Finalizada em: 02/12/2020

Capítulo 1



A manhã estava chuvosa e eu não havia levado o guarda-chuva, como sempre. Embora eu e meu irmão morássemos perto da faculdade, caminhar 5 minutos até o campus me renderia roupas encharcadas.
– Hey, gatinha. – Tyler apareceu ao meu lado. – Pedir carona tá fora de cogitação?
– Eu pensei que você tinha treino hoje. – mordi o lábio. – O teve.
– Hoje eu tenho uma prova importante e o treinador me deixou faltar o treino. – ele sorriu pra mim quando entrei no banco do carona. – Você sabe, se eu não passar em farmacologia eu saio do time.
– Se você estudasse… – eu sugeri. – A Hannah participa de grupo de estudo.
– Onde ela está eu estou há 32 milhas de distância.
– Não foi isso que me disseram semana passada, não é, querido? – deu risada.
– Tchau, . – ele abriu a porta do carro quando chegamos ao campus. – Você vai se atrasar pra aula.
– Tchau, baby. – gargalhei. – Prometo estar assistindo o jogo mais tarde. É uma pena que eu não consiga ir.
– Você só deve ir ao jogo contra Harvard. – ele sorriu fraco. – Você é a queridinha do time de hockey.
– Eu sou o amuleto da sorte de vocês, não é mesmo?
Dito isso, Tyler gargalhou e arrancou com o carro em direção ao estacionamento. Como sempre, ele havia me deixado na porta do prédio onde eu teria as próximas aulas.
Desde pequena, meus pais sonhavam que eu e meu irmão estudássemos em faculdades que fizessem parte da Ivy League, e cá estamos nós. teve mais sucesso que eu, já que passou de primeira com ótimas notas, diferentemente de mim, que tive que estudar um ano em uma faculdade comunitária e só depois de muito esforço consegui notas suficientes para pedir transferência para uma faculdade do nível de Brown.
Aos 17 anos, eu desenvolvi depressão e acabei me isolando totalmente. Não tive foco nenhum para estudar e decidir meu caminho na faculdade. Graças a e Tyler eu não desisti de tudo. Os dois caras que mais importavam pra mim sempre estiveram ali. Tyler era meu melhor amigo desde o fundamental e acabou se aproximando de por conta da paixão por hockey. Então, digamos que eu saiba bastante de hockey. E também saiba bastante sobre os garotos do time do meu irmão.
– Senhorita Brinley, já que está atrasada e a aula começou há três minutos, pode me dizer que cor deve apresentar um complexo de coordenação que possua um ligante de campo forte?
– Bom dia, senhor Trunter. – sorri fraco. – Desculpe pelo atraso, a chuva atrapalhou meu caminho até aqui. Aliás, ligantes de campo forte tendem a apresentar cores que absorvem baixas energias, como amarelo ou laranja.
– Muito bem, senhorita Brinley. – pude ouvi-lo falar assim que virei as costas. – Ao menos você estuda em casa.
Meu professor de química geral simplesmente me odiava. E pelo motivo mais imbecil do mundo: Justin Trunter, seu filho, é meu ex-namorado. Isso já diz muito sobre o caráter profissional dele. Conversei diversas vezes com a minha orientadora, Callie, sobre mudar de turma, mas as especificações de engenharia química tinham apenas um professor: John Trunter.
A hora demorou a passar como sempre, mas eu apenas pensava no jogo mais tarde. Se Brown passasse da primeira fase, iríamos para o Frozen Four.
– Bom dia! – Hannah apareceu no corredor.
– Bom dia. – respondi irritada. – Acredita que Trunter deu a entender diante a sala inteira que eu não estudava?
– Logo você? – ela deu risada. – Ainda bem que eu não tenho aula com ele.
– O que veio fazer aqui? – a perguntei. O prédio de psicologia não era aquele. – Farmacologia?
– Sim. A minha professora decidiu que teríamos que ver os princípios ativos dos remédios em laboratório e aqui estamos.
– Isso parece difícil o suficiente pra mim, Han.
– O que você estuda é mais, meu amor. – ela deu risada. – Eu me irrito apenas porque eu faço aula junto com a Courtney que não para de falar do babaca do seu melhor amigo.
Hannah e Tyler tem um caso meio ioiô que é movido a ódio. E sexo. Eles se encontram sempre, são quase exclusivos e vivem reclamando um do outro pra mim. Courtney é apenas mais uma das peças descartadas por Tyler depois que ele beijou Hannah pela primeira vez.
– Ciúme? – brinquei.
– Não. – ela se apressou em dizer. – Ele é um babaca e só de lembrar da existência dele, me irrito.
– Bom, preciso ir. – ela fez biquinho ao ouvir. – Aula de álgebra agora.
– Ew! – ela fez careta. – Boa aula, gata.


Depois da aula de álgebra não tive mais aula. Embora Brown tivesse ativado o modo ‘jogo de hockey’, os professores exigentes não mudaram o horário de algumas provas. Minha orientadora sempre disse que eles recomendam não marcar prova no dia, quem dirá na hora, mas mesmo assim os professores não os escutam.
– Hey. – Hollis apareceu na sala para assistir o jogo junto de mim.
Eu morava numa casa que continha seis homens e uma suíte. Obviamente, eles dividem os dois banheiros sociais da casa enquanto a suíte é minha. Além de homens, são jogadores de hockey. Graças à (inexistente) confiança dos meus pais em mim, morar com havia se tornado meu empata foda. Era extremamente difícil achar alguém que quisesse transar com a irmã do central e melhor amiga do defensor do time de hockey da Universidade de Brown.
Além disso, Peter, Colin, Hollis, Joe e Nick me tratavam como a irmã mais nova. O time de hockey da Brown havia se tornado a minha família.
– Quando você volta? – perguntei para Hollis, um dos grandes defensores do time. – O Tyler sente sua falta e eu também.
– O treinador disse que eu volto no próximo jogo. – ele comentou. – Isso é, se passarmos.
– Cala boca, Hollis. – joguei a almofada nele. – O Jensen é tão bom quanto você.
– Nah… – ele abocanhou um nacho. – Ele é bom, mas é novato.
– Para de azarar o time. Nosso ataque tá igualado com o de Harvard e encabeçamos os menores ataques.
O primeiro período começa e um jogador da Massachusetts fez um offside, obrigando o árbitro a ordenar um face-off. , o central do time, tirou rapidamente o disco de Dean, o ala-esquerdo do outro time, e iniciou o contra-ataque, passando o disco para o Peter. O defensor do time adversário parou Peter com uma rasteira que o custou uma penalidade que foi convertida.
Brown University 1-0 Massachusetts Boston University.
O primeiro período ocorreu sem mais delongas, mas o time adversário continuava a bater no nosso. Quando ele acabou, pude ver o treinador Graham extremamente irritado com a falta de comprometimento dos juízes em relação a marcar as infrações. sempre disse sobre quão incrível e honesto Graham era, então eu meio que o admirava também.
Hannah chegou apenas para o terceiro período, quando já estava 2-1 para nós. Assim que minha amiga pisou em minha casa, Tyler fez um gol.
– Ela é aquele tipo de mulher que faz até defensor fazer gol, huh? – Hollis brincou e ela o deu o dedo do meio.
– Ele faz tudo errado, ele não tem que fazer gol. – ela resmungou.
– Contanto que ganhemos esse jogo, Tyler pode até abaixar as calças. – fui sincera.
Eu estava ansiosa por essa primeira fase e, se passássemos dela, nós estávamos no Frozen Four. Faltavam cinco minutos para o juiz apitar e nós estávamos nervosos. No hockey, um time virar em 2 minutos não era tão difícil. Entretanto, o time adversário percebeu que era muito difícil passar por Tyler e Jensen.
– ACABOU! – Hollis comemorou e me abraçou. – ESTAMOS NO FROZEN FOUR, CARALHO!


Hollis saiu da sala, deixando-me deitada no sofá ao lado de Hannah. Estávamos em silêncio em nossos telefones quando ouvi o nome do meu irmão gêmeo na televisão.
Brinley e Geller serão as atrações do draft nessa temporada. — a comentarista falou. — O’Malley, de Minnesota, também é uma boa opção. Acredito que será difícil draftar todos.
— O’Malley é um grande imbecil. — Hannah resmungou. — Queria que Tyler tivesse batido nele quando pôde.
— Ele não podia, Hannah. — dei risada.
— Você já viu como esse menino é bonito? — ela apontou enquanto o quarto gol de Harvard passava na televisão.
Geller? Não dá pra ver nada, Han.
Uma de minhas melhores amigas riu e abriu o perfil do Instagram de Geller. Moreno de beleza razoável.
— Molhador de calcinhas. Olha essas sardinhas, !
— Nós sabemos que você prefere defensores, Hannah. — comentei baixinho. — Ele não é tudo isso, mas não é de se jogar fora.
— Levando em consideração que será nosso adversário, é de se jogar fora sim! — ela riu.
— Em circunstâncias normais! Acho que nunca trocamos mais de três palavras. Ele é amigo de uma conhecida de Lana.
Conhecida... Amigo? — Hannah franziu a testa.
— Ele é melhor amigo da Angelina. — informei. — E um babaca por completo.

Offside: nenhum jogador do time ofensivo deve ultrapassar a linha azul do campo do adversário antes do puck. O offside paralisa o jogo, que é retomado com um face-off, ou simplesmente disputa do disco, na zona neutra.
Face-off: é quando o árbitro paralisa o jogo, retirando o puck (disco) e o joga no ringue novamente para reiniciar o jogo.


Capítulo 2



Eu estava extremamente nervoso. O horário de saída da prova de psicomotricidade não chegava e o estupido que inventou essa regra certamente estava rindo de mim. Eu precisava saber quem venceu o jogo da primeira rodada para ir para o Frozen Four. A equipe de hockey de Harvard estava na primeira fase pré-Frozen Four porque ganhamos da equipe de Clarkson.
– Todos que acabaram a prova estão liberados para sair. – Jane Tatcher avisou. Um mar de alunos saiu junto comigo.
Enquanto aguardava meu celular encontrar o serviço para que eu pudesse ver minhas mensagens, eu corria para casa.


Jared: irmão, você, o Brinley e o Vaughn... Aposto que os comentaristas vão ficar de pau duro vendo os três jogadores mais especulados do draft no rinque.

Hailey: hey, saco de cocô. Vi que vai enfrentar Brown... Acabe com eles ;) bjs da sua irmã mais linda. x

Bryant: como você é capitão do time, convoque treinos extras... Quero ACABAR com a Brown.

Pai: acabei de ver que Harvard vai enfrentar a Brown no Frozen Four. Tyler Vaughn e Brinley são bons, mas você é infinitamente melhor. Sua mãe e eu estaremos no jogo contra eles. Beijos. Ligue-nos quando puder.

Treinador Greg: fala, filho. Avise aos garotos que teremos reunião hoje. Os vejo em breve.


! – pude ouvir a voz de Fred, nosso goleiro. – Novidades, irmão?
– Só que iremos amassar Brown no próximo jogo. – sorri. — Eles passaram.
– Você vai dar motivo pro Brinley se preocupar de não ter se inscrito pro draft antes. – ele riu.
– Se Brinley está triste, eu estou feliz. – dei risada e Fred entrou na primeira sala que apareceu.
Minha rixa com Brinley começou há dois anos, quando fomos especulados pelo Bruins numa temporada futura. O cara estava numa ótima sequência, três gols por jogo e nenhuma infração, enquanto eu ganhei espaço no time de Harvard assim que um veterano se formou. Com alguns jogos na temporada, consegui colocar meu nome na boca de alguns olheiros. Agora, estávamos os dois com o nome no draft e lá estará o Bruins, time da NHL, que anseia por apenas um central.
, você tem um segundo? – Anna apareceu em minha visão.
– Pra você eu tenho até dois. – sorri.
– Chuck’s. Às 22h. – ela sorriu. – Espero você e o time, para celebrarmos a vitória da Universidade de Brown.


A reunião com o treinador Greg durou cerca de duas horas e já começamos a avaliar as jogadas de Brown. Minha obrigação era com Tyler Vaughn, defensor, enquanto a preocupação de Jared, nosso defensor, era Brinley. Tyler e Jared eram defensores incríveis, a única diferença era que Tyler queria viver de hockey e Jared queria abrir um restaurante. Jared apenas jogava por hobby e porque era isso que o mantia em Harvard.
– Hoje nosso compromisso é com as amigas gostosas da Anna. – comemorei. – Fazia tempo que não nos divertíamos como time e deveríamos comemorar que havíamos ganhado de 4-2 a equipe de Clarkson.
– Obrigado, Deus, por nos dar um capitão tão incrível quanto Geller. – Bryant, nosso ala-esquerda, comentou.


Às dez e quarenta, o time entrou no bar e talvez não tenha sido uma boa escolha termos ido. Do outro lado, estava grande parte do time de Brown.
– Olha, se vocês vieram arranjar briga no meu bar, podem ir embora. – Chuck, o dono do bar, veio em nossa direção.
– Na verdade, meu caro Chuck... – Jared sorriu. – Viemos comemorar a vitória deles também. E claro, a nossa também.
– Vocês, jogadores de hockey, são estranhos. – o homem negro colocou o pano que segurava no ombro e virou as costas pra nós.
Anna e suas amigas gostosas estavam do lado oposto e pude ver que especialmente Anna estava com uma cara de muita raiva.
– Hey. – a cumprimentei. – O que aconteceu?
Brinley aconteceu. – ela olhou para menina loira que estava ao lado do central do time de Brown. Brinley foi, literalmente, esculpida por anjos. Ela não era baixa como Anna, mas não era alta como nós. Seu cabelo loiro escuro era longo e seus olhos eram tão claros quanto mel. É claro, idêntica ao seu irmão.
Eu tenho pena dela, inclusive. Nenhum cara no bar tinha coragem de chegar nela porque ela era conhecida como o amuleto da sorte do time deles, então ninguém ousava quebrar o coração do xodó do time de Brown. Sem contar que seu irmão gêmeo era o capitão do time. Quem chegasse perto dela enfrentaria a fúria do time inteiro. Eu achava esse pensamento meio arcaico, afinal, o temperamento dela deixava claro que ela não precisava de homem nenhum para se defender.
– Para de olhar pra ela, . – Anna rosnou.
Antes que eu pudesse prestar atenção em algo, dirigiu-se até o bar, ficando super próxima de nós. Ela conversava descontraíssemos com uma menina — que não era a peguete de Angie —.
– Hey, . – Anna a chamou. – Não precisa encarar essa fila por uma tequila. Um shot de graça pra você.
Quando Anna terminou sua frase, despejou todo líquido na loira que estava em nossa frente. Ao ouvir o grito da irmã, rapidamente se aproximou e segurou Anna.
– VOCÊ TÁ MALUCA? – gritou e tentou pular em Anna, mas a segurei. – Merda, tá ardendo.
– Mande beijinhos pro Trunter por mim. – Anna sorriu e tentou se mover, mas não a largou. pegava Justin Trunter? Que péssimo gosto.
– Vem cá, vamos lá pra fora que eu vou te ajudar a limpar isso aí. – disse e a puxei para entrada do bar. – A água tá um pouco gelada, mas acho que não vai fazer muita diferença. – comentei.
– Ugh. Cadê o ? – ela choramingou. Pude perceber que ela tremia. Não soube se era de frio ou de raiva.
– Ele tá lá segurando a Anna. – comentei. – Foi uma escolha sensata, em defesa do cara.
Enquanto ela lavava os olhos, retirando sua maquiagem por completo, pude ver o quão linda Brinley era. Linda e território inimigo. Ela bufou extremamente irritada e jogou a garrafa de água fora na lixeira certa. Sério, ela realmente se preocupou em que lixeira a garrafa plástica ficaria?
– Ela estragou minha maquiagem, que ódio! – ela gritou. – Eu vou voltar lá e vou dar um belo soco naquela carin...
Eu a segurei. – Você vai ficar aqui até se acalmar, Brinley. Eu tenho uns bons quilos a mais que te segurariam fácil aqui.
– Me larga. – ela se bateu. Ao ver que eu não ia soltá-la, mordeu minha clavícula e talvez não tenha sido o melhor lugar para isso, já que meu pau ficou duro só de sentir os lábios quentes dela em mim.
Eu simplesmente relaxei, e, ela, com um esforço a mais, conseguiu se levantar. Com um sorriso maldoso, me encarou com uma expressão desafiadora. Eu odiava aquela mulher. Com muita força. Mas ela era gostosa.
– Você pode ter uns quilos a mais e ser bem mais forte, Geller. – ela me chamou pelo sobrenome e eu só conseguia prestar atenção na maldita da boca. – Mas você não se controla perto de mulher nenhuma. Fica fácil se eu sei todas as suas fraquezas.
Sim, você sabe. Não resisto a um rabo de saia.”, pensei.
Sem que eu pudesse pensar em uma resposta plausível, Brinley engoliu toda raiva que ainda não havia jogado pra fora e adentrou o bar com toda confiança do mundo possível.
– Mulheres, meu caro... Mulheres. Essa daí é a provação em forma de mulher. Anota o que eu tô te falando. – um garoto que estava fumando lá fora me disse. – Ou elas ganham, ou elas ganham. E, de brinde, acabam com você.
Depois de ouvir tudo aquilo, peguei o carro e fui para outro bar. Manter a noite de comemoração longe do time de Brown era a opção que eu tinha. Brinley e eu no mesmo lugar era sinônimo de problemas. E, aparentemente, com a sua versão feminina também era.
É, Brinley. Tenha bons sonhos, pois eu te imaginarei brincando com seus lábios gostosos pelo meu corpo.


Capítulo 3

Tyler havia arrumado um espaço para nós ficarmos em Boston com uma amiga de infância e quase todo time decidiu que caberia num pequeno apartamento na cidade. , como capitão do time da Brown, decidiu que fariam um treino numa pista próxima e eu sobrei em casa. Patricia, a amiga de Tyler, trabalhava, então o apartamento ficou silencioso e eu aproveitei aquela paz para tomar um banho relaxado para poder sair por aí.
Embora eu estivesse acostumada pois morava com sete jogadores, eu gostava de ter meus momentos sozinha. Às vezes eu os odiava por levarem mulheres para casa porque eu nunca pude levar carinhas. Não porque os meninos não deixavam, mas porque tinham medo de entrar na casa dos melhores jogadores da Brown. Na verdade, eu nunca tive um caso com um cara que não tivesse medo dos meus companheiros de casa.
Eram três e trinta e quatro quando saí de casa. Andava pelas ruas calmamente na intenção de ver algo que me atraísse e foi uma livraria com uma fachada enorme que me chamou atenção.
Logo no primeiro andar, me deparei com uma cena um tanto chocante. Geller, jogador de hockey, babaca, mulherengo e inimigo em potencial, lendo um clássico da literatura para quem quisesse ouvi-lo. Olhei para direita e vi um quadro que avisava da leitura de clássicos da literatura por voluntários.
Sorriu compreensivamente – ou muito mais do que isso. fez uma pausa. – Era um desses raros sorrisos que têm em si algo de segurança eterna, um desses sorrisos com que a nós talvez nos deparemos quatro ou cinco vezes na vida. – ele lia O Grande Gatsby, meu livro favorito. – Um sorriso que, por um momento, encarava – ou parecia encarar – todo o mundo infindável, e que depois se concentrava em nós com um preconceito irresistível a nosso favor. Um sorriso que nos compreendia só até o ponto em que nós queríamos ser compreendidos, que acreditava em nós como nós gostaríamos de acreditar, assegurando-nos que tinha de nós exatamente a impressão que, na melhor das hipóteses, esperávamos causar.
Minha mãe, como professora de inglês, sempre me influenciou nas leituras e graças a ela quase fiz jornalismo. O Grande Gatsby foi o primeiro livro que roubei de sua bolsa. Eu tinha nove anos quando, por iniciativa própria, peguei o livro de sua bolsa para ler depois do jantar. Levei pra escola no dia seguinte e quando cheguei a casa, mamãe estava reclamando com sobre o livro ter sumido de sua bolsa. Fiquei com a consciência pesada e o devolvi. No mesmo dia ela chegou com um exemplar pra mim. A partir daquele dia, toda vez que ela iniciava um livro, eu acordava com uma cópia do mesmo embaixo do meu travesseiro. Meu irmão gêmeo não gostava de ler nada além de colunas de esporte, até conhecer Clarie, sua namorada, que fazia Inglês.
Geller lia concentrado, tentando expressar as sensações ao se ler aquela cena. Ele estava com uma senhora recostada em seu ombro que atentamente ouvia o que ele falava.
– Bom, acabamos por hoje. – ele encerrou a sessão de leitura e ajudou a senhora a se levantar. – Vamos, vó.
Ok, o quão adorável era aquele cara? Joga no time adversário, é mulherengo, insuportável e com um ego maior que o universo. Lembrei-me da vez em que o conheci.

— Olha, menina Brinley. Como você está linda nesta noite. — o ouvi quando abri a porta. Eu revirei os olhos. — O pequeno está aí também?
— O que você quer? — revirei os olhos. — Eu estou ocupada.
— Acho que não fomos devidamente apresentados, sou Geller. — ele me deu um sorriso convencido. Como se o fato de ele ser quem fosse causasse algo em mim.
— Ótimo, Geller. É um prazer tê-lo aqui, mas, nesta casa, acreditamos na supremacia da Universidade de Brown. Portanto, saia.
— Eu não estou aqui atoa, menina Brinley. Estou aqui por Angie. — ele disse. — E sua mãe não te ensinou a se apresentar para os outros?
— Você sabe quem eu sou, não sabe? — perguntei, massageando as têmporas.
— Sei.
— Então qual a necessidade da apresentação? — dei um sorrisinho.
Antes que ele pudesse replicar, Angie saiu do quarto de Lana. Ela estava uma bagunça. Lana parecia igual.
— Tchau, . Desculpe a inconveniência de . — ela nem sequer me olhou. Encarei minha melhor amiga, que parecia prestes a explodir.
— Eu não fiz nada! — Geller se defendeu e Angelina revirou os olhos.
— Vamos embora agora. — ela ordenou e fechou a porta, deixando-me com uma melhor amiga de coração partido para cuidar.”


Quando afastei a memória da inconveniência de Geller, me perdi em tantas prateleiras e tantos livros para descobrir.
– O poderoso chefão é uma ótima obra para se iniciar na literatura. – ouvi a voz de Geller e me assustei.
– Eu já li O poderoso chefão três vezes. – respondi. Seus olhos arregalaram e eu dei de ombros. – Mãe professora.
– Entendo. – ele sorriu. – Avó professora.
– Legal. – o respondi. – Tenho que ir.
– Por que você me evita? – ele me questionou.
– Você é inimigo, Geller. – disse e massageei minhas têmporas. — E eu realmente não gosto de você.
Nunca odeie seus inimigos, isso afeta seu julgamento. – ele citou O Poderoso Chefão e eu dei risada.
– Tchau, .
– Espera, . – ele me chamou. – Você fica aqui até quando?
– Não interessa? — fiz uma pergunta retórica.
– Toma. – ele me entregou um papelzinho. – Se quiser sair, só ligar.
Peguei o papel para não fazer desfeita e jogaria no primeiro lixo que aparecesse na minha frente. Meu telefone vibrou e eu fui salva pelo gongo.

: Onde você tá?
: Livraria... estava procurando algo para faculdade. Por quê?
: Só achei que seria interessante avisar que Hollis e Tyler estão levando mulheres pra casa.
: Como não temos quartos suficientes, alguém tem que ficar na sala.
: Vocês me surpreendem. Ficarei fora até mais tarde então, verei se resolvo algumas coisas da faculdade. Te amo. X


Chamei um Uber e fui a um diner que achei recomendação na internet. Abri meu computador e comecei a organizar coisas sobre meu trabalho. Enquanto eu digitava, fui surpreendida com a atendente colocando um milkshake de morango na minha mesa.
– Ah, perdão. – sorri. – Eu não pedi milkshake.
– O jogador ali mandou especialmente pra você, senhorita Brinley.
Peguei um guardanapo e escrevi um recado.
– Você pode entregar isso a ele, por favor? Obrigada.

A garçonete pegou o papel e rapidamente entregou para o central que estava sentado na bancada. soltou uma gargalhada que fez com que todos olhassem pra ele. Eu bufei em irritação. Eu odiava aquele cara e todo seu ego.
– “Mario Puzo diz que odiar os inimigos atrapalha no julgamento, mas, aparentemente, te odiar é inevitável.” – ele leu com um tom debochado. – Você é implacável, Brinley.
– E você é insuportável. Eu não posso nem fazer meu trabalho em paz! – resmunguei.
– Ouch, calma. – ele levantou os braços como se estivesse se rendendo. – Jornalismo?
passou a mão no adesivo de Brown que eu tinha colado na parte de trás do computador.
– Engenharia Química. – sorri fraco. – Você faz faculdade de quê?
– Psicologia. – ele respondeu e eu tenho certeza que minha boca formou um “o” perfeito, pois Geller riu de mim.
– Eu jamais acertaria seu curso, de fato. – dei um gole no milkshake. – Eu diria que você faz, sei lá, algum curso de Belas Artes? O seu ego permite que você se interesse pelos outros?
– Aw, querida! Tratar do ego das pessoas é ótimo, assim eu sei o que nunca fazer. — ele sorriu.
– Entendi. – sorri. – Bom, então trate seu ego. Quem sabe assim você deixe de ser menos você.
deu um sorrisinho pra mim e pegou as planilhas que estavam em cima da mesa.
– No que posso ajudar? – ele perguntou com hospitalidade.
– Se não me atrapalhar já é uma boa. Então você pode ir embora. – respondi sem tirar atenção da tela.
– Qual é, Brinley. – ele riu. – Deixa eu te ajudar.
– Ugh. Você é insuportável. – resmunguei. – Toma.
Dei-lhe dois marca-textos. E eu tenho um nome.
– O rosa é pra processos dinâmicos e o amarelo é para os contínuos. – o orientei. – Já vai me ajudar se organizar isso e marcar eles pra mim.
– Claro, comandante. – pegou as canetas e começou a marcar o papel.
Em menos de quinze minutos, ele jogou as canetas em cima da mesa e se espreguiçou.
– Acabei. – ele estalou o pescoço.
– Você analisou tudo? Leu tudo? – o questionei impressionada.
– Querida, eu faço, no mínimo, oito leituras semanais. – ele riu. – Pra treinar, ganhar jogos, foder e ser um bom aluno, eu preciso ler rápido.
– Ew. – fiz careta. – também diz isso.
– Não me compare com ele, gatinha. Eu sou melhor.
Gargalhei em um tom de deboche. – O é a melhor pessoa que eu conheço, . No esporte e fora dele. E não é porque você vai ser contratado por um time de qualidade que ele também não vá.
– Ah, ele não foi chamado porque não é bom o suficiente. – ele deu de ombros e eu me irritei.
tem tudo que um central precisa. E você sabe muito bem disso, Geller. — sorri. — Se não fosse por isso, você não se importaria com o hockey dele. Eu não deveria estar aqui, pra começo de conversa, nem muito menos dar espaço pra você. – disse enquanto guardava as minhas coisas. – E só pra sua informação... não fechou com um time ainda porque está esperando minha cunhada se formar, então ele está focando em pós, mestrado e doutorado. Ele é tão suficiente que o Boston Bruins aguarda pela resposta dele há dois anos. E acredite... Cada vez que eles o sondam, seu salário aumenta.
– Calma, Brinley. Não toma as dores do babaca do seu irmão. – ele riu irônico. Meu Deus, eu vou quebrar esse cara.
– Você é nojento. – disse e dei um soco em seu nariz. – Ah! – peguei dez dólares. – Aqui está o dinheiro da porra do milkshake.
– VOCÊ FICOU MALUCA? – ele gritou quando viu que em seu rosto havia sangue.
– Passar bem, docinho. – saí irritada.
Meu irmão não deixaria ninguém falar assim de mim e eu também não deixaria ninguém falar assim dele em minha presença. Eu odiava quando as pessoas eram prepotentes. Geller era sinônimo de prepotência. Geller era tudo de desprezível que existia em alguém.


Capítulo 4

A semana estava extremamente corrida e conciliar os treinos com a faculdade não estava fácil. Nosso time estava ansioso para o próximo jogo mas ainda faltava muito. Pegaríamos a faculdade de Brown em um mês, o que dava bastante tempo para nos prepararmos para os jogos.
Enquanto isso, eu atualizava minhas leituras acadêmicas quando Jared, meu melhor amigo, apareceu na sala.
– Qual foi, cara? – Jared me cumprimentou. – Teu nariz ainda tá torto.
– Eu não tenho culpa se Brinley é uma surtada, J. – comentei. – Nem Freud explica.
Jared gargalhou e foi em direção a cozinha. Morar com ele era extremamente agradável porque além de ser um cozinheiro que mal cabia em nossa cozinha devido sua altura, ele era extremamente limpo e educado. Ele nunca falava demais, mas também não deixava de falar e eu valorizava ele. O conheci quando entrei em Harvard há um tempo atrás e ele quem me ajudou a decidir se eu queria psicologia ou psiquiatria.
– Mas você não para de pensar nela, . – ele riu e abriu algo na geladeira. – Ela te tirou dos eixos.
– Ela tirou meu nariz, literalmente, dos eixos. – respondi. – A garota é irmã do babaca mór.
– Você é o babaca mór.
– Você tem razão. – dei risada. – Mas eu consigo claramente não pensar nela. Aliás, como eu sou um ótimo amigo, Anna e uma amiga dela vêm aqui mais tarde.
– Dispenso, vou sair com a Nat. – ele sorriu.
– Ótimo, sobram duas pra mim.
Dude, tá na hora de refazer o exame.
— Fiz semana passada, tô limpo. — comentei.
Jared colocou um prato de macarronada em minha frente e eu sorri.
— Por favor, larga a Natalie e fica comigo. — coloquei o prato de lado e até me ajoelhei. — Eu te chupo, se precisar! QUE HOMEM.
— Sai pra lá, porra! — Jared tentou se encolher no sofá, distanciando-se de mim. — Boiola!
— Vai a merda, que horas você vai sair?
— Daqui a pouco. Vamos ao cinema.
— Fechado. — concordei com a cabeça. Jared e Natalie, os namorados que não namoravam e ficavam com outras pessoas, mas se gostavam, sempre assistiam filmes com quase três horas de duração, e isso era suficiente para um ménage.


