FFOBS - Reencontro de Natal, por Angel B.

Finalizada em: 27/10/2019

Capítulo Único

pediu licença para as pessoas que ainda estavam no corredor, e procurou por uma cabine livre. Tudo o que ele menos queria, no momento, era dividir o assento com pessoas contagiadas pelo clima natalino.
Para sua sorte, a última cabine do vagão não tinha ninguém. Entrou, fechou a porta, e colocou sua mochila no compartimento reservado para isso. Sentou-se próximo à janela e passou a observar a vegetação que já começava a ser coberta pela neve.
suspirou frustrado. O natal costumava ser uma das suas épocas preferidas do ano. Quando foi que passou a odiar o feriado?
O trem começou a se movimentar, e ele aproveitou para encostar a cabeça no assento. Fechou os olhos e tentou ignorar as risadas e a falação alta que vinha das outras cabines, todos animados demais por, finalmente, poderem ir para casa aproveitar o feriado com a família.

corria na calçada, desviando-se das pessoas. Ele tinha um copo de café nas mãos e a pasta do trabalho pendurada no ombro. O inverno mal começara, mas as pessoas na rua já haviam tirado as botas e os casacos pesados de dentro do armário.
— Com licença. — ele pediu enquanto passava por entre um grupo de garotas que reclamou do esbarrão dele. — Eu pedi licença. — ele murmurou para si mesmo, sem diminuir os passos.
A verdade é que tinha uma importante apresentação no trabalho, e ele não poderia chegar atrasado. Mais do que isso, como ainda era adepto às apresentações por meio de slides, seu objetivo era chegar ainda mais cedo do que seu horário normal para deixar o computador e o projetor prontos.
Mas quem disse que ele acordou com o despertador tocando uma hora mais cedo?
E agora só lhe restava continuar andando apressado, quase correndo, por entre as pessoas.
— Com licença. — ele pediu para mais uma.
?
ainda deu alguns passos antes de parar. O motivo, contudo, não foi terem chamado o seu nome — afinal, ele não se importaria em parecer grosseiro e ignorar qualquer conhecido que encontrasse na rua, desde que isso significasse que ele chegaria a tempo no trabalho. Não… O que o fez parar foi a voz de quem chamou o seu nome.
Ele conhecia aquela voz. Reconheceria em qualquer lugar.
— Ana? — ele perguntou mesmo já sabendo a resposta.
É claro que era ela.
— Caramba, faz tempo que eu não ouço falar de você. — ela disse se aproximando. Colocou os braços em volta do pescoço do homem rapidamente e se afastou.
nem teve tempo de abraçá-la de volta, tamanha surpresa em a encontrar ali.
— Pois é… — ele comentou, quando na verdade queria lhe perguntar o que ela fazia ali. Não é ela quem havia recebido uma proposta de emprego irrecusável, a mais de dois mil quilômetros de onde eles tinham construído uma vida juntos?
Ele também não teve tempo de comentar isso, contudo.
— Olá, prazer. — um homem, que até então não tinha reparado, estendeu-lhe a mão. — Sou Alex. Tenho certeza de que Ana deve ter falado de mim.
franziu a testa.
— Na verdade não. — ele respondeu automaticamente. — Ela deveria?
E apesar da pergunta ter sido direcionada ao Alex, olhou para a ex-namorada quando perguntou.
Ana, com um sorriso amarelo, e sem olhar nos olhos de , respondeu à pergunta que ele não tinha feito.
— Alex é meu namorado, . Estamos juntos há dois meses.


