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Última atualização: 23/03/2021

Prólogo

No aeroporto internacional de Manaus, uma jovem corria ofegante pelo saguão carregando um malão de couro enorme e uma mochila vermelha caindo do ombro. Dois homens na casa dos 30 e poucos anos corriam sem fôlego em seu encalço, os cabelos negros e compridos de um deles voando com o vento. Black precisava chegar ao portão de embarque em dez minutos ou perderia o vôo tão esperado para Londres, Inglaterra.
— Anda... logo... vocês dois! — ofegou a morena, tirando os cabelos compridos do rosto e ajeitando a mochila nos ombros.
—Você se esquece que... não temos mais... Quinze anos! — respondeu um dos homens igualmente sem fôlego, segurando uma gaiola com um papagaio tagarelando dentro. — Cala a boca, Jack!
Os três chegaram ao portão exaustos, curvando-se para regular a respiração. deu uma espiada no relógio em seu pulso, e seu pai puxou o relógio de bolso antigo da sua família; ainda tinham cinco minutos sobrando, o que a fez sorrir de satisfação. O homem a olhou por longos segundos, com um sorriso triste no rosto. Passara anos de sua vida longe da garota, agora teria que deixá-la partir por mais um bom tempo para um lugar onde ele sabia que ele e o amigo ao seu lado não eram bem-vindos. Mas a felicidade dela era tudo o que mais importava no mundo para ele, e sempre fora o sonho da garota conhecer a Escola de Magia e Bruxaria Hogwarts onde ambos estudaram e se tornaram os bruxos que eram hoje em dia. Já tiveram dias melhores, ele admite, mas também tiveram muitos piores e o homem se arrepiava só de lembrar deles.
— Tchau, tio! — a garota jogou os braços em volta do homem alto e esguio, cujo rosto marcado por cicatrizes sorria com ternura para a garota.
— Não faça nada que a gente não faria. — Ele lançou uma piscadela. A garota riu pois sabia bem o que o pai e os tios aprontaram na sua época de escola.
— Por favor, não chora — resmungou a garota, se virando para seu pai e abraçando o bruxo que era mais baixo que o tio mas alguns centímetros mais alto que ela.
O homem se afastou e, ainda segurando seus braços, deu uma boa olhada para ela, como se quisesse memorizar cada detalhe de . Então ele reparou em algo pendurado no seu pescoço. Era um cordão preto com um potinho de vidro minúsculo preso nele. Dentro havia uma flor que se movia suavemente como se houvesse uma brisa eterna e leve dentro do pote.
— Conheço esse colar — seu pai tocou o objeto com seus dedos trêmulos e tatuados. — Dei à sua mãe na semana que nos conhecemos. Essa é uma mini Flor-Que-Nunca-Morre, um pedacinho do meu mundo para ela carregar para sempre.
— Ela me deu quando fiz dez anos. Disse que eu ia precisar mais do que ela. — respondeu com a voz embargada.
— E está em ótimas mãos — o bruxo sorriu, acariciando o rosto da filha. — Cuide com carinho, ok? Ele será seu companheiro para sempre.
— Para sempre. — afirmou a garota com um sorriso leve no rosto e lágrimas nos olhos, tocando o cordão.
— Prometa que vai mandar uma carta assim que chegar, certo? Jack provavelmente chegará antes de você. Tem certeza que não esqueceu nada? Tome cuidado com as pessoas de lá, querida, mas aproveite cada segundo e... — o homem foi interrompido pela voz que anunciava a última chamada para o voo 147 com destino à Londres.
— Eu te amo muito. - ele completou.
— Também te amo, pai. Se cuidem vocês dois e por favor, tomem cuidado — a garota o soltou e se abaixou para falar com Jack, o papagaio. — Te vejo em algumas horas, parceiro.
O pássaro gritou "Tchau" e ficou repetindo até a garota sumir pelo longo corredor até a escada que levava ao interior do avião. O homem fungou, sem conseguir segurar algumas lágrimas que desceram teimosas pelo seu rosto.
— Se acalme, Almofadinhas, ela sabe se cuidar sozinha. — Remos Lupin falou, apertando o ombro do amigo. — Puxou os pais.
O outro bruxo sorriu em resposta e ambos deram as costas, carregando a gaiola até o exterior do aeroporto e abrindo a pequena porta, tirando o papagaio de dentro.
— Cuide dela por mim, Jack — disse o rapaz, acariciando a cabeça com penas verdes do pássaro — Entregue isto à Dumbledore e mande lembranças ao Harry Potter… Diga que seu padrinho está com saudades.
Sirius Black amarrou um pedaço pequeno de papel na pata do pássaro e o observou bater asas e se distanciar cada vez mais longe até se tornar um pontinho verde minúsculo no céu azul da Amazônia. Os dois homens sorriram um para o outro, mesmo o peito de Sirius doendo de saudades de , de Hogwarts e de seu afilhado, Harry Potter.


1 - Welcome To Hogwarts

O trem para Hogwarts foi desacelerando conforme se aproximava da estação. Era possível ouvir as pessoas de todas as cabines pegando as bagagens e se preparando para sair, conversando entre si sobre assuntos diversos, mas principalmente sobre como foram as férias desse ano.
As de eram como todas as outras. No Brasil, onde ela morava, sempre faz muito calor no verão e, pra sua sorte, morava ao lado de uma cachoeira e um lago que a ajudavam a relaxar e se refrescar. Porém, na época em que os demais alunos tinham suas “férias de verão”, ainda estava tendo suas últimas aulas e se despedia dos poucos amigos e professores que gostavam dela. Infelizmente, por segurança sua e de seu pai, ela não pôde compartilhar essas informações com seus colegas de cabine, então permaneceu calada boa parte da viagem enquanto olhava pela janela o céu escurecendo.
colocou seu uniforme novo, pegou suas coisas e esperou o corredor esvaziar um pouco. Ao sair da cabine, tropeçou em algo que a fez tombar para frente e cair em cima da sua própria mala, ficando vermelha de vergonha.
— Olha por onde anda, novata! — ouviu uma voz arrastada dizer com tom de deboche. Ela olhou para trás e se deparou com um garoto muito branco e loiro, com dois "guarda-costas" atrás dele. Os três riram da garota enquanto ela pedia desculpas. — Você não deveria estar aqui, esse vagão é só para o quarto ano.
— Eu sou do quarto ano! — exclamou com raiva.
— Como eu nunca te vi antes? — o loiro questionou, olhando-a curioso.
— Deixa ela em paz, Malfoy! — disse uma voz feminina atrás do garoto. não conseguia ver quem era, mas sentia gratidão por aquela desconhecida.
— Aposto que é sangue ruim igual a sua amiguinha — resmungou o garoto passando por cima de e sua mala e saindo do vagão com seus dois colegas o seguindo como dois cachorrinhos.
— Não liga para ele — disse um garoto ruivo, estendendo a mão para ajudá-la a se levantar. — Draco é um babaca.
— Obrigada — murmurou constrangida, limpando as mãos nas vestes. — Sou . .
— Sou Ronald Weasley, mas pode me chamar só de Rony — brincou o ruivo, fazendo-a rir.
— Eu sou Hermione Granger — apresentou-se a garota ao lado de Rony, com cabelos cacheados e castanhos. — E esse é Harry…
— Mas você provavelmente já sabe disso - interrompeu Rony.
— Para com isso, Rony — murmurou o tal Harry, constrangido.
demorou seu olhar nele por um tempo. Sim, ela sabia quem ele era. Harry Potter, o garoto da cicatriz em forma de raio, o único sobrevivente da maldição Avada Kedavra... O afilhado do seu pai.
— Não tem como não saber, não é? — ela tentou disfarçar o nervosismo, mas pareceu deixar o garoto mais aborrecido ainda.
Os quatro saltaram do trem com suas coisas e continuaram a conversa do lado de fora.
— Você é a garota do intercâmbio, certo? — perguntou Hermione. — Seja bem-vinda!
— Obrigada. Sou sim, vim da Escola de Magia Castelobruxo, no Brasil.
— BRASIL!? — exclamou Rony com os olhos brilhando — Uau, eu sempre quis conhecer o Brasil! Deve ser lindo lá.
— É sim. Meio quente comparado com a Inglaterra, mas muito bonito.
— Vou convencer a mamãe a ir te visitar nas próximas férias, o que acham? — perguntou o ruivo aos seus outros dois amigos que concordaram animados com a ideia.
apenas sorriu e fingiu achar uma ótima ideia, mas isso seria impossível. Seria muito arriscado para ela e seu pai, e ela não suportava a ideia de perdê-lo novamente.
— Sabe, você me lembra muito alguém... — falou Gringer, coçando o queixo. — Esses olhos... já os vi antes.

A garota desviou o rosto, apavorada com a possibilidade de descobrirem tão rápido que ela era filha de Sirius Black. As instruções eram claras: não deixar ninguém saber, nem mesmo Harry, enquanto não fosse seguro. Os únicos que tinham essa informação eram Hagrid e o diretor da escola, Dumbledore. Ela não os conhecia ainda mas, segundo seu pai, eu saberia na mesma hora quem eles eram e sentiria no mesmo instante que podia confiar neles.
Após acharem um espaço mais vazio entre o mar de alunos, os meninos avistaram um homem gigante e sorridente por cima das cabeças dos jovens. Era impossível não vê-lo já que era o triplo do tamanho de todos os presentes. Harry, Rony e Hermione acenaram animados para o gigante que acenou de volta e abriu caminho até o grupo.
— Hagrid, essa é a , a intercambista — apresentou Hermione após cumprimentar o amigo.
— Ah, sim! Seja muito bem-vinda à Hogwarts, ! Dumbledore me falou tudo sobre você... — disse ele dando uma piscadela para a garota. — ...e me deixou responsável por levá-la até o castelo em segurança.
— Espera, ela não vai com a gente? — indagou Rony, com grande chateação na voz.
— Desculpe Rony, ordens do diretor. Carga preciosa — respondeu Hagrid, apoiando sua mão enorme no ombro de que deixou escapar um gemido ao sentir o peso dele, mas sorriu para o homem.
Após os dois se despedirem dos meninos, Hagrid pegou as malas de e a levou até um barco vazio.
— Espere aí enquanto irei buscar os alunos do primeiro ano. — disse o homem, voltando quase correndo o caminho que acabaram de fazer.
A garota esperou uns bons quinze minutos, observando a água escura que parecia conversar com ela. Sua relação com a natureza, em especial com a água dos rios e mares, era inexplicável. Ela sentia que cada gotícula de H2O conversava com ela, independente de onde estivesse. Ela encostou as pontas dos dedos na água gelada, aliviada por finalmente poder ter algum contato com ela, até ver a sombra de Hagrid escurecer o barco. O transporte balançou violentamente quando o meio gigante entrou nele e teve que se segurar nas laterais do barco para não cair. Sentiu como se o barco fosse virar de cabeça para baixo mas, para sua sorte, nada aconteceu. Uma chuva leve começou a cair e logo se transformou em uma tempestade; apenas se deliciou com as gotas caindo em sua pele.
Após alguns minutos no lago com Hagrid remando e todos os outros barcos atrás, quebrou o silêncio.
— Por que não veio mais ninguém com a gente? — questionou-o quase gritando para ser ouvida acima do barulho da chuva.
— Normalmente eu venho nesse barco sozinho, mas hoje você é minha convidada especial — respondeu sorrindo. — Mas eu queria trocar umas palavrinhas com você em particular.
Hagrid ficou em silêncio e esperou a garota assentir e ela assim fez, aguardando em seguida que ele continuasse.
— Eu sei que você é filha do Sirius, entende? Também sei sobre sua mãe e bem, sobre a condição que herdou dela.
sentiu um frio na barriga. Sirius havia lhe falado sobre como Hagrid era um homem bom, mas mesmo assim não sabia se devia confiar nele pois, assim como grande parte do mundo bruxo, ele poderia odiar seu pai.
— Dumbledore confia muito em mim assim como eu confio muito nele. Me deu uma segunda chance por acreditar em mim e acreditar que sou uma pessoa boa. Ele fez o mesmo com seu pai e eu sei que não foi atoa. Grande homem, o Dumbledore. — Ele fez uma pausa e observou a garota que mantinha os olhos atentos em sua direção. — Se Alvo confia em Sirius e acredita que ele é uma pessoa boa, então também acredito. 
sorriu para o homem que retribuiu, ruborizado.
— Seu segredo está a salvo comigo. — finalizou ele. — Agora, me conte como foi ter uma mãe sereia. Deve ser fascinante!
Pelos dez minutos seguintes, lhe falou o máximo que conseguiu sobre sua vida a Hagrid. Ela explicou sobre sua conexão com a natureza por causa de sua mãe, que era sereia, e sobre o único poder que herdou dela: as visões. Poderia ser um fardo algumas vezes ou muito útil em outras, mas ela particularmente não gostava muito, apenas aprendeu a conviver com isso. O professor de Tratos das Criaturas Mágicas a ouvia encantado sobre sua vivência com as sereias do Brasil, mas ficou desapontado quando recusou a oferta de ir falar com os sereianos que viviam no Lago para participarem de uma de suas aulas. Ela tinha um contato incrível com as criaturas no Brasil, afinal eram parte de sua família. Mas ela não era uma sereia, talvez não seria bem aceita por eles.
Após os minutos de conversa, reparou no monumento enorme atrás do seu mais novo amigo. Aquele era o castelo de Hogwarts e não se parecia em nada com sua escola de magia no Brasil. deixou escapar um “uau” e não disfarçou seu olhar admirado. Mesmo embaixo da tempestade, o castelo era encantador.
— Lindo, não é? Anos vivendo nesse lugar e ainda não me acostumei com a beleza — disse Hagrid ao desembarcarem do barco. Colocou as malas de junto a uma pilha de malas em frente à escadaria e, alguns segundos depois, elas sumiram.
— Hagrid! — exclamou assustada e apontou para onde antes estavam suas malas e de seus colegas.
— Ah, não se preocupe! Elas estão em segurança dentro do castelo, indo para seu dormitório. A sua deve estar no escritório de Dumbledore pois ainda terá que passar pela seleção para saber onde ficará esse ano.
— Seleção? Ficar onde?
Rubeo riu da cara confusa que a garota fez e explicou brevemente a ela tudo sobre as casas de Hogwarts (Grifinória, Sonserina, Lufa-Lufa e Corvinal) e sobre o Chapéu Seletor. sabia muito pouco sobre isso, Sirius não gostava da ideia da filha querer tanto ir para Hogwarts, então nunca entrava em detalhes e dificultava a pesquisa dela para não incentivá-la. O homem tinha muitos traumas, não o culpava. Mas ela era teimosa, e ali estava, diante da escola que seu pai frequentou e viveu muitos desses traumas.
— Harry, Rony e Hermione são da Grifinória. Essa era minha casa e também a de seu pai. Não é possível que seu pai não lhe contou nada!
— Apenas o que ele e os Marotos aprontavam pelos corredores da escola — ela fez uma careta como se pedisse desculpas. O gigante balançou a cabeça, dando uma gargalhada.
— Então um chapéu vai decidir em qual Casa eu me encaixo melhor? — ela perguntou.
— Exatamente!
sentiu sua ansiedade aumentar. O homem manteve a garota ao seu lado mas voltou sua atenção para os alunos do primeiro ano que se reuniram tremendo de frio e encharcados em volta dele para ouvirem um breve discurso desejando boas-vindas aos alunos que pareciam tão impressionados quanto .
— E sejam bem-vindos à Hogwarts! — finalizou recebendo uma salva de palmas.
Hagrid acompanhou os alunos do primeiro ano até o Salão Principal; eles ainda olhavam deslumbrados cada canto do castelo, enquanto não sabia o que olhar primeiro. Todos aqueles quadros, escadas (que com certeza se perderia facilmente) e os fantasmas andando livres pelo castelo. Ela avistou de longe Harry, Hermione e Rony que acenaram para ela pedindo para que se aproximasse. Mas assim que deu um passo em direção ao grupo, um balão grande e vermelho cheio de água caiu em cima da cabeça de Rony Weasley. se deteve a poucos passos do trio quando um segundo balão caiu aos pés de Harry, quase acertando Hermione. Todos que estavam no local começaram a correr para todos os lados tentando se proteger, fazendo se afastar cada vez mais dos novos colegas. Correu então em direção à uma porta dupla enorme e observou a confusão a uma distância quase segura.
— PIRRAÇA! — berrou uma voz zangada. Uma bruxa de cabelos grisalhos olhava furiosa para o poltergeist que flutuava no alto dando gargalhadas e piruetas. — Desça já aqui, AGORA!
— Não estou fazendo nada! — respondeu Pirraça ainda gargalhando.
decidiu esperar a confusão acalmar para sair dali, mas não foi preciso esperar muito. As portas atrás dela se abriram e ela ouviu uma voz grave dizer:
— Bem-vinda à Hogwarts, .


2 - Your house is…

se virou para trás assustada e se deparou com um senhor alto de cabelos longos e brancos e barba tão longa quanto, da mesma cor. Ele sorriu com simpatia, os olhos quase fechados atrás dos óculos meia lua que pareciam estar prestes a cair da ponta do nariz. Suas vestes eram azul-bebê com estrelas brancas combinando com o chapéu pontudo de mesma estampa.

— Olá — respondeu tímida, forçando um sorriso simpático.
, esse é o Professor Alvo Dumbledore, diretor de Hogwarts — falou Hagrid aparecendo de repente ao seu lado.
— É um prazer conhecê-la, Srta. . Espero que Hogwarts esteja à altura de Castelo bruxo — disse o senhor de forma simpática, transmitindo calma e segurança em sua fala.
— É melhor do que eu imaginei, senhor — respondeu a garota, ainda olhando em volta com admiração.
— Pode me chamar apenas de Dumbledore ou Professor Dumbledore se preferir. A palavra senhor... faz eu me sentir um velho, algo que eu definitivamente não sou — disse Dumbledore, dando uma piscadela para a garota.

Ela o olhou e, definitivamente, ele era velho. Mas seu olhar era de uma criança na manhã de Natal, com um brilho infantil e confortante. sorriu e concordou com ele, concluindo que ele tinha toda a razão.

— Vamos, , já está na hora do jantar — disse Hagrid, encaminhando a garota para dentro do salão acompanhado de Alvo Dumbledore e deixando toda a confusão para trás.

Os alunos que já haviam entrado no Salão a olhavam com curiosidade enquanto os três se encaminhavam para uma mesa comprida com várias cadeiras já ocupadas. observou os outros professores presentes que também a olhavam, alguns de forma simpática e outros nem tanto, e se sentou em uma cadeira pequena entre Hagrid e Dumbledore. Mal alcançava a mesa de tão baixa que era a cadeira, e sua altura não ajudava em nada. Ela voltou a olhar em volta e seus olhos recaíram sobre o único professor que a encarava com seriedade.

— Aquele de cabelos pretos e nariz pontudo é o professor de Poções, Severo Snape — sussurrou Hagrid próximo da garota. — Do outro lado de Dumbledore está a professora Minerva McGonagall, vice-diretora. Ótima mulher, a Minerva.

olhava um por um enquanto Hagrid apresentava os professores. Ao lado esquerdo da Professora McGonagall estava um homenzinho pequeno que Hagrid disse ser o professor Flitwick, de Feitiços, que conversava animado com a Professora Sprout, mestra de Herbologia. A mulher, sentada ao lado de Sprout, o gigante disse ser Sibila Trelawney, professora de Adivinhação. retribuiu o aceno animado que a professora lhe deu, voltando a atenção ao professor. Ao lado de Hagrid, estava uma cadeira vazia que ele disse ser do novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, o qual o mesmo não sabia ainda quem seria.

— Eu terei aula com todos eles? — perguntou , olhando cada um.
— Acredito que com a maioria.
— Terei com você?
— Espero que sim! — respondeu animado com aquele sorriso infantil e inocente, parecido com o do diretor.

observou o resto dos alunos entrarem e seguirem para as quatro grandes mesas em cada canto do salão. Ela viu a Professora Minerva sair da cadeira dela e correr para os fundos do salão e depois voltar com um banquinho de três pernas com um chapéu velho e remendado em cima. Ela se encaminhou para a porta onde uma fila enorme de alunos a aguardavam. Eles seguiram Minerva pelo longo corredor e se enfileiraram no meio do salão, tão encharcados quanto os outros.
Após uma breve explicação do que fariam ali (a tal seleção que Hagrid lhe contou), o chapéu começou a cantar uma música estilo camponesa, contando a história das Casas.

"Há mil anos ou pouco mais,
Eu era recém-feito,
Viviam quatro bruxos de fama,
Cujos nomes todos ainda conhecem:
O valente Gryffindor das charnecas,
O bonito Ravenclaw das ravinas,
O meigo Hufflepuff das planícies,
O astuto Slytherin dos brejais. Compartiam um desejo, um sonho, Uma esperança, um plano ousado
De, juntos, educar jovens bruxos, Assim começou a Escola de Hogwarts.
Cada um desses quatro fundadores Formou sua própria casa, pois cada Valorizava virtude vária
Nos jovens que pretendiam formar. Para Gryffindor os valentes eram Prezados acima de todo o resto; Para Ravenclaw os mais inteligentes
Seriam sempre os superiores;
Para Hufflepuff, os aplicados eram Os merecedores de admissão;
E Slytherin, mais sedento de poder, amava aqueles de grande ambição. Enquanto vivos eles separaram
Do conjunto os seus favoritos
Mas como selecionar os melhores, Quando um dia tivessem partido?
Foi Gryffindor que encontrou a solução
Tirando-me da própria cabeça
Depois me dotaram de cérebro
Para que por eles eu pudesse escolher!
Coloque-me entre suas orelhas,
Até hoje ainda não me enganei.
Darei uma olhada em sua cabeça
E direi qual a casa do seu coração!"

Todos no Salão deram uma salva de palmas ao final da canção. Minerva foi para o lado do Chapéu Seletor e anunciou, em voz alta:

— Esse ano teremos uma seleção especial. Temos conosco uma convidada, uma intercambista diretamente da escola de magia Castelobruxo, do Brasil, que passará o próximo ano em Hogwarts. Ela terá a honra de se juntar à uma das nossas Casas e viver com vocês mais uma emocionante jornada aqui na escola.

sentiu seu coração disparar quando a fenda no chapéu se mexeu como uma boca e exclamou seu nome para o salão todo ouvir. Dumbledore lhe deu leves tapinhas no ombro, incentivando-a a se levantar, e ela assim fez, caminhando receosa até o banquinho. Minerva deu um sorriso incentivador e confortante, e ela sentiu as mãos suarem frio, se assustando ao sentir o peso do Chapéu Seletor em sua cabeça.

