Queda de Braço


autora: Liz Suzuki. || beta: Paah Souza




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Capítulo 01 - The Keeper






Eu tentei avisar, mas Lívia não me deu ouvidos e cá estou eu, explodindo de dor de cabeça; uma enxaqueca do caramba que só cresce conforme os ruídos que ouço pelo hotel. A cerimônia vai começar em poucas horas e eu mal lembrava meu nome no momento. Minha visão ainda estava embaçada, minha cabeça pesava no meu corpo.

Olhei em volta e dois corpos estavam sobre a cama plus size em que eu me encontrava. Sem saber o que fazer, deitei de volta com a cabeça no travesseiro e olhei para cima. No que eu olhei para o teto, pude ver através de um espelho os dois homens sarados que se encontravam enrolados nos lençóis brancos. Não pude deixar de sorrir com a cena. Eu me lembrava do começo da festa, mas minha memória estava completamente vazia sobre o final dela. Fiquei decepcionada por um momento, lembrar do ”ménage à trois" com um espelho no teto deveria ser algo marcante na minha vida sexual; eu vi a obra terminada, mas não lembro dela sendo pintada.

Com a cabeça ainda explodindo, saí dos lençóis e fui ao banheiro, estava quase mijando na cama. Sem roupa alguma e totalmente desnorteada, cambaleei até o vaso para me aliviar. Lavei o rosto, deixei a banheira enchendo, escovei os dentes e peguei uma camiseta social preta, que deduzi ser de uma das beldades que se encontravam nuas na minha cama, me dando uma bela visão de suas bundas brancas e do belo porte físico que cada um tinha.

- Lív! Acorda, você vai perder a cerimônia! – Falei baixinho perto de seu ouvido, a chacoalhando de leve para não acorda-la no susto. Ela vestia a camisola de renda preta que ganhou no chá de lingerie, com aquele treco que tapa os olhos. Começou a se mexer na cama que parecia mil vezes maior que a minha por ela estar sozinha nela.

- Que horas são? – Se levantou aos poucos – Por que é que está tudo escuro? Ainda é noite?

- Tira esse negócio dos olhos, Vi. – Ri um pouco indo até a cortina para abri-la.

- Que horas são? AI, MEU DEUS, EU PERDI O CASAMENTO! – Se desesperou ao ver que o sol já havia nascido.

- Não grita, caralho! Minha cabeça está explodindo. – Falei baixo sentindo minha cabeça latejar mais, me sentando novamente na cama dela.

- Ninguém mandou você acabar com o estoque de álcool do bar.

- Ninguém mandou você agendar sua despedida de solteira para um dia antes do casamento, acho que nem dá um dia.

-Não posso fazer nada, fiz isso porque era o único dia livre na agenda do stripper que VOCÊ escolheu. E além do mais, quem bebeu além da conta foi você. Eu estou limpinha.

- Quem disse que você está limpinha? – Arqueei a sobrancelha, sorrindo de lado.

- Como assim?

- Você dormiu com um cara essa noite.

- O QUE? NÃO PODE SER!

- Vai lá na minha suíte pra você ver. Depois de fazer o serviço, você expulsou ele do seu quarto, aí ele foi para o meu. – Observei Lívia indo indignada até o meu quarto e voltando boquiaberta de lá.

- Amiga, diz que eu não traí o Thiago um dia antes do nosso casamento acontecer. – Ela já estava com os olhos marejados.

- Sinto lhe dizer, Liv, mas... – Abri um sorriso de orelha a orelha – Mas nada disso aconteceu, eles só dormiram comigo.

- Nossa! Como você é cretina, Lina! – Me dava tapas por toda a extensão do meu braço enquanto eu rolava de rir na cama dela.

- Você consegue imaginar? – Cansou de me bater, se deitando ao meu lado.

- Imaginar o quê?

- Em poucas horas eu serei uma mulher casada, dona de casa, e quem sabe até mãe daqui alguns anos.

- Parece que foi ontem que levávamos bronca da sua mãe pra juntar as bonecas e irmos lanchar.

- Esse nem era o pior, o bicho realmente pegava quando íamos tomar banho juntas. Era água pingando até no teto. – Ela ria, lembrando de quando éramos pequenas.

- Sinto falta desse tempo. Nem parece que você já é uma mulher formada, executiva de sucesso que achou um boy magia médico para juntar as escovas.

- Quem diria que eu ia virar tudo isso, né?! E você? Uma advogada gostosona e bem de vida. Seu único problema é ter um fogo descontrolado no rabo.
- EI! – A repreendi, dando um tapa em seu braço em seguida.

- Aiai! – Esfregou o lugar onde eu havia batido – Vai me dizer que não é verdade?! Você tinha que achar um homem e se aquietar.
- Eu não preciso de homem pra viver minha vida, posso muito bem continuar como estou e ser feliz assim.

- Pegando qualquer gostoso que acha pela frente?

- Falando assim, parece até que está se referindo à uma piriguete.

- E não é?

- Nossa, Vi, assim você até me ofende.

- Desculpa, não foi isso o que eu quis dizer. Eu queria ver você com alguém, sossegar, sentir o que eu senti quando o Thi me pediu em casamento, sentir aquelas borboletas no estômago, o coração batendo forte, se sentir apaixonada, sabe?! E não sair por aí pagando uma de fácil, tratando o amor como se fosse um jogo de conquistas.

- Beijar mais de um cara em um mês não significa que a mulher seja fácil.

- É, mas...

- Mas nada. Eu sei que você quer o melhor para mim, que você queria que nos casássemos juntas, nos apaixonássemos na mesma época, mas não foi assim que aconteceu. Nem tudo que funciona para você vai funcionar para mim. E acredite, eu estou bem como estou. Eu só tenho vinte e três anos, tem muita coisa para viver e aproveitar ainda. Quando a hora certa chegar, o cara certo vai aparecer e aí eu vou viver o conto de fadas que você tanto sonha para mim.

- O tempo muda tudo, menos o que é real.

- Quer dizer que se eu ajo dessa maneira é porque isso é o que eu realmente sou e não é o tempo que vai me mudar? – Me levantei, me apoiando nos cotovelos.

- Não. Na hora certa você vai entender.

- O quê? Mas como?

- Vai, Lina, levanta! Vamos nos arrumar logo que hoje em dia noiva chegando atrasada não é mais charminho. Minha mãe logo vai estar batendo na porta, com a maquiadora e o cabeleireiro, e eu nem escovar os dentes escovei ainda. Quero fazer xixi.

Lívia se levantou, indo tomar uma ducha e eu fiquei ali, tentando entender o que ela me disse. Não importa o que ela ou as pessoas pensem, eu não vou mudar quem eu sou só para agradar a sociedade, só para ser bem vista aos olhos de alguns ditadores da bíblia sobre como uma mulher deve se portar, não vou seguir um ditado só porque a sociedade determinou ser o certo. Não estou burlando nenhuma regra, estou apenas tentando viver minha vida da melhor maneira possível. Se hoje me perguntarem se eu me arrependo de alguma coisa que fiz no passado, minha resposta vai ser "não", pois todas as coisas que eu tive vontade de fazer, eu fiz. Quem passa vontade é só pobre em loja de rico. Se eu quero e posso, por que não fazer?

Meus pais sempre me deram suporte em tudo o que fazia, em todas as minhas decisões, porque eles confiavam na educação que me deram. Se hoje eu sou uma mulher (ou quase mulher), bem-sucedida no ramo em que me formei, é graças ao esforço que eles fizeram para que eu tivesse um futuro bom. Eu nunca vou desmerecer isso e nem esquecer o que eles fizeram por mim.

Quando eu avistei a oportunidade de crescer na vida e ser maior do que os meus pais foram, eu agarrei isso com todas as minhas forças. Graças à minha visão de que "passar vontade é para os fracos" que a Lívia é uma executiva de sucesso, hoje. Eu não jogo e nunca vou jogar isso na cara dela, pois foi ela quem venceu todas as barreiras, passou noites e noites com a cara enfiada nos livros, mas foi muito cagona em dar um passo à frente e se mudar comigo para a Austrália, foi pela minha insistência que ela veio. Éramos só nós duas, duas adolescentes de dezessete anos, com personalidades totalmente opostas, viajando para um país totalmente desconhecido, vivendo debaixo do mesmo teto, passando pelas mesmas dificuldades. Crescer juntas é uma coisa. Morar debaixo do mesmo teto é outra completamente diferente.

Lívia é minha melhor amiga desde que eu me entendo por gente. Nós já brigamos feio, por muitos motivos, por muitos caras, por muito tempo, mas hoje reconheço que isso só fortaleceu a nossa amizade. Sou muito grata ao babaca do Lucas por ter entrado na nossa vida. Ele começou a namorar a Lív e eu me atraí por ele logo em seguida. Mas eu desconhecia do fato de que eles estavam juntos. A Lív queria algo sério, eu só queria pegação.

Conheci Lucas na balada e nós ficamos, só que ele já estava comprometido, o errado da história foi ele, eu não sabia de nada. Quando a Lívia descobriu do que rolou ela virou a cara para mim durante um booom tempo, foi o tempo mais longo que ficamos sem nos falar. Ela havia ficado realmente magoada. Chegou a me chamar de puta e que eu dava mais importante a homem do que a nossa amizade. Eu fiquei mal, fui atrás do Lucas e falei poucas e boas para ele. Depois de longos meses chorando, com raiva uma da outra, a gente se entendeu e aqui estamos nós.

Foi até bom tudo isso ter acontecido, do contrário, ela não estaria casando com o médico australiano gato que ela vai subir no altar em poucas horas. Eu estou muito feliz por ela, eu sinto como se ela estivesse realmente alcançando sua meta de vida, pois foi o que ela sempre sonhou desde pequena. Estudar, se formar, e ter uma família.

Eu já havia ido para o meu quarto, tirado a blusa social preta e mergulhado na banheira que eu deixei enchendo antes de sair daqui. Pensava em tudo o que eu já havia passado ao lado da Lívia enquanto me deliciava na água quente.

Um moreno alto da bunda branca interrompeu meus pensamentos quando entrou no banheiro sem vestimenta, sorriu quando me viu na banheira e veio em minha direção. Sem proferir uma palavra entrou na banheira por trás de mim, me fazendo ficar entre suas pernas torneadas, e eu pude sentir seu amiguinho já bem ereto.
Passou suas mãos morenas e macias pelo meu colo e parou nos meus seios, massageando-os lentamente, pendi a cabeça para trás e deitei-a em seu ombro, sentindo de olhos fechados o prazer que suas mãos me proporcionavam. Graças ao meu corpo que estava coberto pelo óleo de banho, ele não teve nenhuma dificuldade em escorregar uma das mãos para baixo, encontrando minha intimidade totalmente melada por baixo da água aromatizada da banheira.

Levei minhas mãos para cima, encontrando sua nuca e puxando forte seu cabelo ao que ele mexia lá embaixo com uma rapidez que estava me fazendo perder a consciência. Ele não diminuiu o ritmo e os gemidos ficavam impossíveis de controlar. Com as mãos ainda na minha intimidade, tirou a que estava em um dos meus seios e segurou na minha cintura, direcionando meu corpo para sentar em seu membro totalmente duro e grosso. Soltei um grito de prazer quando ele colocou todo o seu pênis para dentro de mim, e sem nenhuma delicadeza começou a estocar forte.

Mantinha uma mão no meu clitóris e a outra na minha cintura enquanto eu quicava sobre seu membro. Saí de cima dele e tirei suas mãos de mim, me levantando e ficando de frente para ele, que sorriu analisando cada parte do meu corpo. Cheguei bem perto de seu rosto e esfreguei minha intimidade em sua boca, que logo foi preenchida pela sua língua. Comecei a rebolar involuntariamente em sua boca e a massagear meus seios, sentindo suas mãos apertarem minha bunda com força. Gozei. E gozei gostoso. Fui descendo bem devagar, passando minha intimidade, minha barriga, e meus seios pelo seu rosto enquanto eu ia me sentando nele. Provoquei-o um pouco e finalmente sentei sobre seu pau, sentindo ele pulsando dentro de mim. O moreno começou a chupar meu seio, o devorando, e mantinha as mãos na minha bunda. Eu quicava com força sobre ele, sentindo o prazer tomar conta do meu corpo, me fazendo esquentar. Gozei de novo, mas ele não havia gozado ainda, continuei com os movimentos até sentir seus músculos relaxarem por debaixo de mim.