Fazia meia hora que o casal havia saído e eu aguardava por Anna e sua amiga. Estava começando a ficar animado com a ideia de ter duas gostosas só pra mim. A campainha tocou e eu levantei em um súbito. A noite estava prestes a começar, baby.
Assim que abri a porta, deparei-me com uma mulher bêbada com lágrimas no rosto.
— Estou apaixonada. — Winscott disse com a voz embargada.
— Meu Deus, Angie. Você foi engolida por uma baleia e depois ela te vomitou? — estendi a mão para minha melhor amiga de infância.
— Ela é tão linda, . — Angie disse com os olhos brilhando pelas lágrimas.
— Deixa eu adivinhar… — ajudei-a para que ela se sentasse no sofá. — Preston?
— Sim! Eu encontrei com ela e a amiga dela no bar… Ela ficou com outra garota. — ela chorava copiosamente em meu colo. — Eu me odeio e amo aquela mulher.
Peguei o telefone da minha melhor amiga e abri seu Instagram, disposto a filma-la e mandar para Preston, acabar com esse lenga-lenga de vez, quando, deparei-me com uma foto de Brinley. Claro.
— Angie… Que péssimo gosto. — comentei, fazendo careta.
Angelina acabou dormindo em meu colo e eu a deixei assim por um tempo enquanto cancelava meus planos com as garotas e assistia o jogo dos Oilers contra o Calgary Flames. Como se esperava, o Boston Bruins estava em primeiro lugar do seu grupo da NHL e o mesmo acontecia com o Edmonton Oilers.
Me distraí assistindo ao meu programa favorito até o telefone de Angie tocar e na tela aparecer o nome de Lana.
Alô? Lana? — atendi.
Quem fala? — ouvi claramente a voz de Brinley. Céus, que perseguição.
Geller, senhorita Brinley. No que posso ajudar?
— Lana, por que Geller está atendendo ao telefone da sua namorada?
— ouvi gritar.
Elas não namoram. — disse firme.
Elas se gostam.
— E sua melhor amiga fez questão de ficar com outra, . Não meta essa.
Pude ouvir a loira urrar via telefone, aposto que ela me bateria se estivesse presente.
Às vezes, eu juro que eu daria o mundo pra ser um cara de três metros pra te sentar a porrada, . — ela disse raivosa. Bingo!
Se sentar com carinho eu posso pensar, hein? — provoquei.
Vai à merda, babaca! — ela gritou e desligou na minha cara.
Angie estava dormindo pesadamente em meu colo quando Jared e Nat chegaram aos beijos no apartamento.
— Parece que alguém se deu mal. — Nat riu.
— Eu perdi um ménage pra consolar melhor amiga bêbada, mas tudo bem. — ele deu de ombros. Angelina era mais importante que Anna e sua amiga.
Jared e Natalie se retiraram e eu coloquei Angie sobre meus ombros para irmos para o quarto dormir. O dia seguinte seria ruim, pois Angelina de ressaca era o inferno.


Na manhã seguinte, quando acordei, Angelina não estava mais na cama comigo, o que era estranho. Pude ouvir vozes na sala de estar e estranhei. Jared, Nat e Angie fariam tanto barulho assim? Ignorei-os e tomei uma ducha gelada para despertar e fui tomar café da manhã. Chegando à sala, Brinley, Natalie, Lana e Angelina conversavam animadamente. Que capítulo dessa novela eu perdi?
— Bom dia, boiola. — Jared acordou-me do transe.
— Vai se foder. — resmunguei e fui até a cozinha.
— Acabou o leite. — Nat gritou. — tomou o que restava.
Desgraçada. — Você tomou o meu leite?
— Não. — ela sorriu fraco. — Tomei o leite da vaca. Eu vou embora agora, gente. Eu tenho que voltar pra Providence. — ela pegou o celular. — Vou chamar o Uber.
— O vai tomar café na padaria perto da estação, ele te deixa lá.
— Não quero incomodar. — ela sorriu fraco.
— Dois carros que vão para lugares semelhantes incomodam o meio ambiente, . — Lana comentou. A ignorei. Fui ao quarto buscar minhas coisas e quando voltei, ela me esperava na porta de casa.
Não trocamos uma palavra até chegarmos ao carro e eu ligar o rádio. Liguei o bluetooth e conectei meu celular. Entreguei a ela.
Assim que liguei o Jeep, o rádio do carro conectou automaticamente com o celular e tocou Drag Me Down da One Direction. Quando engatei a ré para sair da garagem, gritou.
— VOCÊ OUVE ONE DIRECTION! — disse animada. — Meu Deus… Geller, você é uma caixinha de surpresas.
— Caralho, garota. Eu quase morri. — respirei fundo. Para o inferno aquela garota.
A próxima era No Control, minha música favorita da banda britânica e eu sorri.
— É minha música favorita. — dissemos juntos e depois rimos.
— Algo em comum. — ri.
— A gente também torce pro mesmo time… — ela olhou sugestiva para o meu moletom do Bruins.
Sorri fraco e prestei atenção no trânsito, cantava a maioria das músicas que tocavam e eu também. Decidi passar na padaria antes e ela concordou porque queria comprar algo pra viagem.
Quando estacionei perto da loja, rapidamente saiu do carro e me esperava impacientemente. Antes que ela pudesse reclamar, um garoto acabou tropeçando e derrubou todo seu suco em sua blusa.
— Meu Deus, me desculpa! — a mãe do menino apareceu. — O Garrett é muito atrapalhado.
— Tudo bem. — ela sorriu fraco.
observou sua blusa branca manchada pelo suco de uva e soltou um resmungo.
— Duas horas até chegar em Rhode Island com isso grudado em mim. Grande dia! — ela reclamou. Sem nem mesmo ela pedir, tirei meu moletom do Boston Bruins e entreguei a ela.
— Tira a blusa e coloca o moletom, Brinley. — entreguei meu casaco a ela.
— Você vai ficar só com essa sua camisa horrível de Harvard? — ela questionou e o insulto a minha faculdade saiu quase que naturalmente.
— Eu tô há quinze minutos de casa, você tá há duas horas. — explicitei. — Vai trocar antes que isso escorra pra sua calça.
rapidamente foi até o banheiro e eu me dirigi até a fila para fazer meu pedido. Em menos de cinco minutos ela voltou com sua blusa branca, agora roxa, em mãos.
— Obrigada. — ela sorriu fraco. — De verdade.
— Não precisa agradecer.
— Sabe, as vezes você é até agradável. — ela disse num sorriso. — Embora você xingando meu irmão seja irritante e mesmo eu defendendo a honra dele…
— Você defendeu a honra do seu irmão entortando meu nariz? — a questionei.
— Uh, é verdade. — ela tocou no meu nariz. — Eu fiz um bom trabalho.
— É claro que fez, Brinley. É claro que fez.
Ela riu baixinho como se gostasse de ver o estrago que fez em meu nariz, num sentimento quase que… Orgulhoso. Entretanto, quando ela não me xingava — ou agredia —, Brinley era uma garota legal. E adoravelmente linda. Sua calça jeans era justa e combinou perfeitamente com meu moletom largo.
Ela esperou ansiosamente que eu tomasse meu capuccino e comesse meu muffin para levá-la até a estação. Era engraçado observá-la. Ela batia com as unhas na mesa enquanto estava ansiosa e mordia o lábio inferior.
— Por que você tá nervosa? — indaguei e ela levantou o olhar.
— Eu não tô nervosa. — ela mexeu a perna ainda mais.
— Unhas na mesa, mordida no lábio inferior e a perna tremendo. — afirmei. — O mínimo que eu poderia fazer com alguns anos de faculdade de psicologia era isso, não acha?
— Eu fiz uma entrevista de estágio. — ela comentou. — É numa filial de uma empresa que trata elementos químicos.
— Você vai passar. — respondi. — Certamente é qualificada.
— Obrigada. Eu realmente espero que eu consiga esse estágio, ainda que seja a uma hora de Rhode Island. — deu um sorriso e sacudiu os braços. — É, meu Deus, eu estou nervosa demais. Você é bom nisso.
— E em muitas outras coisas, Brinley. — sorri, dando uma última mordida no meu muffin.
— Vai à merda, Geller. — ela me deu o dedo do meio.
— Sou bom no rinque, sou um cara legal, minhas notas são boas… — dei um sorrisinho. — Se você imaginou alguma besteira é porque você também quer.
manteve-se sentada na cadeira oposta a minha, como se tivesse sido congelada. Dois minutos depois, recobrou a consciência e levantou-se rapidamente. Sem falar nada, a deixei na estação e ela saiu sem dar nem tchau.
Geller 1 x 1 Brinley.


Capítulo 5



Se tinha uma coisa que eu odiava mais do que perder, era a semana de provas. Sim, definitivamente. Apesar de saber que eu estava prestes a me livrar de ter aula com o pai de Justin Trunter, o anticristo em pessoa, eu odiava me sentir ansiosa. Eu já tinha uma seleção de estágio para me preocupar e agora eu também lidaria com as diversas matérias que eu havia puxado naquele semestre.
— Fala, gostosa. — Tyler apareceu em meu quarto e se deitou na minha cama. — Vamos beber?
— Não dá… — disse irritada. — Tenho prova amanhã.
— Que merda, pai do Trunter?
— O próprio anticristo. — comentei.
Meu melhor amigo gargalhou e veio até mim para me dar um beijo na cabeça. Tyler se despediu em silêncio e me deixou estudar. Eu amava química e não era atoa que era uma das matrizes do meu curso, mas o Sr. Trunter fazia tudo ruim. Tudo que ele tocava estragava, apenas porque eu e Justin não tínhamos dado certo. Antes, ele até me incentivara a fazer o curso que faço.

… — Justin apareceu na porta de casa quando eu estava chegando da escola. — Por favor. Eu não tenho nada a ver com isso, eu juro. Os garotos me chamaram e eu fui, eu bebi e fiz besteira. Mas eu jamais pensei que iam chegar stripers. Alissa apareceu logo depois. Eu estava bêbado.
— Por Deus, Justin! — gritei. — Sai! Eu não quero saber de você mais, vai pra lá com seus amigos, as drogas que vocês usam e tudo que é ruim pra longe de mim. Você já me quebrou o bastante.
apareceu na porta assim que ouviu meu grito e isso fez com que Justin fosse embora. Eu me sentia suja por algo que nem mesmo tinha feito. Justin havia se juntado com os garotos do time de futebol americano e eles reservaram stripers, drogas e depois ele ficou com uma garota aleatória de outra escola. E eu descobri isso tudo por um vídeo na internet. Grande dia.
Se eu pudesse mudar alguma coisa em minha vida, seria de longe a parte em que aceitei namorar com o cara mais babaca que existia no universo e eu jamais cometerei esse erro novamente.


Na manhã seguinte, eu cheguei na sala de aula faltando quinze minutos para prova. Embora o senhor Trunter estivesse na sala, ele só a destrancaria às oito da manhã. Metódico, eu diria.
havia passado no meu prédio para me desejar bom sorte antes do treino, junto com Tyler. Eu ia me livrar de Trunter naquela manhã. E eu estava ansiosa. Podia ouvir a batida das minhas unhas no banco de madeira e também sentia o quanto minha perna tremia. Exatamente como havia dito. Para o inferno, Geller, Brinley! Você está prestes a fazer uma prova. Tenha piedade de si mesma.

Hannah: E VAMOS NOS LIVRAR DESSA PRAGA DE HOMEM! Não aceito menos que dez. Te amo!


: só uma palavra e o time de hóquei dá um sustinho no velhote. Arrasa. Clarie deseja boa sorte.


Tyler: eu vim aqui desejar que você quebre uma perna (que nem fazem no teatro), mas eu adaptei: QUEBRE UM ERLENMEYER! Te amo.


Minhas melhores amigas, meu melhor amigo e meu irmão tinham me desejado boa sorte e eu estava pronta. Eles sempre me apoiaram. Eu ia me dar bem nessa prova sim. John Trunter não faria mais parte da minha vida.
Às oito em ponto, o Sr. Trunter abriu a sala e me dei o privilégio de sentar na primeira fileira, assim, eu poderia fazer a prova calmamente sem ter alguém me enchendo o saco pedindo cola.
Como sempre, em sua arrogância máxima, John Trunter leu a prova em voz alta e explicitou exatamente o que queria e eu dei graças a Deus, pois sabia cada pedaço daquela prova. Por Deus, depois dali eu nunca mais veria aquele homem dentro de sala. Em uma hora e meia de prova, coloquei todo meu conhecimento em três folhas de papel almaço e entreguei a ele. Lana já havia saído e eu presumi que fosse se encontrar com Angelina, já que era sexta-feira. Assim que saí, decidi andar pelo campus e ir até o rinque.
Quando cheguei lá, o treinador Graham gritava raivosamente com Fred, nosso goleiro. É, ele estava com os nervos bem alterados. me viu e aproveitou a parada para vir falar comigo.
— Dez? — ele sorriu.
— Tomara! Estava tranquila até. Eu sabia fazer tudo, agora, se acertei, são outros quinhentos. — dei risada. — A Lana saiu cedo também.
— Preston está aqui? — ele procurou na arquibancada.
— Claro que não. Ela deve estar indo ver Angelina em Cambridge. — comentei. — Então eu vim assistir o treino de vocês com a esperança que, no fim, Steve Graham me deixe patinar.
— A resposta é não se em dez segundos seu irmão não estiver na posição dele. — Steve sorriu e me abraçou pela cintura. Ele apitou e deu o face-off. — Eu vou matar esses garotos, .
— Eu permito! Assim a casa fica toda pra mim e eu viro filha única. — sorri.
— Quando me falaram que treinar um bando de marmanjo universitário ia ser ruim, eu não imaginava que ia ser tão ruim.
— Olha como você é exagerado. — dei um risinho baixo. — Peter, pro banco. Você tá atrasando o jogo do Kyle. Dois minutos.
Peter olhou para o treinador como se ele fosse se opor, mas Graham sorriu e deu de ombros. Eu tinha conhecimento suficiente no hóquei para reconhecer uma penalidade. Afinal, eu cresci no hóquei por causa de .
— Ela quem manda. — ele riu. — Se você fizer isso no jogo contra Harvard, eu juro por Deus que eu acabo com a sua raça. Jared Whittier é muito ágil pra te arrancar o puck facilmente.
Delay of game, baby. — dei uma risadinha e Peter me deu o dedo do meio. Meus amigos eram incríveis, não é mesmo? — Treinador, o senhor viu o jogo de Harvard? O goleiro deles é incrível. Não é melhor que o Fred, é claro.
— O terceiro power play para eles foi muito bem aproveitado. — ele comentou. — Joguei com Greg Lodge, já te contaram?
— Sim, me contou. — sorri. — Embora você seja um deles, eu gosto muito de você.
Fiz careta e o treinador riu.
— POWER PLAY PARA O TIME DE AZUL. , cinco minutos no banco pelo hooking. — gritei e resmungou.
— Se você não quer um power play, Brinley, não cometa penalidades!
, se a engenharia não der certo, te indicarei como treinadora de hockey. Você é muito perceptiva.
— Eu jamais poderia ser treinadora, eu ia cometer várias penalidades contra meus próprios jogadores. — sorri.
— Já consigo até imaginar. Brinley deixa equipe de hockey após agredir central do time universitário, Brinley, várias vezes com o taco. — Steve gargalhou. — Uma ótima manchete.
— Desculpe te decepcionar, poderoso chefão, mas eu prefiro lidar com o meio ambiente.
O auxiliar técnico de Steve apareceu e eu fui deixada liderando o rinque por um tempo. Faltando poucos segundos para acabar o jogo, adentrei o rinque e patinei até chegar em Tyler.
— Corrida de gol em gol? — sorri. — Eu te pago uma rodada de cerveja. Se eu ganhar, você me paga.
— Pode apostar. — ele sorriu e foi até o gol mais próximo de nós.
— Um, dois, três e já! — deu a partida e em menos de um minuto eu já estava encostada na outra beira do rinque, com Tyler emburrado.
— Eu acho uma graça quando você faz esse biquinho. — sorri. — Te pago a cerveja mais tarde.
Os meninos foram se dispersando do rinque e eu patinei por um tempo mais enquanto podia. Sempre gostei de estar no rinque e quando era pequena havia feito patinação no gelo. Depois de uma hora relembrando a infância, o pessoal da equipe de limpeza do rinque veio tratar o espaço e eu tive que me retirar, em um bom tempo para atender ao telefone que tinha cinco ligações perdidas.
Alô? — atendi.
Boa tarde, é Brinley quem fala? — a mulher na linha perguntou.
Sim, ela mesma. Quem deseja?
— Sou a secretária da Bayer. Estamos ligando porque precisamos que você compareça em nosso escritório até às 17h para fazer a entrevista final.
— Ai, meu Deus, ai, meu Deus! — disse animada. — Estarei aí o mais rápido possível.
— A Bayer agradece seu compromisso.
— MEU DEUS, MEU DEUS, MEU DEUS! — gritei animada. Era minha vaga.

Meio dia e meia eu já estava em Cambridge para minha entrevista final. Havia ligado para secretária e marcado minha reunião com a chefe de processos inorgânicos às 14h. Dava bastante tempo para almoçar. Decidi ir a um restaurante próximo que Justin já havia me levado. Era bom e barato. Assim que entrei, me deparei com Anna e sua melhor amiga, por Deus, eu não podia encontrar aquela garota em outro dia? Coloquei o moletom que havia trazido e me encolhi no canto do local, tentando não ser vista. Assim que terminei de comer, Caitlin e Anna vieram até mim para me infernizar.
— Olha só, parece que Cambridge está ficando mal frequentado. — Caitlin deu uma risadinha. Anna segurava um copo longo que eu torcia que ela mantivesse longe de mim.
— Sempre esteve, não é? — indaguei. — Afinal, as duas maiores marias patins residem na região.
— Você é muito engraçadinha, Brinley. — Anna riu. — Você já tomou banho hoje?
Para o inferno essas garotas. Rapidamente, dei um tapa no copo de Anna e gargalhei ao ver quem atingi: Geller.
— Meu Deus, me desculpa. — dei um sorrisinho sem graça. — Preciso ir, entrevista na Bayer.
Anna rapidamente se juntou ao time de hockey e eu me dirigi à saída do local.
— Ei, você quer carona?
— Vai se secar, . Tá frio e eu tô atrasada.
— Água seca rápido. — ele comentou.
— Qual é, tá fazendo treze graus. — chamei sua atenção. — Se bem que, né, faltam duas semanas pro jogo. Se eu jogar mais água você fica fora do jogo? — brinquei.
Ha ha ha. — ele deu uma risada forçada. — Só assim pra vocês ganharem.
— Acho que não, hein. Meu Deus, esse é o pior lugar do mundo pra pedir um Uber! — resmunguei.
— Vamos logo, eu te levo. Eu nem ia ficar aqui mesmo. — ele me puxou pelo braço. — A Bayer é quase que do lado de casa.
No caminho, me deu acesso a sua playlist e em quinze minutos estávamos na porta da empresa. Meu Deus, 15 minutos pra entrevista final. Eu vou surtar.
— Não surta, . — ele apertou minha mão num ato gentil. — Você já chegou até aqui. Vai conseguir.
Como diabos aquele homem conseguia decifrar tão bem o que meu corpo dizia? Ok, aquele não era o momento para pensar nisso. Eu precisava focar em tudo que eu queria naquele exato momento.
— Eu tô com medo, meu Deus. — disse exasperada. — Eu não quero ir. Me leve pra estação, eu vou pra casa.
— Para o inferno que você vai pra casa, . — ele me deu um sorriso encorajador. — Você vai entrar por aquela porta, vai recitar toda tabela periódica pra seja quem for e vai conseguir esse estágio.
Dei risada com a ingenuidade de .
— Obrigada, . — disse e abri a porta. — Mil vezes.
— Achei meloso esse apelido, mas vou deixar porque você tá nervosa.
— Vá à merda, Geller. — falei baixinho e ele riu.
— Boa sorte. — ele sorriu.

Charlotte Fletcher era a mulher mais encantadora que eu havia conhecido. Delicada e gentil, Charlie, como havia me mandado chamá-la, me mostrou o que eles desejavam de um candidato e como eu me encaixava nos requisitos. Sim, eu definitivamente amava aquela mulher. Ela me apresentou os laboratórios da ala inorgânica e eu estava apaixonada.
A parte em que eu me perdi, de fato, continha todo maquinário químico e eu certamente adoraria ficar lá por horas.
— Bom, senhorita Brinley, isso foi apenas uma formalidade. — Charlotte disse.
— Pode me chamar de . — sorri fraco. — Eu estou encantada com esse lugar. Sempre quis estagiar numa empresa com tamanha referência quanto essa aqui.
— Então se considere contratada, . — ela sorriu e eu arregalei os olhos.
— Você não vai pedir nem mesmo uma análise laboratorial?
— Antes de a senhorita entrar na minha sala, eu estava checando seu boletim online. — ela comentou e deu um risinho. — Sou ex-aluna de Brown e tenho certeza que alguém que consegue tirar A na matéria de John Trunter consegue fazer uma análise laboratorial muito bem.
— Meu Deus! Eu tirei A no Trunter?! — exclamei. — Hoje é o melhor dia da minha vida, eu nem sei o que dizer.
— Brincadeiras a parte… Preciso que você me mande seu horário da faculdade para eu ajustar a sua grade. — ela sorriu. — Seja bem vinda a Bayer, Brinley.
— Muito, muito obrigada! — disse animada.
Em quinze minutos o meu crachá de funcionária da Bayer estava pronto e meus documentos já estavam no RH, tornando minha vida imensamente melhor. Certamente, dois coelhos numa cajadada só: John Trunter e emprego novo.
Rapidamente liguei para os meus pais, meu irmão e meus amigos para contar a novidade. Quando saí da empresa, deparei-me com uma grande espessura de neve do lado de fora e decidi mandar uma mensagem para Lana e Angie pedindo abrigo. Rapidamente, me avisaram que estavam fora da cidade e que resolveriam meu problema.

Lana: A estação está fechada. Angie falou com o . Ele prometeu não encher seu saco e nós prometemos que seria nosso segredinho.
Lana: E se o perguntar… Você está conosco.
Lana: Angelina disse que se ele fizer alguma besteira com você, é só você ligar que ela acaba com a raça dele.
Lana: Ah! Ele está a caminho.
: VOCÊS O QUÊ????
: Pior. Casal. Do. Mundo. Todo.

Antes que pudesse xingá-las, ouvi um carro buzinar e vi estacionado perto da calçada. Hesitei em entrar, mas o frio fez com que eu mudasse de opinião rapidamente. E lá estava o salvador da pátria, de novo…
— Parabéns pelo estágio. — ele sorriu.
— Muito obrigada, . Por tudo. As caronas e o abrigo.
— Só estou fazendo um favor para uma amiga.
— Sim, claro! Nossa relação de ódio segue intacta. — brinquei (ou não).
— Sim, certamente. Só temos um problema. — ele deu um sorriso murcho. — Só temos uma cama e você não pode dormir na sala por causa do Jared.
— O Whittier não tem um quarto pra ele? — o questionei.
— Sim, mas ele e a Natalie não ligam muito de fazer sexo na sala, na cozinha, na mesa
— Céus… Eu durmo no chão do seu quarto então.
— Eu durmo, não tem problema. — ele comentou e aumentou o aquecedor só ver que eu batia o queixo de tão frio que estava.
Assim que chegamos a casa, me ofereceu uma calça e uma blusa.
— Não vou te oferecer um moletom porque você já tá com o meu. — ele riu.
— Verdade, prometo devolver. — sorri.
— Já vi essa história antes, . — ele comentou — E eu terminei sem minhas roupas.
— Eu não sou ladra. — disse num esganiço.
— Acredito em você. — ele me deu uma piscadela e fez sinal para que eu o seguisse. — Você pode se trocar no meu banheiro, o social tá com a trinca quebrada.
Quando fui me trocar, me deparei com o erro que eu havia cometido. Ficar numa casa com um inimigo-gostoso em potencial? Sério! Eu era uma piada. O banheiro de Geller era meticulosamente arrumado. Por morar com homens, eu esperava o pior sempre. Mas ele era organizado e limpo — para os padrões que estabeleci com os homens com que morava. E pensando em Geller, eu tive uma epifania. Ele foi o primeiro garoto que deu em cima de mim tendo consciência de quem eu era e de todo jeito arcaico com o qual eu era tratada. Ser a joia do time de hockey fez com que os meninos me tratassem como propriedade. E homens protegiam suas coisas. Eu era uma coisa?
— Tudo bem aí? — deu duas batidinhas na porta e saí de meus devaneios. Assim que abri a porta, ele estava lá como um soldado, como se estivesse pronto para arrombar a porta.
— Sim. — sorri fraco. — Posso te fazer uma pergunta?
— Sim. — ele voltou para cama e eu me sentei ao seu lado.
— Você tem medo do meu irmão? — enrolei meus pés na coberta.
— Quê? — ele perguntou confuso. — Que tipo de pergunta é essa?
— Ok, ignore o cenário “jogadores inimigos de hockey”. — disse angustiada. sentou-se, então estávamos bastante próximos. — Você teria interesse em mim se soubesse que eu sou irmã de um jogador de hockey famoso e sou considerada o amuleto da sorte do time inteiro?
— Não, de jeito nenhum. — ele foi sincero. — Não por causa do time, mas eu não vacilaria com você. Afinal, apanhar de seis contra um é muito injusto, tirando isso… Você é uma garota que merece um cara legal. Eu nunca namoraria com você.
— Você é um cara legal.
— Está insinuando que eu deveria namorar você? — disse num tom brincalhão e eu corei.
— Não. — dei uma risadinha. — Mas se você não odiasse meu irmão, eu certamente me atrairia por você.
— Você teria um gosto melhor, . — ele sorriu. — Eu aposto.
— Justin Trunter é meu ex namorado. — disparei e apertei os olhos, como se aquilo fosse motivo de vergonha. E eu até diria que era.
Ele gargalhou. Ótimo, agora ele ia fazer piada.
— Você namorou aquele cara? — perguntou e parecia desacreditado.
— Um desperdício de tempo, né? — soltei uma lufada de ar. — Ele foi um babaca, afinal de contas.
Babe, ele é um babaca. Essência natural. — ele riu. — Mas, vamos. Assistir algum filme seria bom.
— Eu esperava mais piadinhas sobre meu relacionamento, Geller.
deu uma risada rouca e eu me arrepiei por completo. Céus! Eu conseguia sentir seu hálito quente no meu rosto e podia ouvir seus batimentos de tão próximos que estávamos. O central do time de Harvard encarava minha boca como se quisesse me beijar. sorriu para mim, colocou sua mão em meu pescoço e se aproximou. Ele ia me beijar? Como se lesse meu pensamento, Geller me respondeu.
— Eu poderia. — falou baixinho. Era quase um sussurro. — Mas eu seria tão babaca quanto seu ex.

Delay of game:uma maneira de atrasar o jogo. Implica numa penalidade minor, que é bem leve (geralmente o jogador fica dois minutos fora de jogo).
Hooking:tentar segurar o adversário com o taco. Pode gerar uma minor OU uma major. Depende da gravidade e da má intenção do jogador.
Power play:a equipe adversária recebe a oportunidade de um homem de vantagem por um determinado período. Este dura o tempo que durar a penalidade.


Capítulo 6



Brinley era alguém que acabava com as minhas faculdades mentais. O jeito em que ela se movia me chamava atenção, o modo com o qual ela encarava alguém era malicioso e a maneira que ela sorria era linda. Beijar aquela mulher era quase que um teste de sanidade e ansiedade.
não precisava de muito para conquistar alguém. Embora eu não a tivesse beijado, aquilo era demais pra mim. Eu não faria mal àquela menina e, ainda mais, não arranjaria sarna para me coçar. Ela era irmã de Brinley.
ficou em silêncio grande parte do caminho, até que estremeceu quando um trovão soou. Para quem estava há quase um metro de distância de mim, seu pulo poderia ser de alguém que concorria nas Olimpíadas.
A chuva forte garantiu que a luz caísse no momento em que ela se colocasse ao meu lado. Sem meu celular, não tive a chance de ligar a lanterna, mas ela já tinha o feito, segundos depois da luz acabar.
… — a chamei. — Você tem medo de chuva?
— N-não. Só de trovão. — ela sussurrou. — Desde pequena.
A sala foi iluminada por, além da lanterna de seu celular, um raio. se encolheu e ela tremia como se estivessem encarando uma das coisas que mais temia.
— Vou ver se temos velas. — tentei me levantar, mas a loira se agarrou em meus braços.
— A gente pode ficar aqui com a minha lanterna. — sua voz era trêmula.
— O que aconteceu pra você ter tanto medo assim? — perguntei baixinho. — Apesar de ser um medo normal.
— Choveu muito na noite que meu avô faleceu. — ela respondeu. — Eu sei que foi o câncer que o matou e não os trovões, mas…
— Você associa os fatos e eles te lembram essas coisas. — acariciei seu braço. — Tá tudo bem.
ficou em silêncio por um tempo e eu a respeitei. Quando a luz voltou, a televisão voltou a passar o programa da ESPN que estávamos assistindo. A loira não saiu do meu lado, assim como o mundo acabando de chuva lá fora continuava.
— Esse foi um gol bonito. — ela comentava sobre o gol do ala esquerdo do Calgary Flames.
— Sim, é verdade. Mas o gol mais bonito dessa rodada foi o primeiro gol do Blackhawks contra o Minnesota Wild.
— Foi 7 a 1 pra eles, né?
— Sim, eu e o J estávamos vendo. Foi um massacre total.
— Estava ocupada estudando. — ela ficou quieta. Pouco tempo depois, ainda em silêncio, senti o corpo de relaxar sobre o meu. Esperei o programa da ESPN terminar para levá-la até minha cama.

