Poetry Among the Stars

Última atualização: 10/05/2024

Capítulo 1

Saudades era uma das pinturas mais famosas do brasileiro Almeida Júnior, um artista do século XIX muito importante e também um dos representantes do movimento realista, era em frente a ela que eu me encontrava parada quando percebi que, por algum motivo, aquela obra me fazia ponderar sobre meus sentimentos e sobre tudo o que vinha sentindo nos últimos anos, a obra de arte que atraía meu olhar por quase dez minutos chamava minha atenção por seus detalhes e composição, a mulher à minha frente, que estava de costas para uma janela de madeira, estava com sua cabeça baixa e seus cabelos levemente voltados pela lateral esquerda de seu rosto. Ela usava uma roupa preta longa e simples, pude perceber que segurava em sua mão esquerda algo que semelhante a uma foto, enquanto sua mão direita estava abaixo do xale que cobria sua boca. Notei que no mesmo ambiente havia dois objetos por cima do baú, que constatei ser o álbum de fotos e um simples tecido branco, além de um chapéu de palha pendurado ao lado da janela. A pintura transmitia detalhes simples e minuciosos, como a luz do dia que adentrava pela janela e as cores do ambiente, que combinavam com os tons de pele da mulher e o local onde ela se encontrava. No entanto, antes que pudesse anotar toda aquela análise em meu tablet e voltar minha atenção para a obra novamente, senti alguém colidir comigo causando um desconforto em meu braço esquerdo pela pancada repentina que senti.
— Au! – Murmurei de cabeça baixa, massageando suavemente o braço.
— Perdão, você se machucou? – Perguntou o rapaz com um leve tom de preocupação em sua voz.
— Oh, não se preocupe, não foi nada demais. – Respondi sua pergunta levando o olhar do meu braço em sua direção, me deparando com aquele par de olhos castanhos me encarando com preocupação e surpresa. Paralisei por alguns segundos no momento em que aqueles olhos se encontram com os meus não conseguindo formular uma só palavra ou sequer ter reação alguma. Não acreditava no que via. Era ele ali, o motivo da minha saudade e dor, Charles Orsini.
— Bellini? Emma Bellini? – Perguntou surpreso, antes que pudesse expressar qualquer tipo de reação ele me abraçou. Foi um abraço rápido, mas que durou tempo suficiente para que eu fosse bombardeada por minhas emoções. – Quando voltou para Londres? – Perguntou o rapaz desfazendo o abraço. Sacudi levemente a cabeça despertando imediatamente do meu estado de contemplação e tentando manter a calma respondi sua pergunta.
— Cheguei esta madrugada, as meninas e eu acabamos de ficar de férias. – Dei um meio sorriso, ainda nervosa pelo abraço repentino.
— Sam e as outras também vieram com você? – Ele perguntou olhando ao nosso redor em busca da melhor amiga.
— Apenas Paola veio comigo, as outras meninas precisavam resolver algumas coisas, amanhã pela tarde devem estar por aqui. – Expliquei, vendo-o concordar.
— Entendi, última vez que falei com a Sam ela me disse que estavam de mudança. – Ele disse.
— Oh sim, na verdade nos mudamos para Dijon há alguns meses atrás. – Falei calmamente.
— Dijon? Interessante. – Disse, concordei levemente com a cabeça.
— Foi a escolha perfeita na minha opinião, as meninas também ficaram super animadas com a ideia de nos mudarmos para lá. – Falei.
— Li em algum lugar na Internet que lá em qualquer época do ano é incrível para turistar. – Charles comentou coçando levemente seu queixo.
— Dijon é a capital da histórica região de Borgonha no leste da França, e como a Samy sempre fala, nada melhor do que viver em uma das principais áreas produtoras de vinho do país. – Conclui vendo-o concordar com uma risada. – E você, o que tem feito?
— Faltam alguns meses para concluir o meu mestrado no curso de Arquitetura na UCA* em Farnham.
— Fico feliz por você! De verdade. – Falei sincera e o garoto de cabelos castanhos sorriu mostrando suas covinhas. Antes que pudéssemos falar qualquer coisa, o toque de seu celular chamou nossa atenção.
— Hm, perdão, tenho que atender, é importante. – Ele disse checando o visor do aparelho. Concordei vendo-o se afastar lentamente para o lado oposto com o celular sobre seu ouvido. Ao vê-lo se retirar virei-me novamente para a pintura tentando conter o que estava sentindo naquele momento, todos aqueles sentimentos e mágoas lutando dentro de mim prestes a explodir e, por mais difícil que fosse, tentei ao máximo deixar de lado toda aquela inquietação em meu peito decidida a continuar com o que fazia. Enquanto botava os meus pensamentos em ordem resolvi prosseguir com minha análise e manter todo o meu foco e concentração na obra à minha frente, embora não estivesse sendo tão fácil. Ao focar bem na pintura, notei que algo nela chamava minha atenção e, analisando cuidadosamente pude notar a expressão facial daquela mulher na tela, percebi que suas sobrancelhas estavam franzidas e que seus olhos estavam quase que completamente fechados, que notei serem pelas lágrimas que escorriam por seu nariz, ela observava ao que parecia ser uma foto em sua mão direita, enquanto a outra cobria sua boca, muito provavelmente tentando abafar um soluço de choro. Naquele momento pude entender que aquele olhar não se referia somente à tristeza e dor, se referia a saudades, saudades de algo ou alguém muito importante em sua vida, como um amor do passado por exemplo, que infelizmente parecia ser a sua dor no momento.
Foi com esse pensamento que compreendi o que o artista pretendia transmitir através de sua obra e chegada a minha conclusão sobre a obra de arte, decidindo então anotar tudo aquilo em meu tablet, alguns segundos depois senti alguém se aproximar e quando olhei de relance percebi ser Charles.
— Essa é uma bela obra de arte. – Disse posicionando-se ao meu lado observando a tela à nossa frente.
— Você tem razão. – Falei calmamente, concordando com o homem ao meu lado. – Acho que eu poderia descrever exatamente o que ela está sentindo. – Revelei meu pensamento sobre aquela pintura.
Dei uma olhada rápida em sua direção e então pude observar com cuidado o homem ao meu lado, seus cabelos estavam levemente desalinhados e voltados para cima, trajava uma calça de alfaiataria marrom e suéter de malha branco por debaixo de um sobretudo da mesma cor de sua calça, além do seu casual sapato preto. Ele estava lindo, como sempre.