Ofegante, paramos para voltar ao nosso estado normal. Rebolei mais um pouco sobre ele e finalmente saí de cima do seu pênis, sentando em seu colo, recebendo mordidas pelo meu pescoço.

- Otávio. – Me encarou nos olhos, se apresentando.

- Lindo nome. Assim como a pessoa que o têm. – Sorri de volta, sentindo seu olhar sobre a minha boca.

- Não vai falar o seu?

- Eu sou o que você quiser que eu seja.

- Então hoje você vai ser minha puta.

- Isso soa tentador... – Subia minha mão de leve pelo seu corpo – Mas eu tenho um casamento para ir.

- Que pena. – Suas mãos passeavam pelas minhas costas – Alguma chance de eu te encontrar novamente e ter a chance de fazer de você minha puta?

- Eu já fui sua puta. Ontem à noite e agora. – Contornei sua orelha com a língua e a mordi em seguida, sussurrando em seu ouvido – Já não foi o suficiente?

- Acho que eu preciso de mais doses de você. E dessa vez sem interferências. – Sua voz saiu falhada. Acho que ele estava se referindo ao outro cara que ainda dormia.

- Uma pena que não vai ser agora, pois eu tenho que me arrumar e a Lívia vai me matar se eu não estiver no casamento dela. – Me levantei do colo dele, pegando uma toalha e secando meu corpo. Ele não falou mais nada, só observou todos os meus movimentos. Ouvi a campainha tocar e o quarto ficar bem movimentado. A hora estava chegando.





Capítulo 02 - Wedding March




- Como estou? – Lívia perguntou, olhando seu reflexo no espelho e passando a mão pelo vestido branco que caia muito bem em seu corpo. Mangas compridas em renda, o colo perfeitamente modelado, o cumprimento perfeito para se usar com salto. Ela parecia uma princesa. Eu não conseguia parar de olha-la – Você não vai falar nada? Está tão ruim assim? – Seu sorriso se desfez ao ver que eu me mantive quieta.

- Você está linda, Lív. Uma legítima princesa. – Falei com lágrima nos olhos – Você está finalmente realizando seu sonho. Eu te disse amiga, eu te disse que era tudo questão de tempo e as coisas iriam entrar nos eixos.

- É verdade, Li! Mas se não fosse por você, talvez nada disso estaria acontecendo.

- Ai, ai, ai. Sem choro! Hoje é dia de sorrisos, e você vai borrar essa maquiagem incrível se começar a chorar. – Limpei as minhas lágrimas e as dela. Sorrimos, cúmplices, realizadas, felizes.

- Obrigada por me proporcionar isso. Obrigada por me dar apoio e por sempre estar do meu lado.

- Credo, Lívia. Até parece que foi eu quem fez tudo isso. O mérito é todo seu, por mais que a ideia de vir pra Austrália tenha sido minha, você foi a amiga louca que aceitou me seguir nessa jornada.

- E bota louca nisso.

- Meninaaaas! Vamos? Faltam vinte minutos para a cerimônia começar e nem saímos do hotel ainda. – A mãe de Lívia entrou no quarto, deslumbrante com aquele vestido dourado. Ela e o marido vieram só para presenciar o casamento da filhinha – Aí minha filha, como você está linda! – Cobriu a boca com as duas mãos, deslumbrada com a imagem da filha vestida de noiva – Quem diria que a minha menina viraria essa mulher.

- Mulher, sim. Atrasada, também. Casada, talvez. – Falei cruzando os braços, assistindo ao showzinho das beldades.

- Vamos, logo! A carruagem já está lá embaixo nos esperando.

- Carruagem, mamãe?

- Claro! Ou achou que a minha menina ia a pé para o próprio casamento? – Falou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, indo em direção a cama e pegando o buque e o véu e os entregando à Lívia.

- Mas não precisava ser uma carruagem, né, mãe?!

- Desculpa, filha, mas quem deu as ordens foi seu próprio noivo, eu só as segui.

- Thiago não é nada exagerado. – Falei, segurando a porta para que as duas passassem.

- Isso porque você ainda não viu o presente que ele comprou pra ela. – Íamos em direção ao elevador, que dava para montar um quarto dentro dele, de tão grande.

- Presente do quê? – Perguntei curiosa.

- De casamento, ué. Do que mais séria? – E ela novamente, usou o tom de como se fosse a coisa mais óbvia.

- Mas não é só ela que está casando, ele também está. – Lívia só observava a nossa conversa dentro do elevador que descia rápido.

- Perguntei a mesma coisa, e adivinha o que ele respondeu? – Dona Helena deu um breve suspiro – Que o presente dele ele já ganhou. O presente dele é a minha menina.

- Tirou a sorte grande, hein, amiga? – Falei achando fofo a resposta dele.

- Por que está tão quieta, meu amor? – Dona Helena segurou a mão da filha.

- Nervosismo, mãe. Nervosismo.

- É normal se sentir assim. Casamento não é um passo pequeno, você está prestes a mudar completamente o seu estilo de vida. Sorria, filha! Hoje é seu grande dia! Aproveite cada momento, por que ele acaba em um instalar de dedos.

- Te amo, mãe. – Saímos do elevador, já avistando seu Otaviano, o pai da Lívia, nos esperando na entrada do hotel. Fui cumprimenta-lo e seguimos para o campo onde ocorreria a cerimônia. Eu e as outras duas madrinhas fomos em um carro à parte, enquanto Lívia e os pais iam na carruagem.

Chegamos ao local aberto e descemos do carro, indo em direção onde o aglomerado de pessoas se encontrava. A Lívia foi junto do pai para uma casinha, onde estava reservado para ela ficar enquanto a cerimônia não começava. Cumprimentei algumas pessoas, recebendo olhares um tanto quanto provocativos e sedutores de alguns homens.

Juntamente com as outras duas madrinhas, me direcionei para a lateral do altar, tendo uma bela visão dos padrinhos que estavam do outro lado, muito bem vestidos. Não demorou muito e as pessoas começaram a tomar seus respectivos lugares, e Thiago se posicionou em frente do altar, esperando a noiva chegar. Me olhou, nervoso, e eu sorri, assentindo com a cabeça, recebendo um meio sorriso em resposta.

Observei os olhares ansiosos dos convidados, típicos australianos de classe, da alta sociedade. Minha Lívia tinha tirado a sorte grande, encontrado um médico de respeito. Thiago tratava Lívia como se ela realmente fosse uma princesa, quem sabe eu também não encontro um candidato à altura e... e... Quem é esse pedaço de mal caminho que cumprimentava o Thi com uma câmera em mãos?

A marcha nupcial começou a tocar e todos se levantaram, direcionando seus olhares para a mulher mais linda daquela noite. Até eu tirei o foco do fotógrafo gostoso para ver minha amiga. De braços dados com seu Otaviano, caminhava pelo tapete branco, sorrindo não somente com os lábios, mas também com o olhar.
Merda, Lina! Vai chorar logo agora? Limpei as lágrimas no canto do olho e me recompus, observando seu Otaviano cumprimentar Thiago e entregar Lívia para ele. A cerimônia começou e todos se sentaram.

***


O casamento foi lindo. Dona Helena chorou horrores, mas seu Otaviano não deu o braço a torcer, não. Nem com o olho marejado o homem ficou. O padre falou bonito, o beijo final do casal foi de tirar o fôlego, e essa festa estava divina.

Deixei minhas coisas na minha mesa, que eu dividia com as duas madrinhas e os outros três padrinhos, para cair na pista de dança. Uma das melhores partes do casamento era a festa pós cerimônia. O Thi e a Lívia dançavam como se não houvesse amanhã e eu dançava com um dos padrinhos gatos do Thiago.

- Amiga! Vem cá! – Puxei a Lívia – Desculpa, Thi. Vou roubar sua esposa por uns segundos.

- Mal casamos e já está me traindo, princesa? – Gritou para a esposa, ela mandou um beijo no ar e eu mostrei língua para ele.

- O que foi, Lina? – Se sentou em uma mesa, com uma taça de alguma bebida em mãos.

- Quem é aquele fotógrafo que vocês contrataram?

- Quem? O Dillan?

- Então, ele se chama Dillan?

- É o único fotógrafo que contratamos. E ele nem é fotógrafo, pelo menos não oficialmente.

- Como assim?

- As fotos dele são incríveis, além de ser alguém de confiança é um fotógrafo excepcional! Mas ele é médico, trabalha junto com o Thiago lá no hospital.

- Interessante...

- Convidamos ele pra ser nosso padrinho mas ele ofereceu seus serviços e nós aceitamos sem pensar duas vezes. Vira e mexe tem exposição das fotos dele em alguma galeria famosa da cidade. Você até já foi em uma com a gente.

- Se for a que eu estou pensando, ele é bom mesmo. Também deve ser ótimo com as mãos.

- Pensando com a parte debaixo na festa do meu casamento, Duarte? – Ela só me chamava pelo sobrenome quando chamava minha atenção.

- Vai curtir sua noite, amiga! Você merece. Desculpa. – Beijei suas mãos – Você merece toda a felicidade do mundo.

- Você não vale nada, mas eu gosto de você. – Se levantou e pegou mais uma taça para levar para o Thiago – Até que vocês formariam um casal bonitinho, se você não fosse tão piranha. – Sussurrou no meu ouvindo e saiu gargalhando de volta para a pista de dança. Muito descarada essa Lívia, viu?! Beijar por curtição não é pecado nenhum.

O movimento da festa ia se acalmando, já estava bem vazia na verdade, algumas pessoas de branco começaram a limpar o local e eu não conseguia achar os meus sapatos. Para falar a verdade eu não conseguia achar nada. Minha bolsa, chaves do carro, meus sapatos e até minha dignidade deveriam estar jogados em algum canto desse salão imenso. Acho que eu tinha bebido além da conta, outra vez. Merda. Me levantei e tentei andar à procura das minhas coisas, trançando os pés tropecei e caí, mas algo forte havia me segurado.

- Eu entrei no paraíso e não sei? – Falei visivelmente bêbada, nos braços do cara que havia me segurado.

- Você é a Lina, não é? Melhor amiga da Lívia!

- E você é o fotógrafo gostoso, amigo do Thi. – Passei as mãos pela lateral de seu rosto.

- E você está sem condições nenhuma de ir embora sozinha. Vem, vem que eu te levo.

- Você não vai me sequestrar, né?!

- Consegue me falar o endereço de onde mora?

- Você é o sequestrador mais lindo que eu já vi na vida, sabia?

- Pelo o que me lembre, Thiago tinha comentado que a Lívia morava com uma amiga. Essa amiga só pode ser você. – Não dava a mínima para o que eu falava.

- Você vai me amarrar?
- Já peguei o endereço antigo da Lívia. Parece que a casa passou para o seu nome. É para lá mesmo que eu vou te levar. – Ele disse assim que encerrou a ligação. Eu nem tinha percebido que ele estava com o celular em mãos, e que ele já havia me levantado do quase tombo e que agora estávamos em seu carro. Nossa, como minha cabeça doía.






Capítulo 03 - Titia Lina



Mais um dia de trabalho e eu não estava nem um pouco a fim de levantar da cama. Desde que a Lívia se mudou para morar junto com o Thiago, a casa parece que triplicou de tamanho. O que fazer dentro de uma mini mansão que nem parecia tão grande assim quando você compartilhava ela com sua amiga? Era quarto demais, banheiro demais, janelas demais, portas demais, tudo demais. Já estava ficando incomodada com tanto espaço desperdiçado. Sem falar na trabalheira que a faxineira tinha para limpar toda essa casa, sozinha. E falando em faxineira, por sorte consegui achar uma brasileira que aceitou trabalhar para mim, as faxineiras das empresas daqui da Austrália são uma porqueira, nada eficientes.