É claro que Ana não teria lhe contado sobre Alex. Por que ela deveria?
Eles não se falavam há meses, meses! Desde que Ana decidira colocar um fim no relacionamento deles e se mudar da casa que os dois partilhavam juntos. Desde que sua ex-namorada escolhera se mudar para outro estado para trabalhar, quando ela tinha um trabalho perfeitamente bem remunerado ali mesmo, onde ela havia construído uma carreira.
Talvez ela só quisesse uma desculpa para se mudar e terminar com você, seu cérebro estúpido insistia em tentar lhe convencer.
sentiu a cabeça doer, e se arrependeu de não ter comprado mais comprimidos para dor antes de embarcar.
Para variar, ele estava atrasado e quase perdeu o trem. Mal teve tempo de colocar a pilha de documentos do trabalho dentro da sua mochila, duas ou três trocas de roupa, e sair correndo de casa procurando por um táxi que o deixasse na estação.
E mesmo com a pilha de serviço que ele sabia que tinha de terminar antes do feriado, mesmo com dor de cabeça e com sono, fruto das noites mal dormidas, ele só conseguia pensar em Ana, a mulher que ficou com ele por seis anos — seis anos, caramba! — com outro namorado. A pior parte? Ela estava radiante. Estava feliz.
Não, não… Aquela não era a pior parte. Até porque o pior ainda estava por vir… Quer dizer, como ele explicaria para a sua família a ausência de Ana? Ele ainda não havia contado que eles tinham terminado meses atrás — e nem sabia como o faria.
Foi naquele momento que a porta da cabine se abriu.
— Olá, espero que não se importe de dividir a cabine comigo. É a única livre nesse vagão. — a mulher comentou com um sorriso.
— Claro… Sem problemas.
Sua voz quase saiu gaguejada, não acreditando na coincidência de encontrá-la logo ali, no trem que o levava para a sua cidade natal.
Mas, se parasse para pensar bem, não era tanta coincidência assim...
Ela colocou sua mala no compartimento e sentou-se de frente para ele, também ao lado da janela. E por perceber que ainda a encarava, voltou-se para ele.
— E aí, ansioso para voltar para casa?
— Mais ou menos… — ele confessou. E então colocou a sua surpresa em palavras. — Caramba, faz muito tempo que a se gente não se vê.
deu uma risadinha e rolou os olhos.
— Na verdade não faz tanto tempo assim… Nos vimos há duas semanas no trabalho, quando eu te ajudei a fazer o projetor funcionar. Lembra?
É claro… Como ele poderia esquecer?
— É verdade. — ele disse envergonhado. — Estava com a cabeça em outro lugar naquele dia…
No que dia em que ele descobriu que sua ex-namorada tinha um novo namorado.
— Também estava ao seu lado quando derrubou café em si mesmo no mês passado. — ela disse rindo. — Busquei um pano para você e te ajudei a secar as coisas em cima da mesa.
Dessa vez ficou verdadeiramente envergonhado. Era como se ele apenas tivesse passado pelos últimos meses sem, contudo, vivê-los. Andava tão distraído desde o término do relacionamento, que nem mesmo reparava nas pessoas ao seu redor.
— Desculpe…
— Não se desculpe, está tudo bem. — ela disse simplesmente. — Estou animada demais para ficar chateada hoje.
— É mesmo? — ele perguntou curioso.
— Mas é claro… O natal sempre me deixa feliz. Coisas boas tendem a acontecer no natal.
discordava daquilo. Suas lembranças dos últimos anos não eram nada boas. Como da vez em que ele ficou doente e precisou passar o natal no hospital. Ou quando Ana disse que talvez eles precisassem dar um tempo, simplesmente porque ele não queria viajar para outro país no natal, quando as passagens eram infinitamente mais caras. Foi realmente péssimo ter que mentir para os pais por não ter levado sua namorada consigo, já que ela preferiu ir viajar com as amigas.
Diante da discordância dele, ela comentou.
— O natal do ano passado foi bom.
— Você só pode estar brincando! — ele comentou rindo irônico.
— Por quê? Vai me dizer que você não se divertiu cozinhando um peru no escritório, só para depois ter que jogá-lo fora por esquecê-lo no forno? — ela perguntou rindo.
Foi a vez dele rir. jogou a cabeça para trás, lembrando-se de que não pudera ir para casa no ano passado. Nem ele, e nem metade das pessoas do escritório. Por conta do volume de trabalho, os funcionários passaram o feriado trabalhando, e resolveram fazer uma festa de natal ali mesmo, no escritório.
