguntou a Talib. - Desenvolvi uma máquina capaz de coletar o mal do meu próprio sangue, e transformei-o em balas que perfuram as frágeis e puras partículas de bondade que vocês tem. – Ele sorriu. - E no fim, vocês não são mais nada. Não passam de pesos mortos para sua própria Ordem, que a cada disparo meu se torna mais decadente e fadada ao fracasso, novamente.
Os passos de Styg o levaram até Ayana, que encarava-o impassível. Ele abaixou-se até que seus rostos ficassem na mesma altura.
-Sua mãe é muito corajosa, sabia? - Disse ele à garota. - Casou muito mal, devo dizer, mas ainda assim é muito corajosa. Mesmo tendo sido criada por políticos folgados e idealistas, ela conseguiu se destacar, e reergueu sozinha toda uma doutrina que há anos estava morta. Foi mais do que o irmão dela já fez. Pena que, assim como para escolher maridos, ela também não sabe escolher lados. Pena que toda a sua destreza se perdeu na fraqueza do Lado Claro, pois eu poderia fazer muito bom uso dela se escolhesse o Lado Sombrio. - Styg fez uma pausa e olhou no fundo dos olhos da menina, como se a analisasse. - Posso dizer que ela passou a síndrome das más escolhas para você, não é, garotinha? Incrível poder, porém desperdiçado. Com plantas. - O ciborgue começou a rir. - Força medicinal, não é mesmo? Você envergonha incrivelmente a sua mãe. Incapaz de escolher um lado, e então decidiu não escolher lado nenhum. - Ayana fingia não ouvir enquanto Styg falava. - Que família mais problemática.
O homem robótico voltou a caminhar entre os prisioneiros, voltando até o centro do salão. Styg esticou o braço e com sua grossa luva preta alisou os cabelos de Ameenah que estavam sob os ombros. A garota estremeceu, como se a própria morte estivesse tocando-a. Com um movimento brusco, ela afastou-se dele.
-Eu compreendo seu remorso, princesa. - Ele disse olhando diretamente nos olhos dela. Ela surpreendeu-se. - Oh, sim. Sei quem você é, Ameenah. Já vi seu lindo rosto estampado nos selos e moedas do grandioso planeta de Nassor. Ou ele não é mais tão grandioso assim depois que eu o explodi? - Ele franziu a testa, fingindo tristeza. Ameenah desviou o olhar tentando conter sua vontade de esmigalhar a cara dele, e Styg riu-se. - Eu me lembro bem deste dia glorioso. Você era só uma garotinha, não? Pobre, indefesa, escondida em seu majestoso castelo enquanto sua população queimava e morria à deriva do meu exército. - O prazer que envolvia aquelas palavras que saíam da máscara dele enojaram a garota. Ele olhou-a diretamente nos olhos. - É, foi glorioso, sim. O dia do meu retorno. Porém, não escolhi seu precioso planetinha em ascensão por você, seus pais ou sua população desesperada. Na verdade, eu invadi Nassor porque estava atrás de alguém. - Styg voltou-se subitamente para trás, e apontou na direção de Khali.
O Sith caminhou lentamente, com seus passos pesados e estrondosos, na direção do rapaz.
-Khali Skywalker – Styg proclamou seu nome, com grandeza. - Que belo sangue corre pelas suas veias. Confesso que não esperava ver este sangue em um rapaz tão novo quanto como você outra vez. - Ele parou de frente para Khali. - Esperava que o covarde do seu pai fosse o último desta descendência inútil que eu tivesse que matar. Mas não. A Força trouxe você. - Ele aproximou seu rosto do rapaz. - Eu senti. - Styg falou pausadamente. - Eu senti você e a sua aura poderosa, quando era apenas uma criança. Eu sabia que os Skywalker tinham um novo descendente. E eu soube que eles estavam escondendo-o de mim, em Nassor. - O homem afastou-se. - E claro que eu não poderia deixar de notar o nascimento de uma criança tão brilhante, não é mesmo? Portanto decidi ir até lá. Para acabar com ela com as minhas próprias tropas. - Styg falou cheio de cinismo. - Com o filho e com seu heroico pai desaparecido, que acreditei que num ato de coragem havia tomado sua criança e fugido com ele para protegê-lo naquele planeta isolado. Mas ele não o protegeu, não é mesmo? Foi embora sem nem sequer se importar com você, te largando lá. Que belo herói, não acha?
Por mais que aquilo atingisse Khali, o Jedi sabia que não passava de um truque psicológico. Mas aquelas palavras o deixaram com muita raiva.
-Muitos se perguntaram a razão do meu ataque a Nassor. - Continuou o robótico desprezível. - Por que agredir apenas a cidade? Por que não atacar o castelo? Por que deixar seus governantes vivos se pretendia atingi-los? Não. - Divertiu-se. - Não era aquela desprezível família de revolucionários que eu pretendia derrubar. Eu queria chegar até a raiz do problema, de toda a desgraça que tem me assolado em anos, acabando com a raça dos Skywalker para sempre. - O homem fez uma pausa. - No entanto, como podemos perceber, eu falhei. Pois aqui está você.
-E eu é quem irei acabar com a sua raça. - Cuspiu Khali, que segurara seu ódio até aquele momento.
-É, seu pai também disse isso. E o pai dele também. Quem sabe a incompetência seja genética.
Khali levantou-se num pulo e retirou as mãos de trás das costas, que já estavam sem algemas há algum tempo. Com um rápido giro ele desviou o blaster do guarda que o escoltava e lhe deu um soco, pegando seu sabre de luz que estava atado ao cinto dele. Yerodin e Ayana também já estavam desalgemados, graças à Ayana que ao ser pega, hipnotizara o soldado cinzento que os algemara e com o poder da mente fez com que ele deixasse amarras frouxas. Eles esperaram o momento certo até ali, e se levantaram e reagiram da mesma forma com os outros três guardas, tomando seus sabres e ativando-os para derrubá-los e defender os tiros que vieram em sua direção.
Aproveitando a deixa, Talib e Ameenah rolaram pelo chão até o canto, saindo do caminho, até que Yerodin corresse até eles e arrebentasse suas algemas com a lâmina da espada. Os dois Jedi correram na direção dos guardas caídos para pegarem suas armas e então juntarem-se aos outros, e logo derrubaram todos os cinzentos que ali estavam.
-Quem sabe a minha incompetência te surpreenda. - Khali indagou cerrando os olhos.
Styg observou a cena ágil de longe, afastado sob o tablado de seu trono. Pressionara um botão que ativou um alerta para suas tropas, que sem demora adentraram armadas e preparadas.
As batalhas recomeçaram, com sabres rodopiando e desviando tiros disparados pela impecável formação de soldados, que já se preparavam para combate próximo. Eram três ou quatro cinzentos para cada um dos Jedi, que lutavam com garra e habilidade para tentar recuperar o controle da situação.
O ciborgue assistia àquilo farto de peripécias. Com passadas mecânicas, Styg dirigiu-se até a parte de trás de seu trono, onde escondia um blaster próximo a máquina coletora de midi-chlorians. Aquela não era uma arma como as de seu exército, fora produzida especialmente para seu uso próprio, com apenas algumas balas que atendiam ao seu objetivo. Misturando a nova tecnologia das midi-chlorians com a de um blaster comum, o tiro era letal e arrasador, desenvolvido especialmente para inimigos que insistiam em ficar em seu caminho.
-Hora de terminar o que comecei em Nassor, Skywalker - Styg disse baixo, ajustando a mira de sua arma no rapaz que lutava com os guardas, virado de costas para ele.
Darth Styg disparou seu blaster na direção certeira de Khali. Porém, seu mestre, que lutava logo ao lado do aprendiz, notara a movimentação e suas intenções sombrias. Num movimento rápido, Yerodin se desvencilhou dos cinzentos que combatia e, dando um salto, jogou-se na frente do rapaz, sendo atingido pela bala vermelho-sangue bem no meio do peito, e caindo no chão logo em seguida.
Cerca de dois minutos depois, o caça restituiu um pouco do equilíbrio e começou a cambalear pelo espaço, liberando uma fumaça densa e preta pelo motor. Khali lutava com todas as forças para manter-se no ar, enquanto pensava em alguma forma de salvar-se daquela situação.
-Tenho uma ideia – Disse Talib pensativo, e logo em seguida correu para a beirada do hangar. - Use o impulso máximo! - Berrou, fazendo sinal com as mãos para que o amigo entrasse no hangar.
-Talib, a nave está em chamas – Alertou Yerodin. - Se Khali estacioná-la aqui pode queimar todos nós!
-Confie em mim, sei o que estou fazendo!
O Jedi continuou fazendo sinais frenéticos para Skywalker trazer sua nave até a rampa da cruzeiro. O rapaz não compreendeu a ideia no início, temendo a mesma coisa que seu mestre. No entanto, ele confiava em Talib, e decidiu seguir suas ordens - até porque, não lhe restavam muitas opções.
Com muito esforço, Khali acionou os propulsores secundários do caça, que de início engasgaram por conta do mau funcionamento da nave, mas depois funcionaram. O Jedi recuperou a distância perdida por conta da colisão, e desajeitada e irregularmente preparou-se para tentar pousar seu caça na abertura.
Ele mirou com o máximo de precisão que sua debilitada nave permitia, dificultado ainda pelos movimentos curvos que a cruzeiro fazia agora que sua aproximação estava crescendo e consequentemente sua chance de pouso também. Todos dentro do hangar estavam vidrados, segurando-se às fuselagens como podiam, torcendo para que o rapaz conseguisse sair daquela vivo.
Após uma última investida torta, seguida de um estrondoso choque com os metais da rampa, o caça conseguiu prender-se pelas rodas na pequena plataforma, que continuava movendo-se de um lado para o outro na tentativa de derrubá-lo.
O constante movimento da nave cruzeiro fazia com que a gambiarra ficasse totalmente instável, e logo após a nave prender-se na plataforma pelo trem de pouso, as rodas já ameaçavam soltar-se. O caça destroçado escorregou para trás, colocando metade de sua estrutura para fora.
-Saia da nave! Khali, saia da nave! - Berrava e gesticulava Talib, segurando-se num dos pilares da plataforma, tentando desesperadamente ajudar o melhor amigo.
Skywalker desatou os cintos e abriu o compartimento da cabine, sendo imediatamente pressionado pela força contrária do ar devido à grande velocidade. Ao fazer este movimento, o peso do caça levou-o cerca de meio metro a mais para fora.
-Se segure, vou pegar você! - Gritou Mashaba, mexendo freneticamente em seu cinto de utilidades.
Após atar-se à coluna de aço em que estava apoiado utilizando uma corda, Talib fez todo o esforço para colocar-se de pé e retirar de seu cinto uma espécie de pistola, que atirava um cordão de metal com um gancho na ponta, uma arma típica dos Jedi utilizada para escalar e subir paredes. Meio desajeitado por conta da movimentação intensa da superfície, Talib atirou a corda na direção de Khali, mantendo-a presa a sua pistola.
A corda prendeu-se pelo gancho na mira da nave, que estava a meio metro de onde Khali lutava heroicamente para manter-se agarrado. Desesperado pela queda iminente, o Jedi foi agarrando-se pela superfície da nave e deu um salto para frente, agarrando a ponta de metal que quase escorregou de sua mão e caiu para fora. Ao ver que o amigo tinha conseguido, Talib começou a puxar a pistola com toda a força, enquanto Khali tentava chegar mais próximo ao nariz da nave para poder sair de cima dela antes que despencasse.
Não demorou muito para que uma curva mais brusca por parte da cruzeiro soltasse o trem de pouso do caça de seu encaixe, e o restante da nave começasse a escorregar livremente pela plataforma. Ao perceber o movimento, Khali impulsionou seus pés na lataria dando um salto o mais alto que pôde, erguendo-se cerca de trinta centímetros, suficientes para que o caça azul deslizasse sob seu corpo em direção ao infinito mar de estrelas abaixo dele.
O rapaz ficou pendurado pelo cabo de metal, balançando-se desprovido com os pés sem apoio. Ao notar a estrutura metálica em chamas do caça caindo para fora da plataforma, os movimentos ziguezague da cruzeiro cessaram, permitindo aos outros Jedi que se soltassem de seus apoios e corressem para ajudar Talib a levantar o sobrevivente e trazê-lo para dentro.
O rapaz foi puxado para cima e erguido até a rampa, onde caiu enfraquecido e deitou-se de costas, ofegante. Seu uniforme estava cheio de fuligem, queimaduras pretas e rasgos, e seu sabre que soltava-se do cinto quase rolara para fora da nave se não fosse Yerodin parando-o com os pés.
-Muito obrigado, parceiro – Khali soltou numa arfada, e sua voz saiu quase como um sussurro. - por ter salvo minha vida.
-Agora estamos quites. - Respondeu Talib igualmente ofegante, largado ao lado do amigo.
Khali respirou fundo, aliviado. Após ficar alguns segundos deitado no chão, refletindo sobre sua quase morte, o rapaz relaxou. De repente, o som de comunicadores foi ouvido no corredor que chegava até o compartimento de cargas.
-Positivo, estamos vindo ao encontro dos invasores. – Ouviu-se um soldado cinzento com a voz mecanizada para o microfone em seu pulso.
O som alarmou os cinco Jedi, que imediatamente prepararam-se para a batalha contra os dez soldados que adentraram o hangar segundos depois. Khali e Talib levantaram-se num pulo, ativando seus sabres de luz imediatamente. Os cinzentos começaram a atirar na direção deles, que desviaram-se e defenderam-se, e então uma luta começou.
Com um rodopio, Talib derrubou dois deles sem demora utilizando seu sabre. Khali e Yerodin travavam uma competição com três deles, que logo foram derrotados com a ajuda de Ameenah que lhes golpeou por trás. Ayana chutou um dos cinzentos contra outros dois, e eles caíram no chão. Quando um deles se levantou, Khali cuidou do serviço com um golpe, e os outros dois restantes foram arremessados na parede do hangar com o poder da mente utilizado por Talib.
-O que fazemos agora? - Perguntou Ameenah quando finalizaram os inimigos. - Mais virão atrás de nós.