— Hum, minha nossa! Há anos não vejo alguém dessa família... — murmurou o chapéu, e desejou que o resto do salão não estivesse ouvindo. — Seu pai teria feito grandes coisas na Sonserina, e você também fará...
— Eu não quero Sonserina! — ela sussurrou rápido, apertando os olhos e pensando com toda a força nos seus recém amigos sentados na mesa da Grifinória.
— Ah, escolha interessante... Mesma casa do seu pai, então?
— Sim! — respondeu sem saber se sua resposta valeria de algo.
— Grifinória! — o Chapéu exclamou, fazendo abrir os olhos assustada e ver que todos na mesa da Grifinória, sua nova Casa, a aplaudiam de pé. Ela sorriu aliviada e se levantou, indo se sentar entre Harry e Rony.
— Legal! Eu tava torcendo para você cair na nossa casa! — disse Harry com um sorriso de orelha a orelha.
— Por um segundo eu achei que você ia para a Sonserina... — murmurou Rony, olhando-a preocupado.
— Não seja bobo, Rony, a é legal, jamais se juntaria a eles — respondeu Hermione, tão feliz quanto seus amigos.

não comentou com eles sobre o que o Chapéu disse, apenas sorria ainda atordoada com toda a agitação do momento. Os quatro ouviram os outros alunos serem selecionados e aplaudiram todas as vezes que a Grifinória recebia um novo membro. E já se podia ouvir o barulho vindo da barriga de Rony quando um por um, os últimos novatos se encaminhavam para o banquinho.

— Ah, anda logo! — gemeu Rony, massageando o estômago.
— Ora, Rony, a seleção é muito mais importante do que a comida — disse um fantasma, na hora em que "Madley, Laura!" tornava-se aluna da Lufa-Lufa.

o observou encantada e assustada, sem conseguir disfarçar. Sua cabeça estava quase caindo, pendurada com alguns poucos nervos e músculos fantasmagóricos. Não havia fantasmas na Castelobruxo, eles ficavam apenas na floresta em volta e os alunos eram proibidos de falar com eles, mantendo apenas o respeito mútuo, então era estranho demais que eles tivessem tanto contato com um fantasma.

— Claro que é, se a pessoa já está morta! — retrucou Rony emburrado.
— Nick Quase Sem Cabeça, essa é a , nossa intercambista — disse Hermione, fuzilando Rony com o olhar pelo comentário que ele fez. O fantasma, porém, pareceu não ter se importado com o que o ruivo falou.
— Ah, sim! Seja muito bem-vinda, estou muito feliz que você esteja na nossa Casa! — disse o fantasma, fazendo uma reverência e segurando a cabeça para não cair.

Harry percebeu o espanto da colega e sussurrou no ouvido dela, explicando que cada casa tinha um fantasma e a deles era o Nick. agradeceu com um sorriso tímido e tentando desviar o olhar da cabeça pendurada do tal fantasma.
E, finalmente, com "Whitby, Kevin" (Lufa-Lufa!) encerrou-se a seleção. A Professora Minerva apanhou o Chapéu e o banquinho e levou-os embora.

— Já não era sem tempo! — exclamou Rony, apanhando os talheres e olhando esperançoso para seu prato dourado.

o observou e se pegou pensando no quão adorável ele parecia. Seu pai a repreenderia caso soubesse desse seu pensamento, lembrando-a que seu foco eram os estudos e somente isso. O garoto retribuiu o olhar, ruborizando violentamente. também sentiu suas bochechas queimarem, então ela sorriu, e ele retribuiu. Quando a garota olhou para Harry, o mesmo olhava meio chocado para Rony e , balançando a cabeça e tentando segurar o sorriso.
O Professor Dumbledore se levantou. Sorria para os estudantes, os braços abertos num gesto de boas-vindas. Agora todos o olhavam com expectativa, prontos para atacar a comida a qualquer segundo.

— Só tenho duas palavras para lhes dizer... — começou ele, sua voz grave ecoando pelo salão. — Bom apetite!
— Apoiado! Apoiado! — disseram Harry e Rony em voz alta, enquanto as travessas vazias se enchiam magicamente diante dos seus olhos.

Nick Quase Sem Cabeça ficou observando tristemente os alunos encherem os pratos, soltando um longo suspiro.

— Ah, agora sim! — disse Rony, com a boca cheia de purê de batatas.
— Vocês têm sorte de que haja uma festa esta noite, sabem — disse o fantasma. — Hoje cedo tivemos problemas na cozinha.
— Por quê? O que aconteceu? — perguntou Harry com a boca cheia de carne.
— Pirraça, é claro — disse Nick sacudindo a cabeça, que se desequilibrou perigosamente. O fantasma puxou a gola fantasmagórica mais para cima. — A história de sempre, sabem? Ele queria vir à festa e bom, isto está fora de questão, vocês sabem como ele é, absolutamente selvagem, não pode ver um prato de comida sem querer atirá-lo longe. Reunimos um conselho de fantasmas, Frei Gorducho foi a favor de dar uma chance a Pirraça, mas muito prudentemente, na minha opinião, o Barão Sangrento fez pé firme.

olhou ao redor, parando para observar cada mesa e seus componentes enquanto Nick Quase Sem Cabeça continuava a falar sobre Pirraça. Essa seria sua vida pelos próximos meses. Conversas com fantasmas, quadros que se mexem e falam, corujas voando com cartas ao invés de papagaios e tucanos... Era muito diferente da sua escola no Brasil, mas ela não achou nada ruim. A única coisa que a incomodava era a saudade que estava do seu pai, lembrando-se de que precisava enviar uma carta para ele ao amanhecer. A morena parou seu olhar na mesa da Sonserina e observou os alunos. Será que ela se daria bem entre eles? Conhecera Malfoy e seus amigos no trem e não gostou nada do que aconteceu. Mas e se ela realmente pertencesse àquela mesa e não à mesa que estava? Fora o seu pai, os integrantes da família Black não eram bruxos que poderíamos chamar de boas pessoas. Não conheceu nenhum deles, mas ouviu as histórias que Sirius contou, o que não a fez querer realmente conhecê-los.
Draco Malfoy cruzou o olhar com o dela e se deteve ali, observando-a com curiosidade. Parecia um jogo de quem desviaria o olhar primeiro. o olhava com a mesma curiosidade e intensidade e, estranhamente, ele parecia não querer parar de olhá-la.

? — chamou Rony.  — Não está mudando de ideia, está?
— Como assim? — ela perguntou, não entendendo bem o que o garoto estava querendo perguntar. Desviou os olhos com relutância para lhe dar atenção.
— Você está olhando muito para a mesa da Sonserina, não está pensando em mudar para lá, está?
— Acredito que não seja permitido — a garota respondeu dando uma risada, achando graça da preocupação de Rony.
— Claro que não, mas não sei se as regras se aplicam a você.
— Por que não se aplicariam? McGonagall deixou bem claro na minha carta de admissão que eu serei tão estudante de Hogwarts quanto vocês. E mesmo assim, estou feliz aqui, ok? Não se preocupe.

O mais novo dos meninos Weasley sorriu aliviado, corando novamente. Ele voltou sua atenção para a comida, mas logo parou e a olhou de novo enquanto levava uma colher de ensopado para boca.

— Seria muito triste se você fosse pra Sonserina, sabe? Sinto que você é muito especial. Odiaria que isso acontecesse.

sorriu em resposta, e seu coração se aqueceu um pouco. Rony era uma graça, desde o momento que se viram ele foi muito legal e fofo com ela. Se pegou pensando na dor que sentiria ao partir se ela se apegasse muito em Hogwarts, essa foi uma promessa que fez a si mesma antes de embarcar no avião: não se apegar a nada nem a ninguém. Mas, obviamente, já estava quebrando.



3 - Triwizard Tournament

— Então, o que foi que ele aprontou na cozinha? — perguntou Rony, voltando a falar sobre Pirraça.
— Ah, o de sempre — respondeu Nick Quase Sem Cabeça, sacudindo os ombros. — Causou prejuízos e confusão. Utensílios e panelas por toda parte. Sopa para todo lado. Deixou os elfos domésticos loucos de terror…

Um som alto de metal batendo em algo assustou a todos em volta. Hermione derrubou sua taça, fazendo o suco de abóbora escorrer pela mesa, manchando de laranja mais de um metro de pano branco, mas nem se importou. Com um movimento rápido, sacou sua varinha e limpou a sujeira antes que caísse na roupa da amiga.

— Tem elfos domésticos aqui? — Mione perguntou, encarando Nick Quase Sem Cabeça com uma expressão de horror no rosto. — Aqui em Hogwarts?
— Claro que sim — disse o fantasma, parecendo surpreso com a reação da garota. — O maior número que existe em uma habitação na Grã-Bretanha, acho. Mais de cem.
— Eu nunca vi nenhum! — exclamou Hermione, horrorizada.
— Bom, eles raramente deixam a cozinha durante o dia, não é? Saem à noite para fazer limpeza… Abastecer as lareiras e coisas assim... Quero dizer, não é esperado que fiquem à vista. Essa é a marca de um bom elfo doméstico, que não se saiba que ele existe.

Hermione ficou olhando o fantasma, extremamente indignada. Começou a questioná-lo sobre diversas coisas em relação às condições de trabalho dos elfos domésticos.

— Tem elfos domésticos no Brasil? — sussurrou Rony, se aproximando da garota. se arrepiou e se assustou ao sentir o rosto do ruivo tão próximo do seu ouvido. Ao se virar, percebeu que eles estavam à poucos centímetros de distância.
— Tem — ela limpou a garganta, dando de ombros. -- Mas eles recebem pelo trabalho deles, tem assistência médica, férias... — parou de falar ao ver o choque no rosto do garoto.
— Não conte isso a Mione! — ele sussurrou, se certificando que Hermione não o ouvia.
— Por quê? — respondeu , confusa. Ela olhou Mione que ainda falava irritada, chocada com tudo que ouvia sobre os elfos da escola.
— Trabalho escravo — disse a garota, respirando com força pelo nariz. — Foi isso que preparou este jantar. Trabalho escravo.

E recusou-se a continuar comendo.
Quando as sobremesas também tinham sido devoradas, e as últimas migalhas desaparecidas dos pratos, deixando-os limpos e brilhantes, Alvo Dumbledore tornou a se levantar. O burburinho das conversas que enchiam o Salão cessou quase imediatamente, de modo que somente se ouvia o batuque da chuva forte do lado de fora. Era impressionante o respeito que o bruxo impunha em todos e o olhou com ainda mais admiração.

— Então! — exclamou Dumbledore, sorrindo para todos. — Agora que já comemos e molhamos a garganta, preciso mais uma vez pedir sua atenção, para alguns avisos.

"O Sr. Filch, o zelador, me pediu para avisá-los de que a lista dos objetos proibidos no interior do castelo este ano cresceu, passando a incluir Ioiôsberrantes, Frisbees-dentados e Bumerangues-de-repetição. A lista inteira tem uns quatrocentos e trinta e sete itens, creio eu, e pode ser examinada na sala do Sr. Filch, se alguém quiser lê-la."

Os cantos da boca de Dumbledore tremeram ligeiramente em claro sinal de que ele estava tentando não rir.
Ele continuou:

— Como sempre, eu gostaria de lembrar a todos que a floresta que faz parte da nossa propriedade é proibida a todos os alunos, e o povoado de Hogsmeade, àqueles que ainda não chegaram à terceira série.
— Você vai adorar Hogsmeade — sussurrou Harry, logo se endireitando para voltar à ouvir Dumbledore.
— Tenho ainda o doloroso dever de informar que este ano não realizaremos a Copa de Quadribol entre as Casas.
— Quê!? — exclamou Harry. Ele olhou para Fred e George, seus companheiros no time de quadribol, que pareciam tão indignados quanto ele.

Os três xingaram Dumbledore em silêncio, aparentemente espantados demais para falar algo.

— Vocês tem quadribol aqui? Legal! — exclamou , sendo repreendida por Harry apenas com o olhar. Ela percebeu que não era um bom momento para se animar com o esporte.

Dumbledore continuou:

— Isto se deve a um evento que começará em outubro e irá prosseguir durante todo o ano letivo, mobilizando muita energia e muito tempo dos professores, mas eu tenho certeza de que vocês irão apreciá-lo imensamente. Tenho o grande prazer de anunciar que este ano em Hogwarts…

Interrompendo seu discurso, ouviu-se uma trovoada ensurdecedora e as portas do Salão Principal se escancararam. Apareceu um homem parado à porta, apoiado em um longo cajado e coberto por uma capa de viagem preta. Todas as cabeças no Salão viraram para o estranho, repentinamente iluminado por um relâmpago que cortou o teto. Ele baixou o capuz, sacudiu uma longa juba de cabelos grisalhos e começou a caminhar em direção à mesa dos professores.
Um ruído metálico e abafado ecoava pelo lugar a cada passo que ele dava. Quando alcançou a ponta da mesa, virou à direita e mancou pesadamente até Dumbledore. Mais um relâmpago cruzou o teto. Hermione prendeu a respiração e deu um pulo no banco e agarrou o braço de Rony que ruborizou na mesma hora. O relâmpago revelou nitidamente as feições do homem e seu rosto era diferente de qualquer outro que a garota já vira. Parecia ter sido castigado sem piedade pelo tempo, cada centímetro da pele do estranho parecia ter cicatrizes. A boca lembrava um rasgo diagonal e faltava um bom pedaço do nariz. Mas eram os seus olhos que o tornavam assustador.
Um deles era pequeno, escuro e penetrante. O outro era grande, redondo como uma moeda e azul-elétrico vivo. O olho mágico se movia continuamente, sem piscar, e revirava para cima, para baixo, e de um lado para o outro, independentemente do olho normal — depois virava para trás, apontando para o interior da cabeça do homem, de modo que só o que as pessoas viam era o branco da córnea.
observou o estranho se aproximar de Dumbledore, apertou a mão do bruxo com a mão direita igualmente cheia de cicatrizes, e lhe disse algo inaudível. Dumbledore assentiu com a cabeça e sorriu, indicando ao homem o lugar vazio à sua direita, onde ela se sentara antes da seleção.

— Gostaria de apresentar-lhes o nosso novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas — disse Dumbledore, animado, em meio ao silêncio. — Professor Alastor Moody.

Era normal os novos membros do corpo docente serem recebidos com aplausos animados, mas nem os colegas, nem os estudantes bateram palmas, exceto, é claro, por Dumbledore e Hagrid.

— Moody? — murmurou Harry para Rony. — Olho-Tonto Moody? O que o seu pai foi ajudar hoje de manhã?
— Deve ser — disse Rony baixo, levemente assombrado.

Dumbledore limpou a garganta outra vez.

— Como eu ia dizendo — recomeçou ele, sorrindo para o mar de alunos à sua frente, todos ainda mirando Olho-Tonto Moody, paralisados. — Teremos a grande honra de sediar um evento extraordinário nos próximos meses, um evento que não é realizado há um século. Tenho o enorme prazer de informar que, este ano, realizaremos um Torneio Tribruxo em Hogwarts.
— O senhor está BRINCANDO! — Fred Weasley exclamou em voz alta.

Quase todos riram e Dumbledore deu risadinhas de prazer em resposta, sem conseguir se segurar.

— Não estou brincando, Sr. Weasley, embora, agora que o senhor menciona, ouvi uma excelente piada durante o verão sobre um trasgo, uma bruxa má e um leprechaun que entram num bar...

A Profa Minerva pigarreou alto, chamando a atenção do velho bruxo.

— Hum... Mas talvez não seja hora... Onde é mesmo que eu estava? Ah, sim, no Torneio Tribruxo! Bom, alguns de vocês talvez não saibam o que é esse torneio, de modo que espero que aqueles que já sabem me perdoem por dar uma breve explicação, e deixem sua atenção vagar livremente.

"O Torneio Tribruxo foi criado há uns setecentos anos atrás, como uma competição amistosa entre as três maiores escolas européias de bruxaria — Hogwarts, Beauxbatons e Durmstrang. Um campeão foi eleito para representar cada escola e os três campeões competiram em três tarefas mágicas. As escolas se revezaram para sediar o torneio a cada cinco anos, e todos concordaram que era uma excelente maneira de estabelecer laços entre os jovens bruxos e bruxas de diferentes nacionalidades — até que a taxa de mortalidade se tornou tão alta que o torneio foi interrompido."

— Taxa de mortalidade? — sussurrou Hermione, parecendo extremamente assustada. deu de ombros, igualmente intrigada.

Mas, aparentemente, sua ansiedade não foi compartilhada pela maioria dos alunos no salão; muitos murmuravam entre si, excitados com a notícia, e os próprios amigos estavam bem mais interessado em saber sobre o torneio do que em se preocupar com o que acontecera centenas de anos atrás.

— Durante séculos houve várias tentativas de reiniciar o torneio — continuou Dumbledore. — Nenhuma das quais foi bem-sucedida. No entanto, os nossos Departamentos de Cooperação Internacional em Magia e de Jogos e Esportes Mágicos decidiram que já era hora de fazer uma nova tentativa. Trabalhamos muito durante o verão para garantir que, desta vez, nenhum campeão seja exposto a um perigo mortal.

"Os diretores de Beauxbatons e Durmstrang chegarão com a lista final dos competidores de suas escolas em outubro e a seleção dos três campeões será realizada no Dia das Bruxas. Um julgamento imparcial decidirá que alunos terão mérito para disputar a Taça Tribruxo, a glória de sua escola e o prêmio individual de mil galeões."

— Estou nessa! — sibilou Fred Weasley para os colegas de mesa, o rosto exibindo uma careta animada.

Aparentemente ele não era o único que estava se vendo como campeão de Hogwarts. Em volta se via vários rostos animados e ansiosos, cochichando uns com os outros sobre a grande novidade.

— Ansiosos como eu sei que estarão para ganhar a Taça para Hogwarts, os diretores das escolas participantes, bem como o Ministério da Magia, concordaram em impor este ano uma restrição à idade dos contendores. Somente os alunos que forem maiores, isto é, tiverem mais de dezessete anos, terão permissão de apresentar seus nomes à seleção — Dumbledore elevou ligeiramente a voz, pois várias pessoas haviam protestado indignadas ao ouvir suas palavras, e os gêmeos Weasley, de repente, pareciam furiosos — Isto é uma medida que julgamos necessária, pois as tarefas do torneio continuarão a ser difíceis e perigosas, por mais precauções que tomamos, e é muito pouco provável que os alunos abaixo da sexta e sétima séries sejam capazes de dar conta delas. Cuidarei pessoalmente para que nenhum aluno menor de idade engane o nosso juiz imparcial e seja escolhido campeão de Hogwarts.

Seus olhos azul-claros cintilavam ao cruzarem com os rostos rebelados de Fred e George.

— Portanto peço que não percam tempo apresentando suas candidaturas se ainda não tiverem completado dezessete anos.

Ouve protestos em todas as mesas. Os gêmeos Weasley (que eram idênticos um com o outro mas muito diferentes de Rony) estavam enlouquecidos e indignados.

— As delegações de Beauxbatons e de Durmstrang chegarão em outubro e permanecerão conosco a maior parte deste ano letivo. Sei que estenderão as suas boas maneiras aos nossos visitantes estrangeiros enquanto estiverem conosco, e que darão o seu generoso apoio ao campeão de Hogwarts quando ele for escolhido. E agora já está ficando tarde e sei como é importante estarem descansados para começar as aulas amanhã de manhã. Hora de dormir!

Um som desafinado de cadeiras sendo arrastadas e pessoas falando alto ressoou pelo Salão. observou vários alunos resmungando insatisfeitos com o fato de não poderem se inscrever no torneio. Fred e George Weasley eram dois deles.

— Ei Fred, George — gritou Rony, chamando os irmãos com um aceno de mão em meio a multidão. Eles vieram em sua direção, ainda com a cara fechada e resmungando. Quando chegaram à entrada do castelo, os dois se aproximaram dos meninos.
— Que foi? — perguntou um dos gêmeos com rispidez, ainda não sabia identificá-los, e acreditou que não seria nunca capaz de tal desafio.
— Essa é a , a intercambista. , esses são meus irmãos, George e Fred — apresentou Rony.
— Muito prazer — disse a garota, estendendo a mão para os gêmeos que quando a viram, suavizaram seus rostos bravos.
— Sou o Fred — falou um dos gêmeos, segurando sua mão e fazendo uma reverência.
— E eu sou o George — disse o outro, segurando a outra mão da garota e fazendo a mesma reverência. Ao mesmo tempo, os dois deram beijos nas mãos de , fazendo-a corar violentamente.

Rony não gostou nada do que viu, e suas orelhas ficaram vermelhas feito tomates.

— É um prazer conhecê-la, sinto muito pela nossa reação mas... — começou George.
— Mas mil galeões seriam perfeitos pra nossa lo... — Fred foi interrompido por George que pigarreou alto e o repreendeu com o olhar — Para a nossa família. — completou, meio sem jeito.
— Seria mesmo — falou Rony aborrecido enquanto subiam as escadas para a torre da Grifinória.

Os gêmeos continuaram discutindo estratégias para enganar os juízes e entrar na competição, uma espécie de competição de ideias malucas para ver qual seria a mais eficaz.

— O que vocês acham? — perguntou Rony a Harry, e Hermione. — Seria legal, não seria? Mas faz sentido eles quererem os mais velhos, não sei se já aprendemos o suficiente.
— Eu decididamente não aprendi — ouviu-se a voz tristonha do garoto que os meninos haviam apresentado como Neville durante o jantar. — Mas imagino que a minha avó vai querer que eu experimente, ela está sempre falando que eu devia lutar pela honra da família. Eu terei que... Opa!

O pé de Neville Longbottom afundou direto por um degrau no meio da escada. Havia muitos desses degraus bichados em Hogwarts e era normal que a maioria dos alunos antigos saltassem esse determinado degrau, mas a memória de Neville era incrivelmente fraca. Harry e Rony o agarraram pelas axilas e o puxaram para cima.

— Você está bem? — perguntou , olhando feio para uma armadura que rangia alto, rindo do garoto.
— Estou sim, obrigado — respondeu Neville constrangido mas sorrindo simpático com a preocupação da garota.

