Fic finalizada

Capítulo único

Em frente ao espelho do corredor da casa de , ajeito, mais uma vez, minha gravata borboleta. Escuto as meninas rindo de alguma coisa, dentro do quarto dela, e sorrio, mesmo que estejamos atrasados e elas não pareçam estar se esforçando para ficar prontas e sairmos logo para a festa. Elas estão se divertindo, afinal, e esta noite é para isso mesmo!
Caminho até a sala, decidido a aguardar sentado, mas as fotografias em porta-retratos brilhantes na estante, arrumada com todo o cuidado pela Sra. , chamam minha atenção. Não importa que eu já tenha visto cada uma delas antes, muitas e muitas vezes.
Há uma foto de todo o nosso grupo de amigos, em uma praia da Califórnia, onde passamos as férias de verão, alguns anos antes. Eu tinha apenas quatorze anos e ficava olhando, vidrado, garotas que provavelmente já tinham mais de vinte, andando pelo calçadão, com seus corpos torneados, e seu riso fácil, exibindo dentes brancos em contraste com a pele bronzeada.
Às vezes eu, Bruce e Dean tentávamos pegar onda ou jogar vôlei de praia, e aproveitar para começar alguma conversa com elas, mas tudo o que conseguíamos era ficar com as costas queimadas demais, por nunca nos lembrarmos de usar protetor solar. , Ashley e Isobel debochavam e fingíamos não ligar, mas a verdade era que a gente nunca teve mesmo a menor chance com aquelas meninas mais velhas, ainda que elas também nem sempre conseguissem a atenção dos surfistas profissionais ou dos salva-vidas em quem estavam claramente interessadas.
Na imagem, envolta por uma moldura prateada, estamos todos rindo. Ela deixa claro, para quem quiser ver, o quanto curtimos aquelas férias, mas eu nem precisaria dela para me lembrar. Aquele foi um dos muitos momentos que passei com meus melhores amigos e que sempre farão parte de nossas memórias mais especiais. Mesmo que estejamos prestes a começar o que chamam de vida adulta, e que a maioria de nós vá passar a se encontrar apenas uma ou duas vezes por ano, jamais vamos perder tudo o que vivemos juntos.
? Vamos? — me chama e suponho que não seja a primeira vez. Ela sorri, com aquela cumplicidade que sempre tivemos, mesmo quando éramos apenas melhores amigos, e que só aumentou quando nos tornamos algo mais. Ela sabe que estive perdido em pensamentos.
— Vamos — respondo. — Você tá linda!
— Obrigada. – Ela ainda fica um pouco surpresa e sem jeito cada vez que a elogio dessa forma. Penso em beijá-la, mas sei que vou deixá-la ainda mais envergonhada se fizer isso, pois em algum momento os pais dela também chegaram à sala e a mãe está com o celular na mão, preparada para tirar algumas fotos que provavelmente também estarão em porta-retratos espalhados pela casa, em breve.
Seus pais sabem que estamos ficando, mas, por não termos oficialmente nada, agimos como se não soubessem. Por isso também não dou a mão a ela, quando finalmente nos despedimos da família, seguindo para o carro, depois de muitas poses em grupo.
Ela se acomoda no banco do carona, ao meu lado, e Isobel e Ashley, no banco de trás. Normalmente não me incomodo em ser o motorista das meninas, mas ainda quero muito beijar e dou a partida no carro um pouco chateado por não encontrar uma boa oportunidade, em meio à tagarelice das três. No entanto, quando Isy menciona casualmente a Universidade de Chicaco, lembro-me de que ela e Ash escolheram encontrar seus acompanhantes apenas no baile por quererem aproveitar aquela última oportunidade de se arrumar todas juntas na casa de , e fico feliz em ter minhas melhores amigas ali comigo.
Dirijo mais devagar e faço o caminho mais longo, torcendo para que elas não percebam, pois não sei se teria coragem de confessar que quero aproveitar cada segundo que puder ter com elas. Durante o percurso, me divirto com as três interpretando Look what you made me do, e quando Isy começa a cantar o refrão de There’s nothing holding me back aos berros, faço cara feia, tapo um dos ouvidos e mexo no celular, trocando Shawn Mendes por Arctic Monkeys só para irritá-la, porque no fundo vou sentir muita falta de sua desafinação engraçada.