*University for the Creative Arts localizada em Farnham, Inglaterra


Capítulo 2

Ao perceber que eu o encarava, Charles virou-se em minha direção e me encarou, confesso que naquele momento minhas pernas não paravam de tremer pelo nervosismo e ansiedade, eu não imaginava que poderia reencontrá-lo aqui, embora tivéssemos o mesmo e pequeno círculo de amigos, não me passou pela cabeça. Mil coisas passaram pela minha cabeça quando nossos olhares se encontraram, as lembranças e memórias que criamos e vivemos juntos tomaram conta de todos os meus pensamentos e eu simplesmente não conseguia controlá-los. Queria que houvesse um jeito de poder voltar no tempo e reviver tudo aquilo muitas e muitas vezes, confesso realmente que queria isso mas, a verdade é que eu não podia, não depois de tudo que aconteceu. Apesar da estranha sensação de familiaridade e da saudade que habitava em meu peito, meu cérebro não conseguia raciocinar direito com ele bem ali na minha frente, tão irritantemente perto.
A troca de olhares que levou alguns segundos, pareciam durar uma eternidade, todos os sentimentos que eu tentava a todo custo controlar lutavam entre si, tudo por causa dele, Charles Orsini, a droga do meu primeiro e quem sabe, o meu grande amor, honestamente, gostaria que esse reencontro tivesse sido em circunstâncias diferentes ou que simplesmente, nunca tivesse acontecido. Tê-lo ali tão próximo a mim mais uma vez fazia com que inúmeros flashbacks surgissem em minha mente para que eu pudesse assisti-los muitas e muitas vezes repetidamente, e eu não sabia o que fazer.
— Emma eu que... – Ele pretendia me dizer algo, mas foi imediatamente interrompido por um rapaz que veio correndo em nossa direção, quebrando nosso eterno contato visual.
— Cara, até que enfim te encontrei, tive que estacionar o carro a uma quadra daqui, você não vai acreditar no que acon... Emma? – O garoto de cabelos loiros que não parava de falar levou os olhos surpresos até mim. – Caramba, é tão bom ver você! Como você está? Quando chegou em Londres? – O garoto caminhou em minha direção, dando-me um abraço apertado. Retribui da mesma forma com um sorriso enorme em meu rosto. O rapaz recém chegado estava vestido de forma elegante, assim como Charles, mas ao invés dos tons marrons, suas roupas eram voltadas para tons cinzas.
— Calma, cheguei de madrugada. – Dei uma gargalhada saindo de seu abraço.
— E por que não fiquei sabendo disso? Sinceramente, tenho que repensar sobre minhas amizades. – Ele falou cruzando os braços.
– Primeiro, não tive tempo pra nada ou ligar pra alguém se quer saber e segundo, você vai me fazer um favor, estava pensando mesmo se essa nossa amizade valia a pena. – Falei entrando na brincadeira, ele me olhou incrédulo.
— Então é assim que você me trata? Bom saber, Brenda sempre foi a minha favorita mesmo. – O garoto disse, mostrando a língua em seguida.
— Você é tão dramático Bennett, por Deus. – Gargalhei e ele fez o mesmo. Thomas Bennett era uma pessoa incrível, desde a minha mudança para França não mantivemos contato um com outro com tanta frequência como eu gostaria, vê-lo ali era realmente reconfortante.
— Você falou com Louis? — O loiro perguntou e eu neguei com um aceno de cabeça.
— Na verdade não, ele vai surtar quando souber que vim sem avisar, você sabe como meu irmão é dramático. Sem contar que Tobias e Atlas devem estar deixando ele completamente louco. – Ri levemente, Tom fez o mesmo, concordando.
— Posso imaginar. Mas então, quanto tempo pretende ficar na cidade? – Ele perguntou cruzando os braços.
— Na verdade não muito, as meninas e eu acabamos de ficar de férias e combinamos de passar as festas de fim ano com a família. Vamos ficar somente até a primeira semana de Fevereiro. – Expliquei, ele balançou a cabeça, concordando. – Além disso, o aniversário do meu irmão está próximo e eu não podia deixar de parabenizá-lo pessoalmente. – Concluiu e ele sorriu.
— As meninas estão aqui com você? – Perguntou olhando ao redor, neguei com um aceno de cabeça.
— Oh não, elas precisavam resolver algumas coisas ainda hoje e virão somente amanhã. – Expliquei, ele me encarava com atenção. – Por enquanto só Paola e eu estamos em Londres, queremos fazer uma surpresa, então ninguém sabe que estamos aqui, tirando vocês dois. – Comentei, me referindo a ele e Charles.