Os garotos se dirigiram à entrada da Torre da Grifinória, que ficava escondida atrás de uma grande pintura a óleo de uma mulher gorda com um vestido de seda rosa, rodeada de frutas, comidas e plantas.

— Senha? — perguntou ela quando os garotos se aproximaram.
Asnice — disse George. — Lembre-se dessa palavra, . Todas as entradas das Salas Comunais das Casas possuem uma forma de entrar, a nossa é essa senha. Às vezes mudam, mas você ficará sabendo.
— Farei meu melhor para lembrar — a garota respondeu, fazendo uma careta e repetindo mentalmente a palavra na tentativa de gravá-la na memória.

O retrato girou para a frente, expondo um buraco na parede pelo qual todos passaram. Um fogo aceso na lareira aquecia a sala comunal circular, mobiliada com móveis antigos no tom vermelho, com estantes repletas de livros e paredes cheias de quadros e objetos decorativos. O lugar cheirava a baunilha e madeira queimada, era enorme e muito aconchegante.
ouviu Hermione murmurar "trabalho escravo" enquanto fuzilava as chamas da lareira com raiva. Rony revirou os olhos mas não comentou nada.

, a professora McGonagall falou que você ficaria com a cama ao lado da minha. Quer subir agora? — disse Hermione, soltando um bocejo no final da frase.

olhou em volta, encantada com a beleza daquela sala. Mas seu cansaço falou mais alto, o fuso horário ainda bagunçando seu sono, e ela concordou com um balanço de cabeça, seguindo Granger em direção às escadas depois de dar boa noite à todos, mas parou de repente ao ouvir Rony gritar seu nome.

— Dorme bem, — disse sorrindo. — Qualquer coisa estamos ali no dormitório dos meninos.
— Você chamou ela pra falar só isso? — perguntou Hermione, revirando os olhos. — Vocês não podem subir no nosso dormitório e nem a gente no de vocês.
— Por que você é tão estraga prazeres? — exclamou Rony, aborrecido.
— Boa noite para você também! — respondeu Mione, subindo as escadas com passos fortes.
— Boa noite, meninos — disse , seguindo Hermione em direção ao dormitório. — Desculpe, Hermione.

Ela olhou as outras meninas se acomodando em suas camas. reconheceu Gina Weasley no canto do dormitório ao lado da cama de Hermione, e do outro lado havia uma cama vazia com suas malas à sua espera.

— Não tem porquê se desculpar, — respondeu Mione, sorrindo. — É que eles são tão bobos às vezes, chega a irritar! Não sei como eu aguento aqueles dois...

sorriu para a colega que se deitou na cama logo em seguida. A morena seguiu seu exemplo e, após trocar de roupa, se deitou, caindo em um sono profundo após aquele dia tão cansativo.


4 - A Letter From Family

Na manhã seguinte, acordou antes de todas as meninas. O céu misturava os tons escuros da madrugada com o laranja amarelado do nascer do Sol, e o fuso horário ainda atrapalhava sua cabeça. Mas ela agradeceu por isso, pois queria enviar a carta para seu pai antes que alguém acordasse. A garota calçou suas pantufas, vestiu seu roupão novo com as cores da Grifinória, e saiu da Sala Comunal na ponta dos pés. Antes, ela pegou um pedaço de pergaminho e uma pena, se sentando-se no chão, apoiando o papel na mesa de centro em frente a lareira para escrever a carta, que dizia:

"Oi, pai. Gostaria de ter mandado uma carta ontem mesmo, mas estava muito tarde e depois daquele banquete maravilhoso, eu não pude fazer nada além de ir dormir.
Boas notícias! Entrei na Grifinória! E até agora ninguém descobriu que sou sua filha. Fiz amizade com Harry, Rony e Hermione e, eu sei, prometi não me apegar a ninguém, mas é tão difícil! Eles são incríveis, exatamente como você me disse.
Sinto sua falta, pai. Muito mesmo. Espero que tudo esteja bem aí onde está. Aguardo ansiosa por sua resposta!
Para sempre, sua ."

deu um beijo no pedaço de pergaminho, como se beijasse a bochecha de seu pai, e o amarrou na pata esquerda de Jack, dando um petisco para ele. O papagaio agradeceu animado e ficou repetindo a palavra "obrigado" até sumir de vista.
Ao retornar para o dormitório percebeu que a maioria das meninas já haviam saído dali e, provavelmente, ido tomar o café da manhã. tomou banho o mais rápido que conseguiu e se vestiu mais rápido ainda, chegando ofegante no Salão Principal. Todos a olhavam desconfiados. Ronald Weasley abriu um sorriso enorme ao ver a colega se sentar ao lado de Hermione, ficando de frente para ele e Potter.

— Bom dia — ela murmurou envergonhada.
— Bom dia! — os dois meninos responderam animados.
— Bom dia, — Mione disse, sua voz um tanto séria. — Onde estava hoje cedo?
— Eu tive que mandar uma carta — ela disse com pressa, logo se ocupando em beber um gole do leite quente que surgiu na sua frente. Hermione a olhou desconfiada, mas percebeu que encerrou o assunto.
— Como foi sua primeira noite em Hogwarts? — perguntou Harry, sorrindo com um pedaço de torta em sua boca.
— Muito confortável — ela respondeu, retribuindo o sorriso.

Potter começou a contar sobre sua primeira noite e como ele dormiu tão pesado por causa da cama confortável que quase perdeu a hora durante a primeira semana inteira, causando gargalhadas da amiga que se divertia com as histórias. Rony olhou a situação levemente incomodado. Não era possível que até mesmo a nova amiga acharia Harry mais interessante que ele. Ontem, quando a conheceu, um fio de esperança de que talvez finalmente esse ano seria diferente, de que esse ano encontraria alguém que o enxergasse de verdade, surgiu dentro de si. Esse mesmo fio estava prestes a se romper ao ver essa troca de sorrisos entre e seu melhor amigo.
Seus pensamentos foram interrompidos por um barulho forte de asas batendo e piados das corujas entrando no Salão Principal, cada uma indo em direção ao seu respectivo dono. Harry olhou para cima, esperançoso, mas sua coruja branca como a neve não apareceu. Já a de Hermione chegou até ela, deixou um jornal enrolado, e levantou voo, indo embora com a mesma rapidez com que entrou.
Hermione abriu o jornal e sumiu atrás dele. espiou pelos cantos dos olhos a amiga ao lado que lia concentrada cada linha impressa no papel.

— Ah, não! — ela exclamou, assustada. — Sirius!
— O que tem ele? — exclamou Harry, puxando o jornal e rasgando-o ao meio antes que pudesse ler a matéria.

se controlou para não puxar a varinha e fazer seus cabelos rebeldes sumirem tamanha raiva que sentiu do garoto. Seu coração bateu rápido demais, lhe tirando o fôlego. Ela queria desesperadamente saber o que aconteceu com Sirius, mas não podia de forma alguma entregar que ele era seu parente. Seu cérebro tentava trabalhar em meio ao desespero, pensando no que fazer sem se entregar no primeiro dia.

— Todos sabem que Sirius Black é um assassino perigoso... Bla bla bla... Assassinato em massa... — Hermione lia a parte menos importante da matéria com impaciência. — Aqui! "Fontes afirmam que o fugitivo se esconde em Londres! Meu Deus… Com certeza foi Lúcio Malfoy! Ele estava muito estranho na estação, ficava olhando um ponto fixo e depois nos olhava com a mesma frieza.

sentiu seu coração parar por alguns segundos. Seu estômago despencou. Ela sabia o que havia sido o ponto fixo que Lúcio olhava, a lembrança dos olhos dele fixos nela ainda lhe causavam arrepios. Ela levantou e saiu correndo, sem responder aos protestos dos meninos para que a garota ficasse. Ela tinha que falar com seu pai e não podia, essa era a pior agonia que a garota já sentira na vida.
continuou correndo até chegar na porta da sala de Dumbledore, e parou ofegante, sem certeza se queria mesmo entrar. A gárgula pediu a senha, mas ela não fazia ideia de qual era, é claro. Começou a chorar, cansada por não saber o que fazer com o desespero que só crescia dentro de si.

— Posso ajudá-la, Srta. ? — ela ouviu a voz da Professora McGonagall ao seu lado, assustando-a. — A vi sair correndo do Salão, aconteceu algo?
— Perdão, professora, mas não posso lhe contar. Preciso falar com o Professor Dumbledore, é urgente.

Minerva pareceu perceber o desespero da garota, sem falar nas lágrimas que ainda caíam livres pelo rosto dela. A professora murmurou a senha e a gárgula girou, revelando uma escada em espiral. McGonagall apontou para os degraus, indicando para que subisse na sua frente. A mulher a seguiu, sentindo a escada se mexer, elevando-as até a porta de madeira. Minerva deu duas batidas com a varinha, e a porta se abriu sozinha. deu passos receosos para dentro, admirando a beleza do lugar enquanto secava suas lágrimas.

— Ora, que honra tê-las em minha sala! — ouviu-se a voz de Dumbledore ecoar pelo espaço. reparou que tinha um jornal aberto em sua mesa. — Eu imagino o motivo de estar aqui, .
— Eu a vi do lado de fora, Alvo. Estava chorando, desesperada para falar com o senhor — disse Minerva, se aproximando da mesa junto com a aluna.
— Muito obrigada, Minerva. Imagino que você tenha lido o jornal.
— Li sim, senhor. Por isso vim atrás dela — disse McGonagall.
— Você sabe? — perguntou , espantada. Minerva apenas assentiu.
— Não se preocupe, seu segredo está à salvo comigo, Senhorita Black — a professora sorriu com simpatia, apertando levemente o ombro da jovem. — Agora, se me dão licença, preciso voltar ao Salão.
— Obrigada, Minerva — Dumbledore agradeceu e em seguida apontou para a cadeira acolchoada na frente de sua mesa. — Você leu o jornal, certo?

assentiu e se rompeu em lágrimas de novo, fazendo com que o diretor se levantasse e andasse até o seu lado, afagando suas costas em um ato de carinho.

— Eu estraguei tudo! — ela afirmou entre soluços. — Eu não deveria ter vindo! Eu preciso voltar pro Brasil, eu…
— Não fale besteira, minha jovem — Alvo a interrompeu, retornando para sua cadeira. — Primeiramente, senhorita, eu te aceitei aqui não apenas por ser filha de Sirius, um dos bruxos mais geniais de sua época, mas por ser uma das alunas mais talentosas da Castelobruxo que, acredito com todas as minhas forças, irá agregar muito à nossa escola.
— Mas Lúcio me reconheceu, na estação, ele pareceu saber quem eu era…
— Lúcio não estava vendo você naquele dia, — o diretor a olhou com seriedade. — Seu pai estava lá.
— Meu pai? — ela exclamou, horrorizada. — Como? Ele estava no Brasil!
— Ora, você é uma bruxa e não sabe as várias maneiras de teletransporte! Me surpreende que tenha ido de avião até Londres.
— Não queria chamar atenção… — respondeu, a voz saindo em um sussurro.
— Entendo — ele disse, assentindo. — De qualquer maneira, não se preocupe. Eu sei onde ele está e estou garantindo a segurança dele. Peço que confie em minhas humildes palavras e não diga nada ao Harry, está bem? Eles ainda não sabem a verdade, não é?
— Não, não sabem — a garota disse, ainda apreensiva. — Tem certeza que ele está bem, senhor? Você me diria se algo estivesse errado, não diria?
— Você será a primeira a saber — ele respondeu, sorrindo com simpatia. — Agora vá, não vai querer perder a fascinante aula de Herbologia.

correu pelo caminho cheio de lama até a estufa onde aconteceria a aula com a adorável professora Sprout, responsável pela casa Lufa-Lufa. Seus amigos a olharam com surpresa e desconfiança ao repararem em seu rosto inchado e marcado pelas lágrimas secas.

— Onde você estava? — perguntou Hermione.
— Por quê saiu correndo daquela forma? — questionou Harry.
— Está tudo bem? — perguntou Rony, claramente o mais preocupado entre os três.
— Está sim, agora está — a garota mentiu — A torta não me fez bem.
— Ah, sei como é. Um dia eu comi uma dessas e passei horas no banheiro, mas pelo menos não precisei assistir a aula do narigudo seboso — Rony riu, parecendo mais aliviado.
— Claro, você comeu a torta inteira! E Snape te passou dois metros de pergaminho sobre as principais poções para dor de barriga, lembra?
— Foi muito útil — o ruivo respondeu, fazendo uma careta para a amiga que apenas revirou os olhos em resposta.

A aula seria com a turma do quarto ano da Lufa-Lufa que estavam totalmente eufóricos por finalmente poderem entrar em seu ambiente favorito.
Rony se apressou em conseguir dois bancos vazios na grande bancada repleta de vasos com plantas horrorosas, uma espécie que nunca havia visto antes, mesmo com a vasta variedade de vegetações presentes no Brasil. A mesma se sentou ao lado do ruivo que sorriu largo ao recebê-la. Hermione e Harry se olharam, não muito felizes com mais essa interação. Eles conheciam Rony bem demais para saber que ele não considerava a intercambista apenas uma amiga e não queria que o amigo se machucasse quando chegasse a vez da garota partir, por mais incrível que ela fosse.
sentiu que alguém, além dos seus três amigos, a observava. Ela olhou em volta, tentando descobrir quem era, e seus olhos cruzaram com dois pares de olhos claros de um aluno da Lufa-Lufa que estava em pé ao lado da professora com um sorriso largo no rosto e a cabeça levemente inclinada para o lado, como se a garota a quem observava o intrigava. As bochechas dela queimavam em vergonha e permaneceu assim mesmo quando ela desviou o rosto, repetindo em sua mente para ter foco.

— Queridos alunos, sejam bem-vindos à primeira aula de Herbologia do semestre! — Professora Sprout exclamou, recebendo vários aplausos e assobios animados como resposta. Ela pediu silêncio com as mãos, sorrindo animada. — Hoje terei um ajudante impecável, o melhor aluno de Herbologia que eu já tive…
— Até parece… — Neville protestou baixinho, parecendo chateado.
—...monitor da Lufa-Lufa e um dos nossos melhores jogadores de Quadribol que gentilmente aceitou usar seu horário vago para me ajudar! Estou falando, é claro, de Cedrico Diggory!

As bochechas do garoto ruborizaram com violência enquanto recebia aplausos animados da turma da Lufa-Lufa e alguns poucos da turma da Grifinória. Hermione aplaudia empolgada, soltando um longo suspiro acompanhada de outras meninas da mesa. o achou adorável, merecedor das palmas que a mesma dava. Rony e Harry reviravam os olhos, reclamando de toda a bajulação.

— Ele definitivamente não é tudo isso — disse Rony, parecendo chateado.
— Ele não joga quadribol tão bem assim… — resmungou Harry, cruzando os braços.
— Vocês são patéticos quando ficam com ciúmes! — Hermione disse, fazendo rir.

A morena olhou novamente em direção ao loiro, que agora falava com alguns alunos da sua casa, rindo de algo que eles disseram. Ela parecia hipnotizada, não sentia vontade de parar de olhá-lo tão cedo, mas teve que fazê-lo quando Rony chamou sua atenção.

— Ah, droga, você também? — ele questionou com irritação na voz.
— Eu o quê? — ela perguntou, confusa.
— Está toda caidinha pelo Diggory! — Neville se intrometeu, parecendo igualmente irritado.
— Não estou não! — ela retrucou na defensiva. — Só estou curiosa para conhecê-lo, a professora fez uma ótima propaganda.
— Sei… — Rony respondeu, fuzilando o lufano que ainda estava do outro lado da estufa.

A professora Sprout explicou o que eram aquelas plantas e para o que serviam. O nome era Bubótuberas, ela tinha algumas bolas amareladas nojentas que, para a infelicidade de todos, eles teriam que espremer. Segundo a professora, aquele pus era um remédio maravilhoso para as acnes, mas tínhamos que recolhê-lo com cuidado (com luvas e óculos de proteção) para colocar nas garrafas.

— Ótimo trabalho, meninos! A Madame Pomfrey vai ficar muito feliz! — disse a professora enquanto passava pelos alunos, vendo-os recolher cada gota.

Aquilo era nojento, mas estava se divertindo com as palhaçadas e caretas que Rony e Harry faziam, sempre reprovados por Hermione que coletava com toda a concentração e seriedade do mundo. ria com vontade quando sentiu alguém se aproximar por trás, se enfiando entre ela e Neville, que protestou quando quase derramou seu pus na mesa. Ela parou de rir na mesma hora, suas mãos parecendo suar mais ainda dentro das luvas. Sentiu suas bochechas queimarem ao ver o quão próximo Cedrico estava, morrendo de vergonha por estar usando aqueles óculos ridículos. Rony também parou de rir, e agora o olhava com raiva. Harry e Hermione observavam boquiabertos, na expectativa do que iria acontecer em seguida.

— Olá, pessoal — ele cumprimentou os meninos e Hermione com um sorriso e voltou a atenção para a garota. — Acho que ainda não nos conhecemos. Sou Cedrico Diggory, mas pode me chamar de Ced. E você?

Ele estendeu a mão, mas a afastou e soltou uma risada ao ver a luva melecada de . Ela deu um sorriso amarelo, envergonhada.

— Sou , intercambista da Castelobruxo.
— Ah, sim, a brasileira! — ele respondeu sorrindo, se inclinando na bancada sem tirar os olhos dela. — Estava ansioso para conhecê-la!
— Estava? — ela perguntou confusa.
— Estava, é? — Rony também perguntou, a mesma raiva nos olhos estava presente na voz. Ele rangeu os dentes tão forte que jurou que quebrariam.
— Sim, estava — ele respondeu, parecendo se divertir com as reações. — A Professora Sprout disse maravilhas sobre suas notas em Herbologia brasileira, gostaria muito de conhecer mais sobre a variedade de plantas mágicas que existem no Brasil que você certamente deve conhecer.
— P-posso te dar aulas, se quiser — a garota gaguejou e se odiou por isso.

Rony fincou sua pá em um dos vasos e por muito pouco a planta não explodiu nenhuma de suas bolsas de pus.

— Eu iria adorar! Te encontro na biblioteca no final das aulas? — Diggory perguntou, e a garota assentiu na mesma hora. Com um aceno, ele se despediu de todos e voltou a falar com os outros alunos, auxiliando-os com suas plantas.

No fim da aula, Hermione entrelaçou o braço com o de enquanto saíam da estufa. A intercambista se sentiu animada com esse ato de amizade. Não tinha muitos amigos em Castelobruxo, sempre foi o mais reservada possível, principalmente com a volta de seu pai. Mas sua animação não era apenas por isso e sim com o fato de que tinha acabado de ser convidada para ensinar Herbologia, sua aula favorita, para um garoto encantador. Mione estava tão empolgada quanto ela, dizendo o quão sortuda era por ter um encontro com Cedrico.

— Não é um encontro! — Rony protestou, alcançando o passo apressado das garotas. — Dá pra acreditar nesse cara? Pedindo para a ensinar Herbologia! Afinal, ele não é o melhor aluno na matéria da Sprout?
— Rony, relaxa! Você ainda é meu aluno preferido de Hogwarts — a morena brincou, fazendo os olhos do ruivo se iluminarem.

Os três seguiram para o espaço amplo e aberto ao lado de uma casa de madeira caindo aos pedaços, com uma fina fumaça branca saindo pela chaminé. Aquela era a casa de Hagrid, de onde o mesmo saiu pela impressionantemente pequena porta de madeira (se comparada ao tamanho do próprio Hagrid), seguido por seu fiel cachorro, o Canino. Para o desagrado da turma da Grifinória, a turma que lhe fariam companhia nessa aula era a da Sonserina.
Malfoy observou a turma da outra Casa chegando animados demais para a aula, fazendo-o retorcer o rosto. Achava-os naturalmente patéticos, mas essa adoração pelo professor de Trato das Criaturas Mágicas o irritava mais ainda. E ali estavam os queridinhos de Hagrid, o "trio de ouro". Bom, agora era o quarteto de ouro. Draco se pegou novamente olhando a nova aluna, sua curiosidade crescendo em seu interior e seus olhos o traindo mais uma vez, como todas as vezes que ela estava por perto, incapaz de resistir à observação. Mexeu ansioso em seu anel, forçando-se a desviar o olhar para qualquer outro ponto menos perigoso.

— Sejam bem-vindos, meus caros alunos! — ele exclamou animado. Os grifinórios o saudaram com a mesma animação, mas os sonserinos apenas resmungaram coisas inaudíveis.

Hagrid continuou falando sobre a aula, explicando como seria o decorrer do semestre. Ele acenou animado para , que respondeu com a mesma empolgação. Em seguida, explicou sobre as pequenas criaturinhas que cuidariam na aula: Explosivins! Larvas grandes que, como se soltassem gases, fogos saiam de seus rabos, fazendo-os se deslocar por alguns bons centímetros para frente. Os alunos se assustaram ao vê-los dentro dos caixotes. já havia visto de tudo, mas os animais mágicos da Europa eram algo à parte.
Seus olhos começaram a observar tudo, amando a natureza em sua volta, tão diferente do que estava acostumada. Ela cruzou com os olhos azuis e frios que a encarou com desprezo no trem, porém com curiosidade durante o banquete da noite passada. Draco se aproximou, fazendo a garota tremer levemente, torcendo para que ninguém percebesse. Ele parou ao seu lado, recebendo olhares de reprovação de Harry, Hermione e, claro, Rony Weasley.

