Finalizada em: 14/11/2018

Capítulo Único

“Ela disse que está vazia, mas isto está longe do que eu vejo.
- Belle MT Hollow”


Mullingar por muito tempo foi considerado o meu lar. É um pequeno condado de Westmeath, município da Irlanda. O clima é temperado e quente na maior parte do ano, mas mesmo no mês mais quente, se há um índice de chuvas por todo o território, o que de certa forma ajuda nos comércios.
Há uma enorme quantidade de cultivadores dos próprios alimentos, vendendo-os em feiras locais para a população. Outras profissões comuns são os cuidadores de animais, fazendeiros e professores, ou herdeiros de pequenos-médios negócios na região, como era o meu caso e de meu irmão mais velho, Greg. Mais dele do que meu próprio, uma vez que ele logo estaria no comando da Horan’s PetShop, assim que terminasse a faculdade de medicina veterinária, oferecida na pequena faculdade local.
Eu não saberia nomear o exato momento em que Mullingar deixou de ser um lar para mim e passou a ser apenas uma cidade de papel.
Em um momento eu estava com cinco anos, correndo com meu irmão entre as bancas dos vendedores na tradicional feira local, ouvindo-os reclamar sem parar das bagunças que fazíamos juntos e então, em um piscar de olhos, era dia 13 de setembro e eu estava completando 16 anos, mas só terminaria a escola no ano seguinte, porque apenas os nascidos até julho se formavam e eu, felizmente não estava nessa lista.
O mundo perdeu a cor e se transformou em uma velha folha amassada no momento em que o violão que eu havia ganhado quando ainda pequeno, foi substituído por testes preparatórios para o curso de pedagogia e papéis de contas da loja que pertencia a minha família.
Eu deveria ser um professor e meu irmão, o herdeiro da PetShop. Ele se casou quando tinha apenas 19 anos e seu filho nasceria no começo do próximo ano. Sua esposa foi nossa vizinha por muito tempo e eram assim, que na maioria das vezes, os casais de Mullingar eram formados. Meus pais frequentaram a mesma escola - e mesmo que tenham se separado quando eu tinha cinco anos e minha mãe tenha se mudado para outro condado da Irlanda e se casado novamente - e todos estavam com grandes expectativas que eu logo arrumasse uma namorada e me casasse muito novo, como Greg o fez.
Diziam, quando eu comecei a cantar nos corais da igreja - com meus 13 anos -, que eu havia sido abençoado pelo bom Deus com o dom da voz. Diziam também que eu soava como uma linda e rouca criança, com uma voz melodiosa que não escutavam a muito em Mullingar.
Eu ganhei um violão e logo, aos 15, também fui contratado para pequenas festas de aniversários. Eu havia me tornado um aspirante a cantor, mas ninguém nunca me preparou para quando meus sonhos fossem retirados de mim.
Aquela pequena população de forma nenhuma desprezava os artistas, mas não era comum que Mullingar presenteasse o mundo com eles. Desde que me entendia por gente, eu não havia visto sequer um cantor, compositor ou ator nos arredores. Eram sempre vindos de fora, passageiros como um vento mais forte por aquelas terras.
Todos sabiam o seu devido lugar, por onde deveriam seguir. Eram pequenos barcos de papéis seguindo aquele rio da qual eu inevitavelmente me via sendo jogado para fora, pelo simples motivo de não querer - e muito menos conseguir - seguir o programado. Eu não me encaixava.
As folhas alaranjadas começavam a cair dos galhos de todas as árvores espalhadas naquela época, e eu havia matado aula naquele dia, e provavelmente nem compareceria ao almoço dado em comemoração ao meu dia, não que eu fosse ingrato com o pequeno festejo oferecido pelo meu pai e irmão, juntamente a minha mãe que viajou um bocado de horas para me ver, mas eu sabia inevitavelmente que do parabéns, o próximo assunto abordado seria como estavam minhas expectativas e planos para o próximo ano, onde eu me tornaria mais uma pessoa de papel daquela cidade.
Eu estava chateado, porque novamente meu pedido de poder viajar para Dublin e participar da seleção de novos talentos havia sido negado. O dinheiro estava sendo guardado não somente para a aposentadoria tranquila de meu pai, mas também para os gastos com a minha futura graduação. O que tínhamos era o suficiente para viver tranquilamente, mas nada além disso e isso incluía não poder viver o meu sonho.