Dias depois da prova de psicologia da educação, os resultados saíram e eu tive que voltar para Harvard para buscar a prova. O dia estava nublado, como sempre, mas o frio havia sumido. Quando saí do meu prédio, pude ver Justin Trunter estava importunando uma garota. Eu ia ignorá-los, mas pude ouvir ela dizer "pare" e "me largue".
— Me deixa em paz, pelo amor de Deus, Justin. — ela rosnou. Reconheci aquela voz de longe. Brinley.
— Qual é, gata. Sabemos que somos mais legais juntos.
— Somos mais legais com você há um milhão de milhas de distância de mim. — ela disse irritada. — Me deixa em paz! Eu só tô esperando minhas amigas e não quero companhia.
Justin a segurou e foi minha vez de intervir.
! A Lana mandou eu vir te buscar. — menti. — Aconteceu alguma coisa?
— É só o babaca do meu ex-namorado.
— Vocês são amigos agora? — Trunter indagou risonho. — E o sabe disso?
— Não somos nada. — ela respondeu irritada. — E o que você tem a ver com isso, merda? SAI.
Quando gritou, Trunter se assustou e foi embora.
— Uau. — foi tudo que consegui dizer.
— O que você quer comigo também? — ela rosnou. — Eu já te disse que não é pra chegar perto de mim, inferno. Você é um babaca e acha que está me usando para vencer o jogo contra Brown, o que não é o que vai acontecer.
Ela não precisava de mais para me magoar, porque já havia o feito. Brinley era, de longe, uma pessoa inteligente e burra.
— Eu quero tanto desestabilizar o seu irmão que ele já sabe que você tem convivido bastante na minha casa, não é? — perguntei. — Se eu quisesse que ele soubesse de alguma coisa, eu mesmo me certificaria que recebesse essa informação de mim.
Ela ficou em silêncio por um tempo.
— Você tem razão, . — ela abaixou a guarda. Tarde demais. — Me desc…
— Tô indo embora. Espero que suas merdas se resolvam.

Os treinos estavam a mil e eu estava morto. Desde meus seis anos de idade eu estou acostumado a treinar intensamente, mas enfrentar a Universidade de Brown era uma briga maior que o hockey. Na temporada passada nós não fomos para o Frozen Four junto deles e Brinley foi responsável por grande parte da vitória que os fez chegar lá. Enquanto isso, eu, junto de todos do time, lutei para fazer o time de hockey decolar. Era uma obrigação chegarmos ao Frozen Four e, consequentemente, ganharmos.
— Quero todos concentrados. — o treinador Lodge disse. — Geller, ótimos lances hoje. Espero que você assuste Tyler Vaughn da mesma maneira que assustou nossos defensores. Bom trabalho, time. Treinem mais algumas passadas de disco, quero essa troca de passe perfeita para o jogo.
Não precisamos de nada mais. O time inteiro se dividiu em duplas e diversos pucks foram jogados no rinque. Jared, como sempre, era minha dupla e me encarava com o semblante preocupado.
— O assunto Brinley ainda existe? — ele me questionou.
— Claro que sim. Eu vou acabar com o no jogo.
— Me refiro ao Brinley mais legal… No caso, a Brinley. — ele abaixou o olhar. — Ontem ela estava no Chuck's. Beijou três.
— J, adorei o fato de você se preocupar com a minha integridade, mas não temos nada. — afirmei.
— E o que explica você não estar mais com as mulheres na sua cama desde que Brinley esteve lá?
— Hockey. Eu vou me concentrar nisso nas próximas duas semanas. Só nisso. — disse com o tom tenro. — Ela é legal mas me tira das minhas faculdades mentais.
— Yup, você sente algo por ela.
— Você tá maluco.
— Maluco está você. Olha o problema que você me arranja. Você vai apanhar de um time de hockey inteiro. — ele disse preocupado e eu ri.
— Não se preocupe comigo, J. — sorri. — Mas obrigado.
Apesar de ter 1,90m, braços musculosos demais e um físico de assustar, Jared odiava brigas. Entretanto, eu sabia que se precisasse do meu melhor amigo para quebrar alguns caras, ele estaria lá. Ainda que fôssemos contra violência, brigaríamos um pelo outro.
— Kappa Beta Nu hoje, hein. — Bryant apareceu entre nós logo após o treino.
J e eu trocamos um olhar cúmplice e sorrimos. Lana era daquela fraternidade — apesar de não morar com elas. Por volta das dez, Jared e eu saímos de casa e fomos até a cada das Kappas. Lana já havia me mandado mensagem avisando que estava lá. Quando entramos na rua, o som já estava alto o suficiente para incomodar os vizinhos.
Sem beber. Amanhã temos treino. — Jared mandou áudio no grupo do time e eu ri. Ele era realmente um pai.
A casa estava lotada de gente. E quando eu digo lotada, era lotada mesmo. Não era normal termos festas de fraternidades em dias de semana que não sejam sextas. Pude ver Angie e Lana conversando num canto, enquanto Anna e Caitlin me encaravam do lado oposto da sala. Minha melhor veio saltitante até mim.
— Você veio! — ela sorriu.
— Yup! — a beijei na cabeça. Lana me encarava feio de onde estava, e logo uma loira se juntou a ela. Angie murmurou algo que eu não pude ouvir e me puxou até a aniversariante.
— Oi, Lana. Feliz aniversário. — fui educado.
— Obrigada, Geller. — a mulher negra fechou a cara pra mim. Não que em algum momento Lana Preston fizesse questão de ser legal comigo. Acho que era um problema em geral que os alunos de Brown tinham. — Bom, vou ficar com o pessoal. É isso, boa noite. Aproveite seu dia.
O olhar de não cruzou o meu em momento algum e eu me senti grato. Odiava ser tratado com grosseria, ainda quando eu tentei ajudá-la. Sim, não era meu assunto, mas ninguém merece Justin Trunter no seu pé.
J e Nat estavam conversando animadamente e Bryant veio me arrastar para um beerpong de cerveja sem álcool.
— Que besteira é fazer um beer pong sem álcool? — pude ouvir uma menina resmungar.
— É a terceira notificação da reitoria que recebemos sobre o teor alcoólico das nossas festas. — Lisa, uma das meninas da Kappa Beta Nu, replicou.
— Abram alas para o campeão de beer pong. — Bryant sorriu e vi Justin torcer a cara do outro lado da mesa.
— É o seguinte, garotos. — ela sorriu. — Quem perder escolhe um desafio ou uma prenda pro adversário. Mas é preciso fazer seus desafios antes.
— Se eu ganhar eu quero que o bonitão do hockey vire um galão de cerveja de cabeça pra baixo. Mas cerveja de verdade.
— Amanhã tenho treino. Tô fora. — dei de ombros. Angie, Lana e se aproximaram da roda e Trunter sorriu.
— Beija ela, então. — ele sorriu.
— Ela quem? Já viu quantas mulheres têm ao redor da mesa?
— Você sabe de quem estou falando. Cabelos loiros, bunda gostosa e peitos maravilhosos.
— Nojento! — gritou.
— Se você falar dela assim de novo eu juro que eu ignoro minha personalidade que é contra violência. — J resmungou. — E você sabe, jogador de hockey. Cheio de ódio. Nunca bati em ninguém no rinque nem fora. Você quer ser o primeiro?
encarava Justin com ódio em seus olhos. Logo depois ela me encarou. Como se concordasse com a aposta.
— Se eu ganhar, você não se aproxima mais dela. — sugeri e todos que estavam ao nosso redor soltaram murmúrios. — E você sabe... O que acontece aqui, fica aqui.
— Eu não vou fazer isso! — ele gritou.
— Por que, Justin? — ela falou pela primeira vez. — Você não se garante?
Justin resmungou algo e Lisa interviu.
— Bom, o desafio é uma lei no campus. Se vocês decidirem isso, você terá que beija-la se perder. — apontou pra mim e depois para Justin. — E você não falará com ela.
— Fala sério! Por que uma menina que nem estuda aqui virou pauta dos nossos jogos? — Anna reclamou.
— Porque ela é relevante. Diferente de alguém. — Lana revirou os olhos e alguns soltaram risadinhas. Esperavam que alguns de nós colidissem. E explodíssemos. Tinham doze copos para cada um.
Trunter acertou a primeira bolinha logo na frente. Bebi um copo. Tática de idiota. Não se começa pela frente. Comecei mirando nos copos de trás, e acertei. Trunter bebeu tudo. Ele errou a próxima. E eu também. A próxima, ele também errou. Para sua desvantagem, ele já estava bêbado — ou chapado — com algo que usufruiu antes da festa. Vantagem para mim. Das próximas rodadas, as que ele errava, eu também errava. As que eu acertava, ele também acertava. Entretanto, no meu penúltimo copo, Trunter errou. 2x1 para mim. A tensão era grande. Não que eu não quisesse beijar . Mas queria que ela quisesse me beijar livremente. Mirei a bolinha no copo e respirei fundo. Estava levando aquilo muito a sério, afinal, eu era competitivo. Assim que eu a joguei, a bolinha girou várias vezes antes de, definitivamente, cair no líquido amarelado.
ganhou. — Lisa gritou animada. — Isso significa que se você quebrar o desafio, Geller vai poder fazer o que quiser — sem violência, é claro — contra você.
— Se eu souber que você se aproximou dela, o time de hockey da Brown vai lidar com você. E nem vou precisar de muito esforço, Trunter. — sorri.
ainda me encarava. Quando a brincadeira idiota acabou, fui até o jardim.
— O que foi aquilo? — ela resmungou.
— Ah, oi, . — bufei. — Veio me agradecer? Ao menos, aprendeu como se faz isso?
— Eu não sou sua propriedade pra ser protegida.
— Em momento nenhum eu disse isso. — resmunguei.
— Então não me trate como uma. — ela disse e eu assenti.
— Quer que eu fale com ele, então? Desisto dessa brincadeira toda.
— Céus! Pare de brigar comigo como se isso fosse culpa minha! — ela gritou. — Você me irrita.
— Eu te irrito? Tudo que eu fiz agora foi te ajudar.
— E NINGUÉM TE PEDIU. — ela gritou.
— Já entendi! Desculpa! Você me deixa louco e, definitivamente, não é do jeito bom, maldito inferno. — passei a mão pelos cabelos.
— Eu te odeio, . Com todas as forças do meu corpo. — ela gritou e eu me irritei novamente. Para o inferno toda essa situação. A segurei pelo braço e, graças ao seu impulso, veio para cima de mim.
— Para de gritar. — respirei fundo e a soltei.  — Você está irritada. Fui um idiota e te tratei como objeto. Você não é um. Se você quiser que eu acabe com essa brincadeira, é só pedir.
— Eu te odeio! — ela resmungou e começou a bater em meu peitoral. — Não quero estar perto de você, não gosto de você!
Sem que eu pudesse dizer algo, me deu um beijo. Diferentemente de como eu pensava o nosso primeiro beijo — espera, eu pensava em primeiro beijo? —, esse foi agressivo. Era como se ela quisesse depositar em mim toda raiva que estava sentindo. Ainda assim, era o beijo que eu mais gostei em toda minha vida. É, eu definitivamente estava afim daquela garota. Nunca desejei alguém como desejava . Antes que eu pudesse dizer algo, ela entrou na casa e me deixou sozinho no jardim. E aquela foi a última vez que interagi com ela.

Poucas fases da minha vida exigiram que eu jogasse hockey com raiva. Cinco dias se passaram desde que o furacão passou por mim. E eu não falava nada com ninguém.
— Cara, vai com calma. — J apareceu em meu campo de visão. — Você vai acabar com a nossa raça!
— Foco, Jared. Foco. — resmunguei.
— Você está tudo, menos focado. Você só bate. — Fred, do gol, interviu.
— O que houve com você, ? — o treinador se meteu em nossa conversa. — Tire o resto da tarde de folga. Esfrie a cabeça e volte amanhã, filho.
Sem dizer mais nada, saí do rinque. A única pessoa que sabia o que havia acontecido era Jared e eu sabia que meu segredo estava a salvo. No vestiário, Hailey me mandou mensagem.

Hails: Oi
Hails: Aconteceu alguma coisa pra você me ligar?
: O que você faz pra relaxar quando tá estressada demais?
: A ponto de surtar, mesmo sem saber o motivo
Hails: Sexo
: É demais pra mim pensar em você fazendo essas coisas, Hails
Hails: Mas eu faço… Inclusive com pessoas do seu time, cap.
: O QUE
Hails: Lide com a realidade… Não é como se eu estivesse afim de alguém de Brown.


E como o bastardo que eu sou, não a respondi e entrei no perfil da menina que havia despertado meu interesse. Brinley.
— Você é um merda, Geller.


Capítulo 7


Acordei da minha soneca da tarde com os gritos na casa de Angie. Era estranho acordar e ter a sensação de ressaca, sem mesmo ter bebido uma gota de álcool. Quer dizer, eu bebi aquela cerveja sem álcool horrorosa, então não havia motivo para ressaca.
— O que houve? — eu perguntei e minha voz saiu rouca.
— Vocês se beijaram? — Lana perguntou. — Ele te forçou?
— O quê? Eu já disse que ele não forçaria. — Angie resmungou irritada.
— Vocês estão brigando por que mesmo? — cocei os olhos.
— Ele me contou. — Angie disse sem olhar nos meus olhos. Como se ela tivesse medo de que aquilo fosse confidencial. — E eu contei pra Lana. E ela disse que ele te forçou e, por Deus, eu cresci com ele. Não pode ter feito isso.
— Claro que poderia! — Lana interviu. — Ele é homem. Eu não acredito que isso tá acontecendo.
— Eu o beijei. — disse, por fim. — Se alguém tem que se sentir violado, esse alguém é ele.
— Você o beijou? — Lana falou baixinho, como se aquilo fosse uma surpresa.
— Qual é! Você não é a única que pode se apaixonar por alguém de Harvard. — Angie me defendeu. Mas ainda assim estava errada.
— Eu não estou apaixonada, por Deus. — falei. — Foi uma coisa do momento.
— Então não vai ser um problema pra vocês fingirem que tá tudo bem, né? Hoje é aniversário da Miranda, Lana vai comigo. Você deveria vir.
— Quem é Miranda?
— Mãe do . — Lana falou. — Ela praticamente criou a Angie também.
— Eu posso ficar em casa. — disse baixinho. — Além disso, eu tenho que ir pra Rhode Island amanhã bem cedo.
— Vamos, . — ela pediu baixinho. — Você é melhor amiga da mulher que eu pretendo me casar! Eu preciso que você também seja aprovada.
— Eu ser aprovada?
— Você é como se fosse namorada dela também!
— Ew! — Lana e eu gritamos juntas.
— Vamos! Miranda vai te adorar. — Angie disse animada.
— Tudo bem. Vou só porque não tenho aula hoje.
— Vai se arrumar! 
Meia hora depois, eu estava pronta esperando por Lana e Angie. Elas sempre demoravam a se arrumar e eu ficava na espera.
— Eu amo a sua calça branca, . Queria vestir seu tamanho para roubá-la às vezes. — Angie riu.
— Vou me lembrar disso no seu aniversário e comprar uma pra você. — dei risada.
— Vamos, vamos! — ela disse animada e puxou eu e Lana para fora do apartamento.
Devido suas experiências anteriores, Lana não estava tão animada com esse encontro de família. A pouca família que tinha — sua tia —, a abandonou assim que a viu beijando uma mulher. Para sua sorte, estávamos prestes a vir para Brown quando isso aconteceu. E, desde então, o mais próximo de família que ela tinha era eu, meus pais e .
O caminho foi rápido e eu tinha certeza que eu não deveria estar lá. Ainda mais quando quem abriu a porta foi Geller.
— Mãe, elas chegaram. — ele gritou e nos deu passagem.
— Sejam bem vindas, meninas. — o Sr. Geller disse sorridente. — Venham, o jantar vai ser servido em minutos. Mamãe, ela está aqui.
Uma senhorinha veio correndo e abraçou Angie. Ela sorriu para mim e para Lana, que ainda estava desconfortável. Hailey Geller, a irmã mais velha de , me encarava feio. Será que ele também havia contado que tínhamos nos beijado?
— Oi, meus amores! Sintam-se em casa. Venham jantar. — Miranda nos levou até a mesa, que estava cheia de comida. — Eu não sabia o quanto vocês comiam, então fiz comida extra.
— Bom, pode lidar com o extra se não quisermos. — Lana brincou e eu fiquei envergonhada.
— Eu nem como tanto assim. — resmunguei e minha melhor amiga e Angie me encararam.
— Mas você é tão magrinha... — o mais velho dos Geller comentou.
— E come por dois jogadores de hockey, Joe. — Angie falou e eu queria ir embora ali mesmo.
— Ela nem deve comer tanto assim, você é exagerada. — comentou. 
— Por que ela está na nossa casa, afinal? — Hailey perguntou.
— Porque eu a permiti. — Miranda interviu.
— Acho melhor eu ir embora... — peguei minha bolsa. — Feliz aniversário, Miranda. Foi um prazer conhecer a todos.
Dirigi-me até a saída da casa e peguei meu celular pra chamar um carro pra ir para estação de trem. Eu voltaria pra casa hoje, nem que eu pedisse para vir me buscar.
... — Lana veio atrás de mim. — Aquela garota sabe fazer uma cena.
— Eu vou embora, Lana. — sorri fraquinho.
— Você quer que eu vá com você? Eu não me incomodo.
— Isso é importante para Angie. — a abracei. — Fique. Mostre pra eles o quão maravilhosa você é, um dia você vai ser parte da família.
— Não quero fazer parte da família se os irmãos vierem juntos. — ela disse e eu ri.
— Não tem problema, meus sobrinhos vão sempre ter a tia favorita e serei eu. — brinquei. — Eu vou pedir um carro para me levar pra casa.
— Eu te levo. — apareceu na varanda da casa. — Ordens da matriarca.
— Insuportável. Vou voltar pra dentro, tá frio e eu tô sem casaco. — Lana disse e fez uma careta para . — Me avise quando chegar a casa, .
— Eu vou. — apertei sua mão e ela entrou. — Você não precisa me levar pra compensar a falta de educação da sua irmã.
— Preciso. Além disso, aposto com seu irmão faria o mesmo se fosse eu.
— Certo... Exceto pela parte de que eu nunca te levaria pra minha casa. — dei um sorrisinho.
— Implacável, Brinley. — ele deu um sorriso tão bonito que minha coluna inteira se arrepiou. — Entre no carro, estou te levando pra estação.
— Não estamos fazendo isso, . — bati os cílios como uma criança pidona faria e peguei o telefone.
— Ops! — ele o pegou de mim e guardou no bolso. — Você não vai me querer fazer te colocar no carro, não é?
— Não vou entrar. — ele bufou e depois sorriu.
— Ok, nós estamos fazendo isso. — ele se aproximou e me pegou pelos joelhos, colocando-me em seus ombros.
— Você vai me deixar cair! Tá maluco? — ela deu um gritinho e começou a se debater.
, eu malho com o triplo do seu peso seis dias na semana. Posso garantir que você está segura. — ele abriu a porta do carro e me colocou no banco do carona. Antes de ir, puxou o cinto de segurança e o afivelou. — Fique aí.
— Idiota insuportável. — resmunguei e cruzei os braços.
— Obrigado, você é sempre tão carinhosa. — ele sorriu para mim. — O que você acha de jantarmos em algum lugar?
— Eu como em casa, obrigada.
— Eu escolho, então. Comida japonesa pra você está bom?
Eu queria dizer não, mas meu estômago roncou.
— Vou levar isso como um sim, Brinley.
A prepotência dele me tirava do sério. Eu queria bater naquela cara e enfiar meus dedos naquelas íris tão brilhantes quanto o sol.
— Pergunta. — anunciei. Ele aproveitou que o sinal tinha fechado para virar para mim. — Você já ficou triste na sua vida? Eu sempre te vejo sorrindo.
— Resposta. — ele sorriu sapeca. — Tenho uma família incrível que me apoia, sendo jogador ou psicólogo... Se a carreira de hockey der certo, estarei jogando na NHL em breve, então eu não tenho motivos para estar triste.
— Você nunca fez nada para agradar os outros? Sempre foi sobre você? — questionei.
— Sempre foi sobre a minha família. Angie e Jared inclusos. — ele disse. — Quero que meus pais envelheçam felizes e do jeito que quiserem. Quero que minha irmã encontre alguém que a faça feliz, quero que minha avó aproveite o resto da vida dela muito bem, mesmo que isso me custe boas horas lendo livros que já li trinta vezes pra ela. Quero que meus melhores amigos sejam felizes também. É sempre sobre eles.
E, mulher molenga que sou, me derreti com as palavras dele. Entendia perfeitamente o que ele dizia. Sempre era sobre minha família também. Minha carreira, meus estudos e tudo que faço na vida. Nunca foi pra mim.
— Te entendo. — sorri fraco. — Também penso assim. Quer dizer, só tenho meus pais e . Tirando meus amigos, é claro. Mas meus avós não aprovavam o relacionamento dos meus pais. E quando minha mãe engravidou nova, céus... A expulsaram.
— Sinto muito, linda. De verdade.
— Tudo bem. Eu gosto dessa história, mostra como meus pais são fortes e aguentaram as pontas. Meus avós paternos cuidaram da gente. — contei. — Até meus pais terminarem a faculdade. Minha mãe trabalhava para pagar a faculdade e meu pai para pagar nossas coisas.
— Fico feliz que vocês tenham conseguido passar por essa fase difícil. — ele sorriu e apertou minha mão.
A verdade, a que eu não queria admitir, é que eu gostava muito de Geller quando ele não estava me tirando do sério. Ele era um cara legal demais e sabia analisar bem as pessoas. É, eu simpatizava com ele. Simples assim. Quem sabe, quando toda essa loucura acabasse, poderíamos ser amigos.
— Obrigada. Nem sei porque falei disso. — sorri.
— Tudo bem, eu prefiro conversar com você a gritar com você. — ele riu e estacionou o carro no estacionamento do restaurante.
— Engraçadinho.
— Vamos, Brinley. — ele abriu a porta do carro. — Suspeito que se seu estômago roncar mais uma vez, um monstro vai sair daí e me comer.
— Você é um idiota! É assim que você trata as garotas? — perguntei.
Só as que eu quero conquistar, Brinley.


Capítulo 8


"Baby I know places we won't be found and they'll be
Chasing their tails tryin' to track us down
'Cause I, I know places we can hide, I know places"
(I Know Places, Taylor Swift)

No restaurante de comida japonesa, escolheu uma mesa a qual o assento era em formato de U. Ela se sentou e relaxou, enquanto eu a observava. Esse era o pouco momento de paz que tínhamos, e eu iria aproveitá-lo.
— O que posso trazer para o casal? — ela sorriu.
— Ah, nós não somos um casal. — ela se apressou em dizer.
— Podem não ser ainda. — ela sorriu. — No que posso ajudar?
— Eu vou querer uma porção de sushi e um temaki. — pedi. — E você?
— Sushi e yakisoba. — ela anunciou. — Você pode trazer um garfo pra mim?
— Claro, menina. — a senhora sorriu.
— Traga hashi. Vou ensiná-la. — avisei.
revirou os olhos e mexeu em seu cabelo, puxando ele todo pra trás, dando me perfeita visão de seu rosto e colo. Ela estava perfeita. Vestia uma calça branca, acompanhada de uma blusa de manga comprida e gola alta preta e seus coturnos. O cabelo claro reluzia com a luz que estava em cima de nós e ela apoiou o rosto em suas mãos. Aproveitei e tirei uma foto rápida. Ela era perfeitamente linda.
— Ei! Direitos de imagem, babaca. — ela riu.
— Você ficou ótima. Bem melhor que aquelas fotos com o uniforme de Brown no seu Instagram. — disse.
— Então você checou meu Instagram? — ela provocou.
— Yup. — fui sincero.
— Deixa eu ver a foto. — ela ordenou. — Anda.
Entreguei meu telefone a ela e a vi mexendo.
— O que você está fazendo? — inqueri.
— Postando no Instagram. Tá bonita mesmo. — ela deu de ombros. — Obrigada, fotógrafo.
— Será que hoje você aprecia a minha companhia, Brinley?
— Eu me sinto mal por fazer você ficar longe da sua mãe no aniversário dela. — ela diz.
— Minha mãe me chutaria na bunda se eu não o fizesse. — dei risada. — Miranda Geller abriga a fúria de cachorros pequenos quando quer. Ela só não brigou feio com a idiota da minha irmã porque Lana estava lá.
— Sua irmã tinha razão, eu não deveria estar lá.
— Minha mãe deixou que você fosse, então você deveria. — ele sorriu. — Aliás, a lasanha dela deve estar ótima.
— Jesus, . — ela revirou os olhos. — Volte pra lá agora.
Antes que eu pudesse responder, a senhorinha voltou com o nosso pedido. Sem garfos, pude notar. resmungou ao ver que a garçonete atendeu aos meus pedidos.
— Não sei usar isso. — disse derrotada. — já tentou, mas nunca conseguiu.
— Ele desiste fácil! Anda, separe-os. — pedi e me aproximei dela.
mexeu nos palitinhos atentamente e tentou posicioná-los em seu dedo. Pude ver que ela realmente não tinha jeito.
— O controle você faz pelo dedão. — segurei sua mão e dei um leve aperto. — E aí, pra você ajeitar o tamanho, você usa o indicador, .
— Meu Deus, muita informação. — ela riu. Tentou, mas não conseguiu segurar o macarrão. Peguei um pouco e levei até a boca dela.
— Aqui. — ofereci. — Não quero que seu estômago acabe comendo seus órgãos.
— Palhaço! — ela riu e mastigou.
— Tente de novo. Qualquer coisa pegue um sushi. — falei e comecei a comer meu temaki.
encarou para os palitos em sua mão com certa concentração. Eu poderia dizer até, que sua dedicação era demasiada, mas era aquilo. Em pouco tempo de convívio, percebi que Brinley era ou não era. Não havia um meio termo. Aos poucos, ela conseguiu pegar um pedaço de carne e seu rosto com uma expressão clara de felicidade me encantou.
— Estou orgulhoso, ! — sorri. — Agora pegue o macarrão.
— Acho que eu vou adicionar isso no meu currículo. — ela disse animada e eu dei risada. Era isso, eu estava muito afim dessa garota.
Antes de tentar novamente, ela prendeu o cabelo num rabo de cavalo e ficou mais bonita do que eu imaginei que pudesse ficar. Numa tentativa falha, seu macarrão escorregou prato abaixo.
— Ugh. Sou ruim nisso, quero um garfo.
— Tente de novo. — pedi. — Eu não vou te dar comida na boca, .
Uh, é claro que eu daria se ela pedisse.
— Ha. Ha. Ha. — ela me deu uma risada sarcástica. — Eu como nem que tenha que ser com a mão, Geller.
— Bem que disseram que você come que nem jogadores de hockey. — sorri.
— Nascida e criada como uma. — ela sorriu orgulhosa. — Patino tão bem quanto você.
— Eu arriscaria dizer que você é mais rápida. — dei de ombros. — Você é o que, trinta quilos mais leve que eu?
— Quase. — ela riu. — Gostaria de te detonar numa corrida, Geller.
— Termine de comer e seu pedido é uma ordem, princesa. — sorri.

Quando e eu terminamos de comer, ou melhor — com palavras que saíram da boca dela — depois que ela terminou a guerra com seu hashi, voltamos para perto de casa. Ela não iria embora hoje, e isso havia sido decidido inconscientemente, já que o último trem partiu às 22h. Agora, estava dirigindo para Bright-Landry Hockey Center. Com a carteirinha, eu conseguia nos colocar pra dentro.
— Para onde estamos indo, capitão? — ela inquiriu. — Estamos indo para o lugar onde a mágica acontece, senhorita Brinley. — sorri.
— Eu não diria que Bright-Landry é o lugar onde a mágica acontece, Geller. — ela disse risonha.
— No Meehan Auditorium que não é, querida. — afirmei.
— Vou te mostrar como um brown bear joga, Geller.
— E eu te mostro o que eu costumo chamar de Crimson Effect.
Buuuuuu. — ela me vaiou.
— Não me vaie, Brinley. Não é esse o som que eu quero ouvir saindo da sua boca. — sorri e estacionei o carro. — Vamos lá.

