Última atualização: 29/06/2019

Capítulo 1

Nice to meet you, where you been?
I could show you incredible things,
Magic, madness, heaven, sin.
Blank Space; Taylor Swift.


Impacientemente, olhei a tela do meu celular e dei um grande suspiro após constatar o que já imaginava: o fotógrafo já se encontrava 50 minutos atrasado para o início de nossa sessão de fotos. Quando seu atraso havia chegado à marca dos 20 minutos, Sky, minha publicista, recebeu uma ligação do dito cujo avisando que o mesmo estava preso em um engarrafamento e que chegaria atrasado.
Minha impaciência apenas crescia a cada momento. Se havia uma coisa que eu me orgulhava profissionalmente, era a minha pontualidade. Em todos os meus anos como modelo, poucas foram as vezes em que eu havia chegado atrasada em compromissos. E aqui estava eu, esperando há quase uma hora por um fotógrafo que, diga-se de passagem, não era importante. Quem diabos se atrasava para compromissos importantes quando se era desconhecido?
Aparentemente, a personificação de um príncipe.
Ou ao menos, era o que eu estava escutando desde que cheguei ao estúdio: estilista, maquiadora, cabelereiro... todos eram unânimes em comentar o quão perfeito o tal fulano era. Bonito ou não, deveria ter um pouco mais de bom senso. Tentando não deixar a irritação tomar ainda mais conta de mim, peguei meu celular, que se encontrava na bancada atrás de onde estava, e abri a caixa de mensagens.
“Tem certeza que não vai conseguir sair até às 5?”
Dizia a mensagem de .
“Não, o fotógrafo está uma hora atrasado. Dificilmente conseguirei sair antes das 6. Desculpe.”
Poucos minutos depois, uma resposta chegou.
“Uma pena. Estava fazendo os seus preferidos”, havia escrito, enviando junto uma foto de uma mistura que logo reconheci: seus famosos cookies de chocolate.
“Isso é pura maldade, !” escrevi, acompanhado de vários emojis de tristeza e raiva.
“Desculpe. Era para ser uma surpresa, mas já que você não vem...
Não esquece de avisar a
“UGH”
Foi a única coisa que respondi a e aproveitei para fazer o que ela havia dito, avisei ? que nossa pequena reunião à tarde estava cancelada.
“Não poderei jantar com você e hoje. Irei demorar aqui, o fotógrafo ainda não chegou.”
Enviei a mensagem e voltei a colocar meu celular na bancada, meu plano de não me aborrecer havia ido por água abaixo. Finalmente teria a oportunidade de me reencontrar com minhas melhores amigas depois de tanto tempo sem vê-las, mas graças ao atraso do fotógrafo, isso não aconteceria.
Sem ter muito o que fazer, olhei ao meu redor, prestando atenção na equipe daquela sessão. Eu havia sido apresentada a todos assim que cheguei, mas acabei esquecendo alguns nomes. Eu era péssima com nomes, uma coisa não muito boa quando quem você conhece é algo tão vital para sua profissão.
No total, éramos nove pessoas no estúdio: eu, minha publicista e fiel escudeira, Sky, um cabelereiro, uma maquiadora, uma estilista, um diretor de arte, o assistente do fotógrafo e dois assistentes gerais. Sky, que estava sentada ao meu lado esquerdo, parecia tão entediada quanto eu.
- Quem é ele mesmo? – Perguntei
- Ele? – Sky respondeu confusa, desviando os olhos do seu celular e se concentrando em mim.
- O fotógrafo...
- Ah... – Sky pareceu revirar o fundo da cabeça por um tempo. - O nome dele é , ele tem 25 anos e é o novo queridinho da Anna Wintour, ou seja, se tornou a grande nova descoberta do mundo da moda.
- Você esqueceu a parte mais importante, Sky! – Felix, o cabeleireiro sentado à minha direita, disse, se intrometendo na conversa. – Ele é simplesmente di-vi-no!
- Ahhhh, o que eu não faria para entrelaçar meus dedos naquele cabelo.... – Foi a vez da maquiadora de feições engraçadas comentar. Ela possuía o rosto redondo, com bochechas proeminentes que escondiam ainda mais seus já estreitos olhos verdes, contudo, o que realmente chamava a atenção nela, eram seus cabelos ruivos. De um tom laranja vívido e indomáveis, eles me lembravam de uma personagem de animação.
- Eu deixaria ele ser pai dos meus filhos! – Felix respondeu, se empolgando até um pouco demais com a conversa, seus olhos negros, assim como seus cabelos, possuíam um tom brilhante, divertido. - Aqueles genes seriam mais do que bem vindos com os meus.
Não pude deixar de rir daquela frase, o que acabou chamando a atenção de todos para mim, que notaram a visível incredulidade em minha voz.
- Você não acredita, ? Espere e veja. Se eu tivesse suas pernas... me jogaria para cima dele em um piscar de olhos! – A maquiadora comentou.
Eu sabia que já havia trabalhado com ela em outra ocasião, seus cabelos ruivos entregavam, mas eu simplesmente não conseguia lembrar seu nome, seria Joanne?
- Oh por favor, Jennifer – Jennifer! Então esse era o nome dela - se você tivesse as pernas da , se jogaria para metade da indústria da moda! – Sky brincou.
Jennifer levou as mãos a boca fingindo indignação.
- Claro que não! Aí eu me...
Antes que Jennifer pudesse continuar sua frase, a porta principal do estúdio foi abruptamente aberta, fazendo com que todos os presentes virassem suas cabeças naquela direção. O estranho que abrira a porta se tornou o centro das atenções e, ao perceber isso, seu rosto ganhou três tons a mais de vermelho, com ele rapidamente abaixando a cabeça a fim de evitar os olhares curiosos.
Velozmente, todos pararam o que estavam fazendo e se colocaram ao meu redor, enquanto o desconhecido caminhava em nossa direção com uma cara de quem foi pego fazendo algo proibido pelos pais. Meio fofo, devo admitir.
- Desculpem-me, de verdade. – ele disse ao se aproximar, coçando a nuca. – não sei o que tinha na cabeça ao marcar uma sessão de fotos tão perto da hora do rush, acabei preso em um congestionamento horrível. Como modo de me desculpar por fazê-los esperar por tanto tempo, me disponho a pagar uma rodada de bebidas para todos que quiserem, assim que a sessão terminar.
É, realmente era lindo.
- Para quem não me conhece. – ele continuou - meu nome é e serei o fotógrafo de hoje. Sem perder mais tempo ainda, vamos iniciar logo esse trabalho e quando menos percebemos, todos estaremos enchendo a cara – finalizou, dando uma piscadela que eu tenho certeza que engravidou a todos naquele cômodo.
Inclusive a mim.
Prontamente, todos correram para suas respectivas funções, deixando apenas Felix e Sky ao meu redor. , agora parado à minha frente, possuía um sorriso de desculpas tão lindo que me desafiava a pular em sua boca.
- Me desculpe pela minha falta de profissionalismo, . Não sou de chegar atrasado em compromissos e muito menos de deixar pessoas esperando durante tanto tempo, ainda mais alguém como você! – Ele estendeu sua mão em minha direção. – , grande admirador.
- Pode me chamar de . – disse dando um meio sorriso e apertando sua mão.
- Me desculpe de verdade, moro há anos em Nova York, mas de vez em quando, ainda ajo como um turista. – ele disse, soltando uma risada.
E após aquela risada, eu pude apenas confirmar que nem Felix, nem Jennifer, estavam exagerando mais cedo.
- Tudo bem, chega de desculpas. O mundo não vai acabar, todos já passamos por isso alguma vez. - respondi, como se há alguns minutos eu não estivesse pronta para matá-lo.
- Certo. Calloway, White. – ele agora havia se virado na direção de Sky e Felix. – Desculpe mais uma vez. Prometo parar de atrapalhar e deixá-los fazerem seu trabalho. – ele disse, dando um passo para trás.
- Sem problemas, . Só preciso que você tire algumas fotos behind the scenes da e as me envie. Estou planejando um projeto e precisarei delas. – Sky respondeu.
- Tudo certo por mim. Mas me chamem de , por favor. Isso vale para todos. Agora preciso ir conversar com o senhor Hersley, licença. – disse apressado, indo em direção ao diretor de arte.
Ao meu redor, a estilista e Felix haviam engajado em uma discussão calorosa sobre o meu cabelo, e na falta do que fazer, me permiti analisar . Ele usava uma camisa de mangas compridas azul escura, que graciosamente marcava seu torso e contrastava com sua pele. As mangas, enroladas até o cotovelo, deixavam seus braços com grossas veias à mostra. Ele ainda usava uma calça jeans e botas marrons. E só agora, com seu rosto não sendo meu foco principal, é que percebi o quão alto ele era, que deveria medir com certeza pelo menos 1,90m. Inevitavelmente, minha atenção acabou voltando para seu rosto, era dono de perigosos olhos castanhos, que mais pareciam um convite ao céu. Ou ao inferno, dependendo de suas intenções.
Enquanto eu lhe analisava, ou melhor, secava, levantou a cabeça e seus olhos foram de encontro aos meus, e em uma atitude nem um pouco comum de , abaixei meus olhos rapidamente e fingi mexer algo em meu celular. Depois de alguns minutos que considerei seguros, levantei a cabeça, e para minha surpresa, continuava a olhar discretamente em minha direção. Quando ele percebeu que eu voltara a lhe observar, o mesmo piscou e lançou um discreto sorriso em minha direção, fato que dificilmente seria percebido por alguém que não o estivesse observando tão atentamente como eu. Como resposta, apenas mordi o lábio inferior e dei meu melhor sorriso destruidor de corações.
Passado um tempo, todas as pessoas presentes na sala se encontravam ao meu redor novamente, mas desta vez, todos se concentravam no homem de cabelos brancos e estatura mediana que repassava o conceito da campanha. “O futuro é metálico”, dizia Joseph Hersley, o diretor de arte daquela sessão. Joseph estava na casa dos 50 e seu proeminente nariz era que o mais chamava atenção em seu rosto, que agora possuía todas as extremidades vermelhas. Vermelhas até demais, talvez ele estivesse doente. Por fim, acabou decidido que eu modelaria três looks diferentes, todos recheados de tons metálicos, em alusão ao conceito da campanha.
Assim que Felix e Jennifer terminaram meu cabelo e maquiagem e me deixaram sozinha, olhei confusa ao meu redor procurando o hack de roupas, e só então percebi que eu não teria o mínimo de privacidade para trocar de roupas.
- Olá, senhorita - – a voz da assistente, Sophia chamou minha atenção enquanto eu ainda girava minha cabeça confusa, procurando minhas roupas. Ela estava parada ao meu lado direito, e em seus braços, estavam as roupas. – se você puder me acompanhar, lhe levarei para a sala onde você poderá realizar suas trocas de roupas. - Ela completou, em um tom sério, que não combinava nada com sua aparência jovial e divertida.
Me levantei e ao ficar de pés ao seu lado, percebi o quão baixinha ela era. Não que isso fosse algum tipo de novidade, eu geralmente era maior do que a maioria das mulheres, mas Sophia era muito baixa, muito mesmo. Me perguntei se ela teria mais de 1,60. Segui Sophia e me senti grata pela presença da sala, algo que não era comum em ensaios fotográficos. Assim que adentramos o cômodo, avistei em um canto o hack que procurara há pouco minutos.
- Essa será sua primeira roupa. – Sophia disse, estendendo as roupas que estavam em seu braço no sofá cinza ao lado da porta.
- Certo. - respondi enquanto analisava as roupas que se encontravam no hack no fundo da sala.
- Senhorita . – ela começou novamente.
- Pode me chamar de ! – a interrompi.
- , - ela começou e soltou um pequeno um riso, pude ver que sua expressão havia amolecido e seus olhos azuis, quase que cobertos pela franja que usava, aqueceram-se. – você tem alguma playlist ou álbum, ou música específica que queira ouvir durante o ensaio? – ela perguntou, bem mais calorosa e perdendo o tom formal e frio que usara há poucos minutos.
- How to Pimp a Butterfly, do Kendrick Lamar, se possível. – respondi.
Ela agora tinha um largo sorriso no rosto:
- Ótima escolha! Irei informá-la, com licença. – Sophia disse ao se retirar.
Era notória a diferença entre personalidades da Sophia que primeiro se apresentou à mim, e a que acabara de deixar o quarto. Me perguntei se aquela cautela inicial era resultado de uma experiência ruim com algum modelo ou famoso. As chances eram grandes. Suspirei enquanto seguia em direção as roupas no sofá e senti compaixão por ela, pessoas famosas poderiam ser repugnantes. Tirei minha roupa e pensei na minha própria postura naquele dia, eu não me considerava ser uma pessoa cheia de exigências, de difícil convivência profissionalmente, apesar do pequeno ataque em relação à pontualidade que tive mais cedo. Para ser sincera, pontualidade era uma das poucas coisas que me tiravam do sério. Enquanto terminava de colocar a lingerie designada, alguém abriu a porta, e pela falta de anúncio, deveria ser Sky.
- OMG, você não vai adivinhar o que... – ela começou animada, mas parou assim que viu a saia que eu começava a colocar, trocando sua fala por uma gargalhada.
A sala era feita de plástico, transparente, deixando totalmente à mostra a calcinha que usava, e que ao entrar em contato com minha pele, uma coceira sem precedentes tomou conta de mim.
- Que porra é essa? – Sky disse.
- Quisera eu saber. – respondi, torcendo o nariz - mas essa merda coça pra caralho.
Alisei a saia e desisti de tentar entendê-la, pegando a blusa prata que compunha o final do look.
- Fashion. – Sky disse como um decreto. – De qualquer jeito, você precisava ver a cara que o Hernsley fez quando “Every nigger is a star, ay, every nigger is a star” começou a soar pelo auto falante da caixa de som. Ele parecia que iria morrer.
Precisei rir.
- Parecia que iria morrer porque ficou constrangido ou pensa que rap é um ritmo que merece ficar confinado ao gueto?
- Constrangido, eu achei que seria impossível, mas sua cara ficou ainda mais vermelha e ele pediu perplexo para que interrompessem a música, até Sophia intervir e dizer que foi sua escolha.
Dei uma risada enquanto terminava de calçar as botas, também transparentes, que finalizavam a primeira composição.
- Céus, como essas botas são horríveis! – Ela reclamava – Mas devo admitir que usaria a blusa para alguma boate.
Olhei para a blusa e concordei, deixando a sala com Sky para o que seria o primeiro take.
No entanto, o que parecia que seria um trabalho simples, acabou tornando-se algo muito mais complicado. Acontece que, ter que ficar horas olhando para o rosto de , ainda que quase todo coberto pela câmera, mostrou-se uma grande distração, requerendo que eu usasse o máximo de minha concentração para ficar focada em realizar o meu trabalho, e não em deixar meus olhos percorressem o corpo de .
Assim que a primeira parte da sessão foi concluída, eu praticamente arrastei Sky o mais rápido que consegui sem chamar a atenção dos outros para a sala de trocas. Mal entrei e corri desesperadamente para onde se encontrava um cooler, a procura de água.
- Por favor, por favor, por favor, me diz que você também está ficando louca com aquele homem. – choraminguei enquanto abria a garrafa de água.
- Você está ovulando? – Sky perguntou séria.
- Ughhh. Eu não sei o que está acontecendo Sky, ele está roubando toda a minha concentração. - murmurei antes de tomar um longo gole de água.
Calma. Inspire. Expire. Beba água.
- Você está ovulando, isso que está acontecendo. – Sky continuou – Ele é bonito, , é muito simples o que está acontecendo. Não precisa ser um gênio para saber. – Ela finalizou calmamente.
- Mas eu sou acostumada a ficar com homens mais bonitos, em situações muito piores, e não fico desconcentrada desse jeito. – choraminguei de novo, minha voz subindo um tom, junto com um desespero aparentemente inexplicável crescendo em mim. Sky finalmente deu-se por vencida e soltou a gargalhada que estava prendendo.
– Parece que algo nele me chama. – continuei.
- Sim, feromônios.
- Para de brincar Sky! A situação é séria.
- Tudo bem, tudo bem. – Ela disse levantando as mãos - Você só está assim porque ficou desdenhando ele antes, e agora que viu que ele realmente é lindo, seu ego quer voltar a ignorar ele para provar que você está no controle da situação, como sempre. Mas sua atração por ele não permite. Isto está te deixando com os nervos à flor da pele, que só intensifica seu desejo por ele. – Sky concluiu sua fala dando de ombros, como se tivesse expressado a coisa mais simples do mundo, e não uma análise à la Freud.
- Uau. – respondi, impressionada, abrindo minha boca dramaticamente.
- E relaxa, se você não estivesse chorando aqui agora, eu não adivinharia que você está no cio. – Ela deu uma piscadela debochada.
Ignorei seu comentário sobre estar no cio.
- Então não dá para perceber o caminhão que estou arrastando para ele?
- Não, você está fazendo um bom trabalho com sua poker face. – ela disse, fazendo joinha com as mãos.
O toque indicando que mensagens haviam chegado chamou nossa atenção para o meu celular, fazendo com que ambas virássemos a cabeça em direção ao som. Segui para local em que minha bolsa se encontrava, e enquanto revirava a mesma à procura do celular, três frascos laranjas com conteúdo diferentes captaram minha atenção, trazendo de volta lembranças daquela manhã.
Oh!
Eu quase pude ouvir minha mente falar, enquanto me dava conta do que realmente estava acontecendo. Era por isso, que eu estava tão atraída por .
No final das contas, eu não estava tendo dificuldades em me concentrar, era a minha concentração exacerbada que estava no lugar errado. Cogitei tomar um xanax para cortar os efeitos da pílula que havia tomado anteriormente, mas eu não poderia prever os resultados daquela combinação, e com a presença perigosamente perto de Sky para aquilo, eu teria que me virar sozinha com minha bagunça.
Repetindo que era apenas um cara normal, segui de volta ao ensaio e fiz o meu melhor para ignorá-lo. Eu estava fazendo um trabalho muito bom, até o mesmo vir ajustar minha postura em uma determinada pose e assim tocar levemente a parte inferior das minhas costas que estavam descobertas.
