I.
Ser presidente da Coreia do Sul antes dos quarenta anos nunca fora uma meta para . No entanto, aconteceu. Não esperava que toda aquela gente se sentisse atraída por suas propostas e palavras bonitas; tinha certeza de que o senhor Song Jiho ganharia aquela eleição, estando no auge dos seus sessenta e sete anos, quarenta deles dedicados à política sul-coreana.
tivera uma boa campanha. A divulgação intensa, participação em projetos sociais e sua antiga contribuição para a economia do país foram os principais fatores para que ganhasse uma grande parcela dos eleitores. Porém, ainda assim, não estava confiante. Achava-se jovem, tinha poucos anos de política e seu partido era considerado ativista demais para um país tão conservador. Apoiava abertamente as “causas perdidas” e todas as minorias que existiam no mundo, o que talvez possa ter feito toda a população jovem e fervorosa enxergar nele um fiapo de esperança. Era grato por isso.
Vencera as eleições com uma pequena diferença de votos, quase um empate – 2% a mais na contagem final. E, aos trinta e sete, era presidente da Coreia do Sul, surpreendendo a si mesmo, sua família e a população. Até mesmo seus apoiadores, embora o defendessem com unhas e dentes, ainda tinham lá suas dúvidas.
Todavia, nem tudo eram flores – na verdade, nada era como parecia. Assim como 99% das pessoas envolvidas em política, tinha lá seus defeitos e escândalos vez ou outra. Conseguia livrar-se facilmente de tudo, graças ao seu advogado – e também irmão mais novo –, . O rapaz, já na casa dos trinta anos, era bom, sabia o que e como falar e fazer. Defendia como ninguém, era o braço direito do presidente desde o início de tudo, lá atrás, quando ainda estava estudando para firmar seu nome e ainda estava na casa dos vinte e poucos, começando a carreira política. Mas, mesmo com alguém tão bom em seu encalço, o mais velho ainda cometia erros. Alguns bobos, alguns extremos e que balançavam o país inteiro.
E, com todos os altos e baixos, mordomias e coisas feitas em prol da população, nem ninguém à sua volta haviam previsto o banho de sangue que se espalharia por todo o país na metade de seu mandato.
O país estava um caos.
Tudo começara com a morte do prefeito de Daegu, .
Ele fazia parte do partido de e eram amigos de longa data. Entraram no meio político juntos, depois de grandes e profundas pesquisas durante o projeto final da faculdade. Tinham ideais em comum, acreditavam nas mesmas coisas e sonhavam alto. O problema – para quem estava acima ou contra eles – era que sempre fora mais… intenso. Queria as coisas certas e sempre em prol da população, como a mídia fazia questão de mostrar. Não importava se faria algo bom para uma minoria ou para a classe alta; ele só queria fazer o bem de todos, sabia qual a parte da sociedade era privilegiada e qual não era. Seu foco era igualar, embora isso nunca funcionasse em lugar nenhum.
Políticos, médicos, policiais, estrangeiros, mulheres, LGBT... Não importava nada, absolutamente nada. Se o grupo de pessoas aparentasse precisar de alguma coisa ou mostrasse que havia, sim, algo diferente do habitual, tomaria aquilo para si e tentaria fazer o bem, suprir aquelas necessidades. Era um homem bom, maravilhoso, e não merecia o fim trágico que teve. Uma morte surpreendente, precoce e premeditada.
Fora um choque para todos, principalmente para quem estava sempre próximo ao prefeito.
O corpo de fora encontrado banhado em seu próprio sangue, como se tivesse sido torturado até a morte. Cortes profundos e certeiros, os olhos abertos e sem foco. Tudo tão bizarro e inesperado que sequer a mídia sabia como repassar aqueles fatos. Fora um choque mundial. Parecia um boneco de filme Hollywoodiano, não o homem vívido e alegre de sempre.
A polícia estava trabalhando a todo vapor com suas melhores equipes e a ajuda das Forças Armadas de Seul para manter a segurança, buscando por qualquer pista do assassino. Como era possível matar um prefeito sem que ninguém visse, numa casa extremamente segura? Por mais acessível que fosse, não andava sem seus guarda-costas – assim como sua esposa e filhas. Sabia bem dos riscos que corria e que qualquer ameaça, mesmo que mínima, poderia tornar-se realidade.
De acordo com o general das Forças Armadas, , responsável pela segurança, proteção e integridade do país – sobretudo dos políticos e suas famílias –, o perfil apontava para uma pessoa próxima, alguém que convivia naquele meio – e não somente do prefeito . Poderia ser qualquer um; um amigo, um segurança, um jardineiro. Nem mesmo os familiares estavam descartados. E pior, a vida de muitos outros corriam perigo também, já que, na semana seguinte, o corpo de um senador fora encontrado do mesmo jeito, na mesma bagunça. E, naquela vez, na capital.
Seul, assim como temiam, havia se tornado alvo. Se não corressem contra o tempo, não conseguiriam impedir uma outra possível vítima.
Ao que parecia, o assassino estava seguindo o padrão que outros assassinos usaram em países vizinhos. O mundo estava caótico e a morte de políticos e militares estava mais comum que deveria; era quase como um combinado entre terroristas de todo o planeta.
As ameaças eram semanais e, pelo que notaram, eram cumpridas com êxito. Sete dias era o prazo para proteger a próxima vítima, que já havia recebido seu recado – assim como , que preferiu ignorar a gravidade da situação.
Sete dias era tudo que tinham para proteger o presidente da Coreia do Sul, .
×
Estavam todos na sala de reuniões do presidente – o general e seu Primeiro-Sargento, os advogados, alguns senadores e prefeitos que também receberam algum tipo de ameaça, e, obviamente, o próprio .
A reunião fora marcada com teor de urgência, fazendo com que os ameaçados seguissem rapidamente para Seul, para que o General mostrasse a todos sua proposta de segurança – que inicialmente era voltada principalmente para o presidente.
— Bom dia a todos — o general começou de forma cordial, de pé. O rosto rígido e bem esculpido estava sério e os braços, cruzados em suas costas. A farda parecia lhe pesar mais que o comum, e a preocupação era explícita em suas feições. — Não temos muito tempo para resolver este problema, e peço-lhes desculpas por estar sendo tão falho em minhas missões de prender a pessoa que está instalando o caos em nosso país — continuou. — Passei a última noite pensando em algo útil para a segurança de nosso presidente e, há poucas horas, soube que temos mais dos nossos na mira desse assassino. Estou fazendo o possível e impossível para que todos continuem a salvo, mas precisamos focar na nossa próxima possível vítima. Pensando nisto, decidi que criar o Programa de Proteção ao Presidente seria o mais viável para o momento. Irei explicá-los como tudo funcionará — pausou por alguns instantes, seguindo para o centro da sala e ficando à frente de todos que permaneciam em completo silêncio.
— Permita-me interrompê-lo por um momento, general — , o presidente, começou com a voz calma. — Não se culpe tanto em relação ao que está acontecendo. Sabíamos que, ao redor do mundo, isso era um grande problema, e foi falha minha não ter levado a sério e não ter acreditado que isso poderia chegar até nós. Tudo tem seu tempo. Sinto muito pela morte precoce dos meus companheiros de trabalho e farei qualquer coisa para impedir que outros tomem o mesmo destino — suspirou com pesar. — E, se a única solução for minha morte, já que ficou bem claro na ameaça que querem a mim assim como os outros presidentes, não terei problemas em deixar que aconteça. Se este for o preço que terei de pagar para que minha população viva em paz, pagarei sem pestanejar.
— Seu sacrifício não será necessário, senhor presidente — o general rebateu. — Nem o seu, nem o dos outros. Ninguém mais morrerá sob meu comando. Nenhum de vocês, nenhum militar. Ninguém. E, se isso acontecer, me responsabilizarei totalmente. Agora, vamos às explicações.
respirou fundo e estufou o peito, encarando todos os presentes de cima. Com firmeza, voltou a falar calmamente:
— O Programa de Proteção ao Presidente é um projeto no qual soldados atuarão 24 horas por dia em prol da segurança do presidente. Escolhi a dedo meu mais competente Sargento do país, e ele, com meu auxílio, montou uma equipe de soldados que ficarão de prontidão para proteger o presidente e sua família. Todos à paisana, para que não haja desconfianças. A intenção é que todos, incluindo a população, achem que são apenas seguranças comuns. Qualquer dificuldade, meus homens irão me informar; qualquer desconfiança, eu estarei sob aviso. Ou seja, caso haja algum problema, basta um telefonema para que os soldados sejam trocados — falou devagar, deixando bem claro cada detalhe. — E, obviamente, fornecerei outras equipes para os demais ameaçados. Convocarei outra reunião para falarmos sobre isso até o fim do dia. Por ora, irei apenas apresentá-los ao Primeiro-Sargento de meu batalhão, — apontou para o homem fardado e sério que, até então, estava em total silêncio no canto da sala, como se apenas fizesse a segurança do General, discreto.
O sargento possuía o rosto longo e bem desenhado, o maxilar era marcado e o nariz fino, no ponto, combinando perfeitamente com os olhos pequenos. Parecia ter sido moldado dentro de uma sala de cirurgia de tão belo que era. Os cabelos eram negros e cortados bem baixinhos, porém estavam bem penteados sob a boina militar que vestia. Não era tão alto quanto os demais soldados – ou talvez os outros que eram grandes demais –, porém exalava uma autoridade tão forte quanto o General ao seu lado.
— Primeiro-Sargento se apresentando — bateu continência e, em seguida, fez uma reverência de 90° impecável. — Será uma honra servir ao senhor e sua família, presidente. Separei os melhores homens que temos e eu, pessoalmente, estou treinando novamente um a um especialmente para esta missão. Garanto-lhe que nenhum mal irá acontecer.
×
suspirou e ajustou o terno caro que vestia, levantando-se em seguida. A preocupação estava estampada em suas feições, enquanto o coração martelava no peito com pesar. Sentia-se culpado pelas mortes que haviam acontecido nos últimos dias, mas sabia que nada podia fazer. Tentava proteger a si e aqueles que amava o máximo que podia, além de ceder segurança para todos de seu partido e quaisquer outros políticos – estando estes ameaçados ou não. Era um bom homem, afinal. Mas não conseguira salvar a vida de um dos melhores amigos.
De forma automática, seguiu pelos longos corredores do prédio que o pertencia, onde fazia seus trabalhos como “dono” da nação.
— Você sabe que não deve se culpar tanto — a voz grave de seu irmão, , ecoou baixa e calma. — Não tínhamos como prever isso, hyung. Tenho certeza de que o General vai conseguir manter tudo sob controle.
— E, além de tudo, você pode contar comigo — uma voz diferente soou, fazendo com que sorrisse. — Primeiro-Sargento se apresentando — o homem bateu continência de um jeito brincalhão. — Me desculpem, estava saindo do banheiro e ouvi a conversa de vocês. Concordo com seu irmão, Joonie, não devia se culpar tanto. Vamos pegar quem fez isso.
— Você não deveria agir desta forma em horário de trabalho, sargento — alfinetou. — Nem se meter nas nossas conversas.
— Como se meu trabalho implicasse nos anos que nos conhecemos, — sorriu e deu de ombros, provocando o mais novo.
— Quando será que vocês irão parar de brigar? — finalmente disse, encarando ambos os homens. — E não tem como não me culpar. era um dos meus melhores amigos. Eu prometi que ninguém nunca chegaria tão perto dele e de sua família. Já pararam para pensar se o assassino tivesse ao menos tocado em uma das meninas ou na Naeun?
— , isso não foi culpa sua. Você fez sua parte — consolou. — Nós vamos fazer justiça.
— Detesto ter que concordar com seu irmão mais de uma vez — começou —, porém ele tem razão. Nós vamos pegar quem fez isso, e as meninas estão a salvo. Coloquei meus homens mais discretos de prontidão pela casa dos pais de . Eu lhe prometo, irmão, nenhum de nós vai morrer — o sargento murmurou com firmeza, parando de frente para e olhando-o nos olhos. — Assim como darei minha vida pela sua, ou de qualquer membro de sua família, se necessário. Você sabe que não costumo descumprir minhas promessas.
sentiu os olhos lacrimejarem ao ouvir palavras tão sinceras e tocantes. Sabia, sim, que podia contar sempre com aquele homem. era muito mais que apenas um sargento das Forças Armadas. Seu coração era enorme e sua palavra valia mais que qualquer coisa.
— Sabia que poderia contar com você — o presidente sorriu. — Mas devo dizer, essa história de você ser o melhor sargento foi coisa minha, na verdade. Tenho certeza de que você nem é isso tudo, Hobi. No entanto, eu precisava falar alguma baboseira para te colocar nisso, certo?
— Mas é claro, hyung — se intrometeu assim que vira o sargento abrir a boca para retrucar. — Ele não é mesmo isso tudo. Aposto que temos sargentos melhores em outras cidades.
soltou uma risada alta ao ouvir tais palavras, sabendo que não eram verdadeiras. adorava perturbá-lo, e simplesmente não o engolia, mas também sabia o quão bom militar ele era.
— Não digam coisas que nem mesmo vocês acreditam — revirou os olhos. — Sei bem que não tinham opção melhor do que eu; ninguém atira como eu. Ninguém os protege como eu. E, , cá entre nós — aproximou-se mais do advogado, sussurrando bem baixinho contra sua orelha para que o presidente não escutasse: — Ninguém fode como eu.
abriu a boca para responder, mas não teve tempo. O sargento já havia se afastado com um maldito sorriso ladino brincando na boca, seu irmão ainda os encarava de forma desconfiada e, bem próximo a eles, jazia o general e sua aura carrancuda, que sequer notaram se aproximar.
— Sargento. — A voz firme do General ecoou pelo corredor, fazendo com que virasse em direção à mesma e batesse continência automaticamente.
— Senhor General — disse de maneira firme, totalmente diferente de sua postura anterior.
— Os soldados escolhidos por você chegaram. Estão aguardando na sala de reuniões já prontos para serem apresentados ao presidente e sua família — o encarou seriamente. — Por que você não está lá?
— Desculpe, senhor — respondeu firmemente, engolindo seu orgulho. — Estava a caminho. Apenas parei para dar uma informação ao presidente.
— Espero que esta informação seja deveras importante, sargento — o General o fitou por inteiro, de cima a baixo. — Espero não o ver sem fazer algo útil ou ter que repreendê-lo novamente nesta missão. Sei o quão bom você é, seria uma pena não o ter conosco.
— Isso não irá se repetir — ainda firme, disse. — Estou indo agora mesmo, com licença.
E, após reverenciar cada um dos presentes, se retirou. De cabeça erguida, embora o orgulho estivesse ferido. Ser repreendido quando se é um soldado era comum; humilhante, porém comum. Agora, sendo um sargento renomado e conhecido, ia além de humilhação. No entanto, não se prenderia àquele pensamento; apenas se deixara levar pelo jeito de e seu ego masculino falara mais alto. o entenderia e, com um bocado de sorte, explicaria ao General que não fora algo tão terrível assim. Não a ponto de dispensá-lo da missão.
×
— Qual o seu problema com o ? — perguntou ao irmão enquanto caminhavam lado a lado. — Ele é um bom homem.
— Não há problema nenhum, hyung — ajustou a gravata em seu pescoço. — Apenas não consigo levá-lo a sério. É um bom sargento, claro que sim. Inteligente também, aprecio seu trabalho. Porém… Não consigo ver seriedade nele. Só quando leva uma prensa como a que o General deu minutos atrás.
— Sei — o presidente soltou um riso fraco. — De qualquer maneira, isso não interessa tanto. Vamos à última reunião do dia. Espero que a estratégia das Forças Armadas funcione.
— Funcionará, irmão — sorriu. — Eu tive acesso ao projeto e é bem interessante. Tem tudo para dar certo, você ficará salvo. A equipe de soldados é bem grande e só há homens capacitados, com missões realizadas em excelência. Devo admitir, desta vez, o trabalho do sargento foi ótimo.
— Não foi o General que escolheu a todos? — fitou o irmão de relance. — Desculpe, não prestei atenção quando ele estava explicando sobre o projeto.
— Eu desconfiei disso — o mais novo riu. — O general apenas recrutou o sargento , sabendo que ele lidaria melhor com você. Ele, então, recrutou os soldados e está responsável por treinar um a um novamente, tudo acompanhado do General, é claro. Mas todos os recrutas estavam sob supervisão do no batalhão. Tem até mesmo alguns rapazes mais jovens escalados por serem dedicados, fortes, rápidos… Essas coisas.
— Você deveria ser meu assessor, além de advogado — comentou em tom brincalhão.
— Eu ouvi isso, senhor presidente — seu assessor de verdade surgiu ao seu lado de repente, sorrindo e com uma pasta cheia embaixo do braço. Ele era baixinho, tinha os cabelos num tom dourado e bem penteados. Seu rosto era tão bonito que poderia ser comparado a um anjo, sem contar o sorriso de tirar o fôlego. — Não quero perder meu emprego para seu irmão, então posso lhe dar mais alguns detalhes a respeito do projeto, assim como o nome, idade e número de missões de cada um dos soldados — finalizou de forma suave, ainda sustentando um belo sorriso.
— Oh, ! — o presidente sorriu sem jeito, deixando suas covinhas à mostra. — Eu jamais trocaria você, ainda mais pelo . Admito que ele é melhor advogando. E eu aceito esses detalhes do projeto após a reunião.
— Você é quem manda, senhor presidente — respondeu e abriu a porta da sala de reuniões, deixando que os entrassem antes dele.
Assim que atravessou a grande porta da sala, todos os presentes se levantaram. e estavam no centro da sala, e, atrás deles, havia cerca de dez homens – que o presidente supôs ser a equipe pessoal que o sargento recrutara.
Alguns outros colegas estavam presentes, assim como seus pais, que, além de juízes, eram totalmente ligados à área.
Após os cumprimentos formais, todos se sentaram novamente e ficaram em silêncio.
— General — tomou a palavra. — Primeiro-Sargento . Obrigado por toda a dedicação. Por favor, apresentem-nos os recrutas.
— Boa tarde a todos — começou. — Como sabem, sou o Primeiro-Sargento das Forças Armadas de Seul, . É com enorme orgulho e honra que lhes apresento meus melhores soldados. Escolhi um a um, todos foram treinados por mim assim que iniciaram suas atividades na área militar, e farei questão de retreiná-los especialmente para esta missão. Todos têm pelo menos cinco anos de atuação, sobretudo em missões especiais; são bons com armas, lutas corpo a corpo, inteligentes e pensam rápido. Esses dez ficarão mais próximos do presidente e sua família, mas teremos outra equipe de prontidão espalhada por todo este prédio e a residência da família , assim como forneceremos aos demais alvos — o sargento fez uma pausa, aproximando-se dos outros soldados, parando ao lado do primeiro. — Qualquer problema que os senhores tenham com os soldados; seja caso de desrespeito, erro durante a atuação, acidentes e afins, podem falar diretamente comigo ou com o General se preferirem. Iremos puní-los e dispensá-los no mesmo instante — finalizou. — Vamos às apresentações. Soldado Lee, por favor, dê um passo à frente e apresente-se.
O soldado o obedeceu, batendo continência e encarando as pessoas importantes logo à frente.
— Soldado Lee Hojoon se apresentando — falou num tom de voz alto o suficiente para que todos ouvissem.
apenas assentiu, liberando que o soldado voltasse à posição anterior. Deu alguns passos e se aproximou do seguinte, fazendo um sinal com a mão para que ele fizesse o mesmo que o anterior.
E assim se seguiu pelos próximos minutos. O sargento explicava pontos altos e baixos de cada recruta que se apresentava, até chegar ao último – este que chamara a atenção de todos os presentes, não somente por parecer jovem demais, mas também por ser, abertamente, o favorito de suas autoridades.
Nas fichas dispostas sobre a mesa do presidente, isso estava bem frisado. O soldado tinha uma lista de missões bem sucedidas grande demais para a idade, viagens para reforçar combates e treinamentos extras. Era como se tivesse sido criado para a carreira militar, sem a chance de escolhas. Diziam que ele seria o sucessor do Primeiro-Sargento dentro de alguns anos, caso este fosse nomeado a General após a aposentadoria de . Aquele rapaz era a estrela do dia.
— Por fim, meu mais jovem soldado, porém o mais bem preparado dentre todos — se encaminhou até o homem, tentando esconder um sorriso orgulhoso. — Soldado , apresente-se por favor.
— Soldado se apresentando — a voz levemente suave, porém firme, contrastou com as feições sérias e o corpo rígido e grande.
— é o soldado mais completo que temos, como descrito em sua ficha — circulou o rapaz a passos lentos, como quando o avaliava no batalhão. — Ele já esteve na linha de frente de combates contra a Coreia do Norte, voltando vencedor, na maioria das vezes, sem disparar um tiro sequer. É bom com acordos, é observador, tem boa condição física — estufou o peito, parando ao lado do mais novo. — Ele é o mais inteligente desta equipe e será o responsável por ficar 24 horas por dia com o presidente, obviamente sem invadir sua privacidade. é discreto e sabe se misturar à multidão. Sua altura e jeito farão com que passe despercebido por todos, será facilmente confundido com um segurança comum.
continuou falando, mas o presidente sequer o ouvia mais. Seu foco estava totalmente naquele soldado sério e bem portado que ficaria em seu encalço pelos próximos dias – talvez meses, caso não resolvessem a situação.
— Ele não é muito jovem? — sussurrou para o irmão, que estava à sua direita. — Todos os recrutas têm mais de trinta anos, alguns estão aqui como soldados mas têm posições altas dentro dos batalhões. Ele é realmente um soldado. De guerra. Isto é necessário?
— Ele é bom, hyung — respondeu. — É o que importa. Ele não é tão jovem quanto parece, tem vinte e sete. Não é como se fosse um absurdo ele preferir ficar em campo que treinando marmanjos no batalhão. Ele poderia facilmente pegar o cargo de se quisesse. Ou ao menos uma posição abaixo, mas não quer.
— Você concorda em tê-lo em nosso encalço por tanto tempo? Acha que é capaz?
— Óbvio que concordo, antes ele que o sargento. Não comece com suas desconfianças. Seu melhor amigo de infância quem o escolheu, ele deve saber melhor do que nós o que você precisa ou não para sua segurança.
não respondeu depois disso, apenas voltou a prestar atenção. Os grandes olhos negros do soldado estavam sobre si, observando-o como se fosse apenas um mero caso a ser estudado e não uma pessoa, o contrário dos outros soldados, que o fitavam com admiração e um bocado de receio.
parecia ser um homem destemido e ousado, o que era realmente bom. Sem contar sua aparência física jovial e tão bonita, o soldado parecia ter saído de uma capa de revista voltada para moda. Decerto seria um ótimo modelo ou ídolo teen se quisesse.
— Não queime tanto os neurônios com isso, irmão — voltou a falar ao notar que os militares já haviam terminado. — Você pode escolher qualquer um deles para ser seu segurança pessoal, não é como se fosse se opor. Ele só acha que o garoto é o melhor para isso. Além do mais, é tudo trabalho de equipe. Todos estarão disponíveis o tempo inteiro, um precisa do outro. Qual o problema? Lembre-se de quando desconfiaram de que você não conseguiria ser um bom presidente por conta da idade. Veja onde está.
riu baixinho. Realmente ouvira muitas besteiras em relação à candidatura precoce e mais ainda após vencer, tinha uma responsabilidade e tanto nas costas. Naquele momento, conseguiu pensar que, talvez, com aquele soldado, fosse a mesma coisa. Identificou-se, por fim. O rapaz devia carregar um peso enorme nos ombros, principalmente por ouvir o tempo inteiro de seus superiores que era melhor – e, principalmente, por estar em frente àqueles que ia proteger.
— Tudo bem, .
Todos se levantaram após o encerramento do General . Alguns secretários e colegas saíram sem mais delongas por conta do trabalho em excesso que tinham, enquanto alguns dos ameaçados engataram numa conversa com o General.
Ao fundo, junto de e os soldados, estava o casal de juízes, pais de . Eles conversavam em tom baixo, como se tirassem dúvidas com o Sargento.
Logo, decidiu que seria conveniente se aproximar e participar do assunto e, quem sabe, conhecer um pouco mais daqueles soldados que entravam em sua vida de forma repentina.
era o tipo de pessoa que gostava de estar próximo de outras. Sentia-se bem assim. Um presidente diferente e até mesmo meio utópico. Não era nada comum ter políticos agindo daquela forma sem ser em época de eleição, mas ele gostava de se aproximar e ouvir as histórias de sua nação. Principalmente daqueles homens que fingiam ser fortes em tempo integral e serviam à pátria. Sabia que, no fundo, todos eram marmanjos medrosos como , seu amigo. Precisavam criar aquela carranca para protegerem os títulos que carregavam e manterem a fama de “durões”. Bobagem, queria mesmo era conhecê-los como pessoas; principalmente os soldados mais elogiados.
Em especial, , que chamara tanto sua atenção. Qual seria o motivo do rapaz ainda manter-se ali? Por que ele parecia ser diferente? Por que se recusava a sair de campo? Amar o trabalho provavelmente não era uma resposta verdadeira. Paixão por aquilo que fazia não era o suficiente para aceitar arriscar-se tanto a ponto de tentar resolver confrontos oferecendo acordos.
Numa guerra, não havia espaço para isso. Não era comum. Como nada em sua volta, durante seu mandato.
gostava do diferente, do inconveniente. Era para aquilo que trabalhava; precisava mostrar ao povo que nem tudo era como parecia, que manter aparências só por ser conveniente não era tão bom assim.
E aquele soldado parecia ser exatamente tudo o que precisava para isso.
tivera uma boa campanha. A divulgação intensa, participação em projetos sociais e sua antiga contribuição para a economia do país foram os principais fatores para que ganhasse uma grande parcela dos eleitores. Porém, ainda assim, não estava confiante. Achava-se jovem, tinha poucos anos de política e seu partido era considerado ativista demais para um país tão conservador. Apoiava abertamente as “causas perdidas” e todas as minorias que existiam no mundo, o que talvez possa ter feito toda a população jovem e fervorosa enxergar nele um fiapo de esperança. Era grato por isso.
Vencera as eleições com uma pequena diferença de votos, quase um empate – 2% a mais na contagem final. E, aos trinta e sete, era presidente da Coreia do Sul, surpreendendo a si mesmo, sua família e a população. Até mesmo seus apoiadores, embora o defendessem com unhas e dentes, ainda tinham lá suas dúvidas.
Todavia, nem tudo eram flores – na verdade, nada era como parecia. Assim como 99% das pessoas envolvidas em política, tinha lá seus defeitos e escândalos vez ou outra. Conseguia livrar-se facilmente de tudo, graças ao seu advogado – e também irmão mais novo –, . O rapaz, já na casa dos trinta anos, era bom, sabia o que e como falar e fazer. Defendia como ninguém, era o braço direito do presidente desde o início de tudo, lá atrás, quando ainda estava estudando para firmar seu nome e ainda estava na casa dos vinte e poucos, começando a carreira política. Mas, mesmo com alguém tão bom em seu encalço, o mais velho ainda cometia erros. Alguns bobos, alguns extremos e que balançavam o país inteiro.
E, com todos os altos e baixos, mordomias e coisas feitas em prol da população, nem ninguém à sua volta haviam previsto o banho de sangue que se espalharia por todo o país na metade de seu mandato.
O país estava um caos.
Tudo começara com a morte do prefeito de Daegu, .
Ele fazia parte do partido de e eram amigos de longa data. Entraram no meio político juntos, depois de grandes e profundas pesquisas durante o projeto final da faculdade. Tinham ideais em comum, acreditavam nas mesmas coisas e sonhavam alto. O problema – para quem estava acima ou contra eles – era que sempre fora mais… intenso. Queria as coisas certas e sempre em prol da população, como a mídia fazia questão de mostrar. Não importava se faria algo bom para uma minoria ou para a classe alta; ele só queria fazer o bem de todos, sabia qual a parte da sociedade era privilegiada e qual não era. Seu foco era igualar, embora isso nunca funcionasse em lugar nenhum.
Políticos, médicos, policiais, estrangeiros, mulheres, LGBT... Não importava nada, absolutamente nada. Se o grupo de pessoas aparentasse precisar de alguma coisa ou mostrasse que havia, sim, algo diferente do habitual, tomaria aquilo para si e tentaria fazer o bem, suprir aquelas necessidades. Era um homem bom, maravilhoso, e não merecia o fim trágico que teve. Uma morte surpreendente, precoce e premeditada.
Fora um choque para todos, principalmente para quem estava sempre próximo ao prefeito.
O corpo de fora encontrado banhado em seu próprio sangue, como se tivesse sido torturado até a morte. Cortes profundos e certeiros, os olhos abertos e sem foco. Tudo tão bizarro e inesperado que sequer a mídia sabia como repassar aqueles fatos. Fora um choque mundial. Parecia um boneco de filme Hollywoodiano, não o homem vívido e alegre de sempre.
A polícia estava trabalhando a todo vapor com suas melhores equipes e a ajuda das Forças Armadas de Seul para manter a segurança, buscando por qualquer pista do assassino. Como era possível matar um prefeito sem que ninguém visse, numa casa extremamente segura? Por mais acessível que fosse, não andava sem seus guarda-costas – assim como sua esposa e filhas. Sabia bem dos riscos que corria e que qualquer ameaça, mesmo que mínima, poderia tornar-se realidade.
De acordo com o general das Forças Armadas, , responsável pela segurança, proteção e integridade do país – sobretudo dos políticos e suas famílias –, o perfil apontava para uma pessoa próxima, alguém que convivia naquele meio – e não somente do prefeito . Poderia ser qualquer um; um amigo, um segurança, um jardineiro. Nem mesmo os familiares estavam descartados. E pior, a vida de muitos outros corriam perigo também, já que, na semana seguinte, o corpo de um senador fora encontrado do mesmo jeito, na mesma bagunça. E, naquela vez, na capital.
Seul, assim como temiam, havia se tornado alvo. Se não corressem contra o tempo, não conseguiriam impedir uma outra possível vítima.
Ao que parecia, o assassino estava seguindo o padrão que outros assassinos usaram em países vizinhos. O mundo estava caótico e a morte de políticos e militares estava mais comum que deveria; era quase como um combinado entre terroristas de todo o planeta.
As ameaças eram semanais e, pelo que notaram, eram cumpridas com êxito. Sete dias era o prazo para proteger a próxima vítima, que já havia recebido seu recado – assim como , que preferiu ignorar a gravidade da situação.
Sete dias era tudo que tinham para proteger o presidente da Coreia do Sul, .
Estavam todos na sala de reuniões do presidente – o general e seu Primeiro-Sargento, os advogados, alguns senadores e prefeitos que também receberam algum tipo de ameaça, e, obviamente, o próprio .
A reunião fora marcada com teor de urgência, fazendo com que os ameaçados seguissem rapidamente para Seul, para que o General mostrasse a todos sua proposta de segurança – que inicialmente era voltada principalmente para o presidente.
— Bom dia a todos — o general começou de forma cordial, de pé. O rosto rígido e bem esculpido estava sério e os braços, cruzados em suas costas. A farda parecia lhe pesar mais que o comum, e a preocupação era explícita em suas feições. — Não temos muito tempo para resolver este problema, e peço-lhes desculpas por estar sendo tão falho em minhas missões de prender a pessoa que está instalando o caos em nosso país — continuou. — Passei a última noite pensando em algo útil para a segurança de nosso presidente e, há poucas horas, soube que temos mais dos nossos na mira desse assassino. Estou fazendo o possível e impossível para que todos continuem a salvo, mas precisamos focar na nossa próxima possível vítima. Pensando nisto, decidi que criar o Programa de Proteção ao Presidente seria o mais viável para o momento. Irei explicá-los como tudo funcionará — pausou por alguns instantes, seguindo para o centro da sala e ficando à frente de todos que permaneciam em completo silêncio.
— Permita-me interrompê-lo por um momento, general — , o presidente, começou com a voz calma. — Não se culpe tanto em relação ao que está acontecendo. Sabíamos que, ao redor do mundo, isso era um grande problema, e foi falha minha não ter levado a sério e não ter acreditado que isso poderia chegar até nós. Tudo tem seu tempo. Sinto muito pela morte precoce dos meus companheiros de trabalho e farei qualquer coisa para impedir que outros tomem o mesmo destino — suspirou com pesar. — E, se a única solução for minha morte, já que ficou bem claro na ameaça que querem a mim assim como os outros presidentes, não terei problemas em deixar que aconteça. Se este for o preço que terei de pagar para que minha população viva em paz, pagarei sem pestanejar.
— Seu sacrifício não será necessário, senhor presidente — o general rebateu. — Nem o seu, nem o dos outros. Ninguém mais morrerá sob meu comando. Nenhum de vocês, nenhum militar. Ninguém. E, se isso acontecer, me responsabilizarei totalmente. Agora, vamos às explicações.
respirou fundo e estufou o peito, encarando todos os presentes de cima. Com firmeza, voltou a falar calmamente:
— O Programa de Proteção ao Presidente é um projeto no qual soldados atuarão 24 horas por dia em prol da segurança do presidente. Escolhi a dedo meu mais competente Sargento do país, e ele, com meu auxílio, montou uma equipe de soldados que ficarão de prontidão para proteger o presidente e sua família. Todos à paisana, para que não haja desconfianças. A intenção é que todos, incluindo a população, achem que são apenas seguranças comuns. Qualquer dificuldade, meus homens irão me informar; qualquer desconfiança, eu estarei sob aviso. Ou seja, caso haja algum problema, basta um telefonema para que os soldados sejam trocados — falou devagar, deixando bem claro cada detalhe. — E, obviamente, fornecerei outras equipes para os demais ameaçados. Convocarei outra reunião para falarmos sobre isso até o fim do dia. Por ora, irei apenas apresentá-los ao Primeiro-Sargento de meu batalhão, — apontou para o homem fardado e sério que, até então, estava em total silêncio no canto da sala, como se apenas fizesse a segurança do General, discreto.
O sargento possuía o rosto longo e bem desenhado, o maxilar era marcado e o nariz fino, no ponto, combinando perfeitamente com os olhos pequenos. Parecia ter sido moldado dentro de uma sala de cirurgia de tão belo que era. Os cabelos eram negros e cortados bem baixinhos, porém estavam bem penteados sob a boina militar que vestia. Não era tão alto quanto os demais soldados – ou talvez os outros que eram grandes demais –, porém exalava uma autoridade tão forte quanto o General ao seu lado.
— Primeiro-Sargento se apresentando — bateu continência e, em seguida, fez uma reverência de 90° impecável. — Será uma honra servir ao senhor e sua família, presidente. Separei os melhores homens que temos e eu, pessoalmente, estou treinando novamente um a um especialmente para esta missão. Garanto-lhe que nenhum mal irá acontecer.
suspirou e ajustou o terno caro que vestia, levantando-se em seguida. A preocupação estava estampada em suas feições, enquanto o coração martelava no peito com pesar. Sentia-se culpado pelas mortes que haviam acontecido nos últimos dias, mas sabia que nada podia fazer. Tentava proteger a si e aqueles que amava o máximo que podia, além de ceder segurança para todos de seu partido e quaisquer outros políticos – estando estes ameaçados ou não. Era um bom homem, afinal. Mas não conseguira salvar a vida de um dos melhores amigos.
De forma automática, seguiu pelos longos corredores do prédio que o pertencia, onde fazia seus trabalhos como “dono” da nação.
— Você sabe que não deve se culpar tanto — a voz grave de seu irmão, , ecoou baixa e calma. — Não tínhamos como prever isso, hyung. Tenho certeza de que o General vai conseguir manter tudo sob controle.
— E, além de tudo, você pode contar comigo — uma voz diferente soou, fazendo com que sorrisse. — Primeiro-Sargento se apresentando — o homem bateu continência de um jeito brincalhão. — Me desculpem, estava saindo do banheiro e ouvi a conversa de vocês. Concordo com seu irmão, Joonie, não devia se culpar tanto. Vamos pegar quem fez isso.
— Você não deveria agir desta forma em horário de trabalho, sargento — alfinetou. — Nem se meter nas nossas conversas.
— Como se meu trabalho implicasse nos anos que nos conhecemos, — sorriu e deu de ombros, provocando o mais novo.
— Quando será que vocês irão parar de brigar? — finalmente disse, encarando ambos os homens. — E não tem como não me culpar. era um dos meus melhores amigos. Eu prometi que ninguém nunca chegaria tão perto dele e de sua família. Já pararam para pensar se o assassino tivesse ao menos tocado em uma das meninas ou na Naeun?
— , isso não foi culpa sua. Você fez sua parte — consolou. — Nós vamos fazer justiça.
— Detesto ter que concordar com seu irmão mais de uma vez — começou —, porém ele tem razão. Nós vamos pegar quem fez isso, e as meninas estão a salvo. Coloquei meus homens mais discretos de prontidão pela casa dos pais de . Eu lhe prometo, irmão, nenhum de nós vai morrer — o sargento murmurou com firmeza, parando de frente para e olhando-o nos olhos. — Assim como darei minha vida pela sua, ou de qualquer membro de sua família, se necessário. Você sabe que não costumo descumprir minhas promessas.
sentiu os olhos lacrimejarem ao ouvir palavras tão sinceras e tocantes. Sabia, sim, que podia contar sempre com aquele homem. era muito mais que apenas um sargento das Forças Armadas. Seu coração era enorme e sua palavra valia mais que qualquer coisa.
— Sabia que poderia contar com você — o presidente sorriu. — Mas devo dizer, essa história de você ser o melhor sargento foi coisa minha, na verdade. Tenho certeza de que você nem é isso tudo, Hobi. No entanto, eu precisava falar alguma baboseira para te colocar nisso, certo?
— Mas é claro, hyung — se intrometeu assim que vira o sargento abrir a boca para retrucar. — Ele não é mesmo isso tudo. Aposto que temos sargentos melhores em outras cidades.
soltou uma risada alta ao ouvir tais palavras, sabendo que não eram verdadeiras. adorava perturbá-lo, e simplesmente não o engolia, mas também sabia o quão bom militar ele era.
— Não digam coisas que nem mesmo vocês acreditam — revirou os olhos. — Sei bem que não tinham opção melhor do que eu; ninguém atira como eu. Ninguém os protege como eu. E, , cá entre nós — aproximou-se mais do advogado, sussurrando bem baixinho contra sua orelha para que o presidente não escutasse: — Ninguém fode como eu.
abriu a boca para responder, mas não teve tempo. O sargento já havia se afastado com um maldito sorriso ladino brincando na boca, seu irmão ainda os encarava de forma desconfiada e, bem próximo a eles, jazia o general e sua aura carrancuda, que sequer notaram se aproximar.
— Sargento. — A voz firme do General ecoou pelo corredor, fazendo com que virasse em direção à mesma e batesse continência automaticamente.
— Senhor General — disse de maneira firme, totalmente diferente de sua postura anterior.
— Os soldados escolhidos por você chegaram. Estão aguardando na sala de reuniões já prontos para serem apresentados ao presidente e sua família — o encarou seriamente. — Por que você não está lá?
— Desculpe, senhor — respondeu firmemente, engolindo seu orgulho. — Estava a caminho. Apenas parei para dar uma informação ao presidente.
— Espero que esta informação seja deveras importante, sargento — o General o fitou por inteiro, de cima a baixo. — Espero não o ver sem fazer algo útil ou ter que repreendê-lo novamente nesta missão. Sei o quão bom você é, seria uma pena não o ter conosco.
— Isso não irá se repetir — ainda firme, disse. — Estou indo agora mesmo, com licença.
E, após reverenciar cada um dos presentes, se retirou. De cabeça erguida, embora o orgulho estivesse ferido. Ser repreendido quando se é um soldado era comum; humilhante, porém comum. Agora, sendo um sargento renomado e conhecido, ia além de humilhação. No entanto, não se prenderia àquele pensamento; apenas se deixara levar pelo jeito de e seu ego masculino falara mais alto. o entenderia e, com um bocado de sorte, explicaria ao General que não fora algo tão terrível assim. Não a ponto de dispensá-lo da missão.
— Qual o seu problema com o ? — perguntou ao irmão enquanto caminhavam lado a lado. — Ele é um bom homem.
— Não há problema nenhum, hyung — ajustou a gravata em seu pescoço. — Apenas não consigo levá-lo a sério. É um bom sargento, claro que sim. Inteligente também, aprecio seu trabalho. Porém… Não consigo ver seriedade nele. Só quando leva uma prensa como a que o General deu minutos atrás.
— Sei — o presidente soltou um riso fraco. — De qualquer maneira, isso não interessa tanto. Vamos à última reunião do dia. Espero que a estratégia das Forças Armadas funcione.
— Funcionará, irmão — sorriu. — Eu tive acesso ao projeto e é bem interessante. Tem tudo para dar certo, você ficará salvo. A equipe de soldados é bem grande e só há homens capacitados, com missões realizadas em excelência. Devo admitir, desta vez, o trabalho do sargento foi ótimo.
— Não foi o General que escolheu a todos? — fitou o irmão de relance. — Desculpe, não prestei atenção quando ele estava explicando sobre o projeto.
— Eu desconfiei disso — o mais novo riu. — O general apenas recrutou o sargento , sabendo que ele lidaria melhor com você. Ele, então, recrutou os soldados e está responsável por treinar um a um novamente, tudo acompanhado do General, é claro. Mas todos os recrutas estavam sob supervisão do no batalhão. Tem até mesmo alguns rapazes mais jovens escalados por serem dedicados, fortes, rápidos… Essas coisas.
— Você deveria ser meu assessor, além de advogado — comentou em tom brincalhão.
— Eu ouvi isso, senhor presidente — seu assessor de verdade surgiu ao seu lado de repente, sorrindo e com uma pasta cheia embaixo do braço. Ele era baixinho, tinha os cabelos num tom dourado e bem penteados. Seu rosto era tão bonito que poderia ser comparado a um anjo, sem contar o sorriso de tirar o fôlego. — Não quero perder meu emprego para seu irmão, então posso lhe dar mais alguns detalhes a respeito do projeto, assim como o nome, idade e número de missões de cada um dos soldados — finalizou de forma suave, ainda sustentando um belo sorriso.
— Oh, ! — o presidente sorriu sem jeito, deixando suas covinhas à mostra. — Eu jamais trocaria você, ainda mais pelo . Admito que ele é melhor advogando. E eu aceito esses detalhes do projeto após a reunião.
— Você é quem manda, senhor presidente — respondeu e abriu a porta da sala de reuniões, deixando que os entrassem antes dele.
Assim que atravessou a grande porta da sala, todos os presentes se levantaram. e estavam no centro da sala, e, atrás deles, havia cerca de dez homens – que o presidente supôs ser a equipe pessoal que o sargento recrutara.
Alguns outros colegas estavam presentes, assim como seus pais, que, além de juízes, eram totalmente ligados à área.
Após os cumprimentos formais, todos se sentaram novamente e ficaram em silêncio.
— General — tomou a palavra. — Primeiro-Sargento . Obrigado por toda a dedicação. Por favor, apresentem-nos os recrutas.
— Boa tarde a todos — começou. — Como sabem, sou o Primeiro-Sargento das Forças Armadas de Seul, . É com enorme orgulho e honra que lhes apresento meus melhores soldados. Escolhi um a um, todos foram treinados por mim assim que iniciaram suas atividades na área militar, e farei questão de retreiná-los especialmente para esta missão. Todos têm pelo menos cinco anos de atuação, sobretudo em missões especiais; são bons com armas, lutas corpo a corpo, inteligentes e pensam rápido. Esses dez ficarão mais próximos do presidente e sua família, mas teremos outra equipe de prontidão espalhada por todo este prédio e a residência da família , assim como forneceremos aos demais alvos — o sargento fez uma pausa, aproximando-se dos outros soldados, parando ao lado do primeiro. — Qualquer problema que os senhores tenham com os soldados; seja caso de desrespeito, erro durante a atuação, acidentes e afins, podem falar diretamente comigo ou com o General se preferirem. Iremos puní-los e dispensá-los no mesmo instante — finalizou. — Vamos às apresentações. Soldado Lee, por favor, dê um passo à frente e apresente-se.
O soldado o obedeceu, batendo continência e encarando as pessoas importantes logo à frente.
— Soldado Lee Hojoon se apresentando — falou num tom de voz alto o suficiente para que todos ouvissem.
apenas assentiu, liberando que o soldado voltasse à posição anterior. Deu alguns passos e se aproximou do seguinte, fazendo um sinal com a mão para que ele fizesse o mesmo que o anterior.
E assim se seguiu pelos próximos minutos. O sargento explicava pontos altos e baixos de cada recruta que se apresentava, até chegar ao último – este que chamara a atenção de todos os presentes, não somente por parecer jovem demais, mas também por ser, abertamente, o favorito de suas autoridades.
Nas fichas dispostas sobre a mesa do presidente, isso estava bem frisado. O soldado tinha uma lista de missões bem sucedidas grande demais para a idade, viagens para reforçar combates e treinamentos extras. Era como se tivesse sido criado para a carreira militar, sem a chance de escolhas. Diziam que ele seria o sucessor do Primeiro-Sargento dentro de alguns anos, caso este fosse nomeado a General após a aposentadoria de . Aquele rapaz era a estrela do dia.
— Por fim, meu mais jovem soldado, porém o mais bem preparado dentre todos — se encaminhou até o homem, tentando esconder um sorriso orgulhoso. — Soldado , apresente-se por favor.
— Soldado se apresentando — a voz levemente suave, porém firme, contrastou com as feições sérias e o corpo rígido e grande.
— é o soldado mais completo que temos, como descrito em sua ficha — circulou o rapaz a passos lentos, como quando o avaliava no batalhão. — Ele já esteve na linha de frente de combates contra a Coreia do Norte, voltando vencedor, na maioria das vezes, sem disparar um tiro sequer. É bom com acordos, é observador, tem boa condição física — estufou o peito, parando ao lado do mais novo. — Ele é o mais inteligente desta equipe e será o responsável por ficar 24 horas por dia com o presidente, obviamente sem invadir sua privacidade. é discreto e sabe se misturar à multidão. Sua altura e jeito farão com que passe despercebido por todos, será facilmente confundido com um segurança comum.
continuou falando, mas o presidente sequer o ouvia mais. Seu foco estava totalmente naquele soldado sério e bem portado que ficaria em seu encalço pelos próximos dias – talvez meses, caso não resolvessem a situação.
— Ele não é muito jovem? — sussurrou para o irmão, que estava à sua direita. — Todos os recrutas têm mais de trinta anos, alguns estão aqui como soldados mas têm posições altas dentro dos batalhões. Ele é realmente um soldado. De guerra. Isto é necessário?
— Ele é bom, hyung — respondeu. — É o que importa. Ele não é tão jovem quanto parece, tem vinte e sete. Não é como se fosse um absurdo ele preferir ficar em campo que treinando marmanjos no batalhão. Ele poderia facilmente pegar o cargo de se quisesse. Ou ao menos uma posição abaixo, mas não quer.
— Você concorda em tê-lo em nosso encalço por tanto tempo? Acha que é capaz?
— Óbvio que concordo, antes ele que o sargento. Não comece com suas desconfianças. Seu melhor amigo de infância quem o escolheu, ele deve saber melhor do que nós o que você precisa ou não para sua segurança.
não respondeu depois disso, apenas voltou a prestar atenção. Os grandes olhos negros do soldado estavam sobre si, observando-o como se fosse apenas um mero caso a ser estudado e não uma pessoa, o contrário dos outros soldados, que o fitavam com admiração e um bocado de receio.
parecia ser um homem destemido e ousado, o que era realmente bom. Sem contar sua aparência física jovial e tão bonita, o soldado parecia ter saído de uma capa de revista voltada para moda. Decerto seria um ótimo modelo ou ídolo teen se quisesse.
— Não queime tanto os neurônios com isso, irmão — voltou a falar ao notar que os militares já haviam terminado. — Você pode escolher qualquer um deles para ser seu segurança pessoal, não é como se fosse se opor. Ele só acha que o garoto é o melhor para isso. Além do mais, é tudo trabalho de equipe. Todos estarão disponíveis o tempo inteiro, um precisa do outro. Qual o problema? Lembre-se de quando desconfiaram de que você não conseguiria ser um bom presidente por conta da idade. Veja onde está.
riu baixinho. Realmente ouvira muitas besteiras em relação à candidatura precoce e mais ainda após vencer, tinha uma responsabilidade e tanto nas costas. Naquele momento, conseguiu pensar que, talvez, com aquele soldado, fosse a mesma coisa. Identificou-se, por fim. O rapaz devia carregar um peso enorme nos ombros, principalmente por ouvir o tempo inteiro de seus superiores que era melhor – e, principalmente, por estar em frente àqueles que ia proteger.
— Tudo bem, .
Todos se levantaram após o encerramento do General . Alguns secretários e colegas saíram sem mais delongas por conta do trabalho em excesso que tinham, enquanto alguns dos ameaçados engataram numa conversa com o General.
Ao fundo, junto de e os soldados, estava o casal de juízes, pais de . Eles conversavam em tom baixo, como se tirassem dúvidas com o Sargento.
Logo, decidiu que seria conveniente se aproximar e participar do assunto e, quem sabe, conhecer um pouco mais daqueles soldados que entravam em sua vida de forma repentina.
era o tipo de pessoa que gostava de estar próximo de outras. Sentia-se bem assim. Um presidente diferente e até mesmo meio utópico. Não era nada comum ter políticos agindo daquela forma sem ser em época de eleição, mas ele gostava de se aproximar e ouvir as histórias de sua nação. Principalmente daqueles homens que fingiam ser fortes em tempo integral e serviam à pátria. Sabia que, no fundo, todos eram marmanjos medrosos como , seu amigo. Precisavam criar aquela carranca para protegerem os títulos que carregavam e manterem a fama de “durões”. Bobagem, queria mesmo era conhecê-los como pessoas; principalmente os soldados mais elogiados.
Em especial, , que chamara tanto sua atenção. Qual seria o motivo do rapaz ainda manter-se ali? Por que ele parecia ser diferente? Por que se recusava a sair de campo? Amar o trabalho provavelmente não era uma resposta verdadeira. Paixão por aquilo que fazia não era o suficiente para aceitar arriscar-se tanto a ponto de tentar resolver confrontos oferecendo acordos.
Numa guerra, não havia espaço para isso. Não era comum. Como nada em sua volta, durante seu mandato.
gostava do diferente, do inconveniente. Era para aquilo que trabalhava; precisava mostrar ao povo que nem tudo era como parecia, que manter aparências só por ser conveniente não era tão bom assim.
E aquele soldado parecia ser exatamente tudo o que precisava para isso.
II.
O primeiro dia fazendo a segurança do presidente não estava sendo tão pesado quanto imaginara. Em sua cabeça, ele sairia a cada cinco minutos para resolver problemas. No entanto, permanecia sentado em sua cadeira de couro confortável dentro do gabinete bem arejado e de janelas amplas.
O soldado não fazia ideia do que era feito ali, tampouco tinha curiosidade. Mas sentia-se tão entediado que não sabia como explicar. Sua vontade era pegar o celular no bolso interno do terno que vestia – disseram que vestir aquela porcaria desconfortável o faria parecer um mero segurança comum – para apenas ficar jogando. Negociar na linha de frente com o exército norte-coreano parecia muito mais divertido que estar ali. Não que trabalho devesse, de fato, ser divertido o tempo inteiro; claro que não. Entendia isso, ainda mais em sua posição no meio militar.
Todavia, proteger o presidente de um assassino louco deveria ser, no mínimo, mais agitado.
estava quieto no canto da sala, atrás de . Dali, conseguia ter uma boa visão de tudo; a enorme janela do seu lado esquerdo estava fechada – uma recomendação dada por ele mesmo, já que o vidro poderia atrapalhar uma ação armada do bandido – lhe dava a visão de seus amigos no térreo, mesmo que mal conseguisse, de fato, enxergá-los – apenas o jeito de cada um se portar e se mover o saberia quem era quem – e à sua frente a porta, o que facilitaria qualquer ação sua. Tudo certo, tão certo que o incomodava.
Em sua concepção, o assassino estava ali dentro. Poderia ser qualquer um, até mesmo um de seus superiores – e isso sim o fazia temer pela carreira e pela vida.
— Você parece um robô — a voz do presidente ecoou calma, suave. — Sabe que não precisa agir desta forma o tempo inteiro, certo? Seus amigos estão logo ali, do outro lado da porta. Não é como se fossem invadir minha sala facilmente.
— É minha função, senhor presidente — respondeu. — Preciso estar sempre atento.
— Estou em meu gabinete, .
— e Choi Seunghoon estavam em suas próprias casas quando foram mortos, senhor.
deixou um riso fraco escapar. Realmente, não estava seguro em lugar nenhum.
O assunto morreu ali, o soldado não era muito de falar como alguns outros seguranças que já tivera. Talvez fosse bom, pois o rapaz tinha a atenção redobrada. Era mesmo um homem de confiança, como dissera na noite anterior, num jantar em sua casa.
Após alguns minutos, o telefone sobre a mesa de tocou.
— Sim? — o presidente atendeu sem tirar os olhos dos papéis em suas mãos. — O ? Pode entrar, é claro. Já disse que não precisa anunciar meu assessor, Hyemi — murmurou e aguardou uma resposta. — Como assim recomendação do General? Ele é meu assessor, deve ter passe livre para entrar em minha sala. Avise aos soldados para que nunca mais façam-na anunciar ou qualquer outro membro da minha família, obrigado.
E, assim, desligou.
— Você sabia que eles fariam vista grossa até para meu assessor, ?
— Qualquer pessoa é suspeita, senhor — o mais novo respondeu. — Temos ordens diretas para–
— Ele é meu assessor — o interrompeu ao mesmo tempo que adentrava sua sala. — Sei que você consegue falar mais rápido com o sargento , trate de avisá-lo que isso foi longe demais e não deve se repetir. Vocês me devem segurança, não tomar minhas decisões e controlar meu próprio gabinete.
— Tudo bem, senhor. Irei avisá-lo assim que possível e já deixarei meus companheiros cientes dessa decisão — falou de forma mansa e treinada. Não queria ter de assumir broncas alheias, mas não tinha o que fazer senão acatar e repassar para seus colegas e superiores.
— Não precisa se incomodar com isso, — murmurou, sentando-se na cadeira ao lado do mais velho. — Todo cuidado é pouco, não tem problema. Soube que até mesmo precisou ser anunciado. Tudo bem.
— Nada bem, — suspirou. — Mas não falemos sobre isso. O que tem para mim hoje?
×
suspirou aliviado assim que avistou seu Sargento no início do corredor, finalmente vindo em sua direção. Seu primeiro dia de trabalho havia acabado e teria algumas horas de descanso no batalhão, antes que seu superior voltasse para que pudessem treinar um pouco mais.
Os dias estavam sendo intensos desde que fora recrutado.
Sabia desde a semana anterior que seria chamado para aquela missão, mesmo que, quando soube, não tivesse nada confirmado; um recrutamento quase informal, bastou ver as informações nas centrais de notícias e um telefonema de . Fora tudo às pressas, sequer tivera direito aos seus dias de descanso. Mal havia finalizado uma missão em Busan e já havia sido enviado para outra, justo com o homem mais poderoso do país.
Ou seja, no fim de tudo, sequer tinha tempo de dormir, assim como todos os outros recrutas. Treinaram na manhã anterior e, quando foram apresentados, logo começaram a trabalhar com as coisas básicas – estudaram a família , os amigos próximos, como tratar cada um, o que fazer ou não, o que e como vestir, uma infinidade de coisas. Os treinos com o Primeiro-Sargento acabaram ficando para o único horário livre: a madrugada. E, após o fim do treinamento, todos os recrutas passariam 24 horas por dia grudados no presidente, até que a ameaça se dissipasse. Principalmente ele, que era o segurança pessoal.
— Primeiro-Sargento — falou junto aos outros, batendo continência.
O presidente também estava ali próximo a eles junto com seu assessor, observando a forma com que todos aqueles homens obedeciam e respeitavam . Era até engraçado, já que, quando criança e adolescente, era impossível levar aquele homem a sério. Atualmente, na vida adulta, ainda era. Na vida pessoal, ele era um homem muito brincalhão e risonho, uma imagem totalmente diferente da que tinha quando se transformava no Primeiro-Sargento .
— Boa noite, senhor presidente — murmurou após sinalizar para que os soldados voltassem ao normal. — .
— Olá, Sargento — respondeu de maneira educada. — Já estou de saída, foi um prazer vê-lo — sorriu e virou-se para . — Até amanhã, senhor presidente.
apenas sorriu, estava cansado demais para despedidas longas e ainda tinha uma conversa séria para ter com – este que apenas assentiu para ; parecia estar no mesmo estado de cansaço.
— Não me olhe assim — sussurrou bem próximo a . — Não temos direito de interferir em sua privacidade, mas o General achou que seria mais viável trabalhar desse jeito.
— Você pode dar um jeito nisso? — perguntou, tão baixo quanto. — Não quero vocês controlando minha vida. Já bastou o soldado dentro do meu gabinete.
— Já dei um jeito — se afastou. — Em relação a … É melhor que ele continue com você em todos os lugares de fácil acesso.
— Minha sala não tem fácil acesso, .
— Você acha que não, mas tem. Apenas deixe-nos fazer o nosso trabalho. É para o seu bem. Em sua casa ninguém entrará, eu garanto. Mas, aqui, preciso que fiquem em cima de você o tempo inteiro.
— Todos eles irão para minha casa? — o presidente questionou sem cochichar mais, apontando para os soldados, que continuavam em silêncio, respeitando a autoridade (e confiança) de .
— Já tem uma equipe lá. Esses irão treinar esta noite — respondeu e se virou para os soldados. — Soldados Lee, , Song, Choi e Bang, estão dispensados pelas próximas horas. Descansem e me encontrem para o treinamento no mesmo horário de sempre. Os demais me acompanhem na escolta do presidente até sua casa e, após isso, podem voltar ao batalhão.
Todos concordaram e logo saíram. e dois soldados, sendo um deles , foram no mesmo carro que , enquanto os outros foram espalhados junto aos seguranças padrão.
— — chamou o amigo, não se importando em soar formalmente. — Por que vocês me deixam trancado com um soldado no meu gabinete e na minha casa ninguém entra, sendo que todos morreram dentro das próprias casas?
— Se o assassino realmente quer você, ele vai entrar com ou sem soldado — começou, adotando a postura de sargento sem ao menos perceber. — Precisamos atraí-lo de alguma forma. Ele sabe que estamos redobrando sua segurança, sabe que temos armadilhas prontas, mas espera que vamos cometer o mesmo erro anterior: deixá-lo entrar. Nós vamos, sim, mas você terá uma grande quantidade de soldados pelo seu quintal, em todas as entradas e na sala de câmeras da sua casa. Ele está cercado. É arriscado, claro que é, mas é tudo que temos por enquanto. Ele não vai te atacar agora, tenho certeza. Mas se ele vir, durante o dia, a quantidade de segurança que você tem, pode perder o controle e te atacar de repente. Na rua, na sua sala… Em qualquer lugar que ele tenha como se posicionar para te metralhar, mesmo que ele prefira torturar. Nós queremos vê-lo tonto, sem controle, pronto para se entregar para nós. Isso pode acontecer agora, amanhã, daqui a um mês ou três anos. Estamos fazendo o contrário de tudo que ele espera, não temos opção melhor.
— Isso continua sem fazer muito sentido para mim, mas confiarei no trabalho de vocês porque nunca me decepcionaram — disse de forma cansada, dando de ombros.
Tinha certos momentos que tudo aquilo era demais para si. Seu corpo estava cansado, mas seu cérebro não parava de pensar, e isso o fazia se cansar em dobro. Sentia medo, repulsa, peso na consciência e mais medo, tudo ao mesmo tempo; pois sabia o porquê de tudo aquilo estar acontecendo. Tinha certeza de que se não tivesse sua família e amigos próximos como alicerce, já teria desistido de tudo. Queria, sim, mudar o mundo, principalmente seu país, e ser relevante para a história, mas era tudo tão difícil que desistir sempre parecia a melhor opção. No entanto, pessoas como e ajudavam-no a manter-se firme, mesmo que estivesse aos frangalhos por dentro.
×
Após deixar em casa são e salvo, voltou para o batalhão junto de seus soldados. Conversaram sobre o dia, tiraram dúvidas e trocaram experiências; o sargento era sempre muito acessível e atencioso, embora rígido algumas vezes – e isso era o que o diferenciava dos outros.
Já chegava perto das duas da manhã quando decidiu que seu corpo precisava de um certo descanso. Estavam todos na academia improvisada do lado de fora do batalhão, uns faziam musculação – flexões, abdominais e afins –, e outros treinavam luta corpo a corpo. Era o trabalho de auxiliar em todas as atividades, ao mesmo tempo que tentava melhorar suas próprias habilidades. Mas seu corpo parecia não obedecer mais, estava cada vez mais difícil aguentar tudo aquilo. O trabalho em excesso estava destruindo-o aos poucos, assim como seus soldados. Todos estavam explicitamente cansados física e mentalmente.
Com exceção de , que continuava fazendo exercícios na barra como se estivesse apenas brincando. O rapaz segurava-se com vontade e calma na barra de ferro, que estava presa entre outras duas, subindo e descendo como se não tivesse feito nada durante o dia inteiro e aquilo o revigorasse. O suor lhe escorria por inteiro, fazendo com que a camiseta branca grudasse em seu corpo e ficasse transparente.
riu. Sentia falta dos seus vinte e poucos anos também. Não estava sendo fácil aceitar que já estava batendo à porta dos quarenta e seus soldados continuavam na flor de idade. Tsc.
— Sargento — a voz de o tirou de seus devaneios. — Posso falar com o senhor?
— Claro, . Sente-se — apontou para o chão ao seu lado. — O que aconteceu?
— Eu… Bem, passei o dia inteiro grudado ao presidente hoje — o soldado começou meio sem jeito. — Não sei se posso me intrometer nisso, mas gostaria de perguntar mesmo assim. Tem algum motivo especial para estarmos fazendo vista grossa até mesmo para os familiares dele?
suspirou e tirou a boina que usava, deixando os cabelos suados mais bagunçados ainda.
— Veja bem, — o sargento o encarou. — Qualquer um é suspeito. Infelizmente, temos que desconfiar até mesmo da sombra do presidente. É nosso trabalho protegê-lo.
— Mas, assim como eu, tenho certeza de que o senhor não desconfia dos pais ou irmão dele — rebateu. — Já o assessor…
— O que tem , ? — o perguntou, levemente confuso, porém desconfiado.
— Eu não sei — respondeu de imediato. — Quero dizer… Ele me pareceu passivo demais em relação a tudo. Sei que existem profissionais que são assim, principalmente na posição dele. Mas ele pareceu aceitar tudo bem demais, compreensivo demais. Já , quando foi barrado na porta, ligou imediatamente para o General, afirmando que estávamos invadindo a privacidade do presidente. Mesmo assim, o General não mudou as ordens. O presidente me mandou falar sobre isso com você e, pelo que eu soube, também foi até vocês. Mas o assessor apenas se contentou com a situação, sendo que tem liberdade e todo o direito de se sentir incomodado com isso. Ele estava polido demais na nossa frente. E, durante o dia, saiu constantemente para falar ao telefone.
— O que quer dizer com isso, ? — o encarou nos olhos. — O trabalho de é esse, ficar para lá e para cá o tempo inteiro.
— Sim, senhor, eu sei — foi firme. — Mas já foi assessor de , certo? E sei que ele era bem próximo do senador Choi. É apenas uma suspeita. Seria bom se colocássemos alguém de olho nele e na secretária. O presidente sempre foi de “reciclar funcionários”... Secretária que já passou por vários deputados, assessor que compartilhava com o amigo, outros funcionários de posições mais baixas que ele sempre fora próximo… Enfim, estou apenas comentando. Foi algo que me deixou um pouco… intrigado.
o fitou em silêncio. Tinha as mesmas desconfianças que no começo, mas tirou-as da cabeça por lembrar-se o tempo que todos trabalhavam com , sendo uma grande porcentagem dos funcionários desde quando ele ao menos era um candidato à presidência. Não fazia tanto sentido desconfiar assim, mas…
— Tudo bem, . Vou pedir para que alguém fique de olho nesses funcionários.
×
A madrugada passou num piscar de olhos, e, logo cedo, por volta das oito da manhã, estavam todos em uma sala de reuniões um pouco maior que a do presidente discutindo algum projeto voltado para o subúrbio.
encontrava-se em silêncio, apenas observando todas aquelas pessoas falando ao mesmo tempo de forma afobada. Uns defendiam a ideia de que seria interessante criar um programa de atividades para crianças e adolescentes que não tinham acesso à educação de qualidade, e outros eram totalmente contra, alegando que tinham mais gastos para cobrir naquele ano e que as crianças podiam esperar.
parecia exausto de toda aquela bobeira, apenas queria dar qualidade de vida para todos de seu país, e aquilo era uma ideia de . O amigo ficaria orgulhoso caso conseguisse aprovar aquilo; mas entrar num consenso parecia difícil e distante demais.
Passaram horas ali debatendo sobre aquilo, e, ao longe, tudo que conseguia pensar era em suas suspeitas. Não era possível que funcionários fossem tão bonzinhos daquela forma. Não era comum. Havia alguma coisa errada ali, tinha certeza. Entretanto, teria que aguardar seus companheiros que, como prometido, colocara no encalço dos funcionários em questão. Todos que eram em comum entre as vítimas e o presidente.
Isso, obviamente, não o tirava completamente de jogada. O soldado ainda tinha em mente que, em alguns poucos momentos do dia, poderia olhar por si só. Ainda tinha os poucos minutos do almoço. As idas ao banheiro. Os momentos em que o presidente se trancava com o General para discutir sobre assuntos sigilosos. Daria tempo, sim, de ficar na espreita, observando cada um deles e sanando sua curiosidade.
— O que tanto observa? — perguntou no tom de voz baixo e calmo como habitual, fazendo com que notasse que se desligara demais; sequer notara sua aproximação e que algumas pessoas já haviam finalmente deixado a sala.
— Nada em especial, senhor — respondeu. — Apenas estou fazendo meu trabalho.
— Hmm — o presidente murmurou. — Entendo. Mas está dispensado por agora, . Estou indo encontrar seu General, vá descansar.
— Certo. Eu o acompanho até seu gabinete.
— Não precisa disso, rapaz. Meu gabinete é no fim do corredor.
— É o caminho que devo seguir para tomar um café e descansar, senhor presidente — deu um pequeno sorriso, mostrando-se mais receptivo. — Por favor.
suspirou. Aquele soldado era esperto demais. Cordial demais. Educado demais.
Bonito demais.
Balançou a cabeça e seguiu o caminho que o mais novo indicava com as mãos. Não havia escapatória, ele realmente ficaria em seu encalço o tempo inteiro.
Caminharam juntos em silêncio por todo o corredor, cada um perdido em seus pensamentos. ainda se sentia na obrigação de fazer algo em nome de , e queria entender o porquê dos funcionários dali serem tão passivos em relação a decisões drásticas.