— Está olhando o quê, sangue-ruim? — o ouviu murmurar.
— Você estava me olhando primeiro — ela respondeu em voz baixa, sem tirar os olhos de Hagrid que ainda falava sobre as adoráveis criaturinhas. — Como tem tanta certeza que não sou puro sangue se não conhece minha família?
— Porque você me irrita tanto quanto os sangue-ruins, é fácil reconhecer gente igual você — ele retrucou, como se cuspisse as palavras.
— Nunca fiz nada contra você, Malfoy — ela respondeu, finalmente encarando o garoto com certa raiva e impaciência.
— Ah, fez sim… Tem alguma coisa muito errada com você e eu vou descobrir o que é. Esses olhos… Eles não me são estranhos.
— Algum problema, Draco? — a voz de trovão do professor ressoou alta pelo espaço aberto, fazendo ambos se assustarem e o olharem na mesma hora. pôde jurar que o garoto tremeu um pouco antes de dar sua resposta.
— Tenho sim! — ele falou, se afastando da garota. — O que esses bichos nojentos fazem? Para o que servem?
— Isso é na próxima aula, Malfoy. Hoje iremos apenas alimentá-los. Como nunca os criei antes, teremos que testar alguns alimentos diferentes. Temos ovos de formiga, fígados de sapo e um pedaço de cobra, experimentem um pedacinho de cada, por gentileza.

torceu o nariz ao se aproximar dos baldes com fígados de sapo ao lado de Rony, que fazia a mesma careta. Após muitas queimaduras e cortes, os alunos conseguiram alimentar alguns dos bichos com o fígado nojento e alguns ovos. Hermione comentou que eles chegavam até um metro e meio de comprimento, deixando-os assombrados. Rony continuava com o rosto fechado, parecendo extremamente chateado, mesmo quando se sentaram na mesa da Grifinória e a comida surgiu no prato. A comida sempre o animava, mas ele segurava o garfo com raiva e mastigava com mais raiva ainda. Hermione estava faminta, pois desde que descobriu que os elfos cozinhavam no subsolo do castelo, ela evitava comer. Mas não aguentou muito tempo, devorando toda a comida que apareceu magicamente no prato. Nem ela, nem Harry perguntaram ao amigo o que estava acontecendo, mas decidiu perguntar, incomodada com o silêncio e desconfiada do motivo de ele estar tão nervoso. Quando o garoto se levantou e começou a caminhar em direção à saída, deixando os amigos confusos para trás, ela se levantou e foi atrás dele.

— Rony, o que houve?
— Nada — ele respondeu com rispidez, sem diminuir os passos.

Rony a olhou de lado, e sentiu uma pontada no peito ao ver a chateação no rosto da garota. Ele parou, ficando de frente para ela.

— Desculpa, é que hoje foi um pouco difícil ficar ao seu lado.
— Como é? — ela perguntou, indignada. — Hoje foi meu primeiro dia! Eu sou tão ruim assim? Primeiro Malfoy, agora você?
— O que Draco te disse? — Ron perguntou, suavizando a feição do rosto.
— Disse que eu o irritava, sendo que nunca fiz nada pra ele! — ela exclamou, começando a ficar irritada. — Quer saber? Eu não vim aqui para fazer amizades ou agradar vocês, eu vim para estudar!

deu dois passos largos em direção às escadas antes de Rony alcançá-la e segurar seu braço, impedindo-a de seguir caminho.

— Escute, Draco é um filho da mãe babaca que não sabe o que diz, aquele garoto tem sérios problemas! — ele falou, ainda irritado, agora por um novo motivo. — Mas definitivamente não é essa a razão para ter sido tão difícil ficar com você hoje.
— Então qual é o motivo? Espero que tenha uma boa explicação porque você me deixou bem chateada com o que disse, Ronald Weasley.
A forma como ela disse seu nome e sobrenome fez o peito do ruivo pesar. Ele respirou fundo algumas vezes para tomar coragem antes de finalmente se explicar.

, desde o momento em que te vi na estação… E-eu não sei explicar, mas fiquei hipnotizado por você! — o garoto confessou, ficando cada vez mais vermelho. — E quando vi que você gostou da gente e quis ficar por perto, por Merlin, eu surtei de felicidade.
— Ron…
— Não me interrompa, por favor, preciso aproveitar esse momento de coragem. — ele disse, parecendo ofegante. — Por muito tempo fomos só nós três e agora tem você e você não fugiu da gente, você está aqui! Mas então vem aquele babaca do Diggory e depois o Malfoy e, sei lá… Não quero que você se afaste, . Pode ser egoísmo meu? Sim, com toda certeza. Mas eu gosto de você e sei que não posso nem competir com eles, então fico feliz em ter pelo menos sua amizade, por mais díficil que isso seja.

abriu a boca várias vezes, sem conseguir responder nada. Não esperava por essa resposta, mesmo vindo dele. Rony estava com ciúmes ou apenas não queria perder a nova amiga? Não sabia dizer ao certo, mas de qualquer jeito ela gostou do que ouviu. Seu pai odiaria saber disso, mesmo adorando a família Weasley. Ele não queria que ela fosse estudar lá, mas deixou para que ela pudesse adquirir mais conhecimentos além do maravilhoso ensino que a Castelobruxo oferecia. Sua condição foi: não se distraia com garotos, faça amizade apenas com Harry Potter e seus amigos, confiar fielmente em Dumbledore. A segunda e terceira tarefa eram fáceis: ela adorava Harry e cia e Alvo Dumbledore era uma das melhores pessoas que ela já conheceu. Mas a primeira estava cada vez mais difícil, e ela tinha que deixar isso claro para Rony.

— Ron… Eu não sei o que dizer, de verdade — ela respondeu com sinceridade. — Você é incrível, mesmo, mas eu não posso ter distrações. Então não se preocupe em relação às aulas com o Diggory, serão realmente apenas aulas. Muito menos com Malfoy, dele eu quero distância! Mas também não quero que tenha… Esperanças, sabe?

Os ombros do menino caíram visivelmente, mas ele manteve um sorriso leve no rosto. Harry e Hermione apareceram, receosos se deveriam se aproximar ou não. Eles apontaram para a escada e foram por aquele caminho, observando por sobre os ombros para ver se os dois os seguiam.

— Contanto que não nos troque por eles, eu aceito as condições — Ronald disse, passando o braço direito por seus ombros e seguindo o caminhos que os amigos acabaram de fazer.

— Combinado — ela respondeu rindo, sentindo um peso sair de seu peito.


5 - Weasley, Malfoy or Diggory?

Depois de sobreviver à longos dias de aulas e deveres (e à confusão em que Harry e Draco se meteram há alguns dias na aula de Trato das Criaturas Mágicas), recolheu alguns livros que usava em sua escola no Brasil e se esgueirou pela porta da Sala Comunal, caminhando apressada pelos corredores em direção à biblioteca. Teve que usar o mapa engraçado que Harry emprestou, depois de implorar para que ela tomasse todos os cuidados possíveis, pois ele era muito valioso. Ele mostrava onde estava cada pessoa dentro do castelo, o que era muito útil, mas tentou focar em apenas um nome: Cedrico Diggory, que já estava à caminho da biblioteca. Desde o dia que se ofereceu para dar aulas particulares de Herbologia Brasileira, Black e Diggory não conseguiram se encontrar. As trocas de olhares eram constantes; quando tinham sorte, conseguiam trocar algumas palavras. Mas hoje, finalmente, ela estava a caminho de encontrá-lo na biblioteca que, segundo o mapa, ainda estava um pouco longe.
Um nome chamou sua atenção no velho pergaminho. Draco Malfoy caminhava com pressa em um corredor ao lado do seu e, segundo o mapa, eles estavam prestes a se cruzar. Ela dobrou o pedaço de pergaminho, sussurrando "malfeito, feito" como Harry a ensinou, e o enfiou em suas vestes segundos antes do sonserino a encontrar.

— Onde pensa que vai, ? — o garoto murmurou com sua voz arrastada, cruzando os braços e desacelerando os passos até chegar perto dela.
— Não é da sua conta, Malfoy — ela retrucou, vendo-o trincar os dentes de raiva. — Está sem seus cachorrinhos hoje?
— Você se acha tão foda, não é? Só por ser de outra escola — ele respondeu, se aproximando mais de enquanto ela apenas recuava, mas sem abaixar a cabeça. — Aposto que consigo fazer você diminuir esse seu ego.
— Gostaria de te ver tentar — ela retrucou. ameaçou se afastar, mas ele se colocou na frente dela novamente. — Sai da frente, Draco.

O garoto não se afastou, nem disse nada. Ele apenas a olhou da mesma forma que sempre olhava: com curiosidade e intensidade, seus olhos azuis e frios em contraste com os olhos negros e quentes de . Era ridículo, mas ela adorava esse jogo de quem ia desistir e desviar o olhar primeiro. E nenhum dos dois parecia querer fazer isso. Mas Draco o fez apenas para olhar para os lábios rosados e carnudos da garota, odiando com todas as forças a vontade que sentiu de encostar os próprios lábios nos dela. Se xingou de fraco, se forçando a lembrar de que ela era amiga do Potter e, portanto, sua inimiga. Sem falar sobre sua desconfiança: ela era provavelmente a filha de Sirius Black, o fugitivo de Azkaban que todos estão procurando e que sabia demais. Mas seus lábios, tão convidativos, faziam seu cérebro rodar em confusão.
encostou a mão no peito de Draco na intenção de empurrá-lo para longe, mas uma névoa já conhecida tomou conta da sua mente no instante em que o tocou, sua força se esvaiu de seu corpo. Ela teve a sensação de que fosse desmaiar, pois realmente perdeu todos os sentidos. Mas estava acordada e sentiu quando as mãos surpreendentemente quentes seguraram seus braços para que ela não caísse.

     sentiu como se flutuasse. Era estranha a sensação, normalmente não se sentia assim quando tinha visões. Seus pés finalmente tocaram o solo duro de concreto, e ela percebeu que estava em um dos corredores de Hogwarts, o mesmo que estava há alguns segundos com Draco. caminhou com cuidado, impressionada por não fazer nenhum ruído. Avistou uma porta aberta e caminhou até ela, sua intuição lhe avisando que precisava entrar naquela sala. Ouviu vozes altas vindo daquele lugar, e não se impressionou quando viu Draco e Lúcio discutindo. O homem puxou a manga da própria veste, apontando para uma espécie de tatuagem marcada em seu braço que ela desejou poder enxergar melhor o desenho.

Essa marca não significa nada para você, garoto? — Lúcio murmurou entre os dentes. — Logo terá uma dessas em seu braço e você deveria se orgulhar disso! Não se recusa um pedido do Lorde das Trevas! Você sabe a vergonha que nos fez passar?
— Eu levo à sério! — Draco retrucou com raiva. — Mas eu preciso ser um bruxo melhor antes de me dedicar à ele! Do que adianta se eu não souber nada? Estes testes e desafios que me mandam fazer! Eles só atrapalham minhas aulas, pai!
— Você está se apegando à ela, não está? — o homem perguntou, parecendo furioso. Draco ficou em silêncio, apertando os lábios. — Você é uma piada!
não é uma pessoa ruim…
— Ela é filha do Sirius! — Lúcio gritou. — Ela é uma traidora do sangue igual à ele!
— Não fale assim dela! — Draco berrou, parecendo transtornado. — Você não a conhece e não sabe se ela realmente é filha dele!

Lúcio se espantou com a reação do filho, mas não pôde deixar de sentir orgulho, pois foi para isso que ele o criou, para se defender desta forma, independente de quem fosse. Mas esse apego sentimental na filha de um dos homens que mais odeia, ah, isso sim o preocupava. pulou de susto com o grito e se surpreendeu por ele defendê-la com tanto fervor. Lúcio Malfoy se recompôs, e seu olhar causou um arrepio na garota.

— Trate de desapegar logo e descubra onde Sirius está! — O homem falou, agarrando com firmeza o braço do garoto e batendo com sua bengala em uma das mesas de madeira, lhe causando mais um susto. — Nem que você tenha que matar aquela bastarda sangue ruim!

recobrou os sentidos e se assustou ao ver os olhos de Draco arregalados e preocupados tão próximos aos dela, a mão pálida segurando seu rosto com firmeza e delicadeza ao mesmo tempo, como se quisesse protegê-la mas tinha medo de machucar. Ela estava deitada no chão e estavam apenas os dois no corredor deserto. Ela se sentou, vendo-o respirar aliviado.

— Você está bem, ? Que merda foi essa? — ele perguntou. o olhou com raiva e desviou o olhar para o braço coberto do garoto. Sentiu vontade de esticar o braço e puxar a manga de sua capa para ver se ele já tinha a mesma marca que o pai, mas se deteve. — Responda, garota!
— Me deixe ir, Draco — falou, sua voz saindo em um sussurro fraco ridículo. — Ou melhor, me deixe em paz!

Os dois se levantaram juntos, Draco a olhou sem entender nada, ainda muito preocupado. Mas ele deu um passo para o lado, mesmo relutante, e a garota saiu quase correndo pelo corredor deserto. parecia não conseguir recuperar o fôlego, nem todo ar do mundo era o suficiente. Odiava admitir a si mesma que ela ficou afetada pela aproximação de Malfoy, mas a visão deixou claro quais eram as reais intenções dele e de seu pai. Era demais para sua cabeça, os Malfoy a queriam morta, assim como queriam a morte de seu pai. A desconfiança de Draco, a forma como ele a olhava, parecendo estudá-la e sabendo exatamente quem ela era ou que ela estava guardando um segredo, tudo fazia sentido agora. Ele sabia, ele entrou naquele castelo sabendo quem deveria procurar. Mas estava um passo à frente deles, e não os deixaria ganhar tão cedo.
Cedrico batucava impaciente na mesa de madeira enquanto checava o relógio a cada minuto, ansioso para sua primeira aula particular de Herbologia. Está bem, talvez não fosse pela aula que ele estava ansioso e sim pela garota que seria sua professora. Diggory não parou de pensar nela desde o segundo em que a viu na cerimônia de escolha. Não pôde deixar de se decepcionar quando foi escolhida para a Grifinória e não para Lufa-Lufa, mas usou como desculpa a vontade de aumentar seus conhecimentos para que pudesse passar um tempo com ela.
Também não pôde deixar de se decepcionar quando viu o quão próxima ela estava de Rony Weasley quando viu que a mesma passou a aula inteira aos risos e cochichos com o colega da mesma casa que ela, além de não desgrudar dele, de Hermione e de Harry Potter. A competição seria tão acirrada quanto os jogos de quadribol, o qual ele dominava com maestria.
Um sorriso largo surgiu em seu rosto quando a morena entrou correndo pela porta dupla da biblioteca, sendo repreendida por Madame Irma Pince, a bibliotecaria de Hogwarts. Cedrico se levantou quando a viu olhar em volta, procurando por ele, e acenou para chamar sua atenção. continuou andando em sua direção, dando um sorriso fraco ao sentar-se na mesa. Ela parecia tensa e assustada, olhando para a porta como se esperasse que alguém tivesse seguido-a até ali.

— Está tudo bem? — ele perguntou ao ver que ela continuava séria e sem fôlego.
— Está sim — ela exclamou, balançando a cabeça. — Desculpe o atraso, esse castelo é grande demais, acabei me perdendo.
— Eu entendo, demorei vários meses para saber onde fica cada lugar, mas me perco até hoje — ele respondeu rindo, fazendo-a finalmente abrir um sorriso sincero.

Diggory podia jurar que aquele era o sorriso mais lindo que ele havia visto em toda a sua vida. Ele poderia observá-lo pela eternidade e jamais se cansaria. Se sentiu o homem mais sortudo do mundo por poder ter esse sorriso só para ele. Bom, pelo menos por algumas horas.

— Eu trouxe alguns livros que eu uso em Castelobruxo, mas acabei de perceber que está todo em português… — fez uma careta, como se pedisse desculpas.
, somos bruxos, se esqueceu? — o garoto falou com uma sobrancelha levantada.

Ele puxou a varinha de dentro das vestes, abriu um dos livros e olhou em volta para garantir que ninguém estivesse ouvindo.

Verbis Transferendum Aglicus — Ced sussurrou com um sorriso travesso nos lábios.

começou a folhear o livro e viu cada palavra de cada página embaralhar para se transformar na sua tradução em inglês. Ela o olhou espantada e maravilhada pois não conhecia esse feitiço.

— Eu vou ter que usar esses livros no Brasil, você sabe disso, não é? — ela sussurrou, rindo baixinho.
— Para sua sorte, eu sei o feitiço que desfaz, é o… É o…

abriu a boca em um mix de susto e indignação quando Cedrico fingiu não saber o feitiço, fazendo o garoto gargalhar alto demais ao ver sua preocupação. Irma apareceu do seu lado em um segundo, mandando-o ficar quieto. Ele deu um pulo, se assustando, e os dois jovens seguraram o riso enquanto a supervisora se afastava.

Verbis Naturalis — ele sussurrou, e as palavras voltaram ao seu idioma natural.
— Incrível… — ela sussurrou com os olhos brilhando fixos no livro. Ela levantou o olhar, cruzando-o com os verdes claro de Diggory, trocando um sorriso tímido. — Acho que estamos enrolando muito, logo a biblioteca vai fechar.

Dessa vez quem fez o feitiço foi a própria , se segurando para não soltar um grito empolgado quando funcionou. Ela começou com uma breve explicação sobre a matéria que tinha na Castelobruxo, explicando que o clima de lá era bem diferente da Inglaterra, muito mais quente e tropical, então muitas plantas de lá não sobreviveriam na Europa. Cedrico falou sobre as pesquisas maravilhosas que Newt Scamander, ex-aluno (e lufano) de Hogwarts e renomado pesquisador da área de criaturas mágicas e herbologia, fez no Brasil, e contou que isso foi o que fez Cedrico se interessar mais no assunto.
Depois de mais algumas risadas baixas e várias leituras dos livros que trouxe, Cedrico constatou tristemente que faltavam cinco minutos para fecharem a biblioteca. Madame Irma já passava de mesa em mesa para avisar os alunos, mas para poupar o tempo dela, Cedrico e arrumaram suas coisas e levantaram, caminhando lado a lado para a saída. O lufano não a deixou carregar os livros, colocando-os na mochila que ele carregava nas costas. Em um ato de coragem, Diggory segurou a mão quente de , e se impressionou com o quão pequena e macia ela era, desejando poder tocar sua pele o tempo todo. Caramba, o que estava acontecendo com ele? Nunca se sentira assim por nenhuma garota, nem mesmo por Cho Chang, por quem estava começando a ter um relacionamento antes das férias.
Eles foram conversando enquanto caminhavam até a Sala Comunal da Grifinória; se impressionava com a facilidade em que o garoto a fazia rir ou com que tirava um sorriso de seu rosto, mesmo com mil e uma preocupações na cabeça. E se sentiu frustrada quando chegou em frente ao quadro da Mulher Gorda, que se deliciava com um cacho de uvas e uma taça de vinho. Cedrico tirou os livros da mochila e entregou para a garota, ele estava igualmente frustrado. As horas que passou com ela foram as melhores que tivera há muito tempo mas passou rápido demais, ele só queria poder passar a noite inteira em sua companhia.

— Obrigada pela aula de hoje, foi realmente produtiva — ele falou com um sorriso largo.
— Não precisa agradecer, eu estava mesmo precisando me distrair um pouco — ela respondeu, dando um sorriso fraco, não querendo se despedir tão cedo. — Obrigada por me acompanhar, Cedrico.
— Pode me chamar de Ced, Cedrico é muito formal — ele falou, fazendo-a rir.
— Ok, Ced! — brincou. — Nos vemos amanhã?
— Com toda certeza! — ele respondeu com animação, ajeitando a mochila nos ombros. Antes de se virar, Cedrico se inclinou e deu um beijo na bochecha da garota, fazendo-a corar no mesmo instante. — Até amanhã.

ficou paralisada com a mão na bochecha enquanto observava o garoto se distanciar cada vez mais. Seu coração estava ridiculamente acelerado e tinha sido apenas um beijo na bochecha, e se fosse algo mais sério como um beijo na boca? Seus pelos se arrepiaram com o pensamento, mas foi um arrepio muito bom.

— Foco, ! — ela sussurrou para si mesma.
— Esta não é a senha, querida — a mulher no quadro falou.
— Senha? — perguntou. Dando um tapa na própria testa, se lembrou que precisava de uma senha para entrar. — Merda, a senha!
— Sim, a senha — a mulher repetiu, comendo mais uvas.
— Senhora, eu não me lembro, mas eu sou da Grifinória! Olhe minhas vestes! — a garota disse, apontando para si mesma. — Por favor, me deixe entrar!
— Sem senha você não irá entrar.

exclamou um palavrão com raiva, deixando seus livros caírem no chão. Então o quadro fez um barulho e se moveu, abrindo a passagem. Viu os cabelos ruivos e bagunçados de Rony aparecerem do outro lado, os braços cruzados fazendo seus músculos se destacarem por causa da regata que usava. A garota desviou os olhos, obrigando-se a não dar atenção a isso, por mais convidativo que fosse o corpo do colega. Xingou mentalmente todos os palavrões possíveis, sem querer lidar com mais um garoto naquele dia.

— Como foi a aula? — ele perguntou desanimado, sem sair da entrada.
— Eu te contarei todos os detalhes extraordinários de uma simples aula de Herbologia, Rony, só me deixe entrar antes — ela resmungou com irônia, visivelmente cansada.

Ele entortou a boca contrariado, mas se afastou do portal, deixando-a passar. Hermione e Harry estavam sentados nas poltronas perto da lareira, onde e Rony se juntaram, lado a lado, sentados no sofá. O clima parecia tenso, imaginou se eles estavam brigando antes de ela chegar.
Harry dobrou apressado um pequeno pedaço de pergaminho e enfiou dentro de um livro, deixando claro que não era para ver. A garota lhe devolveu o mapa, agradecendo pela ajuda, e não perguntou sobre o papel.

, antes de você contar todos os detalhes do seu encontro com Cedrico… — Mione riu ao ver Rony Weasley trincar os dentes. — Tinha um papagaio na janela do dormitório, ele estava com esse pergaminho com seu nome.

Os olhos de brilharam ao ver o pedaço de papel na mão da amiga. Ela o pegou com ansiedade, desenrolando-o para ler na mesma hora.

— Eu não li, só peguei porque ele parecia estar com pressa, ficava picando a janela sem parar — a garota completou.
— Obrigada, Mione — ela respondeu, sorrindo em agradecimento.
— Você tem um papagaio ao invés de uma coruja? — Rony perguntou impressionado. — Legal.
— Jack é bem divertido — ela respondeu distraída, ansiosa para conseguir ler a carta. — Queria poder ver ele, uma pena ele não ter esperado.

quase chorou ao ler a letra trêmula de seu pai.