Pronto. Um simples toque, em uma região sensível fez com que eu me tornasse a protagonista de Cinquenta Tons de Cinza, trazendo um novo toque de desespero e necessidade ao meu olhar. À essa altura, a única coisa que eu podia fazer era esperar que meu comportamento estivesse sendo interpretado como parte do ensaio, uma tentativa de trazer uma postura super sexy.
- Tudo bem galera, acabamos por aqui. – A voz grossa de Hersley interrompeu a todos. - Aproveitem um break de 30 minutos e depois retornamos para o look final.
Um dos assistentes me entregou o felpudo roupão branco e, enquanto o colocava, segui em direção ao canto direito da sala, onde agora havia uma mesa recheada de comida, peguei um donut e comecei a comê-lo, fingindo prestar atenção na conversa de Felix e Jennifer. O que eu realmente estava fazendo, era tentando evitar Sky, que se encontrava em uma ligação no canto oposto da sala, lançando olhares furiosos sobre mim ocasionalmente.
- Você precisa de algo? – uma voz fraca soou atrás de mim. Virei me e dei de cara com um dos assistentes, que parecia ser tão novo que só poderia ser um estagiário, me observando. Ele mantinha sua cabeça baixa, evitando qualquer tipo de contato visual direto, e pelo seu crachá, pude ler que seu nome era John.
- Não, John. Obrigada.
Ao ouvir seu nome, seus olhos assustados correram para os meus, e ágil como uma legue, ele colocou-se de costas para mim, pronto para ir embora, porém, antes que ele pudesse ir, toquei seu braço, impedindo-o. Assim que o toquei, ele puxou seu braço, afastando-se do local, surpreso com o toque inesperado. Alguns segundos depois, ele já se encontrava de frente para mim novamente.
- Na verdade, – comecei - tem algo com que você pode me ajudar. Tem algum lugar aqui perto que eu possa fumar?
- Só.. só.. só... no lado de fora. – John gaguejou – Mas essa hora não há sombra, então você teria que ficar no sol. Na sala de trocas há uma janela! – ele acrescentou rapidamente.
- Obrigada John! Deixarei você ir de verdade agora. – Disse com um sorriso.
John virou-se ainda meio atordoado e precisei conter uma risada. Já estava mais do que acostumada a intimidar caras, mas era sempre engraçado quando isso acontecia com um introvertido. Ainda podia sentir o olhar de Sky em mim, que agora conversava com Hersley do outro lado da sala, vi aquilo como uma deixa e segui para a sala de troca com rápidas passadas. Poucos segundos depois de dar minha primeira tragada na janela, ouvi a porta atrás de mim ser aberta.
- Eu sei que eu disse que você estava fazendo um bom trabalho em disfarçar, mas isso era um “Isso mesmo, , continue assim” e não para você colocar sua cara de “Olá, por favor me coma”. – a voz de Sky dizia.
Virei-me em direção à mesma e, como resposta, apenas continuei a fumar meu cigarro.
- É sério! Eu estava esperando o momento em que você iria pular no pobre coitado e eu teria que inventar uma desculpa do tipo “Ela está fora da sua medicação”. – ela falou, mexendo as mãos freneticamente, um claro sinal de que as coisas realmente não estavam boas.
- Eu não tenho culpa se ele é gostoso... – tentei argumentar, mesmo sabendo que seria inútil. - Sim, , isso todos nós já percebemos, todos temos os olhos aqui. Só estou te pedindo um pouco mais de controle...
- Sky! –disse rápido, cortando-a - O problema é que eu tomei um Aderall um pouco antes da sessão. – Confessei e preparei-me para a reação de Sky, que para minha surpresa, apenas suspirou.
- Eu desconfiei que você tivesse usado algo, ambas sabemos que esse comportamento frenético ansioso não é você. Eu só esperava mais de você, , ambas sabíamos que essa não seria uma sessão longa. – Ela dizia em um misto de indiferença e decepção.
- Eu estava muito cansada do jet leg. Pensei que não fosse conseguir me recuperar, você viu o caco que eu estava... – tentei me justificar.
- Ainda assim, você sabe que isso não é desculpa. Você precisa ter cuidado.
- Eu sei. – foi a única coisa que consegui falar, tragando meu cigarro novamente. Um silêncio desconfortável se instaurou entre nós. Depois de alguns minutos, tentei quebrar o clima com uma piada:
– Lembra que eu disse que algo nele estava me chamando? Eu já sei o que é. É o pau dele. O pau dele está me chamando.
“Posso entrar?” Ouvimos seguido de duas leves batidas na porta.
Risadas instantâneas partiram de ambas de nós, com aquele perfeito (ou péssimo) timing de . Eu havia acabado de falar que seu pau estava me chamando e o mesmo me soltava um “Posso entrar?” logo em seguida. Nem eu e nem Sky conseguíamos parar de rir daquela situação, incapaz de responder em meio a risadas, acabei indo até à porta e convidei para entrar, ainda entre risadas.
- Er, oi, eu queria saber se você quer algumas fotos da enquanto se prepara para a próximo take. – disse para Sky, levantando a câmera que estava em sua mão direita e balançando-a levemente. – mas se não for uma boa hora, eu posso voltar depois. – ele disse receoso, observando as risadas que soltávamos, apesar de nossas visíveis tentativas de contê-las.
- Não, não, essa é uma ótima ideia! – Sky disse, parecendo finalmente se recuperar de seu ataque de risos. Dei passagem para e olhei para Sky, que me lançava um olhar sugestivo, que dentre outras coisas, dizia que tudo estava bem de novo.
- Eu só vou terminar isso aqui e você pode começar. – falei, indicando o cigarro em minha mão direita.
- Acho que as fotos ficariam boas com eles, mais naturais. Se não tiver problema, é claro. – disse procurando novamente o aval de Sky, que apenas deu de ombros e soltou um “tudo bem”. Assim, em poucos segundos o barulho de fotos sendo tiradas havia retornado. Virei-me para a posição de onde me encontrava na janela inicialmente e evitei olhar na direção de e sua câmera. Não demorou muito para que o quarto se enchesse de pessoas tentando me ajudar a entrar no que seria o último, e mais trabalhoso, look da sessão.
Era um vestido com longas e pesadas camadas douradas, conotando um ar futurista que fazia com que eu não pudesse ver pessoas comuns o usando. Era o tipo de vestido feito para red carpets e produções artísticas. Acabou que, no final das contas, a nicotina teve um efeito positivo em meu corpo e acabei me acalmando, podendo retomar minha atenção para as fotos que eram tiradas, e não a quem as tirava.
Contudo, o peso do vestido transformava qualquer movimento em algo complicado, e combinado com o fim do efeito do Aderall que havia tomado mais cedo, eu estava enfrentando uma onda de cansaço não só físico, mas mental. Minha mente agora vagava entre milhares de temas aleatórios e não demorou muito para que meus pensamentos retornassem a , o formato de seus lábios, seus cabelos aparentavam estar cuidadosamente desarrumados, sua camisa que estava colada até demais...
E no que parecia ser a vigésima tentativa de um dia excepcionalmente longo, voltei a tentar ignorar sua presença. Para isso, me prendi em qualquer lugar que minha imaginação pudesse me levar. Passei a pensar no hino nacional e o cantei mentalmente em todos os sotaques que consegui: britânico, australiano, jamaicano, russo... O que se provou um sucesso, então resolvi a continuar a pensar em política. Meu próximo pensamento foi Donald Trump, tendo que reprimir para não assomar uma careta. Maldito cheetos, que queria dominar o mundo. Sem querer, acabei imaginando a cabeça de no corpo de um cheetos e uma estrondosa gargalhada acabou escapando de meus lábios.
- Me desculpem. – eu disse cobrindo os lábios em uma tentativa de conter meus risos. - Tudo bem, acho que já temos o suficiente. – disse cessando as fotos e virando-se para Hersley. – Você concorda?
- Sim, sim, temos até mais do que o suficiente. – respondeu Hersley.
- Irei me trocar então? – Perguntei. Ninguém pareceu se opor à ideia, então segui em direção à porta branca, sentindo Sky em meu encalço.
- O que foi aquilo? – Ela disparou assim que entramos no cômodo, referindo-se às gargalhadas que soltei do nada.
- Fiquei pensando em coisas que me distraíssem e acabei imaginando a cabeça de no corpo de um cheetos bem laranja.
- Alguém precisa estudar sua mente um dia, – ela disse, rindo levemente. – e estou falando sério.
Dei de ombros e me pus a reparar na maquiagem que estava usando no espelho que se encontrava a minha frente.
- Você acha que essa maquiagem está muito exagerada? – Perguntei a Sky, que levantou uma sobrancelha como se eu tivesse lhe perguntado se a água estava molhada. – Sem o batom, Sky.
Ela me analisou durante alguns segundos.
- Você vai ficar meio gótica com esse esfumado preto e suas roupas, mas não acho que alguém vá ligar.
Peguei um dos lenços demaquilantes que se encontravam na mesa ao meu lado e tirei o brilhante batom dourado de meus lábios, uma réplica exata do tom do vestido que usava, e com a ajuda de Sky, logo o vestido se encontrava fora de meu corpo, permitindo-me voltar a usar as roupas que eu havia chegado mais cedo: uma calça skinny e uma blusa de gola alta preta. Enquanto terminava de calçar minhas botas chelseas dessa vez marrons, falei:
- Você acha que devo tentar algo com o ? – Era uma pergunta mais para mim mesma do que para Sky, que ainda assim respondeu.
- Depois de hoje, eu ficaria ofendida se você não tentasse. Tanto drama para nada?
- E aí, você acha que consigo levar o para cama? – Perguntei, após me levantar em um pulo e fazer uma pose mais cômica do que digna de um modelo.
- Dada a sua experiência, você consegue até casar com ele se quiser. Com comunhão total de bens.
- Argh! Não me fale de casamentos, Sky. Só daqui a 10 anos. Ou se eu conseguir conquistar o Jake Gyllenhaal primeiro, claro. – dei uma piscadela.
- Você e seus problemas com compromissos... Você já foi atrás do psicólogo que eu disse? Isso definitivamente não é normal.
- De novo esse blá blá blá, Sky? Taylor Swift já disse que as melhores pessoas na vida são livres. Quem sou eu para ir contra o que Taylor Swift diz?
Ah, qual é! Eu sou linda, jovem e posso ter qualquer homem que quisesse, porque iria me preocupar com relacionamentos sérios?
Sky apenas revirou os olhos enquanto terminávamos de pegar nossos pertences, e após sairmos da sala, seguimos em direção ao resto da equipe, que conversava animosamente.
- Sky, , perfect timing! – Felix disparou entusiasmadamente quando nos viu indo em sua direção. – aqui estava acabando de nos contar onde iremos beber!
- Ah é? – Respondi, levantando apenas uma sobrancelha e tentando ser o mais misteriosa que conseguia.
- Bem, o que eu estava pensando era em levá-los à um bar que fica aqui a perto, mas ele tem uma pegada meio hipster... – disse meio receoso.
- Tendo tequila, para mim está perfeito. – Dei de ombros, olhando ao redor.
Todos pareceram concordar e assim seguimos rumo ao bar hipster de . Me despedi de quem não poderia ir e aproveitei para acender outro cigarro, enquanto esperávamos a chegada de nosso uber.
- Você sabe que não posso demorar né? – Sky disse ao meu lado, balancei a cabeça confirmando.
- Ótimo. Vamos repassar algumas coisas... - ela começou a dizer, mas o carro acabou chegando e seus planos foram interrompidos. Apaguei meu cigarro no chão e adentrei no carro junto com Sky.
- Primeiro, você precisa usar mais o Snapchat ou o Stories do Instagram, fica à sua escolha. E , isso não é uma recomendação, é um parecer. – ela retomou sua fala, contando cada item em seus dedos. - Segundo, seu voo é às 11h no domingo de MANHÃ, então não vá exagerar na bebida sábado. O que me leva à: nada de fotos de você ou ? acabadas em redes sociais. – dei um sorriso involuntário, ela me conhecia muito bem. - e por fim, não esqueça da reunião com o George na segunda de manhã.
- Tudo bem, mamãe. – concordei batendo continência – Acho que a bebê consegue ficar alguns dias sozinha.
- É sério, . – Sky disse em seu tom profissional. – Não me arrume confusões esse final de semana.
- Relaxa. – a assegurei. – Esse final de semana será leve. Só não posso prometer o mesmo para a questão da rede social.
Em poucos minutos, chegamos ao bar escolhido por , e, sem demora, pude entender perfeitamente sua colocação, aquele lugar gritava a palavra “HIPSTER”.
O bar era situado no que parecia ser um antigo galpão, as paredes eram de velhos tijolos sem acabamento vermelhos, que devido ao seu desgaste, estavam mais para um tom marrom. Uma pintura irregular branca coberta com manchas irregulares coloridas tomava conta das paredes em certos pontos, era difícil dizer se elas eram intencionais ou não. A iluminação era de um forte tom de azul, com mesas e cadeiras de acrílico colorido, completando a decoração alternativa do lugar, assim como seu público. O que acabou se tornando um alívio: as chances de alguém me reconhecer ali eram quase nulas. Pelo menos não naquele mar de pessoas que pareciam odiar qualquer coisa que fizesse o mais remoto do sucesso.
Nosso grupo, de agora cinco pessoas, compostos por mim, Jennifer, Felix, e Sky, ocupou uma mesa de acrílico vermelha, bem no meio do bar. Eu já estava pensando em como tirar dali, quando Felix propôs uma disputa de shots de tequila, tomando toda minha atenção. Quem dispensa uma competição de tequila?
Homens héteros aparentemente, ou nesse caso, apenas , que preferiu pedir uma cerveja.
Acabei me distraindo de meu plano inicial e simplesmente passei a aproveitar a noite que estava sendo extremamente divertida. Após seu quinto shot seguido, Jennifer não aguentou e quase botou o conteúdo de seu copo para fora, arrancado gargalhadas de todos. Virei-me para o lado para fazer alguma piada para , mas minha atenção acabou presa em seus lábios. Eles eram tão lindos! Tão vermelhos, tão cheios... Estavam praticamente pedindo para serem beijados. Involuntariamente, um biquinho de desapontamento se formou em meu rosto, arrancando uma risada do fotógrafo.
- O que foi? – Ele perguntou curioso, mas antes que pudesse lhe responder, senti uma cotovelada em meu braço.
- Aaaaaaaaiiiiiiii. – soltei sonoramente e afaguei o lugar onde Sky havia me cutucado, fuzilando-a com o olhar.
- Se você realmente não quiser aparentar que está no cio, eu sugeriria ir um pouco mais devagar, . Você sabe, não estamos aqui nem há duas horas. – ela comentou docilmente em meu ouvido.
Pensei no que Sky havia me falado e tive um pequeno debate interno se hoje eu deveria ser slutty ou super slutty . Acabei por decidir que não havia a necessidade de uma aparição da super slutty em plena quinta feira. Virei-me para e dei uma resposta qualquer, ainda que verdadeira.
- Todos já tomaram pelo menos cinco doses de tequila e você ainda está na mesma garrafa de cerveja! - Cruzei os braços como uma criança birrenta.
- A Sky também continua na mesma garrafa de cerveja! – Ele tentou se esquivar.
- Mas a Sky já tomou duas doses de tequila! E ela não pode perder a linha porque viaja amanhã. Ou pode ser porque ela pode acabar traindo o namorado dela. – aquele pensamento me deu vontade de rir, ainda que eu não entendesse muito bem o porquê - Ou sei lá o que ele é. – continuei. – Não me diga que você também tem alguma namorada que está com medo de trair, senhor ? – Aproveitei a brecha e perguntei olhando diretamente em seus olhos, abrindo levemente minha boca no final, fingindo surpresa.
Ele levantou os braços em sinal de rendição e riu.
- Sem namoradas, rolos ou qualquer outra coisa. Sou livre como o vento!
- Ótimo! – Respondi e passei a língua por meus lábios, sem namorada no caminho.
- Garçonete! – Gritei para uma moça que passava ao redor de nossa mesa. – Por favor traga mais uma rodada de tequila para todo, ou melhor, para o senhor livre como vento aqui, você pode trazer duas. – disse apontando para e rindo. Ela pareceu indiferente à minha tentativa de piada com , provavelmente já acostumada com comportamentos mais bizarros dos que os meus, mas retornou em alguns minutos, com as doses que requisitara.
Olhei ao redor e a combinação de comprimidos e bebidas finalmente estava cobrando seu preço, o modo como a iluminação deixava a pele de todos azul, era quase que hipnotizador. Balancei a cabeça a fim de afastar aqueles pensamentos claramente não sóbrios e continuei a jogar conversa fora com todos na mesa, jogando entre uma fala e outra uma indireta para .
Sky, que agora quase não estava bebendo mais, já havia desistido de me dar cutucões ou tentar me controlar. A cada dose que eu virava, ficava cada vez mais difícil me concentrar no que todos falavam e não ficar encarando , que, por sua vez, parecia achar a situação hilária e me incentivava a continuar a falar seja lá o que porra estivesse falando.
Depois de um tempo, Felix pediu licença para ir ao banheiro e quando percebi que ele havia sumido por tempo demais, comecei a olhar ao redor procurando-o. Acabei encontrando-o no cantor do bar, se agarrando com não só um, mas dois caras ao mesmo. Uma pequena onda de inveja atingiu meu corpo e me virei para , perguntando com o melhor tom de entediada que consegui fazer:
- Você vai me beijar ou eu posso pegar um porre épico?
Aquilo parece ter pego-o de surpresa, pois ele arregalou seus olhos e me olhou confuso por um por um breve par de segundos, só para jogar sua cabeça para trás e soltar uma gargalhada genuína. Franzi minha testa e novamente fiz um bico em resposta a sua reação. Contudo, seu rosto foi se aproximando cada vez mais do meu, e pude sentir seu sorriso quando nossos lábios se tocaram pela primeira vez.
Super slutty não apareceria naquela noite, mas nada impedia que a slutty não desse uma visitada.