Fazia três meses que Lívia havia se casado. Passou um mês e quinze dias no resort de Maragogi, pelo o que ela disse fica em Alagoas. Fui procurar no google e o lugar é simplesmente LINDO. Pelo o que pude ver, também, o bufê do lugar onde eles ficaram é muito bom, super farto e de qualidade. Mandei mensagem para o Thiago ficar de olhos bem abertos e controlar a ida deles ao bufê, do contrário cinco minutos de sexo seria muito, e isso se ela não o trocasse completamente pela mesa de doces.

A festa do casamento não acabou muito bem para mim. Eu bebi tanto que não tenho muita noção do que fiz, só lembro que amanheci no salão de festa e estava sozinha. Uma das madrinhas deveria ter me trazido para casa ou um anjo me trouxe voando. Enfim, não são muitas as opções, eu só sei que passei o dia seguinte na cama, vomitando horrores de tanta ressaca, e desta vez, sem a minha amiga para segurar meu cabelo que, por sinal, tive que lavar mais de quatro vezes para sair o cheiro de vômito.

O dia no escritório não foi tumultuado, eu apenas tinha que verificar três casos e escolher entre um deles para defender. Estava dividida entre dois, mas no final do dia a decisão já estaria tomada. Meu escritório fica há uns dez minutos da minha casa, que era onde eu estava indo almoçar, antes da Lívia ligar me convidado para comer em um restaurante na companhia dela e de mais dois rapazes. Um deles eu sabia ser Thiago, o outro eu já não fazia muita ideia.

Entrei no carro e em vinte minutos, estava estacionando em frente ao local, que por fora parecia ser bem refinado, não queria nem ver por dentro. Não sei porque a Lívia insiste em me trazer para esses lugares finos, não faz o meu gênero. Respirei fundo, peguei minha bolsa e saí do carro, entrando no lugar e vendo Lívia sentada em uma mesa para quatro. Ela acenou para mim assim que me viu, e eu abri um sorriso amarelo.
- Oi, Lív. – Beijei-lhe o rosto, um costume que os australianos não têm por aqui.

- Lina! Que saudades eu estava de você. – Se sentou de volta em seu lugar e eu fiz o mesmo, ficando na cadeira de frente para ela.

- Saudades, Lívia? A gente se viu ontem no jantar. – Me lembrei do desastre que foi o jantar de ontem, onde ela cozinhou na casa nova e me chamou para fazer companhia para um cara que o Thiago disse estar louco por mim desde o casamento. Ele broxou no banheiro e enfim. Foi triste.

- Ah, mas agora a gente se vê muito pouco.

- Como está indo a vida de mulher casada?

- Bom, ainda não me acostumei com a casa, sinto sua falta todos os dias.

- Já vi esse episódio antes. – Ri, tomando um pouco da minha água que pedi logo que entrei.

- É verdade. Demorei para me acostumar a morar com você, né?!

- Ô! Foram muitas noites de choro e lenços molhados. Relaxa, é só questão de tempo e vai ser como se você sempre morasse com o Thi.

- O Thi tem sido um amor, Lina.

- Falando na beldade... – Apontei com a cabeça em direção a entrada, vendo ele chegar, Lívia se virou para vê-lo, já que ela estava de costas.

- Olá, meninas. – Sorria bonito, o homem – Desculpem a demora, chegou um garoto com crise de asma e ficamos para socorre-lo. – Deu um selinho na garota toda derretida ao seu lado, como se fosse a primeira vez que o estivesse vendo na vida.

- Tudo bem – Falei.

- Onde está o Dillan? – A Lívia perguntou e por um momento esse nome me soou familiar.

- Estacionando o carro dele.

- Não veio no seu?

- Não era preciso, né, princesa? Viríamos para o mesmo lugar, não fazia sentido virmos separados. – Lívia concordou e sorriu – Então, sobre o que as senhoritas estavam conversando antes da minha chegada?

- A Lívia estava falando do quanto você é um amor. – Ele deu risada.

- Vocês não sabem falar de outra coisa que não seja sobre mim ou qualquer outro homem?

- Eu até tento, sabe Thiago? Mas a Lívia não deixa. Todo assunto nos leva a você. Com o que você a enfeitiçou para ela ficar tão viciada em falar de você? – Lívia mostrou língua e eu ri.

- Bom, primeiro eu beijei ela, depois eu – Não consegui ouvir mais nada do que Thiago falava quando vi quem entrou no restaurante. Eu estava prestes a cair da cadeira, senti meu corpo esquentar e minhas pernas tremerem de nervoso – E foi basicamente o que eu fiz para rouba-la de você. Lina? Você está bem?

- Eu... Eu...

- Dillan! Você chegou! – A Lívia estava animada demais para o meu gosto. Tentei respirar fundo, evitando olhar nos olhos dele.

- Olá, boa tarde! – Não sorriu muito, parece que ele estava tão desconfortável quanto eu – Acho que não nos apresentamos direito. Dillan, é um prazer. – Falou com aquele inglês carregado de sotaque americano, me estendendo a mão. Certamente ele não era australiano.

- Lina. O prazer é todo meu. – Sorri mais bonito e apertei sua mão. Eu não iria demonstrar que estava desconfortável, eu ia ficar com a pose de mulher madura, centrada e sexy que eu sempre tenho. Não é um homem gostoso que vai me fazer descer do salto, não.

- Posso me sentar?

- Por que não poderia? – Devolvi com uma pergunta, tirando minha bolsa da cadeira e sendo repreendida pela Lívia com um olhar. Dei de ombros.

- Quando uma pessoa faz uma pergunta, Lina, ela não espera receber outra pergunta em resposta. – Estava parecendo minha mãe, como se eu tivesse feito algo de errado.

- Não se preocupe, Lívia. – Ele respondeu como se compreendesse meu comportamento. GENTE EU NÃO FIZ NADA DEMAIS. ELES SABEM QUE NÃO ESTÃO TRATANDO COM UMA CRIANÇA?

- O que vamos pedir? – Thiago quebrou o silêncio que se instalou na mesa, verificando o cardápio.

- Eu quero aquele ali, amor. – Lívia e Thiago se enfiaram no meio do cardápio e conversavam entre eles. Eu já estava quase indo embora.

- Você não vai pedir nada? – O cara incomodado ao meu lado perguntou, interrompendo meus pensamentos.

- Não sei.

- Escolhe aí.

- ...Não quero, obrigada.

- Como assim "não quer"? – Não me encarava, encarava o cardápio.

- Perdi o apetite.

- Se for por minha causa eu posso ir embora.

- Nem ouse fazer isso, ou a Lívia me mata. – Segurei sua mão quando ele fez menção de sair. Se ele vai embora, vou ter que aturar a Lívia jogando na minha cara todas as razões que ela cria do porque eu não estou com alguém. Do como eu sou grossa e afasto as pessoas de mim. Eu já aguentei essa mulher falar tanto na minha orelha que evitava criar certos conflitos – Por favor, fique. Se você foi convidado é porque sua presença é importante.

- Tudo bem. – Voltou a encarar o cardápio, tirando sua mão debaixo da minha. Nada quebra-clima esse cara, né?!

Decidimos o que iríamos comer. Como eu já havia mencionado, eu não estava com muita fome, então pedi torrada, Dillan me olhou meio incrédulo e rolou os olhos. Eu sinceramente não estava entendendo o comportamento dessa pessoa, mal nos conhecemos e ele já está me tratando como aqueles casais que já não suportam nem estar no mesmo ambiente. Deixei quieto, vai que ele está tendo um péssimo dia, não sou eu quem vai piorar.
Lívia engatou em um assunto de economia e eu estava torcendo para que as horas passassem voando para poder ir embora daquela tortura. Dillan sorria pouco, eu sorria pouco, Thiago sorria muito, Lívia sorria muito. Qualquer pessoa que estivesse nos assistindo de fora saberia dizer quem eram os incomodados e entediados daquela mesa.

- Então, gente, eu chamei vocês dois aqui por um motivo. Vocês são muito importantes tanto na minha vida como na do Thi, e queríamos compartilhar esse momento com vocês, nossos melhores amigos. – Lívia começou a falar e eu já não estava entendendo nada.

- Você sabe que eu odeio surpresas, Lív. Vai! Desembucha! – Eu já estava impaciente desde o começo do almoço.

- Quanta consideração. – Ela desfez o sorriso.

- Desculpa, meu amor. Nos conte a belíssima novidade. – Pedi.

- Bom, – Ela olhou pro Thiago e sorriu mais do que podia, e o vi colocar uma das suas mãos na barriga da Lívia – Faz tempo que já estamos tentando e....

- Puta Merda! Você está grávida! – Na hora eu liguei A com B e não acreditei ser verdade.

- Obrigada, Lina, por roubar mais uma vez nosso momento. – Lívia reclamou e eu estava pouco me lixando. Saí do meu lugar e fui abraça-la. Ela abriu um sorriso e se levantou.

- Ai meu deus, eu vou ser titia! Não acredito. – Falei durante o abraço, deixando uma lágrima escorrer. Sou patética, eu sei.

- Sim, você vai ser titia. E chamamos os dois aqui para dar um convite – Ela fez uma pausa dramática e eu tive que me segurar para não bater nela – Vocês aceitam serem os padrinhos do nosso menino?

- Vocês já sabem até o sexo da criança? – Dillan soltou do abraço que dava no amigo e perguntou surpreso.

- Na verdade é menina, mas a Lívia é teimosa e fica falando que é menino.

- Vocês vão ser os pais mais sem noção do mundo. – Pensei alto, sem reação ao ver que eles já estavam discutindo o sexo do bebê sendo que nem um mês ainda tinha feito – Mas relaxa, picutchucu. A titia Lina e o titio Dillan vai te salvar da loucura dos seus pais. – Falei com a barriga da Lívia, fazendo aquela voz retardada que todos fazem quando falam com algo fofo.

- Eu posso até salvar a criança, já você eu não garanto muito. – Dillan se sentava novamente em seu lugar.

- Você mal me conhece, como ousa tirar tais conclusões da minha pessoa dessa maneira?

- Conheço o suficiente pra saber que boa influência você não vai dar ao nosso afilhado.

- Dá pra vocês dois não estragar esse momento? A gente chamou vocês aqui para comemorar e não ficar discutindo. – Lívia usou da pouca autoridade que tinha.

- Desculpa, Kidman. – E foi estranho ouvir alguém chamar a Lívia pelo sobrenome de casada.

- Tudo bem. Enfim, vocês ainda não responderam, aceitam ser os padrinhos do bebê? – Não ousou mais determinar o sexo da criança.

- Mas é claro que aceito. O Dillan eu já não sei, mas eu sou totalmente a favor dessa decisão. – Sorri que nem uma criança.

- Eu também aceito, claro. Por que, como recusar um convite desses?

- Ai, que felicidade! Obrigada por aceitarem fazer parte da vida desse serzinho que cresce cada vez mais dentro de mim. Você não vai falar nada, amor? – Lívia virou para o Thiago ao notar que ele estava muito quieto. A cena foi um tanto quanto engraçada, a gente se distraiu com a notícia que nem vimos a sobremesa chegar, a mesma sobremesa que Thiago estava devorando nesse exato momento.

- Se vocês me dão licença, eu já vou indo, tenho que voltar para o meu escritório.

- Nossa, Lina, mas já? – Thiago estranhou.

- É você quem faz seus horários, que eu sei. – Lívia me acusava.

- Eu sei, mas tenho muita coisa pra resolver hoje, e eu já estou sentindo falta do escritório.

- Você só pode ser doente. – Thiago ria.

- Boa tarde pra todos vocês. – Me levantei e fui cumprimentar a Lívia, dando um aperto de mão no Thiago em seguida – Tchau, formador de opiniões erradas.

- A primeira impressão é a que fica.