— Não se preocupe, seu segredo está seguro comigo. – Ele disse piscando em minha direção, dei uma gargalhada.
— Oh sim, sei que estará. – Falei ironicamente.
— Enfim, o que veio fazer aqui no Museu Artístico Internacional às.. – Ele checou o relógio em seu pulso. – Oito da manhã desta terça-feira? – Olhou para mim arqueando uma sobrancelha. – Não está cansada da viagem?
— Pra falar a verdade o voo não foi tão longo, mesmo sendo um voo de uma hora tive bastante tempo para descansar. Por isso vim vê-la. – Comentei, apontando para a pintura. – Preciso enviar por e-mail algumas anotações sobre essa e outra obra que estariam em exposição hoje para um trabalho, tive que vir ou acabaria esquecendo. – Conclui vendo-o concordar.
— Entendi, Paola veio junto? – Olhou ao redor, neguei quando ele voltou a olhar para mim.
— Não, eu a deixei descansando no hotel antes de irmos para minha casa mais tarde, ela estava bastante exausta ontem e antes de embarcarmos também. – Expliquei.
— Entendo, sei o quanto ela detesta voos, principalmente voos noturnos. – Tom disse colocando suas mãos nos bolsos de seu sobretudo. Olhando o garoto por um instante percebi que apesar de estar diferente da última vez que nos vimos, Thomas continuava cada vez mais lindo e alguns centímetros mais alto, além do olhar brincalhão que continuava presente, sua família, assim como a minha e as famílias Jones, Ortega, Cunningham, Evans, Orsini, Hilton e Lafuente eram grandes amigos desde a infância, além de fazerem parte da elite de Londres por gerações, e nós, filhos, por sempre estarmos juntos em finais de semana, comemorações e festas que nossas famílias organizavam ou estavam presentes, acabamos todos nos tornando melhores amigos também. É claro que existia certa implicância entre alguns de nós, mas fazia parte e nós nos entendíamos como ninguém.
— Quando as meninas chegarem teremos tempo de sobra pra sairmos todos juntos, o que acha? Faz o que, dois anos que não nos vemos? – Tom coçou o queixo pensativo, referindo-se ao nosso último encontro.
— Na verdade, são três anos e cinco meses. – Corrigi, permitindo que um sorriso singelo surgisse em meus lábios. Seus olhos se arregalaram.
— Caramba, tudo isso? – Concordei com um aceno de cabeça. – Uou, não achei que fosse tanto assim. Voc… – Antes que pudesse continuar, o loiro foi interrompido com o limpar de garganta vindo de Charles, que nos fez olhar em sua direção. O garoto de cabelos castanhos, que permaneceu em silêncio durante toda aquela conversa, encarou o melhor amigo ao meu lado e apontou freneticamente para o rolex de couro preta presa em seu pulso, aparentemente querendo lembrá-lo de alguma coisa.
— Oh certo, ahn... – Tom estalou os dedos voltando a olhar para mim. – Ems, perdão, nós estamos realmente atrasados agora. Me passa o endereço do hotel que você e a Pá estão e o horário por mensagem, vou levar vocês para casa mais tarde, o que acha? Ótimo, até mais tarde. – Não tive tempo para lhe responder, Tom me abraçou depositando um beijo em minha bochecha e logo se retirou para o outro lado do Museu junto de Charles, que acenou de longe em minha direção, ambos me deixando sozinha novamente. Dei uma leve gargalhada após a rápida despedida proporcionada por Bennett e decidi seguir para a próxima e última obra de arte, o Beijo V de 1964, uma das pinturas mais famosas do artista americano Roy Lichtenstein que foi um dos primeiros a alcançar o amplo reconhecimento nas críticas ao movimento da Pop Art. Suas obras dominaram a arte com seu estilo, técnicas, temas de reprodução comuns e por sua inovação e influência, tornando-se então um dos artistas que marcou a arte do período pós-guerra, além de trazer uma grande mudança no expressionismo abstrato, além de valorizar as histórias em quadrinhos, que contava com uma bela mistura e ótima tonalidade em suas cores. Finalizando toda a minha conclusão, anotei por fim todos os detalhes da obra, decidindo que já estava na hora de voltar para o hotel. Guardei o tablet em minha bolsa e peguei meu celular abrindo o aplicativo de corrida a procura de um táxi, rapidamente encontrando um disponível. Confirmei a corrida e andei calmamente para a entrada do Museu Artístico Internacional para esperá-lo.