Estavam num período conturbado. A Coreia do Sul já não parecia mais o país de meses antes; as coisas estavam bagunçadas e não estavam dando conta de todas as pendências. Estava tudo tão confuso e complexo que tiveram que recorrer às Forças Armadas para tentarem, assim, dar alguma proteção extra às pessoas – e essa nunca era uma boa opção. Era um pedido de socorro mútuo, uma prova de que tudo já havia ido pelos ares.
— Senhor General — abandonou seus devaneios, batendo continência ao avistar o superior parado à porta do gabinete.
— Soldado. Senhor presidente — cumprimentou. — Está dispensado por enquanto, . Vá descansar.
— Sim, senhor. Com licença.
Após reverenciar ambos os homens, saiu em direção à saleta que os funcionários usavam para descansar, conversar e até mesmo lanchar. Era o único lugar que conseguia ficar em silêncio absoluto, principalmente naquele horário – e também podia aproveitar aqueles poucos minutos para ligar para os companheiros (ou até mesmo seu Sargento) atrás de mais informações sobre as ameaças.
O assassino estava quieto há tempo demais, e isso era no mínimo intrigante, já que os sustos não costumavam parar. Todo dia tinha um aviso, uma ameaça, uma pontinha do caos.
No entanto, tinha certeza, o assassino estava tenso. Sentia-se mais ameaçado que suas vítimas, estava “conhecendo o terreno”. Justamente por isso o soldado acreditava piamente que o maldito estava ali, bem debaixo do nariz de todo mundo; e ninguém além do presidente poderia descobrir quem era. Tratava-se claramente de algum (ou alguns, por que não?) funcionário daquele prédio, nenhuma equipe de inteligência iria encontrar; nem mesmo eles, da segurança.
O assassino poderia agir de forma silenciosa se não trabalhasse sozinho. Comidas e bebidas seriam excelentes escolhas para provar que, mesmo por baixo e em desvantagem, ele tinha o controle da situação e, se quisesse, já teria matado o presidente.
Pensando nessa possibilidade, só descansava na saleta média, onde havia petiscos e cafés que eram levados ao presidente de hora em hora. Ele teria acesso a tudo de qualquer forma.
Se fosse um homem religioso, diria que Deus estava lhe enviando um sinal logo que se aproximara da entrada do local. As vozes que ecoavam dali fizeram-no parar e pensar se deveria ou não interferir, mas o pensamento durou meros segundos.
O soldado decidiu permanecer ali, silencioso e misturado às sombras do corredor vazio, como costumava fazer todos os dias.
e Hyemi conversavam em tons baixos, calmos, como se estivessem bem próximos um do outro e tivessem medo de alguém aparecer. Poderia parecer cisma, uma teoria de conspiração criada pela mente perturbada de um soldado igualmente perturbado, mas o alarme de perigo que carregava apitava alto e em bom tom todas as vezes que encontrava aqueles dois.
, que era um homem treinado para obedecer e servir seu país, tinha lá seus momentos. Já fora advertido por desrespeitar seu Sargento e seu General, sendo que apenas quis se impor e declarar sua opinião abertamente. Sabia como era vir e estar debaixo de alguém. E não aceitava, era humano, tinha suas opiniões, crenças e ideais. Simplesmente não entendia, nem ao menos aceitava, o fato de e Hyemi apenas aceitarem todas as coisas calados. Ninguém aceitaria; e até mesmo houve boatos pelos corredores de que outros funcionários se sentiram invadidos, ofendidos e amedrontados pela quantidade de militares rondando todo o prédio, as ruas e a cidade como um todo.
A população estava tensa, alarmada.
Aqueles dois, não.
Por quê?
— Precisamos de um a longo prazo — voltou a falar, acordando o soldado do lado de fora. — Estamos muito tempo sem nos mover, precisamos de algo que nos deixe dois passos à frente.
“Um o quê?”, perguntou-se.
— Eu vou ver o que consigo, Jiminnie — Hyemi respondeu com a voz mansa e de forma íntima. — Não é tão fácil conseguir essas coisas, você sabe.
— Você conseguiu para , tenho certeza de que conseguirá para o presidente também — foi firme. — Precisamos disso urgentemente, Hyemi. Tente com todos seus contatos, sei que algum vai ceder. Eles não sabem dizer não para você.
— É arriscado, mas irei dar o meu melhor — a mulher respondeu, e logo o som de cadeiras arrastando soou pelo ambiente. — Não faça com que eu me arrependa de te ajudar, Jiminnie. Você sabe que tudo pode cair nas minhas costas, e esse monte de militares na nossa cola não ajuda em nada.
— Apenas faça seu trabalho, Hyemi — ordenou. — Do resto, cuido eu.
ficou o mais silencioso que conseguiu, encostando-se totalmente numa das paredes. Sabia que Hyemi seguiria para a direção contrária, então apenas torceu para que a mulher não o visse ali. Sua cabeça estava a mil, precisava urgentemente conversar com os responsáveis pela vigia de e Lee Hyemi. Algo estava errado, ele tinha certeza.
Não demorou muito para a porta abrir e fechar, fazendo-o olhar para o lado. No entanto, diferente do que esperava, não fora capaz de esconder-se melhor, e o olhar intrigado das secretária já estava sobre si.
— Soldado — cumprimentou, sorrindo de maneira educada.
— Senhorita Lee, olá — respondeu cordial, ajustando o terno no corpo e caminhando até a porta. — Como vai?
— Vou bem, obrigada. E você, com muito trabalho?
— Sim, mas estou bem — o soldado sorriu. — Vou tomar um café rápido, meu descanso não é tão longo, com licença.
A mulher não o respondeu, apenas olhou-o de cima a baixo e assentiu em seguida. Mas não lhe deu tempo para medi-lo tão a fundo e adentrou a sala onde estava sozinho.
Exatamente como desejava. Hyemi não importava tanto naquele momento, já que, pela conversa ouvida, parecia agir mais.
— Soldado — o assessor cumprimentou, dando um gole na xícara que segurava. — Boa tarde.
— Boa tarde, — respondeu de maneira calma, seguindo até à máquina de café.
— O presidente já foi conversar com o General? — o loiro puxou assunto, notando o desconforto do soldado só em estar ali. — Ele me disse que iriam conversar hoje sobre as pequenas invasões em sua privacidade.
— Isso não nos diz respeito, — respondeu de maneira calma, porém defensiva, dando um longo gole no café amargo. — Mas, sim, ele está com o General. E nós não estamos invadindo a privacidade de ninguém; estamos aqui apenas para proteger todos vocês.
— É inevitável, soldado — soltou um riso forçado. — Vocês estão aqui para dar proteção, todos nós sabemos. Mas controlam até quantas vezes cada ameaçado vai ao banheiro, não é como se alguém fosse atacá-los aqui dentro. Até mesmo eu, um mero assessor, fui barrado na entrada. Cá entre nós, isso é mesmo necessário?
— Sendo sincero, , sim, é necessário — puxou uma das cadeiras, virando-a ao contrário e se sentando com o peito totalmente colado ao encosto da mesma. — É possível e até mesmo mais fácil o ataque acontecer aqui dentro. Invasão de privacidade deveria ser a última das preocupações.
— Nós que fomos barrados jamais faríamos algo contra o presidente, soldado.
— Quer dizer que agora você se importa em opinar? — provocou, finalizando seu café. — Não estava tudo bem por você passar por isso?
— Nunca está tudo bem, cara — riu de novo. — Vai dizer que não age de forma pacífica na frente dos seus superiores? Não somos tão diferentes assim, .
— Não acredito em você — foi direto, fazendo com que parasse o movimento de levar a xícara à boca na metade, fitando-o nos olhos.
— Como é? Está suspeitando de mim agora?
— Eu suspeito de todos, . Faz parte do meu trabalho. Mas você… Não sei, me chama atenção.
— E posso saber por quê?
— No que você e Hyemi precisam estar dois passos à frente?
— Ouvindo atrás das portas, soldado? E privacidade realmente tem que ser a última das preocupações?
— Responda a minha pergunta, .
— Por que não responde as minhas, ?
— Eu não tenho que responder pergunta alguma — se levantou. — Apenas tome cuidado com o que faz e fala. Caso eu sinta que você é capaz de prejudicar as investigações ou de fazer qualquer coisa contra o presidente, não irei hesitar em enfiar uma bala no meio da sua testa.
— Isso é uma ameaça, soldado? — se levantou também, encarando-o firmemente. — Caso seja, serei obrigado a reportá-lo aos seus superiores. Isso não está certo.
— Entenda como quiser, fale com quem quiser também — deu de ombros. — Estou aqui para proteger o presidente e o farei enquanto for minha missão. Não me incomodarei de passar por cima de você, . Não é a primeira vez que ouço alguma conversa sua entrecortada e sei que somente meus relatos não são o suficiente para acusá-lo de qualquer coisa. Mas você está sob aviso.
— Vocês estão me investigando? — insistiu. — Isso é um absurdo! Vocês estão investigando cada um de nós sem motivo algum, sem nenhuma prova a respeito de nada. É por isso que não gostam de vocês, militares.
apenas riu. Havia alguma coisa muito estranha naquele homem, e ele descobriria o quê.
— Passar bem, .
Foi a única coisa que disse antes de deixar a sala.
×
respirou fundo e enterrou o rosto nas mãos. Sua vida estava totalmente de cabeça para baixo, e, como se não bastasse ter que encontrar constantemente com militares, ainda tinha mais aquele problema.
Havia tido uma conversa com o General e deixara claro que estava deveras incomodado com toda aquela invasão. Não estava acostumado a ter uma segurança tão pesada, não tinha o hábito de andar com um soldado-meio-guarda-costas o tempo inteiro. Sabia que corria risco de vida, mas não queria nada daquilo.
O General permanecia irredutível, recusava-se a diminuir a quantidade de soldados. Dizia que aquilo era para seu bem, para protegê-lo, mas não conseguia ver aquilo como algo bom quando a situação chegava àquele ponto.
Não era mais questão de segurança, e sim de desconfiança ao extremo. Sabia, claro, que qualquer pessoa poderia ser o assassino, porém tudo estava ultrapassando qualquer limite imposto anteriormente.
Seu irmão estava sendo vigiado. Seus pais. A família de . Hyemi, sua secretária. , seu assessor. As pessoas que ele mais tinha contato eram as que mais desconfiavam, e aquilo não fazia o menor sentido.
A clara ameaça de a fora o estopim. Não tinha nem uma semana daquela situação e já estava sufocado e atolado de problemas. Não conseguia resolver nada e estava começando a achar que sua melhor opção era renunciar, desistir, pedir para ir embora, entregar-se à morte.
— Você ameaçou meu assessor, — falou de forma abafada, ainda com o rosto entre as mãos.
A situação era a mais desconfortável possível. Havia saído da conversa nada amigável com há pouco mais de dez minutos, e, desde então, e estavam frente a frente no meio de sua sala.
tinha o rosto vermelho e a respiração acelerada, claramente furioso. Enquanto era seu oposto, estava tranquilo, de olhos atentos e as mãos nas costas. Impassível.
— Apenas o informei de que todos são suspeitos e que ele te–
— Você ameaçou me dar um tiro! — o cortou, fazendo-o suspirar.
— Você disse isso, ? — finalmente levantou a cabeça, encarando o soldado. — Que direito acha que tem de fazer isso?
— Não me arrependo do que disse, senhor — estufou o peito, encarando o presidente de frente. — Apenas o informei de que não hesitaria em apertar o gatilho caso ele se tornasse uma ameaça. E realmente o farei se sua vida estiver em risco.
— jamais me faria mal — se levantou, indo até o soldado. — Você e seus superiores precisam de controle. Ninguém aqui me fará mal algum.
— Ele estava tendo conversas suspeitas com sua secretária — começou. — Não é a primeira vez que os ouço falar sobre algo estranho. Coisas a longo prazo, estar avançados em algum plano. Telefonemas estranhos também são recorrentes. Eles se escondem em salas secretas que não temos acesso. Às vezes, até mesmo no banheiro. Não temos culpa se isso nos soa errado, somos treinados para tal; é inevitável vigiá-los. Sinto muito em invadir sua privacidade desta forma, senhor presidente. Estou apenas fazendo meu trabalho, como o senhor faz o seu.
— Isso não é fazer seu trabalho, é ser invasivo e impulsivo — repreendeu. — Irei comunicar seus superiores.
— O senhor tem todo o direito, apenas estava seguindo ordens — argumentou. — É meu dever averiguar quaisquer riscos e ameaças contra o senhor. é tão suspeito quanto qualquer outro, principalmente se faz coisas às escondidas.
— Um contrato — falou de repente, parecendo mais calmo. — Eu estava resolvendo coisas sobre um contrato com uma grande empresa que está disposta a entrar como parceira no projeto para o subúrbio. O presidente me pediu total segredo sobre toda a negociação, e Hyemi é a única que consegue contato direto com eles — suspirou. — Ou eu me colocava na mira, ou não fazia meu trabalho. Eu te entendo, . Mas isso foi longe demais. Você queria que eu falasse o que acho, não é? É um absurdo e um grande exagero tudo isso. Vocês sequer sabem o que estão fazendo. São preparados para a guerra, não para proteger pessoas. Eu precisava estar dois passos à frente de quem quer derrubar um projeto tão bonito quanto o que começou, mesmo sendo difícil ser honesto nesse meio. E acabei precisando estar passos à sua frente também; um soldado inteligente e bem treinado, mas que não deveria estar aqui atrapalhando o meu trabalho.
— Eu sabia disso, — murmurou, cruzando os braços. — Vocês não sabem nem nunca saberão totalmente o que acontece aqui e na minha vida. Foi longe demais tudo isso, e em poucos dias. Não há a menor condição de continuar com isso, todos os dias vocês ameaçam alguém.
— É nosso trabalho — insistiu, mesmo que se sentisse enjoado e envergonhado por conta de tudo que acontecera. — Nós apenas seguimos ordens e nosso instinto de proteção. O senhor pode exigir outra equipe, outro soldado, outro tipo de segurança. Todos agirão da mesma forma, ou pior. Assim como está trabalhando, eu também estou. Estou aqui para servir meu país e meu General em qualquer circunstância. Sou fiel a isto, não ao que acham certo ou errado. Protejo, prendo, investigo. Isso que eu faço. Se os senhores não estão satisfeitos, deveriam ir até o batalhão e reportar todas as coisas que consideram erradas e desrespeitosas, não nos sentiremos ofendidos, tampouco lhe daremos as costas. Peço desculpas se meu trabalho não foi satisfatório, mas temos uma ameaça de morte ao nosso presidente. Eu, assim como meus companheiros, jamais faria diferente. E, neste exato momento, se me surgisse uma ameaça evidente, não hesitaria em puxar o gatilho.
O silêncio na sala foi absoluto. era um soldado fiel, centrado e autoritário, ficara bem claro.
No entanto, era o presidente e jamais se deixaria abater; não abaixaria a cabeça para aqueles que tentavam, mais uma vez, controlar sua vida. Iria resolver aquilo de uma vez por todas, precisava livrar-se de todos aqueles homens fardados e armados até os dentes, começando por aquele jovem soldado.
Livraria-se de e tudo ficaria bem.
×
A noite chegou lenta e fria. O vento soprava com força, anunciando que uma chuva viria logo a seguir.
No batalhão onde governava, havia alguns soldados treinando e sendo supervisionados por ele e pelo General. Ambos andavam de um lado para o outro, com posturas impecáveis, dentro de fardas perfeitamente alinhadas ao corpo.
— Senhor General, Primeiro-Sargento, com licença — um soldado surgiu, suado e ofegante. — Desculpe incomodá-los, mas parece que temos visitas.
— Visitas? — o encarou. — Que visitas, garoto?
— Parece que o presidente está aqui e quer conversar com os senhores — o soldado respondeu, ainda nervoso. — Ele parecia bastante alterado lá na entrada, pelo que disseram. Vim o mais rápido que pude para avisá-los.
— Tudo bem, já estamos indo. Obrigado pelo aviso, agora volte ao trabalho. — ordenou, sendo obedecido após um “sim, senhor!”.
— Eu já sei o que ele veio fazer, posso resolver isso sozinho, General — falou de maneira calma, não parecia surpreso com a visita do presidente. — Ele ainda não está aceitando bem nosso método de trabalho, mas garanto que posso convencê-lo a desistir de tentar nos fazer sair de jogada.
não respondeu de imediato, medindo o sargento por inteiro. O homem parecia ter certeza do que falava.
— Não demore, sargento . Estarei aguardando notícias.
apenas assentiu, logo se retirando. Seguiu a passos rápidos e ansiosos até a recepção do batalhão, onde se encontrava com o irmão em seu encalço e o resto dos soldados em volta, sua equipe inteira.
— Boa noite, senhor presidente — cumprimentou de maneira formal. — .
— Precisamos conversar — respondeu, irritado. — Esse projeto de proteção não está dando certo.
— Por favor, sigam-me até minha sala — apontou para um corredor grande e bem iluminado. — Vocês, soldados, para o treinamento. O General os aguarda.
Após dispensar todos os soldados, o sargento indicou o caminho até à sala para os irmãos, andando na frente. Entraram e o trancou a porta, fechando as persianas dos vidros em seguida.
— Você colocou um soldado maluco para cuidar do presidente do seu país — começou imediatamente. — Isso passou de todos os limites, Sargento. Queremos o fim deste projeto. Não está resolvendo nada.
— Nós precisamos manter a proteção de peso para que ninguém se aproxime dele, — o encarou. — Pode nos processar, gritar feito uma criança birrenta, me levar aos tribunais; é meu dever como Primeiro-Sargento proteger meus governantes e seus familiares. Vocês estão em risco.
— Você é só mais um fantoche nas mãos do General! — o advogado exclamou. — Está apenas seguindo ordens como seus soldados desrespeitosos. Exigimos o fim do Programa de Proteção ao Presidente imediatamente.
— — chamou, sem deixar de encarar . — O que aconteceu?
— Pensei que fossem brigar o tempo inteiro sem ao menos me ouvir — provocou. — Eu não aguento mais toda a invasão de privacidade. Seus soldados são teimosos, desrespeitosos, desconfiados e ameaçam meus funcionários o tempo inteiro. Isso não está certo.
— O que não está certo é vocês ficarem sem proteção — o sargento rebateu.
— ameaçou hoje. Colocou pessoas atrás dele e de Hyemi, a minha secretária — continuou. — Disse que não hesitaria em atirar nele, caso o sentisse como ameaça. Criou todo um escarcéu por ter escutado meia conversa deles dois, e ainda alegou ter escutado outras. só estava tentando conseguir um contrato para mim. Não é possível que não ache isso tudo um absurdo. Ele invadiu meu espaço pessoal, acusou meu assessor na minha frente, me desrespeitou dizendo coisas absurdas alegando que estava apenas fazendo o trabalho dele. ... — suspirou. — Isso não está certo, não preciso de babás nem espiões o tempo inteiro comigo. Preciso de segurança e proteção, e isso posso ter com a equipe antiga. Eu sou o presidente da Coreia do Sul, não uma criança fugitiva! Não preciso de nenhum militar me dizendo o que devo ou não fazer.
O sargento fitou ambos os irmãos e suspirou, perguntando em seguida:
— Já acabou, senhor presidente?
— Você já sabia — afirmou, fazendo com que o mais velho abrisse um sorriso. — Você já sabia de tudo isso e não moveu um dedo sequer para parar esse soldadinho.
— É claro que eu já sabia — revirou os olhos, logo voltando à postura de sargento. — não faz nada sem a minha autorização. Ao contrário do que vocês pensam, o General não comanda isso aqui sozinho, não criou o programa sozinho. Se os soldados fazem o que fazem, é porque eu autorizo. Os treinei para isso; para desconfiarem, correrem atrás, protegerem. Vocês sabiam disso desde o início.
— Pois trate de treiná-los melhor e ensiná-los a respeitar quem está acima deles — cuspiu as palavras com raiva. — Exijo o fim do programa, ou eu lhe faço perder esse maldito cargo de Primeiro-Sargento.
riu e se aproximou de , encarando-o de perto com a postura que só adotava quando estava irritado com soldados novos, que tentavam falar consigo como estava falando.
— Tantos anos depois e você ainda não aprendeu nada, — murmurou. — Os dois anos treinando nesse batalhão não lhe serviram para absolutamente nada. Não fale comigo desta forma, não sou os juízes que você deve convencer de qualquer besteira que defenda. Não ofenda meu trabalho e meus soldados desta forma se está justamente reclamando dos que fazem isso. Você não tem que exigir nada. Se estou aqui, neste cargo, é porque muito lutei para alcançá-lo, e não será você, um mero advogado, que irá me tirar. Tampouco seu irmão. Sou excelente no que faço, e vocês deveriam me ouvir mais. Não se metam no meu batalhão nem na minha na equipe. Dos meus soldados e treinamento, cuido eu.
— — chamou. — Eu quero o fim do programa.
— Com todo respeito, senhor presidente — se afastou de . — O fim do programa não é indicado. Se meus soldados estão investigando seus funcionários, é porque eles têm alguma suspeita grandiosa. Jamais fariam algo assim sem um embasamento. Não vou dispensar nenhum soldado, nem mesmo suspender a equipe só porque os senhores não aceitam ser contrariados e estão tentando esconder alguma coisa. Entendo que tem poder o suficiente para nos tirar do comando a qualquer momento, , porém fizemos um juramento e iremos cumpri-lo. Devemos serviço à nossa sociedade e ao nosso governo. Somos sua única fonte de segurança no momento, e não abriremos mão disso. É desconfortável no início, sei que sim. Mas jurei que protegeria a todos até a morte, e assim farei — o sargento fitou os irmãos à sua frente. — Meu país, minha família e meus amigos, essas são minhas prioridades. Irei proteger cada um com unhas e dentes.
— …
— Desta vez, não irei acatar seu pedido, meu amigo — disse diretamente para , interrompendo a fala de um fervendo em ira. — Não adianta reclamar ou pedir para que eu dê um “jeitinho”. É meu dever protegê-lo e farei isto até o último minuto da minha vida. continuará escalado, assim como toda a equipe. Meus homens não fizeram absolutamente nada de errado, e tenho certeza de que vocês perceberão isso em breve. Peço, por fim, para que se retirem do batalhão por agora. Uma chuva monstruosa está a caminho. Tenho certeza de que a equipe já está de prontidão para escoltá-los até em casa, e ficarão na cobertura desta noite.
E, ali, os irmãos notaram que não teriam escapatória.
O soldado não fazia ideia do que era feito ali, tampouco tinha curiosidade. Mas sentia-se tão entediado que não sabia como explicar. Sua vontade era pegar o celular no bolso interno do terno que vestia – disseram que vestir aquela porcaria desconfortável o faria parecer um mero segurança comum – para apenas ficar jogando. Negociar na linha de frente com o exército norte-coreano parecia muito mais divertido que estar ali. Não que trabalho devesse, de fato, ser divertido o tempo inteiro; claro que não. Entendia isso, ainda mais em sua posição no meio militar.
Todavia, proteger o presidente de um assassino louco deveria ser, no mínimo, mais agitado.
estava quieto no canto da sala, atrás de . Dali, conseguia ter uma boa visão de tudo; a enorme janela do seu lado esquerdo estava fechada – uma recomendação dada por ele mesmo, já que o vidro poderia atrapalhar uma ação armada do bandido – lhe dava a visão de seus amigos no térreo, mesmo que mal conseguisse, de fato, enxergá-los – apenas o jeito de cada um se portar e se mover o saberia quem era quem – e à sua frente a porta, o que facilitaria qualquer ação sua. Tudo certo, tão certo que o incomodava.
Em sua concepção, o assassino estava ali dentro. Poderia ser qualquer um, até mesmo um de seus superiores – e isso sim o fazia temer pela carreira e pela vida.
— Você parece um robô — a voz do presidente ecoou calma, suave. — Sabe que não precisa agir desta forma o tempo inteiro, certo? Seus amigos estão logo ali, do outro lado da porta. Não é como se fossem invadir minha sala facilmente.
— É minha função, senhor presidente — respondeu. — Preciso estar sempre atento.
— Estou em meu gabinete, .
— e Choi Seunghoon estavam em suas próprias casas quando foram mortos, senhor.
deixou um riso fraco escapar. Realmente, não estava seguro em lugar nenhum.
O assunto morreu ali, o soldado não era muito de falar como alguns outros seguranças que já tivera. Talvez fosse bom, pois o rapaz tinha a atenção redobrada. Era mesmo um homem de confiança, como dissera na noite anterior, num jantar em sua casa.
Após alguns minutos, o telefone sobre a mesa de tocou.
— Sim? — o presidente atendeu sem tirar os olhos dos papéis em suas mãos. — O ? Pode entrar, é claro. Já disse que não precisa anunciar meu assessor, Hyemi — murmurou e aguardou uma resposta. — Como assim recomendação do General? Ele é meu assessor, deve ter passe livre para entrar em minha sala. Avise aos soldados para que nunca mais façam-na anunciar ou qualquer outro membro da minha família, obrigado.
E, assim, desligou.
— Você sabia que eles fariam vista grossa até para meu assessor, ?
— Qualquer pessoa é suspeita, senhor — o mais novo respondeu. — Temos ordens diretas para–
— Ele é meu assessor — o interrompeu ao mesmo tempo que adentrava sua sala. — Sei que você consegue falar mais rápido com o sargento , trate de avisá-lo que isso foi longe demais e não deve se repetir. Vocês me devem segurança, não tomar minhas decisões e controlar meu próprio gabinete.
— Tudo bem, senhor. Irei avisá-lo assim que possível e já deixarei meus companheiros cientes dessa decisão — falou de forma mansa e treinada. Não queria ter de assumir broncas alheias, mas não tinha o que fazer senão acatar e repassar para seus colegas e superiores.
— Não precisa se incomodar com isso, — murmurou, sentando-se na cadeira ao lado do mais velho. — Todo cuidado é pouco, não tem problema. Soube que até mesmo precisou ser anunciado. Tudo bem.
— Nada bem, — suspirou. — Mas não falemos sobre isso. O que tem para mim hoje?
suspirou aliviado assim que avistou seu Sargento no início do corredor, finalmente vindo em sua direção. Seu primeiro dia de trabalho havia acabado e teria algumas horas de descanso no batalhão, antes que seu superior voltasse para que pudessem treinar um pouco mais.
Os dias estavam sendo intensos desde que fora recrutado.
Sabia desde a semana anterior que seria chamado para aquela missão, mesmo que, quando soube, não tivesse nada confirmado; um recrutamento quase informal, bastou ver as informações nas centrais de notícias e um telefonema de . Fora tudo às pressas, sequer tivera direito aos seus dias de descanso. Mal havia finalizado uma missão em Busan e já havia sido enviado para outra, justo com o homem mais poderoso do país.
Ou seja, no fim de tudo, sequer tinha tempo de dormir, assim como todos os outros recrutas. Treinaram na manhã anterior e, quando foram apresentados, logo começaram a trabalhar com as coisas básicas – estudaram a família , os amigos próximos, como tratar cada um, o que fazer ou não, o que e como vestir, uma infinidade de coisas. Os treinos com o Primeiro-Sargento acabaram ficando para o único horário livre: a madrugada. E, após o fim do treinamento, todos os recrutas passariam 24 horas por dia grudados no presidente, até que a ameaça se dissipasse. Principalmente ele, que era o segurança pessoal.
— Primeiro-Sargento — falou junto aos outros, batendo continência.
O presidente também estava ali próximo a eles junto com seu assessor, observando a forma com que todos aqueles homens obedeciam e respeitavam . Era até engraçado, já que, quando criança e adolescente, era impossível levar aquele homem a sério. Atualmente, na vida adulta, ainda era. Na vida pessoal, ele era um homem muito brincalhão e risonho, uma imagem totalmente diferente da que tinha quando se transformava no Primeiro-Sargento .
— Boa noite, senhor presidente — murmurou após sinalizar para que os soldados voltassem ao normal. — .
— Olá, Sargento — respondeu de maneira educada. — Já estou de saída, foi um prazer vê-lo — sorriu e virou-se para . — Até amanhã, senhor presidente.
apenas sorriu, estava cansado demais para despedidas longas e ainda tinha uma conversa séria para ter com – este que apenas assentiu para ; parecia estar no mesmo estado de cansaço.
— Não me olhe assim — sussurrou bem próximo a . — Não temos direito de interferir em sua privacidade, mas o General achou que seria mais viável trabalhar desse jeito.
— Você pode dar um jeito nisso? — perguntou, tão baixo quanto. — Não quero vocês controlando minha vida. Já bastou o soldado dentro do meu gabinete.
— Já dei um jeito — se afastou. — Em relação a … É melhor que ele continue com você em todos os lugares de fácil acesso.
— Minha sala não tem fácil acesso, .
— Você acha que não, mas tem. Apenas deixe-nos fazer o nosso trabalho. É para o seu bem. Em sua casa ninguém entrará, eu garanto. Mas, aqui, preciso que fiquem em cima de você o tempo inteiro.
— Todos eles irão para minha casa? — o presidente questionou sem cochichar mais, apontando para os soldados, que continuavam em silêncio, respeitando a autoridade (e confiança) de .
— Já tem uma equipe lá. Esses irão treinar esta noite — respondeu e se virou para os soldados. — Soldados Lee, , Song, Choi e Bang, estão dispensados pelas próximas horas. Descansem e me encontrem para o treinamento no mesmo horário de sempre. Os demais me acompanhem na escolta do presidente até sua casa e, após isso, podem voltar ao batalhão.
Todos concordaram e logo saíram. e dois soldados, sendo um deles , foram no mesmo carro que , enquanto os outros foram espalhados junto aos seguranças padrão.
— — chamou o amigo, não se importando em soar formalmente. — Por que vocês me deixam trancado com um soldado no meu gabinete e na minha casa ninguém entra, sendo que todos morreram dentro das próprias casas?
— Se o assassino realmente quer você, ele vai entrar com ou sem soldado — começou, adotando a postura de sargento sem ao menos perceber. — Precisamos atraí-lo de alguma forma. Ele sabe que estamos redobrando sua segurança, sabe que temos armadilhas prontas, mas espera que vamos cometer o mesmo erro anterior: deixá-lo entrar. Nós vamos, sim, mas você terá uma grande quantidade de soldados pelo seu quintal, em todas as entradas e na sala de câmeras da sua casa. Ele está cercado. É arriscado, claro que é, mas é tudo que temos por enquanto. Ele não vai te atacar agora, tenho certeza. Mas se ele vir, durante o dia, a quantidade de segurança que você tem, pode perder o controle e te atacar de repente. Na rua, na sua sala… Em qualquer lugar que ele tenha como se posicionar para te metralhar, mesmo que ele prefira torturar. Nós queremos vê-lo tonto, sem controle, pronto para se entregar para nós. Isso pode acontecer agora, amanhã, daqui a um mês ou três anos. Estamos fazendo o contrário de tudo que ele espera, não temos opção melhor.
— Isso continua sem fazer muito sentido para mim, mas confiarei no trabalho de vocês porque nunca me decepcionaram — disse de forma cansada, dando de ombros.
Tinha certos momentos que tudo aquilo era demais para si. Seu corpo estava cansado, mas seu cérebro não parava de pensar, e isso o fazia se cansar em dobro. Sentia medo, repulsa, peso na consciência e mais medo, tudo ao mesmo tempo; pois sabia o porquê de tudo aquilo estar acontecendo. Tinha certeza de que se não tivesse sua família e amigos próximos como alicerce, já teria desistido de tudo. Queria, sim, mudar o mundo, principalmente seu país, e ser relevante para a história, mas era tudo tão difícil que desistir sempre parecia a melhor opção. No entanto, pessoas como e ajudavam-no a manter-se firme, mesmo que estivesse aos frangalhos por dentro.
Após deixar em casa são e salvo, voltou para o batalhão junto de seus soldados. Conversaram sobre o dia, tiraram dúvidas e trocaram experiências; o sargento era sempre muito acessível e atencioso, embora rígido algumas vezes – e isso era o que o diferenciava dos outros.
Já chegava perto das duas da manhã quando decidiu que seu corpo precisava de um certo descanso. Estavam todos na academia improvisada do lado de fora do batalhão, uns faziam musculação – flexões, abdominais e afins –, e outros treinavam luta corpo a corpo. Era o trabalho de auxiliar em todas as atividades, ao mesmo tempo que tentava melhorar suas próprias habilidades. Mas seu corpo parecia não obedecer mais, estava cada vez mais difícil aguentar tudo aquilo. O trabalho em excesso estava destruindo-o aos poucos, assim como seus soldados. Todos estavam explicitamente cansados física e mentalmente.
Com exceção de , que continuava fazendo exercícios na barra como se estivesse apenas brincando. O rapaz segurava-se com vontade e calma na barra de ferro, que estava presa entre outras duas, subindo e descendo como se não tivesse feito nada durante o dia inteiro e aquilo o revigorasse. O suor lhe escorria por inteiro, fazendo com que a camiseta branca grudasse em seu corpo e ficasse transparente.
riu. Sentia falta dos seus vinte e poucos anos também. Não estava sendo fácil aceitar que já estava batendo à porta dos quarenta e seus soldados continuavam na flor de idade. Tsc.
— Sargento — a voz de o tirou de seus devaneios. — Posso falar com o senhor?
— Claro, . Sente-se — apontou para o chão ao seu lado. — O que aconteceu?
— Eu… Bem, passei o dia inteiro grudado ao presidente hoje — o soldado começou meio sem jeito. — Não sei se posso me intrometer nisso, mas gostaria de perguntar mesmo assim. Tem algum motivo especial para estarmos fazendo vista grossa até mesmo para os familiares dele?
suspirou e tirou a boina que usava, deixando os cabelos suados mais bagunçados ainda.
— Veja bem, — o sargento o encarou. — Qualquer um é suspeito. Infelizmente, temos que desconfiar até mesmo da sombra do presidente. É nosso trabalho protegê-lo.
— Mas, assim como eu, tenho certeza de que o senhor não desconfia dos pais ou irmão dele — rebateu. — Já o assessor…
— O que tem , ? — o perguntou, levemente confuso, porém desconfiado.
— Eu não sei — respondeu de imediato. — Quero dizer… Ele me pareceu passivo demais em relação a tudo. Sei que existem profissionais que são assim, principalmente na posição dele. Mas ele pareceu aceitar tudo bem demais, compreensivo demais. Já , quando foi barrado na porta, ligou imediatamente para o General, afirmando que estávamos invadindo a privacidade do presidente. Mesmo assim, o General não mudou as ordens. O presidente me mandou falar sobre isso com você e, pelo que eu soube, também foi até vocês. Mas o assessor apenas se contentou com a situação, sendo que tem liberdade e todo o direito de se sentir incomodado com isso. Ele estava polido demais na nossa frente. E, durante o dia, saiu constantemente para falar ao telefone.
— O que quer dizer com isso, ? — o encarou nos olhos. — O trabalho de é esse, ficar para lá e para cá o tempo inteiro.
— Sim, senhor, eu sei — foi firme. — Mas já foi assessor de , certo? E sei que ele era bem próximo do senador Choi. É apenas uma suspeita. Seria bom se colocássemos alguém de olho nele e na secretária. O presidente sempre foi de “reciclar funcionários”... Secretária que já passou por vários deputados, assessor que compartilhava com o amigo, outros funcionários de posições mais baixas que ele sempre fora próximo… Enfim, estou apenas comentando. Foi algo que me deixou um pouco… intrigado.
o fitou em silêncio. Tinha as mesmas desconfianças que no começo, mas tirou-as da cabeça por lembrar-se o tempo que todos trabalhavam com , sendo uma grande porcentagem dos funcionários desde quando ele ao menos era um candidato à presidência. Não fazia tanto sentido desconfiar assim, mas…
— Tudo bem, . Vou pedir para que alguém fique de olho nesses funcionários.
A madrugada passou num piscar de olhos, e, logo cedo, por volta das oito da manhã, estavam todos em uma sala de reuniões um pouco maior que a do presidente discutindo algum projeto voltado para o subúrbio.
encontrava-se em silêncio, apenas observando todas aquelas pessoas falando ao mesmo tempo de forma afobada. Uns defendiam a ideia de que seria interessante criar um programa de atividades para crianças e adolescentes que não tinham acesso à educação de qualidade, e outros eram totalmente contra, alegando que tinham mais gastos para cobrir naquele ano e que as crianças podiam esperar.
parecia exausto de toda aquela bobeira, apenas queria dar qualidade de vida para todos de seu país, e aquilo era uma ideia de . O amigo ficaria orgulhoso caso conseguisse aprovar aquilo; mas entrar num consenso parecia difícil e distante demais.
Passaram horas ali debatendo sobre aquilo, e, ao longe, tudo que conseguia pensar era em suas suspeitas. Não era possível que funcionários fossem tão bonzinhos daquela forma. Não era comum. Havia alguma coisa errada ali, tinha certeza. Entretanto, teria que aguardar seus companheiros que, como prometido, colocara no encalço dos funcionários em questão. Todos que eram em comum entre as vítimas e o presidente.
Isso, obviamente, não o tirava completamente de jogada. O soldado ainda tinha em mente que, em alguns poucos momentos do dia, poderia olhar por si só. Ainda tinha os poucos minutos do almoço. As idas ao banheiro. Os momentos em que o presidente se trancava com o General para discutir sobre assuntos sigilosos. Daria tempo, sim, de ficar na espreita, observando cada um deles e sanando sua curiosidade.
— O que tanto observa? — perguntou no tom de voz baixo e calmo como habitual, fazendo com que notasse que se desligara demais; sequer notara sua aproximação e que algumas pessoas já haviam finalmente deixado a sala.
— Nada em especial, senhor — respondeu. — Apenas estou fazendo meu trabalho.
— Hmm — o presidente murmurou. — Entendo. Mas está dispensado por agora, . Estou indo encontrar seu General, vá descansar.
— Certo. Eu o acompanho até seu gabinete.
— Não precisa disso, rapaz. Meu gabinete é no fim do corredor.
— É o caminho que devo seguir para tomar um café e descansar, senhor presidente — deu um pequeno sorriso, mostrando-se mais receptivo. — Por favor.
suspirou. Aquele soldado era esperto demais. Cordial demais. Educado demais.
Bonito demais.
Balançou a cabeça e seguiu o caminho que o mais novo indicava com as mãos. Não havia escapatória, ele realmente ficaria em seu encalço o tempo inteiro.
Caminharam juntos em silêncio por todo o corredor, cada um perdido em seus pensamentos. ainda se sentia na obrigação de fazer algo em nome de , e queria entender o porquê dos funcionários dali serem tão passivos em relação a decisões drásticas.
Estavam num período conturbado. A Coreia do Sul já não parecia mais o país de meses antes; as coisas estavam bagunçadas e não estavam dando conta de todas as pendências. Estava tudo tão confuso e complexo que tiveram que recorrer às Forças Armadas para tentarem, assim, dar alguma proteção extra às pessoas – e essa nunca era uma boa opção. Era um pedido de socorro mútuo, uma prova de que tudo já havia ido pelos ares.
— Senhor General — abandonou seus devaneios, batendo continência ao avistar o superior parado à porta do gabinete.
— Soldado. Senhor presidente — cumprimentou. — Está dispensado por enquanto, . Vá descansar.
— Sim, senhor. Com licença.
Após reverenciar ambos os homens, saiu em direção à saleta que os funcionários usavam para descansar, conversar e até mesmo lanchar. Era o único lugar que conseguia ficar em silêncio absoluto, principalmente naquele horário – e também podia aproveitar aqueles poucos minutos para ligar para os companheiros (ou até mesmo seu Sargento) atrás de mais informações sobre as ameaças.
O assassino estava quieto há tempo demais, e isso era no mínimo intrigante, já que os sustos não costumavam parar. Todo dia tinha um aviso, uma ameaça, uma pontinha do caos.
No entanto, tinha certeza, o assassino estava tenso. Sentia-se mais ameaçado que suas vítimas, estava “conhecendo o terreno”. Justamente por isso o soldado acreditava piamente que o maldito estava ali, bem debaixo do nariz de todo mundo; e ninguém além do presidente poderia descobrir quem era. Tratava-se claramente de algum (ou alguns, por que não?) funcionário daquele prédio, nenhuma equipe de inteligência iria encontrar; nem mesmo eles, da segurança.
O assassino poderia agir de forma silenciosa se não trabalhasse sozinho. Comidas e bebidas seriam excelentes escolhas para provar que, mesmo por baixo e em desvantagem, ele tinha o controle da situação e, se quisesse, já teria matado o presidente.
Pensando nessa possibilidade, só descansava na saleta média, onde havia petiscos e cafés que eram levados ao presidente de hora em hora. Ele teria acesso a tudo de qualquer forma.
Se fosse um homem religioso, diria que Deus estava lhe enviando um sinal logo que se aproximara da entrada do local. As vozes que ecoavam dali fizeram-no parar e pensar se deveria ou não interferir, mas o pensamento durou meros segundos.
O soldado decidiu permanecer ali, silencioso e misturado às sombras do corredor vazio, como costumava fazer todos os dias.
e Hyemi conversavam em tons baixos, calmos, como se estivessem bem próximos um do outro e tivessem medo de alguém aparecer. Poderia parecer cisma, uma teoria de conspiração criada pela mente perturbada de um soldado igualmente perturbado, mas o alarme de perigo que carregava apitava alto e em bom tom todas as vezes que encontrava aqueles dois.
, que era um homem treinado para obedecer e servir seu país, tinha lá seus momentos. Já fora advertido por desrespeitar seu Sargento e seu General, sendo que apenas quis se impor e declarar sua opinião abertamente. Sabia como era vir e estar debaixo de alguém. E não aceitava, era humano, tinha suas opiniões, crenças e ideais. Simplesmente não entendia, nem ao menos aceitava, o fato de e Hyemi apenas aceitarem todas as coisas calados. Ninguém aceitaria; e até mesmo houve boatos pelos corredores de que outros funcionários se sentiram invadidos, ofendidos e amedrontados pela quantidade de militares rondando todo o prédio, as ruas e a cidade como um todo.
A população estava tensa, alarmada.
Aqueles dois, não.
Por quê?
— Precisamos de um a longo prazo — voltou a falar, acordando o soldado do lado de fora. — Estamos muito tempo sem nos mover, precisamos de algo que nos deixe dois passos à frente.
“Um o quê?”, perguntou-se.
— Eu vou ver o que consigo, Jiminnie — Hyemi respondeu com a voz mansa e de forma íntima. — Não é tão fácil conseguir essas coisas, você sabe.
— Você conseguiu para , tenho certeza de que conseguirá para o presidente também — foi firme. — Precisamos disso urgentemente, Hyemi. Tente com todos seus contatos, sei que algum vai ceder. Eles não sabem dizer não para você.
— É arriscado, mas irei dar o meu melhor — a mulher respondeu, e logo o som de cadeiras arrastando soou pelo ambiente. — Não faça com que eu me arrependa de te ajudar, Jiminnie. Você sabe que tudo pode cair nas minhas costas, e esse monte de militares na nossa cola não ajuda em nada.
— Apenas faça seu trabalho, Hyemi — ordenou. — Do resto, cuido eu.
ficou o mais silencioso que conseguiu, encostando-se totalmente numa das paredes. Sabia que Hyemi seguiria para a direção contrária, então apenas torceu para que a mulher não o visse ali. Sua cabeça estava a mil, precisava urgentemente conversar com os responsáveis pela vigia de e Lee Hyemi. Algo estava errado, ele tinha certeza.
Não demorou muito para a porta abrir e fechar, fazendo-o olhar para o lado. No entanto, diferente do que esperava, não fora capaz de esconder-se melhor, e o olhar intrigado das secretária já estava sobre si.
— Soldado — cumprimentou, sorrindo de maneira educada.
— Senhorita Lee, olá — respondeu cordial, ajustando o terno no corpo e caminhando até a porta. — Como vai?
— Vou bem, obrigada. E você, com muito trabalho?
— Sim, mas estou bem — o soldado sorriu. — Vou tomar um café rápido, meu descanso não é tão longo, com licença.
A mulher não o respondeu, apenas olhou-o de cima a baixo e assentiu em seguida. Mas não lhe deu tempo para medi-lo tão a fundo e adentrou a sala onde estava sozinho.
Exatamente como desejava. Hyemi não importava tanto naquele momento, já que, pela conversa ouvida, parecia agir mais.
— Soldado — o assessor cumprimentou, dando um gole na xícara que segurava. — Boa tarde.
— Boa tarde, — respondeu de maneira calma, seguindo até à máquina de café.
— O presidente já foi conversar com o General? — o loiro puxou assunto, notando o desconforto do soldado só em estar ali. — Ele me disse que iriam conversar hoje sobre as pequenas invasões em sua privacidade.
— Isso não nos diz respeito, — respondeu de maneira calma, porém defensiva, dando um longo gole no café amargo. — Mas, sim, ele está com o General. E nós não estamos invadindo a privacidade de ninguém; estamos aqui apenas para proteger todos vocês.
— É inevitável, soldado — soltou um riso forçado. — Vocês estão aqui para dar proteção, todos nós sabemos. Mas controlam até quantas vezes cada ameaçado vai ao banheiro, não é como se alguém fosse atacá-los aqui dentro. Até mesmo eu, um mero assessor, fui barrado na entrada. Cá entre nós, isso é mesmo necessário?
— Sendo sincero, , sim, é necessário — puxou uma das cadeiras, virando-a ao contrário e se sentando com o peito totalmente colado ao encosto da mesma. — É possível e até mesmo mais fácil o ataque acontecer aqui dentro. Invasão de privacidade deveria ser a última das preocupações.
— Nós que fomos barrados jamais faríamos algo contra o presidente, soldado.
— Quer dizer que agora você se importa em opinar? — provocou, finalizando seu café. — Não estava tudo bem por você passar por isso?
— Nunca está tudo bem, cara — riu de novo. — Vai dizer que não age de forma pacífica na frente dos seus superiores? Não somos tão diferentes assim, .
— Não acredito em você — foi direto, fazendo com que parasse o movimento de levar a xícara à boca na metade, fitando-o nos olhos.
— Como é? Está suspeitando de mim agora?
— Eu suspeito de todos, . Faz parte do meu trabalho. Mas você… Não sei, me chama atenção.
— E posso saber por quê?
— No que você e Hyemi precisam estar dois passos à frente?
— Ouvindo atrás das portas, soldado? E privacidade realmente tem que ser a última das preocupações?
— Responda a minha pergunta, .
— Por que não responde as minhas, ?
— Eu não tenho que responder pergunta alguma — se levantou. — Apenas tome cuidado com o que faz e fala. Caso eu sinta que você é capaz de prejudicar as investigações ou de fazer qualquer coisa contra o presidente, não irei hesitar em enfiar uma bala no meio da sua testa.
— Isso é uma ameaça, soldado? — se levantou também, encarando-o firmemente. — Caso seja, serei obrigado a reportá-lo aos seus superiores. Isso não está certo.
— Entenda como quiser, fale com quem quiser também — deu de ombros. — Estou aqui para proteger o presidente e o farei enquanto for minha missão. Não me incomodarei de passar por cima de você, . Não é a primeira vez que ouço alguma conversa sua entrecortada e sei que somente meus relatos não são o suficiente para acusá-lo de qualquer coisa. Mas você está sob aviso.
— Vocês estão me investigando? — insistiu. — Isso é um absurdo! Vocês estão investigando cada um de nós sem motivo algum, sem nenhuma prova a respeito de nada. É por isso que não gostam de vocês, militares.
apenas riu. Havia alguma coisa muito estranha naquele homem, e ele descobriria o quê.
— Passar bem, .
Foi a única coisa que disse antes de deixar a sala.
respirou fundo e enterrou o rosto nas mãos. Sua vida estava totalmente de cabeça para baixo, e, como se não bastasse ter que encontrar constantemente com militares, ainda tinha mais aquele problema.
Havia tido uma conversa com o General e deixara claro que estava deveras incomodado com toda aquela invasão. Não estava acostumado a ter uma segurança tão pesada, não tinha o hábito de andar com um soldado-meio-guarda-costas o tempo inteiro. Sabia que corria risco de vida, mas não queria nada daquilo.
O General permanecia irredutível, recusava-se a diminuir a quantidade de soldados. Dizia que aquilo era para seu bem, para protegê-lo, mas não conseguia ver aquilo como algo bom quando a situação chegava àquele ponto.
Não era mais questão de segurança, e sim de desconfiança ao extremo. Sabia, claro, que qualquer pessoa poderia ser o assassino, porém tudo estava ultrapassando qualquer limite imposto anteriormente.
Seu irmão estava sendo vigiado. Seus pais. A família de . Hyemi, sua secretária. , seu assessor. As pessoas que ele mais tinha contato eram as que mais desconfiavam, e aquilo não fazia o menor sentido.
A clara ameaça de a fora o estopim. Não tinha nem uma semana daquela situação e já estava sufocado e atolado de problemas. Não conseguia resolver nada e estava começando a achar que sua melhor opção era renunciar, desistir, pedir para ir embora, entregar-se à morte.
— Você ameaçou meu assessor, — falou de forma abafada, ainda com o rosto entre as mãos.
A situação era a mais desconfortável possível. Havia saído da conversa nada amigável com há pouco mais de dez minutos, e, desde então, e estavam frente a frente no meio de sua sala.
tinha o rosto vermelho e a respiração acelerada, claramente furioso. Enquanto era seu oposto, estava tranquilo, de olhos atentos e as mãos nas costas. Impassível.
— Apenas o informei de que todos são suspeitos e que ele te–
— Você ameaçou me dar um tiro! — o cortou, fazendo-o suspirar.
— Você disse isso, ? — finalmente levantou a cabeça, encarando o soldado. — Que direito acha que tem de fazer isso?
— Não me arrependo do que disse, senhor — estufou o peito, encarando o presidente de frente. — Apenas o informei de que não hesitaria em apertar o gatilho caso ele se tornasse uma ameaça. E realmente o farei se sua vida estiver em risco.
— jamais me faria mal — se levantou, indo até o soldado. — Você e seus superiores precisam de controle. Ninguém aqui me fará mal algum.
— Ele estava tendo conversas suspeitas com sua secretária — começou. — Não é a primeira vez que os ouço falar sobre algo estranho. Coisas a longo prazo, estar avançados em algum plano. Telefonemas estranhos também são recorrentes. Eles se escondem em salas secretas que não temos acesso. Às vezes, até mesmo no banheiro. Não temos culpa se isso nos soa errado, somos treinados para tal; é inevitável vigiá-los. Sinto muito em invadir sua privacidade desta forma, senhor presidente. Estou apenas fazendo meu trabalho, como o senhor faz o seu.
— Isso não é fazer seu trabalho, é ser invasivo e impulsivo — repreendeu. — Irei comunicar seus superiores.
— O senhor tem todo o direito, apenas estava seguindo ordens — argumentou. — É meu dever averiguar quaisquer riscos e ameaças contra o senhor. é tão suspeito quanto qualquer outro, principalmente se faz coisas às escondidas.
— Um contrato — falou de repente, parecendo mais calmo. — Eu estava resolvendo coisas sobre um contrato com uma grande empresa que está disposta a entrar como parceira no projeto para o subúrbio. O presidente me pediu total segredo sobre toda a negociação, e Hyemi é a única que consegue contato direto com eles — suspirou. — Ou eu me colocava na mira, ou não fazia meu trabalho. Eu te entendo, . Mas isso foi longe demais. Você queria que eu falasse o que acho, não é? É um absurdo e um grande exagero tudo isso. Vocês sequer sabem o que estão fazendo. São preparados para a guerra, não para proteger pessoas. Eu precisava estar dois passos à frente de quem quer derrubar um projeto tão bonito quanto o que começou, mesmo sendo difícil ser honesto nesse meio. E acabei precisando estar passos à sua frente também; um soldado inteligente e bem treinado, mas que não deveria estar aqui atrapalhando o meu trabalho.
— Eu sabia disso, — murmurou, cruzando os braços. — Vocês não sabem nem nunca saberão totalmente o que acontece aqui e na minha vida. Foi longe demais tudo isso, e em poucos dias. Não há a menor condição de continuar com isso, todos os dias vocês ameaçam alguém.
— É nosso trabalho — insistiu, mesmo que se sentisse enjoado e envergonhado por conta de tudo que acontecera. — Nós apenas seguimos ordens e nosso instinto de proteção. O senhor pode exigir outra equipe, outro soldado, outro tipo de segurança. Todos agirão da mesma forma, ou pior. Assim como está trabalhando, eu também estou. Estou aqui para servir meu país e meu General em qualquer circunstância. Sou fiel a isto, não ao que acham certo ou errado. Protejo, prendo, investigo. Isso que eu faço. Se os senhores não estão satisfeitos, deveriam ir até o batalhão e reportar todas as coisas que consideram erradas e desrespeitosas, não nos sentiremos ofendidos, tampouco lhe daremos as costas. Peço desculpas se meu trabalho não foi satisfatório, mas temos uma ameaça de morte ao nosso presidente. Eu, assim como meus companheiros, jamais faria diferente. E, neste exato momento, se me surgisse uma ameaça evidente, não hesitaria em puxar o gatilho.
O silêncio na sala foi absoluto. era um soldado fiel, centrado e autoritário, ficara bem claro.
No entanto, era o presidente e jamais se deixaria abater; não abaixaria a cabeça para aqueles que tentavam, mais uma vez, controlar sua vida. Iria resolver aquilo de uma vez por todas, precisava livrar-se de todos aqueles homens fardados e armados até os dentes, começando por aquele jovem soldado.
Livraria-se de e tudo ficaria bem.
A noite chegou lenta e fria. O vento soprava com força, anunciando que uma chuva viria logo a seguir.
No batalhão onde governava, havia alguns soldados treinando e sendo supervisionados por ele e pelo General. Ambos andavam de um lado para o outro, com posturas impecáveis, dentro de fardas perfeitamente alinhadas ao corpo.
— Senhor General, Primeiro-Sargento, com licença — um soldado surgiu, suado e ofegante. — Desculpe incomodá-los, mas parece que temos visitas.
— Visitas? — o encarou. — Que visitas, garoto?
— Parece que o presidente está aqui e quer conversar com os senhores — o soldado respondeu, ainda nervoso. — Ele parecia bastante alterado lá na entrada, pelo que disseram. Vim o mais rápido que pude para avisá-los.
— Tudo bem, já estamos indo. Obrigado pelo aviso, agora volte ao trabalho. — ordenou, sendo obedecido após um “sim, senhor!”.
— Eu já sei o que ele veio fazer, posso resolver isso sozinho, General — falou de maneira calma, não parecia surpreso com a visita do presidente. — Ele ainda não está aceitando bem nosso método de trabalho, mas garanto que posso convencê-lo a desistir de tentar nos fazer sair de jogada.
não respondeu de imediato, medindo o sargento por inteiro. O homem parecia ter certeza do que falava.
— Não demore, sargento . Estarei aguardando notícias.
apenas assentiu, logo se retirando. Seguiu a passos rápidos e ansiosos até a recepção do batalhão, onde se encontrava com o irmão em seu encalço e o resto dos soldados em volta, sua equipe inteira.
— Boa noite, senhor presidente — cumprimentou de maneira formal. — .
— Precisamos conversar — respondeu, irritado. — Esse projeto de proteção não está dando certo.
— Por favor, sigam-me até minha sala — apontou para um corredor grande e bem iluminado. — Vocês, soldados, para o treinamento. O General os aguarda.
Após dispensar todos os soldados, o sargento indicou o caminho até à sala para os irmãos, andando na frente. Entraram e o trancou a porta, fechando as persianas dos vidros em seguida.
— Você colocou um soldado maluco para cuidar do presidente do seu país — começou imediatamente. — Isso passou de todos os limites, Sargento. Queremos o fim deste projeto. Não está resolvendo nada.
— Nós precisamos manter a proteção de peso para que ninguém se aproxime dele, — o encarou. — Pode nos processar, gritar feito uma criança birrenta, me levar aos tribunais; é meu dever como Primeiro-Sargento proteger meus governantes e seus familiares. Vocês estão em risco.
— Você é só mais um fantoche nas mãos do General! — o advogado exclamou. — Está apenas seguindo ordens como seus soldados desrespeitosos. Exigimos o fim do Programa de Proteção ao Presidente imediatamente.
— — chamou, sem deixar de encarar . — O que aconteceu?
— Pensei que fossem brigar o tempo inteiro sem ao menos me ouvir — provocou. — Eu não aguento mais toda a invasão de privacidade. Seus soldados são teimosos, desrespeitosos, desconfiados e ameaçam meus funcionários o tempo inteiro. Isso não está certo.
— O que não está certo é vocês ficarem sem proteção — o sargento rebateu.
— ameaçou hoje. Colocou pessoas atrás dele e de Hyemi, a minha secretária — continuou. — Disse que não hesitaria em atirar nele, caso o sentisse como ameaça. Criou todo um escarcéu por ter escutado meia conversa deles dois, e ainda alegou ter escutado outras. só estava tentando conseguir um contrato para mim. Não é possível que não ache isso tudo um absurdo. Ele invadiu meu espaço pessoal, acusou meu assessor na minha frente, me desrespeitou dizendo coisas absurdas alegando que estava apenas fazendo o trabalho dele. ... — suspirou. — Isso não está certo, não preciso de babás nem espiões o tempo inteiro comigo. Preciso de segurança e proteção, e isso posso ter com a equipe antiga. Eu sou o presidente da Coreia do Sul, não uma criança fugitiva! Não preciso de nenhum militar me dizendo o que devo ou não fazer.
O sargento fitou ambos os irmãos e suspirou, perguntando em seguida:
— Já acabou, senhor presidente?
— Você já sabia — afirmou, fazendo com que o mais velho abrisse um sorriso. — Você já sabia de tudo isso e não moveu um dedo sequer para parar esse soldadinho.
— É claro que eu já sabia — revirou os olhos, logo voltando à postura de sargento. — não faz nada sem a minha autorização. Ao contrário do que vocês pensam, o General não comanda isso aqui sozinho, não criou o programa sozinho. Se os soldados fazem o que fazem, é porque eu autorizo. Os treinei para isso; para desconfiarem, correrem atrás, protegerem. Vocês sabiam disso desde o início.
— Pois trate de treiná-los melhor e ensiná-los a respeitar quem está acima deles — cuspiu as palavras com raiva. — Exijo o fim do programa, ou eu lhe faço perder esse maldito cargo de Primeiro-Sargento.
riu e se aproximou de , encarando-o de perto com a postura que só adotava quando estava irritado com soldados novos, que tentavam falar consigo como estava falando.
— Tantos anos depois e você ainda não aprendeu nada, — murmurou. — Os dois anos treinando nesse batalhão não lhe serviram para absolutamente nada. Não fale comigo desta forma, não sou os juízes que você deve convencer de qualquer besteira que defenda. Não ofenda meu trabalho e meus soldados desta forma se está justamente reclamando dos que fazem isso. Você não tem que exigir nada. Se estou aqui, neste cargo, é porque muito lutei para alcançá-lo, e não será você, um mero advogado, que irá me tirar. Tampouco seu irmão. Sou excelente no que faço, e vocês deveriam me ouvir mais. Não se metam no meu batalhão nem na minha na equipe. Dos meus soldados e treinamento, cuido eu.
— — chamou. — Eu quero o fim do programa.
— Com todo respeito, senhor presidente — se afastou de . — O fim do programa não é indicado. Se meus soldados estão investigando seus funcionários, é porque eles têm alguma suspeita grandiosa. Jamais fariam algo assim sem um embasamento. Não vou dispensar nenhum soldado, nem mesmo suspender a equipe só porque os senhores não aceitam ser contrariados e estão tentando esconder alguma coisa. Entendo que tem poder o suficiente para nos tirar do comando a qualquer momento, , porém fizemos um juramento e iremos cumpri-lo. Devemos serviço à nossa sociedade e ao nosso governo. Somos sua única fonte de segurança no momento, e não abriremos mão disso. É desconfortável no início, sei que sim. Mas jurei que protegeria a todos até a morte, e assim farei — o sargento fitou os irmãos à sua frente. — Meu país, minha família e meus amigos, essas são minhas prioridades. Irei proteger cada um com unhas e dentes.
— …
— Desta vez, não irei acatar seu pedido, meu amigo — disse diretamente para , interrompendo a fala de um fervendo em ira. — Não adianta reclamar ou pedir para que eu dê um “jeitinho”. É meu dever protegê-lo e farei isto até o último minuto da minha vida. continuará escalado, assim como toda a equipe. Meus homens não fizeram absolutamente nada de errado, e tenho certeza de que vocês perceberão isso em breve. Peço, por fim, para que se retirem do batalhão por agora. Uma chuva monstruosa está a caminho. Tenho certeza de que a equipe já está de prontidão para escoltá-los até em casa, e ficarão na cobertura desta noite.
E, ali, os irmãos notaram que não teriam escapatória.
III.
O fórum judiciário estava lotado naquela manhã de terça-feira. Havia jornalistas, advogados, testemunhas e curiosos por todo o lado. Era um dia importante, no qual precisava portar-se somente como o advogado de todo um partido político. Precisava limpar o nome de um dos deputados o mais rápido possível, ou poderia prejudicar o presidente. Afinal, o partido tinha que estar sempre limpo e em constante progresso para que pudessem seguir sempre no poder, ou com sua maioria de candidatos eleito.
O terno escuro combinava com os cabelos castanhos e os sapatos pretos, dando-lhe um ar maduro invejável. sempre parecia mais inteligente daquela forma. Óculos de grau, cabelos penteados, roupas engomadas. Era o advogado perfeito, genial, imbatível.
A expressão séria e concentrada servia para que as pessoas em volta nem ao menos desconfiassem de toda a raiva que carregava em seu âmago. Tudo o que queria era trucidar o maldito deputado que era claramente culpado, mas teria que ser salvo a qualquer custo. Não aguentava mais olhar para os militares disfarçados – e alguns nem tanto, como fardado em seu encalço – e ter que engolir aquilo que achava tão errado, embora concordasse ser necessário no momento.
Uma semana havia se passado desde a discussão com o Primeiro-Sargento, e finalmente entendera que toda aquela proteção era necessária, pois o assassino sequer tentara contato nos últimos dias e a ameaça poderia ser cumprida a qualquer instante. A cada minuto que passava, tinha mais certeza de que os militares estavam certos e sabiam o que fazer, embora odiasse assumir. Era um homem maduro, mas ainda sentia uma antipatia fora do normal em relação ao General e ao Primeiro-Sargento. Em sua concepção, eram dois ogros desnecessários, principalmente , que o perseguira a vida inteira devido à amizade com o irmão mais velho. Sequer aguentava ouvir sua voz, porém o Sargento parecia não ligar, continuando a falar e falar e falar e falar.
Desde criança!
— Espero que você consiga provar a inocência deste homem — murmurou ao seu lado, como o já esperava. Ele não conseguia ficar quieto por mais de dez minutos. — Não é como se não soubessem que ele é, sim, corrupto e lava dinheiro desde o início da carreira. Mas é o seu trabalho limpar a barra dessa gente, não é?
— Meu trabalho é advogar, sargento — respondeu, acelerando o passo. — Limpo a barra de qualquer pessoa que me pagar para isso, não somente “dessa gente”. Se a justiça não fosse tão falha, ele, assim como muitos outros que já defendi, sairia daqui preso e com uma pena de no mínimo dez anos. Mas já que há falhas, é meu dever como defensor usá-las ao meu favor. E você precisa mesmo ficar no meu pé o tempo inteiro? O meu irmão não está aqui e é ele a quem você deve proteção.
— Concordo com você, talvez até mesmo seu irmão tivesse que acertar algumas contas com a justiça, se esta não fosse tão falha — o sargento riu ironicamente. — Mas isso não é tão importante no momento. Eu só preciso que acabe logo com esse processo e ganhe essa porcaria. Preciso de você com o humor aceitável. Temos que conversar, , e aqui é o único lugar que posso falar com você sem que as pessoas achem que estou fazendo algo além do meu trabalho.
— , olhe aqui — parou de andar abruptamente, virando-se de frente para o mais velho e ignorando suas insinuações. — Este é o meu ambiente de trabalho, e não vou aceitar que você tente qualquer coisa aqui dentro, está entendendo? O que aconteceu naquela noite nunca mais vai se repetir e–
— , não seja idiota! — interrompeu de forma irritadiça, sem paciência. — Não quero fazer um flashback e transar com você de novo, não agora. Estou aqui para, supostamente, proteger você de qualquer ameaça. Isso foi o que eu disse ao General. Mas, na verdade, preciso que investigue uma coisa para mim – para o seu irmão, na verdade. Só precisava ficar camuflado, sem ninguém por perto, sem acharem que estamos confabulando. Eu sei que você quer rebolar no meu pau de novo, mas não é isso que vim oferecê-lo hoje.
abriu e fechou a boca diversas vezes, sem emitir som algum. Tinha os olhos arregalados e as narinas infladas, tentando controlar a vergonha e irritação do momento.
— Não fale esse tipo de coisa por aqui, sargento — disse, por fim, arrancando um sorriso de . — O que é tão importante assim?
— Vá vencer esse caso, doutor — respondeu de forma dura, adotando a postura rígida e defensiva de sargento. — Tenho certeza de que tudo dará certo, estarei aqui junto de meus homens o aguardando.
— Mas o que… — murmurou confuso, porém qualquer questionamento foi esquecido ao notar o olhar do mover lentamente para trás de si, mostrando que vinha o acusado, seu cliente, e, a uns poucos metros de distância, a promotora responsável pela acusação.
Rapidamente sua postura foi modificada, voltando a ser , o maior advogado que o país já tivera.
Sorriu para seu cliente, passando-lhe confiança e, em seguida, cumprimentou a promotora de forma impecável e educada. Todos ali sabiam que, por mais longo que o julgamento fosse, já era uma causa ganha para o . Ninguém nunca o derrubava nos tribunais, ainda mais quando o réu era alguém do partido de seu irmão. Era seu dever defender todos os seus clientes com unhas e dentes; já perdera muito no início de sua carreira e não gostava da sensação. Agora ele tinha o poder nas mãos e era o melhor defensor que Seul poderia ter; apenas a consultoria de seu trabalho era uma fortuna. Dinheiro era seu sobrenome. queria sim defender os injustiçados de verdade, e o fez por algum tempo. Mas o dinheiro parecia gritar seu nome, ele apenas o atendia.
E ganhava todas as causas, até as que pareciam impossíveis.
— Não se esqueça de me procurar assim que sair — sussurrou em seu ouvido logo que a promotora adentrou uma das salas logo à frente.
— O que é tão importante? — repetiu baixinho, notando seu cliente distraído no celular. Ótimo, pois já estava ficando alterado e apreensivo novamente. O sargento estava muito empenhado em ter sua atenção, sentia-se levemente amedrontado e inseguro em relação àquele suspense todo.
o encarou nos olhos e se aproximou mais disfarçadamente, parecia querer esconder ao máximo o que tinha a dizer. Num sussurro ainda mais baixo que o primeiro, cuspiu um nome:
— .
×
— Estão desconfiando de novo.