Saí e nem me dei ao trabalho de responde-lo. Paguei minha conta e me dirigi até o carro. Fitei por longos segundos o volante, novamente, com a cabeça explodindo de dor. Essa ansiedade, curiosidade, decisões a tomar, problemas para resolver não estavam me fazendo nenhum bem, e ainda vinha esse tal de Dillan achando que pode me tratar mal daquela maneira. O que ele quis dizer exatamente com "A primeira impressão é a que fica"? O que será que aconteceu naquele casamento? Eu precisava saber, ele estava me tratando mal sem um motivo plausível.





Capítulo 04 - Look At Me Now




Eu havia acabado de chegar do trabalho, estava exausta, não aguentava mais olhar tantos papéis brancos com letras que ficavam cada vez menores com o passar das horas. O dia havia sido produtivo, mas foi cansativo, também. Minha dor de cabeça não passava de jeito nenhum, já tomei tudo quanto é remédio e nada. Estava deitada no sofá da sala, imersa em pensamentos e com a televisão ligada para as paredes.

A forma como Dillan havia me tratado naquele almoço não me descia de jeito algum. Ainda estava incomodada com tudo o que aconteceu. Resolvi ligar pra Lívia, quem sabe ela não sabia de algo já que ele é tão amigo do marido dela. Disquei o número recém decorado por mim, que era o novo fixo da casa nova dela. Eu sei que já haviam se passado três meses, mas nem em três anos aquela casa vai deixar de ser a nova.

- Alô?! – Ela atendeu na segunda tentativa, porque a ligação caiu e eu tive que ligar novamente.

- Por que você está ofegante? – Perguntei, percebendo a voz dela sair meio falha.

- Lina, são onze da noite, o que você quer?

- Nossa, pelo o que eu saiba, você disse que não tinha horário, que eu poderia te ligar a qualquer horário se precisasse. – Isso mesmo, Lívia, cospe no prato que comeu.

-Desculpa, amorzinho, é que você não ligou em uma boa hora... – Pediu, mudando o tom de voz – O que você tem? Aconteceu algo?

"Quem é?" Ouvi uma voz de fundo no telefone, só poderia ser o Thiago. "É a Lina." "Porra, Lina. Sua estraga-fodas."

E eu comecei a rir muito alto. Não conseguia mais parar de rir, senti a Lívia ficar totalmente sem graça do outro lado da linha.

- Mas, Lívia, não é proibido transar na gravidez? – Perguntei ainda rindo.

- Gravidez não é doença, Lina. Pode fazer sexo a qualquer momento.

- Bom, eu não vou mais me meter. Isso explica sua voz embargada, estava ocupada, né?! – Ri mais um pouco – Agora que eu sei que não atrapalhei nada, preciso te perguntar uma coisa.

- Você atrapalhou muita coisa, Lina. Tá, vai, fala!

- Sabe no seu casamento?
- Hm. O que que tem?

- Aconteceu alguma coisa fora do normal?

- Defina fora do normal.

- Entre eu e o Dillan... – Não queria dar a entender que estava me importando, apesar de estar e muito.

- Você não se lembra de nada? – E ela fez com que eu gelasse pelo espanto que tinha na voz.

- Amiga, diz que eu não fiz nenhuma besteira. – Cortei o silêncio que se instalou na linha.

- Quer almoçar comigo amanhã?

- Hoje é sexta, amorzinho, vou sair daqui a pouco, amanhã eu não acordo nem para o almoço. – Ela riu.

- Então eu vou com você, assim, a gente se diverte e conversa sobre o que houve.

- Como nos velhos tempos? – E uma luzinha nostálgica acendeu dentro de mim.

- Sim, como nos velhos tempos. Só tirando o fato de que eu não vou ficar com ninguém. Agora sou uma mulher casada.

- Ai, que vida triste. – Fiz drama.

- Onde planejava ir?

- A mesma boate de sempre. Te encontro lá daqui vinte minutos.

- Lina, por um acaso você sabe onde eu moro? Não tem como eu chegar lá em vinte minutos!

- Sei, na casa nova.

- Já deixou de ser a casa nova há um tempão, amorzinho.

- Essa casa nunca vai perder esse título.

- Você tem que se superar de mim. – Falou como quem está cansada de ver uma amiga sofrer por causa de ex. Eu ri.

- Já me superei de você, poia. Agora vai se trocar ou não chegará no local em vinte minutos. Agora te restam dezenove. – Desliguei o telefone antes que ela voltasse a reclamar. Vesti um jeans claro, com vários rasgados, um tomara-que-caia preto de cetim e meu scarpin preto alto. Perfume, porque ninguém nasceu cheirando à nutella. Faltavam exatamente dez minutos para encontrar Lívia na tal boate. Bufei, ao perceber que eu estava animada demais para um evento que não aconteceria com frequência. Agora que está casada, ela tem menos tempo para mim. Passei um batom vermelho, porque eu não sou de ferro, e chamei um táxi, estava determinada a curtir ao máximo essa noite. Essa dor de cabeça precisava passar, vai que eu só precisava que me esclarecesse sobre o que ocorreu?

Entrei no táxi e dei o endereço ao motorista, que engatou em um papo sobre a política do país dele e eu só concordava, pra ver se ele desistia de derramar as lamúrias sobre o novo presidente. Chegamos no local e agradeci pela simpatia e pela conversa. Avistei a fila não muito comprida e cogitei ir até lá, não sabia se entrava com ou sem a Lívia, liguei para ela e perguntei onde estava, ela disse que estava chegando. Esperei os sete minutos mais longos da minha vida, em frente à boate que costumávamos ir toda sexta-feira, quando ela ainda era solteira e morava comigo. Foi nessa mesma boate que ela encontrou Thiago, e foi amor logo que trocaram a primeira palavra.

- Até que enfim você chegou! – Exclamei, ao vê-la saindo do carro.

- Não deu nem dez minutos, Lina.

- Demorou do mesmo jeito. Por que veio com seu carro?

- Eu não posso mais beber álcool, amorzinho, lembra? – Passou a mão pela barriga, me fazendo sorrir ao lembrar que serei tia.

- Eu vou mimar tanto teu filho que ele vai preferir morar comigo.

- Não exagera, Lina. – Riu, achando graça da minha convicção. Ela vestia um vestidinho azul marinho, um pouco a cima do joelho, soltinho. Com um salto que trançava a parte do tornozelo, não sei o nome desse sapato, só sei o dos meus. Caminhamos em silêncio até a entrada e o segurança nos permitiu entrar, ouvi alguns uivos antes de ter minha audição completamente tomada pela música alta que ecoava dentro do local.

- Amiga, eu vou dançar. – Falei perto de seu ouvido e ela assentiu, se dirigindo ao bar.

Caminhei até a pista de dança e eu estava com uma vontade enorme de extravasar todo o estresse, toda dor de cabeça, todo desconforto que eu estava sentindo até agora. Dançar me libertava de mim mesma, e eu precisava me sentir livre novamente, como não tenho me sentido desde o casamento.
Já era a quarta música e eu já estava totalmente perdida e envolvida com o som, não sentia ninguém a minha volta, de olhos fechados eu sentia toda essa energia passar por todo meu corpo e me soltei por completo, me mexendo no ritmo da música. Senti duas mãos, grossas e grandes, pousarem na minha cintura, sorri com a sensação que senti, sem abrir os olhos. Continuei me movimentando, agora de acordo com o ritmo que essas mãos fortes me moviam. As mãos começaram a descer e subir de leve por toda a minha costela, e então eu entrelacei meus braços em volta do pescoço do dono das mãos que passeavam pelo meu corpo. Alto, pude perceber, ainda com os olhos fechados. Aproximei meu corpo do dele e desci minhas mãos para o seu peitoral, encostando meu nariz em seu pescoço. Cheiroso, o homem das mãos grossas. Sorri ainda mais.

Abri meus olhos e estava cara a cara com o homem moreno, não aparentava ser velho, mas já devia ter lá seus trinta anos. Bonito, o homem do peitoral forte. Mordi sua bochecha e arranhei sua nuca, voltando a posição normal. Ele se aproximou mais de mim e eu me remexi mais, colada ao seu corpo. Dançávamos quietos, conversávamos pelo olhar, suas mãos denunciavam o quanto me desejava, sorri ainda mais com esses pensamentos. Lhe dei um beijo no pescoço e ele se arrepiou, me afastei dele sorrindo ao perceber que a música havia acabado, me sentindo vitoriosa, jogar charme é comigo mesmo. Já havia dado alguns passos, indo em direção à Lívia, mas uma mão me puxou e eu virei com tudo, dando de encontro com a boca do sujeito que conduzia minha dança segundos atrás. Beijava gostoso, o homem dos ombros largos. O beijei mais ainda, arranhando todo seu pescoço, sentindo um gosto de álcool com menta. Senti minhas costas serem pressionadas contra a parede e ele juntou ainda mais seu corpo junto ao meu. Ele não havia parado o beijo, eu já estava ficando sem fôlego e sem paciência. Partimos o beijo, afastando nossos rostos, mas não os corpos, muito ofegantes.

- Vai se fazer de difícil lá na puta que pariu. – Falou no meu ouvido, ainda me prensando contra a parede. Senti o tesão subir por todo o meu corpo e a curiosidade de ter esse cara na minha cama cresceu.

- Era só charme, querido. – Sorri.

- Se começou, termina. – Abriu o zíper da minha calça enquanto falava e respirava pesado perto do meu ouvido – Isso é por ter me deixado na mão. – Dito isso, enfiou dois dedos dentro de mim, me fazendo gritar e apertar seus ombros com força. Dedos grossos do caramba – E isso é pela dança. – Apertou minha intimidade e começou a me estimular, aumentando cada vez mais a velocidade, minha boca já estava em formato de "0" e puxei ele para mais perto. Tirou a mão de lá, não me deixando gozar, abotoou minha calça, me deu um selinho e deu as costas, sorrindo vitorioso. Eu ainda estava em choque com a atitude desse cara.
Respirei fundo, tentando me recompor. Procurei por ar e finalmente achei, retomando meu caminho de encontro à Lívia.

- Demorei muito? – Perguntei assim que me sentei no banco ao lado do dela.

- Demorou, mas você está no seu direito, não se preocupe.

- E então, me conta sobre o que houve no casamento, eu estou me mordendo de tanta curiosidade. – Confessei.

- Não consigo acreditar que você não se lembra de nada. – Riu, balançando a cabeça negativamente.

- Te juro que não lembro de nada. – Chamei o barman e pedi um Chopp.

- Bom, Lina, vai ser meio difícil de te falar isso, porque eu sei que você não teve culpa nem nada, e...

- Lívia! Desembucha! Nem parece que você me conhece.

- Desculpa, eu realmente não sei por onde começar.

- Do começo, ué.

- Ok. Depois não reclama.

- Vai, fala logo que eu já estou quase te esganando.

- Quanta delicadeza. – Zombou – Bem, você bebeu bastante, tanto é que hoje você nem se lembra do ocorrido. Você acordou no salão da festa do casamento e o Dillan te achou lá já que ele ficou até tarde para ajudar na arrumação, ele viu que você estava visivelmente bêbada e sem condições de voltar para casa sozinha e me ligou, perguntando onde você morava. Ele te levou até a sua casa, mas você não sabia nem seu nome direito, que dirá onde estava a chave.

- Nossa, eu não lembro de nada disso. – Tomei do líquido que estava no meu copo.

- Pois é. Aí, sem chave não tinha como entrar na casa, e ele não iria deixar você plantada na porta, então ele te levou para o apartamento dele. Ele te deu um banho, com você de roupa, claro, te fez beber bastante água e te deu remédio, te colocou para dormir na cama dele e ele dormiu no sofá da sala.

- Mas eu acordei na minha cama.

- Calma que eu ainda vou chegar nessa parte.

- Tá.

- Eu não sei se você lembra dele ter te falado, mas ele tinha uma noiva.

- O QUÊ?!?!?!???!!!??!

- É, isso mesmo o que você ouviu. Ela estava em uma viajem de trabalho, mas voltou antes do previsto e te encontrou deitada na cama deles, só com a camiseta dele no corpo, e é óbvio que ela já pensou coisas, ficou puta da vida e terminou o noivado de dois anos com o Dillan na mesma hora.

- Não acredito nisso.

- Pode acreditar.