Depois de trocarmos os sapatos por patins, lembrei-me de agradecer ao time feminino de Harvard. Os pés de eram incrivelmente pequenos, assim como ela. E isso me fez pensar no quão rápida ela seria no gelo.
Let's go, brown bears! disse e deslizou rinque adentro. Gargalhei com sua provocação infantil, ainda mais no Bright-Landry.
pegou seu taco e o puck e começou a se familiarizar com o equipamento. Obviamente, criada com um jogador, eu tinha certeza que ela saberia o básico de hockey. Só não esperava que muito.
— Você deveria saber do passado das pessoas antes de convidar ex-jogadores para patinar. — ela me deu um sorriso vitorioso. E eu caí mais ainda por ela. era atleta. Isso explicava seu físico e sua paixão.
— Por favor, não comece a jogar ainda. Fui atingido. — pedi e ela franziu a testa em confusão. — Você é uma atleta.
— Ex-atleta. — ela corrigiu.
— Nunca se deixa de ser um atleta, linda.
Já posicionados, ela acenou para que começássemos. era boa com o puck, mas eu também não me surpreendi.
— Ei! Isso é hooking! — ela reclamou quando a prendi com o meu taco. — Penalidade!
— São minhas regras, Brinley. — disse perto dela o suficiente para que só ela ouvisse minha voz. virou pra mim e jogou o puck pelas minhas pernas.
— Quem disse? — ela perguntou, encarando minha boca. Sem nem mesmo me deixar pensar, escapou e fez uma jogada que foi diretamente para o gol.
— Ganhei, . — ela sorriu. Estupefato com o que tinha acontecido deslizei até ela e a fiz soltar seu taco. A peguei pela cintura e fiz impulso para chegarmos até a parte lateral do rinque.
— Esse é um jogo de ganhar e ganhar. — disse e apertei sua cintura.
— Aw, , você é competitivo! — ela colocou a mão em minha cintura, o que fez com que eu sentisse cosquinha e desse um pulo. Por causa disso, perdi o equilíbrio e tombei para trás, trazendo comigo.
— Cair no rinque sem proteção é horrível. — resmunguei, tentando me ajeitar mesmo com ela em cima de mim.
— Te machuquei? — ela se ajeitou, mas não saiu do meu colo.
— Não. — eu a puxei para mais perto. sorriu e eu a beijei, da forma calma e deliciosa que eu imaginava. Mas, dessa vez, sem um de nós fugindo.
— Eu vou chutar a bunda dos dois se vocês estiverem fazendo sexo no meu rinque. — o treinador Greg apareceu. — Arranjem outro lugar!
Eu e nos separamos rapidamente. O treinador tinha a feição irritada de sempre, o que não me assustou. Assim que levantamos e certificamos que Greg já tinha saído, gargalhamos da situação.
— Eu acho que isso foi demais pra mim. — ela sussurrou.
— Geller! Brinley! — ouvimos o grito do treinador. — Para fora do meu rinque.
— Acho melhor irmos, ou ele vai tirar a gente pela orelha. — a puxei para fora do gelo.
Quando estávamos saindo, Greg Lodge nos esperava na saída. Estava pronto para o sermão.
— Hm… Treinador? — o chamei ainda receoso. — Pode manter isso em segredo, por favor?
— Claro, filho. A gente não escolhe por quem se apaixona. — ele comentou.
— A gente não tá apaixonado, treinador Lodge. — Brinley o respondeu e eu concordei. A gente não estava apaixonado um pelo outro, certo?
— Senhorita Brinley… — ele lhe deu um sorriso. — Eu escolhi você naquele draft.
— Obrigada, treinador. — ela sorriu. — Mas não era meu sonho.
— Você foi draftada? — perguntei surpreso. Céus!
— Vamos? — ela perguntou e eu percebi que não queria falar do assunto.
— Claro.
— Boa noite, treinador. — dissemos em uníssono.
— Geller, o quero amanhã as nove no rinque. Nem um segundo a mais. Ou...
— Você vai cortar minhas bolas, eu sei, eu sei... — respondi e riu.
O treinador me deu um sorriso orgulhoso e nos deixou sozinhos, saindo do estacionamento rapidamente.
? — a chamei. Ela levantou o rosto e me encarou. — Eu estou totalmente te beijando agora.
A puxei e, mais uma vez, tive aqueles lábios macios nos meus.


Capítulo 9

Them
O dia seguinte ao beijo começou cedo para . O central do time de Harvard tinha diversos trabalhos da faculdade para fazer. Em seu campo de visão, sua mesa de estudos estava cheia de marca textos emprestados de Natalie e diversos textos de antropologia para ler. Lembrou-se do dia que ajudou a fazer seja lá o que estava fazendo para seu curso de gente doida.
Algumas horas se passaram desde o beijo dos dois e ele já não a tirava da cabeça.
— Ei. — Nat apareceu na porta de . — Eu e o J vamos sair pra almoçar, você quer alguma coisa?
— Não, Nat. Eu me viro. — ele sorriu. — Ou então eu como só na casa dos meus pais.
— E vai acabar com a comida deles? Pobres coitados, Geller.
— Eu nem como tanto assim. — ele se defendeu,
— É… Pra um hipopótamo. — ela deu uma risadinha e saiu, deixando-o se afundar nos textos que tinha pra ler.
Depois de quase duas horas lendo e analisando os artigos sobre demonstração de sentimentos, sentia que seu cérebro não conseguia escrever nenhuma palavra. Deixou para se preocupar com aquele assunto no dia seguinte.
Automaticamente digitou Brinley na busca do Facebook e encontrou um perfil antigo da menina, o qual estava repleto de posts sobre Taylor Swift, meio ambiente e gatos. gargalhava dos comentários da loira na internet. Procurou depois seu Twitter e encontrou, mais uma vez, uma ávida fã da Taylor Swift e do Boston Bruins.
Às sete da noite, estava na casa de seus pais e sua irmã para comemorarem o aniversário de Miranda Geller, sua mãe. O garoto sabia que Lana Preston era a convidada de Angelina, mas não sabia que a convidada também tinha uma convidada. Quando viu os cabelos loiros de quase se engasgou com a água que bebia. O dia com o qual não parava de pensar nela, simplesmente apareceu em sua casa.
— O que houve, querido? — sua avó lhe perguntou.
— Nada, vó. — ele engoliu o líquido gelado.
— O que ela faz aqui? — Hailey resmungou.
— Ela é amiga da minha namorada, Hailey. — Angelina se posicionou.
— Querida, você tem comido direito? — a mais velha dos Geller foi até . — Você é tão magrinha.
— Tenho sim, não se preocupe, sra. Geller. — ela sorriu. — Eu só tenho um metabolismo muito rápido.
— Miranda, prepare um prato bem cheio pra essa menina.
— Não precisa, sra. Geller. — se adiantou. A avó dos Geller lhe encarou feio. — Só ponha um pouquinho a mais, nem vai doer.
Lana deu risada. Vovó Geller era avó de todos. Pouco antes de se sentarem a mesa para jantar, Hailey decidiu intervir. não deveria estar ali.
— Por que ela está na nossa casa, afinal? — Hailey perguntou.
— Porque eu a permiti. — Miranda interviu.
— Acho melhor eu ir embora... — pegou sua bolsa. — Feliz aniversário, Miranda. Foi um prazer conhecer a todos.
Em passos largos, a quase engenheira química saiu daquele lugar. Os pais de e sua avó eram adoráveis, mas sua irmã, é claro, não simpatizava com . Apesar de sentir raiva da menina, acreditava que faria o mesmo se estivesse passando a mesma situação com o irmão.
... — Lana foi atrás dela. — Aquela garota sabe fazer uma cena.
— Eu vou embora, Lana. — sorriu fraco.
— Você quer que eu vá com você? Eu não me incomodo.
— Isso é importante para Angie. — elas se abraçaram. — Fique. Mostre pra eles o quão maravilhosa você é, um dia você vai ser parte da família.
— Não quero fazer parte da família se os irmãos vierem juntos. — ela disse e arrancou uma risada de .
— Não tem problema, meus sobrinhos vão sempre ter a tia favorita e serei eu. — a loira brincou. — Eu vou pedir um carro para me levar pra casa.
— Eu te levo. — apareceu na varanda da casa. — Ordens da matriarca.
— Insuportável. Vou voltar pra dentro, tá frio e eu tô sem casaco. — Lana disse e fez uma careta para . — Me avise quando chegar a casa, .
— Eu vou. — apertou sua mão para demonstrar que estava tudo bem e ela entrou. — Você não precisa me levar pra compensar a falta de educação da sua irmã.
— Preciso. Além disso, aposto com seu irmão faria o mesmo se fosse eu.
— Certo... Exceto pela parte de que eu nunca te levaria pra minha casa. — deu um sorrisinho.
— Implacável, Brinley. — ele deu um sorriso tão bonito que sua coluna inteira se arrepiou. — Entre no carro, estou te levando pra estação.
— Não estamos fazendo isso, . — ela bateu os cílios como uma criança pidona faria e desbloqueou o telefone para pedir um carro.
— Ops! — ele o pegou e guardou no bolso. — Você não vai me querer fazer te colocar no carro, não é?
— Não vou entrar. — ele bufou e depois sorriu.
— Ok, nós estamos fazendo isso. — ele se aproximou e a pegou pelos joelhos, colocando-a em seus ombros.
— Você vai me deixar cair! Tá maluco? — ela deu um gritinho e começou a se debater.
, eu malho com o triplo do seu peso seis dias na semana. Posso garantir que você está segura. — ele abriu a porta do carro e a colocou no banco do carona. Antes de ir, puxou o cinto de segurança e o afivelou. — Fique aí.
— Idiota insuportável. — resmungou e cruzou os braços.
— Obrigado, você é sempre tão carinhosa. — ele sorriu. — O que você acha de jantarmos em algum lugar?
— Eu como em casa, obrigada.
— Eu escolho, então. Comida japonesa pra você está bom?
queria negar, mas seu estômago roncou.
— Vou levar isso como um sim, Brinley.
Os dois foram até um restaurante que tinha ali por perto e jantaram juntos. Depois, a levou para o Bright-Landry, rinque de Harvard. Para o azar deles — ou nem tanto —, o treinador Greg apareceu para tirá-los dali. Entretanto, no fim daquela noite, Geller descobriu que Brinley era ex-jogadora de hóquei. Quando chegaram em casa, encontraram Nat e J dormindo pelados no sofá.
— É sempre assim? — ela riu baixinho.
— Não… Às vezes eles estão pelados. — declarou.
O casal entrou no quarto do central do time de Harvard e colocou suas coisas em cima da escrivaninha de . O garoto separou uma blusa e uma cueca para usar e decidiu trocar sua calça jeans por uma de moletom.
— Se incomoda de eu tomar uma ducha rápido? — ela pediu e ele riu.
— Me incomodaria dormir com uma fedida, então, jamais! — ele sorriu debochado e revirou os olhos.
É óbvio que o cheiro dela era um dos mais viciantes que ele poderia já ter sentido na vida. era, além de território proibido, viciante. E isso fazia tudo piorar. Geller ligou o computador e começou a resolver algumas coisas da faculdade que não tinha terminado à tarde. No entanto, a cada cinco palavras que escrevia, o fato de Brinley ter sido draftada lhe vinha à cabeça. E como fizera mais cedo, digitou seu nome na busca de pesquisa do YouTube. Os primeiros cinco vídeos foram upados por uma conta de uma escola, que pressupôs ser a qual ela estudava. No vídeo, a escola de uniforme vermelho estava empatando com a escola amarela e tinha um power play a seu favor. O central do time reconheceu o corpo pequeno de entre as meninas e observou a mágica acontecer. Faltando quinze segundos para a penalidade acabar, a menina conseguiu desviar de todas as jogadoras adversárias e marcou um dos gols mais bonitos que Geller poderia ter visto. E entendeu. O talento de Brinley não era sorte, mas sim genética.
Assim que a menina saiu do banheiro, com as roupas de , ela percebeu o brilho nos olhos dele ao vê-la.
— Você viu, não viu? — ela revirou os olhos. O sorriso de se estendeu. — É, você viu.
— É um assunto muito pessoal perguntar o motivo de você não ter ido jogar em seja qual time você tenha sido draftada? — ele perguntou. Se ela não contasse nada, ele iria criar mil cenários em sua cabeça.
— Foi o Buffalo Beauts, de Nova York. — ela disse baixinho, soltando um bufo. — E sim, é muito pessoal.
— Tudo bem. — murchou. Apesar de estar curioso, jamais a forçaria entrar num assunto que ela não se sentia confortável. Ele ofereceu seu computador a ela. — Quer ver alguma coisa?
, no entanto, percebeu que o interesse do garoto no assunto era apenas encantamento. Apesar de estar relutante em se abrir com aquele garoto, sabia que ele era bom. E por Deus, exatamente tudo que ela queria em alguém, exceto pela parte em que jogava no time rival ao seu da faculdade.
— Meu avô teve uma carreira mínima no hóquei. — ela disse baixinho e virou-se instantaneamente para ouvir a história. — Ele foi contratado pelo Oilers e em seu primeiro jogo se lesionou por conta de uma entrada muito bruta de um defensor. A previsão era que ele ficasse fora seis meses, e então o Edmonton não respeitou muito bem, parece que aceleraram o processo de cura e em três meses meu avô estava de volta no rinque.
— Ele se machucou de novo… — concluiu.
— Sim, e foi bem pior. O Edmonton Oilers acabou com o contrato dele. — ela fez careta. — O sonho dele era ver um de nós num time profissional. Papai não leva jeito. Mas eu e … Nós temos isso em nós.
— E não é seu sonho?
— Por muitos anos foi. — ela disse baixinho. — E então, a última vez que eu o vi, ele me disse que eu deveria parar de viver o sonho dos outros e viver o meu.
— Você quer ser cientista. — sorriu.
— Naquela época eu já tinha feito as fases necessárias do draft e recebi a resposta uma semana depois da morte dele. — ela comentou. — O treinador Greg estava lá e ele quem me deu a notícia, mas eu decidi viver meu sonho.
— E sua família ficou bem com isso?
— Apoiar um ao outro, não importa o que aconteça. — ela disse baixinho e sorriu. — Minha avó que nos ensinou isso.
— Eu sinto muito pelo seu avô, sei que ele está orgulhoso de você, linda. — acariciou as bochechas de e ela não lutou contra o carinho.
Na verdade, por que ela resistiria? Já haviam se beijado, dormido juntos, falado de coisas pessoais e aproveitado nosso tempo junto, apesar de Geller ser um pé no saco. E, também, apesar de ser ranzinza para idade dela.
— Quando eu era mais novo, meus pais não tinham condições de pagar meus equipamentos. — ele contou. entendeu, era um quid pro quo, ou seja, uma coisa pessoal por outra. — Minha irmã deixou de fazer ballet três vezes por causa dos meus equipamentos. Quando eu fiz doze anos, comecei a trabalhar para pagar o ballet dela.
… — apertou a mão dele. — E você vai fazer de tudo pra retribuir seus pais, né?
— Sim. — seus olhos brilhavam com as lágrimas que ele não queria soltar. — E também quero ajudar mais crianças que não têm condições. Não é justo que um tenha e outro não.
sorriu. — No fim das contas, você tem um coração lindo.
— Qual é… Tudo em mim é. — ele sorriu e limpou os olhos. Não choraria na frente daquela menina.
— Espero que você consiga ajudar as criancinhas. — ela sorriu.
— Eu também espero. — ele disse mais pra ele do que pra ela. — O hóquei é minha vida. Não abro mão de nada por isso.
engoliu em seco. Ela não se sentiria incomodada por aquilo, não é? Errado. Sentiu.
— Concordo. — ela se levantou. — Posso pegar água na cozinha?
— Claro. — ele sorriu. — Mi casa, su casa.
Passaram-se cinco minutos e ela não havia voltado. Quando foi até o cômodo, encontrou de olhos fechados conversando com J e Natalie. O garoto deu risada ao ver a cena. Ao contrário de , ela não estava acostumada a vê-los pelados.
— Vai ser sempre assim. — Natalie riu. — Se conforme e aprenda a ver a gente como viemos ao mundo.
— Isso é demais pra mim, os prefiro vestidos.
— Você não viu nada. — o central se juntou a eles no sofá, colocando em seu colo.
Os quatro ficaram conversando por um tempo, até que Jared e Natalie foram dormir em seu quarto, deixando-os a sós novamente. Os dois estavam em um silêncio gostoso, daqueles que não era preciso dizer nada para que conversassem. estava aninhada no colo de Geller e ele fazia carinho na parte exposta de sua pele.
— Você acredita em destino, ?
— Sim. — ele disse seguro. Se aquilo que eles passavam não era por conta do destino, o que seria? — Quais as chances de você estar no meu colo agora, se não fosse ele?
— É, você tem razão.
recebeu um beijo na mandíbula e seu corpo se arrepiou. Se tinha uma coisa que sabia fazer, era usar sua boca e todos os jeitos que ela havia provado funcionaram. Ela se colocou de frente para ele e, ao vê-la com sua camisa, Geller sentiu que aquilo era certo, apesar de todas as indicações dizerem ser erradas.
— Eu vou fazer uma coisa muito ruim agora. — ela disse como se estivesse num confessionário com um padre.
— O quê?
— Eu vou beijar o cara mais gato de Harvard. — ela sussurrou. abriu um sorriso e se levantou. — Acha que Natalie vai se importar?
Assim que a menina fingiu andar até o quarto do defensor de Harvard, Geller a puxou e os dois deram um encontrão.
— Se estivéssemos em um rinque, eu diria que era boarding. — ela sorriu.
— Como não estamos, eu digo que você é um belo boarding. — ele sussurrou pertinho de sua orelha. Sentiu o choque de calor que atingiu os dois e a puxou pela cintura, colando seus lábios. Existem coisas no mundo que não podem ser explicadas. e eram uma dessas. Ele era o oposto dela. preferia frio, ele preferia calor. Se ela estava na esquerda, escolheria a direita. Usando termos que ela entenderia tranquilamente: eles eram elétrons e prótons. Atraíam-se. Usando termos que ele entenderia: ela era a defensora do time adversário, enquanto ele exercia seu papel de central. E parecia certo. Era certo.
Boarding: penalidade marcada quando um jogador infrator empurra, tropeça ou dá um choque violento em um jogador adversário nas tábuas do rinque de hóquei.


Capítulo 10

Them

"Our secret moments in your crowded room
They've got no idea about me and you
There is an indentation in the shape of you
Made your mark on me, a golden tattoo…"
(Dress, Taylor Swift)

O caminho até Rhode Island era rápido. Para quem revisava os trabalhos da faculdade enquanto fazia a viagem de volta para casa, aprendeu a gostar daquele tempo. Ali, ela estava no meio dos dois. Entre Massachusetts e Rhode Island, muitas coisas aconteciam. Coisas essas que a deixavam extremamente agoniada porque ela odiava não saber o que fazer. No entanto, seu coração gritava por duas coisas. E para ter uma, ela precisava abrir mão de uma.
Ao chegar em Brown, foi direto para sala de sua orientadora para debater seu trabalho de conclusão de curso. queria que ela revisasse tudo e ambas debatessem a ideia da apresentação. Depois, encontrou-se com Tyler e Hannah.
— Lembrou que mora aqui? — seu melhor amigo sorriu.
— Eu tive que trabalhar no lugar de duas pessoas. — ela disse. Não era mentira, mas ela poderia ter voltado para casa dois desses dias. — Estou exausta. Vocês se acertaram?
— Acho que sim. — Hannah comentou baixinho. — Tyler ficou um pouco brava que um cara que faz farmacologia com a gente me chamou pra sair.
— Se eu soubesse que você tomaria atitude por causa disso, teria contratado alguém para chamá-la para sair. — comentou e os amigos riram.
O telefone dela apitou e tudo que os dois falavam foi ignorado. A mensagem vinha de Massachusetts, de um apartamento cujas instalações ela conhecia bastante.

: Quero te ver hoje.
: O quê?
: Quero te ver hoje.
: Faz literalmente algumas horas que nos vimos.
: Não ligo. Gosto de estar com você.
: Aw. Também gosto de estar com você.
: E se você viesse pra cá? Pago sua passagem.
: Não dá :( tenho coisas para fazer aqui.
: Te vejo mais tarde então. Deixe a porta destrancada, chego assim que eles saírem para o jogo.
: O QUÊ??? Não! Você vai apanhar.
: Estou levando comida pra gente.

— Com quem você está conversando? — Hannah se esticou para olhar as mensagens da melhor amiga.
— Um carinha do trabalho. — mentiu. — Nada demais.
— Hm… — Hannah desconfiou. — Bom, preciso ir. Vou precisar chegar em Boston College antes para ver o jogo. Você vem?
— Não. — fez uma careta. — Tô exausta.
— Você precisa descansar um tiquinho. — Tyler acariciou os cabelos da amiga. — Vou falar pro seu irmão vir te ver antes de irmos.
— Obrigada, bebê. — sorriu. — Boa sorte no jogo beneficente.
— Obrigado.
Tyler e Hannah saíram porta afora, deixando com aquela casa inteiramente para si — e em breve, para . foi até o segundo andar e tomou uma ducha. Seu irmão iria em casa apenas para vê-la e depois ia para concentração com o time. Apesar de adorar ir aos jogos e de ter um “encontro” com , queria ficar em casa. Estava cansada da rotina de Boston-Rhode Island, cansada por seu trabalho e cansada pelo trabalho de conclusão de curso e, dessa maneira, quase não existia uma no fim do dia.
? — ela pode ouvir enquanto terminava de se vestir.
— Aqui em cima, . — gritou.
A menina ouviu os passos largos do irmão subindo a escada e ajeitou a blusa que usava. já estava com o terno de Brown e ela sorriu ao vê-lo. Apesar de negarem, os dois eram idênticos. O sorriso era igual, o cabelo loiro brilhante como sempre e os olhos cor de mel com um brilho inconfundível.
— Oi, pequena. — ele a abraçou e a levantou do chão. — Senti saudades.
— Eu também senti, maninho. — ela sorriu. Por muito tempo, fora seu refúgio e eles nunca tinham segredos e se sentia péssima por não poder dizer a ele que ela realmente estava gostando de alguém. Ainda mais, aquele alguém.
— Eu só vim te dar um abraço de boa sorte, Tyler disse que você está terminando seu trabalho. — ele sorriu.
— Sim, esse interminável trabalho. — ela riu baixinho. — Mas eu consigo.
— Você consegue tudo. — ele bagunçou os cabelos molhados da irmã.
— Preciso ir, o time não sai sem o capitão.
— Tudo bem, acabe com Boston College. Estarei torcendo daqui. — deu um beijinho em sua bochecha e viu seu irmão ir embora.
pegou seu telefone e viu que tinha várias mensagens de . Ele estava esperando seu sinal para que pudesse entrar e avisou que estava lá. É claro que ela sabia. Quando seu irmão partiu, ela deu o ok para que ele pudesse entrar na casa e a menina ouviu os passos — não tão silenciosos assim — de .
— E se fosse um assaltante? — ele perguntou ao encostar no batente da porta.
— Eu ia pedir ajuda pra você.
— Você sabe que num assalto quem nos defenderá é você, não? — ele riu.
— Duvido. — ela riu. — Você deixaria alguém fazer mal a sua garota, ?
— Isto é algo a se pensar. — ele sorriu e se aproximou da loira. tinha seus brilhantes olhos cor de mel vidrados na imensidão verde dos olhos de . Sorriu ao sentir seu cheiro amadeirado e o arrepio em sua espinha por conta da presença dele chegou.
Era esse o grande impacto que ele tinha sobre ela. Quando ele não estava por perto, era alguém controlada, alguém que sabia o que fazer, mas desde que cedera aos encantos do jogador, viu que estava súbita e completamente entregue.
Quando se aproximou da cama e ela já não tinha mais como andar pra trás, a encarou. Observou cada detalhe do rosto de . Suas pintinhas na bochecha, as marcas de tanto franzir o nariz, a pequena cicatriz no canto da testa e suas covinhas. Olhou seu nariz, os fios loiros mais reluzentes que já havia visto e, em principal, olhou o grande sorriso que ela tinha no rosto.
— O que foi? — ela mordeu o lábio inferior de nervoso.
— Nada. — ele beijou sua bochecha. — Estou decidindo minha parte favorita da minha garota.
riu e revirou os olhos para o comentário dele. Era incrível como apenas um comentário que ele fazia mudava seu dia. Um sorriso que ele dava iluminava seu dia. E, encarando , se questionou de como engraçado era o destino. Lembrou-se de quando seu avô lhe dizia que o destino precisava tomar conta das pessoas quando elas não seguiam seus verdadeiros caminhos. E os dois chegaram em um ponto no qual não se controlavam mais. O coração dela acelerava ao vê-lo, e sabia que não tinha mais volta. No entanto, ao entrar nessa brincadeira, já sabia que aquela era uma batalha que perderia. Mas, lembrou-se, na verdade, que algumas perder algumas batalhas não fazia mal algum.
— Você quer fazer alguma coisa, linda?
— Dormir, dormir e dormir. — ela riu. — Mas pensei em vermos alguma coisa, o que acha?
— Tudo bem. — ele concordou. Ele sempre fazia o que ela queria. — Escolha seu romance.
— Nada de Julia Roberts. — ela riu. — Que tal Juntos Pelo Acaso?
— Pode ser. Tem a atriz de Grey's Anatomy. — ele comentou e virou para ele.
— Quem?
— A Izzy, personagem de Grey's Anatomy. Essa loira é a atriz que fez a personagem.
— Nunca vi.
— Então faça sua listas de séries novas para ver porque não vamos sustentar uma relação assim.
— E nós temos uma relação? — ela deu um sorrisinho.
— É, podemos dizer que sim. — ele sorriu.
deu play no filme e os primeiros trinta minutos se foram. fazia carinho nela e lentamente sentia o corpo da menina relaxar. Quando percebeu, dormia tranquilamente em seus braços. O garoto parou de prestar atenção no drama que passava no computador dela e a observou por quase uma hora, enquanto ela dormia. Ela era linda. E ele estava perdido naquele rosto, naquela personalidade e principalmente em seu sorriso.


Capítulo 11

"I want to wear his initial
On a chain round my neck, chain round my neck
Not because he owns me
But 'cause he really knows me
Which is more than they can say"
(Call It What You Want, Taylor Swift)


Cada dia mais próximos eu e estávamos e eu sentia que cada dia mais, eu entregava meu coração a ela. Quando assisti aquele filme do livro do John Green no qual Augustus dissera para Hazel Grace que seu coração era dela para quebrar, achei cafona, confesso. Mas depois que conheci tive noção sobre o que ele falava. E eu me achei cafona também.
Cada dia que passava eu estava mais apegado aquela garota dos cabelos mais cheirosos do mundo e de uma inteligência absurda. Às vezes, enquanto estávamos fazendo coisas aleatórias, me aparecia com um fato aleatório sobre química. Como a vez em que ela contou sobre que sulfeto de hidrogênio tem cheiro de ovo podre. Ou quando eu descobri que gelo seco não era água e sim dióxido de carbono. E eu não me importava de sabê-los.
? — ela chamou baixinho quando me viu levantar da cama.
— Bom dia. — sorri.
— O que você está fazendo? — ela coçou os olhos.
— Tenho jogo hoje. Você pode continuar a dormir.
— Vão jogar contra quem? — ela abriu apenas um dos olhos como se eu finalmente tivesse despertado seu interesse.
— Boston College. — informei. — Vocês jogaram contra eles semana passada.
— Hmm… — ela enrolou mais ainda nas cobertas.
— Você vai ficar? — perguntei. — J deve fazer um almoço pra gente, ou então nós vamos pedir comida. Nat também vai ficar.
— Tudo bem. — ela entrelaçou nossas mãos.
— Linda, preciso levantar. — sorri e beijei a parte de cima da mão dela.
— Bom jogo, . — ela disse baixinho e percebi que seu corpo havia relaxado. Eu beijei sua testa e a cobri mais. Estava frio naquela manhã.

Apesar de sempre chegar mais cedo para os dias de jogos, Jared e eu gostávamos de conversar sobre coisas aleatórias da vida. Enquanto nos dirigimos até a arena dos Eagles, ele puxou o assunto que tanto queria perguntar.
— Você gosta dela, né, cara? — o defensor de Harvard me questionou. — Nem negue.
— Não ia. — falei e continuei focado no trânsito.
— Não ia? — o texano o encarou. — Você realmente gosta da Brinley?
— Gosto. — disse simplesmente. — Ela me entende, me faz rir, me conta coisas idiotas sobre química e é muito fã da Taylor Swift. Ela sabe as falas de Harry Potter e adora hockey. Me diga, J, como que não vou gostar dessa menina?
— Estou feliz por você, cara. Ainda que eu ache que aquela mulher é demais pra você. — ele brincou.
— Vá se foder. — dei risada.
— Eu estou indiretamente me oferecendo para apanhar do time de Brown e você manda eu me foder?
— Obrigado, cara. — dei dois tapinhas em seu ombro. — Espero não precisar.


Eu não tinha problemas em dormir a manhã inteira, inclusive, era meu sono favorito: dormir pela manhã. Ainda assim, naquela manhã eu acordei com o vazio da cama. Não que eu me incomodasse, mas o cheiro de era convidativo demais para que ele não estivesse ali comigo.
— Bom dia, margarida. O jogo já vai começar. — Nat avisou. E eu lembrei do pequeno momento em que estava acordada mais cedo.
Eu acordando porque ele havia se mexido e entrelaçando nossas mãos. Eu desejando bom jogo a ele. Ele beijando minha testa.
— Já vou. — resmunguei e levantei da cama.
Rapidamente fiz minha higiene matinal e me dirigi até a cozinha para tomar café da manhã. O jogo viria de bônus. Não era como se eu fosse torcer para eles.
— Gostei da blusa, margarida. Já entrou no espírito? — Natalie brincou ao me ver usando a camisa do time de Harvard.
— Foi a primeira coisa que eu vi, ok? — me defendi. Natalie riu e me deixou sozinha ali.
Busquei o cereal — que J fez questão de comprar porque sabia que eu gostava — e coloquei na tigela com leite. Peguei uma colher e fui até o sofá para finalmente assistir ao jogo.
— Você já assistiu algum jogo de Harvard?
— Vários. Eu analisava vocês toda vez e contava para o . — dei uma risadinha.
— E hoje você está vestindo a camisa do capitão do time. — ela sorriu. — A própria evolução!
— Minhas roupas foram todas para lavar. — me justifiquei.
Natalie me encarou e sua expressão dizia que ela não acreditava em mim e, na verdade, nem eu mesma acreditava. Eu não vestia aquela camisa por Harvard, mas sim por . Tinha o cheiro dele, exalava sua personalidade e eu gostava. Então tudo bem. Eu vestia por ele, não por sua faculdade. Mas ele vestia por ela.
— Vai começar. — Natalie colocou na ESPN e ficamos caladas de imediato.
O período havia acabado de começar e meus olhos estavam nele. Apesar de saber que Boston College tinha bons jogadores, sabia que o resultado positivo viria para Harvard. Jared fez duas grandes tomadas de puck que evitaram o ataque dos Eagles e aproveitou sua deixa. O jogador atuava como ala esquerda naquele momento e fez uma grande troca de passes com seus companheiros de time.
— Vai, . — deixei escapar e Natalie riu. Infelizmente, ele perdeu o gol.
— Admita.
— Tudo bem, o que você quer que eu admita? — perdi, de fato, a paciência para joguinhos. — Que ele é exatamente o tipo de cara pelo qual me atraio?
— Sim. — Nat sorriu. — Agora você pode dizer isso pra ele quando eles chegarem.
— Não vou dizer nada. — me encolhi no sofá e comecei a comer meu cereal quieta.
Aquela conversa me incomodou absurdamente. Eu negava que gostava de mas, lá no fundo, eu sabia. Ele era um pessoa incrível e fizera com que eu me abrisse para ele sem que eu fosse forçada a fazê-lo. Nat estava, graças a Deus, prestando atenção em J grande parte do tempo. Os dois primeiros períodos seguiram sem gols e, no fim do terceiro período, e Ray fizeram uma troca de passes linda que deu a Harry a possibilidade de abrir o placar para Harvard. Assim que o puck cruzou a linha, Nat e eu instantaneamente gritamos e nos abraçamos. Tempo depois, percebi o que havia feito: eu estava torcendo por outro time.
— Não tem mais volta, loirinha. — ela sorriu. — Você é uma de nós agora.
Revirei os olhos com o comentário besta de Natalie e fui até o quarto de escrever um pouco da minha monografia. Quando me deparei, uma hora e meia havia se passado e eu tinha escrito mais de dez páginas. Levantei e vi que Nat tinha deixado um bilhete na porta da geladeira avisando que ia se encontrar com J e o time. Presumi que também iria. Já era quase hora do almoço e eu estava começando a ficar com fome, e isso me lembrou o que dissera sobre J fazer o almoço ou pedirmos comida.
Decidi, então, mandar mensagem para ele.