"Querida ,
Meu peito dói de saudades. Alguns dias longe é tempo demais depois de quase uma vida distantes. Como estão as coisas? Já se meteu em confusão?
Estou preocupado com Harry, ele tem sentido dores na cicatriz e isso não é bom. Diante disso, e da saudade que estou da minha filha, decidi ir para o norte. Só ficarei tranquilo quando estiver perto de vocês. Não se preocupe, estou protegido, Dumbledore e Aluado tem me ajudado muito. Harry provavelmente já sabe que estou indo (mandei uma carta para ele também), mas continue guardando segredo sobre nosso parentesco, está bem?
Ah, irei precisar de Jack por alguns dias, prometo devolvê-lo em breve!
Confie em mim, pequena, eu confio em você. Para sempre, seu pai."

engoliu em seco e secou os olhos quando terminou de ler a carta, sentindo seu coração bater tão forte que poderia quebrar sua caixa torácica. Sirius não podia vir, ele sabia dos riscos! Por que se arriscar por tão pouco? Harry parecia estar ótimo, e uma semana era pouco tempo para se desesperar e vir atrás dela, pensou. Ele ter ido para Londres já tinha sido uma loucura, agora para mais perto - sabe-se lá onde - era pior ainda. parou para pensar: se o homem escondeu sobre sua ida à Londres, quanto mais ele estaria escondendo?
Ela respirou fundo e fechou os olhos enquanto enrolava o papel, tentando não pensar algo ruim sobre seu pai. Seu objetivo era o contrário: provar que ele era um homem bom e injustiçado. Quando abriu seus olhos, se deparou com os três amigos encarando-a com ansiedade para saber o que tinha na carta.

— É do meu pai — ela falou, dando de ombros. — Só queria saber como estão as coisas e disse que vai precisar de Jack por alguns dias.
— Poxa vida, queria conhecê-lo! — Rony falou, fazendo uma careta.
— M-meu pai? E-ele é só um cara normal, p-por que iria querer conhecê-lo? — a garota gaguejou, visivelmente nervosa.
— Eu estava falando do Jack — Weasley retrucou, sem entender a reação da garota. — Está tudo bem? Aconteceu algo lá fora? Você está estranha.
— Está tudo ótimo — ela mentiu, já perdera as contas de quantas vezes contou essa mentira naquele dia.

Ela finalmente reparou em Potter em como ele não parecia nada bem e igualmente preocupado, as rugas em sua testa deixariam marcas. Cutucava freneticamente a sua cicatriz, pensativo e totalmente alheio à conversa. Ele se levantou, de repente parecendo furioso.

— Harry… — começou Hermione, parecendo cansada.
— Vou me deitar, vejo vocês amanhã. — E batendo os pé, Harry subiu a escada até seu dormitório.
— O que deu nele? — perguntou, já imaginando a resposta. Os dois amigos se olharam, pensando no que responder.
— Problemas de família — mentiu Hermione, coçando a nuca. — Agora nos conte tudo sobre Cedrico!

Para poupar Rony, falou apenas o básico. Não se surpreendeu quando Hermione disse que já conhecia o feitiço de tradução, mas o ruivo ficou igualmente impressionado. Sem muito clima para ficarem conversando, logo eles subiram para seus respectivos quartos. Quando as duas já estavam deitadas, sentiu Hermione inquieta em sua cama.

? — a garota sussurrou, levantando um pouco a cabeça.
— Sim?
— Como é o seu pai? Ele também é bruxo?

Black gelou com a pergunta de Hermione e se perguntou se as emoções do dia não iriam acabar nunca. se apoiou com o braço, levantando metade do corpo para poder enxergar a amiga. Ela a olhava com receio e curiosidade.

— Ele é sim — ela confessou, pensando que poderia falar um pouco da verdade sobre seu pai sem revelar quem ele era. — Um dos melhores que eu conheço.
— Uau — Mione respondeu. — E sua mãe?
— Ela… Faleceu há alguns anos — respondeu, ignorando o nó em sua garganta. — Mas não era bruxa.
— Eu sinto muito — Hermione disse com tristeza na voz. — Seu pai é do Brasil?
— Não — a morena respondeu automaticamente, sem pensar.
— Ele estudou aqui, não foi?

Hermione perguntou como se já soubesse a resposta. O sorriso em seu rosto era de pura compreensão, e naquele momento soube que nada se poderia esconder de Hermione Granger. A garota sentiu certo alívio com a ideia de poder falar sobre Sirius com alguém, mas se perguntou se seu pai ficaria decepcionado por ela não ter guardado o segredo por mais de uma semana.
Como não respondeu nada, Hermione considerou o silêncio como uma confirmação.

— Eu sabia que Sirius não viria só por causa da cicatriz do Harry. Os tais "acontecimentos extraordinários", era sobre você que ele falava — a jovem falou, sorrindo. — Uau, Sirius tem uma filha! Jamais iria imaginar isso!
— Mione, por favor, não conte a Harry ou a Rony — implorou, se sentando na cama. Sua amiga também se sentou, olhando em volta.
Abaffiato — a garota sussurrou com um aceno rápido e discreto da varinha. — Ninguém vai nos ouvir.

Então contou tudo, desde sua mãe até sua condição que herdou dela, contou sobre as visões (sem mencionar a visão com Draco) e sobre Sirius ter voltado ao Brasil, detalhou o primeiro encontro deles e lhe mostrou a carta que ele mandou.

— Ele está vindo por minha causa — falou, apertando as mãos em pura ansiedade.
— Bom, se te serve como consolo, Harry está se sentindo igualmente culpado — Granger respondeu, lhe devolvendo o pergaminho.
— Ele não tinha mesmo que ter contado sobre a cicatriz. Ele não conhece meu pai? Impulsivo para caramba, sem ligar para as consequências quando o assunto envolve quem ele ama.
— Na verdade, nós também não tivemos muito tempo com ele — Hermione falou com chateação. — Ele saiu daqui e foi direto te encontrar. Não sabíamos que ele estava no Brasil.
— Mione… — sussurrou, mesmo sabendo que um feitiço as protegia. — Preciso que guarde segredo por mais algum tempo, está bem? Tentarei convencer Sirius a não vir para cá e preciso da sua ajuda.
— Conte comigo! — a amiga respondeu animada. — Mas só amanhã, hoje estou exausta.

E sentindo a mesma exaustão, se deitou na cama e apagou no mesmo segundo.


6 - Two Can Keep A Secret

Os dias seguintes passaram rápido demais, mas, ainda sim, agoniantes. Sirius não dava notícias e Dumbledore continuava sem novas notícias sobre ele. não podia enviar nenhum bilhete pois seu papagaio, Jack, não voltou desde a última carta que Sirius mandou. Ela sabia que ele precisaria do pássaro por alguns dias, como ele mesmo falou, mas não pôde deixar de ficar aflita com a possibilidade de terem pego seu pássaro ou pior, terem pego seu pai. Por sorte, não saíram mais notícias dele no Profeta Diário, o que não a deixava mais tranquila.
A última aula do dia era a que deixava mais apreensiva. Snape claramente não gostava dela (nenhuma surpresa, pois ela andava com Harry e cia e ele os detestava), e ela não fazia esforços para gostar dele. Das poucas coisas que Sirius Black contou sobre seus anos em Hogwarts, Snape foi uma delas, e ele não falou coisas boas.

— Na aula de hoje, iremos aprender sobre poções para curar mordidas de animais mágicos marinhos. Dumbledore acha que será importante — a voz grave e arrastada de Snape ecoou pela masmorra enquanto ele andava entre as mesas. — Em duplas, quero que abram na página 31 do livro Animais Fantásticos e Onde Habitam, uma exceção por conta do tema. Leiam o capítulo inteiro sobre criaturas marinhas de diversos lugares.

Rony já abrira na página solicitada e passava o dedo sobre as linhas e desenhos feitos por Newt Scamander. percebeu que era sobre esse livro que Cedrico falou no dia anterior, o que a fez viajar para as memórias daquelas poucas horas com ele na biblioteca.

— Olha, aqui fala sobre o Brasil! — Rony sussurrou, apontando animado para um parágrafo que falava sobre salamandras carnívoras que viviam na água doce e podiam mudar de tamanho, alcançando até três metros de comprimento.

os conhecia de cor e salteado, sabia exatamente qual poção usar para o veneno daqueles animais traiçoeiros pois seu próprio pai havia sido mordido por um enquanto nadavam no rio próximo ao Castelobruxo. Se não fossem por seu vasto conhecimento em poções, provavelmente seu pai não teria sobrevivido.
Aproveitando um minuto de distração da colega, Rony começou a desenhar na borda do livro. Primeiro fez flores, depois um peixe mal feito, mas foi interrompido enquanto escrevia a frase de uma música que o fazia lembrar da garota.

— Fala sério Ron, olha o que está fazendo no meu livro! — ela murmurou o mais baixo possível. — Eu quero o autógrafo do Newt, não o seu!
— Eu sou bem mais interessante — o garoto provocou, dando um sorriso convencido.
— Weasley e , o livro está mais interessante do que minhas orientações sobre o que devem fazer?

Os dois amigos se olharam assustados antes de levantarem a cabeça e dar de cara com Severo Snape os encarando de braços cruzados.

— Quer a verdade? — Rony respondeu. colocou a mão na boca, segurando o riso, mas Harry não se deteve e soltou uma gargalhada alta.

Eles perceberam o erro cometido assim que viram Snape fuzila-los com os olhos. Ele caminhou até Potter, os braços cruzados com firmeza, e vociferou:

— Menos trinta pontos para a Grifinória! Dez para cada um! — abriu a boca para protestar, mas Snape apontou seu dedo comprido para ela. — Se reclamar, são mais cinquenta!

passou a aula inteira em silêncio, cochichando apenas quando necessário com sua dupla. Em um certo momento, se lembrou que a aula era com a Sonserina (os queridinhos do Snape), e arriscou um olhar pela sala. É claro que Draco a encarava enquanto seu colega fazia tudo sozinho. A mesma curiosidade de sempre estava ali, presente, mas também tinha algo mais. Ele pareceu estar com raiva, ou nojo, não soube dizer. Não era ela quem deveria odiá-lo? Por que parecia o contrário?
A poção para alergia causada pela escama do peixe-dragão era simples demais: algumas algas marinhas com frutas silvestres e lesmas, um clássico da bruxaria. O líquido espesso precisava ficar azul marinho com um brilho prateado, e assim ficou. Rony ficou extremamente animado e impressionado, e disse que jamais conseguiria chegar em tal resultado sozinho, ficando eufórico pela expectativa de receber uma nota boa. Granger e Potter também chegaram em um ótimo resultado, o que não agradou em nada o professor.

— É isso que vocês chamam de poção? — Snape exclamou, fazendo cara de nojo. pôde jurar que ouviu Draco rir alto, fazendo surgir um leve e breve sorriso no rosto do professor.
— Está exatamente como pede a descrição no livro, está vendo? — retrucou, apontando para a o parágrafo que dizia em detalhes como deveria ficar a aparência final.
— Você quer me ensinar a dar aula de poções, ? — Snape deu um tapa na mesa deles, assustando-os. — Se eu digo que não está bom é porque não está bom! Vocês farão quatro metros de pergaminho explicando em detalhes como devem ficar cada preparação que tem neste capítulo.
— Quatro!? — exclamou Rony, indignado.
— Agora são seis! — Snape retrucou, dando as costas para a turma.

sentiu seu sangue esquentar enquanto guardava os materiais em sua mochila, reprimindo a vontade de atacar um livro em Snape. Quando finalmente foram liberados, ele a deteve na porta, fazendo-a se irritar ainda mais.

— Sua aula acabou, senhor. Preciso ir — ela falou, rangendo os dentes. não queria perder a razão, seus pais lhe ensinaram a sempre ser superior ao seu oponente, mas certas situações eram difíceis demais.
— Prepotente como o pai, não é, Black? — ele falou, fazendo prender a respiração ao ouvir seu outro sobrenome. — Se acha tão esperta… Convivi anos com o seu pai, pensou mesmo que eu não iria saber? Garota tola.
— Vá em frente, conte aos seus amiguinhos Comensais! — ela o desafiou, levantando o queixo o mais alto que conseguia. — Acha que tenho medo de vocês? Eu sou filha de Sirius Black e Artemisa , sou da casa Grifinória! Coragem é meu segundo nome, Snape.

O homem deu um sorriso irônico, reação a qual definitivamente não esperava.

— Sabia que esses olhos eram familiares — ele murmurou. — Eu não tinha certeza, mas você acabou de confessar. Parece que não é tão inteligente assim, Black.

Severo deu um passo discreto para o lado, deixando o caminho livre para sair da sala. Mas as pernas dela não pareciam querer responder, tamanha era a frustração e o choque pelo que tinha acabado de fazer. Ela se sentiu a pessoa mais burra do mundo, ao mesmo tempo que se sentia a mais desesperada. queria correr até não conseguir mais, queria fugir de Hogwarts e encontrar seu pai antes que fosse tarde demais. Ela queria bater em si mesma, sem piedade, pois ela não merecia tal coisa. Foi uma péssima ideia vir para essa escola, o pai dela estava certo! E agora, por sua grande irresponsabilidade, ele corria grande risco.
E foi isso que fez: saiu correndo sem rumo algum. Desceu as escadas pressa, passou pela enorme porta, quase atropelando alguns colegas da Corvinal, e foi para o jardim. Sentiu as lágrimas caírem, frustrada por não ter conseguido pensar em uma solução rápida. A essa altura, Snape já devia ter falado com os Comensais, e eles não teriam piedade alguma com ela e seu pai, não mediriam esforços para encontrá-lo. Isso se já não encontrou, porque Sirius ainda não havia respondido o seu recado e ela não fazia ideia de onde ele estava.
estava tão distraída e corria tão rápido que foi jogada para trás quando bateu de frente com algo enorme. Ela não se lembrava de ter paredes ou rochas no meio do jardim. Mas não era nada disso, era apenas Hagrid com Canino latindo enlouquecido. O cão correu até a garota e, pegando a mesma de surpresa, começou a lamber seu rosto enquanto ela se sentava. Hagrid também se aproximou com desespero, pedindo desculpas.

— Não foi sua culpa, Hagrid, eu não estava prestando atenção — a garota disse, se levantando.
— Você está bem? — ele perguntou, ajudando-a. — Canino, deixe a garota em paz!

O cachorro sentou, abanando seu rabo enorme. Ela sorriu para ele, acariciando sua cabeça.

— Snape descobriu que sou filha do Sirius — ela confessou, sentindo um nó se formar em sua garganta. — Não sei o que fazer, Hagrid! Estou surtando! Acho que vou pedir para Dumbledore me expulsar… É, é isso! Vou falar com ele, vou encontrar meu pai e…
— Ei, ei, ei, pode parar! — Hagrid falou, se agachando para ficar próximo da garota. — Você não vai a lugar algum! Se tem uma coisa que admiro em Snape… Bom, talvez a única coisa que admiro nele, é sua lealdade à Alvo Dumbledore.
— Lealdade ao Dumbledore!? — A voz dela saiu esganiçada tamanha a indignação que sentiu. — Ele com toda certeza trabalha com os Comensais! Ele é um deles!
, Severo não trabalha para Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado há anos, desde… — Hagrid se deteve, percebendo que falaria algo que não deveria ser revelado. — Bom, a questão é: se Dumbledore falar com ele, Snape não fará nada.

ponderou o que o professor disse, tentando decidir se confiava em suas palavras. Não que ela não confiasse nele, mas não confiava nem um pouco em Snape.

— Sabe o que você precisa? — disse Hagrid, se levantando. — De um pouco de água.
— Obrigada, Hagrid, mas não estou com sede.
— Não é desse tipo de água que estou falando — o gigante respondeu, apontando para o lago ao lado deles. — Deve sentir falta de poder nadar como fazia no Brasil, não é?

O rosto da jovem bruxa se iluminou. A simples ideia de voltar a nadar a deixava eufórica. Hagrid segurou sua mão minúscula e a puxou em direção ao lago escuro e gelado. A garota tirou sua capa e estava prestes a tirar a roupa quando se lembrou que não estava sozinha.

— Você poderia… — ela falou, fazendo um sinal para que Hagrid se virasse.
— Ah, claro, claro! Por Merlim, me perdoe! — ele falou, envergonhado. — Vou estar em minha cabana se precisar de algo. E não se preocupe, ninguém vem por aqui nesse horário.

esperou o gigante entrar em sua casa para tirar o resto das roupas e entrar na água gelada apenas com as roupas íntimas. Fechando os olhos, ela tocou o colar, fazendo o objeto brilhar embaixo d'água. Duas fendas finas, parecendo cortes, se formaram em seu pescoço, possibilitando que a mesma inalasse a água como se respirasse o ar. O presente de sua mãe era muito mais que um simples colar; o objeto lhe permitia respirar embaixo da água para que a garota ficasse o tempo que quisesse com sua família por parte de mãe. Aquela era a melhor sensação de todas mas, mesmo se tentasse muito, não conseguia sentir a mesma liberdade que costumava sentir em Manaus. Aquele não era seu lugar, ela sentiu isso. Seu pensamento apenas se confirmou quando, ao nadar para mais fundo, enxergou um grupo de sereianos se aproximando. Eles eram bem diferentes de sua família ou de qualquer outra sereia que encontrava em seu país natal. As armas afiadas em suas mãos (facões e tridentes) a fizeram tremer. Como pôde esquecer das criaturas que moram no lago? É claro que Hagrid não esqueceu, e entendeu o plano do gigante quando se lembrou da vontade do homem de fazê-la conversar com os sereianos e convencê-los de participar de uma aula deles.

"Me desculpem, não lembrei que esse lago era ocupado", ela falou, usando o colar para se comunicar como fazia com sua família. Torceu para que eles entendessem.
"Você não é daqui." o maior deles, parecendo ser o líder, se aproximou mais dela, sem largar seu tridente.
"Não, não sou. Sou do Brasil, aluna da escola Castelobruxo"
"Castelobruxo? E o que faz em Hogwarts?"
"Intercâmbio, passarei o ano inteiro aqui".

Os sereianos se olharam, desconfiados; eles não costumavam receber alunos ou outros bruxos além de Dumbledore e Hagrid. Mais dois deles, uma fêmea e um macho, se aproximaram do líder, empunhando a mesma arma em mãos.

"E você é uma bruxa?", a fêmea perguntou, chegando mais perto ainda da garota. sentiu seu coração acelerar, xingando Hagrid mentalmente. A sereiana tocou seu colar que ainda brilhava forte. "Como consegue nos entender?'
"Meu pai é um bruxo, minha mãe era uma sereia. Eu sou apenas bruxa, mas herdei muitos talentos da minha mãe."

Um murmurinho se espalhou entre eles, surpresos. Eles a olhavam com tamanha curiosidade que deixou extremamente desconfortável.

"Eu vou sair, está bem? Não queria incomodar."
"Não! Fique!" o líder falou, eufórico. "Esse colar… Há tempos não vejo algo assim."
"Ah… Certo."
"Você faz feitiços embaixo d'água?" o outro sereiano a interrompeu, encantado. Todos eles se aproximaram, formando um círculo em volta da menina.
"Nunca tentei…" respondeu, olhando em volta."Eu realmente preciso ir…"
"Volte em breve!" a fêmea exclamou, mexendo em seus cabelos. "Ela pode voltar, pai?"
"Volte." ele respondeu com firmeza, ainda olhando com certa curiosidade para o colar.

acenou e nadou de volta para a superfície o mais rápido possível. Ela tocou em seu colar e os cortes se desfizeram; em seguida, pegou sua varinha e apontando para seu corpo semi nu, se secou com apenas um movimento preciso. O céu já havia escurecido drasticamente, o que dificultava enxergar qualquer coisa em volta. Enquanto vestia sua saia, ouviu um barulho atrás de um dos arbustos altos e percebeu que não estava sozinha. Com a varinha firme em sua mão direita, ela girou o corpo, tentando enxergar no escuro.

Lumos! — ela exclamou, e sua varinha se iluminou ao seu comando, entregando a silhueta que ela menos queria ver no momento.
— Então é esse o seu segredo, — Malfoy falou, saindo de trás do arbusto mais próximo e sendo iluminado pela luz azul. manteve sua varinha apontada para o sonserino, que andava sem medo em sua direção.
— Do que está falando? Eu estava apenas nadando — ela falou, seu coração ainda acelerado.
— Estou falando do seu corpo. Seu segredo é que atrás das roupas sem graça que usa, você esconde um corpo que… Bom, não é de se jogar fora.
— Você é nojento, Draco.

o olhou com raiva, sem acreditar no que ouviu. Mas quis se dar um tapa na cara quando sentiu seu corpo esquentar ao perceber o desejo nos olhos azuis do garoto. Ele estava perigosamente perto, e se aproximava cada vez mais, sem se importar com a varinha ainda levantada em sua direção. A ponta dela encostou em seu peito, a luz sendo bloqueada por sua camisa branca. Então apenas se virou para as botas e a camisa de botões na intenção de terminar de vesti-la de uma vez, murmurando "Nox" para apagar a luz.
Se odiando com todas as forças, Draco mordeu os lábios enquanto observava suas pernas agora cobertas pelas botas, desejando conseguir se afastar da garota. Mas ela parecia ter um imã que o fazia querer ficar cada vez mais perto, incapaz de se manter longe. Em um lapso de loucura, o bruxo agarrou o braço de , fazendo-a ficar novamente de frente para ele.

— Ninguém dá as costas para um Malfoy. — E com uma rapidez impressionante, ele colou seus lábios nos dela.

Ah, céus. Draco achava que estava louco por desejar isso desde o dia em que a garota tropeçou na sua frente no trem. Mas ali, naquele momento, ele soube que estava realmente indo à loucura. E o fato de não ter se afastado e sim retribuído o beijo com voracidade e raiva, o fez perder a noção dos seus atos. Ele a pegou no colo, suas mãos apertando com firmeza as coxas grossas da garota que enroscou as pernas em sua cintura. Draco acariciava sua pele exposta, ousando um pouco mais ao subi-las até sua bunda.
A garota, por sua vez, se deixou levar pelo momento. Depois de toda a merda daquele dia, o beijo e o toque de Malfoy estavam sendo o auge. A língua macia de Draco lutando contra a sua, as mãos quentes dele em sua pele… Odiava admitir que adorou cada segundo daquilo. Ela puxava os cabelos platinados do garoto, impedindo-o de se afastar nem um centímetro. Mal sabia ela que ele não queria se afastar.
arfou quando os lábios do sonserino encontraram seu pescoço, causando-lhe arrepios gostosos por todo o corpo. Mas como se de repente criasse consciência, abriu os olhos e afastou o rosto de Draco, irritada consigo mesma por ter deixado tal coisa acontecer quando deveria estar resolvendo problemas maiores. Beijar o suposto inimigo não ajudava em nada. Com um salto, ela saiu do colo dele e o empurrou com força com as duas mãos, o deixando frustrado e confuso.