-Eu tenho uma ideia – Disse Talib de prontidão. - Precisamos nos separar. Styg já sabe que estamos aqui, embora, para nossa sorte, não saiba em quantos nós somos. Precisamos distraí-lo, para que ele pense que tem a todos nós sob controle. Três de nós devem se render aos cinzentos para que sejam levados até ele. Porém, ainda precisamos encontrar a fonte dos tiros Anti-Luz e destruí-la. Dois de nós podem pegar os trajes dos soldados que matamos para utilizar como disfarce, e tentar chegar até a sala de armas. Procuramos outros soldados dizendo que precisamos recarregar os blasters, então eles nos levam até o local onde o fazem, e onde a fonte deve estar escondida. Uma vez lá, podemos destruí-la. Os três primeiros se libertam quando tiverem oportunidade, e tomam o controle da nave a levando de volta para Pasua. – O garoto sugeriu, e todos pareceram acatar a ideia.
-Eu fico com Khali e Ayana. - Disse Yerodin, e os dois citados concordaram com a cabeça. - Ameenah e Talib vão até a sala de armas.
Assim que acabaram de falar, os Jedi ouviram mais soldados se aproximando no corredor. Pela intensidade dos passos batendo no chão, eram muitos, o que significava que assumir o controle não seria tão fácil.
-Escondam-se! - Ordenou Ayana, e Ameenah e Talib ocultaram-se atrás de uma pilha de caixas.
Assim que o pelotão de soldados adentrou no hangar, Yerodin, Ayana e Khali já esperavam por eles com seus sabres em punho. Os três lutaram bravamente contra os cinzentos, e após alguns minutos de golpes, lâminas tilintando e rodopios, eles foram cercados e rendidos pelos inimigos, como se deixaram fazer. Os guardas tomaram seus sabres e um deles os algemou, e então foram arrastados até o lado de fora do hangar, levados corredor adentro.
A brecha que Talib e Ameenah possuíam era pequena. Assim que se viram livres do perigo, os dois saíram imediatamente de seus esconderijos e encarregaram-se de retirar os uniformes romanos dos guardas cinzentos, e os vestir por cima dos trajes Jedi como indicava o plano do rapaz. Pegaram seus capacetes e suas armas, e então saíram do hangar caminhando pelo corredor com uma típica sincronia robótica, com o máximo de cuidado para não levantarem nenhuma suspeita.
-Assim que conseguirmos destruí-la, vamos procurar os outros. - Disse Talib cochichando, e Ameenah concordou com a cabeça. - Agora temos que encontrar alguém para nos levar até a fonte.
Por não conhecerem a nave, os dois caminharam pelos intermináveis corredores, que pareciam todos iguais, à procura da sala de armas. Após cerca de dez minutos, um soldado cinzento com um uniforme ligeiramente diferente do deles cruzou seu caminho.
-Relatório. A onde estão indo, soldados? - Indagou a voz mecânica debaixo do capacete.
Com um pensamento rápido, Talib dirigiu seu olhar ao peitoral da armadura do sujeito, que possuía uma etiqueta que dizia "general".
-Procuramos a sala de armas, general. - Respondeu o Jedi naturalmente, com a voz também soando mecanizada por conta do capacete. - Estávamos em combate com os invasores quando meu blaster parou de funcionar, provavelmente por falha técnica.
-Muito bem, sigam para a sala de armas. - Respondeu o general, e estava dando meia volta para se retirar.
-Espere – Impediu Talib, e o homem deu meia volta. - Não sabemos onde fica.
O general ficou em silêncio, e aproximou-se deles com um passo, como se achasse aquilo muito estranho.
-É que não pertencemos a este pelotão, senhor. - Talib tentou se explicar procurando parecer despreocupado. - Pertencíamos à equipe do interior da base, nunca estivemos nesta unidade.
O general pareceu relativamente convencido.
-Venham comigo.
Ameenah e Talib obedeceram. Os dois Jedi seguiram o soldado por um corredor estreito e três ou quatro curvas, mantendo a postura do disfarce. Sem demora, chegaram a uma porta de metal que se abriu com o reconhecimento da identificação do general.
A porta revelou um sala de tamanho médio, repleta de pedestais com encaixes para os blasters, e peças das mais variadas para substituição. Cerca de quinze outros soldados encontravam-se no interior da sala, reparando seus utensílios ou polindo-os. Aquilo transparecia uma estima de Styg por sua invenção, pois aquele lugar parecia ter sido perfeitamente projetado para suprir qualquer eventual defeito que os preciosos tiros Anti-Luz poderiam ter. Aquele era o elemento crucial das tropas, e seus soldados o tratavam como tal.
No entanto, aquilo que Ameenah e Talib realmente procuravam não estava ali. A fonte das cápsulas deveria ficar em outra sala, talvez onde as armas eram recarregadas. Aquela era apenas uma sala de reparos.
O general deu passagem para os dois Jedi adentrarem e então se retirou. Sem demora, Talib encaixou a arma que carregava em um dos pedestais, com Ameenah logo ao seu lado, e um dos técnicos apareceu prontamente para ajudá-lo. O cinzento, que vestia um uniforme um pouco diferente do usual, provavelmente destinado apenas a missões internas, o encarou como se esperasse alguma reação de sua parte.
-Não está funcionando. - Talib disse, impassível, e manteve-se à sua história original enquanto pensava num plano B. - Acredito que o gatilho esteja emperrado.
O cinzento à sua frente analisou a arma com cuidado. Utilizando alguns aparelhos de tecnologia completamente desconhecida e rebuscada, ele scaneou o blaster e pareceu fazer todas as checagens possíveis antes de dizer:
-Não há nada de errado com a sua arma, soldado.
Talib permaneceu sem dizer nada, então o técnico retirou a pistola de seu pedestal e apontou-a para a parede no final na sala, e disparou um tiro. A bala, obviamente, saiu sem nenhum problema.
O soldado esticou a arma para ele, com o mesmo ar de seriedade que todos ali pareciam ter. Talib fez um aceno de cabeça em sinal de agradecimento e pegou-a.
-Preciso recarregar.
-O blaster está cheio. - O soldado o interrompeu, impaciente.
Talib permaneceu em silêncio alguns segundos, tentando pensar numa maneira boa o suficiente de convencer aquele sujeito a levá-lo até a fonte das cápsulas.
-A arma dela. - Ele disse, apontando para Ameenah. - Esta está vazia.
O soldado mal-encarado pegou o blaster que estava com a garota e deu uma olhada, e em seguida devolveu-o.
-Sigam-me. - Disse, e saiu marchando para que os dois o acompanhassem.
Ameenah e Talib foram andando junto ao soldado, que parecia estar levando-os a uma porta no final da sala. Enquanto marchavam, um cinzento vinha em sua direção contrária, e olhava-os fixamente enquanto dava passadas largas. Ao cruzar com eles, o sujeito trombou com Ameenah, batendo seu ombro no dela, e a intensidade do choque fez com que seu sabre de luz se soltasse do uniforme e caísse, rolando pelo chão.
-São Jedis! - Exclamou o cinzento, e logo todos os soldados que estavam na sala alarmaram-se. - Eu sabia!
Talib sacou seu sabre imediatamente, enquanto os guardas se amontoavam em volta deles apontando seus blasters. Ameenah usou a telecinese para tentar trazer sua arma de volta, porém um cinzento pegou o sabre no ar antes que ela o alcançasse. Talib protegia os dois, apontando corajosamente a sua espada na direção dos cinzentos, mas não havia nada que pudessem fazer. Eram dois contra quinze, sendo que um deles estava desarmado.
-Sabíamos que estavam se escondendo – Disse o técnico que estava atendendo-os. - Styg vai gostar de saber disso. Pegue a arma deste crápula! - Ordenou, e o cinzento que trombara em Ameenah arrancou o sabre das mãos de Talib e desativou-o.
Os soldados arrancaram os capacetes dos dois Jedi e os algemaram, levando-os escoltados até o outro lado da nave. Pararam em frente ao que parecia ser uma parede monitorada por dois guardas, que os encararam impassíveis. O responsável pela captura dos dois falou algo em seu comunicador de pulso, e então a parede, que na verdade era uma porta, ergueu-se revelando uma ampla sala.
Talib e Ameenah foram empurrados para dentro, com dificuldade de andar devido aos uniformes metalizados que trajavam. Os dois Jedi perceberam que o ar daquele lugar era ligeiramente mais frio que do lado de fora, e quando ergueram os olhos, perceberam por que.
Encostado na parede oposta, um enorme trono dourado erguia-se sob um tablado de dois degraus, e sentado ali estava Darth Styg. Com sua capa preta esticada até chão, as enormes e pesadas pernas mecânicas do homem - se é que ele ainda poderia ser considerado um e não uma máquina - descansavam enquanto seu rosto deformado pousava-se sob o punho fechado, enquanto observava os prisioneiros que entravam.
A sala era cercada por adornos e quadros do que deveriam ser vários Sith importantes que viveram ao longo dos milênios, e o luxo todo parecia demonstrar o saudosismo de Styg aos seus tempos de Imperador. Atrás do trono, uma estrutura metálica e oval erguia-se, e conectava-se aos dois braços da cadeira, e no canto direito, uma porta. Tirando aquilo, o local parecia não ter nenhuma outra utilidade, a não ser amaciar o ego enorme do senhor das sombras. Yerodin, Khali e Ayana estavam na sala, algemados e ajoelhados à direita, cercados por quatro guardas com seus blasters empunhados.
-Vejam só, se não são os patéticos Jedi tentando salvar o dia! - Styg projetou a voz mecanizada cheia de ironia.
Ele levantou-se de seu trono e desceu os dois degraus com dificuldade, enquanto os cinzentos colocavam Ameenah e Talib ajoelhados à frente dele.
-E sabem qual é a parte mais curiosa disso tudo? É que vocês realmente acharam que podiam me tapear. - Ele parou bem na frente dos dois, dando um sorriso diabólico que arrepiava até mesmo estando coberto pelos enormes respiradouros de sua armadura.
Três cinzentos colocaram-se à escolta de Talib e Ameenah, e o restante se retirou e fechou a enorme porta.
-Bom, eu devo admitir. Para seres semi-inteligentes, vocês até que foram muito espertos se infiltrando na minha nave – Styg falou como se ponderasse. - Mas a cada dia a ingenuidade dos Jedi me surpreende mais. Disfarçarem-se de guardas? Jogarem seus amigos como distrações? Terem a audácia de invadir a minha sala de armas? - Ele soltou uma gargalhada abafada. - Sei muito bem o que vocês dois inúteis foram procurar lá. Pois saibam que mesmo que meus guardas fossem cegos e atrasados o suficiente para não os notarem, vocês jamais teriam a encontrado.
Os dois se olharam, e Khali, Ayana e Yerodin também trocaram encaradas com eles. Os três pareciam furiosos. Styg caminhou até um dos guardas postados atrás de Talib, e tocou em seu blaster.
-São armas incríveis, não? Com um só tiro são capazes de exterminar todas as suas boas intenções. - Falou cínico. - O Lado Claro jamais conseguiria entender uma tecnologia tão complexa como essa. Suponho que todo este ataque ridículo e esta cena de humilhação tenha ocorrido porque os Jedi desesperaram-se por não saber como reverter os efeitos da minha engenhosa invenção. - Ele começou a caminhar em volta dos guardas e os dois cavaleiros ajoelhados. - Pois era exatamente este o pânico que eu esperava causar com ela.
Ele parou de frente para eles.
-Vocês devem se achar incrivelmente bravos, não? Se metendo na casa do inimigo, desbravando sua nave atrás de destruir o que quer que alimenta os blasters que tem lhes dizimado como frangos. - Falou Styg, sério. - Mas é claro que isso não seria tão fácil, sim? Até porque, minha tecnologia vai além de tudo que possam imaginar. A fonte daquilo que alimenta meus blasters está sempre próxima a mim, pois ela depende de mim. Querem forma melhor para combater o Lado da Luz do que o próprio Lado Sombrio em forma de arma?
O ciborgue riu. Seus guardas permaneciam sérios, enquanto ele parecia divertir-se imensamente com aquela cena de horror.
-Deixe-me ver se posso colocar isto em palavras fáceis. Suas bondosas e altruístas midi-chlorians estão sendo exterminadas pelas midi-chlorians mais maléficas e perversas que existem na Galáxia - Styg explicou em tom superior. - As minhas.
Os cinco Jedi algemados surpreenderam-se, embora não demonstrassem nada mais do que pura raiva.
-O coletor das midi-chlorians está ali ligado ao meu trono, e suga minha maldade e transformando-a no líquido das cápsulas. Brilhante, não é? - Ele perguntou a Talib. - Desenvolvi uma máquina capaz de coletar o mal do meu próprio sangue, e transformei-o em balas que perfuram as frágeis e puras partículas de bondade que vocês tem. – Ele sorriu. - E no fim, vocês não são mais nada. Não passam de pesos mortos para sua própria Ordem, que a cada disparo meu se torna mais decadente e fadada ao fracasso, novamente.
Os passos de Styg o levaram até Ayana, que encarava-o impassível. Ele abaixou-se até que seus rostos ficassem na mesma altura.
-Sua mãe é muito corajosa, sabia? - Disse ele à garota. - Casou muito mal, devo dizer, mas ainda assim é muito corajosa. Mesmo tendo sido criada por políticos folgados e idealistas, ela conseguiu se destacar, e reergueu sozinha toda uma doutrina que há anos estava morta. Foi mais do que o irmão dela já fez. Pena que, assim como para escolher maridos, ela também não sabe escolher lados. Pena que toda a sua destreza se perdeu na fraqueza do Lado Claro, pois eu poderia fazer muito bom uso dela se escolhesse o Lado Sombrio. - Styg fez uma pausa e olhou no fundo dos olhos da menina, como se a analisasse. - Posso dizer que ela passou a síndrome das más escolhas para você, não é, garotinha? Incrível poder, porém desperdiçado. Com plantas. - O ciborgue começou a rir. - Força medicinal, não é mesmo? Você envergonha incrivelmente a sua mãe. Incapaz de escolher um lado, e então decidiu não escolher lado nenhum. - Ayana fingia não ouvir enquanto Styg falava. - Que família mais problemática.