Foi a primeira coisa que Hyemi disse assim que surgiu na cozinha, vestindo apenas a calça do pijama. O homem tinha o tronco e as costas arranhados e marcados em tons de roxo e vermelho, o que era admirável e grande fonte de orgulho para a secretária. Estava fazendo seu trabalho de namorada muito bem, deixando-o do jeitinho que ele gostava – implorava pelas lembranças em sua pele todas as noites, como um bom submisso masoquista.
— Bom dia para você também, amor — respondeu de maneira provocante, aproximando-se da mulher e beijando-lhe os lábios. — Deixe-os desconfiar do que quiserem, Hyemi.
— Você sabe que não é simples assim — a mulher suspirou. — Precisamos tirar nossos nomes das investigações. O General parece estar sedento para acabar com a vida de todos nós.
— Ele não tem prova de nada, já disse, deixa isso para lá. Vamos tomar café e ir trabalhar.
— Como pode estar tão tranquilo?
— Por que você não está tranquila se não fez nada de errado? Ou fez?
— É claro que não fiz nada de errado! — Hyemi respondeu, ofendida. — Não sei por que ainda dou bola para você.
— Então tudo bem, eu também não fiz nada de errado — sorriu. — E você é perdidamente apaixonada por mim, por isso continua do meu lado. Isso logo irá acabar, Hyemi. Não há motivos para ficar tão paranoica.
— É como se eles soubessem de todos os detalhes sobre tudo. Vão nos lugares certos — explicou. — Dificilmente alguém no nosso lugar não ficaria em total paranoia, , você sabe. O esquema é arris–
— Não falaremos sobre isso — a interrompeu. — É o nosso acordo, você está falando demais. Não sabemos até onde os militares foram; não será surpresa caso tenha escutas por toda a casa, pelo escritório, ou até mesmo no gabinete de . Só esse diálogo é o suficiente para nos acusar de qualquer coisa mesmo que não tenhamos culpa.
— Sabe de uma coisa, amor? — Hyemi o encarou nos olhos. — Precisamos falar sobre isso com o chefe.
— é nosso chefe.
— Você sabe que não é, .
— Hyemi…
— Está na hora do nosso verdadeiro chefe voltar. Tudo está fora de controle, e a culpa é inteiramente dele.
não se deu ao trabalho de responder a namorada, apenas se levantou e seguiu para o banheiro. Aquele assunto lhe tirara totalmente o apetite. Focou em se arrumar de maneira social e impecável como sempre, já que precisaria estar presente em uma entrevista ao lado do presidente.
Ah, o presidente. Sempre o culpado por todas as coisas que saíam do controle, mesmo que tentasse negar. Era óbvio que tudo estava de cabeça para baixo por conta das mudanças drásticas e repentinas que tanto quisera. A morte de fora apenas uma desculpa, em todos os sentidos possíveis, e isso sempre fazia com que risse em puro escárnio.
No fim, era o que todos daquele prédio – do país, na verdade – mereciam. Seu escárnio.
Não era possível a população ser tão cega, a ponto dele próprio ter de mostrar e esconder ao mesmo tempo tudo que acontecia por detrás daquelas janelas de vidros escuros. Tão tolos, bobos. O povo era sempre feito de idiota. Como conseguiam ser assim? Perdiam tanto tempo discutindo e preocupados com os próprios narizes que sequer enxergavam as falcatruas disfarçadas de jogos de marketing.
Viviam em meio a uma corja e não sabiam; sequer desconfiavam e, quando desconfiavam, fechavam os próprios olhos, aceitando serem enganados.
Era o trabalho do assessor trilhar todo o caminho do presidente no dia a dia, assim como também era seu trabalho esconder da população a real intenção por trás daquilo. Definitivamente mostrava e escondia o tempo inteiro, assim como ensinara no início de sua carreira.
— Você precisa mostrar o que as pessoas querem ver, — disse de maneira calma certa manhã. — E esconder aquilo que está errado, porque isso é o que realmente importa para nós, porque somos nós que deixamos tudo de cabeça para baixo e cometemos erros o tempo inteiro. Dinheiro, projetos inacabados, tudo é culpa nossa e isso jamais deve ser mostrado. Estamos acima da população. Brincamos de Deus todos os dias. É o seu trabalho mostrar para a mídia que somos homens bons como aparentamos, mas nem sempre seremos bons de verdade. Esconder é nossa prioridade, e é o seu trabalho.
sorriu enquanto encarava o espelho à sua frente, a voz firme e viva de jazia ecoando em seus ouvidos. Sentia falta de seu chefe, seu amigo, seu hyung exemplar. Seguia cada mínimo conselho do e não se arrependia, cresceu profissionalmente graças a ele e suas sábias palavras. Agora apenas precisava manter-se firme e seguir os planos que traçara ao seu lado, tudo em prol de algo muito maior que imaginavam; o banho de sangue traria um banho de cédulas de dinheiro, e era isso que todos, sem exceção, queriam.
Embora desejasse sempre o bem, seu trabalho era fazer o mal.
×
encontrava-se sentado ao lado de seu cliente e de frente para o juíz. Estava confiante, dera um show de defesa. Era uma causa ganha, como todas as outras.
Entretanto, não estava com os pensamentos ali, naquele caso. Queria entender o que diabos falara. O que o sargento havia descoberto de tão importante? Por que precisavam conversar tão urgentemente sobre e longe de todos?
Toda aquela confusão, logo cedo, fazia com que sua cabeça latejasse. Não conseguia prestar atenção no discurso do juiz, apenas notava a boca abrindo e fechando. Os pensamentos estavam longe e amedrontados; o caminho que o sargento seguia era perigoso demais, ele sabia. Não que se importasse com , a importância era seu emprego, sua paz e sua vida. Era egoísta, sim, e não fazia questão de esconder. Amava a família e muitas outras pessoas por aí, mas o foco sempre seria salvar seu próprio pescoço.
não devia meter seu nariz bonito no que não lhe dizia respeito daquela forma. Céus, aquele sargento ainda acabaria morto e o levaria consigo.
E , definitivamente, não podia morrer; tampouco queria.
— … Sendo assim, declaro o réu inocente.
Assim, o advogado voltou ao presente, sorrindo para o cliente, um deputado federal acusado de lavagem de dinheiro e corrupção, que já estava de pé comemorando enquanto sorria e chorava ao mesmo tempo. Mais uma causa ganha, mais um corrupto se safando.
E ele não se importava; o dinheiro estava em sua conta bancária e o trabalho, feito. Agora, precisava encontrar o maldito para sanar suas curiosidades.
— Você devia disfarçar melhor — o sargento surgiu do nada, atrás do advogado. — Todo mundo já percebeu que você está ligado no modo automático e totalmente aéreo. Isso pode prejudicar sua carreira.
— Nada é capaz de prejudicar minha carreira, . Vamos logo resolver aquele assunto.
— Tem certeza? — o fitou. — E se você se tornasse réu, , isso não afetaria sua carreira?
E, então, parou. Finalmente estava mais calmo, porém em alerta. Realmente ficara no modo automático até que a audiência fosse encerrada. Sequer se lembrava de ter cumprimentado os companheiros de tribunal. O juiz. Todos à sua volta. A sala já estava vazia e os corredores, calmos.
“Há quanto tempo estou assim?”, pensou automaticamente, logo voltando a atenção para o sargento, que sorria.
Naquele momento, sua cabeça estava trabalhando a todo vapor. Por que diabos estava lhe perguntando algo tão absurdo?
— E por que eu me tornaria réu, ?
— Não sei, garoto. Foi apenas uma estratégia para te acordar, e deu bem certo. Agora vamos.
— Você não pode simplesmente falar?
— Não, . Apenas ande, antes que eu te faça virar um réu de verdade.
— O que quer dizer com isso? — parou de andar abruptamente, empurrando o sargento para o lado, até encostá-lo numa parede. — Chega de ameaças vazias. O que está acontecendo?
deu uma risada fraca e empurrou o advogado com força, fazendo-o cambalear e tropeçar nos próprios pés. Com rapidez, segurou-o pelo braço com firmeza e, assim, evitando sua queda.
— Não encoste em mim dessa maneira. Nunca mais — o sargento apertou-o mais, jogando-o na parede que outrora estivera. — Eu faço as perguntas. Eu dou as coordenadas. Eu mostro o que está errado. Eu investigo. Eu, . Somente eu. Não se atreva a fazer isso novamente. Não tente me dar ordens. Agora você vem comigo, como o bom homem que é.
seguiu o sargento após ser solto, sentindo o ódio correr nas veias. Tinha horas que lhe tirava do sério, era insuportável. Sua maior vontade era acabar com ele ali mesmo, em seu local de trabalho e, assim, tornar-se réu como ele tanto falava.
— Um dia eu ainda vou te matar, .
O sargento riu em escárnio.
— Ah, , você não vai, não. Precisa de mim vivo, assim como preciso de você agora.
Após a pequena discussão, não falaram mais nada. Apenas seguiram para o local que insistia que descobririam (ou confirmariam?) algo sobre .
Não fora surpresa quando entraram no carro do sargento e notaram que ninguém os seguia. Era simples: se estava com o sargento mais bem treinado do país, estava seguro. Mas a última coisa que sentia naquele momento era segurança. Na última vez que aceitara entrar naquele carro, acabara completamente nu e urrando o nome do oficial. Era até mesmo humilhante lembrar-se de tal acontecimento, pior era aceitar que fora tão bom que nunca esquecera – e jamais iria. Tinha vontade de repetir a dose até que perdesse a voz e as forças das pernas, mas seu orgulho jamais o deixaria assumir em voz alta. E não precisava, sabia – ele sempre sabia. De tudo.
— Conhece esse caminho? — perguntou após alguns segundos, já entrando numa rua mais vazia.
o encarou com tédio.
— Eu deveria?
O sargento não o respondeu, apenas estacionou o carro numa vaga qualquer onde tivesse boa visão de um prédio de luxo. Sabia que estava curioso, mas tinha certeza absoluta de que o advogado escondia alguma coisa. E não sanaria curiosidade alguma até que lhe fosse narrado, em detalhes, tudo que acontecia no prédio à frente.
Óbvio que já sabia, era mais esperto que todos juntos; descobrira tão rápido o segredinho dos irmãos que se perguntou como diabos não havia desconfiado de todo o esquema antes. Mesmo com tantos anos de amizade, fora incapaz de sequer desconfiar de tudo aquilo, e, agora, cada mínimo detalhe, cada pequena lembrança, fazia sentido.
Porém, para o sargento, era muitíssimo mais prazeroso ouvir pela boca de um deles. Era um sádico nato, no fim das contas.
— Só vou contar o que descobri quando você me falar o que eu quero saber, . Espero que seja paciente, porque eu sou. Bastante.
×
estava de pé olhando pela enorme janela do gabinete. Tinha os pensamentos bagunçados e o medo estava instalado em todo seu ser, qualquer um que o olhasse poderia notar. Estava nervoso, apreensivo, parecia sentir que algo ruim aconteceria em breve – e o sentia, de fato.
— Não é melhor o senhor se sentar? — , o fiel soldado, disse. — Já lhe expliquei que–
— Alguém pode me dar um tiro a qualquer momento — o interrompeu com um sorriso, virando-se em direção ao mais novo. — Não se preocupe, . Está tudo sob controle. Veja só quantos dias se passaram.
— Não podemos relaxar, senhor.
— Eu sei que não, mas ninguém precisa saber — o presidente sorriu de forma arteira, seguindo para a própria mesa e sentando-se ali, ficando de frente para , que continuava na lateral. — Vamos fazer um acordo.
— Qual acordo, senhor?
— Primeiro: pare de me chamar de senhor. Estamos sozinhos aqui, eu realmente não dou a mínima para formalidades com as pessoas próximas. Segundo: já estamos há alguns dias juntos nessa vida chata de segurança e vítima, vamos nos conhecer melhor. Terceiro: você é muito bonito, . Poderia ser um ídolo teen se quisesse.
deixou uma risada escapar e ignorou o rubor que lhe tomava as bochechas. O presidente da Coreia do Sul o elogiara e queria aproximar-se de si. Em que universo paralelo imaginaria algo assim? Ainda mais depois de terem começado tão errado.
— Obrigado, senhor. Quanto às formalidades, não tenho muito o que fazer. Fui criado dessa forma e treinado para isso. Podemos nos conhecer melhor, sim, adoraria conversar mais com o senhor. No entanto, fora do meu horário de trabalho. Não posso me distrair — o soldado o encarou nos olhos, sorrindo. — E, por último, o senhor também é muito bonito.
— Eu adoraria levá-lo para jantar em um dos meus apartamentos em Busan na próxima semana — deu de ombros, sorrindo de forma que suas covinhas ficassem evidentes. — Será uma viagem de negócios, mas teremos uma folga na sexta-feira.
— Seria uma honra jantar com o senhor, Presidente — respondeu de maneira firme. — Posso pedir ao sargento que me libere da ronda da sexta-feira à noite.
— Perfeito.
Sorrisos foram trocados e um silêncio envergonhado tomou conta do gabinete, tamanha era a estranheza da situação. Não era ruim, mas com toda certeza era diferente e novo; muito novo.
Há alguns dias, haviam conversado e esclarecido todos os pontos, além de aceitarem finalmente toda aquela situação forçada de segurança em excesso.
lembrava-se claramente de quando sentara para conversar aberta e sinceramente com o soldado, expondo os pontos bons e ruins daquela relação, além de ter dado dicas para que não se desentendessem de novo. Passaram a semana anterior no famoso “pé de guerra”, mas, no fim, tudo fora resolvido, graças à ajuda do Primeiro-Sargento, que explicara detalhadamente toda a necessidade daquele trabalho e o motivo pelo qual era tão autoritário e ousado. O garoto gostava de fazer o trabalho de maneira certa, principalmente quando envolvia uma ameaça de assassinato. Suas experiências eram sempre muito tensas e complexas, então era natural que ele investigasse tudo ao seu redor.
— Eu preciso que você seja meu amigo, — explicou calmamente naquela tarde, enquanto tomava um café com e sentados à sua frente, já que era sempre mais fácil resolver os assuntos com o sargento no lugar do general. — Se você desconfiar de alguém, precisa me informar também. Não quero você agindo sozinho às escondidas. Preciso ter um aliado, alguém que eu possa confiar, não um novo inimigo sob meu teto. Sei bem de suas missões e entendo que tudo aqui é diferente, mas faremos dar certo, já que não temos escolha.
— — chamou. — Você tem sorte de ser um ótimo soldado e as ordens que seguiu terem sido minhas. Do contrário, já teria sido cortado. Minha única recomendação é que não ameace seus alvos, eles sempre tentarão te derrubar.
— não tentou nada — rebateu. — Apenas quero que façam todo o trabalho da maneira correta.
escondeu um sorriso com a fala de seu sargento, gostando de ouvir o elogio implícito, embora estivesse levando uma bronca do presidente de seu país (e ignorando prontamente, afinal, seus chefes eram o General e o Primeiro-Sargento ).
— Tudo bem — o soldado respondeu. — Não repetirei este erro, senhores. Muito obrigado por me darem outra chance. Prometo que serei mais cuidadoso no futuro.
Pelo olhar trocado entre os três, ficou bem claro que não seria cuidadoso porcaria nenhuma, mas era um acordo de paz selado entre o parlamento e os militares. gostou daquilo; da obediência, da fidelidade que exalava de seus poros, da determinação no olhar e a coragem palpável que lhe rondava.
Se sentiu tão atraído que não conseguiu se controlar, observar se tornara seu passatempo favorito. Tão bonito, tão inteligente, tão atrativo, exatamente da maneira que gostava. O garoto era cheio de qualidades; o queria por ali, presente em sua vida, sob suas vistas. Queria observá-lo ao máximo.
O presidente riu e balançou a cabeça, saindo de seus devaneios e lembranças, logo voltando a fitar o soldado tão próximo de si. Ainda estava chocado com o quão fácil fora falar aquilo que ensaiara por tanto tempo e em como fora receptivo. Esperava sim algo diferente de um militar, talvez um olhar estranho, uma risada debochada ou até mesmo um palavrão. No fim das contas, teve o flerte retribuído de forma imediata e sem o menor sinal de arrependimento, medo ou nojo.
E isso era ótimo para tudo o que tinha em mente.
O presidente tinha planos, sabia que uma grande tempestade estava a caminho e não podia deixar passar qualquer chance que fosse boa o suficiente para ajudar. Planejava algo grande, forte, magnífico. Precisava de alguém como o soldado ao seu lado; e poderia aproveitar também. Um jantar era sempre bem-vindo e, com sorte, talvez aceitasse fazer parte de toda a loucura que estava sendo montada em sua mente — e isto incluía o soldado em sua cama, sob os lençóis.
As horas passaram voando, mas o trabalho havia sido intenso. precisou fazer um pronunciamento de urgência explicando a situação que estavam vivendo e falando, finalmente, sobre o projeto social de – que fora aprovado na reunião que acontecera minutos antes do pronunciamento. Estava tudo sob controle, de uma forma que não ficava há dias. Os militares ainda estavam em alerta, porém mais relaxados. O general parecia estar percebendo e mexendo em alguns pequenos detalhes para que aquilo não virasse uma completa bagunça. Não deveriam relaxar, o assassino poderia aproveitar o momento de distração para acabar com tudo.
A noite já havia caído, mas todos continuavam de prontidão andando pelo prédio e redondezas. O presidente aparentemente trabalharia até mais tarde junto de seu assessor e alguns deputados que vieram de cidades próximas para debater algum assunto importante – e que nenhum militar se interessava (com exceção de ).
— Não acho que seja uma boa ideia um militar estar presente em todas as nossas reuniões — um dos convidados disse, fitando de soslaio. — Isso é confidencial, presidente.
— Minha presença não é uma opção, senhor deputado — se intrometeu, sabendo que ninguém iria interferir ao seu favor. — Sou bom em guardar segredos, este é meu trabalho desde que entrei para as Forças Armadas.
— Insolente — o mais velho respondeu de prontidão. — Deveria ser treinado para ficar em silêncio.
— Mais uma palavra contra mim e o levarei preso sob a suspeita de conspiração e traição ao país por me desejar tanto fora desta reunião, sendo que ninguém além do senhor está se opondo à minha presença.
A sala caiu em silêncio absoluto. Todos estavam sem saber o que falar ou fazer, não esperavam respostas tão fortes e desaforadas do soldado.
— Senhor presidente — o deputado voltou a falar, coçando a garganta de forma forçada. — Por que este soldado ainda está entre nós?
— Ele já disse, senhor Kang — o presidente respondeu de forma tranquila, abrindo um pequeno sorriso ladino. — Sua presença não é uma opção. Vamos dar continuidade à reunião, sim?
fitou o presidente de forma discreta, ignorando os olhares feios dos deputados ali presentes. Não se importava. Tinha que estar ali, e ficaria até que lhe fosse ordenado o contrário. Sabia que não deveria agir de forma tão agressiva e tampouco podia dar respostas atravessadas para deputados ou quaisquer outros políticos e funcionários ali presentes. Abusava de seu poder como soldado. Entretanto, não conseguia ficar calado diante a tantos absurdos. Os dias que passara em meio àquelas pessoas foram o suficiente para deixá-lo fora de si, não aguentava toda a sujeira, roubalheira e armações que faziam o tempo inteiro. Queria poder mudar aquilo; ou ganhar a mais para conseguir guardar segredos de forma correta.
Tentou reportar as coisas erradas e suas suspeitas para seu Sargento, mas este não parecia ligar – ou talvez não pudesse fazer nada realmente. O general não queria dar-lhe ouvidos também, dizia que aquilo não era de sua conta. Mas era, sim; da conta de todos. Contudo, estavam cegos e fingiam não ver os erros e as falcatruas, tapavam os ouvidos e os olhos para tudo em volta.
Entretanto, ele não. Era um soldado, mas também era cidadão. Se pudesse mudar alguma coisa no tempo que lhe restava ali, mudaria.
A reunião correu bem, apesar de seu início tenso. não se dera ao trabalho de falar mais nada, assim como todos os presentes fizeram questão de ignorar sua presença. Fingiam não ver suas passadas lentas e longas por toda a sala, silencioso como todo militar deveria ser.
Aos poucos, a sala de reuniões foi ficando vazia e o soldado continuou lá, até que o presidente se encontrasse finalmente sozinho.
— — chamou enquanto se apoiava na mesa e cruzava os braços. — Você precisa se controlar. Não gosto muito quando você abusa da autoridade que não possui aqui dentro. Já conversamos sobre isso.
— Me desculpe, senhor presidente, mas não ouvirei desaforos calado — o soldado respondeu, dando de ombros. — Essas pessoas nem deveriam estar aqui.
— Você não é pago para opinar aqui dentro, tampouco para tentar falar mais alto que um deputado, garoto.
— Engraçado — se aproximou. — O senhor não se opôs no momento em questão, sequer pareceu se importar. E se me permite um comentário: vocês, políticos, não são autoridades. Apenas estão aqui para representar cada bairro, cidade, estado e país. São colocados no topo por nós — o soldado apoiou ambas as mãos na mesa no qual o outro estava encostado, cercando-o entre seus braços. — Todos deveriam ter a voz e a coragem que tenho de enfrentá-los quando algo está errado.
— Você é um soldado deveras ousado — praticamente sussurrou, sem mover um músculo sequer. — Gosto disso, mas prefiro que seja obediente como é com seu Sargento e General. No entanto, devo assumir: é com homens como você que gosto de trabalhar. Seria interessante tê-lo comigo depois que tudo isso passar.
— Não pretendo trabalhar para o senhor depois disso tudo, presidente.
— Tenho certeza de que posso fazê-lo mudar de ideia — o mais velho sorriu. — Temos um longo caminho pela frente, , e eu preciso de alguém como você do meu lado.
— Sobre o que exatamente estamos falando?
— Estou lhe oferecendo um emprego fixo ao meu lado, com o triplo do seu salário. Uma missão especial. A esta altura, seu Sargento já deve estar por dentro do assunto. Gostaria que você se juntasse a nós.
— Nem todo mundo é movido a dinheiro, senhor — se aproximou um pouquinho mais, deixando os rostos quase colados. — Mas estou disposto a ouvir sua proposta.
— Posso manter seu salário de militar, se isso amaciar seu ego — murmurou baixinho enquanto fitava o soldado nos olhos. — Agora me diga uma coisa, garoto: eu posso beijar você?
A resposta que o presidente recebeu não poderia ter sido melhor. Quase de forma imediata, os lábios de colaram nos seus. Tão macios, doces, com um encaixe perfeito. A língua aveludada invadiu sua boca de forma lenta, conhecendo-o por completo.
suspirou em prazer ao mesmo tempo que puxava o soldado pela cintura, grudando seus quadris. O beijo seguiu lento, intenso, molhado, quente. Tão quente que quase fizera com que o presidente esquecesse de seus planos. Seus companheiros ficariam tão orgulhosos quanto estava naquele momento, de qualquer forma.
Tudo estava correndo tão bem; deleitaria-se ao máximo enquanto ainda podia. A boca de era coisa de outro mundo – gostosa, acolhedora.
Os dentes tortinhos acarinhavam os lábios grossos do presidente, enviando-o ondas de arrepios deliciosos, fazendo-o suspirar e forçar ainda mais seus corpos.
sorriu entre o beijo ao sentir ser puxado para mais perto, fazendo com que seu corpo curvasse sobre o do mais velho. Naquele momento, deixou-se levar pelo desejo, permitindo-se parecer vulnerável. O presidente planejava algo grande, que envolvia até mesmo seus superiores, e o queria por perto. o deixaria pensar que estava no controle o quanto fosse necessário até que descobrisse tudo.
E descobriria.
O terno escuro combinava com os cabelos castanhos e os sapatos pretos, dando-lhe um ar maduro invejável. sempre parecia mais inteligente daquela forma. Óculos de grau, cabelos penteados, roupas engomadas. Era o advogado perfeito, genial, imbatível.
A expressão séria e concentrada servia para que as pessoas em volta nem ao menos desconfiassem de toda a raiva que carregava em seu âmago. Tudo o que queria era trucidar o maldito deputado que era claramente culpado, mas teria que ser salvo a qualquer custo. Não aguentava mais olhar para os militares disfarçados – e alguns nem tanto, como fardado em seu encalço – e ter que engolir aquilo que achava tão errado, embora concordasse ser necessário no momento.
Uma semana havia se passado desde a discussão com o Primeiro-Sargento, e finalmente entendera que toda aquela proteção era necessária, pois o assassino sequer tentara contato nos últimos dias e a ameaça poderia ser cumprida a qualquer instante. A cada minuto que passava, tinha mais certeza de que os militares estavam certos e sabiam o que fazer, embora odiasse assumir. Era um homem maduro, mas ainda sentia uma antipatia fora do normal em relação ao General e ao Primeiro-Sargento. Em sua concepção, eram dois ogros desnecessários, principalmente , que o perseguira a vida inteira devido à amizade com o irmão mais velho. Sequer aguentava ouvir sua voz, porém o Sargento parecia não ligar, continuando a falar e falar e falar e falar.
Desde criança!
— Espero que você consiga provar a inocência deste homem — murmurou ao seu lado, como o já esperava. Ele não conseguia ficar quieto por mais de dez minutos. — Não é como se não soubessem que ele é, sim, corrupto e lava dinheiro desde o início da carreira. Mas é o seu trabalho limpar a barra dessa gente, não é?
— Meu trabalho é advogar, sargento — respondeu, acelerando o passo. — Limpo a barra de qualquer pessoa que me pagar para isso, não somente “dessa gente”. Se a justiça não fosse tão falha, ele, assim como muitos outros que já defendi, sairia daqui preso e com uma pena de no mínimo dez anos. Mas já que há falhas, é meu dever como defensor usá-las ao meu favor. E você precisa mesmo ficar no meu pé o tempo inteiro? O meu irmão não está aqui e é ele a quem você deve proteção.
— Concordo com você, talvez até mesmo seu irmão tivesse que acertar algumas contas com a justiça, se esta não fosse tão falha — o sargento riu ironicamente. — Mas isso não é tão importante no momento. Eu só preciso que acabe logo com esse processo e ganhe essa porcaria. Preciso de você com o humor aceitável. Temos que conversar, , e aqui é o único lugar que posso falar com você sem que as pessoas achem que estou fazendo algo além do meu trabalho.
— , olhe aqui — parou de andar abruptamente, virando-se de frente para o mais velho e ignorando suas insinuações. — Este é o meu ambiente de trabalho, e não vou aceitar que você tente qualquer coisa aqui dentro, está entendendo? O que aconteceu naquela noite nunca mais vai se repetir e–
— , não seja idiota! — interrompeu de forma irritadiça, sem paciência. — Não quero fazer um flashback e transar com você de novo, não agora. Estou aqui para, supostamente, proteger você de qualquer ameaça. Isso foi o que eu disse ao General. Mas, na verdade, preciso que investigue uma coisa para mim – para o seu irmão, na verdade. Só precisava ficar camuflado, sem ninguém por perto, sem acharem que estamos confabulando. Eu sei que você quer rebolar no meu pau de novo, mas não é isso que vim oferecê-lo hoje.
abriu e fechou a boca diversas vezes, sem emitir som algum. Tinha os olhos arregalados e as narinas infladas, tentando controlar a vergonha e irritação do momento.
— Não fale esse tipo de coisa por aqui, sargento — disse, por fim, arrancando um sorriso de . — O que é tão importante assim?
— Vá vencer esse caso, doutor — respondeu de forma dura, adotando a postura rígida e defensiva de sargento. — Tenho certeza de que tudo dará certo, estarei aqui junto de meus homens o aguardando.
— Mas o que… — murmurou confuso, porém qualquer questionamento foi esquecido ao notar o olhar do mover lentamente para trás de si, mostrando que vinha o acusado, seu cliente, e, a uns poucos metros de distância, a promotora responsável pela acusação.
Rapidamente sua postura foi modificada, voltando a ser , o maior advogado que o país já tivera.
Sorriu para seu cliente, passando-lhe confiança e, em seguida, cumprimentou a promotora de forma impecável e educada. Todos ali sabiam que, por mais longo que o julgamento fosse, já era uma causa ganha para o . Ninguém nunca o derrubava nos tribunais, ainda mais quando o réu era alguém do partido de seu irmão. Era seu dever defender todos os seus clientes com unhas e dentes; já perdera muito no início de sua carreira e não gostava da sensação. Agora ele tinha o poder nas mãos e era o melhor defensor que Seul poderia ter; apenas a consultoria de seu trabalho era uma fortuna. Dinheiro era seu sobrenome. queria sim defender os injustiçados de verdade, e o fez por algum tempo. Mas o dinheiro parecia gritar seu nome, ele apenas o atendia.
E ganhava todas as causas, até as que pareciam impossíveis.
— Não se esqueça de me procurar assim que sair — sussurrou em seu ouvido logo que a promotora adentrou uma das salas logo à frente.
— O que é tão importante? — repetiu baixinho, notando seu cliente distraído no celular. Ótimo, pois já estava ficando alterado e apreensivo novamente. O sargento estava muito empenhado em ter sua atenção, sentia-se levemente amedrontado e inseguro em relação àquele suspense todo.
o encarou nos olhos e se aproximou mais disfarçadamente, parecia querer esconder ao máximo o que tinha a dizer. Num sussurro ainda mais baixo que o primeiro, cuspiu um nome:
— .
— Estão desconfiando de novo.
Foi a primeira coisa que Hyemi disse assim que surgiu na cozinha, vestindo apenas a calça do pijama. O homem tinha o tronco e as costas arranhados e marcados em tons de roxo e vermelho, o que era admirável e grande fonte de orgulho para a secretária. Estava fazendo seu trabalho de namorada muito bem, deixando-o do jeitinho que ele gostava – implorava pelas lembranças em sua pele todas as noites, como um bom submisso masoquista.
— Bom dia para você também, amor — respondeu de maneira provocante, aproximando-se da mulher e beijando-lhe os lábios. — Deixe-os desconfiar do que quiserem, Hyemi.
— Você sabe que não é simples assim — a mulher suspirou. — Precisamos tirar nossos nomes das investigações. O General parece estar sedento para acabar com a vida de todos nós.
— Ele não tem prova de nada, já disse, deixa isso para lá. Vamos tomar café e ir trabalhar.
— Como pode estar tão tranquilo?
— Por que você não está tranquila se não fez nada de errado? Ou fez?
— É claro que não fiz nada de errado! — Hyemi respondeu, ofendida. — Não sei por que ainda dou bola para você.
— Então tudo bem, eu também não fiz nada de errado — sorriu. — E você é perdidamente apaixonada por mim, por isso continua do meu lado. Isso logo irá acabar, Hyemi. Não há motivos para ficar tão paranoica.
— É como se eles soubessem de todos os detalhes sobre tudo. Vão nos lugares certos — explicou. — Dificilmente alguém no nosso lugar não ficaria em total paranoia, , você sabe. O esquema é arris–
— Não falaremos sobre isso — a interrompeu. — É o nosso acordo, você está falando demais. Não sabemos até onde os militares foram; não será surpresa caso tenha escutas por toda a casa, pelo escritório, ou até mesmo no gabinete de . Só esse diálogo é o suficiente para nos acusar de qualquer coisa mesmo que não tenhamos culpa.
— Sabe de uma coisa, amor? — Hyemi o encarou nos olhos. — Precisamos falar sobre isso com o chefe.
— é nosso chefe.
— Você sabe que não é, .
— Hyemi…
— Está na hora do nosso verdadeiro chefe voltar. Tudo está fora de controle, e a culpa é inteiramente dele.
não se deu ao trabalho de responder a namorada, apenas se levantou e seguiu para o banheiro. Aquele assunto lhe tirara totalmente o apetite. Focou em se arrumar de maneira social e impecável como sempre, já que precisaria estar presente em uma entrevista ao lado do presidente.
Ah, o presidente. Sempre o culpado por todas as coisas que saíam do controle, mesmo que tentasse negar. Era óbvio que tudo estava de cabeça para baixo por conta das mudanças drásticas e repentinas que tanto quisera. A morte de fora apenas uma desculpa, em todos os sentidos possíveis, e isso sempre fazia com que risse em puro escárnio.
No fim, era o que todos daquele prédio – do país, na verdade – mereciam. Seu escárnio.
Não era possível a população ser tão cega, a ponto dele próprio ter de mostrar e esconder ao mesmo tempo tudo que acontecia por detrás daquelas janelas de vidros escuros. Tão tolos, bobos. O povo era sempre feito de idiota. Como conseguiam ser assim? Perdiam tanto tempo discutindo e preocupados com os próprios narizes que sequer enxergavam as falcatruas disfarçadas de jogos de marketing.
Viviam em meio a uma corja e não sabiam; sequer desconfiavam e, quando desconfiavam, fechavam os próprios olhos, aceitando serem enganados.
Era o trabalho do assessor trilhar todo o caminho do presidente no dia a dia, assim como também era seu trabalho esconder da população a real intenção por trás daquilo. Definitivamente mostrava e escondia o tempo inteiro, assim como ensinara no início de sua carreira.
— Você precisa mostrar o que as pessoas querem ver, — disse de maneira calma certa manhã. — E esconder aquilo que está errado, porque isso é o que realmente importa para nós, porque somos nós que deixamos tudo de cabeça para baixo e cometemos erros o tempo inteiro. Dinheiro, projetos inacabados, tudo é culpa nossa e isso jamais deve ser mostrado. Estamos acima da população. Brincamos de Deus todos os dias. É o seu trabalho mostrar para a mídia que somos homens bons como aparentamos, mas nem sempre seremos bons de verdade. Esconder é nossa prioridade, e é o seu trabalho.
sorriu enquanto encarava o espelho à sua frente, a voz firme e viva de jazia ecoando em seus ouvidos. Sentia falta de seu chefe, seu amigo, seu hyung exemplar. Seguia cada mínimo conselho do e não se arrependia, cresceu profissionalmente graças a ele e suas sábias palavras. Agora apenas precisava manter-se firme e seguir os planos que traçara ao seu lado, tudo em prol de algo muito maior que imaginavam; o banho de sangue traria um banho de cédulas de dinheiro, e era isso que todos, sem exceção, queriam.
Embora desejasse sempre o bem, seu trabalho era fazer o mal.
encontrava-se sentado ao lado de seu cliente e de frente para o juíz. Estava confiante, dera um show de defesa. Era uma causa ganha, como todas as outras.
Entretanto, não estava com os pensamentos ali, naquele caso. Queria entender o que diabos falara. O que o sargento havia descoberto de tão importante? Por que precisavam conversar tão urgentemente sobre e longe de todos?
Toda aquela confusão, logo cedo, fazia com que sua cabeça latejasse. Não conseguia prestar atenção no discurso do juiz, apenas notava a boca abrindo e fechando. Os pensamentos estavam longe e amedrontados; o caminho que o sargento seguia era perigoso demais, ele sabia. Não que se importasse com , a importância era seu emprego, sua paz e sua vida. Era egoísta, sim, e não fazia questão de esconder. Amava a família e muitas outras pessoas por aí, mas o foco sempre seria salvar seu próprio pescoço.
não devia meter seu nariz bonito no que não lhe dizia respeito daquela forma. Céus, aquele sargento ainda acabaria morto e o levaria consigo.
E , definitivamente, não podia morrer; tampouco queria.
— … Sendo assim, declaro o réu inocente.
Assim, o advogado voltou ao presente, sorrindo para o cliente, um deputado federal acusado de lavagem de dinheiro e corrupção, que já estava de pé comemorando enquanto sorria e chorava ao mesmo tempo. Mais uma causa ganha, mais um corrupto se safando.
E ele não se importava; o dinheiro estava em sua conta bancária e o trabalho, feito. Agora, precisava encontrar o maldito para sanar suas curiosidades.
— Você devia disfarçar melhor — o sargento surgiu do nada, atrás do advogado. — Todo mundo já percebeu que você está ligado no modo automático e totalmente aéreo. Isso pode prejudicar sua carreira.
— Nada é capaz de prejudicar minha carreira, . Vamos logo resolver aquele assunto.
— Tem certeza? — o fitou. — E se você se tornasse réu, , isso não afetaria sua carreira?
E, então, parou. Finalmente estava mais calmo, porém em alerta. Realmente ficara no modo automático até que a audiência fosse encerrada. Sequer se lembrava de ter cumprimentado os companheiros de tribunal. O juiz. Todos à sua volta. A sala já estava vazia e os corredores, calmos.
“Há quanto tempo estou assim?”, pensou automaticamente, logo voltando a atenção para o sargento, que sorria.
Naquele momento, sua cabeça estava trabalhando a todo vapor. Por que diabos estava lhe perguntando algo tão absurdo?
— E por que eu me tornaria réu, ?
— Não sei, garoto. Foi apenas uma estratégia para te acordar, e deu bem certo. Agora vamos.
— Você não pode simplesmente falar?
— Não, . Apenas ande, antes que eu te faça virar um réu de verdade.
— O que quer dizer com isso? — parou de andar abruptamente, empurrando o sargento para o lado, até encostá-lo numa parede. — Chega de ameaças vazias. O que está acontecendo?
deu uma risada fraca e empurrou o advogado com força, fazendo-o cambalear e tropeçar nos próprios pés. Com rapidez, segurou-o pelo braço com firmeza e, assim, evitando sua queda.
— Não encoste em mim dessa maneira. Nunca mais — o sargento apertou-o mais, jogando-o na parede que outrora estivera. — Eu faço as perguntas. Eu dou as coordenadas. Eu mostro o que está errado. Eu investigo. Eu, . Somente eu. Não se atreva a fazer isso novamente. Não tente me dar ordens. Agora você vem comigo, como o bom homem que é.
seguiu o sargento após ser solto, sentindo o ódio correr nas veias. Tinha horas que lhe tirava do sério, era insuportável. Sua maior vontade era acabar com ele ali mesmo, em seu local de trabalho e, assim, tornar-se réu como ele tanto falava.
— Um dia eu ainda vou te matar, .
O sargento riu em escárnio.
— Ah, , você não vai, não. Precisa de mim vivo, assim como preciso de você agora.
Após a pequena discussão, não falaram mais nada. Apenas seguiram para o local que insistia que descobririam (ou confirmariam?) algo sobre .
Não fora surpresa quando entraram no carro do sargento e notaram que ninguém os seguia. Era simples: se estava com o sargento mais bem treinado do país, estava seguro. Mas a última coisa que sentia naquele momento era segurança. Na última vez que aceitara entrar naquele carro, acabara completamente nu e urrando o nome do oficial. Era até mesmo humilhante lembrar-se de tal acontecimento, pior era aceitar que fora tão bom que nunca esquecera – e jamais iria. Tinha vontade de repetir a dose até que perdesse a voz e as forças das pernas, mas seu orgulho jamais o deixaria assumir em voz alta. E não precisava, sabia – ele sempre sabia. De tudo.
— Conhece esse caminho? — perguntou após alguns segundos, já entrando numa rua mais vazia.
o encarou com tédio.
— Eu deveria?
O sargento não o respondeu, apenas estacionou o carro numa vaga qualquer onde tivesse boa visão de um prédio de luxo. Sabia que estava curioso, mas tinha certeza absoluta de que o advogado escondia alguma coisa. E não sanaria curiosidade alguma até que lhe fosse narrado, em detalhes, tudo que acontecia no prédio à frente.
Óbvio que já sabia, era mais esperto que todos juntos; descobrira tão rápido o segredinho dos irmãos que se perguntou como diabos não havia desconfiado de todo o esquema antes. Mesmo com tantos anos de amizade, fora incapaz de sequer desconfiar de tudo aquilo, e, agora, cada mínimo detalhe, cada pequena lembrança, fazia sentido.
Porém, para o sargento, era muitíssimo mais prazeroso ouvir pela boca de um deles. Era um sádico nato, no fim das contas.
— Só vou contar o que descobri quando você me falar o que eu quero saber, . Espero que seja paciente, porque eu sou. Bastante.
estava de pé olhando pela enorme janela do gabinete. Tinha os pensamentos bagunçados e o medo estava instalado em todo seu ser, qualquer um que o olhasse poderia notar. Estava nervoso, apreensivo, parecia sentir que algo ruim aconteceria em breve – e o sentia, de fato.
— Não é melhor o senhor se sentar? — , o fiel soldado, disse. — Já lhe expliquei que–
— Alguém pode me dar um tiro a qualquer momento — o interrompeu com um sorriso, virando-se em direção ao mais novo. — Não se preocupe, . Está tudo sob controle. Veja só quantos dias se passaram.
— Não podemos relaxar, senhor.
— Eu sei que não, mas ninguém precisa saber — o presidente sorriu de forma arteira, seguindo para a própria mesa e sentando-se ali, ficando de frente para , que continuava na lateral. — Vamos fazer um acordo.
— Qual acordo, senhor?
— Primeiro: pare de me chamar de senhor. Estamos sozinhos aqui, eu realmente não dou a mínima para formalidades com as pessoas próximas. Segundo: já estamos há alguns dias juntos nessa vida chata de segurança e vítima, vamos nos conhecer melhor. Terceiro: você é muito bonito, . Poderia ser um ídolo teen se quisesse.
deixou uma risada escapar e ignorou o rubor que lhe tomava as bochechas. O presidente da Coreia do Sul o elogiara e queria aproximar-se de si. Em que universo paralelo imaginaria algo assim? Ainda mais depois de terem começado tão errado.
— Obrigado, senhor. Quanto às formalidades, não tenho muito o que fazer. Fui criado dessa forma e treinado para isso. Podemos nos conhecer melhor, sim, adoraria conversar mais com o senhor. No entanto, fora do meu horário de trabalho. Não posso me distrair — o soldado o encarou nos olhos, sorrindo. — E, por último, o senhor também é muito bonito.
— Eu adoraria levá-lo para jantar em um dos meus apartamentos em Busan na próxima semana — deu de ombros, sorrindo de forma que suas covinhas ficassem evidentes. — Será uma viagem de negócios, mas teremos uma folga na sexta-feira.
— Seria uma honra jantar com o senhor, Presidente — respondeu de maneira firme. — Posso pedir ao sargento que me libere da ronda da sexta-feira à noite.
— Perfeito.
Sorrisos foram trocados e um silêncio envergonhado tomou conta do gabinete, tamanha era a estranheza da situação. Não era ruim, mas com toda certeza era diferente e novo; muito novo.
Há alguns dias, haviam conversado e esclarecido todos os pontos, além de aceitarem finalmente toda aquela situação forçada de segurança em excesso.
lembrava-se claramente de quando sentara para conversar aberta e sinceramente com o soldado, expondo os pontos bons e ruins daquela relação, além de ter dado dicas para que não se desentendessem de novo. Passaram a semana anterior no famoso “pé de guerra”, mas, no fim, tudo fora resolvido, graças à ajuda do Primeiro-Sargento, que explicara detalhadamente toda a necessidade daquele trabalho e o motivo pelo qual era tão autoritário e ousado. O garoto gostava de fazer o trabalho de maneira certa, principalmente quando envolvia uma ameaça de assassinato. Suas experiências eram sempre muito tensas e complexas, então era natural que ele investigasse tudo ao seu redor.
— Eu preciso que você seja meu amigo, — explicou calmamente naquela tarde, enquanto tomava um café com e sentados à sua frente, já que era sempre mais fácil resolver os assuntos com o sargento no lugar do general. — Se você desconfiar de alguém, precisa me informar também. Não quero você agindo sozinho às escondidas. Preciso ter um aliado, alguém que eu possa confiar, não um novo inimigo sob meu teto. Sei bem de suas missões e entendo que tudo aqui é diferente, mas faremos dar certo, já que não temos escolha.
— — chamou. — Você tem sorte de ser um ótimo soldado e as ordens que seguiu terem sido minhas. Do contrário, já teria sido cortado. Minha única recomendação é que não ameace seus alvos, eles sempre tentarão te derrubar.
— não tentou nada — rebateu. — Apenas quero que façam todo o trabalho da maneira correta.
escondeu um sorriso com a fala de seu sargento, gostando de ouvir o elogio implícito, embora estivesse levando uma bronca do presidente de seu país (e ignorando prontamente, afinal, seus chefes eram o General e o Primeiro-Sargento ).
— Tudo bem — o soldado respondeu. — Não repetirei este erro, senhores. Muito obrigado por me darem outra chance. Prometo que serei mais cuidadoso no futuro.
Pelo olhar trocado entre os três, ficou bem claro que não seria cuidadoso porcaria nenhuma, mas era um acordo de paz selado entre o parlamento e os militares. gostou daquilo; da obediência, da fidelidade que exalava de seus poros, da determinação no olhar e a coragem palpável que lhe rondava.
Se sentiu tão atraído que não conseguiu se controlar, observar se tornara seu passatempo favorito. Tão bonito, tão inteligente, tão atrativo, exatamente da maneira que gostava. O garoto era cheio de qualidades; o queria por ali, presente em sua vida, sob suas vistas. Queria observá-lo ao máximo.
O presidente riu e balançou a cabeça, saindo de seus devaneios e lembranças, logo voltando a fitar o soldado tão próximo de si. Ainda estava chocado com o quão fácil fora falar aquilo que ensaiara por tanto tempo e em como fora receptivo. Esperava sim algo diferente de um militar, talvez um olhar estranho, uma risada debochada ou até mesmo um palavrão. No fim das contas, teve o flerte retribuído de forma imediata e sem o menor sinal de arrependimento, medo ou nojo.
E isso era ótimo para tudo o que tinha em mente.
O presidente tinha planos, sabia que uma grande tempestade estava a caminho e não podia deixar passar qualquer chance que fosse boa o suficiente para ajudar. Planejava algo grande, forte, magnífico. Precisava de alguém como o soldado ao seu lado; e poderia aproveitar também. Um jantar era sempre bem-vindo e, com sorte, talvez aceitasse fazer parte de toda a loucura que estava sendo montada em sua mente — e isto incluía o soldado em sua cama, sob os lençóis.
As horas passaram voando, mas o trabalho havia sido intenso. precisou fazer um pronunciamento de urgência explicando a situação que estavam vivendo e falando, finalmente, sobre o projeto social de – que fora aprovado na reunião que acontecera minutos antes do pronunciamento. Estava tudo sob controle, de uma forma que não ficava há dias. Os militares ainda estavam em alerta, porém mais relaxados. O general parecia estar percebendo e mexendo em alguns pequenos detalhes para que aquilo não virasse uma completa bagunça. Não deveriam relaxar, o assassino poderia aproveitar o momento de distração para acabar com tudo.
A noite já havia caído, mas todos continuavam de prontidão andando pelo prédio e redondezas. O presidente aparentemente trabalharia até mais tarde junto de seu assessor e alguns deputados que vieram de cidades próximas para debater algum assunto importante – e que nenhum militar se interessava (com exceção de ).
— Não acho que seja uma boa ideia um militar estar presente em todas as nossas reuniões — um dos convidados disse, fitando de soslaio. — Isso é confidencial, presidente.
— Minha presença não é uma opção, senhor deputado — se intrometeu, sabendo que ninguém iria interferir ao seu favor. — Sou bom em guardar segredos, este é meu trabalho desde que entrei para as Forças Armadas.
— Insolente — o mais velho respondeu de prontidão. — Deveria ser treinado para ficar em silêncio.
— Mais uma palavra contra mim e o levarei preso sob a suspeita de conspiração e traição ao país por me desejar tanto fora desta reunião, sendo que ninguém além do senhor está se opondo à minha presença.
A sala caiu em silêncio absoluto. Todos estavam sem saber o que falar ou fazer, não esperavam respostas tão fortes e desaforadas do soldado.
— Senhor presidente — o deputado voltou a falar, coçando a garganta de forma forçada. — Por que este soldado ainda está entre nós?
— Ele já disse, senhor Kang — o presidente respondeu de forma tranquila, abrindo um pequeno sorriso ladino. — Sua presença não é uma opção. Vamos dar continuidade à reunião, sim?
fitou o presidente de forma discreta, ignorando os olhares feios dos deputados ali presentes. Não se importava. Tinha que estar ali, e ficaria até que lhe fosse ordenado o contrário. Sabia que não deveria agir de forma tão agressiva e tampouco podia dar respostas atravessadas para deputados ou quaisquer outros políticos e funcionários ali presentes. Abusava de seu poder como soldado. Entretanto, não conseguia ficar calado diante a tantos absurdos. Os dias que passara em meio àquelas pessoas foram o suficiente para deixá-lo fora de si, não aguentava toda a sujeira, roubalheira e armações que faziam o tempo inteiro. Queria poder mudar aquilo; ou ganhar a mais para conseguir guardar segredos de forma correta.
Tentou reportar as coisas erradas e suas suspeitas para seu Sargento, mas este não parecia ligar – ou talvez não pudesse fazer nada realmente. O general não queria dar-lhe ouvidos também, dizia que aquilo não era de sua conta. Mas era, sim; da conta de todos. Contudo, estavam cegos e fingiam não ver os erros e as falcatruas, tapavam os ouvidos e os olhos para tudo em volta.
Entretanto, ele não. Era um soldado, mas também era cidadão. Se pudesse mudar alguma coisa no tempo que lhe restava ali, mudaria.
A reunião correu bem, apesar de seu início tenso. não se dera ao trabalho de falar mais nada, assim como todos os presentes fizeram questão de ignorar sua presença. Fingiam não ver suas passadas lentas e longas por toda a sala, silencioso como todo militar deveria ser.
Aos poucos, a sala de reuniões foi ficando vazia e o soldado continuou lá, até que o presidente se encontrasse finalmente sozinho.
— — chamou enquanto se apoiava na mesa e cruzava os braços. — Você precisa se controlar. Não gosto muito quando você abusa da autoridade que não possui aqui dentro. Já conversamos sobre isso.
— Me desculpe, senhor presidente, mas não ouvirei desaforos calado — o soldado respondeu, dando de ombros. — Essas pessoas nem deveriam estar aqui.
— Você não é pago para opinar aqui dentro, tampouco para tentar falar mais alto que um deputado, garoto.
— Engraçado — se aproximou. — O senhor não se opôs no momento em questão, sequer pareceu se importar. E se me permite um comentário: vocês, políticos, não são autoridades. Apenas estão aqui para representar cada bairro, cidade, estado e país. São colocados no topo por nós — o soldado apoiou ambas as mãos na mesa no qual o outro estava encostado, cercando-o entre seus braços. — Todos deveriam ter a voz e a coragem que tenho de enfrentá-los quando algo está errado.
— Você é um soldado deveras ousado — praticamente sussurrou, sem mover um músculo sequer. — Gosto disso, mas prefiro que seja obediente como é com seu Sargento e General. No entanto, devo assumir: é com homens como você que gosto de trabalhar. Seria interessante tê-lo comigo depois que tudo isso passar.
— Não pretendo trabalhar para o senhor depois disso tudo, presidente.
— Tenho certeza de que posso fazê-lo mudar de ideia — o mais velho sorriu. — Temos um longo caminho pela frente, , e eu preciso de alguém como você do meu lado.
— Sobre o que exatamente estamos falando?
— Estou lhe oferecendo um emprego fixo ao meu lado, com o triplo do seu salário. Uma missão especial. A esta altura, seu Sargento já deve estar por dentro do assunto. Gostaria que você se juntasse a nós.
— Nem todo mundo é movido a dinheiro, senhor — se aproximou um pouquinho mais, deixando os rostos quase colados. — Mas estou disposto a ouvir sua proposta.
— Posso manter seu salário de militar, se isso amaciar seu ego — murmurou baixinho enquanto fitava o soldado nos olhos. — Agora me diga uma coisa, garoto: eu posso beijar você?
A resposta que o presidente recebeu não poderia ter sido melhor. Quase de forma imediata, os lábios de colaram nos seus. Tão macios, doces, com um encaixe perfeito. A língua aveludada invadiu sua boca de forma lenta, conhecendo-o por completo.
suspirou em prazer ao mesmo tempo que puxava o soldado pela cintura, grudando seus quadris. O beijo seguiu lento, intenso, molhado, quente. Tão quente que quase fizera com que o presidente esquecesse de seus planos. Seus companheiros ficariam tão orgulhosos quanto estava naquele momento, de qualquer forma.
Tudo estava correndo tão bem; deleitaria-se ao máximo enquanto ainda podia. A boca de era coisa de outro mundo – gostosa, acolhedora.
Os dentes tortinhos acarinhavam os lábios grossos do presidente, enviando-o ondas de arrepios deliciosos, fazendo-o suspirar e forçar ainda mais seus corpos.
sorriu entre o beijo ao sentir ser puxado para mais perto, fazendo com que seu corpo curvasse sobre o do mais velho. Naquele momento, deixou-se levar pelo desejo, permitindo-se parecer vulnerável. O presidente planejava algo grande, que envolvia até mesmo seus superiores, e o queria por perto. o deixaria pensar que estava no controle o quanto fosse necessário até que descobrisse tudo.
E descobriria.
IV.
Se alguém chegasse para há quinze dias e dissesse que teria que fazer a segurança do presidente e de toda sua família, ele jamais acreditaria. Riria, caçoaria; faria qualquer coisa, menos acreditar em palavras tão absurdas. E mais, se alguém ao menos tentasse insinuar que ele teria a mínima chance que fosse de se tornar o cara de confiança do homem mais poderoso do país, e como bônus ganhasse beijos e amassos pelos cantos após seu horário de trabalho, ele nem ao menos escutaria a teoria por completo.
Era insano cogitar a possibilidade de ter algum contato próximo ao presidente; quiçá uma relação tão íntima com direito a beijos e arfares fortes — além de uma bela ereção entre as pernas.
Ainda parecia estranho. Era como se o soldado tivesse voltado para a adolescência. Bastava encarar o presidente para se sentir em chamas e com os lábios formigando em desejo. Trabalhar estava mais complicado, sua atenção, mesmo que redobrada, acabava por ficar totalmente no moreno bonito.
era a perdição em forma de pessoa; o corpo magro, os mais de um e oitenta de altura, os cabelos cortados baixinho, pintados num tom bonito de castanho e sempre repartidos para o lado, os lábios grossos, o sorriso sedutor e angelical, as covinhas, o tom acobreado da pele... Tudo.
O presidente havia passado de alguém que deveria proteger para o homem que mais sentia desejo em todo o Universo, e nunca sequer imaginara que sentiria algo tão arrebatador assim em tão pouco tempo.
— — o sargento o chamou, surgindo de surpresa no pequeno quarto em que o soldado ficava no batalhão. — Precisamos conversar.
— Primeiro-Sargento — se levantou, batendo continência. — Sente-se, por favor. Algum problema?
— Não, está tudo bem — respondeu e continuou de pé, recusando o convite do mais novo. — Não pretendo demorar — explicou. — Amanhã estaremos partindo para Daegu, antes de seguirmos para Busan. O presidente tem uma agenda a seguir por todo o país, e, a pedido do próprio, você está escalado para fazer sua guarda pessoal. Veja bem, , você vai atuar quase como o chefe de uma equipe inteira. Obviamente eu e o General estaremos por lá, no entanto, um bocado ocupados. Precisamos visitar alguns batalhões e recrutar soldados extras para a próxima missão, que vocês obviamente não poderão ir. Ou seja, garoto, o presidente escolheu você para que faça toda a segurança. Estará na linha de frente novamente, , e espero que não nos decepcione.
não soube bem como reagir de primeira; estava chocado. Era o mais novo entre todos os soldados, claro que sabia que era um dos melhores, porém, ainda assim, era no mínimo surpreendente saber que fora escolhido a dedo para reforçar toda uma segurança e comandar os soldados que, para ele, eram tão parecidos consigo. Não havia diferença, todos foram treinados igualmente, serviam igualmente e eram enviados para as mesmas missões fora do país.
Sabia que a decisão poderia ter sido tomada devido à aproximação que ele e tiveram, mas preferia pensar que era por conta de seu trabalho sempre tão eficiente.
— Não irei decepcioná-los, senhor — estufou o peito. — Eu juro.
o mediu dos pés à cabeça. Confiava naquele soldado, mas ainda não conseguia entender o porquê de escolhê-lo. Sabia que, se tivesse sido sua própria decisão ou do General, faria muito mais sentido. Já o presidente… Bem, não era ele que vivia trocando farpas com o mais novo?
— Eu confio em você, soldado. Sei que fiz um bom trabalho ao treiná-lo.
O sargento realmente confiava em todos os seus soldados, mas não confiava no presidente para tomar certas decisões. Principalmente depois do que descobrira.
×
O escritório tinha todas as luzes apagadas quando chegou, já no início da noite. A iluminação da rua invadia todo o cômodo e era o que fazia o assessor conseguir se movimentar por ali, devagar e discreto como sempre era. Exatamente do jeito que seu verdadeiro chefe gostava e apreciava.
— Senhor — chamou de um jeitinho cauteloso. — Mandou me chamar?
— Sim, — o mais velho respondeu sem mover um músculo sequer. Continuava sentado na cadeira confortável de frente para a janela e de costas para o assessor. Observar a noite o acalmava, ainda mais ali, no meio do nada.
— Em que posso ser útil? — se aproximou em passos lentos, puxando a cadeira comum e colocando-a ao lado do homem.
— Está na hora — o homem sussurrou, fazendo com que finalmente o fitasse. Seu rosto ainda estava inchado e enrolado por curativos bem feitos e profissionais. Os olhos e a boca eram as únicas coisas descobertas. Parecia o mesmo de sempre, até depois de tantas cirurgias plásticas. Era uma nova pessoa com resquícios da antiga.
— Na hora do quê?
— Você sabe, garoto — o homem o encarou. — . Está na hora de .
— Pensei que iríamos deixá-lo por último — respondeu. — Posso saber o motivo dessa mudança nos planos?
— Ele está sendo o último, — o mais velho revirou os olhos. — Veja bem, o sargento... Ele já sabe de tudo. Aparentemente, não conseguiu guardar a língua dentro da própria boca. Eu avisei que esse garoto traria problemas… Não é bom trabalhar com pessoas apaixonadas. Elas são cegas, burras e não têm paciência para esperar. Não era o momento do sargento entrar na jogada. Precisamos do soldado primeiro.
— O certo não seria tirá-los do jogo? — soou confuso. — Não entendo, senhor. Não deveríamos eliminar os militares também?
— Para eliminá-los, precisamos tê-los conosco, . Não podemos simplesmente atacar homens tão preparados. Apenas faça o que estou mandando. Espere a madrugada. Os soldados da ronda estarão cansados, até mesmo o melhor deles — o homem abriu um sorriso calmo. — Hoje, é o responsável por toda a área, junto com uma equipe mediana. Não seria interessante fazê-lo parecer incapaz de uma hora para outra?
— Como fizemos na noite de — comentou. — O senhor sabe que isso está muito errado, não sabe?
O homem não respondeu o funcionário de imediato. Virou-se devagar, encarou-o por longos segundos, sorriu mais uma vez e balançou a cabeça lentamente. Ele conseguia sentir o cheiro do medo de , e isso lhe parecia tão interessante. Mesmo com medo, ele não recuava. Fazia suas insinuações de forma sutil, de mansinho. Tentava persuadi-lo, mas esquecia que havia sido treinado por ele, o próprio chefe.
— Vamos fazer exatamente como fizemos com — riu em escárnio, era tão engraçado falar daquela forma. Parecia um assassino em série, mas não o era, nunca seria. — Nesse meio, não existe certo nem errado, Jiminnie. Apenas faça o que estou lhe ordenando.
— E se morrer de verdade?
— Não haverá problema algum. Pode acabar acontecendo — respondeu. — Você sabe, , as pessoas, quando são figuras públicas, fazem mais dinheiro mortas do que vivas.
“Assim como você”, pensou antes de concordar.
×
A noite estava relativamente fria. Ainda assim, gostava de perambular apenas de camiseta e calça de moletom. Os pés sempre descalços, sentindo o chão geladinho da enorme casa em que vivia com a família. Estava sozinho naquela noite, como já esperava, então apenas aproveitava o silêncio e conforto que tinha como companhia.
Os funcionários já estavam em seus aposentos e os militares em nada lhe incomodavam, sempre do lado de fora. E era justamente atrás de um deles que o presidente estava indo.
, com quem tinha uma relação estranha. O primeiro contato íntimo fora totalmente intencional e estratégico. Queria saber até onde o soldado ia e aguentava, precisava dele ao seu lado; era um plano e tanto. Alguém como era deveras útil no momento em que estava vivendo.
Tudo poderia desmoronar a qualquer momento, e ter o consigo talvez fosse a única coisa boa de toda aquela confusão. Antes seria bom pelo simples fato do garoto saber como defender alguém e sair de uma situação de risco; agora, no entanto, tinha algo além do profissional. E talvez o erro do tivesse sido esse, sua intenção era ter o soldado ao seu favor e fazê-lo seu homem de confiança. Porém, tudo o que mais desejava no momento era tê-lo em sua cama pelo máximo de tempo que pudesse; e o teria. Por inteiro.
— Soldado — chamou num tom de voz tranquilo assim que chegou no jardim, onde os soldados estavam de guarda. — Preciso que venha comigo, por favor.
acenou para os companheiros e seguiu o presidente em silêncio. Nunca tinha entrado na casa da família e, ao fazê-lo pela primeira vez, o choque foi inevitável. A decoração, os móveis de madeira pura, as cores vivas combinando entre si; tudo exalava . Os quadros espalhados por todas as paredes variavam entre fotografias de família e obras de artes que valiam sua vida.
— Para onde estamos indo? — O soldado perguntou, ainda olhando atentamente os corredores que passavam.
— Para o meu quarto — o presidente respondeu, sorrindo. — Para onde mais seria, ?
— Não acredito nisso… — riu baixinho. — Não combinamos que minha folga seria em Busan?
— Digamos que sou um homem um pouco ansioso — murmurou enquanto abria a última porta do corredor. — Entre.
— Nós vamos para Busan amanhã logo após a cerimônia em homenagem a em Daegu, senhor — o mais novo respondeu, adentrando o quarto. — Você sabe que o sargento vai me afastar se os rapazes relatarem para ele que sumi no meio da vigia, certo?
— O sargento não fará nada — deu de ombros, trancando a porta em seguida. — No fim das contas, quem manda aqui sou eu, .
riu mais uma vez e se aproximou do mais velho, murmurando:
— Bom saber que o senhor não irá me punir, então.
— Não disse que não irei puni-lo — soprou contra a boca do mais novo, passeando a língua por entre os lábios. — Apenas disse que eu mando aqui.
— Então terei de obedecê-lo?
— Mas é claro, soldado. Agora livre-se dessas armas, estamos seguros aqui dentro.
— Você é muito engraçado, senhor presidente — comentou entre risadas. — Não vou me desarmar, alguém pode simplesmente vir atacar sua casa.
— Não pretende transar comigo usando essas coisas, pretende?
— Nós vamos transar?
— Você ainda tem alguma dúvida?
Por um segundo, o soldado achou que tudo aquilo não passava de uma brincadeira boba. Não que não quisesse transar com o mais velho; era tudo o que mais desejava nos últimos quinze dias. era seu maior objeto de tesão, já havia perdido as contas de quantas vezes se pegara excitado apenas ao lembrar dos beijos e toques quentes que trocavam nas pausas todos os dias. Era impossível controlar o corpo quando se tratava de um homem tão bonito, encantador e sensual. Contudo, não esperava um convite tão direto. Não entendia o porquê de tanta surpresa, pois, com o presidente, tudo sempre fora rápido e direto demais, porém sentia-se tonto tamanho susto que levara ao escutar palavras tão desavergonhadas.
— Não sabia que estava tão necessitado assim, presidente — sussurrou enquanto puxava o outro pela cintura, ignorando o rubor em suas próprias bochechas. — Perdeu todo o controle, foi?
— Acho que nunca tive controle quando se trata de você — respondeu firme, levando uma das mãos até a nuca do soldado, e a outra deixou escorregar por todo o peitoral rígido. — E isso é bom, soldadinho. Muito bom. Espero que esteja preparado, .
sorriu ao notar o tom malicioso que o presidente usara. Com ousadia, então, respondeu:
— Sempre estou preparado… E você, hyung, está?
apenas sorriu, deixando as malditas covinhas aparecerem. Não se deu ao trabalho de responder o soldado; ambos sabiam que ele estava, sim, mais do que preparado. Para qualquer coisa.
A aproximação foi espontânea de ambas as partes; o beijo iniciado foi automático. Como de praxe, o encaixe era perfeito. As bocas se moldavam de forma clichê, assim como os corpos esquentavam rapidamente.
As línguas se acariciavam de forma íntima, conhecida, gostosa; explícita e eroticamente, fazendo com que os estalos de selares intensos e chupadas tomassem conta do quarto. Naquele momento, não importava mais trabalho algum; risco de invasão, o medo da morte repentina, o raciocínio rápido. Tudo havia ido pelos ares. Para o inferno que fosse.
Sem pensar muito, se afastou de por alguns segundos, livrando-se da arma de grande porte que carregava nos ombros. Soltou-a no chão com cuidado e, encarando o presidente nos olhos, retirou o próprio terno, jogando-o no chão.
— Você fica tão gostoso de camisa social e coldre nos ombros — murmurou, passeando ambas as mãos pelos ombros largos do mais novo e mordendo o lábio inferior. — Acho que realmente irei deixá-lo armado.
O soldado arqueou uma das sobrancelhas em desafio, gostando de ouvir elogios num tom tão depravado. Sem esperar demais, puxou o mais velho pelo rosto e juntou suas bocas em outro beijo fervoroso. Jamais enjoaria de uma boca tão gostosa quanto aquela.
Com pressa, desabotoou a camisa branca do soldado, deixando o peitoral e a barriga definida à mostra. A pele branca contrastava com o tecido fino e o couro do coldre, deixando-o mais atrativo aos olhos do presidente – que os mantinha abertos durante o beijo. Eram tão um do outro naquele momento que nada mais importava, tampouco fazia sentido. Tudo deixara de ser por interesse e se tornara o mais puro desejo; um tesão quase palpável. Se não fosse tão utópico, arriscaria dizer que, exatamente como o clichê denominava, eram um do outro. Uma paixão arrebatadora, que facilmente seria confundida com amor – mas amor era a última coisa que aquilo deveria ser.
deixou escapar um gemido ao ter o peito arranhado e um dos mamilos beliscado em seguida, acordando o presidente, que agira sem pensar, deixando que suas vontades falassem por si.
— … — sussurrou, afastando-se apenas um pouco, o suficiente para observar o outro descer a boca para seu pescoço. — Nós não temos muito tempo.
— Cale a boca, soldado — respondeu contra o pescoço alheio. — Nós temos todo tempo do mundo se eu quiser. E eu quero.
— Mas nós n–
O soldado tentou falar, mas teve a frase interrompida pelo susto de ser empurrado para trás em direção à cama, caindo sentado ali. sorriu e andou em sua direção, observando-o atentamente. Os lábios vermelhos e inchados, as pupilas dilatadas e ardendo em excitação, o peito nu subindo e descendo, o coldre com duas pistolas enfeitando o corpo atlético e bonito… Tsc, as coxas presas nas calças sociais, o pau devidamente destacado entre suas pernas – tão duro, fazendo com que o mais velho quase salivasse somente por olhá-lo.