Ocupo uma das poucas vagas ainda disponíveis no estacionamento do colégio, e vejo Dean sair do carro dele e abrir a porta do carona para Summer. Ele está se esforçando para ser o melhor par possível para a garota, depois de ter pisado na bola ao beber demais na festa de aniversário da irmã dela e vomitar no tapete persa de seus pais.
Bruce só chega por volta de quarenta minutos depois, quando Ash, Isy, e Summer estão aproveitando a pista de dança, ao som de Worth it, e eu, Dean e o namorado de Ashley estamos rindo de uma história que Guy está contando. Ele nos cumprimenta, mas não esconde o mau humor. Finjo que não percebi nada e continuo ouvindo a narrativa hilária do acompanhante de Isobel, afinal não tenho culpa se meu amigo preferiu ir ao nosso baile de formatura sozinho e deixar outro cara levar a garota de quem ele não admite gostar.
— Aí estão vocês! — As meninas nos encontram, um tempo depois, próximo à mesa das bebidas. Ash beija Jimmy, e Summer abraça Dean, descansando a cabeça em seu ombro.
— Vem! Vamos dançar! — Isy puxa Guy pela mão, sem dar chance ao rapaz de protestar. apenas sorri e entrelaça os dedos nos meus, fazendo um convite silencioso.
Por mais que eu queira uma coca-cola gelada e não goste nem um pouco de dançar, não posso resistir ao seu olhar, e estou ainda mais interessado em sentir o gosto dos seus lábios do que o do refrigerante. Assim vamos parar no meio da pista de dança, onde a abraço por trás e tento acompanhar seu ritmo.
Canto um trecho de Shape of you em seu ouvido*1 e ela me provoca um pouco, aproximando ainda mais seu corpo do meu, mas, não querendo fazer uma cena no meio do ginásio que virou salão de festas por uma noite, ela gira em meus braços e me dá um beijo rápido. O sorriso que ilumina todo o seu rosto é como uma promessa e, enquanto a canção continua e ela volta a dançar, experimento um misto de sentimentos: quero aproveitar cada milésimo de segundo daquele momento único que está sendo a nossa despedida do ensino médio, mas também estou louco que o baile acabe para ficar sozinho com e surpreendê-la.
A pista de dança enche ainda mais quando Wake me up sai dos potentes autofalantes estrategicamente posicionados em vários lugares do ginásio, e o clima esquenta quando as meninas rebolam, estimuladas por Rihanna e Drake*2. Imagino que o pessoal vai desanimar quando começam músicas como Take on me e Wannabe que o DJ combinou de colocar quando contratado, em razão de o tema da festa, escolhido pela diretora, ser Anos 80 e 90, mas pouca gente escolhe se sentar.
As meninas não se cansam de dançar, e eu e os outros caras passamos um bom tempo juntos, usando velhas máquinas de jogos de arcade que fazem parte da decoração e do entretenimento. Dean, Jimmy e eu nos divertimos mais com a disputa insana entre Guy e Bruce do que com os próprios jogos, mas só até a rivalidade extrapolar os limites, e Bruce chutar uma cadeira e quase atingir alguém que passava, inconformado por Guy ter levado a melhor.
— É só um jogo bobo de kart, cara — digo ao meu amigo, quando consigo arrastá-lo para uma mesa e afastá-lo do inimigo.
— Esse moleque é um babaca, ! — ele bufa, arrancando a gravata, que enfia de qualquer jeito no bolso do paletó.
— O cara é maneiro – afirmo. — E você saberia disso, se não estivesse jogando pra cima dele uma culpa que é sua.
— Fala sério! — Bruce praticamente cospe, mas logo vejo seu semblante mudar, e a raiva dar lugar ao abatimento. Acompanho seu olhar e encontro as meninas em um canto, conversando e rindo.
— Não estraga ainda mais sua última festa da escola, arrumando briga! E vê se aproveita essa última semana aqui pra consertar a burrice de não ter convidado a Isy pro baile, chamando a garota pra sair, antes que ela resolva namorar...