O homem robótico voltou a caminhar entre os prisioneiros, voltando até o centro do salão. Styg esticou o braço e com sua grossa luva preta alisou os cabelos de Ameenah que estavam sob os ombros. A garota estremeceu, como se a própria morte estivesse tocando-a. Com um movimento brusco, ela afastou-se dele.
-Eu compreendo seu remorso, princesa. - Ele disse olhando diretamente nos olhos dela. Ela surpreendeu-se. - Oh, sim. Sei quem você é, Ameenah. Já vi seu lindo rosto estampado nos selos e moedas do grandioso planeta de Nassor. Ou ele não é mais tão grandioso assim depois que eu o explodi? - Ele franziu a testa, fingindo tristeza. Ameenah desviou o olhar tentando conter sua vontade de esmigalhar a cara dele, e Styg riu-se. - Eu me lembro bem deste dia glorioso. Você era só uma garotinha, não? Pobre, indefesa, escondida em seu majestoso castelo enquanto sua população queimava e morria à deriva do meu exército. - O prazer que envolvia aquelas palavras que saíam da máscara dele enojaram a garota. Ele olhou-a diretamente nos olhos. - É, foi glorioso, sim. O dia do meu retorno. Porém, não escolhi seu precioso planetinha em ascensão por você, seus pais ou sua população desesperada. Na verdade, eu invadi Nassor porque estava atrás de alguém. - Styg voltou-se subitamente para trás, e apontou na direção de Khali.
O Sith caminhou lentamente, com seus passos pesados e estrondosos, na direção do rapaz.
-Khali Skywalker – Styg proclamou seu nome, com grandeza. - Que belo sangue corre pelas suas veias. Confesso que não esperava ver este sangue em um rapaz tão novo quanto como você outra vez. - Ele parou de frente para Khali. - Esperava que o covarde do seu pai fosse o último desta descendência inútil que eu tivesse que matar. Mas não. A Força trouxe você. - Ele aproximou seu rosto do rapaz. - Eu senti. - Styg falou pausadamente. - Eu senti você e a sua aura poderosa, quando era apenas uma criança. Eu sabia que os Skywalker tinham um novo descendente. E eu soube que eles estavam escondendo-o de mim, em Nassor. - O homem afastou-se. - E claro que eu não poderia deixar de notar o nascimento de uma criança tão brilhante, não é mesmo? Portanto decidi ir até lá. Para acabar com ela com as minhas próprias tropas. - Styg falou cheio de cinismo. - Com o filho e com seu heroico pai desaparecido, que acreditei que num ato de coragem havia tomado sua criança e fugido com ele para protegê-lo naquele planeta isolado. Mas ele não o protegeu, não é mesmo? Foi embora sem nem sequer se importar com você, te largando lá. Que belo herói, não acha?
Por mais que aquilo atingisse Khali, o Jedi sabia que não passava de um truque psicológico. Mas aquelas palavras o deixaram com muita raiva.
-Muitos se perguntaram a razão do meu ataque a Nassor. - Continuou o robótico desprezível. - Por que agredir apenas a cidade? Por que não atacar o castelo? Por que deixar seus governantes vivos se pretendia atingi-los? Não. - Divertiu-se. - Não era aquela desprezível família de revolucionários que eu pretendia derrubar. Eu queria chegar até a raiz do problema, de toda a desgraça que tem me assolado em anos, acabando com a raça dos Skywalker para sempre. - O homem fez uma pausa. - No entanto, como podemos perceber, eu falhei. Pois aqui está você.
-E eu é quem irei acabar com a sua raça. - Cuspiu Khali, que segurara seu ódio até aquele momento.
-É, seu pai também disse isso. E o pai dele também. Quem sabe a incompetência seja genética.
Khali levantou-se num pulo e retirou as mãos de trás das costas, que já estavam sem algemas há algum tempo. Com um rápido giro ele desviou o blaster do guarda que o escoltava e lhe deu um soco, pegando seu sabre de luz que estava atado ao cinto dele. Yerodin e Ayana também já estavam desalgemados, graças à Ayana que ao ser pega, hipnotizara o soldado cinzento que os algemara e com o poder da mente fez com que ele deixasse amarras frouxas. Eles esperaram o momento certo até ali, e se levantaram e reagiram da mesma forma com os outros três guardas, tomando seus sabres e ativando-os para derrubá-los e defender os tiros que vieram em sua direção.
Aproveitando a deixa, Talib e Ameenah rolaram pelo chão até o canto, saindo do caminho, até que Yerodin corresse até eles e arrebentasse suas algemas com a lâmina da espada. Os dois Jedi correram na direção dos guardas caídos para pegarem suas armas e então juntarem-se aos outros, e logo derrubaram todos os cinzentos que ali estavam.
-Quem sabe a minha incompetência te surpreenda. - Khali indagou cerrando os olhos.
Styg observou a cena ágil de longe, afastado sob o tablado de seu trono. Pressionara um botão que ativou um alerta para suas tropas, que sem demora adentraram armadas e preparadas.
As batalhas recomeçaram, com sabres rodopiando e desviando tiros disparados pela impecável formação de soldados, que já se preparavam para combate próximo. Eram três ou quatro cinzentos para cada um dos Jedi, que lutavam com garra e habilidade para tentar recuperar o controle da situação.
O ciborgue assistia àquilo farto de peripécias. Com passadas mecânicas, Styg dirigiu-se até a parte de trás de seu trono, onde escondia um blaster próximo a máquina coletora de midi-chlorians. Aquela não era uma arma como as de seu exército, fora produzida especialmente para seu uso próprio, com apenas algumas balas que atendiam ao seu objetivo. Misturando a nova tecnologia das midi-chlorians com a de um blaster comum, o tiro era letal e arrasador, desenvolvido especialmente para inimigos que insistiam em ficar em seu caminho.
-Hora de terminar o que comecei em Nassor, Skywalker - Styg disse baixo, ajustando a mira de sua arma no rapaz que lutava com os guardas, virado de costas para ele.
Darth Styg disparou seu blaster na direção certeira de Khali. Porém, seu mestre, que lutava logo ao lado do aprendiz, notara a movimentação e suas intenções sombrias. Num movimento rápido, Yerodin se desvencilhou dos cinzentos que combatia e, dando um salto, jogou-se na frente do rapaz, sendo atingido pela bala vermelho-sangue bem no meio do peito, e caindo no chão logo em seguida.
Capítulo 15
Enquanto batalhavam bravamente, os Jedi e os soldados ouviram o som do disparo. Khali virou-se para trás bem a tempo de ver Yerodin jogando o corpo em sua frente para servir-lhe de escudo, e em seguida caindo inerte no chão com os olhos vidrados.
Aquele era o homem que havia o criado desde que era só um menino. Era quem havia lhe ensinado tudo que sabia. Era responsável por tudo que ele era ou um dia seria. Era a coisa mais próxima que ele já tivera de um pai.
-Mestre! - Gritou ele, em vão, ao ver seu corpo em queda como se estivesse em câmera lenta.
Não havia nada que ele pudesse fazer. Aconteceu mais rápido do que ele conseguira acompanhar. Khali dirigiu seu olhar perdido ao ciborgue no tablado, que empunhava a arma. Styg sorria, satisfeito por ver que seu ato havia causado dor ao garoto.
Naquele momento, qualquer vestígio de equilíbrio e calma se esvaiu imediatamente do rapaz. O cinismo esbanjando por aquela expressão mórbida e retorcida por trás da máscara lhe causou um ódio tão grande que Khali saiu de si, enfurecido.
Utilizando a Força para impulsioná-lo, Khali deu um salto em direção à plataforma do trono, com seu sabre apontado para frente e o sangue fervendo. Ele avançou na direção de Styg, que o observava com a mesma expressão satisfeita, e gritou extravasando a raiva, desferindo um golpe carregado de remorso.
Styg sacou da armadura o seu sabre de luz vermelho e defendeu-se do garoto, e logo os dois começaram uma batalha. Khali golpeava com força e rodopiava seu sabre com imensa rapidez, demonstrando real intenção de ferir o oponente, impulsionado pelo sentimento do momento. Styg, que parecia estar se divertindo com aquilo, apenas defendia-se, enquanto observava o Jedi perder a linha.
Os dois inimigos começaram a ir na direção direita do palanque, com Khali avançando e ganhando terreno sobre Styg.
-Seu pai lutava melhor que isso. - Provocou Styg, defendendo um golpe frontal.
Khali não reagiu, mantendo o mesmo olhar raivoso e os golpes agressivos.
-Ele era bem mais resistente a mim também. - O homem arqueou as sobrancelhas, sorrindo.
Khali apenas o ignorava, pois sabia que era um truque psicológico para tentar derrubá-lo com palavras ao invés de golpes. E ele precisava vencer aquele canalha.
-Eu sinto a raiva dos Skywalker emanando de você, garoto. - Continuou o Sith. - Sua família toda pertence ao Lado Negro por nascença, possui ira correndo nas veias. Não seja fraco como eles, atenda à sua natureza!
O rapaz rasgou o ar num golpe horizontal, arrebentando uma série de cabos de energia, na tentativa de calar o homem metálico.
-Oh, eu sinto seu medo. Medo de não ser um Jedi tão bom quanto o seu pai. - Ele não se deixou interromper, e continuava defendendo os ataques furiosos de Khali. - Você viveu a vida toda à sombra de um grande herói, sendo pressionado a agir como ele, a tornar-se um Jedi como ele, e não sabe se é bom o bastante para tomar seu lugar.
-Sou um Jedi porque escolhi, pois sei que o Lado da Luz é soberano sobre as Trevas! - Khali respondeu, com mais uma entrada agressiva no espaço do inimigo.
Enquanto Khali e Styg travavam sua árdua batalha, os outros três Jedi combatiam os soldados cinzentos, que aumentaram seu número com novas tropas. Sem Yerodin, acontecimento que abalara a todos, tudo ficara mais difícil e doloroso. Eram muitos golpes, ataques, defesas, lesões, mortos e feridos, e os três cavaleiros mantinham-se firmes e ajudando uns aos outros, tentando recuperar o controle da situação.
Ayana, que acabara de derrubar dois inimigos com um só golpe vertical, olhou de relance a cena de batalha entre Styg e o primo. A situação era delicada, o objetivo principal da missão não tinha sido atingido e não demoraria muito para que os cinzentos mandassem mais tropas para continuar - ou até ganhar - aquela batalha sem fim. Todo aquele esforço precisava trazer no mínimo algum ganho para os Jedi.
A garota olhou de relance para Ameenah, que compreendeu que a amiga tinha um plano. As duas afastaram-se do grande contingente de soldados e subiram até o pedestal do trono, Ayana com uma ideia em mente e Ameenah dando-lhe cobertura. Solo dirigiu-se até o blaster caído de Styg, que estava ocultado por corpos de soldados. Zulai combatia os soldados que tentavam se aproximar da menina e, com um movimento rápido antes que fosse percebida, Ayana disparou um tiro na direção da máquina que processava a substância dos tiros.
O estrondo foi ouvido por todos na sala e ecoou pela nave inteira. As midi-chlorians da arma misturadas aos seus fins destrutivos de blaster de laser foram responsáveis por abrir um enorme buraco na estrutura metálica, que começou a vazar o líquido vermelho-vivo pela sala do trono. Ayana disparou uma segunda vez, desta vez atingindo diretamente o líquido, que em algum tipo de reação começou a incendiar a estrutura e ocasionou uma explosão.
-Sou um desperdício, certo?! - Berrou a Jedi, que após lançar um olhar triunfante para Styg pegou seu sabre novamente e foi auxiliar Ameenah, que combatia soldados.
Darth Styg não acreditava no que via. O rubro de seus olhos ficou mais intenso enquanto ele encarava irado a sua mais preciosa invenção em chamas. Com um grito de raiva, ele avançou contra Khali e os dois voltaram a batalhar ainda mais intensamente.
-Vocês jamais irão me vencer! - Ele bradou. - Eu vou matar todos vocês! Vou acabar com todo e qualquer Jedi desta Galáxia!
Ele golpeava, desta vez ganhando terreno em relação a Khali, que sorria morbidamente satisfeito ao ver estrutura pegando fogo. Agora, Talib, Ameenah e Ayana estavam em vantagem, combatendo os cinzentos juntos, que diminuíam em número. Mashaba fez um sinal ao amigo, indicando que os três pretendiam chegar até a sala de comando da nave, provavelmente para concretizar o plano inicial de tomar o controle da cruzeiro.
-Seu pai era fraco, ele escolheu mal o seu destino – Styg continuou a provocar o menino. - Se deseja ser melhor que ele, junte-se a mim!
-Eu jamais tentarei superar meu pai – Retrucou Khali. - E jamais me curvarei diante de você!
A batalha entre os dois começou a ganhar espaço, e os oponentes deixaram o tablado para começarem a duelar pelo salão aproximando-se de um portal do lado direito do local.
-Isso, use a sua raiva – Styg cerrou os olhos, lançando um olhar penetrante para o Jedi enquanto ele o atacava. - Eu matei o seu mestre, e agora você quer me matar. - Ele rodopiou para desviar-se de um golpe, e Khali atingiu um dos quadros pendurados na parede. - Ele devia significar muito pra você. Deve ter sido tudo que seu pai não foi.
-Não ouse falar de nenhum deles! - O rapaz gritou, e com o poder da mente começou a derrubar todas as pinturas e artefatos e usá-las para atingir Styg.
O Sith posicionou o braço revestido de armadura sobre si, e começou a recuar entrando num corredor largo e extenso que ficava no interior do portal.
-Não deixe as emoções atrapalharem a sua luta, jovem Jedi – Styg sorriu enquanto andava para trás na passarela metálica do que parecia ser uma sala de fuselagens. - Ou vai acabar deixando que palavras tirem o melhor de você. - Com a Força, o ciborgue entortou um dos canos de metal da passarela e atingiu o rapaz no rosto. Khali caiu para trás, atordoado, mas logo levantou-se e começou a correr irritado na direção de Styg.
Esticando a mão que não segurava a espada para frente, Darth Styg usou a Força para parar o rapaz, e com os dedos fechados em pinça começou a estrangulá-lo usando a mente, tirando seus pés do chão.