: Hey, sei que está no bar com o pessoal, mas, eu vou pedir comida pra mim tá?
: Pede pra dois, tô chegando em casa.
: E você não precisa me pedir permissão pra pedir comida!!
: Você não está no bar com o pessoal?
: Não. Minha avó me chamou para o clube de leitura.
:Eu te liguei mas você não atendeu. Nat disse que estava estudando, decidi não incomodar.
: Estava no silencioso. E você não incomoda.
:Mas tudo bem… Vou pedir nosso almoço.
: Chego em 10.

Quando dei por mim, estava com um sorriso idiota no rosto. É, , você gosta desse garoto. Logo ele, alguém por quem você jamais sentiria interesse. Dei risada do meu próprio pensamento e decidi pedir comida italiana para nós. Em pouco tempo, o tilintar das chaves de despertaram minha atenção e eu me ajeitei no sofá.
— Linda, cheguei. — ele virou e me encontrou usando sua camisa de Harvard e calcinha. Nada além disso. — Eu morri no caminho de casa e ninguém me avisou?
— Idiota. — revirei os olhos. — Foi a primeira coisa que apareceu na frente e eu não podia sair do quarto pelada.
— Melhor presente de vitória possível. — ele sorriu e me abraçou pela cintura. — Eu trouxe um presente pra você.
— O quê? Não precisava, . — me assustei.
Ele tirou do bolso dois cordões feitos de miçangas. Me entregou um que tinha pedrinhas verdes e azuis. O dele era em amarelo e rosa, exatamente as minhas cores favoritas.
— O seu tem as suas iniciais, igual ao meu. — ele sorriu.
— Eu quero o seu! — declarei. — É rosa e amarelo, minhas cores favoritas.
— Então você está me dizendo que quer usar minhas iniciais em um cordão? — ele perguntou com um sorrisinho no rosto.
— Você ouviu, né? — perguntei sobre o episódio quando ele foi até minha casa e nós passamos algumas horas ouvindo Taylor Swift, quando na verdade devíamos estar assistindo o filme que tínhamos escolhido.
I want to wear his initials on a chain round my neck… — ele cantou com um sorrisinho no rosto. — Not because he owns me, but cause he really knows me.
— Você fez de propósito! — o acusei e ele negou com o sorriso mais sapeca em seu rosto.
— Na verdade, eu ia pedir pra fazer uma correntinha prata pra combinar com as suas. — ele admitiu. — Mas hoje no clube de leitura tinham umas criancinhas fazendo pulseiras, colares e brincos, pensei em fazer um pra gente.
— Aw, … — dei um sorriso. — Você faz miçangas também?
— Faço o possível para conquistar uma quase engenheira. — ele sorriu.
— Pode continuar a me surpreender, tá funcionando. — dei um beijinho em sua bochecha e mexi em seus cabelos castanhos. — Você tem os olhos mais lindos do mundo. Verde é sua cor favorita por causa deles?
— Eu sou narcisista, gostosa, mas não a esse ponto. — sorriu e me puxou para o sofá junto dele.
— Eu gosto que você seja narcisista, . Não leve a mal. — sorri.
— Linda, eu não me importo dos seus comentários sobre meu narcisismo. — ele riu. — Nós dois podemos atestar que eu sou lindo, cheiroso, bom de cama, gente boa e um ótimo jogador. O perfil perfeito pra você.
Gargalhei e me dei conta que essa era a minha realidade. Geller era realmente perfeito pra mim, e meus melhores momentos têm sido ao lado dele. Entretanto, eu tinha melhores momentos com outras pessoas que não gostavam dele e eram importantes pra mim.


Capítulo 12


"Let's convince ourselves
It's all under control
It's all that we can break
But is this what we want?
'Cause we might miss-behave
And we know it feels so good
To make the same mistake, mistake, mistake, mistake, mistake, mistake!"
(MCFly, Corrupted)

Estar em Massachusetts era algo cada vez mais normal pra mim. Quer dizer, o estágio me demandava cada vez mais tempo e eu não me incomodava de cumprir horas extras. Adorava tratar elementos químicos e enquanto eu estivesse fazendo o que me deixava feliz e possibilitasse minha graduação, eu estava dentro. Mas Massachusetts me prendia por mais. Havia um grande homem que despertava meu interesse.
Aqui está um grande fato sobre meu corpo: ele é um traíra. De início, eu juro que tentava o evitar, afinal, jogaríamos contra ele em breve e ele competia no draft com meu irmão. O que mais poderia me fazer odiá-lo? De fato, aquele sorriso debochado e lascivo que sempre tinha no rosto. E o corpo desenhado de atleta. As conversas interessantes. O jeito que ele sempre acha que é o melhor do mundo, mas que nunca deixa os amigos de lado e os levanta consigo. O pouco que sei sobre Geller deveria me causar repulsa, mas sentia que éramos elétrons e prótons. Sempre nos atraíamos, mas era uma coisa casual, certo?

: Estarei em casa sozinho hoje.
: Isso é um convite para todas as coisas sujas que você pensar.
: E um convite para você me ajudar com meu bigode.
: Você não tem um bigode, .
: Seu melhor amigo fez comida?
: Ele não me deixa sem!
: Então estou dentro.
: Saio em 15 minutos, .


Ao chegar na porta do apartamento de , eu considerei voltar pra casa. Isso se dava ao fato de que as pessoas estavam começando a desconfiar por eu ficar sempre em Boston e não voltar para Rhode Island, mesmo sabendo que faria a viagem no dia seguinte. Hannah, inclusive, me questionou porque eu não usava o carro do meu irmão. estava ocupado com seu doutorado e com a NHL, pelo menos dessa parte conseguia escapar. Sentia que não conseguiria mentir para seu gêmeo.
— Ok, gata. Nós temos um problemão. — o grandalhão disse e eu senti o cheiro forte de queimado. — Eu queimei nosso jantar.
— Eu odeio você. — bufei. — Daria tudo pra comer a lasanha dele.
— A gente pode sair pra jantar. — ele comentou.
— Hm, não é a comida do Jared, mas… — impliquei.
— Você chega na minha casa, não me cumprimenta com um beijinho sequer e ainda quer resmungar?
— Sim. — respondi rápido. — Mas eu preciso de um banho antes.
— Verdade, você pode estar radioativa e eu querendo um beijo. — ele se encolheu e eu dei risada.
Me aproximei dele e o abracei. Comecei a me esfregar rapidamente em quase toda parte de seu corpo para “passar minha radioatividade” para ele.
— Pronto, agora estamos radioativos juntos.
— Caramba, gostosa. Eu sinto que estamos dentro de episódio de Chernobyl. — ele brincou.
— Certamente a parte da radioatividade vem de Harvard, . — impliquei. — Não de mim.
Desde o episódio do Bright-Landry, e eu nos víamos quase sempre quando eu estava na cidade. Então eu já havia estado ali mais vezes do que deveria ter estado.
— Vá para o banho lavar sua boca suja, querida. — ele fingiu estar magoado. — Você sabe o que eles dizem, humilhe um homem, mas não fale da faculdade dele.
— Definitivamente não falam isso, Geller. — dei risada. — Mas eu realmente preciso de um banho. Volto já.
O banheiro de não era enorme, mas era grande o suficiente para eu tomar uma ducha confortável. Quando saí, entrou no cômodo.
— Será que você pode sair? — pedi. — Espaço pessoal e tal.
— Será que você pode ficar pelada? — ele sorriu. — Sem toalha e tal.
— Você é idiota. — resmunguei. — E eu te odeio.
— Você não disse isso nenhuma das vezes quando eu te beijei. — ele sorriu e se aproximou de mim. — Ou lambi.
Meu corpo inteiro se arrepiou com o calor humano que ele emanava. Eu poderia senti-lo há metros de distância.
— Agora, falando sério. Eu comprei uma escova de dente pra você. — ele sorriu. — Para todo aquele seu problema de bafo.
— Você comprou uma escova de dentes pra mim, Geller? — perguntei, com meus olhos arregalados de surpresa. Eu não sabia se aquilo significava um grande letreiro que dizia: FUJA. Está começando a ficar sério demais. Ou algo do tipo: Ele se importou o suficiente para lhe comprar uma escova de dentes. Mas encarei aquilo como o gesto havia sido: completamente fofo. — Obrigada, . — sorri. — Você é adorável.
Baby, you don’t have to rush, you can leave a toothbrush at my place… (Baby, você não precisa se apressar, você pode deixar uma escova de dentes na minha casa) — ele cantarolou a música do DNCE.
Revirei os olhos e dei um sorrisinho, ainda encantada com a atitude dele. De todos os seus charmes, seu coração era o meu favorito. Ele se dedicava a tudo rigorosa e completamente. Mesmo quando o assunto era eu, a irmã do seu rival.
— Separei uma blusa pra você. — ele disse baixinho. — E coloquei a sua pra lavar.
— E você tem algum defeito? — perguntei. — Espera, eu poderia passar horas listando.
Ele riu com a minha implicância. E eu derreti com a risada mais que manteiga derrete no calor.
— Vamos logo que eu estou com fome. — ele ordenou e se jogou ao meu lado.
— Você vai me ver trocar de roupa?
— Existe algo aí que eu não tenha visto? — ele riu.
Eu ignorei seu comentário e me vesti rapidamente. Acabei tendo que dar um nó em sua camiseta branca pois ela estava enorme em mim. Quer dizer, eu não era nenhuma padrão, mas eu não tinha tantos músculos como jogadores de hóquei.
— Como alguém consegue ficar tão linda vestindo apenas jeans e camiseta? — ele sorriu. — Espere, não responda. Sendo Brinley, eu sei.
Eu gargalhei e entrelacei nossas mãos.
— Vamos jantar, .

O restaurante não era longe de casa. Era um local bem confortável, cheio de plantas espalhadas pelo lugar. Assim que chegamos, precisou ir ao banheiro e eu fiquei esperando-o para fazer o pedido.
Como se fosse uma intervenção divina, meu irmão apareceu na porta do restaurante e arqueou uma sobrancelha ao me ver. Pensando rapidamente numa desculpa, levantei-me e fui até ele.
! — sorri. — O que você faz em Boston?
— Hey, . Precisei vir buscar um negócio para Clarie aqui. — ele disse nervoso. — E você?
— Bom, eu trabalho em Boston. — disse. Eu conhecia mais que qualquer coisa, ele estava mentindo pra mim. — Mas vim jantar aqui porque as meninas queriam uma noite a sós.
— Ah... — ele disse. — Então vamos comer.
arregalou os olhos quando me viu sentada junto de meu irmão. Quando o susto passou, sentou-se numa mesa próxima a nós.
— Nossa, grande dia. — fingi estar irritada ao notar a presença de . Ele prendeu um sorriso para mim e pegou seu telefone. A garçonete que tinha nos visto antes nos encarou confusa, mas ainda assim nos atendeu.
Meu irmão estava aéreo para minha sorte. Mas eu sentia que qualquer coisa deduraria que eu tinha ido para lá com . estava quieto e me encarava.
— O que foi? — perguntei. — Não minta pra mim. Eu te conheço. Literalmente, sou igual a você.
... — ele coçou os olhos. Meu irmão estava preocupado. — Não é nada. Só estou tendo problemas com meu orientador.
— Ugh. — resmunguei. — Fiquei preocupada. Pensei que era algo mais sério, com a mamãe ou o papai. Ou até mesmo com Clarie.
era péssimo em esconder as coisas de mim.
— Estou ferrado, . — ele comentou. — Birdie quer me colocar pra fazer mais uma pós-graduação. Disse que a bolsa seria ótima.
— Diga a ele que não quer. — disse, na minha cabeça era simples. — Você só está fazendo isso por Clarie.
— Ela vai desistir da faculdade. — ele massageou suas têmporas.
— O quê? — quase gritei. — Clarie está quase terminando.
— Estamos enfrentando problemas maiores, . — ele suspirou. — Não estou pronto para conversar agora.
— Tudo bem. Vamos apenas jantar. — sorri e acariciei sua mão por cima da mesa. Eu podia sentir o olhar de em mim.
e eu fizemos nossos pedidos e aguardávamos, em silêncio. Ele não queria falar. Uma hora eu sabia que ia sair, e ele jogaria tudo pra fora quando se sentisse confortável. Meu telefone vibrou quando eu estava assistindo aos momentos mais marcantes dos playoffs da NHL.

: Chute a bunda dele e venha pra cá, gostosa!
: Ele está com problemas.
: Drogas?
: Não!! Meu irmão é uma pessoa consciente.
: Gostosa... Não finja que ele nunca usou drogas.
: Foi uma vez e ele apanhou de mim o suficiente. Além disso, por que você está me mandando mensagens?
: Porque você está muito gostosa na minha blusa. E isso me faz pensar no que eu faria com você mais tarde.
: Estamos em público. Demonstre alguma postura, .
: Tudo bem... Se você não está interessada em todos os jeitos que eu te foderia mais tarde, estou fora!

Assim que terminei de ler aquela mensagem, senti meu corpo esquentar. Fala sério! Ele conseguia soar quente por mensagem. E só de pensar em sexo e Geller, meu corpo respondeu por mim. Apertei as coxas para evitar o formigamento entre minhas pernas. Bebi um pouco de água para acalmar os nervos.

: Não finja que não sentiu. Estou te vendo, gostosa. Queria poder te mostrar o quão duro estou agora.

Meu corpo estava formigando. Como ele tinha coragem de me mandar aquele tipo de mensagem com meu irmão do lado? E sobre a água que estava na minha boca? Foi toda parar em .
— Que porra, ! — ele rosnou. precisou tapar a boca para reprimir a risada.
— Meu Deus, me desculpa. Eu me engasguei.

: Linda... Sua calça te deixa muito gostosa.
: É ótimo saber que por trás da -minha- blusa você tem os peitos mais perfeitos aí.
: Seria ótimo tê-los em minha boca agora.
: E eu sei que você gosta quando te chupo.
: . Por favor.
: Gostosa...
: Eu poderia te chupar agora mesmo. Não há nada como ouvir seus gemidos quentes.
: Sei que quando te chupo você grita mais que qualquer coisa.

— CHEGA! — gritei e deu um pulo. Ele me encarava assustado.
— Chega o quê? — ele perguntou confuso.
— Estou com muita fome e esse jantar está demorando, além de estar dividindo o ar com você sabe quem. — mencionei . — Eu vou embora.
... — chamou meu nome. — A gente fez o pedido há dez minutos.
— Vou embora, peço algo da casa de Angie. — me levantei em um pulo, com o corpo ainda formigando. — Eu te amo, . Mas um delivery vai ser mais rápido.
— Eu te levo, então. — ele levantou.
— NÃO! — digo nervosa. Eu sentia que me encarava com aquele sorriso travesso. — Quer dizer, eu posso pegar um Uber. Não é um problema. Não quero te atrapalhar e sei que você não está bem.
— Tudo bem. — ele levantou a sobrancelha.
Deixei o restaurante às pressas e me dirigi até a esquina para pedir um carro. Meu telefone tremeu novamente. Eu não sabia se queria ler.

: Olha pra esquerda.

Assim que o fiz, o encontrei encostado em uma árvore. estava sorrindo e para o inferno aquele sorriso que poderia fazer meus dias melhores. Ele me encarava com diversão em seus olhos.
— Eu tinha sim razão, gostosa... — ele sorriu. — Você está muito gostosa nessa roupa, mas vai ficar melhor sem elas.


Eu não estava tendo um dia bom. De longe, aquela manhã estava sendo horrível. O tempo extremamente fechado, com nuvens pretas e parecia que tudo ia acabar ali mesmo. Ainda que eu estivesse com duas blusas de frio e o moletom do Bruins — que eu precisava devolver, aliás —, eu estava morrendo de frio.
Como de costume, depois da aula de laboratório eu ia pra casa para tomar banho e ir trabalhar. Era sexta-feira e provavelmente todos os garotos da casa estariam no treino. havia me convidado para passar o dia com ele. Desde que fizemos as pazes, havíamos nos encontrado quase todos os dias da semana e nos finais de semana também. Os dias que eu não estava com , passava com . Eles eram importantes pra mim. Assim que eu entrei em casa, o time inteiro — inclusive os jogadores suplentes — estavam lá. E Hannah também.
— O que houve? — perguntei assustada. — Steve vai matar vocês.
— Fomos liberados. — Tyler disse curto e grosso.
— E qual o motivo da reunião?
— Você. — meu irmão me respondeu com raiva. — E o seu namorado, é claro.
— Que porra, ! — Hannah ralhou. — Você não confia em mim?
— Bem vinda ao clube, amor. — Tyler disse sarcástico.
— Namorado? Do que vocês estão falando?
— Além de traidora, é mentirosa! — meu irmão riu com raiva. — A irmã do Geller veio me cobrar essa manhã. Mandou eu mandar você se afastar do irmão dela porque ela sabia da minha tática. E, aparentemente, nem eu sabia da minha…
— Não é o que vocês estão pensando. — me defendi, mesmo que estivesse magoada com a ofensa de .
— Então fala a porra da verdade pelo menos uma vez. — gritou comigo e eu me irritei.
— Primeiro você abaixa seu tom comigo! — gritei de volta e ele relaxou os ombros. — Pra começo de conversa, eu não namoro ninguém.
— Então por que a Hailey foi no rinque hoje? — Peter perguntou.
— Você não teve nada com ele, então? — nosso goleiro perguntou.
— A gente se beijou algumas vezes… Tem se visto esses dias. — confessei. Mas que merda! O que eu estava fazendo? — E o que vocês têm a ver com isso?
— Você é uma traidora, . — nosso ala direito disse e eu me assustei. Ele quase nunca falava. — Isso aqui é uma perda de tempo.
Antes que pudessem me dizer alguma coisa, me tranquei no quarto e tomei um banho. Eu ainda precisava trabalhar. Quando saí do banho, Lana me ligou e a contei tudo. No fim, combinamos que eu ficaria na casa dela até tudo se resolver — o que eu acreditava que não ia acontecer — e, naquela noite, eu dormiria na casa de Angie, mesmo que o quarto principal estivesse em obra.
— Para onde você vai? — perguntou quando me viu descer. — Vai correr pro seu namoradinho?
— Você é um babaca. Eu me arrependo de ter quebrado o nariz do por causa de você.

Enquanto estava no trem a caminho de Massachusetts, deixei meu corpo relaxar e as lágrimas instantaneamente surgiram. Eu queria sumir, me sentia esgotada por algo que era estúpido. Gostar de não significava torcer por Harvard. Minha mãe me ligou assim que cheguei em Boston.
Oi, peaches. Tudo bem? — ela perguntou. Pelo seu tom, já sabia que meu irmão havia ligado para contar as novidades.
Você vai brigar comigo também? — engoli o choro.
Óbvio que não, peaches. — mamãe disse calma. — Eu só liguei para saber se está tudo bem e para dizer que te amo. Você já é adulta e sabe o que faz. E eu vou te apoiar.
Meu irmão nunca mais vai falar comigo, mãe. Ele me disse coisas horríveis. — deixei o choro escapar assim que a ficha da situação caiu.
Ele te ama mais que tudo no mundo, minha filha. Para ele foi um choque, mas em breve ele vai aceitar seu namorado. — ela tentou me acalmar. -— Você vai voltar pra casa depois do trabalho?
Não. Ninguém lá em casa quer olhar na minha cara. Nem mesmo a Hannah. — choraminguei. — Eu vou ficar na casa da Lana por um tempo, mas hoje vou dormir na casa da namorada dela.
Tudo bem, peaches. Eu estou aqui para qualquer coisa. — ela disse tenra. Eu amava tanto minha mãe, céus. — Agora vai que você está quase no horário do trabalho, eu te amo, fica com Deus.
Também te amo, mãe. Fica bem. — desliguei e vi meu rosto na tela do celular. Céus, eu estava mal.

O trabalho conseguiu fazer minha mente espairecer e eu pude exercê-lo com tranquilidade. Embora meu telefone não parasse de vibrar, eu não ia me distrair. Charlie, pouco depois, apareceu para liberar todos os estagiários pois nossos produtos estavam todos tratados graças ao fim da semana.
— Senhorita Brinley… — ela ajeitou o óculos e me encarou. — Você está bem? Você está quieta hoje.
— Tive um dia ruim, senhora Fletcher. — sorri fraco. — Mas dias ruins precisam existir pra dias melhores virem, né?
— Gosto de acreditar que sim, se não o sofrimento é em vão, . — ela sorriu. — Melhoras.
— Obrigada. — agradeci e saí do laboratório.
Depois de arrumar minhas coisas, deixei novamente o choro entalado sair da garganta e tentei me acalmar, mesmo que não adiantasse. O vento gelado de Boston fez eu me arrepiar por completo por causa das lágrimas que escorriam no meu rosto. Eu já havia pedido um uber e apenas estava esperando para desabar em casa. Recebi uma mensagem de Clarie, minha cunhada.

Clarie: Oi, soube do que aconteceu. Seu irmão tá muito bravo, mas também tá preocupado, nos dê notícias. Isso vai passar. P.S. estou do seu lado!
: Eu estou bem, pode dizer isso a ele. Embora eu ache que ele não se importe.
Clarie: Ele definitivamente se importa e eu também. A gente não escolhe por quem se apaixona, .
: Eu só queria sumir, Clarie. Dói demais.
Clarie: Imagino. Mas vai passar, vou tentar aliviar a barra pra você. Aliás, você quebrou o nariz do Geller?
: Sim. Ele falou mal do , antes eu tivesse deixado.
Clarie: Você é impossível. Isso pesou na consciência. Me dê dois dias e ele sentirá saudade. Te amo, fica bem.
: Também te amo.

Desde que começou a namorar com Clarie, eu havia ganhado uma irmã. Ela era tudo que eu sempre precisei. Conversou comigo quando eu me apaixonei pela primeira vez, quando eu perdi a virgindade e também me aconselhou com Justin. Ela era tudo que eu precisava. também sempre me apoiou, mas a situação parecia fluir mais com Clarie e aquilo era ótimo. Pensei que ela fosse ser contra essa burrice toda de Geller, mas ela havia me apoiado.


Assim que o elevador chegou no quarto andar, Angie e Lana saíram do apartamento rapidamente para me abraçar. E aquela era a terceira vez que eu desabava no dia.
— Ei, vai passar. — Lana acariciou meu cabelo enquanto Angie me guiava para dentro do apartamento.
— Vai ficar tudo bem, . — Angie sorriu fraco.
— Isso é tudo minha culpa. — solucei. — Eu não tinha que ter chegado perto dele, meu Deus.
— Ok, . Ponha pra fora o que você está sentindo. — a namorada de Lana sentou-se em minha frente.
— Eu finalmente me abri e ele faz isso? Manda a irmã contar tudo pro meu irmão? — falei baixinho. — Ele sabia que o é a pessoa que mais amo no mundo.
— O fez isso? — Angelina me questionou confusa. — Não, . Eu vou arrebentar aquele bastardo idiota.
— Eu quero distância dele, Angie. E de qualquer coisa que remeta a Harvard. — respirei fundo. — Eu preciso parar de chorar, mas tá tudo doendo.
— Eu vou fazer um chá de camomila pra você, tá bem? — Angie levantou-se e Lana me abraçou.
— Tá bem.
— Você gosta dele, né, ? — ela perguntou e eu deitei minha cabeça em seus joelhos dobrados. Meu choro foi resposta suficiente para a pergunta. — Ei, vai passar. Tá tudo bem. Você tentou conversar com o ?
— Ele não quer me ouvir. — disse baixo. — Eu amo os dois, mas os dois se odeiam. Como isso iria dar certo em algum momento?
— Se os dois amam você verdadeiramente, saberiam lidar com isso e aprenderiam a conviver apenas por você. — ela sorriu fraco. — Lembra quando você não gostava da Angie e você aprendeu a gostar dela só pra me agradar?
— Ela é legal. Mas tem um péssimo gosto para amigos. — eu disse e arranquei uma risada da mulher.
— Eu não tenho culpa de ter crescido com o no meu encalço, tá bem? — ela me entregou a xícara. — Aliás, eu vou encontrar com ele agora.
— Se você não descer a porrada nesse jogadorzinho, o trabalho é meu. — Lana ameaçou.
— Você sabe que eu não vou te dar essa diversão toda. — Angelina sorriu. — Tchau, amor. Tchau, cunhada.
Assim que Angie saiu, Lana me levou para o quarto de hóspedes do apartamento e mandou eu me aconchegar. Desliguei meu celular e tomei uma ducha quente. Eu precisava descansar de um dia horrível, mas todas as vezes que eu fechava os olhos lembrava dele. Das nossas conversas.

Segunda

: Ei, gata. Você sabia que vacas não conseguem descer as escadas?!
: Que fato é esse?
: Quis dizer que é mentira, você mesma pode ver com seus olhos que a Angie consegue!
: Ela é uma santa pra te aguentar desde pequeno.
: Melhor. Amiga. Da. Porra. Toda!
: Ah… O jeito que você xinga! ♥
: Você trabalha hoje?
: Pode apostar!
: Minha cama e nosso jantar lhe esperam :)
: Segundo. Melhor. Jogador. Do. Mundo.

Terça

: Meus dias em Boston são mais legais.
: Oras, gostosa. Eu sei! Eu estou em Boston.
: Não vejo a hora de me formar
: Não vejo a hora de ser draftado
: Eu vou almoçar agora e depois tenho aula. Te ligo mais tarde?

(Ligação)

— Boa noite, é a gostosa que fala? — gargalhei ao ouvir o que ele dizia.
— Quem fala?
— O gostosão, gostosa! — ele brincou. — Como foi seu dia, Dora Aventureira?
— Normal. Só quase caí no meio do laboratório porque tropecei no cadarço de um cara. — gargalhou.
— Céus, gostosa! Toma cuidado. Se cair ácido no seu rosto? Vai estragar a segunda coisa mais linda do mundo.
— Ei! A taça Stanley nem é tão bonita assim. — brinquei.
— Você sabe, estava falando do belo espécime que sou…
— Certo, certo… Esqueci que seu ego é maior que suas bolas.
Ele gargalhou. — Gostosa, você viu naquele dia que nada é pequeno.
— Aquele equipamentozinho? — debochei, sentindo minhas orelhas e bochechas arderem de só lembrar nosso sexo.
— Vou relevar só porque você gemeu meu nome vezes o suficiente pra enlouquecer qualquer um.
— Ouvir essas coisas é assustador. — confessei.
— Linda, você transa muito bem. Não se assuste.
— Queria ter ido pra Boston hoje!
— Eu sei que sente saudades… Sabe?
— Você é uma graça, … Mas tem uma palestra de química legal rolando. Eles vão ficar até quinta na cidade.
— Você vê amanhã. — ele respondeu.
— Não dá. Eu não tenho onde ficar e o apartamento da Angie está em obras, vão finalmente começar no quarto de hóspedes, que é onde eu fico. Vai acabar muito tarde e não vai ter horário do trem.
— Já comprei nossos ingressos.
!
— Boa noite, gostosa.
— Você não po… — tentei brigar, mas ele já tinha desligado.


Quarta

Naquele dia, apesar de ser fora da área de química inorgânica, eu precisei trabalhar no departamento de química analítica e passei horas mexendo com ácido acético — vinagre —, e quando me deparei com o horário, vi que estava atrasada para encontrar com . Tirei o jaleco e coloquei meu moletom do Bruins. Ele já me esperava encostado no carro.
— Eles costumam dizer que as noivas atrasam mesmo. — ele riu e me puxou para um abraço.
— Céus, gostosa. Você está cheirando a vinagre.
— Trabalhei fora do meu departamento hoje e fui a responsável pelo vinagre. Tô horrível, eu sei.
— Gata, eu sabia que você era azedinha, mas hoje tá demais!
— Vai à merda, Geller.
O caminho até o local foi rápido e nós chegamos em menos de 5 minutos. Ou seja, poderíamos ter ido andando.
— Vamos adicionar um pouco de conhecimento nessa cabeça, senhor Geller.
— Aprender sobre química para fazer piadinhas sobre química pra conquistar uma engenheira gostosa.
— Engenheira gostosa que está fora do seu alcance.
Ele me imprensou no carro e me beijou. E, por Deus, que beijo.


A palestra sobre catalisadores foi fantástica e eu lembro que havia desistido nos primeiros dez minutos. Ainda assim, ele ficou comigo, me incentivando a prestar atenção no que o cara dizia. No fim, fomos para casa e jantamos a lasanha de J assistindo a mais um filme da Julia Roberts.

Quinta

: JRoberts é muito mais legal que neuropsicologia.
: Mais legal que termodinâmica também.
: Mais uma sessão amanhã?
: Trabalho :/ e marquei de ver seus jogos com o time
: Quase engenheira, proletária, ri das minhas piadas sem graça e assiste os meus jogos? Assim vou me apaixonar, gostosa.
: Você já se apaixonou, gostoso. Bjs.

Sexta

: O que aconteceu?
: Por Deus, me responde. Eu to preocupado.
:
: J e Angie disseram que é melhor eu te dar espaço, mas eu tô preocupado.
: Merda, . Eu gosto de você. Me responde, por favor.
: Eu não mandei a Hails ir falar com o seu irmão, eu juro. Eu ia falar com vocês depois do jogo e ver no que ia dar.
: Eu amo você, . Por favor, me responde.