Capítulo 3

Assim que o táxi chegou, sentei-me no banco de trás agradecendo mentalmente pelo veículo estar com aquecedor ligado, dei o endereço do hotel para o motorista, um senhor muito simpático que aparentava estar nos seus cinquenta e poucos anos que logo ele deu partida no veículo afirmando que em alguns minutos chegaríamos ao meu destino. Ao chegarmos em frente ao hotel na qual estava hospedada, paguei-lhe pela corrida descendo do veículo, agradecendo-o mais uma vez pela carona, segui em direção a entrada do Hotel passando pelo recepcionista que sorriu em minha direção quando passei pela porta do edifício e caminhei tranquilamente até o elevador que não demorou a chegar, entrei rapidamente para dentro da cabine apertando o botão que me levaria para o vigésimo segundo andar.
Assim que as portas do elevador se fecharam levei meu olhar para o relógio em pulso que marcava vinte minutos para às dez horas, uma melodia familiar começou a ecoar pelo local fazendo com meus olhos começarem a marejar e minha mente ser tomada pelas lembranças e pelo meu recente encontro com Charles no museu. Era difícil de acreditar que ele ainda mexia com meus sentimentos dessa maneira, e que tudo entre nós tenha sido marcado por mágoas, discussões, desconfianças, e muitos outros motivos que contribuíram para o fim do nosso relacionamento.
Um barulho indicando que o elevador havia chegado em meu andar despertou-me de meus devaneios, limpei o resquício de lágrimas em meus olhos e segui em direção ao quarto que Paola e eu estávamos dividindo quando as portas do elevador se abriram. Ao passar pela porta do quarto pude ouvir a risada contagiante de minha amiga vindo mais a frente, andei pelo cômodo tirando a bolsa do ombro e o sobretudo que vestia segurando-os com o braço esquerdo seguindo até minha mala pegando-a com a mão direita seguindo até minha cama. Coloquei a bolsa e o sobretudo em cima da mesma e pus a mala sobre o recamier, móvel que ficava do lado oposto à cabeceira da cama, abri a mala pegando um conjunto de moletom e virei-me em direção a janela do quarto onde minha amiga estava. Paola estava sentada em frente ao notebook ainda de pijama segurando uma xícara de café e ao seu lado havia uma pequena mesa de café da manhã com uma pequena quantidade de frutas, bacon, ovos, panquecas e algumas torradas, tirei as botas que estava usando deixando-as ao lado de minha cama e caminhei em sua direção, cumprimentei-lhe com um beijo no topo de sua cabeça seguido de um bom dia seguindo para o banheiro em seguida.
— Onde você estava? Acordei e não vi você em lugar algum, fiquei esperando por você para irmos tomar café da manhã. – Falou em um tom alto para que eu pudesse ouví-la.
— Tive que ir ao museu. – Respondi no mesmo tom.
— Você demorou pra voltar então pedi para que trouxessem o meu. – Ela comentou quando saí do banheiro refazendo o caminho em direção a cama.
— Desculpa, precisava dar uma olhada em duas pinturas na exposição de hoje. – Falei ficando de costas para ela enquanto colocava a roupa que usava antes de chegar na mala.
— Você estava dormindo tão bem, não queria te acordar. Deixei um bilhete na penteadeira explicando, você não viu? – Virei em sua direção. Ela negou dizendo não ter visto bilhete algum. – Bom, de qualquer forma, eu já estou aqui. – Falei, agora ajeitando o edredom e os travesseiros sobre a cama. – Aliás, acabei encontrando os meninos lá... Digo, Charles e Tom. — Revelei, deitando-me na cama sem olhá-la. Ouvi o som de sua xícara ser colocada sobre a mesinha de café da manhã. Percebi de relance Paola abaixar rapidamente a tela do seu notebook, virando-se imediatamente em minha direção.
— Como assim? E o que os dois faziam lá? – Ela veio até mim sentando-se na cama. – Como aconteceu? Você está bem com isso? Digo, por ter encontrado Charles? – Desatou a perguntar.
— Está tudo bem. – Suspirei. – Ele acabou esbarrando em mim acidentalmente enquanto eu analisava uma pintura, aquela que falei pra você ontem, lembra? – Comentei vendo-a concordar, continuei. – Hm.. Conversamos um pouco e momentos depois Tom também apareceu. Thomas e eu conversamos por alguns minutos até Charles lembrá-lo que precisavam ir. – Dei de ombros. – Provavelmente para alguma reunião.– Ela continuou a me encarar.
— Só isso? Não aconteceu mais nada? Nem mesmo um clima estranho? – Ela franziu a testa, permaneci em silêncio e ela continuou. – Quero dizer que, o relacionamento de vocês terminou da forma menos amigável possível depois daquela festa na casa da priminha insuportável dele, sem contar que tem uns três anos que não nos reunimos ou saímos juntos. – Concluiu, mordi o lábio inferior e suspirei profundamente.
— Não da parte dele, pelo menos. Mesmo que estivéssemos conversando amigavelmente um com outro, por dentro eu tentava quase que inútilmente controlar tudo que estava sentindo. – Confessei com cansaço evidente em minha voz. – Mas não quero conversar sobre isso agora. – Paola pegou minha mão, acariciando-a.
— Ems, sei que esse reencontro mexeu muito com você e até a senhorita estar pronta para conversar sobre, esse vai ser e será um assunto para outro dia, ok? Prometo que estarei ao seu lado quando esse dia chegar. – Ela disse, me puxando para seu abraço.
— Paola Jones, já disse que você é a melhor amiga do mundo? – Ela gargalhou desfazendo nosso abraço.
— Hoje não, mas é sempre bom ouvir isso de vez em quando. – A loira sorriu, voltando para a poltrona ao lado janela novamente. – Que horas vamos para sua casa? Temos que deixar tudo pronto para fazer o check-out uma hora antes de irmos. – Ela me olhou levando uma torrada até sua boca, dando uma mordida.
— Sabia que tinha esquecido de alguma coisa. – Bati em minha testa. – Tom se "auto-convidou" pra nos levar até lá mais tarde.
— Isso é ótimo, não estava muito afim de pegar um táxi do hotel. Vai ser bom encontrar com ele depois de um tempo. – Ela falou limpando sua mão e boca com um lenço de papel. Fez um coque no topo de sua cabeça e ficou de pé pegando a mesinha de café da manhã indo em direção a pequena cozinha que ficava no outro cômodo. Paola refez o caminho de volta para o quarto indo até sua mala. Tirou uma algumas peças de roupa e seguiu para o banheiro, parando no caminho para olhar em minha direção. – Você já enviou o endereço para ele? – Neguei com a cabeça, pegando meu celular dentro da bolsa.
— Vou enviar agora, tudo bem pra você irmos às 16hrs? Podemos almoçar juntas no restaurante do hotel e arrumar nossas coisas antes de irmos, o que acha? – Perguntei desbloqueando meu celular.
— Por mim tudo bem. – Balançou a cabeça em concordância e passou pela porta. Assim que a loira entrou no banheiro levei meus olhos para o aparelho em minhas mãos procurando por Tom em minha lista de contato no aplicativo de mensagens clicando rapidamente em seu nome quando o encontrei.