-Escute, Skywalker – Sua voz soou extremamente sombria, mais ainda por conta da respiração mecanizada. - Você e seus companheiros podem pensar que irão me vencer, que triunfarão sobre mim, mas sempre que pensarem estar acima, saiba que eu estarei três passos a frente de vocês. - Khali começava a sufocar, derrubara seu sabre de luz no chão e com as mãos tentava soltar-se da energia invisível que o levantava cada vez mais alto no ar. - Eu esperei durante muito tempo para ter o meu triunfo, e eu lhe garanto que desta vez nada nem ninguém se colocará no meu caminho. O Lado Negro irá imperar sobre a Galáxia novamente, e nenhum Jedi metido a besta, nenhuma princesinha idiota e nenhum descendente poderoso por acaso irá me impedir de dominar o Universo!
Quando Khali estava prestes a perder a consciência, Styg foi atingido por uma enorme barra de metal que foi lançada ao seu encontro, e caiu no chão. Skywalker foi lançado para trás, e caiu no chão, atordoado. O rapaz olhou para trás e encontrou Talib no fim do corredor, usando a Força para atirar pedaços de fuselagem em Styg e ganhar tempo para o amigo.
Khali pôs-se de pé e recuperou seu sabre. Com a mente, Darth Styg passou a conter os objetos que lhe eram arremessados e levantou-se com dificuldade, expondo uma rachadura na armadura da perna esquerda. Logo após, ele usou a Força para empurrar todos os metais de volta na direção dos Jedi, que deram pulos altos para desviarem-se dos pedaços maiores.
Enquanto Talib e Khali se recuperavam, Styg deu meia volta com seus passos pesados reverberando na passarela de metal, e no final do corredor encontrou uma estrutura oval e pequena com uma porta, na qual entrou. Os dois rapazes, atordoados, não conseguiram impedi-lo de entrar na estrutura blindada, que fechou as portas antes que eles se levantassem. Aquela era uma nave de fuga, que imediatamente acionou portas metálicas que se abriram no teto, e rapidamente decolou para o espaço.
Após muita luta e perseverança, os Jedi conseguiram tomar o controle da nave cruzeiro cinzenta. A maioria dos soldados tripulantes foi derrotada, e os que sobraram fugiram em naves de fuga assim como a de Styg. Ameenah e Ayana correram até a sala de controle e ajustaram os comandos da nave, e então começaram a pilotá-la de volta para a superfície de Pasua. Talib e Khali jogo juntaram-se a elas.
Os Jedi adentraram a atmosfera quando já era fim de tarde. Uma imensa nuvem de fumaça preta saia da base do exército cinzento, que havia sido destruída. Todas as naves de tropas que ali estavam haviam se retirado, e agora só os Jedi estavam no planeta.
A cruzeiro cinzenta pousou sob ameaça de uma dezena de cavaleiros armados, que só abaixaram os sabres quando viram que eram amigos que desciam. Os guerreiros deixaram a nave, e então seus companheiros vitoriosos os receberam.
-Perdemos a festa? - Perguntou Ayana, e mestre Mothusi veio recebê-la.
-Acredito que vocês tenham tido a sua própria festa, não é? - Ele brincou, olhando para as roupas totalmente estragadas e os diversos hematomas e ferimentos nos três Jedi.
-Onde estão as tropas?
Pasua estava completamente livre de qualquer sinal do exército cinzento. Agora, só restavam Jedis andando pela savana, acalmando os animais silvestres que foram usados na batalha, prestando socorro aos feridos e levando-os até as naves, que foram trazidas até a clareira onde estavam. Os cavaleiros preparavam-se para descansar, após terem a vitória na batalha. Glória para os Jedi! Enquanto os três observavam a cena, alguns cavaleiros apareceram com medicamentos para atendê-los.
-Foram embora. - Respondeu mestre Mothusi. - Estávamos em vantagem, grupos de cavaleiros começaram a furar o bloqueio e adentrar na base. Então de repente os cinzentos começaram a recuar, embarcaram em caças e naves e bateram em retirada. Acreditamos que tenham sido ordens de Styg, provavelmente para poupar seus soldados.
-Vencemos, então. - Ameenah permitiu-se um sorriso aliviado, e Ayana e Ameenah fizeram o mesmo.
-Sim, vencemos. – Concordou Mothusi sorridente, comemorando. - No entanto, não conseguimos roubar nenhuma informação proveniente da estação militar. Antes de sair, os cinzentos fizeram questão de apagar todos os dados de seu sistema. - Ele torceu o lábio. - Então, para garantirmos que eles não voltem para repovoar o local ou buscar os recursos, incendiamos a base.
-Fizeram muito bem.
-E vocês? O que fazem dentro desta cruzeiro? - Mothusi perguntou encarando a enorme nave cinza.
-Tivemos a deixa para embarcar antes que Styg fugisse nela. Conseguimos derrotar as tropas e tomar o controle da nave, depois de muita luta. Infelizmente, Styg fugiu num compartimento de fuga – Contou Talib. - Porém, conseguimos concretizar o objetivo da missão. Encontramos a máquina que Styg usava para produzir a substância amortecedora de poderes. Conseguimos destruí-la.
-Isso é ótimo! - Comemorou o mestre.
-Sim, é. Tivemos que explodir a máquina, mas acredito que ainda seja possível levá-la até nossos especialistas para que façam mais estudos. Styg utilizava as midi-chlorians do próprio sangue para fabricar as balas.
-Midi-chlorians? - Mothusi surpreendeu-se. - Faz sentido. Que invenção doentia.
-Realmente.
-E estão todos bem? - Ele perguntou, e os três Jedi abaixaram as cabeças.
Neste momento, houve uma movimentação no interior da nave. Khali apareceu caminhando a passos lentos, todo coberto pelos panos rasgados do uniforme, pela fuligem e pelos machucados, segurando nos braços o corpo do mestre morto. Nesta hora, todos que estavam ali perto pararam, surpreendendo-se e entristecendo-se com a cena.
Khali fazia isso com uma lágrima escorrendo no rosto. Assim que ele chegou até o solo, dois cavaleiros vieram auxiliá-lo, retirando mestre Yerodin de seus braços e colocando-o em uma maca destinada a mortos e feridos.
-Oh, Yerodin... - Suspirou Mothusi, que era um grande amigo do homem. - Não posso acreditar!
-Ele salvou a vida de Khali. - Contou Ayana, com a voz baixa pela tristeza. - Devemos a vitória a ele.
Yerodin era um dos principais mestres da Ordem Jedi. Estava lá desde o começo, foi um dos precursores da nova Ordem e ajudou em toda a sua construção. Perder alguém tão significativo quando ele era um choque para todos, ainda mais para aqueles que conviveram com sua imensa sabedoria por tantos anos.
Os Jedi saíram de Pasua com o sol quase extinto. Os phalones que os ajudaram na batalha finalmente estavam em paz, sem a Força Negra para atormentá-los. A Ordem deixou o planeta para trás apenas com uma enorme nuvem de fumaça para lembrar a imensa batalha que havia acontecido ali. Foram muitos os prejuízos, os mortos e feridos, porém, a vitória era dos Jedi, que agora não eram mais ameaçados pela arma dizimadora de poderes. As naves da Ordem decolaram e chegaram de volta a Tedros quando já era noite, e então descarregaram as armas e levaram os feridos para atendimento mais específico na enfermaria.
Vinte mortos. Esta foi a perda da Ordem naquele dia, da Ordem que nunca havia se envolvido em qualquer batalha. Os mestres mais antigos, que haviam servido à Aliança Rebelde no passado, já haviam quase se esquecido daquele sentimento devastador de perder um amigo em uma guerra. Os Jedi renasceram num tempo de paz e harmonia, porém, as coisas haviam mudado. Eles não eram mais uma doutrina religiosa. Eram guerreiros, defensores da paz, e voltaram a lutar seus objetivos de origem. Aquela tragédia voltaria a fazer parte deles. As tristes baixas na equipe dos cavaleiros foram homenageadas e veladas ainda naquela noite, com uma reunião de todos os membros da Ordem, de todas as idades e níveis, na floresta que ficava atrás do palácio da Academia.
O Supremo Mestre Idowu proferia bonitas palavras de consolo e força a respeito da batalha daquele dia e das mortes consequentes. Enquanto isso, os vinte corpos, colocados lado a lado, eram cremados e placas com seus nomes eram penduradas nas árvores da mata próxima, em homenagem. Os outros cavaleiros observavam tudo em silêncio, de cabeças abaixadas, orando pelos que se foram.
-Nunca é fácil quando vidas são perdidas. E é mais difícil ainda quando estas vidas eram de pessoas tão importantes e próximas a nós. - Proferia Idowu, no meio do círculo formado para assistir a cerimônia. - Muitos de nós nunca haviam presenciado a morte de perto. Porém, como disse a vocês, cavaleiros, as coisas mudaram. A paz não é mais a rainha de nossos tempos. Podemos ter conquistado uma vitória hoje, mas vencemos apenas uma das batalhas desta guerra que está se iniciando. Agora, precisamos nos unir como irmãos que somos, para superar as perdas irreparáveis que tivemos, e para encontrar forças para juntos conseguirmos vencer os próximos obstáculos que virão. Precisamos uns dos outros. Situações assim servem para nos ensinar o quanto nossas vidas são frágeis, o quanto nossas missões são importantes, e o quanto devemos sempre nos manter próximos daqueles que gostamos. Nossos vinte cavaleiros eram muito estimados, e foram incríveis membros desta Ordem. Deram suas vidas para salvar as nossas e as outras milhões que habitam a Galáxia e veem-se ameaçadas por esta onda de sombras que nos assola. Que a Força, que guiou seus destinos e lhes deu poder e sabedoria, continue os acompanhando em suas jornadas do outro lado da vida. Que nossos cavaleiros encontrem-se no plano espiritual da Força, e continuem seus caminhos e aprendizados. - Idowu fez uma pausa, devido ao peso das palavras que proferia. - A Força é poderosa. Os seus caminhos nós não conhecemos, e muitas vezes não entendemos. Porém, ela é sábia, e jamais nos deixará na mão. Precisamos ter confiança de que todas as coisas que por ela são regidas não acontecem sem motivo, e que o seu poder e a sua verdade nos darão forças para continuarmos nossas jornadas, sempre nos lembrando daqueles que foram importantes para nós, e protegendo a Galáxia como prometemos fazer.
O Supremo Mestre terminou sua fala, e então mais orações em conjunto começaram.
Não há emoção, há paz.
Não há ignorância, há conhecimento.
Não há paixão, há serenidade.
Não há caos, há harmonia.
Não há morte, há a Força.
À direita da multidão, estava Khali com ar pensativo. Ele observou as chamas tomarem conta do homem que representara tanto em sua vida, que o salvara naquela noite, e se perguntou sobre as escolhas que a Força fizera para seu destino. Yerodin era um Jedi incrível, assim como todos que ali estavam purificando-se nas chamas para então adentrarem no reino da Força espiritual. Parecia que um pedaço dele havia sido removido.
Ameenah estava logo ao seu lado, e encarou-o ternamente, tentando confortá-lo. Por um momento, o rapaz sentiu-se melhor, e lançou a ela um pequeno sorriso, e então voltou a acompanhar a cerimônia.
Styg estava errado. Suas ideias prejudicaram milhões de vidas inocentes ao longo de muitos anos, e ameaçavam comprometer muitas mais. Ele precisava pagar pelo que fizera. Era missão da Ordem garantir que isso acontecesse, e garantir que a Galáxia não caísse em suas tenebrosas mãos de novo. Khali estava triste, mas também sentia-se determinado a garantir que a justiça fosse feita. O bem imperaria, ele confiava nisso. E era hora de se preparar para tornar esta ideia realidade.
Após realizarem o funeral coletivo e rezarem muito pelas almas dos falecidos, os cavaleiros recolheram-se na Academia para descansar. Aquele dia extremamente atípico e intenso exigia um bom descanso, pois apesar de perdas, havia lhes trazido uma grande vitória. Darth Styg não deveria mais subestimar os novos Cavaleiros Jedi, que lutaram pelo que acreditavam e obtiveram sucesso em defender a si e a seus companheiros. Sua engenhosa invenção havia sido destruída, e sua vantagem sobre eles havia sido substituída por três pontos a frente para os Jedi. E eles fariam questão de manter-se assim.
A Academia amanheceu com as atividades normalizadas. Já bem cedinho, os guerreiros levantaram-se e voltaram a seus treinamentos, atividades e meditações, com uma cerimônia de agradecimento à Força logo ao nascer do sol na beira do lago da Academia. Os Jedi rezaram agradecendo pela vitória que lhes foi dada pelo destino, e pediram coragem e determinação para vencer o inimigo que ameaçava o equilíbrio da Força.
Quando todos caminhavam de volta para dentro do palácio, Leia procurou Ameenah para ter uma palavra.
-Ameenah – Ela chamou, e a garota voltou a atenção para ela. - Gostaria de te dar os parabéns pela batalha.
-Obrigada, mestre. - A princesa sorriu.
-Seu desempenho ontem foi excelente. Seus golpes eram precisos, sua concentração era sólida, seu pensamento era rápido. Você aplicou tudo aquilo que eu lhe ensinei, e eu fiquei imensamente orgulhosa. - Organa sorriu.
-Seus ensinamentos fizeram de mim uma guerreira muito melhor, mestre. - Respondeu Ameenah. - Eu tenho muito a lhe agradecer. A senhora me acolheu tão bem desde o início, e me ensinou tanto não só sobre batalhas e técnicas, mas também sobre a vida em geral. Ter me escolhido como padawan significou muito para mim, pois você sabe o quanto te admiro. Sou muito grata.
-Não tem que me agradecer por isso, minha aprendiz. Ser sua mestra foi muito mais que isso. Sabe por que a escolhi como minha padawan? - A garota não arriscou. - Porque quando te assisti lutando, vi muito de mim em você. - Ameenah ficou surpresa. - Sim, mais do que você pode imaginar. A Força me mostrou isso. Ensinar você se tornou fácil para mim, pois somos muito parecidas. Temos origens similares, passamos pelas mesmas situações... é por isso que soube que deveria ser eu a treinar você, e foi por isso que decidi interferir na decisão do Conselho. E, honestamente, eu me orgulho muito desta decisão. - A mestra sorriu.