Eu não os culpava, apesar de tudo. Até minha mãe, que desde os cinco não morava mais conosco, apenas tentava me ensinar que eu não teria chance no mundo lá fora, não quando eu sempre fui criado para morrer em Mullingar, como um professor local, casado e pai de três filhos e alguns netos.
Mas foi exatamente enquanto eu dedilhava uma melodia tranquila e um pouco melancólica pelas cordas do violão, e cantava baixinho uma canção que eu havia composto, sobre uma garota perdida em seu próprio mundo, que ela veio e coloriu por instantes o meu mundo pacato de papel.
Ela era um amontoado - fisicamente menor do que a mim - de roupas coloridas e chamativas. Suas botas de couro que eu achava ser do tipo falso, faziam barulhos típicos sobre as folhas frágeis e quebráveis a beira do lago que estava sentado, ela apertava-se em um casaco de estampa florida que não parecia aquecer tanto, como a época do ano pedia e retirava algumas folhas do chão, sentando-se pelo menos a cinco passos de distância de onde eu estava.
Por um momento, pensei que ela estava apenas procurando um melhor lugar para se sentar, talvez escondendo-se do sol que era um pouco forte demais naquele horário de meio dia. Mas logo a vi tirar um caderno de desenhos de sua bolsa laranja chamativo, juntamente a um lápis - que parecia ser próprio para o que ela pretendia fazer - e pousar em suas pernas cobertas por uma saia em azul cobalto e dobradas. Pela distância, não pude contemplar o que ela desenhava, ou talvez apenas rabiscava, mas parecia concentrada demais no lago a nossa frente.
Eu continuava com minha canção, finalizando-a em poucos segundos, por ainda não estar completa. E fiquei a dedilhar uma melodia qualquer, parando apenas quando escutei sua voz, bem mais aguda e rápida que a minha, pronunciar-se.
— Você canta bem. - Ela disse, e enquanto meus olhos passaram a se concentrar na figura que era a desconhecida, os seus - pude notar que eram extremamente escuros como seus fios de cabelos - permaneciam focados na paisagem a nossa frente. — Mas acho que sua voz ficaria bem mais bonita em canções alegres.
Eu apenas ri, corando pelo elogio que a algum tempo não escutava mais.
— Algumas pessoas também precisam se identificar com músicas um pouco mais reais. - Expliquei-me, voltando a dedilhar uma melodia qualquer, mas permanecendo com o olhar voltado inteiramente para ela.
A vi então abandonar os movimentos suaves que fazia sobre o papel e mudar completamente a posição, virando-se agora de frente para mim, mesmo que eu ainda me encontrasse mais virado para o lago. E nesse momento tive uma visão mais completa de sua aparência, banhada aos raios de sol que penetravam alguns galhos e folhas ainda presas e tocavam sua pele negra, azeitonada e seus crespos cabelos escuros e relativamente curtos. Sua feição jovial e relaxada a fazia parecer ter pouca idade, pelo menos, um pouco menos que eu mesmo tinha, mas nunca de fato cheguei a saber desse detalhe naquele dia em específico.
— E quem é sua garota perdida? - Suas sobrancelhas estavam erguidas, parecendo genuinamente curiosa, mesmo que eu nunca fosse capaz de saber o que se passava em sua cabeça e seu tom tinha um ‘’Q’’ de divertimento.
— Acho que está mais para o meu eu perdido numa versão bem eu poético. - Minha resposta pareceu, por um momento, ter a deixado confusa antes de a ver sorrir como se achasse graça da situação. Franzi a testa, agora estando eu confuso.
— E consegue existir alguém perdido em Mullingar? - Apesar de tudo, seu tom saiu baixo e inocente, sem aparentar zombarias e foi nesse momento que me toquei que talvez ela não fosse dali. Nunca havia a visto por aqueles arredores e por ter uma loja de família relativamente grande e conhecida, eu acabava por reconhecer a maior parte das pessoas, mas nunca havia visto ela, de fato.
— Você não é daqui, não é? - E confirmando, a vi balançar a cabeça. — Mullingar é um belo lar e um condado encantador, mas para quem não consegue se encaixar, acaba se tornando uma cidade de papel.