Não que tenha saído conforme o planejado, contudo.
— Foi a primeira vez que eu usei um extintor de incêndio.
A risada, então, rolou solta dentro da cabine. Pela primeira vez, em muito tempo — nem se lembrava de quanto tempo — ele estava se divertindo. E o mais engraçado, é que ele se divertia com uma memória que ele julgava péssima.
É bom ter uma mudança de perspectiva às vezes, ele pensou.
— Aquilo foi divertido. — ela disse. — Mas não tão divertido quanto o dia em que você esqueceu todos os projetos em casa.
— Aquilo não foi divertido, foi aterrorizante! — ele respondeu, também rindo.
— Eu precisei me segurar para não rir da sua cara de pânico.
fez cara de falso ofendido.
— Agradeço por ter esperado até a hora de ir embora para rir de mim. — ele disse rindo. — E agradeço ainda mais por ter me ajudado.
balançou a cabeça, como se dissesse que não fez nada de mais.
A cabine voltou a ficar em silêncio, mas não um silêncio constrangedor. parecia contemplar a paisagem borrada do lado de fora, enquanto observava a mulher. Eles trabalhavam juntos há… Bem, ele nem saberia informar. Muitos anos. Quase uma década, talvez. E pensar nisso o fez se lembrar de todas as vezes que a mulher esteve ao seu lado.
— Hey, acabei de perceber que somos da mesma cidade! — ele comentou animado.
Ele só havia percebido naquele momento: eles estavam no mesmo trem, indo para a mesma cidade!
riu da fala dele.
— É claro que somos… Nós até mesmo estudamos na mesma escola. — ela respondeu calmamente.
O sorriso de , contudo, sumiu.
— Como assim?
— Ora, , nós estudamos juntos… Até fomos vizinhos por alguns anos.
não poderia estar mais confuso.
Como assim vizinhos?
Sua vida toda ele havia sido vizinho do Sr. John e da Sra. Violet — os quais sempre lhe davam bolo de limão aos finais de semana.
Do outro lado, ele tinha como vizinhos a família Parker — nunca gostara muito dos filhos do Sr. e da Sra. Parker.
E seus vizinhos de frente eram o Sr. e Sra. James, os quais não tinham filhos humanos, mas sim um casal de labradores que adorava passear e brincar de bolinha na rua com as crianças.
se lembrava que ficara chateado quando a família James se mudou para a casa da frente, já que eles só passaram a morar lá porque a família havia se mudado. gostava da família . Ele costumava brincar com a filha mais nova do casal… Qual era mesmo o nome dela?
— Nós costumávamos brincar no quintal da sua casa até anoitecer, quando a Sra. Violet ia nos levar bolo de limão. — comentou pensativa. — Nunca mais comi um bolo de limão tão bom quanto o dela.
ficou de boca aberta.
Meu deus, como nunca tinha percebido isso antes?!
— Você é ! — ele gritou como se tivesse feito uma grande descoberta.
riu dele.
— Muito prazer. — ela brincou.
Ainda surpreso demais com a revelação — e ainda se sentindo meio idiota por não ter percebido isso antes — ele perguntou:
— Por que nunca me disse que nós já nos conhecíamos?
deu de ombros e torceu os lábios.
— Pensei que você não queria misturar a vida pessoal com o trabalho… Já que você nunca tinha comentado nada…
— Mas eu só não comentei nada porque eu sou um grande idiota e nunca tinha percebido que você é a minha amiga e vizinha de infância!
deu um largo sorriso ao ser chamada assim.
Apesar de nunca ter comentado sobre o assunto com — principalmente porque pensou, realmente, que ele a reconhecera, mas havia preferido manter o relacionamento deles estritamente profissional — ela sentia falta de ter um contato maior com seu amigo e vizinho de quando era criança.
— Tudo bem, tudo bem… Agora que eu sei quem você é, eu preciso confessar uma coisa. — ele disse se ajeitando no assento, sentindo as bochechas corarem. — Quando éramos crianças, eu tinha uma quedinha por você.
— O quê?! — perguntou quase gritando, começando a rir em seguida.
— Eu achava que nós iríamos namorar, e então a Sra. Violet iria fazer bolo de limão para o nosso casamento.
Foi a vez de jogar a cabeça para trás de tanto dar risadas.
Aquilo estava mesmo acontecendo?