Capítulo 2

“I'm wanderess, I'm a one night stand.
Don't belong to no city, don't belong to no man.
I'm the violence in the pouring rain, I'm a hurricane.”
Hurricane; Halsey.


“Bzbzbzbz”. O barulho de algo vibrando sobre uma superfície de vidro me despertou. Eu não queria abrir os olhos, então cobri minha cabeça com o cobertor e tentei voltar a dormir.
“Bzbzbzbz”.
Após o que pareciam ser cinco longos minutos insuportáveis, constatei que não conseguiria mais dormir. Decidida parar aquele barulho dos infernos, tirei o cobertor da cara e abri os olhos, me deparando com uma claridade que eu definitivamente não esperava. Como instinto, cobri os olhos com as mãos e quase voltei a dormir. Quase. O excesso de luz pareceu clarear meus pensamentos e os acontecimentos da noite passada tomaram minha mente. Sessão de Fotos. Bar. .
!
Tirei as mãos dos olhos e olhei ao redor, à sua procura. Para minha surpresa, a cama estava vazia. Um alívio tomou conta de mim, não precisaria me vestir às pressas e silenciosamente para evitar sair dali com um encontro estranho. Bem mais tranquila, procurei a fonte daquele ruído irritante e constatei que era meu celular, que estava em cima de um criado mudo à minha direita. Lutando contra a vontade de jogá-lo na parede a minha frente, o peguei e procurei o motivo para tanto desespero. Um número desconhecido me ligara cinco vezes, e, enquanto tentava reconhecê-lo, outra chamada iniciou. Fiquei pensando se deveria atender, mas após constatar os primeiros sinais de uma ressaca, decidi que ela deveria ser minha prioridade. Abri meu calendário para ver se eu havia esquecido de algum compromisso e, o que parecia a felicidade suprema, tomou conta de mim ao perceber que de fato eu teria o dia livre. Dormir o dia todo, aí vou eu!
Só quando procurava por minhas roupas que percebi a vista ao meu redor. Oh, Nova York! Você sabia ser linda. Aproximei-me da janela de vidro que tomava toda a parede lateral do quarto e passei uns bons dez minutos sentada e olhando para baixo, preenchendo minha mente com os ruídos de Nova York. Quando a dor de cabeça parecia estar levando minha vontade de viver, me levantei e fui à procura de um comprimido em minha bolsa, revirei o quarto todo e não a encontrei, deveria estar em algum outro cômodo. Terminei de me vestir e olhei meu estado no espelho do banheiro, e para minha surpresa, eu não estava tão acabada. Nada que a maquiagem que estava em minha bolsa e os óculos escuros não dessem um jeito. Tirei todo o resquício de maquiagem do dia anterior que consegui e saí do quarto, decidida a encontrar minha bolsa. O que me fez quase engasgar com o ar quando percebi que estava sim em casa. Sentado atrás de uma bancada americana e concentrado em seu notebook, ele nem percebera que eu saíra do quarto e estava o observando com um semblante que misturava choque e tristeza. Sem poder evitar o encontro que há alguns minutos eu acreditaria não acontecer, pigarrdei para chamar sua atenção. Seu par de olhos castanhos, que estavam totalmente inertes ao mundo ao seu redor, desviaram-se da tela e seguiram em minha direção.
- Err... oi – disse
- Olá! Tudo bem? Sua cabeça está bem? – ele respondeu, extremamente simpático.
- Não muito, falando nisso, você viu minha bolsa? Lá eu tenho algo que dará um jeito nisso. Ahhh, e com você? – Acrescentei rapidamente ao perceber que não pude nem fingir me preocupar com ele.
- Até agora tudo bem, ela está ali naquele sofá. – ele apontou com os dedos para a dita cuja - Você precisa de água?
- Não, obrigada – respondi enquanto caminhava para o sofá. Abri a bolsa e rapidamente procurei o frasco necessário, pegando uma pílula e a ingerindo seca, já estava acostumada. Procurei em minha mente o jeito mais delicado de dar um fora em quando ele disse algo que me surpreendeu.
- Seu almoço está ali em cima da mesa, não sabia o que você poderia gostar então comprei comida japonesa, que é quase um universal. Provavelmente não deve estar tão gostoso como há algumas horas.
Almoço? Que tipo de pessoa compra almoço para um desconhecido que acabou de transar? Será que aquela cara adorável fazia jus ao estereótipo de namorado grudento?
- Você sempre compra almoço para seus one night stands? – Perguntei com o máximo de tato que consegui, perguntas delicadas não eram meu forte, ainda mais quando deveriam ser elaboradas em um curto espaço de tempo. Minha pergunta pareceu diverti-lo, pois ele soltou uma longa gargalhada antes de me responder.
- Não, mas minhas
one night stands
não ficam aqui até quatro horas da tarde. Ou são .
Ri aliviada com sua resposta. Ele não era um louco grudento e ainda afagou meu ego.
Percebi que ele ainda esperava uma resposta, então caminhei até a mesa que ele indicara estar comida e fingi analisá-la.
- Er, eu não acho que meu estômago aguenta algo mais que água. – menti – Mas obrigada pela consideração.
- Nada – ele respondeu.
E aquele silêncio constrangedor que eu tentara evitar tomou conta do ambiente, que não melhorou nada com a pergunta de .
- Então.... Eu devo te ligar amanhã ou algo assim?
Evitei soltar um murmúrio de tristeza. O que aconteceu com aquele estereótipo dos homens desejarem apenas diversão e evitarem compromisso? Olhei para e pensei se ele valeria outro encontro, o que não era difícil de decidir após olhar para aquele rosto por mais de 30 segundos. Forcei meu sorriso mais cativante e pedi seu celular para que eu pudesse gravar meu número. Enquanto salvava meu número como apenas “”, decidi que meus planos de fazer uma maquiagem leve antes de sair haviam ido por água abaixo, iria evitar qualquer outro tipo de conversa.
- A parte de ligar é com você, mas uma mensagem com a prévia das fotos é bem-vinda a qualquer momento.
E como se meu anjo da guarda estivesse observando a cena, senti meu celular vibrar no meu bolso. Olhei para como quem se desculpa e puxei o celular do bolso, vendo o mesmo número desconhecido que ligara momentos atrás. Recusei a ligação, porém, fingi atendê-la.
- Oi, Sky! Tudo bem?
Tamborilei os dedos pela mesa onde meu almoço se encontrava enquanto fingia que escutava Sky falar algo do outro lado da linha, murmurando pequenas respostas. Depois de calcular o que parecia ser tempo suficiente, me despedi e fiz uma cara de cachorro sem dono para , me desculpando:
- Desculpe, , apareceu um pequeno imprevisto e eu preciso ir...
- Tudo bem, não precisa se desculpar. – respondeu, parecendo ter acreditado na minha mentira.
- Me mande a primeira foto da sessão, assim que ela ficar pronta! – Tentei soar animada – Desculpa, mas eu realmente preciso ir.
- Hey, não me deixe te prender.
- Nos vemos por aí. – respondi e dei uma piscadela antes de virar em direção à porta.
Assim que saí do apartamento de , puxei meu celular e perguntei se queria jantar mais tarde. Sem esperar por uma resposta, segui em direção ao elevador, que não demorou a chegar. Havia apenas uma garota nele, ela parecia estar por volta dos 15 anos e pareceu me reconhecer, pois ela trocava olhares ansiosos entre mim e seu celular, como se estivesse em busca de uma confirmação. Aproveitei o espelho do mesmo e passei um batom cor de boca, voltando a checar o celular para ver se havia me respondido. Nada.
Cheguei ao lobby do prédio, e enquanto esperava meu uber, meu celular vibrou com uma resposta.
“Mas é claro, vadia”
Dei um sorriso involuntário. sendo . De minhas melhores amigas, era a mais parecida comigo. Éramos o que gostava de chamar de “espíritos livres”. Lembro como se fosse ontem o dia em que conheci : estávamos nos bastidores do show do Tommy Hilfiger quando ela fez um comentário (bem) maldoso sobre uma modelo que eu detestava. Sem tentar ser discreta, dei uma risada estrondosa, o que fez com que virasse seus grandes olhos azuis intrigada para mim. “Quem diabos você é?” seu rosto gritava. Desde então, nos tornamos inseparáveis, mas ainda que fossemos parecidas, estava em um nível de coolness que eu nem sonhava em chegar.
tinha o típico ar clichê de uma garota rebelde: a aparente superioridade de quem não se importava com nada e ninguém, a aparência que lhe dava a capacidade de quebrar o coração de quem quisesse em mil pedaços e o jeito forte e imponente. Ela intimidava qualquer pessoa que respirasse o mesmo ar com ela, sua falta de filtro também não ajudava. E era isso o que mais gostava dela: falávamos e fazíamos o que queríamos, na hora que quiséssemos.
Nossa amizade, junto com a bissexualidade de , despertava as mais engraçadas reações: gente que apostava com a própria vida que eu e vivíamos um relacionamento secreto, mesmo que ela já tivesse assumido o namoro com diversas pessoas diferentes. “Elas possuem um relacionamento ioiô” ou “apenas mais uma beard para tentar disfarçar o romance” eram as justificativas mais comuns inventadas pelos fãs quando , ou eu, aparecíamos com alguém. Ainda que de um modo doentio, eu e adorávamos ler essas teorias da conspiração e, de vez em quando, até postávamos algumas coisas para alimentá-las. achava tudo de um péssimo gosto e nos alertava para não incentivar esse tipo de comportamento em pessoas que claramente não são tão... sãs. Mas e eu só sabíamos rir, éramos duas almas despreocupadas, nossa única preocupação era aproveitar nossa juventude, o que deixava louca.
Enquanto eu e éramos as sem cabeça, era a organizada, a amiga mãe. Mais do que a amiga mãe, era a garota que todos gostavam, incapaz de fazer mal à uma mosca, que sempre colocava tudo e todos à sua frente. Era impossível você sentir raiva de por qualquer que fosse o motivo, ainda que ela matasse toda a sua família, você ainda a amaria. era como o sol: caloroso, convidativo e radiante. Ela emanava tranquilidade, amor e paciência. Para cada burrada que você fizesse em sua vida, teria a solução... Todos deveriam ter uma em sua vida.
Para pessoas de fora, era difícil entender porque era amiga de pessoas como e eu. O que as pessoas falhavam em ver, e que inicialmente nos uniu, era nosso desprezo por nossas profissões. Éramos gratas por tudo aquilo que a modelagem nos proporcionava e sabíamos que poucas chegavam aonde estávamos e muitas até matariam por isso, porém, nada disso fazia com que realmente gostássemos de ser modelos.
dentre nós, foi a única que não procurou diretamente ser modelo: ela fora descoberta aos 13 anos enquanto andava pelo shopping. Desde então, vem desfilando e é o que pode ser considerada como uma das poucas supermodels legítimas de nossa geração. Ainda assim, ela era a que mais estava perto de sair da indústria: tinha uma empresa de cookies (surpresa!) e estava atendendo a NYU desde o começo do ano para tornar-se uma programadora. Já eu e , meio que caímos de paraquedas na indústria, aos 17 anos, pressionadas pelo futuro e sem saber muito ao certo o que fazer, decidimos tentar a sorte como modelo e acabamos por nos consolidar. É claro que nenhuma de nós comentava aquele tipo de coisa com qualquer um, certamente seríamos esfoladas vivas se todos soubessem o quão descontentes realmente éramos com nossa profissão. “As modelos que odeiam ser modelos” dissera uma vez e acabamos por adotar o apelido, era o nome do nosso groupchat.
Apenas quando senti um aperto no coração foi que percebi o quanto sentia falta delas. morava em NY desde que entrara na universidade enquanto já estava há quase três meses na cidade depois do que deveria ter sido uma simples viagem a trabalho, enquanto eu me encontrava totalmente sozinha em L.A. Não era do tipo que tinha muitas amizades verdadeiras, e as poucas que tinha, estavam a quilômetros de distância. Balancei a cabeça afastando aqueles pensamentos, começar a chorar no banco de trás de um uber: não é legal.
Cheguei ao hotel e acabei ordenando um serviço de quarto, no final das contas, ao contrário do que eu havia dito à , eu estava sim com fome. Tentando pensar em qualquer coisa que não fosse o fato de que eu estava sozinha, e iria provavelmente, morrer sozinha, peguei meu celular e chequei meu twitter. Grave erro. Minhas menções estavam um caos, demorei a me situar, mas o que parecia estar acontecendo era uma briga entre os meus fãs e de uma tal de Jessica Killingsworth. A coisa estava feia: xingamentos, montagens e aquelas típicas coisas que as pessoas dificilmente teriam coragem de falar fora da internet, dominavam minhas menções. Curiosa, joguei meu nome + Jessica Killingsworth no google a fim de entender o que poderia ter levado a aquela guerra de fãs que havia se instaurado, teria ela falado mal de mim? Usado alguma roupa igual? Eu sabia - ou achava - que não havia feito nada, já que até então eu nem sabia de sua existência.
Uma rápida busca do google revelou o porquê de tudo aquilo, que definitivamente, não era o que eu esperava:
aproveita tarde de sol com Jessica Killingsworth em Los Feliz”
Sem pensar direito, abri a matéria:
mostra alguns de seus músculos em uma camisa branca ao chegar em um restaurante local nessa quinta em Los Feliz, Califórnia. O modelo de 25 anos foi acompanhado pela atriz Jessica Killingsworth para um almoço.
Recentemente, foi anunciado que o modelo seria a nova cara da fragrância Armani. O par era só sorrisos durante o almoço, o que levantou a suspeita de um novo casal. Notoriamente ausente do encontro, estava a modelo , namorada de há quase dois anos. Os dois não são vistos juntos há algumas semanas já, enquanto essa é a segunda vez na semana que é fotografado com Jessica. Será que temos um casal novo na área?
Confira 20+ imagens de e Jessica Killingsworth saindo para o almoço...”

Então era isso. Por que mais uma guerra de fãs comigo iria se iniciar além de ? Sem pensar muito bem, liguei para a Sky.
- Alô? – ela atendeu após alguns toques.
- Boa tarde, senhorita Calloway! Espero que sua tarde esteja boa, porque a minha com certeza não está! Não depois de entrar no meu twitter e ver a confusão de merda que se instaurou entre meus fãs e a dessa tal de Jessica Killingsworth. Graças a quem? Claro, ao . Você deveria ter me avisado, você sabe que eu detesto esse tipo de coisa! Você é paga para isso! – Vociferei, praticamente cuspindo as palavras.
- Já está mais calma, senhora estressadinha? – Sky perguntou calma, sem parecer se abalar pelo meu pequeno ataque. Sua tranquilidade apenas recebeu um bufado como resposta.
- Bom, eu não te avisei – Sky começou percebendo que eu não responderia - porque como você mesma disse, odeia esse tipo de situação. Se alguém realmente deveria ter te contado algo, era o , que se deixou ser fotografado com ela. Além do mais – ela continuou - Você sabe como os fãs de vocês são, daqui a pouco isso passa. A não ser é claro, que ele realmente esteja namorando essa tal de Jessica, aí você pode se preparar que a coisa só irá ficar pior. Mas eu e você conhecemos o , e de acordo com a Sophia, não, eles não estão namorando. Você sabe que se ele resolver assumir alguma coisa com alguém um dia, nós seremos as primeiras a saber para podermos controlar a situação. Mas eu não deveria estar lhe explicando isso, deveria? Você sabe muito bem do acordo. – Ela concluiu cansada. Provavelmente por ter que repetir o mesmo discurso pela milésima vez.
- Eu não sei porque aceitei esse acordo... – tentei retrucar ainda sem querer me dar por vencida, mas Sky foi mais rápida.
- Você sabe muito bem porque aceitou, , não se faça de tonta. Além do mais, o só está almoçando com ela, nada demais. Ou estaria você com ciúmes dele? – Ela aproveitou para insinuar.
Revirei os olhos a sua pergunta, como se ela estivesse a minha frente.
- É claro que não estou com ciúmes dele! – Rebati rápido e ríspida demais. Ok, esse não era o tom adequado, respirei fundo antes de continuar. – Desculpe Sky, você sabe o quanto eu odeio esse direito que os fãs acham que tem sobre a minha vida. A minha vida. Pessoas querendo mandar e desmandar na minha vida! – Desabafei.
E era verdade, o motivo por estar tão irritada era devido a quantidade de besteira que havia lido nas menções, coisas fantasiosas e doentias, de uma que não existia.
- Eu entendo, , de verdade. – Sky me confortou. - Só lembre que se essas pessoas reagem assim, tão intensamente, é porque ainda mais intensamente, gostam de você. E do .
- Eu sei, Sky, desculpe. De verdade. Já estou mais calma.
- Só pensei que depois de ontem você estaria mais... amansada. Ou o fotógrafo não é lá essas coisas? – Ela perguntou curiosa.
Soltei uma gargalhada gostosa.
- Para ser sincera? Eu nem lembro direito. As coisas começaram a ficar meio borradas depois que eu perdi a conta das tequilas. Mas vou avaliá-lo pela sua beleza, que não é pouca.
- E põe não é pouca nisso. Sem contar que ele parece ser um amor não, é?
- É, é. – respondi já um pouco entediada com o rumo da conversa. - Desculpe de novo, Sky. Preciso ir, minha comida chegou. – anunciei ao ouvir a chegada do serviço de quarto.
- Ok, bye, . Só se lembre de não curtir nenhum shade, ok? Acidentalmente ou não, você sabe que isso só gera mais lenha para fogueira.
- Tudo bem, até logo. – Respondi com um suspiro.
Agradeci ao entregador e contemplei o que seria então, meu almoço: um omelete e um suco de laranja. Sem nada para fazer, voltei ao twitter e prestei atenção nas minhas menções, agora já entendendo o que estava acontecendo. Alguns tweets realmente eram doentios, mas não pude deixar de rir, até dos mais loucos. Aquilo era em parte culpa minha. E de .
“@e@23: todos nós sabemos que isso não é nada! exatamente como a cathy, daqui a pouco eles voltam. o amor triunfa sempre @55 @
“@meuvicio: trocar a @ pela @jesskillingsworth? Por favor né gente, o @55 não é tão burro a esse ponto”
“@jesskfans: gente por favor, vamos deixar a @ em paz! Não sabemos se a Jessica o @55 estão namorando, sejam maduros!”
“@jessicakmeutudo: jess + eu apoio! Qual o nome do ship??? Bye bye@
“@iheart: vocês preferem o com a @ ou a @jesskillingsworth? Eu prefiro ele comigo hahahaha”