"Esse é o endereço 'Park Grand Hotel (449 Great West Road, Hounslow TW5 0BU)'. Paola e eu estaremos esperando no lobby do hotel às 16hrs, tudo bem?"




Enquanto aguardava sua resposta, peguei o controle remoto da TV e a liguei, abrindo imediatamente o aplicativo da NETFLIX. Enquanto procurava por algum filme no catálogo, o som de notificação indicou uma nova mensagem.

Tom Bennett
Combinado! O hotel fica a alguns minutos de onde estou agora, estarei aí no horário. Até mais tarde.



Respondi sua mensagem com ''Ok'' bloqueando a tela do celular colocando-o na mesinha de cabeceira que dividia as duas camas, voltei a olhar para TV escolhendo por fim uma comédia natalina. Seis minutos de filme se passaram, peguei novamente o celular na mesinha checando o horário no visor do aparelho que marcavam 11:40am, a porta do banheiro se abriu e Paola saiu de lá vestindo uma jeans preta e um suéter de malha da mesma cor por cima de uma blusa casual branca. Observei a loira caminhar em direção a penteadeira onde seu celular estava, colocou-o no bolso frontal de sua calça e sentou-se em sua cama para calçar os sapatos, pegou a escova de cabelo sobre a penteadeira e penteou seus cabelos deixando-os perfeitamente alinhados. Enquanto minha amiga se movimentava pelo quarto direcionei novamente o meu olhar pra TV ajeitando-me confortavelmente na cama, voltei a prestar atenção no filme sentindo meus olhos começarem a pesar pelo cansaço repentino.