Nem mesmo em seus sonhos mais fanfiqueiros a mulher poderia imaginar uma cena dessas: seu ex-vizinho, o qual ela reencontrou tantos anos depois, se declarando para ela.
— Gostava tanto de mim que nem me reconheceu quando nos encontramos anos depois. — ela disse em tom de provocação.
fez cara de surpresa, e então apertou os olhos.
— Culpado. Não tenho desculpas para isso. — ele admitiu.
O som das risadas foi diminuindo aos poucos, até que o único som na cabine era o de suas respirações.
— Pensando bem… Acho que esse nosso reencontro veio na hora certa. — ela comentou pensativa.
— O que quer dizer?
encostou as costas no banco e fez uma conta rápida. Sim, ela estava certa.
— Hoje faz exatamente dez anos que nos reencontramos. — ela disse com um sorriso leve nos lábios. — Hoje, dia vinte e dois de dezembro, foi o meu primeiro dia de trabalho, dez anos atrás.
Ele franziu a testa, tentando se lembrar de quando havia começado a trabalhar na empresa.
— Os prazos estavam tão apertados que os chefes pediram para eu começar a trabalhar no dia vinte e dois de dezembro, mesmo que fosse só um dia antes do recesso de final de ano. — ela comentou rindo. — Eu estava no meu primeiro ano da faculdade.
se lembrava desse ano, de como as coisas dentro do escritório estavam loucas… Papéis voavam para todos os lados, o telefone mal parava de tocar, e os prazos só se aproximavam… Mas ele não se lembrava de .
— Ainda bem que você aceitou esse trabalho. — ele comentou. — Fico feliz de nós termos nos reencontrado depois de tantos anos.
E aquilo era a mais pura verdade. Até aquela tarde, não sabia o quanto sentia falta de sua amiga, ex-vizinha e primeira crush. Ele estava realmente feliz por saber que ela estava de volta à sua vida. Apenas lamentava todo o tempo que perdeu a vendo apenas como uma colega de trabalho, em vez de relembrar os bons momentos que viveram juntos.
— Ei, o que você vai fazer hoje, mais tarde? — ele perguntou de repente.
, que observava a paisagem ficar mais nítida, conforme o trem ia diminuindo a velocidade, foi pega de surpresa.
— Talvez dormir um pouco… Por quê?
ficou com as palavras presas na boca. Ele tinha tido uma ideia e, no impulso, pensou em colocá-la para fora. Mas então pensou de novo sobre o que iria propor, e, de repente, ficou tímido. Pensou se não estaria sendo inconveniente em sua proposta, se ela não ficaria acanhada ou mesmo desconfortável, afinal, atualmente eles não passavam de bons colegas de trabalho que se cumprimentavam pela manhã.
— Você gostaria de… Não sei, fazer alguma coisa mais tarde? — ele perguntou receoso.
, por outro lado, tinha no rosto uma expressão de surpresa.
— Isso, é claro, se você não estiver cansada demais. — ele logo tratou de emendar.
A mulher tinha um sorriso leve nos lábios. E quando o trem finalmente parou, e as portas das cabines começaram a se abrir, ela disse:
— Podemos sair para comer bolo de limão hoje à noite, o que você acha?
nem acreditava naquilo.
— Acho que mal posso esperar por hoje à noite.
E enquanto ele pegava suas coisas e se despedia de , confirmando o local em que iriam se encontrar mais tarde, ele esperou pelo seu táxi enquanto pensava no quão interessante aquele feriado estava se tornando.
Talvez a sua opinião sobre o natal estivesse começando a mudar, afinal de contas.


Fim



Nota da autora: PARABÉNS FFOBS! ❤️ E aí, meninas, o que vocês acharam? A fanfic é bem curtinha, mas é fofinha, e eu escrevi ela super rápido, apenas para comemorar o aniversário de 10 anos do maior e melhor site de fanfics interativas desse Brasilzão! ❤️ Espero que tenham gostado! Não se esqueçam de deixar um comentário cheio de amor e de recomendarem a fanfic para as amigas.
Beijos de luz
Angel





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Ainda Lembro de VocêIt’s Always Been You

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Ficstapes:
05. Paradise 06. Every Road 07. Face 10. What If I 12. Epilogue: Young Forever 15. Does Your Mother Know

MVs:
MV: Change MV: Run & Run MV: Hola Hola

E não é que o Natal é mágico e opera milagres? História linda, Angel, parabéns!
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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