- Mas eu não tive culpa, caralho. A vaca nem deixou ele se explicar?

- Ela preferiu acreditar no que estava vendo.

- Filha de uma égua...

- Mesmo que você estivesse inconsciente, tudo aconteceu porque você estava bêbada e ele só tentou ajudar. Ele amava ela, ainda ama, na verdade.

- É por isso que ele estava me tratando daquela maneira no almoço. Tudo faz sentido, menos uma coisa, por que ele disse que a primeira impressão é a que fica, sendo que tudo aconteceu enquanto eu dormia?

- Bom, durante a festa você me perguntou dele e eu falei as coisas básicas sobre ele. Você bebeu mais um pouco e foi tentar ficar com ele, ele avisou que tinha noiva, mas você não deu importância.

- Cara, que merda. Eu nunca faria isso se estivesse consciente, você sabe disso.

- Eu sei, eu até disse à ele que você estava alterada e fora de si, não estava falando com coerência.

- Nossa, Lív, eu estou mal por ele, agora. Nunca fui a causa da separação de ninguém.

- Pois é, amorzinho. É por isso que ele tem uma imagem meio distorcida sobre você e não vai nem um pouco com a tua cara.

- Eu preciso fazer algo em relação à isso.

- Eu não acho uma boa ideia você ir falar com ele agora.

- E eu vou falar quando, Lívia? Daqui há dois meses? Quando a poeira estiver abaixando? Não tem como eu fazer isso, eu não sou assim.

- E eu não sei?! Não há nada que eu fale que te impeça de fazer alguma coisa.

- Agora tem.

- Essa criança nem cresceu ainda e já está me dando vantagens em cima de uma fera indomável. – E riu.

- Eu não sou uma fera, e muito menos indomável.

- Bem pude ver, você se mostrou bem submissa com o rapaz da dança. – Gargalhou. Então ela tinha visto a cena.

- Amiga, aquele homem tirou todo meu fôlego. Bem que eu queria ter ido mais fundo, mas eu sou orgulhosa e já havia cedido demais, ele me tinha completamente nas mãos.

- Você é boba, isso sim. Diz aproveitar ao máximo mas fica fazendo cu doce.

- Meu cu doce me proporcionou uma masturbação lenta e prazerosa. – Omiti o fato dele não ter me deixado gozar.

- O teu cu doce te proporcionou apenas uma masturbação, quando você tinha a chance de ter recebido muito mais.

- Cala a boca. – Rimos.






Capítulo 05 - Uma Noite Gorda E Careca




Minha dor de cabeça só aumentava, estava atrapalhando meu sono e meu desempenho no escritório. Odiava hospitais, mas se essa dor não passar eu vou ser obrigada a ir ao local que eu mais tento evitar.

O expediente acaba às cinco da tarde, mas eu saia às sete. Pedi o endereço da casa do Dillan pra Lívia, mas ela não quis me passar, disse que era melhor eu ficar na minha e deixar a raiva dele por mim passar com o tempo, principalmente agora que passaremos muito mais tempo juntos por conta do nosso posto de padrinhos, com a convivência ele vai ver que eu não sou quem ele montou em sua cabeça. Mas eu não concordei, iria achar o endereço dele de qualquer jeito, eu precisava esclarecer, eu precisava conversar com ele, eu precisava principalmente pedir desculpas porque, querendo ou não, o noivado dele acabou por minha causa, e eu estava mais do que incomodada com esse fato, fato que nenhum dos dois se preocupou em me informar antes de me tratar do jeito que me trataram.

Estou com uma dor de cabeça do caralho mas eu ainda sou mulher, e eu ainda tenho necessidades. Marquei um encontro com um cara no Tinder, por incrível que pareça isso também existe aqui na Austrália, e eu já havia recebido algumas mensagens.
Olhei no relógio e já marcavam nove da noite, ele disse que passaria aqui por volta das nove e cinco, nove e dez. Eu estava pronta fazia uma meia hora, resolvi retocar a maquiagem e ir ao banheiro, que segundo a Lívia é "fazer xixi", e não "mijar". Ela se irrita muito quando eu falo "mijar", e eu só sei dar risada. Mijar, fazer xixi, urinar, soltar cachoeira, tirar água do joelho, espremer umas laranja, é tudo a mesma merda, cai no vaso e tem cheiro ruim que nem o de todo mundo, só muda o nome.

Peguei minha bolsa de mão e coloquei dinheiro, batom, camisinha e meu soco inglês. Prevenção sempre.

Eram nove e onze quando ele me mandou mensagem dizendo que já estava esperando em frente ao prédio. Tranquei a porta e peguei o elevador, ansiosa pela noite de hoje, era meu primeiro encontro marcado pela internet sem nem conhecer direito a pessoa. Sabe aquela foda que você quer para agora e super sem compromisso? Esses sites e aplicativos são perfeitos para isso.
Atravessei a porta de vidro e avistei um carro preto, com o dito cujo encostado no capô da frente do carro. Na mesma hora eu quis fingir ser uma árvore, mas só tinha eu ali e eu estava visivelmente arrumada para um encontro, sorri amarelo ao ver que ele acenou. Caminhei até ele e desejei do fundo da minha alma que ele ao menos fosse cheiroso. Aleluia! Ele não é fedido.

- Muito boa noite, senhorita. – Pegou minha mão e a beijou. Ao menos ele era cavalheiro.

- Muito boa noite, senhor. – O copiei, indagando o fato dele aparentar ser bem mais velho que eu. E era, na verdade.

- Pronta para ter a melhor noite da sua vida? – É sério isso? Esse cara além de careca e gordo, deveria ter o dobro da minha idade, isso se não for mais velho. Eu sei que não deveria, e que pode parecer bem rude da minha parte, mas eu estava ficando com náuseas só de pensar na noite que eu teria com esse senhor.

- Pode acreditar que sim. O que o senhor tinha em mente? Uma partida de dama, talvez?!

- Que isso, senhorita, temos coisas mais interessantes para fazer.

- Claro, que pergunta a minha. Vamos?! – Ele assentiu e entramos no carro. Eu precisava urgentemente achar uma maneira de me livrar da experiência que esse cara estava pensando que teria comigo – Onde vamos?

- Em um restaurante mexicano aqui perto. Comida apimentada, assim, igual a você. – Piscou para mim e eu sorri forçado, totalmente desconfortável com a situação.

- Quanto tempo de viajem?

- Dez minutos, chutando alto ainda. – Dobrava a esquina.

- Você já foi lá?

- Umas três ou quatro vezes.

- Todas em um encontro?

- Não, uma das vezes fui com meus netos.

- Você tem netos? Quantos?

- Tenho cinco.

- Você não é casado não, né?!

- Minha mulher morreu no parto do nosso segundo filho.

- Eu sinto muito.

- Não sinta, se ela ainda estivesse viva, eu não estaria tendo o prazer de te conhecer. – Velho nojento, não tem nem respeito pela finada esposa.

Não falei mais nada, me calei e comecei a pensar em algo inteligente pra me livrar desse cara. Ou nem precisava ser algo inteligente, esse daqui iria cair em qualquer coisa que eu inventasse. Mandei mensagem para a Lívia pedindo que daqui meia hora ela me ligasse desesperada, inventando alguma emergência, e que ela soasse verdadeira, pois eu ia colocar no alto-falante, caso ele chegue a duvidar.

Chegamos no restaurante e havia somente dois carros no estacionamento, sinal que não havia muitas pessoas, eu ia poder fazer um escândalo maior, se precisar. Ele saiu do carro e abriu a porta para mim, querendo me dar a mão logo que eu saí, mas eu dei a desculpa de que não queria ir muito rápido, como se eu realmente me importasse com essas coisas.

Adentramos o lugar e escolhemos uma mesa, eu sugeri a que ficava mais perto da saída, obviamente. Fizemos o pedido e ele não parava de me passar cantadas baixas e baratas, por um acaso pareço pechincha?! Estava ficando muito agoniada, e sem paciência, quando o celular tocou e era a Lívia ligando, agradeci mentalmente por isso, já não era em tempo.

- Alô, amiga?! O que foi? – Respondi despreocupadamente.

- Lina!? Aqui é o Thiago. – Estranhei de início, não era para ser ele me ligando, mas ok. Vai dar tudo certo, assim esperava. Ele estava meio ofegante e eu quase acreditei que algo realmente havia acontecido.

- Espere um segundo, Thi. – Coloquei o celular sobre a mesa e em um volume baixo, mas audível para o gostosinho69 (que era o nome de usuário dele no Skype, eu deveria ter desconfiado desde o nome de usuário. Nem para prestar mais atenção, caralho) – Pode falar.

- Lina! Vem correndo para o hospital! A Lívia entrou em trabalho de parto, por favor, o bebê está correndo risco de vida. – Meus amigos são gênios, nem dá para acreditar.

- Ai meu deus! Onde vocês estão? Estou indo aí agora! – Fui me levantando e fazendo sinal para o gostosinho69 me seguir – Em que hospital vocês estão?

- No mesmo em que eu trabalho. Vem rápido, Lina, por favor, eu não tenho ninguém aqui comigo. – Chorou um pouco. Como eu queria poder rir agora, que tentação.

- Chego aí em questão de segundos. Fica bem, Thi. Vai dar tudo certo. – Forcei uma voz de choro e desliguei o celular, já entrando no carro – Você pode me levar no hospital?

- Posso sim, senhorita. Se você quiser eu posso ficar com você no hospital, seu amigo pareceu bem agoniado. – Não, Lina, não é hora para ter dó, continue com o plano porque está dando super certo.

- Isso é muito gentil da sua parte, mas acho que esse não é o melhor momento para envolver alguém de fora. Seria no mínimo estranho levar um acompanhante meu em uma ocasião assim.

- Você tem razão.

- Me desculpe por ter que sair assim, às pressas.

- Não se preocupe, sua amiga precisa de você e nós teremos mais oportunidades para nos conhecermos melhor.

- Sim, claro.

- E então?! Em que hospital seu amigo trabalha? – Estava parado no semáforo.

- Gold Coast University Hospital.

- Não fica muito longe daqui.

- Não, não fica.

A viagem até ao hospital foi silenciosa, ele não falou mais nada e eu nem queria conversar. Que roubada foi ter aceitado sair com esse cara, eu estava me sentindo muito mal por estar mentindo, ele estava quieto dessa maneira porque deveria ter ficado preocupado com a situação em que a minha amiga "se encontrava". Eu não costumava fazer isso, mas ele era de idade e mesmo que tivesse um péssimo senso de humor, eu fiquei com dó de dar um pé na bunda dele no melhor estilo Lina.

- Obrigada por tudo, me perdoe por não ter te proporcionado a noite que você esperava. – Tirei o cinto de segurança ao que ele estacionava o carro.

- Que isso, senhorita. Ter tido sua companhia mesmo que por pouco tempo valeu à pena. – Encarou meu corpo de cima a baixo, sem nem disfarçar.

- Tenho que ir, minha amiga pode estar correndo perigo. Até uma outra hora. – Abri a porta do carro para sair.

- Até breve, senhorita. – Não soube dizer se ele estava com espasmos ou se piscava para mim, fazendo charme.

Saí do carro e fui correndo até a entrada do hospital, com medo do que ele poderia fazer comigo se eu ficasse um segundo a mais naquele carro. Saiu cantando pneu e eu estava decidida a deletar o Tinder, e se eu novamente for marcar um encontro via internet, seria através de chamada de vídeo pelo Skype. Até para ter uma foda casual está difícil.

- Cadê você, piranha? – Perguntei logo que a Lívia atendeu minha chamada.

- Na sala do Dr. Kidman. – Respondeu com dificuldade, em meio à risos.

- Já já chego aí. – Desliguei o telefone e nem me dei ao trabalho de perguntar qual era a graça. Desta vez, EU era a graça. E seria por longas semanas.

Fui até a recepção e perguntei a localização da sala do Dr. Kidman. A recepcionista fez uma breve ligação e me deu as coordenadas logo depois de ter colocado o telefone no gancho. Segui às instruções e logo avistei uma sala com o sobrenome do casal vinte ao lado da porta branca. Bati duas vezes e ouvi um "está aberta" antes de entrar.