— Mullingar não parece ser do tipo que faz uma cidade de papel. - Nesse momento, já havíamos dispensado a necessidade de apresentações básicas e nos atentávamos exclusivamente naquele assunto. Eu teria simplesmente dado por encerrado com aquela constatação, mas ela não soava ofendida como alguns outros moradores ficariam, ela parecia mais na espera de uma explicação e eu a dei.
— Eu amo estar aqui, mas sinto que esse não é o meu lugar. Eu estou acabando o ensino médio e, se eu continuar aqui, terei que me tornar professor na escola primária. Não que isso seja ruim….
— Eu não consigo te ver como professor. - Ela disse me interrompendo e suas palavras se juntaram em um riso, que acabou me contagiando levemente. — Mas acho que entendi porque você chama isso aqui de cidade de papel. Sua cidade de papel. Você apenas não se encaixa nela porque aparentemente não pode viver o seu sonho, correto?
Me resignei apenas a balançar afirmativamente, enquanto a vi sorrir compreensiva. Em uma outra ocasião, talvez eu a achasse como aquelas pessoas que liam as outras e descobriam seus futuros. Vi um brilho diferente atravessar suas orbes negras antes que suas próximas palavras chegassem aos meus ouvidos.
— Você não pode parar sua vida apenas por medo de ser jogado para fora do rio. De não conseguir alcançar as expectativas dos outros, mesmo que elas estejam te esmagando no momento. Você tem talento. Muito talento. - A vi dar uma pequena pausa, umedecendo os lábios. — Você não precisa ser um garoto de papel. Assim como eu decidi não ser.
— O que te trouxe à Mullingar? - Foi minha primeira e única pergunta direta e pessoal, mas que de certa forma, me faria entender o porquê a desconhecida também havia decidido não ser uma garota de papel.
— Meu pai é um artista famoso. Nasceu em um belo berço na África e seu talento sempre foi reconhecido. Ele casou-se com uma incrível floriculturista e mesmo que ambos tenham me tido, viajam para o mundo, já que ele tem muitas exposições. Estamos aqui para conhecer a Irlanda, após mais uma exposição.
— E deixe-me adivinhar…. Você não herdou o dom da arte e odeia o fato que é exposta a isso como se o mundo dependesse que você se torne uma artista? - Constatei com um riso leve, percebendo que, ela era mais uma das muitas passageiras que deixavam a arte para Mullingar, mesmo que temporariamente.
E ela riu de mim e eu simplesmente havia percebido que me sentia tão à vontade que poderia passar uma eternidade escutando aquele som.
— Blé, isso seria clichê demais. - Ela se aproximou mais e empurrou levemente o meu ombro. — Um dia superarei meu pai no quesito arte, sem querer me gabar, eu sou uma artista muito boa. Mas ele pinta quadros e eu faço esculturas, mesmo que pinte uma ou outra coisa. Apesar de todo apoio por ter sangue de uma artista, não é como se, em algum momento da minha vida, eu sentisse que fosse apenas uma sombra do que ele é.
E foi a explicação que ela havia me oferecido naquele momento. E incrivelmente eu a compreendi, como ela parecia ter me compreendido, momentos antes.
As horas se passaram sem que nos déssemos conta. Não havíamos citados nossos nomes, por algum motivo qualquer. Talvez pelos pensamentos que o meu, naquela terra, significava exclusivamente ser um dos herdeiros de um negócio de cuidados com os animais e tive a impressão que para ela, significava apenas ser a sombra do que eu pai era.
Os assuntos se divergiram em brincadeiras, canções, piadas, clima e pedras jogadas ao lago. Em algum momento daquela tarde, nos deitamos sobre as folhas frágeis, rindo do barulho que veio como consequência, e sob raios mais fracos e menos quentes, fechamos os olhos e adormecemos, como crianças sem preocupações.
— Espero ser a musa de uma das suas canções, quando for famoso… Não se esqueça, garoto de papel. - Ela disse-me, em tom baixo e calmo.
— Não se esqueça de me fazer bem bonitão em uma pintura ou escultura, artista das sombras. - A respondi, com um sorriso bobo preenchendo meus lábios, igualmente calmo, antes de adormecer, esquecendo da irritação que me assolava pela manhã e que havia acalmado com a sua presença.