— Você acha que ela vai namorar esse cara? — indaga, preocupado.
— Não se ela souber que você também gosta dela — garanto e ele suspira.
— De que adiantaria? Na semana que vem cada um de nós vai estar morando numa cidade!
Observo as meninas, preferindo não encarar meu amigo, que passa a mão no rosto, desiludido. Sei o quanto foi difícil para ele admitir finalmente seu interesse por nossa amiga de infância, e entendo totalmente sua frustração em saber que eles agora passarão a maior parte do tempo a quilômetros e quilômetros de distância um do outro. Foi por causa da mudança iminente de que eu e ela também evitamos falar sobre sentimentos e compromisso, durante as últimas semanas.
Minha garota me pega no flagra e vem ao meu encontro, sentando-se em meu colo e me dando um beijo.
— Ei, você — diz, brincando com o botão da minha camisa.
— Ei, você — repito, apertando a ponta de seu nariz, e ambos sorrimos.
— Boatos de que vão anunciar o rei e a rainha do baile agora.
— É a nossa deixa pra ir embora? — questiono, esperançoso. Já aproveitei bastante com meus amigos e estou ansioso pelo gran finale que preparei para nossa noite.
— É claro que não. É a deixa pra gente se preparar pra dançar juntinhos, de um jeito bem romântico. — está animada para a parte da música lenta e eu entendo sua euforia, visto que ela não sabe o que planejo para o pós-festa.
Espero, sem prestar atenção, enquanto a diretora sobe ao palco e discursa sobre nossos anos de High School e o futuro brilhante que nos aguarda, além de anunciar a nada surpreendente nomeação do casal real, formado pelo capitão do time de futebol e por uma das líderes de torcida. Coloco meus braços em volta de e apoio o rosto na curva de seu pescoço, sentindo um cheiro gostoso que eu não sei identificar em sua pele.
Estou quase em um transe, lembrando dos dias que antecederam o baile, da empolgação das garotas quando conversavam sobre seus vestidos, acessórios e maquiagem, de falando algo sobre usar o perfume francês novo da mãe, e do dia em que ela me convenceu a comprar uma gravata lilás, para combinarmos perfeitamente. Então ela se move em meu colo, escuto a versão original de Every breath you take e sei que é o momento de nos juntarmos à realeza no centro do ginásio.
Fico aliviado por não ser necessária nenhuma técnica para dançar músicas como a do The Police e as que tocam na sequência, uma mistura inusitada de sucessos das décadas de oitenta e noventa com baladas atuais. Abraçados, nos movemos bem lentamente, e fico feliz porque sei que a noite do nosso Prom está sendo do jeito que imaginou que seria... e porque ela não tem ideia do quanto será ainda melhor!
O DJ toca a saideira por volta de quinze minutos depois, mesmo com a galera protestando muito. Trata-se de uma festa no colégio, afinal, com muitos menores de idade presentes, e uns poucos adultos responsáveis por vigiá-los e garantir que não saiam da linha. É quase uma tradição que termine cedo.
— Você vai mesmo depois de amanhã? Que doideira é essa, cara? — pergunto a Bruce, quando ele me dá um abraço, depois de já ter se despedido de quase todo mundo. Estamos reunidos em uma pequena roda, no estacionamento, falando sobre planos para a última semana de todos em Mansfield. Dean acabou de me falar sobre a recém-descoberta intenção do nosso amigo de apressar sua mudança para New Haven.
— Vai ser melhor assim — ele confirma, e percebo que está segurando a emoção. — Eu não gosto de despedidas. E já tivemos uma boa dose disso hoje.
Ele dá um beijo no alto da cabeça de e vai em direção à picape do pai. Uma menina do segundo ano está à sua espera, encostada na porta do motorista, que ele abre, com um sorriso safado no rosto. Não me surpreendo, pois sei que ele não lida bem com sentimentos e os encobre com sexo, sempre com uma garota diferente a cada oportunidade.