- Em trabalho de parto, hein?! – Falei com tédio, me sentando no sofá branco, da sala colorida dele. Estranhei.

- Ele babava muito, Lina? – Thiago fazia piadinhas.

- Não me enche, Kidman. Minha paciência já está esgotada. – Os dois se entreolharam e começaram a gargalhar muito alto – Eu não sei se vocês sabem, mas isso aqui é um hospital.

- Eu trabalho aqui há um bom tempo pra saber que é um hospital. – Os dois recuperavam o fôlego e retomavam a postura, se sentando adequadamente em suas cadeiras.

- Falando nisso, por que é que sua sala é toda colorida? – Perguntei curiosa, observando o local com alguns brinquedos espalhados pelos cantos e vários adesivos infantis nas paredes.
- Pelo simples fato de eu ser pediatra. – Claro, Lina, que pergunta. Lívia estava sentada na cadeira em frente à mesa do Thiago, rindo baixinho se lembrando de algo. Retiro o que disse, eu vou ser piada por longos MESES.

- Ah, sim, claro. Desculpe a ignorância.

- Tudo bem. Você deve ter tido uma noite cheia.... – Segurou o riso.

- E careca, também. – Lívia disse e começaram o ciclo de gargalhadas intermináveis novamente.

- Então você só cuida de crianças? – Tentei mudar de assunto e tirar a atenção da minha noite bem mal acompanhada.

- Crianças e adolescentes até dezoito anos, por quê? Está com algum problema, Lina? – Thiago retomou sua pose de médico. O ciclo finalmente havia acabado.

- Estou com uma dor de cabeça terrível.

- Há quanto tempo?

- Faz mais de dias, não sei ao certo. Só sei que é forte e incomoda bastante, estou perdendo até o sono.

- Você tinha que ter visto isso bem antes, amorzinho. – Lívia se pronunciou sem ser para me zoar.

- Você sabe que eu odeio hospitais, evito ao máximo precisar vir aqui.

- É, mas dor de cabeça não é algo que pode esperar. Principalmente a sua que está durando mais tempo que uma dor de cabeça normal dura.

- E desde quando você virou especialista em Dores de Cabeça?

- O Dr. Hogan está te aguardando. – Thiago falou ao terminar a conversa no telefone que eu só notei que ele havia feito uma ligação quando desligou o telefone.

- Tão rápido assim? – Questionei.

- O doutor não está atendendo ninguém e está aqui de plantão. Você é uma pessoa e precisa de ajuda, certo?!

- Certo, mas eu não queria ter que sair dessa sala.

- Por que não?

- Aqui dentro é colorido, lá fora é tudo branco.

- O intuito de tudo ser branco é para transmitir paz e tranquilidade, e não terror e inquietação. – Lívia riu um pouco ao terminar de falar.

- A sala dele fica nesse pontinho vermelho aqui. – Me deu um folheto com o mapa do hospital – É em outra sessão, por a área de trabalho dele ser diferente da minha, mas não fica muito distante daqui.

- Tchau, amorzinho. Eu já vou para casa, estou exausta. – Lívia se levantou para me cumprimentar e sussurrou no meu ouvido: "Não fique brava com a gente." Sorri para mostrar que não estava brava.

- Tchau, Lív. Bom descanso para você. E para você também, Dr. KIDMAN. – Forcei a voz e ele rolou os olhos. Caminhei até a saída enquanto Lívia ia se despedir do esposo.

No meio do corredor olhei o panfleto e ponderei por um momento. Não acredito que uma simples consulta possa acabar de vez com a minha dor, remédios não havia funcionado, o que um diagnóstico faria de diferente? A essa altura eu só estava incomodada com o fato de que estava em um hospital, pois já havia aceitado fazer a consulta e estava perto do pontinho vermelho indicado no mapa. Atravessei para um outro prédio e peguei o elevador para um andar a baixo. Passei por algumas pessoas e depois de três portas avistei a que o Thiago havia me falado. Dei duas batidas na porta e o doutor respondeu um "entre". Respirei fundo e finalmente abri a porta, dano de cara com o Dr. Hogan sentado em sua mesa.

- VOCÊ?!

- VOCÊ?!

Falamos juntos, ambos espantados.






Capítulo 06 - The Other Side




- Você é a senhorita Duarte?

- E você é o Dr. Hogan?

- Vai me dizer que não sabia disso?

- Vai dizer que a culpa é minha agora?

- Chega de perguntas retóricas. Entre. Você está com problemas e eu estou aqui para lhe ajudar.

- Até agora isso só está me ajudando a odiar ainda mais hospitais. – Falei baixo, mais para mim mesma do que para ele.

- O que disse?

- Nada, Dr. Hogan. Nada de mais. – Fechei a porta atrás de mim e me sentei na cadeira em frente a sua mesa. Ao contrário da sala do Thiago, essa aqui estava bem deprimente, eu estava quase ficando cega com tanta coisa branca diante dos meus olhos – Será que você poderia esquecer que me odeia por um momento e me tratar como uma paciente comum?

- Eu sei ser profissional.

- Então você faz essa cara de bunda para todo mundo? – Falei e logo em seguida ele abriu um sorriso forçado, desmanchando toda a beleza que ele possuía. Não aguentei e comecei a gargalhar da careta que ele fez só para dar um sorriso.

- Tá, chega. Já desfiz minha cara de bunda. Perdoe-me.

- Sem problemas.

- O que você tem?

- Dor de cabeça.

- Há quanto tempo?

- Faz mais de uma semana. Ela vai e volta.

- Você saberia me dizer em que momentos ela volta?

- Quando a claridade é muito alta ou quando eu bebo em demasia.

- Está doendo agora?

- Sim.

- Em uma escala de 1 à 10, quanto dói?

- Oito.

- Hm. – Ele anotava alguma coisa em seu bloco ao que eu descrevia meu quadro – Já tomou algum remédio?

- Sim.

- Quais?

- Ahmmm... Eu não saberia te dizer. Não leio o que está escrito nas caixinhas.

- Tudo bem. Nenhum funcionou?

- Não. Às vezes a dor passava, mas logo voltava.

- Você dorme e come normalmente?

- Não tenho dormido muito bem, e minha alimentação se baseia em cereal pela manhã e alguma coisa na hora do almoço.

- Igual ao que você comeu naquele almoço em que eu estava junto?

- Sim. E isso, SE eu almoçar, tem vezes que eu esqueço de comer.

- Você é muito nova para ter Alzheimer. – Falou distraído, ainda fazendo as anotações, e eu achei graça – Bom, o certo seria você vir no dia seguinte fazer esse exame, mas vou quebrar esse galho para você.

- Oi?

- Você vai fazer o exame de Ressonância Magnética, para vermos o que está causando sua dor de cabeça.

Não entendi nem metade do que ele havia me dito, respondi a todas as perguntas honesta e corretamente. Ele me levou para uma sala onde tive que tirar todas as minhas peças de roupa, todos os brincos, anéis, acessórios do corpo e deixar dentro de uma cesta. Coloquei aquele roupão super fashion do hospital e saí da sala, sendo conduzida por ele até uma outra sala, onde eu avistei um tipo de um cilindro, grande. Eu estou com a péssima impressão de que eu vou ter que entrar dentro desse negócio. Ele me deu um protetor auricular, que eu só soube o nome depois de ele ter me dito, e me explicou a razão pela qual eu vou entrar nesse cubo.

- Você tem problemas em ficar muito tempo sem se mexer?

- Eu tenho o dom de me fingir de morta, isso conta? – Falei séria, mas ele deu risada.

- Vou entender isso como um "não". Você não pode se mexer enquanto não acabar o exame e você pode se comunicar comigo para relatar o que está sentindo.

- Demora muito tempo?

- De quinze à quarenta minutos.

Ele me deitou naquele negócio que eu também não sei o nome e eu fiquei parada até começar a se mover para dentro do cubo.

***


Eu já estava na recepção fazia uns quinze minutos, esperando ser chamada. O exame durou em torno de trinta minutos e eu fui me vestir logo que acabou. Ele elogiou meu talento em saber me fingir de morta e eu notei que a tensão entre nós estava quase no fim. Fiquei mais relaxada com isso, mas poderia muito bem ser apenas encenação ou simplesmente ele agindo como um profissional.

- Sra. Duarte?! A senhora já pode retornar para a sala do Dr. Hogan.

A recepcionista deu a ordem e eu sorri em agradecimento, indo em direção à sala do doutor que não sabe sorrir. Bati novamente, como da outra vez e ele respondeu um "entre". Desta vez sem surpresas. Eu já sabia quem era o Dr. Hogan e ele já sabia que eu era Duarte.

- Desculpe te fazer esperar, era necessário. – Pediu, analisando alguns papéis em cima de sua mesa.

- Tudo bem. – Me sentei.

- Ainda está com dor de cabeça?

- Estou.

- Hm... – Ele se levantou e caminhou até uma parede, não vi o que ele fez, mas a claridade do local diminuiu e eu senti um pequeno alívio.

- Obrigada.

- Cefaleia Tensional.

-Oi?!

- Você tem Cefaleia Tensional. Claridade e barulho te incomodam, agravando ainda mais a dor, que tira o seu apetite. É por isso que não está se alimentando corretamente ou até esquece de comer.

- Isso tem cura, né?!

- Sim. Você vai ter que mudar completamente sua dinâmica de vida. Vai precisar moderar nas doses de álcool, dormir no mínimo sete horas por dia e comer corretamente, na hora correta. Praticar exercícios também ajuda bastante. Vou estar te passando um medicamento para cortar a dor, você deve digeri-lo na hora indicada mesmo se não estiver com dor. – Escrevia enquanto me explicava sobre os medicamentos – Aconselho você a ficar sem tomar álcool por pelo menos um tempo, e voltar a consumi-lo aos poucos e de forma moderada.

- Eu tenho um bar em casa. – Pensei alto, sem intenção de querer uma opinião, mas ele entendeu errado.

- Se você achar que pode se controlar, não vejo problema nenhum. Mas se realmente quer que essa dor suma de vez, deve evitar ao máximo passar perto deste bar.

- É, estou ciente. Estava apenas pensando no quanto eu consumo álcool.

- Você poderia procurar ajuda nos..

- Nem ouse citar Alcoólatras Anônimos!

- Perdão. – Achou graça de mim.

- Posso te dizer uma coisa? – Quebrei o silêncio que se formou enquanto ele terminava de escrever minha receita.

- Pode.
- Mas eu quero que olhe pra mim. – Me arrependi do que pedi assim que ele parou de fazer o que estava fazendo e me encarou com aquele par de olhos escuros. Cadê a coragem e postura de mulher decidida que eu sempre tenho?

- Diga.

- Então... – Desde quando Lina Duarte fica tímida? Desviei de seus olhos e encarei minhas mãos, perdendo a fala.

- Você me pede para olhar pra você e você começa a encarar sua mão?

- Desculpa. – O encarei novamente, retomando minha postura – Eu juro para você que não me lembrava do ocorrido na festa de casamento do Thiago e da Lívia.

- Olha...

- Espere eu terminar. – Odiava ser interrompida.

- Ok.

- A Lívia me contou sobre tudo, desde minha ceninha ridícula na festa até o término do seu noivado. Eu sinto muito mesmo por tudo o que aconteceu, eu posso ser alcoólatra, vaca, estraga-fodas, e qualquer outra coisa, mas eu nunca me meteria com homem comprometido. – Pedi, me sentindo mal pelo o que ele transmitia no olhar.

- Você não se lembra de nada, mesmo?

- Juro de pé junto!

- Peço perdão pelo modo que tenho agido com você. Eu realmente amava muito a Sarah, ainda amo na verdade, e esse rompimento mexeu muito comigo.

- Desculpe minha intromissão, eu já estou bem mais que envolvida nessa história, mas se vocês estavam noivos, se estavam perdidamente apaixonados, como posso deduzir, por que é que ela desistiu do noivado de vocês por uma suposta traição?

- Traição é algo muito sério, Duarte.