Respirei fundo quando terminei de ler as mensagens. É, aquele era um dia e tanto mesmo.
— Dias ruins existem para melhores virem. — disse para mim mesma, como se quisesse acreditar no que havia dito e acabei pegando no sono.


Capítulo 13

"Hard times baby, well they come to tell us all
Sure as the tickin' of the clock on the wall
Sure as the turnin' of the night into day
Your smile girl, brings the mornin' light to my eyes
Lifts away the blues when I rise
I hope that you're coming to stay…"
(Waiting on a sunny day, Bruce Springsteen)


O dia estava, como sempre, nublado. Com o céu mais escuro que o normal, eu e Jared nos dirigimos para um dos últimos treinos para jogarmos contra a Universidade de Brown, no final de semana. Estávamos cansados, porém ninguém do time demonstrou isso. Estávamos há um passo de chegar na final. E nós íamos. 
— Geller. — o treinador me cumprimentou. — Na minha sala.
Fiz com a cabeça que sim. Os garotos soltaram suas exclamações preocupadas, mas J sabia que eu não estava com problemas. E isso faria com que ele acalmasse os outros, seja qual for o assunto que seria tratado dentro da sala do treinador.
— Filho... — o treinador Lodge começou. — É sobre .
— Isso não vai atrapalhar minha performance no sábado, treinador. — assegurei. — Aliás... A gente só vai se entender de verdade depois do jogo.
Ele revirou os olhos e soltou um bufo irritado.
— Geller, em algum momento eu já duvidei de você? — o treinador Lodge indagou. — Eu trabalho há anos com isso. Você dá sua vida no rinque e sei que fez de tudo pra essa ser uma temporada de despedida brilhante.
— Obrigado, treinador.
— Te chamei porque acho que seria importante saber que Brinley sabe sobre vocês. — ele disse baixo. Minha postura se enrijeceu. — Recebi a ligação ainda pouco de Steve.
— Mas como? — indaguei, assustado. A expressão do treinador me assustou mais ainda.
— Sua irmã apareceu em Rhode Island.

Assim que eu descobri que Hailey estava envolvida naquela situação, eu fiquei furioso. Eu queria explodir. A mim, a ela, a todos. Angel não atendia minhas ligações e eu não sabia mais o que fazer.
— Calma, já estou indo! — pude ouvir minha mãe gritar ao descer as escadas, assim que apertei o botão da campainha pela quinta vez.
— Mãe. Cadê a Hailey? — fui direto ao ponto. Eu amava minha mãe, mas não queria envolvê-la no assunto.
— Está lá em cima, por quê? — ela perguntou assustada.
— Ela contou. — disse baixo. Ainda não acreditava no que tinha ouvido do meu próprio treinador.
— Contou o quê?
— Mãe, quem era na... — minha irmã desceu as escadas e paralisou ao me ver. — .
— Por que você fez isso, Hailey? — respirei fundo e senti minha raiva crescer novamente. — Por quê?
— Alguém pode me explicar o que está acontecendo?
— Ela terminou com você, então. — Hailey supôs. — Era tudo uma mentira, . Justin me contou. Você deveria ter se ligado antes.
— Como você pôde fazer isso comigo? — a questionei. — Como você soube?
— Os dois, parem. — Miranda Geller interviu. — Me expliquem o que está acontecendo.
foi enganado pela loirinha de Brown. — Hails sorriu. — provavelmente a pediu para fazê-lo.
— De onde você tirou isso? — perguntei. — Eu sempre fui um bom irmão pra você. E olha o que você fez!
— Olha o que eu fiz? — Hailey gritou. — Você vai desperdiçar sua carreira no Boston Bruins por uma garota?
— A minha carreira é da minha conta. Desde que ela apareceu, eu só tenho sido melhor. — comentei. — E se você fosse uma boa irmã, ao descobrir, teria vindo conversar comigo.
— O que posso fazer, ? — ela me questionou. — A vida é uma vadia.
— E pelo visto você também. — soltei e saí de casa, antes de perder a cabeça completamente e ofendê-la mais ainda.
Antes que eu entrasse no carro, minha irmã apareceu na varanda.
— Ela procurou Justin e pediu para voltar com ele, . — Hailey encolheu os ombros. — Ele veio me avisar isso.
não faria isso, Hail.
— Mas ela fez. — Hailey me respondeu. No entanto, eu preferi não acreditar naquilo. Não podia ser real. Quando conversaram sobre Justin, ela lhe contou tudo e ele viu a dor em seu olhar.
No caminho de casa, tentei contatar , mas fui ignorado completamente. Meu corpo estava formigando e eu podia sentir meu coração cada vez bater mais forte. Eu estava desesperado.
— Merda. Eu gosto dela. — confessei para mim mesmo. — De verdade.

— Cara, por que você não vai até lá? — Jared sugeriu. — Eu posso te acompanhar. Quer dizer, apanhar de 6 seria mais fácil com 2.
— Sete, se contarmos que ela também me bateria. — comentei desanimado.
— Cara! Você já viu uma garota te deixar assim?
— Doido das ideias? Não. E só a basta. — respondi. — Ela me tira do sério, J. Nem é brincadeira.
— E esse sorriso no seu rosto é de raiva?
— Não, cara... — fiquei quieto. — É só que meus últimos momentos foram com ela, sabe? Assistimos todos os filmes da J Roberts juntos.
— Me sinto ofendido pela traição na cara dura. — J me deu uma cotovelada.
— Eu vejo ela em todo lugar dessa casa. — fui sincero. — Sinto falta dela. Só imaginar que ela tá mal e achando que eu fiz tudo de propósito, merda... Me destrói.
Fechei os olhos e respirei fundo. Eu sentia falta de sua risada, de seu cheiro. Até mesmo de acordar com seus pés gelados encostando nos meus, ou quando seu cabelo sempre fazia cócegas em meu nariz.
— Alerta: soldado abatido! — meu melhor amigo afirmou risonho.
— É, eu gosto daquela mulher. E eu estou fodido porque ela está com outro.

Estar sem estava sendo uma grande tortura. Eu tinha ido vê-la no estágio duas vezes. Era perto de casa e eu tinha gravado seus horários.
. — a chamei quando ela havia parado para guardar algo em sua mochila. Ela vestia meu moletom do Boston Bruins. — A gente pode conversar?
Por um segundo, ela se assustou com a minha presença. Era como se ela não esperasse que eu fosse aparecer ali. Rapidamente, seus olhos marejaram.
— Não. A gente não pode. — ela respondeu e tentou se afastar, mas eu a segurei. — Me solta, .
— Eu não fiz a Hailey fazer nada. — fui sincero. — Eu gost...
— Por favor. — ela me interrompeu e deixou as lágrimas que estavam presas escorrerem pelo rosto. Eu queria sumir. Eu machuquei aquela garota. — Siga sua vida. Vá ser a grande estrela dos playoffs que sempre sonhou em ser, ajude as crianças e me esqueça.
— Eu não posso ser essa pessoa. — fui sincero. Sua expressão era de tristeza e confusão. — Não sem você.
— Você sempre foi. Não mude por alguém que você nem mesmo gosta. — ela deu um sorriso triste. — Boa noite, .
— Boa sorte com Justin. — disse baixinho e ela me olhou com estranheza.
Assim que eu disse isso, entrou no primeiro táxi que passou, impossibilitando-me de correr atrás dela.

O primeiro lugar que eu procurei quando quebraram meu coração pela primeira vez, foi o gelo. Logo depois, quando vovô morreu, eu também procurei o gelo. E eu estava, mais uma vez, recorrendo ao gelo.
— Eu sabia que você viria aqui. — ouvi minha irmã dizer. — Você sempre volta.
— Não quero falar com você, Hailey. — rapidamente entrei no rinque.
— Papai me levou até Brown hoje. Eu tive que entrar naquele rinque horroroso, mas, de qualquer forma, foi para um bem maior. — ela disse baixinho. — Eu errei muito, .
— Eu sei que você teve seus problemas, Hails. Sei que você se fechou pro mundo depois do Charlie e que você desistiu do seu sonho por ele. — disse irritado. — Mas você não pode me impedir de fazer isso. Eu nem sequer desisti dos meus!
— Eu sei. — ela falou. — Jared me deu um grande sermão por isso. Não sabia que ela era tão importante pra você, achava que era tudo coisa do irmão dela.
— Hails... Não é porque Charlie foi um imbecil que a também seria.
— Descobri isso hoje. — ela falou baixinho. — Aquele time ama a garota. E eu me arrependo, . Prometo te ajudar em tudo que precisar pra reconquistar sua garota. Me desculpa. Eu fui idiota.
— Fico feliz que você não tenha ido pra Londres com aquele engomadinho. — disse baixinho ao abraçá-la. — Sinto muito por não ter te impedido de cancelar sua matrícula na faculdade.
— Tudo bem. Você respeitou minha escolha, coisa que eu não fiz com você.
— Mas saiba que você vai ter que ralar muito pra me ajudar a ter aquela garota de volta. — confessei. — O mais próximo de flor que se parece, é por ter espinhos.
— Você gosta mesmo dela, não é? — Hails abraçou minha cintura e me puxou rinque afora.
— Demais. Eu acho que amo aquela garota, Hailey.
— Estamos ferrados, irmãozinho. — ela fez uma careta. — Mas vai ser fácil tirar ela do quarterback.
— Pelo menos eu ganhei a aposta e vou casar primeiro que você. — ela me deu um empurrãozinho ao ouvir a provocação. — É claro que vai ser fácil, eu sou lindo.
— ESPN News: jogador anuncia que casará e não jogará sua primeira temporada. — ela brincou.
— Por ela eu não jogaria. — disse baixinho. — Mas sei que ela não deixaria. Ela estaria lá por mim.
— Todos nós estaremos, querido. — ela assegurou. — Todos nós…
Espero que ela tenha razão.


Capítulo 14

.

"And if the sun's upset and the sky goes cold
Then if the clouds get heavy and start to fall
I really need somebody to call my own
I wanna be somebody to someone
Someone to you..."
(Someone to you, BANNERS)

A casa de Lana estava escura e só a luz da televisão clareava o local. Além de não querer que ninguém soubesse que estava em casa, eu não queria que a senhora Jensen, vizinha de Lana, viesse bater papo comigo no horário do jogo. Minha melhor amiga e Angie insistiram que eu fosse ao jogo, mas eu definitivamente não estava disposta a encarar o time de Brown que me odiava e a garota que havia destruído minha relação com o meu irmão. Clarie me ligou perguntando onde eu estava e eu não menti para ela, ainda que ela tivesse insistido bastante para que eu retornasse para casa.
Dave Randof e Cassie Campbell eram os comentaristas escolhidos pela ESPN naquela noite. Eu gostava muito dos comentários de Cassie, ela era uma ex-atleta fenomenal com uma lista grande de títulos importantes.
— Boa noite a todos! — os dois cumprimentaram o público nacional. — Estamos aqui hoje para saber quem irá para o Frozen Four nessa temporada.
— Sabe, Dave… Essa noite temos duas estrelas do hockey universitário que certamente entrarão para história. — Cassie sorriu, sendo acompanhada por Randof. — Brinley e Geller são o futuro da NHL.
— Ambos são profissionais excelentes. — Dave acrescentou. — É muito difícil exigir de um time universitário tamanha maturidade, mas os capitães de Brown e Harvard mostram isso.
— É surpreendente como Geller foi de jogador suplente do time para capitão. É uma trajetória e tanto.
— Eu sinto muito pelo Boston Bruins por ter que escolher só um deles. — Randof riu.
— Ossos do ofício. Mas não duvido que independente do central escolhido, o outro estará em boas mãos. O Edmonton Oilers já demonstrou interesse. — Cassie comentou. — Não claramente, afinal os jogadores ainda estão com a NCAA.
— Os dois fizeram uma ótima performance no draft. — Cassie comentou. — Brinley vai receber  propostas do Michigan e o Geller do Calgary Flames. Ainda que sejam ótimos times, o Boston Bruins, atual campeão da Stanley Cup, ganhou atenção dos dois.
— É verdade. — Dave concordou.
Os jogadores se posicionaram. Pude ver faíscas saírem do encontro de Jared com e com Tyler. É, seria uma longa noite. Assim que os times se organizaram em suas posições, o juiz deu início ao primeiro período.
O primeiro período foi assustador para ambos torcedores, uma vez que, taticamente, os times estavam impecáveis. Houve apenas uma penalidade para o time de Harvard, que custou dois minutos de Jared na cabine de punições pela tentativa de uma minor. Os goleiros trabalharam muito no primeiro período, o que não foi uma surpresa para ninguém. Toda vez que o time de Harvard tentava atacar, a defesa de Brown estava pronta para impedi-los. Tyler estava impecável naquela noite. Bryant, nosso ala esquerdo, estava impecável nos bloqueios contra . O time de Brown terminou o primeiro período com um controle maior do puck, o que fez com que eu sentisse mais confiança.
O segundo período começou com um nervosismo de ambas equipes, o que resultou em falhas bobas dentro do rinque que quase comprometeram o andar da partida. O puck quase entrou no gol quando fez sua tentativa, mas o goleiro de Harvard interviu.
Devido a uma pequena briga de Tyler com um dos jogadores do time adversário, o juiz o tirou do rinque e deu um power play para Harvard. Em uma troca de passes impecáveis, Geller conseguiu abrir o placar para seu time e eu soltei o ar que eu não sabia que prendia. Todos sabiam que aquele seria um jogo difícil para ambas equipes, mas estávamos confiantes da vitória de Brown. Pouco depois, devido ao um erro de Harry, o defensor deles, abriu o placar — o que arrancou um grito alto meu. 1-1. Meu coração parecia que sairia do corpo há qualquer momento quando vi o puck entrar novamente no gol de Brown. 2-1 para Harvard. Céus. Devido ao Icing que o time de Harvard cometeu, o juiz ordenou o face-off e Brown contra atacou. E o gol foi de Tyler. 2-2.
O segundo período acabou fazendo com que o coração de ambos torcedores parassem. Harvard podia levar aquela. Assim como Brown. Era inconclusivo e se havia algo que odiava, eram coisas inconclusivas.
Minhas unhas estavam todas roídas e eu queria sumir. Precisava que alguém de Brown fizesse um gol, mas sabia que estava difícil. Tinha noção da excelência de Harvard, mas defendia os brown bears a todo custo.
O terceiro período seguiu e teríamos prorrogações se ninguém fizesse um gol e, por Deus, que não fosse Harvard. Assim que eu pensei aquilo, Geller ultrapassou toda nossa defesa e acertou o gol. 3-2 para Harvard.
– Merda. – engoli em seco. Não ia dar, não íamos fazer um gol em trinta segundos.
E não fizemos, a equipe de Harvard ia para o Frozen Four naquele ano.

Draft: o draft é um evento no qual jogadores se inscrevem para terem a chance de estrelar em times profissionais. Não é comum que os melhores jogadores do draft fiquem nos melhores times. A NHL é um campeonato muito equilibrado, haja vista que, geralmente, os melhores jogadores vão para os times que conseguiram ficar em posições baixas durante a conquista da Stanley Cup. Ainda assim, os times têm olheiros e não hesitam em fazer propostas por fora, geralmente para cobrir a proposta de um time alheio.
Minor: penalidade leve, custa 2 minutos fora do jogo.
Icing: é uma infração que ocorre quando um jogador atira no disco por trás da linha vermelha central, na linha de gol da equipe adversária, e o disco permanece intocado.
Face off: recomeçar o jogo.
Brown bears: como são conhecidos os jogadores de Brown.


Capítulo 15

.

“And now you say
I want you for worse or for better
I would wait for ever and ever (ever and ever)
Broke your heart, I'll put it back together
I would wait for ever and ever
And that's how it works
That's how you get the girl, girl, oh
And that's how it works
That's how you get the girl, girl, yeah”

(How you get the girl, Taylor Swift)

Eu nunca havia sentido uma sensação daquela antes. É claro que eu já havia vencido, mas estar na final era uma sensação única. E eu estava aproveitando cada segundo dela.
– ESTAMOS NO FROZEN FOUR, CARALHO! — J pulou em cima de mim assim que o juiz decretou o fim do jogo. Eu pude ver meus pais, minha irmã e minha avó comemorando da plateia. Céus, que dia incrível. Só faltava ela.
— Parabéns, cara! — eu o abracei. — Botou o Brinley no chinelo.
O time inteiro estava no centro do rinque, comemorado e se abraçando, enquanto o time adversário saía lentamente. Brinley foi o último a sair, ajudou os jogadores a se levantarem. O cara podia ser um idiota, mas era um grande capitão.
Depois muitas comemorações, fomos para o vestiário nos limpar para depois irmos comemorar. Por uma coincidência do destino — ou não —, a equipe de Brown saiu junto conosco. Pude ver Lana Preston conversando com Brinley e Angie estava ao seu lado. Era estranho não ver com o time, afinal ela era o amuleto deles.
— Angie. — A chamei. — Você vai com os meus pais? Eles já estão indo.
levantou um olhar para mim e eu dei um sorriso fraco.
— Bom jogo, Brinley. — Elogiei e sua cara fechou.
— Valeu, ele agradece. — Lana falou por ele.
— Não vou com vocês. Vou pra Rhode Island com a Lana, a ficou sozinha em casa.
— Ela não veio? — perguntei confuso.
— Pensei que você soubesse, não era esse o plano? — ralhou e uma menina, que eu sabia que era sua namorada, apertou sua mão.
— Para. — ela reclamou e ele respirou fundo.
— Eu não acredito que eu a deixei quebrar o meu nariz por um babaca como você, . — rosnei. Todos estavam ao nosso redor. Inclusive meus pais.
— Ela me disse a mesma coisa, acredita? Vocês combinaram.
… — Hails segurou meu braço.
— Para o inferno você e todo esse jogo, seu babaca! A pessoa que mais ama você no mundo tá em casa triste e você assim? — o empurrei e J logo me segurou.
— Foi você que quem causou isso. — foi tudo que ele disse.
— Eu não causei nada, cara. — passei as mãos pelos meus cabelos, nervoso. — Se me interessar é causar algo, admito a culpa. Estava muito longe dos meus planos gostar da sua irmã. Larga de ser babaca e vai procurar ela, Brinley, ou…
— Ou o quê?
— Você vai perder a chance de ter uma das pessoas mais especiais do mundo ao seu lado, . — o refutei, por fim. Os burburinhos estavam altos e minha noite estava arruinada, babaca teimoso! Para o inferno, Brinley. — A é uma garota incrível que abdicou da felicidade própria pra ver todo mundo aqui bem. E vocês simplesmente cagaram com tudo.
Antes de irmos com o time, um homem loiro interviu meu assunto com o treinador Greg, que nos deu licença. Seus traços eram conhecidos. Era o Sr. Brinley.
— Bom jogo, garoto. — o senhor disse. — Embora o resultado tenha sido o oposto do esperado, você foi muito bem.
— Obrigado. — agradeci ainda nervoso. Ele ia me bater? Céus, ainda bem que meus pais estavam por perto.
— Se você magoar ela, eu quebro suas pernas. — ele ameaçou.
— Jamais faria isso, mas nós não temos mais nada, Sr. Brinley. — o informei.
— Você acha mesmo que aquele time inteiro não hesitaria em te bater se não soubessem que ela gosta de você, Geller? — ele perguntou e eu não soube responder. — Dê tempo ao tempo.
— Querido. — minha mãe me chamou e atrapalhou a conversa. Ao seu lado, o resto da família estava de plantão. — Estamos indo. Miranda Geller, mãe do . Prazer. O senhor, quem é?
— É o pai da , mãe. — eu a informei e ela estreitou os olhos.
— E do . — ele completou. — Fred Brinley.
— Foi mal, falei da parte que me interessa. — fiz careta e ele riu.
— Gostei de você, filho. Bom, tenho que ir. Foi um prazer conhecer vocês.
— Foi um prazer ganhar de você. — minha avó o respondeu, arrancando uma risada de todos.
Brinley encarava a cena e eu sentia sua raiva há metros de distância, mas logo depois me deu um aceno com a cabeça. Que universo paralelo eu estava vivendo?
O caminho até nossa casa foi animado, Jared e Natalie finalmente haviam assumido o namoro e eu sacaneava os dois.
— Agora vocês vão transar exclusivamente no quarto? — perguntei e J gargalhou.
— Você sabe que aquele sofá é ótimo para transar, Geller. — Nat comentou.
— Essa é a minha garota. — Jared disparou orgulhoso.
Na porta do nosso prédio, a visão de Brinley e sua namorada me assustou.
— Céus, se esse cara veio te bater eu vou matar ele. — Nat ameaçou e eu ri.
— Vai estacionar, J. Deixa eu ir ver o que ele quer.
Jared parou para que eu pudesse sair do carro e fui ao encontro dos dois.
— Oi, . — a menina sorriu. — Sou Clarie.
— Prazer. — sorri fraco — Eu não vou me apresentar porque você já sabe meu nome.
— Tudo bem, querido. — ela sorriu. — O quer falar com você.
— Eu não quero. — o central do time de Brown disse e levou um beliscão de sua namorada. — Ouch!
— Você vai falar tudo que tem pra falar ou eu vou ter que fazer o que disse que faria?
— Céus, mulher! — ele resmungou que nem um bebê. Brinley era o típico jogador de hockey grandão, mas de coração mole. — Ok, a minha irmã é a coisa mais importante da minha vida e eu juro por Deus que eu não vou poupar socos se você machucar ela. — outro beliscão e eu ri. — A gosta de você. Não sei como, mas ela sempre teve um gosto muito duvidável.
— Ela não gosta de mim. — dei de ombros. — Ela voltou com o ex, não?
— Claro que não. — Clarie resmungou. — Ela gosta de você.
— Justin falou para minha irmã que eles tinham voltado.
— É mentira. — deu de ombros. E eu estava, internamente, sorrindo. Ela não estava com ele. — Eu vou pra casa da Lana agora, resolver meu grande problemão antes que minha namorada e minha mãe me matem.
— Eu também, campeão. — ameacei.
— Você gosta dela, né?
— Acho que até mais do que eu gosto de mim... — o respondi. E aquilo me assustou. — Foi rápido demais, um dia ela quebrou meu nariz e no outro eu estava rendido.
— Ele é um doido por ela, esse é um estágio elevado de gostar. — J interviu. — Você me deu trabalho hoje, Brinley. Foi brutal.
— Obrigado. Você é um ótimo defensor.
— Que cena estranha, vão se beijar agora? — Clarie fez careta e Nat riu.
— Não, o J é nosso namorado. — apontei pra mim e pra Nat. — Beijar o central do time adversário é mais que traição. — gargalhou.
— Bom, vocês querem subir? — Nat os convidou e eu e J olhamos para ela.
— Não podemos, mas obrigada. — a cunhada de recusou educadamente. — Brinley vai reconquistar o coração da garota do .
— Ela não é minha garota.
— Ainda. — Clarie me deu dois tapinhas no ombro.
Antes de irem, , eu e Clarie trocamos nossos números e eu estava tão chocado com a cena que eu demorei uns cinco minutos para acreditar.
No elevador, soltei um suspiro longo. Queria ver . Dê tempo ao tempo, ouvi a voz do senhor Brinley na minha cabeça. Assim que entramos em casa, J e Nat me abraçaram.
— NÓS ESTAMOS NA FINAL. — gritamos animados. Céus, eu estava mais que feliz.
Eu poderia claramente dizer, sorte no jogo e azar no amor. Decidi tomar um banho quente para relaxar, meu corpo ainda estava dolorido graças a Tyler. Quando saí, Jared apareceu na porta do meu quarto.
— Todos estão nos esperando, vamos, .
— Podem ir. — avisei.
— Uh, comprou um novo moletom do Bruins? — Natalie perguntou.
— É, ela roubou o meu. — sorri fraco. — Eu não ia pedir de volta. E eu vou ficar em casa.
— Você podia ser assim quando eu pego suas blusas. — Nat reclamou com Jared. — Aliás, se você vai ficar, nós também vamos.
— O quê? Não! Vocês precisam comemorar.
— Sem capitão, sem festa! — Jared falou da cozinha. — Vou pedir nossa pizza. Noite de skincare, baby!
Natalie deu um gritinho animado e correu para o banheiro pegar seja lá o que ela fosse pegar e J colocou no primeiro filme de terror que achou.
— Esse filme é demais. — J comentou.
— No Texas não tem filme de terror bom? — brinquei.
— Boneco Assassino é legal.
— Boneco Assassino é uma merda, Jared! Nem dá medo. — comentei e lembrei-me de quando me disse que tinha pavor deles.

estava deitada na minha cama só com meu moletom e calcinha. Eu estava terminando o trabalho da faculdade enquanto ela me contava coisas aleatórias da infância. Particularmente, eu gostava do nosso tempo juntos.
— Eu odeio filmes de terror. — ela explicitou.
— Qual é! Melhor filme para levar garotas no cinema. — falei e ela riu. — Elas ficam cheias de medo e se jogam em você.
... Eles são ruins. — ela refutou. — Quando eu tinha seis anos quis ver o filme do Chuck e foi uma das piores experiências da minha vida. Eu fiquei com medo, dormi no quarto dele por quase três semanas e joguei todas as minhas bonecas fora.
Gargalhei. — Gostosa, você já assistiu Boneco Assassino quando mais velha?
— Eu disse que tenho medo. — ela revirou os olhos. — Você sabia que a sala da minha antiga orientadora tem várias bonecas?
— E você a largou por isso, ? — perguntei incrédulo.
... — ela encolheu os ombros.
— Você é inacreditável, Brinley. — coloquei meu laptop ao meu lado e puxei-a para o meu colo. — Inacreditável.


? — fui tirado dos meus pensamentos por Natalie.
— Oi, desculpa. — sorri fraco.
— E qual é a resposta? — ela levantou as sobrancelhas.
— De quê?
— Você quer a máscara de melancia ou morango? — ela levantou os pacotinhos como se fosse óbvio.
— Hm... Morango.
— Ótimo, agora você precisa escolher o esfoliador que quer e também o hidratante labial. — ela olhou para as coisas no sofá e eu arregalei os olhos ao ver a quantidade de produtos que ela tinha.
— Eu acabei de ir pra final num campeonato universitário de hockey e agora estou fazendo skincare com máscara de morango. — falei pra mim mesmo.
Hell yes, bonitinho! — Nat disse animada. — Um skincare rejuvenesce a alma!
Eu e Jared gargalhamos com a resposta e aceitamos o fim digno de nossa noite de relaxamento e coração quebrado.

Hoje era o único dia da semana que o treinador tinha liberado o time. Nosso desempenho estava impecável, então um dia de descanso não mataria ninguém. E eu o aproveitaria. Ainda que muita coisa estivesse acontecendo, eu só pensava em . Sei que fazia apenas um dia em que havia conversado comigo sobre ela, sobre a Universidade de Brown ter sido eliminada e ela ter — possivelmente — voltado a falar com ele.
Quando desci as escadas da entrada da faculdade, encontrei Justin e brigando novamente. Toda vez que ele tentava tocá-la, ela o empurrava. Céus, eu odiava aquele cara.
— Já é a segunda vez que isso acontece, Trunter. Você não tá cansado de levar tanto fora assim não? — perguntei.
— Sai daqui, cara. É assunto de namorado.
— Pra eu namorar com você de novo eu teria que me internar, seu bastardo! — se irritou e deu uma joelhada no meio das pernas de Trunter.
— Meu Deus, . — ele resmungou e ela veio andando em minha direção.
usava meu moletom e estava parada na minha frente. Eu era um covarde, não conseguia me mexer.
— Você vai ficar parado aí? — ela quebrou o silêncio.
— Você veio encontrar a Lana e a Angie? — perguntei. — Angie não tem aula hoje.
— Vim encontrar você, . — ela disse baixinho. — me contou tudo. A gente precisa conversar.
— É, a gente precisa.
— Vamos pra sua casa?
Fiz que sim com a cabeça e fomos caminhando até em casa. Era um caminho de 5 minutos, no máximo.
— Como foi sua semana? — ela puxou assunto.
— Cansativa. Hoje é meu único dia de folga. — comentei baixinho.
— Tive sorte, então? — ela encolheu os ombros.
— Não. Eu arranjaria tempo pra falar com você. — foi a última coisa que pude dizer antes do silêncio se instalar.
Quando chegamos a casa, fomos silenciosamente para o meu quarto. Jared e Natalie estavam, surpreendentemente, no quarto. A menina loira que estava na minha frente fez o caminho sem nem mesmo duvidar.
— Pronto. — ela me encarou.
— Desculpa pelo que a minha irmã fez. Eu tentei falar com você depois daquilo, mas a Angie não deixou. Não só ela. Ninguém, na verdade.
— Foi uma boa ideia. — ela se encolheu. — A sua irmã não foi muito feliz na escolha dela.
— Acredito que você faria o mesmo se estivesse no lugar dela. — comentei baixo.
— É verdade. Eu faria. — ela admitiu e encolheu os olhos. — Como ela descobriu?
— Justin disse a ela que vocês tinham voltado e que isso tudo era um plano. — encolhi os ombros. — Eu fui um covarde por não fazer nada a respeito. — fui sincero e ela me olhou nos olhos. — Mas eu fui mais covarde ainda por não ter tentado reparar essa merda toda.
— Tudo bem, você não sabia. — ela sorriu fraco. — Você falou sério naquelas mensagens?
— Muito. Gosto muito de você, gost... — parei. — .
— Tudo bem me chamar de gostosa. — ela riu.
— Ainda bem. — sorri fraco. — Eu amo você. E eu nem sabia que eu podia gostar tanto de alguém assim. Sei que é cedo, eu posso ser emocionado, mas...
— Eu também amo você. — ela disse baixinho.
— Mesmo eu ganhando do seu time?
— Mesmo você ganhando do meu time. — ela fez uma careta. estava sentada em minha cama encolhida, abraçando os joelhos. Eu estava bem ao seu lado. — Eu não sei como vão ser as coisas a partir de agora.
— Como assim?
— Tem a escolha do Bruins. — ela falou baixinho. — Se você não for o escolhido, sabe lá pra onde você vai. A gente vai ter uma coisa à distância?
. — chamei sua atenção. — Eu posso ir parar no Alaska que eu vou sempre voltar pra você. E dependendo do que você decidir, quando a faculdade acabar eu prometo procurar um agente pra procurar times onde você estiver.
— Você não vai parar seu futuro por mim.
— Meu futuro só é válido se você estiver nele, gostosa. — sorri e apertei sua mão. — Existem coisas mais importantes que o hockey. Você é uma delas.
... — ela tentou dizer, mas a interrompi.
— E se nada der certo com os times, eu vou ser um psicólogo clínico onde quer que você esteja. E eu vou ser feliz também. Eu só preciso de você para que meus dias sejam felizes, Brinley. — a puxei para perto de mim e ela se aconchegou ao meu lado.
— Nós pra sempre. — ela sorriu e ficou em silêncio. Em pouco tempo, me chamou novamente. — ... Quase esqueci de dizer. — ela falou baixinho. — Seremos tios. Claire está grávida.
Nesse momento, pude pensar em diversas coisas. Sobre como iria sobreviver, como sua namorada ia terminar a faculdade ou como eles iam criar um filho, mas tudo que veio em minha mente era que eu queria passar por aquele momento com a mulher da minha vida, e ela era Brinley.
— Ótimo. Então é melhor a gente começar a treinar. — a puxei pra cima de mim e ela soltou um gritinho. — Eu te amo.
— Eu também te amo.