Dei um longo suspiro e me pus a pensar em como havia chegado naquela situação.
Eu havia conhecido há 4 anos, pouco tempo depois de conhecer . e eram melhores amigos, e após eu me tornar amiga de , foi inevitável não me tornar amiga dele também. tinha uma personalidade muito parecida com a minha e a de , o que só fez com que nossa amizade crescesse, e quando menos percebi, ele já era um dos meus melhores amigos. Na época, eu tinha um namorado, então minhas interações com não eram muitos analisadas. Até eu terminar com esse namorado e passar a dormir com . No começo, tentamos ignorar toda aquela atração sexual que sentíamos um pelo outro – éramos amigos, no final das contas - mas bastou uns beijos bêbados aqui e ali e depois estávamos enfiados na cama um do outro. Até aí tudo bem. O problema começou após meses e meses desse relacionamento que não era muito bem um relacionamento. Nem eu e nem estávamos muito afim de abrir mão de nossas liberdades e deixar de dormir com outras pessoas para começarmos a namorar. Só gostávamos de transar um com outro casualmente, poxa. Mas aquilo era Hollywood e logo os rumores começaram. Eu e não éramos um casal, mas não era exatamente essa a imagem que passávamos para o público: constantemente juntos (como disse, melhores amigos!) e em situações não muito dignas de amigos, maldita falta de privacidade! Quando menos percebemos, eu e já éramos dignos de um ship e no meio de vários rumores. Haviam duas teorias mais comuns: 1) Eu era a ingênua modelo que havia se apaixonado pelo grande , largado seu namorado por ele, mas não digna de ser assumida como namorada. O grande sedutor me enrolava e enrolava dizendo que iria me assumir, mas sempre aparecia com uma nova companhia feminina. Pobre !
Já a segunda, era que eu, uma vadia cruel e sem coração, na falta da palavra certa, não queria saber de homem algum e iludia o pobre , meu melhor amigo, desde sempre apaixonado por mim, fazendo com o que o mesmo fizesse tudo por mim, na esperança de sermos um casal um dia. Como se pode ver, nenhuma das duas histórias além de verdadeiras, geravam uma publicidade boa, tanto para mim, quanto . Assim, Sky e Sophia, publicista de , sentaram e acharam uma solução para nosso “problema”: eu e teríamos que ser um casal. Um acordo nojento? Não para mim. Ou . O que as pessoas não entendiam era o quanto um casal de famosos atraía boa publicidade. E tudo em Hollywood se resumia a publicidade, fosse você uma atriz, um cantor, um modelo, ou um simples aspirante a famoso. Como Simon Cornwell disse uma vez, o público era fascinado pela ideia de dois famosos bonitos transando. E nesse caso, não era completamente mentira. Levando o fato de que eu realmente éramos melhores amigos, apesar de transar um com outro, então tudo era mais fácil. Bastava pegar algumas coisas normais do dia-a-dia, colocar uma leve insinuação e pronto! Os fãs fariam o resto espalhando suas teorias e evidências de que, de fato, estávamos namorando. Na maioria das vezes, isso não me incomodava, era até engraçado, assim como fazia com , postar algumas coisas para alienar os fãs, mas eram em situações como essa – quando eu ou aparecíamos com alguém do sexo oposto - que as coisas saíam do controle e eu me arrependia. Eu mal podia imaginar o inferno que seria quando eu e começássemos a namorar com outras pessoas de verdade.
Na realidade, eu já senti um gosto do que seria quando achou que tinha encontrado aquela digna de seu coração e estava pronto para assumir um namoro com ela, Sky e Sophia já estavam com planos prontos para controlar a situação e não gerar nenhuma publicidade negativa, até que terminou com a dita cuja e nada disso foi preciso. Mas é claro que os fãs mais fervorosos perceberam o que estava “acontecendo” e passei três longos meses com guerras diárias em minhas redes sociais. Hoje em dia, os fãs explicam esse “capítulo” em nossa história como um pequeno término, mas que o amor verdadeiro, de fato, havia triunfado no final. Eu sentia um pouco de pena de enganar os fãs assim, visto que eu não seria nada sem eles, mas era um dos preços que tínhamos que pagar pela fama.
Sacudi a cabeça, a fim de afastar aqueles pensamentos, o que estava feito estava feito e não era como se fosse algo ilegal ou que eu e realmente nos arrependêssemos. Voltei minha atenção para meu almoço/lanche enquanto decidia com os detalhes de nosso jantar.
“Waverly Inn ou The Fat Radish?” perguntava.
“Hm… The Fat Radish, estou morrendo por aquele hambúrguer de bacon.”
“Tudo bem. Pode ser às 7?”.
“Fechado”.
“Ok, te vejo lá. Saudades, vadia”.
“Já eu, não sinto a sua falta, diabo. Me deixe comer”, brinquei.
Olhei no relógio e constei que ainda faltavam mais de três horas para nosso encontro, resolvi me distrair com a tv do hotel e logo estava assistindo um episódio de House.
Quando dei por mim, o relógio na mesa do hotel marcava 18:03. Droga. Havia dormido e agora tinha menos de uma hora para me arrumar e chegar no restaurante. O que havia em Nova York que fazia com que todos se atrasassem? Corri para o banho e todos os meus planos de ser rápida morreram ao sentir o contato da água em minha pele.
*
Percebi que havia chegado muito antes de poder vê-la, graças a mudança na atmosfera que só uma pessoa famosa poderia causar: cabeças virando, cochichos excitados e alguns “oh!”. Diferentemente de mim, que era famosa dentro da indústria da moda, mas não tanto para o público geral, era conhecida por todos. Ela estava em todos os lugares: campanhas, premières de filmes, amiga de grande superstars... Entre mim e , era sem dúvida a mais conhecida e confortável com a fama: ela cresceu com os holofotes desde criança, vindo de uma família rica e importante. Ainda assim, eu não a invejava. Só de imaginar não poder andar pelas ruas tranquilamente e ter pessoas constantemente tirando suas fotos me assustava. Quando finalmente entrou em meu campo de visão com seus grandes olhos azuis, as sobrancelhas grossas, que eram sua marca registrada e o nariz, todos os olhos já estavam nela e ninguém tentava esconder sua animação.
- Eu senti sua falta, Dell. - disse enquanto se inclinava para me abraçar.
- Eu também, cabeça de vento. Mas quem me abandonou foi você, hein? Dessa vez, não tenho culpa. – fingi um tom triste.
- Desculpe, babe. - ela parecia envergonhada. - Não sei explicar ao certo o que aconteceu comigo, eu só queria... quero ficar perto da Marion, e...
- Calma, ! - Tratei de dizer ao perceber que ela estava realmente se sentindo culpada. - Eu estava brincando, mas eu realmente sinto sua falta, quem mais toparia fazer as coisas que fazemos?
Ambas rimos.
- E sobre a Marion... será que minha bebê finalmente cresceu e se apaixonou?
E em uma reação totalmente inesperada, baixou a cabeça envergonhada:
- Talvez.
- OH, MEU DEUS! - Eu quase gritei. - Agora mais do que nunca quero conhecer a fabulosa Marion!
Ela apenas riu.
- Amanhã! Já tenho planos para nós, hehehe. Aliás, por que diabos você sumiu e não me respondeu ontem? Marion estava ansiosa para te conhecer oficialmente.
Fiz uma cara de safada, colocando um dedo na boca e falando inocentemente:
- Bem, eu posso ou não posso ter transado com o fotógrafo do meu ensaio de ontem...
- Ohhh. – soltou em um misto de animação e curiosidade. - Quem é, quem é, quem é? – Ela quase quicava em sua cadeira.
- Boa noite, senhoritas. Meu nome é Max e serei seu garçom hoje. Prontas para fazerem seu pedido? – uma voz máscula vindo de nossa direta interrompeu nossa conversa. Levei meus olhos em direção da voz, o garçom estava posicionado ao nosso lado. Max tinha cabelos negros, um maxilar forte, marcado, e a pele bronzeada com olhos azuis. Por um momento, pensei que ele era bonito demais para ser apenas um garçom. Não que houvesse algo errado em ser garçom, mas uma coisa que eu havia aprendido a minha vida toda era como a beleza lhe abria portas. E Max definitivamente tinha o tipo de beleza que abria portas.
- Eu vou querer um farro risotto com um gin & tonic, por favor – a voz de me emergiu de meus pensamentos.
- Já eu vou querer um bacon cheeseburger e uma coca.
- Entããão. – ela começou assim que o garçom se retirou.
- Foi , o fotógrafo, não sei se você o conhece.
- Pera, o cara que você ficou foi o ? – pareceu refletir por um momento e então procedeu a rir como se eu tivesse contando a piada mais engraçada do mundo.
Após ver rir por uns bons dois minutos e me olhar como se eu fosse uma alienígena, eu já estava cansada.
- Ok, , explique-se. - Tentei fingir que estava irritada, mas a confusão em minha cara era nítida. Por que estava rindo daquele jeito? Não é como se eu tivesse pegado alguém que você sabe que só pegaria bêbada, ou o namorado de alguém, disse que não tinha namorada. Ele não tinha namorada, mas... – Não vai me dizer que você tá pegando ele, ! – Disse, aumentando minha voz uma oitava e arregalando os olhos. Pegar namorado, rolo, ou um que sua amiga tenha o mínimo de interesse, é um pecado. Um atentando contra as regras do feminismo, como já dizia Meninas Malvadas.
- Oh, céus, não! – Seus risos se intensificaram. – Eu to saindo com uma garota , lembra? Marion? Acabamos de falar dela. – Ela cochichou olhando cautelosamente ao redor.
Meu mini ataque havia atraído olhares curiosos. Controle-se, , estamos em um local público e você está na companhia de ninguém menos que .
- Ok, ok, ok... Desculpe. Prossiga – disse.
- Bem... É que, você, o ... – mais risadas. - Desculpa, , eu simplesmente não consigo ver vocês juntos!
- Por que não? – Minha confusão só aumentou. Por que não, erámos duas pessoas jovens e lindas, o que é tão difícil de se entender nisso?
- Bem, , vamos colocar em outras palavras, seria a mesma coisa que a Rihanna e o Ed Sheeran começassem a sair. Quer dizer, uma versão gostosa do Ed Sheeran, mas ainda com aquela personalidade dele. O Ed Sheeran no corpo do Adam Levigne, mas ainda escrevendo letras típicas do Ed Sheeran. Bem, você entendeu o que eu dizer.
- Então você quer dizer o Drake? – Perguntei. - Bem, a versão gostosa do Ed Sheeran é o Drake. E todo mundo consegue imaginar o Drake e a Rihanna juntos. – Dei de ombros.
- É, mas, o Drake vive sofrendo pela Rihanna e... caramba , você deu um nó na minha cabeça.
- Hahaha, você já devia estar acostumada com minha linha de pensamento, .
- Quem consegue se acostumar com uma louca?
- Eu que me acostumei com você? – rebati.
- Fair play, , fair play.
O celular de tocou e ela desculpou-se falando que precisava atender a ligação. Aproveitei a ocasião para tirar uma foto de e postar no stories com a legenda “Jantar de hoje”, Sky ficaria satisfeita. Terminada sua ligação, voltou sua atenção para mim.
Mas logo Max estava em nosso campo de visão novamente.
- Boa noite, senhoritas, aqui estão os seus pedidos.
Ele nos serviu rapidamente e assim que dei a primeira mordida em meu hambúrguer, senti que estava no céu.
- Bem, vamos ao que importa, o motivo pelo o qual eu te chamei aqui hoje é que... - . – ela me disse em um tom repreensivo. - Você trouxe alguma roupa de festa?
- Acho que sim?
- Certo. Temos uma festa marcada amanhã.
- Ah, é? – falei debochada, não estava afim de festas.
- Sim! Não é nada com direito a photo ops, mas você tem que ir maravilhosa!
- Ai, , não sei. Quero passar o dia com a amanhã, ainda não a vi.
- E você vai! E a noite vamos todas para a festa.
- Ai, não sei, tenho voo de manhã no domingo...
- Ai, meu Deus , eu queria que fosse uma surpresa, mas... O Jake vai estar na festa.
Parei de comer jogando dramaticamente o hambúrguer que estava nas minhas mãos em meu prato e levantei minha cabeça em sua direção, assustada.
- Gyllenhaal? – perguntei nervosa.
Jake Gyllenhaal era a pessoa que eu mais tinha vontade de pegar em toda Hollywood. Pegar era pouco, por ele eu faria a Britney e entraria em um casamento de 72 horas. Quem me conhecia sabia da minha obsessão por ele.
- Sim! E não estou falando isso apenas para você ir. Quem está organizando a festa é o Danny Conway, ele organizou aquela festa em que ele estava, se você não lembra.
Ahhh, maldita festa. É claro que eu lembrava.
Eu me arrependia de poucas coisas em minha vida e aquela festa era uma delas. Encontrar Jake Gyllenhaal em uma festa que não tivesse red carpets era difícil, com seu jeito hipster, era difícil encontrar o mesmo em festas que não fossem de comemoração do meio do cinema ou de seus amigos próximos. Só Deus sabe em quantas festas eu já fui pela promessa de sua presença. Encontrar Jake Gyllenhaal solteiro em uma festa que não tivesse red carpets era quase como que encontrar um unicórnio. E foi exatamente o que aconteceu há um ano atrás quando eu e fomos para uma festa porque falaram que Jake estaria lá. Chegamos lá e nem sinal de Jake, horas e horas passaram e eu resolvi aproveitar a festa. Muitas bebidas depois no final da festa, alguém comentou que deveríamos entrar na piscina em nossas roupas íntimas. E prontamente fui, sem dar muito pensamento ao que fazia. Pouco tempo depois Jake Gyllenhaal em pessoa estava no mesmo ambiente que eu. Eu teria certamente me afogado se Amber não tivesse me avisado da presença quase real que ali se encontrava.
“- Não olha. Mas Jake Gyllenhaal está parado atrás de você, conversando com Danny Conway.
Ignorando o aviso de Amber, virei tão bruscamente que senti o gosto amargo da bile subindo minha garganta.”

Minhas lembranças daquela noite eram embaçadas, borradas. Mas lembro de ver Jake sentando em uma das braçadeiras conversando com Danny e soltando olhares ocasionais para onde eu e as outras meninas estávamos na piscina. “Tão rápido quanto olhei em sua direção, voltei para minha posição inicial oposta ele. Um milhão de pensamentos passavam em minha mente e eu estava quase que paralisada, enquanto as pessoas ao meu redor continuavam a brincar, alheias ao fato de estarmos na presença divina de Gyllenhaal. Respirei fundo, pensando no que iria fazer, o momento que eu tanto esperava havia chegado. Jake Gyllenhaal estava em uma festa comigo. Eu tinha milhares de frases e cenários em minha cabeça sobre o que faria quando o momento chegasse, mas agora que realmente estava acontecendo, todos pareciam ter sumido. No fundo, eu sabia que a culpa era do álcool, mas preferi ignorar, dizendo a mim mesmo que aquilo nada mais era do que o medo falando alto. Por fim, acabei decidindo que iria simplesmente chegar e beijá-lo, sem dizer nada. Já havia utilizado essa técnica antigamente com sucesso. Mas Deus sabe o que faz e assim que cheguei na lateral da piscina, estava rodeada por , e algumas outras amigas, que apesar de não saberem o que eu faria, desconfiaram. foi a primeira a se abaixar ao meu nível e me impedir de sair piscina, seguida por que obstruía minha visão de Gyllenhaal. Depois de muitos “, você está fora de si, não pode ir falar com ele nesse estado.” Eu fui convencida a deixar meu sonho ir, como Rose deixou Jack ir naquele pedaço de gelo. Uma prova de amor. Saí da piscina e coloquei meu vestido, sem me importar sobre meu corpo molhado – só queria sair o mais rápido dali. Mas não antes sem passar por Jake e receber outro sorriso do mesmo, com o qual respondi com um sorriso e um suspiro, assim que ele havia saído de meu campo de visão.”
Desde aquela fática noite, prometi a mim mesma que não perderia nenhuma outra chance com ele.
- Só me diz a hora e o lugar. – respondi séria – Alias, como você ousa tentar guardar isso como segredo? Que tipo de amiga você é?
- Sou a melhor amiga do mundo, do tipo que fica stalkeando o Jake Gyllenhaal para a amiga. – ela respondeu.
- Melhor amiga stalker que faz muita falta.
- Falando nisso. – Ela olhou para os lados e abaixou o tom de voz. - Eu passei, Dell! Ganhei o papel para o qual vim audicionar.
- Sério??? – Perguntei animada, tentando me conter o máximo que pude.
- Sim! – Ela respondeu batendo palmas. – O anúncio oficial deve sair semana que vem quando assinarmos o contrato, mas você está olhando para Margo Roth Spiegelman, protagonista de Cidades de Papel!
Inclinei-me sobre a mesa e a abracei.
- Eu estou tão orgulhosa de você, !
- Obrigada, Dell, eu ainda não consigo acreditar, parece que tudo está dando certo na minha vida: protagonista de um filme grande, uma namorada maravilhosa, os melhores amigos do mundo...
- Nada mais do que você merece! – Rebati, aproveitando e fazendo sinal para que Max viesse a nossa mesa.
- Em que posso ajudá-las? – Max perguntou assim que se aproximou.
- Uma garrafa de Clos d'Ambonnay Coffret e duas taças por favor! – Pedi, ainda eufórica. Do outro lado da mesa, levantou uma de suas sobrancelhas em resposta a meu pedido extravagante.
- Temos um 1998 e 1995. – Max disse após conferir seu iPad.
- Vamos querer um 95, por favor.
Max anotou nosso pedido e após se desculpar, retirou-se.
ainda me olhava meu cética.
- O que foi? – Perguntei – Estamos comemorando! Não é todo dia que sua amiga se torna uma estrela de cinema! – Disse ainda animada, apenas abaixou a cabeça rindo envergonhada.
E foi assim que passamos o resto daquela noite: rindo e tomando champanhe de 6 mil dólares.


Capítulo 3

“I'm only happy when I'm on the run,
I break a million hearts just for fun,
I don't belong to anyone,
I guess you could say that my life's a mess,
But I'm still looking pretty in this dress.”
Homewrecker, Marina and The Diamonds.