- Sim, mas, você estava dormindo quando ela chegou de viagem, certo?

- Sim.

- Você dormiu na sala e eu no quarto, se algo realmente tivesse acontecido, ela teria que ter te encontrado agarrado a mim, e não a almofada do seu sofá.

- Sim, mas...

- Não tem "mas", ela não quis te ouvir e você não insistiu. Você vai ficar aqui até que horas?

- Eu ia terminar de te atender e ir embora. Chegou outro Neurologista para entrar no meu lugar.

- Eu vou pegar meu remédio e te encontro na recepção. – Peguei meu diagnóstico, o papel da minha receita e saí da sala sem dar muitas explicações. Sarah parecia um assunto que o deixava meio sensível, ele não raciocinava muito bem, por isso eu o encontraria na recepção daqui alguns minutos. Enquanto esse assunto não fosse resolvido, ele não pensaria antes de agir e me obedeceria assim, facilmente.

Fui em direção a drogaria do hospital e entreguei a receita para a senhora simpática que me atendeu, recebendo um pacotinho com remédios em troca. Parecia até que eu estava traficando alguma coisa. Olhei no relógio e já havia se passado dez minutos. Coloquei os remédios na bolsa e a pasta do diagnóstico também. Peguei o elevador e fui em direção a recepção, avistando Dr. Hogan de longe, me esperando com uma maleta preta em mãos. Vestia polo, o homem desnorteado, um pouco perdido, parado em um canto da recepção, encarando seu reflexo no vidro do local.

Sorri para a moça que havia indicado a sala do Thiago e fui de encontro ao Dillan, cutucando em seu ombro para chamar sua atenção.

- Vamos?!

- Onde iremos?

- Você quem vai me dizer. Você está de carro, né?!

- Sim.

- Ótimo! Porque eu não estou, você vai dirigindo.

- Onde vamos? – Retomou a pergunta.

- No carro eu falo.

- Pra que todo esse mistério, Duarte?

- Pra ficar mais emocionante. – Sorri de lado, saindo do hospital ao lado do Dr. Hogan. Ele rolou discretamente os olhos, mas eu percebi. Caminhávamos entre vários carros, até que ele destravou o carro de longe e avistamos ele piscar – Destino: Casa da sua ex-futura-reconquistada-noiva. – Falei entrando no carro.

- FICOU LOUCA?

- Por que você está gritando?

- Desculpa, Duarte. Eu achei que você fosse louca, mas não burra.

- Olha, eu já fiz muita cagada pra saber o que estou fazendo agora. Confie em mim.

- Confiar em você?

- Você vai precisar confiar em mim.

- Confiança não é algo que eu costumo dar sem mais nem menos.

- Confia em mim? – Insisti na pergunta, puxando seu queixo para frente, ficando cara a cara com ele. Ele me olhou profundamente, revezando o lado dos olhos que me encarava. Eu não sei se ele havia me ouvido, estava demorando para responder – Confia em mim?

- Confio. – Respondeu sério e decidido. Soltei seu queixo e me virei para frente, me sentindo um pouco desconfortável por ter o encarado por tanto tempo, tão próximo a mim. Me ajeitei no banco e depositei minhas mãos sobre o meu colo. Senti seu olhar ainda sobre mim, ele ainda me encarava e não havia mexido seu rosto um milímetro desde que soltei seu queixo.

- Você precisa sair do estacionamento. – Falei sem me virar para ele, encarando minhas mãos e sentindo meu corpo esquentar.

- Coloca o cinto. – Disse simplesmente e deu partida no carro. Coloquei o cinto e ele saiu da vaga.

Esse silêncio não ia ser quebrado de modo algum. Eu ainda sentia meu corpo quente por ter sido encarada descaradamente pelo homem que dirigia ao meu lado, isso já aconteceu outras vezes, obviamente, mas foram em situações completamente diferentes. Apontei para o rádio com a mão em um pedido silencioso para colocar música e ele só olhou para a minha mão e assentiu. Liguei o aparelho de som e finalmente algo além do barulho das nossas respirações pôde ser ouvido dentro do carro. Vinte e poucos minutos se passaram e ele estacionou o carro em frente à um prédio preto, alto. Filinha de papai, pensei comigo mesma, analisando o prédio chique.

- O que vamos realmente fazer? – Ele indagou, retirando o cinto de si.

- Preciso saber de uma coisa. Você chegou a explicar o acontecido?

- Ela não deixou, te viu no quarto, começou a gritar pela casa e a me xingar de tudo quanto é nome.

- Vaca. – Sussurrei.

- Não sei como você não acordou com tanta gritaria. Vários copos de vidro foram quebrados.

- Eu sinto muitíssimo. A culpa foi toda minha.

- Não foi completamente sua. Você ajudou, mas todos tivemos nosso dedo de culpa. Enfim, o que você pretende fazer?

- Vou fazer ela engolir toda verdade. – Falei séria, saindo do carro, esperando ele fazer o mesmo do lado de fora.

Caminhamos ainda silenciosos para dentro do prédio, ele falou com o balconista e entramos no elevador. Ele apertou o número do andar e o elevador começou a subir, fazendo um frio se formar na minha barriga. Abracei meu corpo, tentando me acalmar e segurar a adrenalina. Chegamos ao andar certo e a porta do elevador abriu. Saímos os dois, lado a lado, sem trocar uma palavra ou olhar.

- Preparado? – Perguntei quando nos posicionamos de frente à porta dela.

- Não pode ser tão ruim assim. – Passou as mãos que supus estarem suadas no jeans surrado dele. Sorri, tentando passar segurança, ele assentiu e eu apertei a campainha, ouvindo som de risos se aproximar da porta. Ela abriu e estava agarrada a um moreno alto e forte, com um anel de brilhantes no anelar. Olhei melhor o cara a quem ela estava agarrada e o reconheci de algum lugar, só não me lembrava de onde. Os risos deles se cessaram no momento em que abriram a porta e deram de cara com a gente. Ela se soltou rapidamente do moreno e ajeitou seu roupão que estava todo escancarado, mostrando suas belas curvas tampadas apenas pela lingerie vermelha e preta.

- Di? O que faz aqui tão tarde? – Ela perguntou sem jeito, tentando desviar a atenção do que já estava diante dos nossos olhos.

- Eu vim me explicar, mas pelo jeito, você já está sendo muito bem consolada. – Ele estava visivelmente nervoso.

- Não fale comigo como se tivesse razão. Você não tem direito de exigir nada depois que me traiu com essa zinha, aí. – Apontou para mim com desdém.

- Ela não vale o esforço, Hogan. Vamos embora. – Falei, encarando ele, totalmente em choque com o tipo de pessoa que eu descobri ser ela.

- Não vale o esforço? ESFORÇO DO QUE SUA PIRANHA? VOCÊ ACABOU COM A MINHA VIDA! ACABOU COM O MEU NOIVADO! – Forçou um choro tão falso quanto o cabelo loiro dela.

- Pra cima de mim, não, maganal. – Falei calma, em nenhum momento eu gastaria minhas cordas vocais com uma pessoa do nível dela – Não finja que em algum momento você se importou. Não finja que essa não foi a oportunidade que você precisava para cair fora sem precisar sair como a culpada. Foi a desculpa perfeita para você fazer o que não tinha coragem para fazer de cara limpa, com todas as cartas na mesa. Pessoas como você podem até alcançar alguma coisa na vida, mas não demoram muito para que elas caiam e voltem para o lugar de onde nunca deveriam ter saído. E quando você cair pode ter certeza que eu vou estar lá, para ser a primeira a cuspir em você. – E foi assim, do nada, sem eu ver, um estalo na minha cara, a mão cumprida dos dedos finos, preenchida com o meu rosto – Quer o outro lado? – Perguntei e ela se assustou. Tentou se recompor, como se eu não a tivesse atingido e bateu a porta na nossa cara – Agora podemos ir.

- Você só pode estar brincando. – Ele disse perplexo, com os olhos arregalados e o puxei pela mão antes que ele falasse mais alguma coisa.

- Não quero que você fale nada sobre o que aconteceu. – Pedi, com a cabeça baixa, encarando meus dedos que brincavam de cruzar e descruzar, já dentro do elevador. Com as costas coladas em um dos lados do elevador pude ver um par de pés se posicionar em frente ao meu corpo, levantei o olhar e encontrei os olhos dele, me encarando com um certo mistério e... Aquilo era brilho no olhar dele? Voltei a encarar minhas mãos, totalmente desconfortável, mas os pés dele não mudaram de direção. O elevador abriu e ele não se moveu, me desviei dele, achando tudo aquilo patético, me dirigindo até o carro. Esperei ele destravar e abri a porta, me sentando no banco e colocando o cinto em seguida. Ele demorou para entrar no carro e aquilo estava me irritando profundamente.

- Você não vai falar nada? – Perguntei ao que ele abriu a porta e se sentou.

- Você disse para eu não comentar nada sobre.





Capítulo 07 - Apagão




Onde estão as minhas chaves? Eu sempre as perco quando estou atrasada. Ou melhor, alguma coisa SEMPRE some quando estou atrasada. Hoje vai rolar uma festa na casa da Lívia, para comemorar o aniversário de vinte e seis anos do Thi. Não vai muita gente, aqui na Austrália as pessoas não costumam fazer festão que nem no Brasil, e é uma das coisas que eu sinto falta, do calor brasileiro.

Lívia já havia me ligado dez vezes e eu só não atendi na décima primeira porque eu havia perdido o meu celular logo depois de ter achado as chaves do carro. Gritei de ódio e já estava quase desistindo de ir, quase! Mas não podia desistir, Lívia ficaria profundamente magoada, e Thiago também.

Uma hora de atraso. UMA HORA DE ATRASO, DONA LINA! Porra! UMA HORA PERDENDO AS COISAS, assim não dá para viver!

- JOAAAAANA! – Gritei do andar de cima, chamando a faxineira – JOANA! POR FAVOR! NÃO ME ABANDONE!

- Jesus! Maria José! O que foi, dona Lina? – Entrou no meu quarto, apavorada secando as mãos no avental de bolinhas.

- Eu não sei mais o que faço para não perder minhas coisas. – Choraminguei, esparramada no chão de bruços, desistida da vida.

- Não me dá um susto desses, não, menina. Achei que algo de grave havia acontecido. – Me dava bronca enquanto catava minhas roupas do chão e as dobrava em cima da poltrona preta.

- Você acha que estar mais de uma hora atrasada para o aniversário do Kidman não é algo grave?

- Dona Lívia vai matar a senhora.

- Isso se já não montou meu caixão.

- Ainda não achou as chaves?

- Já achei. Estavam dentro do bolso da calça que eu usei ontem.

- E por que não saiu daqui ainda? – Se sentou na minha cama, com as mãos apoiadas sobre o colo, me observando fazer drama no chão gelado do meu quarto.

- Perdi meu celular.

- Mas você estava com ele na mão!

- Exatamente! Ele estava na minha mão! Sem eu ver, ele saiu dela e se escondeu.... Não sei o que fazer para tirar a vida das minhas coisas.

- O que é aquilo ali? – Apontou para debaixo do meu abajur – Tem um vagalume piscando no teu quarto, dona Lina.

- MEU CELULAR! – Saí do chão em disparada para pegar o aparelho que piscava sem parar – Você é uma santa, Joana! – Dei um beijo estalado na bochecha da mulher que sorria, agora.

- Larga de ser boba, menina. Santa só Maria.

- Que seja, Joana. – Rolei os olhos.

- Bom, agora que a dona já achou seu celular, eu vou me indo. Minha hora já deu, está tudo em seu devido lugar.

- "Vou me indo" não existe, Joana.

- Existe, sim.

- Não vou discutir.

- Bom mesmo. – Se levantou da cama e segurou minhas duas mãos – Juízo nessa festa, menina.

- Mas eu sou uma menina de muito juízo, Joana.

- Não é não. E lembre-se do que o doutor disse, sem bebida! – Desfiz meu sorriso, ficando emburrada – Regras são regras. Vem cá me dar um beijo. – Beijou-me a testa e eu a conduzi até o andar de baixo.