— O quê foi? — ele perguntou, tentando se aproximar novamente.
— Fica longe, Draco, é sério! — ela retrucou, esticando o braço e fazendo com que ele parasse onde estava. Os dois arfavam, tentando recuperar o fôlego sem muito sucesso.
— Ah, vai agir como se não tivesse gostado? — o garoto questionou com uma risada irônica, levantando os braços com indignação.

Ela terminou de vestir a capa com pressa, sem olhar para ele e sem responder nada. Então se virou e começou a ir embora, mas Draco a impediu, se metendo na frente dela com raiva nos olhos.

— Não finja que você não queria isso, , eu sei que queria tanto quanto eu!
— A única coisa que eu quero de você, Malfoy, é distância! — ela exclamou a frase com irritação, como se ela não fosse uma das maiores mentiras que já contou. — Mantenha essas mãos nojentas bem longe de mim!

E com passos firmes, saiu em direção ao castelo sem olhar para trás, sabendo exatamente o que iria fazer em seguida, algo que deveria ter feito desde o momento em que saiu da sala de Snape.
Draco pegou uma pedra grande que estava na beira do lago e a atacou com toda a sua força contra a árvore mais próxima, dando um grito de raiva que assustou os pássaros em volta. Não conseguia acreditar em sua idiotice, achando que poderia ignorar o pedido de sua família e se divertir com ao invés de investigá-la. Se sentiu um tolo quando o pensamento "ela não é apenas diversão" passou por sua mente. Draco Malfoy, apaixonado? Até parece.

Passando apressada pelas mesas compridas do Salão Principal, caminhou em linha reta até Dumbledore. Ignorou seus amigos, que a chamaram quando ela passou por eles, e sustentou o olhar de Snape que acompanhava a garota até ela parar de frente para o diretor, interrompendo a conversa calorosa que Alvo estava tendo com a professora Minerva. Moody parou de cortar o seu bife e ficou olhando a cena com uma curiosidade exagerada. Era ridículo o quanto a garota tremia, o ar parecia não querer entrar em seus pulmões. Ela ficou em silêncio, perdendo toda a coragem de falar com Dumbledore assim que ele a olhou.

! Pensei que não iria jantar hoje! — o bruxo falou sorridente, se abaixando para olhar a aluna. — Como posso ajudá-la?
— E-eu… Preciso falar com você.
— Você está morrendo? — ele a questionou. — Alguém está morrendo?
— Bom… Eu esperoque não, mas...
— Então acredito que dê para esperar o fim desse delicioso jantar, não dá? — ele falou da forma mais doce possível. — Você precisa comer algo, querida.

assentiu frustrada e deu as costas, caminhando lentamente até a mesa da Grifinória. Não sentia um pingo de fome, muito pelo contrário, sentiu náuseas quando viu toda aquela comida surgir em seu prato.

— Onde você estava? — Harry perguntou, claramente preocupado. — Você sumiu depois da aula de Poções, aconteceu alguma coisa?
— Estava com Hagrid — ela falou, lançando um olhar para o gigante que devorava uma enorme coxa de frango. Não era totalmente mentira.
— Mas ele chegou há um tempão! — Rony a questionou, desconfiado.
— Tive que passar no dormitório… — ela respondeu, olhando significativamente para Hermione que soube no mesmo instante que acontecera algo relacionado à Sirius.

Hermione começou a tagarelar sobre as atividades das aulas de hoje, reforçando que no fim de semana iriam se juntar para fazer todos eles. Rony protestou, dizendo que não passaria seu sábado fazendo lições. Mas agradeceu pela garota ter mudado de assunto. Enquanto mexia em seu purê de abóbora sem a mínima vontade de comê-lo, passou os olhos pelo Salão e se deteve na mesa da Lufa-Lufa. Sempre encantador, Cedrico ria de algo que os colegas falavam. Os olhos dele pareceram brilhar ao perceber que ela o olhava. acenou com timidez, dando um sorriso leve. Diggory abriu um sorriso largo, acenando animado de volta. Com a confusão, ela esquecera completamente sobre as aulas com Ced. Ela então pegou um guardanapo e encostou a varinha no papel branco, onde apareceram as palavras "Me desculpe, não consigo te ver hoje. Amanhã serei toda sua, está bem? Xx ". Com mais um toque da varinha, o papel dobrou-se em um origami perfeito e voou até o prato do lufano que leu a mensagem com um sorriso triste no rosto. Cedrico deu de ombros e sorriu largo, sinalizando que estava tudo bem. Rony bufou alto ao lado da garota e atacou o spaghetti que estava em seu prato, devorando-o com raiva.
As portas do Salão abriram com um baque alto e uma corrente de vento forte os atingiu, bagunçando os cachos de . Draco entrou marchando, fuzilando a garota com os olhos, sem desviá-los até chegar em sua mesa. Ele ignorou os amigos e continuou a encarando com raiva; tudo o que ela queria era cavar um buraco e se esconder nele.
Agradeceu aos céus quando a refeição acabou, ignorando os protestos dos amigos e correndo novamente até Dumbledore. Draco esbarrou propositalmente em seu ombro quando ela passou por ele na clara intenção de provocá-la. Juntando todas as suas forças, ela o ignorou e seguiu seu caminho.

— Será que podemos conversar agora, senhor? — falou ao alcançar o diretor perto da saída lateral do salão. Dumbledore a olhou com curiosidade por cima dos seus óculos.
— Claro, vamos até meu escritório.

Seguindo o homem que era muitos centímetros mais alto, saiu sem olhar para trás, ansiosa para se afastar das confusões em que se meteu durante o dia. Se lembrou da última carta que seu pai enviou, perguntando se ela já tinha se metido em problemas. Ah, se ele a visse agora…

— Como posso ajudá-la, senhorita ? — Dumbledore perguntou, se sentando do outro lado da mesa.
— Snape descobriu que sou filha de Sirius — ela falou sem delongas, apertando as mãos em claro sinal de nervosismo. Explicou como tudo aconteceu enquanto o diretor a ouvia com atenção. — Ele já deve ter falado para os Comensais e agora com certeza eles já estão atrás do meu pai.
— começou o diretor, tirando seus óculos meia-lua e cruzando as mãos em cima da mesa. —, Snape não é mais um Comensal.
— Você não acredita mesmo nisso, não é? — ela perguntou com indignação. Alvo apenas soltou um suspiro alto. — Meu Deus...
— Eu tenho meus motivos para acreditar que ele mudou de lado, . Motivos que não se cabem ao momento — ele respondeu com seriedade. — Seu pai está bem, estamos cuidando dele. Lupin tem mandado notícias, eles estão em segurança.
— Por que ele mesmo não me manda notícias? — ela questionou, chateada. — Estamos esperando há dias!
— Estamos? — Dumbledore perguntou, inclinando a cabeça. — Harry sabe sobre…?
— Não, não sabe — ela o interrompeu. — Ele tem mandado cartas para ele também e meu pai responde quando consegue. Mas já fazem dias e nada!
— Eu lhe garanto que ele está bem. Lembre-se que é arriscado demais ele ficar mandando cartas. Mas você será a primeira a saber se algo acontecer, certo?
— Certo… — ela concordou, a contra gosto. agradeceu e se levantou, pronta para sair da sala.
? — ele a chamou, fazendo-a se virar. — Cuidado com o Draco Malfoy. Ele é um aluno genial… Mas não acredito que seja boa companhia para você.

engoliu em seco, se perguntando como Dumbledore sabia da aproximação dos dois. Ficou com isso martelando na cabeça enquanto ia para a Sala Comunal da Grifinória. Parou em frente ao quadro, desta vez com a senha na ponta da sua língua, quando foi abordada por Rony Weasley. Ele estava com um suéter vermelho com a inicial de seu nome bordado na frente e segurava uma cesta de palha em uma das mãos.

— Já vai dormir? — ele perguntou, dando um sorriso torto encantador.
— Acho que sim, estou exausta — ela murmurou, também sorrindo. apontou para a cesta — O que é isso?
— Pensei em te levar para comer algo já que mal tocou em seu prato hoje — ele respondeu, dando de ombros e ficando com as bochechas coradas.

Ron esticou a mão livre e enrolou um dos cachos soltos de em seus dedos, sentindo a maciez dos fios contra sua pele. Ele daria tudo para sentir o aroma de seus cachos ou de seu pescoço, ou o gosto dos seus lábios. Era uma tortura ficar ao lado dela sem poder tocá-la como queria.
mordeu o lábio, ponderando se deveria aceitar ou não o convite. Estava realmente exausta, mas não pôde mais fingir quando sentiu o estômago reclamar de fome. Então ela aceitou o convite, se animando um pouco e fazendo Rony sorrir largo. Ele soltou seu cacho apenas para segurar sua mão, puxando-a para longe do quadro. Usando o Mapa dos Marotos, os dois viraram vários corredores e subiram muitas escadas antes de chegarem em um canto da escola que ainda não conhecia. Era uma das várias torres do castelo, mas parecia estar abandonada e inutilizada. Ron esticou uma coberta comprida no chão empoeirado e se sentou, convidando para fazer o mesmo. A cesta estava repleta de pães e doces, com uma garrafa de suco de uva e duas taças de metal. O garoto acendeu algumas velas para iluminar o lugar.

— Como conseguiu tudo isso, Weasley? — perguntou, enfiando um pedaço de bolo de cenoura na boca e gemendo ao sentir o sabor. O ruivo ficou boquiaberto com a cena, incapaz de responder. — Ron?
— O-os gêmeos! — ele gaguejou, balançando a cabeça para sair do transe. — Meus irmãos sempre conseguem comida na cozinha, não sei como.
— Legal! — ela exclamou sorrindo.

Ronald bebericou o suco sem tirar os olhos da garota, tentando criar coragem para perguntar o que ele queria.

— Então… Cedrico Diggory, hein?

A bruxa se engasgou com o suco quando ouviu a pergunta e teve que tossir algumas vezes para melhorar.

— O que tem ele?
— Ah, me diga você — ele retrucou, tentando não parecer tão ciumento quanto se sentia. — Acha ele legal?
— Sim, ele é legal — ela respondeu com uma risada. — Ainda não entendi onde você quer chegar, Weasley.
— Você gosta dele? Tipo, pra valer? — ele perguntou de uma vez, desviando os olhos. Rony se sentiu um idiota assim que as palavras sairam de sua boca.
— Ron, ele é só meu amigo — ela respondeu, sorrindo com ternura. — Já te disse, esse definitivamente não é o meu foco agora.

Ela mandou para longe as lembranças do seu beijo com Draco Malfoy, sabendo que aquilo foi apenas um surto de misturas de sentimentos acumulados e que não aconteceriam de novo, de jeito nenhum. Ao invés disso, focou em Rony que estava na sua frente, com o mesmo sorriso fofo de sempre e os olhos brilhantes na luz fraca das velas. Era sempre muito divertido ficar com ele, o tempo passava deliciosamente rápido quando estavam juntos; fossem nas aulas ou nos tempos vagos. Com Rony, as coisas pareciam mais leves e simples, como se tudo fosse se resolver em um passe de mágica, e isso eles tinham de sobra. o adorava, com toda certeza. A última coisa que ela queria era ferir os sentimentos do ruivo por causa dos seus sentimentos conflituosos.
Os dois mudaram de assunto e continuaram comendo e conversando, revezando a comida com as gargalhadas que davam toda vez que um dos dois contava uma história engraçada ou uma piada muito ruim. Quando chegou a hora de ir, se surpreendeu quando desejou que a noite não acabasse ali. Os dois andaram na ponta dos pés e usaram novamente o mapa. Ao pararem em frente às escadas que levam aos dormitórios, segurou a mão do amigo, impedindo-o de subir.

— Obrigada por hoje, sério. Eu estava precisando disso. Não só da comida, mas da distração.
— Eu que agradeço. Você é a melhor companhia de todas — ele respondeu, se aproximando dela e segurando seu rosto com as duas mãos.

prendeu a respiração e sentiu seu coração acelerar, pensando que estava prestes a receber o segundo beijo do dia e que, diferente do outro, ela realmente desejava que esse acontecesse. Porém, Rony apenas beijou sua testa, um beijo demorado e cheio de sentimento. Depois beijou a ponta de seu nariz e uma de suas bochechas, um beijo igualmente demorado. Mas se limitou a isso, dando um sorriso triste enquanto admirava os lábios rosados e carnudos da garota, deslizando delicadamente o polegar pelo local quente.

— Boa noite, — ele falou, bagunçando os cabelos dela que protestou lhe dando um leve tapa e deixando escapar uma risada.
— Boa noite, Weasley — ela respondeu, correndo escada acima, desejando que Hermione e Gina já estivessem dormindo pesado.

E para sua sorte, elas estavam, e pode finalmente dar adeus ao dia mais confuso e complicado que ela já teve desde que chegou em Hogwarts.


7 - Wildest Dreams

estava de volta ao Brasil, mais especificamente no rio em que sempre nadava com sua mãe e com Sirius. Mas eles não estavam ali. Ela não sentia suas pernas, era como se fossem uma só. Quando olhou para baixo, um grito sem som algum saiu de sua boca, junto com bolhas que subiram para a superfície. Uma cauda aparecera no lugar de suas pernas, idêntica a de sua mãe. A garota levou a mão até o pescoço, tateando a pele em busca do seu colar que não estava ali. Então subiu para a superfície, sentindo o Sol lhe atingir o rosto.

— Então esse é o seu segredo?

A voz de Draco Malfoy era um eco fraco em seus ouvidos. girou o corpo para se deparar com o loiro a olhando com um olhar diferente que ela não soube dizer o que era. Sua pele pálida exposta e molhada refletia a luz do Sol, o deixando mais lindo do que nunca. Ele nadou em sua direção, sem quebrar o contato visual, e quando chegou perto de beijá-la, Draco afundou e desapareceu. girou, confusa, tentando encontrá-lo. Cada movimento tinha a dificuldade amplificada por conta da cauda pesada.

— Malfoy? — ela gritou, sua voz ecoou pelo pantano deserto.
— Estou aqui, querida. — A voz de Ronald Weasley estava a centímetros de seu ouvido, fazendo seu corpo todo arrepiar.
— Ron? — ela perguntou confusa, sem entender como os cabelos platinados e frios de Draco se transformaram nos ruivos e quentes do Weasley.
— É tão difícil ficar perto de você… — ele sussurrou em seu ouvido, nadando para ficar atrás da garota. — Eu gosto tanto de você.
— Ron, eu já disse que…

se interrompeu quando virou novamente e deu de cara com os olhos verdes de Cedrico Diggory e seu sorriso insuportavelmente encantador. Ele segurou seu rosto com delicadeza e a beijou com ternura. Mas conhecia aquele beijo. Como, se nunca tinha o beijado antes?
A resposta veio assim que a mesma abriu os olhos e lá estava Draco de novo. Dessa vez, seu sorriso era maldoso, quase como se sorrisse com tanta raiva que era incapaz de disfarçar. As mãos de Malfoy em seu rosto foram descendo até seu pescoço, e de repente ela ficou sem ar.

— Draco! — ela exclamou com dificuldade, tentando tirar as mãos dele do seu pescoço, sentindo elas apertarem cada vez mais forte. — Você vai me matar!
— Primeiro você, depois o seu pai — ele falou, empurrando a garota para baixo da água.

Isso não seria problema agora que era finalmente uma sereia ou se a mesma estivesse com seu colar, mas ela não estava e sua cauda se transformou novamente em suas malditas pernas. No momento, era apenas uma bruxa que não conseguia subir para a superfície. O rosto do garoto sorrindo com maldade foi a última coisa que ela viu antes de afundar desacordada.

puxou todo o ar quando acordou assustada e ofegante. Ela esfregou o pescoço, como se a dor que sentiu no sonho ainda estivesse ali e para confirmar de que estava com seu colar. O dormitório estava escuro, indicando que ainda não amanhecera completamente. Sua respiração estava descompassada, parecia que não havia ar suficiente para seus pulmões. Seu coração estava tão acelerado que ela pensou que poderia morrer. Maldito sonho, tão realista quanto o dia anterior. A última coisa que ela queria era reviver aquele beijo, mas seu subconsciente não colaborou em nada.
Depois de virar diversas vezes na cama, percebeu que não iria conseguir dormir de novo. Então ela levantou, trocou de roupa, tomando todo cuidado para não acordar ninguém, e desceu na ponta dos pés para a Sala Comunal. Pegou um pedaço de pergaminho e sua pena, escolhendo com cuidado as palavras que enviaria para seu pai.

"Oi, pai. Como está? Está a salvo? Eu não aguento mais ficar sem notícias suas. Preciso te contar algo: Ranhoso sabe que você é meu pai. Dumbledore falou para eu não me preocupar, pois confia nele. Mas algo me diz que ele não é confiável e isso me enche de medo. Por favor, dê notícias! Preciso saber se está bem.
Harry está igualmente preocupado! É insuportável passar pela mesma coisa que ele está passando e não poder conversar sobre isso. Posso contar a ele que você é meu pai? Bom, talvez eu conte mesmo sem você deixar. Estou com saudades. Para sempre, sua pequena."

Com o pergaminho devidamente enrolado e lacrado com um feitiço que somente Sirius poderia abrir, fez seu caminho até o corujal. Depois de se perder algumas vezes, conseguiu encontrar a pequena sala aberta com várias corujas de diversas cores com os mais diferentes donos. Jack ficou ali quando chegou, o que a fez imaginar se ele se deu bem com as corujas, que são aves tão quietas e calmas, muito diferente de sua espécie.
A garota teria que pegar uma das corujas que eram propriedade do castelo. O medo de ela não conseguir encontrar Sirius Black a atingiu em cheio. E se ele nunca recebesse a carta? E se outra pessoa recebesse em seu lugar? Conseguiriam abrir e entender o que a mensagem queria dizer? Foi então que ela reparou em Edwiges, a coruja do Harry Potter. Ela com certeza encontraria seu pai, já estava mais que acostumada a procurar por ele. Será que Harry se importaria caso ela a pegasse emprestada?

? — Uma voz atrás dela a fez pular de susto.
— Caramba, Harry! Está cedo demais para levar um susto desse! — Ela falou, colocando a mão no coração. O garoto gargalhou alto.
— Desculpe, não foi minha intenção — ele respondeu, se recuperando da risada. — O que te traz aqui tão cedo? Veio ver se Jack voltou?
— É, mas pelo visto, ele não está aqui — respondeu, decepcionada. — Eu precisava entregar essa carta para meu pai e provavelmente vou ter que usar uma das corujas do castelo.
— Pode usar a minha, se quiser — ele ofereceu, sorrindo com simpatia. — Acredito que ela não vai demorar para entregar a minha, pode levar a sua junto. Ele ainda está no Brasil? Acho que Edwiges não se importaria de ir até lá.
— Na verdade — a garota começou, receosa. — Ele está passando um tempo aqui na Grã Bretanha. Em Londres.
— Perfeito! Então ela leva.

Ele balançou um pedaço de papel dobrado que estava entre seus dedos e caminhou até o pássaro, dando um petisco para ela. Harry guardou o papel na bolsinha presa na perna de Edwiges e esticou a mão, pegando o pergaminho da amiga e prendendo no mesmo lugar.

— Dê este petisco e diga a ela onde seu pai está — ele falou, dando um passo para o lado.

Com as mãos um pouco trêmulas, deu o petisco para a coruja e se aproximou dela, tentando falar o mais baixo possível.

— Encontre o Sirius. Esta carta também é pra ele — ela fez carinho em sua cabeça. — Tome cuidado.

Edwiges, sempre muito inteligente, a olhou com curiosidade e assentiu com um piado agudo.

— Acha ele, está bem? — pediu Harry, enquanto a levava no braço até uma das aberturas na parede. — Antes que os dementadores façam isso.
— Dementadores? — questionou, sentindo um arrepio em sua espinha.

Seu pai não poupou detalhes sobre os tais dementadores. Durante o pouco tempo que moraram juntos, Sirius acordava durante a noite aos berros, todos os dias. Tinha pesadelos recorrentes com eles e com Azkaban. O maior medo dele era que sua filha os encontrasse em algum momento e o de era que eles o encontrassem de novo.
Então não foi à toa que suas mãos começaram a suar e tremer com a ideia de as criaturas chegarem perto de seu pai. Ela não havia pensado nisso ainda, um perigo bem maior que os Comensais.

— Sabe o que são? — Harry perguntou, inclinando a cabeça. — Tem dementadores no Brasil?
— Não tem — ela respondeu com pressa. — Mas já estudei sobre. Acredito que a pessoa da carta esteja correndo perigo, não?
— Sim, muito. — Ele olhou aflito para o céu onde Edwiges já desaparecera. — É horrível ficar aqui sem poder fazer nada a respeito.
— Te entendo perfeitamente. — A garota respondeu, também olhando para o céu.
— Seu pai está em perigo? — Ele a questionou, confuso.
— Não, não! Quer dizer, espero que não. Mas estou longe dele e ele não manda notícias, então estou tão aflita quanto você — falou com nervosismo presente na voz. — Obrigada por emprestar sua coruja.
— Amigos são pra isso — ele respondeu, sorrindo largo. — Vamos comer?

Os dois desceram as escadas até o Salão Principal que já estava lotado com os alunos das quatro casas. se esforçou para não olhar a mesa da Sonserina e da Lufa-Lufa, mas não podia fugir de Rony Weasley. Tentou ao menos se livrar das memórias do sonho, mas foi difícil quando o garoto sorriu largo ao vê-la.

— Bom dia — ela falou aos amigos que já estavam sentados na mesa.
— Bom dia, gatinha — o ruivo respondeu, fazendo-a corar violentamente.
— Onde estavam? — Hermione perguntou, fingindo não estar interessada.
— No corujal — Harry respondeu, comendo um pedaço de pão. — precisava mandar uma carta pro pai dela e eu pro meu padrinho, então eu emprestei Edwiges para levar os recados.

Hermione começou a tossir descontroladamente, resultado de ela ter engasgado com o suco que tomava. bateu em suas costas, tentando ajudá-la, pois ela sabia perfeitamente o motivo de a garota ter engasgado.

— M-mas como ela vai levar s-se eles… — ela fez uma pausa para tossir mais. — se eles não estão juntos?
— Ora, está duvidando da inteligência da Edwiges? — Harry questionou em brincadeira, dando risada. — Ela consegue encontrar os dois, tenho certeza disso.
— Com certeza — opinou, tomando um gole de seu leite e desviando os olhos.