Após decidirmos nos encontrar em uma pizzaria no dia seguinte, Dean e Summer vão embora no sedan que ele ganhou ao ser aceito em Harvard, e Jimmy e Ash pegam carona com Isy e Guy. e eu entramos em meu carro, e eu coloco no spotify a playlist especial que preparei para esta noite, aproveitando para mandar uma rápida mensagem de whatsapp.
Ela não estranha a escolha de músicas românticas e cantarola as primeiras cinco que tocam, mas começa a ficar impaciente depois de um tempo. Observa o caminho e olha para mim, repetidas vezes, como se quisesse algum tipo de pista, até que eu não seguro uma gargalhada.
— Pra onde a gente vai, ? — Ela está curiosa, porque, depois de termos sido informados de que a festa terminaria às onze, eu apenas pedi a ela que perguntasse aos pais se podia chegar um pouco mais tarde. — O mais tarde dos meus pais não é tão mais tarde assim pra gente sair da cidade!
— É surpresa, mas logo você descobre. — Rio da careta que ela faz, insatisfeita com a resposta. Pego sua mão e dou um beijo nela, sem tirar os olhos do caminho. — Faltam uns cinco minutos.
Ela esquece um pouco a ansiedade de chegar logo, e para de olhar para o relógio e se incomodar com o tempo que estamos perdendo no deslocamento, quando Photograph começa a tocar. Relaxa no assento do carona, encostando a cabeça e fechando os olhos para curtir a melodia e a letra, e quando volta a abri-los estamos pertíssimo, em uma parte do percurso que entrega totalmente nosso destino.
— Eu não acredito, ! — declara, animada. — Como você...? O pai do Joel ainda trabalha aqui?
— O pai do Joel e o Joel administram isso aqui agora — confirmo sua suspeita, já passando por uma placa que indica que entramos no local.
Trata-se de um parque ecológico junto ao lago Charles Mill, utilizado para pesca e recreação, que eu, ela e nossos amigos frequentamos durante boa parte de nossa infância e no começo da adolescência. À noite ninguém costuma usar o espaço, não havendo sequer iluminação, mas meu amigo não só concordou em me deixar passar um tempo com lá, como me ajudou, deixando o ambiente, já naturalmente lindo, ainda mais acolhedor.
Viramos em uma última curva dentro da reserva, e perde o fôlego ao ver o píer do qual tantas vezes mergulhamos, junto com Dean, Bruce, Isy e Ash. Ao longo de toda a estrutura de madeira, Joel prendeu algumas tochas de bambu e a namorada dele, Glory, completou o visual com flores de várias espécies e cores. Eu mesmo fico impressionado, ainda que tenha combinado tudo com eles, e que Glory tenha me mandado algumas fotos, quando o lugar estava pronto.
— Vamos? — convido, depois de estacionar meu carro. Ela está paralisada e, neste momento, espero não ter exagerado.
— Você fez tudo isso pra mim? — pergunta, emocionada, e eu seguro seu rosto entre as mãos, olhando em seus olhos, com determinação.
— Tudo isso e mais! Vem! — Dou um beijo rápido em seus lábios e saio do automóvel, mas não sem antes pegar o celular e uma mochila que deixei no banco de trás. se junta a mim, depois de tirar os sapatos de salto alto e deixá-los dentro do veículo.
Caminhamos de mãos dadas até o final do píer, onde meus cúmplices colocaram um futon do tamanho de uma cama de casal com algumas almofadas espalhadas sobre ele, e um cobertor dobrado no centro. Já estamos no verão e a noite está quente, mas eles insistiram em nos deixar preparados para alguma corrente de ar. Claro que sei que a razão para colocarem uma coberta no cenário não é a possibilidade de vento, mas Glory apenas quis ser discreta, e Joel não implicaria comigo na frente dela, sendo o assunto a minha vida sexual – e a de !
Ao lado do futon, há um balde de gelo com duas taças longas e uma garrafa de espumante que meu pai aceitou comprar para mim, depois que prometi beber apenas isso, e expliquei que dividiria com e que o objetivo era fazer um brinde especial. Também há uma caixa com morangos, uvas e chocolates que Glory me convenceu a deixá-la comprar, ainda que eu tenha falado que haveria comida na festa.