- Tchau, Joana. Bom descanso, até semana que vêm. – Me deu tchau e pegou o elevador. Fechei a porta e liguei para Lívia em seguida, andando pela casa em busca das minhas coisas para sair.

- ONDE É QUE VOCÊ ESTÁ? – Me atendeu no primeiro toque.

- Oi pra você também.

- Lina! Sem gracinhas. Só falta você chegar aqui. O que aconteceu?

- Desculpa, Lív. Eu perdi minhas chaves do carro e.... Lív? Lívia? Está me ouvindo? – Tirei o celular do ouvido, olhando para tela dele e contestando o óbvio: sem bateria.

Depois de horas ligado, sem ter sido posto pra carregar em nenhum momento desde que acordei, é óbvio que a bateria dele ia esgotar. MAS NÃO PRECISAVA SER AGORA, né?! Não tinha como ficar pior.

Ai meu deus! O que é isso? O universo estava conspirando contra mim, não pode ser verdade! Eu e minha boca grande! Eu achei que não podia piorar, mas por uma razão desconhecida por mim, a energia da minha casa caiu. Estava tudo escuro e eu não enxergava mais nada. Eu tenho pavor de ficar no escuro. Eu tenho pavor DE escuro. Já não estava conseguindo respirar direito, minha garganta começou a fechar e comecei a me encolher em um canto da casa que não consegui distinguir qual era.

Sem celular, sem chaves do carro, sem conseguir enxergar alguma coisa, sem saber onde eu estava, sem coragem para levantar e procurar a porta; comecei a chorar. Não conseguia controlar as lágrimas. Odiava escuro. Depois que me mudei para a Austrália, os abajures se tornaram meus melhores aliados na hora de dormir. Imagens de várias coisas ruins sendo feitas em meio àquela escuridão começaram a se formar e eu já não consegui ouvir nem meu próprio choro.

Segundos, minutos, horas, talvez, não sei, haviam se passado e eu estava congelada no chão, aterrorizada pelas alucinações que minha mente criava no meio dessa escuridão toda. Um estrondo enorme pôde ser ouvido e eu entrei em desespero, isso não podia estar acontecendo. Ouvi passos se aproximarem e eu me abraçava cada vez mais forte, na tentativa de me enterrar no chão.

- Duarte?! Por que não me responde? – Ouvi a voz dele de longe, expulsando todas as outras vozes que se formaram na minha mente.

- Hogan? – O chamei de volta, tentando controlar o choro – É você?

- Onde você está?

- Eu não sei. – Sequei o rosto com a manga da minha blusa.
- Espere um segundo. – Não demorou muito e uma luz se acendeu no meio de toda aquela escuridão. Não pensei duas vezes e corri em direção aquela pequena luz. Abracei-o sem pensar muito na minha ação, eu só queria um refúgio. Um conforto – Tive que subir de escada. O prédio todo está sem luz. Você está bem? – Perguntou, me envolvendo em um abraço quente.

- Eu não sei o que houve. Eu estava falando com a Lívia no telefone e...

- Você havia perdido as chaves do carro e ela me pediu para vir te buscar, já que você não parecia ter nenhuma intenção de chamar um táxi.

- Me tira daqui?! – Choraminguei mais um pouco, molhando a camiseta dele. Estava cheiroso, o doutor que me proibiu beber.

Me conduziu com uma das mãos no ombro em direção a porta. Usamos a lanterna do celular dele para descer as escadas e sair do prédio, com ele sempre me segurando pelos ombros, como se a qualquer momento eu pudesse cair. E era basicamente como eu me sentia. Já do lado de fora do prédio me agarrei ainda mais a ele, sentindo a noite fria que fazia e as ruas totalmente escuras. Ele me conduziu até o carro e abriu a porta para mim, me colocando sentada e prendendo o cinto por mim.

- Quer ir para a festa? Estão todos te esperando. Se não quiser, eu vou entender e posso avisar a Lívia, mas aqui você não pode ficar, tenho que te levar para algum outro lugar. - Falou determinado logo que sentou no banco do motorista.

- O que eu mais quero agora é ver minha amiga. – Abracei meu corpo, me encolhendo no banco do passageiro.

- Ok. – Deu partida no carro e saiu do acostamento. Não demorou muito e entramos em uma rua mais iluminada. Logo mais, as luzes da cidade eram vistas e eu fui me acalmando, recuperando minha sanidade. Olhava os prédios e as ruas através da janela do carro, lembrando do horror que foi ficar no escuro por tanto tempo. Uma lágrima caiu e eu logo a sequei, sem querer ser percebida por ele.
Chegamos ao local sem falar nada durante o caminho. Ele abriu a porta para mim e eu saí do carro, ele segurou na minha mão me ajudando a descer e retomou o abraço, caminhando lado a lado até a entrada da casa da Lívia. Se soltou de mim e me sorriu, assim como eu havia feito na semana passada, quando fomos até o apartamento da puta da Sarah para contar a verdade. Coisa que não aconteceu.

Lívia abriu a porta e ia começar a me xingar de tudo quanto é nome, mas parou o que ia fazer quando percebeu minha cara de choro. Olhou de mim para Hogan sem entender o que estava acontecendo, e mesmo sem saber do ocorrido, me abraçou, transmitindo conforto no abraço que eu pensei que só ela sabia dar, até ter abraçado Dillan lá na minha casa.

- O que houve? – Ela perguntou em meio ao abraço.
- Um apagão no bairro.

- MEU DEUS, LINA! Você está bem? – De serena foi para eufórica.

- Está tudo bem, Lív. Hogan chegou há tempo. Obrigada por ter pedido para ele ir me buscar, se não fosse por ele...

- Mas eu nã...

- Não tem com o que se preocupar, Lívia. Ela está bem. – Dillan passou a mão nas minhas costas, beijou Lívia no rosto e adentrou a casa. Lívia parecia um pouco perdida, mas logo abriu um sorriso.

- Vem! Vou te levar para o meu quarto.

Não havia visto ninguém quando subi com a Lívia para o quarto, já que estavam todos na sala de jogos, do outro lado da casa. Ouvi apenas o som alto da música e alguns gritos.

- O que está acontecendo? – Perguntei já dentro do quarto dela.

- Você não vai querer saber. – Entrou dentro do seu closet e eu me sentei sobre os meus joelhos, no meio da cama dela.

- Mas é óbvio que eu quero.

- Truco. – Ela gritou do quarto e eu sorri.

- Quem ensinou truco para os rapazes?

- Thiago fez amizade com alguns brasileiros, estão todos aí. Os meninos são bem bonitos, acho que você vai gostar de um em específico.

- Eu quero é dançar.

- Lina Duarte dispensando uma partida de truco? Você deve estar com febre. – Saiu do quarto com três peças de roupa.

- Eu preciso relaxar. – Ela colocou as roupas em cima da cama e eu comecei a desdobra-las.

- Você está bem mesmo, amorzinho? – Perguntou se sentando atrás de mim, dando início a uma massagem.

- estou super bem, mas pode dar continuidade a massagem que... está... magnífica. – Relaxei os músculos, sentindo a tensão deixar meus ombros.

- Chega! Se troca logo e desce. – Parou a massagem e saiu da cama.

- Onde você vai?

- Vou voltar para a festa. Consegue ir sozinha ou quer que eu a acompanhe?

- Desde quando eu preciso de um guia?

- Também me perguntava a mesma coisa, até te ver ao lado do Dillan e achar vocês dois bonitinhos. – Zombou e saiu do quarto aos risos, sem me deixar responder.
Vesti o único vestido que coube no meu corpo. Ele era um pouco colado, mas tinha elasticidade, não me deixando desconfortável, era todo preto e tinha um pouco de brilho, terminava na altura da minha coxa. Me olhei no espelho e retoquei minha maquiagem, nada pesado, amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo e passei um dos perfumes da Lívia, o único que tinha o cheiro mais parecido com o meu. A Lívia não vestia o mesmo manequim que o meu, mas pelo menos calçava o mesmo número. Vesti um salto médio e desci as escadas, caminhando até a sala de jogos.

Ao que eu abri a porta, a música ficou muito mais alta do que parecia estar. As luzes principais apagadas, com uma iluminação de boate, vi três mulheres sentadas no balcão do bar, rindo de alguma coisa que o barman dizia. Quatro homens jogavam bilhar, duas os observavam jogar, dois casais dançavam no meio da sala e em um outro canto uma mesa preta, redonda e grande, onde seis homens jogavam truco. Sorri ao ver toda a agitação que aquele jogo proporcionava aos jogadores.

Essa sala de jogos foi a melhor coisa que colocaram na planta dessa casa. Lívia não aceitou quando Thiago quis fazer esse espaço, mas agora com o lugar já pronto, ela mal se lembra de todo o pau que quebrou com o Thiago por achar esse espaço desnecessário. O lugar era grande, espaçoso, tinha mesa de bilhar, bar, uma mesa para jogos de carta, sofás e até um canto para karaokê.

- Oi, de novo. – Falei perto do ouvido da Lívia, que tinha suas mãos apoiadas na cadeira em que o Thiago estava sentado.

- Oi, amorzinho.

- Eu não sei se você sabe, mas a gente se viu não faz nem dez minutos.

- Thi, olha quem chegou. – Cutucou Thiago.

- Duarte! – Outro que só me chama pelo sobrenome – Que bom te ver aqui! Fico feliz que tenha conseguido vir. Você está bem?

- Hey! Estou bem sim. Feliz aniversário, Kidman. – O copiei – Hoje aconteceu tantas coisas que acabei me esquecendo de trazer seu presente. Perdão! Te trago amanhã no almoço!

- Que isso, Lina! Não esquenta a cabeça com isso, não. Estou feliz que esteja aqui.

- Nem vem! Eu comprei e foi de coração! Quero ver você usando.

- Agora fiquei até com medo do que você vai me dar.

- Tenho certeza de que vai gostar. – Sorri.

- A senhorita aceita jogar uma partida?

- E como é que vocês estão jogando com esse barulho todo? – Me referia ao som que estava alto para cacete.

- Quando a partida começa, desligamos a música.

- Vão jogar agora?

- Só daqui a pouco. Acabamos de terminar uma e eu ganhei. – Se gabou.

- Pode ter certeza que comigo vai ser diferente, todos estão te deixando ganhar porque você é o aniversariante, mas eu não dou mole para ancião, não.

- Tomar no cu, Duarte. – Me deu um peteleco.

- Vai bater em outra mulher lá na casa do caralho, viadinho. – Ri, lhe dando outro tapa, o tapa que deu início à uma pequena briga de lutinha.

- Quer parar vocês dois? Parecem duas criancinhas! – Lívia deu bronca, passando por nós com uma bandeja em mãos.

- Ela quem começou, amor. – Thiago se defendeu.

- MENTIROSO! Foi ele quem me bateu primeiro, Lív.

- Não quero saber quem começou! É para parar e pronto.

- Deixa que eu carrego pra você. Mulher minha não pega peso. – Thiago falou e tomou a bandeja vazia das mãos da Lívia, que rolou os olhos pelo cuidado exagerado do marido. Os dois saíram aos risos, em direção ao bar.

A música estava alta e eu amava o ritmo dessa em especial. Fui para o meio da sala onde, agora, apenas um casal dançava. Me movia no ritmo da música, avistei um cara me encarando no canto da sala, com um copo em mãos e um sorriso brincando no canto de sua boca. Chamei ele com o olhar e com o corpo, ele entendeu o recado e aceitou o convite, vindo até mim.

- Oi. – Cumprimentei quando ele chegou bem perto.

- Oi. Você deve ser a Lina, certo?

- E como o moço sabe?

- Lívia falou de você pra mim.

- Você é Brasileiro?

- Meu inglês não deve ser tão ruim assim.

- Não, você engana bem. Perguntei porque a Lívia me falou de um Brasileiro que está aqui na festa.

- Só coisas boas, espero.

- Sem sombra de dúvidas.

- Posso dançar com você?

- Não precisava nem perguntar.





Capítulos betados por Lara Cecília.

Continua...





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