A morena ignorou o olhar de indignação que Hermione lançou em sua direção. Ela já sabia que iria ouvir um sermão da amiga quando acabasse o café.
Enquanto conversavam distraídos, sentiu um cutucão em seu ombro. Ela fechou os olhos, imaginando quem seria, como se isso pudesse fazer a pessoa desaparecer. Mas seu desejo não foi atendido e mais um cutucão incomodou seu ombro. se virou, aliviada por ser Cedrico, apesar de ainda preferir evitá-lo.

— Bom dia, — ele falou animado, dando o mesmo sorriso do seu sonho, fazendo suas pernas tremerem.
— Bom dia, Ced — ela tentou dar seu melhor sorriso, o que não era difícil com Diggory na sua frente.
— Eu estava pensando e queria saber se poderíamos ter uma aula de Herbologia hoje já que não pudemos ter ontem — ele perguntou, suas bochechas ficando vermelhas de repente.

o achou adorável e se odiou por isso, novamente quebrando a promessa que fez a si mesma. Ela era uma hipócrita, pois dizia o tempo todo para Rony que não queria pensar em relacionamento agora; "esse não era o foco", ela repetia. Até em seu sonho, onde ela poderia ter aproveitado para fazer o que (ela jamais admitiria) queria fazer há muito tempo. Isso a fez lembrar que o amigo estava atrás dela e, quando se virou, podia jurar que Ron iria matar Cedrico com o garfo, que segurava com firmeza, pela forma que o olhava. voltou a olhar Diggory, seu coração completamente dividido e em dúvida do que faria. Mas não precisou responder, pois o próprio Rony respondeu por ela.

— Já prometemos para Hermione que iremos estudar juntos hoje. — Sua voz era firme, não deixando espaço para discussões.
— Mas não será o dia inteiro, ela vai adorar te encontrar depois, Ced! — Hermione interviu, fazendo os três a olharem com surpresa.
— Ótimo, então nos vemos mais tarde? — Cedrico perguntou e apenas assentiu, vendo-o sorrir largo.

O lufano se inclinou e deu um beijo na bochecha dela, saindo do Salão quase saltitando, como se não tivesse deixado uma garota completamente atordoada para trás.

— Valeu mesmo, Hermione! — Rony exclamou, chateado.
— O que eu fiz? — a bruxa respondeu, confusa. — Fala sério, Ron! Qual o problema de ela dar aulas pra ele?
— Cedrico é um babaca, esse é o problema! — ele respondeu com rispidez. — Fica andando por aí como se fosse o dono de Hogwarts, se acha o melhor em tudo!
— Ouvi dizer que ele vai se inscrever para o Torneio Tribruxo — Harry falou, recebendo um olhar de reprovação das meninas. — O quê? Eu também não gosto dele, muito menos de ele ficar em cima da o tempo todo.
— Vocês estão sendo injustos — Hermione falou.
— E egoístas! — finalmente falou, balançando a cabeça. — Só porque sou amiga de vocês, eu não posso fazer amizade com mais ninguém? O próprio Harry não para de correr atrás da Cho Chang!

O garoto quase engasgou com seu suco de abóbora ao ouvir o nome da sua paixão secreta. Ele olhou nervosamente para a mesa da Corvinal, onde Cho participava de uma conversa calorosa com algumas amigas.

— É diferente! — ele protestou. — Cho e eu somos só… amigos. — A decepção era perceptível em sua voz. — Diggory está cheio de segundas intenções com a .
— E qual é o problema? Ele é bonito, inteligente… É um ótimo partido para ela — Hermione retrucou indignada.
Se eu quisesse alguma coisa, o que não é o caso, certo? — reforçou, não sentindo muita convicção na sua própria fala.

Rony ficou completamente em silêncio, dando uma atenção maior que o normal para os bacons em seu prato. Ninguém disse mais nada até o final do café.
Com o tanto de tarefas e a dificuldade das aulas aumentando cada vez mais, o dia passou tão rápido quanto os outros. Para sua sorte, não teve que interagir com Malfoy. O garoto parecia fingir que ela não existia e ela apenas agradeceu por isso, tentando retribuir a frieza. Tentou muito, mas muito mesmo, porém era difícil demais com as lembranças do sonho ainda frescas em sua mente. Parecia que a cada vez que passava por Draco no corredor e não recebia nem ao menos um olhar dele, mais ela queria que ele olhasse. Por quê, ela se perguntava, se a mesma tinha pedido para que ele ficasse longe dela? Ele estava apenas obedecendo seu pedido.
A primeira aula daquela sexta-feira seria Defesa Contra as Artes das Trevas com Alastor Moody. Aquela seria a segunda aula com o professor e os alunos da Grifinória o adoravam, confirmando as maravilhas que os alunos mais velhos haviam falado sobre ele. Torciam para que dessa vez o professor durasse mais de um ano, acabando com a "maldição" entre os professores dessa matéria.
Todos se sentaram em duplas, como em quase todas as aulas. Porém, dessa vez Rony não quis se sentar com e se apressou em sentar com Hermione, que o olhou sem entender nada. Ele não parecia irritado ou chateado, estava apenas muito pensativo, olhando reto, esperando o professor se posicionar na frente da sala. se sentou com Harry que também estranhou toda a situação.

— O que deu em Ron? — ela sussurrou para o amigo. Ele apenas murchou os ombros, entortando a boca.
— Sinceramente? — ele perguntou, e ela assentiu, percebendo que não era uma pergunta retórica. — , ele gosta pra caramba de você. Mas, infelizmente, a auto estima de Rony é péssima. Me sinto bem culpado às vezes, mesmo fazendo de tudo para lembrá-lo que ele é um cara incrível.
— Ele realmente é — respondeu, lançando um olhar para o ruivo que continuava olhando para frente. — Não quero magoar ele, Harry. Ele definitivamente não merece. Mas não sei o que fazer, não quero me afastar de vocês.
— Talvez não seja de nós que você tenha que se afastar. — disse Harry, dando um sorriso triste.

entendeu perfeitamente o que Harry quis dizer e sentiu vontade de gritar com ele por dar esta ideia idiota. Ela não se afastaria de Cedrico, também não era justo com o lufano. Agora, se afastar de Draco, ela faria com todo prazer. Ignorou o incômodo no peito ao pensar em se afastar do garoto, sabendo que esse era o certo por vários outros motivos além do incômodo de Rony.
O professor Moody entrou com seu familiar barulho de metal enquanto arrastava a perna mecânica e o olho mágico observava a sala inteira. O mesmo anunciou que aplicaria a Maldição Imperius em cada um, a fim de mostrar-lhes diferentes reações. Na última aula ele havia introduzido o tema e dado pequenos exemplos da Imperius e Crucius, além de ter usado Potter como exemplo para falar da pior de todas, a Avada Kedrava.

— Mas... Se o senhor disse que é ilegal, professor — perguntou Hermione incerta, quando Moody afastou as carteiras com um movimento amplo da varinha, deixando uma clareira no meio da sala. — O senhor disse... Que usá-la contra outro ser humano era…
—  Dumbledore quer que vocês aprendam qual é o efeito que ela produz em uma pessoa — disse Moody, o olho mágico girando para a garota e se fixando nela sem piscar, com uma expressão misteriosa. — Se a senhorita preferir aprender pelo método difícil, quando alguém a lançar contra a senhorita para controlá-la... Para mim está bem. A senhorita está dispensada da aula. Pode se retirar.

Todos o olharam em choque quando o mesmo apontou para a porta do outro lado da sala. Mione murmurou algo inaudível e Harry e Rony trocaram um olhar, sorrindo cúmplices, pois sabiam que nada faria Hermione sair da sala. Os olhos de Ron passaram rapidamente por e ele desfez o sorriso antes de desviar o olhar.

— Foi o que eu pensei — Moody resmungou antes de chamar aluno por aluno e aplicar a Maldição em cada um.

observou os alunos obedecerem os comandos do professor, incapazes de recusar, parando apenas quando Moody mandava. Dino Thomas deu três voltas pela sala aos saltos, cantando o hino nacional; Lilá Brown imitou um esquilo com perfeição; Neville executou uma série de acrobacias surpreendentes, que ele certamente não teria conseguido em condições normais.

!

prendeu a respiração quando ouviu seu sobrenome sair da boca de Alastor Moody. Ela se posicionou no centro do meio círculo, ficando inquieta. Moody deu um sorriso torto antes de gritar "Imperio!", apontando a varinha em sua direção.
A morena sentiu como se um vazio a atingisse, mas era um vazio bom. Seu cérebro a mandou dançar balé, e ela assim fez, incapaz de ir contra. Começou a girar na ponta dos pés, fazendo gestos com os braços e rodopiando pela sala. Estava ofegante quando parou e riu com os colegas, fazendo uma reverência quando todos aplaudiram.
Ron a observava com os olhos brilhantes e a boca aberta, parecendo hipnotizado. Desejou poder dançar com ela, apesar de saber que seria um desastre, e anotou mentalmente que tentaria aprender a dançar para realizar esse desejo antes que ela voltasse para o Brasil. Tal pensamento, o da partida da garota, fazia seu coração doer. Se era difícil ficar perto dela, ficar sem ela parecia pior ainda.
A garota correu até seu lado, ainda rindo, sendo observada pelo professor que mantinha a cara de poucos amigos mesmo depois de parabenizá-la. Algo naquela garota lhe era estranhamente familiar, mas não de uma forma boa.

— Eu nunca conseguiria dançar assim se não fosse pela Maldição! — Ela falou para o ruivo, que deu uma risada nervosa.
— Que pena, você ficou linda dançando — ele respondeu com um sorriso torto. Eles se encararam por breves segundo, o ar em volta dos dois carregado de sentimentos que ambos não sabiam denominar.

— Potter! — ouviram Moody, rosnando como um cachorro. — Você é o próximo!

Os amigos viram Harry se posicionar no centro da sala. sentiu um nervosismo crescer pelo amigo e segurou o braço de Rony com força. O mesmo sentiu as bochechas esquentarem, tentando reprimir um sorriso largo com o contato.
Chocando a todos, Harry conseguiu resistir à maldição, e Moody o fez repetir o feito umas quatro vezes antes de conseguir resistir por completo, enchendo-o de elogios. O professor pediu para Rony fazer a mesma coisa, mas o ruivo não teve o mesmo sucesso que o amigo. Ambos saíram mancando, Potter se apoiando em Hermione e Weasley, em . O mesmo fingiu não estar adorando a ajuda da amiga.

— Pelo jeito que ele fala, poderíamos pensar que vamos ser atacados a qualquer momento — Harry resmungou, mal humorado.
— Achei legal ele ensinar na prática — falou, vendo que Harry e Rony a olharam com surpresa. — É sério, ele não estava errado sobre o que falou para Hermione.
— Ah, muito obrigada! — Hermione respondeu, emburrada.
— Você entendeu, amiga — ela retrucou. — Melhor aprendermos agora, em segurança, do que lá fora em uma situação inesperada.
— Você diz isso porque não teve que resistir quatro vezes! — Harry exclamou, ainda mal humorado.
— E dançou como uma deusa — Rony soltou, se sentindo extremamente envergonhado quando os amigos lhe lançaram olhares engraçados. apenas sorriu com leveza, achando graça no comentário. — Você foi a única que se divertiu.
— Esquisita — Harry brincou, levando um tapa no braço dado pela amiga.

Na aula de Transfiguração, quando todos reclamaram da quantidade absurda de deveres que a professora McGonagall passou, a mesma explicou o porquê de estarem enchendo os alunos de atividades. No próximo ano, os alunos teriam o exame para obter os N.O.M.s (Níveis Ordinários em Magia). Ela garantiu que eles precisavam de toda a preparação possível, quanto mais cedo começar, melhor. Granger se controlou para não parecer convencida quando a professora reforçou que ela foi a única que transformou um porco-espinho em uma almofadinha de alfinetes "razoável".
Na aula de Adivinhação, Harry e Rony se divertiram ao saber que tiraram nota máxima no dever da aula passada, deixando irritada por ficar apenas na média. Mas ela riu com vontade quando Profª Trelawney pediu que fizessem outra projeção para dali a dois meses, sabendo que eles não teriam mais tantas ideias boas.
Até mesmo Hagrid os encheu de deveres, se levando pela empolgação na criação dos explosivins que cresciam surpreendentemente rápido. Ele sugeriu que fossem à cabana dele em noites alternadas para que observassem melhor a evolução dos bichos. levantou a mão, perguntando se ela podia ir na noite seguinte. Ela adorava o gigante e faria de tudo para ajudá-lo e incentivá-lo sempre. O sorriso que ele deu fez valer a pena.

— Eu não vou — disse Draco Malfoy com indiferença. — Já vejo bastante dessas nojeiras durante as aulas, obrigado.

o olhou com raiva quando viu Hagrid desfazer o sorriso. Estava prestes a dar uma resposta bem mal educada quando o próprio professor se defendeu.

— Você vai fazer o que mando — rosnou ele — Ou vou arrancar uma folha do livro do Profº Moody... Ouvi falar que você ficou muito bem de doninha, Malfoy.

Todos os alunos da Grifinória deram gargalhadas, principalmente , Harry, Rony e Mione, com a lembrança do dia em que Draco e Harry brigaram e Moody interviu, o transformando em uma adorável e assustada doninha branca.
Malfoy ficou vermelho de raiva, mas não falou mais nada, ainda assombrado com a lembrança do ocorrido. No final da aula, o loiro esperou seus amigos se afastarem para se aproximar de , ainda com a raiva estampada na cara. percebeu que ele queria falar com ela, então mentiu para os amigos, falando que iria conversar com Hagrid e os encontrariam em seguida.

— O que foi, Malfoy? — ela falou com desdém.
— Achou engraçado, é? — Draco perguntou, cruzando os braços.
— Muito — a garota respondeu, dando um sorriso irônico. Ela o sentiu tremer de raiva, como se estivesse prestes a explodir.
— Quer saber? Acho melhor mesmo eu ficar longe de você — ele rosnou, irritado. — Você não passa de uma intercambista sangue-ruim e esquisita!
— Uau, eu sou tudo isso? — falou com sarcasmo. — Poxa, deve ter sido um sacrifício para você beijar uma intercambista sangue-ruim e esquisita como eu.

Draco lançou um olhar para cima do ombro dela e de um sorriso largo e vitorioso, enfiando as mãos no bolso. Essa definitivamente não era a reação que ela esperava.

— Você beijou o Malfoy? — ela ouviu Rony perguntar atrás dela.

sentiu como se levasse uma facada no meio do peito quando se virou e viu a expressão de tristeza e decepção no rosto de Ron. Ela sentiu um nó se formar em sua garganta, tornando muito difícil o ato de falar ou respirar.

— Ron, eu posso explicar…
— Boa sorte tentando — Draco murmurou, parecendo segurar o riso.

Rony apenas balançou a cabeça em negação e se virou, seguindo para o castelo. foi atrás dele, correndo para alcançar seus passos largos.

— Rony, espera! — Ela exclamou, se metendo na frente dele e obrigando-o a parar. — Por favor, me deixe explicar.
— Explicar o quê, ? Que todos esses dias você tem me enrolado, falando que se relacionar com alguém não é "sua prioridade agora"? — ruivo gritou, claramente com raiva. — Isso só vale para mim? Porque obviamente não valeu para ele ou para o Diggory!
— Claro que não, Rony! — Ela choramingou. — Isso vale pra todos! O que aconteceu foi um acidente!
— Acidente? — ele exclamou alto, assustando-a. — Ninguém beija alguém por acidente, !
— Por favor, acredite em mim quando digo que foi um erro…
— O erro foi meu em achar que finalmente alguém teria interesse em mim! — ele gritou, fazendo as lágrimas da garota finalmente caírem de seus olhos. Rony vacilou um pouco, vendo que a garota estava tão machucada quanto ele. — Quer saber? Esquece, faça o que você quiser…
— Rony, por favor… — murmurou quando o amigo deu as costas e entrou no castelo, mas não teve muitas forças para ir atrás dele.

Ela soltou alguns palavrões que seu pai reprovaria com toda certeza e quis voar no pescoço de Draco Malfoy quando ele se aproximou.

— Satisfeito? — ela exclamou, empurrando-o com toda a sua força. Ele apenas deu um passo para trás, rindo do fato de ela se achar mais forte que ele.
— A culpa não é minha e você sabe disso — ele respondeu, ainda rindo. — Você quem falou tudo.
— Se não fosse por você, nem teria acontecido a merda do beijo!
— Vai continuar negando que gostou? — ele perguntou, um sorriso malicioso surgindo em seus lábios.

sacou sua varinha e se aproximou, ficando a centímetros de Draco e apontando a arma para o pescoço pálido do sonserino. Ao invés de sentir medo, a aproximação apenas fez o coração do garoto acelerar e errar algumas batidas. Queria arrancá-lo para nunca mais sentir aquela sensação de euforia toda vez que via a bruxa, mesmo que de longe. Piorava quando estavam muito perto, como agora. Se achava ridiculamente fraco, um idiota. E por mais que tentasse e quisesse, não podia se afastar dela. Precisava fazer o que o pai pediu e, bom, não era como se ele realmente conseguisse evitar. Algo, que ele não fazia ideia do que era, sempre o atraia até . Os lábios dela, a centímetros do seu, eram irresistíveis demais, mas se tornaram horríveis ao ouvir as palavras que saíram deles em seguida.

— Eu tenho nojo de você, Malfoy! — Ela rosnou. — Me esquece!

— Com todo prazer! — ele rosnou de volta, sendo deixado para trás, parado como uma estátua enquanto a observava partir para dentro do castelo.


8 - The Goblet of Fire

Ao entrar no castelo, parou bruscamente antes de dar um encontrão em uma das centenas de alunos aglomerados no meio do saguão de entrada, todos se esforçando para ler um papel pendurado no quadro de avisos. avistou os cabelos ruivos de Rony Weasley enquanto o mesmo se esticava para tentar ler, já que era o mais alto entre os amigos. Ela se manteve distante, decidindo que esperaria a aglomeração diminuir para tentar ler o comunicado e a raiva de Ron passar para tentar falar com ele. Conseguia ouvir várias exclamações animadas, incomodando seu humor repentinamente amargo. se perdeu em pensamentos enquanto observava o amigo no meio da aglomeração, pensando em mil xingamentos diferentes que gostaria de gritar para Malfoy, e mil outras formas de pedir perdão à Ron. Ela não percebeu quando uma pessoa se aproximou dela.

— Posso te fazer companhia? — Gina falou com sua voz doce, fazendo a amiga pular de susto. — Desculpa, não quis te assustar!
— Não, sem problemas… Eu que estava com a cabeça longe.
— Eu imagino no que estava pensando — disse a mais nova dos Weasley, dando uma risadinha. — Vi o jeito como estava olhando para o meu irmão.
— Qual deles, Fred ou George? — brincou, tentando se animar um pouco e fazendo Gina rir.
— Você sabe bem de quem estou falando.
— Ron não está muito feliz comigo agora, Gina.
— O que ele fez? — A ruiva perguntou, cruzando os braços.
— Na verdade, a culpa foi minha — ela respondeu, dando um sorriso amarelo. — Fiz besteira e acho que perdi a amizade do seu irmão.
— Olha , não sei o que você fez e nem quero saber, mas como irmã do Rony, eu posso te afirmar que você não perdeu a amizade dele ou o que quer que vocês tenham. Só dê um tempo a ele, sério. Ele fica muito bravo na hora, mas logo vai ficar de boa.
— Espero que você esteja certa — respondeu, sorrindo. — Obrigada, Gina.

De todos os Weasley, Gina era a mais sensata. Apesar de brincalhona e animada como os irmãos, ela sempre sabia a coisa certa a dizer e mantinha a ordem e calma quando necessário. Às vezes era difícil lembrar que ela era a mais nova do grupo.
As duas amigas finalmente conseguiram passar pelas poucas pessoas que ainda estavam paradas em frente ao recado e com um pouco de esforço, conseguiram ler o recado.

TORNEIO TRIBRUXO

As delegações de Beauxbatons e Durmstrang chegarão às seis horas de sexta-feira, 30 de outubro. As aulas terminarão uma hora antes. Os alunos deverão guardar as mochilas e livros em seus dormitórios e se reunir na entrada do castelo para receber os nossos hóspedes antes da Festa de Boas-Vindas.

— Ótimo, uma hora a menos da aula do Snape — murmurou , seguindo com Gina para a Sala Comunal da Grifinória. A ruiva riu alto, se divertindo com o comentário da amiga.
— Aquele idiota, campeão de Hogwarts? — As meninas ouviram Rony dizer alto, sentado próximo à lareira com Hermione e Harry.
— Ele não é idiota — retrucou Hermione. — Você só não gosta dele por causa da .
— O quê tem eu? — A garota falou ao se aproximar e viu Rony fechar a cara na mesma hora.
— Rony está chamando Cedrico de idiota por querer entrar no Torneiro Tribruxo — respondeu Mione, se encostando na poltrona. — Digam a ele que Ced não é idiota.
— Realmente, ele não é — Gina interviu, se sentando no braço da poltrona onde Harry estava sentado.
— Inclusive acho ele um ótimo aluno, acho que vai se dar bem — respondeu, dando de ombros.
— Claro que você acha isso — bravejou o ruivo. — Deve estar beijando ele também!
— Ron, não começa — o repreendeu, chocada com o que ele disse.
— Também? — Harry questionou, revezando o olhar entre os dois amigos sem entender nada.
— Não contou a eles o seu segredinho, ? É realmente um alívio saber que não fui o último a saber — Rony falou com deboche.

Hermione olhou com nervosismo, pensando que o bruxo estivesse falando sobre Sirius ser seu pai. Mal sabia ela que o problema era um pouco pior.

— Ela beijou o Malfoy! — ele exclamou e agradeceu pela Sala Comunal estar vazia.

Ela queria se enfiar a sete palmos abaixo da terra, sentindo seu rosto esquentar. Não sabia se era de raiva ou vergonha, talvez uma mistura dos dois. A questão é que Ronald Weasley não tinha o direito de expor seu segredo dessa forma, afinal era algo totalmente sem importância para ela. Pelo menos era o que ela tentava convencer a si mesma. A morena olhou com raiva para Ron, tentando mostrar a ele que o mesmo havia passado dos limites.

— Você o quê? — exclamou Harry, parecendo chocado e irritado ao mesmo tempo. — O Malfoy, ! Logo ele?
— Eu posso explicar — retrucou, perguntando a si mesma se era realmente capaz de explicar.
— Ah, eu espero que seja uma ótima explicação! — Mione falou, também se levantando.
— Ele me beijou! — a garota explicou, sentindo a raiva do aumentar. — Eu estava na minha, ele veio atrás de mim! E não, eu não beijei o Diggory!
— Mas você retribuiu? — perguntou Gina, a única que permaneceu calma, como se o que ouviu não fosse nada demais.