— Faça um pouco de silêncio, por favor, . Guarde sua voz para quando eu tê-lo totalmente em minha boca.
arfou, e gostou do que viu. Tinha efeito sobre o soldado, assim como ele tinha sobre si. Ali ambos notaram que não tinha mais volta. Entretanto, não ligavam. Queriam que tudo ao redor se fodesse, assim como eles dentro daquele quarto; porque, céus, sim, foderiam feito dois animais.
— Então comece a me chupar logo, senhor presidente. Está ficando difícil esperar.
soltou uma risada fraca ao ouvir a fala mansa, porém autoritária, do soldado. o encarava com os olhos brilhando em desejo e a cabeça levemente tombada para o lado, enquanto as mãos apoiavam sobre o colchão.
Uma perdição que fazia o pênis do mais velho latejar. Tão, tão bonito.
— Quem é que está tão necessitado agora, ?
O presidente não esperou por uma resposta, apenas se ajoelhou entre suas pernas e deixou que as mãos corressem livremente por todo o quadril do mais novo, puxando-o para mais perto. Com uma calma que não possuía, desafivelou o cinto do soldado e jogou-o para longe, abrindo a calça social em seguida. Permitiu-se rir baixinho ao notar a cueca branca, tão justa ao corpo que o pênis ficava quase visível. Tão excitado, com a marquinha de pré-gozo pintando o tecido.
salivou, piscou os olhos e suspirou. Não sabia o que tinha feito de tão certo na vida para ganhar tamanho presente. era tudo que pedira em suas orações fajutas.
Deixando todas as provocações de lado, tirou os sapatos e as meias que o soldado usava, jogando tudo para longe, e aproveitando para finalmente livrar-se da calça, jogando-a tão longe quanto as outras peças.
— Vai ficar só olhando? — perguntou num tom de voz baixo, tentando manter o controle sobre o próprio corpo. — Ao contrário de você, não tenho vergonha de assumir que estou necessitado, senhor. Sua boca é muitíssimo bem vinda no meu pau agora.
Naquele momento, o presidente não soube como rebater. O homem à sua frente lhe tirava toda a sanidade com coisas simples, tais como uma frase suja e um olhar carregado de excitação; os cabelos levemente desgrenhados, a camisa social aberta e o coldre sobre os ombros. Céus, jamais esqueceria aquele maldito coldre.
Sem pensar muito e finalmente permitindo que seu tesão falasse por si, puxou o elástico da cueca de , abaixando a peça o suficiente para que seu pênis ficasse livre de uma só vez. Quando achou que aquilo não poderia ficar melhor, o pênis ereto rente ao seu rosto o surpreendeu. A glande inchada, rosada, brilhando em excitação e praticamente gritando seu nome, implorando para ser chupada – sentiu seu próprio pau pulsar automaticamente.
não pensou muito mais antes de cair de boca e sugar o pênis do soldado com vontade. Levou-o até à garganta com facilidade, prendendo-o ali por alguns segundos antes de se engasgar um pouquinho. Os movimentos eram ora rápidos, ora lentos. O pau lhe batia na goela e voltava, deixando somente a glande entre os lábios carnudos; a língua passeava livre e desenfreada por toda a ereção, deixando que a saliva transbordasse a boca e melasse todo o pênis, tendo gotículas respingadas no tecido fino da cueca.
era um mestre do boquete, não poderia negar. Toda a espera para estar dentro da boca do presidente valera a pena, e ele não queria sair mais dali. Estava tão acolhido, tão excitado – a boquinha de era tão gostosa.
Os gemidos de saíam devagar, longos, demorados. Estava aproveitando ao máximo as sensações que o homem maravilhoso entre suas pernas lhe dava. Os lábios carnudos resvalando por todo seu membro, a língua áspera acariciando-o da base à cabeça, os dedos frios e calmos invadindo onde o tecido ainda cobria e brincando com seus testículos; cada mínimo movimento que fazia seu corpo respondia instantaneamente, como se ele fosse seu dono – e, naquela situação, queria mais que o fosse, de fato.
— Po… Porra… — sussurrou enquanto agarrava a nuca de , forçando-o mais, fazendo com que fosse engolindo por inteiro outra uma vez.
Não resistiu em jogar a cabeça para trás e o quadril para frente, fazendo com que o mais velho se engasgasse mais um pouquinho – e isso sequer parecia incomodá-lo. parecia gostar de tê-lo até o talo.
— Você gosta muito disso, não é? — perguntou baixinho. — De me babar inteirinho, se engasgar, chupar até as bolas…?
sorriu, ainda tendo a glande entre os lábios – vermelhinhos e inchados por causa do tempo em que os estava usando. Em seguida, tirou-o completamente da boca, erguendo-se em frente a , que ainda o fitava com curiosidade e ousadia.
— Eu gosto, sim, — respondeu calmamente enquanto puxava a própria calça de moletom para baixo, mostrando-se nu. Dispensava o uso de cueca quando planejava tais situações. — E você também parece gostar muito, não é? Mas não terá isso em sua boquinha gostosa tão cedo — agarrou o próprio pênis, soltando um suspiro ao começar a masturbar-se devagar. — Eu ainda tenho que brincar um bocado contigo, mas prometo que, assim que acabar, serei todinho seu. É só não usar esse tom de general comigo. Lembre-se que é apenas um soldado e deve obediência.
— Gosto quando fala assim comigo — murmurou com um sorrisinho nada casto nos lábios, se aproximando mais de . — Irei obedecê-lo bem direitinho como tenho feito nos últimos dias, senhor presidente. Farei por merecer ser presenteado com seu gosto.
riu baixinho e se aproximou do mais novo, colando seus lábios num selinho molhado. Afastou-se um pouco, o suficiente para que os lábios ainda se esbarrassem, e murmurou devagar:
— Então tire essa cueca incômoda e fique de quatro na cama.
Sem questionar, o soldado obedeceu. Arrancou a peça de roupa e, como um extra para o presidente, terminou de abrir a camisa social, deixando o corpo bonito completamente visível. Não demorou muito observando , que também se despia. Apenas foi para a cama e ficou na posição que lhe fora ordenada, embora sua vontade ainda fosse observar o outro – no entanto, teria todo o resto da noite para apreciá-lo.
, então, se ajustou sobre o colchão de maneira confortável para si e para , que o observava por trás. Os joelhos estavam firmes sustentando o corpo, junto com os braços fortes, que estavam apoiados na cama. Seu pênis melado e ereto batia contra o ventre, dando uma sensação gostosa de ansiedade. A bunda estava devidamente empinada na direção do mais velho, e o soldado tinha certeza de que o estava enlouquecendo.
se aproximou do mais novo e colou o peito em suas costas, distribuindo beijos lentos e molhados por todo o pescoço e nuca de , arrepiando-o por inteiro. Com cuidado, foi descendo os lábios da nuca até o meio de suas costas após erguer a camisa social, enrolando-a no coldre de couro, aproveitando para morder e lamber todas as pintinhas espalhadas que o soldado tinha, além de suas cicatrizes fracas – lembranças de treinamentos e missões que já passara por difíceis situações, deduziu enquanto acarinhava, com a língua, todas que estavam em seu alcance. era como um quadro abstrato; cheio de nuances e formas sem sentido algum, mas que completavam sua essência. Fora pintado com dor e força, jorrara sangue por todos ao seu redor; por ele. Profundo, poético e tão bonito que aquecia o peito.
E ele estava ali. Com , numa cama, sob seus lábios, e não havia sensação melhor.
— Hyung… — chamou baixinho enquanto fechava os olhos de maneira apertada. Estava encantado com tamanho cuidado que recebia, os beijos, os carinhos, os toques nos lugares certos…
— Shh — respondeu, colocando-se de joelhos logo atrás do mais novo, erguendo o corpo e mantendo as mãos grandes em suas costas, empurrando-o para baixo. — Logo terá o que quer, .
E, dito isso, deixou que seu corpo agisse sozinho. Permitiu-se mergulhar mais uma vez no corpo de , segurando-o, desta vez, pela bunda, deixando visível a intimidade, que piscava em busca de atenção.
O presidente deixou que a língua passasse livremente por toda a intimidade do soldado, invadindo-o vez ou outra, chupando-o com direito a estalos.
Os gemidos sôfregos do mais novo ecoavam por todo o quarto, fazendo com que sorrisse entre suas nádegas e se empenhasse em dobro para dá-lo o máximo de prazer possível – ele gostava disso; sentia-se satisfeito em somente ter alguém em sua cama contorcendo-se em tesão.
Sem que esperasse, o invadiu com dois dedos de uma vez, devagar. Sabia que o soldado já havia feito aquilo boas vezes e seu lado narcisista lhe dizia, baixinho, que o rapaz já havia feito algo parecido enquanto o imaginava ali, exatamente onde estava.
— Me diga, soldadinho, quantas vezes se dedou pensando em mim?
gemeu um pouquinho mais alto devido ao desconforto inicial da penetração e ao sentir o líquido gelado e pegajoso escorregar junto aos dedos de — sequer sabia como o maldito havia conseguido pegar lubrificante se nem ao menos parara de tocá-lo; ou tudo já estava milimetricamente planejado e não percebera?
— Muitas vezes — confessou entre gemidos e suspiros. Tentava se conter, mas era impossível com dedos tão experientes em seu interior. — , por Deus, eu quero você!
gostou do que ouviu. era diferente das outras pessoas com quem já estivera antes. Ele não sentia medo de assumir o que sentia, não sabia nem ao menos esconder seus desejos e descontentamentos. Era intenso, sincero, inteligente.
E cada coisinha naquele soldado fazia com que o presidente ficasse ainda mais excitado, sentindo-se à beira da explosão.
Decidido a atender o pedido tão necessitado, o se apressou em penetrá-lo mais rapidamente com os dedos, preparando-o ao máximo. Os gemidos eram como músicas para seus ouvidos; suas preferidas, e queria que todos ouvissem – uma pena sua casa ser tão grande e isolada. Ninguém além dele conseguiria ouvir gemidos tão suaves e gostosos, sôfregos no tom que tanto gostava.
Visto que já era o suficiente e a entrada de estava devidamente pronta para recebê-lo, retirou seus dedos do interior do soldado e ficou de joelhos exatamente atrás deste.
Logo ao lado de ambos os corpos, assim como deduzira, havia algumas camisinhas próximas ao vidro de lubrificante, e não tardou em pegar os produtos novamente. Vestiu-se com o preservativo e encheu a mão com o gel, voltando a melar a intimidade do soldado e o próprio pênis em seguida.
— Empine-se um pouco mais, meu bem — pediu baixinho, de um jeito carinhoso, enquanto segurava a cintura fina do militar.
se ajustou sobre a cama, colando o peito no colchão e deixando a bunda arrebitada de um jeito que sabia que enlouquecia qualquer pessoa.
No segundo seguinte, com uma das mãos presas no quadril do militar e a outra guiando o próprio pau, enterrou-se por inteiro no mais novo. Os gemidos saíram juntos, altos e sincronizados, uma sensação conhecida por ambos. No entanto, uma nova experiência, que sabiam que os marcaria profundamente. O presidente não sabia mais se conseguiria fugir dos sentimentos que seriam trazidos à tona – na verdade, não sabia se queria fugir.
O ritmo das estocadas começou devagar, lento. Apenas estavam se conhecendo, iniciando uma conexão que sabiam que mudaria tudo. Os corpos se moldavam e encaixavam perfeitamente, causando sensações indescritíveis e arrepios dos pés à cabeça. Ambos estavam completamente entregues e deixando que seus corpos agissem por si sós, como quisessem. E eles queriam rápido, forte, fundo, intenso; inteiros.
permitiu-se rebolar contra o pau do presidente, afundando-o mais em seu interior e gemendo de maneira arrastada. Atendendo a um pedido mudo de suas necessidades, ergueu-se nos braços e separou mais as pernas ao mesmo tempo que olhava para trás sobre o próprio ombro, fitando um concentrado em estocá-lo com mais vontade e fazendo seu corpo balançar – do jeito que tanto gostava.
ia e vinha com força, sem se importar se a cama de luxo estava rangendo e balançando inteira. Queria mais que aquele amontoado de madeira pura desabasse sob seu corpo. Os gemidos enfeitavam o ambiente com uma sensualidade anormal. Ambos gemiam sem vergonha, sem medo. Rebolavam um contra o outro, os corpos se chocavam e as peles faziam estalos eróticos – sentiam-se no paraíso em sua forma pura.
Após alguns deliciosos minutos, firmou-se em apenas uma das mãos, aproveitando da força e ousadia que possuía, levando a livre para o próprio pênis inchado e molhado, iniciando uma masturbação tão rápida quanto as estocadas que recebia. No entanto, antes que pudesse chegar ao tão sonhado orgasmo, sentiu uma das mãos de sobre a sua, pausando seus movimentos ao mesmo tempo que diminuía a velocidade de suas estocadas.
— , o qu–
— Shh, não quero que gozemos agora. Aguente mais um pouco — o presidente respondeu com a respiração ofegante, tentando manter o controle. — Eu o quero dentro de mim também, soldadinho.
O tom de voz baixo e rouco da voz do mais velho, como se estivesse contando um segredo de estado, quase fez com que explodisse no maior dos orgasmos; mas sabia que seu ego estava agradecido por seu corpo aguentar segurar. Foder era uma vontade antiga, contudo, esperava que isso ficasse para uma possível próxima vez. Sequer sabia se aguentaria seguir naquele momento – fora estimulado de todas as formas possíveis pelo presidente, mas não negaria um pedido feito de um jeito tão manhoso e autoritário ao mesmo tempo. não sabia pedir, apenas ordenar, e era seu dever obedecê-lo.
Sentiu-se estranhamente vazio por alguns instantes assim que o mais velho retirou-se de seu interior e se jogou na cama – estava tão gostoso. Ainda de quatro, tentando controlar o próprio corpo, se permitiu olhar para o lado. A cena quase o fez desistir de tudo e apenas se masturbar até que gozasse por todo aquele corpo escultural que o mais velho possuía.
já havia tirado a camisinha que usava e acariciava seu pênis com uma das mãos, enquanto a outra estava entre suas pernas – que estavam dobradas e bem abertas, mostrando-o inteiro –, com seus dedos brincando com seu ânus claramente já preparado.
— Então quer dizer que o presidente também brinca com os próprios dedos? — brincou enquanto engatinhava até o outro, beijando-o nos lábios sorridentes e, em seguida, no rosto, exatamente em cima da covinha, que lhe era tão tentadora. — Será que o senhor realmente está pronto para rebolar no meu pau?
Sem esperar por uma resposta, o mais novo debruçou sobre o corpo do presidente e, sem delongas, segurou-o pela base do pênis e o encaixou na própria boca. sorriu satisfeito e gemeu alto ao sentir a língua aveludada acarinhar todo seu membro, aceitando de bom grado quando foi enterrado na garganta alheia.
era um homem sem vergonha. Gostava de sexo de qualquer jeito; quanto mais puro e depravado fosse, mais excitado ficava. Gostava de dar e receber prazer em proporções iguais, os gemidos altos encantavam-no, as expressões de deleite, os corpos suados e se chocando – tudo o agradava em níveis estratosféricos. Ter em sua boca e poder tocá-lo da forma que quisesse era magnífico, algo que nem ao menos se comparava com seus sonhos eróticos e imundos, que faziam com que acordasse tão duro que precisava bater uma às seis da manhã, embaixo da água fria do chuveiro do batalhão.
O jovem soldado encontrava-se inebriado diante a tanto prazer, ter o gosto do presidente em seu paladar, o pau roçando em sua língua, o interior apertando seus dedos – porque, céus, não conseguira controlar a vontade de senti-lo de todas as formas. Tivera-o em seu interior, tinha-o na boca e, agora, podia penetrá-lo com os dedos, indo o mais fundo que conseguia.
— — gemeu arrastado, sem saber o que fazer enquanto abria ainda mais as pernas, agarrando as próprias coxas. — Agora… Me foda agora.
Como o bom homem obediente que era, ao ouvir aquele pedido tão sofrido – assim como os seus próprios minutos atrás –, o soltou, deixando um estalo alto ecoar pelo quarto ao tirar a boca do pênis alheio. Esticou-se sobre o corpo do mais velho e alcançou uma das camisinhas, rasgando a embalagem com pressa, as mãos trêmulas. Protegeu-se com cuidado e, com vontade, puxou pelas coxas, fazendo-o se aproximar mais e se ajeitar exatamente embaixo de seu corpo, com as duas pernas abertas em sua direção.
Era uma imagem tão bonita. segurava as próprias coxas com vontade, deixando-as bem abertas e para cima, dobradas, o pau pingava saliva e pré- gozo no ventre liso, a barriguinha chapada, o peito subindo e descendo, os mamilos eriçados…
— Você é tão, tão, tão gostoso, senhor — murmurou ao mesmo tempo que se encaixava na entrada do mais velho, agarrando-o pelas coxas junto às suas mãos. — Não faz ideia do quanto desejei estar assim com você, .
E, sem mais nenhuma palavra, empurrou-se para dentro do presidente. Penetrou-o com vontade e agressividade. Sabia que ele aguentaria e queria daquele jeito, o sorriso safado em seu rosto deixava isso claro. A voz rouca e alta reverberava por todo o cômodo e arrepiava-lhe a pele com afinco enquanto entrava e saía naquele corpo gostoso. Sua excitação era tanta que tinha certeza de que não duraria muito, mas aproveitaria ao máximo. Esmurraria o interior de até que não tivesse mais forças, até sua última gota; gozaria forte e intensamente em seu interior; aqueceria-o com sua porra do jeito que ele gostava. era uma cadelinha, assim como o próprio .
Criaram um ritmo próprio e nele permaneceram por longos minutos. O som dos corpos se chocando com força ecoava eroticamente por todo o cômodo junto aos gemidos longos e altos, fazendo com que o ambiente ficasse ainda mais quente e excitante. Não aguentariam mais tanto tempo. As pernas estavam trêmulas, os corpos ferviam e os espasmos de prazer já tomavam-os por inteiro. Uma sensação tão insana que sequer conseguiam descrever. Estavam perdidos em um universo próprio e carregado de prazer como gostavam; um entra e sai alucinante, seguido de reboladas e arranhões.
Com um urro alto e os movimentos ainda mais acelerados, gozou de uma só vez ao mesmo tempo que deixava o nome de escapar do fundo de sua garganta. Retirou-se do mais velho com pressa, sem parar de estimular a base do próprio pênis com uma das mãos, enquanto, com a outra, se livrava da camisinha. Continuou se masturbando com rapidez, aumentando o prazer do orgasmo e observando, enquanto gemia, os respingos de gozo caírem sobre o parceiro – em seu pau, suas coxas e sua barriga.
ainda sorria safado enquanto se masturbava – se penetrando e descendo e subindo a mão no próprio pênis – e observava o soldado. Também se sentia próximo de gozar e queria fazê-lo com aquela visão dos deuses que era com a camisa social embolada no coldre de couro, a boca aberta, respirando forte e ainda acariciando levemente o pau, que tinha espasmos assim como todo o resto de seu corpo.
gemeu alto, e se abaixou em direção a ele novamente, deixando que o jato de porra o atingisse em cheio no rosto, banhando-o de forma erótica. O soldado se deliciava enquanto o gozo lhe atingia as bochechas e a boca, escorrendo para seu pescoço devagar, grudando em sua pele – e não aguentou tamanho estímulo, deixando-se gemer junto com o outro, desfrutando de cada gota alheia enquanto chupava o mais velho mais uma vez, engolindo um jato com vontade e de olhos fechados.
sorriu, ainda tonto de prazer, e passou o pênis de pelo próprio rosto antes de colocá-lo em sua boca uma última vez, chupando a glande num estalo gostoso.
Ambos estavam ofegantes e com sorrisos grandes nos rostos. Os corpos ainda em êxtase, dando leves solavancos de espasmos.
— Uau — murmurou enquanto se jogava ao lado de , se aconchegando em seus braços. — Isso foi sensacional.
— Foi, sim — respondeu tão baixo quanto o parceiro, puxando-o ainda mais contra seu corpo.
O soldado parecia um tanto quanto sonolento. Tão manhoso que só faltava ronronar com os carinhos que recebia nas costas, e nem mesmo parecia o homem marrento e mimado de sempre.
— Então, você é do tipo manhoso — provocou em um sussurro, fazendo com que o mais novo risse infantilmente e concordasse num aceno fraco. — Nem parece aquele homem forte que estava me fodendo minutos atrás.
— No fundo, eu sou um baby boy, .
O presidente riu e revirou os olhos, sabendo que, querendo ou não, era verdade. era do tipo que se fazia durão, mas bastava meia dúzia de carinhos e palavras doces para que ele se rendesse totalmente. Era até fofo.
Vê-lo de forma tão derretida e enrolado em seu corpo era adorável. O sentimento esquisito de que aquilo tudo estava errado voltava com força, mas não conseguia evitar ou dizer não. Pelo contrário, a vontade de beijá-lo apenas aumentava; e, jogando os pensamentos para o fundo de sua consciência, se rendeu àquilo, beijando os lábios cheinhos do mais novo – não deixando de notar, mais uma vez, a pintinha bonitinha que ele tinha logo abaixo do lábio inferior, praticamente no queixo, que se igualava à sua própria, quase no mesmo lugar.
Ambos estavam quase pegando no sono quando um estrondo ecoou no andar debaixo, sendo seguido por gritos e tiros. levantou em um pulo, assustado e ainda tonto, agindo por impulso e reflexo, vestindo rapidamente a calça que estava jogada em algum canto.
E, em um piscar de olhos, enquanto ainda tentava entender o que acontecia e se vestia como podia, o soldado já estava com a arma de grande porte em mãos.
— Fique atrás de mim e faça silêncio — pediu baixinho e abriu a porta do quarto em seguida. Como se quem quer que estivesse fazendo todo alarde já esperasse que agisse daquela forma, uma rajada de tiros reverberou por toda a mansão, indo em sua direção. O soldado se esquivou rapidamente e empurrou o presidente para trás, logo devolvendo como conseguia e atingindo alguém, que caiu com um baque no chão.
— Estão atacando minha casa — murmurou, engolindo a seco. Não se lembrava a última vez que sentira medo na vida; ainda mais um medo tão grande quanto sentia naquele momento. Sabia que poderiam pegá-lo a qualquer momento. era grande, forte e ágil, mas não era dois, muito menos imortal.
— Tem algum esconderijo ou cômodo mais seguro? — perguntou enquanto puxava o mais velho para mais perto de si, saindo do cômodo aos poucos, devagar. — Seu quarto é o lugar mais óbvio para procurarem, e quem quer que esteja fazendo isso não está sozinho. Vieram para te matar e, a essa altura, metade dos meus homens estão mortos, feridos ou muito ocupados tentando sobreviver. Preciso proteger você.
— A biblioteca do terceiro andar tem uma parede falsa, podemos ficar lá até tudo acalmar.
— Você ficará lá até que eu resolva essa situação — o respondeu enquanto seguia em direção às escadas, mirando o fuzil que carregava para todos os lados, mantendo o presidente sempre atrás de seu corpo.
— Eu n–
tentou argumentar, mas foi interrompido por um tiro, que passou de raspão por seu braço. Um urro de dor e surpresa lhe escapou a garganta, fazendo com que o empurrasse com força, fazendo-o cair para então atirar em seguida. Conseguia ver uma silhueta mediana logo no início daquele corredor; e, céus, se ele não quisesse tanto saber quem estava fazendo tudo aquilo, teria tirado na cabeça alheia, e não no peito.
Ao notar a gravidade da situação, manteve-se abaixado e arrastou-se até as escadas, começando a subir enquanto observava em ação, mostrando todo seu potencial. Não conseguiu controlar seu desejo; o soldado ficava muito mais atrativo com as roupas amassadas e mal vestidas, descabelado e corado enquanto atirava para todos os lados, exterminando quem quer que fosse necessário.
Em segundos, o mais novo já estava junto do , puxando-o pelo braço bom e empurrando-o ao mesmo tempo para que subisse com pressa. deixou o fuzil pendurado nos ombros de maneira atravessada e tateou os bolsos da calça, encontrando o rádio transmissor onde costumava falar com seus companheiros.
— Soldado falando, câmbio — murmurou, ainda olhando ao redor e seguindo o presidente. — Alguém ferido?
— ! Aqui é o soldado Lee — um grito saiu do transmissor. — Apenas um ferido. Exterminamos todos os invasores. O presidente está seguro? Câmbio.
— Presidente está bem. Ferimento leve, mas bem e em segurança. Alerte ao General e ao Primeiro-Sargento.
— O soldado Bang já chamou reforço. Estamos averiguando o estado da residência para confirmar se não há mais nenhuma ameaça. Câmbio, desligo.
não se deu ao trabalho de responder o outro soldado, apenas adentrou a biblioteca às pressas, olhando ao redor com a atenção redobrada e num silêncio perturbador, enquanto ofegava bem próximo ao seu corpo.
— Qual a parede falsa? — perguntou num sussurro.
, em silêncio, apenas foi seguindo até a parede ao lado, onde um enorme quadro de alguma obra de arte original estava pendurado. Mesmo com o braço levemente ferido e ardido, tirou o quadro da parede e a tateou por inteira, até achar o relevo em que deveria puxar. Abriu a parte falsa com cuidado e cautela, temendo ter alguma surpresa inusitada por ali – mesmo que ninguém além dele, e agora , soubesse da existência daquilo. Era seu cofre pessoal, no fim das contas. Ninguém sabia, ninguém tinha acesso.
— Fique aqui, irei avaliar o andar — explicou e fechou a parede, soltando um suspiro cansado.
Olhou toda a biblioteca mais uma vez e teve certeza de que estava vazia. Em seguida, foi até a enorme janela de vidro que havia do outro lado, tendo a visão de um jardim totalmente destruído, assim como o enorme portão de aço estava amassado, destroçado.
O soldado engoliu a seco e saiu da biblioteca com pressa, já em posição de ataque. Sentia-se numa guerra; não sabia ao certo por onde andar, o que fazer ou pensar, mas tinha certeza de que sairia vencedor. E não hesitaria em matar qualquer inimigo que surgisse em sua frente.
— . — A voz do General invadiu seus ouvidos através do rádio transmissor, fazendo-o gelar. Estava tão fodido. — Soldado . Responda.
Notando que não tinha mais escolha, esgueirou-se pelas sombras novamente e voltou para a entrada da biblioteca. Pegou o rádio e respirou fundo antes de responder.
— Senhor General.
— O presidente está bem?
— Sim.
— Ótimo. Já estou na mansão e aqui na entrada está tudo limpo. Traga o presidente para o primeiro andar. Precisamos tirá-lo daqui imediatamente. Foi um ataque, uma tentativa de assassinato nada sutil. Nosso assassino está nervoso e resolveu mudar todo o perfil. O vice-presidente da Coreia do Sul está morto.
Aquilo foi o suficiente para adentrar a biblioteca e trancar a porta. Sentia-se tonto, nervoso. Era tudo sua culpa, afinal, sabia que não deveria deixar a ronda, não devia relaxar, não devia sair do pé dos outros soldados. Deveria ter sido mais profissional. Agora, mais um deles estava morto e não tinham o que fazer. A mansão dos fora invadida, o presidente estava ferido – fora um tiro de raspão, mas poderia ter sido fatal –, havia outra vítima e um de seus homens estava ferido. Céus, era tudo por sua culpa, tudo por um desejo, um capricho de que ele não conseguira recusar.
Seria cortado da missão e não havia dúvidas. Tudo que tinha que fazer era manter a residência segura; provar seu valor, que era tão bom ali quanto nas missões na Coreia do Norte. Para completar, ainda tinha a viagem do dia seguinte que ele seria o responsável pela segurança inteira oficialmente. Estava perdido. Sua carreira estava indo ladeira abaixo porque não conseguiu dizer um simples não.
— O que aconteceu? — surgiu de surpresa, abraçando-o pelos ombros.
— Seu vice-presidente está morto — respondeu, direto. — ... Droga, eu disse que isso poderia acontecer a qualquer momento. Eu não devia ter saído do meu lugar.
— Isso teria acontecido mesmo se você não estivesse no meu quarto — o mais velho respondeu. — Não há nada que possamos fazer, estávamos todos em risco.
— Nós estávamos transando enquanto seu vice-presidente estava sendo assassinado e é isso que me diz?
— O que quer que eu diga? Eu sinto muito, . Infelizmente é mais uma perda, mais uma merda para meu governo, mais uma pessoa próxima morta. Não há absolutamente nada que possamos fazer para trazê-los de volta, e, se tivesse, eu faria.
— Você é inacreditável, senhor. Vamos descer.
Saíram do esconderijo em silêncio, com ainda armado e em posição, pronto para atirar em quem quer que fosse. Seguiram assim, entre as sombras dos corredores escuros e num completo silêncio fúnebre, até o primeiro andar – que estava ainda mais bagunçado, revirado e destruído que o segundo, que só havia alguns furos de balas nas paredes e alguns projéteis espalhados pelo chão.
Ao chegarem na sala, os soldados estavam enfileirados e de pé, com exceção do único ferido entre eles, que recebia os devidos cuidados para ser levado ao hospital do batalhão. estava claramente tenso e desapontado com a situação, com ao seu lado parado como uma estátua e uma carranca que apavoraria qualquer soldado que o olhasse. Parecia que ele era o general ali, se portava e agia feito um.
A quietude mórbida do cômodo permaneceu até o soldado ferido ser retirado dali, e bastou um olhar do General em direção a para que ele tivesse total certeza de que encerraria a carreira mais cedo – ou, no mínimo, ficasse proibido de sair do batalhão por longos anos. Cometera um erro de Estado.
— O que aconteceu? — perguntou sem mover sequer um dedo. Seu tom era baixo e firme, muito firme. Seu maxilar estava trincado e o peito estufado e fardado subia e descia lentamente, enquanto as mãos estavam atrás do corpo, como sempre fazia. Ao julgar por sua aparência levemente bagunçada, havia chegado a tempo do conflito. O pequeno filete de sangue seco no canto de seu lábio inferior deixava isso ainda mais nítido. era o único completamente arrumado e sem nada que denunciasse ter participado de um confronto corpo a corpo.
— Fui chamado pelo presidente — começou — e deixei os outros soldados de prontidão. Foi um ataque surpresa, jamais imaginaríamos que isso poderia acontecer.
o fitou dos pés à cabeça, fazendo o mesmo com o presidente e soltando um riso de escárnio em seguida. No entanto, continuara em silêncio, aguardando mais informações, embora soubesse exatamente o que estava acontecendo. Conhecia seu soldado, e mais ainda seu melhor amigo de infância – se é que ainda podia chamá-lo assim.
— Vocês foram treinados para não serem surpreendidos. A desculpa de ataque fora da imaginação não funciona aqui, soldado — disse alto, repreendendo-os. — E vocês, o que estavam fazendo? Jogando baralho? Vi as cartas espalhadas pelo jardim. Treinamos dias e noites, sob sol, chuva e neve para vocês serem “surpreendidos com um ataque inimaginável” e jogar baralho por acharem tudo entediante demais? Nosso Presidente poderia estar morto agora!
— Mas não está — rebateu. — Eu jamais deixaria algo acontecer com ele.
— Pois não fez mais que sua obrigação em mantê-lo vivo — murmurou, já sem paciência e sem se importar em estar interrompendo o general. Se resolveria com ele depois. — A única coisa que pedi a você foi para não nos decepcionar, , e na sua primeira grande oportunidade de crescer nesse país, ir além do que já foi, isso acontece…? Tudo por não saber dizer não ao seu pau?
Naquele momento, paralisou, e todos os outros soldados fitaram-no com desdém e nojo. Sabiam o que acontecia entre o soldado e o presidente, algum deles já havia comentado suas desconfianças com – que também já havia notado. Não era nenhum garotinho inocente e sabia bem o que os pedidos do amigo queriam dizer.
— — chamou. — Eu estou bem. E o restante da minha família e da família do Hyunwoo, como estão?
— Estão todos bem, e os capangas do assassino estão mortos. Apenas um está por um fio, mas acredito que não sobreviverá — respondeu ao presidente. — Senhor General, peço-lhe permissão para desfazer esta equipe e dispensar esses soldados. São todos uns inúteis, não servem para a missão como pensei que serviriam. Desculpe-me por isso.
— Não é sua culpa, Sargento — suspirou. — Estão todos dispensados, amanhã iniciaremos um novo treinamento para montarmos uma nova equipe e com mais homens.
Todos os soldados foram saindo cabisbaixos, cada um se arrependendo da própria atitude errada. Ouviriam muito mais que um sermão tão bobo quanto aquele logo que chegassem ao batalhão.
— , você fica — disse firmemente.
Logo que todos os soldados foram para o lado de fora, onde estava uma enorme confusão de jornalistas e centenas de outros soldados fazendo a proteção da mansão e dos que ainda estavam lá dentro, riu. Simplesmente soltou uma gargalhada escandalosa e que escorria ironia. O general apenas o olhou e deu as costas. Aquilo era assunto do sargento, um tanto quanto pessoal, arriscaria. Já haviam conversado e, por mais errado e antiético que fosse, autorizava que o sargento agisse daquela maneira; lhe dava poder para tal. Afinal, era seu sucessor, sim, não havia dúvidas.
— Vocês são uns idiotas! — gritou, parando de rir de uma hora para outra. — … Porra! Tudo que te peço esses anos todos é discrição, e você chama o meu soldado para foder na frente dos outros? Você tem dezesseis anos de novo, precisa de babá?
— Não fale assim comigo! — se exaltou. — Não estou a fim de ouvir suas ladainhas agora, . Preciso de cuidado médico, levei um tiro de raspão.
— Eu acho que depois do que descobri, você quer ouvir minhas ladainhas, sim — rebateu. — E devo dizer: foi genial a jogada de seduzir o .
— Ninguém me seduziu, sargento — se intrometeu. Estava começando a se irritar com o tom do mais velho. — E nossa vida pessoal não lhe diz respeito.
— A partir do momento que atrapalha meu trabalho, sim, me diz respeito, moleque — o encarou nos olhos. — Não use esse tom comigo, . Você sabe que está errado.
— Isso não lhe dá o direito de tentar me humilhar e insinuar que fui seduzido pelo presidente — foi firme e se aproximou do sargento, mostrando-se destemido.
o mediu por inteiro mais uma vez e sorriu. Aquele garoto o orgulhava, era sua melhor criação dentro das Forças Armadas.
— Com tantas pessoas no mundo, você foi acreditar logo em — revirou os olhos. — Já está apaixonado, ou só entrando no jogo dele para dar o bote? Espero que seja a segunda opção. No caso da primeira, irei te chutar para fora do meu batalhão.
— , já chega! — o cortou. — Eu já sei o que aconteceu, agora deixe fora disso. O problema é entre nós dois e será resolvido amanhã.
— Amanhã você viaja para Daegu com a equipe nova e ficará num hotel de luxo com segurança máxima.
— Não vou mais viajar, não vou me esconder. Você sabe que não há necessidade disso, já que descobriu tudo, não é?
— Do que vocês estão falando? — se intrometeu outra vez, sendo prontamente ignorado.
— Eu sei que não há necessidade, . Mas… a sociedade e seus eleitores, sabem? — jogou a pergunta no ar, como quem não queria nada, cruzando os braços contra o peito. — Responda, ! Eles por acaso sabem o que eu descobri? Desconfiam de você como está desconfiando agora ao presenciar essa conversa? — o sargento se aproximou do amigo. — Além do mais, para mim, você está valendo mais vivo. Sabe disso, não é? Ainda preciso te proteger com minha própria vida.
— Nossa amizade agora se resume a quanto eu valho em sua conta bancária? — soou magoado, sentindo os olhos lacrimejarem; mais de raiva que qualquer outro sentimento.
— Não foi sempre assim para você? Porque em momento algum você ao menos pensou em mim e em todo o trabalho que eu tive para armar esse circo para nada! — explodiu. — Apenas faça o que eu digo e tudo ficará bem. Tem um carro blindado cheio de militares te aguardando lá fora. E você, , tire esse gozo da cara e esteja apresentável para seus superiores em meia hora no batalhão.
Era insano cogitar a possibilidade de ter algum contato próximo ao presidente; quiçá uma relação tão íntima com direito a beijos e arfares fortes — além de uma bela ereção entre as pernas.
Ainda parecia estranho. Era como se o soldado tivesse voltado para a adolescência. Bastava encarar o presidente para se sentir em chamas e com os lábios formigando em desejo. Trabalhar estava mais complicado, sua atenção, mesmo que redobrada, acabava por ficar totalmente no moreno bonito.
era a perdição em forma de pessoa; o corpo magro, os mais de um e oitenta de altura, os cabelos cortados baixinho, pintados num tom bonito de castanho e sempre repartidos para o lado, os lábios grossos, o sorriso sedutor e angelical, as covinhas, o tom acobreado da pele... Tudo.
O presidente havia passado de alguém que deveria proteger para o homem que mais sentia desejo em todo o Universo, e nunca sequer imaginara que sentiria algo tão arrebatador assim em tão pouco tempo.
— — o sargento o chamou, surgindo de surpresa no pequeno quarto em que o soldado ficava no batalhão. — Precisamos conversar.
— Primeiro-Sargento — se levantou, batendo continência. — Sente-se, por favor. Algum problema?
— Não, está tudo bem — respondeu e continuou de pé, recusando o convite do mais novo. — Não pretendo demorar — explicou. — Amanhã estaremos partindo para Daegu, antes de seguirmos para Busan. O presidente tem uma agenda a seguir por todo o país, e, a pedido do próprio, você está escalado para fazer sua guarda pessoal. Veja bem, , você vai atuar quase como o chefe de uma equipe inteira. Obviamente eu e o General estaremos por lá, no entanto, um bocado ocupados. Precisamos visitar alguns batalhões e recrutar soldados extras para a próxima missão, que vocês obviamente não poderão ir. Ou seja, garoto, o presidente escolheu você para que faça toda a segurança. Estará na linha de frente novamente, , e espero que não nos decepcione.
não soube bem como reagir de primeira; estava chocado. Era o mais novo entre todos os soldados, claro que sabia que era um dos melhores, porém, ainda assim, era no mínimo surpreendente saber que fora escolhido a dedo para reforçar toda uma segurança e comandar os soldados que, para ele, eram tão parecidos consigo. Não havia diferença, todos foram treinados igualmente, serviam igualmente e eram enviados para as mesmas missões fora do país.
Sabia que a decisão poderia ter sido tomada devido à aproximação que ele e tiveram, mas preferia pensar que era por conta de seu trabalho sempre tão eficiente.
— Não irei decepcioná-los, senhor — estufou o peito. — Eu juro.
o mediu dos pés à cabeça. Confiava naquele soldado, mas ainda não conseguia entender o porquê de escolhê-lo. Sabia que, se tivesse sido sua própria decisão ou do General, faria muito mais sentido. Já o presidente… Bem, não era ele que vivia trocando farpas com o mais novo?
— Eu confio em você, soldado. Sei que fiz um bom trabalho ao treiná-lo.
O sargento realmente confiava em todos os seus soldados, mas não confiava no presidente para tomar certas decisões. Principalmente depois do que descobrira.
O escritório tinha todas as luzes apagadas quando chegou, já no início da noite. A iluminação da rua invadia todo o cômodo e era o que fazia o assessor conseguir se movimentar por ali, devagar e discreto como sempre era. Exatamente do jeito que seu verdadeiro chefe gostava e apreciava.
— Senhor — chamou de um jeitinho cauteloso. — Mandou me chamar?
— Sim, — o mais velho respondeu sem mover um músculo sequer. Continuava sentado na cadeira confortável de frente para a janela e de costas para o assessor. Observar a noite o acalmava, ainda mais ali, no meio do nada.
— Em que posso ser útil? — se aproximou em passos lentos, puxando a cadeira comum e colocando-a ao lado do homem.
— Está na hora — o homem sussurrou, fazendo com que finalmente o fitasse. Seu rosto ainda estava inchado e enrolado por curativos bem feitos e profissionais. Os olhos e a boca eram as únicas coisas descobertas. Parecia o mesmo de sempre, até depois de tantas cirurgias plásticas. Era uma nova pessoa com resquícios da antiga.
— Na hora do quê?
— Você sabe, garoto — o homem o encarou. — . Está na hora de .
— Pensei que iríamos deixá-lo por último — respondeu. — Posso saber o motivo dessa mudança nos planos?
— Ele está sendo o último, — o mais velho revirou os olhos. — Veja bem, o sargento... Ele já sabe de tudo. Aparentemente, não conseguiu guardar a língua dentro da própria boca. Eu avisei que esse garoto traria problemas… Não é bom trabalhar com pessoas apaixonadas. Elas são cegas, burras e não têm paciência para esperar. Não era o momento do sargento entrar na jogada. Precisamos do soldado primeiro.
— O certo não seria tirá-los do jogo? — soou confuso. — Não entendo, senhor. Não deveríamos eliminar os militares também?
— Para eliminá-los, precisamos tê-los conosco, . Não podemos simplesmente atacar homens tão preparados. Apenas faça o que estou mandando. Espere a madrugada. Os soldados da ronda estarão cansados, até mesmo o melhor deles — o homem abriu um sorriso calmo. — Hoje, é o responsável por toda a área, junto com uma equipe mediana. Não seria interessante fazê-lo parecer incapaz de uma hora para outra?
— Como fizemos na noite de — comentou. — O senhor sabe que isso está muito errado, não sabe?
O homem não respondeu o funcionário de imediato. Virou-se devagar, encarou-o por longos segundos, sorriu mais uma vez e balançou a cabeça lentamente. Ele conseguia sentir o cheiro do medo de , e isso lhe parecia tão interessante. Mesmo com medo, ele não recuava. Fazia suas insinuações de forma sutil, de mansinho. Tentava persuadi-lo, mas esquecia que havia sido treinado por ele, o próprio chefe.
— Vamos fazer exatamente como fizemos com — riu em escárnio, era tão engraçado falar daquela forma. Parecia um assassino em série, mas não o era, nunca seria. — Nesse meio, não existe certo nem errado, Jiminnie. Apenas faça o que estou lhe ordenando.
— E se morrer de verdade?
— Não haverá problema algum. Pode acabar acontecendo — respondeu. — Você sabe, , as pessoas, quando são figuras públicas, fazem mais dinheiro mortas do que vivas.
“Assim como você”, pensou antes de concordar.
A noite estava relativamente fria. Ainda assim, gostava de perambular apenas de camiseta e calça de moletom. Os pés sempre descalços, sentindo o chão geladinho da enorme casa em que vivia com a família. Estava sozinho naquela noite, como já esperava, então apenas aproveitava o silêncio e conforto que tinha como companhia.
Os funcionários já estavam em seus aposentos e os militares em nada lhe incomodavam, sempre do lado de fora. E era justamente atrás de um deles que o presidente estava indo.
, com quem tinha uma relação estranha. O primeiro contato íntimo fora totalmente intencional e estratégico. Queria saber até onde o soldado ia e aguentava, precisava dele ao seu lado; era um plano e tanto. Alguém como era deveras útil no momento em que estava vivendo.
Tudo poderia desmoronar a qualquer momento, e ter o consigo talvez fosse a única coisa boa de toda aquela confusão. Antes seria bom pelo simples fato do garoto saber como defender alguém e sair de uma situação de risco; agora, no entanto, tinha algo além do profissional. E talvez o erro do tivesse sido esse, sua intenção era ter o soldado ao seu favor e fazê-lo seu homem de confiança. Porém, tudo o que mais desejava no momento era tê-lo em sua cama pelo máximo de tempo que pudesse; e o teria. Por inteiro.
— Soldado — chamou num tom de voz tranquilo assim que chegou no jardim, onde os soldados estavam de guarda. — Preciso que venha comigo, por favor.
acenou para os companheiros e seguiu o presidente em silêncio. Nunca tinha entrado na casa da família e, ao fazê-lo pela primeira vez, o choque foi inevitável. A decoração, os móveis de madeira pura, as cores vivas combinando entre si; tudo exalava . Os quadros espalhados por todas as paredes variavam entre fotografias de família e obras de artes que valiam sua vida.
— Para onde estamos indo? — O soldado perguntou, ainda olhando atentamente os corredores que passavam.
— Para o meu quarto — o presidente respondeu, sorrindo. — Para onde mais seria, ?
— Não acredito nisso… — riu baixinho. — Não combinamos que minha folga seria em Busan?
— Digamos que sou um homem um pouco ansioso — murmurou enquanto abria a última porta do corredor. — Entre.
— Nós vamos para Busan amanhã logo após a cerimônia em homenagem a em Daegu, senhor — o mais novo respondeu, adentrando o quarto. — Você sabe que o sargento vai me afastar se os rapazes relatarem para ele que sumi no meio da vigia, certo?
— O sargento não fará nada — deu de ombros, trancando a porta em seguida. — No fim das contas, quem manda aqui sou eu, .
riu mais uma vez e se aproximou do mais velho, murmurando:
— Bom saber que o senhor não irá me punir, então.
— Não disse que não irei puni-lo — soprou contra a boca do mais novo, passeando a língua por entre os lábios. — Apenas disse que eu mando aqui.
— Então terei de obedecê-lo?
— Mas é claro, soldado. Agora livre-se dessas armas, estamos seguros aqui dentro.
— Você é muito engraçado, senhor presidente — comentou entre risadas. — Não vou me desarmar, alguém pode simplesmente vir atacar sua casa.
— Não pretende transar comigo usando essas coisas, pretende?
— Nós vamos transar?
— Você ainda tem alguma dúvida?
Por um segundo, o soldado achou que tudo aquilo não passava de uma brincadeira boba. Não que não quisesse transar com o mais velho; era tudo o que mais desejava nos últimos quinze dias. era seu maior objeto de tesão, já havia perdido as contas de quantas vezes se pegara excitado apenas ao lembrar dos beijos e toques quentes que trocavam nas pausas todos os dias. Era impossível controlar o corpo quando se tratava de um homem tão bonito, encantador e sensual. Contudo, não esperava um convite tão direto. Não entendia o porquê de tanta surpresa, pois, com o presidente, tudo sempre fora rápido e direto demais, porém sentia-se tonto tamanho susto que levara ao escutar palavras tão desavergonhadas.
— Não sabia que estava tão necessitado assim, presidente — sussurrou enquanto puxava o outro pela cintura, ignorando o rubor em suas próprias bochechas. — Perdeu todo o controle, foi?
— Acho que nunca tive controle quando se trata de você — respondeu firme, levando uma das mãos até a nuca do soldado, e a outra deixou escorregar por todo o peitoral rígido. — E isso é bom, soldadinho. Muito bom. Espero que esteja preparado, .
sorriu ao notar o tom malicioso que o presidente usara. Com ousadia, então, respondeu:
— Sempre estou preparado… E você, hyung, está?
apenas sorriu, deixando as malditas covinhas aparecerem. Não se deu ao trabalho de responder o soldado; ambos sabiam que ele estava, sim, mais do que preparado. Para qualquer coisa.
A aproximação foi espontânea de ambas as partes; o beijo iniciado foi automático. Como de praxe, o encaixe era perfeito. As bocas se moldavam de forma clichê, assim como os corpos esquentavam rapidamente.
As línguas se acariciavam de forma íntima, conhecida, gostosa; explícita e eroticamente, fazendo com que os estalos de selares intensos e chupadas tomassem conta do quarto. Naquele momento, não importava mais trabalho algum; risco de invasão, o medo da morte repentina, o raciocínio rápido. Tudo havia ido pelos ares. Para o inferno que fosse.
Sem pensar muito, se afastou de por alguns segundos, livrando-se da arma de grande porte que carregava nos ombros. Soltou-a no chão com cuidado e, encarando o presidente nos olhos, retirou o próprio terno, jogando-o no chão.
— Você fica tão gostoso de camisa social e coldre nos ombros — murmurou, passeando ambas as mãos pelos ombros largos do mais novo e mordendo o lábio inferior. — Acho que realmente irei deixá-lo armado.
O soldado arqueou uma das sobrancelhas em desafio, gostando de ouvir elogios num tom tão depravado. Sem esperar demais, puxou o mais velho pelo rosto e juntou suas bocas em outro beijo fervoroso. Jamais enjoaria de uma boca tão gostosa quanto aquela.
Com pressa, desabotoou a camisa branca do soldado, deixando o peitoral e a barriga definida à mostra. A pele branca contrastava com o tecido fino e o couro do coldre, deixando-o mais atrativo aos olhos do presidente – que os mantinha abertos durante o beijo. Eram tão um do outro naquele momento que nada mais importava, tampouco fazia sentido. Tudo deixara de ser por interesse e se tornara o mais puro desejo; um tesão quase palpável. Se não fosse tão utópico, arriscaria dizer que, exatamente como o clichê denominava, eram um do outro. Uma paixão arrebatadora, que facilmente seria confundida com amor – mas amor era a última coisa que aquilo deveria ser.
deixou escapar um gemido ao ter o peito arranhado e um dos mamilos beliscado em seguida, acordando o presidente, que agira sem pensar, deixando que suas vontades falassem por si.
— … — sussurrou, afastando-se apenas um pouco, o suficiente para observar o outro descer a boca para seu pescoço. — Nós não temos muito tempo.
— Cale a boca, soldado — respondeu contra o pescoço alheio. — Nós temos todo tempo do mundo se eu quiser. E eu quero.
— Mas nós n–
O soldado tentou falar, mas teve a frase interrompida pelo susto de ser empurrado para trás em direção à cama, caindo sentado ali. sorriu e andou em sua direção, observando-o atentamente. Os lábios vermelhos e inchados, as pupilas dilatadas e ardendo em excitação, o peito nu subindo e descendo, o coldre com duas pistolas enfeitando o corpo atlético e bonito… Tsc, as coxas presas nas calças sociais, o pau devidamente destacado entre suas pernas – tão duro, fazendo com que o mais velho quase salivasse somente por olhá-lo.
— Faça um pouco de silêncio, por favor, . Guarde sua voz para quando eu tê-lo totalmente em minha boca.
arfou, e gostou do que viu. Tinha efeito sobre o soldado, assim como ele tinha sobre si. Ali ambos notaram que não tinha mais volta. Entretanto, não ligavam. Queriam que tudo ao redor se fodesse, assim como eles dentro daquele quarto; porque, céus, sim, foderiam feito dois animais.
— Então comece a me chupar logo, senhor presidente. Está ficando difícil esperar.
soltou uma risada fraca ao ouvir a fala mansa, porém autoritária, do soldado. o encarava com os olhos brilhando em desejo e a cabeça levemente tombada para o lado, enquanto as mãos apoiavam sobre o colchão.
Uma perdição que fazia o pênis do mais velho latejar. Tão, tão bonito.
— Quem é que está tão necessitado agora, ?
O presidente não esperou por uma resposta, apenas se ajoelhou entre suas pernas e deixou que as mãos corressem livremente por todo o quadril do mais novo, puxando-o para mais perto. Com uma calma que não possuía, desafivelou o cinto do soldado e jogou-o para longe, abrindo a calça social em seguida. Permitiu-se rir baixinho ao notar a cueca branca, tão justa ao corpo que o pênis ficava quase visível. Tão excitado, com a marquinha de pré-gozo pintando o tecido.
salivou, piscou os olhos e suspirou. Não sabia o que tinha feito de tão certo na vida para ganhar tamanho presente. era tudo que pedira em suas orações fajutas.
Deixando todas as provocações de lado, tirou os sapatos e as meias que o soldado usava, jogando tudo para longe, e aproveitando para finalmente livrar-se da calça, jogando-a tão longe quanto as outras peças.
— Vai ficar só olhando? — perguntou num tom de voz baixo, tentando manter o controle sobre o próprio corpo. — Ao contrário de você, não tenho vergonha de assumir que estou necessitado, senhor. Sua boca é muitíssimo bem vinda no meu pau agora.
Naquele momento, o presidente não soube como rebater. O homem à sua frente lhe tirava toda a sanidade com coisas simples, tais como uma frase suja e um olhar carregado de excitação; os cabelos levemente desgrenhados, a camisa social aberta e o coldre sobre os ombros. Céus, jamais esqueceria aquele maldito coldre.
Sem pensar muito e finalmente permitindo que seu tesão falasse por si, puxou o elástico da cueca de , abaixando a peça o suficiente para que seu pênis ficasse livre de uma só vez. Quando achou que aquilo não poderia ficar melhor, o pênis ereto rente ao seu rosto o surpreendeu. A glande inchada, rosada, brilhando em excitação e praticamente gritando seu nome, implorando para ser chupada – sentiu seu próprio pau pulsar automaticamente.
não pensou muito mais antes de cair de boca e sugar o pênis do soldado com vontade. Levou-o até à garganta com facilidade, prendendo-o ali por alguns segundos antes de se engasgar um pouquinho. Os movimentos eram ora rápidos, ora lentos. O pau lhe batia na goela e voltava, deixando somente a glande entre os lábios carnudos; a língua passeava livre e desenfreada por toda a ereção, deixando que a saliva transbordasse a boca e melasse todo o pênis, tendo gotículas respingadas no tecido fino da cueca.
era um mestre do boquete, não poderia negar. Toda a espera para estar dentro da boca do presidente valera a pena, e ele não queria sair mais dali. Estava tão acolhido, tão excitado – a boquinha de era tão gostosa.
Os gemidos de saíam devagar, longos, demorados. Estava aproveitando ao máximo as sensações que o homem maravilhoso entre suas pernas lhe dava. Os lábios carnudos resvalando por todo seu membro, a língua áspera acariciando-o da base à cabeça, os dedos frios e calmos invadindo onde o tecido ainda cobria e brincando com seus testículos; cada mínimo movimento que fazia seu corpo respondia instantaneamente, como se ele fosse seu dono – e, naquela situação, queria mais que o fosse, de fato.
— Po… Porra… — sussurrou enquanto agarrava a nuca de , forçando-o mais, fazendo com que fosse engolindo por inteiro outra uma vez.
Não resistiu em jogar a cabeça para trás e o quadril para frente, fazendo com que o mais velho se engasgasse mais um pouquinho – e isso sequer parecia incomodá-lo. parecia gostar de tê-lo até o talo.
— Você gosta muito disso, não é? — perguntou baixinho. — De me babar inteirinho, se engasgar, chupar até as bolas…?
sorriu, ainda tendo a glande entre os lábios – vermelhinhos e inchados por causa do tempo em que os estava usando. Em seguida, tirou-o completamente da boca, erguendo-se em frente a , que ainda o fitava com curiosidade e ousadia.
— Eu gosto, sim, — respondeu calmamente enquanto puxava a própria calça de moletom para baixo, mostrando-se nu. Dispensava o uso de cueca quando planejava tais situações. — E você também parece gostar muito, não é? Mas não terá isso em sua boquinha gostosa tão cedo — agarrou o próprio pênis, soltando um suspiro ao começar a masturbar-se devagar. — Eu ainda tenho que brincar um bocado contigo, mas prometo que, assim que acabar, serei todinho seu. É só não usar esse tom de general comigo. Lembre-se que é apenas um soldado e deve obediência.
— Gosto quando fala assim comigo — murmurou com um sorrisinho nada casto nos lábios, se aproximando mais de . — Irei obedecê-lo bem direitinho como tenho feito nos últimos dias, senhor presidente. Farei por merecer ser presenteado com seu gosto.
riu baixinho e se aproximou do mais novo, colando seus lábios num selinho molhado. Afastou-se um pouco, o suficiente para que os lábios ainda se esbarrassem, e murmurou devagar:
— Então tire essa cueca incômoda e fique de quatro na cama.
Sem questionar, o soldado obedeceu. Arrancou a peça de roupa e, como um extra para o presidente, terminou de abrir a camisa social, deixando o corpo bonito completamente visível. Não demorou muito observando , que também se despia. Apenas foi para a cama e ficou na posição que lhe fora ordenada, embora sua vontade ainda fosse observar o outro – no entanto, teria todo o resto da noite para apreciá-lo.
, então, se ajustou sobre o colchão de maneira confortável para si e para , que o observava por trás. Os joelhos estavam firmes sustentando o corpo, junto com os braços fortes, que estavam apoiados na cama. Seu pênis melado e ereto batia contra o ventre, dando uma sensação gostosa de ansiedade. A bunda estava devidamente empinada na direção do mais velho, e o soldado tinha certeza de que o estava enlouquecendo.
se aproximou do mais novo e colou o peito em suas costas, distribuindo beijos lentos e molhados por todo o pescoço e nuca de , arrepiando-o por inteiro. Com cuidado, foi descendo os lábios da nuca até o meio de suas costas após erguer a camisa social, enrolando-a no coldre de couro, aproveitando para morder e lamber todas as pintinhas espalhadas que o soldado tinha, além de suas cicatrizes fracas – lembranças de treinamentos e missões que já passara por difíceis situações, deduziu enquanto acarinhava, com a língua, todas que estavam em seu alcance. era como um quadro abstrato; cheio de nuances e formas sem sentido algum, mas que completavam sua essência. Fora pintado com dor e força, jorrara sangue por todos ao seu redor; por ele. Profundo, poético e tão bonito que aquecia o peito.
E ele estava ali. Com , numa cama, sob seus lábios, e não havia sensação melhor.
— Hyung… — chamou baixinho enquanto fechava os olhos de maneira apertada. Estava encantado com tamanho cuidado que recebia, os beijos, os carinhos, os toques nos lugares certos…
— Shh — respondeu, colocando-se de joelhos logo atrás do mais novo, erguendo o corpo e mantendo as mãos grandes em suas costas, empurrando-o para baixo. — Logo terá o que quer, .
E, dito isso, deixou que seu corpo agisse sozinho. Permitiu-se mergulhar mais uma vez no corpo de , segurando-o, desta vez, pela bunda, deixando visível a intimidade, que piscava em busca de atenção.
O presidente deixou que a língua passasse livremente por toda a intimidade do soldado, invadindo-o vez ou outra, chupando-o com direito a estalos.
Os gemidos sôfregos do mais novo ecoavam por todo o quarto, fazendo com que sorrisse entre suas nádegas e se empenhasse em dobro para dá-lo o máximo de prazer possível – ele gostava disso; sentia-se satisfeito em somente ter alguém em sua cama contorcendo-se em tesão.
Sem que esperasse, o invadiu com dois dedos de uma vez, devagar. Sabia que o soldado já havia feito aquilo boas vezes e seu lado narcisista lhe dizia, baixinho, que o rapaz já havia feito algo parecido enquanto o imaginava ali, exatamente onde estava.
— Me diga, soldadinho, quantas vezes se dedou pensando em mim?
gemeu um pouquinho mais alto devido ao desconforto inicial da penetração e ao sentir o líquido gelado e pegajoso escorregar junto aos dedos de — sequer sabia como o maldito havia conseguido pegar lubrificante se nem ao menos parara de tocá-lo; ou tudo já estava milimetricamente planejado e não percebera?
— Muitas vezes — confessou entre gemidos e suspiros. Tentava se conter, mas era impossível com dedos tão experientes em seu interior. — , por Deus, eu quero você!
gostou do que ouviu. era diferente das outras pessoas com quem já estivera antes. Ele não sentia medo de assumir o que sentia, não sabia nem ao menos esconder seus desejos e descontentamentos. Era intenso, sincero, inteligente.
E cada coisinha naquele soldado fazia com que o presidente ficasse ainda mais excitado, sentindo-se à beira da explosão.
Decidido a atender o pedido tão necessitado, o se apressou em penetrá-lo mais rapidamente com os dedos, preparando-o ao máximo. Os gemidos eram como músicas para seus ouvidos; suas preferidas, e queria que todos ouvissem – uma pena sua casa ser tão grande e isolada. Ninguém além dele conseguiria ouvir gemidos tão suaves e gostosos, sôfregos no tom que tanto gostava.
Visto que já era o suficiente e a entrada de estava devidamente pronta para recebê-lo, retirou seus dedos do interior do soldado e ficou de joelhos exatamente atrás deste.
Logo ao lado de ambos os corpos, assim como deduzira, havia algumas camisinhas próximas ao vidro de lubrificante, e não tardou em pegar os produtos novamente. Vestiu-se com o preservativo e encheu a mão com o gel, voltando a melar a intimidade do soldado e o próprio pênis em seguida.
— Empine-se um pouco mais, meu bem — pediu baixinho, de um jeito carinhoso, enquanto segurava a cintura fina do militar.
se ajustou sobre a cama, colando o peito no colchão e deixando a bunda arrebitada de um jeito que sabia que enlouquecia qualquer pessoa.
No segundo seguinte, com uma das mãos presas no quadril do militar e a outra guiando o próprio pau, enterrou-se por inteiro no mais novo. Os gemidos saíram juntos, altos e sincronizados, uma sensação conhecida por ambos. No entanto, uma nova experiência, que sabiam que os marcaria profundamente. O presidente não sabia mais se conseguiria fugir dos sentimentos que seriam trazidos à tona – na verdade, não sabia se queria fugir.
O ritmo das estocadas começou devagar, lento. Apenas estavam se conhecendo, iniciando uma conexão que sabiam que mudaria tudo. Os corpos se moldavam e encaixavam perfeitamente, causando sensações indescritíveis e arrepios dos pés à cabeça. Ambos estavam completamente entregues e deixando que seus corpos agissem por si sós, como quisessem. E eles queriam rápido, forte, fundo, intenso; inteiros.
permitiu-se rebolar contra o pau do presidente, afundando-o mais em seu interior e gemendo de maneira arrastada. Atendendo a um pedido mudo de suas necessidades, ergueu-se nos braços e separou mais as pernas ao mesmo tempo que olhava para trás sobre o próprio ombro, fitando um concentrado em estocá-lo com mais vontade e fazendo seu corpo balançar – do jeito que tanto gostava.
ia e vinha com força, sem se importar se a cama de luxo estava rangendo e balançando inteira. Queria mais que aquele amontoado de madeira pura desabasse sob seu corpo. Os gemidos enfeitavam o ambiente com uma sensualidade anormal. Ambos gemiam sem vergonha, sem medo. Rebolavam um contra o outro, os corpos se chocavam e as peles faziam estalos eróticos – sentiam-se no paraíso em sua forma pura.
Após alguns deliciosos minutos, firmou-se em apenas uma das mãos, aproveitando da força e ousadia que possuía, levando a livre para o próprio pênis inchado e molhado, iniciando uma masturbação tão rápida quanto as estocadas que recebia. No entanto, antes que pudesse chegar ao tão sonhado orgasmo, sentiu uma das mãos de sobre a sua, pausando seus movimentos ao mesmo tempo que diminuía a velocidade de suas estocadas.
— , o qu–
— Shh, não quero que gozemos agora. Aguente mais um pouco — o presidente respondeu com a respiração ofegante, tentando manter o controle. — Eu o quero dentro de mim também, soldadinho.
O tom de voz baixo e rouco da voz do mais velho, como se estivesse contando um segredo de estado, quase fez com que explodisse no maior dos orgasmos; mas sabia que seu ego estava agradecido por seu corpo aguentar segurar. Foder era uma vontade antiga, contudo, esperava que isso ficasse para uma possível próxima vez. Sequer sabia se aguentaria seguir naquele momento – fora estimulado de todas as formas possíveis pelo presidente, mas não negaria um pedido feito de um jeito tão manhoso e autoritário ao mesmo tempo. não sabia pedir, apenas ordenar, e era seu dever obedecê-lo.
Sentiu-se estranhamente vazio por alguns instantes assim que o mais velho retirou-se de seu interior e se jogou na cama – estava tão gostoso. Ainda de quatro, tentando controlar o próprio corpo, se permitiu olhar para o lado. A cena quase o fez desistir de tudo e apenas se masturbar até que gozasse por todo aquele corpo escultural que o mais velho possuía.
já havia tirado a camisinha que usava e acariciava seu pênis com uma das mãos, enquanto a outra estava entre suas pernas – que estavam dobradas e bem abertas, mostrando-o inteiro –, com seus dedos brincando com seu ânus claramente já preparado.
— Então quer dizer que o presidente também brinca com os próprios dedos? — brincou enquanto engatinhava até o outro, beijando-o nos lábios sorridentes e, em seguida, no rosto, exatamente em cima da covinha, que lhe era tão tentadora. — Será que o senhor realmente está pronto para rebolar no meu pau?
Sem esperar por uma resposta, o mais novo debruçou sobre o corpo do presidente e, sem delongas, segurou-o pela base do pênis e o encaixou na própria boca. sorriu satisfeito e gemeu alto ao sentir a língua aveludada acarinhar todo seu membro, aceitando de bom grado quando foi enterrado na garganta alheia.
era um homem sem vergonha. Gostava de sexo de qualquer jeito; quanto mais puro e depravado fosse, mais excitado ficava. Gostava de dar e receber prazer em proporções iguais, os gemidos altos encantavam-no, as expressões de deleite, os corpos suados e se chocando – tudo o agradava em níveis estratosféricos. Ter em sua boca e poder tocá-lo da forma que quisesse era magnífico, algo que nem ao menos se comparava com seus sonhos eróticos e imundos, que faziam com que acordasse tão duro que precisava bater uma às seis da manhã, embaixo da água fria do chuveiro do batalhão.
O jovem soldado encontrava-se inebriado diante a tanto prazer, ter o gosto do presidente em seu paladar, o pau roçando em sua língua, o interior apertando seus dedos – porque, céus, não conseguira controlar a vontade de senti-lo de todas as formas. Tivera-o em seu interior, tinha-o na boca e, agora, podia penetrá-lo com os dedos, indo o mais fundo que conseguia.
— — gemeu arrastado, sem saber o que fazer enquanto abria ainda mais as pernas, agarrando as próprias coxas. — Agora… Me foda agora.
Como o bom homem obediente que era, ao ouvir aquele pedido tão sofrido – assim como os seus próprios minutos atrás –, o soltou, deixando um estalo alto ecoar pelo quarto ao tirar a boca do pênis alheio. Esticou-se sobre o corpo do mais velho e alcançou uma das camisinhas, rasgando a embalagem com pressa, as mãos trêmulas. Protegeu-se com cuidado e, com vontade, puxou pelas coxas, fazendo-o se aproximar mais e se ajeitar exatamente embaixo de seu corpo, com as duas pernas abertas em sua direção.
Era uma imagem tão bonita. segurava as próprias coxas com vontade, deixando-as bem abertas e para cima, dobradas, o pau pingava saliva e pré- gozo no ventre liso, a barriguinha chapada, o peito subindo e descendo, os mamilos eriçados…
— Você é tão, tão, tão gostoso, senhor — murmurou ao mesmo tempo que se encaixava na entrada do mais velho, agarrando-o pelas coxas junto às suas mãos. — Não faz ideia do quanto desejei estar assim com você, .
E, sem mais nenhuma palavra, empurrou-se para dentro do presidente. Penetrou-o com vontade e agressividade. Sabia que ele aguentaria e queria daquele jeito, o sorriso safado em seu rosto deixava isso claro. A voz rouca e alta reverberava por todo o cômodo e arrepiava-lhe a pele com afinco enquanto entrava e saía naquele corpo gostoso. Sua excitação era tanta que tinha certeza de que não duraria muito, mas aproveitaria ao máximo. Esmurraria o interior de até que não tivesse mais forças, até sua última gota; gozaria forte e intensamente em seu interior; aqueceria-o com sua porra do jeito que ele gostava. era uma cadelinha, assim como o próprio .