Acordei com o barulho do despertador e abri os olhos. Ao meu lado, os primeiros resquícios da luz do sol começavam a nascer. Considerei seriamente furar com e continuar no conforto da cama, mas as lembranças das extravagâncias do jantar de ontem pesaram mais. Derrotada, me levantei da cama e segui em direção ao banheiro da suíte. Observei meu reflexo cansado no espelho à minha frente enquanto escovava meus dentes, eu não exibia olheiras, mas a falta de ânimo nos meus olhos era visível. Meu semblante estava meio morto, um alto contraste se comparado com a animação que havia expressado desde que havia confirmado minha pequena folga/viagem para Nova York. Chacoalhei minha cabeça, pois sabia muito bem de onde vinha aquela tristeza e não queria me aprofundar nesse tema. Ignorar meus problemas era minha especialidade e iria executar meu dom com perfeição mais uma vez. Lavei o rosto e, enquanto escovava os dentes, procurei pelo cardápio do hotel, pensando no que teria pelo café da manhã.
Como de costume, eu não sentia fome àquela hora da manhã, não estava com vontade de comer, e por mais que não comer parecesse a melhor solução para uma modelo, desmaiar em uma academia por não ter comido não era, então resolvi pedir a coisa mais genérica e calórica que um café da manhã poderia lhe oferecer: ovos e bacon.
Liguei a TV enquanto esperava a comida, mas nada nela parecia me prender, as palavras e sons que saíam dela não faziam sentido para mim, era como se estivessem desconectadas, fugindo no ar. Inclinei-me para o lado à procura de meu celular e meu olhar se prendeu em meu reflexo através de um dos espelhos do quarto e, mais uma vez, minha aparência apática me incomodou. Peguei meu celular e chequei minha caixa de e-mails, com a imagem que havia visto há pouco segundos assombrando o fundo de minha mente. Me levantei e procurei uma máscara facial, torcendo para que ela melhorasse aquela situação. Coloquei o produto em minha cara e voltei minha atenção para o celular, ignorando todas as mensagens não lidas e enviando apenas um “Bom dia. Tudo certo?” para .
Três batidas na porta seguidas de um “serviço de quarto” anunciaram a chegada de minha comida, abri a porta e levei a bandeja para cima da cama, levantando a cabeça e ficando triste ao constatar que apesar do cheiro e aparência maravilhosa, a comida não havia me despertado fome. Comi enquanto checava todos os meus e-mails e mensagens não lidas, esvaziando ambas as caixas de mensagens, ah os prazeres de se acordar cedo em um sábado. Pacientemente observei os minutos avançarem na tela, e quando o tempo foi dado, me vesti e amarrei meu cabelo fortemente em um rabo de cavalo, seguindo para o encontro com .
Chequei meu celular mais uma vez apenas para constar que ainda não havia respondido, no entanto já era tarde demais e apenas desci do carro em frente ao já conhecido prédio de 4 andares cinza. Sorri para a recepcionista e subi as escadas em direção à sala no quarto andar, adentrei a brilhante sala azul e reconheci algumas faces, mas não vi nenhum sinal de . Segui para o aparelho vago mais próximo da janela, cumprimentando algumas pessoas no caminho e, após me acomodar, olhei meu celular em vão novamente. Me aqueci e em poucos minutos a instrutora avisou que a classe iria começar. Estava no meio de uma série com a cabeça abaixada, então só percebi que havia chegado quando ouvi sua voz do meu lado.
- Desculpe, eu perdi a hora. – ela disse envergonhada enquanto se arrumava ao meu lado.
Apenas rolei os olhos e imitei os passos da instrutora.
- Você sabe que eu só vim tão cedo porque foi o horário que você marcou, certo? – disse um pouco alto demais por conta da música e dos gritos da instrutora, ganhando alguns olhares.
– Depois te explico. – foi a sua resposta antes de se virar e seguir os passos da professora.
Depois de duas horas de muito contorcionismo e suor, a aula havia acabado. Inclinei-me para baixo pegando a garrafa de água em minha bolsa e bebendo o conteúdo da mesma como se minha vida dependesse disso. Olhei para o lado onde estava e a mesma apenas enxugava seu suor em sua toalhinha branca em movimentos graciosos, como se estivesse um nível acima de nós meros mortais.
- E então? – Eu perguntei, mas nossa atenção foi roubada por duas garotas que pararam ao lado de , com os olhos excitados.
- Desculpe incomodar. – a loira mais baixa da dupla começou – mas você poderia tirar uma foto conosco, ?
- Claro! – ela respondeu com um sorriso – Qual o nome de vocês?
- Eu sou a Hailee e ela Kady. – a loira mais alta respondeu, aliviada com a resposta simpática de . Tudo o que eu conseguia pensar era em como estava feliz por não ter sido reconhecida, minha aparência estava acabada. Após tirarem suas fotos, engajou em uma pequena conversa com as garotas, com Hailee me lançando olhares ansiosos. pareceu perceber isso também pois se virou em minha direção e perguntou se as meninas também não queriam tirar uma foto comigo.
- Com certeza! – Kady respondeu, empurrando Hailee em minha direção. Notei que a menina ficou nervosa e abri um sorriso que achei ser confortante.
- Você quer que eu tire a foto? – Perguntei dócil.
- Sim. – ela respondeu ainda nervosa. Será que minha carranca de alguns minutos atrás havia sido intimidadora?
- Desculpe por isso, ninguém merece me ver pós treino e sem maquiagem. – brinquei.
- Ainda assim você é mais linda que 90% das pessoas nesse planeta. – ela respondeu séria, e só então percebi que ela estava nervosa porque gostava de mim.
- Obrigada. – respondi com um sorriso genuíno e mais feliz.
Conversamos um pouco com as garotas, que se mostraram fãs verdadeiras e muito legais, se desculpando pelas perguntas antes de irem embora.
- Oi meninas! – foi a vez de Bethany, a instrutora, nos abordar.
- Uau. – foi minha resposta fingindo surpresa. Bethany sorriu envergonhada. Desde a última vez que a vi, seus longos cabelos ruivos se foram, dando lugar ao um corte pixie platinado. Seu braço esquerdo também estampava várias tatuagens que antes não estavam ali.
- Eu gostei. – respondi assegurando-a.
- Obrigada. – ela respondeu feliz - É bom ver vocês, vou ser rápida porque vi que as meninas ali tomaram muito tempo de vocês, podemos tirar uma foto rapidinho? Preciso dos likes. – ela brincou. Tiramos algumas fotos e batemos um mini papo com Bethany, que precisou atender uma aluna.
- Eu tenho tanta coisa para te contar. – dizia com um brilho nos olhos – FaceTime definitivamente não é a mesma coisa – ela se inclinou para me dar um abraço apertado assim que ficamos sozinhas.
- Ew, , você tá toda suada. – reclamei.
- Você também! – Ela rebateu mostrando a língua. Revirei os olhos.
- É melhor irmos ou não sairemos nunca daqui. Nossa, já são quase 11 horas. – Me surpreendi com o horário em minha tela. Havia chegado ali às 8. – Aliás, para onde vamos?
- Hmmm – ela botou o indicador em seus lábios – Com esse horário, acho que já podemos iniciar nosso brunch, que tal o Joe’s?
- Tudo bem por mim, vou avisar a . – Respondi enquanto colocava minhas coisas na bolsa. Senti me abraçar de novo.
- Eu estou com tantas saudades.
- Eu também bobona. – disse em seu ouvido.
Pegamos nossas coisas e seguimos em direção ao carro de .
- Como vão as coisas em LA? – perguntou.
- Hm, você sabe, ensolaradas. – tentei brincar – Mas de verdade, nada demais. Trabalho, casa, festas blá blá blá. Acho que a única coisa interessante que aconteceu foi meu contrato com a Dior.
- Ai, você é tão chata às vezes, , não nos vemos há quase 3 meses e nem pra você fingir um pouco de felicidade.
Precisei rir.
- Acho que o cinza dessa cidade contaminou um pouco do meu espírito. E você ainda quer que eu me mude para cá. Imagina uma assim 24 horas por dia? Ew. – tentei brincar.
- Stop, você iria amar aqui. E se não amasse, eu iria te fazer amar. Mas me diz, aconteceu alguma coisa? Você estava tão ansiosa, parecia mais ansiosa até que eu, se é que isso é possível.
Me mexi desconfortavelmente, não querendo revelar a meus motivos egoístas para o desânimo de hoje, mas me conhecia bem até demais.
- ... -ela começou.
- Podemos falar disso depois? Em lugar não tão público? – Pedi olhando para as pessoas que passavam ao nosso redor na calçada.
- Tudo bem. – ela suspirou, vencida.
A ida ao restaurante foi tranquila, conectamos nossa playlist especial ao carro de e cantamos todas nossas músicas em pleno pulmões, usando nossas garrafas de água como microfone. Em uma das músicas, a garrafa de saiu voando e quase acertou minha cara, rimos iguais patetas e ela quase bateu o carro. Mas assim que chegamos ao restaurante e fizemos nossos pedidos, ela trouxe o tópico de volta.
- Eu... promete que não vai ficar com raiva de mim? – Respondi receosa.
Ela me olhou com uma cara de escárnio “Sério?” dizia seu rosto.
- Eu não sei nem porquê você ainda diz isso. Acho que o sol de Los Angeles está fazendo mal à essa sua cabecinha, mais um motivo para você se mudar para cá.
Revirei os olhos, mas ainda esperava uma resposta, e ela não me deixaria sair daqui sem uma resposta verdadeira. E se eu saísse, ela logo apareceria em minha casa exigindo uma explicação. Envergonhada, abaixei meus olhos, não queria confessar aquilo olhando nos olhos dela, ela não merecia. Havia tentando fugir daquilo, mas a hora chegara.
- É que, bem, eu, depois que me contou que havia conseguido o papel em Cidades de Papeis, não pude deixar de sentir inveja. Eu não senti inveja porque ela conseguiu o papel, óbvio! – Emendei rapidamente ao perceber como aquilo soava – A verdade é que, ver ela conseguindo um papel, apenas concretizou o fato dela saber o que quer da vida e conseguir fazer isso acontecer. Quer dizer, ela finalmente poderá largar o mundo da moda. Não que eu não esteja feliz por ela, é claro, esse é o sonho dela e nada melhor do que vê-lo sendo realizado, mas ao mesmo tempo, vendo vocês duas fazendo o que sempre conversamos, conseguindo sair da indústria e me ver ainda presa aqui, sem saber o que fazer da minha vida além de posar para fotos, é no mínimo, frustrante. – tropecei em minhas palavras, angustiada.
- , eu não tinha a mínima ideia, me desculpe eu… - tentou começar a falar, mas eu levantei um dedo, impedindo-a. Eu precisava expressar o que sentia de modo correto.
- Calma! Você não precisa se sentir culpada, não se sinta culpada por estar acertando na vida ou por não ter percebido. São sentimentos muitos recentes e que eu só percebi após falar com você agora. A verdade é que é frustrante ver todos na sua vida seguirem em frente, crescerem, enquanto você fica parada no mesmo lugar, esperando que de algum modo, como que um milagre, algo vá mudar da noite para o dia e tudo fará sentido. – e ao dizer a última frase minha frase, minha voz embargou. Era como se um nó gigante estivesse em minha garganta.
apenas se inclinou e me abraçou fortemente enquanto eu deixei uma única lágrima descer.
- Acho que estou de TPM. – disse, mais tentando soar mais alegre, rapidamente limpando a lágrima solitária.
- Você ainda acha? Eu tenho certeza. – ela entrou na brincadeira, me soltando.
- Mas , você sabe que o que você está sentindo é completamente normal, certo? – ela recomeçou em um tom mais reconfortante – se parece que eu sei o que estou fazendo, então eu deveria fazer como e virar atriz, porque eu simplesmente não tenho a mínima ideia.
- Você nunca ouviu aquele ditado “fake it until you make it”?
Eu sorri levemente, meu estado de espírito melhor.
- Eu te amo tanto , o que seria de mim sem você?
- Hmmm, uma mulher linda, independente, bem-sucedida e com qualquer homem aos seus pés? – Ela brincou – Tudo bem, podemos admitir que sua vida seria bem mais triste.
- Sem dúvidas aí.
- Mas é sério, , você já considerou se mudar? Novos ares, novas pessoas, novos ambientes podem fazer bem a você. Vou até ser altruísta o suficiente e dizer que não precisa ser necessariamente Nova York.
- Novos homens... –brinquei.
- Estou falando sério, , você não lembra como eu estava miserável antes de decidir me mudar e entrar na NYU? Você já se esqueceu do episódio de 100 nuggets, 2 potes de sorvete e muito choro às 3 da manhã?
- Eu nunca vou me esquecer disso. – falei, fingindo um tom sério - mas eu acho que isso tinha muito mais a ver com o fato de você estar longe de um certo ser que atende pelo nome . Falando nele, como andam as coisas?
- Não fuja do assunto, .
- Eu vou pensar, , juro que vou. Pinky promise. – disse, levantando o mindinho.
- Ok, por enquanto você está livre, mas não pense que é a última vez que você ouvirá sobre isso.
- Tudo bem, mas, por favor, vamos mudar de assunto, não quero passar meus preciosos minutos com você chorando. Como vai o ?
- Ridiculamente bem. – ela revirou os olhos – a verdade é que está me bajulando demais nos últimos dias e isso tem me irritado.
- Essa é nova, acho que a falta de sol está afetando a sua cabeça.
Ela soltou uma leve gargalhada.
Fomos interrompidas pela chegada de nosso almoço. Observei a comida sendo servida à minha frente e senti minha boca salivar.
- A verdade é que, bem, eu estava esperando você chegar para te contar a novidade - começou assim que ficamos sozinhas - mas eu vou parar de desfilar para a Victorias Secret’s, ano passado foi o último. Você sabe que eu nunca gostei e com a faculdade, finalmente tomei coragem para desistir. E , bem, vamos dizer que ele está mais do que feliz por não ter mais a namorada desfilando de calcinha e sutiã por aí.
- Uau, , isso é tão demais!!! Tem certeza que não sabe o que está fazendo? – brinquei enquanto me servia.
- Boba. – ela deu a língua como uma criança – Aproveitando que chegamos no assunto , ele tem me perturbado para te informar que um amigo dele quer sair com você.
Amigo do querendo sair comigo. Eu tenho certeza que minha cara transmitiu a mesma desanimação que eu senti ao processar aquela sentença, já que fez uma cara não muito amigável.
- Christopher é legal, ! – Ela se limitou a falar.
- Legal como Dean? – rebati. fingiu não ouvir.
- vai te abordar sobre isso durante algum momento do dia e eu deveria te introduzir o assunto antes.
- Ele é o meu tipo, pelo menos? – perguntei derrotada.
- Se por seu tipo você está se referindo ao modelo número um do mundo, então não. Me controlei para não atirar o prato de ovos estalados em .
- Para sua segurança e dos deliciosos ovos à minha frente, que devem ter como único destino meu estômago, e não a sua cara, vou fingir que não ouvi isso.
- Por quê? Ele é seu namorado, nada mais justo basear seu gosto do que no seu namorado. – ela se controlava para falar sério, mas no final acabou soltando um pequeno sorriso mudo.
- Se você quer saber, eu e meu “namorado” – fiz aspas no ar bem dramática - não transamos há mais de três meses. – anunciei com um sorriso orgulhoso, confidente com minha resposta.
- Hmmm, e qual dos dois está de caso novo? – Ela disse sem se abalar ou se quer levantar os olhos de seu prato.
E tão rápido quanto veio, meu sorriso de vitória murchou. 3 dias diferentes, 3 conversas com 3 pessoas diferentes e todas as três mencionando , eu poderia batê-lo quando o visse de novo por isso, ainda que esse não tivesse culpa. Pensei em não responder , mas sabia que aquilo só lhe daria mais lenha para fogo.
- Ele, não que isso interfira em minha vida sexual. Quer dizer, não lembro de ter interferido quinta-feira. – joguei a isca.
- Quinta? Oi? – levantou a cabeça curiosa. Bingo.
- Peguei o fotógrafo do meu ensaio – disse casualmente.
-O que você passou boa parte da tarde xingando? Pera, você pegou em “transamos e tudo mais” ou uns beijos roubados na sessão?
- Não sei o que seria o tudo mais, porém... 10 pontos para !
- E por que você demorou todo esse tempo para me contar? – ela perguntou indignada.
- Por que você não me deixa falar? – brinquei - não foi nada demais, na verdade, eu não lembro direito do oba oba, apenas de sair e acordar na cama dele.
- Ele seria...?
- .
- Hmmm, não conheço. – disse após pensar um pouco – Deveria ir atrás?
- Não, ele é bonitinho mas...
- Você é você – ela concluiu.
Meu celular apitou com uma mensagem de .
- ! – exclamei- “Acabei de acordar vadias, desculpe.” – li sua mensagem.
- Vaca. – respondeu.
Outra notificação, outra mensagem.
“Não esqueçam de se prepararem para mais tarde” - Ai, eu tão não quero ir. – choramingou.
- Não é uma opção, ma chérie – respondi – Você sabia que o Jake Gyllenhaal vai estar lá? É hoje que minha vida de casada começa.
- ... – ela tentou.
- Na na ni na não, . Gyllenhaal vai estar lá. Inclusive, saindo daqui, iremos procurar um vestido para mim. E depois vamos para o meu hotel, onde farão nosso cabelo e maquiagem.
- Cabelo e maquiagem, , sério?
- Se você acha que vou estar menos do que perfeita no dia que meu marido futuramente irá lembrar como o dia em que fomos apresentados, você está enganada.
revirou os olhos por um período prolongado.
- Não sei em relação ao hotel, irá conosco.
não era do tipo festeiro, ele realmente só aparecia em festas quando elas eram essenciais.
- Me bajulando, lembra? – foi sua resposta.
- Bem, eu fico feliz. Mais companhias. – dei de ombros.
- É claro que fica. – ela disse sarcástica - Mas falando em festas com , você já sabe o que vai usar para o MET?
- Não. – suspirei - Estou em dúvida entre 3 vestidos! – Exclamei em um misto de tristeza e irritação.
- Uau! Boa sorte. Eu já escolhi um Oscar de La Renta preto e dourado. Acho que tenho uma foto do fitting aqui... – ela disse enquanto tirava o celular de sua bolsa.
Após alguns minutos olhando a tela do celular, ela o jogou abruptamente na mesa.
- Ugh! Desisto. Acho que deletei a foto, desculpe.
- Tudo bem. Mas me conta sobre a universidade, eu não acredito que você estuda em uma universidade, tipo, uma universidade de verdade! – exclamei animada. riu de minha reação exagerada.
- Eu também ainda não acredito que estou na NYU. É tudo muito surreal, incrível. Se bem que. – ela disse colocando o indicador na boca - Queria poder viver no campus para ter uma experiência completa.
- Você não pode estar falando sério!
- Claro que estou! Queria poder acordar e ir no halls ainda de pijama lutar pelos melhores cereais! – ela cruzou os braços como uma criança chateada.
- , você simplesmente não existe. Enquanto a maioria dos alunos cortaria seu próprio braço fora para ter um bom apartamento no East Side e você aí querendo dividir um quarto de 10 metros quadrados com um estranho!
- Experiência completa. – ela apenas repetiu.
- Você é louca.
Ela deu a língua.
- Louca e infantil.
- “Louca e infantil” – ela me imitou, soltando um sorriso divertido. Precisei rir também.
- Mas e as pessoas nas suas turmas? Elas têm te tratando bem? Quantas pessoas diferentes já se ofereceram para fazer seus trabalhos?
Imediatamente, seu semblante mudou, ficando mais triste.
- Elas são inteligentes... e educadas – ela disse receosamente, evitando olhar em meus olhos.
Problema.
- Vamos lá, desembuche.
- É que... Não quero falar sobre isso agora.
- Eu também não queria falar sobre como eu sou uma fracassada infeliz, mas acabei falando, não?
continuou em silêncio.
- Tudo bem, , não vou te forçar a contar nada. Diga em seu tempo. Só não fique remoendo isso dentro de você tá? Só me diz, você já falou disso com alguém? – Continuei em tom bem mais delicado.
- Falei com ... – foi sua resposta, sem querer insistir naquilo, troquei de assunto falando a primeira besteira que veio em minha mente.
- Você sabia que humanos não podem beber água do mar, mas gatos sim? Eles têm rins especiais que podem filtrar o sal.
- Como e por que diabos você sabe disso? – Ela perguntou me olhando de modo engraçado, missão cumprida!
- Vi ontem no twitter. – Dei de ombros. – Você ainda vai para festa da Vogue, né?
- Vou sim, você não vai se livrar de mim tão cedo, .
Continuamos conversando sobre tudo o que vinha em nossa mente, desde que coisas que eu não fazia a mínima ideia do que significavam que aconteciam na faculdade de , ou de coisas bestas que víamos e fazíamos nos lembrar uma da outra, me fazia sentir amada, como se eu tivesse encontrado meu lugar no mundo.
- Dell... – comentou em tom sério quando estávamos prestes a descer do carro em frente ao seu apartamento. – A verdade é que as pessoas na NYU não são as melhores...
Fiquei em silêncio, esperando que ela continuasse.
- Todos os homens acham que estou lá porque sou famosa e bonita. Alguns tentam esconder porque claramente querem algo a mais comigo, mas todos se acham mais inteligentes que eu. Inclusive as mulheres, que são apenas 5 na minha turma. Elas são mais educadas e melhores em esconder, mas consigo ver que todos acham que não mereço estar ali e que só consegui entrar na faculdade por ser uma celebridade.
Seus olhos marejavam e eu não sabia o que dizer, então a abracei.
- Você sabe que está lá porque você merece e só isso deve importar. Dê tempo ao tempo, essas pessoas logo verão o quão inteligente você é e mudarão de ideia. Se não mudarem, sempre posso enviar cocô para suas casas. Você é 10 vezes mais inteligente que eu e 80% das pessoas que eu conheço. Não deixe a opinião de uma dúzia de estranhos te abalar. Eles que estão perdendo a ótima pessoa que você é. – Continuei.
me abraçou mais forte ainda.
- Eu te amo, , obrigada.
Ela limpava os olhos enquanto íamos em direção ao seu prédio, que com apenas dois andares, não parecia em nada com um prédio em Manhattan. Passamos pelas grades pretas e logo estávamos dentro de seu apartamento. Me joguei na sala/cozinha de , que se não fosse pela sua localização, seu tamanho e preço, seriam insanos.
- Eu estou morta! – Reclamei.
- E fedorenta. – disse rindo enquanto colocava sua bolsa em cima da mesa da cozinha e abria a geladeira para beber uma água.
- Você tem energético aí? Definitivamente vou precisar. – Choraminguei.
- Pare de fazer drama, , você que estava toda empolgada, para dizer no mínimo, criando planos mirabolantes essa noite para agora estar largada como um saco de batatas no meu sofá.
Enquanto falava, sentou-se próxima de mim no longo sofá bege.
- O que você quer fazer? – Ela continuava.
- Sinceramente? Não sei. Estou nervosa. – Disse e me pus a observar a minúscula cozinha de ao fundo.
- Hmmm. – Foi sua resposta.
- Sua cozinha é do tamanho do meu closet. – Disse enquanto observava os tons brancos e cinzas de sua cozinha que mal cabia uma mesa redonda para quatro, junto com os armários brancos e eletrodomésticos em tons metálicos. pareceu ignorar meu comentário.
- Por que você não toma um banho primeiro? Eu sei que eu preciso de um. – Ela deu uma risada. – Aí de cabelos limpos, sentamos e pensamos em um plano perfeito, que tal?
- Eu te amo, ! – Disse me jogando em sua direção e a abraçando-a. – Sinto sua falta. Disse baixo em seu ouvido ainda abraçada nela.
- Ô, – ela disse muxoxa enquanto afagava meu cabelo – acho que você deveria considerar se mudar. Você pode ficar uns dias em meu sofá e testar a ideia. – Ela terminou com sua voz soando mais doce.
- Vou pensar. – Disse dando um beijo em sua bochecha e me levantei, pegando minha bolsa caída aos pés do sofá. imitou meu movimento e juntas subimos as escadas para o segundo andar. Subi os quatros degraus que davam para o quarto de hóspedes enquanto virava na direção oposta e entrava em seu quarto.
Quando abri a porta, não pude deixar de rir. As duas camas de solteiro que existiam no quarto, colocadas nas extremidades opostas, apresentavam decorações contrastantes. Uma possuía padrões vermelhos sangue enquanto a outra com padrões totalmente diferentes, só que azul escuro. A cortina com padrões vermelhos que ficava na frente de cada cama também não ajudava em nada. Era uma bagunça bem . Coloquei minha bolsa na bancada e peguei uma toalha e roupão, seguindo para o banho sem pensar direito no que fazia.
Saí do banho e sentei na beira cama ainda de roupão e comecei a pensar em que tipo de roupa usaria mais tarde e onde poderia a conseguir em tão pouco tempo, tinha que estar perfeita...
- !
Uma pressão no meu ombro chamou minha atenção e só aí percebi que havia caído no sono. Eu ainda me encontrava na mesma posição de quando havia sentado na beira da cama, só que agora meu tronco estava deitado.
- . – chamou mais uma vez.
- Oi... – respondi ainda meio sonolenta e me sentando novamente, sentindo dores por ter dormido em uma posição tão ruim.
- mandou eu te chamar, disse que vocês iriam se atrasar. – havia recuado alguns passos para trás.
- Puta merda! – eu disse, pulando rapidamente da cama – Que horas são?
- Três e alguma coisa.
- Obrigada, de verdade, – eu disse, abrindo minha bolsa e procurando minhas roupas enquanto esperava que saísse.
- Na verdade... – ele começou em um tom inseguro, fazendo com que eu voltasse a olhar em sua direção. Seus grandes olhos pretos estavam incertos. – Eu meio que perdi uma aposta e preciso dar seu número para um amigo...
- ... – repreendi – Eu tenho namorado!
Ambos acabamos rindo.
- Mas é sério, ele não sabe que eu tenho namorado?
- Eu meio que dei a entender que seu namoro é falso. – ele respondeu coçando a cabeça.
- ... - Eu disse em um tom repreensível e desapontado. – Você sabe que eu não importo tanto com gente da indústria sabendo a verdade, mas gente de fora...
- Desculpe, , prometo que é a última vez isso acontece.
- Tudo bem, vou aceitar. Mas eu quero saber mais dele antes de respondê-lo.
- Obrigado, ! Você é demais. – ele disse dando um beijo em meu rosto.
- está te esperando na cozinha – ele disse enquanto saía do quarto.
Eu realmente não me importava com pessoas da indústria sabendo que meu namoro com não era verdadeiro. Em Hollywood, todo mundo sabe os podres de todo mundo: quem namora por publicidade, quem está no armário, quem vive traindo o parceiro... Inclusive os repórteres de fofoca, diferente do que o público pensa. Mas ninguém abre a boca com medo de perder relações com as estrelas, eles até ajudam a divulgar notícias falsas publicando histórias mandadas pelos publicistas. A época de paparazzis que perseguiam e conseguiam furos morreu junto com Paris Hilton, Britney Spears e Lindsay Lohan. Hoje (quase) tudo é combinado. De vez em quando, informações vazam mesmo, mas nada como o público pensa que é, que as estrelas são perseguidas e sem privacidade como no tempo da Britney. Na verdade, hoje não se tem privacidade, mas a culpa não é dos paparazzi e sim de pessoas comuns e seus celulares.
Rapidamente me vesti e desci as escadas à procura de . Adentrei a cozinha e a encontrei abaixada, retirando algo do forno.
- Fiz seus cookies! – Ela anunciou feliz, colocando a bandeja prateada na bancada de mármore ao lado do fogão.
- Estão quentes demais, louca. – Ela bateu em minha mão quando fiz menção de pegar um.
- Não que eu esteja feliz pelos cookies, mas estamos super atrasadas, ! Não vai dar tempo de fazer nada. – meu tom de voz era um misto de choro e desespero.
- Dramática. - Foi a resposta de enquanto tirava pratos e copos do armário e os colocava na mesa ao meu lado – Senta. - Ela apontou com a cabeça para a mesa e contrariada sentei.
- ! gritara em direção ao segundo andar colocando os cookies na mesa e se sentando a minha frente.
- Eu já pensei em tudo, daqui a... – ela parou para olhar o relógio no canto direito – duas horas e três minutos, Adil chegará e quarenta minutos depois o maquiador.
- Cookies! – escutei falar por trás de mim e logo ele estava sentado na cadeira entre eu e .
- Pega o suco na geladeira. – Ela disse a , que logo se levantou. – Separei uns vestidos meus que eu acho que você vai gostar e apropriados para ocasião. Se der tempo, eu posso até pensar em fazer minha maquiagem. – ela brincou com uma piscadela.
- vai casar! – brincou nos servindo.
- Pela preparação de hoje, parece mesmo. – entrou na brincadeira enquanto pegava um cookie.
- Amém Jesus, eu recebo! – Disse levantando as mãos para o alto e recebendo gargalhadas.
- Senti falta de suas loucuras, disse - principalmente de quando tenho que ajudar a escolher uma roupa e minha resposta nunca é a certa.
Dei um meio abraço nele.
- Por incrível que pareça, também sinto falta de um velho rabujão na minha vida. Brinquei com o apelido acidental que ele havia ganhado de mim.
Comemos e rimos relembrando acontecimentos, eu não via há muito mais tempo que , mas logo ele precisou sair para resolver alguns assuntos.
- Como deixamos isso acontecer? – Eu disse enquanto caminhávamos para o quarto de .
- Huh? – Ela respondeu confusa.
- Ficarmos tanto tempo sem nos ver, sei lá. Disse dando os ombros.
- Talvez por que eu me mudei? – Ela respondeu brincalhona, mas logo voltou com o tom sério. – Ninguém disse que a vida de adulto seria fácil, . É normal se sentir perdida.
Logo estávamos em frente a cama de , que continha quatro vestidos.
- Oh meu Deus! – Eu disse gritando em direção ao minivestido preto de cetim assim que o vi. Rapidamente o peguei e o coloquei em minha frente, me olhando no espelho de .
-É perfeito!
-Oba! Menos um problema! – Ela bateu palminhas.
- O que você vai vestir perguntei?
apontou para minha direita onde um macacão branco estava em cima de uma cadeira.
- Bonito... – respondi passando o dedo no tecido.
- Caramba! - bateu os dedos na cabeça – Esqueci do seu sapato. – Ela fez uma cara de culpada.
Por incrível que pareça, e seus 1,80 calçava menos que eu, com meu modesto 1,75.
- Ainda não aceito que você calce menos que eu, nunca vou aceitar.
rolou os olhos e eu me olhei novamente com o vestido em minha frente no espelho, pensando se algum dos sapatos que trouxe combinariam com o mesmo.
- Acho que tenho um sapato que fica bom, mas não tenho certeza...
Virei o vestido a fim de vê-lo melhor, ele era curto e sem nenhum decote na parte da frente, mas possuía as costas nuas, onde o corte lateral mostraria uma boa parte de meus peitos.
- Como é? - perguntou.
- É uma open toe preta, bem pau para toda hora.
- Não é o que eu geralmente uso... Mas pode dar certo.
- Você acha que conseguimos ir buscá-lo antes do cabeleireiro chegar?
- Não, não mesmo. Mas sempre podemos mandar buscá-lo. – Ela disse com uma piscadela e pegando o celular.