Quando acordei, o sol já havia se despedido e o céu se tornava um espetáculo de cores alaranjadas, roxas, rosa e azuis claros, mas ela não estava ao meu lado. Eu tinha a companhia solitária apenas do meu violão e sua presença parecia ter sido apenas fruto de um bom sonho. E por alguns minutos, após acordar, fiquei me questionando se realmente não havia sido realmente um sonho.
Voltei para casa, uma hora mais tarde, com seu olhar, seu sorriso e a cor de sua pele marcada em minhas retinas. Naquela noite, na companhia do meu pai, mãe, irmão mais velho e da minha cunhada grávida escutei os parabéns e não tive nenhuma repreensão e sermão me deixando novamente irritado. Nada veio, a não ser felicitações.
Durante boa parte dos meses seguintes, procurei de todas as formas encontrar a musa que fez com que meus sonhos renascessem. Mas não encontrei uma exposição específica, eu não sabia o seu nome e muito menos o nome de seu pai. Eu não sabia de nada sobre ela e minhas pesquisas se tornaram infrutíferas, como a procura de um fantasma.
E então, naquele mesmo ano, um amigo meu havia me gravado cantando e tocando uma música autoral e ela simplesmente estourou na internet. Eu havia conseguido, de alguma forma, chamar a atenção e um ano mais tarde, fui convidado à participar do programa que foi meu sonho durante muito tempo, em Dublin com tudo pago.
Eu havia passado da primeira fase e após conseguir uma licença especial que me garantia o fim do ensino médio, fui à sede em Londres, onde juntei-me com mais quatro integrantes. Não ganhamos a competição, mas o nome de nossa banda havia se tornado infinitamente conhecido e em pouco tempo, éramos considerados os melhores do mundo.
Eu havia alcançado o topo, havia me tornado o barco que foi jogado para fora do rio apenas para alcançar o mar e eu gostaria de que, algum dia, pudesse agradecer a responsável pela coragem que me assolou de não ser esse barco.
Anos se passaram, canções de sucessos, shows lotados, prêmios e multidões de fãs. Ficamos longos anos como companheiros do imenso sucesso, até que cada um sentiu a necessidade de trilhar o seu próprio caminho solo. Novamente eu havia sido o barco que foi jogado para fora do mar, apenas para adentrar os oceanos.
E naquele exato momento, meus pés me guiavam sem rumo. Eu não sabia que horas eram, mas tinha a noção de ser bem tarde.
Havia acabado de sair da gravadora, após um dia intenso de gravações para o novo álbum. E a última música inevitavelmente havia sido sobre a garota que me fez achar o caminho de casa, mesmo que não tenha me acompanhado no processo.
Os passos eram automáticos, mecânicos, enquanto minha mente apenas procurava relaxar do dia cansativo.
Eu me sentia feliz com a vida que tinha, havia conquistado exatamente tudo o que eu queria e sentia que, nenhum outro caminho poderia ter sido feito, se não aquele.
Meus pensamentos se quebraram quando vi meu próprio reflexo nas paredes de vidro de uma galeria de arte. Ajeitei meus cabelos, agora menos tingidos de loiros do que costumavam ser no passado, enquanto passeava pela placa com as informações sobre as artes expostas por aqueles dias.
Mesmo que tenha adquirido, desde o encontro de um dia só, o hábito de sempre visitar galerias de artes e suas exposições, o nome da exposição que realmente me motivou a visita-la naquelas horas; Paper Man, por .
Eu sabia que a galeria já estava para fechar, talvez o fluxo de pessoas fosse resumido a duas, contando comigo e não tivesse a oportunidade de conhecer o artista.
O clima dentro da galeria estava um pouco mais gelado do que do lado de fora, o que fez com que eu me apertasse entre os tecidos do meu casaco. Mas esse mero detalhe passou a ser insignificante quando tudo o que eu conseguia prestar atenção eram nas esculturas.
Representavam um homem, ou vários. Feições tristes, aborrecidas, apesar de aparentar ser jovial. Ele parecia em busca de algo, como se olhasse o além com esperanças, mesmo desolado. Sem placas explicativas e as esculturas tinham detalhes como se feitos de pequenos recortes de papéis em formatos quadrados. Totalmente em branco.