Criaram um ritmo próprio e nele permaneceram por longos minutos. O som dos corpos se chocando com força ecoava eroticamente por todo o cômodo junto aos gemidos longos e altos, fazendo com que o ambiente ficasse ainda mais quente e excitante. Não aguentariam mais tanto tempo. As pernas estavam trêmulas, os corpos ferviam e os espasmos de prazer já tomavam-os por inteiro. Uma sensação tão insana que sequer conseguiam descrever. Estavam perdidos em um universo próprio e carregado de prazer como gostavam; um entra e sai alucinante, seguido de reboladas e arranhões.
Com um urro alto e os movimentos ainda mais acelerados, gozou de uma só vez ao mesmo tempo que deixava o nome de escapar do fundo de sua garganta. Retirou-se do mais velho com pressa, sem parar de estimular a base do próprio pênis com uma das mãos, enquanto, com a outra, se livrava da camisinha. Continuou se masturbando com rapidez, aumentando o prazer do orgasmo e observando, enquanto gemia, os respingos de gozo caírem sobre o parceiro – em seu pau, suas coxas e sua barriga.
ainda sorria safado enquanto se masturbava – se penetrando e descendo e subindo a mão no próprio pênis – e observava o soldado. Também se sentia próximo de gozar e queria fazê-lo com aquela visão dos deuses que era com a camisa social embolada no coldre de couro, a boca aberta, respirando forte e ainda acariciando levemente o pau, que tinha espasmos assim como todo o resto de seu corpo.
gemeu alto, e se abaixou em direção a ele novamente, deixando que o jato de porra o atingisse em cheio no rosto, banhando-o de forma erótica. O soldado se deliciava enquanto o gozo lhe atingia as bochechas e a boca, escorrendo para seu pescoço devagar, grudando em sua pele – e não aguentou tamanho estímulo, deixando-se gemer junto com o outro, desfrutando de cada gota alheia enquanto chupava o mais velho mais uma vez, engolindo um jato com vontade e de olhos fechados.
sorriu, ainda tonto de prazer, e passou o pênis de pelo próprio rosto antes de colocá-lo em sua boca uma última vez, chupando a glande num estalo gostoso.
Ambos estavam ofegantes e com sorrisos grandes nos rostos. Os corpos ainda em êxtase, dando leves solavancos de espasmos.
— Uau — murmurou enquanto se jogava ao lado de , se aconchegando em seus braços. — Isso foi sensacional.
— Foi, sim — respondeu tão baixo quanto o parceiro, puxando-o ainda mais contra seu corpo.
O soldado parecia um tanto quanto sonolento. Tão manhoso que só faltava ronronar com os carinhos que recebia nas costas, e nem mesmo parecia o homem marrento e mimado de sempre.
— Então, você é do tipo manhoso — provocou em um sussurro, fazendo com que o mais novo risse infantilmente e concordasse num aceno fraco. — Nem parece aquele homem forte que estava me fodendo minutos atrás.
— No fundo, eu sou um baby boy, .
O presidente riu e revirou os olhos, sabendo que, querendo ou não, era verdade. era do tipo que se fazia durão, mas bastava meia dúzia de carinhos e palavras doces para que ele se rendesse totalmente. Era até fofo.
Vê-lo de forma tão derretida e enrolado em seu corpo era adorável. O sentimento esquisito de que aquilo tudo estava errado voltava com força, mas não conseguia evitar ou dizer não. Pelo contrário, a vontade de beijá-lo apenas aumentava; e, jogando os pensamentos para o fundo de sua consciência, se rendeu àquilo, beijando os lábios cheinhos do mais novo – não deixando de notar, mais uma vez, a pintinha bonitinha que ele tinha logo abaixo do lábio inferior, praticamente no queixo, que se igualava à sua própria, quase no mesmo lugar.
Ambos estavam quase pegando no sono quando um estrondo ecoou no andar debaixo, sendo seguido por gritos e tiros. levantou em um pulo, assustado e ainda tonto, agindo por impulso e reflexo, vestindo rapidamente a calça que estava jogada em algum canto.
E, em um piscar de olhos, enquanto ainda tentava entender o que acontecia e se vestia como podia, o soldado já estava com a arma de grande porte em mãos.
— Fique atrás de mim e faça silêncio — pediu baixinho e abriu a porta do quarto em seguida. Como se quem quer que estivesse fazendo todo alarde já esperasse que agisse daquela forma, uma rajada de tiros reverberou por toda a mansão, indo em sua direção. O soldado se esquivou rapidamente e empurrou o presidente para trás, logo devolvendo como conseguia e atingindo alguém, que caiu com um baque no chão.
— Estão atacando minha casa — murmurou, engolindo a seco. Não se lembrava a última vez que sentira medo na vida; ainda mais um medo tão grande quanto sentia naquele momento. Sabia que poderiam pegá-lo a qualquer momento. era grande, forte e ágil, mas não era dois, muito menos imortal.
— Tem algum esconderijo ou cômodo mais seguro? — perguntou enquanto puxava o mais velho para mais perto de si, saindo do cômodo aos poucos, devagar. — Seu quarto é o lugar mais óbvio para procurarem, e quem quer que esteja fazendo isso não está sozinho. Vieram para te matar e, a essa altura, metade dos meus homens estão mortos, feridos ou muito ocupados tentando sobreviver. Preciso proteger você.
— A biblioteca do terceiro andar tem uma parede falsa, podemos ficar lá até tudo acalmar.
— Você ficará lá até que eu resolva essa situação — o respondeu enquanto seguia em direção às escadas, mirando o fuzil que carregava para todos os lados, mantendo o presidente sempre atrás de seu corpo.
— Eu n–
tentou argumentar, mas foi interrompido por um tiro, que passou de raspão por seu braço. Um urro de dor e surpresa lhe escapou a garganta, fazendo com que o empurrasse com força, fazendo-o cair para então atirar em seguida. Conseguia ver uma silhueta mediana logo no início daquele corredor; e, céus, se ele não quisesse tanto saber quem estava fazendo tudo aquilo, teria tirado na cabeça alheia, e não no peito.
Ao notar a gravidade da situação, manteve-se abaixado e arrastou-se até as escadas, começando a subir enquanto observava em ação, mostrando todo seu potencial. Não conseguiu controlar seu desejo; o soldado ficava muito mais atrativo com as roupas amassadas e mal vestidas, descabelado e corado enquanto atirava para todos os lados, exterminando quem quer que fosse necessário.
Em segundos, o mais novo já estava junto do , puxando-o pelo braço bom e empurrando-o ao mesmo tempo para que subisse com pressa. deixou o fuzil pendurado nos ombros de maneira atravessada e tateou os bolsos da calça, encontrando o rádio transmissor onde costumava falar com seus companheiros.
— Soldado falando, câmbio — murmurou, ainda olhando ao redor e seguindo o presidente. — Alguém ferido?
— ! Aqui é o soldado Lee — um grito saiu do transmissor. — Apenas um ferido. Exterminamos todos os invasores. O presidente está seguro? Câmbio.
— Presidente está bem. Ferimento leve, mas bem e em segurança. Alerte ao General e ao Primeiro-Sargento.
— O soldado Bang já chamou reforço. Estamos averiguando o estado da residência para confirmar se não há mais nenhuma ameaça. Câmbio, desligo.
não se deu ao trabalho de responder o outro soldado, apenas adentrou a biblioteca às pressas, olhando ao redor com a atenção redobrada e num silêncio perturbador, enquanto ofegava bem próximo ao seu corpo.
— Qual a parede falsa? — perguntou num sussurro.
, em silêncio, apenas foi seguindo até a parede ao lado, onde um enorme quadro de alguma obra de arte original estava pendurado. Mesmo com o braço levemente ferido e ardido, tirou o quadro da parede e a tateou por inteira, até achar o relevo em que deveria puxar. Abriu a parte falsa com cuidado e cautela, temendo ter alguma surpresa inusitada por ali – mesmo que ninguém além dele, e agora , soubesse da existência daquilo. Era seu cofre pessoal, no fim das contas. Ninguém sabia, ninguém tinha acesso.
— Fique aqui, irei avaliar o andar — explicou e fechou a parede, soltando um suspiro cansado.
Olhou toda a biblioteca mais uma vez e teve certeza de que estava vazia. Em seguida, foi até a enorme janela de vidro que havia do outro lado, tendo a visão de um jardim totalmente destruído, assim como o enorme portão de aço estava amassado, destroçado.
O soldado engoliu a seco e saiu da biblioteca com pressa, já em posição de ataque. Sentia-se numa guerra; não sabia ao certo por onde andar, o que fazer ou pensar, mas tinha certeza de que sairia vencedor. E não hesitaria em matar qualquer inimigo que surgisse em sua frente.
— . — A voz do General invadiu seus ouvidos através do rádio transmissor, fazendo-o gelar. Estava tão fodido. — Soldado . Responda.
Notando que não tinha mais escolha, esgueirou-se pelas sombras novamente e voltou para a entrada da biblioteca. Pegou o rádio e respirou fundo antes de responder.
— Senhor General.
— O presidente está bem?
— Sim.
— Ótimo. Já estou na mansão e aqui na entrada está tudo limpo. Traga o presidente para o primeiro andar. Precisamos tirá-lo daqui imediatamente. Foi um ataque, uma tentativa de assassinato nada sutil. Nosso assassino está nervoso e resolveu mudar todo o perfil. O vice-presidente da Coreia do Sul está morto.
Aquilo foi o suficiente para adentrar a biblioteca e trancar a porta. Sentia-se tonto, nervoso. Era tudo sua culpa, afinal, sabia que não deveria deixar a ronda, não devia relaxar, não devia sair do pé dos outros soldados. Deveria ter sido mais profissional. Agora, mais um deles estava morto e não tinham o que fazer. A mansão dos fora invadida, o presidente estava ferido – fora um tiro de raspão, mas poderia ter sido fatal –, havia outra vítima e um de seus homens estava ferido. Céus, era tudo por sua culpa, tudo por um desejo, um capricho de que ele não conseguira recusar.
Seria cortado da missão e não havia dúvidas. Tudo que tinha que fazer era manter a residência segura; provar seu valor, que era tão bom ali quanto nas missões na Coreia do Norte. Para completar, ainda tinha a viagem do dia seguinte que ele seria o responsável pela segurança inteira oficialmente. Estava perdido. Sua carreira estava indo ladeira abaixo porque não conseguiu dizer um simples não.
— O que aconteceu? — surgiu de surpresa, abraçando-o pelos ombros.
— Seu vice-presidente está morto — respondeu, direto. — ... Droga, eu disse que isso poderia acontecer a qualquer momento. Eu não devia ter saído do meu lugar.
— Isso teria acontecido mesmo se você não estivesse no meu quarto — o mais velho respondeu. — Não há nada que possamos fazer, estávamos todos em risco.
— Nós estávamos transando enquanto seu vice-presidente estava sendo assassinado e é isso que me diz?
— O que quer que eu diga? Eu sinto muito, . Infelizmente é mais uma perda, mais uma merda para meu governo, mais uma pessoa próxima morta. Não há absolutamente nada que possamos fazer para trazê-los de volta, e, se tivesse, eu faria.
— Você é inacreditável, senhor. Vamos descer.
Saíram do esconderijo em silêncio, com ainda armado e em posição, pronto para atirar em quem quer que fosse. Seguiram assim, entre as sombras dos corredores escuros e num completo silêncio fúnebre, até o primeiro andar – que estava ainda mais bagunçado, revirado e destruído que o segundo, que só havia alguns furos de balas nas paredes e alguns projéteis espalhados pelo chão.
Ao chegarem na sala, os soldados estavam enfileirados e de pé, com exceção do único ferido entre eles, que recebia os devidos cuidados para ser levado ao hospital do batalhão. estava claramente tenso e desapontado com a situação, com ao seu lado parado como uma estátua e uma carranca que apavoraria qualquer soldado que o olhasse. Parecia que ele era o general ali, se portava e agia feito um.
A quietude mórbida do cômodo permaneceu até o soldado ferido ser retirado dali, e bastou um olhar do General em direção a para que ele tivesse total certeza de que encerraria a carreira mais cedo – ou, no mínimo, ficasse proibido de sair do batalhão por longos anos. Cometera um erro de Estado.
— O que aconteceu? — perguntou sem mover sequer um dedo. Seu tom era baixo e firme, muito firme. Seu maxilar estava trincado e o peito estufado e fardado subia e descia lentamente, enquanto as mãos estavam atrás do corpo, como sempre fazia. Ao julgar por sua aparência levemente bagunçada, havia chegado a tempo do conflito. O pequeno filete de sangue seco no canto de seu lábio inferior deixava isso ainda mais nítido. era o único completamente arrumado e sem nada que denunciasse ter participado de um confronto corpo a corpo.
— Fui chamado pelo presidente — começou — e deixei os outros soldados de prontidão. Foi um ataque surpresa, jamais imaginaríamos que isso poderia acontecer.
o fitou dos pés à cabeça, fazendo o mesmo com o presidente e soltando um riso de escárnio em seguida. No entanto, continuara em silêncio, aguardando mais informações, embora soubesse exatamente o que estava acontecendo. Conhecia seu soldado, e mais ainda seu melhor amigo de infância – se é que ainda podia chamá-lo assim.
— Vocês foram treinados para não serem surpreendidos. A desculpa de ataque fora da imaginação não funciona aqui, soldado — disse alto, repreendendo-os. — E vocês, o que estavam fazendo? Jogando baralho? Vi as cartas espalhadas pelo jardim. Treinamos dias e noites, sob sol, chuva e neve para vocês serem “surpreendidos com um ataque inimaginável” e jogar baralho por acharem tudo entediante demais? Nosso Presidente poderia estar morto agora!
— Mas não está — rebateu. — Eu jamais deixaria algo acontecer com ele.
— Pois não fez mais que sua obrigação em mantê-lo vivo — murmurou, já sem paciência e sem se importar em estar interrompendo o general. Se resolveria com ele depois. — A única coisa que pedi a você foi para não nos decepcionar, , e na sua primeira grande oportunidade de crescer nesse país, ir além do que já foi, isso acontece…? Tudo por não saber dizer não ao seu pau?
Naquele momento, paralisou, e todos os outros soldados fitaram-no com desdém e nojo. Sabiam o que acontecia entre o soldado e o presidente, algum deles já havia comentado suas desconfianças com – que também já havia notado. Não era nenhum garotinho inocente e sabia bem o que os pedidos do amigo queriam dizer.
— — chamou. — Eu estou bem. E o restante da minha família e da família do Hyunwoo, como estão?
— Estão todos bem, e os capangas do assassino estão mortos. Apenas um está por um fio, mas acredito que não sobreviverá — respondeu ao presidente. — Senhor General, peço-lhe permissão para desfazer esta equipe e dispensar esses soldados. São todos uns inúteis, não servem para a missão como pensei que serviriam. Desculpe-me por isso.
— Não é sua culpa, Sargento — suspirou. — Estão todos dispensados, amanhã iniciaremos um novo treinamento para montarmos uma nova equipe e com mais homens.
Todos os soldados foram saindo cabisbaixos, cada um se arrependendo da própria atitude errada. Ouviriam muito mais que um sermão tão bobo quanto aquele logo que chegassem ao batalhão.
— , você fica — disse firmemente.
Logo que todos os soldados foram para o lado de fora, onde estava uma enorme confusão de jornalistas e centenas de outros soldados fazendo a proteção da mansão e dos que ainda estavam lá dentro, riu. Simplesmente soltou uma gargalhada escandalosa e que escorria ironia. O general apenas o olhou e deu as costas. Aquilo era assunto do sargento, um tanto quanto pessoal, arriscaria. Já haviam conversado e, por mais errado e antiético que fosse, autorizava que o sargento agisse daquela maneira; lhe dava poder para tal. Afinal, era seu sucessor, sim, não havia dúvidas.
— Vocês são uns idiotas! — gritou, parando de rir de uma hora para outra. — … Porra! Tudo que te peço esses anos todos é discrição, e você chama o meu soldado para foder na frente dos outros? Você tem dezesseis anos de novo, precisa de babá?
— Não fale assim comigo! — se exaltou. — Não estou a fim de ouvir suas ladainhas agora, . Preciso de cuidado médico, levei um tiro de raspão.
— Eu acho que depois do que descobri, você quer ouvir minhas ladainhas, sim — rebateu. — E devo dizer: foi genial a jogada de seduzir o .
— Ninguém me seduziu, sargento — se intrometeu. Estava começando a se irritar com o tom do mais velho. — E nossa vida pessoal não lhe diz respeito.
— A partir do momento que atrapalha meu trabalho, sim, me diz respeito, moleque — o encarou nos olhos. — Não use esse tom comigo, . Você sabe que está errado.
— Isso não lhe dá o direito de tentar me humilhar e insinuar que fui seduzido pelo presidente — foi firme e se aproximou do sargento, mostrando-se destemido.
o mediu por inteiro mais uma vez e sorriu. Aquele garoto o orgulhava, era sua melhor criação dentro das Forças Armadas.
— Com tantas pessoas no mundo, você foi acreditar logo em — revirou os olhos. — Já está apaixonado, ou só entrando no jogo dele para dar o bote? Espero que seja a segunda opção. No caso da primeira, irei te chutar para fora do meu batalhão.
— , já chega! — o cortou. — Eu já sei o que aconteceu, agora deixe fora disso. O problema é entre nós dois e será resolvido amanhã.
— Amanhã você viaja para Daegu com a equipe nova e ficará num hotel de luxo com segurança máxima.
— Não vou mais viajar, não vou me esconder. Você sabe que não há necessidade disso, já que descobriu tudo, não é?
— Do que vocês estão falando? — se intrometeu outra vez, sendo prontamente ignorado.
— Eu sei que não há necessidade, . Mas… a sociedade e seus eleitores, sabem? — jogou a pergunta no ar, como quem não queria nada, cruzando os braços contra o peito. — Responda, ! Eles por acaso sabem o que eu descobri? Desconfiam de você como está desconfiando agora ao presenciar essa conversa? — o sargento se aproximou do amigo. — Além do mais, para mim, você está valendo mais vivo. Sabe disso, não é? Ainda preciso te proteger com minha própria vida.
— Nossa amizade agora se resume a quanto eu valho em sua conta bancária? — soou magoado, sentindo os olhos lacrimejarem; mais de raiva que qualquer outro sentimento.
— Não foi sempre assim para você? Porque em momento algum você ao menos pensou em mim e em todo o trabalho que eu tive para armar esse circo para nada! — explodiu. — Apenas faça o que eu digo e tudo ficará bem. Tem um carro blindado cheio de militares te aguardando lá fora. E você, , tire esse gozo da cara e esteja apresentável para seus superiores em meia hora no batalhão.
V.
AVISO: HÁ UMA CENA EXPLÍCITA DE USO DE DROGAS. CASO NÃO SE SINTAM CONFORTÁVEIS, PODEM PULAR QUE NÃO AFETARÁ O ENTENDIMENTO DO RESTO DA HISTÓRIA.
A notícia da morte do vice-presidente da Coreia do Sul deixou o país de cabeça para baixo. Como se não bastasse tamanha perda, as manchetes de jornais estampavam o rosto de com palavras ácidas, culpando-o de toda a situação, embora tivesse sido tão atacado quanto seu vice – tivera a sorte de sair vivo. A habilidade dos soldados envolvidos dizia muita coisa; assim como aquela ação como um todo. Ele não tinha culpa, era só mais uma vítima.
estava sentado na cama de solteiro e desconfortável que tinha no quarto do batalhão, de frente para a televisão pequena que dividia com seus companheiros, pensando sobre tudo que havia acontecido nos últimos dias; era recente demais. Ainda não aceitava ter sido enganado e ter falhado tão explicitamente. Como encararia seu país depois de tamanha falha?
O primeiro noticiário do dia falava justamente daquilo e de sua falha na missão. Os jornalistas especulavam o que de tão grave poderia ter acontecido para militares tão eficientes falharem em capturar o assassino e evitar mais um homicídio em solo sul-coreano.
O rosto de estava passando por todos os cantos do país, e ele sequer parecia nervoso com toda a situação. Sua agenda estava seguindo normalmente nos últimos dias, as viagens para Daegu e Busan foram bem sucedidas, os pronunciamentos foram feitos conforme o planejado e o presidente tinha uma nova equipe – com soldados mal encarados e violentos demais. os conhecia, eram mais velhos e pareciam ser um monte de e ; os clones perfeitos das patentes mais altas do batalhão.
entendia aquela jogada, assim como entendia tudo que acontecia ao seu redor desde a noite em que fora afastado da missão – na verdade, desde que fora escalado.
Naquela noite, depois de toda a confusão, o levou até uma das salas secretas do batalhão e o explicou tudo detalhadamente. Não contara com todas as palavras os motivos dos ataques recentes, mas fora o suficiente para que o soldado entendesse que aquela era a melhor opção. Ficar fora e sumir dos holofotes por uns dias, até que pudesse retornar e fazer seu trabalho de maneira correta.
e seus amigos não eram os mais espertos dali. Antes de proteger o presidente e vigiar todos os seus passos dentro do prédio em que trabalhava, tinha uma missão maior e secreta. As desconfianças de seu sargento sempre estavam corretas e, daquela vez, não foi diferente; tinha um palpite, e o seguiu com afinco. No fundo, seu trabalho era ouvir o mais velho e realizar as ações que ele não poderia.
Contudo, mesmo que quisesse negar, deixou-se, sim, seduzir por em alguns momentos. Mas, ao contrário do que o presidente achava, ele não estava perdido em amores; não estava apaixonado. Sentia uma atração forte demais, uma paixão até mesmo arrebatadora, entretanto aquilo não era o suficiente para fazê-lo deixar de ser alguém pensante e de opiniões próprias. Não o tornava cego, tampouco o transformava no tipo de fantoche que queriam. Estava naquele meio militar desde os dezenove anos, seria muito idiota de sua parte deixar-se levar por lábios bonitos e corpo escultural, ainda mais depois da proposta que recebera há algum tempo – era mais fácil o contrário acontecer, e ter aos seus pés (e teria acontecido se a mansão não fosse atacada, tinha certeza). O garoto também sabia como seduzir, e o fizera. No fundo, sabia que sua missão prioritária era essa: seduzir o presidente e tê-lo nas mãos; fosse de maneira romântica ou na base da confiança, de tornar-se seu braço direito, como sabia que era. E dera certo. Era seu passe para o patamar mais alto da carreira.
Ao contrário de si, estava sim mergulhado em uma paixão avassaladora. Contava-lhe coisas e fazia-lhe propostas que iam além de seu relacionamento de protetor e protegido; um jogo perigoso demais, no qual estavam cercados de informações sigilosas e confidenciais. Homens metidos com coisas do porte que estava não costumavam errar, tampouco se apaixonar – e o presidente o fizera ( não tinha certeza absoluta, mas sentia que sim).
O soldado ainda não sabia no que todos aqueles homens importantes estavam metidos, mas sabia que era algo gigantesco e que poderia transformar a Coreia do Sul no completo caos. O que estava acontecendo no momento não era nem 1% do que poderiam tornar o país se tudo viesse à tona – e algo em seu interior gritava dizendo-o que aquilo tudo era uma distração para que dessem o golpe final. não o contara tudo; ele nunca contava. Mas o olhar carregado de ressentimento e ambição entregavam-no totalmente. Durante toda a conversa sigilosa com o soldado, fazia questão de frisar que ele precisava manter o que quer que fosse com o presidente, não importava se isso só traria mais um problema para eles, já que se descobrissem que o presidente tinha um relacionamento com um outro homem, um soldado, seria o maior escândalo da história. Se estavam dispostos a arriscar tanto, era porque sabiam que o que estava por trás poderia ser muito mais desastroso.
conseguia enxergar com clareza tudo aquilo, não era burro, tinha algo ali que ia muito além do que imaginava. Conseguia também perceber que fora um bobo por se deixar levar e que aquele ataque à mansão dos havia sido uma armação; algo premeditado, a fim de vingança ou algum assunto mal resolvido e prejudicá-lo em alguma coisa, que não tinha a menor ideia do quê. Se envolver com o presidente, talvez… Ou achavam que era perigoso demais para estar ali, como se ele soubesse de alguma coisa além das conversas e segredos que compartilhava – que não ia muito além de alguns nomes corruptos, que ele já conhecia, ou alguém que vendia seus serviços, desde bancários a policiais das mais altas patentes. Aquele ataque mais parecera um aviso.
Às vezes, não conseguia negar: era mesmo uma cópia de , seu mentor por todos aqueles anos. O vira crescer no meio militar, fora treinado por ele, lidara com suas humilhações, aguentara calado. Era quase uma miniatura do . Não gostava de carregar tal título, mas sabia que fazia jus ao mesmo – inconscientemente agia como o sargento, o escutava e seguia seus conselhos à risca. Justamente por isso que fora chamado para aquela missão e recebera a proposta que mudara sua vida.
O sargento lhe dera dicas o tempo inteiro, sempre o medindo dos pés à cabeça, falando, perguntando, indicando. Era impossível não pensar e agir como ele; além de espelhar-se ao máximo para que um dia pudesse chegar lá, se quisesse, quando desistisse do trabalho de campo. O Primeiro-Sargento era seu exemplo, mesmo com um ego sufocante e seu sadismo incurável – a mania de humilhação constante para conseguir algum estímulo às vezes passava dos limites, mas até mesmo isso o soldado guardava para si como um aprendizado.
— As pessoas confundem esperteza com inocência, . — disse certa vez, enquanto tirava a farda no vestiário, lembrou-se. — O melhor jeito de persuadir alguém e arrancar informações necessárias é se fazendo de inocente. Fingir surpresa, acreditar nas próprias mentiras e seguir como se fizesse tudo errado de propósito cria uma confiança fora do comum nos inimigos. Eles se perdem achando que você nunca vai descobrir o que quer. — o sargento o encarou com um sorriso. — E, então, você dá o bote. Ninguém espera que alguém como nós vá comer pelas beiradas. Sempre esperam uma atitude rápida, meticulosa, agressiva e até mesmo muitíssimo inteligente; aquele tipo de estratégia de tirar o fôlego. Mas, na verdade, agimos com cautela e planos simples, apenas. Nós sempre estamos dois passos à frente. As pessoas não conseguem mentir para nós, mesmo quando acham que estão fazendo isso com êxito. Sempre sabemos de tudo. Use isso ao seu favor. Faça-se de inocente quando, na verdade, está apenas sendo esperto. Isso te levará longe.
carregava tais palavras como um mantra da sorte. Era como se tudo que falava acontecesse logo em seguida; ou talvez ele apenas o preparasse para tal, já sabendo que de fato aconteceria. E, se ainda era um soldado de excelência e não sofria metade das coisas que deveria ou iria sofrer se fosse qualquer outro, era graças ao sargento.
Se continuava naquele batalhão, era porque havia seguido tudo que o mais velho falava, incluindo usar tal método até mesmo com o presidente e seus companheiros durante aqueles dias. Do contrário, sim, teria sido chutado para um batalhão afastado, no interior, ou seria recrutado para uma missão desvalorizada, em que seu nome nunca seria ouvido. não mentia, honrava sua palavra, mesmo que, no fundo, fosse um cretino. não negava, gostaria de ser como ele: um homem bravo, dono das melhores e maiores medalhas do país, honrado, forte e inteligente – apesar de sua honestidade ainda ser questionada pelos corredores, seus pontos negativos não importavam, apenas serviram de complemento para que ele chegasse ao topo; e , mais do que ninguém, ansiava por chegar ao topo também.
foi tirado de seus devaneios ao ouvir batidas fortes na porta de ferro do quarto. Sem receber uma resposta de qualquer um dos soldados presentes – e só então percebeu que não estava sozinho há uns bons minutos –, o Primeiro-Sargento invadiu o cômodo com sua pose superior sufocante, acompanhado de .
— Soldados Lee, Bang e , deixem-nos a sós. — pediu com um leve tom de ordem na voz. Os soldados citados apenas fizeram uma reverência formal para o presidente e saíram em seguida. — Você tem dez minutos, .
Foi a única coisa que disse antes de se retirar, fechando a porta em um estrondo.
— …
— Quando pretendia me contar que é corrupto? — cortou a fala do mais velho, se levantando da cama de solteiro e indo até o criado-mudo, pegando um maço de cigarros que estava por ali. Acendeu um e deu uma longa tragada enquanto fitava um tanto risonho.
— Quando pretendia me contar que é fumante? — rebateu, fazendo com que o soldado revirasse os olhos. — Tudo bem, tudo bem. Vamos conversar com seriedade. Posso me sentar? A história é longa.
— Fique à vontade, senhor presidente. — murmurou, tragando o cigarro novamente. — Eu não sou fumante. Isso apenas me ajuda a relaxar e, nesse momento, a não quebrar sua cara.
riu e sentou na cama do soldado, cruzando as pernas e abrindo o blazer que usava; e só então notou nas vestes levemente casuais do presidente. As calças pareciam jeans comum, camisa social branca, blazer preto e, nos pés, sapatos também pretos; simples, como se estivesse em sua própria casa, ou num jantar informal com amigos. Era raro ver daquela forma fora de casa.
— Então… — o presidente começou. — Corrupto não é uma palavra muito forte?
— Mas é o que você é. Pare de enrolar, apenas me conte sobre o que estava falando no dia do ataque em sua casa.
— Ele descobriu uma coisa que eu e escondemos por um tempo. — explicou. — Não é relacionado a corrupção… diretamente. Quando entramos no parlamento, é comum que sejamos corrompidos, . Se você for completamente honesto, não sobrevive lá em cima. Ao contrário do que deve estar pensando agora, minha campanha não foi comprada. Realmente fiz todas as coisas que divulgaram, não sou um homem ruim. Acontece que… — suspirou e fitou o soldado. — Você não entra neste ramo sendo um político; se torna um. É uma área suja, não importa em que lugar do mundo. Pessoas completamente honestas morrem no primeiro mandato… Ou na primeira campanha. Eu não quis, nem quero, morrer.
— O que o Primeiro-Sargento descobriu? — tragou o cigarro novamente. — E não é como se isso que me disse agora fosse novidade, ou um motivo para entregar-se à corrupção como fez.
— Você vai saber tudo em detalhes se aceitar entrar nessa conosco. — respondeu de forma direta, se levantando e encarando-o nos olhos. — Veja bem… Nós sempre precisamos do máximo de pessoas possível ao nosso favor. Militares, senadores, prefeitos ou um simples assessor. Juntos nós fazemos milagres, . Você já viu e ouviu demais que eu sei; você não é tão discreto quanto pensa que é, ou eu que sou treinado demais para isso, não importa. Sejamos francos um com o outro, você desconfiou de todo mundo em algum momento e acabou por tentar me investigar também. Eu conheço o treinamento de . Ele é meu melhor amigo de infância. Mas me diga, o que encontrou?
— Nada. — respondeu sem negar nada do que fora dito. Sabia que era verdade, e não fazia parte de sua personalidade fugir ou mentir.
— É assim que trabalhamos. — deu de ombros, pegando o cigarro já pela metade da mão do soldado, apagando-o na parede onde estava encostado. — Nós fazemos o que as pessoas precisam e depois… Bem, pegamos nossa recompensa. Ninguém vê nem encontra nada.
— O que quer de mim, ? — deu um passo à frente. — Você não correria o risco de vir me contar tudo isso se não quisesse alguma coisa, ou se não tivesse algo contra mim também. Eu poderia estar gravando você agora.
— Mas não está. — o presidente sorriu. — Eu o quero do meu lado, . Sei que é leal a e jamais o prejudicaria mesmo sabendo que ele está errado. Quero que faça o mesmo por mim, mas não somente por lealdade. O que tivemos foi intenso. Estou aqui porque o quero do meu lado em todos os sentidos possíveis. Não é uma jogada puramente política e profissional, é pessoal também.
— Isso não faz o menor sentido. — murmurou, passando as mãos pelo rosto. — Não venha com declarações esfarrapadas. O que tivemos foi carnal com uma pitada de interesse.
— Nem você acredita no que está falando, .
— Não venha me oferecer sentimentos para que eu seja corrupto como você.
— Na verdade, estou oferecendo sentimentos para que você fique comigo. — esclareceu. — Você já é como eu, . Só por proteger seu sargento. Por seguir seus passos. Por ter se envolvido comigo. Você disse, foi interesse de ambos os lados. Você queria descobrir, para ele, o que eu fazia. Já eu, bem, precisava de um homem de confiança que me ligasse às Forças Armadas que não fosse . Eu precisava me proteger quando te beijei pela primeira vez, só não imaginei que isso acabaria assim.
— Então você confessa que se aproximou por interesse?
— Você também, , não se sinta tão ofendido assim.
— E você quer que eu acredite que agora não há nenhum interesse, ?
— Você sabe que tem. — se aproximou. — Nunca neguei que preciso de um homem como você. Acontece, garoto, que agora não me refiro somente ao meio profissional. Eu preciso de você do meu lado de todas as formas possíveis e não me importo com o escândalo que isso irá causar.
— Você está tentando me comprar.
— E, pelo seu olhar, estou conseguindo.
manteve-se em silêncio. No fundo, sabia que não havia mentido em nada do que falara. Estavam ali por interesse mútuo, cada um com um motivo em especial e, no fim das contas, acabaram dando muitíssimo certo naquela parceria esquisita e premeditada. Funcionaram bem – ainda funcionavam. Era estranho, mas tinham uma química que ia além das relações profissionais. Se completavam de uma maneira incrível, como nunca sequer imaginaram – formavam uma dupla maravilhosa, donos de uma lábia superior e inteligentes o suficiente para serem muito mais do que já eram.
— Não queime os neurônios com isso, meu bem. — praticamente sussurrou enquanto sustentava um sorriso cafajeste na boca. — Sabemos que somos incapazes de resistir ao que quer que esteja acontecendo entre nós.
— Eu não sou como você. — murmurou para si mesmo ao sentir o nariz do outro passear pela pele sensível de seu pescoço. — Pare com isso, você não vai me ganhar com alguns carinhos.
— Não estou tentando comprar você, . — o encarou, segurando-o pelo rosto em seguida. — Não quero parecer apressado ou até mesmo iludido, embora eu realmente seja um, mas estou me apaixonando por você, garoto. E não me arrependo de sentir nada disso, gostei de tê-lo em meu encalço o tempo inteiro; em minha cama. Eu não sabia que ainda era capaz de sentir algo forte assim.
— Está mesmo se declarando para mim? — o fitou nos olhos, tentando segurar um sorriso que teimava em estragar seu disfarce de durão. — hyung esqueceu de me avisar essa parte, agora estou emocionado.
— O quê? — piscou os olhos rapidamente, notando o sorriso do soldado aumentar gradativamente. — Você– Eu não acredito! mandou você agir assim para ter certeza se eu estava contando tudo para ele, não é? Porra, soldadinho! Você é mesmo leal. Estava esse tempo todo fingindo estar ofendido e magoado? Espera. Quer dizer que– Meu Deus! Quer dizer que você já foi comprado?
soltou uma gargalhada alta ao ouvir as palavras desconexas do mais velho, aproximando-se em seguida para beijar-lhe os lábios fartos; mordeu-os e lambeu-os com afinco, desfrutando do beijo enquanto mostrava as saudades que sentia do contato. Ficara dias afastado do presidente devido às ordens de seus superiores. Seria melhor para abafar o caso e fazer com que os soldados envolvidos não ficassem irritados a ponto de abrirem a boca e espalharem para a mídia que o ataque só aconteceu porque o presidente e o chefe da ronda estavam fodendo feito dois animais no segundo andar – tampouco queriam assumir os próprios erros e serem taxados de incompetentes perante a sociedade.
Se afastaram após alguns instantes e ficaram desfrutando um da presença do outro, trocando carinhos e sorrisos bobos; estavam felizes, apesar de tudo.
— Só uma coisa, senhor presidente: eu não fui comprado.
×
assobiava uma música típica qualquer enquanto andava calmamente pela recepção do prédio de luxo. Os responsáveis pela segurança do local já estavam cansados de ver sua figura por ali, então sequer se mexeram para impedir sua entrada – não adiantava, o Primeiro-Sargento fazia o que queria em qualquer lugar que fosse; era seu dom. Segurando a boina militar contra o peito, o sargento adentrou o elevador e pressionou o botão de número doze.
Estava prestes a iniciar (e atrapalhar ao mesmo tempo) uma reunião restrita, confidencial e sigilosa, mas não se importava. Só de imaginar as reações dos envolvidos naquela palhaçada já lhe satisfazia o suficiente. No entanto, queria que aquilo lhe rendesse um extra na conta bancária, afinal, merecia pelo tempo que fora enganado pelo melhor amigo. Do contrário, era tão fácil resolver as coisas... Bastava uma ligação e teria um mandado de busca e apreensão nas mãos de seus amigos do serviço secreto; no fim, todos os presentes iriam parar atrás das grades, possuindo um dossiê recheado de acusações e provas irreversíveis, em que nem mesmo poderia salvar alguém – tampouco a si mesmo.
Poderiam até pensar que seu jogo era movido por vingança e dinheiro, mas não era. Não queria se vingar de ninguém, mesmo que se sentisse traído, e dinheiro não lhe fazia diferença alguma, mas precisava tirar daqueles que tanto tinham para passar para aqueles que não tinham absolutamente nada. era um homem bom; um tanto mau caráter, falso e desbocado, sim, mas um homem bom. Fazia caridade nas horas vagas, sorria até para as baratas saindo dos bueiros das ruas, ajudava qualquer pessoa que lhe pedisse socorro e dava amor a todos que estavam ao seu lado; era tão carinhoso que seus familiares diziam-se sufocados de tanto amor e carinho que recebiam. Todavia, fazer parte das Forças Armadas tornou-o frio e calculista na medida do necessário. Sabia agir sem chamar atenção, sem revelar seus planos e calculava cada mínimo detalhe de seus próprios passos. E foi assim, com organização, dedicação e inteligência, que descobriu o maior escândalo da história política da Coreia do Sul – e tal escândalo não era a sexualidade do presidente.
saiu do elevador, ainda cantarolando e sorrindo para as pessoas que zanzavam pelos corredores daquele andar, e seguiu calmamente até a enorme sala privada que havia ali. Havia uma mesa grande e duas secretárias sentadas atrás dela, bem ao lado da porta. O sargento não se deu ao trabalho de pedir para que fosse anunciado, assim como não pediu permissão para entrar. As mulheres se entreolharam nervosas, sem saber como dizer para o Primeiro-Sargento das Forças Armadas que ele não podia nem deveria entrar ali naquele momento. Na última vez que o militar aparecera, gritos e ameaças ecoaram por todo o corredor, a ponto de seguranças terem de invadir a sala para que os superiores acalmassem os ânimos.
— Avisem ao chefe de vocês que estou aguardando lá dentro — falou devagar, manso, sorrindo tranquilo para as duas.
E, sem esperar uma resposta, fechou a porta da sala com um baque.
Muitos diriam que era um abusador de sua autoridade – e, às vezes, era mesmo –, no entanto, ninguém além dele sabia o que ele sabia. Era um cara totalmente fora do círculo social das pessoas envolvidas naquele caso tão curioso; o presidente e seu irmão não contavam. Eram dois traidores corruptos, no fim das contas. Então, era fácil para todos de fora – como os funcionários daqueles homens – julgarem-no como abusador de autoridade, mau caráter e outros mil apelidos carinhosos que recebia por conta de sua insistência em resolver casos.
não sentia medo, na verdade. As pessoas investigadas eram mais poderosas que ele? Sim, muito mais. Porém, ele ainda era um sargento e tinha seus meios. Não trabalhava sozinho nunca, sempre informava à família e dava pistas aos subordinados de onde estaria e o tempo que levaria para voltar. Era esperto demais para ser pego desprevenido e/ou morto. E sua esperteza fazia-o sentir que era imortal; imune ao medo. Já ficara de frente com a morte mais vezes que podia contar. Também era um soldado de campo, também passou por todo treinamento pesado, já dormiu no frio, já praticou exercícios até a exaustão, já ficou na neve somente de peça íntima; e continuava vivo. Passava suas experiências para seus soldados e mostrava que, mesmo em meio a toda crueldade do universo militar, estava ali. Firme, forte, inteligente e com um punhado de filhos da puta nas mãos.
Ao trancar-se na sala, permitiu-se rir. Era ali dentro que o mais poderoso entre os políticos se escondia, bem embaixo de seus narizes. Ou a polícia federal era muito idiota, ou também estava sendo paga para manter aquele segredinho; e tudo que queria era sua parte daquele circo todo, pois estava cansado de fechar os olhos para todas as coisas e se fazer de honesto inocente. Se queria chegar ao posto de General, precisava mexer com coisas que não gostava nem apoiava. Fazia parte do seu trabalho, temia tal momento mas teria de encará-lo agora.
Sem pensar muito e ainda cantarolando, caminhou em direção às grandes janelas do “gabinete”, observando os prédios vizinhos. Sorriu ao ver brilhar, no topo de cada um, suas pontinhas de esperança. Estava tudo perfeito, então poderia relaxar um pouco. O dono da sala chegaria logo.
Quase saltitando feito uma criança, o sargento sentou-se na cadeira de couro atrás da mesa, apoiando os pés na mesma. Encarou o relógio caro em seu pulso e notou que ainda estava dentro do tempo que precisava para efetuar todos os seus planos. Não haveria problema nenhum caso tentasse se distrair um pouco. Com isso em mente, puxou do bolso o que precisava e sorriu automaticamente. Nunca resistia àquela coisinha tão relaxante. Era só uma erva, no fim das contas; e a adorava.
⚠️
O Sargento preparou o cigarro diferenciado rapidamente; não pretendia demorar tanto assim e queria, mais do que tudo, que aquele desgraçado chegasse e o encontrasse curtindo uma onda em sua sala – que ele sabia não ter sensor de fumaça por conta do próprio dono ser um fumante desenfreado.
Levou o baseado recém-feito até os lábios, acendendo-o com um isqueiro. Logo na primeira tragada, fechou os olhos em satisfação, prendendo a fumaça em seu interior e soltando-a após alguns segundos. Fez isso diversas vezes, até sentir-se relaxado, aproveitando, então, apenas a calmaria que aquilo lhe trazia.
teria aproveitado mais; adoraria, na verdade. No entanto, o som da porta batendo contra o batente cortou seu barato, fazendo-o revirar os olhos, já sabendo quem era.
— O que você está fazendo aqui? — a voz irritada ecoou por todo o local, fazendo com que o sargento apenas suspirasse. Aquele homem era sempre tão insuportável.
— Olá, senhor Kang, como está? — debochou, tragando o baseado mais uma vez. — Sentiu minha falta? Pois eu senti a sua.
— Você está mesmo fumando maconha no meu gabinete? — Kang perguntou retoricamente, indo até o sargento e puxando o pequeno cigarro de seus dedos, amassando-o e apagando-o em sua própria mesa. — Eu poderia mandar prendê-lo por isso.
— Mas não vai, porque eu poderia prendê-lo de verdade por coisa muito pior do que fumar um baseado. — rebateu, logo se levantando e se aproximando do homem mais baixo. — Eu não caio em ameaças vazias e já deveria ter notado isso, senhor Kang.
— O que quer aqui, Primeiro-Sargento?
— Acho que já conversamos sobre o que eu quero… Mas prefiro esperar seus companheiros chegarem para que possamos discutir isso melhor em grupo, bem como a democracia pede.
— …
— Eles não vão demorar, senhor Kang.
O clima estava tenso, pesado. Ambos os homens sabiam que se odiavam com todas as forças; mas o que poderiam fazer, afinal? tinha interesses demais, e sabia que sua situação só seria resolvida com aquele homem e seus amigos que, por coincidência ou não, eram conhecidos de longa data.
E o senhor Kang… Bem, era o mais novo secretário de segurança do Estado, e o cargo não fora tão merecido assim. Bastava um estalar de dedos do sargento para que tivesse complicações, mesmo que este tivesse tragado um pouco de maconha; sabia como esconder os indícios. O mais prejudicado de todo aquele fuzuê seria ele. Sua maior vontade era tirar aquele maldito militar de sua vida, mas seria impossível. Matá-lo, embora fosse sua maior vontade, não poderia; tampouco conseguiria sozinho, e sabia. Era bem treinado demais. Um homem de quase cinquenta anos, de saúde afetada, má condição física e ranzinza jamais teria chances.
Após mais alguns minutos de um silêncio tenso, foi o primeiro a entrar na sala, levando um baita susto, sendo seguido de seu irmão mais velho e, o mais chocante para o querido senhor Kang, . e Lee Hyemi foram os últimos a chegar; pareciam calmos e risonhos por presenciarem tamanha bizarrice no gabinete do secretário de segurança do Estado. Ninguém esperava por uma situação daquelas, era engraçado e assustador ao mesmo tempo; não é que o sargento havia mesmo invadido os negócios?
Era muito estranho ter ali. Os irmãos fizeram o possível e o quase impossível para nunca tê-lo ali. O militar não era bem-vindo; ninguém o queria no esquema. Sua inteligência e esperteza tornavam-no quase uma ameaça, não um aliado.
manteve a expressão fechada desde que entrara na sala; o choque ainda se fazia presente em seu interior. Pensou ter sido claro com o sargento dizendo que não o queria ali, que ele complicaria as coisas para todos; mas não adiantara, nunca adiantava. não escutava e nem obedecia ninguém.
não parecia tão preocupado assim com o amigo. No fundo, já sabia que aquilo aconteceria, apenas não quis alarmar o irmão mais novo, que já parecia preocupado demais com o envolvimento do sargento naquela situação. Sua atenção estava toda nas reações do senhor Kang em relação à presença inusitada de . Aquilo sim era afrontar os companheiros de negócios; aquele soldado era o pesadelo de todos os presentes. Temia por ele, mas era um risco que precisavam correr.
Querendo ou não, e eram sinônimo de proteção. Mesmo que houvesse a possibilidade de serem o maior motivo da ruína daquele esquema; ou arriscavam agora enquanto tinham tempo, ou deixavam os negócios irem de mal a pior.
— Agora você pode falar o que quer, . — Kang murmurou, tentando controlar sua ira. — Aproveite para explicar o que diabos seu soldadinho está fazendo aqui também.
— O que faz aqui eu não sei, meu amigo. Pergunte ao . — deu de ombros, pegando o que sobrara de seu baseado sobre a mesa e reacendendo a ponta. — Já o que eu quero… Talvez não seja algo agradável para vocês.
— , eu pedi para que não viesse aqui — falou de maneira firme, caminhando até onde ambos os homens estavam parados; ainda na mesma posição, próximos às janelas grandes e à mesa de madeira pura e polida.
— Você não deve contar seus segredos a alguém como eu e esperar que nada aconteça, . — o fitou com uma expressão de pena totalmente forçada enquanto tragava o restinho da erva que tinha entre os dedos, já que havia reacendido o cigarro. — Eu sabia que você e seu irmão escondiam alguma coisa, e até queria ajudar. Mas vocês me enganaram, tsc. Só me restou usar toda a inteligência que possuo para chegar até aqui, junto do meu soldadinho, , que seguiu meus passos direitinho e por isso está aqui agora, nesta sala, conosco. Diferente de você, , é um homem apaixonado, porém leal. Ele soube o que e como fazer para mim e para seu irmão ao mesmo tempo, ao contrário de você, que pensou que, negando o que sente por mim, me afastaria.
— Isso é algum tipo de terapia de casal em grupo? — Hyemi interrompeu o falatório enquanto revirava os olhos e caminhava até , com seus saltos batendo contra o piso. — Que tal rodar isso um pouco, Sargento? Você não é o único que gosta de umas coisinhas uma vez ou outra.
E, com um sorriso ladino, permitiu que a mulher pegasse a ponta de baseado e levasse até os lábios. Hyemi estava tentando cortejá-lo, e estava tão claro que chegava ser cômico. Aquela secretária era tão pilantra – ou mais – quanto todos os homens ali presentes. Era tão óbvio que todo mundo, com exceção de , queria sua cabeça. não era idiota.
Estava acima deles.
Com isso em mente, o sargento estufou o peito e deixou que a bomba estourasse.
— Sem mais delongas, queridos, não quero atrapalhar a reunião de vocês. É hoje que decidirão algo importante, certo? — encarou a todos com o desgosto estampado em suas feições bonitas. — Mudarão a história da política coreana; é realmente isso que queremos, no fim das contas. Pena que vocês são uns belos filhos da puta e estão fazendo isso por dinheiro. Mas, como não sou diferente de vocês, quero 30%. É isso que eu quero: 30% de tudo.
— Isso só pode ser brincadeira. — praticamente sussurrou ao mesmo tempo que todos ficavam em silêncio, apenas encarando uns aos outros. — Você sabe onde diabos está se metendo, ? Esse esquema não funciona assim. 30%? Você realmente enlouqueceu.
— Isso ou posso botar a boca no trombone em rede internacional. — o sargento deu de ombros. — Não gosto muito dessa coisa de chantagem. É feio, antiético e um jogo baixíssimo. Mas vocês só funcionam assim.
— E o que te leva a pensar que não vamos matar você agora mesmo, ? — Kang perguntou enquanto o encarava nos olhos, bem em sua frente. — Não aguento mais olhar para sua cara de maconheiro, sentir essa sua aura superior e ouvir suas ladainhas sem fundamentos. Minha vontade é de enfiar uma bala na sua testa agora mesmo.
— Você não vai me matar, . — respondeu firme e calmo, como se não tivesse falado nada demais, fazendo com que os outros presentes paralisassem; não esperavam que ele soubesse uma informação tão forte. não havia dito nada. — Sou o Primeiro-Sargento das Forças Armadas de Seul, meu caro. O que acha que poderia fazer comigo na frente dessa gente toda? Acha que sou burro, que não me informei, que não investiguei cada um de vocês? Acha que estou aqui sozinho, e que não teria coragem de te matar de verdade, ? — o sargento o encarou nos olhos e cruzou os braços contra o peito, voltando a carregar feições sérias e ameaçadoras. — Você– Nenhum de vocês me amedronta. Posso pisar em cada um aqui e esmagá-los como um amontoado de baratas imundas. Não sinto medo. Se estou aqui, é porque sei o que estou fazendo. E quer saber de uma coisa, ? Basta um sinal de mãos… — descruzou os braços e ergueu a mão esquerda, fazendo um sinal que somente entendeu. — Para que você finalmente morra.
Em questão de segundos, pontos de laser vermelhos começaram a surgir por todo o corpo de Kang, que, na verdade, era ; em sua testa, peito, pescoço, abdômen, nariz.
— É bom fazer o que digo, zinho. Só preciso movimentar meu dedo para a direita para te matar. Ninguém vai ver, ninguém vai ouvir, ninguém vai ligar ou lutar. Você já está morto mesmo, não é? E sabemos que o senhor Kang não existe. Nem mesmo nos registros sul-coreanos. Na secretaria do Estado. No exército. Na polícia. Em lugar nenhum. O senhor Kang é só o reflexo do fantasma de .
engoliu a seco e respirou fundo, tentando manter o controle. Não sabia como diabos aquele sargento desgraçado havia descoberto seu segredo, ou o reconhecido – fizera inúmeras cirurgias plásticas para ficar irreconhecível e ser apenas um secretário de segurança qualquer que surgira do nada, como sempre inventava.
— Não sou eu quem decide as porcentagens, .
— Não tem problema, . Tenho o resto do dia livre, pode ligar para seu superior.
×
— Eu não acredito que o fez isso — praticamente gritou, deixando o corpo cair no sofá de couro, que ficava na sala de seu apartamento.
— Você realmente achou que ele agiria diferente, irmão? — perguntou alto, fechando a porta atrás de si, com ao seu lado. — Por que abriu o jogo com ele, afinal?
— Você conhece aquele desgraçado, hyung — respirou fundo, fitando o teto. — Ele me colocou na parede, literalmente, no meio do fórum. Falou meia dúzia de coisas que bagunçaram minha cabeça, acabei cedendo. Sem contar que ele sempre consegue descobrir o que quer, era questão de tempo até que ele soubesse todos os detalhes por conta própria. Acho que conseguimos esconder até demais.
— Por que não confessa que contou por ser apaixonado por ele e não consegue esconder as coisas dele? — perguntou com naturalidade, sentando ao lado do advogado. — Não é segredo para ninguém, .
— De onde você tira essas barbaridades, ? — o mais novo fitou o soldado. — Não sou apaixonado pelo , mas, sim, é muito difícil esconder as coisas dele. Nos conhecemos desde crianças e ele sempre foi muito observador, sem contar que passou os últimos dias prestando atenção em nós, até mesmo chegou a dizer que descobriria o que escondíamos. O único que abriu a boca por paixão foi nosso querido presidente, e é por isso que você está aqui mesmo depois daquele fiasco de segurança. Foi uma bela armação, mas meu irmão poderia ter acabado morto por causa da sua irresponsabilidade.
fingia não escutar nenhum daqueles absurdos; sabia que o irmão estava, sim, apaixonado pelo sargento – sempre fora – e sabia também que o fiasco daquela noite fora sua culpa, mas o que podia fazer se era sina dos fazer besteiras quando apaixonados? Assim como o irmão, estava cego de amores por um militar.
— também é apaixonado por você, só não assume. — voltou a falar. — Enquanto conversávamos e colocávamos as cartas na mesa um dia desses, ele falou sobre você com muito carinho. Foi bom de ouvir, mas não durou muito. hyung é muito focado no trabalho; o batalhão é sua vida. Nossas missões são tudo para ele, e às vezes isso faz com que passe por cima dos próprios sentimentos.
— Assim como você faz pelo meu irmão?
— Pode-se dizer que sim, . Mas com a diferença de que eu não sinto medo de assumir as coisas.
Naquele pequeno diálogo, prestou atenção com mais afinco e um sorriso bobo nos lábios. era encantador e um ótimo conselheiro amoroso, mesmo que aquele momento não fosse tão propício. Ali, na sala, os três nem mesmo pareciam os corruptos que eram – ou deveriam ser. O presidente ainda sentia a relutância de para render-se ao esquema.
— Parem de falar de amor. — pediu, por fim. — Vamos pensar em uma solução para nosso problema, precisamos escolher o assassino.
Ao ouvir a fala do presidente, voltou a pensar sobre o que realmente importava: o futuro da política de seu país e a proteção que ele deveria voltar dar para todos daquele maldito esquema, além de ter que mentir para o próprio General.
“Escolher o assassino” era a pauta mais discutida nas reuniões com o atual falso secretário de segurança do Estado, Kang Jonghyun, que, na verdade, era o falecido , prefeito de Daegu.
No início de tudo, quando soube do primeiro homicídio, pensou que se tratava de um assassino em série. O padrão era o mesmo. Ele trabalhava com detalhes e sempre precisava de um gatilho, gostava de jogar com as autoridades e agia só quando queria, no último momento, ou no espaço de sete dias para tentar enganar a todos. Era um perfil comum, arriscaria dizer.
Entretanto, naquele dia especificamente, percebeu que fora enganado propositalmente, assim como todo o meio autoritário e inteligente da Coreia do Sul. Os agentes de todas as áreas estavam trabalhando juntos. A área militar estava misturada, eram todos um só; polícia civil, federal e as redes de inteligência também estavam nessa. Eram “tribos” que preferiam fazer seus trabalhos sozinhos, longe, sem terem que interagir. Mas o caso de políticos e policiais mortos sem mais nem menos transformaram todos em um só. O que era bom, mas também mostrava como eram idiotas. E, se não fossem ele, um mero soldado desconhecido pela sociedade, e , ninguém nunca cogitaria o que estava de fato acontecendo.
Corrupção não era algo novo, lavagem de dinheiro também não. Conspiração era até mesmo algo sofisticado; e era o que eles estavam fazendo. Aquela quadrilha estava conspirando com todo um país, mexendo com minorias e querendo parecer os lutadores em prol dos renegados. Formavam a corte mais aclamada entre os jovens, propícios a vencer novamente nas próximas eleições. Contudo, não passavam de charlatões ambiciosos.
E criadores de assassinos que não existiam de fato. Pelo menos, não o em série que todos achavam perseguir desde o início.
O fato era: não havia assassino em série, não havia um amontoado de terroristas espalhados pelo mundo. , , , e Hyemi apenas se aproveitaram da alienação do povo e criaram uma forma de lucrar mais. Eram todos safados, corruptos e usavam o discurso que todos gostavam de ouvir; até mesmo a família tradicional eles haviam conseguido enganar e conquistar. Ajudavam todos ao redor para que continuassem no poder e subissem cada vez mais. Conquistaram a confiança alheia e deram o golpe final: roubaram aos montes por debaixo dos panos e criaram as mortes.
Era tudo inventado, uma teia de mentiras pegajosas. Um caminho sem volta; e quem por ali passava era impossível não se corromper. O dinheiro era muito e fácil demais. Quantias gordas entravam e saíam das contas bancárias. As mansões monstruosas. A proteção em excesso.
Mas claro que alguma coisa poderia dar errado.
Começaram a descobrir os esquemas, os desvios de dinheiro, as viagens inúteis disfarçadas de caridade e acordos pelo mundo. E só então as pessoas começaram a morrer de verdade. O Presidente parecia não concordar com as mortes, mas não podia evitá-las. Era apenas um peão naquele jogo, era pago apenas para continuar governando o país de forma maravilhosa, assim como seu irmão genial deveria continuar tirando todos eles da cadeia com seus argumentos impecáveis e indestrutíveis.
Tinham um perfil criado – um bom advogado, um presidente amado pela população e o cérebro de . Juntaram o útil ao agradável: roubaram em triplo e começaram a matar.
Mataram concorrentes, curiosos, descuidados, faladeiros e mataram entre si, os próprios idealistas das falcatruas. No fim, as autoridades permaneciam andando em círculos, como se um assassino específico existisse. Estavam presos num mecanismo.
Não havia um assassino... Bem, na verdade, havia sim. Mas ele também já estava morto. Os ataques eram forjados. As mortes também. Só morreu de verdade aqueles que quiseram demais, ou que não eram do partido privilegiado. Agora, precisavam escolher entre si quem seria o falso assassino que ganharia milhões de dólares para passar um período na prisão e então “morrer” e ser finalmente esquecido.
No mais, o esquema era e não era um segredo. Era um segredo em relação a , que estava mas não estava morto; porém, não era segredo quanto aos montes de dinheiro que eram desviados. Os outros apenas não falavam nem tentavam destruir o maior esquema de corrupção do país porque, bom, quem tentava acabava morto de verdade; e ninguém queria conhecer o Inferno mais cedo.
Ainda tinha muito dinheiro circulando, e eles precisavam roubar.
×
já estava de volta ao batalhão e ostentava um sorriso de orelha a orelha. Seu ego estava quase explodindo e tomando-o por completo; não gostava de ser desse jeito, mas às vezes se permitia aproveitar da sensação que era estar por cima. Sua aura de superioridade nem sempre era apenas uma imagem de sargento das forças armadas, algumas vezes acabava perdendo o controle e aquilo era seu verdadeiro ser.
Após sair da sala de – assim que este desligou o telefone depois de falar com o chefão de todo aquele circo –, recebeu uma ligação do General dizendo que tinha informações importantes e precisavam conversar urgentemente. Então, embora estivesse feliz ,pois provavelmente teria 30% de muitos milhões de dólares em sua conta bancária, acatou as ordens de seu General e voltou ao trabalho rapidamente.
Ao chegar na sala do General , bateu na porta e esperou ser convidado para entrar, o que não demorou muito.
— Senhor General. — bateu continência e se curvou em seguida, numa reverência de 90° respeitosamente. — Em que posso ser útil?
— Olá, Sargento. — sorriu, levantando-se. — Tenho novidades incríveis para você.
— Estou curioso e ansioso para ouvi-las.
— Parabéns, você conseguiu! — O General exclamou de maneira quase irônica, deixando desconfiado. — Não me olhe assim, você sabe do que estou falando. Não faz nem meia hora que fez o pedido.
— Não estou entendendo, senhor.
— Os 30%, Sargento. Você conseguiu. Receberá o tão amado dinheiro imundo.
Ao ouvir aquilo, paralisou. O corpo gelou de imediato e um arrepio de medo lhe cruzou a espinha; parecia que havia levado um susto daqueles e apostaria todo seu dinheiro que estava pálido naquele momento. O coração estava acelerado e a respiração descompassou; estava atônito. Como…?
— O… O quê? — perguntou, forçando a garganta algumas vezes, tentando fazer a voz e o fôlego voltarem. — Do que diabos está falando, General?
— Oras, … — se aproximou, fitando-o nos olhos. — Recupere este fôlego. Preciso de você raciocinando e sendo inteligente como sempre fora. Veja bem, Sargento… O problema das pessoas é que elas são naturalmente ambiciosas. No entanto, em sua maioria, são burras. Diferente de você. Gosto da forma que joga e corre atrás do que quer; você é bom, e não é à toa que o quero como meu sucessor. Mas, por favor, não se meta mais nas minhas coisas, tampouco ameace ou chantageie meus homens de terno. Preciso deles lá, assim como preciso de você aqui.
— Ainda não entendi. — murmurou, ainda chocado. — O Senhor…
— Pessoas como eles precisam de pessoas como nós, . — o cortou, agora sério. — Precisam de proteção, conhecimento, investimento. Digamos que o senhor Kang seja obra minha. Assim como o futuro de todos ao seu redor. Por que eu, a essa altura do campeonato, iria me preocupar tanto com ameaças sem fundamentos de assassinos em série? Proteger o presidente, sua família, amigos e a nação? Não tenho mais idade para essas coisas; isso é conversa para pessoas abaixo de nós e da polícia federal, da inteligência e afins. Essa baboseira de serviço secreto. Mas quando envolve dinheiro meu, faço questão de me colocar na linha de frente. Ainda sou um soldado, afinal.
— Só o sabe quem você é, então?
— Kang Jonghyun, só ele sabe quem sou, . Pare de chamá-lo de ; está morto. Mas vamos ao que interessa. Vou lhe dar os malditos 30%. Mas, você sabe, nada nesse meio é de graça. Precisa fazer por merecer, assim como todos eles fizeram antes de entrarem em meu esquema; com exceção do , que só está ali de enfeite. O novo bonequinho de , aquele idiota.
— Como assim nada é de graça? — perguntou, já se recuperando do choque e cruzando os braços contra o peito. — O que o senhor está aprontando?
sorriu novamente e se aproximou mais do Sargento, começando a falar de forma sussurrada:
— Você precisará fazer algo para mim, . Um favor um pouco complicado. Sabe que não costumo pedir coisas fáceis; ainda mais quando se trata de 30% dos milhões que arrecado por semana. Além do batalhão, tenho uma conspiração para sustentar. Mas confio em você para este serviço e sei que fará valer a quantia extra em seu salário.
— Quem eu preciso matar, General?
— Ah, … — riu, balançando a cabeça negativamente. — É por isso que gosto de você. Mais leal, inteligente e eficiente não existe. Eu sabia que poderia contar com seus serviços.
×
Já era quase noite quando todos conseguiram voltar ao gabinete do secretário de segurança do Estado. O clima tenso continuava, e ninguém fazia questão de fingir que ele não existia. Os planos não eram mais os mesmos desde que e chegaram ali; ambos tinham a irritante mania de se intrometer no que não eram chamados.
— Pensei que não fosse precisar mais olhar para vocês dois. — Kang, ou , murmurou enquanto massageava as têmporas e encarava e . — Saibam que só estão aqui porque alguém acima de mim quer muito isso… porque, se fosse minha vontade, já estariam mortos.
— Sabe, — começou —, hoje conheci seu chefe. E ele gosta de mim, então meça suas palavras. Estou aqui para informar que ele decidiu quem será o assassino, já que vocês são incompetentes até para isso.
— Diz isso porque não é você que terá que ficar, no mínimo, três anos vivendo na prisão. — Hyemi murmurou, dando de ombros. — Mas vamos, diga logo o que foi resolvido.
— Ah, meu bem. — riu e puxou Hyemi pelo queixo de forma delicada, já que estavam sentados lado a lado. — Por dez milhões de dólares, eu passaria até quinze. Sem contar que quem foi escolhido terá todas as regalias possíveis. Já está tudo resolvido, certo, ?
— Certo. — o mais velho concordou, mesmo contra sua vontade. Ainda não aceitava a presença do sargento e do soldado ali; os odiava, queria-os mortos. — Agora pare de me chamar de e vamos logo com isso, . Desembucha o que foi decidido por ele.
— será nosso assassino. — o sargento falou alto o suficiente para que todos escutassem. — Todas as investigações estão voltadas para ele e sua cúmplice: a adorável Hyemi. Ambos serão presos, mas levará a maior parte da culpa. Hyemi deve alegar, aos prantos, que tem problemas psicológicos e foi brutalmente manipulada; fruto de um longo relacionamento abusivo. A pena será diminuída e você, meu bem — se virou para a mulher. —, se atuar direitinho, será transferida para um hospital psiquiátrico, onde terá tratamento cinco estrelas também. — virou-se para o menor, que continuava sério e em silêncio; era um ótimo funcionário, afinal. —, você sabe o que fazer. Apenas haja normalmente, como se fosse um psicopata. Não demonstre arrependimento e narre todos os fatos com detalhes; entregue-se, porque todas as provas estão contra você. Como prometido, vocês dois morrerão em três ou quatro anos, coincidentemente quase no período da próxima eleição. tem tudo para conseguir vencer novamente, e vocês terão muitos milhões em suas contas pessoais para quando ficarem livres, além de novos rostos, nomes e documentos.
— Tudo bem. — finalmente se pronunciou. — Apenas não nos deixe morrer de verdade, Sargento. Eu realmente quero desfrutar de todo meu dinheiro, trabalhei muito para chegar onde estou. Não banque o espertinho conosco.
— Tudo bem. — interrompeu. — Todos prontos? Vamos começar mais um show. Finjam pânico, susto, desespero; estávamos em uma reunião de trabalho, e os militares estavam nos protegendo quando surtou e ameaçou nos matar. Tome, garoto, sua arma. — jogou uma pistola para o assessor. — Você perdeu o controle porque sua namorada se recusou a continuar te ajudando e porque vocês falharam em matar .
— O pessoal do serviço secreto e da federal já estão aqui. — avisou e bagunçou os próprios cabelos ao mesmo tempo que todos corriam de um lado para o outro, quebrando enfeites, virando a mesa e derrubando computadores. Transformaram tudo em um verdadeiro pandemônio.
— Eles invadirão em cinco — iniciou a contagem, olhando para o relógio caro em seu pulso, já com sua arma em mãos. —, quatro, três, dois, um.
E tudo aconteceu rápido demais. Vários homens fortemente armados invadiram a sala aos gritos, mandando e Hyemi levantarem as mãos. Ambos obedeceram, mesmo que tentassem resistir à prisão para soarem convincentes. Tudo estava verdadeiro demais, e Hosoek armados, na frente de , e, naquela situação, Kang Jonghyun, protegendo-os como verdadeiros homens da leis; mas levemente corrompidos, o que ninguém precisava saber.
e Hyemi gritavam e tentavam se soltar das mãos fortes, com armas grandes apontadas em suas direções. Ambos fingiam dar suas versões, e Hyemi chorava enquanto dizia o quão violento era, enquanto ele apenas ria de forma arrepiante e aterrorizante, usando de sua voz suave para tentar persuadir os policiais em sua volta.