Ameenah também pôs-se a sorrir, e então as duas se abraçaram. A garota ficou muito feliz em ouvir aquilo, pois Leia sempre significou muito e foi uma das heroínas que a influenciou no desejo de se tornar uma Jedi. E grande parte desta influência deu-se pois a garota se identificava muito com ela. Ambas eram princesas, tinham vidas políticas, escolheram a coragem e a luta e tornaram-se cavaleiras Jedi. E, após Leia virar sua mestra, ela tornou-se uma mãe dentro da Academia, pois cuidava de Ameenah e a aconselhava. A relação entre as duas era natural, e elas de davam muito bem.
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A sala redonda da Ordem encontrava-se com todas as cadeiras ocupadas, enquanto os principais mestres e aprendizes discutiam ávidos, na primeira reunião do Conselho Jedi após a vitoriosa batalha contra Darth Styg.
Eram muitos assuntos a serem discutidos. O desempenho dos guerreiros que mandaram ao combate; as novas informações que obtiveram; os cargos que teriam de ser remanejados; como as coisas seriam dali para frente.
-Acredito que só temos coisas boas a dizer a respeito da participação de nossos cavaleiros. – Falou Gahiji. - Todos demonstraram muito comprometimento, e muitos nos surpreenderam com seus desempenhos. Acredito que estes, reportados por seus responsáveis de pelotão, deveriam receber nossa atenção especial, para que continuem participando de mais questões da Ordem.
-Concordo plenamente. - Se posicionou Khali, orgulhoso por sua primeira participação efetiva numa reunião, agora como mestre Jedi. - Bons cavaleiros devem ser reconhecidos, e a medida que demonstrarem grandes poderes devem ter um horizonte para os expandi-los.
-Já estou cuidando disso. – Prontificou Mothusi. - Pedi relatórios de todos os cavaleiros que ficaram responsáveis por liderar grupos no ataque, e acredito que poderemos tomar decisões relacionadas a este tema na próxima reunião.
-Perfeito. - Concordou Skywalker. - Aproveitando o assunto, eu gostaria de fazer meu próprio relatório a respeito do grupo do qual participei, e salientar dois aprendizes em especial. Talib Mashaba e Ayana Solo. - Ele disse, e os outros Jedi sentados à mesa pareceram tomar nota. - O desempenho destes cavaleiros foi exemplar durante toda a missão. Grande parte do plano que nos levou até a vitória na nave de Styg partiu de Talib, e foi Ayana quem destruiu a máquina que fabricava os tiros. Sem falar que Talib, com muita inteligência, salvou minha vida duas vezes.
-Concordo com Skywalker. – Disse Ameenah, que estava sentada do outro lado da mesa ao lado de Leia, e a mesma também testemunhou a favor. - Ayana foi muito destemida em roubar o blaster de Styg e atirar contra a máquina. E, sobre Talib, estive sozinha com ele durante uma fase do plano e ele foi muito astuto e calmo para contornar as situações que passamos.
Todos pareceram ponderar sobre as declarações feitas. Leia, em especial, possuía orgulho estampado no rosto ao ouvir tal menção à filha. Todos os mestres registraram os destaques e refletiram sobre a contribuição dos dois aprendizes.
-Fico feliz em saber que nossos aprendizes tem tanto talento. Quanto à Talib, recebi outro relatório a respeito deste aprendiz. – Comentou Idowu, revirando a memória. - Há cerca de alguns meses seu desempenho disparou, e o mestre dele nos sinalizou recentemente que está pronto para realizar os testes para mestre.
-Talib é muito inteligente e também muito poderoso – Mothusi adicionou. - Chegou aqui logo na infância, muito promissor. Eu já o vi lutar antes.
-Acredito que o Conselho deva mesmo continuar de olho neste aprendiz, até mesmo como uma possibilidade para ser o Escolhido. - Declarou Khali, e todos os demais Jedi se alarmaram.
-Mestre Skywalker, esta é uma alegação muito séria. - Ponderou Gahiji com uma sobrancelha arqueada em desconfiança.
-Sei disso, mestre Gahiji, mas acho uma aposta válida - Acrescentou Khali, convicto da confiança no amigo. - Acompanho Mashaba desde que éramos crianças, e ele sempre foi muito habilidoso. De fato, seus poderes tem aumentado. Acho que isto é algo a considerar.
Todos pareceram desconfiar de tal afirmação. Os mestres trocavam olhares e comentários, refletindo sobre a ideia. O Escolhido era alguém muito esperado, talvez responsabilidade demais para um aprendiz do qual nunca ouviram falar. Mas, de fato, o Conselho precisava começar a fazer um levantamento de aprendizes habilidosos que se encaixassem nas exigências da profecia.
-Talib Mashaba poderia ser uma opção - Pronunciou-se Leia. - Ele é órfão, nunca conheceu seus pais. Pode muito bem ser um filho da Força.
O burburinho recomeçou a partir da declaração de mestre Leia. Após alguns segundos de deliberação, o Supremo Mestre decidiu se posicionar.
-É perfeitamente possível, embora precoce para qualquer iniciativa drástica - Ponderou Idowu, e os outros o acompanharam. - Temos outros aprendizes muito poderosos em vista para estudo mais próximo de suas habilidades, que também se encaixam nas especificações. Muitos dos nossos padawans chegam a nós como órfãos. Em todo caso, o Conselho passará a observar Talib Mashaba com mais frequência.
-Devemos seguir para a próxima pauta? - Mothusi finalizou, e todos pareceram concordar.
Ao deixarem o planeta Pasua após a batalha, os Jedi se apossaram da nave cruzeiro cinzenta que Khali e os outros haviam extraviado, e trouxeram-na até a Academia para análises. Foram realizados estudos mais profundos a respeito de sua tecnologia, funcionamento e pontos fracos, dados que poderiam ser utilizados em confrontos futuros que viessem a ocorrer. Mas a mais importante das aquisições era a carcaça da máquina dos tiros Anti-Luz, que coletava as midi-chlorians de Styg para transformá-las no soro amortecedor de poderes. Mesmo estando detonada por conta da explosão, a esperança do Conselho era conseguir extrair de lá informações que ajudassem os estudiosos a entender melhor a tecnologia que havia sido usada contra eles, para poderem obter pistas do que fazer a respeito dela.
-Antes de atender a esta reunião, mestre Organa e eu estivemos com os responsáveis pelo centro de pesquisa da Academia, que nos últimos dias estiveram encarregados de fazer as análises na máquina dos tiros Anti-Luz. - Contou Idowu, iniciando um novo assunto. - Felizmente, as notícias que nos deram são muito positivas. Com os dados extraídos da estrutura da máquina e de todo o seu funcionamento, nossos estudiosos acreditam que existe a possibilidade de uma cura para aqueles que foram feridos com os tiros. - Todos na sala se entreolharam, felizes com a possibilidade. - Como Darth Styg utilizava suas midi-chlorians influenciadas pela Força Negra para manchar e inibir as dos nossos cavaleiros, eles acreditam que seja possível reverter isto com as midi-chlorians de alguém muito poderoso na Força Clara. Por meio de uma manipulação similar com as células, nossos estudiosos estão tentando criar uma pílula com potencial de luz e bondade, para que ela influencie positivamente, revertendo os efeitos e devolvendo aos nossos cavaleiros a estabilidade em suas midi-chlorians, para que eles voltem a utilizar seus poderes.
-E quem será a fonte deste sangue poderoso? - Perguntou um mestre sentado à direita de Idowu.
-Era exatamente para isto que mestre Organa e eu estávamos reunidos com eles. - Explicou o Supremo. - Fazendo uma análise com todos os Jedi que temos em nossa Academia, os estudiosos concluíram que Leia é a que tem maior concentração de midi-chlorians em seu sangue entre todos nós. Esta manhã, eles coletaram amostras de seu sangue para tentar fabricar o antídoto, e fizeram algumas pílulas experimentais que foram dadas aos primeiros cavaleiros que se voluntariaram para os testes. Os resultados foram animadores.
-Que bênção a Força nos deu! - Mothusi comemorou, seguido pelos aplausos de todos os cavaleiros ali presentes.
-Infelizmente, para atender à demanda da produção rápida e em grande escala de tal material, mestre Organa precisará se ausentar de suas funções por algum tempo, para poder dedicar-se inteiramente ao tratamento dos cavaleiros debilitados. - Continuou Idowu.
-Os cientistas precisarão de muito sangue meu para filtrar e retirar as midi-chlorians que serão utilizadas no soro, e devido à idade, a equipe de médicos achou melhor que eu ficasse reclusa durante o processo para que pudesse ser devidamente cuidada e retornasse ao meu trabalho recuperada. - Explicou Leia, com um sorriso discreto no rosto. - Eu me propus a isto, afinal, faria de tudo para ver todos os meus cavaleiros saudáveis e bem. Infelizmente, algumas de minhas funções precisarão ser repassadas para outros Jedi de minha confiança. Mestre Mothusi irá se encarregar de meus assuntos diplomáticos acompanhando o Supremo Mestre em suas funções, e mestre Gahiji ficará responsável por tomar conta da administração da Academia.
Aquela notícia animou os Jedi, pois era muito promissora. Em seguida, Leia continuou a explicar o prosseguimento da situação.
-Quanto ao treinamento de minha padawan, Ameenah, eu também precisarei transferi-lo a outra pessoa. - Ela disse, e a garota imediatamente atentou-se para a ideia. - É para alguém de extrema confiança minha, alguém que eu acredito que tem muito a aprender treinando um aprendiz. Creio que nesta relação de orientação, ambos irão crescer e aprender lições juntos, pois algo na Força me diz que farão um ótimo trabalho unidos. Para esta função, eu escolhi o meu sobrinho, Khali Skywalker.
Khali virou-se para ela, surpreso, e em seguida olhou para Ameenah. Os dois sorriram ligeiramente um para o outro, numa mistura de felicidade, medo e insegurança. Porém, Leia sorria ao observá-los, e Idowu também.
-A jovem Ameenah é muito poderosa, e tem grande parte de seu caminho já completo para dar o próximo passo na evolução Jedi. Khali a treinará apenas por um tempo, até que eu possa voltar a fazê-lo, mas acredito que será um tempo muito bem aproveitado pelos dois.
-O Conselho acatou as decisões da mestre Organa - Disse Idowu, fazendo um aceno de cabeça para Khali em sinal de apoio. - E aproveita para agradecer o seu sacrifício e sua devoção à Ordem e seus componentes. Seremos eternamente gratos a ela.
A sessão foi finalizada com mais uma série de aplausos para Leia, que agradeceu lisonjeada. Ela sentia que aquela era sua missão, dada a ela pela função que exercia, e nada lhe dava mais prazer do que ajudar os cavaleiros que ela mesma criara.
Após o término da reunião, perto do início da noite, os Jedi se retiraram do salão redondo para continuar suas tarefas antes do toque de recolher. Khali estava do outro lado da sala, próximo da grande vidraça que levava até a sacada.
Ele colocou a mão na maçaneta, e fez um aceno de cabeça para Ameenah, chamando-a para acompanhá-lo. A garota o atendeu, e juntos os dois abriram a grande porta de vidro e se encaminharam até o enorme terraço frontal do palácio, inicialmente em silêncio.
Depois que todos saíram, Khali começou a falar.
-Sempre gostei de vir aqui. - Ele disse, encostando-se no parapeito. - A visão da floresta e de todo mundo lá em baixo me deixa inspirado de alguma forma.
-Concordo com você. - Ameenah assentiu após ponderar, colocando-se ao lado dele. - Este lugar é lindo.
-Era aqui que estávamos quando Styg atacou a Academia. Logo depois de Yerodin me apresentar a você. - Constatou Skywalker, e logo em seguida olhou rapidamente para baixo ao lembrar-se do mestre.
-Você está bem? - Ameenah preocupou-se.
-Estou. Yerodin representou e continuará representando muito na minha vida, independente de ter partido. Ele foi como um pai pra mim, me criou, me ensinou quase tudo que eu sei, e morreu pra me salvar. - Khali suspirou. - Ele continuará presente em meu caminho, eu sei disso. Me guiando em minha jornada como mestre Jedi.
-Deveríamos nos preocupar com a sabedoria envolvida na decisão de te tornar meu mestre? - Zulai arqueou uma sobrancelha.
-O que quer que pudesse nos preocupar em relação a nós dois, já resolvemos. Decidimos enterrar isso. - Ele respondeu convicto. - Porém, só o tempo dirá, certo? - Ele rendeu-se a um sorriso.
-Certo. - Ela concordou, rindo e olhando ligeiramente para baixo.
A paisagem que os dois Jedi observavam era estonteante. O Sol Lief já estava a se pôr, deixando um brilho alaranjado que se esvaia sob as árvores, dando lugar as primeiras estrelas que já começavam a aparecer no céu. A brisa leve balançava as folhas e carregava as águas do lago, que refletia o céu arroxeado.
-Fiquei muito feliz com todas as conquistas que tivemos. - Falou Ameenah. - Vencer esta batalha me deu coragem, me fez sentir orgulho de ser uma Jedi. Como se eu finalmente tivesse certeza de que estou onde devia estar, de que tomei a decisão correta vindo até aqui. De que podemos vencer.
-Com certeza. Mas ainda há muito a ser conquistado. - Respondeu Khali. - Agora, com a Ordem sendo reestruturada e com os cavaleiros recuperados graças ao antídoto, precisaremos nos preparar. A guerra contra Styg ainda não acabou.
-Styg fugiu, mas não vai permanecer escondido por muito tempo. Só o suficiente para surgir com um novo plano, com uma nova ameaça sobre nós.
-É, e sobre a Galáxia inteira. - Acrescentou Skywalker. - Logo saberemos dele. E quando ele vier, estaremos prontos.
-Estaremos. - Ameenah deu um sorriso determinado, encarando o horizonte. - Quando tudo isso começou, estávamos muito desesperançados e amedrontados. Lembra-se?