Não é uma questão de se vocês vão estar com fome ou não. Essas coisas são uma delícia e combinam com a bebida e com todo o resto, foi o que ela disse.
contempla a paisagem e sorri, provavelmente não só por ser extremamente bonita, com a lua cheia no céu e milhões de estrelas bastante visíveis, graças à pouca luz, mas também por ter feito parte da nossa história. Nós brincamos muito e fizemos vários piqueniques com nossas famílias, em volta desse lago. Ela aprendeu a boiar com o pai nessas águas, e eu tive lições de pescaria com meu tio Walter em suas margens, com ela sempre assistindo a tudo, atentamente.
São muitas recordações e ela nem sabe de tudo!
Enquanto ela olha em volta, de costas para mim, coloco Can’t help falling in love para tocar e pego algo em minha mochila, que escondo colocando a mão para trás, antes de me aproximar dela.
— Posso ter a honra desta dança, senhorita? — pergunto, com os lábios bem próximos de seu ouvido.
— Nós já dançamos... — ela responde, virando o corpo em minha direção, mas eu interrompo seu raciocínio.
— É tradição dançar depois da coroação da rainha do baile — afirmo, colocando uma tiara em sua cabeça. É de plástico e minha irmã usou em uma festa à fantasia, mas acho que o importante é o simbolismo, então deve servir.
— O que é isso, ? — ela questiona, tateando o objeto e rindo.
— Dizem que toda garota quer ser a rainha do baile, e eu... Eu só quero que essa noite seja perfeita pra você!
— Você é demais, sabia? — Ela acaricia meu rosto e eu seguro sua cintura. — Na verdade, eu não sei bem se gostaria de ser rainha do baile. Acho que eu ficaria com tanta vergonha que não curtiria o momento, entende? Já aqui, com você... É realmente perfeito.
Ela deita a cabeça em meu ombro e dançamos, como na festa. A música termina e outra começa, e eu canto em seu ouvido que não deixarei nada levar embora o que está na minha frente... Que cada suspiro... Cada momento trouxe a isso*3.
— Foi aqui, nesse mesmo lugar, que eu percebi que tava me apaixonando por você — declaro, e ela se afasta um pouco, para me encarar.
— Apaixonando? — pergunta, hesitante. Não sou um cara inseguro e acho que ela também está apaixonada por mim, mas me dou conta de que, se estiver errado, esta noite pode acabar comigo passando vergonha.
— Sim, eu sou louco... perdidamente apaixonado por você, — confirmo. Nunca desistiria de seguir em frente com meus planos por covardia. — Eu percebi há mais ou menos um ano.
— E por que você esperou tanto? — ela parece viver um conflito e eu entendo o por quê. Em pouco mais de uma semana, ela estará em Nova Jersey. Graças ao desempenho incrível como tenista, ganhou uma bolsa de estudos integral em Princeton.
— Eu não sei — digo a verdade. — Talvez eu tenha tido medo de estragar nossa amizade. Eu não sei mesmo.
... — Ela se afasta um pouco mais de mim e baixa a cabeça, ao invés de me olhar, mas segura uma de minhas mãos. — Eu amo você. Eu achava que era só amizade, que eu tinha ciúmes de você só por causa da amizade mesmo, sabe? Eu não me dei conta, até a gente se beijar naquela festa, mas agora eu sei que eu te amo há muito tempo. — Ela me olha rapidamente, mas então suspira e desvia o olhar de novo. — Só que...
— Ei! — levanto o queixo dela com um dedo, fazendo com que me encare, e não a deixo dizer tudo o que gostaria, pela segunda vez na noite. — Não diz mais nada ainda, por favor. Vem aqui comigo.
Nos acomodamos no futon e eu pego a garrafa de espumante. provavelmente pensa que eu quero curtir a noite, antes de ela falar o óbvio sobre estar indo embora e como são problemáticos os relacionamentos à distância, mas mesmo assim ela pega as taças e as segura, para que eu nos sirva a bebida.