— Levem-os daqui! — exclamou, ainda apontando a arma em direção aos detidos. — O presidente e o secretário estão em segurança. , por favor, acompanhe-os. Acredito que precisarão de um advogado para conduzir o processo, e ninguém melhor que você, o advogado do partido.
E, sem dizer nada enquanto se fazia de assustado, obedeceu.
Do mesmo jeito que o pandemônio se iniciou, ele terminou. e Hyemi saíram algemados do prédio de luxo e protegido, com centenas de jornalistas fazendo perguntas invasivas e fotógrafos pegando-os da melhor forma possível, com imagens que estampariam todos os jornais no dia seguinte. Mais uma vez, ninguém desconfiava que tudo aquilo não passava de uma mentira que valia milhões.
Mas Seul amanheceria com (boas) notícias detalhando os fatos da noite aterrorizante em que finalmente prenderam o assassino em série que estava deixando tudo de cabeça para baixo, trazendo a tranquilidade da população. Era o que importava, no fim.
O país finalmente estava salvo.
A notícia da morte do vice-presidente da Coreia do Sul deixou o país de cabeça para baixo. Como se não bastasse tamanha perda, as manchetes de jornais estampavam o rosto de com palavras ácidas, culpando-o de toda a situação, embora tivesse sido tão atacado quanto seu vice – tivera a sorte de sair vivo. A habilidade dos soldados envolvidos dizia muita coisa; assim como aquela ação como um todo. Ele não tinha culpa, era só mais uma vítima.
estava sentado na cama de solteiro e desconfortável que tinha no quarto do batalhão, de frente para a televisão pequena que dividia com seus companheiros, pensando sobre tudo que havia acontecido nos últimos dias; era recente demais. Ainda não aceitava ter sido enganado e ter falhado tão explicitamente. Como encararia seu país depois de tamanha falha?
O primeiro noticiário do dia falava justamente daquilo e de sua falha na missão. Os jornalistas especulavam o que de tão grave poderia ter acontecido para militares tão eficientes falharem em capturar o assassino e evitar mais um homicídio em solo sul-coreano.
O rosto de estava passando por todos os cantos do país, e ele sequer parecia nervoso com toda a situação. Sua agenda estava seguindo normalmente nos últimos dias, as viagens para Daegu e Busan foram bem sucedidas, os pronunciamentos foram feitos conforme o planejado e o presidente tinha uma nova equipe – com soldados mal encarados e violentos demais. os conhecia, eram mais velhos e pareciam ser um monte de e ; os clones perfeitos das patentes mais altas do batalhão.
entendia aquela jogada, assim como entendia tudo que acontecia ao seu redor desde a noite em que fora afastado da missão – na verdade, desde que fora escalado.
Naquela noite, depois de toda a confusão, o levou até uma das salas secretas do batalhão e o explicou tudo detalhadamente. Não contara com todas as palavras os motivos dos ataques recentes, mas fora o suficiente para que o soldado entendesse que aquela era a melhor opção. Ficar fora e sumir dos holofotes por uns dias, até que pudesse retornar e fazer seu trabalho de maneira correta.
e seus amigos não eram os mais espertos dali. Antes de proteger o presidente e vigiar todos os seus passos dentro do prédio em que trabalhava, tinha uma missão maior e secreta. As desconfianças de seu sargento sempre estavam corretas e, daquela vez, não foi diferente; tinha um palpite, e o seguiu com afinco. No fundo, seu trabalho era ouvir o mais velho e realizar as ações que ele não poderia.
Contudo, mesmo que quisesse negar, deixou-se, sim, seduzir por em alguns momentos. Mas, ao contrário do que o presidente achava, ele não estava perdido em amores; não estava apaixonado. Sentia uma atração forte demais, uma paixão até mesmo arrebatadora, entretanto aquilo não era o suficiente para fazê-lo deixar de ser alguém pensante e de opiniões próprias. Não o tornava cego, tampouco o transformava no tipo de fantoche que queriam. Estava naquele meio militar desde os dezenove anos, seria muito idiota de sua parte deixar-se levar por lábios bonitos e corpo escultural, ainda mais depois da proposta que recebera há algum tempo – era mais fácil o contrário acontecer, e ter aos seus pés (e teria acontecido se a mansão não fosse atacada, tinha certeza). O garoto também sabia como seduzir, e o fizera. No fundo, sabia que sua missão prioritária era essa: seduzir o presidente e tê-lo nas mãos; fosse de maneira romântica ou na base da confiança, de tornar-se seu braço direito, como sabia que era. E dera certo. Era seu passe para o patamar mais alto da carreira.
Ao contrário de si, estava sim mergulhado em uma paixão avassaladora. Contava-lhe coisas e fazia-lhe propostas que iam além de seu relacionamento de protetor e protegido; um jogo perigoso demais, no qual estavam cercados de informações sigilosas e confidenciais. Homens metidos com coisas do porte que estava não costumavam errar, tampouco se apaixonar – e o presidente o fizera ( não tinha certeza absoluta, mas sentia que sim).
O soldado ainda não sabia no que todos aqueles homens importantes estavam metidos, mas sabia que era algo gigantesco e que poderia transformar a Coreia do Sul no completo caos. O que estava acontecendo no momento não era nem 1% do que poderiam tornar o país se tudo viesse à tona – e algo em seu interior gritava dizendo-o que aquilo tudo era uma distração para que dessem o golpe final. não o contara tudo; ele nunca contava. Mas o olhar carregado de ressentimento e ambição entregavam-no totalmente. Durante toda a conversa sigilosa com o soldado, fazia questão de frisar que ele precisava manter o que quer que fosse com o presidente, não importava se isso só traria mais um problema para eles, já que se descobrissem que o presidente tinha um relacionamento com um outro homem, um soldado, seria o maior escândalo da história. Se estavam dispostos a arriscar tanto, era porque sabiam que o que estava por trás poderia ser muito mais desastroso.
conseguia enxergar com clareza tudo aquilo, não era burro, tinha algo ali que ia muito além do que imaginava. Conseguia também perceber que fora um bobo por se deixar levar e que aquele ataque à mansão dos havia sido uma armação; algo premeditado, a fim de vingança ou algum assunto mal resolvido e prejudicá-lo em alguma coisa, que não tinha a menor ideia do quê. Se envolver com o presidente, talvez… Ou achavam que era perigoso demais para estar ali, como se ele soubesse de alguma coisa além das conversas e segredos que compartilhava – que não ia muito além de alguns nomes corruptos, que ele já conhecia, ou alguém que vendia seus serviços, desde bancários a policiais das mais altas patentes. Aquele ataque mais parecera um aviso.
Às vezes, não conseguia negar: era mesmo uma cópia de , seu mentor por todos aqueles anos. O vira crescer no meio militar, fora treinado por ele, lidara com suas humilhações, aguentara calado. Era quase uma miniatura do . Não gostava de carregar tal título, mas sabia que fazia jus ao mesmo – inconscientemente agia como o sargento, o escutava e seguia seus conselhos à risca. Justamente por isso que fora chamado para aquela missão e recebera a proposta que mudara sua vida.
O sargento lhe dera dicas o tempo inteiro, sempre o medindo dos pés à cabeça, falando, perguntando, indicando. Era impossível não pensar e agir como ele; além de espelhar-se ao máximo para que um dia pudesse chegar lá, se quisesse, quando desistisse do trabalho de campo. O Primeiro-Sargento era seu exemplo, mesmo com um ego sufocante e seu sadismo incurável – a mania de humilhação constante para conseguir algum estímulo às vezes passava dos limites, mas até mesmo isso o soldado guardava para si como um aprendizado.
— As pessoas confundem esperteza com inocência, . — disse certa vez, enquanto tirava a farda no vestiário, lembrou-se. — O melhor jeito de persuadir alguém e arrancar informações necessárias é se fazendo de inocente. Fingir surpresa, acreditar nas próprias mentiras e seguir como se fizesse tudo errado de propósito cria uma confiança fora do comum nos inimigos. Eles se perdem achando que você nunca vai descobrir o que quer. — o sargento o encarou com um sorriso. — E, então, você dá o bote. Ninguém espera que alguém como nós vá comer pelas beiradas. Sempre esperam uma atitude rápida, meticulosa, agressiva e até mesmo muitíssimo inteligente; aquele tipo de estratégia de tirar o fôlego. Mas, na verdade, agimos com cautela e planos simples, apenas. Nós sempre estamos dois passos à frente. As pessoas não conseguem mentir para nós, mesmo quando acham que estão fazendo isso com êxito. Sempre sabemos de tudo. Use isso ao seu favor. Faça-se de inocente quando, na verdade, está apenas sendo esperto. Isso te levará longe.
carregava tais palavras como um mantra da sorte. Era como se tudo que falava acontecesse logo em seguida; ou talvez ele apenas o preparasse para tal, já sabendo que de fato aconteceria. E, se ainda era um soldado de excelência e não sofria metade das coisas que deveria ou iria sofrer se fosse qualquer outro, era graças ao sargento.
Se continuava naquele batalhão, era porque havia seguido tudo que o mais velho falava, incluindo usar tal método até mesmo com o presidente e seus companheiros durante aqueles dias. Do contrário, sim, teria sido chutado para um batalhão afastado, no interior, ou seria recrutado para uma missão desvalorizada, em que seu nome nunca seria ouvido. não mentia, honrava sua palavra, mesmo que, no fundo, fosse um cretino. não negava, gostaria de ser como ele: um homem bravo, dono das melhores e maiores medalhas do país, honrado, forte e inteligente – apesar de sua honestidade ainda ser questionada pelos corredores, seus pontos negativos não importavam, apenas serviram de complemento para que ele chegasse ao topo; e , mais do que ninguém, ansiava por chegar ao topo também.
foi tirado de seus devaneios ao ouvir batidas fortes na porta de ferro do quarto. Sem receber uma resposta de qualquer um dos soldados presentes – e só então percebeu que não estava sozinho há uns bons minutos –, o Primeiro-Sargento invadiu o cômodo com sua pose superior sufocante, acompanhado de .
— Soldados Lee, Bang e , deixem-nos a sós. — pediu com um leve tom de ordem na voz. Os soldados citados apenas fizeram uma reverência formal para o presidente e saíram em seguida. — Você tem dez minutos, .
Foi a única coisa que disse antes de se retirar, fechando a porta em um estrondo.
— …
— Quando pretendia me contar que é corrupto? — cortou a fala do mais velho, se levantando da cama de solteiro e indo até o criado-mudo, pegando um maço de cigarros que estava por ali. Acendeu um e deu uma longa tragada enquanto fitava um tanto risonho.
— Quando pretendia me contar que é fumante? — rebateu, fazendo com que o soldado revirasse os olhos. — Tudo bem, tudo bem. Vamos conversar com seriedade. Posso me sentar? A história é longa.
— Fique à vontade, senhor presidente. — murmurou, tragando o cigarro novamente. — Eu não sou fumante. Isso apenas me ajuda a relaxar e, nesse momento, a não quebrar sua cara.
riu e sentou na cama do soldado, cruzando as pernas e abrindo o blazer que usava; e só então notou nas vestes levemente casuais do presidente. As calças pareciam jeans comum, camisa social branca, blazer preto e, nos pés, sapatos também pretos; simples, como se estivesse em sua própria casa, ou num jantar informal com amigos. Era raro ver daquela forma fora de casa.
— Então… — o presidente começou. — Corrupto não é uma palavra muito forte?
— Mas é o que você é. Pare de enrolar, apenas me conte sobre o que estava falando no dia do ataque em sua casa.
— Ele descobriu uma coisa que eu e escondemos por um tempo. — explicou. — Não é relacionado a corrupção… diretamente. Quando entramos no parlamento, é comum que sejamos corrompidos, . Se você for completamente honesto, não sobrevive lá em cima. Ao contrário do que deve estar pensando agora, minha campanha não foi comprada. Realmente fiz todas as coisas que divulgaram, não sou um homem ruim. Acontece que… — suspirou e fitou o soldado. — Você não entra neste ramo sendo um político; se torna um. É uma área suja, não importa em que lugar do mundo. Pessoas completamente honestas morrem no primeiro mandato… Ou na primeira campanha. Eu não quis, nem quero, morrer.
— O que o Primeiro-Sargento descobriu? — tragou o cigarro novamente. — E não é como se isso que me disse agora fosse novidade, ou um motivo para entregar-se à corrupção como fez.
— Você vai saber tudo em detalhes se aceitar entrar nessa conosco. — respondeu de forma direta, se levantando e encarando-o nos olhos. — Veja bem… Nós sempre precisamos do máximo de pessoas possível ao nosso favor. Militares, senadores, prefeitos ou um simples assessor. Juntos nós fazemos milagres, . Você já viu e ouviu demais que eu sei; você não é tão discreto quanto pensa que é, ou eu que sou treinado demais para isso, não importa. Sejamos francos um com o outro, você desconfiou de todo mundo em algum momento e acabou por tentar me investigar também. Eu conheço o treinamento de . Ele é meu melhor amigo de infância. Mas me diga, o que encontrou?
— Nada. — respondeu sem negar nada do que fora dito. Sabia que era verdade, e não fazia parte de sua personalidade fugir ou mentir.
— É assim que trabalhamos. — deu de ombros, pegando o cigarro já pela metade da mão do soldado, apagando-o na parede onde estava encostado. — Nós fazemos o que as pessoas precisam e depois… Bem, pegamos nossa recompensa. Ninguém vê nem encontra nada.
— O que quer de mim, ? — deu um passo à frente. — Você não correria o risco de vir me contar tudo isso se não quisesse alguma coisa, ou se não tivesse algo contra mim também. Eu poderia estar gravando você agora.
— Mas não está. — o presidente sorriu. — Eu o quero do meu lado, . Sei que é leal a e jamais o prejudicaria mesmo sabendo que ele está errado. Quero que faça o mesmo por mim, mas não somente por lealdade. O que tivemos foi intenso. Estou aqui porque o quero do meu lado em todos os sentidos possíveis. Não é uma jogada puramente política e profissional, é pessoal também.
— Isso não faz o menor sentido. — murmurou, passando as mãos pelo rosto. — Não venha com declarações esfarrapadas. O que tivemos foi carnal com uma pitada de interesse.
— Nem você acredita no que está falando, .
— Não venha me oferecer sentimentos para que eu seja corrupto como você.
— Na verdade, estou oferecendo sentimentos para que você fique comigo. — esclareceu. — Você já é como eu, . Só por proteger seu sargento. Por seguir seus passos. Por ter se envolvido comigo. Você disse, foi interesse de ambos os lados. Você queria descobrir, para ele, o que eu fazia. Já eu, bem, precisava de um homem de confiança que me ligasse às Forças Armadas que não fosse . Eu precisava me proteger quando te beijei pela primeira vez, só não imaginei que isso acabaria assim.
— Então você confessa que se aproximou por interesse?
— Você também, , não se sinta tão ofendido assim.
— E você quer que eu acredite que agora não há nenhum interesse, ?
— Você sabe que tem. — se aproximou. — Nunca neguei que preciso de um homem como você. Acontece, garoto, que agora não me refiro somente ao meio profissional. Eu preciso de você do meu lado de todas as formas possíveis e não me importo com o escândalo que isso irá causar.
— Você está tentando me comprar.
— E, pelo seu olhar, estou conseguindo.
manteve-se em silêncio. No fundo, sabia que não havia mentido em nada do que falara. Estavam ali por interesse mútuo, cada um com um motivo em especial e, no fim das contas, acabaram dando muitíssimo certo naquela parceria esquisita e premeditada. Funcionaram bem – ainda funcionavam. Era estranho, mas tinham uma química que ia além das relações profissionais. Se completavam de uma maneira incrível, como nunca sequer imaginaram – formavam uma dupla maravilhosa, donos de uma lábia superior e inteligentes o suficiente para serem muito mais do que já eram.
— Não queime os neurônios com isso, meu bem. — praticamente sussurrou enquanto sustentava um sorriso cafajeste na boca. — Sabemos que somos incapazes de resistir ao que quer que esteja acontecendo entre nós.
— Eu não sou como você. — murmurou para si mesmo ao sentir o nariz do outro passear pela pele sensível de seu pescoço. — Pare com isso, você não vai me ganhar com alguns carinhos.
— Não estou tentando comprar você, . — o encarou, segurando-o pelo rosto em seguida. — Não quero parecer apressado ou até mesmo iludido, embora eu realmente seja um, mas estou me apaixonando por você, garoto. E não me arrependo de sentir nada disso, gostei de tê-lo em meu encalço o tempo inteiro; em minha cama. Eu não sabia que ainda era capaz de sentir algo forte assim.
— Está mesmo se declarando para mim? — o fitou nos olhos, tentando segurar um sorriso que teimava em estragar seu disfarce de durão. — hyung esqueceu de me avisar essa parte, agora estou emocionado.
— O quê? — piscou os olhos rapidamente, notando o sorriso do soldado aumentar gradativamente. — Você– Eu não acredito! mandou você agir assim para ter certeza se eu estava contando tudo para ele, não é? Porra, soldadinho! Você é mesmo leal. Estava esse tempo todo fingindo estar ofendido e magoado? Espera. Quer dizer que– Meu Deus! Quer dizer que você já foi comprado?
soltou uma gargalhada alta ao ouvir as palavras desconexas do mais velho, aproximando-se em seguida para beijar-lhe os lábios fartos; mordeu-os e lambeu-os com afinco, desfrutando do beijo enquanto mostrava as saudades que sentia do contato. Ficara dias afastado do presidente devido às ordens de seus superiores. Seria melhor para abafar o caso e fazer com que os soldados envolvidos não ficassem irritados a ponto de abrirem a boca e espalharem para a mídia que o ataque só aconteceu porque o presidente e o chefe da ronda estavam fodendo feito dois animais no segundo andar – tampouco queriam assumir os próprios erros e serem taxados de incompetentes perante a sociedade.
Se afastaram após alguns instantes e ficaram desfrutando um da presença do outro, trocando carinhos e sorrisos bobos; estavam felizes, apesar de tudo.
— Só uma coisa, senhor presidente: eu não fui comprado.
assobiava uma música típica qualquer enquanto andava calmamente pela recepção do prédio de luxo. Os responsáveis pela segurança do local já estavam cansados de ver sua figura por ali, então sequer se mexeram para impedir sua entrada – não adiantava, o Primeiro-Sargento fazia o que queria em qualquer lugar que fosse; era seu dom. Segurando a boina militar contra o peito, o sargento adentrou o elevador e pressionou o botão de número doze.
Estava prestes a iniciar (e atrapalhar ao mesmo tempo) uma reunião restrita, confidencial e sigilosa, mas não se importava. Só de imaginar as reações dos envolvidos naquela palhaçada já lhe satisfazia o suficiente. No entanto, queria que aquilo lhe rendesse um extra na conta bancária, afinal, merecia pelo tempo que fora enganado pelo melhor amigo. Do contrário, era tão fácil resolver as coisas... Bastava uma ligação e teria um mandado de busca e apreensão nas mãos de seus amigos do serviço secreto; no fim, todos os presentes iriam parar atrás das grades, possuindo um dossiê recheado de acusações e provas irreversíveis, em que nem mesmo poderia salvar alguém – tampouco a si mesmo.
Poderiam até pensar que seu jogo era movido por vingança e dinheiro, mas não era. Não queria se vingar de ninguém, mesmo que se sentisse traído, e dinheiro não lhe fazia diferença alguma, mas precisava tirar daqueles que tanto tinham para passar para aqueles que não tinham absolutamente nada. era um homem bom; um tanto mau caráter, falso e desbocado, sim, mas um homem bom. Fazia caridade nas horas vagas, sorria até para as baratas saindo dos bueiros das ruas, ajudava qualquer pessoa que lhe pedisse socorro e dava amor a todos que estavam ao seu lado; era tão carinhoso que seus familiares diziam-se sufocados de tanto amor e carinho que recebiam. Todavia, fazer parte das Forças Armadas tornou-o frio e calculista na medida do necessário. Sabia agir sem chamar atenção, sem revelar seus planos e calculava cada mínimo detalhe de seus próprios passos. E foi assim, com organização, dedicação e inteligência, que descobriu o maior escândalo da história política da Coreia do Sul – e tal escândalo não era a sexualidade do presidente.
saiu do elevador, ainda cantarolando e sorrindo para as pessoas que zanzavam pelos corredores daquele andar, e seguiu calmamente até a enorme sala privada que havia ali. Havia uma mesa grande e duas secretárias sentadas atrás dela, bem ao lado da porta. O sargento não se deu ao trabalho de pedir para que fosse anunciado, assim como não pediu permissão para entrar. As mulheres se entreolharam nervosas, sem saber como dizer para o Primeiro-Sargento das Forças Armadas que ele não podia nem deveria entrar ali naquele momento. Na última vez que o militar aparecera, gritos e ameaças ecoaram por todo o corredor, a ponto de seguranças terem de invadir a sala para que os superiores acalmassem os ânimos.
— Avisem ao chefe de vocês que estou aguardando lá dentro — falou devagar, manso, sorrindo tranquilo para as duas.
E, sem esperar uma resposta, fechou a porta da sala com um baque.
Muitos diriam que era um abusador de sua autoridade – e, às vezes, era mesmo –, no entanto, ninguém além dele sabia o que ele sabia. Era um cara totalmente fora do círculo social das pessoas envolvidas naquele caso tão curioso; o presidente e seu irmão não contavam. Eram dois traidores corruptos, no fim das contas. Então, era fácil para todos de fora – como os funcionários daqueles homens – julgarem-no como abusador de autoridade, mau caráter e outros mil apelidos carinhosos que recebia por conta de sua insistência em resolver casos.
não sentia medo, na verdade. As pessoas investigadas eram mais poderosas que ele? Sim, muito mais. Porém, ele ainda era um sargento e tinha seus meios. Não trabalhava sozinho nunca, sempre informava à família e dava pistas aos subordinados de onde estaria e o tempo que levaria para voltar. Era esperto demais para ser pego desprevenido e/ou morto. E sua esperteza fazia-o sentir que era imortal; imune ao medo. Já ficara de frente com a morte mais vezes que podia contar. Também era um soldado de campo, também passou por todo treinamento pesado, já dormiu no frio, já praticou exercícios até a exaustão, já ficou na neve somente de peça íntima; e continuava vivo. Passava suas experiências para seus soldados e mostrava que, mesmo em meio a toda crueldade do universo militar, estava ali. Firme, forte, inteligente e com um punhado de filhos da puta nas mãos.
Ao trancar-se na sala, permitiu-se rir. Era ali dentro que o mais poderoso entre os políticos se escondia, bem embaixo de seus narizes. Ou a polícia federal era muito idiota, ou também estava sendo paga para manter aquele segredinho; e tudo que queria era sua parte daquele circo todo, pois estava cansado de fechar os olhos para todas as coisas e se fazer de honesto inocente. Se queria chegar ao posto de General, precisava mexer com coisas que não gostava nem apoiava. Fazia parte do seu trabalho, temia tal momento mas teria de encará-lo agora.
Sem pensar muito e ainda cantarolando, caminhou em direção às grandes janelas do “gabinete”, observando os prédios vizinhos. Sorriu ao ver brilhar, no topo de cada um, suas pontinhas de esperança. Estava tudo perfeito, então poderia relaxar um pouco. O dono da sala chegaria logo.
Quase saltitando feito uma criança, o sargento sentou-se na cadeira de couro atrás da mesa, apoiando os pés na mesma. Encarou o relógio caro em seu pulso e notou que ainda estava dentro do tempo que precisava para efetuar todos os seus planos. Não haveria problema nenhum caso tentasse se distrair um pouco. Com isso em mente, puxou do bolso o que precisava e sorriu automaticamente. Nunca resistia àquela coisinha tão relaxante. Era só uma erva, no fim das contas; e a adorava.
O Sargento preparou o cigarro diferenciado rapidamente; não pretendia demorar tanto assim e queria, mais do que tudo, que aquele desgraçado chegasse e o encontrasse curtindo uma onda em sua sala – que ele sabia não ter sensor de fumaça por conta do próprio dono ser um fumante desenfreado.
Levou o baseado recém-feito até os lábios, acendendo-o com um isqueiro. Logo na primeira tragada, fechou os olhos em satisfação, prendendo a fumaça em seu interior e soltando-a após alguns segundos. Fez isso diversas vezes, até sentir-se relaxado, aproveitando, então, apenas a calmaria que aquilo lhe trazia.
teria aproveitado mais; adoraria, na verdade. No entanto, o som da porta batendo contra o batente cortou seu barato, fazendo-o revirar os olhos, já sabendo quem era.
— O que você está fazendo aqui? — a voz irritada ecoou por todo o local, fazendo com que o sargento apenas suspirasse. Aquele homem era sempre tão insuportável.
— Olá, senhor Kang, como está? — debochou, tragando o baseado mais uma vez. — Sentiu minha falta? Pois eu senti a sua.
— Você está mesmo fumando maconha no meu gabinete? — Kang perguntou retoricamente, indo até o sargento e puxando o pequeno cigarro de seus dedos, amassando-o e apagando-o em sua própria mesa. — Eu poderia mandar prendê-lo por isso.
— Mas não vai, porque eu poderia prendê-lo de verdade por coisa muito pior do que fumar um baseado. — rebateu, logo se levantando e se aproximando do homem mais baixo. — Eu não caio em ameaças vazias e já deveria ter notado isso, senhor Kang.
— O que quer aqui, Primeiro-Sargento?
— Acho que já conversamos sobre o que eu quero… Mas prefiro esperar seus companheiros chegarem para que possamos discutir isso melhor em grupo, bem como a democracia pede.
— …
— Eles não vão demorar, senhor Kang.
O clima estava tenso, pesado. Ambos os homens sabiam que se odiavam com todas as forças; mas o que poderiam fazer, afinal? tinha interesses demais, e sabia que sua situação só seria resolvida com aquele homem e seus amigos que, por coincidência ou não, eram conhecidos de longa data.
E o senhor Kang… Bem, era o mais novo secretário de segurança do Estado, e o cargo não fora tão merecido assim. Bastava um estalar de dedos do sargento para que tivesse complicações, mesmo que este tivesse tragado um pouco de maconha; sabia como esconder os indícios. O mais prejudicado de todo aquele fuzuê seria ele. Sua maior vontade era tirar aquele maldito militar de sua vida, mas seria impossível. Matá-lo, embora fosse sua maior vontade, não poderia; tampouco conseguiria sozinho, e sabia. Era bem treinado demais. Um homem de quase cinquenta anos, de saúde afetada, má condição física e ranzinza jamais teria chances.
Após mais alguns minutos de um silêncio tenso, foi o primeiro a entrar na sala, levando um baita susto, sendo seguido de seu irmão mais velho e, o mais chocante para o querido senhor Kang, . e Lee Hyemi foram os últimos a chegar; pareciam calmos e risonhos por presenciarem tamanha bizarrice no gabinete do secretário de segurança do Estado. Ninguém esperava por uma situação daquelas, era engraçado e assustador ao mesmo tempo; não é que o sargento havia mesmo invadido os negócios?
Era muito estranho ter ali. Os irmãos fizeram o possível e o quase impossível para nunca tê-lo ali. O militar não era bem-vindo; ninguém o queria no esquema. Sua inteligência e esperteza tornavam-no quase uma ameaça, não um aliado.
manteve a expressão fechada desde que entrara na sala; o choque ainda se fazia presente em seu interior. Pensou ter sido claro com o sargento dizendo que não o queria ali, que ele complicaria as coisas para todos; mas não adiantara, nunca adiantava. não escutava e nem obedecia ninguém.
não parecia tão preocupado assim com o amigo. No fundo, já sabia que aquilo aconteceria, apenas não quis alarmar o irmão mais novo, que já parecia preocupado demais com o envolvimento do sargento naquela situação. Sua atenção estava toda nas reações do senhor Kang em relação à presença inusitada de . Aquilo sim era afrontar os companheiros de negócios; aquele soldado era o pesadelo de todos os presentes. Temia por ele, mas era um risco que precisavam correr.
Querendo ou não, e eram sinônimo de proteção. Mesmo que houvesse a possibilidade de serem o maior motivo da ruína daquele esquema; ou arriscavam agora enquanto tinham tempo, ou deixavam os negócios irem de mal a pior.
— Agora você pode falar o que quer, . — Kang murmurou, tentando controlar sua ira. — Aproveite para explicar o que diabos seu soldadinho está fazendo aqui também.
— O que faz aqui eu não sei, meu amigo. Pergunte ao . — deu de ombros, pegando o que sobrara de seu baseado sobre a mesa e reacendendo a ponta. — Já o que eu quero… Talvez não seja algo agradável para vocês.
— , eu pedi para que não viesse aqui — falou de maneira firme, caminhando até onde ambos os homens estavam parados; ainda na mesma posição, próximos às janelas grandes e à mesa de madeira pura e polida.
— Você não deve contar seus segredos a alguém como eu e esperar que nada aconteça, . — o fitou com uma expressão de pena totalmente forçada enquanto tragava o restinho da erva que tinha entre os dedos, já que havia reacendido o cigarro. — Eu sabia que você e seu irmão escondiam alguma coisa, e até queria ajudar. Mas vocês me enganaram, tsc. Só me restou usar toda a inteligência que possuo para chegar até aqui, junto do meu soldadinho, , que seguiu meus passos direitinho e por isso está aqui agora, nesta sala, conosco. Diferente de você, , é um homem apaixonado, porém leal. Ele soube o que e como fazer para mim e para seu irmão ao mesmo tempo, ao contrário de você, que pensou que, negando o que sente por mim, me afastaria.
— Isso é algum tipo de terapia de casal em grupo? — Hyemi interrompeu o falatório enquanto revirava os olhos e caminhava até , com seus saltos batendo contra o piso. — Que tal rodar isso um pouco, Sargento? Você não é o único que gosta de umas coisinhas uma vez ou outra.
E, com um sorriso ladino, permitiu que a mulher pegasse a ponta de baseado e levasse até os lábios. Hyemi estava tentando cortejá-lo, e estava tão claro que chegava ser cômico. Aquela secretária era tão pilantra – ou mais – quanto todos os homens ali presentes. Era tão óbvio que todo mundo, com exceção de , queria sua cabeça. não era idiota.
Estava acima deles.
Com isso em mente, o sargento estufou o peito e deixou que a bomba estourasse.
— Sem mais delongas, queridos, não quero atrapalhar a reunião de vocês. É hoje que decidirão algo importante, certo? — encarou a todos com o desgosto estampado em suas feições bonitas. — Mudarão a história da política coreana; é realmente isso que queremos, no fim das contas. Pena que vocês são uns belos filhos da puta e estão fazendo isso por dinheiro. Mas, como não sou diferente de vocês, quero 30%. É isso que eu quero: 30% de tudo.
— Isso só pode ser brincadeira. — praticamente sussurrou ao mesmo tempo que todos ficavam em silêncio, apenas encarando uns aos outros. — Você sabe onde diabos está se metendo, ? Esse esquema não funciona assim. 30%? Você realmente enlouqueceu.
— Isso ou posso botar a boca no trombone em rede internacional. — o sargento deu de ombros. — Não gosto muito dessa coisa de chantagem. É feio, antiético e um jogo baixíssimo. Mas vocês só funcionam assim.
— E o que te leva a pensar que não vamos matar você agora mesmo, ? — Kang perguntou enquanto o encarava nos olhos, bem em sua frente. — Não aguento mais olhar para sua cara de maconheiro, sentir essa sua aura superior e ouvir suas ladainhas sem fundamentos. Minha vontade é de enfiar uma bala na sua testa agora mesmo.
— Você não vai me matar, . — respondeu firme e calmo, como se não tivesse falado nada demais, fazendo com que os outros presentes paralisassem; não esperavam que ele soubesse uma informação tão forte. não havia dito nada. — Sou o Primeiro-Sargento das Forças Armadas de Seul, meu caro. O que acha que poderia fazer comigo na frente dessa gente toda? Acha que sou burro, que não me informei, que não investiguei cada um de vocês? Acha que estou aqui sozinho, e que não teria coragem de te matar de verdade, ? — o sargento o encarou nos olhos e cruzou os braços contra o peito, voltando a carregar feições sérias e ameaçadoras. — Você– Nenhum de vocês me amedronta. Posso pisar em cada um aqui e esmagá-los como um amontoado de baratas imundas. Não sinto medo. Se estou aqui, é porque sei o que estou fazendo. E quer saber de uma coisa, ? Basta um sinal de mãos… — descruzou os braços e ergueu a mão esquerda, fazendo um sinal que somente entendeu. — Para que você finalmente morra.
Em questão de segundos, pontos de laser vermelhos começaram a surgir por todo o corpo de Kang, que, na verdade, era ; em sua testa, peito, pescoço, abdômen, nariz.
— É bom fazer o que digo, zinho. Só preciso movimentar meu dedo para a direita para te matar. Ninguém vai ver, ninguém vai ouvir, ninguém vai ligar ou lutar. Você já está morto mesmo, não é? E sabemos que o senhor Kang não existe. Nem mesmo nos registros sul-coreanos. Na secretaria do Estado. No exército. Na polícia. Em lugar nenhum. O senhor Kang é só o reflexo do fantasma de .
engoliu a seco e respirou fundo, tentando manter o controle. Não sabia como diabos aquele sargento desgraçado havia descoberto seu segredo, ou o reconhecido – fizera inúmeras cirurgias plásticas para ficar irreconhecível e ser apenas um secretário de segurança qualquer que surgira do nada, como sempre inventava.
— Não sou eu quem decide as porcentagens, .
— Não tem problema, . Tenho o resto do dia livre, pode ligar para seu superior.
— Eu não acredito que o fez isso — praticamente gritou, deixando o corpo cair no sofá de couro, que ficava na sala de seu apartamento.
— Você realmente achou que ele agiria diferente, irmão? — perguntou alto, fechando a porta atrás de si, com ao seu lado. — Por que abriu o jogo com ele, afinal?
— Você conhece aquele desgraçado, hyung — respirou fundo, fitando o teto. — Ele me colocou na parede, literalmente, no meio do fórum. Falou meia dúzia de coisas que bagunçaram minha cabeça, acabei cedendo. Sem contar que ele sempre consegue descobrir o que quer, era questão de tempo até que ele soubesse todos os detalhes por conta própria. Acho que conseguimos esconder até demais.
— Por que não confessa que contou por ser apaixonado por ele e não consegue esconder as coisas dele? — perguntou com naturalidade, sentando ao lado do advogado. — Não é segredo para ninguém, .
— De onde você tira essas barbaridades, ? — o mais novo fitou o soldado. — Não sou apaixonado pelo , mas, sim, é muito difícil esconder as coisas dele. Nos conhecemos desde crianças e ele sempre foi muito observador, sem contar que passou os últimos dias prestando atenção em nós, até mesmo chegou a dizer que descobriria o que escondíamos. O único que abriu a boca por paixão foi nosso querido presidente, e é por isso que você está aqui mesmo depois daquele fiasco de segurança. Foi uma bela armação, mas meu irmão poderia ter acabado morto por causa da sua irresponsabilidade.
fingia não escutar nenhum daqueles absurdos; sabia que o irmão estava, sim, apaixonado pelo sargento – sempre fora – e sabia também que o fiasco daquela noite fora sua culpa, mas o que podia fazer se era sina dos fazer besteiras quando apaixonados? Assim como o irmão, estava cego de amores por um militar.
— também é apaixonado por você, só não assume. — voltou a falar. — Enquanto conversávamos e colocávamos as cartas na mesa um dia desses, ele falou sobre você com muito carinho. Foi bom de ouvir, mas não durou muito. hyung é muito focado no trabalho; o batalhão é sua vida. Nossas missões são tudo para ele, e às vezes isso faz com que passe por cima dos próprios sentimentos.
— Assim como você faz pelo meu irmão?
— Pode-se dizer que sim, . Mas com a diferença de que eu não sinto medo de assumir as coisas.
Naquele pequeno diálogo, prestou atenção com mais afinco e um sorriso bobo nos lábios. era encantador e um ótimo conselheiro amoroso, mesmo que aquele momento não fosse tão propício. Ali, na sala, os três nem mesmo pareciam os corruptos que eram – ou deveriam ser. O presidente ainda sentia a relutância de para render-se ao esquema.
— Parem de falar de amor. — pediu, por fim. — Vamos pensar em uma solução para nosso problema, precisamos escolher o assassino.
Ao ouvir a fala do presidente, voltou a pensar sobre o que realmente importava: o futuro da política de seu país e a proteção que ele deveria voltar dar para todos daquele maldito esquema, além de ter que mentir para o próprio General.
“Escolher o assassino” era a pauta mais discutida nas reuniões com o atual falso secretário de segurança do Estado, Kang Jonghyun, que, na verdade, era o falecido , prefeito de Daegu.
No início de tudo, quando soube do primeiro homicídio, pensou que se tratava de um assassino em série. O padrão era o mesmo. Ele trabalhava com detalhes e sempre precisava de um gatilho, gostava de jogar com as autoridades e agia só quando queria, no último momento, ou no espaço de sete dias para tentar enganar a todos. Era um perfil comum, arriscaria dizer.
Entretanto, naquele dia especificamente, percebeu que fora enganado propositalmente, assim como todo o meio autoritário e inteligente da Coreia do Sul. Os agentes de todas as áreas estavam trabalhando juntos. A área militar estava misturada, eram todos um só; polícia civil, federal e as redes de inteligência também estavam nessa. Eram “tribos” que preferiam fazer seus trabalhos sozinhos, longe, sem terem que interagir. Mas o caso de políticos e policiais mortos sem mais nem menos transformaram todos em um só. O que era bom, mas também mostrava como eram idiotas. E, se não fossem ele, um mero soldado desconhecido pela sociedade, e , ninguém nunca cogitaria o que estava de fato acontecendo.
Corrupção não era algo novo, lavagem de dinheiro também não. Conspiração era até mesmo algo sofisticado; e era o que eles estavam fazendo. Aquela quadrilha estava conspirando com todo um país, mexendo com minorias e querendo parecer os lutadores em prol dos renegados. Formavam a corte mais aclamada entre os jovens, propícios a vencer novamente nas próximas eleições. Contudo, não passavam de charlatões ambiciosos.
E criadores de assassinos que não existiam de fato. Pelo menos, não o em série que todos achavam perseguir desde o início.
O fato era: não havia assassino em série, não havia um amontoado de terroristas espalhados pelo mundo. , , , e Hyemi apenas se aproveitaram da alienação do povo e criaram uma forma de lucrar mais. Eram todos safados, corruptos e usavam o discurso que todos gostavam de ouvir; até mesmo a família tradicional eles haviam conseguido enganar e conquistar. Ajudavam todos ao redor para que continuassem no poder e subissem cada vez mais. Conquistaram a confiança alheia e deram o golpe final: roubaram aos montes por debaixo dos panos e criaram as mortes.
Era tudo inventado, uma teia de mentiras pegajosas. Um caminho sem volta; e quem por ali passava era impossível não se corromper. O dinheiro era muito e fácil demais. Quantias gordas entravam e saíam das contas bancárias. As mansões monstruosas. A proteção em excesso.
Mas claro que alguma coisa poderia dar errado.
Começaram a descobrir os esquemas, os desvios de dinheiro, as viagens inúteis disfarçadas de caridade e acordos pelo mundo. E só então as pessoas começaram a morrer de verdade. O Presidente parecia não concordar com as mortes, mas não podia evitá-las. Era apenas um peão naquele jogo, era pago apenas para continuar governando o país de forma maravilhosa, assim como seu irmão genial deveria continuar tirando todos eles da cadeia com seus argumentos impecáveis e indestrutíveis.
Tinham um perfil criado – um bom advogado, um presidente amado pela população e o cérebro de . Juntaram o útil ao agradável: roubaram em triplo e começaram a matar.
Mataram concorrentes, curiosos, descuidados, faladeiros e mataram entre si, os próprios idealistas das falcatruas. No fim, as autoridades permaneciam andando em círculos, como se um assassino específico existisse. Estavam presos num mecanismo.
Não havia um assassino... Bem, na verdade, havia sim. Mas ele também já estava morto. Os ataques eram forjados. As mortes também. Só morreu de verdade aqueles que quiseram demais, ou que não eram do partido privilegiado. Agora, precisavam escolher entre si quem seria o falso assassino que ganharia milhões de dólares para passar um período na prisão e então “morrer” e ser finalmente esquecido.
No mais, o esquema era e não era um segredo. Era um segredo em relação a , que estava mas não estava morto; porém, não era segredo quanto aos montes de dinheiro que eram desviados. Os outros apenas não falavam nem tentavam destruir o maior esquema de corrupção do país porque, bom, quem tentava acabava morto de verdade; e ninguém queria conhecer o Inferno mais cedo.
Ainda tinha muito dinheiro circulando, e eles precisavam roubar.
já estava de volta ao batalhão e ostentava um sorriso de orelha a orelha. Seu ego estava quase explodindo e tomando-o por completo; não gostava de ser desse jeito, mas às vezes se permitia aproveitar da sensação que era estar por cima. Sua aura de superioridade nem sempre era apenas uma imagem de sargento das forças armadas, algumas vezes acabava perdendo o controle e aquilo era seu verdadeiro ser.
Após sair da sala de – assim que este desligou o telefone depois de falar com o chefão de todo aquele circo –, recebeu uma ligação do General dizendo que tinha informações importantes e precisavam conversar urgentemente. Então, embora estivesse feliz ,pois provavelmente teria 30% de muitos milhões de dólares em sua conta bancária, acatou as ordens de seu General e voltou ao trabalho rapidamente.
Ao chegar na sala do General , bateu na porta e esperou ser convidado para entrar, o que não demorou muito.
— Senhor General. — bateu continência e se curvou em seguida, numa reverência de 90° respeitosamente. — Em que posso ser útil?
— Olá, Sargento. — sorriu, levantando-se. — Tenho novidades incríveis para você.
— Estou curioso e ansioso para ouvi-las.
— Parabéns, você conseguiu! — O General exclamou de maneira quase irônica, deixando desconfiado. — Não me olhe assim, você sabe do que estou falando. Não faz nem meia hora que fez o pedido.
— Não estou entendendo, senhor.
— Os 30%, Sargento. Você conseguiu. Receberá o tão amado dinheiro imundo.
Ao ouvir aquilo, paralisou. O corpo gelou de imediato e um arrepio de medo lhe cruzou a espinha; parecia que havia levado um susto daqueles e apostaria todo seu dinheiro que estava pálido naquele momento. O coração estava acelerado e a respiração descompassou; estava atônito. Como…?
— O… O quê? — perguntou, forçando a garganta algumas vezes, tentando fazer a voz e o fôlego voltarem. — Do que diabos está falando, General?
— Oras, … — se aproximou, fitando-o nos olhos. — Recupere este fôlego. Preciso de você raciocinando e sendo inteligente como sempre fora. Veja bem, Sargento… O problema das pessoas é que elas são naturalmente ambiciosas. No entanto, em sua maioria, são burras. Diferente de você. Gosto da forma que joga e corre atrás do que quer; você é bom, e não é à toa que o quero como meu sucessor. Mas, por favor, não se meta mais nas minhas coisas, tampouco ameace ou chantageie meus homens de terno. Preciso deles lá, assim como preciso de você aqui.
— Ainda não entendi. — murmurou, ainda chocado. — O Senhor…
— Pessoas como eles precisam de pessoas como nós, . — o cortou, agora sério. — Precisam de proteção, conhecimento, investimento. Digamos que o senhor Kang seja obra minha. Assim como o futuro de todos ao seu redor. Por que eu, a essa altura do campeonato, iria me preocupar tanto com ameaças sem fundamentos de assassinos em série? Proteger o presidente, sua família, amigos e a nação? Não tenho mais idade para essas coisas; isso é conversa para pessoas abaixo de nós e da polícia federal, da inteligência e afins. Essa baboseira de serviço secreto. Mas quando envolve dinheiro meu, faço questão de me colocar na linha de frente. Ainda sou um soldado, afinal.
— Só o sabe quem você é, então?
— Kang Jonghyun, só ele sabe quem sou, . Pare de chamá-lo de ; está morto. Mas vamos ao que interessa. Vou lhe dar os malditos 30%. Mas, você sabe, nada nesse meio é de graça. Precisa fazer por merecer, assim como todos eles fizeram antes de entrarem em meu esquema; com exceção do , que só está ali de enfeite. O novo bonequinho de , aquele idiota.
— Como assim nada é de graça? — perguntou, já se recuperando do choque e cruzando os braços contra o peito. — O que o senhor está aprontando?
sorriu novamente e se aproximou mais do Sargento, começando a falar de forma sussurrada:
— Você precisará fazer algo para mim, . Um favor um pouco complicado. Sabe que não costumo pedir coisas fáceis; ainda mais quando se trata de 30% dos milhões que arrecado por semana. Além do batalhão, tenho uma conspiração para sustentar. Mas confio em você para este serviço e sei que fará valer a quantia extra em seu salário.
— Quem eu preciso matar, General?
— Ah, … — riu, balançando a cabeça negativamente. — É por isso que gosto de você. Mais leal, inteligente e eficiente não existe. Eu sabia que poderia contar com seus serviços.
Já era quase noite quando todos conseguiram voltar ao gabinete do secretário de segurança do Estado. O clima tenso continuava, e ninguém fazia questão de fingir que ele não existia. Os planos não eram mais os mesmos desde que e chegaram ali; ambos tinham a irritante mania de se intrometer no que não eram chamados.
— Pensei que não fosse precisar mais olhar para vocês dois. — Kang, ou , murmurou enquanto massageava as têmporas e encarava e . — Saibam que só estão aqui porque alguém acima de mim quer muito isso… porque, se fosse minha vontade, já estariam mortos.
— Sabe, — começou —, hoje conheci seu chefe. E ele gosta de mim, então meça suas palavras. Estou aqui para informar que ele decidiu quem será o assassino, já que vocês são incompetentes até para isso.
— Diz isso porque não é você que terá que ficar, no mínimo, três anos vivendo na prisão. — Hyemi murmurou, dando de ombros. — Mas vamos, diga logo o que foi resolvido.
— Ah, meu bem. — riu e puxou Hyemi pelo queixo de forma delicada, já que estavam sentados lado a lado. — Por dez milhões de dólares, eu passaria até quinze. Sem contar que quem foi escolhido terá todas as regalias possíveis. Já está tudo resolvido, certo, ?
— Certo. — o mais velho concordou, mesmo contra sua vontade. Ainda não aceitava a presença do sargento e do soldado ali; os odiava, queria-os mortos. — Agora pare de me chamar de e vamos logo com isso, . Desembucha o que foi decidido por ele.
— será nosso assassino. — o sargento falou alto o suficiente para que todos escutassem. — Todas as investigações estão voltadas para ele e sua cúmplice: a adorável Hyemi. Ambos serão presos, mas levará a maior parte da culpa. Hyemi deve alegar, aos prantos, que tem problemas psicológicos e foi brutalmente manipulada; fruto de um longo relacionamento abusivo. A pena será diminuída e você, meu bem — se virou para a mulher. —, se atuar direitinho, será transferida para um hospital psiquiátrico, onde terá tratamento cinco estrelas também. — virou-se para o menor, que continuava sério e em silêncio; era um ótimo funcionário, afinal. —, você sabe o que fazer. Apenas haja normalmente, como se fosse um psicopata. Não demonstre arrependimento e narre todos os fatos com detalhes; entregue-se, porque todas as provas estão contra você. Como prometido, vocês dois morrerão em três ou quatro anos, coincidentemente quase no período da próxima eleição. tem tudo para conseguir vencer novamente, e vocês terão muitos milhões em suas contas pessoais para quando ficarem livres, além de novos rostos, nomes e documentos.
— Tudo bem. — finalmente se pronunciou. — Apenas não nos deixe morrer de verdade, Sargento. Eu realmente quero desfrutar de todo meu dinheiro, trabalhei muito para chegar onde estou. Não banque o espertinho conosco.
— Tudo bem. — interrompeu. — Todos prontos? Vamos começar mais um show. Finjam pânico, susto, desespero; estávamos em uma reunião de trabalho, e os militares estavam nos protegendo quando surtou e ameaçou nos matar. Tome, garoto, sua arma. — jogou uma pistola para o assessor. — Você perdeu o controle porque sua namorada se recusou a continuar te ajudando e porque vocês falharam em matar .
— O pessoal do serviço secreto e da federal já estão aqui. — avisou e bagunçou os próprios cabelos ao mesmo tempo que todos corriam de um lado para o outro, quebrando enfeites, virando a mesa e derrubando computadores. Transformaram tudo em um verdadeiro pandemônio.
— Eles invadirão em cinco — iniciou a contagem, olhando para o relógio caro em seu pulso, já com sua arma em mãos. —, quatro, três, dois, um.
E tudo aconteceu rápido demais. Vários homens fortemente armados invadiram a sala aos gritos, mandando e Hyemi levantarem as mãos. Ambos obedeceram, mesmo que tentassem resistir à prisão para soarem convincentes. Tudo estava verdadeiro demais, e Hosoek armados, na frente de , e, naquela situação, Kang Jonghyun, protegendo-os como verdadeiros homens da leis; mas levemente corrompidos, o que ninguém precisava saber.
e Hyemi gritavam e tentavam se soltar das mãos fortes, com armas grandes apontadas em suas direções. Ambos fingiam dar suas versões, e Hyemi chorava enquanto dizia o quão violento era, enquanto ele apenas ria de forma arrepiante e aterrorizante, usando de sua voz suave para tentar persuadir os policiais em sua volta.
— Levem-os daqui! — exclamou, ainda apontando a arma em direção aos detidos. — O presidente e o secretário estão em segurança. , por favor, acompanhe-os. Acredito que precisarão de um advogado para conduzir o processo, e ninguém melhor que você, o advogado do partido.
E, sem dizer nada enquanto se fazia de assustado, obedeceu.
Do mesmo jeito que o pandemônio se iniciou, ele terminou. e Hyemi saíram algemados do prédio de luxo e protegido, com centenas de jornalistas fazendo perguntas invasivas e fotógrafos pegando-os da melhor forma possível, com imagens que estampariam todos os jornais no dia seguinte. Mais uma vez, ninguém desconfiava que tudo aquilo não passava de uma mentira que valia milhões.
Mas Seul amanheceria com (boas) notícias detalhando os fatos da noite aterrorizante em que finalmente prenderam o assassino em série que estava deixando tudo de cabeça para baixo, trazendo a tranquilidade da população. Era o que importava, no fim.
O país finalmente estava salvo.
EPÍLOGO.
Dois anos haviam se passado, e tinha tudo para ser reeleito, já que as eleições para presidente aconteceriam em alguns meses. A população o adorava, ainda era o homem simpático e prestativo de sua primeira campanha, o que não surpreendia ninguém. A presidência continuaria em seu partido por um longo período, ao que tudo indicava, e, para eles, era ótimo. Claro que era; ninguém sabia da lavagem de dinheiro, da corrupção ativa, das falcatruas milimetricamente calculadas. Tudo permanecia igual. Ridiculamente igual. Nenhum boato maldoso, nenhum grupo de pessoas revoltadas, a família tradicional coreana já havia aceitado que teria de aguentar um governo tão “ativista” por tempo indeterminado.
O escândalo do “assassino em série” já havia sido esquecido, enterrado. estava morto há pouco mais de um ano, apanhara tanto no presídio que seu rosto ficara irreconhecível. Hyemi, ao receber a notícia, cometera suicídio logo depois. Havia vivido um relacionamento conturbado e era tão dependente do assassino que não aguentou a notícia, enforcando-se com pedaços de pano em algum quarto da clínica psiquiátrica que estava internada para recuperar-se dos traumas e da depressão recém-diagnosticada.
Tudo seguia os planos, e ainda sentia o peito apertar sempre que via tais notícias sabendo que eram plantadas, criadas e totalmente mentirosas. Não entendia como o povo conseguia ser tão cego, assim como não entendia como era possível criar histórias tão bem montadas e sem um furo sequer.
Ele continuava ali, sendo o soldado exemplar que acabava as noites na cama do presidente. Mesmo depois de tanto tempo. enxergava; tornara-se um deles. E não teria mais volta se não fosse, mais uma vez, .
Dois anos antes.
O país estava em chamas após a prisão do assassino mais ousado da história. Todos comemoravam e agradeciam às divindades por estarem vivos, por ter sido provado que era mesmo o homem bom que se mostrara antes. Os sul-coreanos estavam felizes; não havia mais assassinos, não havia escândalos. Os ataques pararam de forma imediata, e poderia dar continuidade às mudanças que tinha em mente. Tudo estava perfeitamente normal. O plano seguia tão bem que, na primeira noite após a prisão de e Hyemi, brindaram com champanhe cara. Todos eles.
Incluindo o casal preso, que estavam juntos numa cela especial, num presídio disfarçado de segurança máxima. Mesmo que não pudessem se ver ou estar no mesmo espaço simplesmente por se tratar de um homem e uma mulher presos.
Presos.
Num presídio de segurança máxima.
Brindando com champanhe cara.
Era tanto absurdo que permitiu-se agir de forma automática, ignorando suas crenças e seus ideais apenas para que não cometesse uma loucura.
Naquele momento se dera conta de que o dinheiro comprava tudo, absolutamente tudo. Um rosto novo. Uma roupa. Uma casa. A liberdade. A presidência. O dinheiro simplesmente movimentava tudo. Ele não ficaria surpreso se dissessem que até a chuva que caíra durante aquela madrugada fora encomendada pelo partido de .
No entanto, junto àquela chuva repentina, viera um convite que poderia mudar tudo em sua vida.
Naquela mesma madrugada, entendeu que não era tão ambicioso assim, que ele não havia sido vendido. Não totalmente.
se dera conta de que ainda poderia fazer o bem, mudar o país, dar a volta por cima.
— Tenho uma proposta para você, — praticamente sussurrou, enquanto a chuva caía forte logo à frente. Estavam sentados numa espécie de varanda que ligava o campo de treinamento à entrada para os dormitórios do batalhão.
— Eu não quero mais nem um centavo extra para fazer serviços por você, hyung. — se apressou em confessar, aproveitando que estavam sozinhos para falar de forma mais íntima. — Olha onde viemos parar. Estamos fazendo parte e acobertando o maior escândalo político da história.
— … — suspirou. — Você nunca se perguntou o porquê de tudo isso? Quero dizer… A sua maior qualidade é essa: não perguntar antes de seguir alguma ordem minha. Mas você, em seus momentos de solidão, apenas consigo mesmo, nunca se perguntou o motivo de tudo isso? Você realmente acha que faço tudo isso por dinheiro?
— E não é?
— Para dizer a verdade, não. Vou lhe contar um segredo, garoto, mas, a partir do momento em que eu começar a falar, você não terá como voltar atrás.
encarou o semblante sério de seu sargento e um arrepio lhe cruzou o corpo; não sabia se fora por medo, frio ou apreensão, mas não sentia uma sensação daquelas há muito tempo. Encarar os olhos escuros de foi como se afogar. Ficou sufocado.
O Primeiro-Sargento guardava coisas demais, segredos demais, medos demais.
E nunca vira com medo.
— Nunca te vi tenso assim, hyung.
— Nunca fiquei assim, . — soltou uma risada fraca e fitou o céu nublado. — Acontece que sou um ser humano, tenho minhas falhas, meus medos. Nunca me permiti sentir como alguém comum; no entanto, não consigo esconder mais. Eu preciso, mais do que nunca, de sua lealdade.
— Você já a tem, sempre teve. — o soldado encarou o perfil do sargento. — Não irei abandoná-lo agora.
— Nem se, desta vez, isso lhe custar o amor de sua vida? — o fitou nos olhos. — Eu sei que se apaixonou por nesse meio tempo, e a tendência é essa paixão aumentar. Está disposto a sacrificar isso?
— Não sei, hyung. Mas você parece disposto a sacrificar o que sente por .
sorriu fraco, quase com tristeza, ao ouvir o nome do mais novo. Sim, ele estava disposto a sacrificar qualquer coisa que fosse por aquilo. Era sua carreira e sua vida, no fim das contas. Teria de ser egoísta a partir daquele momento, mais do que nunca, mais do que imaginou que seria.
— Eu já sacrifiquei, . Não somente o que sinto por . Acredito que sacrifiquei minha própria liberdade em prol de um bem maior.
— Você está me preocupando, .
— Eu não sou quem você pensa, . — o olhar de tremeu, entregando seu nervosismo. — Veja bem, sei que sempre fui um homem ambicioso e tive que fazer coisas das quais não me orgulho, mas nunca fui um homem mau. Juro por tudo que há de mais sagrado, , que nunca quis ter que matar para ter alguns trocados a mais na conta bancária. Nada disso estava nos meus planos, acontece que eu não sabia onde estava me metendo. Quando me dei conta, já estava atolado até o pescoço. Não tive escolha senão obedecer certas pessoas para me mostrar capaz. Eu ansiava este cargo e meu sonho era ser o General desse batalhão no futuro. Sempre foi minha meta, e nunca me importei se teria que passar por cima do meu próprio orgulho para isso. Acontece que acabei passando por cima de meus ideais também. E, mais do que nunca, preciso de você, a única pessoa honesta e em quem confio cegamente neste país.
— O que está acontecendo, hyung? Como posso ajudá-lo?
— Precisamos nos juntar e entregar e seu bando para os federais.
Atualmente.
jamais se esqueceria daquela noite e de cada segundo que passara ao lado do Primeiro-Sargento. Ao ouvir o início do segredo, em que decidiria se continuaria ou desistiria, hesitou. Hesitou por medo, por paixão, por apreensão. Não queria ser o responsável pela possível prisão do presidente, não queria tirar de seu povo as coisas boas que havia feito. Não queria que seu sargento desistisse de . Não queria aceitar que era o mandante daquilo.
Hesitou por simplesmente ser humano e ter ficado deslumbrado por alguns momentos devido às facilidades que tinha para ganhar dinheiro, morar num lugar melhor e visitar sua cidade natal sempre que quisesse. Hesitou porque ali, diante de , que já havia sacrificado tudo que tinha, entendeu o que disse tempos antes sobre entrar na política e ser corrompido.
havia sido corrompido devido à sua sede de poder; queria comandar tudo à sua volta. havia sido corrompido por dinheiro e por idolatria – adorava ter o povo ajoelhado aos seus pés, bajulando-o como se fosse um deus. se corrompeu por dinheiro e prestígio, assim como , Hyemi e .
Tornaram-se uma quadrilha perigosa e idolatrada por simplesmente terem se deslumbrado com as mesmas facilidades que passara a ter dois anos antes, apenas por ter feito a segurança do presidente. Poderia ter sido qualquer outro colega seu, mas fora ele. E lhe confiara a maior missão de todas por conta de sua visível honestidade.
Não conseguiu negar.
Disse que sim, ajudaria-o a entregar toda aquela gente para os federais, mesmo que lhe rendesse uma pena ou algum outro tipo de punição, como o acordo que tinha.
Só não contava de passar a amar com todo seu coração nos dois anos seguintes – sequer esperava que continuaria a deitar-se na cama do Presidente.
Contudo, não tinha mais tempo de voltar atrás, assim como , que se rendia à uma nostalgia quase palpável sempre que via de longe ou trocava meia dúzia de palavras com ele. Não podiam voltar ou desistir; tinham que continuar, seguir em frente e impedir a reeleição.
— Você está muito pensativo hoje. — murmurou contra o pescoço do soldado. — Nem parece que é nossa folga de verdade em meses.
— Infelizmente, não consigo me desprender do trabalho, hyung. — respondeu baixinho, fechando os olhos e desfrutando dos carinhos que recebia. — Ainda não é fácil para mim.
— O que acha de tomarmos um banho de banheira enquanto bebemos champanhe?
— Acho que seria ótimo. — “Se eu não ficasse tão desconfortável desfrutando do que não é meu”, o soldado quis completar, mas contentou-se em beijar os lábios fartos do presidente.
Naquele dia, aceitou todas as regalias que lhe eram permitidas. Bebeu champanhe sem se importar com o valor, desfrutou do banho na banheira de luxo com o presidente entre suas pernas e deixou que sua mente ficasse vazia. Não questionou os próprios ideais, ignorou o orgulho ferido e não pensou nos privilégios que sempre teve e continuaria tendo. Apenas aproveitou como nunca havia feito antes.
E o mais importante de tudo: deixou-se amar por quem ele era. Ignorou sua índole mentirosa, seu dinheiro e seus podres; amou apenas o homem que o amava igualmente naquele momento. Amou o ser humano que ainda existia por baixo daquela carcaça de ambição – ele sabia que o de verdade ainda existia sob aquele emaranhado de coisas ruins.
apenas despediu-se de tudo aquilo enquanto ainda tinha tempo para tal. O momento havia chegado, e a mensagem que recebeu de horas antes era apenas uma confirmação para algo que ele queria negar.
O momento havia chegado, e ele não poderia fazer mais nada a não ser entregar todos à sua volta.
Um ano e meio antes.
— Você sabe o que fazer, certo? — perguntou baixo, enquanto arrumavam algumas armas de grande porte nos fundos do batalhão. — – Jonghyun não gosta muito de mim, ele apenas aceita meu envolvimento por conta de .
— Eu só preciso fazê-lo falar sobre o assassinato forjado. Não é muito difícil, acho que consegui me aproximar dele nos últimos meses. Ele não é tão complicado de lidar.
— Eu o conheço. — deu de ombros. — Apenas tivemos alguns problemas na época da faculdade e quando ele foi eleito, por isso ele não me suporta. Eu jamais conseguiria fazer essa parte do plano, mesmo sendo, atualmente, o braço direito de .
— Me diga uma coisa, hyung. — fechou a última caixa de metal, guardando um fuzil. — Você terá mesmo coragem de entregar seu superior, seu mentor? o fez ser o que é hoje. Eu não teria coragem de entregá-lo, por exemplo.
— Ou eu faço isso, ou vou preso, . — o fitou nos olhos. — Não tenho escolha… Estou aqui apenas para acabar com este esquema. Eu… — o Sargento suspirou. — Eu sempre fui muito ambicioso, . Acabei fazendo coisas que não devia e deixei rastros. Inclusive um rastro sobre esse esquema deles, e não percebi. Os federais chegaram em mim. Não é tão difícil para eles e para a equipe de inteligência, que vive enfurnada aqui. Mas, em vez de me prenderem, acharam que eu seria mais útil fazendo favores para eles. Não aceitei de primeira, mas conseguiram me convencer. Minha punição é quase nula e ficará guardada a sete chaves. Com mais alguns anos aqui e um pouco de cautela, conseguirei o que sempre almejei e ainda livrarei meu povo de homens maus. Não é esse meu trabalho, afinal?
— O que fez para ser pego? Você nunca me contou como foi exatamente.
— Me deixei levar por uns bons milhões que me pagou. Pensei que seria um serviço rápido e fácil; todos os grandes fazem trabalhos por fora, . Corrupção não é algo exclusivo de políticos. — deu de ombros, um tanto desconfortável. — Eu fiz o serviço sujo, guardei uma parte do dinheiro numa conta escondida e outra parte acabei mexendo demais e deixando à vista. Me pegaram e perceberam que, para que tudo desse certo com os políticos, precisavam de alguém maior do que eles. E por que não os chefes de Estado?
— Então encontraram você e através disso notaram que estava envolvido. Assim, chegaram nos políticos, no Presidente, nos chefes de polícia…
— Isso. Descobriram todos por conta de um deslize meu, e eles não fazem ideia. Logo eu, o homem que todos consideram o mais inteligente da nação por causa das missões bem sucedidas... Destruí um esquema em que estava envolvido sem ao menos perceber.
— O importante é que agora sabe o que deve fazer, hyung. Eu não te julgo. Se tivesse as mesmas ambições que você, provavelmente faria o mesmo.
— Não, , você não mataria um militar por dinheiro... Tampouco teria a frieza de criar um acordo para que esse escândalo não viesse à tona somente para que pudesse tornar-se General.
Atualmente.
não acreditava no que via. Sabia que naquela noite todo o bando se juntaria – com exceção de , que ainda era anônimo para a maioria das pessoas; nem mesmo sabia que ele estava envolvido naquilo, e ao menos deveria saber. Entretanto, fazia parte de seu acordo saber de todos os detalhes.
A sala de jantar da mansão dos estava cheia deles, todos os envolvidos estavam presentes dando risadas e tomando uísque. Até mesmo os mortos, sendo quem eles realmente eram, e não os personagens criados.
Todos.
— E então, meus amigos, sentiram minha falta? — praticamente gritou quando percebeu que seus aliados já estavam ali.
O assessor não tinha mudado tanto quanto deveria. O rosto permanecia bonito e os cabelos agora estavam bem pretos, como se quisesse passar despercebido – e realmente queria. Ainda possuía os traços angelicais de antes, porém suas bochechas não eram mais tão salientes e os olhos pareciam maiores, dando a impressão de que ele era um estrangeiro. Os dentes, antes um bocado tortos, estavam totalmente retos, impecáveis e em seus lugares. A forma de se vestir era casual, e certamente passaria por qualquer lugar sem que ninguém o confundisse com o verdadeiro – o assassino em série, que acabara com a vida de tantas pessoas. Era apenas um estrangeiro comum, que visitava a Coreia do Sul durante a lua de mel com sua esposa.
Ah, sua esposa.
Hyemi, sim, havia se transformado. Suas mudanças foram mais drásticas do que as de . Os cabelos estavam curtos, no estilo pixie e pintados num tom claro de loiro, beirando ao platinado. O rosto estava mais fino que antes, assim como o nariz sequer parecia o antigo. Os olhos estavam grandes, como uma ocidental de nascença, e lentes azuis completavam o visual. Era outra pessoa. Em um ano, conseguiram mudar em níveis estratosféricos.
Era no mínimo chocante. não sabia lidar com aquilo e ainda ter que fingir que tudo bem, que era normal e que eram seus amigos ali – eles, definitivamente, não eram nem nunca foram amigos.
— Você precisa disfarçar. Falta pouco. — murmurou ao seu lado, dando um grande gole em seu uísque. — Controle-se.
— Sim, senhor. — debochou, bebendo em um gole só o drink do próprio copo. — Mas não vou negar, minha vontade de matá-los de verdade está cada dia maior.
— Até , o amor da sua vida?
não esperou uma resposta do soldado, apenas deixou-o sozinho com seus pensamentos e foi socializar – alguém tinha que disfarçar da maneira certa, afinal. Aquela era a última vez que todos conseguiriam se reunir sem problemas.
Após o jantar, só teriam os minutos de banho de sol no presídio de segurança máxima para fazerem planos.
×
estava pensativo. A farda parecia pesar toneladas e sua cabeça estava prestes a explodir. Não queria acreditar que havia chegado aquele ponto; tudo ainda parecia mentira.
Pela primeira vez, não sabia o que fazer ou falar. Estava arruinado e sequer teria tempo de alertar os companheiros; qualquer coisa que falasse pioraria sua situação. Estava fodido. Era o fim da linha. Sua aposentadoria havia chegado antes do planejado, e ele não poderia reagir.
A conversa com o informante da corregedoria ainda estava fresca em sua memória e provavelmente iria persegui-lo até o fim de seus dias.