Capítulo 4

Acordei com o barulho de uma porta se fechando e sentei-me na cama estranhando o ambiente que eu estava por um momento, me dando conta de que não estava em casa, ouvi alguns passos virem até onde eu estava lentamente e direcionei meu olhar para porta, Paola adentrou o ambiente com algumas sacolas em suas mãos e sorriu em minha direção quando entrou no quarto. Um pouco mais aliviada por lembrar onde estava, deitei-me novamente na cama dessa vez notando que a TV estava desligada.
— Achei que ainda estava dormindo. – Caminhou até sua cama, colocando as sacolas que segurava em cima do recamier.
— Acabei de acordar na verdade. Onde estava? – Perguntei ainda meio sonolenta. Ela olhou para mim ainda com um sorriso no rosto, agora vindo em direção a minha cama.
— Fui em um shopping aqui perto do hotel comprar um cartão de memória e um carregador novo para minha câmera, o outro acabou quebrando. – Tirou os sapatos ficando apenas de meia e jogou-se na cama, abraçando um travesseiro. O quarto ficou silencioso por uns minutos, até que ela o quebrou de repente. – Nossa, já é quase meio dia. – Ela comentou. Arregalei os olhos olhando em sua direção, a loira levantou o olhar de seu relógio e olhou para mim.
— Mas já? Eu dormi por tanto tempo assim? Preciso tomar um banho. – Levantei rapidamente da cama indo até minha mala. – Você espera eu terminar ou prefere esperar por mim no restaurante do hotel? – Perguntei pegando meus produtos de higiene dentro da mala, olhando para Jones em seguida.
— Vou esperar, ainda temos uma hora até o horário do almoço. Enquanto toma banho vou colocando nossas coisas no lugar antes de descermos com elas para fazermos o check-out na recepção. – Falou levantando-se da cama, concordei brevemente e segui para o banheiro, fechando a porta atrás de mim. Coloquei os produtos de higiene sobre a pia, tirei o moletom e a roupa íntima colocando-as dobradas sobre a bancada ao lado da pia, onde haviam dois roupões pendurados ao lado, prendi meu cabelo e segui em direção ao chuveiro.
Entrei debaixo d'água sorrindo satisfeita ao sentir a água morna cair sobre minha pele quando liguei o chuveiro, nada comparado ao frio que fazia fora dessas paredes, pensei, em seguida peguei o sabonete líquido com aroma de cereja derramando um pouco sobre a esponja de banho passando-a pelo meu corpo em movimentos circulares. Me enxaguei tirando toda a espuma do corpo e desliguei o chuveiro, peguei o roupão ao lado da bancada e o vesti, peguei minhas roupas, os produtos de higiene e sai do banheiro, caminhei até minha mala vendo Paola pegar seu notebook na poltrona onde estava mais cedo o colocando dentro de sua bolsa, peguei um conjunto e novas peças íntimas de dentro da mala, colocando os produtos de higiene e o moletom dentro dela, fechei a mala novamente e voltei para o banheiro. Alguns segundos depois sai de lá vestindo uma calça de alfaiataria bege e blusa de malha branca, passei meu perfume Red Pearl da marca Paris Bleu seguindo em direção onde meu celular, guardando-o dentro da bolsa que deixei sobre o recamier ao lado do meu sobretudo preto, calcei um par de calçados casual preto e segui até a penteadeira, soltando meu cabelo.
— Pronto, terminei. – Paola disse, posicionando as quatro malas próximo a porta. – Está tudo pronto, agora podemos ir. – A loira disse colocando sua bolsa sobre o ombro.
— Só preciso pegar minha bolsa. – Falei terminando de pentear meus cabelos. Coloquei a escova dentro da mala e fui até a cama, pegando minha bolsa e o sobretudo. Caminhamos juntas para fora do apartamento seguindo em direção ao elevador.
Chegando no restaurante, fomos recebidas por um recepcionista muito simpático que nos guiou até a mesa disponível próxima a enorme janela de vidro, coloquei meu sobretudo e bolsa na cadeira ao lado e Paola colocou a sua sobre a outra e nos sentamos. William, recepcionista do restaurante estendeu o MENU que estava em suas mãos para nós duas e chamou um dos garçons que veio rapidamente até nós, o recepcionista se retirou nós desejando uma ótima refeição e então o garçom se pronunciou.
— O que gostariam de pedir, senhoritas? – Perguntou o rapaz educadamente com seu tablet em mãos pronto para anotar nossos pedidos.
Paola e eu olhávamos com cuidado para o cardápio, analisamos todas as opções de pratos, bebidas e sobremesas disponíveis.
— Vou querer o Panzoti, Tagliatelle al Ragù, uma French Connection de bebida e de sobremesa o Sticky Toffee Pudding, por favor! – Enquanto eu falava, o garçom anotou os pedidos em seu tablet. Em seguida ele virou para minha amiga, que ainda mantinha os olhos no menu.
— E você, senhorita? – Perguntou gentilmente.
— Hm.. Vou querer o Ravioloni, Boeuf Bourguignon e também uma French Connection e o Sticky Toffee Pudding, obrigada! – Sorriu para o rapaz que terminava de anotar seu pedido. Ele retribui o sorriso.
— Já volto com os seus pedidos, com licença! – William disse pegando os cardápios sobre a mesa e se afastou.
Pouco tempo depois, William, o garçom, aproximou-se de nossa mesa empurrando um carrinho com nossos pedidos colocando-os sobre a mesa, ele nos desejou uma ótima refeição e logo se retirou, levando o carrinho de volta consigo, Paola e eu começamos a comer em silêncio, dando algumas olhadas à nossa volta e sorrindo uma para outra de vez em quando. Ao acabarmos nossa refeição Jones acenou discretamente para o garçom pedindo a conta, tomamos mais um gole de French Connection conversando sobre alguns assuntos aleatórios enquanto esperávamos o rapaz vir em nossa direção, após dividirmos a conta, pegamos nossas coisas e seguimos em direção a saída.