-Lembro. Mas não me sinto mais assim – Ele respondeu. - Eu confio agora. A Força irá nos guiar, ela nos dará forças para defendê-la. Tudo isso nos deu coragem. A Luz irá triunfar.
-Acha que o Escolhido irá aparecer logo? - A garota perguntou.
-Acho. E, sinceramente, aposto todas as minhas esperanças nele. - Khali disse, certo. - A sorte está do nosso lado, e ele irá nos guiar. Vamos vencer esta guerra, Ameenah, e restaurar o equilíbrio da Força.
O céu clareou-se visivelmente neste momento. Os dois Jedi olharam para o horizonte, onde se viam dois corpos redondos cruzando-se no céu púrpura. Os dois sóis de Tedros, Lief e Dashuri, sobrepunham-se um sob o outro, intensificando seu brilho num eclipse quase total. O fenômeno da união dos sóis só se repetia de dez em dez mil anos, e era o único momento em que as duas estrelas, tão opostas, se encontravam para iluminarem o planeta juntas. Embora só por um momento, o planeta inteiro pareceu ficar ligeiramente mais quente e mais iluminado.
Khali voltou-se para Ameenah. Seus cabelos loiros estavam dourados sob a luz do fim da tarde, e a brisa os balançava tornando-a uma visão quase poética. Ao sentir o olhar do rapaz sobre ela, Ameenah passou a encará-lo, e os dois trocaram um olhar terno. Os grandes olhos verdes do rapaz a inspiraram confiança, tão intensos quanto a luz do eclipse que brilhava majestosamente. Eles ficaram olhando um para o outro por alguns instantes, apenas apreciando a energia do momento.
-É hora de treinar. - Disse Khali.
-Antes, tenho algo para lhe dar.
Ameenah vasculhou seu uniforme para retirar de dentro do bolso uma forma esférica e pequena. Ela pediu para que o rapaz fechasse os olhos, e então depositou-a em suas mãos. Ao abrir, Khali constatou que aquilo era uma amora camby, madura e de casca brilhante – a fruta que ele roubara do jardim real quando criança.
-Eu sei o quanto gosta delas. - Ameenah disse, o que o fez rir.
Khali repartiu a pequena fruta em duas metades, e deu uma a ela. Após comerem a amora observando os últimos resquícios de dia no horizonte, o rapaz deu um passo para trás e colocou-se no meio do grande terraço.
-Pronta para começar seu treinamento, padawan? - Ele disse, sacando seu sabre do uniforme e colocando-se em posição de batalha.
-Sim, mestre Skywalker. - Ameenah fez-lhe a típica reverência de aprendiz, e então, com um sorriso desafiador, ativou seu sabre de luz, correndo na direção dele logo em seguida para que iniciassem uma habilidosa luta de espadas, enquanto o céu se transformava em um tapete de estrelas, planetas e constelações espalhados bem acima de suas cabeças.
Aquele era o homem que havia o criado desde que era só um menino. Era quem havia lhe ensinado tudo que sabia. Era responsável por tudo que ele era ou um dia seria. Era a coisa mais próxima que ele já tivera de um pai.
-Mestre! - Gritou ele, em vão, ao ver seu corpo em queda como se estivesse em câmera lenta.
Não havia nada que ele pudesse fazer. Aconteceu mais rápido do que ele conseguira acompanhar. Khali dirigiu seu olhar perdido ao ciborgue no tablado, que empunhava a arma. Styg sorria, satisfeito por ver que seu ato havia causado dor ao garoto.
Naquele momento, qualquer vestígio de equilíbrio e calma se esvaiu imediatamente do rapaz. O cinismo esbanjando por aquela expressão mórbida e retorcida por trás da máscara lhe causou um ódio tão grande que Khali saiu de si, enfurecido.
Utilizando a Força para impulsioná-lo, Khali deu um salto em direção à plataforma do trono, com seu sabre apontado para frente e o sangue fervendo. Ele avançou na direção de Styg, que o observava com a mesma expressão satisfeita, e gritou extravasando a raiva, desferindo um golpe carregado de remorso.
Styg sacou da armadura o seu sabre de luz vermelho e defendeu-se do garoto, e logo os dois começaram uma batalha. Khali golpeava com força e rodopiava seu sabre com imensa rapidez, demonstrando real intenção de ferir o oponente, impulsionado pelo sentimento do momento. Styg, que parecia estar se divertindo com aquilo, apenas defendia-se, enquanto observava o Jedi perder a linha.
Os dois inimigos começaram a ir na direção direita do palanque, com Khali avançando e ganhando terreno sobre Styg.
-Seu pai lutava melhor que isso. - Provocou Styg, defendendo um golpe frontal.
Khali não reagiu, mantendo o mesmo olhar raivoso e os golpes agressivos.
-Ele era bem mais resistente a mim também. - O homem arqueou as sobrancelhas, sorrindo.
Khali apenas o ignorava, pois sabia que era um truque psicológico para tentar derrubá-lo com palavras ao invés de golpes. E ele precisava vencer aquele canalha.
-Eu sinto a raiva dos Skywalker emanando de você, garoto. - Continuou o Sith. - Sua família toda pertence ao Lado Negro por nascença, possui ira correndo nas veias. Não seja fraco como eles, atenda à sua natureza!
O rapaz rasgou o ar num golpe horizontal, arrebentando uma série de cabos de energia, na tentativa de calar o homem metálico.
-Oh, eu sinto seu medo. Medo de não ser um Jedi tão bom quanto o seu pai. - Ele não se deixou interromper, e continuava defendendo os ataques furiosos de Khali. - Você viveu a vida toda à sombra de um grande herói, sendo pressionado a agir como ele, a tornar-se um Jedi como ele, e não sabe se é bom o bastante para tomar seu lugar.
-Sou um Jedi porque escolhi, pois sei que o Lado da Luz é soberano sobre as Trevas! - Khali respondeu, com mais uma entrada agressiva no espaço do inimigo.
Enquanto Khali e Styg travavam sua árdua batalha, os outros três Jedi combatiam os soldados cinzentos, que aumentaram seu número com novas tropas. Sem Yerodin, acontecimento que abalara a todos, tudo ficara mais difícil e doloroso. Eram muitos golpes, ataques, defesas, lesões, mortos e feridos, e os três cavaleiros mantinham-se firmes e ajudando uns aos outros, tentando recuperar o controle da situação.
Ayana, que acabara de derrubar dois inimigos com um só golpe vertical, olhou de relance a cena de batalha entre Styg e o primo. A situação era delicada, o objetivo principal da missão não tinha sido atingido e não demoraria muito para que os cinzentos mandassem mais tropas para continuar - ou até ganhar - aquela batalha sem fim. Todo aquele esforço precisava trazer no mínimo algum ganho para os Jedi.
A garota olhou de relance para Ameenah, que compreendeu que a amiga tinha um plano. As duas afastaram-se do grande contingente de soldados e subiram até o pedestal do trono, Ayana com uma ideia em mente e Ameenah dando-lhe cobertura. Solo dirigiu-se até o blaster caído de Styg, que estava ocultado por corpos de soldados. Zulai combatia os soldados que tentavam se aproximar da menina e, com um movimento rápido antes que fosse percebida, Ayana disparou um tiro na direção da máquina que processava a substância dos tiros.
O estrondo foi ouvido por todos na sala e ecoou pela nave inteira. As midi-chlorians da arma misturadas aos seus fins destrutivos de blaster de laser foram responsáveis por abrir um enorme buraco na estrutura metálica, que começou a vazar o líquido vermelho-vivo pela sala do trono. Ayana disparou uma segunda vez, desta vez atingindo diretamente o líquido, que em algum tipo de reação começou a incendiar a estrutura e ocasionou uma explosão.
-Sou um desperdício, certo?! - Berrou a Jedi, que após lançar um olhar triunfante para Styg pegou seu sabre novamente e foi auxiliar Ameenah, que combatia soldados.
Darth Styg não acreditava no que via. O rubro de seus olhos ficou mais intenso enquanto ele encarava irado a sua mais preciosa invenção em chamas. Com um grito de raiva, ele avançou contra Khali e os dois voltaram a batalhar ainda mais intensamente.
-Vocês jamais irão me vencer! - Ele bradou. - Eu vou matar todos vocês! Vou acabar com todo e qualquer Jedi desta Galáxia!
Ele golpeava, desta vez ganhando terreno em relação a Khali, que sorria morbidamente satisfeito ao ver estrutura pegando fogo. Agora, Talib, Ameenah e Ayana estavam em vantagem, combatendo os cinzentos juntos, que diminuíam em número. Mashaba fez um sinal ao amigo, indicando que os três pretendiam chegar até a sala de comando da nave, provavelmente para concretizar o plano inicial de tomar o controle da cruzeiro.
-Seu pai era fraco, ele escolheu mal o seu destino – Styg continuou a provocar o menino. - Se deseja ser melhor que ele, junte-se a mim!
-Eu jamais tentarei superar meu pai – Retrucou Khali. - E jamais me curvarei diante de você!
A batalha entre os dois começou a ganhar espaço, e os oponentes deixaram o tablado para começarem a duelar pelo salão aproximando-se de um portal do lado direito do local.
-Isso, use a sua raiva – Styg cerrou os olhos, lançando um olhar penetrante para o Jedi enquanto ele o atacava. - Eu matei o seu mestre, e agora você quer me matar. - Ele rodopiou para desviar-se de um golpe, e Khali atingiu um dos quadros pendurados na parede. - Ele devia significar muito pra você. Deve ter sido tudo que seu pai não foi.
-Não ouse falar de nenhum deles! - O rapaz gritou, e com o poder da mente começou a derrubar todas as pinturas e artefatos e usá-las para atingir Styg.
O Sith posicionou o braço revestido de armadura sobre si, e começou a recuar entrando num corredor largo e extenso que ficava no interior do portal.
-Não deixe as emoções atrapalharem a sua luta, jovem Jedi – Styg sorriu enquanto andava para trás na passarela metálica do que parecia ser uma sala de fuselagens. - Ou vai acabar deixando que palavras tirem o melhor de você. - Com a Força, o ciborgue entortou um dos canos de metal da passarela e atingiu o rapaz no rosto. Khali caiu para trás, atordoado, mas logo levantou-se e começou a correr irritado na direção de Styg.
Esticando a mão que não segurava a espada para frente, Darth Styg usou a Força para parar o rapaz, e com os dedos fechados em pinça começou a estrangulá-lo usando a mente, tirando seus pés do chão.
-Escute, Skywalker – Sua voz soou extremamente sombria, mais ainda por conta da respiração mecanizada. - Você e seus companheiros podem pensar que irão me vencer, que triunfarão sobre mim, mas sempre que pensarem estar acima, saiba que eu estarei três passos a frente de vocês. - Khali começava a sufocar, derrubara seu sabre de luz no chão e com as mãos tentava soltar-se da energia invisível que o levantava cada vez mais alto no ar. - Eu esperei durante muito tempo para ter o meu triunfo, e eu lhe garanto que desta vez nada nem ninguém se colocará no meu caminho. O Lado Negro irá imperar sobre a Galáxia novamente, e nenhum Jedi metido a besta, nenhuma princesinha idiota e nenhum descendente poderoso por acaso irá me impedir de dominar o Universo!
Quando Khali estava prestes a perder a consciência, Styg foi atingido por uma enorme barra de metal que foi lançada ao seu encontro, e caiu no chão. Skywalker foi lançado para trás, e caiu no chão, atordoado. O rapaz olhou para trás e encontrou Talib no fim do corredor, usando a Força para atirar pedaços de fuselagem em Styg e ganhar tempo para o amigo.
Khali pôs-se de pé e recuperou seu sabre. Com a mente, Darth Styg passou a conter os objetos que lhe eram arremessados e levantou-se com dificuldade, expondo uma rachadura na armadura da perna esquerda. Logo após, ele usou a Força para empurrar todos os metais de volta na direção dos Jedi, que deram pulos altos para desviarem-se dos pedaços maiores.
Enquanto Talib e Khali se recuperavam, Styg deu meia volta com seus passos pesados reverberando na passarela de metal, e no final do corredor encontrou uma estrutura oval e pequena com uma porta, na qual entrou. Os dois rapazes, atordoados, não conseguiram impedi-lo de entrar na estrutura blindada, que fechou as portas antes que eles se levantassem. Aquela era uma nave de fuga, que imediatamente acionou portas metálicas que se abriram no teto, e rapidamente decolou para o espaço.
Após muita luta e perseverança, os Jedi conseguiram tomar o controle da nave cruzeiro cinzenta. A maioria dos soldados tripulantes foi derrotada, e os que sobraram fugiram em naves de fuga assim como a de Styg. Ameenah e Ayana correram até a sala de controle e ajustaram os comandos da nave, e então começaram a pilotá-la de volta para a superfície de Pasua. Talib e Khali jogo juntaram-se a elas.
Os Jedi adentraram a atmosfera quando já era fim de tarde. Uma imensa nuvem de fumaça preta saia da base do exército cinzento, que havia sido destruída. Todas as naves de tropas que ali estavam haviam se retirado, e agora só os Jedi estavam no planeta.
A cruzeiro cinzenta pousou sob ameaça de uma dezena de cavaleiros armados, que só abaixaram os sabres quando viram que eram amigos que desciam. Os guerreiros deixaram a nave, e então seus companheiros vitoriosos os receberam.
-Perdemos a festa? - Perguntou Ayana, e mestre Mothusi veio recebê-la.
-Acredito que vocês tenham tido a sua própria festa, não é? - Ele brincou, olhando para as roupas totalmente estragadas e os diversos hematomas e ferimentos nos três Jedi.
-Onde estão as tropas?
Pasua estava completamente livre de qualquer sinal do exército cinzento. Agora, só restavam Jedis andando pela savana, acalmando os animais silvestres que foram usados na batalha, prestando socorro aos feridos e levando-os até as naves, que foram trazidas até a clareira onde estavam. Os cavaleiros preparavam-se para descansar, após terem a vitória na batalha. Glória para os Jedi! Enquanto os três observavam a cena, alguns cavaleiros apareceram com medicamentos para atendê-los.