— Alguém de seu batalhão está lhe traindo, general. Infelizmente não sei quem é, as informações estão sendo muito bem guardadas. Há dois anos que não consigo nada aprofundado sobre as investigações sobre o partido de . É como se… tivessem um arsenal contra nós, e não temos como chegar perto.
— Você deveria conseguir, é para isto que é pago. — disse de maneira tranquila, mas seu coração pulsava com força. — Quero que descubra quem está me traindo. Não criei esse império para um traidor destruir. São trinta anos de trabalho duro, Hyosang.
— Eu sei, Jin, eu sei. — o homem suspirou. — Acontece que não tenho como descobrir nada. O que consigo lhe informar com certeza é: amanhã descobriremos tudo. Até o fim do dia, a bomba irá explodir, e, se eu fosse você, fugiria para o mais longe possível. Faça a mágica que todos os seus mortos forjados fizeram. Você ainda tem algumas horas. Voe daqui. Deixe que eles se entendam e se matem de verdade.
— Você consegue me tirar daqui?
— Posso preparar um jatinho para partir em meia hora.
— Te espero no aeroporto particular. Obrigado, Hyosang. Levarei minha família, ajuste tudo para quatro pessoas.
E, com isso, desligou.
Agora estava ali, tentando manter o controle e explicar, por telefone, para a esposa que ela deveria fazer uma mala com poucas coisas e seguir para o aeroporto particular da família – e que ninguém no país fazia ideia de que existia.
era um crápula e não havia dúvidas, porém também era inteligente demais para ser pego.
Os homens de terno que se matassem por liberdade.
×
Um ano antes.
— certamente será o primeiro a tentar fugir. — disse num tom de voz baixo e desconfortável; não conseguia sentir-se bem naquela sala, nem mesmo na companhia de . Não enquanto fazia aquilo. — Ele é o chefe, então tem mais recursos. Só é impossível sabermos quando ele fará isso, alguns funcionários daqui passam informações para ele e, convenhamos, não é tão difícil vazar o que vocês fazem. Não se deve confiar totalmente em todos os funcionários, sempre tem alguém pronto para ganhar mais.
— Assim como você, Sargento? — Uma mulher alta e de longos cabelos negros perguntou de maneira ácida. — Poupe-nos de suas alfinetadas. Se damos confiança aos nossos funcionários, é porque eles merecem. Os que agem como você nós expulsamos daqui.
— Ou matam, não é mesmo, Hana? — rebateu sem se deixar abalar. — E sim, sempre tem alguém com as mesmas ambições que eu, visando ganhar mais. A única diferença é que sou inteligente o suficiente para saber como agir, já seu funcionário…
— Apenas nos diga o maldito nome, . — Hana o cortou. — Não temos tempo.
— Jin Hyosang. — murmurou. — É o único que fica em cima de vocês e tem acesso a tudo. O cargo dele é tão alto quanto os nossos, não é difícil para ele fingir que apenas está levantando evidências sobre possíveis corruptos. Você mesma já deu informações que ele precisava, noona. — provocou, com um sorriso no canto da boca. — Mas isso não importa, certo? Acho que já falei tudo o que precisava. Agora será que podemos avaliar o que meu soldado conseguiu?
×
Algumas horas antes.
O prédio de luxo onde o secretário de segurança do Estado passava seus dias havia se tornado uma segunda casa para . O soldado estava fazendo sua segurança há cerca de um mês, enquanto o Presidente viajava de cidade em cidade resolvendo problemas nacionais tendo o Primeiro-Sargento em seu encalço, com uma segurança de peso para evitar qualquer problema. Não era como se não fosse dar conta da situação, apenas quiseram garantir que nenhum maluco pudesse tentar terminar o que havia começado. E nem mesmo um louco seria capaz de atacar o presidente tendo em sua segurança.
Então, o soldado aproveitou para iniciar sua nova missão: fazer Kang Jonghyun confessar que, na verdade, era .
e eram o que poderiam chamar de amigos. Conversavam todos os dias, compartilharam muitas histórias ao longo daquele ano, beberam juntos e frequentaram os mesmos lugares. No início, havia sido desconfortável, já que o soldado era o braço direito de e o odiava com todas as forças, mas, com o passar dos dias, tudo se ajeitou. Tinham muito em comum, gostavam dos mesmos tipos de música e tinham facilidade com composições e produções no ramo. Num piscar de olhos, tornara-se o braço direito que faltava em , alguém em quem ele pudesse confiar, já que havia partido. Mesmo que o assessor fosse voltar em breve, não seria mais a mesma coisa. Não tendo aquele soldado. finalmente havia percebido o porquê de todos quererem aquele moleque por perto – ele era ótimo em tudo que fazia.
— Nosso almoço está chegando. — murmurou enquanto desligava o telefone. — Estou feliz por ter aceitado meu convite, .
— Gosto de sua companhia, senhor, e assim é ainda melhor para protegê-lo. — o soldado respondeu com um sorriso.
apenas assentiu e deu de ombros. Alguns instantes depois, uma de suas assistentes adentrou a sala com os pedidos do restaurante mais caro daquele bairro. A mulher arrumou a mesa de vidro que havia do outro lado da sala, próximo a um grande sofá de couro, onde o secretário gostava de sentar e almoçar enquanto observava a vista da enorme janela logo à frente do móvel. Ao finalizar a arrumação do jeito que o patrão gostava, a moça pediu licença e se retirou.
se levantou e seguiu para o sofá, chamando com a mão.
— Bom apetite, garoto. Aproveite, é a melhor comida da região.
— Obrigado, senhor.
— Hyung. — o corrigiu. — Acho que já atingimos o nível de intimidade para que me chame assim, . Não sou esse monstro que pareço ser, então está tudo bem me chamar como você chama os outros. Somos todos amigos, no fim das contas. Com exceção de .
riu e começou a comer devagar, pensando em como poderia colocar seu plano em prática. Sabia que a corregedoria escutava todas as suas conversas diretamente, já que ele mesmo havia instalado escutas em todos os lugares possíveis e impossíveis daquela sala.
— Por que não gosta do , hyung? — perguntou como quem não queria nada. — Vocês têm tantos amigos em comum, fora todos os esquemas de sempre…
— sempre foi muito ambicioso... Não que eu não seja também. — apressou-se em dizer. — Acontece que nunca nos demos muito bem, nossas ideias não combinam e nosso único vínculo é a família . Não gosto da forma que ele trabalha, apesar de ser bom no que faz. acaba deixando o ego falar mais alto que a razão muitas das vezes. Não é a melhor forma de trabalhar, mas pelo menos é o que o mantém ligado ao . Eles se gostam desde crianças. A única coisa boa que o tem é o amor de . De resto, é só mais um querendo o lugar de .
— Eu não o vejo assim… — encarou o outro. — Concordo em relação ao egocentrismo dele. Mas… Não sei, o vejo como um homem nobre também. Ele abriu e ainda abre mão de muitas coisas pessoais por um bem maior. É um verdadeiro líder.
— é seu mentor, . Óbvio que sempre vai vê-lo de uma forma diferente. Não estou dizendo nada disso para que você pense de outra forma ou algo do tipo; claro que não. Sua visão sobre ele nunca irá mudar, porque ele nunca te fará mal o suficiente para que o veja da forma que eu e muitas outras pessoas vemos. E está tudo bem, ele só… não é o tipo de pessoa que quero por perto, mas tenho que aceitá-lo porque, assim como todos os outros, estou nas mãos dele.
— Sobre isso… — mordeu o lábio inferior e colocou o prato e os talheres sobre a mesa de vidro novamente. — Posso te fazer uma pergunta um tanto quanto íntima?
— Quer saber por que aceitei morrer e entrar nessa, não é?
— Está tão óbvio assim?
— Desde a primeira vez que me viu, soldado.
— Você não… se incomoda ou se arrepende?
— Sabe, . — terminou de comer e limpou as mãos e boca num guardanapo de pano, encarando o soldado em seguida. — Quando entramos no meio político, nossas opiniões e ideais mudam. No começo, tudo que queremos é igualdade, aceitação e um mundo melhor. Mas isso é impossível enquanto formos seres humanos. Sempre queremos mais do que temos. Muitas vezes queremos coisas impossíveis. Não vou lhe dizer que ser honesto aqui é impossível, mas com toda certeza é muito difícil. Você é fácil e magicamente corrompido, enganado e acaba sendo pago para isso. Entre todos do nosso partido, eu fui o primeiro a mergulhar de cabeça na corrupção. Não vou dizer que estou arrependido, porque não estou. Ganhei muito, fui eleito e pude fazer a diferença que eu tanto desejava. As coisas estão melhores, meus projetos ganharam vida e coloquei meu melhor amigo na presidência. Mas não fiz isso por ele ser meu melhor amigo; eu poderia ter sido o presidente. Mas deixei que chegasse lá porque sei que ele tem um controle mental melhor do que o meu. Eu enfiaria os pés pelas mãos na primeira crise. Passei de todos os limites possíveis somente sendo prefeito. não estava servindo mais. Então, encontramos uma solução, já que eu poderia fazer com que o esquema fosse exposto.
— A morte. — comentou baixinho, e sorriu.
— Sim, a morte. — o atual secretário concordou, servindo-se de um pouco de água. — E eu não me arrependo, . Na verdade, me arrependi por um tempo, até me dar conta de que a podridão é contínua como um mecanismo e isso vai continuar acontecendo. Aqui, no Japão, na Inglaterra, no Brasil. Em qualquer lugar do mundo isso vai continuar acontecendo. Alguns roubando demais e sendo pegos, outros roubando de pouco em pouco e sendo escondidos, enterrados. Acontece. Não é algo exclusivo meu, do meu partido ou do meu país. É um câncer mundial. Mas, pelo menos, minhas filhas tiveram uma boa condição de vida, que eu nunca pude ter na idade delas. Eu tendo errado ou não, elas estão garantidas até o último de seus dias. Nós sempre temos um motivo para lutar e se orgulhar, soldado. Minha família é o meu motivo. E sabe qual foi a melhor coisa nisso tudo?
— O quê?
— Conquistar minha esposa outra vez.
×
Corregedoria.
— Temos uma confissão. — murmurou. — Acabou agora.
— Isso está apenas começando, soldado. — Hana o respondeu com desdém. — Acha que consegue fazê-lo detalhar a farsa e citar nomes?
— Sim. — respondeu.
— Ótimo, porque é isso que irá fazer agora. Precisamos do máximo de detalhes possível.
— Tenho certeza de que conseguirá tudo que precisamos. — disse com um ar orgulhoso, segurando o mais novo pelo ombro. — Ele foi muito bem treinado.
— É bom que ele consiga, . Do contrário, você passará o resto da sua vida na cadeia sem direito a um acordo.
Atualmente.
— Então quer dizer que tudo está acontecendo exatamente como você previu — Hana murmurou baixo contra o ouvido de . Ela estava presente porque, mesmo contra a vontade do militar, havia se infiltrado no esquema de corrupção, cedendo proteção aqui e ali, burlando certas coisas dentro da corregedoria e mostrando confiança para e seus aliados. Mas ainda fingia não saber que Kang Jonghyun e eram a mesma pessoa. Assim como fingia ser o novo caso não assumido de .
— Como sempre, Hana. — bebericou seu uísque, sem ao menos lembrar quantas doses já havia bebido. — Só falhei uma vez e me rendeu uma quase prisão. Por isso estou aqui.
— Se não tivesse sido indiscreto ao assassinar um militar, não passaria por essa situação. Você não é tão esperto, no fim das contas.
— Você deveria parar de me provocar. — finalmente desviou o olhar de e encarou a mulher ao seu lado, praticamente colada em seu corpo. — Eu falhei porque, pela primeira vez na vida, hesitei ao cumprir uma missão. Isso custou minha liberdade e você no meu encalço. E acredite, Hana, eu nunca mais irei hesitar sabendo que estou na minha razão. Não encha minha paciência, porque posso enfiar uma bala nesse seu rostinho bonito como fiz com seu melhor homem naquela noite.
— Está tudo bem por aqui? — surgiu de repente. — Como é possível você estar com uma carranca tão irritada na companhia desta bela dama, ?
— Por que não a leva para seu quarto e me deixa em paz então, ? — explodiu, virando o restante do uísque de uma só vez. — Cansei de vocês. Todos vocês. E toda essa merda.
não entendeu o ataque de fúria do amigo, no entanto, seu foco estava em Hana e sua aura falsa. O presidente podia sentir que a chefe da corregedoria não era como dizia ser, o sorriso debochado no canto da boca apenas confirmava suas suspeitas. Ela estava se divertindo com todo o estresse do Primeiro-Sargento e não fazia questão de esconder.
Ela não devia estar ali.
— A festa está incrível, senhor Presidente. — Hana murmurou galanteadora, sorrindo. — Mas infelizmente preciso ir. Agradeço o convite. Aproveite o resto da noite, nunca sabemos o dia de amanhã.
sentiu um arrepio cruzar sua espinha, sabia que tinha algo errado, sentia somente de olhar nos olhos daquela mulher – e nos de , que pareciam sempre cansados e culpados.
Algo daria errado em breve. E a culpa seria deles.
×
O sol já havia nascido e sentia como se não tivesse dormido nada. , ao seu lado, ressonava baixinho, calmo, num sono sereno.
Ao contrário do que imaginava, o soldado sentia o coração bater dolorido. Seus pensamentos dividiam-se entre prós e contras da situação turbulenta em que se encontrava. Sua vontade era sumir do mapa como fizera – havia recebido uma mensagem de , após a festa, informando que o General havia preparado um jatinho e sumido do mapa, bem como ele havia dito. No entanto, assim como todos da corregedoria, ele sabia que ao menos desconfiava de onde o chefe estava se escondendo. Porém, o sargento não queria falar. Não parecia ser o momento certo, e ele esperaria até que o fosse de fato – mesmo que Hana tentasse destruir com seu acordo, não era mais possível. agora tinha todos em suas mãos e sua liberdade garantida.
— Talvez não haja problema eu sair um pouco dos planos. — murmurou para si mesmo, tendo uma ideia que 1) arriscaria todo o plano minuciosamente montado ou 2) faria toda a população acordar e pensar mais na hora em que fossem votar para qualquer categoria que fosse.
Ele esperava que a segunda opção acontecesse.
— Bom dia, meu amor. — murmurou preguiçoso, enrolando-se mais nas cobertas quentinhas e o corpo do mais novo. — Não conseguiu dormir de novo?
— Bom dia, hyung. — o soldado respondeu num tom baixo também. — Consegui dormir, sim. — mentiu. — Apenas acabei despertando cedo demais. Força do hábito. Não está cansado pela festa de ontem? Você ficou até o final.
— O que está acontecendo? — perguntou, sentando-se de frente para . — Tem alguma coisa errada e você não quer me dizer. Não adianta usar a desculpa de que são suas missões porque eu as conheço. Sou o presidente deste país, . Respeitei seu silêncio o quanto pude, mas você está passando noites em claro, está avoado e tem feito mais a segurança de que a minha. Eu adoraria dizer que isso é um problema recente, algo sem importância, mas você sabe o quão duradouro esse seu jeito está sendo. O que está havendo?
— Não está acontecendo nada, hyung. — respondeu. — São oito da manhã e eu não quero discutir. Vou me arrumar.
— Você e estão me escondendo alguma coisa. É algo com a corregedoria? Vocês fizeram alguma coisa e estão correndo algum risco?
— Não é como se você tivesse sido honesto conosco também, . — se levantou. — Está tudo bem, não estamos com problemas. Pare de se preocupar tanto.
— Hana deu a entender, ontem à noite, que algo aconteceria hoje. Ela estava aos cochichos com , e você sabe de alguma coisa. — afirmou firmemente. — Que missão é essa que nem mesmo o Presidente pode saber?
— Não sei de nada, hyung. — mentiu novamente, sentindo o coração apertar. Sem encarar o mais velho, vestiu-se com as roupas da noite anterior sem se importar se estavam sujas; precisava sair logo dali antes que desistisse de fazer o que era correto. — Tenho certeza de que irá esclarecer as coisas com você antes de qualquer coisa acontecer. Não acredite em tudo que Hana diz; o trabalho dela é implantar a discórdia por aí afora. Eu preciso ir agora. Aconteça o que acontecer, não se esqueça de que eu amei você todos esses dias. Ainda amo. Muito. — o soldado sorriu, juntando seus lábios de forma carinhosa. — Nos vemos mais tarde. Hoje estou escalado para ficar no batalhão, parece que tivemos um problema com .
— Por que está agindo como se estivesse partindo?
— Não estou partindo, . Eu jamais deixaria você.
— Eu gostaria de acreditar em você, mas, neste momento, não consigo. O que está havendo?
— Sinto muito, meu amor. — juntou suas bocas novamente. — Mas há missões que nem mesmo o Presidente deve saber.
E, com o coração apertado, deixou o quarto. Não sabia quando, na verdade se veria novamente antes da bomba explodir.
Esperava que sim.
Dois meses antes.
estava na casa de pela primeira vez depois de tudo. Se encontravam muitas vezes nas casas dos outros companheiros, ou em restaurantes chiques. A casa do prefeito – atual secretário de segurança – era um cenário um tanto horripilante. Sua família não quisera se mudar. Suas filhas não se incomodavam com o fato de que o pai havia sido encontrado morto ali. A esposa fingia que nada havia acontecido. Os pais de não viviam ali, apenas visitavam as netas em alguns fins de semana.
Seria normal se todos ali soubessem que o continuava vivo; mas ninguém sabia.
achava toda a situação meio bizarra e sádica, como se gostasse de ver a falta que fazia, quando estava ali de verdade, apenas com um rosto diferente. Ele havia, de fato, conquistado a esposa uma segunda vez – como Kang Jonghyun. No fundo, o soldado desconfiava que a esposa soubesse de alguma coisa, mas preferia fazer-se de cega enquanto desfrutava de um novo marido igualmente poderoso, amável e carinhoso. Tinham amor para dar e vender.
— Seja bem-vindo, soldado. — sorriu. — Fico feliz por ter aceitado meu convite.
apenas sorriu e seguiu o dono da casa até o escritório, onde conversaram sobre a nova proposta de emprego que o soldado receberia.
— Serei direto, , pois sei que você tem outras coisas para fazer no batalhão. — falou sério enquanto preparava duas doses de uísque no canto do escritório. — Acho que tem um pessoal da corregedoria atrás de mim. Preciso que me ajude.
— E como posso ajudá-lo? — o soldado aceitou o copo de cristal.
— Ouvi dizer que seu sargento está tendo problemas com eles, é verdade?
— Não sei, não me conta esse tipo de coisa.
— É uma pena, estava contando que você soubesse alguma coisa para sugerir que se infiltrasse lá para mim. — sentou sobre a mesa, informalmente. — Tem certeza de que não sabe de nada, que não ouviu nada?
— Certeza absoluta, hyung. — continuou calmo. Sentia que sabia de alguma coisa e queria tirar informações de si. — Posso tentar descobrir, mas não lhe prometo nada. O que devo fazer se realmente houver alguma investigação sobre você? Acredito que seja sobre Kang Jonghyun, certo?
— Quero que faça como seu sargento fez: mate o responsável pela investigação. Matar não é difícil para pessoas como nós. Estou desconfiado de que sabem que Kang Jonghyun é uma mentira.
pensou em hesitar. Pensou em dizer que não matava sob encomenda, que não era seu sargento, que toda aquela situação ia contra sua moral; não fazia parte de quem ele era. Contudo, lembrou-se de que estava numa missão e precisava agir friamente e aceitar quaisquer que fossem os pedidos dos maiores – como havia feito, com a diferença de que ele, , não chegaria a matar ninguém. Ainda estava tendo escolha e tempo para contornar a situação. O sargento não tivera, e, se não matasse, certamente seria morto no dia seguinte por ter informações valiosas demais. precisava conquistar a confiança de , e conquistara – no fim, bastava tentar pensar friamente como todos em volta. O militar assassinado era corrupto e chantagista, embora não merecesse a morte, era assim que funcionava. Todos ali faziam justiça com as próprias mãos ou, como no caso, com as mãos de quem tinha poder suficiente para matar sem sofrer consequências drásticas.
E precisava fingir que era como eles.
— Por mim, tudo bem. — o soldado finalmente respondeu, sabendo que a corregedoria o escutava através do microfone que usava nas roupas. — Tentarei conversar com hoje mesmo. Não irei decepcioná-lo, hyung.
— Sei que não irá. Agora me diga, soldado, gostaria de dar uma volta por essa casa maravilhosa e conhecer o local em que morri?
— Só se você me contar todos os detalhes de como forjou aquela noite. Foi uma jogada e tanto, até hoje fico admirado, hyung.
— Contarei tudo o que quiser ouvir, garoto. Vamos lá.
Aquela era a chance que precisava. Mais uma vez, a missão seria cumprida.
Dois anos antes.
Mansão de ,
local da morte.
“Você deve morrer” era o que ecoava na cabeça do atual prefeito da cidade de Daegu naquele momento. Não queria morrer – nem de verdade, nem de mentira –, mas entendia os companheiros. Estava dando trabalho demais, como um adolescente sem causa. No entanto, causas tinha demais. Tantas que nem ao menos poderia contar, e não queria deixá-las para trás. Não queria que tudo se tornasse meras causas perdidas; não queria tornar-se um simples prefeito morto que desencadearia um diferente patamar no esquema que fazia parte.
Mas, novamente, entendia os companheiros. Era um homem de pés firmes no chão, inteligente e sabia quando deveria parar. Todavia, naquela situação, não estava conseguindo. Não conseguia parar de roubar, de criar planos absurdos, de inventar coisas, de mentir para todo o país e sua própria família; seus amigos, seus companheiros de trabalho, todos.
nem ao menos se reconhecia. Talvez fosse melhor sumir de vez, livraria todos à sua volta de sua presença insuportável, egocêntrica e mesquinha.
O celular vibrou em suas mãos. Atendeu, sem pressa, já sabendo quem era.
— Fale, .
— Estou chegando, hyung. Tem certeza de que quer fazer isso?
— A porta dos fundos está aberta e os seguranças estão todos na frente da casa. E não me pergunte isso, , é óbvio que não tenho certeza de nada. Mas é o melhor a se fazer.
Não foi preciso falar mais nada e a ligação encerrada.
morreria naquela noite e se transformaria em um herói nacional.
×
Não levou mais do que vinte minutos para chegar, acompanhado de outros dois homens desconhecidos e com rostos cobertos por máscaras. Ninguém sabia quem eles eram, mas conheciam seus trabalhos. Eram bons em forjar coisas para as mais altas patentes mundiais.
Nenhuma palavra precisou ser trocada. Com a luz dos fundos da casa baixa, o silêncio mórbido da madrugada e a rapidez que somente profissionais teriam, um boneco idêntico a foi colocado no chão. Os homens mascarados foram embora logo em seguida, silenciosos e quase invisíveis, como sempre.
Restava apenas e naquele cômodo levemente escuro, sem que ninguém do lado de fora desconfiasse de alguma coisa – e mais uma vez a segurança se mostrava falha, mesmo que tudo tivesse sido planejado. Alguém deveria desconfiar que tinha algo estranho ou, no mínimo, deveria ter algum deles ali; mas não se importava e já estava morto.
— Isso é real demais. — murmurou. — O material parece minha própria pele, . É genial. A equipe da perícia já está preparada?
— Isso é absurdamente real. — suspirou, ainda encarando a bizarrice em sua frente. — Sim, a perícia está pronta. Está apenas aguardando meu comando. Ninguém vai tocar da maneira correta e o chefe logo irá tirar o corpo daqui. Os detalhes em relação à morte sairão em alguns dias.
— Tudo bem. — suspirou, ainda encarando sua própria cópia sem vida no chão. — Você já sabe o que fazer. Minha única mala está logo ali. — apontou para o canto do cômodo. — Leve-a para o carro e me espere. Vou arrumar a cena. O assassino é bem bagunceiro. Um serial killer descontrolado para deixar todos alarmados.
não o respondeu, apenas seguiu suas ordens – sabia que estava se perdendo em seus devaneios outra vez e não queria presenciar aquilo novamente. Seu hyung não estava bem, a sede de transformar-se em outra pessoa era tanta que aquele tipo de pensamento doentio estava cada dia mais comum.
Após encontrar-se sozinho novamente, o prefeito riu e abaixou-se em direção ao boneco. Era tão diferente; estranhamente lindo, artístico. Perguntou-se quanto aquilo havia custado, e provavelmente fora bem menos que custaria ter de abafar todos os escândalos com seu nome que estavam prestes a vazar. Nada que não recuperassem em algumas semanas.
Sem pensar mais, começou a derrubar os móveis que ficavam espalhados por ali. Alguns brinquedos de suas filhas surgiram pelo meio do caminho, assim como algumas coisas velhas, mas não se prendeu aos detalhes – precisava ser rápido, a barulheira finalmente chamaria a atenção dos seguranças.
Em poucos minutos, o cômodo estava totalmente revirado. Itens de vidro estavam estraçalhados pelo chão em volta do corpo de mentira, uma mesa de madeira estava com os pés para o ar, uma cadeira estava sobre a barriga do corpo, deixando claro a falta de vitalidade para que ninguém o tocasse fora do pescoço ou pulso tentando sentir sua pulsação.
Estava morto, e sua casa tinha claros sinais de invasão.
Morto. estava morto. Ele nunca mais voltaria, até que recebesse uma ordem para tal.
Morto.
O prefeito já havia visto aquilo acontecer há alguns anos, em um caso parecido. No entanto, nunca imaginou que chegaria aquele ponto – nunca imaginou que seria inútil àquele ponto. Havia se tornado tudo aquilo que repudiava; o corrupto ladrão que deixava o poder subir à cabeça. O desgraçado que largava a família em casa para tirar daqueles que já não tinham nada. Dono de um privilégio estonteante, mas que nunca era o suficiente. Roubava, roubava, roubava, dava um cala boca digno de pena para meia dúzia de eleitores e roubava mais. Nunca estava satisfeito. Alguém precisava pará-lo.
Ele precisava de ajuda. Precisava pular aquela fase.
Mas continuaria sendo um mentiroso. Não tinha salvação. Nem mesmo a morte lhe tiraria o peso de todos os erros que cometera, tampouco era sua garantia de que não os cometeria novamente. No fundo, sabia que seu próximo eu seria tão mau quanto o era agora.
Homens como ele nunca mudavam, mesmo que ganhassem uma vida nova.
— Adeus, , até nunca mais.
É, homens como ele nunca mudavam.
Atualmente.
abriu a porta do escritório e deixou que o irmão e entrassem. Alguns minutos antes, o sargento havia ligado perguntando se poderia ir até sua casa, sabendo que o presidente estava de folga naquele dia, para que pudessem conversar e resolver as coisas entre eles finalmente. Sabia que algo estava errado, mas não fazia ideia do quê.
estava quieto e sério. Sentou-se numa das cadeiras do escritório e esperou que os irmãos fizessem o mesmo, sob um silêncio incômodo.
— Não estou aqui para brigar ou cobrar coisas de vocês. — começou, soltando um suspiro. — Para falar a verdade, estou aqui em consideração aos anos que nos conhecemos e fomos amigos. Sei que não somos mais nada hoje, nem mesmo próximos. Seria ridículo da minha parte fingir que ainda os quero em minha vida. Somos adultos, e está tudo bem se não quisermos mais falar uns com os outros. Mas vocês sabem que minha lealdade vai além disso.
— Você nunca vai superar o fato de que não queríamos você no meio de toda essa merda? — perguntou ácido, encarando o perfil do soldado. — Nós queríamos proteger você. Evitar que se afundasse e perdesse a carreira brilhante que tem.
— Me poupe, . — o cortou com a voz calma. — Não quero ouvir suas desculpas. Vocês sempre souberam que eu faria qualquer coisa para protegê-los, até mesmo arriscar minha carreira para que ninguém saísse prejudicado. E, de certa forma, estou fazendo isso agora. Minha carreira está por um fio.
— Conte-nos o que está acontecendo, Hobi. — pediu com a voz mansa, esticando a mão para o antigo melhor amigo e sendo prontamente retribuído. — O que você fez?
— Matei o homem de confiança de Hana, a chefe da corregedoria. — soltou de uma só vez, apertando ainda mais a mão de . Seu coração pesava toneladas naquele momento, o remorso o corroía por inteiro. — Não me olhem assim, já sinto culpa o suficiente. Não era para acontecer daquele jeito.
— Você precisa que eu o defenda? — se apressou, deixando todas suas barreiras despencarem devido à preocupação que o atingiu. — Sabe que posso montar uma defesa impecável baseada em legítima defesa ou qualquer coisa do tipo.
sorriu levemente e se virou para , desvencilhando-se da mão acolhedora de . Aproximou-se do advogado e suspirou, tentando não estragar tudo antes da hora. Estava disposto a contar tudo o que havia aprontado, mas o tom preocupado na voz de o quebrara em mil pedaços. Queria abraçá-lo e beijá-lo.
— Já consegui um acordo com Hana, e é por isso que estou aqui.
— Não importa, você sabe que pode ganhar qualquer causa. — se intrometeu, fazendo com que risse um pouco mais.
— Vocês sabem quem comanda vocês? — perguntou. — Tenho certeza de que sequer imaginam.
— …
— . — cortou os irmãos, que falaram ao mesmo tempo. — , o general das Forças Armadas de Seul. Ele quem comanda todo esse esquema. Ele decidiu a morte de . Ele montou tudo. E fugiu nesta madrugada.
Os irmãos ficaram chocados, digerindo aquelas informações. Definitivamente não esperavam por aquilo; achavam que obedeciam algum empresário poderoso, dono de algum partido. Qualquer um, até mesmo o próprio , menos .
— Vejam bem — voltou a falar —, eu não quero uma defesa. Meu acordo foi bom o suficiente para mim. Não vou negar para vocês, fui extremamente egoísta e não me arrependo. Era necessário. Ou eu fazia o acordo, ou morreria. Não só eu, minha família iria para os ares também. Foi um ato de necessidade, e eu não podia, nem queria, confesso, contar para vocês. Mas estou aqui agora, algumas horas antes de tudo explodir para o país inteiro.
— … — o chamou, olhando-o nos olhos. — O seu acordo… Por favor, me diga que seu acordo não era contar…
— Que estão envolvidos? — o sargento o interrompeu. — Não sou bom com mentiras, . Meu acordo era entregar todos vocês. E eu o fiz.
O silêncio que tomou o escritório era tenso, triste e ensurdecedor. Cada um com seus pensamentos, medos e lamúrias. Estava tudo acabado, haviam sido descobertos e entregues de bandeja para pessoas com mais poder. Perderiam tudo que haviam conquistado nos últimos anos.
afrouxou a gravata que usava e suspirou, bagunçando os cabelos. Estava apavorado, com ódio, nervoso. Queria explodir todos ao seu redor, queria que tudo não passasse de uma brincadeira maldosa do – mas, definitivamente, ele não era bom com mentiras, e aquilo não parecia uma.
Num ato automático, deixou que seu corpo se levantasse e voasse em direção a , socando-o no rosto e fazendo-o cair no chão com o impacto. O sargento deu uma risada fraca, lembrando da primeira vez que levara um soco do mais novo. Estavam brigando por alguma bobagem adolescente e simplesmente começaram a sair no soco como se aquilo fosse resolver alguma coisa. Foram separados pelo pai de e e acabaram ficando de castigo, trancados no mesmo quarto durante uma semana, já que moravam lado a lado e seus pais eram amigos de longa data, o que fez com que o castigo fosse apoiado rapidamente.
— Na última vez que me bateu assim, acabamos transando no seu quarto. — murmurou, cuspindo um rastro de sangue no chão. — Foi a noite em que você perdeu a virgindade, .
— E, mesmo sendo o amor da minha vida, você me entregou para a corregedoria. — rebateu, sentindo os olhos lacrimejarem ao mesmo tempo que o arrependimento o atingia com força. — Eu jamais teria te aguentando tanto se não te amasse, . E é assim que você me retribui...
— É meio tarde para falar de amor, . Eu tentei. Tentei te aceitar, te entender, te ajudar e tudo que você fez foi me afastar, me enganar e me procurar em suas noites solitárias quando ficava bêbado. Isso não é amor. E, ainda assim, estou aqui. Vocês têm duas horas para decidirem o que fazer, mas já estão proibidos de sair do país. Apenas assumam o que fizeram.
— O sabia? — perguntou ao notar que o irmão não falaria mais nada, já que havia voltado a se sentar e agora tinha as mãos na cabeça, deixando que as lágrimas rolassem livremente.
— , por favor.
— O sabia? — o repetiu.
— Ele apenas estava seguindo minhas ordens.
— Eu fui apenas uma missão para ele?
— Isso só o próprio pode responder.
— Não temos tempo para isso, irmão. — se intrometeu com a voz rouca e falha, tomando a pose de advogado novamente. — Chame os outros advogados da minha agência. Eles saberão o que fazer com seu caso, já que, provavelmente, você será julgado depois separadamente. Afinal, ainda é o presidente. Usarei essas últimas horas para montar uma defesa boa o suficiente para todos nós e a enviarei para meu melhor advogado, ao menos teremos a pena reduzida.
— Traidores… — murmurou. — Vocês são dois traidores! Tudo isso para quê, ? — gritou, se levantando e jogando a cadeira para trás. — Para comandar um batalhão? Por poder? Para inflar seu ego? Você era meu melhor amigo!
— Apenas siga tudo que seu irmão disser, . — murmurou, ignorando as palavras duras do amigo. Seus ombros já pesavam demais. — Um dia você irá entender minhas decisões, mesmo que não as aceite. Adeus, meu amigo. Desejo-lhe toda sorte do mundo. E … Eu… Bem, eu também te amei. Muito. Mais que tudo. Apenas aguente firme. Adeus.
×
estava sentado em frente às câmeras e a alguns poucos jornalistas quando chegou ao local marcado. O acordo era simples e claro: deveriam montar um arsenal com todas as provas que deixavam explícito a corrupção ativa e incalculável do atual governo sul-coreano para, em seguida, anunciar tudo em rede internacional, desmascarando todos os envolvidos naquilo tudo – com exceção de , que havia colaborado com as investigações e estava ali infiltrado, embora isso não fosse totalmente verdade. Acordo era acordo, no fim das contas. Mesmo que isso soasse como uma corrupção de menor escala – nada era 100% honesto no mundo.
Contudo, não estava nos planos que o transmissor de todas as notícias ruins fosse . Nem nenhum deles. Hana era a chefe da corregedoria, e ela que deveria explicar toda a situação para a população e mostrar que tudo estava sendo resolvido.
— O que está fazendo na frente das câmeras? — perguntou um tanto exaltado, logo indo em direção ao soldado, que parecia tranquilo.
— Ele quis falar. — Hana barrou a passagem do sargento. — Não vou impedi-lo de fazer história.
— Óbvio que não irá impedir! — exclamou com raiva. — Todo o foco ficará sobre ele e vocês, na corregedoria, sairão como os bonzinhos que apenas infiltraram soldados para descobrir um esquema que sequer faziam ideia que existia!
— Não se exalte, sargento. Sua parte já foi feita e estamos muito gratos com sua colaboração, agora precisamos que fique em silêncio. A transmissão começará em alguns minutos.
— Saia da minha frente, Hana. Preciso conversar com o soldado .
— Isso não será possível, sargento.
encarou a mulher e, sem se importar com nada ao seu redor, empurrou-a para o lado. Seguiu em direção a , que encarava o desenrolar da situação sem dizer uma palavra sequer.
— , você não pode fazer isso. — falou de uma vez, encarando o mais novo nos olhos. — Não deve se expor desse jeito, eles apenas querem alguém para fazer algo que é obrigação deles.
— Hyung, está tudo bem. — o soldado sorriu nervoso. — Quero fazer isso, eu mesmo pedi.
— Isso vai atrapalhar ainda mais sua situação com o . — o mais velho murmurou pesaroso. — Por favor…
— Infelizmente, não há nada que possamos fazer, hyung. não quer mais saber de nós, e não o culpo.
— Há mais alguma coisa que querem me contar sobre ? — Hana perguntou, parando ao lado dos dois militares.
— Não.
— Sim.
Responderam ao mesmo tempo, fazendo com que Hana os fitasse desconfiada.
fechou os olhos e engoliu a seco, nervoso. Não queria que o soldado contasse para aquela sanguessuga sobre o relacionamento íntimo que tinham; não queria que seu soldado e provável sucessor fosse humilhado e exposto por pessoas más e preconceituosas. Havia passado por aquilo no início de sua carreira e definitivamente não era algo bom, tampouco que quisesse que outros dos seus passassem. Não queria que ninguém passasse. Os xingamentos, as piadas ridículas e os olhares de nojo; não, definitivamente não queria que seu melhor soldado passasse por aquilo.
No entanto, parecia não se importar. Sabia o risco que estava correndo em contar aquele pequeno detalhe para Hana, mas simplesmente não conseguia mentir mais. Não fazia parte de seu ser esconder tantas coisas, enganar os outros à sua volta, roubar, ser corrupto. Queria fazer tudo certo daquela vez, mesmo que isso lhe custasse alguns anos a mais como soldado e algumas ofensas que poderia lidar como seu sargento fizera – com desprezo e olhares frios, intimidando os preconceituosos com sua inteligência e missões bem sucedidas.
— Estou esperando uma explicação. — Hana insistiu.
— , você não precisa…
— , o Presidente, é gay. — o soldado interrompeu o sargento. — Adivinhe com quem ele mantém um relacionamento há dois anos, Hana?
— Oh… — a mulher piscou os olhos rapidamente, digerindo o que acabara de ouvir. — Acho que isso pode ficar fora. A sexualidade alheia não importa, certo? Não fale sobre isso.
×
respirou fundo e encarou a câmera à sua frente, enquanto ajustava a postura e assumia a pose de militar que o momento exigia. Foi decidido que ele falaria somente o necessário: como havia sido convocado, quando descobriu toda a podridão e como foi ser um infiltrado junto ao seu mentor, . Deveria dar o máximo de detalhes possível, assim como os nomes de todos os envolvidos, valores que eram transferidos e outros crimes que cometeram.
Ele só precisava ser sincero e verdadeiro como sempre fora. Sem a manipulação com a qual fora treinado. Não deveria persuadir ninguém que estivesse assistindo; apenas tinha que falar e talvez responder algumas perguntas no fim de tudo.
Mesmo que seu coração estivesse apertado e dolorido; estava apunhalando o amor de sua vida pelas costas e não se arrependia, apesar de tudo – nem podia se arrepender, era o certo a se fazer. Seu relato levaria um pouco de esperança e educação política para a sociedade.
Uma contagem sussurrada ecoou pela sala, e o soldado sentiu que tudo estava ficando distante. Fingia que os olhares preocupados de não incomodavam e que a expectativa de Hana também não o irritava mais. Era apenas ele e a câmera ligada diante de seu rosto, transmitindo-o em rede internacional. Ao vivo.
— Olá, meu nome é e sou um soldado das Forças Armadas de Seul. — começou. — Recentemente fiz parte de uma missão confidencial e trabalhei infiltrado. Descobri coisas que me surpreenderam e decepcionaram ao mesmo tempo, assim como acontecerá com vocês. Hoje estou aqui para contar com detalhes o que acontece em nossa política. O parlamento não é tão honesto quanto gostaríamos. — sua voz falhou, obrigando-o a pigarrear. — Quando entrei para o exército e decidi seguir a carreira, prometi que jamais trairia meu país e minhas crenças. Jurei a mim mesmo que nunca, em hipótese alguma, mentiria ou enganaria meu povo. No entanto, o fiz. Menti, enganei, compactuei com coisas que fugiam de meus ideais e me envolvi com o que não deveria. Tudo por trabalho, por uma confissão. Nós estamos vivendo em uma teia de mentiras; está tudo errado em nosso país. Por conta disso, estou aqui, expondo minha carreira e minha vida em prol do meu trabalho e da minha sociedade, como prometido.
fez uma pausa e respirou fundo, ignorando o incômodo que tomara conta de seu corpo. À sua frente, o encarava com os olhos marejados; parte daquele olhar era de orgulho, mas o soldado conseguia sentir que a outra, a maior parte, era medo e arrependimento.
sentia-se culpado. E o era, de fato. A fim de salvar o próprio pescoço, entregou a todos. Contudo, não o julgava; faria o mesmo se estivesse naquela situação – já estava fazendo, na verdade. O arrependimento e medo de ambos eram palpáveis. Sabiam que estavam se livrando de qualquer mínima acusação possível sobre eles, enquanto os homens que amavam, seus amigos e companheiros estavam sendo entregues de bandeja para uma sociedade maldosa, forte e de mente fechada.
Era o fim de tudo. Mas era necessário, as pessoas precisavam saber.
— Há dois anos, fui convocado pelo General e pelo Primeiro-Sargento para uma missão especial. — voltou a falar. — Eu deveria, assim como todos os outros soldados, proteger o Presidente e toda sua família e amigos próximos. Éramos uma equipe forte e experiente. Nosso trabalho era ser os olhos de toda aquela gente, deveríamos protegê-los com nossas próprias vidas; os assassinatos de políticos estava em alta e tínhamos perdido uma figura importante para nosso país. Estávamos todos sensíveis e com ódio do assassino. Queríamos prendê-lo a todo custo, era nosso dever. Entretanto, não nos foi contado tudo desde o início. Eles precisavam manter o teatro, é claro. O primeiro nome que citarei é do mentor de todo esse plano desnecessário: , nosso querido e bem-sucedido General das Forças Armadas. Ele criou o Programa de Proteção ao Presidente visando, obviamente, proteger e cuidar de . Mantê-lo seguro era nossa prioridade, fomos fortemente treinados para qualquer situação de perigo que o presidente e sua família fossem expostos, mas tudo não passou de uma fachada, uma mentira. — finalmente esclareceu, sentindo o coração acelerar e os olhos marejarem. — , na verdade, estava tentando esconder o maior esquema de corrupção e lavagem de dinheiro que acontecia debaixo de nossos narizes. O esquema consiste em milhões de dólares sendo lavados e passados de conta em conta bancária, entre todos os envolvidos. oferecia proteção em demasia e, em contrapartida, recebia por isso, além de ameaçar e incentivar cada vez mais o uso desta proteção extra. As mortes anteriores à de foram brutais e tinham um perfil que consideramos fácil no início. Poderia ser algum tipo de psicopata ou terrorista, algo premeditado. E, de fato, foram, mas o assassino não é nada disso; sequer sabemos se, de fato, é apenas um ou não. A questão, meus amigos, é que: os assassinatos foram montados por , a fim de esconder que ele, junto ao presidente e seu irmão mais novo, havia iniciado o mecanismo de roubo mais complexo que já havíamos visto. Iniciaram juntos um marco inacreditável na política sul-coreana, destruindo uma parte de nossa economia tamanhos eram os buracos criados. Mas é claro que nada disso seria possível somente com um Soldado de alto escalão e o Presidente. e tinham o apoio de , que sempre fora responsável por limpar seus nomes e de quaisquer outros membros dos partidos envolvidos. — explicou. — , o assessor exemplar, o falso culpado de tudo isso. — frisou. — Lee Hyemi, sua namorada injustiçada e a secretária que tudo poderia resolver, e, obviamente, , o prefeito perfeito. Logo que descobrimos tudo, montamos um dossiê repleto de provas concretas contra todos os citados e hoje, após a entrega do dossiê, todos foram indiciados judicialmente. Todos. E isso nos leva a maior surpresa de todas.
fitou todos à sua volta e as expressões dos poucos jornalistas presentes eram de puro choque, enquanto a de era de profunda tristeza – podia jurar que vira um par de lágrimas descer pelas bochechas salientes do sargento.
entendia a dor que o mais velho sentia; seu peito estava tão apertado quanto. Havia se apaixonado perdidamente por , assim como amava , mas precisaram abrir mão daquele sentimento para que pudessem salvar todo um povo e suas próprias cabeças. No entanto, ainda estavam sendo solidários. estava foragido e provavelmente nunca mais apareceria, e era ele quem carregava toda a culpa. e os outros perderiam seus cargos altos e pegariam uma longa pena na prisão, porém não seria surpresa se eles fossem liberados da prisão em menos tempo do que o previsto. Se comportariam bem em celas afastadas e bem cuidadas, com regalias que nenhum outro civil comum teria. Eles ficariam bem e superariam aquele momento.
jamais conseguiria viver em meio a tantas mentiras. Precisava agir, por isso estava ali. O sofrimento era mútuo, mas ele sabia que sobreviveria. Aguentara muitas coisas; a dor de um coração partido por si mesmo não o derrubaria.
Saindo de seus devaneios, o soldado voltou a falar:
— As mortes foram forjadas. — despejou, e a surpresa à sua volta foi inevitável. — , Lee Hyemi e estão vivos. Com rostos e nomes diferentes, como se fossem pessoas comuns como qualquer um de nós. Nosso secretário de segurança, Kang Jonghyun, é na verdade . O casal problema não são figuras públicas. Tudo fora criado, premeditado e arquitetado nos mínimos detalhes. Pensaram em tudo. No entanto, o presidente não sabia que estava vivo no início. Ele pessoalmente me contou isso, e a história foi confirmada por fontes confiáveis. Durante todo esse tempo, choramos uma morte que nunca havia acontecido. Homenagens especiais, dias de folga, luto; vivemos tudo em vão. Nosso prefeito perfeito de Daegu sempre esteve vivo. Sua morte fora forjada pelo simples fato dele não saber se controlar em meio a tanto dinheiro e privilégio. Ele precisava parar de alguma forma. Sumir. E ele o fez. E continuou a comandar tudo com auxílio de . A essa altura, todos devem estar sendo detidos e levados para uma prisão de segurança máxima. Eu sinto muito por ter contribuído com toda essa sujeira, de alguma forma. Eu precisava fazer meu trabalho, precisava ajudar os meus, ajudar cada um de vocês. Eu sinto muito, mas o Programa de Proteção ao Presidente foi uma fraude. Nossos representantes são uma fraude, e nós precisamos superar e mudar isso. Precisamos ter consciência política e desconfiar de todos, precisamos nos manter firmes e resistir. Não se deixem enganar. Discutam política, pesquisem, estudem. Com determinação, poderemos começar a vencer esse mecanismo; isso é apenas o início. Corruptos não passarão por cima de nós. Falsos moralistas não passarão. Mentirosos não passarão. Meu nome é e sou apenas um soldado das Forças Armadas de Seul, que está abrindo mão de tudo para salvar minha nação.
E, num piscar de olhos, a câmera desligou e encerrou a transmissão ao vivo. Só então pôde sentir o peso e o alívio sobre os ombros; estava quebrado, mas feliz. Havia feito o certo, seguiu o que lhe fora ensinado e não ignorou sua moral. Fez o certo. Abriu os olhos do povo. Salvou a nação de mais uma eleição forjada. A Coreia do Sul estava, finalmente, sendo salva de verdade.
já estava de volta ao batalhão quando decidiu assistir aos vídeos das prisões da quadrilha que ele mesmo havia desmascarado. Seu quarto, assim como o batalhão inteiro, estava mais silencioso que o normal. Seus colegas não estavam por ali, e a única coisa que lhe fazia companhia era a televisão ligada num volume baixo.
O soldado sabia que também estava por ali, em algum dos alojamentos, fazendo o mesmo que ele: assistindo àquelas reportagens detalhadas e trechos de seu relato sobre o esquema de corrupção. Todos estavam presos e o país estava chocado com tamanha armação. Era tudo muito recente e revoltante. Muitos cidadãos estavam pelas ruas protestando contra a corrupção, fazendo arruaças e xingando a família , assim como tentaram atacar a esposa de – que parecia não saber de nada detalhadamente.
sabia que aquilo aconteceria e tinha certeza de que se fosse apenas um civil, um cidadão comum, teria aquela reação também. Sempre fora muito ligado às questões sociais e políticas de seu país. Sua adolescência se resumia a trabalhos do tipo em prol da escola, assim como fora representante de turma e presidente do Grêmio estudantil. Até descobrir a área militar e a admiração por e . Entretanto, tornar-se soldado não alterou em nada seus pensamentos. Sua virtude ainda era aquela: ser honesto e lutar por seu povo, por isso estava ali, por isso era o melhor no que fazia.
Ser o porta-voz dos menos favorecidos era seu maior sonho; e finalmente pôde realizá-lo, mesmo que seu coração estivesse destroçado, em frangalhos.
Com um suspiro, encarou a televisão novamente, onde mostrava o momento em que , o presidente, estava sendo levado pela polícia federal. Como se soubesse que o estava assistindo, encarou a câmera diretamente. Seu olhar carregava sentimentos diversos, o soldado notou. Tinha raiva, medo, arrependimento, desconfiança e descrença; era como se tudo ainda fosse um sonho para ele. Não conseguia acreditar que as pessoas mais próximas de si fizeram aquilo, mas a ficha cairia logo – teria de cair.
— Você deveria conversar com ele. — a voz embargada de ecoou pelo quarto, e o fitou. O sargento estava encostado no batente da porta do quarto, encarando-o com os olhos fundos e vermelhos. — Sei que não aprova esse tipo de atitude, mas é fácil de conseguir entrar lá com uma autorização com os federais. Até porque… Bem, você os entregou. Fez o trabalho completo.
— Você pretende ir até lá também e contar para que está chorando desde que saiu da corregedoria?
— Não me provoque, . Ainda sou seu superior.
— Pensei que fosse meu amigo também.
— Eu sou, por isso estou dizendo que deveria tentar falar com . Ele está sozinho, . Eu o entreguei, o abandonei. não pode ficar com ele. Os pais deles estão a ponto de condená-los. Não aceitam que os filhos chegaram a um ponto tão sujo.
— Ainda não é a hora, . — o fitou com pesar. — Ele não vai querer me receber.
— Ele quer te ver, .
— Como pode ter tanta certeza?
— Apenas conheço meu melhor amigo. Ou ex-melhor amigo.
— Você vai conversar com ?
— Se isso aliviar sua consciência, tudo bem. Mas não tenha tantas esperanças, eu e somos um pouco complicados. Somos diferentes de você e , garoto.
— Vocês se amam, hyung.
— Eu o amo, .
— Mas–
— Apenas aproveite a reciprocidade entre você e . Sua entrada no prédio dos federais já está autorizada para vinte minutos com ele. Não faça eu me arrepender disso. Apenas faça-o entender que agimos errado todos esses anos e você teve que consertar isso. Confio em você, soldado.
Ao terminar de falar, saiu do quarto, deixando o soldado para trás e totalmente perdido em seus pensamentos. O que deveria fazer? Dizer não? Ignorar seu coração martelando fortemente dentro do peito e implorando para que fosse tentar se explicar? Uma hora ou outra, teria que ouvi-lo, então que fosse naquele momento mesmo. Se nada desse certo, bem, ao menos havia tentado, não morreria em arrependimento por ter sido covarde – e covarde era a última coisa que seria naquela vida.
Em pouco mais de uma hora, chegou no local indicado e procurou o delegado que mandara. Com poucas palavras, foi levado até à sala onde estava.
A visão não fora das melhores, mas precisou manter-se forte. O agora ex-presidente tinha os ombros caídos, marcas de lágrimas secas nas bochechas e os cabelos desgrenhados. Parecia acabado, e sabia que ele estava completamente destroçado por dentro. Sua vida estava ruindo e ele não podia fazer mais nada, nem mesmo tentar se defender. Não tinha como se defender.
— O que está fazendo aqui, soldado? — a voz grave ecoou baixa na sala.
— Precisamos conversar, . — respondeu num tom calmo, enquanto sentia o coração bater na garganta, tamanho era seu nervosismo. — Estão te tratando bem aqui?
— E isso importa? — o ex-presidente respondeu com outra pergunta, finalmente erguendo o olhar para o mais novo.
A mágoa explícita em seu olhar fez com que o corpo de congelasse. Não estava preparado para aquilo; talvez tivesse sido melhor ter esperado uns dias para visitá-lo, mesmo que ficasse repetindo em sua cabeça que estava sozinho agora. O fato era que não tinha forças para encará-lo naquele momento, não daquele jeito. Na verdade, talvez ele nunca estivesse pronto para ver o amor de sua vida naquela situação, preso por inúmeras acusações que ele mesmo havia feito. Céus, era o culpado por aquilo, porém sequer conseguia sentir-se culpado de verdade.
— Você sabe que importa. — tomou coragem para olhá-lo. — Eu… realmente sinto muito por tudo que está acontecendo.
— Não, você não sente. — deu de ombros enquanto mexia nas algemas que prendiam seus pulsos. — Eu fui apenas uma missão para você. — afirmou. — Durante dois anos, nos quais cada segundo eu me apaixonava cada vez mais por você, fui apenas uma missão. Um trabalho dado a você pelo meu melhor amigo. Não sei onde estava com a cabeça quando confiei em vocês; um sargento corrupto em potencial e seu soldado de confiança.
— Você precisa nos entender, . — suspirou. — Não podíamos deixar que tantas pessoas fossem enganadas assim. O mundo inteiro conhece você e seus homens, era injusto. Nosso trabalho é manter a ordem e paz, proteger as pessoas e dizer somente a verdade. Nós temos um juramento.
— Fale apenas por você. — o encarou com firmeza. — sempre foi ambicioso, sempre quis tomar o lugar de . Sempre foi tão corrupto quanto eu. Ele somente te usou para me colocar aqui e fazer com que o general sumisse por aí. Se ele não tivesse matado aquele homem, acha mesmo que estaríamos nessa situação? Acha que sua missão seria ficar em meu encalço e criar um arsenal de provas contra mim?
— Não fale como se não estivesse doendo em também, nem o julgue dessa forma. Sabe mais do que eu que ele jamais faria isso se tivesse outra opção. Você não sabe o que ele ouviu ou passou, . E se não fosse ele a me dar a missão, seria Hana. Ou qualquer outra pessoa. Talvez eu mesmo. Nunca lhe escondi meu descontentamento com a situação, nunca fui a favor das falsas mortes e sempre deixei claro, desde minha primeira descoberta, que minha maior vontade era entregar a todos. Nós erramos, . Vocês mais do que todos. Sorte sua que fui eu a consertar isso, não um revoltado qualquer que queria sua cabeça.
— E você acha que estou mais seguro aqui, que as pessoas irão me perdoar? Mesmo que eu seja punido e passe o resto da vida na prisão, serei conhecido historicamente como o presidente sul-coreano que tinha o melhor governo, mas jogou tudo pelos ares por corrupção ativa e lavagem de dinheiro. Eu deveria te agradecer por isso?
— Por que não pensou nisso antes? O povo não está errado em condená-lo, nem eu por entregá-lo.
— Vá embora daqui, .
— Precisamos conversar sobre nós. — o soldado finalmente disse, fazendo com que o outro soltasse uma risada irônica.
— Nós? — perguntou. — Não existe nós, . Nunca existiu.
— Nem sempre o amor é sobre fazer tudo pelo outro, . Eu entendo que está magoado e não irei julgá-lo por isso, mas quero que entenda que eu jamais passaria por cima de meus próprios valores para vê-lo feliz. Quero dizer, nesta situação, roubando e enganando. Em qualquer outra, talvez eu o fizesse em partes. Mas, nesta situação, nunca. Você está errado e precisa entender isso. Vim até aqui para dizer que, mesmo com tudo isso acontecendo e depois de cada palavra que disse naquela transmissão, eu amo você. Fiz isso por amor, eu juro. Poderia ter largado a missão e tê-la entregue a qualquer outro soldado capaz de executá-la, mas eu continuei. Continuei porque queria, ainda quero, que você perceba o quão errado agiu, como foi injusto com as pessoas que confiaram em você, seus eleitores, sua família, seus amigos. Eu não vou lhe deixar só porque está preso, pelo contrário, estou aqui com você para o que der e vier; ainda acredito nas pessoas e na redenção. Apenas quero que se conscientize de tudo o que fez, quero que assuma as responsabilidades e lembre-se de cada pessoa que morreu por intermédio seu. Quero que aceite sua punição e perceba que isso é para o seu bem, para que você se transforme em um ser humano melhor. Não irei lhe dar as costas; também errei, também acobertei muitas coisas, enganei pessoas à minha volta e matei de forma direta. Não sou tão diferente de você, porém pude me redimir comigo mesmo, e essa foi a melhor coisa que fiz. Permita-se a isso também.
— Vá embora, !
A voz cansada de ecoou quase como um sussurro irritado, e ele já não mais encarava o soldado em sua frente. Seu coração estava apertado e mandar aquele homem embora doía como o inferno, mas não tinha forças para encará-lo. Estava cansado, não queria palavras de consolo. Sabia que havia errado. Queria que fosse como qualquer outro ser humano normal, que lhe apontaria o dedo e iria embora. Queria sentir-se sozinho, não todas aquelas sensações de estar descendo de uma montanha-russa por conta do soldado e suas palavras doces demais para o momento; era um crápula, não merecia tamanha compaixão. Havia destroçado seu país por ser dono de uma ambição sem fim. Queria subir cada vez mais, ganhar cada vez mais, e agora estava ali, numa prisão federal. Não merecia alguém como , tampouco conseguia entender como ainda sentia algo pelo soldado, sabendo que ele havia o exposto para todo país algumas horas atrás.
Talvez o amor fosse mesmo daquele jeito, e, como o próprio disse, nem sempre era sobre fazer tudo pelo outro.
estava confuso.
— Tudo bem, estou indo. — murmurou com a voz cortada e claramente engolindo a seco, tão nervoso quanto o ex-presidente. A carga emocional da conversa havia sido alta demais para ambos. — Não irei deixá-lo sozinho, . — o soldado sussurrou, aproximando-se do mais velho. — Tenho certeza de que irá me entender um dia, assim como entendo você. Não se esqueça que também me apaixonei perdidamente por você e estarei te esperando.
Ao finalizar, selou seus lábios num beijo leve, uma despedida – um até breve. Foi o suficiente para perceber que também o amava, e não importava o que haviam feito; seus corações batiam um pelo outro, como se fossem um só.
Afastaram-se após alguns segundos, tontos com a sensação das bocas coladas depois de tanta coisa.
— E se eu levar dez anos para sair daqui? — perguntou, sem coragem para abrir os olhos.
— Eu ainda vou estar esperando. — o soldado respondeu baixinho, roçando seus lábios. — Não importa o tempo que leve, estarei te esperando.
— Eu não mereço.
— Todo mundo merece uma segunda chance, .
— Eu te amo, garoto.
— Eu também te amo, hyung.
Olharam-se nos olhos por mais alguns instantes e, após mais um beijo rápido, saiu da sala com passos vacilantes e os olhos lacrimejando. No fundo, sabia que não sairia dali tão rápido. Mas continuaria esperando.
Amor, na verdade, era exatamente sobre fazer tudo um pelo outro; incluindo salvá-los de si mesmos.
O escândalo do “assassino em série” já havia sido esquecido, enterrado. estava morto há pouco mais de um ano, apanhara tanto no presídio que seu rosto ficara irreconhecível. Hyemi, ao receber a notícia, cometera suicídio logo depois. Havia vivido um relacionamento conturbado e era tão dependente do assassino que não aguentou a notícia, enforcando-se com pedaços de pano em algum quarto da clínica psiquiátrica que estava internada para recuperar-se dos traumas e da depressão recém-diagnosticada.
Tudo seguia os planos, e ainda sentia o peito apertar sempre que via tais notícias sabendo que eram plantadas, criadas e totalmente mentirosas. Não entendia como o povo conseguia ser tão cego, assim como não entendia como era possível criar histórias tão bem montadas e sem um furo sequer.
Ele continuava ali, sendo o soldado exemplar que acabava as noites na cama do presidente. Mesmo depois de tanto tempo. enxergava; tornara-se um deles. E não teria mais volta se não fosse, mais uma vez, .
O país estava em chamas após a prisão do assassino mais ousado da história. Todos comemoravam e agradeciam às divindades por estarem vivos, por ter sido provado que era mesmo o homem bom que se mostrara antes. Os sul-coreanos estavam felizes; não havia mais assassinos, não havia escândalos. Os ataques pararam de forma imediata, e poderia dar continuidade às mudanças que tinha em mente. Tudo estava perfeitamente normal. O plano seguia tão bem que, na primeira noite após a prisão de e Hyemi, brindaram com champanhe cara. Todos eles.
Incluindo o casal preso, que estavam juntos numa cela especial, num presídio disfarçado de segurança máxima. Mesmo que não pudessem se ver ou estar no mesmo espaço simplesmente por se tratar de um homem e uma mulher presos.
Presos.
Num presídio de segurança máxima.
Brindando com champanhe cara.
Era tanto absurdo que permitiu-se agir de forma automática, ignorando suas crenças e seus ideais apenas para que não cometesse uma loucura.
Naquele momento se dera conta de que o dinheiro comprava tudo, absolutamente tudo. Um rosto novo. Uma roupa. Uma casa. A liberdade. A presidência. O dinheiro simplesmente movimentava tudo. Ele não ficaria surpreso se dissessem que até a chuva que caíra durante aquela madrugada fora encomendada pelo partido de .
No entanto, junto àquela chuva repentina, viera um convite que poderia mudar tudo em sua vida.
Naquela mesma madrugada, entendeu que não era tão ambicioso assim, que ele não havia sido vendido. Não totalmente.
se dera conta de que ainda poderia fazer o bem, mudar o país, dar a volta por cima.
— Tenho uma proposta para você, — praticamente sussurrou, enquanto a chuva caía forte logo à frente. Estavam sentados numa espécie de varanda que ligava o campo de treinamento à entrada para os dormitórios do batalhão.
— Eu não quero mais nem um centavo extra para fazer serviços por você, hyung. — se apressou em confessar, aproveitando que estavam sozinhos para falar de forma mais íntima. — Olha onde viemos parar. Estamos fazendo parte e acobertando o maior escândalo político da história.
— … — suspirou. — Você nunca se perguntou o porquê de tudo isso? Quero dizer… A sua maior qualidade é essa: não perguntar antes de seguir alguma ordem minha. Mas você, em seus momentos de solidão, apenas consigo mesmo, nunca se perguntou o motivo de tudo isso? Você realmente acha que faço tudo isso por dinheiro?
— E não é?
— Para dizer a verdade, não. Vou lhe contar um segredo, garoto, mas, a partir do momento em que eu começar a falar, você não terá como voltar atrás.
encarou o semblante sério de seu sargento e um arrepio lhe cruzou o corpo; não sabia se fora por medo, frio ou apreensão, mas não sentia uma sensação daquelas há muito tempo. Encarar os olhos escuros de foi como se afogar. Ficou sufocado.
O Primeiro-Sargento guardava coisas demais, segredos demais, medos demais.
E nunca vira com medo.
— Nunca te vi tenso assim, hyung.
— Nunca fiquei assim, . — soltou uma risada fraca e fitou o céu nublado. — Acontece que sou um ser humano, tenho minhas falhas, meus medos. Nunca me permiti sentir como alguém comum; no entanto, não consigo esconder mais. Eu preciso, mais do que nunca, de sua lealdade.
— Você já a tem, sempre teve. — o soldado encarou o perfil do sargento. — Não irei abandoná-lo agora.
— Nem se, desta vez, isso lhe custar o amor de sua vida? — o fitou nos olhos. — Eu sei que se apaixonou por nesse meio tempo, e a tendência é essa paixão aumentar. Está disposto a sacrificar isso?
— Não sei, hyung. Mas você parece disposto a sacrificar o que sente por .
sorriu fraco, quase com tristeza, ao ouvir o nome do mais novo. Sim, ele estava disposto a sacrificar qualquer coisa que fosse por aquilo. Era sua carreira e sua vida, no fim das contas. Teria de ser egoísta a partir daquele momento, mais do que nunca, mais do que imaginou que seria.
— Eu já sacrifiquei, . Não somente o que sinto por . Acredito que sacrifiquei minha própria liberdade em prol de um bem maior.
— Você está me preocupando, .
— Eu não sou quem você pensa, . — o olhar de tremeu, entregando seu nervosismo. — Veja bem, sei que sempre fui um homem ambicioso e tive que fazer coisas das quais não me orgulho, mas nunca fui um homem mau. Juro por tudo que há de mais sagrado, , que nunca quis ter que matar para ter alguns trocados a mais na conta bancária. Nada disso estava nos meus planos, acontece que eu não sabia onde estava me metendo. Quando me dei conta, já estava atolado até o pescoço. Não tive escolha senão obedecer certas pessoas para me mostrar capaz. Eu ansiava este cargo e meu sonho era ser o General desse batalhão no futuro. Sempre foi minha meta, e nunca me importei se teria que passar por cima do meu próprio orgulho para isso. Acontece que acabei passando por cima de meus ideais também. E, mais do que nunca, preciso de você, a única pessoa honesta e em quem confio cegamente neste país.
— O que está acontecendo, hyung? Como posso ajudá-lo?
— Precisamos nos juntar e entregar e seu bando para os federais.
jamais se esqueceria daquela noite e de cada segundo que passara ao lado do Primeiro-Sargento. Ao ouvir o início do segredo, em que decidiria se continuaria ou desistiria, hesitou. Hesitou por medo, por paixão, por apreensão. Não queria ser o responsável pela possível prisão do presidente, não queria tirar de seu povo as coisas boas que havia feito. Não queria que seu sargento desistisse de . Não queria aceitar que era o mandante daquilo.
Hesitou por simplesmente ser humano e ter ficado deslumbrado por alguns momentos devido às facilidades que tinha para ganhar dinheiro, morar num lugar melhor e visitar sua cidade natal sempre que quisesse. Hesitou porque ali, diante de , que já havia sacrificado tudo que tinha, entendeu o que disse tempos antes sobre entrar na política e ser corrompido.
havia sido corrompido devido à sua sede de poder; queria comandar tudo à sua volta. havia sido corrompido por dinheiro e por idolatria – adorava ter o povo ajoelhado aos seus pés, bajulando-o como se fosse um deus. se corrompeu por dinheiro e prestígio, assim como , Hyemi e .
Tornaram-se uma quadrilha perigosa e idolatrada por simplesmente terem se deslumbrado com as mesmas facilidades que passara a ter dois anos antes, apenas por ter feito a segurança do presidente. Poderia ter sido qualquer outro colega seu, mas fora ele. E lhe confiara a maior missão de todas por conta de sua visível honestidade.
Não conseguiu negar.
Disse que sim, ajudaria-o a entregar toda aquela gente para os federais, mesmo que lhe rendesse uma pena ou algum outro tipo de punição, como o acordo que tinha.
Só não contava de passar a amar com todo seu coração nos dois anos seguintes – sequer esperava que continuaria a deitar-se na cama do Presidente.
Contudo, não tinha mais tempo de voltar atrás, assim como , que se rendia à uma nostalgia quase palpável sempre que via de longe ou trocava meia dúzia de palavras com ele. Não podiam voltar ou desistir; tinham que continuar, seguir em frente e impedir a reeleição.
— Você está muito pensativo hoje. — murmurou contra o pescoço do soldado. — Nem parece que é nossa folga de verdade em meses.
— Infelizmente, não consigo me desprender do trabalho, hyung. — respondeu baixinho, fechando os olhos e desfrutando dos carinhos que recebia. — Ainda não é fácil para mim.