Horas mais tarde, a alguns minutos para às quatro da tarde, Paola e eu mais uma vez checamos nossas coisas e se não havíamos esquecido nada pelo quarto, ao constar que não, ela e eu pegamos nossas malas e bolsas e seguimos rapidamente em direção a saída do quarto. Entramos no elevador e em alguns segundos estávamos na recepção do hotel. O local era amplo e espaçoso, iluminado com cinco lustres que ficavam acima do balcão, que além de iluminar o ambiente, o decoravam, as cores do local variavam do cinza chumbo em suas paredes e o branco em seu teto, na parte de trás do balcão em mármore de Nero Marquina, decorado pelos enfeites natalinos, ficava o nome do hotel escrito em letras grandes e douradas. Me aproximei do balcão junto de Paola e uma moça muito simpática e sorridente nos recepcionou.
Ao finalizarmos o check-out do hotel seguimos nosso caminho em direção ao lobby, localizado entre a portaria e a recepção, que contava com um design de Interior impecável. Jones e eu caminhamos com nossas malas até o pequeno sofá próximo a uma enorme janela de vidro onde uma linda e enorme árvore de Natal estava, olhei ao nosso redor quando nos sentamos notando que por ali haviam algumas pessoas, entrando e saindo do lugar.
Enquanto conversava com Paola senti o celular vibrar dentro de meu bolso, anunciando uma nova ligação. Atendendo imediatamente quando vi o nome de Tom brilhar no visor.
— Thomas! A que devo a honra dessa ligação tão inesperada? – Brinquei, ouvindo sua risada do outro lado da linha.
— Falando desse jeito parece até que não nos vimos hoje mais cedo, Ems. – Gargalhei com sua resposta, ele continuou. – Acabei de chegar no hotel, em que parte do lobby vocês estão agora? – Perguntou.
— Pá e eu estamos próximas no sofá ao lado de uma árvore de Natal enorme. – Expliquei olhando para Paola, que me encarou com um sorriso nos lábios.
— Oh! Achei vocês. – Exclamou ele do outro lado da linha. Paola e eu olhamos ao redor tentando encontrá-lo.
O avistei do outro lado do salão com o celular sobre seu ouvido acenando em nossa direção, acenamos de volta e ele desligou a chamada. Tom guardou o aparelho no bolso de sua calça e caminhou em nossa direção.
— O que duas garotas lindas como vocês fazem sozinhas nesse imenso salão? – O loiro disse, sua voz havia soado grave e sedutora. Paola e eu levantamos do sofá quando ele se aproximou de nós duas com um sorriso nos lábios.
— Olha só, não é que você veio mesmo! Achei que acabaria esquecendo como da última vez. – Brincou Paola envolvendo o amigo em um abraço.
— E você voltou ainda mais engraçadinha do que antes, não é Jones? – O garoto disse saindo do abraço da loira, ela o encarou sorrindo de lado.
— Para, você sabe que é meu loiro preferido, não sabe? – A loira arqueou uma sobrancelha, sorrindo para o amigo.
— Você sabe que se o Joshua ouvir isso, ele me mata, certo? – Retrucou em brincadeira, a loira riu erguendo os braços em sinal de rendição. Bennett riu e virou-se em minha direção,
dando-me um abraço rápido.
— Meu carro está no estacionamento aqui em frente, podemos ir? – Desfizemos o abraço, ele me encarou e concordei com a cabeça. Thomas pegou as duas malas em sua frente e seguiu em direção a portaria.
Paola e eu pegamos as outras duas e o acompanhamos para fora do hotel. Caminhamos até o estacionamento chegando até o Maserati Quattroporte, um sedan branco de quatro portas super esportivo da Maserati, veículo desenvolvido em parceria com a Ferrari, ou o seu "bebê" como ele sempre se referia. Bennett tirou as chaves do veículo do bolso de sua calça desativando o alarme e abriu o porta malas, super espaçoso, colocando-as ali, fechando o portão-malas em seguida. O loiro abriu a porta traseira esquerda do carro para mim, fechando-a em seguida quando entrei no veículo, ele fez o mesmo com Paola que estava no banco do passageiro, me acomodei no banco traseiro atrás do motorista, colocando minha bolsa e sobretudo ao meu meu lado e Tom retornou para o lado esquerdo sentando-se atrás do volante, colocamos o cinto de segurança e ele deu partida no veículo, saindo do estacionamento do Park Grand Hotel Heathrow e em cerca de 41 minutos estaríamos em casa. Durante todo o trajeto do hotel até minha casa Thomas, Paola e eu três conversávamos, ríamos e cantávamos algumas músicas que a loira havia conectado de seu celular para o som do carro, foi realmente divertido.
Antes que chegássemos em minha casa, pedi para Thomas dar uma passada rápida no Flowers Inc, uma floricultura que eu amava e que ficava sete minutos de onde moro, a loja era repleta de todos os tipos de flores e rosas, além de ursinhos de pelúcia. Por ser significativo pra mim, decidi comprar um arranjo com 25 girassóis, Paola, que veio comigo até a floricultura enquanto Tom aguardava no carro, aproveitou para comprar um jarro com orquídeas brancas e um arranjo de Astromélias, ao finalizarmos o pagamento Jones e eu voltamos para o carro novamente colocando cuidadosamente as flores no banco de trás, Bennett deu partida no veículo mais uma vez e seguimos para minha casa. O lugar onde cresci ficava cada vez próximo conforme o carro ia se aproximando da Mansão Bellini, ao olhar pela janela pude avistar sua fachada branca com linhas curvas em tons de bege, que estava tomada por luzes natalinas, dei um enorme sorriso quando segurança abriu o enorme portão permitindo a nossa entrada ao nos aproximamos. Thomas seguiu caminho pelo jardim chegando no estacionamento e rapidamente estávamos em frente a casa, descemos juntos do carro e o loiro ajudou nos ajudou a pegarmos as flores e bolsas no banco de trás e seguimos o caminho juntos em direção a porta de entrada. Parei em frente a porta de madeira branca que, assim como nas janelas, também contavam uma decoração natalina, segurei o arranjo de girassóis com meu braço direito, ajeitei minha bolsa em meu ombro e toquei a campainha com minha mão esquerda e virei para meus amigos logo atrás, a loira segurava o jarro de orquídeas enquanto o loiro segurava o arranjo de astromélias para ela, sorri para os dois ansiosa e voltei meu olhar para porta novamente. Esperamos por alguns segundos até que finalmente ela foi aberta.