Com relutância, respondeu:

— Talvez… Sim.

A resposta foi o suficiente para todos, menos Rony, soltarem os cachorros para cima dela. Gina era a única que a defendia, tentando falar por cima dos gritos que isso não era nada demais, que tinha o direito de beijar quem ela quisesse e era só não fazer mais aquilo. A acusada apenas ficou quieta, encarando o rosto triste de Rony que parecia refletir a própria tristeza. Por mais que estivesse brava com ele, não podia evitar se sentir mal com o que o fez passar. Ela sabia sobre os sentimentos do amigo e, se pudesse, pouparia ele dessa informação para sempre, assim ele jamais se machucaria.
Mas ali estava ele, com o coração totalmente despedaçado. Ron se sentia um idiota por ter acreditado nas palavras de , era óbvio que ela queria algo com alguém, só não era com ele! Nunca era com ele. Nunca o escolhiam, por que agora seria diferente? Olhe para mim e olhe para Diggory ou Malfoy, quais chances eu tinha com a garota?, ele pensava. Nenhuma, era sempre a resposta que surgia em sua mente.
E o que mais doía era saber que o outro cara era Draco Malfoy. Entre tantos no castelo, ela tinha que ficar logo com ele? Era pior que levar uma goles no estômago e disso ele entendia bem demais. Não suportava mais ficar ali, na mesma sala que ela, ouvindo repetidamente os amigos falarem sobre o acontecido. Ela o encarava com uma dor evidente nos olhos e ele sabia que os seus carregavam o mesmo sentimento. Finalmente quebrou o contato visual e marchou em direção a porta. Todos repentinamente ficaram em silêncio, observando a cena.

— Ron… — choramingou indo atrás dele e segurando seu braço.

Sem se virar, Rony olhou os dedos da garota em volta do seu bíceps e reprimiu a vontade de entrelaçar com os seus. Ao invés disso, ele puxou o braço com força e falou:

— Me deixe em paz, .

O coração da bruxa se quebrou em pequenos pedaços, como uma taça de cristal se estilhaçando no chão. Tudo o que ela pôde fazer foi o deixar ir enquanto secava as lágrimas que teimavam em cair de novo. Quando voltou para onde os amigos estavam, tentou manter a cabeça erguida, falhando miseravelmente. Gina afagou seu ombro em consolo, enquanto os outros ainda a olhavam confusos.

… — Hermione começou, incerta se deveria dizer algo. — Isso foi muito estranho… Digo, você e Malfoy? Eu jurava que estava gostando de Diggory.
— Não estou gostando de ninguém — respondeu sem ânimo. Ela sabia que era mentira e que a realidade era que estava completamente dividida e confusa. — Não ficarei com ele de novo, eu juro. Foi um erro idiota.
— Ainda bem que você sabe — Harry falou. — Não quero te julgar, , mas é que meu ódio pelo Malfoy é tão grande…
— Eu sei, eu sei! Será que podemos mudar de assunto? — a garota exclamou, irritada. — Ron já está bravo comigo, não preciso que vocês fiquem me lembrando do que eu fiz.

Obedecendo a amiga com certa relutância, os três embarcaram em uma conversa sobre o Torneio, discutindo sobre quem eles achavam que ia se inscrever. ficou calada o tempo todo, encarando o fogo queimar a madeira na lareira. Poucos dias naquele lugar e já havia partido seu coração e desfeito uma amizade. Pior, ela havia quebrado o coração de alguém que adorava! Se sentiu um monstro, incapaz de pensar em como resolveria isso.

? — A garota ouviu Neville a chamar, cutucando seu braço e a tirando de seus devaneios.
— Oi, Neville — ela sorriu fraco para o garoto, apesar de não conseguir disfarçar a tristeza em sua voz. — Como posso ajudar?
— Cedrico está lá fora, pediu para te chamar — ele respondeu, devolvendo o mesmo sorriso.
— Merda, a aula! — ela exclamou, se apressando para pegar os livros. — Obrigada, Longbottom!

Quando Cedrico viu passar apressada pelo quadro, seu rosto se iluminou. A palpitação sempre que a via estava ali, presente e forte em seu peito. Mas logo soube que algo estava errado pela expressão no rosto da garota.

— Mil desculpas, Ced! Eu nem vi o tempo passar — ela falou, dando um sorriso triste.
— Sem problemas, — ele respondeu, colocando um cacho solto atrás da orelha dela, vendo suas bochechas ficarem coradas. — Está tudo bem?
— Está sim — mentiu, olhando angustiada para os lados. — Vamos?
— Claro — ele respondeu, sem realmente se convencer da resposta que ela deu.

Cedrico deu o braço para que o segurasse, a pegando de surpresa. Receosa e ignorando a voz de Harry repetindo o que ele disse na aula sobre se afastar do lufano, ela aceitou e entrelaçou o braço no dele. Foram em silêncio até a biblioteca; sentiu o garoto a observar durante todo o caminho, mas foi incapaz de retribuir o olhar. Depois de quase meia hora de aula, Cedrico finalmente comprovou suas suspeitas de que algo acontecera com a bruxa.

— Então segundo o bruxo brasileiro e famoso especialista em poções Libatius Boragei, a flor-de-lótus prateada do Pantanal resistiria ao clima asiatico, mas não dos Estados Unidos… Não, desculpa, é da Europa. — fechou os olhos e suspirou frustrada com mais um erro enquanto Diggory a olhava confuso. — Desculpa, Ced… Minha cabeça está um caos hoje.
— Eu percebi, — ele sorriu com compreensão, dando um aperto reconfortante na mão da garota que sorriu com o carinho. — Se quiser conversar, estou aqui. Se não quiser, também estou aqui.

riu, se sentindo um pouco mais leve.

— Não quero te incomodar com meus problemas, mas também não quero que perca seu tempo com essa aula confusa que estou dando hoje. Podemos continuar amanhã?
— Por mim, continuamos todos os dias — ele respondeu com seu sorriso adorável de sempre. — Mas não quero me despedir agora, quero ajudar a te deixar melhor.
— Não precisa, Diggory, sério…
— Não foi um pedido, eu vou te ajudar.

O loiro se levantou, guardou os livros na mochila como sempre fazia e estendeu a mão para ajudar a se levantar. Ele a guiou por entre os corredores e escadarias e logo atravessaram o saguão de entrada, indo para o outro lado do castelo. não fazia ideia para onde o garoto estava levando-a. Sua barriga reclamou quando passaram em frente às enormes portas do Salão Principal, onde acontecia o jantar, e o cheiro de comida parecia aumentar a cada passo que davam.

— Está com fome? — Ced perguntou para a garota, parecendo adivinhar o que ela estava pensando.
— Bastante — ela confessou, mordendo os lábios.

O sorriso do bruxo aumentou quando eles pararam em frente à uma porta de madeira e ferro. Ele deu três batidas na porta e ela se abriu na mesma hora. De primeira, não viu ninguém que pudesse ter aberto a porta, mas quando abaixou o olhar, se assustou ao ver um elfo doméstico, vestindo uma espécie de camisola velha e com os olhos azuis brilhantes encarando a dupla.

— Senhor Diggory! — Sua voz aguda atingiu os ouvidos da garota que o achou adorável. — Que prazer ter o senhor aqui na humilde cozinha dos elfos!
— Oi, Dobby. Trouxe uma companhia — Cedrico falou, apontando para que sorriu envergonhada para o elfo.
— Ah, sim, Dobby conhece ! Dobby já viu pelo castelo! Dobby acha ela tão bonita… — O elfo suspirou, seus olhos enormes piscando sem parar.
— Eu também acho, Dobby — Ced falou, dando uma piscadela para o elfo e um sorriso para a garota que corou na mesma hora.
— É um prazer te conhecer, Dobby. Harry já me falou muito sobre você, mas não sabia que trabalhava aqui.
— Harry Potter? — os olhos de Dobby brilharam mais ainda. — Ah, Dobby adora o senhor Potter! Harry Potter é o melhor amigo do Dobby.
— Meu também — falou com um sorriso genuíno no rosto, pensando em o quanto aquilo se tornara verdade nas últimas semanas.
— O que Dobby pode fazer pelos senhores?
— Podemos comer aqui? — Diggory falou e Dobby, pulando de felicidade, deu passagem para os dois entrarem.

O elfo os guiou pela cozinha enorme, com dezenas de pequenas criaturas da sua espécie em cada canto — alguns no fogão, outros cortando alimentos, outros andando de um lado para o outro com pilhas de utensílios ou frutas — e enquanto os apresentava para os dois bruxos, os elfos sorriam e acenavam animados. Ela até concordava com Hermione em relação ao trabalho escravo dessas criaturas, mas eles pareciam tão felizes que começou a achar loucura tirá-los dali.
Dobby os levou até uma pequena mesa no canto da cozinha, onde com um passe de mágica, fez aparecer um pano de mesa vermelho quadriculado, um vaso com uma única flor, duas velas já acesas e duas taças com suco de uva.

— Dobby vai trazer as comidas! — O elfo se afastou todo animado, deixando-os sozinhos.
— Ei, Dobby! — A garota o chamou e ele apareceu na mesma hora na sua frente. — Vocês estão felizes?
— Dobby e os elfos daqui nunca estiveram mais felizes! — ele exclamou, dando a volta e saindo saltitando. A garota sorriu satisfeita, pensando que Hermione ficará feliz em saber disso.
— Isso é permitido? — murmurou para Cedrico, apontando para a mesa, se referindo aos dois jantarem na cozinha.
— Não faço ideia — Ced respondeu, dando de ombros e soltando uma risada. — Mas se eles deixaram…

não aguentou segurar a risada, desacreditada na resposta despreocupada do garoto. Os dois começaram a conversar sobre a comida maravilhosa do castelo antes de serem interrompidos por Dobby que chegou com dois pratos cheios de purê de batata, pernil com um molho agridoce e grão de bico. Os bruxos não pararam de conversar enquanto comiam, e percebeu o quão tranquila estava na companhia do lufano. Diferente de Rony, que sentia sempre precisar pisar em ovos para não magoá-lo ou de Malfoy que sempre a irritava e a deixava com os nervos à flor da pele. Com Diggory era só leve, divertido, gostoso. A conversa fluía com facilidade sobre qualquer tema. Quando o elfo trouxe a sobremesa (uma deliciosa torta holandesa), eles começaram a falar sobre o Torneio Tribruxo. ponderou muito antes de perguntar o que os amigos estavam conversando na Sala Comunal da Grifinória, por fim, decidiu matar a curiosidade.

— Você vai se inscrever? — ela perguntou antes de comer mais uma garfada da torta.
— Estou pensando nisso — ele respondeu, ficando sério de repente. — Acha loucura?

parou de mastigar, pensando no que responder. Não queria influenciar na decisão do garoto, mas a verdade é que ela achava sim loucura. As histórias que ouvira sobre o torneio eram de dar arrepios.

— Ced, para ser sincera, eu acho loucura sim. Acho muito perigoso — ela disse, e viu os ombros do garoto murcharem um pouco. Ela esticou a mão por cima da mesa e segurou a dele, sentindo seu coração aquecer com o toque quente da sua pele.  — Mas eu também acho que não tem ninguém mais capaz que você.

O rosto do garoto se iluminou quando ouviu aquelas palavras. Ele apertou a mão dela, acariciando sua pequena palma. Cedrico não se lembrava da última vez que se sentiu assim, tão animado e encantado com a presença de uma pessoa. Se sentia ridículo por contar as horas para encontrar , mas não conseguia evitar. Era bom demais estar ao seu lado, ela fazia tão bem para ele, além de agregar ao seu conhecimento em Herbologia. Ele poderia estudar sozinho se quisesse, sabia disso, mas nada era melhor que ver a concentrada em seus livros, explicando a ele sobre tudo o que lembrava de suas aulas no Brasil. Gostava de lhe fazer várias perguntas, só para vê-la empolgada ao responder.
Ele adorava tudo nela: adorava a risada que ela dava quando percebia que se empolgou na explicação e estava falando um pouco alto demais; adorava como suas bochechas ruborizavam ao ouvir um elogio; adorava segurar suas mãos (achava que era sua coisa preferida) e sentir sua pele macia e quente em contato com a sua; adorava vê-la andar distraída pelo castelo, parecendo sempre estar perdida mas objetiva em seu destino.
Cedrico estava irrevogavelmente apaixonado, não conseguia mais negar. Isso poderia ser sua ruína ou sua glória, ele ainda não sabia dizer. Mas por enquanto, estava adorando e aproveitando a sensação. Decidiu que participaria do Torneio e ganharia por ela. Não conseguia pensar em motivação melhor.
Como sempre fazia, Diggory acompanhou até a Sala Comunal da Grifinória, parando de frente ao quadro da Mulher Gorda que se deliciava com uma grande cesta de maçãs.

— Onde fica a Sala Comunal da Lufa-Lufa? — ela perguntou quando pararam de andar.
— Ao lado da cozinha — ele respondeu com um sorriso travesso no rosto.
— Cedrico! — ela exclamou espantada. — Você me trouxe aqui sendo que estava bem mais perto da sua Sala!
— Isso mostra o quanto eu gosto da sua companhia — Cedrico respondeu, retirando os livros da mochila para entregar a ela.
— Obrigada, Ced. Você realmente sabe como melhorar as coisas — a garota falou, pegando os livros das mãos do bruxo.
— E eu ainda não acabei — ele respondeu.

Cedrico se aproximou, segurando o rosto de em suas mãos, sentindo muito medo de a garota se afastar. Mas ela não o fez, apenas fechou os olhos, como se já esperasse pelo que Diggory queria fazer. E ele fez, a beijou com toda a delicadeza e carinho que conseguiu, se deliciando com seu aroma cítrico e floral e com o gosto dos seus lábios.
sentiu seu coração, que pensou estar despedaçado, acelerar com vida novamente. Ela largou os livros, ignorando o barulho que fizeram ao se chocarem com o chão, e enroscou seus dedos nos cabelos dourados do lufano. Odiou-se por amar a sensação e desistiu, finalmente, de seguir com sua promessa. Se fosse para quebrá-la, pelo menos seria com alguém tão incrível como Cedrico Diggory. Malfoy estava longe disso, e Weasley… Bom, a verdade é que ele não queria mais saber dela. Então daria uma chance para o único garoto que não a machucou até agora.
O sorriso no rosto de não se desfez tão cedo e ela não conseguiu evitar um suspiro quando entrou na Sala Comunal, apertando com firmeza os livros contra o peito enquanto caminhava em direção ao dormitório das meninas. Antes de entrar, lançou um olhar para a porta do dormitório dos meninos, onde sabia que Ron dormia tranquilo (ou talvez não) em sua cama. Por um segundo, seu coração pareceu se esquecer da noite incrível que teve com Cedrico e voltou a apertar. Ela resolveria isso, tinha que resolver, mas não seria hoje. Se sentia tão cansada, que apagou no mesmo instante que deitou na cama.

sentiu a luz do Sol esquentar seu rosto e impedir que conseguisse abrir totalmente os olhos. Ela esticou o braço e tentou bloquear a luz com a mão para poder abri-los. Quando finalmente conseguiu, percebeu que não estava no seu dormitório e sim deitada em um campo aberto, com o rosto virado para o céu azul-claro, com nuvens brancas e fofas deslizando por ele. percebeu que sua mão esquerda estava entrelaçada com algo. Ao virar o rosto, se assustou ao se deparar com Rony que a olhava sorrindo, os olhos apertados por conta da claridade. Suas sardas pareciam estar mais fortes do que nunca, e seu cabelo, mais ruivos e vivos. Ele estava lindo, mas não fazia sentido eles estarem ali. Não deviam estar dormindo em suas camas?

Que sorte a nossa te ter aqui — ele murmurou, se sentando. Ela o imitou e olhou em volta, admirando a paisagem. Mais pra frente haviam árvores cercando os dois, e mais nada.

Ela o olhou e sorriu, sentindo uma paz extrema no coração. Rony colocou uma flor no cabelo moreno da garota que corou violentamente. Ele se aproximou e a beijou, um beijo delicado, carinhoso que fez sentir falta do contato assim que se afastaram.
Mas tão rápido quanto o beijo, o céu mudou de cor. Uma ventania forte bagunçava seus cabelos, mas Rony não parava de sorrir, alheio à mudança repentina de tempo.

Rony, tem alguma coisa errada — ela disse, tentando fazer sua voz ficar mais alta que o vento, sem muito sucesso.

Ela olhou em volta assustada, pensando se deveria correr pra floresta ou permanecer ali, quando percebeu a movimentação em volta. Centenas de bruxos encapuzados saíram de dentro da floresta em direção à eles com as varinhas levantadas para o céu. Não dava pra ver o rosto de ninguém, apenas seus contornos escuros.

Temos que sair daqui! — Ela gritou para o amigo enquanto se levantava, o puxando pela mão.

Mas Rony não se mexeu, ele apenas olhava aterrorizado para a garota na sua frente enquanto os bruxos se aproximavam cada vez mais. Uma forte chuva começou a cair quando o puxou para a direção contrária. Era difícil ver alguma coisa em meio a tempestade enquanto corriam. O que fez ambos pararem foi a água do lago cobrindo os pares de pés nus. podia entrar e nadar livremente, mas não sabia se o amigo conseguiria. Ela olhou para trás, vendo os homens se aproximarem. Não havia muita escolha, segurou firme a mão do ruivo e entrou no lago, conseguindo sentir a água fria cobrir seu corpo. O alívio lhe atingiu quando viu que o amigo conseguia nadar, e o puxou para mais longe.
O rosto pálido de Rony perdeu ainda mais a cor quando ele apontou para algo atrás de . Quando se virou, viu os sereianos cercando-os, os tridentes firmes em suas mãos. Ao se virar novamente para Ron, pronta para fugir, o viu ser arrastado para longe por duas sereias. Ela nadou em sua direção, desesperada, mas quanto mais nadava, mais ele se afastava dela.

reprimiu um grito ao acordar, enfiando o rosto contra o travesseiro. Estava mais do que cansada desses sonhos confusos que ela não entendia absolutamente nada. Eram piores que suas visões, pois as visões eram claras e objetivas, ela tinha a certeza que iria acontecer, não importava quando fosse acontecer. Mas os sonhos eram apenas confusos e sem sentido algum, com algum significado escondido nele que a garota não conseguia identificar. Ela olhou para a janela e viu que ainda era muito escuro, provavelmente não dormiu nem três horas. Decidiu descer, quem sabe andar um pouco a faria sentir sono novamente.
A garota vestiu seu roupão e desceu as escadas, tentando decidir se sairia ou ficaria apenas andando pela Sala Comunal até sentir sono novamente.

— Está sem sono? — Ela ouviu uma voz rouca falar, fazendo-a pular de susto.

Ron estava sentado em uma das poltronas e a olhava com uma expressão séria e dura estampada no rosto. Voltou sua atenção para seu chá, mexendo o mesmo lentamente com uma colher pequena. Receosa, se aproximou e sentou-se na outra poltrona, sem tirar os olhos dele.

— Aceita um chá? — ele perguntou, apontando para a xícara vazia na mesa de centro.

Ela assentiu e, com um movimento simples da varinha, Ron fez a chaleira encher a xícara, uma pequena colher flutuante acrescentou o açúcar e o misturou à bebida enquanto a xícara foi flutuando até a garota que apenas agradeceu.

— Por que está aqui? — ela perguntou.
— Também não consegui dormir — Ron respondeu com os olhos fixos nas chamas da lareira. não deixou de reparar no quão tenso ele estava.  — Muita coisa na cabeça. E você?
— Sonho ruim — ela se limitou a dizer, encarando a lareira igual a ele. — Desculpa, me sinto responsável por você não conseguir dormir.
— O mundo não gira em torno de você, .

recebeu a resposta como um tapa na cara bem merecido. Ele olhou desconcertado para ela, percebendo que havia sido desnecessariamente ácido demais.

— Foi mal, eu…
— Não, eu mereço. E realmente, devo ser o menor dos seus problemas — ela respondeu, dando de ombros enquanto bebericava seu chá.
— Na verdade, é o pior deles — o ruivo respondeu, dando uma risada sem graça.

fez uma careta, não gostando da resposta. Concluiu que era inútil ficar ali com ele nessa troca de fartas que a machucavam demais E por mais que ela sabia que merecia aquelas respostas, não era obrigada a ouvir aquilo. Ele também teve sua parcela de erro e ela ainda não o perdoou por isso. Então se levantou, deixou a xícara na mesa e ameaçou se afastar, mas o garoto se levantou com rapidez e a segurou, impedindo-a de subir as escadas. Ele a olhou com os mesmos olhos tristes de mais cedo e ela não aguentava mais receber esse olhar, isso apenas destruiu mais ainda o seu coração.

— Na verdade, eu acordei porque sonhei com você — ele falou, franzindo a testa. — Não foi um sonho bom, na verdade foi bem assustador... Mas você estava lá, tentando me salvar.

A bruxa engoliu a vontade de perguntar mais detalhes do sonho para saber se tinha algo a ver com o que a própria tivera, mas apenas balançou a cabeça, sem vontade alguma de prolongar o assunto.

— Sinto muito por estragar também os seus sonhos — ela respondeu, amargurada. — Escute, Weasley, eu vou te deixar em paz como você pediu, ok? Não se preocupe, não irei aparecer em mais nenhum sonho.
— E-eu não quero que me deixe em paz…
— Mas eu quero. É melhor assim. Eu não quero te machucar ou me machucar mais do que já fiz — ela falou, decidida. — Boa noite, Weasley.

E o deixando apenas com o crepitar do fogo na lareira, subiu depressa para seu dormitório, sem esperar por uma resposta.


Continua...



Nota da autora: Oi, meus amores! Miiiil desculpas pela demora na att, se vocês me acompanham no insta (@patiwrites) viram que eu estava sem meu celular nas últimas 2 semanas e por mais que o capítulo já estivesse prontinho para enviar, eu não ia conseguir fazer toda a divulgação que costumo fazer, responder rapidinho os comentários, etc, etc... Porém, já estou com ele de novo e as atts vão ser mais rápidaaaas!! Então não esqueçam de comentar o que acharam, ok? ❤️ Até a próxima att!
Nota da scripter: Oi gente! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.


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