— O que acha de tomarmos um banho de banheira enquanto bebemos champanhe?
— Acho que seria ótimo. — “Se eu não ficasse tão desconfortável desfrutando do que não é meu”, o soldado quis completar, mas contentou-se em beijar os lábios fartos do presidente.
Naquele dia, aceitou todas as regalias que lhe eram permitidas. Bebeu champanhe sem se importar com o valor, desfrutou do banho na banheira de luxo com o presidente entre suas pernas e deixou que sua mente ficasse vazia. Não questionou os próprios ideais, ignorou o orgulho ferido e não pensou nos privilégios que sempre teve e continuaria tendo. Apenas aproveitou como nunca havia feito antes.
E o mais importante de tudo: deixou-se amar por quem ele era. Ignorou sua índole mentirosa, seu dinheiro e seus podres; amou apenas o homem que o amava igualmente naquele momento. Amou o ser humano que ainda existia por baixo daquela carcaça de ambição – ele sabia que o de verdade ainda existia sob aquele emaranhado de coisas ruins.
apenas despediu-se de tudo aquilo enquanto ainda tinha tempo para tal. O momento havia chegado, e a mensagem que recebeu de horas antes era apenas uma confirmação para algo que ele queria negar.
O momento havia chegado, e ele não poderia fazer mais nada a não ser entregar todos à sua volta.
— Você sabe o que fazer, certo? — perguntou baixo, enquanto arrumavam algumas armas de grande porte nos fundos do batalhão. — – Jonghyun não gosta muito de mim, ele apenas aceita meu envolvimento por conta de .
— Eu só preciso fazê-lo falar sobre o assassinato forjado. Não é muito difícil, acho que consegui me aproximar dele nos últimos meses. Ele não é tão complicado de lidar.
— Eu o conheço. — deu de ombros. — Apenas tivemos alguns problemas na época da faculdade e quando ele foi eleito, por isso ele não me suporta. Eu jamais conseguiria fazer essa parte do plano, mesmo sendo, atualmente, o braço direito de .
— Me diga uma coisa, hyung. — fechou a última caixa de metal, guardando um fuzil. — Você terá mesmo coragem de entregar seu superior, seu mentor? o fez ser o que é hoje. Eu não teria coragem de entregá-lo, por exemplo.
— Ou eu faço isso, ou vou preso, . — o fitou nos olhos. — Não tenho escolha… Estou aqui apenas para acabar com este esquema. Eu… — o Sargento suspirou. — Eu sempre fui muito ambicioso, . Acabei fazendo coisas que não devia e deixei rastros. Inclusive um rastro sobre esse esquema deles, e não percebi. Os federais chegaram em mim. Não é tão difícil para eles e para a equipe de inteligência, que vive enfurnada aqui. Mas, em vez de me prenderem, acharam que eu seria mais útil fazendo favores para eles. Não aceitei de primeira, mas conseguiram me convencer. Minha punição é quase nula e ficará guardada a sete chaves. Com mais alguns anos aqui e um pouco de cautela, conseguirei o que sempre almejei e ainda livrarei meu povo de homens maus. Não é esse meu trabalho, afinal?
— O que fez para ser pego? Você nunca me contou como foi exatamente.
— Me deixei levar por uns bons milhões que me pagou. Pensei que seria um serviço rápido e fácil; todos os grandes fazem trabalhos por fora, . Corrupção não é algo exclusivo de políticos. — deu de ombros, um tanto desconfortável. — Eu fiz o serviço sujo, guardei uma parte do dinheiro numa conta escondida e outra parte acabei mexendo demais e deixando à vista. Me pegaram e perceberam que, para que tudo desse certo com os políticos, precisavam de alguém maior do que eles. E por que não os chefes de Estado?
— Então encontraram você e através disso notaram que estava envolvido. Assim, chegaram nos políticos, no Presidente, nos chefes de polícia…
— Isso. Descobriram todos por conta de um deslize meu, e eles não fazem ideia. Logo eu, o homem que todos consideram o mais inteligente da nação por causa das missões bem sucedidas... Destruí um esquema em que estava envolvido sem ao menos perceber.
— O importante é que agora sabe o que deve fazer, hyung. Eu não te julgo. Se tivesse as mesmas ambições que você, provavelmente faria o mesmo.
— Não, , você não mataria um militar por dinheiro... Tampouco teria a frieza de criar um acordo para que esse escândalo não viesse à tona somente para que pudesse tornar-se General.
não acreditava no que via. Sabia que naquela noite todo o bando se juntaria – com exceção de , que ainda era anônimo para a maioria das pessoas; nem mesmo sabia que ele estava envolvido naquilo, e ao menos deveria saber. Entretanto, fazia parte de seu acordo saber de todos os detalhes.
A sala de jantar da mansão dos estava cheia deles, todos os envolvidos estavam presentes dando risadas e tomando uísque. Até mesmo os mortos, sendo quem eles realmente eram, e não os personagens criados.
Todos.
— E então, meus amigos, sentiram minha falta? — praticamente gritou quando percebeu que seus aliados já estavam ali.
O assessor não tinha mudado tanto quanto deveria. O rosto permanecia bonito e os cabelos agora estavam bem pretos, como se quisesse passar despercebido – e realmente queria. Ainda possuía os traços angelicais de antes, porém suas bochechas não eram mais tão salientes e os olhos pareciam maiores, dando a impressão de que ele era um estrangeiro. Os dentes, antes um bocado tortos, estavam totalmente retos, impecáveis e em seus lugares. A forma de se vestir era casual, e certamente passaria por qualquer lugar sem que ninguém o confundisse com o verdadeiro – o assassino em série, que acabara com a vida de tantas pessoas. Era apenas um estrangeiro comum, que visitava a Coreia do Sul durante a lua de mel com sua esposa.
Ah, sua esposa.
Hyemi, sim, havia se transformado. Suas mudanças foram mais drásticas do que as de . Os cabelos estavam curtos, no estilo pixie e pintados num tom claro de loiro, beirando ao platinado. O rosto estava mais fino que antes, assim como o nariz sequer parecia o antigo. Os olhos estavam grandes, como uma ocidental de nascença, e lentes azuis completavam o visual. Era outra pessoa. Em um ano, conseguiram mudar em níveis estratosféricos.
Era no mínimo chocante. não sabia lidar com aquilo e ainda ter que fingir que tudo bem, que era normal e que eram seus amigos ali – eles, definitivamente, não eram nem nunca foram amigos.
— Você precisa disfarçar. Falta pouco. — murmurou ao seu lado, dando um grande gole em seu uísque. — Controle-se.
— Sim, senhor. — debochou, bebendo em um gole só o drink do próprio copo. — Mas não vou negar, minha vontade de matá-los de verdade está cada dia maior.
— Até , o amor da sua vida?
não esperou uma resposta do soldado, apenas deixou-o sozinho com seus pensamentos e foi socializar – alguém tinha que disfarçar da maneira certa, afinal. Aquela era a última vez que todos conseguiriam se reunir sem problemas.
Após o jantar, só teriam os minutos de banho de sol no presídio de segurança máxima para fazerem planos.
estava pensativo. A farda parecia pesar toneladas e sua cabeça estava prestes a explodir. Não queria acreditar que havia chegado aquele ponto; tudo ainda parecia mentira.
Pela primeira vez, não sabia o que fazer ou falar. Estava arruinado e sequer teria tempo de alertar os companheiros; qualquer coisa que falasse pioraria sua situação. Estava fodido. Era o fim da linha. Sua aposentadoria havia chegado antes do planejado, e ele não poderia reagir.
A conversa com o informante da corregedoria ainda estava fresca em sua memória e provavelmente iria persegui-lo até o fim de seus dias.
— Alguém de seu batalhão está lhe traindo, general. Infelizmente não sei quem é, as informações estão sendo muito bem guardadas. Há dois anos que não consigo nada aprofundado sobre as investigações sobre o partido de . É como se… tivessem um arsenal contra nós, e não temos como chegar perto.
— Você deveria conseguir, é para isto que é pago. — disse de maneira tranquila, mas seu coração pulsava com força. — Quero que descubra quem está me traindo. Não criei esse império para um traidor destruir. São trinta anos de trabalho duro, Hyosang.
— Eu sei, Jin, eu sei. — o homem suspirou. — Acontece que não tenho como descobrir nada. O que consigo lhe informar com certeza é: amanhã descobriremos tudo. Até o fim do dia, a bomba irá explodir, e, se eu fosse você, fugiria para o mais longe possível. Faça a mágica que todos os seus mortos forjados fizeram. Você ainda tem algumas horas. Voe daqui. Deixe que eles se entendam e se matem de verdade.
— Você consegue me tirar daqui?
— Posso preparar um jatinho para partir em meia hora.
— Te espero no aeroporto particular. Obrigado, Hyosang. Levarei minha família, ajuste tudo para quatro pessoas.
E, com isso, desligou.
Agora estava ali, tentando manter o controle e explicar, por telefone, para a esposa que ela deveria fazer uma mala com poucas coisas e seguir para o aeroporto particular da família – e que ninguém no país fazia ideia de que existia.
era um crápula e não havia dúvidas, porém também era inteligente demais para ser pego.
Os homens de terno que se matassem por liberdade.
Um ano antes.
— certamente será o primeiro a tentar fugir. — disse num tom de voz baixo e desconfortável; não conseguia sentir-se bem naquela sala, nem mesmo na companhia de . Não enquanto fazia aquilo. — Ele é o chefe, então tem mais recursos. Só é impossível sabermos quando ele fará isso, alguns funcionários daqui passam informações para ele e, convenhamos, não é tão difícil vazar o que vocês fazem. Não se deve confiar totalmente em todos os funcionários, sempre tem alguém pronto para ganhar mais.
— Assim como você, Sargento? — Uma mulher alta e de longos cabelos negros perguntou de maneira ácida. — Poupe-nos de suas alfinetadas. Se damos confiança aos nossos funcionários, é porque eles merecem. Os que agem como você nós expulsamos daqui.
— Ou matam, não é mesmo, Hana? — rebateu sem se deixar abalar. — E sim, sempre tem alguém com as mesmas ambições que eu, visando ganhar mais. A única diferença é que sou inteligente o suficiente para saber como agir, já seu funcionário…
— Apenas nos diga o maldito nome, . — Hana o cortou. — Não temos tempo.
— Jin Hyosang. — murmurou. — É o único que fica em cima de vocês e tem acesso a tudo. O cargo dele é tão alto quanto os nossos, não é difícil para ele fingir que apenas está levantando evidências sobre possíveis corruptos. Você mesma já deu informações que ele precisava, noona. — provocou, com um sorriso no canto da boca. — Mas isso não importa, certo? Acho que já falei tudo o que precisava. Agora será que podemos avaliar o que meu soldado conseguiu?
Algumas horas antes.
O prédio de luxo onde o secretário de segurança do Estado passava seus dias havia se tornado uma segunda casa para . O soldado estava fazendo sua segurança há cerca de um mês, enquanto o Presidente viajava de cidade em cidade resolvendo problemas nacionais tendo o Primeiro-Sargento em seu encalço, com uma segurança de peso para evitar qualquer problema. Não era como se não fosse dar conta da situação, apenas quiseram garantir que nenhum maluco pudesse tentar terminar o que havia começado. E nem mesmo um louco seria capaz de atacar o presidente tendo em sua segurança.
Então, o soldado aproveitou para iniciar sua nova missão: fazer Kang Jonghyun confessar que, na verdade, era .
e eram o que poderiam chamar de amigos. Conversavam todos os dias, compartilharam muitas histórias ao longo daquele ano, beberam juntos e frequentaram os mesmos lugares. No início, havia sido desconfortável, já que o soldado era o braço direito de e o odiava com todas as forças, mas, com o passar dos dias, tudo se ajeitou. Tinham muito em comum, gostavam dos mesmos tipos de música e tinham facilidade com composições e produções no ramo. Num piscar de olhos, tornara-se o braço direito que faltava em , alguém em quem ele pudesse confiar, já que havia partido. Mesmo que o assessor fosse voltar em breve, não seria mais a mesma coisa. Não tendo aquele soldado. finalmente havia percebido o porquê de todos quererem aquele moleque por perto – ele era ótimo em tudo que fazia.
— Nosso almoço está chegando. — murmurou enquanto desligava o telefone. — Estou feliz por ter aceitado meu convite, .
— Gosto de sua companhia, senhor, e assim é ainda melhor para protegê-lo. — o soldado respondeu com um sorriso.
apenas assentiu e deu de ombros. Alguns instantes depois, uma de suas assistentes adentrou a sala com os pedidos do restaurante mais caro daquele bairro. A mulher arrumou a mesa de vidro que havia do outro lado da sala, próximo a um grande sofá de couro, onde o secretário gostava de sentar e almoçar enquanto observava a vista da enorme janela logo à frente do móvel. Ao finalizar a arrumação do jeito que o patrão gostava, a moça pediu licença e se retirou.
se levantou e seguiu para o sofá, chamando com a mão.
— Bom apetite, garoto. Aproveite, é a melhor comida da região.
— Obrigado, senhor.
— Hyung. — o corrigiu. — Acho que já atingimos o nível de intimidade para que me chame assim, . Não sou esse monstro que pareço ser, então está tudo bem me chamar como você chama os outros. Somos todos amigos, no fim das contas. Com exceção de .
riu e começou a comer devagar, pensando em como poderia colocar seu plano em prática. Sabia que a corregedoria escutava todas as suas conversas diretamente, já que ele mesmo havia instalado escutas em todos os lugares possíveis e impossíveis daquela sala.
— Por que não gosta do , hyung? — perguntou como quem não queria nada. — Vocês têm tantos amigos em comum, fora todos os esquemas de sempre…
— sempre foi muito ambicioso... Não que eu não seja também. — apressou-se em dizer. — Acontece que nunca nos demos muito bem, nossas ideias não combinam e nosso único vínculo é a família . Não gosto da forma que ele trabalha, apesar de ser bom no que faz. acaba deixando o ego falar mais alto que a razão muitas das vezes. Não é a melhor forma de trabalhar, mas pelo menos é o que o mantém ligado ao . Eles se gostam desde crianças. A única coisa boa que o tem é o amor de . De resto, é só mais um querendo o lugar de .
— Eu não o vejo assim… — encarou o outro. — Concordo em relação ao egocentrismo dele. Mas… Não sei, o vejo como um homem nobre também. Ele abriu e ainda abre mão de muitas coisas pessoais por um bem maior. É um verdadeiro líder.
— é seu mentor, . Óbvio que sempre vai vê-lo de uma forma diferente. Não estou dizendo nada disso para que você pense de outra forma ou algo do tipo; claro que não. Sua visão sobre ele nunca irá mudar, porque ele nunca te fará mal o suficiente para que o veja da forma que eu e muitas outras pessoas vemos. E está tudo bem, ele só… não é o tipo de pessoa que quero por perto, mas tenho que aceitá-lo porque, assim como todos os outros, estou nas mãos dele.
— Sobre isso… — mordeu o lábio inferior e colocou o prato e os talheres sobre a mesa de vidro novamente. — Posso te fazer uma pergunta um tanto quanto íntima?
— Quer saber por que aceitei morrer e entrar nessa, não é?
— Está tão óbvio assim?
— Desde a primeira vez que me viu, soldado.
— Você não… se incomoda ou se arrepende?
— Sabe, . — terminou de comer e limpou as mãos e boca num guardanapo de pano, encarando o soldado em seguida. — Quando entramos no meio político, nossas opiniões e ideais mudam. No começo, tudo que queremos é igualdade, aceitação e um mundo melhor. Mas isso é impossível enquanto formos seres humanos. Sempre queremos mais do que temos. Muitas vezes queremos coisas impossíveis. Não vou lhe dizer que ser honesto aqui é impossível, mas com toda certeza é muito difícil. Você é fácil e magicamente corrompido, enganado e acaba sendo pago para isso. Entre todos do nosso partido, eu fui o primeiro a mergulhar de cabeça na corrupção. Não vou dizer que estou arrependido, porque não estou. Ganhei muito, fui eleito e pude fazer a diferença que eu tanto desejava. As coisas estão melhores, meus projetos ganharam vida e coloquei meu melhor amigo na presidência. Mas não fiz isso por ele ser meu melhor amigo; eu poderia ter sido o presidente. Mas deixei que chegasse lá porque sei que ele tem um controle mental melhor do que o meu. Eu enfiaria os pés pelas mãos na primeira crise. Passei de todos os limites possíveis somente sendo prefeito. não estava servindo mais. Então, encontramos uma solução, já que eu poderia fazer com que o esquema fosse exposto.
— A morte. — comentou baixinho, e sorriu.
— Sim, a morte. — o atual secretário concordou, servindo-se de um pouco de água. — E eu não me arrependo, . Na verdade, me arrependi por um tempo, até me dar conta de que a podridão é contínua como um mecanismo e isso vai continuar acontecendo. Aqui, no Japão, na Inglaterra, no Brasil. Em qualquer lugar do mundo isso vai continuar acontecendo. Alguns roubando demais e sendo pegos, outros roubando de pouco em pouco e sendo escondidos, enterrados. Acontece. Não é algo exclusivo meu, do meu partido ou do meu país. É um câncer mundial. Mas, pelo menos, minhas filhas tiveram uma boa condição de vida, que eu nunca pude ter na idade delas. Eu tendo errado ou não, elas estão garantidas até o último de seus dias. Nós sempre temos um motivo para lutar e se orgulhar, soldado. Minha família é o meu motivo. E sabe qual foi a melhor coisa nisso tudo?
— O quê?
— Conquistar minha esposa outra vez.
Corregedoria.
— Temos uma confissão. — murmurou. — Acabou agora.
— Isso está apenas começando, soldado. — Hana o respondeu com desdém. — Acha que consegue fazê-lo detalhar a farsa e citar nomes?
— Sim. — respondeu.
— Ótimo, porque é isso que irá fazer agora. Precisamos do máximo de detalhes possível.
— Tenho certeza de que conseguirá tudo que precisamos. — disse com um ar orgulhoso, segurando o mais novo pelo ombro. — Ele foi muito bem treinado.
— É bom que ele consiga, . Do contrário, você passará o resto da sua vida na cadeia sem direito a um acordo.
— Então quer dizer que tudo está acontecendo exatamente como você previu — Hana murmurou baixo contra o ouvido de . Ela estava presente porque, mesmo contra a vontade do militar, havia se infiltrado no esquema de corrupção, cedendo proteção aqui e ali, burlando certas coisas dentro da corregedoria e mostrando confiança para e seus aliados. Mas ainda fingia não saber que Kang Jonghyun e eram a mesma pessoa. Assim como fingia ser o novo caso não assumido de .
— Como sempre, Hana. — bebericou seu uísque, sem ao menos lembrar quantas doses já havia bebido. — Só falhei uma vez e me rendeu uma quase prisão. Por isso estou aqui.
— Se não tivesse sido indiscreto ao assassinar um militar, não passaria por essa situação. Você não é tão esperto, no fim das contas.
— Você deveria parar de me provocar. — finalmente desviou o olhar de e encarou a mulher ao seu lado, praticamente colada em seu corpo. — Eu falhei porque, pela primeira vez na vida, hesitei ao cumprir uma missão. Isso custou minha liberdade e você no meu encalço. E acredite, Hana, eu nunca mais irei hesitar sabendo que estou na minha razão. Não encha minha paciência, porque posso enfiar uma bala nesse seu rostinho bonito como fiz com seu melhor homem naquela noite.
— Está tudo bem por aqui? — surgiu de repente. — Como é possível você estar com uma carranca tão irritada na companhia desta bela dama, ?
— Por que não a leva para seu quarto e me deixa em paz então, ? — explodiu, virando o restante do uísque de uma só vez. — Cansei de vocês. Todos vocês. E toda essa merda.
não entendeu o ataque de fúria do amigo, no entanto, seu foco estava em Hana e sua aura falsa. O presidente podia sentir que a chefe da corregedoria não era como dizia ser, o sorriso debochado no canto da boca apenas confirmava suas suspeitas. Ela estava se divertindo com todo o estresse do Primeiro-Sargento e não fazia questão de esconder.
Ela não devia estar ali.
— A festa está incrível, senhor Presidente. — Hana murmurou galanteadora, sorrindo. — Mas infelizmente preciso ir. Agradeço o convite. Aproveite o resto da noite, nunca sabemos o dia de amanhã.
sentiu um arrepio cruzar sua espinha, sabia que tinha algo errado, sentia somente de olhar nos olhos daquela mulher – e nos de , que pareciam sempre cansados e culpados.
Algo daria errado em breve. E a culpa seria deles.
O sol já havia nascido e sentia como se não tivesse dormido nada. , ao seu lado, ressonava baixinho, calmo, num sono sereno.
Ao contrário do que imaginava, o soldado sentia o coração bater dolorido. Seus pensamentos dividiam-se entre prós e contras da situação turbulenta em que se encontrava. Sua vontade era sumir do mapa como fizera – havia recebido uma mensagem de , após a festa, informando que o General havia preparado um jatinho e sumido do mapa, bem como ele havia dito. No entanto, assim como todos da corregedoria, ele sabia que ao menos desconfiava de onde o chefe estava se escondendo. Porém, o sargento não queria falar. Não parecia ser o momento certo, e ele esperaria até que o fosse de fato – mesmo que Hana tentasse destruir com seu acordo, não era mais possível. agora tinha todos em suas mãos e sua liberdade garantida.
— Talvez não haja problema eu sair um pouco dos planos. — murmurou para si mesmo, tendo uma ideia que 1) arriscaria todo o plano minuciosamente montado ou 2) faria toda a população acordar e pensar mais na hora em que fossem votar para qualquer categoria que fosse.
Ele esperava que a segunda opção acontecesse.
— Bom dia, meu amor. — murmurou preguiçoso, enrolando-se mais nas cobertas quentinhas e o corpo do mais novo. — Não conseguiu dormir de novo?
— Bom dia, hyung. — o soldado respondeu num tom baixo também. — Consegui dormir, sim. — mentiu. — Apenas acabei despertando cedo demais. Força do hábito. Não está cansado pela festa de ontem? Você ficou até o final.
— O que está acontecendo? — perguntou, sentando-se de frente para . — Tem alguma coisa errada e você não quer me dizer. Não adianta usar a desculpa de que são suas missões porque eu as conheço. Sou o presidente deste país, . Respeitei seu silêncio o quanto pude, mas você está passando noites em claro, está avoado e tem feito mais a segurança de que a minha. Eu adoraria dizer que isso é um problema recente, algo sem importância, mas você sabe o quão duradouro esse seu jeito está sendo. O que está havendo?
— Não está acontecendo nada, hyung. — respondeu. — São oito da manhã e eu não quero discutir. Vou me arrumar.
— Você e estão me escondendo alguma coisa. É algo com a corregedoria? Vocês fizeram alguma coisa e estão correndo algum risco?
— Não é como se você tivesse sido honesto conosco também, . — se levantou. — Está tudo bem, não estamos com problemas. Pare de se preocupar tanto.
— Hana deu a entender, ontem à noite, que algo aconteceria hoje. Ela estava aos cochichos com , e você sabe de alguma coisa. — afirmou firmemente. — Que missão é essa que nem mesmo o Presidente pode saber?
— Não sei de nada, hyung. — mentiu novamente, sentindo o coração apertar. Sem encarar o mais velho, vestiu-se com as roupas da noite anterior sem se importar se estavam sujas; precisava sair logo dali antes que desistisse de fazer o que era correto. — Tenho certeza de que irá esclarecer as coisas com você antes de qualquer coisa acontecer. Não acredite em tudo que Hana diz; o trabalho dela é implantar a discórdia por aí afora. Eu preciso ir agora. Aconteça o que acontecer, não se esqueça de que eu amei você todos esses dias. Ainda amo. Muito. — o soldado sorriu, juntando seus lábios de forma carinhosa. — Nos vemos mais tarde. Hoje estou escalado para ficar no batalhão, parece que tivemos um problema com .
— Por que está agindo como se estivesse partindo?
— Não estou partindo, . Eu jamais deixaria você.
— Eu gostaria de acreditar em você, mas, neste momento, não consigo. O que está havendo?
— Sinto muito, meu amor. — juntou suas bocas novamente. — Mas há missões que nem mesmo o Presidente deve saber.
E, com o coração apertado, deixou o quarto. Não sabia quando, na verdade se veria novamente antes da bomba explodir.
Esperava que sim.
estava na casa de pela primeira vez depois de tudo. Se encontravam muitas vezes nas casas dos outros companheiros, ou em restaurantes chiques. A casa do prefeito – atual secretário de segurança – era um cenário um tanto horripilante. Sua família não quisera se mudar. Suas filhas não se incomodavam com o fato de que o pai havia sido encontrado morto ali. A esposa fingia que nada havia acontecido. Os pais de não viviam ali, apenas visitavam as netas em alguns fins de semana.
Seria normal se todos ali soubessem que o continuava vivo; mas ninguém sabia.
achava toda a situação meio bizarra e sádica, como se gostasse de ver a falta que fazia, quando estava ali de verdade, apenas com um rosto diferente. Ele havia, de fato, conquistado a esposa uma segunda vez – como Kang Jonghyun. No fundo, o soldado desconfiava que a esposa soubesse de alguma coisa, mas preferia fazer-se de cega enquanto desfrutava de um novo marido igualmente poderoso, amável e carinhoso. Tinham amor para dar e vender.
— Seja bem-vindo, soldado. — sorriu. — Fico feliz por ter aceitado meu convite.
apenas sorriu e seguiu o dono da casa até o escritório, onde conversaram sobre a nova proposta de emprego que o soldado receberia.
— Serei direto, , pois sei que você tem outras coisas para fazer no batalhão. — falou sério enquanto preparava duas doses de uísque no canto do escritório. — Acho que tem um pessoal da corregedoria atrás de mim. Preciso que me ajude.
— E como posso ajudá-lo? — o soldado aceitou o copo de cristal.
— Ouvi dizer que seu sargento está tendo problemas com eles, é verdade?
— Não sei, não me conta esse tipo de coisa.
— É uma pena, estava contando que você soubesse alguma coisa para sugerir que se infiltrasse lá para mim. — sentou sobre a mesa, informalmente. — Tem certeza de que não sabe de nada, que não ouviu nada?
— Certeza absoluta, hyung. — continuou calmo. Sentia que sabia de alguma coisa e queria tirar informações de si. — Posso tentar descobrir, mas não lhe prometo nada. O que devo fazer se realmente houver alguma investigação sobre você? Acredito que seja sobre Kang Jonghyun, certo?
— Quero que faça como seu sargento fez: mate o responsável pela investigação. Matar não é difícil para pessoas como nós. Estou desconfiado de que sabem que Kang Jonghyun é uma mentira.
pensou em hesitar. Pensou em dizer que não matava sob encomenda, que não era seu sargento, que toda aquela situação ia contra sua moral; não fazia parte de quem ele era. Contudo, lembrou-se de que estava numa missão e precisava agir friamente e aceitar quaisquer que fossem os pedidos dos maiores – como havia feito, com a diferença de que ele, , não chegaria a matar ninguém. Ainda estava tendo escolha e tempo para contornar a situação. O sargento não tivera, e, se não matasse, certamente seria morto no dia seguinte por ter informações valiosas demais. precisava conquistar a confiança de , e conquistara – no fim, bastava tentar pensar friamente como todos em volta. O militar assassinado era corrupto e chantagista, embora não merecesse a morte, era assim que funcionava. Todos ali faziam justiça com as próprias mãos ou, como no caso, com as mãos de quem tinha poder suficiente para matar sem sofrer consequências drásticas.
E precisava fingir que era como eles.
— Por mim, tudo bem. — o soldado finalmente respondeu, sabendo que a corregedoria o escutava através do microfone que usava nas roupas. — Tentarei conversar com hoje mesmo. Não irei decepcioná-lo, hyung.
— Sei que não irá. Agora me diga, soldado, gostaria de dar uma volta por essa casa maravilhosa e conhecer o local em que morri?
— Só se você me contar todos os detalhes de como forjou aquela noite. Foi uma jogada e tanto, até hoje fico admirado, hyung.
— Contarei tudo o que quiser ouvir, garoto. Vamos lá.
Aquela era a chance que precisava. Mais uma vez, a missão seria cumprida.
Mansão de ,
local da morte.
“Você deve morrer” era o que ecoava na cabeça do atual prefeito da cidade de Daegu naquele momento. Não queria morrer – nem de verdade, nem de mentira –, mas entendia os companheiros. Estava dando trabalho demais, como um adolescente sem causa. No entanto, causas tinha demais. Tantas que nem ao menos poderia contar, e não queria deixá-las para trás. Não queria que tudo se tornasse meras causas perdidas; não queria tornar-se um simples prefeito morto que desencadearia um diferente patamar no esquema que fazia parte.
Mas, novamente, entendia os companheiros. Era um homem de pés firmes no chão, inteligente e sabia quando deveria parar. Todavia, naquela situação, não estava conseguindo. Não conseguia parar de roubar, de criar planos absurdos, de inventar coisas, de mentir para todo o país e sua própria família; seus amigos, seus companheiros de trabalho, todos.
nem ao menos se reconhecia. Talvez fosse melhor sumir de vez, livraria todos à sua volta de sua presença insuportável, egocêntrica e mesquinha.
O celular vibrou em suas mãos. Atendeu, sem pressa, já sabendo quem era.
— Fale, .
— Estou chegando, hyung. Tem certeza de que quer fazer isso?
— A porta dos fundos está aberta e os seguranças estão todos na frente da casa. E não me pergunte isso, , é óbvio que não tenho certeza de nada. Mas é o melhor a se fazer.
Não foi preciso falar mais nada e a ligação encerrada.
morreria naquela noite e se transformaria em um herói nacional.
Não levou mais do que vinte minutos para chegar, acompanhado de outros dois homens desconhecidos e com rostos cobertos por máscaras. Ninguém sabia quem eles eram, mas conheciam seus trabalhos. Eram bons em forjar coisas para as mais altas patentes mundiais.
Nenhuma palavra precisou ser trocada. Com a luz dos fundos da casa baixa, o silêncio mórbido da madrugada e a rapidez que somente profissionais teriam, um boneco idêntico a foi colocado no chão. Os homens mascarados foram embora logo em seguida, silenciosos e quase invisíveis, como sempre.
Restava apenas e naquele cômodo levemente escuro, sem que ninguém do lado de fora desconfiasse de alguma coisa – e mais uma vez a segurança se mostrava falha, mesmo que tudo tivesse sido planejado. Alguém deveria desconfiar que tinha algo estranho ou, no mínimo, deveria ter algum deles ali; mas não se importava e já estava morto.
— Isso é real demais. — murmurou. — O material parece minha própria pele, . É genial. A equipe da perícia já está preparada?
— Isso é absurdamente real. — suspirou, ainda encarando a bizarrice em sua frente. — Sim, a perícia está pronta. Está apenas aguardando meu comando. Ninguém vai tocar da maneira correta e o chefe logo irá tirar o corpo daqui. Os detalhes em relação à morte sairão em alguns dias.
— Tudo bem. — suspirou, ainda encarando sua própria cópia sem vida no chão. — Você já sabe o que fazer. Minha única mala está logo ali. — apontou para o canto do cômodo. — Leve-a para o carro e me espere. Vou arrumar a cena. O assassino é bem bagunceiro. Um serial killer descontrolado para deixar todos alarmados.
não o respondeu, apenas seguiu suas ordens – sabia que estava se perdendo em seus devaneios outra vez e não queria presenciar aquilo novamente. Seu hyung não estava bem, a sede de transformar-se em outra pessoa era tanta que aquele tipo de pensamento doentio estava cada dia mais comum.
Após encontrar-se sozinho novamente, o prefeito riu e abaixou-se em direção ao boneco. Era tão diferente; estranhamente lindo, artístico. Perguntou-se quanto aquilo havia custado, e provavelmente fora bem menos que custaria ter de abafar todos os escândalos com seu nome que estavam prestes a vazar. Nada que não recuperassem em algumas semanas.
Sem pensar mais, começou a derrubar os móveis que ficavam espalhados por ali. Alguns brinquedos de suas filhas surgiram pelo meio do caminho, assim como algumas coisas velhas, mas não se prendeu aos detalhes – precisava ser rápido, a barulheira finalmente chamaria a atenção dos seguranças.
Em poucos minutos, o cômodo estava totalmente revirado. Itens de vidro estavam estraçalhados pelo chão em volta do corpo de mentira, uma mesa de madeira estava com os pés para o ar, uma cadeira estava sobre a barriga do corpo, deixando claro a falta de vitalidade para que ninguém o tocasse fora do pescoço ou pulso tentando sentir sua pulsação.
Estava morto, e sua casa tinha claros sinais de invasão.
Morto. estava morto. Ele nunca mais voltaria, até que recebesse uma ordem para tal.
Morto.
O prefeito já havia visto aquilo acontecer há alguns anos, em um caso parecido. No entanto, nunca imaginou que chegaria aquele ponto – nunca imaginou que seria inútil àquele ponto. Havia se tornado tudo aquilo que repudiava; o corrupto ladrão que deixava o poder subir à cabeça. O desgraçado que largava a família em casa para tirar daqueles que já não tinham nada. Dono de um privilégio estonteante, mas que nunca era o suficiente. Roubava, roubava, roubava, dava um cala boca digno de pena para meia dúzia de eleitores e roubava mais. Nunca estava satisfeito. Alguém precisava pará-lo.
Ele precisava de ajuda. Precisava pular aquela fase.
Mas continuaria sendo um mentiroso. Não tinha salvação. Nem mesmo a morte lhe tiraria o peso de todos os erros que cometera, tampouco era sua garantia de que não os cometeria novamente. No fundo, sabia que seu próximo eu seria tão mau quanto o era agora.
Homens como ele nunca mudavam, mesmo que ganhassem uma vida nova.
— Adeus, , até nunca mais.
É, homens como ele nunca mudavam.
abriu a porta do escritório e deixou que o irmão e entrassem. Alguns minutos antes, o sargento havia ligado perguntando se poderia ir até sua casa, sabendo que o presidente estava de folga naquele dia, para que pudessem conversar e resolver as coisas entre eles finalmente. Sabia que algo estava errado, mas não fazia ideia do quê.
estava quieto e sério. Sentou-se numa das cadeiras do escritório e esperou que os irmãos fizessem o mesmo, sob um silêncio incômodo.
— Não estou aqui para brigar ou cobrar coisas de vocês. — começou, soltando um suspiro. — Para falar a verdade, estou aqui em consideração aos anos que nos conhecemos e fomos amigos. Sei que não somos mais nada hoje, nem mesmo próximos. Seria ridículo da minha parte fingir que ainda os quero em minha vida. Somos adultos, e está tudo bem se não quisermos mais falar uns com os outros. Mas vocês sabem que minha lealdade vai além disso.
— Você nunca vai superar o fato de que não queríamos você no meio de toda essa merda? — perguntou ácido, encarando o perfil do soldado. — Nós queríamos proteger você. Evitar que se afundasse e perdesse a carreira brilhante que tem.
— Me poupe, . — o cortou com a voz calma. — Não quero ouvir suas desculpas. Vocês sempre souberam que eu faria qualquer coisa para protegê-los, até mesmo arriscar minha carreira para que ninguém saísse prejudicado. E, de certa forma, estou fazendo isso agora. Minha carreira está por um fio.
— Conte-nos o que está acontecendo, Hobi. — pediu com a voz mansa, esticando a mão para o antigo melhor amigo e sendo prontamente retribuído. — O que você fez?
— Matei o homem de confiança de Hana, a chefe da corregedoria. — soltou de uma só vez, apertando ainda mais a mão de . Seu coração pesava toneladas naquele momento, o remorso o corroía por inteiro. — Não me olhem assim, já sinto culpa o suficiente. Não era para acontecer daquele jeito.
— Você precisa que eu o defenda? — se apressou, deixando todas suas barreiras despencarem devido à preocupação que o atingiu. — Sabe que posso montar uma defesa impecável baseada em legítima defesa ou qualquer coisa do tipo.
sorriu levemente e se virou para , desvencilhando-se da mão acolhedora de . Aproximou-se do advogado e suspirou, tentando não estragar tudo antes da hora. Estava disposto a contar tudo o que havia aprontado, mas o tom preocupado na voz de o quebrara em mil pedaços. Queria abraçá-lo e beijá-lo.
— Já consegui um acordo com Hana, e é por isso que estou aqui.
— Não importa, você sabe que pode ganhar qualquer causa. — se intrometeu, fazendo com que risse um pouco mais.
— Vocês sabem quem comanda vocês? — perguntou. — Tenho certeza de que sequer imaginam.
— …
— . — cortou os irmãos, que falaram ao mesmo tempo. — , o general das Forças Armadas de Seul. Ele quem comanda todo esse esquema. Ele decidiu a morte de . Ele montou tudo. E fugiu nesta madrugada.
Os irmãos ficaram chocados, digerindo aquelas informações. Definitivamente não esperavam por aquilo; achavam que obedeciam algum empresário poderoso, dono de algum partido. Qualquer um, até mesmo o próprio , menos .
— Vejam bem — voltou a falar —, eu não quero uma defesa. Meu acordo foi bom o suficiente para mim. Não vou negar para vocês, fui extremamente egoísta e não me arrependo. Era necessário. Ou eu fazia o acordo, ou morreria. Não só eu, minha família iria para os ares também. Foi um ato de necessidade, e eu não podia, nem queria, confesso, contar para vocês. Mas estou aqui agora, algumas horas antes de tudo explodir para o país inteiro.
— … — o chamou, olhando-o nos olhos. — O seu acordo… Por favor, me diga que seu acordo não era contar…
— Que estão envolvidos? — o sargento o interrompeu. — Não sou bom com mentiras, . Meu acordo era entregar todos vocês. E eu o fiz.
O silêncio que tomou o escritório era tenso, triste e ensurdecedor. Cada um com seus pensamentos, medos e lamúrias. Estava tudo acabado, haviam sido descobertos e entregues de bandeja para pessoas com mais poder. Perderiam tudo que haviam conquistado nos últimos anos.
afrouxou a gravata que usava e suspirou, bagunçando os cabelos. Estava apavorado, com ódio, nervoso. Queria explodir todos ao seu redor, queria que tudo não passasse de uma brincadeira maldosa do – mas, definitivamente, ele não era bom com mentiras, e aquilo não parecia uma.
Num ato automático, deixou que seu corpo se levantasse e voasse em direção a , socando-o no rosto e fazendo-o cair no chão com o impacto. O sargento deu uma risada fraca, lembrando da primeira vez que levara um soco do mais novo. Estavam brigando por alguma bobagem adolescente e simplesmente começaram a sair no soco como se aquilo fosse resolver alguma coisa. Foram separados pelo pai de e e acabaram ficando de castigo, trancados no mesmo quarto durante uma semana, já que moravam lado a lado e seus pais eram amigos de longa data, o que fez com que o castigo fosse apoiado rapidamente.
— Na última vez que me bateu assim, acabamos transando no seu quarto. — murmurou, cuspindo um rastro de sangue no chão. — Foi a noite em que você perdeu a virgindade, .
— E, mesmo sendo o amor da minha vida, você me entregou para a corregedoria. — rebateu, sentindo os olhos lacrimejarem ao mesmo tempo que o arrependimento o atingia com força. — Eu jamais teria te aguentando tanto se não te amasse, . E é assim que você me retribui...
— É meio tarde para falar de amor, . Eu tentei. Tentei te aceitar, te entender, te ajudar e tudo que você fez foi me afastar, me enganar e me procurar em suas noites solitárias quando ficava bêbado. Isso não é amor. E, ainda assim, estou aqui. Vocês têm duas horas para decidirem o que fazer, mas já estão proibidos de sair do país. Apenas assumam o que fizeram.
— O sabia? — perguntou ao notar que o irmão não falaria mais nada, já que havia voltado a se sentar e agora tinha as mãos na cabeça, deixando que as lágrimas rolassem livremente.
— , por favor.
— O sabia? — o repetiu.
— Ele apenas estava seguindo minhas ordens.
— Eu fui apenas uma missão para ele?
— Isso só o próprio pode responder.
— Não temos tempo para isso, irmão. — se intrometeu com a voz rouca e falha, tomando a pose de advogado novamente. — Chame os outros advogados da minha agência. Eles saberão o que fazer com seu caso, já que, provavelmente, você será julgado depois separadamente. Afinal, ainda é o presidente. Usarei essas últimas horas para montar uma defesa boa o suficiente para todos nós e a enviarei para meu melhor advogado, ao menos teremos a pena reduzida.
— Traidores… — murmurou. — Vocês são dois traidores! Tudo isso para quê, ? — gritou, se levantando e jogando a cadeira para trás. — Para comandar um batalhão? Por poder? Para inflar seu ego? Você era meu melhor amigo!
— Apenas siga tudo que seu irmão disser, . — murmurou, ignorando as palavras duras do amigo. Seus ombros já pesavam demais. — Um dia você irá entender minhas decisões, mesmo que não as aceite. Adeus, meu amigo. Desejo-lhe toda sorte do mundo. E … Eu… Bem, eu também te amei. Muito. Mais que tudo. Apenas aguente firme. Adeus.
estava sentado em frente às câmeras e a alguns poucos jornalistas quando chegou ao local marcado. O acordo era simples e claro: deveriam montar um arsenal com todas as provas que deixavam explícito a corrupção ativa e incalculável do atual governo sul-coreano para, em seguida, anunciar tudo em rede internacional, desmascarando todos os envolvidos naquilo tudo – com exceção de , que havia colaborado com as investigações e estava ali infiltrado, embora isso não fosse totalmente verdade. Acordo era acordo, no fim das contas. Mesmo que isso soasse como uma corrupção de menor escala – nada era 100% honesto no mundo.
Contudo, não estava nos planos que o transmissor de todas as notícias ruins fosse . Nem nenhum deles. Hana era a chefe da corregedoria, e ela que deveria explicar toda a situação para a população e mostrar que tudo estava sendo resolvido.
— O que está fazendo na frente das câmeras? — perguntou um tanto exaltado, logo indo em direção ao soldado, que parecia tranquilo.
— Ele quis falar. — Hana barrou a passagem do sargento. — Não vou impedi-lo de fazer história.
— Óbvio que não irá impedir! — exclamou com raiva. — Todo o foco ficará sobre ele e vocês, na corregedoria, sairão como os bonzinhos que apenas infiltraram soldados para descobrir um esquema que sequer faziam ideia que existia!
— Não se exalte, sargento. Sua parte já foi feita e estamos muito gratos com sua colaboração, agora precisamos que fique em silêncio. A transmissão começará em alguns minutos.
— Saia da minha frente, Hana. Preciso conversar com o soldado .
— Isso não será possível, sargento.
encarou a mulher e, sem se importar com nada ao seu redor, empurrou-a para o lado. Seguiu em direção a , que encarava o desenrolar da situação sem dizer uma palavra sequer.
— , você não pode fazer isso. — falou de uma vez, encarando o mais novo nos olhos. — Não deve se expor desse jeito, eles apenas querem alguém para fazer algo que é obrigação deles.
— Hyung, está tudo bem. — o soldado sorriu nervoso. — Quero fazer isso, eu mesmo pedi.
— Isso vai atrapalhar ainda mais sua situação com o . — o mais velho murmurou pesaroso. — Por favor…
— Infelizmente, não há nada que possamos fazer, hyung. não quer mais saber de nós, e não o culpo.
— Há mais alguma coisa que querem me contar sobre ? — Hana perguntou, parando ao lado dos dois militares.
— Não.
— Sim.
Responderam ao mesmo tempo, fazendo com que Hana os fitasse desconfiada.
fechou os olhos e engoliu a seco, nervoso. Não queria que o soldado contasse para aquela sanguessuga sobre o relacionamento íntimo que tinham; não queria que seu soldado e provável sucessor fosse humilhado e exposto por pessoas más e preconceituosas. Havia passado por aquilo no início de sua carreira e definitivamente não era algo bom, tampouco que quisesse que outros dos seus passassem. Não queria que ninguém passasse. Os xingamentos, as piadas ridículas e os olhares de nojo; não, definitivamente não queria que seu melhor soldado passasse por aquilo.
No entanto, parecia não se importar. Sabia o risco que estava correndo em contar aquele pequeno detalhe para Hana, mas simplesmente não conseguia mentir mais. Não fazia parte de seu ser esconder tantas coisas, enganar os outros à sua volta, roubar, ser corrupto. Queria fazer tudo certo daquela vez, mesmo que isso lhe custasse alguns anos a mais como soldado e algumas ofensas que poderia lidar como seu sargento fizera – com desprezo e olhares frios, intimidando os preconceituosos com sua inteligência e missões bem sucedidas.
— Estou esperando uma explicação. — Hana insistiu.
— , você não precisa…
— , o Presidente, é gay. — o soldado interrompeu o sargento. — Adivinhe com quem ele mantém um relacionamento há dois anos, Hana?
— Oh… — a mulher piscou os olhos rapidamente, digerindo o que acabara de ouvir. — Acho que isso pode ficar fora. A sexualidade alheia não importa, certo? Não fale sobre isso.
respirou fundo e encarou a câmera à sua frente, enquanto ajustava a postura e assumia a pose de militar que o momento exigia. Foi decidido que ele falaria somente o necessário: como havia sido convocado, quando descobriu toda a podridão e como foi ser um infiltrado junto ao seu mentor, . Deveria dar o máximo de detalhes possível, assim como os nomes de todos os envolvidos, valores que eram transferidos e outros crimes que cometeram.
Ele só precisava ser sincero e verdadeiro como sempre fora. Sem a manipulação com a qual fora treinado. Não deveria persuadir ninguém que estivesse assistindo; apenas tinha que falar e talvez responder algumas perguntas no fim de tudo.
Mesmo que seu coração estivesse apertado e dolorido; estava apunhalando o amor de sua vida pelas costas e não se arrependia, apesar de tudo – nem podia se arrepender, era o certo a se fazer. Seu relato levaria um pouco de esperança e educação política para a sociedade.
Uma contagem sussurrada ecoou pela sala, e o soldado sentiu que tudo estava ficando distante. Fingia que os olhares preocupados de não incomodavam e que a expectativa de Hana também não o irritava mais. Era apenas ele e a câmera ligada diante de seu rosto, transmitindo-o em rede internacional. Ao vivo.
— Olá, meu nome é e sou um soldado das Forças Armadas de Seul. — começou. — Recentemente fiz parte de uma missão confidencial e trabalhei infiltrado. Descobri coisas que me surpreenderam e decepcionaram ao mesmo tempo, assim como acontecerá com vocês. Hoje estou aqui para contar com detalhes o que acontece em nossa política. O parlamento não é tão honesto quanto gostaríamos. — sua voz falhou, obrigando-o a pigarrear. — Quando entrei para o exército e decidi seguir a carreira, prometi que jamais trairia meu país e minhas crenças. Jurei a mim mesmo que nunca, em hipótese alguma, mentiria ou enganaria meu povo. No entanto, o fiz. Menti, enganei, compactuei com coisas que fugiam de meus ideais e me envolvi com o que não deveria. Tudo por trabalho, por uma confissão. Nós estamos vivendo em uma teia de mentiras; está tudo errado em nosso país. Por conta disso, estou aqui, expondo minha carreira e minha vida em prol do meu trabalho e da minha sociedade, como prometido.
fez uma pausa e respirou fundo, ignorando o incômodo que tomara conta de seu corpo. À sua frente, o encarava com os olhos marejados; parte daquele olhar era de orgulho, mas o soldado conseguia sentir que a outra, a maior parte, era medo e arrependimento.
sentia-se culpado. E o era, de fato. A fim de salvar o próprio pescoço, entregou a todos. Contudo, não o julgava; faria o mesmo se estivesse naquela situação – já estava fazendo, na verdade. O arrependimento e medo de ambos eram palpáveis. Sabiam que estavam se livrando de qualquer mínima acusação possível sobre eles, enquanto os homens que amavam, seus amigos e companheiros estavam sendo entregues de bandeja para uma sociedade maldosa, forte e de mente fechada.
Era o fim de tudo. Mas era necessário, as pessoas precisavam saber.
— Há dois anos, fui convocado pelo General e pelo Primeiro-Sargento para uma missão especial. — voltou a falar. — Eu deveria, assim como todos os outros soldados, proteger o Presidente e toda sua família e amigos próximos. Éramos uma equipe forte e experiente. Nosso trabalho era ser os olhos de toda aquela gente, deveríamos protegê-los com nossas próprias vidas; os assassinatos de políticos estava em alta e tínhamos perdido uma figura importante para nosso país. Estávamos todos sensíveis e com ódio do assassino. Queríamos prendê-lo a todo custo, era nosso dever. Entretanto, não nos foi contado tudo desde o início. Eles precisavam manter o teatro, é claro. O primeiro nome que citarei é do mentor de todo esse plano desnecessário: , nosso querido e bem-sucedido General das Forças Armadas. Ele criou o Programa de Proteção ao Presidente visando, obviamente, proteger e cuidar de . Mantê-lo seguro era nossa prioridade, fomos fortemente treinados para qualquer situação de perigo que o presidente e sua família fossem expostos, mas tudo não passou de uma fachada, uma mentira. — finalmente esclareceu, sentindo o coração acelerar e os olhos marejarem. — , na verdade, estava tentando esconder o maior esquema de corrupção e lavagem de dinheiro que acontecia debaixo de nossos narizes. O esquema consiste em milhões de dólares sendo lavados e passados de conta em conta bancária, entre todos os envolvidos. oferecia proteção em demasia e, em contrapartida, recebia por isso, além de ameaçar e incentivar cada vez mais o uso desta proteção extra. As mortes anteriores à de foram brutais e tinham um perfil que consideramos fácil no início. Poderia ser algum tipo de psicopata ou terrorista, algo premeditado. E, de fato, foram, mas o assassino não é nada disso; sequer sabemos se, de fato, é apenas um ou não. A questão, meus amigos, é que: os assassinatos foram montados por , a fim de esconder que ele, junto ao presidente e seu irmão mais novo, havia iniciado o mecanismo de roubo mais complexo que já havíamos visto. Iniciaram juntos um marco inacreditável na política sul-coreana, destruindo uma parte de nossa economia tamanhos eram os buracos criados. Mas é claro que nada disso seria possível somente com um Soldado de alto escalão e o Presidente. e tinham o apoio de , que sempre fora responsável por limpar seus nomes e de quaisquer outros membros dos partidos envolvidos. — explicou. — , o assessor exemplar, o falso culpado de tudo isso. — frisou. — Lee Hyemi, sua namorada injustiçada e a secretária que tudo poderia resolver, e, obviamente, , o prefeito perfeito. Logo que descobrimos tudo, montamos um dossiê repleto de provas concretas contra todos os citados e hoje, após a entrega do dossiê, todos foram indiciados judicialmente. Todos. E isso nos leva a maior surpresa de todas.
fitou todos à sua volta e as expressões dos poucos jornalistas presentes eram de puro choque, enquanto a de era de profunda tristeza – podia jurar que vira um par de lágrimas descer pelas bochechas salientes do sargento.
entendia a dor que o mais velho sentia; seu peito estava tão apertado quanto. Havia se apaixonado perdidamente por , assim como amava , mas precisaram abrir mão daquele sentimento para que pudessem salvar todo um povo e suas próprias cabeças. No entanto, ainda estavam sendo solidários. estava foragido e provavelmente nunca mais apareceria, e era ele quem carregava toda a culpa. e os outros perderiam seus cargos altos e pegariam uma longa pena na prisão, porém não seria surpresa se eles fossem liberados da prisão em menos tempo do que o previsto. Se comportariam bem em celas afastadas e bem cuidadas, com regalias que nenhum outro civil comum teria. Eles ficariam bem e superariam aquele momento.
jamais conseguiria viver em meio a tantas mentiras. Precisava agir, por isso estava ali. O sofrimento era mútuo, mas ele sabia que sobreviveria. Aguentara muitas coisas; a dor de um coração partido por si mesmo não o derrubaria.
Saindo de seus devaneios, o soldado voltou a falar:
— As mortes foram forjadas. — despejou, e a surpresa à sua volta foi inevitável. — , Lee Hyemi e estão vivos. Com rostos e nomes diferentes, como se fossem pessoas comuns como qualquer um de nós. Nosso secretário de segurança, Kang Jonghyun, é na verdade . O casal problema não são figuras públicas. Tudo fora criado, premeditado e arquitetado nos mínimos detalhes. Pensaram em tudo. No entanto, o presidente não sabia que estava vivo no início. Ele pessoalmente me contou isso, e a história foi confirmada por fontes confiáveis. Durante todo esse tempo, choramos uma morte que nunca havia acontecido. Homenagens especiais, dias de folga, luto; vivemos tudo em vão. Nosso prefeito perfeito de Daegu sempre esteve vivo. Sua morte fora forjada pelo simples fato dele não saber se controlar em meio a tanto dinheiro e privilégio. Ele precisava parar de alguma forma. Sumir. E ele o fez. E continuou a comandar tudo com auxílio de . A essa altura, todos devem estar sendo detidos e levados para uma prisão de segurança máxima. Eu sinto muito por ter contribuído com toda essa sujeira, de alguma forma. Eu precisava fazer meu trabalho, precisava ajudar os meus, ajudar cada um de vocês. Eu sinto muito, mas o Programa de Proteção ao Presidente foi uma fraude. Nossos representantes são uma fraude, e nós precisamos superar e mudar isso. Precisamos ter consciência política e desconfiar de todos, precisamos nos manter firmes e resistir. Não se deixem enganar. Discutam política, pesquisem, estudem. Com determinação, poderemos começar a vencer esse mecanismo; isso é apenas o início. Corruptos não passarão por cima de nós. Falsos moralistas não passarão. Mentirosos não passarão. Meu nome é e sou apenas um soldado das Forças Armadas de Seul, que está abrindo mão de tudo para salvar minha nação.
E, num piscar de olhos, a câmera desligou e encerrou a transmissão ao vivo. Só então pôde sentir o peso e o alívio sobre os ombros; estava quebrado, mas feliz. Havia feito o certo, seguiu o que lhe fora ensinado e não ignorou sua moral. Fez o certo. Abriu os olhos do povo. Salvou a nação de mais uma eleição forjada. A Coreia do Sul estava, finalmente, sendo salva de verdade.
já estava de volta ao batalhão quando decidiu assistir aos vídeos das prisões da quadrilha que ele mesmo havia desmascarado. Seu quarto, assim como o batalhão inteiro, estava mais silencioso que o normal. Seus colegas não estavam por ali, e a única coisa que lhe fazia companhia era a televisão ligada num volume baixo.
O soldado sabia que também estava por ali, em algum dos alojamentos, fazendo o mesmo que ele: assistindo àquelas reportagens detalhadas e trechos de seu relato sobre o esquema de corrupção. Todos estavam presos e o país estava chocado com tamanha armação. Era tudo muito recente e revoltante. Muitos cidadãos estavam pelas ruas protestando contra a corrupção, fazendo arruaças e xingando a família , assim como tentaram atacar a esposa de – que parecia não saber de nada detalhadamente.
sabia que aquilo aconteceria e tinha certeza de que se fosse apenas um civil, um cidadão comum, teria aquela reação também. Sempre fora muito ligado às questões sociais e políticas de seu país. Sua adolescência se resumia a trabalhos do tipo em prol da escola, assim como fora representante de turma e presidente do Grêmio estudantil. Até descobrir a área militar e a admiração por e . Entretanto, tornar-se soldado não alterou em nada seus pensamentos. Sua virtude ainda era aquela: ser honesto e lutar por seu povo, por isso estava ali, por isso era o melhor no que fazia.
Ser o porta-voz dos menos favorecidos era seu maior sonho; e finalmente pôde realizá-lo, mesmo que seu coração estivesse destroçado, em frangalhos.
Com um suspiro, encarou a televisão novamente, onde mostrava o momento em que , o presidente, estava sendo levado pela polícia federal. Como se soubesse que o estava assistindo, encarou a câmera diretamente. Seu olhar carregava sentimentos diversos, o soldado notou. Tinha raiva, medo, arrependimento, desconfiança e descrença; era como se tudo ainda fosse um sonho para ele. Não conseguia acreditar que as pessoas mais próximas de si fizeram aquilo, mas a ficha cairia logo – teria de cair.
— Você deveria conversar com ele. — a voz embargada de ecoou pelo quarto, e o fitou. O sargento estava encostado no batente da porta do quarto, encarando-o com os olhos fundos e vermelhos. — Sei que não aprova esse tipo de atitude, mas é fácil de conseguir entrar lá com uma autorização com os federais. Até porque… Bem, você os entregou. Fez o trabalho completo.
— Você pretende ir até lá também e contar para que está chorando desde que saiu da corregedoria?
— Não me provoque, . Ainda sou seu superior.
— Pensei que fosse meu amigo também.
— Eu sou, por isso estou dizendo que deveria tentar falar com . Ele está sozinho, . Eu o entreguei, o abandonei. não pode ficar com ele. Os pais deles estão a ponto de condená-los. Não aceitam que os filhos chegaram a um ponto tão sujo.
— Ainda não é a hora, . — o fitou com pesar. — Ele não vai querer me receber.
— Ele quer te ver, .
— Como pode ter tanta certeza?
— Apenas conheço meu melhor amigo. Ou ex-melhor amigo.
— Você vai conversar com ?
— Se isso aliviar sua consciência, tudo bem. Mas não tenha tantas esperanças, eu e somos um pouco complicados. Somos diferentes de você e , garoto.
— Vocês se amam, hyung.
— Eu o amo, .
— Mas–
— Apenas aproveite a reciprocidade entre você e . Sua entrada no prédio dos federais já está autorizada para vinte minutos com ele. Não faça eu me arrepender disso. Apenas faça-o entender que agimos errado todos esses anos e você teve que consertar isso. Confio em você, soldado.
Ao terminar de falar, saiu do quarto, deixando o soldado para trás e totalmente perdido em seus pensamentos. O que deveria fazer? Dizer não? Ignorar seu coração martelando fortemente dentro do peito e implorando para que fosse tentar se explicar? Uma hora ou outra, teria que ouvi-lo, então que fosse naquele momento mesmo. Se nada desse certo, bem, ao menos havia tentado, não morreria em arrependimento por ter sido covarde – e covarde era a última coisa que seria naquela vida.
Em pouco mais de uma hora, chegou no local indicado e procurou o delegado que mandara. Com poucas palavras, foi levado até à sala onde estava.
A visão não fora das melhores, mas precisou manter-se forte. O agora ex-presidente tinha os ombros caídos, marcas de lágrimas secas nas bochechas e os cabelos desgrenhados. Parecia acabado, e sabia que ele estava completamente destroçado por dentro. Sua vida estava ruindo e ele não podia fazer mais nada, nem mesmo tentar se defender. Não tinha como se defender.
— O que está fazendo aqui, soldado? — a voz grave ecoou baixa na sala.
— Precisamos conversar, . — respondeu num tom calmo, enquanto sentia o coração bater na garganta, tamanho era seu nervosismo. — Estão te tratando bem aqui?
— E isso importa? — o ex-presidente respondeu com outra pergunta, finalmente erguendo o olhar para o mais novo.
A mágoa explícita em seu olhar fez com que o corpo de congelasse. Não estava preparado para aquilo; talvez tivesse sido melhor ter esperado uns dias para visitá-lo, mesmo que ficasse repetindo em sua cabeça que estava sozinho agora. O fato era que não tinha forças para encará-lo naquele momento, não daquele jeito. Na verdade, talvez ele nunca estivesse pronto para ver o amor de sua vida naquela situação, preso por inúmeras acusações que ele mesmo havia feito. Céus, era o culpado por aquilo, porém sequer conseguia sentir-se culpado de verdade.
— Você sabe que importa. — tomou coragem para olhá-lo. — Eu… realmente sinto muito por tudo que está acontecendo.
— Não, você não sente. — deu de ombros enquanto mexia nas algemas que prendiam seus pulsos. — Eu fui apenas uma missão para você. — afirmou. — Durante dois anos, nos quais cada segundo eu me apaixonava cada vez mais por você, fui apenas uma missão. Um trabalho dado a você pelo meu melhor amigo. Não sei onde estava com a cabeça quando confiei em vocês; um sargento corrupto em potencial e seu soldado de confiança.
— Você precisa nos entender, . — suspirou. — Não podíamos deixar que tantas pessoas fossem enganadas assim. O mundo inteiro conhece você e seus homens, era injusto. Nosso trabalho é manter a ordem e paz, proteger as pessoas e dizer somente a verdade. Nós temos um juramento.
— Fale apenas por você. — o encarou com firmeza. — sempre foi ambicioso, sempre quis tomar o lugar de . Sempre foi tão corrupto quanto eu. Ele somente te usou para me colocar aqui e fazer com que o general sumisse por aí. Se ele não tivesse matado aquele homem, acha mesmo que estaríamos nessa situação? Acha que sua missão seria ficar em meu encalço e criar um arsenal de provas contra mim?
— Não fale como se não estivesse doendo em também, nem o julgue dessa forma. Sabe mais do que eu que ele jamais faria isso se tivesse outra opção. Você não sabe o que ele ouviu ou passou, . E se não fosse ele a me dar a missão, seria Hana. Ou qualquer outra pessoa. Talvez eu mesmo. Nunca lhe escondi meu descontentamento com a situação, nunca fui a favor das falsas mortes e sempre deixei claro, desde minha primeira descoberta, que minha maior vontade era entregar a todos. Nós erramos, . Vocês mais do que todos. Sorte sua que fui eu a consertar isso, não um revoltado qualquer que queria sua cabeça.
— E você acha que estou mais seguro aqui, que as pessoas irão me perdoar? Mesmo que eu seja punido e passe o resto da vida na prisão, serei conhecido historicamente como o presidente sul-coreano que tinha o melhor governo, mas jogou tudo pelos ares por corrupção ativa e lavagem de dinheiro. Eu deveria te agradecer por isso?
— Por que não pensou nisso antes? O povo não está errado em condená-lo, nem eu por entregá-lo.
— Vá embora daqui, .
— Precisamos conversar sobre nós. — o soldado finalmente disse, fazendo com que o outro soltasse uma risada irônica.
— Nós? — perguntou. — Não existe nós, . Nunca existiu.
— Nem sempre o amor é sobre fazer tudo pelo outro, . Eu entendo que está magoado e não irei julgá-lo por isso, mas quero que entenda que eu jamais passaria por cima de meus próprios valores para vê-lo feliz. Quero dizer, nesta situação, roubando e enganando. Em qualquer outra, talvez eu o fizesse em partes. Mas, nesta situação, nunca. Você está errado e precisa entender isso. Vim até aqui para dizer que, mesmo com tudo isso acontecendo e depois de cada palavra que disse naquela transmissão, eu amo você. Fiz isso por amor, eu juro. Poderia ter largado a missão e tê-la entregue a qualquer outro soldado capaz de executá-la, mas eu continuei. Continuei porque queria, ainda quero, que você perceba o quão errado agiu, como foi injusto com as pessoas que confiaram em você, seus eleitores, sua família, seus amigos. Eu não vou lhe deixar só porque está preso, pelo contrário, estou aqui com você para o que der e vier; ainda acredito nas pessoas e na redenção. Apenas quero que se conscientize de tudo o que fez, quero que assuma as responsabilidades e lembre-se de cada pessoa que morreu por intermédio seu. Quero que aceite sua punição e perceba que isso é para o seu bem, para que você se transforme em um ser humano melhor. Não irei lhe dar as costas; também errei, também acobertei muitas coisas, enganei pessoas à minha volta e matei de forma direta. Não sou tão diferente de você, porém pude me redimir comigo mesmo, e essa foi a melhor coisa que fiz. Permita-se a isso também.
— Vá embora, !
A voz cansada de ecoou quase como um sussurro irritado, e ele já não mais encarava o soldado em sua frente. Seu coração estava apertado e mandar aquele homem embora doía como o inferno, mas não tinha forças para encará-lo. Estava cansado, não queria palavras de consolo. Sabia que havia errado. Queria que fosse como qualquer outro ser humano normal, que lhe apontaria o dedo e iria embora. Queria sentir-se sozinho, não todas aquelas sensações de estar descendo de uma montanha-russa por conta do soldado e suas palavras doces demais para o momento; era um crápula, não merecia tamanha compaixão. Havia destroçado seu país por ser dono de uma ambição sem fim. Queria subir cada vez mais, ganhar cada vez mais, e agora estava ali, numa prisão federal. Não merecia alguém como , tampouco conseguia entender como ainda sentia algo pelo soldado, sabendo que ele havia o exposto para todo país algumas horas atrás.
Talvez o amor fosse mesmo daquele jeito, e, como o próprio disse, nem sempre era sobre fazer tudo pelo outro.
estava confuso.
— Tudo bem, estou indo. — murmurou com a voz cortada e claramente engolindo a seco, tão nervoso quanto o ex-presidente. A carga emocional da conversa havia sido alta demais para ambos. — Não irei deixá-lo sozinho, . — o soldado sussurrou, aproximando-se do mais velho. — Tenho certeza de que irá me entender um dia, assim como entendo você. Não se esqueça que também me apaixonei perdidamente por você e estarei te esperando.
Ao finalizar, selou seus lábios num beijo leve, uma despedida – um até breve. Foi o suficiente para perceber que também o amava, e não importava o que haviam feito; seus corações batiam um pelo outro, como se fossem um só.
Afastaram-se após alguns segundos, tontos com a sensação das bocas coladas depois de tanta coisa.
— E se eu levar dez anos para sair daqui? — perguntou, sem coragem para abrir os olhos.
— Eu ainda vou estar esperando. — o soldado respondeu baixinho, roçando seus lábios. — Não importa o tempo que leve, estarei te esperando.
— Eu não mereço.
— Todo mundo merece uma segunda chance, .
— Eu te amo, garoto.
— Eu também te amo, hyung.
Olharam-se nos olhos por mais alguns instantes e, após mais um beijo rápido, saiu da sala com passos vacilantes e os olhos lacrimejando. No fundo, sabia que não sairia dali tão rápido. Mas continuaria esperando.
Amor, na verdade, era exatamente sobre fazer tudo um pelo outro; incluindo salvá-los de si mesmos.
Fim
Nota da autora: E foi isso hahaha eu espero que não tenha decepcionado ninguém, essa história saiu exatamente como eu montei lá atrás, quando tive o plot. É bem curtinha mesmo, foi só pra colocar pra fora um assunto que eu gosto de discutir e escrever sobre: política. E eu sempre imaginei Kim Namjoon como um presidente visto sempre como O honesto. Mas também sempre penso em como a política e as ambições do ser humano podem corromper alguém bom; acontece o tempo todo. Mas e aí, alguém esperava que o General Kim Seokjin seria um deles? Ou pior: o mandante de tudo? Hahaha essas coisas sempre tem um cérebro em questão, e eles todos precisam de alguém de cargo alto para dar suporte e segurança, né? hehehe E em relação ao Yoongi, desconfiaram? Enfim! Espero de verdade que tenham curtido :D até a próxima!
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Caso não esteja vendo a caixinha de comentários, você pode acessá-la por aqui.
Caso não esteja vendo a caixinha de comentários, você pode acessá-la por aqui.