Capítulo 16

Champions edition.
encarava o relógio atentamente. O jogo começaria em 45 minutos. Ele estava relaxado. Estava encerrando — e abrindo — um capítulo em sua vida. Aquele era seu jogo de despedida da NCAA. foi tirado de seus devaneios quando seu telefone vibrou ao seu lado.

: Oi, amor! Sei que o modo meditação já está ativado, mas queria dizer que estou na torcida (literalmente) e que estou orgulhosa de você.
: Queria te fazer uma surpresa, mas o time da Brown todo tá aqui torcendo por vocês. Meus pais também. Nossas mães já estão falando da nossa futura casa — aquela que a gente nem sabia que tinha.
: Sua família está aqui pra me ver? Deus, amor! Essa é uma péssima pressão. Com o central que eles têm em casa vão me cobrar muito.
: e Clarie estão aqui. E tem surpresa pra você. Mas só vale se você ganhar o Frozen Four.
: Preciso ir. Nossos pais estão decidindo muito nosso futuro sem nós, não posso deixar eles escolherem os nomes dos nossos filhos e nossos pets.
: Te amo, obrigado. Diz que nossa filha vai se chamar Olívia.

No meio da torcida, estava feliz por ele ter lembrado do nome Olívia. Isso significava muito, já que ela sempre tagarelava sobre várias coisas de uma vez só. Mas ele prestava atenção em todas elas.
se preparava para sua despedida da NCAA, associação que virou sua vida nesses últimos anos, mas, agora, seu foco era a NHL. Sua família. Seus amigos.

O time de Michigan deslizou pelo gelo e se posicionou rapidamente. O time de Harvard fez o mesmo e o juiz deu o início a partida. Sabiam, ambos os lados, que não seria um jogo fácil. Michigan estava em primeiro em sua chave, assim como Harvard. A tensão nos doze jogadores no rinque eram notórias.
estava sentada no camarote da arena observando atentamente o namorado. Sabia que aquela seria sua despedida da NCAA, National Collegiate Athletic Association. A despedida de tinha sido no jogo contra Harvard, ainda que o central não soubesse.
O primeiro período não teve infrações, praticamente. Tecnicamente impecáveis. Os grandalhões do time da Brown estavam encostados no vidro assistindo atentamente.
— O’Malley joga sujo demais. — Tyler resmungou. — Eu quebraria os dentes dele com meu taco se pudesse.
— Credo, amor. — Hannah se assustou com a demonstração de ódio gratuito que Tyler deu.
— Ele falou da minha mãe, babe. — Vaughn comentou e revirou os olhos. Não suportava O’Malley por tantos motivos. — Ninguém fala da minha mãe.
— Olha a entrada dura que ele deu no Geller. — Peter resmungou. — JUIZ LADRÃO! — Peter gritou irritado.
sorriu orgulhosa dos meninos com quem vivia. Há três semanas, esse momento seria impossível. O time de Brown torcendo por Harvard? Nem pensar!
— Se esse cara der mais uma entrada dura no eu vou entrar no gelo e matá-lo com um taco! — Hails rosnou.
— Calma, filha. Seu irmão é duro na queda.
Por sorte, numa tentativa de vantagem em cima de um jogador, o juiz — que o camarote julgava ser favorável ao time de Michigan — deu uma minor ao ala esquerdo do time.
Minor? Bastardo! — vovó Geller xingou e todos gargalharam. Ela era a favorita. Os encontros eram sempre melhores quando ela estava.
O’Malley ficou dois minutos fora do jogo e essa foi a oportunidade de Harvard ter Geller deslizando que nem um raio rinque adentro. Com uma facilidade absurda, Geller passou o puck para John, que driblou o jogador da faculdade adversária com uma suposta tacada e jogou para o outro lado, o de . O central do time rapidamente mirou no gol e bateu com toda força.

Harvard 1x0 Michigan.

O camarote reservado virou festa e estava nervosa demais para pensar. Sem mais atrações, o primeiro período foi embora depressa com a vantagem de um gol para Harvard.
Os jogadores saíram rapidamente do rinque e antes de sair, ele olhou pra cima. Sua mãe acenava, Hails sorria e sua avó gritava por ele. apenas o observava com a mesma expressão apaixonada de sempre.
O segundo período foi destruidor, ficou fora por conta de uma penalidade idiota que ele havia cometido. encarava para o banco do castigo com raiva pois sabia que ele estava se culpando. Nota mental: brigar com meu namorado depois do jogo por ele se julgar muito., a quase engenheira pensou. Os jogadores de Harvard pareciam ter desligado o cérebro, uma vez que suas ações eram impensadas e imprecisas. Isso deu a chance para que o time adversário abrisse o placar. podia sentir o ódio de lá de cima quando O'Malley chegou para perto dele para tentar uma dividida, entretanto, o capitão do time de Boston escapou do jogador corpulento, entrando na área adversária e marcando mais um gol. Seu namorado tinha ótimas jogadas para um central, mas ao vê-lo atuar como ala esquerdo, soube que ele conseguiria ser quem fosse dentro do rinque.

Harvard 2x1 Michigan.

No fim do segundo período, Philip Finnegan, jogador de Michigan, empatou para o time azul. Em minutos, o rinque virou um caos. O goleiro de Harvard virou uma muralha e a defesa do time grená se manteve intacta. Um menino loiro, que achava que chamava Harry conseguiu roubar o puck de O'Malley, mas o ala de Michigan o atingiu com o taco, fazendo com que o juiz determinasse um power play.
— Por favor, meninos…Crimson effect, . Por favor.
— Isso é heresia, você sabe, né? — o senhor Brinley tentou aliviar o nervosismo da filha.
Faltando míseros trinta segundos para o fim do power play, Harry, Ray e fizeram uma troca de passes incríveis que deixaram os jogadores de Michigan, já cansados, tontos. Faltando dez segundos, Harry despejou toda sua força na tacada e desempatou para o time de Harvard.

Harvard 3x2 Michigan.

A equipe de Harvard era a atual campeã do Frozen Four. Geller despediu-se da NCAA com uma taça de campeão.
— Meu Deus, Meu Deus. — caiu de joelhos e começou a agradecer. Ela não era do tipo religiosa, mas ainda assim, antes do jogo começar, pediu para rezar com a sua mãe. 
— Eu não deixaria você namorar com alguém que não tivesse um Frozen Four, boa escolha de namorado, magrela. — ajudou a irmã a se levantar e todos desceram.
Os alunos de Michigan andavam cabisbaixos pela área, enquanto os poucos alunos de Harvard comemoravam. Os apoiadores esperavam o time campeão saírem do vestiário, mas sabiam que demoraria mais que o usual, afinal, estavam comemorando. A equipe perdedora saiu antes e vovó Geller fez questão de vaiar O'Malley.
— Nem batendo no meu neto você consegue ser melhor. — a senhorinha rugiu. O ala do time de Michigan se irritou e xingou a avó de , mas assim que se deparou com o time da Brown, ele recuou.
— Alguém me arranja um taco. — Tyler rosnou e Hannah apertou seu braço.
— Amor…
Os campeões de Harvard saíram e Clarie levantou a blusa para que pudesse ver o que estava escrito em sua barriga. O central do time grená sorriu ao encarar sua barriga com a frase “parabéns, tio ”.
— Céus, eu vou chorar. — Geller abraçou Clarie assim que se aproximou. — Eu preciso de uma foto disso depois.
— Você foi um ótimo ala esquerdo hoje, cara. — o elogiou.
A multidão cercou o time, impedindo que o casal se aproximasse, então foi a última a cumprimentar o namorado. Quando ele a viu, deu o sorriso mais lindo que podia, fazendo a namorada sentir que suas pernas viraram gelatina. correu até ele e pulou em seu colo.
— Parabéns! Eu estava tão nervosa, amor. — ela soltou. — Eu quase cortei o pescoço daquele brutamontes que te bateu o jogo todo, fiquei tão preocupada.
— Ei, linda. Somos campeões. — ele sorriu e afagou o cabelo macio de . — Obrigado por me apoiar, de verdade. Eu amo você.
— Vamos comemorar mais tarde. — ela deu um sorriso sapeca.
— Ah, é? — ele beijou seu pescoço.
— Pode apostar. — aproximou suas bocas e as uniu. — Eu. Amo. Você. Campeão.

Em casa, e estavam no sofá assistindo mais um filme da Julia Roberts. Já haviam assistido todos, mas uma linda mulher era praticamente um marco no relacionamento.
— Pensei que nunca poderíamos ficar assim. — ele comentou.
— Juntos? — perguntou assustada.
— Não. Eu, deitado no seu colo, na sua casa. — ele deu risada e ela o beijou.
— Uma hora eles teriam que aceitar, gostoso.
— Ei. — Clarie desceu as escadas e sentou-se em outro sofá.
saiu pra buscar comida. — disse. — Você dormiu bastante, cunhadinha.
Uma coisa que aprendeu depois que Clarie ficou grávida, era que queria muito ter filhos. Desde que descobriu que eles seriam pais, apesar de não conhecê-la, sempre fazia as coisas por ela. Comprou, inclusive roupinhas que dizem “amo meus titios”.
— Por favor, engravida. — ele levantou-se e fez carinho na barriga de Clarie. — Imagina uma coisinha loirinha igual você.
— Não. — ela e , que havia acabado de chegar, falaram juntos.
— Minha irmã não faz essas coisas. — ele disse na defensiva e gargalhou.
— Verdade, só vamos fazer sexo depois do casamento. — comentou e jogou a almofada na cara dele.
— Sai daqui. — disse ao sentar-se no sofá. rapidamente voltou e deitou no colo de .
— Eu nem acredito que vamos nos formar. — falou baixinho.
— Eu não acredito que serei mãe. — Clarie confessou.
— Quero que os bebês puxem ao . — comentou e os outros três que estavam na sala o encararam. — Que é? Quero ver como que meus filhos serão em alguns anos.
— E você vai ter um filho comigo, por acaso? — brincou. — Eu não vou parir.
— Vocês são gêmeos! Se o bebê parecer com você, vai parecer com ela.
— Nós não somos tão iguais assim. — a namorada de resmungou.
— Rá! — Clarie deu um gritinho. — Vocês são iguais.
— Não. Minha namorada é mais bonita que esse bunda mole. — sorriu. deu um beijinho em sua bochecha e Clarie sorriu.
— Sinto falta de quando estávamos nos primeiros meses de namoro e seu irmão me amava.
— Ei! O cara vai ter filhos com você. Demonstre algum respeito, Clarie. — brincou.
O telefone de tocou e ele atendeu. Ele estava sem expressar reação nenhuma e aquilo desesperou . Podia ser algo com seus pais.
? — ela o chamou.
— Amor? Tá tudo bem?
Enquanto estava em estado de transe, o telefone de também tocou. Geller teve quase a mesma reação que a do meu irmão.
— Aconteceu alguma coisa com o draft? — Clarie teve coragem de perguntar.
— Eu... — disse nervoso. — Eu vou assinar com o Bruins.
— AI MEU DEUS! — Clarie deu um grito. ainda estava sem saber o que fazer. Se estava dentro, estava fora.
— Ei, amor. — o abraçou. — Sinto muito.
— Gostosa... — ele sussurrou, com as mãos trêmulas. — Eu também vou assinar com o Bruins.
Sua única e exclusiva reação foi pular em cima de . Com as mãos trêmulas, Geller apertou a cintura da namorada. Estar com ela naquele momento era mais do que especial, ainda mais quando sabia que o clima não ficaria ruim, porque também havia sido convocado pelos Bruins.
— Eu não sei o que dizer. — riu nervoso.
— Minha família vai pirar. — levantou.
— Eu sou a mulher mais feliz do mundo por não ter que aguentar vocês jogando em times diferentes mais uma vez. Isso é um alívio. — soltou uma risadinha e seu irmão  a abraçou.
— O que vocês acham de marcar um almoço com todo mundo amanhã? — Clarie sugeriu. — Juntamos as famílias e comemoramos que nossos meninos são do Bruins.
— Eu acho ótimo. — a puxou para seu colo e beijou seu pescoço. Depois, sussurrou em seu ouvido. — Te amo.
— Também te amo, . — sorriu.
— Ei. Podem parar com isso. — brincou. — Você ainda não é da família.
deu seu melhor sorriso, e que tanto amava, convencido. — Claro que sou! Seus filhos já me amam mesmo sendo feijões. Titio é o preferido deles.
— Você é um cara legal, Geller. — disse, por fim.
— Você também é, cunhado barra companheiro de time. — sorriu. — Para sua sorte, eu consigo ser um ótimo ala esquerdo.
Todos na sala riram.
— Abraço em grupo! Eu sou uma grávida carente, andem. — Clarie se levantou e todos se abraçaram. — Eu estou muito feliz de estar construindo uma família com vocês.
— Clarie, você sempre provou ser a pessoa lúcida do relacionamento, mas não me faça chorar. — pediu.
— Precisamos de uma foto desse momento, vamos. — sugeriu e sacou o telefone do bolso, abrindo a câmera. Com um grande sorriso no rosto, salvaram uma grande lembrança daquele dia especial.
Naquele dia, poderia dizer que nada poderia melhorar. Mas, ainda assim, ter a certeza que viveria os melhores dias com sua família e seu namorado a fez acreditar que sempre poderiam melhorar.

Obs: eu sei que, no draft, o melhor jogador vai para um time que foi mal na última temporada, mas, para dar o final feliz da história que queria, eu tive que alterar algumas coisinhas.


Capítulo 17

Graduation day

.
Acordei com algo fazendo cosquinha em meu nariz. Meus olhos focaram no furacão loiro esparramado pela cama e eu sorri. Céus, essa mulher é perfeita.
Meu relógio biológico fazia questão de me acordar antes das sete sempre. Ainda que ele dê um pane em dias que estou extremamente nervoso, em dia do jogo, por exemplo. se remexeu quando me levantei, devagar para não acordá-la, e eu me xinguei mentalmente. Queria poder desfrutar do seu corpo relaxado ao meu lado por mais tempo, ainda que ontem à noite eu a tenha relaxado mais vezes que esperava. Melhor. Sexo. Da. Minha. Vida.
Ainda bem que eu poderia usar a desculpa de ter acabado de acordar para justificar a barraca armada, mas ainda assim eu ficaria duro só de pensar nela gemendo meu nome como fez ontem. Do banheiro, pude ouvi-la se mexer na cama. apareceu na porta com um rosto amassado e até assim ela estava linda. Usava minha blusa de Harvard e uma calcinha minúscula. Céus, foco, , não são sete horas da manhã, porra. Quando seus olhos se acostumaram com a claridade, ela soltou um gemido como se tivesse se assustado com o que viu.
— Bom dia, princesa. — sorri.
— Meu Deus, as suas costas. — ela corou. — Eu te machuquei?
— Nem um pouco, linda. Você é brutal.
Ela corou de novo. veio até mim e me abraçou por trás. Eu amava seu toque delicado e seu cheiro.
— A gente foi dormir às três. Não podemos voltar a dormir? — ela deu um beijinho no meu ombro.
— Eu posso te deixar dormir por mais três horas e, às dez, a gente levanta.
— Você não tá cansado?
— Não. Tô com energia suficiente pra fazer qualquer coisa que você queira. — dei um sorriso malicioso e ela gargalhou.
— Não faremos sexo matinal até que eu esteja 100% acordada. Isso vai demorar.
— Eu posso te acordar se você quiser.
— Pode, é? — ela perguntou sugestiva. É, duas palavras me deixaram mais duro. Essa garota, meu Deus.

Depois de um sexo matinal incrível, apagou do meu lado. Eu não precisava de mais nada acordando com aquele cheiro, com aquele corpo e com aquele prazer que ela me proporciona.
Três horas depois, acordei minha namorada com beijinhos em sua cabeça. resmungou mas começou a despertar.
— Por mais que eu adore observar você dormir, eu preciso me formar. — comentei e ela sorriu. Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, correu para o box tomar um banho. Em uma hora, estávamos saindo do apartamento.
usava sua calça branca favorita e um sobretudo preto por cima. No caminho rápido para Harvard, enquanto caminhávamos e conversávamos sobre coisas triviais, ligou. contou animada sobre a cerimônia enquanto eu a admirava. É, ela é perfeita. Assim que desligou, comentou que Clarie estava passando mal. Senti muito pela namorada dele, até porque se não fosse por ela nem estaria namorando.
— Você está fodidamente linda. — disse a ela.
— Te amo, . Você fica fodidamente gostoso nessa roupa social. — ela me devolveu um sorriso sapeca.
— Também amo você. — sorri e entrelacei nossas mãos. — Jared e Natalie vão morar juntos agora.
— É? — ela perguntou. Fiz que sim com a cabeça.
— O que você acha de morar comigo? Só tem prós: é perto do seu emprego, perto do TD Garden… — comentei. — Todos os dias que você chegar do trabalho vai ter um grande gostoso a sua espera…
Ela gargalhou. — Eu sei que é cedo, mas eu iria sem você mesmo me dar motivos. Disse pra você, estou nisso de verdade.
— Eu vou te pedir em casamento. — disse convencido. parou e arregalou os olhos. — Um dia, linda.
— Que susto! — ela sorriu. — Eu ainda não me preparei pra dizer não quando você me pedir em casamento.
— Nós vamos casar, Brinley. — disse certo dessa ideia. — Um dia você vai assinar com o meu nome.
— Rá. Eu quero ver. — ela sorriu. O sol bateu em seu rosto e o dourado dos seus fios se intensificou, deixando-a mais linda ainda. Seus olhos cor de mel brilhavam, deixando-me mais apaixonado ainda por aquela mulher.
— Vamos, querido. — minha mãe apareceu ao me ver na entrada da faculdade.
Vovó entrelaçou seus dedos aos meus e Hailey e caminhamos juntos até a área na qual aconteceria a cerimônia.
Rapidamente, tive que me reunir com os outros formandos. Fui quase um dos últimos, afinal, a turma de psicologia foi deixada para trás por conta da ordem alfabética. A reitora da universidade anunciou meu nome. Do palanque instalado no gramado, pude ver minha família celebrando por mim. Meus pais choravam abraçados. Vovó, Jared, Nat, Angie, Lana e Hailey gritavam meu nome e aplaudiam. E , bem… havia tirado o sobretudo e vestia a minha camisa de hockey. Aquela mulher me dava um sorriso encorajador e orgulhoso. Mais uma vez, tive certeza que era ela com quem eu casaria, teria filhos e sei que seria ela quem me daria bengaladas por falar algo estúpido. Sempre seria ela.
Quando tudo terminou, eu soltei um suspiro de satisfação. Eu estava orgulhoso de mim também. Minha família encarava com um sorriso orgulhoso, principalmente por saberem a importância de Harvard pra mim. Sabiam que ela fazia um grande esforço ao vestir a camisa de uma universidade que foi rival da sua por tanto tempo. E eu apreciava aquela mulher.
— Parabéns, . — ela sorriu. — Eu queria te dar um presente muito especial. Sei que hockey é a sua vida e Harvard é importante pra você. Mas também espero que saiba que nunca mais farei isso.
Dei risada. — Linda, minha vida é isso aqui. Minha família, você. Eu disse uma vez e direi novamente… Existem coisas mais importantes que o hockey. E você, Brinley, é uma delas.

"So hold me close and
Say three words like you used to do
Dancing on the kitchen tiles
Yes you made my life worthwhile
So I told you with a smile
It's all about you..."
(All About You, McFly)

e estavam exaustos. Uma semana após a graduação do namorado, ela havia sido efetivada no trabalho, e haviam sido apresentados à equipe de Boston, ela estava de mudança e sua formatura era no sábado. Em apenas sete dias, a vida dos dois havia virado de cabeça para baixo.
— Gostosa, pare de dobrar roupas e traga sua bunda linda pra cá. — disse à namorada.
— Estou no fim, amor. — ela sorriu. — Além disso, o moço do petshop disse que trará Taylor em breve.
— Vamos mudar o nome da gata, por favor.
— Amor, Taylor Swift é um ótimo nome para nossa gata. — sorriu. havia sugerido que adotassem uma gata para fazer companhia à namorada enquanto ele estivesse fora para os playoffs.
— Eu sugeri que cuidássemos da bonitinha e você ainda quer dar nome a ela?
— Sim. E eu sei que no fundo você gostou de Taylor Swift.
— Verdade. — ele sorriu. — Gostei mesmo.
— E é por isso que você é o melhor namorado do mundo.
— Eu sei. — sorriu e foi até a beirada da cama, puxando para seu colo. — Obrigada por topar essa maluquice comigo, querida.
— Eu toparia qualquer coisa apenas para estar com você e Taylor.
— Finalmente temos nossa família. — Geller sorriu e sorriu.
— É só o início, amor.
Antes que pudessem falar algo, a campainha da casa tocou e foi buscá-la. Tempo depois, a trouxe para o quarto.
— Olha quem tomou banho, papai. — abraçava a filhote.
— Ela deve te odiar por isso. Gatos odeiam contato. — geralmente, sim e não. Mas naquele caso em especial, Taylor era uma filhote carente e doce. Adorava estar enrolada nos dois e sempre queria atenção de .
— Amor, amor! A gente precisa tirar uma foto pra eu revelar amanhã. — disse exasperada. — Primeira foto de família, vem!
foi puxada para o colo do namorado e ele tirou a selfie. Taylor foi colocada no meio dos dois e eles sorriram para o aparelho telefônico. Aquela era a primeira foto de família, entretanto, muitas ainda estavam por vir.

.
e eu havíamos dormido na casa dos meus pais enquanto estávamos em Rhode Island. Na sexta-feira à noite nós pegamos nossa primogênita — Taylor — e dirigimos até minha casa. Lana havia nos oferecido abrigo, mas decidimos ficar com minha família, já que eles estavam bastante ansiosos para passar um tempo com .
— Eu amo seu quarto. — declarou. Ele sempre olhava para meus troféus colocados na estante. — Eu sabia que você era talentosa, mas não tanto assim.
— Foram só alguns. — eu dei de ombros.
— Gostosa, você ganhou o campeonato estudantil três anos consecutivos. — ele disse. Me encantava o jeito que ele se sentia orgulhoso de mim em uma época que nem mesmo me conhecia.
— Vem pra cá, amor. Suas meninas querem atenção. — eu disse e Taylor ronronou como se concordasse comigo.
deitou-se ao meu lado e acariciou nossa gata. Eu poderia dizer que naquele momento, nada me faltava mais. As inseguranças que eu tinha por conta de um antigo relacionamento? Não ocupam mais minha cabeça. Meu medo de relacionamento? Também não. As únicas coisas que eu sentia quando estava por perto eram ternura, amor, felicidade e ansiedade.

— Eu sou o cara mais sortudo do universo. — disse assim que me viu. — Fala sério.
Ele pegou minha mão e me fez girar. Eu usava um vestido de verão rosa que mamãe havia me dado para a formatura.
— Lindo. — sorri. já estava pronto quando saí do banheiro. — É melhor irmos antes que venham nos buscar.
Mamãe e papai fizeram questão de tirar muitas fotos minhas. Fotos essas que entraram para a parede de orgulho dos Brinley. O caminho até Brown não foi tão rápido, mas assim que chegamos, Lana apareceu me puxando para o grupo dos formandos de engenharia.
Como o grupo era vasto, foi o último a ser apresentado. Sentada ao lado de minha melhor amiga, olhei para trás e tive a melhor visão do mundo: meus melhores amigos, Hannah e Tyler, estavam trocando carícias. Mamãe estava conversando animadamente com Angie e Clarie. Papai, e falavam animados sobre qualquer coisa que fosse.
— Estou orgulhosa de nós. — eu disse e Lana apertou minha mão.
— Ao infinito e além. — minha outra melhor amiga disse.
Brinley. — meu nome foi anunciado e eu vi meu grupo se levantar.
Agora, mamãe e papai estavam abraçados chorando. Clarie, , Angie, Tyler e Hannah me aplaudiam. , aquele palhaço pelo qual havia me apaixonado, gritava.
— ESSA É A MINHA GAROTA!!! — ele berrou e todos riram. Quando o encarei pude ver seus lábios dizerem "eu te amo".
Desde que vovô havia falecido eu me sentia só. Sentia que nunca viveria a vida como realmente deveria. Lembro-me de momentos nossos que queria que fossem pra sempre e desejava que meus filhos tivessem o mesmo apoio que tive.
Essa é pra você, vô. — sussurrei e apertei o canudo.
Logo depois de mim, Lana recebeu seu diploma e o reitor anunciou que nós estávamos, oficialmente, formados na Universidade de Brown. Nós duas fomos liberadas após as fotos oficiais e nos dirigimos até nossa família. Meus pais e meu irmão foram os primeiros a me abraçar e veio logo depois.
— Gostosa, parabéns. — ele me pegou pela cintura e deu uma volta, fazendo-me soltar um gritinho. — Agora que você é uma gostosa oficialmente formada, preciso te mostrar uma coisa.
— Se você tatuou meu nome na sua bunda, por favor, não mostre em público. — brinquei.
— Eu jamais faria isso, gostosa. — ele me deu um sorriso. — Isso faria com que os caras chorassem ao ver que além de lindo e ótimo jogador, também tenho uma bunda bonita.
— Babaca. — ri. se afastou um pouquinho e abriu a jaqueta. Gargalhei ao ler a frase "mamãe, estou apaixonado por uma engenheira". A brincadeira com a música da Britney Spears estava clara. "Criminoso" estava riscado em vermelho e logo abaixo vinha o "engenheira". — Oficialmente babaca.
— Agora o presente. — ele me entregou uma caixinha de veludo. Nela havia um pequeno cordão em formato de coração que tinha gravado "o amor nunca falha" em letras cursivas delicadas.
… — meus olhos marejaram.
— Abre, linda. — ele pediu. Assim que abri deparei-me com a primeira foto em família que tiramos. Papai, mamãe, , Clarie, eu e .
— Amor… Não poderia ser mais lindo. — o abracei. — Eu te amo.
— Prometa que vai me amar até o fim dos nossos dias e que nunca, nunquinha mesmo, vai jogar ácido em mim quando eu fizer merda. — ele pediu. — Eu não sei mais não estar com você, Brinley. Não consigo imaginar viver sem você revirar os olhos pra mim, linda. Dizer que eu sou idiota. Ou até mesmo sem quase morrer de hipotermia quando seus pés gelados encostam em mim de madrugada.
— Eu prometo, . — disse. Sequei rapidamente uma lágrima que escorreu. — Quando isso tudo começou eu pensei que eu estava em desvantagem e que ia perder. Eu não sabia que eu aproveitaria muito bem todo esse tempo. Então, eu descobri uma coisa… O power play estava a favor do meu time. E eu ganhei.


Epílogo

"And I never (never) saw you coming
And I'll never (never) be the same
This is a state of grace
This is the worthwhile fight
Love is a ruthless game
Unless you play it good and right
These are the hands of fate..."
(State of grace, Taylor Swift)

6 anos depois.

estava completamente exausta. Com a preparação do casamento de Lana e Angie, a engenheira mal tinha tempo para respirar. As duas escolheram como madrinha e pediram ajuda para a organização, coisa que a mulher nem hesitou em fazer. Em exatos dois meses, as amigas casarão em uma das casas de — ainda que fosse contra, até porque eles tinham a casa em Hamptons, Nova Iorque, para que elas usassem. A engenheira se sentia extremamente cansada e não via a hora de colocar os pés — que estavam inchados de tanto ela ficar em pé —, para cima.
— Gostosa, você não sabe o que as meninas fizeram no treino hoje. — disse animado quando me viu entrar em casa. — Você foi atropelada ou algo assim?
— Estou cansada, amor. E inchada. Acho que o estresse está me fazendo reter líquidos. — ela comentou baixinho. — Temos comida?
— É claro que temos comida, gostosa. — ele riu. — Você namora com um jogador de hockey.
— Isso é verdade. — ela riu e ele pegou a bolsa que ela carregava para colocar atrás da porta.
— Mas hoje... Eu decidi fazer uma coisa que eu sei que você ama demais. — ele sorriu.
— Não me diga que nosso jantar é macarrão ao molho branco com frango. — ela deu um pulinho e se sentiu zonza. Deveria realmente descansar.
Aquela era uma noite muito especial para os dois. E ela nem havia percebido. não ficou chateado, afinal, além de ser péssima com datas e estava exausta. Talvez ser professora universitária e coordenadora de um departamento de uma das empresas mais bem faladas do ramo do meio ambiente a cansasse mais do que os dois esperavam.
— Isso significa que teremos um grande dia de meninas. — ele deu risada. — Com direito a skincare, filmes românticos e uma ótima massagem.
— Casa comigo. — ela disse séria.
— Oras, gostosa. — ele deu risada. — É claro que sim.
... Eu falo sério. — ela disse convicta. — A gente mora juntos, vivemos como casados desde que começamos. Vamos oficializar.
O central do time de Boston arregalou os olhos.
— Você não está me pedindo em casamento estragando todos os meus planos de te pedir em casamento não, né? — ele tirou uma caixinha vermelha de veludo do bolso.
— Não acredito. Você ia me pedir em casamento? — ela gargalhou. — .
— Já que você estragou todo meu romantismo e etc... — o jogador se ajoelhou. — Brinley, você aceita se casar comigo?
— Sim, sim, sim, sim! — ela se ajoelhou junto do noivo e o beijou. — Eu te amo muito, amor.
— Eu também te amo, mesmo que você tenha esquecido nosso aniversário.
— Nosso aniversário é 10 de outubro. — ela disse.
— Hoje é dia dez de outubro, gostosa.
— Desculpa. — ela fez careta.
— Isso me deixa feliz porque eu sei que eu nunca vou ter que competir com as suas ideias incríveis de presente. — ele a deu um sorriso galanteador, enquanto os levantava do chão.
— Amor, você poderia estar pelado me oferecendo vinho que seria ótimo já.
— Eu pelado sempre te dou ótimos presentes, gostosa. Você já sabe disso há bons anos. — ele disse e ela gargalhou. — Agora, querida noiva, já pro banho para termos nosso dia de menina.