Formavam um semicírculo, misturando-se em várias poses, até que no centro, a principal obra estivesse exposta. O homem antes branco e com o olhar perdido, se encontrava numa imensidão de cores em sua obra. Sua expressão demonstrava felicidade, alegria, encontro. Ele estava em uma pose relaxada, agora, com mais um elemento adicionado, um violão.
Ao chegar mais perto, constatei que a única parte que parecia definitivamente pintada sem aleatoriedade de cor, eram seus olhos. Eram de um azul real, fascinante.
E então aquela voz veio, baixa e alegre, como eu ainda me recordava perfeitamente.
— Então, quer dizer que o famoso Niall Horan é apreciador das artes? - Virei-me para trás, de onde pensei escutar o tom. E iluminada sobre as fracas luzes da galeria, com roupas elegantes em tons fortes e coloridos, lá estava ela. Sua pele e seus olhos pareciam brilhar em um conjunto que a deixavam ainda mais linda e o sorriso que iluminava o seu rosto me contagiou naquele momento.
Minha musa agora tinha um nome, e o meu mundo pareceu se iluminar, mesmo que ela ainda parecesse belamente igual.
— Não poderia perder a oportunidade de ver uma bela arte como a sua, . Conseguiu superar seu pai? - Aproximei-me, contente e com o coração batendo forte de ansiedade e alegria, vendo-a relaxar ainda mais e se aproximar também, parando a centímetros de distância.
— Ele sente inveja da minha fama agora. E posso concluir que conseguiu tudo o que queria?
— O barquinho de papel jogado para fora do rio e seguiu o mar, para então entrar no oceano. - Eu disse com um sorriso. — Paper Man?
— Um garoto que conheci muito tempo atrás me inspirou para essa arte. Ele parecia vazio e seu olhar, apesar de gentil, parecia perdido. Ele estava em branco, até que conseguiu conquistar seu sonho e pareceu se encher de cores. Ele parece ter se encontrado e eu, só posso dizer o quão feliz estou por ele. - Ela disse-me, como quem não quer nada.
— Acho que esse garoto pode se considerar a pessoa mais feliz do mundo só por ser eternizado por sua arte. - Eu sentia minhas bochechas queimarem naquele momento, e podia ver que, aparentemente ela tinha a mesma reação. O coração que antes batia feito louco, agora falhava com o sorriso sacana nos lábios carnudos e escuros a minha frente.
— E você, conseguiu achar sua musa?
— Eu estava gravando, nessa noite, minha canção dedicada para ela. A garota que me guiou até o caminho para minha casa, mesmo que ela não tenha me acompanhado no processo. Se eu pudesse dizer algo para ela, diria que eu desejo ter a presença dela daqui para frente em minha vida. - Eu a vi abaixar o olhar por alguns poucos segundos, parecendo pensar, antes que os elevasse novamente e sorrindo, pareceu compreender que minha musa na verdade, se tratava dela.
— Querido garoto de papel, caso ela tenha escutado, espero ser sua noite de sorte. Porque sinto que essa sua musa também deseja ficar na sua vida. - A ouvi dizer, abafando as últimas palavras, porque antes mesmo que ela terminasse a frase, passei meus braços envolva de seus ombros, trazendo-a de encontro ao meu peito e acabando com a distância que ainda existia entre nós.
— Sinto que sou o cara mais sortudo do mundo, artista das sombras. - E após isso, ficamos em silêncio, abraçados como um só, como desejei por todos esses anos e sentindo-a se agarrar a mim com todas as suas forças, pude concluir que era o que ela desejava dali para frente.
Achava até aquele momento que minha vida estava completa e de fato, estava. Mas ao senti-la em meus braços, percebi transbordar-me. Ela inundou minha vida de esperanças e desejos, de um amor crescente em anos e naquele exato momento, eu tinha a certeza que nunca mais a largaria ou deixaria ir embora.
Terminei a noite sabendo que, daquele momento em diante, minhas canções sempre teriam resquícios apaixonados da minha musa e soube de seus lábios, mesmo colados aos meus em um beijo tímido, que suas esculturas sempre teriam uma inspiração de cores a seguir. Eu também havia transbordado a vida dela.




Fim



Nota da autora: Sem nota.



Nota da beta: Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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