-Foram embora. - Respondeu mestre Mothusi. - Estávamos em vantagem, grupos de cavaleiros começaram a furar o bloqueio e adentrar na base. Então de repente os cinzentos começaram a recuar, embarcaram em caças e naves e bateram em retirada. Acreditamos que tenham sido ordens de Styg, provavelmente para poupar seus soldados.
-Vencemos, então. - Ameenah permitiu-se um sorriso aliviado, e Ayana e Ameenah fizeram o mesmo.
-Sim, vencemos. – Concordou Mothusi sorridente, comemorando. - No entanto, não conseguimos roubar nenhuma informação proveniente da estação militar. Antes de sair, os cinzentos fizeram questão de apagar todos os dados de seu sistema. - Ele torceu o lábio. - Então, para garantirmos que eles não voltem para repovoar o local ou buscar os recursos, incendiamos a base.
-Fizeram muito bem.
-E vocês? O que fazem dentro desta cruzeiro? - Mothusi perguntou encarando a enorme nave cinza.
-Tivemos a deixa para embarcar antes que Styg fugisse nela. Conseguimos derrotar as tropas e tomar o controle da nave, depois de muita luta. Infelizmente, Styg fugiu num compartimento de fuga – Contou Talib. - Porém, conseguimos concretizar o objetivo da missão. Encontramos a máquina que Styg usava para produzir a substância amortecedora de poderes. Conseguimos destruí-la.
-Isso é ótimo! - Comemorou o mestre.
-Sim, é. Tivemos que explodir a máquina, mas acredito que ainda seja possível levá-la até nossos especialistas para que façam mais estudos. Styg utilizava as midi-chlorians do próprio sangue para fabricar as balas.
-Midi-chlorians? - Mothusi surpreendeu-se. - Faz sentido. Que invenção doentia.
-Realmente.
-E estão todos bem? - Ele perguntou, e os três Jedi abaixaram as cabeças.
Neste momento, houve uma movimentação no interior da nave. Khali apareceu caminhando a passos lentos, todo coberto pelos panos rasgados do uniforme, pela fuligem e pelos machucados, segurando nos braços o corpo do mestre morto. Nesta hora, todos que estavam ali perto pararam, surpreendendo-se e entristecendo-se com a cena.
Khali fazia isso com uma lágrima escorrendo no rosto. Assim que ele chegou até o solo, dois cavaleiros vieram auxiliá-lo, retirando mestre Yerodin de seus braços e colocando-o em uma maca destinada a mortos e feridos.
-Oh, Yerodin... - Suspirou Mothusi, que era um grande amigo do homem. - Não posso acreditar!
-Ele salvou a vida de Khali. - Contou Ayana, com a voz baixa pela tristeza. - Devemos a vitória a ele.
Yerodin era um dos principais mestres da Ordem Jedi. Estava lá desde o começo, foi um dos precursores da nova Ordem e ajudou em toda a sua construção. Perder alguém tão significativo quando ele era um choque para todos, ainda mais para aqueles que conviveram com sua imensa sabedoria por tantos anos.
Os Jedi saíram de Pasua com o sol quase extinto. Os phalones que os ajudaram na batalha finalmente estavam em paz, sem a Força Negra para atormentá-los. A Ordem deixou o planeta para trás apenas com uma enorme nuvem de fumaça para lembrar a imensa batalha que havia acontecido ali. Foram muitos os prejuízos, os mortos e feridos, porém, a vitória era dos Jedi, que agora não eram mais ameaçados pela arma dizimadora de poderes. As naves da Ordem decolaram e chegaram de volta a Tedros quando já era noite, e então descarregaram as armas e levaram os feridos para atendimento mais específico na enfermaria.
Vinte mortos. Esta foi a perda da Ordem naquele dia, da Ordem que nunca havia se envolvido em qualquer batalha. Os mestres mais antigos, que haviam servido à Aliança Rebelde no passado, já haviam quase se esquecido daquele sentimento devastador de perder um amigo em uma guerra. Os Jedi renasceram num tempo de paz e harmonia, porém, as coisas haviam mudado. Eles não eram mais uma doutrina religiosa. Eram guerreiros, defensores da paz, e voltaram a lutar seus objetivos de origem. Aquela tragédia voltaria a fazer parte deles. As tristes baixas na equipe dos cavaleiros foram homenageadas e veladas ainda naquela noite, com uma reunião de todos os membros da Ordem, de todas as idades e níveis, na floresta que ficava atrás do palácio da Academia.
O Supremo Mestre Idowu proferia bonitas palavras de consolo e força a respeito da batalha daquele dia e das mortes consequentes. Enquanto isso, os vinte corpos, colocados lado a lado, eram cremados e placas com seus nomes eram penduradas nas árvores da mata próxima, em homenagem. Os outros cavaleiros observavam tudo em silêncio, de cabeças abaixadas, orando pelos que se foram.
-Nunca é fácil quando vidas são perdidas. E é mais difícil ainda quando estas vidas eram de pessoas tão importantes e próximas a nós. - Proferia Idowu, no meio do círculo formado para assistir a cerimônia. - Muitos de nós nunca haviam presenciado a morte de perto. Porém, como disse a vocês, cavaleiros, as coisas mudaram. A paz não é mais a rainha de nossos tempos. Podemos ter conquistado uma vitória hoje, mas vencemos apenas uma das batalhas desta guerra que está se iniciando. Agora, precisamos nos unir como irmãos que somos, para superar as perdas irreparáveis que tivemos, e para encontrar forças para juntos conseguirmos vencer os próximos obstáculos que virão. Precisamos uns dos outros. Situações assim servem para nos ensinar o quanto nossas vidas são frágeis, o quanto nossas missões são importantes, e o quanto devemos sempre nos manter próximos daqueles que gostamos. Nossos vinte cavaleiros eram muito estimados, e foram incríveis membros desta Ordem. Deram suas vidas para salvar as nossas e as outras milhões que habitam a Galáxia e veem-se ameaçadas por esta onda de sombras que nos assola. Que a Força, que guiou seus destinos e lhes deu poder e sabedoria, continue os acompanhando em suas jornadas do outro lado da vida. Que nossos cavaleiros encontrem-se no plano espiritual da Força, e continuem seus caminhos e aprendizados. - Idowu fez uma pausa, devido ao peso das palavras que proferia. - A Força é poderosa. Os seus caminhos nós não conhecemos, e muitas vezes não entendemos. Porém, ela é sábia, e jamais nos deixará na mão. Precisamos ter confiança de que todas as coisas que por ela são regidas não acontecem sem motivo, e que o seu poder e a sua verdade nos darão forças para continuarmos nossas jornadas, sempre nos lembrando daqueles que foram importantes para nós, e protegendo a Galáxia como prometemos fazer.
O Supremo Mestre terminou sua fala, e então mais orações em conjunto começaram.
Não há emoção, há paz.
Não há ignorância, há conhecimento.
Não há paixão, há serenidade.
Não há caos, há harmonia.
Não há morte, há a Força.
À direita da multidão, estava Khali com ar pensativo. Ele observou as chamas tomarem conta do homem que representara tanto em sua vida, que o salvara naquela noite, e se perguntou sobre as escolhas que a Força fizera para seu destino. Yerodin era um Jedi incrível, assim como todos que ali estavam purificando-se nas chamas para então adentrarem no reino da Força espiritual. Parecia que um pedaço dele havia sido removido.
Ameenah estava logo ao seu lado, e encarou-o ternamente, tentando confortá-lo. Por um momento, o rapaz sentiu-se melhor, e lançou a ela um pequeno sorriso, e então voltou a acompanhar a cerimônia.
Styg estava errado. Suas ideias prejudicaram milhões de vidas inocentes ao longo de muitos anos, e ameaçavam comprometer muitas mais. Ele precisava pagar pelo que fizera. Era missão da Ordem garantir que isso acontecesse, e garantir que a Galáxia não caísse em suas tenebrosas mãos de novo. Khali estava triste, mas também sentia-se determinado a garantir que a justiça fosse feita. O bem imperaria, ele confiava nisso. E era hora de se preparar para tornar esta ideia realidade.
Após realizarem o funeral coletivo e rezarem muito pelas almas dos falecidos, os cavaleiros recolheram-se na Academia para descansar. Aquele dia extremamente atípico e intenso exigia um bom descanso, pois apesar de perdas, havia lhes trazido uma grande vitória. Darth Styg não deveria mais subestimar os novos Cavaleiros Jedi, que lutaram pelo que acreditavam e obtiveram sucesso em defender a si e a seus companheiros. Sua engenhosa invenção havia sido destruída, e sua vantagem sobre eles havia sido substituída por três pontos a frente para os Jedi. E eles fariam questão de manter-se assim.
A Academia amanheceu com as atividades normalizadas. Já bem cedinho, os guerreiros levantaram-se e voltaram a seus treinamentos, atividades e meditações, com uma cerimônia de agradecimento à Força logo ao nascer do sol na beira do lago da Academia. Os Jedi rezaram agradecendo pela vitória que lhes foi dada pelo destino, e pediram coragem e determinação para vencer o inimigo que ameaçava o equilíbrio da Força.
Quando todos caminhavam de volta para dentro do palácio, Leia procurou Ameenah para ter uma palavra.
-Ameenah – Ela chamou, e a garota voltou a atenção para ela. - Gostaria de te dar os parabéns pela batalha.
-Obrigada, mestre. - A princesa sorriu.
-Seu desempenho ontem foi excelente. Seus golpes eram precisos, sua concentração era sólida, seu pensamento era rápido. Você aplicou tudo aquilo que eu lhe ensinei, e eu fiquei imensamente orgulhosa. - Organa sorriu.
-Seus ensinamentos fizeram de mim uma guerreira muito melhor, mestre. - Respondeu Ameenah. - Eu tenho muito a lhe agradecer. A senhora me acolheu tão bem desde o início, e me ensinou tanto não só sobre batalhas e técnicas, mas também sobre a vida em geral. Ter me escolhido como padawan significou muito para mim, pois você sabe o quanto te admiro. Sou muito grata.
-Não tem que me agradecer por isso, minha aprendiz. Ser sua mestra foi muito mais que isso. Sabe por que a escolhi como minha padawan? - A garota não arriscou. - Porque quando te assisti lutando, vi muito de mim em você. - Ameenah ficou surpresa. - Sim, mais do que você pode imaginar. A Força me mostrou isso. Ensinar você se tornou fácil para mim, pois somos muito parecidas. Temos origens similares, passamos pelas mesmas situações... é por isso que soube que deveria ser eu a treinar você, e foi por isso que decidi interferir na decisão do Conselho. E, honestamente, eu me orgulho muito desta decisão. - A mestra sorriu.
Ameenah também pôs-se a sorrir, e então as duas se abraçaram. A garota ficou muito feliz em ouvir aquilo, pois Leia sempre significou muito e foi uma das heroínas que a influenciou no desejo de se tornar uma Jedi. E grande parte desta influência deu-se pois a garota se identificava muito com ela. Ambas eram princesas, tinham vidas políticas, escolheram a coragem e a luta e tornaram-se cavaleiras Jedi. E, após Leia virar sua mestra, ela tornou-se uma mãe dentro da Academia, pois cuidava de Ameenah e a aconselhava. A relação entre as duas era natural, e elas de davam muito bem.
A sala redonda da Ordem encontrava-se com todas as cadeiras ocupadas, enquanto os principais mestres e aprendizes discutiam ávidos, na primeira reunião do Conselho Jedi após a vitoriosa batalha contra Darth Styg.
Eram muitos assuntos a serem discutidos. O desempenho dos guerreiros que mandaram ao combate; as novas informações que obtiveram; os cargos que teriam de ser remanejados; como as coisas seriam dali para frente.
-Acredito que só temos coisas boas a dizer a respeito da participação de nossos cavaleiros. – Falou Gahiji. - Todos demonstraram muito comprometimento, e muitos nos surpreenderam com seus desempenhos. Acredito que estes, reportados por seus responsáveis de pelotão, deveriam receber nossa atenção especial, para que continuem participando de mais questões da Ordem.
-Concordo plenamente. - Se posicionou Khali, orgulhoso por sua primeira participação efetiva numa reunião, agora como mestre Jedi. - Bons cavaleiros devem ser reconhecidos, e a medida que demonstrarem grandes poderes devem ter um horizonte para os expandi-los.
-Já estou cuidando disso. – Prontificou Mothusi. - Pedi relatórios de todos os cavaleiros que ficaram responsáveis por liderar grupos no ataque, e acredito que poderemos tomar decisões relacionadas a este tema na próxima reunião.
-Perfeito. - Concordou Skywalker. - Aproveitando o assunto, eu gostaria de fazer meu próprio relatório a respeito do grupo do qual participei, e salientar dois aprendizes em especial. Talib Mashaba e Ayana Solo. - Ele disse, e os outros Jedi sentados à mesa pareceram tomar nota. - O desempenho destes cavaleiros foi exemplar durante toda a missão. Grande parte do plano que nos levou até a vitória na nave de Styg partiu de Talib, e foi Ayana quem destruiu a máquina que fabricava os tiros. Sem falar que Talib, com muita inteligência, salvou minha vida duas vezes.
-Concordo com Skywalker. – Disse Ameenah, que estava sentada do outro lado da mesa ao lado de Leia, e a mesma também testemunhou a favor. - Ayana foi muito destemida em roubar o blaster de Styg e atirar contra a máquina. E, sobre Talib, estive sozinha com ele durante uma fase do plano e ele foi muito astuto e calmo para contornar as situações que passamos.
Todos pareceram ponderar sobre as declarações feitas. Leia, em especial, possuía orgulho estampado no rosto ao ouvir tal menção à filha. Todos os mestres registraram os destaques e refletiram sobre a contribuição dos dois aprendizes.
-Fico feliz em saber que nossos aprendizes tem tanto talento. Quanto à Talib, recebi outro relatório a respeito deste aprendiz. – Comentou Idowu, revirando a memória. - Há cerca de alguns meses seu desempenho disparou, e o mestre dele nos sinalizou recentemente que está pronto para realizar os testes para mestre.
-Talib é muito inteligente e também muito poderoso – Mothusi adicionou. - Chegou aqui logo na infância, muito promissor. Eu já o vi lutar antes.