Capítulo 4

“She worked her way through a cheap pack of cigarettes,
hard liquor mixed with a bit of intellect,
And all the boys, they were saying they were into it,
Such a pretty face, on a pretty neck.
” Kiwi; Harry Styles.

- Segundo o GPS, chegamos. – disse depois de aproximadamente uma hora de viagem.
Estávamos, definitivamente, na parte super rica de Nova York, pensei comigo mesma enquanto olhava esmaecida a casa onde seria a festa. Se é que você podia chamar aquilo de casa, parecia muito mais um castelo, com seu portão no estilo medieval e incontáveis janelas na casa que aparentava ser de três andares.
Uma batida na janela de me fez pular de meu lugar e meu coração quase sair pela boca. Pelo vidro, via-se o que se parecia ser um segurança esperando contato e analisando minuciosamente cada um de nós dentro do carro. abaixou o vidro e ele prontamente pôs-se a falar.
- Boa noite, senhor.
- Boa noite. – respondeu.
- Posso saber o nome do senhor ou de quem está na lista? – O alto moreno perguntou.
virou-se confuso para mim e , e eu sabia exatamente o porquê: nenhum de nós foi convidado, apenas re-convidado por , teria ela lembrado de por nossos nomes na lista? Ou apenas colocado como extras dela? Aquele era o tipo de lugar que parecia não importar se você era famoso ou não.
- Estamos com – foi , quem se pronunciou - somos , e .
O homem, que mais parecia com um integrante do serviço secreto, puxou de dentro do paletó um tablet e pareceu procurar nossos nomes. Poucos segundos depois, ele o guardou e abriu um sorriso, que apesar de sua tentativa, não parecia nada cordial.
- Boa noite, senhores , e . O senhor pode continuar nesse caminho por mais ou menos um quilômetro e chegará na casa principal, tenham uma boa noite.
Dito isso, ele se afastou e o portão se abriu.
- Algum de vocês sabem quem mora aqui? – Perguntei curiosa.
- Definitivamente não. – respondeu.
- Mas parece ser old money disse - quer dizer, uma casa dessas você não encontra à venda facilmente.
- Vocês acham que é um castelo? – Perguntei ainda encantada com a propriedade.
- Eu não tenho certeza. – respondeu.
- Parece castelo o suficiente para mim. – disse, dando de ombros.
A medida que nos aproximamos, deu para perceber que aquele castelo, na verdade, era uma mansão extremamente majestosa. Era o tipo de lugar que se poderia ver dentro de um filme de época ou até um casamento de uma celebridade.
Depois que descemos do carro, o interior da casa era tão luxuoso quanto o seu exterior, com um salão principal completamente branco iluminado com luzes nos tons amarelos, rodeado de arranjos de flores, estátuas gregas de bronze e um grande lustre feito de ouro e cristais. Havia duas escadarias que levavam ao andar de cima com seguranças à postos em cada extremidade e no salão principal, várias pessoas, porém nenhuma que aparentava ser ou Jake.
- Você consegue ver ela? – Me inclinei perguntando à , que com seus 1,85cm mais seus saltos, era mais alta que a maioria das pessoas naquele cômodo.
- Não consigo ver todo mundo. – ela revirou os olhos, sabendo o que estava pensando – Mas não acho que ela esteja aqui. – respondeu e virou-se para – Você consegue enxergar a em algum lugar, amor?
- Não – respondeu também a procurando.
Adentramos o cômodo à procura de , ou alguém conhecido, mas o mar de rostos desconhecidos só reforçava a sensação de desconforto e “o que estou fazendo aqui?”. Olhei para e que pareciam refletir os mesmos sentimentos que eu.
- Ali está alguém conhecido. – disse, me referindo ao bar.
- Apenas para vocês que não estão dirigindo. – deu um suspiro - E essa parece uma noite em que eu particularmente precisaria de uma bebida.
Foi a minha vez de suspirar e olhar meu celular, mas não havia sinal algum de . deu os ombros e seguiu em direção ao bar, enquanto eu e a seguíamos. Enquanto andava, me pus a observar melhor as pessoas naquele lugar, elas definitivamente não pareciam vir de dinheiro antigo. Eram pessoas diferenciadas, mas todas pareciam pertencer ao mundo artístico. Liberais ricos e artistas. Dei uma risada interna com o pensamento ao perceber algumas faces conhecidas que certamente entravam naquela categoria.
Depois de um minidebate, me permiti tomar um pouco de algo, eu definitivamente não ficaria bêbada, mas precisaria de um pouco de álcool para acalmar meu nervosismo. Acabei me servindo de um vinho branco que, como tudo ao meu redor, parecia custar milhares de dólares, mas antes que pudesse levar a taça a minha boca, ouvi meu nome ser chamado.
- ! ! !
Virei minha cabeça em direção a voz que me chamava e me deparei com Steven Yoon acompanhado com duas moças de rostos familiares andando em nossa direção.
- , ! Fico tão feliz de ver vocês juntos, ainda há esperança para o amor verdadeiro, ele não está morto. – Steven disse ao abraçar .
- Se ela não me largou quando eu acidentalmente destruí seu Valentino de 60 mil dólares, ela não larga mais. – respondeu ao cumprimentá-lo.
-Oh my my, ! Isso é quase um crime! – Steven disse, levando as mãos ao coração, com uma perplexidade exagerada para a situação.
- A fiança foi paga na forma de uma Birkin. – disse e deu uma piscadela à Steven – e muitas e muitas horas de bajulação e desculpas.
revirou os olhos, irritada com o tom materialístico da conversa.
- O problema não era o preço em si, mas o valor sentimental, era um Valentino feito especialmente para mim!
- Ô, ... – Foi a minha vez de falar. – Já disse que o pode destruir quase tudo o que tem no meu guarda-roupa, se o pedido de desculpas vier em forma de uma Birkin. – completei rindo.
Dito isso, Steven se virou e veio em minha direção, os olhos asiáticos, já pequenos, parecendo diminuir ainda mais no meio de seu rosto redondo e longos cabelos negros.
- ! Quanto tempo querida. Não sabia que você estava na cidade.
- Rápida viagem a trabalho, amanhã já estarei de volta à cidade do sol.
- Oh, isso é uma pena.
Fiz uma cara de triste e percebi que tanto quanto observavam as duas moças que se encontravam com Steven. Ambas possuíam as feições parecidas, podendo passar por irmãs e eram muito mais altas que Steven, só então percebi que eram provavelmente modelos e estavam bizarramente caladas ao seu lado.
- Venham dar oi para o resto do pessoal, eles irão adorar saber que você estão aqui. – Ele continuou, nos conduzindo em direção ao lado direito da sala.
deus os ombros e soltou um “por quê não?” inadmissível quando Steven saiu.
As duas garotas continuaram caladas e seguindo Steven, assim como eu, e .
Steven nos apresentou para pessoas que eu logo esqueci os nomes, apesar delas não parecerem tão chatas quanto o resto da festa – talvez apenas 25% irritantes. Ok, a verdade é que eu estava impaciente procurando por e Jake e nada conseguia prender minha atenção. Observei , que conversava e olhava as pessoas nos olhos, mas parecia estar entediada que nem eu.
E as duas garotas que continuavam caladas.
- Você acha que elas são mudas? – Puxei papo com quando a atenção saiu de nós.
- Oi? – Foi sua resposta assustada.
- As duas garotas com Steven. Elas não falaram desde que nos foram apresentadas.
- ! – Ela disse em tom repreensivo – é rude especular se as pessoas falam! Além do mais, elas provavelmente só não sabem inglês muito bem ou são tímidas.
tinha razão. Estava entediada demais. Tentei prestar atenção na conversa ao meu redor, mas o tópico da conversa parecia ser um filme que eu nunca havia ouvido falar. Ótimo.
Mais uma vez observei a sala ao meu redor procurando por ou Jake, quando avistei conhecidos olhos .
- Puta merda! – Soltei baixo e virei-me na direção oposta.
e as pessoas próximas a mim parecerem perceber meu pequeno surto.
- O que foi? – Ela perguntava.
- está aqui.
- Quem?
- . O “fotógrafo” de quinta. – Disse dando ênfase na palavra para que ela entendesse.
- Ah! Onde ele está? – Ela falou e começou a olhar ao redor do cômodo, como se magicamente fosse adivinhar quem ele era.
- O que foi, ? – , agora livre de conversas, me perguntava, parecendo ter notado minha reação. Contudo, foi mais rápida.
- O cara que ela pegou quinta está aqui.
- Uh! Quem é ele?
- Não sei. – ela continuou ainda olhando o cômodo - Só sei o nome, .
que também olhava ao redor parou e virou-se para mim.
- Você ficou com ?
- Espera, você também conhece ele? Por quê todos conhecem ele menos eu? Quem é? – A voz de ficou manhosa.
- Ali. – a posicionou na direção certa. Cara alto de cabelos vestindo a jaqueta jeans com pele de cordeiro.
- Uh! Ele é bonito. – Foi a reação de batendo palminhas.
- Você e ... Ainda não acredito. – continuou.
- Por que não? – Sua reação havia sido quase a mesma de , mas não iria contar.
- Ele é um cara super de boa, tranquilo, na dele, quase que certinho. E você... é você. – Ele disse fazendo um gesto teatral com as mãos em minha direção. Rolei os olhos.
- Uau, ele realmente é bonito. – disse, ainda observando . Bati em seu ombro.
- Para, ele vai perceber, . – Reclamei.
- De onde você o conhece, amor? – perguntou a .
- Da infância. Mas ficamos próximos na universidade. Depois ele foi morar na Europa.
- Hmm... – ela respondeu enquanto olhava mais uma vez para – Muito bonito.
- Devo ficar preocupado? – perguntou, fazendo com que nós duas caíssemos na risada.
- Só estou feliz pela minha amiga. Bom gosto ela tem.
- Nem parece que mais cedo estava me perturbando por causa do ... – reclamei.
- Shiu! – Ela respondeu.
- Bem, eu vou dar um oi para ele e já volto.
- NÃO! – Disse rapidamente.
- SIM! – disse batendo palminhas. – Já sei que a não vai me apresentar ele. Ainda mais na “noite Gyllenhaal”.
- , eu sei que já disse isso antes, mas, te odeio.
Ele saiu rindo e fechei a cara.
observava os dois homens com olhos ávidos e descrevia suas ações, mas eu fingia não ligar, só então me pondo a pensar no que havia dito: infância e universidade. Se o conhecia desde a infância significava que os pais de provavelmente eram ricos, universidade só confirma, já que foi para Harvard. O que implicava que também era inteligente. Interessante.
- Uh, eles estão vindo. – Ela alertou, depois de alguns minutos.
E em poucos segundos eles estavam ali.
- Essa é a minha namorada que eu estava te falando, . E essa não sei como, a melhor amiga dela, . – disse apontando para mim – Meninas, esse é meu amigo de longa data, .
- Também não sei como resolveu namorar você, , se serve de consolo – disse dando os braços, fazendo todos na roda rirem. Finalmente me virei na direção de , que parecia o mesmo de poucos dias atrás: os doces pequenos olhos castanhos, as sobrancelhas arqueadas. Eu não sabia o que pensar.
- , prazer. – disse, dando a mão para uma mais do que animada.
- . – ela retribuiu.
- Olá, . – Foi a vez de falar comigo.
- Espera, quer dizer que vocês se conhecem? – disse cinicamente. Queria esganá-lo.
- Ele que foi o fotógrafo da campanha que vim fazer, , para você ver o quanto o mundo é pequeno.
- Ah, que legal. – Foi a resposta de com um sorrisinho perverso, muito parecido com o de . Esperava que não percebesse os reais sentimentos por trás daqueles sorrisos.
Decidi morder a isca de , mas de um jeito bem .
- Ok, , prove-se útil e me diga uma história embaraçosa de , do tipo que possa usar para chantagens e que ele definitivamente não iria querer eu sabendo. Duas você ganha um beijo, e três um encontro. – Disse dando o sorriso mais cínico do mundo.
deu uma risada gostosa e agora olhava exasperado para , parecendo que algum tipo de conversa interna acontecia em seus olhares.
- Nem pense nisso, – a voz de era séria. – Eu juro que nunca mais volto a falar com você.
- Ótimo. – intervi – Ninguém precisa de um amigo como o , pode mandar os detalhes, .
- ... Não me ponha em situações comprometedoras. – foi sua resposta.
- Opa, para vocês dois estarem assim, o negócio é bom mesmo, hein? Então vou mudar minha oferta, conte a história ou digo para todo mundo que você fode mal. – Terminei de dizer, desafiando-o e levantando uma sobrancelha.
desviou seu olhar para , que estava desesperado. Até estava quietinha querendo saber da já infame estória.
- Você sabe que não pode contar essa história, , eu nunca mais terei paz na minha vida se a souber o que aconteceu.
- Eu não vou contar, , mas não a deixe falar com o Mark. Se ela oferece um encontro a ele, ele abrirá boca.
“OH MEU DEUS” Uma garota de cabelos negros havia falado tão alto que foi impossível não olhar para ela, logo, todos presentes naquele pequeno espaço a encaravam.
- Olha só com quem o Henry Cavill acabou de chegar – ela continuou, indicando com a cabeça.
- Não entendi, ela não é namorada dele? – Steven perguntou.
- Era. Ou pelo menos havia deixado de ser depois do que ela aprontou.
- O que aconteceu? – Me vi obrigada a perguntar.
Apesar de lindo, eu não me interessava por Cavill. Quer dizer, se ele quisesse transar comigo eu certamente não diria não, mas ao mesmo tempo eu não o ativamente o stalkeava atrás de uma chance, como com Jake. Porém, Antoni, um dos meus melhores amigos, era obcecado com o cara, e me fazia procurar por qualquer indício de uma possível bissexualidade. Se ele soubesse que o assunto Henry Cavill e sua vida amorosa surgiu e eu fiquei calada, levaria uma surra. deu um pequeno sorriso, provavelmente sabendo o porquê de eu estar me metendo no assunto.
- A namorada dele, Josephina, é conhecida pelo seu... Temperamento. – ela pareceu escolher a palavra com calma. – Na última vez que eles brigaram, ele a chamou de louca e ela respondeu com um “Louca? Você quer louca? Você terá” e prosseguiu a pegar as roupas dele e queimar na sala da casa. A fumaça disparou o detector de fumaças e em poucos minutos, os bombeiros estavam na casa. Eu sei disso porque minha amiga, super confiável por sinal, é vizinha dele e acabou presenciando tudo.
- Uau. – outro cara de grandes óculos pretos, cujo nome eu esquecera, respondeu.
- Isso não é tudo. – a morena continuou – uma vez ela quase bateu em uma fã que ela insistiu que estava dando em cima dele.
- Caramba. – virei cochichando para – Antoni vai amar saber disso.
riu.
- Não sei se vai amar já que nada envolve o Cavill beijando caras, mas ele certamente irá se divertir.
- E amaldiçoar a garota.
- Sim e... – Parei a frase no meio ao perceber que e não estavam ali.
- sumiu com o , ele realmente não quer que eu escute essa história.
- Vou ter que admitir que estou curiosa, poucas coisas mexem tanto com o assim.
- Não se preocupe, sunsinhe, eu vou descobrir essa história. Em nome da minha honra. – Eu disse, batendo continência.
- E você, , o que acha? – Steven havia perguntado.
- Desculpe, sobre o quê? – Ela respondeu, virando-se para o grupo.
- A exposição do Zachary Simpson. Você chegou a vê-la?
- Oh, sim, claro, a peça que mais gostei foi... – começou a tagarelar e senti minha mente desligar, eles estavam falando de uma exposição que eu não havia ido. Ou tinha ouvido falar.
Quantas exposições conseguia atender indo para a faculdade? Milhares aparentemente, já que ela já estava há uns bons 30 minutos conversando sobre exposições com o grupo. Quando o assunto pareceu mudar, soltei um grunhido audível somente para ela.
- Ugh, essa festa é um sacoooo. – Exagerei nas palavras numa tentativa de expressar o tédio que me matava.
- Não acredito que vou dizer isso, , mas seria bom se você bebesse um pouco. – Ela disse calmamente.
- Ótima ideia! Você quer algo?
- Não, obrigada.
Com sua negativa, caminhei em direção ao mini bar, sem prestar muita atenção nas pessoas ao meu redor. Eu estava tão entediada que estava cogitando incitar uma briga só para ter algum tipo de entretenimento. Pedi o mesmo vinho branco que havia tomado quando cheguei e deixei a sensação de acidez junto com o gosto de fruta madura tomar conta de minha boca. Olhei a sala mais uma vez, só então prestando realmente atenção na maravilhosa escadaria que havia sala. Duas escadas se uniam surgindo de cada extremidade do cômodo, havia um lustre principal quando elas se juntavam no terraço e dois castiçais rodeados de rosas brancas na parte superior. Na parte central inferior, residia uma mesa do mesmo mármore do piso, cheia de flores. Na bolsa em minhas mãos, senti meu celular vibrar. Quase gritei quando vi o nome de no visor.
- ! Onde você está?
- , – ela mal respondeu, sua voz sendo abafada por uma batida eletrônica muito forte. – desculpa, eu fiquei presa em um pre game.
Eu não sabia se era o som ao fundo, mas sua voz não parecia normal.
- Em no máximo 30 minutos estarei aí. Te amo.
E assim a ligação ficou muda.
Com o fim da chamada e entediada, resolvi explorar o local. Entrei por uma porta que estava em meu campo de visão e me deparei com um grande corredor, nele haviam oito portas, quatro para cada lado. Resolvi abrir uma das portas à minha esquerda e me deparei com um banheiro. Fechei a porta e virei para a direita, encontrando a única porta de correr do corredor. Deslizei-a e entrei no cômodo, que logo percebi ser uma biblioteca. As paredes da sala e o chão eram da mesma madeira escura, com prateleiras cheias de livros que iam até o teto. O forro tinha esculturas encravadas no mesmo, que pareciam estar vivas devido à luz amarelas dos dois lustres presentes. Ainda haviam outras três portas na biblioteca, uma localizada bem à frente da que eu me encontrava e uma em cada extremidade do cômodo. Na parede direita, à minha frente, havia uma lareira encravada em um mármore claro, com uma estátua romana a poucos passos de distância. Olhei para ela e tive uma ideia boba. Caminhei em sua direção enquanto sacava o celular da bolsa e tirei uma foto do pênis desproporcionalmente pequeno comuns daquelas estátuas e enviei para :