— Eu quero fazer um brinde — falo, calmamente, já segurando minha taça. — Primeiro, pela nossa formatura. Eu nem posso acreditar que sobrevivi às aulas de química e às provas do Sr. Trudy! — Rio e ela também, mesmo que esteja visivelmente tensa ainda. — Segundo, porque você vai realizar seu sonho e ir pra Princeton, apesar de isso não ter sido nenhuma surpresa pra mim. — Ela sorri e me dá um beijo, e eu aproveito para enfiar a mão livre em minha mochila e pegar um envelope. — E terceiro... por isso.
Ofereço o envelope a ela, que coloca a taça no chão e praticamente o puxa da minha mão. Seus dedos estão tremendo, mas ela consegue abrir o envelope e retirar o papel de dentro, no qual está estampada a minha aceitação como professor auxiliar de francês em uma escola de Nova Jersey. Era o que eu precisava para poder estudar também em Princeton, que me concedeu uma bolsa de cinquenta por cento, sendo que meus pais não teriam condições de arcar sozinhos com a outra metade das mensalidades, além dos gastos com moradia e tudo o mais.
— Agora eu posso te pedir, ... — Sinto a garganta seca, então bebo um gole da bebida, antes de colocar a taça de lado. Minhas mãos estão suando, em razão do nervosismo, por isso seco ambas em minha calça. — Você quer ser minha namorada?
Ela literalmente se joga sobre mim, me derrubando no futon, enquanto dá beijos em todo o meu rosto, me fazendo relaxar e rir. Envolvo seu corpo com os braços e capturo sua boca, em um beijo lento e profundo. Rolamos sobre as almofadas, trocando carícias, e logo ficamos nus, com o cobertor comprado por Glory sobre nossos corpos.
Não é a nossa primeira vez, mas é a mais especial até agora. Talvez faça diferença sermos namorados, termos certeza sobre os sentimentos um do outro, sabermos que não nos separaremos em um futuro próximo. Talvez o lugar influencie e também o gosto de chocolate nos lábios dela, quando transamos pela segunda vez, depois de comer, beber e conversar sobre os lugares que queremos conhecer em Nova Jersey juntos.
Contudo não importam muito as razões. O fato é que a noite é perfeita, exatamente como eu imaginei que seria. Na realidade, até mais.
— Tá ficando tarde, e eu tenho que levar você pra casa, princesa — digo, após constatar que são quase duas da manhã, e ela resmunga em protesto. — Não quero ter problemas com os seus pais justamente agora.
— Você tem razão — responde, mas continua deitada ao meu lado, com a cabeça em meu peito.
— Eu prometo que amanhã eu vou bem cedinho pra sua casa, a gente leva o Stark pra passear, e depois eu ainda te ajudo a limpar a piscina — apelo, sabendo que ela é responsável pelas duas atividades e detesta fazê-las sozinha.
— E você faz aqueles cookies de blueberry pra mim? — pede, com um olhar que faria inveja ao Gato de Botas, e eu só consigo sorrir e balançar a cabeça, fazendo sinal positivo. Se eu já preparava para ela os biscoitos que aprendi com a minha mãe, quando ela era só minha melhor amiga, como conseguiria dizer não agora?
— E brownie também, se você quiser. Tudo pra deixar a minha namorada feliz — ofereço, beijando seus lábios, antes de lhe entregar o vestido e pegar minhas roupas, a fim de nos arrumarmos para ir embora.
Provavelmente se Dean, e principalmente Bruce, nos vissem aqui agora, diriam que estou sendo meloso demais, e que minha vida está parecendo uma daquelas comédias românticas bem água com açúcar das quais só as meninas têm autorização para gostar.
Talvez eu fingisse concordar com eles e até dissesse que fiz tudo isso apenas por , mas quer saber? A verdade é que eu, , não poderia estar mais feliz!

Notas:

*o trecho que imaginei foi: Girl, you know I want your love / Your love was handmade for somebody like me / Come on now, follow my lead / I may be crazy, don't mind me (voltar)

*referência a música Work(voltar)

*se refere ao seguinte trecho: I will not let anything take away / What's standing in front of me / Every breath / Every hour has come to this - música A Thousand Years (voltar)


Fim



Nota da autora: Sem nota.





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