-Acredito que o Conselho deva mesmo continuar de olho neste aprendiz, até mesmo como uma possibilidade para ser o Escolhido. - Declarou Khali, e todos os demais Jedi se alarmaram.
-Mestre Skywalker, esta é uma alegação muito séria. - Ponderou Gahiji com uma sobrancelha arqueada em desconfiança.
-Sei disso, mestre Gahiji, mas acho uma aposta válida - Acrescentou Khali, convicto da confiança no amigo. - Acompanho Mashaba desde que éramos crianças, e ele sempre foi muito habilidoso. De fato, seus poderes tem aumentado. Acho que isto é algo a considerar.
Todos pareceram desconfiar de tal afirmação. Os mestres trocavam olhares e comentários, refletindo sobre a ideia. O Escolhido era alguém muito esperado, talvez responsabilidade demais para um aprendiz do qual nunca ouviram falar. Mas, de fato, o Conselho precisava começar a fazer um levantamento de aprendizes habilidosos que se encaixassem nas exigências da profecia.
-Talib Mashaba poderia ser uma opção - Pronunciou-se Leia. - Ele é órfão, nunca conheceu seus pais. Pode muito bem ser um filho da Força.
O burburinho recomeçou a partir da declaração de mestre Leia. Após alguns segundos de deliberação, o Supremo Mestre decidiu se posicionar.
-É perfeitamente possível, embora precoce para qualquer iniciativa drástica - Ponderou Idowu, e os outros o acompanharam. - Temos outros aprendizes muito poderosos em vista para estudo mais próximo de suas habilidades, que também se encaixam nas especificações. Muitos dos nossos padawans chegam a nós como órfãos. Em todo caso, o Conselho passará a observar Talib Mashaba com mais frequência.
-Devemos seguir para a próxima pauta? - Mothusi finalizou, e todos pareceram concordar.
Ao deixarem o planeta Pasua após a batalha, os Jedi se apossaram da nave cruzeiro cinzenta que Khali e os outros haviam extraviado, e trouxeram-na até a Academia para análises. Foram realizados estudos mais profundos a respeito de sua tecnologia, funcionamento e pontos fracos, dados que poderiam ser utilizados em confrontos futuros que viessem a ocorrer. Mas a mais importante das aquisições era a carcaça da máquina dos tiros Anti-Luz, que coletava as midi-chlorians de Styg para transformá-las no soro amortecedor de poderes. Mesmo estando detonada por conta da explosão, a esperança do Conselho era conseguir extrair de lá informações que ajudassem os estudiosos a entender melhor a tecnologia que havia sido usada contra eles, para poderem obter pistas do que fazer a respeito dela.
-Antes de atender a esta reunião, mestre Organa e eu estivemos com os responsáveis pelo centro de pesquisa da Academia, que nos últimos dias estiveram encarregados de fazer as análises na máquina dos tiros Anti-Luz. - Contou Idowu, iniciando um novo assunto. - Felizmente, as notícias que nos deram são muito positivas. Com os dados extraídos da estrutura da máquina e de todo o seu funcionamento, nossos estudiosos acreditam que existe a possibilidade de uma cura para aqueles que foram feridos com os tiros. - Todos na sala se entreolharam, felizes com a possibilidade. - Como Darth Styg utilizava suas midi-chlorians influenciadas pela Força Negra para manchar e inibir as dos nossos cavaleiros, eles acreditam que seja possível reverter isto com as midi-chlorians de alguém muito poderoso na Força Clara. Por meio de uma manipulação similar com as células, nossos estudiosos estão tentando criar uma pílula com potencial de luz e bondade, para que ela influencie positivamente, revertendo os efeitos e devolvendo aos nossos cavaleiros a estabilidade em suas midi-chlorians, para que eles voltem a utilizar seus poderes.
-E quem será a fonte deste sangue poderoso? - Perguntou um mestre sentado à direita de Idowu.
-Era exatamente para isto que mestre Organa e eu estávamos reunidos com eles. - Explicou o Supremo. - Fazendo uma análise com todos os Jedi que temos em nossa Academia, os estudiosos concluíram que Leia é a que tem maior concentração de midi-chlorians em seu sangue entre todos nós. Esta manhã, eles coletaram amostras de seu sangue para tentar fabricar o antídoto, e fizeram algumas pílulas experimentais que foram dadas aos primeiros cavaleiros que se voluntariaram para os testes. Os resultados foram animadores.
-Que bênção a Força nos deu! - Mothusi comemorou, seguido pelos aplausos de todos os cavaleiros ali presentes.
-Infelizmente, para atender à demanda da produção rápida e em grande escala de tal material, mestre Organa precisará se ausentar de suas funções por algum tempo, para poder dedicar-se inteiramente ao tratamento dos cavaleiros debilitados. - Continuou Idowu.
-Os cientistas precisarão de muito sangue meu para filtrar e retirar as midi-chlorians que serão utilizadas no soro, e devido à idade, a equipe de médicos achou melhor que eu ficasse reclusa durante o processo para que pudesse ser devidamente cuidada e retornasse ao meu trabalho recuperada. - Explicou Leia, com um sorriso discreto no rosto. - Eu me propus a isto, afinal, faria de tudo para ver todos os meus cavaleiros saudáveis e bem. Infelizmente, algumas de minhas funções precisarão ser repassadas para outros Jedi de minha confiança. Mestre Mothusi irá se encarregar de meus assuntos diplomáticos acompanhando o Supremo Mestre em suas funções, e mestre Gahiji ficará responsável por tomar conta da administração da Academia.
Aquela notícia animou os Jedi, pois era muito promissora. Em seguida, Leia continuou a explicar o prosseguimento da situação.
-Quanto ao treinamento de minha padawan, Ameenah, eu também precisarei transferi-lo a outra pessoa. - Ela disse, e a garota imediatamente atentou-se para a ideia. - É para alguém de extrema confiança minha, alguém que eu acredito que tem muito a aprender treinando um aprendiz. Creio que nesta relação de orientação, ambos irão crescer e aprender lições juntos, pois algo na Força me diz que farão um ótimo trabalho unidos. Para esta função, eu escolhi o meu sobrinho, Khali Skywalker.
Khali virou-se para ela, surpreso, e em seguida olhou para Ameenah. Os dois sorriram ligeiramente um para o outro, numa mistura de felicidade, medo e insegurança. Porém, Leia sorria ao observá-los, e Idowu também.
-A jovem Ameenah é muito poderosa, e tem grande parte de seu caminho já completo para dar o próximo passo na evolução Jedi. Khali a treinará apenas por um tempo, até que eu possa voltar a fazê-lo, mas acredito que será um tempo muito bem aproveitado pelos dois.
-O Conselho acatou as decisões da mestre Organa - Disse Idowu, fazendo um aceno de cabeça para Khali em sinal de apoio. - E aproveita para agradecer o seu sacrifício e sua devoção à Ordem e seus componentes. Seremos eternamente gratos a ela.
A sessão foi finalizada com mais uma série de aplausos para Leia, que agradeceu lisonjeada. Ela sentia que aquela era sua missão, dada a ela pela função que exercia, e nada lhe dava mais prazer do que ajudar os cavaleiros que ela mesma criara.
Após o término da reunião, perto do início da noite, os Jedi se retiraram do salão redondo para continuar suas tarefas antes do toque de recolher. Khali estava do outro lado da sala, próximo da grande vidraça que levava até a sacada.
Ele colocou a mão na maçaneta, e fez um aceno de cabeça para Ameenah, chamando-a para acompanhá-lo. A garota o atendeu, e juntos os dois abriram a grande porta de vidro e se encaminharam até o enorme terraço frontal do palácio, inicialmente em silêncio.
Depois que todos saíram, Khali começou a falar.
-Sempre gostei de vir aqui. - Ele disse, encostando-se no parapeito. - A visão da floresta e de todo mundo lá em baixo me deixa inspirado de alguma forma.
-Concordo com você. - Ameenah assentiu após ponderar, colocando-se ao lado dele. - Este lugar é lindo.
-Era aqui que estávamos quando Styg atacou a Academia. Logo depois de Yerodin me apresentar a você. - Constatou Skywalker, e logo em seguida olhou rapidamente para baixo ao lembrar-se do mestre.
-Você está bem? - Ameenah preocupou-se.
-Estou. Yerodin representou e continuará representando muito na minha vida, independente de ter partido. Ele foi como um pai pra mim, me criou, me ensinou quase tudo que eu sei, e morreu pra me salvar. - Khali suspirou. - Ele continuará presente em meu caminho, eu sei disso. Me guiando em minha jornada como mestre Jedi.
-Deveríamos nos preocupar com a sabedoria envolvida na decisão de te tornar meu mestre? - Zulai arqueou uma sobrancelha.
-O que quer que pudesse nos preocupar em relação a nós dois, já resolvemos. Decidimos enterrar isso. - Ele respondeu convicto. - Porém, só o tempo dirá, certo? - Ele rendeu-se a um sorriso.
-Certo. - Ela concordou, rindo e olhando ligeiramente para baixo.
A paisagem que os dois Jedi observavam era estonteante. O Sol Lief já estava a se pôr, deixando um brilho alaranjado que se esvaia sob as árvores, dando lugar as primeiras estrelas que já começavam a aparecer no céu. A brisa leve balançava as folhas e carregava as águas do lago, que refletia o céu arroxeado.
-Fiquei muito feliz com todas as conquistas que tivemos. - Falou Ameenah. - Vencer esta batalha me deu coragem, me fez sentir orgulho de ser uma Jedi. Como se eu finalmente tivesse certeza de que estou onde devia estar, de que tomei a decisão correta vindo até aqui. De que podemos vencer.
-Com certeza. Mas ainda há muito a ser conquistado. - Respondeu Khali. - Agora, com a Ordem sendo reestruturada e com os cavaleiros recuperados graças ao antídoto, precisaremos nos preparar. A guerra contra Styg ainda não acabou.
-Styg fugiu, mas não vai permanecer escondido por muito tempo. Só o suficiente para surgir com um novo plano, com uma nova ameaça sobre nós.
-É, e sobre a Galáxia inteira. - Acrescentou Skywalker. - Logo saberemos dele. E quando ele vier, estaremos prontos.
-Estaremos. - Ameenah deu um sorriso determinado, encarando o horizonte. - Quando tudo isso começou, estávamos muito desesperançados e amedrontados. Lembra-se?
-Lembro. Mas não me sinto mais assim – Ele respondeu. - Eu confio agora. A Força irá nos guiar, ela nos dará forças para defendê-la. Tudo isso nos deu coragem. A Luz irá triunfar.
-Acha que o Escolhido irá aparecer logo? - A garota perguntou.
-Acho. E, sinceramente, aposto todas as minhas esperanças nele. - Khali disse, certo. - A sorte está do nosso lado, e ele irá nos guiar. Vamos vencer esta guerra, Ameenah, e restaurar o equilíbrio da Força.
O céu clareou-se visivelmente neste momento. Os dois Jedi olharam para o horizonte, onde se viam dois corpos redondos cruzando-se no céu púrpura. Os dois sóis de Tedros, Lief e Dashuri, sobrepunham-se um sob o outro, intensificando seu brilho num eclipse quase total. O fenômeno da união dos sóis só se repetia de dez em dez mil anos, e era o único momento em que as duas estrelas, tão opostas, se encontravam para iluminarem o planeta juntas. Embora só por um momento, o planeta inteiro pareceu ficar ligeiramente mais quente e mais iluminado.
Khali voltou-se para Ameenah. Seus cabelos loiros estavam dourados sob a luz do fim da tarde, e a brisa os balançava tornando-a uma visão quase poética. Ao sentir o olhar do rapaz sobre ela, Ameenah passou a encará-lo, e os dois trocaram um olhar terno. Os grandes olhos verdes do rapaz a inspiraram confiança, tão intensos quanto a luz do eclipse que brilhava majestosamente. Eles ficaram olhando um para o outro por alguns instantes, apenas apreciando a energia do momento.
-É hora de treinar. - Disse Khali.
-Antes, tenho algo para lhe dar.
Ameenah vasculhou seu uniforme para retirar de dentro do bolso uma forma esférica e pequena. Ela pediu para que o rapaz fechasse os olhos, e então depositou-a em suas mãos. Ao abrir, Khali constatou que aquilo era uma amora camby, madura e de casca brilhante – a fruta que ele roubara do jardim real quando criança.
-Eu sei o quanto gosta delas. - Ameenah disse, o que o fez rir.
Khali repartiu a pequena fruta em duas metades, e deu uma a ela. Após comerem a amora observando os últimos resquícios de dia no horizonte, o rapaz deu um passo para trás e colocou-se no meio do grande terraço.
-Pronta para começar seu treinamento, padawan? - Ele disse, sacando seu sabre do uniforme e colocando-se em posição de batalha.
-Sim, mestre Skywalker. - Ameenah fez-lhe a típica reverência de aprendiz, e então, com um sorriso desafiador, ativou seu sabre de luz, correndo na direção dele logo em seguida para que iniciassem uma habilidosa luta de espadas, enquanto o céu se transformava em um tapete de estrelas, planetas e constelações espalhados bem acima de suas cabeças.
Fim!
Nota da autora: Ao final desta história você chegou, jovem Padawan. Ou será que mais histórias o futuro guarda a você?
Primeiramente, muito obrigada a você que leu até aqui! Espero que tenha gostado, e aguardo sua opinião sincera nos comentários.
"O Ressurgir da Escuridão" é a primeira parte de uma trilogia Star Wars, onde muitas coisas incríveis ainda estão pra acontecer. As próximas histórias ainda estão em fase de idealização, mas se chegarem a ser escritas, seus links serão disponibilizados aqui.
Que a Força esteja com vocês!!! xx
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Primeiramente, muito obrigada a você que leu até aqui! Espero que tenha gostado, e aguardo sua opinião sincera nos comentários.
"O Ressurgir da Escuridão" é a primeira parte de uma trilogia Star Wars, onde muitas coisas incríveis ainda estão pra acontecer. As próximas histórias ainda estão em fase de idealização, mas se chegarem a ser escritas, seus links serão disponibilizados aqui.
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