“Olha! Igual ao seu!”
Ri e troquei a câmera para o modo frontal, me abaixei até ficar com a cabeça ao nível da região pélvica da estátua e coloquei minha língua para fora, dando a impressão de que estava lambendo o pênis da mesma. Pouco segundo depois, ouvi uma risada vindo do final do final da sala e quase me engasguei, levantando rapidamente olhando para onde o som veio.
- script>document.write(James)!
Eu soltei em um misto de alegria e alívio, ao perceber que o dono da risada não era um completo desconhecido, e sim script>document.write(James), que se encontrava encostado no batente da porta no final da sala.
- Eu. – ele disse tomando um gole da garrafa de cerveja que estava em sua mão esquerda.
- Espera aí. – reclamei - Você estava aí esse tempo todo?
- Não sei o que você quer dizer com tempo todo, mas sim, vi você molestar essa pobre estátua.
Ele completou saindo do batente da porta e vindo em minha direção.
- Ei! Foi apenas uma brincadeira!
- Para você, o coitado não tem como se defender. – ele continuou sentando-se em uma das poltronas de couro.
Então resolvi a mesma técnica que havia usado poucos segundos atrás com .
- Sabe como é, eu sou obcecada com pintos pequenos. – comecei inocentemente – Por isso transei com você antes de ontem. – completei dando uma piscadela e um sorriso.
- Ouch! – Ele reclamou e afagou o rosto como se tivesse levado um tapa ali, ajeitando-se confortavelmente no sofá, sem dar indícios de que iria sair dali.
Sem saber o que fazer, desviei minha atenção para os milhares de livros na estante ao meu lado, mas a presença muda de script>document.write(James) me incomodava por alguma razão.
- Se você estiver esperando que eu saia para usar algo, saiba que não me importo. – disse a primeira coisa que passou pela minha mente enquanto ainda fingia analisar os títulos a minha frente.
- O quê? Não. – ele respondeu com uma plausível confusão em sua voz.
- Não é como se alguém naquela sala fosse se importar. – Ele completou.
- O que está fazendo aqui então? – Perguntei.
- O mesmo que você. – ele disse com um tom divertido, claramente entrando no jogo.
- Abusar estátuas?
Ele claramente não esperava essa resposta pois deu uma gargalhada.
- Na verdade, estou me escondendo.
Ele finalmente captou minha atenção.
- Uh, caso ciumento? – Perguntei enquanto me sentava no sofá a sua frente.
- Podia dizer que sim para parecer mais descolado, mas estou apenas descansando de meus amigos. – ele respondeu sincero passando a língua por seus lábios.
- Já eu, estou descansando de todo mundo, festa chata.
- Não irei discutir. – ele disse, tomando um gole de sua cerveja.
O barulho da porta direita lateral sendo deslizada chamou nossa atenção e desviamos nossos olhares para o local, encontrando um casal que se beijava passionalmente.
- Oh! – A mulher soltou ao perceber que não estavam sozinhos no cômodo, passando suas mãos nervosamente em seu vestido, tentando ajeitá-lo.
- O banheiro é duas portas a esquerda. – eu disse brincalhona, vendo a cor do rosto da mulher aumentar três tons de vermelhos.
- Bem, a festa claramente não está um saco para todos. – ele disse quando o casal saiu da sala, com um brilho divertido no olhar, tomando mais um gole de sua cerveja. Eu não conseguia distinguir o significado dele e aquilo me intrigou.
Vendo ele beber sua cerveja, lembrei da existência de minha própria, que ainda se encontrava em cima da lareira. Caminhei até a mesma, ainda pensando no que realmente estava fazendo ali. Se eu voltasse para a festa eu morreria de tédio. Ou ficava ali e provocava . A segunda opção pareceu mais segura. Bebi todo o conteúdo e voltei para o lugar onde estava.
- E aí? Você ainda não me disse por que está se escondendo.
- Eu acabei de responder isso.
- Não, você disse que estava se escondendo de seus amigos, mas não o porquê.
- Não é o meu tipo de festa.
- E qual é o seu tipo de festa então, uma que você pode discutir Bukowski? – Perguntei sarcástica
- Você acha que eu sou o tipo de cara que discute Bukowski em festas? – Ele deu uma risada debochada
Não respondi.
- Meu tipo de festa é aquela onde está escuro e todos são iguais. Ninguém pode ver ninguém e você simplesmente dança e começa a flertar com um total estranho. Eu gosto de fazer isso. – respondeu depois de que fiquei calada.
- Uau, . – eu deixei escapar surpresa.
- O quê?
- Não imaginava isso de você.
- Imaginava que eu discutisse Buwoski em festas... O que eu faço – ele deu uma piscadela marota – diferentes festas, diferentes s.
Foi só aí que percebi que script>document.write(James) não estava sóbrio.
- Você está de porre! – Falei subitamente na mesma hora que fiz a descoberta.
- Não. Sim. Talvez, quem sabe? – Risadas.
- Uh, por favor por favor por favor me diga qual é a história do . – eu disse, tentando fazer a minha melhor impressão do gato do Shrek.
- ... – ele respondeu e eu pude ver que ele estava considerando meu pedido.
- Você pode dizer para ele que estava de porre e escapou. O que não seria mentira. Ou eu sempre posso voltar com meu plano de dizer que você fode mal.
- Isso é chantagem.
- Eu nunca disse que jogava limpo.
Aproveitei minha fala e diminui mais ainda a distância entre mim e , vendo que minha proximidade o desnorteava, sentei em seu colo sem pudor algum.
- Por favor, . – eu disse em minha voz mais manhosa, contemplando seu rosto e pensando se deveria ou não beijá-lo.
- Pare de pensar se deve ou não me beijar - Ele disse, falando exatamente o que eu estava pensando. O observei de olhos arregalados.
- Seu sobrenome é Cullen?
- Não. – ele parecia confuso – É .
Suspirei.
- Você não entendeu a referência. Crepúsculo.
- Ah.
- Não gosta de Crepúsculo, talvez você não seja tão perfeito.
- Não sou tão perfeito? – Ele perguntou divertido, levantando uma sobrancelha.
Puta merda, eu havia dito aquilo em voz alta. Merda, merda, merda. Respira, finge que nada aconteceu.
- É o que todo mundo estava te chamando na sessão de fotos.
- Ah, é? – Ele disse ainda com um sorriso meio divertido, meio convencido nos lábios.
- Hmm. – foi só o que conseguir fazer querendo me enterrar.
- Bom saber...
Graças ao meu bom Deus e meu anjo da guarda, que deveriam estar assistindo aquela cena, um moço de cabelo louros cacheados nos interrompeu, passando pela porta e soltando um exasperado “!” seguido de um “eu o encontrei” para o corredor.
- Mark. – respondeu, enquanto eu delicadamente saía de seu colo e me sentava no sofá.
Poucos segundos depois, outro homem havia adentrado a sala e chamado por antes de pousar seus olhos em mim. Ele e o tal cara chamado Mark não paravam de olhar para mim e para , incertos do que fazer. Sem ter muito o que fazer ali, achei melhor ir embora, me levantei em um pulo e me dirigi primeiro aos dois caras ainda parados na porta, e depois, a .
- Senhores, e . Não pense que esqueci. Você vai me contar.
Assim que passei pela porta escutei um alto “VOCÊS ESTAVAM SE PEGANDO?” o que quase me fez parar e dar uns passos para trás e escutar o que iria falar, mas segui meu caminho voltando para onde e estavam.
- Onde você estava? – Ela perguntou assim que me aproximei o suficiente.
- Com , tentando arrancar a história do . – disse, encarando . Eu pude jurar que o todo sangue havia sumido de face, ele ficou branco. Quis rir, mas alguma coisa me disse que seria melhor ficar calada.
- Infelizmente minha missão falhou. Mas não desistirei.
Pude jurar que escutei voltar a respirar e não conseguiu disfarçar sua total decepção.
Fiquei ali, endurando mais conversas pelo que pareceu 30 anos, cansada, me dei por vencida e saí dali sem nem sequer falar com , em busca de ar fresco. Cheguei à frente da casa e coloquei minha taça no apoio da varanda, cruzando os braços sobre o mesmo, aproveitando a leve brisa em meu rosto. Abri os olhos à procura de meu maço de cigarros em minha bolsa, balançando-o de ponta cabeça apenas para constar que o mesmo estava vazio, me fazendo soltar um murmúrio infantil. Uma risada abafada veio detrás de mim, me assustando. Me virei em à procura de sua fonte e encontrei um que também fumava, escondido nas sombras da lateral da varanda.
- Parece que tivemos a mesma ideia, mas você está sem sorte. Ou não. – Completou enquanto tirava um cigarro de seu bolso.
- Obrigada. – agradeci com um sorriso, colocando o cigarro na boca enquanto o acendia com um isqueiro prateado.
- Hmm, esses são muito bons! – Eu disse surpreendida enquanto sentia as primeiras notas de nicotina.
- São franceses.
- Gauloises brunes, claro! – Disse feliz após a segunda tragada, reconhecendo-o – eu não os fumo desde minha adolescência.
- Você está me chamando de adolescente? – Ele brincou.
- Não. – dei uma risada - Eles apenas me lembram de casa. - Completei nostálgica.
Gauloises era uma das marcas preferidas de minha mãe, aqueles cigarros me remetiam à minha infância. Continuamos em silêncio, apenas aproveitando a companhia um do outro em meio à tragadas, mas logo percebi os olhares curiosos vindo de uma ruiva do outro lado da sacada.
- Você quer dar uma volta? – perguntou assim que terminou seu cigarro, também olhando a ruiva de canto de olho.
Instintivamente, dei uma olhada em direção ao interior da casa, que ainda se encontrava sem ou Jake.
- Por que não? – Dei de ombros.
Por que não? Talvez porque você esteja esperando pelo Jake? Uma voz chata disse em minha mente. Mas ele não estava lá respondi. E nem . E aquela festa estava um saco.
- Por aqui. – disse inclinando a cabeça para a escadaria e oferecendo seu braço enquanto descíamos.
- Obrigada. – disse aceitando.
Dobramos à esquerda, passando bem debaixo dos olhares agora acusatórios da ruiva.
- Onde estamos indo? – Perguntei enquanto íamos para a lateral da casa.
- Já estive aqui antes em um casamento. – foi sua resposta.
À nossa direita, havia uma grande parede de arbustos densos, geometricamente cortados. Enquanto nos aproximávamos, percebi que estávamos adentrando um jardim alemão, com paredes altas que deveriam ter no mínimo 2 metros de altura, criando um caminho de plantas.
- Esse jardim me lembra O Iluminado, você não está planejando me matar a machadadas, está, ?
- Come play with us, . – ele respondeu em sua voz que imitava a de uma garotinha.
Dei um leve soquinho em seu ombro e adentramos o jardim.
- E então, quem era a ruiva nos encarando? – Perguntei ainda lembrando dos olhares que recebi.
- Você percebeu? – Ele perguntou meio decepcionado.
- Meio difícil não perceber alguém te olhando com tanta... intensidade.
Continuamos caminhando, mas não respondeu.
- Alguma ex?
- Não! – Ele respondeu afobado – Amiga de uma ex. – ele disse tentando ser mais calmo.
Ele realmente parecia não querer falar sobre aquilo, então resolvi não insistir. Após andar mais alguns passos, chegamos ao centro do jardim, que possuía uma formação circular. No seu meio, um lindo chafariz de pedra se encontrava, ele, contudo, não jorrava água; suas bicas e seu redor estavam recheados de rosas Tudor. Me aproximei animada e toquei nas rosas cuidadosamente.
- Espera! Fique do jeito que está. – disse ainda parado no começo da clareira. Olhei em sua direção apenas para vê-lo tirar seu celular de seu bolso. Reconhecendo o que iria fazer, posei casualmente sem olhar para câmera. Olhei novamente para sua direção posando, até vê-lo caminhar em minha direção, mostrando a tela do celular para mim.
- Uau! – Respondi. As fotos definitivamente não pareciam ter sido tiradas de um celular. – Você se importa se eu postá-las?
-Não. – ele disse seguindo em direção à um dos seis bancos de pedras que rodeavam a clareira.
Enviei as fotos para meu número e segui em direção à , sentando-me em uma posição budista, virada para ele. Assim que minhas pernas nuas entraram em contato com a pedra fria, um tremor passou pelo meu corpo.
- Você está com frio? – Ele disse, notando o calafrio e se preparando para tirar sua jaqueta.
- Não precisa. - Respondi, mas logo seu casaco estava em meus ombros.
- Obrigada. – Agradeci quando senti o calor que não percebi que precisava, fechei os olhos e inalei o cheiro que exalava de sua jaqueta.
Abri os olhos e me encarava.
- Você é muito bonita. – ele disse casualmente.
Revirei os olhos como resposta, mas logo soltei um sorriso tímido, fumando o resto de meu cigarro.
Ali, apenas à luz do luar, se tornava perigosamente lindo. Seu semblante banhando à luz da lua era quase que mágico, seus olhos pareciam brilhar e cada detalhe de seu rosto era inebriante. O fato de um longo vaso de rosas estar proporcionalmente posicionado atrás de seu rosto também não ajudava em nada. Tudo o que queria era tocar seu rosto e acabar com a distância entre nós.
“Jake” dizia a voz no fundo de minha mente.
Continuamos nos olhando por longos minutos torturantes, enquanto eu travava uma batalha interna. Eu sabia que tinha um olhar confuso, podia vê-lo refletido no semblante de , no modo como ele estava cauteloso, era claro que ele não tentaria nada enquanto não estivesse seguro de que era o que queria. As ambiguidades de minhas ações eram claras, o que será que ele pensava que estava me impedindo naquela noite? Desviei o olhar, tomando o resto do conteúdo de minha taça.
Cansada, finalmente levei minha mão ao rosto de , mas apenas a deixei parada lá por alguns segundos, sentindo o contato de sua pele com a minha.
- Isso parece um filme da Sofia Coppola. – reclamei enquanto tirava a mão de seu rosto, antes que perdesse o controle e o beijasse.
Ele levantou uma sobrancelha meio que acusadoramente.
- O que foi? – Perguntei sem entender.
- Não achei que você fosse uma garota Sofia Coppola.
- Garota Sofia Coppola, como assim?
- Hm, não sei. – ele passou a língua pelos lábios, ainda pensando em sua resposta - Na verdade, deixa pra lá, acabei me expressando mal. A bebida está começando a falar por mim.
Sua desculpa era barata e esfarrapada, mas eu não senti a necessidade de insistir naquilo.
Fechei os olhos, levantando minha cabeça em direção à lua, ainda que não pudesse vê-la. Encarar os olhos castanhos de estava provando ser algo perigoso.
- A verdade é que, – sua voz cortou o silêncio após alguns segundos, mas não me permitir abrir os olhos – os filmes de Sofia geralmente retratam mulheres solitárias, entediadas e com quase nenhum controle sobre a situação de sua vida. Essa não me parece você.
O choque das palavras de me fizeram abrir os olhos rapidamente. Sem saber, ele havia descrito o atual estado de minha vida perfeitamente.
- Estar em uma multidão pode ser tão solitário quanto estar em seu quarto sozinho. – respondi encarando a lua e tentando não transparecer algum tipo de emoção em minha voz ou face. Finalmente abaixei minha cabeça e encarei , seu olhar era cauteloso, incerto.
- Mas no final das contas, você está certo. – comecei esboçando um sorriso seco – Sofia não é um dos meus diretores preferidos.
Mas aquilo provavelmente mudaria em breve, pensei.
- Quem você acha? – Perguntei desesperada para mudar de assunto.
- O quê?
- Quem você acha que é meu diretor favorito?
- Sinto que não lhe conheço o suficiente... – ele disse ainda cuidadoso.
- Ah, qual é! Você acabou de me julgar pela Sofia! – Tentei brincar e melhorar o clima, o que parece ter funcionado.
- E claramente não foi muito inteligente.
- Estou à espera de uma resposta. – cobrei cruzando os braços.
- Vamos fazer assim, se você acertar o meu, tento o seu.
- Eu sinto que Tarantino é o diretor preferido de todos os caras na face da terra. – disse fazendo uma careta no final.
- Ei! Pulp Fiction é um clássico! – disse defensivo e nós dois rimos. – Mas você está errada. Wes Anderson? – Ele tentou.
Balancei a cabeça negativamente.
- Scorsese? – E foi a vez de balançar sua cabeça negativamente.
- Hitchcock?
- Nã nã. – Brinquei – Eastwood?
- Não. – Ele disse – Ok, eu acho que seria mais fácil se estabelecemos se ele está morto ou não. O meu está. E o seu?
- Vivo – respondi.
- Ok. Tim Burton?
- Não. Coppola? Oh, pera, você disse morto. Falando em Coppola’s, você percebeu que não falamos nenhum nome feminino? – Conclui meio triste.
- Seu diretor favorito é uma mulher? – Ele perguntou.
- Não – respondi suspirando - Kubrick?
- Não. Spielberg?
- Não, estou começando a ficar sem nomes. – disse envergonhada – Droga. Odeio perder.
riu.
Em minha bolsa, meu celular começou a vibrar, fazendo um ruído ao chocar-se com a pedraria do banco.
- Desculpe. – Pedi olhando para ao atender o telefone, que apenas acenou.
- Fala.
“Onde você está?” A voz de dizia do outro lado da linha.
- O que foi?
“Não me diga que você encontrou o Gyllenhaal e foi embora!” Ela parecia indignada.
- Claro que não, estou no jardim.
“Qual jardim?”
- Onde você está?
“Na varanda principal.”
- Ok, dobre à esquerda e continue andando até ver a entrada de um jardim alemão, continue no caminho principal e você me achará.
“Tudo bem, estou indo aí.”
- Hm, minha amiga meio que está vindo aqui. – disse após encerrar a ligação.
- Eu meio que percebi. – disse com um sorriso maroto.
Continuamos a nos encarar silenciosamente, mas logo o barulho de algo se aproximando roubou nossa atenção e ambos viramos nossas cabeças em direção à entrada principal. Poucos segundos depois, os cabelos loiros de saíram do meio das folhas.
- Mas que diabos você está fa...- suas palavras morreram quando seus olhos pousaram em - Oh!