Durante o banho, se sentiu zonza de novo e concluiu que o cansaço a ganhara. Seu corpo iria derrubá-la. Quando saiu do banho, foi ao quarto e seu corpo amoleceu.
— Opa, te peguei. — a segurou pela cintura. — Amor, você está bem?
— É cansaço. — ela disse baixinho enquanto o jogador a deitava.
— Você deveria parar um pouco.
— Eu vou acordar melhor amanhã, juro. — ela assentiu.
— Vou buscar nosso jantar. — ele se levantou e buscou dois pratos muito bem servidos.
Enquanto se recuperava da tonteira, respirava fundo para controlar o enjoo que sentia.
— Melhor macarrão do mundo chegando... — apareceu na porta com os dois pratos e o cheiro inundou o quarto.
— Meu Deus. — sentiu o enjoo piorar. Antes que dissesse algo, a engenheira partiu para o banheiro vomitar.
— Gostosa, você tem certeza que está bem? — ele perguntou preocupado. — Você está extremamente cansada, inchada, tonta... E agora vomitando?
Assim que o jogador terminou sua frase, seu corpo gelou. ainda vomitava no vaso sanitário quando saiu correndo do quarto. E de casa.

Quinze minutos depois, o central do time de Boston entrou em casa como um furacão.
— O que aconteceu? — levantou em um pulo. — Você simplesmente sumiu! E não me atendeu.
— Eu não sabia qual teste comprar, então comprei todos que tinham na farmácia. — ele disparou. — , você tá grávida!
— O quê? Não! — ela disparou. — Eu tomo remédio.
— Faz unzinho só. — ele pediu. — Você pode ter esquecido um dia.
Ele disse sacudindo uma das caixinhas que comprou. respirou fundo. E se o resultado fosse positivo? Os dois tracinhos que mudariam sua vida por completo.
— Vem, gostosa. — ele estendeu a mão para a noiva que estava quase em transe.
Os dois foram em silêncio até a suíte e ela foi até o banheiro, ainda com em seu encalço. Sentada na privada, não conseguia se concentrar.
— Estou com medo. — ela admitiu.
— Vai dar tudo certo, independente desse resultado, . — ele apertou sua mão.
Pouco tempo depois, conseguiu fazer xixi e eles tinham que esperar o resultado. Três minutos depois, os dois tracinhos no palito ficaram claros. Eles estavam grávidos!
A primeira reação de foi arregalar os olhos e prender a respiração, enquanto seu noivo barra pai do bebê que ela carregava desatou a chorar. estava sem palavras e seu jeito de expressar veio com lágrimas. Sem que pudesse dizer algo, ele foi em direção a sua barriga.
— Ei, feijãozinho do papai. — ele soluçou e aquilo fez sentir o corpo arrepiar por completo. — É o papai. Seja bem vindo ao nosso mundo. Prometo te ensinar a patinar, jogar hockey e ler livros. Matemática é com a mamãe.
...
— Shhh! — ele fez. — Estamos tendo uma conversa de apresentação.
riu.
— A mamãe é uma engenheira maravilhosa. Passa horas ensinando um bando de jovens cheios de hormônios que você nunca vai chegar perto se eu puder evitar. — ele disse e riu novamente. — Ela é incrível. Você vai amá-la. E eu lhe garanto que se você for 50% do que ela é, você vai ser incrível também. Eu amo você. Não esqueça.
... — limpou as lágrimas. — O que vamos fazer? Eu não posso ser uma mãe. Eu não sei ser mãe.
— Linda, olha aqui. — ele secou as lágrimas e fez com que o olhasse em seus olhos. — Nós vamos fazer isso juntos. E se você não quiser, tudo bem também. Vou te apoiar em todas as suas escolhas.
— É claro que vamos ter o bebê! — ela disse de imediato. — Eu não poderia...
— Ei. A sua escolha é a que manda. Eu estarei aqui por você. — ele sorriu. — Eu amo você, Brinley. Noiva ou não. Grávida ou não. É com você que eu quero estar todos os dias. A gente vai fazer isso dar certo.

— Tá doendo! — gritou e sentiu seus dedos serem esmagados.
— Linda, por favor, aguente firme. — ele a encorajou. — Lembra das aulas de ioga.
— ELAS NÃO SERVEM PRA NADA! — gritou. — Isso é sua culpa!
— Minha? — ele gargalhou.
— Você colocou esse pênis em mim! — ela rugiu e ele gargalhou novamente.
O efeito da dor a tornava agressiva e se divertia às custas dos ataques de raiva de . Ainda assim, mesmo estando com os dedos doendo e chances de sair do quarto do hospital com eles quebrados, ele continuava encantado com a mulher que tinha ao seu lado. Os dois decidiram se casar pouco depois do casamento de suas melhores amigas, ainda quando coubesse em um vestido. Eles não fizeram nenhuma festa gigante, apenas fizeram uma cerimônia simples.
— Senhora Geller, você está com dez dedos de dilatação. — a enfermeira obstétrica disse. — É só empurrar que sua princesinha vem ao mundo.
— Eu não vou conseguir fazer isso. — chorou.
— É claro que vai, gostosa. — a incentivou. — Faremos isso juntos, lembra? Empurra.
A obstetra e a enfermeira estavam atentas esperando uma atitude de , que respirou fundo e empurrou com toda força que tinha.
— NÓS NUNCA MAIS VAMOS TER FILHOS. — urrou.
— Vamos, gostosa. Empurra. — a motivou. — Precisamos que você empurre.
empurrou algumas vezes e a obstetra sorriu.
— A cabeça está saindo! — disse. — Mais uma vez, !
Assim que a engenheira tomou forças, empurrou mais uma vez e o choro estridente do bebê quebrou o silêncio.
— É uma menina muito saudável. — sua obstetra disse.
— Ai, meu Deus. Eu consegui. — suspirou. a beijou na testa.
— Você conseguiu, . Eu sabia que conseguiria. — ele a encarou com um sorriso bobo.
— Papai, você quer cortar o cordão? — a enfermeira ofereceu e aceitou. Assim que o elo físico entre e Olívia foi desfeito, a bebê foi enrolada e entregue ao pai.
— Amor. — sorriu ao ver as duas pessoas que mais amava no mundo juntas. — Ela é linda.
colocou Olívia no colo de e sorriu. Lágrimas descontroladas escorriam por todo rosto do jogador. Os resmungos de Olívia ainda eram altos, mas assim que ela pegou no grande dedo de seu pai, tudo se acalmou.
— Oi, bonitinha. — sorriu. — A mamãe e o papai estão aqui.

Doze anos depois.

estava trabalhando até tarde naquele dia e não poderia buscar Olívia na escolinha. Era, por sorte, um dia que estava em Boston, caso contrário eu não saberia o que faria para buscá-la. Talvez mandar sua secretária buscá-la? Não. Não confiava em Pipa o suficiente para colocar a primogênita sob seus cuidados.
— Cheguei. — anunciou ao entrar no apartamento. — Trouxe jantar.
e Olívia estavam sentados, cercados dos bichinhos de pelúcia dela, e bebiam chá cordialmente. Os olhos de Olívia brilharam ao vê-la, mas ainda assim, sabia que aquele brilho era proveniente da presença do pai naquela tarde.  
— Mamãe, hoje eu e o papai tivemos um dia de princesa. — ah, não! Pobre .
— Sério, princesa? Vocês pintaram a unha e se maquiaram? — indagou.
— Vira pra ela, papai. — Olívia pediu e o fez. O ala esquerdo do Boston Bruins estava com um batom vermelho e sombra rosa nos olhos. Ele levantou suas mãos grandes e sacudiu os dedos, mostrando seu esmalte rosa. A boca de tremeu com uma risada, mas ela não queria, de modo algum, magoar a filha.
— O papai está lindo, querida! — elogiou. — Por que não vai lavar as mãos para jantarmos?
Olívia correu para o banheiro de seu quarto e a deu um olhar de advertência. — Nem comece, .
— Eu deveria mandar uma foto para o time. — ela deu um sorrisinho e ele revirou os olhos. — Ou pelo menos pro . Por favor, amor!
rosnou e foi até ela. — Faça isso rápido.
— Amor, você seria uma menina muito bonita. — sacou o celular do bolso e tirou foto do marido.
— Eu sei. — ele sorriu e fingiu jogar o cabelo — que não tinha — para o lado. — É só olhar pra Olívia que você me vê se eu fosse menina.
— Ela parece comigo.
— Tudo bem, . — ele sorriu. — Se isso te faz dormir a noite...
O casal foi interrompido por Olívia entrando na sala. a pegou no colo e sorriu. Eles eram idênticos. E os amava com todo seu coração.

Dezesseis anos depois.

Se existe algo que nós podemos nos ater, esse algo são as nossas lembranças. Mas não as ruins, essas a gente guarda numa caixa no subconsciente e deixa lá. Mas as boas são as que fizeram com que chegássemos aqui. Lembre-se sempre o motivo pelo qual você acordava todos os dias e sorria! Lembre-se, , de quando você descobriu que o sol que iluminava seus dias estava nos olhos de outro alguém. Lembre-se que o amor é uma entrega, lembre-se, querida. Você merece amar alguém que reconheça sua grandeza, sua capacidade e seu interior, alguém que te leia nas entrelinhas. Você merece ser amada, então se permita isso. A vida é muito mais linda quando criamos nela boas memórias.

Com carinho, seu avô que te ama tanto,
Liam Brinley.

O dia de havia começado cedo. Precisava corrigir os relatórios de química orgânica a tempo e ainda tinha que levar Olivia para escola. A menina, no entanto, não estava tão feliz em ter que começar a escola em um novo lugar. Seu pai, , havia sido contratado como ala esquerdo do Chicago Blackhawks, fazendo com que a família tivesse que se mudar para cidade dos ventos. Suas tias tinham acabado de adotar seu primeiro filho, Thomas, seus tios estavam voltando para Boston e elas estavam perdendo tudo aquilo.
— É o sonho dele… — falou baixinho para si mesma.
A mulher, apesar de disfarçar suas tristezas em suas pesquisas, sempre se deitava sozinha. Ter ido para o meio do país a fazia querer chorar. passava dias viajando com o time e, em Boston, tinha a companhia dos pais, dos sogros e dos amigos. No entanto, ela estava sozinha no meio do país.
Os momentos os quais se falavam eram tão rápidos que nem dava tempo de ela contar como seu dia havia sido e, na verdade, nem o dele. Ele sempre tinha que estar em ônibus, ou até mesmo em um avião indo para o Canadá. Ou então, dando coletivas por todo oeste.
O horário de acordar sua filha de dez anos havia chegado e ela suspirou fundo. O fato de Olivia não ter se adaptado a Chicago tornava tudo muito mais difícil ainda.
— Princesa, está na hora… — chamou e Olivia chiou. — Temos que ir, meu amor. A mamãe vai estar lá.
— Você promete? — Olivia encarou a mãe com olhos marejados. — Queria que Thomas e as meninas estivessem aqui.
— Já já vamos nos juntar de novo, princesa. — sorriu e acariciou os cabelos castanhos da menina. — Agora já pro banho! Ninguém merece uma porquinha fedorenta no primeiro dia de aula.
A menina deu risadas da brincadeira da mãe e levantou-se. viu sua pimpolha correr até o banheiro e desceu as escadas para prepará-la um café da manhã. A engenheira se distraiu enquanto cozinhava e seu telefone tocou. Era ele.
Oi, princesa. Bom dia. sorriu para a mulher.
— Oi, amor. Como você está?
Geller, vamos logo, cara! ouviu um de seus companheiros de time chamá-lo. — Eu estou bem. E vocês? Ontem te liguei, mas você não atendeu.
— É, eu tinha ido dormir. Estamos indo bem, mas Olive não está feliz com a escola nova.
Espero que isso passe… — ele disse baixinho. — Você está ansiosa com o novo emprego?
— Acho que sim. Não estou acostumada com adolescentes, mas não custa tentar. — disse baixinho.
Você arrasa, princesa. lhe deu um sorriso. — Eu preciso ir agora, te amo. Diga à Olive que também a amo e que ela vai ficar muito bem na nova escola.
— Tudo bem. Bom treino. — ela disse com um sorriso fraco.
Desde que saíram de Saint Louis, no Missouri, as coisas só pareciam piorar. havia sido contratado pelo St. Louis Blues e logo foi parar no Blackhawks. Havia brigado pela camisa azul royal por apenas uma temporada. E agora, no meio do ano letivo, foram obrigados a se mudar novamente. Quando o café ficou pronto, sua menininha desceu as escadas.
— Era o papai? — ela inquiriu. — Estou com saudades dele.
— Sim, querida. — colocou sua pequena, que já não era mais tão pequena assim, em cima do balcão. — Ele disse que te ama e que você vai arrasar no primeiro dia de aula.
— Pode mandar uma mensagem pra ele voltar pra casa? — ela perguntou. — Era legal quando a gente morava junto.
— Mas a gente mora, o papai só viaja muito pra trazer várias medalhas e troféus pra casa. Não foi legal quando a gente tirou foto com a taça da Stanley Cup quando o Bruins ganhou? — colocou o prato de panquecas e frutas do lado da filha. A menina pegou um morango e assentiu sorrindo. — Pois é! Se tudo der certo, nesta temporada seu pai vai trazer mais uma pra casa, princesa.
— Vocês não se amam mais? — a menina questionou. — Li na internet que pais que trabalham muito deixam de se amar.
— O quê? Você está vendo muitas coisas que não deve. — riu. — Eu amo seu pai tanto quanto eu amo você. E eu te amo muito, princesa.
Olivia deu uma risadinha. — Eu também te amo, mamãe.
As duas tomaram café da manhã juntas e saíram para reiniciar a vida. daria aula de laboratório de química para o ensino médio da escola de Olive. Sabia que a menina não suportaria ficar longe da mãe também. Entretanto, já dava aulas há uma semana porque o high school naquela escola começava uma semana antes.
— Mamãe estará aqui às duas. — ela disse baixinho e beijou a cabeça de Olive. — Eu te amo.
— Estou com medo. — ela disse baixinho.
— Eu sei. — sorriu. — Mas posso admitir uma coisa? Eu também estou. Mas tudo bem ter medo, nós somos fortes e conseguiremos. Eu te amo, princesa.
A menina abraçou a mãe e a viu sumir pelo corredor seguindo o fluxo de crianças. Em outro bloco, a mulher tinha aulas para dar. A escola em que trabalhava não era ruim, de longe, na verdade. Eram poucas que tinham tanta infraestrutura para oferecer laboratórios de química orgânica.
— Bom dia. — a professora entrou no local, encontrando seus alunos já preparados com os jalecos e o material de proteção. — Uau. Estou orgulhosa de vocês, prestaram bastante atenção no que eu disse aula passada.
deu sequência à aula e sentia os olhos ávidos encarando-a a cada passo que dava. Quer dizer, ela estava encantada com tamanha atenção por uma professora substituta. Para ela, ter uma relação com seus alunos era a parte mais importante de todas.
A mulher teve, até onze horas, aulas ininterruptas. Parou para seu almoço e aproveitou para dar espiada em sua filha. No outro bloco, encontrou Olive sentada num canto da mesa enquanto outras crianças conversavam e gritavam. Aquilo lhe partiu. E, de certa forma, aquilo fez com que ela tomasse uma decisão.
[...]

e Olive estavam sentadas no sofá assistindo ao filme favorito da menina: A Princesa e o Sapo. Olivia o assistiu tanto que sabia as falas, as próximas cenas e as dancinhas. adorava vê-la sorridente. E sempre seria por ela. Quando engravidou de Olive sequer sabia como ser mãe, então fez questão de mostrar à mulher que até mães não sabiam ser mães. Dizia que era mais sobre instinto do que saber qualquer coisa e, no final, ele tinha razão.
Sabia que a decisão que tinha tomado mais cedo seria a certa, apesar de destruí-la. o amava com todo coração e tinha que entender que aquele era o sonho dele. Lembrava-se das conversas noturnas que tiveram antes de começarem a namorar, quando dizia que hóquei era a coisa mais importante de sua vida e como ele queria que o esporte pudesse ajudar várias crianças que não tinham condições. Lembrava-se de quando seus olhos brilhavam ao ver um rinque ou como seus olhos brilhavam por ver que sua filha tinha talento para o esporte. E aquilo fazia seu peito inflar de amor. Por ele. Por ela. Por eles. Pela família que formaram.
— Chegou a parte, mamãe… — Olive deu um sorrisinho. — Isso ainda vai ter que esperar…
Quanto tempo vai esperar? sorriu para sua filha.
Estou sem tempo pra distrações, preciso trabalhar! — Olivia ficou de pé no sofá e deu a mão para sua mãe. sabia o que ela queria. Levantou-se para ajudá-la.
Eu quero netinhos pra cuidar! — sua mãe estava em sua altura. Elas faziam uma performance completa.
Esta cidade, na verdade… — Olivia fingiu pensar. — Faz a gente se acomodar, eu sei muito bem pra onde estou indo e sinto que qualquer dia vou chegar!
Antes que as duas pudessem se juntar para cantar, a porta foi aberta brutalmente. Um homem enorme com uniforme do Chicago Blackhawks apareceu sorridente. Aquele sorriso fez o coração de parar por um segundo.
Estou quase lá! Estou quase lá… cantou.
— Papai! — Olive gritou e saiu correndo até o pai.
Dizem por aí que sou doida, mas deixo pra lá! cantou e largou suas malas pelo chão da sala. — E problemas tive já, mas agora não vou desistir porque estou quase lá!
Olive pulou no colo do pai e ele a apertava como se ela fosse uma parte física dele. Quando, de fato, ela era. Olivia era a extensão de todos os seus melhore sonhos. A menininha era a sua cara, tinha seu talento no rinque — e, claro, da mãe também —, mas a coisa que ele mais amava sobre Olivia era que ela tinha a personalidade de . Era teimosa, cabeça dura e sempre franzia o nariz quando algo não lhe agradava. Amava tanto aquelas duas que sentia que seu coração, na verdade, fora dividido em dois e estava com elas.
juntou seu rosto ao da menina e os dois cantavam animados.
O meu pai me disse um dia, tudo pode acontecer, ver o sonho realizado só depende de você!
— Vai, mamãe! Canta. — Olive pediu. Assim, o olhar de caiu sobre os dois e seu coração parecia que explodiria, ela só não sabia de quê. Não estava preparada ainda, apesar de ter certeza de sua decisão. Mas realmente, aquilo melhoraria tudo?
Trabalhei bastante até aqui, agora as coisas vão fluir, só preciso insistir mais um pouco e conseguir! se deu por vencida e cantou pros dois.
Sem dizer nada, foi até sua mulher e a abraçou. Sentiu tanta falta de suas meninas. Amava muito sua profissão, é claro, mas odiava o fato de que ela era quem o mantinha longe das duas.
— Deus! — o homem a apertou. — Senti tanto sua falta.
— Também sentimos a sua, papai. — Olive disse baixinho.
— Eu amo tanto vocês. — ele beijou a bochecha das duas.
— Também te amamos. — sorriu e puxou os dois para se sentarem ao sofá.
A família se juntou e assistiram ao filme como se aquele fosse um momento quase que religioso. E era. não havia estado em casa por um longo tempo, sentia que não deveria estragar aquele momento.
Apesar de estar eufórica com a chegada de seu pai, Olivia dormiu rápido. continuava com as mãos entrelaçadas nas de seu marido e ela observava seu princesinha dormir. encarava as duas.
— Elas realmente crescem rápido. — o jogador disse baixo para não acordá-la.
— Sim. — sorriu. — Ela faz onze anos em breve. Eu nem sei o que dizer.
— Você não estava pronta pra ser mãe, um? — ele soltou a brincadeira no ar. — Acabou sendo a melhor de todas.
— Larga de ser bobo. — revirou os olhos. — Eu ainda não sei ser mãe. Eu só sigo.
— Duvido. — ele riu. — Vou levar essa princesinha pra dormir. Te vejo lá em cima?
voltou seu olhar para televisão. Estava nervosa. Quando estava subindo para o segundo andar, o chamou.
? — a mulher escondeu o lábio inferior debaixo do superior. — A gente pode conversar?
— Claro. — ele disse apreensivo. — Só vou tomar uma ducha.
Trinta minutos depois, o ala esquerdo do Blackhawks estava de volta ao primeiro andar da casa. estava com um copo de água e estava recostada no balcão da cozinha. se aproximou, ele vestia apenas uma calça de moletom. Seus cabelos estavam mais escuros por estarem molhados e seus olhos verdes se destacavam.
— O que aconteceu? — ele perguntou nervoso. — Por que você está assim?
— Eu quero me separar. — ela disse rápido. Era melhor arrancar o band-aid de uma vez só.
— Você o quê? Por quê? — Geller esganiçou.
— A gente quase não se vê e não se fala. Se você passa duas semanas em casa, três são fora. — neste patamar, suas lágrimas já caíam pelo rosto. — Eu não quero que desista seu sonho por mim. Não seria egoísta de pedir isso.
, você está maluca? — passou suas mãos pelos cabelos. — Você e a minha filha são a porra da minha vida toda! Eu não existo sem vocês.
— Eu quero voltar para Boston. Olive não vai se adaptar à nova escola… Eu não adaptei a este lugar.
— Então nós vamos embora. É simples.
— O quê? De jeito nenhum.
— Isso não é uma escolha sua. — ele se aproximou. — Peço que você mexa em suas memórias e lembre da coisa mais importante que eu te disse anos atrás.

— E te digo mais, … — ele sussurrou. podia ver as lágrimas se formarem nos olhos de seu marido porque seus corpos estavam grudados. — Eu consigo ver que você me ama. Eu te amo mais que tudo nesse mundo, linda.
estava verde, ele podia ver. Seu corpo estava agitado, sua pulsação martelava o peito e ela não tinha forças para se mexer.
— Eu também te amo. — ela acariciou sua bochecha. — Não desiste, por favor. Por nós.
— E vale a pena você desistir de nós pelo meu sonho?
— Vale. — ela disse. — Eu abriria mão de tudo por vocês.
— Uma pena… — ele colocou os fios loiros para trás da orelha dela. — Eu também.

— Lembre-se dos nossos momentos. — uma lágrima solitária escorreu. — Não se esqueça de cada segundo, veja que nós valemos a pena lutar. Por favor.
sentia-se enjoada. Ela nunca imaginou que estaria naquele patamar com . O amava tanto, mas aquela situação lhe fazia tão mal. Estava longe de todos, Olive não gostava de estar lá e se sentia sozinha longe de seus primos.
— Eu volto pra concentração em cinco dias. — ele avisou. — Pense sobre isso. E não se esqueça… Existem muitas coisas mais importantes pra mim do que hóquei, . Você e Olivia encabeçam a lista.
deu um beijinho na testa da mulher e subiu as escadas. Sabia que quando tomava decisões, para estar cem por certo do que queria, precisava pensar sozinha. Entretanto, naquele momento a única conversa que a engenheira teve foi com o vaso sanitário. Assim que colocou todo líquido ácido para fora, seu coração acelerou mais ainda. Estava nervosa a ponto de passar mal.
A professora se ajeitou entre as colchas do sofá e acabou dormindo até o dia seguinte.
[...]

Dois dias depois, ainda se sentia mal. Não apenas emocionalmente, mas fisicamente. Ela não parava de vomitar e não queria colocar nada para dentro há umas boas horas. Qualquer coisa a deixava enjoada.
— Se você não melhorar, linda, a gente vai pro hospital. — afirmou. — E eu não quero saber se você tem medo, não vou deixar você morrer aqui.
— Eu não estou morrendo.
— A mamãe vai morrer? — Olive perguntou e riu.
— Não. A mamãe vai pro hospital pra ficar bem forte, não vai, ? — a mulher fez que sim com a cabeça.
— Sim, princesa. — pegou a menina no colo e, sem querer, Olive esbarrou no peito da mãe. sentiu uma pontada de dor e respirou fundo para não assustar a criança. No entanto, o jogador do Blackhawks percebeu.
— Dê boa noite para sua mãe. É hora de dormir. — Geller pediu e Olive fez o que o pai mandou. A menininha subiu as escadas sem dizer nada e os dois a observaram sumir pelo corredor. Apesar de acharem que não, a pequena Olívia sabia que algo não estava certo.
Mais uma vez o enjoo de veio forte e ela despejou o líquido ácido de seu estômago no balde que e Olive deixaram para ela.
? — a chamou baixinho. Ele levantou o olhar para ele. — Rescindi meu contrato com o Blackhawks. Nós vamos voltar para Boston.
Ao ouvir aquilo, vomitou novamente. Mas de nervoso.
— Linda, eu estou assustado. — ele arregalou os olhos. — A última vez que você vomitou assim você estava grávida e qualq...
— Eu estou grávida. — ela afirmou. E tudo se encaixava. A sensibilidade, o enjoo, o inchaço. Tudo que ela pensou que seria do estresse, era, na verdade, um bebê.
— Linda, eu não vou te deixar ir para outro lado do país sem mim. — ele foi sincero. — Eu paro o mundo vocês três. Não desiste da gente.
desatou a chorar e o jogador a puxou para seu colo. abraçou sua mulher e acariciou os cabelos dela.
— Eu quero ir embora. — ela chorou. — Mas não quero te deixar.
— Eu vou aonde você for. — ele disse. — Eu e as minhas meninas.
— Dessa vez é um menino. — ela fungou e sussurrou.
— Liam. — ele sussurrou. levantou e o encarou. Por que escolhera logo o nome seu avô?
Você merece amar alguém que reconheça sua grandeza, sua capacidade e seu interior, alguém que te leia nas entrelinhas. disse baixinho a parte final da carta que carregava consigo para todos os cantos. E, naquela hora, se provou — mais uma vez — o grande amor da vida daquela mulher.
— Eu te amo. — ela o abraçou. — Eu não quero me separar. 
— Ótimo, linda, porque eu ia morrer sem vocês. — ele disse baixinho. — Não existe Geller sem sua família. Eu não aguentaria ficar longe de Olive, você e Liam.
— Você não vai. — ela enxugou as lágrimas que caíam.
— Amo vocês até a lua e Saturno.

Vinte e quatro anos depois.

— Mãe, pai... — Olívia os chamou.
e pararam de fazer a janta enquanto conversavam animadamente com Liam, o filho mais novo deles, de 8 anos.
— É assunto de adulto? — ele olhou pra irmã mais velha.
— Não, meu amor. Você pode ficar. — Olívia acariciou os cabelos loiros de Liam, que puxaram os da mãe. — Pai, mãe...
— Eu não sei se estou preparado para a conversa de virgindade agora. — comentou e respirou fundo. — Mas vamos lá.
— O quê? Não! Não é isso. — ela recusou o assunto imediatamente.
— Então fala, Liv. — a engenheira sorriu para filha.
— Eu já escolhi em qual Ivy League vou estudar. — ela disse ansiosa.
Os dois prenderam a respiração. Ambos sabiam que estavam lutando para que ela seguisse seu caminho, mas a briga em casa para que ela fosse para Harvard ou para Brown foi intensa. Como uma mistura dos dois, Olívia Geller-Brinley fez a sua escolha. E, como sempre, os surpreendeu.
— Eu vou pra Yale. — ela soltou a respiração — que nem sabia que estava prendendo. — Vou cursar Ciências Políticas em Yale.
— O QUÊ? — gritaram em uníssono.
Os próximos dias não seriam agradáveis para filha dos maiores defensores de Brown e Harvard. Sabia que assim que se acostumassem com a ideia, apoiariam a primogênita completamente. Mas tudo bem, Olívia estava acostumada a lidar com os dois teimosos que tinha em casa. E seria assim, por todo resto da vida. Quando se formaram, haviam discutido dizendo que sempre teriam um pedaço de Brown e Harvard no outro e agora teriam de Yale também. Mas o que importa é o amor pela família que tinham. E isso sempre os levaria pra frente. Sempre.

FIM.

Nota da autora: E chegamos ao fim da minha xodó. Queria agradecer vocês primeiramente por todo carinho que deram a essa estória desde o primeiro capítulo. Quando eu decidi postá-la, eu acreditava que não ia ser como é hoje. Envio a última atualização de Power Play agradecendo, com todo meu coração, às sete mil visualizações e todos os comentários queridos de vocês. Espero não tê-las decepcionado. Eu AMEI conhecer e dividir esses personagens com vocês, de verdade. Às minhas queridas scripters (Carol e Chris) um obrigada gigantão. Não seria possível sem vocês duas. A minha amiga de coração que sempre me apoiou, conversou e é minha fiel escudeira no Fanfic Obsession, a Fer. Amiga, se não fosse por você eu teria desistido.
Eu me diverti muito aqui e amo cada leitora que gasta uns minutinhos do seu dia pra ler a atualização e comentar algo. Se eu não desisti também é por vocês. Obrigada!! Com muito amor, Tris, Jas, Luke, Olivia e Liam. 




Outras Fanfics:

06. En Guerra - (Futebol - Karim Benzema)
King Of My Heart - (McFly - Danny Jones)



Essa fanfic é de total responsabilidade da autora, apenas faço o script. Qualquer erro, somente no e-mail
Para saber se a história tem atualização pendente, clique aqui


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