Capítulo 5

Dei um enorme sorriso quando a porta se abriu em minha frente revelando uma senhora de cabelos grisalhos preso em um coque no alto de sua cabeça que olhava para mim com os olhos arregalados.
— Surpresa! – Falei sorrindo abertamente, a senhora me abraçou forte.
— Minha querida, o que você.. O que faz aqui? – Perguntou ao desfazermos o abraço.
— Como é bom vê-la novamente. – Ela me olhou com os olhos marejados, me abraçando novamente. – Estava morrendo de saudades.
— Queria fazer uma surpresa. – Falei com minha voz embargada limpando a lágrima solitária que escorria em seu rosto. Desfizemos o abraço mais uma vez, ela levou a mão à minha bochecha acariciando-a. Sorri em sua direção.
Olivia era nossa governanta, ela trabalhava para minha família a anos e quando meus pais casaram e passaram a viver juntos nesta mansão, minha mãe pediu para que Olivia viesse com ela. Olivia, depois dos meus pais, sempre cuidou do meu irmão e de mim quando éramos crianças e sempre podíamos contar com ela. Ela era sem sombras de dúvidas a pessoa mais doce e gentil que poderia existir. Éramos realmente sortudos por tê-la em nossas vidas.
— Meus pais e meu irmão estão em casa? – Perguntei. Ela assentiu confirmando.
— Estão na sala de estar. – Sorri com sua resposta, sussurrando um "perfeito".
— Pequena Jones, é você? – A senhora levou seu olhar atrás de mim, acompanhei seu olhar. A governanta caminhou para onde minha amiga estava, abraçando-a. – Como está crescida, está cada vez mais linda! – Paola sorriu saindo de seu abraço.
— O que posso dizer não é, Olivia? Morar na França está me fazendo muito bem! – A loira falou jogando seus cabelos para trás.
— Não liga não Olivia, Pá está mais convencida do antes. – Falei, ela mostrou a língua em minha direção, a senhora deu risada.
— Fico feliz em vê-la novamente, minha querida. – A senhora sorriu, erguendo sua mão para alcançar a de Paola que retribuiu o sorriso. Thomas que observava tudo em silêncio e um sorriso nos lábios pigarrou, chamando atenção para si.
— Eu também não ganho um abraço, Olivia? Você não gosta mais de mim? – Tom exclamou cruzando os braços, fazendo bico em seus lábios. A governanta riu, caminhando até o loiro.
— Sempre tão ciumento. É claro que você também ganha um abraço. – Ela disse envolvendo-o em um abraço aconchegante, o garoto retribuiu o gesto, dando uma gargalhada gostosa. – Agora vamos entrar! Está frio aqui fora, não quero que peguem um resfriado. – Eles desfizeram o abraço e então caminhamos juntos para dentro de casa. Ao passarmos pela enorme porta de entrada pude notar que o lugar, além da bela e aconchegante decoração natalina, o ambiente estava diferente desde a última vez em que estive. O Hall de entrada agora contava com tons de um bege claro em suas paredes e um enorme lustre de cristal no centro do teto de gesso incrivelmente branco que iluminava todo o ambiente, já o porcelanato polido do chão seguia até os degraus da escada de corrimão dourado que estavam cobertos por um tapete em um marrom claro. A governanta fechou a porta atrás de nós pedindo para que nós a seguíssemos até a sala de estar onde meus pais e meu irmão estariam.
Seguimos para o caminho à direita da escada onde ficavam a sala de estar, o escritório, a biblioteca, a sala de jantar principal e um corredor que dava para garagem. Paramos em frente a sala de estar e pude ouvir as vozes familiares vindo do ambiente, pedi para que Olivia e meus amigos manterem-se em silêncio e entrei no cômodo nas pontas dos pés, evitando qualquer barulho. Sem que minha família percebesse eu me posicionei atrás do sofá onde eles estavam e ergui os girassóis a minha frente, escondendo a parte do meu busto para cima.
— Foi daqui que encomendaram flores? – Sorri abertamente quando abaixei o arranjo de girassóis da minha frente, pude ver suas feições totalmente surpresas ao olharem na minha direção.
— Emma, meu amor! – Minha mãe deu meia volta pelo sofá e correu até mim. Entreguei os girassóis para Olívia logo atrás de mim para que segurasse por uns instantes e então abri os braços quando minha mãe se aproximou de mim. Ela me abraçou o mais forte que conseguiu por alguns segundos e começou a chorar. Meu pai e meu irmão fizeram o mesmo caminho que ela e se aproximaram de nós duas.
— Querida o que faz aqui, por que não avisou que viria? – Exclamou meu pai. Sai do abraço de minha mãe que fungou baixinho e virei-me com os olhos cheios de lágrimas para ele, o abraçando fortemente.
— Queria que fosse surpresa. – Revelei ainda em seu abraço. – Paola e eu chegamos nesta madrugada. – Levei meu olhar até minha mãe que agora enxugava suas lágrimas com o lenço que Olivia tinha lhe oferecido.
— Por que não telefonaram? Poderíamos tê-las buscado no aeroporto! – Ele disse desfazendo nosso abraço e me encarou.
— Papai está certo! Você poderia ter ligado, sabia? – Vociferou o garoto de cabelos castanhos, incrédulo. – Pensei que estivessem na França. – Continuou, referindo-se a mim e à Paola. Me virei para ele com um pequeno sorriso nos lábios.
— Achou mesmo que eu perderia o 25⁰ aniversário do meu irmão mais velho preferido?
— Disse erguendo minhas sobrancelhas e ele riu balançando a cabeça em negação.
— Você não toma jeito, Emma. – Meu irmão riu nasalado abraçando-me fortemente, me erguendo do chão. – Senti sua falta pequena! – Sussurrou em meu ouvido.
— Eu também senti sua falta, Boo! – Confessei saindo dos braços de Louis sorrindo para ele.
— Paola, que bom vê-la novamente! – Meu pai falou abraçando a loira que afastou o jarro de orquídeas que segurava para retribuir o abraço do homem.
— É bom vê-lo também Tio Joseph! – Comentou a garota saindo de seu abraço.
— Como você está? – Perguntou ele.
— Estou ótima e o senhor como tem passado? – Sorriu docemente.
— Bom, apesar do pseudo-infarto que aquela senhorita nos causou.. – Apontou para mim. – Estou bem. – O homem de cabelos escuros perfeitamente penteados respondeu, ri com sua resposta limpando as lágrimas de meus olhos.
— Tio Joseph é tão forte quanto um touro Pá, está sempre pronto para tudo e qualquer coisa se quer saber. – Tom disse e nós rimos, incluído meu pai.
— Eu trouxe isto para você Tia Giorgia, espero que goste. – Paola caminhou até minha mãe entregando-lhe o jarro com orquídeas brancas. A mulher de cabelos castanhos escuros sorriu em agradecimento.
— Oh querida, não precisava se incomodar. – Abraçou a garota que sorriu. – São lindas, obrigada!
— Não se preocupe, não foi incômodo algum! – Afirmou a loira, sorrindo para mulher. – E esta aqui é para o futuro aniversariante. – Pegou o arranjo de astromélias que Bennett segurava e posicionou-se em frente ao meu irmão, entregando-lhe o arranjo. Louis sorriu para ela. A verdade era que as astromélias simbolizavam a amizade e o forte vínculo que poderia existir entre duas pessoas. Embora os dois não tivessem nada um com o outro, eu podia sentir que logo algo entre eles poderia surgir. Afinal, eles tinham uma ligação inexplicável.
Olhei ao redor e notei Thomas rindo de algo que meu pai e minha mãe, agora sorridente, tinham lhe dito, sorri observando a cena e virei-me para meu irmão.
— Pra você! – Estendi os 25 girassóis para ele. Louis sorriu abertamente e me deu outro abraço, um ainda mais forte.
Louis Eliot Howey Bellini era o ser humano mais doce, alegre, divertido e amoroso que alguém poderia conhecer e ter o privilégio de ter em sua vida. Ele era protetor com todos que amava e sempre espalhava boas energias onde estivesse, e assim como o girassol, meu irmão nasceu para seguir a direção do sol e poder espalhar a mais bela energia ao redor do mundo. Por isso, como forma de presente e amor, os girassóis tinham um significado. Louis era nosso girassol, o meu girassol.




Continua...



Nota da autora: Sem nota.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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