- Fazendo aqui? – Completei sua frase. – Transando com , não está vendo? – Falei séria.
soltou uma estrondosa gargalhada, meio incrédulo. apenas me ignorou enquanto caminhava em sua direção.
- Olá de novo, . – ela deu um pequeno aceno junto com um sorriso.
- . – Ele respondeu cordialmente.
- Precisamos conversar. – estava voltada para mim novamente.
- Eu vou pegar algo para beber, você quer algo? – educadamente anunciou.
- Por favor. – Eu disse lhe estendendo minha taça vazia.
Eu sabia que já estava no limite da bebida, mas não podia dizer não agora, especialmente porque ele estava sendo legal e indo pegar bebida apenas para nos dar privacidade.
- Ele realmente é muito bonito. – ponderou quando já não estava em nosso campo de visão, sentando-se à minha frente. Não fiz nada além de encará-la.
- Indo ao ponto, eu e estamos indo embora. - Ela começou - Desculpe, , já estamos aqui há mais de 3 horas e nenhum sinal de ou Jake. Essa festa é péssima e estamos muito cansados.
Eu já imaginava que iria dizer algo assim.
- me ligou há alguns minutos e disse que já estava chegando, se é que você pode acreditar nela, já faz horas que ela já “está chegando”. Queria saber se você quer ir conosco... ou ficar – ela disse a última frase virando para direção de onde desaparecera.
- O que você acha? – Perguntei sincera
- Você está se divertindo?
- Estranhamente, sim. – respondi, pensando em minhas interações com .
- Então é isso que importa. Mas tome cuidado, já chega de bebidas! – Ela brigou - E me avise assim que você chegar no hotel.
A abracei.
- Obrigada. E desculpe por arrastar você e para essa festa.
- Você está me devendo uma. – ela disse ainda abraçada a mim – Eu te amo. Estava com muitas saudades.
- Eu também, .
Nos desvencilhamos e se levantou.
- Boa viagem, .
deu um pequeno aceno e logo ela desapareceu em meio a folhagem.
Enquanto esperava voltar, resolvi postar a foto que o mesmo havia tirado a pouco. Uma rápida pesquisa no Instagram e encontrei sua conta, ele tinha pouco mais de 30 mil seguidores e não era verificado. Seu feed era uma mistura de fotos caseiras e imagens profissionais. Postei a foto apenas com uma legenda dando créditos ao Instagram de e acabei me perdendo no mundo de fotos por alguns minutos, até prestar atenção no relógio no topo da tela e perceber que já estava mexendo no celular há uns bons 10 minutos. Esperei mais um pouco, mas quando a marca de 15 minutos bateu, me levantei impaciente. Será que havia esquecido de mim? Ou achava que eu ainda estava conversando com ? Fiz o trajeto de volta enquanto minha mente traçava mil e umas desculpas que justificassem o porquê de ele ter me deixado lá. Enquanto me aproximava da casa, vozes abafadas começaram a se fazerem mais claras.
- Desista, cara. – Dizia uma voz quase inaudível
- Cala a boca viadinho, já disse para não se meter – dizia a voz mais clara.
Apesar de estarem distantes, percebi que ambos gritavam. Eu ainda pensei ter escutado uma terceira voz, mas não tinha certeza. A medida que eu me aproximava da casa, as vozes ficavam mais distinguíveis, porém a conversa continuava sem fazer muito sentido.
- Não... cara... toque. – Dizia a primeira voz de novo, mas dessa vez não parecia estar gritando.
Quando cheguei a entrada da casa pude ver a quem aquelas vozes pertenciam. Um pouco longe da escadaria que dava acesso a residência, e mais perto do estacionamento, estava um loiro alto de costas para mim. No outro lado, e de frente para mim, estava . Ele estava em uma posição engraçada, com os dois braços para trás, como se estivesse segurando um presente em suas costas que você não deveria ver.
- Só vai para casa, cara, vamos fingir que isso não aconteceu. – dizia sem parecer consciente de minha presença ali.
Dei os últimos passos que faltavam para me aproximar dos dois e no mesmo instante, uma bola de cabelos loiros saiu de trás de . Continuei olhando para a garota com medo de me aproximar, seus cabelos loiros caiam a frente de seu rosto, cobrindo-o totalmente.
- Mas eu disse que iria ajudá-la, ela disse que queria minha ajuda, não é coração? – O loiro respondeu.
A garota loira pareceu perceber que falaram com ela, pois ela levantou sua cabeça na direção do cara desconhecido, finalmente revelando suas feições.
- ! – Eu gritei desesperada seguindo em sua direção.
Eu nem olhei para enquanto corria para ajudá-la, seus olhos tinham dificuldade em focar-se em ponto fixo por muito tempo, enquanto sua cabeça padecia de um lado para o outro, ainda assim, quando me viu, ela sorriu.
- ... – ela soltou fraco.
- Você está fazendo um papel de idiota, só vá embora, acabou. – falou ao meu lado.
Peguei o rosto de em minhas mãos e perguntei se ela estava bem, e só então percebi que se não fosse por , ela estaria caída no chão.
Tudo aconteceu muito rápido, uma hora eu estava com e na outra estava parada na frente do outro homem, com o dedo indicador em sua cara, ameaçando-o.
- Se você tem amor pela vida ridícula e miserável que você leva, eu te sugiro sair daqui agora, enquanto você pode.
- Enquanto eu posso? – Ele riu – Quem você pensa que é, vadia?
Sua mão esquerda havia pegado minha mão que estava em sua cara e abaixado-a, quase que instintivamente soltei um “me solta”, acompanhado de um tapa em sua cara com a minha mão livre. Seus olhos azuis, pareciam ter virado trevas após aquele tapa. Merda. Ele levantou seu braço em minha direção, eu até tentei sair dali, mas meu pulso ainda estava preso em sua mão esquerda. Sem ter o que fazer, apenas fechei meu olho me preparando para o pior. Mas logo a pressão em meu pulso desapareceu e ouvi novas vozes.
“Puta que pariu Johaan, você está louco?”
“ME SOLTA”
“Desculpe por isso”
, você está bem?”
Diziam as diferentes vozes. Senti uma pressão em meus braços, percebendo que nada aconteceria, abri meus olhos. estava à minha frente e segurava meus braços como se estivesse prestes a me chacoalhar. Mais atrás, pude ver o homem louro indo embora irritado com dois outros homens, um segurava seu braço.
- Estou. – respondi parecendo ter acordado.
- Me desculpe, me desculpe, eu queria ter lhe ajudado, mas se soltasse , ela cairia no chão. Não pensei direito, me desculpe, me desculpe. – dizia atrapalhado.
- Calma! – Eu pedi, levando minha mão em seu rosto. Enquanto levantava meu braço, os olhos de acompanharam meus movimentos, franzindo seus olhos fortemente quando o toquei.
Acompanhei seu olhar e percebi que meu pulso agora estava marcado perfeitamente pelo formato dos dedos de onde o desconhecido havia me segurado.
- Me desculpem pelo comportamento de Johaan, – disse uma nova figura que chegara por trás de . Ele tinha os cabelos negros, cortados tão curtos que criavam uma camada quase que invisível em sua cabeça. A pele escura, com as maçãs do rosto altas e os lábios tão carnudos que não pareciam reais.
- Mas que merda, McCourtney, – respondeu. – ele estará com sorte se elas não quiserem prestar queixar.
Os olhos do desconhecido arregalaram-se, como se aquilo não tivesse passado por sua cabeça, virando-se em minha direção, esperando uma resposta.
- Eu não irei fazer nada. – respondi, e ele visivelmente ficou mais calmo. – Mas não respondo por .
- Você precisa de algo? Água? Ajuda?
- Não, obrigada. – respondi ríspida e me virei à procura de , não querendo sua ajuda.
Ela estava sentada no chão, com dois caras ao seu lado, que conversavam com ela – ou pareciam tentar. Comecei a andar em sua direção e só então percebi o tanto de gente que nos observavam com olhares curiosos. Droga, aquilo seria comentado em algum lugar.
Parei à frente dela e me acoquei.
- Estamos tentando falar com ela, mas ela não faz muito sentido. Continuava a dizer o nome Jake, Marion e o seu. – Um dos morenos ao lado de disse. Reconheci-o como um dos caras que estava conversando mais cedo.
- O que você quer fazer? – Ele continuou, mas a pergunta não era direcionada para mim.
- Não sei. ? – Escutei perguntar atrás de mim.
- Vou levá-la para casa. – Respondi, tentando erguê-la com a ajuda do moreno.
- Merda, estou sem carro. – xinguei - Você pode me ajudar, por favor? - Perguntei me direcionando a .
- Também vim de carona. – ele respondeu triste
- Eu posso levá-las. – o loiro da dupla ofereceu.
- Obrigada. – Eu respondi com o máximo de sorriso que a situação me permitia dar.
- Eu vou buscar o carro. - o loiro disse, entregando o braço de que estava em seu pescoço para .
- Anthony, você pode avisar para o resto do pessoal o que aconteceu?
- Claro, sem problemas. – O moreno respondeu, seguindo em direção à festa.
- Obrigada, Anthony! – Falei alto enquanto via suas costas se afastarem. Ao ouvir seu nome, ele virou e apenas assentiu com a cabeça, enquanto continuava sua caminhada.
- ... começou a falar arrastado.
- Jake... Pera, você não é o Jake. – Ela disse, olhando fixamente à .
- Jake não está aqui. – respondi.
- Como?
Não respondi nada esperando que ela esquecesse o assunto. Logo, um carro preto parou perto de nosso grupo, o vidro do passageiro abaixou e percebi que era o amigo de . Colocamos no carro, com ficando no passageiro enquanto eu ia atrás com ela.
- E então, para onde vamos? – O amigo de perguntou.
- East West... – comecei, mas então me lembrei de algo. Me virei para , tateando seus bolsos – , onde estão suas chaves? Seu celular? Suas coisas? – Eu perguntei enquanto concluía que ela tinha apenas algumas notas e um pacotinho em seus bolsos.
- Quando a encontrei, ela não tinha nada. – disse.
- Estão com Marion. – ela finalmente respondeu.
- E onde ela está?
- Eu não sei. – respondeu, procedendo a chorar. E só quando percebi que não sabia onde suas coisas estavam, foi que percebi que eu também não sabia onde as minhas coisas estavam. Repensei os últimos minutos e conclui que havia deixado a cair em meio à confusão.
- Já volto! – Disse enquanto saia do carro em direção aonde primeiro vi e . Não foi difícil encontrar a pequena bolsa em meio ao gramado verde, e logo estava de volta ao carro. Assim que entrei, percebi que eles pararam de falar, constrangidos.
- O que foi? – Perguntei, mas não recebi nenhuma resposta. – Vocês sabem que podem falar o que é, certo?
- É que... eu queria saber se ela vai vomitar.
- Ah! Não se preocupe, colocarei a cabeça dela para fora da janela e se ela der algum indício de que vai vomitar. E peço para você encostar, tudo bem...?
Foi só então que percebi que não sabia o nome do amigo de .
- Desculpe, eu não sei seu nome.
- Mark Cohen - ele disse sorrindo e mostrando suas covinhas.
- . – respondi – Desculpe pela situação chata em que nos conhecemos.
- Não se preocupe. – ele disse, parecendo genuinamente sincero.
- Você pode nos deixar no The Pierre, por favor?
- Claro!
A viagem de ida ao hotel seguiu calma, havia dormido, permitindo com que eu, Mark e pudéssemos conversar com mais calma. Mark era brincalhão e gostava de flertar, seus olhos azuis e covinhas me remetiam aos de uma criança.
- Pronto! Entregue. – Mark disse quando paramos em frente ao hotel – E você já sabe, da próxima vez que você precisar de um motorista em Nova York, estou aqui!
- Melhor que qualquer Uber que já peguei. – brinquei.
- Obrigada, de verdade. – acrescentei séria.
- De nada, , tome cuidado. – ele disse docemente.
- Você quer que eu te ajude? – disse, olhando para que dormia ao meu lado.
Suspirei.
- Queria dizer que não, mas sim.
saiu do carro enquanto eu tentava acordar e abriu a porta, carregando-a facilmente.
- Tchau, Mark! – Disse uma última vez saindo do carro.
Assim que entramos no lobby, fomos parados um segurança.
- Desculpe, mas não poderei permitir que o senhor suba com essa senhorita desacordada.
- Ela só está de porre. – tentei justificar.
- Ainda assim, não posso.
Eu entendia a preocupação e o protocolo que o segurança precisava seguir, mas eu estava começando a me irritar, a cena estava começando a atrair a atenção de quem estava ao redor.
- Eu entendo que é seu trabalho, mas ainda assim iremos. Vamos, . – Eu disse, virando me para ele e fazendo sinal para que avançasse. Entretanto, assim que deu o primeiro passo, o alto guarda costas se pôs em sua frente.
Dei um suspiro que era uma mistura de irritação e cansaço, não queria ter que fazer aquilo.
- Você sabe com quem está falando? – Tentei controlar o máximo minha voz. O segurança pareceu não se abalar, provavelmente já acostumado com cenas do tipo, contudo, logo o concierge do hotel estava conosco.
- Senhorita , me desculpe. Pode continuar seu caminho, deixe-os passar, Johnson. – o concierge disse, dirigindo-se ao segurança que abriu caminho para .
- A senhorita gostaria que chamássemos um médico? – Ele emendou.
- Não, obrigada. E desculpe. – eu falei para o segurança enquanto passávamos, ainda em um tom ríspido demais.
- Desculpe por isso, não sou de usar a carta de celebridade, mas não vi outra solução. – eu disse para assim que adentramos o elevador, que por sorte estava vazio. Ele não respondeu nada.
- Eu sou uma idiota. – disse batendo com a mão em minha testa.
- Calma. – ele disse pacificamente - eu entendo.
Chegamos em meu quarto e colocou na cama enquanto eu tirava meus saltos e jogava-os em qualquer canto, sem lhes dar importância. Sentei na cama ao lado de , ainda pensando no que fazer, enquanto estava de pés ao nosso lado, esperando que eu me pronunciasse.
- Vou dar um banho nela. – anunciei.
- , querida, acorde. Isso, vamos lá.
agora estava sentada na cama, meio dormindo, meia acordada.
- Aqui. – disse, estendendo uma garrafa de água para ela. Eu nem havia percebido que ele tinha ido ao minibar.
- Obrigada. – ela disse pegando a água e bebendo.
- , preciso que você me ajude. Eu vou te dar um banho agora, tudo bem?
Ela balançou a cabeça concordando.
- Ok, vamos lá. Eu disse enquanto ela levantava os braços e eu tirava sua camisa. Abaixo de mim, pude ver tirando seus tênis e meias, mas assim que terminou, ele parou e sentou-se ao nosso lado. Quando terminei de tirar as roupas de , se levantou.
- Acho que essa é minha deixa.
- Não! Espere, por favor. – eu pedi enquanto levava uma apenas de lingerie ao banheiro.
- Eu não quero tomar banho, . – ela protestou quando a água tocou sua pele.
- E eu não queria estar dando banho em você, mas é o que temos para hoje, não?
apenas choramingou. Saímos do banheiro e estava sentado na cama, mexendo em seu celular. Assim que percebeu a minha presença e a de , e que ela estava nua, ele se levantou.
- Eu, é, vou esperar ali. – disse, indo para a sala do quarto e sentando-se em um dos sofás, de costas para onde estávamos.
Não pude deixar de rir levemente de sua reação. Coloquei em um suéter que usava para dormir que chegava até seus joelhos. Assim que a cobri com o edredom, chamei .
- Tudo seguro!
Logo que se aproximou os olhos de rapidamente saíram de meu rosto e fixaram-se em meu corpo. Acompanhei seu olhar e só então percebi que eu estava toda molhada, o vestido úmido grudando e marcando meu corpo.
- Desculpe. - ele disse envergonhado quando percebeu o que havia acontecido.
- Você não importa de esperar mais um pouco, não? – Brinquei enquanto ia em direção ao closet do quarto, tirando meu vestido. Eu sabia que me olhava minuciosamente, e não resisti provocá-lo mais um pouco. Virei em sua direção, apenas de calcinha e cobrindo meus seios com as mãos.
- Nada que você não tenha visto. – disse com uma piscadela e voltando à andar ao closet. Percebi que não tinha nenhum pijama que pudesse usar sem ter que tirar a calcinha, então acabei optando por pegar um suéter grande, assim como havia feito com .
- Vem, não quero acordá-la – disse pegando a mão de e guiando-o para o mesmo sofá onde ele estava sentado minutos atrás. Sentamos de frente ao outro, ainda de mãos dadas.
- Obrigada, de verdade.
- Não foi nada demais. – ele respondeu enquanto eu olhava nossos dedos entrelaçados.
- Claro que foi! Você a ajudou sem nem saber que ela era minha amiga ou qualquer outra coisa.
- Eu apenas fiz o que qualquer cara decente faria, .
- Ainda assim. – eu comecei, desta vez olhando-os nos olhos - Você não precisava ter feito nada disso.
Seus olhos castanhos me hipnotizavam, era como se tudo nele estivesse me convidando. Fechei os olhos e me inclinei, beijando-o, e finalmente fazendo o que estava na minha mente há bons minutos. O beijo foi calmo, sereno. Mas logo eu precisei interrompê-lo, incerta se seria capaz de me conter.
Coloquei um dedo em seus lábios.
- Se eu começar, não vou parar. – disse com um sorriso sapeca.
- Não acho uma má ideia... – ele disse se inclinando e me beijando.
- Nem eu, mas tenho um voo para pegar. – respondi após quebrar o contato novamente.
- Mas eu quero que me prometa que, assim que você estiver em Los Angeles, você irá me ligar.
Ele sorriu.
- Estou falando sério, .
- Não parece ser uma promessa difícil de cumprir.
Nos despedimos e deitei em minha cama, olhando para , que dormia tranquilamente. Mandei uma mensagem para Sky me desculpando pelo horário e pedindo para que ela remarcasse meu voo para o final do dia, avisando que mais tarde explicaria tudo melhor.


Continua...



Nota da autora: Demorou mas saiu! E a demora foi justamente pelo tamanho desse capítulo, reescrevi ele umas 30 vezes tentando não deixá-lo tão grande (e ainda assim, quase o dividi ele em dois). Acho que a festa não foi nada do esperado né?





Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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